239 O SOPRO DO SÍMBOLO
Auta de Sousa (1876-1901) nasceu em Macaíba, no Rio Grande do
Norte. Órfã, doente, foi educada num colégio de freiras. Versejou desde a ado
lescência, e publicou seu único livro, Horto, com um prefácio de Olavo Bilac,
um ano antes de morrer, aos 24 anos de idade. Poetisa nata, de uma simplici
dade de expressão muito exata, foi a maior poetisa católica do Brasil depois
de Alphonsus de Guimaraens. É difícil dar uma definição estilística aos seus
poemas, que trazem algo de um Romantismo tardio misturado às vezes a uma
musicalidade quase simbolista. Assim, se um poema como este é temática e
imageticamente quase romântico:
MELANCOLIA
Sinto no peito o coração bater
Com tanta força que me causa medo...
Será a Morte, meu Deus? Mas é tão cedo!
Deixai-me inda viver.
Tudo sorri por este campo em flor
O Amor e a Luz vão pelo Céu boiando...
Só eu vagueio a suspirar, chorando
Sem Luz e sem Amor.
Lutando sempre com uma dor cruel
Cheia de tédio e desespero, às vezes;
Minh'alma já tragou até as fezes
O cálice de fel.
[...]
E o coração no seio a palpitar,
Como se acaso não tivesse crença,
Pulsa com a força indefinida, imensa
Dos vagalhões do Mar.
um soneto como o seguinte, que escapa um pouco do estreito ambiente, entre a
família e a fé, que era o seu, para pintar um belíssimo quadro sertanejo, já traz ine
quivocamente, no que tem de vago, de etéreo, de imponderável, algo de simbolista:
CAMINHO DO SERTÃO
A meu irmão João Câncio
Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos