Seja bem-vindo(a) a disciplina - Fundamentos de Psicopatologia
Psicanalítica
Introdução
A ocupação e a preocupação com afecções dessa ordem na contemporaneidade
são o norte que orienta as disciplinas desta formação com intuito de
entendermos a “A prática clínica psicanalítica”.
Desde os primórdios da psicanálise, Freud (1904/1948) reconheceu a
importância do estabelecimento de um diagnóstico provisório antes do início
efetivo do tratamento.
Esta preocupação manifesta-se explicitamente já em 1904, ocasião em que
indica, baseado em sua experiência clínica e nos conceitos teóricos
desenvolvidos até então, alguns critérios para a seleção de pacientes. Mas será
em 1913 que Freud retornará a questão da necessidade de uma triagem
preliminar e ratifica a necessidade de um período prévio de entrevistas para
“…sondagem, e para decidir se ele é apropriado para a psicanálise, “admitindo
que “…existem também razões diagnósticas para começar o tratamento por um
período de experiência deste tipo, a durar uma ou duas semanas”.
História da Psicopatologia
A psicopatologia percorreu um caminho extremamente difícil até se tornar uma
ciência autônoma. Psicopatologia e Psicologia científica se iniciaram através de
Wundt, Kraepelin e Pavlov e Freud, em momentos distintos e lugares distintos
estes seguiram rumos diferentes.
Não encontrando na Psicologia recursos descritivos e explicativos suficientes
para o comportamento anormal, a psicopatologia foi buscá-los na Filosofia, na
Retórica, na Literatura e na psicanálise, inclusive, com as ideias propostas por
Freud das estruturas clínicas, tentando encontrar uma linguagem que a
Psicologia não proporcionava.
(...) “não é fácil descobrir a origem do termo psicopatologia”. É possível
que o seu criador tenha sido Jeremy Bentham, filósofo inglês (Londres,
1748- 1832), que, ao preparar uma lista das motivações humanas,
reconheceu a necessidade da organização de uma psychological
pathology (1817).
Isaías Paim - Médico Psiquiatra e Psicanalista
Cheniaux (2002) aponta que Esquirol e Griesinger, com seus trabalhos
publicados, respectivamente na França (em 1837) e na Alemanha (em
1845), seriam considerados os criadores da psicopatologia.
Para Hervé Beauchesne, a psicopatologia teria surgido no século XX, na
França, no momento em que a psicologia, enquanto disciplina científica,
começou a se separar da filosofia. “Com algumas raras exceções, os
psicólogos de meu país (França) deixaram aos alemães as pesquisas
psicofísicas, aos ingleses o estudo da psicologia comparada. Eles
consagraram-se quase exclusivamente ao estudo da psicologia patológica”,
escreveu Alfred Binet em 1889, definindo a posição da psicologia científica
francesa. Com efeito, na Alemanha, onde a psiquiatria era marcada pelo
organicismo, a psicologia baseada na fisiologia era experimental; e na
Inglaterra, num espírito empírico, a psicologia estava fortemente impregnada
de estatísticas.
Na França, onde a clínica, embora profundamente racionalista, era menos
marcada pela fisiologia, Ribot iria efetuar, num espírito científico, a síntese das
diferentes correntes e criar a psicologia patológica.
Utilizaram-se e se utilizam de várias denominações para designar esse novo
campo de estudos como patopsicologia, psicopatologia geral, psicopatologia
clínica, psicologia patológica, psicologia do patológico, patologia do psicológico,
psicologia anormal.
Isto se deve aos diferentes marcos teóricos de referência, as
distintas metodologias, momento histórico e etc. É evidente que ela foi utilizada
com diferentes enfoques, como os biomédicos, psicanalíticos e psicológicos,
mas, principalmente, na psicologia norte-americana e inglesa a expressão
psicologia anormal, marcando que a disciplina se ocupa da influência dos
estados ou condições patológicas, seja qual for a origem, sobre os processos
psíquicos, foi o que preponderou.
(...) O termo psicopatologia, ao contrário, sugere mais o estudo das
influências das variáveis psicológicas sobre uma enfermidade psíquica.
Alessandro Euzébio - Psicanalista e Professor Universitário
OUVIR ÁUDIO
Conceituando a Psicopatologia Geral
A psicopatologia no geral é uma ciência autônoma com diversos conceitos
básicos. Estes, por vezes, podem ser confundidos entre si, como “entrevista”,
“anamnese”, “exame mental” e outros. Daí a necessidade de um glossário
simples e objetivo para um melhor entendimento destes e de outros termos
corriqueiramente distorcidos.
Nessa perspectiva, podemos dizer que a psicopatologia pode ser definida
como estudo descritivo dos fenômenos psíquicos de cunho anormal,
exatamente como se apresentam à experiência imediata, de forma
independente dos problemas clínicos. Ou seja, estudando os gestos, o
comportamento e as expressões de determinados pacientes além de seus
relatos e auto descrições feitas pelos mesmos.
Deste modo podemos dizer que a psicopatologia está ligada a diversas
disciplinas: as psicologias, as psiquiatrias e o corpo teórico psicanalítico
propriamente dito objetivo desta formação.
“O estudo desses elementos contribui para o conhecimento de
fenômenos que conhecemos por nossa própria experiência, fenômenos
os quais temos apenas noções e fenômenos que se caracterizam pela não
impossibilidade de descrição, podendo ser alcançados apenas por
analogias.
- Isaías Paim - Médico Psiquiatra e Psicanalista”
Conceituando Psicopatologia
A psicopatologia passa a ser introduzida na psicanálise quando Freud
abandona a posição de observador neutro dos fenômenos clínicos para dar
ouvido ao drama que os pacientes vivem em torno de algumas experiências
ditas ‘traumáticas’. Ao invés de ‘olhar’ os sintomas ele ‘ouvia’ as queixas que
invariavelmente se relacionavam a uma incapacidade de superar determinadas
experiências.
Sigmund Freud inicia um deslocamento da função dos sinais e sintomas na
psicopatologia: antes de ser enquadrado como uma ‘perda da razão’ e
do ‘controle afetivo’, os sintomas passam a ser pensados como produtos de
conflitos inconscientes que o paciente resiste a enfrentar.
Freud, no fim do século XIX e início do século XX, inovou a perspectiva da
psicopatologia, formulando um corpo de conceitos precisos para reconhecer a
histeria e a conversão histérica, além de trazer à luz a diferenciação clara da
neurose obsessiva e da angústia.
Ao desenvolver a metapsicologia, contribuiu para a atual classificação das
psicopatologias a partir da perspectiva estrutural, a saber:
1. Neuroses de defesa ou transferenciais, nas quais se encontram as
histéricas conversivas e fóbicas, as neuroses obsessivas e as
neuroses de ansiedade;
2. As psicoses;
3. As perversões;
4. As afecções psicossomáticas.
Tais estruturas são determinadas a partir das fixações em fases do
desenvolvimento psicossexual desde os primeiros anos de vida.
“Pensar a psicopatologia a partir da visão da psicanálise é um desafio
constante, uma vez que a “psicopatologização” da subjetividade humana
está cada vez mais presente no discurso hegemônico na área da saúde
mental.
Alessandro Euzébio - Psicanalista e Professor Universitário”
ASSISTIR VÍDEO
Saiba Mais:
“A psicanálise foi uma das primeiras teorias com aspecto científico que
objetivou compreender o fenômeno da psicopatologia. Fundada por Sigmund
Freud, postulava que o comportamento era em grande medida determinado
pelos aspectos inconscientes da personalidade. Dessa forma, o homem possui
menos controle sobre os seus atos do que gosta de acreditar que tem, e esse
pode ser um fator relacionado com o surgimento e a manutenção dos
transtornos mentais × Dispensar este alerta.”
No decorrer dos anos a psicanálise foi incorporando e integrando conceitos a
respeito do funcionamento psíquico!
Portanto caro(a) aluno(a) não existe uma forma única de compreender a
psicopatologia pela visão psicanalítica. Pois, o tema é complexo por, pelo
menos, duas razões: à medida em que Freud foi avançando em sua
elaboração sobre o funcionamento psíquico, foi incorporando e integrando
conceitos. Um segundo fator é que por psicanálise entende-se uma gama
ampla de formulações teóricas sobre o inconsciente; nesse sentido, há autores
que são entendidos como psicanalíticos (como Anna Freud, Melanie Klein e
Jacques Lacan) e outros, dissidentes, que aproveitaram alguns aspectos da
psicanálise freudiana e organizaram suas formulações (como Wilhelm Reich,
Alfred Adler e Carl Gustav Jung).
OUVIR ÁUDIO
Na prática clínica, as estruturas podem manter-se, mas seu funcionamento
pode ser transformado. Por outro lado, as organizações limítrofes podem
chegar a se estruturar verdadeiramente.
O método psicanalítico pode se concretizar por meio de diferentes técnicas,
segundo os propósitos pelos quais se intenta realizar uma
investigação/intervenção psicanalítica, duas facetas indissociáveis neste
campo do saber. Portanto, a interpretação verbal, o manejo do setting, o uso de
procedimentos projetivos em psicodiagnóstico ou em pesquisa sobre
representações sociais. É importante lembrar que, no âmbito psicoterapêutico,
o método psicanalítico deve se concretizar através de técnicas e estratégias de
tratamento diferentes, segundo a psicopatologia envolvida. Quando está em
pauta o sofrimento neurótico, o método se encarna segundo as modalidades
interpretativas classicamente empregadas por Freud.
OUVIR ÁUDIO
(Re)capitulando o "Complexo de Édipo"
A partir do Complexo de Édipo, a psique é estruturada de determinado
modo. Cada estrutura exclui a possibilidade de outra. Ou seja, um sujeito que
se encontra em uma estrutura nunca pulará para outra estrutura nessa vida.
Temos, então, a partir do complexo de Édipo, 3 grandes estruturas:
O Estágio Edipiano
É o mais relevante na dinâmica de desenvolvimento da personalidade, se inicia
ao cabo da fase fálica, perdurando dos três ou quatro anos até os seis ou sete
anos de idade.
Nesse estágio, o indivíduo maximiza seu interesse afetivo-sexual pelo
progenitor do sexo oposto e desenvolve uma rivalidade desarticulativa e
extintiva pelo genitor do mesmo sexo, tal qual a narrativa do Édipo.
As interdições sociofamiliares relacionais doutrinam no indivíduo a proibição
dos desejos quanto ao genitor do sexo oposto, ao passo que particionam
ambivalencialmente os sentimentos quanto ao genitor do mesmo sexo em
amor e ódio, numa dicotomia consciencialmente paradoxal. Porém, possível e
coexistentemente realizável a nível inconsciente. Essa dinâmica edípica dual
conduz à ansiedade e à culpa, provocando e projetando o medo da punição, do
castigo.
Estamos diante do Complexo de Castração. Trata-se de uma temerosa fantasia
inconsciente quanto à castração, no caso dos meninos. Quanto às meninas,
que já esboçam um rebaixamento, uma inferiorização por não possuírem pênis,
ocorre o temor de uma mutilação genital, de um agravamento em seu estado,
por uma sucessiva amputação projetada.
Esse temor feminino, na fase Edipiana, projeta na mulher a inveja do pênis
que, posteriormente instiga a rivalidade social por parte da mulher com o
homem, calcada na amargura pelas prerrogativas masculinas, em especial, no
campo do trabalho.
Não fosse o estágio Edipiano, não chegaria o indivíduo ao dilema do Complexo
de Castração, cuja resolução propulsiona a formação do Superego, instância
fundamental na estrutura do aparelho psíquico.
DISTÚRBIOS PSICODINÂMICOS: PSICANÁLISE
• Repressão ou Recalque (“verdrängung”);
• Recusa (“verleugnung”);
• Rejeição ou repúdio (“verwerfung”).
Demais Mecanismos de Defesa: Regressão, negação, deslocamento,
conversão, projeção formação reativa, introjeção, isolamento do afeto
idealização, identificação com o agressor.
Dentre tantas expressões destinadas a virarem conceitos, selecionamos para a
discussão da Verdrängung, Verwerfung e Verleugnung, por sua importância no
campo psicanalítico, é bem conhecida a ligação forte entre tais termos e as
estruturas psíquicas basais: neurose, psicose e perversão, e também pela
confusa compreensão dos mesmos a que levam as traduções disponíveis em
português.
IDEIAS PATOLÓGICAS
As ideias patológicas e a delimitação entre o que pode ser considerado normal
e o que deve ser tido como “patológico” é uma questão que gera constantes
discussões conceituais. No terreno da psicopatologia, essa discussão ainda é
mais relevante, já que sua demarcação é muito mais flutuante e suas fronteiras
pouco rígidas. No que tange a psicanálise, o estudo dos elementos que
compõe as alterações do funcionamento mental podemos destacar três
espécies segundo Isaias Paim (ano):
1. Aqueles que conhecemos por nossa própria experiência;
2. Fenômenos que são acentuações diminuições ou contaminações de
experiências pessoais;
3. Fenômenos que se caracterizam pelo fato de não poderem ser
representados no espermátio espírito de maneira compreensiva.
Escute o podcast complementar do Psicanalista Alexandre Simões - A
Homossexualidade e o Olhar da Psicanálise
OUVIR ÁUDIO
Nosologia Psicanalítica Freudiana: Clínica Psicanalítica
“Etimologia (origem da palavra nosologia). Noso + logia. É a ciência que
trata da classificação das doenças”.
Dicionário Online Fonte: https://www.dicio.com.br/nosologia/
Na obra “Las estructuras clínicas” a partir de Lacan, Eidelsztein (2008) reúne e
descreve criticamente as estruturas clínicas extraíveis de Lacan. Propondo
uma estrutura das estruturas clínicas estrutura é um conjunto covariante de
significantes em que a identidade dos termos é obtida por suas diferenças.
Portanto, caros(as) alunos(as) há tipos clínicos que não estão escritos em
termos de estrutura (matematizados), seja porque não o são, seja porque
Lacan não pôde apreendê-los e colocá-los em relação às demais estruturas.
Serviriam tanto como demonstração da impossibilidade radical de formalização
quanto da insuficiência da teoria – nem toda a psicopatologia psicanalítica será
compreendida pelo critério de extração do objeto a que organiza o sistema
representado no quadro acima.
O Sintoma em Psicanálise
Já na psicanálise, o sintoma não é entendido necessariamente como sinal de
doença, mas como a marca do sujeito do inconsciente, podendo ser
apreendido apenas dentro da história de cada indivíduo. Assim, o sintoma não
nos remete a uma classificação de diagnósticos, mas ao próprio sujeito.
Caro(a) aluno(a), o sintoma, para a psicanálise, não é o simples elemento de
uma categoria que representa um transtorno no DSM-IV, não é o simples
índice de uma doença, nem um signo cujo médico veio para traduzir. O
sintoma, para psicanálise, é gozo, é um modo de gozar pelo sofrimento, é
aquilo que se satisfaz e do qual não se sabe. Portanto, o sintoma deve ser
compreendido como o lugar de um sofrimento que proporciona satisfação
sexual para o indivíduo sem que ele o saiba. Desse modo, a tarefa de uma
análise não consiste em eliminar o sintoma, em calar o grito do sujeito, mas
fazer com que o sujeito conheça os significantes que o determinaram em sua
história para que, destes ele possa se desalienar, escapando de seu poder de
comando. Isso é fazer psicoterapia psicanalítica.
Concepções da Neurose
Caro(a) aluno(a), em 1890 Freud propõe e divide a neurose em dois conceitos,
neuroses atuais e psiconeuroses.
Neuroses atuais: são afecções patológicas que remetem à frustração sexual,
ou seja, é atual, pois a origem da problemática estaria no atual momento do
aparecimento do seu sintoma. Portanto, Freud descreve a neurastenia como
causada por masturbação excessiva; e a neurose de ansiedade (ou angústia)
como uma estimulação sexual não descarregada.
Psiconeuroses: são afecções patológicas que tinham origens em traumas
sexuais na infância. Entre elas estariam à histeria, à obsessão (ou neurose
obsessiva), e às fobias.
A neurose é uma das maneiras que o organismo psíquico encontra para se
defender de conflitos que não foram passíveis de sofrer total recalcamento
(Nasio, 1991).
Com a ocorrência de um trauma, origina-se no psiquismo uma força excedente
de energia que necessita ser recalcada, contudo, o processo de recalque
também origina força no psiquismo no que tenta dominar essa carga, de modo
que as forças entrem em conflito.
Portanto caro(a) aluno(a), o que acontece no caso das neuroses, é o fato de
que o recalque falha, de modo que a energia excedente originada pelo trauma,
que também podemos denominar de gozo inconsciente e doloroso, vence a
força do recalque, colocando o sujeito à mercê de profundo sofrimento. De
modo que se desenvolve a neurose como a forma do organismo se proteger,
transformando esse gozo doloroso sem que ele seja totalmente destrutivo para
o sujeito.
A palavra “neurótico” tem sido usada pelo senso comum, como sinônimo de
loucura, o que classifica um pensamento impróprio. Na psicanálise
esse sentido, entende-se neurose como uma determinada forma de
subjetividade, ou seja, como o indivíduo reage e interpreta às situações da sua
vida.
“Define-se neurose ou psiconeurose como quadros de origem psíquica
que podem estar relacionados a situações externas na vida do sujeito, os
quais provocam desordem na saúde mental, física ou da personalidade
do indivíduo, podendo gerar angústia e ansiedade em vários contextos.
-Alex Barbosa - Psicanalista e Psicólogo”
Por isso caro(a) aluno(a), na neurose será comum no divã, no consultório
psicanalítico, a manutenção do conteúdo problemático como segredo é o
que chamamos recalque ou repressão. O paciente neurótico esconde de si
mesmo o problema, o sintoma ou a dificuldade que o psicótico encontra fora de
si. Ou seja, na neurose há uma cisão da psique. Alguns conteúdos ficam
recalcados, escondidos, em segredo e causa sofrimento nos sintomas dos
quais a pessoa reclama.
Para Freud, é no complexo de Édipo, que se constitui o núcleo inconsciente
de todas as neuroses e psicoses, em torno do qual se agrupam os restantes
complexos e fantasias.
De acordo com a psicanálise, a maioria das pessoas é afetada de alguma
forma pela neurose, seja a partir de uma angústia ou ansiedade, alguma
expectativa desagradável ou ainda um medo sem causa, indefinível, mas que
toma o sujeito completamente.
Os primeiros escritos da obra freudiana categorizavam os transtornos
emocionais em três grupos e Freud os denominava de psiconeuroses.
A princípio, Freud estudou a neurose sobre a perspectiva da teoria do trauma,
cuja natureza estava contida em um trauma sexual vivenciado pelo sujeito,
porém com o abandono dessa teoria, surge o conceito empírico do Complexo
de Édipo no entendimento dessa formação.
Nesse momento, houve uma ruptura em que Freud passou a perceber a
importância do conflito psíquico na produção dos sintomas e apreendeu que a
criança tem sentimentos ambivalentes com seus pais, que são em parte,
reprimidos.
O ser neurótico não significa estar preocupado com algo o tempo inteiro. A
pessoa que tem este transtorno reage de forma incontrolável quando
submetida a determinadas situações. Apesar de não perder o vínculo com a
realidade, ou seja, ela sabe exatamente o que está acontecendo, não
consegue controlar a intensidade de seus atos, nem atuar dentro do padrão
da “normalidade”.
Quem se enquadra nessa estrutura clínica sofre uma intensa angústia e
ansiedade. É marcado por uma perturbação mental, com manifestações nas
esferas física, mental e fisiológica. O comportamento neurótico é relativamente
comum e se manifesta em quadros de depressão, fobias, desordens de
personalidade e tendências obsessiva-compulsivas.
A neurose ou neuroticismo nunca deve ser confundida com a psicose, já que
nesse último transtorno o paciente perde o contato com a realidade.
Concepções da Psicose
Freud expõe que neurose e psicose não são opostas em si mesmas, e até
operam até certo ponto de modo semelhante. A diferença entre ambas estaria
no modo de lidar com a castração, ou seja, a experiência enigmática do gozo,
uma vez que “o Édipo está para todos”.
O indivíduo psicótico encontra fora o que exclui dentro, ele fora-inclui, inclui
fora o que, na neurose representa a dinâmica do recalque. Em outras
palavras, na psicose o problema é encontrado fora, o problema está sempre
fora, nas outras pessoas.
Fator Importante sobre a Psicose: do ponto de vista psicodinâmico, a
psicose nada mais é do que a institucionalização da falência do sistema
responsável pela operacionalização da necessária articulação entre o
programa genético, os programas adaptativos e o ambiente. Este sistema, que
se desenvolve na interação ambiental, é conhecido com o nome de Ego.
Caro(a) aluno(a) saiba que a clínica da psicose é um desafio, coloca como foco
o acolhimento ao sujeito a partir da escuta daquilo que é subjetivo. Por trás de
alucinações e delírios existe um sujeito, uma linguagem, corroborando a
possibilidade de subjetivação. O discurso delirante porta uma significação, a
emergência do sujeito aponta para essas questões.
Separamos alguns postos-chaves sobre psicose:
• A psicose não é uma doença em si mesma,é um sintoma;
• Um delírio psicótico comum é a crença de que o indivíduo é uma figura
importante;
• Diagnóstico precoce de psicose melhora os desfechos em longo prazo;
• A psicose é classicamente associada a transtornos do espectro
daesquizofrenia e, embora, existam outros sintomas, um dos critérios
definidores para a esquizofrenia é a presença de psicose.
Sintomas de Psicose
Os dois principais sintomas da psicose são:
• Alucinações: quando uma pessoa ouve, vê e, em alguns casos, sente,
cheira ou saboreia coisas que não estão lá; um tipo de alucinação comum
é ouvir vozes.
• Delírios: Quando uma pessoa tem crenças fortes que não são
compartilhadas por outras pessoas; uma ilusão comum é alguém
acreditando que há uma conspiração para prejudicá-los.
A combinação de alucinações e pensamento delirante pode causar sofrimento
severo e uma mudança no comportamento. Experimentar os sintomas da
psicose é muitas vezes associado a um episódio psicótico.
Transtornos Correlatos
Às vezes, é possível identificar a causa do transtorno como uma condição
específica de saúde mental, como:
• Esquizofrenia: uma condição que causa uma série de sintomas
psicológicos, incluindo alucinações e delírios
• Transtorno Bipolar: uma condição de saúde mental que afeta o humor;
uma pessoa com transtorno bipolar pode ter episódios de humor baixo
(depressão) e altos ou humor exaltado (mania).
• Depressão Grave: algumas pessoas com depressão também
apresentam sintomas de psicose quandoestão muito deprimidas.
O transtorno também pode ser desencadeado por:
• Uma experiência traumática;
• Estresse;
• Uso indevido de drogas;
• Uso indevido de álcool;
• Efeitos colaterais da medicação prescrita;
• Uma condição física – como um tumor cerebral.
Tipos de Psicose:
Vários distúrbios podem exibir sintomas psicóticos, incluindo:
• Esquizofrenia: um distúrbio sério de saúde mental que afeta a maneira
como alguém se sente, pensa e age. Os indivíduos acham difícil distinguir
entre o que é real e o que é imaginário.
• Transtorno Esquizoafetivo: uma condição semelhante à esquizofrenia,
que inclui períodos de distúrbios do humor.
• Transtorno Psicótico Breve: os sintomas psicóticos duram pelo menos
1 dia, mas não mais que 1 mê Muitas vezes, ocorre em resposta a um
evento de vida estressante. Depois que os sintomas desaparecem, eles
podem nunca mais voltar.
• Transtorno Delirante: o indivíduo tem uma forte crença em algo
irracional e muitas vezes bizarro, sem base factual. Os sintomas duram 1
mês ou mais.
• Psicose Bipolar: os indivíduos apresentam sintomas de transtorno
bipolar (altos e baixos intensos de humor) e também experimentam
episódios de psicose. A psicose ocorre mais comumente durante as fases
maníacas.
• Depressão Psicótica: também conhecida como transtorno depressivo
maior com características psicó
• Pós-parto (também chamado de pós-natal) Psicose: uma forma grave
dedepressão pós-parto.
• Psicose Induzida por Substâncias: incluindo álcool, certas drogas
ilegais e alguns medicamentos prescritos, incluindo esteróides e
estimulantes.
Estas são as principais causas dos sintomas psicóticos, mas a psicose também
pode ser secundária a outros transtornos e doenças, incluindo:
• Tumor cerebral ou cisto;
• Demência – doença de Alzheimer;
• Doença neurológica – como doença de Parkinson e doença de
Huntington;
• HIVe outras infecções que podem afetar o cérebro;
• Alguns tipos de epilepsia;
• Acidente vascular encefálico.
A abordagem das classes diagnósticas em psicopatologia psicanalítica
exige, de nossa parte, uma precaução particular, uma vez que nesse
campo o diagnóstico altera o prognóstico.
Alessandro Euzébio - Psicanalista e Professor Universitário
Concepções da Pervesão
Queridos(as) alunos(as), vejam que a perversão é um desvio de
comportamento, apontado pela psicanálise como um dos tripés das
psicopatologias, juntamente com a neurose e a psicose. Popularmente, o termo
é utilizado para indicar uma espécie de “depravação sexual”, mas os
especialistas trabalham num campo muito mais amplo.
A perversão estrutura-se sobre uma vontade de transgredir a ordem natural
das coisas, de perturbar a norma social. Seria sim um fenômeno sexual, mas
também social, físico, político e estrutural.
Conceitualizando a Perversão:A pessoa perversa busca o prazer
continuamente, tanto em seus comportamentos como em suas fantasias.
Normalmente, este desvio de comportamento começa a se estruturar ainda na
infância, se desenvolvendo na fase adulta. O diagnóstico da perversão é
complexo, sendo necessário considerar os sintomas, mas também experiência
do paciente. Conceitualmente, pode ser dividida em dois grandes grupos:
perversão social e sexual.×Dispensar este alerta.
As perversões não são bestialidades nem degenerações no sentido patético
dessas palavras. São o desenvolvimento de germes contidos, em sua
totalidade, na disposição sexual indiferenciada da criança, e cuja supressão ou
redirecionamento para objetivos assexuais mais elevados — sua “sublimação”
— destina-se a fornecer a energia para um grande número de nossas
realizações culturais (FREUD,1905, p. 55-56).
Caro(a) aluno(a), na sua obra “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”,
Freud (1905) apresenta pela primeira vez o conceito de perversão. Trata como
a permanência na vida adulta de características perverso-polimorfas, típicas da
sexualidade pré-genital infantil, em detrimento da sexualidade genital por ele
considerada normal.
A partir de 1919, Freud começou a relacionar perversão e Édipo nos textos
“Uma criança é espancada: Contribuição ao estudo da origem das perversões”,
“A dissolução do complexo de Édipo”, e “A organização genital infantil: uma
interpolação na teoria da sexualidade”. Nesses textos, ele procura responder a
questão da perversão a partir da articulação entre o complexo de Édipo e o
complexo de castração, o que proporciona um avanço considerável na
solidificação dos seus estudos.
No entanto, é Lacan (veremos mais na disciplina Clínica Psicanalítica:
Lacaniana ainda neste módulo) que irá inaugurar uma psicanálise na qual
a perversão se coloca como um paradigma estrutural, mesmo que essa noção
não admita uma só interpretação, apresentando o conceito de estrutura como
um “conjunto de elementos que se constituem na relação, que são
exclusivamente interdependentes e que se regem por determinadas leis que
fazem parte de uma constituição interna”.
ASSISTIR VÍDEO
O Diagnóstico na Perversão
A pessoa perversa busca o prazer continuamente, tanto em seus
comportamentos como em suas fantasias. Normalmente, este desvio de
comportamento começa a se estruturar ainda na infância, se desenvolvendo na
fase adulta.
O diagnóstico da perversão é complexo, uma vez que é necessário considerar
os sintomas, mas também experiência do paciente. Conceitualmente, pode ser
dividida em dois grandes grupos: perversão social e sexual.
Além disso, segundo seu comportamento, o paciente poderá se encaixar em
um destes três tipos:
• Exagero ou Diminuição de Algo: a pessoa estereotipa
comportamentos, que passam a ser não só desejados, mas necessários
para que haja o prazer. Um exemplo seria o uso de objetos e acessórios
numa relação sexual, como vestir-se como o sexo oposto. O perverso
não o faz de forma eventual, como parte de uma fantasia, mas depende
dele de forma incondicional e com exagero.
• Inversão e Dissociação: a pessoa nega a norma estabelecida e toma
um “atalho” na hora de viver a sua vida. É marcadamente a ideia de
desvio, e essa negação da norma é a estratégia escolhida pelo paciente
para reafirmar sua força.
• Compromisso com a Transgressão: a pessoa não está disposta a
respeitar a moral, a lei e os costumes. Em seu compromisso de
transgredir perverte a norma, afirmando ou negando um conjunto de
costumes.
Alguns Sintomas na Perversão
Os sintomas podem variar de acordo com o paciente e, obviamente, com o tipo
de perversão. Normalmente, a pessoa perversa é manipuladora, impulsiva,
sedutora e se sente superior.
Mentiras e transgressão das normas fazem parte da rotina e não há sentimento
de culpa. Os perversos desejam poder e podem adotar práticas sexuais
entendidas como “desvios”.
Caro(a) aluno(a), mesmo complexo o tratamento de pacientes enquadrados
nesta clínica, e mesmo no geral dos casos não desarticular os sintomas, para
que a pessoa perca essa sensação de gozo e prepotência. Quando o
acompanhamento é efetivo e o paciente também colabore com o processo, o
quadro se estabiliza e se controla.
Perversão Social:
“Alguns aspectos da sociedade contemporânea, de modo que retrata o
processo pelo qual o sujeito é marcado neste contexto por traços da ordem da
perversão, bem como, tratará da formação deste conceito, implicando o sujeito
neurótico em um enodamento perverso social que o captura, de modo que em
diversas dimensões, ou organismos sociais, acabam por perverter o sujeito.”
OUVIR ÁUDIO
O Diagnóstico da Perversão no DSM V
Em 2013, foi publicado o DSM – V – TM – Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, em quinta edição, pela Editora Artes Médicas. Para
substituir os “antigos” conceitos, esse manual inventa a nova denominação de
“parafilias”. E as enumera na seguinte listagem:
• Exibicionismo;
• Fetichismo transvéstico;
• Fetichismo;
• Frotteurismo (tocar ou esfregar-se numa pessoa);
• Masoquismo sexual;
• Pedofilia;
• Sadismo sexual;
• Voyeurismo;
• E, sem outra especificação, escatologia telefônica (telefonemas
obscenos), necrofilia, parcialismo (foco em uma parte do corpo),
zoofilia, coprofilia, clismafilias (enemas) e urofilia (urina).
Com relação ao parceiro, a “parafilia” pode contemplar: um sujeito (pedofilia,
sadomasoquismo); o próprio corpo (transvestismo, exibicionismo); um animal
ou objeto (zoofilia, fetichismo).
A Perversão: Psicopatia
Caro(a) aluno(a), muito se fala sobre psicopatia, seja na TV, nos jornais, no
cinema (serial killers), best-sellers, nas escolas psicanalíticas, universidades,
na área da saúde e etc. Esse tema além de gerar terror e fascínio, também
ganha modificações na ficção e nas repercussões e gera confusão naquilo que
diz respeito ao seu claro entendimento. Então, por onde ela é compreendida?/o
que é a psicopatia e como ela se apresenta?/quais suas características?/como
estudar, diagnosticar, prever, tratar?
Dentro da ótica psicodinâmica, existem diversos conceitos que já foram
empregados por autores distintos e se relacionam, em algum nível, com a
temática exposta, como: personalidade psicopática, caráter psicopático, caráter
antissocial, caráter impulsivo, organização psicopática da personalidade, tópica
do psicopata, perversão de caráter, comportamentos dissociais, tendências
antissociais, perversão e perversidade, dentre outros.
Embora os termos variem bastante, eles costumam fazer referência a um ponto
padrão, que é a questão do comportamento antissocial, isto é, a presença
constante de atos que vão contra as normas e instruções socioculturais
partilhadas por grupos e comunidades. Os atos delituosos, transgressores e
cruéis são considerados antissociais e seu aparecimento na infância relaciona-
se com o conceito de tendências antissociais, proposto pelo psicanalista inglês
D. W. Winnicott (ano) e fenômeno confirmado com a análise do
desenvolvimento de diversos psicopatas e serial killers.
Neste momento, vale a pena frisar a diferença entre o psicopata e o serial killer.
Quando se fala em psicopatas e psicopatia, ainda que o termo possa ser
observado por diversas e distintas óticas, faz parte da área da saúde e diz
respeito ao funcionamento de personalidade de acordo com instancias
psíquicas, cerebrais e/ou comportamentais. Já o termo serial killer é próprio do
campo da criminologia e diz respeito a uma modalidade de assassinato.
Portanto, caro(a) aluno(a), podemos encontrar serial killers que não são
psicopatas e psicopatas que não são serial killers.
Uma das curiosidades iniciais é que ao buscar o termo no DSM-IV e DSM-V,
este último, a versão atualizada de uma das principais referências
internacionais para diagnóstico e tratamento das desordens mentais, a palavra
psicopatia não é encontrada enquanto um transtorno descrito, mas aparece,
juntamente à sociopatia, enquanto sinônimo do Transtorno de Personalidade
Antissocial (TPAS). Sendo assim, percebe-se que a psicopatia guarda uma
apontada relação com o TPAS, mas seriam a mesma coisa?
Para tentar compreender a situação, é necessário voltar à origem do termo e
analisar suas transformações.
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FIM