Artigo
E-ISSN 1808-5245
Museu da Companhia Paulista:
patrimonialização de coleção documental e
bibliográfica1
Andreza Vellasco GomesI
IUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis, SP, Brasil;
[email protected] ; https://orcid.org/0000-0001-5627-6151
Eduardo Romero de OliveiraI
IUniversidadeEstadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis, SP, Brasil;
[email protected] ; https://orcid.org/0000-0002-1287-4798
Resumo: Este artigo tem como propósito descrever o processo de do acervo
documental e bibliográfico do Museu da Companhia Paulista, que apresenta
uma ampla variedade de materiais. A pesquisa que fundamenta este estudo é de
natureza exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa e qualitativa,
além do uso das metodologias da história oral. Por meio desta análise, torna-se
possível observar as relações estabelecidas entre a criação do acervo e as
instituições responsáveis por sua origem, permitindo reflexões acerca da gestão
do patrimônio durante o processo de desestatização. O objetivo principal deste
estudo é compreender as políticas públicas envolvidas na formação do acervo.
Palavras-chave: patrimônio cultural; patrimônio industrial; patrimônio
documental; acervos; museus ferroviários
1 Introdução
O debate sobre a preservação do patrimônio cultural está em constante evolução,
apesar da criação de leis nas últimas décadas, ainda há desafios na proteção do
patrimônio ferroviário devido à falta de legislação clara (vide Rodrigues, 2001;
Choay, 2006). Apesar do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) ser responsável pela gestão dos bens históricos da Rede Ferroviária
Federal (RFFSA) (Brasil, 2007), as políticas públicas para o patrimônio
documental foram marginalizadas no século XIX e XX, mas expandiram-se a
partir da década de 1980 (Camargo, 1999) . Hoje, existem políticas para
arquivos públicos, incluindo os da RFFSA, mas a preservação é essencial.
Recentemente, houve um aumento no interesse pela memória ferroviária, mas há
uma escassez de estudos sobre acervos privados e fundos industriais, museus
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ferroviários têm sido estudados, mas não o acervo documental, tornando esta
pesquisa inédita nesse aspecto (Gomes, 2021).
O objetivo deste artigo é apresentar uma descrição detalhada da
formação do acervo documental do Museu da Companhia Paulista e seu
processo de institucionalização/patrimonialização. Trata-se de um acervo
bibliográfico e documental de grande diversidade, relacionado às empresas
ferroviárias, e composto por plantas, desenhos técnicos, mapas, atas, circulares,
livros, relatórios e diversos documentos administrativos e periódicos. O acervo
da Biblioteca Ferroviária do Museu da Companhia Paulista de Jundiaí foi
originalmente pertencente à Ferrovia Paulista S.A. (FEPASA) e estava
localizado na biblioteca desta empresa em São Paulo. É importante ressaltar que,
durante o processo de privatização ocorrido na década de 1990, as atividades da
empresa naquele endereço foram encerradas e todo o acervo foi transferido para
Jundiaí, onde já se encontrava o museu ferroviário.
O Museu Ferroviário "Irineu Evangelista de Sousa" (Barão de Mauá) foi
criado em 1979 em Jundiaí, com o objetivo de preservar o patrimônio industrial
ferroviário. Em 1995, passou por uma reformulação, tornando-se o Museu da
Companhia Paulista (MCP). Sua Biblioteca, fundada em 1998 por funcionários
da FEPASA, incorporou o acervo bibliográfico e documental da antiga RFFSA.
Em 1999, a administração do museu foi transferida para a Companhia Paulista
de Administração de Ativos (CPA), e em 2001, a Prefeitura de Jundiaí assumiu
sua gestão (Oliveira, 2010a).
Conforme Gonçalves (1998), analisar espécie, tipo, forma e conteúdo é
crucial para identificar e caracterizar registros arquivísticos. Esses aspectos
elucidam o contexto de produção, facilitando a classificação. A história dos
documentos, incluindo origem, empresa, organização e outros fatores, também é
relevante para entender seu contexto.
Na pesquisa histórica do Museu da Companhia Paulista, identificou-se a
divisão do acervo: documentos de arquivo foram para o Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes (DNIT), materiais iconográficos para o Arquivo
do Estado, e documentos bibliográficos permaneceram na Biblioteca do Museu.
O estudo preenche lacunas na organização de acervos em museus ferroviários,
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contribuindo para a conservação do patrimônio documental no Brasil. Utiliza
abordagens quantitativas, qualitativas, exploratórias e descritivas.
O artigo em questão destaca a relevância das políticas de preservação
documental na ciência da informação, ressaltando que a dimensão política
dessas diretrizes é uma contribuição significativa para os estudos. Apesar de não
se aprofundar na parte técnica específica da arquivística, o texto evidencia que
os processos de preservação vão além dos elementos técnicos, abrangendo uma
gama mais ampla de considerações e práticas.
2 Metodologia
Dados foram coletados por meio de visitas técnicas e registros documentais.
Utilizaram-se instrumentos apropriados e o software Zotero para organizar
informações em planilhas, com palavras-chave para facilitar a busca. Os
documentos foram registrados na Biblioteca Memória Ferroviária (BMF),
permitindo a reconstrução virtual dos catálogos das bibliotecas originais. Essa
abordagem recuperou a história do acervo e melhorou sua organização,
ampliando o entendimento do patrimônio documental do Museu da Companhia
Paulista.2
Para entender o contexto histórico da formação do conjunto
bibliográfico, foram realizadas entrevistas com pessoas que trabalharam com o
acervo na época. Essas entrevistas seguiram um roteiro pré-estabelecido,
baseado em métodos da história oral, incluindo a coleta de dados para o roteiro,
o contato com os entrevistados, a gravação, transcrição e análise das entrevistas
(Alberti, 2005).
Portanto, uma parte significativa da pesquisa se baseia na história oral,
onde a memória desempenha um papel fundamental na investigação. A história
oral e a memória estão diretamente relacionadas às entrevistas e buscam
esclarecer conflitos de interesse entre as organizações envolvidas nos processos
em questão. Isso envolve duas abordagens: uma subjetiva, com base nas
lembranças e reflexões dos entrevistados; e outra objetiva, relacionada a objetos,
estruturas, documentos e leis envolvidos.
Entrevistar gestores municipais e estaduais é fundamental para entender
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a política cultural do país. No entanto, é importante considerar que, devido ao
seu envolvimento na administração pública, suas opiniões podem ser
influenciadas por perspectivas específicas relacionadas às suas funções e
responsabilidades. Foram necessárias várias tentativas de contato para explicar
detalhadamente a intenção do projeto.
Para compreender a extinção da RFFSA, é fundamental considerar o
contexto político-econômico dos anos 1990 no Brasil, caracterizado por
políticas neoliberais. O Programa Nacional de Desestatização (PND), reeditado
em 1990 durante a presidência de Fernando Collor de Mello, promoveu a
inclusão da RFFSA, iniciando assim o processo de sua extinção em 1992. A
RFFSA possuía 21.993 km de ferrovias, atendendo 18 estados e com um
patrimônio avaliado em 14 bilhões de dólares. O processo de desestatização
seguiu diretrizes do Conselho Nacional de Desestatização (CND), incluindo a
divisão da parte de transporte de carga, a transferência dos ativos operacionais
via arrendamento com opção de compra, e a criação de um órgão regulador e
julgador com poder para controlar abusos de poder econômico e resolver
conflitos (Paradela, 1998).
Analisamos os processos de tombamento do Complexo FEPASA pelo
IPHAN e CONDEPHAAT para investigar se a composição da coleção reflete
políticas de preservação. Esta análise se relaciona com a história da instituição,
políticas de preservação e difusão do Museu. O artigo investiga a formação do
acervo documental anterior à criação do Museu, suas condições de criação,
influência da legislação na sua formação e detalhes de gestão. O objetivo é
preencher lacunas na organização de acervos em museus ferroviários e
promover o debate sobre a conservação do patrimônio documental no Brasil.
3 Detalhamento livro a livro
É relevante destacar, no que se refere à análise pormenorizada do acervo livro a
livro, a necessidade de discriminar a proporção de documentos de arquivo em
relação aos bibliográficos. De acordo com os resultados obtidos, 95% do
material consultado era composto por documentos de arquivo, enquanto apenas
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5% eram bibliográficos (vide Gráfico A), evidenciando a predominância desses
itens no acervo. Durante a pesquisa, foram identificados consistentemente
documentos como atas, periódicos, relatórios, legislação, boletins, fichas
catalográficas, registros de acervos e mapas, entre outros.
Figura 1 – Gráfico A
Fonte: Dados de pesquisa e RFFSA (2007).
Os documentos arquivísticos são assim denominados quando formam
conjuntos que refletem os conteúdos decorrentes do funcionamento de uma
entidade em suas funções. Esse conceito implica que o documento seja
acumulado em uma lógica que reflita o contexto de sua própria produção,
revelando os objetivos da entidade. A identificação de procedência é orgânica,
pois os documentos mantêm relações entre si de acordo com as atribuições,
competências, funções e atividades da entidade. A preservação do contexto de
produção e a lógica de acumulação desses documentos oferecem aos
historiadores maior clareza e sentido para a análise e crítica histórica (Goulart,
2005).
É interessante notar que, embora os documentos de arquivo constituam
95% do total (totalizando 10.027 documentos registrados nesta pesquisa), foi
identificado que 481 desses documentos tiveram origem em bibliotecas
(Biblioteca Fepasa e Biblioteca Estrada de Ferro Sorocabana), enquanto 2.271
documentos estavam reunidos na Biblioteca do Museu da Companhia Paulista
(BMCP) em 2018. Assim, 2.752 itens identificados (o que equivale a 18% do
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total) foram acondicionados adequadamente para livros, embora esses
representem apenas 5% do total de documentos identificados.
No entanto, é importante ressaltar que os documentos arquivísticos que
estavam reunidos em arquivos ou centros de documentação, como a Fepasinha,
a Divisão de Documentação Técnica da FEPASA e a Inspetoria Geral, não
necessariamente apresentavam um acondicionamento adequado para sua
preservação.
De acordo com Leticia Schoenmaker, responsável pela biblioteca em
2018, a Biblioteca FEPASA recebeu parcialmente o acervo de bibliotecas que
foram incorporadas pela empresa, como a Estrada de Ferro Araraquara,
Companhia Mogiana, Companhia Paulista, Estrada de Ferro Sorocabana e uma
parte do fundo da RFFSA. Assim, a maior parte do acervo da BMCP é formada
por transferências de outras bibliotecas e algumas doações individuais (vide
Figura 1). Leticia também observou que tanto a Sorocabana quanto a FEPASA
possuíam bibliotecas para funcionários, resultando na identificação de outros
tipos de publicações além de documentos, como romances, quadrinhos e livros
de história, que estão relacionados ao campo da biblioteconomia (Schoenmaker,
2018).
Figura 2 - Gráfico B
Fonte: Dados de pesquisa e RFFSA (2007)
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No gráfico B, é possível notar que a maior parte dos documentos
identificados teve origem na Fepasinha, que é um arquivo histórico da FEPASA,
localizado em Campinas/SP. Como mencionado anteriormente, o levantamento
desse acervo foi feito pela Arquivo Público do Estado de São Paulo (APESP) de
forma quantitativa e por exigência judicial, e posteriormente, apenas o acervo
iconográfico foi transferido para o Arquivo do Estado. Alguns documentos
catalogados estavam indisponíveis devido às más condições do acervo, tornando
a pesquisa mais demorada. Portanto, não se tem informações sobre o estado de
conservação dos demais documentos de arquivo identificados nesse
levantamento.
Outro aspecto relevante a ser considerado acerca das informações
sistematizadas é a inexistência de um instrumento de registro que possa
apresentar um inventário dos documentos ou uma listagem patrimonial. Além
disso, não há uma indicação clara sobre quais itens foram acrescentados ou
removidos do acervo e quais se encontram presentes atualmente. Essa situação
evidencia a ausência de uma política institucional para orientar as atividades de
aquisição, preservação e descarte de materiais, bem como para estabelecer
critérios para a formação do acervo.
Em instituições de memória, uma política orienta a formação e
desenvolvimento das coleções. Apesar de acervos variados, é consenso que não
se pode preservar tudo. Portanto, essas políticas visam definir o que preservar
para o futuro. (Almeida, 2016).
Em arquivos, leis que regulam a incorporação de documentos podem
impactar a atuação das instituições. É aconselhável que as entidades
responsáveis pela preservação do patrimônio documental estabeleçam medidas
próprias na formação de acervos, seguindo diretrizes das políticas públicas. A
ausência desses instrumentos está vinculada à gestão do espaço e às
regulamentações que definem tais ferramentas de controle (Camargo; Goulart,
2015, p. 104).
De acordo com Paulo Vicentini (2018), que atuou como diretor do
departamento de museus durante as gestões de 2000 e 2018, a documentação
acumulou-se ao longo dos anos sem uma política pública efetiva para regular
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esse acúmulo, e várias tentativas de catalogação do acervo foram descontinuadas
em gestões anteriores.
Biblioteca FEPASA recebeu parcialmente acervos de empresas
incorporadas, como Estrada de Ferro Araraquara, Companhia Mogiana,
Companhia Paulista e Estrada de Ferro Sorocabana, além de parte do fundo da
RFFSA. A maioria do acervo da Biblioteca FEPASA resulta de transferências
de outras bibliotecas e doações individuais. As bibliotecas da Sorocabana e
FEPASA, que constituem a maior parte do acervo de 2018, também possuíam
bibliotecas para funcionários, explicando a variedade de publicações
(Schoenmaker, 2018).
Após a dissolução das empresas públicas FEPASA e RFFSA, um acervo
conjunto surgiu, incluindo vários tipos de documentos, como literatura,
desenhos técnicos, plantas e estudos. A integração das bibliotecas dessas
empresas públicas deu origem a uma coleção. Durante a pesquisa, foram
encontrados carimbos com o endereço da rua Barra Funda, que passou para o
controle estadual em 1995, sugerindo a transferência do acervo para Jundiaí
naquele período.
Em relação ao acervo documental e bibliográfico da FEPASA, houve a
transferência do local de sua origem na Barra Funda para galpões. Em 2001,
uma comissão técnica do Arquivo Público do Estado de São Paulo visitou o
local e constatou a alarmante situação de desorganização dos documentos, que
se encontravam dispersos em estantes, armários, caixas e pacotes, em meio a
animais mortos, infiltrações e sujeira. O acesso ao acervo era prejudicado pela
falta de instrumentos adequados e não havia histórico de registro dos
documentos (Oliveira, 2010b).
Segundo Leticia (Schoenmaker, 2018), a formação do acervo da
FEPASA ocorreu gradualmente ao longo do tempo e se consolidou por meio do
processo de desestatização da ferrovia nas décadas de 1990 e 2000. Nesse
período, o museu estava situado em um complexo de oficinas desativado, que
era utilizado para o armazenamento de peças e documentos sob a administração
de uma empresa já extinta (RFFSA). Consequentemente, toda a manutenção do
acervo era de responsabilidade de um único funcionário (Oliveira, 2010b).
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Após denúncias na mídia sobre o estado de abandono e roubos no acervo
da FEPASA, a preservação do museu se tornou crucial no processo de
tombamento nos anos 2000. Ex-funcionários ferroviários fundaram a
Associação de Preservação da Memória da Cia Paulista (APMCP), uma
organização sem fins lucrativos presidida por Eusébio Pereira dos Santos. Seu
objetivo era garantir a preservação do museu antes do tombamento final, que
ocorreu em 2004.
Em fevereiro de 2002, o Programa de Bens Culturais foi encerrado,
interrompendo os estudos de gestão e preservação em São Paulo, além da
colaboração da APMCP. Em 2004, parte do acervo foi movido para o Bom
Retiro sob a administração da RFFSA. Em Jundiaí, permaneceram itens
relacionados ao Museu Ferroviário e a biblioteca do museu, gerenciada pela
prefeitura. Em 2014, o Arquivo Nacional iniciou a transferência de arquivos
para o Complexo FEPASA, mas as condições precárias da biblioteca ameaçam a
sobrevivência dessa documentação (Vicentini, 2018).
Durante as investigações, o Diretor do Departamento de Museus afirmou
que tanto o acervo tridimensional quanto o bibliográfico do Museu Ferroviário
são de responsabilidade do DNIT, não da prefeitura. Vicentini aponta que o
centro de memória de Jundiaí focou mais na documentação colonial e imperial,
negligenciando a documentação ferroviária devido à sua propriedade. Medidas
temporárias, como limpeza e dedetização, foram tomadas em 2018 para
preservar os documentos (Vicentini, 2018).
A postura do diretor contrasta com gestões anteriores no museu. Um
acordo estabelecido em 16 de novembro de 2010 entre a então coordenadora do
museu, Karin Bizarro, e o IPHAN mostrou a disposição da gestão do museu em
assumir a responsabilidade pela organização arquivística de parte do acervo
documental remanescente.
Em 14 de dezembro de 2012, a documentação organizada deixou o
Museu Solar e foi transferida para uma residência na rua Salvador Fonseca,
adaptada com segurança, incluindo sprinklers contra incêndios, alarmes e
sistemas de conservação, mantendo padrões elevados de preservação.
Entretanto, sob uma administração municipal subsequente, quatro meses depois,
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o acervo foi movido para um prédio no centro da cidade com problemas de
alagamento (Vicentini, 2018). Isso reflete a falta de continuidade entre
diferentes gestões e a incerteza em relação ao destino do acervo.
4 Os processos de tombamento
Nesta seção, examinaremos os processos de tombamento do Complexo
FEPASA, que inclui o Museu da Companhia Paulista de Estradas de Ferro
(MCP) e sua Biblioteca. Dois procedimentos de tombamento começaram em
diferentes esferas administrativas: um a nível federal, liderado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2001), e outro a nível
estadual, conduzido pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT,
2009). Ambos os processos foram iniciados a pedido de grupos da sociedade
civil: a SOAPHA solicitou o tombamento a nível federal, enquanto a União dos
Ferroviários Aposentados (UFA) impulsionou o processo a nível estadual.
Como mencionado, o tombamento, em vigor desde 1937, é a principal
estratégia de preservação no Brasil. No entanto, é importante ressaltar que
preservação e tombamento não são a mesma coisa. A preservação abrange todas
as ações do Estado para conservar a memória nacional, enquanto o tombamento
é um mecanismo específico na política de preservação (Castro, 2009). O ato de
tombar um bem o protege, incluindo-o na lista de bens tombados, o que tem
vantagens e limitações.
Os processos de tombamento que serão abordados aqui de alguma forma
refletem concepções gerais sobre a maneira como as autoridades responsáveis
encaram a preservação, embora haja observações de conflitos entre os próprios
representantes dessas instituições. Além disso, tais processos também
evidenciam conflitos entre os solicitantes e as autoridades, revelando diferentes
entendimentos sobre a preservação por parte dos diversos atores sociais
envolvidos.
Para uma compreensão abrangente dos diferentes estágios de cada
processo, é imperativo enfatizar duas questões cruciais. A primeira delas é o
Programa de Recuperação de Bens Culturais (PRBC), enquanto a segunda está
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relacionada ao papel crítico desempenhado pela privatização, uma vez que esta
influenciou diretamente a dinâmica envolvendo o museu (Bartcus, 2012).
No que diz respeito ao Programa de Recuperação de Bens Culturais
(PRBC), vale ressaltar que ele foi estabelecido durante o mandato de Mário
Covas como governador em 1997. No decreto de criação, é evidente que uma
das principais preocupações do PRBC é a preservação e salvaguarda de bens
culturais.
Ao apresentar a solicitação de tombamento ao IPHAN, a SOAPHA
fundamentou sua petição com argumentos destinados a assegurar a aprovação,
destacando o significativo valor histórico e cultural tanto do patrimônio
imobiliário quanto do mobiliário localizado no complexo. Isso se tornou
especialmente relevante devido ao fato de que a RFFSA estava em processo de
negociação para a venda de estruturas para empresas privadas, bem como a
realização de leilões de peças do acervo.
Apesar de a solicitação ter sido oficialmente apresentada pela SOAPHA,
várias outras entidades desempenharam um papel significativo ao longo do
processo, e uma característica comum entre todas elas é a preocupação com os
atos de depredação e vandalismo que o espaço sofreu. Esse contexto não é
exclusivo de Jundiaí, mas sim uma preocupação geral em relação aos bens
ferroviários; muitas associações dedicadas à preservação da memória denunciam
esse tipo de prática.
A SOAPHA alega que a negligência da RFFSA resultou em ações de
depredação, evidenciando seu foco no valor de mercado em vez da preservação.
Isso gera divergências de interesses. Também há conflitos entre entidades, e a
SOAPHA insinua que a APMCP e a Secretaria de Recuperação de Bens
Culturais são ineficazes na administração do espaço.
Essas situações evidenciam conflitos subjacentes entre os envolvidos,
relacionados a um senso de pertencimento ao acervo, não apenas legal, mas
social. Conflitos internos também surgem com opiniões divergentes sobre a
preservação do patrimônio.
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4.1 Processo de tombamento "Conjunto de edificações da Companhia
Paulista de Estradas de Ferro, município de Jundiaí, estado de São Paulo"
– IPHAN
O parecer inicial, de março de 2002 por Carlos G. F. Cerqueira, destacou a
importância do acervo. Ele identificou desafios no tombamento e preocupações
com bens museológicos, antecipando problemas relacionados ao acervo móvel,
como custos de manutenção que requerem mão de obra especializada. Cerqueira
ressaltou que a grande quantidade de bens ferroviários complicava a elaboração
de inventários e dificultava o trabalho do IPHAN. A questão inicial que se
coloca é se o tombamento realizado pelo IPHAN abrange ou exclui da sua
proteção legal os bens móveis, bem como o acervo documental e bibliográfico,
ou seja, parte do acervo correspondente ao Museu da Companhia Paulista de
Estradas de Ferro (MCP) e à sua Biblioteca (BMCP). Em 2003, dois anos após a
aquisição do Complexo Fepasa pela prefeitura, o Ministério Público emitiu duas
notificações: a primeira dirigida ao Secretário Municipal de Educação, Cultura e
Esportes de Jundiaí, com o propósito de alertar sobre a situação do acervo do
museu, e a segunda destinada ao IPHAN, solicitando que medidas de
acompanhamento para a preservação do acervo fossem adotadas. Em resposta, o
município de Jundiaí alegou não ter obrigações formais em relação ao acervo,
uma vez que este não estava vinculado à compra do Complexo, mas assegurou
que, de maneira informal, estava cuidando do acervo da melhor forma possível.
O arquiteto Mauro Bondi, em nome do IPHAN, respondeu, evidenciando a
complexidade subjacente a essa questão:
Apesar deste edital de notificação ter especificado que, além do
conjunto das 34 edificações da Companhia Paulista de Estradas de
Ferro integra igualmente o presente tombamento o acervo móvel
composto por bens de natureza museológica, fotográfica,
arquivística e bibliográfica, este conselho votou por unanimidade,
pelo tombamento apenas do conjunto de edificações [...] ficaram
excluídos, portanto, do processo de tombamento IPHAN nº 1485-T-
01 este acervo móvel (IPHAN, 2001).
Assim, o IPHAN reitera que o tombamento se limita ao conjunto de
edificações. O conselheiro Nestor Goulart acrescenta que o acervo não está
devidamente identificado, tornando inviável o tombamento dos itens
museológicos e arquivísticos. Eles prosseguem afirmando que o Museu da
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Companhia Paulista de Estradas de Ferro (MCP) não dispõe das condições
necessárias para o adequado armazenamento de uma coleção de negativos de
vidro, que, por decisão, é transferida para o APESP3.
Em 2005 a Procuradoria da República do município de Campinas enviou
uma solicitação ao IPHAN para uma reavaliação do valor histórico e
bibliográfico do acervo móvel da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CP)
com vistas a um possível tombamento. Eles argumentaram que os bens móveis
em questão eram de interesse público e destacaram que esses itens haviam sido
excluídos durante uma reunião do conselho. Marly Rodrigues, que ocupava o
cargo de chefe da divisão técnica na época, emitiu um parecer em resposta a
esse assunto, enfatizando a ideia de que a associação dos bens móveis ao imóvel
contribui para a construção da memória. No entanto, no caso das edificações que
compõem o Complexo FEPASA, ela alegou que essa complementação não se
aplicava.
A realidade é que o conturbado processo de privatização resultou em
uma situação caótica para o acervo documental, tornando assim inviável para o
IPHAN proceder com o tombamento desse acervo. Isso levanta outra questão
significativa em relação à Lei nº 11.483/2007, que atribui responsabilidades
específicas ao IPHAN. Conforme estabelecido nesta lei, o acervo já estaria
legalmente protegido e, portanto, essa proteção legal deveria ser suficiente para
garantir a preservação desse acervo.
Levando em consideração a importância da eficácia das leis, é notável
que, com a instituição do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) em janeiro de
2009, o artigo 9 da legislação (Brasil, 2009) transferiu para o IBRAM as
responsabilidades relacionadas ao patrimônio da Rede Ferroviária Federal S.A.
(RFFSA). No entanto, não foi estipulado por lei que o IBRAM deveria colaborar
com o IPHAN na preservação dos bens ferroviários, mesmo que seja evidente a
complexidade adicional associada à conservação do acervo documental e
museológico.
Enfim: a quem pertence o acervo das ferrovias em geral? Segundo a Lei
11.483, ao IPHAN, se ele não possui condições de gerenciar os acervos móveis,
tudo fica, no mínimo, complexo.
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No entanto, o tombamento não resolveria completamente discordâncias
públicas sobre a propriedade. Havia o risco de sobrecarregar o IPHAN.
Questões relevantes surgiram, incluindo a relação da RFFSA com o IPHAN e as
obrigações da RFFSA em relação ao acervo. O Decreto nº 6.018 especifica as
responsabilidades do inventariante, que são:
Providenciar o tratamento dos acervos técnicos, bibliográficos,
documentais e de pessoal, observadas as normas específicas,
transferindo-os, mediante termo próprio, ao Arquivo Nacional ou
aos órgãos e entidades que tiverem absorvido as correspondentes
atribuições da extinta RFFSA [...] (Brasil, 2007).
Portanto, este parágrafo da lei já indica claramente que o inventariante
tem a responsabilidade de assegurar o tratamento dos acervos, incluindo a tarefa
de localizá-los e identificá-los. No entanto, mesmo que, de acordo com esta lei,
o acervo não seja de propriedade do IPHAN, é evidente que o órgão
desempenhou um papel significativo em decisões cruciais relacionadas à
preservação do acervo.
Em seguida, foi estabelecido um termo de compromisso entre a
coordenadora do museu naquela época, Karin Bizarro, e a superintendente do
IPHAN em São Paulo, com o objetivo de realizar serviços de organização
arquivística dos materiais remanescentes na BMCP.
Por fim, em relação ao processo conduzido pelo IPHAN, tornam-se
evidentes as disputas pelo controle do espaço e o papel desempenhado pelo
IPHAN como mediador em todas essas questões. Além disso, mesmo que o
tombamento do acervo móvel não tenha ocorrido, uma vez que a prefeitura
atuou como guardiã informal por um longo período, o IPHAN empreendeu
esforços ao longo dos anos com o objetivo de preservação e/ou minimização de
danos. Internamente, a questão mais relevante que se destaca é a exclusão do
acervo móvel do processo.
Nesse contexto, podemos questionar se a legislação atual oferece
garantias suficientes para a preservação desses bens culturais e se esclarece a
questão da propriedade dos acervos, uma vez que, de acordo com a lei em vigor,
o responsável pelo inventário deve garantir as condições técnicas adequadas e o
tratamento dos acervos. A conclusão é que, à medida que esses documentos não
identificados passam de um órgão para outro, os acervos que não foram
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inventariados prejudicam a eficácia das ações de preservação.
4.2 Processo de tombamento "Estudo de Tombamento do Conjunto e
Equipamentos das Oficinas da Companhia Paulista" – CONDEPHAAT
O processo de número 36.516 tramitou no CONDEPHAAT e teve como
solicitante a União dos Ferroviários Aposentados de Jundiaí (UFA). Sua origem
remonta a 1997 e se refere ao "Estudo de Tombamento do Conjunto e
Equipamentos das Oficinas da Companhia Paulista". Já pelo próprio título, fica
evidente que os equipamentos estão incluídos no processo de tombamento,
evitando potenciais divergências, semelhantes ao que ocorreu no caso do
IPHAN. Similar ao processo anterior, a iniciativa de solicitar o tombamento
também partiu de uma associação vinculada a ex-ferroviários. Em setembro de
1996, a UFA, representada por Jaime Schenkel, um aposentado, encaminhou
uma carta ao CONDEPHAAT requerendo o tombamento do conjunto e dos
equipamentos. O processo começou por reconhecer as dificuldades relacionadas
aos bens móveis:
A importância do acervo do Museu da Companhia Paulista, ou
melhor dizendo, do Museu Ferroviário da FEPASA, é inegável.
Todavia, o tombamento de bens móveis é extremamente
problemático e merece um exame criterioso e definição estrita das
peças ou conjuntos que se quer valorizar por meio desse
instrumento de preservação. (CONDEPHAAT, 1997, p. 115)
Como consideração inicial, é importante observar que esse processo de
tombamento irá acompanhar toda a fase de transição das ferrovias paulistas, ou
seja, a incorporação da FEPASA a RFFSA e depois sua liquidação. Percebe-se
que essa situação administrativa trouxe inúmeros danos aos bens, algo que fica
mais evidente nesse processo quando comparado ao anterior.
As denúncias são mais graves e constantes, considerando que no ano de
2001 o contrato de comodato feito entre a Companhia Paulista de Ativos (CPA)
e a Secretaria de Bens Culturais, ocorrido em 1999, foi encerrado e, segundo
diversas denúncias, a proprietária (CPA) tentou fechar o museu, fazendo com
que o Ministério Público iniciasse uma investigação.
Novos conflitos surgem entre as mesmas entidades. A SOAPHA acusa a
Secretaria de Recuperação de Bens Culturais de transferir muitos bens do MCP,
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alegando falta de eficácia. A Secretaria, por sua vez, discorda da abordagem do
CONDEPHAAT em relação ao tombamento e nega as alegações de ineficácia,
conforme Bartcus (2012).
Para iniciar o processo, o Ministério Público de Jundiaí encomendou um
estudo à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, conduzido pela
Professora Doutora Beatriz Mugayar Kuhl em 1998. Em seu parecer
(CONDEPHAAT, 1997), ela destacou a importância histórica do conjunto, mas
alertou sobre as dificuldades de gerenciamento devido à privatização das
companhias ferroviárias na época, que colocava o patrimônio em risco. Ela
também enfatizou que, embora o tombamento não seja uma solução perfeita, na
ausência de uma política de preservação, era a única maneira de evitar danos
maiores.
Em 1999, Ulpiano Bezerra de Meneses, então Vice-Presidente do
CONDEPHAAT, emitiu um ofício expressando as preocupações dos
conselheiros devido às denúncias. Ele compartilhou a insatisfação de Beatriz
Mugayar Kuhl com a condução do processo de privatização, enfatizando que
ocorreu sem um inventário do patrimônio histórico ou uma política de
preservação.
Em uma vistoria realizada em 1999, constatou-se a situação precária em
que o museu e, especialmente, o arquivo da FEPASA se encontravam. Segundo
o relatório da vistoria, as instalações do arquivo apresentavam diversos
problemas, incluindo telhas, forros, esquadrias e vidros quebrados, além de
infiltrações e goteiras que causaram danos ao piso e à deterioração dos
documentos, devido à falta de manutenção e à invasão de morcegos, ratos,
baratas, pombas, entre outros, que contaminaram parte da documentação,
resultando em perdas irreparáveis. Além disso, o relatório menciona a ausência
de organização adequada do acervo bibliográfico e museológico. Com base
nessa vistoria, o CONDEPHAAT solicitou que medidas urgentes fossem
adotadas pela CPA e pela FERROBAN:
Face ao péssimo estado de conservação em que se encontram as
instalações em que se acham depositados os arquivos da FEPASA e
a necessidade de preservação dos mesmos, solicitamos:
Providências urgentes para preservação e organização dos acervos
museológicos, bibliográficos e arquivísticos armazenados no local
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[...] (CONDEPHAAT, 1997, p. 238).
Houve repetidas preocupações quanto à possibilidade de dispersão tanto
do conjunto documental quanto do acervo museológico, caso a RFFSA decidisse
doar parte do acervo do museu a alguma entidade ou leiloar as demais obras.
Como resultado, medidas foram solicitadas junto ao Ministério Público Federal
para evitar essa situação.
Vistorias posteriores concluíram algo que nessa altura já não era mais
novidade, que se fazia necessário ter uma compreensão do acervo como um
todo, e definir qual seria a melhor maneira de organizá-lo, respeitando as regras
arquivísticas.
No ano de 2001, outro elemento nesse processo merece destaque. A
Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) protocolou um documento contestando
o tombamento do acervo arquivístico, argumentando que essa proteção
prejudicaria o processo de liquidação da empresa. Cerca de um mês após a
RFFSA ter apresentado esse documento, novas denúncias chegaram ao
CONDEPHAAT, alegando que a empresa estava removendo documentos sem a
autorização de nenhum órgão. Em resposta, a Rede afirmou que estava retirando
apenas a documentação relacionada ao arquivo geral e que esses documentos
seriam armazenados em um edifício em São Paulo.
No que diz respeito à participação do Arquivo do Estado de São Paulo
(APESP) nesse processo, os profissionais do APESP não recomendam o
tombamento do arquivo. Em um parecer emitido pela conselheira Ana Maria de
Almeida Camargo:
Não cabe “tombar” documentos de arquivo público. Dispõem eles, a
partir da legislação brasileira, de uma série de mecanismos que lhes
asseguram conservação adequada. Os mais importantes vêm
claramente expressos na Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991 [...]
(CONDEPHAAT, 1997, p. 1132).
Ela também destaca como uma atribuição do Arquivo Nacional a
elaboração de um diagnóstico da condição dos documentos, mas com a premissa
de que eles fossem analisados em conjunto com exemplares de diferentes
municípios do estado. Isso possibilitaria a formulação de um plano de longo
prazo.
Nesse contexto, o enfoque foi mais em denúncias, vistorias e abaixo-
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assinados do que no próprio tombamento das estruturas e equipamentos.
Analisando ambos os processos, percebe-se que os órgãos de proteção muitas
vezes enfrentam críticas injustas em situações não de sua responsabilidade e têm
recursos limitados para intervir.
As dificuldades encontradas geralmente têm duas origens principais: a) o
desconhecimento e a falta de organização do acervo; b) problemas relacionados
à gestão e conflitos administrativos (questões que persistem nas gestões
subsequentes, como veremos no próximo tópico) decorrentes da liquidação da
RFFSA, que geraram muitas incertezas sobre a propriedade dos bens, conforme
apontado pelos técnicos envolvidos nos processos.
Hoje, o museu é administrado pela prefeitura, garantindo sua operação,
embora ainda haja tarefas pendentes, como a criação de um plano diretor e a
organização do restante do acervo na BMCP (atualmente, apenas documentos
bibliográficos estão lá). A situação geral é mais organizada do que nos processos
anteriores, e é evidente que denúncias e esforços de organizações
desempenharam um papel vital na construção desse acervo.
Os processos em análise têm focos distintos. No processo federal,
iniciado mais tarde, o conflito central envolve o tombamento do acervo móvel.
O IPHAN enfrentou dificuldades ao lidar com esses bens móveis. A
promulgação da lei da inventariança em 2007 agravou a tensão, pois o IPHAN
não estava preparado para um inventário independente. Nesse contexto, parte da
responsabilidade pelo tratamento negligente desses bens recaiu sobre a RFFSA.
No processo estadual, o foco é o vandalismo e a ameaça à perda do
patrimônio, iniciado em 1997, ligado ao contexto da privatização. Proteger o
patrimônio ferroviário requer esforço a longo prazo de diversos atores, público e
privado. É essencial implementar efetivamente uma política pública de
preservação, que muitas vezes não se mostrou eficaz. O que desaparece
gradualmente não é apenas a estrutura do Complexo FEPASA, mas também um
acervo arquivístico e museológico de grande relevância.
Observa-se que parte das incertezas relacionadas ao acervo em questão
decorre da lacuna entre a integração do acervo documental, que incluía várias
bibliotecas ferroviárias, na década de 90; a conclusão do processo de
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tombamento do Complexo em 2004; e a promulgação da Lei nº 11.483, em 31
de maio de 2007, que tratou da responsabilidade do IPHAN pelo patrimônio
ferroviário. Mesmo após todos esses processos que abordaram a mesma
temática, persiste a dúvida sobre a quem pertence esse acervo.
Em uma análise das administrações mencionadas, percebe-se que a
atuação do poder municipal ao longo dos anos tem sido marcada por
descontinuidades, em que a mudança de gestão interferiu em diversas políticas
que foram iniciadas e posteriormente interrompidas, tanto por parte das
associações quanto dos diretores. É importante destacar também a diferença
entre o período mais recente, em que Paulo Vicentini está à frente do Museu da
Companhia Paulista, mesmo ocupando o cargo de Diretor do Departamento de
Museus, que engloba outros museus da cidade, e os períodos anteriores, quando
Karin Bizarro, então Diretora do Complexo FEPASA, gerenciava o museu.
As ações ocorridas no período anterior, quando o diretor Paulo Vicentini
estava à frente do museu em 2000, indicam um interesse na realização de
serviços de organização arquivística dos documentos remanescentes. Isso
demonstra a intenção da gestão do museu em assumir a responsabilidade pelo
conjunto em questão. No entanto, é importante notar que na prática não foram
efetivamente realizadas atividades de limpeza, organização ou armazenamento
adequado desses documentos.
No período subsequente, quando o diretor do departamento de museus
assumiu a responsabilidade pelo museu (em 2018), houve uma interrupção de
projetos com características semelhantes. Isso se deve à falta de
responsabilidade legal da administração municipal em relação à documentação,
devido ao cumprimento das normas que proíbem investimentos em fundos que
não pertencem ao município, conforme estipulado pela lei de responsabilidade
fiscal. Apesar da falta de interesse oficial em gerenciar essa documentação até
que a situação seja regularizada, alguns serviços foram realizados para preservar
o acervo, como a dedetização para combater a ação de cupins e a higienização
de alguns materiais.
Portanto, é evidente que as abordagens de administração variam
conforme a gestão e não são estritamente dependentes da prefeitura ou de uma
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legislação específica que imponha um determinado curso de ação. Como
exemplo, o material consultado no Arquivo do Estado em 2012 estava
anteriormente armazenado no MCP, em Jundiaí, até o ano de 2001, quando foi
identificado durante uma visita técnica do Arquivo do Estado em 2001 (Cruz,
2001). De acordo com informações da diretora na época do MCP, Karen
Bizarro, confirmadas pelo diretor do Arquivo do Estado, Carlos Bacellar, esses
negativos foram retirados em 2004 e transferidos para o APESP, onde passaram
por restauração e foram guardados. Apesar dos resultados positivos em termos
de preservação da documentação, as circunstâncias da retirada foram irregulares
e não estavam em conformidade com a legislação.
A presença de um centro de documentação que guarda registros desde o
período colonial e imperial da cidade, incluindo cartas de data, atas da câmara
municipal, registros de escravos, e outros documentos, todos devidamente
organizados, conservados e acessíveis ao público e pesquisadores, indica que o
município possui uma estrutura capaz de lidar com documentos históricos.
Portanto, as questões pendentes relacionadas à BMCP podem estar mais
relacionadas à gestão. Sem um responsável claro pela preservação do patrimônio
documental e tridimensional durante o período em questão, a situação ficou no
centro dos conflitos entre os agentes de preservação, resultando na falta de
manutenção adequada. Diante desse impasse administrativo, as várias
metodologias utilizadas para organizar o acervo não tiveram continuidade, o que
resultou em um acervo documental precário.
5 Desmembramento do acervo
No que diz respeito à divisão do acervo em consideração, em 1º de outubro de
2019, uma visita técnica foi conduzida ao acervo do DNIT. Durante essa visita,
Rafael Tassi, chefe da seção de classificação da PHASES (empresa que venceu
a licitação para a organização desse acervo) e também coordenador geral da
parte técnica, foi entrevistado.
Tassi relata que a parte do acervo relacionada às transferências de
Jundiaí representa aproximadamente 8% do total do acervo do DNIT. O acervo
do DNIT está armazenado no local conhecido como "almoxarifado da Lapa,"
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situado na Av. Raimundo Pereira de Magalhães 902, em São Paulo (Ministério
do transporte; São Paulo (Estado), 2018). Durante a visita, constatou-se que
cerca de 90% da documentação é proveniente da FEPASA, enquanto apenas
10% se refere ao trecho Santos – Jundiaí. Há também uma pequena parcela de
documentos relacionados à Noroeste do Brasil, uma empresa administrada pela
Santos – Jundiaí na década de 1970 até o início de 1980.
Foram identificadas diversas tipologias documentais, e, como resultado,
foi desenvolvido um plano de classificação específico para o acervo do DNIT,
seguindo as diretrizes do Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ).
Inicialmente, a maior parte da documentação corresponde às chamadas
"atividades-meio," abrangendo documentos de natureza pessoal, financeira,
administrativa, aquisições, processos, entre outros. Em contrapartida, cerca de
95% do acervo transferido da BMCP é categorizado como "atividades-fim,"
compreendendo relatórios anuais e materiais de pesquisa considerados
relevantes. Este último conjunto está sendo organizado por meio de índices,
permitindo aos pesquisadores buscarem tópicos específicos, pois todos os
documentos estão sendo indexados para facilitar a consulta.
Em 25 de junho de 2018, um edital foi emitido pela Inventariança da
Extinta Rede Ferroviária Federal S.A., sob a supervisão do Ministério do
Transporte (Ministério do transporte; São Paulo (Estado), 2018). Esse edital
estava relacionado a uma licitação que buscava especificar a metodologia e o
tratamento orientados pelo governo para o gerenciamento dos acervos
arquivísticos. Essa metodologia incluía os seguintes passos: 1) Identificação e
organização dos acervos arquivísticos, utilizando o Código de Classificação de
Documentos de Arquivo e a Tabela Básica de Temporalidade e Destinação de
Documentos de Arquivo, ambos aprovados pelo CONARQ. 2) Levantamento
das funções desempenhadas pelos órgãos responsáveis pela produção dos
acervos documentais. 3) Utilização de um sistema informatizado para a
recuperação das informações contidas nos acervos documentais arquivísticos.
A empresa que fosse aprovada no processo de licitação teria um
orçamento máximo de R$ 10.153.299,10 para a execução do contrato
(Ministério do transporte; São Paulo (Estado), 2018, p. 21).
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De acordo com o edital, as seguintes quantidades e locais foram
estabelecidos para o acervo documental e arquivístico que seria transportado
para o local de arquivamento final: Referente à FEPASA, seriam 7.575 metros
lineares a serem tratados e organizados, além de 3.247 metros lineares; referente
à RFFSA, seriam 360 metros lineares a serem tratados e organizados, e já
haviam sido tratados 912 metros lineares (Ministério do transporte; São Paulo
(Estado), 2018, p. 21).
Segundo a entrevista (Tassi, 2019), verificou-se que a cidade de Jundiaí
não estava cuidando adequadamente do acervo em questão. Inicialmente, o
contrato tinha sido estipulado para realizar tarefas como limpeza, organização,
categorização e indexação apenas para a parte do acervo localizada em São
Paulo, abrangendo tanto a área da Luz quanto a da Mooca. No entanto,
percebeu-se que havia espaço disponível além do que estava previsto no
contrato original, o que levou à decisão de incluir também o acervo da BMCP
no processo de organização e tratamento.
A transferência do acervo da BMCP ocorreu em julho de 2018, e a
PHASES, a empresa que ganhou a licitação, tinha um prazo de 12 meses para
realizar o tratamento desse acervo, que começou em agosto de 2018 e deveria
ser concluído até agosto de 2019. A empresa chegou a contar com uma equipe
de 70 pessoas para realizar essas tarefas. No entanto, os trabalhos só foram
efetivamente concluídos no final de 2019, ou seja, com um atraso de cerca de 2
a 3 meses em relação ao prazo estipulado. Além disso, o edital original também
previa que a empresa vencedora deveria realizar um diagnóstico, higienização e
organização do acervo (Ministério do transporte; São Paulo (Estado), 2018, p.
27).
Segundo Tassi (2019), o acervo está disponível para consulta, mas os
pesquisadores precisam enviar um ofício ao DNIT solicitando os documentos
que desejam consultar. O processo de encaminhamento do ofício para a
PHASES é coordenado por funcionários do DNIT, que buscam facilitar o acesso
à informação. Vale ressaltar que o arquivo não possui uma estrutura de
atendimento ao público, e muitas vezes os estudantes e pesquisadores precisam
improvisar mesas temporárias para atender às suas necessidades.
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Na Biblioteca do Museu da Companhia Paulista, restaram apenas livros
que não estão relacionados à ferrovia. Todas as documentações relacionadas ao
tema foram transferidas para o DNIT e divididas em dois principais grupos: o
Fundo RFFSA e o Fundo FEPASA. O Fundo FEPASA, por sua vez, inclui
subfundos específicos, que abrangem documentações produzidas por diferentes
empresas, como a FEPASA, Sorocabana, Paulista, Araraquara, São Paulo –
Minas, Bragantina e outras empresas que foram incorporadas pela FEPASA.
As condições de consulta à documentação após o término do prazo
estabelecido no edital ainda não são conhecidas. Dado o considerável acesso a
essa documentação, é necessário estabelecer uma estrutura básica para consulta
pública, embora isso possa envolver procedimentos burocráticos. Após a
conclusão do serviço, os prestadores da PHASES, incluindo a coordenação
administrativa e Tassi (2019), que coordenou a seção técnica, não permanecem
no arquivo. É importante destacar que a transferência dos documentos de
Jundiaí para o DNIT não teve motivação política, mas sim decorreu da
insistência pessoal de Tassi, que acompanhou o contrato desde o início. Sua
insistência se baseou nas preocupações em relação às perdas, pois, embora
tenham sido percentualmente baixas, o que foi perdido é de grande valor, e
algumas dessas perdas são profundamente lamentáveis (Tassi, 2019).
É fundamental destacar que toda a documentação relacionada a esse
processo de transferência, bem como o acervo completo do DNIT, é de domínio
público. Tanto a licitação quanto o edital foram disponibilizados na internet por
meio do site de transparência do governo. Portanto, a consulta a esse acervo é
respaldada pela Constituição, levando em consideração a Lei de Acesso à
Informação (Brasil, 2011). Consequentemente, espera-se que, nos próximos
passos desse processo que foi acompanhado nesta pesquisa, o DNIT seja capaz
de estabelecer uma proposta contínua para o tratamento desse acervo com base
em uma esfera administrativa de nível estadual. Isso ocorre porque, como
observado ao longo desta dissertação, a manutenção de acervos ferroviários
muitas vezes se mostra menos estável em nível municipal.
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6 Conclusão
No contexto das políticas públicas relacionadas ao tema deste artigo, é
importante destacar que essas políticas podem frequentemente ser palco de
conflitos entre gestores, associações, municípios e outros atores, nos quais
direitos constitucionais estão em jogo (Gomes; Oliveira, 2020; Jardim, 2008).
As reflexões apresentadas neste trabalho evidenciam, especialmente no caso do
acervo da BMCP, lacunas que prejudicam a efetividade das ações, tanto por
parte do Estado quanto das administrações municipais, na implementação dessas
políticas. Além da falta de uma política pública arquivística abrangente em
âmbito nacional, há desafios na implementação das políticas patrimoniais já
existentes, que se tornam evidentes devido às deficiências estruturais observadas
nesses casos.
Diante das conclusões deste artigo, destacam-se três pontos principais:
a) a difusão das políticas públicas praticadas de forma participativa tem
superado as práticas burocráticas, que se limitam às decisões do
executivo ou legislativo em relação ao processo de preservação;
b) municípios têm adotado iniciativas individuais de gestão, muitas vezes
sem estímulo por parte do governo. Ao assumirem a responsabilidade
pelos museus ferroviários, as prefeituras geralmente os incorporam ao
plano de gestão de instituições culturais já existentes, sem estabelecer
projetos consistentes para atividades específicas de um museu
ferroviário. Embora algumas intervenções garantam condições mínimas
de funcionamento, os problemas mencionados não se restringem a
questões técnicas ou relacionadas ao patrimônio industrial, mas sim a
questões de políticas públicas;
c) a representação nos processos de tombamento frequentemente está
relacionada às necessidades decorrentes dos processos de privatização e
subsequente preservação. A pesquisa realizada nos processos de
tombamento, usados como fonte deste trabalho, revelou que ambos
foram iniciados por membros de Conselhos Municipais durante o
período de desestatização das empresas ferroviárias. Embora a legislação
estabeleça que apenas a promotoria estadual ou o proprietário do bem em
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questão possam solicitar a abertura de processos de tombamento, essas
iniciativas individuais e de outros setores também estão presentes.
Esses pontos ressaltam a importância de abordar as políticas públicas de
preservação de forma mais participativa e coerente, especialmente no contexto
da preservação do patrimônio ferroviário.
Outro aspecto fundamental discutido nesta pesquisa diz respeito à
avaliação das gestões ao longo do tempo, especialmente no âmbito municipal.
Fica evidente que essas ações municipais foram descontinuadas, resultando em
um cenário em que não há um responsável efetivo pela preservação adequada do
patrimônio documental e tridimensional ferroviário. O acervo encontra-se
negligenciado e no meio de conflitos entre os agentes envolvidos na preservação
e as administrações municipais.
Até 2004, quando ocorreu o tombamento pelo IPHAN, o Museu era
gerido por associações como a APMCP e a SOAPHA, que buscavam garantir a
preservação do acervo antes do início do processo de tombamento. Portanto, é
essencial realizar uma pesquisa detalhada da história administrativa desse acervo
para identificar as entidades produtoras ao longo desse processo e os problemas
enfrentados durante as diferentes transferências de custódia.
Uma vez identificada essa cadeia de responsabilidade, os órgãos de
preservação competentes devem solicitar à entidade custodiadora do acervo que
assuma as responsabilidades e tome medidas para implementar políticas
abrangentes de preservação em relação a esse valioso conjunto documental e
tridimensional.
No meio desse dilema administrativo, as várias abordagens usadas para
organizar o acervo acabaram sendo abandonadas, levando a um acervo de
documentos em condições precárias. É evidente que a forma como o acervo é
gerido varia de acordo com a gestão e não é estritamente ditada pela Prefeitura
ou por regulamentos específicos que obriguem os diretores a seguir um
determinado caminho.
A solução potencial para mitigar os problemas enfrentados por esse
acervo não é uma resposta rápida aos problemas óbvios, mas sim a
implementação de um programa de preservação abrangente e contínuo. Esse
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programa deve ser consistente ao longo das diferentes administrações,
garantindo que a próxima gestão possa continuar o trabalho, protegendo os
interesses da sociedade.
As situações em que acervos ferroviários, como o caso discutido aqui,
entram em processos de tutela são frequentes em várias situações. Quando o
patrimônio ferroviário não recebe a devida prioridade em termos de preservação,
ele se vê envolvido em complexidades legais. A falta de políticas federais
sólidas e sua implementação adequada resultam em problemas de custódia, que,
por sua vez, levam à atribuição de responsabilidade a um órgão que não tem
essa função. De fato, não é da competência do DNIT, que lida com questões
técnicas relacionadas à infraestrutura e transportes, a manutenção de acervos
desse tipo. Portanto, a "solução encontrada" não é uma solução de longo prazo.
É fundamental considerar a importância de estabelecer orientações que
abranjam não apenas os bens imóveis, como as estações de trens, mas também
incluam acervos tridimensionais, bibliográficos e arquivísticos. Esses elementos
são essenciais para uma compreensão completa dos processos históricos
relacionados à memória ferroviária.
Este estudo destaca que ainda existem muitas lacunas a serem
preenchidas para compreender as diferentes iniciativas e suas relações mútuas.
Isso inclui a comparação entre a formação das coleções e o agrupamento dos
objetos, a análise do funcionamento atual das instituições e as características dos
gestores envolvidos, a avaliação do quadro técnico e dos processos
museológicos adotados por cada instituição, bem como o estudo do modo como
as instituições lidaram com objetos técnico-industriais, que são considerados
parte do patrimônio industrial ferroviário. Além disso, é importante ressaltar que
a reunião do conjunto documental em um acervo e suas condições históricas,
durante as décadas de 1990 e 2000, não apenas revelam a história da instituição,
mas também refletem a forma como a gestão pública era conduzida na época.
Esta pesquisa singular permite destacar como as relações estabelecidas
durante a criação desse acervo e das instituições que contribuíram para sua
formação geram reflexões sobre como os processos de preservação do
patrimônio foram gerenciados durante o período de desestatização. Ele nos
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ajuda a compreender o funcionamento das políticas públicas por meio da análise
da formação de um acervo, mesmo que se trate de um arquivo de uma empresa.
Importante notar que a situação apresentada não possui uma conclusão
definitiva, já que os processos relacionados à Biblioteca estão longe de serem
finalizados. Além das conclusões, o principal objetivo desta pesquisa é
disponibilizar o objeto de estudo para debates no campo do patrimônio
ferroviário e, de certa forma, fortalecer as relações entre os órgãos de
preservação e as instituições acadêmicas. Muitas vezes, as críticas feitas no
ambiente acadêmico não levam em consideração a realidade enfrentada por
esses órgãos, suas dificuldades e as complexidades burocráticas envolvidas.
Essas reflexões evidenciam que a questão da preservação documental
não se restringe somente a problemas técnicos, mas sim a questões políticas. A
organização adequada de um acervo, embora fundamental, não é suficiente se
não houver a influência adequada das políticas documentais. Mesmo que um
acervo seja tratado tecnicamente de forma adequada, sem a influência das
políticas corretas, ele pode se deteriorar ao longo do tempo, perdendo sua
relevância e valor. Portanto, a preservação documental é, essencialmente, um
problema político dentro do campo da ciência da informação, destacando a
importância de políticas documentais robustas e eficazes para garantir a
preservação e acesso contínuo à informação.
Financiamento
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Processo No
142676/2019-5) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo - FAPESP (Processo nº 2018/23340-5 e Nº. 2017/12896-0).
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dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos
da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Diário
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nov 2011
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coleção documental e bibliográfica
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Companhia paulista museum: patrimonialization of
documentary and bibliographic collection
Abstract: This article aims to describe the process of creating the documentary
and bibliographic collection of the Museu da Companhia Paulista, which
presents a wide variety of materials. The research underlying this study is
exploratory and descriptive in nature, with a quantitative and qualitative
approach, in addition to the use of oral history methodologies. Through this
analysis, it becomes possible to observe the relationships established between
the creation of the collection and the institutions responsible for its origin,
allowing reflections on heritage management during the privatization process.
The main objective of this study is to understand the public policies involved in
the formation of the collection.
Keywords: cultural heritage; industrial heritage; documentary heritage;
collections; railway museums
Recebido: 19/10/2023
Aceito: 05/03/2024
Declaração de autoria
Concepção e elaboração do estudo: Eduardo Romero de Oliveira, Andreza
Vellasco Gomes.
Coleta de dados: Eduardo Romero de Oliveira, Andreza Vellasco Gomes.
Análise e interpretação de dados: Eduardo Romero de Oliveira, Andreza
Vellasco Gomes.
Redação: Andreza Vellasco Gomes.
Revisão crítica do manuscrito: Eduardo Romero de Oliveira.
Como citar
GOMES, Andreza Vellasco; OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Museu da
Companhia Paulista: patrimonialização de coleção documental e bibliográfica.
Em Questão, Porto Alegre, v. 30, e-136286, 2024. DOI:
https://doi.org/10.1590/1808-5245.30.136286
Parecer(es) aberto(os):
https://doi.org/10.1590/1808-5245.30.136286.A
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1
Este artigo é proveniente dos resultados da pesquisa de dissertação de mestrado Museu da
Companhia Paulista: Políticas Públicas à Luz do Histórico do Acervo Bibliográfico da autora
Andreza Vellasco Gomes.
2
Durante a realização de sua iniciação científica e subsequente mestrado, a autora empreendeu
um trabalho técnico que consistiu na consulta e registro de aproximadamente 1000 títulos de
diversos tipos de documentos, tais como livros técnicos, relatórios, fichas de controle de
empréstimo e fichas catalográficas, listagens patrimoniais, inventários e termos de cessão
provenientes da RFFSA ou do IPHAN. O objetivo deste processo foi identificar e coletar
informações sobre a origem da biblioteca, tais como carimbos de bibliotecas predecessoras,
fichas de locação e outros indícios que pudessem ser úteis para a compreensão do histórico do
acervo. A fim de sistematizar os dados coletados, foram utilizadas ferramentas de pesquisa e
registro, permitindo o armazenamento das informações em formato digital.
3
Em estágio realizado pela autora em 2017 através do Projeto Memória Ferroviária, foram
realizadas atividades de conservação e identificação de documentos iconográficos no Núcleo
de Acervo Iconográfico do APESP. E nessas atividades foram identificados e catalogados em
média 1500 negativos em diversos suportes (incluindo vidro) e alguns álbuns fotográficos.
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