Artigo Científico - Segunda Avaliação de Direitos Humanos
Artigo Científico - Segunda Avaliação de Direitos Humanos
Human rights and war crimes: approaches to the incidence of human rights
in relation to war crimes
João Gabriel Miranda Salles1
RESUMO
Armed conflicts represent one of the greatest challenges for the protection and
promotion of human rights, as they often result in serious violations of rights, and this scenario
is especially visible during periods of war, whether between nations or communities. Therefore,
it is essential to focus on the victims of these conflicts and ensure their protection. On the other
hand, the objective of this study was to analyze the conditions faced by these victims and to
investigate the effectiveness of existing legal support, considering its limits. It is worth
mentioning that the research was based on a bibliographic review of books and scientific
articles, using primary and secondary sources, obtained through databases such as Scielo and
Google Scholar. From the development of the article, we observed the explicit results that
human rights, especially the right to life and physical integrity, are fundamental to guaranteeing
the protection of citizens in conflict zones. This also involves screening out direct attacks on
citizens and protecting essential infrastructure, such as hospitals and schools. When these rights
are respected, there is a significant reduction in the occurrence of war crimes, such as mass
murder, torture, rape and inhumane treatment. In the meantime, the problem lies in the difficulty
of defending human rights in the context of war, and the protection of vulnerable groups, such
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as children, the elderly, people with disabilities and ethnic or religious minorities, is equally
crucial, as they are often the main victims of armed conflicts.
1. INTRODUÇÃO
De modo conceitual, uma guerra é um conflito armado entre dois ou mais grupos,
nações, estados ou entidades que envolvem o uso da força e da violência para alcançar objetivos
políticos, territoriais, econômicos, ideológicos ou outros (FELIZARDOet al., 2022).
A guerra é um dos eventos mais devastadores para a humanidade, causando perdas
significativas de vidas, danos materiais, deslocamento de populações e consequências sociais,
políticas e econômicas de longo prazo. Desde os primórdios, os conflitos armados ocorrem por
disputas territoriais, questões religiosas, sociais ou políticas, e não se limitam a uma simples
vitória sobre o inimigo, mas envolvem também a demonstração de poder e influência. Ademais,
os efeitos da guerra atingem todos os setores da sociedade: civis, empresas, governos, e até o
meio ambiente. Além das perdas econômicas, há desestabilização política e crises humanitárias,
com milhões de refugiados e vítimas. Nesse sentido, a análise da guerra sob a ótica humanitária
torna-se fundamental, uma vez que civis, especialmente mulheres, crianças e populações
vulneráveis, são as maiores vítimas.
Nesse contexto, os Direitos Humanos desempenham um papel crucial, pois as
violações tornam-se mais intensas durante os conflitos armados. A proteção dos direitos
fundamentais se torna ainda mais urgente, visto que, em tempos de guerra, as normas
internacionais frequentemente são ignoradas. A reflexão sobre a guerra, portanto, deve ir além
das consequências militares e econômicas, abordando também o sofrimento humano e a
necessidade de ações globais para promover a paz e a justiça.
De modo geral, os Direitos Humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos,
independentemente de sua nacionalidade, origem étnica, gênero, religião, orientação sexual,
status social, ou qualquer outra característica (DUARTE, 2019).
Sobre isso, o Direito Internacional Humanitário (DIH) foi desenvolvido para assegurar
os direitos fundamentais de todas as pessoas em qualquer parte do mundo, a ponto de garantir
que até mesmo aqueles envolvidos em conflitos armados recebam a assistência necessária, com
fito de evitar que se tornem mais vítimas da violência da guerra. Interessante compreender que
esse conjunto de normas surgiu ao longo do tempo, com fundamentação em convenções,
tratados e, principalmente, em eventos históricos que chocaram a humanidade, como as duas
grandes guerras mundiais, com o objetivo de impedir que horrores semelhantes se repetissem.
Com base nessa premissa, este estudo se concentra na importância dos Direitos
Humanos em tempos de guerra. Assim, o objetivo da pesquisa é analisar como os Direitos
Humanos podem ser protegidos durante os conflitos armados, compreender as legislações
existentes para a proteção das vítimas de guerra, investigar as limitações dessas leis e como elas
são implementadas na prática. Por outro lado, a metodologia adotada foi uma revisão
bibliográfica, fundamentada em estudos científicos selecionados, com uma análise de
publicações encontradas em fontes como livros e bases de dados acadêmicas, incluindo Scielo
e Google Acadêmico. Além da utilização de fontes primárias e secundárias.
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refletem as guerras do século XX, serão mencionados os principais conflitos ocorridos nesse
período.
A Segunda Guerra Mundial, tão devastadora quanto a Primeira, é descrita por Snider
(2012) como uma continuação do conflito anterior, com alguns motivos semelhantes, como o
desejo de expansão imperialista da Alemanha, que, sob a liderança de Adolf Hitler, se
proclamou o III Reich (terceiro império). Em resumo, a Segunda Guerra Mundial foi um
conflito global que se iniciou em 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pela
Alemanha, e terminou em 2 de setembro de 1945, quando o Japão se rendeu oficialmente
(SNIDER, 2012).
As principais nações envolvidas foram as Potências do Eixo, compostas por Alemanha,
Itália e Japão, contra as Potências Aliadas, incluindo Reino Unido, União Soviética, Estados
Unidos, França, entre outras. Durante o decorrer da guerra, houve um uso intensivo de
tecnologias militares avançadas, como tanques, aviões de combate, submarinos, mísseis e armas
nucleares. Foi nesse conflito que os Estados Unidos desenvolveram e utilizaram as primeiras
armas nucleares, com os bombardeios em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945 (SILVA,
2021).
A Segunda Guerra Mundial, além de seu imenso impacto econômico, social, político
e cultural, é lembrada como um dos períodos mais cruéis da história da humanidade. Silva
(2021) destaca que a destruição e o número de mortes causados por esse conflito foram
incomparáveis, sem contar as atrocidades cometidas fora das zonas de combate, como o
Holocausto nazista e os gulags soviéticos. Tanto os nazistas quanto os comunistas buscavam
estabelecer um império global, o que resultou em diversas violações dos direitos humanos.
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A Guerra Fria foi um período de intensa tensão geopolítica e rivalidade ideológica que
começou logo após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e se estendeu até o início
da década de 1990, quando ocorreu o colapso da União Soviética. O termo "Guerra Fria"
descreve a falta de um confronto direto e aberto entre as duas superpotências da época, os
Estados Unidos (EUA) e a União Soviética, mas ao mesmo tempo, simboliza uma competição
acirrada em diversas áreas, como a política, a economia e a corrida armamentista (FORTES,
2015).
O colapso do Bloco Oriental e a queda do Muro de Berlim em 1989 marcaram o início
do fim da Guerra Fria. Em 1991, com a desintegração da União Soviética, o período da Guerra
Fria chegou oficialmente ao seu fim. Assim como nas duas grandes guerras, a Guerra Fria
também resultou em um grande número de mortes, tanto de combatentes quanto de civis
(FORTES, 2015). Se no século XX as guerras causaram impactos profundos e diretos na
sociedade e na geopolítica, o século XXI não foi diferente. No início deste século, em 11 de
setembro de 2001, a cidade de Nova York (EUA), mais especificamente as famosas Torres
Gêmeas, foi alvo de dois ataques aéreos. Outro avião se chocou contra o Pentágono, em
Washington D.C., e um terceiro caiu em uma área desabitada da Pensilvânia (MELLO, 2021).
Inicialmente, acreditava-se que fosse um acidente, mas logo se confirmou como um atentado
realizado por Osama Bin Laden, antigo inimigo dos Estados Unidos, desencadeando uma nova
guerra, desta vez no Oriente, em países como Arábia Saudita, Irã e Afeganistão (MELLO,
2021). Esse conflito ficou conhecido como a Guerra ao Terrorismo, um estado de guerra contra
grupos extremistas islâmicos responsáveis por ataques contra civis.
A resposta militar dos Estados Unidos a esse atentado levou à morte de milhares de
soldados e civis. Estimativas indicam que pelo menos 40 mil civis morreram na guerra no
Afeganistão desde 2001, e cerca de 25 mil no Paquistão, que também foi diretamente afetado
pela operação militar contra o Talebã. Segundo a ONU, entre 2009 e 2019, cerca de 3 mil civis
foram mortos por ano, em média.
Atualmente, duas guerras recentes se destacam. A primeira é o conflito entre Rússia e
Ucrânia, que começou em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia e o apoio de Moscou
a grupos separatistas no leste da Ucrânia. Desde a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, a
região tem sido marcada por uma guerra sangrenta, sem solução à vista (GUITARRARA,
2023).
A segunda guerra em destaque é o conflito entre Israel e Palestina/Hamas. Esse
confronto tem suas raízes no século XX, após o reconhecimento do Estado de Israel pela ONU
em 1948. Países muçulmanos como Egito, Iraque, Síria e Líbano não aceitaram a legitimidade
de Israel e entraram em guerra com o país. Em outubro de 2023, o grupo Hamas atacou Israel
em retaliação aos ataques contínuos contra a Palestina. Ambas as guerras recentes resultaram
em inúmeras mortes, principalmente de civis, com crianças, mulheres e idosos sendo as
principais vítimas (BOWEN, 2023).
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3.1 LIBERDADE
3.2 PROPRIEDADE
Não menos importante, conflitos objetivados por questões espaciais contam com a
violação do direito à propriedade. Sobre essa questão em específico, a maioria das guerras são
originadas pela disputa do direito de posse, por motivos geográficos, históricos e políticos, com
o polo vencedor adquirindo a posse do território em disputa, por consequência do conflito,
possivelmente com o cenário devastado. Sobre essa última explicação, muitos civis perdem
suas moradias pelo dano significativo causado pela guerra, sendo ainda mais prejudicados pelo
longo processo de reconstrução, com isso prevalece o prejuízo material, além do psicológico e
do físico. Dessa forma, compreende-se a necessidade de equilibrar os interesses da segurança
nacional com a proteção dos direitos individuais como um desafio constante para os Estados e
a comunidade internacional.
Como discutido no tópico anterior, a Segunda Guerra Mundial representou uma das
maiores tragédias da história humana, especialmente devido ao Holocausto causado pelo
regime nazista. Esse evento levou à criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
uma resposta da comunidade global aos horrores vividos. O ano de 1948 é um marco na história
dos direitos humanos, já que diversas violações cometidas durante a guerra foram vistas como
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uma ruptura com os princípios de direitos fundamentais que estavam sendo desenvolvidos
desde o século XVIII (ROSSI, 2019).
Foi nesse cenário que os Direitos Humanos emergiram. Eles representam "os direitos
de todo ser humano, independentemente de qualquer condição, baseados na dignidade humana"
(FERNANDES; CERQUEIRA, 2017, p. 05). Com esse conceito, entende-se que os Direitos
Humanos abrangem todos os direitos que garantem a dignidade e o respeito de qualquer pessoa,
sem qualquer discriminação. Essa expressão coloca o ser humano no centro do sistema jurídico,
tornando-o tanto o ponto de partida quanto o objetivo final. Entre os direitos fundamentais estão
o direito à vida, à liberdade (de expressão, religião, sexualidade, entre outros), ao trabalho, à
educação, à saúde e muitos outros. Esses direitos são universais e devem ser garantidos a todos
os seres humanos.
Os Direitos Humanos têm como objetivo garantir o respeito à dignidade do "ser
humano e seus direitos fundamentais", buscando assim reduzir os danos causados a indivíduos
que sofreram violações ou abusos de seus direitos (SILVA, 2019, p. 20). Por outro lado, Souza
(2018) destaca que os Direitos Humanos são uma ferramenta essencial para proteger qualquer
pessoa ao redor do mundo, assegurando dignidade e respeito independentemente de etnia,
nacionalidade, gênero ou condição financeira. A formalização dos direitos e objetivos
estabelecidos por esses direitos ocorre por meio de negociações entre os países, com o apoio de
organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), e por meio de
encontros e conferências globais (SOUZA, 2018).
Os acordos internacionais sobre Direitos Humanos são regulamentados por tratados,
que são um conjunto de princípios e normas no Direito Internacional, representando acordos
entre Estados. Esses tratados têm o objetivo de "proteger formalmente os direitos de indivíduos
ou grupos contra ações ou negligência dos governos, que afetam o gozo de seus direitos
humanos" (BRASIL, 2019, p. 01). Para cada tratado, há comitês de peritos que monitoram o
cumprimento das obrigações assumidas pelos países signatários (SOUZA, 2018, p. 03). A
ratificação é o ato formal que demonstra o consentimento de um Estado em se comprometer
com um tratado, e apenas os países que assinaram o tratado durante o período de adesão podem
ratificá-lo (BRASIL, 2019).
Apesar dos Direitos Humanos serem amplamente reconhecidos mundialmente, ainda
existem muitos casos de desrespeito aos seus preceitos, resultando em abusos, intolerância,
discriminação e opressão contra indivíduos (BRASIL, 2019). Vários órgãos da ONU, como a
Assembleia Geral, o Conselho de Direitos Humanos e o Alto Comissariado para os Direitos
Humanos, recebem diariamente denúncias de violações à dignidade humana em várias partes
do mundo.
No Brasil, embora os Direitos Humanos estejam garantidos por tratados
internacionais, ainda ocorrem violações. A Constituição de 1988, entretanto, foi um marco
importante, formalizando a implementação dos Direitos Humanos no país de forma justa e
adequada. Com o objetivo de assegurar a cidadania e a dignidade humana, ela estabelece
princípios fundamentais, como a igualdade de gêneros, a erradicação da pobreza e da
marginalização, a promoção do bem-estar de todos, sem discriminação de origem, raça, gênero,
idade ou cor, e considera o racismo um crime imprescritível, entre outros.
Como já mencionado, os Direitos Humanos são direitos que pertencem a todos os seres
humanos, independentemente de características como nacionalidade, origem étnica, gênero,
religião, orientação sexual, classe social ou qualquer outra particularidade. Eles são essenciais
para garantir a dignidade, a igualdade e a liberdade de todas as pessoas, funcionando como um
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guia para estabelecer padrões universais de respeito e tratamento em todo o mundo (DUARTE,
2019). Esses direitos estão consagrados em documentos internacionais, como a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e outros tratados internacionais, e são protegidos por
legislações nacionais e sistemas judiciais.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada pelas Nações Unidas
em 1948, é um dos documentos mais significativos neste contexto. Ela contém 30 artigos que
abordam uma ampla gama de direitos fundamentais, como: Direitos Civis, que incluem o direito
à vida, liberdade, segurança pessoal, igualdade perante a lei e liberdade de pensamento,
consciência e religião; Direitos Políticos, que abrangem o direito de participar do governo, o
direito de votar e a liberdade de expressão e reunião; Direitos Sociais, Econômicos e Culturais,
que garantem o direito ao trabalho, educação, saúde, alimentação, moradia e participação na
vida cultural; e Direitos Coletivos, como o direito à autodeterminação e o direito à paz, além da
proteção aos povos indígenas (DUARTE, 2019, p. 20).
De acordo com Floriani e Santos (2019), os Direitos Humanos não são apenas
conceitos abstratos, mas diretrizes práticas que devem ser respeitadas, protegidas e cumpridas
por governos, instituições e indivíduos. Diversos países possuem legislações nacionais e
organismos responsáveis por garantir a implementação dos Direitos Humanos em seu território.
Como menciona Zeifert (2019), a promoção e proteção dos Direitos Humanos são
essenciais para a paz, a justiça e o desenvolvimento sustentável em todo o mundo. Organizações
não governamentais (ONGs), como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch,
desempenham um papel crucial na defesa dos Direitos Humanos e na denúncia de violações.
Siqueira e Fructuozo (2020) ressaltam que os direitos humanos são princípios
fundamentais que devem ser respeitados em todos os momentos, incluindo durante guerras e
conflitos armados. Nessas situações, é vital que as partes envolvidas sigam o direito
internacional humanitário, um conjunto de normas e regulamentos destinados a proteger os
direitos e a dignidade de todas as pessoas afetadas pelo conflito, como civis, prisioneiros de
guerra e combatentes.
A discussão inicia com o princípio da distinção. Sendo assim, de acordo com o direito
internacional humanitário, é obrigação de todas as partes em um conflito fazer a distinção entre
combatentes e civis, bem como entre alvos militares e civis. Isso implica que ataques a civis
são proibidos, e devem ser tomadas todas as medidas necessárias para evitar danos
desnecessários a pessoas e bens não militares. Por outro lado, ressalta-se a proteção em relação
aos civis, ou seja, têm direito à proteção e não devem ser alvo de ataques. Ainda sim, isso inclui
a proibição de agredir hospitais, escolas e infraestruturas civis essenciais, como sistemas de
fornecimento de água e energia (Duarte, 2019).
Além disso, a proteção aos prisioneiros de guerra ganha ênfase, uma vez que
os combatentes capturados devem ser tratados como prisioneiros de guerra, com direito à
proteção. Isto é, eles não podem ser sujeitos a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes,
devendo ser tratados conforme as disposições das Convenções de Genebra. Ainda sobre esse
tópico, prevalece a proibição de tortura e tratamento desumano, visto que
a tortura, assim como o tratamento cruel, desumano ou degradante, são expressamente
proibidos em todas as circunstâncias, inclusive durante conflitos armados. Ainda assim, a
assistência humanitária representa todas as partes envolvidas em um conflito têm a
responsabilidade de permitir a entrega de ajuda humanitária, como alimentos, medicamentos e
abrigo, às pessoas necessitadas, incluindo os civis. O bloqueio de ajuda humanitária é
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um simples amontoado de vítimas, a guerra deve ser encarada como um acontecimento que
envolve vidas preparadas, influenciadas por ciências e tecnologias.
Os Direitos Humanos, nesse contexto, buscam minimizar os danos da guerra,
tornando-se uma tentativa de reduzir a morte e o sofrimento, refletindo o suposto progresso
civilizacional que defende a proteção da vida humana, mesmo em meio a conflitos inevitáveis.
A necessidade de um controle mais rigoroso das guerras surge como uma forma de não apenas
evitar a destruição de Estados, mas também de impedir a conexão direta da guerra com a morte.
A luta pela preservação da vida humana torna-se, assim, uma ação essencial na busca pela paz
(SIQUEIRA; FRUCTUOZO, 2020).
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Por outro lado, a resposta de Israel ao ataque do grupo terrorista Hamas em outubro de
2023, a qual atingiu com bloqueio de comida e água aos palestinos é proibida pela Organização
das Nações Unidas (ONU). A princípio, a guerra foi potencializada no momento em que Israel
foi atacado pelo grupo terrorista Hamas, que é composto por palestinos, com isso forças
israelenses focaram o ataque na Faixa de Gaza e fixaram o cerco total impedindo acesso a
eletricidade, comida, água e gás. Sendo assim, O Alto Comissário da ONU para os Direitos
Humanos, afirma que a imposição dos cercos feitos por Israel em Gaza é proibida, uma vez que
apesar do objetivo israelense de limitar os recursos para o grupo terrorista Hamas, os civis
residentes em Gaza são afetados pela limitação de bens essenciais à sua sobrevivência. Em
contrapartida, dificilmente uma resposta de proibição é respeitada em período de guerra, uma
vez que o conflito pauta o choque de poder entre as oligarquias, a ponto de desconsiderar a
vitalidade dos civis existentes no território em conflito.
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Vermelha, fundado em 1863, é uma organização que adotou o humanitarismo como seu
princípio fundamental. Seu principal objetivo foi criar estruturas médico-hospitalares para
oferecer cuidados e assistência à vida dos combatentes envolvidos em guerras na Europa,
independentemente do lado em que lutam, das posições ou dos locais em que estão destacados
(ROSSI, 2019).
Consiste em uma agência das Nações Unidas responsável por questões relacionadas a
refugiados, deslocados internos e apátridas. Foi criada em 1950 para ajudar as pessoas que
foram forçadas a fugir devido a conflitos, perseguições, violência ou outras situações que
ameaçam suas vidas e liberdades (PIOVESAN, 2018). Durante períodos de guerra, tanto a Cruz
Vermelha quanto a ACNUR desempenham um papel essencial na oferta de ajuda humanitária
às vítimas dos conflitos. Por meio de seu trabalho, os Direitos Humanos são efetivamente
promovidos. No entanto, é evidente que os Direitos Humanos muitas vezes não são respeitados
durante as guerras. Esses direitos são cruciais para garantir proteção aos civis que se encontram
desprotegidos e vulneráveis em meio aos conflitos, desempenhando um papel vital ao assegurar
a dignidade e a vida das pessoas afetadas por tais tragédias.
6. CONCLUSÃO
A relação entre os Direitos Humanos e os conflitos bélicos ao longo da história mostra
como a guerra tem impactado diretamente a vida das pessoas e as sociedades envolvidas. Desde
a Primeira Guerra Mundial, passando pela Segunda Guerra Mundial, até os conflitos mais
recentes, como a Guerra Fria e as guerras no Oriente Médio, os direitos fundamentais de civis
e combatentes têm sido constantemente violados. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial
resultaram em grandes perdas humanas e transformações geopolíticas, com o Holocausto e os
crimes de guerra se tornando marcos dessa época. A Guerra Fria, por sua vez, foi marcada pela
rivalidade entre potências, sem confrontos diretos, mas com danos indiretos a milhões de vidas.
Nos dias atuais, o impacto das guerras continua a ser devastador, com mortes em massa
de civis e a intensificação dos direitos humanos violados, como ocorre nos conflitos da Ucrânia
e de Israel/Palestina. Em todos esses cenários, o papel de organizações como a Cruz Vermelha
e o ACNUR é essencial para oferecer proteção humanitária, mas os Direitos Humanos ainda
enfrentam desafios significativos em tempos de guerra. Isso demonstra a necessidade urgente
de medidas internacionais para garantir a proteção das vidas humanas, respeitando sua
dignidade e direitos mesmo em meio ao caos da guerra.
A relação entre os Direitos Humanos e as guerras é marcada pela violação sistemática
dos direitos fundamentais durante os conflitos armados. Durante as guerras, direitos como o
direito à vida, à liberdade e à propriedade são frequentemente infringidos, com o homicídio em
massa, a prisão ilegal de prisioneiros de guerra, a tortura e a destruição de propriedades civis se
tornando comuns. A violação desses direitos gera consequências devastadoras, como perdas
humanas, traumas psicológicos e danos materiais irreparáveis. Historicamente, as atrocidades
da Segunda Guerra Mundial, incluindo o Holocausto, resultaram na criação do Direito
Internacional dos Direitos Humanos, como uma resposta global às atrocidades cometidas.
Desde então, os Direitos Humanos têm buscado garantir a dignidade e a liberdade de todos os
indivíduos, independentemente de sua origem, etnia ou status social. No entanto, apesar do
reconhecimento universal dos direitos fundamentais, ainda existem inúmeras violações em
muitas partes do mundo.
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O papel das organizações internacionais, como a ONU, tem sido crucial para a
implementação e monitoramento dos Direitos Humanos por meio de tratados e comitês
especializados. No Brasil, a Constituição de 1988 reforçou a importância da proteção dos
direitos humanos, promovendo igualdade e dignidade para todos os cidadãos. No entanto, os
desafios para assegurar a proteção plena dos direitos humanos continuam, especialmente em
tempos de conflito, onde as vítimas mais vulneráveis, como civis e prisioneiros de guerra, são
as mais afetadas.
Em tempos de guerra, os Direitos Humanos desempenham uma função essencial ao
buscar minimizar os impactos destrutivos dos conflitos armados. Apesar de estarem
consagrados em tratados internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e
as Convenções de Genebra, as violações durante as guerras continuam sendo uma realidade.
Esses direitos, que garantem a dignidade, igualdade e liberdade, são frequentemente
desrespeitados, especialmente no que diz respeito à proteção de civis, prisioneiros de guerra,
crianças, refugiados e deslocados internos.
Os princípios fundamentais do direito internacional humanitário, como a distinção
entre civis e combatentes e a proibição de ataques a civis e infraestruturas essenciais, devem
ser observados durante os conflitos. Contudo, a realidade muitas vezes é marcada por ações
cruéis e desumanas, como tortura e bloqueios de ajuda humanitária. Em cenários como a guerra
entre Rússia e Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas, o desrespeito aos direitos humanos,
como a morte de civis, a migração forçada e o bloqueio de recursos essenciais, têm gerado
consequências devastadoras para as populações envolvidas.
Diante disso, o papel das organizações internacionais, como a ONU, o Tribunal Penal
Internacional e outras ONGs, é fundamental para denunciar as violações e buscar a proteção
das vítimas. No entanto, o cumprimento pleno das normas de Direitos Humanos durante as
guerras ainda é um grande desafio, evidenciado pelas contínuas violações em diversos conflitos
ao redor do mundo.
As instituições que defendem os Direitos Humanos desempenham um papel
fundamental na proteção e assistência às vítimas de conflitos armados e outras situações de
crise. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), fundado por Henry Dunant em 1863,
é um exemplo central, sendo o guardião do Direito Internacional Humanitário e responsável
por fornecer cuidados médicos e proteger as vítimas de guerras, independentemente de sua
origem ou lado no conflito. A Cruz Vermelha, com seu foco no humanitarismo, tem contribuído
para a criação de normas fundamentais para a proteção das vítimas de guerra, como as
Convenções de Genebra.
Além disso, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR),
criado em 1950, tem um papel crucial ao oferecer assistência e proteção a refugiados,
deslocados internos e apátridas, pessoas vulneráveis que muitas vezes ficam desprotegidas
durante os conflitos. Ambas as organizações, Cruz Vermelha e ACNUR, são essenciais para
garantir que os direitos humanos sejam respeitados, mesmo em contextos de guerra. No entanto,
as contínuas violações desses direitos nas guerras destacam a necessidade urgente de maior
comprometimento com a proteção da dignidade e da vida das vítimas.
Por fim, os direitos humanos, quando respeitados, ajudam a prevenir a ocorrência de
crimes de guerra, como assassinatos em massa, estupros, torturas e tratamento cruel e
desumano. Dito isso, o respeito pelos direitos humanos pode atuar como um impedimento à
comissão desses crimes, sendo crucial para a proteção de grupos vulneráveis, como crianças,
idosos, pessoas com deficiência e minorias étnicas ou religiosas, que podem ser particularmente
afetados por conflitos armados. Ainda assim, diante do cenário pós-guerra, os direitos humanos
desempenham um papel crucial na construção da paz e da estabilidade com o envolvimento da
promoção da justiça, da reconciliação e da reconstrução de sociedades afetadas. Outrossim, a
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aplicação dos direitos humanos também pode contribuir para a prevenção dos conflitos, a ponto
de abordar questões subjacentes, como discriminação, desigualdade e exclusão social, que
muitas vezes são fatores contribuintes para conflitos.
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Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/02/guerra-na-ucrania-gerou-a-
maior-violacao-dos-direitos-humanos-que-conhecemos-hoje-diz-secretario-geral-da-
onu.ghtml. Acesso em: 08 out. 2023.
ZEIFERT, Anna Paula Bagetti. Pensar as políticas públicas a partir do enfoque das
capacidades: justiça social e respeito aos direitos humanos. Revista Direitos Sociais e
Políticas Públicas –Unifafibe. V. 7, N. 1, 2019.
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