A relação entre filosofia e educação é, como sempre, marcada por uma multiplicidade de
sentidos, em que o ensino da filosofia não se limita à transmissão de saberes estabelecidos,
mas se propõe a uma prática de reflexão que desafia as estruturas fixas do conhecimento e
abre novas formas de compreender a experiência humana. Tal prática não se dá apenas em
um espaço acadêmico ou escolar, mas em múltiplos contextos que envolvem a vida
cotidiana e a experiência direta, como a filosofia para crianças ou os cafés filosóficos.
A filosofia, conforme nos legaram Sócrates e outros pensadores, não se presta a ser uma
mera ferramenta pedagógica que forma indivíduos para um fim predeterminado, mas sim
um movimento que subverte e problematiza a própria estrutura de saber. Na apologia de
Sócrates, ele se declara “não mestre de ninguém”, sugerindo que o filósofo não transmite
um saber acabado, mas, ao contrário, abre as portas da inquietude e do questionamento. O
verdadeiro ensinamento filosófico reside, portanto, na criação de uma experiência de
aprendizagem, que nunca se fixa em respostas prontas, mas que se projeta sempre para o
futuro, para a constante interrogação.
Walter Kohan e outros pensadores, como Derrida, Deleuze e Nietzsche, nos convidam a
repensar a educação como um campo de indiscernibilidade, em que a filosofia não se reduz
a uma disciplina, mas se insere no cotidiano das práticas educativas, como uma experiência
de criação. A filosofia, nesse sentido, não é um fim, mas um meio de provocar a criação de
novos modos de pensar, ou melhor, de desestruturar o pensar já estabelecido.
O filósofo, então, em sua prática, deve assumir um papel subversivo e disruptivo, tal como a
infância, que é vista por Nietzsche não como uma fase a ser superada, mas como uma
condição humana permanente, sempre em devir, sempre capaz de recomeçar. Nesse
sentido, a filosofia deve ser compreendida como uma constante reaprendizagem da vida,
uma maneira de estar no mundo que não se submete às lógicas do poder, da utilidade
imediata ou da repetição de fórmulas. É nesse espaço de risco e de criatividade, onde a
educação se torna um acontecimento imprevisível, que a verdadeira filosofia pode emergir.
Ao pensarmos a filosofia no Ensino Médio, devemos compreender a tensão entre o ensino
tradicional e o ensino filosófico. A filosofia, ao entrar nas escolas, se vê submersa em uma
estrutura educacional que busca respostas prontas, conteúdos que podem ser facilmente
transmitidos e avaliados. Mas a verdadeira filosofia não cabe nessas estruturas. Ela precisa
ser vivida, questionada, e, acima de tudo, deve permitir ao jovem que se aventure no
desconhecido e na incerteza. O papel do professor de filosofia, como Sócrates, não é o de
garantir respostas definitivas, mas o de guiar os alunos no caminho da problematização e
da reflexão.
Portanto, a filosofia não deve ser vista como um saber a ser ensinado, mas como um
exercício de questionamento constante, que envolve o corpo, a sensibilidade, a dúvida, e
que, ao criar uma educação filosófica, abre o aluno para um mundo de múltiplas
possibilidades, longe da rigidez e da repetição. Nesse movimento, o verdadeiro
ensinamento não é o daquilo que se sabe, mas o daquilo que se ignora e que ainda precisa
ser questionado. A educação filosófica, então, não é apenas um caminho para a formação
de cidadãos críticos, mas para a constituição de indivíduos capazes de pensar a vida, a
sociedade e o mundo de maneiras sempre novas e criativas.