5 - Cadernos Cris-Fiocruz - Informe 02-04-2025 - Sobre Saúde Global e Diplomacia Da Saúde Final
5 - Cadernos Cris-Fiocruz - Informe 02-04-2025 - Sobre Saúde Global e Diplomacia Da Saúde Final
Publicação Digital
Produção coletiva dos trabalhadores do CRIS-FIOCRUZ
Rio de Janeiro, 03 de abril de 2025
1
SUMÁRIO
16 - Saúde Global na Assembleia Geral das Nações Unidas 2025 - Paulo Buss e Santiago Alcázar
20 - Redução e cortes de investimentos: uma equação mortal - Paula Reges, Luana Bermudez e
Luiz Augusto Galvão
74 - Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova política migratória global - Rafael Gomes
França, Caio Murta, Giacomo Giannelli, Giulia Mariano Machado, Júlia Moraes, Marina
Sujkowski e Deisy de Freitas Lima Ventura
80 - 69ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Condição da Mulher - Maria Teresa
Rossetti Massari, Priscilla Paiva Gê Vilella dos Santos e Maria Auxiliadora Souza Mendes
Gomes
90 - Agenda movimentada no campo da nutrição global: novo fôlego para a Década de Ação
sobre a Nutrição a partir do enfrentamento da fome e da má nutrição global - Eduardo
Nilson e Denise Oliveira
102 - ONU impulsiona luta global contra o comércio ilegal de artefatos culturais - Fabiane
Gaspar, Gisele Sanglard, Heliton Barros e Vitor Rodrigues
115 - O primeiro Fórum Econômico da América Latina e do Caribe promovido pelo Banco de
Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) - Laura Tavares Soares
2
Medrado, Renan Amaral Oliveira, Jesús Enrique Patiño Escarcina, Ana Carol Aldapi
Vaquera e Luis Eugênio de Souza
149 - A voz do Sul Global - Regina Ungerer, Erica Kastrup e Livia Ferreira
172 - Saúde e meio ambiente são discutidos no G20. Finanças, Bancos Centrais e os grupos de
engajamento do G7. Economia e Saúde no radar da quinzena da OCDE - Pedro Burger,
Vitória Kavanami, João Miguel Estephanio, Thaiany Medeiros Cury, Nina Bouqvar e Paulo
Esteves
181 - Brasil cobra ações para o equilíbrio entre segurança energética e desenvolvimento
sustentável dos países do BRICS - Claudia Hoirisch
198 - África - Augusto Paulo Silva, Manuel Mahoche, Tomé Cá, Dala Djop e Felix Rosenberg
209 - Na Europa, Trump segue ameaçando, Putin segue resistindo e um cessar-fogo segue
distante - Ana Helena Gigliotti de Luna Freire
216 - Igualdade de Gênero ainda tem muitos desafios na Ásia e região MENA - Lúcia Marques e
Bárbara Nogueira
229 - Ministério da Saúde (HHS) dos EUA lança plano de transformação - Guto Galvão
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CADERNOS CRIS/FIOCRUZ
Informe sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde
No. 05/2025 – 20 de março a 02 de abril de 2025
Apresentação
Além dos representantes de alto escalão de governos dos 33 países da região, estarão
presentes agências, fundos e programas do sistema das Nações Unidas, instituições financeiras
internacionais e bancos de desenvolvimento, organizações de integração regional e sub-
regional, sociedade civil, órgãos parlamentares, academia e setor privado, tanto de países da
América Latina e do Caribe quanto de outras regiões.
4
Sob a presidência do Brasil, BRICS impulsiona sua agenda de debates temáticos,
inclusive na saúde, com a realização, a 31 de março, sob a liderança de Biomanguinhos/Fiocruz,
da primeira reunião dos Centros de P&D de Vacinas do BRICS. Ainda neste mês de abril, reúne-
se a Rede de Institutos de Saúde Pública para compartilhar políticas e experiências bem-
sucedidas nos sistemas de saúde de BRICS, também sob a liderança da Fiocruz. Os resultados de
ambos os eventos serão detalhados no próximo fascículo dos Cadernos.
===*===
Na data fatal de 02 de abril, os tarifaços foram anunciados com impacto sobre todos os
países, em todo o mundo. Mesmo entre economistas neoliberais e entre CEOs de grandes
empresas sediadas no EUA, as críticas são candentes. Alertam para a desorganização econômica
global, e de riscos de inflação e, mesmo, de redução da atividade econômica no país e no mundo.
Imagine-se o impacto sobre a economia dos países em desenvolvimento, cujas exportações
também serão super-tarifadas, provavelmente impactando negativamente suas exportações
para o mercado estadunidense.
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quais, algumas delas covardemente, cedem. O HHS (ministério da saúde dos EUA) está
submetido a expressivo estresse, com demissões de elevado número de servidores, restrições
orçamentárias e mudanças estruturais expressivas. O ministério da educação está
profundamente esvaziado, a caminho da extinção. Quer reescrever a história dos EUA com
intervenção no Smithsonian Institute e seus grandes e respeitados museus. Frente à avalanche
de sandices, alguns juízes federais contestam medidas e algumas vozes da sociedade civil se
levantam, mas muito longe ainda do que seria de esperar.
No Brasil, a punição aos golpistas de 8 de janeiro de 2023 continua, sem tréguas, no STF,
com Bolsonaro e asseclas transformados em réus. Memorável movimento de afirmação da
democracia brasileira. Salve nosso STF. Trazemos este comentário sobre o Brasil, neste fórum
de debate internacional, para comparar com a omissão do Supremo estadunidense que se
curvou às vontades, ordens e perdões de um candidato a ditador em uma das grandes
democracias do Ocidente.
1
https://www.researchgate.net/publication/389768778_After_USAID_what_now_for_aid_and_Africa
2
UK aid cuts will undermine global health and pose a risk to children’s lives | The BMJ
3
Parlamento do Reino Unido. O Reino Unido reduzirá a ajuda para 0,3% da renda nacional bruta a partir
de 2027. Biblioteca da Câmara dos Comuns. 28 de fevereiro de 2025.
https://commonslibrary.parliament.uk/uk-to-reduce-aid-to-0-3-of-gross-national-income-from-2027/
6
Além do custo de receber refugiados e requerentes de asilo, os setores humanitário e
de saúde foram as maiores áreas de investimento em ajuda bilateral do Reino Unido em 2023,
respondendo por 15% e 13% do orçamento de ajuda externa, respectivamente.
===*===
7
programas essenciais, como a resposta a emergências sanitárias e a vigilância epidemiológica,
além de comprometer o financiamento de doenças prioritárias, como tuberculose e HIV. A crise
da OMS reflete um cenário mais amplo, com dificuldades na captação de recursos para
iniciativas como Gavi e o Fundo Global. A incerteza sobre o aumento das contribuições
obrigatórias dos Estados-membros reforça a necessidade de um novo modelo de financiamento
sustentável. O futuro da OMS dependerá da capacidade de adaptação e do apoio internacional.
De Negri Filho trata da 58ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações
Unidas (CDH), que concluirá seus trabalhos no dia 04 de abril. Nesta última semana, são
tomadas as decisões que transformam em resoluções muitos dos temas de informes
apresentados desde o dia 24 de fevereiro.
O autor destaca a votação sobre a resolução que reconhece o impacto das medidas
coercitivas unilaterais sobre o pleno desfrute dos direitos humanos. Como ilustração da tensão
e divisão existente no CDH entre o Sul Global e o Ocidente / Norte Global, a votação alinhou
países da África, Asia e América Latina e Caribe em favor da resolução e, contra, todos os países
da Uniao Europeia, Coreia do Sul e Japão. Com três abstenções: Costa Rica, México e Ilhas
Marshall. Uma distribuição de votos que é representativa da divisão do Conselho em temas
substantivos sobre a conexão entre direitos humanos e a atual ordem política e econômica
internacional.
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anualmente, incluindo 1 milhão de casos de câncer, além de gerar um custo de 3 trilhões de
dólares para a economia mundial. O documento aborda duas conferências realizadas em
sequência. A primeira, sobre ar limpo, ocorreu em Brasília e teve como foco a redução das
emissões de superpoluentes do ar provenientes de diversos setores, como agricultura,
transporte e combustíveis para cozinhar. O evento promoveu a troca de experiências bem-
sucedidas e incentivou maior ambição nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)
para o controle dessas emissões, visando benefícios para a saúde, o meio ambiente e a mitigação
das mudanças climáticas. A segunda conferência, organizada pela OMS, enfatizou a importância
de políticas ambientais e de saúde integradas para prevenir mortes prematuras, além da
implementação de sistemas de monitoramento e alerta para a contaminação do ar. No Dia do
Desperdício Zero, as discussões se concentraram na indústria têxtil e da moda, setores
responsáveis por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e por um enorme volume
de resíduos, que se acumulam em locais como o deserto do Atacama e contaminam rios. O
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) propôs cinco estratégias para
reduzir esse desperdício e publicou um relatório baseado na consulta a mais de 140 produtores
têxteis, com recomendações para transformar o setor.
A 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW69) das Nações Unidas,
realizada em março de 2025, na sede da ONU, em Nova York, reafirmou compromissos globais
com a igualdade de gênero. Neste informe, Massari, Santos e Gomes destacam a Declaração
Política adotada e outros documentos oficiais, e abordam a participação do Brasil, liderada pela
ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Apresentam também o relatório Direitos das Mulheres
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em Revisão: 30 anos após Pequim, da ONU Mulheres, que analisa avanços e desafios desde a
Declaração de Pequim, incluindo retrocessos democráticos, violência e desigualdade
econômica. O estudo aponta a necessidade de ações urgentes em financiamento, tecnologia,
participação política e justiça climática. Por fim, trazem uma declaração conjunta da ONU que
alerta para ameaças à redução da mortalidade infantil e natimortos devido a cortes no
financiamento global. A falta de recursos compromete serviços essenciais, como vacinação e
assistência ao parto, impactando regiões vulneráveis. A ONU pede mais investimentos e ações
coordenadas para garantir a sobrevivência materna e infantil.
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pela OMPI evidenciam persistentes disparidades na capacidade de inovação entre economias
avançadas e em desenvolvimento. Os documentos enfatizam a necessidade urgente de
reformas no sistema financeiro internacional e de mecanismos mais robustos de transferência
tecnológica para reduzir desigualdades estruturais que afetam o desenvolvimento da região.
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Humanos e Diversidade Cultural do MNA. Por fim, o Centro Sul destacou iniciativas importantes
como o Fórum de Partes Interessadas do Programa de Acesso a Tecnologias em Saúde (HTAP)
da OMS, as etapas necessárias para garantir resultados na 4ª Conferência de FfD, o Pacto Digital
Global e a OMC aos 30 anos. O Centro também publicou seu Boletim de fevereiro de 2025,
mantendo o compromisso de informar sobre as ações mais relevantes.
Após dois eventos do G20 serem ofuscados pelos efeitos da nova política externa dos
Estados Unidos adotada no governo Trump, a quinzena do bloco foi marcada por dois encontros
principais: a reunião do Grupo de Trabalho de Saúde (HWG, na sigla em inglês) e o primeiro
encontro do Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática. Sem novos
encontros dos membros do G7 na última quinzena, há um cenário de prospecções de assuntos
que serão discutidos no próximo encontro das finanças em maio. Além disso, vale trazer luz aos
grupos de engajamento do G7, especialmente o Think 7, como termômetro para a Cúpula dos
Líderes. Os destaques da OCDE se dividem entre a apresentação de projeções econômicas
globais para 2025 e 2026 e a publicação de um relatório sobre a dívida global e de outros três
estudos relacionados à saúde.
Sobre BRICS, nossa analista Claudia Hoirisch informa que o Ministro de Minas e Energia
do Brasil abriu a 2ª Reunião do bloco no dia 20/3 e ressaltou a importância de buscarmos um
equilíbrio entre segurança energética, desenvolvimento sustentável e transição para um futuro
de baixo carbono. O BRICS tem tudo para liderar o desenvolvimento dos combustíveis
sustentáveis, se implementar diferentes soluções e dar escala às diferentes rotas tecnológicas,
e dessa forma, acelerará a descarbonização de setores estratégicos, como transporte e
indústria. O NBD pode ajudar os países na transição energética e no enfrentamento à mudança
do clima. Dilma Roussef foi reconduzida à presidência do NBD por um prazo de cinco anos, após
concordância de Putin, já que a Rússia deveria ocupar a presidência rotatória do Banco. Dilma
confirmou o avanço de projetos do Brasil com o governo chinês e destacou a ferrovia
transoceânica, um plano que servirá para escoar a produção agrícola brasileira pelo Pacífico. Na
área da saúde, o Ministro Alexandre Padilha está articulando um projeto de cooperação entre
o governo e o NDB para a criação de um hospital digital e inteligente em São Paulo. A Fiocruz,
por meio de Biomanguinhos, liderou a 1ª reunião do Centro de P&D de Vacinas do BRICS deste
ano. Durante o encontro, os representantes dos países compartilharam experiências para
fomentar ações entre os países-membros a fim de explorar o potencial do grupo para promover
o acesso justo e equitativo às vacinas em nível global. Ainda na área de vacinas, a Sinovac,
empresa chinesa responsável por fornecer a vacina Coronavac contra a Covid-19 para o Brasil
durante a pandemia, quer fortalecer sua presença no Brasil e investir na produção local de
vacinas.
Minayo, Tobar e Franco destacam a política comercial dos Estados Unidos que tem
gerado repercussões na América Latina. Medidas protecionistas pretendem beneficiar a
indústria doméstica, mas afetam consumidores norte-americanos e trabalhadores latino-
americanos. Outro tema de destaque é a recente decisão do governo venezuelano de realizar
eleições para deputados e um governador no território do Essequibo. A medida faz parte da
estratégia do governo Maduro para reafirmar sua reivindicação sobre a região, ignorando
possíveis sanções ou decisões da justiça internacional. No campo da saúde, há crescente
preocupação com o avanço dos movimentos antivacina na América Latina. Esse cenário fragiliza
a cooperação sanitária regional e global, em um momento em que surtos de doenças como
sarampo e febre amarela voltam a ameaçar a população. Nas organizações regionais, trazemos
atualizações da CEPAL, que inicia a Oitava Reunião do Fórum dos Países da América Latina e do
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Caribe sobre Desenvolvimento Sustentável; do ORAS-CONHU, COMISCA e SELA. Por fim, discute-
se a proposta de criação de CDC-LATAM. Embora a ideia pareça atrativa à primeira vista, ela
representaria uma sobreposição desnecessária às funções já desempenhadas pela OPAS e
poderia fragilizá-la como consequência.
O informe sobre África destaca sessão de diálogo do G20, sob a presidência da África do
Sul, que se concentrou nos financiamentos para o desenvolvimento e para as questões
climáticas. Além disso, o informe menciona a colaboração entre os CDC Europa e África a
segurança sanitária global. Outro ponto abordado é o fortalecimento da coordenação entre os
mecanismos regionais de aprovisionamento conjunto e o Mecanismo Africano de
Aprovisionamento Conjunto (APPM). Por fim, o informe destaca a assinatura de um MoU entre
a SADC e o UNICEF, visando fortalecer as relações bilaterais e formalizar a cooperação para os
próximos cinco anos.
Com a conclusão do mês de março e inspiradas pelas reflexões sobre os direitos das
mulheres, a oportunidade de destacar o papel transformador da participação feminina nos
processos decisórios políticos, especialmente em contextos de guerra, mediação de conflitos e
reestruturações pós-guerra, não poderia ser desperdiçada. O informe de Marques e Nogueira
sobre Ásia e Pacífico traz alguns dos marcos históricos para a igualdade de gênero, para o
empoderamento feminino e o papel da mulher para paz e segurança e para a proteção
ambiental. Apresenta dados do relatório sobre desigualdade de gêneros, olhando para as regiões
da Ásia e MENA e a estratégia dos Laboratórios de Inovação de Gênero do Banco Mundial. Pode-
se observar a estagnação e às vezes retrocesso no último ano. Pelo lado positivo, destaca as
iniciativas bem-sucedidas da Arábia Saudita cujas mulheres, em curto tempo, já representam
36,2% da força de trabalho; entendendo que a mulher é vital na transformação econômica, o
país vem buscando influenciar outros países islâmicos ou não, árabes ou não, realizando
conferências e reuniões envolvendo governos, pesquisadores e instituições públicas e privadas.
Pelo mundo, embora haja alguns casos de sucesso, o machismo ainda é muito enraizado e a
realidade continua muito distante do que preconiza a lei. É preciso entender e valorizar o papel
da mulher nos processos de paz e nas questões ambientais. Ambos os casos revelam que
mulheres não são meras vítimas a serem protegidas, mas agentes ativas capazes de reinventar
sistemas e propor alternativas aos modelos vigentes.
Segundo Lobato, a China realizou comunicação quântica segura com a África do Sul,
marcando avanço na segurança digital. No dia 26/03, autoridades da China e da Índia reuniram-
se em Pequim e concordaram em implementar os consensos estabelecidos por Xi Jinping e
Narendra Modi durante a cúpula dos BRICS de 2024 em Kazan, reforçando o multilateralismo e
a cooperação regional. Já em 14/03, os vice-ministros da China, Rússia e Irã emitiram
13
comunicado contra sanções unilaterais e reafirmaram o caráter pacífico do programa nuclear
iraniano. Nos dias 23 e 24, o Fórum de Desenvolvimento da China reuniu representantes de mais
de 100 países para debater inovação, transição verde, reforma financeira e globalização. Li Qiang
defendeu o multilateralismo e Dilma Rousseff foi reeleita para o Novo Banco de
Desenvolvimento. Na área da saúde, pesquisa apontou desconfiança da classe média-baixa no
sistema, apesar da ampla cobertura.
===*===
14
GT USP/Fiocruz Acordo sobre Pandemias e Reforma do RSI
Encerramos mais este Caderno com expectativas sombrias para os tempos que se
apresentam, ditadas por transformações profundas e possivelmente irreversíveis na ordem
política e econômica mundial, a perda de confiança geral entre os atores políticos, sem que
nenhum dos grandes problemas que verdadeiramente afetam o bem-estar e a saúde humana e
planetária tenham sido sequer tocadas com a merecida seriedade e comprometimento.
É preciso que as forças que acreditam na democracia e nos valores humanos básicos, do
convívio pacífico e cooperativo entre povos e países, se levantem para bloquear os desmandos
que destroem, não uma ordem mundial que necessitava urgentes e profundas transformações,
mas qualquer perspectiva de paz e concórdia.
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Saúde Global na Assembleia Geral das Nações Unidas 2025
Cada vez mais, temas de saúde global tem presença garantida nas Assembleias Gerais
das Nações Unidas (AGNU). Ou seja, por sua importância política e técnica, a saúde passa a ser
objeto do espaço político máximo de deliberações dos Chefes de Estado e de Governo, no âmbito
das Nações Unidas. Em 2025, o tema escolhido são as doenças não-transmissíveis (DNT) para a
Reunião de Alto Nível da AGNU relacionado à saúde.
Contudo, outros temas em debate na AGNU também têm alto impacto sobre a saúde
humana e planetária. Na impossibilidade de tratá-las todas em um único artigo, neste vamos
abordar duas resoluções que foram adotadas na última quinzena: sobre nutrição e sobre
doenças não-transmissíveis.
De acordo com as estimativas mais recentes da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Alimentar Mundial (PMA) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS), o mundo não está no caminho certo para acabar com a
fome e a subnutrição até 2030, nem para proporcionar uma nutrição adequada ou segurança
alimentar, como consta nos compromissos da Agenda 2030 e seus ODS.
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Antecedentes
A resolução enfatiza que uma abordagem multissetorial que integre a nutrição em todos
os setores, incluindo agricultura, saúde, água e saneamento, proteção social e educação, bem
como uma perspectiva de gênero, é essencial para alcançar a segurança alimentar, a melhoria
da nutrição e a realização do direito à alimentação em todo o mundo.
Por esta razão, chama a atenção para os compromissos que têm a ver, direta e
indiretamente, com a questão nutricional (em toda sua complexidade), na Cúpula e no Pacto
para o Futuro, assim como na Aliança Global contra a Pobreza e a Fome, proposta pelo Brasil no
G20, à qual aderiram até agora diversas organizações internacionais e mais de 80 países.
Ou seja, procura estabelecer sinergia entre as dezenas de iniciativas que, no âmbito das
Nações Unidas, de uma ou outra forma abordam o tema a nutrição e da segurança alimentar.
Por exemplo, com a Assembleia Mundial da Saúde, da qual espera que considere a proposta de
prorrogar os seus seis objetivos globais em matéria de nutrição até 20304, em consonância com
a década de ação para alcançar os ODS.
4
Ver: Global nutrition targets 2025: policy brief series
17
Ademais, exorta os Estados-Membros a acelerarem os esforços nos seis domínios de
ação do programa de trabalho da Década, com vista a garantir que: 1) os sistemas alimentares
proporcionem uma dieta saudável e a preços acessíveis para todos, em consonância com as
condições, políticas e estratégias específicas do contexto; 2) as medidas nutricionais sejam
integradas aos sistemas nacionais de saúde e aos planos de cobertura universal de saúde,
incluindo os serviços essenciais de saúde; 3) ampliar os programas de proteção social, educação
e nutrição capazes de responder a crises e levar em consideração a nutrição; 4) aumentar sos
investimentos em nutrição no setor agroalimentar; 5) promover a coerência entre o comércio e
a política agrícola e a nutrição; e 6) fortalecer a governança nutricional em todos os níveis.
Finalmente, a resolução decide prorrogar a Década de Ação das Nações Unidas sobre
Nutrição até 2030, a fim de alinhá-la com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e
manter o ímpeto político nos níveis global, regional e nacional para acabar com a desnutrição
em todas as suas formas até 2030.
A 4ª. Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral sobre Prevenção e Controle das Doenças Não-
transmissíveis e a Promoção da Saúde Mental e Bem-Estar
A Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), por meio da Resolução 79/2735, de
06/03/2025, começa a preparar a 4ª. Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral sobre Prevenção
e Controle das Doenças Não-transmissíveis e a Promoção da Saúde Mental e Bem-Estar.
Convocado pela Presidência 2025 da AGNU, a Reunião terá lugar na sede das Nações
Unidas (Nova York,) no dia 25 de setembro de 2025, das 10h às 18h, durante o debate geral da
80ª. Assembleia, e consistirá numa reunião de abertura, um debate geral em plenário, dois
painéis de discussão com múltiplas partes interessadas e uma sessão de encerramento.
A Reunião de Alto Nível adotará uma Declaração Política concisa e orientada para a ação,
acordada por consenso, previamente, por meio de negociações intergovernamentais,
expressando a visão compartilhada de mobilização da vontade política e da ação nos níveis
nacional, regional e internacional, aproveitando as oportunidades e os desafios decorrentes da
implementação de compromissos anteriores e incluindo, se apropriado, a definição de objetivos
e metas globais mensuráveis, a serem submetidos à Assembleia pelo Presidente da Assembleia
Geral para adoção.
5
Ver: https://docs.un.org/en/A/RES/79/273
18
segundo a Resolução, mulheres, crianças, jovens, povos indígenas e pessoas de ascendência
africana participem e contribuam com suas vozes.
Antecedentes
Nossa visão
As DNTs são um grupo de doenças que respondem pela maior carga de morbi-
mortalidade global e em todos os países do mundo, desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Incluem as doenças cardio- e cérebro-vasculares, as neoplasias e outras condições crônicas,
como o diabetes, altamente dependentes da posição social ocupada pelos indivíduos, ou seja,
são socialmente determinadas. A prevalência acompanha o gradiente social, sendo mais
prevalentes nos percentis de menor renda (tomada esta como proxi de classe social ou posição
na estratificação social). Também é mais elevada quanto mais reduzidos são os níveis de
escolaridade formal, pior a alimentação, assim como dependente do local de habitação e da
posição na ocupação etc.
O enfrentamento das DNTs deveria estar entre as prioridades de BRICS, este ano
presidido pelo Brasil, que deveria fazer uma intervenção coletiva do bloco, que poderá ter alto
impacto na Reunião de Alto Nível.
Considerações finais
A despeito dos ataques que têm sofrido de atores políticos poderosos, como ocorreu
com a oposição dos EUA à prorrogação da década da nutrição – para enfrentar o flagelo da fome
e da desnutrição – e da Agenda 2030, que noticiamos no fascículo 3-4 destes Cadernos, temos a
confiança de que o sistema sobreviverá, mesmo que sofrendo as transformações necessárias
para seu aggiornamento aos grandes problemas e questões do século XXI.
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Redução e cortes de investimentos: uma equação mortal
Paula Reges
Luana Bermudez
Luiz Augusto Galvão
Resumo. A crise financeira da OMS se intensificou com a retirada dos EUA, agravando um déficit
previsto de US$ 600 milhões em 2025. Como resposta, a organização propôs um corte de 21%
no orçamento para 2026-27, reduzindo-o para US$ 4,2 bilhões. O diretor-geral Tedros Adhanom
Ghebreyesus alertou, em e-mail interno, sobre os desafios ao multilateralismo e à saúde global,
enquanto a OMS busca reorganizar suas operações, incluindo fusões de departamentos,
congelamento de contratações e cortes de viagens. Paralelamente, cortes na assistência
internacional para priorizar gastos com defesa impactam iniciativas críticas. Isso afeta
programas essenciais, como a resposta a emergências sanitárias e a vigilância epidemiológica,
além de comprometer o financiamento de doenças prioritárias, como tuberculose e HIV. A crise
da OMS reflete um cenário mais amplo, com dificuldades na captação de recursos para
iniciativas como Gavi e o Fundo Global. A incerteza sobre o aumento das contribuições
obrigatórias dos Estados-membros reforça a necessidade de um novo modelo de financiamento
sustentável. O futuro da OMS dependerá da capacidade de adaptação e do apoio internacional.
Abstract. The WHO’s financial crisis has deepened with the US withdrawal, worsening a
projected deficit of $600 million by 2025. In response, the organization has proposed a 21%
budget cut for 2026-27, bringing it down to $4.2 billion. Director-General Tedros Adhanom
Ghebreyesus warned in an internal email of challenges to multilateralism and global health as
the WHO seeks to reorganize its operations, including department mergers, hiring freezes and
travel cuts. At the same time, cuts in international assistance to prioritize defense spending are
impacting critical initiatives. This affects essential programs such as health emergency response
and epidemiological surveillance, and jeopardizes funding for priority diseases such as
tuberculosis and HIV. The WHO’s crisis reflects a broader picture of difficulties in raising funds
for initiatives such as Gavi and the Global Fund. Uncertainty over the increase in mandatory
contributions from Member States reinforces the need for a new sustainable financing model.
The future of WHO will depend on its adaptability and international support.
Conforme exposto em análise do portal Geneva Health Files, a recente crise financeira
enfrentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) reflete desafios estruturais e políticos no
financiamento da governança global da saúde. A decisão do governo Trump de retirar os Estados
Unidos da OMS desencadeou uma série de cortes que afetam diretamente a capacidade
operacional da instituição, aprofundando um problema histórico de subfinanciamento. A
proposta de redução de 21% no orçamento para o biênio 2026-2027, equivalente a um corte de
um bilhão de dólares, ilustra a gravidade da situação, já que o orçamento previsto caiu de US$
20
5,3 bilhões para US$ 4,2 bilhões. Essa redução ocorre em meio a um déficit de US$ 600 milhões
no orçamento do ano corrente, levando a um redimensionamento da força de trabalho e das
atividades da organização.
O impacto desses cortes se estende para além da OMS, afetando toda a arquitetura da
saúde global. Agências como Gavi e o Fundo Global também enfrentam dificuldades em suas
rodadas de reposição financeira, sugerindo uma crise sistêmica no financiamento de iniciativas
de saúde pública. Além disso, a redução dos recursos destinados à OMS compromete
diretamente sua capacidade de coordenar respostas a emergências sanitárias, monitorar surtos
epidêmicos e apoiar sistemas de saúde nos países mais vulneráveis. Como destacado por Mike
Ryan, diretor do Programa de Emergências da OMS, a redução do orçamento do programa de
emergências de US$ 1,2 bilhão para US$ 872 milhões implica cortes profundos em ações
fundamentais, como resposta a surtos de ebola, operações de equipes médicas em desastres e
inteligência epidemiológica.
21
Estados-membros visa mitigar essa vulnerabilidade, mas enfrenta resistência política. O
desfecho dessas negociações será determinante para o futuro da organização e para a
governança da saúde global como um todo. O período que antecede a Assembleia Mundial da
Saúde em maio de 2025 será crucial para definir os rumos da OMS diante desse cenário
desafiador.
Na última semana foi liberado pelo jornal estadunidense New York Times documento
que lista uma série de proposta para redução ou completa suspensão de financiamentos por
parte da administração Trump. Dentre tais, há menção ao orçamento para manutenção da
Aliança Global para Vacinas e Imunização, GAVI, pela sigla em inglês. A reportagem pode ser lida
na íntegra neste link. Tal decisão pode representar um marco preocupante para a saúde global
e para a própria segurança sanitária do país e do mundo. De acordo com informações reveladas
pelo New York Times, essa medida faz parte de um esforço mais amplo do governo
estadunidense para reduzir drasticamente sua assistência internacional, com cortes que afetam
diretamente organizações essenciais para a resposta a emergências sanitárias e a prevenção de
surtos epidêmicos. O impacto potencial dessa decisão transcende fronteiras, comprometendo
décadas de avanços na imunização e expondo milhões de crianças a doenças evitáveis.
A Gavi tem sido um dos pilares da imunização global desde sua criação há 25 anos,
contribuindo para a vacinação de milhões de crianças e para a contenção de surtos de doenças
como sarampo, poliomielite e pneumonias por múltiplos patógenos. Estima-se que suas
iniciativas tenham salvado cerca de 19 milhões de vidas nesse período. O estudo completo que
referencia tal cálculo pode ser lido na página da Aliança (aqui). O financiamento dos Estados
Unidos cobre aproximadamente 13% do orçamento da organização, e sua retirada pode deixar
75 milhões de crianças sem acesso a vacinas essenciais nos próximos cinco anos. Esse cenário
poderia resultar em mais de um milhão de mortes evitáveis e em um aumento exponencial de
surtos de doenças infecciosas.
A decisão dos EUA de cortar esse financiamento não ocorre isoladamente. Faz parte de
uma reestruturação mais ampla da assistência internacional promovida pela administração
atual, que inclui a redução drástica do orçamento da USAID e a criação de um novo órgão, a
Agência para Assistência Humanitária Internacional. Esse movimento visa reorganizar os pilares
da ajuda externa sob a lógica de segurança nacional e prosperidade econômica, deixando de
lado programas essenciais que historicamente tiveram impacto positivo na estabilidade global.
A dissolução da USAID já resultou na perda de milhares de funcionários e na iminente
interrupção do fornecimento de medicamentos para o tratamento do HIV em pelo menos oito
países do continente africano.
22
esforços de imunização e a resposta a emergências sanitárias, essa medida enfraquece o próprio
sistema de defesa biológica dos Estados Unidos. Doenças infecciosas não reconhecem
fronteiras, e a redução dos esforços de contenção no exterior pode resultar em surtos dentro
do próprio território americano, gerando custos econômicos e humanos muito superiores aos
valores economizados com os cortes.
Diante desse cenário, é fundamental que haja uma mobilização global para preencher a
lacuna deixada pela saída dos EUA. Diversos países e organizações multilaterais já
demonstraram interesse em ampliar seus investimentos na Gavi, reconhecendo a importância
da imunização para a estabilidade sanitária e econômica mundial. No entanto, a ausência de um
dos maiores financiadores da saúde global ainda impõe desafios significativos para o futuro das
campanhas de vacinação e para a sustentabilidade dos sistemas de saúde nos países mais
vulneráveis.
A tuberculose (TB) continua sendo um dos maiores desafios de saúde pública no mundo,
responsável por 1,25 milhão de mortes em 2023, incluindo 161 mil pessoas vivendo com co-
infecção pelo HIV (WHO, 2025). Após três anos em que a COVID-19 ocupou o posto, a TB voltou
a ser a principal causa de morte por um único agente infeccioso. Além disso, a doença segue
como a principal causa de morte entre pessoas com HIV e um grande fator de óbitos
relacionados à resistência antimicrobiana.
De acordo com o relatório da OMS (WHO, 2025), a maior parte do financiamento para
serviços de TB em 2023 (80%) veio de fontes domésticas. No entanto, em países de baixa e
média renda, o financiamento internacional continua sendo essencial. Entre 2019 e 2023, houve
uma queda de US$ 1,2 bilhão nos recursos domésticos, parcialmente explicada por reduções de
investimentos em países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O financiamento
para pesquisa e inovação na área da TB, que atingiu apenas US$ 1 bilhão em 2022, continua
muito abaixo da meta global de US$ 5 bilhões anuais.
A TB, embora seja uma doença prevenível e tratável, cortes abruptos no financiamento
global à saúde ameaçam minar décadas de progresso no combate. A decisão dos Estados Unidos
23
de congelar e reduzir significativamente os recursos destinados a programas de saúde globais,
incluindo a tuberculose, evidencia um retrocesso com consequências graves e de longo alcance.
O impacto dos cortes já é evidente. Segundo o Stop TB Partnership, apenas nos dois
meses seguintes à suspensão do financiamento da Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional (USAID), mais de 11.000 pacientes adicionais morreram em
decorrência da tuberculose. Além disso, projeções indicam que os casos da doença podem
aumentar entre 28% e 32% globalmente neste ano. A retirada abrupta do apoio financeiro
prejudica diretamente países de baixa e média renda, comprometendo laboratórios, cadeias de
suprimento de medicamentos e programas de rastreamento e diagnóstico.
Os efeitos dos cortes não se limitam a perdas humanas diretas, mas também abalam as
infraestruturas de saúde pública. Países como Moçambique, Camboja, Paquistão e Nigéria
relatam que a falta de financiamento da USAID comprometeu redes de laboratórios,
interrompeu o transporte de amostras para diagnóstico e levou à demissão de trabalhadores da
saúde essenciais. A crise se reflete, por exemplo, na drástica redução de diagnósticos na região
de Camboja, onde o número mensal de novos casos caiu de cerca de 650-850 para apenas 250.
Essa redução não representa uma melhora da situação epidemiológica, mas sim um colapso na
capacidade de identificar e tratar os doentes, contribuindo para a propagação silenciosa da TB
nas comunidades.
A decisão dos Estados Unidos também tem implicações geopolíticas e para a segurança
sanitária global. A tuberculose não respeita fronteiras, e o enfraquecimento da resposta
internacional pode levar à disseminação de novas cepas resistentes para países que atualmente
têm taxas mais baixas da doença, incluindo os próprios Estados Unidos. A ironia desse corte de
financiamento é que ele pode resultar em custos ainda mais altos no futuro, tanto para os países
afetados diretamente quanto para aqueles que agora tentam reduzir seu envolvimento
financeiro.
24
A resposta à TB deve ser vista não como obrigação moral, mas como investimento
estratégico. Cada dólar gasto em prevenção e tratamento da tuberculose gera retorno estimado
de US$ 43, aliviando a carga sobre os sistemas de saúde e prevenindo gastos futuros com surtos
epidêmicos e suas consequências econômicas. A retirada do financiamento não apenas ameaça
vidas, mas representa decisão contraproducente do ponto de vista financeiro e sanitário.
O artigo "A Saúde Global Está em uma Encruzilhada: Sejamos Ousados e Aspiracionais"
discute o impacto significativo da retirada dos Estados Unidos de vários programas
internacionais de saúde e ajuda, incluindo a OMS, USAID e PEPFAR. Essa retirada interrompeu
iniciativas de saúde global, especialmente aquelas que visam populações vulneráveis e doenças
como a malária. O artigo destaca as implicações mais amplas dessa medida, incluindo a erosão
do multilateralismo e o enfraquecimento dos valores da Carta das Nações Unidas.
O artigo pede novas modalidades de ajuda que sejam mais coerentes e socialmente
responsáveis, afastando-se dos sistemas de ajuda impulsionados por doadores que
frequentemente servem aos interesses dos países doadores. Destaca a importância do
financiamento público sobre o financiamento privado na saúde e no desenvolvimento,
defendendo uma regulamentação eficaz no interesse público.
25
Direitos humanos e “Razão Humanitária”, um conflito que se reflete na redução do
alcance e efetividade material dos direitos humanos
Tensões e conflitos na semana de encerramento da 58ª Sessão do CDH
A 58ª Sessão do CDH concluirá seus trabalhos no dia 04 de abril e, nesta última semana,
são tomadas as decisões que transformam em resoluções muitos dos temas de informes
apresentados desde o dia 24 de fevereiro.
Destaque deste dia 02 de abril foi a votação sobre a resolução que reconhece o impacto
das medidas coercitivas unilaterais sobre o pleno desfrute dos direitos humanos. Como ilustração
da tensão e divisão existente no CDH entre o Sul Global e o Ocidente / Norte Global, a votação
alinhou países da África, Asia e América Latina e Caribe em favor da resolução e, contra, todos
os países da Uniao Europeia, Coreia do Sul e Japão. Com três abstenções: Costa Rica, México e
Ilhas Marshall. Uma distribuição de votos que é representativa da divisão do Conselho em temas
substantivos sobre a conexão entre direitos humanos e a atual ordem política e econômica
internacional.
Em um cenário impactado pelo anúncio de retirada dos EUA da OMS, GAVI e Fundo
Global, com a implosão da arquitetura da chamada ajuda humanitária, se impõe a busca de
outros mecanismos para sustentar transformações que nos liberem de uma arquitetura
humanitária que não se implica moralmente com as causas estruturais das fragilidades das
populações que sofrem os efeitos da ordem internacional, expressos sobretudo pelas políticas
de austeridade e a limitação dos gastos públicos, a partir da imposição da arquitetura das dividas
nos processos de desenvolvimento nacionais.
Neste cenário onde convivem violações massivas dos direitos humanos mediante
medidas coercitivas unilaterais e a ajuda humanitária¨, o dilema imposto pela ¨razão
26
humanitária¨ estabelece uma contradição com a natureza e alcance dos direitos humanos no
marco da Lei Internacional. Sugiro a leitura da resenha por Darío Iván Radosta1 da obra de Didier
Fassin, ¨Razão humanitária. Uma história moral do tempo presente¨, como parte de uma
reflexão fundamental sobre as transformações do sofrimento humano como argumento político,
sem tocar as causas deste sofrimento. Reflexão que deveria guiar uma nova concepção do
humanitário em favor da materialidade dos direitos humanos em tempos sombrios.
27
proteção efetiva dos direitos dos indivíduos no processamento de seus neurodados. Esta
abordagem procura estabelecer uma base sólida para garantir que a regulamentação das
neurotecnologias seja coerente, ética e concebida para salvaguardar os direitos fundamentais.
1. Resenha por Darío Iván Radosta1 da obra de Didier Fassin, ¨Razão humanitária. Uma
história moral do tempo presente¨. Buenos Aires, Prometeo, 2016, 396 pp.
https://revistasacademicas.unsam.edu.ar/index.php/etnocontemp/article/view/437/1
490
¨Ao longo das últimas décadas, as políticas de gestão de vidas precárias passaram por
uma reconfiguração: os sentimentos morais – que articulam razão e emoção – penetraram na
esfera pública, gerando um governo humanitário – definido como o desdobramento de
sentimentos morais na política contemporânea – em que o sofrimento aparece como um novo
léxico que justifica as práticas de cuidado. Fassin, em uma compilação de nove artigos, se propõe
a analisar os efeitos dos múltiplos deslocamentos implicados pelo desenvolvimento do governo
humanitário na administração dos excluídos, dando conta da alta atuação política que o discurso
de afetos e valores tem no mundo contemporâneo. Combinando a abordagem histórica – por
meio da genealogia dessa nova configuração política – com a etnografia – que permite a
expansão epistemológica da moralidade como objeto de análise – o texto se apresenta como um
diagnóstico da economia moral que tem como eixo a razão humanitária.
28
vital" (número resultante da diferença entre a renda mensal e as despesas permanentes de uma
família) como invenção linguística nos permite ver a convergência de parâmetros financeiros e
morais na tomada de decisões. Longe de haver um critério uniforme, a representação que os
funcionários criam dos pobres torna-se uma norma usada para julgar seus discursos e ações. A
escolha de conceder ou não assistência social, inscrita nos mecanismos técnicos pelos quais se
busca a objetividade, funciona como um processo de subjetivação imposto aos pobres em que
eles são construídos como sujeitos da assistência, ao mesmo tempo em que dá conta da
exposição do sofrimento como um novo recurso de apelo à vontade do Estado.
A doença também se manifesta para o autor como um elemento que abre novos
horizontes de assistência social. Reivindicando o direito de manter vivos aqueles que confiam
apenas em sua existência, a legislação desenvolve um protocolo compassivo em matéria de
saúde que permite que pacientes estrangeiros em condições de irregularidade permaneçam em
território nacional. Antes socialmente ilegítimo, o corpo do imigrante torna-se um recurso capaz
de produzir compaixão. Foi assim que nasceu a figura do inspetor médico, pedra angular desse
dispositivo que propõe o corpo sofredor como prova da veracidade do discurso dos indivíduos.
Diante do crescente descrédito que recai sobre a palavra do imigrante, o atestado de doença
torna-se a verificação objetiva de sua história - e o fio fino sobre o qual sua existência depende.
À medida que o texto avança, Fassin nos mostra como a abertura e o fechamento do
campo de refugiados de Sangatte expressam o oxímoro da repressão compassiva, testemunho
de uma época em que o humanitário e a segurança se sobrepunham. Essa tensão entre
humanidade e segurança torna-se uma característica central da gestão dos refugiados no mundo
contemporâneo, a ponto de essa nova geopolítica do asilo ser administrada paralelamente por
organizações policiais e organizações pertencentes ao campo da saúde (como é o caso da Cruz
Vermelha). A introdução do asilo para estrangeiros na lógica da razão humanitária –
documentada pela invocação de sentimentos morais e reflexos emocionais em sua justificativa
– faz com que as organizações sejam desafiadas pela eficácia sentimental das narrativas dos
refugiados e não pela veracidade de suas histórias. Isso leva à redução do status de refugiado a
uma condição humana na qual a particularidade dos contextos e realidades nacionais é de
relativamente pouca importância.
Com foco nas representações da infância em tempos de AIDS, o autor expõe o caso de
Nkosi Johnson – que morreu de AIDS aos 11 anos – como a entrada da criança no espaço público.
Uma nova configuração moral da doença faz surgir a constituição da infância como marca de
inocência – na medida em que a criança não tem sua culpa comprometida – vinculada, por sua
vez, à ideia de vulnerabilidade social causada pela responsabilidade da ação de seus pais e pela
omissão do Estado. Destacar as crianças como vítimas vulneráveis tem o efeito de gerar
discriminação moral entre o que é mais ou menos legítimo defender (provocando o relativo
abandono das mães, por exemplo), ao mesmo tempo em que a introdução da infância como
categoria moral na política essencializa as crianças vítimas das realidades sociais – e, portanto,
as condições estruturais em que se inscrevem as suas situações históricas.
Tomando eventos catastróficos como objeto de análise, Fassin continua seu argumento
explicando seu caráter como exceção moral e política. A tensão entre compaixão e ordem que
caracteriza aquele momento permite que as intervenções militares sejam justificadas no registro
moral do humanitário – algo como um estado de exceção humanitária que é desejado pela
simpatia provocada pelas vítimas. A urgência e a precariedade da existência tornam-se objeto
de preocupação humanitária, enquanto a ilusão de igualdade diante de um evento que afeta
todas as esferas da sociedade torna-se o motor da ação coletiva. Passada a tragédia, o imaginário
29
da humanidade compartilhada cede e a "ressocialização" acontece ao longo das linhas usuais
das desigualdades sociais. O estado de emergência aparece aqui como uma forma prática de
gerir a crise.
Chegando ao capítulo final, Fassin propõe entender a ação humanitária como uma
política da vida – uma política que coloca em jogo significados e valores diferentes da vida
humana. Por meio da análise de diferentes intervenções militares, ele dá conta da existência de
uma desigualdade ontológica na transação de vidas: mais precisamente entre aqueles que são
colocados em perigo quando são expostos (aqueles que trabalham para ONGs) e aqueles que
são resgatados (a quem a assistência é destinada). A desigualdade que sustenta a compaixão do
gesto humanitário reside em uma aparente simetria de vidas, que contrasta com a prioridade
dada aos indivíduos enviados ao campo em missões humanitárias – o que para Fassin estabelece
hierarquias de humanidade. Embora a ação humanitária seja proposta como a restauração da
própria ideia de humanidade, a desigualdade de vidas acaba sendo para o autor um dos
fundamentos da economia moral contemporânea.
O livro em sua totalidade é uma tentativa de tomar como objeto de estudo a evidência
moral de causas inerentemente justas, aquelas às quais o caráter impecável da razão
humanitária dá uma auréola de bondade indiscutível, além de qualquer construção social ou
histórica possível. Tornar inteligíveis as lógicas globais dessas ações nos permite criticar a
existência de um processo de generalização do referencial dos sentimentos morais na vida
política – o que o autor chama de governo humanitário – podendo dizer, como uma das
conclusões a que Fassin chega, que o governo humanitário pode muito bem ser entendido
como uma resposta ao modo como a vida se tornou intolerável – para alguns mais do que para
outros – face às administrações dos Estados modernos contemporâneos.¨ 8 de Março de 2017.
1.Licenciado em Antropologia Social e Cultural (Universidade Nacional de San Martín). Doutoranda do CONICET,
sediada no Instituto de Altos Estudos Sociais da Universidade Nacional de San Martín. Professor de Psicologia na
Universidade Favaloro e Antropologia Social e Cultural na Universidade Nacional de San Martín.
30
para os Direitos Humanos que organizasse um workshop de especialistas e preparasse um
estudo temático abrangente sobre a dimensão de direitos humanos de cuidados e apoio. O
estudo foi informado por submissões escritas1 recebidas pelo Escritório do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), o resultado do workshop de
especialistas e pesquisas documentais e consultas conduzidas pelo ACNUDH.2
A. Terminologia.
5. O conceito de "cuidado e apoio", para os fins do presente relatório, é entendido como atos de
cuidar de si mesmo e de ajudar os outros a realizar atividades diárias, manter o bem-estar e
participar da sociedade com dignidade e autonomia. Esta definição baseia-se e combina as
definições de "cuidado" e "apoio" fornecidas no documento de política do sistema das Nações
Unidas sobre a transformação dos sistemas de cuidados. Nesse policy paper, o cuidado é
entendido como "o ato de cuidar de si, dos outros e do planeta, e que inclui fornecer apoio e
assistência a quem deles necessita para possibilitar sua participação na sociedade com dignidade
e autonomia"4 e como central para o bem-estar das pessoas e do planeta, e o apoio é entendido
como "o ato de prestar ajuda ou assistência a alguém que o necessite para realizar diariamente
atividades e participar da sociedade", de modo que tal assistência não apenas atenda às
necessidades básicas dos destinatários, mas também possibilite sua participação na sociedade
com dignidade e autonomia.5
6. Embora haja sobreposição entre os conceitos de "cuidado" e "apoio", cada um tem elementos
distintos e não pode ser subsumido no outro. O conceito de "cuidado" foi postulado para incluir
atividades que vão além do cuidado com as pessoas para incluir também o cuidado com o
planeta.6 O conceito de "apoio" é distinto, com foco em como a assistência é prestada, com
ênfase na autonomia daqueles que precisam de apoio e sua agência sobre a assistência que
buscam e recebem. O suporte pode ser fornecido tanto por suporte humano quanto por
dispositivos, tecnologias e infraestrutura assistenciais. 7 O termo "cuidado e apoio" captura
ambos conceitos.
31
7. O trabalho de cuidado e apoio pode ser remunerado ou não remunerado e pode ser realizado
dentro ou fora da família. Abrange o cuidado pessoal e relacional direto e o apoio a outras
pessoas; e trabalho indireto de cuidado e apoio, como cozinhar, limpar e lavar.8
9. A frase "aqueles que prestam e requerem cuidados e apoio" é usada no presente relatório,
após o feedback no workshop de especialistas. Foi sugerido que o uso da palavra "fornecer", em
vez de "dar", indica que a provisão de cuidados e apoio não é dada de graça ou tida como
garantida. O termo "exigir" abrange não apenas aqueles que já estão acessando cuidados e
apoio, mas também aqueles que precisam de cuidados e apoio, mas que ainda não têm acesso
a eles.
10. A frase "aqueles que prestam cuidados e apoio" abrange tanto aqueles que prestam cuidados
e apoio não remunerados quanto os trabalhadores de cuidados e apoio. Aqueles que prestam
cuidados e apoio não remunerados incluem cuidadores familiares não remunerados, pessoas
que prestam cuidados e apoio não remunerados de pares,11 e trabalhadores com
responsabilidades não remuneradas de cuidados e apoio.12 Os trabalhadores de cuidados e
apoio incluem trabalhadores remunerados de cuidados e apoio nas economias formal e
informal. 13
B. Estrutura conceitual.
11. O relatório baseia-se num quadro conceptual de cinco partes. Em primeiro lugar, a dimensão
de direitos humanos do cuidado e apoio é entendida como consistindo em três dimensões, a
saber: os direitos daqueles que prestam cuidados e apoio; os direitos daqueles que necessitam
de cuidados e apoio; e os direitos pertinentes ao autocuidado.14
12. Em segundo lugar, os direitos daqueles que prestam e necessitam de cuidados e apoio estão
inextricavelmente ligados,15 e, portanto, os sistemas de cuidados e apoio devem respeitar,
proteger e cumprir os direitos tanto daqueles que prestam cuidados e apoio quanto daqueles
que precisam de cuidados e apoio, simultaneamente.
32
14. Em quarto lugar, é necessária uma reestruturação dos atuais sistemas de cuidados e apoio,
a fim de garantir os direitos daqueles que prestam e necessitam de cuidados e apoio e para
aumentar a sustentabilidade dos sistemas. A este respeito, o quadro 5R proposto pelo sistema
das Nações Unidas poderia fornecer uma base útil para essa transformação. A estrutura descreve
medidas para alcançar cinco resultados políticos: (a) reconhecer o valor do trabalho de cuidado
e apoio e os direitos daqueles que prestam e precisam de cuidados e apoio; b) Reduzir o trabalho
de prestação de cuidados e apoio indirecto e não remunerado com grande intensidade de mão-
de-obra, sem comprometer a prestação de cuidados e o apoio a quem deles necessita; (c)
redistribuir o trabalho não remunerado de cuidado e apoio entre as famílias e o Estado,
empresas e comunidade, e entre gêneros; (d) recompensar os trabalhadores de cuidados e apoio
remunerados; e (e) garantir a representação e participação daqueles que prestam e precisam de
cuidados e apoio e suas organizações. 18
15. Em quinto lugar, a diversidade e a interseccionalidade das identidades daqueles que prestam
e recebem cuidados e apoio e seus direitos devem ser reconhecidos. Atualmente, em todo o
mundo, a maioria das pessoas que prestam cuidados e apoio são mulheres e meninas.19 Elas
incluem mulheres mais jovens e mais velhas e mulheres e meninas com deficiência. Ao mesmo
tempo, as mulheres não são apenas cuidadoras, mas também requerem cuidados e apoio de
outras pessoas ao longo de sua vida. As mulheres estão enfrentando desigualdade tanto na
prestação20 quanto na necessidade21 de cuidados e apoio. Homens e meninos estão cada vez
mais assumindo papéis de cuidadores e podem enfrentar estereótipos de gênero no acesso a
serviços relevantes.22 16. Além de suas experiências de gênero, as pessoas que prestam e
precisam de cuidados e apoio enfrentam diferentes estereótipos e restrições de seus direitos,
devido a formas múltiplas e cruzadas de discriminação. Por exemplo, pessoas que vivem
sozinhas, em cuidados alternativos23 ou em instituições de cuidados,24 abandonam os
cuidados,25 raparigas adolescentes,26 famílias monoparentais, viúvas,27 pessoas idosas, 28
lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, intersexuais e queer, 29 migrantes, 30 povos
indígenas,31 minorias raciais, étnicas e outras,32 incluindo as que enfrentam discriminação com
base na casta, ciganos e afrodescendentes, Aqueles que trabalham no setor informal,33 e
aqueles que vivem em áreas rurais, vivem na pobreza ou são afetados ou vivem em conflitos e
desastres34 enfrentam diferentes tipos e camadas de desafios na prestação e acesso a cuidados
e apoio. Assim, os sistemas de cuidado e apoio baseados em direitos humanos devem avaliar
minuciosamente a diversidade e a interseccionalidade das identidades daqueles que prestam e
necessitam de cuidados e apoio, com o objetivo de reduzir as várias combinações de
desigualdades enfrentadas.
18. O discurso sobre os direitos das mulheres tem abordado o "cuidado", exigindo igualdade de
gênero e direitos das mulheres na prestação de cuidados, principalmente com base na
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.
Movimentos feministas, sindicatos e organizações de cuidadores revelaram como assumir uma
parcela desproporcional de responsabilidades de cuidado prejudicou o gozo igualitário dos
direitos humanos pelas mulheres e sua participação igualitária na sociedade e afetou seu bem-
33
estar. Isso levou a demandas pela transformação da organização social do cuidado por meio da
estrutura dos 5R e o reconhecimento do "direito de prestar e receber cuidados e de exercer o
autocuidado". 37
19. Paralelamente, os movimentos pelos direitos das pessoas com deficiência reivindicaram o
direito ao "apoio" de acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
rejeitando modelos paternalistas e medicalizados de atendimento. Eles exigiram apoio baseado
em direitos como base para viver de forma independente e na comunidade e para estar livre de
ambientes institucionalizados de cuidado, segregação e isolamento. Eles também exigiram que
o apoio fosse fornecido aos cuidadores familiares.38 O conceito de apoio e os padrões relevantes
complementam as três dimensões do cuidado articuladas no discurso dos direitos das mulheres.
20. A Convenção sobre os Direitos da Criança estabelece os direitos das crianças à proteção e
aos cuidados necessários ao seu bem-estar, reconhecendo sua autonomia e agência. O conceito
de "apoio" também é aplicável a crianças com deficiência.39 No entanto, na discussão atual
sobre cuidados e apoio, as principais questões de direitos da criança relacionadas, entre outras,
com cuidados alternativos, proibição do trabalho infantil, crianças com responsabilidades de
cuidador, direito ao descanso, lazer e brincadeiras e os princípios gerais da Convenção40 não
foram totalmente integrados.
21. O discurso sobre os direitos das pessoas idosas tem sido um ponto de convergência nas
discussões sobre os direitos daqueles que prestam e necessitam de cuidados e apoio. 41 No
entanto, devido em parte à falta de um instrumento internacional juridicamente vinculativo
dedicado aos direitos das pessoas idosas, tem havido menos clareza sobre esses direitos e as
lacunas correspondentes na proteção dos direitos humanos. 42
22. Nas subseções a seguir, os padrões relevantes são aplicados às três dimensões de cuidado e
apoio.
A. Princípios gerais.
23. Vários princípios gerais atravessam as três dimensões de cuidado e apoio. O princípio da
universalidade, indivisibilidade, interdependência e inter-relação de todos os direitos humanos
e os princípios da não discriminação e da igualdade são cruciais para os sistemas de cuidados e
apoio, em particular tendo em conta o papel fundamental dos cuidados e do apoio no
funcionamento das sociedades, as ligações entre os direitos daqueles que prestam e daqueles
que necessitam de cuidados e apoio, e as desigualdades sobre as quais os sistemas atuais são
construídos. O respeito pela dignidade43 e a autonomia44 também são um elemento comum.
Atenção especial deve ser dada para garantir que as mulheres desfrutem da igualdade
substantiva nas três dimensões de cuidado e apoio, considerando a significativa desigualdade de
gênero que as mulheres enfrentam ao fornecer e exigir cuidados e apoio.
24. A participação ativa e significativa daqueles que prestam e precisam de cuidados e apoio é
essencial para que os sistemas de cuidados e apoio sejam responsivos e responsáveis por seus
direitos e necessidades. O direito de participar na vida política e pública e outros direitos
relevantes para a participação na tomada de decisões, incluindo o direito da criança a ser ouvida,
devem ser garantidos tanto para quem presta como para quem necessita de cuidados e apoio.
Para os trabalhadores de cuidados e apoio, os direitos sindicais, incluindo a liberdade de
associação e negociação coletiva, são meios cruciais para alcançar um trabalho decente. A
participação na tomada de decisões também é um elemento do autocuidado.45 Aqueles que
enfrentam níveis mais altos de marginalização devem ser ativamente apoiados para garantir sua
34
participação, 46 e a representação igualitária de gênero na tomada de decisões deve ser
garantida.47
25. Cuidado e apoio são fundamentais para o bem-estar das pessoas. No entanto, dependendo
da dinâmica de poder nos contextos de cuidado e apoio, tanto aqueles que fornecem quanto
aqueles que precisam de cuidados e apoio podem se tornar vítimas e perpetradores de violência,
abuso, negligência e exploração. 48 Os sistemas de cuidados e apoio devem integrar meios para
prevenir e responder a essa violência. Os direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal, e à
liberdade contra a violência, o abuso, a negligência e a exploração, inclusive contra tortura ou
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, são relevantes neste contexto.49
26. Os mecanismos de responsabilização são essenciais para qualquer sistema para garantir que
os direitos humanos sejam respeitados, protegidos e cumpridos. Eles incluem mecanismos para
monitorar o progresso e as violações e abusos dos direitos humanos e para fornecer acesso à
justiça e recursos eficazes em casos de violações de direitos. As pessoas que enfrentam violações
de direitos no agregado familiar ou em instituições de cuidados, seja na prestação ou na
necessidade de cuidados e apoio, são particularmente vulneráveis; portanto, os mecanismos de
responsabilização devem ser acessíveis e responsivos a eles.
27. Para aumentar os investimentos em sistemas de atenção e apoio, os Estados têm a obrigação
de mobilizar e distribuir recursos guiados pelos padrões de direitos humanos. 50 A realização do
direito ao desenvolvimento requer reformas econômicas apropriadas, a implantação de
salvaguardas de direitos humanos e o uso de avaliações de impacto para orientar as decisões
tributárias e orçamentárias para garantir recursos para a realização dos direitos humanos.51
28. As empresas – incluindo empresas públicas e privadas e prestadores de serviços sem fins
lucrativos – podem ser prestadores de serviços de cuidados e apoio ou empregadores de
trabalhadores de cuidados e apoio e trabalhadores com responsabilidades de cuidados e apoio.
Espera-se que as empresas cumpram as normas em matéria de direitos humanos, como os
Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos e as orientações sobre a integração
de uma perspectiva de género na aplicação dos Princípios Orientadores, 52 as Diretrizes da OCDE
para as Empresas Multinacionais sobre Conduta Empresarial Responsável, a Declaração da OIT
sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e a Declaração Tripartita de Princípios
sobre as Empresas Multinacionais e a Política Social.
29. Para que os sistemas de cuidados e apoio respondam aos direitos humanos daqueles que
prestam cuidados e apoio, eles devem garantir uma ampla gama de direitos humanos.
31. Geralmente, aqueles que prestam cuidados e apoio não remunerados à sua família e
membros da comunidade devem poder aproveitar seu próprio gozo dos direitos à seguridade
social, moradia adequada e alimentação como base para fornecer cuidados e apoio. Entre os
povos indígenas e camponeses, seus direitos à terra e aos recursos naturais54 fazem parte dessa
fundação. O apoio aos familiares de pessoas com deficiência é considerado parte dos direitos
35
das pessoas com deficiência.55 As cargas de trabalho para cuidados e apoio não remunerados e
as normas sociais ao seu redor não devem prejudicar o gozo por aqueles que prestam cuidados
e apoio de seus próprios direitos humanos, como os direitos à saúde, incluindo saúde e direitos
sexuais e reprodutivos, à educação e ao trabalho.
32. Quando as crianças estão prestando cuidados e apoio, os direitos da criança, incluindo a
liberdade do trabalho infantil e os direitos à educação, saúde e descanso, lazer e brincadeiras,
devem ser protegidos. Ter acesso a apoio é muitas vezes importante para pessoas com
deficiência e idosos que prestam cuidados e apoio a outras pessoas. Por exemplo, apoio humano,
dispositivos assistivos e tecnologias podem ajudar os pais com deficiência a cuidar de seus
filhos.56
33. O direito à educação ao longo da vida, incluindo o direito à educação em direitos humanos57
desde a mais tenra idade e à formação profissional em cuidados e apoio, é importante para dotar
rapazes e raparigas, homens e mulheres de competências para prestar cuidados e apoio
baseados em direitos e para eliminar estereótipos e, assim, permitir a partilha equitativa das
responsabilidades de cuidados e apoio.
35. O acesso efetivo ao apoio é um componente chave para o gozo de uma ampla gama de
direitos humanos62 para aqueles que precisam de cuidados e apoio, incluindo o direito de viver
de forma independente e ser incluído na comunidade. O apoio individualizado para pessoas com
deficiência deve ser considerado um direito, e as pessoas com deficiência têm o direito de
escolher serviços e prestadores de serviços de acordo com suas necessidades individuais e
preferências pessoais.63 O Especialista Independente sobre o gozo de todos os direitos humanos
por pessoas idosas também se referiu ao acesso a serviços de apoio no contexto dos direitos das
pessoas idosas.64 A realização do direito à privacidade e o reconhecimento da capacidade legal,
inclusive com apoio, 65 são necessários para que aqueles que necessitam de cuidados e apoio
exerçam autonomia e escolha com dignidade.
36. As crianças, incluindo as crianças com deficiência, têm direito à proteção e cuidados66 e ao
direito à vida, sobrevivência e desenvolvimento67 sem discriminação.68 Ao mesmo tempo, elas
têm o direito de ter suas opiniões respeitadas de acordo com sua idade e maturidade,69 e seus
melhores interesses tomados como consideração primordial em todas as ações que lhes dizem
respeito.70 Crianças com deficiência podem precisar de "cuidados" na primeira infância, e à
medida que sua capacidade evolui, eles fazem a transição para obter controle sobre o "apoio"
que recebem.71
37. O direito de viver de forma independente e ser incluído na comunidade72 exige que as
pessoas com deficiência recebam todos os meios necessários para que exerçam escolha,
36
controle e tomem decisões sobre suas vidas, sejam plenamente incluídas e participem de todas
as esferas da vida, em igualdade de condições com os outros, e tenham acesso a serviços e
instalações comunitárias que respondam às suas necessidades.73 Viver de forma independente
e ser incluído no comunidade refere-se a ambientes de vida fora de instituições residenciais de
todos os tipos.74 Para proteger o direito à vida familiar de crianças e pessoas com deficiência75
, deve-se fornecer apoio às famílias para evitar a separação familiar no contexto de cuidados e
apoio.76 Também é importante proteger o direito à vida familiar dos trabalhadores migrantes e
suas famílias para permitir que eles atendam às suas necessidades familiares de cuidados e
apoio.77
38. O Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência declarou que a institucionalização
de pessoas com deficiência, incluindo crianças,78 deve ser eliminada,79 e que os Estados devem
adotar estratégias e planos de ação de desinstitucionalização. 80 O Comitê também indicou que
o conceito de institucionalização de pessoas com deficiência trata da perda de escolha pessoal e
autonomia como resultado da imposição de arranjos de vida e vida caracterizados por certos
elementos definidores.81 Embora as crianças privadas do ambiente familiar possam ser
colocadas sob cuidados alternativos, 82 a Assembleia Geral e o Comitê dos Direitos da Criança
declararam que qualquer forma de cuidado institucionalizado deve ser a última resorts e grandes
instituições de cuidados residenciais devem ser progressivamente eliminados.83 O uso de certos
níveis de cuidados institucionais para pessoas idosas é reconhecido no parágrafo 13 dos
Princípios das Nações Unidas para Pessoas Idosas. Embora o cuidado institucional possa ser o
resultado de uma decisão autônoma de uma pessoa, o Especialista Independente sobre o gozo
de todos os direitos humanos por pessoas idosas observou que esse cuidado muitas vezes
assume a forma de institucionalização forçada e colocações compulsórias, em particular quando
não há outras formas de cuidado disponíveis.84
39. Os sistemas de saúde e educação são essenciais para a prestação de cuidados e serviços de
apoio. Eles devem, portanto, respeitar e responder aos direitos à saúde e à educação daqueles
que precisam de cuidados e apoio em toda a sua diversidade. Isso inclui garantir a
disponibilidade e acessibilidade de serviços de saúde, incluindo serviços de saúde sexual e
reprodutiva, serviços de saúde mental e cuidados e apoio geriátrico, e a disponibilidade de
educação, incluindo educação infantil, 85 educação inclusiva 86 e educação ao longo da vida.87
40. A seguridade social é muitas vezes o principal meio de aquisição e acesso a serviços e bens
de cuidados e apoio. O estabelecimento de pisos de proteção social universais como parte do
direito à seguridade social é essencial. Os esquemas de seguridade social devem ser sensíveis ao
gênero,88 levar em consideração os custos extras relacionados à deficiência e fornecer acesso à
seguridade social que seja consistente ao longo da vida.89
41. Os direitos ao trabalho e à moradia adequada e o direito das pessoas com deficiência à
acessibilidade,90 também são relevantes para os direitos daqueles que precisam de cuidados e
apoio. Por exemplo, o acesso a oportunidades de emprego, moradia acessível e acessível e
transporte acessível aumentam a autonomia de pessoas com deficiência, idosos e outras pessoas
com necessidades de apoio e são essenciais para que vivam de forma independente na
comunidade.
37
os beneficiários elegíveis de reivindicar seus direitos.91 As mulheres podem ser vistas apenas
como aquelas que prestam cuidados e apoio e suas próprias necessidades de cuidados e apoio
podem ser ignoradas.
44. Nos tratados de direitos humanos das Nações Unidas, não há referência explícita ao
autocuidado; ela tem sido mencionada ocasionalmente em recomendações e análises dos
mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas.93 Embora sejam necessárias mais
pesquisas para estabelecer claramente o conteúdo dessa dimensão de cuidado e apoio e as
correspondentes obrigações do Estado, a pesquisa documental e a análise das contribuições
para o presente relatório indicam que os direitos descritos abaixo podem ser relevantes para o
autocuidado.
45. No México, a Corte Suprema reconheceu que o conceito de autocuidado pode ser entendido
como a possibilidade de destinar recursos econômicos e tempo para garantir o bem-estar
individual.94 A Constituição da Cidade do México reconhece o direito de todas as pessoas ao
tempo livre para convivência, recreação, cuidados pessoais, descanso, gozo de lazer e horas
razoáveis de trabalho.95 Nesse sentido, Os direitos ao repouso e ao lazer, à condição justa e
favorável de trabalho e à previdência social podem ser relevantes para o autocuidado.
46. No contexto da saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define autocuidado como a
capacidade de indivíduos, famílias e comunidades de promover a saúde, prevenir doenças,
manter a saúde e lidar com doenças e incapacidades com ou sem o apoio de um profissional de
saúde.96 A OMS sugere que os direitos relevantes para o autocuidado incluem os direitos à
saúde, participação na tomada de decisões, igualdade e não discriminação, informação, tomada
de decisão informada, privacidade e confidencialidade e responsabilidade.97 O direito à saúde
sexual e reprodutiva é parte integrante do direito à saúde e é importante que as mulheres,
incluindo as adolescentes, tenham autonomia sobre a gravidez e a paternidade como parte de
seu autocuidado, pois essa autonomia tem implicações significativas para sua própria saúde e
seus cuidados e apoio não remunerados responsabilidades.98
38
49. Nas consultas, representantes de pessoas com deficiência e idosos enfatizaram a importância
dos grupos e redes de apoio de pares como plataformas para o exercício coletivo do
autocuidado. Eles sugeriram que os Estados se abstenham de interferir nos grupos de apoio de
pares para impor certos modelos de atendimento e, em vez disso, consultem esses grupos e
respeitem as formas como os membros desejam exercer o autocuidado. Os direitos à liberdade
de associação e de expressão, particularmente em relação à liberdade de buscar, receber e
transmitir informações e ideias, podem ser relevantes para o exercício do autocuidado por meio
de grupos de apoio. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência reconhece
explicitamente a importância do apoio entre pares.103
50. Da mesma forma, em suas consultas, as crianças enfatizaram a importância de ter espaços
seguros onde pudessem compartilhar suas preocupações, consultar outras pessoas e expressar
livremente suas opiniões sobre os cuidados e o apoio que prestam e exigem. Embora não sejam
explicitamente descritos como tal por eles, tais espaços podem ser considerados como uma
forma de autocuidado. Nesse sentido, os direitos da criança de ser ouvida e à liberdade de
associação104 e de expressão105 podem ser relevantes.
51. Para os fins do presente relatório, as práticas promissoras foram examinadas em relação à
medida em que: (a) abordavam os direitos daqueles que fornecem e daqueles que precisam de
cuidados e apoio e seus direitos ao autocuidado; b) Tenham contribuído para o pleno respeito
dos direitos humanos; e (c) eram sensíveis ao gênero, inclusivos para pessoas com deficiência e
sensíveis à idade. As informações disponibilizadas para o estudo não foram suficientes para uma
verificação completa do impacto de cada prática ou um mapeamento abrangente de práticas
promissoras em todo o mundo. O relatório inclui, portanto, exemplos não exaustivos de práticas
que parecem integrar a maioria ou alguns dos critérios acima mencionados.
52. As informações disponíveis mostram um número crescente de esforços nos níveis nacional,
regional e global para transformar os sistemas de atendimento e apoio por meio de abordagens
abrangentes e integradas. Os países da América Latina têm liderado esses esforços, mas outras
regiões também estão agindo. Alguns países reconheceram o "direito humano ao cuidado" como
um direito legal.106 O Equador107 e o Uruguai108 adotaram leis que estabelecem sistemas
nacionais de cuidados. No momento em que este artigo foi escrito, Argentina,109 México,110
Paraguai111 e Peru112 estavam discutindo projetos de lei sobre sistemas nacionais de cuidados,
e projetos de políticas nacionais de cuidados estavam sendo apresentados no Brasil113 e no
Quênia.114 Essas leis e políticas visam abordar os direitos daqueles que prestam e necessitam
de cuidados e apoio e contêm elementos que são sensíveis ao gênero, inclusivo para deficiência
e sensível à idade.
39
cuidados e de exercer o autocuidado". A Associação das Nações do Sudeste Asiático adotou uma
Estrutura Abrangente sobre a Economia do Cuidado em 2021, e a Comissão Europeia adotou a
Estratégia Europeia de Cuidados em 2022.
56. Em nível global, a resolução da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre trabalho
decente e economia do cuidado, adotada em 2024, avançou no entendimento comum e nos
princípios orientadores sobre cuidado e apoio. As Nações Unidas emitiram um documento de
política de todo o sistema em 2024117 para definir uma abordagem comum para o trabalho das
Nações Unidas para apoiar a transformação dos sistemas de atendimento. O Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF) está desenvolvendo orientações para operacionalizar sistemas
de cuidados e apoio sensíveis à idade, inclusivos para pessoas com deficiência e sensíveis ao
gênero. 118
57. A análise mostra que muitos Estados estão adotando uma combinação de iniciativas legais,
políticas e de programas focadas nos direitos de tipos específicos de titulares de direitos. No
entanto, esses esforços tendem a ser fragmentados ou não alinhados com toda a gama de
padrões de direitos humanos aplicáveis. Por exemplo, esforços para aumentar os serviços podem
ser feitos sem garantir trabalho decente para os trabalhadores, ou esforços podem ser feitos
para melhorar os serviços em instituições de cuidados sem também se envolver em processos
de desinstitucionalização. A adoção de legislação e políticas abrangentes e integradas de
cuidados e apoio pode ajudar a evitar essa fragmentação e inconsistências.
58. Outros desafios identificados incluem a lacuna na proteção jurídica; 119 falta de investimento
suficiente e de financiamento sustentável; 120 lacunas na oferta e demanda de força de trabalho
de cuidados e apoio; 121 participação insuficiente dos titulares de direitos na tomada de
decisões; 122 a capacidade inadequada dos prestadores de serviços e seus trabalhadores para
prestar cuidados e serviços de apoio baseados em direitos humanos; 123 a ausência de
mecanismos eficazes de responsabilização; 124 falta de dados desagregados 125 que capturem
os direitos e necessidades tanto daqueles que prestam quanto daqueles que precisam de
cuidados e apoio, e as formas múltiplas e interseccionais de discriminação que enfrentam; e
respostas insuficientes ao impacto agravado das crises, decorrentes das crescentes
desigualdades econômicas, conflitos armados e emergências relacionadas ao clima e à saúde.
126 A pesquisa também identificou desafios em relação às cadeias globais de cuidados em
termos de aumento das deficiências de cuidados e apoio nos países de origem dos trabalhadores
migrantes de cuidados e apoio127 e a privatização dos serviços de cuidados e apoio sem a
implementação correspondente de salvaguardas para os direitos humanos. 128
V. Conclusões e recomendações.
59. O cuidado e o apoio fornecem uma base para o gozo de uma ampla gama de direitos
humanos. Todos precisam e fornecem cuidados e apoio em sua vida, às vezes simultaneamente.
No entanto, a sustentabilidade e a resiliência dos sistemas atuais estão sendo desafiadas no
mundo em mudança de hoje. A transformação dos sistemas de cuidados e apoio é essencial para
alcançar o desenvolvimento sustentável.
60. Os sistemas de cuidados atuais muitas vezes negam a dignidade, autonomia e agência tanto
daqueles que fornecem quanto daqueles que precisam de cuidados e apoio e esgotam seu
tempo, recursos e energia para o autocuidado, desenvolvimento pessoal e participação na
sociedade. Tais sistemas são suscetíveis a riscos de violência contra aqueles que fornecem e
necessitam de cuidados e apoio. Os direitos relevantes para a prestação de cuidados e apoio, a
40
necessidade de cuidados e apoio e o envolvimento no autocuidado estão interligados e,
portanto, os sistemas devem considerar essas três dimensões simultaneamente.
61. Os sistemas existentes tendem a forçar a competição por direitos dentro de recursos
limitados entre aqueles que fornecem e aqueles que precisam de cuidados e apoio. Os
investimentos devem ser significativamente ampliados para realizar os direitos humanos de
todos os titulares de direitos em contextos de cuidado e apoio.
62. A atual organização de cuidados e apoio deve ser transformada para corrigir uma série de
várias desigualdades.
65. Em terceiro lugar, os sistemas atuais foram descritos como refletindo o impacto das injustiças
históricas e estruturais, colonização e discriminação contra comunidades e pessoas com base em
raça, cor, descendência, origem nacional ou étnica e status indígena. Isso contribuiu para
políticas e práticas prejudiciais e intervenções paternalistas sob o nome de cuidado. A
transformação dos sistemas de cuidados e apoio deve contribuir para corrigir essa discriminação,
inclusive garantindo recursos adequados e justiça reparatória.129
67. Países em todo o mundo estão se esforçando para melhorar os sistemas de atendimento e
apoio. No entanto, muitos deles não abordam os direitos daqueles que prestam e precisam de
cuidados e apoio de forma igual e não levam em consideração uma ampla gama de padrões
internacionais de direitos humanos. As estruturas legais e políticas para sistemas de cuidados e
apoio devem integrar todos os padrões de direitos humanos relevantes para as três dimensões
de cuidado e apoio.
41
68. A participação significativa e igualitária de todos os titulares de direitos em toda a sua
diversidade deve ser assegurada em todas as fases da transformação dos sistemas de cuidados
e apoio, incluindo necessidades e avaliações de risco, concepção, tomada de decisão,
implementação, monitoramento, avaliação e remediação. Essa participação deve ser assegurada
através de processos de elaboração de políticas inclusivos e participativos, do diálogo social, da
liberdade de associação e da negociação coletiva.
69. É necessário mais esclarecimento sobre as obrigações dos Estados em matéria de direitos
humanos nos sistemas de assistência e apoio, inclusive em relação à prestação de serviços,
mobilização e financiamento de recursos e respostas a situações de crise. Da mesma forma, uma
análise mais aprofundada pode ser necessária para identificar os padrões relevantes de direitos
humanos e as obrigações correspondentes dos Estados sobre o autocuidado e sobre outros
conceitos sugeridos como relevantes para o cuidado, como o cuidado com o planeta. Também
são necessárias mais orientações políticas sobre as responsabilidades de direitos humanos das
empresas em sistemas de assistência e apoio.
70. Com base na análise do presente relatório, recomenda-se que todas as partes interessadas,
incluindo governos nacionais e locais e ministérios setoriais, organizações da sociedade civil e
representantes de titulares de direitos, organizações de trabalhadores e empregadores, setor
privado, academia, organizações intergovernamentais e parceiros de desenvolvimento,
colaborem e cooperem para transformar os sistemas de assistência e apoio para respeitar
plenamente os direitos humanos.
71. Por meio dessa colaboração, é essencial continuar a desenvolver: (a) análises e orientações
políticas sobre financiamento sustentável para sistemas de cuidados e apoio baseados em
direitos humanos, com foco particular em países de baixa e média renda, inclusive por meio da
cooperação internacional e da reforma dos sistemas macroeconômicos e financeiros globais; (b)
metodologias para a coleta de dados sobre cuidados e apoio, abrangendo os direitos tanto
daqueles que prestam quanto daqueles que precisam de cuidados e apoio, e assessoria técnica
para os Estados sobre a integração dessa coleta de dados nos sistemas nacionais; e (c)
aconselhamento político sobre como responder a crises de atendimento e apoio no contexto de
conflitos, insegurança, mudanças climáticas, desastres naturais, choques econômicos,
pandemias e quaisquer outras emergências importantes.
72. Os Estados devem: (a) Estabelecer, financiar e manter sistemas abrangentes e de apoio
baseados nos direitos humanos que sejam sensíveis ao gênero, inclusivos para a deficiência e
sensíveis à idade, inclusive por meio das ações solicitadas na resolução 54/6 do Conselho de
Direitos Humanos e na resolução da OIT sobre trabalho decente e economia do cuidado; (b)
Respeitar, proteger e cumprir os direitos daqueles que prestam e precisam de cuidados e apoio
e reconhecer plenamente sua dignidade, autonomia e agência, e garantir a igualdade substantiva
de gênero nos sistemas de cuidados e apoio; (c) Integrar respostas a formas múltiplas e
interseccionais de discriminação em leis, políticas, programas e serviços relevantes para os
sistemas de cuidados e apoio; (d) Garantir a participação significativa e inclusiva de todos os
titulares de direitos relevantes e suas organizações representativas, tanto como prestadoras
quanto como aquelas que necessitam de cuidados e apoio, nos mecanismos de tomada de
decisão e prestação de contas relativos aos sistemas de cuidados e apoio; (e) Promover a
desinstitucionalização dos cuidados (ver parágrafo 38 acima) de acordo com os padrões
internacionais de direitos humanos relevantes e em consulta com os titulares de direitos
envolvidos, e mudar para serviços de cuidados e apoio, infraestrutura e dispositivos que facilitem
a vida na comunidade; (f) Desenvolver as capacidades daqueles que prestam cuidados e apoio
42
para prestar cuidados e apoio baseados nos direitos humanos, e a capacidade daqueles que
precisam de cuidados e apoio para navegar pelos sistemas de cuidados e apoio e reivindicar seus
direitos; (g) Projetar e implementar caminhos abrangentes que protejam os direitos humanos
dos trabalhadores de assistência e apoio aos migrantes e suas famílias; Nesse ínterim, reformar
os programas de migração temporária de mão de obra existentes para garantir os direitos
humanos dentro e fora do local de trabalho; (h) Estabelecer e fortalecer mecanismos de
responsabilização e acesso a recursos para violações de direitos humanos no contexto de
cuidados e apoio; abordar de forma abrangente o impacto das desigualdades históricas e
estruturais e da opressão contra certos grupos nos sistemas de cuidado e apoio;
73. Os mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas, como os órgãos de tratados e os
procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos, devem: (a) Examinar todo o escopo
de cuidados e apoio em suas abordagens, abordando os direitos daqueles que prestam e
precisam de cuidados e apoio e seus direitos ao autocuidado e o impacto de formas cruzadas de
discriminação; (b) Articular ainda mais a dimensão de direitos humanos do cuidado e apoio e as
correspondentes obrigações do Estado, inclusive sobre autocuidado e conceitos como "cuidado
com o planeta".
74. As entidades das Nações Unidas e outras organizações intergovernamentais devem: (a)
Integrar plenamente os padrões de direitos humanos em sua cooperação técnica sobre o
estabelecimento e implementação de sistemas de assistência e apoio; b) No seu trabalho em
matéria de cuidados e apoio, assegurar a realização de consultas com um vasto leque de titulares
de direitos, em especial os que enfrentam formas múltiplas e cruzadas de discriminação, tanto
como os que prestam como os que necessitam de cuidados e apoio; (c) Continuar a elaborar e
fornecer orientações sobre sistemas de cuidados e apoio, com base no documento para os
sistemas das Nações Unidas publicado em 2024 130 com vistas a expandi-lo para alinhá-lo a uma
ampla gama de padrões internacionais de direitos humanos em evolução e estruturas
internacionais131 relevantes para os sistemas de cuidados e apoio.
75. As empresas devem: (a) Cumprir os padrões relevantes de direitos humanos, tanto como
empregadores de trabalhadores com responsabilidades de cuidado e apoio quanto como
prestadores de serviços de cuidado e apoio; (b) Priorizar o investimento em serviços de cuidados
e apoio baseados em direitos, infraestrutura e dispositivos que facilitem a vida independente;
(c) Capacitar os prestadores de serviços e os cuidadores e trabalhadores de apoio para prestar
serviços que cumpram os direitos humanos.
77. O Conselho de Direitos Humanos é convidado: (a) A apoiar mais pesquisas e cooperação
técnica relevante na área das dimensões de direitos humanos de cuidado e apoio; (b) Facilitar o
intercâmbio inter-regional de orientações políticas e boas práticas sobre sistemas de cuidados e
apoio baseados nos direitos humanos. ̈
43
3. ¨Relatório sobre a décima sessão do Grupo de Trabalho Intergovernamental Aberto
sobre Empresas Transnacionais e outras Empresas em Matéria de Direitos Humanos¨,
Presidente-Relator: Marcelo Vázquez Bermúdez. https://docs.un.org/en/A/HRC/58/46
...¨III. Declarações iniciais.
44
12. Apesar de tais desenvolvimentos, o Presidente-Relator enfatizou que as negociações para o
instrumento juridicamente vinculante deveriam ser realizadas exclusivamente no âmbito das
sessões oficiais do grupo de trabalho. Por isso, convidou todos os participantes a se esforçarem
ao máximo para aproveitar a décima sessão para aprimorar o instrumento, com vistas a
encontrar consensos.
23. Durante as negociações, os Estados puderam sugerir perguntas específicas para os juristas,
algumas das quais foram selecionadas pelo Presidente-Relator para serem feitas aos juristas
presentes na décima sessão. Os juristas tiveram tempo para formular suas respostas, que
apresentaram ao grupo de trabalho em momentos designados.
24. Devido a limitações de tempo, o grupo de trabalho só pôde realizar negociações sobre os
artigos 4 a 11 durante a décima sessão.
25. Dado o foco da reunião nas negociações lideradas pelo Estado, artigo por artigo, o
Presidente-Relator não tentou, no presente relatório, refletir todas as opiniões expressas
durante a sessão. Em vez disso, o adendo compilando as propostas textuais feitas durante a
reunião deve ser consultado para uma visão geral das posições de cada Estado. As gravações
completas das deliberações estão disponíveis em todos os idiomas oficiais das Nações Unidas.7
Além disso, declarações gerais e propostas textuais e comentários sobre artigos feitos por
participantes não estatais que foram entregues durante a décima sessão ou compartilhados com
o Secretariado estão disponíveis na página da web dedicada à décima sessão do grupo de
trabalho.8
V. Consulta sobre o roteiro proposto pelo Presidente-Relator para 2025 para a implementação
da decisão 56/116 do Conselho de Direitos Humanos, incluindo consultas temáticas
intersessões.
45
26. Após negociações lideradas pelo Estado, o grupo de trabalho dedicou tempo a uma consulta
sobre a proposta de roteiro para 2025 para a implementação da decisão 56/116 do Conselho de
Direitos Humanos proposta pelo Presidente-Relator, incluindo consultas temáticas
intersessionais.9 O Presidente-Relator lembrou ao grupo de trabalho que a medida em que o
mandato completo da Decisão 56/116 do Conselho poderia ser implementado dependia dos
recursos aprovados pela Quinta Comissão da Assembleia Geral. Ele convidou o Diretor Financeiro
do ACNUDH para compartilhar o processo pelo qual os orçamentos são determinados e alocados
para mandatos do Conselho. O Diretor Financeiro observou que, quando as decisões exigem
atividades, há uma estimativa dos recursos necessários para implementar totalmente as
atividades e que há uma chance de que os recursos necessários para implementar totalmente
um mandato não sejam aprovados. Partilhou que, infelizmente, o Comité Consultivo para as
Questões Administrativas e Orçamentárias já tinha recomendado cortes nos recursos
necessários para implementar a Decisão 56/116 do Conselho. O Diretor Financeiro também
destacou a distinção entre o que foi aprovado no orçamento e a alocação de recursos dados ao
ACNUDH para implementação e observou a chance de que o ACNUDH receba apenas uma fração
dos recursos necessários para a implementação total da decisão.
46
informou ao grupo de trabalho que, sujeito à aprovação e alocação dos recursos solicitados para
implementar a decisão 56/116 do Conselho, as consultas intersessionais teriam interpretação e
seriam transmitidas pela web e esclareceu que, devido à ausência de uma decisão da Assembleia
Geral autorizando reuniões híbridas, tais consultas seriam realizadas apenas pessoalmente...¨
Fundamentos.
24. Os rápidos avanços das neurotecnologias e sua capacidade de capturar, processar e analisar
neurodados representam desafios éticos e legais que transcendem as fronteiras nacionais e
exigem uma resposta regulatória que combine proteção de direitos e desenvolvimento
tecnológico. Abaixo estão expostos os fundamentos e princípios essenciais, sob a perspectiva do
direito à privacidade, para a criação de um projeto de lei modelo que sirva como ferramenta de
harmonização em nível internacional. O modelo não apenas estabelece padrões mínimos para o
uso seguro e ético de neurotecnologias, mas também constitui uma referência com base na qual
os países podem desenvolver regulamentações locais adequadas aos seus contextos legais e
sociais.
25. A lei modelo deve incorporar as diretrizes e diretrizes pertinentes sobre o assunto e questões
correlatas, emitidas por organizações como a Organização dos Estados Americanos,17 a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 18 a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 19 a Rede Ibero-Americana de
Proteção de Dados,20 o Parlamento Latino-Americano e Caribenho, 21 A Assembleia Global da
Privacidade22 e o Grupo de Trabalho Internacional sobre Proteção de Dados em Tecnologia
(Grupo de Berlim).23
26. Abaixo estão as definições e princípios que devem ser incluídos na proposta de lei modelo.
B. Definições.
27. Na lei modelo, é útil definir os seguintes termos: (a) Dados pessoais: qualquer informação
vinculada ou que possa ser associada a uma ou mais pessoas físicas identificadas ou
identificáveis; (b) Dados pessoais sensíveis: informações que afetem a privacidade do titular ou
que, se utilizadas indevidamente, possam levar à discriminação contra o titular; esses dados
47
incluem aqueles que revelam a origem racial ou étnica do sujeito, tendências políticas, crenças
religiosas ou filosóficas ou filiação a um sindicato, organização social ou de direitos humanos ou
organização que promova os interesses de qualquer partido político ou que defenda os direitos
e garantias dos partidos da oposição, bem como dados relativos à saúde e à vida sexual, dados
biométricos e neurodados. (c) Neurodados: informações obtidas do sistema nervoso central ou
periférico de uma pessoa por meio do uso de neurotecnologias; (d) Neurodireitos: categoria de
direitos humanos que buscam garantir a dignidade e os direitos fundamentais no campo da
pesquisa e uso das neurociências e neurotecnologias; e) Neurotecnologias: qualquer tecnologia
que registe, interprete, altere ou interfira com a atividade cerebral utilizando qualquer técnica
óptica, eletrônica, magnética ou nanotecnológica que permita compreender os processos
cerebrais, tais como a visão, as sensações, as percepções, o comportamento, as ideias, a
memória, as emoções, a consciência, a imaginação, as decisões ou a mente; (f) Neurotecnologias
invasivas: técnicas que registram ou alteram a atividade cerebral de dentro do cérebro,
envolvendo procedimentos médicos intrusivos no corpo humano (g) Neurotecnologias não
invasivas: técnicas que registram ou alteram a atividade cerebral de fora do crânio; (h)
Tratamento: qualquer atividade realizada com dados pessoais.
C. Princípios.
28. Os princípios fundamentais são a espinha dorsal de qualquer regulamentação de
neurotecnologias e processamento de neurodados, constituindo a base ética e legal que orienta
seu desenho, implementação e interpretação. Esses princípios não apenas fornecem coerência
no marco regulatório, mas também orientam a aplicação adequada de suas disposições,
garantindo um equilíbrio entre o progresso tecnológico e a proteção dos direitos humanos. Ao
estabelecer valores como privacidade mental, ética e não discriminação, os regulamentos têm a
garantia de serem adequados aos desafios atuais e futuros e promovem o respeito pela
dignidade humana de maneira justa e eficaz. Os princípios atuam como diretrizes essenciais para
a resolução de conflitos, preenchimento de lacunas regulatórias e garantia de proteção
abrangente de neurodados em todos os contextos.
29. Para além dos princípios gerais que regem a privacidade e a proteção de dados em geral,
propõem-se a seguir princípios mais específicos.
Dignidade humana.
30. A dignidade, como valor central inerente ao ser humano, é inviolável. Práticas contrárias à
dignidade humana não devem ser permitidas.
31. Todos devem ter acesso aos progressos realizados nas neurotecnologias, e a dignidade e os
direitos de cada pessoa devem ser respeitados nesse contexto.
32. Na concepção, desenvolvimento, implementação, comercialização, avaliação e uso de
neurotecnologias, o Estado deve promover uma abordagem enraizada no respeito à dignidade
humana e aos direitos humanos.
48
Privacidade mental e consentimento para processamento de neurodados.
34. Neurotecnologias não invasivas: técnicas que registram ou alteram a atividade cerebral de
fora do crânio; (h) Tratamento: qualquer atividade realizada com dados pessoais.
C. Princípios.
28. Os princípios fundamentais são a espinha dorsal de qualquer regulamentação de
neurotecnologias e processamento de neurodados, constituindo a base ética e legal que orienta
seu desenho, implementação e interpretação. Esses princípios não apenas fornecem coerência
no marco regulatório, mas também orientam a aplicação adequada de suas disposições,
garantindo um equilíbrio entre o progresso tecnológico e a proteção dos direitos humanos. Ao
estabelecer valores como privacidade mental, ética e não discriminação, os regulamentos têm a
garantia de serem adequados aos desafios atuais e futuros e promovem o respeito pela
dignidade humana de maneira justa e eficaz. Os princípios atuam como diretrizes essenciais para
a resolução de conflitos, preenchimento de lacunas regulatórias e garantia de proteção
abrangente de neurodados em todos os contextos.
29. Para além dos princípios gerais que regem a privacidade e a proteção de dados em geral,
propõem-se a seguir princípios mais específicos.
Dignidade humana.
30. A dignidade, como valor central inerente ao ser humano, é inviolável. Práticas contrárias à
dignidade humana não devem ser permitidas.
31. Todos devem ter acesso aos progressos realizados nas neurotecnologias, e a dignidade e os
direitos de cada pessoa devem ser respeitados nesse contexto.
32. Na concepção, desenvolvimento, implementação, comercialização, avaliação e uso de
neurotecnologias, o Estado deve promover uma abordagem enraizada no respeito à dignidade
humana e aos direitos humanos. Dados neurais como dados pessoais altamente sensíveis.
33. Neurodata são dados pessoais altamente confidenciais. As pessoas responsáveis ou
responsáveis pelo tratamento e utilização de dados neuronais devem adotar medidas reforçadas
de privacidade e segurança, assegurando limites à aplicação de técnicas de descodificação que
permitam identificar uma pessoa ou torná-la identificável, especialmente para bases de dados
ou conjuntos de dados que são partilhados com terceiros. O Estado deve promover medidas para
garantir o controle, a segurança, a confidencialidade e a integridade dos neurodados.
Privacidade mental e consentimento para processamento de neurodados 34.
37. A proteção dos direitos humanos desde a concepção implica, inter alia, o cumprimento dos
requisitos estabelecidos abaixo.
38. Antes de um estudo neural ou projeto de pesquisa ou do projeto e desenvolvimento de
neurotecnologias ou produtos neurais, uma avaliação de impacto sobre os direitos humanos
deve ser realizada para estabelecer um sistema eficaz de gerenciamento de riscos e supervisão
interna para garantir que os direitos humanos sejam protegidos.
39. Essas avaliações de impacto devem incluir, no mínimo, as seguintes informações: a) Uma
descrição pormenorizada das operações de tratamento de dados neurais envolvidas no estudo
ou projeto de investigação; (b) Uma avaliação dos riscos específicos de violação dos direitos e
liberdades dos indivíduos; (c) Medidas preventivas para enfrentar e mitigar os riscos de violação
dos direitos fundamentais; d) As verificações que serão efetuadas para verificar a pertinência, a
oportunidade e a eficácia das medidas acima referidas.
40. Antes da recolha de dados neurológicos, e ao longo do seu ciclo de vida, deve ser tomada
uma série de medidas preventivas, incluindo tecnológicas, organizacionais, humanas e
processuais, para evitar violações dos direitos fundamentais ou a utilização abusiva de
neurodados ou neurotecnologias.
49
41. A ética por design e por padrão deve permear o design, desenvolvimento e uso de produtos
ou processos de pesquisa envolvendo o cérebro, neurotecnologia ou neurodados. 42. Todos os
estudos, ensaios ou protocolos de pesquisa devem levar em consideração padrões éticos e
diretrizes para pesquisa.
Princípio da precaução.
43. Se existirem elementos associados à investigação ou à utilização de neurotecnologias ou de
neurodados que possam causar danos graves e irreversíveis aos seres humanos ou à dignidade
humana, mesmo que não exista certeza científica do efeito causal, devem ser tomadas medidas
de precaução para evitar tais danos.
44. O princípio da precaução também se aplica quando o risco ou a gravidade dos danos que
podem ser causados não são conhecidos antecipadamente.
Não discriminação.
47. Neurodados e neurotecnologias não devem ser usados para fins de discriminação,
estigmatização ou violação dos direitos e liberdades dos indivíduos.
V. Recomendações.
49. À luz do exposto, a Relatora Especial insta os Estados a: (a) Promover a regulamentação das
neurotecnologias e o processamento de neurodados. É essencial que cada país desenvolva um
quadro regulamentar específico para as neurotecnologias e os neurodados, dado o seu impacto
potencialmente profundo na privacidade, na dignidade humana e nos direitos fundamentais. A
regulamentação deve antecipar os riscos associados e garantir o uso seguro, ético e responsável
dessas tecnologias; (b) Incorporar os fundamentos e princípios para a regulamentação do uso de
neurotecnologias e do processamento de neurodados na perspectiva do direito à privacidade
sugerido no presente relatório. Os fundamentos e princípios estabelecidos no presente relatório,
incluindo a proteção da dignidade humana, o consentimento informado, a ética desde a
conceção, o princípio da precaução e a não discriminação, devem ser integrados nos quadros
jurídicos nacionais. Estes princípios assegurarão um equilíbrio entre a inovação tecnológica em
neurotecnologias e a proteção dos direitos humanos, com especial destaque para a privacidade
e o tratamento adequado dos neurodados; (c) Promover práticas éticas no uso de
neurotecnologias. É fundamental estabelecer diretrizes e fiscalizar práticas que garantam o uso
ético das neurotecnologias e garantam o tratamento adequado dos neurodados como
informações altamente sensíveis. Essas práticas devem evitar qualquer uso indevido que possa
comprometer a privacidade ou dar origem a discriminação; (d) Promover a educação sobre
neurotecnologias e neurodados. Para garantir o uso informado dessas tecnologias, os Estados
50
devem promover a educação pública sobre os benefícios e riscos associados às
neurotecnologias. Isso permitirá que as pessoas entendam melhor seu impacto, tomem decisões
conscientes sobre seus neurodados e exijam que seus direitos sejam respeitados nesta nova era
tecnológica.
Mecanismo de Especialistas sobre o Direito ao Desenvolvimento para discutir o financiamento
para o desenvolvimento no novo contexto internacional. https://www.ohchr.org/en/press-
releases/2025/03/expert-mechanism-right-development-discuss-financing-development-new?sub-site=HRC 27
Março 2025.
51
setor privado para prevenir, abordar e mitigar os impactos negativos das transferências de armas
sobre os direitos humanos, incluindo transferências e desvios ilícitos de armas não
regulamentados. Com base no workshop intersessional determinado pela resolução 53/15, as
lacunas são agrupadas em cinco categorias, a saber: boa governança do setor de armas;
salvaguardas contra a autorização de transferências proibidas; due diligence pelo setor privado;
prevenção eficaz dos impactos negativos sobre os direitos humanos resultantes das
transferências de armas; e acesso à justiça. Em suas conclusões e recomendações, o ACNUDH
conclui que as transferências de armas não são uma zona livre de direitos humanos e recomenda
medidas futuras que devem ser tomadas.
I. Introdução.
1. Em sua resolução 53/15, o Conselho de Direitos Humanos solicitou que o Escritório do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) preparasse um relatório
sobre lacunas e medidas futuras sobre o papel dos Estados e do setor privado na prevenção,
abordagem e mitigação do impacto negativo sobre os direitos humanos das transferências de
armas, incluindo o desvio de armas e transferências de armas não regulamentadas ou ilícitas, a
ser apresentado ao Conselho em sua quinquagésima oitava sessão. Conforme determinado pelo
Conselho, o relatório é informado pelo workshop intersessional realizado online de 7 a 9 de
outubro de 2024.1 Para preparar o relatório, o ACNUDH também buscou contribuições de
Estados, 2 entidades das Nações Unidas 3 e outras partes interessadas relevantes. 4 Além disso,
uma ampla gama de fontes foi consultada, incluindo instrumentos internacionais, a prática dos
Estados, mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas, relatórios de organizações da
sociedade civil e estudos acadêmicos.
2. O mundo enfrenta o maior número de conflitos violentos desde a Segunda Guerra Mundial,
os gastos militares globais em 2023 aumentaram pelo nono ano consecutivo5 e, em algumas
regiões, o volume de transferências de armas aumentou significativamente.6 A Carta das Nações
Unidas busca a promoção da paz e da segurança internacionais com o mínimo de desvio para
armamento dos recursos humanos e econômicos do mundo, e a Assembleia Geral afirmou que
o acúmulo de estoques nacionais pode ter efeitos desestabilizadores regionais sobre a paz e a
segurança internacionais.7 Algumas pesquisas sugeriram que as importações de armas
aumentam a probabilidade de eclosão de conflitos armados; uma vez que o conflito começa, ele
se torna um motor para o comércio de armas.8 As transferências de armas para as partes em
conflitos armados também contribuem para prolongar os conflitos e aumentar a probabilidade
de conflitos mais violentos.9 Na prática, nos últimos tempos, os Estados e atores privados
continuaram transferindo armas para os usuários finais, incluindo os militares em Mianmar,10
Israel,11 e as partes em conflito no Sudão,12 Sudão do Sul13 e Iêmen,14 apesar dos riscos de
contribuírem para graves violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos.
As transferências de armas também podem contribuir para a repressão interna e outras
violações e abusos dos direitos humanos fora de situações de conflito. No Pacto para o Futuro,
a Assembleia Geral expressou preocupação com o impacto devastador dos conflitos armados
sobre os civis e, referindo-se, entre outras coisas, ao direito internacional dos direitos humanos,
encorajou os Estados a tomarem as medidas necessárias para exercer controle sobre as
transferências de armas.15
3. No presente relatório, o ACNUDH examina o papel dos Estados e do setor privado sob as
normas e padrões internacionais, para prevenir, abordar e mitigar o impacto negativo das
transferências de armas sobre os direitos humanos. Em seguida, examina as lacunas entre esse
papel e a prática real dos Estados e do setor privado, identificando cinco lacunas relacionadas a:
52
prevenção da corrupção e conflitos de interesse; abster-se de transferências de armas proibidas;
respeito aos direitos humanos pelo setor privado; impedir transferências de armas proibidas; e
garantir o acesso à justiça. Em suas conclusões e recomendações, o ACNUDH recomenda
medidas futuras que devem ser tomadas com relação ao papel dos Estados e do setor privado
para prevenir, abordar e mitigar o impacto negativo das transferências de armas sobre os direitos
humanos...¨
41. As transferências de armas não são uma zona livre de direitos humanos. Podem implicar
graves consequências humanitárias e de direitos humanos, facilitar graves violações e abusos
dos direitos humanos e implicar responsabilidade por crimes ao abrigo do direito internacional.
As lacunas destacadas no presente relatório, muitas das quais na prática estão inter-
relacionadas, revelam que mais deve ser feito para fechar as lacunas de conformidade para
prevenir, abordar e mitigar o impacto negativo das transferências de armas sobre os direitos
humanos. O impacto das transferências de armas sobre os direitos humanos deve, por
conseguinte, ser objeto de uma atenção contínua.
42. A este respeito, mais investigação ajudaria a compreender melhor as lacunas no papel dos
Estados e do sector privado na prevenção, abordagem e atenuação do impacto negativo das
transferências de armas sobre os direitos humanos, em particular no que se refere à
identificação de medidas práticas e boas práticas sobre os seguintes temas: a) Medidas tomadas
pelos Estados para se absterem de transferências de armas proibidas; nomeadamente através
da legislação e da prática administrativa, incluindo avaliações de risco; (b) Medidas tomadas pelo
setor privado para respeitar os direitos humanos, inclusive por meio da adoção de políticas
relevantes e processos eficazes de devida diligência; (c) Medidas tomadas pelos Estados para
impedir transferências ilegais de armas por terceiros, incluindo a regulamentação do setor de
armas, o exercício do controle sobre o trânsito e o transbordo de armas e a investigação,
julgamento e punição de condutas relacionadas à exportação de armas proibidas pelo direito
internacional; (d) Medidas para garantir o acesso à justiça, recursos eficazes e supervisão judicial
sobre as exportações de armas, que são fundamentais para garantir a prevenção e a
responsabilização.
53
"O governo venezuelano continua a orquestrar uma dura repressão contra pessoas
percebidas como opositores políticos ou simplesmente porque expressam dissidência ou
opiniões críticas contra as autoridades", disse Marta Valiñas, presidente da FFM. "Isso faz parte
do mesmo curso de conduta que a FFM caracterizou anteriormente como crimes contra a
humanidade."
"Os esforços diplomáticos para tentar se comunicar com as pessoas detidas são
ignorados pelo governo de Nicolás Maduro, contrariando o direito internacional", disse Francisco
Cox, especialista da FFM. "Os detidos são mantidos em regimes rígidos de incomunicabilidade,
violando as leis nacionais e internacionais."
A FFM também forneceu mais detalhes ao Conselho sobre um dos protestos pós-
eleitorais ocorridos em julho de 2024 no estado de Aragua, onde sete pessoas foram mortas. A
FFM confirmou que tiros foram disparados contra manifestantes sem aviso prévio de dentro de
uma instalação militar, onde estavam localizados membros do Exército e da Guarda Nacional
Bolivariana encarregados de controlar o protesto.
"A FFM identificou quatro generais que estavam envolvidos na operação de controle da
ordem pública deste protesto e dois oficiais superiores que estavam dentro da instalação militar
de onde tiros foram disparados contra os manifestantes", disse Patricia Tappatá, especialista da
FFM. "O Estado da Venezuela deve investigar este incidente, levar à justiça os responsáveis e
reparar as vítimas."
54
Poluição Atmosférica e Crise Climática:
O Efeito Combinado na Saúde Humana e a Urgência de Ação
Air Pollution and Climate Crisis:
The Combined Effect on Human Health and the Urgency for Action
Danielly Magalhães
Guto Galvão
Summary: This report describes the impacts of air pollution on human health, which is
responsible for approximately 8 million premature deaths annually, including 1 million cases of
cancer, and imposes an economic burden of 3 trillion dollars globally. The document covers two
consecutive conferences. The first, focused on clean air, took place in Brasília and aimed at
reducing air superpollutant emissions from various sectors, such as agriculture, transportation,
and cooking fuels. The event fostered the exchange of successful experiences and encouraged
greater ambition in Nationally Determined Contributions (NDCs) to control these emissions,
aiming to benefit public health, the environment, and climate change mitigation. The second
conference, organized by the World Health Organization (WHO), highlighted the importance of
integrated environmental and health policies to prevent premature deaths, as well as the
implementation of air contamination monitoring and alert systems. On Zero Waste Day,
discussions centered on the textile and fashion industry, which accounts for 8% of global
greenhouse gas emissions and generates a massive volume of waste, accumulating in places like
the Atacama Desert and polluting rivers. The United Nations Environment Programme (UNEP)
proposed five strategies to reduce this waste and published a report based on consultations with
over 140 textile producers, offering recommendations to transform the sector.
Resumo: Este informe descreve os impactos da poluição do ar na saúde humana, responsável
por cerca de 8 milhões de mortes prematuras anualmente, incluindo 1 milhão de casos de
câncer, além de gerar um custo de 3 trilhões de dólares para a economia mundial. O documento
aborda duas conferências realizadas em sequência. A primeira, sobre ar limpo, ocorreu em
Brasília e teve como foco a redução das emissões de superpoluentes do ar provenientes de
diversos setores, como agricultura, transporte e combustíveis para cozinhar. O evento
promoveu a troca de experiências bem-sucedidas e incentivou maior ambição nas Contribuições
Nacionalmente Determinadas (NDCs) para o controle dessas emissões, visando benefícios para
a saúde, o meio ambiente e a mitigação das mudanças climáticas. A segunda conferência,
organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), enfatizou a importância de políticas
ambientais e de saúde integradas para prevenir mortes prematuras, além da implementação de
sistemas de monitoramento e alerta para a contaminação do ar. No Dia do Desperdício Zero, as
discussões se concentraram na indústria têxtil e da moda, setores responsáveis por 8% das
emissões globais de gases de efeito estufa e por um enorme volume de resíduos, que se
acumulam em locais como o deserto do Atacama e contaminam rios. O Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) propôs cinco estratégias para reduzir esse desperdício
e publicou um relatório baseado na consulta a mais de 140 produtores têxteis, com
recomendações para transformar o setor.
55
semana, um artigo publicado no Lancet revelou que as taxas de câncer estão aumentando entre
os não fumantes em todo o mundo, e uma das causas citadas pelos os pesquisadores é a
poluição do ar.
A exposição a poluentes atmosféricos, como material particulado fino (PM2.5), ozônio
troposférico e smog tóxico, está associada a doenças respiratórias, cardiovasculares e ao
aumento da mortalidade prematura. A mudança climática agrava essa situação por meio de
diversos mecanismos que intensificam a poluição do ar e seus efeitos adversos.
Um dos impactos da mudança climática é o aumento das temperaturas globais, que
influencia a formação e dispersão de poluentes. Temperaturas mais elevadas podem aumentar
a concentração de ozônio na troposfera, um poluente nocivo à saúde respiratória. Além disso,
o calor extremo intensifica a ocorrência de incêndios florestais e a queima de resíduos agrícolas
(como a queima de restolho), liberando grandes quantidades de material particulado e outros
poluentes na atmosfera.
As mudanças climáticas também colaboram para a formação da inversão térmica, um
fenômeno atmosférico que ocorre quando uma camada de ar quente se sobrepõe a uma
camada de ar frio próxima à superfície, impedindo a dispersão de poluentes. Esse fenômeno é
mais comum durante o inverno, especialmente em regiões urbanas e industrializadas, levando
à acumulação de smog tóxico. Cidades como São Paulo frequentemente enfrentam episódios
de inversão térmica, resultando em piora da qualidade do ar e aumento de doenças respiratórias
entre a população
As mudanças climáticas podem influenciar a frequência e a intensidade das inversões
térmicas. Alterações nos padrões climáticos, como a redução de ventos e mudanças na umidade
relativa do ar, podem favorecer a formação dessas inversões, especialmente durante os meses
mais frios. Isso resulta em períodos prolongados de baixa qualidade do ar, afetando
negativamente a saúde pública.
Diante desse cenário, é essencial adotar políticas integradas que abordem
simultaneamente a mitigação das mudanças climáticas e a redução da poluição do ar. Medidas
como a transição para fontes de energia limpa, o incentivo ao transporte sustentável, o controle
rigoroso das emissões industriais e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis são
fundamentais para proteger a saúde humana e o meio ambiente.
Nessa quinzena, dois eventos globais ocorreram para tomada de decisão e de políticas
para diminuir a poluição do ar e os impactos na saúde e as principais discussões serão
apresentadas neste informe.
56
forte ênfase em uma transição justa. O evento teve como objetivo avançar nas ações rumo à
COP 30, com foco em influenciar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para
reduzir os superpoluentes.
Dia 17
O Secretariado do CCAC organizou várias sessões de discussão, incluindo um Mercado
de Ideias, onde foram apresentados 24 projetos focados em setores como a agricultura (,
refrigeração e gestão de resíduos. O Marketplace conectou financiadores com implementadores
para impulsionar reduções de emissões de superpoluentes.
Um Workshop de Defesa de Sistemas Agroalimentares abordou a redução das emissões
agrícolas de metano e óxido nitroso, melhorando a segurança alimentar e a resiliência
econômica. As principais conclusões incluíram a necessidade de mudanças nas políticas,
financiamento e estratégias de comunicação para impulsionar a agricultura inteligente para o
clima. Também destacou o progresso da gestão da qualidade do ar na América Latina e no
Caribe, particularmente no Brasil.
Em outro workshop foi enfatizado a importância de integrar a qualidade do ar e os
objetivos de saúde, com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) discutindo o próximo
Plano de Ação de Saúde de Belém da COP30. O Workshop NDC de Consultores Nacionais teve
como objetivo aprimorar a experiência nacional na integração de superpoluentes em
compromissos climáticos, com estratégias para melhorar as NDCs por meio de soluções
personalizadas. A sessão também lançou as bases para futuras discussões sobre o refinamento
das estratégias climáticas nacionais.
Dia 18
Durante o plenário de abertura, Martina Otto, do Secretariado do CCAC, sublinhou a
urgência de reduzir os superpoluentes para manter o limite de 1,5°C. Marina Silva, ministra do
Meio Ambiente do Brasil, destacou a cooperação multilateral e o papel do Brasil na COP30. Tony
Kay, da Embaixada do Reino Unido e copresidente do CCAC, instou as nações a integrarem
reduções de superpoluentes em suas NDCs. Valerie Hickey, do Banco Mundial, enfatizou a
necessidade de aumentar o financiamento climático, apontando para os esforços de redução de
metano subfinanciados. Marcelo Mena, CEO do Global Methane Hub, anunciou uma promessa
de US$ 10 milhões para iniciativas de mitigação de metano. Adalberto Maluf, do Ministério do
Meio Ambiente do Brasil e copresidente do CCAC, confirmou o envolvimento do Brasil na
Iniciativa LOW-M, com Fortaleza, Rio de Janeiro e Belém unindo esforços para reduzir as
emissões de metano de resíduos. Essas ações complementam o compromisso de 62 países que
assinaram a Declaração de Metano de Resíduos Orgânicos durante a COP29, representando
mais de 50% das emissões globais de metano provenientes de resíduos.
As principais sessões exploraram vários tópicos críticos. A discussão sobre a integração
da NDC incluiu insights do Brasil, México, Vietnã, Nigéria e Gana sobre estratégias para
incorporar superpoluentes em sua NDC 3.0. A sessão de agricultura e redução de metano
examinou práticas sustentáveis e financiamento para mitigação de metano. Uma sessão sobre
veículos pesados focou em políticas de ar limpo, eletrificação e a Atualização da Estratégia
Global de Enxofre. As discussões sobre gestão de resíduos abordaram a valorização de resíduos
orgânicos, a captura de metano e os mecanismos financeiros para redução de resíduos. O
diálogo científico-político sobre o ozônio troposférico destacou os impactos climáticos, de saúde
e agrícolas do ozônio, enfatizando a necessidade de uma ação global coordenada. A sessão
emblemática do CCAC Clean Air forneceu atualizações sobre programas como o AQMx e o
Programa Ar Limpo da África.
57
A conferência ressaltou a necessidade de ação urgente sobre os superpoluentes por
meio de políticas mais fortes, financiamento aprimorado e avanços tecnológicos. À medida que
a COP30 se aproxima, as partes interessadas se comprometeram a acelerar a implementação
para alcançar benefícios climáticos, de saúde e econômicos.
Dia 19
O dia 2 da Conferência sobre Clima e Ar Limpo de 2025 se concentrou na implementação
de soluções para superpoluentes, enfatizando a necessidade de traduzir ideias em ações do
mundo real. As principais discussões centraram-se na equidade, integração e ações sensíveis ao
gênero. A Plenária de Gênero destacou a importância de abordar a equidade de gênero nas
políticas climáticas, enfatizando que as políticas climáticas e de poluição do ar devem ser
inclusivas e empoderar as mulheres. Os especialistas discutiram como as ações sensíveis ao
gênero podem não apenas melhorar os resultados ambientais, mas também aumentar a
resiliêcia econômica, principalmente por meio de projetos como soluções de cozinha limpa e
planejamento de transporte sensível ao gênero.
A Plenária de Política Setorial ressaltou a importância de políticas setoriais ambiciosas
para impulsionar a redução de superpoluentes. Especialistas compartilharam estudos de caso
bem-sucedidos de países como Gana, Nigéria, Brasil e Camboja, onde a integração da mitigação
de superpoluentes nas políticas nacionais produziu resultados ambientais e econômicos
positivos. Essas intervenções setoriais específicas demonstraram o potencial de políticas que
equilibram metas ambientais com incentivos econômicos, promovendo a colaboração
intersetorial para uma implementação eficaz.
Na Plenária de Política Científica, as discussões se concentraram na abordagem "Uma
Atmosfera", defendendo políticas integradas de clima e qualidade do ar. Os especialistas
enfatizaram a interconexão das mudanças climáticas e da poluição do ar e a necessidade de
estratégias holísticas para maximizar os benefícios para o meio ambiente e a saúde humana.
Desafios como a governança fragmentada e a lacuna entre a pesquisa científica e a tomada de
decisões políticas foram destacados, com apelos a abordagens mais integradas e melhor
coordenação entre os setores. A plenária concluiu com foco na importância de sustentar a
colaboração entre ciência e política e garantir que as decisões políticas sejam informadas por
evidências científicas robustas.
Dia 20
No último dia, diversas iniciativas e relatórios foram apresenatdos, incluindo a
atualização da Estratégia Global do PNUMA para a introdução de combustíveis com baixo teor
de enxofre e veículos diesel mais limpos, visando acelerar a transição para frotas mais
sustentáveis.
A plenária de encerramento abordou o desafio de transformar a ambição climática em
ação por meio de financiamento eficaz. Martina Otto, chefe do Secretariado do CCAC, destacou
a necessidade de ir além das fontes tradicionais de financiamento e desenvolver projetos
prontos para investimento que atraiam capital privado e filantrópico. O Dr. Nkiruka Maduekwe,
Diretor-Geral do Conselho Nacional de Mudanças Climáticas da Nigéria, compartilhou a
abordagem do país para garantir financiamento climático, incluindo o uso crescente de títulos
verdes para financiar projetos de adaptação e energia renovável. Valerie Hickey, Diretora Global
de Mudanças Climáticas do Banco Mundial, ressaltou a importância de metas claras, sistemas
de dados robustos e alinhamento da mitigação de superpoluentes com objetivos econômicos
mais amplos.
Painéis subsequentes apresentaram estratégias bem-sucedidas de financiamento em
nível nacional. Ange-Benjamin Brida, da Costa do Marfim, discutiu a melhoria da capacidade
58
institucional para acessar fundos internacionais por meio da NDC 3.0. Ranjila Singh, de Fiji,
destacou o Fundo Fiduciário de Ação Climática do país, que financia infraestrutura de adaptação
e projetos de energia solar alinhados com o Acordo de Paris. Katia Queiroz, do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), abordou como o BID está fortalecendo o acesso ao
financiamento na América Latina e no Caribe por meio de mecanismos de financiamento misto
e títulos verdes, priorizando setores de alta emissão.
A Sessão de Discussão sobre Energia Doméstica: Avançando na Cozinha Limpa destacou
a necessidade urgente de ampliar as soluções de cozinha limpa para enfrentar as mudanças
climáticas e os desafios de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatizou que
a poluição do ar e as mudanças climáticas compartilham as mesmas causas, tornando a culinária
limpa uma intervenção crucial para ambos.
Em suma, as discussões destacaram a interseção crítica entre as emissões de metano e
a saúde pública. Reduzir as emissões de metano em 45% até 2030 pode prevenir cerca de 260
mil mortes prematuras anualmente, além de evitar aproximadamente 775 mil visitas
hospitalares relacionadas à asma e reduzir perdas de colheitas em 25 milhões de toneladas
devido à formação de ozônio ao nível do solo, um poluente perigoso para a saúde humana. Além
disso, a exposição ao ozônio resultante das emissões de metano é responsável por 1 milhão de
mortes prematuras a cada ano. Portanto, a implementação de regulamentações eficazes para a
redução do metano e outros superpoluentes não só combate as mudanças climáticas, mas
também traz benefícios significativos para a saúde pública global.
Segunda Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar
A Segunda Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde foi concluída, com
mais de 50 países, cidades e organizações assumindo grandes compromissos para combater a
poluição do ar e proteger a saúde pública.
Coorganizada com o governo da Colômbia, a conferência reuniu mais de 700
participantes de 100 países, incluindo funcionários do governo, agências da ONU, sociedade
civil, cientistas e organizações de saúde. Seu objetivo comum: acelerar a ação sobre a poluição
do ar e seu impacto na saúde pública.
Um dos principais acordos da conferência é o compromisso de reduzir os impactos da
poluição do ar na saúde em 50% até 2040 – um esforço que visa salvar milhões de vidas a cada
ano. Além disso, novas promessas de financiamento e propostas de políticas foram anunciadas
como parte dos compromissos assumidos.
Durante a sessão de alto nível, o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da
OMS, pediu aos líderes que passem dos compromissos para ações ousadas: "É hora de passar
dos compromissos para ações ousadas. Para alcançar o ar limpo, precisamos de ações urgentes
em todas as frentes: investimento financeiro em soluções sustentáveis, como energia limpa e
transporte sustentável; aplicação técnica das diretrizes globais de qualidade do ar da OMS; e
compromisso social para proteger os mais vulneráveis em nossas regiões mais poluídas".
Gustavo Petro, presidente da Colômbia, participou da sessão de alto nível e reafirmou a
dedicação da Colômbia ao combate à poluição do ar: "A poluição do ar faz mais vítimas do que
a própria violência. Envenenar nosso ar custa vidas em silêncio - esta conferência reforça nossa
determinação em implementar políticas que priorizem tanto o meio ambiente quanto a saúde
pública.
Promessas notáveis feitas durante a conferência incluíram o seguinte:
• A ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, Lena Yanina
Estrada Añokazi, comprometeu-se a fortalecer os esforços multissetoriais para
59
combater a poluição do ar, com ações focadas em vigilância, saúde pública e transição
para energia limpa. O país também desenvolverá sistemas de alerta precoce para
prevenção e mitigação de incêndios florestais.
• A Espanha se comprometeu a alcançar um sistema de saúde neutro em carbono até
2050 por meio de estratégias de redução de emissões, colaboração entre setores e
promoção da inovação.
• O Reino Unido reafirmou seu compromisso de combater a poluição do ar, com iniciativas
que incluem a presidência do Fórum de Cooperação Internacional sobre Poluição do Ar
(FICAP), o estabelecimento de metas de PM2.5 baseadas na saúde e a publicação de
uma Estratégia de Qualidade do Ar destinada a aumentar a conscientização pública e
combater as desigualdades.
• O Ministério da Saúde e Bem-Estar Familiar da Índia se comprometeu a alinhar as ações
com o Programa Nacional de Ar Limpo para reduzir os impactos da poluição do ar na
saúde até 2040. Isso inclui aumentar a poluição do ar e a vigilância de doenças não
transmissíveis, promover energia mais limpa para cozinhar e apoiar os profissionais de
saúde na proteção de populações vulneráveis.
• O Brasil se comprometeu a fortalecer a cooperação interministerial, estabelecer uma
Política Nacional de Qualidade do Ar, atualizar os padrões de qualidade do ar com base
nas diretrizes da OMS e monitorar o impacto dessas iniciativas na mortalidade por
poluição do ar.
• A China se comprometeu a melhorar os padrões de qualidade do ar, aprimorar os
sistemas de proteção à saúde e promover a cooperação internacional de acordo com as
metas ambientais e climáticas nacionais para 2030, 2050 e 2060.
• Em nome dos co-presidentes das cidades do C40, representando quase 100 das maiores
cidades do mundo, o vice-prefeito de Londres, Mete Coban, prometeu reduzir a poluição
do ar, apoiar a meta da OMS para 2040 e defender o aumento dos investimentos em
soluções de ar limpo. Ele também enfatizou a importância das cidades no
desenvolvimento e implementação de estratégias de ar limpo.
• O Fundo do Ar Limpo (CAF) se comprometeu a apoiar a OMS na demonstração dos
benefícios para a saúde das ações de ar limpo e destinou US$ 90 milhões adicionais nos
próximos dois anos para iniciativas climáticas e de saúde.
60
O Dia Internacional do Lixo Zero teve foco em reduzir o desperdício na indústria da moda e
nos têxteis
A humanidade gera até 2,3 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos
anualmente, uma contagem que inclui tudo, desde alimentos a eletrônicos e têxteis.
Globalmente, os resíduos têxteis chegam a 92 milhões de toneladas.
Este foco do Dia Internacional do Lixo Zero deste ano (30 de março) destaca o papel
vital do setor têxtil e de moda em rápido crescimento no combate à crise de poluição de resíduos
que assola o planeta.
Todos os anos, o setor têxtil é responsável por 2-8% das emissões globais de gases de
efeito estufa e os consumidores consomem água suficiente para encher 86 milhões de piscinas
olímpicas.
A indústria da moda impacta significativamente o meio ambiente, com roupas
descartadas se acumulando no deserto do Atacama, no Chile, corantes têxteis poluindo rios em
Bangladesh e fibras sintéticas contaminando peixes no Canal da Mancha. A indústria gera até
8% das emissões globais de gases de efeito estufa e, a cada segundo, roupas de um caminhão
de lixo é despejada ou incinerada.
No entanto, os especialistas acreditam que a mudança sustentável é possível por meio
da ação coletiva. No Dia Internacional do Lixo Zero, o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) destaca cinco estratégias principais para reformar o setor:
1. Adotando a moda circular – A indústria deve reduzir a produção e manter os materiais
em uso por mais tempo, projetando roupas duráveis, usando tecidos sustentáveis e
apoiando os países produtores na transição.
2. Melhorando a reciclagem de tecidos – Apenas 1% dos têxteis são reciclados. Os
governos podem investir na coleta de resíduos têxteis, expandir os programas de
reciclagem e responsabilizar os fabricantes pelo descarte de roupas em fim de vida.
3. Eliminação de produtos químicos perigosos – Com mais de 15.000 produtos químicos
usados na produção têxtil, a regulamentação é necessária para eliminar gradualmente
as substâncias nocivas, melhorar a segurança da reciclagem e lidar com a poluição
microplástica das fibras sintéticas.
4. Mudando as narrativas do consumidor – A indústria da moda promove o consumo
excessivo, com a produção de roupas dobrando de 2000 a 2015. Especialistas pedem
que marcas, influenciadores e formuladores de políticas incentivem escolhas de moda
sustentáveis e transparência nos impactos ambientais.
5. Incentivando o consumo consciente – Os consumidores podem prolongar a vida útil das
roupas consertando, alugando, comprando em segunda mão e escolhendo marcas
sustentáveis, sinalizando a demanda por uma indústria mais verde.
Sustentabilidade e circularidade na cadeia de valor têxtil - um roteiro global
Publicado em 30 de Maio de 2023 o relatório do PNUMA Sustentabilidade e
circularidade na cadeia de valor têxtil - Um roteiro global | PNUMA - Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente descreve o que cada grupo de partes interessadas pode fazer
individual e coletivamente para alcançar o destino compartilhado de um setor têxtil circular.
Para isso, o relatório identifica as três prioridades: 1) mudança nos padrões de consumo; 2)
melhores práticas; e 3) investimento em infraestrutura. Estas três prioridades dependem uma
da outra e exigirão um trabalho significativo. Portanto, o Roteiro divide esse trabalho em nove
blocos de construção nos quais cada parte interessada pode se concentrar, com ações
prioritárias para cada grupo de partes interessadas.
61
O relatório se baseia em pesquisas e consultas com mais de 140 partes interessadas da
cadeia de valor têxtil, a quem o PNUMA agradece por ajudar a definir uma agenda comum de
transformação em direção à sustentabilidade e circularidade.
O Roteiro consiste no relatório principal e em sete anexos específicos das partes
interessadas. Os anexos aprofundam as ações que o grupo específico de partes interessadas
pode tomar para cumprir os nove blocos de construção, são eles:
1. Governança e Alinhamento Político
• Ações prioritárias:
o Governos: Desenvolver regulamentos e políticas alinhadas com a sustentabilidade.
o Indústria: Cumprir normas ambientais e apoiar iniciativas de autorregulação.
o ONGs e Acadêmicos: Pesquisar e promover boas práticas.
2. Infraestrutura e Tecnologia
• Ações prioritárias:
o Governos: Investir em infraestrutura verde e apoiar P&D em reciclagem.
o Indústria: Adotar tecnologias limpas e otimizar processos produtivos.
o Consumidores: Optar por produtos de empresas sustentáveis.
3. Modelos de Negócios Circulares
• Ações prioritárias:
o Indústria: Redefinir modelos de produção, priorizando reutilização e reciclagem.
o Investidores: Financiar startups e iniciativas circulares.
o Consumidores: Apoiar empresas com práticas de economia circular.
4. Colaboração e Parcerias
• Ações prioritárias:
o Governos: Criar redes para fomentar a colaboração entre setores.
o Indústria: Trabalhar em cadeias de suprimentos sustentáveis.
o ONGs e Acadêmicos: Facilitar diálogos entre as partes interessadas.
5. Medição e Divulgação de Dados
• Ações prioritárias:
o Indústria: Implementar métricas de impacto ambiental e social.
o Governos: Exigir relatórios padronizados de sustentabilidade.
o Consumidores: Pressionar empresas por mais transparência.
6. Capacitação e Educação
• Ações prioritárias:
o Governos e Indústria: Criar programas de treinamento sobre sustentabilidade.
o Acadêmicos: Desenvolver currículos sobre práticas sustentáveis.
o Consumidores: Informar-se sobre impactos ambientais da moda.
7. Estímulo ao Consumo Sustentável
• Ações prioritárias:
o Governos: Criar incentivos para compras sustentáveis.
o Indústria: Oferecer alternativas de consumo consciente.
o Consumidores: Priorizar produtos de menor impacto ambiental.
8. Financiamento Sustentável
• Ações prioritárias:
o Governos: Criar políticas de incentivo a investimentos sustentáveis.
o Investidores: Direcionar recursos para negócios circulares.
o Indústria: Captar fundos para inovação sustentável.
62
9. Gestão de Resíduos e Fi
m de Vida dos Produtos
• Ações prioritárias:
o Governos: Estabelecer sistemas eficazes de coleta e reciclagem.
o Indústria: Desenvolver produtos com design para reciclagem.
o Consumidores: Praticar descarte responsável e reutilização.
Conclusão
A organização de conferências sobre qualidade do ar e o Dia do Desperdício Zero
representa uma oportunidade crucial para reforçar a conscientização e impulsionar ações
concretas voltadas à sustentabilidade. Ao conectar essas iniciativas a compromissos ambientais
globais e envolver múltiplos setores, é possível promover mudanças significativas na gestão da
poluição do ar e na redução de resíduos.
No entanto, para garantir um impacto duradouro, é essencial adotar estratégias bem
definidas, superar desafios institucionais e estabelecer indicadores claros de sucesso. Somente
por meio de uma abordagem colaborativa, baseada em políticas ambiciosas e ações
coordenadas, será possível avançar na construção de um futuro mais saudável e sustentável
para todos.
63
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Organização Ibero-Americana de
Seguridade Social (OISS) lançam novo Relatório sobre a Saúde e Segurança no
Trabalho na América Latina, sob a perspectiva de gênero
René Mendes
Resumo: Encerrando o mês em que se celebrou o Dia Internacional da Mulher, este artigo
saudou e sintetizou o lançamento do Relatório conjunto lançado pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e Organização Iberoamericana de Seguridade Social (OISS), sobre a Saúde e
Segurança no Trabalho na América Latina, sob a perspectiva de gênero. O robusto documento,
de 90 páginas, ainda disponível apenas em espanhol, aborda questões de elevada relevância
para as lutas das mulheres, ao mesmo tempo em que apresenta e propõe avanços conceituais
e operacionais detalhados, para os profissionais que atuam no campo da Saúde e Segurança no
Trabalho (ou outras denominações equivalentes). Serve como subsídio para os movimentos
sociais e populares, assim como para os sindicatos de trabalhadores. Por sua profundidade e
abrangência, tem validade científica e acadêmica, podendo inspirar e orientar estudos e
pesquisas em torno dos temas abordados. Salientamos e saudamos, também, a feliz iniciativa
de parceria entre a OIT (por meio de seu Escritório Regional para a América Latina e Caribe,
sediado em Lima) e a OISS - Organização Iberoamericana de Seguridade Social, sediada em
Madrid (daí o “ibero”), por se juntarem em tema de tanta relevância e atualidade.
Abstract: Closing the month in which International Women's Day was celebrated, this article
welcomed and summarized the launch of the joint report released by the International Labor
Organization (ILO) and the Ibero-American Social Security Organization (OISS) on Occupational
Health and Safety in Latin America from a gender perspective. The robust 90-page document,
still available only in Spanish, addresses issues of great relevance to women's struggles, while
also presenting and proposing detailed conceptual and operational advances for professionals
working in the field of Occupational Health and Safety (or other equivalent denominations). It
serves as a subsidy for social and popular movements, as well as for workers' unions. Due to its
depth and scope, it has scientific and academic validity, and can inspire and guide studies and
research on the topics addressed. We also highlight and welcome the happy partnership initiative
between the ILO (through its Regional Office for Latin America and the Caribbean, based in Lima)
and the Ibero-American Social Security Organization, based in Madrid (hence the “Ibero”), for
coming together on such a relevant and current issue.
Keywords: Workers' Health and Safety; women's work; work and gender; ILO; OISS; Latin
America.
64
Introdução
Além disso, a divisão sexual injusta do trabalho entre homens e mulheres significa que
o trabalho reprodutivo e de cuidados recai principalmente sobre as mulheres, enquanto o
6
https://www.ilo.org/es/resource/news/mas-proteccion-menos-desigualdad-mirada-genero-seguridad-
salud-trabajo
7
https://www.ilo.org/sites/default/files/2025-03/Seguridad-y-salud-en-el-trabajo-con-perspectiva-de-
genero-iberoamerica.pdf
65
trabalho produtivo é realizado pelos homens. Soma-se a isso a sobrerrepresentação de
mulheres em setores menos produtivos, como educação, saúde e trabalho doméstico, com
maiores déficits de emprego digno, o que expõe as trabalhadoras de forma mais aguda a riscos
psicossociais e ergonômicos.
Por sua vez, Gina Magnolia Riaño Barón, Secretária Geral da OISS, enfatizou que "é
imperativo que as políticas de saúde e segurança no trabalho reconheçam as diferenças
biológicas, sociais e culturais entre mulheres e homens para implementar medidas eficazes de
prevenção e proteção. Somente dessa forma podemos reduzir as disparidades de gênero e
promover condições de trabalho dignas para todos".
Para que a governança em nível nacional e a gestão de SST em nível empresarial sejam
eficazes, elas devem incorporar plena e transversalmente uma perspectiva de gênero. Não é
possível alcançar a igualdade de gênero no campo da SST sem levar em consideração as
diferenças biológicas, sociais e culturais entre homens e mulheres na avaliação dos riscos
ocupacionais e nas medidas de prevenção e proteção, pois essas diferenças exigem medidas
adaptadas.
8
https://www.ilo.org/es/publications/seguridad-y-salud-en-el-trabajo-con-perspectiva-de-genero-
iberoamerica
66
Com o objetivo de fornecer uma análise abrangente da importância da incorporação de
uma perspectiva de gênero na SST na região, esta publicação conjunta aborda os principais
desafios e barreiras que dificultam a aplicação de uma abordagem inclusiva à gestão da SST,
bem como os preconceitos de gênero presentes na identificação e prevenção de riscos
ocupacionais. Da mesma forma, são apresentadas estratégias e recomendações para a gestão
da SST com perspectiva de gênero, promovendo boas práticas implementadas em diversos
países da região.
Esta publicação dedica uma seção especial ao setor de cuidados, que é essencial para o
funcionamento e bem-estar das sociedades, mas que, sendo altamente feminizado, continua a
enfrentar condições de trabalho precárias e falta de reconhecimento de sua profissão e seus
riscos específicos de SST.
O Prefácio retrata a expectativa das duas organizações parceiras: “esperamos que esta
publicação seja uma ferramenta valiosa para formuladores de políticas, empresas, sindicatos,
profissionais de SST e todas as partes interessadas em construir ambientes de trabalho mais
seguros, saudáveis e equitativos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização
Ibero-Americana da Seguridade Social (OISS) reafirmam seu compromisso de continuar
trabalhando para promover a igualdade de gênero no mundo do trabalho e fortalecer a saúde e
a segurança no trabalho, para promover a obtenção de justiça social para todos os
trabalhadores.”
1. Introdução
2. A perspectiva de gênero na segurança e saúde no trabalho (SST)
2.1 Terminologia-chave: “gênero” vs. “sexo” em saúde e segurança no trabalho
2.2 Diferenças na saúde entre mulheres e homens
2.3 Diferenças em segurança e saúde no trabalho entre mulheres e homens
2.4 Panorama da SST a partir de uma perspectiva de gênero na região ibero-americana
3. Preconceito de gênero na gestão da saúde e segurança no trabalho
3.1 Visão androcêntrica na medicina e na gestão da SST
3.2 Identificação de preconceitos de gênero na saúde
3.3 Identificação de preconceitos de gênero em SST
3.4 Impacto diferencial dos riscos ocupacionais na saúde em função do gênero
Expectativa de vida e expectativa de vida saudável
Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais
Doenças cardiovasculares
Distúrbios musculoesqueléticos
Transtornos mentais
Doenças infecciosas
Doenças alérgicas e respiratórias
Doenças causadas pela exposição ao ruído e às vibrações
9
https://www.ilo.org/sites/default/files/2025-03/Seguridad-y-salud-en-el-trabajo-con-perspectiva-de-
genero-iberoamerica.pdf
67
Câncer relacionado ao trabalho
Consequências para a saúde da exposição a riscos químicos
3.5 Saúde reprodutiva, proteção da gravidez e amamentação
3.6 Outras questões relevantes em SST numa perspetiva de gênero
4. Intervenções para a integração da perspectiva de gênero na SST na América Latina
4.1 A abordagem de gênero nas políticas e programas de SST
4.2 A abordagem de gênero na legislação e nas convenções coletivas, e na inspeção do
trabalho
4.3 Abordar a perspectiva de gênero em relação à SST através do diálogo social
4.4 Serviços de saúde ocupacional que incorporem a perspectiva de gênero
Medidas de proteção para mulheres grávidas e lactantes
Vigilância sanitária que aborda diferenças biológicas entre homens e mulheres
Valores limite de exposição
Espaços separados para homens e mulheres no local de trabalho
Medidas preventivas contra a violência e o assédio de gênero
Informação, aconselhamento, formação e sensibilização sobre as diferenças de
gênero na saúde e no trabalho
4.5 Pesquisa
4.6 Medidas para a conciliação da vida profissional e familiar
4.7 Outros
5. Economia do cuidado na América Latina: saúde e segurança no trabalho (SST) sob uma
perspectiva de gênero
5.1 O que é o setor de cuidados?
5.2 Características gerais do setor
5.3 Características de alguns subsetores da economia dos cuidados
5.4 Desafios para a incorporação da perspectiva de gênero na SST na economia do
cuidado na América Latina
5.5 Impacto dos riscos ocupacionais na saúde dos trabalhadores da economia do
cuidado na América Latina
O setor de enfermagem na América Latina
O setor de assistência à infância na América Latina
O setor de cuidados aos idosos na América Latina
O setor do trabalho doméstico na América Latina
5.6 Desafios no reconhecimento de doenças relacionadas ao trabalho na economia do
cuidado na América Latina
5.7 Acesso aos serviços de saúde no trabalho para profissionais da economia do cuidado
na América Latina
5.8 Iniciativas de SST para a economia do cuidado na América Latina
6. Conclusões e recomendações
68
ações, em todas as etapas de planejamento, implementação e avaliação. No campo da SST, isso
significa abordar as causas subjacentes das desigualdades estruturais de gênero e levar em
consideração as diferenças biológicas entre homens e mulheres na gestão dos riscos
ocupacionais. Para prevenir e minimizar esses riscos, políticas e procedimentos específicos
devem ser implementados, todos os trabalhadores e trabalhadoras devem ser treinados e uma
cultura de trabalho inclusiva e respeitosa deve ser promovida, abordando desafios significativos
no processo (Ver Quadro 1).
Quadro 110 - Alguns desafios para integrar a perspectiva de gênero de forma transformadora
na SST
2. Coleta e análise de dados desagregados por gênero: a falta desses dados dificulta a
identificação de padrões e áreas de melhoria em SST.
10
Quadro 19, no original (página 76 do Relatório)
69
A perspectiva de gênero e a abordagem transformadora de gênero são abordagens
complementares que buscam otimizar a SST para todos os trabalhadores, independentemente
de seu gênero. Essas abordagens são essenciais para promover um ambiente de trabalho mais
justo e equitativo.
Quadro 211. Medidas para integrar uma perspectiva de gênero transformadora na gestão da SST
11
Quadro 20 no original (página 77 do Relatório)
70
PORQUE É UMA MEDIDA
MEDIDA/AÇÃO DESCRIÇÃO TRANSFORMADORA DE
GÊNERO
Promover medidas que
permitam às pessoas
equilibrarem suas
responsabilidades profissionais e
Desafios e mudanças nas
familiares, como implementar
expectativas tradicionais de
horários flexíveis e opções de
gênero sobre o trabalho
Equilíbrio entre vida pessoal e teletrabalho, promover a
doméstico e o cuidado familiar,
profissional responsabilidade compartilhada
promovendo uma distribuição
pelas tarefas domésticas e
equitativa
cuidados, além de licenças-
maternidade e paternidade e
outras licenças parentais para
reduzir a dupla carga de
trabalho das mulheres.
Identificar e analisar os riscos Aborda as diferenças de gênero
Avaliação de risco com específicos que afetam mulheres e sexo na exposição ao risco,
perspectiva de gênero e homens de forma diferente no promovendo mudanças
local de trabalho estruturais na avaliação de risco
Áreas de banheiro (sanitários) Fornecer banheiros, lavabos, Previne situações que facilitam
separadas para homens e chuveiros, armários e vestiários o assédio e a violência de
mulheres separados por gênero gênero
Treinar toda a equipe sobre
questões de igualdade de
gênero por meio de programas
de treinamento que incluem
módulos específicos sobre como Transforma a cultura
Formação em igualdade de aplicar uma perspectiva de organizacional integrando a
gênero gênero na gestão de SST. igualdade de gênero na
Integrar módulos em todos os formação contínua
níveis do sistema educacional
nacional, especialmente na
formação profissional e para
profissionais de SST.
Adaptar ferramentas, Promove a igualdade no acesso
equipamentos e espaços de e uso de ferramentas e
trabalho para que sejam equipamentos por meio de
Design ergonômico inclusivo
adequados a todos os design ergonômico inclusivo,
trabalhadores, tendo em conta eliminando barreiras físicas
as diferenças físicas e de gênero baseadas em gênero
Fornecer EPI adequado às Garante que mulheres e
necessidades físicas e de gênero, homens tenham proteção igual,
levando em consideração que desafiando as normas
Equidade no acesso aos EPI
diferentes limites de exposição tradicionais de gênero no
podem ser necessários para fornecimento de EPI
homens e mulheres
Desenvolver programas de Reconhece e aborda as
apoio psicológico que diferenças de gênero na saúde
Promoção da saúde mental
considerem as diferentes mental, promovendo um apoio
com perspectiva de gênero
necessidades e experiências de mais inclusivo
mulheres e homens
Prevenção, proteção e Implementar e reforçar Mudar as normas e práticas
indenização para vítimas de protocolos claros e eficazes para institucionais para proteger as
violência e assédio de gênero prevenir e abordar o assédio e a pessoas da violência de gênero
71
PORQUE É UMA MEDIDA
MEDIDA/AÇÃO DESCRIÇÃO TRANSFORMADORA DE
GÊNERO
violência de gênero no local de
trabalho, com foco nos grupos
mais vulneráveis
Garantir a representação
igualitária das mulheres nos
espaços de diálogo social, tanto
no local de trabalho como na Promove a igualdade de gênero
Promover a participação das
empresa (comitês mistos de SST) na tomada de decisões,
mulheres no diálogo social e
e no nível nacional (órgão transformando a dinâmica de
na negociação coletiva sobre
consultivo tripartite nacional poder no local de trabalho
questões de SST
para abordar questões de SST) e
em espaços regionais/locais
dentro do país ou em espaços
supranacionais.
Realizar campanhas de Mudar as percepções e atitudes
sensibilização sobre a em relação à igualdade de
Campanhas de
importância da igualdade de gênero, promovendo um
conscientização
gênero na SST ambiente de trabalho mais
inclusivo
Estabelecer programas de
Empodera as mulheres e
mentoria para apoiar mulheres
Programas de mentoria e desafiar as barreiras de gênero
em funções de alto risco e
apoio ao desenvolvimento da carreira
promover seu desenvolvimento
e à segurança no emprego
profissional
Coletar e analisar dados de
acidentes do trabalho (AT) e de
doenças relacionadas ao Fornece uma base de
trabalho (DRT)desagregados por evidências para abordar
Análise de dados gênero para identificar padrões desigualdades de gênero e
desagregados por gênero e áreas de melhoria diferenças sexuais, promovendo
Publicar relatórios anuais sobre mudanças políticas informadas.
dados coletados e ações
tomadas para abordar as
desigualdades de gênero.
Exames médicos que levam em
Avaliar os riscos e detecte os
Vigilância em saúde com consideração as diferenças de
sintomas com mais precisão
perspectiva de gênero gênero e sexo na exposição e
sintomas
Tratamento da DRT e Reconhece e aborda as
Tratamento de doenças desenvolvimento e prescrição diferenças de gênero e sexo na
relacionadas ao trabalho de medicamentos que levem em incidência e tratamento da DRT,
(DRT) baseado em gênero consideração as diferenças promovendo cuidados mais
biológicas equitativos e eficazes
Revise e atualize as listas de DRT
para incluir aquelas que afetam Aborda as desigualdades no
desproporcionalmente as reconhecimento e tratamento
Revisão das listas de Doenças mulheres, garantindo o da DRT, promovendo uma
Relacionadas com o Trabalho reconhecimento das diferenças compreensão mais inclusiva e
(DRT) com enfoque de gênero de gênero na exposição e nos equitativa dos riscos
sintomas. Isso inclui considerar ocupacionais
ocupações altamente
feminizadas e doenças dos
72
PORQUE É UMA MEDIDA
MEDIDA/AÇÃO DESCRIÇÃO TRANSFORMADORA DE
GÊNERO
órgãos femininos que podem ter
origens ocupacionais.
Prepara os fiscais do trabalho
Incorporação das questões de
para realizar tarefas de
género na formação dos
controle, de modo que
Inspeção do trabalho com inspetores do trabalho
garantam que as medidas de
perspectiva de gênero Incorporação da perspectiva de
prevenção e proteção sejam
gênero nas atividades de
adequadas tanto para homens
inspeção do trabalho
quanto para mulheres.
Comentários finais
73
Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova política migratória global
Abstract
In this report, the Working Group on Migration, Refuge, and Global Health addresses the
intensification of the U.S. anti-immigration policy, which promotes mass deportations and
tightens restrictions, such as the end of birthright citizenship. Repression has also led many
immigrants to return voluntarily, like Venezuelans who crossed Colombia after their asylum
requests were blocked. Additionally, Brazilians are among those affected, with ongoing
deportations and diplomatic concerns over their treatment. In Mexico, the private sector is
attempting to mitigate the impact of deportations by offering 60,000 job openings for
repatriated individuals. Meanwhile, in El Salvador, Trump and Bukele coordinated the
deportation of alleged gang members, sparking criticism over the lack of transparency and risks
of human rights violations. The criminalization of immigration and the increase in deportations
highlight a drastic shift in U.S. migration policy, resulting in significant humanitarian and social
consequences.
Resumo: Neste informe, o Grupo de Trabalho de Migrações, Refúgio e Saúde Global aborda a
intensificação da política anti-imigratória americana, promovendo deportações em massa e
endurecendo restrições, como o fim da cidadania por nascimento. A repressão também levou
muitos imigrantes a retornarem voluntariamente, como os venezuelanos que cruzaram a
Colômbia após o bloqueio de seus pedidos de asilo. Além disso, brasileiros também estão entre
os afetados, com deportações em andamento e questionamentos diplomáticos sobre o
tratamento recebido. No México, o setor privado tenta mitigar os impactos das deportações ao
oferecer 60 mil vagas de emprego para repatriados. Já em El Salvador, Trump e Bukele
coordenaram a deportação de supostos membros de gangues, levantando críticas sobre a falta
de transparência e os riscos de violações de direitos humanos. A criminalização da imigração e
o aumento das deportações evidenciam uma mudança drástica na política migratória dos EUA,
gerando consequências humanitárias e sociais significativas.
74
Introdução: Desenrolar das deportações no Governo Trump
Com o fenômeno crescente das deportações nos EUA, muitos migrantes que antes
buscavam uma nova vida no país agora enfrentam a necessidade de retornar aos seus países de
origem, seja por conta das dificuldades impostas no processo de imigração, seja pela deportação
forçada6,7.
75
Segundo reportagem do El País, entre 15 de janeiro e 28 de fevereiro de 2025, cerca de
1.885 migrantes passaram pela Colômbia a caminho de casa, após não conseguirem permanecer
nos EUA ou no México. A maioria deles são venezuelanos que, depois de meses aguardando
uma resposta através do aplicativo da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP One, em inglês),
tiveram suas esperanças frustradas pela suspensão do programa. Sem alternativas, decidiram
retornar por conta própria, atravessando regiões perigosas e dependendo de serviços informais
de transporte, o que os expõe a riscos como violência, desidratação e fome 6.
Além dos migrantes que optam por voltar, há aqueles que são deportados mesmo após
décadas vivendo nos Estados Unidos. De acordo com a British Broadcasting Corporation (BBC),
Gladys e Nelson González, um casal colombiano que passou 35 anos no país e foi deportado em
fevereiro de 2025, apesar de terem três filhas cidadãs americanas e um histórico sem
antecedentes criminais. Detidos durante uma visita rotineira às autoridades migratórias, foram
enviados de volta à Colômbia sem recursos ou conexões, enfrentando agora o desafio de
recomeçar a vida em um país que há muito tempo não reconheciam como casa7.
Os estados com mais vagas disponíveis são Nuevo León, Cidade do México e Estado do
México, com salários variando entre 8.400 e 32.000 pesos mensais, dependendo do cargo e nível
de qualificação.
76
Dentre os grupos afetados, é importante destacar a crescente comunidade brasileira,
que frequentemente adentra o território norte-americano possuindo vistos de turista ou
estudante, com o intuito de evitar o perigoso trajeto através da fronteira do México. No período
da administração do presidente democrata Joe Biden, o controle migratório na fronteira sul
tornou-se uma das principais rotas de estratégia para repressão à imigração indocumentada15.
Em 2022, o Departamento de Segurança Interna (DHS, em inglês) estimou que 230 mil
brasileiros vivessem sem permissão nos EUA — o oitavo maior grupo por nacionalidade,
aproximando-se das comunidades colombiana e venezuelana. No ano de 2022, o Departamento
de Segurança Interna (DHS) estimou que cerca de 230 mil brasileiros estavam no território de
forma irregular nos Estados Unidos, estando em oitavo maior grupo nacional presente no país,
próximo às comunidades colombiana e venezuelana15.
Logo depois da segunda posse de Donald Trump, o Ministério das Relações Exteriores
(Itamaraty) solicitou esclarecimentos às autoridades dos Estados Unidos com relação à chegada
de brasileiros deportados, que foram algemados e sujeitos a tratamento desumano. Vale
destacar que o uso de algemas nesse contexto não é uma prática inédita15.
O acordo bilateral entre Brasil e Estados Unidos, que avaliza os voos de repatriação de
brasileiros deportados, está em vigor desde o ano de 2018. Segundo o Ministério das Relações
Exteriores, esse acordo possui a intenção de diminuir o período de permanência desses
nacionais nos centros de detenção dos Estados Unidos15. A pasta também afirmou que considera
inadmissível o descumprimento das condições acordadas previamente com o governo norte-
americano14.
77
Essa estratégia também representa um perigo maior ao reforçar um discurso político
que criminaliza migrantes em geral, utilizando a narrativa de combate ao crime como pretexto
para endurecer políticas imigratórias e ampliar deportações arbitrárias. A lógica de associar
migração à criminalidade cria um ambiente propício para a perseguição de migrantes
vulneráveis, especialmente latino-americanos, sem que haja uma análise criteriosa de cada caso.
Ao alimentar estereótipos e políticas repressivas, essa prática pode aprofundar crises
humanitárias e colocar milhares de migrantes em risco.
REFERÊNCIAS
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5. Trump asks the US Supreme Court to lift ban on deportations under Wartime law. Al-Jazeera.
28 mar. 2025. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2025/3/28/trump-asks-us-
supreme-court-to-lift-ban-on-deportations-under-wartime-law. Acesso em: 30 mar. 2025.
6. Disponível em: https://elpais.com/america-colombia/2025-03-20/un-exodo-a-la-inversa-cerca-
de-un-centenar-de-migrantes-regresa-cada-dia-a-colombia-desde-estados-unidos-y-
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7. Disponível em: https://www.bbc.com/news/articles/cy839m7xd1zo. Acesso em: 31 mar 2025.
8. Disponível em: https://www.iom.int/news/2024-deadliest-year-record-migrants-new-iom-data-
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9. GONZALEZ, Lila. Empresas oferecem 60.000 empregos a conacionais repatriados dos Estados
Unidos: CCE. El Economista, 24 mar. 2025. Disponível em:
https://www.eleconomista.com.mx/empresas/empresas-ofrecen-60-000-empleos-
connacionales-repatriados-estados-unidos-cce-20250324-751838.html. Acesso em: 1 abr. 2025.
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11. ASSOCIATED PRESS. U.S. deports alleged gang members to El Salvador, including Venezuelans
tied to Tren de Aragua. AP News, 31 mar. 2025. Disponível em: https://apnews.com/article/el-
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12. BBC NEWS. U.S. deportations to El Salvador raise human rights concerns. BBC News, 31 mar.
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78
13. THE NEW YORK TIMES. Trump’s deportation policy sends Venezuelans and Salvadorans back to
El Salvador. The New York Times, 31 mar. 2025. Disponível em:
https://www.nytimes.com/2025/03/31/us/politics/trump-deportations-venezuelans-el-
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14. DW. Brasil cobrará EUA por trato "degradante" a brasileiros. Disponível em:
https://www.dw.com/pt-br/brasil-cobrar%C3%A1-eua-por-trato-degradante-a-brasileiros/a-
71410597. Acesso em: 1 abr. 2025.
15. DW. Como Trump joga imigrantes brasileiros na rota da deportação. Disponível em:
https://amp.dw.com/pt-br/como-trump-joga-imigrantes-brasileiros-na-rota-da-
deporta%C3%A7%C3%A3o/a-71581590. Acesso em: 1 abr. 2025.
79
69ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Condição da Mulher
69th session of the UN Commission on the Status of Women
69ª sesión de la Comisión de las Naciones Unidas sobre la Condición de la Mujer
Resumo: A 69ª Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW69), realizada em março de 2025 na
sede da ONU, reafirmou compromissos globais com a igualdade de gênero. Neste escrito,
destacamos a Declaração Política adotada e outros documentos oficiais, e abordamos a
participação do Brasil, liderado pela ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Apresentamos
também o relatório Direitos das Mulheres em Revisão: 30 anos após Pequim, da ONU Mulheres,
que analisa avanços e desafios desde a Declaração de Pequim, incluindo retrocessos
democráticos, violência e desigualdade econômica. O estudo aponta a necessidade de ações
urgentes em financiamento, tecnologia, participação política e justiça climática. Por fim,
trazemos uma declaração conjunta da ONU que alerta para ameaças à redução da mortalidade
infantil e natimortos devido a cortes no financiamento global. A falta de recursos compromete
serviços essenciais, como vacinação e assistência ao parto, impactando regiões vulneráveis. A
ONU pede mais investimentos e ações coordenadas para garantir a sobrevivência materna e
infantil.
Palavras-chave: Igualdade de Gênero; Direitos da Mulher; Saúde Materna; Mortalidade Infantil;
Políticas Públicas de Saúde.
Abstract: The 69th Commission on the Status of Women (CSW69), held in March 2025 at the UN
headquarters, reaffirmed global commitments to gender equality. In this report, we highlight the
Political Declaration adopted and other official documents, as well as the participation of Brazil,
led by the Minister of Women, Cida Gonçalves. We also present the report Women’s Rights in
Review: 30 Years After Beijing, by UN Women, which analyzes progress and challenges since the
Beijing Declaration, including democratic setbacks, violence, and economic inequality. The study
points to the urgent need for action in financing, technology, political participation, and climate
justice. Finally, we bring a joint UN statement warning about threats to reducing child mortality
and stillbirths due to cuts in global funding. The lack of resources compromises essential services
such as vaccination and childbirth assistance, impacting vulnerable regions. The UN calls for
increased investments and coordinated actions to ensure maternal and child survival.
Key words: Gender Equity; Women's Rights; Maternal Health; Infant Mortality; Health Policy.
Resumen: La 69ª Comisión sobre la Condición de la Mujer (CSW69), celebrada en marzo de 2025
en la sede de la ONU, reafirmó los compromisos globales con la igualdad de género. En este
informe, destacamos la Declaración Política adoptada y otros documentos oficiales, así como la
participación de Brasil, liderada por la ministra de las Mujeres, Cida Gonçalves. También
presentamos el documento Derechos de las Mujeres en Revisión: 30 años después de Beijing, de
ONU Mujeres, que analiza los avances y desafíos desde la Declaración de Beijing, incluyendo
retrocesos democráticos, violencia y desigualdad económica. El estudio señala la necesidad
urgente de acciones en financiación, tecnología, participación política y justicia climática. Por
último, presentamos una declaración conjunta de la ONU que advierte sobre amenazas a la
80
reducción de la mortalidad infantil y los mortinatos debido a recortes en la financiación global.
La falta de recursos compromete servicios esenciales como la vacunación y la asistencia en el
parto, afectando a regiones vulnerables. La ONU hace un llamado a mayores inversiones y
acciones coordinadas para garantizar la supervivencia materna e infantil.
Palabras-clave: Equidad de Género; Derechos de la Mujer; Salud Materna; Mortalidad Infantil;
Políticas Públicas de Salud.
A 69ª Comissão Anual sobre a Situação da Mulher (CSW69) é o maior encontro anual da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre igualdade de gênero e empoderamento das
mulheres, e ocorreu entre os dias 10 e 21 de março de 2025, na sede das Nações Unidas, em
Nova York (EUA). O tema principal da agenda foi a revisão e avaliação da implementação da
Declaração e Plataforma de Ação de Pequim e os resultados da 23ª sessão especial da
Assembleia Geral.
81
A Declaração renova o compromisso dos Estados-Membros em eliminar todas as formas
de violência contra mulheres e meninas, incluindo formas emergentes como violência digital,
assédio online e cyberbullying. Além disso, reconhece que alcançar progresso nessas áreas
requer recursos e financiamento substanciais. Ela pede sistemas nacionais fortalecidos,
mecanismos femininos e mecanismos internacionais, incluindo uma Comissão sobre a Situação
da Mulher (CSW) revitalizada, para acelerar os esforços de igualdade de gênero globalmente.
82
• Propostas sobre os temas prioritários e de revisão para 2026 e anos subsequentes:
sugere áreas de foco para futuras sessões da comissão.
• Guia de discussão para o segmento ministerial: serve como referência para os debates
entre ministros durante a sessão.
• Relatório sobre as atividades do Fundo Fiduciário das Nações Unidas em Apoio a Ações
para Eliminar a Violência contra as Mulheres: apresenta as iniciativas e resultados
alcançados pelo fundo.
• Resultados das 88ª e 89ª sessões do Comitê para a Eliminação da Discriminação contra
as Mulheres: resume as conclusões e recomendações dessas sessões.
Brasil na CSW69
O Brasil teve participação ativa na CSW69, com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves,
liderando a delegação brasileira. Em seu discurso na abertura da sessão, a ministra ressaltou os
desafios e conquistas do país na promoção da igualdade de gênero, abordando temas como
igualdade salarial, enfrentamento à violência contra mulheres e respeito à diversidade.
Além disso, o Ministério das Mulheres organizou eventos paralelos durante a sessão,
incluindo debates sobre a participação das mulheres na Aliança Global contra a Fome e a
Pobreza e os desafios para enfrentar a misoginia online.
O setor empresarial brasileiro também se destacou, com o Pacto Global da ONU – Rede
Brasil lançando os "Diálogos de Direitos Humanos e Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI)"
durante a CSW69. Essa iniciativa visa promover ambientes corporativos mais inclusivos e
fortalecer o compromisso com os direitos humanos.
83
sociedades e economias, restringindo os direitos e as aspirações
de mulheres e meninas.
A revisão confirma que, nos últimos cinco anos, os países avançaram em diversas áreas,
como igualdade de gênero, direitos e empoderamento das mulheres. Cerca de 88%
promulgaram leis e estabeleceram serviços para erradicar a violência contra mulheres e
meninas. A maioria proibiu a discriminação no emprego e 44% estão melhorando a qualidade
da educação e da formação para mulheres e meninas. Mais países do que nunca consideram o
impacto da degradação ambiental sobre mulheres e meninas, incorporando a igualdade de
gênero nos planos de ação climática. No entanto, a discriminação de gênero ainda persiste nas
estruturas das economias e sociedades, perpetuando desigualdades de poder e recursos e
limitando o progresso nos direitos das mulheres. O enfraquecimento das instituições
democráticas está acompanhado de um retrocesso na igualdade de gênero, com atores anti-
direitos minando o consenso sobre questões essenciais dos direitos das mulheres. Onde não
conseguem reverter ganhos legais, tentam bloquear ou retardar sua implementação. Quase um
quarto dos países relataram que a reação contra a igualdade de gênero está prejudicando a
implementação da Plataforma de Ação de Pequim.
• Leis - Entre 1995 e 2024, 1.531 reformas legais em todo o mundo buscaram promover
a igualdade de gênero. No entanto, as mulheres ainda têm apenas 64% dos direitos
legais dos homens.
• Representação- A proporção de mulheres nos parlamentos mais do que dobrou desde
1995. No entanto, atualmente, quase 3/4 dos parlamentares ainda são homens e
apenas 87 países já foram liderados por uma mulher.
• Pobreza - 10% das mulheres e meninas vivem em lares extremamente pobres. A
proporção sobe para 24% entre mulheres de 18 a 34 anos, que são as mais propensas a
ter filhos pequenos.
• Violência - uma mulher ou menina é morta a cada 10 minutos por um parceiro ou
membro de sua própria família.
• Conflitos - Desde 2022, os casos de violência sexual relacionada a conflitos aumentaram
50%. Mulheres e meninas sofrem 95% desses crimes.
84
• Educação - Meninas superam os meninos nas taxas de conclusão do ensino secundário
em muitas regiões. No entanto, na África Subsaariana e no Sul e Centro da Ásia, ainda
há grandes lacunas; 59,5 milhões de meninas adolescentes são privadas desse direito
fundamental.
• Trabalho - As lacunas de gênero no trabalho estão estagnadas há décadas. Globalmente,
entre pessoas de 25 a 54 anos, 63% das mulheres estão na força de trabalho, em
comparação com 92% dos homens. As mulheres ainda fazem 2,5 vezes mais trabalho de
cuidado não remunerado do que os homens.
• Digital - Globalmente, a proporção de mulheres usando a internet aumentou de 50%
para 65% entre 2019 e 2024. No entanto, em 2024, 277 milhões de homens a mais do
que mulheres usaram a internet. A tecnologia digital e a inteligência artificial espalham
estereótipos prejudiciais, enquanto a lacuna digital de gênero limita as oportunidades
das mulheres.
• Casamento infantil - Entre 2003 e 2023, a proporção de mulheres casadas ainda crianças
diminuiu de 24% para 19%. No entanto, os avanços para evitar o casamento infantil
foram 3 vezes maiores nas famílias mais ricas do que nas mais pobres.
• Mortalidade materna - Apesar de uma redução de um terço globalmente entre 2000 e
2015, a taxa de mortalidade materna permaneceu quase inalterada desde então. Em
2015, a taxa foi de 227 mortes por 100.000 nascidos vivos e 223 em 2020.
• Proteção social - A proporção global de mulheres recebendo pelo menos um benefício
de proteção social aumentou em um terço entre 2010 e 2023. Mesmo assim, 2 bilhões
de mulheres e meninas não tinham cobertura de proteção social alguma em 2023.
• Planejamento familiar - De 1995 a 2024, as jovens mulheres de 15 a 24 anos
testemunharam o aumento mais rápido no acesso ao planejamento familiar moderno.
No entanto, com apenas 2/3 da necessidade atendida, elas ainda ficam atrás de todos
os outros grupos etários.
• Financiamento - Em 2021–2022, 42% da assistência oficial para o desenvolvimento
bilateral alocável fez da igualdade de gênero um objetivo político. Isso representou uma
queda em relação a 45% em 2019–2020. Apenas 4% da ajuda foi destinada a programas
com igualdade de gênero como objetivo principal.
85
com trabalho de cuidado não remunerado. As mulheres defensoras da paz e dos direitos
humanos continuam sua luta, apesar do aumento das agressões contra elas na vida pública,
tanto online quanto offline.
1. Uma revolução digital para todas as mulheres e meninas: garantir acesso igualitário à
tecnologia, equipar mulheres e meninas para liderar em IA e inovação digital e garantir
sua segurança e privacidade online.
86
2. Liberdade da pobreza: investir em proteção social abrangente, cobertura universal de
saúde, educação e serviços de assistência robustos para que mulheres e meninas
prosperem e possam criar milhões de empregos verdes e decentes.
3. Zero violência: adotar e implementar legislação para acabar com a violência contra
mulheres e meninas, em todas as suas formas, com planos bem financiados que incluam
suporte para organizações comunitárias na linha de frente de resposta e prevenção.
4. Poder de decisão total e igual: incorporar medidas especiais temporárias como cotas
de gênero, que já provaram sua eficácia em aumentar rapidamente a participação das
mulheres.
5. Paz e segurança: financiar integralmente os planos nacionais sobre mulheres, paz e
segurança e ajuda humanitária sensível ao gênero são essenciais. As organizações
femininas da linha de frente, muitas vezes as primeiras a responder a crises, devem
receber financiamento dedicado e sustentado para construir uma paz duradoura.
6. Justiça climática: priorizar os direitos das mulheres e meninas na adaptação climática,
centralizar sua liderança e conhecimento e garantir que elas se beneficiem de novos
empregos verdes.
O número de mortes de crianças menores de cinco anos caiu para 4,8 milhões em 2023,
enquanto os natimortos diminuíram modestamente, permanecendo em torno de 1,9 milhão, de
acordo com dois novos relatórios divulgados pelo Grupo Interagência da ONU para Estimativa
da Mortalidade Infantil (UN IGME12).
Desde o ano 2000, as mortes infantis caíram mais de 50%, e os natimortos reduziram
mais de um terço, impulsionados por investimentos sustentados na sobrevivência infantil em
todo o mundo. Em 2022, o mundo atingiu um marco histórico quando as mortes infantis caíram
para menos de 5 milhões pela primeira vez. No entanto, o progresso desacelerou, e muitas
crianças ainda morrem devido a causas preveníveis.
12
Sobre o UN IGME - O Grupo Interagência da ONU para Estimativa da Mortalidade Infantil, ou UN IGME,
foi criado em 2004 com o objetivo de compartilhar dados sobre a mortalidade infantil, aprimorar os
métodos de estimativa, relatar progressos e aumentar a capacidade dos países de produzir estimativas
oportunas da mortalidade infantil. O UN IGME é liderado pela UNICEF e inclui a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o Banco Mundial e a Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e
Sociais da ONU.
87
impactando fortemente regiões em crises humanitárias, países endividados e áreas com altas
taxas de mortalidade infantil. A redução do financiamento global também pode prejudicar os
esforços de monitoramento e acompanhamento, dificultando o alcance das crianças mais
vulneráveis, alertou o Grupo.
Quase metade das mortes de crianças menores de cinco anos ocorre no primeiro mês
de vida, principalmente devido ao nascimento prematuro e complicações no parto. Após o
período neonatal, doenças infecciosas, incluindo infecções respiratórias agudas, como
pneumonia, malária e diarreia, são as principais causas de morte infantil evitável. Por sua vez,
45% dos natimortos tardios ocorrem durante o trabalho de parto, muitas vezes devido a
infecções maternas, trabalho de parto prolongado ou obstruído, e falta de intervenção
oportuna.
Figura 1 – Taxa de Mortalidade Infantil e Neonatal (mortes por 1.000 nascidos vivos) por país
(2023).
88
As disparidades nos natimortos são igualmente graves, com quase 80% ocorrendo na
África Subsaariana e no Sul da Ásia, onde as mulheres têm de seis a oito vezes mais chances de
sofrer um aborto do que as mulheres na Europa ou na América do Norte (Figura 2).
Figura 2 – Número (em milhares) de natimortos, por região e grupo de renda nacional (2000 e
2021).
Outras referências
89
Agenda movimentada no campo da nutrição global: novo fôlego para a Década de
Ação sobre a Nutrição a partir do enfrentamento da fome e da má nutrição global
Eduardo Nilson
Denise Oliveira
A prorrogação veio a partir de uma resolução proposta pelo Brasil e pela França, com
mais de 100 copatrocínios (e um único voto contrário, dos Estados Unidos da América), tendo
como objetivo maior o impulso político em todos os níveis para erradicar todas as formas de má
nutrição, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030
das Nações Unidas.
Não é coincidência que, nessa mesma semana, aconteceu em Paris, França, a nova
Cúpula Nutrição para o Crescimento (Nutrition for Growth – N4G), uma iniciativa paralela aos
compromissos globais de nutrição, conduzida pelos países sede dos Jogos Olímpicos, e que
busca a construção de mais compromissos entre múltiplos parceiros, incluindo entes privados.
Há, nesse sentido, alguns diferenciais que permeiam a atual cúpula, na medida em que ela
reforça a priorização das ações contra a fome e desnutrição global a partir da Aliança Global
para a Redução da Fome, assim como a participação brasileira teve caráter mais técnico do que
de representação política, como em outras edições.
90
doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs) relacionadas à alimentação inadequada em vez de
diminuírem, conforme as metas, continuam aumentando anualmente em todo o mundo (World
Health Organization (WHO), 2024). Isso reforça, particularmente nos países de baixa e média
renda, a coexistência da desnutrição e da obesidade, ou seja, a dupla carga da má nutrição, além
de colocarem os sistemas alimentares hegemônicos como um dos grandes causadores da atual
sindemia global de desnutrição, obesidade e mudanças climáticas (Swinburn et al., 2019).
Nos dias 27 e 28 de março, a França sediou a Cúpula “Nutrição para o Crescimento”, que
tem por objetivo promover uma abordagem transversal do desenvolvimento nos setores da
saúde, agricultura, água, higiene e saneamento. O principal pano de fundo para a iniciativa é o
reconhecimento de que a má nutrição constitui um flagelo que atinge todos os países do mundo,
com consequências graves que afetam o capital humano e o potencial de desenvolvimento das
nações, destacando que aproximadamente 45 milhões de crianças sofrem de má nutrição aguda
e 150 milhões enfrentam má nutrição crônica, enquanto o sobrepeso e a obesidade aumentam
em todos os grupos etários e a desnutrição de pessoas idosas encontra-se em expansão.
Em seu sítio eletrônico, o Nutrição para o Crescimento afirma ter como principais
objetivos colocar a nutrição no centro da agenda de desenvolvimento sustentável, fazer da luta
contra todas as formas de má nutrição uma causa universal, criar uma continuidade em as
cúpulas e os compromissos para a melhor nutrição e manter o engajamento político e financeiro
de alto nível para a nutrição (Nutrition for Growth, 2025).
91
movimentos, atuando para evitara a fragmentação da agenda de SAN global. Por outro lado,
como já identificamos em análises anteriores sobre várias das iniciativas, novamente não há
menção à falta de filtros sobre a participação do setor privado nessas agendas.
Essa mensagem política é fundamental, uma vez que a própria cúpula é fortemente
centrada nas questões de financiamento, muitas vezes em detrimento dos compromissos de
governos nacionais, a exemplo da cúpula realizada no Brasil em 2016, que, ao contrário das
demais edições e enfrentando grandes pressões, não focou no volume de financiamentos como
produto maior e foi a única edição a colocar mecanismos para evitar conflitos de interesses entre
os participantes da cúpula e, possivelmente por isso, sequer figura na linha do tempo do site do
Nutrição para o Crescimento, enquanto menciona a Cúpula Global de Nutrição de Milão, em
2017, em seu lugar.
Mesmo diante desses significativos aportes financeiros, outro ponto de destaque foi o
pedido do Programa Mundial de Alimentos (WFP) aos líderes e especialistas globais se reuniram
em Paris na quarta Cúpula Nutrição para o Crescimento por maior foco e ação para prevenir a
emaciação (a forma mais mortal de desnutrição), antes que seus impactos fatais sejam sentidos
em crianças.
Isso significa que investir na prevenção da desnutrição durante os primeiros 1.000 dias
de vida é fundamental para a melhoria da saúde individual, além de fortalecer as economias,
tendo em vista que países de baixa e média renda perdem uma média de 10% do PIB devido à
desnutrição por meio do aumento dos custos de saúde e redução do capital humano. Além disso,
vale destacar que os programas de prevenção também reduzem a carga sobre os programas de
tratamento da desnutrição e suas consequências, garantindo que os recursos estejam
disponíveis para aqueles que já sofrem de desnutrição.
92
Por se tratar de uma cúpula fortemente voltada para a busca de novos financiamentos
para a agenda de SAN, o WFP afirma precisar de US$ 1,4 bilhão para fornecer programas de
prevenção e tratamento da desnutrição para mais de 30 milhões de mães e crianças em 56
países em 2025. Em retrospecto e como prova da efetividade de suas intervenções, o WFP relata
ter prevenido a emaciação em 13,8 milhões de mães e crianças em 2024 por meio do
fornecimento de alimentos fortificados, suplementos ricos em nutrientes, dinheiro ou vouchers
para refeições nutritivas e cestas básicas nutricionalmente adequadas, além de ter ajudado mais
14 milhões de indivíduos por meio de seus programas de tratamento de emergência para
desnutrição.
Por fim, o WFP corretamente alerta que a desnutrição está aumentando em todo o
mundo devido a uma onda implacável de crises globais, incluindo conflitos, instabilidade
econômica e emergências relacionadas ao clima, de modo que, nos 15 países mais afetados pela
desnutrição, 33 milhões de crianças sofrem de desnutrição. Além disso, reforça que a
desnutrição é responsável por metade de todas as mortes entre crianças menores de cinco anos
e, mesmo para aqueles que sobrevivem a ela, a desnutrição reduz sua capacidade de aprender,
ganhar e prosperar como adultos, prendendo-os em um ciclo de pobreza e saúde precária de
geração a geração.
Um exemplo, desse fenômeno é que, além da cúpula esquecida no Brasil, a edição mais
recente foi uma das únicas a colocar a articulação dos compromissos na contextualização da
iniciativa, enquanto as outras serviram de palco para iniciativas fortemente conduzidas pelo
setor privado, como o Scaling Up Nutrition, que é, inclusive mais destacada na linha do tempo
do que as próprias cúpulas e os compromissos multilaterais.
93
para o engajamento de todos os atores envolvidos na agenda de nutrição para acelerar o alcance
dos compromissos do ICN2 e pedindo novos compromissos nacionais (SMART – acrônimo em
inglês para específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e delimitados no tempo), em
alinhamento com os ODS e com as metas de enfrentamento das DCNTs, para eliminar todas as
formas de má nutrição e não deixar ninguém para trás.
Para tanto, a partir dos governos, foi recomendada a busca de apoio, sempre que
necessário, de organizações da sociedade civil, academia e setor privado, buscando evitar
conflitos de interesses nessas interações. Como suas áreas estratégicas de ação estão: sistemas
alimentares sustentáveis e resilientes para dietas saudáveis, sistemas de saúde alinhados e com
cobertura universal de ações essenciais de nutrição, proteção social e educação nutricional,
comércio e investimento para melhor nutrição ambientes seguros e apoiadores para a nutrição
em todas as idades e fortalecimento da governança e prestação de contas para a nutrição.
Ao mesmo tempo, também desde o início das movimentações para a Cúpula de Sistemas
alimentares, houve inúmeras denúncias de falta de espaço para a participação ativa da
sociedade civil e de captura de sua coordenação global, inclusive levando à saída de muitas
organizações não-governamentais do processo. Segundo essas denúncias, poderia estar
havendo um favorecimento dos interesses da agricultura industrial, promovendo o
neocolonialismo, em detrimento dos saberes ancestrais e formas populares de manejo agrário,
resultando no risco de tornar os pequenos produtores, principalmente no continente africano,
reféns de novas tecnologias estrangeiras e das demandas do mercado globalizado, e de reduzir
a produção local de alimentos para a própria população.
Apesar da coerência lógica do racional comum, assim como do esforço para buscar o
alinhamento, integração e a continuidade das iniciativas, na prática as novas iniciativas têm
trazido diferentes mecanismos de atuação das agências e dos países que as próprias agências.
Em consequência, tem sido detectada uma redundância de compromissos e relatos de
dificuldade em diferenciar e articular esses mecanismos, como no caso das Redes de Ação
propostas pela Década de Ação pela Nutrição e as Coalizões propostas pela Cúpula de Sistemas
Alimentares.
94
participação de entidades do setor privado tem aumento, inclusive no financiamento das
agendas e das próprias agências. Igualmente preocupante é o fato de que a um constante
chamamento pelas próprias agências pela participação do setor privado sem a incorporação e
aplicação de mecanismos de identificação e manejo de conflitos de interesses.
Alguns exemplos das consequências desse problema estão nas denúncias de risco de
captura corporativa das agências e suas agendas, de “blue washing” (associado ao green, social,
health e pink washing) e da influência crescente do filantrocapitalismo (FIAN, 2022). Exemplos
claros estão na participação do setor privado como ator-chave em iniciativas como o SUN e o
Nutrition for Growth, que atuam de maneira mais independente da agenda geral, mas, ao
mesmo tempo, aproximam-se de iniciativas como a Década de Ação sobre a Nutrição e a Cúpula
de Sistemas Alimentares sempre que seja conveniente, sem mecanismos aparentes de controle
e manejo de conflitos de interesses.
95
de produtos ultraprocessados, a redução da biodiversidade local e o aumento da dependência
de sementes e insumos das grandes corporações.
Depois de sua proposição pelo Brasil e aprovação pelo G20, junto com a coleta de policy
briefs sobre muitas de suas áreas temáticas, incluindo aquele elaborado por nosso grupo (Silva
et al., 2024), a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza se estabelece como uma das principais
iniciativas globais de SAN e realizou um grande esforço de sistematização de experiências, busca
de compromissos e de organização de seus critérios, organização e monitoramento, orientados
segundo sua missão de apoiar e acelerar os esforços para erradicar a fome e a pobreza,
enquanto reduzimos as desigualdades e contribuir para a revitalização de parcerias globais para
o desenvolvimento sustentável (Global Alliance Against Hunger and Poverty, 2025).
A Aliança visa, assim fornecer impulso político contínuo e incentivar a ação coletiva,
construindo sinergias com outros esforços já existentes para combater a fome e a pobreza,
facilitando a mobilização e melhorando o alinhamento do apoio nacional e internacional,
incluindo recursos financeiros públicos e privados. Além disso, a Aliança tem um forte
componente relacionado ao conhecimento, voltado à viabilização da implementação em larga
escala de programas e instrumentos de política baseados em evidências, liderados e de
propriedade dos países, centrando-se nos países mais afetados pela fome e pela pobreza
extrema e nas pessoas em situação de vulnerabilidade. Com isso, a Aliança busca acolher a
participação de países, organizações e plataformas, com o objetivo de aproveitar a inovação, a
colaboração e a tomada de decisão baseada em evidências para apoiar a implementação de
políticas e programas voltados tanto para a ação emergencial diante das situações de fome
quanto do apoio a políticas estruturais, baseadas em direitos, para atuar sobre os determinantes
sociais da fome e da pobreza, com vistas a garantir a realização dos direitos e o pleno
desenvolvimento dos indivíduos e suas famílias e romper a transmissão intergeracional da
pobreza.
Dentro dessa abordagem inovadora, a Aliança busca a redução dos custos de transação
(colocando-se como um intermediário neutro para a construção de parcerias de implementação
de políticas), a mitigação de riscos (por meio da adoção de uma “cesta de políticas” de políticas
96
públicas rigorosamente avaliadas garante que os investimentos dos doadores sejam
direcionados para iniciativas econômicas e de alto impacto) o ganho de economias de escala
favorecendo a agregação de recursos e conhecimentos), a flexibilidade e a colaboração
(facilitando o financiamento direto de doadores para beneficiários e a mobilização interna e
modalidades de financiamento diversificadas) e o impulso político (oferecendo oportunidades
regulares para os países e organizações participantes renovarem e reforçarem seus
compromissos e ambições, além de avaliar os progressos alcançados).
O Pilar de Apoio Financeiro, por sua vez, busca apoiar o financiamento multilateral, a
assistência oficial bilateral e multilateral e o financiamento ao desenvolvimento. Para tanto,
serão buscados mecanismos financeiros inovadores, junto com o financiamento climático, por
entidades filantrópicas e por outras fontes. Dessa forma, o Pilar de Apoio Financeiro da Aliança
é composto por uma grande variedade de entidades de apoio, incluindo fundos globais e
regionais, agências de desenvolvimento e doadores públicos e privados, que se
comprometeram, sob suas próprias regras e mecanismos, a apoiar os países membros da Aliança
em seus compromissos nacionais para implementar programas de redução da fome e da
pobreza e instrumentos de políticas na Cesta de Políticas de referência da Aliança.
97
específicos. Os instrumentos da Cesta de Políticas são apresentados em dois níveis:
instrumentos de política em nível geral, contendo uma breve descrição de suas principais
características; e experiências de países, destacando variações de desenho, implementação e
impactos. Para tanto os instrumentos precisam atender aos seguintes critérios: serem
instrumentos de políticas bem definidos; serem implementáveis ou implementados por
governos; serem baseados em evidências; terem a capacidade de alcançar principalmente as
pessoas em situação de pobreza e de fome; e contribuírem principalmente para alcançar os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2.
98
Assim, neste novo momento de reconstrução das políticas, o Plansan 2024-2027 volta a
ser o principal instrumento da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e reforça
o compromisso do Governo Federal de novamente tirar o Brasil do Mapa da Fome até 2026 e
garantir o direito humano à alimentação adequada da população brasileira. Esse documento
estabelece 18 estratégias intersetoriais e 219 iniciativas voltadas à segurança alimentar e
nutricional e considera e reforça desafios como aumento dos preços de alimentos, fome em
territórios específicos (Amazônia, povos indígenas e população em situação de rua) e impactos
das mudanças do clima.
Com isso, o novo plano inova ao articular diversas iniciativas já existentes, como o Plano
Brasil Sem Fome, Plano Nacional de Abastecimento Alimentar (Planab), Planapo (Plano Nacional
de Agroecologia e Produção Orgânica), Plano Safra da Agricultura Familiar, Alimenta Cidades e
estratégias intersetoriais para a prevenção da obesidade e redução do desperdício de alimentos,
bem como inclui diretrizes específicas para regiões mais vulneráveis, como a Amazônia e
territórios indígenas.
Além disso, a exemplo dos outros planos, a última diretriz reforça a importância que o
Governo Brasileiro deve dar à agenda internacional de SAN, o que se alinha perfeitamente com
a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e serve de alicerce para o fortalecimento das
iniciativas multilaterais, particularmente, da cooperação sul-sul.
O novo Plansan, portanto, mostra claramente que existe uma grande coerência das
políticas nacionais brasileiras com aquilo que é preconizado no contexto da Aliança Global e dos
outros compromissos globais em nutrição e suas ações são apoiadas pelo conjunto de
compromissos globais assumidos pelo Brasil em SAN.
Conclusão
Não se pode esquecer, contudo, que a agenda da Década de Ação sobre a Nutrição
sofreu um grande esvaziamento nos últimos anos, inclusive pela concorrência com a Cúpula de
Sistemas Alimentares das próprias Nações Unidas e com outros movimentos. Desse modo, será
necessário aproveitar o momento da próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, inicialmente
programado para ser o balanço final da Década, para buscar sua revitalização e fortalecimento
visando contribuir mais decisivamente para a agenda 2030.
99
Outro ponto que não pode ser esquecido ou menosprezado refere-se às formas de
participação de entes privados e instituições filantrópicas ligadas a elas, visto que grande parte
das agendas globais de nutrição têm buscado fortemente novos financiadores sem
preocupações com os conflitos de interesses que possam existir, bem como dos riscos de
captura corporativa das agendas. Naturalmente, com a recente redução significativa do
financiamento estadunidense por meio de agências como o USAID e dos aportes à OMS e outros
organismos, a busca por novas fontes de financiamento torna-se cada vez mais necessária,
então será desafiador trazer esses novos recursos e garantir uma aplicação transparente,
independente e baseada em evidências para garantir sua efetividade e legitimidade.
É nesse cenário que a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza figura como um
movimento global com grande potencialidade de agregar esforços, recursos e conhecimentos,
apoiando o alinhamento de compromissos nacionais, regionais e globais e fortalecendo, em
particular, o papel e a atuação dos governos em nível local para enfrentarem e eliminarem a
fome, dando mais concretude à meta de “não deixar ninguém para trás”. Nesse sentido, o
estabelecimento de compromissos internacionais tem grande potencial de fortalecer e
intensificar as ações e políticas nacionais, retroalimentando-as positivamente.
O novo sopro de energia na agenda de SAN é muito importante e precisa ser mantido
para atuar intensamente sobre as metas de pobreza, saúde e nutrição dos ODS, a partir da
articulação de ações e compromissos. Sabemos que não será possível alcançar todos, mas a
reversão de piora é sempre o primeiro passo para criar sinergias e movimentos na direção
desejada. Sabemos, ainda, dos grandes avanços que o Brasil e outros países conseguiram ao
longo de poucas décadas na redução da fome e da desnutrição, portanto sabemos que é factível
que o mundo consiga reestabelecer e ampliar esses avanços em todo o mundo.
Referências
FAO/IFAD/UNICEF/WFP/WHO. The State of Food Security and Nutrition in the World 2024 - Financing to
end hunger, food insecurity and malnutrition in all its forms. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://openknowledge.fao.org/items/18143951-4b0a-46d6-860b-0f8908745da1>.
FIAN. REPORT - Corporate Capture of FAO: Industry’s Deepening Influence on Global Food Governance.
[s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.fian.org/files/files/CorporateCaptureoftheFAO-EN.pdf>. Acesso
em: 30 dez. 2022.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANISATION OF THE UNITED NATIONS. Second International Conference on
Nutrition. Conference Outcome Document: Rome Declaration of NutritionICN2 2014/2.
Anais...2014Disponível em: <http://www.fao.org/3/a-ml542e.pdf>
GLOBAL ALLIANCE AGAINST HUNGER AND POVERTY. Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Disponível em: <https://globalallianceagainsthungerandpoverty.org/pt-br/>.
NUTRITION FOR GROWTH. Nutrition for Growth. Disponível em: <https://nutritionforgrowth.org/>.
___. Nutrition for Growth. Disponível em: <https://nutritionforgrowth.org/>.
SCALING UP NUTRITION. Scaling Up Nutrition. Disponível em: <https://scalingupnutrition.org/>.
SILVA, D. O. E et al. G20 Brasil 2024 - Policy Pathways for Tackling Global Poverty and Hunger, 2024.
Disponível em:
<https://t20brasil.org/media/documentos/arquivos/TF01_ST01_POLICY_PATHWAYS_FOR66d75d784f9c
6.pdf>
100
SWINBURN, B. A. et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet
Commission report. The Lancet, v. 393, n. 10173, p. 791–846, 2019.
UN GENERAL ASSEMBLY. United Nations Decade of Action on Nutrition (2016-2025)International Law
Commission, 2016.
UNITED NATIONS FOOD SYSTEMS COORDINATION HUB. Programme for the UN Food Systems Summit
+2 Stocktaking Moment. Disponível em: <https://www.unfoodsystemshub.org/fs-stocktaking-
moment/programme/en>.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World health statistics 2024: monitoring health for the SDGs,
Sustainable Development Goals. Geneva, Switzerland: [s.n.]. Disponível em:
<https://www.who.int/publications/i/item/9789240094703>.
101
ONU impulsiona luta global contra o comércio ilegal de artefatos culturais
UN boosts global fight against illegal trade of cultural artifacts
Fabiane Gaspar
Gisele Sanglard
Heliton Barros
Vitor Rodrigues
Abstract. The UN General Assembly adopted a resolution in December 2024 that helps
strengthen the fight against illicit trafficking in cultural goods and facilitates the return of stolen
artifacts to their countries of origin. Supported by more than 140 nations and adopted without
a vote, the resolution recognized that addressing the illegal trade in these items is vital to
preserving the identity and traditions of communities around the world and allowing them to
freely practice and protect a priceless heritage. It also acknowledged the devastating impact of
illicit trafficking on cultural heritage in general, particularly in conflict-affected regions, where
looting and smuggling of artifacts often finances organized crime and terrorism.
Resumo. A Assembleia Geral da ONU adotou, em dezembro de 2024, resolução que ajuda a
fortalecer a luta contra o tráfico ilícito de bens culturais e facilita a restituição de artefatos
roubados aos seus países de origem. Apoiada por mais de 140 nações e adotada sem votação, a
resolução reconheceu que abordar o comércio ilegal desses itens é vital para preservar a
identidade e as tradições de comunidades em todo o mundo e permitir que elas pratiquem e
protejam livremente um patrimônio inestimável. Também reconheceu o impacto devastador do
tráfico ilícito no patrimônio cultural em geral, particularmente em regiões afetadas por conflitos,
onde a pilhagem e o contrabando de artefatos muitas vezes financiam o crime organizado e o
terrorismo.
Resolução da Assembleia da ONU busca fortalecer a luta contra o tráfico ilegal de bens
culturais
Apoiada por mais de 140 nações e adotada sem votação, a resolução reconheceu que
abordar o comércio ilegal desses itens é vital para preservar a identidade e as tradições de
comunidades em todo o mundo e permitir que elas pratiquem e protejam livremente um
patrimônio inestimável.
102
Fortalecer a aplicação da lei
Também insta todas as nações a estabelecer, onde ainda não existam, unidades policiais
especializadas, dedicadas exclusivamente à proteção do patrimônio cultural, para investigar
casos de tráfico de propriedade cultural.
Ação da UNESCO para promover novas formas de acordo e cooperação para devolução e
restituição de bens culturais
Em junho de 2023, a UNESCO organizou uma mesa redonda em sua Sede para examinar
e destacar novas formas de acordo e cooperação no campo de retorno e restituição de
propriedade cultural. A discussão foi motivada pela Declaração MONDIACULT 2022 , que apelou
para um diálogo internacional aberto e inclusivo sobre o retorno e a restituição de propriedade
cultural.
103
Organizado em consulta com o Comitê Intergovernamental para Promover o Retorno
de Bens Culturais aos Países de Origem ou sua Restituição em Caso de Apropriação Ilícita
(ICPRCP), o evento foi acompanhado por mais de 210 pessoas pessoalmente e online,
testemunhando o crescente interesse no assunto, bem como o papel de convocação da
UNESCO.
Museu virtual
Este projeto inovador contará com modelos tridimensionais (3D) e imagens de alta
qualidade de artefatos roubados, acompanhados de narrativas educacionais e histórias
detalhadas.
Ao contrário dos museus tradicionais, seu objetivo é “esvaziar suas coleções” à medida
que os artefatos são recuperados e devolvidos aos seus legítimos proprietários.
104
Imagem 1: Representantes dos Estados da União Africana na conferência sobre restituição de bens
culturais
Fonte: UNESCO
105
deslocados e arrancados do continente africano, condenados ao exílio e ao silêncio. Mas eles
não foram silenciados. Na minha opinião, sua missão é criar vínculos”.
Mesas redondas de alto nível exploraram o papel dos museus e programas de pesquisa
conjunta, bem como os últimos desenvolvimentos no campo do retorno e da restituição.
Especialistas de todo o continente, juntamente com especialistas internacionais selecionados,
forneceram insights críticos sobre o aprimoramento da colaboração institucional e dos
processos de tomada de decisão. Exemplos de parcerias eficazes e formas evolutivas de
cooperação internacional foram apresentados.
Golda !Ha-Eiros, Curadora Sênior, Museu Nacional da Namíbia, Namíbia disse que “A
restituição deve ser feita em colaboração com as comunidades afetadas, trabalhando com os
mais velhos e os jovens em busca de conhecimento artístico” e segundo Lars-Christian Koch,
Diretor, Museu Etnológico e Museu de Arte Asiática dos Museus Nacionais, Alemanha, “Só
poderemos ir mais longe no campo do retorno e da restituição se formos capazes de ouvir”.
106
em particular seu Programa Principal “Fomentando o patrimônio cultural e o desenvolvimento
de capacitações”.
Reunindo dez países da América Central, em Antígua, Guatemala, com apoio do governo
guatemalense, a UNESCO organizou um evento regional, para proporcionar uma plataforma
para compartilhar boas práticas recentes e refletir sobre maneiras de promover uma
cooperação mais forte na devolução e restituição de bens culturais.
Houve uma sessão dedicada para o retorno de propriedade cultural aos povos indígenas,
enfatizando a necessidade de colocar as comunidades no centro dos processos de restituição.
Ao longo das discussões, o termo "rematriação" foi frequentemente usado no lugar de
"repatriação" para refletir essa abordagem.
Um objeto repatriado não é apenas um artefato que retorna. É uma história que começa
a contar sua verdade novamente.
Liwy Grazioso, Ministro da Cultura e Esportes da Guatemala enfatiza o papel central dos
museus: “(...) exibindo iniciativas de cooperação transfronteiriça e esforços de capacitação em
pesquisa de proveniência. As discussões enfatizaram ainda mais a importância do
desenvolvimento de museus em sítios arqueológicos, fomentando maior envolvimento da
comunidade na preservação do patrimônio”.
O evento de Antígua, Guatemala faz parte de uma série de eventos organizados pela
UNESCO para promover soluções inovadoras para o retorno e restituição de propriedade
107
cultural. Este trabalho começou em junho de 2023 na sede da UNESCO em Paris, onde foi
realizada a primeira troca dedicada sobre novas formas de acordos.
Esses diálogos se alinham com o Pacto para o Futuro , adotado pelos Chefes de Estado
em setembro de 2024 durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, que incentiva os Estados
a integrar a cultura em políticas públicas e a fortalecer a cooperação internacional sobre o
retorno e a restituição de propriedade cultural. Essas discussões também alimentarão os
preparativos para a Conferência Global da UNESCO sobre Políticas Culturais e Desenvolvimento
Sustentável – MONDIACULT 2025 , a ser realizada em Barcelona, Espanha, de 29 de setembro a
1º de outubro de 2025.
Casos que não se aplicam a Convenção de 1970, como por exemplo, países que não
ratificaram a Convenção, ou uma das condições para sua aplicação não foi cumprida (como a
não retroatividade), aplicam-se as regras e negociações junto ao Comitê Intergovernamental
sobre Devolução e Restituição (ICPRCP).
108
apoio moral expresso pelo ICPRCP foi reconhecido pelas autoridades equatorianas como
um fator significativo no sucesso deste caso.
Referências
UNESCO. Fight Illicit Trafficking (1970 Convention). About 1970 Convention. Disponível em:
https://www.unesco.org/en/fight-illicit-trafficking/about?hub=416 Acesso em 29 mar. 2025.
UNESCO. Fight Illicit Trafficking (1970 Convention). Cases of return and restitution under the aegis of the
1970 Convention. Disponível em: https://www.unesco.org/en/fight-illicit-trafficking/return-and-
restitution-cases Acesso em 29 mar. 2025.
UNESCO. Fight Illicit Trafficking (1970 Convention). Return and Restitution under the aegis of the ICPRCP.
Disponível em: https://www.unesco.org/en/fight-illicit-trafficking/return-and-restitution-under-
icprcp?hub=416 Acesso em 29 mar. 2025.
UNESCO. Reunião da UNESCO reúne todos os Estados-membros africanos pela primeira vez para discutir
o retorno e a restituição de bens culturais. Disponível em: https://www.unesco.org/en/articles/unesco-
meeting-gathers-all-african-member-states-first-time-discuss-return-and-restitution-cultural?hub=416
Acesso em: 29 mar. 2025.
UNESCO. UNESCO Database of National Cultural Heritage Laws. Disponível em:
https://www.unesco.org/en/cultnatlaws Acesso em: 29 mar.2025.
UNITED NATIONS. UN News. UN General Assembly boosts global fight against illegal trade in cultural
artifacts. Disponível em: https://news.un.org/en/story/2024/12/1157921 Acesso em 29 mar.2025.
109
As Reuniões Anuais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
Abstract: At the end of March, the Annual Meetings of the Inter-American Development Bank
(IDB) were held in partnership with IDB Invest, the private arm of the institution. The event took
place in Santiago, Chile, and was attended by the forty-eight member countries of the Bank, who
discussed in particular the direction of sustainable development and other priorities in Latin
America and the Caribbean (LAC).
“Quanto mais próspera for a América Latina e o Caribe, mais seguro e próspero será
todo o hemisfério”. Ilan Goldfajn
Goldfajn inicia o seu discurso destacando que a ALC além de ser rica em recursos,
também está posicionada para um crescimento industrial de forma gradual. Segundo o
presidente, a ALC possui várias vantagens comparativas que tornam a região mais atrativa:
110
produção de alimentos, custos de energia mais competitivos e a disposição de cobre e lítio que
são minerais essenciais para as indústrias13.
Ao falar sobre o setor privado, Goldfajn afirmou que a função do setor privado em
financiar o desenvolvimento na região não se trata apenas de uma estratégia econômica, mas
sim de um interesse mútuo que une os países da ALC. De acordo com o presidente, o setor
privado ajuda a fortalecer as indústrias, aumenta a capacidade da criação de empregos e
aumenta a competitividade14. Após essa fala, ele apresentou que o BID será um Banco
Multilateral de Desenvolvimento (BMD) do setor privado:
“É por isso que estamos posicionando o BID como o "BMD do setor privado" –
aproveitando nossos mais de 65 anos de experiência e proximidade com o
setor público da região para criar sinergias que beneficiem a todos. Isso é
apoiado por capital real e ações concretas: mais de 44% de nosso
financiamento agora é direcionado para iniciativas do setor privado por meio
do BID Invest e do BID Lab, com a ambição de alcançar a paridade até 2030.
IDB Invest+, uma nova visão, modelo de negócios "originar para compartilhar"
líder do setor e um aumento de capital de US$ 3,5 bilhões para o BID Invest,
nosso braço do setor privado. IDBLab+, um modelo de negócios mais
sustentável e escalável e US$ 400 milhões em recursos adicionais para o BID
Lab, nosso laboratório de inovação e braço de capital de risco. Mas o
financiamento por si só não é suficiente; os investidores também precisam das
condições certas para prosperar”. Ilan Goldfajn, 2025.
Assim como nas Reuniões Anuais anteriores, o BID lançou iniciativas que visam
contribuir com o desenvolvimento da ALC. A primeira delas foi o anúncio de um programa
regional que torne a ALC mais resiliente aos desastres naturais que causam muitos transtornos
no setor econômico e na qualidade de vida da população. O programa Ready and Resilient
Americas foi idealizado para fortalecer a colaboração regional, a fim de ampliar a resiliência, de
reforçar a proteção financeira e de melhorar as respostas, tornando-as mais eficazes contra os
desastres. De acordo com o BID, a instituição alocará em torno de “US$ 10 milhões em
financiamento não reembolsável para o programa entre 2025 e 2030”16.
Segundo o BID, a ALC amarga a posição de segunda região mais propensa a desastres
naturais no mundo, onde somente em 2024 foram setenta e quatro desastres, acarretando
13
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-
2025-idb-and-idb-invest-annual-meetings
14
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-
2025-idb-and-idb-invest-annual-meetings
15
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-
2025-idb-and-idb-invest-annual-meetings
16
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-regional-program-disaster-resilience
111
danos econômicos de US$ 10 bilhões e aproximadamente sete milhões de pessoas afetadas. Por
esta razão, o programa é tão importante, já possuindo dezesseis parceiros estratégicos no
âmbito privado, organizações internacionais e não governamentais que podem ajudar com
inovações tecnológicas e soluções financeiras que melhorem a agilidade e a resposta a
emergências17.
A segunda iniciativa foi o programa BID Cares, que visa ampliar os serviços de assistência
e da infraestrutura para atender eficazmente crianças, idosos e pessoas com deficiência,
simultaneamente gerando empregos e acelerando o crescimento econômico da ALC. Segundo
o BID, o programa “é o esforço de toda a instituição do BID para resolver a escassez de serviços
de assistência de alta qualidade e acessíveis em toda a região”18. O objetivo do programa é
aumentar a criação de empregos que atendam a atual demanda e o aumento por cuidadores
remunerados. Considera-se que o programa vem em um momento oportuno, pois de acordo
com o BID, um em cada quatro habitantes terá mais de 60 anos até 2050 na ALC19.
Participação do Brasil
Além da participação do lançamento do programa, Simone Tebet falou sobre outros dois
temas, que foram o apoio do BID às reformas institucionais do País e a transição para uma
17
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-regional-program-disaster-resilience
18
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
19
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
20
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
21
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai.
22
https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-south-connection-regional-program
23
Disponível em: : https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-assembleia-
anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-bid-invest-
braco-privado-da-instituicao
112
economia mais resiliente. Tebet destacou que no primeiro tema, o Banco vem sendo um
parceiro estratégico para o Brasil, aplicando todo o seu conhecimento especializado para
melhorar os setores da economia, dos negócios, do meio ambiente, da redução das
desigualdades e da ampliação da diversidade. A estratégia do BID Invest é bem vista por Tebet
e pelo governo brasileiro, pois o novo modelo de negócios amplia o risco para aumentar as
oportunidades de investimento privado, ajudando inclusive a impactar na eficiência energética,
conservação e restauração ambiental e na descarbonização da economia24.
Considerações Finais
As Reuniões Anuais do BID 2025 evidenciaram que para a ALC conseguir a transformação
nas mais diversas áreas, precisará contar fortemente com o investimento privado para alcançar
os seus objetivos de desenvolvimento e crescimento. Não é à toa que as instituições do setor
privado do BID sofreram mudanças transformacionais em seus negócios no ano passado, a fim
de se tornarem atrativas para as novas formas de capitalização.
Ao que tudo indica, os países reconheceram o progresso feito pelo Banco de um ano
para cá, trazendo instrumentos de financiamento mais modernos para o BID Invest e BIDLab. O
BID fazendo assim mostrou comprometimento e sinalizou que pretende continuar com a
implementação de novas formas de captação de recursos que realmente favoreçam a todos os
países.
Referências
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] Remarks by President Goldfajn at the
Private Sector Forum of the 2025 IDB and IDB Invest Annual Meetings [acesso em 29 mar 2025].
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-2025-
idb-and-idb-invest-annual-meetings
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] IDB Launches Regional Program for
Disaster Resilience [acesso em 29 mar 2025]. Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-
launches-regional-program-disaster-resilience
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] IDB Launches 'South Connection'
Regional Program [acesso em 29 mar 2025]. Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-
launches-south-connection-regional-program
24
Disponível em: : https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-assembleia-
anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-bid-invest-
braco-privado-da-instituicao
25
Disponível em: : https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-assembleia-
anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-bid-invest-
braco-privado-da-instituicao
113
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] IDB Launches ‘IDB Cares’ for Latin
America and the Caribbean [acesso em 29 mar 2025]. Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-
launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
Governo Federal [homepage na internet] Na Assembleia Anual do BID, Tebet defende reformas
institucionais do Banco e incremento de capital do BID Invest, braço privado da Instituição [acesso em 29
mar 2025]. Disponível em: https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-
assembleia-anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-
bid-invest-braco-privado-da-instituicao
114
O primeiro Fórum Econômico América Latina e Caribe promovido pelo Banco
de Desenvolvimento Regional (CAF)
Resumo - Este Informe apresenta a primeira edição do Fórum Econômico América Latina e
Caribe promovido pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe - CAF.
Destaca-se o caráter pioneiro desse evento e a sua amplitude, com participações regionais e
internacionais, de representantes governamentais de diversos países, de instituições
multilaterais, bem como de intelectuais, pesquisadores e acadêmicos. As temáticas do Fórum
são diversificadas, mas o foco central é o Desenvolvimento Sustentável. São apresentadas
também as diversas iniciativas do Banco CAF na área do Meio Ambiente na região, com seus
respectivos financiamentos.
115
O propósito desse encontro foi o de alinhar interesses e posicionar a região diante de grandes
desafios como as mudanças climáticas, a crise alimentar, a transição energética e a revolução
digital.
Além disso, houve palestras magnas com Mateo Renzi, ex-primeiro-ministro da Itália;
Helle Thorning-Schmidt, ex-primeira-ministra da Dinamarca; e Jeremy Rifkin, sociólogo e
economista, entre outras figuras de renome global. Entre os principais palestrantes estavam
ainda autoridades latinoamericanas como o presidente do Panamá, José Raúl Mulino; o
presidente do Paraguai, Santiago Peña; o primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, Gaston
Browne; entre outros.
Objetivos
O Fórum, que serviu como um ambiente de encontro entre o setor privado, autoridades
governamentais e instituições multilaterais, teve como objetivo principal identificar e promover
estratégias inovadoras que fortaleçam as instituições, fomentem a inovação e a digitalização,
avancem na transição para uma energia verde, desenvolvam infraestrutura estratégica e gerem
oportunidades inclusivas para todos. Essas iniciativas foram consideradas fundamentais para
superar os obstáculos atuais e criar um ambiente econômico mais dinâmico e resiliente.
"A América Latina e o Caribe têm o potencial de se tornarem uma região de soluções
globais para os grandes desafios do desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, devem alcançar
um crescimento sustentado e inclusivo, enfrentando problemas estruturais como desigualdades,
baixa produtividade e redução da pobreza. Este fórum será um passo essencial para esses
objetivos, traçando planos de ação concretos para melhorar a qualidade de vida e criar uma
economia mais justa, resiliente e sustentável", destacou Sergio Díaz-Granados, presidente
executivo do CAF.
Sergio Díaz-Granados, Presidente Executivo da CAF desde 2021, lidera iniciativas para
posicionar a América Latina e o Caribe como uma região sustentável e resiliente. Ocupou cargos
importantes, como Ministro de Comércio, Indústria e Turismo da Colômbia, e foi representante
116
no Conselho Executivo do BID. Promotor da integração regional, impulsiona projetos que
combinam sustentabilidade e inovação.
A América Latina e o Caribe enfrentam desafios estruturais que têm limitado seu
crescimento econômico e social há décadas. Apesar de possuírem vastos recursos naturais, uma
população jovem e empreendedora e um potencial energético invejável, a região continua
apresentando baixo crescimento e elevada desigualdade.
Temas do Fórum
· Conjuntura econômica 2025. Análise da situação econômica da América Latina e Caribe para o
ano de 2025.
· Elevando a presença da América Latina e Caribe no mercado mundial. Estratégias para uma
internacionalização eficaz da região.
· Economia circular na gestão de resíduos sólidos urbanos na América Latina e Caribe. Práticas
sustentáveis e seu impacto na região.
· Hay Festival: Imaginar e inovar. Ideias que contribuem para o desenvolvimento sustentável.
· Riqueza e transição energética na América Latina e Caribe. O papel dos recursos e das energias
renováveis.
· Entre Cali e Belém. O papel do setor privado e da filantropia no financiamento climático e para
a biodiversidade.
117
· Empreenda sua mente. Como empresas e empreendedores impulsionam o futuro sustentável
da região.
· Conectando América Latina e Caribe. O papel de portos e logística na transição verde, digital e
energética.
· Nada sobre nós sem nós. Mulheres em posições de decisão na América Latina e Caribe.
Juan Carlos Navarro, ministro do Meio Ambiente do Panamá, chamou a atenção para a
dimensão do desafio da crise climática, que se torna cada vez mais urgente. "Me preocupa a
falta de senso de urgência que percebo nos governos, no setor privado e na sociedade em geral.
Por isso, insisto que não devemos parar de discutir as COPs e as agendas de clima,
biodiversidade e desertificação", afirmou. O ministro também sugeriu mudanças no processo
decisório das COPs, propondo que os acordos deixem de depender da unanimidade e passem a
ser aprovados por algum tipo de maioria.
118
Os painelistas discutiram as principais soluções e instrumentos financeiros em
desenvolvimento para viabilizar um modelo inovador de investimentos sustentáveis. Entre eles
se afirmou que governos, organizações e o setor privado devem intensificar o envolvimento das
instituições financeiras multilaterais na criação de novos mercados e produtos financeiros para
impulsionar a economia verde, como o mercado voluntário de carbono, por exemplo, assim
como a proteção das florestas. Esse movimento, segundo painelistas, deve ser liderado pelo
setor público para garantir resultados mais amplos.
“Estamos avançando em nosso objetivo de nos tornarmos o banco verde da América Latina e
do Caribe em diferentes frentes. Por um lado, aumentar o financiamento de projetos de proteção
da biodiversidade e de adaptação e mitigação das alterações climáticas e, por outro lado,
melhorar a qualidade dos nossos projetos para incorporar os componentes verdes necessários
à sustentabilidade ambiental. Tudo isso ajuda a fornecer soluções latino-americanas e
caribenhas para superar a crise ambiental global”, disse Alicia Montalvo, gerente de Ação
Climática e Biodiversidade Positiva do CAF.
Nessa direção, os compromissos financeiros que o CAF assumiu nos últimos três anos
foram:
119
• Proteção dos oceanos. Durante a Conferência dos Oceanos realizada em Lisboa em
2022, o CAF anunciou que destinará 1,25 bilhão de dólares até 2026 para financiar
projetos que contribuam para preservar, dinamizar e promover os ecossistemas
marinhos e costeiros da América Latina e do Caribe. Recursos utilizados para conceber
e implementar projetos e programas que promovam a economia azul, com ênfase na
restauração dos ambientes marinhos e costeiros, carbono azul, energia marinha
renovável, pesca e aquicultura sustentáveis, gestão costeira integrada, soluções
baseadas na natureza, pagamento pelo ecossistema-serviços, ecoturismo e melhoria da
gestão de áreas marinhas protegidas, entre outros.
Considerações Finais
120
promover cidades amazônicas de baixo carbono e inclusivas, com o propósito de melhorar as
condições de vida de seus habitantes.
Com isso o CAF pretende ser o “Banco Verde” da região, aplicando 40% dos seus
investimentos até 2026 em iniciativas voltadas para a sustentabilidade ambiental, com impacto
direto nas condições de vida da população latinoamericana e, por conseguinte, na sua saúde.
OBS: Os itálicos e os negritos foram utilizados pela autora para destacar termos utilizados na
análise dos documentos pesquisados.
Fontes de consulta
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2. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/
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7. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/plenaria-principal/
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10. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/agenda/
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12. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/
13. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/especialistas-brasileiros-se-destacam-no-forum-
econ%C3%B4mico-internacional/
14. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/america-latina-e-caribe-lan%C3%A7am-seu-primeiro-
grande-forum-global/
15. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/presidente-do-panama-inaugura-forum-
econ%C3%B4mico-internacional-alc-2025/
16. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/america-latina-e-caribe-querem-protagonismo-da-
a%C3%A7%C3%A3o-climatica-global/
121
Reformas Urgentes da Dívida para Prevenir "Inadimplências no Desenvolvimento" e
Atividade Global de Propriedade Intelectual Atingiu Novos Patamares
Urgent Debt Reforms to Prevent "Defaults on Development" and Global Intellectual
Property Activity Reached New Heights
Claudia Chamas
Bernardo Bahia Cesário
Abstract. News published by Reuters informs that the United States has suspended
contributions to the World Trade Organization. UNCTAD and WIPO reports reveal two critical
developments in the global economic landscape of 2024: the sovereign debt crisis threatening
to paralyze sustainable development in low and middle-income countries, and the growth in
global intellectual property registrations. According to UNCTAD, mounting debt burdens
compromise essential investments in public health, infrastructure, and climate transition.
Simultaneously, intellectual property trends documented by WIPO highlight persistent
disparities in innovation capacity between advanced and developing economies. The documents
emphasize the urgent need for reforms in the international financial system and more robust
technology transfer mechanisms to reduce structural inequalities affecting the region's
development.
Keywords: WTO, Sovereign debt crisis, Sustainable development, Intellectual property, Global
innovation, Public health, Technological inequality, International cooperation.
Resumo. Notícia publicada pela Reuters informa que os Estados Unidos suspenderam as
contribuições para a Organização Mundial do Comércio. Os relatórios da UNCTAD e da OMPI
revelam dois fenômenos críticos para o desenvolvimento econômico e social global em 2024: a
crise da dívida soberana que ameaça paralisar o desenvolvimento sustentável em países de
baixa e média renda, e o crescimento dos registros de propriedade intelectual nos sistemas
globais. Segundo a UNCTAD, os encargos crescentes da dívida comprometem investimentos
essenciais em saúde pública, infraestrutura e transição climática. Paralelamente, as tendências
de propriedade intelectual documentadas pela OMPI evidenciam persistentes disparidades na
capacidade de inovação entre economias avançadas e em desenvolvimento. Os documentos
enfatizam a necessidade urgente de reformas no sistema financeiro internacional e de
mecanismos mais robustos de transferência tecnológica para reduzir desigualdades estruturais
que afetam o desenvolvimento da região.
122
solução de controvérsias apenas parcialmente funcional. A motivação para esta medida seria o
“excesso judicial em disputas comerciais”. Em 2024, o orçamento do órgão foi 205 milhões de
francos suíços (US$ 232,06 milhões). De acordo com a OMC, a contribuição dos EUA está em
cerca de 11% do total, com base em um sistema de taxas proporcional à sua participação no
comércio global (Farge, 2025).
Segundo fontes que o texto cita, “um delegado dos EUA disse em uma reunião de
orçamento da OMC em 4 de março que seus pagamentos para os orçamentos de 2024 e 2025
estavam suspensos, aguardando revisão das contribuições para organizações internacionais e
que informaria a OMC sobre o resultado em data não especificada”. Nesse contexto, a OMC
estaria elaborando um "Plano B" para fazer frente a uma pausa prolongada no financiamento.
M|es passado, de acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Trump assinou uma
ordem executiva instruindo o Secretário de Estado, Marco Rubio, a revisar dentro de 180 dias
todas as organizações internacionais das quais os EUA são membros "para determinar se são
contrárias aos interesses dos EUA". No caso da OMC, a revisão ocorre em coordenação com o
USTR. O porta-voz da OMC, Ismaila Dieng, informou que as contribuições dos EUA estavam a
caminho, mas "esbarraram na pausa de todos os pagamentos para agências internacionais". No
final de dezembro de 2024, os Estados Unidos já deviam 22,7 milhões de francos suíços (US$
25,70 milhões), de acordo com documento da OMC obtido pela Reuters marcado como
"RESTRITO" e datado de 21 de fevereiro (Farge, 2025).
As regras da OMC estabelecem que qualquer membro que deixar de pagar suas taxas
após mais de um ano está sujeito a "medidas administrativas", com consequências como, por
exemplo, não poder presidir órgãos da OMC nem receber documentação formal. Não se sabe
se a OMC já aplica essas medidas aos Estados Unidos. Segundo William Reinsch, ex-funcionário
do Comércio dos EUA, disse que provavelmente os EUA acabariam pagando sua conta na OMC.
Um embaixador dos EUA foi recentemente para a instituição, indicando vontade de
engajamento. No final de 2024, outros cinco outros países membros - Bolívia, República
Democrática do Congo, Djibuti, Gabão e Gâmbia - estavam com pagamentos atrasados. Um total
de 38,4 milhões de francos suíços de contribuições estavam pendentes, incluindo taxas não
pagas de 2024 e anteriores (Farge, 2025).
Panorama
123
desenvolvimento sustentável. Conforme destacado pela Secretária-Geral da UNCTAD, Rebeca
Grynspan, os desafios relacionados à dívida "crescem em complexidade e escala" enquanto as
ferramentas multilaterais existentes têm lutado para acompanhar essa evolução. Dados
apresentados na conferência mostram que a dívida externa dos países em desenvolvimento
atingiu o recorde de US$ 11,4 trilhões em 2023, equivalente a 99% de seus ganhos com
exportações (UNCTAD, 2025).
124
Essas ferramentas modernizadas visam ajudar os governos a rastrear e gerenciar a
dívida de forma mais eficaz, garantindo transparência e estabilidade enquanto mantêm as metas
de desenvolvimento no caminho certo (UNCTAD, 2025).
A China manteve-se como principal fonte de pedidos PCT em 2024, com 70.160
aplicações, seguida pelos EUA (54.087), Japão (48.397), República da Coreia (23.851) e
Alemanha (16.721). Enquanto a China retornou ao crescimento (+0,9%), EUA, Japão e Alemanha
experimentaram declínios de 2,8%, 1,2% e 1,3%, respectivamente, marcando o terceiro ano
consecutivo de diminuição para os EUA e o segundo para Alemanha e Japão. Em contraste, a
República da Coreia destacou-se com forte crescimento de 7,1%, seu 27º ano sucessivo de
expansão (WIPO, 2025).
125
Entre as 10 principais empresas, a Samsung Electronics registrou o crescimento mais
rápido, com 716 aplicações adicionais em 2024. Fora do top 10, gigantes tecnológicos
americanos como Apple (441 aplicações adicionais) e Google (335 aplicações adicionais)
entraram no top 20. Embora representem diversos setores industriais, pelo menos oito dos 20
principais depositantes operam nos setores de telefonia móvel e telecomunicações (WIPO,
2025).
126
A classe mais especificada em aplicações internacionais recebidas pela OMPI cobre
hardware e software de computador e outros aparelhos elétricos ou eletrônicos, representando
10,8% do total de 2024, seguida pela classe que cobre serviços empresariais (8,4%) e aquela
relacionada a serviços científicos e tecnológicos (7,8%) (WIPO, 2025).
Referências
1. Farge, E. US pauses financial contributions to WTO, trade sources say. Disponível em:
https://www.reuters.com/world/us-suspends-financial-contributions-wto-trade-sources-say-2025-03-
27/
2. UNCTAD. Urgent debt reforms needed to prevent ‘defaults on development’. 2025. Disponível em:
https://unctad.org/news/urgent-debt-reforms-needed-prevent-defaults-development.
3. WIPO. Use of WIPO’s Global IP Registries for Patents, Trademarks and Designs Grew in 2024. 2025.
Disponível em: https://www.wipo.int/pressroom/en/articles/2025/article_0003.html
127
Um apelo à esperança no meio de um mundo em turbulência
INTRODUÇÃO
128
operações de assistência foram severamente comprometidas, aumentando os riscos à vida da
população. No Haiti, a escalada da violência, com ataques a equipes médicas e instalações de
saúde, levaram o MSF a suspender suas operações, deixando sem qualquer atendimento as
pessoas afetadas pelo conflito. Na Síria, a violência resultou na morte de mais de mil pessoas e
no deslocamento de mais de quatro mil famílias. A Save the Children, que está prestando ajuda
humanitária na Síria, apelou para a garantia da assistência emergencial, da proteção às crianças
e do aumento do financiamento à ajuda. No Sudão, o maior campo de refugiados do país
enfrenta uma situação crítica, com escassez extrema de alimentos e medicamentos, impactando
principalmente as crianças após a recente escalada da violência. Também na República
Democrática do Congo, a situação se deteriorou ainda mais, com 400 mil pessoas deslocadas à
força e hospitais saturados devido à destruição causada pelos conflitos na cidade de Goma.
129
do Congo e o agravamento da crise sanitária com o aumento alarmante de casos de cólera,
Mpox e sarampo. Da mesma forma, o Líbano enfrenta uma grave crise de saúde pública,
impulsionada pelo colapso da infraestrutura, deslocamentos em massa e desnutrição
generalizada. A grave crise de desnutrição na Somália foi intensificada por secas prolongadas,
conflitos e falta de financiamento. No Iêmen, a superlotação dos hospitais e a redução do
financiamento humanitário agravam ainda mais a desnutrição severa, enquanto muitas crianças
também enfrentam surtos de sarampo e cólera.
Diante desse cenário de crises interligadas, o Movimento pela Saúde dos Povos publicou uma
declaração que apela à esperança, ao otimismo, à resiliência, à solidariedade e à paz,
ressaltando que décadas de capitalismo neoliberal resultaram em crises sobrepostas. O
movimento convoca esforços para construir um mundo mais equitativo, ecologicamente
sustentável, descolonial e pacífico, no qual a saúde e o bem-estar sejam acessíveis a todos.
Guerras e conflitos
Conflito em Gaza
Médicos Sem Fronteiras (MSF) denuncia a grave situação humanitária em Gaza após
novos bombardeios israelenses e ordens de evacuação forçadas, que deixaram famílias inteiras
sem rumo. Reham Abu Draz, enfermeira da organização, relata o desespero e a destruição,
descrevendo cenas de mortes, sangue e crianças fugindo sozinhas. MSF pede o fim imediato dos
ataques e a retomada da entrada de ajuda humanitária, alertando para o impacto devastador
do conflito sobre a população civil.2
130
A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza desde 18 de março matou quase 700
pessoas, incluindo pelo menos 200 crianças, e forçou 120.000 palestinos a fugir, agravando uma
crise humanitária já extrema. Segundo a Oxfam, a falta de garantias de segurança para
trabalhadores humanitários tem prejudicado severamente as operações de ajuda, enquanto
Israel continua bloqueando o acesso a materiais essenciais, como unidades de dessalinização e
infraestrutura de saneamento. Desde janeiro, a Oxfam conseguiu alcançar cerca de 181.622
pessoas em Gaza com água potável, saneamento, assistência em dinheiro e alimentos. No
entanto, os estoques estão esgotados, e a destruição de instalações de saúde e infraestruturas
básicas ameaça ainda mais a vida da população. A organização denunciou o uso sistemático da
ajuda humanitária como arma de guerra e exige um cessar-fogo permanente, além do
cumprimento do direito internacional e da responsabilização de todas as partes envolvidas.4
Violência no Haiti
Conflito da Síria
Após confrontos mortais em Latakia, na Síria, a Save the Children em parceria com
organizações locais está fornecendo ajuda urgente a 4.000 famílias sírias deslocadas, incluindo
12.000 cobertores e 4.000 rações alimentares prontas para consumo. A violência, que já
resultou na morte de mais de 1.000 pessoas, incluindo crianças, deixou a cidade em crise, com
escassez de água, eletricidade e alimentos. Ghadi, um dos deslocados, descreveu o terror da
situação, com sua casa destruída e familiares mortos. A Save the Children destacou a
necessidade urgente de proteção e acesso humanitário seguro para crianças e civis em áreas
afetadas pelo conflito.8
Mais de mil pessoas, incluindo várias crianças, foram mortas nos últimos confrontos na
Síria, enquanto 45.000 pessoas foram deslocadas. A violência afetou principalmente as regiões
costeiras de Latakia e Tartus. A Save the Children com o apoio de parceiros locais está
131
distribuindo itens essenciais para as famílias que fugiram das zonas de conflito. A organização
faz um apelo urgente para que todas as partes envolvidas no conflito priorizem a proteção das
crianças e insta a comunidade internacional a aumentar o financiamento humanitário para
atender às necessidades críticas, como nutrição, saúde, educação e apoio a crianças.9
Conflito no Sudão
O People’s Health Movement (PHM) publicou matéria, chamando a atenção para a crise
humanitária e as violações aos direitos de saúde no conflito na República Democrática do Congo
(RDC). A violência recente devastou a cidade de Goma, onde muitos homens, mulheres e
crianças estão lutando pela sobrevivência e enfrentando terríveis ferimentos físicos, bem como
profundos traumas psicológicos. O PHM afirmou que mais de 480 mil pessoas foram deslocadas
à força e estão desesperadamente buscando proteção. Os hospitais estão saturados, com falta
de pessoal de saúde, medicamentos, suprimentos e equipamentos.12
132
A Greenpeace destacou a urgência de reduzir a produção de plástico para mitigar riscos
à saúde e ao meio ambiente, ressaltando que o Tratado Global sobre Plásticos vem priorizando
os impactos na saúde. No entanto, alerta para a influência da indústria petroquímica e o
bloqueio de alguns países, que podem desviar o foco para soluções ineficazes, como reciclagem,
em vez de atacar a raiz do problema. Com a próxima rodada de negociações em agosto de 2025,
a organização enfatiza a importância da pressão da sociedade civil para garantir que a saúde
pública prevaleça sobre interesses corporativos.15
A Greenpeace destacou que o Rainbow Warrior chegou às Ilhas Marshall para uma
missão de seis semanas em defesa da justiça nuclear e climática, marcando os 40 anos da
evacuação de Rongelap. A visita reforça a solidariedade do Greenpeace com o povo marshalês,
que enfrenta os impactos persistentes dos testes nucleares dos EUA e a crescente ameaça da
crise climática. Além de apoiar a luta por reparações e justiça, a expedição realizará pesquisas
independentes sobre radiação em atois históricos como Rongelap, Bikini e Enewetak. O
Greenpeace destaca que os mesmos poderes coloniais que forçaram o deslocamento nuclear
agora colocam as Ilhas Marshall em risco de deslocamento climático e exploração destrutiva,
como a mineração em alto-mar no Pacífico.16
Greenpeace Japão reafirmou sua posição contra a energia nuclear no 14º aniversário do
desastre de Fukushima, criticando a decisão do governo japonês de aumentar sua dependência
dessa fonte de energia. A organização alertou para os riscos de longo prazo das usinas nucleares,
especialmente em um país propenso a terremotos, e denuncia a liberação contínua de água
contaminada da usina de Fukushima, que deve seguir até 2051. A nova meta climática do Japão
para 2035, de reduzir 60% das emissões de gases de efeito estufa em relação a 2013, também
foi considerada insuficiente. Greenpeace defendeu que o país deveria buscar uma redução de
78%, alinhada ao limite de 1,5°C de aquecimento global. A organização reforçou que o Japão
tem alternativas energéticas viáveis e deve apostar em eficiência energética e fontes renováveis,
eliminando gradualmente tanto a energia nuclear quanto os combustíveis fósseis.17
A Oxfam alertou que a crise climática tem agravado a escassez de água na África Oriental
e Austral, deixando 116 milhões sem acesso à água potável e impulsionando um aumento de
80% na fome extrema. Secas, inundações e degradação do solo devastam colheitas e gado,
afetando especialmente mulheres e meninas. A organização denuncia a injustiça climática,
destacando que a África recebe apenas 3-4% do financiamento global para o clima, e exige que
países poluidores assumam responsabilidades enquanto governos africanos ampliam
investimentos em infraestrutura hídrica e proteção social.18
133
adaptação climática e resiliência da saúde diante de desastres naturais intensificados pelas
mudanças climáticas, como tufões, inundações e ondas de calor. Além disso, sessões interativas
permitiram a discussão de políticas, lacunas de pesquisa e estratégias de engajamento
comunitário, enfatizando a importância de integrar a saúde nas políticas climáticas nacionais. O
evento encerrou com um apelo por colaboração contínua. Entre as recomendações, destacam-
se a produção de um relatório detalhado, a elaboração de um documento de posicionamento
para os formuladores de políticas da ASEAN e a integração da mudança climática na agenda
nacional de saúde das Filipinas.20
No dia da àgua, a World Vision International faz ênfase na importância ao acesso à água
limpa como um direito fundamental e um pilar essencial para o desenvolvimento infantil.
Garantir esse recurso transforma vidas: permite que crianças frequentem a escola, se
mantenham saudáveis e tenham a oportunidade de alcançar seu pleno potencial. Investir em
saneamento e acesso universal à água potável é investir em saúde, educação e equidade —
especialmente em comunidades historicamente marginalizadas. Crianças que têm acesso à água
limpa não apenas sobrevivem — elas florescem.23
A ACT Promoção da Saúde publicou uma nota analisando como a água potável, cujo
acesso foi reconhecido como um direito fundamental na Declaração Universal dos Direitos da
Água, proclamada pela ONU em 1992, vem sendo explorada intensivamente por indústrias
poluentes, como as de álcool, tabaco e ultraprocessados. O documento destaca que a produção
desses produtos consome grandes quantidades de água e gera resíduos que contaminam solos,
rios e oceanos. Para fabricar um litro de cerveja, por exemplo, são necessários 298 litros de água,
enquanto a produção de bebidas açucaradas pode demandar até 600 litros por litro produzido.
Além disso, bitucas de cigarro, águas residuais da indústria do álcool e embalagens plásticas
agravam ainda mais a crise ambiental. No Brasil, os impactos dessa exploração são evidentes no
caso de Itabirito e Brumadinho (MG), onde a instalação de uma fábrica da Coca-Cola agravou a
escassez de água, afetando centenas de famílias. O caso levanta questões urgentes sobre a
134
gestão da água e sua destinação: estará esse recurso a serviço das grandes indústrias ou da
população? 24
A Fòs Feminista realizou uma postagem sobre a importância de proteger os direitos das
meninas para promover sociedades mais justas, inclusivas e resilientes. Práticas nocivas como o
casamento infantil, a mutilação genital feminina e a violência de gênero violam direitos
fundamentais e comprometem o futuro de comunidades inteiras. No contexto da #CSW69, é
essencial reforçar políticas públicas baseadas em evidências, garantir acesso à educação e à
saúde, e ampliar espaços de participação para que meninas e jovens liderem as transformações
que desejam ver no mundo. Empoderar meninas não é apenas um imperativo ético — é um
caminho para o desenvolvimento sustentável e coletivo.29
135
exploração enfrentadas por milhares de mulheres palestinas que trabalham em assentamentos
ilegais israelenses, principalmente na agricultura e manufatura. A organização alerta que 94%
das trabalhadoras palestinas não têm contratos formais e 93% enfrentam condições perigosas,
além de jornadas exaustivas e discriminação. Com a economia fragilizada por restrições
israelenses, a dependência desses empregos cresce. A organização pede ação internacional para
combater essa exploração e garantir empregos dignos, destacando que a solução exige o fim da
ocupação e dos assentamentos ilegais.30
Governo Trump
O corte de financiamento dos EUA para programas internacionais de saúde pode levar
ao ressurgimento de doenças tropicais negligenciadas que causam cegueira infantil, alerta a
Save the Children. Em Uganda, um programa reduziu pela metade os casos de tracoma na região
de Karamoja, mas a suspensão do apoio ameaça reverter esses avanços, expondo milhares de
crianças e mulheres a riscos evitáveis. O mesmo ocorre na Tanzânia, onde a interrupção das
ações contra a oncocercose, ou cegueira dos rios, compromete a saúde de populações
vulneráveis. A organização destaca que esses programas já provaram sua eficácia e alerta para
as graves consequências humanitárias e estratégicas da redução da ajuda internacional.32
A Save the Children alerta que cortes no financiamento federal dos EUA na educação
podem ter consequências duradouras para milhões de crianças norte-americanas,
especialmente nas áreas rurais, onde 2,9 milhões vivem na pobreza. A possível eliminação do
Departamento de Educação ameaça programas essenciais que garantem alfabetização, reforço
escolar e suporte para alunos de baixa renda. Com quase 70% dos estudantes sem proficiência
em leitura ao final do terceiro ano, a perda desses recursos pode ampliar desigualdades e
prejudicar o futuro de inúmeras crianças. A organização insta o governo a proteger esses
investimentos cruciais para evitar impactos irreversíveis na educação infantil.33
Crise humanitária
Com a iminente redução das rações de alimentos nos campos de refugiados Rohingya
em Cox's Bazar, Bangladesh, muitas famílias estão tomando decisões desesperadas para
sobreviver, incluindo enviar seus filhos em viagens perigosas de barco. A partir do próximo mês,
as cotas mentais de rações cairão de $12,50 para $6,00 por pessoa devido a cortes de
financiamento. Isso ocorre em um contexto de escassez de alimentos, com mais de 15% das
136
crianças menores de 5 anos já desnutridas. A Save the Children alerta que a insegurança nos
campos e o aumento da migração forçada por via marítima, com muitos refugiados sendo
vítimas de traficantes, colocam milhares de crianças e suas famílias em grave risco.35
A Oxfam e sua parceira polonesa Egala divulgaram o relatório Brutal Barriers, que
denunciou abusos sistemáticos contra refugiados na fronteira entre Polônia e Belarus. Segundo
testemunhos, as autoridades polonesas utilizam balas de borracha, cães e tortura, além de
negar assistência médica e forçar deportações, incluindo de mulheres grávidas e pessoas
inconscientes. Do outro lado, os refugiados enfrentaram violência extrema em Belarus, como
tortura e agressões sexuais. O relatório também destacou a criminalização de organizações
humanitárias que tentam prestar socorro. Oxfam e Egala exigiriam que a União Europeia pare
de financiar essa política ilegal de expulsões e invista em um sistema de asilo que respeite os
direitos humanos.36
Crise Sanitária
Crise alimentar
Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para a grave crise de desnutrição na Somália,
intensificada por secas prolongadas, conflitos e falta de financiamento. Em 2024, a organização
tratou mais de 18 mil crianças com desnutrição aguda grave, mas os cortes orçamentários têm
forçado a redução de programas essenciais. Com a previsão de uma nova seca causada pelo La
Niña em 2025, MSF pede apoio urgente de doadores para evitar um desastre humanitário ainda
maior.40
137
Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para a grave crise de desnutrição no Iêmen, onde
mais de 35 mil crianças foram tratadas entre 2022 e 2024 em instalações apoiadas pela
organização. A superlotação dos hospitais e a redução do financiamento humanitário agravam
a situação, enquanto muitas crianças também enfrentam doenças como sarampo e cólera. MSF
pede uma resposta coletiva urgente para ampliar os programas de nutrição, garantir acesso à
saúde e evitar um agravamento ainda maior da crise.41
Combate a Tuberculose
A European Public Health Alliance (EPHA) publicou informe sobre a Doença Hepática na
União Europeia e sua intrínseca relação com estigmas sociais, disparidades econômicas e
preconceitos de gênero na saúde A entidade ressaltou que como a doença afeta
desproporcionalmente as mulheres, elas enfrentam desafios especialmente na área da
saúdepor conta do autoestigma e negação dos sintomas levando a atraso do diagnóstico e
tratamento, com piora dos resultados.44
A ACT Promoção da Saúde publicou uma carta aberta contra a indústria da cerveja, que
anunciou a criação de uma frente parlamentar no Brasil. Essa iniciativa levanta preocupações
em relação a duas conquistas históricas recentes: a inclusão das bebidas alcoólicas no imposto
seletivo da Reforma Tributária e o reconhecimento, pelo Ministério da Saúde, de que não há
nível seguro para o consumo de bebidas alcoólicas. A organização destacou que o poder público
deve se alinhar ao compromisso de promover políticas públicas que protejam a sociedade e o
meio ambiente, e não apoiar iniciativas que priorizem os interesses da indústria do álcool.45
138
Ataque à participação pública
A Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA) fez uma publicação alusiva ao
Dia da Prescrição Social, em 19 de março, quando se celebra uma abordagem holística e
centrada na pessoa que conecta indivíduos com recursos comunitários não médicos para
melhorar seu bem-estar. A prescrição social aborda questões relacionadas à saúde que a
medicina sozinha não pode resolver, capacitando as pessoas a abordar fatores como estresse
(principal causa de vários riscos graves à saúde), ansiedade e isolamento ou solidão.50
Educação médica
Um apelo à esperança
O Movimento pela Saúde dos Povos (PHM) publicou uma declaração do seu Conselho
Diretor, aprovada em reunião nos dias 26 a 28 de fevereiro de 2025. Intitulada “Enquanto o
mundo está em turbulência, o Movimento Popular pela Saúde apela à esperança, ao otimismo,
à resiliência, à solidariedade e à paz”, a declaração destaca que décadas de capitalismo
139
neoliberal levaram a crises inter-relacionadas, com desigualdades sociais, colapso ambiental,
guerras, deslocamentos forçados, crescente conservadorismo e reação contra os direitos das
mulheres, além da mercantilização e privatização dos sistemas de saúde. Nesse contexto, o PHM
convoca a intensificar esforços na luta por um mundo mais equitativo, ecologicamente
sustentável, descolonial e pacífico, no qual uma vida saudável para todos seja uma realidade. E
afirma que isso pode ser alcançado por meio de ação coletiva, priorizando o "Buen Vivir" (o bem-
estar) de comunidades marginalizadas/vulneráveis e abordando as raízes das injustiças
sistêmicas.53
140
Resistência antimicrobiana
Segundo a GAVI, The Vaccine Alliance, vacinas combinadas que protegem contra
múltiplas doenças em uma única injeção, oferecem benefícios significativos, como simplificação
dos calendários de imunização, redução de custos e aumento das taxas de cobertura vacinal.
Um exemplo é a vacina pentavalente, que combina imunização contra difteria, tétano,
coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b. Apesar dos desafios no
desenvolvimento de vacinas combinadas, como complexidades na produção e aprovação
regulatória, seu potencial para melhorar a saúde pública e otimizar recursos é substancial.60
Assistência em Saúde
141
COVID-19
A CORE GROUP publica um artigo que destaca de forma contundente como, mesmo
cinco anos após o início da pandemia de COVID-19, ainda falhamos em consolidar lições
fundamentais para prevenir futuras emergências sanitárias. A ausência de investimentos
sustentados em sistemas de vigilância, resposta rápida e atenção primária robusta revela uma
lacuna crítica entre o conhecimento técnico disponível e a vontade política de agir. A saúde
global requer compromisso contínuo, coordenação entre países e fortalecimento das
capacidades locais. Transformar essas lições em ações concretas não é apenas uma questão de
prevenção — é uma responsabilidade ética com as gerações futuras.63
Segundo a GAVI The Vaccine Alliance, as vacinas atuais contra a COVID-19 permitiram
que muitos retornassem às suas rotinas normais, mas não oferecem proteção completa contra
infecções ou transmissão, e a imunidade pode diminuir ao longo do tempo. Vacinas de próxima
geração estão sendo desenvolvidas para fornecer proteção mais ampla e duradoura. Entre as
inovações estão as vacinas mucosas, que visam induzir imunidade diretamente nas superfícies
mucosas, como o nariz e a boca, bloqueando o vírus no ponto de entrada. e as vacinas
pancoronavírus, que visam proteger contra múltiplos coronavírus, incluindo variantes
emergentes e potenciais futuros surtos. Esses avanços são cruciais para fortalecer a resposta
global a pandemias atuais e futuras.64
Mudança climática
A tuberculose continua sendo a principal causa de morte por doença infecciosa, com
1,25 milhão de óbitos em 2023, apesar de ser evitável e curável. O Global Fund é essencial no
combate à tuberculose resistente a medicamentos, uma grande ameaça à saúde global. Com
um financiamento robusto no Oitavo Reabastecimento, é possível reduzir a incidência da doença
142
em 32% e a mortalidade em 60% até 2029 nos países beneficiados. O compromisso político, a
ampliação do acesso a tratamentos inovadores e preços reduzidos são cruciais para eliminar
essa doença e evitar uma crise sanitária ainda maior.67
EVENTOS
Entre os dias 2 e 6 de maio se levará a cabo o 23º Congresso da WADEM sobre Medicina
de Desastres e Emergências em Tóquio. O evento, coorganizado pela Associação Japonesa de
Medicina de Desastres (JADM), reunirá especialistas globais para compartilhar pesquisas e
experiências sobre medicina de desastres, cuidados pré-hospitalares e gestão de crises
humanitárias, com uma programação científica dinâmica, incluindo sessões plenárias, paineis
de discussão, apresentações orais e de pôsteres, workshops e oportunidades de networking.70
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura deste informe pode causar uma sensação de desesperança, pois evidencia
como diferentes crises estão interligadas, piorando a situação de milhões de pessoas. É
lamentável observar que populações já afetadas por conflitos armados, também precisam lidar
com os efeitos das mudanças climáticas – crises que não foram provocadas por elas. Houve um
alerta especial para as crianças, que deveriam ser protegidas, mas enfrentam deslocamentos
forçados, fome e riscos à saúde. Além disso, as crises comprometem seu futuro ao restringir o
acesso à educação, e mesmo aquelas que conseguem escapar dessas situações frequentemente
143
são maltratadas como refugiadas. A situação das mulheres também foi bastante mencionada,
pois, em meio às crises, as desigualdades e a violência contra elas se intensificam. Os cortes de
financiamento de programas sociais pelo governo Trump agravam esse cenário, resultando no
fechamento de iniciativas que visavam protegê-las, deixando-as ainda mais expostas.
Em meio a esse caos, destaca-se a mensagem do Movimento pela Saúde dos Povos, que
faz um apelo a favor da esperança. A organização afirma que vivemos as consequências do
capitalismo, mas que devemos continuar lutando por um mundo mais justo e equitativo. Esse
objetivo pode ser alcançado por meio da ação coletiva, priorizando o "Buen Vivir" – ou bem-
estar – das comunidades marginalizadas e abordando as raízes das injustiças sistêmicas.
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from: https://www.gatesfoundation.org/ideas/articles/tuberculosis-tb-community-treatment
69. FINDdx. Strong blows the South Winds: FIND Chair visits global south Health Ministers/Partners [Internet].
FIND. 2025 [cited 2025 Mar 25]. Available from: https://www.finddx.org/publications-and-statements/press-
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70. Tokyo, Japan - 2-6 May 2025 [Internet]. WADEM. 2024 [cited 2025 Mar 24]. Available from:
https://wadem.org/congress/tokyo-2025/
71. WFME World Conference 2025 [Internet]. [cited 2025 Mar 26]. Available from:
https://www.wfmeconference.org/event/fdce601a-1ef7-4307-ae6f-96e9a8989b18
72. WONCA. World Organization of Family Doctors. Deadline Approaching! Friday 31 March is the deadline to
submit your… [Internet]. 2025 [cited 2025 Mar 26]. Available from:
https://www.linkedin.com/posts/wonca_deadline-approaching-friday-31-march-activity-
7310305045353234433-5wL_
148
A voz do Sul Global
The voice of the Global South
Regina Ungerer
Erica Kastrup
Livia Ferreira
Keyword.: South-South Cooperation. UNOSSC. G-77 and China. Non-Aligned Movement. South
Centre.
Resumen. UNOSSC discutió la próxima Conferencia sobre Países en Desarrollo Sin Litoral (LLDC3),
que enfrenta importantes desafíos debido a la falta de acceso directo al mar. Esta situación
obstaculiza el comercio internacional, la conectividad y el crecimiento económico. En otra sesión
se presentó el Sistema de Monitoreo de Recomendaciones em Derechos Humanos y Desarollo
Sostenible (SIMORE), una herramienta interinstitucional que organiza las recomendaciones de
derechos humanos dirigidas al Paraguay por organismos de la ONU y la OEA. Además, UNOSSC
destacó la primera reunión del Grupo Consultivo de la ONU sobre Cooperación Sur-Sur y
Triangular, así como la próxima 22ª sesión del Comité de Alto Nivel sobre Cooperación Sur-Sur,
prevista para el 27 y 30 de mayo de 2025. UNOSSC también promovió una reunión con
149
embajadores y relatores de Informes Nacionales Voluntarios para el próximo HLPF y publicó una
convocatoria para expresar interés por una Red Global de Pensasdores de Cooperación Sur-Sur.
Brasil fue destacado en la Cumbre de Nutrición para el Crecimiento, celebrada en París, donde el
Programa Nacional de Alimentación Escolar fue considerado una herramienta esencial para la
seguridad alimentaria mundial. Además, celebró 25 años de cooperación entre Brasil y Timor
Oriental, destacando la recuperación y promoción de la lengua portuguesa. El G-77 y China
participaron activamente en tres reuniones de la Asamblea General de las Naciones Unidas,
incluido la Cumbre Mundial sobre la Sociedad de la Información y la preparación del documento
final de la Cuarta Conferencia Internacional sobre Financiamiento para el Desarrollo (FpD4). En
la sesión del Movimiento de Países No Alineados destacó el MNOAL CSSTC, una organización
intergubernamental creada para mejorar la cooperación técnica entre países del Sur Global y
promover la capacitación en las áreas de agricultura, salud, educación y tecnologías de la
información y la comunicación (TIC). Además, el Movimiento de Jóvenes No Alineados celebró la
XIV Cumbre del MNA, celebrada en La Habana, Cuba, donde se decidió establecer el Centro de
Derechos Humanos y Diversidad Cultural del MNA. Finalmente, el Centro del Sur destacó
importantes iniciativas como el Foro de Partes Interesadas del Programa de Acceso a Tecnologías
Sanitarias (HTAP) de la OMS, los pasos necesarios para asegurar resultados en la 4ª Conferencia
de FfD4, el Pacto Digital Global y la OMC a sus 30 años. El Centro también publicó su Boletín de
febrero de 2025, manteniendo su compromiso de informar sobre las actuaciones más relevantes.
Palabras clave. Cooperación Sur-Sur. ONUSC. G-77 y China. Movimiento de Países No Alineados.
Centro Sur.
150
também publicou seu Boletim de fevereiro de 2025, mantendo o compromisso de informar
sobre as ações mais relevantes.
O Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul promove, coordena e apoia a
cooperação Sul-Sul e triangular globalmente e dentro do sistema das Nações Unidas, incluindo:
1) Política e Apoio Intergovernamental; 2) Desenvolvimento de capacidades; 3) Cocriação e
Gestão do Conhecimento; 4) Gestão do Fundo Fiduciário Sul-Sul. O UNOSSC atua como uma
plataforma de compartilhamento de recursos onde parceiros do Sul Global se conectam
buscando soluções e explorando oportunidades de financiamento. Também conecta governos,
especialistas e grupos de reflexão para garantir que as perspectivas do Sul sejam incluídas nos
diálogos políticos.
Destaques do UNOSSC
A LLDC3 será uma oportunidade importante para explorar parcerias que possam ajudar
a desbloquear o potencial desses países. E ao promover soluções inovadoras, formar parcerias
estratégicas e aumentar o investimento, é possível enfrentar esses desafios e maximizar suas
capacidades. E chega em um momento crítico para tomar ações transformadoras em questões
mais relevantes para LLDCs, tais como: transformação estrutural, Ciência, Tecnologia e Inovação
(CTI), ação climática, comércio, integração regional, transporte e conectividade.
O Programa de Ação para Países em Desenvolvimento Sem Litoral (LLDCs) para a Década
de 2024-2034, adotado pela Assembleia Geral da ONU em 24 de dezembro de 2024, visa abordar
os desafios únicos enfrentados por esses países por meio de uma cooperação internacional mais
forte, financiamento inovador, compartilhamento de tecnologia e integração regional mais
profunda. De acordo com as Nações Unidas, ele busca desbloquear o potencial total de
desenvolvimento dos LLDCs e garantir que eles não sejam deixados para trás na busca global por
crescimento inclusivo e sustentável.
151
O objetivo deste Programa de Ação é promover o crescimento econômico sustentável
dos Países em Desenvolvimento Sem litoral através de mercados internacionais, com a
possibilidade de desenvolver a infraestrutura de transporte e logística, assegurando que essa
infraestrutura seja confiável para facilitar o comércio. Além disso, o Programa de Ação busca-se
garantir que o progresso econômico beneficie todos os grupos sociais, contribuindo para a
redução da pobreza e da desigualdade.
Vale lembrar que a ampla gama de instrumentos aprovados para a promoção e proteção
dos direitos humanos no nível internacional gerou uma variedade de mecanismos que os
152
supervisionam. Isso é feito principalmente por meio da revisão de relatórios dos países,
resultando em recomendações que orientam a melhoria das normas de promoção e proteção,
conforme estabelecido pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos.
Além disso, em Viana, Angola, um projeto também apoiado pelo Fundo IBAS tem o
objetivo de melhorar os serviços de água, saneamento e higiene (WASH), estabelecendo novos
padrões de gestão para essas infraestruturas.
153
Em Chuuk, na Micronésia, estão sendo implantados sistemas de purificação de água
movidos a energia solar para combater a escassez de água em comunidades remotas.
Este projeto se concentrará na melhoria dos sistemas técnicos, com ênfase na otimização
dos serviços laboratoriais e nas plataformas de gestão de dados. Diagnósticos confiáveis e uma
vigilância eficaz são essenciais para alcançar os objetivos propostos.
Do Instagram do UNOSSC
26
CARICOM ou Comunidade do Caribe é uma organização intergovernamental e uma união política e
econômica de 15 estados-membros e cinco membros associados em todas as Américas.
154
27 de março de 2025 - Na primeira Reunião Interinstitucional de 2025 sobre Cooperação Sul-Sul,
a Diretora do UNOSSC, Dima Al-Khatib, atualizou os parceiros do
sistema ONU sobre os principais desenvolvimentos, eventos-chave
e prioridades estratégicas, incluindo a primeira reunião do Grupo
Consultivo e a próxima 22ª sessão do Comitê de Alto Nível sobre
Cooperação Sul-Sul que será realizado de 27 a 30 de maio de 2025.
155
26 de março de 2025 – Chamada para manifestação de Interesse para a Rede Global de
Pensadores Sul-Sul
Leia a estratégia.
156
21 de março de 2025 – Rede de Cooperação Sul-Sul da China
Esta edição foi prestigiada com a presença do Presidente da França, François Macron, o
Diretor Geral da OMS e muitas outras autoridades internacionais e na ocasião, mais de US$ 27
bilhões foram mobilizados para combater a insegurança alimentar.
A Delegação do Brasil foi liderada pela Primeira-Dama que destacou a urgência do tema
e reforçou o compromisso brasileiro no combate à fome e com a alimentação escolar como
ferramenta essencial para a segurança alimentar global.
157
Para saber mais, clique aqui.
Essa iniciativa integra o projeto Simetria Urbana, que visa fortalecer as capacidades de
governos locais e nacionais no desenvolvimento de ações alinhadas à Agenda 2030 e à Nova
Agenda Urbana. Desde 2022, a Cooperação Sul-Sul, promovida pelo ONU-Habitat e pela Agência
Brasileira de Cooperação (ABC), busca promover essas ações.
158
Dia 20 de março de 2025 - Programa de Cooperação
Internacional Brasil-FAO
Este projeto faz parte de uma estratégia mais ampla para enfrentar o crescente desafio
da insegurança alimentar nas áreas urbanas, com foco em comunidades vulneráveis afetadas
pela fome e má nutrição. O governo brasileiro, por meio do programa "Alimenta Cidades", visa
melhorar o acesso a alimentos básicos e saudáveis, desenvolvendo soluções sustentáveis para
fortalecer a segurança alimentar e promover o acesso a alimentos nutritivos.
O cientista Rattan Lal destacou que a África pode se inspirar no "milagre do Cerrado"
brasileiro, que posicionou a região como um dos principais produtores de alimentos do mundo.
Ele enfatizou a importância de investimentos públicos em agricultura e a necessidade de garantir
a acessibilidade a insumos para pequenos produtores africanos.
159
19 de março de 2025 - ABC na TV: algodão que transforma
vidas!
Noticia no X da ABC
Grupo do G-77
27
UNCTAD - Comércio de Desenvolvimento da ONU
160
(UNEP)28, Paris (UNESCO)29, Roma (FAO/IFAD)30, Viena (UNIDO)31 e Washington (G-24)32. Em
2025, o Iraque detém a presidência pró tempore do G-77.
Destaques do G-77
O Grupo destacou que a Revisão da WSIS+20 é crucial para avaliar o progresso, enfrentar
desafios e reafirmar o compromisso com o uso das TICs para o avanço das sociedades da
informação e do conhecimento. Essa revisão se alinha aos objetivos do Pacto Digital Global,
buscando criar uma visão compartilhada para a cooperação e governança digitais.
A revisão de duas décadas dos resultados da WSIS, a ser finalizada pela AGNU deste ano,
é oportuna para a formulação da agenda de desenvolvimento.
Com a aproximação dos últimos cinco anos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento é
crucial para renovar o compromisso global com o financiamento e acelerar ações para alcançar
os ODS.
O progresso dos ODS será avaliado pela habilidade em fechar a lacuna de financiamento
através de reformas na arquitetura financeira internacional. Vale lembrar que a reforma da
governança econômica global é essencial para o desenvolvimento, e os resultados da FfD4 e
devem reafirmar compromissos e traçar um caminho claro para o futuro.
28
UNEP - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
29
UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
30
FAO - Organização para a Alimentação e Agricultura e IFAD - Fundo Internacional para o
Desenvolvimento Agrícola
31
UNIDO - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
32
G-24 - Assuntos monetários internacionais e desenvolvimento
161
são cruciais para compromissos de desenvolvimento equitativos. E o documento não expressa
claramente a fome e a insegurança alimentar e isso deve ser retificado.
Mais uma vez o Grupo citou a importância de coibir fluxos financeiros ilícitos e melhorar
a transparência fiscal para proteger e maximizar as receitas nacionais. Eles enfatizam que
combater a evasão fiscal e a corrupção é crucial para mobilizar e reter recursos de forma eficaz
para o desenvolvimento nacional.
Além disso, defenderam a criação de estruturas robustas para envolver o setor privado
no financiamento para o desenvolvimento com parcerias público-privadas, instrumentos
financeiros combinados e incentivos direcionados para investimentos sustentáveis, garantindo
que o capital privado complemente os recursos públicos, preservando a propriedade e as
prioridades nacionais e abordando a sustentabilidade da dívida de longo prazo.
CONTEXTO
O Painel Científico Internacional Independente sobre IA, instituído pelo Pacto Digital
Global da AGNU em setembro de 2024, tem como objetivo oferecer conhecimento científico
confiável, credível e representativo sobre as oportunidades, riscos e capacidades da IA, apoiando
discussões e decisões baseadas na ciência, e não simplesmente em políticas.
162
Além disso, o Grupo insistiu que as modalidades de financiamento do Painel Científico
Internacional Independente sobre IA e do Diálogo Global devam ser comunicadas de forma
transparente a todos os Estados-Membros e que deverá haver uma revisão de Alto Nível do
Painel.
Em relação ao Diálogo Global, o G-77 e a China consideraram que este deve ser uma
plataforma inclusiva e participativa que promova a colaboração de todos sobre governança de
IA, capacitação e que estejam alinhados com os ODS. Ademais as conclusões do Painel devem
orientar as discussões dentro do Diálogo Global, resultando em recomendações de políticas,
estruturas de governança compartilhadas e mecanismos de cooperação internacional, ao
mesmo tempo em que abordam a necessidade de reduzir as diferenças digitais.
Para facilitar essas discussões, o Grupo defendeu uma abordagem de duas vias. A
primeira via, a Via Intergovernamental, concentrando-se em discussões lideradas pelo governo
sobre abordagens regulatórias e padrões de governança. É vital que essa via garanta que os
países em desenvolvimento possam se envolver de forma eficaz e significativa. A segunda via é
a Via Multissetorial, que envolve discussões técnicas e éticas que incluem a participação da
academia, da indústria e da sociedade civil.
O MNA é a maior coligação de países depois das Nações Unidas, criada em 1961, hoje,
o movimento é composto por 121 Estados Membros de todas as partes do mundo.
163
Destaque do MNA
Além disso, o NAM CSSTC serve como uma plataforma para a troca de conhecimento,
promovendo a solidariedade entre as nações em desenvolvimento por meio de diversos eventos
internacionais, incluindo seminários e workshops.
164
uma plataforma ampla, criando oportunidades para que os jovens possam se manifestar,
apresentar suas ideias e perspectivas em temas relacionados com a conjuntura política global
capacitando os mais jovens para se tornarem líderes do futuro.
Destaques do NAMYO
Tradições do Nowruz
165
18 de março de 2025 – 14ª Cúpula do MNA realizada em
Havana, Cuba
Para ler a declaração final da 14ª Cúpula do Movimento dos Não-alinhados, clique aqui.
Centro Sul
166
Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), programada para 26 a 29 de março de
2026 em Camarões.
Outros destaques
ARTIGO DE PESQUISA
167
Este artigo de pesquisa aborda o crescente problema do
acesso a medicamentos essenciais, com foco no papel dos
direitos de propriedade intelectual, particularmente
direitos de patente, na restrição do acesso ao permitir
monopólios do mercado farmacêutico que mantêm os
preços dos medicamentos altos.
Por meio dessa análise comparativa, o artigo argumenta pela implementação mais
ampla das exceções Bolar para melhorar o acesso a medicamentos acessíveis e reduzir os custos
de saúde.
RESUMO DE POLÍTICAS
27 de março de 2025 - O Pacto Digital Global garantirá um futuro equitativo para os países em
desenvolvimento? - Daniel Uribe
168
14 de março de 2025 - Aproveitando as Declarações de Resistência Antimicrobiana de 2024 para
Reduzir a Carga de Infecções Resistentes a Medicamentos-
Afreenish Amir e Viviana Munoz Tellez
169
VISÕES DO CENTRO SUL
21 de março de 2025 – OMC aos 30: Um acerto de contas ou apenas outra revisão?
Este artigo defende que o processo de reflexão da DG deve ser orientado pelos membros da
OMC, com princípios claros de governança e baseado em uma auditoria abrangente de
desenvolvimento. Essa auditoria deve avaliar como as regras da OMC impactaram os países em
desenvolvimento nas últimas três décadas. Argumentamos que uma reflexão significativa requer
mais do que uma mera introspecção processual; ela exige um diálogo sério sobre o futuro da
governança do comércio global e sua relevância para o desenvolvimento, garantindo que a
evolução da OMC atenda genuinamente às prioridades de seus membros majoritários.
170
Boletim de fevereiro de 2025
ARTIGO DE PESQUISA
RESUMOS DE POLÍTICA
RELATÓRIOS
OUTRAS PUBLICAÇÕES
Fevereiro de 2025
Contribuição do Centro Sul sobre a atualização da orientação técnica sobre a aplicação de uma
abordagem baseada nos direitos humanos para a eliminação da mortalidade e morbidade
materna evitáveis, de acordo com a resolução 54/16 do CDH
Economia baseada em combustíveis fósseis e direitos humanos. Insumos do South Centre para
informar o Relatório temático do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos
humanos no contexto das mudanças climáticas para a 59ª sessão do Conselho de Direitos
Humanos
171
Saúde e meio ambiente são discutidos no G20. Finanças, Bancos Centrais e os grupos
de engajamento do G7. Economia e Saúde no radar da quinzena da OCDE.
Health and environment discussed at G20. Finance, Central Banks and the G7
engagement groups. Economy and Health on the OECD's fortnight radar
Pedro Burger
Vitória Kavanami
João Miguel Estephanio
Thaiany Medeiros Cury
Nina Bouqvar
Paulo Esteves
Abstract:
G20: Following two G20 events overshadowed by the effects of the new US foreign policy
adopted by the Trump administration, the bloc's fortnight was marked by two main meetings:
the Health Working Group (HWG) meeting and the first gathering of the Environment and
Climate Sustainability Working Group (ECSWG).
G7: There have been no new meetings among G7 members in the past two weeks, but the
upcoming finance meeting in May holds potential for important discussions. Additionally, it's
worth highlighting the G7's engagement groups, particularly Think 7, which serves as a
barometer for the Leaders' Summit.
OCDE: The OECD's highlights include the release of global economic projections for 2025 and
2026 and the publication of a report on global debt and three other Health-related studies.
Resumo:
G20: Após dois eventos do G20 serem ofuscados pelos efeitos da nova política externa dos
Estados Unidos adotada no governo Trump, a quinzena do bloco foi marcada por dois encontros
principais: a reunião do Grupo de Trabalho de Saúde (HWG, na sigla em inglês) e o primeiro
encontro do Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática.
172
G20
Após dois eventos do G20 ofuscados pelos efeitos da nova política externa dos Estados
Unidos adotada no governo Trump, o bloco seguiu com a realização da agenda e a quinzena foi
marcada por dois encontros destacados nesta edição. O primeiro deles foi a segunda reunião do
Grupo de Trabalho de Saúde (HWG, na sigla em inglês) realizada nos dias 26 a 28 de março na
cidade costeira de Ballito33.
Com base nisso, um dos principais assuntos da reunião foi discutir a questão do
financiamento em saúde, tanto para alcançar uma cobertura universal, como para garantir a
manutenção do mesmo diante de um contexto econômico desafiador. Nessa toada, o ministro
sul africano da saúde, Dr. Aaron Motsoaledi, reiterou a importância dos países realocarem
recursos para a pasta, fortalecendo as parcerias globais de saúde e explorando mecanismos
inovadores de financiamento para resolver as lacunas encontradas35.
Com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indicam para um aumento
exponencial de gastos da população com saúde, especialmente após a pandemia de COVID-19,
Motsoaledi pediu aos membros do bloco que aumentassem o financiamento público dos
sistemas de saúde, garantindo que os recursos adequados sejam alocados para atender às
necessidades das populações: "Imploramos a todos os membros do G20 que defendam o
aumento do financiamento público dos sistemas de saúde (...) Não se trata apenas de uma
questão orçamentária, é um investimento fundamental em nosso futuro coletivo”, disse. O
ministro também usou o espaço para destacar como exemplo de boas práticas o sistema do
Seguro Nacional de Saúde (NHI, na sigla em inglês) implementado na África do Sul, que oferece
proteção financeira e utilização eficiente de recursos. Como explica, o NHI foi projetado para
oferecer proteção financeira a todos, garantindo que o acesso a um sistema de saúde de
qualidade não dependa da capacidade de cada um pagar por ele.
Outro tema discutido ao longo dos dias e que foi elevado como destaque nessa gestão
é a questão das doenças não transmissíveis, também conhecidas como doenças crônicas. Sobre
esse assunto destacou-se a importância de abordar as desigualdades na saúde, principalmente
33
SA hosts second G20 Health Working Group meeting in KZN. SA News. 17 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/sa-hosts-second-g20-health-working-group-meeting-kzn.
Acesso em: 30 mar. 2025.
34
Health. G20. Disponível em: https://g20.org/track/health/. Acesso em: 30 mar. 2025.
35
Motsoaledi urges global action to address health funding gaps. SA News. 26 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/motsoaledi-urges-global-action-address-health-funding-gaps.
Acesso em: 30 mar. 2025.
173
em países de baixa e média renda – segundo a OMS em 2021, essas doenças mataram pelo
menos 43 milhões de pessoas, sendo que desse total três quartos ocorreram nessas
localidades36. Nesse sentido, a próxima reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre o assunto
é vista como uma oportunidade crucial para galvanizar a ação global contra essas enfermidades,
que englobam doenças cardíacas, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas.
Como resposta, em 2020, a OMS lançou a estratégia global para a eliminação do câncer
do colo do útero, considerado o primeiro roteiro para a eliminação de um câncer. Desde então,
os países fizeram grandes avanços na implementação de novas ferramentas e serviços. A
vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) é um desses exemplos e oferece proteção
contra a infecção que causa quase todos os casos de câncer do colo do útero.
No entanto, muito ainda deve ser feito: "Novas vacinas, testes e tecnologias de
tratamento transformaram a prevenção do câncer do colo do útero nos últimos anos, mas a
doença continua a afetar desproporcionalmente as mulheres, principalmente em países de
baixa e média renda, onde o acesso à atenção primária à saúde e aos serviços preventivos é
limitado”, disse o representante do departamento de saúde do país. Sendo assim, um dos
principais resultados do encontro no G20 foi a solicitação de uma abordagem coordenada com
base na mobilização de recursos domésticos, financiamento misto e parcerias com bancos
multilaterais de desenvolvimento para ampliar essas soluções, garantir a sustentabilidade de
longo prazo e reduzir a dependência da ajuda externa.
36
Noncommunicable diseases. WHO. 23 dez. 2024. Disponível em: https://www.who.int/news-
room/fact-sheets/detail/noncommunicable-diseases. Acesso em: 30 mar. 2025.
37
Call to scale up cervical cancer interventions. SA News. 28 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/call-scale-cervical-cancer-interventions. Acesso em: 30 mar.
2025.
38
Minister leads G20 environment working group. SA News. 24 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/minister-leads-g20-environment-working-group. Acesso em:
30 mar. 2025.
174
● Produtos Químicos e Gestão de Resíduos – Gestão Sustentável de Produtos Químicos,
Economia Circular, Gestão de Resíduos, Resíduos para Energia; Implementação da
Responsabilidade Estendida do Produtor;
A expectativa era de que após a realização dessa primeira reunião, o ECSWG possa
fornecer uma direção estratégica ao bloco com base nas contribuições e opiniões dos membros.
Segundo o ministro, o saldo foi positivo: “(...) Tenho certeza de que a reunião proporcionou uma
contribuição significativa sobre o assunto, reflexões sobre as prioridades, bem como os
resultados esperados”. Os próximos passos são agora reunir os comentários e propostas
recebidos e incluir no relatório para a próxima reunião, agendada para acontecer em julho de
forma presencial39.
Por fim, ponto importante que deve ser mencionado, não apenas em relação às duas
reuniões discutidas aqui, é a falta de informações disponibilizadas sobre o andamento das
atividades do G20 nesta gestão. O site oficial conta com poucas entradas sobre os encontros, a
maioria deles, como os dois abordados aqui, não figura nos destaques, e notícias adicionais são
veiculadas pela agência de notícias do governo. A mídia internacional também não tem
produzido tantas informações sobre as reuniões, cobrindo apenas aquelas de maior interesse.
Como especulamos na primeira edição dos Informes, talvez seja uma escolha editorial
de controlar a informação, a fim de evitar maiores tensões no grupo e uma descredibilização
internacional da gestão perante resultados negativos que possam ocorrer em decorrência da
complicada conjuntura internacional – como já se tem provado em alguns dos encontros. No
entanto, para nós pesquisadores e observadores desses grandes grupos, a falta de informação
é bastante prejudicial para compor análises mais detalhadas e para acompanhar esses
movimentos políticos dentro de um contexto global. Para o multilateralismo, que já se encontra
demasiadamente contestado, a falta de informação de igual modo pode ser prejudicial ao evitar
uma promoção das ações positivas do bloco. Quando um país assume a presidência temporária
do G20 é comum que utilize desse espaço como vitrine para promover o seu país perante o
mundo. No caso da África do Sul essa visibilidade possui um peso ainda maior, ao ter a
possibilidade de promover o continente africano, no contexto global.
39
G20 Environment and Climate Sustainability Working Group first meeting concluded. SA News. 30 mar.
2025. Disponível em: https://www.sanews.gov.za/south-africa/g20-environment-and-climate-
sustainability-working-group-first-meeting-concluded. Acesso em: 30 mar. 2025.
175
G7
Desde o último encontro dos ministros das Relações Exteriores do G7 entre os dias 12 e
14 de março, comentado em nosso último informe, não houve novos eventos. O próximo
encontro previsto na agenda do G7 é entre os dias 20 e 22 de maio, em Alberta, entre os
ministros das Finanças e governadores dos Bancos Centrais. Para a ocasião, a agenda prevê a
discussão de questões que afetam a estabilidade e o crescimento econômico global antes da
Cúpula de Líderes do G7 em junho40. Assuntos como cadeia de suprimento de minerais críticos
e economia resiliente e segura podem ter espaço. Ainda, a presidência canadense conta com
um oficial sênior para resiliência econômica e segurança justamente com a ideia de trazer
coerência e facilitar um consenso entre os membros41. Desenvolvimento e formas de
financiamento também podem aparecer na reunião com o intuito de mobilização do capital com
foco em infraestrutura e desenvolvimento. Especialmente após as recentes medidas
estadunidenses de desmantelar cerca de 83% da Agência dos EUA para o Desenvolvimento
Internacional (USAID)42, a captação de capital privado, bancos de desenvolvimento multilaterais
e regionais será um tema de importância a ser discutido.
Este informe dará destaque aos grupos de engajamento do G7, tendo em vista seu
potencial de influência nas discussões e de ser um termômetro para o que será discutido em
Alberta, em junho. O G7 possui sete grupos de engajamento, sendo eles: Business 7, voltado
para o diálogo com a comunidade empresarial internacional com o objetivo de elaborar
recomendações sobre negócios, comércio internacional e investimentos; Civil Society 7, que
elabora recomendações em questões como crise climática, assistência humanitária e
desenvolvimento sustentável, com a interface da sociedade civil; Labour 7, que reúne chefes de
delegações trabalhistas dos membros do G7 e outros países convidados para trazer
preocupações e perspectivas dos trabalhadores e sindicatos para as discussões sobre políticas
econômicas e sociais globais no G7; Science 7, que congrega membros acadêmicos do G7 com
o objetivo de oferecer recomendações especializadas e orientadas pela ciência para
enfrentamento dos principais desafios globais; Think 7, um grupo de think tanks de membros
do G7 e países convidados com especialistas de diferentes áreas, que produzem relatórios,
documentos de posicionamento e recomendações políticas como orientação e proposta de
soluções ao G7; Women 7, um grupo de engajamento de organizações feministas e de defesa
da sociedade civil com o objetivo de garantir que os líderes do G7 adotem compromissos
políticos e financeiros concretos, com impacto duradouro e transformador na vida de meninas
e mulheres ao redor do globo; Por fim, o Youth 7, um grupo que reúne jovens de todos os países
do G7 para influenciar e tentar garantir que as decisões políticas do G7 reflitam as necessidades,
valores e prioridades dos jovens ao redor do mundo43.
40
G7 Finance Ministers and Central Bank Governors’ Meeting. G7. CANADÁ. 2025. Disponível em:
<https://g7.canada.ca/en/canadian-presidency/events-calendar/g7-finance-ministers-and-central-bank-
governors-meeting/>. Acesso em: 29/03/2025.
41
KIRTON, J. Potentially Productive Prospects for the Kananaskis Summit. G7 Research Group. 2025.
Disponível em: <https://www.g7.utoronto.ca/evaluations/2025kananaskis/kirton-prospects-
250307.html>. Acesso em: 30/03/2025.
42
Marco Rubio diz que os EUA cancelaram 83% dos programas da USaid. PODER 360. Disponível em:
<https://www.poder360.com.br/poder-internacional/marco-rubio-diz-que-os-eua-cancelaram-83-dos-
programas-da-usaid/>. Acesso em: 30/03/2025.
43
Engagement groups. G7. CANADÁ. 2025. Disponível em: <https://g7.canada.ca/en/g7-
information/engagement-groups/>. Acesso em: 29/03/2025.
176
Cada grupo de engajamento possui sua página oficial, seja nas redes sociais, ou mesmo
sites como por exemplo o Think 7 (T7)44. Especificamente se tratando do T7, se trata de um
grupo independente dos governos e bastante ativo e organizado durante a presidência do G7.
Neste ano, o grupo tratará de discutir quatro temas prioritários denominados “força-tarefa”: 1)
Tecnologias transformadoras - IA e quântica; 2) Digitalização da economia global; 3) Meio
ambiente, energia e desenvolvimento sustentável; 4) Paz global e segurança. O objetivo de uma
força-tarefa do Think 7 é identificar os desafios e as oportunidades em que as lideranças do G7
podem causar um impacto significativo. A partir disso, o grupo foca em desenvolver
recomendações políticas e consultorias que abordam os desafios identificados para contribuir
para a governança e cooperação nos temas. Sobretudo, a ideia é facilitar o diálogo entre os
especialistas internacionais e os líderes e, antes da Cúpula do G7, apresentar um Comunicado
Final do T7 com conclusões e recomendações de cada força-tarefa mencionada acima. O
próximo encontro do grupo se dará nos dias 1 e 2 de abril e reunirá diversos think thanks tanto
do G7 como também do G20, que estarão presentes através do grupo de engajamento Think 20.
Acompanharemos os resultados desse encontro no próximo informe.
OCDE
44
Think 7. T7. 2025. Disponível em: <https://www.think7.org/>. Acesso em: 29/03/2025.
45
OCDE. OECD Economic Outlook, Interim Report March 2025: Steering through Uncertainty. Paris: OECD
Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28]. Available from: https://doi.org/10.1787/89af4857-en.
46
Para mais informações sobre a versão mais atual do OECD Economic Outlook (a segunda edição de
2024), consulte o informe de número 1 de 2025 do presente projeto de Cadernos Cadernos CRIS/Fiocruz:
Informe sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde.
47
OCDE. Global economic outlook uncertain as growth slows, inflationary pressures persist and trade
policies cloud outlook.OECD [Internet]. 2025 Mar 17 [cited 2025 Mar 28]. Available from:
https://www.oecd.org/en/about/news/press-releases/2025/03/global-economic-outlook-uncertain-as-
growth-slows-inflationary-pressures-persist-and-trade-policies-cloud-outlook.html.
177
do Euro, a projeção de crescimento é de 1,0% em 2025 e 1,2% em 2026, enquanto no caso do
crescimento chinês projeta-se 4,8% para este ano e 4,4% para o ano seguinte.
O relatório intermediário chama ainda a atenção para uma série de riscos para a
economia, a começar pela preocupação de que uma maior fragmentação do comércio possa
prejudicar as perspectivas de crescimento global. Também alerta para o risco de volatilidade
macroeconômica, refletindo sobre caso ocorra uma desaceleração inesperada, uma mudança
na política econômica ou um desvio na trajetória de desinflação projetada, poderão ocorrer
correções no mercado, saídas significativas de capital e flutuações nas taxas de câmbio,
especialmente nos mercados emergentes. Não obstante, adverte também que os já altos níveis
de dívida pública e as elevadas avaliações de ativos agravam consideravelmente tais
fragilidades.
178
esforços para que as políticas monetárias e os Bancos Centrais permaneçam vigilantes ao
aumento da incerteza e à possibilidade de que os custos comerciais mais altos aumentem as
pressões sobre os preços e os salários, somados às necessárias ações fiscais decisivas para
garantir a sustentabilidade da dívida pública e a capacidade de governos de reagirem a choques
futuros e gerar recursos para atender às grandes pressões de gastos iminentes e também
reformas políticas estruturais para melhorar as bases dos crescimentos nacionais.
Na esteira de tal discussão, outra pauta de destaque da OCDE também no período foi a
divulgação da edição de 2025 da publicação anual derivada de sua iniciativa de estudo e
mapeamento sobre a dívida internacional, onde examina os mercados de títulos soberanos,
corporativos e sustentáveis, além de fornecer percepções sobre as atuais condições de mercado
e considerações de políticas associadas, incluindo possíveis riscos à estabilidade financeira.
Desse jeito, o intitulado “Global Debt Report 2025: Financing Growth in a Challenging
Debt Market Environment”48 sinaliza que governos e empresas captaram US$ 25 trilhões de
empréstimos nos mercados em 2024, o que representa US$ 10 trilhões a mais em comparação
com o período pré-pandemia e quase três vezes o valor captado em 2007, com a projeção de
que os níveis de endividamento de governos e empresas devem aumentar ainda mais em 2025,
com o índice agregado da dívida comercializável do governo central em relação ao PIB nos países
da OCDE atingindo 85%, ou seja, mais de 10 pontos percentuais a mais do que em 2019 e quase
o dobro do nível de 200749.
48
OCDE. Global Debt Report 2025: Financing Growth in a Challenging Debt Market Environment. Paris:
OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28]. Available from: https://doi.org/10.1787/8ee42b13-en.
49
OCDE. Higher and more expensive sovereign and corporate debt risks restricting capacity to finance
future investment needs. OECD [Internet]. 2025 Mar 20 [cited 2025 Mar 28]. Available from:
https://www.oecd.org/en/about/news/press-releases/2025/03/higher-and-more-expensive-sovereign-
and-corporate-debt-risks-restricting-capacity-to-finance-future-investment-needs.html.
179
A primeira delas é o estudo “Smart spending to combat global health threats: Tracking
expenditure on prevention, preparedness, and response, and other global public goods for
health”50. Explorando a discussão acerca dos gastos com bens públicos globais relacionados à
saúde – especialmente a prevenção, preparação e resposta e as pesquisas e desenvolvimentos
para doenças negligenciadas e infecciosas –, o relatório reúne variadas fontes de dados para
investigar a situação atual de tal modalidade de gastos e suas repercussões para futuras
ameaças globais à saúde.
O segundo destaque é o artigo “How Do Health System Features Influence Health System
Performance?”51, que busca analisar o desempenho de diferentes grupos de países que
compartilham características semelhantes de sistemas de saúde em relação a outros,
examinando especificamente três áreas-chave de políticas: a influência do projeto geral dos
sistemas de saúde sobre o desempenho, a função dos incentivos financeiros aos provedores e a
função de um sistema de atenção primária forte. O estudo aponta que não há nenhuma
indicação de que um grupo de sistemas de saúde teria um desempenho sistematicamente
superior a outro e também oferece evidências de que há espaço para que os sistemas de saúde
que compartilham as mesmas características gerais melhorem seus desempenhos se utilizando
de elementos e inspirações de outros de sistemas, concentrando-se em mudanças de política
mais específicas e não em reformas em larga escala.
Por fim, o artigo “The economics of diagnostic safety”52 fornece uma análise sobre os
erros de diagnóstico e sua relação com os custos econômicos estimados diretamente afetados
pelo erro de diagnóstico, se propondo a apresentar sugestões de políticas que poderiam auxiliar
na segurança e eficiência de diagnósticos e, assim, reduzir os impactos negativos e os ônus
derivados dos equívocos.
50
Penn C, Morgan D, Ahmad Y, Elgar K, James C. Smart spending to combat global health threats: Tracking
expenditure on prevention, preparedness, and response, and other global public goods for health. OECD
Health Working Papers [Internet]. Paris: OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28];175. Available from:
https://doi.org/10.1787/166d7c57-en.
51
OCDE, The Health Foundation. How Do Health System Features Influence Health System Performance?
Paris: OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28]. Available from: https://doi.org/10.1787/7b877762-en.
52
Slawomirski L, Kelly D, Bienassis K, Kallas K, Klazinga N. The economics of diagnostic safety. OECD Health
Working Papers [Internet]. Paris: OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28];176. Available from:
https://doi.org/10.1787/fc61057a-en.
180
Brasil cobra ações para o equilíbrio entre segurança energética e desenvolvimento
sustentável dos países do BRICS
Brazil calls for action to balance energy security and sustainable development in
BRICS countries
Claudia Hoirisch
Abstract. The Brazilian Minister of Mines and Energy opened the 2nd BRICS Meeting on March
20th and highlighted the importance of seeking a balance between energy security, sustainable
development and the transition to a low carbon. There are still millions of people in BRICS
countries without adequate access to electricity and modern energy services. The Brazilian
Minister pointed out that energy poverty must be combated by expanding access to energy
services, such as developing initiatives in rural electrification, clean cooking and energy
efficiency, so that the energy transition is inclusive and socially fair. BRICS has everything it needs
to lead the development of sustainable fuels, implement different solutions and scale up different
technological routes, accelerating the decarbonization of strategic sectors, such as
transportation and industry. Among the objectives of the Brazilian presidency is the adoption of
a leadership agenda on climate, including a declaration on climate finance. The New
Development Bank (NDB) can help countries in the energy transition and in tackling climate
change. On Brazilian side, the bank has already financed significant projects such as
strengthening of the clean energy matrix through investments in solar and wind farms. These
initiatives increase national energy security and position Brazil as a potential leader in the
transition to a low-carbon economy. The former president Dilma Rousseff was reappointed to
the NDB for a five-year term, with Putin's consent. The president of the NDB confirmed the
progress of Brazil's projects with the Chinese government and highlighted the Transoceanic
Railway, a plan that would serve to transport Brazilian agricultural production across the Pacific,
cutting costs for exporting Brazilian products to important Asian markets, especially China. In
the area of health, Minister Alexandre Padilha is articulating a cooperation project between the
government and the NDB to create a digital and intelligent hospital in São Paulo. The proposal
for a digital and smart hospital aims to modernize healthcare services, using new technologies
to improve diagnosis, hospital management and efficiency in patient care. The partnership with
the NDB can guarantee the necessary funding to make this idea a reality in São Paulo. Finally,
BioManguinhos held the 1st meeting of the BRICS Vaccine R&D Center, under the Brazilian
presidency, this year. During the meeting, experiences were shared to foster actions among
member-countries to explore the group's potential to promote fair and equitable access to
vaccines at a global level. Through joint R&D efforts, the BRICS Vaccine R&D Center aims to
increase the capacity to contain infectious diseases and respond to public health emergencies,
also contributing to the achievement of SDG3 of the 2030 Agenda. Still about vaccines, Sinovac,
the Chinese company responsible for supplying the Coronavac vaccine against Covid-19 to Brazil
during the pandemic, wants to strengthen its presence in Brazil and invest in local vaccine
production in our country. The company's vice president for Latin America, Weining Meng,
highlighted the company's interest in reducing technology transfer time to speed up the process
of producing vaccines locally.
181
Keywords. BRICS. Energy. Energy security. Sustainable development. Energy transition to a low-
carbon future. Sustainable fuels. Decarbonization. Climate agenda. Climate finance. BRICS Bank.
NDB. Confronting climate change. Clean energy matrix. Low-carbon economy. Digital and smart
hospital. Modernization of healthcare. Innovative technologies to improve diagnostics. Hospital
management. Efficient patient care. 1st meeting of the BRICS Vaccine R&D Center.
BioManguinhos. Access to vaccines. Infectious diseases. Response to public health emergencies.
SDG3. 2030 Agenda. Sinovac.
Resumo: O Ministro de Minas e Energia do Brasil abriu a 2ª Reunião do BRICS no dia 20/3 e
ressaltou a importância de buscarmos um equilíbrio entre segurança energética,
desenvolvimento sustentável e transição para um futuro de baixo carbono. Milhões de pessoas
nos BRICS persistem sem acesso adequado à eletricidade e a serviços energéticos modernos. O
ministro apontou que a pobreza energética deve ser combatida a partir da ampliação do acesso
à serviços de energia como o desenvolvimento de iniciativas em eletrificação rural, cozimento
limpo e eficiência energética para que a transição energética seja inclusiva e socialmente justa.
O BRICS tem tudo para liderar o desenvolvimento dos combustíveis sustentáveis, se
implementar diferentes soluções e dar escala às diferentes rotas tecnológicas, e dessa forma,
acelerará a descarbonização de setores estratégicos, como transporte e indústria. Entre as
missões da presidência brasileira, está a adoção de uma agenda de liderança sobre o clima,
incluindo uma declaração sobre o financiamento climático. O NBD pode ajudar os países na
transição energética e no enfrentamento à mudança do clima. Em solo brasileiro, o banco já
financiou projetos significativos como o fortalecimento da matriz energética limpa, por meio de
investimentos em usinas solares e eólicas. Essas iniciativas ampliam a segurança energética
nacional e posicionam o Brasil como um líder potencial na transição para uma economia de
baixo carbono. Em relação à área financeira, a ex-presidente Dilma foi reconduzida ao NBD por
um prazo de cinco anos, após consentimento de Putin. A presidente do NBD confirmou o avanço
de projetos do Brasil com o governo chinês e destacou a ferrovia transoceânica, um plano que
servirá para escoar a produção agrícola brasileira pelo Pacífico cortando custos para a
exportação de produtos brasileiros a importantes mercados da Ásia, principalmente o chinês.
Na área da saúde, o Ministro Alexandre Padilha está articulando um projeto de cooperação
entre o governo e o NDB para a criação de um hospital digital e inteligente em São Paulo. A
proposta visa modernizar o atendimento à saúde, utilizando novas tecnologias para aprimorar
o diagnóstico, a gestão hospitalar e a eficiência no atendimento aos pacientes. A parceria com
o Banco pode garantir o financiamento necessário para tornar essa ideia uma realidade em São
Paulo. Ainda nessa quinzena, BioManguinhos realizou a 1ª reunião do Centro de P&D de Vacinas
do BRICS deste ano. Durante o encontro, os representantes dos países compartilharam
experiências para fomentar ações entre os países-membros a fim de explorar o potencial do
grupo para promover o acesso justo e equitativo às vacinas em nível global. Por meio de esforços
conjuntos de P&D, o Centro de P&D de Vacinas dos BRICS visa aumentar a capacidade de conter
doenças infecciosas e responder a emergências de saúde pública, contribuindo também para o
alcance do ODS3 da Agenda 2030. Ainda na área de vacinas, a Sinovac, empresa chinesa
responsável por fornecer a vacina Coronavac contra a Covid-19 para o Brasil durante a
pandemia, quer fortalecer sua presença no Brasil e investir na produção local de vacinas. O vice-
presidente da companhia para a América Latina, Weining Meng, destacou o interesse da
empresa em diminuir o tempo de transferência de tecnologia para acelerar o processo de
produzir vacinas no nosso país.
182
Agenda sobre o clima. Financiamento climático. Banco dos BRICS. NBD. Enfrentamento da
mudança do clima. Matriz energética limpa. Economia de baixo carbono. Hospital digital e
inteligente. Modernização do atendimento à saúde. Novas tecnologias para aprimorar o
diagnóstico. Gestão hospitalar. Eficiência no atendimento aos pacientes. 1ª reunião do Centro
de P&D de Vacinas do BRICS. BioManguinhos. Acesso a vacinas. Doenças infecciosas. Resposta
a emergências de saúde pública. ODS3. Agenda 2030. Sinovac.
Para ele, a ampliação do bloco evidencia nossa relevância e nos convoca a fortalecer o
Sul Global. Exige aprimorar a governança da cooperação em energia, para que seja mais inclusiva
e sustentável. Precisamos coordenar nossas ações e garantir que a integração dos novos
membros fortaleça nossas capacidades e amplie nossas oportunidades.
Ainda há milhões de pessoas nos países do BRICS sem acesso adequado à eletricidade e
a serviços energéticos modernos.
183
Para combater à pobreza energética, o ministro ressaltou a importância do
desenvolvimento de iniciativas em eletrificação rural, cozimento limpo e eficiência energética
para que a transição energética seja também inclusiva e socialmente justa. No entender dele,
uma política energética verdadeiramente sustentável é aquela que coloca as pessoas em
primeiro lugar53.
O BRICS tem tudo para liderar o desenvolvimento dos combustíveis sustentáveis. Tem
potencial para implementar diferentes soluções e dar escala às diferentes rotas tecnológicas, e
dessa forma acelerar a descarbonização de setores estratégicos, como transporte e indústria.
Dilma é reeleita para NBD por um prazo de cinco anos, após consentimento de Putin
Padilha pretende buscar apoio do NDB presidido pela ex-presidente Dilma para viabilizar um
hospital digital em São Paulo
53
https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/silveira-cobra-acoes-para-o-equilibrio-entre-
seguranca-energetica-e-desenvolvimento-sustentavel-dos-paises-do-brics
54
Reeleita no Banco do Brics, Dilma confirma ferrovia transoceânica
55
https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/padilha-busca-apoio-do-banco-do-brics-para-hospital-
digital-em-sao-paulo
56
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2025/03/padilha-discute-parceria-com-banco-do-
brics-para-criar-hospital-em-sp.shtml
184
Criado como alternativa ao sistema financeiro tradicional, o NDB já financiou bilhões em
projetos sustentáveis e fortalece economias emergentes
A instituição financeira foi fundada oficialmente em 2014 durante a 6ª Cúpula dos BRICS,
em Fortaleza, Brasil, e surgiu como uma iniciativa de vanguarda para impulsionar o crescimento
econômico e o desenvolvimento sustentável entre os países do Sul Global.
Somente para o Brasil foram cerca de USD5,2 bilhões para 31 projetos. Essas ações
atendem demandas locais e contribuem para metas globais, como a transição energética e o
enfrentamento à mudança do clima. Ainda em solo brasileiro, o banco já financiou projetos
significativos como o fortalecimento da matriz energética limpa, por meio de investimentos em
usinas solares e eólicas. Essas iniciativas ampliam a segurança energética nacional e posicionam
o Brasil como um líder potencial na transição para uma economia de baixo carbono57.
O BRICS tem demonstrado sua relevância por meio de iniciativas significativas, incluindo
a recente ampliação de membros plenos e associados, bem como o crescente interesse de
outros países em integrar o grupo. Desde sua origem, o BRICS se posiciona como um agente
reformador da governança global. Seu objetivo central é a reforma das organizações
internacionais, buscando ampliar a participação dos países emergentes nos processos de
tomada de decisão.
O NBD é apontado como a principal iniciativa do BRICS. Criado para suprir a necessidade
de financiamento de longo prazo em infraestrutura e desenvolvimento sustentável, o NDB se
diferencia por não impor as condicionalidades típicas de instituições como o FMI e o Banco
Mundial. O Banco dos BRICS se destaca pela agilidade na concessão de empréstimos e pelo foco
em projetos que promovem o desenvolvimento verde e a inclusão social.
57
https://www.brasil247.com/economia/banco-do-brics-como-o-novo-banco-de-
desenvolvimento-impulsiona-economias-emergentes
185
Projetos relacionados à transição energética, como investimentos em energia
renovável, têm potencial para atrair mais de USD2 trilhões em aportes até 2030.
A Sinovac, empresa chinesa responsável por fornecer a vacina Coronavac contra a Covid-
19 para o Brasil durante a pandemia, deseja fortalecer sua presença no Brasil e investir na
produção local de vacinas em nosso país.
A Sinovac já havia anunciado em junho de 2024 a intenção de investir US$ 100 milhões
em desenvolvimento de terapia celular, produção de vacinas e anticorpos monoclonais no
Brasil59. A Sinovac e a Fiocruz também anunciaram a intenção de cooperar na P&D de vacinas
para o combate a crises sanitárias. A empresa já possui um acordo em andamento com o
Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), mas também busca colaborar e estabelecer outras
parcerias com instituições públicas e privadas e com a Anvisa, e dessa forma, ajudar a fazer uma
preparação para a próxima pandemia.
58
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/vp-da-sinovac-trabalhamos-para-encurtar-periodo-de-
producao-de-vacinas/
59
https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2024/junho/sinovac-anuncia-investimento-de-us-
100-milhoes-para-producao-de-imunobiologicos-e-terapias-avancadas-no-brasil
186
Entre o “porrete” econômico e o possível enfraquecimento da cooperação em saúde:
o complexo desafio da concertação latino-americana
Entre el “garrote” económico y el posible debilitamiento de la cooperación en salud:
el complejo reto de la concertación latinoamericana
Sebastián Tobar
Samia de Brito Franco
Miryam Minayo
Resumo: No relatório desta quinzena, destacamos a política comercial dos Estados Unidos que
tem gerado repercussões na América Latina. Medidas protecionistas pretendem beneficiar a
indústria doméstica, mas afetam consumidores norte-americanos e trabalhadores latino-
americanos. Outro tema de destaque é a recente decisão do governo venezuelano de realizar
eleições para deputados e um governador no território do Essequibo. A medida faz parte da
estratégia do governo Maduro para reafirmar sua reivindicação sobre a região, ignorando
possíveis sanções ou decisões da justiça internacional. No campo da saúde, há crescente
preocupação com o avanço dos movimentos antivacina na América Latina. Esse cenário fragiliza
a cooperação sanitária regional e global, em um momento em que surtos de doenças como
sarampo e febre amarela voltam a ameaçar a população. Nas organizações regionais, trazemos
atualizações da CEPAL, que inicia a Oitava Reunião do Fórum dos Países da América Latina e do
Caribe sobre Desenvolvimento Sustentável; da ORAS-CONHU, COMISCA e SELA. Por fim, discute-
se a proposta de criação de CDC-LATAM. Embora a ideia pareça atrativa à primeira vista, ela
representaria uma sobreposição desnecessária às funções já desempenhadas pela OPAS e
poderia fragilizá-la como consequência.
Palavras-chave: Guerra comercial, América Latina e Caribe, Essequibo, OPAS
187
Panorama político internacional latino-americano
No vizinho México, a tarifa anunciada de 25% sobre o setor automotivo terá um impacto
significativo. O setor automotivo mexicano gera 3,6% do PIB e é um importante impulsionador
da economia do país. As empresas montadoras investiram ali devido à sua localização geográfica
privilegiada, mão de obra acessível e qualificada, baixos custos operacionais e ao Acordo de Livre
Comércio da América do Norte.
Trump anunciou que tarifas de 25% sobre a indústria automobilística gerariam US$ 1
bilhão em receita anualmente. O paradoxo é que os carros ficariam mais caros, haveria menos
vendas, o desemprego e as oportunidades de negócios entre México e China e outros países ao
redor do mundo aumentariam61. Isso marcaria o fim de um negócio bem-sucedido de obtenção
de aço e alumínio relativamente baratos do Canadá, utilizando a mão de obra relativamente
barata do México e aproveitando a tecnologia de ponta dos EUA62. À medida que os veículos
mexicanos se tornem mais caros devido às altas tarifas, a demanda por eles certamente
diminuirá, reduzindo os volumes de produção e afetando toda a cadeia de produção.
60
Donald Trump foi batizado como Dia da Libertação (Liberation Day ) no dia 2 de abril, e foi anunciada
uma ampliação da série de medidas comerciais
61
Estima-se que a medida reduza as vendas de veículos em pelo menos 10,6% nos EUA e um pouco mais
no Canadá.
62
https://business.columbia.edu/faculty/press/us-auto-industry-could-be-collateral-damage-trumps-
trade-wars
63
https://www.youtube.com/watch?v=Grh8zedk8yw
64
Outro caso é o da exportação das Rosas da Colômbia para os Estados Unidos representa 80% do
mercado do país da América do Sul e calcula-se que com os 25% não poderia ser competitivo, gerando
um forte impacto na economia colombiana. https://www.dw.com/es/c%C3%B3mo-afectar%C3%ADan-
los-aranceles-estadounidenses-a-latinoam%C3%A9rica/a-71462283
188
que as tarifas de 25% sobre o aço e alumínio já entraram em vigor em fevereiro e afetou a
Argentina do mesmo modo que aos demais países. 65
EE.UU. China
Fonte: CERA à base de ECONOVIS e B-20 (Trade & Investiment Policy, 2024)
Como se observa na figura 1, nas últimas duas décadas, a China vem ganhando espaço
comercial nas suas relações com a América Latina. Nos últimos anos, o gigante asiático superou
os Estados Unidos como o principal parceiro comercial região, refletindo uma transformação
significativa na dinâmica econômica latino-americana.
Até o início dos anos 2000, os EUA mantinham uma posição dominante no comércio
latino-americano, impulsionados por laços históricos, acordos preferenciais e influência
geopolítica. No entanto, com a crescente demanda chinesa por commodities como soja, cobre,
petróleo e lítio, países como Brasil, Chile, Peru e Argentina fortaleceram suas relações
comerciais com o gigante asiático. Além disso, investimentos chineses em infraestrutura,
65
https://www.infobae.com/economia/2025/03/30/se-viene-el-dia-d-de-medidas-arancelarias-de-
eeuu-que-puede-esperar-y-que-le-conviene-a-la-argentina/
189
energia e tecnologia consolidaram essa presença econômica, enquanto iniciativas como a Nova
Rota da Seda ampliaram os laços estratégicos com diversos governos latino-americanos.
Além disso, a crescente presença chinesa na região tem levado os Estados Unidos a
buscarem estratégias para recuperar influência, como reforço de acordos comerciais e
iniciativas voltadas à segurança regional. No entanto, a política externa do atual governo Trump,
paradoxalmente, parece andar na contramão dessa retomada: vem impelindo uma ainda maior
aproximação da região com a China e uma busca por diversificação de seus parceiros comerciais.
Embora a Argentina não seja individualmente afetada pelas tarifas de Trump, Milei quer
que a Argentina seja o primeiro país do mundo a aderir ao acordo de reciprocidade com os
Estados Unidos, e, nesse sentido, o MERCOSUL é um obstáculo.
Os Estados Unidos imporão uma tarifa secundária à Venezuela por uma série de razões,
incluindo o fato de que, segundo a Casa Branca, a Venezuela deliberadamente e enganosamente
enviou dezenas de milhares de criminosos de alto escalão e outros indivíduos para os Estados
Unidos, muitos dos quais são assassinos e indivíduos de natureza muito violenta, afirmou Trump
na Rede X.
66
Os analistas dizem que o Brasil será muito menos impactado que México e Canadá. Veja:
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/tarifas-de-trump-ao-brasil-podem-reduzir-
precos-internos-dizem-analistas/
67
idem
68
https://cnnespanol.cnn.com/2025/03/06/latinoamerica/chevron-petroleo-venezuela-que-significa-
orix
69
Autoridades venezuelanas receberam neste domingo, 30 de março, 175 cidadãos que desembarcaram
no Aeroporto de Maiquetía, no estado de La Guaira, nos arredores da capital venezuelana, Caracas, após
serem deportados pelos Estados Unidos.
https://www.infobae.com/america/agencias/2025/03/30/cerca-de-180-migrantes-regresan-a-
venezuela-tras-ser-deportados-por-estados-unidos/
70
https://www.bbc.com/mundo/articles/cly642ezvvqo
190
Nesse sentido, com a recente implementação dessa tarifa secundária aos parceiros
comerciais da Venezuela, o presidente americano Trump pretende fazer frente ao problema da
imigração ilegal nos EUA, mas, ao fazer isso, busca reduzir a arrecadação do regime venezuelano,
que vinha se beneficiando da receita do petróleo gerada pela venda de petróleo e gás natural
nos principais mercados americanos.
“Há uma caça às bruxas, como costumavam dizer, contra os venezuelanos em geral.
Começa com o garoto com tatuagens, o garoto de pele escura, mas se estende a todos”, disse o
ministro das Comunicações da Venezuela, Freddy Ñáñez, durante um evento em Caracas em
apoio aos migrantes deportados. Segundo o responsável, há venezuelanos que, apesar de
“viverem legalmente nos Estados Unidos” e terem emprego estável, “não saem de casa porque
estão em estado de terror e pânico devido à perseguição71”.
Ainda sobre a Venezuela, o Secretário de Estado dos EUA, Marcos Rubio, visitou a
Guiana, após maduro ter reacendido a disputa sobre Essequibo72. Em seu apoio à Guiana73, o
secretário Rubio alertou Nicolás Maduro que um ataque militar ao país vizinho seria “um grande
erro” e teria sérias consequências para Caracas. “Seria um dia muito ruim para o regime
venezuelano se eles atacassem a Guiana ou a ExxonMobil. Seria um dia muito ruim, uma semana
muito ruim para eles, e não terminaria bem”, insistiu Rubio em uma entrevista coletiva em
Georgetown com o presidente guianense Irfaan Ali74. A tentativa dos chavistas de convocar
eleições na região de Essequibo para eleger governador e representantes acendeu o alerta75.
A Comunidade do Caribe (CARICOM), da qual a Guiana faz parte, descreveu esse novo
movimento como uma ameaça que pode reacender uma crise como a ocorrida há dois anos com
o referendo consultivo por meio do qual a Venezuela tentou justificar a anexação do território.
Lembremos que a CARICOM participou das negociações sobre as reivindicações entre Venezuela
e Guiana sobre Essequibo.
71
https://www.pagina12.com.ar/813159-deportaciones-y-aranceles-la-doble-ofensiva-de-trump-contra-
72
https://elpais.com/america/2023-12-14/guyana-el-pequeno-pais-que-flota-en-petroleo-y-ahora-esta-
en-el-punto-de-mira-de-maduro.html
73
"Temos uma grande Marinha e ela pode chegar a quase qualquer lugar, em qualquer lugar do mundo.
E temos compromissos contínuos com a Guiana," aponto o Secretario do Estado de EE.UU.
https://sumarium.info/2025/03/28/imbecil-a-venezuela-no-la-amenaza-nadie-responde-maduro-a-
rubio/
74
https://elpais.com/america/2025-03-28/rubio-advierte-a-maduro-de-las-consecuencias-de-atacar-a-
guyana-seria-un-dia-muy-malo-para-el-regimen-y-no-terminaria-bien.html
75
Não está claro como essa medida será implementada, mas o governo venezuelano insiste que em 25
de maio, em menos de dois meses, o país realizará suas eleições regionais e parlamentares, assim como
todo o país, convocadas pelo Conselho Nacional Eleitoral. https://elpais.com/america/2023-12-04/el-
chavismo-gana-el-referendum-para-la-anexion-del-esequibo-y-eleva-la-tension-con-guyana.html
191
ignorar a realidade das comunidades da classe trabalhadora: “Ele nunca viu uma assembleia
popular na vida, nunca foi a um bairro, porque eles fazem parte da elite corrupta de Miami,
muito corrupta, que odeia a Venezuela”76.
Nessa mesma linha, a Avaliação de Risco do Sarampo para as Américas78 foi publicada
em 24 de março. Seu objetivo é analisar o aumento de surtos e casos de sarampo em alguns
países da região até 2025.
76
https://sumarium.info/2025/03/28/imbecil-a-venezuela-no-la-amenaza-nadie-responde-maduro-a-
rubio/
77
https://www.paho.org/es/documentos/alerta-epidemiologica-fiebre-amarilla-region-americas-26-
marzo-2025
78
https://www.paho.org/es/documentos/evaluacion-riesgo-para-salud-publica-relacionada-con-
sarampion-implicaciones-para-region
192
Tanto a febre amarela quanto o sarampo merecem atenção devido ao crescimento dos
movimentos antivacinas na região, um fenômeno que se agravou ainda mais com a postura de
líderes influentes. Nos Estados Unidos, o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., já se
manifestou contra as vacinas, e a cooperação do país no setor da saúde vem se enfraquecendo.
Por fim, ao final deste informe, faremos uma análise da proposta que nos causa
preocupação: a criação de um Centro de Controle de Doenças (CDC) na América Latina,
levantada por um grupo de especialistas em saúde.
CEPAL: Oitava Reunião do Fórum dos Países da América Latina e do Caribe sobre
Desenvolvimento Sustentável
Com mais de 600 participantes confirmados, o encontro contará com diálogos de ação
em nível global, regional e nacional, além de 38 eventos paralelos. A abertura oficial, no dia 1º
de abril, terá a presença de autoridades como o vice-ministro das Relações Exteriores do Peru,
Félix Denegri, representantes da CEPAL e altos funcionários da ONU.
Durante o evento, será apresentado o oitavo relatório da CEPAL sobre a Agenda 2030,
destacando desafios e estratégias para acelerar o progresso nos ODS 3 (Saúde e bem-estar), ODS
5 (Igualdade de gênero), ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico), ODS 14 (Vida
submarina) e ODS 17 (Parcerias para os Objetivos). Também serão debatidos compromissos
globais relacionados ao financiamento do desenvolvimento, mudanças climáticas e igualdade
de gênero.
79
https://www.orasconhu.org/es/paises-andinos-se-reunen-para-unificar-denominaciones-de-
profesiones-de-salud-en-la-region
193
para o fortalecimento dos sistemas de saúde, a melhoria da mobilidade de profissionais e
garantir atenção de qualidade na região andina.
Por fim, Benjamin Puertas, chefe da unidade de recursos humanos para a saúde
relembrou a parceria entre o ORAS-CONHU e a OPAS para a elaboração e atualização da Política
Andina de Recursos Humanos para a Saúde e reconheceu a importância de desenvolver guias e
ferramentas com foco em sistemas de informação, mapeamento de atores e profissões.
O Conselho de Ministros de Saúde da América Central (COMISCA) discutiu temas como saúde
única e integração e inovação em saúde8081
O grupo técnico conta com delegados dos ministérios da saúde, agricultura e ambiente
dos países membros do SICA, além de serem apoiados por especialistas de cooperação,
secretarias do SICA e do Organismo Internacional Regional de Sanidade Agropecuaria (OIRSA).
80
https://www.sica.int/noticias/se-reune-grupo-tecnico-ad-hoc-para-el-proceso-de-formulacion-de-la-
estrategia-una-sola-salud-del-sica_1_135048.html
81 https://www.sica.int/noticias/se-comisca-participa-en-himss-global-health-conference-and-
exhibition_1_135049.html
82
https://www.sela.org/sela-y-ciss-brindan-una-vision-integral-de-la-seguridad-social-para-los-
migrantes-de-la-region/
194
e para garantir um futuro de oportunidades e dignidade para os migrantes. Ainda acrescentou
que o desenvolvimento de uma governança regional facilitará a adoção de abordagens inclusivas
e equitativas para avaliação das necessidades dos migrantes. E finalizou reforçando o
compromisso do SELA em favorecer a cooperação regional e inter-regional para lidar com os
desafios, além de sinalizar que o organismo vai continuar criando espaços para intercâmbio de
ideias para o desenvolvimento de políticas públicas adequadas para o bem-estar dessas
populações.
O alto número de casos se deve, em grande medida, fatores sociais, como condições de
moradia, acesso à água e saneamento, pobreza, exclusão digital, insegurança alimentar, o que
195
fez com que muitas medidas de isolamento ou as chamadas medidas não farmacêuticas não
pudessem ser implementadas de forma eficaz.
Por exemplo, no Paraguai87, o representante da OPAS teve que deixar o país devido às
sérias críticas do Chanceler e de autoridades governamentais pelo atraso nas vacinas
prometidas. Embora a COVAX não tenha sido uma resposta eficaz para garantir o acesso às
vacinas em Latino América teve um alto custo reputacional para a OPAS.
Vale ressaltar que na 59ª Sessão do Conselho Diretor da OPAS (2021), foi aberta uma
importante janela de oportunidade para cooperação e esforços conjuntos para promover o
acesso equitativo à saúde na região. Os Ministros da Saúde das Américas aprovaram a Resolução
sobre Melhoria das Capacidades de Produção de Medicamentos e Tecnologias Essenciais para
a Saúde (CD 59/8). No documento, os Estados reconhecem que a saúde é condição para o
desenvolvimento sustentável e pedem uma ação multissetorial coordenada para atender com
86
TOBAR, Sebastián. “Gobernanza regional, diplomacia y cooperación en Salud en América Latina frente
a la Pandemia de la COVID-19”. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz. como requisito parcial para
obtenção do título de Doutor em Saúde Pública. Área de concentração: Políticas, Planejamento, Gestão e
Atenção à Saúde. Dissponível: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/51971
87
Ver https://www.lanacion.com.py/pais/2021/04/20/luis-roberto-escoto-representante-de-la-omsops-
en-paraguay-abandona-el-pais/ y https://www.ip.gov.py/ip/ops-retira-al-doctor-escoto-como-
representante-en-paraguay/
196
urgência às necessidades de saúde da população. Da mesma forma, desenvolver e aumentar as
capacidades nacionais e regionais na produção de matérias-primas, medicamentos e outras
tecnologias essenciais é essencial para responder adequadamente às demandas de saúde e
contribuir para o desenvolvimento econômico e social regional.
Para concluir, é importante observar que as Américas são uma região de renda média,
atualmente inelegível para muitos doadores internacionais e com características muito distintas
do continente africano, onde o CDC África tem tido bastante êxito em suas ações.
Muitos profissionais de saúde pública são seduzidos pelo chamado do CDC, com um
arranjo de governança de saúde que, no imaginário público, parece mais moderno ou inovador.
Muito desse canto de sereia vem da observação do CDC da África. Mas, não é possível usá-lo
como modelo, pois esta é a região que mais recebe recursos de cooperação internacional.
197
África
Abstract. The report addresses several important initiatives and collaborations in Africa. Firstly,
it highlights the G20 dialogue session, which focused on financing development and climate
finance issues. Furthermore, the report mentions the collaboration between CDC Europe and
Africa on global health security. Another point addressed is the strengthening of coordination
between regional joint procurement mechanisms and the African Joint Procurement Mechanism
(APPM). Finally, the report highlights the signing of a Memorandum of Understanding (MoU)
between SADC and UNICEF, aiming to strengthen bilateral relations and formalize cooperation
for the next five years.
União Africana
88
As Regras de Chatham House são um conjunto de diretrizes que visam promover discussões abertas e
francas em reuniões, especialmente aquelas que envolvem temas sensíveis ou controversos. A ideia
central é permitir que os participantes expressem suas opiniões livremente, sem receio de que suas
palavras sejam atribuídas a eles fora do contexto da reunião, sendo os pontos-chave: o anonimato, a
confiança e o diálogo aberto.
198
particular em assuntos relevantes para o continente africano. Este evento baseou-se na sessão
de diálogo inaugural, que se realizou a 8 de novembro de 2024.
CDC África
A Diretora do CDC Europa, Dra. Pamela Rendi-Wagner, e Dr. Jean Kaseya, Diretor-Geral
do CDC África reuniram-se em Estocolmo para discutir o aprofundamento da colaboração entre
os dois CDC.
199
do reforço da preparação e resposta a emergências, vigilância, inteligência epidémica e
capacitação da força de trabalho.
"A estreita cooperação entre os CDC Europa e África é essencial para a
segurança sanitária global. Aguardo com expectativa uma colaboração ainda
mais profunda no futuro e o trabalho conjunto rumo à preparação e resposta
à segurança sanitária global para enfrentar futuras ameaças à saúde. Este
trabalho já começou através das contribuições do ECDC para as respostas a
surtos lideradas pelo CDC África, através da nossa Força-Tarefa de Saúde da
UE", afirmou a Dra. Pamela Rendi-Wagner, Diretora do ECDC.
Para além do seu compromisso partilhado com a segurança sanitária global e a futura
colaboração técnica, as discussões centraram-se nos surtos no continente africano, bem como
nas ações concretas que ambos estão a tomar para reconstruir a confiança pública nas
autoridades de saúde após a pandemia de Covid-19.
O CDC Europa colabora com centros de controlo de doenças fora da União Europeia,
tanto a nível regional como nacional, como parte da sua estratégia de longo prazo para reforçar
a cooperação e coordenação internacionais no combate às ameaças de saúde transfronteiriças.
Também colabora com os CDC supranacionais africanos, das Caraíbas e do Golfo e já assinou
Memorandos de Entendimento ou acordos administrativos com centros nacionais em todo o
mundo.
Este desenvolvimento tão aguardado está destinado a ser um ponto de viragem. Sem
mais restrições por entraves burocráticos, a Agência da União Africana tem agora a flexibilidade
200
de mobilizar rapidamente fundos onde são mais necessários, permitindo respostas a surtos mais
rápidas e eficientes. O Dr. Jean Kaseya descreveu-o como um momento histórico na luta por
uma melhor segurança sanitária no continente.
Além disso, o surto de mpox permanece em curso, seis meses após ter sido declarado
uma emergência de saúde de preocupação continental. Em fevereiro, o Grupo Consultivo de
Emergência reviu a situação, recomendando que o estado de surto se mantivesse devido ao
aumento do número de casos, ao surgimento de uma nova variante altamente transmissível e à
persistência da escassez de vacinas.
O Dr. Kaseya sublinhou que o novo fundo para epidemias oferece maior autonomia e
agilidade na resposta a surtos.
A transparência será uma pedra angular das operações do fundo. O Dr. Kaseya afirmou
que o CDC África gerirá o fundo diretamente, garantindo uma rigorosa responsabilização. Um
Conselho de Administração supervisionará as suas atividades, com atualizações regulares
fornecidas aos órgãos de política da União Africana. Mais importante ainda, as transações do
fundo serão publicamente acessíveis, com um acompanhamento detalhado disponível para
garantir a transparência.
"O Fundo Africano para Epidemias estará disponível no sítio web do Africa CDC.
Queremos que as pessoas vejam, em tempo real, quanto financiamento recebemos, como está
a ser utilizado e onde está a ser alocado. Esse é o nível de transparência que estamos a trazer
para África", acrescentou o Dr. Kaseya.
A necessidade de tal fundo nunca foi tão premente, uma vez que África testemunhou
um aumento acentuado de eventos de saúde pública – de 152 em 2022 para 213 em 2024. Este
aumento evidencia a crescente vulnerabilidade das nações africanas às ameaças de saúde.
Mesmo assim, os esforços para combater a mpox estão a entrar numa fase crítica, com
a expectativa de que o novo fundo forneça os recursos tão necessários para conter o surto. O
Dr. Ngashi Ngongo, Chefe da Equipa de Apoio ao Incidente de Mpox, descreveu isto como a "fase
de intensificação" e delineou os próximos passos na resposta.
201
"Nos próximos três meses, vamos concentrar-nos em controlar o surto, enquanto os três
meses finais deste plano se centrarão na recuperação precoce e na construção de resiliência",
afirmou.
Coorganizado pela Comunidade da África Oriental (EAC, East African Community) e pela
Universidade do Ruanda/Centro Regional de Excelência da EAC para Vacinas, Imunização e
Gestão da Cadeia de Abastecimento de Saúde (UR/EAC RCE-VIHSCM, University of Rwanda/EAC
Regional Centre of Excellence for Vaccines, Immunization and Health Supply Chain
Management), o workshop teve como objetivo alinhar os esforços do CDC África CDC e das REC
para criar uma abordagem holística, coordenada e sinérgica ao aprovisionamento conjunto.
202
O APPM está, portanto, definido para melhorar o acesso a tecnologias de produtos de
saúde de qualidade e acessíveis e promover a localização da produção. O CDC África está a
avançar o APPM em estreita colaboração com parceiros estratégicos. Com um quadro
abrangente agora em vigor, o APPM está a transitar para a sua fase de implementação inicial.
“As consultas de hoje são mais uma oportunidade para trocar informações,
discutir o progresso e identificar os esforços conjuntos necessários para a fase
de implementação inicial do APPM”, afirmou o Dr. Jean Kaseya, Diretor-Geral
do CDC África. “As REC serão fundamentais para o sucesso deste mecanismo,
que irá melhorar o acesso a produtos de saúde com garantia de qualidade e
ajudar a impulsionar a produção local”, disse.
O Secretariado da EAC aguarda com expectativa para ver como a plataforma digital de
partilha de informação do PPM da EAC, baseada nas REC, irá interoperar com a plataforma
continental para melhorar o acesso a produtos de saúde de qualidade e acessíveis e promover
a produção local.
203
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC)
Magosi expressou a sua gratidão pelo apoio técnico contínuo do UNICEF e reconheceu
as contribuições da organização para a defesa dos direitos das crianças e a promoção do
desenvolvimento sustentável e socioeconómico na região da SADC. Reconheceu os esforços
contínuos do UNICEF para apoiar a região da SADC no desenvolvimento de estratégias regionais
de nutrição fundamentais, que se alinham com as prioridades do Plano Estratégico Indicativo de
Desenvolvimento Regional da SADC (Regional Indicative Strategic Development Plan, RISDP
2020-2030) e da Visão 2050 da SADC. Estas abordagens incluem o enriquecimento alimentar em
grande escala, a prevenção do excesso de peso e da obesidade e a transformação dos sistemas
alimentares.
Identificou áreas que exigem atenção para melhorar o bem-estar das crianças,
abordando desafios como doenças, abuso infantil, tráfico, HIV/AIDS, mudanças climáticas e
produção local de medicamentos e vacinas. Destacou o papel do UNICEF no avanço dos
programas de saúde e nutrição e reconheceu os progressos realizados nestas áreas.
Por sua vez, Kadilli expressou apreço pela parceria e cooperação mútua entre o UNICEF
e a SADC, tanto a nível nacional como regional. Defendeu a colaboração contínua para melhorar
as políticas que garantem o acesso equitativo a serviços essenciais para as crianças, incluindo
saúde, nutrição, água, saneamento e educação.
204
O UNICEF continua a abordar o HIV entre crianças e adolescentes, prestando apoio
técnico aos Estados-Membros através do Centro Regional e da Aliança Global para acabar com
a AIDS pediátrica.
205
O Diálogo Político SADC-UE foi lançado na Conferência Ministerial SADC-UE em Berlim,
Alemanha, em setembro de 1994, onde ambas as partes reafirmaram a sua determinação em
reforçar a sua relação e estabelecer um diálogo abrangente.
Nas suas observações de abertura, Carlos CONDE, Chefe da Divisão de África e Médio
Oriente da OCDE, expressou o seu entusiasmo pelo lançamento deste novo esforço colaborativo
com a Comissão da CEDEAO, e reafirmou o compromisso da OCDE em prosseguir estas áreas de
colaboração.
Por sua vez, o Diretor de Relações Externas da Comissão da CEDEAO, Jérôme BOA, dando
as boas-vindas calorosas à delegação da OCDE no seu discurso de abertura, sublinhando a
importância desta nova parceria, também enfatizou a necessidade de estabelecer um quadro
para facilitar a cooperação entre a CEDEAO e a OCDE, garantindo o envolvimento de todos os
departamentos relevantes.
Este processo de consulta marca o início de uma nova era de cooperação entre a
CEDEAO e a OCDE, com o objetivo de promover o desenvolvimento económico e a integração
regional.
206
A estratégia de armazenamento regional da CEDEAO, em vigor desde 2011, assenta em
três pilares principais:
O comité diretor restrito tem por missão i) orientar os trabalhos e validar as principais
orientações, ii) assegurar a sua inclusão no processo de revisão da ECOWAP (ECOWAP 2035,
Post Malabo) e iii) validar as propostas apresentadas aos órgãos estatutários da CEDEAO.
Para além de clarificar o papel e a missão do Comité Diretor, esta primeira reunião visa
apresentar os objetivos e a metodologia do processo de revisão e partilhar uma avaliação
detalhada da primeira fase de implementação da estratégia de armazenamento regional. As
discussões centrar-se-ão também em temas específicos que orientarão o trabalho futuro do
Comité de Revisão Técnica.
207
Com esta revisão, a CEDEAO reafirma o seu compromisso, juntamente com os seus
parceiros sub-regionais (UEMOA89, CILSS90, RESOGEST91) e internacionais (União Europeia, AFD,
AECID, Banco Mundial etc.), de reforçar a segurança alimentar e nutricional das populações
vulneráveis da África Ocidental e do Sahel.
Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Côte d’Ivoire, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria,
Mali, Níger, Nigéria, Serra Leoa, Senegal e Togo
89
A União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) é uma organização sub-regional
composta por oito países da África Ocidental. A UEMOA foi criada em 1994 com o objetivo de promover
a integração económica entre os seus membros. A organização estabeleceu uma união aduaneira e uma
união monetária, o Franco CFA.
90
O Comité Interestadual Permanente de Luta contra a Seca no Sahel (CILSS) é uma organização sub-
regional que visa combater os efeitos da seca e promover o desenvolvimento sustentável nos países do
Sahel, uma região semiárida na África. Foi criada em 1973, sendo seu objetivo principal coordenar os
esforços dos países membros para garantir a segurança alimentar e combater os efeitos da seca e da
desertificação. É composta por 13 países: Benim, Burquina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia,
Guiné, Guiné-Bissau, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Chade e Togo.
91
A Rede de Sociedades e Gabinetes encarregados da Gestão dos Stocks Nacionais de Segurança
Alimentar (RESOGEST) nos países do Sahel e da África Ocidental. É uma rede que visa otimizar a gestão de
estoques de segurança alimentar na região, facilitando a coordenação e a colaboração entre os diferentes
países.
208
Na Europa, Trump segue ameaçando, Putin segue resistindo
e um cessar-fogo segue distante
In Europe, Trump remains threatening, Putin remains resisiting
and a cease fire remains far
Abstract. In Europe, strengthening security and increasing support for Ukraine continue to be at
the top of the EU's political agenda. Despite the lack of internal consensus regarding the war in
Ukraine, the EU has managed to make progress in discussions. The problem is that Putin remains
adamant in his conditions for a ceasefire, pushing Trump as far as possible. Trump, in turn,
continues to pose a threat to Europe, without involving it in negotiations, threatening to take
Greenland from Denmark and, more recently, questioning French companies about their internal
programs to combat discrimination. In the health area, the highlights are the growth of
tuberculosis in the WHO European Region, the launch of the guide to strengthening cybersecurity
in digital health environments and the inauguration of the first collaborating center on risk
communication, community engagement and infodemic management.
209
concedidas à Ucrânia no caso de um cessar-fogo. A cúpula reuniu 27 líderes europeus, os chefes
da Otan e das principais instituições da União Europeia, os embaixadores da Austrália e do
Canadá, além do vice-presidente da Turquia. O Reino Unido e a França propuseram a
implantação de uma "força de segurança" no país, algo como um exército ucraniano formado
por tropas europeias, como principal garantia de segurança. Tais forças, teriam um caráter de
dissuasão para evitar novos ataques da Rússia e não estariam na linha de frente. A proposta,
contudo, carece de consenso, pois Itália e Croácia se recusam a participar da iniciativa. Giorgia
Meloni, primeira-ministra italiana, além de reiterar sua recusa em participar da suposta força,
pediu que os EUA sejam convidados para uma próxima reunião dos aliados da Ucrânia. Para
Macron, tais forças são uma proposta franco-britânica que podem ser criadas sem unanimidade.
O plano está em curso e há previsão de uma visita de uma delegação de Paris e Londres à Kiev,
para discutir sobre as tropas e sobre o futuro exército ucraniano. Os líderes descartaram a
possibilidade de suspensão das sanções à Rússia, colocada como demanda por Putin para um
possível acordo de paz.
A falta de consenso tem sido uma constante nas reuniões da União Europeia sobre a
situação da segurança na Ucrânia e no continente. No último informe, abordamos a resistência
da Hungria, de Viktor Orbán, aliado de Putin, que se opõe à continuidade de apoio econômico e
militar à Ucrânia, que levou à criação da “coligação dos dispostos”. As discussões sobre a
necessidade de rearmar o bloco contra a ameaça russa também não são uma unanimidade e
encontram resistência de países do norte e do sul da Europa. Itália e Espanha, por exemplo, se
posicionam de forma menos convicta quanto ao esforço financeiro bilionário que os parceiros
no norte visam promover para melhorar a defesa europeia. A primeira-ministra dinamarquesa,
Mette Frederiksen, pediu que “os países um pouco mais longe” da Rússia acompanhem a
direção solicitada pelos “Estados do front”, que “possuem experiências históricas” com Moscou,
sendo acompanhada pelos governos da Estônia, Lituânia e Polônia. Pedro Sánchez, da Espanha,
disse que é preciso entender que os desafios do sul são um pouco diferentes dos que estão no
flanco oriental. O premiê pediu que o financiamento discutido pela União Europeia também seja
estendido ao combate às mudanças climáticas e à inteligência artificial no bloco. A Holanda
promete rejeitar qualquer novo plano de financiamento e empréstimos comuns europeus para
a defesa. O governo italiano discorda que a Europa possa se rearmar fora do contexto da Otan.
A Itália até concorda em enviar tropas, mas como parte de uma missão de paz liderada pela
ONU. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, sugere que a Otan alargue as proteções do
Artigo 5º à Ucrânia sem conceder a adesão à aliança.
Um exemplo da falta de consenso em torno do tema, foi a rejeição do plano apresentado
pela alta representante da Diplomacia Europeia Kaja Kallas para mobilizar até 40 bilhões de
euros para um novo apoio militar à Ucrânia. O plano não conseguiu obter a força política
necessária durante a cimeira dos líderes da UE, em 27 de março, o que compromete seriamente
a sua viabilidade. Questionado, António Costa, lembrou que os Estados-membros já tinham
prometido 15 mil milhões de euros de apoio adicional à Ucrânia e que se esperavam novos
compromissos nas próximas semanas, na sequência do pacote de rearmamento da Comissão
Europeia. "Continuamos a estudar outras formas de aumentar o nosso apoio à Ucrânia",
afirmou.
A propósito, a Comissão Europeia confirmou que vai eliminar gradualmente a expressão
"Rearmar a Europa" (ReArm Europe, em inglês) para descrever a sua iniciativa para comprar
armamento para a Europa, após a reação dos líderes de Itália e Espanha, que argumentam que
o nome é excessivamente carregado e corre o risco de alienar os cidadãos. O plano passará a
ser chamado de "Prontidão 2030", uma referência à data em que a Rússia poderia ter92 as
92
https://pt.euronews.com/my-europe/2024/10/15/chefe-dos-servicos-secretos-alemaes-diz-que-
russia-pode-atacar-paises-da-nato-ate-ao-final
210
capacidades necessárias para lançar um ataque contra um Estado membro da UE ou da Otan. O
programa específico para angariar e distribuir 150 bilhões de euros em empréstimos a juros
baixos para facilitar a aquisição de armas e munições avançadas será designado por "SAFE".
Paralelamente, a Comissão propôs também a flexibilização das regras fiscais para mobilizar até
650 bilhões de euros, alcançando um total de 800 bilhões de euros. Tanto Sanchez como Meloni,
defendem uma definição mais ampla de segurança, que inclua áreas como a “cibersegurança, a
luta contra o terrorismo, a computação quântica, a inteligência artificial e as ligações por
satélite” (Sanchez) e “a operacionalidade, os serviços essenciais, as infraestruturas energéticas,
as cadeias de abastecimento: tudo o que não se faz simplesmente com armas” (Meloni).
Neste contexto de crescentes tensões geopolíticas na Europa e no mundo, a Comissão
Europeia apelou aos Estados-Membros da UE para que preparem as suas populações para sobreviver
a futuras crises, incluindo guerras, crises sanitárias, catástrofes naturais e ciberataques. Na estratégia
apresentada, a Comissão Europeia insta os 27 Estados-Membros a garantirem que os cidadãos
disponham de um kit de emergência que lhes permita serem autossuficientes durante pelo menos
72 horas, caso fiquem sem bens essenciais. A Comissão não especificou o que deve conter um kit de
emergência, mas vários países europeus já publicaram listas de objetos essenciais para sobreviver
alguns dias sem bens de primeira necessidade. O Governo francês, por exemplo, exige carregadores,
medicamentos essenciais, garrafas de água, copos, pilhas, um rádio portátil, fotocópias de
documentos importantes (incluindo receitas médicas), bem como jogos de tabuleiro para
entretenimento. De um modo geral, um kit de sobrevivência de emergência deve também incluir
alimentos, uma lanterna, dinheiro, chaves sobresselentes, vestuário quente e ferramentas básicas,
como facas de cozinha. Tudo para ser autossuficiente sem os produtos básicos durante pelo menos
72 horas.
211
Putin tem se declarado aberto a um cessar-fogo, mas impõe condições específicas, das
quais não abre mão. Suas condições incluem o reconhecimento da Crimeia como parte do
território russo, além do aceite de controle sobre as regiões de Donbas e Luhansk. O controle
da recém conquistada região de Kursk, no oeste da Rússia, que tem sido palco de confrontos
intensos nos últimos meses, também constitui ponto sensível para as negociações de paz. Putin
afirma que o território está sob total controle russo após recentes ofensivas. Além de
condicionar um acordo de paz à suspensão da ajuda militar ocidental à Ucrânia, Putin rejeita a
ideia da presença de tropas estrangeiras na Ucrânia, exigindo que o monitoramento do cessar-
fogo seja feito por observadores neutros, sem o envolvimento da Otan ou de forças ocidentais.
Vale lembrar que Zaporíjia, a maior usina nuclear da Europa, está sob controle russo e deve ser
objeto de grandes negociações. A Ucrânia defende que a administração da usina seja transferida
para uma autoridade internacional, enquanto Moscou quer manter o controle sobre o local
como parte de um possível acordo de paz.
Quanto ao cessar-fogo em vigor, Ucrânia e Rússia se acusam mutualmente de violar o
frágil acordo de não atacar as instalações energéticas do outro lado. Além disso, as partes têm
interpretado de forma diferente o que seria um possível cessar-fogo parcial e têm discordado
quanto aos tipos de alvos a incluir numa pausa. Enquanto os EUA afirmam que um cessar-fogo
parcial incluiria o fim dos ataques a "energia e infraestruturas", Rússia declara que o acordo se
refere mais estritamente a "infraestruturas energéticas". Recentemente, ambos os países
aceitaram interromper as hostilidades no mar Negro, garantindo a segurança da navegação,
eliminando o uso da força e impedindo o uso de navios comerciais para fins militares no Mar
Negro. Apesar das negociações, os combates continuam.
Sabemos que a Europa vem sendo fortemente impactada pela segunda gestão Trump
nos EUA. Além das negociações diretas com a Rússia excluindo a presença da Europa e da
própria Ucrânia na mesa de negociação, a Dinamarca corre o risco de perder o controle sobre a
Groenlândia. Trump vem pressionando por sua anexação, afirmando que o território é essencial
para a segurança internacional. Tanto os groenlandeses, quanto os dinamarqueses estão
resistindo. Cidadãos groenlandeses têm protestado contra a influência americana na ilha. Os
principais partidos políticos da Groenlândia divulgaram uma declaração conjunta condenando a
postura de Trump. O primeiro-ministro interino se manifestou nas redes sociais, afirmando que
a Groenlândia nunca será parte dos EUA e que os groenlandeses nunca serão americanos. Além
de ser um ponto estratégico no Ártico, o território é rico em recursos naturais. Embora tenha
autonomia em assuntos internos, suas políticas de defesa e relações exteriores são controladas
pela Dinamarca.
Recentemente, estava programada uma visita da vice primeira-dama dos EUA, Usha
Vance, esposa do vice-presidente, JD Vance, que passaria vários dias na ilha, visitando a capital
Nuuk. Havia rumores de que o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz, e o
secretário de Energia, Chris Wright, também fariam parte da visita. Como não houve convite por
parte da Groenlândia ou da Dinamarca, a visita foi considerada pelo chefe de governo interino
da Groenlândia, Mute Egede, como uma “provocação”. Os planos foram alterados e somente o
vice JD Vance e a esposa visitaram a ilha, permanecendo por apenas um dia na Base Espacial
Pituffik. O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, disse que a
mudança foi “muito positiva”.
Durante a visita, no entanto, JD Vance fez declarações consideradas ofensivas à
Dinamarca, criticando duramente sua suposta inação na Groenlândia. "Nossa mensagem para a
Dinamarca é muito simples: vocês não fizeram um bom trabalho para o povo da Groenlândia",
disse ele, acusando um baixo investimento na ilha continental. Em tom que mais parece uma
ameaça, complementou: "Acreditamos que a força militar nunca será necessária. Acreditamos
212
que os habitantes da Groenlândia são racionais e (...) que vamos chegar a um acordo ao estilo
de Donald Trump para garantir a segurança deste território e também dos Estados Unidos".
Diante da insistente cobiça, dinamarqueses e groenlandeses endureceram o tom, antes
e após a chegada do líder americano: “visitar quando não há um governo no poder não é
considerado um sinal de respeito por um aliado, disse o primeiro-ministro da Groenlândia, Jens
Frederik Nielsen, que havia acabado de apresentar o novo governo de coalização, para lidar com
a forte pressão externa. Os Estados Unidos "sabem que a Groenlândia não está à venda. Eles
sabem que a Groenlândia não quer fazer parte dos Estados Unidos. Isso foi comunicado a eles
de forma inequívoca, tanto direta quanto publicamente", reiterou Mette Frederiksen. “Estamos
abertos a críticas, mas, para ser totalmente honesto, não gostamos do tom em que foram
feitas”, declarou o chanceler dinamarquês Larks Løkke Rasmussen. “Não é assim que se fala com
aliados próximos, e ainda considero a Dinamarca e os Estados Unidos como aliados próximos”,
acrescentou. A maioria da população deseja a independência do território e rejeita qualquer
possibilidade de se tornar parte dos Estados Unidos.
Na Conferência de Segurança de Munique, a gestão Trump, por intermédio de outras
declarações polêmicas, deu sinais de interferência em assuntos internos europeus. No final do
mês de março, empresas francesas receberam uma carta e um questionário da embaixada dos
Estados Unidos na França, perguntando se possuem programas internos de combate à
discriminação. A carta da diplomacia norte-americana adverte que isso poderia impedir as
empresas franceses de trabalhar com o governo dos EUA. A reação francesa descreveu a
iniciativa como “interferência inaceitável”, alertando que a França e a Europa defenderiam “seus
valores”. Os destinatários da carta foram informados de que a "Ordem Executiva 14173",
emitida por Donald Trump em seu primeiro dia de retorno à Casa Branca para encerrar
programas que promovem a igualdade de oportunidades dentro do governo federal, "também
se aplica obrigatoriamente a todos os fornecedores e prestadores de serviços do governo
americano". "A interferência americana nas políticas de inclusão de empresas francesas, como
ameaças de taxas alfandegárias injustificadas, é inaceitável", reagiu o Ministério do Comércio
Exterior francês.
Ainda na França, Marine Le Penn, líder da extrema direita no país, é condenada à 5 anos
inelegibilidade por desvio de verbas, ficando de fora das próximas eleições presidenciais
francesas, em 2027. A Justiça francesa considerou Marine Le Pen, 8 colegas de legenda e 12
assistentes parlamentares culpados de desvio de fundos públicos europeus. Além dos 5 anos de
inelegibilidade, a pena de Le Penn prevê 4 anos de prisão. No entanto, ela não deve ir para a
prisão, já que o Tribunal Correcional de Paris permite que ela cumpra 2 anos em regime
domiciliar, com uma tornozeleira eletrônica. Já a inelegibilidade tem execução imediata.
Na Turquia, manifestações em massa multiplicam-se depois de o presidente da Câmara
de Istambul, Ekrem İmamoğlu - considerado o maior rival político do presidente Recep Tayyip
Erdogan - ter sido detido, encarcerado e acusado de corrupção. Dezenas de milhares de pessoas
desafiaram uma proibição de realização de protestos durante 4 dias e saíram às ruas, tendo sido
registados confrontos entre manifestantes e a polícia de choque turca. Embora a detenção não
o impeça de concorrer às próximas eleições presidenciais de 2028, ficará impedido de exercer
cargos políticos se for condenado pelas acusações de corrupção que lhe são imputadas.
İmamoğlu é figura popular, líder do Partido Republicano do Povo (CHP) e presidente da câmara
de Istambul desde 2019. É considerado a maior ameaça ao governo de duas décadas do
presidente Erdogan, que já cumpriu 3 mandatos como presidente, e não pode recandidatar-se
a menos que altere a Constituição.
Na Alemanha, avançam as negociações para a formação do novo governo, apesar das
diferenças entre CDU e SPD. O provável futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz,
reconhece que ainda há obstáculos a ultrapassar, mas está confiante de que vai conseguir fazê-
213
lo antes da Páscoa. Os democratas-cristãos e os sociais-democratas estão em desacordo quanto
à forma de financiar as promessas da campanha eleitoral, em especial, se haverá aumento de
impostos para as pessoas com rendimentos mais elevados ou para as empresas. Também ainda
não chegaram a um acordo sobre aposentadorias e serviço militar obrigatório. A expectativa, no
entanto, é que concessões sejam feitas de ambos os lados, tendo em vista os desafios colocados
pelas medidas econômicas de Donald Trump.
O relatório de 2025 “Vigilância e monitoramento da tuberculose na Europa”, Centro
Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) e OMS/Europa revela que crianças
menores de 15 anos representaram 4,3% das pessoas com tuberculose (TB) nova e recidivada
na Região Europeia da OMS, representando um aumento preocupante de 10% na TB pediátrica
em 2023, em comparação com o ano anterior, aumentando pelo terceiro ano consecutivo. Essas
descobertas de aumento da TB entre crianças mostram que a transmissão ainda está em
andamento, e medidas imediatas de saúde pública são necessárias para controlar e reduzir a
crescente carga da TB. As descobertas também destacam o fardo crescente da doença em
populações mais jovens, à medida que as notificações gerais de TB continuam a aumentar, com
mais de 650 casos adicionais de TB entre crianças relatados entre 2022 e 2023. Uma grande
preocupação é que para 1 em cada 5 crianças com TB na UE/EEE, não se sabe se seu tratamento
foi concluído. Essa incerteza quanto à conclusão do tratamento pode resultar em resultados de
saúde deteriorados, como o surgimento de TB resistente a medicamentos (DR-TB) e sua
transmissão posterior. Os dados mais recentes do relatório de ndicam que, embora a Região
esteja se recuperando do impacto da crise da Covid-19, os efeitos da pandemia continuam a ser
sentidos nos testes, prevenção, diagnóstico e tratamento da TB.
A OMS Europa lançou um guia para fortalecer a cibersegurança na saúde digital. O
documento, intitulado “Avaliação e fortalecimento da maturidade da privacidade e segurança
cibernética para sistemas de informação de saúde digital”, fornece uma estrutura para ajudar
países e organizações a desenvolver estratégias de avaliação de risco que se alinhem com suas
necessidades, objetivos e requisitos regulatórios específicos. O setor de saúde é um dos mais
visados por ataques cibernéticos. A Comissão Europeia contabilizou mais de 300 incidentes de
segurança cibernética em 2023 — mais do que em qualquer outro setor crítico na União
Europeia (UE). Essas violações podem resultar em perdas financeiras significativas,
comprometer a privacidade do paciente, interromper os serviços de saúde, atrasar tratamentos
e até mesmo colocar em risco a vida dos pacientes.
A crescente interconectividade dos sistemas de saúde exige uma abordagem proativa à
segurança cibernética. A orientação da OMS/Europa está disponível como um relatório da OMS
e como uma planilha. Ela descreve uma metodologia de avaliação de maturidade de segurança
e privacidade para sistemas de saúde digitais, abordando 3 aspectos críticos:
✓ Acessibilidade: garantir que os sistemas de saúde digitais sejam confiáveis, escaláveis e
disponíveis para pacientes e provedores quando necessário. A acessibilidade oferece
suporte ao atendimento contínuo e permite intervenções médicas oportunas;
✓ Privacidade: focar na proteção de informações pessoais e médicas para manter a
confidencialidade e a confiança. A privacidade é alcançada pela implementação de
medidas como criptografia de dados, anonimização e protocolos seguros de
compartilhamento de dados em conformidade com o Regulamento Geral de Proteção
de Dados (um regulamento da UE sobre privacidade de informações na UE e na Área
Econômica Europeia) e outras leis de privacidade relevantes; e
✓ Governança: estabelecer uma estrutura forte para supervisionar a qualidade dos dados,
a segurança do paciente, a eficácia do tratamento, a conformidade regulatória e o
214
gerenciamento contínuo de riscos. A governança eficaz garante responsabilidade,
transparência e melhoria contínua dos sistemas de saúde digitais.
Por fim, a OMS Europa lançou o primeiro centro colaborador em comunicação de risco,
envolvimento da comunidade e gestão de infodemias (RCCE-IM na sigla em inglês). Abrigado na
Kristiania University of Applied Sciences na Noruega, o novo CC conduzirá pesquisas de alta
qualidade para ajudar autoridades nacionais e profissionais de saúde no local a projetar
intervenções RCCE-IM oportunas e eficazes durante emergências de saúde, durante 4 anos. A
nova estratégia e plano de ação da OMS Europa para emergências de saúde, Preparedness 2.0,
destaca a necessidade de colocar as comunidades no centro da resposta de emergência. O
centro em Kristiania contribuirá:
✓ desenvolvendo ferramentas de resposta rápida válidas e confiáveis para garantir que os
profissionais obtenham, tempestivamente, as informações necessarias para melhorar
as intervenções RCCE-IM baseadas em evidências;
✓ fornecendo soluções digitais inovadoras para agilizar o fluxo de informações e a
colaboração entre especialistas em saúde pública e acadêmicos para estratégias
aprimoradas de RCCE-IM;
✓ promovendo pesquisas conduzidas pela comunidade para aprimorar estratégias de
engajamento e adaptar intervenções a diferentes populações; e
✓ apoiando a capacitação de profissionais de RCCE-IM em todos os países para garantir
que as autoridades de saúde estejam bem equipadas para implementar estratégias
eficazes.
Considerações Finais
Apesar da abertura ao diálogo, inaugurada pela segunda gestão de Trump nos EUA,
poucos avanços têm sido notados na busca por um real cessar-fogo na guerra da Ucrânia.
Aparentemente, Trump achou que fosse fácil e que resolveria o problema em alguns dias, mas
sua paciência parece dar sinais de esgotamento. Putin não renuncia a nenhuma de suas
condições e todas elas dizem respeito à Europa, que está fora da mesa de negociação, correndo
por fora, como pode. Putin quer a retirada de sanções europeias, mas como fazê-lo sem a
Europa? Putin não reconhece o governo de Zelenski como legítimo e agora quer uma nova
governança na Ucrânia para alcançar um acordo de paz. Trump, por sua vez, parece aceitar todas
as condições de Putin e pretende “cobrar” todo o investimento feito na guerra, por intermédio
de um acordo de minerais raros com a Ucrânia, cujas condições mudam constantemente. Fato
é que um cessar-fogo pleno ainda parece distante do front. Está o futuro da Ucrânia fadado a
uma divisão entre EUA e Rússia?
215
Igualdade de Gênero ainda tem muitos desafios na Ásia e região MENA
Lúcia Marques
Bárbara Nogueira
Resumo: Com a conclusão do mês de março e inspiradas pelas reflexões sobre os direitos das
mulheres, a oportunidade de destacar o papel transformador da participação feminina nos
processos decisórios políticos, especialmente em contextos de guerra, mediação de conflitos e
reestruturações pós-guerra, não poderia ser desperdiçada. O informe traz alguns dos marcos
históricos para a igualdade de gênero, para o empoderamento feminino e o papel da mulher
para Paz e Segurança e para a proteção ambiental. Apresenta dados do relatório sobre
desigualdade de gêneros, olhando para as regiões da Ásia e MENA e a estratégia dos
Laboratórios de Inovação de Gênero do Banco Mundial. E pode-se observar a estagnação e às
vezes retrocesso no último ano. Pelo lado positivo, destaca as iniciativas bem sucedidas da Arábia
Saudita cujas mulheres, em curto tempo, já representam 36,2% da força de trabalho;
entendendo que a mulher é vital na transformação econômica, o país vem buscando influenciar
outros países islâmicos ou não, árabes ou não, realizando conferências e reuniões envolvendo
governos, pesquisadores e instituições públicas e privadas. Pelo mundo, embora haja alguns
casos de sucesso, o machismo ainda é muito enraizado e a realidade continua muito distante do
que preconiza a lei. É preciso entender e valorizar o papel da mulher nos processos de paz e nas
questões ambientais. Ambos os casos revelam que mulheres não são meras vítimas a serem
protegidas, mas agentes ativas capazes de reinventar sistemas e propor alternativas aos modelos
vigentes.
Abstract: With the month of March coming to an end and inspired by reflections on women's
rights, the opportunity to highlight the transformative role of female participation in political
decision-making processes, especially in contexts of war, conflict mediation and post-war
restructuring, could not be missed. The report highlights some of the historical milestones for
gender equality, female empowerment and the role of women in Peace and Security and
environmental protection. It presents data from the report on gender inequality, looking at the
Asia and MENA regions and the strategy of the World Bank's Gender Innovation Labs. And one
can observe the stagnation and sometimes regression in the last year. On the positive side, the
successful initiatives of Saudi Arabia stand out, where women, in a short period of time, already
represent 36.2% of the workforce; Understanding that women are vital in economic
transformation, the country has been seeking to influence other countries, Islamic or not, Arab
or not, holding conferences and meetings involving governments, researchers and public and
93
Intímpe Gill e Chá Trumbic em Quando as mulheres ganham, o mundo vence, 2024.
216
private institutions. Around the world, although there are some successful cases, sexism is still
deeply rooted and reality remains far from what the law advocates. It is necessary to understand
and value the role of women in peace processes and environmental issues. Both cases reveal that
women are not mere victims to be protected, but active agents capable of reinventing systems
and proposing alternatives to current models.
Key words: Gender Equality; historical milestones; opportunities and challenges; Saudi Arabia
Com a conclusão do mês de março e inspiradas pelas reflexões sobre os direitos das
mulheres, a oportunidade de destacar o papel transformador da participação feminina nos
processos decisórios políticos, especialmente em contextos de guerra, mediação de conflitos e
reestruturações pós-guerra, não poderia ser desperdiçada.
Após o fim da Guerra Fria, na década dos anos 90, esse debate ganhou força, quando a
comunidade internacional começou a repensar os conceitos tradicionais de segurança e integrar
o conceito de Segurança Humana. Neste cenário de transição, movimentos feministas e
organizações da sociedade civil emergiram como vozes cruciais, exigindo não apenas um assento
à mesa de negociações, mas uma reestruturação completa dos mecanismos de tomada de
decisão em matéria de paz e segurança94.
Sob esse contexto, a Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU sobre Mulheres,
Paz e Segurança (2000) se tornou um marco histórico ao reconhecer formalmente que a exclusão
das mulheres dos processos de paz não era apenas uma questão de desigualdade de gênero,
mas uma falha estratégica que comprometia a eficácia e a sustentabilidade dos acordos
políticos95. Ao trazer essa perspectiva, os movimentos femininos desafiaram a visão tradicional
de que segurança se resume a fronteiras e armamentos, insistindo que a verdadeira paz só é
possível quando inclui e protege todas as vozes da sociedade - especialmente aquelas mais
afetadas pelos conflitos, mas historicamente marginalizadas nas soluções.
Essa resolução deu origem à Agenda Mulheres, Paz e Segurança (WPS), composta por
nove resoluções subsequentes que buscam integrar perspectivas de gênero em todas as fases
de prevenção, gestão e resolução de conflitos. Vinte e quatro anos depois, seu legado foi
revisitado durante a 69ª Sessão da Conferência Internacional WPS96, realizada de 28 a 30 de
outubro de 2024 em Manila, Indonésia. Sob o tema "Forjando Colaboração e Convergência para
Avançar Mulheres, Paz e Segurança", o evento congregou governos, sociedade civil, academia e
especialistas em um balanço crítico dos progressos alcançados e dos desafios persistentes. Como
destacado no portal oficial da conferência, o encontro serviu como uma plataforma para
avaliação do progresso feito na implementação da agenda e de políticas adotadas por diferentes
países.
94
The Story of Resolution 1325 | Women, Peace and Security;
95
20 Anos da Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU e a liderança das mulheres defensoras
de direitos humanos para a construção da paz e da segurança.;
96
International Conference on Women, Peace, and Security 2024: Forging Collaboration and Convergence
for Advancing Women, Peace, and Security
217
documentos específicos com objetivos estratégicos focando 12 áreas de ação, chamadas de
“áreas críticas de preocupação”, dentre elas, trabalho e economia, participação política, paz,
meio ambiente, erradicação da violência contra as mulheres e outras. Esses objetivos visam
incidir diretamente sobre a legislação e as políticas públicas nos países-membros. E devem ser
revisados a cada cinco anos.
97
30 anos da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim – Por Que Isso Importa para a Igualdade de
Gênero
98
50 anos depois: o legado do movimento Chipko da Índia.
99
Policy Paper sobre WPS na Região Árabe;
100
https://arabcsosfeminist.org/en/page/about-us.
218
combinação de fatores, como: a falta de vontade política, recursos insuficientes e estruturas
patriarcais enraizadas, ou violações sistemáticas de direitos humanos. No caso da Palestina, o
último exemplo de fatores somado às ocupações israelenses cria barreiras sólidas contra a
participação significativa das mulheres nos processos de paz. Em contraste, a região da ASEAN
demonstrou progressos notáveis101, com as Filipinas sendo o primeiro país asiático a adotar um
NAP em 2010, seguido por Indonésia, Tailândia e outros que integraram a perspectiva de gênero
em suas políticas de segurança nacional. Esta diferença de implementação revela como
contextos políticos e culturais distintos exigem abordagens adaptadas para garantir a efetividade
da Agenda WPS.
Além das questões culturais e políticas, crises econômicas, climáticas, desastres naturais
e conflitos, ao longo do último ano, contribuíram para a não-evolução - ou até mesmo para
retrocessos – na paridade de gênero de muitos países, principalmente na Ásia, Oriente Médio e
África. No entanto, contrariando o cenário negativo, várias iniciativas com diferentes focos, mas
com o mesmo objetivo de alcançar a igualdade de gênero, de facilitar o empoderamento
feminino e capacitação, proteção das mulheres e meninas em situação de violência e
vulnerabilidade, como conflitos e migrações, seguiram em andamento ao longo do último ano.
101
Plano de Ação Regional da ASEAN sobre Mulheres, Paz e Segurança, Status of the implementation of
the WPS agenda in the region: progress, challenges and opportunities, p. 16.
102
Banco de dados sobre planos de ação nacionais por região desenvolvido pela Liga Internacional de
Mulheres pela Paz e Liberdade;
103
Laboratório de Inovação de Gênero do Sul da Ásia
104
Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Asiático de Desenvolvimento, o Banco Europeu de
Reconstrução e Desenvolvimento, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID Invest, a
Corporação Financeira Internacional, o Grupo Banco Islâmico de Desenvolvimento e o Banco Mundial
(Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, e a Associação Internacional de
Desenvolvimento)
105
Iniciativa de Financiamento de Mulheres Empreendedoras | Iniciativa de Financiamento de Mulheres
Empreendedoras
219
Boa parte dos projetos aprovados (43%) foram para países
da África Subsaariana, incluindo: Camarões, Costa do Marfim,
Gana, Quênia, Mali, Moçambique, Nigéria, Senegal, Tanzânia e
Zâmbia. Cerca de 26% do financiamento foi investido no sul da Ásia,
incluindo Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka. Cerca de 20%
dos fundos foram distribuídos na região do Oriente Médio e Norte
da África, e o valor restante apoiou compromissos no Leste Asiático
e Pacífico, Europa e Ásia Central e América Latina e Caribe. Os
projetos apoiados pelo Banco Asiático de Desenvolvimento estão
em Fiji, Micronésia, Papua Nova Guiné, Sri Lanka e Vietnã. O Banco
Islâmico de Desenvolvimento atua em Bangladesh, Burkina Faso, Guiné, Niger, Nigéria, Senegal,
Serra Leoa e no Yemen.106 Um relatório, cobrindo o período de 1º de julho de 2023 a 30 de junho
de 2024, destaca as histórias inspiradoras de mulheres empreendedoras e os diversos projetos
apoiados pela WE-FI.
Essa foi a escolha que a Arábia Saudita fez para superar décadas de atraso – de 2017 à
2024 deu um salto em direitos e liberdade através de leis, mas principalmente através de
políticas, no âmbito da Visão 2030, que insere a força feminina para contribuir com
fortalecimento das atividades econômicas do país e diversificação da economia. Hoje, as
mulheres representam 36% da força de trabalho – um progresso significativo, considerando que
até 2018 não podiam dirigir e hoje dirigem trens, tratores e taxis, por exemplo, embora muito
ainda há que ser feito, como destacou o representante permanente da Arábia Saudita na ONU,
106
No Yemen, país devastado por 10 anos de guerra civil, o projeto, denominado BRAVE, se concentra nos
seguintes componentes: construir a resiliência do negócio através da capacitação; proporcionar a
recuperação das empresas e o apoio financeiro às mulheres empresárias; construir a resiliência das
cadeias de valor no país; criação da plataforma BRAVE IT para melhorar a interação com os
empreendedores. O projeto já impactou mais de 1.400 mulheres empreendedoras de cinco grandes
províncias do país do Golfo. https://www.we-fi.org/project/empowering-brave-women-in-yemen/
107
https://vimeo.com/1029770886
108
Marques, L. Mulheres na Força de Trabalho na Ásia e Região Mena. In: Cadernos CRIS-Fiocruz Informe
3-2024. P. 173-185.
220
Abdulaziz Alwasil, em evento paralelo, durante a 69a sessão da Comissão das Nações Unidas
sobre o Status da Mulher.109
Bangladesh fez o oposto. Mesmo tendo um Ministério dos Assuntos das Mulheres e da
110
Criança , a paridade econômica de gênero se deteriorou no últimos cinco anos e no último ano
caiu 40 posições no ranking de igualdade de gênero, passando a ocupar 139º lugar, segundo o
relatório Global sobre Desigualdade de Gênero 2024, do Fórum Econômico Mundial. Embora o
lema do ministério seja “Para todas as Mulheres. Direitos. Igualdade. Empoderamento”, não foi
o que aconteceu. Há contradições entre as leis e as políticas. Por exemplo: o Plano de Ação 2018-
2030 para acabar com o casamento infantil perde razão de existir quando uma lei permite o
casamento infantil, mediante solicitação. Um relatório da UNICEF de 2019, aponta Bangladesh,
dentre os países do Sul da Ásia111, com maior taxa de casamento de meninas entre 12 e 18
anos.112 O que esperar do regime de Hasina113, autoritarista, marcado por perseguições, pela
prisão em massa de oponentes políticos e sanções de direitos humanos?114
Dentre as várias iniciativas que visam fazer cumprir as leis e regulamentos de igualdade
de oportunidades e introduzir intervenções de qualificação, preenchendo lacunas e promovendo
a adoção de políticas e programas eficazes de gênero, como foco no empoderamento feminino
para alcançar a paridade de gênero, é a estratégia do Banco Mundial115. São os Laboratórios de
Inovação de Gênero (GIL, em inglês): Laboratório de Inovação de Gênero da África; Laboratório
de Inovação de Gênero do Oriente Médio e Norte da África; Laboratório de Inovação de Gênero
do Sul da Ásia; Laboratório de Inovação de Gênero na América Latina e no Caribe. Os laboratórios
visam buscar ideias inovadoras para gerar evidências rigorosas e criar intervenções inteligentes
para informar a concepção e implementação de políticas e programas relacionados a gênero nas
diferentes regiões, cada uma com sua especificidade. Por exemplo, no Sul da Ásia, onde o
casamento infantil é uma realidade comum, o empoderamento feminino pode ter efeitos diretos
na prevenção.116 Outro exemplo da importância de atuação dos GILs está na região MENA
(Oriente Médio e Norte da África), onde quatro em cada cinco mulheres em idade ativa não têm
emprego e cerca de um terço das mulheres não estão conectadas. Embora o MENA esteja
próximo da paridade de gênero nos resultados de educação e saúde, ainda existem lacunas no
emprego, ganhos, propriedade financeira e imobiliária, mobilidade, uso digital e acesso acessível
e aquisição de habilidades sociais, como tomada de decisão e liderança.117 E é a região que mais
vive conflitos, movimentos migratórios, por conflito ou eventos climáticos e, consequentemente,
pobreza.
109
https://www.arabnews.com/node/2593248/saudi-arabia
110
http://mowca.gov.bd/
111
Afghanistan, Bangladesh, Bhutan, India, Maldives, Nepal, Pakistan, and Sri Lanka.
112
World Bank Document , p.2.
113
Sheikh Hasina, primeira-ministra de Bangladesh por 15 anos até renunciar em agosto de 2024. Foi
saudada por liderar o progresso econômico do país, em grande parte graças à força de trabalho fabril, em
sua maioria feminina, que impulsiona seu setor de exportação de vestuário. Mas, após cinco mandatos,
se tornou autocrática e promoveu repressões às oposições – o índice de liberdade de imprensa chegou a
ser menor que a Rússia.
114
O estupro de uma menina de oito anos pelo cunhado de 18 anos provocou protesto em todo
Bangladesh. Além da prisão, manifestantes exigiram que o governo acelere a justiça para as vítimas de
estupro e reforme as leis relacionadas à segurança de mulheres e crianças.
115
A Estratégia de Gênero do GBM para 2024-30 propõe “a ousada ambição” de acelerar a igualdade de
gênero para acabar com a pobreza em um planeta habitável.
116
Investigação
117
Laboratório de Inovação de Gênero do Oriente Médio e Norte da África (MNAGIL)
221
Relatório Global sobre Desigualdade de Gênero 2024 do Fórum Econômico Mundial
Com mais da metade da população abaixo de 30 anos, o Oriente Médio e Norte da África
(MENA) poderia colher frutos da demográfico se conseguisse superar o maior obstáculo que
limita seu crescimento: uma taxa de desemprego de 42,5% entre mulheres árabes, o triplo da
média global. Há uma lacuna de emprego em toda a região que persiste apesar do progresso na
alfabetização e educação das mulheres. Embora lentamente, o relatório mostra que a
representação das mulheres na força de trabalho está evoluindo – a paridade de gênero em
funções técnicas e profissionais é superior a 70% em sete economias (Marrocos, Sudão, Tunísia,
Argélia, Kuwait, Líbano e Israel) e superior à média global (40,5%) em Omã (43,3%), Israel (46,7%)
e Jordânia (90,3%) para mulheres em cargos legislativos, oficiais seniores e gerenciais.
118
Ver em Marques, L. Mulheres na Força de Trabalho na Ásia e Região Mena. In: Cadernos CRIS-
FiocruzInforme 3-2024. P. 173-185.
119
https://wbl.worldbank.org/en/wbl
120
https://www.weforum.org/publications/global-gender-gap-report-2024/digest/
222
Arábia Saudita lidera as iniciativas regionais para paridade de gênero na região Árabe
Com essa visão, Arábia Saudita organizou e sediou a segunda edição do Global Labour
Market Conference, uma conferência que reúne pesquisadores, economistas, empreendedores
e autoridades institucionais e governamentais de mais de uma centena de países para debater
os desafios do mercado de trabalho como desigualdade de gênero, desemprego entre jovens e
50+, desenvolvimento de habilidades e, principalmente, o impacto da tecnologia nesse setor,
principalmente da inteligência artificial. O evento aconteceu durante três dias, em final de
janeiro e contou com mais de cinco mil participantes do mundo todo, mais de 200 palestrantes
que discutiram seis pilares: habilidades para sempre; produtividade em recuperação, juventude
em apuros; ganha-ganha de uma força de trabalho móvel; crescimento de empregos verdes para
uma economia justa e PMEs e novos modelos de trabalho criadores de empregos. Ver programa.
Como destacou o representante saudita na ONU, Alwasil, “as mulheres são parceiros
críticos na jornada em direção a um futuro próspero”. Ele reconheceu que os desafios são
persistentes, especialmente em zonas de conflito. Embora tenha havido progressos, as crises
aceleram um declínio preocupante, segundo ele.
Considerações Finais
121
https://www.arabnews.com/node/2593248/saudi-arabia
122
https://www.arabnews.com/node/2593248/saudi-arabia
223
empoderamento político e escolaridade – está bem abaixo das Filipinas, da Austrália, Tailândia,
Guiana, Peru, Zimbabwe, Servia ou Tanzânia, por exemplo.
123
Gisela Lopes, presidente do Conselho de Comércio Varejista da Fecomercio em
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=ia3DkZilsOI
224
Sul Quântico
Quantum South
André Costa Lobato
Resumo. A China realizou comunicação quântica segura com a África do Sul, marcando avanço
na segurança digital. No dia 26, autoridades da China e da Índia reuniram-se em Pequim e
concordaram em implementar os consensos estabelecidos por Xi Jinping e Narendra Modi
durante a cúpula dos BRICS de 2024 em Kazan, reforçando o multilateralismo e a cooperação
regional. Já em 14 de março, vice-ministros da China, Rússia e Irã emitiram comunicado contra
sanções unilaterais e reafirmaram o caráter pacífico do programa nuclear iraniano. Nos dias 23
e 24, o Fórum de Desenvolvimento da China reuniu representantes de mais de 100 países para
debater inovação, transição verde, reforma financeira e globalização. Li Qiang defendeu o
multilateralismo e Dilma Rousseff foi reeleita para o Novo Banco de Desenvolvimento. Na área
da saúde, pesquisa apontou desconfiança da classe média-baixa no sistema, apesar da ampla
cobertura.
Diplomática
124
China and India Hold Consultations between Officials of Foreign Ministries_Ministry of Foreign Affairs
of the People’s Republic of China [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.fmprc.gov.cn/eng/xw/wjbxw/202503/t20250328_11583676.html
225
cooperação em mecanismos multilaterais como a Organização de Cooperação de Xangai,
defendendo o multilateralismo e os interesses do Sul Global. Xi e Modi fizeram uma reunião
bilateral em Kazan, na Rússia, durante encontro dos Brics em outubro passado125. Na segunda
semana deste março, os três países realizaram exercícios militares marítimos.126
China, Coreia do Sul e Japão realizaram, em 30 de março de 2025129, seu primeiro diálogo
econômico em cinco anos, em resposta à iminente imposição de novas tarifas comerciais pelo
presidente dos EUA, Donald Trump. Os ministros do Comércio dos três países concordaram em
avançar nas negociações para um acordo de livre comércio trilateral e fortalecer a
implementação da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP), da qual todos fazem parte.
As nações também decidiram cooperar mais estreitamente em cadeias de suprimentos,
comércio de semicondutores e controles de exportação. A medida foi interpretada como uma
125
President Xi Jinping Meets with Indian Prime Minister Narendra Modi_Ministry of Foreign Affairs of
the People’s Republic of China [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.mfa.gov.cn/eng/xw/zyxw/202410/t20241023_11514914.html
126
China, Iran and Russia to conduct joint naval exercise in March - Ministry of National Defense [Internet].
[citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
http://eng.mod.gov.cn/xb/MilitaryServices/News_213106/16373856.html
127
Joint Statement of the Beijing Meeting between China, Russia and Iran_Ministry of Foreign Affairs of
the People’s Republic of China [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.fmprc.gov.cn/eng/xw/wjbxw/202503/t20250314_11575903.html
128
各方在中国发展高层论坛2025年年会上共话中国经济——为世界经济发展提供“稳定锚”__中国
政府网 [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.gov.cn/yaowen/liebiao/202503/content_7015526.htm
129
South Korea, China, Japan agree to promote regional trade as Trump tariffs loom. Reuters [Internet].
30 de março de 2025 [citado 31 de março de 2025]; Disponível em: https://www.reuters.com/world/asia-
pacific/south-korea-china-japan-agree-promote-regional-trade-trump-tariffs-loom-2025-03-30/
226
ação conjunta de reação à estratégia dos EUA de contenção do mercado de microeletrônica no
Leste Asiático130.
Sanitária
Socioeconômica
130
China, Japan, South Korea will jointly respond to US tariffs, Chinese state media says. Reuters [Internet].
31 de março de 2025 [citado 31 de março de 2025]; Disponível em:
https://www.reuters.com/world/china-japan-south-korea-will-jointly-respond-us-tariffs-chinese-state-
media-says-2025-03-31/
131
Jiang Y, Peng B, Jin D, Peng X, Zhang J. Confidence in China’s healthcare system: a focus on lower-
middle class. Health Economics Review. 18 de março de 2025;15(1):23.
132
王丹宁. China unveils suite of self-developed intelligent medical rescue equipment [Internet]. [citado
29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.chinadaily.com.cn/a/202503/29/WS67e7f80ca3101d4e4dc2ba30.html
133
China Focus: Chinese-led team achieves world’s first 10,000-km quantum-secured communication -
BELT AND ROAD PORTAL [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://eng.yidaiyilu.gov.cn/p/0QMOUSNL.html
134
Li Y, Cai WQ, Ren JG, Wang CZ, Yang M, Zhang L, et al. Microsatellite-based real-time quantum key
distribution. Nature. 19 de março de 2025;1–8.
227
Guo Shuqing, ex-secretário do Partido Comunista no Banco Central da China e ex-chefe
do órgão regulador bancário e de seguros do país, destacou no Fórum de Boao para a Ásia,
realizado em 25 de março, apontou a necessidade de corrigir a disparidade no sistema
previdenciário chinês. Segundo ele, o valor médio da pensão mensal para trabalhadores urbanos
aposentados é de 3.200 yuans (US$ 441) — 14 vezes maior do que a pensão recebida por
agricultores, que é de apenas 240 yuans (US$ 33). Essa diferença evidencia as desigualdades
entre áreas urbanas e rurais no acesso à seguridade social135.
135
Wang Z. Calls to address pension inequality grow [Internet]. 2022 [citado 29 de março de 2025].
Disponível em: https://www.pekingnology.com/p/calls-to-address-pension-
inequality?publication_id=47580&utm_campaign=email-post-title&r=t1lz&utm_medium=email
228
Ministério da Saúde (HHS) dos EUA lança plano de transformação
U.S. Department of Health (HHS) launches transformation plan
Guto Galvão
Summary: The Department of Health and Human Services (HHS) has launched a transformation
plan designed to make America healthier. This restructuring aligns with the President's Executive
Order on workforce optimization. The Kayser Family Foundation has produced a paper discussing
the potential impact of decade-long cuts in state budgets totaling $880 billion in federal
Medicaid funding. Medicaid, jointly funded by the states and the federal government, is a
significant portion of state budgets.
2. Centralização de Funções
229
• Recursos Humanos, Tecnologia da Informação, Aquisições, Assuntos Externos e Política
serão centralizados para reduzir redundâncias e melhorar a coordenação.
• Administração para uma América Saudável (AHA): Consolida várias agências para
coordenar programas de cuidados crônicos e prevenção de doenças.
• Secretário Assistente para Fiscalização: Fornece supervisão para combater desperdício,
fraude e abuso.
• Escritório de Estratégia: Combina o escritório do Assistant Secretary for Planning and
Evaluation (ASPE) e a Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), para realizar
pesquisas e avaliar a eficácia dos programas do HHS.
• Programas críticos que apoiam idosos e pessoas com deficiência serão divididos entre
ACF, ASPE e CMS.
230
Os estados precisariam aumentar seus gastos em tal montante para manter os níveis atuais do
Medicaid, o que poderia levar a um aumento de 29% nos gastos estaduais com Medicaid por
residente.
• Idosos e Pessoas com Deficiências: Cortes de US$ 88 bilhões equivalem aos gastos do
Medicaid com 3 milhões de idosos e pessoas com deficiências (18% dos beneficiários
deste grupo).
• Adultos: Os cortes equivalem aos gastos com 14 milhões de adultos (38% dos
beneficiários deste grupo).
• Crianças: Os cortes equivalem aos gastos com 22 milhões de crianças (76% dos
beneficiários deste grupo).
• Califórnia: US$ 13 bilhões em cortes, US$ 300 por residente, 24% dos gastos estaduais
com Medicaid por residente.
• Texas: US$ 6 bilhões em cortes, US$ 200 por residente, 25% dos gastos estaduais com
Medicaid por residente.
• Nova York: US$ 10 bilhões em cortes, US$ 400 por residente, 22% dos gastos estaduais
com Medicaid por residente.
Os cortes federais propostos de US$ 880 bilhões no Medicaid poderiam ter um impacto
profundo nos orçamentos estaduais e na cobertura do Medicaid. Os estados enfrentariam
escolhas difíceis para gerenciar esses cortes, potencialmente levando ao aumento de impostos
ou à redução de gastos em outros programas, como educação. A análise destaca o significativo
fardo financeiro e a potencial redução na cobertura do Medicaid para milhões de beneficiários.
231
Big Pharma: Trump enfrentará a China?136
Reinaldo Guimarães
1. O que se conhece hoje sob o nome de Big Pharma é um processo de ajuste político,
econômico, tecnológico e produtivo da indústria farmacêutica ocorrido a partir da década de
1990, nascido nos EUA e exportado para outros países grandes produtores de medicamentos
localizados no Hemisfério Norte. Mesmo empresas cujas matrizes estão em outros países, mas
que negociam suas ações na Bolsa de Nova York.
2. Dentre todas as intervenções que Trump vem realizando internamente, para o tema deste
texto destacam-se as que afetam as políticas de ciência, tecnologia e inovação e também pela
regulação do mercado de medicamentos e outros produtos industriais de saúde. São elas a Food
and Drug Administration (FDA), o National Institutes of Health (NIH) e uma agência criada
recentemente (2022) nos marcos do NIH, embora independente, a Advanced Research Projects
Agency for Health (ARPA-H). É com elas que a Big Pharma interage, direta e permanentemente
com a FDA e algo mais indiretamente com as demais.
Vale ainda mencionar outra agência cuja relevância está menos na sua relação com a
indústria farmacêutica, mas que é relevante no plano da política de Trump com o sistema ONU
e, em particular com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se do Centro de Prevenção
e Controle de Doenças (CDC). O tratamento dado por Trump à OMS tem como um de seus
argumentos o suposto fato de que ela, além de incompetente e gastadora, está atualmente
governada pela China, o que é falso. Pelo contrário, a OMS é cada vez mais governada pelas
doações governamentais voluntárias dos EUA (além da contribuição prevista estatutariamente)
e da filantropia predominantemente norte americana. E, no plano político, há muitos anos as
136
Publicado originalmente em Outras Palavras/Outra Saúde, em 24/03/2025. Acesso ao original: Big
Pharma: Trump enfrentará a China? - Outras Palavras
137
Em tradução livre, trecho do memorando presidencial sobre a política de investimentos dos EUA.
Fonte: Presidential Actions. America First Investment Policy. February 21,
2025 https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/02/america-first-investment-policy/
138
Guimarães, R. – Sobre a Farma e a Big Pharma. Cien Saude Colet 2025;
30:e17082024. https://www.scielo.br/j/csc/a/mwkzrGJ9mrB9YR5f56qtNhK/?format=pdf&lang=pt
232
empresas da Big Pharma detêm grande poder político nos colegiados da OMS, em particular nos
debates sobre propriedade intelectual.
Uma expressão atual desse poder está na discussão de um Acordo Mundial Sobre
Pandemias, quase inteiramente paralisado pela resistência da Big Pharma quanto a itens
relacionados à propriedade intelectual e ao compartilhamento de informações e de amostras de
patógenos. Outra questão bem atual é a dúvida sobre a participação do CDC no fórum técnico
internacional que anualmente discute a escolha de quais cepas de vírus devem constar da vacina
sazonal contra a gripe. Esta decisão é compartilhada pela OMS para todos os países que fabricam
a vacina. Essas ações de Trump junto ao CDC têm levantado em todo o mundo um temor do
impacto que podem vir a causar, particularmente nos países de renda baixa do Sul Global.
3. Nesse cenário, até este momento, Trump tem atuado quase exclusivamente na ponta da
pesquisa. Diretamente nas agências de fomento, seja fazendo bullying com a pauta ESG
(Environmental, Social and Governance, ou “Ambiental, Social e de Governança”) e as
‘enxugando’ violentamente em termos de recursos humanos, como parte da política de Estado
mínimo, sob a capa de melhorar sua eficiência. Ainda não se sabe qual o impacto essa política
terá no orçamento do NIH no ano que vem. Atualmente, ele vale cerca de 40 bilhões de dólares.
Importante notar que ainda no governo Biden, com o apoio dos dois partidos, começou a ser
discutida no Congresso uma reforma do NIH que, na minha leitura, destinava-se a reorientar a
agência em face da disputa geopolítica com a China e que, a contar com os termos da epígrafe
que abre este texto, tende a ser ainda mais radicalizada neste governo Trump.
139
Guimarães, R. – Pesquisa Translacional: uma interpretação. Ciência & Saúde Coletiva, 18(6):1731-1744,
2013. https://www.scielo.br/j/csc/a/xYQKdDNpz6NkBrykdqxFqnz/?format=pdf&lang=pt
233
No que se refere ao ARPA-H, cujo orçamento é muito pequeno quando comparado ao
do NIH (cerca de 1,5 bilhão de dólares) não há muita informação, exceto a troca de seus
executivos. Aqui, vale um breve comentário sobre essa família de agências que trata de ‘projetos
avançados’ (defesa, energia e saúde). Elas foram criadas para apoiar projetos mais diretamente
relacionados aos interesses do Estado norte-americano, havendo grande inclinação para
tecnologias duais entre os projetos que apoiam.
4. Os interesses da Big Pharma nos Estados Unidos são defendidos pela Pharmaceutical
Research and Manufacturers of America (PhRMA) que reúne não apenas as empresas cuja
matriz é norte-americana. Em 24 de fevereiro passado, representantes dessa organização se
reuniram formalmente pela primeira vez com Trump e dentre suas principais reivindicações
estavam a revogação da ‘Lei de Redução da Inflação (IRA)’ que permite uma redução de preços
de alguns medicamentos muito utilizados e a atenuação das medidas antitruste, ambas
estabelecidas pelo governo Biden.
Há vários anos o governo federal nos EUA manifesta preocupação com a relação entre
as estratégias da Big Pharma e o atendimento das necessidades de medicamentos pela
população. Essas estratégias são voltadas para obter o máximo de receitas financeiras e,
portanto, cada vez mais se desinteressam em investir em medicamentos que fornecem menos
receitas, mas são de importância crucial para a população141. Ilustra isso saber que cerca 90% do
mercado de medicamentos nos EUA, quando medido em unidades farmacêuticas (não em valor),
é composto por medicamentos genéricos. Esta situação, que vem se desenvolvendo há vários
anos, levou a que o mercado americano desses medicamentos se voltasse, primeiro para a Índia
e, mais tarde, para a China. Na relação do governo Trump com a China no campo dos
medicamentos, esta é a equação a ser enfrentada.
140
Trump Threatens Big Pharma With Tariffs—Unless They Reshore Manufacturing:
Bloomberg https://www.biospace.com/policy/trump-threatens-big-pharma-with-tariffs-unless-they-
reshore-manufacturing-bloomberg
141
Guimaraes, R. – A Big Pharma, uma invenção norte-americana. Outras Palavras, 2024 (publicado
originalmente em versão algo modificada no fascículo intitulado ‘O Poder Norte americano’ do
Observatório Internacional do século XXI). https://outraspalavras.net/outrasaude/a-big-pharma-uma-
invencao-norte-americana/
234
6. A proposta de Trump, que não tem sido apenas para a indústria farmacêutica, é a estratégia
de ‘reshoring’, isto é, fazer com que as manufaturas norte americanas sediadas na China voltem
aos EUA, sob pena de arcarem com tarifas de importação. Foi isso que Trump falou aos
representantes da Big Pharma na reunião que tiveram no final de fevereiro. Mas o fato é que
essa estratégia, além de lenta, fará com que os preços dos medicamentos aumentem
substancialmente. Difícil imaginar uma solução para esse problema.
Mas o problema não está localizado apenas nessa fatia do mercado que se preocupa
com o acesso de milhões de pessoas aos medicamentos. Em setembro de 2024 (governo Biden),
foi aprovada nos EUA uma Lei de Biossegurança, que mira essencialmente em biotecnologia e
nas relações entre pequenas empresas norte-americanas ‘de ponta’ – startups e algumas um
pouco maiores – com empresas chinesas. Neste caso, o alvo não são os medicamentos para
milhões, mas é o coração da Big Pharma. Medicamentos biológicos, muito caros e, a maioria
deles, destinados a doenças raras, alguns tipos de cânceres e imunoterapias.
A lei proíbe que empresas norte americanas que recebem fundos ou que possuem
contratos com o governo façam negócios com um conjunto de empresas biotecnológicas
chinesas consideradas suspeitas. Por exemplo, grants do NIH, do ARPA-H e contratos diretos com
ministérios federais. Segundo a lei, o encerramento dessas relações deve acontecer até 2032.
Não será surpresa se Trump revise a lei para antecipar este limite de tempo. Para dar uma ideia
do envolvimento das empresas norte americanas com chinesas, 60 delas declararam
colaborações com apenas uma das chinesas na lista das proibidas142 (6).
O mercado mundial de medicamentos (em valor) tem os EUA como seu principal ator,
com mais de 40% desse mercado. Além disso, com a exceção das tecnologias de defesa e das
TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação), é o segmento industrial mais intensivo em P&D
no mundo. Impossível que Trump não dedique a ele uma parte importante de suas
preocupações. E a disputa com a China está no centro da nova geopolítica norte americana. No
entanto, como tentei mostrar neste texto, as conexões entre a Big Pharma e a indústria chinesa
tornaram-se intensas e complexas nos último dez ou pouco mais anos. Desenrolar este novelo
não será nem simples nem fácil.
142
Disputa entre EUA e China chega à indústria farmacêutica e preços dos medicamentos podem
subir https://investnews.com.br/the-wall-street-journal/disputa-entre-eua-e-china-chega-a-industria-
farmaceutica-e-precos-dos-medicamentos-pode-subir/
235
A tocha bruxuleante143
Adhemar Bahadian
A cena filmada e exibida mundo afora lembra os filmes de Costa Gravas sobre os terríveis
anos da ocupação soviética de Praga. Além de grotesca, a atitude das autoridades americanas
foi imediatamente aprovada pelo Vice-Presidente Vance que parece se especializar em tornar o
inverossímel rídiculamente aceitável.
Não se deve porém respirar aliviado. A crise autoritária dos Estados Unidos sobe de nível
e pretende desafiar o poder judiciário. Recentemente, Trump proibiu o executivo americano
contratar escritórios de advocacia que, segundo ele, teriam hostilizado as pretensões tirânicas,
sejam hoje ou no passado recente.
Trump conta com o acovardamento da Suprema Corte Americana pelo fato de, nela, a
maioria dos juízes serem considerados conservadores.
O desafio à Suprema Corte parte de uma visão distópica do que seja conservadorismo,
confundindo-o com o arbítrio e com a ignorância dos princípios gerais do Direito.
É a mesma rationale autoritária que permite a Orban fazer da Hungria uma ditadura de
tipo “moderna", na qual as eleições não são eliminadas, mas o poder judiciário se torna uma
mão subsidiária do ditador que governa indefinidamente .
Trump não esconde sua “inveja" de Órban e tem por ele ostensiva admiração, da mesma
forma que defende os métodos de Putin e do ditador da Coréia do Norte, cujo nome não
pretendo me dar sequer o cuidado de escrever.
Acho que o fenômeno que estamos a ver nos Estados Unidos da América é
particularmente assustador porque Trump consegue convencer parcela considerável de seu
eleitorado que a tão decantada MAGA não fere de morte a Democracia.
143
Publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 30 de março de 2025, republicado nos Cadernos com
autorização do Autor, ao qual, mais uma vez, agradecemos. Fonte:
https://www.jb.com.br/brasil/opiniao/artigos/2025/03/1054922-a-tocha-bruxuleante.html
236
Os disparates abusivos que estamos a ver serem consumados por Trump no cenário
internacional, todos eles ao arrepio do Direito Internacional e de tratados livremente firmados
pelos Estados Unidos da América, adquirem cada vez mais uma “aquiescência” não só do
eleitorado americano, mas também de “correntes ideológicas” supostamente afinadas com a
Democracia.
A indiferença com que Trump “monetariza" a política externa de seu país - em que todo
apoio é suscetível de ser “gratificado” com um naco de território ou de terras raras - é um brutal
incentivo à uma diplomacia parasitária, em que o único princípio válido é a exclusiva vantagem
do mais forte.
Este “angu” de formulações jurídicas estapafúrdias não é, nem inocente, nem muito
menos uma coincidência. No projeto MAGA, os Estados Unidos da América são apresentados
aos eleitores como um país espoliado por seus próprios aliados, afirmação fácil de comprovar
com o tratamento dispensado por Trump ao Canadá e à Europa.
Diante deste quadro que esbocei em apenas em seus aspectos mais evidentes, a
Democracia perde o seu principal sustentáculo, a lei e sobretudo a Magna Carta.
Decorre daí, como é óbvio, que o Poder Judiciário americano se defronta com a maior
hostilidade jamais vista. A política autoritária em gestação é apresentada como a “restituição da
grandeza roubada” dos Estados Unidos da América.
Para complicar, temos que prestar bem atenção que a doutrina Trump tem apoio
declarado de um movimento internacional, em que forças regressivas se reforçam umas as
outras. Umas mais ostensivas do que outras porque, queiramos ou não, a política de Trump
beneficia sobretudo os super-ricos.
Não há de parecer abusivo que aqui recorde o “imbroglio" entre Musk e as autoridades
judiciárias brasileiras, em que Musk procura sensibilizar a justiça americana para a ‘indevida”
interveniência do Supremo Tribunal Federal contra a “ liberdade de expressão” das Bigthecs
americanas. Não são poucos os que caem nesta cantilena de Musk aqui no Brasil. E põem a culpa
no nosso Supremo Tribunal Federal.
237
CRÉDITOS DOS AUTORES DOS CADERNOS
Ana Carol Aldapi Vaquera - Doutoranda em Ciências Políticas, UFSCar; Mestre em Ciências
Políticas e Relações Internacionais, UFPB; Licenciatura em Ciências Políticas, Universidad
Católica Boliviana (titulação revalidada em Relações Internacionais pela UFPB)
André Lobato - Mestre em mídias globais e comunicações, Doutor pela UFRJ, membro das
equipes do CRIS e do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, Fiocruz
Augusto Paulo José da Silva - Biólogo, mestre em biologia, Moldova State University, assessor
e pesquisador, Cris/Fiocruz
Caio Murta - Graduando, Instituto de Relações Internacionais (IRI), Universidade de São Paulo
Claudia Chamas - Pesquisadora sênior, CDTS Fiocruz e Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação em Doenças de Populações Negligenciadas
Denise Oliveira e Silva - Doutora em saúde pública, Pós Doutora em Antropologia, Pesquisadora
em Saúde Pública, Fiocruz Brasília
Diana Reyna Zeballos Rivas - Médica, Mestre em Medicina e Saúde, Doutoranda do Instituto de
Saúde Coletiva, UFBA
Erica Kastrup - Mestre em Saúde Global e Diplomacia da Saúde, Doutora em História das
Ciências e da Saúde, Analista do Cris/Fiocruz
Felix Júlio Rosenberg - Médico veterinário, mestre em ciências médicas. Diretor do Fórum
Itaboraí, Fiocruz. Secretário Executivo da RINSP/CPLP, coordenador da Rede Latino-Americana
e do Caribe de Institutos Nacionais de Saúde Pública, IANPHI
238
Giacomo Giannelli - Graduando em Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo
Giulia Mariano Machado - Graduanda em Saúde Pública na FSP USP e aluna de iniciação
científica em Saúde Ambiental
Júlia Moraes e Silva - Graduada em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-
USP) e Mestranda em Saúde Pública na FSP-USP
Isis Pillar Cazumbá da Cruz - MBA em Gestão de Projetos e Relações Internacionais pela
Universidade Estácio de Sá. Pesquisadora, CRIS/Fiocruz
Juan Garay - Professor of global health equity in Spain (ENS), Mexico (UNACH) e Cuba (ELAM,
UCLV and UNAH); Pesquisador Visitante Sênior, CRIS/Fiocruz
Laurenice Pires - Assistente Social, mestre em Serviço Social, doutora em Saúde Pública na
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz
Lúcia Marques - Jornalista, mestre em Saúde Pública, analista de gestão em saúde pública,
assessora Programa Fiocruz na Antártica, CRIS/Fiocruz
Luiz Augusto Galvão - Mestre em saúde pública, doutor em saúde coletiva. Professor adjunto
na Universidade Georgetown, EUA, e pesquisador sênior do Cris/Fiocruz
Marina Sujkowski Lima - Mestranda em Saúde Pública pela FSP-USP e graduada em Relações
Internacionais pelo IRI-USP
239
Mateus Brito - Doutorando e Mestre em Saúde Coletiva (ISC/UFBA), alumni do Certificado em
Estudos Afro-Latino-Americanos (ALARI/Harvard University), especialista pela Residência em
Saúde da População do Campo (UPE), Bacharel em Fisioterapia (UNISBA)
Patrícia Lewis Carpio - Doutoranda em Saúde Coletiva (ISC-UFBA), Mestre em ciências pela USP,
Graduada em Psicologia no Peru, pesquisadora do Observatório Saúde e Migração (OSM) e
integrante da FENAMI.
Paulo Marchiori Buss - Médico, doutor em ciências. Professor emérito da Fiocruz, Coordenador
do Cris/Fiocruz, membro titular da Academia Nacional de Medicina, Presidente da Alianza
Latino-americana de Salud Global - ALASAG
Rafael Gomes França - Doutorando da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
240
avaliação e informação estratégica (ISC/UFBA), Especialista em análise da situação de saude
(UFG), Mestre em Saúde Pública e Doutoranda em Saude Coletiva, ISC/UFBA
241
Cadernos CRIS Fiocruz sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde
Desde abril de 2020 o CRIS vem produzindo Cadernos sobre Saúde Global e Diplomacia
da Saúde, um dos produtos do Observatório CRIS de Saúde Global e Diplomacia da
Saúde. Entre 2020 e 2024 foram produzidos 106 Informes quinzenais. Para 2025 está
programada a edição de 24 fascículos quinzenais. Os interessados na coleção podem
acessar ou fazer download de artigos ou edições completas em:
https://portal.fiocruz.br/cadernos-cris
https://www.youtube.com/playlist?list=PLz0vw2G9i8v-
mMVaQPrzpQUQhqa-0obSN
Próximos Seminários
242
FICHA CATALOGRÁFICA
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Centro de Relações Internacionais em Saúde
Centro Colaborador OMS/OPAS em Diplomacia da Saúde Global e Cooperação Sul-Sul
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nota: Os artigos dos Cadernos CRIS/FIOCRUZ sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde são
de responsabilidade de seus autores a as opiniões expressas nos mesmos não
necessariamente coincidem com as opiniões dos organizadores ou do Centro de Relações
Internacionais em Saúde da Fiocruz.
243