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5 - Cadernos Cris-Fiocruz - Informe 02-04-2025 - Sobre Saúde Global e Diplomacia Da Saúde Final

O documento é uma publicação do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, abordando a saúde global e a diplomacia em um contexto internacional dinâmico entre 20 de março e 02 de abril de 2025. Ele discute eventos significativos, como a Assembleia Geral da ONU, a Cúpula da CELAC e as repercussões das políticas dos EUA sob a administração Trump, incluindo cortes em ajuda externa e suas consequências para a saúde global. Além disso, o documento destaca a importância da Agenda 2030 e os desafios enfrentados na promoção da saúde e desenvolvimento sustentável na América Latina e Caribe.
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Fundação Oswaldo Cruz

Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS)


CADERNOS CRIS/FIOCRUZ 05/2025
20 de março a 02 de abril de 2025

Publicação Digital
Produção coletiva dos trabalhadores do CRIS-FIOCRUZ
Rio de Janeiro, 03 de abril de 2025

1
SUMÁRIO

04 - Apresentação - Paulo M. Buss, Erica Kastrup e Fabiane Gaspar

Sistema Nações Unidas

16 - Saúde Global na Assembleia Geral das Nações Unidas 2025 - Paulo Buss e Santiago Alcázar

20 - Redução e cortes de investimentos: uma equação mortal - Paula Reges, Luana Bermudez e
Luiz Augusto Galvão

26 - Direitos humanos e “Razão Humanitária”, um conflito que se reflete na redução do alcance


e efetividade material dos direitos humanos - Tensões e conflitos na semana de
encerramento da 58ª Sessão do CDH - Armando De Negri Filho

55 - Poluição Atmosférica e Crise Climática: O Efeito Combinado na Saúde Humana e a Urgência


de Ação - Danielly de P. Magalhães e Luiz Augusto Galvão

64 - Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Organização Ibero-Americana de Seguridade


Social (OISS) lançam novo Relatório sobre a Saúde e Segurança no Trabalho na América
Latina, sob a perspectiva de gênero - René Mendes

74 - Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova política migratória global - Rafael Gomes
França, Caio Murta, Giacomo Giannelli, Giulia Mariano Machado, Júlia Moraes, Marina
Sujkowski e Deisy de Freitas Lima Ventura

80 - 69ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Condição da Mulher - Maria Teresa
Rossetti Massari, Priscilla Paiva Gê Vilella dos Santos e Maria Auxiliadora Souza Mendes
Gomes

90 - Agenda movimentada no campo da nutrição global: novo fôlego para a Década de Ação
sobre a Nutrição a partir do enfrentamento da fome e da má nutrição global - Eduardo
Nilson e Denise Oliveira

102 - ONU impulsiona luta global contra o comércio ilegal de artefatos culturais - Fabiane
Gaspar, Gisele Sanglard, Heliton Barros e Vitor Rodrigues

110 - As Reuniões Anuais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - Isis Pillar


Cazumbá

115 - O primeiro Fórum Econômico da América Latina e do Caribe promovido pelo Banco de
Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) - Laura Tavares Soares

122 - Reformas Urgentes da Dívida para Prevenir "Inadimplências no Desenvolvimento" e


Atividade Global de Propriedade Intelectual Atingiu Novos Patamares - Claudia Chamas e
Bernardo Bahia Cesário

Movimentos sociais globais e saúde

128 - Um apelo à esperança no meio de um mundo em turbulência - Diana Zeballos, Patrícia


Lewis Carpio, Laurenice Pires, Matheus dos Santos da Silveira, Tatiana Cerqueira Machado

2
Medrado, Renan Amaral Oliveira, Jesús Enrique Patiño Escarcina, Ana Carol Aldapi
Vaquera e Luis Eugênio de Souza

Territórios, multilateralismos regionais e grupos de países

149 - A voz do Sul Global - Regina Ungerer, Erica Kastrup e Livia Ferreira

172 - Saúde e meio ambiente são discutidos no G20. Finanças, Bancos Centrais e os grupos de
engajamento do G7. Economia e Saúde no radar da quinzena da OCDE - Pedro Burger,
Vitória Kavanami, João Miguel Estephanio, Thaiany Medeiros Cury, Nina Bouqvar e Paulo
Esteves

181 - Brasil cobra ações para o equilíbrio entre segurança energética e desenvolvimento
sustentável dos países do BRICS - Claudia Hoirisch

187 - Entre o “porrete” econômico e o possível enfraquecimento da cooperação em saúde: o


complexo desafio da concertação latino-americana - Sebastián Tobar, Samia de Brito
Franco e Miryam Minayo

198 - África - Augusto Paulo Silva, Manuel Mahoche, Tomé Cá, Dala Djop e Felix Rosenberg

209 - Na Europa, Trump segue ameaçando, Putin segue resistindo e um cessar-fogo segue
distante - Ana Helena Gigliotti de Luna Freire

216 - Igualdade de Gênero ainda tem muitos desafios na Ásia e região MENA - Lúcia Marques e
Bárbara Nogueira

225 - Sul Quântico - André Costa Lobato

229 - Ministério da Saúde (HHS) dos EUA lança plano de transformação - Guto Galvão

232 - Big Pharma: Trump enfrentará a China? - Reinaldo Guimarães

236 - A tocha bruxuleante - Adhemar Bahadian

Autores deste Caderno - 238

**Eventos do CRIS e acessos a materiais do CRIS - 242

***Para citações, ver ‘Ficha catalográfica’ - 243

3
CADERNOS CRIS/FIOCRUZ
Informe sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde
No. 05/2025 – 20 de março a 02 de abril de 2025

Apresentação

A quinzena foi trepidante na arena internacional, particularmente a 2 de abril, pela


confirmação da agenda da Casa Branca da implantação dos tarifaços de Trump, com reações
mundo afora. Mais adiante comentaremos o tema. Vamos nos dedicar, inicialmente, da agenda
do desenvolvimento e da saúde global na nossa região.

A América Latina e o Caribe debatem nesta semana a Agenda 2030 e o Desenvolvimento


Sustentável no VIII Fórum de Países da América Latina e do Caribe sobre o Desenvolvimento
Sustentável, reunindo representantes de alto nível dos 33 países da região, entre 31 de março
e 04 de abril, na sede da CEPAL, em Santiago do Chile. A 5 anos do ano aprazado para alcançar
as metas dos ODS, o ODS3 – Saúde e bem-estar para todos em todas as idades estará em
escrutínio especial, junto com o ODS 5: Igualdade de Gênero, o ODS 8: Trabalho Decente e
Crescimento Econômico; o ODS 14: Vida na Água e o ODS 17: Parcerias para os Objetivos.

Além dos representantes de alto escalão de governos dos 33 países da região, estarão
presentes agências, fundos e programas do sistema das Nações Unidas, instituições financeiras
internacionais e bancos de desenvolvimento, organizações de integração regional e sub-
regional, sociedade civil, órgãos parlamentares, academia e setor privado, tanto de países da
América Latina e do Caribe quanto de outras regiões.

Como de praxe, a CEPAL preparou o informe anual sobre progressos e desafios da


Agenda 2030 na região (América Latina y el Caribe y la Agenda 2030 a cinco años de la meta:
¿Cómo gestionar las transformaciones para acelerar el progreso? - Octavo informe), que já está
disponível para os interessados em: https://repositorio.cepal.org/server/api/core/bitstreams/1c7d9df9-
fd4d-42fb-90dc-2e6378b9b7c9/content. A programação a ser desenvolvida no Fórum encontra-se em:
https://foroalc2030.cepal.org/2025/es/documentos/temario-provisional.

Informações gerais sobre o evento, o programa, documentos de referência,


comunicados de imprensa e notícias, bem como links para os canais de mídia social da CEPAL,
podem ser encontrados no site da reunião: https://foroalc2030.cepal.org/2025/es.

Em 9 de abril, o Seminário Avançado em Saúde Global e Diplomacia da Saúde do


CRIS/Fiocruz debaterá os principais documentos e conclusões do Fórum, com especialistas
nacionais e estrangeiros.

Outro importante evento político na região será a IX Cúpula de Chefes de Estado e de


Governo da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) que se realiza
em Tegucigalpa, dia 9 de abril de 2025. O foco principal será revitalizar a integração dos 33
países-membros da CELAC, ratificar a Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de
Paz e manter o diálogo entre os Estados nacionais do bloco. A agenda inclui a aprovação
da Declaração de Tegucigalpa, que orientará as ações políticas e de integração da América
Latina e do Caribe, e dois comunicados especiais. A presidente Xiomara Castro preside a reunião
e Lula participará. Na Cúpula, ocorrerá a transferência temporária do mecanismo para a
Colômbia. No Caderno 6, traremos as conclusões e mais detalhes sobre a Cúpula da CELAC.

4
Sob a presidência do Brasil, BRICS impulsiona sua agenda de debates temáticos,
inclusive na saúde, com a realização, a 31 de março, sob a liderança de Biomanguinhos/Fiocruz,
da primeira reunião dos Centros de P&D de Vacinas do BRICS. Ainda neste mês de abril, reúne-
se a Rede de Institutos de Saúde Pública para compartilhar políticas e experiências bem-
sucedidas nos sistemas de saúde de BRICS, também sob a liderança da Fiocruz. Os resultados de
ambos os eventos serão detalhados no próximo fascículo dos Cadernos.

Em São Tomé e Príncipe, dias 14 e 15 de abril, a Comunidade de Países de Língua


Portuguesa (CPLP) realiza a VII Reunião de Ministros da Saúde do bloco. Em debate, prioridades
que os países compartilham quanto ao aperfeiçoamento de seus sistemas de saúde. As Redes
de Institutos Nacionais, Escolas de Saúde Pública, Centros Formadores de Nível Médio e Bancos
de Leite Humano serão escrutinizadas e revisadas, formulando-se as prioridades para o próximo
biênio. No fascículo 6 traremos ao leitor os principais resultados da reunião.

===*===

A agenda internacional continua intensa, surpreendente e imprevisível. Quase todos


os movimentos se originando da Casa Branca. Os últimos episódios, com repercussões globais,
seguem a trilha assustadora traçada por Trump para o redesenho da ordem internacional
segundo suas concepções, que negam a cooperação e a solidariedade, sob a égide do America
First para Make America Great Again. Entre ‘trumpaços’, canetaços e tarifaços, a tradição
estadunidense do soft power (ao modo deles) vem sendo substituída pela (não)-diplomacia da
força e da imposição da vontade por coerção e ameaças. Milhares de imigrantes foram
deportados, outros tantos aguardam a expulsão sumária e milhões vivem estados mentais
miseráveis, diante das ameaças que pendem sobre suas cabeças.

Na data fatal de 02 de abril, os tarifaços foram anunciados com impacto sobre todos os
países, em todo o mundo. Mesmo entre economistas neoliberais e entre CEOs de grandes
empresas sediadas no EUA, as críticas são candentes. Alertam para a desorganização econômica
global, e de riscos de inflação e, mesmo, de redução da atividade econômica no país e no mundo.
Imagine-se o impacto sobre a economia dos países em desenvolvimento, cujas exportações
também serão super-tarifadas, provavelmente impactando negativamente suas exportações
para o mercado estadunidense.

A vontade da expansão territorial ilegal e intervenções no exterior continuam. O vice-


presidente Vance visitou a base militar do país na Groenlândia e ameaçou com a anexação do
território devido aos interesses estratégicos dos EUA no Ártico. Com a Rússia, ignorando a
Ucrânia e a Europa, os EUA discutem o cessar-fogo naquela guerra, segundo o interesse
americano. Bibi Netanyahu continua com apoio total para implementar a limpeza étnica e a
ocupação definitiva da faixa de Gaza, o fortalecimento da colonização da Cisjordânia, assim
como para o reinício dos bombardeios no Líbano e a permanência das forças israelenses no país.
Isto depois de ter bombardeado o Iêmen. As perdas de vidas inocentes, de mulheres e crianças,
assim como de profissionais de saúde (como as vítimas do Crescente Vermelho), revoltaram
pessoas e governos em todos os quadrantes do planeta.

No front externo, a Rússia aproveita; a Europa apavorada se rearma, inspirada no


aforisma ‘si vis pacem para bellum’; a China observa; a América Latina, a África e a Ásia, bem...
estes ainda não entraram no radar trumpista, por enquanto...

Dentro do país, Trump começa a perseguição sistemática ao pensamento e à liberdade


das grandes universidades americanas, com cortes de financiamento e outras ameaças, aos

5
quais, algumas delas covardemente, cedem. O HHS (ministério da saúde dos EUA) está
submetido a expressivo estresse, com demissões de elevado número de servidores, restrições
orçamentárias e mudanças estruturais expressivas. O ministério da educação está
profundamente esvaziado, a caminho da extinção. Quer reescrever a história dos EUA com
intervenção no Smithsonian Institute e seus grandes e respeitados museus. Frente à avalanche
de sandices, alguns juízes federais contestam medidas e algumas vozes da sociedade civil se
levantam, mas muito longe ainda do que seria de esperar.

A propósito, sugerimos a leitura do artigo “A tocha bruxuleante”, do Embaixador


Adhemar Bahadian, sobre a era Trump, neste fascículo do Caderno.

No Brasil, a punição aos golpistas de 8 de janeiro de 2023 continua, sem tréguas, no STF,
com Bolsonaro e asseclas transformados em réus. Memorável movimento de afirmação da
democracia brasileira. Salve nosso STF. Trazemos este comentário sobre o Brasil, neste fórum
de debate internacional, para comparar com a omissão do Supremo estadunidense que se
curvou às vontades, ordens e perdões de um candidato a ditador em uma das grandes
democracias do Ocidente.

O descompromisso com o desenvolvimento e a saúde na ajuda externa dos países


desenvolvidos

A chocante decisão do governo Trump de desmantelar a Agência dos Estados Unidos


para o Desenvolvimento Internacional (USAID) da noite para o dia levou ao encerramento de
90% de seus cerca de 6.300 projetos, uma forma de "vandalismo geopolítico", segundo
Catherine Kyobutungi, Okereke e Abimbola1, estudiosos de ajuda internacional à África. Os
efeitos completos levarão tempo para serem compreendidos, em parte porque os sistemas de
dados que rastreavam programas em todo o mundo também foram fechados. As repercussões
sobre a África – onde se localizam os países mais afetados – são amplas e profundas. Tais
decisões foram tomadas sem consultar os implementadores – ONGs internacionais nos EUA e
no terreno, ministérios da saúde africanos e milhões de africanos que dependiam de programas
de saúde financiados pela USAID.

A primeira resposta foi indignação com os danos a milhões de africanos, incluindo a


retirada abrupta do tratamento e mortes. Em segundo lugar, a angústia com a perda repentina
de empregos na USAID e em parceiros em todo o mundo, e em terceiro lugar, a descrença na
perda de soft power dos EUA: a ajuda externa ao desenvolvimento sempre foi uma ferramenta
para promover os interesses dos EUA. O clamor veio em grande parte do "Norte global", o que
talvez não seja surpreendente, dado que a maioria (84%) das 200 maiores organizações globais
de saúde tem sede lá, então o impacto em empregos, carreiras e negócios será maior.

Seguindo a deplorável decisão de radical redução da ajuda externa dos EUA ao


desenvolvimento e à saúde, encetada nestes primeiros dois meses do governo Trump 2.0,
informa Bob Kitchen, no British Medical Journal (BMJ)2, que também o governo do Reino Unido
reduzirá gastos com ajuda externa até 2027 num montante de £6 bilhões3 – levando a
contribuição de ajuda do Reino Unido ao seu nível mais baixo em 25 anos.

1
https://www.researchgate.net/publication/389768778_After_USAID_what_now_for_aid_and_Africa
2
UK aid cuts will undermine global health and pose a risk to children’s lives | The BMJ
3
Parlamento do Reino Unido. O Reino Unido reduzirá a ajuda para 0,3% da renda nacional bruta a partir
de 2027. Biblioteca da Câmara dos Comuns. 28 de fevereiro de 2025.
https://commonslibrary.parliament.uk/uk-to-reduce-aid-to-0-3-of-gross-national-income-from-2027/

6
Além do custo de receber refugiados e requerentes de asilo, os setores humanitário e
de saúde foram as maiores áreas de investimento em ajuda bilateral do Reino Unido em 2023,
respondendo por 15% e 13% do orçamento de ajuda externa, respectivamente.

No contexto do congelamento da ajuda dos EUA,3 e em um momento em que 300


milhões de pessoas em todo o mundo estão em necessidade humanitária,4 esses cortes são um
golpe devastador. As consequências de longo alcance da decisão do Reino Unido, juntamente
com o declínio dos orçamentos de ajuda em toda a Europa e de outros
doadores tradicionais,5 inevitavelmente prejudicarão a segurança da saúde global, colocando o
fardo mais pesado sobre as populações mais vulneráveis do mundo.

As guerras e seu impacto letal

Os massacres israelenses continuam em Gaza. Segundo o British Medical Journal (BMJ),


médicos e equipes médicas em Gaza relataram a noite que enfrentaram depois que Israel lançou
ataques aéreos em toda a faixa nas primeiras horas de 18 de março, matando pelo menos 400
pessoas e inundando os departamentos de emergência com corpos e centenas de feridos.

Mohammad Qishta, médico de emergência de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no


Hospital Nasser, descreveu a situação como "desastrosa", com seu hospital recebendo "corpos
e partes de corpos, a maioria deles crianças e mulheres". Ele disse: "Os médicos na sala de
emergência estavam chorando por causa da intensidade e da dificuldade da situação".

As primeiras estimativas colocaram o número de mortos nos ataques em cerca de 413


pessoas, incluindo muitas crianças. A Ajuda Médica para Palestinos (MAP) disse que o número
real é provavelmente muito maior, no entanto, já que muitas pessoas permanecem presas sob
os escombros.

Estados Unidos e Rússia continuam dividindo antecipadamente o espólio da pretensa


paz na Ucrânia, sem o protagonismo, até aqui, que Zelenski e União Europeia pretendiam ter.
Os mortos, feridos e sequelados se multiplicam a cada dia que o cessar-fogo é adiado, e as
promessas de recursos para financiar a guerra se multiplicam, na mesma proporção que
minguam os recursos para o desenvolvimento e a saúde.

===*===

Buss e Alcázar comentam as duas resoluções diretamente relacionadas com saúde,


adotadas na última quinzena pela 79ª. Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), sobre a
extensão da Década sobre Nutrição (2016-2025) até 2030 e as orientações para a Reunião de
Alto Nível sobre Doenças Não-Transmissíveis que vai se realizar já no âmbito da 80ª AGNU, em
setembro de 2025. Asseveram a crescente importância do tema ‘saúde’ na grande assembleia
anual dos chefes de Estado e de Governo das Nações Unidas, o que vem se afirmando nos
últimos 10 anos.

Na Organização Mundial da Saúde (OMS), a crise financeira se intensificou com a


retirada dos EUA, agravando um déficit previsto de US$ 600 milhões em 2025. Como resposta,
a organização propôs um corte de 21% no orçamento para 2026-27, reduzindo-o para US$ 4,2
bilhões. O diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus alertou, em e-mail interno, sobre os
desafios ao multilateralismo e à saúde global, enquanto a OMS busca reorganizar suas
operações, incluindo fusões de departamentos, congelamento de contratações e cortes de
viagens. Ainda segundo nossos analistas Reges, Bermudez e Galvão, cortes na assistência
internacional para priorizar gastos com defesa impactam iniciativas críticas. Isso afeta

7
programas essenciais, como a resposta a emergências sanitárias e a vigilância epidemiológica,
além de comprometer o financiamento de doenças prioritárias, como tuberculose e HIV. A crise
da OMS reflete um cenário mais amplo, com dificuldades na captação de recursos para
iniciativas como Gavi e o Fundo Global. A incerteza sobre o aumento das contribuições
obrigatórias dos Estados-membros reforça a necessidade de um novo modelo de financiamento
sustentável. O futuro da OMS dependerá da capacidade de adaptação e do apoio internacional.

De Negri Filho trata da 58ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações
Unidas (CDH), que concluirá seus trabalhos no dia 04 de abril. Nesta última semana, são
tomadas as decisões que transformam em resoluções muitos dos temas de informes
apresentados desde o dia 24 de fevereiro.

O autor destaca a votação sobre a resolução que reconhece o impacto das medidas
coercitivas unilaterais sobre o pleno desfrute dos direitos humanos. Como ilustração da tensão
e divisão existente no CDH entre o Sul Global e o Ocidente / Norte Global, a votação alinhou
países da África, Asia e América Latina e Caribe em favor da resolução e, contra, todos os países
da Uniao Europeia, Coreia do Sul e Japão. Com três abstenções: Costa Rica, México e Ilhas
Marshall. Uma distribuição de votos que é representativa da divisão do Conselho em temas
substantivos sobre a conexão entre direitos humanos e a atual ordem política e econômica
internacional.

O autor trata também do Informe da Missão de Averiguação da ONU sobre a Venezuela,


que gerou protestos daquele país, em contraponto com temas como o genocídio em Gaza e a
violação massiva de pessoas em condição de mobilidade – com deportações sem nenhum
respeito aos direitos humanos – que assumem expressões menores ou mesmo silêncios
constrangedores. Sugere a leitura da resenha de Darío Iván Radosta para a obra de Didier Fassin,
“Razão humanitária. Uma história moral do tempo presente”, como parte de uma reflexão sobre
as transformações do sofrimento humano como argumento político, sem tocar as causas deste
sofrimento.

Na revisão dos documentos apresentados como informes ao CDH, De Negri Filho


destaca “Dimensão de direitos humanos do cuidado e apoio - Relatório do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Direitos Humanos, como parte intrínseca dos sistemas de seguridade /
proteção social de nossos países”, e o “Relatório sobre a décima sessão do Grupo de Trabalho
Intergovernamental Aberto sobre Empresas Transnacionais e outras Empresas em Matéria de
Direitos Humanos”. Chama a atenção para a 11ª Sessão do Mecanismo de Especialistas sobre o
Direito ao Desenvolvimento para discutir o financiamento para o desenvolvimento no novo
contexto internacional (UN, Nova York, 2-4 de abril de 2025), que vai discutir como enfrentar o
novo contexto internacional e, ao mesmo tempo, garantir o compromisso contínuo com o
financiamento para o desenvolvimento.

Aponta, ainda, o informe Fundamentos e princípios para a regulação das


neurotecnologias e o processamento de neurodados na perspectiva do direito à privacidade, da
Relatora Especial sobre o direito à privacidade, Ana Brian Nougrères, que estabelece as bases
para a criação de um marco conceitual para regular o uso de neurotecnologias e o
processamento de neurodados, sob a perspectiva do direito à privacidade. Finalmente destaca
o informe do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sobre
Impacto das transferências de armas nos direitos humanos.

Magalhães e Galvão no seu informe sobre saúde e ambiente descrevem os impactos


da poluição do ar na saúde humana, responsável por cerca de 8 milhões de mortes prematuras

8
anualmente, incluindo 1 milhão de casos de câncer, além de gerar um custo de 3 trilhões de
dólares para a economia mundial. O documento aborda duas conferências realizadas em
sequência. A primeira, sobre ar limpo, ocorreu em Brasília e teve como foco a redução das
emissões de superpoluentes do ar provenientes de diversos setores, como agricultura,
transporte e combustíveis para cozinhar. O evento promoveu a troca de experiências bem-
sucedidas e incentivou maior ambição nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)
para o controle dessas emissões, visando benefícios para a saúde, o meio ambiente e a mitigação
das mudanças climáticas. A segunda conferência, organizada pela OMS, enfatizou a importância
de políticas ambientais e de saúde integradas para prevenir mortes prematuras, além da
implementação de sistemas de monitoramento e alerta para a contaminação do ar. No Dia do
Desperdício Zero, as discussões se concentraram na indústria têxtil e da moda, setores
responsáveis por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e por um enorme volume
de resíduos, que se acumulam em locais como o deserto do Atacama e contaminam rios. O
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) propôs cinco estratégias para
reduzir esse desperdício e publicou um relatório baseado na consulta a mais de 140 produtores
têxteis, com recomendações para transformar o setor.

Encerrando o mês em que se celebrou o Dia Internacional da Mulher, o artigo de


Mendes sintetiza o relatório conjunto lançado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)
e Organização Iberoamericana de Seguridade Social (OISS), sobre “Saúde e Segurança no
Trabalho na América Latina”, sob a perspectiva de gênero. O robusto documento, de 90 páginas,
ainda disponível apenas em espanhol, aborda questões de elevada relevância para as lutas das
mulheres, ao mesmo tempo em que apresenta e propõe avanços conceituais e operacionais
detalhados para os profissionais que atuam no campo da Saúde e Segurança no Trabalho (ou
outras denominações equivalentes). Serve como subsídio para os movimentos sociais e
populares, assim como para os sindicatos de trabalhadores. Por sua profundidade e
abrangência, tem validade científica e acadêmica, podendo inspirar e orientar estudos e
pesquisas em torno dos temas abordados. O autor salienta também a iniciativa de parceria entre
a OIT, por meio de seu Escritório Regional para a América Latina e Caribe, sediado em Lima, e a
OISS, sediada em Madrid, por se juntarem em tema de tanta relevância e atualidade.

O Grupo de Trabalho de Migrações, Refúgio e Saúde Global aborda a intensificação da


política anti-imigratória americana, promovendo deportações em massa e endurecendo
restrições, como o fim da cidadania por nascimento. A repressão também levou muitos
imigrantes a retornarem voluntariamente, como os venezuelanos que cruzaram a Colômbia
após o bloqueio de seus pedidos de asilo. Além disso, brasileiros também estão entre os
afetados, com deportações em andamento e questionamentos diplomáticos sobre o tratamento
recebido. No México, o setor privado tenta mitigar os impactos das deportações ao oferecer 60
mil vagas de emprego para repatriados. Já em El Salvador, Trump e Bukele coordenaram a
deportação de supostos membros de gangues, levantando críticas sobre a falta de transparência
e os riscos de violações de direitos humanos. A criminalização da imigração e o aumento das
deportações evidenciam uma mudança drástica na política migratória dos EUA, gerando
consequências humanitárias e sociais significativas.

A 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW69) das Nações Unidas,
realizada em março de 2025, na sede da ONU, em Nova York, reafirmou compromissos globais
com a igualdade de gênero. Neste informe, Massari, Santos e Gomes destacam a Declaração
Política adotada e outros documentos oficiais, e abordam a participação do Brasil, liderada pela
ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Apresentam também o relatório Direitos das Mulheres

9
em Revisão: 30 anos após Pequim, da ONU Mulheres, que analisa avanços e desafios desde a
Declaração de Pequim, incluindo retrocessos democráticos, violência e desigualdade
econômica. O estudo aponta a necessidade de ações urgentes em financiamento, tecnologia,
participação política e justiça climática. Por fim, trazem uma declaração conjunta da ONU que
alerta para ameaças à redução da mortalidade infantil e natimortos devido a cortes no
financiamento global. A falta de recursos compromete serviços essenciais, como vacinação e
assistência ao parto, impactando regiões vulneráveis. A ONU pede mais investimentos e ações
coordenadas para garantir a sobrevivência materna e infantil.

Nilson e Oliveira discutem diferentes movimentações recentes no campo da segurança


alimentar e nutricional global, incluindo as atividades da Aliança Global Contra a Fome, a
realização da Cúpula Nutrição para o Crescimento (Nutrition for Growth) e a prorrogação do
término da Década de Ação sobre a Nutrição das Nações Unidas para 2030. Brasil e França
tiveram papel fundamental nos encaminhamentos globais alcançados. Todas as iniciativas são
muito bem-vindas, mas necessitam ser articuladas para evitar o risco de fragmentação de ações
e compromissos.

A Assembleia Geral da ONU adotou, em dezembro de 2024, resolução que ajuda a


fortalecer a luta contra o tráfico ilícito de bens culturais e facilita a restituição de artefatos
roubados aos seus países de origem. Apoiada por mais de 140 nações e adotada sem votação,
a resolução reconheceu que abordar o comércio ilegal desses itens é vital para preservar a
identidade e as tradições de comunidades em todo o mundo e permitir que elas pratiquem e
protejam livremente um patrimônio inestimável. Também reconheceu o impacto devastador do
tráfico ilícito no patrimônio cultural em geral, particularmente em regiões afetadas por conflitos,
onde a pilhagem e o contrabando de artefatos muitas vezes financiam o crime organizado e o
terrorismo.

No final do mês de março foram realizadas as Reuniões Anuais do Banco Interamericano


de Desenvolvimento (BID) em parceria com o BID Invest, braço privado da instituição. Cazumbá
informa que o evento aconteceu em Santiago, no Chile, contando com a presença dos quarenta
e oito países membros do Banco, que discutiram especialmente sobre os rumos do
desenvolvimento sustentável e de outras prioridades na América Latina e no Caribe (ALC).

Tavares apresenta a primeira edição do Fórum Econômico da América Latina e do Caribe


promovido pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe - CAF. Destaca o
caráter pioneiro desse evento e a amplitude do mesmo, com participações regionais e
internacionais, de representantes governamentais de diversos países, de instituições
multilaterais, bem como de intelectuais, pesquisadores e acadêmicos. As temáticas do Fórum
são diversificadas, mas o foco central é o Desenvolvimento Sustentável. São apresentadas
também as diversas iniciativas do Banco CAF na área do meio ambiente na região, com seus
respectivos financiamentos.

Notícia publicada pela Reuters informa que os Estados Unidos suspenderam as


contribuições para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Chamas e Cesário reportam
também relatórios da UNCTAD e da OMPI que revelam dois fenômenos críticos para o
desenvolvimento econômico e social global em 2024: a crise da dívida soberana, que ameaça
paralisar o desenvolvimento sustentável em países de baixa e média renda, e o crescimento dos
registros de propriedade intelectual nos sistemas globais. Segundo a UNCTAD, os encargos
crescentes da dívida comprometem investimentos essenciais em saúde pública, infraestrutura
e transição climática. Paralelamente, as tendências de propriedade intelectual documentadas

10
pela OMPI evidenciam persistentes disparidades na capacidade de inovação entre economias
avançadas e em desenvolvimento. Os documentos enfatizam a necessidade urgente de
reformas no sistema financeiro internacional e de mecanismos mais robustos de transferência
tecnológica para reduzir desigualdades estruturais que afetam o desenvolvimento da região.

O informe do GT sobre Movimentos Sociais Globais analisa manifestações de 40


organizações da sociedade civil (OSC), divulgadas entre 9 e 23 de março de 2025. Nesse período,
destacaram-se questões como conflitos armados, mudanças climáticas, equidade de gênero e
medidas tomadas pelo governo Trump. Conflitos persistentes em Gaza, Haiti, Síria, Sudão,
Líbano e República Democrática do Congo agravaram crises humanitárias, com restrições a
qualquer iniciativa de ajuda e ataques a infraestrutura de saúde. Organizações como Médicos
Sem Fronteiras, Oxfam e Greenpeace denunciam o uso da ajuda humanitária como arma de
guerra. As mudanças climáticas foram objetos de muitas manifestações, com foco na saúde
pública e na escassez hídrica. A WFPHA enfatizou a importância de políticas ambientais para a
saúde da população, enquanto a Greenpeace alertou para a influência da indústria petroquímica
na regulação da produção de plásticos. No contexto do Dia Mundial da Água, foram denunciadas
práticas industriais que comprometem o acesso a esse recurso essencial, assim como a extração
em larga escala na mineração, na produção de álcool, tabaco e ultraprocessados. A desigualdade
de gênero também foi evidenciada, com mulheres e meninas desproporcionalmente impactadas
por conflitos armados e crises ambientais. Além disso, cortes de financiamento do governo dos
EUA prejudicaram programas de saúde, segurança alimentar e educação, agravando a situação
de populações já vulnerabilizadas. Nesse mundo turbulento, o Movimento pela Saúde dos Povos
fez um apelo em favor da esperança, defendendo respostas solidárias e descolonizadas às crises
em curso. Em contraste com as OSC de interesse público, que denunciam crises estruturais, as
OSC de interesse privado se manifestaram, na maioria das vezes, sobre inovações tecnológicas.

No Sul Global, informam Ungerer, Kastrup e Ferreira, o UNOSSC discutiu a próxima


Conferência sobre os Países em Desenvolvimento sem Litoral (LLDC3), que enfrenta desafios
significativos devido à falta de acesso direto ao mar. Essa situação dificulta o comércio
internacional, a conectividade e o crescimento econômico. Em outra sessão, foi apresentado o
Sistema de Monitoramento de Recomendações (SIMORE), uma ferramenta interinstitucional
que organiza recomendações de direitos humanos direcionadas ao Paraguai por organismos da
ONU e da OEA. Além disso, o UNOSSC destacou a primeira reunião do Grupo Consultivo sobre
Cooperação Sul-Sul e Triangular da ONU, assim como a próxima 22ª sessão do Comitê de Alto
Nível sobre Cooperação Sul-Sul, programada para 27 a 30 de maio de 2025. O UNOSSC promoveu
ainda uma reunião com embaixadores e relatores de Relatórios Nacionais Voluntários (VNR)
para o próximo HLPF e publicou uma chamada para uma manifestação de interesse para uma
Rede Global de Pensadores Sul-Sul. O Brasil foi destacado na Cúpula Nutrição para o
Crescimento, realizada em Paris, onde o Programa Nacional de Alimentação Escolar foi
considerado uma ferramenta essencial para a segurança alimentar global. Além disso, celebrou
os 25 anos de cooperação entre Brasil e Timor-Leste, ressaltando o resgate e a promoção da
língua portuguesa. O G-77 e a China participaram ativamente de três reuniões na AGNU,
incluindo a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação e a preparação do documento final
para a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4). Na
sessão do Movimento dos Não-Alinhados, o destaque foi o NAM CSSTC, uma organização
intergovernamental criada para melhorar a cooperação técnica entre países do Sul Global e
promover capacitação nas áreas de agricultura, saúde, educação e tecnologias da informação e
comunicação (TIC). Além disso, o Movimento Jovem dos Não-Alinhados celebrou a 14ª Cúpula
do MNA, realizada em Havana, Cuba, onde foi decidido o estabelecimento do Centro de Direitos

11
Humanos e Diversidade Cultural do MNA. Por fim, o Centro Sul destacou iniciativas importantes
como o Fórum de Partes Interessadas do Programa de Acesso a Tecnologias em Saúde (HTAP)
da OMS, as etapas necessárias para garantir resultados na 4ª Conferência de FfD, o Pacto Digital
Global e a OMC aos 30 anos. O Centro também publicou seu Boletim de fevereiro de 2025,
mantendo o compromisso de informar sobre as ações mais relevantes.

Após dois eventos do G20 serem ofuscados pelos efeitos da nova política externa dos
Estados Unidos adotada no governo Trump, a quinzena do bloco foi marcada por dois encontros
principais: a reunião do Grupo de Trabalho de Saúde (HWG, na sigla em inglês) e o primeiro
encontro do Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática. Sem novos
encontros dos membros do G7 na última quinzena, há um cenário de prospecções de assuntos
que serão discutidos no próximo encontro das finanças em maio. Além disso, vale trazer luz aos
grupos de engajamento do G7, especialmente o Think 7, como termômetro para a Cúpula dos
Líderes. Os destaques da OCDE se dividem entre a apresentação de projeções econômicas
globais para 2025 e 2026 e a publicação de um relatório sobre a dívida global e de outros três
estudos relacionados à saúde.

Sobre BRICS, nossa analista Claudia Hoirisch informa que o Ministro de Minas e Energia
do Brasil abriu a 2ª Reunião do bloco no dia 20/3 e ressaltou a importância de buscarmos um
equilíbrio entre segurança energética, desenvolvimento sustentável e transição para um futuro
de baixo carbono. O BRICS tem tudo para liderar o desenvolvimento dos combustíveis
sustentáveis, se implementar diferentes soluções e dar escala às diferentes rotas tecnológicas,
e dessa forma, acelerará a descarbonização de setores estratégicos, como transporte e
indústria. O NBD pode ajudar os países na transição energética e no enfrentamento à mudança
do clima. Dilma Roussef foi reconduzida à presidência do NBD por um prazo de cinco anos, após
concordância de Putin, já que a Rússia deveria ocupar a presidência rotatória do Banco. Dilma
confirmou o avanço de projetos do Brasil com o governo chinês e destacou a ferrovia
transoceânica, um plano que servirá para escoar a produção agrícola brasileira pelo Pacífico. Na
área da saúde, o Ministro Alexandre Padilha está articulando um projeto de cooperação entre
o governo e o NDB para a criação de um hospital digital e inteligente em São Paulo. A Fiocruz,
por meio de Biomanguinhos, liderou a 1ª reunião do Centro de P&D de Vacinas do BRICS deste
ano. Durante o encontro, os representantes dos países compartilharam experiências para
fomentar ações entre os países-membros a fim de explorar o potencial do grupo para promover
o acesso justo e equitativo às vacinas em nível global. Ainda na área de vacinas, a Sinovac,
empresa chinesa responsável por fornecer a vacina Coronavac contra a Covid-19 para o Brasil
durante a pandemia, quer fortalecer sua presença no Brasil e investir na produção local de
vacinas.

Minayo, Tobar e Franco destacam a política comercial dos Estados Unidos que tem
gerado repercussões na América Latina. Medidas protecionistas pretendem beneficiar a
indústria doméstica, mas afetam consumidores norte-americanos e trabalhadores latino-
americanos. Outro tema de destaque é a recente decisão do governo venezuelano de realizar
eleições para deputados e um governador no território do Essequibo. A medida faz parte da
estratégia do governo Maduro para reafirmar sua reivindicação sobre a região, ignorando
possíveis sanções ou decisões da justiça internacional. No campo da saúde, há crescente
preocupação com o avanço dos movimentos antivacina na América Latina. Esse cenário fragiliza
a cooperação sanitária regional e global, em um momento em que surtos de doenças como
sarampo e febre amarela voltam a ameaçar a população. Nas organizações regionais, trazemos
atualizações da CEPAL, que inicia a Oitava Reunião do Fórum dos Países da América Latina e do

12
Caribe sobre Desenvolvimento Sustentável; do ORAS-CONHU, COMISCA e SELA. Por fim, discute-
se a proposta de criação de CDC-LATAM. Embora a ideia pareça atrativa à primeira vista, ela
representaria uma sobreposição desnecessária às funções já desempenhadas pela OPAS e
poderia fragilizá-la como consequência.

O informe sobre África destaca sessão de diálogo do G20, sob a presidência da África do
Sul, que se concentrou nos financiamentos para o desenvolvimento e para as questões
climáticas. Além disso, o informe menciona a colaboração entre os CDC Europa e África a
segurança sanitária global. Outro ponto abordado é o fortalecimento da coordenação entre os
mecanismos regionais de aprovisionamento conjunto e o Mecanismo Africano de
Aprovisionamento Conjunto (APPM). Por fim, o informe destaca a assinatura de um MoU entre
a SADC e o UNICEF, visando fortalecer as relações bilaterais e formalizar a cooperação para os
próximos cinco anos.

Na Europa, o reforço da segurança e o incremento do apoio fornecido à Ucrânia, seguem


ocupando a pauta principal da agenda política da UE. Segundo Freire, apesar da falta consenso
interno em respeito à guerra na Ucrânia, a UE vem conseguindo avançar nas discussões. O
problema é que Putin segue irredutível em suas condições para um cessar-fogo, tensionando
com Trump até onde é possível. Trump, por sua vez, segue se constituindo uma ameaça à
Europa, sem envolvê-la nas negociações, ameaçando tomar a Groenlândia da Dinamarca, e mais
recentemente, questionando empresas francesas quanto à programas internos de combate à
discriminação. Na área da saúde, os destaques são o crescimento da tuberculose na Região
Europeia da OMS, o lançamento do guia para fortalecer a cibersegurança nos ambientes de
saúde digital e a inauguração do primeiro centro colaborador em comunicação de risco,
envolvimento da comunidade e gestão de infodemias.

Com a conclusão do mês de março e inspiradas pelas reflexões sobre os direitos das
mulheres, a oportunidade de destacar o papel transformador da participação feminina nos
processos decisórios políticos, especialmente em contextos de guerra, mediação de conflitos e
reestruturações pós-guerra, não poderia ser desperdiçada. O informe de Marques e Nogueira
sobre Ásia e Pacífico traz alguns dos marcos históricos para a igualdade de gênero, para o
empoderamento feminino e o papel da mulher para paz e segurança e para a proteção
ambiental. Apresenta dados do relatório sobre desigualdade de gêneros, olhando para as regiões
da Ásia e MENA e a estratégia dos Laboratórios de Inovação de Gênero do Banco Mundial. Pode-
se observar a estagnação e às vezes retrocesso no último ano. Pelo lado positivo, destaca as
iniciativas bem-sucedidas da Arábia Saudita cujas mulheres, em curto tempo, já representam
36,2% da força de trabalho; entendendo que a mulher é vital na transformação econômica, o
país vem buscando influenciar outros países islâmicos ou não, árabes ou não, realizando
conferências e reuniões envolvendo governos, pesquisadores e instituições públicas e privadas.
Pelo mundo, embora haja alguns casos de sucesso, o machismo ainda é muito enraizado e a
realidade continua muito distante do que preconiza a lei. É preciso entender e valorizar o papel
da mulher nos processos de paz e nas questões ambientais. Ambos os casos revelam que
mulheres não são meras vítimas a serem protegidas, mas agentes ativas capazes de reinventar
sistemas e propor alternativas aos modelos vigentes.

Segundo Lobato, a China realizou comunicação quântica segura com a África do Sul,
marcando avanço na segurança digital. No dia 26/03, autoridades da China e da Índia reuniram-
se em Pequim e concordaram em implementar os consensos estabelecidos por Xi Jinping e
Narendra Modi durante a cúpula dos BRICS de 2024 em Kazan, reforçando o multilateralismo e
a cooperação regional. Já em 14/03, os vice-ministros da China, Rússia e Irã emitiram

13
comunicado contra sanções unilaterais e reafirmaram o caráter pacífico do programa nuclear
iraniano. Nos dias 23 e 24, o Fórum de Desenvolvimento da China reuniu representantes de mais
de 100 países para debater inovação, transição verde, reforma financeira e globalização. Li Qiang
defendeu o multilateralismo e Dilma Rousseff foi reeleita para o Novo Banco de
Desenvolvimento. Na área da saúde, pesquisa apontou desconfiança da classe média-baixa no
sistema, apesar da ampla cobertura.

Nos EUA, o Ministério da Saúde lançou um plano de transformação do Departamento


de Saúde e Serviços Humanos (HHS) visando “tornar a América mais saudável”, que é
apresentado e comentado por Guto Galvão. Esta reestruturação está alinhada com a Ordem
Executiva do Presidente sobre a suposta otimização da força de trabalho no ministério. Entre
outras medidas, vai demitir 10 mil funcionários. A Kayser Family Foundation produziu um
documento que discute o impacto potencial de cortes, ao longo de uma década nos orçamentos
estaduais, de US$ 880 bilhões no financiamento federal do Medicaid. O Medicaid, financiado
conjuntamente pelos estados e pelo governo federal, é uma parte significativa dos orçamentos
estaduais, segundo o autor.

Encerramos o Caderno com dois artigos especiais. No de Reinaldo Guimarães, Big


Pharma: Trump enfrentará a China?, o conhecido e experiente autor especula sobre as novas
bases das relações EUA-China, focando na questão do mercado mundial e estadunidense de
medicamentos, e considerando os interesses da poderosa indústria farmacêutica americana.

No artigo A tocha bruxuleante, o embaixador Adhemar Bahadian examina as


exdrúxulas postura do governo Trump, vis-a-vis as tradições do poderoso soft power diplomático
que os EUA lançavam mão nos seus projetos de dominação.

===*===

Posse do novo presidente da FIOCRUZ, Mário Moreira, em 4 de


abril - Com grande satisfação anunciamos a todo nosso público
leitor a posse de Mario Moreira na presidência da Fiocruz para um
mandato que se estende de 2025 a 2028. Na agenda de Mario, a
firme disposição de fazer cada vez mais da Fiocruz uma “instituição
estratégica do Estado brasileiro”, coisa que pretende realizar com
um amplo programa de fomento ao ensino, pesquisa e produção de
alta qualidade no campo da saúde e seus determinantes. Para
assistir a posse online, acesse: https://bit.ly/PosseMario2025

Mário Moreira anuncia vice-presidência de Saúde Global e Relações Internacionais

Mostrando seu comprometimento com a saúde global e a presença da Fiocruz no


cenário internacional, o presidente Mario Moreira anunciou ao Conselho Deliberativo da
Fundação a nova estrutura de governança da instituição, que incluirá uma vice-presidência
dedicada à saúde global e relações internacionais. A vice-presidência vai incorporar as estruturas
e funções do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS), da Câmara Técnica de
Cooperação Internacional – que reúne representantes da área das demais vice-presidências e
de todos os Institutos da Fiocruz –, do Centro Colaborador em Diplomacia da Saúde Global e
Cooperação Sul-Sul da OMS/OPS na Fiocruz, e do Observatório de Saúde Global e Diplomacia da
Saúde. Uma medida que coloca a Fiocruz no topo das instituições mundiais que priorizam a
saúde global na sua política e na sua governança.

14
GT USP/Fiocruz Acordo sobre Pandemias e Reforma do RSI

O GT USP/Fiocruz Acordo sobre Pandemias e Reforma do RSI, a Internacional dos


Serviços Públicos e Federação Nacional dos Enfermeiros realizaram no dia 3 de abril evento
relacionado à discussão sobre acordo sobre pandemias com enfoque das lutas por equidade,
direito à saúde e melhores condições de trabalho. Participou a nova Secretaria de Vigilância em
Saúde e Ambiente (SVSA), Mariângela Simão, e um grupo de técnicos de alto nível das
instituições organizadoras. Para assistir ao seminário que ficou gravado, acessar:
https://www.youtube.com/c/iriusp_oficial/live. O próximo fascículo do Caderno publicará uma
nota completa sobre os resultados do debate.

Encerramos mais este Caderno com expectativas sombrias para os tempos que se
apresentam, ditadas por transformações profundas e possivelmente irreversíveis na ordem
política e econômica mundial, a perda de confiança geral entre os atores políticos, sem que
nenhum dos grandes problemas que verdadeiramente afetam o bem-estar e a saúde humana e
planetária tenham sido sequer tocadas com a merecida seriedade e comprometimento.

Ao contrário, os dirigentes mundiais iniciam uma guerra comercial de proporções e


desfecho imprevisível, investem em armas e viram as costas para o desenvolvimento.

É preciso que as forças que acreditam na democracia e nos valores humanos básicos, do
convívio pacífico e cooperativo entre povos e países, se levantem para bloquear os desmandos
que destroem, não uma ordem mundial que necessitava urgentes e profundas transformações,
mas qualquer perspectiva de paz e concórdia.

Rio de Janeiro, Manguinhos, 03 de abril de 2025

Paulo M. Buss, Erica Kastrup e Fabiane Gaspar


Editor e editoras-associadas dos Cadernos CRIS/Fiocruz

15
Saúde Global na Assembleia Geral das Nações Unidas 2025

Paulo Buss e Santiago Alcázar

Cada vez mais, temas de saúde global tem presença garantida nas Assembleias Gerais
das Nações Unidas (AGNU). Ou seja, por sua importância política e técnica, a saúde passa a ser
objeto do espaço político máximo de deliberações dos Chefes de Estado e de Governo, no âmbito
das Nações Unidas. Em 2025, o tema escolhido são as doenças não-transmissíveis (DNT) para a
Reunião de Alto Nível da AGNU relacionado à saúde.

Contudo, outros temas em debate na AGNU também têm alto impacto sobre a saúde
humana e planetária. Na impossibilidade de tratá-las todas em um único artigo, neste vamos
abordar duas resoluções que foram adotadas na última quinzena: sobre nutrição e sobre
doenças não-transmissíveis.

Decênio das Nações Unidas de Ação sobre a Nutrição (2016-2025)

De acordo com as estimativas mais recentes da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Alimentar Mundial (PMA) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS), o mundo não está no caminho certo para acabar com a
fome e a subnutrição até 2030, nem para proporcionar uma nutrição adequada ou segurança
alimentar, como consta nos compromissos da Agenda 2030 e seus ODS.

Preocupado com a lentidão no enfrentamento global e coletivo desta questão, e com o


encerramento previsto para 2025 da Década de Ação da ONU sobre Nutrição, um amplo
conjunto de países, liderados pelo Brasil e pela França, apresentou e conseguiu aprovar na 79ª.
AGNU, em 25/03/2025, uma resolução (A/79/L.66) que estende a iniciativa até 2030. Contrário,
apenas um voto, o dos EUA de Donald Trump (https://docs.un.org/en/A/79/PV.62)

16
Antecedentes

A AGNU adotou, em 01/04/2016, a Resolução 70/259 (https://docs.un.org/es/A/RES/70/259),


na qual proclamou a Década de Ação das Nações Unidas para a Nutrição (2016-2025), por
entender que a questão da nutrição adequada era um direito humano fundamental e um recurso
imprescindível para a saúde humana. Dada a complexidade que envolve uma ‘nutrição
adequada’, incluindo componentes de saúde individual e coletiva, mas também múltiplos fatores
econômicos, sociais e ambientais intersetoriais, fez com que as Nações Unidas chamassem o
tema para o mais alto órgão de decisão política da organização.

O objetivo da proclamação da Década foi acelerar a implementação dos compromissos


assumidos na 2ª. Conferência Internacional sobre Nutrição, alcançar as metas globais sobre
nutrição e doenças não transmissíveis relacionadas à dieta até 2025, contribuir para a realização
dos ODS até 2030 e colocar a nutrição no mais alto nível político.

Atribuiu à FAO e à OMS a liderança da implementação da iniciativa, em colaboração com


o PMA, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e o UNICEF, que preparam um
programa de trabalho baseado na Declaração de Roma e seu Quadro de Ação, juntamente com
seus meios de implementação para 2016-2025, usando mecanismos de coordenação da ONU,
como o Comitê Permanente de Nutrição e plataformas multissetoriais, como o Comitê de
Segurança Alimentar Mundial, e em consulta com outras organizações e plataformas
internacionais e regionais.

Desde então, diversas iniciativas foram se somando ao estabelecimento da Década


dedicada à nutrição, com resultados incompletos, mas minimamente animadores, para que
fosse dada continuidade e, nesta revisão final, de 2025, proposta sua extensão até 2030.

As propostas da nova resolução

A resolução enfatiza que uma abordagem multissetorial que integre a nutrição em todos
os setores, incluindo agricultura, saúde, água e saneamento, proteção social e educação, bem
como uma perspectiva de gênero, é essencial para alcançar a segurança alimentar, a melhoria
da nutrição e a realização do direito à alimentação em todo o mundo.

Preconiza a importância e necessidade de cooperação internacional, do multilateralismo


e da solidariedade na resposta global para alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição
para todos, inclusive por meio da cobertura universal de saúde, proteção social, transferência
de tecnologias em termos mutuamente acordados, capacitação e apoio financeiro para o
desenvolvimento agrícola sustentável nos países onde se encontram, entre outras propostas.

Por esta razão, chama a atenção para os compromissos que têm a ver, direta e
indiretamente, com a questão nutricional (em toda sua complexidade), na Cúpula e no Pacto
para o Futuro, assim como na Aliança Global contra a Pobreza e a Fome, proposta pelo Brasil no
G20, à qual aderiram até agora diversas organizações internacionais e mais de 80 países.

Ou seja, procura estabelecer sinergia entre as dezenas de iniciativas que, no âmbito das
Nações Unidas, de uma ou outra forma abordam o tema a nutrição e da segurança alimentar.
Por exemplo, com a Assembleia Mundial da Saúde, da qual espera que considere a proposta de
prorrogar os seus seis objetivos globais em matéria de nutrição até 20304, em consonância com
a década de ação para alcançar os ODS.

4
Ver: Global nutrition targets 2025: policy brief series

17
Ademais, exorta os Estados-Membros a acelerarem os esforços nos seis domínios de
ação do programa de trabalho da Década, com vista a garantir que: 1) os sistemas alimentares
proporcionem uma dieta saudável e a preços acessíveis para todos, em consonância com as
condições, políticas e estratégias específicas do contexto; 2) as medidas nutricionais sejam
integradas aos sistemas nacionais de saúde e aos planos de cobertura universal de saúde,
incluindo os serviços essenciais de saúde; 3) ampliar os programas de proteção social, educação
e nutrição capazes de responder a crises e levar em consideração a nutrição; 4) aumentar sos
investimentos em nutrição no setor agroalimentar; 5) promover a coerência entre o comércio e
a política agrícola e a nutrição; e 6) fortalecer a governança nutricional em todos os níveis.

Finalmente, a resolução decide prorrogar a Década de Ação das Nações Unidas sobre
Nutrição até 2030, a fim de alinhá-la com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e
manter o ímpeto político nos níveis global, regional e nacional para acabar com a desnutrição
em todas as suas formas até 2030.

A 4ª. Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral sobre Prevenção e Controle das Doenças Não-
transmissíveis e a Promoção da Saúde Mental e Bem-Estar

A Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), por meio da Resolução 79/2735, de
06/03/2025, começa a preparar a 4ª. Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral sobre Prevenção
e Controle das Doenças Não-transmissíveis e a Promoção da Saúde Mental e Bem-Estar.

Convocado pela Presidência 2025 da AGNU, a Reunião terá lugar na sede das Nações
Unidas (Nova York,) no dia 25 de setembro de 2025, das 10h às 18h, durante o debate geral da
80ª. Assembleia, e consistirá numa reunião de abertura, um debate geral em plenário, dois
painéis de discussão com múltiplas partes interessadas e uma sessão de encerramento.

As duas mesas-redondas previstas terão como temas: Mesa redonda 1 - Abordar os


determinantes das doenças não transmissíveis e da saúde mental e bem-estar, promovendo uma
governação multissetorial eficaz e medidas colaborativas; Mesa redonda 2 - Reconfigurar e
fortalecer os sistemas de saúde e todas as formas de financiamento para atender às
necessidades das pessoas afetadas ou em risco de doenças não transmissíveis e condições de
saúde mental.

A Reunião de Alto Nível adotará uma Declaração Política concisa e orientada para a ação,
acordada por consenso, previamente, por meio de negociações intergovernamentais,
expressando a visão compartilhada de mobilização da vontade política e da ação nos níveis
nacional, regional e internacional, aproveitando as oportunidades e os desafios decorrentes da
implementação de compromissos anteriores e incluindo, se apropriado, a definição de objetivos
e metas globais mensuráveis, a serem submetidos à Assembleia pelo Presidente da Assembleia
Geral para adoção.

Com o apoio da Organização Mundial da Saúde e outros parceiros relevantes, a


presidência da AGNU vai organizar e presidir uma audiência interativa com múltiplas partes
interessadas, antes do final de maio de 2025, com a participação ativa de organizações regionais,
organizações não governamentais com status consultivo no Conselho Econômico e Social,
organizações da sociedade civil convidadas, fundações filantrópicas, instituições acadêmicas,
associações médicas, o setor privado e outras comunidades em geral, a fim de permitir que,

5
Ver: https://docs.un.org/en/A/RES/79/273

18
segundo a Resolução, mulheres, crianças, jovens, povos indígenas e pessoas de ascendência
africana participem e contribuam com suas vozes.

Antecedentes

Na Resolução 73/2, de 10/10/2018 - “Declaração Política da Terceira Reunião de Alto


Nível da Assembleia Geral sobre a Prevenção e o Controle das Doenças Não-Transmissíveis” - a
AGNU decidiu realizar uma Reunião de Alto Nível em 2025, visando fazer uma revisão abrangente
do progresso na prevenção e controle de doenças não transmissíveis e na promoção da saúde
mental e do bem-estar.

De outro lado, na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e seus ODS, os


Chefes de Estado e de Governo assumiram o firme compromisso de reduzir em um terço, até
2030, a mortalidade prematura por doenças não-transmissíveis, por meio da prevenção e do
tratamento, e de promover a saúde mental e o bem-estar.

Nossa visão

As DNTs são um grupo de doenças que respondem pela maior carga de morbi-
mortalidade global e em todos os países do mundo, desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Incluem as doenças cardio- e cérebro-vasculares, as neoplasias e outras condições crônicas,
como o diabetes, altamente dependentes da posição social ocupada pelos indivíduos, ou seja,
são socialmente determinadas. A prevalência acompanha o gradiente social, sendo mais
prevalentes nos percentis de menor renda (tomada esta como proxi de classe social ou posição
na estratificação social). Também é mais elevada quanto mais reduzidos são os níveis de
escolaridade formal, pior a alimentação, assim como dependente do local de habitação e da
posição na ocupação etc.

Sua abordagem depende de políticas sociais capazes de reduzir as inequidades e


promover melhor qualidade de vida. Algumas delas tem prevenção e profilaxia dietética e
medicamentosa (esta, de baixo custo), que podem ser propiciadas por sistemas de saúde com
adequada atenção primária, instalações adequadas e profissionais treinados.

O enfrentamento das DNTs deveria estar entre as prioridades de BRICS, este ano
presidido pelo Brasil, que deveria fazer uma intervenção coletiva do bloco, que poderá ter alto
impacto na Reunião de Alto Nível.

Considerações finais

Em tempos de tentativas de desmoralização do sistema das Nações Unidas, projeto


civilizatório pós-guerra que completa 80 anos neste ano (1945-2025), pretendemos mostrar, com
este e outros artigos que virão, a importância capital que têm a ONU para a manutenção da paz,
o desenvolvimento, a segurança mundial e os direitos humanos. No âmbito destes últimos, as
Nações Unidas cada vez mais tem dado destaque à saúde humana e planetária.

A despeito dos ataques que têm sofrido de atores políticos poderosos, como ocorreu
com a oposição dos EUA à prorrogação da década da nutrição – para enfrentar o flagelo da fome
e da desnutrição – e da Agenda 2030, que noticiamos no fascículo 3-4 destes Cadernos, temos a
confiança de que o sistema sobreviverá, mesmo que sofrendo as transformações necessárias
para seu aggiornamento aos grandes problemas e questões do século XXI.

19
Redução e cortes de investimentos: uma equação mortal

Paula Reges
Luana Bermudez
Luiz Augusto Galvão

Resumo. A crise financeira da OMS se intensificou com a retirada dos EUA, agravando um déficit
previsto de US$ 600 milhões em 2025. Como resposta, a organização propôs um corte de 21%
no orçamento para 2026-27, reduzindo-o para US$ 4,2 bilhões. O diretor-geral Tedros Adhanom
Ghebreyesus alertou, em e-mail interno, sobre os desafios ao multilateralismo e à saúde global,
enquanto a OMS busca reorganizar suas operações, incluindo fusões de departamentos,
congelamento de contratações e cortes de viagens. Paralelamente, cortes na assistência
internacional para priorizar gastos com defesa impactam iniciativas críticas. Isso afeta
programas essenciais, como a resposta a emergências sanitárias e a vigilância epidemiológica,
além de comprometer o financiamento de doenças prioritárias, como tuberculose e HIV. A crise
da OMS reflete um cenário mais amplo, com dificuldades na captação de recursos para
iniciativas como Gavi e o Fundo Global. A incerteza sobre o aumento das contribuições
obrigatórias dos Estados-membros reforça a necessidade de um novo modelo de financiamento
sustentável. O futuro da OMS dependerá da capacidade de adaptação e do apoio internacional.

Palavras-chave: OMS, GAVI, Tuberculose

Abstract. The WHO’s financial crisis has deepened with the US withdrawal, worsening a
projected deficit of $600 million by 2025. In response, the organization has proposed a 21%
budget cut for 2026-27, bringing it down to $4.2 billion. Director-General Tedros Adhanom
Ghebreyesus warned in an internal email of challenges to multilateralism and global health as
the WHO seeks to reorganize its operations, including department mergers, hiring freezes and
travel cuts. At the same time, cuts in international assistance to prioritize defense spending are
impacting critical initiatives. This affects essential programs such as health emergency response
and epidemiological surveillance, and jeopardizes funding for priority diseases such as
tuberculosis and HIV. The WHO’s crisis reflects a broader picture of difficulties in raising funds
for initiatives such as Gavi and the Global Fund. Uncertainty over the increase in mandatory
contributions from Member States reinforces the need for a new sustainable financing model.
The future of WHO will depend on its adaptability and international support.

Keywords: WHO, GAVI, Tuberculosis

Ajustes no financiamento da OMS

Conforme exposto em análise do portal Geneva Health Files, a recente crise financeira
enfrentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) reflete desafios estruturais e políticos no
financiamento da governança global da saúde. A decisão do governo Trump de retirar os Estados
Unidos da OMS desencadeou uma série de cortes que afetam diretamente a capacidade
operacional da instituição, aprofundando um problema histórico de subfinanciamento. A
proposta de redução de 21% no orçamento para o biênio 2026-2027, equivalente a um corte de
um bilhão de dólares, ilustra a gravidade da situação, já que o orçamento previsto caiu de US$

20
5,3 bilhões para US$ 4,2 bilhões. Essa redução ocorre em meio a um déficit de US$ 600 milhões
no orçamento do ano corrente, levando a um redimensionamento da força de trabalho e das
atividades da organização.

O impacto dos cortes reflete-se diretamente na redução de pessoal, com estimativas


não confirmadas indicando a possível eliminação de 20% a 40% das posições em uma força de
trabalho global de cerca de 9.473 funcionários em 2024. O diretor-geral da OMS, Tedros
Adhanom Ghebreyesus, em e-mail enviado à equipe em 28 de março de 2025, alertou para o
impacto das reduções, afirmando que a atual conjuntura representa um dos maiores desafios à
organização. No comunicado, reconhece-se que a dependência excessiva da OMS em um grupo
reduzido de doadores foi um risco identificado desde a reforma iniciada em 2017. Contudo,
mesmo com esforços para diversificar as fontes de financiamento, como a criação da OMS
Foundation e rodadas de investimentos, a retração no apoio financeiro internacional
compromete a capacidade de resposta da agência.

A crise financeira se agrava devido a um ambiente geopolítico onde vários países


reduziram sua assistência oficial ao desenvolvimento para priorizar gastos em defesa. A retirada
dos EUA, maior contribuinte individual da OMS no biênio 2022-2023 com US$ 1,2 bilhão, criou
um vácuo significativo no orçamento da organização. Em resposta, a OMS implementou
medidas emergenciais como congelamento de contratações e cortes em despesas de viagem.
Além disso, a entidade considera fusões de divisões, departamentos e unidades, além da
realocação de funções para otimizar recursos limitados. O e-mail de Tedros sublinha que a
redução da força de trabalho começará pela sede, afetando também escritórios regionais e
nacionais.

As discussões em torno do orçamento da OMS também refletem tensões entre os


Estados-membros. A proposta inicial para o biênio 2026-2027 previa um orçamento de US$ 7,4
bilhões, um aumento de 9% em relação ao período anterior, alinhado com ao GPW 14. No
entanto, diante do cenário econômico adverso, o Comitê Executivo reduziu a previsão para US$
4,9 bilhões, com um novo ajuste para US$ 4,2 bilhões proposto por Tedros. Essas negociações
expõem a dificuldade em assegurar compromissos financeiros sustentáveis para a OMS,
especialmente diante da resistência de alguns países em aumentar suas contribuições
obrigatórias, o que manteria a dependência da organização em doações voluntárias e recursos
extraorçamentários.

O impacto desses cortes se estende para além da OMS, afetando toda a arquitetura da
saúde global. Agências como Gavi e o Fundo Global também enfrentam dificuldades em suas
rodadas de reposição financeira, sugerindo uma crise sistêmica no financiamento de iniciativas
de saúde pública. Além disso, a redução dos recursos destinados à OMS compromete
diretamente sua capacidade de coordenar respostas a emergências sanitárias, monitorar surtos
epidêmicos e apoiar sistemas de saúde nos países mais vulneráveis. Como destacado por Mike
Ryan, diretor do Programa de Emergências da OMS, a redução do orçamento do programa de
emergências de US$ 1,2 bilhão para US$ 872 milhões implica cortes profundos em ações
fundamentais, como resposta a surtos de ebola, operações de equipes médicas em desastres e
inteligência epidemiológica.

A crise atual reafirma a necessidade de um modelo de financiamento mais estável e


previsível para a OMS. A dependência excessiva de doações voluntárias torna a agência
vulnerável a flutuações políticas e econômicas, comprometendo sua autonomia e capacidade
de planejamento de longo prazo. A proposta de aumentar as contribuições obrigatórias dos

21
Estados-membros visa mitigar essa vulnerabilidade, mas enfrenta resistência política. O
desfecho dessas negociações será determinante para o futuro da organização e para a
governança da saúde global como um todo. O período que antecede a Assembleia Mundial da
Saúde em maio de 2025 será crucial para definir os rumos da OMS diante desse cenário
desafiador.

O impacto global do possível corte de financiamento dos EUA à Gavi

Na última semana foi liberado pelo jornal estadunidense New York Times documento
que lista uma série de proposta para redução ou completa suspensão de financiamentos por
parte da administração Trump. Dentre tais, há menção ao orçamento para manutenção da
Aliança Global para Vacinas e Imunização, GAVI, pela sigla em inglês. A reportagem pode ser lida
na íntegra neste link. Tal decisão pode representar um marco preocupante para a saúde global
e para a própria segurança sanitária do país e do mundo. De acordo com informações reveladas
pelo New York Times, essa medida faz parte de um esforço mais amplo do governo
estadunidense para reduzir drasticamente sua assistência internacional, com cortes que afetam
diretamente organizações essenciais para a resposta a emergências sanitárias e a prevenção de
surtos epidêmicos. O impacto potencial dessa decisão transcende fronteiras, comprometendo
décadas de avanços na imunização e expondo milhões de crianças a doenças evitáveis.

A Gavi tem sido um dos pilares da imunização global desde sua criação há 25 anos,
contribuindo para a vacinação de milhões de crianças e para a contenção de surtos de doenças
como sarampo, poliomielite e pneumonias por múltiplos patógenos. Estima-se que suas
iniciativas tenham salvado cerca de 19 milhões de vidas nesse período. O estudo completo que
referencia tal cálculo pode ser lido na página da Aliança (aqui). O financiamento dos Estados
Unidos cobre aproximadamente 13% do orçamento da organização, e sua retirada pode deixar
75 milhões de crianças sem acesso a vacinas essenciais nos próximos cinco anos. Esse cenário
poderia resultar em mais de um milhão de mortes evitáveis e em um aumento exponencial de
surtos de doenças infecciosas.

Além do impacto humanitário direto, a retirada do apoio à Gavi também ameaça a


segurança sanitária global. A manutenção de estoques de vacinas contra doenças emergentes
como Ebola, mpox e febre amarela depende, em grande parte, da capacidade financeira da
aliança. Sem os recursos necessários, países de baixa e média renda ficarão mais vulneráveis a
epidemias que, inevitavelmente, podem se espalhar para outras regiões do mundo. Do ponto
de vista econômico, há ainda um impacto negativo substancial: estima-se que cada dólar
investido na Gavi gere um retorno de US$ 54, fortalecendo sistemas de saúde e reduzindo a
necessidade de assistência emergencial futura.

A decisão dos EUA de cortar esse financiamento não ocorre isoladamente. Faz parte de
uma reestruturação mais ampla da assistência internacional promovida pela administração
atual, que inclui a redução drástica do orçamento da USAID e a criação de um novo órgão, a
Agência para Assistência Humanitária Internacional. Esse movimento visa reorganizar os pilares
da ajuda externa sob a lógica de segurança nacional e prosperidade econômica, deixando de
lado programas essenciais que historicamente tiveram impacto positivo na estabilidade global.
A dissolução da USAID já resultou na perda de milhares de funcionários e na iminente
interrupção do fornecimento de medicamentos para o tratamento do HIV em pelo menos oito
países do continente africano.

A retirada do financiamento para a Gavi e outros programas internacionais representa,


portanto, uma escolha política com consequências de longo alcance. Além de comprometer os

22
esforços de imunização e a resposta a emergências sanitárias, essa medida enfraquece o próprio
sistema de defesa biológica dos Estados Unidos. Doenças infecciosas não reconhecem
fronteiras, e a redução dos esforços de contenção no exterior pode resultar em surtos dentro
do próprio território americano, gerando custos econômicos e humanos muito superiores aos
valores economizados com os cortes.

Diante desse cenário, é fundamental que haja uma mobilização global para preencher a
lacuna deixada pela saída dos EUA. Diversos países e organizações multilaterais já
demonstraram interesse em ampliar seus investimentos na Gavi, reconhecendo a importância
da imunização para a estabilidade sanitária e econômica mundial. No entanto, a ausência de um
dos maiores financiadores da saúde global ainda impõe desafios significativos para o futuro das
campanhas de vacinação e para a sustentabilidade dos sistemas de saúde nos países mais
vulneráveis.

O retrocesso no combate à Tuberculose: impactos dos cortes no financiamento global

A tuberculose (TB) continua sendo um dos maiores desafios de saúde pública no mundo,
responsável por 1,25 milhão de mortes em 2023, incluindo 161 mil pessoas vivendo com co-
infecção pelo HIV (WHO, 2025). Após três anos em que a COVID-19 ocupou o posto, a TB voltou
a ser a principal causa de morte por um único agente infeccioso. Além disso, a doença segue
como a principal causa de morte entre pessoas com HIV e um grande fator de óbitos
relacionados à resistência antimicrobiana.

Os esforços globais para combater a TB salvaram cerca de 79 milhões de vidas desde o


ano 2000. No entanto, cortes abruptos no financiamento global ameaçam reverter esses
avanços. O impacto da tuberculose é sentido principalmente nos países de baixa e média renda,
onde ocorrem mais de 80% dos casos e óbitos. Em 2023, aproximadamente 10,8 milhões de
pessoas adoeceram de TB, sendo 6 milhões de homens, 3,6 milhões de mulheres e 1,3 milhão
de crianças. A maior parte dos novos casos foi registrada no Sudeste Asiático (45%), seguido pela
África (24%) e pelo Pacífico Ocidental (17%). Cerca de 87% dos novos casos ocorreram nos 30
países com alta carga de TB, com destaque para Bangladesh, China, República Democrática do
Congo, Índia, Indonésia, Nigéria, Paquistão e Filipinas (WHO, 2025).

No caso da TB multirresistente (MDR-TB), que segue como uma ameaça de segurança


sanitária global, apenas 40% das pessoas afetadas tiveram acesso ao tratamento em 2023. A
interrupção abrupta da terapia pode levar ao surgimento de cepas ainda mais resistentes,
dificultando ainda mais a erradicação da doença. Relatos de pacientes compartilhando
medicação com familiares ou abandonando o tratamento já surgem em países como Uganda,
demonstrando a gravidade da situação.

De acordo com o relatório da OMS (WHO, 2025), a maior parte do financiamento para
serviços de TB em 2023 (80%) veio de fontes domésticas. No entanto, em países de baixa e
média renda, o financiamento internacional continua sendo essencial. Entre 2019 e 2023, houve
uma queda de US$ 1,2 bilhão nos recursos domésticos, parcialmente explicada por reduções de
investimentos em países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O financiamento
para pesquisa e inovação na área da TB, que atingiu apenas US$ 1 bilhão em 2022, continua
muito abaixo da meta global de US$ 5 bilhões anuais.

A TB, embora seja uma doença prevenível e tratável, cortes abruptos no financiamento
global à saúde ameaçam minar décadas de progresso no combate. A decisão dos Estados Unidos

23
de congelar e reduzir significativamente os recursos destinados a programas de saúde globais,
incluindo a tuberculose, evidencia um retrocesso com consequências graves e de longo alcance.

O impacto dos cortes já é evidente. Segundo o Stop TB Partnership, apenas nos dois
meses seguintes à suspensão do financiamento da Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional (USAID), mais de 11.000 pacientes adicionais morreram em
decorrência da tuberculose. Além disso, projeções indicam que os casos da doença podem
aumentar entre 28% e 32% globalmente neste ano. A retirada abrupta do apoio financeiro
prejudica diretamente países de baixa e média renda, comprometendo laboratórios, cadeias de
suprimento de medicamentos e programas de rastreamento e diagnóstico.

A interrupção do financiamento estadunidense ocorre em um contexto de já crônico


subfinanciamento da resposta global à TB. Em 2023, apenas 26% dos US$ 22 bilhões necessários
anualmente para a prevenção e o tratamento da tuberculose estavam disponíveis. A pesquisa
para novos tratamentos e vacinas também está em risco, recebendo apenas um quinto dos US$
5 bilhões anuais necessários para avanços significativos. A OMS, por meio do Conselho
Acelerador de Vacinas para TB, tem trabalhado para impulsionar a inovação no desenvolvimento
de imunizantes, mas a falta de recursos coloca esse progresso em xeque.

Os efeitos dos cortes não se limitam a perdas humanas diretas, mas também abalam as
infraestruturas de saúde pública. Países como Moçambique, Camboja, Paquistão e Nigéria
relatam que a falta de financiamento da USAID comprometeu redes de laboratórios,
interrompeu o transporte de amostras para diagnóstico e levou à demissão de trabalhadores da
saúde essenciais. A crise se reflete, por exemplo, na drástica redução de diagnósticos na região
de Camboja, onde o número mensal de novos casos caiu de cerca de 650-850 para apenas 250.
Essa redução não representa uma melhora da situação epidemiológica, mas sim um colapso na
capacidade de identificar e tratar os doentes, contribuindo para a propagação silenciosa da TB
nas comunidades.

Além disso, a interrupção do tratamento para pacientes já em curso aumenta o risco de


desenvolvimento de formas mais resistentes da doença. O abandono de esquemas terapêuticos
completos favorece mutações bacterianas que tornam a TB resistente a múltiplos fármacos,
dificultando ainda mais seu controle. A OMS já alertou que nove países estão enfrentando
dificuldades na aquisição de medicamentos para TB, o que pode gerar um aumento da
resistência medicamentosa e dificultar o tratamento futuro da doença.

A decisão dos Estados Unidos também tem implicações geopolíticas e para a segurança
sanitária global. A tuberculose não respeita fronteiras, e o enfraquecimento da resposta
internacional pode levar à disseminação de novas cepas resistentes para países que atualmente
têm taxas mais baixas da doença, incluindo os próprios Estados Unidos. A ironia desse corte de
financiamento é que ele pode resultar em custos ainda mais altos no futuro, tanto para os países
afetados diretamente quanto para aqueles que agora tentam reduzir seu envolvimento
financeiro.

Diante desse cenário, há um chamado urgente para que governos, organizações


multilaterais e doadores privados preencham a lacuna deixada pela saída dos EUA. A OMS, em
parceria com a sociedade civil, tem destacado a necessidade de ações coordenadas para evitar
um retrocesso na luta contra a tuberculose. Isso inclui garantir financiamento doméstico
sustentável, fortalecer sistemas de monitoramento e resposta rápida e proteger o acesso a
medicamentos e diagnósticos essenciais.

24
A resposta à TB deve ser vista não como obrigação moral, mas como investimento
estratégico. Cada dólar gasto em prevenção e tratamento da tuberculose gera retorno estimado
de US$ 43, aliviando a carga sobre os sistemas de saúde e prevenindo gastos futuros com surtos
epidêmicos e suas consequências econômicas. A retirada do financiamento não apenas ameaça
vidas, mas representa decisão contraproducente do ponto de vista financeiro e sanitário.

A comunidade internacional enfrenta, assim, um teste crítico de sua capacidade de


reagir a desafios de saúde pública de maneira coordenada e eficaz. O combate à tuberculose
exige compromisso político, investimento contínuo e um senso de responsabilidade global. O
retrocesso atual coloca em risco as metas da ONU de erradicar a doença até 2030 e pode
comprometer décadas de progresso na saúde global, reforçando desigualdades e expondo
populações vulneráveis a um sofrimento evitável. Sem uma resposta urgente e coordenada, as
consequências dessa crise serão sentidas por gerações.

"A Saúde Global está em uma encruzilhada, sejamos ousados e aspiracionais"

O artigo "A Saúde Global Está em uma Encruzilhada: Sejamos Ousados e Aspiracionais"
discute o impacto significativo da retirada dos Estados Unidos de vários programas
internacionais de saúde e ajuda, incluindo a OMS, USAID e PEPFAR. Essa retirada interrompeu
iniciativas de saúde global, especialmente aquelas que visam populações vulneráveis e doenças
como a malária. O artigo destaca as implicações mais amplas dessa medida, incluindo a erosão
do multilateralismo e o enfraquecimento dos valores da Carta das Nações Unidas.

Os autores argumentam que a comunidade de saúde global deve responder de maneira


ambiciosa a esses desafios. Propõem reafirmar os fundamentos morais e políticos de 'saúde
para todos', abordar os determinantes sociais da saúde e integrar a saúde global com justiça
social, econômica e política. Enfatizam a necessidade políticas econômicas e governança que
visem o abuso fiscal por corporações transnacionais e indivíduos ultra-ricos.

O artigo pede novas modalidades de ajuda que sejam mais coerentes e socialmente
responsáveis, afastando-se dos sistemas de ajuda impulsionados por doadores que
frequentemente servem aos interesses dos países doadores. Destaca a importância do
financiamento público sobre o financiamento privado na saúde e no desenvolvimento,
defendendo uma regulamentação eficaz no interesse público.

Os autores pedem apoio à OMS, enfatizando seu papel na facilitação da cooperação


global em saúde e na produção de normas científicas e técnicas. Permitir que o déficit
orçamentário da OMS aumente a dependência do financiamento privado, poderia comprometer
seu mandato de saúde pública.

Saúde nas Américas: Acelerando a eliminação de doenças

A Organização Pan-Americana da Saúde publica Saúde nas Américas


desde 1954, que coleta e divulga informações sobre condições e
tendências de saúde nos países e territórios das Américas e o Caribe.
O tema proposto para o Saúde nas Américas 2024 é destacar os
avanços que a Região das Américas obteve com a Iniciativa de
Eliminação 30+, uma política para uma abordagem sustentável
integrada comprometida em eliminar mais de 30 doenças
transmissíveis e condições relacionadas até 2030. Acesso: Saúde nas
Américas: Acelerando a eliminação de doenças. Relatório final

25
Direitos humanos e “Razão Humanitária”, um conflito que se reflete na redução do
alcance e efetividade material dos direitos humanos
Tensões e conflitos na semana de encerramento da 58ª Sessão do CDH

Armando De Negri Filho

A 58ª Sessão do CDH concluirá seus trabalhos no dia 04 de abril e, nesta última semana,
são tomadas as decisões que transformam em resoluções muitos dos temas de informes
apresentados desde o dia 24 de fevereiro.

Destaque deste dia 02 de abril foi a votação sobre a resolução que reconhece o impacto
das medidas coercitivas unilaterais sobre o pleno desfrute dos direitos humanos. Como ilustração
da tensão e divisão existente no CDH entre o Sul Global e o Ocidente / Norte Global, a votação
alinhou países da África, Asia e América Latina e Caribe em favor da resolução e, contra, todos
os países da Uniao Europeia, Coreia do Sul e Japão. Com três abstenções: Costa Rica, México e
Ilhas Marshall. Uma distribuição de votos que é representativa da divisão do Conselho em temas
substantivos sobre a conexão entre direitos humanos e a atual ordem política e econômica
internacional.

Em um cenário impactado pelo anúncio de retirada dos EUA da OMS, GAVI e Fundo
Global, com a implosão da arquitetura da chamada ajuda humanitária, se impõe a busca de
outros mecanismos para sustentar transformações que nos liberem de uma arquitetura
humanitária que não se implica moralmente com as causas estruturais das fragilidades das
populações que sofrem os efeitos da ordem internacional, expressos sobretudo pelas políticas
de austeridade e a limitação dos gastos públicos, a partir da imposição da arquitetura das dividas
nos processos de desenvolvimento nacionais.

No ambiente tenso e frequentemente temeroso das relações internacionais atuais,


certos temas como o informe da Missão de Averiguação da ONU sobre a Venezuela, geram
desconforto e traduzem visões unilaterais sobre a situação nos países com posições que refletem
vieses que levam a uma visão unilateral dos processos, sem escutar todas as partes em conflito
e assumindo como verdade a que se constrói nas redes sociais e meios hegemônicos do
Ocidente. O resultado é uma perda de confiança nos mecanismos do CDH e do ACDH,
desgastando estas instancias e em consequência o próprio alcance e respeito aos direitos no
marco da lei internacional.

Temas como o genocídio em Gaza e a violação massiva de pessoas em condição de


mobilidade – com deportações sem nenhum respeito aos direitos humanos assumem
expressões menores ou mesmo silêncios constrangedores. O que gera protestos como o do
Ministro de Relações Exteriores da Venezuela e o diálogo do Presidente Maduro com o Secretário
Geral da ONU e o Alto Comissário de Direitos Humanos, sem alcançar maiores transformações
de uma realidade moldada pelo princípio da força e do unilateralismo.

O silencio sobre as deportações e a retomada do genocídio em Gaza, impactam na


credibilidade e capacidade de garantias do sistema de direitos humanos adotados pela ONU.

Neste cenário onde convivem violações massivas dos direitos humanos mediante
medidas coercitivas unilaterais e a ajuda humanitária¨, o dilema imposto pela ¨razão

26
humanitária¨ estabelece uma contradição com a natureza e alcance dos direitos humanos no
marco da Lei Internacional. Sugiro a leitura da resenha por Darío Iván Radosta1 da obra de Didier
Fassin, ¨Razão humanitária. Uma história moral do tempo presente¨, como parte de uma
reflexão fundamental sobre as transformações do sofrimento humano como argumento político,
sem tocar as causas deste sofrimento. Reflexão que deveria guiar uma nova concepção do
humanitário em favor da materialidade dos direitos humanos em tempos sombrios.

Na revisão dos documentos apresentados como informes ao CDH destaco “Dimensão


de direitos humanos do cuidado e apoio - Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos, como parte intrínseca dos sistemas de seguridade / proteção social
de nossos países.” Neste informe o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos analisa os padrões internacionais de direitos humanos relevantes para cuidados e
apoio, práticas promissoras e desafios, e sugere recomendações sobre a promoção dos direitos
humanos nos sistemas de cuidados e apoio.

Igualmente merece atenção o ¨Relatório sobre a décima sessão do Grupo de Trabalho


Intergovernamental Aberto sobre Empresas Transnacionais e outras Empresas em Matéria de
Direitos Humanos¨, no qual o Presidente-Relator do Equador reconheceu os desafios
enfrentados pelo grupo de trabalho ao longo dos anos, em particular a necessidade de maior
vontade política por parte de vários Estados. Tais desafios precisariam ser superados para
preencher lacunas no direito internacional dos direitos humanos e ajudar a garantir que as
vítimas de violações e abusos dos direitos humanos tenham acesso à justiça e a recursos efetivos.
Ele lembrou que os esforços globais para alcançar esses e outros objetivos relacionados
começaram décadas atrás, e que nessas décadas foram adotadas estruturas importantes, como
os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos, a Declaração Tripartite de
Princípios da OIT sobre Empresas Multinacionais e Política Social e as Diretrizes da OCDE para
Empresas Multinacionais sobre Conduta Empresarial Responsável. No entanto, o estado de
implementação de tais estruturas demonstrou a necessidade de instrumentos vinculantes para
esclarecer e desenvolver ainda mais as obrigações dos Estados e as responsabilidades das
empresas em relação à proteção, respeito e remediação de violações e abusos de direitos
humanos resultantes de atividades comerciais transnacionais.

Digno de atenção e seguimento será a ¨11ª Sessão do Mecanismo de Especialistas sobre


o Direito ao Desenvolvimento para discutir o financiamento para o desenvolvimento no novo
contexto internacional¨, a ocorrer nos dias 2 a 4 de abril de 2025, na sede das Nações Unidas
em Nova York, para discutir como enfrentar o novo contexto internacional e, ao mesmo tempo,
garantir o compromisso contínuo com o financiamento para o desenvolvimento.

Como área de fronteira de Direitos Humanos apontamos o informe ¨Fundamentos e


princípios para a regulação das neurotecnologias e o processamento de neurodados na
perspectiva do direito à privacidade. Relatório da Relatora Especial sobre o direito à privacidade,
Ana Brian Nougrères, que estabelece as bases para a criação de um marco conceitual para
regular o uso de neurotecnologias e o processamento de neurodados, sob a perspectiva do
direito à privacidade. Em particular, o relatório trata de definições-chave e estabelece princípios
fundamentais para orientar a regulamentação nesta área, incluindo a proteção da dignidade
humana, a salvaguarda da privacidade mental, o reconhecimento de neurodados como dados
pessoais altamente sensíveis e a exigência de consentimento informado para o processamento
dos mesmos. Também é dada ênfase à inclusão de valores éticos e à proteção dos direitos
humanos no projeto e uso dessas tecnologias e na aplicação do princípio da precaução,
responsabilidade demonstrada, tratamento seguro de neurodados, não discriminação e

27
proteção efetiva dos direitos dos indivíduos no processamento de seus neurodados. Esta
abordagem procura estabelecer uma base sólida para garantir que a regulamentação das
neurotecnologias seja coerente, ética e concebida para salvaguardar os direitos fundamentais.

Finalmente destacamos o informe sobre ¨Impacto das transferências de armas nos


direitos humanos. Relatório do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos¨, no qual se examina as lacunas no que diz respeito ao papel dos Estados e
do setor privado para prevenir, abordar e mitigar os impactos negativos das transferências de
armas sobre os direitos humanos, incluindo transferências e desvios ilícitos de armas não
regulamentados. Com base no workshop intersessional determinado pela resolução 53/15, as
lacunas são agrupadas em cinco categorias, a saber: boa governança do setor de armas;
salvaguardas contra a autorização de transferências proibidas; due diligence pelo setor privado;
prevenção eficaz dos impactos negativos sobre os direitos humanos resultantes das
transferências de armas; e acesso à justiça. Em suas conclusões e recomendações, o ACNUDH
conclui que as transferências de armas não são uma zona livre de direitos humanos e recomenda
medidas futuras que devem ser tomadas.

Tradução dos informes mencionados

1. Resenha por Darío Iván Radosta1 da obra de Didier Fassin, ¨Razão humanitária. Uma
história moral do tempo presente¨. Buenos Aires, Prometeo, 2016, 396 pp.
https://revistasacademicas.unsam.edu.ar/index.php/etnocontemp/article/view/437/1
490
¨Ao longo das últimas décadas, as políticas de gestão de vidas precárias passaram por
uma reconfiguração: os sentimentos morais – que articulam razão e emoção – penetraram na
esfera pública, gerando um governo humanitário – definido como o desdobramento de
sentimentos morais na política contemporânea – em que o sofrimento aparece como um novo
léxico que justifica as práticas de cuidado. Fassin, em uma compilação de nove artigos, se propõe
a analisar os efeitos dos múltiplos deslocamentos implicados pelo desenvolvimento do governo
humanitário na administração dos excluídos, dando conta da alta atuação política que o discurso
de afetos e valores tem no mundo contemporâneo. Combinando a abordagem histórica – por
meio da genealogia dessa nova configuração política – com a etnografia – que permite a
expansão epistemológica da moralidade como objeto de análise – o texto se apresenta como um
diagnóstico da economia moral que tem como eixo a razão humanitária.

O livro começa com uma questão-chave: em que condições históricas o sofrimento se


tornou um problema social? A autora mostra como a entrada da saúde mental como linguagem
legítima na compreensão da realidade social torna visível o sofrimento no espaço público. Essa
inovação desloca a diferença de classe em favor do binômio inclusão/exclusão, traduzindo as
desigualdades sociais em sofrimento psíquico e propondo a escuta dos desconfortos das classes
populares como solução. A configuração semântica liberal baseada na má adaptação, pobreza e
integração agora dá lugar a um léxico compassivo articulado pela exclusão (diagnóstico),
sofrimento (expressão) e escuta (solução). O distúrbio psíquico como resposta a uma condição
socioeconômica torna-se - legitimado tanto pela psiquiatria quanto pelas ciências sociais - uma
questão política na arena da ação pública.

No mundo das sutilezas daqueles que administram a assistência social, a figura da


escolha trágica parece explicar sua influência na continuidade da vida das pessoas. O "equilíbrio

28
vital" (número resultante da diferença entre a renda mensal e as despesas permanentes de uma
família) como invenção linguística nos permite ver a convergência de parâmetros financeiros e
morais na tomada de decisões. Longe de haver um critério uniforme, a representação que os
funcionários criam dos pobres torna-se uma norma usada para julgar seus discursos e ações. A
escolha de conceder ou não assistência social, inscrita nos mecanismos técnicos pelos quais se
busca a objetividade, funciona como um processo de subjetivação imposto aos pobres em que
eles são construídos como sujeitos da assistência, ao mesmo tempo em que dá conta da
exposição do sofrimento como um novo recurso de apelo à vontade do Estado.

A doença também se manifesta para o autor como um elemento que abre novos
horizontes de assistência social. Reivindicando o direito de manter vivos aqueles que confiam
apenas em sua existência, a legislação desenvolve um protocolo compassivo em matéria de
saúde que permite que pacientes estrangeiros em condições de irregularidade permaneçam em
território nacional. Antes socialmente ilegítimo, o corpo do imigrante torna-se um recurso capaz
de produzir compaixão. Foi assim que nasceu a figura do inspetor médico, pedra angular desse
dispositivo que propõe o corpo sofredor como prova da veracidade do discurso dos indivíduos.
Diante do crescente descrédito que recai sobre a palavra do imigrante, o atestado de doença
torna-se a verificação objetiva de sua história - e o fio fino sobre o qual sua existência depende.

À medida que o texto avança, Fassin nos mostra como a abertura e o fechamento do
campo de refugiados de Sangatte expressam o oxímoro da repressão compassiva, testemunho
de uma época em que o humanitário e a segurança se sobrepunham. Essa tensão entre
humanidade e segurança torna-se uma característica central da gestão dos refugiados no mundo
contemporâneo, a ponto de essa nova geopolítica do asilo ser administrada paralelamente por
organizações policiais e organizações pertencentes ao campo da saúde (como é o caso da Cruz
Vermelha). A introdução do asilo para estrangeiros na lógica da razão humanitária –
documentada pela invocação de sentimentos morais e reflexos emocionais em sua justificativa
– faz com que as organizações sejam desafiadas pela eficácia sentimental das narrativas dos
refugiados e não pela veracidade de suas histórias. Isso leva à redução do status de refugiado a
uma condição humana na qual a particularidade dos contextos e realidades nacionais é de
relativamente pouca importância.

Com foco nas representações da infância em tempos de AIDS, o autor expõe o caso de
Nkosi Johnson – que morreu de AIDS aos 11 anos – como a entrada da criança no espaço público.
Uma nova configuração moral da doença faz surgir a constituição da infância como marca de
inocência – na medida em que a criança não tem sua culpa comprometida – vinculada, por sua
vez, à ideia de vulnerabilidade social causada pela responsabilidade da ação de seus pais e pela
omissão do Estado. Destacar as crianças como vítimas vulneráveis tem o efeito de gerar
discriminação moral entre o que é mais ou menos legítimo defender (provocando o relativo
abandono das mães, por exemplo), ao mesmo tempo em que a introdução da infância como
categoria moral na política essencializa as crianças vítimas das realidades sociais – e, portanto,
as condições estruturais em que se inscrevem as suas situações históricas.

Tomando eventos catastróficos como objeto de análise, Fassin continua seu argumento
explicando seu caráter como exceção moral e política. A tensão entre compaixão e ordem que
caracteriza aquele momento permite que as intervenções militares sejam justificadas no registro
moral do humanitário – algo como um estado de exceção humanitária que é desejado pela
simpatia provocada pelas vítimas. A urgência e a precariedade da existência tornam-se objeto
de preocupação humanitária, enquanto a ilusão de igualdade diante de um evento que afeta
todas as esferas da sociedade torna-se o motor da ação coletiva. Passada a tragédia, o imaginário

29
da humanidade compartilhada cede e a "ressocialização" acontece ao longo das linhas usuais
das desigualdades sociais. O estado de emergência aparece aqui como uma forma prática de
gerir a crise.

A segunda era do humanitário corresponde ao advento do testemunho para o autor: a


obrigação de quem vai a campo falar publicamente sobre os abusos encontrados. O testemunho
– no registro da compaixão – torna-se assim parte integrante da intervenção humanitária
(explicitada nos manifestos das ONGs nascentes). O trabalho de subjetivação das organizações
humanitárias encontra na psiquiatria um mecanismo privilegiado para colocar em palavras o
sofrimento dos despossuídos, ao mesmo tempo em que se impõem a tarefa de serem porta-
vozes daqueles que não têm voz. A configuração testemunhal aparece, no entanto, sob uma
polissemia e instabilidade que exige a constituição de uma noção particular de vítima como
sujeito político (aquela vítima da qual as ONGs serão suas porta-vozes).

Chegando ao capítulo final, Fassin propõe entender a ação humanitária como uma
política da vida – uma política que coloca em jogo significados e valores diferentes da vida
humana. Por meio da análise de diferentes intervenções militares, ele dá conta da existência de
uma desigualdade ontológica na transação de vidas: mais precisamente entre aqueles que são
colocados em perigo quando são expostos (aqueles que trabalham para ONGs) e aqueles que
são resgatados (a quem a assistência é destinada). A desigualdade que sustenta a compaixão do
gesto humanitário reside em uma aparente simetria de vidas, que contrasta com a prioridade
dada aos indivíduos enviados ao campo em missões humanitárias – o que para Fassin estabelece
hierarquias de humanidade. Embora a ação humanitária seja proposta como a restauração da
própria ideia de humanidade, a desigualdade de vidas acaba sendo para o autor um dos
fundamentos da economia moral contemporânea.

O livro em sua totalidade é uma tentativa de tomar como objeto de estudo a evidência
moral de causas inerentemente justas, aquelas às quais o caráter impecável da razão
humanitária dá uma auréola de bondade indiscutível, além de qualquer construção social ou
histórica possível. Tornar inteligíveis as lógicas globais dessas ações nos permite criticar a
existência de um processo de generalização do referencial dos sentimentos morais na vida
política – o que o autor chama de governo humanitário – podendo dizer, como uma das
conclusões a que Fassin chega, que o governo humanitário pode muito bem ser entendido
como uma resposta ao modo como a vida se tornou intolerável – para alguns mais do que para
outros – face às administrações dos Estados modernos contemporâneos.¨ 8 de Março de 2017.
1.Licenciado em Antropologia Social e Cultural (Universidade Nacional de San Martín). Doutoranda do CONICET,
sediada no Instituto de Altos Estudos Sociais da Universidade Nacional de San Martín. Professor de Psicologia na
Universidade Favaloro e Antropologia Social e Cultural na Universidade Nacional de San Martín.

2. Dimensão de direitos humanos do cuidado e apoio. Relatório do Alto Comissariado


das Nações Unidas para os Direitos Humanos. https://docs.un.org/en/A/HRC/58/43
Resumo. No presente relatório, preparado de acordo com a resolução 54/6 do Conselho de
Direitos Humanos, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos analisa os
padrões internacionais de direitos humanos relevantes para cuidados e apoio, práticas
promissoras e desafios, e sugere recomendações sobre a promoção dos direitos humanos nos
sistemas de cuidados e apoio.

Introdução 1. O presente relatório é preparado de acordo com a resolução 54/6 do Conselho de


Direitos Humanos. Na resolução, o Conselho solicitou ao Alto Comissariado das Nações Unidas

30
para os Direitos Humanos que organizasse um workshop de especialistas e preparasse um
estudo temático abrangente sobre a dimensão de direitos humanos de cuidados e apoio. O
estudo foi informado por submissões escritas1 recebidas pelo Escritório do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), o resultado do workshop de
especialistas e pesquisas documentais e consultas conduzidas pelo ACNUDH.2

2. Cuidados e apoio são a base para o bem-estar e a prosperidade de todos os indivíduos,


sociedades, economias e ecossistemas.3 No entanto, a maioria dos sistemas de cuidados e apoio
existentes não são sustentáveis ou resilientes, como foi revelado durante a pandemia de COVID-
19 (doença do coronavírus), e são construídos sobre desigualdades. O ambiente em torno dos
cuidados e apoio está sendo afetado por grandes mudanças demográficas e crises globais,
incluindo conflitos, desastres e pandemias. Para não exacerbar a desigualdade e as violações dos
direitos humanos, os atuais sistemas de atendimento e apoio devem, portanto, ser
transformados.

3. No presente relatório, o Alto Comissariado analisa os padrões internacionais de direitos


humanos relevantes para cuidados e apoio, práticas promissoras e desafios, e sugere
recomendações sobre a promoção dos direitos humanos nos sistemas de cuidados e apoio.

II. Termos e conceitos.

A. Terminologia.

4. A formulação da resolução 54/6 do Conselho foi a centralidade do cuidado e do apoio a partir


de uma perspectiva de direitos humanos. Em consonância com isso, a presente seção contém
sugestões para definições de trabalho de termos relevantes.

5. O conceito de "cuidado e apoio", para os fins do presente relatório, é entendido como atos de
cuidar de si mesmo e de ajudar os outros a realizar atividades diárias, manter o bem-estar e
participar da sociedade com dignidade e autonomia. Esta definição baseia-se e combina as
definições de "cuidado" e "apoio" fornecidas no documento de política do sistema das Nações
Unidas sobre a transformação dos sistemas de cuidados. Nesse policy paper, o cuidado é
entendido como "o ato de cuidar de si, dos outros e do planeta, e que inclui fornecer apoio e
assistência a quem deles necessita para possibilitar sua participação na sociedade com dignidade
e autonomia"4 e como central para o bem-estar das pessoas e do planeta, e o apoio é entendido
como "o ato de prestar ajuda ou assistência a alguém que o necessite para realizar diariamente
atividades e participar da sociedade", de modo que tal assistência não apenas atenda às
necessidades básicas dos destinatários, mas também possibilite sua participação na sociedade
com dignidade e autonomia.5

6. Embora haja sobreposição entre os conceitos de "cuidado" e "apoio", cada um tem elementos
distintos e não pode ser subsumido no outro. O conceito de "cuidado" foi postulado para incluir
atividades que vão além do cuidado com as pessoas para incluir também o cuidado com o
planeta.6 O conceito de "apoio" é distinto, com foco em como a assistência é prestada, com
ênfase na autonomia daqueles que precisam de apoio e sua agência sobre a assistência que
buscam e recebem. O suporte pode ser fornecido tanto por suporte humano quanto por
dispositivos, tecnologias e infraestrutura assistenciais. 7 O termo "cuidado e apoio" captura
ambos conceitos.

31
7. O trabalho de cuidado e apoio pode ser remunerado ou não remunerado e pode ser realizado
dentro ou fora da família. Abrange o cuidado pessoal e relacional direto e o apoio a outras
pessoas; e trabalho indireto de cuidado e apoio, como cozinhar, limpar e lavar.8

8. Os sistemas de cuidados e apoio abrangem um conjunto de leis, políticas e programas


multissetoriais; infraestrutura social e física; prestação de serviços, bens, dispositivos,
tecnologias e informações; financiamento e governança para sua implementação; e normas
sociais que influenciam o cuidado e o apoio.9 Os sistemas de cuidados e apoio que respeitam os
direitos humanos visam alcançar uma organização de cuidados e apoio que seja sensível ao
gênero, inclusiva à deficiência e sensível à idade, e que cumpra toda a gama de padrões de
direitos humanos. 10 A referência a ambientes institucionalizados de cuidados e ao processo de
desinstitucionalização do cuidado deve ser entendida conforme descrito no parágrafo 38 abaixo.

9. A frase "aqueles que prestam e requerem cuidados e apoio" é usada no presente relatório,
após o feedback no workshop de especialistas. Foi sugerido que o uso da palavra "fornecer", em
vez de "dar", indica que a provisão de cuidados e apoio não é dada de graça ou tida como
garantida. O termo "exigir" abrange não apenas aqueles que já estão acessando cuidados e
apoio, mas também aqueles que precisam de cuidados e apoio, mas que ainda não têm acesso
a eles.

10. A frase "aqueles que prestam cuidados e apoio" abrange tanto aqueles que prestam cuidados
e apoio não remunerados quanto os trabalhadores de cuidados e apoio. Aqueles que prestam
cuidados e apoio não remunerados incluem cuidadores familiares não remunerados, pessoas
que prestam cuidados e apoio não remunerados de pares,11 e trabalhadores com
responsabilidades não remuneradas de cuidados e apoio.12 Os trabalhadores de cuidados e
apoio incluem trabalhadores remunerados de cuidados e apoio nas economias formal e
informal. 13

B. Estrutura conceitual.

11. O relatório baseia-se num quadro conceptual de cinco partes. Em primeiro lugar, a dimensão
de direitos humanos do cuidado e apoio é entendida como consistindo em três dimensões, a
saber: os direitos daqueles que prestam cuidados e apoio; os direitos daqueles que necessitam
de cuidados e apoio; e os direitos pertinentes ao autocuidado.14

12. Em segundo lugar, os direitos daqueles que prestam e necessitam de cuidados e apoio estão
inextricavelmente ligados,15 e, portanto, os sistemas de cuidados e apoio devem respeitar,
proteger e cumprir os direitos tanto daqueles que prestam cuidados e apoio quanto daqueles
que precisam de cuidados e apoio, simultaneamente.

13. Em terceiro lugar, o estabelecimento de sistemas de cuidados e apoio baseados em direitos


humanos requer investimentos em escala para garantir os direitos tanto daqueles que prestam
quanto daqueles que precisam de cuidados e apoio, em vez de meras realocações de recursos
existentes.16 Os modelos convencionais de cuidados normalmente enquadram o cuidado e o
apoio como uma competição entre aqueles que fornecem e aqueles que precisam de cuidados
e apoio, baseada na tensão entre os interesses de ambos os grupos no que diz respeito à
limitação de tempo, recursos e energias.17 Essa falsa dicotomia cria um risco de incoerência e
fragmentação do sistema e prejudica a sustentabilidade e a eficácia do sistema de cuidado e
apoio.

32
14. Em quarto lugar, é necessária uma reestruturação dos atuais sistemas de cuidados e apoio,
a fim de garantir os direitos daqueles que prestam e necessitam de cuidados e apoio e para
aumentar a sustentabilidade dos sistemas. A este respeito, o quadro 5R proposto pelo sistema
das Nações Unidas poderia fornecer uma base útil para essa transformação. A estrutura descreve
medidas para alcançar cinco resultados políticos: (a) reconhecer o valor do trabalho de cuidado
e apoio e os direitos daqueles que prestam e precisam de cuidados e apoio; b) Reduzir o trabalho
de prestação de cuidados e apoio indirecto e não remunerado com grande intensidade de mão-
de-obra, sem comprometer a prestação de cuidados e o apoio a quem deles necessita; (c)
redistribuir o trabalho não remunerado de cuidado e apoio entre as famílias e o Estado,
empresas e comunidade, e entre gêneros; (d) recompensar os trabalhadores de cuidados e apoio
remunerados; e (e) garantir a representação e participação daqueles que prestam e precisam de
cuidados e apoio e suas organizações. 18

15. Em quinto lugar, a diversidade e a interseccionalidade das identidades daqueles que prestam
e recebem cuidados e apoio e seus direitos devem ser reconhecidos. Atualmente, em todo o
mundo, a maioria das pessoas que prestam cuidados e apoio são mulheres e meninas.19 Elas
incluem mulheres mais jovens e mais velhas e mulheres e meninas com deficiência. Ao mesmo
tempo, as mulheres não são apenas cuidadoras, mas também requerem cuidados e apoio de
outras pessoas ao longo de sua vida. As mulheres estão enfrentando desigualdade tanto na
prestação20 quanto na necessidade21 de cuidados e apoio. Homens e meninos estão cada vez
mais assumindo papéis de cuidadores e podem enfrentar estereótipos de gênero no acesso a
serviços relevantes.22 16. Além de suas experiências de gênero, as pessoas que prestam e
precisam de cuidados e apoio enfrentam diferentes estereótipos e restrições de seus direitos,
devido a formas múltiplas e cruzadas de discriminação. Por exemplo, pessoas que vivem
sozinhas, em cuidados alternativos23 ou em instituições de cuidados,24 abandonam os
cuidados,25 raparigas adolescentes,26 famílias monoparentais, viúvas,27 pessoas idosas, 28
lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, intersexuais e queer, 29 migrantes, 30 povos
indígenas,31 minorias raciais, étnicas e outras,32 incluindo as que enfrentam discriminação com
base na casta, ciganos e afrodescendentes, Aqueles que trabalham no setor informal,33 e
aqueles que vivem em áreas rurais, vivem na pobreza ou são afetados ou vivem em conflitos e
desastres34 enfrentam diferentes tipos e camadas de desafios na prestação e acesso a cuidados
e apoio. Assim, os sistemas de cuidado e apoio baseados em direitos humanos devem avaliar
minuciosamente a diversidade e a interseccionalidade das identidades daqueles que prestam e
necessitam de cuidados e apoio, com o objetivo de reduzir as várias combinações de
desigualdades enfrentadas.

III. Normas internacionais de direitos humanos relevantes para o cuidado e apoio.

17. Muitos instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos, incluindo as normas


internacionais do trabalho,35 contêm disposições que protegem os vários direitos daqueles que
prestam e precisam de cuidados e apoio e esclarecem as obrigações correspondentes do Estado.
36 No entanto, as análises de tais padrões tendem a ter sido desenvolvidas em silos para
diferentes titulares de direitos.

18. O discurso sobre os direitos das mulheres tem abordado o "cuidado", exigindo igualdade de
gênero e direitos das mulheres na prestação de cuidados, principalmente com base na
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.
Movimentos feministas, sindicatos e organizações de cuidadores revelaram como assumir uma
parcela desproporcional de responsabilidades de cuidado prejudicou o gozo igualitário dos
direitos humanos pelas mulheres e sua participação igualitária na sociedade e afetou seu bem-

33
estar. Isso levou a demandas pela transformação da organização social do cuidado por meio da
estrutura dos 5R e o reconhecimento do "direito de prestar e receber cuidados e de exercer o
autocuidado". 37

19. Paralelamente, os movimentos pelos direitos das pessoas com deficiência reivindicaram o
direito ao "apoio" de acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
rejeitando modelos paternalistas e medicalizados de atendimento. Eles exigiram apoio baseado
em direitos como base para viver de forma independente e na comunidade e para estar livre de
ambientes institucionalizados de cuidado, segregação e isolamento. Eles também exigiram que
o apoio fosse fornecido aos cuidadores familiares.38 O conceito de apoio e os padrões relevantes
complementam as três dimensões do cuidado articuladas no discurso dos direitos das mulheres.

20. A Convenção sobre os Direitos da Criança estabelece os direitos das crianças à proteção e
aos cuidados necessários ao seu bem-estar, reconhecendo sua autonomia e agência. O conceito
de "apoio" também é aplicável a crianças com deficiência.39 No entanto, na discussão atual
sobre cuidados e apoio, as principais questões de direitos da criança relacionadas, entre outras,
com cuidados alternativos, proibição do trabalho infantil, crianças com responsabilidades de
cuidador, direito ao descanso, lazer e brincadeiras e os princípios gerais da Convenção40 não
foram totalmente integrados.

21. O discurso sobre os direitos das pessoas idosas tem sido um ponto de convergência nas
discussões sobre os direitos daqueles que prestam e necessitam de cuidados e apoio. 41 No
entanto, devido em parte à falta de um instrumento internacional juridicamente vinculativo
dedicado aos direitos das pessoas idosas, tem havido menos clareza sobre esses direitos e as
lacunas correspondentes na proteção dos direitos humanos. 42

22. Nas subseções a seguir, os padrões relevantes são aplicados às três dimensões de cuidado e
apoio.

A. Princípios gerais.

23. Vários princípios gerais atravessam as três dimensões de cuidado e apoio. O princípio da
universalidade, indivisibilidade, interdependência e inter-relação de todos os direitos humanos
e os princípios da não discriminação e da igualdade são cruciais para os sistemas de cuidados e
apoio, em particular tendo em conta o papel fundamental dos cuidados e do apoio no
funcionamento das sociedades, as ligações entre os direitos daqueles que prestam e daqueles
que necessitam de cuidados e apoio, e as desigualdades sobre as quais os sistemas atuais são
construídos. O respeito pela dignidade43 e a autonomia44 também são um elemento comum.
Atenção especial deve ser dada para garantir que as mulheres desfrutem da igualdade
substantiva nas três dimensões de cuidado e apoio, considerando a significativa desigualdade de
gênero que as mulheres enfrentam ao fornecer e exigir cuidados e apoio.

24. A participação ativa e significativa daqueles que prestam e precisam de cuidados e apoio é
essencial para que os sistemas de cuidados e apoio sejam responsivos e responsáveis por seus
direitos e necessidades. O direito de participar na vida política e pública e outros direitos
relevantes para a participação na tomada de decisões, incluindo o direito da criança a ser ouvida,
devem ser garantidos tanto para quem presta como para quem necessita de cuidados e apoio.
Para os trabalhadores de cuidados e apoio, os direitos sindicais, incluindo a liberdade de
associação e negociação coletiva, são meios cruciais para alcançar um trabalho decente. A
participação na tomada de decisões também é um elemento do autocuidado.45 Aqueles que
enfrentam níveis mais altos de marginalização devem ser ativamente apoiados para garantir sua

34
participação, 46 e a representação igualitária de gênero na tomada de decisões deve ser
garantida.47

25. Cuidado e apoio são fundamentais para o bem-estar das pessoas. No entanto, dependendo
da dinâmica de poder nos contextos de cuidado e apoio, tanto aqueles que fornecem quanto
aqueles que precisam de cuidados e apoio podem se tornar vítimas e perpetradores de violência,
abuso, negligência e exploração. 48 Os sistemas de cuidados e apoio devem integrar meios para
prevenir e responder a essa violência. Os direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal, e à
liberdade contra a violência, o abuso, a negligência e a exploração, inclusive contra tortura ou
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, são relevantes neste contexto.49

26. Os mecanismos de responsabilização são essenciais para qualquer sistema para garantir que
os direitos humanos sejam respeitados, protegidos e cumpridos. Eles incluem mecanismos para
monitorar o progresso e as violações e abusos dos direitos humanos e para fornecer acesso à
justiça e recursos eficazes em casos de violações de direitos. As pessoas que enfrentam violações
de direitos no agregado familiar ou em instituições de cuidados, seja na prestação ou na
necessidade de cuidados e apoio, são particularmente vulneráveis; portanto, os mecanismos de
responsabilização devem ser acessíveis e responsivos a eles.

27. Para aumentar os investimentos em sistemas de atenção e apoio, os Estados têm a obrigação
de mobilizar e distribuir recursos guiados pelos padrões de direitos humanos. 50 A realização do
direito ao desenvolvimento requer reformas econômicas apropriadas, a implantação de
salvaguardas de direitos humanos e o uso de avaliações de impacto para orientar as decisões
tributárias e orçamentárias para garantir recursos para a realização dos direitos humanos.51

28. As empresas – incluindo empresas públicas e privadas e prestadores de serviços sem fins
lucrativos – podem ser prestadores de serviços de cuidados e apoio ou empregadores de
trabalhadores de cuidados e apoio e trabalhadores com responsabilidades de cuidados e apoio.
Espera-se que as empresas cumpram as normas em matéria de direitos humanos, como os
Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos e as orientações sobre a integração
de uma perspectiva de género na aplicação dos Princípios Orientadores, 52 as Diretrizes da OCDE
para as Empresas Multinacionais sobre Conduta Empresarial Responsável, a Declaração da OIT
sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e a Declaração Tripartita de Princípios
sobre as Empresas Multinacionais e a Política Social.

B. Direitos daqueles que prestam cuidados e apoio.

29. Para que os sistemas de cuidados e apoio respondam aos direitos humanos daqueles que
prestam cuidados e apoio, eles devem garantir uma ampla gama de direitos humanos.

30. Os sistemas devem garantir os direitos a condições justas e favoráveis de trabalho e à


seguridade social para todos os trabalhadores de cuidados e apoio e trabalhadores com
responsabilidades de cuidado e apoio não remuneradas, com atenção especial para aqueles que
são trabalhadores migrantes, trabalhadores domésticos e outros que trabalham em condições
informais e precárias.53

31. Geralmente, aqueles que prestam cuidados e apoio não remunerados à sua família e
membros da comunidade devem poder aproveitar seu próprio gozo dos direitos à seguridade
social, moradia adequada e alimentação como base para fornecer cuidados e apoio. Entre os
povos indígenas e camponeses, seus direitos à terra e aos recursos naturais54 fazem parte dessa
fundação. O apoio aos familiares de pessoas com deficiência é considerado parte dos direitos

35
das pessoas com deficiência.55 As cargas de trabalho para cuidados e apoio não remunerados e
as normas sociais ao seu redor não devem prejudicar o gozo por aqueles que prestam cuidados
e apoio de seus próprios direitos humanos, como os direitos à saúde, incluindo saúde e direitos
sexuais e reprodutivos, à educação e ao trabalho.

32. Quando as crianças estão prestando cuidados e apoio, os direitos da criança, incluindo a
liberdade do trabalho infantil e os direitos à educação, saúde e descanso, lazer e brincadeiras,
devem ser protegidos. Ter acesso a apoio é muitas vezes importante para pessoas com
deficiência e idosos que prestam cuidados e apoio a outras pessoas. Por exemplo, apoio humano,
dispositivos assistivos e tecnologias podem ajudar os pais com deficiência a cuidar de seus
filhos.56

33. O direito à educação ao longo da vida, incluindo o direito à educação em direitos humanos57
desde a mais tenra idade e à formação profissional em cuidados e apoio, é importante para dotar
rapazes e raparigas, homens e mulheres de competências para prestar cuidados e apoio
baseados em direitos e para eliminar estereótipos e, assim, permitir a partilha equitativa das
responsabilidades de cuidados e apoio.

34. A eliminação dos estereótipos de gênero58 e a realização da igualdade no casamento,


incluindo as responsabilidades comuns de ambos os pais pela criação dos filhos59 e o
reconhecimento do valor econômico do trabalho não remunerado de cuidado e apoio na
propriedade conjugal,60 são importantes para facilitar a redistribuição das responsabilidades de
cuidado e apoio entre mulheres e homens. Para tornar visíveis todos os que prestam cuidados e
apoio e reconhecer devidamente o valor de sua contribuição, outros estereótipos também
precisam ser eliminados 61 , incluindo aqueles baseados em deficiência, idade, raça ou etnia,
status indígena ou minoritário, status econômico ou orientação sexual, identidade de gênero ou
características sexuais.

C. Direitos daqueles que necessitam de cuidados e apoio.

35. O acesso efetivo ao apoio é um componente chave para o gozo de uma ampla gama de
direitos humanos62 para aqueles que precisam de cuidados e apoio, incluindo o direito de viver
de forma independente e ser incluído na comunidade. O apoio individualizado para pessoas com
deficiência deve ser considerado um direito, e as pessoas com deficiência têm o direito de
escolher serviços e prestadores de serviços de acordo com suas necessidades individuais e
preferências pessoais.63 O Especialista Independente sobre o gozo de todos os direitos humanos
por pessoas idosas também se referiu ao acesso a serviços de apoio no contexto dos direitos das
pessoas idosas.64 A realização do direito à privacidade e o reconhecimento da capacidade legal,
inclusive com apoio, 65 são necessários para que aqueles que necessitam de cuidados e apoio
exerçam autonomia e escolha com dignidade.

36. As crianças, incluindo as crianças com deficiência, têm direito à proteção e cuidados66 e ao
direito à vida, sobrevivência e desenvolvimento67 sem discriminação.68 Ao mesmo tempo, elas
têm o direito de ter suas opiniões respeitadas de acordo com sua idade e maturidade,69 e seus
melhores interesses tomados como consideração primordial em todas as ações que lhes dizem
respeito.70 Crianças com deficiência podem precisar de "cuidados" na primeira infância, e à
medida que sua capacidade evolui, eles fazem a transição para obter controle sobre o "apoio"
que recebem.71

37. O direito de viver de forma independente e ser incluído na comunidade72 exige que as
pessoas com deficiência recebam todos os meios necessários para que exerçam escolha,

36
controle e tomem decisões sobre suas vidas, sejam plenamente incluídas e participem de todas
as esferas da vida, em igualdade de condições com os outros, e tenham acesso a serviços e
instalações comunitárias que respondam às suas necessidades.73 Viver de forma independente
e ser incluído no comunidade refere-se a ambientes de vida fora de instituições residenciais de
todos os tipos.74 Para proteger o direito à vida familiar de crianças e pessoas com deficiência75
, deve-se fornecer apoio às famílias para evitar a separação familiar no contexto de cuidados e
apoio.76 Também é importante proteger o direito à vida familiar dos trabalhadores migrantes e
suas famílias para permitir que eles atendam às suas necessidades familiares de cuidados e
apoio.77

38. O Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência declarou que a institucionalização
de pessoas com deficiência, incluindo crianças,78 deve ser eliminada,79 e que os Estados devem
adotar estratégias e planos de ação de desinstitucionalização. 80 O Comitê também indicou que
o conceito de institucionalização de pessoas com deficiência trata da perda de escolha pessoal e
autonomia como resultado da imposição de arranjos de vida e vida caracterizados por certos
elementos definidores.81 Embora as crianças privadas do ambiente familiar possam ser
colocadas sob cuidados alternativos, 82 a Assembleia Geral e o Comitê dos Direitos da Criança
declararam que qualquer forma de cuidado institucionalizado deve ser a última resorts e grandes
instituições de cuidados residenciais devem ser progressivamente eliminados.83 O uso de certos
níveis de cuidados institucionais para pessoas idosas é reconhecido no parágrafo 13 dos
Princípios das Nações Unidas para Pessoas Idosas. Embora o cuidado institucional possa ser o
resultado de uma decisão autônoma de uma pessoa, o Especialista Independente sobre o gozo
de todos os direitos humanos por pessoas idosas observou que esse cuidado muitas vezes
assume a forma de institucionalização forçada e colocações compulsórias, em particular quando
não há outras formas de cuidado disponíveis.84

39. Os sistemas de saúde e educação são essenciais para a prestação de cuidados e serviços de
apoio. Eles devem, portanto, respeitar e responder aos direitos à saúde e à educação daqueles
que precisam de cuidados e apoio em toda a sua diversidade. Isso inclui garantir a
disponibilidade e acessibilidade de serviços de saúde, incluindo serviços de saúde sexual e
reprodutiva, serviços de saúde mental e cuidados e apoio geriátrico, e a disponibilidade de
educação, incluindo educação infantil, 85 educação inclusiva 86 e educação ao longo da vida.87

40. A seguridade social é muitas vezes o principal meio de aquisição e acesso a serviços e bens
de cuidados e apoio. O estabelecimento de pisos de proteção social universais como parte do
direito à seguridade social é essencial. Os esquemas de seguridade social devem ser sensíveis ao
gênero,88 levar em consideração os custos extras relacionados à deficiência e fornecer acesso à
seguridade social que seja consistente ao longo da vida.89

41. Os direitos ao trabalho e à moradia adequada e o direito das pessoas com deficiência à
acessibilidade,90 também são relevantes para os direitos daqueles que precisam de cuidados e
apoio. Por exemplo, o acesso a oportunidades de emprego, moradia acessível e acessível e
transporte acessível aumentam a autonomia de pessoas com deficiência, idosos e outras pessoas
com necessidades de apoio e são essenciais para que vivam de forma independente na
comunidade.

42. A eliminação de estereótipos e estigmas é fundamental para a realização dos direitos


daqueles que necessitam de cuidados e apoio. Crianças, idosos e pessoas com deficiência podem
ser vistos apenas como "dependentes" passivos sem agência. O "estigma do bem-estar", que
leva os beneficiários da proteção social a serem percebidos como um fardo social, pode dissuadir

37
os beneficiários elegíveis de reivindicar seus direitos.91 As mulheres podem ser vistas apenas
como aquelas que prestam cuidados e apoio e suas próprias necessidades de cuidados e apoio
podem ser ignoradas.

43. A igualdade no casamento, incluindo a igualdade na propriedade conjugal, permite que as


mulheres tenham maior autonomia e recursos para atender às suas próprias necessidades de
cuidado e apoio. Sem essa igualdade, viúvas e mulheres idosas podem se tornar vulneráveis à
grilagem de terras e propriedades, abandono ou institucionalização.92 D. Direitos relevantes
para o autocuidado.

44. Nos tratados de direitos humanos das Nações Unidas, não há referência explícita ao
autocuidado; ela tem sido mencionada ocasionalmente em recomendações e análises dos
mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas.93 Embora sejam necessárias mais
pesquisas para estabelecer claramente o conteúdo dessa dimensão de cuidado e apoio e as
correspondentes obrigações do Estado, a pesquisa documental e a análise das contribuições
para o presente relatório indicam que os direitos descritos abaixo podem ser relevantes para o
autocuidado.

45. No México, a Corte Suprema reconheceu que o conceito de autocuidado pode ser entendido
como a possibilidade de destinar recursos econômicos e tempo para garantir o bem-estar
individual.94 A Constituição da Cidade do México reconhece o direito de todas as pessoas ao
tempo livre para convivência, recreação, cuidados pessoais, descanso, gozo de lazer e horas
razoáveis de trabalho.95 Nesse sentido, Os direitos ao repouso e ao lazer, à condição justa e
favorável de trabalho e à previdência social podem ser relevantes para o autocuidado.

46. No contexto da saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define autocuidado como a
capacidade de indivíduos, famílias e comunidades de promover a saúde, prevenir doenças,
manter a saúde e lidar com doenças e incapacidades com ou sem o apoio de um profissional de
saúde.96 A OMS sugere que os direitos relevantes para o autocuidado incluem os direitos à
saúde, participação na tomada de decisões, igualdade e não discriminação, informação, tomada
de decisão informada, privacidade e confidencialidade e responsabilidade.97 O direito à saúde
sexual e reprodutiva é parte integrante do direito à saúde e é importante que as mulheres,
incluindo as adolescentes, tenham autonomia sobre a gravidez e a paternidade como parte de
seu autocuidado, pois essa autonomia tem implicações significativas para sua própria saúde e
seus cuidados e apoio não remunerados responsabilidades.98

47. Dispositivos assistivos e infraestruturas acessíveis podem permitir o autocuidado,


principalmente para pessoas com deficiência e idosos. O acesso a auxiliares de mobilidade,
dispositivos e tecnologias de apoio, incluindo novas tecnologias 99 e a infraestruturas acessíveis,
100 incluindo habitação, permite que as pessoas com deficiência mantenham ou melhorem a
autonomia na sua vida quotidiana. O direito à moradia adequada, com desenho universal e
responsivo à inclusão da comunidade, também pode melhorar a vida autônoma das pessoas
idosas.101

48. O direito da criança ao descanso, ao lazer, às brincadeiras, às atividades recreativas, à vida


cultural e às artes é fundamental para a qualidade da infância e para o desenvolvimento ótimo
das crianças.102 O princípio da auto-realização, estabelecido nos parágrafos 15 e 16 dos
Princípios das Nações Unidas para as Pessoas Idosas, reconhece que as pessoas idosas devem
ser capazes de buscar oportunidades para o pleno desenvolvimento de seu potencial e devem
ter acesso à educação, recursos culturais, espirituais e recreativos da sociedade.

38
49. Nas consultas, representantes de pessoas com deficiência e idosos enfatizaram a importância
dos grupos e redes de apoio de pares como plataformas para o exercício coletivo do
autocuidado. Eles sugeriram que os Estados se abstenham de interferir nos grupos de apoio de
pares para impor certos modelos de atendimento e, em vez disso, consultem esses grupos e
respeitem as formas como os membros desejam exercer o autocuidado. Os direitos à liberdade
de associação e de expressão, particularmente em relação à liberdade de buscar, receber e
transmitir informações e ideias, podem ser relevantes para o exercício do autocuidado por meio
de grupos de apoio. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência reconhece
explicitamente a importância do apoio entre pares.103

50. Da mesma forma, em suas consultas, as crianças enfatizaram a importância de ter espaços
seguros onde pudessem compartilhar suas preocupações, consultar outras pessoas e expressar
livremente suas opiniões sobre os cuidados e o apoio que prestam e exigem. Embora não sejam
explicitamente descritos como tal por eles, tais espaços podem ser considerados como uma
forma de autocuidado. Nesse sentido, os direitos da criança de ser ouvida e à liberdade de
associação104 e de expressão105 podem ser relevantes.

IV. Práticas e desafios promissores.

51. Para os fins do presente relatório, as práticas promissoras foram examinadas em relação à
medida em que: (a) abordavam os direitos daqueles que fornecem e daqueles que precisam de
cuidados e apoio e seus direitos ao autocuidado; b) Tenham contribuído para o pleno respeito
dos direitos humanos; e (c) eram sensíveis ao gênero, inclusivos para pessoas com deficiência e
sensíveis à idade. As informações disponibilizadas para o estudo não foram suficientes para uma
verificação completa do impacto de cada prática ou um mapeamento abrangente de práticas
promissoras em todo o mundo. O relatório inclui, portanto, exemplos não exaustivos de práticas
que parecem integrar a maioria ou alguns dos critérios acima mencionados.

52. As informações disponíveis mostram um número crescente de esforços nos níveis nacional,
regional e global para transformar os sistemas de atendimento e apoio por meio de abordagens
abrangentes e integradas. Os países da América Latina têm liderado esses esforços, mas outras
regiões também estão agindo. Alguns países reconheceram o "direito humano ao cuidado" como
um direito legal.106 O Equador107 e o Uruguai108 adotaram leis que estabelecem sistemas
nacionais de cuidados. No momento em que este artigo foi escrito, Argentina,109 México,110
Paraguai111 e Peru112 estavam discutindo projetos de lei sobre sistemas nacionais de cuidados,
e projetos de políticas nacionais de cuidados estavam sendo apresentados no Brasil113 e no
Quênia.114 Essas leis e políticas visam abordar os direitos daqueles que prestam e necessitam
de cuidados e apoio e contêm elementos que são sensíveis ao gênero, inclusivo para deficiência
e sensível à idade.

54. Os governos locais também estão liderando a criação de sistemas abrangentes de


atendimento e apoio. Por exemplo, em Bogotá,115 o programa Manzanas del Cuidado, iniciado
em 2020, oferece serviços de cuidado e apoio baseados na comunidade para reduzir e
redistribuir o trabalho de cuidado e apoio não remunerado e promover a integração da
comunidade. Em 2024, o Estado de Jalisco, México,116 adotou uma lei para um sistema de
atenção integral.

55. No âmbito regional, a Comissão Interamericana de Mulheres da Organização dos Estados


Americanos adotou a Lei Modelo Interamericana de Cuidados em 2022, e os Estados membros
da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe adotaram o Compromisso de Buenos
Aires em 2022, no qual o cuidado foi reconhecido como "um direito de prestar e receber

39
cuidados e de exercer o autocuidado". A Associação das Nações do Sudeste Asiático adotou uma
Estrutura Abrangente sobre a Economia do Cuidado em 2021, e a Comissão Europeia adotou a
Estratégia Europeia de Cuidados em 2022.

56. Em nível global, a resolução da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre trabalho
decente e economia do cuidado, adotada em 2024, avançou no entendimento comum e nos
princípios orientadores sobre cuidado e apoio. As Nações Unidas emitiram um documento de
política de todo o sistema em 2024117 para definir uma abordagem comum para o trabalho das
Nações Unidas para apoiar a transformação dos sistemas de atendimento. O Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF) está desenvolvendo orientações para operacionalizar sistemas
de cuidados e apoio sensíveis à idade, inclusivos para pessoas com deficiência e sensíveis ao
gênero. 118

57. A análise mostra que muitos Estados estão adotando uma combinação de iniciativas legais,
políticas e de programas focadas nos direitos de tipos específicos de titulares de direitos. No
entanto, esses esforços tendem a ser fragmentados ou não alinhados com toda a gama de
padrões de direitos humanos aplicáveis. Por exemplo, esforços para aumentar os serviços podem
ser feitos sem garantir trabalho decente para os trabalhadores, ou esforços podem ser feitos
para melhorar os serviços em instituições de cuidados sem também se envolver em processos
de desinstitucionalização. A adoção de legislação e políticas abrangentes e integradas de
cuidados e apoio pode ajudar a evitar essa fragmentação e inconsistências.

58. Outros desafios identificados incluem a lacuna na proteção jurídica; 119 falta de investimento
suficiente e de financiamento sustentável; 120 lacunas na oferta e demanda de força de trabalho
de cuidados e apoio; 121 participação insuficiente dos titulares de direitos na tomada de
decisões; 122 a capacidade inadequada dos prestadores de serviços e seus trabalhadores para
prestar cuidados e serviços de apoio baseados em direitos humanos; 123 a ausência de
mecanismos eficazes de responsabilização; 124 falta de dados desagregados 125 que capturem
os direitos e necessidades tanto daqueles que prestam quanto daqueles que precisam de
cuidados e apoio, e as formas múltiplas e interseccionais de discriminação que enfrentam; e
respostas insuficientes ao impacto agravado das crises, decorrentes das crescentes
desigualdades econômicas, conflitos armados e emergências relacionadas ao clima e à saúde.
126 A pesquisa também identificou desafios em relação às cadeias globais de cuidados em
termos de aumento das deficiências de cuidados e apoio nos países de origem dos trabalhadores
migrantes de cuidados e apoio127 e a privatização dos serviços de cuidados e apoio sem a
implementação correspondente de salvaguardas para os direitos humanos. 128

V. Conclusões e recomendações.

59. O cuidado e o apoio fornecem uma base para o gozo de uma ampla gama de direitos
humanos. Todos precisam e fornecem cuidados e apoio em sua vida, às vezes simultaneamente.
No entanto, a sustentabilidade e a resiliência dos sistemas atuais estão sendo desafiadas no
mundo em mudança de hoje. A transformação dos sistemas de cuidados e apoio é essencial para
alcançar o desenvolvimento sustentável.

60. Os sistemas de cuidados atuais muitas vezes negam a dignidade, autonomia e agência tanto
daqueles que fornecem quanto daqueles que precisam de cuidados e apoio e esgotam seu
tempo, recursos e energia para o autocuidado, desenvolvimento pessoal e participação na
sociedade. Tais sistemas são suscetíveis a riscos de violência contra aqueles que fornecem e
necessitam de cuidados e apoio. Os direitos relevantes para a prestação de cuidados e apoio, a

40
necessidade de cuidados e apoio e o envolvimento no autocuidado estão interligados e,
portanto, os sistemas devem considerar essas três dimensões simultaneamente.

61. Os sistemas existentes tendem a forçar a competição por direitos dentro de recursos
limitados entre aqueles que fornecem e aqueles que precisam de cuidados e apoio. Os
investimentos devem ser significativamente ampliados para realizar os direitos humanos de
todos os titulares de direitos em contextos de cuidado e apoio.

62. A atual organização de cuidados e apoio deve ser transformada para corrigir uma série de
várias desigualdades.

63. Em primeiro lugar, os atuais sistemas de cuidados baseiam-se e perpetuam a desigualdade


de género. Mulheres e meninas, incluindo mulheres mais jovens e mais velhas e mulheres e
meninas com deficiência, assumem a maior parte dos cuidados e apoio, muitas vezes em
detrimento de seus próprios direitos e bem-estar. Eles também enfrentam desigualdade de
gênero quando precisam de cuidados e apoio para si mesmos. Os sistemas de cuidados e apoio
devem ser construídos com base na garantia do gozo igualitário dos direitos humanos pelas
mulheres e sua participação na tomada de decisões.

64. Em segundo lugar, os sistemas de cuidados convencionais muitas vezes refletem


discriminação e estereótipos baseados, entre outros, na deficiência e na idade que ignoram a
agência e a autonomia das pessoas com deficiência, crianças e jovens e idosos e normalizam as
formas institucionais de cuidado. Os sistemas de cuidados e apoio devem reconhecer os papéis
e direitos de todas as pessoas, tanto na prestação quanto na necessidade de cuidados e apoio,
respeitar sua agência e autonomia, responder às suas experiências de gênero e aplicar uma
abordagem de curso de vida para garantir o gozo consistente dos direitos humanos ao longo da
vida.

65. Em terceiro lugar, os sistemas atuais foram descritos como refletindo o impacto das injustiças
históricas e estruturais, colonização e discriminação contra comunidades e pessoas com base em
raça, cor, descendência, origem nacional ou étnica e status indígena. Isso contribuiu para
políticas e práticas prejudiciais e intervenções paternalistas sob o nome de cuidado. A
transformação dos sistemas de cuidados e apoio deve contribuir para corrigir essa discriminação,
inclusive garantindo recursos adequados e justiça reparatória.129

66. Os direitos humanos e as normas trabalhistas internacionais existentes reconhecem os vários


direitos humanos daqueles que prestam e precisam de cuidados e apoio. Embora a defesa e a
análise do cuidado e do apoio tenham sido realizadas separadamente por diferentes grupos de
titulares de direitos, todos os discursos enfatizam a importância da dignidade, autonomia e
agência dos titulares de direitos e sua participação igualitária na sociedade, e a necessidade de
transformar os sistemas atuais de maneira abrangente. Esses sistemas de cuidados e apoio
transformados devem ter como objetivo a realização dos direitos humanos desses diferentes
grupos de detentores de direitos.

67. Países em todo o mundo estão se esforçando para melhorar os sistemas de atendimento e
apoio. No entanto, muitos deles não abordam os direitos daqueles que prestam e precisam de
cuidados e apoio de forma igual e não levam em consideração uma ampla gama de padrões
internacionais de direitos humanos. As estruturas legais e políticas para sistemas de cuidados e
apoio devem integrar todos os padrões de direitos humanos relevantes para as três dimensões
de cuidado e apoio.

41
68. A participação significativa e igualitária de todos os titulares de direitos em toda a sua
diversidade deve ser assegurada em todas as fases da transformação dos sistemas de cuidados
e apoio, incluindo necessidades e avaliações de risco, concepção, tomada de decisão,
implementação, monitoramento, avaliação e remediação. Essa participação deve ser assegurada
através de processos de elaboração de políticas inclusivos e participativos, do diálogo social, da
liberdade de associação e da negociação coletiva.

69. É necessário mais esclarecimento sobre as obrigações dos Estados em matéria de direitos
humanos nos sistemas de assistência e apoio, inclusive em relação à prestação de serviços,
mobilização e financiamento de recursos e respostas a situações de crise. Da mesma forma, uma
análise mais aprofundada pode ser necessária para identificar os padrões relevantes de direitos
humanos e as obrigações correspondentes dos Estados sobre o autocuidado e sobre outros
conceitos sugeridos como relevantes para o cuidado, como o cuidado com o planeta. Também
são necessárias mais orientações políticas sobre as responsabilidades de direitos humanos das
empresas em sistemas de assistência e apoio.

70. Com base na análise do presente relatório, recomenda-se que todas as partes interessadas,
incluindo governos nacionais e locais e ministérios setoriais, organizações da sociedade civil e
representantes de titulares de direitos, organizações de trabalhadores e empregadores, setor
privado, academia, organizações intergovernamentais e parceiros de desenvolvimento,
colaborem e cooperem para transformar os sistemas de assistência e apoio para respeitar
plenamente os direitos humanos.

71. Por meio dessa colaboração, é essencial continuar a desenvolver: (a) análises e orientações
políticas sobre financiamento sustentável para sistemas de cuidados e apoio baseados em
direitos humanos, com foco particular em países de baixa e média renda, inclusive por meio da
cooperação internacional e da reforma dos sistemas macroeconômicos e financeiros globais; (b)
metodologias para a coleta de dados sobre cuidados e apoio, abrangendo os direitos tanto
daqueles que prestam quanto daqueles que precisam de cuidados e apoio, e assessoria técnica
para os Estados sobre a integração dessa coleta de dados nos sistemas nacionais; e (c)
aconselhamento político sobre como responder a crises de atendimento e apoio no contexto de
conflitos, insegurança, mudanças climáticas, desastres naturais, choques econômicos,
pandemias e quaisquer outras emergências importantes.

72. Os Estados devem: (a) Estabelecer, financiar e manter sistemas abrangentes e de apoio
baseados nos direitos humanos que sejam sensíveis ao gênero, inclusivos para a deficiência e
sensíveis à idade, inclusive por meio das ações solicitadas na resolução 54/6 do Conselho de
Direitos Humanos e na resolução da OIT sobre trabalho decente e economia do cuidado; (b)
Respeitar, proteger e cumprir os direitos daqueles que prestam e precisam de cuidados e apoio
e reconhecer plenamente sua dignidade, autonomia e agência, e garantir a igualdade substantiva
de gênero nos sistemas de cuidados e apoio; (c) Integrar respostas a formas múltiplas e
interseccionais de discriminação em leis, políticas, programas e serviços relevantes para os
sistemas de cuidados e apoio; (d) Garantir a participação significativa e inclusiva de todos os
titulares de direitos relevantes e suas organizações representativas, tanto como prestadoras
quanto como aquelas que necessitam de cuidados e apoio, nos mecanismos de tomada de
decisão e prestação de contas relativos aos sistemas de cuidados e apoio; (e) Promover a
desinstitucionalização dos cuidados (ver parágrafo 38 acima) de acordo com os padrões
internacionais de direitos humanos relevantes e em consulta com os titulares de direitos
envolvidos, e mudar para serviços de cuidados e apoio, infraestrutura e dispositivos que facilitem
a vida na comunidade; (f) Desenvolver as capacidades daqueles que prestam cuidados e apoio

42
para prestar cuidados e apoio baseados nos direitos humanos, e a capacidade daqueles que
precisam de cuidados e apoio para navegar pelos sistemas de cuidados e apoio e reivindicar seus
direitos; (g) Projetar e implementar caminhos abrangentes que protejam os direitos humanos
dos trabalhadores de assistência e apoio aos migrantes e suas famílias; Nesse ínterim, reformar
os programas de migração temporária de mão de obra existentes para garantir os direitos
humanos dentro e fora do local de trabalho; (h) Estabelecer e fortalecer mecanismos de
responsabilização e acesso a recursos para violações de direitos humanos no contexto de
cuidados e apoio; abordar de forma abrangente o impacto das desigualdades históricas e
estruturais e da opressão contra certos grupos nos sistemas de cuidado e apoio;

73. Os mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas, como os órgãos de tratados e os
procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos, devem: (a) Examinar todo o escopo
de cuidados e apoio em suas abordagens, abordando os direitos daqueles que prestam e
precisam de cuidados e apoio e seus direitos ao autocuidado e o impacto de formas cruzadas de
discriminação; (b) Articular ainda mais a dimensão de direitos humanos do cuidado e apoio e as
correspondentes obrigações do Estado, inclusive sobre autocuidado e conceitos como "cuidado
com o planeta".

74. As entidades das Nações Unidas e outras organizações intergovernamentais devem: (a)
Integrar plenamente os padrões de direitos humanos em sua cooperação técnica sobre o
estabelecimento e implementação de sistemas de assistência e apoio; b) No seu trabalho em
matéria de cuidados e apoio, assegurar a realização de consultas com um vasto leque de titulares
de direitos, em especial os que enfrentam formas múltiplas e cruzadas de discriminação, tanto
como os que prestam como os que necessitam de cuidados e apoio; (c) Continuar a elaborar e
fornecer orientações sobre sistemas de cuidados e apoio, com base no documento para os
sistemas das Nações Unidas publicado em 2024 130 com vistas a expandi-lo para alinhá-lo a uma
ampla gama de padrões internacionais de direitos humanos em evolução e estruturas
internacionais131 relevantes para os sistemas de cuidados e apoio.

75. As empresas devem: (a) Cumprir os padrões relevantes de direitos humanos, tanto como
empregadores de trabalhadores com responsabilidades de cuidado e apoio quanto como
prestadores de serviços de cuidado e apoio; (b) Priorizar o investimento em serviços de cuidados
e apoio baseados em direitos, infraestrutura e dispositivos que facilitem a vida independente;
(c) Capacitar os prestadores de serviços e os cuidadores e trabalhadores de apoio para prestar
serviços que cumpram os direitos humanos.

76. As organizações da sociedade civil e as organizações representativas dos titulares de direitos


devem: (a) Defender os direitos daqueles que prestam e daqueles que precisam de cuidados e
apoio e o estabelecimento de sistemas de cuidados e apoio sensíveis ao gênero, inclusivos para
pessoas com deficiência e sensíveis à idade; (b) Fortalecer o diálogo e a colaboração entre
movimentos de diferentes detentores de direitos para aumentar as sinergias na defesa de
sistemas de atendimento e apoio baseados em direitos humanos e abordar efetivamente as
formas múltiplas e interseccionais de discriminação.

77. O Conselho de Direitos Humanos é convidado: (a) A apoiar mais pesquisas e cooperação
técnica relevante na área das dimensões de direitos humanos de cuidado e apoio; (b) Facilitar o
intercâmbio inter-regional de orientações políticas e boas práticas sobre sistemas de cuidados e
apoio baseados nos direitos humanos. ̈

43
3. ¨Relatório sobre a décima sessão do Grupo de Trabalho Intergovernamental Aberto
sobre Empresas Transnacionais e outras Empresas em Matéria de Direitos Humanos¨,
Presidente-Relator: Marcelo Vázquez Bermúdez. https://docs.un.org/en/A/HRC/58/46
...¨III. Declarações iniciais.

A. Declaração geral e observações introdutórias do presidente-relator.

8. O Presidente-Relator agradeceu ao Alto Comissário por sua declaração de abertura e pelo


apoio fundamental recebido do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos (ACNUDH) nos últimos 10 anos. Ele também agradeceu aos Estados e outros
atores relevantes que participaram do grupo de trabalho intergovernamental aberto, bem como
aos amigos da Presidência por seu apoio e liderança.

9. O Presidente-Relator reconheceu os desafios enfrentados pelo grupo de trabalho ao longo dos


anos, em particular a necessidade de maior vontade política por parte de vários Estados. Tais
desafios precisariam ser superados para preencher lacunas no direito internacional dos direitos
humanos e ajudar a garantir que as vítimas de violações e abusos dos direitos humanos tenham
acesso à justiça e a recursos efetivos. Ele lembrou que os esforços globais para alcançar esses e
outros objetivos relacionados começaram décadas atrás, e que nessas décadas foram adotadas
estruturas importantes, como os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos, a
Declaração Tripartite de Princípios da OIT sobre Empresas Multinacionais e Política Social e as
Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais sobre Conduta Empresarial Responsável. No
entanto, o estado de implementação de tais estruturas demonstrou a necessidade de
instrumentos vinculantes para esclarecer e desenvolver ainda mais as obrigações dos Estados e
as responsabilidades das empresas em relação à proteção, respeito e remediação de violações e
abusos de direitos humanos resultantes de atividades comerciais transnacionais.

10. O Presidente-Relator observou que a adoção de um instrumento juridicamente vinculativo


sobre esta matéria não só contribuiria para garantir o acesso adequado à justiça para as vítimas
de tais violações e abusos dos direitos humanos, mas também ajudaria a criar condições de
concorrência equitativas, promover a segurança jurídica e a competitividade das empresas e
prevenir potenciais impactos adversos das suas operações e cadeias de valor.

11. O Presidente-Relator reconheceu importantes desenvolvimentos nos níveis nacional e


regional e a crescente participação dos Estados nas negociações do grupo de trabalho. Ele
observou que, para garantir que o grupo de trabalho estivesse mais bem equipado com as
ferramentas necessárias para cumprir seu mandato estabelecido na resolução 26/9 do Conselho
de Direitos Humanos, várias medidas foram adotadas desde a nona sessão para facilitar os
esforços do grupo de trabalho. Entre a nona e a décima sessões, o Presidente-Relator publicou
e implementou um roteiro para a décima sessão, envolvendo atividades como consultas
temáticas e metodológicas, engajamento com os amigos da Cátedra e seleção de especialistas
jurídicos para auxiliar o grupo de trabalho (garantindo as precauções necessárias para manter a
natureza intergovernamental e liderada pelo Estado do processo). O Presidente-Relator também
destacou a adoção histórica, por consenso, da Decisão 56/116 do Conselho de Direitos Humanos
em 2024, que ajudou a introduzir uma nova etapa no processo de elaboração do instrumento
juridicamente vinculativo, incluindo o aprimoramento das capacidades do grupo de trabalho.
Para facilitar o planejamento das consultas intersessões exigidas pela decisão, o Presidente-
Relator já havia proposto os temas a serem abordados durante 2025, que deveriam ser objeto
de discussão durante a oitava reunião da décima sessão.

44
12. Apesar de tais desenvolvimentos, o Presidente-Relator enfatizou que as negociações para o
instrumento juridicamente vinculante deveriam ser realizadas exclusivamente no âmbito das
sessões oficiais do grupo de trabalho. Por isso, convidou todos os participantes a se esforçarem
ao máximo para aproveitar a décima sessão para aprimorar o instrumento, com vistas a
encontrar consensos.

13. Por último, o Presidente-Relator reafirmou o seu compromisso de conduzir o grupo de


trabalho com base na transparência, inclusão e independência, uma vez que o grupo procurava
soluções técnicas, jurídicas e políticas para os desafios enfrentados pelas vítimas de violações e
abusos dos direitos humanos no contexto das atividades.

IV. Negociações lideradas pelo Estado do instrumento juridicamente vinculante.

22. Durante as reuniões destinadas à negociação do projeto de instrumento juridicamente


vinculante atualizado, as discussões prosseguiram artigo por artigo. O Presidente-Relator
apresentou cada projeto de artigo e as alterações introduzidas. As delegações estaduais foram
então convidadas a apresentar propostas textuais específicas sobre as várias disposições do
artigo e a responder a qualquer texto proposto expressando apoio, falta de apoio ou sugerindo
emendas. Propostas textuais específicas e emendas a tais propostas foram capturadas com a
devida atribuição em uma tela projetada. Pedidos de esclarecimento e comentários gerais foram
anotados pelo Presidente-Relator para consideração após a décima sessão. Após a discussão
entre os Estados, foi dado tempo às agências especializadas e outras organizações
internacionais, instituições nacionais de direitos humanos e organizações não-governamentais,
permitindo-lhes compartilhar suas propostas textuais e comentários sobre cada artigo.
Posteriormente, os Estados tiveram outra oportunidade de desenvolver e apoiar as propostas
de cada artigo, tendo sido encorajados a desenvolver as propostas existentes que haviam sido
feitas por outras delegações.

23. Durante as negociações, os Estados puderam sugerir perguntas específicas para os juristas,
algumas das quais foram selecionadas pelo Presidente-Relator para serem feitas aos juristas
presentes na décima sessão. Os juristas tiveram tempo para formular suas respostas, que
apresentaram ao grupo de trabalho em momentos designados.

24. Devido a limitações de tempo, o grupo de trabalho só pôde realizar negociações sobre os
artigos 4 a 11 durante a décima sessão.

25. Dado o foco da reunião nas negociações lideradas pelo Estado, artigo por artigo, o
Presidente-Relator não tentou, no presente relatório, refletir todas as opiniões expressas
durante a sessão. Em vez disso, o adendo compilando as propostas textuais feitas durante a
reunião deve ser consultado para uma visão geral das posições de cada Estado. As gravações
completas das deliberações estão disponíveis em todos os idiomas oficiais das Nações Unidas.7
Além disso, declarações gerais e propostas textuais e comentários sobre artigos feitos por
participantes não estatais que foram entregues durante a décima sessão ou compartilhados com
o Secretariado estão disponíveis na página da web dedicada à décima sessão do grupo de
trabalho.8

V. Consulta sobre o roteiro proposto pelo Presidente-Relator para 2025 para a implementação
da decisão 56/116 do Conselho de Direitos Humanos, incluindo consultas temáticas
intersessões.

45
26. Após negociações lideradas pelo Estado, o grupo de trabalho dedicou tempo a uma consulta
sobre a proposta de roteiro para 2025 para a implementação da decisão 56/116 do Conselho de
Direitos Humanos proposta pelo Presidente-Relator, incluindo consultas temáticas
intersessionais.9 O Presidente-Relator lembrou ao grupo de trabalho que a medida em que o
mandato completo da Decisão 56/116 do Conselho poderia ser implementado dependia dos
recursos aprovados pela Quinta Comissão da Assembleia Geral. Ele convidou o Diretor Financeiro
do ACNUDH para compartilhar o processo pelo qual os orçamentos são determinados e alocados
para mandatos do Conselho. O Diretor Financeiro observou que, quando as decisões exigem
atividades, há uma estimativa dos recursos necessários para implementar totalmente as
atividades e que há uma chance de que os recursos necessários para implementar totalmente
um mandato não sejam aprovados. Partilhou que, infelizmente, o Comité Consultivo para as
Questões Administrativas e Orçamentárias já tinha recomendado cortes nos recursos
necessários para implementar a Decisão 56/116 do Conselho. O Diretor Financeiro também
destacou a distinção entre o que foi aprovado no orçamento e a alocação de recursos dados ao
ACNUDH para implementação e observou a chance de que o ACNUDH receba apenas uma fração
dos recursos necessários para a implementação total da decisão.

27. O Presidente-Relator apresentou uma panorâmica das atividades do roteiro proposto,


incluindo uma metodologia proposta para essas atividades. Ele compartilhou seu plano de
produzir documentos oficiosos sobre as questões a serem discutidas em cada consulta entre
sessões. Os documentos seriam compartilhados com aproximadamente duas semanas de
antecedência para fornecer aos participantes "alimento para reflexão" para as reuniões. O
Presidente-Relator esclareceu que esses documentos não teriam estatuto jurídico. Ele assumiria
a responsabilidade exclusiva de prepará-los, com a ajuda dos juristas. Cada consulta terá início
com a introdução de um documento oficioso pelo presidente-relator e por um perito jurídico.
Os participantes, incluindo Estados e outras partes interessadas, seriam convidados a discutir o
conteúdo e propor propostas textuais atualizadas, levando em consideração as discussões nas
consultas e em sessões anteriores do grupo de trabalho. No segundo dia de cada consulta, o
presidente-relator, com a assistência de juristas, poderá apresentar propostas ou possíveis
soluções para resolver as divergências identificadas. Posteriormente, os participantes
discutiriam as opções, com o objetivo de identificar elementos para um possível acordo. O
Presidente-Relator salientou que quaisquer propostas ou soluções discutidas não teriam status
legal até que fossem considerados em uma sessão oficial do grupo de trabalho.

28. As delegações e organizações compartilharam seus pontos de vista e perguntas sobre as


informações apresentadas pelo Presidente-Relator. Agradeceram ao Presidente-Relator pelos
seus esforços até a data, pela apresentação do roteiro e pela clarificação de uma série de
questões. Várias delegações e organizações levantaram questões sobre o papel dos juristas e o
status de suas propostas e foi sugerido que houvesse mais clareza sobre seu papel. As delegações
e organizações também fizeram perguntas sobre o status das consultas e seus resultados, bem
como os planos para a décima primeira sessão do grupo de trabalho e além. Vários participantes
insistiram que nenhuma decisão sobre o instrumento deveria ser tomada fora das sessões
oficiais do grupo de trabalho. Alguns participantes fizeram sugestões sobre os tópicos a serem
enfocados durante as consultas, e o presidente observou que, embora as propostas do roteiro
tenham sido o resultado de uma consulta realizada em novembro de 2024, ele estava aberto a
sugestões. Além disso, delegações e organizações compartilharam seus pontos de vista sobre as
datas e modalidades de futuras consultas. Alguns insistiram que as empresas deveriam ser
impedidas de participar das discussões. Várias delegações e organizações também solicitaram
que as consultas permitissem a participação remota e incluíssem interpretação. O Presidente

46
informou ao grupo de trabalho que, sujeito à aprovação e alocação dos recursos solicitados para
implementar a decisão 56/116 do Conselho, as consultas intersessionais teriam interpretação e
seriam transmitidas pela web e esclareceu que, devido à ausência de uma decisão da Assembleia
Geral autorizando reuniões híbridas, tais consultas seriam realizadas apenas pessoalmente...¨

4. Fundamentos e princípios para a regulação das neurotecnologias e o processamento


de neurodados na perspectiva do direito à privacidade. Relatório da Relatora Especial
sobre o direito à privacidade, Ana Brian Nougrères. https://docs.un.org/en/A/HRC/58/58
Resumo. O presente relatório estabelece as bases para a criação de um marco conceitual para
regular o uso de neurotecnologias e o processamento de neurodados, sob a perspectiva do
direito à privacidade. Em particular, o relatório trata de definições-chave e estabelece princípios
fundamentais para orientar a regulamentação nesta área, incluindo a proteção da dignidade
humana, a salvaguarda da privacidade mental, o reconhecimento de neurodados como dados
pessoais altamente sensíveis e a exigência de consentimento informado para o processamento
dos mesmos. Também é dada ênfase à inclusão de valores éticos e à proteção dos direitos
humanos no projeto e uso dessas tecnologias e na aplicação do princípio da precaução,
responsabilidade demonstrada, tratamento seguro de neurodados, não discriminação e
proteção efetiva dos direitos dos indivíduos no processamento de seus neurodados. Esta
abordagem procura estabelecer uma base sólida para garantir que a regulamentação das
neurotecnologias seja coerente, ética e concebida para salvaguardar os direitos fundamentais.

... ̈IV. Fundamentos e princípios para a regulação do uso de neurotecnologias e do


processamento de neurodados na perspectiva do direito à privacidade.

Fundamentos.
24. Os rápidos avanços das neurotecnologias e sua capacidade de capturar, processar e analisar
neurodados representam desafios éticos e legais que transcendem as fronteiras nacionais e
exigem uma resposta regulatória que combine proteção de direitos e desenvolvimento
tecnológico. Abaixo estão expostos os fundamentos e princípios essenciais, sob a perspectiva do
direito à privacidade, para a criação de um projeto de lei modelo que sirva como ferramenta de
harmonização em nível internacional. O modelo não apenas estabelece padrões mínimos para o
uso seguro e ético de neurotecnologias, mas também constitui uma referência com base na qual
os países podem desenvolver regulamentações locais adequadas aos seus contextos legais e
sociais.
25. A lei modelo deve incorporar as diretrizes e diretrizes pertinentes sobre o assunto e questões
correlatas, emitidas por organizações como a Organização dos Estados Americanos,17 a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 18 a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 19 a Rede Ibero-Americana de
Proteção de Dados,20 o Parlamento Latino-Americano e Caribenho, 21 A Assembleia Global da
Privacidade22 e o Grupo de Trabalho Internacional sobre Proteção de Dados em Tecnologia
(Grupo de Berlim).23

26. Abaixo estão as definições e princípios que devem ser incluídos na proposta de lei modelo.

B. Definições.
27. Na lei modelo, é útil definir os seguintes termos: (a) Dados pessoais: qualquer informação
vinculada ou que possa ser associada a uma ou mais pessoas físicas identificadas ou
identificáveis; (b) Dados pessoais sensíveis: informações que afetem a privacidade do titular ou
que, se utilizadas indevidamente, possam levar à discriminação contra o titular; esses dados

47
incluem aqueles que revelam a origem racial ou étnica do sujeito, tendências políticas, crenças
religiosas ou filosóficas ou filiação a um sindicato, organização social ou de direitos humanos ou
organização que promova os interesses de qualquer partido político ou que defenda os direitos
e garantias dos partidos da oposição, bem como dados relativos à saúde e à vida sexual, dados
biométricos e neurodados. (c) Neurodados: informações obtidas do sistema nervoso central ou
periférico de uma pessoa por meio do uso de neurotecnologias; (d) Neurodireitos: categoria de
direitos humanos que buscam garantir a dignidade e os direitos fundamentais no campo da
pesquisa e uso das neurociências e neurotecnologias; e) Neurotecnologias: qualquer tecnologia
que registe, interprete, altere ou interfira com a atividade cerebral utilizando qualquer técnica
óptica, eletrônica, magnética ou nanotecnológica que permita compreender os processos
cerebrais, tais como a visão, as sensações, as percepções, o comportamento, as ideias, a
memória, as emoções, a consciência, a imaginação, as decisões ou a mente; (f) Neurotecnologias
invasivas: técnicas que registram ou alteram a atividade cerebral de dentro do cérebro,
envolvendo procedimentos médicos intrusivos no corpo humano (g) Neurotecnologias não
invasivas: técnicas que registram ou alteram a atividade cerebral de fora do crânio; (h)
Tratamento: qualquer atividade realizada com dados pessoais.

C. Princípios.
28. Os princípios fundamentais são a espinha dorsal de qualquer regulamentação de
neurotecnologias e processamento de neurodados, constituindo a base ética e legal que orienta
seu desenho, implementação e interpretação. Esses princípios não apenas fornecem coerência
no marco regulatório, mas também orientam a aplicação adequada de suas disposições,
garantindo um equilíbrio entre o progresso tecnológico e a proteção dos direitos humanos. Ao
estabelecer valores como privacidade mental, ética e não discriminação, os regulamentos têm a
garantia de serem adequados aos desafios atuais e futuros e promovem o respeito pela
dignidade humana de maneira justa e eficaz. Os princípios atuam como diretrizes essenciais para
a resolução de conflitos, preenchimento de lacunas regulatórias e garantia de proteção
abrangente de neurodados em todos os contextos.
29. Para além dos princípios gerais que regem a privacidade e a proteção de dados em geral,
propõem-se a seguir princípios mais específicos.

Dignidade humana.
30. A dignidade, como valor central inerente ao ser humano, é inviolável. Práticas contrárias à
dignidade humana não devem ser permitidas.
31. Todos devem ter acesso aos progressos realizados nas neurotecnologias, e a dignidade e os
direitos de cada pessoa devem ser respeitados nesse contexto.
32. Na concepção, desenvolvimento, implementação, comercialização, avaliação e uso de
neurotecnologias, o Estado deve promover uma abordagem enraizada no respeito à dignidade
humana e aos direitos humanos.

Dados neurais como dados pessoais altamente sensíveis.


33. Neurodata são dados pessoais altamente confidenciais. As pessoas responsáveis ou
responsáveis pelo tratamento e utilização de dados neuronais devem adotar medidas reforçadas
de privacidade e segurança, assegurando limites à aplicação de técnicas de descodificação que
permitam identificar uma pessoa ou torná-la identificável, especialmente para bases de dados
ou conjuntos de dados que são partilhados com terceiros. O Estado deve promover medidas para
garantir o controle, a segurança, a confidencialidade e a integridade dos neurodados.

48
Privacidade mental e consentimento para processamento de neurodados.
34. Neurotecnologias não invasivas: técnicas que registram ou alteram a atividade cerebral de
fora do crânio; (h) Tratamento: qualquer atividade realizada com dados pessoais.

C. Princípios.
28. Os princípios fundamentais são a espinha dorsal de qualquer regulamentação de
neurotecnologias e processamento de neurodados, constituindo a base ética e legal que orienta
seu desenho, implementação e interpretação. Esses princípios não apenas fornecem coerência
no marco regulatório, mas também orientam a aplicação adequada de suas disposições,
garantindo um equilíbrio entre o progresso tecnológico e a proteção dos direitos humanos. Ao
estabelecer valores como privacidade mental, ética e não discriminação, os regulamentos têm a
garantia de serem adequados aos desafios atuais e futuros e promovem o respeito pela
dignidade humana de maneira justa e eficaz. Os princípios atuam como diretrizes essenciais para
a resolução de conflitos, preenchimento de lacunas regulatórias e garantia de proteção
abrangente de neurodados em todos os contextos.
29. Para além dos princípios gerais que regem a privacidade e a proteção de dados em geral,
propõem-se a seguir princípios mais específicos.
Dignidade humana.
30. A dignidade, como valor central inerente ao ser humano, é inviolável. Práticas contrárias à
dignidade humana não devem ser permitidas.
31. Todos devem ter acesso aos progressos realizados nas neurotecnologias, e a dignidade e os
direitos de cada pessoa devem ser respeitados nesse contexto.
32. Na concepção, desenvolvimento, implementação, comercialização, avaliação e uso de
neurotecnologias, o Estado deve promover uma abordagem enraizada no respeito à dignidade
humana e aos direitos humanos. Dados neurais como dados pessoais altamente sensíveis.
33. Neurodata são dados pessoais altamente confidenciais. As pessoas responsáveis ou
responsáveis pelo tratamento e utilização de dados neuronais devem adotar medidas reforçadas
de privacidade e segurança, assegurando limites à aplicação de técnicas de descodificação que
permitam identificar uma pessoa ou torná-la identificável, especialmente para bases de dados
ou conjuntos de dados que são partilhados com terceiros. O Estado deve promover medidas para
garantir o controle, a segurança, a confidencialidade e a integridade dos neurodados.
Privacidade mental e consentimento para processamento de neurodados 34.
37. A proteção dos direitos humanos desde a concepção implica, inter alia, o cumprimento dos
requisitos estabelecidos abaixo.
38. Antes de um estudo neural ou projeto de pesquisa ou do projeto e desenvolvimento de
neurotecnologias ou produtos neurais, uma avaliação de impacto sobre os direitos humanos
deve ser realizada para estabelecer um sistema eficaz de gerenciamento de riscos e supervisão
interna para garantir que os direitos humanos sejam protegidos.
39. Essas avaliações de impacto devem incluir, no mínimo, as seguintes informações: a) Uma
descrição pormenorizada das operações de tratamento de dados neurais envolvidas no estudo
ou projeto de investigação; (b) Uma avaliação dos riscos específicos de violação dos direitos e
liberdades dos indivíduos; (c) Medidas preventivas para enfrentar e mitigar os riscos de violação
dos direitos fundamentais; d) As verificações que serão efetuadas para verificar a pertinência, a
oportunidade e a eficácia das medidas acima referidas.
40. Antes da recolha de dados neurológicos, e ao longo do seu ciclo de vida, deve ser tomada
uma série de medidas preventivas, incluindo tecnológicas, organizacionais, humanas e
processuais, para evitar violações dos direitos fundamentais ou a utilização abusiva de
neurodados ou neurotecnologias.

49
41. A ética por design e por padrão deve permear o design, desenvolvimento e uso de produtos
ou processos de pesquisa envolvendo o cérebro, neurotecnologia ou neurodados. 42. Todos os
estudos, ensaios ou protocolos de pesquisa devem levar em consideração padrões éticos e
diretrizes para pesquisa.

Princípio da precaução.
43. Se existirem elementos associados à investigação ou à utilização de neurotecnologias ou de
neurodados que possam causar danos graves e irreversíveis aos seres humanos ou à dignidade
humana, mesmo que não exista certeza científica do efeito causal, devem ser tomadas medidas
de precaução para evitar tais danos.
44. O princípio da precaução também se aplica quando o risco ou a gravidade dos danos que
podem ser causados não são conhecidos antecipadamente.

Responsabilidade e segurança demonstradas no processamento de neurodados.


45. No processamento de neurodados, medidas úteis, oportunas, relevantes, eficazes e
demonstráveis para conformidade regulatória devem ser adotadas e implementadas, em
particular medidas para impedir qualquer acesso não autorizado ou impróprio ou distribuição,
fornecimento, uso, manipulação ou destruição de neurodados.
46. Todas as medidas de segurança devem ser objeto de revisão, avaliação e melhoria contínuas.

Não discriminação.
47. Neurodados e neurotecnologias não devem ser usados para fins de discriminação,
estigmatização ou violação dos direitos e liberdades dos indivíduos.

Proteção efetiva dos direitos dos indivíduos no processamento de neurodados.


48. O Estado deve garantir a existência de mecanismos que garantam a proteção efetiva dos
direitos associados ao tratamento de neurodados. Também deve garantir o acesso a recursos
legais e reparações integrais em caso de violação de direitos humanos.

V. Recomendações.
49. À luz do exposto, a Relatora Especial insta os Estados a: (a) Promover a regulamentação das
neurotecnologias e o processamento de neurodados. É essencial que cada país desenvolva um
quadro regulamentar específico para as neurotecnologias e os neurodados, dado o seu impacto
potencialmente profundo na privacidade, na dignidade humana e nos direitos fundamentais. A
regulamentação deve antecipar os riscos associados e garantir o uso seguro, ético e responsável
dessas tecnologias; (b) Incorporar os fundamentos e princípios para a regulamentação do uso de
neurotecnologias e do processamento de neurodados na perspectiva do direito à privacidade
sugerido no presente relatório. Os fundamentos e princípios estabelecidos no presente relatório,
incluindo a proteção da dignidade humana, o consentimento informado, a ética desde a
conceção, o princípio da precaução e a não discriminação, devem ser integrados nos quadros
jurídicos nacionais. Estes princípios assegurarão um equilíbrio entre a inovação tecnológica em
neurotecnologias e a proteção dos direitos humanos, com especial destaque para a privacidade
e o tratamento adequado dos neurodados; (c) Promover práticas éticas no uso de
neurotecnologias. É fundamental estabelecer diretrizes e fiscalizar práticas que garantam o uso
ético das neurotecnologias e garantam o tratamento adequado dos neurodados como
informações altamente sensíveis. Essas práticas devem evitar qualquer uso indevido que possa
comprometer a privacidade ou dar origem a discriminação; (d) Promover a educação sobre
neurotecnologias e neurodados. Para garantir o uso informado dessas tecnologias, os Estados

50
devem promover a educação pública sobre os benefícios e riscos associados às
neurotecnologias. Isso permitirá que as pessoas entendam melhor seu impacto, tomem decisões
conscientes sobre seus neurodados e exijam que seus direitos sejam respeitados nesta nova era
tecnológica.
Mecanismo de Especialistas sobre o Direito ao Desenvolvimento para discutir o financiamento
para o desenvolvimento no novo contexto internacional. https://www.ohchr.org/en/press-
releases/2025/03/expert-mechanism-right-development-discuss-financing-development-new?sub-site=HRC 27
Março 2025.

Genebra – O Mecanismo de Especialistas das Nações Unidas sobre o Direito ao Desenvolvimento


realiza sua 11ª sessão de 2 a 4 de abril de 2025 na sede das Nações Unidas em Nova York para
discutir como enfrentar o novo contexto internacional e, ao mesmo tempo, garantir o
compromisso contínuo com o financiamento para o desenvolvimento.

Reuniões públicas serão realizadas nos dias 3 e 4 de abril, na Sala de Conferências 5, e


transmitidas ao vivo pela web. Nesta sessão, o Mecanismo de Especialistas realizará um debate
geral com os Estados-Membros e outras partes interessadas relevantes, bem como painéis de
discussão sobre dois projetos de estudo para abordar suas conclusões e receber mais
contribuições: "Justiça climática, sustentabilidade e direito ao desenvolvimento" (quinta-feira,
3 de abril, das 15h00 às 16h30); e "Participação ativa, livre e significativa das mulheres no
desenvolvimento, com ênfase na tomada de decisões" (quinta-feira, 3 de abril, das 16h30 às
18h00).

O Mecanismo de Peritos realizará também três diálogos temáticos centrados em:

1. Desenhando elementos comuns dos seis estudos concluídos do EMRTD: conectando


os pontos para FfD4 (sexta-feira, 4 de abril, das 10h00 às 11h30)

2. Solidariedade internacional versus responsabilidade nacional: uma equação


complexa (sexta-feira, 4 de abril, das 11h30 às 13h00)

3. Reversões recentes na cooperação internacional para o desenvolvimento e seu


impacto no direito ao desenvolvimento (sexta-feira, 4 de abril, das 15h00 às 16h30)

Mais informações sobre a sessão e documentos podem ser encontrados aqui.

O Mecanismo de Especialistas sobre o Direito ao Desenvolvimento é um órgão subsidiário do


Conselho de Direitos Humanos composto por cinco especialistas independentes. Fornece
conhecimentos temáticos sobre o direito ao desenvolvimento, procurando, identificando e
compartilhando as melhores práticas com os Estados-Membros e promovendo a implementação
do direito ao desenvolvimento em todo o mundo. Realiza duas sessões anuais em Nova York e
Genebra.

Para saber mais sobre o Mecanismo de Especialistas sobre o Direito ao Desenvolvimento,


visite: https://www.ohchr.org/EN/Issues/Development/EMD/Pages/Expert-Mechanism-on-the-Right-to-
Development.aspx

5. Impacto das transferências de armas nos direitos humanos. Relatório do Escritório do


Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
https://docs.un.org/en/A/HRC/58/41
Resumo. No presente relatório, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos (ACNUDH) examina as lacunas no que diz respeito ao papel dos Estados e do

51
setor privado para prevenir, abordar e mitigar os impactos negativos das transferências de armas
sobre os direitos humanos, incluindo transferências e desvios ilícitos de armas não
regulamentados. Com base no workshop intersessional determinado pela resolução 53/15, as
lacunas são agrupadas em cinco categorias, a saber: boa governança do setor de armas;
salvaguardas contra a autorização de transferências proibidas; due diligence pelo setor privado;
prevenção eficaz dos impactos negativos sobre os direitos humanos resultantes das
transferências de armas; e acesso à justiça. Em suas conclusões e recomendações, o ACNUDH
conclui que as transferências de armas não são uma zona livre de direitos humanos e recomenda
medidas futuras que devem ser tomadas.

I. Introdução.

1. Em sua resolução 53/15, o Conselho de Direitos Humanos solicitou que o Escritório do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) preparasse um relatório
sobre lacunas e medidas futuras sobre o papel dos Estados e do setor privado na prevenção,
abordagem e mitigação do impacto negativo sobre os direitos humanos das transferências de
armas, incluindo o desvio de armas e transferências de armas não regulamentadas ou ilícitas, a
ser apresentado ao Conselho em sua quinquagésima oitava sessão. Conforme determinado pelo
Conselho, o relatório é informado pelo workshop intersessional realizado online de 7 a 9 de
outubro de 2024.1 Para preparar o relatório, o ACNUDH também buscou contribuições de
Estados, 2 entidades das Nações Unidas 3 e outras partes interessadas relevantes. 4 Além disso,
uma ampla gama de fontes foi consultada, incluindo instrumentos internacionais, a prática dos
Estados, mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas, relatórios de organizações da
sociedade civil e estudos acadêmicos.

2. O mundo enfrenta o maior número de conflitos violentos desde a Segunda Guerra Mundial,
os gastos militares globais em 2023 aumentaram pelo nono ano consecutivo5 e, em algumas
regiões, o volume de transferências de armas aumentou significativamente.6 A Carta das Nações
Unidas busca a promoção da paz e da segurança internacionais com o mínimo de desvio para
armamento dos recursos humanos e econômicos do mundo, e a Assembleia Geral afirmou que
o acúmulo de estoques nacionais pode ter efeitos desestabilizadores regionais sobre a paz e a
segurança internacionais.7 Algumas pesquisas sugeriram que as importações de armas
aumentam a probabilidade de eclosão de conflitos armados; uma vez que o conflito começa, ele
se torna um motor para o comércio de armas.8 As transferências de armas para as partes em
conflitos armados também contribuem para prolongar os conflitos e aumentar a probabilidade
de conflitos mais violentos.9 Na prática, nos últimos tempos, os Estados e atores privados
continuaram transferindo armas para os usuários finais, incluindo os militares em Mianmar,10
Israel,11 e as partes em conflito no Sudão,12 Sudão do Sul13 e Iêmen,14 apesar dos riscos de
contribuírem para graves violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos.
As transferências de armas também podem contribuir para a repressão interna e outras
violações e abusos dos direitos humanos fora de situações de conflito. No Pacto para o Futuro,
a Assembleia Geral expressou preocupação com o impacto devastador dos conflitos armados
sobre os civis e, referindo-se, entre outras coisas, ao direito internacional dos direitos humanos,
encorajou os Estados a tomarem as medidas necessárias para exercer controle sobre as
transferências de armas.15

3. No presente relatório, o ACNUDH examina o papel dos Estados e do setor privado sob as
normas e padrões internacionais, para prevenir, abordar e mitigar o impacto negativo das
transferências de armas sobre os direitos humanos. Em seguida, examina as lacunas entre esse
papel e a prática real dos Estados e do setor privado, identificando cinco lacunas relacionadas a:

52
prevenção da corrupção e conflitos de interesse; abster-se de transferências de armas proibidas;
respeito aos direitos humanos pelo setor privado; impedir transferências de armas proibidas; e
garantir o acesso à justiça. Em suas conclusões e recomendações, o ACNUDH recomenda
medidas futuras que devem ser tomadas com relação ao papel dos Estados e do setor privado
para prevenir, abordar e mitigar o impacto negativo das transferências de armas sobre os direitos
humanos...¨

IV. Conclusões e recomendações sobre as etapas futuras.

41. As transferências de armas não são uma zona livre de direitos humanos. Podem implicar
graves consequências humanitárias e de direitos humanos, facilitar graves violações e abusos
dos direitos humanos e implicar responsabilidade por crimes ao abrigo do direito internacional.
As lacunas destacadas no presente relatório, muitas das quais na prática estão inter-
relacionadas, revelam que mais deve ser feito para fechar as lacunas de conformidade para
prevenir, abordar e mitigar o impacto negativo das transferências de armas sobre os direitos
humanos. O impacto das transferências de armas sobre os direitos humanos deve, por
conseguinte, ser objeto de uma atenção contínua.

42. A este respeito, mais investigação ajudaria a compreender melhor as lacunas no papel dos
Estados e do sector privado na prevenção, abordagem e atenuação do impacto negativo das
transferências de armas sobre os direitos humanos, em particular no que se refere à
identificação de medidas práticas e boas práticas sobre os seguintes temas: a) Medidas tomadas
pelos Estados para se absterem de transferências de armas proibidas; nomeadamente através
da legislação e da prática administrativa, incluindo avaliações de risco; (b) Medidas tomadas pelo
setor privado para respeitar os direitos humanos, inclusive por meio da adoção de políticas
relevantes e processos eficazes de devida diligência; (c) Medidas tomadas pelos Estados para
impedir transferências ilegais de armas por terceiros, incluindo a regulamentação do setor de
armas, o exercício do controle sobre o trânsito e o transbordo de armas e a investigação,
julgamento e punição de condutas relacionadas à exportação de armas proibidas pelo direito
internacional; (d) Medidas para garantir o acesso à justiça, recursos eficazes e supervisão judicial
sobre as exportações de armas, que são fundamentais para garantir a prevenção e a
responsabilização.

7. Venezuela: Dura repressão e crimes contra a humanidade em andamento, diz Missão de


Apuração de Fatos. https://www.ohchr.org/en/press-releases/2025/03/venezuela-harsh-repression-and-crimes-
against-humanity-ongoing-fact-finding?sub-site=HRC 18 Março 2025.

Genebra – O governo da Venezuela continua a se envolver em ações que constituem o crime


contra a humanidade de perseguição por motivos políticos, cometidos em conexão com o crime
de prisão ou privação grave de liberdade física e outros crimes, disse a Missão de Averiguação
da ONU sobre a Venezuela em sua última atualização sobre a situação dos direitos humanos no
país.

Em sua apresentação hoje ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra, a Missão de


Apuração de Fatos (FFM) informou que as detenções arbitrárias de pessoas percebidas como
opositores ao governo, incluindo membros da oposição política, bem como defensores dos
direitos humanos e jornalistas, continuam. Fontes não governamentais documentaram pelo
menos 42 prisões entre setembro e dezembro de 2024 e mais 84 durante os primeiros 15 dias
de janeiro de 2025. Alguns deles podem constituir desaparecimentos forçados de curto prazo.

53
"O governo venezuelano continua a orquestrar uma dura repressão contra pessoas
percebidas como opositores políticos ou simplesmente porque expressam dissidência ou
opiniões críticas contra as autoridades", disse Marta Valiñas, presidente da FFM. "Isso faz parte
do mesmo curso de conduta que a FFM caracterizou anteriormente como crimes contra a
humanidade."

A FFM expressou preocupação com a detenção de pelo menos 150 estrangeiros


acusados de participar de conspirações contra o governo. O destino e o paradeiro desses
indivíduos são desconhecidos para suas famílias e para as autoridades de seus países de origem.

"Os esforços diplomáticos para tentar se comunicar com as pessoas detidas são
ignorados pelo governo de Nicolás Maduro, contrariando o direito internacional", disse Francisco
Cox, especialista da FFM. "Os detidos são mantidos em regimes rígidos de incomunicabilidade,
violando as leis nacionais e internacionais."

A FFM também forneceu mais detalhes ao Conselho sobre um dos protestos pós-
eleitorais ocorridos em julho de 2024 no estado de Aragua, onde sete pessoas foram mortas. A
FFM confirmou que tiros foram disparados contra manifestantes sem aviso prévio de dentro de
uma instalação militar, onde estavam localizados membros do Exército e da Guarda Nacional
Bolivariana encarregados de controlar o protesto.

"A FFM identificou quatro generais que estavam envolvidos na operação de controle da
ordem pública deste protesto e dois oficiais superiores que estavam dentro da instalação militar
de onde tiros foram disparados contra os manifestantes", disse Patricia Tappatá, especialista da
FFM. "O Estado da Venezuela deve investigar este incidente, levar à justiça os responsáveis e
reparar as vítimas."

A FFM solicitou que o Conselho de Direitos Humanos exortasse o governo da Venezuela


a libertar imediata e incondicionalmente todos os indivíduos detidos arbitrariamente, bem como
a fornecer-lhes cuidados médicos adequados e oportunos enquanto permanecerem detidos.

Contexto: Em setembro de 2019, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas


estabeleceu a Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos na República
Bolivariana da Venezuela por um ano para avaliar supostas violações de direitos humanos
cometidas desde 2014. A Missão de Averiguação apresentou seu último relatório anual durante
um diálogo interativo no Conselho em setembro de 2024, acompanhado de um documento da
sala de conferência com suas conclusões detalhadas. Em sua resolução 57/36, o Conselho
prorrogou o mandato da Missão de Apuração de Fatos por mais dois anos, até outubro de 2026.

54
Poluição Atmosférica e Crise Climática:
O Efeito Combinado na Saúde Humana e a Urgência de Ação
Air Pollution and Climate Crisis:
The Combined Effect on Human Health and the Urgency for Action

Danielly Magalhães
Guto Galvão

Summary: This report describes the impacts of air pollution on human health, which is
responsible for approximately 8 million premature deaths annually, including 1 million cases of
cancer, and imposes an economic burden of 3 trillion dollars globally. The document covers two
consecutive conferences. The first, focused on clean air, took place in Brasília and aimed at
reducing air superpollutant emissions from various sectors, such as agriculture, transportation,
and cooking fuels. The event fostered the exchange of successful experiences and encouraged
greater ambition in Nationally Determined Contributions (NDCs) to control these emissions,
aiming to benefit public health, the environment, and climate change mitigation. The second
conference, organized by the World Health Organization (WHO), highlighted the importance of
integrated environmental and health policies to prevent premature deaths, as well as the
implementation of air contamination monitoring and alert systems. On Zero Waste Day,
discussions centered on the textile and fashion industry, which accounts for 8% of global
greenhouse gas emissions and generates a massive volume of waste, accumulating in places like
the Atacama Desert and polluting rivers. The United Nations Environment Programme (UNEP)
proposed five strategies to reduce this waste and published a report based on consultations with
over 140 textile producers, offering recommendations to transform the sector.
Resumo: Este informe descreve os impactos da poluição do ar na saúde humana, responsável
por cerca de 8 milhões de mortes prematuras anualmente, incluindo 1 milhão de casos de
câncer, além de gerar um custo de 3 trilhões de dólares para a economia mundial. O documento
aborda duas conferências realizadas em sequência. A primeira, sobre ar limpo, ocorreu em
Brasília e teve como foco a redução das emissões de superpoluentes do ar provenientes de
diversos setores, como agricultura, transporte e combustíveis para cozinhar. O evento
promoveu a troca de experiências bem-sucedidas e incentivou maior ambição nas Contribuições
Nacionalmente Determinadas (NDCs) para o controle dessas emissões, visando benefícios para
a saúde, o meio ambiente e a mitigação das mudanças climáticas. A segunda conferência,
organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), enfatizou a importância de políticas
ambientais e de saúde integradas para prevenir mortes prematuras, além da implementação de
sistemas de monitoramento e alerta para a contaminação do ar. No Dia do Desperdício Zero, as
discussões se concentraram na indústria têxtil e da moda, setores responsáveis por 8% das
emissões globais de gases de efeito estufa e por um enorme volume de resíduos, que se
acumulam em locais como o deserto do Atacama e contaminam rios. O Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) propôs cinco estratégias para reduzir esse desperdício
e publicou um relatório baseado na consulta a mais de 140 produtores têxteis, com
recomendações para transformar o setor.

A poluição do ar é um dos principais desafios ambientais contemporâneos, com


impactos significativos na saúde humana. Cerca de 8 milhões de mortes prematuras por ano são
atribuídas a poluição do ar, custando à economia global mais de US$ 8 trilhões por ano. Essa

55
semana, um artigo publicado no Lancet revelou que as taxas de câncer estão aumentando entre
os não fumantes em todo o mundo, e uma das causas citadas pelos os pesquisadores é a
poluição do ar.
A exposição a poluentes atmosféricos, como material particulado fino (PM2.5), ozônio
troposférico e smog tóxico, está associada a doenças respiratórias, cardiovasculares e ao
aumento da mortalidade prematura. A mudança climática agrava essa situação por meio de
diversos mecanismos que intensificam a poluição do ar e seus efeitos adversos.
Um dos impactos da mudança climática é o aumento das temperaturas globais, que
influencia a formação e dispersão de poluentes. Temperaturas mais elevadas podem aumentar
a concentração de ozônio na troposfera, um poluente nocivo à saúde respiratória. Além disso,
o calor extremo intensifica a ocorrência de incêndios florestais e a queima de resíduos agrícolas
(como a queima de restolho), liberando grandes quantidades de material particulado e outros
poluentes na atmosfera.
As mudanças climáticas também colaboram para a formação da inversão térmica, um
fenômeno atmosférico que ocorre quando uma camada de ar quente se sobrepõe a uma
camada de ar frio próxima à superfície, impedindo a dispersão de poluentes. Esse fenômeno é
mais comum durante o inverno, especialmente em regiões urbanas e industrializadas, levando
à acumulação de smog tóxico. Cidades como São Paulo frequentemente enfrentam episódios
de inversão térmica, resultando em piora da qualidade do ar e aumento de doenças respiratórias
entre a população
As mudanças climáticas podem influenciar a frequência e a intensidade das inversões
térmicas. Alterações nos padrões climáticos, como a redução de ventos e mudanças na umidade
relativa do ar, podem favorecer a formação dessas inversões, especialmente durante os meses
mais frios. Isso resulta em períodos prolongados de baixa qualidade do ar, afetando
negativamente a saúde pública.
Diante desse cenário, é essencial adotar políticas integradas que abordem
simultaneamente a mitigação das mudanças climáticas e a redução da poluição do ar. Medidas
como a transição para fontes de energia limpa, o incentivo ao transporte sustentável, o controle
rigoroso das emissões industriais e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis são
fundamentais para proteger a saúde humana e o meio ambiente.
Nessa quinzena, dois eventos globais ocorreram para tomada de decisão e de políticas
para diminuir a poluição do ar e os impactos na saúde e as principais discussões serão
apresentadas neste informe.

Conferência Clima e Ar Limpo 2025


16 Março, 2025 - 21 Março, 2025
Conferência sobre Clima e Ar Limpo 2025 | Coalizão Clima e Ar Limpo

A Conferência Clima e Ar Limpo 2025 aconteceu de 16 a 21 de março de 2025, em


Brasília, Brasil. O tema deste ano, "Acelerando a ação sobre superpoluentes: o caminho para a
COP30", destacou a necessidade urgente de uma ação decisiva. O evento reuniu representantes
de países, especialistas globais entre outros, unindo mais de 200 participantes, para impulsionar
soluções rápidas para mitigação da exposição à superpoluentes e salvaguardar o futuro do
nosso planeta.
Os participantes se envolveram em diálogos de alto nível com representantes de países,
cientistas líderes da sociedade civil para moldar o futuro da política climática e de ar limpo, com

56
forte ênfase em uma transição justa. O evento teve como objetivo avançar nas ações rumo à
COP 30, com foco em influenciar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para
reduzir os superpoluentes.
Dia 17
O Secretariado do CCAC organizou várias sessões de discussão, incluindo um Mercado
de Ideias, onde foram apresentados 24 projetos focados em setores como a agricultura (,
refrigeração e gestão de resíduos. O Marketplace conectou financiadores com implementadores
para impulsionar reduções de emissões de superpoluentes.
Um Workshop de Defesa de Sistemas Agroalimentares abordou a redução das emissões
agrícolas de metano e óxido nitroso, melhorando a segurança alimentar e a resiliência
econômica. As principais conclusões incluíram a necessidade de mudanças nas políticas,
financiamento e estratégias de comunicação para impulsionar a agricultura inteligente para o
clima. Também destacou o progresso da gestão da qualidade do ar na América Latina e no
Caribe, particularmente no Brasil.
Em outro workshop foi enfatizado a importância de integrar a qualidade do ar e os
objetivos de saúde, com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) discutindo o próximo
Plano de Ação de Saúde de Belém da COP30. O Workshop NDC de Consultores Nacionais teve
como objetivo aprimorar a experiência nacional na integração de superpoluentes em
compromissos climáticos, com estratégias para melhorar as NDCs por meio de soluções
personalizadas. A sessão também lançou as bases para futuras discussões sobre o refinamento
das estratégias climáticas nacionais.
Dia 18
Durante o plenário de abertura, Martina Otto, do Secretariado do CCAC, sublinhou a
urgência de reduzir os superpoluentes para manter o limite de 1,5°C. Marina Silva, ministra do
Meio Ambiente do Brasil, destacou a cooperação multilateral e o papel do Brasil na COP30. Tony
Kay, da Embaixada do Reino Unido e copresidente do CCAC, instou as nações a integrarem
reduções de superpoluentes em suas NDCs. Valerie Hickey, do Banco Mundial, enfatizou a
necessidade de aumentar o financiamento climático, apontando para os esforços de redução de
metano subfinanciados. Marcelo Mena, CEO do Global Methane Hub, anunciou uma promessa
de US$ 10 milhões para iniciativas de mitigação de metano. Adalberto Maluf, do Ministério do
Meio Ambiente do Brasil e copresidente do CCAC, confirmou o envolvimento do Brasil na
Iniciativa LOW-M, com Fortaleza, Rio de Janeiro e Belém unindo esforços para reduzir as
emissões de metano de resíduos. Essas ações complementam o compromisso de 62 países que
assinaram a Declaração de Metano de Resíduos Orgânicos durante a COP29, representando
mais de 50% das emissões globais de metano provenientes de resíduos.
As principais sessões exploraram vários tópicos críticos. A discussão sobre a integração
da NDC incluiu insights do Brasil, México, Vietnã, Nigéria e Gana sobre estratégias para
incorporar superpoluentes em sua NDC 3.0. A sessão de agricultura e redução de metano
examinou práticas sustentáveis e financiamento para mitigação de metano. Uma sessão sobre
veículos pesados focou em políticas de ar limpo, eletrificação e a Atualização da Estratégia
Global de Enxofre. As discussões sobre gestão de resíduos abordaram a valorização de resíduos
orgânicos, a captura de metano e os mecanismos financeiros para redução de resíduos. O
diálogo científico-político sobre o ozônio troposférico destacou os impactos climáticos, de saúde
e agrícolas do ozônio, enfatizando a necessidade de uma ação global coordenada. A sessão
emblemática do CCAC Clean Air forneceu atualizações sobre programas como o AQMx e o
Programa Ar Limpo da África.

57
A conferência ressaltou a necessidade de ação urgente sobre os superpoluentes por
meio de políticas mais fortes, financiamento aprimorado e avanços tecnológicos. À medida que
a COP30 se aproxima, as partes interessadas se comprometeram a acelerar a implementação
para alcançar benefícios climáticos, de saúde e econômicos.
Dia 19
O dia 2 da Conferência sobre Clima e Ar Limpo de 2025 se concentrou na implementação
de soluções para superpoluentes, enfatizando a necessidade de traduzir ideias em ações do
mundo real. As principais discussões centraram-se na equidade, integração e ações sensíveis ao
gênero. A Plenária de Gênero destacou a importância de abordar a equidade de gênero nas
políticas climáticas, enfatizando que as políticas climáticas e de poluição do ar devem ser
inclusivas e empoderar as mulheres. Os especialistas discutiram como as ações sensíveis ao
gênero podem não apenas melhorar os resultados ambientais, mas também aumentar a
resiliêcia econômica, principalmente por meio de projetos como soluções de cozinha limpa e
planejamento de transporte sensível ao gênero.
A Plenária de Política Setorial ressaltou a importância de políticas setoriais ambiciosas
para impulsionar a redução de superpoluentes. Especialistas compartilharam estudos de caso
bem-sucedidos de países como Gana, Nigéria, Brasil e Camboja, onde a integração da mitigação
de superpoluentes nas políticas nacionais produziu resultados ambientais e econômicos
positivos. Essas intervenções setoriais específicas demonstraram o potencial de políticas que
equilibram metas ambientais com incentivos econômicos, promovendo a colaboração
intersetorial para uma implementação eficaz.
Na Plenária de Política Científica, as discussões se concentraram na abordagem "Uma
Atmosfera", defendendo políticas integradas de clima e qualidade do ar. Os especialistas
enfatizaram a interconexão das mudanças climáticas e da poluição do ar e a necessidade de
estratégias holísticas para maximizar os benefícios para o meio ambiente e a saúde humana.
Desafios como a governança fragmentada e a lacuna entre a pesquisa científica e a tomada de
decisões políticas foram destacados, com apelos a abordagens mais integradas e melhor
coordenação entre os setores. A plenária concluiu com foco na importância de sustentar a
colaboração entre ciência e política e garantir que as decisões políticas sejam informadas por
evidências científicas robustas.
Dia 20
No último dia, diversas iniciativas e relatórios foram apresenatdos, incluindo a
atualização da Estratégia Global do PNUMA para a introdução de combustíveis com baixo teor
de enxofre e veículos diesel mais limpos, visando acelerar a transição para frotas mais
sustentáveis.
A plenária de encerramento abordou o desafio de transformar a ambição climática em
ação por meio de financiamento eficaz. Martina Otto, chefe do Secretariado do CCAC, destacou
a necessidade de ir além das fontes tradicionais de financiamento e desenvolver projetos
prontos para investimento que atraiam capital privado e filantrópico. O Dr. Nkiruka Maduekwe,
Diretor-Geral do Conselho Nacional de Mudanças Climáticas da Nigéria, compartilhou a
abordagem do país para garantir financiamento climático, incluindo o uso crescente de títulos
verdes para financiar projetos de adaptação e energia renovável. Valerie Hickey, Diretora Global
de Mudanças Climáticas do Banco Mundial, ressaltou a importância de metas claras, sistemas
de dados robustos e alinhamento da mitigação de superpoluentes com objetivos econômicos
mais amplos.
Painéis subsequentes apresentaram estratégias bem-sucedidas de financiamento em
nível nacional. Ange-Benjamin Brida, da Costa do Marfim, discutiu a melhoria da capacidade

58
institucional para acessar fundos internacionais por meio da NDC 3.0. Ranjila Singh, de Fiji,
destacou o Fundo Fiduciário de Ação Climática do país, que financia infraestrutura de adaptação
e projetos de energia solar alinhados com o Acordo de Paris. Katia Queiroz, do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), abordou como o BID está fortalecendo o acesso ao
financiamento na América Latina e no Caribe por meio de mecanismos de financiamento misto
e títulos verdes, priorizando setores de alta emissão.
A Sessão de Discussão sobre Energia Doméstica: Avançando na Cozinha Limpa destacou
a necessidade urgente de ampliar as soluções de cozinha limpa para enfrentar as mudanças
climáticas e os desafios de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatizou que
a poluição do ar e as mudanças climáticas compartilham as mesmas causas, tornando a culinária
limpa uma intervenção crucial para ambos.
Em suma, as discussões destacaram a interseção crítica entre as emissões de metano e
a saúde pública. Reduzir as emissões de metano em 45% até 2030 pode prevenir cerca de 260
mil mortes prematuras anualmente, além de evitar aproximadamente 775 mil visitas
hospitalares relacionadas à asma e reduzir perdas de colheitas em 25 milhões de toneladas
devido à formação de ozônio ao nível do solo, um poluente perigoso para a saúde humana. Além
disso, a exposição ao ozônio resultante das emissões de metano é responsável por 1 milhão de
mortes prematuras a cada ano. Portanto, a implementação de regulamentações eficazes para a
redução do metano e outros superpoluentes não só combate as mudanças climáticas, mas
também traz benefícios significativos para a saúde pública global.
Segunda Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar
A Segunda Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde foi concluída, com
mais de 50 países, cidades e organizações assumindo grandes compromissos para combater a
poluição do ar e proteger a saúde pública.
Coorganizada com o governo da Colômbia, a conferência reuniu mais de 700
participantes de 100 países, incluindo funcionários do governo, agências da ONU, sociedade
civil, cientistas e organizações de saúde. Seu objetivo comum: acelerar a ação sobre a poluição
do ar e seu impacto na saúde pública.
Um dos principais acordos da conferência é o compromisso de reduzir os impactos da
poluição do ar na saúde em 50% até 2040 – um esforço que visa salvar milhões de vidas a cada
ano. Além disso, novas promessas de financiamento e propostas de políticas foram anunciadas
como parte dos compromissos assumidos.
Durante a sessão de alto nível, o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da
OMS, pediu aos líderes que passem dos compromissos para ações ousadas: "É hora de passar
dos compromissos para ações ousadas. Para alcançar o ar limpo, precisamos de ações urgentes
em todas as frentes: investimento financeiro em soluções sustentáveis, como energia limpa e
transporte sustentável; aplicação técnica das diretrizes globais de qualidade do ar da OMS; e
compromisso social para proteger os mais vulneráveis em nossas regiões mais poluídas".
Gustavo Petro, presidente da Colômbia, participou da sessão de alto nível e reafirmou a
dedicação da Colômbia ao combate à poluição do ar: "A poluição do ar faz mais vítimas do que
a própria violência. Envenenar nosso ar custa vidas em silêncio - esta conferência reforça nossa
determinação em implementar políticas que priorizem tanto o meio ambiente quanto a saúde
pública.
Promessas notáveis feitas durante a conferência incluíram o seguinte:
• A ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, Lena Yanina
Estrada Añokazi, comprometeu-se a fortalecer os esforços multissetoriais para

59
combater a poluição do ar, com ações focadas em vigilância, saúde pública e transição
para energia limpa. O país também desenvolverá sistemas de alerta precoce para
prevenção e mitigação de incêndios florestais.
• A Espanha se comprometeu a alcançar um sistema de saúde neutro em carbono até
2050 por meio de estratégias de redução de emissões, colaboração entre setores e
promoção da inovação.
• O Reino Unido reafirmou seu compromisso de combater a poluição do ar, com iniciativas
que incluem a presidência do Fórum de Cooperação Internacional sobre Poluição do Ar
(FICAP), o estabelecimento de metas de PM2.5 baseadas na saúde e a publicação de
uma Estratégia de Qualidade do Ar destinada a aumentar a conscientização pública e
combater as desigualdades.
• O Ministério da Saúde e Bem-Estar Familiar da Índia se comprometeu a alinhar as ações
com o Programa Nacional de Ar Limpo para reduzir os impactos da poluição do ar na
saúde até 2040. Isso inclui aumentar a poluição do ar e a vigilância de doenças não
transmissíveis, promover energia mais limpa para cozinhar e apoiar os profissionais de
saúde na proteção de populações vulneráveis.
• O Brasil se comprometeu a fortalecer a cooperação interministerial, estabelecer uma
Política Nacional de Qualidade do Ar, atualizar os padrões de qualidade do ar com base
nas diretrizes da OMS e monitorar o impacto dessas iniciativas na mortalidade por
poluição do ar.
• A China se comprometeu a melhorar os padrões de qualidade do ar, aprimorar os
sistemas de proteção à saúde e promover a cooperação internacional de acordo com as
metas ambientais e climáticas nacionais para 2030, 2050 e 2060.
• Em nome dos co-presidentes das cidades do C40, representando quase 100 das maiores
cidades do mundo, o vice-prefeito de Londres, Mete Coban, prometeu reduzir a poluição
do ar, apoiar a meta da OMS para 2040 e defender o aumento dos investimentos em
soluções de ar limpo. Ele também enfatizou a importância das cidades no
desenvolvimento e implementação de estratégias de ar limpo.
• O Fundo do Ar Limpo (CAF) se comprometeu a apoiar a OMS na demonstração dos
benefícios para a saúde das ações de ar limpo e destinou US$ 90 milhões adicionais nos
próximos dois anos para iniciativas climáticas e de saúde.

Além disso, compromissos de associações de saúde e organizações da sociedade civil se


concentraram na integração da poluição do ar e da saúde planetária na educação médica,
capacitando os profissionais de saúde com o conhecimento e as ferramentas necessárias para
lidar com os impactos da poluição do ar na saúde.
A Dra. Maria Neira, Diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas
e Saúde da OMS, declarou: "Os compromissos assumidos nesta Conferência refletem um
impulso global para abordar a poluição do ar como uma questão crítica de saúde pública. A OMS
continua dedicada a apoiar os países a transformar esses compromissos em ações concretas que
protejam vidas e promovam o bem-estar."
Com esses fortes compromissos e parcerias em vigor, a comunidade global está agora
mais bem posicionada para impulsionar mudanças significativas nos próximos anos.

60
O Dia Internacional do Lixo Zero teve foco em reduzir o desperdício na indústria da moda e
nos têxteis
A humanidade gera até 2,3 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos
anualmente, uma contagem que inclui tudo, desde alimentos a eletrônicos e têxteis.
Globalmente, os resíduos têxteis chegam a 92 milhões de toneladas.
Este foco do Dia Internacional do Lixo Zero deste ano (30 de março) destaca o papel
vital do setor têxtil e de moda em rápido crescimento no combate à crise de poluição de resíduos
que assola o planeta.
Todos os anos, o setor têxtil é responsável por 2-8% das emissões globais de gases de
efeito estufa e os consumidores consomem água suficiente para encher 86 milhões de piscinas
olímpicas.
A indústria da moda impacta significativamente o meio ambiente, com roupas
descartadas se acumulando no deserto do Atacama, no Chile, corantes têxteis poluindo rios em
Bangladesh e fibras sintéticas contaminando peixes no Canal da Mancha. A indústria gera até
8% das emissões globais de gases de efeito estufa e, a cada segundo, roupas de um caminhão
de lixo é despejada ou incinerada.
No entanto, os especialistas acreditam que a mudança sustentável é possível por meio
da ação coletiva. No Dia Internacional do Lixo Zero, o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) destaca cinco estratégias principais para reformar o setor:
1. Adotando a moda circular – A indústria deve reduzir a produção e manter os materiais
em uso por mais tempo, projetando roupas duráveis, usando tecidos sustentáveis e
apoiando os países produtores na transição.
2. Melhorando a reciclagem de tecidos – Apenas 1% dos têxteis são reciclados. Os
governos podem investir na coleta de resíduos têxteis, expandir os programas de
reciclagem e responsabilizar os fabricantes pelo descarte de roupas em fim de vida.
3. Eliminação de produtos químicos perigosos – Com mais de 15.000 produtos químicos
usados na produção têxtil, a regulamentação é necessária para eliminar gradualmente
as substâncias nocivas, melhorar a segurança da reciclagem e lidar com a poluição
microplástica das fibras sintéticas.
4. Mudando as narrativas do consumidor – A indústria da moda promove o consumo
excessivo, com a produção de roupas dobrando de 2000 a 2015. Especialistas pedem
que marcas, influenciadores e formuladores de políticas incentivem escolhas de moda
sustentáveis e transparência nos impactos ambientais.
5. Incentivando o consumo consciente – Os consumidores podem prolongar a vida útil das
roupas consertando, alugando, comprando em segunda mão e escolhendo marcas
sustentáveis, sinalizando a demanda por uma indústria mais verde.
Sustentabilidade e circularidade na cadeia de valor têxtil - um roteiro global
Publicado em 30 de Maio de 2023 o relatório do PNUMA Sustentabilidade e
circularidade na cadeia de valor têxtil - Um roteiro global | PNUMA - Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente descreve o que cada grupo de partes interessadas pode fazer
individual e coletivamente para alcançar o destino compartilhado de um setor têxtil circular.
Para isso, o relatório identifica as três prioridades: 1) mudança nos padrões de consumo; 2)
melhores práticas; e 3) investimento em infraestrutura. Estas três prioridades dependem uma
da outra e exigirão um trabalho significativo. Portanto, o Roteiro divide esse trabalho em nove
blocos de construção nos quais cada parte interessada pode se concentrar, com ações
prioritárias para cada grupo de partes interessadas.

61
O relatório se baseia em pesquisas e consultas com mais de 140 partes interessadas da
cadeia de valor têxtil, a quem o PNUMA agradece por ajudar a definir uma agenda comum de
transformação em direção à sustentabilidade e circularidade.
O Roteiro consiste no relatório principal e em sete anexos específicos das partes
interessadas. Os anexos aprofundam as ações que o grupo específico de partes interessadas
pode tomar para cumprir os nove blocos de construção, são eles:
1. Governança e Alinhamento Político
• Ações prioritárias:
o Governos: Desenvolver regulamentos e políticas alinhadas com a sustentabilidade.
o Indústria: Cumprir normas ambientais e apoiar iniciativas de autorregulação.
o ONGs e Acadêmicos: Pesquisar e promover boas práticas.
2. Infraestrutura e Tecnologia
• Ações prioritárias:
o Governos: Investir em infraestrutura verde e apoiar P&D em reciclagem.
o Indústria: Adotar tecnologias limpas e otimizar processos produtivos.
o Consumidores: Optar por produtos de empresas sustentáveis.
3. Modelos de Negócios Circulares
• Ações prioritárias:
o Indústria: Redefinir modelos de produção, priorizando reutilização e reciclagem.
o Investidores: Financiar startups e iniciativas circulares.
o Consumidores: Apoiar empresas com práticas de economia circular.
4. Colaboração e Parcerias
• Ações prioritárias:
o Governos: Criar redes para fomentar a colaboração entre setores.
o Indústria: Trabalhar em cadeias de suprimentos sustentáveis.
o ONGs e Acadêmicos: Facilitar diálogos entre as partes interessadas.
5. Medição e Divulgação de Dados
• Ações prioritárias:
o Indústria: Implementar métricas de impacto ambiental e social.
o Governos: Exigir relatórios padronizados de sustentabilidade.
o Consumidores: Pressionar empresas por mais transparência.
6. Capacitação e Educação
• Ações prioritárias:
o Governos e Indústria: Criar programas de treinamento sobre sustentabilidade.
o Acadêmicos: Desenvolver currículos sobre práticas sustentáveis.
o Consumidores: Informar-se sobre impactos ambientais da moda.
7. Estímulo ao Consumo Sustentável
• Ações prioritárias:
o Governos: Criar incentivos para compras sustentáveis.
o Indústria: Oferecer alternativas de consumo consciente.
o Consumidores: Priorizar produtos de menor impacto ambiental.
8. Financiamento Sustentável
• Ações prioritárias:
o Governos: Criar políticas de incentivo a investimentos sustentáveis.
o Investidores: Direcionar recursos para negócios circulares.
o Indústria: Captar fundos para inovação sustentável.

62
9. Gestão de Resíduos e Fi
m de Vida dos Produtos
• Ações prioritárias:
o Governos: Estabelecer sistemas eficazes de coleta e reciclagem.
o Indústria: Desenvolver produtos com design para reciclagem.
o Consumidores: Praticar descarte responsável e reutilização.

Conclusão
A organização de conferências sobre qualidade do ar e o Dia do Desperdício Zero
representa uma oportunidade crucial para reforçar a conscientização e impulsionar ações
concretas voltadas à sustentabilidade. Ao conectar essas iniciativas a compromissos ambientais
globais e envolver múltiplos setores, é possível promover mudanças significativas na gestão da
poluição do ar e na redução de resíduos.
No entanto, para garantir um impacto duradouro, é essencial adotar estratégias bem
definidas, superar desafios institucionais e estabelecer indicadores claros de sucesso. Somente
por meio de uma abordagem colaborativa, baseada em políticas ambiciosas e ações
coordenadas, será possível avançar na construção de um futuro mais saudável e sustentável
para todos.

63
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Organização Ibero-Americana de
Seguridade Social (OISS) lançam novo Relatório sobre a Saúde e Segurança no
Trabalho na América Latina, sob a perspectiva de gênero

International Labour Organization (ILO) and Ibero-American Social Security


Organization (OISS) launch new Report on Occupational Health and Safety in Latin
America, from a gender perspective

René Mendes

Resumo: Encerrando o mês em que se celebrou o Dia Internacional da Mulher, este artigo
saudou e sintetizou o lançamento do Relatório conjunto lançado pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e Organização Iberoamericana de Seguridade Social (OISS), sobre a Saúde e
Segurança no Trabalho na América Latina, sob a perspectiva de gênero. O robusto documento,
de 90 páginas, ainda disponível apenas em espanhol, aborda questões de elevada relevância
para as lutas das mulheres, ao mesmo tempo em que apresenta e propõe avanços conceituais
e operacionais detalhados, para os profissionais que atuam no campo da Saúde e Segurança no
Trabalho (ou outras denominações equivalentes). Serve como subsídio para os movimentos
sociais e populares, assim como para os sindicatos de trabalhadores. Por sua profundidade e
abrangência, tem validade científica e acadêmica, podendo inspirar e orientar estudos e
pesquisas em torno dos temas abordados. Salientamos e saudamos, também, a feliz iniciativa
de parceria entre a OIT (por meio de seu Escritório Regional para a América Latina e Caribe,
sediado em Lima) e a OISS - Organização Iberoamericana de Seguridade Social, sediada em
Madrid (daí o “ibero”), por se juntarem em tema de tanta relevância e atualidade.

Palavras-chave: Saúde e Segurança dos Trabalhadores; trabalho feminino; trabalho e gênero;


OIT; OISS; América Latina.

Abstract: Closing the month in which International Women's Day was celebrated, this article
welcomed and summarized the launch of the joint report released by the International Labor
Organization (ILO) and the Ibero-American Social Security Organization (OISS) on Occupational
Health and Safety in Latin America from a gender perspective. The robust 90-page document,
still available only in Spanish, addresses issues of great relevance to women's struggles, while
also presenting and proposing detailed conceptual and operational advances for professionals
working in the field of Occupational Health and Safety (or other equivalent denominations). It
serves as a subsidy for social and popular movements, as well as for workers' unions. Due to its
depth and scope, it has scientific and academic validity, and can inspire and guide studies and
research on the topics addressed. We also highlight and welcome the happy partnership initiative
between the ILO (through its Regional Office for Latin America and the Caribbean, based in Lima)
and the Ibero-American Social Security Organization, based in Madrid (hence the “Ibero”), for
coming together on such a relevant and current issue.

Keywords: Workers' Health and Safety; women's work; work and gender; ILO; OISS; Latin
America.

64
Introdução

Com a chamada de “Mais proteção, menos desigualdade: a urgência de uma


perspectiva de gênero na saúde e segurança no trabalho (SST)”6, um novo relatório conjunto,
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Ibero-Americana da
Seguridade Social (OISS), lançado em Lima, em 24 de março deste ano, alerta sobre como os
riscos ocupacionais afetam de forma diferente mulheres e homens na América Latina,
destacando a invisibilidade de setores feminizados, como o trabalho de assistência.

O Relatório conjunto, de 90 páginas, publicado apenas em espanhol, vem assinado pela


Diretora do Escritório Regional da OIT para América Latina e Caribe, a brasileira Ana Virgínia
Moreira Gomes, e pela Secretária Geral da OISS, a colombiana Gina Magnolia Riaño Barón,
destaca como a visão androcêntrica não levou em consideração as diferenças entre homens e
mulheres e as questões de gênero.

O estudo, intitulado Saúde e Segurança no Trabalho sob uma Perspectiva de Gênero:


Desafios e Avanços na América Latina7, revela que a identificação de riscos ocupacionais e
estratégias de prevenção têm priorizado setores tradicionalmente dominados por homens,
negligenciando os desafios que as mulheres enfrentam no local de trabalho. Além disso, os riscos
ocupacionais em setores altamente feminizados e pouco reconhecidos, como aqueles
relacionados ao cuidado e ao trabalho doméstico, permaneceram invisíveis.

Essa falta de reconhecimento se traduz em menos investimento em medidas de


proteção adaptadas às necessidades específicas das trabalhadoras, o que aumenta sua
vulnerabilidade a diversos riscos. Um exemplo claro é a falta de equipamentos de proteção
individual (EPI) adaptados à anatomia feminina, o que aumenta sua vulnerabilidade.

De acordo com estimativas conjuntas da OIT e da Organização Mundial da Saúde (OMS),


86% das mortes por doença cardíaca isquêmica causadas por longas jornadas de trabalho
ocorrem entre homens. Em contraste, as mulheres enfrentam níveis mais altos de ansiedade e
depressão, muitas vezes associados à sobrecarga de trabalho em setores altamente
feminizados, como saúde, educação e assistência.

"As mulheres enfrentam desafios específicos no mundo do trabalho, decorrentes tanto


de desigualdades estruturais quanto de preconceitos de gênero na gestão da saúde e segurança
no trabalho", disse Ana Virgínia Moreira Gomes, Diretora Regional da OIT para a América Latina
e o Caribe. Para garantir ambientes de trabalho seguros, é essencial uma gestão que integre
uma perspectiva de gênero, garantindo que as diferenças entre mulheres e homens sejam
adequadamente reconhecidas e abordadas, reforça a Diretora Regional da OIT.

Além disso, a divisão sexual injusta do trabalho entre homens e mulheres significa que
o trabalho reprodutivo e de cuidados recai principalmente sobre as mulheres, enquanto o

6
https://www.ilo.org/es/resource/news/mas-proteccion-menos-desigualdad-mirada-genero-seguridad-
salud-trabajo
7
https://www.ilo.org/sites/default/files/2025-03/Seguridad-y-salud-en-el-trabajo-con-perspectiva-de-
genero-iberoamerica.pdf

65
trabalho produtivo é realizado pelos homens. Soma-se a isso a sobrerrepresentação de
mulheres em setores menos produtivos, como educação, saúde e trabalho doméstico, com
maiores déficits de emprego digno, o que expõe as trabalhadoras de forma mais aguda a riscos
psicossociais e ergonômicos.

Por sua vez, Gina Magnolia Riaño Barón, Secretária Geral da OISS, enfatizou que "é
imperativo que as políticas de saúde e segurança no trabalho reconheçam as diferenças
biológicas, sociais e culturais entre mulheres e homens para implementar medidas eficazes de
prevenção e proteção. Somente dessa forma podemos reduzir as disparidades de gênero e
promover condições de trabalho dignas para todos".

O Relatório propõe uma série de recomendações importantes para promover a


integração de uma perspectiva de gênero na SST na América Latina, incluindo treinamento em
igualdade de gênero para empregadores e trabalhadores, pesquisa sensível a gênero, maior
representação feminina em comitês de saúde e segurança no trabalho, proteção à maternidade,
estabelecimento de protocolos para casos de violência e assédio e implementação de medidas
preventivas que levem em consideração as diferenças biológicas e outras medidas que facilitem
o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Com esta publicação, a OIT e a OISS reafirmam seu compromisso de continuar


promovendo iniciativas que contribuam para construir ambientes de trabalho mais seguros,
equitativos e inclusivos na América Latina, promovendo a justiça social para todos8.

Prefácio: como as organizações apresentaram o Relatório

Igualdade de gênero e não discriminação, bem como um ambiente de trabalho seguro


e saudável, são direitos e princípios fundamentais no trabalho. Embora tenha havido progresso
significativo na América Latina, ainda há um longo caminho a percorrer para efetivamente
concretizar ambos os direitos.

As mulheres enfrentam desafios específicos no mundo do trabalho, decorrentes tanto


de desigualdades estruturais quanto de preconceitos de gênero na gestão da saúde e segurança
no trabalho (SST). A super-representação de mulheres no setor informal, na economia de
cuidados e em empregos menos produtivos e mal pagos expõe as mulheres a diferentes riscos
ocupacionais que muitas vezes não são adequadamente abordados nas políticas e
regulamentações de SST.

Para que a governança em nível nacional e a gestão de SST em nível empresarial sejam
eficazes, elas devem incorporar plena e transversalmente uma perspectiva de gênero. Não é
possível alcançar a igualdade de gênero no campo da SST sem levar em consideração as
diferenças biológicas, sociais e culturais entre homens e mulheres na avaliação dos riscos
ocupacionais e nas medidas de prevenção e proteção, pois essas diferenças exigem medidas
adaptadas.

As políticas públicas de SST também devem abranger setores com predominância


feminina, a fim de garantir ambientes seguros e saudáveis para todos os trabalhadores.

8
https://www.ilo.org/es/publications/seguridad-y-salud-en-el-trabajo-con-perspectiva-de-genero-
iberoamerica

66
Com o objetivo de fornecer uma análise abrangente da importância da incorporação de
uma perspectiva de gênero na SST na região, esta publicação conjunta aborda os principais
desafios e barreiras que dificultam a aplicação de uma abordagem inclusiva à gestão da SST,
bem como os preconceitos de gênero presentes na identificação e prevenção de riscos
ocupacionais. Da mesma forma, são apresentadas estratégias e recomendações para a gestão
da SST com perspectiva de gênero, promovendo boas práticas implementadas em diversos
países da região.

Esta publicação dedica uma seção especial ao setor de cuidados, que é essencial para o
funcionamento e bem-estar das sociedades, mas que, sendo altamente feminizado, continua a
enfrentar condições de trabalho precárias e falta de reconhecimento de sua profissão e seus
riscos específicos de SST.

O Prefácio retrata a expectativa das duas organizações parceiras: “esperamos que esta
publicação seja uma ferramenta valiosa para formuladores de políticas, empresas, sindicatos,
profissionais de SST e todas as partes interessadas em construir ambientes de trabalho mais
seguros, saudáveis e equitativos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização
Ibero-Americana da Seguridade Social (OISS) reafirmam seu compromisso de continuar
trabalhando para promover a igualdade de gênero no mundo do trabalho e fortalecer a saúde e
a segurança no trabalho, para promover a obtenção de justiça social para todos os
trabalhadores.”

Conheça a amplitude e profundidade do Relatório “Saúde e Segurança no Trabalho sob uma


Perspectiva de Gênero: Desafios e Avanços na América Latina”9

1. Introdução
2. A perspectiva de gênero na segurança e saúde no trabalho (SST)
2.1 Terminologia-chave: “gênero” vs. “sexo” em saúde e segurança no trabalho
2.2 Diferenças na saúde entre mulheres e homens
2.3 Diferenças em segurança e saúde no trabalho entre mulheres e homens
2.4 Panorama da SST a partir de uma perspectiva de gênero na região ibero-americana
3. Preconceito de gênero na gestão da saúde e segurança no trabalho
3.1 Visão androcêntrica na medicina e na gestão da SST
3.2 Identificação de preconceitos de gênero na saúde
3.3 Identificação de preconceitos de gênero em SST
3.4 Impacto diferencial dos riscos ocupacionais na saúde em função do gênero
Expectativa de vida e expectativa de vida saudável
Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais
Doenças cardiovasculares
Distúrbios musculoesqueléticos
Transtornos mentais
Doenças infecciosas
Doenças alérgicas e respiratórias
Doenças causadas pela exposição ao ruído e às vibrações

9
https://www.ilo.org/sites/default/files/2025-03/Seguridad-y-salud-en-el-trabajo-con-perspectiva-de-
genero-iberoamerica.pdf

67
Câncer relacionado ao trabalho
Consequências para a saúde da exposição a riscos químicos
3.5 Saúde reprodutiva, proteção da gravidez e amamentação
3.6 Outras questões relevantes em SST numa perspetiva de gênero
4. Intervenções para a integração da perspectiva de gênero na SST na América Latina
4.1 A abordagem de gênero nas políticas e programas de SST
4.2 A abordagem de gênero na legislação e nas convenções coletivas, e na inspeção do
trabalho
4.3 Abordar a perspectiva de gênero em relação à SST através do diálogo social
4.4 Serviços de saúde ocupacional que incorporem a perspectiva de gênero
Medidas de proteção para mulheres grávidas e lactantes
Vigilância sanitária que aborda diferenças biológicas entre homens e mulheres
Valores limite de exposição
Espaços separados para homens e mulheres no local de trabalho
Medidas preventivas contra a violência e o assédio de gênero
Informação, aconselhamento, formação e sensibilização sobre as diferenças de
gênero na saúde e no trabalho
4.5 Pesquisa
4.6 Medidas para a conciliação da vida profissional e familiar
4.7 Outros
5. Economia do cuidado na América Latina: saúde e segurança no trabalho (SST) sob uma
perspectiva de gênero
5.1 O que é o setor de cuidados?
5.2 Características gerais do setor
5.3 Características de alguns subsetores da economia dos cuidados
5.4 Desafios para a incorporação da perspectiva de gênero na SST na economia do
cuidado na América Latina
5.5 Impacto dos riscos ocupacionais na saúde dos trabalhadores da economia do
cuidado na América Latina
O setor de enfermagem na América Latina
O setor de assistência à infância na América Latina
O setor de cuidados aos idosos na América Latina
O setor do trabalho doméstico na América Latina
5.6 Desafios no reconhecimento de doenças relacionadas ao trabalho na economia do
cuidado na América Latina
5.7 Acesso aos serviços de saúde no trabalho para profissionais da economia do cuidado
na América Latina
5.8 Iniciativas de SST para a economia do cuidado na América Latina
6. Conclusões e recomendações

Síntese das Conclusões e Recomendações do Relatório

Integrar uma perspectiva de gênero envolve considerar sistematicamente as diferentes


situações, condições, aspirações e necessidades de mulheres e homens, incorporando objetivos
e ações específicas para eliminar desigualdades e promover a igualdade em todas as políticas e

68
ações, em todas as etapas de planejamento, implementação e avaliação. No campo da SST, isso
significa abordar as causas subjacentes das desigualdades estruturais de gênero e levar em
consideração as diferenças biológicas entre homens e mulheres na gestão dos riscos
ocupacionais. Para prevenir e minimizar esses riscos, políticas e procedimentos específicos
devem ser implementados, todos os trabalhadores e trabalhadoras devem ser treinados e uma
cultura de trabalho inclusiva e respeitosa deve ser promovida, abordando desafios significativos
no processo (Ver Quadro 1).

Quadro 110 - Alguns desafios para integrar a perspectiva de gênero de forma transformadora
na SST

1. Reconhecimento das diferenças biológicas e desigualdades de gênero: identificar


adequadamente as diferenças na exposição aos riscos ocupacionais entre mulheres e
homens.

2. Coleta e análise de dados desagregados por gênero: a falta desses dados dificulta a
identificação de padrões e áreas de melhoria em SST.

3. Treinamento e conscientização: fornecer treinamento em todos os níveis da


organização sobre a importância da perspectiva de gênero na SST para implementar
políticas e práticas eficazes.

4. Compromisso de longo prazo e mudanças culturais: transformar as normas e


estruturas que perpetuam as desigualdades de gênero exige compromisso sustentado e
mudanças culturais profundas.

5. Participação e representação igualitárias: alcançar a participação igualitária das


mulheres nos comitês de saúde e segurança e na tomada de decisões.

6. Desenvolver políticas inclusivas: criar políticas de SST que considerem as


necessidades específicas de gênero e abordem efetivamente essas diferenças, apesar
de sua complexidade.

7. Avaliação do impacto de gênero: avaliar o impacto de gênero das políticas e práticas


de SST antes de sua implementação para evitar perpetuar desigualdades.

8. Acesso equitativo aos Equipamentos de Proteção Individual (EPI): garantir que os


EPI sejam adequados tanto para mulheres quanto para homens, revisando-os e
adaptando-os conforme necessário.

9. Equilíbrio entre vida profissional e pessoal: promover políticas que permitam o


equilíbrio entre o trabalho e as responsabilidades familiares, reduzindo o estresse e
melhorando a saúde mental.

10. Programas específicos de prevenção e tratamento: desenvolver programas que


levem em consideração as diferenças de gênero na exposição e nos sintomas das
doenças relacionadas ao trabalho.

10
Quadro 19, no original (página 76 do Relatório)

69
A perspectiva de gênero e a abordagem transformadora de gênero são abordagens
complementares que buscam otimizar a SST para todos os trabalhadores, independentemente
de seu gênero. Essas abordagens são essenciais para promover um ambiente de trabalho mais
justo e equitativo.

Uma perspectiva de gênero em SST envolve reconhecer e abordar as diferenças de


gênero na exposição a riscos ocupacionais e na implementação de medidas preventivas. A
abordagem transformadora de gênero para a SST vai além do reconhecimento das
desigualdades de gênero, pois busca modificar as normas, os papéis e as relações de poder que
perpetuam essas desigualdades. Isso envolve transformar estruturas e práticas de trabalho para
promover de forma abrangente a igualdade de gênero.

As medidas de SST sensíveis ao gênero descritas neste documento visam transformar as


condições subjacentes que perpetuam as desigualdades de gênero no local de trabalho por meio
de mudanças estruturais que abordem efetivamente as desigualdades existentes. Estas medidas
estão resumidas abaixo (Ver Quadro 2)

Quadro 211. Medidas para integrar uma perspectiva de gênero transformadora na gestão da SST

PORQUE É UMA MEDIDA


MEDIDA/AÇÃO DESCRIÇÃO TRANSFORMADORA DE
GÊNERO
Garante que as políticas e
Desenvolver, avaliar e Revisar periodicamente as
práticas de SST permaneçam
atualizar instrumentos de políticas e programas nacionais
relevantes e eficazes,
governança em matéria de para garantir sua adequação às
promovendo melhorias
SST, incluindo a sua necessidades das mulheres e sua
contínuas e adaptação às
adequação para responder às capacidade de responder às
necessidades específicas de
necessidades das mulheres desigualdades de gênero e sexo.
gênero.
Garante que as políticas e leis
Desenvolver e implementar levem em consideração as
Legislação com perspectiva de legislação que integre a necessidades específicas de
gênero perspectiva de gênero em todas gênero, promovendo um
as fases da gestão da SST ambiente de trabalho mais
equitativo
Proporciona uma revisão
Realizar auditorias periódicas
contínua e sistemática das
Auditorias de igualdade de para avaliar o cumprimento das
práticas de igualdade de
gênero políticas de igualdade de gênero
gênero, promovendo melhorias
no domínio da SST
constantes
Desenvolver políticas que Promove a saúde e o bem-estar
abordem a saúde reprodutiva de das pessoas trabalhadoras,
Saúde reprodutiva homens e mulheres, incluindo abordando necessidades
acesso a serviços de saúde e específicas
apoio ao planejamento familiar.
Implementar medidas de
Garante a proteção das
proteção da maternidade em
trabalhadoras grávidas e
conformidade com a Convenção
lactantes, promovendo um
Proteção da maternidade n.º 183 e a Recomendação n.º
ambiente de trabalho seguro e
191 e conceder licença-
equitativo
maternidade prolongada e
benefícios adequados

11
Quadro 20 no original (página 77 do Relatório)

70
PORQUE É UMA MEDIDA
MEDIDA/AÇÃO DESCRIÇÃO TRANSFORMADORA DE
GÊNERO
Promover medidas que
permitam às pessoas
equilibrarem suas
responsabilidades profissionais e
Desafios e mudanças nas
familiares, como implementar
expectativas tradicionais de
horários flexíveis e opções de
gênero sobre o trabalho
Equilíbrio entre vida pessoal e teletrabalho, promover a
doméstico e o cuidado familiar,
profissional responsabilidade compartilhada
promovendo uma distribuição
pelas tarefas domésticas e
equitativa
cuidados, além de licenças-
maternidade e paternidade e
outras licenças parentais para
reduzir a dupla carga de
trabalho das mulheres.
Identificar e analisar os riscos Aborda as diferenças de gênero
Avaliação de risco com específicos que afetam mulheres e sexo na exposição ao risco,
perspectiva de gênero e homens de forma diferente no promovendo mudanças
local de trabalho estruturais na avaliação de risco
Áreas de banheiro (sanitários) Fornecer banheiros, lavabos, Previne situações que facilitam
separadas para homens e chuveiros, armários e vestiários o assédio e a violência de
mulheres separados por gênero gênero
Treinar toda a equipe sobre
questões de igualdade de
gênero por meio de programas
de treinamento que incluem
módulos específicos sobre como Transforma a cultura
Formação em igualdade de aplicar uma perspectiva de organizacional integrando a
gênero gênero na gestão de SST. igualdade de gênero na
Integrar módulos em todos os formação contínua
níveis do sistema educacional
nacional, especialmente na
formação profissional e para
profissionais de SST.
Adaptar ferramentas, Promove a igualdade no acesso
equipamentos e espaços de e uso de ferramentas e
trabalho para que sejam equipamentos por meio de
Design ergonômico inclusivo
adequados a todos os design ergonômico inclusivo,
trabalhadores, tendo em conta eliminando barreiras físicas
as diferenças físicas e de gênero baseadas em gênero
Fornecer EPI adequado às Garante que mulheres e
necessidades físicas e de gênero, homens tenham proteção igual,
levando em consideração que desafiando as normas
Equidade no acesso aos EPI
diferentes limites de exposição tradicionais de gênero no
podem ser necessários para fornecimento de EPI
homens e mulheres
Desenvolver programas de Reconhece e aborda as
apoio psicológico que diferenças de gênero na saúde
Promoção da saúde mental
considerem as diferentes mental, promovendo um apoio
com perspectiva de gênero
necessidades e experiências de mais inclusivo
mulheres e homens
Prevenção, proteção e Implementar e reforçar Mudar as normas e práticas
indenização para vítimas de protocolos claros e eficazes para institucionais para proteger as
violência e assédio de gênero prevenir e abordar o assédio e a pessoas da violência de gênero

71
PORQUE É UMA MEDIDA
MEDIDA/AÇÃO DESCRIÇÃO TRANSFORMADORA DE
GÊNERO
violência de gênero no local de
trabalho, com foco nos grupos
mais vulneráveis
Garantir a representação
igualitária das mulheres nos
espaços de diálogo social, tanto
no local de trabalho como na Promove a igualdade de gênero
Promover a participação das
empresa (comitês mistos de SST) na tomada de decisões,
mulheres no diálogo social e
e no nível nacional (órgão transformando a dinâmica de
na negociação coletiva sobre
consultivo tripartite nacional poder no local de trabalho
questões de SST
para abordar questões de SST) e
em espaços regionais/locais
dentro do país ou em espaços
supranacionais.
Realizar campanhas de Mudar as percepções e atitudes
sensibilização sobre a em relação à igualdade de
Campanhas de
importância da igualdade de gênero, promovendo um
conscientização
gênero na SST ambiente de trabalho mais
inclusivo
Estabelecer programas de
Empodera as mulheres e
mentoria para apoiar mulheres
Programas de mentoria e desafiar as barreiras de gênero
em funções de alto risco e
apoio ao desenvolvimento da carreira
promover seu desenvolvimento
e à segurança no emprego
profissional
Coletar e analisar dados de
acidentes do trabalho (AT) e de
doenças relacionadas ao Fornece uma base de
trabalho (DRT)desagregados por evidências para abordar
Análise de dados gênero para identificar padrões desigualdades de gênero e
desagregados por gênero e áreas de melhoria diferenças sexuais, promovendo
Publicar relatórios anuais sobre mudanças políticas informadas.
dados coletados e ações
tomadas para abordar as
desigualdades de gênero.
Exames médicos que levam em
Avaliar os riscos e detecte os
Vigilância em saúde com consideração as diferenças de
sintomas com mais precisão
perspectiva de gênero gênero e sexo na exposição e
sintomas
Tratamento da DRT e Reconhece e aborda as
Tratamento de doenças desenvolvimento e prescrição diferenças de gênero e sexo na
relacionadas ao trabalho de medicamentos que levem em incidência e tratamento da DRT,
(DRT) baseado em gênero consideração as diferenças promovendo cuidados mais
biológicas equitativos e eficazes
Revise e atualize as listas de DRT
para incluir aquelas que afetam Aborda as desigualdades no
desproporcionalmente as reconhecimento e tratamento
Revisão das listas de Doenças mulheres, garantindo o da DRT, promovendo uma
Relacionadas com o Trabalho reconhecimento das diferenças compreensão mais inclusiva e
(DRT) com enfoque de gênero de gênero na exposição e nos equitativa dos riscos
sintomas. Isso inclui considerar ocupacionais
ocupações altamente
feminizadas e doenças dos

72
PORQUE É UMA MEDIDA
MEDIDA/AÇÃO DESCRIÇÃO TRANSFORMADORA DE
GÊNERO
órgãos femininos que podem ter
origens ocupacionais.
Prepara os fiscais do trabalho
Incorporação das questões de
para realizar tarefas de
género na formação dos
controle, de modo que
Inspeção do trabalho com inspetores do trabalho
garantam que as medidas de
perspectiva de gênero Incorporação da perspectiva de
prevenção e proteção sejam
gênero nas atividades de
adequadas tanto para homens
inspeção do trabalho
quanto para mulheres.

Comentários finais

Como comentário final deste artigo, destacamos, em primeiro lugar, a oportunidade e


relevância do tema, cujo Relatório, extremamente robusto e bem fundamentado, passa a se
constituir em referência obrigatória para profissionais de Saúde e Segurança no Trabalho; para
futuros estudos acadêmicos; e, principalmente, como subsídio idôneo e de vanguarda para as
lutas dos movimentos sociais e populares e para o movimento sindical na América Latina. Com
a lembrança que o seu lançamento ainda se deu no mês de março, em que se celebrou o Dia
Internacional da Mulher. Salientamos e saudamos, também, a feliz iniciativa de parceria entre a
OIT (por meio de seu Escritório Regional para a América Latina e Caribe, sediado em Lima) e a
OISS - Organização Iberoamericana de Seguridade Social, sediada em Madrid (daí o “ibero”), por
se juntarem em tema de tanta relevância. Por certo, caberia, também, o apoio e parceria da
CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) e da OPAS (Organização Pan-
Americana da Saúde), entre outras, historicamente preocupadas e engajadas nas mesmas
questões.

73
Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova política migratória global

Something is out of order, out of the new global migration policy

Rafael Gomes França


Caio Murta
Giacomo Gianelli
Giulia Mariano Machado
Júlia Moraes
Marina Sujkowski
Deisy de Freitas Lima Ventura

Abstract

In this report, the Working Group on Migration, Refuge, and Global Health addresses the
intensification of the U.S. anti-immigration policy, which promotes mass deportations and
tightens restrictions, such as the end of birthright citizenship. Repression has also led many
immigrants to return voluntarily, like Venezuelans who crossed Colombia after their asylum
requests were blocked. Additionally, Brazilians are among those affected, with ongoing
deportations and diplomatic concerns over their treatment. In Mexico, the private sector is
attempting to mitigate the impact of deportations by offering 60,000 job openings for
repatriated individuals. Meanwhile, in El Salvador, Trump and Bukele coordinated the
deportation of alleged gang members, sparking criticism over the lack of transparency and risks
of human rights violations. The criminalization of immigration and the increase in deportations
highlight a drastic shift in U.S. migration policy, resulting in significant humanitarian and social
consequences.

Keywords: Mass deportations; Human rights violations; U.S. immigration policy.

Resumo: Neste informe, o Grupo de Trabalho de Migrações, Refúgio e Saúde Global aborda a
intensificação da política anti-imigratória americana, promovendo deportações em massa e
endurecendo restrições, como o fim da cidadania por nascimento. A repressão também levou
muitos imigrantes a retornarem voluntariamente, como os venezuelanos que cruzaram a
Colômbia após o bloqueio de seus pedidos de asilo. Além disso, brasileiros também estão entre
os afetados, com deportações em andamento e questionamentos diplomáticos sobre o
tratamento recebido. No México, o setor privado tenta mitigar os impactos das deportações ao
oferecer 60 mil vagas de emprego para repatriados. Já em El Salvador, Trump e Bukele
coordenaram a deportação de supostos membros de gangues, levantando críticas sobre a falta
de transparência e os riscos de violações de direitos humanos. A criminalização da imigração e
o aumento das deportações evidenciam uma mudança drástica na política migratória dos EUA,
gerando consequências humanitárias e sociais significativas.

Palavras-chave: Deportações em massa; Violações de direitos humanos; Política de imigração


dos EUA.

74
Introdução: Desenrolar das deportações no Governo Trump

O início do segundo governo de Trump nos Estados Unidos já está profundamente


marcado pelo avanço de uma agenda anti-imigratória, com políticas que dão continuidade ao
projeto iniciado em seu primeiro mandato e entregam o que foi prometido em sua campanha
eleitoral. Sob uma suposta ameaça de “invasão” de imigrantes no país, a administração federal
tem articulado diversos órgãos e agências governamentais nos processos de deportação de
residentes ilegais, além de envolver as esferas locais no enforcement das deportações e
detenções¹. Ademais, frente à possibilidade da imposição de sanções e impostos, alguns dos
países latino-americanos com um fluxo expressivo de imigração para os EUA, como o México,
têm acatado o controle migratório, ainda que com ressalvas¹. Além das deportações, a política
migratória de Trump envolve a detenção de migrantes ilegais, inclusive na prisão militar de
Guantánamo, e utilizado cada vez mais as forças armadas para essa finalidade¹. Por fim, Trump
também assinou decreto que proibiu o direito à cidadania por nascimento para filhos de
imigrantes em território estadunidense, o que até então era um direito constitucional e com
jurisprudência da Suprema Corte após um julgamento em 1898².

Estas políticas têm refletido em estatísticas expressivas, mesmo em poucos meses de


governo: entre janeiro e março, a Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, em inglês) prendeu, em
média, 667 pessoas por dia - duas vezes a média do ano anterior³. O número de prisões de
imigrantes sem histórico criminal aumentou 500% no período de janeiro a março de 2025³, e
até o dia 23 de março, o ICE detinha cerca de 48 mil pessoas sob custódia, quase 7 mil acima de
sua capacidade máxima³. No que diz respeito às deportações, os números não se distanciam
muito do visto no governo Biden: no primeiro mês de mandato, foram deportadas cerca de
37.660 pessoas, abaixo da média mensal de 57 mil pessoas com Biden³. Contudo, a retirada do
status de proteção temporária de mais de um milhão de venezuelanos e haitianos, que haviam
sido concedidos durante o governo Biden, amplia de maneira significativa o número de pessoas
que podem ser sujeitas à deportação nos próximos meses³.

Em março, um juiz do distrito de Washington solicitou a interrupção temporária das


deportações de venezuelanos para El Salvador. O governo Trump, em contrapartida ao pedido
do juiz por mais informações sobre as deportações, afirmou que essas tratam-se de um segredo
de Estado⁴. O governo tem utilizado as Leis de Estrangeiros e Sedição (Alien Enemies Act) de
1798, invocada durante a Segunda Guerra Mundial, como um dispositivo legal para respaldar as
expulsões de imigrantes, o que tem sido altamente questionado pelo poder judiciário⁴. No dia
28 de março, o Departamento de Justiça solicitou à Suprema Corte permissão para retomar as
deportações, alegando que as decisões sobre operações dessa natureza recaem somente ao
presidente⁵.

Os impactos do avanço dessas políticas anti-imigratórias de Trump já estão evidentes,


mas devem ter ainda mais desdobramentos ao longo dos quatro anos de seu mandato,
colocando em risco as condições de vida e segurança de milhões de pessoas imigrantes e
refugiadas nos EUA.

Deportação nos EUA

Com o fenômeno crescente das deportações nos EUA, muitos migrantes que antes
buscavam uma nova vida no país agora enfrentam a necessidade de retornar aos seus países de
origem, seja por conta das dificuldades impostas no processo de imigração, seja pela deportação
forçada6,7.

75
Segundo reportagem do El País, entre 15 de janeiro e 28 de fevereiro de 2025, cerca de
1.885 migrantes passaram pela Colômbia a caminho de casa, após não conseguirem permanecer
nos EUA ou no México. A maioria deles são venezuelanos que, depois de meses aguardando
uma resposta através do aplicativo da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP One, em inglês),
tiveram suas esperanças frustradas pela suspensão do programa. Sem alternativas, decidiram
retornar por conta própria, atravessando regiões perigosas e dependendo de serviços informais
de transporte, o que os expõe a riscos como violência, desidratação e fome 6.

Além dos migrantes que optam por voltar, há aqueles que são deportados mesmo após
décadas vivendo nos Estados Unidos. De acordo com a British Broadcasting Corporation (BBC),
Gladys e Nelson González, um casal colombiano que passou 35 anos no país e foi deportado em
fevereiro de 2025, apesar de terem três filhas cidadãs americanas e um histórico sem
antecedentes criminais. Detidos durante uma visita rotineira às autoridades migratórias, foram
enviados de volta à Colômbia sem recursos ou conexões, enfrentando agora o desafio de
recomeçar a vida em um país que há muito tempo não reconheciam como casa7.

Enquanto alguns migrantes decidem voltar devido às dificuldades enfrentadas no


processo de asilo e legalização, outros são deportados sem consideração pelo tempo que
viveram no país ou pelos laços familiares que construíram. Esse cenário expõe milhares de
pessoas a trajetos perigosos e a uma realidade incerta ao retornarem a seus países de origem.

Coordenação de empresários mexicanos abre 60 mil vagas de emprego para repatriados

O CCE (Conselho de Cooperação Empresarial) busca abrir cerca de 60.000 vagas de


emprego para mexicanos deportados dos EUA. Grandes empresas como FEMSA, Walmart e
Grupo Bimbo lideram as ofertas, enquanto o governo de Claudia Sheinbaum busca facilitar a
reintegração dos repatriados por meio de oportunidades de trabalho, assistência social e a
Tarjeta Paisano Bienestar, que oferece um auxílio de 2.000 pesos para o deslocamento da
fronteira até a cidade dos migrantes. Desde o início da nova administração de Trump, o México
já recebeu mais de 24.000 deportados, incluindo estrangeiros.

Os estados com mais vagas disponíveis são Nuevo León, Cidade do México e Estado do
México, com salários variando entre 8.400 e 32.000 pesos mensais, dependendo do cargo e nível
de qualificação.

Para fortalecer a inclusão dos migrantes retornados, o Conselho de Cooperação


Empresarial (CCE) trabalha na criação de uma plataforma digital para facilitar a conexão entre
empregadores e repatriados. O programa conta com o apoio das Secretarias de Governança e
do Trabalho, que promovem as vagas em pontos de repatriação e auxiliam no encaminhamento
dos interessados aos centros de emprego.

A iniciativa busca aproveitar as habilidades dos deportados para fomentar o


desenvolvimento econômico do país, garantindo melhores condições para sua reinserção na
sociedade mexicana.

As deportações do presidente Donald Trump de imigrantes brasileiros na rota da deportação

Por meio de diversas ferramentas, a ideia anti-imigratória proposta pelo presidente


Trump coloca em risco a permanência de milhões de imigrantes que, ao decorrer de anos,
estabeleceram suas vidas no território norte-americano, estando agora em situação de
vulnerabilidade perante o processo de deportação15.

76
Dentre os grupos afetados, é importante destacar a crescente comunidade brasileira,
que frequentemente adentra o território norte-americano possuindo vistos de turista ou
estudante, com o intuito de evitar o perigoso trajeto através da fronteira do México. No período
da administração do presidente democrata Joe Biden, o controle migratório na fronteira sul
tornou-se uma das principais rotas de estratégia para repressão à imigração indocumentada15.

Em 2022, o Departamento de Segurança Interna (DHS, em inglês) estimou que 230 mil
brasileiros vivessem sem permissão nos EUA — o oitavo maior grupo por nacionalidade,
aproximando-se das comunidades colombiana e venezuelana. No ano de 2022, o Departamento
de Segurança Interna (DHS) estimou que cerca de 230 mil brasileiros estavam no território de
forma irregular nos Estados Unidos, estando em oitavo maior grupo nacional presente no país,
próximo às comunidades colombiana e venezuelana15.

Conforme Colleen Putzel, analista de políticas do Instituto de Política Migratória, ainda


que não seja possível mensurar o impacto ou a durabilidade das medidas em questão, é nítido
o esforço para construir bases com o objetivo de ampliar a capacidade de realizar deportações
dentro dos Estados Unidos15.

Logo depois da segunda posse de Donald Trump, o Ministério das Relações Exteriores
(Itamaraty) solicitou esclarecimentos às autoridades dos Estados Unidos com relação à chegada
de brasileiros deportados, que foram algemados e sujeitos a tratamento desumano. Vale
destacar que o uso de algemas nesse contexto não é uma prática inédita15.

O acordo bilateral entre Brasil e Estados Unidos, que avaliza os voos de repatriação de
brasileiros deportados, está em vigor desde o ano de 2018. Segundo o Ministério das Relações
Exteriores, esse acordo possui a intenção de diminuir o período de permanência desses
nacionais nos centros de detenção dos Estados Unidos15. A pasta também afirmou que considera
inadmissível o descumprimento das condições acordadas previamente com o governo norte-
americano14.

Deportações de El Salvador: Trump, Bukele e o cenário de criminalização das migrações

Os Estados Unidos deportaram recentemente 17 indivíduos acusados de envolvimento


com gangues como a Tren de Aragua, da Venezuela, e a MS-13, de El Salvador. A operação,
conduzida pelo governo Trump, resultou no envio de dez salvadorenhos e sete venezuelanos
para El Salvador, muitos deles anteriormente detidos na base de Guantánamo. As autoridades
justificaram a deportação como uma "operação antiterrorista", alegando que os deportados
representavam ameaças graves à segurança pública. No entanto, a falta de transparência no
processo levanta questionamentos sobre a legitimidade das acusações e a segurança dos
deportados ao serem enviados a um país com um sistema penitenciário sobrecarregado e
conhecido por violações de direitos humanos.10 11

A colaboração entre os governos de Donald Trump e Nayib Bukele nessas deportações


reflete uma aliança polêmica que, em nome da segurança, pode estar atropelando direitos
fundamentais. Bukele, que adotou uma postura de tolerância zero contra as gangues, aceitou
os deportados, utilizando a operação para reforçar sua imagem de líder forte. Contudo,
especialistas alertam que muitos deportados podem ser condenados sem um julgamento
adequado ou serem incorporados a um sistema prisional que já tem histórico de abuso e tortura.
Além disso, a rapidez das deportações e a falta de verificação individualizada dos casos sugerem
que nem todos os deportados têm, de fato, ligações com o crime organizado, o que amplia os
riscos de injustiça e violação de direitos.12 13

77
Essa estratégia também representa um perigo maior ao reforçar um discurso político
que criminaliza migrantes em geral, utilizando a narrativa de combate ao crime como pretexto
para endurecer políticas imigratórias e ampliar deportações arbitrárias. A lógica de associar
migração à criminalidade cria um ambiente propício para a perseguição de migrantes
vulneráveis, especialmente latino-americanos, sem que haja uma análise criteriosa de cada caso.
Ao alimentar estereótipos e políticas repressivas, essa prática pode aprofundar crises
humanitárias e colocar milhares de migrantes em risco.

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El Salvador. The New York Times, 31 mar. 2025. Disponível em:
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14. DW. Brasil cobrará EUA por trato "degradante" a brasileiros. Disponível em:
https://www.dw.com/pt-br/brasil-cobrar%C3%A1-eua-por-trato-degradante-a-brasileiros/a-
71410597. Acesso em: 1 abr. 2025.
15. DW. Como Trump joga imigrantes brasileiros na rota da deportação. Disponível em:
https://amp.dw.com/pt-br/como-trump-joga-imigrantes-brasileiros-na-rota-da-
deporta%C3%A7%C3%A3o/a-71581590. Acesso em: 1 abr. 2025.

79
69ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Condição da Mulher
69th session of the UN Commission on the Status of Women
69ª sesión de la Comisión de las Naciones Unidas sobre la Condición de la Mujer

Maria Teresa Rossetti Massari


Priscilla Paiva Gê Vilella dos Santos
Maria Auxiliadora Souza Mendes Gomes

Resumo: A 69ª Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW69), realizada em março de 2025 na
sede da ONU, reafirmou compromissos globais com a igualdade de gênero. Neste escrito,
destacamos a Declaração Política adotada e outros documentos oficiais, e abordamos a
participação do Brasil, liderado pela ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Apresentamos
também o relatório Direitos das Mulheres em Revisão: 30 anos após Pequim, da ONU Mulheres,
que analisa avanços e desafios desde a Declaração de Pequim, incluindo retrocessos
democráticos, violência e desigualdade econômica. O estudo aponta a necessidade de ações
urgentes em financiamento, tecnologia, participação política e justiça climática. Por fim,
trazemos uma declaração conjunta da ONU que alerta para ameaças à redução da mortalidade
infantil e natimortos devido a cortes no financiamento global. A falta de recursos compromete
serviços essenciais, como vacinação e assistência ao parto, impactando regiões vulneráveis. A
ONU pede mais investimentos e ações coordenadas para garantir a sobrevivência materna e
infantil.
Palavras-chave: Igualdade de Gênero; Direitos da Mulher; Saúde Materna; Mortalidade Infantil;
Políticas Públicas de Saúde.

Abstract: The 69th Commission on the Status of Women (CSW69), held in March 2025 at the UN
headquarters, reaffirmed global commitments to gender equality. In this report, we highlight the
Political Declaration adopted and other official documents, as well as the participation of Brazil,
led by the Minister of Women, Cida Gonçalves. We also present the report Women’s Rights in
Review: 30 Years After Beijing, by UN Women, which analyzes progress and challenges since the
Beijing Declaration, including democratic setbacks, violence, and economic inequality. The study
points to the urgent need for action in financing, technology, political participation, and climate
justice. Finally, we bring a joint UN statement warning about threats to reducing child mortality
and stillbirths due to cuts in global funding. The lack of resources compromises essential services
such as vaccination and childbirth assistance, impacting vulnerable regions. The UN calls for
increased investments and coordinated actions to ensure maternal and child survival.
Key words: Gender Equity; Women's Rights; Maternal Health; Infant Mortality; Health Policy.

Resumen: La 69ª Comisión sobre la Condición de la Mujer (CSW69), celebrada en marzo de 2025
en la sede de la ONU, reafirmó los compromisos globales con la igualdad de género. En este
informe, destacamos la Declaración Política adoptada y otros documentos oficiales, así como la
participación de Brasil, liderada por la ministra de las Mujeres, Cida Gonçalves. También
presentamos el documento Derechos de las Mujeres en Revisión: 30 años después de Beijing, de
ONU Mujeres, que analiza los avances y desafíos desde la Declaración de Beijing, incluyendo
retrocesos democráticos, violencia y desigualdad económica. El estudio señala la necesidad
urgente de acciones en financiación, tecnología, participación política y justicia climática. Por
último, presentamos una declaración conjunta de la ONU que advierte sobre amenazas a la

80
reducción de la mortalidad infantil y los mortinatos debido a recortes en la financiación global.
La falta de recursos compromete servicios esenciales como la vacunación y la asistencia en el
parto, afectando a regiones vulnerables. La ONU hace un llamado a mayores inversiones y
acciones coordinadas para garantizar la supervivencia materna e infantil.
Palabras-clave: Equidad de Género; Derechos de la Mujer; Salud Materna; Mortalidad Infantil;
Políticas Públicas de Salud.

69ª Comissão sobre a Situação da Mulher

A 69ª Comissão Anual sobre a Situação da Mulher (CSW69) é o maior encontro anual da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre igualdade de gênero e empoderamento das
mulheres, e ocorreu entre os dias 10 e 21 de março de 2025, na sede das Nações Unidas, em
Nova York (EUA). O tema principal da agenda foi a revisão e avaliação da implementação da
Declaração e Plataforma de Ação de Pequim e os resultados da 23ª sessão especial da
Assembleia Geral.

A Comissão da 69ª sessão da CSW foi composto pelos seguintes membros:

• Abdulaziz M. Alwasil (Arábia Saudita), Presidente, Grupo dos Estados da Ásia e do


Pacífico
• Maritza Chan Valverde (Costa Rica), Vice-presidente, Grupo dos Estados da América
Latina e do Caribe
• Robin Maria de Vogel (Países Baixos), Vice-presidente designada, Grupo dos Estados da
Europa Ocidental e Outros Estados
• Dúnia Eloisa Pires do Canto (Cabo Verde), Vice-presidente, Grupo dos Estados Africanos
• Nataliia Mudrenko (Ucrânia), Vice-presidente, Grupo dos Estados da Europa Oriental

Na abertura da seção, os Estados-Membros adotaram declarações políticas fortes, com


compromissos de respeitar, proteger e promover os direitos, a igualdade e o empoderamento
de todas as mulheres e meninas. Sima Bahous, Subsecretária Geral e Diretora Executiva da ONU
Mulheres, disse: “Enfrentar os desafios e oportunidades da igualdade de gênero exige ação
coletiva e decisiva em todos os Estados-Membros, agora mais do que nunca. Em um momento
em que ganhos arduamente conquistados pela igualdade de gênero estão sob ataque, a
comunidade global se uniu em uma demonstração de unidade para todas as mulheres e
meninas, em todos os lugares”. (Para acessar o discurso completo, clique aqui)

A Declaração Política adotada na CSW69 reafirma os compromissos da Declaração e


Plataforma de Ação de Pequim, originalmente adotada em 1995 na Quarta Conferência Mundial
sobre Mulheres, enfatizando a necessidade de defender todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais para todas as mulheres e meninas, sem exceção. Ela reforça os compromissos
com as mulheres, a paz e a segurança, enfatizando a necessidade de integrar as vozes e a
liderança das mulheres em todos os estágios de prevenção e resolução de conflitos e construção
da paz. Ela ressalta a importância de erradicar a pobreza em todas as suas formas, inclusive por
meio da garantia do direito das mulheres e meninas à educação, especialmente em áreas STEM
(ciência, tecnologia, engenharia e matemática), aumentando os investimentos públicos em
sistemas de assistência. Reconhecendo o vasto potencial da tecnologia, ele destaca a
necessidade de acabar com a exclusão digital de gênero e pede investimentos renovados em
estatísticas e dados de gênero para impulsionar a formulação de políticas pautadas em dados.

81
A Declaração renova o compromisso dos Estados-Membros em eliminar todas as formas
de violência contra mulheres e meninas, incluindo formas emergentes como violência digital,
assédio online e cyberbullying. Além disso, reconhece que alcançar progresso nessas áreas
requer recursos e financiamento substanciais. Ela pede sistemas nacionais fortalecidos,
mecanismos femininos e mecanismos internacionais, incluindo uma Comissão sobre a Situação
da Mulher (CSW) revitalizada, para acelerar os esforços de igualdade de gênero globalmente.

Bahous, acrescentou: “Nenhuma nação alcançou totalmente a igualdade de gênero.


Esta Declaração ousada deixa claro que os governos do mundo reconhecem 2025 como um
momento crucial, onde as promessas feitas há 30 anos não podem mais ser adiadas. É um
trampolim para garantir que cumpramos nossos compromissos com a igualdade de gênero e o
empoderamento das mulheres para todas as mulheres e meninas, em todos os lugares, e que o
façamos juntas”.

Documentação oficial da CSW69

Embora a declaração política já esteja disponível, o relatório final completo da CSW69,


que fornecerá um resumo detalhado das discussões, atividades e conclusões da sessão, ainda
não foi publicado.

Além da declaração política mencionada, a Comissão também adotou resoluções,


incluindo uma sobre a libertação de mulheres e crianças feitas reféns em conflitos armados,
condenando tais atos e instando todas as partes a respeitarem plenamente o direito
internacional humanitário. Outra resolução abordou o programa de trabalho plurianual da
Comissão, estabelecendo temas prioritários para as próximas sessões. Os temas prioritários para
o quadriênio 2026-2029:

- 2026: “Transformando os sistemas de assistência: rumo ao desenvolvimento


sustentável, à igualdade de gênero e ao empoderamento de todas as mulheres e
meninas e à aceleração da implementação da Agenda 2030”;
- 2027: “Igualdade de gênero, empoderamento de todas as mulheres e meninas e seus
direitos humanos em todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: avaliando o
progresso em direção à implementação da Agenda 2030”;
- 2028: “Promovendo a igualdade de gênero, a liderança e o empoderamento das
mulheres em emergências humanitárias: um apelo à ação global; e
- 2029: “Fortalecer o acesso das mulheres à justiça e eliminar leis discriminatórias”.

Atualmente, os documentos oficiais da 69ª Sessão da Comissão sobre a Situação da


Mulher (CSW69) incluem:

• Agenda provisória e anotações: detalha os tópicos planejados para discussão durante


a sessão.
• Organização proposta dos trabalhos: apresenta o cronograma sugerido para as
atividades da sessão.
• Relatório sobre aspectos normativos do trabalho da ONU Mulheres: fornece
informações sobre as diretrizes e normas seguidas pela entidade.
• Revisão e avaliação da implementação da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim
e dos resultados da 23ª sessão especial da Assembleia Geral: oferece uma análise do
progresso e desafios enfrentados na implementação desses documentos fundamentais.

82
• Propostas sobre os temas prioritários e de revisão para 2026 e anos subsequentes:
sugere áreas de foco para futuras sessões da comissão.
• Guia de discussão para o segmento ministerial: serve como referência para os debates
entre ministros durante a sessão.
• Relatório sobre as atividades do Fundo Fiduciário das Nações Unidas em Apoio a Ações
para Eliminar a Violência contra as Mulheres: apresenta as iniciativas e resultados
alcançados pelo fundo.
• Resultados das 88ª e 89ª sessões do Comitê para a Eliminação da Discriminação contra
as Mulheres: resume as conclusões e recomendações dessas sessões.

Para acessar na íntegra esses documentos, clique aqui.

Brasil na CSW69

O Brasil teve participação ativa na CSW69, com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves,
liderando a delegação brasileira. Em seu discurso na abertura da sessão, a ministra ressaltou os
desafios e conquistas do país na promoção da igualdade de gênero, abordando temas como
igualdade salarial, enfrentamento à violência contra mulheres e respeito à diversidade.

Além disso, o Ministério das Mulheres organizou eventos paralelos durante a sessão,
incluindo debates sobre a participação das mulheres na Aliança Global contra a Fome e a
Pobreza e os desafios para enfrentar a misoginia online.

O setor empresarial brasileiro também se destacou, com o Pacto Global da ONU – Rede
Brasil lançando os "Diálogos de Direitos Humanos e Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI)"
durante a CSW69. Essa iniciativa visa promover ambientes corporativos mais inclusivos e
fortalecer o compromisso com os direitos humanos.

A CSW69 também contou com a participação ativa da sociedade civil brasileira. O


Ministério das Mulheres incentivou organizações a se credenciarem para o evento, reforçando
a importância da colaboração entre governo e sociedade na promoção da igualdade de gênero.

Essas publicações refletem o compromisso contínuo do Brasil e da comunidade


internacional com a implementação dos objetivos estabelecidos na Declaração e Plataforma de
Ação de Pequim, buscando avanços significativos na igualdade de gênero e no empoderamento
das mulheres.

Direitos das mulheres em revisão: 30 anos após Pequim

Em preparação a CSW69, a Organização das Nações


Unidas publicou o relatório que revisa os 30 anos da Declaração e
Plataforma de Ação de Pequim, reunindo análises globais,
regionais e nacionais de 159 países. O documento sintetiza os
avanços alcançados e aponta as prioridades para ações futuras. Ele
revela que, embora muitos países tenham avançado na promoção
da igualdade de gênero e no empoderamento das mulheres —
com destaque para a proibição da discriminação no trabalho e a
adoção de planos climáticos sensíveis ao gênero — a discriminação
de gênero ainda está profundamente enraizada em todas as

83
sociedades e economias, restringindo os direitos e as aspirações
de mulheres e meninas.

Em 1995, 189 governos adotaram por unanimidade a Declaração e a Plataforma de Ação


de Pequim. Ela se tornou uma agenda abrangente para a igualdade de gênero e os direitos
humanos de todas as mulheres e meninas, sendo essencial para sociedades mais pacíficas,
prósperas e inclusivas. A Plataforma de Ação de Pequim foi adotada em um momento de
esperança e solidariedade, quando as instituições democráticas e de direitos humanos estavam
se fortalecendo, e os movimentos sociais estavam em ascensão, lutando por direitos e justiça.

No entanto, o trigésimo aniversário ocorre em um ano repleto de desafios: economias


frágeis, emergência climática, níveis sem precedentes de conflitos armados e crises
humanitárias, erosão democrática e reação contra a igualdade de gênero. Sob a liderança do
Secretário-Geral da ONU, foi realizada uma revisão global sobre o progresso e os obstáculos à
igualdade de gênero, com base em revisões globais, regionais e nacionais de 159 países. O
resumo a seguir apresenta os principais avanços e lições aprendidas, bem como as ações
urgentes necessárias.

Passos importantes e principais obstáculos

A revisão confirma que, nos últimos cinco anos, os países avançaram em diversas áreas,
como igualdade de gênero, direitos e empoderamento das mulheres. Cerca de 88%
promulgaram leis e estabeleceram serviços para erradicar a violência contra mulheres e
meninas. A maioria proibiu a discriminação no emprego e 44% estão melhorando a qualidade
da educação e da formação para mulheres e meninas. Mais países do que nunca consideram o
impacto da degradação ambiental sobre mulheres e meninas, incorporando a igualdade de
gênero nos planos de ação climática. No entanto, a discriminação de gênero ainda persiste nas
estruturas das economias e sociedades, perpetuando desigualdades de poder e recursos e
limitando o progresso nos direitos das mulheres. O enfraquecimento das instituições
democráticas está acompanhado de um retrocesso na igualdade de gênero, com atores anti-
direitos minando o consenso sobre questões essenciais dos direitos das mulheres. Onde não
conseguem reverter ganhos legais, tentam bloquear ou retardar sua implementação. Quase um
quarto dos países relataram que a reação contra a igualdade de gênero está prejudicando a
implementação da Plataforma de Ação de Pequim.

• Leis - Entre 1995 e 2024, 1.531 reformas legais em todo o mundo buscaram promover
a igualdade de gênero. No entanto, as mulheres ainda têm apenas 64% dos direitos
legais dos homens.
• Representação- A proporção de mulheres nos parlamentos mais do que dobrou desde
1995. No entanto, atualmente, quase 3/4 dos parlamentares ainda são homens e
apenas 87 países já foram liderados por uma mulher.
• Pobreza - 10% das mulheres e meninas vivem em lares extremamente pobres. A
proporção sobe para 24% entre mulheres de 18 a 34 anos, que são as mais propensas a
ter filhos pequenos.
• Violência - uma mulher ou menina é morta a cada 10 minutos por um parceiro ou
membro de sua própria família.
• Conflitos - Desde 2022, os casos de violência sexual relacionada a conflitos aumentaram
50%. Mulheres e meninas sofrem 95% desses crimes.

84
• Educação - Meninas superam os meninos nas taxas de conclusão do ensino secundário
em muitas regiões. No entanto, na África Subsaariana e no Sul e Centro da Ásia, ainda
há grandes lacunas; 59,5 milhões de meninas adolescentes são privadas desse direito
fundamental.
• Trabalho - As lacunas de gênero no trabalho estão estagnadas há décadas. Globalmente,
entre pessoas de 25 a 54 anos, 63% das mulheres estão na força de trabalho, em
comparação com 92% dos homens. As mulheres ainda fazem 2,5 vezes mais trabalho de
cuidado não remunerado do que os homens.
• Digital - Globalmente, a proporção de mulheres usando a internet aumentou de 50%
para 65% entre 2019 e 2024. No entanto, em 2024, 277 milhões de homens a mais do
que mulheres usaram a internet. A tecnologia digital e a inteligência artificial espalham
estereótipos prejudiciais, enquanto a lacuna digital de gênero limita as oportunidades
das mulheres.
• Casamento infantil - Entre 2003 e 2023, a proporção de mulheres casadas ainda crianças
diminuiu de 24% para 19%. No entanto, os avanços para evitar o casamento infantil
foram 3 vezes maiores nas famílias mais ricas do que nas mais pobres.
• Mortalidade materna - Apesar de uma redução de um terço globalmente entre 2000 e
2015, a taxa de mortalidade materna permaneceu quase inalterada desde então. Em
2015, a taxa foi de 227 mortes por 100.000 nascidos vivos e 223 em 2020.
• Proteção social - A proporção global de mulheres recebendo pelo menos um benefício
de proteção social aumentou em um terço entre 2010 e 2023. Mesmo assim, 2 bilhões
de mulheres e meninas não tinham cobertura de proteção social alguma em 2023.
• Planejamento familiar - De 1995 a 2024, as jovens mulheres de 15 a 24 anos
testemunharam o aumento mais rápido no acesso ao planejamento familiar moderno.
No entanto, com apenas 2/3 da necessidade atendida, elas ainda ficam atrás de todos
os outros grupos etários.
• Financiamento - Em 2021–2022, 42% da assistência oficial para o desenvolvimento
bilateral alocável fez da igualdade de gênero um objetivo político. Isso representou uma
queda em relação a 45% em 2019–2020. Apenas 4% da ajuda foi destinada a programas
com igualdade de gênero como objetivo principal.

Um mundo em crise afeta o progresso

A COVID-19 agravou as desigualdades de gênero, e os conflitos e outras crises


intensificaram-se desde então, com mais mulheres vivendo próximas a zonas de conflito do que
nunca. A emergência climática continua a crescer, com 54% dos países a considerando um
obstáculo para o progresso. Ao mesmo tempo, a polarização política torna a reação contra a
igualdade de gênero ainda mais aguda, enquanto a sociedade civil enfrenta crescente pressão.
A rápida expansão das tecnologias digitais, com seu enorme potencial e ameaças ainda pouco
regulamentadas, incluindo novas formas de violência contra mulheres e meninas, também é um
desafio. Em um mundo onde os fluxos financeiros chegam a trilhões de dólares, os
investimentos em igualdade de gênero continuam muito aquém do necessário para mudanças
transformadoras.

Diante de tantas crises, mulheres e meninas seguem sendo as primeiras a responder,


enfrentando perdas de empregos, taxas mais altas de violência de gênero e sobrecarregadas

85
com trabalho de cuidado não remunerado. As mulheres defensoras da paz e dos direitos
humanos continuam sua luta, apesar do aumento das agressões contra elas na vida pública,
tanto online quanto offline.

A igualdade de gênero deve beneficiar todas as mulheres e meninas

Apesar dos desafios, os avanços registrados na Plataforma de Ação de Pequim mostram


que progressos são possíveis em todos os países e regiões. As revisões nacionais demonstram o
compromisso contínuo dos governos e revelam novas oportunidades para alcançar a igualdade
de gênero e garantir os direitos das mulheres e meninas. Inovações promissoras estão surgindo,
como sistemas de cuidado integrado e programas de educação para meninas em áreas como
ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), além de defesas para a justiça climática
feminista. Movimentos feministas vibrantes estão unidos e determinados, com uma nova
geração de ativistas jovens impulsionando o progresso, inclusive por meio do ativismo digital. A
igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, conforme descrito na Plataforma de
Ação de Pequim, têm efeitos multiplicadores significativos em sociedades e economias. Esses
princípios são a base para um mundo mais justo e igualitário, como previsto nos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Através da plataforma, essa compreensão se solidificou e,
com o esforço contínuo de pessoas e parceiros ao redor do mundo, está ganhando força.

Cinco prioridades para acelerar o progresso e preparar o futuro

A revisão global de progresso definiu cinco recomendações essenciais para alcançar a


Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim para todas as mulheres e meninas:

1. Fechar a lacuna de responsabilidade - Fortalecer as instituições responsáveis por


coordenar a ação política sobre igualdade de gênero, colocar o gênero no centro de
todas as políticas e programas e melhorar os dados para medir mudanças.
2. Dar voz às mulheres - Garantir participação e influência igualitária na tomada de
decisões em todos os níveis, inclusive para grupos marginalizados de mulheres e
meninas, e abrir e proteger espaços para a atuação de grupos feministas.
3. Fechar a lacuna de financiamento - Fazer investimentos catalisadores por meio de
medidas nacionais, como orçamentos alinhados com a igualdade de gênero e tributação
progressiva, e realinhar os sistemas financeiros globais com base na equidade e
solidariedade.
4. Aproveitar a tecnologia - Fechar as lacunas digitais de acesso e benefícios, garantir que
mulheres e meninas liderem as revoluções digitais e de inteligência artificial e mitigar
os riscos de violência de gênero facilitada pela tecnologia, violações de privacidade e
preconceitos.
5. Garantir serviços e infraestruturas resilientes - Estabelecer sistemas de prevenção e
resposta a crises inclusivos de gênero, para evitar retrocessos nos direitos das mulheres
e meninas e priorizar a igualdade de gênero em ações humanitárias.

O relatório propõe uma nova Agenda de Ação Pequim+30, concentrando-se em:

1. Uma revolução digital para todas as mulheres e meninas: garantir acesso igualitário à
tecnologia, equipar mulheres e meninas para liderar em IA e inovação digital e garantir
sua segurança e privacidade online.

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2. Liberdade da pobreza: investir em proteção social abrangente, cobertura universal de
saúde, educação e serviços de assistência robustos para que mulheres e meninas
prosperem e possam criar milhões de empregos verdes e decentes.
3. Zero violência: adotar e implementar legislação para acabar com a violência contra
mulheres e meninas, em todas as suas formas, com planos bem financiados que incluam
suporte para organizações comunitárias na linha de frente de resposta e prevenção.
4. Poder de decisão total e igual: incorporar medidas especiais temporárias como cotas
de gênero, que já provaram sua eficácia em aumentar rapidamente a participação das
mulheres.
5. Paz e segurança: financiar integralmente os planos nacionais sobre mulheres, paz e
segurança e ajuda humanitária sensível ao gênero são essenciais. As organizações
femininas da linha de frente, muitas vezes as primeiras a responder a crises, devem
receber financiamento dedicado e sustentado para construir uma paz duradoura.
6. Justiça climática: priorizar os direitos das mulheres e meninas na adaptação climática,
centralizar sua liderança e conhecimento e garantir que elas se beneficiem de novos
empregos verdes.

O fundamento dessas seis Ações é colocar mulheres e meninas jovens no centro de


todos os esforços como a melhor maneira de garantir o sucesso, tanto hoje quanto amanhã.

Para acessar o relatório completo, clique aqui.

DECLARAÇÃO CONJUNTA - Décadas de progresso na redução de mortes infantis e natimortos


estão sob ameaça, alerta a ONU

O número de mortes de crianças menores de cinco anos caiu para 4,8 milhões em 2023,
enquanto os natimortos diminuíram modestamente, permanecendo em torno de 1,9 milhão, de
acordo com dois novos relatórios divulgados pelo Grupo Interagência da ONU para Estimativa
da Mortalidade Infantil (UN IGME12).

Desde o ano 2000, as mortes infantis caíram mais de 50%, e os natimortos reduziram
mais de um terço, impulsionados por investimentos sustentados na sobrevivência infantil em
todo o mundo. Em 2022, o mundo atingiu um marco histórico quando as mortes infantis caíram
para menos de 5 milhões pela primeira vez. No entanto, o progresso desacelerou, e muitas
crianças ainda morrem devido a causas preveníveis.

Décadas de avanços na sobrevivência infantil agora estão em risco, pois grandes


doadores anunciaram ou indicaram cortes significativos no financiamento de ajuda. A redução
do financiamento global para programas vitais de sobrevivência infantil está gerando escassez
de profissionais de saúde, fechamento de clínicas, interrupção de programas de vacinação e
falta de suprimentos essenciais, como tratamentos contra a malária. Esses cortes estão

12
Sobre o UN IGME - O Grupo Interagência da ONU para Estimativa da Mortalidade Infantil, ou UN IGME,
foi criado em 2004 com o objetivo de compartilhar dados sobre a mortalidade infantil, aprimorar os
métodos de estimativa, relatar progressos e aumentar a capacidade dos países de produzir estimativas
oportunas da mortalidade infantil. O UN IGME é liderado pela UNICEF e inclui a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o Banco Mundial e a Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e
Sociais da ONU.

87
impactando fortemente regiões em crises humanitárias, países endividados e áreas com altas
taxas de mortalidade infantil. A redução do financiamento global também pode prejudicar os
esforços de monitoramento e acompanhamento, dificultando o alcance das crianças mais
vulneráveis, alertou o Grupo.

Mesmo antes da atual crise de financiamento, o ritmo de progresso na sobrevivência


infantil já havia desacelerado. Desde 2015, a taxa anual de redução da mortalidade infantil
diminuiu em 42%, e a redução dos natimortos desacelerou em 53%, comparado ao período de
2000–2015.

Quase metade das mortes de crianças menores de cinco anos ocorre no primeiro mês
de vida, principalmente devido ao nascimento prematuro e complicações no parto. Após o
período neonatal, doenças infecciosas, incluindo infecções respiratórias agudas, como
pneumonia, malária e diarreia, são as principais causas de morte infantil evitável. Por sua vez,
45% dos natimortos tardios ocorrem durante o trabalho de parto, muitas vezes devido a
infecções maternas, trabalho de parto prolongado ou obstruído, e falta de intervenção
oportuna.

O acesso a cuidados de saúde materna, neonatal e infantil de qualidade em todos os


níveis do sistema de saúde salvaria muitas outras vidas, de acordo com os relatórios. Isso inclui
cuidados preventivos de promoção da saúde nas comunidades, visitas oportunas às unidades
de saúde e aos profissionais de saúde no parto, cuidados de qualidade durante a gestação e pós-
parto, cuidados preventivos de saúde infantil, como vacinação de rotina e programas
abrangentes de nutrição, diagnóstico e tratamento de doenças infantis prevalentes, além de
cuidados especializados para recém-nascidos pequenos e doentes.

Os relatórios também mostram que o local de nascimento de uma criança influencia


fortemente suas chances de sobrevivência. O risco de morte antes dos cinco anos é 80 vezes
maior no país com maior taxa de mortalidade do que no país com menor taxa de mortalidade.
Por exemplo, uma criança nascida na África Subsaariana tem, em média, 18 vezes mais chances
de morrer antes de completar cinco anos do que uma nascida na Austrália e Nova Zelândia
(Figura 1). Dentro dos países, as crianças mais pobres, as que vivem em áreas rurais e as cujas
mães possuem menor nível educacional enfrentam maiores riscos.

Figura 1 – Taxa de Mortalidade Infantil e Neonatal (mortes por 1.000 nascidos vivos) por país
(2023).

Taxa de Mortalidade Infantil Taxa de mortalidade neonatal

88
As disparidades nos natimortos são igualmente graves, com quase 80% ocorrendo na
África Subsaariana e no Sul da Ásia, onde as mulheres têm de seis a oito vezes mais chances de
sofrer um aborto do que as mulheres na Europa ou na América do Norte (Figura 2).

Figura 2 – Número (em milhares) de natimortos, por região e grupo de renda nacional (2000 e
2021).

Os membros do UN IGME fazem um apelo aos governos, doadores e parceiros dos


setores público e privado para proteger os avanços arduamente conquistados na salvaguarda
da vida das crianças e acelerar os esforços. Investimentos aumentados, integração de serviços e
inovações são urgentemente necessários para expandir o acesso a serviços comprovados de
saúde, nutrição e proteção social que salvam vidas para crianças e mães grávidas.

Links de acesso aos relatórios: Níveis e Tendências na Mortalidade Infantil.

Outras referências

UN Women. CSW69 / Beijing+30 (2025). March 2025. Available: https://www.unwomen.org/en/how-we-


work/commission-on-the-status-of-women/csw69-2025
UN Women. As the 69th Commission on the Status of Women opens, Member States adopt strong
Political Declaration, committing to respect, protect and promote rights, equality and empowerment for
all women and girls. March 2025. Available: https://www.unwomen.org/en/news-
stories/statement/2025/03/as-the-69th-commission-on-the-status-of-women-opens-member-states-
adopt-strong-political-declaration-committing-to-respect-protect-and-promote-rights-equality-and-
empowerment-for-all-women-and-girls.
UN Women. One in four countries report backlash on women’s rights in 2024. Available:
https://www.unwomen.org/en/news-stories/press-release/2025/03/one-in-four-countries-report-
backlash-on-womens-rights-in-2024.

89
Agenda movimentada no campo da nutrição global: novo fôlego para a Década de
Ação sobre a Nutrição a partir do enfrentamento da fome e da má nutrição global

Eduardo Nilson
Denise Oliveira

Resumo. Nesse informe, discutimos as diferentes movimentações recentes no campo da


segurança alimentar e nutricional global, incluindo as atividades da Aliança Global Contra a
Fome, a realização da Cúpula Nutrição para o Crescimento (Nutrition for Growth) e a
prorrogação do término da Década de Ação sobre a Nutrição das Nações Unidas para 2030.
Todas as iniciativas são muito bem-vindas, mas necessitam ser articuladas para evitar o risco de
fragmentação de ações e compromissos.

Conforme discutimos no Caderno 16 de 2024, cujo informe teve como título


“Perspectivas para a Década de Ação sobre a Nutrição na Assembleia Geral das Nações Unidas
(AGNU): perdemos o fôlego na reta final?”, estava previsto para o final de 2025 o término da
Década de Ação das Nações Unidas sobre a Nutrição, contudo no dia 25 de março, estender sua
vigência até 2030, alinhando-se temporalmente com os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável.

A prorrogação veio a partir de uma resolução proposta pelo Brasil e pela França, com
mais de 100 copatrocínios (e um único voto contrário, dos Estados Unidos da América), tendo
como objetivo maior o impulso político em todos os níveis para erradicar todas as formas de má
nutrição, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030
das Nações Unidas.

Não é coincidência que, nessa mesma semana, aconteceu em Paris, França, a nova
Cúpula Nutrição para o Crescimento (Nutrition for Growth – N4G), uma iniciativa paralela aos
compromissos globais de nutrição, conduzida pelos países sede dos Jogos Olímpicos, e que
busca a construção de mais compromissos entre múltiplos parceiros, incluindo entes privados.
Há, nesse sentido, alguns diferenciais que permeiam a atual cúpula, na medida em que ela
reforça a priorização das ações contra a fome e desnutrição global a partir da Aliança Global
para a Redução da Fome, assim como a participação brasileira teve caráter mais técnico do que
de representação política, como em outras edições.

Isso certamente mostra a força da proposta da Aliança Global e o potencial de melhor


articular e convergir os compromissos globais a partir dela, incluindo a própria Década de Ação,
mas não se pode esquecer das dúvidas em relação a movimentos como o Nutrição para o
Crescimento e o Scaling Up Nutrition (SUN) quanto à participação sem controle de conflitos de
interesses de entes privados e com menor transparência.

Sabidamente, os recentes sobre os avanços nos ODS são muito preocupantes, na


medida em que a recuperação pós pandemia em relação à redução da fome tem se mostrado
muito desigual e insuficiente (FAO/IFAD/UNICEF/WFP/WHO, 2024). Além disso, mantidas as
tendências atuais, poucos ODS relacionados à nutrição e saúde que poderão ser alcançados em
2030. Isso inclui o outro extremos da má nutrição, visto que as prevalências de obesidade e das

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doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs) relacionadas à alimentação inadequada em vez de
diminuírem, conforme as metas, continuam aumentando anualmente em todo o mundo (World
Health Organization (WHO), 2024). Isso reforça, particularmente nos países de baixa e média
renda, a coexistência da desnutrição e da obesidade, ou seja, a dupla carga da má nutrição, além
de colocarem os sistemas alimentares hegemônicos como um dos grandes causadores da atual
sindemia global de desnutrição, obesidade e mudanças climáticas (Swinburn et al., 2019).

É fundamental, portanto, trazer a agenda mais ampliada de segurança alimentar e


nutricional e das mudanças climáticas para dentro desses compromissos e iniciativas,
fortalecendo compromissos políticos nacionais e aumentando a coerência das ações
intersetoriais e de diferentes atores.

A Cúpula Nutrição para o Crescimento

Nos dias 27 e 28 de março, a França sediou a Cúpula “Nutrição para o Crescimento”, que
tem por objetivo promover uma abordagem transversal do desenvolvimento nos setores da
saúde, agricultura, água, higiene e saneamento. O principal pano de fundo para a iniciativa é o
reconhecimento de que a má nutrição constitui um flagelo que atinge todos os países do mundo,
com consequências graves que afetam o capital humano e o potencial de desenvolvimento das
nações, destacando que aproximadamente 45 milhões de crianças sofrem de má nutrição aguda
e 150 milhões enfrentam má nutrição crônica, enquanto o sobrepeso e a obesidade aumentam
em todos os grupos etários e a desnutrição de pessoas idosas encontra-se em expansão.

Em seu sítio eletrônico, o Nutrição para o Crescimento afirma ter como principais
objetivos colocar a nutrição no centro da agenda de desenvolvimento sustentável, fazer da luta
contra todas as formas de má nutrição uma causa universal, criar uma continuidade em as
cúpulas e os compromissos para a melhor nutrição e manter o engajamento político e financeiro
de alto nível para a nutrição (Nutrition for Growth, 2025).

Diante desse contexto, foi marcante o movimento conjunto da França e do Brasil em


concordar em reafirmar seu compromisso mais ampliado com a segurança alimentar e
nutricional global por meio da articulação de iniciativas como a Coalizão para Alimentação
Escolar, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, e a dinâmica gerada pela Cúpula Nutrição
para o Crescimento, voltada à identificação de novas fontes de financiamento e à mobilização
da comunidade internacional.

Essas iniciativas também estão direcionadas para os documentos preparatórios para a


AGNU, trazendo um olhar ampliado sobre as questões de segurança alimentar, agricultura e
nutrição, que devem ir para além da alimentação, convergindo para temas como a cooperação
para o desenvolvimento industrial, o papel das mulheres no desenvolvimento, o
desenvolvimento de recursos humanos, a erradicação da pobreza rural e outros, mostrando a
importância da atuação intersetorial no tema. Além disso, nesse mesmo contexto mais
ampliado, a Cúpula de Sistemas Alimentares reforça a centralidade da agenda de segurança
alimentar e nutricional em nível global, articulados com grande parte dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Por isso, o momento é muito oportuno para os encaminhamentos para a prorrogação


da Década de Ação sobre a Nutrição, a partir de um monitoramento mais amplo de seus
resultados e seu possível legado diante da continuidade de muitas de suas agendas e
compromissos e alinhamento temporal com a agenda 2030. Esse conjunto de iniciativas e, talvez
mais importante, traz o esforço manifestado para a maior coordenação dos compromissos e

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movimentos, atuando para evitara a fragmentação da agenda de SAN global. Por outro lado,
como já identificamos em análises anteriores sobre várias das iniciativas, novamente não há
menção à falta de filtros sobre a participação do setor privado nessas agendas.

Dentre os trabalhos durante a quarta cúpula de Nutrição para o Crescimento, merece


especial destaque a agenda de países latino-americanos, como o Brasil e o México, que
trouxeram a importância das políticas nacionais para o enfrentamento da dupla carga da má
nutrição e da sindemia global de desnutrição, obesidade e mudanças climáticas. Nesse sentido,
foram destacadas políticas de garantia da SAN e promoção da alimentação saudável como a
alimentação escolas, a regulação de ambientes alimentares por meio da rotulagem nutricional
de advertências e da tributação de bebidas adoçadas e das políticas de transformação dos
sistemas alimentares com foco na saudabilidade, sustentabilidade e resiliência. Além disso, essa
edição da cúpula trouxe importantes discussões paralelas com a participação de especialistas
globais em mudanças nos sistemas alimentares e má nutrição, reforçando o componente de
evidências para as políticas.

Essa mensagem política é fundamental, uma vez que a própria cúpula é fortemente
centrada nas questões de financiamento, muitas vezes em detrimento dos compromissos de
governos nacionais, a exemplo da cúpula realizada no Brasil em 2016, que, ao contrário das
demais edições e enfrentando grandes pressões, não focou no volume de financiamentos como
produto maior e foi a única edição a colocar mecanismos para evitar conflitos de interesses entre
os participantes da cúpula e, possivelmente por isso, sequer figura na linha do tempo do site do
Nutrição para o Crescimento, enquanto menciona a Cúpula Global de Nutrição de Milão, em
2017, em seu lugar.

No tocante ao financiamento, a cúpula de 2025 teria registrado um volume de 27,2


bilhões de dólares em compromissos financeiros, volume semelhante à cúpula anterior, em
Tóquio, Japão, que incluíram aportes significativos do Banco Mundial (US$ 5 bilhões), do Banco
de Desenvolvimento da África (US$ 9,5 bilhões) e organizações filantrópicas (US$ 2 bilhões).

Mesmo diante desses significativos aportes financeiros, outro ponto de destaque foi o
pedido do Programa Mundial de Alimentos (WFP) aos líderes e especialistas globais se reuniram
em Paris na quarta Cúpula Nutrição para o Crescimento por maior foco e ação para prevenir a
emaciação (a forma mais mortal de desnutrição), antes que seus impactos fatais sejam sentidos
em crianças.

Segundo a instituição, a desnutrição causa danos irreparáveis ao desenvolvimento físico


e cognitivo de uma criança, enfraquecendo o sistema imunológico, atrofiando o crescimento e
limitando o desenvolvimento cerebral. Destaca, ainda, que a desnutrição geralmente começa
durante a gravidez, e é por isso que programas de prevenção que visam mães e crianças em
risco são essenciais. Portanto o WFP reforça que agir precocemente e rápido é a única maneira
de evitar o impacto vitalício da emaciação na saúde de uma criança.

Isso significa que investir na prevenção da desnutrição durante os primeiros 1.000 dias
de vida é fundamental para a melhoria da saúde individual, além de fortalecer as economias,
tendo em vista que países de baixa e média renda perdem uma média de 10% do PIB devido à
desnutrição por meio do aumento dos custos de saúde e redução do capital humano. Além disso,
vale destacar que os programas de prevenção também reduzem a carga sobre os programas de
tratamento da desnutrição e suas consequências, garantindo que os recursos estejam
disponíveis para aqueles que já sofrem de desnutrição.

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Por se tratar de uma cúpula fortemente voltada para a busca de novos financiamentos
para a agenda de SAN, o WFP afirma precisar de US$ 1,4 bilhão para fornecer programas de
prevenção e tratamento da desnutrição para mais de 30 milhões de mães e crianças em 56
países em 2025. Em retrospecto e como prova da efetividade de suas intervenções, o WFP relata
ter prevenido a emaciação em 13,8 milhões de mães e crianças em 2024 por meio do
fornecimento de alimentos fortificados, suplementos ricos em nutrientes, dinheiro ou vouchers
para refeições nutritivas e cestas básicas nutricionalmente adequadas, além de ter ajudado mais
14 milhões de indivíduos por meio de seus programas de tratamento de emergência para
desnutrição.

Por fim, o WFP corretamente alerta que a desnutrição está aumentando em todo o
mundo devido a uma onda implacável de crises globais, incluindo conflitos, instabilidade
econômica e emergências relacionadas ao clima, de modo que, nos 15 países mais afetados pela
desnutrição, 33 milhões de crianças sofrem de desnutrição. Além disso, reforça que a
desnutrição é responsável por metade de todas as mortes entre crianças menores de cinco anos
e, mesmo para aqueles que sobrevivem a ela, a desnutrição reduz sua capacidade de aprender,
ganhar e prosperar como adultos, prendendo-os em um ciclo de pobreza e saúde precária de
geração a geração.

Um ponto final em relação à Cúpula de Nutrição para o Crescimento que merece


discussão é sua falta de apresentação e monitoramento dos compromissos, que são somente
reportados na forma de montantes financeiros comprometidos e em relatos de histórias de
sucesso, mas sem apontar concretamente o impacto da iniciativa sobre os indicadores globais
de nutrição. Essa falta de transparência é muito preocupante e reforça as preocupações que
discutiremos na seção seguinte deste informe sobre a captura dessas agendas e caminha junto
com a falta de representação das principais organizações da sociedade civil internacional,
justamente em função da falta de transparência e da gestão de conflitos de interesses.

Um exemplo, desse fenômeno é que, além da cúpula esquecida no Brasil, a edição mais
recente foi uma das únicas a colocar a articulação dos compromissos na contextualização da
iniciativa, enquanto as outras serviram de palco para iniciativas fortemente conduzidas pelo
setor privado, como o Scaling Up Nutrition, que é, inclusive mais destacada na linha do tempo
do que as próprias cúpulas e os compromissos multilaterais.

A contínua preocupação com os potenciais riscos da captura das agendas

Conforme já exploramos em inúmeros informes, nas últimas décadas, a agenda global


de alimentação e nutrição tem apresentado múltiplos fóruns e movimentos, desde a II
Conferência Internacional de Nutrição (ICN2) (Food and Agriculture Organisation of the United
Nations, 2014) até a Década de Ação sobre a Nutrição (UN General Assembly, 2016) e a Cúpula
das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares(United Nations Food Systems Coordination Hub,
2023), além das interfaces com iniciativas como o Scaling Up Nutrition (SUN)(Scaling Up
Nutrition, 2024) e Nutrition for Growth (Nutrition for Growth, 2024), bem como com
compromissos mais ampliados incluindo os ODS e as metas para mudanças climáticas e para
doenças crônicas não-transmissíveis.

Nesse contexto, primeiramente, o ICN2, em 2014, ficou marcado como um momento


crucial de elevação da agenda de nutrição no mundo, chamando a responsabilidade de
organismos internacionais, governos nacionais e outros atores para essa agenda, abrindo espaço
para mais compromissos e iniciativas globais. Na sequência, a Década de Ação sobre a Nutrição
veio como uma das primeiras respostas dos organismos internacionais para fortalecer o pedido

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para o engajamento de todos os atores envolvidos na agenda de nutrição para acelerar o alcance
dos compromissos do ICN2 e pedindo novos compromissos nacionais (SMART – acrônimo em
inglês para específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e delimitados no tempo), em
alinhamento com os ODS e com as metas de enfrentamento das DCNTs, para eliminar todas as
formas de má nutrição e não deixar ninguém para trás.

Para tanto, a partir dos governos, foi recomendada a busca de apoio, sempre que
necessário, de organizações da sociedade civil, academia e setor privado, buscando evitar
conflitos de interesses nessas interações. Como suas áreas estratégicas de ação estão: sistemas
alimentares sustentáveis e resilientes para dietas saudáveis, sistemas de saúde alinhados e com
cobertura universal de ações essenciais de nutrição, proteção social e educação nutricional,
comércio e investimento para melhor nutrição ambientes seguros e apoiadores para a nutrição
em todas as idades e fortalecimento da governança e prestação de contas para a nutrição.

Depois, com a Cúpula de Sistemas Alimentares, em 2021, foi estabelecida a prioridade


a fortalecer e transformar os sistemas alimentares e, com a criação de um Hub de Coordenação,
catalisar da relação entre o Sistema das Nações Unidas e os sistemas alimentares e a Agenda
2030, apoiando países na transformação de seus sistemas alimentares por meio da coordenação
do apoio técnico e político. Dentre seus eixos de ação, destacam-se a garantia do acesso a
alimentos seguros e nutritivos para todos, a mudança para padrões de consumo sustentáveis, o
incremento da produção positiva para a natureza, o avanço em modos de vida equitativos e a
construção de resiliência a vulnerabilidades, choques e estresse.

Entretanto, desde o início da discussão da Cúpula, surgiram muitas dúvidas em relação


a possíveis sobreposições e duplicidades particularmente em relação à Década de Ação sobre a
Nutrição, levando a riscos de fragmentação da agenda e dos compromissos, fragilizando o todo,
apesar da argumentação oficial em resposta falar de que as múltiplas iniciativas representariam
um reforço mútuo para fortalecer a agenda e mantê-la como prioridade global.

Ao mesmo tempo, também desde o início das movimentações para a Cúpula de Sistemas
alimentares, houve inúmeras denúncias de falta de espaço para a participação ativa da
sociedade civil e de captura de sua coordenação global, inclusive levando à saída de muitas
organizações não-governamentais do processo. Segundo essas denúncias, poderia estar
havendo um favorecimento dos interesses da agricultura industrial, promovendo o
neocolonialismo, em detrimento dos saberes ancestrais e formas populares de manejo agrário,
resultando no risco de tornar os pequenos produtores, principalmente no continente africano,
reféns de novas tecnologias estrangeiras e das demandas do mercado globalizado, e de reduzir
a produção local de alimentos para a própria população.

Apesar da coerência lógica do racional comum, assim como do esforço para buscar o
alinhamento, integração e a continuidade das iniciativas, na prática as novas iniciativas têm
trazido diferentes mecanismos de atuação das agências e dos países que as próprias agências.
Em consequência, tem sido detectada uma redundância de compromissos e relatos de
dificuldade em diferenciar e articular esses mecanismos, como no caso das Redes de Ação
propostas pela Década de Ação pela Nutrição e as Coalizões propostas pela Cúpula de Sistemas
Alimentares.

Além disso, conforme já discutido em alguns de nossos informes anteriores dos


Cadernos CRIS Fiocruz, em função desses múltiplos movimentos e iniciativas, o enfoque de
múltiplos atores nas agendas de nutrição tem substituído o multilateralismo, de modo que os
compromissos dos governos nacionais com políticas estruturantes têm se reduzido e a

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participação de entidades do setor privado tem aumento, inclusive no financiamento das
agendas e das próprias agências. Igualmente preocupante é o fato de que a um constante
chamamento pelas próprias agências pela participação do setor privado sem a incorporação e
aplicação de mecanismos de identificação e manejo de conflitos de interesses.

Com isso, é reconhecido um grande aumento da visibilidade da agenda, porém com a


reiterada preocupação de que essa ubiquidade do tema da nutrição nas pautas pode fortalecer
ou fragmentar as ações e compromissos e a governança da agenda. Além disso, nesses
processos, o multilateralismo vem dando lugar a um enfoque de múltiplos atores, em que a
participação e os compromissos de governos nacionais se reduzem e a participação de
financiadores externos cresce, incluindo corporações ligadas ao agronegócio, indústrias de
alimentação e mercado financeiro. Por fim, e não menos importante, os espaços de participação
da sociedade civil internacional nesses processos têm sido reduzidos e é ausente ou insuficiente
a preocupação com a identificação e manejo de potenciais conflitos de interesse.

Alguns exemplos das consequências desse problema estão nas denúncias de risco de
captura corporativa das agências e suas agendas, de “blue washing” (associado ao green, social,
health e pink washing) e da influência crescente do filantrocapitalismo (FIAN, 2022). Exemplos
claros estão na participação do setor privado como ator-chave em iniciativas como o SUN e o
Nutrition for Growth, que atuam de maneira mais independente da agenda geral, mas, ao
mesmo tempo, aproximam-se de iniciativas como a Década de Ação sobre a Nutrição e a Cúpula
de Sistemas Alimentares sempre que seja conveniente, sem mecanismos aparentes de controle
e manejo de conflitos de interesses.

Nesse contexto, merece também destaque o filantrocapitalismo, ou seja, uma espécie


de filantropia que envolve entidades e abordagens capitalistas, baseadas no mercado e
orientadas para lucros para resolver os grandes problemas globais, particularmente na nutrição,
tem ganhado grande espaço na agenda, tanto associado a iniciativas como o SUN e o Nutrition
for Growth, quanto diretamente junto aos países. Em sua lógica de economia liberal, os
filantrocapitalistas colocam-se como solução para a miríade de problemas globais a partir da
lógica do mercado de maximização do lucro, em que o mesmo princípio que ajudou aos
bilionários a acumularem suas fortunas seria o mecanismo para redistribuir a riqueza entre os
mais vulneráveis, maximizando o bem-estar social e a qualidade das políticas sociais. Ainda, a
atuação do filantrocapitalismo normalmente envolve a coordenação e às vezes a própria
execução das intervenções pelas próprias instituições, se sobrepondo ao papel dos governos
nacionais e ameaçando a soberania e a autonomia locais, enquanto aumentam o risco de
descontinuidade das intervenções e replicam ciclos de dependência externa.

Novamente, essas iniciativas buscam promover a agricultura industrial, apoiada nas


monoculturas de commodities e variedades agrícolas de interesse comercial e vinculada ao
ultraprocessamento industrial de alimentos, em vez de promover a diversidade da dieta, a
valorização da cultura alimentar e o estímulo à produção e consumo local, para discutir a
implementação de sistemas circulares de produção de alimentos, com minimização dos insumos
externos e redução dos impactos ambientais da produção. Dessa forma, buscam reforçar a
premissa do aumento da produtividade da agricultura, distanciando-se das prioridades para a
mitigação e adaptação às mudanças climáticas, da necessidade de aumentar a resiliência dos
sistemas agroalimentares e de contribuir para a erradicação da fome e garantia de uma dieta
diversificada e nutritiva para todos no mundo, trazendo, ainda, ameaças adicionais como o uso
de agrotóxicos e suas consequências ao meio ambiente e à saúde humana, o aumento na oferta

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de produtos ultraprocessados, a redução da biodiversidade local e o aumento da dependência
de sementes e insumos das grandes corporações.

O papel da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

Depois de sua proposição pelo Brasil e aprovação pelo G20, junto com a coleta de policy
briefs sobre muitas de suas áreas temáticas, incluindo aquele elaborado por nosso grupo (Silva
et al., 2024), a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza se estabelece como uma das principais
iniciativas globais de SAN e realizou um grande esforço de sistematização de experiências, busca
de compromissos e de organização de seus critérios, organização e monitoramento, orientados
segundo sua missão de apoiar e acelerar os esforços para erradicar a fome e a pobreza,
enquanto reduzimos as desigualdades e contribuir para a revitalização de parcerias globais para
o desenvolvimento sustentável (Global Alliance Against Hunger and Poverty, 2025).

Em julho de 2024, a Reunião Ministerial da Força-Tarefa do G20 no Brasil para a criação


de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza trouxe, então, os primeiros elementos para a
sua estrutura institucional, apoiadas de forma unânime através da aprovação de quatro
documentos: Documento Fundacional “Unidos contra a Fome e a Pobreza”; Modelo para a
Declaração Individual de Compromisso com a Aliança; Termos de Referência e Estrutura de
Governança; e Critérios para a Cesta de Políticas de Referência.

A partir disso, a Aliança passa a funcionar em duas grandes etapas: a preparação e a


intermediação. A preparação é relacionada à construção da infraestrutura da Aliança, incluindo
a consolidação de conjuntos de informações e compromissos sobre políticas eficazes baseadas
em evidências para os ODS 1 e 2 que compõem a Cesta de Políticas, sobre entidades membros,
tanto estatais quanto não estatais, sobre instituições estatais e não estatais interessadas em
apoiar tecnicamente o desenvolvimento, implementação ou monitoramento de políticas
públicas baseadas na Cesta de Políticas e sobre programas prioritários e áreas de interesse dos
membros. Enquanto isso, a intermediação envolve a atuação como mediador na cooperação
entre os membros para combater a fome e a pobreza, com iniciativas originadas dos países
membros, em um processo liderado pelo país e orientado pela demanda.

A Aliança visa, assim fornecer impulso político contínuo e incentivar a ação coletiva,
construindo sinergias com outros esforços já existentes para combater a fome e a pobreza,
facilitando a mobilização e melhorando o alinhamento do apoio nacional e internacional,
incluindo recursos financeiros públicos e privados. Além disso, a Aliança tem um forte
componente relacionado ao conhecimento, voltado à viabilização da implementação em larga
escala de programas e instrumentos de política baseados em evidências, liderados e de
propriedade dos países, centrando-se nos países mais afetados pela fome e pela pobreza
extrema e nas pessoas em situação de vulnerabilidade. Com isso, a Aliança busca acolher a
participação de países, organizações e plataformas, com o objetivo de aproveitar a inovação, a
colaboração e a tomada de decisão baseada em evidências para apoiar a implementação de
políticas e programas voltados tanto para a ação emergencial diante das situações de fome
quanto do apoio a políticas estruturais, baseadas em direitos, para atuar sobre os determinantes
sociais da fome e da pobreza, com vistas a garantir a realização dos direitos e o pleno
desenvolvimento dos indivíduos e suas famílias e romper a transmissão intergeracional da
pobreza.

Dentro dessa abordagem inovadora, a Aliança busca a redução dos custos de transação
(colocando-se como um intermediário neutro para a construção de parcerias de implementação
de políticas), a mitigação de riscos (por meio da adoção de uma “cesta de políticas” de políticas

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públicas rigorosamente avaliadas garante que os investimentos dos doadores sejam
direcionados para iniciativas econômicas e de alto impacto) o ganho de economias de escala
favorecendo a agregação de recursos e conhecimentos), a flexibilidade e a colaboração
(facilitando o financiamento direto de doadores para beneficiários e a mobilização interna e
modalidades de financiamento diversificadas) e o impulso político (oferecendo oportunidades
regulares para os países e organizações participantes renovarem e reforçarem seus
compromissos e ambições, além de avaliar os progressos alcançados).

Particularmente no momento atual, é de grande relevância que a Aliança tenha buscado


aproveitar e articular-se com outras cúpulas e compromissos, a exemplo do que foi feito com a
Cúpula de Nutrição para o Crescimento e a prorrogação da Década de Ação sobre a Nutrição, é
fundamental para fortalecer e ampliar compromissos e ampliar a base de participantes.

Voltando à descrição da Aliança, sua estrutura de funcionamento e composta de três


pilares: Nacional, Financeiro e Conhecimento. Os compromissos sob o Pilar Nacional estão
abertos somente a governos nacionais estão relacionados a implementação de instrumentos de
política listados na Cesta de Políticas e/ou ao apoio a outros países na implementação de
instrumentos de política semelhantes. Dessa forma, ele está voltado para a implementação
doméstica de políticas e programas e/ou o suporte direto ao país, para o compartilhamento de
lições e para a cooperação sul-sul e trilateral.

O Pilar de Apoio Financeiro, por sua vez, busca apoiar o financiamento multilateral, a
assistência oficial bilateral e multilateral e o financiamento ao desenvolvimento. Para tanto,
serão buscados mecanismos financeiros inovadores, junto com o financiamento climático, por
entidades filantrópicas e por outras fontes. Dessa forma, o Pilar de Apoio Financeiro da Aliança
é composto por uma grande variedade de entidades de apoio, incluindo fundos globais e
regionais, agências de desenvolvimento e doadores públicos e privados, que se
comprometeram, sob suas próprias regras e mecanismos, a apoiar os países membros da Aliança
em seus compromissos nacionais para implementar programas de redução da fome e da
pobreza e instrumentos de políticas na Cesta de Políticas de referência da Aliança.

Por fim, o Pilar de Conhecimento da Aliança inclui instituições nacionais, regionais e


internacionais renomadas, incluindo instituições acadêmicas, dedicadas à promoção da geração
de conhecimento, assistência técnica e compartilhamento voluntário de conhecimento em
termos mutuamente acordados entre os membros da Aliança. Baseando-se em esforços
passados do G20 e outras iniciativas coletivas, as instituições do Pilar de Conhecimento, com o
apoio do Mecanismo de Apoio da Aliança, podem aproveitar e construir sobre várias
plataformas de informação e conhecimento existentes.

As ações do Pilar de Conhecimento devem ocorrer principalmente a nível nacional,


visando fortalecer capacidades, construir conhecimento e compartilhar conselhos e lições para
apoiar os governos no alcance dos ODS 1 e 2, por meio da implementação bem-sucedida e de
qualidade de políticas e programas nacionais eficazes, baseados na cesta de referência. Assim
como no caso do Pilar de Apoio Financeiro, o Mecanismo de Apoio da Aliança Global propõe o
papel da Aliança como facilitadora, mediadora ou intermediária, ajudando a planejar e criar
parcerias ad hoc entre diferentes instituições, conforme necessário, para apoiar a
implementação de políticas em nível nacional.

O outro componente essencial das ações da Aliança é representado pela Cesta de


Políticas, que fornece um conjunto amplo de programas e instrumentos de políticas,
rigorosamente avaliados, que podem ser adaptados a um contexto nacional ou subnacional

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específicos. Os instrumentos da Cesta de Políticas são apresentados em dois níveis:
instrumentos de política em nível geral, contendo uma breve descrição de suas principais
características; e experiências de países, destacando variações de desenho, implementação e
impactos. Para tanto os instrumentos precisam atender aos seguintes critérios: serem
instrumentos de políticas bem definidos; serem implementáveis ou implementados por
governos; serem baseados em evidências; terem a capacidade de alcançar principalmente as
pessoas em situação de pobreza e de fome; e contribuírem principalmente para alcançar os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2.

Esses instrumentos podem pertencer a um conjunto de eixos, incluindo acesso a


serviços básicos, apoio aos pequenos agricultores, proteção social, instrumentos transversais,
acesso a crédito e serviços financeiros, programas integrados, nutrição, acesso à terra e aos
recursos naturais e financiamento. Se desdobrados em políticas específicas, temos um rol ainda
maior de possibilidades, que trazem a perspectiva de aliar ações emergenciais, tais como
transferência de alimentos e ajuda humanitária, com políticas baseadas em direitos sociais,
como habitação, alimentação, educação, renda, previdência e outras, até o estímulo à produção
e disponibilidade local de alimentos.

Em termos de estrutura de governança, é previsto o funcionamento de instâncias como


o grupo de participantes da própria Aliança como a instância principal, mas também contando
com outros componentes, o Conselho de Campeões, composto por um grupo diversificado de
representantes seniores dos principais membros da Aliança que representam seus três pilares,
e o Mecanismo de Suporte da Aliança e pontos de entrada e pontos operacionais em nível
nacional.

O funcionamento da participação, a partir da adesão, é bem esquematizado no mapa


mental apresentado no sítio eletrônico da Aliança, que delineia o passo a passo dos membros
buscarem sua atuação a partir de ações da cesta de políticas em que os mecanismos de apoio
da Aliança buscam articulá-los com os seus três pilares de funcionamento, culminando com a
elaboração e implementação de uma política local aprimorada.

Dentro desse regramento, a adesão à Aliança é voluntária e está aberta a governos,


organizações internacionais, instituições de conhecimento, fundos e bancos de
desenvolvimento, e instituições filantrópicas, sendo que os países membros podem adotar as
propostas de políticas e programas da Aliança e receber apoio técnico e financeiro dos demais
membros. Até o momento desse informe, estavam oficialmente participando da Aliança um
total de 92 países, 47 fundações e outras instituições, 27 organizações internacionais e 10
instituições financeiras internacionais, garantindo a atuação em cada um dos seus pilares.

Novo Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil

Como sempre, os compromissos internacionais são fortes impulsionadores das políticas


nacionais no Brasil e, nesse sentido, a aprovação, em fevereiro, do III Plano Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan) pelo Pleno Ministerial da Câmara Interministerial
de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan). Esse Plansan é particularmente importante
porque, dentro do desmonte de políticas sociais e outros retrocessos que foram promovidos
durante o (Des)Governo Bolsonaro, não foi feito um plano depois do término do Plansan 2015-
2018, deixando as ações setoriais de SAN sem metas no período, que culminou com a volta do
Brasil ao Mapa da Fome da FAO em função do aumento significativo da insegurança alimentar
e nutricional no país.

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Assim, neste novo momento de reconstrução das políticas, o Plansan 2024-2027 volta a
ser o principal instrumento da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e reforça
o compromisso do Governo Federal de novamente tirar o Brasil do Mapa da Fome até 2026 e
garantir o direito humano à alimentação adequada da população brasileira. Esse documento
estabelece 18 estratégias intersetoriais e 219 iniciativas voltadas à segurança alimentar e
nutricional e considera e reforça desafios como aumento dos preços de alimentos, fome em
territórios específicos (Amazônia, povos indígenas e população em situação de rua) e impactos
das mudanças do clima.

As diretrizes estratégicas do novo Plansan, portanto, revisitam as diretrizes de planos


anteriores e trazem novos componentes, de forma a incluir: o fortalecimento do Sisan com
governança participativa e intersetorial; a superação da fome por meio de acesso à renda e
políticas públicas; a garantia de acesso à terra e à água; os sistemas alimentares resilientes
diante das mudanças climáticas; o fomento à produção de alimentos saudáveis por agricultores
familiares e comunidades tradicionais; a redução da má nutrição e ampliação da alimentação
adequada e saudável; a garantia do direito humano à alimentação adequada para populações
vulnerabilizadas, combatendo desigualdades; e a cooperação internacional com base no Direito
Humano à Alimentação Adequada.

Com isso, o novo plano inova ao articular diversas iniciativas já existentes, como o Plano
Brasil Sem Fome, Plano Nacional de Abastecimento Alimentar (Planab), Planapo (Plano Nacional
de Agroecologia e Produção Orgânica), Plano Safra da Agricultura Familiar, Alimenta Cidades e
estratégias intersetoriais para a prevenção da obesidade e redução do desperdício de alimentos,
bem como inclui diretrizes específicas para regiões mais vulneráveis, como a Amazônia e
territórios indígenas.

Além disso, a exemplo dos outros planos, a última diretriz reforça a importância que o
Governo Brasileiro deve dar à agenda internacional de SAN, o que se alinha perfeitamente com
a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e serve de alicerce para o fortalecimento das
iniciativas multilaterais, particularmente, da cooperação sul-sul.

O novo Plansan, portanto, mostra claramente que existe uma grande coerência das
políticas nacionais brasileiras com aquilo que é preconizado no contexto da Aliança Global e dos
outros compromissos globais em nutrição e suas ações são apoiadas pelo conjunto de
compromissos globais assumidos pelo Brasil em SAN.

Conclusão

Observa-se, portanto, que a há um momento promissor para a agenda de SAN global a


partir da intensificação dos trabalhos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, junto com a
nova Cúpula de Nutrição para a Crescimento, que juntas atuaram decisivamente para a
prorrogação da Década de Ação sobre a Nutrição, que em princípio terminaria em 2025, para
alinhar-se com os prazos dos ODS.

Não se pode esquecer, contudo, que a agenda da Década de Ação sobre a Nutrição
sofreu um grande esvaziamento nos últimos anos, inclusive pela concorrência com a Cúpula de
Sistemas Alimentares das próprias Nações Unidas e com outros movimentos. Desse modo, será
necessário aproveitar o momento da próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, inicialmente
programado para ser o balanço final da Década, para buscar sua revitalização e fortalecimento
visando contribuir mais decisivamente para a agenda 2030.

99
Outro ponto que não pode ser esquecido ou menosprezado refere-se às formas de
participação de entes privados e instituições filantrópicas ligadas a elas, visto que grande parte
das agendas globais de nutrição têm buscado fortemente novos financiadores sem
preocupações com os conflitos de interesses que possam existir, bem como dos riscos de
captura corporativa das agendas. Naturalmente, com a recente redução significativa do
financiamento estadunidense por meio de agências como o USAID e dos aportes à OMS e outros
organismos, a busca por novas fontes de financiamento torna-se cada vez mais necessária,
então será desafiador trazer esses novos recursos e garantir uma aplicação transparente,
independente e baseada em evidências para garantir sua efetividade e legitimidade.

É nesse cenário que a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza figura como um
movimento global com grande potencialidade de agregar esforços, recursos e conhecimentos,
apoiando o alinhamento de compromissos nacionais, regionais e globais e fortalecendo, em
particular, o papel e a atuação dos governos em nível local para enfrentarem e eliminarem a
fome, dando mais concretude à meta de “não deixar ninguém para trás”. Nesse sentido, o
estabelecimento de compromissos internacionais tem grande potencial de fortalecer e
intensificar as ações e políticas nacionais, retroalimentando-as positivamente.

Porém, reconhecendo que partimos de um outro momento e de outro contexto,


trazemos o reconhecimento de que a fome e a pobreza precisam ser enfrentadas junto com as
doenças crônicas não-transmissíveis e as mudanças climáticas, a partir da transformação dos
sistemas alimentares.

O novo sopro de energia na agenda de SAN é muito importante e precisa ser mantido
para atuar intensamente sobre as metas de pobreza, saúde e nutrição dos ODS, a partir da
articulação de ações e compromissos. Sabemos que não será possível alcançar todos, mas a
reversão de piora é sempre o primeiro passo para criar sinergias e movimentos na direção
desejada. Sabemos, ainda, dos grandes avanços que o Brasil e outros países conseguiram ao
longo de poucas décadas na redução da fome e da desnutrição, portanto sabemos que é factível
que o mundo consiga reestabelecer e ampliar esses avanços em todo o mundo.

Referências
FAO/IFAD/UNICEF/WFP/WHO. The State of Food Security and Nutrition in the World 2024 - Financing to
end hunger, food insecurity and malnutrition in all its forms. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://openknowledge.fao.org/items/18143951-4b0a-46d6-860b-0f8908745da1>.
FIAN. REPORT - Corporate Capture of FAO: Industry’s Deepening Influence on Global Food Governance.
[s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.fian.org/files/files/CorporateCaptureoftheFAO-EN.pdf>. Acesso
em: 30 dez. 2022.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANISATION OF THE UNITED NATIONS. Second International Conference on
Nutrition. Conference Outcome Document: Rome Declaration of NutritionICN2 2014/2.
Anais...2014Disponível em: <http://www.fao.org/3/a-ml542e.pdf>
GLOBAL ALLIANCE AGAINST HUNGER AND POVERTY. Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Disponível em: <https://globalallianceagainsthungerandpoverty.org/pt-br/>.
NUTRITION FOR GROWTH. Nutrition for Growth. Disponível em: <https://nutritionforgrowth.org/>.
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SCALING UP NUTRITION. Scaling Up Nutrition. Disponível em: <https://scalingupnutrition.org/>.
SILVA, D. O. E et al. G20 Brasil 2024 - Policy Pathways for Tackling Global Poverty and Hunger, 2024.
Disponível em:
<https://t20brasil.org/media/documentos/arquivos/TF01_ST01_POLICY_PATHWAYS_FOR66d75d784f9c
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100
SWINBURN, B. A. et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet
Commission report. The Lancet, v. 393, n. 10173, p. 791–846, 2019.
UN GENERAL ASSEMBLY. United Nations Decade of Action on Nutrition (2016-2025)International Law
Commission, 2016.
UNITED NATIONS FOOD SYSTEMS COORDINATION HUB. Programme for the UN Food Systems Summit
+2 Stocktaking Moment. Disponível em: <https://www.unfoodsystemshub.org/fs-stocktaking-
moment/programme/en>.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World health statistics 2024: monitoring health for the SDGs,
Sustainable Development Goals. Geneva, Switzerland: [s.n.]. Disponível em:
<https://www.who.int/publications/i/item/9789240094703>.

101
ONU impulsiona luta global contra o comércio ilegal de artefatos culturais
UN boosts global fight against illegal trade of cultural artifacts

Fabiane Gaspar
Gisele Sanglard
Heliton Barros
Vitor Rodrigues

Abstract. The UN General Assembly adopted a resolution in December 2024 that helps
strengthen the fight against illicit trafficking in cultural goods and facilitates the return of stolen
artifacts to their countries of origin. Supported by more than 140 nations and adopted without
a vote, the resolution recognized that addressing the illegal trade in these items is vital to
preserving the identity and traditions of communities around the world and allowing them to
freely practice and protect a priceless heritage. It also acknowledged the devastating impact of
illicit trafficking on cultural heritage in general, particularly in conflict-affected regions, where
looting and smuggling of artifacts often finances organized crime and terrorism.

Keywords. Convention of 1970 – UNESCO. Illicit Trafficking. Cultural Property. Restitution.

Resumo. A Assembleia Geral da ONU adotou, em dezembro de 2024, resolução que ajuda a
fortalecer a luta contra o tráfico ilícito de bens culturais e facilita a restituição de artefatos
roubados aos seus países de origem. Apoiada por mais de 140 nações e adotada sem votação, a
resolução reconheceu que abordar o comércio ilegal desses itens é vital para preservar a
identidade e as tradições de comunidades em todo o mundo e permitir que elas pratiquem e
protejam livremente um patrimônio inestimável. Também reconheceu o impacto devastador do
tráfico ilícito no patrimônio cultural em geral, particularmente em regiões afetadas por conflitos,
onde a pilhagem e o contrabando de artefatos muitas vezes financiam o crime organizado e o
terrorismo.

Palavras-chave: Convenção UNESCO de 1970. Tráfico Ilegal. Bem Cultural. Restituição.

Resolução da Assembleia da ONU busca fortalecer a luta contra o tráfico ilegal de bens
culturais

A Assembleia Geral da ONU adotou, em dezembro de 2024, resolução que ajuda a


fortalecer a luta contra o tráfico ilícito de bens culturais e facilita a restituição de artefatos
roubados aos seus países de origem.

Apoiada por mais de 140 nações e adotada sem votação, a resolução reconheceu que
abordar o comércio ilegal desses itens é vital para preservar a identidade e as tradições de
comunidades em todo o mundo e permitir que elas pratiquem e protejam livremente um
patrimônio inestimável.

Também reconheceu o impacto devastador do tráfico ilícito no patrimônio cultural em


geral, particularmente em regiões afetadas por conflitos, onde a pilhagem e o contrabando de
artefatos muitas vezes financiam o crime organizado e o terrorismo.

102
Fortalecer a aplicação da lei

A resolução instou os Estados-Membros a introduzir medidas nacionais e internacionais


eficazes para prevenir e combater o tráfico ilícito de bens culturais, bem como a oferecer
formação especial aos serviços policiais, aduaneiros e de fronteira.

De forma admirável, a resolução convida-os a tornar o tráfico de bens culturais –


incluindo o roubo e a pilhagem de sítios arqueológicos e outros sítios culturais – um crime grave.

Também insta todas as nações a estabelecer, onde ainda não existam, unidades policiais
especializadas, dedicadas exclusivamente à proteção do patrimônio cultural, para investigar
casos de tráfico de propriedade cultural.

Papel dos museus, casas de ação

Tomando nota da importância do envolvimento com museus, casas de leilão,


negociantes e colecionadores de arte e organizações científicas, a resolução chama em prol de
“posições proativas” para verificar a origem da propriedade cultural em termos de vendas ou
aquisições.

Isso pode incluir a implementação de processos rigorosos de verificação e práticas


abrangentes de documentação, priorizando a transparência e a colaboração com organizações
internacionais e instituições de aplicação da lei para prevenir o tráfico.

A resolução também destacou a importância dos esforços contínuos por parte do


sistema das Nações Unidas, em particular da UNESCO , para se envolver com profissionais do
mercado de arte em considerações étnicas e legais, bem como aumentar a conscientização
sobre o estabelecimento de investigações de procedência, diligência devida e procedimentos de
devolução ou restituição.

Ação da UNESCO para promover novas formas de acordo e cooperação para devolução e
restituição de bens culturais

Em junho de 2023, a UNESCO organizou uma mesa redonda em sua Sede para examinar
e destacar novas formas de acordo e cooperação no campo de retorno e restituição de
propriedade cultural. A discussão foi motivada pela Declaração MONDIACULT 2022 , que apelou
para um diálogo internacional aberto e inclusivo sobre o retorno e a restituição de propriedade
cultural.

Reunindo uma ampla gama de partes interessadas de todas as regiões, os especialistas


compartilharam exemplos inovadores de parcerias eficazes, bem como formas evolutivas de
cooperação internacional. Entre esses testemunhos estavam a repatriação de 174 objetos da
Universidade de Manchester (Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte) para a
comunidade Anindilyakwa em Groote Eylandt no Território do Norte (Austrália), e a restituição
de 26 peças dos Tesouros Reais de Abomey (França) para Benin, como parte de um
fortalecimento da cooperação cultural entre os dois Estados.

“Retorno e restituição não são o fim de um processo, mas o


começo de um relacionamento baseado em uma cooperação mais
ampla e voltada para o futuro. A questão do retorno e da restituição
deve, portanto, ajudar a apoiar projetos ambiciosos de cooperação
cultural e científica” (Ernesto Ottone R.,Diretor-Geral Adjunto para a
Cultura na UNESCO)

103
Organizado em consulta com o Comitê Intergovernamental para Promover o Retorno
de Bens Culturais aos Países de Origem ou sua Restituição em Caso de Apropriação Ilícita
(ICPRCP), o evento foi acompanhado por mais de 210 pessoas pessoalmente e online,
testemunhando o crescente interesse no assunto, bem como o papel de convocação da
UNESCO.

A UNESCO tem apoiado seus Estados-membros em solicitações de devolução e


restituição de bens culturais por meio de assistência técnica e, como parte da luta contra o
tráfico ilícito, atividades de capacitação para profissionais, apoio ao desenvolvimento de museus
e conscientização pública. Apoiar museus e profissionais de museus com relação a solicitações
de devolução e restituição de propriedade cultural é um dos principais impulsos da Prioridade
Global da UNESCO na África " Fomentando o patrimônio cultural e o desenvolvimento de
capacidade ".

A luta no mundo real continua

Dentro do sistema da ONU, a agência educacional, científica e cultural, UNESCO, tem


liderado esforços na luta global contra o comércio ilícito e o tráfico de patrimônio cultural.

As medidas incluem medidas práticas para aprimorar as estruturas legais, melhorar as


capacidades de execução e aumentar a conscientização entre todas as partes interessadas, bem
como o desenvolvimento de um conjunto de recursos para fortalecer a implementação
da Convenção de 1970 sobre os Meios de Proibir e Impedir a Importação, Exportação e
Transferência Ilícitas de Propriedade de Bens Culturais .

No centro desses esforços está o Banco de Dados de Leis do Patrimônio Cultural


Nacional da UNESCO , que hospeda mais de 3.100 leis de 189 países, fornecendo um recurso
vital para governos, autoridades policiais e instituições culturais.

A UNESCO também emite alertas na web para notificar os Estados-Membros, a


INTERPOL e outras partes interessadas sobre bens culturais roubados, aumentando a
cooperação.

Museu virtual

Em um movimento inovador, a UNESCO anunciou que está desenvolvendo um Museu


Virtual de Objetos Culturais Roubados, com lançamento previsto para este ano de 2025.

Este projeto inovador contará com modelos tridimensionais (3D) e imagens de alta
qualidade de artefatos roubados, acompanhados de narrativas educacionais e histórias
detalhadas.

Ao contrário dos museus tradicionais, seu objetivo é “esvaziar suas coleções” à medida
que os artefatos são recuperados e devolvidos aos seus legítimos proprietários.

UNESCO reúne os Estados-membros da União Africana para discutir o retorno e a restituição


de bens culturais

Em 27 de janeiro de 2025, a UNESCO sediou uma conferência histórica, reunindo pela


primeira vez representantes de todos os 54 Estados-membros da União Africana para abordar a
questão crítica da restituição de bens culturais.

104
Imagem 1: Representantes dos Estados da União Africana na conferência sobre restituição de bens
culturais

Fonte: UNESCO

O evento, “ Novos tipos de cooperação e acordos no campo da devolução e restituição


de bens culturais à África”, marcou um passo significativo nos esforços contínuos da UNESCO
para apoiar os Estados-membros, fornecendo um espaço para diálogo, facilitando o
compartilhamento de conhecimento e promovendo soluções inovadoras para a devolução e
restituição de bens culturais.

A conferência foi realizada em colaboração com a Comissão Econômica das Nações


Unidas para a África (UNECA) e a Comissão da União Africana, em Addis Abeba, Etiópia. O evento
foi estimulado pela histórica Declaração MONDIACULT 2022 , que apelou para um diálogo
internacional aberto e inclusivo sobre o retorno de propriedade cultural.
“Por meio deste encontro histórico, prestamos homenagem à
riqueza e à diversidade do patrimônio cultural da África. A questão do retorno
e da restituição vai muito além da noção dos objetos em si e abrange
questões sobre identidade, memória e história. A UNESCO continua a
acompanhar os Estados-Membros em toda a África e além nesses esforços,
como um imperativo ético para concretizar os direitos culturais para todos”
(Ernesto Ottone, Diretor-Geral Adjunto da UNESCO para a Cultura)

Os comentários de abertura foram feitos pelo Ministro de Estado do Turismo da Etiópia,


Sua Excelência Sileshi Girma, bem como por representantes da Comissão da União Africana,
incluindo a Sra. Angela Martins, Chefe de Cultura. A Sra. Catherine De Preux De Baets, do
Escritório Regional da África Oriental do OHCHR, fez uma declaração, juntamente com o Sr.
Souleymane Bachir Diagne, Diretor do Instituto de Estudos Africanos e Professor de Filosofia na
Universidade de Columbia, que sublinhou a importância da questão da restituição para a África.

Souleymane Bachir Diagne, Diretor do Instituto de Estudos Africanos e Professor de


Filosofia, Universidade de Columbia, EUA declarou, no evento, que “Esses objetos [...] foram

105
deslocados e arrancados do continente africano, condenados ao exílio e ao silêncio. Mas eles
não foram silenciados. Na minha opinião, sua missão é criar vínculos”.

Mesas redondas de alto nível exploraram o papel dos museus e programas de pesquisa
conjunta, bem como os últimos desenvolvimentos no campo do retorno e da restituição.
Especialistas de todo o continente, juntamente com especialistas internacionais selecionados,
forneceram insights críticos sobre o aprimoramento da colaboração institucional e dos
processos de tomada de decisão. Exemplos de parcerias eficazes e formas evolutivas de
cooperação internacional foram apresentados.

Vários casos recentemente resolvidos de retorno e restituição à África foram


apresentados, servindo como modelos para esforços futuros. Entre os exemplos apresentados
estavam a cooperação de longo prazo entre a Namíbia e a Alemanha, que levou à restituição de
vários artefatos; o retorno do “sarcófago verde” ao Egito vindo dos Estados Unidos; o retorno
de artefatos a Gana e Quênia, devolvidos pelos Estados Unidos; e o retorno de uma escultura à
Líbia, proveniente da Suíça.

Outras falas importantes a respeito da restituição buscaram enfatizar a importância do


envolvimento da comunidade afetada e da escuta.

Golda !Ha-Eiros, Curadora Sênior, Museu Nacional da Namíbia, Namíbia disse que “A
restituição deve ser feita em colaboração com as comunidades afetadas, trabalhando com os
mais velhos e os jovens em busca de conhecimento artístico” e segundo Lars-Christian Koch,
Diretor, Museu Etnológico e Museu de Arte Asiática dos Museus Nacionais, Alemanha, “Só
poderemos ir mais longe no campo do retorno e da restituição se formos capazes de ouvir”.

A importância de estabelecer um ambiente legal e político propício, incluindo a


ratificação da Convenção da UNESCO de 1970 sobre os Meios de Proibir e Impedir a Importação,
Exportação e Transferência Ilícitas de Propriedade Cultural , surgiu durante a conferência. Os
participantes também exploraram diversos assuntos, incluindo: a necessidade de equipar
profissionais de museus no campo de retorno e restituição, o papel do mercado de arte, o risco
crescente de tráfico online, bem como o valor de processos de restituição inclusivos,
notavelmente comunidades e a diáspora.

A reunião da UNESCO lembrou que a força está em abordar o retorno e a restituição de


forma holística em toda a África. É preciso progredir na cooperação bilateral, mas também nas
áreas de desenvolvimento de museus, treinamento e pesquisa. A restituição não é um fim, mas
o começo de uma reapropriação da memória coletiva e uma reconciliação com um passado há
muito tempo despojado, permitindo que jovens africanos se reconectem com uma parte
essencial de sua história, cultura e identidade.

“A cooperação e o respeito mútuo podem ser o catalisador para o retorno e a restituição


de bem cultural”, disse Ottone, “Numerosos testemunhos que ouvimos hoje, no emblemático
Africa Hall, mostraram que as relações profissionais colegiais e a pesquisa rigorosa de todas as
partes podem superar obstáculos, sejam eles políticos, legais ou diplomáticos.”

A reunião alimentará a próxima conferência global de política cultural da


UNESCO MONDIACULT 2025 (29 de setembro a 1º de outubro de 2025), durante a qual a
devolução e a restituição de bens culturais serão amplamente discutidas. O encontro em Addis
Abeba também ecoou o tema da União Africana para 2025, Justiça para africanos e pessoas de
ascendência africana por meio de reparações, bem como a Prioridade Global da UNESCO África ,

106
em particular seu Programa Principal “Fomentando o patrimônio cultural e o desenvolvimento
de capacitações”.

Novos tipos de acordos e cooperação na devolução e restituição de bens culturais na América


Central

Reunindo dez países da América Central, em Antígua, Guatemala, com apoio do governo
guatemalense, a UNESCO organizou um evento regional, para proporcionar uma plataforma
para compartilhar boas práticas recentes e refletir sobre maneiras de promover uma
cooperação mais forte na devolução e restituição de bens culturais.

O evento destacou a importância da colaboração interestatal, mas também o papel


fundamental dos museus e do mundo acadêmico no desenvolvimento de acordos inovadores
sobre retorno e restituição.

O diálogo reuniu especialistas em proteção do patrimônio cultural e representantes de


dez países da América Central: Belize, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador,
Guatemala, Honduras, México, Nicarágua e Panamá.

A afirmação de Ernesto Ottone, Diretor-Geral Adjunto da UNESCO para a Cultura, é


contundente: “Todos os países da América Central, uma encruzilhada de história e diversidade,
ratificaram a Convenção de 1970, demonstrando seu compromisso coletivo de proteger a
propriedade cultural contra importação, exportação e transferência ilícitas de propriedade”.

O evento destacou a importância da pesquisa de procedência e dos esforços


coordenados entre autoridades policiais, ministérios da cultura, setor de museus e academia
para identificar e devolver bens culturais ao seu país de origem.

Houve uma sessão dedicada para o retorno de propriedade cultural aos povos indígenas,
enfatizando a necessidade de colocar as comunidades no centro dos processos de restituição.
Ao longo das discussões, o termo "rematriação" foi frequentemente usado no lugar de
"repatriação" para refletir essa abordagem.

Um objeto repatriado não é apenas um artefato que retorna. É uma história que começa
a contar sua verdade novamente.

Liwy Grazioso, Ministro da Cultura e Esportes da Guatemala enfatiza o papel central dos
museus: “(...) exibindo iniciativas de cooperação transfronteiriça e esforços de capacitação em
pesquisa de proveniência. As discussões enfatizaram ainda mais a importância do
desenvolvimento de museus em sítios arqueológicos, fomentando maior envolvimento da
comunidade na preservação do patrimônio”.

Vários casos de restituições concluídas apresentados durante o diálogo destacaram a


importância da ação coletiva entre os Estados envolvidos, incluindo iniciativas de
conscientização pública e compartilhamento de conhecimento.

O diálogo demonstrou que o retorno de objetos é, acima de tudo, um catalisador para


o potencial. Discussões sobre retorno e restituição apoiam projetos ambiciosos de cooperação
cultural e científica, particularmente no campo da museologia, ao mesmo tempo em que
enriquecem debates mais amplos sobre a proteção e promoção da propriedade cultural.

O evento de Antígua, Guatemala faz parte de uma série de eventos organizados pela
UNESCO para promover soluções inovadoras para o retorno e restituição de propriedade

107
cultural. Este trabalho começou em junho de 2023 na sede da UNESCO em Paris, onde foi
realizada a primeira troca dedicada sobre novas formas de acordos.

Esses diálogos se alinham com o Pacto para o Futuro , adotado pelos Chefes de Estado
em setembro de 2024 durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, que incentiva os Estados
a integrar a cultura em políticas públicas e a fortalecer a cooperação internacional sobre o
retorno e a restituição de propriedade cultural. Essas discussões também alimentarão os
preparativos para a Conferência Global da UNESCO sobre Políticas Culturais e Desenvolvimento
Sustentável – MONDIACULT 2025 , a ser realizada em Barcelona, Espanha, de 29 de setembro a
1º de outubro de 2025.

Casos emblemáticos de devolução e restituição de bens culturais

1. A Dama Dourada, de Gustav Klimt


2. Mais de 200 volumes furtados da Biblioteca Pedro Calmon, Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ)
3. Polícia prende ladrões especializados em furtar livros raros de bibliotecas
4. Fiocruz recebe obras raras repatriadas

Sob a égide da Convenção de 1970

1. Suíça devolve estátua de Buda para o Reino do Camboja


2. Austrália devolveu dois bens culturais ao México
3. Bens culturais de Ifé (povo Yoruba) retorna para Nigéria
4. Estônia devolve à Ucrânia artefatos arqueológicos apreendidos na fronteira entre
Estônia e Rússia
5. Atlas mais antigo do mundo retorna ao Egito
6. Guatemala devolve um huipil de crianças Chancay às autoridades peruanas
7. México recupera da Alemanha duas peças arqueológicas de 3.000 anos

Sob a égide do Comitê Intergovernamental sobre Devolução e Restituição (Em inglês,


Intergovernmental Committee on Return and Restitution - ICPRCP)

Casos que não se aplicam a Convenção de 1970, como por exemplo, países que não
ratificaram a Convenção, ou uma das condições para sua aplicação não foi cumprida (como a
não retroatividade), aplicam-se as regras e negociações junto ao Comitê Intergovernamental
sobre Devolução e Restituição (ICPRCP).

1. 2011 Alemanha – Turquia


2. 1988 Estados Unidos da América – Tailândia: em 1988, os Estados Unidos da América
devolveram o lintel de Phra Narai à Tailândia. O caso foi resolvido por mediação do
Comitê (ICPRCP).
3. 1986 Estados Unidos da América – Jordânia: o âmbito de uma troca, e seguindo um
pedido submetido por Jordan em 1983 ao ICPRCP, o Cincinnati Art Museum (Estados
Unidos da América) e o Department of Antiquities of Amman (Jordânia) decidiram, em
1986, trocar conjuntamente moldes das respectivas partes do painel de arenito de
Tyche com o zodíaco em sua posse, a fim de poder apresentar a obra em sua totalidade.
Este caso foi resolvido após mediação.
4. 1983 Itália – Equador: em 1983, a Itália devolveu mais de 12.000 objetos pré-
colombianos ao Equador após a resolução de um processo de litígio de sete anos. O

108
apoio moral expresso pelo ICPRCP foi reconhecido pelas autoridades equatorianas como
um fator significativo no sucesso deste caso.

Referências
UNESCO. Fight Illicit Trafficking (1970 Convention). About 1970 Convention. Disponível em:
https://www.unesco.org/en/fight-illicit-trafficking/about?hub=416 Acesso em 29 mar. 2025.
UNESCO. Fight Illicit Trafficking (1970 Convention). Cases of return and restitution under the aegis of the
1970 Convention. Disponível em: https://www.unesco.org/en/fight-illicit-trafficking/return-and-
restitution-cases Acesso em 29 mar. 2025.
UNESCO. Fight Illicit Trafficking (1970 Convention). Return and Restitution under the aegis of the ICPRCP.
Disponível em: https://www.unesco.org/en/fight-illicit-trafficking/return-and-restitution-under-
icprcp?hub=416 Acesso em 29 mar. 2025.
UNESCO. Reunião da UNESCO reúne todos os Estados-membros africanos pela primeira vez para discutir
o retorno e a restituição de bens culturais. Disponível em: https://www.unesco.org/en/articles/unesco-
meeting-gathers-all-african-member-states-first-time-discuss-return-and-restitution-cultural?hub=416
Acesso em: 29 mar. 2025.
UNESCO. UNESCO Database of National Cultural Heritage Laws. Disponível em:
https://www.unesco.org/en/cultnatlaws Acesso em: 29 mar.2025.
UNITED NATIONS. UN News. UN General Assembly boosts global fight against illegal trade in cultural
artifacts. Disponível em: https://news.un.org/en/story/2024/12/1157921 Acesso em 29 mar.2025.

109
As Reuniões Anuais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

The IADB Annual Meetings

Isis Pillar Cazumbá

Abstract: At the end of March, the Annual Meetings of the Inter-American Development Bank
(IDB) were held in partnership with IDB Invest, the private arm of the institution. The event took
place in Santiago, Chile, and was attended by the forty-eight member countries of the Bank, who
discussed in particular the direction of sustainable development and other priorities in Latin
America and the Caribbean (LAC).

Keywords: IADB . Latin America . Caribbean . Sustainable Development

Resumo: No final do mês de março foram realizadas as Reuniões Anuais do Banco


Interamericano de Desenvolvimento (BID) em parceria com o BID Invest, braço privado da
instituição. O evento aconteceu em Santiago, no Chile, contando com a presença dos quarenta
e oito países membros do Banco, que discutiram especialmente sobre os rumos do
desenvolvimento sustentável e de outras prioridades na América Latina e no Caribe (ALC).

Palavras-chave: BID . América Latina . Caribe . Desenvolvimento Sustentável

Anualmente, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e suas instituições BID


Invest e BID Lab realizam as suas Reuniões Anuais nos países que fazem parte do corpo de
membros do Banco. A reunião oficial é um fórum de discussão, que mobiliza os governadores
da instituição – a maioria são ministros de finanças –, presidentes dos bancos centrais e
autoridades de Alto Nível dos países membros. Igualmente, lideranças das Instituições
Financeiras Multilaterais (IFMs), dos bancos privados, das organizações da sociedade civil e das
agências de desenvolvimento participam do evento. Neste ano, a capital do Chile foi escolhida
para sediar durante cinco dias a Sexagésima Reunião Anual do BID e a Trigésima Nona Reunião
do BID Invest.

O Discurso do Presidente do BID

“Quanto mais próspera for a América Latina e o Caribe, mais seguro e próspero será
todo o hemisfério”. Ilan Goldfajn

Em um fórum dedicado ao setor privado, o presidente do BID, Ilan Goldfajn, discursou


sobre o potencial da América Latina e Caribe (ALC), o financiamento do setor privado e como o
Banco vem apoiando a região em seu desenvolvimento.

Goldfajn inicia o seu discurso destacando que a ALC além de ser rica em recursos,
também está posicionada para um crescimento industrial de forma gradual. Segundo o
presidente, a ALC possui várias vantagens comparativas que tornam a região mais atrativa:

110
produção de alimentos, custos de energia mais competitivos e a disposição de cobre e lítio que
são minerais essenciais para as indústrias13.

Ao falar sobre o setor privado, Goldfajn afirmou que a função do setor privado em
financiar o desenvolvimento na região não se trata apenas de uma estratégia econômica, mas
sim de um interesse mútuo que une os países da ALC. De acordo com o presidente, o setor
privado ajuda a fortalecer as indústrias, aumenta a capacidade da criação de empregos e
aumenta a competitividade14. Após essa fala, ele apresentou que o BID será um Banco
Multilateral de Desenvolvimento (BMD) do setor privado:
“É por isso que estamos posicionando o BID como o "BMD do setor privado" –
aproveitando nossos mais de 65 anos de experiência e proximidade com o
setor público da região para criar sinergias que beneficiem a todos. Isso é
apoiado por capital real e ações concretas: mais de 44% de nosso
financiamento agora é direcionado para iniciativas do setor privado por meio
do BID Invest e do BID Lab, com a ambição de alcançar a paridade até 2030.
IDB Invest+, uma nova visão, modelo de negócios "originar para compartilhar"
líder do setor e um aumento de capital de US$ 3,5 bilhões para o BID Invest,
nosso braço do setor privado. IDBLab+, um modelo de negócios mais
sustentável e escalável e US$ 400 milhões em recursos adicionais para o BID
Lab, nosso laboratório de inovação e braço de capital de risco. Mas o
financiamento por si só não é suficiente; os investidores também precisam das
condições certas para prosperar”. Ilan Goldfajn, 2025.

Ao finalizar o seu discurso, o presidente alertou que para haver o progresso do


financiamento e do investimento pelo setor privado, será fundamental a criação de um
ambiente que o favoreça, pois não sendo assim, haverá risco de não acontecer a mobilização
dos recursos e dos investimentos essenciais deste setor. Afirmou ainda que a ALC possui desafios
em diversas áreas, porém, ainda assim, os enfrenta, e mostrou que o BID se encontra disponível
para ajudar a “liberar todo o potencial da região, impulsionar o desenvolvimento e melhorar
vidas”15.

As Iniciativas Aprovadas pelo BID

Assim como nas Reuniões Anuais anteriores, o BID lançou iniciativas que visam
contribuir com o desenvolvimento da ALC. A primeira delas foi o anúncio de um programa
regional que torne a ALC mais resiliente aos desastres naturais que causam muitos transtornos
no setor econômico e na qualidade de vida da população. O programa Ready and Resilient
Americas foi idealizado para fortalecer a colaboração regional, a fim de ampliar a resiliência, de
reforçar a proteção financeira e de melhorar as respostas, tornando-as mais eficazes contra os
desastres. De acordo com o BID, a instituição alocará em torno de “US$ 10 milhões em
financiamento não reembolsável para o programa entre 2025 e 2030”16.

Segundo o BID, a ALC amarga a posição de segunda região mais propensa a desastres
naturais no mundo, onde somente em 2024 foram setenta e quatro desastres, acarretando

13
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-
2025-idb-and-idb-invest-annual-meetings
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Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-
2025-idb-and-idb-invest-annual-meetings
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Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-
2025-idb-and-idb-invest-annual-meetings
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Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-regional-program-disaster-resilience

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danos econômicos de US$ 10 bilhões e aproximadamente sete milhões de pessoas afetadas. Por
esta razão, o programa é tão importante, já possuindo dezesseis parceiros estratégicos no
âmbito privado, organizações internacionais e não governamentais que podem ajudar com
inovações tecnológicas e soluções financeiras que melhorem a agilidade e a resposta a
emergências17.

A segunda iniciativa foi o programa BID Cares, que visa ampliar os serviços de assistência
e da infraestrutura para atender eficazmente crianças, idosos e pessoas com deficiência,
simultaneamente gerando empregos e acelerando o crescimento econômico da ALC. Segundo
o BID, o programa “é o esforço de toda a instituição do BID para resolver a escassez de serviços
de assistência de alta qualidade e acessíveis em toda a região”18. O objetivo do programa é
aumentar a criação de empregos que atendam a atual demanda e o aumento por cuidadores
remunerados. Considera-se que o programa vem em um momento oportuno, pois de acordo
com o BID, um em cada quatro habitantes terá mais de 60 anos até 2050 na ALC19.

O programa espera também ampliar as participações das mulheres no mercado de


trabalho. De acordo com uma estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao eliminar
barreiras à atuação das mulheres no mercado de trabalho, o PIB da ALC poderia aumentar em
20 pontos percentuais, ajudando a alavancar o crescimento da região20.

A terceira iniciativa foi a apresentação do South Connection (Conexão Sul), um programa


regional cocriado pelos países da América do Sul que visa criar “corredores estratégicos” que
ajudem a atrair novos mercados e investimentos para a região. Durante as Reuniões Anuais do
BID e do BID Invest, as lideranças dos países cocriadores 21do programa assinaram uma
declaração em conjunto com o presidente Ilan Goldfajn, onde “reconheceram a natureza
transfronteiriça dos desafios compartilhados e solicitaram o apoio do BID para enfrentá-los
conjuntamente por meio de uma abordagem pragmática e regional”22.

A ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, representou o Brasil


no evento do BID e participou da reunião do lançamento deste programa, afirmando que este
projeto apoia o fortalecimento da integração regional tão necessária, além de captar
investimentos. Tebet concluiu que as instituições multilaterais são uma importante fonte de
apoio para ajudar em novas oportunidades de negócios, na criação de empregos e na promoção
de uma renda mais alta23.

Participação do Brasil

Além da participação do lançamento do programa, Simone Tebet falou sobre outros dois
temas, que foram o apoio do BID às reformas institucionais do País e a transição para uma

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Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-regional-program-disaster-resilience
18
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
19
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
20
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
21
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai.
22
https://www.iadb.org/en/news/idb-launches-south-connection-regional-program
23
Disponível em: : https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-assembleia-
anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-bid-invest-
braco-privado-da-instituicao

112
economia mais resiliente. Tebet destacou que no primeiro tema, o Banco vem sendo um
parceiro estratégico para o Brasil, aplicando todo o seu conhecimento especializado para
melhorar os setores da economia, dos negócios, do meio ambiente, da redução das
desigualdades e da ampliação da diversidade. A estratégia do BID Invest é bem vista por Tebet
e pelo governo brasileiro, pois o novo modelo de negócios amplia o risco para aumentar as
oportunidades de investimento privado, ajudando inclusive a impactar na eficiência energética,
conservação e restauração ambiental e na descarbonização da economia24.

A respeito de uma economia mais resiliente, a ministra observou que o Brasil e os


demais países da região possuem boas perspectivas estratégicas e econômicas, com o apoio do
BID25. Tebet aproveitou a oportunidade para falar sobre o lançamento da Aliança Global contra
a Fome e a Pobreza – projeto proposto pelo Brasil no âmbito do G20 – e agradeceu o apoio do
BID na luta contra a erradicação da miséria no mundo.

Considerações Finais

As Reuniões Anuais do BID 2025 evidenciaram que para a ALC conseguir a transformação
nas mais diversas áreas, precisará contar fortemente com o investimento privado para alcançar
os seus objetivos de desenvolvimento e crescimento. Não é à toa que as instituições do setor
privado do BID sofreram mudanças transformacionais em seus negócios no ano passado, a fim
de se tornarem atrativas para as novas formas de capitalização.

Ao que tudo indica, os países reconheceram o progresso feito pelo Banco de um ano
para cá, trazendo instrumentos de financiamento mais modernos para o BID Invest e BIDLab. O
BID fazendo assim mostrou comprometimento e sinalizou que pretende continuar com a
implementação de novas formas de captação de recursos que realmente favoreçam a todos os
países.

É preciso acompanhar os passos do BID atentamente e vermos se realmente a


instituição, com toda a sua larga experiência conseguirá apoiar a ALC e torná-la mais forte e
próspera, pois os desafios encontrados na região são gigantescos em todos os setores.

Referências
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] Remarks by President Goldfajn at the
Private Sector Forum of the 2025 IDB and IDB Invest Annual Meetings [acesso em 29 mar 2025].
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/remarks-president-goldfajn-private-sector-forum-2025-
idb-and-idb-invest-annual-meetings
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] IDB Launches Regional Program for
Disaster Resilience [acesso em 29 mar 2025]. Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-
launches-regional-program-disaster-resilience
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] IDB Launches 'South Connection'
Regional Program [acesso em 29 mar 2025]. Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-
launches-south-connection-regional-program

24
Disponível em: : https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-assembleia-
anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-bid-invest-
braco-privado-da-instituicao
25
Disponível em: : https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-assembleia-
anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-bid-invest-
braco-privado-da-instituicao

113
Banco Interamericano de Desenvolvimento [homepage na internet] IDB Launches ‘IDB Cares’ for Latin
America and the Caribbean [acesso em 29 mar 2025]. Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-
launches-idb-cares-latin-america-and-caribbean
Governo Federal [homepage na internet] Na Assembleia Anual do BID, Tebet defende reformas
institucionais do Banco e incremento de capital do BID Invest, braço privado da Instituição [acesso em 29
mar 2025]. Disponível em: https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/noticias/2025/na-
assembleia-anual-do-bid-tebet-defende-reformas-institucionais-do-banco-e-incremento-de-capital-do-
bid-invest-braco-privado-da-instituicao

114
O primeiro Fórum Econômico América Latina e Caribe promovido pelo Banco
de Desenvolvimento Regional (CAF)

Laura Tavares Soares

Resumo - Este Informe apresenta a primeira edição do Fórum Econômico América Latina e
Caribe promovido pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe - CAF.
Destaca-se o caráter pioneiro desse evento e a sua amplitude, com participações regionais e
internacionais, de representantes governamentais de diversos países, de instituições
multilaterais, bem como de intelectuais, pesquisadores e acadêmicos. As temáticas do Fórum
são diversificadas, mas o foco central é o Desenvolvimento Sustentável. São apresentadas
também as diversas iniciativas do Banco CAF na área do Meio Ambiente na região, com seus
respectivos financiamentos.

Palavras chave - Banco de Desenvolvimento Regional da AL e Caribe - CAF - Fórum Econômico


da América Latina e do Caribe - Desenvolvimento Sustentável - Meio Ambiente

O Fórum Econômico Internacional América Latina e Caribe 2025

O Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe - CAF promoveu a primeira


edição do Fórum Econômico Internacional América Latina e Caribe: Como Retomar o Caminho
do Crescimento? nos dias 29 e 30 de janeiro de 2025, no Centro de Convenções do Panamá. Este
evento de alto nível reuniu líderes globais e regionais para debater e formular estratégias para a
promoção do crescimento econômico sustentável e o bem-estar dos latino-americanos e
caribenhos.

O Fórum foi considerado um espaço de reflexão sobre o desenvolvimento da América Latina


e do Caribe, surgindo como um espaço para analisar e agir diante dos desafios históricos da
região, transformando obstáculos em oportunidades.

Autoridades governamentais, líderes empresariais e representantes do multilateralismo se


reuniram no Panamá compartilhando abordagens inovadoras e multidisciplinares que fossem
capazes de impulsionar soluções para os desafios de produtividade, equidade e
sustentabilidade na região.

O objetivo do Fórum foi promover um diálogo transformador, combinando a troca de ideias


com oportunidades de networking, para gerar estratégias concretas que elevassem a
competitividade, reduzissem a desigualdade e construíssem um futuro mais dinâmico e inclusivo
para a região.

O Fórum foi chamado de “Davos latino-americano”, onde líderes globais e presidentes de


diversos países da AL e do Caribe se reuniram no Panamá durante dois dias com um objetivo
ambicioso: criar um espaço de alto nível onde a América Latina e o Caribe pudessem refletir e
agir como um bloco unido para impulsionar o crescimento, a inclusão e a competitividade.

115
O propósito desse encontro foi o de alinhar interesses e posicionar a região diante de grandes
desafios como as mudanças climáticas, a crise alimentar, a transição energética e a revolução
digital.

A plenária principal, as sessões simultâneas, os encontros privados e os lançamentos foram


espaços projetados para promover redes de trabalho, incentivar a inovação e a ação climática,
fortalecer os sistemas logísticos da região e destacar o papel estratégico da filantropia na
construção de soluções sustentáveis.

O Fórum contou com a participação de expositores de 15 países, incluindo autoridades


de alto nível de governos latino-americanos e caribenhos, organismos multilaterais e
personalidades do mundo empresarial.

Estiveram presentes autoridades como Sergio Díaz-Granados, presidente executivo do Banco


de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe - CAF; Carlos Felipe Jaramillo, vice-
presidente do Banco Mundial para a região da América Latina e Caribe; Andrés Allamand,
secretário-geral ibero-americano; José Manuel Salazar-Xirinachs, Secretário Executivo da CEPAL;
Gustavo Santos, diretor para as Américas da ONU Turismo; Susan Segal, presidente do Council of
the Americas; Rebecca Bill Chávez, diretora do Diálogo Interamericano; Rebeca Grynspan,
secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD); Rolando González Patrício, Presidente de la Junta Directiva del Parlamento
Latinoamericano y Caribeño (Parlatino); entre outras.

Além disso, houve palestras magnas com Mateo Renzi, ex-primeiro-ministro da Itália;
Helle Thorning-Schmidt, ex-primeira-ministra da Dinamarca; e Jeremy Rifkin, sociólogo e
economista, entre outras figuras de renome global. Entre os principais palestrantes estavam
ainda autoridades latinoamericanas como o presidente do Panamá, José Raúl Mulino; o
presidente do Paraguai, Santiago Peña; o primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, Gaston
Browne; entre outros.

Objetivos

O Fórum, que serviu como um ambiente de encontro entre o setor privado, autoridades
governamentais e instituições multilaterais, teve como objetivo principal identificar e promover
estratégias inovadoras que fortaleçam as instituições, fomentem a inovação e a digitalização,
avancem na transição para uma energia verde, desenvolvam infraestrutura estratégica e gerem
oportunidades inclusivas para todos. Essas iniciativas foram consideradas fundamentais para
superar os obstáculos atuais e criar um ambiente econômico mais dinâmico e resiliente.

"A América Latina e o Caribe têm o potencial de se tornarem uma região de soluções
globais para os grandes desafios do desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, devem alcançar
um crescimento sustentado e inclusivo, enfrentando problemas estruturais como desigualdades,
baixa produtividade e redução da pobreza. Este fórum será um passo essencial para esses
objetivos, traçando planos de ação concretos para melhorar a qualidade de vida e criar uma
economia mais justa, resiliente e sustentável", destacou Sergio Díaz-Granados, presidente
executivo do CAF.

Sergio Díaz-Granados, Presidente Executivo da CAF desde 2021, lidera iniciativas para
posicionar a América Latina e o Caribe como uma região sustentável e resiliente. Ocupou cargos
importantes, como Ministro de Comércio, Indústria e Turismo da Colômbia, e foi representante

116
no Conselho Executivo do BID. Promotor da integração regional, impulsiona projetos que
combinam sustentabilidade e inovação.

Contexto e alguns indicadores apresentados

A América Latina e o Caribe enfrentam desafios estruturais que têm limitado seu
crescimento econômico e social há décadas. Apesar de possuírem vastos recursos naturais, uma
população jovem e empreendedora e um potencial energético invejável, a região continua
apresentando baixo crescimento e elevada desigualdade.

Introduzindo a situação da região em alguns números, a página do Fórum apresenta que


32% dos latino-americanos vivem em condições de pobreza; 50% da força de trabalho da região
trabalha na informalidade; 5% do PIB é o que a região investe em educação, segundo a CEPAL;
44% é o Índice de Percepção de Corrupção (abaixo da média global); o investimento atual em
infraestrutura é considerado metade do necessário para fechar as chamadas lacunas.

Temas do Fórum

Nas Plenárias líderes e especialistas foram os protagonistas de palestras magnas e


diálogos de alto nível, explorando os desafios econômicos, as dinâmicas geopolíticas e as
oportunidades de cooperação público-privada na América Latina e no Caribe. Foi considerado
um espaço essencial para traçar estratégias para um crescimento inclusivo e sustentável em
2025.

As sessões principais abordaram temas bastante diversificados:

· Conjuntura econômica 2025. Análise da situação econômica da América Latina e Caribe para o
ano de 2025.

· Elevando a presença da América Latina e Caribe no mercado mundial. Estratégias para uma
internacionalização eficaz da região.

· Economia circular na gestão de resíduos sólidos urbanos na América Latina e Caribe. Práticas
sustentáveis e seu impacto na região.

· Hay Festival: Imaginar e inovar. Ideias que contribuem para o desenvolvimento sustentável.

· Como retomar o caminho do crescimento na região? Propostas para impulsionar o


crescimento econômico.

· Riqueza e transição energética na América Latina e Caribe. O papel dos recursos e das energias
renováveis.

· Capital com propósito: a nova era da filantropia e do investimento de impacto. Tendências


em investimentos com impacto social e ambiental.

· Conexões que transformam: Conectividade aérea para o desenvolvimento regional


sustentável. Importância da conectividade para o crescimento regional.

· Entre Cali e Belém. O papel do setor privado e da filantropia no financiamento climático e para
a biodiversidade.

· Perspectivas sobre o desenvolvimento da América Latina e Caribe. Visão futura do


desenvolvimento regional.

117
· Empreenda sua mente. Como empresas e empreendedores impulsionam o futuro sustentável
da região.

· Conectando América Latina e Caribe. O papel de portos e logística na transição verde, digital e
energética.

· Tecnologia para inclusão financeira. Desafios e oportunidades na redução de desigualdades


financeiras.

· A voz de empresários e empreendedores. Desafios e compromissos do setor privado na região.

· Impulsionando produtividade e trabalho decente. Elementos -chave para reduzir a pobreza.

· Infraestrutura e competitividade: o papel do transporte ferroviário. Análise da infraestrutura


ferroviária para o desenvolvimento sustentável.

· Capacitação profissional e empregabilidade. Estratégias para melhorar as competências na


região.

· Segurança alimentar e sustentabilidade. Transformando desafios alimentares em


oportunidades de desenvolvimento.

. O impacto do crescimento econômico na redução da pobreza

· Nada sobre nós sem nós. Mulheres em posições de decisão na América Latina e Caribe.

América Latina e Caribe querem protagonismo da ação climática global

Durante o Fórum, o tema de destaque foi a Ação Climática. Especialistas analisaram os


avanços em biodiversidade e ação climática, alinhando interesses para a COP 30 em 2025 no
Brasil.

Em um painel intitulado "De Cali a Belém: América Latina e Caribe, um ator-chave na


ação climática global", Alicia Montalvo, gerente de Ação Climática e Biodiversidade Positiva do
CAF, destacou que, em um momento de incerteza no cenário ambiental global, a região tem se
demonstrado uma voz influente, especialmente nas questões de mudança climática, transição
energética e proteção da biodiversidade.

Juan Carlos Navarro, ministro do Meio Ambiente do Panamá, chamou a atenção para a
dimensão do desafio da crise climática, que se torna cada vez mais urgente. "Me preocupa a
falta de senso de urgência que percebo nos governos, no setor privado e na sociedade em geral.
Por isso, insisto que não devemos parar de discutir as COPs e as agendas de clima,
biodiversidade e desertificação", afirmou. O ministro também sugeriu mudanças no processo
decisório das COPs, propondo que os acordos deixem de depender da unanimidade e passem a
ser aprovados por algum tipo de maioria.

Astrid Schomaker, secretária-executiva do Convênio sobre Diversidade Biológica


(PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), ressaltou que os riscos
ambientais estão entre os dez maiores desafios que as empresas enfrentarão na próxima década
e que US$ 44 trilhões da economia global dependem da preservação da natureza. "É hora de
reconhecer essa realidade, de os governos apoiarem investimentos sustentáveis e de as
empresas assumirem sua responsabilidade nesse problema", enfatizou.

118
Os painelistas discutiram as principais soluções e instrumentos financeiros em
desenvolvimento para viabilizar um modelo inovador de investimentos sustentáveis. Entre eles
se afirmou que governos, organizações e o setor privado devem intensificar o envolvimento das
instituições financeiras multilaterais na criação de novos mercados e produtos financeiros para
impulsionar a economia verde, como o mercado voluntário de carbono, por exemplo, assim
como a proteção das florestas. Esse movimento, segundo painelistas, deve ser liderado pelo
setor público para garantir resultados mais amplos.

Foi destacado que a América Latina possui um grande potencial de investimento em


setores estratégicos. O potencial da região foi considerado altíssimo em áreas como cadeias
produtivas alimentares sustentáveis, turismo e bioturismo, além da matriz energética mais
limpa de todos os continentes.

Com a COP 30 no horizonte, a América Latina e o Caribe buscam consolidar-se como


protagonistas da ação climática global, demonstrando que a proteção ambiental pode andar
lado a lado com o desenvolvimento econômico sustentável.

Compromissos do CAF com o Meio Ambiente

No Fórum o CAF reiterou seu compromisso de se tornar o Banco Verde da região,


dedicando 40% do seu financiamento total a países da AL e do Caribe para iniciativas
ambientais e de sustentabilidade até 2026.

Com este financiamento, a instituição concentra seus esforços no aumento da resiliência


climática dos projetos de infraestruturas, na promoção da transição energética, na melhoria dos
sistemas de água e saneamento, na obtenção de um baixo crescimento nas emissões de gases
com efeito de estufa e no fortalecimento da conservação dos ecossistemas naturais e da
biodiversidade.

“Estamos avançando em nosso objetivo de nos tornarmos o banco verde da América Latina e
do Caribe em diferentes frentes. Por um lado, aumentar o financiamento de projetos de proteção
da biodiversidade e de adaptação e mitigação das alterações climáticas e, por outro lado,
melhorar a qualidade dos nossos projetos para incorporar os componentes verdes necessários
à sustentabilidade ambiental. Tudo isso ajuda a fornecer soluções latino-americanas e
caribenhas para superar a crise ambiental global”, disse Alicia Montalvo, gerente de Ação
Climática e Biodiversidade Positiva do CAF.

Nessa direção, os compromissos financeiros que o CAF assumiu nos últimos três anos
foram:

• 25 bilhões de dólares para ação climática e biodiversidade. Durante a COP26 em


Glasgow em 2021, o CAF anunciou um investimento de 25 bilhões de dólares até 2026
para iniciativas que promovam a sustentabilidade ambiental e climática na América
Latina e no Caribe. A instituição também está reforçando a mobilização de fontes de
financiamento de terceiros, como a emissão de títulos e fundos verdes e climáticos, e
promovendo alianças estratégicas que permitam o fortalecimento do trabalho
coordenado entre governos, sociedade civil, organizações internacionais, ONGs e o setor
privado. Isto ajuda a conservar a biodiversidade, a conceber políticas públicas de
adaptação e mitigação, a reforçar as capacidades governamentais e a incentivar o
crescimento económico inclusivo e amigo do ambiente.

119
• Proteção dos oceanos. Durante a Conferência dos Oceanos realizada em Lisboa em
2022, o CAF anunciou que destinará 1,25 bilhão de dólares até 2026 para financiar
projetos que contribuam para preservar, dinamizar e promover os ecossistemas
marinhos e costeiros da América Latina e do Caribe. Recursos utilizados para conceber
e implementar projetos e programas que promovam a economia azul, com ênfase na
restauração dos ambientes marinhos e costeiros, carbono azul, energia marinha
renovável, pesca e aquicultura sustentáveis, gestão costeira integrada, soluções
baseadas na natureza, pagamento pelo ecossistema-serviços, ecoturismo e melhoria da
gestão de áreas marinhas protegidas, entre outros.

• Adaptação e gestão de riscos diante de desastres naturais. Na COP 28 em Dubai, em


2023, o CAF anunciou que investirá mais de US$2 bilhões por ano até 2030 para a
adaptação às mudanças climáticas e, especialmente, para que a região esteja melhor
preparada para enfrentar desastres naturais extremos cada vez mais frequentes e
intensos. Os fundos serão utilizados para melhorar a resiliência das infraestruturas, a
segurança hídrica, a segurança alimentar, a resposta a emergências, a redução de
desastres com sistemas de monitorização e prevenção com tecnologia de ponta, o
controlo da erosão e a proteção costeira, entre outros aspectos.

• Trabalho integral na Amazônia. Durante a COP 28 em Dubai, em 2023, o CAF anunciou


um investimento de US$2 bilhões até 2030 para contribuir para uma Amazônia
sustentável, inclusiva, equitativa e resiliente ao clima. Os fundos do CAF destinam-se a
fortalecer a gestão das áreas protegidas e sua conectividade para a conservação da
biodiversidade; promover a bioeconomia e o turismo sustentável, inclusivo, resiliente
e regenerativo; promover cidades amazônicas resilientes, de baixo carbono e
inclusivas; melhorar as condições de vida dos habitantes amazônicos; e trabalhar
ativamente com a Coalizão Verde de Bancos de Desenvolvimento para a Amazônia para
alcançar financiamento contínuo e sustentável na região.

• Programa para preservar a biodiversidade da região. Na COP16 em Cali, Colômbia, o


CAF anunciou um programa de US$ 300 milhões para conservar e restaurar os principais
ecossistemas estratégicos da região, como a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal,
o Chaco, a Patagônia, a Antártica e a Corrente de Humboldt, entre outros. O projeto
também mobiliza mais recursos financeiros e melhora a coordenação entre os governos
locais, o setor privado e a sociedade civil. Além disso, até 2030, 10% do financiamento
do CAF será destinado a iniciativas de preservação da biodiversidade.

Considerações Finais

Foi possível constatar o importante papel do CAF, Banco de Desenvolvimento da América


Latina e Caribe, na promoção de um encontro pioneiro como o Fórum Internacional Econômico
AL e Caribe, uma espécie de contraponto ao Fórum de Davos.

As temáticas foram diversas, mas o foco principal do encontro foi o denominado


Desenvolvimento Sustentável, com destaque para a ação do Banco no financiamento climático,
assumindo o papel de Banco Verde da região.

Vale assinalar iniciativas inovadoras na promoção de ecossistemas marinhos e costeiros,


bem como de ações de proteção da biodiversidade da Amazônia, com a preocupação de

120
promover cidades amazônicas de baixo carbono e inclusivas, com o propósito de melhorar as
condições de vida de seus habitantes.

Com isso o CAF pretende ser o “Banco Verde” da região, aplicando 40% dos seus
investimentos até 2026 em iniciativas voltadas para a sustentabilidade ambiental, com impacto
direto nas condições de vida da população latinoamericana e, por conseguinte, na sua saúde.

Como de costume, na análise dos discursos e dos documentos, palavras como


filantropia, resiliência, competitividade, mercado, entre outras, são recorrentes por parte do
Banco, das Instituições Multilaterais e dos governos. Por outro lado, merece destaque o caráter
multidisciplinar de diversos pesquisadores e intelectuais participantes do Fórum.

OBS: Os itálicos e os negritos foram utilizados pela autora para destacar termos utilizados na
análise dos documentos pesquisados.

Fontes de consulta

1. https://www.caf.com/pt/conhecimento/visoes/2020/04/por-que-os-bancos-de-desenvolvimento/
2. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/
3. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/caf-anuncia-a-primeira-edi%C3%A7%C3%A3o-do-forum-
4. econ%C3%B4mico-da-america-latina-e-caribe-2025-no-panama/
5. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/
6. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/sessoes-simultaneas-1/
7. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/plenaria-principal/
8. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/speakers/
9. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/agenda/
10. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/agenda/
11. https://www.caf.com/pt/especiales/forum-economico-internacional-2025/sobre-o-forum/
12. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/
13. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/especialistas-brasileiros-se-destacam-no-forum-
econ%C3%B4mico-internacional/
14. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/america-latina-e-caribe-lan%C3%A7am-seu-primeiro-
grande-forum-global/
15. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/presidente-do-panama-inaugura-forum-
econ%C3%B4mico-internacional-alc-2025/
16. https://www.caf.com/pt/presente/noticias/america-latina-e-caribe-querem-protagonismo-da-
a%C3%A7%C3%A3o-climatica-global/

121
Reformas Urgentes da Dívida para Prevenir "Inadimplências no Desenvolvimento" e
Atividade Global de Propriedade Intelectual Atingiu Novos Patamares
Urgent Debt Reforms to Prevent "Defaults on Development" and Global Intellectual
Property Activity Reached New Heights

Claudia Chamas
Bernardo Bahia Cesário

Abstract. News published by Reuters informs that the United States has suspended
contributions to the World Trade Organization. UNCTAD and WIPO reports reveal two critical
developments in the global economic landscape of 2024: the sovereign debt crisis threatening
to paralyze sustainable development in low and middle-income countries, and the growth in
global intellectual property registrations. According to UNCTAD, mounting debt burdens
compromise essential investments in public health, infrastructure, and climate transition.
Simultaneously, intellectual property trends documented by WIPO highlight persistent
disparities in innovation capacity between advanced and developing economies. The documents
emphasize the urgent need for reforms in the international financial system and more robust
technology transfer mechanisms to reduce structural inequalities affecting the region's
development.

Keywords: WTO, Sovereign debt crisis, Sustainable development, Intellectual property, Global
innovation, Public health, Technological inequality, International cooperation.

Resumo. Notícia publicada pela Reuters informa que os Estados Unidos suspenderam as
contribuições para a Organização Mundial do Comércio. Os relatórios da UNCTAD e da OMPI
revelam dois fenômenos críticos para o desenvolvimento econômico e social global em 2024: a
crise da dívida soberana que ameaça paralisar o desenvolvimento sustentável em países de
baixa e média renda, e o crescimento dos registros de propriedade intelectual nos sistemas
globais. Segundo a UNCTAD, os encargos crescentes da dívida comprometem investimentos
essenciais em saúde pública, infraestrutura e transição climática. Paralelamente, as tendências
de propriedade intelectual documentadas pela OMPI evidenciam persistentes disparidades na
capacidade de inovação entre economias avançadas e em desenvolvimento. Os documentos
enfatizam a necessidade urgente de reformas no sistema financeiro internacional e de
mecanismos mais robustos de transferência tecnológica para reduzir desigualdades estruturais
que afetam o desenvolvimento da região.

Palavras-chave: OMC, Crise da dívida soberana, Desenvolvimento sustentável, Propriedade


intelectual, Inovação global, Saúde pública, Desigualdade tecnológica, Cooperação internacional

EUA suspendem contribuições financeiras à OMC, dizem fontes comerciais

Matéria da Reuters informa que os Estados Unidos suspenderam as contribuições para


a Organização Mundial do Comércio, de acordo com três fontes. Tal movimento se alinharia a
outras iniciativas de afastamento de instituições globais em desacordo com as políticas
econômicas "America First". O corte das contribuições faz parte de ampla revisão dos gastos
federais. Em 2019, durante o primeiro mandato de Trump, os EUA bloquearam novas
nomeações de juízes para o principal tribunal de apelações da OMC, deixando o sistema de

122
solução de controvérsias apenas parcialmente funcional. A motivação para esta medida seria o
“excesso judicial em disputas comerciais”. Em 2024, o orçamento do órgão foi 205 milhões de
francos suíços (US$ 232,06 milhões). De acordo com a OMC, a contribuição dos EUA está em
cerca de 11% do total, com base em um sistema de taxas proporcional à sua participação no
comércio global (Farge, 2025).

Segundo fontes que o texto cita, “um delegado dos EUA disse em uma reunião de
orçamento da OMC em 4 de março que seus pagamentos para os orçamentos de 2024 e 2025
estavam suspensos, aguardando revisão das contribuições para organizações internacionais e
que informaria a OMC sobre o resultado em data não especificada”. Nesse contexto, a OMC
estaria elaborando um "Plano B" para fazer frente a uma pausa prolongada no financiamento.
M|es passado, de acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Trump assinou uma
ordem executiva instruindo o Secretário de Estado, Marco Rubio, a revisar dentro de 180 dias
todas as organizações internacionais das quais os EUA são membros "para determinar se são
contrárias aos interesses dos EUA". No caso da OMC, a revisão ocorre em coordenação com o
USTR. O porta-voz da OMC, Ismaila Dieng, informou que as contribuições dos EUA estavam a
caminho, mas "esbarraram na pausa de todos os pagamentos para agências internacionais". No
final de dezembro de 2024, os Estados Unidos já deviam 22,7 milhões de francos suíços (US$
25,70 milhões), de acordo com documento da OMC obtido pela Reuters marcado como
"RESTRITO" e datado de 21 de fevereiro (Farge, 2025).

As regras da OMC estabelecem que qualquer membro que deixar de pagar suas taxas
após mais de um ano está sujeito a "medidas administrativas", com consequências como, por
exemplo, não poder presidir órgãos da OMC nem receber documentação formal. Não se sabe
se a OMC já aplica essas medidas aos Estados Unidos. Segundo William Reinsch, ex-funcionário
do Comércio dos EUA, disse que provavelmente os EUA acabariam pagando sua conta na OMC.
Um embaixador dos EUA foi recentemente para a instituição, indicando vontade de
engajamento. No final de 2024, outros cinco outros países membros - Bolívia, República
Democrática do Congo, Djibuti, Gabão e Gâmbia - estavam com pagamentos atrasados. Um total
de 38,4 milhões de francos suíços de contribuições estavam pendentes, incluindo taxas não
pagas de 2024 e anteriores (Farge, 2025).

Panorama

O cenário econômico global em 2024 permanece caracterizado por profundas


desigualdades estruturais, evidenciadas pelos desafios simultâneos de sustentabilidade da
dívida soberana e disparidades em capacidade de inovação. Segundo a UNCTAD,
aproximadamente 3,3 bilhões de pessoas vivem em países que gastam mais com serviço da
dívida do que com saúde pública, enquanto dados da OMPI revelam crescimento de
aproximadamente 2,5% nos registros internacionais de patentes e um aumento de 6% nos
pedidos de registro de marca através do Sistema de Madri em 2024, com China, Estados Unidos
e Japão mantendo-se como líderes em solicitações de propriedade intelectual, enquanto países
da América Latina, incluindo o Brasil, permanecem significativamente atrás em indicadores de
inovação, representando menos de 3% dos pedidos internacionais de patente.

Crise da Dívida e Impactos no Desenvolvimento

Panorama da crise global da dívida

A 14ª Conferência Internacional de Gestão da Dívida, realizada em Genebra entre 17 e


19 de março de 2025, evidenciou a gravidade da crise da dívida global e seu impacto no

123
desenvolvimento sustentável. Conforme destacado pela Secretária-Geral da UNCTAD, Rebeca
Grynspan, os desafios relacionados à dívida "crescem em complexidade e escala" enquanto as
ferramentas multilaterais existentes têm lutado para acompanhar essa evolução. Dados
apresentados na conferência mostram que a dívida externa dos países em desenvolvimento
atingiu o recorde de US$ 11,4 trilhões em 2023, equivalente a 99% de seus ganhos com
exportações (UNCTAD, 2025).

A situação representa um desvio crítico de recursos que deveriam financiar


infraestrutura essencial, educação e saúde, mas que agora são direcionados para o pagamento
da dívida. Nas palavras de Grynspan: "Isso força os países a escolherem inadimplir em seu
desenvolvimento para não inadimplir em sua dívida. Não mais inadimplências na dívida, mas
sim no desenvolvimento" (UNCTAD, 2025).

Impactos na saúde pública e desenvolvimento social

Os dados da UNCTAD revelam um quadro alarmante para saúde pública e


desenvolvimento social: aproximadamente 3,3 bilhões de pessoas vivem em países que gastam
mais com o serviço da dívida do que com saúde ou educação. Esta realidade cria um ciclo vicioso
em que o subfinanciamento de serviços essenciais compromete o capital humano necessário
para o desenvolvimento econômico futuro (UNCTAD, 2025).

Além disso, o relatório destaca que os pagamentos de juros superam os investimentos


climáticos em quase todos os países em desenvolvimento, limitando drasticamente sua
capacidade de responder aos desafios globais (UNCTAD, 2025).

Iniciativas para reforma do sistema financeiro

A conferência da UNCTAD estabeleceu o cenário para soluções concretas visando


reduzir o estresse da dívida enquanto protege o desenvolvimento sustentável, especialmente
considerando a próxima 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o
Desenvolvimento prevista para o final de 2025 (UNCTAD, 2025).

O evento reuniu mais de 600 participantes de 107 países, incluindo formuladores de


políticas, gestores de dívida, representantes da sociedade civil e acadêmicos, além de 20
entidades das Nações Unidas trabalhando juntas para avançar em soluções. Foram organizados
nove painéis de especialistas focados em questões como geopolítica da dívida, nexo dívida-
clima, governança e transparência (UNCTAD, 2025).

Um foco central da conferência foi o Sistema de Gestão da Dívida e Análise Financeira


(DMFAS), programa de assistência técnica da UNCTAD que há mais de quatro décadas ajuda
governos a fortalecer a gestão da dívida. Durante o evento, foi lançado o DMFAS 7, a versão
mais recente do software de gestão da dívida da UNCTAD, que apresenta melhorias
significativas:

• Segurança reforçada e ampliação da cobertura de dados: Permite uma visão mais


detalhada dos compromissos financeiros e dos fluxos de capital.
• Integração com sistemas financeiros nacionais: Facilitando a consolidação de dados e
a transparência das operações.
• Interface redesenhada para maior eficiência: Tornando o sistema mais intuitivo e
acessível para os gestores públicos.

124
Essas ferramentas modernizadas visam ajudar os governos a rastrear e gerenciar a
dívida de forma mais eficaz, garantindo transparência e estabilidade enquanto mantêm as metas
de desenvolvimento no caminho certo (UNCTAD, 2025).

Tendências em Propriedade Intelectual e Inovação Global

Crescimento dos registros globais de PI

Em contraste com a fragilidade dos sistemas financeiros dos países em


desenvolvimento, os dados divulgados pela WIPO em 17 de março de 2025 revelam a proteção
de ativos intangíveis via propriedade intelectual seguiu em crescimento em 2024, em um
contexto de forte competição internacional por inovação e domínio tecnológico. Em 2024, o
número total de pedidos de patente via o Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT)
alcançou 273.900, representando um aumento de 0,5% em comparação a 2023 (WIPO,
17/03/2025). Esse dado, embora modesto em termos percentuais, reflete a dinâmica de
inovação global e a importância crescente da proteção intelectual para empresas e institutos de
pesquisa.

Entre os principais indicadores destacados, observam-se:

• Crescimento no Sistema de Haia: Com um aumento de 6,8% nas inscrições de designs,


evidenciando o fortalecimento da proteção de criações industriais e artísticas.
• Patentes (Tratado de Cooperação em Patentes - PCT): crescimento modesto de 0,5%,
atingindo 273.900 aplicações.
• Desempenho dos principais países: A China lidera os pedidos de patente, seguida pelos
Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Alemanha, demonstrando uma competição
acirrada no cenário global da inovação.
• Tendências setoriais: O avanço nas tecnologias digitais e na eletrônica, com campos
como a comunicação digital e a maquinaria elétrica registrando as maiores taxas de
crescimento, o que sugere uma mudança no foco dos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.
Conforme destacado pelo Diretor-Geral da OMPI, Daren Tang: "A OMPI é única entre as
agências da ONU por fornecer serviços diretamente ao setor privado: Nossos registros
internacionais de PI ajudam indivíduos e empresas inovadoras em todo o mundo a mover sua PI
através das fronteiras e expandir para novos mercados" (WIPO, 2025).

Protagonismo asiático e dinâmica assimétrica

A China manteve-se como principal fonte de pedidos PCT em 2024, com 70.160
aplicações, seguida pelos EUA (54.087), Japão (48.397), República da Coreia (23.851) e
Alemanha (16.721). Enquanto a China retornou ao crescimento (+0,9%), EUA, Japão e Alemanha
experimentaram declínios de 2,8%, 1,2% e 1,3%, respectivamente, marcando o terceiro ano
consecutivo de diminuição para os EUA e o segundo para Alemanha e Japão. Em contraste, a
República da Coreia destacou-se com forte crescimento de 7,1%, seu 27º ano sucessivo de
expansão (WIPO, 2025).

No âmbito corporativo, a Huawei Technologies liderou os depósitos de PCT em 2024,


com 6.600 aplicações publicadas, seguida pela Samsung Electronics (4.640), Qualcomm (3.848),
LG Electronics (2.083) e Contemporary Amperex Technology (1.993). Japão, China e EUA
possuem o maior número de requerentes entre as 100 principais entidades depositantes, com
35, 21 e 19 representantes, respectivamente (WIPO, 2025).

125
Entre as 10 principais empresas, a Samsung Electronics registrou o crescimento mais
rápido, com 716 aplicações adicionais em 2024. Fora do top 10, gigantes tecnológicos
americanos como Apple (441 aplicações adicionais) e Google (335 aplicações adicionais)
entraram no top 20. Embora representem diversos setores industriais, pelo menos oito dos 20
principais depositantes operam nos setores de telefonia móvel e telecomunicações (WIPO,
2025).

No setor educacional, a Universidade da Califórnia (EUA) manteve sua posição de


liderança com 519 aplicações PCT publicadas em 2024. Em seguida aparecem o Sistema
Universitário do Texas (EUA) com 216 aplicações, a Universidade Tsinghua (China, 188), a
Universidade de Zhejiang (China, 175) e a Universidade Nacional de Seul (República da Coreia,
170) (WIPO, 2025).

Principais campos tecnológicos e marcas registradas

Em 2024, comunicação digital tornou-se o principal campo em aplicações PCT


publicadas, representando 10,5% do total. Isso superou a tecnologia da computação, que
ocupava o primeiro lugar desde 2019. Outros campos proeminentes incluíram tecnologia da
computação (9,7%), máquinas elétricas (8,6%), tecnologia médica (6,5%) e medição (4,4%).
Juntos, esses cinco campos representaram aproximadamente 40% de todas as aplicações PCT
publicadas, um aumento de cinco pontos percentuais em comparação a 2019. Entre os 10
principais campos tecnológicos, comunicação digital (+9,9%) e máquinas elétricas (+7,9%)
apresentaram as taxas de crescimento mais rápidas em 2024 (WIPO, 2025).

Marcas internacionais: retomada após dois anos de queda

O Sistema de Madrid, voltado ao registro internacional de marcas, apresentou em 2024


um total de 65.000 pedidos, o que representa um crescimento de 1,2% em relação a 2023,
revertendo a tendência negativa dos dois anos anteriores. Os requerentes baseados nos EUA
(11.270 aplicações) registraram o maior número de pedidos, seguidos pelos localizados na
Alemanha (6.449), China (5.828), França (4.211) e Reino Unido (3.736). O destaque foi o
crescimento expressivo de países como:

• Coreia do Sul: +12,1% (maior taxa entre os 10 primeiros)


• China: +6,3%
• Suíça e Japão: +6,1% cada
• Itália: +5,7%
• Estados Unidos: +2,5%

A empresa L'Oréal da França manteve sua posição de liderança em aplicações do


Sistema de Madri pelo quarto ano consecutivo em 2024, com um total de 244 registros, seguida
pela Novartis AG da Suíça, que subiu duas posições para se tornar a segunda maior depositante
com 193 aplicações (WIPO, 2025).

As empresas com maior crescimento entre 2023 e 2024 foram:

• Novartis AG: +83 registros


• O’Reilly Automotive Stores (EUA): +76
• Amorepacific (Coreia do Sul): +65
• BYD Company (China): +60

126
A classe mais especificada em aplicações internacionais recebidas pela OMPI cobre
hardware e software de computador e outros aparelhos elétricos ou eletrônicos, representando
10,8% do total de 2024, seguida pela classe que cobre serviços empresariais (8,4%) e aquela
relacionada a serviços científicos e tecnológicos (7,8%) (WIPO, 2025).

Desenhos industriais e resolução alternativa de disputas

No Sistema de Haia para proteção internacional de desenhos industriais, a China foi a


principal depositante em 2024, com 4.870 designs, seguida pela Alemanha (4.218), EUA (3.034),
Itália (2.249) e Suíça (2.109). Cinco dos 10 principais países experimentaram crescimento de dois
dígitos em 2024, com a China liderando com aumento de 29,6%, seguida pela Itália (+23,8%),
Países Baixos (+17,4%), República da Coreia (+16,8%) e EUA (+13,3%) (WIPO, 2025).

No campo da resolução alternativa de disputas, o Centro de Arbitragem e Mediação da


OMPI relatou que em 2024 esteve envolvido na resolução de 858 disputas de propriedade
intelectual, inovação e tecnologia, marcando um aumento de 25% em relação a 2023, enquanto
proprietários de marcas de 133 países apresentaram 6.168 casos sob a Política Uniforme de
Resolução de Disputas de Nome de Domínio (UDRP) e variações nacionais de ccTLD (WIPO,
2025).

Referências
1. Farge, E. US pauses financial contributions to WTO, trade sources say. Disponível em:
https://www.reuters.com/world/us-suspends-financial-contributions-wto-trade-sources-say-2025-03-
27/
2. UNCTAD. Urgent debt reforms needed to prevent ‘defaults on development’. 2025. Disponível em:
https://unctad.org/news/urgent-debt-reforms-needed-prevent-defaults-development.
3. WIPO. Use of WIPO’s Global IP Registries for Patents, Trademarks and Designs Grew in 2024. 2025.
Disponível em: https://www.wipo.int/pressroom/en/articles/2025/article_0003.html

127
Um apelo à esperança no meio de um mundo em turbulência

Diana Zeballos, Patrícia Lewis Carpio,


Laurenice Pires, Matheus dos Santos da
Silveira, Tatiana Cerqueira Machado
Medrado, Renan Amaral Oliveira, Jesús
Enrique Patiño Escarcina, Ana Carol Aldapi
Vaquera e Luis Eugênio de Souza

Resumo. O presente informe analisa manifestações de 40 organizações da sociedade civil


(OSC), divulgadas entre 9 e 23 de março de 2025. Nesse período, destacaram-se questões como
conflitos armados, mudanças climáticas, equidade de gênero e medidas tomadas pelo governo
Trump. Conflitos persistentes em Gaza, Haiti, Síria, Sudão, Líbano e República Democrática do
Congo agravaram crises humanitárias, com restrições a qualquer iniciativa de ajuda e ataques a
infraestrutura de saúde. Organizações como Médicos Sem Fronteiras, Oxfam e Greenpeace
denunciam o uso da ajuda humanitária como arma de guerra. As mudanças climáticas foram
objetos de muitas manifestações, com foco na saúde pública e na escassez hídrica. A WFPHA
enfatizou a importância de políticas ambientais para a saúde da população, enquanto a
Greenpeace alertou para a influência da indústria petroquímica na regulação da produção de
plásticos. No contexto do Dia Mundial da Água, foram denunciadas práticas industriais que
comprometem o acesso a esse recurso essencial, assim como a extração em larga escala na
mineração, na produção de álcool, tabaco e ultraprocessados. A desigualdade de gênero
também foi evidenciada, com mulheres e meninas desproporcionalmente impactadas por
conflitos armados e crises ambientais. Além disso, cortes de financiamento do governo dos EUA
prejudicaram programas de saúde, segurança alimentar e educação, agravando a situação de
populações já vulnerabilizadas. Nesse mundo turbulento, o Movimento pela Saúde dos Povos
fez um apelo em favor da esperança, defendendo respostas solidárias e descolonizadas às crises
em curso. Em contraste com as OSC de interesse público, que denunciam crises estruturais, as
OSC de interesse privado se manifestaram, na maioria das vezes, sobre inovações tecnológicas.

INTRODUÇÃO

No presente informe, foram consideradas as manifestações feitas no período de 9 a 23 de março


de 2025. Das 62 organizações da sociedade civil (OSC) observadas, 40 apresentaram
manifestações dignas de registro, abrangendo organizações de interesse público e de interesse
privado. Os temas mais frequentes das manifestações foram guerras e conflitos, mudanças
climáticas, equidade de gênero e as consequências dos cortes de financiamento, pelo governo
Trump, de programas de saúde, segurança alimentar e educação.

Os conflitos armados continuam a se intensificar em diferentes partes do mundo. Os recentes


bombardeios israelenses em Gaza provocaram reações de organizações como ActionAid,
Médicos Sem Fronteiras (MSF), Oxfam e Greenpeace, que fizeram apelos pelo cessar-fogo,
denunciaram o bloqueio da ajuda humanitária e criticaram o uso sistemático dessa assistência
como arma de guerra, em violação ao direito internacional. Com os estoques de suprimentos
esgotados e a ausência de garantias de segurança para trabalhadores humanitários, as

128
operações de assistência foram severamente comprometidas, aumentando os riscos à vida da
população. No Haiti, a escalada da violência, com ataques a equipes médicas e instalações de
saúde, levaram o MSF a suspender suas operações, deixando sem qualquer atendimento as
pessoas afetadas pelo conflito. Na Síria, a violência resultou na morte de mais de mil pessoas e
no deslocamento de mais de quatro mil famílias. A Save the Children, que está prestando ajuda
humanitária na Síria, apelou para a garantia da assistência emergencial, da proteção às crianças
e do aumento do financiamento à ajuda. No Sudão, o maior campo de refugiados do país
enfrenta uma situação crítica, com escassez extrema de alimentos e medicamentos, impactando
principalmente as crianças após a recente escalada da violência. Também na República
Democrática do Congo, a situação se deteriorou ainda mais, com 400 mil pessoas deslocadas à
força e hospitais saturados devido à destruição causada pelos conflitos na cidade de Goma.

Os efeitos dos desastres climáticos foram amplamente discutidos, incluindo a erupção de um


vulcão na Indonésia, que causou a interrupção das atividades escolares para milhares de
crianças. Os impactos na saúde seguem como uma consequência grave das mudanças
climáticas. A Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA) destacou os
benefícios para a saúde dos esforços coletivos no combate às mudanças climáticas e noticiou a
participação da Abrasco, que a representou na reunião de elaboração do Plano de Ação Clima e
Saúde da COP30, sob a liderança do Ministério da Saúde brasileiro. A Greenpeace alertou que
as tentativas de redução da produção de plásticos, essencial para mitigar riscos à saúde e ao
meio ambiente, estão ameaçadas pela influência da indústria petroquímica e pelo bloqueio de
alguns países, que podem desviar o foco para soluções ineficazes, como a reciclagem, em vez de
atacar a raiz do problema. No Dia Mundial da Água, organizações ressaltaram a importância do
acesso à água potável como um direito fundamental. No entanto, diversas entidades
denunciaram práticas de indústrias de diferentes setores que ameaçam esse direito, seja pela
extração em larga escala ou pela contaminação da água, como ocorre na mineração, na
produção de álcool, tabaco e ultraprocessados, além dos impactos decorrentes do desastre de
Fukushima, no Japão. Essa exploração tem agravado a escassez hídrica, especialmente em
regiões vulneráveis que não têm nenhuma responsabilidade por essa crise.

As organizações destacaram ainda o aprofundamento das desigualdades históricas, que afetam


de forma desproporcional mulheres e meninas, tanto nos cenários de guerra quanto nos
impactos das mudanças climáticas. Na República Democrática do Congo, vítimas de
deslocamento forçado estão sendo submetidas a estupros, violência sexual e casamentos
forçados após serem obrigadas a retornar a áreas controladas por grupos armados. O corte
abrupto do financiamento da USAID também gerou maior risco de exploração sexual em
comunidades de pesca remotas na Zâmbia, devido à interrupção de programas que ofereciam
suporte às vítimas de violência de gênero e conscientização sobre a prática do "sexo por peixe".
Além disso, um relatório denunciou as condições de exploração enfrentadas por milhares de
mulheres palestinas que trabalham em assentamentos ilegais israelenses.

As políticas que geram o recorte de financiamento, principalmente do governo de Trump,


continuam a ser discutidas, especialmente em relação ao impacto no ressurgimento de doenças
tropicais em Uganda e às consequências dos cortes no financiamento federal dos EUA para a
educação, que podem afetar milhões de crianças, especialmente em áreas rurais. A interrupção,
revisão e término do financiamento dos EUA para programas de HIV também foram
amplamente criticados. O colapso dos sistemas sanitários agravado pela interseção com outras
crises também foi um tema de destaque. A suspensão do financiamento da USAID e a
intensificação do conflito têm levado o sistema de saúde ao colapso na República Democrática

129
do Congo e o agravamento da crise sanitária com o aumento alarmante de casos de cólera,
Mpox e sarampo. Da mesma forma, o Líbano enfrenta uma grave crise de saúde pública,
impulsionada pelo colapso da infraestrutura, deslocamentos em massa e desnutrição
generalizada. A grave crise de desnutrição na Somália foi intensificada por secas prolongadas,
conflitos e falta de financiamento. No Iêmen, a superlotação dos hospitais e a redução do
financiamento humanitário agravam ainda mais a desnutrição severa, enquanto muitas crianças
também enfrentam surtos de sarampo e cólera.

Diante desse cenário de crises interligadas, o Movimento pela Saúde dos Povos publicou uma
declaração que apela à esperança, ao otimismo, à resiliência, à solidariedade e à paz,
ressaltando que décadas de capitalismo neoliberal resultaram em crises sobrepostas. O
movimento convoca esforços para construir um mundo mais equitativo, ecologicamente
sustentável, descolonial e pacífico, no qual a saúde e o bem-estar sejam acessíveis a todos.

Entre as manifestações das organizações de interesse privado, destacaram-se temas de


tecnologia e inovação na saúde. Foi noticiado que a introdução de refrigeradores movidos a
energia solar está transformando o armazenamento de vacinas em áreas remotas. Além disso,
o uso de inteligência artificial para apoiar os tratamentos de saúde mental foi apontado como
uma tendência promissora. Os desafios para combater o uso inadequado de antibióticos e a
resistência antimicrobiana continuam sendo um tema de preocupação global. Por fim, houve
discussões sobre a necessidade de maior preparação para futuras pandemias, visando minimizar
impactos sanitários e sociais em crises futuras.

ORGANIZAÇÕES DE INTERESSE PÚBLICO

Guerras e conflitos

Conflito em Gaza

ActionAid condenou os intensos ataques aéreos israelenses em Gaza, que resultaram na


morte de centenas de pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos. A organização alertou que
hospitais estão sobrecarregados e sem suprimentos médicos há 17 dias, enquanto novas ordens
de deslocamento forçam famílias a fugir novamente. Diante do bloqueio total de ajuda
humanitária, ActionAid pediu à comunidade internacional pressionar pelo respeito ao cessar-
fogo e pela entrada imediata de suprimentos essenciais para evitar mais perdas de vidas.1

Médicos Sem Fronteiras (MSF) denuncia a grave situação humanitária em Gaza após
novos bombardeios israelenses e ordens de evacuação forçadas, que deixaram famílias inteiras
sem rumo. Reham Abu Draz, enfermeira da organização, relata o desespero e a destruição,
descrevendo cenas de mortes, sangue e crianças fugindo sozinhas. MSF pede o fim imediato dos
ataques e a retomada da entrada de ajuda humanitária, alertando para o impacto devastador
do conflito sobre a população civil.2

ActionAid condenou veementemente a morte de Mohammad Ahmad Abu Marshood,


engenheiro e coordenador de projetos da Al Awda Health and Community Association, parceira
da organização, que foi morto por forças israelenses junto com membros de sua família,
incluindo sua esposa grávida. O ataque ocorreu em meio à retomada dos bombardeios em Gaza,
encerrando um cessar-fogo de dois meses e deixando mais de 400 mortos. Com hospitais
sobrecarregados e sem suprimentos médicos essenciais, ActionAid reforça o apelo à
comunidade internacional para deter os ataques, garantir o fluxo de ajuda humanitária e
proteger vidas civis.3

130
A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza desde 18 de março matou quase 700
pessoas, incluindo pelo menos 200 crianças, e forçou 120.000 palestinos a fugir, agravando uma
crise humanitária já extrema. Segundo a Oxfam, a falta de garantias de segurança para
trabalhadores humanitários tem prejudicado severamente as operações de ajuda, enquanto
Israel continua bloqueando o acesso a materiais essenciais, como unidades de dessalinização e
infraestrutura de saneamento. Desde janeiro, a Oxfam conseguiu alcançar cerca de 181.622
pessoas em Gaza com água potável, saneamento, assistência em dinheiro e alimentos. No
entanto, os estoques estão esgotados, e a destruição de instalações de saúde e infraestruturas
básicas ameaça ainda mais a vida da população. A organização denunciou o uso sistemático da
ajuda humanitária como arma de guerra e exige um cessar-fogo permanente, além do
cumprimento do direito internacional e da responsabilização de todas as partes envolvidas.4

A Greenpeace destacou numa declaração a condena a retomada dos ataques a Gaza


pelo governo israelense e o fim do cessar-fogo, enfatizando a crise humanitária agravada pela
destruição da infraestrutura, bloqueios a recursos essenciais e o alto número de vítimas civis. A
organização reforçou seus apelos por um cessar-fogo permanente, a libertação de reféns e
detidos, a entrega urgente de ajuda humanitária e o fim da ocupação ilegal da Palestina,
alinhando-se ao direito internacional e às resoluções da ONU.5

A Oxfam condenou os ataques de Israel à Faixa de Gaza, que violaram o cessar-fogo e


resultaram em mais de 300 mortos e centenas de feridos. Clémence Lagouardat, coordenadora
humanitária da organização em Gaza, afirmou que a destruição de infraestruturas civis e os
deslocamentos forçados de palestinos são violações do direito internacional. Além disso, o cerco
total imposto por Israel desde o início do mês agrava a crise humanitária, privando a população
de alimentos, água potável e assistência médica. A Oxfam responsabiliza a comunidade
internacional pela impunidade de Israel e exige um cessar-fogo permanente para proteger civis
palestinos e israelenses.6

Violência no Haiti

Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou um ataque a tiros contra veículos da


organização durante a evacuação de sua equipe de um centro médico em Porto Príncipe, Haiti,
em meio à escalada da violência. Alguns profissionais sofreram ferimentos leves, e as operações
no Centro Médico de Turgeau foram suspensas por questões de segurança. MSF ressalta a
necessidade urgente de respeito às equipes médicas e instalações de saúde para garantir a
continuidade do atendimento à população afetada pelo conflito.7

Conflito da Síria

Após confrontos mortais em Latakia, na Síria, a Save the Children em parceria com
organizações locais está fornecendo ajuda urgente a 4.000 famílias sírias deslocadas, incluindo
12.000 cobertores e 4.000 rações alimentares prontas para consumo. A violência, que já
resultou na morte de mais de 1.000 pessoas, incluindo crianças, deixou a cidade em crise, com
escassez de água, eletricidade e alimentos. Ghadi, um dos deslocados, descreveu o terror da
situação, com sua casa destruída e familiares mortos. A Save the Children destacou a
necessidade urgente de proteção e acesso humanitário seguro para crianças e civis em áreas
afetadas pelo conflito.8

Mais de mil pessoas, incluindo várias crianças, foram mortas nos últimos confrontos na
Síria, enquanto 45.000 pessoas foram deslocadas. A violência afetou principalmente as regiões
costeiras de Latakia e Tartus. A Save the Children com o apoio de parceiros locais está

131
distribuindo itens essenciais para as famílias que fugiram das zonas de conflito. A organização
faz um apelo urgente para que todas as partes envolvidas no conflito priorizem a proteção das
crianças e insta a comunidade internacional a aumentar o financiamento humanitário para
atender às necessidades críticas, como nutrição, saúde, educação e apoio a crianças.9

Conflito no Sudão

Quase um milhão de pessoas, muitas delas crianças, no maior campo de refugiados do


Sudão, Zamzam, estão enfrentando uma situação crítica com o esgotamento das provisões de
alimentos e medicamentos. Depois de sete meses vivendo em condições de fome, as famílias
recorrem a medidas desesperadas, como consumir ração animal. As clínicas móveis da Save the
Children, que oferecem cuidados médicos essenciais, têm apenas dois dias de suprimentos
restantes. A escalada da violência e a destruição de infraestruturas agravaram a situação,
tornando o acesso humanitário ainda mais difícil. Save the Children alerta que, sem uma ação
imediata, mais vidas infantis serão perdidas devido à desnutrição e doenças, e pede um cessar-
fogo imediato para garantir o fornecimento de ajuda humanitária.10

Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou ao Conselho de Segurança da ONU sobre a


devastadora crise humanitária no Sudão, descrevendo a guerra como uma "guerra contra a
população". O secretário-geral da MSF, Christopher Lockyear, destacou os ataques
indiscriminados contra civis pelas Forças Armadas Sudanesas e as brutalidades cometidas pelas
Forças de Apoio Rápido, incluindo violência sexual, sequestros e destruição de infraestrutura
vital. MSF pediu o fim dos ataques a civis e a garantia de ajuda humanitária urgente, alertando
que a resposta internacional tem sido insuficiente e prejudicada pela falta de recursos e
mecanismos de responsabilização.11

Violência na República Democrática do Congo

O People’s Health Movement (PHM) publicou matéria, chamando a atenção para a crise
humanitária e as violações aos direitos de saúde no conflito na República Democrática do Congo
(RDC). A violência recente devastou a cidade de Goma, onde muitos homens, mulheres e
crianças estão lutando pela sobrevivência e enfrentando terríveis ferimentos físicos, bem como
profundos traumas psicológicos. O PHM afirmou que mais de 480 mil pessoas foram deslocadas
à força e estão desesperadamente buscando proteção. Os hospitais estão saturados, com falta
de pessoal de saúde, medicamentos, suprimentos e equipamentos.12

Crise e Emergências Climáticas

A recente erupção do vulcão Lewotobi Laki-laki, na Indonésia, agravou a interrupção do


ensino para milhares de crianças, muitas das quais já estudavam em condições precárias após a
grande erupção de novembro de 2024. Em resposta, a Save the Children e parceiros construíram
uma escola emergencial que continua a oferecer um ambiente seguro para o aprendizado,
protegendo alunos das intempéries e proporcionando melhores condições do que as tendas
temporárias.13

A Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA) divulgou o relatório


especial da COP29 produzido pela OMS e intitulado “A saúde é o argumento para a ação
climática”. Esse relatório discute as áreas prioritárias de acordo com a presidência da COP29,
através da lente da saúde, destacando que o sucesso dos esforços coletivos para combater a
mudança climática será medido não apenas pelas reduções de gases de efeito estufa, mas
também por melhorias tangíveis na vida das pessoas.14

132
A Greenpeace destacou a urgência de reduzir a produção de plástico para mitigar riscos
à saúde e ao meio ambiente, ressaltando que o Tratado Global sobre Plásticos vem priorizando
os impactos na saúde. No entanto, alerta para a influência da indústria petroquímica e o
bloqueio de alguns países, que podem desviar o foco para soluções ineficazes, como reciclagem,
em vez de atacar a raiz do problema. Com a próxima rodada de negociações em agosto de 2025,
a organização enfatiza a importância da pressão da sociedade civil para garantir que a saúde
pública prevaleça sobre interesses corporativos.15

A Greenpeace destacou que o Rainbow Warrior chegou às Ilhas Marshall para uma
missão de seis semanas em defesa da justiça nuclear e climática, marcando os 40 anos da
evacuação de Rongelap. A visita reforça a solidariedade do Greenpeace com o povo marshalês,
que enfrenta os impactos persistentes dos testes nucleares dos EUA e a crescente ameaça da
crise climática. Além de apoiar a luta por reparações e justiça, a expedição realizará pesquisas
independentes sobre radiação em atois históricos como Rongelap, Bikini e Enewetak. O
Greenpeace destaca que os mesmos poderes coloniais que forçaram o deslocamento nuclear
agora colocam as Ilhas Marshall em risco de deslocamento climático e exploração destrutiva,
como a mineração em alto-mar no Pacífico.16

Greenpeace Japão reafirmou sua posição contra a energia nuclear no 14º aniversário do
desastre de Fukushima, criticando a decisão do governo japonês de aumentar sua dependência
dessa fonte de energia. A organização alertou para os riscos de longo prazo das usinas nucleares,
especialmente em um país propenso a terremotos, e denuncia a liberação contínua de água
contaminada da usina de Fukushima, que deve seguir até 2051. A nova meta climática do Japão
para 2035, de reduzir 60% das emissões de gases de efeito estufa em relação a 2013, também
foi considerada insuficiente. Greenpeace defendeu que o país deveria buscar uma redução de
78%, alinhada ao limite de 1,5°C de aquecimento global. A organização reforçou que o Japão
tem alternativas energéticas viáveis e deve apostar em eficiência energética e fontes renováveis,
eliminando gradualmente tanto a energia nuclear quanto os combustíveis fósseis.17

A Oxfam alertou que a crise climática tem agravado a escassez de água na África Oriental
e Austral, deixando 116 milhões sem acesso à água potável e impulsionando um aumento de
80% na fome extrema. Secas, inundações e degradação do solo devastam colheitas e gado,
afetando especialmente mulheres e meninas. A organização denuncia a injustiça climática,
destacando que a África recebe apenas 3-4% do financiamento global para o clima, e exige que
países poluidores assumam responsabilidades enquanto governos africanos ampliam
investimentos em infraestrutura hídrica e proteção social.18

A World Medical Association divulga participação da World Health Professions Alliance


(WHPA) na 2ª Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde, realizada de 25 a 27 de
março em Cartagena, Colômbia. A WHPA defendeu a inclusão de profissionais de saúde na
tomada de decisões para reduzir a poluição do ar, destacando seu papel como testemunhas
diretas dos impactos dessa crise. A WHPA também assinou a Call to Action da conferência, que
exige medidas ousadas para garantir ar limpo e transições justas para energias limpas,
enfatizando que o ar puro é um direito humano essencial para a saúde.19

A InterAcademy Partnership divulgou matéria sobre Workshop “Adaptação às


Mudanças Climáticas: Protegendo a Saúde contra Desastres no Sudeste Asiático”, realizado em
janeiro de 2025 nas Filipinas e organizado pela National Academy of Science and Technology,
Philippines (NAST PHL) em parceria com a Academy of Medical Sciences do Reino Unido. O
evento reuniu cientistas, formuladores de políticas e pesquisadores para discutir estratégias de

133
adaptação climática e resiliência da saúde diante de desastres naturais intensificados pelas
mudanças climáticas, como tufões, inundações e ondas de calor. Além disso, sessões interativas
permitiram a discussão de políticas, lacunas de pesquisa e estratégias de engajamento
comunitário, enfatizando a importância de integrar a saúde nas políticas climáticas nacionais. O
evento encerrou com um apelo por colaboração contínua. Entre as recomendações, destacam-
se a produção de um relatório detalhado, a elaboração de um documento de posicionamento
para os formuladores de políticas da ASEAN e a integração da mudança climática na agenda
nacional de saúde das Filipinas.20

Poluição e exploração de recursos

A Greenpeace apontou que a indústria da mineração em águas profundas enfrenta uma


crise crescente, com falta de financiamento, problemas técnicos e perda de apoio
governamental. Durante a 30ª Sessão da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA),
que começou em Kingston, a empresa The Metals Company (TMC) tentou pressionar governos
a criar regras que permitissem o início da exploração, apesar da crescente oposição. A
Greenpeace denunciou essas manobras como um último esforço desesperado de um setor em
colapso. Segundo Louisa Casson, ativista da organização, “as mineradoras estão perdendo apoio
e recorrendo a táticas cada vez mais desesperadas”. Atualmente, 32 governos defendem uma
moratória contra essa indústria arriscada e ambientalmente devastadora.21

O Greenpeace Nordic e a Natur og Ungdom levaram à Suprema Corte da Noruega uma


ação para interromper a produção de três campos de petróleo no Mar do Norte, alegando falta
de avaliação dos impactos climáticos globais. Em janeiro de 2024, um tribunal distrital anulou as
licenças, mas a decisão foi revertida em outubro, levando o caso à instância superior. Os ativistas
esperam um desfecho favorável, seguindo precedentes do Reino Unido, enquanto o Tribunal da
EFTA fornecerá diretrizes que podem influenciar a política energética da Noruega e a luta contra
a crise climática. O resultado pode ter impacto significativo na política energética da Noruega e
na luta global contra a crise climática.22

Acesso à água potável

No dia da àgua, a World Vision International faz ênfase na importância ao acesso à água
limpa como um direito fundamental e um pilar essencial para o desenvolvimento infantil.
Garantir esse recurso transforma vidas: permite que crianças frequentem a escola, se
mantenham saudáveis e tenham a oportunidade de alcançar seu pleno potencial. Investir em
saneamento e acesso universal à água potável é investir em saúde, educação e equidade —
especialmente em comunidades historicamente marginalizadas. Crianças que têm acesso à água
limpa não apenas sobrevivem — elas florescem.23

A ACT Promoção da Saúde publicou uma nota analisando como a água potável, cujo
acesso foi reconhecido como um direito fundamental na Declaração Universal dos Direitos da
Água, proclamada pela ONU em 1992, vem sendo explorada intensivamente por indústrias
poluentes, como as de álcool, tabaco e ultraprocessados. O documento destaca que a produção
desses produtos consome grandes quantidades de água e gera resíduos que contaminam solos,
rios e oceanos. Para fabricar um litro de cerveja, por exemplo, são necessários 298 litros de água,
enquanto a produção de bebidas açucaradas pode demandar até 600 litros por litro produzido.
Além disso, bitucas de cigarro, águas residuais da indústria do álcool e embalagens plásticas
agravam ainda mais a crise ambiental. No Brasil, os impactos dessa exploração são evidentes no
caso de Itabirito e Brumadinho (MG), onde a instalação de uma fábrica da Coca-Cola agravou a
escassez de água, afetando centenas de famílias. O caso levanta questões urgentes sobre a

134
gestão da água e sua destinação: estará esse recurso a serviço das grandes indústrias ou da
população? 24

Clima e Saúde na COP 30

A Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA) noticiou a participação


da Abrasco, que a representou, em reunião para discutir e elaborar o Plano de Ação Clima e
Saúde da COP30, que vai se realizar em Belém do Pará, em novembro deste ano. A reunião,
organizada pelo Ministério da Saúde, foi o primeiro passo para a elaboração do Plano de Ação
Belém Clima e Saúde e contou com as participações de autoridades, pesquisadores, profissionais
de saúde e representantes da sociedade civil.25

Mudança climática e gênero

A Fòs Feminista resalta que as mudanças climáticas e a degradação ambiental


aprofundam desigualdades históricas e afetam de forma desproporcional mulheres e meninas
em situações de vulnerabilidade. Reconhecer essas intersecções é essencial para promover
respostas climáticas mais justas, eficazes e inclusivas. A participação plena e significativa de
mulheres e meninas nos espaços de decisão climática, assim como a implementação de
transições ecológicas com perspectiva de gênero, são passos fundamentais para garantir que
ninguém seja deixado para trás. Na #CSW69, é hora de transformar esse reconhecimento em
compromisso político e ação concreta.26

Violência sexual e de gênero

ActionAid alertou para a crescente violência contra mulheres na República Democrática


do Congo (RDC), onde vítimas de deslocamento forçado estão sendo submetidas a estupros,
violência sexual e casamentos forçados após serem obrigadas a retornar a áreas controladas por
grupos armados. Com o desmantelamento de campos de deslocados pelo M23, mais de 400.000
pessoas foram enviadas de volta a condições extremamente perigosas, sem acesso a abrigo,
comida ou proteção. A organização pede ação urgente da comunidade internacional para
interromper as expulsões forçadas e restaurar o acesso humanitário às áreas afetadas.27

ActionAid alertou que mulheres e meninas em campos de pesca remotos na Zâmbia


estão em maior risco de exploração sexual devido ao corte abrupto do financiamento da USAID.
O encerramento do programa da organização, que oferecia suporte a vítimas de violência de
gênero e promovia conscientização sobre a prática de "sexo por peixe", deixa comunidades
vulneráveis a abusos. Faides TembaTemba, diretora da ActionAid Zâmbia, apelou para a
retomada imediata dos fundos, destacando que essas reduções ameaçam a segurança e os
direitos das mulheres no país.28

A Fòs Feminista realizou uma postagem sobre a importância de proteger os direitos das
meninas para promover sociedades mais justas, inclusivas e resilientes. Práticas nocivas como o
casamento infantil, a mutilação genital feminina e a violência de gênero violam direitos
fundamentais e comprometem o futuro de comunidades inteiras. No contexto da #CSW69, é
essencial reforçar políticas públicas baseadas em evidências, garantir acesso à educação e à
saúde, e ampliar espaços de participação para que meninas e jovens liderem as transformações
que desejam ver no mundo. Empoderar meninas não é apenas um imperativo ético — é um
caminho para o desenvolvimento sustentável e coletivo.29

A Oxfam lançou um relatório intitulado Palestinian Women Working in Illegal Israeli


Settlements: Dependencies, Exploitation, and Opportunity Costs, que denuncia as condições de

135
exploração enfrentadas por milhares de mulheres palestinas que trabalham em assentamentos
ilegais israelenses, principalmente na agricultura e manufatura. A organização alerta que 94%
das trabalhadoras palestinas não têm contratos formais e 93% enfrentam condições perigosas,
além de jornadas exaustivas e discriminação. Com a economia fragilizada por restrições
israelenses, a dependência desses empregos cresce. A organização pede ação internacional para
combater essa exploração e garantir empregos dignos, destacando que a solução exige o fim da
ocupação e dos assentamentos ilegais.30

A European Public Health Alliance (EPHA) também publicou artigo o Casamento e


Maternidade precoce em crianças ciganas, apesar das convenções internacionais de direitos
humanos a situação continua a ser um desafio persistente. A entidade ainda trouxe que,
globalmente, mais de 650 milhões de mulheres sofrem as consequências graves do casamento
precoce e da maternidade que afetam a saúde sexual e reprodutiva, a educação e emprego e
reforçam a exclusão social. 31

Governo Trump

O corte de financiamento dos EUA para programas internacionais de saúde pode levar
ao ressurgimento de doenças tropicais negligenciadas que causam cegueira infantil, alerta a
Save the Children. Em Uganda, um programa reduziu pela metade os casos de tracoma na região
de Karamoja, mas a suspensão do apoio ameaça reverter esses avanços, expondo milhares de
crianças e mulheres a riscos evitáveis. O mesmo ocorre na Tanzânia, onde a interrupção das
ações contra a oncocercose, ou cegueira dos rios, compromete a saúde de populações
vulneráveis. A organização destaca que esses programas já provaram sua eficácia e alerta para
as graves consequências humanitárias e estratégicas da redução da ajuda internacional.32

A Save the Children alerta que cortes no financiamento federal dos EUA na educação
podem ter consequências duradouras para milhões de crianças norte-americanas,
especialmente nas áreas rurais, onde 2,9 milhões vivem na pobreza. A possível eliminação do
Departamento de Educação ameaça programas essenciais que garantem alfabetização, reforço
escolar e suporte para alunos de baixa renda. Com quase 70% dos estudantes sem proficiência
em leitura ao final do terceiro ano, a perda desses recursos pode ampliar desigualdades e
prejudicar o futuro de inúmeras crianças. A organização insta o governo a proteger esses
investimentos cruciais para evitar impactos irreversíveis na educação infantil.33

A Medicus Mundi Switserland (MMS) divulgou notícia da UNAIDS sobre os efeitos da


interrupção, revisão e término do financiamento dos EUA para programas de HIV, com informe
sobre monitoramento dos impactos em países, comunidades, organizações, profissionais de
saúde, pessoas vivendo com HIV e a resposta global à doença. A Organização ainda informou as
iniciativas da UNAIDS para centralizar essas informações, com a criação de uma página especial
em seu site, que reúne atualizações nacionais e regionais, declarações, recursos relevantes e
painéis que monitoram a continuidade dos programas de HIV diante das mudanças no
financiamento.34

Crise humanitária

Com a iminente redução das rações de alimentos nos campos de refugiados Rohingya
em Cox's Bazar, Bangladesh, muitas famílias estão tomando decisões desesperadas para
sobreviver, incluindo enviar seus filhos em viagens perigosas de barco. A partir do próximo mês,
as cotas mentais de rações cairão de $12,50 para $6,00 por pessoa devido a cortes de
financiamento. Isso ocorre em um contexto de escassez de alimentos, com mais de 15% das

136
crianças menores de 5 anos já desnutridas. A Save the Children alerta que a insegurança nos
campos e o aumento da migração forçada por via marítima, com muitos refugiados sendo
vítimas de traficantes, colocam milhares de crianças e suas famílias em grave risco.35

A Oxfam e sua parceira polonesa Egala divulgaram o relatório Brutal Barriers, que
denunciou abusos sistemáticos contra refugiados na fronteira entre Polônia e Belarus. Segundo
testemunhos, as autoridades polonesas utilizam balas de borracha, cães e tortura, além de
negar assistência médica e forçar deportações, incluindo de mulheres grávidas e pessoas
inconscientes. Do outro lado, os refugiados enfrentaram violência extrema em Belarus, como
tortura e agressões sexuais. O relatório também destacou a criminalização de organizações
humanitárias que tentam prestar socorro. Oxfam e Egala exigiriam que a União Europeia pare
de financiar essa política ilegal de expulsões e invista em um sistema de asilo que respeite os
direitos humanos.36

A World Vision International publicou um testemunho de Amanda Rives Argeñal, como


um lembrete inspirador da força transformadora da ação humanitária guiada pela esperança.
Em contextos marcados por conflitos e desigualdades profundas, como Tigray, na Etiópia, o
trabalho humanitário não apenas salva vidas — ele reafirma a dignidade humana e a
possibilidade de um futuro mais justo. Reconhecer e apoiar esse compromisso é essencial para
que comunidades afetadas por crises possam reconstruir suas trajetórias com segurança, justiça
e plenitude. Que possamos seguir cultivando esperança ativa e solidariedade concreta onde
mais se precisa.37

Crise Sanitária

A República Democrática do Congo (RDC) enfrentou um agravamento da crise sanitária


com o aumento alarmante de casos de cólera, Mpox e sarampo, especialmente em Kivu do
Norte. A suspensão do financiamento da USAID e a intensificação do conflito têm levado o
sistema de saúde ao colapso, deixando milhões sem acesso a água potável, testes ou
tratamento. Hospitais destruídos e cortes abruptos de ajuda estão piorando a situação,
tornando os deslocados internos ainda mais vulneráveis. Oxfam alertou que a inação da
comunidade internacional está custando vidas e pede apoio urgente para evitar uma catástrofe
humanitária ainda maior.38

A Progressive International repercutiu uma nota sobre o colapso do sistema de saúde


do Líbano,que enfrenta uma grave crise de saúde pública, impulsionada pelo colapso da
infraestrutura, deslocamentos em massa e desnutrição generalizada. O aumento de doenças
preveníveis, como cólera, hepatite A, sarampo e meningite, ocorre em um contexto de crise
econômica prolongada e impactos dos conflitos armados. O relatório Lebanon Crisis, Risk
Analysis 2025, elaborado pela Save the Children e Data Friendly Space, alerta para a alta
probabilidade de surtos dessas doenças em 2025, agravados pelo colapso dos serviços essenciais
e pela incapacidade do sistema de saúde de responder à crise.39

Crise alimentar

Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para a grave crise de desnutrição na Somália,
intensificada por secas prolongadas, conflitos e falta de financiamento. Em 2024, a organização
tratou mais de 18 mil crianças com desnutrição aguda grave, mas os cortes orçamentários têm
forçado a redução de programas essenciais. Com a previsão de uma nova seca causada pelo La
Niña em 2025, MSF pede apoio urgente de doadores para evitar um desastre humanitário ainda
maior.40

137
Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para a grave crise de desnutrição no Iêmen, onde
mais de 35 mil crianças foram tratadas entre 2022 e 2024 em instalações apoiadas pela
organização. A superlotação dos hospitais e a redução do financiamento humanitário agravam
a situação, enquanto muitas crianças também enfrentam doenças como sarampo e cólera. MSF
pede uma resposta coletiva urgente para ampliar os programas de nutrição, garantir acesso à
saúde e evitar um agravamento ainda maior da crise.41

Combate a Tuberculose

Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para a necessidade de um investimento global


sustentável no combate à tuberculose infantil, especialmente diante dos cortes de
financiamento dos EUA, que ameaçam serviços essenciais. A organização destaca que crianças
são as mais vulneráveis à doença e muitas não têm acesso ao diagnóstico e tratamento
adequados. MSF implementa as diretrizes atualizadas da OMS em mais de 10 países, mas alerta
que a falta de recursos pode reverter avanços no enfrentamento da tuberculose. A ONG pede
que doadores internacionais e a indústria farmacêutica garantam investimentos para
diagnósticos e tratamentos mais eficazes.42

Em vésperas ao dia mundial da tuberculose (TB), a Global Health Council insta ao


governo dos Estados Unidos a investir no combate à tuberculose. Os programas voltados à TB
não apenas enfrentam a ameaça crescente da resistência aos antimicrobianos, como também
fortalecem estruturas comunitárias e institucionais essenciais para a resposta a futuras
emergências em saúde. Trata-se de uma agenda estratégica, que alia prevenção, equidade e
sustentabilidade em saúde global.43

Doença Hepática e cuidados em saúde

A European Public Health Alliance (EPHA) publicou informe sobre a Doença Hepática na
União Europeia e sua intrínseca relação com estigmas sociais, disparidades econômicas e
preconceitos de gênero na saúde A entidade ressaltou que como a doença afeta
desproporcionalmente as mulheres, elas enfrentam desafios especialmente na área da
saúdepor conta do autoestigma e negação dos sintomas levando a atraso do diagnóstico e
tratamento, com piora dos resultados.44

Controle de álcool e tabaco

A ACT Promoção da Saúde publicou uma carta aberta contra a indústria da cerveja, que
anunciou a criação de uma frente parlamentar no Brasil. Essa iniciativa levanta preocupações
em relação a duas conquistas históricas recentes: a inclusão das bebidas alcoólicas no imposto
seletivo da Reforma Tributária e o reconhecimento, pelo Ministério da Saúde, de que não há
nível seguro para o consumo de bebidas alcoólicas. A organização destacou que o poder público
deve se alinhar ao compromisso de promover políticas públicas que protejam a sociedade e o
meio ambiente, e não apoiar iniciativas que priorizem os interesses da indústria do álcool.45

A ACT Promoção da Saúde divulgou um vídeo do webinar comemorativo no aniversário


de 20 anos da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco que reuniu diversos especialistas
em controle do tabaco . O tratado foi desenvolvido para proteger a população dos impactos
negativos do tabaco, incluindo danos à saúde, à economia, ao meio ambiente e à sociedade. A
organização ressaltou que os desafios persistem e destacou a importância de continuar
implementando políticas eficazes de prevenção, especialmente diante da crescente oferta de
novos produtos que atraem o público jovem.46

138
Ataque à participação pública

O Greenpeace lamentou o veredicto contra si no caso movido pela Energy Transfer,


classificando-o como um ataque à liberdade de expressão e um exemplo de SLAPP, ação judicial
usada para silenciar opositores da indústria de combustíveis fósseis. A multa de US$660 milhões
evidencia o uso crescente de processos como arma contra ativistas. A organização reafirmou
que seguirá na luta e acionará a empresa nos tribunais holandeses, amparada pela nova Diretiva
Europeia Anti-SLAPP, destacando a importância desse caso para a proteção de movimentos
ambientais e sociais em todo o mundo.47

Direito das mulheres contra o câncer

A European Public Health Alliance (EPHA) destacou a necessidade de políticas para


enfrentar os desafios das mulheres contra o câncer. A Entidade, ressaltou que na União
Europeia, mais de 1,2 milhão de mulheres são diagnosticadas com câncer anualmente, com
cerca de 600.000 mortes. As mulheres enfrentam obstáculos físicos, emocionais e econômicos
específicos, tanto como pacientes quanto como cuidadoras, profissionais de saúde e
pesquisadoras, com disparidades de gênero ainda pouco reconhecidas e abordadas.48

Descolonização da saúde global

A Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA) divulgou a participação


de sua presidente, Emma Rawson Te Patu, na The Wellbeing Economy Forum, discutindo a
valorização da indigeneidade e a descolonização das visões de mundo do bem-estar.49

Dia da Prescrição Social

A Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA) fez uma publicação alusiva ao
Dia da Prescrição Social, em 19 de março, quando se celebra uma abordagem holística e
centrada na pessoa que conecta indivíduos com recursos comunitários não médicos para
melhorar seu bem-estar. A prescrição social aborda questões relacionadas à saúde que a
medicina sozinha não pode resolver, capacitando as pessoas a abordar fatores como estresse
(principal causa de vários riscos graves à saúde), ansiedade e isolamento ou solidão.50

Educação médica

A Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina (IFMSA) publicou


nota, convocando seus associados a se engajarem na co-criação de uma educação médica mais
inclusiva, inovadora e acessível. Destacou que os estudantes de medicina não são apenas o
futuro da saúde, mas também o futuro de como se aprende medicina.51

Convenção sobre os Direitos das Pessoas Idosas

A Federação Internacional de Envelhecimento (IFA) registrou a participação de seu


secretário-geral da IFA, Gregor Sneddon, na 58º reunião do Conselho de Direitos Humanos, onde
apoiou a recomendação para que um grupo de trabalho intergovernamental comece a redigir
uma Convenção sobre os Direitos das Pessoas Idosas.52

Um apelo à esperança

O Movimento pela Saúde dos Povos (PHM) publicou uma declaração do seu Conselho
Diretor, aprovada em reunião nos dias 26 a 28 de fevereiro de 2025. Intitulada “Enquanto o
mundo está em turbulência, o Movimento Popular pela Saúde apela à esperança, ao otimismo,
à resiliência, à solidariedade e à paz”, a declaração destaca que décadas de capitalismo

139
neoliberal levaram a crises inter-relacionadas, com desigualdades sociais, colapso ambiental,
guerras, deslocamentos forçados, crescente conservadorismo e reação contra os direitos das
mulheres, além da mercantilização e privatização dos sistemas de saúde. Nesse contexto, o PHM
convoca a intensificar esforços na luta por um mundo mais equitativo, ecologicamente
sustentável, descolonial e pacífico, no qual uma vida saudável para todos seja uma realidade. E
afirma que isso pode ser alcançado por meio de ação coletiva, priorizando o "Buen Vivir" (o bem-
estar) de comunidades marginalizadas/vulneráveis e abordando as raízes das injustiças
sistêmicas.53

Desigualdades sistêmicas e concentração de riqueza

O Sustainable Health Equity Movement (SHEM) publicou o SHEM Highlights nº 46 que


discutiu as desigualdades sistêmicas que levaram à concentração de riqueza entre poucos
privilegiados e a luta das organizações da sociedade civil por impostos sobre os super-ricos,
entre outros assuntos.54

ORGANIZAÇÕES DE INTERESSE PRIVADO

Tecnologia e Inovação em Saúde

A Fundação Gates noticiou que a introdução de refrigeradores movidos a energia solar


está transformando o armazenamento de vacinas em áreas remotas sem acesso confiável à
eletricidade, garantindo que doses essenciais permaneçam em temperaturas seguras. No
Malawi, a substituição de antigos refrigeradores a querosene ou baterias pelos modelos de
energia solar direta melhorou significativamente a imunização infantil, reduzindo perdas de
vacinas e ampliando o acesso aos imunobiológicos. Além de mais confiáveis e econômicos a
longo prazo, esses refrigeradores também resistiram a desastres naturais, como o ciclone Ana,
mantendo a refrigeração e evitando desperdícios. Segundo a fundação, esse tipo de inovação
fortalece os sistemas de saúde locais e representa um avanço sustentável na distribuição global
de vacinas.55

A Gates Foundation fez um vídeo-informe noticiando novas tecnologias em


desenvolvimento que prometem aprimorar ainda mais a entrega de vacinas, expandindo o
acesso e fortalecendo a prevenção de doenças nas comunidades mais vulneráveis. As propostas
são vacinas intranasais e outras tecnologias que façam o uso de seringas convencionais diminuir.
Isso vem porque mesmo utilizando seringas auto-desativáveis, a cadeia de produção delas não
é suficiente para as necessidades globais.56

A WellcomeTrust aponta que a inteligência artificial (IA) tem o potencial de revolucionar


os tratamentos para a saúde mental, mas também levanta preocupações. O trust ressalta, no
entanto, que embora existam riscos relacionados ao uso de IA como desigualdades de saúde e
questões de privacidade, há oportunidades significativas para a IA melhorar a eficiência e o
acesso ao cuidado. Ferramentas como chatbots terapêuticos ou sistemas de apoio à formação
de terapeutas podem tornar os tratamentos mentais mais escaláveis e acessíveis. A IA pode até
ajudar na criação de terapias mais personalizadas, abordando sintomas específicos de distúrbios
mentais. No entanto, para que isso aconteça, o trust sugere que é necessário mais investimento
em pesquisa e avaliação científica, com a colaboração de especialistas, profissionais de saúde e
pessoas com experiência vivida.57

140
Resistência antimicrobiana

A resistência antimicrobiana (RAM) é uma das maiores ameaças à saúde pública na


Índia, especialmente nas áreas rurais, onde o acesso à saúde formal é limitado. A WellcomeTrust
está financiando o trabalho de pesquisadores com provedores de saúde rural para entender
melhor os desafios de combater a RAM, desenvolvendo soluções inovadoras como o app
Antibiotic Bandhu. Esse projeto chamado OASIS visa combater o uso inadequado de antibióticos,
fornecendo diretrizes acessíveis para os provedores informais, além de coletar dados
importantes para informar políticas públicas. Ao capacitar os profissionais de saúde rural, a
iniciativa busca transformar a compreensão e o combate à RAM, oferecendo soluções escaláveis
e de baixo custo.58

A tradução do conhecimento é essencial para transformar descobertas de pesquisa em


aplicações práticas que melhorem políticas e resultados de saúde global. A GAVI, The Vaccine
Alliance apontou o exemplo da JSI, que desenvolveu uma ferramenta prática chamada
"Knowledge Translation for Zero-Dose Immunization Research", que fornece uma estrutura
passo a passo para aplicar pesquisas em estratégias acionáveis. Por exemplo, em Bangladesh,
essa abordagem levou à implementação de checklists eletrônicos para identificar crianças não
vacinadas, resultando em melhores taxas de imunização. A ferramenta assegura que o
conhecimento não apenas seja disseminado, mas efetivamente utilizado para provocar
mudanças tangíveis na saúde pública.59

Segundo a GAVI, The Vaccine Alliance, vacinas combinadas que protegem contra
múltiplas doenças em uma única injeção, oferecem benefícios significativos, como simplificação
dos calendários de imunização, redução de custos e aumento das taxas de cobertura vacinal.
Um exemplo é a vacina pentavalente, que combina imunização contra difteria, tétano,
coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b. Apesar dos desafios no
desenvolvimento de vacinas combinadas, como complexidades na produção e aprovação
regulatória, seu potencial para melhorar a saúde pública e otimizar recursos é substancial.60

Assistência em Saúde

A Fundação Rockefeller anunciou a ampliação das iniciativas de Food is Medicine (FIM)


voltadas para veteranos do exército nos EUA. Com novos projetos-piloto em Maryland, Nova
York e Carolina do Norte, além da expansão dos programas já existentes no Texas e em Utah, a
fundação busca reduzir a insegurança alimentar e as doenças relacionadas à alimentação entre
ex-militares. As ações incluem distribuição de cestas de produtos frescos, cartões-prescrição
para compra de alimentos saudáveis e entrega de alimentos sob medida, beneficiando mais de
2.000 veteranos. 61

Durante o evento em Washington, D.C., Dr. Rajiv J. Shah, presidente da Fundação


Rockefeller, ressaltou o impacto positivo do programa Food is Medicine (FIM) na saúde dos
veteranos americanos. Ele compartilhou histórias de ex-militares beneficiados e destacou a
necessidade de expandir essas iniciativas. Com mais de 25% dos veteranos enfrentando
insegurança alimentar e taxas elevadas de doenças crônicas, a Fundação já investiu US$100
milhões desde 2019 para ampliar o acesso a alimentos saudáveis. Três novos projetos-piloto
serão lançados em 2025, alcançando milhares de novos veteranos. 62

141
COVID-19

A CORE GROUP publica um artigo que destaca de forma contundente como, mesmo
cinco anos após o início da pandemia de COVID-19, ainda falhamos em consolidar lições
fundamentais para prevenir futuras emergências sanitárias. A ausência de investimentos
sustentados em sistemas de vigilância, resposta rápida e atenção primária robusta revela uma
lacuna crítica entre o conhecimento técnico disponível e a vontade política de agir. A saúde
global requer compromisso contínuo, coordenação entre países e fortalecimento das
capacidades locais. Transformar essas lições em ações concretas não é apenas uma questão de
prevenção — é uma responsabilidade ética com as gerações futuras.63

Segundo a GAVI The Vaccine Alliance, as vacinas atuais contra a COVID-19 permitiram
que muitos retornassem às suas rotinas normais, mas não oferecem proteção completa contra
infecções ou transmissão, e a imunidade pode diminuir ao longo do tempo. Vacinas de próxima
geração estão sendo desenvolvidas para fornecer proteção mais ampla e duradoura. Entre as
inovações estão as vacinas mucosas, que visam induzir imunidade diretamente nas superfícies
mucosas, como o nariz e a boca, bloqueando o vírus no ponto de entrada. e as vacinas
pancoronavírus, que visam proteger contra múltiplos coronavírus, incluindo variantes
emergentes e potenciais futuros surtos. Esses avanços são cruciais para fortalecer a resposta
global a pandemias atuais e futuras.64

Mudança climática

A WellcomeTrust alerta que as mudanças climáticas estão aumentando o risco de


infecções fúngicas em seres humanos. Com o aquecimento global, fungos patogênicos estão se
adaptando a temperaturas mais altas e se espalhando para novas regiões, incluindo áreas
urbanas, o que coloca mais pessoas em risco. Exemplos incluem o fungo Candida auris,
resistente a medicamentos, e o Coccidioides, que causa infecções respiratórias fatais. Além
disso, desastres naturais como incêndios e inundações ajudam a espalhar esporos fúngicos. A
crescente resistência aos antifúngicos, aliada à falta de pesquisas adequadas, agrava o
problema. O trust aponta que, para enfrentar esse desafio, são necessários mais investimentos
em pesquisa, desenvolvimento de novos tratamentos e medidas de prevenção.65

Saúde Global e Mulheres

A saúde das mulheres continua sendo subfinanciada e subpriorizada em comparação à


dos homens. Para fechar essa lacuna, é necessário reconhecê-la tanto como um direito humano
quanto como uma oportunidade econômica. A Aliança Global para a Saúde das Mulheres do
Fórum Econômico Mundial está mudando essa narrativa ao centralizar as vozes femininas e
capacitá-las a liderar a agenda global de saúde das mulheres. Em estudo, a GAVI, The Vaccine
Alliance identificou cinco áreas prioritárias: amplificar as vozes das mulheres; garantir a
autonomia corporal; apoiar adolescentes e quebrar ciclos de pobreza; integrar a saúde das
mulheres em todos os aspectos dos cuidados de saúde; e maximizar o capital social e político
para as mulheres.66

Dia do combate contra a Tuberculose

A tuberculose continua sendo a principal causa de morte por doença infecciosa, com
1,25 milhão de óbitos em 2023, apesar de ser evitável e curável. O Global Fund é essencial no
combate à tuberculose resistente a medicamentos, uma grande ameaça à saúde global. Com
um financiamento robusto no Oitavo Reabastecimento, é possível reduzir a incidência da doença

142
em 32% e a mortalidade em 60% até 2029 nos países beneficiados. O compromisso político, a
ampliação do acesso a tratamentos inovadores e preços reduzidos são cruciais para eliminar
essa doença e evitar uma crise sanitária ainda maior.67

A Gates Foundation noticiou a história de Nandipha Titana, “voz confiável” e agente


comunitária em saúde, que atua na Be Part Yoluntu Centre lutando contra a tuberculose (TB) na
África do Sul. Sua atuação tem sido essencial, pois conecta a comunidade a serviços essenciais
de saúde. Com o aumento dos casos de TB na região, seu trabalho como agente comunitária
tem sido fundamental para conscientizar, facilitar o acesso a testes e tratamentos e fortalecer a
confiança da população nas intervenções médicas. 68

Preparação para novas pandemias

A presidente do Conselho da FIND, Dra. Ayoade Alakija, reuniu-se com os Ministros da


Saúde de Singapura e Indonésia para discutir o papel crucial dos diagnósticos na preparação
para pandemias e fortalecer parcerias estratégicas. Em Singapura, destacou-se a importância da
colaboração internacional e da continuidade do legado do ACT-A (Acelerador de Acesso às
Ferramentas COVID-19) para alinhar setores no combate a futuras crises sanitárias. Na
Indonésia, foram discutidos planos de implementação entre FIND e o Ministério da Saúde.
Ambos os ministros, com experiência na resposta à COVID-19, enfatizaram a necessidade de
diagnósticos acessíveis nos sistemas de saúde primária. Representantes desses países
participarão do evento de FIND na Assembleia Mundial da Saúde de 2025.69

EVENTOS

Entre os dias 2 e 6 de maio se levará a cabo o 23º Congresso da WADEM sobre Medicina
de Desastres e Emergências em Tóquio. O evento, coorganizado pela Associação Japonesa de
Medicina de Desastres (JADM), reunirá especialistas globais para compartilhar pesquisas e
experiências sobre medicina de desastres, cuidados pré-hospitalares e gestão de crises
humanitárias, com uma programação científica dinâmica, incluindo sessões plenárias, paineis
de discussão, apresentações orais e de pôsteres, workshops e oportunidades de networking.70

A World Medical Association (WMA) divulgou a Conferência Mundial da Federação


Mundial para Educação Médica (WFME) 2025, que ocorrerá entre 25 a 28 de maio em Bangkok,
Tailândia. O evento terá como tema central a promoção da saúde para todos por meio de uma
educação médica de alta qualidade. As inscrições estão abertas para profissionais interessados
em discutir o papel da formação médica na melhoria dos sistemas de saúde globais.71

A Organização Mundial de Médicos de Família (WONCA) lembrou que 31 de março é o


prazo final para enviar resumos para a Conferência Mundial da WONCA 2025 que ocorrerá em
Lisboa, entre 17 e 21 de novembro, tendo como tema central “Nova Visão para Cuidados de
Saúde Primários e Desenvolvimento Sustentável”.72

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leitura deste informe pode causar uma sensação de desesperança, pois evidencia
como diferentes crises estão interligadas, piorando a situação de milhões de pessoas. É
lamentável observar que populações já afetadas por conflitos armados, também precisam lidar
com os efeitos das mudanças climáticas – crises que não foram provocadas por elas. Houve um
alerta especial para as crianças, que deveriam ser protegidas, mas enfrentam deslocamentos
forçados, fome e riscos à saúde. Além disso, as crises comprometem seu futuro ao restringir o
acesso à educação, e mesmo aquelas que conseguem escapar dessas situações frequentemente

143
são maltratadas como refugiadas. A situação das mulheres também foi bastante mencionada,
pois, em meio às crises, as desigualdades e a violência contra elas se intensificam. Os cortes de
financiamento de programas sociais pelo governo Trump agravam esse cenário, resultando no
fechamento de iniciativas que visavam protegê-las, deixando-as ainda mais expostas.

Outro ponto de destaque nas manifestações da sociedade civil organizada foi a


crescente restrição à ajuda humanitária em zonas de conflito. Além de sofrerem com a redução
dos recursos financeiros, organizações humanitárias têm sido alvo de ataques, forçando a
retirada de equipes por questões de segurança e dificultando a chegada de suprimentos
essenciais. Essa tática, usada como arma de guerra, atinge diretamente a população civil e
contraria os direitos humanos e o direito internacional.

Os interesses corporativos também têm minado medidas fundamentais ou desviado a


atenção dos impactos ambientais e climáticos causados pela exploração desenfreada dos
recursos naturais. Isso leva a questionar a quem realmente serve a justiça. A interferência das
grandes indústrias na saúde da população não deve ser subestimada, e o papel da sociedade
civil é crucial para pressionar governos e organismos internacionais a garantirem que a saúde
pública prevaleça sobre interesses econômicos.

Ao comparar as abordagens das organizações de interesse público e privado, percebe-


se um contraste evidente: enquanto as organizações públicas retratam um cenário alarmante
sobre as crises globais, as organizações privadas ignoram os fatores estruturais desses
problemas e concentram-se no desenvolvimento de novas tecnologias na área da saúde.

Em meio a esse caos, destaca-se a mensagem do Movimento pela Saúde dos Povos, que
faz um apelo a favor da esperança. A organização afirma que vivemos as consequências do
capitalismo, mas que devemos continuar lutando por um mundo mais justo e equitativo. Esse
objetivo pode ser alcançado por meio da ação coletiva, priorizando o "Buen Vivir" – ou bem-
estar – das comunidades marginalizadas e abordando as raízes das injustiças sistêmicas.

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72. WONCA. World Organization of Family Doctors. Deadline Approaching! Friday 31 March is the deadline to
submit your… [Internet]. 2025 [cited 2025 Mar 26]. Available from:
https://www.linkedin.com/posts/wonca_deadline-approaching-friday-31-march-activity-
7310305045353234433-5wL_

148
A voz do Sul Global
The voice of the Global South

Regina Ungerer
Erica Kastrup
Livia Ferreira

Abstract. UNOSSC discussed the upcoming Conference on Landlocked Developing Countries


(LLDC3), which faces significant challenges due to the lack of direct access to the sea. This
situation hampers international trade, connectivity, and economic growth. In another session,
SIMORE Technical Cooperation Programme was presented, which is an inter-institutional system
that facilitates the systematization of international human rights recommendations made to
Paraguay by human rights bodies and procedures of the UN and OAS agencies. Furthermore, the
UNOSSC highlighted the 1st meeting of the Advisory Group on South-South and Triangular
Cooperation of the UN, as well as the upcoming 22nd session of the High-Level Committee on
South-South Cooperation, scheduled to take place from May 27 to 30, 2025. The UNOSSC also
hosted a meeting with ambassadors and rapporteurs of Voluntary National Reports (VNR) for the
upcoming HLPF and issued a call for expressions of interest for a Global Network of South-South
Thinkers. Brazil participated at the Nutrition for Growth Summit held in Paris, where the National
School Feeding Program was considered an essential tool for global food security. Additionally,
Brazil celebrated 25 years of cooperation with Timor-Leste, emphasizing the revival and
promotion of the Portuguese language. The G-77 and China actively participated in three
meetings at the UNGA, including a discussion for the World Summit on the Information Society
and the preparation of the final document for the 4th International Conference on Financing for
Development (FfD4). The focus of the Non-Aligned Movement was the NAM CSSTC, an
intergovernmental organization created to improve technical cooperation among countries in
the Global South and promote capacity-building in areas such as agriculture, health, education,
and ICT. Moreover, the NAMYO highlighted the 14th NAM Summit held in Havana, Cuba, where it
was decided the establishment of the Human Rights and Cultural Diversity Center of the NAM.
Finally, the South Centre highlighted initiatives such as the Stakeholders Forum of the WHO
Health Technologies Access Program (HTAP), the necessary steps to ensure the success outcomes
for the FfD4 Conference, the Global Digital Compact, and the WTO at 30. The Centre also
published its February 2025 Bulletin, maintaining its commitment to inform about the most
relevant actions.

Keyword.: South-South Cooperation. UNOSSC. G-77 and China. Non-Aligned Movement. South
Centre.

Resumen. UNOSSC discutió la próxima Conferencia sobre Países en Desarrollo Sin Litoral (LLDC3),
que enfrenta importantes desafíos debido a la falta de acceso directo al mar. Esta situación
obstaculiza el comercio internacional, la conectividad y el crecimiento económico. En otra sesión
se presentó el Sistema de Monitoreo de Recomendaciones em Derechos Humanos y Desarollo
Sostenible (SIMORE), una herramienta interinstitucional que organiza las recomendaciones de
derechos humanos dirigidas al Paraguay por organismos de la ONU y la OEA. Además, UNOSSC
destacó la primera reunión del Grupo Consultivo de la ONU sobre Cooperación Sur-Sur y
Triangular, así como la próxima 22ª sesión del Comité de Alto Nivel sobre Cooperación Sur-Sur,
prevista para el 27 y 30 de mayo de 2025. UNOSSC también promovió una reunión con

149
embajadores y relatores de Informes Nacionales Voluntarios para el próximo HLPF y publicó una
convocatoria para expresar interés por una Red Global de Pensasdores de Cooperación Sur-Sur.
Brasil fue destacado en la Cumbre de Nutrición para el Crecimiento, celebrada en París, donde el
Programa Nacional de Alimentación Escolar fue considerado una herramienta esencial para la
seguridad alimentaria mundial. Además, celebró 25 años de cooperación entre Brasil y Timor
Oriental, destacando la recuperación y promoción de la lengua portuguesa. El G-77 y China
participaron activamente en tres reuniones de la Asamblea General de las Naciones Unidas,
incluido la Cumbre Mundial sobre la Sociedad de la Información y la preparación del documento
final de la Cuarta Conferencia Internacional sobre Financiamiento para el Desarrollo (FpD4). En
la sesión del Movimiento de Países No Alineados destacó el MNOAL CSSTC, una organización
intergubernamental creada para mejorar la cooperación técnica entre países del Sur Global y
promover la capacitación en las áreas de agricultura, salud, educación y tecnologías de la
información y la comunicación (TIC). Además, el Movimiento de Jóvenes No Alineados celebró la
XIV Cumbre del MNA, celebrada en La Habana, Cuba, donde se decidió establecer el Centro de
Derechos Humanos y Diversidad Cultural del MNA. Finalmente, el Centro del Sur destacó
importantes iniciativas como el Foro de Partes Interesadas del Programa de Acceso a Tecnologías
Sanitarias (HTAP) de la OMS, los pasos necesarios para asegurar resultados en la 4ª Conferencia
de FfD4, el Pacto Digital Global y la OMC a sus 30 años. El Centro también publicó su Boletín de
febrero de 2025, manteniendo su compromiso de informar sobre las actuaciones más relevantes.

Palabras clave. Cooperación Sur-Sur. ONUSC. G-77 y China. Movimiento de Países No Alineados.
Centro Sur.

Resumo: O UNOSSC discutiu a próxima Conferência sobre os Países em Desenvolvimento sem


Litoral (LLDC3), que enfrenta desafios significativos devido à falta de acesso direto ao mar. Essa
situação dificulta o comércio internacional, a conectividade e o crescimento econômico. Em
outra sessão, foi apresentado o Sistema de Monitoramento de Recomendações (SIMORE), uma
ferramenta interinstitucional que organiza recomendações de direitos humanos direcionadas
ao Paraguai por organismos da ONU e da OEA. Além disso, o UNOSSC destacou a primeira
reunião do Grupo Consultivo sobre Cooperação Sul-Sul e Triangular da ONU, assim como a
próxima 22ª sessão do Comitê de Alto Nível sobre Cooperação Sul-Sul, programada para ocorrer
entre 27 e 30 de maio de 2025. O UNOSSC promoveu ainda uma reunião com embaixadores e
relatores de Relatórios Nacionais Voluntários (VNR) para o próximo HLPF e publicou uma
chamada para uma manifestação de interesse para uma Rede Global de Pensadores Sul-Sul. O
Brasil foi destacado na Cúpula Nutrição para o Crescimento, realizada em Paris, onde o Programa
Nacional de Alimentação Escolar foi considerado uma ferramenta essencial para a segurança
alimentar global. Além disso, celebrou os 25 anos de cooperação entre Brasil e Timor-Leste,
ressaltando o resgate e a promoção da língua portuguesa. O G-77 e a China participaram
ativamente de três reuniões na AGNU, incluindo a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da
Informação e a preparação do documento final para a 4ª Conferência Internacional sobre
Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4). Na sessão do Movimento dos Não-Alinhados, o
destaque foi o NAM CSSTC, uma organização intergovernamental criada para melhorar a
cooperação técnica entre países do Sul Global e promover capacitação nas áreas de agricultura,
saúde, educação e tecnologias da informação e comunicação (TIC). Além disso, o Movimento
Jovem dos Não-Alinhados celebrou a 14ª Cúpula do MNA, realizada em Havana, Cuba, onde foi
decidido o estabelecimento do Centro de Direitos Humanos e Diversidade Cultural do MNA. Por
fim, o Centro Sul destacou iniciativas importantes como o Fórum de Partes Interessadas do
Programa de Acesso a Tecnologias em Saúde (HTAP) da OMS, as etapas necessárias para garantir
resultados na 4ª Conferência de FfD, o Pacto Digital Global e a OMC aos 30 anos. O Centro

150
também publicou seu Boletim de fevereiro de 2025, mantendo o compromisso de informar
sobre as ações mais relevantes.

Palavras-chave. Cooperação Sul-Sul. UNOSSC. G-77 e China. Movimento dos Não-Alinhados.


Centro Sul.

Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul (UNOSSC)

O Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul promove, coordena e apoia a
cooperação Sul-Sul e triangular globalmente e dentro do sistema das Nações Unidas, incluindo:
1) Política e Apoio Intergovernamental; 2) Desenvolvimento de capacidades; 3) Cocriação e
Gestão do Conhecimento; 4) Gestão do Fundo Fiduciário Sul-Sul. O UNOSSC atua como uma
plataforma de compartilhamento de recursos onde parceiros do Sul Global se conectam
buscando soluções e explorando oportunidades de financiamento. Também conecta governos,
especialistas e grupos de reflexão para garantir que as perspectivas do Sul sejam incluídas nos
diálogos políticos.

Destaques do UNOSSC

Dia 26 de março de 2025 - 3ª Conferência sobre os países em desenvolvimento sem litoral


(LLDC3)

A diretora do UNOSSC Dima Al-Khatib se encontrou com a


Embaixadora Aksoltan Ataeva da missão permanente do
Turcomenistão na ONU para discutir a 3ª Conferência sobre
os países em desenvolvimento sem litoral (LLDC3) a ser
realizada de 4 a 8 de agosto de 2025 no Turcomenistão.

Os países em desenvolvimento sem litoral (LLDCs)


enfrentam desafios enormes devido à falta de acesso direto
ao mar, o que dificulta seu comércio internacional,
conectividade e crescimento econômico. Isolados do mercado
global e sem a infraestrutura de transporte e logística necessária, os LLDCs tem dificuldades
enormes para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

A LLDC3 será uma oportunidade importante para explorar parcerias que possam ajudar
a desbloquear o potencial desses países. E ao promover soluções inovadoras, formar parcerias
estratégicas e aumentar o investimento, é possível enfrentar esses desafios e maximizar suas
capacidades. E chega em um momento crítico para tomar ações transformadoras em questões
mais relevantes para LLDCs, tais como: transformação estrutural, Ciência, Tecnologia e Inovação
(CTI), ação climática, comércio, integração regional, transporte e conectividade.

O Programa de Ação para Países em Desenvolvimento Sem Litoral (LLDCs) para a Década
de 2024-2034, adotado pela Assembleia Geral da ONU em 24 de dezembro de 2024, visa abordar
os desafios únicos enfrentados por esses países por meio de uma cooperação internacional mais
forte, financiamento inovador, compartilhamento de tecnologia e integração regional mais
profunda. De acordo com as Nações Unidas, ele busca desbloquear o potencial total de
desenvolvimento dos LLDCs e garantir que eles não sejam deixados para trás na busca global por
crescimento inclusivo e sustentável.

151
O objetivo deste Programa de Ação é promover o crescimento econômico sustentável
dos Países em Desenvolvimento Sem litoral através de mercados internacionais, com a
possibilidade de desenvolver a infraestrutura de transporte e logística, assegurando que essa
infraestrutura seja confiável para facilitar o comércio. Além disso, o Programa de Ação busca-se
garantir que o progresso econômico beneficie todos os grupos sociais, contribuindo para a
redução da pobreza e da desigualdade.

Os objetivos deste Programa de Ação de 10 anos são favorecer o crescimento econômico


sustentável utilizando os mercados internacionais e contribui para o desenvolvimento de
infraestrutura de transporte e logística para facilitar o comércio. Isso ajuda com a Inclusão social,
garantindo que o progresso econômico beneficie todos os grupos sociais, reduzindo a pobreza e
a desigualdade focando principalmente em transporte e conectividade, a facilitação do
comérecio, desenvolvimento sustentável,parceria e tecnologia e inovação.

Para saber mais sobre o Programa de Ação, clique aqui.

Para saber mais sobre a LLCD3, clique aqui.

19 de março de 2025 – Sessão informativa sobre o SIMORE Plus

O SIMORE Plus (Sistema de Monitoramento de


Recomendações) é um sistema interinstitucional que
organiza as recomendações de direitos humanos
direcionadas ao Paraguai por organismos da ONU e da
OEA.

Ele promove a cooperação internacional e é crucial


para monitorar os ODS. Reconhecido pelo Conselho
de Direitos Humanos da ONU, o SIMORE Plus já foi
implementado com êxito em diversos países da América Latina, como Argentina, Chile e Costa
Rica, refletindo os princípios de Cooperação Sul-Sul para um desenvolvimento sustentável.

No dia 19 de março, houve uma reunião hibrida com a


participação da Diretora do UNOSSC, Dima al-Khatib e
o Embaixador Marcelo Scarppini Ricciardi,
Representante da Missão Permanente do Paraguai nas
Nações Unidas para apresentar o Sistema de
Monitoramento de Recomendações do Paraguai
(SIMORE Plus) e seu Programa de Cooperação Técnica.

A reunião informativa do SIMORE discutiu a eficácia


das estratégias de monitoramento das recomendações de
direitos humanos, a participação dos Estados na implementação dessas recomendações e o
impacto das ações na proteção dos direitos humanos na região da América Latina e Caribe.

O encontro também teve como objetivo fortalecer a colaboração entre Estados,


organizações da sociedade civil e acadêmicos, promovendo a efetiva proteção dos direitos
humanos. Essas reuniões são essenciais para garantir transparência e diálogo sobre o
cumprimento das recomendações.

Vale lembrar que a ampla gama de instrumentos aprovados para a promoção e proteção
dos direitos humanos no nível internacional gerou uma variedade de mecanismos que os

152
supervisionam. Isso é feito principalmente por meio da revisão de relatórios dos países,
resultando em recomendações que orientam a melhoria das normas de promoção e proteção,
conforme estabelecido pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos.

Entretanto, a crescente quantidade de obrigações, derivadas não apenas de


instrumentos internacionais, mas também de recomendações de mecanismos supervisores,
trouxe desafios comuns para os países em relação ao acompanhamento e à implementação
eficaz, além da submissão adequada e pontual de relatórios aos sistemas de direitos humanos
da ONU e sistemas regionais.

A Nota Conceitual do SIMORE Plus, pode ser lida aqui.

Notícias dos Fundos Fiduciários do UNOSSC

28 de março de 2025 - Acabando com as gestações e a violência sexual contra crianças e


adolescentes no Paraguai

O Paraguai avançou em seus esforços para garantir tanto o direito


ao planejamento familiar quanto uma vida livre de violência.
Aprovou leis e implementou políticas, programas e protocolos,
tudo para garantir acesso à saúde sexual e reprodutiva e uma
vida livre de abuso sexual para todos.

Com apoio do Fundo India-ONU e com a colaboração do


Ministério da Saúde Pública e Bem-Estar Social, o Ministério da Educação e Ciências, o Ministério
da Criança e Adolescentes, o Ministério do Trabalho, Emprego e Seguridade Social e o Fundo de
Populações das Nações Unidas, ele se concentra em Caaguazu, na região centro-sul do Paraguai.

Para saber mais, clique aqui.

Dia 22 de março de 2025 - Dia Mundial da Água

Para celebrar este dia, destaca-se os projetos do Fundo de


Cooperação Sul-Sul, gerenciados pelo UNOSSC e
implementados em colaboração com parceiros das Nações
Unidas, voltados para fornecer água potável e saneamento para
as comunidades mais necessitadas.

Essas iniciativas têm gerado um impacto positivo, garantindo


que comunidades no Sul Global tenham acesso a água potável e
instalações de saneamento adequadas, o que melhora a saúde
pública e cria novas oportunidades econômicas.

Um bom exemplo é o projeto no norte de Essuatíni, onde a escassez de água


representava um grande desafio. Por meio de um projeto do Fundo IBAS (Índia, Brasil e África
do Sul), foram construídos poços artesianos movidos a energia solar, beneficiando mais de 1.200
pessoas e duas escolas. Essa iniciativa trouxe melhorias significativas na saúde e na qualidade de
vida dos moradores, que agora têm acesso a água limpa e segura.

Além disso, em Viana, Angola, um projeto também apoiado pelo Fundo IBAS tem o
objetivo de melhorar os serviços de água, saneamento e higiene (WASH), estabelecendo novos
padrões de gestão para essas infraestruturas.

153
Em Chuuk, na Micronésia, estão sendo implantados sistemas de purificação de água
movidos a energia solar para combater a escassez de água em comunidades remotas.

Para saber mais, clique aqui.

21 de março de 2025 – Eliminação da Transmissão de


doenças Mãe-Filho (EMTCT Plus)

O Fundo India-ONU e a OPAS estão contribuindo para


eliminar a a transmissão de doenças de mãe para filho,
como HIV, sífilis, hepatite B e doença de Chagas nas 15
nações do CARICOM26, dentro da Estrutura EMTCT Plus. O
objetivo é destacar a cooperação sul-sul, promovendo o
compartilhamento de conhecimentos e melhores práticas entre
as nações caribenhas para fortalecer os serviços de saúde materna e infantil e eliminar doenças
como HIV e sífilis até 2030.

A Dra. Rhonda Sealey-Thomas, Diretora Assistente da OPAS, destacou a necessidade de


cooperação regional, indicando que os Estados-membros da CARICOM podem trocar
experiências para melhorar a estratégia EMTCT e oferecer suporte mútuo para alcançar essa
meta crucial.

Este projeto se concentrará na melhoria dos sistemas técnicos, com ênfase na otimização
dos serviços laboratoriais e nas plataformas de gestão de dados. Diagnósticos confiáveis e uma
vigilância eficaz são essenciais para alcançar os objetivos propostos.

Ao aproveitar a experiência coletiva e os recursos da região, o projeto visa assegurar que


as futuras gerações estejam livres dessas doenças transmissíveis. Além disso, busca garantir a
disponibilidade de diagnósticos de qualidade, serviços de prevenção primária, tratamento eficaz
e um sistema de informação de saúde robusto para monitorar os casos. Essa abordagem
abrangente e sustentável visa alcançar a certificação EMTCT Plus.

Para saber mais, clique aqui.

Do Instagram do UNOSSC

28 de março de 2025 - Webinar sobre o impacto dos pagamentos de seguros paramétricos


relacionados ao risco climático em Fiji

Contexto: O projeto de seguro paramétrico lançado em 2021


em Fiji, com o objetivo de oferecer assistência financeira
imediata para ajudar comunidades vulneráveis a se
recuperarem após eventos climáticos extremos, como
ciclones e secas.

Ele foi desenvolvido em parceria com o Instituto UNU para o


Meio Ambiente e Segurança Humana (UNU), PNUD e Fundo de
Desenvolvimento de Capital das Nações Unidas (UNCDF) e visa fortalecer a resiliência financeira,
especialmente para mulheres e pequenos agricultores.

26
CARICOM ou Comunidade do Caribe é uma organização intergovernamental e uma união política e
econômica de 15 estados-membros e cinco membros associados em todas as Américas.

154
27 de março de 2025 - Na primeira Reunião Interinstitucional de 2025 sobre Cooperação Sul-Sul,
a Diretora do UNOSSC, Dima Al-Khatib, atualizou os parceiros do
sistema ONU sobre os principais desenvolvimentos, eventos-chave
e prioridades estratégicas, incluindo a primeira reunião do Grupo
Consultivo e a próxima 22ª sessão do Comitê de Alto Nível sobre
Cooperação Sul-Sul que será realizado de 27 a 30 de maio de 2025.

27 de março de 2025 – Reunião com os embaixadores e apresentadores de Relatórios


Nacionais voluntários (VNR) que foi organizada pela Missão
Permanente das Filipinas na ONU, destacou que os países estão
cada vez mais integrando a Cooperação Sul-Sul e Triangular na
preparação e apresentação de seus VNRs sobre o progresso dos
ODS, gerando evidências de contribuições Sul-Sul.

O UNOSSC, em colaboração com os Copresidentes do Grupo de


Amigos dos VNRs, Estados-Membros e outras partes interessadas
desenvolveu, em 2023, um Manual para apoiar a integração da cooperação Sul-Sul e triangular
nos VNRs, que pode ser visto aqui.

27 de março de 2025 – No último informe, destacamos o treinamento online sobre


redução de riscos de desastres e resiliência urbana,
promovido pelo UNOSSC, Escritório das Nações Unidas
para Redução de Riscos de Desastres - Instituto Global de
Educação e Treinamento (UNDRR GETI) e Organização
Panamericana da Saúde/Organização Mundial da Saúde
(OPAS/OMS. Este foi o 5º Programa de treinamento
realizado em 3 sessões online nos dias 12, 19 e 26 de março
de 2025.

O treinamento que terminou no dia 26 de março, teve a participação de 1.400


participantes de mais de 140 países e apresentou soluções inclusivas e orientadas por tecnologia
para cidades resilientes, com a participação de especialistas do Brasil, China, Colômbia, Gâmbia,
Coreia do Sul, Turquia e o Banco de tecnologia da ONU que compartilharam soluções de IA,
sensoriamento remoto e orientadas por dados para resiliência.

O público foi composto de mais de 40% de mulheres e ainda 53 participantes com


deficiência, reforçando o compromisso Sul Sul com com a Redução de Riscos de Desastres e
Resiliência Urbana inclusivas.

155
26 de março de 2025 – Chamada para manifestação de Interesse para a Rede Global de
Pensadores Sul-Sul

O UNOSSC está convidando think tanks, instituições de


pesquisa, do-tanks e organizações acadêmicas a se
juntarem à Rede Global de Pensadores Sul-Sul para
promover:

• Pesquisa colaborativa que una conhecimento entre o


Sul e o Norte Global
• Desenvolver iniciativas de pesquisa conjunta que
alavanquem perspectivas regionais e sub-regionais
• Troca de conhecimento sinérgica entre países em
desenvolvimento
• Explorar modelos de cooperação triangular que amplificam insights coletivos
Mais informações, clique aqui.

26 de março de 2025 – Sessão Especial dos Parceiros para o Desenvolvimento Internacional na


Coreia em 2025

UNOSSC esteve presente apresentando os fundos


fiduciárioe em uma apresentação intitulada
“Alavancando a Cooperação Sul-Sul e Triangular para
a Gestão Sustentável da Água na Bacia do Mekong”
enfatizando a importância da colaboração contínua
com os países parceiros para gerar impacto concreto
por meio dos projetos-piloto e com oportunidades
para a colaboração entre o UNOSSC e o MRC Mekong
para promover a cooperação Sul-Sul e triangular por meio de outras iniciativas.

O MRC Mekong é a Comissão do Rio Mekong, uma organização intergovernamental que


trabalha com os governos do Camboja, Laos, Tailândia e Vietname para gerir os recursos hídricos
do rio Mekong de forma sustentável.

24 de março de 2025 - Primeira reunião do Grupo Consultivo do sistema da ONU sobre


Cooperação Sul-Sul e Triangular

Durante sua primeira reunião, a Diretora do UNOSSC e


representantes seniores da ONU discutiram a
estratégia e o papel do sistema da ONU para alavancar
a Cooperação Sul Sul para a realização dos ODS,
guiados pela Estratégia de todo o sistema da ONU
sobre Cooperação Sul-Sul e Triangular.

A Estratégia do Sistema da ONU para a Cooperação Sul-


Sul e Triangular é um fator-chave para o apoio coordenado
do sistema de desenvolvimento das Nações Unidas aos Estados-Membros na Cooperação Sul-
Sul e Triangular, alavancando o conhecimento, as habilidades e os recursos do Sul Global para
promover o desenvolvimento.

Leia a estratégia.

156
21 de março de 2025 – Rede de Cooperação Sul-Sul da China

Na 29ª Conferência da Rede de Coopeeração Sul-Sul da


China, a diretora dos Fundos da UNOSSC, Xiaojun Grace
Wang, destacou o poder da cooperação Sul-Sul no
enfrentamento dos desafios globais.

A Rede de Coopeeração Sul-Sul da China é uma plataforma


multilateral vital, fomentando projetos e troca de
conhecimento para promover o desenvolvimento
sustentável global.

Ao impulsionar a tecnologia digital, a cooperação Sul-Sul impulsiona também o crescimento


inclusivo e soluções sustentáveis e a China está desempenhando um papel fundamental por
meio de financiamento estratégico, transferência de tecnologia e inovação.

O Brasil na cooperação Sul-Sul

27 e 28 de março de 2025 - Cúpula Nutrição para o Crescimento – Paris 2025

A Cúpula é realizada de 4 em 4 anos e reúne governos, empresas e sociedade civil para


discutir compromissos políticos e financeiros para a nutrição global.

Esta edição foi prestigiada com a presença do Presidente da França, François Macron, o
Diretor Geral da OMS e muitas outras autoridades internacionais e na ocasião, mais de US$ 27
bilhões foram mobilizados para combater a insegurança alimentar.

A Delegação do Brasil foi liderada pela Primeira-Dama que destacou a urgência do tema
e reforçou o compromisso brasileiro no combate à fome e com a alimentação escolar como
ferramenta essencial para a segurança alimentar global.

A presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) enfatizou o


impacto transformador do Programa Nacional Brasileiro de Alimentação Escolar (PNAE) que é
mais do que uma política de segurança alimentar. É uma ferramenta poderosa de mudança,
capaz de diminuir desigualdades, impulsionar a economia local através da agricultura familiar e
promover um ambiente escolar onde as crianças dispõem da energia e foco necessários para
aprender e praticar esportes. Ela acrescentou ainda que a integração entre alimentação, saúde
e esporte é o que o Brasil quer enfatizar.

Pesquisas indicam que uma alimentação saudável melhora o desempenho acadêmico,


reduz a obesidade infantil e estimula a participação dos alunos em atividades físicas, formando
hábitos que perduram por toda a vida.

157
Para saber mais, clique aqui.

26 de março de 2025 - 25 anos de cooperação Brasil–Timor-Leste: O resgate da língua


portuguesa

Para celebrar esta data, o Canal Gov e o Canal Educação,


em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação
(ABC), veicularam um documentário que retrata a
história e os impactos dessa colaboração ao longo dos
anos.

Em 1999, após a independência de Timor-Leste da


Indonésia, o Governo Brasileiro, por meio da ABC, deu
início a iniciativas de apoio ao país. A Agência
implementou projetos focados no desenvolvimento social, econômico e na construção de
infraestrutura, além de oferecer capacitação em diversas áreas.

Essas ações contribuiram para consolidar a autonomia de Timor-Leste e promover a


cooperação bilateral entre os dois países.

Para saber mais, clique aqui.

24 de março de 2025 - Missão de Cabo Verde no Brasil para cooperação em Habitação

Em uma iniciativa de cooperação técnica voltada para o


intercâmbio de boas práticas em habitação,
representantes do Brasil e de Cabo Verde firmaram uma
parceria para o desenvolvimento urbano sustentável no
Sul Global.

Durante duas semanas, especialistas de Cabo Verde


terão a oportunidade de conhecer exemplos práticos no
Brasil, além de participar de reuniões e debates sobre o
tema.

Essa iniciativa integra o projeto Simetria Urbana, que visa fortalecer as capacidades de
governos locais e nacionais no desenvolvimento de ações alinhadas à Agenda 2030 e à Nova
Agenda Urbana. Desde 2022, a Cooperação Sul-Sul, promovida pelo ONU-Habitat e pela Agência
Brasileira de Cooperação (ABC), busca promover essas ações.

Noticia do Instagram da ABC

24 de março de 2025 - O Embaixador do Gabão,


Jacques Michel Moudouté-Bell, participou de uma sessão
de trabalho na Agência Brasileira de Cooperação (ABC)
para discutir dois projetos de desenvolvimento com o seu
país.

Noticia do Instagram da ABC

158
Dia 20 de março de 2025 - Programa de Cooperação
Internacional Brasil-FAO

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e


Agricultura (FAO) e o governo do Brasil, por meio da
Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional,
implementam iniciativas estratégicas para assegurar a
segurança alimentar e nutricional no país. Ambas as
entidades colaboram para ampliar o acesso a alimentos
adequados e saudáveis, com o objetivo de combater a fome
e promover dietas equilibradas.

Essas ações demonstram o compromisso do Brasil em alcançar os ODS, especialmente


no que se refere à erradicação da fome e à promoção de sistemas alimentares sustentáveis.

Este projeto faz parte de uma estratégia mais ampla para enfrentar o crescente desafio
da insegurança alimentar nas áreas urbanas, com foco em comunidades vulneráveis afetadas
pela fome e má nutrição. O governo brasileiro, por meio do programa "Alimenta Cidades", visa
melhorar o acesso a alimentos básicos e saudáveis, desenvolvendo soluções sustentáveis para
fortalecer a segurança alimentar e promover o acesso a alimentos nutritivos.

Para saber mais, clique aqui.

Dia 19 de março de 2025 - Diálogo África Brasil

Especialistas e autoridades se reuniram no Diálogo África-


Brasil sobre Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
Agropecuária, promovido pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), pela Agência Brasileira
de Cooperação (ABC) e pelo Instituto Interamericano de
Cooperação para a Agricultura (IICA). O foco da reunião foi
a transformação da agricultura e o enfrentamento da
insegurança alimentar.

O cientista Rattan Lal destacou que a África pode se inspirar no "milagre do Cerrado"
brasileiro, que posicionou a região como um dos principais produtores de alimentos do mundo.
Ele enfatizou a importância de investimentos públicos em agricultura e a necessidade de garantir
a acessibilidade a insumos para pequenos produtores africanos.

Durante o encontro, foi anunciado um acordo de cooperação que permitirá a 30


pesquisadores africanos viajarem ao Brasil para um intercâmbio de conhecimentos sobre
segurança alimentar e práticas de agricultura regenerativa. Painéis técnicos também discutiram
estratégias para desenvolver abordagens agrícolas comuns entre a África e o Brasil, ressaltando
a relevância da cooperação Sul-Sul.

Manuel Otero, do IICA, e Silvia Massruhá, da EMBRAPA, enfatizaram a importância de


fortalecer a colaboração entre os continentes, aproveitando as experiências do Brasil para
enfrentar desafios como a degradação do solo e a gestão hídrica. O objetivo final é garantir a
segurança alimentar e proteger os recursos naturais, estabelecendo uma agenda conjunta entre
as nações.

Para saber mais, clique aqui.

159
19 de março de 2025 - ABC na TV: algodão que transforma
vidas!

Estreou o documentário sobre a cooperação Brasil, Malawi


e Moçambique.

O Brasil coopera compartilhando conhecimento acerca da


produção do algodão nesses países a fim de reduzir a
pobreza rural, fortalecer pequenos e médios produtores,
aumentar a produtividade e promover um desenvolvimento
sustentável na África.

Noticia no X da ABC

17 a 21 de março de 2025 – Programa Nacional de


Alimentação Escolar (PNAE)

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação


(FNDE) recebeu uma delegação da África do Sul para
um intercâmbio técnico sobre o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), amplamente reconhecido
em todo o mundo.

Realizado em parceria com a Agência Brasileira de


Cooperação (ABC) e o Centro de Excelência Contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos
(WFP), o evento tem como objetivo fortalecer a cooperação Sul-Sul e reforçar o compromisso
com a erradicação da fome.

A presidente do FNDE, Fernanda Pacobahyba, e o embaixador sul-africano, Vusi


Mavimbela, ressaltaram a importância da troca de experiências entre os países. As sessões
técnicas abordaram temas como governança e a integração entre alimentação escolar e
produção local, enfatizando a conexão com a agricultura familiar.

O intercâmbio incluiu visitas a escolas e cooperativas, além de discussões sobre diretrizes


nutricionais. O evento também estabeleceu as bases para futuras parcerias, destacando a
participação da África do Sul na 2ª Cúpula Global de Alimentação Escolar em 2025. Essa
colaboração consolida o Brasil como referência em segurança alimentar e desenvolvimento
social.

Para saber mais, clique aqui.

Grupo do G-77

O G-77 é a maior organização intergovernamental de países em desenvolvimento dentro


das Nações Unidas e sua missão é permitir que os países do Sul Global se articulem e promovam
seus interesses econômicos coletivos e aumentem sua capacidade internacional de negociação
conjunta dentro do sistema das Nações Unidas.

O G-77 é uma estrutura institucional permanente que se desenvolveu gradualmente, o


que levou à criação de Capítulos com escritórios de ligação em Genebra (UNCTAD)27, Nairóbi

27
UNCTAD - Comércio de Desenvolvimento da ONU

160
(UNEP)28, Paris (UNESCO)29, Roma (FAO/IFAD)30, Viena (UNIDO)31 e Washington (G-24)32. Em
2025, o Iraque detém a presidência pró tempore do G-77.

Destaques do G-77

25 de março de 2024 - Declaração realizada pela República do Iraque em nome do G-77


e da China na adoção da resolução para a revisão geral da implementação dos resultados para a
Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, pela AGNU

O Grupo destacou que a Revisão da WSIS+20 é crucial para avaliar o progresso, enfrentar
desafios e reafirmar o compromisso com o uso das TICs para o avanço das sociedades da
informação e do conhecimento. Essa revisão se alinha aos objetivos do Pacto Digital Global,
buscando criar uma visão compartilhada para a cooperação e governança digitais.

A revisão de duas décadas dos resultados da WSIS, a ser finalizada pela AGNU deste ano,
é oportuna para a formulação da agenda de desenvolvimento.

O Grupo acredita que a economia digital pode impulsionar inovação e produtividade em


todos os países, tornando essencial abordar a divisão digital entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento, assim como dentro das sociedades, focando na disponibilidade,
acessibilidade, qualidade de acesso e conectividade de banda larga.

24 de março de 2024 - Declaração realizada pela República do Iraque em nome do G-77


e da China durante as consultas dos representantes permanentes do Comitê preparatório para
a 4ª Conferência Internacional sobre financiamento para o desenvolvimento (FfD4) durante a
análise do primeiro projeto do documento para a Conferência

Com a aproximação dos últimos cinco anos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento é
crucial para renovar o compromisso global com o financiamento e acelerar ações para alcançar
os ODS.

O progresso dos ODS será avaliado pela habilidade em fechar a lacuna de financiamento
através de reformas na arquitetura financeira internacional. Vale lembrar que a reforma da
governança econômica global é essencial para o desenvolvimento, e os resultados da FfD4 e
devem reafirmar compromissos e traçar um caminho claro para o futuro.

No entanto, o documento final precisa enfatizar a inclusão da linguagem de erradicação


da pobreza e fortalecê-la como o objetivo central da Agenda 2030.

Com a lacuna de financiamento para os ODS, existe uma necessidade urgente de


financiamento confiável, adequado e acessível para o desenvolvimento sustentável em países
em desenvolvimento. Portanto, devem estar claros os princípios da Agenda de Ação de Adis
Abeba de que nenhum país ou indivíduo deva ser deixado para trás, assim como as
responsabilidades Comuns, Mas Diferenciadas (CBDR), estabelecidas na Declaração do Rio que

28
UNEP - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
29
UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
30
FAO - Organização para a Alimentação e Agricultura e IFAD - Fundo Internacional para o
Desenvolvimento Agrícola
31
UNIDO - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
32
G-24 - Assuntos monetários internacionais e desenvolvimento

161
são cruciais para compromissos de desenvolvimento equitativos. E o documento não expressa
claramente a fome e a insegurança alimentar e isso deve ser retificado.

Além disso, os recursos públicos nacionais são fundamentais para o desenvolvimento


sustentável e para atingir os ODS. Portanto, é necessário fortalecer os sistemas fiscais nacionais
alinhados com as prioridades de desenvolvimento sustentável, particularmente por meio de
mobilização de recursos nacionais.

Mais uma vez o Grupo citou a importância de coibir fluxos financeiros ilícitos e melhorar
a transparência fiscal para proteger e maximizar as receitas nacionais. Eles enfatizam que
combater a evasão fiscal e a corrupção é crucial para mobilizar e reter recursos de forma eficaz
para o desenvolvimento nacional.

Além disso, defenderam a criação de estruturas robustas para envolver o setor privado
no financiamento para o desenvolvimento com parcerias público-privadas, instrumentos
financeiros combinados e incentivos direcionados para investimentos sustentáveis, garantindo
que o capital privado complemente os recursos públicos, preservando a propriedade e as
prioridades nacionais e abordando a sustentabilidade da dívida de longo prazo.

Para ler o documento completo, clique aqui.

14 de março de 2024 - Declaração realizada pela República do Iraque em nome do G-77


e da China durante as consultas para identificar os termos de referência e modalidades para o
estabelecimento e funcionamento do painel científico internacional independente sobre
inteligência artificial

CONTEXTO

O Painel Científico Internacional Independente sobre IA, instituído pelo Pacto Digital
Global da AGNU em setembro de 2024, tem como objetivo oferecer conhecimento científico
confiável, credível e representativo sobre as oportunidades, riscos e capacidades da IA, apoiando
discussões e decisões baseadas na ciência, e não simplesmente em políticas.

Considerando ser a última oportunidade de oferecer contribuições antes do lançamento


do Rascunho ZERO para o Painel Científico Internacional Independente sobre IA, o G-77 e a China
reiteraram algumas de suas posições-chave sobre este painel, o diálogo global, o relacionamento
entre os dois e a necessidade de manter o foco no desenvolvimento sustentável.

De acordo com o Grupo, o estabelecimento e a operação do Painel devem enfatizar a


inclusão e a representação global equitativa e devem incluir uma estrutura de governança com
funções claramente definidas para que haja equilibrio entre a legitimidade política dos Estados-
Membros e a credibilidade científica dos especialistas.

O Grupo rejeitou veementemente a inclusão de um comitê de seleção para o Painel,


enfatizando que os especialistas deverão ser nomeados e eleitos pelos Estados-Membros,
enquanto os cientistas deverão ser selecionados com base em critérios estabelecidos alinhados
com a estrutura proposta.

Eles também destacaram a importância do Painel promover a capacitação por meio de


iniciativas como bolsas e programas de treinamento, que serão essenciais para melhorar a
representação do Sul Global, aproveitando precedentes como o programa de bolsas do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e iniciativas semelhantes do Plataforma
Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos (IPBES).

162
Além disso, o Grupo insistiu que as modalidades de financiamento do Painel Científico
Internacional Independente sobre IA e do Diálogo Global devam ser comunicadas de forma
transparente a todos os Estados-Membros e que deverá haver uma revisão de Alto Nível do
Painel.

Em relação ao secretariado, o Painel deverá receber apoio do Secretariado da ONU em


coordenação com agências relevantes.

Em relação ao Diálogo Global, o G-77 e a China consideraram que este deve ser uma
plataforma inclusiva e participativa que promova a colaboração de todos sobre governança de
IA, capacitação e que estejam alinhados com os ODS. Ademais as conclusões do Painel devem
orientar as discussões dentro do Diálogo Global, resultando em recomendações de políticas,
estruturas de governança compartilhadas e mecanismos de cooperação internacional, ao
mesmo tempo em que abordam a necessidade de reduzir as diferenças digitais.

Para facilitar essas discussões, o Grupo defendeu uma abordagem de duas vias. A
primeira via, a Via Intergovernamental, concentrando-se em discussões lideradas pelo governo
sobre abordagens regulatórias e padrões de governança. É vital que essa via garanta que os
países em desenvolvimento possam se envolver de forma eficaz e significativa. A segunda via é
a Via Multissetorial, que envolve discussões técnicas e éticas que incluem a participação da
academia, da indústria e da sociedade civil.

O Grupo destacou a importância de garantir uma participação e representação efetivas


dos países em desenvolvimento no Diálogo Global, valorizando a inclusão de medidas que
apoiem esse objetivo. Eles expressaram uma forte oposição à proposta de integrar o Diálogo
Global com reuniões já existentes, afirmando que o Diálogo deve seguir sendo uma plataforma
distinta para discutir governança de IA e desenvolvimento sustentável, e não apenas um
mecanismo de coordenação atrelado a outras iniciativas da ONU.

Movimento dos Países Não Alinhados (MNA)

O MNA é a maior coligação de países depois das Nações Unidas, criada em 1961, hoje,
o movimento é composto por 121 Estados Membros de todas as partes do mundo.

Existem ainda 17 estados e 10 organizações internacionais com status de observador.

De 2024 a 2027, a presidência do MNA está a cargo da República de Uganda. O


presidente de Uganda, Yoweri Museveni é o presidente do Movimento dos Não-Alinhados. A
Delegação de Uganda junto às Nações Unidas é o representante do Presidente na ONU.

163
Destaque do MNA

Centro de Cooperação Técnica Sul-Sul do MNA (NAM CSSTC)

O NAM CSSTC está localizado em Jacarta na


Indonésia e é uma organização
intergovernamental criada para melhorar a
cooperação técnica entre países no Sul
Global.

Durante a 10ª Cúpula do Movimento dos


Não-Alinhados, realizada em Jacarta em
1992, o Governo da Indonésia propôs a
criação de um Centro de Cooperação Técnica
Sul-Sul. O objetivo desse centro seria organizar programas e atividades de treinamento, pesquisa
e seminários voltados para erradicar a pobreza, incentivar pequenas e médias empresas e
promover a aplicação de tecnologias de informação e comunicação (TIC).

Assim, durante a 11ª Cúpula do NAM, realizada em Cartagena, Colômbia, em 1995, a


proposta do Centro foi apresentada e formalmente estabelecida.

O NAM CSSTC realiza suas atividades em colaboração com centros de


treinamento e especialistas dos países membros do MNA, além de
cooperar com outras organizações multilaterais. A organização é
financiada por contribuições voluntárias da Indonésia, que presta
contas trimestralmente ao Ministério das Relações Exteriores indonésio
e ao Bureau de Coordenação do MNA em Nova York.

O principal objetivo do NAM CSSTC é promover a capacitação para


alcançar metas de desenvolvimento humano sustentável entre os países membros do MNA e
fomentar o engajamento desses países no processo de globalização. As áreas de foco incluem
agricultura, saúde, educação e TIC.

O centro conduz uma variedade de programas e atividades, como workshops técnicos,


sessões de treinamento e estágios, que facilitam a troca de recursos, conhecimento e
experiências entre os países membros. Desde a sua criação, o NAM CSSTC organizou mais de 150
programas, com um enfoque na colaboração para o desenvolvimento sustentável e na
implementação dos ODS.

Além disso, o NAM CSSTC serve como uma plataforma para a troca de conhecimento,
promovendo a solidariedade entre as nações em desenvolvimento por meio de diversos eventos
internacionais, incluindo seminários e workshops.

Em resumo, o NAM CSSTC desempenha um papel crucial no fortalecimento da


cooperação técnica entre os países em desenvolvimento, visando o desenvolvimento sustentável
e a assistência mútua por meio de suas diversas iniciativas.

Movimento Jovem dos Não Alinhados (NAMYO)

A Organização Jovem do Movimento dos Não-Alinhados (NAMYO) foi inaugurada


oficialmente em outubro de 2021 em Baku no Azerbaijão e, desde então, vem atuando como

164
uma plataforma ampla, criando oportunidades para que os jovens possam se manifestar,
apresentar suas ideias e perspectivas em temas relacionados com a conjuntura política global
capacitando os mais jovens para se tornarem líderes do futuro.

Destaques do NAMYO

21 de março de 2025 – Dia Internacional do Nowruz, Você


sabe o que é?

Em 2009, o Nowruz foi reconhecido como Patrimônio


Cultural Imaterial pela UNESCO. Em 2010, a ONU
declarou 21 de março como o Dia Internacional do
Nowruz.

O Nowruz tem mais de 3.000 anos de história, com raízes


no zoroastrismo.

Zoroastrismo. é uma das religiões monoteístas mais


antigas, fundada por Zoroastro (ou Zaratustra) na antiga
Pérsia, por volta de 1500-1000 aC. É uma religião rica em
simbolismo e significado, ligando seus fiéis a conceitos de
moralidade, renovação e respeito pela natureza. Simboliza
renovação, renascimento e o triunfo do bem sobre o mal.

Nowruz é um feriado cultural que enfatiza a renovação, família e comunidade. É


caracterizado por reuniões festivas, comidas tradicionais e práticas simbólicas que celebram a
chegada da primavera. É celebrado no Irã, Afeganistão, partes da Ásia Central, Cáucaso e entre
comunidades curdas, bem como em regiões com significativa influência cultural iraniana.

Tradições do Nowruz

✓ Mesa Haft-Seen: Uma distribuição tradicional de sete itens simbólicos, cada um


começando com a letra persa "S". Exemplos incluem:
• Sabzeh (brotos de trigo) para renascimento
• Senjed (fruta seca) para amor
• Seer (alho) para saúde
• Somāq (sumagre) para o nascer do sol
• Serkeh (vinagre) para paciência e sabedoria
• Seeb (maçã) para beleza
• Samanu (pudim doce) para o poder do amor

✓ Chaharshanbe Suri: O festival de pular no fogo realizado na última quarta-feira


antes do Nowruz, uma tradição que simboliza a purificação do espírito e a
recepção do ano novo.
✓ Sizdah Bedar: O último dia da celebração do Nowruz, marcado por piqueniques
ao ar livre e atividades para celebrar a natureza.
Nowruz é um feriado cultural significativo que enfatiza temas de renovação, família e
comunidade em várias culturas e regiões. É caracterizado por reuniões festivas, comidas
tradicionais e práticas simbólicas que celebram a chegada da primavera.

165
18 de março de 2025 – 14ª Cúpula do MNA realizada em
Havana, Cuba

Continuando com a série “História do Movimento dos Não-


Alinhados”, o destaque foi a 14ª Cúpula do movimento
realizada em Havana, Cuba em 2006.

Com a presença de 116 Estados Membros, o documento final,


a Declaração de Havana, foi abrangente enfatizando a
importância do multilateralismo, reformas da ONU,
especialmente o Conselho de Segurança e outras instituições
internacionais, além de outros tópicos urgentes como
desarmamento nuclear e apoio a uma Zona Livre de armas
nucleares no Oriente Médio e apoio ao programa de energia
nuclear pacífica do Irã, mas o Documento Final também destacou a necessidade da eliminação
de todas as formas de armas de destruição em massa, condenação ao terrorismo, incentivo à
cooperação econômica e a cooperação regional, particularmente na América Latina e no Caribe
e a situação na Palestina.

No entanto, o maior destaque foi o estabelecimento do Centro de Direitos Humanos e


Diversidade Cultural do MNA, com sede no Irã que foi destacado no informe 3 e 4 dos Cadernos
CRIS/Fiocruz (acessivel no AVA), sem deixar de apelar por uma ordem econômica internacional
mais justa e oposição a sanções unilaterais.

Para ler a declaração final da 14ª Cúpula do Movimento dos Não-alinhados, clique aqui.

Centro Sul

O Centro Sul é uma organização intergovernamental de nações em desenvolvimento,


com sede em Genebra, na Suíça, criada em 1995, que funciona como um think tank de reflexão
e ação política em prol do Sul global. O Centro Sul sucedeu a Comissão do Sul, cujo principal
objetivo era fortalecer a cooperação Sul-Sul nos assuntos internacionais.

Destaques do Centro Sul no Instagram de 18 a 31 de março de 2025

26 de março de 2025 – O Centro Sul esteve presente no Fórum de Partes Interessadas


do Programa de Acesso a Tecnologias em Saúde (HTAP) da OMS e confirmaram seu compromisso
em em cooperar em atividades que visem expandir a transferência de tecnologia e as
capacidades de fabricação em países em desenvolvimento.

O Fórum de Partes Interessadas do Programa de Acesso a Tecnologias em Saúde (HTAP)


da OMS é uma plataforma para a Organização Mundial da Saúde se envolver com várias partes
interessadas, aumentar a conscientização sobre a missão do HTAP, coletar informações sobre
planos estratégicos e operacionais e explorar oportunidades de colaboração, com o objetivo de
promover o desenvolvimento e a produção de produtos de saúde sustentáveis e de alta
qualidade.

24 de março de 2025 – O Embaixador da Missão Permanete do Sri Lanka esteve no


Centro Sul para discutir os processos em curso na OMC e suas implicações para o Sri Lanka e
outros países em desenvolvimento, e sobre a preparação e expectativas para a 14ª Conferência

166
Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), programada para 26 a 29 de março de
2026 em Camarões.

20 de março de 2025 - O Embaixador da Guiana na ONU em Genebra, discursou sobre


as Implicações das Restrições do Tratado sobre Direitos de Tributação sobre Serviços,elogiando
o apoio do Centro Sul aos Estados-Membros em negociações internacionais e pediu que os
países em desenvolvimento assumam o comando no contexto das negociações da Convenção
Tributária da ONU.

20 de março de 2025 – Na 14ª Conferência Internacional de Gestão da Dívida da


UNCTAD, o Centro Sul moderou o painel de discussão sobre as Ferramentas Legais para
Construção de Consenso e Regulamentação em um Cenário de Dívida Fragmentado, enfatizando
seu uso para promover a sustentabilidade da dívida nos países do Sul global.

20 de março de 2025 – A Diretora do Instituto de Pesquisa das Nações Unidas para o


Desenvolvimento Social (UNRISD), Magdalena Sepúlveda Carmona, esteve no Centro Sul para
divulgar o trabalho realizado pelo UNRISD e discutir áreas de possível colaboração em pesquisa
concernentes, entre outras coisas, ao papel do Sul Global na formação do sistema multilateral.

20 de março de 2025 – O enviado especial das Nações Unidas para o Financiamento da


Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, esteve no Centro Sul para compartilhar sua
visão sobre as etapas necessárias para garantir resultados orientados à ação na 4ª Conferência
FfD e em outros fóruns multilaterais.

18 de março de 2025 – O Embaixador Geraldo Gonçalves Miguel Saaranga de


Moçambique esteve com o Diretor Executivo do Centro Sul, Carlos Correa para discutir as
negociações em andamento na OMS, OMC e outros fóruns e áreas de cooperação com
Moçambique dentro do Programa de Trabalho do Centro Sul.

18 de março de 2025 – O Embaixador Arindam Bagchi da missão permanete da Índia em


Genebra, esteve no Centro Sul para trocar opiniões sobre as negociações atuais e o Diretor
Executivo do Centro Sul, Carlos Correa agradeceu ao governo da Índia por seu apoio contínuo ao
Centro Sul.

Outros destaques

ARTIGO DE PESQUISA

20 de março de 2025 - Aplicação da Exceção Bolar: Diferentes abordagens no direito da


EU - Dmytro Doubinsky

167
Este artigo de pesquisa aborda o crescente problema do
acesso a medicamentos essenciais, com foco no papel dos
direitos de propriedade intelectual, particularmente
direitos de patente, na restrição do acesso ao permitir
monopólios do mercado farmacêutico que mantêm os
preços dos medicamentos altos.

O artigo explora a exceção Bolar, um mecanismo legal


projetado para permitir que fabricantes de medicamentos
genéricos busquem aprovação regulatória antes que uma
patente expire, evitando assim a extensão de fato dos
monopólios de patentes.

O estudo examina a transformação da exceção Bolar de um


caso legal específico em uma ferramenta significativa de
propriedade intelectual, direito comercial e farmacêutico e
analisa as principais estruturas legais internacionais e diretivas europeias relacionadas à exceção
Bolar e destaca interpretações divergentes da exceção na jurisprudência alemã e polonesa.

Por meio dessa análise comparativa, o artigo argumenta pela implementação mais
ampla das exceções Bolar para melhorar o acesso a medicamentos acessíveis e reduzir os custos
de saúde.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

RESUMO DE POLÍTICAS

27 de março de 2025 - O Pacto Digital Global garantirá um futuro equitativo para os países em
desenvolvimento? - Daniel Uribe

O Pacto Digital Global, adotado pela AGNU em 2024, visa


estabelecer uma estrutura para a transformação digital
equitativa, particularmente para os países em
desenvolvimento.

Embora o Pacto Digital Global reconheça a importância dos


direitos humanos, da redução da exclusão digital e da
garantia de uma transição justa, ele enfrenta desafios
significativos para abordar as desigualdades estruturais e
implementar mecanismos de responsabilização robustos.

Este artigo examina o potencial do Pacto para promover


um futuro digital inclusivo, destacando a necessidade de
abordar os direitos fundamentais, promovendo a
responsabilização empresarial por meio de um instrumento
juridicamente vinculativo e reconhecendo a interconexão da
inclusão digital com o acesso a recursos essenciais como energia, educação e assistência médica.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

168
14 de março de 2025 - Aproveitando as Declarações de Resistência Antimicrobiana de 2024 para
Reduzir a Carga de Infecções Resistentes a Medicamentos-
Afreenish Amir e Viviana Munoz Tellez

Em 2024, dois eventos significativos ressaltaram a


preocupação global acerca da resistência antimicrobiana
(RAM). Este problema de saúde pública urgente não
apenas compromete a saúde global, mas também
representa uma ameaça à estabilidade econômica e ao
bem-estar social. A 79ª Assembleia Geral das Nações
Unidas (AGNU), em sua sessão especial dedicada à RAM,
juntamente com a 4ª Reunião Ministerial sobre o tema,
enfatizou a necessidade de ação coletiva e cooperação
internacional para mitigar o impacto da RAM.

A Declaração da AGNU estabeleceu metas cruciais,


incluindo a redução das mortes globais associadas à
RAM bacteriana em 10% até 2030 e o aumento do uso
de antimicrobianos da categoria de acesso AWaRe
(Access, Watch, Reserve) da Organização Mundial da Saúde (OMS) para 70% até 2030. O
cumprimento dessas metas exige um fortalecimento da colaboração interministerial e
intersetorial dentro dos países, bem como o desenvolvimento de estratégias refletidas em
Planos de Ação Nacionais que sejam adaptados à dinâmica única de cada país.

Diversos compromissos importantes foram firmados e agora precisam ser


implementados, incluindo o aumento do suporte aos países para desenvolver Planos de Ação
Nacionais com financiamento adequado, a criação de um Painel Independente sobre Evidências
para Ação contra a RAM, a capacitação para a fabricação local de vacinas, terapias, diagnósticos
e suprimentos essenciais, bem como o desenvolvimento de um novo Plano de Ação Global sobre
RAM até 2026, que tenha um foco centrado nas pessoas e promova intervenções intersetoriais
para a mudança de comportamento.

Entretanto, as iniciativas até o momento não alcançaram a ambição desejada,


especialmente em áreas cruciais como o financiamento e a redução do uso inadequado e
excessivo de antimicrobianos na saúde humana, na saúde animal e no meio ambiente como um
vetor da RAM. Este Policy Brief analisa os novos compromissos sobre RAM estabelecidos em
2024, à luz dos desafios enfrentados por países em desenvolvimento e apresenta
recomendações para acelerar o progresso no combate à RAM.

Para ler o resumo completo, clique aqui.

169
VISÕES DO CENTRO SUL

21 de março de 2025 – OMC aos 30: Um acerto de contas ou apenas outra revisão?

À medida que a Organização Mundial do Comércio (OMC)


celebra seu 30º aniversário, a Diretora-Geral Ngozi Okonjo-
Iweala convocou um processo de reflexão para avaliar as
conquistas da organização e traçar seu futuro. Para os
países em desenvolvimento, esse momento representa
uma oportunidade significativa. Um processo bem
conduzido poderia iniciar a resolução dos desequilíbrios
estruturais presentes nas regras da OMC, que limitam o
espaço político, o acesso à tecnologia e os caminhos de
desenvolvimento.

Por outro lado, uma abordagem mal gerenciada pode


reduzir essa reflexão a uma revisão superficial, que não
considera as realidades econômicas mais amplas que
moldam o comércio e as necessidades persistentes de
desenvolvimento do Sul Global.

Este artigo defende que o processo de reflexão da DG deve ser orientado pelos membros da
OMC, com princípios claros de governança e baseado em uma auditoria abrangente de
desenvolvimento. Essa auditoria deve avaliar como as regras da OMC impactaram os países em
desenvolvimento nas últimas três décadas. Argumentamos que uma reflexão significativa requer
mais do que uma mera introspecção processual; ela exige um diálogo sério sobre o futuro da
governança do comércio global e sua relevância para o desenvolvimento, garantindo que a
evolução da OMC atenda genuinamente às prioridades de seus membros majoritários.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

170
Boletim de fevereiro de 2025

ARTIGO DE PESQUISA

27 de fevereiro de 2025 - O Pacto para o Futuro


promoverá uma Agenda Global Comum sobre
os Desafios que a Humanidade Enfrenta?

RESUMOS DE POLÍTICA

25 de fevereiro de 2025 - Lições da COVID-19:


Fortalecimento da administração
antimicrobiana antes e durante as pandemias

20 de fevereiro de 2025 - O Tratado de Direito


de Design de Riad: Harmonização de
Procedimentos Globais de Design com
Implicações Mistas

VISÕES DO CENTRO SUL

28 de fevereiro de 2025 - Conhecimento e


Desigualdade Global

13 de fevereiro de 2025 - América em primeiro


lugar, comércio em último: a ascensão das tarifas armamentistas

RELATÓRIOS

Fevereiro de 2025 - Relatório sobre administração antimicrobiana e vigilância de RAM: Relatório


do webinar South Centre WAAW 2024

OUTRAS PUBLICAÇÕES

Fevereiro de 2025

Contribuição do Centro Sul sobre a atualização da orientação técnica sobre a aplicação de uma
abordagem baseada nos direitos humanos para a eliminação da mortalidade e morbidade
materna evitáveis, de acordo com a resolução 54/16 do CDH

Contribuições do Centro Sul para o Mecanismo de Peritos sobre o Estudo do Direito ao


Desenvolvimento sobre Justiça Climática, Sustentabilidade e o Direito ao Desenvolvimento

Economia baseada em combustíveis fósseis e direitos humanos. Insumos do South Centre para
informar o Relatório temático do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos
humanos no contexto das mudanças climáticas para a 59ª sessão do Conselho de Direitos
Humanos

171
Saúde e meio ambiente são discutidos no G20. Finanças, Bancos Centrais e os grupos
de engajamento do G7. Economia e Saúde no radar da quinzena da OCDE.
Health and environment discussed at G20. Finance, Central Banks and the G7
engagement groups. Economy and Health on the OECD's fortnight radar

Pedro Burger
Vitória Kavanami
João Miguel Estephanio
Thaiany Medeiros Cury
Nina Bouqvar
Paulo Esteves

Abstract:

G20: Following two G20 events overshadowed by the effects of the new US foreign policy
adopted by the Trump administration, the bloc's fortnight was marked by two main meetings:
the Health Working Group (HWG) meeting and the first gathering of the Environment and
Climate Sustainability Working Group (ECSWG).

G7: There have been no new meetings among G7 members in the past two weeks, but the
upcoming finance meeting in May holds potential for important discussions. Additionally, it's
worth highlighting the G7's engagement groups, particularly Think 7, which serves as a
barometer for the Leaders' Summit.

OCDE: The OECD's highlights include the release of global economic projections for 2025 and
2026 and the publication of a report on global debt and three other Health-related studies.

Keywords: G20; G7; OECD; South Africa; Finance; International Cooperation.

Resumo:

G20: Após dois eventos do G20 serem ofuscados pelos efeitos da nova política externa dos
Estados Unidos adotada no governo Trump, a quinzena do bloco foi marcada por dois encontros
principais: a reunião do Grupo de Trabalho de Saúde (HWG, na sigla em inglês) e o primeiro
encontro do Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática.

G7: Sem novos encontros dos membros do G7 na última quinzena, há um cenário de


prospecções de assuntos que serão discutidos no próximo encontro das finanças em maio. Além
disso, vale trazer luz aos grupos de engajamento do G7, especialmente o Think 7, como
termômetro para a Cúpula dos Líderes.

OCDE: Os destaques da OCDE se dividem entre a apresentação de projeções econômicas globais


para 2025 e 2026 e a publicação de um relatório sobre a dívida global e de outros três estudos
relacionados à Saúde.

Palavras-chave: G20; G7; OCDE; África do Sul; Finanças; Cooperação Internacional.

172
G20

Após dois eventos do G20 ofuscados pelos efeitos da nova política externa dos Estados
Unidos adotada no governo Trump, o bloco seguiu com a realização da agenda e a quinzena foi
marcada por dois encontros destacados nesta edição. O primeiro deles foi a segunda reunião do
Grupo de Trabalho de Saúde (HWG, na sigla em inglês) realizada nos dias 26 a 28 de março na
cidade costeira de Ballito33.

Com base no tema “Acelerar a equidade, a solidariedade e o acesso universal à saúde”,


a presidência sul africana elegeu as seguintes prioridades para orientar o percurso das
discussões ao longo do ano: (i) Aceleração da Cobertura Universal de Saúde por meio de uma
Abordagem de Atenção Primária à Saúde (APS); (ii) Fortalecimentos dos Recursos Humanos para
a Saúde; (iii) Contenção da onda de Doenças Não Transmissíveis; (iv) Prevenção, Preparação e
Resposta a Pandemias; e (v) Ciência e Inovação para a Saúde e o Crescimento Econômico. Tais
escolhas foram baseadas na necessidade de priorizar sistemas de saúde resilientes e equitativos
em consonância com o cumprimento da Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas e a superação de um padrão de estagnação que permanece na área. Estima-se que
atualmente mais de 4,5 bilhões de pessoas não têm acesso a serviços essenciais de saúde e que
dois bilhões de pessoas enfrentam gastos abundantes em saúde com efeitos empobrecedores34.

Com base nisso, um dos principais assuntos da reunião foi discutir a questão do
financiamento em saúde, tanto para alcançar uma cobertura universal, como para garantir a
manutenção do mesmo diante de um contexto econômico desafiador. Nessa toada, o ministro
sul africano da saúde, Dr. Aaron Motsoaledi, reiterou a importância dos países realocarem
recursos para a pasta, fortalecendo as parcerias globais de saúde e explorando mecanismos
inovadores de financiamento para resolver as lacunas encontradas35.

Com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indicam para um aumento
exponencial de gastos da população com saúde, especialmente após a pandemia de COVID-19,
Motsoaledi pediu aos membros do bloco que aumentassem o financiamento público dos
sistemas de saúde, garantindo que os recursos adequados sejam alocados para atender às
necessidades das populações: "Imploramos a todos os membros do G20 que defendam o
aumento do financiamento público dos sistemas de saúde (...) Não se trata apenas de uma
questão orçamentária, é um investimento fundamental em nosso futuro coletivo”, disse. O
ministro também usou o espaço para destacar como exemplo de boas práticas o sistema do
Seguro Nacional de Saúde (NHI, na sigla em inglês) implementado na África do Sul, que oferece
proteção financeira e utilização eficiente de recursos. Como explica, o NHI foi projetado para
oferecer proteção financeira a todos, garantindo que o acesso a um sistema de saúde de
qualidade não dependa da capacidade de cada um pagar por ele.

Outro tema discutido ao longo dos dias e que foi elevado como destaque nessa gestão
é a questão das doenças não transmissíveis, também conhecidas como doenças crônicas. Sobre
esse assunto destacou-se a importância de abordar as desigualdades na saúde, principalmente

33
SA hosts second G20 Health Working Group meeting in KZN. SA News. 17 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/sa-hosts-second-g20-health-working-group-meeting-kzn.
Acesso em: 30 mar. 2025.
34
Health. G20. Disponível em: https://g20.org/track/health/. Acesso em: 30 mar. 2025.
35
Motsoaledi urges global action to address health funding gaps. SA News. 26 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/motsoaledi-urges-global-action-address-health-funding-gaps.
Acesso em: 30 mar. 2025.

173
em países de baixa e média renda – segundo a OMS em 2021, essas doenças mataram pelo
menos 43 milhões de pessoas, sendo que desse total três quartos ocorreram nessas
localidades36. Nesse sentido, a próxima reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre o assunto
é vista como uma oportunidade crucial para galvanizar a ação global contra essas enfermidades,
que englobam doenças cardíacas, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas.

Dentro desse escopo, em evento paralelo, a comunidade internacional foi chamada a


ampliar as intervenções contra o câncer do colo do útero, considerado como a única doença não
transmissível que pode ser eliminada. Esse tipo de câncer é a segunda forma mais comum entre
as mulheres da África do Sul e é evitável e potencialmente curável, desde que seja detectado
precocemente e tratado com eficácia. As estatísticas da OMS mostram que a doença tirou a vida
de quase 350.000 mulheres em todo o mundo em 202237.

Como resposta, em 2020, a OMS lançou a estratégia global para a eliminação do câncer
do colo do útero, considerado o primeiro roteiro para a eliminação de um câncer. Desde então,
os países fizeram grandes avanços na implementação de novas ferramentas e serviços. A
vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) é um desses exemplos e oferece proteção
contra a infecção que causa quase todos os casos de câncer do colo do útero.

No entanto, muito ainda deve ser feito: "Novas vacinas, testes e tecnologias de
tratamento transformaram a prevenção do câncer do colo do útero nos últimos anos, mas a
doença continua a afetar desproporcionalmente as mulheres, principalmente em países de
baixa e média renda, onde o acesso à atenção primária à saúde e aos serviços preventivos é
limitado”, disse o representante do departamento de saúde do país. Sendo assim, um dos
principais resultados do encontro no G20 foi a solicitação de uma abordagem coordenada com
base na mobilização de recursos domésticos, financiamento misto e parcerias com bancos
multilaterais de desenvolvimento para ampliar essas soluções, garantir a sustentabilidade de
longo prazo e reduzir a dependência da ajuda externa.

Em continuidade, o outro evento destacado na quinzena do bloco foi a primeira reunião


do Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade Climática (ECSWG, na sigla em
inglês). O encontro, realizado de forma virtual nos dias 25 a 28 de março, foi comandado pelo
ministro das florestas, pesca e meio ambiente da África do Sul, Dr. Dion George e teve como
intuito discutir as prioridades elencadas pela presidência e apresentar o plano de trabalho
proposto para o ano. No total, o ECSWG definiu 5 focos de atenção38:

● Biodiversidade e Conservação – Implementação da Estrutura Global de Biodiversidade


e da Economia da Biodiversidade;

● Degradação da Terra, Desertificação e Seca – Metas de Neutralidade da Degradação


da Terra;

36
Noncommunicable diseases. WHO. 23 dez. 2024. Disponível em: https://www.who.int/news-
room/fact-sheets/detail/noncommunicable-diseases. Acesso em: 30 mar. 2025.
37
Call to scale up cervical cancer interventions. SA News. 28 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/call-scale-cervical-cancer-interventions. Acesso em: 30 mar.
2025.
38
Minister leads G20 environment working group. SA News. 24 mar. 2025. Disponível em:
https://www.sanews.gov.za/south-africa/minister-leads-g20-environment-working-group. Acesso em:
30 mar. 2025.

174
● Produtos Químicos e Gestão de Resíduos – Gestão Sustentável de Produtos Químicos,
Economia Circular, Gestão de Resíduos, Resíduos para Energia; Implementação da
Responsabilidade Estendida do Produtor;

● Mudanças Climáticas e Qualidade do Ar – Transição Justa, Perdas e Danos, Adaptação,


incluindo Desenvolvimento Resiliente ao Clima, Financiamento Climático e Qualidade do Ar, e

● Oceanos e Gestão Costeira – Planejamento Espacial Marinho, Governança dos


oceanos, e Combate à poluição marinha por plástico.

A expectativa era de que após a realização dessa primeira reunião, o ECSWG possa
fornecer uma direção estratégica ao bloco com base nas contribuições e opiniões dos membros.
Segundo o ministro, o saldo foi positivo: “(...) Tenho certeza de que a reunião proporcionou uma
contribuição significativa sobre o assunto, reflexões sobre as prioridades, bem como os
resultados esperados”. Os próximos passos são agora reunir os comentários e propostas
recebidos e incluir no relatório para a próxima reunião, agendada para acontecer em julho de
forma presencial39.

Como abordamos na edição anterior, a pauta climática tem se mostrado um assunto


delicado para ser discutido no G20 e foi um ponto de entrave na última reunião dos ministros
de finanças do bloco. Isso porque uma das intenções da gestão africana é pressionar os países
ricos a fazerem mais para combater a mudança climática, a darem mais apoio às transições dos
países mais pobres para a energia verde e a reformarem um sistema financeiro que favorece os
bancos de investimento em detrimento dos devedores. Acompanhar o andamento dessas
discussões nos próximos meses será de importância para analisar se ocorre uma mudança de
comportamento dos membros frente ao tema.

Por fim, ponto importante que deve ser mencionado, não apenas em relação às duas
reuniões discutidas aqui, é a falta de informações disponibilizadas sobre o andamento das
atividades do G20 nesta gestão. O site oficial conta com poucas entradas sobre os encontros, a
maioria deles, como os dois abordados aqui, não figura nos destaques, e notícias adicionais são
veiculadas pela agência de notícias do governo. A mídia internacional também não tem
produzido tantas informações sobre as reuniões, cobrindo apenas aquelas de maior interesse.

Como especulamos na primeira edição dos Informes, talvez seja uma escolha editorial
de controlar a informação, a fim de evitar maiores tensões no grupo e uma descredibilização
internacional da gestão perante resultados negativos que possam ocorrer em decorrência da
complicada conjuntura internacional – como já se tem provado em alguns dos encontros. No
entanto, para nós pesquisadores e observadores desses grandes grupos, a falta de informação
é bastante prejudicial para compor análises mais detalhadas e para acompanhar esses
movimentos políticos dentro de um contexto global. Para o multilateralismo, que já se encontra
demasiadamente contestado, a falta de informação de igual modo pode ser prejudicial ao evitar
uma promoção das ações positivas do bloco. Quando um país assume a presidência temporária
do G20 é comum que utilize desse espaço como vitrine para promover o seu país perante o
mundo. No caso da África do Sul essa visibilidade possui um peso ainda maior, ao ter a
possibilidade de promover o continente africano, no contexto global.

39
G20 Environment and Climate Sustainability Working Group first meeting concluded. SA News. 30 mar.
2025. Disponível em: https://www.sanews.gov.za/south-africa/g20-environment-and-climate-
sustainability-working-group-first-meeting-concluded. Acesso em: 30 mar. 2025.

175
G7

Desde o último encontro dos ministros das Relações Exteriores do G7 entre os dias 12 e
14 de março, comentado em nosso último informe, não houve novos eventos. O próximo
encontro previsto na agenda do G7 é entre os dias 20 e 22 de maio, em Alberta, entre os
ministros das Finanças e governadores dos Bancos Centrais. Para a ocasião, a agenda prevê a
discussão de questões que afetam a estabilidade e o crescimento econômico global antes da
Cúpula de Líderes do G7 em junho40. Assuntos como cadeia de suprimento de minerais críticos
e economia resiliente e segura podem ter espaço. Ainda, a presidência canadense conta com
um oficial sênior para resiliência econômica e segurança justamente com a ideia de trazer
coerência e facilitar um consenso entre os membros41. Desenvolvimento e formas de
financiamento também podem aparecer na reunião com o intuito de mobilização do capital com
foco em infraestrutura e desenvolvimento. Especialmente após as recentes medidas
estadunidenses de desmantelar cerca de 83% da Agência dos EUA para o Desenvolvimento
Internacional (USAID)42, a captação de capital privado, bancos de desenvolvimento multilaterais
e regionais será um tema de importância a ser discutido.

Este informe dará destaque aos grupos de engajamento do G7, tendo em vista seu
potencial de influência nas discussões e de ser um termômetro para o que será discutido em
Alberta, em junho. O G7 possui sete grupos de engajamento, sendo eles: Business 7, voltado
para o diálogo com a comunidade empresarial internacional com o objetivo de elaborar
recomendações sobre negócios, comércio internacional e investimentos; Civil Society 7, que
elabora recomendações em questões como crise climática, assistência humanitária e
desenvolvimento sustentável, com a interface da sociedade civil; Labour 7, que reúne chefes de
delegações trabalhistas dos membros do G7 e outros países convidados para trazer
preocupações e perspectivas dos trabalhadores e sindicatos para as discussões sobre políticas
econômicas e sociais globais no G7; Science 7, que congrega membros acadêmicos do G7 com
o objetivo de oferecer recomendações especializadas e orientadas pela ciência para
enfrentamento dos principais desafios globais; Think 7, um grupo de think tanks de membros
do G7 e países convidados com especialistas de diferentes áreas, que produzem relatórios,
documentos de posicionamento e recomendações políticas como orientação e proposta de
soluções ao G7; Women 7, um grupo de engajamento de organizações feministas e de defesa
da sociedade civil com o objetivo de garantir que os líderes do G7 adotem compromissos
políticos e financeiros concretos, com impacto duradouro e transformador na vida de meninas
e mulheres ao redor do globo; Por fim, o Youth 7, um grupo que reúne jovens de todos os países
do G7 para influenciar e tentar garantir que as decisões políticas do G7 reflitam as necessidades,
valores e prioridades dos jovens ao redor do mundo43.

40
G7 Finance Ministers and Central Bank Governors’ Meeting. G7. CANADÁ. 2025. Disponível em:
<https://g7.canada.ca/en/canadian-presidency/events-calendar/g7-finance-ministers-and-central-bank-
governors-meeting/>. Acesso em: 29/03/2025.
41
KIRTON, J. Potentially Productive Prospects for the Kananaskis Summit. G7 Research Group. 2025.
Disponível em: <https://www.g7.utoronto.ca/evaluations/2025kananaskis/kirton-prospects-
250307.html>. Acesso em: 30/03/2025.
42
Marco Rubio diz que os EUA cancelaram 83% dos programas da USaid. PODER 360. Disponível em:
<https://www.poder360.com.br/poder-internacional/marco-rubio-diz-que-os-eua-cancelaram-83-dos-
programas-da-usaid/>. Acesso em: 30/03/2025.
43
Engagement groups. G7. CANADÁ. 2025. Disponível em: <https://g7.canada.ca/en/g7-
information/engagement-groups/>. Acesso em: 29/03/2025.

176
Cada grupo de engajamento possui sua página oficial, seja nas redes sociais, ou mesmo
sites como por exemplo o Think 7 (T7)44. Especificamente se tratando do T7, se trata de um
grupo independente dos governos e bastante ativo e organizado durante a presidência do G7.
Neste ano, o grupo tratará de discutir quatro temas prioritários denominados “força-tarefa”: 1)
Tecnologias transformadoras - IA e quântica; 2) Digitalização da economia global; 3) Meio
ambiente, energia e desenvolvimento sustentável; 4) Paz global e segurança. O objetivo de uma
força-tarefa do Think 7 é identificar os desafios e as oportunidades em que as lideranças do G7
podem causar um impacto significativo. A partir disso, o grupo foca em desenvolver
recomendações políticas e consultorias que abordam os desafios identificados para contribuir
para a governança e cooperação nos temas. Sobretudo, a ideia é facilitar o diálogo entre os
especialistas internacionais e os líderes e, antes da Cúpula do G7, apresentar um Comunicado
Final do T7 com conclusões e recomendações de cada força-tarefa mencionada acima. O
próximo encontro do grupo se dará nos dias 1 e 2 de abril e reunirá diversos think thanks tanto
do G7 como também do G20, que estarão presentes através do grupo de engajamento Think 20.
Acompanharemos os resultados desse encontro no próximo informe.

OCDE

Durante a segunda quinzena do mês de março de 2025, a Organização para a


Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentou a publicação “OECD Economic
Outlook, Interim Report March 2025: Steering through Uncertainty”45, um relatório suplementar
de sua tradicional iniciativa publicada semestralmente “OECD Economic Outlook” (Perspectiva
econômica da OCDE, em tradução livre), em que a organização analisa e projeta as principais
tendências e perspectivas econômicas internacionais para os próximos dois anos, além de expor
um arranjo consistente de projeções para temas de produção, emprego, gastos governamentais,
entre outros46.

O documento indica que a economia global permaneceu resiliente no ano de 2024,


expandindo-se em um sólido ritmo anualizado de 3,2% no segundo semestre do ano. No
entanto, também se nota recentemente uma crescente em sinais de fragilidades nos indicadores
das perspectivas de crescimento mundial, manifestando um cenário de crescimento mais lento,
com inflação persistente e um ambiente político incerto47.

Em virtude de tal sentimento e as incertezas decorrentes das tensões comerciais e


inseguranças geopolíticas, o recente relatório projeta uma desaceleração do crescimento
mundial para 3,1% em 2025 e 3,0% em 2026, ainda ressaltando importantes diferenças entre
países e regiões. A exemplo, o crescimento do produto interno bruto (PIB) nos Estados Unidos
da América está projetado em 2,2% em 2025, antes de reduzir para 1,6% em 2026. Já na Zona

44
Think 7. T7. 2025. Disponível em: <https://www.think7.org/>. Acesso em: 29/03/2025.
45
OCDE. OECD Economic Outlook, Interim Report March 2025: Steering through Uncertainty. Paris: OECD
Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28]. Available from: https://doi.org/10.1787/89af4857-en.
46
Para mais informações sobre a versão mais atual do OECD Economic Outlook (a segunda edição de
2024), consulte o informe de número 1 de 2025 do presente projeto de Cadernos Cadernos CRIS/Fiocruz:
Informe sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde.
47
OCDE. Global economic outlook uncertain as growth slows, inflationary pressures persist and trade
policies cloud outlook.OECD [Internet]. 2025 Mar 17 [cited 2025 Mar 28]. Available from:
https://www.oecd.org/en/about/news/press-releases/2025/03/global-economic-outlook-uncertain-as-
growth-slows-inflationary-pressures-persist-and-trade-policies-cloud-outlook.html.

177
do Euro, a projeção de crescimento é de 1,0% em 2025 e 1,2% em 2026, enquanto no caso do
crescimento chinês projeta-se 4,8% para este ano e 4,4% para o ano seguinte.

A organização também atualizou suas expectativas sobre o crescimento econômico


brasileiro, projetando que o PIB do país, que terminou 2024 na casa dos 3,4%, alcançará 2,1%
em 2025 e apenas 1,4% em 2026. Ademais, de acordo com o relatório, o índice da inflação
brasileira permanecerá relativamente alto no país, atingindo 5,4% neste ano e 5,3% em 2026.
Figura 1: Projeção de crescimento do PIB de países para 2024, 2025 e 2026, % ano a ano

Fonte: OCDE, 2025.

O relatório intermediário chama ainda a atenção para uma série de riscos para a
economia, a começar pela preocupação de que uma maior fragmentação do comércio possa
prejudicar as perspectivas de crescimento global. Também alerta para o risco de volatilidade
macroeconômica, refletindo sobre caso ocorra uma desaceleração inesperada, uma mudança
na política econômica ou um desvio na trajetória de desinflação projetada, poderão ocorrer
correções no mercado, saídas significativas de capital e flutuações nas taxas de câmbio,
especialmente nos mercados emergentes. Não obstante, adverte também que os já altos níveis
de dívida pública e as elevadas avaliações de ativos agravam consideravelmente tais
fragilidades.

Diante desses desafios, o documento busca salientar prioridades políticas para os


formuladores de políticas a fim de mitigar as consequências negativas, sendo necessários

178
esforços para que as políticas monetárias e os Bancos Centrais permaneçam vigilantes ao
aumento da incerteza e à possibilidade de que os custos comerciais mais altos aumentem as
pressões sobre os preços e os salários, somados às necessárias ações fiscais decisivas para
garantir a sustentabilidade da dívida pública e a capacidade de governos de reagirem a choques
futuros e gerar recursos para atender às grandes pressões de gastos iminentes e também
reformas políticas estruturais para melhorar as bases dos crescimentos nacionais.

Ademais, é interessante frisar que no documento fica explícito o entendimento da OCDE


sobre o potencial da inteligência artificial como uma oportunidade única para reavivar a
produtividade. Inclusive, no evento de divulgação do relatório intermediário, o economista-
chefe da OCDE, Álvaro Santos Pereira, declarou que a OCDE projeta que a inteligência artificial
impulsionará significativamente o crescimento da produtividade do trabalho na próxima
década, com um potencial ainda maior se forem consideradas as sinergias com a robótica,
porém seus ganhos podem diminuir se as políticas não facilitarem taxas de adoção mais altas e
a realocação da mão de obra.

Na esteira de tal discussão, outra pauta de destaque da OCDE também no período foi a
divulgação da edição de 2025 da publicação anual derivada de sua iniciativa de estudo e
mapeamento sobre a dívida internacional, onde examina os mercados de títulos soberanos,
corporativos e sustentáveis, além de fornecer percepções sobre as atuais condições de mercado
e considerações de políticas associadas, incluindo possíveis riscos à estabilidade financeira.

Desse jeito, o intitulado “Global Debt Report 2025: Financing Growth in a Challenging
Debt Market Environment”48 sinaliza que governos e empresas captaram US$ 25 trilhões de
empréstimos nos mercados em 2024, o que representa US$ 10 trilhões a mais em comparação
com o período pré-pandemia e quase três vezes o valor captado em 2007, com a projeção de
que os níveis de endividamento de governos e empresas devem aumentar ainda mais em 2025,
com o índice agregado da dívida comercializável do governo central em relação ao PIB nos países
da OCDE atingindo 85%, ou seja, mais de 10 pontos percentuais a mais do que em 2019 e quase
o dobro do nível de 200749.

Sua análise, portanto, consolida o diagnóstico da OCDE da necessidade de que o papel


dos mercados globais de dívida seja alterado de suporte à recuperação de crises e desafios
mundiais para o de financiar e incentivar investimentos e desenvolvimentos. Inclusive, o
relatório possui um capítulo temático em que avalia as demandas de financiamento para atingir
os objetivos globais de mudanças climática, revelando que, ao manter estável as recentes taxas
de crescimento dos investimentos públicos e privados em transição climática, as economias não
alcançarão as metas do Acordo de Paris até 2041, com uma situação ainda mais desafiadora
para mercados emergentes.

Paralelamente, a OCDE permaneceu a continuamente incrementar diversos títulos,


recursos e documentos próprios em seu acervo e biblioteca virtual, sendo, dentre tal fluxo de
recentes ampliações, outras três pesquisas de assuntos relacionados à Saúde são aqui
destacadas.

48
OCDE. Global Debt Report 2025: Financing Growth in a Challenging Debt Market Environment. Paris:
OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28]. Available from: https://doi.org/10.1787/8ee42b13-en.
49
OCDE. Higher and more expensive sovereign and corporate debt risks restricting capacity to finance
future investment needs. OECD [Internet]. 2025 Mar 20 [cited 2025 Mar 28]. Available from:
https://www.oecd.org/en/about/news/press-releases/2025/03/higher-and-more-expensive-sovereign-
and-corporate-debt-risks-restricting-capacity-to-finance-future-investment-needs.html.

179
A primeira delas é o estudo “Smart spending to combat global health threats: Tracking
expenditure on prevention, preparedness, and response, and other global public goods for
health”50. Explorando a discussão acerca dos gastos com bens públicos globais relacionados à
saúde – especialmente a prevenção, preparação e resposta e as pesquisas e desenvolvimentos
para doenças negligenciadas e infecciosas –, o relatório reúne variadas fontes de dados para
investigar a situação atual de tal modalidade de gastos e suas repercussões para futuras
ameaças globais à saúde.

O segundo destaque é o artigo “How Do Health System Features Influence Health System
Performance?”51, que busca analisar o desempenho de diferentes grupos de países que
compartilham características semelhantes de sistemas de saúde em relação a outros,
examinando especificamente três áreas-chave de políticas: a influência do projeto geral dos
sistemas de saúde sobre o desempenho, a função dos incentivos financeiros aos provedores e a
função de um sistema de atenção primária forte. O estudo aponta que não há nenhuma
indicação de que um grupo de sistemas de saúde teria um desempenho sistematicamente
superior a outro e também oferece evidências de que há espaço para que os sistemas de saúde
que compartilham as mesmas características gerais melhorem seus desempenhos se utilizando
de elementos e inspirações de outros de sistemas, concentrando-se em mudanças de política
mais específicas e não em reformas em larga escala.

Por fim, o artigo “The economics of diagnostic safety”52 fornece uma análise sobre os
erros de diagnóstico e sua relação com os custos econômicos estimados diretamente afetados
pelo erro de diagnóstico, se propondo a apresentar sugestões de políticas que poderiam auxiliar
na segurança e eficiência de diagnósticos e, assim, reduzir os impactos negativos e os ônus
derivados dos equívocos.

50
Penn C, Morgan D, Ahmad Y, Elgar K, James C. Smart spending to combat global health threats: Tracking
expenditure on prevention, preparedness, and response, and other global public goods for health. OECD
Health Working Papers [Internet]. Paris: OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28];175. Available from:
https://doi.org/10.1787/166d7c57-en.
51
OCDE, The Health Foundation. How Do Health System Features Influence Health System Performance?
Paris: OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28]. Available from: https://doi.org/10.1787/7b877762-en.
52
Slawomirski L, Kelly D, Bienassis K, Kallas K, Klazinga N. The economics of diagnostic safety. OECD Health
Working Papers [Internet]. Paris: OECD Publishing, 2025 [cited 2025 Mar 28];176. Available from:
https://doi.org/10.1787/fc61057a-en.

180
Brasil cobra ações para o equilíbrio entre segurança energética e desenvolvimento
sustentável dos países do BRICS
Brazil calls for action to balance energy security and sustainable development in
BRICS countries

Claudia Hoirisch

Abstract. The Brazilian Minister of Mines and Energy opened the 2nd BRICS Meeting on March
20th and highlighted the importance of seeking a balance between energy security, sustainable
development and the transition to a low carbon. There are still millions of people in BRICS
countries without adequate access to electricity and modern energy services. The Brazilian
Minister pointed out that energy poverty must be combated by expanding access to energy
services, such as developing initiatives in rural electrification, clean cooking and energy
efficiency, so that the energy transition is inclusive and socially fair. BRICS has everything it needs
to lead the development of sustainable fuels, implement different solutions and scale up different
technological routes, accelerating the decarbonization of strategic sectors, such as
transportation and industry. Among the objectives of the Brazilian presidency is the adoption of
a leadership agenda on climate, including a declaration on climate finance. The New
Development Bank (NDB) can help countries in the energy transition and in tackling climate
change. On Brazilian side, the bank has already financed significant projects such as
strengthening of the clean energy matrix through investments in solar and wind farms. These
initiatives increase national energy security and position Brazil as a potential leader in the
transition to a low-carbon economy. The former president Dilma Rousseff was reappointed to
the NDB for a five-year term, with Putin's consent. The president of the NDB confirmed the
progress of Brazil's projects with the Chinese government and highlighted the Transoceanic
Railway, a plan that would serve to transport Brazilian agricultural production across the Pacific,
cutting costs for exporting Brazilian products to important Asian markets, especially China. In
the area of health, Minister Alexandre Padilha is articulating a cooperation project between the
government and the NDB to create a digital and intelligent hospital in São Paulo. The proposal
for a digital and smart hospital aims to modernize healthcare services, using new technologies
to improve diagnosis, hospital management and efficiency in patient care. The partnership with
the NDB can guarantee the necessary funding to make this idea a reality in São Paulo. Finally,
BioManguinhos held the 1st meeting of the BRICS Vaccine R&D Center, under the Brazilian
presidency, this year. During the meeting, experiences were shared to foster actions among
member-countries to explore the group's potential to promote fair and equitable access to
vaccines at a global level. Through joint R&D efforts, the BRICS Vaccine R&D Center aims to
increase the capacity to contain infectious diseases and respond to public health emergencies,
also contributing to the achievement of SDG3 of the 2030 Agenda. Still about vaccines, Sinovac,
the Chinese company responsible for supplying the Coronavac vaccine against Covid-19 to Brazil
during the pandemic, wants to strengthen its presence in Brazil and invest in local vaccine
production in our country. The company's vice president for Latin America, Weining Meng,
highlighted the company's interest in reducing technology transfer time to speed up the process
of producing vaccines locally.

181
Keywords. BRICS. Energy. Energy security. Sustainable development. Energy transition to a low-
carbon future. Sustainable fuels. Decarbonization. Climate agenda. Climate finance. BRICS Bank.
NDB. Confronting climate change. Clean energy matrix. Low-carbon economy. Digital and smart
hospital. Modernization of healthcare. Innovative technologies to improve diagnostics. Hospital
management. Efficient patient care. 1st meeting of the BRICS Vaccine R&D Center.
BioManguinhos. Access to vaccines. Infectious diseases. Response to public health emergencies.
SDG3. 2030 Agenda. Sinovac.

Resumo: O Ministro de Minas e Energia do Brasil abriu a 2ª Reunião do BRICS no dia 20/3 e
ressaltou a importância de buscarmos um equilíbrio entre segurança energética,
desenvolvimento sustentável e transição para um futuro de baixo carbono. Milhões de pessoas
nos BRICS persistem sem acesso adequado à eletricidade e a serviços energéticos modernos. O
ministro apontou que a pobreza energética deve ser combatida a partir da ampliação do acesso
à serviços de energia como o desenvolvimento de iniciativas em eletrificação rural, cozimento
limpo e eficiência energética para que a transição energética seja inclusiva e socialmente justa.
O BRICS tem tudo para liderar o desenvolvimento dos combustíveis sustentáveis, se
implementar diferentes soluções e dar escala às diferentes rotas tecnológicas, e dessa forma,
acelerará a descarbonização de setores estratégicos, como transporte e indústria. Entre as
missões da presidência brasileira, está a adoção de uma agenda de liderança sobre o clima,
incluindo uma declaração sobre o financiamento climático. O NBD pode ajudar os países na
transição energética e no enfrentamento à mudança do clima. Em solo brasileiro, o banco já
financiou projetos significativos como o fortalecimento da matriz energética limpa, por meio de
investimentos em usinas solares e eólicas. Essas iniciativas ampliam a segurança energética
nacional e posicionam o Brasil como um líder potencial na transição para uma economia de
baixo carbono. Em relação à área financeira, a ex-presidente Dilma foi reconduzida ao NBD por
um prazo de cinco anos, após consentimento de Putin. A presidente do NBD confirmou o avanço
de projetos do Brasil com o governo chinês e destacou a ferrovia transoceânica, um plano que
servirá para escoar a produção agrícola brasileira pelo Pacífico cortando custos para a
exportação de produtos brasileiros a importantes mercados da Ásia, principalmente o chinês.
Na área da saúde, o Ministro Alexandre Padilha está articulando um projeto de cooperação
entre o governo e o NDB para a criação de um hospital digital e inteligente em São Paulo. A
proposta visa modernizar o atendimento à saúde, utilizando novas tecnologias para aprimorar
o diagnóstico, a gestão hospitalar e a eficiência no atendimento aos pacientes. A parceria com
o Banco pode garantir o financiamento necessário para tornar essa ideia uma realidade em São
Paulo. Ainda nessa quinzena, BioManguinhos realizou a 1ª reunião do Centro de P&D de Vacinas
do BRICS deste ano. Durante o encontro, os representantes dos países compartilharam
experiências para fomentar ações entre os países-membros a fim de explorar o potencial do
grupo para promover o acesso justo e equitativo às vacinas em nível global. Por meio de esforços
conjuntos de P&D, o Centro de P&D de Vacinas dos BRICS visa aumentar a capacidade de conter
doenças infecciosas e responder a emergências de saúde pública, contribuindo também para o
alcance do ODS3 da Agenda 2030. Ainda na área de vacinas, a Sinovac, empresa chinesa
responsável por fornecer a vacina Coronavac contra a Covid-19 para o Brasil durante a
pandemia, quer fortalecer sua presença no Brasil e investir na produção local de vacinas. O vice-
presidente da companhia para a América Latina, Weining Meng, destacou o interesse da
empresa em diminuir o tempo de transferência de tecnologia para acelerar o processo de
produzir vacinas no nosso país.

Palavras-chave: BRICS. Energia. Segurança energética. Desenvolvimento sustentável. Transição


energética para um futuro de baixo carbono. Combustíveis sustentáveis. Descarbonização.

182
Agenda sobre o clima. Financiamento climático. Banco dos BRICS. NBD. Enfrentamento da
mudança do clima. Matriz energética limpa. Economia de baixo carbono. Hospital digital e
inteligente. Modernização do atendimento à saúde. Novas tecnologias para aprimorar o
diagnóstico. Gestão hospitalar. Eficiência no atendimento aos pacientes. 1ª reunião do Centro
de P&D de Vacinas do BRICS. BioManguinhos. Acesso a vacinas. Doenças infecciosas. Resposta
a emergências de saúde pública. ODS3. Agenda 2030. Sinovac.

Imagem 1 - Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira

Fonte: Percio Campos/MME

Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, durante a abertura da 2ª Reunião de


Energia do BRICS (20/03) sob a presidência brasileira, afirmou que é nossa responsabilidade
buscar um equilíbrio entre segurança energética, desenvolvimento sustentável e transição para
um futuro de baixo carbono,

Silveira reforçou as prioridades do país na liderança do bloco, especialmente no que se


refere à transição energética justa e inclusiva, além do combate à pobreza energética a partir da
ampliação do acesso à serviços de energia. Entre as missões da presidência brasileira, está a
adoção de uma agenda de liderança sobre o clima, incluindo uma declaração sobre o
financiamento climático.

Para ele, a ampliação do bloco evidencia nossa relevância e nos convoca a fortalecer o
Sul Global. Exige aprimorar a governança da cooperação em energia, para que seja mais inclusiva
e sustentável. Precisamos coordenar nossas ações e garantir que a integração dos novos
membros fortaleça nossas capacidades e amplie nossas oportunidades.

O compartilhamento de boas práticas e desenvolvimento de projetos conjuntos são


medidas que podem consolidar o BRICS como um ator-chave na governança global e o
financiamento da transição energética é um desafio central.

Serão necessários recursos para viabilizar investimentos em infraestrutura, energias


renováveis e pesquisa mineral para suprir as cadeias essenciais à transição, uma vez que sem
financiamento adequado, a transformação dos nossos sistemas energéticos será mais lenta e
desigual. Juntos, poderemos encontrar as melhores soluções para o desafio de garantir maior
estabilidade e segurança energética.

Ainda há milhões de pessoas nos países do BRICS sem acesso adequado à eletricidade e
a serviços energéticos modernos.

183
Para combater à pobreza energética, o ministro ressaltou a importância do
desenvolvimento de iniciativas em eletrificação rural, cozimento limpo e eficiência energética
para que a transição energética seja também inclusiva e socialmente justa. No entender dele,
uma política energética verdadeiramente sustentável é aquela que coloca as pessoas em
primeiro lugar53.

O BRICS tem tudo para liderar o desenvolvimento dos combustíveis sustentáveis. Tem
potencial para implementar diferentes soluções e dar escala às diferentes rotas tecnológicas, e
dessa forma acelerar a descarbonização de setores estratégicos, como transporte e indústria.

Dilma é reeleita para NBD por um prazo de cinco anos, após consentimento de Putin

A recondução da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff à presidência do Banco dos


BRICS contou com o aval do presidente Putin, já que o país era o responsável pela indicação.

Dilma assumiu a presidência do banco em abril de 2023 com previsão de término do


mandato em julho deste ano. Ainda em 2024, Putin defendeu a extensão do mandato de Dilma
à frente da instituição uma vez que as restrições ao país devido a guerra da Ucrânia poderiam
comprometer a atuação de um russo no banco.

A continuidade de Dilma na função, é um gesto da Rússia ao Brasil, além de uma solução


para os russos, que podem decidir assumir a presidência mais adiante, quando as sanções não
estejam mais em vigor ou a questão da guerra na Ucrânia tenha sido superada.

Os cargos de presidente e vice do Banco do BRICS são definidos em uma rotatividade


entre os membros fundadores do grupo. O banco foi formalmente criado em 2015 e financia
projetos de infraestrutura e crescimento sustentável nos países-membros.

A confirmação da recondução de Dilma se deu durante a reunião anual do Fórum de


Desenvolvimento da China, em Pequim. Na ocasião, Dilma confirmou o avanço de projetos do
Brasil com o governo chinês. A presidente do banco destacou a ferrovia transoceânica, um plano
que serviria para escoar a produção agrícola brasileira pelo Pacífico, cortando custos para a
exportação de produtos brasileiros a importantes mercados da Ásia, principalmente o chinês54.

Padilha pretende buscar apoio do NDB presidido pela ex-presidente Dilma para viabilizar um
hospital digital em São Paulo

O Ministro da Saúde, Alexandre Padilha está articulando um projeto de cooperação


entre o governo e o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) para a criação de um hospital digital
e inteligente em São Paulo55.

A proposta visa modernizar o atendimento à saúde, utilizando novas tecnologias para


aprimorar o diagnóstico, a gestão hospitalar e a eficiência no atendimento aos pacientes. A
parceria com o NDB pode garantir o financiamento necessário para tornar essa ideia uma
realidade em São Paulo56.

53
https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/silveira-cobra-acoes-para-o-equilibrio-entre-
seguranca-energetica-e-desenvolvimento-sustentavel-dos-paises-do-brics
54
Reeleita no Banco do Brics, Dilma confirma ferrovia transoceânica
55
https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/padilha-busca-apoio-do-banco-do-brics-para-hospital-
digital-em-sao-paulo
56
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2025/03/padilha-discute-parceria-com-banco-do-
brics-para-criar-hospital-em-sp.shtml

184
Criado como alternativa ao sistema financeiro tradicional, o NDB já financiou bilhões em
projetos sustentáveis e fortalece economias emergentes

A crise de 2008 revelou as fragilidades do sistema financeiro global e gerou


questionamentos sobre o FMI e o Banco Mundial. Nesse contexto, o BRICS emergiu como um
grupo relevante na reestruturação da ordem econômica global. Defendendo maior
representatividade dos países em desenvolvimento, o grupo criou iniciativas como o Novo
Banco de Desenvolvimento (Banco do BRICS,) para promover alternativas ao financiamento
global.

A instituição financeira foi fundada oficialmente em 2014 durante a 6ª Cúpula dos BRICS,
em Fortaleza, Brasil, e surgiu como uma iniciativa de vanguarda para impulsionar o crescimento
econômico e o desenvolvimento sustentável entre os países do Sul Global.

Desde sua criação, o Banco do BRICS aprovou mais de USD32,8 bilhões em


financiamentos em projetos no Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Bangladesh e Egito.
Entre os destaques, estão iniciativas como a expansão de redes de energia renovável na Índia,
o desenvolvimento de infraestrutura ferroviária na África do Sul e o fortalecimento de sistemas
de abastecimento de água no nordeste brasileiro. O impacto da atuação nas economias
emergentes permite a expansão de membros, que pode ampliar a base de capital do banco,
hoje avaliada em USD100 bilhões, e atrair mais investimentos globais.

Somente para o Brasil foram cerca de USD5,2 bilhões para 31 projetos. Essas ações
atendem demandas locais e contribuem para metas globais, como a transição energética e o
enfrentamento à mudança do clima. Ainda em solo brasileiro, o banco já financiou projetos
significativos como o fortalecimento da matriz energética limpa, por meio de investimentos em
usinas solares e eólicas. Essas iniciativas ampliam a segurança energética nacional e posicionam
o Brasil como um líder potencial na transição para uma economia de baixo carbono57.

O BRICS tem demonstrado sua relevância por meio de iniciativas significativas, incluindo
a recente ampliação de membros plenos e associados, bem como o crescente interesse de
outros países em integrar o grupo. Desde sua origem, o BRICS se posiciona como um agente
reformador da governança global. Seu objetivo central é a reforma das organizações
internacionais, buscando ampliar a participação dos países emergentes nos processos de
tomada de decisão.

O NBD é apontado como a principal iniciativa do BRICS. Criado para suprir a necessidade
de financiamento de longo prazo em infraestrutura e desenvolvimento sustentável, o NDB se
diferencia por não impor as condicionalidades típicas de instituições como o FMI e o Banco
Mundial. O Banco dos BRICS se destaca pela agilidade na concessão de empréstimos e pelo foco
em projetos que promovem o desenvolvimento verde e a inclusão social.

Para o Brasil, o NBD representa uma oportunidade de financiamento para projetos de


infraestrutura, alavancando o crescimento econômico e promovendo soluções sustentáveis.
Empresas brasileiras também se beneficiam ao participar de licitações de projetos financiados
pelo banco, ampliando sua presença em mercados internacionais.

57
https://www.brasil247.com/economia/banco-do-brics-como-o-novo-banco-de-
desenvolvimento-impulsiona-economias-emergentes

185
Projetos relacionados à transição energética, como investimentos em energia
renovável, têm potencial para atrair mais de USD2 trilhões em aportes até 2030.

Biomanguinhos realizou a 1ª reunião do Centro de P&D de Vacinas do BRICS neste ano

Durante o encontro do dia 31/3, compartilharam experiências para fomentar ações


entre os países-membros a fim de explorar o potencial do grupo para promover o acesso justo
e equitativo às vacinas em nível global. Por meio de esforços conjuntos de P&D, o Centro visa
aumentar a capacidade de conter doenças infecciosas e responder a emergências de saúde
pública, contribuindo também para o alcance do ODS3 da Agenda 2030.

VP da Sinovac: Empresa chinesa tem planos de fortalecer presença no Brasil e investir na


produção local

A Sinovac, empresa chinesa responsável por fornecer a vacina Coronavac contra a Covid-
19 para o Brasil durante a pandemia, deseja fortalecer sua presença no Brasil e investir na
produção local de vacinas em nosso país.

O vice-presidente da companhia para a América Latina, Weining Meng, destacou o


interesse da empresa em diminuir o tempo de transferência de tecnologia para acelerar o
processo de produzir vacinas localmente.

A Sinovac tem o know-how tecnológico, experiência para produzir em grande escala e


pode trazer outros parceiros para construir rapidamente as instalações de produção no Brasil.
Já trabalhou em conjunto com o Instituto Butantan durante a pandemia para produzir a
Coronavac, primeira vacina contra a Cov-19 aprovada pela Anvisa durante a pandemia.

A Sinovac se propõe a construir as instalações e acelerar a transferência de tecnologia


para a produção de vacinas. Normalmente, a transferência de tecnologia de uma vacina demora
10 anos, mas a empresa chinesa consegue encurtar esse prazo para 5, 6, ou 7 anos, e começar
a produzir a vacina localmente58.

A Sinovac já havia anunciado em junho de 2024 a intenção de investir US$ 100 milhões
em desenvolvimento de terapia celular, produção de vacinas e anticorpos monoclonais no
Brasil59. A Sinovac e a Fiocruz também anunciaram a intenção de cooperar na P&D de vacinas
para o combate a crises sanitárias. A empresa já possui um acordo em andamento com o
Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), mas também busca colaborar e estabelecer outras
parcerias com instituições públicas e privadas e com a Anvisa, e dessa forma, ajudar a fazer uma
preparação para a próxima pandemia.

Na pandemia de Covid-19, a Sinovac forneceu a Coronavac para o governo federal


brasileiro. Na ocasião, 110 milhões de doses foram ministradas no país. Além do Brasil, a
farmacêutica chinesa forneceu cerca de 3 bilhões de vacinas para 80 países.

58
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/vp-da-sinovac-trabalhamos-para-encurtar-periodo-de-
producao-de-vacinas/
59
https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2024/junho/sinovac-anuncia-investimento-de-us-
100-milhoes-para-producao-de-imunobiologicos-e-terapias-avancadas-no-brasil

186
Entre o “porrete” econômico e o possível enfraquecimento da cooperação em saúde:
o complexo desafio da concertação latino-americana
Entre el “garrote” económico y el posible debilitamiento de la cooperación en salud:
el complejo reto de la concertación latinoamericana

Sebastián Tobar
Samia de Brito Franco
Miryam Minayo

Resumo: No relatório desta quinzena, destacamos a política comercial dos Estados Unidos que
tem gerado repercussões na América Latina. Medidas protecionistas pretendem beneficiar a
indústria doméstica, mas afetam consumidores norte-americanos e trabalhadores latino-
americanos. Outro tema de destaque é a recente decisão do governo venezuelano de realizar
eleições para deputados e um governador no território do Essequibo. A medida faz parte da
estratégia do governo Maduro para reafirmar sua reivindicação sobre a região, ignorando
possíveis sanções ou decisões da justiça internacional. No campo da saúde, há crescente
preocupação com o avanço dos movimentos antivacina na América Latina. Esse cenário fragiliza
a cooperação sanitária regional e global, em um momento em que surtos de doenças como
sarampo e febre amarela voltam a ameaçar a população. Nas organizações regionais, trazemos
atualizações da CEPAL, que inicia a Oitava Reunião do Fórum dos Países da América Latina e do
Caribe sobre Desenvolvimento Sustentável; da ORAS-CONHU, COMISCA e SELA. Por fim, discute-
se a proposta de criação de CDC-LATAM. Embora a ideia pareça atrativa à primeira vista, ela
representaria uma sobreposição desnecessária às funções já desempenhadas pela OPAS e
poderia fragilizá-la como consequência.
Palavras-chave: Guerra comercial, América Latina e Caribe, Essequibo, OPAS

Resumen: En el informe de esta quincena, destacamos la política comercial de Estados Unidos,


que ha generado repercusiones en América Latina. Las medidas proteccionistas buscan
beneficiar a la industria nacional, pero afectan a los consumidores estadounidenses y a los
trabajadores latinoamericanos. Otro tema destacado es la reciente decisión del gobierno
venezolano de realizar elecciones para diputados y un gobernador en el territorio del Esequibo.
La medida forma parte de la estrategia del gobierno de Maduro para reafirmar su reclamo sobre
la región, ignorando posibles sanciones o decisiones de la justicia internacional. En el ámbito de
la salud, hay una creciente preocupación por el avance de los movimientos antivacunas en
América Latina. Este escenario debilita la cooperación sanitaria regional y global, en un
momento en que brotes de enfermedades como el sarampión y la fiebre amarilla vuelven a
amenazar a la población. En cuanto a las organizaciones regionales, presentamos
actualizaciones de la CEPAL, que inicia la Octava Reunión del Foro de los Países de América Latina
y el Caribe sobre Desarrollo Sostenible; de ORAS-CONHU, COMISCA y SELA. Por último, se
discute la propuesta de creación del CDC-LATAM. Aunque la idea parece atractiva a primera
vista, representaría una superposición innecesaria a las funciones que ya desempeña la OPS y
podría debilitarla como consecuencia.
Palabras clave: Guerra comercial, América Latina y el Caribe, Esequibo, OPS

187
Panorama político internacional latino-americano

A ascensão de Trump ao poder nos Estados Unidos continua causando impacto na


América Latina. No dia 2 de abril60, ele lançará sua ofensiva tarifária, dando continuidade à sua
política de coação através da imposição de medidas tarifárias abusivas – instrumento de política
externa que ele vem praticando, com a intenção de proteger e fazer a “América” grande
novamente.

No vizinho México, a tarifa anunciada de 25% sobre o setor automotivo terá um impacto
significativo. O setor automotivo mexicano gera 3,6% do PIB e é um importante impulsionador
da economia do país. As empresas montadoras investiram ali devido à sua localização geográfica
privilegiada, mão de obra acessível e qualificada, baixos custos operacionais e ao Acordo de Livre
Comércio da América do Norte.

Trump anunciou que tarifas de 25% sobre a indústria automobilística gerariam US$ 1
bilhão em receita anualmente. O paradoxo é que os carros ficariam mais caros, haveria menos
vendas, o desemprego e as oportunidades de negócios entre México e China e outros países ao
redor do mundo aumentariam61. Isso marcaria o fim de um negócio bem-sucedido de obtenção
de aço e alumínio relativamente baratos do Canadá, utilizando a mão de obra relativamente
barata do México e aproveitando a tecnologia de ponta dos EUA62. À medida que os veículos
mexicanos se tornem mais caros devido às altas tarifas, a demanda por eles certamente
diminuirá, reduzindo os volumes de produção e afetando toda a cadeia de produção.

De acordo com dados fornecidos por Guillermo Rosales, presidente executivo da


Associação Mexicana de Concessionárias de Automóveis, em 2024, 16% do total de veículos
vendidos nos EUA foram produzidos no México63. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum,
propôs mitigar o impacto da redução desse comércio impulsionando o mercado interno
facilitando o acesso a veículos produzidos internamente.

A política nacionalista de Trump na indústria automobilística busca beneficiar os 13


milhões de trabalhadores desse setor nos Estados Unidos. No entanto, o custo dessa medida
será arcado pelos 300 milhões de consumidores norte-americanos, além dos trabalhadores das
montadoras mexicanas, que serão afetados pelas restrições comerciais. Essa estratégia pode se
repetir em outros setores industriais, gerando impactos significativos para a região.64Alguns
países, porém, podem ser menos vulneráveis às tarifas dos EUA. O presidente da Argentina,
Javier Milei, acredita que sua afinidade ideológica com Washington e o fato de os Estados Unidos
representarem 6% das exportações argentinas podem proteger o país dessas medidas, ainda

60
Donald Trump foi batizado como Dia da Libertação (Liberation Day ) no dia 2 de abril, e foi anunciada
uma ampliação da série de medidas comerciais
61
Estima-se que a medida reduza as vendas de veículos em pelo menos 10,6% nos EUA e um pouco mais
no Canadá.
62
https://business.columbia.edu/faculty/press/us-auto-industry-could-be-collateral-damage-trumps-
trade-wars
63
https://www.youtube.com/watch?v=Grh8zedk8yw
64
Outro caso é o da exportação das Rosas da Colômbia para os Estados Unidos representa 80% do
mercado do país da América do Sul e calcula-se que com os 25% não poderia ser competitivo, gerando
um forte impacto na economia colombiana. https://www.dw.com/es/c%C3%B3mo-afectar%C3%ADan-
los-aranceles-estadounidenses-a-latinoam%C3%A9rica/a-71462283

188
que as tarifas de 25% sobre o aço e alumínio já entraram em vigor em fevereiro e afetou a
Argentina do mesmo modo que aos demais países. 65

Figura 1: Principais parceiros comerciais na região com o passar dos anos

EE.UU. China

Fonte: CERA à base de ECONOVIS e B-20 (Trade & Investiment Policy, 2024)

Como se observa na figura 1, nas últimas duas décadas, a China vem ganhando espaço
comercial nas suas relações com a América Latina. Nos últimos anos, o gigante asiático superou
os Estados Unidos como o principal parceiro comercial região, refletindo uma transformação
significativa na dinâmica econômica latino-americana.

Até o início dos anos 2000, os EUA mantinham uma posição dominante no comércio
latino-americano, impulsionados por laços históricos, acordos preferenciais e influência
geopolítica. No entanto, com a crescente demanda chinesa por commodities como soja, cobre,
petróleo e lítio, países como Brasil, Chile, Peru e Argentina fortaleceram suas relações
comerciais com o gigante asiático. Além disso, investimentos chineses em infraestrutura,

65
https://www.infobae.com/economia/2025/03/30/se-viene-el-dia-d-de-medidas-arancelarias-de-
eeuu-que-puede-esperar-y-que-le-conviene-a-la-argentina/

189
energia e tecnologia consolidaram essa presença econômica, enquanto iniciativas como a Nova
Rota da Seda ampliaram os laços estratégicos com diversos governos latino-americanos.

Embora a China ofereça mercados amplos e financiamentos vantajosos, sua influência


também gera desafios, como a dependência de exportações primárias e possíveis
vulnerabilidades diante de oscilações na demanda chinesa.

Além disso, a crescente presença chinesa na região tem levado os Estados Unidos a
buscarem estratégias para recuperar influência, como reforço de acordos comerciais e
iniciativas voltadas à segurança regional. No entanto, a política externa do atual governo Trump,
paradoxalmente, parece andar na contramão dessa retomada: vem impelindo uma ainda maior
aproximação da região com a China e uma busca por diversificação de seus parceiros comerciais.

Embora a Argentina não seja individualmente afetada pelas tarifas de Trump, Milei quer
que a Argentina seja o primeiro país do mundo a aderir ao acordo de reciprocidade com os
Estados Unidos, e, nesse sentido, o MERCOSUL é um obstáculo.

No caso do Brasil, especialista consultados pela CNN66, apontam que a expectativa é de


que a parte da indústria mais afetada procure outros mercados, de olho no aumento de
exportações para a Europa e China como forma de suprir a demanda reduzida nos Estados
Unidos. Segundo o economista, Trump adota uma estratégia de “broker nova-iorquino” de
chegar arrombando a porta para posteriormente negociar. Ele quer agradar o eleitorado dele
no curto prazo, mas deve rever muitas medidas a longo prazo, pois sabe que acaba isolando os
Estados Unidos dessa forma.67

Da mesma forma, os Estados Unidos começaram a usar suas políticas tarifárias e


econômicas para combater o governo venezuelano de Maduro. Depois de rescindir a licença da
Chevron para exportar petróleo da Venezuela68, o governo Trump foi além e, em meio ao
restabelecimento dos voos de deportação de venezuelanos69, anunciou que qualquer país que
comprar petróleo ou gás da Venezuela pagará uma tarifa de 25% sobre seu comércio com os
Estados Unidos70. O país mais afetado por essa possível medida – que talvez nem entre em vigor
– será a China, já afetada por outras imposições tarifárias da guerra comercial de Trump.

Os Estados Unidos imporão uma tarifa secundária à Venezuela por uma série de razões,
incluindo o fato de que, segundo a Casa Branca, a Venezuela deliberadamente e enganosamente
enviou dezenas de milhares de criminosos de alto escalão e outros indivíduos para os Estados
Unidos, muitos dos quais são assassinos e indivíduos de natureza muito violenta, afirmou Trump
na Rede X.

66
Os analistas dizem que o Brasil será muito menos impactado que México e Canadá. Veja:
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/tarifas-de-trump-ao-brasil-podem-reduzir-
precos-internos-dizem-analistas/
67
idem
68
https://cnnespanol.cnn.com/2025/03/06/latinoamerica/chevron-petroleo-venezuela-que-significa-
orix
69
Autoridades venezuelanas receberam neste domingo, 30 de março, 175 cidadãos que desembarcaram
no Aeroporto de Maiquetía, no estado de La Guaira, nos arredores da capital venezuelana, Caracas, após
serem deportados pelos Estados Unidos.
https://www.infobae.com/america/agencias/2025/03/30/cerca-de-180-migrantes-regresan-a-
venezuela-tras-ser-deportados-por-estados-unidos/
70
https://www.bbc.com/mundo/articles/cly642ezvvqo

190
Nesse sentido, com a recente implementação dessa tarifa secundária aos parceiros
comerciais da Venezuela, o presidente americano Trump pretende fazer frente ao problema da
imigração ilegal nos EUA, mas, ao fazer isso, busca reduzir a arrecadação do regime venezuelano,
que vinha se beneficiando da receita do petróleo gerada pela venda de petróleo e gás natural
nos principais mercados americanos.

“Há uma caça às bruxas, como costumavam dizer, contra os venezuelanos em geral.
Começa com o garoto com tatuagens, o garoto de pele escura, mas se estende a todos”, disse o
ministro das Comunicações da Venezuela, Freddy Ñáñez, durante um evento em Caracas em
apoio aos migrantes deportados. Segundo o responsável, há venezuelanos que, apesar de
“viverem legalmente nos Estados Unidos” e terem emprego estável, “não saem de casa porque
estão em estado de terror e pânico devido à perseguição71”.

Ainda sobre a Venezuela, o Secretário de Estado dos EUA, Marcos Rubio, visitou a
Guiana, após maduro ter reacendido a disputa sobre Essequibo72. Em seu apoio à Guiana73, o
secretário Rubio alertou Nicolás Maduro que um ataque militar ao país vizinho seria “um grande
erro” e teria sérias consequências para Caracas. “Seria um dia muito ruim para o regime
venezuelano se eles atacassem a Guiana ou a ExxonMobil. Seria um dia muito ruim, uma semana
muito ruim para eles, e não terminaria bem”, insistiu Rubio em uma entrevista coletiva em
Georgetown com o presidente guianense Irfaan Ali74. A tentativa dos chavistas de convocar
eleições na região de Essequibo para eleger governador e representantes acendeu o alerta75.

O ministro do Interior e da Justiça da Venezuela, Diosdado Cabello, anunciou que o país


elegerá oito deputados e um governador para o Essequibo, território controlado pela Guiana e
reivindicado por Caracas. Segundo o governo chavista, as eleições ocorrerão em 25 de maio, e
a Venezuela não reconhecerá qualquer ação da Guiana na justiça internacional contra o pleito.
Cabello também afirmou que, pela primeira vez, a Assembleia Nacional contará com 285
parlamentares, incluindo os representantes do Essequibo.

A Comunidade do Caribe (CARICOM), da qual a Guiana faz parte, descreveu esse novo
movimento como uma ameaça que pode reacender uma crise como a ocorrida há dois anos com
o referendo consultivo por meio do qual a Venezuela tentou justificar a anexação do território.
Lembremos que a CARICOM participou das negociações sobre as reivindicações entre Venezuela
e Guiana sobre Essequibo.

Maduro respondeu às declarações de Rubio, afirmando que “ninguém ameaça a


Venezuela”. “É aí que sai aquele idiota do Marco Rubio; idiota, ninguém ameaça a Venezuela
porque esta é a pátria dos libertadores, esta é a pátria de Bolívar.” Maduro acusou Rubio de

71
https://www.pagina12.com.ar/813159-deportaciones-y-aranceles-la-doble-ofensiva-de-trump-contra-
72
https://elpais.com/america/2023-12-14/guyana-el-pequeno-pais-que-flota-en-petroleo-y-ahora-esta-
en-el-punto-de-mira-de-maduro.html
73
"Temos uma grande Marinha e ela pode chegar a quase qualquer lugar, em qualquer lugar do mundo.
E temos compromissos contínuos com a Guiana," aponto o Secretario do Estado de EE.UU.
https://sumarium.info/2025/03/28/imbecil-a-venezuela-no-la-amenaza-nadie-responde-maduro-a-
rubio/
74
https://elpais.com/america/2025-03-28/rubio-advierte-a-maduro-de-las-consecuencias-de-atacar-a-
guyana-seria-un-dia-muy-malo-para-el-regimen-y-no-terminaria-bien.html
75
Não está claro como essa medida será implementada, mas o governo venezuelano insiste que em 25
de maio, em menos de dois meses, o país realizará suas eleições regionais e parlamentares, assim como
todo o país, convocadas pelo Conselho Nacional Eleitoral. https://elpais.com/america/2023-12-04/el-
chavismo-gana-el-referendum-para-la-anexion-del-esequibo-y-eleva-la-tension-con-guyana.html

191
ignorar a realidade das comunidades da classe trabalhadora: “Ele nunca viu uma assembleia
popular na vida, nunca foi a um bairro, porque eles fazem parte da elite corrupta de Miami,
muito corrupta, que odeia a Venezuela”76.

Essas são as atualizações do panorama político internacional da região desta última


quinzena. Passamos agora a olhar para alguns aspectos importantes relacionados à saúde que
dizem respeito à região.

Vale destacar o Alerta Epidemiológico emitido pela Organização Pan-Americana da


Saúde (OPAS) sobre o aumento de casos humanos de febre amarela77: 131 casos foram
relatados casos confirmados de febre amarela em humanos em quatro Estados da Região, dos
quais 53 foram fatais (1-4). Esses casos foram relatados nos seguintes países: Estado
Plurinacional da Bolívia, com um caso fatal; Brasil com 81 casos, incluindo 31 óbitos; Colômbia
com 31 casos, incluindo 13 casos fatais; e Peru com 18 casos, incluindo oito casos fatais (1-4).

Nessa mesma linha, a Avaliação de Risco do Sarampo para as Américas78 foi publicada
em 24 de março. Seu objetivo é analisar o aumento de surtos e casos de sarampo em alguns
países da região até 2025.

Em 2025, 507 casos de sarampo já foram confirmados na Região das Américas,


mostrando um aumento de 5,5 vezes em comparação aos 91 casos de sarampo relatados no
mesmo período em 2024. Os casos apresentados durante 2025, até 14 de março, foram
notificados por quatro países: Argentina (n= 11 casos), Canadá (n= 173 casos), Estados Unidos
da América (n= 301 casos, incluindo duas mortes) e México (n= 22 casos).

O risco à saúde pública na região das Américas relacionado ao sarampo é considerado


alto devido aos seguintes fatores:
• A persistência da circulação do vírus a partir de casos importados, evidenciada por um
número limitado de surtos, mas com longas cadeias de transmissão devido ao
aumento do número de casos secundários e ao aparecimento de casos associados a
surtos pré-existentes em novas áreas geográficas nos quatro países que tiveram surtos
ativos durante 2025.
• A incapacidade de manter um nível ótimo de cobertura vacinal (>95%) na maioria dos
países e territórios da Região. De acordo com a cobertura de vacinação contra
sarampo, caxumba e rubéola (SCR) MMR1 e MMR2 relatada por 42 países e territórios
nas Américas em 2023, apenas 28,6% dos países alcançaram cobertura acima de 95%
para MMR1 e apenas 16,7% dos países alcançaram cobertura acima de 95% para
MMR2. A cobertura regional foi de 87% para SRP1 e 76% para SRP2. As coberturas de
2024 estão em processo de consolidação pelos países da região.
• O aumento da população suscetível devido à persistência de baixas coberturas vacinais
relacionadas a fatores como a pandemia da COVID-19, o aumento da hesitação vacinal
em algumas comunidades e setores da população e a limitação do acesso aos serviços
de saúde por populações especialmente vulneráveis (migrantes, deslocados, indígenas,
etc.).

76
https://sumarium.info/2025/03/28/imbecil-a-venezuela-no-la-amenaza-nadie-responde-maduro-a-
rubio/
77
https://www.paho.org/es/documentos/alerta-epidemiologica-fiebre-amarilla-region-americas-26-
marzo-2025
78
https://www.paho.org/es/documentos/evaluacion-riesgo-para-salud-publica-relacionada-con-
sarampion-implicaciones-para-region

192
Tanto a febre amarela quanto o sarampo merecem atenção devido ao crescimento dos
movimentos antivacinas na região, um fenômeno que se agravou ainda mais com a postura de
líderes influentes. Nos Estados Unidos, o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., já se
manifestou contra as vacinas, e a cooperação do país no setor da saúde vem se enfraquecendo.

Por fim, ao final deste informe, faremos uma análise da proposta que nos causa
preocupação: a criação de um Centro de Controle de Doenças (CDC) na América Latina,
levantada por um grupo de especialistas em saúde.

CEPAL: Oitava Reunião do Fórum dos Países da América Latina e do Caribe sobre
Desenvolvimento Sustentável

Enquanto escrevemos este informe, líderes governamentais da América Latina, Caribe e


outras regiões, juntamente com representantes da ONU, organismos internacionais, setor
privado, academia e sociedade civil, estão reunidos na sede da CEPAL, em Santiago do Chile, de
31 de março a 4 de abril, para a oitava edição do Fórum dos Países da América Latina e do Caribe
sobre Desenvolvimento Sustentável. O evento analisará os avanços e desafios na
implementação da Agenda 2030 na região.

Com mais de 600 participantes confirmados, o encontro contará com diálogos de ação
em nível global, regional e nacional, além de 38 eventos paralelos. A abertura oficial, no dia 1º
de abril, terá a presença de autoridades como o vice-ministro das Relações Exteriores do Peru,
Félix Denegri, representantes da CEPAL e altos funcionários da ONU.

Durante o evento, será apresentado o oitavo relatório da CEPAL sobre a Agenda 2030,
destacando desafios e estratégias para acelerar o progresso nos ODS 3 (Saúde e bem-estar), ODS
5 (Igualdade de gênero), ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico), ODS 14 (Vida
submarina) e ODS 17 (Parcerias para os Objetivos). Também serão debatidos compromissos
globais relacionados ao financiamento do desenvolvimento, mudanças climáticas e igualdade
de gênero.

Na próxima edição dos Cadernos, traremos uma análise do encontro.

O Organismo Andino de Saúde Convênio Hipólito Unanue (ORAS-Conhu) participou de


atividade para unificar denominações de profissionais de saúde na região79

O Comitê Andino de Recursos Humanos em Saúde do ORAS-CONHU e funcionários


técnicos da OPAS/OMS se reuniram para elaborar uma matriz mínima de denominações para
profissões da região Andina.

Essa padronização facilitará integração regional e a mobilidade laboral de profissionais


da saúde. Segundo Maria Carmem Calle, secretária executiva do Organismo, destaca três pontos
importantes no tema: manutenção dos recursos humanos em saúde como pilar fundamental do
sistema de saúde, elaboração de planos nacionais de capacitação e priorização da saúde mental
dos recursos humanos em saúde.

Além disso, agradeceu a participação dos países da região e da OPAS/OMS e sinalizou


que a oficina não foi somente para harmonizar denominações, mas aprofundar a cooperação

79
https://www.orasconhu.org/es/paises-andinos-se-reunen-para-unificar-denominaciones-de-
profesiones-de-salud-en-la-region

193
para o fortalecimento dos sistemas de saúde, a melhoria da mobilidade de profissionais e
garantir atenção de qualidade na região andina.

Por fim, Benjamin Puertas, chefe da unidade de recursos humanos para a saúde
relembrou a parceria entre o ORAS-CONHU e a OPAS para a elaboração e atualização da Política
Andina de Recursos Humanos para a Saúde e reconheceu a importância de desenvolver guias e
ferramentas com foco em sistemas de informação, mapeamento de atores e profissões.

O Conselho de Ministros de Saúde da América Central (COMISCA) discutiu temas como saúde
única e integração e inovação em saúde8081

A Secretaria Executiva COMISCA, a Secretaria Executiva da Comissão Centro-americana


de Ambiente e Desenvolvimento e a Secretaria Executiva do Conselho Agropecuário Centro-
americano integram o Grupo Técnico ad hoc com o objetivo de formular a Estratégia de “uma
só saúde” do SICA.

O grupo técnico conta com delegados dos ministérios da saúde, agricultura e ambiente
dos países membros do SICA, além de serem apoiados por especialistas de cooperação,
secretarias do SICA e do Organismo Internacional Regional de Sanidade Agropecuaria (OIRSA).

A Secretaria Executiva do COMISCA também participou do HIMSS Global Health


Conference and Exhibition nos EUA, que discutiu sobre tecnologias de informação em saúde. Os
representantes a SECOMISCA esteve no painel “Revolucionando os cuidados da saúde na
América Latina através da inovação e integração” que buscava promover o intercâmbio de
experiências regionais na América Central e América do Sul. O principal tópico discutido foi a
transformação digital na região, apresentando casos de estudos dos principais sistemas de
saúde nacionais, avanços e desafios de implementação para especialistas na primeira linha de
saúde digital.

Por fim, durante a conferência, a SECOMISCA participou de um fórum de alto nível


(HIMSS25 – Third Global Ministerial Summit) que reúne altos funcionários de mais de 10 países
para um debate estratégico sobre o avanço da política de saúde digital e soluções sanitárias
digitais que revolucionam a atenção sanitária.

Sistema Econômico Latino-americano e do Caribe (SELA) participou de evento sobre migração


latino-americana82

Representantes do SELA participaram como moderadores do painel “Migração em


retorno: Desafios da reintegração e segurança social para as pessoas migrantes”, sob o marco
do IV Diálogo de Alto Nível: A Segurança Social sob a visão dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, organizado pela Conferência Interamericana de Segurança Social. O objetivo da
conferência foi discutir os desafios comuns e mais críticos para a realização de uma migração
segura, ordenada e regular na América Latina.

O Coordenador da Área de Desenvolvimento Social do SELA, Gustavo Herrera, afirmou


na abertura dos trabalhos que a solidariedade é essencial para enfrentar os desafios migratórios

80
https://www.sica.int/noticias/se-reune-grupo-tecnico-ad-hoc-para-el-proceso-de-formulacion-de-la-
estrategia-una-sola-salud-del-sica_1_135048.html
81 https://www.sica.int/noticias/se-comisca-participa-en-himss-global-health-conference-and-
exhibition_1_135049.html
82
https://www.sela.org/sela-y-ciss-brindan-una-vision-integral-de-la-seguridad-social-para-los-
migrantes-de-la-region/

194
e para garantir um futuro de oportunidades e dignidade para os migrantes. Ainda acrescentou
que o desenvolvimento de uma governança regional facilitará a adoção de abordagens inclusivas
e equitativas para avaliação das necessidades dos migrantes. E finalizou reforçando o
compromisso do SELA em favorecer a cooperação regional e inter-regional para lidar com os
desafios, além de sinalizar que o organismo vai continuar criando espaços para intercâmbio de
ideias para o desenvolvimento de políticas públicas adequadas para o bem-estar dessas
populações.

Além do representante do SELA também participaram a presidenta do Instituto das


Mulheres para a Migração, o chefe do departamento estatístico do Instituto Guatemalteco de
Segurança Social, o fundador e assessor de políticas de Siloe Labour Solutions, o diretor geral de
proteção ao migrante e vinculação do Instituto Nacional de Migração. O painel83 abordou eixos
específicos como estratégias econômicas e de emprego para migrantes retornados para
reintegração em mercados de trabalho, mecanismos para as garantias e acesso a pensões e
benefícios sociais para pessoas em processo de reintegração entre outros.

Um olhar sobre a proposta de criação de um CDC Latino-Americano

Neste Caderno, buscamos debater sobre a iniciativa de um grupo de profissionais de


saúde da região que propõe a criação de um Centro de Controle de Doenças (CDC) para a
América Latina (CDC-LATAM), destacando seu potencial impacto para a saúde pública regional.

Em artigo publicado na Lancet, Garcia, P et al (202484 e 202585), argumentando os efeitos


desproporcionais da pandemia da Covid-19 na região, defendem a criação de um Centro
Regional de Controle de Doenças. Os autores argumentam que:

“A América Latina, lar de aproximadamente 8,2% da população mundial, sofreu uma


carga desproporcional de COVID-19. A região relatou 80 milhões de casos de COVID-19 e 1,7
milhão de mortes, representando 10% a 25% do total global. A América Latina registrou a maior
perda de expectativa de vida ao nascer em 2021 em comparação a 2019. Houve pouca
colaboração entre os países latino-americanos durante a pandemia de COVID-19, o que
prejudicou o uso eficaz dos recursos regionais, incluindo oportunidades perdidas de negociação
coordenada e aquisição de testes de diagnóstico, medicamentos, ventiladores, vacinas e outros
suprimentos médicos.” (tradução própria. Veja García, P, et al. “Por que a América Latina precisa
de um Centro regional para Controle e Prevenção de Doenças”. Lancet 2024; 403: 2763–65.)

Observamos aqui que, segundo os autores, os resultados de saúde da população,


durante a pandemia, são resultado da resposta do Sistema de Saúde dos países ou parca
coordenação e cooperação regionais. No artigo citado acima, os autores não levam em
consideração os determinantes sociais que afetam a população e suas condições de saúde e de
acesso à saúde. Tampouco mencionam que os países da América Latina são os mais injustos e
desiguais do mundo, com diferenças significativas entre eles e dentro deles.

O alto número de casos se deve, em grande medida, fatores sociais, como condições de
moradia, acesso à água e saneamento, pobreza, exclusão digital, insegurança alimentar, o que

83 O evento ficou gravado e pode ser acessado no seguinte link:


https://www.youtube.com/live/YXzGP7U0uIU?t=447s
84
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)00813-4/abstract
85
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(25)00246-6/fulltext

195
fez com que muitas medidas de isolamento ou as chamadas medidas não farmacêuticas não
pudessem ser implementadas de forma eficaz.

No entanto, García e seus colegas argumentam que as deficiências de coordenação e a


importância de uma abordagem regional são justificativas em favor da criação de um CDC
regional. Em trabalhos anteriores analisamos “Governança regional, diplomacia e cooperação
em Saúde na América Latina diante da Pandemia da COVID-1986”. Conforme observado nesta
tese, ao longo de seus mais de 120 anos de história, a OPAS desempenhou um papel
fundamental na resposta a grandes epidemias e no combate a muitas doenças. No entanto, a
pandemia da COVID-19 trouxe importantes tensões entre seus Estados membros: a crise no seu
financiamento e o enfraquecimento do multilateralismo em níveis global e regional.

Outro argumento apresentado pelos autores é que a estrutura de governança da OPAS


é limitada à participação individual dos governos, o que restringe o escopo da cooperação
horizontal (Sul-Sul) entre dois ou mais países da região. Essa limitação ressalta a falta de uma
plataforma por meio da qual os países latino-americanos possam colaborar para prevenir e
controlar surtos de doenças. Os autores passaram por alto parte da atuação e funcionamento
da OPAS, que durante a pandemia forneceu plataformas com dados em tempo real sobre o
progresso da pandemia em cada país e no nível das diferentes sub-regiões por meio de seus
Programas de Cooperação Sub-regional na América do Sul, América Central e Caribe.

Ainda nos Programas Sub-regionais citados, foram desenvolvidos modelos de simulação


e projeções da pandemia de COVID-19, analisando os potenciais impactos das medidas,
disponibilidade de leitos, recursos humanos em saúde, testagem diagnóstica, entre outros.

O fracasso dos mecanismos COVAX não se deve à falta de coordenação da OPAS em


resposta à pandemia. A Organização3 não tinha governança sobre o mesmo. COVAX é uma
iniciativa multiagências ou de múltiplas partes interessadas voltada para países de baixa e média
renda. A COVAX não pareceu ser eficaz para países de renda média como os da América Latina.
A ineficácia e a lentidão da COVAX nas Américas não foram isentas de críticas e até mesmo de
conflitos que afetaram o prestígio da OPAS.

Por exemplo, no Paraguai87, o representante da OPAS teve que deixar o país devido às
sérias críticas do Chanceler e de autoridades governamentais pelo atraso nas vacinas
prometidas. Embora a COVAX não tenha sido uma resposta eficaz para garantir o acesso às
vacinas em Latino América teve um alto custo reputacional para a OPAS.

Vale ressaltar que na 59ª Sessão do Conselho Diretor da OPAS (2021), foi aberta uma
importante janela de oportunidade para cooperação e esforços conjuntos para promover o
acesso equitativo à saúde na região. Os Ministros da Saúde das Américas aprovaram a Resolução
sobre Melhoria das Capacidades de Produção de Medicamentos e Tecnologias Essenciais para
a Saúde (CD 59/8). No documento, os Estados reconhecem que a saúde é condição para o
desenvolvimento sustentável e pedem uma ação multissetorial coordenada para atender com

86
TOBAR, Sebastián. “Gobernanza regional, diplomacia y cooperación en Salud en América Latina frente
a la Pandemia de la COVID-19”. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz. como requisito parcial para
obtenção do título de Doutor em Saúde Pública. Área de concentração: Políticas, Planejamento, Gestão e
Atenção à Saúde. Dissponível: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/51971
87
Ver https://www.lanacion.com.py/pais/2021/04/20/luis-roberto-escoto-representante-de-la-omsops-
en-paraguay-abandona-el-pais/ y https://www.ip.gov.py/ip/ops-retira-al-doctor-escoto-como-
representante-en-paraguay/

196
urgência às necessidades de saúde da população. Da mesma forma, desenvolver e aumentar as
capacidades nacionais e regionais na produção de matérias-primas, medicamentos e outras
tecnologias essenciais é essencial para responder adequadamente às demandas de saúde e
contribuir para o desenvolvimento econômico e social regional.

Para concluir, é importante observar que as Américas são uma região de renda média,
atualmente inelegível para muitos doadores internacionais e com características muito distintas
do continente africano, onde o CDC África tem tido bastante êxito em suas ações.

Muitos profissionais de saúde pública são seduzidos pelo chamado do CDC, com um
arranjo de governança de saúde que, no imaginário público, parece mais moderno ou inovador.
Muito desse canto de sereia vem da observação do CDC da África. Mas, não é possível usá-lo
como modelo, pois esta é a região que mais recebe recursos de cooperação internacional.

Do nosso ponto de vista, a criação de um CDC-LATAM não se justifica diante da já


consolidada atuação da OPAS – não isenta de críticas. A Organização é o mais antigo arranjo
regional de governança em saúde do mundo, com uma história de mais de 120 anos de controle
e eliminação de doenças e cooperação com os países da região.

Como braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), a OPAS desempenha um


papel central na coordenação de políticas sanitárias, no fortalecimento dos sistemas de saúde e
na resposta a emergências na região. Estabelecer uma nova instituição com funções
semelhantes resultaria na duplicação de esforços, dispersão de recursos e potencial
fragmentação da cooperação regional em saúde.

Além disso, um CDC-LATAM poderia gerar redundâncias burocráticas e dificuldades de


articulação entre países, enfraquecendo iniciativas conjuntas já existentes. Em vez de criar novas
estruturas paralelas, seria mais eficaz fortalecer a OPAS, aprimorando seu financiamento e sua
capacidade de resposta, garantindo maior integração e eficiência nas políticas de saúde pública
na América Latina. Antes de buscar compromisso político para uma nova organização e buscar
financiamento, seria apropriado fazê-lo por meio da Organização existente.

A OPAS desempenhou e desempenha um papel importante na erradicação, vigilância e


controle de doenças. Em termos gerais, como aponta o Banco Mundial, os países têm investido
menos recursos em saúde despois da pandemia da Covid-19. Além de isso, no contexto atual,
com a vitória de Trump, há menos recursos para cooperação em saúde na região e no mundo.

Promover a criação de um CDC ou de uma nova estrutura institucional significaria ainda


menos recursos para importantes e consolidadas organizações como a OPAS e,
consequentemente, corroboraria o seu enfraquecimento.

197
África

Augusto Paulo Silva


Manuel Mahoche
Tomé Cá
Dala Djop
Felix Rosenberg

Abstract. The report addresses several important initiatives and collaborations in Africa. Firstly,
it highlights the G20 dialogue session, which focused on financing development and climate
finance issues. Furthermore, the report mentions the collaboration between CDC Europe and
Africa on global health security. Another point addressed is the strengthening of coordination
between regional joint procurement mechanisms and the African Joint Procurement Mechanism
(APPM). Finally, the report highlights the signing of a Memorandum of Understanding (MoU)
between SADC and UNICEF, aiming to strengthen bilateral relations and formalize cooperation
for the next five years.

Keywords: AUDA- NEPAD. G20. SADC. ECOWAS. ACDC.

Resumo. O informe aborda várias iniciativas e colaborações importantes na África.


Primeiramente, destaca sessão de diálogo do G20, que se concentrou nos financiamentos para
o desenvolvimento e para as questões climáticas. Além disso, o informe menciona a colaboração
entre os CDC Europa e África a segurança sanitária global. Outro ponto abordado é o
fortalecimento da coordenação entre os mecanismos regionais de aprovisionamento conjunto
e o Mecanismo Africano de Aprovisionamento Conjunto (APPM). Por fim, o informe destaca a
assinatura de um MoU entre a SADC e o UNICEF, visando fortalecer as relações bilaterais e
formalizar a cooperação para os próximos cinco anos.

Palavras-chave: AUDA-NEPAD. G20. SADC. CEDEAO. CDC África.

União Africana

Diálogo do G20 com diplomatas africanos

Uma sessão de diálogo do G20 centrou-se no financiamento para o desenvolvimento e


nas questões de financiamento climático na agenda do G20.

O Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA, The South African Institute of


International Affairs) e a Agência de Desenvolvimento da União Africana-NEPAD organizaram
conjuntamente uma sessão de diálogo do G20 com missões diplomáticas africanas acreditadas
em Pretória. Realizada sob as regras de Chatham House88, a sessão fechada facilitou discussões
produtivas com a comunidade diplomática africana sobre financiamento para o
desenvolvimento e questões de financiamento climático na agenda do G20, com um foco

88
As Regras de Chatham House são um conjunto de diretrizes que visam promover discussões abertas e
francas em reuniões, especialmente aquelas que envolvem temas sensíveis ou controversos. A ideia
central é permitir que os participantes expressem suas opiniões livremente, sem receio de que suas
palavras sejam atribuídas a eles fora do contexto da reunião, sendo os pontos-chave: o anonimato, a
confiança e o diálogo aberto.

198
particular em assuntos relevantes para o continente africano. Este evento baseou-se na sessão
de diálogo inaugural, que se realizou a 8 de novembro de 2024.

A sessão teve uma forte participação, com representação de 32 missões diplomáticas


africanas, bem como do PNUD, do governo sul-africano e de vários centros de estudos.

As principais conclusões incluíram:

▪ Esforços coordenados africanos: dada a adesão da União Africana ao G20, foi


destacada a necessidade de um quadro de envolvimento estruturado para
facilitar o desenvolvimento de posições continentais unificadas;
▪ Vozes africanas unificadas no G20 através de reuniões de grupo: foi sugerido
que os representantes do continente africano no G20 realizassem reuniões de
grupo em preparação para as reuniões do G20, a fim de apresentar uma
posição africana unida;
▪ Reuniões informativas contínuas com a comunidade diplomática africana: Os
participantes enfatizaram a sua importância estratégica enquanto missões
diplomáticas africanas como condutas para os seus respetivos países,
sublinhando a necessidade de um envolvimento sustentado;
▪ Reuniões informativas formais da comunidade diplomática africana pelo
governo sul-africano: dirigindo-se ao representante do governo sul-africano, a
comunidade diplomática africana enfatizou a necessidade de realizar reuniões
informativas oficiais para a comunidade diplomática africana, a fim de fornecer
uma atualização sobre a presidência sul-africana do G20;
▪ Impactos do G20 no continente africano: os participantes apontaram para a
necessidade de avaliar o impacto do G20 no continente e de comunicar o
mesmo às partes interessadas no continente.
Os participantes refletiram sobre as recentes reuniões do G20, observando, em
particular, a notável ausência dos EUA, China, Japão, Índia e Canadá da reunião de Ministros das
Finanças. Apesar disso, mantiveram-se otimistas quanto ao potencial de progresso do G20. A
discussão enfatizou a importância de alcançar resultados tangíveis e de usar estrategicamente
o fórum do G20 para promover os interesses de África, reconhecendo abertamente as
dificuldades criadas pelos atuais eventos globais e tensões políticas.

A sessão de diálogo do G20 revelou-se bem-sucedida, destacando a necessidade


contínua de uma plataforma africana dedicada para abordar questões do G20 de importância
continental.

CDC África

Colaboração internacional ampliada para a segurança sanitária

A Diretora do CDC Europa, Dra. Pamela Rendi-Wagner, e Dr. Jean Kaseya, Diretor-Geral
do CDC África reuniram-se em Estocolmo para discutir o aprofundamento da colaboração entre
os dois CDC.

A reunião foi uma oportunidade para as instituições avaliarem as áreas de cooperação


em curso e perspectivarem os esforços futuros para reforçar a segurança sanitária africana,
europeia e global. Desde 2021, ambas as agências colaboram num projeto, financiado pela
Comissão Europeia, para contribuir para a segurança sanitária em África e globalmente, através

199
do reforço da preparação e resposta a emergências, vigilância, inteligência epidémica e
capacitação da força de trabalho.
"A estreita cooperação entre os CDC Europa e África é essencial para a
segurança sanitária global. Aguardo com expectativa uma colaboração ainda
mais profunda no futuro e o trabalho conjunto rumo à preparação e resposta
à segurança sanitária global para enfrentar futuras ameaças à saúde. Este
trabalho já começou através das contribuições do ECDC para as respostas a
surtos lideradas pelo CDC África, através da nossa Força-Tarefa de Saúde da
UE", afirmou a Dra. Pamela Rendi-Wagner, Diretora do ECDC.

Em reconhecimento do panorama de ameaças à saúde em evolução, os dois CDC


colaborarão no desenvolvimento da força de trabalho Uma Saúde através de uma Iniciativa da
Equipa Europa. A adoção de uma abordagem Uma Saúde é essencial para combater a pandemia
silenciosa da resistência antimicrobiana – uma ameaça significativa para a saúde e o
funcionamento dos serviços de saúde em ambos os continentes.
"O CDC África valoriza a sua forte colaboração com a sua congénere europeia
no avanço da segurança sanitária global. Através da nossa parceria,
comprometemo-nos a reforçar a preparação para emergências, a vigilância
de doenças e a força de trabalho de saúde pública de África. Esta visita
reafirma o nosso compromisso em expandir a formação conjunta, a
inteligência epidémica e as trocas técnicas para equipar os nossos Estados-
Membros com o apoio necessário para enfrentarem as ameaças de saúde
emergentes. No âmbito da Parceria Global Gateway África-UE sobre Saúde,
continuamos dedicados à sustentabilidade, inovação e cocriação de soluções
para uma África mais saudável e para além dela", afirmou Dr. Jean Kaseya.

O mandato reforçado do CDC Europa permitiu à Agência expandir a sua cooperação


internacional. O estabelecimento da Força-Tarefa de Saúde da UE permitiu que os seus
especialistas fossem destacados em África dez vezes em 2024 para apoiar as respostas locais a
surtos de mpox, Marburg e cólera.

Para além do seu compromisso partilhado com a segurança sanitária global e a futura
colaboração técnica, as discussões centraram-se nos surtos no continente africano, bem como
nas ações concretas que ambos estão a tomar para reconstruir a confiança pública nas
autoridades de saúde após a pandemia de Covid-19.

O CDC Europa colabora com centros de controlo de doenças fora da União Europeia,
tanto a nível regional como nacional, como parte da sua estratégia de longo prazo para reforçar
a cooperação e coordenação internacionais no combate às ameaças de saúde transfronteiriças.
Também colabora com os CDC supranacionais africanos, das Caraíbas e do Golfo e já assinou
Memorandos de Entendimento ou acordos administrativos com centros nacionais em todo o
mundo.

Lançado novo Fundo Africano para Epidemias

O Fundo Africano para Epidemias já está operacional, fornecendo financiamento flexível


para apoiar os países de todo o continente na preparação e resposta a surtos.

Este desenvolvimento tão aguardado está destinado a ser um ponto de viragem. Sem
mais restrições por entraves burocráticos, a Agência da União Africana tem agora a flexibilidade

200
de mobilizar rapidamente fundos onde são mais necessários, permitindo respostas a surtos mais
rápidas e eficientes. O Dr. Jean Kaseya descreveu-o como um momento histórico na luta por
uma melhor segurança sanitária no continente.

"Este é o veículo através do qual podemos receber financiamento sem qualquer


limitação, sem qualquer burocracia, para apoiar os países africanos na preparação e resposta a
surtos... Estamos a celebrar isso ", afirmou.

O fundo foi formalmente estabelecido após a Reunião de Alto Nível sobre


Financiamento Doméstico da Saúde, uma iniciativa de colaboração entre o CDC África, a
Comissão da União Africana e a AUDA-NEPAD. Chega num momento crucial, enquanto África
lida com múltiplas crises de saúde, incluindo um surto de Marburg na Tanzânia, Ébola no Uganda
e o aumento de casos de cólera e doenças febris na República Democrática do Congo (RDC).

Além disso, o surto de mpox permanece em curso, seis meses após ter sido declarado
uma emergência de saúde de preocupação continental. Em fevereiro, o Grupo Consultivo de
Emergência reviu a situação, recomendando que o estado de surto se mantivesse devido ao
aumento do número de casos, ao surgimento de uma nova variante altamente transmissível e à
persistência da escassez de vacinas.

O Dr. Kaseya sublinhou que o novo fundo para epidemias oferece maior autonomia e
agilidade na resposta a surtos.

"Será acessível sem necessidade de aprovação de qualquer órgão da União Africana,


dando mais autonomia ao CDC África", afirmou.

A transparência será uma pedra angular das operações do fundo. O Dr. Kaseya afirmou
que o CDC África gerirá o fundo diretamente, garantindo uma rigorosa responsabilização. Um
Conselho de Administração supervisionará as suas atividades, com atualizações regulares
fornecidas aos órgãos de política da União Africana. Mais importante ainda, as transações do
fundo serão publicamente acessíveis, com um acompanhamento detalhado disponível para
garantir a transparência.

"O Fundo Africano para Epidemias estará disponível no sítio web do Africa CDC.
Queremos que as pessoas vejam, em tempo real, quanto financiamento recebemos, como está
a ser utilizado e onde está a ser alocado. Esse é o nível de transparência que estamos a trazer
para África", acrescentou o Dr. Kaseya.

A necessidade de tal fundo nunca foi tão premente, uma vez que África testemunhou
um aumento acentuado de eventos de saúde pública – de 152 em 2022 para 213 em 2024. Este
aumento evidencia a crescente vulnerabilidade das nações africanas às ameaças de saúde.

Ao mesmo tempo, os desafios em torno do surto de mpox agravaram-se após a


suspensão da ajuda do governo dos EUA, que perturbou os principais esforços de controlo do
surto, como a recolha e envio de amostras. Estas perturbações sublinham a urgência de África
desenvolver mecanismos de financiamento autossustentáveis para enfrentar as crises de saúde
em curso e futuras.

Mesmo assim, os esforços para combater a mpox estão a entrar numa fase crítica, com
a expectativa de que o novo fundo forneça os recursos tão necessários para conter o surto. O
Dr. Ngashi Ngongo, Chefe da Equipa de Apoio ao Incidente de Mpox, descreveu isto como a "fase
de intensificação" e delineou os próximos passos na resposta.

201
"Nos próximos três meses, vamos concentrar-nos em controlar o surto, enquanto os três
meses finais deste plano se centrarão na recuperação precoce e na construção de resiliência",
afirmou.

Os próximos passos imediatos no controlo da epidemia centrar-se-ão no reforço dos


sistemas de vigilância, na intensificação das campanhas de vacinação e no reforço das
intervenções de base comunitária para quebrar as cadeias de transmissão. Em colaboração com
a OMS e outros parceiros, continuará a apoiar os países afetados, mobilizando recursos,
expandindo a capacidade laboratorial e acelerando os esforços de vacinação para conter a
propagação da mpox e de outras ameaças de saúde.

Mecanismo continental de aprovisionamento

O CDC África, representantes das Comunidades Económicas Regionais (REC, Regional


Economic Community) e outros intervenientes reuniram-se num workshop consultivo para
fortalecer a coordenação entre os mecanismos regionais de aprovisionamento conjunto (PPM,
Regional Pooled Procurement Mechanisms) e o Mecanismo Africano de Aprovisionamento
Conjunto (APPM, African Pooled Procurement Mechanism ), bem como para discutir as
modalidades de criação de uma plataforma conjunta de partilha de informação.

Coorganizado pela Comunidade da África Oriental (EAC, East African Community) e pela
Universidade do Ruanda/Centro Regional de Excelência da EAC para Vacinas, Imunização e
Gestão da Cadeia de Abastecimento de Saúde (UR/EAC RCE-VIHSCM, University of Rwanda/EAC
Regional Centre of Excellence for Vaccines, Immunization and Health Supply Chain
Management), o workshop teve como objetivo alinhar os esforços do CDC África CDC e das REC
para criar uma abordagem holística, coordenada e sinérgica ao aprovisionamento conjunto.

Aproveitando o impulso do workshop inaugural realizado em Adis Abeba, em agosto de


2024, esta segunda reunião consultiva reuniu representantes das RECE, parceiros de
desenvolvimento, instituições financeiras de desenvolvimento (IFD, Development Finance
Institutions) e outros intervenientes para avaliar o progresso do Mecanismo Africano de
Aprovisionamento Conjunto (APPM), partilhar boas práticas, explorar oportunidades e enfatizar
a necessidade de uma colaboração mais estreita para impulsionar a sua operacionalização.
“Agradecemos a oportunidade de a Comunidade da África Oriental ser
escolhida como a primeira REC a acolher esta importante série consultiva.
Este workshop não podia ter surgido num momento mais crítico. À medida
que enfrentamos as marés mutáveis do financiamento global da saúde, o
desafio também apresenta uma oportunidade de transformação. Para
realmente garantir a segurança sanitária de África, devemos construir a nossa
própria capacidade de produzir produtos e tecnologias médicas. O
aprovisionamento conjunto é uma parte fundamental desta agenda!”,
afirmou o Dr. Loko Abraham, Diretor-Geral do Abastecimento Médico do
Ruanda.

O acesso a produtos de saúde acessíveis e de alta qualidade continua a ser um desafio


significativo em África, ainda mais complicado por mercados fragmentados, pequenas
dimensões de encomendas e previsões de procura deficientes. O aprovisionamento conjunto
oferece uma solução – impulsionando o poder de negociação coletiva, aumentando a
estabilidade do abastecimento e atraindo fornecedores competitivos.

202
O APPM está, portanto, definido para melhorar o acesso a tecnologias de produtos de
saúde de qualidade e acessíveis e promover a localização da produção. O CDC África está a
avançar o APPM em estreita colaboração com parceiros estratégicos. Com um quadro
abrangente agora em vigor, o APPM está a transitar para a sua fase de implementação inicial.
“As consultas de hoje são mais uma oportunidade para trocar informações,
discutir o progresso e identificar os esforços conjuntos necessários para a fase
de implementação inicial do APPM”, afirmou o Dr. Jean Kaseya, Diretor-Geral
do CDC África. “As REC serão fundamentais para o sucesso deste mecanismo,
que irá melhorar o acesso a produtos de saúde com garantia de qualidade e
ajudar a impulsionar a produção local”, disse.

O Secretariado da EAC aguarda com expectativa para ver como a plataforma digital de
partilha de informação do PPM da EAC, baseada nas REC, irá interoperar com a plataforma
continental para melhorar o acesso a produtos de saúde de qualidade e acessíveis e promover
a produção local.

Sobre o mecanismo de aprovisionamento conjunto da EAC e a sinergia com o APPM

O percurso para o desenvolvimento do PPM da EAC começou há cerca de 20 anos, sob


a coordenação do Secretariado da EAC e do EAC RCE VIHSCM. A região da EAC orgulha-se de ter
a aprovação de três instrumentos fundamentais, nomeadamente o modelo de
operacionalização do PPM da EAC, a plataforma digital de partilha de informação do PPM da
EAC e o Quadro Regional de Governação de Dados de Saúde da EAC, que foram aprovados em
maio de 2024 pelo 24.º Conselho Setorial de Ministros da Saúde da EAC. A aprovação dos três
instrumentos mencionados acima é um grande marco para o Secretariado da EAC e para o EAC
RCE VIHSCM.

Sobre a Comunidade da África Oriental

A Comunidade da África Oriental (EAC) é uma organização intergovernamental regional


de oito (8) Estados, compreendendo o Burundi, a República Democrática do Congo, o Quénia, o
Ruanda, a Somália, o Sudão do Sul, o Uganda e a Tanzânia, com a sua sede em Arusha, na
Tanzânia. https://www.eac.int/

Sobre EAC RCE–VIHSCM

O Centro Regional de Excelência da Comunidade da África Oriental para Vacinas,


Imunização e Gestão da Cadeia de Abastecimento de Saúde (EAC RCE–VIHSCM) é um dos seis
Centros Regionais de Excelência da EAC para Competências e Ensino Superior em Educação
Superior de Ciências Médicas e da Saúde, Serviços de Saúde e Investigação. O Centro foi criado
para contribuir para a melhoria da saúde das populações da Comunidade da África Oriental,
desenvolvendo a capacidade de gestão da cadeia de abastecimento para o pessoal da EAC e
para atuar como um ponto focal regional para a introdução e disseminação de procedimentos
inovadores e comprovados na gestão da cadeia de abastecimento de saúde. Em colaboração
com o Secretariado da EAC, o EAC RCE-VIHSCM tem a tarefa de apoiar a Comunidade na
operacionalização do Mecanismo de Aprovisionamento Conjunto da EAC (EAC PPM).
https://hscm.ur.ac.rw/

203
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC)

SADC e UNICEF assinam Memorando de Entendimento

Em 19 de março, Elias M. Magosi, Secretário Executivo da Comunidade de


Desenvolvimento da África Austral (SADC), recebeu Etleva Kadilli, Diretora Regional para a África
Oriental e Austral do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), durante a sua visita a
Gaborone, Botswana. A senhora Kadilli foi acompanhada pela Dra. Joan Matji, Representante
cessante do UNICEF no Botswana junto da SADC.

O objetivo da visita foi fortalecer as relações bilaterais e formalizar a assinatura de um


Memorando de Entendimento (MoU) entre a SADC e o UNICEF para os próximos cinco (5) anos,
de 2025 a 2030. Ao longo dos anos, o UNICEF cultivou uma forte relação de trabalho com a
SADC, particularmente na formulação de políticas e na prestação de apoio técnico e financeiro
para vários programas e iniciativas. O UNICEF tem presença em todos os Estados-Membros da
SADC e envolveu-se através de iniciativas de apoio humanitário, construção da paz, saúde, HIV,
nutrição, água, saneamento e higiene (WASH, Water, Sanitation and Hygiene), educação,
proteção infantil e proteção social.

Magosi expressou a sua gratidão pelo apoio técnico contínuo do UNICEF e reconheceu
as contribuições da organização para a defesa dos direitos das crianças e a promoção do
desenvolvimento sustentável e socioeconómico na região da SADC. Reconheceu os esforços
contínuos do UNICEF para apoiar a região da SADC no desenvolvimento de estratégias regionais
de nutrição fundamentais, que se alinham com as prioridades do Plano Estratégico Indicativo de
Desenvolvimento Regional da SADC (Regional Indicative Strategic Development Plan, RISDP
2020-2030) e da Visão 2050 da SADC. Estas abordagens incluem o enriquecimento alimentar em
grande escala, a prevenção do excesso de peso e da obesidade e a transformação dos sistemas
alimentares.

Identificou áreas que exigem atenção para melhorar o bem-estar das crianças,
abordando desafios como doenças, abuso infantil, tráfico, HIV/AIDS, mudanças climáticas e
produção local de medicamentos e vacinas. Destacou o papel do UNICEF no avanço dos
programas de saúde e nutrição e reconheceu os progressos realizados nestas áreas.

Por sua vez, Kadilli expressou apreço pela parceria e cooperação mútua entre o UNICEF
e a SADC, tanto a nível nacional como regional. Defendeu a colaboração contínua para melhorar
as políticas que garantem o acesso equitativo a serviços essenciais para as crianças, incluindo
saúde, nutrição, água, saneamento e educação.

Sublinhou o alinhamento do UNICEF com a visão da região e a Agenda 2063 da União


Africana, bem como com a Agenda Africana para a Criança 2040, que visa garantir um futuro
promissor para a população jovem de África. A senhora Kadilli enfatizou a importância da
redução do risco de catástrofes e da preparação para emergências de saúde pública na
salvaguarda de vidas e meios de subsistência, promovendo assim o desenvolvimento
sustentável.

A região da SADC continua a enfrentar desafios significativos no que diz respeito à


elevada prevalência de atraso no crescimento entre as crianças. Em 2024, cerca de 21 milhões
de crianças com menos de cinco anos são afetadas, o que representa um aumento em relação
aos 18,6 milhões em 2022.

204
O UNICEF continua a abordar o HIV entre crianças e adolescentes, prestando apoio
técnico aos Estados-Membros através do Centro Regional e da Aliança Global para acabar com
a AIDS pediátrica.

O UNICEF tem prestado historicamente assistência financeira e técnica para a


elaboração de relatórios de prevalência e progresso do HIV e apoiado respostas regionais a
múltiplos surtos. A organização mantém-se empenhada na mobilização de recursos para
respostas a epidemias a nível nacional e regional.

O MOU assinado entre a SADC e o UNICEF é acompanhado por um Plano de Ação de 5


anos, com ambas as partes a concordarem em manter uma colaboração estreita através de
compromissos contínuos.

Parceria entre SADC e a União europeia

Denominado de Diálogo de Parceria Ministerial (Ministerial Partnership Dialogue) entre a


Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a União Europeia (UE) realizou-se
com sucesso a 15 de março, em Harare, no Zimbabué, uma reunião onde as duas partes se
envolveram em questões de interesse mútuo, incluindo paz e segurança, desenvolvimento
humano e sustentável, mudanças climáticas, ambiente, comércio e investimento.

O Prof. Amon Murwira, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Comércio Internacional do


Zimbabué, e atual Presidente do Conselho de Ministros da SADC, copresidiu o Diálogo com
Radosław Sikorski, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, representando o Alto
Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança e Vice-
Presidente da Comissão Europeia.

O Diálogo decorreu num espírito de parceria, uma atmosfera colaborativa e cooperativa,


e serviu como plataforma para reforçar as relações entre a SADC e a UE e promover a
cooperação em paz e segurança, comércio e políticas destinadas ao crescimento económico
sustentável e reformas económicas na região da SADC.

O Diálogo deliberou sobre questões globais, continentais e regionais que impactam a


situação de paz e segurança da região e além, bem como sobre desenvolvimento e cooperação.
Fez um balanço do progresso na implementação da Cooperação SADC-UE e do Programa
Indicativo Multianual 2021-2027 para a África Subsariana (MIP SSA, Multiannual Indicative
Programme for Sub-Saharan Africa).

As duas partes também celebraram a sua parceria e a implementação bem-sucedida de


acordos de cooperação e financiamento que apoiam programas regionais da SADC.

A SADC foi representada pelos seus Estados-Membros da "Dupla Troika", o Zimbabué


(Presidente), de Angola (antigo Presidente) e Madagáscar (próximo Presidente), bem como
pelos três países que lideram o Órgão da SADC sobre Política, Defesa e Assuntos de Segurança:
Malawi, Tanzânia e Zâmbia, e pelo Secretariado da SADC. Como referido acima, a UE foi
representada pelo Ministro Radosław Sikorski, altos funcionários do Serviço Europeu de Ação
Externa (EEAS, European External Action Service), da Comissão Europeia, do Governo da Polónia,
bem como pelos Embaixadores da UE no Botswana, na SADC e no Zimbabué. O Diálogo
Ministerial foi precedido pelo Diálogo de Altos Funcionários da SADC e da UE a 14 de março.

205
O Diálogo Político SADC-UE foi lançado na Conferência Ministerial SADC-UE em Berlim,
Alemanha, em setembro de 1994, onde ambas as partes reafirmaram a sua determinação em
reforçar a sua relação e estabelecer um diálogo abrangente.

O Diálogo foi convocado em conformidade com uma resolução do Diálogo Ministerial


SADC-UE realizado em março de 2013 em Maputo, Moçambique, onde ambas as partes
concordaram que a reunião de altos funcionários deve ser convocada anualmente, enquanto o
Diálogo Político Ministerial deve ser realizado uma vez a cada dois anos, com a função de
acolhimento a alternar entre as regiões da UE e da SADC.

O comunicado conjunto pode ser lido aqui. E o comunicado de imprensa aqui.

Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)

Cooperação regional com a OCDE

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a Organização


para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) iniciaram um processo de consulta
para definir um Plano de Cooperação Regional. A reunião teve lugar na sede da Comissão da
CEDEAO.

Várias áreas foram discutidas, incluindo inteligência artificial, tecnologias para


desenvolvimento agrícola, energia verde, mudanças climáticas, cooperação com comunidades
económicas regionais e apoio institucional, boa governação, mediação e estatísticas regionais,
apoio ao setor privado.

Nas suas observações de abertura, Carlos CONDE, Chefe da Divisão de África e Médio
Oriente da OCDE, expressou o seu entusiasmo pelo lançamento deste novo esforço colaborativo
com a Comissão da CEDEAO, e reafirmou o compromisso da OCDE em prosseguir estas áreas de
colaboração.

Ele destacou a importância de abordar desafios comuns, como as mudanças climáticas,


as tecnologias para o desenvolvimento agrícola e observou que é necessária uma abordagem
coordenada para alcançar o desenvolvimento sustentável.

Por sua vez, o Diretor de Relações Externas da Comissão da CEDEAO, Jérôme BOA, dando
as boas-vindas calorosas à delegação da OCDE no seu discurso de abertura, sublinhando a
importância desta nova parceria, também enfatizou a necessidade de estabelecer um quadro
para facilitar a cooperação entre a CEDEAO e a OCDE, garantindo o envolvimento de todos os
departamentos relevantes.

Este processo de consulta marca o início de uma nova era de cooperação entre a
CEDEAO e a OCDE, com o objetivo de promover o desenvolvimento económico e a integração
regional.

Estratégia sub-regional de armazenamento da segurança alimentar

A primeira reunião do Comité Diretor encarregado de rever a estratégia de


armazenamento regional e de ajustar a Reserva Regional de Segurança Alimentar (RRSA) teve
início em Abuja, na Nigéria, a 20 de março. Esta reunião marca o lançamento pela CEDEAO de
um processo essencial destinado a adaptar a estratégia de armazenamento regional aos novos
desafios da segurança alimentar, nutricional e pastoral na África Ocidental e no Sahel.

206
A estratégia de armazenamento regional da CEDEAO, em vigor desde 2011, assenta em
três pilares principais:

• armazenamento de segurança alimentar para responder às necessidades das


populações vulneráveis em caso de crises alimentares cíclicas;
• intervenções para melhorar o funcionamento dos mercados e reduzir a
volatilidade dos preços;
• redes de segurança alimentar social para as populações com défices
estruturais de subsistência.

Em menos de dez anos, foram realizados progressos significativos, nomeadamente


através da capitalização das boas práticas de gestão das existências locais pelas organizações de
produtores, do desenvolvimento de estratégias nacionais de armazenagem pelos Estados-
Membros e da estruturação da RRSA, que apoiou 22 intervenções desde a sua criação,
beneficiando 4,3 milhões de pessoas vulneráveis.

No entanto, os desafios persistem num contexto de deterioração crescente da


segurança alimentar e nutricional, marcado por conflitos, choques económicos, pandemias,
crises climáticas e um acesso enfraquecido aos serviços públicos. A revisão da estratégia de
armazenamento regional tem por objetivo reforçar a capacidade da região para prevenir e gerir
as crises alimentares, nutricionais e pastoris de forma sustentável e coordenada.

O comité diretor restrito tem por missão i) orientar os trabalhos e validar as principais
orientações, ii) assegurar a sua inclusão no processo de revisão da ECOWAP (ECOWAP 2035,
Post Malabo) e iii) validar as propostas apresentadas aos órgãos estatutários da CEDEAO.

Para além de clarificar o papel e a missão do Comité Diretor, esta primeira reunião visa
apresentar os objetivos e a metodologia do processo de revisão e partilhar uma avaliação
detalhada da primeira fase de implementação da estratégia de armazenamento regional. As
discussões centrar-se-ão também em temas específicos que orientarão o trabalho futuro do
Comité de Revisão Técnica.

Recorde-se, os principais objetivos da revisão incluem:

• adaptar a estratégia de armazenamento regional às novas prioridades do


ECOWAP@2035;
• ajustar os domínios de intervenção da RRSA, os seus instrumentos de resposta
a crises e as suas regras e procedimentos operacionais;
• otimizar as disposições institucionais e financeiras a fim de assegurar a
coerência, a eficiência e a sustentabilidade da estratégia regional.

Falando em nome da Comissária da CEDEAO para os Assuntos Económicos e a


Agricultura, Massandjé TOURE-LITSE, o Diretor Executivo da Agência Regional para a Agricultura
e a Alimentação (ARAA), Mohamed Zongo, encorajou os membros do Comité a participarem
ativamente nos debates e a partilharem as suas reflexões e recomendações para que este
processo conduza a resultados concretos e benéficos para toda a sub-região.

207
Com esta revisão, a CEDEAO reafirma o seu compromisso, juntamente com os seus
parceiros sub-regionais (UEMOA89, CILSS90, RESOGEST91) e internacionais (União Europeia, AFD,
AECID, Banco Mundial etc.), de reforçar a segurança alimentar e nutricional das populações
vulneráveis da África Ocidental e do Sahel.

Mapa da África – Países da CEDEAO

Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Côte d’Ivoire, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria,
Mali, Níger, Nigéria, Serra Leoa, Senegal e Togo

89
A União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) é uma organização sub-regional
composta por oito países da África Ocidental. A UEMOA foi criada em 1994 com o objetivo de promover
a integração económica entre os seus membros. A organização estabeleceu uma união aduaneira e uma
união monetária, o Franco CFA.
90
O Comité Interestadual Permanente de Luta contra a Seca no Sahel (CILSS) é uma organização sub-
regional que visa combater os efeitos da seca e promover o desenvolvimento sustentável nos países do
Sahel, uma região semiárida na África. Foi criada em 1973, sendo seu objetivo principal coordenar os
esforços dos países membros para garantir a segurança alimentar e combater os efeitos da seca e da
desertificação. É composta por 13 países: Benim, Burquina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia,
Guiné, Guiné-Bissau, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Chade e Togo.
91
A Rede de Sociedades e Gabinetes encarregados da Gestão dos Stocks Nacionais de Segurança
Alimentar (RESOGEST) nos países do Sahel e da África Ocidental. É uma rede que visa otimizar a gestão de
estoques de segurança alimentar na região, facilitando a coordenação e a colaboração entre os diferentes
países.

208
Na Europa, Trump segue ameaçando, Putin segue resistindo
e um cessar-fogo segue distante
In Europe, Trump remains threatening, Putin remains resisiting
and a cease fire remains far

Ana Helena Gigliotti de Luna Freire

Resumo. Na Europa, o reforço da segurança e o incremento do apoio fornecido à Ucrânia,


seguem ocupando a pauta principal da agenda política da UE. Apesar da falta consenso interno
em respeito à guerra na Ucrânia, a UE vem conseguindo avançar nas discussões. O problema é
que Putin segue irredutível em suas condições para um cessar-fogo, tensionando com Trump
até onde é possível. Trump, por sua vez, segue se constituindo uma ameaça à Europa, sem
envolvê-la nas negociações, ameaçando tomar a Groenlândia da Dinamarca, e mais
recentemente, questionando empresas francesas quanto à programas internos de combate à
discriminação. Na área da saúde, os destaques são o crescimento da tuberculose na Região
Europeia da OMS, o lançamento do guia para fortalecer a cibersegurança nos ambientes de
saúde digital e a inauguração do primeiro centro colaborador em comunicação de risco,
envolvimento da comunidade e gestão de infodemias.

Palavras-chave: Saúde global; União Europeia; Donald Trump; Guerra na Ucrânia;

Abstract. In Europe, strengthening security and increasing support for Ukraine continue to be at
the top of the EU's political agenda. Despite the lack of internal consensus regarding the war in
Ukraine, the EU has managed to make progress in discussions. The problem is that Putin remains
adamant in his conditions for a ceasefire, pushing Trump as far as possible. Trump, in turn,
continues to pose a threat to Europe, without involving it in negotiations, threatening to take
Greenland from Denmark and, more recently, questioning French companies about their internal
programs to combat discrimination. In the health area, the highlights are the growth of
tuberculosis in the WHO European Region, the launch of the guide to strengthening cybersecurity
in digital health environments and the inauguration of the first collaborating center on risk
communication, community engagement and infodemic management.

Keywords: Global Health; European Union; Donald Trump; Ukraine war;

O reforço da segurança europeia e o incremento do apoio fornecido à Ucrânia, seguem


ocupando a pauta principal da agenda política da UE. Ameaçada pela guerra em seu território,
pela ameaça de cortes no apoio estadunidense à guerra e à Otan, e pelo novo alinhamento de
Trump e Putin, a Europa não vê outra saída, que não o rearmamento. Aproveita este
movimento, para tentar sair de uma crise econômica e de competitividade, que também tem
pautado sua agenda comum. Espera-se que o incremento das atividades na indústria bélica,
sirvam para aquecer a economia, reduzindo não só as vulnerabilidades bélicas, como também
as econômicas.
Desde que Trump passou a dialogar diretamente com Putin, a cúpula dos líderes
europeus se reuniu 3 vezes, em caráter extraordinário, sempre para discutir defesa e segurança
da Ucrânia e, consequentemente, da Europa. No final de março, em nova reunião, os líderes
europeus, sem a presença dos EUA, discutiram quais seriam as “garantias” possíveis de serem

209
concedidas à Ucrânia no caso de um cessar-fogo. A cúpula reuniu 27 líderes europeus, os chefes
da Otan e das principais instituições da União Europeia, os embaixadores da Austrália e do
Canadá, além do vice-presidente da Turquia. O Reino Unido e a França propuseram a
implantação de uma "força de segurança" no país, algo como um exército ucraniano formado
por tropas europeias, como principal garantia de segurança. Tais forças, teriam um caráter de
dissuasão para evitar novos ataques da Rússia e não estariam na linha de frente. A proposta,
contudo, carece de consenso, pois Itália e Croácia se recusam a participar da iniciativa. Giorgia
Meloni, primeira-ministra italiana, além de reiterar sua recusa em participar da suposta força,
pediu que os EUA sejam convidados para uma próxima reunião dos aliados da Ucrânia. Para
Macron, tais forças são uma proposta franco-britânica que podem ser criadas sem unanimidade.
O plano está em curso e há previsão de uma visita de uma delegação de Paris e Londres à Kiev,
para discutir sobre as tropas e sobre o futuro exército ucraniano. Os líderes descartaram a
possibilidade de suspensão das sanções à Rússia, colocada como demanda por Putin para um
possível acordo de paz.
A falta de consenso tem sido uma constante nas reuniões da União Europeia sobre a
situação da segurança na Ucrânia e no continente. No último informe, abordamos a resistência
da Hungria, de Viktor Orbán, aliado de Putin, que se opõe à continuidade de apoio econômico e
militar à Ucrânia, que levou à criação da “coligação dos dispostos”. As discussões sobre a
necessidade de rearmar o bloco contra a ameaça russa também não são uma unanimidade e
encontram resistência de países do norte e do sul da Europa. Itália e Espanha, por exemplo, se
posicionam de forma menos convicta quanto ao esforço financeiro bilionário que os parceiros
no norte visam promover para melhorar a defesa europeia. A primeira-ministra dinamarquesa,
Mette Frederiksen, pediu que “os países um pouco mais longe” da Rússia acompanhem a
direção solicitada pelos “Estados do front”, que “possuem experiências históricas” com Moscou,
sendo acompanhada pelos governos da Estônia, Lituânia e Polônia. Pedro Sánchez, da Espanha,
disse que é preciso entender que os desafios do sul são um pouco diferentes dos que estão no
flanco oriental. O premiê pediu que o financiamento discutido pela União Europeia também seja
estendido ao combate às mudanças climáticas e à inteligência artificial no bloco. A Holanda
promete rejeitar qualquer novo plano de financiamento e empréstimos comuns europeus para
a defesa. O governo italiano discorda que a Europa possa se rearmar fora do contexto da Otan.
A Itália até concorda em enviar tropas, mas como parte de uma missão de paz liderada pela
ONU. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, sugere que a Otan alargue as proteções do
Artigo 5º à Ucrânia sem conceder a adesão à aliança.
Um exemplo da falta de consenso em torno do tema, foi a rejeição do plano apresentado
pela alta representante da Diplomacia Europeia Kaja Kallas para mobilizar até 40 bilhões de
euros para um novo apoio militar à Ucrânia. O plano não conseguiu obter a força política
necessária durante a cimeira dos líderes da UE, em 27 de março, o que compromete seriamente
a sua viabilidade. Questionado, António Costa, lembrou que os Estados-membros já tinham
prometido 15 mil milhões de euros de apoio adicional à Ucrânia e que se esperavam novos
compromissos nas próximas semanas, na sequência do pacote de rearmamento da Comissão
Europeia. "Continuamos a estudar outras formas de aumentar o nosso apoio à Ucrânia",
afirmou.
A propósito, a Comissão Europeia confirmou que vai eliminar gradualmente a expressão
"Rearmar a Europa" (ReArm Europe, em inglês) para descrever a sua iniciativa para comprar
armamento para a Europa, após a reação dos líderes de Itália e Espanha, que argumentam que
o nome é excessivamente carregado e corre o risco de alienar os cidadãos. O plano passará a
ser chamado de "Prontidão 2030", uma referência à data em que a Rússia poderia ter92 as

92
https://pt.euronews.com/my-europe/2024/10/15/chefe-dos-servicos-secretos-alemaes-diz-que-
russia-pode-atacar-paises-da-nato-ate-ao-final

210
capacidades necessárias para lançar um ataque contra um Estado membro da UE ou da Otan. O
programa específico para angariar e distribuir 150 bilhões de euros em empréstimos a juros
baixos para facilitar a aquisição de armas e munições avançadas será designado por "SAFE".
Paralelamente, a Comissão propôs também a flexibilização das regras fiscais para mobilizar até
650 bilhões de euros, alcançando um total de 800 bilhões de euros. Tanto Sanchez como Meloni,
defendem uma definição mais ampla de segurança, que inclua áreas como a “cibersegurança, a
luta contra o terrorismo, a computação quântica, a inteligência artificial e as ligações por
satélite” (Sanchez) e “a operacionalidade, os serviços essenciais, as infraestruturas energéticas,
as cadeias de abastecimento: tudo o que não se faz simplesmente com armas” (Meloni).
Neste contexto de crescentes tensões geopolíticas na Europa e no mundo, a Comissão
Europeia apelou aos Estados-Membros da UE para que preparem as suas populações para sobreviver
a futuras crises, incluindo guerras, crises sanitárias, catástrofes naturais e ciberataques. Na estratégia
apresentada, a Comissão Europeia insta os 27 Estados-Membros a garantirem que os cidadãos
disponham de um kit de emergência que lhes permita serem autossuficientes durante pelo menos
72 horas, caso fiquem sem bens essenciais. A Comissão não especificou o que deve conter um kit de
emergência, mas vários países europeus já publicaram listas de objetos essenciais para sobreviver
alguns dias sem bens de primeira necessidade. O Governo francês, por exemplo, exige carregadores,
medicamentos essenciais, garrafas de água, copos, pilhas, um rádio portátil, fotocópias de
documentos importantes (incluindo receitas médicas), bem como jogos de tabuleiro para
entretenimento. De um modo geral, um kit de sobrevivência de emergência deve também incluir
alimentos, uma lanterna, dinheiro, chaves sobresselentes, vestuário quente e ferramentas básicas,
como facas de cozinha. Tudo para ser autossuficiente sem os produtos básicos durante pelo menos
72 horas.

Figura 1. Fonte: Euronews.


Trump tenta impor a sua paz não somente à Europa e à Ucrânia, mas também à Putin.
No último episódio de suas investidas por um cessar-fogo, perdeu a paciência com o presidente
russo ameaçando taxar seu petróleo em 50% e impor sanções a países que importem petróleo
russo. Isto depois de Putin questionar a permanência de Zelenski na presidência da ucrânia,
sugerindo uma “administração transitória” liderada pela ONU. Os EUA rejeitam proposta de
Putin para governança temporária da ONU na Ucrânia. A Rússia vem reiterando que não
considera Volodymyr Zelensky presidente da Ucrânia, já que seu mandato expirou oficialmente
em maio de 2024, mas de acordo com a Constituição ucraniana, a realização de eleições
nacionais enquanto o país estiver sob lei marcial é ilegal. A irritação de Trump com a nova
exigência de Putin parece curiosa, se lembrarmos que ele próprio acusou Zelenski de carecer de
legitimidade por não ter convocado eleições com a guerra em curso. Aparentemente, Putin não
quer negociar acordo de paz com Zelenski.

211
Putin tem se declarado aberto a um cessar-fogo, mas impõe condições específicas, das
quais não abre mão. Suas condições incluem o reconhecimento da Crimeia como parte do
território russo, além do aceite de controle sobre as regiões de Donbas e Luhansk. O controle
da recém conquistada região de Kursk, no oeste da Rússia, que tem sido palco de confrontos
intensos nos últimos meses, também constitui ponto sensível para as negociações de paz. Putin
afirma que o território está sob total controle russo após recentes ofensivas. Além de
condicionar um acordo de paz à suspensão da ajuda militar ocidental à Ucrânia, Putin rejeita a
ideia da presença de tropas estrangeiras na Ucrânia, exigindo que o monitoramento do cessar-
fogo seja feito por observadores neutros, sem o envolvimento da Otan ou de forças ocidentais.
Vale lembrar que Zaporíjia, a maior usina nuclear da Europa, está sob controle russo e deve ser
objeto de grandes negociações. A Ucrânia defende que a administração da usina seja transferida
para uma autoridade internacional, enquanto Moscou quer manter o controle sobre o local
como parte de um possível acordo de paz.
Quanto ao cessar-fogo em vigor, Ucrânia e Rússia se acusam mutualmente de violar o
frágil acordo de não atacar as instalações energéticas do outro lado. Além disso, as partes têm
interpretado de forma diferente o que seria um possível cessar-fogo parcial e têm discordado
quanto aos tipos de alvos a incluir numa pausa. Enquanto os EUA afirmam que um cessar-fogo
parcial incluiria o fim dos ataques a "energia e infraestruturas", Rússia declara que o acordo se
refere mais estritamente a "infraestruturas energéticas". Recentemente, ambos os países
aceitaram interromper as hostilidades no mar Negro, garantindo a segurança da navegação,
eliminando o uso da força e impedindo o uso de navios comerciais para fins militares no Mar
Negro. Apesar das negociações, os combates continuam.
Sabemos que a Europa vem sendo fortemente impactada pela segunda gestão Trump
nos EUA. Além das negociações diretas com a Rússia excluindo a presença da Europa e da
própria Ucrânia na mesa de negociação, a Dinamarca corre o risco de perder o controle sobre a
Groenlândia. Trump vem pressionando por sua anexação, afirmando que o território é essencial
para a segurança internacional. Tanto os groenlandeses, quanto os dinamarqueses estão
resistindo. Cidadãos groenlandeses têm protestado contra a influência americana na ilha. Os
principais partidos políticos da Groenlândia divulgaram uma declaração conjunta condenando a
postura de Trump. O primeiro-ministro interino se manifestou nas redes sociais, afirmando que
a Groenlândia nunca será parte dos EUA e que os groenlandeses nunca serão americanos. Além
de ser um ponto estratégico no Ártico, o território é rico em recursos naturais. Embora tenha
autonomia em assuntos internos, suas políticas de defesa e relações exteriores são controladas
pela Dinamarca.
Recentemente, estava programada uma visita da vice primeira-dama dos EUA, Usha
Vance, esposa do vice-presidente, JD Vance, que passaria vários dias na ilha, visitando a capital
Nuuk. Havia rumores de que o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz, e o
secretário de Energia, Chris Wright, também fariam parte da visita. Como não houve convite por
parte da Groenlândia ou da Dinamarca, a visita foi considerada pelo chefe de governo interino
da Groenlândia, Mute Egede, como uma “provocação”. Os planos foram alterados e somente o
vice JD Vance e a esposa visitaram a ilha, permanecendo por apenas um dia na Base Espacial
Pituffik. O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, disse que a
mudança foi “muito positiva”.
Durante a visita, no entanto, JD Vance fez declarações consideradas ofensivas à
Dinamarca, criticando duramente sua suposta inação na Groenlândia. "Nossa mensagem para a
Dinamarca é muito simples: vocês não fizeram um bom trabalho para o povo da Groenlândia",
disse ele, acusando um baixo investimento na ilha continental. Em tom que mais parece uma
ameaça, complementou: "Acreditamos que a força militar nunca será necessária. Acreditamos

212
que os habitantes da Groenlândia são racionais e (...) que vamos chegar a um acordo ao estilo
de Donald Trump para garantir a segurança deste território e também dos Estados Unidos".
Diante da insistente cobiça, dinamarqueses e groenlandeses endureceram o tom, antes
e após a chegada do líder americano: “visitar quando não há um governo no poder não é
considerado um sinal de respeito por um aliado, disse o primeiro-ministro da Groenlândia, Jens
Frederik Nielsen, que havia acabado de apresentar o novo governo de coalização, para lidar com
a forte pressão externa. Os Estados Unidos "sabem que a Groenlândia não está à venda. Eles
sabem que a Groenlândia não quer fazer parte dos Estados Unidos. Isso foi comunicado a eles
de forma inequívoca, tanto direta quanto publicamente", reiterou Mette Frederiksen. “Estamos
abertos a críticas, mas, para ser totalmente honesto, não gostamos do tom em que foram
feitas”, declarou o chanceler dinamarquês Larks Løkke Rasmussen. “Não é assim que se fala com
aliados próximos, e ainda considero a Dinamarca e os Estados Unidos como aliados próximos”,
acrescentou. A maioria da população deseja a independência do território e rejeita qualquer
possibilidade de se tornar parte dos Estados Unidos.
Na Conferência de Segurança de Munique, a gestão Trump, por intermédio de outras
declarações polêmicas, deu sinais de interferência em assuntos internos europeus. No final do
mês de março, empresas francesas receberam uma carta e um questionário da embaixada dos
Estados Unidos na França, perguntando se possuem programas internos de combate à
discriminação. A carta da diplomacia norte-americana adverte que isso poderia impedir as
empresas franceses de trabalhar com o governo dos EUA. A reação francesa descreveu a
iniciativa como “interferência inaceitável”, alertando que a França e a Europa defenderiam “seus
valores”. Os destinatários da carta foram informados de que a "Ordem Executiva 14173",
emitida por Donald Trump em seu primeiro dia de retorno à Casa Branca para encerrar
programas que promovem a igualdade de oportunidades dentro do governo federal, "também
se aplica obrigatoriamente a todos os fornecedores e prestadores de serviços do governo
americano". "A interferência americana nas políticas de inclusão de empresas francesas, como
ameaças de taxas alfandegárias injustificadas, é inaceitável", reagiu o Ministério do Comércio
Exterior francês.
Ainda na França, Marine Le Penn, líder da extrema direita no país, é condenada à 5 anos
inelegibilidade por desvio de verbas, ficando de fora das próximas eleições presidenciais
francesas, em 2027. A Justiça francesa considerou Marine Le Pen, 8 colegas de legenda e 12
assistentes parlamentares culpados de desvio de fundos públicos europeus. Além dos 5 anos de
inelegibilidade, a pena de Le Penn prevê 4 anos de prisão. No entanto, ela não deve ir para a
prisão, já que o Tribunal Correcional de Paris permite que ela cumpra 2 anos em regime
domiciliar, com uma tornozeleira eletrônica. Já a inelegibilidade tem execução imediata.
Na Turquia, manifestações em massa multiplicam-se depois de o presidente da Câmara
de Istambul, Ekrem İmamoğlu - considerado o maior rival político do presidente Recep Tayyip
Erdogan - ter sido detido, encarcerado e acusado de corrupção. Dezenas de milhares de pessoas
desafiaram uma proibição de realização de protestos durante 4 dias e saíram às ruas, tendo sido
registados confrontos entre manifestantes e a polícia de choque turca. Embora a detenção não
o impeça de concorrer às próximas eleições presidenciais de 2028, ficará impedido de exercer
cargos políticos se for condenado pelas acusações de corrupção que lhe são imputadas.
İmamoğlu é figura popular, líder do Partido Republicano do Povo (CHP) e presidente da câmara
de Istambul desde 2019. É considerado a maior ameaça ao governo de duas décadas do
presidente Erdogan, que já cumpriu 3 mandatos como presidente, e não pode recandidatar-se
a menos que altere a Constituição.
Na Alemanha, avançam as negociações para a formação do novo governo, apesar das
diferenças entre CDU e SPD. O provável futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz,
reconhece que ainda há obstáculos a ultrapassar, mas está confiante de que vai conseguir fazê-

213
lo antes da Páscoa. Os democratas-cristãos e os sociais-democratas estão em desacordo quanto
à forma de financiar as promessas da campanha eleitoral, em especial, se haverá aumento de
impostos para as pessoas com rendimentos mais elevados ou para as empresas. Também ainda
não chegaram a um acordo sobre aposentadorias e serviço militar obrigatório. A expectativa, no
entanto, é que concessões sejam feitas de ambos os lados, tendo em vista os desafios colocados
pelas medidas econômicas de Donald Trump.
O relatório de 2025 “Vigilância e monitoramento da tuberculose na Europa”, Centro
Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) e OMS/Europa revela que crianças
menores de 15 anos representaram 4,3% das pessoas com tuberculose (TB) nova e recidivada
na Região Europeia da OMS, representando um aumento preocupante de 10% na TB pediátrica
em 2023, em comparação com o ano anterior, aumentando pelo terceiro ano consecutivo. Essas
descobertas de aumento da TB entre crianças mostram que a transmissão ainda está em
andamento, e medidas imediatas de saúde pública são necessárias para controlar e reduzir a
crescente carga da TB. As descobertas também destacam o fardo crescente da doença em
populações mais jovens, à medida que as notificações gerais de TB continuam a aumentar, com
mais de 650 casos adicionais de TB entre crianças relatados entre 2022 e 2023. Uma grande
preocupação é que para 1 em cada 5 crianças com TB na UE/EEE, não se sabe se seu tratamento
foi concluído. Essa incerteza quanto à conclusão do tratamento pode resultar em resultados de
saúde deteriorados, como o surgimento de TB resistente a medicamentos (DR-TB) e sua
transmissão posterior. Os dados mais recentes do relatório de ndicam que, embora a Região
esteja se recuperando do impacto da crise da Covid-19, os efeitos da pandemia continuam a ser
sentidos nos testes, prevenção, diagnóstico e tratamento da TB.
A OMS Europa lançou um guia para fortalecer a cibersegurança na saúde digital. O
documento, intitulado “Avaliação e fortalecimento da maturidade da privacidade e segurança
cibernética para sistemas de informação de saúde digital”, fornece uma estrutura para ajudar
países e organizações a desenvolver estratégias de avaliação de risco que se alinhem com suas
necessidades, objetivos e requisitos regulatórios específicos. O setor de saúde é um dos mais
visados por ataques cibernéticos. A Comissão Europeia contabilizou mais de 300 incidentes de
segurança cibernética em 2023 — mais do que em qualquer outro setor crítico na União
Europeia (UE). Essas violações podem resultar em perdas financeiras significativas,
comprometer a privacidade do paciente, interromper os serviços de saúde, atrasar tratamentos
e até mesmo colocar em risco a vida dos pacientes.
A crescente interconectividade dos sistemas de saúde exige uma abordagem proativa à
segurança cibernética. A orientação da OMS/Europa está disponível como um relatório da OMS
e como uma planilha. Ela descreve uma metodologia de avaliação de maturidade de segurança
e privacidade para sistemas de saúde digitais, abordando 3 aspectos críticos:
✓ Acessibilidade: garantir que os sistemas de saúde digitais sejam confiáveis, escaláveis e
disponíveis para pacientes e provedores quando necessário. A acessibilidade oferece
suporte ao atendimento contínuo e permite intervenções médicas oportunas;
✓ Privacidade: focar na proteção de informações pessoais e médicas para manter a
confidencialidade e a confiança. A privacidade é alcançada pela implementação de
medidas como criptografia de dados, anonimização e protocolos seguros de
compartilhamento de dados em conformidade com o Regulamento Geral de Proteção
de Dados (um regulamento da UE sobre privacidade de informações na UE e na Área
Econômica Europeia) e outras leis de privacidade relevantes; e
✓ Governança: estabelecer uma estrutura forte para supervisionar a qualidade dos dados,
a segurança do paciente, a eficácia do tratamento, a conformidade regulatória e o

214
gerenciamento contínuo de riscos. A governança eficaz garante responsabilidade,
transparência e melhoria contínua dos sistemas de saúde digitais.
Por fim, a OMS Europa lançou o primeiro centro colaborador em comunicação de risco,
envolvimento da comunidade e gestão de infodemias (RCCE-IM na sigla em inglês). Abrigado na
Kristiania University of Applied Sciences na Noruega, o novo CC conduzirá pesquisas de alta
qualidade para ajudar autoridades nacionais e profissionais de saúde no local a projetar
intervenções RCCE-IM oportunas e eficazes durante emergências de saúde, durante 4 anos. A
nova estratégia e plano de ação da OMS Europa para emergências de saúde, Preparedness 2.0,
destaca a necessidade de colocar as comunidades no centro da resposta de emergência. O
centro em Kristiania contribuirá:
✓ desenvolvendo ferramentas de resposta rápida válidas e confiáveis para garantir que os
profissionais obtenham, tempestivamente, as informações necessarias para melhorar
as intervenções RCCE-IM baseadas em evidências;
✓ fornecendo soluções digitais inovadoras para agilizar o fluxo de informações e a
colaboração entre especialistas em saúde pública e acadêmicos para estratégias
aprimoradas de RCCE-IM;
✓ promovendo pesquisas conduzidas pela comunidade para aprimorar estratégias de
engajamento e adaptar intervenções a diferentes populações; e
✓ apoiando a capacitação de profissionais de RCCE-IM em todos os países para garantir
que as autoridades de saúde estejam bem equipadas para implementar estratégias
eficazes.
Considerações Finais

Apesar da abertura ao diálogo, inaugurada pela segunda gestão de Trump nos EUA,
poucos avanços têm sido notados na busca por um real cessar-fogo na guerra da Ucrânia.
Aparentemente, Trump achou que fosse fácil e que resolveria o problema em alguns dias, mas
sua paciência parece dar sinais de esgotamento. Putin não renuncia a nenhuma de suas
condições e todas elas dizem respeito à Europa, que está fora da mesa de negociação, correndo
por fora, como pode. Putin quer a retirada de sanções europeias, mas como fazê-lo sem a
Europa? Putin não reconhece o governo de Zelenski como legítimo e agora quer uma nova
governança na Ucrânia para alcançar um acordo de paz. Trump, por sua vez, parece aceitar todas
as condições de Putin e pretende “cobrar” todo o investimento feito na guerra, por intermédio
de um acordo de minerais raros com a Ucrânia, cujas condições mudam constantemente. Fato
é que um cessar-fogo pleno ainda parece distante do front. Está o futuro da Ucrânia fadado a
uma divisão entre EUA e Rússia?

215
Igualdade de Gênero ainda tem muitos desafios na Ásia e região MENA

Lúcia Marques
Bárbara Nogueira

Em maio de 1988, Alejandra Arévalo se tornou a


primeira geóloga a entrar em uma mina subterrânea
no Chile. Ao fazer isso, ela desafiou um mito popular:
que uma mulher traz má sorte ao se aventurar em
uma mina. Ela também infringiu a lei.93

Resumo: Com a conclusão do mês de março e inspiradas pelas reflexões sobre os direitos das
mulheres, a oportunidade de destacar o papel transformador da participação feminina nos
processos decisórios políticos, especialmente em contextos de guerra, mediação de conflitos e
reestruturações pós-guerra, não poderia ser desperdiçada. O informe traz alguns dos marcos
históricos para a igualdade de gênero, para o empoderamento feminino e o papel da mulher
para Paz e Segurança e para a proteção ambiental. Apresenta dados do relatório sobre
desigualdade de gêneros, olhando para as regiões da Ásia e MENA e a estratégia dos
Laboratórios de Inovação de Gênero do Banco Mundial. E pode-se observar a estagnação e às
vezes retrocesso no último ano. Pelo lado positivo, destaca as iniciativas bem sucedidas da Arábia
Saudita cujas mulheres, em curto tempo, já representam 36,2% da força de trabalho;
entendendo que a mulher é vital na transformação econômica, o país vem buscando influenciar
outros países islâmicos ou não, árabes ou não, realizando conferências e reuniões envolvendo
governos, pesquisadores e instituições públicas e privadas. Pelo mundo, embora haja alguns
casos de sucesso, o machismo ainda é muito enraizado e a realidade continua muito distante do
que preconiza a lei. É preciso entender e valorizar o papel da mulher nos processos de paz e nas
questões ambientais. Ambos os casos revelam que mulheres não são meras vítimas a serem
protegidas, mas agentes ativas capazes de reinventar sistemas e propor alternativas aos modelos
vigentes.

Palavras chaves: Igualdade de Gênero; marcos históricos; oportunidades e desafios; Arábia


Saudita

Abstract: With the month of March coming to an end and inspired by reflections on women's
rights, the opportunity to highlight the transformative role of female participation in political
decision-making processes, especially in contexts of war, conflict mediation and post-war
restructuring, could not be missed. The report highlights some of the historical milestones for
gender equality, female empowerment and the role of women in Peace and Security and
environmental protection. It presents data from the report on gender inequality, looking at the
Asia and MENA regions and the strategy of the World Bank's Gender Innovation Labs. And one
can observe the stagnation and sometimes regression in the last year. On the positive side, the
successful initiatives of Saudi Arabia stand out, where women, in a short period of time, already
represent 36.2% of the workforce; Understanding that women are vital in economic
transformation, the country has been seeking to influence other countries, Islamic or not, Arab
or not, holding conferences and meetings involving governments, researchers and public and

93
Intímpe Gill e Chá Trumbic em Quando as mulheres ganham, o mundo vence, 2024.

216
private institutions. Around the world, although there are some successful cases, sexism is still
deeply rooted and reality remains far from what the law advocates. It is necessary to understand
and value the role of women in peace processes and environmental issues. Both cases reveal that
women are not mere victims to be protected, but active agents capable of reinventing systems
and proposing alternatives to current models.

Key words: Gender Equality; historical milestones; opportunities and challenges; Saudi Arabia

Com a conclusão do mês de março e inspiradas pelas reflexões sobre os direitos das
mulheres, a oportunidade de destacar o papel transformador da participação feminina nos
processos decisórios políticos, especialmente em contextos de guerra, mediação de conflitos e
reestruturações pós-guerra, não poderia ser desperdiçada.

Após o fim da Guerra Fria, na década dos anos 90, esse debate ganhou força, quando a
comunidade internacional começou a repensar os conceitos tradicionais de segurança e integrar
o conceito de Segurança Humana. Neste cenário de transição, movimentos feministas e
organizações da sociedade civil emergiram como vozes cruciais, exigindo não apenas um assento
à mesa de negociações, mas uma reestruturação completa dos mecanismos de tomada de
decisão em matéria de paz e segurança94.

Sob esse contexto, a Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU sobre Mulheres,
Paz e Segurança (2000) se tornou um marco histórico ao reconhecer formalmente que a exclusão
das mulheres dos processos de paz não era apenas uma questão de desigualdade de gênero,
mas uma falha estratégica que comprometia a eficácia e a sustentabilidade dos acordos
políticos95. Ao trazer essa perspectiva, os movimentos femininos desafiaram a visão tradicional
de que segurança se resume a fronteiras e armamentos, insistindo que a verdadeira paz só é
possível quando inclui e protege todas as vozes da sociedade - especialmente aquelas mais
afetadas pelos conflitos, mas historicamente marginalizadas nas soluções.

Essa resolução deu origem à Agenda Mulheres, Paz e Segurança (WPS), composta por
nove resoluções subsequentes que buscam integrar perspectivas de gênero em todas as fases
de prevenção, gestão e resolução de conflitos. Vinte e quatro anos depois, seu legado foi
revisitado durante a 69ª Sessão da Conferência Internacional WPS96, realizada de 28 a 30 de
outubro de 2024 em Manila, Indonésia. Sob o tema "Forjando Colaboração e Convergência para
Avançar Mulheres, Paz e Segurança", o evento congregou governos, sociedade civil, academia e
especialistas em um balanço crítico dos progressos alcançados e dos desafios persistentes. Como
destacado no portal oficial da conferência, o encontro serviu como uma plataforma para
avaliação do progresso feito na implementação da agenda e de políticas adotadas por diferentes
países.

Outro marco histórico é a Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim que estabelece


uma agenda para a promoção da igualdade de gênero e do empoderamento das mulheres. Foi
adotada na IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as Mulheres, realizada em Pequim,
em Setembro de 1995. Considerado o modelo mais progressista de todos os tempos para o
avanço dos direitos das mulheres, a Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim contêm

94
The Story of Resolution 1325 | Women, Peace and Security;
95
20 Anos da Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU e a liderança das mulheres defensoras
de direitos humanos para a construção da paz e da segurança.;
96
International Conference on Women, Peace, and Security 2024: Forging Collaboration and Convergence
for Advancing Women, Peace, and Security

217
documentos específicos com objetivos estratégicos focando 12 áreas de ação, chamadas de
“áreas críticas de preocupação”, dentre elas, trabalho e economia, participação política, paz,
meio ambiente, erradicação da violência contra as mulheres e outras. Esses objetivos visam
incidir diretamente sobre a legislação e as políticas públicas nos países-membros. E devem ser
revisados a cada cinco anos.

A Declaração e Plataforma de Ação de Pequim completou 30 anos. Durante a 69ª sessão


da Comissão sobre o Status da Mulher (CSW69/Beijing+30), que aconteceu entre os dias 10 e 21
de março, os Estados-Membro adotaram, por consenso, uma declaração política para respeitar,
proteger e promover os direitos, a igualdade e o empoderamento de mulheres e meninas. A
CSW69 abordou a revisão e avaliação da implementação da Plataforma de Ação de Pequim. Entre
os progressos, destaque para as 1.586 leis contra a violência de gênero, em 193 país, e 112 Planos
de Ação Nacionais para empoderamento feminino e sobre Mulheres, paz e segurança. Entre os
desafios, a avaliação aponta que as múltiplas crises e o aumento de conflitos atingiram, só em
2023, mais de 612 milhões de mulheres e meninas e mais de 158,3 milhões foram empurradas
para a pobreza até 2050; a redução da mortalidade materna foi impactada com a suspensão das
ações, principalmente em países mais pobres e atingidos por conflitos; também em função das
crises, a violência contra mulheres e meninas deu pouco sinal de diminuição – estamos vendo
acontecer na Ucrânia, em Gaza e Cisjordânia e no Sudão, por exemplo.97

Em tempos de agravamento das crises climáticas e as consequências para mulheres e


meninas, relembramos também o Movimento Chipko98, surgido na Índia nos anos 1970. O
Chipko representa um marco histórico na luta pelos direitos ambientais e de gênero. Liderado
por mulheres rurais como Gaura Devi, que literalmente abraçavam árvores para impedir o
desmatamento, este movimento de resistência pacífica demonstrou como a ação coletiva
feminina pode desafiar estruturas de poder estabelecidas e gerar mudanças profundas. Assim
como a Agenda WPS busca incluir mulheres em processos de paz, o Chipko mostrou que sua
participação em causas aparentemente distantes, como a defesa ambiental, pode ter impactos
políticos e sociais transformadores. Ambos os casos revelam que mulheres não são meras
vítimas a serem protegidas, mas agentes ativas capazes de reinventar sistemas e propor
alternativas aos modelos vigentes. As mulheres das aldeias indianas, ao protegerem as florestas,
estavam também protegendo sua segurança alimentar, saúde e meios de subsistência -
elementos fundamentais da segurança humana que a Agenda WPS busca promover.

O legado do Chipko reforça a premissa central da Agenda WPS: a participação plena e


significativa das mulheres não é apenas uma questão de justiça de gênero, mas uma condição
essencial para a construção de sociedades mais seguras, sustentáveis e pacíficas. Como o
movimento indiano demonstrou, quando as mulheres têm espaço para liderar, elas não apenas
protegem seu presente, mas moldam um futuro mais justo para todas e todos.

Nas nações árabes, a implementação enfrenta desafios estruturais profundos, segundo


o Policy Paper sobre WPS no Mundo Árabe99, publicado pela Rede de Organizações da Sociedade
Civil e Feministas dos Estados Árabes100. Embora países como Iraque, Palestina, Tunísia e Jordânia
tenham adotado Planos de Ação Nacionais (NAPs), sua efetividade tem sido limitada por uma

97
30 anos da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim – Por Que Isso Importa para a Igualdade de
Gênero
98
50 anos depois: o legado do movimento Chipko da Índia.
99
Policy Paper sobre WPS na Região Árabe;
100
https://arabcsosfeminist.org/en/page/about-us.

218
combinação de fatores, como: a falta de vontade política, recursos insuficientes e estruturas
patriarcais enraizadas, ou violações sistemáticas de direitos humanos. No caso da Palestina, o
último exemplo de fatores somado às ocupações israelenses cria barreiras sólidas contra a
participação significativa das mulheres nos processos de paz. Em contraste, a região da ASEAN
demonstrou progressos notáveis101, com as Filipinas sendo o primeiro país asiático a adotar um
NAP em 2010, seguido por Indonésia, Tailândia e outros que integraram a perspectiva de gênero
em suas políticas de segurança nacional. Esta diferença de implementação revela como
contextos políticos e culturais distintos exigem abordagens adaptadas para garantir a efetividade
da Agenda WPS.

Além das questões culturais e políticas, crises econômicas, climáticas, desastres naturais
e conflitos, ao longo do último ano, contribuíram para a não-evolução - ou até mesmo para
retrocessos – na paridade de gênero de muitos países, principalmente na Ásia, Oriente Médio e
África. No entanto, contrariando o cenário negativo, várias iniciativas com diferentes focos, mas
com o mesmo objetivo de alcançar a igualdade de gênero, de facilitar o empoderamento
feminino e capacitação, proteção das mulheres e meninas em situação de violência e
vulnerabilidade, como conflitos e migrações, seguiram em andamento ao longo do último ano.

E as organizações da sociedade civil têm desempenhado papel crucial em ambas as


regiões, pressionando governos e preenchendo lacunas deixadas pelas políticas oficiais102. Bons
progressos têm acontecido em relação ao reconhecimento do papel desenvolvido por essa
metade da população mundial, no entanto, persistem desafios comuns, como a tendência de
reduzir a participação feminina a um exercício simbólico ou a dificuldade em garantir recursos
específicos para iniciativas relacionadas à Agenda WPS. Por exemplo, estudos e revisões de
evidências já mostraram que empoderamento econômico evita violência e casamento infantil e
contribui para alcançar os direitos da mulheres e meninas.103

Um exemplo é a iniciativa de financiamento para mulheres empreendedoras, parceria


entre a ong WE-FI (Women Entrepreneurs Finance Initiative), governos e bancos multilaterais104
de desenvolvimento e outras partes interessadas dos setores público e privado, hospedada pelo
Grupo Banco Mundial. Os programas e projetos do WE-FI apoia mulheres empreendedoras,
ampliando o acesso a produtos e serviços financeiros, capacitando, expandindo redes,
oferecendo mentores e oferecendo oportunidades de conexão com os mercados doméstico e
global.105

101
Plano de Ação Regional da ASEAN sobre Mulheres, Paz e Segurança, Status of the implementation of
the WPS agenda in the region: progress, challenges and opportunities, p. 16.
102
Banco de dados sobre planos de ação nacionais por região desenvolvido pela Liga Internacional de
Mulheres pela Paz e Liberdade;
103
Laboratório de Inovação de Gênero do Sul da Ásia
104
Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Asiático de Desenvolvimento, o Banco Europeu de
Reconstrução e Desenvolvimento, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID Invest, a
Corporação Financeira Internacional, o Grupo Banco Islâmico de Desenvolvimento e o Banco Mundial
(Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, e a Associação Internacional de
Desenvolvimento)
105
Iniciativa de Financiamento de Mulheres Empreendedoras | Iniciativa de Financiamento de Mulheres
Empreendedoras

219
Boa parte dos projetos aprovados (43%) foram para países
da África Subsaariana, incluindo: Camarões, Costa do Marfim,
Gana, Quênia, Mali, Moçambique, Nigéria, Senegal, Tanzânia e
Zâmbia. Cerca de 26% do financiamento foi investido no sul da Ásia,
incluindo Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka. Cerca de 20%
dos fundos foram distribuídos na região do Oriente Médio e Norte
da África, e o valor restante apoiou compromissos no Leste Asiático
e Pacífico, Europa e Ásia Central e América Latina e Caribe. Os
projetos apoiados pelo Banco Asiático de Desenvolvimento estão
em Fiji, Micronésia, Papua Nova Guiné, Sri Lanka e Vietnã. O Banco
Islâmico de Desenvolvimento atua em Bangladesh, Burkina Faso, Guiné, Niger, Nigéria, Senegal,
Serra Leoa e no Yemen.106 Um relatório, cobrindo o período de 1º de julho de 2023 a 30 de junho
de 2024, destaca as histórias inspiradoras de mulheres empreendedoras e os diversos projetos
apoiados pela WE-FI.

Embora a igualdade de gênero seja um poderoso motor do desenvolvimento


econômico107, como apontado em vários relatórios sobre o tema, esses mesmo estudos mostram
que não basta buscar a igualdade através das leis. Como escrevem Intímpe Gill e Chá Trumbic,
em artigo no blog do Banco Mundial:
“O que precisamos são conjuntos abrangentes de políticas e instituições – bem
como uma transformação das normas culturais e sociais em muitos países –
para capacitar as mulheres a se tornarem trabalhadoras, empreendedoras e
líderes de sucesso. Isso significa mecanismos de fiscalização mais fortes para
combater a violência no local de trabalho, provisões práticas para serviços de
creche e acesso mais fácil a serviços de saúde para mulheres que sobrevivem
à violência.”

Como já havia apontado o relatório do Banco Mundial, em março de 2024108, são as


políticas que permitem que as mulheres permaneçam empregadas sem sofrer retrocessos na
carreira, ajudam a diminuir a diferença salarial entre homens e mulheres e reconfiguram os
papéis e atitudes de gênero relacionados ao local de trabalho e às tarefas domésticas. E à medida
que mais mulheres ascendem a posições de liderança, elas inspiram novas gerações de meninas
a atingir todo o seu potencial.

Essa foi a escolha que a Arábia Saudita fez para superar décadas de atraso – de 2017 à
2024 deu um salto em direitos e liberdade através de leis, mas principalmente através de
políticas, no âmbito da Visão 2030, que insere a força feminina para contribuir com
fortalecimento das atividades econômicas do país e diversificação da economia. Hoje, as
mulheres representam 36% da força de trabalho – um progresso significativo, considerando que
até 2018 não podiam dirigir e hoje dirigem trens, tratores e taxis, por exemplo, embora muito
ainda há que ser feito, como destacou o representante permanente da Arábia Saudita na ONU,

106
No Yemen, país devastado por 10 anos de guerra civil, o projeto, denominado BRAVE, se concentra nos
seguintes componentes: construir a resiliência do negócio através da capacitação; proporcionar a
recuperação das empresas e o apoio financeiro às mulheres empresárias; construir a resiliência das
cadeias de valor no país; criação da plataforma BRAVE IT para melhorar a interação com os
empreendedores. O projeto já impactou mais de 1.400 mulheres empreendedoras de cinco grandes
províncias do país do Golfo. https://www.we-fi.org/project/empowering-brave-women-in-yemen/
107
https://vimeo.com/1029770886
108
Marques, L. Mulheres na Força de Trabalho na Ásia e Região Mena. In: Cadernos CRIS-Fiocruz Informe
3-2024. P. 173-185.

220
Abdulaziz Alwasil, em evento paralelo, durante a 69a sessão da Comissão das Nações Unidas
sobre o Status da Mulher.109

Bangladesh fez o oposto. Mesmo tendo um Ministério dos Assuntos das Mulheres e da
110
Criança , a paridade econômica de gênero se deteriorou no últimos cinco anos e no último ano
caiu 40 posições no ranking de igualdade de gênero, passando a ocupar 139º lugar, segundo o
relatório Global sobre Desigualdade de Gênero 2024, do Fórum Econômico Mundial. Embora o
lema do ministério seja “Para todas as Mulheres. Direitos. Igualdade. Empoderamento”, não foi
o que aconteceu. Há contradições entre as leis e as políticas. Por exemplo: o Plano de Ação 2018-
2030 para acabar com o casamento infantil perde razão de existir quando uma lei permite o
casamento infantil, mediante solicitação. Um relatório da UNICEF de 2019, aponta Bangladesh,
dentre os países do Sul da Ásia111, com maior taxa de casamento de meninas entre 12 e 18
anos.112 O que esperar do regime de Hasina113, autoritarista, marcado por perseguições, pela
prisão em massa de oponentes políticos e sanções de direitos humanos?114

Dentre as várias iniciativas que visam fazer cumprir as leis e regulamentos de igualdade
de oportunidades e introduzir intervenções de qualificação, preenchendo lacunas e promovendo
a adoção de políticas e programas eficazes de gênero, como foco no empoderamento feminino
para alcançar a paridade de gênero, é a estratégia do Banco Mundial115. São os Laboratórios de
Inovação de Gênero (GIL, em inglês): Laboratório de Inovação de Gênero da África; Laboratório
de Inovação de Gênero do Oriente Médio e Norte da África; Laboratório de Inovação de Gênero
do Sul da Ásia; Laboratório de Inovação de Gênero na América Latina e no Caribe. Os laboratórios
visam buscar ideias inovadoras para gerar evidências rigorosas e criar intervenções inteligentes
para informar a concepção e implementação de políticas e programas relacionados a gênero nas
diferentes regiões, cada uma com sua especificidade. Por exemplo, no Sul da Ásia, onde o
casamento infantil é uma realidade comum, o empoderamento feminino pode ter efeitos diretos
na prevenção.116 Outro exemplo da importância de atuação dos GILs está na região MENA
(Oriente Médio e Norte da África), onde quatro em cada cinco mulheres em idade ativa não têm
emprego e cerca de um terço das mulheres não estão conectadas. Embora o MENA esteja
próximo da paridade de gênero nos resultados de educação e saúde, ainda existem lacunas no
emprego, ganhos, propriedade financeira e imobiliária, mobilidade, uso digital e acesso acessível
e aquisição de habilidades sociais, como tomada de decisão e liderança.117 E é a região que mais
vive conflitos, movimentos migratórios, por conflito ou eventos climáticos e, consequentemente,
pobreza.

109
https://www.arabnews.com/node/2593248/saudi-arabia
110
http://mowca.gov.bd/
111
Afghanistan, Bangladesh, Bhutan, India, Maldives, Nepal, Pakistan, and Sri Lanka.
112
World Bank Document , p.2.
113
Sheikh Hasina, primeira-ministra de Bangladesh por 15 anos até renunciar em agosto de 2024. Foi
saudada por liderar o progresso econômico do país, em grande parte graças à força de trabalho fabril, em
sua maioria feminina, que impulsiona seu setor de exportação de vestuário. Mas, após cinco mandatos,
se tornou autocrática e promoveu repressões às oposições – o índice de liberdade de imprensa chegou a
ser menor que a Rússia.
114
O estupro de uma menina de oito anos pelo cunhado de 18 anos provocou protesto em todo
Bangladesh. Além da prisão, manifestantes exigiram que o governo acelere a justiça para as vítimas de
estupro e reforme as leis relacionadas à segurança de mulheres e crianças.
115
A Estratégia de Gênero do GBM para 2024-30 propõe “a ousada ambição” de acelerar a igualdade de
gênero para acabar com a pobreza em um planeta habitável.
116
Investigação
117
Laboratório de Inovação de Gênero do Oriente Médio e Norte da África (MNAGIL)

221
Relatório Global sobre Desigualdade de Gênero 2024 do Fórum Econômico Mundial

Anualmente, no mês de março, o Banco Mundial lança o relatório sobre Mulheres,


Negócios e Direito, que apresenta o desempenho de 190 economias quanto à presença feminina
nos seus respectivos mercados. No relatório de março de 2024, os indicadores para avaliação
envolveram as políticas e planos ação, para além das leis. E isso mostrou diferença nos
resultados.118 Mas, neste março, a equipe não publicou o relatório, adiando para março de
2026.119

Mas o relatório Global sobre Desigualdade de Gênero, do Fórum Econômico Mundial,


lançado no segundo semestre do 2024, nos ajuda na atualização de dados sobre a diferença de
gênero em 146 países. E os dados são desanimadores. As estatísticas mostraram uma ínfima
redução de 0,1% na desigualdade. A falta de mudanças significativas generalizadas mostra que,
com bases nos dados, levará 134 anos para atingir paridade total – cerca de cinco gerações.120

O relatório agrupa os países em oito regiões. A região com a maior pontuação de


paridade de gênero é a Europa (75%), seguida de perto pela América do Norte (74,8%) e América
Latina e Caribe (74,2%). O segundo grupo inclui três regiões com pontuações pouco abaixo de
70%: Ásia Oriental e Pacífico (69,2%), Ásia Central (69,1%) e África Subsaariana (68,4%). O
grupo final inclui duas regiões restantes que fecharam cerca de dois terços de sua lacuna de
gênero: Sul da Ásia, com uma pontuação de 63,7%, e Oriente Médio e Norte da África, com uma
pontuação de 61,7%.

Os dados confirmam que as nações com alto índice de IDH e de desenvolvimento


econômico continuam a ocupar os primeiros lugares. No TOP 10 global, sete são economias
europeias: Islândia, Finlândia, Noruega, Suécia, Alemanha, Irlanda, Espanha. Os outros três são
Nova Zelândia , Nicarágua e Namíbia. Entre os mais populosos, subiram no ranking China, para
106º; Japão para 118º; Nigéria para 125º; Vietnã para 72º - superior à média da região. Países
que enfrentam queda nos índices: Filipinas para 25ª posição; Paquistão, 145º; Egito, 135º; Índia,
129º; Indonésia, 100º e Etiópia, 79º. Mas o país que registrou a maior perda de posição foi
Bangladesh, que em um ano perdeu 40 posições, de 99º para 139º. Nessa escala, para efeito de
comparação, os EUA ocupam a posição 43 e o Brasil, a 70ª posição.

Com mais da metade da população abaixo de 30 anos, o Oriente Médio e Norte da África
(MENA) poderia colher frutos da demográfico se conseguisse superar o maior obstáculo que
limita seu crescimento: uma taxa de desemprego de 42,5% entre mulheres árabes, o triplo da
média global. Há uma lacuna de emprego em toda a região que persiste apesar do progresso na
alfabetização e educação das mulheres. Embora lentamente, o relatório mostra que a
representação das mulheres na força de trabalho está evoluindo – a paridade de gênero em
funções técnicas e profissionais é superior a 70% em sete economias (Marrocos, Sudão, Tunísia,
Argélia, Kuwait, Líbano e Israel) e superior à média global (40,5%) em Omã (43,3%), Israel (46,7%)
e Jordânia (90,3%) para mulheres em cargos legislativos, oficiais seniores e gerenciais.

118
Ver em Marques, L. Mulheres na Força de Trabalho na Ásia e Região Mena. In: Cadernos CRIS-
FiocruzInforme 3-2024. P. 173-185.
119
https://wbl.worldbank.org/en/wbl
120
https://www.weforum.org/publications/global-gender-gap-report-2024/digest/

222
Arábia Saudita lidera as iniciativas regionais para paridade de gênero na região Árabe

O representante saudita na ONU, Abdulaziz Alwasil, participou de um evento paralelo de


alto nível durante a 69ª sessão da Comissão da ONU sobre Status da Mulher, em fevereiro.121 A
reunião “Da Visão à Realidade: História do Empoderamento das Mulheres da Arábia Saudita”
teve como objetivo “lançar luz sobre as políticas e iniciativas que impulsionaram a participação
das mulheres no mercado de trabalho e promoveram seus papéis em diversos campos, como
tecnologia, inovação e energia renovável.”122 Alwasil falou sobre os avanços transformadores do
Reino no avanço da igualdade de gênero e no empoderamento das mulheres em vários setores
e enfatizou a importância de criar ambientes de trabalho flexíveis que apoiem as ambições
acadêmicas e profissionais das mulheres. Ele destacou a importância de expandir as
oportunidades nos setores tradicionais. A Arábia Saudita está pressionando pelo envolvimento
das mulheres em campos não tradicionais, como tecnologia, segurança cibernética e energia
renovável – setores-chave que se alinham com as ambições nacionais do país e as demandas em
evolução da economia global. Segundo o representante saudita, as mulheres são parceiras e
agentes vitais de mudança, impulsionando mudanças sociais positivas que vão desde o
crescimento econômico e a justiça social até a construção da paz.

Com essa visão, Arábia Saudita organizou e sediou a segunda edição do Global Labour
Market Conference, uma conferência que reúne pesquisadores, economistas, empreendedores
e autoridades institucionais e governamentais de mais de uma centena de países para debater
os desafios do mercado de trabalho como desigualdade de gênero, desemprego entre jovens e
50+, desenvolvimento de habilidades e, principalmente, o impacto da tecnologia nesse setor,
principalmente da inteligência artificial. O evento aconteceu durante três dias, em final de
janeiro e contou com mais de cinco mil participantes do mundo todo, mais de 200 palestrantes
que discutiram seis pilares: habilidades para sempre; produtividade em recuperação, juventude
em apuros; ganha-ganha de uma força de trabalho móvel; crescimento de empregos verdes para
uma economia justa e PMEs e novos modelos de trabalho criadores de empregos. Ver programa.

O Global Labour Market Conference não é apenas um reunião; transformou-se em uma


plataforma que reúne conhecimento, realiza pesquisas, produz relatórios e análises. O paper
“Criando locais de trabalho inclusivos: impulsionando a inovação e a igualdade” apresenta a
vantagem estratégica de se criar um local de trabalho inclusivo e a importância de promover a
cultura da inclusão: maior inovação, melhor engajamento dos funcionários, menor rotatividade,
maior satisfação do cliente e uma reputação para longo prazo. Um outro artigo fala sobre a
importância da participação feminina na força de trabalho no Oriente Médio e Norte da África e
relata a experiência da Arábia Saudita, que promoveu reformas legais e institucionais, publicou
diretrizes e implementou várias iniciativas e políticas.

Como destacou o representante saudita na ONU, Alwasil, “as mulheres são parceiros
críticos na jornada em direção a um futuro próspero”. Ele reconheceu que os desafios são
persistentes, especialmente em zonas de conflito. Embora tenha havido progressos, as crises
aceleram um declínio preocupante, segundo ele.

Considerações Finais

Há um longo caminho pela frente. Em todo o mundo. O Brasil ocupa a posição 70 no


ranking mundial, que avalia participação e oportunidade econômica, saúde e sobrevivência,

121
https://www.arabnews.com/node/2593248/saudi-arabia
122
https://www.arabnews.com/node/2593248/saudi-arabia

223
empoderamento político e escolaridade – está bem abaixo das Filipinas, da Austrália, Tailândia,
Guiana, Peru, Zimbabwe, Servia ou Tanzânia, por exemplo.

“O machismo ainda é muito enraizado, e a realidade continua muito distante do que


preconiza a lei”123. Além disso, as perspectivas econômicas para mulheres e meninas são
ameaçadas pelas contínuas crises e pelas crises prolongadas. Embora a adoção de políticas
econômicas para promover a igualdade de gênero tenha aumentado em geral, em todas as
regiões há grandes diferenças não apenas na adoção, mas também na implementação. Mesmo
que muito lentamente, os esforços de negócios para melhorar a paridade de gênero estão
ganhando impulso na América Latina e Ásia Oriental. Na região MENA, continua baixa e
estagnada.

Em um mundo que vive múltiplas crises, uma grave instabilidade geopolítica e um


aumento de lideranças conservadoras e radicais, corre-se o risco de se ver a estagnação da
evolução na paridade de gênero ao redor do mundo, não só na Ásia e no MENA.

123
Gisela Lopes, presidente do Conselho de Comércio Varejista da Fecomercio em
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=ia3DkZilsOI

224
Sul Quântico
Quantum South
André Costa Lobato

Abstract. Chinese scientists achieved quantum-secured communication with South Africa,


setting a milestone for global digital security. On March 26, Chinese and Indian officials met in
Beijing and agreed to implement the consensus reached between Xi Jinping and Narendra Modi
during the 2024 BRICS summit in Kazan, strengthening exchanges and cooperation in
multilateral forums like the Shanghai Cooperation Organization. On March 14, China, Russia,
and Iran’s deputy foreign ministers met and issued a joint statement against unilateral sanctions
and reaffirmed Iran’s peaceful nuclear intentions. From March 23–24, the China Development
Forum brought together over 100 countries to discuss innovation, green transition, financial
reform, and globalization. Premier Li Qiang emphasized multilateralism, while Dilma Rousseff
was reappointed to lead the New Development Bank. On the healthcare front, a study revealed
that China’s lower-middle class and married individuals lack trust in the system due to high out-
of-pocket costs.

Keywords. China-India, Economic Forum, Middle Class and Healht

Resumo. A China realizou comunicação quântica segura com a África do Sul, marcando avanço
na segurança digital. No dia 26, autoridades da China e da Índia reuniram-se em Pequim e
concordaram em implementar os consensos estabelecidos por Xi Jinping e Narendra Modi
durante a cúpula dos BRICS de 2024 em Kazan, reforçando o multilateralismo e a cooperação
regional. Já em 14 de março, vice-ministros da China, Rússia e Irã emitiram comunicado contra
sanções unilaterais e reafirmaram o caráter pacífico do programa nuclear iraniano. Nos dias 23
e 24, o Fórum de Desenvolvimento da China reuniu representantes de mais de 100 países para
debater inovação, transição verde, reforma financeira e globalização. Li Qiang defendeu o
multilateralismo e Dilma Rousseff foi reeleita para o Novo Banco de Desenvolvimento. Na área
da saúde, pesquisa apontou desconfiança da classe média-baixa no sistema, apesar da ampla
cobertura.

Palavras-chave. China-Índia, Fórum Econômico, Classe média e saúde

Diplomática

Em 26 de março de 2025, China e Índia realizaram consultas diplomáticas em Pequim


em clima construtivo. Representantes dos dois países concordaram em implementar os
consensos entre Xi Jinping e Narendra Modi em Kazan, promovendo intercâmbios em diversos
níveis, retomada de voos diretos, trocas de jornalistas e facilitação de viagens124.
Comprometeram-se ainda a gerenciar adequadamente questões sensíveis e a fortalecer a

124
China and India Hold Consultations between Officials of Foreign Ministries_Ministry of Foreign Affairs
of the People’s Republic of China [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.fmprc.gov.cn/eng/xw/wjbxw/202503/t20250328_11583676.html

225
cooperação em mecanismos multilaterais como a Organização de Cooperação de Xangai,
defendendo o multilateralismo e os interesses do Sul Global. Xi e Modi fizeram uma reunião
bilateral em Kazan, na Rússia, durante encontro dos Brics em outubro passado125. Na segunda
semana deste março, os três países realizaram exercícios militares marítimos.126

Em Pequim, os vice-ministros de relações exteriores de China, Rússia e Irã se


encontraram em 14 de março de 2025 e publicaram um comunicado. O texto fala da
“necessidade de encerrar todas as sanções unilaterais ilegais” e que China e a Rússia saudaram
a reiteração do Irã de que seu programa nuclear é exclusivamente para fins pacíficos e não para
o desenvolvimento de armas nucleares127.

O Fórum de Desenvolvimento da China 2025128, realizado em Pequim nos dias 23 e 24


de março, reuniu autoridades chinesas, líderes empresariais e especialistas de mais de 100
países. Com o tema “Liberar totalmente o potencial do desenvolvimento e promover o
crescimento econômico global estável”, o evento discutiu 12 temas estratégicos, incluindo
inovação tecnológica, transição verde, reforma financeira e os desafios da globalização. A
participação recorde de empresas multinacionais refletiu o interesse crescente no mercado
chinês. Durante o fórum, representantes do governo chinês enfatizaram o compromisso com o
desenvolvimento de alta qualidade como forma de lidar com a instabilidade externa. O premiê
Li Qiang defendeu o multilateralismo e criticou o protecionismo, reforçando a abertura do
mercado chinês e a importância de preservar cadeias globais. O presidente da BMW esteve
presente e criticou as tarifas europeias para os carros elétricos chineses. Debates também
abordaram a inteligência artificial, a transição energética e a necessidade de reformas
financeiras para prevenir riscos internos e impulsionar a internacionalização do yuan. A
presidenta Dilma Rousseff, do Novo Banco de Desenvolvimento, esteve presente no evento e
foi anunciada sua reeleição para presidir o banco por mais cinco anos.

China, Coreia do Sul e Japão realizaram, em 30 de março de 2025129, seu primeiro diálogo
econômico em cinco anos, em resposta à iminente imposição de novas tarifas comerciais pelo
presidente dos EUA, Donald Trump. Os ministros do Comércio dos três países concordaram em
avançar nas negociações para um acordo de livre comércio trilateral e fortalecer a
implementação da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP), da qual todos fazem parte.
As nações também decidiram cooperar mais estreitamente em cadeias de suprimentos,
comércio de semicondutores e controles de exportação. A medida foi interpretada como uma

125
President Xi Jinping Meets with Indian Prime Minister Narendra Modi_Ministry of Foreign Affairs of
the People’s Republic of China [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.mfa.gov.cn/eng/xw/zyxw/202410/t20241023_11514914.html
126
China, Iran and Russia to conduct joint naval exercise in March - Ministry of National Defense [Internet].
[citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
http://eng.mod.gov.cn/xb/MilitaryServices/News_213106/16373856.html
127
Joint Statement of the Beijing Meeting between China, Russia and Iran_Ministry of Foreign Affairs of
the People’s Republic of China [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.fmprc.gov.cn/eng/xw/wjbxw/202503/t20250314_11575903.html
128
各方在中国发展高层论坛2025年年会上共话中国经济——为世界经济发展提供“稳定锚”__中国
政府网 [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.gov.cn/yaowen/liebiao/202503/content_7015526.htm
129
South Korea, China, Japan agree to promote regional trade as Trump tariffs loom. Reuters [Internet].
30 de março de 2025 [citado 31 de março de 2025]; Disponível em: https://www.reuters.com/world/asia-
pacific/south-korea-china-japan-agree-promote-regional-trade-trump-tariffs-loom-2025-03-30/

226
ação conjunta de reação à estratégia dos EUA de contenção do mercado de microeletrônica no
Leste Asiático130.

Sanitária

Um estudo131 sobre a confiança pública revelou que a classe média-baixa na China é a


que menos confia no sistema de saúde, devido à insegurança financeira e à cobertura
insuficiente dos seguros. Pessoas casadas também demonstraram menor confiança, associada
às responsabilidades com cuidados familiares. Apesar da cobertura de seguro atingir 95% da
população, os gastos diretos continuam altos, representando 27,6% do total das despesas em
saúde. Esse cenário impacta de forma desproporcional os trabalhadores informais, que
enfrentam dificuldades para pagar os prêmios de seguro. A pesquisa destaca uma contradição
entre ampla cobertura formal e acesso
real ao cuidado, apontando desafios
para a equidade e a sustentabilidade do
sistema de saúde chinês.
Quatro equipamentos
inteligentes de resgate médico foram
lançados na China, os primeiros no
mundo. Eles transportam pacientes e
equipamentos médicos132.

Socioeconômica

Uma equipe internacional liderada por cientistas chineses alcançou comunicação


quântica segura entre China e África do Sul, cobrindo mais de 12.900 km133. Usando o satélite
micro-nano Jinan-1 e estações terrestres compactas, foi possível distribuir chaves quânticas
(QKD) em tempo real entre hemisférios, algo inédito. Jinan-1, lançado em 2022, é mais leve,
eficiente e barato que o satélite quântico anterior, o Micius. Jinan-1 permitiu a geração imediata
de chaves e integração com redes 5G, possibilitando chamadas e dados criptografados.
Publicado na Nature134 no dia 19 de março, o experimento é considerado um marco para a futura
constelação de satélites quânticos. A tecnologia promete comunicações à prova de hackers,
essenciais para segurança digital global. O plano é integrar essa rede a seus planos de internet
via satélite.

130
China, Japan, South Korea will jointly respond to US tariffs, Chinese state media says. Reuters [Internet].
31 de março de 2025 [citado 31 de março de 2025]; Disponível em:
https://www.reuters.com/world/china-japan-south-korea-will-jointly-respond-us-tariffs-chinese-state-
media-says-2025-03-31/
131
Jiang Y, Peng B, Jin D, Peng X, Zhang J. Confidence in China’s healthcare system: a focus on lower-
middle class. Health Economics Review. 18 de março de 2025;15(1):23.
132
王丹宁. China unveils suite of self-developed intelligent medical rescue equipment [Internet]. [citado
29 de março de 2025]. Disponível em:
https://www.chinadaily.com.cn/a/202503/29/WS67e7f80ca3101d4e4dc2ba30.html
133
China Focus: Chinese-led team achieves world’s first 10,000-km quantum-secured communication -
BELT AND ROAD PORTAL [Internet]. [citado 29 de março de 2025]. Disponível em:
https://eng.yidaiyilu.gov.cn/p/0QMOUSNL.html
134
Li Y, Cai WQ, Ren JG, Wang CZ, Yang M, Zhang L, et al. Microsatellite-based real-time quantum key
distribution. Nature. 19 de março de 2025;1–8.

227
Guo Shuqing, ex-secretário do Partido Comunista no Banco Central da China e ex-chefe
do órgão regulador bancário e de seguros do país, destacou no Fórum de Boao para a Ásia,
realizado em 25 de março, apontou a necessidade de corrigir a disparidade no sistema
previdenciário chinês. Segundo ele, o valor médio da pensão mensal para trabalhadores urbanos
aposentados é de 3.200 yuans (US$ 441) — 14 vezes maior do que a pensão recebida por
agricultores, que é de apenas 240 yuans (US$ 33). Essa diferença evidencia as desigualdades
entre áreas urbanas e rurais no acesso à seguridade social135.

135
Wang Z. Calls to address pension inequality grow [Internet]. 2022 [citado 29 de março de 2025].
Disponível em: https://www.pekingnology.com/p/calls-to-address-pension-
inequality?publication_id=47580&utm_campaign=email-post-title&r=t1lz&utm_medium=email

228
Ministério da Saúde (HHS) dos EUA lança plano de transformação
U.S. Department of Health (HHS) launches transformation plan

Guto Galvão

Resumo: O Ministério da saúde lançou um plano de transformação do Departamento de Saúde


e Serviços Humanos (HHS) visando tornar a América mais saudável. Esta reestruturação está
alinhada com a Ordem Executiva do Presidente sobre a otimização da força de trabalho. A Kayser
Family Foundation produziu um documento que discute o impacto potencial de cortes de ao
longo de uma década nos orçamentos estaduais de US$ 880 bilhões no financiamento federal
do Medicaid. O Medicaid, financiado conjuntamente pelos estados e pelo governo federal, é
uma parte significativa dos orçamentos estaduais.

Palavras-chave: HHS, Medicaid

Summary: The Department of Health and Human Services (HHS) has launched a transformation
plan designed to make America healthier. This restructuring aligns with the President's Executive
Order on workforce optimization. The Kayser Family Foundation has produced a paper discussing
the potential impact of decade-long cuts in state budgets totaling $880 billion in federal
Medicaid funding. Medicaid, jointly funded by the states and the federal government, is a
significant portion of state budgets.

Keywords: HHS, Medicaid

Plano de transformação do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS)

O documento divulgado pelo Ministério da saúde descreve o plano de transformação


do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) visando tornar a América mais saudável.
Esta reestruturação está alinhada com a Ordem Executiva do Presidente sobre a otimização da
força de trabalho. Nos últimos quatro anos, o orçamento do HHS aumentou 38% e o número de
funcionários aumentou 17%. O plano envolve cortes significativos de pessoal, centralização de
funções e consolidação de divisões para, segundo o anúncio, melhorar a eficiência e a
capacidade de resposta.

O plano de reestruturação do HHS é abrangente e ambicioso, visando vários aspectos


do departamento para simplificar operações e melhorar a eficiência. Os principais elementos
incluem:

1. Cortes de Pessoal e Consolidação de Divisões

• A força de trabalho será reduzida de 82.000 para 62.000 funcionários em tempo


integral.
• O número de divisões será consolidado de 28 para 15.
• Os escritórios regionais serão reduzidos de 10 para 5.

2. Centralização de Funções

229
• Recursos Humanos, Tecnologia da Informação, Aquisições, Assuntos Externos e Política
serão centralizados para reduzir redundâncias e melhorar a coordenação.

3. Ajustes Específicos nas Agências

• FDA: Redução da força de trabalho em 3.500 funcionários, focando na simplificação das


operações sem afetar funções críticas de revisão e inspeção.
• CDC: Redução da força de trabalho em 2.400 funcionários, com foco na preparação e
resposta a epidemias. A redução real é de 1.400 considerando a transferência de 1.000
indivíduos do ASPR (Administration for Strategic Preparedness and Response).
• NIH: Redução da força de trabalho em 1.200 funcionários através da centralização de
aquisições, recursos humanos e comunicações.
• CMS: Redução da força de trabalho em 300 funcionários, visando a eliminação de
pequenas duplicações sem impactar os serviços de Medicare e Medicaid.

4. Criação de Novas Entidades

• Administração para uma América Saudável (AHA): Consolida várias agências para
coordenar programas de cuidados crônicos e prevenção de doenças.
• Secretário Assistente para Fiscalização: Fornece supervisão para combater desperdício,
fraude e abuso.
• Escritório de Estratégia: Combina o escritório do Assistant Secretary for Planning and
Evaluation (ASPE) e a Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), para realizar
pesquisas e avaliar a eficácia dos programas do HHS.

5. Redistribuição de Programas da Administration for Community Living (ACL):

• Programas críticos que apoiam idosos e pessoas com deficiência serão divididos entre
ACF, ASPE e CMS.

Segundo o HHS, o plano de transformação do HHS é projetado para economizar


dinheiro, melhorar a eficiência e responder melhor às necessidades de saúde dos americanos.
Ao reduzir o número de funcionários, centralizar funções e consolidar divisões, o plano visa
acabar com a epidemia de doenças crônicas e melhorar os resultados de saúde. Ainda segundo
o Ministério, a criação de novas entidades e a redistribuição de programas devem apoiar esses
objetivos, com uma abordagem mais coordenada e eficaz na prestação de serviços de saúde.

Análise dos possíveis cortes federais do Medicaid

A Kayser Family Foundation produziu um documento que discute o impacto potencial


de cortes ao longo de uma década nos orçamentos estaduais de US$ 880 bilhões no
financiamento federal do Medicaid. O Medicaid é financiado conjuntamente pelos estados e
pelo governo federal e é uma parte significativa dos orçamentos estaduais. Os cortes propostos,
destinados a reduzir o déficit federal, forçariam os estados a tomar decisões difíceis, como
aumentar impostos ou cortar outros programas, como educação. A análise fornece contexto
comparando o tamanho dos cortes com as receitas fiscais estaduais, os gastos com educação e
o número de beneficiários do Medicaid afetados.

Impacto nos Orçamentos Estaduais

O Medicaid é um componente crucial dos orçamentos estaduais, e os cortes federais


propostos representariam um fardo financeiro significativo. O documento estima que cortes
anuais de US$ 88 bilhões representariam 29% dos gastos estaduais com Medicaid por residente.

230
Os estados precisariam aumentar seus gastos em tal montante para manter os níveis atuais do
Medicaid, o que poderia levar a um aumento de 29% nos gastos estaduais com Medicaid por
residente.

Opções para os Estados

Os estados têm poucas opções para compensar os cortes federais no Medicaid:

1. Aumentar Impostos: Os cortes propostos representam 6% dos impostos estaduais


por residente. Os estados poderiam optar por aumentar as receitas fiscais para cobrir o déficit.

2. Cortar Outros Programas: A educação é a maior fonte de despesas estaduais. Os


cortes propostos representam 19% dos gastos estaduais com educação por aluno. Os estados
podem reduzir os gastos com educação ou outros programas para gerenciar os cortes no
Medicaid.

Impacto na Cobertura do Medicaid

Se os estados não conseguirem compensar os cortes federais, eles podem reduzir os


gastos com Medicaid cobrindo menos pessoas, oferecendo menos benefícios ou pagando
menos aos provedores. O documento ilustra a magnitude dos cortes mostrando o número
equivalente de beneficiários afetados:

• Idosos e Pessoas com Deficiências: Cortes de US$ 88 bilhões equivalem aos gastos do
Medicaid com 3 milhões de idosos e pessoas com deficiências (18% dos beneficiários
deste grupo).
• Adultos: Os cortes equivalem aos gastos com 14 milhões de adultos (38% dos
beneficiários deste grupo).
• Crianças: Os cortes equivalem aos gastos com 22 milhões de crianças (76% dos
beneficiários deste grupo).

Dados Específicos por Estado

O documento fornece dados detalhados específicos por estado, mostrando o corte


federal do Medicaid por residente, os gastos estaduais com Medicaid por residente e a parcela
dos gastos estaduais com Medicaid por residente afetada pelos cortes. Por exemplo:

• Califórnia: US$ 13 bilhões em cortes, US$ 300 por residente, 24% dos gastos estaduais
com Medicaid por residente.
• Texas: US$ 6 bilhões em cortes, US$ 200 por residente, 25% dos gastos estaduais com
Medicaid por residente.
• Nova York: US$ 10 bilhões em cortes, US$ 400 por residente, 22% dos gastos estaduais
com Medicaid por residente.

Os cortes federais propostos de US$ 880 bilhões no Medicaid poderiam ter um impacto
profundo nos orçamentos estaduais e na cobertura do Medicaid. Os estados enfrentariam
escolhas difíceis para gerenciar esses cortes, potencialmente levando ao aumento de impostos
ou à redução de gastos em outros programas, como educação. A análise destaca o significativo
fardo financeiro e a potencial redução na cobertura do Medicaid para milhões de beneficiários.

231
Big Pharma: Trump enfrentará a China?136
Reinaldo Guimarães

“… A política de investimento da América é crítica para a nossa segurança nacional e


econômica. Acolher o investimento estrangeiro … será uma parte fundamental da
Idade de Ouro da América… No entanto, o investimento a todo custo nem sempre é
do interesse nacional. Certos adversários estrangeiros, incluindo a República Popular
da China (RPC), dirigem e facilitam sistematicamente o investimento em empresas e
ativos dos Estados Unidos para obter tecnologias de ponta, propriedade intelectual e
alavancagem em indústrias estratégicas…” 137

1. O que se conhece hoje sob o nome de Big Pharma é um processo de ajuste político,
econômico, tecnológico e produtivo da indústria farmacêutica ocorrido a partir da década de
1990, nascido nos EUA e exportado para outros países grandes produtores de medicamentos
localizados no Hemisfério Norte. Mesmo empresas cujas matrizes estão em outros países, mas
que negociam suas ações na Bolsa de Nova York.

A transformação da indústria farmacêutica em Big Pharma tem seu determinante


essencial no aprofundamento do processo de financeirização das relações econômicas mundiais
operado sob a liderança dos EUA, em particular a partir da instituição do unilateralismo, após a
derrocada da União Soviética. A Big Pharma é integralmente financeirizada. Além disso, também
contribuiu de modo significativo para o desenvolvimento da Big Pharma o processo de
harmonização global do regime de propriedade intelectual liderado pelos EUA e que culminou
na criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1995. A Big Pharma foi uma das
principais beneficiárias dessa harmonização138.

2. Dentre todas as intervenções que Trump vem realizando internamente, para o tema deste
texto destacam-se as que afetam as políticas de ciência, tecnologia e inovação e também pela
regulação do mercado de medicamentos e outros produtos industriais de saúde. São elas a Food
and Drug Administration (FDA), o National Institutes of Health (NIH) e uma agência criada
recentemente (2022) nos marcos do NIH, embora independente, a Advanced Research Projects
Agency for Health (ARPA-H). É com elas que a Big Pharma interage, direta e permanentemente
com a FDA e algo mais indiretamente com as demais.

Vale ainda mencionar outra agência cuja relevância está menos na sua relação com a
indústria farmacêutica, mas que é relevante no plano da política de Trump com o sistema ONU
e, em particular com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se do Centro de Prevenção
e Controle de Doenças (CDC). O tratamento dado por Trump à OMS tem como um de seus
argumentos o suposto fato de que ela, além de incompetente e gastadora, está atualmente
governada pela China, o que é falso. Pelo contrário, a OMS é cada vez mais governada pelas
doações governamentais voluntárias dos EUA (além da contribuição prevista estatutariamente)
e da filantropia predominantemente norte americana. E, no plano político, há muitos anos as

136
Publicado originalmente em Outras Palavras/Outra Saúde, em 24/03/2025. Acesso ao original: Big
Pharma: Trump enfrentará a China? - Outras Palavras
137
Em tradução livre, trecho do memorando presidencial sobre a política de investimentos dos EUA.
Fonte: Presidential Actions. America First Investment Policy. February 21,
2025 https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/02/america-first-investment-policy/
138
Guimarães, R. – Sobre a Farma e a Big Pharma. Cien Saude Colet 2025;
30:e17082024. https://www.scielo.br/j/csc/a/mwkzrGJ9mrB9YR5f56qtNhK/?format=pdf&lang=pt

232
empresas da Big Pharma detêm grande poder político nos colegiados da OMS, em particular nos
debates sobre propriedade intelectual.

Uma expressão atual desse poder está na discussão de um Acordo Mundial Sobre
Pandemias, quase inteiramente paralisado pela resistência da Big Pharma quanto a itens
relacionados à propriedade intelectual e ao compartilhamento de informações e de amostras de
patógenos. Outra questão bem atual é a dúvida sobre a participação do CDC no fórum técnico
internacional que anualmente discute a escolha de quais cepas de vírus devem constar da vacina
sazonal contra a gripe. Esta decisão é compartilhada pela OMS para todos os países que fabricam
a vacina. Essas ações de Trump junto ao CDC têm levantado em todo o mundo um temor do
impacto que podem vir a causar, particularmente nos países de renda baixa do Sul Global.

As agências de fomento científico e tecnológico ampliaram grandemente suas relações


com a Big Pharma a partir da revolução biotecnológica que vem se desenvolvendo desde os anos
1980. A partir da inauguração de uma visão da pesquisa científica que foi chamada de pesquisa
translacional, boa parte das aquisições científicas no campo biomédico foi se tornando cada vez
mais funcional e, atualmente, essencial para a indústria farmacêutica. O movimento que gerou
a noção de pesquisa translacional nasceu no NIH, pela descoberta feita pela própria agência de
que a quantidade de recursos financeiros destinados por ela aos grupos de pesquisa não estava
se traduzindo em lançamento de novos produtos no mercado pela indústria139.

A ideia de uma pesquisa translacional estimulou mudanças no entendimento sobre o


papel das universidades, cada vez mais se afastando do modelo de ‘universidades de pesquisa’,
nascido nos EUA, e abraçando o rótulo de ‘universidades empreendedoras’, com uma
proliferação de microempresas (startups), cujo destino é serem compradas pela Big
Pharma sempre que um produto promissor desenvolvido por elas obtém um registro no FDA.

Pelo lado da indústria, foi necessária uma adequação de seus processos de


desenvolvimento e produção no sentido de absorverem uma nova rota tecnológica que se
afastava totalmente do mundo da química fina – a rota biotecnológica. Isso foi conseguido com
a absorção, pela Big Pharma, de grande parte da indústria de vacinas, processo hoje já
consolidado. Atualmente, as principais produtoras mundiais de vacinas pertencem a ela. Além
da absorção dessa nova rota, as farmacêuticas operaram uma série de modificações em sua
operação, todas elas com o objetivo de diminuir risco e aumentar receitas financeiras.

3. Nesse cenário, até este momento, Trump tem atuado quase exclusivamente na ponta da
pesquisa. Diretamente nas agências de fomento, seja fazendo bullying com a pauta ESG
(Environmental, Social and Governance, ou “Ambiental, Social e de Governança”) e as
‘enxugando’ violentamente em termos de recursos humanos, como parte da política de Estado
mínimo, sob a capa de melhorar sua eficiência. Ainda não se sabe qual o impacto essa política
terá no orçamento do NIH no ano que vem. Atualmente, ele vale cerca de 40 bilhões de dólares.
Importante notar que ainda no governo Biden, com o apoio dos dois partidos, começou a ser
discutida no Congresso uma reforma do NIH que, na minha leitura, destinava-se a reorientar a
agência em face da disputa geopolítica com a China e que, a contar com os termos da epígrafe
que abre este texto, tende a ser ainda mais radicalizada neste governo Trump.

139
Guimarães, R. – Pesquisa Translacional: uma interpretação. Ciência & Saúde Coletiva, 18(6):1731-1744,
2013. https://www.scielo.br/j/csc/a/xYQKdDNpz6NkBrykdqxFqnz/?format=pdf&lang=pt

233
No que se refere ao ARPA-H, cujo orçamento é muito pequeno quando comparado ao
do NIH (cerca de 1,5 bilhão de dólares) não há muita informação, exceto a troca de seus
executivos. Aqui, vale um breve comentário sobre essa família de agências que trata de ‘projetos
avançados’ (defesa, energia e saúde). Elas foram criadas para apoiar projetos mais diretamente
relacionados aos interesses do Estado norte-americano, havendo grande inclinação para
tecnologias duais entre os projetos que apoiam.

4. Os interesses da Big Pharma nos Estados Unidos são defendidos pela Pharmaceutical
Research and Manufacturers of America (PhRMA) que reúne não apenas as empresas cuja
matriz é norte-americana. Em 24 de fevereiro passado, representantes dessa organização se
reuniram formalmente pela primeira vez com Trump e dentre suas principais reivindicações
estavam a revogação da ‘Lei de Redução da Inflação (IRA)’ que permite uma redução de preços
de alguns medicamentos muito utilizados e a atenuação das medidas antitruste, ambas
estabelecidas pelo governo Biden.

Além disso, reivindicaram ajustes no funcionamento (menos burocracia) e em algumas


regras do FDA, como um aumento do período de exclusividade de mercado para medicamentos
para doenças raras e contra alguns tipos de câncer. De acordo com o registro da imprensa, além
de não se comprometer com elas, Trump advertiu que aplicará tarifas aumentadas de
importação a menos que as empresas tragam suas unidades produtivas de volta aos EUA, após
duas décadas de investimentos no exterior, primeiro na Índia e depois na China, realizadas na
busca por mão de obra mais barata e benefícios fiscais140.

5. A corrente de comércio de medicamentos entre a China e os EUA vem aumentando


consistentemente nos últimos anos tendo os EUA um pequeno superavit comercial. No lado das
importações pelos EUA, representa em valor um percentual relativamente pequeno do total das
importações de medicamentos (cerca de 6%). Entretanto, em termos de volume de produtos
importados respondem por um percentual bem maior. Estima-se que cerca de metade dos
medicamentos genéricos no mercado norte americano vem da Índia e da China e, atualmente,
a maior parte dos medicamentos exportados pela Índia foram fabricados total ou parcialmente
na China.

Há vários anos o governo federal nos EUA manifesta preocupação com a relação entre
as estratégias da Big Pharma e o atendimento das necessidades de medicamentos pela
população. Essas estratégias são voltadas para obter o máximo de receitas financeiras e,
portanto, cada vez mais se desinteressam em investir em medicamentos que fornecem menos
receitas, mas são de importância crucial para a população141. Ilustra isso saber que cerca 90% do
mercado de medicamentos nos EUA, quando medido em unidades farmacêuticas (não em valor),
é composto por medicamentos genéricos. Esta situação, que vem se desenvolvendo há vários
anos, levou a que o mercado americano desses medicamentos se voltasse, primeiro para a Índia
e, mais tarde, para a China. Na relação do governo Trump com a China no campo dos
medicamentos, esta é a equação a ser enfrentada.

140
Trump Threatens Big Pharma With Tariffs—Unless They Reshore Manufacturing:
Bloomberg https://www.biospace.com/policy/trump-threatens-big-pharma-with-tariffs-unless-they-
reshore-manufacturing-bloomberg
141
Guimaraes, R. – A Big Pharma, uma invenção norte-americana. Outras Palavras, 2024 (publicado
originalmente em versão algo modificada no fascículo intitulado ‘O Poder Norte americano’ do
Observatório Internacional do século XXI). https://outraspalavras.net/outrasaude/a-big-pharma-uma-
invencao-norte-americana/

234
6. A proposta de Trump, que não tem sido apenas para a indústria farmacêutica, é a estratégia
de ‘reshoring’, isto é, fazer com que as manufaturas norte americanas sediadas na China voltem
aos EUA, sob pena de arcarem com tarifas de importação. Foi isso que Trump falou aos
representantes da Big Pharma na reunião que tiveram no final de fevereiro. Mas o fato é que
essa estratégia, além de lenta, fará com que os preços dos medicamentos aumentem
substancialmente. Difícil imaginar uma solução para esse problema.

Mas o problema não está localizado apenas nessa fatia do mercado que se preocupa
com o acesso de milhões de pessoas aos medicamentos. Em setembro de 2024 (governo Biden),
foi aprovada nos EUA uma Lei de Biossegurança, que mira essencialmente em biotecnologia e
nas relações entre pequenas empresas norte-americanas ‘de ponta’ – startups e algumas um
pouco maiores – com empresas chinesas. Neste caso, o alvo não são os medicamentos para
milhões, mas é o coração da Big Pharma. Medicamentos biológicos, muito caros e, a maioria
deles, destinados a doenças raras, alguns tipos de cânceres e imunoterapias.

A lei proíbe que empresas norte americanas que recebem fundos ou que possuem
contratos com o governo façam negócios com um conjunto de empresas biotecnológicas
chinesas consideradas suspeitas. Por exemplo, grants do NIH, do ARPA-H e contratos diretos com
ministérios federais. Segundo a lei, o encerramento dessas relações deve acontecer até 2032.
Não será surpresa se Trump revise a lei para antecipar este limite de tempo. Para dar uma ideia
do envolvimento das empresas norte americanas com chinesas, 60 delas declararam
colaborações com apenas uma das chinesas na lista das proibidas142 (6).

O mercado mundial de medicamentos (em valor) tem os EUA como seu principal ator,
com mais de 40% desse mercado. Além disso, com a exceção das tecnologias de defesa e das
TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação), é o segmento industrial mais intensivo em P&D
no mundo. Impossível que Trump não dedique a ele uma parte importante de suas
preocupações. E a disputa com a China está no centro da nova geopolítica norte americana. No
entanto, como tentei mostrar neste texto, as conexões entre a Big Pharma e a indústria chinesa
tornaram-se intensas e complexas nos último dez ou pouco mais anos. Desenrolar este novelo
não será nem simples nem fácil.

142
Disputa entre EUA e China chega à indústria farmacêutica e preços dos medicamentos podem
subir https://investnews.com.br/the-wall-street-journal/disputa-entre-eua-e-china-chega-a-industria-
farmaceutica-e-precos-dos-medicamentos-pode-subir/

235
A tocha bruxuleante143

Adhemar Bahadian

A tocha da estátua da liberdade, símbolo da Democracia americana, oscila num "apaga-


não apaga” jamais visto ou sequer pressentido.

Se ainda tivéssemos dúvidas sobre o autoritarismo que ronda o governo Trump-Musk,


a prisão em praça pública de uma estudante turca, algemada e levada pelas autoridades
imigratórias, terá sido a pá de cal na fantasia do MAGA. A América não pode nem deve sequer
deixar supor que sua grandeza se confunde com o autoritarismo fascista ou stalinista .

A cena filmada e exibida mundo afora lembra os filmes de Costa Gravas sobre os terríveis
anos da ocupação soviética de Praga. Além de grotesca, a atitude das autoridades americanas
foi imediatamente aprovada pelo Vice-Presidente Vance que parece se especializar em tornar o
inverossímel rídiculamente aceitável.

A prisão da estudante de doutorado em Universidade dos Estados Unidos teria sido


motivada por artigo publicado faz algum tempo sobre o direito do povo palestino a ter um
Estado soberano.

Felizmente, o poder judiciário sustou temporariamente a medida. Aumenta desta forma


o desafio aberto por Trump-Musk aos direitos elementares dos cidadãos admitidos a ingressar
nos Estados Unidos da América de acordo com as regras vigentes daquele país.

Não se deve porém respirar aliviado. A crise autoritária dos Estados Unidos sobe de nível
e pretende desafiar o poder judiciário. Recentemente, Trump proibiu o executivo americano
contratar escritórios de advocacia que, segundo ele, teriam hostilizado as pretensões tirânicas,
sejam hoje ou no passado recente.

Trump conta com o acovardamento da Suprema Corte Americana pelo fato de, nela, a
maioria dos juízes serem considerados conservadores.

O desafio à Suprema Corte parte de uma visão distópica do que seja conservadorismo,
confundindo-o com o arbítrio e com a ignorância dos princípios gerais do Direito.

É a mesma rationale autoritária que permite a Orban fazer da Hungria uma ditadura de
tipo “moderna", na qual as eleições não são eliminadas, mas o poder judiciário se torna uma
mão subsidiária do ditador que governa indefinidamente .

Trump não esconde sua “inveja" de Órban e tem por ele ostensiva admiração, da mesma
forma que defende os métodos de Putin e do ditador da Coréia do Norte, cujo nome não
pretendo me dar sequer o cuidado de escrever.

Acho que o fenômeno que estamos a ver nos Estados Unidos da América é
particularmente assustador porque Trump consegue convencer parcela considerável de seu
eleitorado que a tão decantada MAGA não fere de morte a Democracia.

143
Publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 30 de março de 2025, republicado nos Cadernos com
autorização do Autor, ao qual, mais uma vez, agradecemos. Fonte:
https://www.jb.com.br/brasil/opiniao/artigos/2025/03/1054922-a-tocha-bruxuleante.html

236
Os disparates abusivos que estamos a ver serem consumados por Trump no cenário
internacional, todos eles ao arrepio do Direito Internacional e de tratados livremente firmados
pelos Estados Unidos da América, adquirem cada vez mais uma “aquiescência” não só do
eleitorado americano, mas também de “correntes ideológicas” supostamente afinadas com a
Democracia.

A indiferença com que Trump “monetariza" a política externa de seu país - em que todo
apoio é suscetível de ser “gratificado” com um naco de território ou de terras raras - é um brutal
incentivo à uma diplomacia parasitária, em que o único princípio válido é a exclusiva vantagem
do mais forte.

As peripatéticas intervenções de Musk na demolição do Estado de bem-estar social é a


transferência, para o plano interno da administração americana, do mesmo parasitismo em que
as maciças demissões de funcionários públicos contribuem apenas para o corte de imposto de
renda dos mais ricos para permitir o crescimento do lucro.

Este “angu” de formulações jurídicas estapafúrdias não é, nem inocente, nem muito
menos uma coincidência. No projeto MAGA, os Estados Unidos da América são apresentados
aos eleitores como um país espoliado por seus próprios aliados, afirmação fácil de comprovar
com o tratamento dispensado por Trump ao Canadá e à Europa.

Diante deste quadro que esbocei em apenas em seus aspectos mais evidentes, a
Democracia perde o seu principal sustentáculo, a lei e sobretudo a Magna Carta.

Decorre daí, como é óbvio, que o Poder Judiciário americano se defronta com a maior
hostilidade jamais vista. A política autoritária em gestação é apresentada como a “restituição da
grandeza roubada” dos Estados Unidos da América.

Para complicar, temos que prestar bem atenção que a doutrina Trump tem apoio
declarado de um movimento internacional, em que forças regressivas se reforçam umas as
outras. Umas mais ostensivas do que outras porque, queiramos ou não, a política de Trump
beneficia sobretudo os super-ricos.

Não há de parecer abusivo que aqui recorde o “imbroglio" entre Musk e as autoridades
judiciárias brasileiras, em que Musk procura sensibilizar a justiça americana para a ‘indevida”
interveniência do Supremo Tribunal Federal contra a “ liberdade de expressão” das Bigthecs
americanas. Não são poucos os que caem nesta cantilena de Musk aqui no Brasil. E põem a culpa
no nosso Supremo Tribunal Federal.

A hora não é só dos ratos. De mescla, vem a mão do gato.

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CRÉDITOS DOS AUTORES DOS CADERNOS

Adhemar Bahadian – Diplomata aposentado, Ministério de Relações Exteriores do Brasil

Ana Carol Aldapi Vaquera - Doutoranda em Ciências Políticas, UFSCar; Mestre em Ciências
Políticas e Relações Internacionais, UFPB; Licenciatura em Ciências Políticas, Universidad
Católica Boliviana (titulação revalidada em Relações Internacionais pela UFPB)

Ana Helena Gigliotti de Luna Freire - Mestre em Relações Internacionais, especialista em


Divulgação e Popularização da Ciência, Analista de Gestão em Saúde, Cris/Fiocruz

André Lobato - Mestre em mídias globais e comunicações, Doutor pela UFRJ, membro das
equipes do CRIS e do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, Fiocruz

Augusto Paulo José da Silva - Biólogo, mestre em biologia, Moldova State University, assessor
e pesquisador, Cris/Fiocruz

Armando De Negri Filho - Médico, mestre em epidemiologia, doutor em medicina preventiva,


pesquisador visitante sênior do CRIS/Fiocruz

Bernardo Bahia Cesáreo - Pesquisador, CEE Fundação Oswaldo Cruz

Caio Murta - Graduando, Instituto de Relações Internacionais (IRI), Universidade de São Paulo

Claudia Chamas - Pesquisadora sênior, CDTS Fiocruz e Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação em Doenças de Populações Negligenciadas

Claudia Hoirisch - Engenheira química, mestre em gestão e políticas de saúde, membro da


equipe do Cris/Fiocruz

Danielly P. Magalhães - Pós-doutora em saúde pública, doutora em química ambiental e mestre


em saúde pública, pesquisadora associada do CRIS Fiocruz, pesquisadora da Columbia
University, EUA

Deisy de Freitas Lima Ventura - Professora Titular e Coordenadora do Doutorado em Saúde


Global e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública da USP, Vice-Diretora do Instituto de
Relações Internacionais da USP

Denise Oliveira e Silva - Doutora em saúde pública, Pós Doutora em Antropologia, Pesquisadora
em Saúde Pública, Fiocruz Brasília

Diana Reyna Zeballos Rivas - Médica, Mestre em Medicina e Saúde, Doutoranda do Instituto de
Saúde Coletiva, UFBA

Eduardo Nilson - Doutor em Saúde Global e Sustentabilidade; Pesquisador em Saúde Pública,


Fiocruz Brasília

Erica Kastrup - Mestre em Saúde Global e Diplomacia da Saúde, Doutora em História das
Ciências e da Saúde, Analista do Cris/Fiocruz

Fabiane Gaspar - Assessora de Cooperação do CRIS/Fiocruz; Graduação em Comércio Exterior e


Direito; Especialista em Saúde Pública; Mestranda em Direito Internacional

Felix Júlio Rosenberg - Médico veterinário, mestre em ciências médicas. Diretor do Fórum
Itaboraí, Fiocruz. Secretário Executivo da RINSP/CPLP, coordenador da Rede Latino-Americana
e do Caribe de Institutos Nacionais de Saúde Pública, IANPHI

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Giacomo Giannelli - Graduando em Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo

Gisele Sanglard - Pesquisadora e docente da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz; Graduação em


História; Mestrado em História Social da Cultura; Doutorado em História das Ciências da Saúde

Giulia Mariano Machado - Graduanda em Saúde Pública na FSP USP e aluna de iniciação
científica em Saúde Ambiental

Júlia Moraes e Silva - Graduada em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-
USP) e Mestranda em Saúde Pública na FSP-USP

Heliton Barros - Pesquisador do Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Isis Pillar Cazumbá da Cruz - MBA em Gestão de Projetos e Relações Internacionais pela
Universidade Estácio de Sá. Pesquisadora, CRIS/Fiocruz

João Miguel Estephanio - Pesquisador do CRIS/Fiocruz e Fiocruz Brasília

Juan Garay - Professor of global health equity in Spain (ENS), Mexico (UNACH) e Cuba (ELAM,
UCLV and UNAH); Pesquisador Visitante Sênior, CRIS/Fiocruz

Laurenice Pires - Assistente Social, mestre em Serviço Social, doutora em Saúde Pública na
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz

Luana Bermudez - Graduada em Relações Internacionais, Mestre em Saúde Pública, doutoranda


em saúde pública, assessora técnica da AISA/MS

Lúcia Marques - Jornalista, mestre em Saúde Pública, analista de gestão em saúde pública,
assessora Programa Fiocruz na Antártica, CRIS/Fiocruz

Luiz Augusto Galvão - Mestre em saúde pública, doutor em saúde coletiva. Professor adjunto
na Universidade Georgetown, EUA, e pesquisador sênior do Cris/Fiocruz

Luís Eugenio Portela Fernandes de Souza - Professor do Instituto de Saúde Coletiva da


Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Manuel Mahoche - Doutorando em Epidemiologia (FSP/USP), Mestre em Saúde Pública (UFRGS),


Especialista em Saúde Global e Diplomacia da Saúde (FIOCRUZ), MBA em DataScience Analytics
(USP/ESALQ)

Marciglei Brito Morais - Enfermeira e Historiadora, Mestra em Educação, Doutoranda no


Instituto de Saúde Coletiva da UFBA

Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes - Pediatra, Doutora em Ciências, Pesquisadora e


Docente da Pós-Graduação em Saúde da Mulher e da Criança, Coordenadora de Ações Nacionais
e de Cooperação, IFF/Fiocruz

Maria Teresa Rossetti Massari - Enfermeira, Mestre em Saúde da Mulher e da Criança,


Coordenadora de Conteúdo do eixo Mulher e Criança do Portal de Boas Práticas, IFF/Fiocruz

Marina Sujkowski Lima - Mestranda em Saúde Pública pela FSP-USP e graduada em Relações
Internacionais pelo IRI-USP

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Mateus Brito - Doutorando e Mestre em Saúde Coletiva (ISC/UFBA), alumni do Certificado em
Estudos Afro-Latino-Americanos (ALARI/Harvard University), especialista pela Residência em
Saúde da População do Campo (UPE), Bacharel em Fisioterapia (UNISBA)

Matheus dos Santos da Silveira - Doutorando em Relações Internacionais, IRI/PUC-Rio, Bacharel


(UNAMA) e Mestre (UNILA) em Relações Internacionais. Co-Editor da Revista Debates Indígenas

Miryam de Souza Minayo - Analista de relações internacionais, doutora em Direito e Relações


Internacionais, assessora e pesquisadora CRIS/Fiocruz

Nina Bouqvar - Mestranda em Análise e Gestão de Políticas Internacionais: Resolução de


Conflitos e Cooperação para o Desenvolvimento (MAPI) pela PUC-Rio e bacharela em Ciência
Política (UNIRIO)

Patrícia Lewis Carpio - Doutoranda em Saúde Coletiva (ISC-UFBA), Mestre em ciências pela USP,
Graduada em Psicologia no Peru, pesquisadora do Observatório Saúde e Migração (OSM) e
integrante da FENAMI.

Paula Reges - Médica infectologista, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas


(INI/Fiocruz); pesquisadora do CRIS/FIOCRUZ

Paulo Esteves - Doutor em Ciência Política, Professor Associado do Instituto de Relações


Internacionais da PUC-Rio

Paulo Marchiori Buss - Médico, doutor em ciências. Professor emérito da Fiocruz, Coordenador
do Cris/Fiocruz, membro titular da Academia Nacional de Medicina, Presidente da Alianza
Latino-americana de Salud Global - ALASAG

Pedro Burger - Licenciado em História, Mestre em Economia Política Internacional, Especialista


em Saúde Pública, Coordenador adjunto do CRIS/Fiocruz

Rafael Gomes França - Doutorando da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo

Renan Amaral Oliveira - Doutorando em Saúde Global e Sustentabilidade, FSP/USP; Mestre em


Relações Internacionais, UFBA; Bacharel duplo em Ciências e Humanidades e em Relações
Internacionais, UFABC

René Mendes - Pesquisador Colaborador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de


São Paulo (IEA/USP); Pesquisador Visitante Sênior, Centro de Relações Internacionais em Saúde,
Fundação Osvaldo Cruz (CRIS/Fiocruz)

Regina Ungerer - Médica, Doutora em Ciências, pesquisadora sênior do Cris/Fiocruz

Samia de Brito - Graduação e Mestrado em Relações Internacionais; Analista em cooperação


internacional, Instituto René Rachou Fiocruz Minas

Santiago Alcázar - Diplomata; Pesquisador Honorário do CRIS/Fiocruz

Sebastian Tobar - Sociólogo, Doutor em Saúde Pública, pesquisador sênior do CRIS/Fiocruz,


assessor sênior da Aliança Latino-Americana de Saúde Global – ALASAG

Sonia Fleury – Doutora em Ciência Política, pesquisadora sênior do CEE, coordenadora do


Dicionário de Favelas Marielle Franco (wikifavelas.com.br)

Tatiana Cerqueira Machado Medrado - Graduada em Ciências Biológicas (UCSal) e Medicina


Veterinária (UFBA); Especialista em análise de dados secundários, e em monitoramento,

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avaliação e informação estratégica (ISC/UFBA), Especialista em análise da situação de saude
(UFG), Mestre em Saúde Pública e Doutoranda em Saude Coletiva, ISC/UFBA

Thaiany Medeiros Cury - Bacharel em Relações Internacionais, Mestranda em Análise e Gestão


de Políticas Internacionais, IRI/PUC-Rio

Tiago Nery - Doutor em ciência política e assessor de cooperação internacional, Instituto


Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), Fiocruz

Tomé Cá - Estatístico-epidemiologista, mestre em ciências econômicas e em saúde pública,


membro da Organização Oeste Africana de Saúde (OOAS/CEDEAO)

Vitor Rodrigues - Graduado em Relações Internacionais, assistente de pesquisa da Casa de


Oswaldo Cruz

Vitória Kavanami - Graduada em Relações Internacionais e bolsista da Casa de Oswaldo Cruz /


Fundação Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)

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Cadernos CRIS Fiocruz sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde
Desde abril de 2020 o CRIS vem produzindo Cadernos sobre Saúde Global e Diplomacia
da Saúde, um dos produtos do Observatório CRIS de Saúde Global e Diplomacia da
Saúde. Entre 2020 e 2024 foram produzidos 106 Informes quinzenais. Para 2025 está
programada a edição de 24 fascículos quinzenais. Os interessados na coleção podem
acessar ou fazer download de artigos ou edições completas em:

https://portal.fiocruz.br/cadernos-cris

Seminários Avançados em Saúde Global e Diplomacia da Saúde


Desde setembro de 2020, o CRIS vem realizando os Seminários Avançados em Saúde
Global e Diplomacia da Saúde, sobre temas de alta relevância para este campo
conceitual e de práticas da saúde pública e das relações internacionais. Os Seminários
são um dos produtos do Observatório de Saúde Global e Diplomacia da Saúde. Entre
2020 e 2024 foram realizados 114 Seminários e, em 2025, estão programados 24
Seminários. Os Seminários são acessíveis para audiência e download em:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLz0vw2G9i8v-
mMVaQPrzpQUQhqa-0obSN

Próximos Seminários

Dia 9 de abril – Agenda 2030 na América Latina e Caribe:


Progressos e desafios

Dia 23 de abril – Movimentos sociais globais e saúde

Os seminários são transmitidos ao vivo na página da Fiocruz no Youtube:


https://www.youtube.com/channel/UC5z5hsnZOZJH8vFacP-9poQ

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FICHA CATALOGRÁFICA
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Centro de Relações Internacionais em Saúde
Centro Colaborador OMS/OPAS em Diplomacia da Saúde Global e Cooperação Sul-Sul

Cadernos CRIS/FIOCRUZ sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde


Número: 05/2025
Período de 20 de março a 02. de abril de 2025

Organizadores: PAULO MARCHIORI BUSS, ERICA KASTRUP e PEDRO BURGER

Fundação Oswaldo Cruz; Centro de Relações Internacionais em Saúde; Observatório de Saúde


Global e Diplomacia da Saúde; Centro Colaborador da OMS/OPAS para a Diplomacia da Saúde
Global e Cooperação Sul-Sul. Rio de Janeiro, 03 de abril de 2025

243 pp; il.

Bibliografia: Inclui Bibliografias.

1. SAUDE GLOBAL. 2. DIPLOMACIA DA SAÚDE. 3. RELAÇÕES INTERNACIONAIS. I. Título.

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Nota: Os artigos dos Cadernos CRIS/FIOCRUZ sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde são
de responsabilidade de seus autores a as opiniões expressas nos mesmos não
necessariamente coincidem com as opiniões dos organizadores ou do Centro de Relações
Internacionais em Saúde da Fiocruz.

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