1 - Cadernos Cris-Fiocruz - Informe 03-02-2025 - Sobre Saúde Global e Diplomacia Da Saúde Final
1 - Cadernos Cris-Fiocruz - Informe 03-02-2025 - Sobre Saúde Global e Diplomacia Da Saúde Final
Publicação Digital
Produção coletiva dos trabalhadores do CRIS-FIOCRUZ
Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2025
1
SUMÁRIO
45 - O ano começou com grandes movimentos na Governança da Saúde Global - Paula Reges,
Luana Bermudez e Guto Galvão
57 - O que esperar de um ano que começou com tanta insegurança? - Sonia Fleury
100 - Deportações na Era Trump 2.0, seus impactos e as respostas da comunidade internacional
- Rafael Gomes França, Caio Murta, Giacomo Gianell, Giulia Mariano Machado, Júlia
Moraes, Marina Sujkowski e Deisy de Freitas Lima Ventura
107 - Saúde das mulheres, crianças e adolescentes: perspectivas e desafios globais no cenário
atual - Priscilla Paiva Gê Vilella dos Santos, Maria Teresa Rossetti Massari e Maria
Auxiliadora Mendes Gomes
113 - Quais são as perspectivas da segurança alimentar e nutricional global para 2025? - Eduardo
Nilson e Denise Oliveira e Silva
126 - Perspectivas 2025 para a UNESCO: Iniciativas para um futuro mais sustentável - Fabiane
Gaspar, Gisele Sanglard, Heliton Barros e Vitor Rodrigues
137 - As Instituições Financeiras Multilaterais (BID, Banco Mundial e FMI) - Isis Pillar Cazumbá
173 - A urgência da ação global diante das crises humanitárias, climáticas e de saúde - Patrícia
Lewis Carpio, Matheus dos Santos da Silveira, Tatiana Cerqueira Machado Medrado, Jesús
Enrique Patiño Escarcina, Diana Zeballos, Renan Amaral Oliveira, Laurenice Pires, Ana
Carol Aldapi Vaquera e Luis Eugênio de Souza
2
197 - A estrada perigosa a frente: ameaças que não cabem numa lista - Rafaela Venturella De
Negri e Armando De Negri Filho
210 - Sul Global sob nova direção - Regina Ungerer, Erica Kastrup e Tiago Nery
245 - Começa a presidência da África do Sul no G20. Canadá assume a presidência do G7 com
grandes desafios internos e na conjuntura internacional. A resiliência e os desafios da
economia no horizonte da OCDE - Pedro Burger, João Miguel Estephanio, Vitória
Kavanami, Thaiany Medeiros Cury, Nina Bouqvar e Paulo Esteves
258 - Prioridades do Brasil ao assumir a presidência de turno do BRICS em 2025 - Claudia Hoirisch
272 - Portas fechadas, algemas apertadas e “América para os Americanos”: novos (ou velhos?)
desafios para a migração latino-americana no continente - Sebastian Tobar, Samia de
Brito e Miryam Minayo
289 - África - Augusto Paulo Silva, Tomé Cá, Manuel Mahoche, Dala Djop e Felix Rosenberg
309 - Um mundo mais dividido, mais desigual e mais violento. E isso não é uma surpresa - Lúcia
Marques
3
CADERNOS CRIS/FIOCRUZ
Informe sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde
No. 01/2025 – 06 de fevereiro de 2025
Apresentação
Em primeiro lugar, desejamos aos nossos queridos leitores e leitoras um excelente ano
de 2005, em suas vidas pessoais e profissionais. Queremos estar juntos para manter este
contato quinzenal sobre o fascinante e complexo campo da saúde global e diplomacia da saúde.
No final do ano passado, chegamos ao total de 106 fascículos dos Cadernos, com uma
média de 220 páginas por número, o que significa quase 25 mil páginas de reflexões sobre saúde
global e diplomacia da saúde ao longo dos últimos 5 anos. São, em média, 50 autores para os
cerca de 25 capítulos, cobrindo temas e territórios prioritários nesta área de políticas e práticas
que tanta influência têm sobre a saúde humana e planetária, nas esferas global, regionais,
nacionais e, mesmo, locais.
Para 2025, estão programados 24 fascículos, enviados para mais de 8 mil destinatários
do Brasil e do exterior: profissionais e estudantes das profissões da saúde; da diplomacia e das
relações internacionais; ativistas e líderes de movimentos sociais; autoridades governamentais,
políticos e público geral.
Neste ano os Cadernos adquirem uma função inédita que é servir de celeiro de textos
para a disciplina de “Leituras Selecionadas” do Curso de Atualidades em Saúde Global e
Diplomacia da Saúde 2025 do CRIS. Este primeiro fascículo, em particular, contém artigos de
leitura obrigatória sobre áreas e temas críticos de nivelamento para os participantes do Curso,
disponibilizados nos três idiomas utilizados (português, espanhol e inglês) disponibilizados no
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Destes alunos e de nossos leitores habituais, esperamos contar com sua assídua leitura,
comentários e observações que possam nos ajudar a melhorar cada vez maias estes Cadernos.
==*==
4
A história de 2025 começou vertiginosamente. Sobre o mundo que vivia há alguns anos
a endêmica crise multidimensional (política, social, econômica, ambiental, sanitária e ética),
agravada pela Covid-19 em 2020 e pelas guerras da Ucrânia e Gaza que aproximaram
perigosamente o relógio nuclear da meia-noite, abateu-se um quase apocalipse político: a
enxurrada de decretos de Donald Trump, na sua primeira semana de volta à poderosa Casa
Branca, sede do executivo do país mais rico e mais armado da Terra, lançando o mundo num
torvelinho político de consequências imprevisíveis.
De outro lado, Santiago Alcázar apresenta-nos uma preciosa reflexão sobre As Nações
Unidas que precisamos nesta complexa conjuntura. Recupera as ideias fundadoras da grande
organização do pós-guerra, analisa a complexidade de sua estrutura e governança, oferecendo
um rico acervo de acessos a suas principais agências, programas e fundos. Reflete sobre as
debilidades e fortalezas da ONU nos tempos atuais e discute alternativas para torná-la tão
relevantes quanto em tempos de maior esperança do que estes que estamos vivendo. Texto
imprescindível, de leitura obrigatória por todos os interessados na diplomacia da saúde global.
Para Reges, Galvão e Bermudez, a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial
da Saúde (OMS) por decisão do presidente Trump representa um ataque ao multilateralismo e
à ciência. A decisão pode refletir o avanço de políticas nacionalistas e negacionistas,
desacreditando evidências científicas e minando a governança da saúde global. Nesse contexto,
o Brasil e o Sul Global têm um papel essencial na defesa da saúde pública internacional. Os
mecanismos de cooperação em redes e fortalecimentos dos laços Sul-Sul podem ser estratégias
de reestruturação. Diante das crescentes ameaças sanitárias, o fortalecimento da OMS e das
redes de colaboração global são fundamentais. Entendem os autores que o Brasil pode liderar
essa agenda, promovendo uma arquitetura de saúde mais equitativa, resiliente e comprometida
com os direitos humanos. Neste meandro, acontece em Genebra a 156ª reunião do Conselho
Executivo da OMS, em um momento crítico da governança global da saúde, marcado por
desafios como financiamento, preparação pandêmica, ameaças emergentes, mudanças
climáticas e a necessidade de cooperação multilateral reforçada. As decisões tomadas nesta
reunião influenciarão a Assembleia Mundial da Saúde e definirão prioridades para 2025,
consolidando a OMS como peça central na resposta a emergências e fortalecimento dos
sistemas de saúde globais.
5
Em artigo publicado originalmente no Jornal da USP, Deisy Ventura analisa o sentido e
o impacto da retirada dos Estados Unidos da OMS.
6
reflete no Brasil e suas políticas. Nesse ano, teremos oportunidades como a Cúpula de Sistemas
Alimentares +4 na Etiópia e a COP 30 no Brasil, mas também diferentes riscos, como o aumento
dos fenômenos climáticos extremos e a nova administração Trump, que ameaçam a segurança
alimentar e nutricional global.
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) tem
como um de seus pilares de atuação a promoção de cooperação internacional nas áreas de
educação, ciência, cultura, comunicação e informação para alcançar o compartilhamento de
conhecimento e o livre fluxo de ideias para acelerar a compreensão mútua e um conhecimento
melhor sobre a vida de cada um. Assim, os programas da UNESCO buscam contribuir para a
realização dos ODS definidos na Agenda 2030, adotada pela AGNU em 2015. Se, por um lado, os
desafios enfrentados para o cumprimento de seu mandato são ilimitados e contínuos, por outro,
geram grandes perspectivas de atuação. Gaspar, Sanglard, Barros e Rodrigues explicam que,
para 2025, as perspectivas das ações da UNESCO estão vinculadas à inteligência artificial; à
transformação digital; aos sistemas educacionais sustentáveis no continente africano; e às
mudanças climáticas, destacando, neste fascículo, as perspectivas da UNESCO para a inteligência
artificial e as mudanças climáticas.
O artigo de Cazumbá mostra as ações mais relevantes realizadas nos últimos dois meses
pelas Instituições Financeiras Multilaterais (IFMs). O Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) obteve destaque em lançar estudos a respeito da economia da América
Latina e do Caribe (ALC). O Banco Mundial (BM) celebrou o financiamento recorde do seu Fundo
direcionado aos países mais pobres e a terceira rodada do Fundo Pandêmico. O Fundo
Monetário Internacional (FMI) promoveu o lançamento das perspectivas econômicas globais
atualizadas.
Nossa analista Laura Tavares faz uma retrospectiva da atuação do Banco Africano de
Desenvolvimento (AfDB) no combate à fome, à desnutrição e à insegurança alimentar na África.
O ponto de partida da análise é dezembro de 2022, quando se anuncia a Cúpula Africana sobre
Alimentação, realizada em Dacar. Foram levantadas (em diversos documentos nacionais,
regionais e internacionais) as ações do AfDB até dezembro de 2024. Analisando as várias
iniciativas do Banco, pode-se afirmar que elas ainda são fragmentadas e sobretudo insuficientes,
diante das dramáticas condições em que se encontra a maioria dos povos em África. Essas
condições são agravadas nos países com profundos conflitos internos, crônicos e agudos, que
deixam suas populações em situações de insegurança social e alimentar, dependentes da cada
vez mais escassa e igualmente insuficiente ajuda internacional.
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países de baixa renda e populações vulneráveis. Tendências-chave que moldam o futuro incluem
a transição para uma economia multipolar, avanços tecnológicos rápidos, mudanças climáticas,
transformações demográficas e urbanização. O relatório clama por ações urgentes para acelerar
a diversificação econômica, fortalecer a resiliência e impulsionar a cooperação multilateral para
garantir uma economia global equitativa e sustentável. São os conteúdos abordados por
Chamas e Cesário para este Caderno 1/2025.
O informe de De Negri e De Negri Filho utiliza o Relatório de Riscos Globais 24-25 como
linha condutora, colocando a sua classificação e conceitos de risco no escrutínio das opiniões e
propostas das organizações da sociedade civil (OSC). Analisam um total de 17 documentos com
divisão de três partes: primeiro, analisando os riscos na categoria de “conflito armado baseado
no Estado”; depois, “eventos climáticos extremos” e “mudanças críticas nos sistemas
terrestres”; e uma seção final compilando os outros 7 documentos: “Confronto geoeconômico”,
“Desinformação”, “Polarização social”, “Desaceleração económica”, “Falta de oportunidades
econômicas ou desemprego”, “Erosão dos direitos humanos e/ou liberdades civis” e
“Desigualdade”. Fazem também uma breve análise do risco número 20 “Declínio da Saúde e
Bem-Estar”.
Sobre o Sul Global, o principal evento do UNOSSC em 2025 será a 22ª sessão do Comitê
de Alto Nível sobre Cooperação Sul-Sul, que será realizada entre 27 a 30 de maio de 2025. Este
é o principal órgão de formulação de políticas sobre Cooperação Sul-Sul no sistema das Nações
Unidas e se reúne a cada dois anos para revisar o progresso do BAPA, BAPA+40, a nova estratégia
de Cooperação Sul-Sul e o documento final de Nairóbi da Conferência de Alto Nível das Nações
Unidas sobre Cooperação Sul-Sul. Quanto à cooperação do Brasil, o informe se aprofundou nos
projetos de cooperação Sul-Sul em torno do algodão, já que o Brasil é um dos maiores
produtores de algodão sustentável do mundo, ocupando uma posição de destaque no mercado
global e esta cooperação se estende à África e América Latina. No dia 13 de janeiro de 2025, a
República do Iraque assumiu a presidência pró-tempore do G-77 + China, destacando 9
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prioridades desde a Agenda 2030, mudanças climáticas, questões econômicas e financeiras dos
países em desenvolvimento, transferência de tecnologia, até a segurança mundial e o
fortalecimento do multilateralismo. Em sua primeira participação, manifestaram-se na reunião
informal da AGNU sobre as prioridades do Presidente da Assembleia Geral para 2025. Sob o
tema “Unidade na Diversidade”, o Presidente da AGNU destacou os principais eventos do ano
para enfrentar os desafios mais urgentes e que serão momentos importantes para criar um
impulso para mudança. O Movimento dos Não-alinhados (MNA) segue sob comando de
Uganda e comemora 70 anos em 2025, enquanto o Movimento Jovem dos Não-alinhados
continua divulgando a história do movimento. O Centro Sul publicou quatro artigos com temas
desde o acesso a medicamentos essenciais, enfatizando o papel dos direitos de propriedade
intelectual; o acordo TRIPS à luz do direito da União Europeia e as medidas coercitivas unilaterais
em empresas multinacionais e instituições financeiras.
No G20, dando continuidade à sucessão de lideranças do Sul Global, a África do Sul inicia
o seu mandato no bloco. Sob o tema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, ainda em
fase inicial, a presidência define suas agendas e prioridades para o ano. Sobre o G7, os autores
do GT discutem um pouco do histórico do Canadá em presidências anteriores do bloco e as
expectativas para 2025. O país atravessa uma crise política histórica, ao mesmo tempo em que
está à beira de uma guerra comercial com os Estados Unidos. Há, ainda, a tensão sobre o futuro
do multilateralismo e o papel de um G7 que passará por uma intensa dança das cadeiras. Os
destaques da OCDE se dividem entre a publicação de dois estudos sobre a economia da região
latino-americana, outro sobre a perspectiva econômica global e um quarto sobre orçamentação
de gênero no Brasil. Também são destaques dois artigos sobre saúde publicados pela OCDE.
Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais
Inclusiva e Sustentável”, a presidência brasileira de BRICS se propõe a atuar nesse ano em dois
eixos principais: Cooperação do Sul Global e a Reforma da Governança Global. Entre os objetivos
do bloco está o de fortalecer a cooperação econômica, política e social entre seus membros e o
aumento da influência dos países do Sul Global na governança internacional, bem como
impulsionar o desenvolvimento socioeconômico sustentável e promover a inclusão social nessas
nações. As agendas do Brasil estão refletidas em cinco prioridades: facilitação do comércio e
investimentos entre os países do grupo, via desenvolvimento de meios de pagamento;
promoção da governança inclusiva e responsável da Inteligência Artificial para o
desenvolvimento; aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar as mudanças
climáticas, em diálogo com a COP 30; estímulo aos projetos de cooperação entre países do Sul
Global, com foco em saúde pública; e fortalecimento institucional do BRICS. Hoirisch desenvolve
cada um desses pontos, inclusive a cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde
pública. Nessa área, a Fiocruz organizará reuniões da Rede de Institutos de Saúde Pública do
BRICS, do Centro de P&D de Vacinas do BRICS e a Conferência de Institutos Nacionais de Saúde
Pública do BRICS.
Tobar, Brito e Minayo no informe sobre América Latina e Caribe discutem como as
medidas do novo governo Trump afetaram imigrantes latino-americanos nos EUA e
reverberaram nas relações com países na região. Além disso, enumera, sem serem conclusivos,
seis potenciais desafios regionais para 2025, que podem contribuir para novas ondas de
migração e o acirramento dos conflitos políticos e até mesmo securitários no continente
americano. Entre esses desafios, destacam-se: novos padrões de envolvimento dos EUA com a
América Latina; as eleições presidenciais no Caribe e América do Sul; o fraco crescimento
econômico; a persistência das iniquidades e desigualdades sociais; o clima de terror instaurado
9
pelo crime organizado; o efeito das mudanças climáticas e o impacto nas populações; e o maior
engajamento da China na América Latina.
10
preocupações de saúde pública nos EUA hoje é a gripe aviária, particularmente a cepa H5N1.
Esta doença pode afetar a saúde humana de várias maneiras significativas.
11
Na mesma oportunidade será lançado o Catálogo de
Seminários Avançados em Saúde Global e Diplomacia
da Saúde 2020-2024, em edição digital, com descrição
dos 114 seminários já realizados e endereços de acesso
às versões em português, espanhol e inglês. Eles fazem
parte do acervo reunido no repositório dos Seminários,
com acesso possível nos seguintes endereços:
https://portal.fiocruz.br/seminarios-avancados-em-
saude-global
ou
https://www.youtube.com/playlist?list=PLz0vw2G9i8v-
mMVaQPrzpQUQhqa-0obSN
Boa leitura deste Caderno 01/2025, queridos leitores, em tempos muito difíceis, mas
nos quais é quando exatamente temos que manter vivas nossas esperanças e sustentar a luta
por tempos melhores, mais solidários, mais equitativos e mais humanos.
12
Geopolítica 2024 -2025 e a saúde global:
um mundo em ebulição e em frangalhos
Paulo M. Buss
A OMS reagiu imediatamente com uma nota2 na qual lamenta a decisão de Trump e
pede que reconsidere a medida. Todos os jornais do mundo estamparam a decisão de Trump
como manchete de suas primeiras páginas e editoriais3, assim como os jornais de televisão e
rádio de todas as latitudes, tão absurda e injustificada foi a determinação. Inúmeras
organizações científicas e de saúde de todo o mundo expressaram imenso pesar e chamaram a
atenção para os incontáveis prejuízos que tal medida traz para a saúde dos povos do mundo e
da própria população dos EUA. Dezenas de editoriais e artigos de acadêmicos de renome, em
importantes revistas de saúde e medicina, alertaram para as implicações sobre a saúde mundial
da ordem executiva de Trump4,5,6.
1
Ver: https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/01/withdrawing-the-united-states-from-
the-worldhealth-organization/
2
Ver: WHO comments on United States’ announcement of intent to withdraw
3
A exemplo de O Globo, edição 27/01/2025, mas também o New York Times, Washington Post, Le Monde,
The Guardian, El País, entre outros tantos.
4
Ver: https://jornal.usp.br/articulistas/deisy-ventura/o-sentido-e-o-impacto-da-retirada-dos-estados-
unidos-da-oms/
5
Science. Ver: Trump may decide to leave WHO next week. Here are seven possible impacts on the U.S.
and the world | Science | AAAS e ‘Cataclysmic’: Trump’s decision to leave WHO causes uproar among
global health experts | Science | AAAS
6
BMJ. Ver: The US withdrawal from the WHO: a global health crisis in the making | The BMJ
13
podem ser reformados, ou levando os Estados Unidos a se retirar de tais organizações,
convenções ou tratados7.
A saúde global - a saúde humana e planetária – será profundamente afetada por estas
medidas, assim como por outras que impactam importantes determinantes sociais, ambientais,
econômicos e políticos da saúde. Apenas como exemplos candentes: 1) as desumanas medidas
relacionadas com a deportação em massa de imigrantes ditos não-documentados, o que
ampliará as crises econômicas, sociais e sanitárias já existentes nos países – particularmente da
América Central e do Caribe – que receberão de volta milhares de pessoas sem o devido preparo
de serviços sociais, de saúde e ambientais nacionais básicos, e que, além disso, deixarão de
receber remessas de imigrantes a familiares, vitais para a compra de alimentos, serviços de
saúde, medicamentos etc., deteriorando ainda mais a qualidade de vida e a saúde; 2) a questão
incontornável das consequências sobre a saúde mental de todos os envolvidos; 3) os impactos
sobre pesquisa e desenvolvimento (P&D) e sobre a ajuda externa em saúde, pela suspensão dos
repasses de inúmeras agências dos EUA a todos os projetos que não estiverem de acordo com
as orientações do novo governo, a exemplo da saúde sexual e reprodutiva, aborto,
anticoncepção, pesquisas com células-tronco etc. Só a ajuda militar para parceiros estratégicos
muito bem escolhidos não vai faltar, o que atende ao sonho imperial (extemporâneo) de Trump
no século XXI e à poderosa indústria armamentista. Vamos voltar a estes temas (e correlatos)
mais adiante.
==*==
Há consenso entre analistas políticos que o mundo vive uma ‘crise multidimensional’, ou
uma ‘policrise’, em todas as dimensões que se considere: política, social, econômica, ambiental
e sanitária. Tal constatação é também consensual em todas as inúmeras declarações e
documentos emanados do mundo político global, seja no âmbito do multilateralismo das Nações
Unidas e suas principais agências, programas e fundos, seja nos diversos arranjos e organizações
plurilaterais globais ou regionais (como G7, G20, G77+China e Movimento dos Não-Alinhados,
União Africana, CELAC, ASEAN etc.) ou, ainda, nas diplomacias das Capitais, nas organizações da
sociedade civil ou no setor privado. Entretanto, a forma como cada grupamento explica a
situação e as soluções que propõem para seu enfrentamento são radicalmente diferentes. É isto
que mostram os diversos informes estampados nas páginas deste Caderno CRIS de Saúde Global
e Diplomacia da Saúde 01/2025.
O ano de 2024 foi marcado por eleições em cerca de 80 países mundo afora que,
somadas à guerra na Ucrânia, o massacre israelense sobre os palestinos em Gaza e Cisjordânia,
os conflitos militares e civis no Sahel, e o visível enfraquecimento do multilateralismo das
Nações Unidas em todas as frentes, produziu um verdadeiro tsunami político global,
desembocando num 2025 com perspectivas gerais bastante sombrias.
O consenso entre a maioria dos cientistas políticos é que o mundo foi para a direita nas
eleições, a começar pelos Estados Unidos, com Trump. A pergunta que a maioria dos analistas
políticos se faz é se a democracia sobreviverá8. A velha Europa social-democrata, que já há muito
pende para a direita, amplia a xenofobia com políticas anti-migratórias inéditas e implementa
7
Ver: https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/02/withdrawing-the-united-states-from-
and-ending-funding-to-certain-united-nations-organizations-and-reviewing-united-states-support-to-all-
international-organizations/
8
Ver, por exemplo: Yerushalmy e Holmes. Votes of Confidence. Did democracy survive the 2024 election
marathon? The Guardian Weekly, vol. 211, issue no. 25, 20/12/2024.
14
cortes importantes de programas sociais para suas populações, inclusive em saúde. Tais recursos
certamente serão destinados ao anunciado rearmamento da Europa e da OTAN e, por
consequência, literalmente mais fogo será jogado na fogueira do conflito ucraniano ou de uma
guerra fria do século XXI que a suceda.
A propósito, quando a nação alemã está indo a voto com um partido de extrema direita
em ascensão - e apoio de Elon Musk, do time de Trump - é muito importante que o mundo
relembre os 70 anos de liberação de Auschwitz pelos soviéticos, em janeiro de 1945, para que o
eleitorado alemão impeça qualquer tentativa de alçar-vôo do neonazismo em seu território.
Nesta ciranda política, os Estados Unidos de Trump – depois de sua ampla vitória – está
em todas, inclusive ameaçando romper frentes históricas do imperialismo, como a OTAN, ao
dizer dele, que a Europa deve financiar suas próprias guerras. Ademais, quer comprar a
Groenlândia aos dinamarqueses e anexá-la aos Estados Unidos e insiste que pode até usar os
marines para retomar o Canal do Panamá e atacar os narcotraficantes em território mexicano,
declarados ‘grupos terroristas’, em flagrante agressão e desrespeito com as soberanias destes
países. Além disso, declarou que o Canadá poderia se transformar no 51º. Estado norte-
americano e Justin Trudeau em um excelente governador, deboche que deve ter colaborado
para o pedido de demissão deste último do cargo de primeiro-ministro canadense, diante de
sua tíbia reação à provocação. Nas palavras de Lluis Bassets, “uma doutrina imperial para o
século XXI”9.
No que parece significar posições também de Trump, pois são todos plutocratas do
mesmo grupo de super-ricos e ultradireitistas, o onipresente e todo poderoso ministro-sem-
pasta norte-americano Elon Musk tem interferido abertamente, com sua plataforma X, na
política de diversos países europeus, a exemplo da declaração de apoio aos direitistas da AfD na
Alemanha. Em todas as intervenções, sempre propondo um maior protagonismo da extrema
direita.
A posse de Donald J. Trump como 47º. Presidente dos EUA, foi um espalhafatoso show
midiático, com a assinatura de mais de 50 decretos (Executive Orders - OE)10 sobre os mais
diversos temas, todos com perfil conservador, isolacionista, centralizador e francamente
9
El País, 5/01/2025, pg.8.
10
Ver todas as Executive Orders em: Presidential Actions – The White House
15
xenófobo – verdade que cumprindo promessas de campanha que o levaram à Casa Branca.
Segundo analistas políticos, não é casual; há um ‘método’ e ‘objetivos’ nesta enxurrada, que é
produzir o ‘caos’ na oposição internamente e, externamente, choque e temor entre os
negociadores de outros países com os Estados Unidos. No dizer do antigo estrategista trumpista,
Steve Bannon: “flood the zone with shit”. A radicalização, as ordens e contraordens, ameaçar e
depois ceder, seriam ‘formas de negociar’ do novo presidente.
Adjetivos e adjetivações possíveis sobre o novo governo dos Estados Unidos da América
é o que não falta para caracterizar as medidas prometidas por Trump para seu segundo mandato
na Casa Branca, vindos de analistas políticos da academia ou dos meios de comunicação, assim
como de lideranças da sociedade civil nacional ou global: oligarquia11, plutocracia12, doutrina
Donroe13, neoimperialismo14 do século XXI, xenofobia15, neo-expansionismo americano, entre
outros. Escolha o seu. Para ajudá-lo, colocamos no rodapé as interpretações dos conceitos,
encontradas na Wikipedia e em algumas outras fontes.
11
Oligarquia ("oligarkhía" do grego ολιγαρχία, literalmente, "governo de poucos": oligi [poucos], e arqui
[domínio]) é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número
pertencente a uma mesma família, um mesmo partido político ou grupo econômico ou corporação (fonte:
Wikipedia). A propósito, ver: Acemoglu, D; Stiglitz, JE e outros. Oligarchy in America. Acesso: Oligarchy in
America - Project Syndicate, 31/01/2025.
12
Plutocracia (em grego: πλοῦτος, ploutos, "riqueza" e κράτος, kratos, "poder") é uma sociedade que é
governada ou controlada por pessoas de grande riqueza ou renda (fonte: Wikipedia)
13
A chamada Doutrina Monroe foi anunciada pelo presidente dos EUA, James Monroe (presidente
de 1817 a 1825), em sua mensagem ao Congresso em 2/12/1823. A frase que resume a doutrina é:
"América para os americanos" ((fonte: Wikipedia). Diz-se que Donald Trump a estaria atualizando, daí
Donroe.
14
Neoimperialismo é uma política de dominação não só territorial, militar e econômico, como também
cultural, de uma nação sobre outra (fonte: Wikipedia).
15
Xenofobia (do grego antigo: ξένος (xénos), "estranho, estrangeiro ou alienígena", e φόβος (phóbos),
"medo") é o medo ou aversão a qualquer coisa que seja percebida como estrangeira ou estranha.
16
Ver: https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/01/realigning-the-united-states-refugee-
admissions-program/
16
que deverá avisar com antecedência e fornecer rotas aéreas sem escalas para brasileiros
repatriados).
O último capítulo desta novela de terror inclui o anúncio feito pelo novo presidente de
que vai usar a famigerada prisão de Guantánamo, onde haveria cerca de 30 mil vagas esperando
“ilegais condenados”, que seriam mantidos como prisioneiros17. Os primeiros deportados já
chegaram em Guantánamo. Jamais, em tempo algum, em qualquer país do mundo, viu-se
tratamento semelhante a imigrantes ilegais; os EUA inauguram uma nova era de práticas nem
um pouco diplomáticas para tratar de tema humanitário tão sensível como o da migração. Para
não serem identificados, os não-documentados que adoecem não procuram atendimento
médico; muitos abandonaram seus empregos; evitam o transporte público; o terror se espalhou
entre estas pessoas, já per se vulneráveis.
Por outro lado, ao passar a designar os cartéis do narcotráfico como grupos terroristas
que ameaçam a segurança nacional e a soberania dos EUA, Trump abre perigosíssimo caminho
para operações militares americanas na América Latina. A exemplo da fronteira sul, com o
Mexico, para onde Trump já enviou tropas do exército para vigiar e prender aqueles que ainda
tentam entrar no país.
Com a China foi diferente e a guerra comercial entre os dois gigantes, para além das
ameaças, pode estar de fato instalada, pois os dois chefes ainda não conversaram sobre
suspensão ou adiamento de medidas, depois do revide feito pela China no campo das tarifas
comerciais aos 10% impostos pelos EUA, além de ter mandado investigar Google, Apple e outras
empresas que atuam em território chinês por práticas irregulares.
17
Ver: Expanding Migrant Operations Center at Naval Station Guantanamo Bay to Full Capacity – The
White House
17
Dinamarca, em flagrante confronto potencial com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico
Norte), aliança militar de que os próprios EUA fazem parte.
Quanto à saúde global, como afirmam Gostin e col.20, os valores centrais de Trump são
a antítese dos valores que animam a saúde global – cooperação internacional, solidariedade
mútua e diplomacia internacional. Ele tem hostilidade aberta em relação a instituições
internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e normas legais como o
Regulamento Sanitário Internacional e o Tratado de Pandemia. A saída dos Estados Unidos da
instituição fragiliza sua posição de pretenso líder global e prejudica imensamente as populações
mais vulneráveis do mundo.
A saída dos EUA da OMS está muito bem analisada em dois artigos de duas excelentes
pesquisadoras da saúde coletiva brasileira, Deisy Ventura4 e Sonia Fleury21, reproduzidas neste
fascículo do Caderno. Fleury destaca também outros aspectos importantes das políticas que
estão sendo implementadas pelo novo governo estadunidense. Dois artigos mais destes
18
Ver: https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/01/putting-america-first-in-
international-environmental-agreements/
19
Ver: https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/01/reevaluating-and-realigning-united-
states-foreign-aid/
20
Gostin LO, Finch A, Radhakrishnan A, Friedman EA. Global Public Health for a New President. Milbank
Quarterly Opinion. December 19, 2024. Acesso: Global Public Health for a New President | Milbank
Memorial Fund
21
Ver: https://cee.fiocruz.br/?q=O-que-esperar-de-um-ano-que-comecou-com-tanta-inseguranca-Sonia-
Fleury-Parte-I
18
Cadernos focam no novo governo Trump, ambos da lavra do experiente diplomata brasileiro
Embaixador Adhemar Bahadian.
Multilateralismo
No dizer de Alcázar23, o Pacto pelo Futuro, ainda que com a eventual boa-fé de alguns,
reduziu-se a repetir velhas fórmulas diplomáticas de reiterações do já dito, todos os anos, nos
mesmos espaços políticos.
As guerras
22
Ver: https://documents.un.org/doc/undoc/ltd/n24/252/89/pdf/n2425289.pdf
23
Alcazar, S. O futuro do Pacto pelo Futuro. Cadernos CRIS/FIOCRUZ sobre Saúde Global e Diplomacia da
Saúde 17/2024, pg. 16-19. Acesso: https://portal.fiocruz.br/documento/2024/09/cadernos-cris-fiocruz-
informe-17-2024
19
O mesmo sucedeu algumas vezes neste ano fatídico, com resoluções de teor similar da
Assembleia Geral.
A fronteira Gaza-Egito foi finalmente aberta para urgências médicas, já que o sistema de
saúde da Faixa está quase todo destruído e inoperante. Feridos graves, crianças com câncer,
bebês prematuros são transportados em busca de socorro. Dos 16 mil necessitados apenas 450
conseguiram esta chance. Caminhões com ajuda humanitária chegam, para muitos, tarde
demais. Para sobreviventes, uma gota na imensidão de suas necessidades.
A dolorosa procissão de milhares de palestinos por uma via entre escombros, de nada,
para lugar nenhum, é uma das imagens indeléveis do século XXI até aqui. Ainda assim, os
palestinos comemoram reencontros com o pingo de alegria que lhes resta.
A OMS fez um apelo ao mundo para juntar US 1,5 bilhões necessários para emergências
de saúde que atingem 300 milhões de pessoas em 42 zonas de guerra ativa ao redor do mundo,
20
de Gaza ao Afeganistão, e por muitas partes do continente africano, com feridos, sequelados
física e mentalmente, sem a mínima assistência médica, famintos e desnutridos. Teme-se que a
resposta da comunidade internacional seja pífia, obnubilada pelo isolacionismo que paralisou
muitas dimensões das relações internacionais.
24
Recomendamos complementarmente as leituras dos informes, neste Caderno, de: De Negri e De Negri
Filho, que traz uma análise do Global Risks Report, produzido pelo World Economic Forum; e o de Chamas
e Cesário, que traz uma análise de documento da UNCTAD sobre a situação global.
21
frequência e o impacto dos desastres ditos ‘naturais’ estão aumentando, com as mudanças
climáticas se tornando o maior impulsionador.
Neste contexto, a recuperação dos sistemas de saúde tem sido lenta e a incerteza
econômica continua, com desaceleração do crescimento, aumento dos encargos da dívida,
inflação persistente e redução do espaço fiscal, o que impacta negativamente os gastos sociais,
entre os quis na saúde.
Embora ausente do Pacto para o Futuro, como mencionado acima, a saúde teve seu
painel de alto nível na Assembleia Geral das Nações Unidas 2024, com o tema da resistência
antimicrobiana. A declaração resultante, contudo, foi tíbia, mencionando a necessidade da
implementação da estratégia One Health, mas sem enunciar, por exemplo, quem e como vai ser
paga a conta, globalmente, das ações que deverão, para serem efetivas, mexer com imensos
interesses dos negócios de produção agrícola, assim como da preservação e recuperação da
biodiversidade, do enfrentamento do aquecimento global e, mais amplamente, da crise
climática – todos imprescindíveis para a concretização da One Health.
25
Ver: Publicado o Projeto de Programa para o HLPF 2025 – SDG Knowledge Hub
22
O programa provisório26, datado de 27 de janeiro, indica que, após uma sessão de
abertura, a primeira semana do HLPF 2025 será dedicada à revisão aprofundada de: ODS 3 (boa
saúde e bem-estar); ODS 5 (igualdade de gênero); ODS 8 (trabalho decente e crescimento
econômico); e ODS 14 (vida abaixo da água), incluindo a construção da Terceira Conferência dos
Oceanos da ONU.
Nesta linha, e reafirmando uma postura já consagrada de que “não pode haver
desenvolvimento sustentável sem paz, nem paz sem desenvolvimento sustentável”, propõem
uma série de medidas políticas concretas e imediatas para o massacre israelense nos territórios
palestinos ocupados, o bloqueio econômico de Cuba e as disputas sobre as Ilhas Malvinas.
26
Ver: 2025 HLPF and ECOSOC HLS Draft Programme.pdf
27
Ver: The 4th International Conference on Financing for Development | Financing for Sustainable
Development Office
23
O compromisso com o desenvolvimento é outra dimensão política consagrada pelo G77
e MNA e reafirmada na 3ª. Cúpula do Sul. Entendem que a desigualdade entre os países
desenvolvidos e os países em desenvolvimento continuou a aumentar e que a ordem global,
sustentada pelo direito internacional e pelas instituições constituídas, está ameaçada pela
fragilização do multilateralismo e da abordagem coletiva à resolução de problemas, substituídos
por políticas e ações unilaterais nos domínios político, econômico e comercial, que são uma
grande ameaça ao multilateralismo.
O G77 e o MNA saem, então, em defesa das resoluções da Assembleia das Nações
Unidas e do Conselho de Direitos Humanos sobre o direito ao desenvolvimento e pedem o exame
e aprovação do Pacto Internacional sobre o Direito ao Desenvolvimento, em discussão na AGNU.
Não há como falar da geopolítica global sem abordar o plurilateralismo dos blocos de
países, como G7, G20, BRICS, além da COP30, pela importância da questão climática. Sobre o
G77 e Não-alinhados já tocamos acima em alguns pontos essenciais sobre suas principais
posições.
24
está constrangido pela proposta de virar 51º. Estado americano, e não se sabe o que ocorrerá
na reunião de Alberta.
A COP30 ficou bastante pressionada com a saída dos EUA do Acordo de Paris, mas o
governo brasileiro promete a mobilização do Sul global para fazer do evento de Belém um
momento de reflexão e solidariedade em prol do clima e do planeta.
28
Apenas como exemplo, mencione-se as recentes Reuniões de Alto-Nível da Assembleia Geral das Nações
Unidas (AGNU) (e resultantes declarações políticas) sobre: resistência antimicrobiana (2024); cobertura
universal de saúde (2023); prevenção, preparação e resposta a pandemias (2023); tuberculose (2023);
doenças não-transmissíveis (2018); e resistência antimicrobiana (2016). Na 80ª. AGNU (setembro de
2025), o tema será novamente doenças não-transmissíveis.
29
Ver: https://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA77/A77_16-en.pdf
25
principais: “Promovendo a equidade em saúde e a resiliência dos sistemas de saúde em um
mundo turbulento: Uma agenda global de saúde para 2025–2028 - Promovendo, fornecendo e
protegendo a saúde e o bem-estar para todos”. Alcançar essa ambiciosa meta exigirá uma
agenda de saúde global comum e o trabalho conjunto entre um amplo grupo de partes
interessadas, em apoio à ação governamental, globalmente e em cada país.
Reconhecendo que o mundo mudou drasticamente desde a adoção dos ODS, em 2015,
o GPW 14 define uma agenda ambiciosa para a saúde global diante dos desafios e das principais
megatendências, incluindo mudanças climáticas, envelhecimento, migração, geopolítica em
evolução, e avanço da ciência e tecnologia30. O Comitê que analisa em primeira instância o
conteúdo do GPW, destacou a atenção prestada à mudança climática e a saúde, a ação sobre os
determinantes da saúde, a saúde mental, a igualdade de gênero, a saúde dos migrantes, a
inocuidade dos alimentos, a saúde digital e a inteligência artificial.
30
Valemo-nos, neste artigo, da descrição do GPW14 (aliás, bastante sombria) do contexto global para o
período 2025 a 2028, que lastreia o cenário para uma agenda de saúde global
31
Agenda do EB 2025. Ver: https://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/EB156/B156_1(annotated)-sp.pdf
26
Os Estados Unidos, membro do EB no triênio 2022-2025, estão com representante “por
indicar”, o que certamente se deve ao pedido de desligamento do país da Organização, por
decisão do presidente Trump, em 20 de janeiro de 2025.
A Quarta Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) sobre
Prevenção e Controle de Doenças Não Transmissíveis (DNT)32 será realizada em setembro de
2025, visando “adotar uma nova, ambiciosa e realizável declaração política sobre DNT para 2030
e 2050, com base em evidências e fundamentada em direitos humanos, e para acelerar a
resposta global para a prevenção e controle das DNT a partir de 2025. O processo preparatório
para a Quarta Reunião de Alto Nível terá como objetivo abordar lacunas e soluções para acelerar
o progresso em direção ao ODS 3.4 em 2030 e definir direções estratégicas para 2050. O
processo incluirá reuniões globais e técnicas de alto nível, comitês de especialistas e consultas
copatrocinadas pela OMS e parceiros relevantes, que podem servir como contribuições técnicas
para as negociações entre os Estados-Membros sobre o documento final. Além disso, eles
podem informar as recomendações a serem incluídas no relatório do Diretor-Geral da OMS para
a Assembleia Mundial da Saúde 2025.
Considerações finais
ANEXO
Passo importante do EB são os ‘Relatório dos Comités Regionais ao Conselho Executivo’, contidos
em EB156/5. Já o Relatório do Comité Permanente de Prevenção, Preparação e Resposta a Emergências
Sanitárias pode ser lido em EB156/6.
Os temas que serão tratados no CE (e respectivo documento de referência) serão: Cobertura
universal de saúde (EB156/7); Acompanhamento da declaração política da terceira reunião de alto nível
32
Ver: https://www.who.int/teams/noncommunicable-diseases/on-the-road-to-2025/how-to-get-
involved
27
da Assembleia Geral sobre a prevenção e controle de doenças não transmissíveis (EB156/8); Saúde
mental e conexão social (EB156/10); Roteiro global para derrotar a meningite até
2030 (EB156/11); Produtos médicos de qualidade inferior e falsificados (EB156/12); Produtos médicos de
qualidade inferior e falsificados - Relatório de avaliação do Mecanismo dos Estados-
Membros (EB156/13); Normalização da nomenclatura de dispositivos médicos - Classificação, codificação
e nomenclatura internacional de dispositivos médicos (EB156/15); Profissionais de saúde e cuidados -
Estratégia Global de Recursos Humanos para a Saúde: Força de Trabalho em Saúde
2030 (EB156/16); Projeto de estratégia global sobre medicina tradicional (2025-
2034) (EB156/17); Estratégia Global para a Saúde de Mulheres, Crianças e
Adolescentes (EB156/18); Trabalho da OMS em emergências de saúde - Informações atualizadas sobre
resposta a emergências de saúde questões importantes em curso (EB156/21); Revisão e Preparação para
a Saúde Universal (EB156/22); Poliomielite (EB156/23); Efeitos de produtos químicos, resíduos e poluição
na saúde humana (EB156/25); Alterações climáticas e saúde - Projeto de plano de ação global sobre
alterações climáticas e saúde (EB156/26 Rev.1); Financiamento e execução do orçamento do programa
2024-2025 (EB156/33); Reforma da governança - Participação de atores não estatais nos órgãos diretivos
da OMS (EB156/34).
Nas ‘Estratégias Globais ou Planos de Ação programados para expirar dentro de um ano’, serão
discutidos: Orientação Estratégica Global sobre Enfermagem e Obstetrícia 2021-
2025 (EB156/35); Estratégia Global de Saúde Digital 2020-2025 (EB156/36); Plano de Ação Global sobre a
Resposta de Saúde Pública à Demência 2017-2025 (EB156/38). Em todos os itens, solicita-se a extensão
do prazo.
A participação social nos debates e decisões da OMS tem sido discutida no tema ‘Colaboração
com Atores Não-estatais’: Relatório sobre a implementação do Quadro para Colaboração com Atores Não
Estatais (EB156/39); e Atores não estatais com os quais a OMS mantém relações oficiais (EB156/39 Add.1)
e (EB156/39 Add.2).
Relatórios sobre temas de alta relevância para a saúde global estão em: Comitê Permanente de
Prevenção, Preparação e Resposta a Emergências de Saúde (EB156/45); e Comitê Permanente de
Prevenção, Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias - Relatório sobre o funcionamento e impacto
do Comité Permanente (EB156/47).
Entre os temas administrativos e de gestão, encontram-se: Nomeação do Diretor Regional para
a Europa (EB156/48); Recursos humanos: atualização (EB156/49); Recursos humanos:
Atualização Aplicação do Estratégia das Nações Unidas para a Inclusão da Deficiência, incluindo a política
da OMS para a deficiência (EB156/50); Emendas ao Estatuto da Pessoa com Deficiência Pessoal e
Regulamentos de Pessoal (EB156/51); Relatório da Comissão Internacional da Função
Pública (EB156/52); Relatório sobre reuniões de comitês de especialistas e grupos de estudo (EB156/52
Add.1).; Relatório sobre reuniões de comitês de especialistas e grupos de estudo Painéis e comitês de
especialistas e sua composição.
A Agenda provisória para a 78ª. Assembleia Mundial da Saúde, a ser aprovada pelo CE, encontra-
se em: EB156/42.
28
As Nações Unidas que precisamos
Santiago Alcázar
Neste início de 2025, ante as preocupantes notícias que nos chegam de toda parte, duas
perguntas se fazem prementes: 1) que importância tem a ONU num mundo que parece a
ignorar? 2) o que deve esperar o aluno do Curso de Atualidades em Saúde Global e Diplomacia
da saúde à luz das múltiplas crises em andamento?
Creio que as duas perguntas devem ser contrapostas ao pano de fundo da demolição
em andamento de valores e princípios caros para sociedades “justas”, aquelas que causavam
inveja e desejo de incorporar-se a elas. Sonho de largar tudo e empreender uma travessia cheia
de riscos para viver e trabalhar em algum lugar que reconhece e respeite direitos. Olhem em
volta. A demolição já começou e não tem hora para acabar.
Por que isso seria importante? Porque os problemas tratados no curso afetam a todos
nós, de maneira vital. As nossas vidas e as das gerações vindouras estão em jogo. Ninguém ficará
de fora dos impactos que decorrerão das decisões políticas que são tomadas para continuar com
a demolição em andamento. Queremos informar, com o melhor de nossas respectivas
habilidades, sobre os prováveis impactos que todos sofrerão com o único objetivo de despertar
consciências. A mudança para um mundo melhor, mais justo e solidário, somente virá se nós,
todos nós, cada um a sua maneira, compreender os riscos e ameaças existenciais que pesam
sobre a continuação da demolição.
O mundo é a nossa casa comum, como lembra o Papa Francisco em sua encíclica
Laudato Si33. O aquecimento global é um fato. Mudança climática, por conta desse aquecimento,
é o exemplo mais conhecido de um problema global que, justamente por conta de sua natureza,
implica que o encaminhamento de soluções reclama o envolvimento de todos nós – governos,
parlamentos, sistema Nações Unidas, instituições internacionais, autoridades locais, povos
originários, sociedade civil, empresariado, sindicatos, academias e, naturalmente, vocês, alunos,
que não podem ficar à margem ou deixados para trás. A Carta das Nações Unidas34, que é uma
espécie de Constituição Universal para as relações internacionais, reconhece a importância
dessa totalidade ao fixar em seu preâmbulo a fórmula: Nós, os povos. A Agenda 203035, que é o
33
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-
francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
34
https://www.oas.org/dil/port/1945%20Carta%20das%20Nações%20Unidas.pdf
35
https://brasil.un.org/sites/default/files/2020-09/agenda2030-pt-br.pdf
29
mapa do caminho de consenso para levar adiante os objetivos originais da Carta, também
reconhece a importância dessa totalidade ao expressar que a Agenda é dos povos, para os povos
e, por essa razão, deve ser conduzida por eles, os povos.
Este curso é importante porque vocês alunos fazem parte dessa totalidade que não pode
ser desmembrada. Todos devem participar, ou informar-se, das discussões e dos debates
multilaterais. Ninguém pode ser deixado para trás, como proclama a Agenda 2030.
Neste artigo espero oferecer uma visão crítica do que, creio, constitui o marco
civilizatório mais importante da história recente.
As Nações Unidas nascem dos escombros da Segunda Guerra. É preciso ter em mente a
gravidade dos traumas deixados por esse conflito, responsável pela morte de dezenas de
milhões de pessoas. As estimativas mais altas apontam 85 milhões de mortes, correspondentes
a aproximadamente 3.7% da população mundial à época, estimada em 2.3 bilhões. Para ter uma
ideia do que essa proporção representaria hoje, com a população mundial de 8 bilhões, o
número de mortos seria 296 milhões de pessoas. Trata-se, portanto, de uma verdadeira
catástrofe. Como sempre, as maiores vítimas foram os civis, mais do dobro do número de
militares. Ademais desses números impressionantes, a guerra elevou o horror a dimensões até
então desconhecidas. As explosões nucleares em Hiroshima e Nagasaki; os bombardeios de
cidades inteiras, destruídas, incendiadas, reduzidas a escombros – são provas de uma crueldade
humana levada ao extremo. As guerras existem desde sempre, mas essa foi diferente pela
desumanização alcançada com o uso da Razão, a mesma que no Iluminismo prometia livrar o
homem das trevas e o conduzir ao bom caminho da ciência e do progresso. Desprovida da ética,
no entanto, a Razão pode voltar-se contra o homem, como uma arma, como a Inteligência
Artificial, que à semelhança da fome (uso da fome como arma de guerra) e da falta de assistência
30
humanitária (impedir a ajuda humanitária é também uma arma de guerra) em Gaza, pode ser
weaponized36, para usar o termo em voga na mídia anglo-saxã.
As três ideias
É contra o pano de fundo da Segunda Guerra Mundial que surge a Organização das
Nações Unidas. Concebida para proteger as gerações vindouras, o projeto das Nações Unidas é
um Nunca Mais, como aqueles apelos que se fizeram ouvir após os anos de repressão de
governos de exceção na América Latina. Refletido no espelho retrovisor, o Nunca Mais onusiano
vem acompanhado por uma visão de futuro apoiada em três ideias, singelas como flores de
campo, frágeis como uma chama incerta na noite escura, esperançosas como um poema de
amor. Paz e segurança, direitos humanos e desenvolvimento são essas ideias. É difícil imaginar
como a ideia de paz pode ter surgido no meio do conflito, quando a lógica predominante
costuma ser a do dente por dente, olho por olho, que alimenta a espiral da violência. Não é
evidente que o reconhecimento e o respeito dos direitos humanos possam ter flutuado entre
homens pragmáticos, responsáveis pela formulação de políticas adotadas mediante a prática
costumeira de escambos partidários. E o que tem a ver desenvolvimento com tudo isso?
36
https://www.merriam-webster.com/dictionary/weaponize
37
https://docs.un.org/en/A/RES/60/7
38
https://www.un.org/sg/en/content/sg/statement/2025-01-27/secretary-generals-remarks-the-
united-nations-memorial-ceremony-marking-the-international-day-of-commemoration-memory-of-the-
victims-of-the-holocaust-delivered
31
As ideias nunca se apresentam de uma vez por todas, acabadas, perfeitas. Elas vão se
fazendo, misturando-se umas às outras, mudando, transformando-se, enfatizando este ou
aquele ponto, mostrando-se de uma maneira, escondendo outras. A história das ideias tem algo
da atividade desordenada em um garimpo.
O curioso é que no processo de elaboração, as três ideias foram criando uma unidade
indissociável, talvez não percebida. Três exemplos são suficientes para mostrar como esse inter-
relacionamento não foi imediatamente captado.
39
O futuro que queremos é o nome dado ao documento que emanou da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio +20, e posteriormente adotado pela 66ª AGNU por meio da
resolução Assembleia Geral Resolução A/Res/66/288
https://www.un.org/en/development/desa/population/migration/generalassembly/docs/globalcompac
t/A_RES_66_288.pdf.
32
apartheid na África do Sul a partir de 1948, a ocorrência do Nakba, o desastre que representou
o êxodo forçado da população palestina de seus territórios, também naquele ano, o mesmo da
aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos – são testemunhos da incompreensão
do significado dos direitos humanos. Por que nada se fez para evitar essas barbaridades que
ofendiam, e ofendem, os princípios e propósitos da Carta? O que esperar quando vigoravam
ainda as leis de segregação nos estados do Sul dos EUA, o colonialismo era ainda a realidade e a
autodeterminação, direito humano fundamental, objeto de debates inconclusivos?
O que esperar quando sequer havia consenso sobre o direito das mulheres ao voto?
Mais importante, alguns imaginavam que o importante eram os direitos civis e políticos40, contra
os que pensavam que o acento deveria recair sobre os direitos econômicos, sociais e culturais41.
Durante a guerra fria, o bloco ocidental, favorecia os primeiros; o bloco soviético, os segundos.
As razões, tanto de um lado quanto do outro, pareciam argumentações sofistas, mais
preocupadas em defender ideologias que em resgatar o significado do humano em cada direito.
O problema é que o reconhecimento e o respeito aos direitos humanos requerem a
compreensão profunda do sujeito dos mesmos, o próximo, o que está aí, defronte. Pode-se
perguntar: quem é o próximo? Quem é o que está defronte? Os membros do círculo íntimo, a
família, a comunidade, os da mesma cidade, do mesmo país, da mesma cultura e religião, os de
mesma cor e etnia, os da mesma educação e condição social – e assim por diante. Sim, os
próximos são todos esses, mas não somente. Em última análise, o próximo é o outro,
independente de raça, etnia, gênero, riqueza, condição social, cultura e religião – a quem devem
ser reconhecidos os mesmos direitos que a qualquer outro e, consequentemente, respeitá-los
da mesma maneira. Essa é a maior dificuldade ainda não resolvida e que, portanto, frustra a
realização do projeto das Nações Unidas que continua sendo o do mundo que queremos,
implicitamente inscrito na Carta.
Finalmente a ideia de paz e segurança parece ter sido entendida em sua dimensão
geográfica. Com efeito, desde a Segunda Guerra não houve conflito na Europa. As guerras na
Iugoslávia, de 1991 a 1999, com o bombardeio de Belgrado pela OTAN, em 1998, parecem
contradizer a tese, assim como a guerra da OTAN contra a Rússia na Ucrânia, de 2022 até o
presente, mas nem a antiga Iugoslávia, nem a Ucrânia eram Europa. O braço de opinião de
notícias da NBC, Think42, publicou artigo de Ahmed Twaij, intitulado How coverage of the
Ukraine-Russia conflict highlights a racist double standard43. No artigo, Twaij reúne os
comentários racistas de vários representantes da mídia ocidental, que parecem ter sido pegos
em verdadeiros deslizes do subconsciente, ou simplesmente atos falhos, pelos quais
reconhecem que a vida de brancos é mais importante que a de pessoas que morrem fora da
Europa.
40
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm
41
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm
42
https://www.nbcnews.com/think/opinion/welcome-think-nbc-news-new-opinion-section-ncna809221
43
https://www.nbcnews.com/think/opinion/ukraine-russia-conflict-highlights-racist-double-standard-
ncna1290822
44
https://www.unicef.org/brazil/innocenti/comunicados-de-imprensa/nao-e-o-novo-normal-2024-e-
um-dos-piores-anos-da-historia-do-unicef-para-crianças-em-conflitos
33
estreita faixa de território, Gaza é hoje o nome de um genocídio de palestinos, a céu aberto,
levado a cabo pelo governo de Benjamin Netanyahu, com a cumplicidade dos governos dos EUA
e de países europeus. É difícil imaginar o que aconteceu com a promessa do Nunca Mais, depois
dos desastres da guerra, do Holocausto, das torturas, das mortes e dos desaparecimentos
durantes os regimes militares, tão esperançoso como o pedido de uma criança, tão frágil como
uma vida que começa, tão singelo como um sim.
É preciso agora, saber o que fizeram com as três ideias para torná-las operativas. Para
isso é preciso examinar a Carta da Organização das Nações Unidas.
A Carta
Como se pode observar, as três ideias são apresentadas nos propósitos que devem
guiar os trabalhos da Organização.
Os princípios fundacionais, por outro lado, são: i) a igualdade de todos os membros; ii)
a boa-fé; iii) a assistência dos Estados membros à Organização em qualquer ação prevista na
Carta; iv) a não intromissão da Organização em assuntos que dependam exclusivamente da
jurisdição interna dos países.
34
O Capítulo III, estabelece os órgãos principais: i) Assembleia Geral; ii) Conselho de
Segurança; iii) Conselho Econômico e Social (ECOSOC); iv) Conselho de Tutela; v) Corte
Internacional de Justiça; vi) Secretariado.
É tão interessante a redação do artigo 55, o primeiro do Capítulo IX, que vale a pena
reproduzi-lo na íntegra a seguir:
Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar, necessárias às relações
pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos
e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão: a) níveis mais altos de vida,
trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico e social; b) a solução
dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e conexos; a cooperação
internacional, de caráter cultural e educacional; e c) o respeito universal e efetivo dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou
religião.
As três ideias, como se pode ver, voltam a apresentar-se com mais clareza. Há, contudo,
um termo novo, que não está nas referências anteriores, mas é de enorme importância:
sanitário. O termo refere-se à conservação da saúde pública, ameaçada por doenças
transmissíveis vinculadas à falta de higiene de grande número de cidades arrasadas pela guerra.
O termo sanitário, no entanto, não capta as dimensões e ramificações do termo saúde. Talvez
por essa razão, delegados da China (Szeming Sze), Brasil (Geraldo de Paula Souza) e Noruega
(Karl Evang), presentes à Conferência de São Francisco que iria adotar a Carta das Nações Unidas,
propuseram o estabelecimento de uma organização internacional de saúde e a realização de
uma Conferência para concluir a sua constituição. Coube ao Conselho Econômico e Social
(ECOSOC) solicitar ao Secretário-Geral a convocação daquela Conferência, que se realizou em
junho de 1946, em Nova York. A Constituição foi aprovada e, assim, criada a OMS.
O Capítulo X, finalmente, trata do ECOSOC que, nos termos da Carta, fará estudos e
relatórios sobre assuntos econômicos, sociais, culturais, educacionais e sanitários (ver o
parágrafo anterior). Poderá, igualmente, fazer recomendações para promover o respeito e a
observância dos direitos humanos. Como se pode ver, ainda que a Carta deixe de estabelecer
um órgão específico para cuidar dos direitos humanos, o ECOSOC o fazia de maneira integrada
com as questões de desenvolvimento, sublinhando dessa maneira a natureza indissociável
dessas duas ideias. É importante notar que a Comissão de Direitos Humanos, que vigorou até
2006, dependia do ECOSOC.
35
O Conselho de Direitos Humanos, que substitui a Comissão, hoje depende da
Assembleia Geral. O status foi elevado, mas é óbvio que o Conselho de Direitos Humanos não
tem a mesma projeção do Conselho de Segurança ou do ECOSOC, que são os órgãos criados na
própria Carta. A ideia dos direitos humanos, a mais inovadora e revolucionária, como se pode
observar, não mereceu o lugar de privilégio na composição da Carta. Essa falha grave talvez
explique a falta de compreensão que perdura até os dias de hoje sobre o profundo significado
dos direitos humanos. É, nesse sentido, o pecado original da Organização que dizia Nunca Mais
para o passado e projetava sonhos e esperanças para o futuro, consubstanciados na ilusão do
mundo melhor que se quer.
O Capítulo XI é uma declaração sobre os territórios sem governo próprio. É quase uma
tentativa de resgatar a ideia de direitos humanos, um pouco empalidecida até aqui. A
Declaração incita os ocupantes de territórios que assumam o princípio de que os interesses dos
habitantes desses territórios são da mais alta importância e aceitem, como missão sagrada (sic),
a obrigação de promover no mais alto grau o bem-estar de seus habitantes, que naturalmente,
envolve todo o universo dos direitos humanos, ainda que de maneira implícita. Os colonizadores
nunca tiveram em mente a “missão sagrada” de promover no mais alto grau o bem-estar dos
habitantes dos territórios ocupados, assim como tampouco Israel, que desde 1967 ocupa a
Palestina e, pareceria, querer fazê-lo da maneira permanente45.
O Capítulo XIII refere-se ao Conselho de Tutela, que suspendeu as suas operações com
a independência de Palau, em 1994. O Conselho de Tutela, no entanto, ainda que tenha
suspendido as suas funções, somente pode ser extinto mediante uma reforma da Carta.
O Capítulo XIV estabelece a Corte Internacional de Justiça, que não deve ser confundida
com o Tribunal Penal Internacional, que entrou em vigor em 2002. A Corte tem mandato para
julgar Estados; o Tribunal, para indivíduos. O Tribunal, ademais, não é reconhecido pela
totalidade dos países, ao contrário da Corte.
45
Para ter um resumo da questão palestina ver https://www.un.org/unispal/history/
46
https://research.un.org/en/docs/tc/territories
36
duas ideias. O tema teve que esperar até fevereiro de 1946 para que o ECOSOC criasse a
Comissão de Direitos Humanos, que funcionou até junho de 2006, quando finalmente foi
estabelecido o Conselho de Direitos Humanos que, não obstante, tem status diferente ao dos
dois outros conselhos.
As atividades dos 6 órgãos principais são muitas e diversas, como se pode imaginar.
Com o correr do tempo, questões econômicas, sociais e humanitárias foram tornando-se mais
complexas, demandando assim a criação de órgãos secundários especializados.
A seguir, apresentam-se os Programas e Fundos47, bem como o link para acessar mais
informações sobre cada um deles.
47
https://www.dagdok.org/w/dd/en/un-system/un-funds-and-programmes
37
Programas e Fundos e Órgão Subsidiários Especializados
UNDP/PNUD - United Nations Development Programme o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento é o maior Programa da ONU focado no apoio ao desenvolvimento.
UNEP - United Nations Environment Programme é o Programa que serve para promover o
desenvolvimento sustentável com foco no meio ambiente.
UNFPA - United Nations Population Fund o Fundo de População das Nações Unidas responde
pelos temas de população e saúde reprodutiva.
UNICEF - United Nations Children's Fund é o Fundo responsável pela melhoria das condições da
infância nos países em desenvolvimento. Pela história e intensa atuação tem um status de
agência de alto prestígio global, com representações em quase todos os países em
desenvolvimento do mundo.
WFP - World Food Programme o Programa Mundial de Alimentos tem o propósito de contribuir
para a erradicação da fome e da desnutrição.
UNAIDS - UNAIDS
UNRWA - United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East
UM Women - UN Women
Merece destaque a UNRWA, criada em 1948 para auxiliar os refugiados palestinos após
o conflito Árabe-Israelense daquele ano. A Agência é a única que segue prestando assistência
ao povo palestino. Por motivos políticos, vários países ocidentais decidiram suspender as suas
contribuições voluntárias, caso de uma decisão recnete do novo presidente dos EUA. Israel
ameaça fechar a representação da Agência48. As consequências podem ser catastróficas.
48
Para ter uma ideia do que faz a Agência ir a https://www.unrwa.org
38
UNITAR United Nations Institute for Training and Research
Como se não bastasse toda essa complexidade, o universo da ONU comporta diversas
agências especializadas, algumas anteriores à criação da ONU49. Pela história e contribuições
anteriores e contemporâneas, cada uma delas mereceria um capítulo inteiro destes Cadernos,
mas optou-se por oferecer o acesso às páginas das mesmas, para exame dos leitores, segundo
seus interesses.
Agências Especializadas
FAO
Food and Agriculture Organization responsável pelos temas de agricultura, pesca e silvicultura.
ICAO
International Civil Aviation Organization Organização Internacional responsável pela aviação
civil.
IFAD
International Fund for Agricultural Development responsável pelo aumento da produção
agrícola em países em desenvolvimento.
ILO/OIT
International Labour Organization responsável pelos temas laborais.
IMF/FMI
International Monetary Fund resonsável pela promoção da estabilidade monetária.
IMO/OMI
International Maritime Organization responsável pela cooperação marítima internacional.
ITU
International Telecommunication Union responsável pela coordenação das redes e serviços de
telecomunicação.
UNESCO
United Nations Educational Scientific and Cultural Organization responsável pela promoção da
paz por meio da cultura, a ciência, a educação e a mídia.
49
https://www.dagdok.org/w/dd/en/un-system/un-specialized-agencies
39
UNIDO
United Nations Industrial Development Organization responsável pela coordenação das
atividades de cooperação industrial.
UNWTO
World Tourism Organization promove o desenvolvimento do Turismo sustentável.
UPU
Universal Postal Union promove o melhoramento dos serviços postais.
WHO/OMS
World Health Organization
WIPO
World Intellectual Property Organization responsável pela promoção de respeito à propriedade
intelectual.
WMO
World Meteorological Organization agência especializada em meteorologia
https://www.un.org/es/pdf/un_system_chart.pdf
Os instrumentos históricos
i) Carta50;
ii) Declaração Universal de Direitos Humanos51;
iii) Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos52;
iv) Pacto sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais53;
v) Declaração sobre Direito ao Desenvolvimento54;
50
Ver nota 2
51
https://www.oas.org/dil/port/1948%20Declaração%20Universal%20dos%20Direitos%20Humanos.pdf
52
Ver nota 6
53
Ver nota 7
54
https://acnudh.org/wp-content/uploads/2012/08/Declaração-sobre-o-Direito-ao-
Desenvolvimento.pdf
40
vi) Declaração e Plano de Ação de Viena55;
vii) Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável56;
viii) Declaração do Milênio57;
ix) Agenda 203058;
x) Pacto para o Futuro59.
Em realidade, as três ideias podem ser sintetizadas em uma só: direitos humanos, uma
vez que toda política, todo acordo, toda decisão, devem ter presente o impacto que podem
gerar sobre a vida de pessoas de carne e osso. Esse é o significado profundo da fórmula que dá
início à Carta: Nós, os povos, esquecido, ao contrário do Holocausto, passado por cima, como
em Gaza e em todos os desastres humanitários que perduram, não obstante a crescente
conscientização promovida pela sociedade civil. Esquecer a profundidade do significado inserido
em Nós, os povos e fechar os olhos para os determinantes que fazem possível o reconhecimento
e o respeito aos direitos humanos é a razão para o estado do mundo assolado por múltiplas
crises e o sentimento de fracasso. Não pergunte por quem os sinos dobram/eles dobram por
nós.
É importante, finalmente, para ter uma ideia do imenso trabalho desse universo que
se chama Sistema das Nações Unidas, recordar algumas conferências internacionais, realizadas
na década de 1990, com o fim da Guerra Fria. Durante praticamente todo o período pós Segunda
Guerra até a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, os temas sociais foram
impedidos de florescer. Foi com o degelo que surgiu a primavera e realizou-se um ciclo
extraordinário de conferências sobre temas sociais.
55
https://www.oas.org/dil/port/1993%20Declaração%20e%20Programa%20de%20Acção%20adoptado
%20pela%20Conferência%20Mundial%20de%20Viena%20sobre%20Direitos%20Humanos%20em%20jun
ho%20de%201993.pdf
56
https://www5.pucsp.br/ecopolitica/projetos_fluxos/doc_principais_ecopolitica/Declaracao_rio_1992.
pdf
57
https://www.undp.org/pt/brazil/publications/declaracao-do-milenio
58
https://brasil.un.org/sites/default/files/2020-09/agenda2030-pt-br.pdf
59
https://docs.un.org/es/A/RES/79/1
60
Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS)
61
https://www.un.org/es/conferences/children/newyork1990
62
https://www.un.org/es/conferences/environment/rio1992
41
Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, 1993, Viena63;
Conferência Mundial sobre População e Desenvolvimento, 1994, Cairo64;
Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Social, 1995, Copenhague65;
Conferência Mundial sobre Mulheres, 1995, Beijing66;
Conferência Mundial sobre Assentamentos Humanos (Habitat), 1996, Istambul67
O Acordo de Paris foca a questão da mudança de clima por conta do aquecimento global
causado pela emissão de gases de efeito estufa. Grande parte da economia mundial depende
da queima de combustíveis fósseis. Há três formas possíveis de diminuir os efeitos causados pela
emissão de gases na atmosfera, todas beirando um pouco à ciência ficção: i) aumentar a
capacidade dos sorvedouros naturais (oceanos e florestas); ii) lançar ao espaço defletores para
diminuir a incidência de raios solares sobre a Terra; iii) transformação para a economia verde.
Nenhuma é desprovida de dificuldades e custos e resta saber se qualquer uma delas, ou todas
em conjunto, poderão limitar o aumento de temperatura à faixa adequada para a vida humana,
animal e vegetal, sobretudo para os mais vulneráveis. Outra possibilidade, que sequer é
contemplada, mas que não beira à ciência ficção, é transformar radicalmente a economia e a
política com vistas a torná-las subordinadas a Nós, os povos, que com a falta de ética e com a
demolição em andamento é pouco provável.
63
https://www.un.org/en/conferences/human-rights/vienna1993
64
https://www.un.org/en/conferences/population/cairo1994
65
https://social.desa.un.org/world-summit-for-social-development-1995
66
https://www.un.org/en/conferences/women/beijing1995
67
https://www.un.org/en/conferences/habitat/istanbul1996
68
https://www.un.org/en/conferences/environment/newyork2000
69
https://www.un.org/en/conferences/environment/newyork2015
70
https://www.un.org/en/climatechange/paris-agreement
71
https://portal.fiocruz.br/cadernos-cris
42
Nações Unidas que não somente não pôde evitar inúmeras guerras e conflitos de diversas
intensidades, como tampouco conseguiu transformar em realidade o propósito do
desenvolvimento e a efetivação dos direitos humanos. Vimos como a culpa não deve ser
atribuída à ONU, mas à falta de ética que acomete aos principais atores das relações
internacionais, os únicos que podem, pela posição que ocupam, fazer diferença.
Não é de estranhar que nesse contexto, oligarcas, mais ricos e poderosos que a maioria
dos países do mundo, surjam como os possíveis realizadores de utopias. Vendedores de ilusões
e de passagens para viagens no espaço, anunciam que as regulações são as que impedem o voo
da liberdade e as possibilidades do empreendedorismo e, por isso, é preciso livrar-se delas. O
êxito como empreendedores os legitima junto a importantes segmentos da população que,
frustrados com as promessas que nunca vieram, jogam-se abraçados à ilusão de novos bezerros
de ouro. Fanatizados, armam-se de ódio e de violência contra tudo o que está aí, produto de
enganos e desilusões. Vestidos com bandeiras que, em sua imaginação, os identificam como
cidadãos nacionais de bem, vociferam contra tudo que ameaça a sua identidade. Enquanto isso,
os donos de plataformas digitais, permitem a ventilação da desinformação com vistas a levar
adiante o projeto de desregulação completa, valorizando o individualismo extremado,
desfazendo os laços comunitários de solidariedade e compreensão mútua, disciplinando os
congressos nacionais, direcionado os mercados para servir a seus próprios interesses. Do outro
lado da cerca, os oligarcas, como deuses do Olimpo, olham divertidos o andamento da
demolição, cientes que a destruição é condição para a construção, sem os empecilhos do
modelo anterior. A demolição em andamento implode a democracia em favor da oligarquia. O
Senador norte-americano Bernie Sanders ilustra o ponto no vídeo disponível no YouTube
“Welcome to the world of oligarchy”72.
Conclusão
O projeto das Nações Unidas baseadas nas três ideias fundamentais era, e é, o único
que serviria no fim da Segunda Guerra. O único que faria possível a reconstrução de um mundo
partido com os golpes da mais brutal barbárie. Sobreviveu à Guerra Fria porque as ideologias
que se contrapunham mantinham um princípio básico de convivência. Com o domínio do
neoliberalismo com Margareth Thatcher, primeiro, e Ronald Reagan, depois, avançou a
proposta de desregulação da economia, solicitada pelas grandes corporações. A desregulação
invadiu a política, os lobbys cresceram e muitos passaram a pedir a redução do tamanho do
Estado, que vinha junto com o projeto de desregulação. O sistema financeiro cresceu várias
vezes mais que a economia. Alguns até diziam que a economia real, aquela do homem comum,
nada tinha a ver com a economia financeira, a dos yuppies e dos lobos de Wall Street. As fortunas
aumentaram exponencialmente e a desigualdade também. Número inferior a 0.01 da população
mundial tem mais poder e dinheiro que a metade mais pobre da população mundial. O modelo
é francamente insustentável para a democracia. Por isso é preciso substitui-la pela oligarquia.
A desregulação conduziu à lei da selva, onde inexiste a ética e a Civilização, que é o seu
resultado. É preciso resgatar os valores que fizeram a Civilização. É preciso resgatar a ética, em
toda a sua profundidade. Para isso é preciso que a sociedade civil se mobilize contra a fome e a
pobreza; contra as desigualdades; contra o racismo e a discriminação de qualquer espécie. É
preciso que a sociedade civil se indigne contra as injustiças e a falta de solidariedade e que
reconheça e respeite o outro, que é aquele a quem se deve reconhecer como irmão e assim
72
https://youtu.be/79KDKWEOJ1s?si=GJCzZP8xF_8pygAH
43
respeitá-lo, independentemente de raça, etnia, cor, condição social, cultural ou educacional e
etc. e etc., pois a lista é infinita.
Somente assim, com a realização de Nós, os povos, teremos as Nações Unidas que
precisamos para o mundo que queremos.
44
O ano começou com grandes movimentos na Governança da Saúde Global
Paula Reges
Luana Bermudez
Luiz Augusto Galvão
Resumo. A retirada dos Estados Unidos da OMS sob Trump representa um ataque ao
multilateralismo e à ciência. A decisão pode refletir o avanço de políticas nacionalistas e
negacionistas, desacreditando evidências científicas e minando a governança da saúde global.
Nesse contexto, o Brasil e o Sul Global têm um papel essencial na defesa da saúde pública
internacional. Os mecanismos de cooperação em redes e fortalecimentos dos laços Sul-Sul
podem ser estratégias de reestruturação. Diante das crescentes ameaças sanitárias, o
fortalecimento da OMS e das redes de colaboração global são fundamentais. O Brasil pode
liderar essa agenda, promovendo uma arquitetura de saúde mais equitativa, resiliente e
comprometida com os direitos humanos. Neste meandro, acontece em Genebra a 156ª reunião
do Conselho Executivo da OMS, em um momento crítico da governança global da saúde,
marcado por desafios como financiamento, preparação pandêmica, ameaças emergentes,
mudanças climáticas e a necessidade de cooperação multilateral reforçada. As decisões
tomadas nesta reunião influenciarão a Assembleia Mundial da Saúde e definirão prioridades
para 2025, consolidando a OMS como peça central na resposta a emergências e fortalecimento
dos sistemas de saúde globais.
Abstract. The United States’ withdrawal from the WHO under Trump represents an attack on
multilateralism and science. The decision may reflect the advancement of nationalist and
denialist policies, discrediting scientific evidence and undermining global health governance. In
this context, Brazil and the Global South have an essential role in defending international public
health. Network cooperation mechanisms and strengthening South-South ties can be
restructuring strategies. In the face of growing health threats, strengthening the WHO and
global collaboration networks is essential. Brazil can lead this agenda, promoting a more
equitable, resilient health architecture that is committed to human rights. In this context, the
156th meeting of the WHO Executive Board is taking place in Geneva, at a critical moment in
global health governance, marked by challenges such as financing, pandemic preparedness,
emerging threats, climate change, and the need for strengthened multilateral cooperation. The
decisions taken at this meeting will influence the World Health Assembly and set priorities for
2025, consolidating WHO as a central player in responding to emergencies and strengthening
global health systems.
45
mandato. Com isso, tentou completar um movimento iniciado em julho de 2020, quando
notificou oficialmente o abandono da organização. Embora o governo de Joe Biden tenha
revertido a decisão, a retórica de Trump não pode ser compreendida apenas como um
afastamento diplomático; é um ataque ao multilateralismo, à cooperação internacional e à
ciência de qualidade e compromisso com a solidariedade global e premissas para equidade. A
retirada dos EUA da OMS e suas iniciativas anti-científicas, como o apoio a políticas
negacionistas e a desinformação sobre a pandemia de Covid-19, por exemplo, colocam em risco
progressos históricos, como os alcançados pela resposta internacional ao HIV e outras
emergências sanitárias. Ademais, a limitação a sistemas de dados globais também enfraquece a
ciência em sua maior amplitude. Os recentes ataques a agência norteamericana de suporte
internacional, USAID, também fragiliza cenários e potencializa novas emergências humanitárias,
com crises de saúde e da paz. A visão de Trump, e de seu governo, de uma soberania nacional
absoluta, que desconsidera os princípios da solidariedade global e os compromissos
internacionais, reflete a ascensão de políticas nacionalistas que rejeitam a colaboração em
temas globais, como as mudanças climáticas e a saúde. A recusa em apoiar a OMS e a suspensão
do financiamento norte-americano à organização geram um vazio de liderança, e exige da
comunidade global novas estratégias de realinhamento colaborativo internacional, com
múltiplas frentes de trabalho.
A OMS, em sua missão de coordenar a resposta global à saúde, tem sido um pilar
fundamental na implementação de políticas baseadas em evidências científicas. No entanto, a
saída dos Estados Unidos e a crescente politização das questões de saúde pública, como vimos
na resposta à pandemia de Covid-19, põem em risco a integridade do multilateralismo e a
capacidade da organização de agir de maneira eficaz. A politização resultou em críticas
infundadas contra cientistas e em políticas que ignoram o bem-estar coletivo, em favor de
interesses econômicos e ideológicos.
46
ênfase em leis punitivas e estigmatizantes, também compromete a luta contra a epidemia, como
observado em países como Uganda e Rússia.
Diante desse cenário, o Brasil se posiciona como um agente crucial na saúde global,
especialmente em um momento em que a OMS enfrenta desafios financeiros e institucionais
sem precedentes. A cooperação Sul-Sul tem sido um elemento chave para a resposta a
emergências de saúde pública, como os surtos de Mpox e a preparação para pandemias futuras.
O país tem uma longa trajetória de contribuição para iniciativas de saúde pública internacional,
particularmente na cooperação Sul-Sul. Isso inclui parcerias com organizações como a Fiocruz,
bem como com países da África e da América Latina para promover a resposta a emergências
sanitárias. A experiência do Brasil no enfrentamento de doenças infecciosas, como a tuberculose
e o HIV, oferece um modelo de sucesso para outras nações em desenvolvimento. No entanto,
diante do enfraquecimento da OMS e das tentativas de desmantelamento do sistema
multilateral de saúde, a responsabilidade do Brasil se torna ainda maior.
O 156º Conselho Executivo (EB 156, sigla em inglês para Executive Board) da
Organização Mundial da Saúde (OMS) é um dos principais órgãos de governança da instituição,
composto por 34 Estados-membros eleitos pela Assembleia Mundial da Saúde (AMS) por
mandatos de três anos. Sua função é implementar as decisões e diretrizes da AMS, aconselhar
sobre questões políticas e preparar a agenda da próxima Assembleia. O 156º Conselho Executivo
da OMS ocorre em um momento de transformações e desafios significativos para a governança
global da saúde, marcado por mudanças geopolíticas, discussões sobre financiamento e
resposta a emergências sanitárias. Esse encontro, realizado anualmente em dois momentos,
antes e após a AMS, reúne os 34 Estados-membros para deliberar sobre questões críticas que
impactam a saúde pública mundial. Neste ano, os debates se inserem em um contexto de
desafios persistentes, como o fortalecimento da preparação e resposta a pandemias, o
financiamento sustentável para a OMS e a regulação de práticas prejudiciais à saúde pública,
47
como o marketing digital de substitutos do leite materno. Além disso, os reflexos do cenário
geopolítico global, com disputas sobre o financiamento da OMS e a fragmentação da
cooperação multilateral, impõem camadas adicionais de complexidade às discussões.
● Prevenção e Preparação para Pandemias: Dr. Tedros ressaltou que o mundo não pode
repetir os erros cometidos durante a pandemia de COVID-19. Ele enfatizou a necessidade
de acelerar as negociações sobre o Acordo Pandêmico e a reforma do Regulamento
Sanitário Internacional, garantindo que mecanismos de resposta sejam fortalecidos e que a
equidade no acesso a contramedidas médicas seja priorizada.
48
obrigatórias dos Estados-membros, para garantir maior previsibilidade no financiamento da
organização.
A retirada dos EUA compromete um dos pilares financeiros da OMS, uma vez que o país
era seu maior contribuinte. Entretanto, os demais grandes financiadores – União Europeia,
Alemanha, Reino Unido, China, Japão, Canadá e França – reafirmaram seu apoio, com destaque
49
para a Alemanha, que se posicionou como defensora do multilateralismo e pediu um
compromisso mais sólido dos Estados-membros. O Reino Unido anunciou um novo aporte
flexível para a OMS, enquanto a China ressaltou a necessidade de reduzir as desigualdades no
acesso à saúde. França defendeu reformas no financiamento para evitar um enfraquecimento
institucional que poderia comprometer a resposta global a emergências sanitárias.
Tedros rebateu os argumentos da administração Trump, que justificou a saída dos EUA
alegando falhas na governança da OMS. Segundo o diretor-geral, a organização implementou as
reformas mais abrangentes de sua história nos últimos sete anos, corrigindo fragilidades
estruturais e aprimorando a transparência e a prestação de contas. O Diretor Geral da OMS
também contestou a alegação de que os EUA eram explorados financeiramente, destacando
que as contribuições voluntárias do país sempre foram superiores às obrigatórias, e que a OMS
tem trabalhado para reduzir sua dependência de poucos doadores.
Quanto à resposta à COVID-19, Tedros defendeu que a OMS agiu rapidamente, emitindo
alertas e diretrizes antes mesmo do primeiro óbito oficial na China. Ele mencionou que a
organização adotou mais de 300 recomendações de revisões independentes e criou novas
estruturas, como o Fundo Pandêmico e o Hub de Inteligência Epidemiológica, para fortalecer a
segurança sanitária global. Por fim, ele rejeitou a acusação de que a OMS estaria sujeita à
influência política inadequada de determinados países, afirmando que a organização mantém
sua imparcialidade ao seguir a ciência como principal critério de decisão.
Além disso, o Conselho Executivo discutirá os procedimentos a serem seguidos caso haja
queixas formais contra o diretor-geral, evidenciando um crescente escrutínio sobre a liderança
da organização.
A saída dos EUA da OMS representa um desafio crítico para a governança da saúde
global, impactando desde o financiamento da organização até a implementação de programas
essenciais, sobretudo nos países mais vulneráveis. A reação dos demais membros demonstra
50
um compromisso com o multilateralismo, mas também evidencia a necessidade de reformas
estruturais para garantir a sustentabilidade da OMS.
A disputa entre Tedros e a administração Trump reflete um embate maior sobre o papel
da OMS no cenário internacional e sua capacidade de manter independência política. Enquanto
a organização busca fortalecer sua base financeira e aprimorar sua governança, o futuro da
cooperação internacional em saúde dependerá de como os países equilibram seus interesses
nacionais com a necessidade de um sistema global robusto e eficiente.
Com relação aos demais tópicos, uma das iniciativas que se destacam na pauta do EB
156 é a Resolução sobre a regulação do marketing digital de substitutos do leite materno. É
liderada pelo Brasil e México, com o apoio de Armênia, Bangladesh, Chile, Colômbia, El Salvador,
Iraque, Lesoto, Noruega, Panamá, Paraguai, Peru, Eslováquia, Sri Lanka, Uruguai e Vanuatu.
51
evidências científicas. O Brasil tem desempenhado um papel de liderança nessa discussão,
reforçando sua histórica defesa de políticas de saúde pública e regulação de interesses
comerciais que impactam a saúde infantil. A resolução será debatida no EB 156 sob o Item 14
da agenda, relacionado à Estratégia Global para a Saúde de Mulheres, Crianças e Adolescentes.
E a OPAS?
O blog Monitor da Saúde, escrito por André Medici, publicou um apanhado sobre as
consequências para a OPS das mudanças nas políticas dos EUA sobre o financiamento e as
operações da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Ele destacou que a retirada dos EUA
da Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciada pelo presidente Donald Trump e o
subsequente congelamento temporário dos fundos de ajuda internacional podem ter
implicações na OPAS, que depende significativamente das contribuições dos EUA. Também
fornece uma visão geral das fontes de financiamento da OPAS e da importância histórica da
OPAS para a política de saúde dos EUA.
Principais conclusões:
● Retirada dos EUA da OMS: A ordem executiva do presidente Trump para retirar os EUA da
OMS e o congelamento temporário dos fundos de ajuda internacional criaram incerteza e
possíveis interrupções no financiamento global da saúde, inclusive para a OPAS.
● Fontes de financiamento para a OPAS: O orçamento da OPAS para o biênio 2022–2023 foi
derivado de contribuições avaliadas dos Estados Membros (20%), contribuições voluntárias
(37%), alocações da OMS (16%), outras fontes (9%) e programas especiais e fundos de
emergência (30%).
● Dependência dos EUA Contribuições: A OPAS depende fortemente das contribuições dos
EUA, tanto avaliadas quanto voluntárias. Quaisquer mudanças nas políticas de
financiamento dos EUA podem impactar significativamente a estabilidade financeira da
OPAS e sua capacidade de apoiar iniciativas de saúde nas Américas.
● Impacto potencial dos cortes de financiamento: As reduções nas contribuições dos EUA
podem prejudicar a capacidade da OPAS de responder aos desafios da saúde pública,
afetando os programas essenciais de saúde e a segurança sanitária regional.
52
● Importância estratégica: O trabalho da OPAS na vigilância de doenças, programas de
erradicação e gestão de crises de saúde é vital para minimizar os riscos à saúde dos EUA, da
América Latina e do Caribe.
● Incerteza futura: As contribuições futuras exatas dos EUA para a OPAS permanecem incertas
e dependerão de decisões políticas em andamento, alocações orçamentárias e
considerações geopolíticas.
Apesar da incerteza do momento, muitos atores esperam que o impacto na OPAS seja
limitado, pois, embora tenha grande dependência dos EUA, a organização possui personalidade
jurídica própria e não depende da OMS. Esse aspecto se reflete em seu financiamento, que, em
grande parte, é independente da OMS. Além disso, os indícios sugerem que o alvo dos EUA é
especificamente a OMS. Em 2020, por exemplo, quando os EUA anunciaram sua saída da OMS,
continuaram participando ativamente da OPAS e mantiveram seu financiamento. No entanto, é
fundamental permanecer vigilante sobre os desdobramentos desse tema, especialmente no
contexto da elaboração do plano estratégico da organização para o período de 2026 a 2031, cuja
aprovação está prevista para ocorrer no Conselho Diretivo em setembro deste ano.
53
O sentido e o impacto da retirada dos Estados Unidos da OMS73
Deisy Ventura
Do ponto de vista jurídico, a notificação de retirada levaria um ano para produzir os seus
efeitos. No entanto, não estamos diante de um simples afastamento, e sim de uma ruptura
estrondosa. Trump anunciou igualmente: a suspensão imediata de qualquer forma de
financiamento ou apoio do governo norte-americano à OMS; a ordem de retorno à Washington
dos servidores ou contratados dos Estados Unidos que desempenhem alguma função na
organização; e a retirada das negociações do acordo sobre pandemias, e também recusará as
emendas ao Regulamento Sanitário Internacional recentemente adotadas.
Sendo os Estados Unidos um dos principais financiadores da OMS, com o perdão pela
analogia, é claro que não estamos diante de uma separação amigável, e sim de um divórcio
litigioso, daqueles que incluem disputas pela partilha dos bens e pela guarda dos filhos.
Em primeiro lugar, a mais evidente: sair da OMS faz parte de um amplo e vigoroso
ataque ao multilateralismo, sendo anunciada a ruptura de outros compromissos internacionais,
entre eles os relativos a mudanças climáticas, também abandonados no primeiro mandato de
Trump. Sob o pretexto de defender a soberania nacional absoluta – no caso, a dos Estados
Unidos, eis que a dos demais países é por eles aviltada de forma sistemática, tanto por
republicanos como por democratas –, é bastante conhecida e comentada a aversão de Trump e
de suas bases de apoio à cooperação multilateral e às organizações internacionais, personagens
73
Publicado orginalmente no Jornal da USP, edição de 21/01/2025, reproduzido com autorização da
autora. Acesso ao original: O sentido e o impacto da retirada dos Estados Unidos da OMS – Jornal da USP
54
frequentes de mentiras deslavadas e dos enredos de teorias conspiratórias. Em setembro de
2020, por exemplo, a Casa Branca afirmou, em nota oficial, que a OMS não havia demonstrado
independência em relação ao Partido Comunista Chinês, entre outras pérolas. Na verdade, a
ferrenha oposição das extremas direitas ao sistema da Organização das Nações Unidas (ONU)
está relacionada principalmente à promoção de direitos individuais e coletivos pelo sistema
onusiano, que são contestados por alianças transnacionais conservadoras.
Longe de ser perfeita, porém, a OMS é imprescindível. Por meio de seus comitês de
especialistas, órgãos e parcerias, ela fomenta, produz e difunde evidências científicas,
cumprindo missões que vão da elaboração de lista de medicamentos essenciais à classificação
internacional das doenças, passando por padrões que cotidianamente funcionam como
parâmetros para sistemas e profissionais de saúde, legisladores, pesquisadores, entidades
sociais, mídias etc.
Ora, para aqueles que pretendem impor as suas visões de mundo e os seus interesses
pessoais à coletividade, nada poderia ser mais inconveniente do que a atuação da OMS. Quando
trazidos para o terreno das evidências científicas, extremistas como o presidente Trump buscam
desqualificar os cientistas e pesquisadores, ou forjar evidências que sirvam aos seus objetivos
políticos imediatos. Esta prática recorrente gera falsas controvérsias científicas que, mesmo
quando desmentidas, causam estragos difíceis de reverter, entre eles morte e adoecimento
evitáveis, autoridades sanitárias desacreditadas e populações confusas. Neste plano, operam
publicações predatórias, ausência de regulação adequada da difusão de informações,
impunidade de quem atenta contra a saúde pública etc.
55
“fatos paralelos”, que declarou: “Isto é covid-19, não covid-1, pessoal. Seria de esperar que as
pessoas encarregadas dos fatos e números da OMS estivessem sabendo disso”, jogando com o
nome da doença para dar a entender que aquele seria o seu décimo nono surto, quando, como
sabemos, 2019 é o ano em que o vírus foi reconhecido.
A abordagem da pandemia que se afirma nos Estados Unidos é um risco não apenas
para o país, mas também para o mundo. Vale recordar que, em 2017, Trump eliminou o órgão
de preparação para emergências de saúde que havia sido criado por Barak Obama. Já anunciou
que fechará igualmente órgão similar criado por Biden. Em entrevista à revista Time, Trump
afirmou que a preparação para pandemias não compensa porque as doenças são muito variadas
e produtos de saúde podem ficar obsoletos, sendo melhor esperar que as crises aconteçam para
avaliar o que se pode fazer.
Por certo, Trump enfrentará a resistência de governos locais e atores sociais, e também
de setores dos poderes Legislativo e Judiciário. Mas um movimento de massas, a exemplo do
que sustenta o presidente, que exerça uma oposição aguerrida à agenda extremista, parece
estar distante.
É à luz dessas três dimensões que deve ser lida a notícia divulgada em primeira mão pelo
grande jornalista Jamil Chade, que fez uma brilhante cobertura da campanha eleitoral norte-
americana de 2024, e da mesma forma oferece uma leitura única da posse do novo
presidente. Segundo Jamil, Trump anunciou que vai “identificar parceiros confiáveis e
transparentes dos Estados Unidos e internacionais para assumir as atividades necessárias
anteriormente realizadas pela OMS”, e que a Estratégia de Segurança da Saúde Global dos EUA
de 2024 deve ser substituída assim que possível.
Assim, mais do que a retirada dos Estados Unidos da OMS, há a consolidação de um polo
rival no cenário internacional, já presente no primeiro mandato de Trump, e agora fortalecido.
As alianças conservadoras transnacionais encontrarão no presidente um ativista experiente, que
domina os meandros do Estado, conhecedor de todo o potencial de caos e desinformação que
uma pandemia pode trazer. Naquilo que vem sendo chamado de neoliberalismo
epidemiológico, manifestado entre outras formas pelo uso da imunidade de rebanho por
contágio como resposta à covid-19 – cientificamente falsa e, ainda que fosse verdadeira,
eticamente inaceitável pelo número avassalador de mortes evitáveis que causa. Deixar que as
epidemias avancem pode se afirmar como uma estratégia extremista para que os mais
vulneráveis, na qualidade de indesejados, sejam eliminados.
56
O poderio econômico, político e militar dos Estados Unidos se traduz na capacidade de
estabelecer iniciativas de cooperação em saúde com países de média e baixa renda orientadas
por valores antagônicos aos da OMS. Trump pode induzir ao desrespeito a direitos conquistados,
à frente deles os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, das populações LGBTQIA+ e dos
migrantes e refugiados, além de direitos relacionados ao meio ambiente e à proteção dos povos
originários. Também está clara a sua capacidade de organizar, financiar e promover a
desinformação em saúde em escalas inéditas, considerando o lugar de honra reservado aos
grandes empresários do setor da tecnologia na nova gestão.
Cresce, então, a importância de países como o Brasil no cenário da saúde global. Nossas
tarefas são muitas. Mas isto é assunto para uma outra coluna.
57
O que esperar de um ano que começou com tanta insegurança?74
Sonia Fleury
O início do governo Trump já deixou claras suas posições e ações de desrespeito aos
direitos humanos e às instituições democráticas, como no caso da negação do direito de
cidadania às crianças nascidas em território dos Estados Unidos, o que fere a Emenda 14 da
Constituição e está sendo objeto de disputa judicial. Ademais, centrando seu discurso na força
e na virilidade, tomou medidas contrárias aos direitos reprodutivos e eliminou medidas
progressistas como a identificação não binária. Tornando-se símbolo do autoritarismo no
mundo, foi sufragado pelo voto popular, conseguindo apoio inusitado nas comunidades de
latinos e negros. Isso decorre de uma conjuntura na qual a falta de perspectivas e a insegurança
econômica e social tornam as classes médias baixas presas fáceis dos discursos de líderes que
pretendem resgatar valores tradicionais e lhes oferecem promessas de retorno a uma situação
idealizada.
Trump escolheu para comandar o Department of Health and Human Services (HHS), o
equivalente ao nosso Ministério da Saúde, tendo como missão supervisionar as principais
agências de saúde do país, Robert F. Kenedy Jr, um negacionista que segue defendendo que
vacinas provocam autismo, em um país onde a cobertura vacinal já é baixa, atendendo a
pressões empresariais. Também pretende recomendar às autoridades públicas locais acabar
com a fluoretação da água. Ambas as posições, terão impactos severos na deterioração das
condições de saúde da população estadunidense. Segundo Paulo Capel “o negacionismo, em
58
suas diferentes expressões, das vacinas às mudanças climáticas, não é, portanto,
desinteressado. Não é apenas produto de notável ignorância. É negócio”[1].
A retirada da participação dos EUA na OMS, que ainda deve ser aprovada pelo
Parlamento, representará um grande impacto para o desenvolvimento da ciência e tecnologia
em saúde, já que importantes instituições americanas estiveram na liderança de pesquisas
médicas e participam, através da OMS, de redes que articulam a produção de informações sobre
doenças e a difusão do desenvolvimento científico. Mas já se faz sentir o peso das decisões no
setor saúde, com o cancelamento de vários eventos científicos e proibição da divulgação de
comunicações externas, como relatórios científicos regulares e avisos de saúde, pelas agências
federais de saúde. Sem falar no temor que se espalha, pelo fato de que agências dos EUA e
Rússia são as únicas detentoras do vírus da varíola, enfermidade erradicada do mundo.
Além da demissão intempestiva e, para muitos, fora dos trâmites legais, de inspetores
gerais das grandes agências federais, ligados a programas de diversidade, equidade, inclusão,
acessibilidade e meio ambiente, consolida-se a estratégia de desmonte das políticas e da
inteligência estatal em áreas diretamente vinculadas à promoção do bem-estar dos cidadãos e
preservação do bem comum ambiental. Ao designar Elon Musk para dirigir o novo
Departamento de Eficiência Governamental, mesmo gerando questões éticas pelo fato de suas
empresas prestarem serviços ao governo, o presidente mostra a direção adotada, ao pretender
reduzir o tamanho do Estado em áreas que beneficiam a cidadania e impulsionar a indústria de
ativos digitais. O desmantelamento das burocracias pode ser entendido como uma mudança na
natureza política do Estado, enfraquecendo seus componentes democráticos e robustecendo os
processos que envolvem o poder militar e empresarial, inclusive do próprio presidente, que
faturou US$ 25 bilhões em um único dia com a moeda digital que leva o seu nome.
59
como ausência da intervenção estatal e a desregulação, atribuindo primazia ao individualismo
possessivo e competitivo sobre todos os demais valores na organização das relações econômicas
e sociais.
60
redução de impostos para que as indústrias se instalem em seu território. Uma estratégia
arriscada, face ao possível aumento da inflação, que já é um dos principais problemas para a
população, em especial para as classes médias.
José Fiori pondera que há diferenças para o governo Trump, entre os graus de liberdade
no âmbito nacional e no internacional: “As políticas internas de Donald Trump envolvem
decisões soberanas e autônomas, e poderão ser tomadas sem maiores consultas a outros países
e governos. Mas, no caso da agenda internacional do novo governo, o problema é muito mais
complexo, porque envolve acordos passados dos EUA, e se enfrenta com a vontade soberana
de outros países, e de outras grandes potências, como no caso da China, do Irã, da Rússia, ou
mesmo dos seus aliados da Otan”[3].
A perspectiva imperial adotada por Trump não se coaduna com um mundo multipolar,
no qual a China vem ocupando papel crescente no desenvolvimento tecnológico e nas relações
econômicas com outras nações, estreitando suas relações com a Rússia e intensificando sua
presença econômica com investimentos em diferentes países na Rota da Seda. Assim, o vazio
deixado pela política de Trump em relação à OMS e à liderança no desenvolvimento científico e
tecnológico em saúde abre espaço para que a China busque ocupar esse lugar; efeito não
considerado no cálculo político trumpista.
A situação é ainda mais dramática quando comparados dados sobre a participação dos
Estados Unidos no PIB mundial versus 43 países do Sul Global.
“Dividida em blocos, e com a maior parte dos países separados ou distantes do Brasil,
por conta do contencioso venezuelano, a América do Sul deverá se manter na sua condição
tradicional de periferia econômica do sistema internacional, mesmo diversificando e ampliando
seus mercados na direção da Ásia. Para não ser assim, o Brasil terá que assumir a liderança
material do continente, construindo uma estrutura produtiva que combine indústrias de alto
valor agregado e tecnologias de ponta, com a produção de alimentos e commodities de alta
produtividade, mantendo sua condição de grande produtor de energia tradicional e energia
limpa”. Para tanto, deverá enfrentar uma concorrência acirrada e um boicote explícito de
Donald Trump[7].
61
Bibliografia
[1]https://outraspalavras.net/outrasmidias/eua-os-arautos-do-negacionismo-de-negocio/
[2] Fleury, Sonia (org). Cidadania em Perigo – Desmonte das Políticas Sociais e Desdemocratização no
Brasil. Edições Livres, Cebes. Rio de Janeiro, 2024.
[3] https://aterraeredonda.com.br/donald-trump-e-o-sistema-mundial/
[4] MAGA – Make America Great Again
[5] Instituto Tricontinental – Hiperimperialismo: um novo estágio decadente perigoso
[6] https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/trump-ea-doenca-do-colonizador-ressentido/
[7] https://outraspalavras.net/descolonizacoes/a-america-do-sul-a-beira-do-futuro/
62
Sobre o Direito Humano à Saúde em 2025:
Do descredito do presente à reivindicação sistêmica de uma transformação das
políticas e sistemas de saúde
63
O convite a esta inflexão reflexiva nos informes e na sua leitura, está relacionado com a
percepção do debilitamento crescente das politicas de saúde que propõem responder à
totalidade do direito à saúde, concedendo mais e mais ao utilitarismo e à aceitação passiva de
desigualdades injustas, baseadas em avaliações que naturalizam as exclusões sociais a partir das
regras de restrição orçamentárias derivadas das políticas de austeridade e da ideia de resiliência
como aceitação passiva das restrições discriminatórias.
A filosofia dos direitos humanos em uma tradição não liberal, necessita servir-se da
materialidade desses direitos na vida cotidiana dos povos - direitos humanos plenos baseados
no desenvolvimento e não na naturalização de um crescimento econômico que aceita o limite
dos direitos humanos mediante uma reprodução de desigualdades injustas.
Especial destaque deveria ser dado aos processos de regressão dos direitos econômicos,
sociais e culturais, pois um princípio fundamental da jurisprudência internacional aplicada a
esses direitos é o da não regressividade, hoje tornada natural pela imposição das políticas de
austeridade e das medidas coercitivas unilaterais que literalmente destrocam os sistemas
nacionais de saúde e de seguridade social das nações e populações castigados.
Por isso convidamos a uma leitura crítica da agenda do CDH e suas projeções na AGNU,
com o objetivo de entender o potencial crítico do enfoque radical dos direitos humanos como
reorientação da tendencia hegemônica de naturalizar sistemas públicos de saúde insuficientes,
segmentados e fragmentados e por consequência geradores de injustiça social, ao lançar ao
mercado todos aqueles que não alcançam seus direitos.
Uma leitura importante é da agenda de resoluções adotadas pela AGNU em 2024 a partir
das resoluções adotadas preliminarmente pelo Conselho de Direitos Humanos. No documento
de informes do CDH adotados pela 79ª AGNU g2415591.pdf , podemos identificar a variedade
de temas que dispõe sobre os direitos de populações frente aos processos de discriminação e
exclusão e frente às exposições a vários agravos que ameaçam a saúde, desde elementos mais
estruturais como da ordem econômica injusta até o acesso a bens essenciais como água,
alimentos e habitação, mas infelizmente pouco se afirma sobre a materialidade sistêmica de
sistemas e serviços de saúde como garantia do direito humano a saúde, como se houvesse uma
barreira que impede cruzar a linha de dimensionamento e reivindicação do direitos em sua
máxima expressão coletiva. Parece haver uma despolitização do direito à saúde como guia para
a organização de políticas e sistemas, no momento em que as agendas identitárias tomam a
centralidade na explicação das desigualdades injustas, sem incluir a vertente de classe social e,
portanto, sem explicar cabalmente a origem plena das inequidades e sua reprodução social e
econômica.
Com isso não queremos dizer que esteja totalmente ausente a vertente crítica dos
direitos humanos, particularmente presente em vários informes dos relatores especiais e
especialistas independentes, mas o que chama a atenção é que não conseguem direcionar o
rumo geral dos debates e das resoluções, restringindo-se a um conjunto de informes valentes,
porém sem maior possibilidade de mudar a natureza dos processos políticos e da ordem vigente.
64
Necessitamos avaliar como reverter esta situação, o que demandará uma outra dinâmica
na aplicação dos direitos e sua vinculação com medidas que penalizem sua violação, em
particular as violações massivas e sistemáticas, ao identificar quem ganha e quem perde nas
ações que afetam coletividades e impedem a materialidade dos direitos de povos e indivíduos.
Enfoque particularmente útil para abordar a negação do direito a saúde, derivada de políticas
que tem a intenção de provocar danos ainda que não a assumam.
Elementos para um debate sobre situação e futuro da agenda dos Direitos Humanos no ano
de 2025
O Comitê Consultivo do Conselho de Direitos Humanos concluiu sua 32ª sessão, realizada
desde 16 de dezembro na Câmara de Direitos Humanos e Aliança das Civilizações (Sala XX) no
Palais des Nations em Genebra. No final da sessão, o Comitê, que serve como "think tank" do
Conselho, atuou em seis questões.
Sobre a violência de gênero facilitada pela tecnologia e seu impacto sobre mulheres e
meninas (resolução 56/11), o Comitê decidiu divulgar um questionário após a sessão para buscar
as opiniões e contribuições das partes interessadas e detentores de direitos, incluindo
sobreviventes e organizações centradas em sobreviventes e sociedade civil, incluindo
organizações de direitos das mulheres e jovens Também solicitou ao grupo de redação que
apresentasse um esboço do relatório ao Consultivo Comitê em sua 33ª sessão.
Sobre as implicações da poluição plástica para o pleno gozo dos direitos humanos
(decisão 56/117), o Comitê solicitou ao grupo de redação que preparasse um projeto de
questionário para buscar as opiniões e contribuições das partes interessadas e titulares de
direitos relevantes, incluindo povos indígenas e defensores dos direitos humanos ambientais, a
ser considerado pelo Comitê Consultivo em sua 33ª sessão e enviado posteriormente.
Por fim, o Comitê decidiu submeter uma proposta de pesquisa intitulada Elaboração de
princípios orientadores sobre a aplicação do marco de direitos humanos à neurotecnologia,
apresentada pela membro do Comitê, Milena Costas Trascasas, para consideração e aprovação
pelo Conselho de Direitos Humanos.
65
A sessão de uma semana foi aberta por Omar Zniber, presidente do Conselho de Direitos
Humanos, que disse que a representação das mulheres no Comitê atingiu a paridade de gênero,
com mais de 50% dos 18 assentos agora ocupados por mulheres. Isso representou um progresso
desde 2019, disse ele, quando apenas três especialistas do Comitê eram mulheres.
O Sr. Zniber forneceu uma visão geral do trabalho do Conselho desde fevereiro de 2024
e referiu-se à discussão presidencial informal de alto nível sobre novas tecnologias, inteligência
artificial e exclusão digital realizada em setembro de 2024, durante a qual os participantes
ressaltaram a necessidade premente de fechar a exclusão digital para evitar a exacerbação das
desigualdades globais e garantir o acesso inclusivo aos avanços tecnológicos, bem como a
urgência de estabelecer diretrizes claras para a aplicação de padrões de direitos humanos na era
digital.
Durante esta sessão, presidida por Javier Palummo, o Comitê realizou uma reunião
privada com organizações não governamentais e debateu os seus métodos de trabalho.
Conselho de Direitos Humanos elege Jürg Lauber, da Suíça, como seu presidente para 2025 |
ACNUDH
"Lembremos que, ao defender os direitos humanos, podemos evitar danos antes que
aconteçam", disse o presidente do Conselho, embaixador Omar Zniber, do Marrocos. "Ao
promover os direitos humanos, criamos um mundo mais justo. Ao proteger os direitos humanos,
protegemos nosso futuro."
66
O embaixador Lauber disse aos delegados dos 47 Estados-membros do Conselho: "Sou
profundamente grato a vocês por me elegerem como o 19º presidente do Conselho de Direitos
Humanos e estou ansioso para acompanhá-los nesta jornada em 2025".
67
Os membros do Conselho também aprovaram o tema de um painel de discussão sobre
a integração dos direitos humanos como: "Trigésimo aniversário da Declaração e Plataforma de
Ação de Pequim". O painel está programado para ocorrer na 58ª sessão do Conselho (fevereiro-
abril de 2025).
Notas de orientação para a realização da 58ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU,
24 de fevereiro a 4 de abril de 2025 a-hrc-58-1-aev.docx
Data e local da sessão: O Conselho de Direitos Humanos realizará sua quinquagésima oitava
sessão de 24 de fevereiro a 4 de abril de 2025 no Escritório das Nações Unidas em Genebra.
68
Seleção e nomeação dos titulares de mandatos
Relatório anual do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e relatórios
do Escritório do Alto Comissariado e do Secretário-Geral
Relatório anual do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos
Relatório anual do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e relatórios
do Gabinete do Alto Comissariado e do Secretário-Geral
Relatório anual do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos
69
Direito ao trabalho
Em sua resolução 55/9, o Conselho de Direitos Humanos decidiu organizar, durante sua
quinquagésima oitava sessão, um painel de discussão sobre a realização dos direitos ao trabalho
e à seguridade social na economia informal, no contexto de economias sustentáveis e inclusivas,
com ênfase na importância da cooperação e das parcerias internacionais nesse sentido.
identificar os principais desafios, experiências e boas práticas (ver anexo).
Direitos culturais
70
Centralidade do cuidado e apoio na perspectiva dos direitos humanos
Direito à alimentação
71
Liberdade de religião ou de crença
Direito à privacidade
Direito ao desenvolvimento
Direitos da criança
Pessoas desaparecidas
72
Em sua resolução 55/8, o Conselho de Direitos Humanos decidiu realizar seu próximo
debate interativo anual sobre os direitos das pessoas com deficiência em sua quinquagésima
oitava sessão e concentrá-lo nos direitos das pessoas com deficiência e nas tecnologias e
dispositivos digitais, incluindo tecnologias assistivas. Na sua Resolução 57/6, o Conselho decidiu
incluir o tema da luta contra o ciberassédio contra as pessoas com deficiência no contexto desse
debate interativo sobre os direitos das pessoas com deficiência (ver anexo). O debate será
totalmente acessível às pessoas com deficiência e será informado pelo relatório do ACNUDH
sobre os direitos das pessoas com deficiência e as tecnologias e dispositivos digitais, incluindo
tecnologias assistivas (A/HRC/58/33).
Questões de minorias
Prevenção do genocídio
73
genocídio e solicitou ao ACNUDH que garantisse que o painel de discussão fosse acessível a
pessoas com deficiência (ver anexo).
74
Elaboração de um instrumento internacional juridicamente vinculante sobre empresas
transnacionais e outras empresas com respeito aos direitos humanos
Em sua resolução 19/23, o Conselho de Direitos Humanos decidiu que o Fórum sobre
Questões de Minorias deveria continuar a se reunir anualmente. O Fórum realizou a sua décima
sétima sessão nos dias 28 e 29 de novembro de 2024, subordinada ao tema "Representação
minoritária e auto-representação em espaços e discursos públicos". O Conselho terá diante de
si o relatório do Relator Especial sobre questões de minorias, contendo as recomendações feitas
pelo Fórum em sua décima sétima sessão (A/HRC/58/69).
Procedimentos especiais
De acordo com sua decisão 2/102, o Conselho de Direitos Humanos terá diante de si o
relatório sobre a trigésima reunião anual de relatores especiais, especialistas independentes e
presidentes de grupos de trabalho dos procedimentos especiais do Conselho de Direitos
Humanos, realizada de 9 a 13 de dezembro de 2024 (A/HRC/58/70 e A/HRC/58/70/Add.1).
Fórum Social
75
Em sua resolução 53/20, o Conselho de Direitos Humanos decidiu que o Fórum Social se
reuniria por dois dias úteis em 2024 e que deveria se concentrar na contribuição do
financiamento para o desenvolvimento para o avanço de todos os direitos humanos para todos.
Na mesma resolução, o Conselho solicitou ao Fórum que apresentasse um relatório contendo
suas conclusões e recomendações ao Conselho em sua quinquagésima oitava sessão. O
Conselho terá diante de si o relatório do Fórum, que se realizou em 31 de outubro e 1 de
novembro de 2024 (A/HRC/58/71).
Apelo global por ações concretas para a eliminação do racismo, discriminação racial, xenofobia
e intolerância correlata e a implementação abrangente e o acompanhamento da Declaração e
do Programa de Ação de Durban
76
Em sua resolução 52/37, o Conselho de Direitos Humanos decidiu renovar o mandato do
Grupo de Trabalho Intergovernamental sobre a Implementação Efetiva da Declaração e do
Programa de Ação de Durban por um período adicional de três anos e solicitou ao Presidente do
Grupo de Trabalho que apresentasse um relatório anual sobre suas sessões ao Conselho. O
Conselho terá diante de si uma nota do Secretariado referindo-se ao relatório sobre a situação
da elaboração do projeto de declaração das Nações Unidas sobre a promoção e o pleno respeito
dos direitos humanos dos afrodescendentes que foi apresentado à Assembléia Geral em sua
septuagésima nona sessão (A/79/304). Este relatório contém igualmente um resumo dos
debates do grupo de trabalho na sua vigésima segunda sessão, realizada de 20 a 24 de maio de
2024, e na sua reunião intersessões realizada em 8 e 9 de fevereiro de 2024 (A/HRC/58/75).
Anexo
Painéis de discussão a serem realizados durante a 58ª. sessão do Conselho de Direitos Humanos
Mandato Painel/discussão
Resoluções 16/21 e 57/4 do Painel anual de discussão de alto nível sobre a integração dos direitos
Conselho de Direitos Humanos humanos, sobre o tema "Trigésimo aniversário da Declaração e
Plataforma de Ação de Pequim"
(acessível a pessoas com deficiência)
Resoluções 26/2 e 54/35 do Painel de discussão bienal de alto nível sobre a questão da pena de
Conselho de Direitos Humanos morte, sobre o tema "Contribuição do judiciário para o avanço dos
direitos humanos e a questão da pena de morte"
(acessível a pessoas com deficiência)
Resolução 55/13 do Conselho Painel de discussão sobre alerta precoce e prevenção de genocídio
de Direitos Humanos (acessível a pessoas com deficiência)
Resolução 56/20 do Conselho Painel de discussão sobre a realização dos direitos humanos na
de Direitos Humanos sustentação e aumento dos ganhos obtidos na resposta ao HIV e não
deixando ninguém para trás
(acessível a pessoas com deficiência)
Resolução 55/9 do Conselho Painel de discussão sobre a efetivação dos direitos ao trabalho e à
de Direitos Humanos seguridade social na economia informal
Resoluções 7/9, 55/8 e 57/6 Debate interativo anual sobre os direitos das pessoas com
do Conselho de Direitos deficiência, subordinado ao tema "Direitos das pessoas com
Humanos deficiência: tecnologias digitais e de apoio, combate ao cyberbullying
e inclusão digital"
(acessível a pessoas com deficiência)
Resoluções 7/29 e 55/29 do Reunião anual de um dia inteiro sobre os direitos da criança, sobre o
Conselho de Direitos Humanos tema "Desenvolvimento na primeira infância"
(acessível a pessoas com deficiência)
77
Ethical equity redistribution/contribution to global good
Juan Garay
Summary. The current inequitable distribution of resources between countries results in the
loss of 10% of the potential human life that could be feasible for all and sustainable within
nature's cycles. In this paper, we present a stepwise approach for the logical and ethical
redistribution of resources between countries that would help preserve human life, maintain
natural cycles, and foster knowledge advancement toward improved wellbeing in harmony with
nature. This approach involves first reallocating resources above the hoarding threshold, then
addressing those above the excess threshold, thereby releasing approximately 30% of the
world’s GDP that is disconnected from human wellbeing, contributes to environmental
degradation, and undermines the prospects for future generations. The final step is to smooth
the distribution into a normal bell curve based on equity, collaboration, and ecological balance.
Introduction
In previous articles and interactive SHEM webinarsi, we have identified ethical ecological
thresholds for the remainder of the centuryii, developed models for healthy, replicable, and
sustainable national practicesiii, examined the burden of health inequity to measure the gap
from the global shared health goaliv, and outlined the thresholds for equitable resource
distribution that define the equity curvev. In this paper, we analyze what it would take to
transform the current unjust distribution of resources—causing both intra- and
intergenerational inequity and loss of life (human and other forms)—into systems that align with
the universal right to health. We also explore approaches that preserve nature for future
generations, reduce global work and production, and promote the advancement of knowledge
to enhance human wellbeing in harmony with the environment.
1. Scene setting
The gap from this shared goal—defined as the burden of health inequity—is measured
either as a net figure (number of excess deaths or life-years lost) or as a relative proportion
(percentage of all deaths or population-years). Over the past 40 years, this gap has remained
largely stable, with 25-30% of all deaths attributable to global injustice, resulting in the loss of
approximately 10% of human life potential due to inequityvii.
78
Identifying the best feasible health reference levels also enables us to define the
minimum level of economic exchange capacity (GDP per capita) below which no country has
achieved universal access to health or the best feasible health—a threshold we call the "dignity
threshold."viii This threshold is less than half the global average GDP per capita. Yet, around half
the world’s population lives in countries where the national average GDP per capita falls below
this dignity threshold, leaving billions deprived of the global health goal and the universal right
to health measured in life years achievable for all.
This deficit, which denies over 4 billion people the opportunity to lead healthy lives,
amounts to approximately 7% of the world’s economic resources. Addressing this deficit would
require redistributing wealth from the top 5% population living in the GDP pc- richest nations—
those with GDP per capita levels more than five times the world average and over ten times the
dignity threshold. We refer to this upper limit as the "hoarding threshold." Redistribution from
hoarding to deficit is a critical first step toward achieving economic and health equity and justice.
However, the global average GDP per capita is itself unsustainable in terms of natural
resource consumption. We have identified the resource levels that enable the best well-being
and health outcomes (highest levels of life expectancy at birth), even if not universally replicable
or sustainable. Some subnational references demonstrate that maximum well-being requires no
more than twice the world average economic exchange (GDP per capita). Beyond this level, well-
being does not improve further—referred to by some as "wasted GDP"ix—and continued
economic excess accelerates environmental destruction and undermines future generations
(hence becoming “toxic GDP”x). We term this upper boundary the "excess threshold."
Ensuring the best feasible health for all humans, including future generations, hinges on
the principle that no one should have more than is necessary to enjoy the highest levels of well-
being and lifespan. Fair societies and nations require living within equity margins—from the
dignity threshold to the excess threshold. Achieving this would reduce the world’s GDP
(production, trade, consumption, speculation) by 30% while increasing 10% human life and
wellbeing and preserving those levels for coming generations by respecting and caring for
nature. Moreover, such equitable and sustainable degrowth could direct 10% of economic
resources toward the collective advancement of knowledge (independent of market dynamics)
-over 10 times the present levelsxi-and reduce one-fifth of the time and energy spent on working,
producing, and consuming (as some countries are beginning to considerxii), improving
progressively and in a sustainable way human wellbeing in our shared planet.
We must first understand the current distribution of economic resources and design
redistributive systems that lead to global equity and justice. The calculations and graphs
presented here aim to define these pathways.
We analyze the distribution of resources among countries by levels of GDP per capita
(GDP pc), which reflects the means and capacity to access and control natural and manufactured
goods and the services associated with them.
The graph below shows the cumulative population (horizontal axis) and GDP (vertical
axis) of all countries in 2023, arranged from the lowest to the highest GDP pc. This distribution
is compared to a hypothetical egalitarian scenario, where all individuals would have equal
79
economic means. The gap between the two curves represents the Gini indexxiii, a measure of
inequality: it would be zero in a perfectly equal society and one if all resources were
concentrated in a single entity. Currently, the global GDP Gini index stands at 0.52, indicating
that the world is more than halfway to complete inequality.
Each dot on the graph represents a country. The horizontal length corresponds to its
population (with India and China being the largest), and the steepness of the curve reflects the
country’s economic capacity or use, which increases with GDP pc. GDP pc ranges from the lowest
in Burundi ($262 per capita) to the highest in Monaco ($218,375 per capita)—a difference of
833 times.
Figure 1 - Current international GDP distribution vs egalitarian model, Gini index 2023
Given the large variation in the population size of countries, we have disaggregated data
in the three largest countries in terms of population - India, China and the USA-. The resulting
curve is displayed below. As disaggregation evens the differences between the mentioned
countries and the rest, the Gini index is reduced to 0.50. Higher levels of disaggregation applied
to all countries would smooth the curve of cumulative income and slightly reduce the Gini index,
as we will later see with the normal distribution, even if skewed, the tendency of any
distribution.
Figure 2 - International Gini curve with disagregation by subnational data form India, China and the
USA, 2023
80
While the Gini index decreases with higher disaggregation of Population/GDP pc/GDP in
the three largest countries, the range also increases, with lowest GDP pc still in Burundi and
highest in Columbia/USA, with 263,220 $ GDP pc, that is, over a thousand times higher than the
lowest national average. Interestingly Columbia state/ Washington DC, has concentrated as well
the highest political and military power in the world in the last 60 years.
Figure 3 Distribution of population and GDP by countries listed by GDP pc levels, 2023
The graph above displays the distribution of the population (orange bars) and GDP (grey
line) by country, from lowest to highest GDP pc. It shows a clear disconnect between people in
the mid and left side, and the majority of resources, concentrated in the right side, with the
highest peak corresponding to the USA.
When plotted by the levels of GDP pc, as below, the graph is even more telling, with a
large share of the population (orange line) below 12,000 $ GDP pc and a large share of the GDP
above $50,000, with countries in the “far right” with low shares of the world´s population yet
concentrating high GDP shares. As we plot here countries´ population and GDP, the three main
peaks are with India (much lower GDP than the proportionate population), China (both quite
even -as China´s GDP pc is very close to the world average) and the USA (with much higher GDP
share than its population).
81
The graph below includes the relation of the above representation of the international
population and GDP, with the 2equity zones” defined by the above-mentioned thresholds:
deficit, equity, excess and hoarding.
Figure 4 - Relation of world´s population and GDP with equity zones and thresholds, 2023
The graph above illustrates the deficit zone, below 3880$ GDP pc with the high
population peak of India; the countries in the equity range (above the dignity threshold and
below the excess threshold of 21,838 $ GDP pc), with the China population and GDP peak at the
center, the excess zone (between the excess and hoarding thresholds) with lower peaks of
population yet higher in GDP (mostly European countries, Canada and Japan) and the hoarding
zone (with GDP pc above 52977 $), with the high GDP peak of the USA and spread out of other
smaller countries in population concentrating resources at the far right.
Figure 5 - Excess deaths (net burden of health inequity) by national average GDP pc intervals,
2023
As mentioned in the introduction, the distribution of the people in the world according
to their national average GDP pc is related to the loss of human life. The above graph depicts
the levels of excess deaths (net burden of health inequity) by country, with almost 90% of them
taking place in the deficit zone, with GDP pc below the dignity threshold.
82
So, what would the world require as economic flows/redistribution between countries to
enable a humanity in equity saving lives, the planet and preserving and improving the living
conditions of coming generations?
The graph below shows how the international distribution of average GDP pc would look
like if the countries in the hoarding zone75 would redistribute their GDP pc above the hoarding
threshold of 52,977$ GDP pc to the countries in the deficit zone below 3,880 $ GDP pc. It would
result in a distribution of the world population between dignity and hoarding levels, with three
peaks of population: some half of the world population with the dignity GDP pc, a peak around
the middle representing China´s close to 20% of the world´s population and a peak of some 5%
of the world population yet with, even after redistribution, a quarter of all world´s economic
capacity.
75
Monaco, Liechtenstein, Bermuda, Luxembourg, Ireland, Isle of Man, Switzerland, Cayman Islands,
Gibraltar, Norway, Qatar, Singapore, United States, Channel Islands, Faroe Islands, Australia, Denmark
Iceland, Macao SAR, Sweden and Greenland
83
Figure 7 - Redistribution from current to excess-to-deficit redistribution, by countries'
population and GDP according to GDP pc levels
The graphs above are artificially clustered around peaks due to the use of national
average concentrations, particularly for the largest countries. As shown in the earlier graphs,
disaggregating the data further—by subnational regions, districts, communities, and individual
GDP per capita levels—would smooth the distribution curve, shifting it closer to a normal bell-
shaped curve, albeit skewed. This skewness, as the graphs predict, would be heavily biased to
the right, reflecting the concentration of resources among a small minority.
Figure 8 - Normal distribution of the world´s population by countries ‘GDP pc after H2D and
E2D redistributions
The graph above illustrates how the normal distribution would appear in the two
redistribution scenarios described: Hoarding to Deficit (H2D) and Excess to Deficit (E2D), while
maintaining the current world average GDP per capita. In the H2D scenario, the midpoint
between the dignity and hoarding thresholds would be significantly higher than the present
world GDP per capita average, resulting in a curve that is strongly skewed to the right. In
contrast, the redistribution curve for the dignity-to-excess scenario would have its midpoint
84
closer to the current global average GDP per capita. This would create a distribution that is
nearly symmetric, and it could even become slightly skewed to the left if the average GDP per
capita were reduced. This reduction would occur as GDP above the excess threshold is
redistributed to the deficit zone. The process would eliminate wasted and toxic GDP, allowing
for a global reduction in working days and hours (currently tied to competitive systems of
education, labor, production, trade, and consumption) while still enabling a fivefold increase in
investment toward advancing knowledge. Crucially, this approach would shift focus from
competition to collaboration, converting extreme profits and patents into global public goodsxiv.
Figure 9 - Current, H2D, E2D and their normal distributions, of international population and
GDP by GDP pc levels
Based on the analysis above, we can represent the current distribution of the world's
financial exchange capacity—closely correlated with wealth, typically averaging five times the
GDP per capita—and the resulting redistribution curves. These curves reflect the reallocation of
wasted/toxic GDP from hoarding and excess zones to the deficit zone, as depicted in the graph
above.
The following table provides a summary of the central and dispersion measures for the
current distribution, as well as for the Hoarding-to-Deficit (H2D) and Excess-to-Deficit (E2D)
redistribution scenarios.
85
Table 1 - Central and dispersion measures of current, H2D and E2D international distribution of
resources
The data reveal that, under the Excess-to-Deficit (E2D) model, the average GDP per
capita could decrease by 23.8%, which would help reduce working hours globally while
facilitating the advancement of collective knowledge and promoting human wellbeing in
harmony with nature. The dispersion measures indicate that the standard deviation, coefficient
of variation, range, and ratio of extreme values, as well as the Gini index, would all gradually
decrease. This shift would make the distribution of GDP per capita more even across different
population percentiles.
Currently, the highest GDP per capita is more than 800 times higher than the lowest
(over 1,000 times if disaggregated at subnational levels), and the wealthiest 10% of countries
control almost half of the world’s income and wealth. Meanwhile, the poorest half of humanity
has access to less than 10% of global wealth and economic exchanges. This extreme inequality
would progressively change through a logical (minimizing wasted GDP) and ethical (redirecting
from hoarding and excess to deficit and wellbeing) approach. In this new scenario, the ratio
between the highest and lowest GDP per capita would be 5.6 times, and the wealthiest 10% of
countries would retain significant advantages, though limited to a quarter of the world's total
income and wealth. The poorest half would then gain access to 22% of global income and wealth.
The table below further explores how redistributing resources within the excess to
deficit thresholds could smooth the distribution, shifting it from a bipolar shape (where half of
the world’s resources are concentrated at both extremes of the equity curve) to a bell-shaped
normal distribution. This trend could continue toward an egalitarian (utopian?) distribution,
where disparities in property and social hierarchies would disappear, and all individuals would
have equal means to enjoy life and contribute to the common good while living in balance with
nature.
86
Table 2 - Central and dispersion measures of current, E2D and normal E2D normal
distribution of international GDP.
As shown in the table above, grouping GDP per capita into intervals to compare current
and redistribution scenarios reduces the current Gini index to 0.41 by merging values in $500
per capita intervals. In the transition from the Excess-to-Deficit (E2D) scenario toward a normal
bell-shaped distribution, the concentration of half the population at the dignity threshold level
would expand proportionally towards the global (reduced) average GDP per capita, while GDP
clusters around the excess threshold would shift to the upper half above the world’s average
GDP per capita.
A normal, equitable distribution of income and wealth would share the range and ratio
seen in the E2D redistribution scenario, while significantly decreasing the standard deviation
and coefficient of variation to less than four times their current levels. The Gini index would drop
to 34% of its current value, and be 24% lower than in the E2D model. Under this distribution,
the wealthiest 10% would hold 16% of global resources, while the poorest half of the population
would gain access to over one-third of the world’s income and wealth.
In an egalitarian utopian distribution, there would be no dispersion from the mean; all
individuals would have equal means. The proportion of the population and the distribution of
income and wealth would be perfectly balanced.
The graphs below show again the distribution of humanity´s resources in the present
and progressive fairness phases and their dispersion measures.
87
Figure 10 - International current and redistribution schemes with central and dispersion
figures
The table below illustrates the redistribution needed between countries in 2024:
The fiscal and territorial cohesion strategies require identifying the dignity, excess, and
hoarding thresholds, the world GDP per capita average after excess-to-deficit redistribution, and
the Z score of the current GDP per capita level (indicating how many standard deviations the
GDP per capita is from the mean).
88
Annex 1 provides the per capita receiving or giving levels within different GDP per capita
ranges.
We recognize that the analysis presented here may sound utopian, especially given that
even the UN agreement aimed at preventing tax abuse by large corporations and saving half a
trillion dollars is being blocked by wealthy nationsxvi. Currently, there are no benchmarks or
indicators for subnational and international fiscal equity. In response, we propose a system
based on logical and ethical principles that could help develop international targets and
indicators. This would address the gaps in existing UN conventions on fiscal equity, fair
international redistribution (which is currently far below the first step of the Global Health 2
Development (GH2D) benchmark), and the provision of global public goods.
Conclusions
The analysis presented in this paper underscores the urgent need for an ethical and
equitable redistribution of global economic resources to foster well-being, environmental
sustainability, and intergenerational equity. By reallocating excess resources from high-income
nations and reducing the economic disparities between nations, we can approach a system
where the greatest number of people can achieve health and life expectancy aligned with the
shared global goal outlined in the WHO Constitution.
Our proposed approach would first prioritize the redistribution of wealth above the
hoarding threshold, addressing the economic excess concentrated within the wealthiest
segment of nations, and redirecting it toward the deficit zone, where billions live below the
dignity threshold. This redistribution could effectively release significant economic resources,
reduce global economic and social inequality, and decrease the burden of preventable deaths
caused by poverty.
Second, the model calls for the reallocation of resources above the excess threshold
(above which human wellbeing does not improve any further) to the equity zone, thereby
achieving a more balanced and sustainable economic structure. The scenario outlined illustrates
how this stepwise redistribution can decrease the global GDP's concentration of wealth,
diminish the Gini index, and reduce income dispersion, making economic distribution more
equitable and less skewed toward extreme wealth concentration.
The envisioned equitable distribution also aligns with the potential for a sustainable
reduction in the global work and consumption burden. This transition would foster more
harmonious relationships between economic activity, environmental sustainability, and human
well-being. Furthermore, redirecting a portion of GDP currently “wasted” or “toxic” into
collective knowledge and public goods can drive innovation and long-term societal progress.
89
The implications of these findings extend beyond economic redistribution; they
challenge traditional paradigms of growth and competition, promoting cooperation, ecological
balance, and shared prosperity. Realizing this vision would require robust fiscal and territorial
policies, alongside global cooperation to ensure that the dignity threshold is met for all while
curbing excessive consumption and environmental impact.
90
Annex: redistribution pc by present GDP pc levels
Real H2D net redistrE2D net redistrN redistr D-E Real H2D net redistr
E2D net redistrN redistr D-E Real H2D net redistrE2D net redistrN redistr D-E
250 3718 3718 5334.64378 36250 0 -14352 -25318.2009 72250 -19691 -50352 -60874.6234
750 3218 3218 5400.11559 36750 0 -14852 -25818.2009 72750 -20191 -50852 -61374.6234
1250 2718 2718 5333.88626 37250 0 -15352 -26221.1919 73250 -20691 -51352 -61868.7757
1750 2218 2218 5444.54909 37750 0 -15852 -26721.1077 73750 -21191 -51852 -62350.8543
2250 1718 1718 5323.08029 38250 0 -16352 -27221.1077 74250 -21691 -52352 -62850.8543
2750 1218 1218 4887.8235 38750 0 -16852 -27669.2856 74750 -22191 -52852 -63349.9978
3250 718 718 4573.22262 39250 0 -17352 -28169.2856 75250 -22691 -53352 -63849.9978
3750 218 218 4431.43724 39750 0 -17852 -28669.2856 75750 -23191 -53852 -64331.1916
4250 0 0 4359.01265 40250 0 -18352 -29169.2226 76250 -23691 -54352 -64825.8158
4750 0 0 3912.79516 40750 0 -18852 -29669.2226 76750 -24191 -54852 -65325.8158
5250 0 0 3417.23355 41250 0 -19352 -30169.2226 77250 -24691 -55352 -65825.8158
5750 0 0 3014.33179 41750 0 -19852 -30665.1878 77750 -25191 -55852 -66322.5184
6250 0 0 2685.28209 42250 0 -20352 -31165.1878 78250 -25691 -56352 -66813.3049
6750 0 0 2249.87892 42750 0 -20852 -31592.0205 78750 -26191 -56852 -67290.2045
7250 0 0 1774.54156 43250 0 -21352 -32092.0205 79250 -26691 -57352 -67790.2045
7750 0 0 1357.92444 43750 0 -21852 -32586.2152 79750 -27191 -57852 -68285.4007
8250 0 0 934.608725 44250 0 -22352 -33046.426 80250 -27691 -58352 -68784.2846
8750 0 0 526.192635 44750 0 -22852 -33546.426 80750 -28191 -58852 -69281.0556
9250 0 0 235.137585 45250 0 -23352 -34046.426 81250 -28691 -59352 -69781.0556
9750 0 0 -253.863315 45750 0 -23852 -34534.9354 81750 -29191 -59852 -70281.0556
10250 0 0 -344.832627 46250 0 -24352 -35034.9354 82250 -29691 -60352 -70781.0556
10750 0 0 -745.531194 46750 0 -24852 -35526.6346 82750 -30191 -60852 -71281.0556
11250 0 0 -1244.39796 47250 0 -25352 -35973.0621 83250 -30691 -61352 -71781.0556
11750 0 0 -1700.73185 47750 0 -25852 -36473.0621 83750 -31191 -61852 -72281.0256
12250 0 0 -2154.94898 48250 0 -26352 -36973.0621 84250 -31691 -62352 -72781.0256
12750 0 0 -2540.15805 48750 0 -26852 -37473.0621 84750 -32191 -62852 -73281.0256
13250 0 0 -3015.09674 49250 0 -27352 -37973.0621 85250 -32691 -63352 -73781.0256
13750 0 0 -3469.51371 49750 0 -27852 -38473.0621 85750 -33191 -63852 -74279.8726
14250 0 0 -3949.0253 50250 0 -28352 -38958.9499 86250 -33691 -64352 -74775.3786
14750 0 0 -4362.22683 50750 0 -28852 -39458.9499 86750 -34191 -64852 -75241.6962
15250 0 0 -4763.46553 51250 0 -29352 -39958.9499 87250 -34691 -65352 -75736.8629
15750 0 0 -5263.46553 51750 0 -29852 -40458.9499 87750 -35191 -65852 -76236.8629
16250 0 0 -5752.4323 52250 0 -30352 -40958.9499 88250 -35691 -66352 -76736.8629
16750 0 0 -6250.86423 52750 -191 -30852 -41458.9236 88750 -36191 -66852 -77236.8629
17250 0 0 -6706.95908 53250 -691 -31352 -41956.63 89250 -36691 -67352 -77736.8629
17750 0 0 -7155.36566 53750 -1191 -31852 -42456.5864 89750 -37191 -67852 -78229.9439
18250 0 0 -7617.68587 54250 -1691 -32352 -42956.5864 90250 -37691 -68352 -78712.453
18750 0 0 -8113.74745 54750 -2191 -32852 -43456.5864 90750 -38191 -68852 -79212.453
19250 0 0 -8609.44339 55250 -2691 -33352 -43956.5864 91250 -38691 -69352 -79712.3874
19750 0 0 -9100.79257 55750 -3191 -33852 -44448.3563 91750 -39191 -69852 -80208.334
20250 0 0 -9599.69012 56250 -3691 -34352 -44948.3563 92250 -39691 -70352 -80708.334
20750 0 0 -10091.7007 56750 -4191 -34852 -45448.3563 92750 -40191 -70852 -81208.334
21250 0 0 -10499.3014 57250 -4691 -35352 -45948.3563 93250 -40691 -71352 -81702.1698
21750 0 0 -10999.3014 57750 -5191 -35852 -46447.7994 93750 -41191 -71852 -82202.1698
22250 0 -352 -11491.1655 58250 -5691 -36352 -46947.4971 94250 -41691 -72352 -82702.1698
22750 0 -852 -11991.1655 58750 -6191 -36852 -47447.4971 94750 -42191 -72852 -83202.1698
23250 0 -1352 -12490.5209 59250 -6691 -37352 -47947.4971 95250 -42691 -73352 -83701.5976
23750 0 -1852 -12990.5209 59750 -7191 -37852 -48447.4971 95750 -43191 -73852 -84200.9822
24250 0 -2352 -13490.5209 60250 -7691 -38352 -48945.0877 96250 -43691 -74352 -84700.9822
24750 0 -2852 -13989.2966 60750 -8191 -38852 -49443.7101 96750 -44191 -74852 -85200.9822
25250 0 -3352 -14489.2966 61250 -8691 -39352 -49918.4388 97250 -44691 -75352 -85700.9822
25750 0 -3852 -14987.6442 61750 -9191 -39852 -50414.4272 97750 -45191 -75852 -86200.9822
26250 0 -4352 -15487.6442 62250 -9691 -40352 -50914.3845 98250 -45691 -76352 -86700.1677
26750 0 -4852 -15987.6442 62750 -10191 -40852 -51414.3845 98750 -46191 -76852 -87200.1677
27250 0 -5352 -16464.5651 63250 -10691 -41352 -51914.3845 99250 -46691 -77352 -87700.1677
27750 0 -5852 -16964.5299 63750 -11191 -41852 -52408.5699 99750 -47191 -77852 -88200.1677
28250 0 -6352 -17410.1238 64250 -11691 -42352 -52905.0281 100250 -47691 -78352 -88700.1677
28750 0 -6852 -17910.1238 64750 -12191 -42852 -53401.8392 100750 -48191 -78852 -89200.1677
29250 0 -7352 -18409.7658 65250 -12691 -43352 -53897.3237 101250 -48691 -79352 -89700.1677
29750 0 -7852 -18909.7658 65750 -13191 -43852 -54395 101750 -49191 -79852 -90200.1677
30250 0 -8352 -19406.9255 66250 -13691 -44352 -54892.4588 102250 -49691 -80352 -90700.1677
30750 0 -8852 -19905.8764 66750 -14191 -44852 -55392.4588 102750 -50191 -80852 -91200.1677
31250 0 -9352 -20405.4607 67250 -14691 -45352 -55892.4588 103250 -50691 -81352 -91700.1677
31750 0 -9852 -20905.3309 67750 -15191 -45852 -56392.4588 103750 -51191 -81852 -92200.1677
32250 0 -10352 -21405.3309 68250 -15691 -46352 -56892.4588 104250 -51691 -82352 -92700.1677
32750 0 -10852 -21905.3309 68750 -16191 -46852 -57392.4588 104750 -52191 -82852 -93200.1677
33250 0 -11352 -22405.3309 69250 -16691 -47352 -57892.4588 105250 -52691 -83352 -93700.1677
33750 0 -11852 -22858.9215 69750 -17191 -47852 -58391.3651 105750 -53191 -83852 -94200.085
34250 0 -12352 -23318.4938 70250 -17691 -48352 -58883.0276 106250 -53691 -84352 -94700.085
34750 0 -12852 -23818.4938 70750 -18191 -48852 -59383.0276 106750 -54191 -84852 -95200.085
35250 0 -13352 -24318.4938 71250 -18691 -49352 -59883.0276 107250 -54691 -85352 -95700.085
35750 0 -13852 -24818.2009 71750 -19191 -49852 -60379.4712 107750 -55191 -85852 -96200.085
108250 -55691 -86352 -96699.6831
91
Acordos multilaterais ambientais:
panorama global e acontecimentos de janeiro de 2025
Multilateral environmental agreements:
global overview and key events of january 2025
Danielly Magalhães
Guto Galvão
Resumo: Este informe inaugura o ano de 2025 e dá as boas-vindas aos participantes do Curso
de Atualidade em Saúde Global e Diplomacia da Saúde, que acompanharão nossos relatórios
quinzenais sobre as principais discussões ambientais ao longo do ano. Neste primeiro boletim,
contextualizamos a interseção entre saúde e meio ambiente, esclarecemos conceitos-chave e
destacamos os acordos multilaterais mais relevantes. Além disso, abordamos os principais
acontecimentos do último mês, incluindo as implicações da saída dos EUA do Acordo de Paris e
a publicação do Relatório sobre Mudanças Climáticas no Brasil, que apresenta uma síntese dos
impactos atuais e recomendações para o país.
Abstract: This report marks the beginning of 2025 and welcomes participants of the Global
Health and Health Diplomacy Current Affairs Course, who will follow our biweekly reports on key
environmental discussions throughout the year. In this first edition, we provide context on the
intersection of health and the environment, clarify key concepts, and highlight the most relevant
multilateral agreements. Additionally, we cover major events from the past month, including the
implications of the United States' withdrawal from the Paris Agreement and the publication of
the Report on Climate Change in Brazil, which presents a synthesis of current impacts and
recommendations for the country.
O impacto das atividades humana no ambiente nos coloca hoje na chamada tripla crise
planetária que refere-se aos três principais problemas interconectados que a humanidade
enfrenta atualmente: mudança climática, poluição e perda de biodiversidade. Essas crises estão
interligadas e afetam mutuamente os ecossistemas, a saúde humana e a estabilidade econômica
global. A mudança climática resulta em eventos climáticos extremos e alterações nos padrões
climáticos; a poluição compromete a qualidade do ar, da água, do solo e dos alimentos,
prejudicando a saúde humana e ambiental; e a perda de biodiversidade reduz a resiliência dos
92
ecossistemas, diminuindo sua capacidade de fornecer serviços ecossiatêmicos e essenciais à
nossa saúde. Abordar essa tripla crise requer ações integradas e sustentáveis para garantir um
futuro equilibrado para o planeta.
Dentro da saúde duas abordagens discutem essa relação de maneiras muito próximas.
As abordagens One Health (Saúde Única) e Planetary Health (Saúde Planetária) compartilham
o reconhecimento da interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental, mas diferem em
seus focos e escopos.
Por outro lado, a Saúde Planetária é uma abordagem mais recente que se concentra na
saúde das civilizações humanas e no estado dos sistemas naturais dos quais dependem. Ela
aborda os impactos das atividades humanas nos sistemas naturais da Terra e como essas
alterações afetam diretamente e indiretamente na saúde e sobrevivência da humanidade. A
Saúde Planetária é um campo transdisciplinar e orientado para soluções focado em analisar e
abordar os impactos da desestabilização dos sistemas naturais na saúde humana e em toda a
vida na Terra.77
Uma governança global das políticas ambientais é crucial para salvaguardar esses serviços
ecossistêmicos e, por extensão, a saúde pública. Vários acordos, resoluções, e convenções
ambientais multilaterais foram estabelecidos para enfrentar esses desafios. Vamos citar
algumas abaixo:
O Acordo Quadripartite de Saúde Única (One Health) é uma colaboração formal entre
quatro organizações internacionais: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), Organização
Mundial da Saúde (OMS), Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH, anteriormente OIE)
76
One Health and planetary health research: leveraging differences to grow together
77
Planetary Health Alliance
78
Quadripartite Memorandum of Understanding (MoU) signed for a new era of One Health collaboration
93
Em 2022, a Aliança Quadripartite lançou o Plano de Ação Conjunto de Saúde Única 2022-
2026, que visa orientar a implementação da abordagem de Saúde Única nos países. Este plano
destaca três caminhos principais:
79
A guide to implementing the One Health Joint Plan of Action at national level
80
Quadripartite call to action for One Health for a safer world
81
The Intergovernmental Panel on Climate Change
94
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) serve como
o principal fórum internacional para negociações e acordos climáticos, reunindo países para
discutir e implementar estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. 82
• Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA): Focado na promoção de
práticas ambientais sustentáveis, o PNUMA lidera iniciativas para reduzir a poluição,
conservar a biodiversidade e promover a transição para economias verdes.
• Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): Atua no apoio aos países
em desenvolvimento na elaboração e implementação de políticas climáticas, fornecendo
assistência técnica e financeira para projetos de mitigação e adaptação.
• Fundo Verde para o Clima (GCF): Estabelecido para apoiar financeiramente os países em
desenvolvimento na implementação de ações climáticas, o GCF visa mobilizar recursos para
projetos que promovam a redução de emissões e o fortalecimento da resiliência climática.
A COP de clima ocorre todo ano. Para entender o que aconteceu na última COP 29, veja
a nossa publicação no Caderno CRIS Saúde Informe 21 e 22, 2024.
82
Linha do tempo das medidas envolvendo Mudanças Climáticas.
83
What is the Paris Agreement?
95
O órgão dirigente da convenção é a Conferência das Partes (COP), composta por todos os
governos (e organizações regionais de integração econômica) que ratificaram o tratado. Essa
autoridade final analisa o progresso da convenção, identifica novas prioridades e define planos
de trabalho para os membros.
O Marco estabelece uma visão para 2050: "Para 2050, a diversidade biológica é valorizada,
conservada, restaurada e utilizada de forma racional, mantendo os serviços dos ecossistemas,
sustentando um planeta saudável e fornecendo benefícios essenciais para todas as pessoas".
Também estabelece o objetivo de conservar, até 2030, pelo menos 30% das áreas terrestres,
águas interiores e áreas marinhas e costeiras do planeta. Essa meta é comumente referida como
"30x30".
A COP de biodiversidade ocorre a cada dois anos. Para entender o que aconteceu na última
COP 16, veja a nossa publicação no Caderno CRIS Saúde Informe 16 - 2024.
Essas três convenções se reúnem a cada dois anos em COPs distintas mas que ocorrem
ao mesmo tempo devido suas inter-relações. Elas desempenham papéis cruciais na proteção
ambiental e na saúde pública, estabelecendo mecanismos para o controle e a gestão de
substâncias químicas perigosas e resíduos.
84
Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework
85
Stockholm Convention on Persistent Organic Pollutants (POPs)
96
A Abordagem Estratégica para a Gestão Internacional de Produtos Químicos (SAICM)
é uma iniciativa voluntária que busca promover a gestão segura de produtos químicos em todo
o ciclo de vida, considerando aspectos ambientais, econômicos, sociais, de saúde e trabalho.
Embora não seja um tratado vinculativo, a SAICM complementa as convenções existentes,
fornecendo uma plataforma para a implementação de ações coordenadas na área de segurança
química. 86 O secretariado da SAICM também é fornecido pelo PNUMA. A Conferência
Internacional sobre Gestão de Produtos Químicos (ICCM), que é o principal órgão decisório da
SAICM, se reúne a cada dois anos.
Novo Acordo sobre Plástico: Em março de 2022, uma resolução histórica foi endossada
para desenvolver um acordo juridicamente vinculativo até 2024 para acabar com a poluição
plástica, abordando todo o ciclo de vida dos plásticos. A poluição plástica representa riscos para
os ecossistemas e a saúde humana, incluindo exposição a produtos químicos e ingestão de
microplásticos. Em dezembro de 2024, mais de 170 países se reuniram para concluir o tratado
global para alcançar um mundo livre de poluição plástica até 2040. Embora as negociações
tenham sido inconclusivas, os países procuraram concluir o processo em 2025, destacando uma
necessidade urgente e com prazo determinado de superar as áreas de divergência restantes.
86
The Basel, Rotterdam and Stockholm conventions
87
Minamata Convention
88
US Interior Department takes first steps to carry out Trump energy agenda
97
A atual administração demonstra ceticismo em relação às mudanças climáticas,
influenciando a agenda de pesquisa e financiamento federal. Projetos relacionados ao clima
estão sendo revisados, com congelamento de financiamentos até que sejam alinhados à nova
ideologia governamental. Isso pode atrasar ou interromper pesquisas essenciais para o
entendimento e mitigação dos impactos climáticos.
A comunidade internacional pode ser forçada a intensificar seus esforços climáticos para
compensar a ausência dos EUA. Países como a China podem assumir papéis de liderança tanto
na saúde global quanto na agenda climática, preenchendo o vácuo deixado pelos EUA. Além
disso, organizações internacionais podem buscar mecanismos alternativos para garantir o
progresso contínuo em direção aos objetivos climáticos globais.89
Principais Conclusões:
89
EUA de Trump abrem mão de liderança em saúde ao sair da OMS e, ao deixar Acordo de Paris, lavam
as mãos para crise que ajudaram a criar
98
Recomendações Estratégicas
99
Deportações na Era Trump 2.0, seus impactos e as respostas da comunidade
internacional
Deportations in the Trump 2.0 Era, their impact, and the responses from the
international Community
Abstract: In the first report of 2025, the Migration, Refugee, and Health Working Group explored
the anti-migration policies of the new Trump administration and the responses of countries in
receiving their deported citizens.
Contextualização
Entre os principais temas que marcaram a campanha para a reeleição de Donald Trump,
a retórica anti-imigração destacou-se como um dos pilares centrais de sua plataforma política.
O ex-presidente, conhecido por sua abordagem dura em relação à imigração durante seu
primeiro mandato, reforçou seu discurso com promessas de intensificar as medidas para conter
a crise migratória nos Estados Unidos. Entre as propostas mais impactantes, Trump afirmou que
instruiria o Departamento de Segurança Interna (DHS) e o Pentágono para preparar instalações
para abrigar migrantes em larga escala, além de reiterar planos para deportações em massa e a
expansão de políticas restritivas na fronteira sul¹.
A crise migratória nos Estados Unidos tem sido um dos desafios mais complexos
enfrentados pelo país, com um fluxo recorde de migrantes cruzando a fronteira com o México.
Segundo análises, o discurso anti-imigração de Trump não apenas mobilizou sua base eleitoral,
mas também se mostrou uma estratégia eficaz para polarizar o debate público e atrair atenção
para suas propostas. Durante sua campanha, ele criticou duramente as políticas de imigração
do governo Biden, acusando-o de negligência e de promover uma "invasão" de migrantes,
retórica que ecoou fortemente entre eleitores preocupados com a segurança nacional e o
impacto econômico da imigração descontrolada².
100
A reeleição de Trump, portanto, representa não apenas uma continuidade de suas
políticas anti-imigração, mas também um aprofundamento de uma visão que coloca o controle
fronteiriço como prioridade máxima. Enquanto seus apoiadores celebram a promessa de uma
abordagem mais dura, críticos alertam para os possíveis impactos negativos na imagem
internacional dos Estados Unidos e no tratamento de milhares de migrantes que buscam refúgio
no país. A crise migratória, assim, permanece no centro do debate político americano, com
Trump liderando uma agenda que propõe transformações radicais no sistema de imigração do
país³.
Vale destacar, que o presidente Donald Trump assinou diversas ordens executivas nas
duas primeiras semanas, desde a sua posse, que vão em direção às propostas relatadas no
projeto de política de extrema-direita, Projeto 2025, ainda que o presidente tenha buscado se
afastar do polêmico documento. O Projeto 2025 inclui um extenso relatório de 900 páginas,
sugerindo uma revisão completa do poder executivo, que foi criado pela Heritage Foundation e
demais grupos conservadores, no ano de 2023, como uma espécie de roteiro para o próximo
presidente conservador5.
Trump negou diversas vezes ter qualquer envolvimento com o referido Projeto 2025,
após os democratas destacaram a aproximação com as ideias descritas no projeto, como um dos
motivos fundamentais para não votar no candidato na eleição e, mesmo que não haja provas
concretas de que ele esteja seguindo claramente essas propostas ou tenha algum objetivo direto
para isso, diversas das ações que ele tomou até o momento, vão em direção ao plano de
política5.
Colômbia
Houve fortes pressões entre os Estados Unidos e a Colômbia com uma série de
denúncias e ameaças entre os dois países. Além de uma crise diplomática, as tensões também
marcaram uma crise comercial que foi evitada por conta do aceite da deportação dos migrantes
em aviões militares. Em vários posts no X, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou
que iria bloquear os voos de deportação do exército americano e o Presidente Donald Trump
ameaçou com uma tarifa de 25% sobre produtos colombianos e imposição de restrições à
imigração. Posteriormente, Petro dirigiu um post ao Secretário de Estado norte-americano
Marco Rubio, avisando que nunca permitiria que os colombianos fossem trazidos algemados
101
durante uma crítica à Rubio 6. A reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e
Caribenhos (Celac) seria na quinta (28/01) e foi cancelada por falta de consenso do bloco,
fortemente marcada pelos conflitos entre EUA e Colômbia e pelo apoio da Argentina e El
Salvador aos Estados Unidos 7.
México
De acordo com uma reportagem do El País, não se sabe em que condições os imigrantes
chegaram ao México, há quanto tempo viviam nos Estados Unidos e para onde foram levados,
após a confirmação do pouso de 4 aviões no Aeroporto internacional de Felipe Angeles por
Sheinbaum. “Temos muito cuidado, não para que [as imagens dos deportados] não sejam vistas,
mas sim para que o ser humano seja visto, é isso que buscamos”,disse a deputada Anaí Esparza,
presidente da Comissão de Atenção aos Migrantes de o Congresso do Estado do México quando
questionada sobre sigilo de voo. Esparza diz que seria “desumano” expor essas pessoas à mídia
porque “muitas chegam com sonhos desfeitos” e ressalta que a prioridade das autoridades é
dar-lhes ferramentas para reconstruir suas vidas no México.
O governo mexicano optou pela cautela e espera manter um bom relacionamento com
Washington, apesar da ameaça de deportações em massa. “O México está esperando por vocês
de braços abertos e não se esqueceu de vocês”, disse Sheinbaum em 20 de janeiro, horas antes
de Trump assumir o cargo 11.
102
plano estipula os componentes de assistência e proteção consular (nos EUA, através da rede de
consulados), recepção e apoio (nos 6 estados fronteiriços) e reintegração (com oferta de
empregos e proteção social).
O plano prevê ainda o cartão “bienestar paisano” (bem-estar civil). Esse cartão será
entregue aos migrantes repatriados, com o valor de dois mil pesos (em torno de R$550) para
cobrir o gasto de translado da fronteira até a comunidade de origem. Para além do cartão de
bem-estar civil, conforme o documento do programa, 18 programas sociais de 7 pastas
governamentais estão participando prontamente do México Te Abraza. Desde a pasta do
trabalho até agricultura e desenvolvimento territorial. O documento ainda delineia os esforços
de cooperação subnacional e empresarial. “Não estão sozinhas nem sozinhos, México Te
Abraça!”, é como termina a apresentação.
3. Invalidez e vida: Pensão por invalidez para o segurado e pensão para os beneficiários em
caso de falecimento do titular.
Venezuela
O diretor jurídico do Northwest Immigrant Rights Project, Matt Adams, explica que
certamente haverá uma ação judicial contra a ação de Trump, pois há argumentos muito fortes
que os impedem de desfazer o que seu antecessor estabeleceu. Durante seu primeiro mandato,
103
Donald Trump já havia tentado eliminar o TPS de vários países, como El Salvador, Haiti e Sudão,
mas suas intenções foram bloqueadas pela Justiça. Assim, autorizações de trabalho concedidas
permanecerão válidas por enquanto. O advogado constitucionalista Rafael Peñalver afirma que
essas autorizações permanecerão até que um tribunal determine se é legal ou não. Além de que
sem uma mudança nas condições da Venezuela, seria inconstitucional a quebra da prorrogação
de 18 meses dada no final do governo Biden 14.
Por outro lado, e por mais incrível que pareça, o governo Maduro acena com boas
intenções para o governo Trump. Falou-se em uma “agenda-zero”, com o recomeço das relações
entre os dois países, no encontro entre Maduro e o enviado de Trump. Com isto, 6 americanos
que se encontravam presos, na Venezuela, foram libertados 15. A agenda de deportação de
Trump tampouco encontrou reforços em Caracas: “Queremos que eles voltem para que possam
ser felizes aqui. Para que venham criar negócios, trabalhar e construir em sua terra” afirmou o
Presidente Nicolás Maduro 16. As relações entre ambos os países seguem rompidas desde 2019,
no entanto.
Sem evidência, o presidente Donald Trump e outras pessoas de sua gestão alegaram que
migrantes venezuelanos prejudicam a economia e ameaçam a segurança nos Estados Unidos.
"Os Estados Unidos e o presidente Trump esperam que Nicolás Maduro receba de volta todos
os criminosos e membros de gangues que foram exportados para os Estados Unidos e que o faça
de forma inequívoca e sem condições" disse o representante dos Estados Unidos na Venezuela,
Richard Grenell 17, enquanto Maduro, presidente venezuelano, declarou que gostaria que os
migrantes retornassem ao país na segunda semana de presidência de Trump 18.
Brasil
O Brasil foi um dos países afetados pelas mudanças das políticas migratórias com o
governo Trump nos EUA. O primeiro voo com repatriados brasileiros chegou a Manaus no dia
25 de janeiro de 2025, com 88 pessoas que teriam adentrado as fronteiras estadunidenses de
maneira ilegal e/ou não possuíam visto para residir de maneira fixa no país¹⁹. Este foi o 46º voo
com brasileiros deportados vindos dos EUA desde 2022, somando cerca de 9 mil pessoas até o
momento¹⁹. Contudo, o que chamou a atenção neste evento, além de ser o primeiro da
administração de Trump dentro de um contexto de repúdio à imigração, foi o uso de algemas
entre os passageiros transportados após já estarem em solo brasileiro, no voo de Manaus a Belo
Horizonte. Embora o uso das algemas no processo de repatriação seja “de praxe”, segundo a PF,
as algemas não poderiam ter sido mantidas durante o transporte em solo brasileiro²⁰.
Diante desse cenário, o Presidente Lula enviou um avião da Força Aérea Brasileira para
realizar o transporte dos passageiros até Confins, em Minas Gerais. Em nota, o Itamaraty
posicionou-se contra essa prática e denunciou o tratamento “degradante” concedido aos
brasileiros²⁰. A Ministra dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), Macaé Evaristo, reforçou
que as políticas imigratórias são definidas por cada país, mas que os direitos humanos não
podem ser violados; o Ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, reafirmou
a necessidade do respeito aos direitos fundamentais das pessoas, “sobretudo daquelas que não
são criminosas” ²¹. O MDHC também afirmou que iria posicionar um posto de acolhimento aos
repatriados no Aeroporto de Confins²¹.
Embora não haja políticas bilaterais entre os EUA e o Brasil sobre a deportação de
imigrantes ilegais, o Itamaraty afirmou que em 2018, durante o governo Temer e ainda no
primeiro mandato de Donald Trump, foi assinado um acordo que permitia a repatriação de
“imigrantes ilegais que não tinham mais possibilidade de recursos junto à administração
104
americana” ²¹. Ainda, o MRE destaca que esse processo deveria ser realizado de maneira
respeitosa e humana e que os EUA haviam se comprometido a não utilizar algemas dentro do
território brasileiro²². Embora o Brasil tenha endurecido sua postura frente ao governo norte-
americano, fica evidente que está tomando uma posição diferente de outros países latinos,
como a Colômbia, que inicialmente recusou as deportações estadunidenses²².
Referências Bibliográficas
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Disponível em: https://cnnportugal.iol.pt/eua-2024/eleicoes-eua/eis-o-plano-de-donald-trump-para-
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7. G1. Acordo entre EUA e Colômbia, além da pressão da Argentina e El Salvador, desmobilizou reunião
sobre deportações. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/blog/daniela-
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desmobilizou-reuniao-sobre-deportacoes.ghtml. Acesso em: 31 jan. 2025.
8. O Globo. 'Pesadelo americano': colombianos deportados pelos EUA chegam a Bogotá. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/01/28/pesadelo-americano-colombianos-deportados-
pelos-eua-chegam-a-bogota.ghtml. Acesso em: 31 jan. 2025.
9. BBC. El presidente Petro insta a los colombianos indocumentados en EE.UU. a que retornen a su país
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10. DW. México ha recibido 6.244 migrantes deportados por Trump. Disponível em:
https://www.dw.com/es/m%C3%A9xico-ha-recibido-6244-migrantes-deportados-por-trump-
incluyendo-1371-de-otros-pa%C3%ADses/a-71461582. Acesso em 31 jan. 2025.
11. El País. Hermetismo, discreción y miedo a una nueva crisis: así son los primeros vuelos de
deportación a México en la era Trump. Disponível em: https://elpais.com/mexico/2025-01-
31/hermetismo-discrecion-y-miedo-a-una-nueva-crisis-asi-son-los-primeros-vuelos-de-deportacion-a-
mexico-en-la-era-trump.html. Acesso em: 31 jan. 2025.
12. GOVERNO DO MÉXICO. México te abraza. México: Governo do México, 2025. Disponível em:
https://www.gob.mx/cms/uploads/attachment/file/971337/28enero25_M_xico_te_abraza.pdf. Acesso
em: 2 fev. 2025.
105
13. El País. Programa ‘México te abraza’: la Tarjeta Bienestar Paisano y otros apoyos que recibirán los
migrantes deportados por Trump. Disponível em: https://elpais.com/mexico/2025-01-21/programa-
mexico-te-abraza-la-tarjeta-bienestar-paisano-y-otros-apoyos-que-recibiran-los-migrantes-deportados-
por-trump.html. Acesso em 2 fev. 2025.
14. BBC. Cuántos venezolanos en EE.UU. tienen TPS y cómo les afecta que Trump anule la extensión del
estatus que los protege de la deportación. Disponível em:
https://www.bbc.com/mundo/articles/cx24py9l299o. Acesso em 31 jan. 2025.
15. El País. ¿Qué opciones tienen los 600.000 venezolanos que perderán el TPS para evitar la
deportación?. Disponível em: https://elpais.com/us/2025-01-31/que-opciones-tienen-los-600000-
venezolanos-que-perderan-el-tps-para-evitar-la-deportacion.html. Acesso em: 31 jan. 2025.
16. VEJA. O inesperado aceno de Maduro a Trump após gesto do americano. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/mundo/o-inesperado-aceno-de-maduro-a-trump-apos-gesto-do-americano.
Acesso em: 2 fev. 2025.
17. CNN. “Queremos que voltem”, diz Maduro sobre imigrantes deportados dos EUA. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/queremos-que-voltem-diz-maduro-sobre-imigrantes-
deportados-dos-eua/. Acesso em 2 fev. 2025.
18. BBC. O que visita de assessor de Trump à Venezuela e libertação de americanos indica sobre
estratégia dos EUA com Maduro. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgly8005pg5o. Acesso em: 2 fev. 2025.
19. BBC. Algemas, 3 aviões por semana, voo militar: como funciona a deportação sem e com Trump.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1ez39wx8q5o. Acesso em: 02 fev. 2025.
20. G1. Veja perguntas e respostas sobre o impasse envolvendo a deportação de brasileiros algemados
pelos EUA. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/01/27/veja-perguntas-e-
respostas-sobre-o-impasse-envo
21. AGÊNCIA BRASIL. Deportações de brasileiros dos EUA cresceram depois de acordo de 2018.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-01/deportacoes-de-
brasileiros-dos-eua-cresceram-depois-de-acordo-de-2018. Acesso em: 02 fev. 2025.
22. G1. Brasil e EUA não têm acordo formal sobre deportações de imigrantes ilegais. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/blog/julia-duailibi/post/2025/01/27/brasil-eua-deportacoes-imigrantes-
ilegais.ghtml. Acesso em: 02 fev. 2025.
106
Saúde das mulheres, crianças e adolescentes:
perspectivas e desafios globais no cenário atual
Resumo: O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos traz desafios para a
diplomacia global e a saúde pública, considerando o histórico de seu primeiro mandato (2017-
2021). Sua política externa, marcada pela abordagem "América Primeiro" (America First), é
caracterizada por priorizar interesses nacionais, resultando na retirada ou redução de apoio a
organizações multilaterais, como o UNFPA e a OMS. Entre os principais impactos estão a
politização da cooperação internacional em saúde, o corte de financiamento para programas de
saúde materna e infantil e a restrição de direitos sexuais e reprodutivos. A continuidade dessas
políticas tende a aprofundar desigualdades e comprometer avanços conquistados nas últimas
décadas. Neste artigo contextualizamos este cenário de crise do multilateralismo, dando ênfase
aos impactos na saúde materna e infantil. O informe também traz a tradução de editorial da
revista The Lancet, que discute o tema. Ao final, um breve informe do Dia Internacional das
Mulheres 2025 da ONU Mulheres.
Palavras-chave: Saúde Global; Agências Internacionais; Diplomacia em Saúde; Saúde da Mulher;
Saúde da Criança.
Abstract: The return of Donald Trump to the presidency of the United States presents challenges
for global diplomacy and public health, considering the history of his first mandate (2017–2021).
His foreign policy, marked by the "America First" approach, prioritizes national interests, leading
to the withdrawal or reduction of support for multilateral organizations such as UNFPA and
WHO. Among the main impacts are the politicization of international health cooperation,
funding cuts for maternal and child health programs, and restrictions on sexual and reproductive
rights. The sequence of these policies is likely to deepen inequalities and undermine progress
achieved in recent decades. This article contextualizes this crisis of multilateralism, emphasizing
the impacts on maternal and child health. The report also includes a translation of an editorial
from The Lancet, which discusses the issue. Finally, a brief report on the UN Women’s
International Women’s Day 2025.
Keywords: Global Health; International Agencies; Health Diplomacy; Women Health; Children
Health.
107
programas de salud maternoinfantil y la restricción de los derechos sexuales y reproductivos. La
continuidad de estas políticas tiende a profundizar las desigualdades y comprometer los avances
logrados en las últimas décadas. En este artículo contextualizamos este escenario de crisis del
multilateralismo, enfatizando los impactos en la salud maternoinfantil. El informe también
incluye una traducción de un editorial de la revista The Lancet, que trata el tema. Finalmente, un
breve informe sobre el Día Internacional de la Mujer de ONU Mujeres 2025.
Palabras clave: Salud Global; Agencias Internacionales; Diplomacia em la Salud; Salud de la
Mujer; Salud Infantil.
O multilateralismo em crise
Com Trump, esses desafios ganham nova intensidade. Sua retórica em prol da
manutenção de uma globalização perversa90, e sua rejeição a acordos, ilustram um afastamento
das abordagens colaborativas. Entretanto, seu desprezo em relação a essas instituições, acabam
minando ainda mais sua legitimidade, visto a influência que os EUA exerce na ordem mundial.
Logo em seu primeiro dia de governo deste segundo mandato, Trump assinou diversas
revogações e ordens executivas que afetam questões de Imigração e Segurança Fronteiriça;
Energia e Meio Ambiente; Políticas Sociais e diversidade; e Saúde e Políticas Públicas. No que
tange ao campo da Saúde e Políticas Públicas, a tendência que já tem se concretizado é a de
intensificação dos cortes no financiamento dos EUA a organizações multilaterais, como a
Organização Mundial da Saúde (OMS), e a defesa de reformas que favoreçam os interesses
estadunidenses em detrimento de uma visão global compartilhada. Isso tende a criar lacunas
90
A teoria da globalização, proposta pelo geógrafo e teórico Milton Santos, analisa criticamente os
impactos da globalização a partir de uma perspectiva geográfica e social. Ele a divide em três
dimensões:
a) Globalização como fábula: Essa visão representa a globalização como um fenômeno positivo,
inclusivo e inevitável. O discurso dominante enfatiza os avanços tecnológicos, a integração econômica e
a promessa de benefícios universais. No entanto, essa narrativa ignora desigualdades, a concentração
de riquezas e o domínio de grandes corporações. Neste sentido, cria a ilusão de um mundo
interconectado e igualitário, mas esconde suas contradições.
b) Globalização perversa: Essa é a globalização tão como ela é/real; caracterizada pela desigualdade,
exclusão e exploração. A intensificação do capitalismo neoliberal gera maior concentração de poder em
empresas transnacionais e em países centrais, enquanto os países periféricos sofrem com a precarização
do trabalho, dependência econômica e exclusão social. Essa perversidade se manifesta na ampliação da
pobreza, no enfraquecimento dos Estados nacionais e na submissão das populações às regras do
mercado global.
c) Globalização possível: A globalização possível seria baseada na valorização do local, no
fortalecimento da cidadania e na criação de um sistema mais justo e solidário. Santos defende um
mundo em que a tecnologia e a economia estejam a serviço do bem comum, e não do lucro de poucos.
108
financeiras e institucionais que outros atores (como China e União Europeia) poderiam tentar
preencher, mas sem coordenação central.
A Organização tem se posicionado e ressaltou em nota que essas medidas podem causar
uma ameaça global a programas como o do HIV/Aids que, se prolongadas, podem levar ao
aumento de novas infecções e mortes, revertendo décadas de progresso e possivelmente
levando o mundo de volta aos anos 1980 e 1990.
Saúde das Mulheres, Crianças e Adolescentes e seus (novos) desafios no cenário global
• Global Gag Rule: Trump reinstaurou e expandiu essa política “Regra da Mordaça
Global”, que proíbe o financiamento de ONGs internacionais que oferecem serviços ou
informações sobre aborto, mesmo que utilizem recursos próprios. Isso afetou programas de
planejamento familiar e saúde materna em países em desenvolvimento.
109
Impacto da pandemia de Covid-19
• Saída da OMS: Trump anunciou a retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde
(OMS), prejudicando o financiamento global para programas de imunização infantil e saúde
materna, ainda mais com a nomeação de Robert F. Kennedy Jr. para o Departamento de Saúde
e Serviços Humanos (HHS), um ativista antivacina para liderar o HHS.
Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) alerta que milhões de mulheres e
meninas em todo o mundo perderão o acesso a serviços essenciais de saúde sexual e
reprodutiva se a esperada retirada de financiamento por Donald Trump for concretizada. “O
impacto será devastador, especialmente para as mulheres em cenários humanitários”, disse
Sarah Craven, diretora do escritório do UNFPA em Washington, à The Lancet.
Quando The Lancet foi para impressão, Trump ainda não havia cortado o financiamento.
Em seu primeiro mandato como presidente, Trump interrompeu o financiamento dos EUA para
a agência dentro de poucos meses após assumir o cargo, e um cenário semelhante é provável.
“Se você observar a retórica durante a eleição, temos motivos para acreditar que perderemos
nosso financiamento dos EUA”, explica Craven. Ela menciona o Project 2025, um plano para o
novo presidente, que propõe interromper os fundos para o UNFPA.
110
O governo Trump deverá invocar a Emenda Kemp-Kasten, que determina que nenhum
fundo dos EUA pode ser disponibilizado para “qualquer organização ou programa que, conforme
determinado pelo Presidente dos Estados Unidos, apoie ou participe da gestão de um programa
de aborto coercitivo ou esterilização involuntária”. Trump invocou essa emenda em 2017, assim
como administrações republicanas anteriores, que acusaram o UNFPA de participar de um
programa de aborto coercitivo ou esterilização involuntária na China. O UNFPA rejeita essas
alegações, e missões independentes de apuração dos fatos não encontraram evidências que
sustentem a base da Emenda.
Bloquear os fundos dos EUA para o UNFPA terá conseias de longo alcance, diz Nabeeha
Kazi Hutchins, presidente e CEO da Population Action International, uma organização sem fins
lucrativos voltada à saúde sexual e reprodutiva. “[Isso] mina o trabalho transformador do UNFPA
para proteger mulheres e meninas, aprofunda desigualdades, dificulta o progresso na redução
da mortalidade materna e reverte décadas de avanços na saúde e nos direitos sexuais e
reprodutivos, especialmente diante de conflitos e mudanças climáticas.” Sarah Shaw, diretora
associada de Advocacy na organização sem fins lucrativos MSI Reproductive Choices, afirma que
a retirada do financiamento dos EUA para o UNFPA seria “catastrófica”. Outras organizações,
incluindo a MSI, também devem perder financiamento quando Trump iniciar seu segundo
mandato. Para todas essas organizações, “será mais difícil do que nunca continuar oferecendo
serviços vitais”, observa Shaw, e “serão as mulheres e meninas que sofrerão e morrerão como
resultado.”
111
Perspectivas futuras
Nesse cenário, o retorno de Trump pode ser tanto um catalisador para a fragmentação
do sistema internacional quanto uma oportunidade para o surgimento de novas formas de
cooperação mais descentralizadas e adaptadas ao século XXI. Essa dinâmica dependerá do
equilíbrio de poder entre os diversos atores globais e da capacidade das sociedades civis de
pressionar por maior cooperação internacional.
Referência
Samarasekera U. Trump’s anticipated UNFPA defunding will harm millions. The Lancet. 2025 Jan
25;405(10345):286. doi:10.1016/S0140-6736(25)00134-5 (Disponível em:
<https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(25)00134-
5/fulltext?dgcid=raven_jbs_etoc_email; acesso em: 31jan2025).
112
Quais são as perspectivas da segurança alimentar e nutricional global para 2025?
Eduardo Nilson
Denise Oliveira e Silva
Nesse sentido, a COP 30, em Belém, no Brasil, por sua vez, traz uma expectativa enorme
de avançar sobre tópicos que não foram abordados em cúpulas anteriores, trazendo uma grande
responsabilidade para o Brasil como anfitrião que deve, ao mesmo tempo, ser modelo nas
agendas. Para os mais esperançosos, a COP 30 tem o potencial de ser um momento marcante
para a agenda dos sistemas alimentares, especialmente considerando sua localização na
Amazônia e o crescente reconhecimento da necessidade de transformar os sistemas
alimentares para enfrentar as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a insegurança
alimentar. Por outro lado, o caminho para os avanços necessários (e que não teve êxito nas COPs
113
anteriores), incluem a construção de forte vontade política, do aumento de financiamento e de
esforços colaborativos entre setores e partes interessadas.
Ao mesmo tempo, o impacto das mudanças climáticas está cada vez mais presente nos
sistemas alimentares e sentido no cotidiano das populações, a exemplo do impacto nos preços
de produtos como o azeite de oliva e do café, mas que ameaçam cada vez mais alimentos
básicos. Nesse mesmo contexto, vemos, ainda, um aumento das migrações forçadas de
populações em virtude das mudanças climáticas, trazendo como uma causa e consequência a
insegurança alimentar e nutricional.
Para completar, é inevitável comentar sobre a nova presidência de Donald Trump, nos
Estados Unidos da América, que pode ameaçar significativamente as agendas globais de SAN e
saúde, bem como de sistemas alimentares, por meio de guerras comerciais, enfraquecimento
do multilateralismo (em especial em relação às Nações Unidas e seus organismos),
negacionismo e desinformação, desregulação, autoritarismo e poder político por oligopólios,
entre outros riscos.
Com seus compromissos mais amplos, os ODS são objeto de grande preocupação,
particularmente no campo dos indicadores relacionados à segurança alimentar e nutricional, na
medida em que o monitoramento do avanço de suas metas mostra avanços pouco expressivos
em alguns e mesmo a continuidade de retrocesso em outras. Não é novidade que a recuperação
pós pandemia em relação à redução da fome tem sido desigual entre as diferentes regiões do
mundo e insuficiente global e regionalmente (FAO/IFAD/UNICEF/WFP/WHO, 2024). Como
resultado, mantidas as atuais tendências, poucos ODS relacionados à nutrição e saúde que
poderão ser alcançados em 2030.
114
afetam especialmente as mulheres, as populações rurais e os grupos vulneráveis, estando o
Caribe mais fortemente afetado. Além disso, a exemplo do resto do mundo, a região não
alcançará a maioria dos objetivos de nutrição, e as dietas saudáveis continuam sendo as mais
caras em comparação com outras regiões.
Outro ponto de grande relevância desse mesmo relatório foi o destaque à análise dos
potenciais impactos da variabilidade climática e os fenômenos climáticos extremos na segurança
alimentar e nutricional, considerando a disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade dos
alimentos e sua produção. Nesse sentido, o documento reforça que esses fenômenos reduzem
a produtividade agrícola, interrompem as cadeias de abastecimento e aumentam os preços dos
alimentos e que as populações vulneráveis são as mais afetadas e os hábitos alimentares
também mudam. Em outras palavras, a variabilidade climática e os fenômenos climáticos
extremos já impactam e no futuro poderão impactar ainda mais negativamente todas as
dimensões da segurança alimentar e nutricional, agravando a insegurança alimentar e
nutricional e reforçando as causas da má nutrição.
Para além da fome e desnutrição, é importante destacar que o cenário de dupla carga
da má nutrição se intensifica ainda mais, principalmente em regiões do mundo como a América
Latina e Caribe, Sudeste da Ásia e África. Com isso, observa-se globalmente um aumento gradual
das prevalências de obesidade e das doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs) relacionadas
à alimentação inadequada, como cânceres, doenças cardiovasculares, diabetes e outras,
continuam aumentando a cada ano globalmente (World Health Organization (WHO), 2024).
Tornando esse cenário ainda mais complexo, não se pode esquecer, ainda, da relação entre a
dupla carga da má nutrição com as consequências negativas dos sistemas alimentares
hegemônicos sobre o meio ambiente, na forma da sindemia global de desnutrição, obesidade e
mudanças climáticas (Swinburn et al., 2019).
Por outro lado, nos últimos anos observa-se um enfraquecimento gradual da Década de
Ação diante dos outros compromissos na agenda de alimentação e nutrição, de modo que suas
principais ações concentraram-se em sua primeira metade e sua relevância para os atores
globais não conseguiu se sustentar diante da competição com outras iniciativas afins, como a
Cúpula de Sistemas Alimentares, nem de responder adequadamente à deterioração da SAN
global e sua relação com as crises econômicas e políticas nacionais e as consequências da
pandemia de Covid-19 e das mudanças climáticas. Nesse cenário, pôde-se observar um gradual
enfraquecimento do apoio e incentivo pela FAO, pela OMS e pelo UN Nutrition à Década e a suas
iniciativas, como as redes de ação, assim como o direcionamento do interesse do setor privado
para a Cúpula de Sistemas Alimentares e fortalecer-se no contexto de outras iniciativas mais
permeáveis e menos críticas à participação privada, como o Scaling Up Nutrition e o Nutrition
for Growth, principalmente depois de 2020.
115
Ainda como marco na agenda de segurança alimentar e nutricional global em 2025,
figura o balanço dos 4 primeiros anos da Cúpula de Sistemas Alimentares (“UN Food Systems
Summit +4 Stocktaking Moment”), em Adis Abeba, na Etiópia, durante o mês de julho, como um
de seus compromissos de gestão, por meio de uma reunião global de balanço a cada dois anos
para revisar o progresso na implementação dos resultados deste processo e suas contribuições
para o alcance da Agenda 2030.
• Promover maior engajamento das empresas, inclusive por meio de parcerias público-
privadas, para moldar a sustentabilidade dos sistemas alimentares e estabelecer e fortalecer
mecanismos de responsabilização, reconhecendo sua centralidade para os sistemas
alimentares.
116
• Garantir acesso a financiamento concessionário de curto e longo prazo, investimentos,
apoio orçamentário e reestruturação da dívida.
Assim, para dar continuidade aos compromissos de 2023 e enfrentar o contexto atual
da agenda de sistemas alimentares, o Chamado à Ação do Secretário-Geral (SG) traz, no âmbito
da UNFSS+4, os seguintes objetivos gerais:
Por fim, segundo a coordenação da Cúpula, esses objetivos visam consolidar os avanços
alcançados até o momento e direcionar esforços para enfrentar os desafios emergentes,
garantindo que os sistemas alimentares globais se tornem mais resilientes, sustentáveis e
capazes de atender às necessidades de todas as pessoas, do planeta e da prosperidade
compartilhada.
Diante dessa mensagem oficial, vale destacar que inúmeras organizações globais
também trabalham no monitoramento independente dos indicadores da Cúpula de Sistemas
Alimentares no contexto dos ODS, incluindo o Food Systems Countdown Initiative. Em reu último
relatório, essa iniciativa analisa as mudanças nos valores dos indicadores de 2000 a 2014,
mostrando a direção e o ritmo do progresso dos resultados desejados (Food Systems
Countdown Initiative, 2025)
117
A iniciativa monitora indicadores em cinco grandes temas, totalizando 42 indicadores:
118
• Reconhecimento do direito à alimentação.
• Estratégias (caminhos ou pathways) nacionais para a transformação dos sistemas
alimentares.
5. Resiliência, que engloba indicadores de:
• Diversidade.
• Capital social.
• Volatilidade dos preços dos alimentos.
De modo geral, a análise é relativamente otimista, na medida em que quase metade (20
dos 42 indicadores com tendências temporais examinados) tem apresentado tendência de
melhora, globalmente, englobando indicadores em todos os cinco temas. Segundo esse
relatório, por exemplo, o acesso à água potável, que é essencial para a segurança alimentar e
nutricional e para manter os alimentos seguros, aumentou significativamente em todas as
regiões, e, em média, os sistemas de produção da maioria das regiões tornaram-se mais
eficientes no uso de nitrogênio, o que significa menos desperdício e menor poluição ambiental.
Além dos indicadores isolados, o relatório também examina as interações dentro e entre
os 50 indicadores da contagem regressiva. As interações são críticas porque mudanças (ou a
falta delas) em um indicador podem causar (ou bloquear) mudanças em outros, complicando a
tomada de decisões e gerando trade-offs entre objetivos, bem como consequências não
intencionais das ações. A partir dessas análises, os especialistas que participam da iniciativa
constataram que a maioria dos indicadores tem interações teóricas com outros indicadores,
sendo algumas diretas e outras, indiretas, operando por meio de indicadores intermediários.
119
Nesse conjunto de iniciativas e compromissos, não podemos deixar de destacar o
resultado do protagonismo brasileiro na agenda internacional de segurança alimentar e
nutricional por meio da presidência do G20 em 2024, que colocou em prioridade que a
presidência brasileira tem dado ao enfrentamento da fome, da pobreza e das desigualdades por
meio da criação e aprovação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. O Brasil fez um
chamamento aos líderes globais para priorizar políticas públicas baseadas em direitos,
reconhecendo a interconexão da saúde, da educação, da agricultura, da renda e de outras
políticas e buscando modelos de governança participativa para que a sociedade civil possa atuar,
aliando ações emergenciais imediatas com políticas estruturantes para interromper a
transmissão intergeracional da pobreza, assim como demonstrou a experiência brasileira antes
do desmonte das políticas sociais e que ora estão sendo reconstruídas e ampliadas.
Ao final de 2024, foi criada a plataforma para a Aliança que reúne, além de 82 países
oficialmente aderidos à iniciativa, a União Africana, a União Europeia, bancos internacionais e
organizações da sociedade civil.
Em termos técnicos, vale destacar o forte alinhamento com o policy brief intitulado
“Caminhos das políticas para o enfrentamento global da pobreza e da fome” (Policy Pathways
for Tackling Global Poverty and Hunger), produzido pela Fiocruz e aprovado pelo T20 Brasil,
tendo como fundamentos a autonomia dos países e a base em experiências bem-sucedidas já
implementadas, de caráter emergencial e estruturante (Silva et al., 2024). No policy brief,
destaca-se que acabar com a pobreza e a fome deve ser uma prioridade global para as
organizações internacionais e para todos os governos, para que os compromissos existentes e
futuros sejam plenamente apoiados e continuados e que o alívio da fome requer respostas
imediatas, mas acabar com a fome exige mudanças estruturais, baseadas políticas de múltiplos
setores.
A reunião da COP 30 em 2025, que será realizada em Belém, Brasil, apresenta uma
oportunidade única para avançar a agenda dos sistemas alimentares no âmbito do quadro global
de mudanças climáticas. Como a primeira COP sediada na região amazônica, o evento
provavelmente enfatizará o papel crítico dos sistemas alimentares na ação climática, na
conservação da biodiversidade e no desenvolvimento sustentável e traz uma grande
responsabilidade de avançar no estabelecimento de compromissos que não foram alcançados
nas cúpulas que a precederam.
120
Em função da própria localização da COP 30, espera-se, ainda um foco na Amazônia e
nas regiões tropicais. Nesse sentido, os temas de desmatamento e uso da terra devem ter
destaque e o Brasil, como anfitrião, precisa priorizar discussões sobre o combate ao
desmatamento e a promoção do uso sustentável da terra, especialmente na Amazônia,
incluindo a abordagem da expansão da agricultura (por exemplo, soja e pecuária) em áreas
florestais. Além disso, é fundamental incorporar o conhecimento e os direitos de povos
indígenas, visto que o papel das comunidades indígenas na proteção das florestas e na gestão
de sistemas alimentares sustentáveis é central e deve ser acompanhado do reconhecimento dos
direitos à terra e das práticas tradicionais.
Outro tema central deve ser o da agricultura sustentável e resiliente, alinhada com a
Cúpula de Sistemas alimentares, buscando promover a discussão e adoção de práticas agrícolas
inteligentes para o clima (“climate smart”), como agroecologia, agricultura regenerativa e
agricultura de precisão, para reduzir emissões de gases de efeito estufa e contaminantes,
melhorar a saúde do solo e aumentar a resiliência a choques climáticos. Para tanto, é importante
trabalhar no apoio aos pequenos agricultores, especialmente em países de baixos e médios
rendimentos, por meio de acesso a financiamento, tecnologia e programas de capacitação.
Ainda no âmbito dos sistemas alimentares, é preciso incluir a discussão da transição para
dietas sustentáveis, em que prioridade deve ser dada à promoção de dietas baseadas em
plantas, reduzindo o consumo de carne e laticínios, para diminuir as emissões e melhorar a
saúde pública, além da redução das perdas e desperdícios de alimentos, incluindo políticas e
inovações para reduzir perdas e desperdícios em toda a cadeia de produção, processamento,
distribuição e consumo de alimentos.
Espera-se, ainda, que a COP 30 possa trazer avanços no campo da governança da agenda
de sistemas alimentares e ambiente. Por exemplo, o fortalecimento da governança e
colaboração global pode beneficiar-se significativamente da cooperação multilateral,
alinhamento com outras agendas (como outros quadros globais, como os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal e
os resultados da Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU). Os avanços na governança devem
também prever espaços para o engajamento da juventude e da sociedade civil, incluindo grupos
de agricultores, ONGs e defensores dos consumidores, para garantir resultados inclusivos e
equitativos.
121
Por fim e não menos importante, todos os compromissos e ações precisam ser objeto
de monitoramento e responsabilização, por meio do estabelecimento de mecanismos para
monitorar e relatar o progresso dos compromissos dos sistemas alimentares, garantindo
responsabilização e transparência. Nesse mesmo contexto, deve-se trabalhar para a coleta de
dados aprimorada e o desenvolvimento de indicadores padronizados para o desempenho dos
sistemas alimentares e sua relação com o clima.
Portanto, a COP 30, em 2025, tem o potencial de ser um marco para a agenda dos
sistemas alimentares, especialmente devido à sua localização na Amazônia e ao crescente
reconhecimento da necessidade de transformar os sistemas alimentares para enfrentar as
mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a insegurança alimentar e nutricional. As
prioridades-chave provavelmente incluirão a integração dos sistemas alimentares na ação
climática, a promoção da agricultura sustentável, a transição para dietas sustentáveis e a
garantia de equidade e justiça. O sucesso dependerá de forte vontade política, aumento do
financiamento e esforços colaborativos entre setores e partes interessadas e, se esses
elementos se unirem, a COP 30 poderá catalisar um progresso significativo em direção a
sistemas alimentares resilientes, sustentáveis e equitativos em todo o mundo.
Seria impossível analisar as perspectivas da agenda de SAN para 2025 sem incluir os
impactos possíveis da volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América.
Alguns impactos mais imediatos de suas medidas, como a retirada do país da OMS e o corte no
financiamento de ações humanitárias tem fortes repercussões na agenda de SAN, desde a
limitação do funcionamento de ações globais de saúde e nutrição até a ação de organizações
locais em várias partes do mundo que atuam inclusive nas questões de insegurança alimentar e
nutricional de populações mais vulneráveis. Ainda, em uma interface entre a OMS e a FAO, o
próprio Codex Alimentarius pode sofrer repercussões com a ausência dos EUA na construção
dos consensos internacionais na regulação de alimentos e nas consequências das guerras
comerciais via Organização Mundial do Comércio.
122
poderia enfraquecer a capacidade da FAO de cumprir sua missão. Além disso, ainda no campo
do financiamento, os EUA podem impor condições às suas contribuições, como exigir reformas
ou priorizar programas que estejam alinhados com os interesses americanos (financiamento
condicional), o que poderia perturbar a agenda da FAO. Com isso, pode haver um impacto
inclusive na credibilidade e eficácia da FAO incluindo a erosão de sua confiança e a fragmentação
dos esforços, principalmente no escopo da SAN.
123
Podemos, ainda, especular sobre as possíveis reações dos países e do mercado
internacional diante das políticas específicas adotadas, rearranjando os sistemas alimentares
globais por meio da reação das principais economias globais.
Por exemplo, a China foi fortemente impactada pelas guerras comerciais de Trump
durante seu primeiro mandato, especialmente nas importações de soja, o que levou a uma
maior diversificação de fontes. Nesse sentido, o país pode aumentar as importações agrícolas
do Brasil, Argentina e Rússia para reduzir a dependência de soja, milho e trigo dos EUA, assim
como acelerar reformas agrícolas domésticas e iniciativas de segurança alimentar, incluindo
investimentos pesados em tecnologia agrícola e esforços de autossuficiência.
Respostas a essa nova configuração global também devem vir da África, tendo em vista
que muitas nações africanas dependem da ajuda alimentar e das exportações agrícolas dos EUA
e da UE. Medidas dos EUA podem gerar a busca de novos parceiros comerciais e estratégias de
SAN, como o aprofundamento de parcerias agrícolas com China, UE e Rússia, maiores
investimentos na agricultura local para reduzir a dependência de importações e a busca de
acordos comerciais regionais. É provável, contudo, que a insegurança alimentar e nutricional
venha a aumentar em algumas regiões vulneráveis do continente em consequência da redução
da ajuda externa e de impactos sobre o comércio com os EUA.
Conclusão
Começamos um novo ano reforçando que o tempo é curto para o alcance o de diversos
compromissos internacionais na agenda de segurança alimentar e nutricional e no decorrer de
2025 devemos trazer novas informações e análises sobre a evolução dos indicadores globais e
regionais. Continuamos entre esperanças e desafios, lembrando que temos muitas evidências,
informações e análises que podem e devem orientar políticas em todos os níveis.
124
brasileiro e representa importante marco para fortalecer a articulação da agenda climática com
os sistemas alimentares.
Falar da transformação dos sistemas alimentares globais é cada vez mais necessário e,
ao mesmo tempo, mais complexo. Possivelmente seja o momento para uma nova ordem global
a partir das agendas de SAN e o Brasil pode ter papel central nesse processo. E precisamos fazer
nosso dever de casa. O país do guia alimentar mais avançado no mundo precisa fortalecer sua
implementação, inclusive na indução das políticas. O país do Programa de Agricultura Familiar
precisa colocar essa agenda em igualdade ou, de preferência, superioridade à agricultura
comercial, priorizando a diversidade alimentar, baseada em alimentos locais e produzidos de
forma saudável e sustentável. O país do maior programa de alimentação escolar precisa regular
a venda de alimentos nas escolas e sua publicidade.
Referências
FAO, FIDA, OPS, PMA, U. América Latina y el Caribe - Panorama Regional de la Seguridad Alimentaria y
la Nutrición 2024. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://doi.org/10.4060/cd3877es>.
FAO/IFAD/UNICEF/WFP/WHO. The State of Food Security and Nutrition in the World 2024 - Financing to
end hunger, food insecurity and malnutrition in all its forms. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://openknowledge.fao.org/items/18143951-4b0a-46d6-860b-0f8908745da1>.
FOOD SYSTEMS COUNTDOWN INITIATIVE. The food systems countdown report 2024: Tracking progress
and managing interactions. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://doi.org/10.36072/fsci2024.>.
SILVA, D. O. E et al. G20 Brasil 2024 - Policy Pathways for Tackling Global Poverty and Hunger, 2024.
Disponível em:
<https://t20brasil.org/media/documentos/arquivos/TF01_ST01_POLICY_PATHWAYS_FOR66d75d784f9c
6.pdf>
SWINBURN, B. A. et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet
Commission report. The Lancet, v. 393, n. 10173, p. 791–846, 2019.
UNITED NATIONS FOOD SYSTEMS COORDINATION HUB. Draft concept note: Shaping the path to
UNFSS+4. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.unfoodsystemshub.org/latest-
updates/news/detail/save-the-date-for-the-2nd-un-food-systems-summit-stocktaking-moment-(unfss-
4)/en>.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World health statistics 2024: monitoring health for the SDGs,
Sustainable Development Goals. Geneva, Switzerland: [s.n.]. Disponível em:
<https://www.who.int/publications/i/item/9789240094703>.
125
Perspectivas 2025 para a UNESCO: Iniciativas para um futuro mais sustentável
Fabiane Gaspar
Gisele Sanglard
Heliton Barros
Vitor Rodrigues
Abstract. One of the pillars of the United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization (UNESCO) is the promotion of international cooperation in the areas of education,
science, culture, communication and information to achieve the sharing of knowledge and the
free flow of ideas to accelerate mutual understanding and a more perfect knowledge of each
other's lives. UNESCO's programs seek to contribute to the achievement of the Sustainable
Development Goals (SDGs) defined in the 2030 Agenda, adopted by the United Nations General
Assembly in 2015. If, on the one hand, the challenges faced in fulfilling its mandate are limitless
and continuous, on the other, they generate great prospects for action. For 2025, the prospects
for UNESCO's actions are linked to artificial intelligence; digital transformation; sustainable
education systems on the African continent; and climate change. In this report, we will highlight
UNESCO's prospects for artificial intelligence and climate change.
Resumo. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) tem
como um de seus pilares de atuação a promoção de cooperação internacional nas áreas de
educação, ciência, cultura, comunicação e informação para alcançar o compartilhamento de
conhecimento e o livre fluxo de ideias para acelerar a compreensão mútua e um conhecimento
mais perfeito sobre a vida de cada um, assim os programas da UNESCO buscam contribuir para
a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos na Agenda 2030,
adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015. Se por um lado, os desafios
enfrentados para o cumprimento de seu mandato são ilimitados e contínuos, por outro, geram
grandes perspectivas de atuação. Para 2025, as perspectivas das ações da UNESCO estão
vinculadas à inteligência artificial; à transformação digital; aos sistemas educacionais
sustentáveis no continente africano; e às mudanças climáticas. Neste informe, destacaremos as
perspectivas da UNESCO para a inteligência artificial e as mudanças climáticas.
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) tem como
um de seus pilares de atuação a promoção de cooperação internacional nas áreas de educação,
ciência, cultura, comunicação e informação para alcançar o compartilhamento de conhecimento
e o livre fluxo de ideias para acelerar a compreensão mútua e um conhecimento mais perfeito
sobre a vida de cada um, assim os programas da UNESCO buscam contribuir para a realização
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos na Agenda 2030, adotada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015.
126
perspectivas das ações da UNESCO estão vinculadas à inteligência artificial; à transformação
digital; aos sistemas educacionais sustentáveis no continente africano; e às mudanças
climáticas. Neste informe, destacaremos as perspectivas da UNESCO para a inteligência artificial
e as mudanças climáticas.
Inteligência Artificial
2021
2022
2023
• Guia sobre Inteligência Artificial Generativa na Educação: Este guia visa apoiar os países na
implementação de diretrizes para o uso ético da IA nas instituições educacionais, fundamentado
na recomendação de 2021.
• Relatório de Monitoramento Global da Educação: Este relatório, que inclui uma análise do
impacto da IA na educação, foi divulgado em 2023, abordando como sistemas inteligentes
podem ser integrados ao ensino.
2024
127
promovendo uma abordagem ética e responsável. Além disso, a UNESCO busca capacitar tanto
professores quanto estudantes a compreenderem e utilizarem essa tecnologia de forma crítica
e consciente. A seguir, apresenta-se um resumo das recomendações elaboradas pela UNESCO
com o objetivo de apoiar educadores e discentes na integração e utilização da inteligência
artificial no contexto educacional.
128
escolares, promovendo uma abordagem ética, inclusiva e sustentável. Ele se baseia em
princípios como a centralidade humana, não discriminação e respeito à diversidade cultural,
além de enfatizar a necessidade de desenvolver competências que vão além do uso técnico,
abrangendo valores éticos, pensamento crítico e habilidades práticas.
Nas últimas semanas, o cenário da inteligência artificial ganhou destaque global com o
surgimento da empresa chinesa Deepseek. Em apenas uma semana, a nova plataforma
ultrapassou o número de downloads do ChatGPT na Apple Store, causando um impacto
significativo no mercado. Esse movimento resultou em uma queda estimada de quase 1 trilhão
de dólares no valor das ações de empresas como Microsoft e OpenAI, evidenciando a magnitude
dessa competição. Essa disputa pelo título de melhor inteligência artificial do mundo,
protagonizada pelas duas maiores potências globais da atualidade, pode ser comparada a uma
nova "corrida espacial". No entanto, enquanto o objetivo da corrida espacial do século passado
era alcançar a Lua, os limites dessa nova competição tecnológica permanecem incertos. Trata-
se de uma disputa que não apenas redefine os avanços tecnológicos, mas também levanta
questões éticas, econômicas e sociais sobre o futuro da inteligência artificial e seu impacto no
mundo.
Por fim, vale ressaltar um tema transversal a todas as discussões: o papel das parcerias
para o alcance de vários objetivos por ser uma ação colaborativa e por propiciar a liberação dos
saberes. Foi considerada a forma mais eficaz de lutar contra as assimetrias, por propiciar acordos
bilaterais e a mobilidade de pesquisadores e estudantes. Contudo, frisam a necessidade de
incentivar os acordos Sul-Sul.
129
Mudanças Climáticas: preservação das geleiras e observação da criosfera
As geleiras são fundamentais para regular o clima global e fornecer água doce, essencial
para bilhões de pessoas. No entanto, devido à mudança climática, impulsionada principalmente
pelas atividades humanas desde o século XIX, esses recursos vitais estão derretendo
rapidamente. O derretimento das geleiras afeta a todos: pessoas que vivem em áreas costeiras
afetadas pelo aumento do nível do mar, pessoas que vivem em áreas de alta montanha mais
propensas a riscos de inundações, deslizamentos de terra e avalanches, e pessoas que vivem em
áreas a jusante que dependem do abastecimento de água das geleiras.
O derretimento das geleiras e dos lençóis de gelo foi identificado como um dos maiores
contribuintes para o aumento do nível do mar nas últimas décadas, de acordo com o IPCC
202294. As geleiras nos locais de Patrimônio Mundial da UNESCO estão derretendo a uma taxa
alarmante, com um terço dos locais previstos para desaparecer até 205095. No mesmo período,
a maioria das geleiras tropicais remanescentes na América do Sul, na África e na Ásia
desaparecerá. A perda de geleiras também é acompanhada pela perda de biodiversidade,
especialmente de espécies endêmicas, bem como pela perda de valores culturais e modos de
vida tradicionais. O recuo das geleiras representa claramente uma séria ameaça ao
abastecimento natural e humano de água em muitas partes do mundo.
91
A quinta esfera da Terra denominada criofera é constituída por regiões da superfície terrestre cobertas
permanentemente por gelo e neve e aquela parte do solo que contem gelo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Criosfera
92
Resolução A/RES/77/158 adotada em 14 de dezembro de 2022.
https://digitallibrary.un.org/record/3998543?v=pdf
93
Sobre o evento de lançamento, em 21 de Janeiro de 2025: https://www.un-glaciers.org/en/official-
launch-event
94
Relatório IPCC 2022: https://www.ipcc.ch/assessment-report/ar6/
95
UNESCO, IUCN, 2022: World Heritage Glaciers: Sentinels of climate change, Paris, UNESCO; Gland, IUCN
130
resultam em perdas cada vez mais irreversíveis, em defender uma mitigação mais ambiciosa,
em reunir países e comunidades afetadas pela perda de geleiras para compartilhar
conhecimentos e melhores práticas de preservação e adaptação, e em obter financiamento
internacional para ações de adaptação nas áreas afetadas.
96
Resolução A/RES/77/172 adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 2022.
Disponível em: https://digitallibrary.un.org/record/3998543?v=pdf
97
Resolução A/76/L.28 adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 2021.
98
https://www.un-glaciers.org/sites/default/files/medias/fichiers/2024/12/IYGP2025_Concept-Note.pdf
131
ocorrerá em Tajisquistão; os workshops regionais e capacitação, as iniciativas de pesquisa e
monitoramento e a defesa de políticas públicas e parcerias.
99
https://www.un-glaciers.org/en/key-messages
132
elas têm recuado com velocidade acelerada mais recentemente, à medida que o mundo se
aquece rapidamente devido ao aumento das concentrações atmosféricas de gases de efeito
estufa. No entanto, as temperaturas globais mais altas levam a estações de acumulação mais
curtas, menos neve e mais chuvas.
133
políticas, informando as decisões sobre estratégias de adaptação e mitigação. O aprimoramento
da cobertura e da resolução da observação, do gerenciamento de dados e do compartilhamento
global de dados pode melhorar as análises e os serviços de previsão que apoiam ações oportunas
para lidar com ameaças, riscos e impactos.
9. A inclusão dos jovens pode impulsionar a ação coletiva e liderar o caminho a seguir:
os jovens são uma força motriz para a mudança social, pressionando por ações climáticas,
sustentabilidade e dignidade para todos. O engajamento significativo dos jovens nos processos
de tomada de decisão e formulação de políticas pode garantir maior diversidade, inclusão e
representação. Os programas liderados por jovens, a cooperação regional, a governança
inclusiva, o financiamento, a educação, a inovação e o conhecimento dos povos indígenas
podem impulsionar soluções de longo prazo, alcançar a justiça climática intergeracional e
garantir que as geleiras continuem a ser sentinelas do passado, do presente e do futuro do nosso
planeta.
11. As geleiras são um testemunho crucial da história da Terra: em seu gelo, as geleiras
contêm um importante registro do clima e do ambiente do passado. O desaparecimento das
134
geleiras resulta na perda irreversível de arquivos exclusivos da história humana, ambiental e
climática. A memória do gelo deve ser preservada como patrimônio científico e registro histórico
para as gerações futuras. À medida que as geleiras recuam e desaparecem, ecossistemas
sensíveis e únicos estão sendo perdidos e, com eles, a biodiversidade globalmente importante
e os serviços essenciais de ecossistema que sustentam a vida.
12. A retração das geleiras revela novas paisagens e ecossistemas pós-glaciais: novas
paisagens estão surgindo onde as geleiras recuaram ou desapareceram. O surgimento de
paisagens pós-glaciais está gerando novos ecossistemas terrestres, marinhos e de água doce e
nos obriga a redefinir nossa conexão com essas terras. As reivindicações subsequentes dos
recursos terrestres recém-disponíveis geralmente não são claras e são contestadas, exigindo
estratégias urgentes de gerenciamento e proteção que lidem com a governança desses novos
ambientes.
135
local, nacional, regional e internacional, público ou privado. A conjunção de objetivos em prol
de soluções e adaptações diante dos efeitos das mudanças climáticas é a alma das ações da
UNESCO, na esperança de que sejam efetivas e duradouras.
Referências
ESTADÃO. Nova IA chinesa: Deep Seek; bigtechs, bolsas, EUA hoje. EInvestidor, 27 jan. 2025. Disponível
em: https://einvestidor.estadao.com.br/negocios/nova-ia-chinesa-deep-seek-bigtechs-bolsas-eua-hoje/.
Acesso em: 28 jan. 2025.
UNESCO. Artificial Intelligence in Education: UNESCO advances key competencies for teachers and
learners. UNESCO, 20 jan. 2025. Disponível em: https://www.unesco.org/en/articles/artificial-
intelligence-education-unesco-advances-key-competencies-teachers-and-learners. Acesso em: 27 jan.
2025.
UNESCO. AI competency framework for students. UNESCO, 2024. Disponível em:
https://www.unesco.org/en/articles/ai-competency-framework-students. Acesso em: 30 jan. 2025.
UNESCO. Artificial Intelligence and Education: Challenges and Opportunities. Paris: UNESCO, 2024.
Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000391104. Acesso em: 31 jan. 2025.
Intergovernamental Panel on Climate Chance – IPCC. Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and
Vulnerability. Disponível em: https://www.ipcc.ch/assessment-report/ar6/
Organização das Nações Unidas – ONU. International Year of Glaciers' Preservation 2025 Concept Note.
Disponível em: https://www.un-
glaciers.org/sites/default/files/medias/fichiers/2024/12/IYGP2025_Concept-Note.pdf
Organização das Nações Unidas - ONU. Resolução A/RES/77/172. Disponível em:
https://digitallibrary.un.org/record/3998543?v=pdf
Organização das Nações Unidas – ONU. Resolução A/76/L.28. Disponível em:
https://docs.un.org/A/C.3/76/L.28
UNESCO. 2025 International Year of Glacier’s Preservation. Disponível em: https://www.un-
glaciers.org/en
UNESCO, IUCN, 2022: World Heritage Glaciers: Sentinels of climate change. Paris, UNESCO; Gland, IUCN
Wikipedia. Criosfera. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Criosfera
136
As Instituições Financeiras Multilaterais (BID, Banco Mundial e FMI)
Multilateral Financial Institutions (IADB, World Bank and IMF)
Abstract: This article aims to show the actions considered most relevant in the last two months
that were carried out by Multilateral Financial Institutions (MFIs). The Inter-American
Development Bank (IADB) stood out for launching studies on the economy of Latin America and
the Caribbean (LAC). The World Bank (WB) celebrated the record financing of its Fund for the
poorest countries and the Third round of the Pandemic Fund. The International Monetary Fund
(IMF) promoted the launch of the updated global economic outlook.
Keywords: World Bank. IADB. IMF. Economy. Sustainable Development. Global Health
Resumo: O presente artigo tem como objetivo mostrar as ações consideradas mais relevantes
dos últimos dois meses que foram realizadas pelas Instituições Financeiras Multilaterais (IFMs).
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) obteve destaque em lançar estudos a
respeito da economia da América Latina e do Caribe (ALC). O Banco Mundial (BM) celebrou o
financiamento recorde do seu Fundo direcionado aos países mais pobres e a Terceira rodada do
Fundo Pandêmico. O Fundo Monetário Internacional (FMI) promoveu o lançamento das
perspectivas econômicas globais atualizadas.
137
feitas para o Fundo incentivam o cofinanciamento dos governos e a garantia de apoio de
entidades implementadoras registradas100.
A terceira rodada já está em curso, sendo aprovada pelo Conselho Administrativo com
um envelope de US$ 500 milhões para financiar a ajuda aos países de baixa e média renda no
desenvolvimento de capacidades dos seus sistemas de saúde, relacionados à vigilância de
doenças, diagnósticos eficazes e melhoria dos sistemas laboratoriais e da força de trabalho.
Tudo isso tem como objetivo construir a prevenção e a resposta à possíveis pandemias. Nesta
rodada, as propostas devem seguir os temas acordados no Plano Estratégico de Médio Prazo:
Institutos Nacionais de Saúde Pública (ou instituições públicas relevantes) e as redes,
organizações ou hubs regionais/globais e One Health, envolvimento da comunidade, igualdade
de gênero e equidade em saúde102.
Anunciado pelo presidente do BM, Ajay Banga, este financiamento recorde chegou em
um momento importante para o desenvolvimento global. Com a ampliação dos desafios, o BM
entende que o cenário atual precisa de celeridade para gerar os resultados necessários em prol
de mudanças.
100
Disponível em: https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2022/11/12/g20-hosts-official-
launch-of-the-pandemic-fund
101
Disponível em: https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2024/12/19/the-pandemic-fund-
announces-third-round-of-funding-marking-another-milestone-in-pandemic-preparedness
102
Disponível em: https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2024/12/19/the-pandemic-fund-
announces-third-round-of-funding-marking-another-milestone-in-pandemic-preparedness
103
Disponível em: https://ida.worldbank.org/en/what-is-ida
104
Disponível em: https://ida.worldbank.org/en/about/borrowing-countries
105
Disponível em: https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2024/12/05/donors-and-world-
bank-group-boost-IDA-development
138
educação, infraestrutura e resiliência climática, ao mesmo tempo em que estabiliza as
economias, cria empregos e estabelece as bases para a prosperidade de longo prazo 106” para
milhões de pessoas em diversas partes do mundo.
Sobre os recursos financeiros, o relatório afirma que as receitas tributárias do Caribe são
inferiores as de outras regiões, evidenciando a necessidade do fortalecimento de arrecadação,
melhorando os gastos tributários, ampliando a cooperação tributária internacional. Quando se
trata de financiamento, a fim de disponibilizar as ferramentas para mobilizar recursos para o
desenvolvimento, o relatório aponta o uso de instrumentos financeiros, como os títulos azuis e
verdes112.
106
Disponível em: https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2024/12/05/donors-and-world-
bank-group-boost-IDA-development
107
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/inaugural-idb-oecd-report-caribbean-highlights-
regional-integration-and-development
108
Disponível em: https://publications.iadb.org/en/caribbean-development-dynamics-2025
109
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/inaugural-idb-oecd-report-caribbean-highlights-
regional-integration-and-development
110
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/inaugural-idb-oecd-report-caribbean-highlights-
regional-integration-and-development
111
Disponível em: https://www.iadb.org/en/home/idbimpact/one-caribbean
112
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/inaugural-idb-oecd-report-caribbean-highlights-
regional-integration-and-development
139
soluções para promover as mudanças necessárias foram: diversificar a economia, aperfeiçoar o
ambiente de negócios e ampliar a produção agrícola visando a segurança alimentar. Ao
mencionar o tema da segurança alimentar, o relatório pontua que a região mostra progresso
socioeconômico, porém, uma parte dos caribenhos ainda vive na pobreza, sofrendo de
insegurança alimentar de moderada ou grave. A publicação entende que, para promover a
inclusão social a região, os sistemas de proteção social precisam ser fortalecidos e a promoção
da igualdade de gênero mais elaborada113.
Ao tratar das exportações da ALC, o BID lançou uma publicação sobre o tema. De acordo
com o BID, o valor das exportações cresceu em 4% no ano passado, mostrando recuperação de
uma queda de 1,6% no ano de 2023115. A publicação intitulada “Estimativas de Tendências
Comerciais para a América Latina e o Caribe116”, pontuou que o crescimento das exportações
aconteceram devido aos grandes volumes de embarque, conforme a estagnação dos preços.
O anúncio do pacote foi feito pelo Ilan Goldfajn e pelo secretário de Estado dos Negócios
Estrangeiros, da Commonwealth e do Desenvolvimento do Reino Unido, David Lammy. No
113
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/inaugural-idb-oecd-report-caribbean-highlights-
regional-integration-and-development
114
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/inaugural-idb-oecd-report-caribbean-highlights-
regional-integration-and-development
115
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/exports-latin-america-and-caribbean-grow-amid-
global-uncertainty
116
Disponível em: https://publications.iadb.org/en/trade-trends-estimates-latin-america-and-caribbean-
2025-edition
117
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/exports-latin-america-and-caribbean-grow-amid-
global-uncertainty
118
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/exports-latin-america-and-caribbean-grow-amid-
global-uncertainty
119
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/uk-idb-strengthen-partnership-development-latin-
america-and-caribbean
140
pacote consta “apoio ao modelo de negócios pioneiro Originate to Share do BID Invest, bem
como planos de investir até £ 80 milhões (US$ 100 milhões) em seu aumento de capital, com o
potencial de um aumento de cinco vezes na participação do Reino Unido no capital da
instituição120”. O pacote também prevê um reabastecimento do BID Lab, o laboratório de
inovação e capital de risco do Banco.
Ainda que as perspectivas de crescimento global não tenham sofrido alterações, o FMI
adverte que há um distanciamento entre os países a respeito do tema. Ao mencionar as
economias mais avançadas, a instituição entende que os Estados Unidos estão mais fortes do
que foi projetado, tendo como o seu principal trunfo a demanda interna. A projeção de
crescimento do FMI para o país norte-americano foi para 2,7% ao invés do 0,5% dado
anteriormente122.
Já as projeções para zona do euro ficaram em 1%. O FMI explica que os problemas com
os fracos impulsos da indústria, somados a falta de confiança do consumidor e os altos preços
da energia e do gás são as razões para projeções nada animadoras. O FMI dá como o exemplo
que o preço do gás europeu é cinco vezes mais alto do que nos Estados Unidos123.
120
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/uk-idb-strengthen-partnership-development-latin-
america-and-caribbean
121
Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-
outlook-update-january-2025
122
Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-
outlook-update-january-2025
123
Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-
outlook-update-january-2025
124
Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-
outlook-update-january-2025
141
causando a perda de confiança do mercado e mais reajustes. O FMI cita o Reino Unido e a reação
ao seu micro orçamento no ano de 2022 e as recentes tensões vividas nos mercados financeiros
brasileiros, indicando que estes fatos podem ajudar para que as condições de financiamento se
deteriorem rapidamente125.
O FMI alerta que os países precisam preservar o crescimento econômico, mesmo que as
políticas fiscais ativas pesem sobre a atividade econômica. De acordo com o Fundo, os países
precisam ter metas ambiciosas na implementação de reformas estruturais que tenham como
foco o crescimento, incluindo as reformas que ajudem a designar eficazmente os recursos, a
ampliação das receitas do governo, a vinda de mais investimentos e o impulso da inovação e da
concorrência126.
Para finalizar, o FMI evitou fazer suposições sobre as possíveis mudanças de políticas
dos governos eleitos no ano de 2024. Porém, o Conselheiro Econômico e Diretor de Pesquisa da
instituição, Pierre-Olivier Gourinchas, alertou que os esforços devem continuar acontecendo
para melhorar e fortalecer as instituições multilaterais, ajudando a economia global a ser “mais
rica, resiliente e sustentável”, e que políticas unilaterais que forçam a concorrência – subsídios,
tarifas e barreiras não tarifárias – dificilmente trazem perspectivas duradouras para as
economias domésticas. O Conselheiro termina a sua análise dizendo que as consequências
podem ajudar na evolução de desequilíbrios externos, prejudicando os parceiros comerciais,
aguçando as retaliações, trazendo malefícios para os países127.
Em um mundo tão fragmentado, o papel das IFMs amplia a importância de ações que
atinjam diretamente os seus alvos, sem chances para muitos erros. Nos últimos tempos, BID,
BM e FMI têm mudado as suas diretrizes para atender melhor os seus países membros, apesar
das adversidades.
No ano passado, o BID começou a se envolver nas áreas da saúde – onde voltou a ter
relações mais estreitas com a Organização Pan Americana (OPAS)128 – e de segurança
transfronteiriça. Espera-se que durante as Reuniões Anuais em março, no Chile, as diretrizes
para estas e outras áreas sejam ampliadas.
125
Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-
outlook-update-january-2025
126
Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-
outlook-update-january-2025
127
Disponível em: https://www.imf.org/en/Blogs/Articles/2025/01/17/as-one-cycle-ends-another-
begins-amid-growing-divergence
128
Disponível em: https://www.iadb.org/en/news/idb-and-paho-join-forces-key-areas
142
World Economic Outlook Growth Projections [Fonte: IMF]
O FMI em 2024 anunciou várias medidas para direcionar os trabalhos em 2025 durante
as Reuniões Anuais. Um pacote que “inclui empréstimos que contarão com a redução de
encargos e sobretaxas em 36% mais a reforma no financiamento que dobre a capacidade de
empréstimo concessional, apoiando especialmente os países de baixa renda ao longo dos
129
Disponível em: https://openknowledge.worldbank.org/entities/publication/60ebab07-6e84-498a-
b389-3050ee6c160f
143
anos130”. A instituição deve se esforçar para cumprir uma agenda que realmente beneficie os
países mais pobres e com mais problemas para equilibrar as suas balanças de pagamentos. Será
um grande desafio, pois, de acordo com o próprio FMI, as estimativas de crescimento econômico
são medianas, acrescentado a forte incerteza das políticas comerciais e da regulamentação
financeira que podem remodelar a integração global.
Referências
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one-cycle-ends-another-begins-amid-growing-divergence
130
Disponível em: https://www.imf.org/en/News/Articles/2024/10/25/sp102524-annual-meetings-
plenary
144
O Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB) e a Fome na África
Resumo: Neste primeiro informe de 2025 se faz uma retrospectiva da atuação do Banco Africano
de Desenvolvimento (AfDB) no combate à Fome, à Desnutrição e à Insegurança Alimentar na
África. O ponto de partida para o desenvolvimento desse tema é dezembro de 2022 quando se
anuncia a Cúpula Africana sobre Alimentação realizada em Dacar. Foram levantadas (em
diversos documentos nacionais, regionais e internacionais) as ações do AfDB até dezembro de
2024. Analisando as várias iniciativas do Banco, se pode afirmar que elas ainda são fragmentadas
e sobretudo insuficientes diante das dramáticas condições em que se encontra a maioria do
povo Africano. Essas condições são agravadas nos países com profundos conflitos internos,
crônicos e agudos, que deixam suas populações em situações de insegurança social e alimentar,
dependentes da, cada vez mais escassa e igualmente insuficiente, ajuda internacional.
145
aumentassem de 5,5 bilhões de dólares, em 2020, para 6 bilhões de dólares em 2021 e 8,9
bilhões de dólares em 31 de dezembro de 2022, quando o Banco já tinha acumulado ativos de
cerca de 60 bilhões de dólares americanos.
E 60 anos após a sua criação, o Global Finance Bank classificou o AfDB como o melhor
Banco Multilateral de Desenvolvimento do mundo, enquanto o Publish What You Fund, pela
segunda vez consecutiva, classificou a carteira soberana do Banco como a mais transparente de
entre 50 instituições mundiais focadas no desenvolvimento.
Globalmente, 828 milhões de pessoas sofrem de fome (jan. 2023), sendo a África
responsável por 249 milhões, um terço do número de pessoas famintas no mundo. Atingir o
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Número 2 da Fome Zero não pode ser alcançado a
menos que seja alcançado na África. As Nações Unidas observaram que África deve ser o foco,
onde "o número de subnutridos está crescendo mais rapidamente do que em qualquer parte do
mundo".
146
A Cúpula se situa no centro da Estratégia Alimentar da África do Grupo do Banco, uma
das cinco áreas prioritárias (High 5) da instituição para apoiar os países africanos a aumentarem
significativamente o crescimento agrícola.
Realizada em janeiro de 2023, ela foi uma continuação da edição inaugural de 2015,
durante a qual foi proposta a estratégia Alimentar África para a Transformação Agrícola (2016-
2025).
147
A cúpula foi organizada pelo governo senegalês e pelo Banco Africano de
Desenvolvimento, além de reunir dezenas de dignatários, incluindo 34 chefes de estado e de
governo, 70 ministros do governo, e os chamados parceiros de desenvolvimento.
Além desses Bancos, estavam entre os países parceiros a Irlanda, a Holanda, o Canadá e
a Alemanha.
Vale a pena destacar alguns aspectos que estão por trás do discurso do incentivo à
agricultura e da autossuficiência com relação à produção de alimentos. Muitos desses aspectos
estão presentes em artigo de Tom Collins sobre a Cúpula de Dacar 2 publicado na revista African
Business (ver referência nas fontes), com destaque na página do AfDB.
Muitos dos presidentes presentes na cúpula de Dacar 2 disseram que a Tecnologia era
a chave para aumentar os rendimentos dos agricultores em toda a África. O artigo citado acima,
afirma que “Embora 60% das terras aráveis não cultivadas do mundo se encontrem em África,
os pequenos agricultores não precisariam de cortar florestas se fossem capazes de aumentar a
produtividade nas suas explorações agrícolas existentes”.
148
De fato, o autor do artigo cita o Banco Mundial que constatou que a África tinha alguns
dos trabalhadores agrícolas menos produtivos do mundo, medidos pela quantidade de valor
econômico que cada pequeno agricultor acrescenta ao PIB global. A África Subsaariana gera
apenas 1.526 dólares por pessoa na agricultura, em comparação com a média mundial de 4.035
dólares, liderada pelos EUA, com 100.062 dólares por pessoa.
É bom deixar claro que aqui se reconhece que o avanço tecnológico é importante. Uma
parte fundamental desse esforço tem sido o programa Tecnologias para a Transformação
Agrícola Africana (TAAT) do AfDB, lançado em 2018 como parte da Estratégia Alimentar África
2016-2025 do banco. Ao aproveitar o poder da tecnologia, estabelece metas para aumentar a
produção alimentar e tirar pessoas da pobreza até 2025.
"Hoje temos as tecnologias para alimentar África", disse o presidente do AfDB. "Elas
estão na prateleira, mas precisamos de as tirar da prateleira e colocá-las nas mãos das pessoas
certas; o sistema de pesquisa e desenvolvimento é capaz de desenvolver tecnologias que
permitirão a África adaptar-se às alterações climáticas e também ser produtiva, eficiente e
competitiva".
149
Uma iniciativa de apoio aos pequenos agricultores
Entre todas as iniciativas pesquisadas, esta é a única que faz menção aos pequenos
agricultores. O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB) e a Organização Pan-Africana
de Agricultores (PAFO) assinaram um Memorando de Entendimento (MdE), em outubro de 2023,
em Nairobi, para reforçar o setor agrícola africano e estimular o crescimento sustentável no
continente.
150
Para além das alterações climáticas, a intensidade dos impactos é agravada por
conflitos, crises financeiras, pandemias e fome, ameaçando todas as formas de saúde e
soberania alimentar. Esses agravantes estão presentes de modo agudo na África.
Face aos enormes desafios, "a Humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer; isto
será um pacto de solidariedade climática ou um pacto de suicídio coletivo", declarou o
Secretário-Geral da ONU, António Guterres, na COP27.
Essa situação de crise ambiental, agravada pela ausência crônica e crítica de recursos de
todo o tipo, se torna um paradoxo cruel para um continente que tem 65% das terras aráveis não
cultivadas do mundo. A África importava em 2023 mais de 100 milhões de toneladas de
alimentos por um valor anual de 75 bilhões de dólares. O contexto de guerras externas e internas
perturbou gravemente o abastecimento alimentar e fez disparar os preços das mercadorias. Na
África mais de 280 milhões de pessoas passam fome.
151
Por outro lado, em uma abordagem mais ampla, não apenas emergencial, o Banco
Africano de Desenvolvimento (AfDB) criou o Mecanismo de Benefícios de Adaptação (ABM),
lançado em toda a África, desde 2019, tornando-se a primeira abordagem não mercantil
registrada na Plataforma de Abordagens Não Mercantis (NMA Non Market Approach) do Órgão
das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC). O ABM foi apresentado à UNFCCC
pelo Uganda na conferência sobre o clima COP29 realizada em Baku em 2024, com o apoio
inicial da Nigéria, Quénia, Madagáscar, Benim, Gâmbia e Guiné. Organizações internacionais,
empresas e agências governamentais também apoiaram a iniciativa, incluindo o Banco de
Desenvolvimento da África Ocidental (BOAD), o Centro Internacional de Investigação Florestal e
Agroflorestal Mundial (CIFOR-ICRAF), a Autoridade de Gestão de Resíduos do Senegal
SONAGED, SLAMDAM B.V., SaniTap , Allcot e Perspectives Climate Research GmbH .
152
Nesse evento, se considerou fundamental a adoção de estratégias abrangentes que
integrassem perfeitamente a adaptação às alterações climáticas, a redução do risco de
catástrofes e as intervenções nutricionais para garantir o bem estar e a resiliência das
comunidades que enfrentam os desafios da desnutrição relacionada com o clima em África.
Em maio de 2024, numa primeira e única menção (em meio a inúmeros documentos do
AfDB) a um programa com potencial para a universalização da alimentação, o Programa de
Alimentação Escolar, foi realizado um importante evento paralelo aos chamados Encontros
Anuais do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, em Nairobi.
O tema oficial desse evento paralelo foi ‘Criar espaço fiscal para a alimentação escolar:
Rumo à Agenda 2063, aos ODS e ao desenvolvimento do capital humano’. (grifos nossos).
No encontro de alto nível que juntou políticos e policy makers, o Diretor de Agricultura
e Agroindústria do Banco Africano de Desenvolvimento afirmou o óbvio: “Não passar fome é um
direito humano... as crianças que recebem uma boa refeição voltam sempre à escola, existe uma
ligação entre a fome e o desenvolvimento da massa cinzenta”. sublinhou que a produção
alimentar criou demanda para os agricultores e “garantiu mercados para os produtos que
contribuem para o crescimento econômico”. Observando que muitos governos africanos
estavam lutando com os impactos econômicos adversos da pandemia da COVID-19, o aumento
da inflação alimentar e as perdas e danos associados às catástrofes naturais induzidas pelas
153
alterações climáticas, entre outras questões, o Diretor informou que o Banco já apoiou, até
agora, iniciativas de refeições saudáveis no valor de cerca de 100 milhões de dólares.
Dadas as atuais circunstâncias económicas, Kikwete fez um apelo para que a África
acelerasse significativamente o esforço do continente para cumprir os ODS pensando ‘fora da
caixa’ e não ficasse mais para trás, uma vez que as crianças em idade escolar eram os guardiões
do futuro de África e fundamentais para alcançar ‘a África que queremos’. Ele elogiou ainda os
recentes acordos de troca de dívida por educação celebrados com parceiros, destacando um
acordo recentemente concluído entre a França e a Costa do Marfim, e referiu o efeito
multiplicador que cada dólar gasto na educação, incluindo a iniciativa de refeições gratuitas,
teve no desempenho global do PIB.
No encontro destacou-se ainda algo muito importante e estrutural: o fato de que muitos
países africanos estão também se debatendo com um espaço orçamentário limitado,
exacerbado pelo aumento dos custos do serviço da dívida, criando uma silenciosa crise da
dívida. Os elevados pagamentos do serviço da dívida reduzem a despesa em intervenções
críticas que poderiam acelerar a implementação da Agenda 2063 e dos ODS.
Conclusão
Sem atacar as causas estruturais da situação não apenas de desigualdade social, mas de
pobreza generalizada, como a inserção mundial extremamente injusta do continente africano,
em uma (des)ordem global já desigual, fica extremamente difícil superar a situação em questão
da fome e da insegurança alimentar.
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Tarifas, Multilateralismo e Transformação Econômica para o Desenvolvimento
Sustentável e Inclusivo
Tariffs, Multilateralism and Economic Transformation for Sustainable and Inclusive
Development
Claudia Chamas
Bernardo Bahia Cesário
Abstract: China’s Trade Ministry criticized President Trump’s decision to impose 10 percent
tariffs on Chinese exports, saying it would file a WTO case while threatening “countermeasures”
to protect its interests. The European Commission requested WTO consultations to challenge
what it called China’s “unfair and illegal trade practices” on intellectual property. At the World
Economic Forum in Davos, WTO Director-General Ngozi Okonjo-Iweala called on world leaders
to “relax” and take a measured approach to trade tensions. Paraguayan Presidential Address
Defends Multilateralism. Asian Development Bank and World Trade Organization Launch Critical
Minerals Trade Database to Support Clean Energy Transition. The latest report from UNCTAD
highlights the pressing challenges facing global development, emphasizing the slow progress
towards the Sustainable Development Goals (SDGs). Structural inequalities, geopolitical
conflicts, and financial instability have widened the development gap, particularly affecting low-
income and vulnerable countries. Key trends shaping the future include the shift towards a
multipolar economy, rapid technological advancements, climate change, demographic
transformations, and urbanization. The report calls for urgent action to accelerate economic
diversification, resilience-building, and multilateral cooperation to ensure an equitable and
sustainable global economy.
Keywords: Patents, China, European Union, Trade Tensions, Critical Minerals, Sustainable
Development, Economic Diversification, Technological Transformation, Climate Change,
Multilateralism, Trade and Investment, Global Inequality
157
urbanização. O relatório clama por ações urgentes para acelerar a diversificação econômica,
fortalecer a resiliência e impulsionar a cooperação multilateral para garantir uma economia
global equitativa e sustentável.
OMC: União Europeia inicia queixa de disputa relativa a medidas de licenciamento de patentes
chinesas
De acordo com a Nota: “Este caso diz respeito a patentes essenciais padrão, que
protegem tecnologias essenciais para a fabricação de bens que atendem a um padrão, por
exemplo, 5G para celulares. Empresas europeias detêm muitas dessas patentes de alta
tecnologia, principalmente no setor de telecomunicações, o que lhes dá uma vantagem
158
tecnológica. Ao fixar taxas de royalties mundiais para essas patentes, a China tentou forçar
empresas da UE a dar aos fabricantes chineses acesso mais barato a essa tecnologia europeia.
A prática do tribunal chinês de fixar taxas de royalties mundiais para patentes essenciais padrão
está relacionada a outra disputa — a das liminares anti-processo — também atualmente
contestada pela UE na OMC. As liminares anti-processo chinesas efetivamente restringem os
detentores de patentes de alta tecnologia, multando-os ou sancionando-os de outra forma se
eles buscarem fazer valer seus direitos de propriedade intelectual por meio de um tribunal não
chinês. O Painel da OMC estabelecido naquele caso (DS 611) deve emitir um Relatório no
primeiro trimestre de 2025.”
159
multilateral baseado em regras, transparente e previsível. Olhando para o futuro, eles
começaram os preparativos iniciais para a 14ª Conferência Ministerial da OMC, programada
para março de 2026 em Yaoundé, Camarões, com compromisso compartilhado de modernizar
as interações comerciais globais (WTOa, 2025).
Peña argumentou que, para economias de médio porte como o Paraguai, o sistema de
comércio multilateral não é apenas uma opção, mas caminho essencial para o desenvolvimento
e a prosperidade. Ele afirmou corajosamente que qualquer crise de multilateralismo só pode ser
resolvida por "mais multilateralismo", destacando a necessidade de integração mais profunda
do mercado global guiada por regras claras e justas (WTOb, 2025).
Em seu discurso, Peña também delineou áreas específicas para os membros da OMC
abordarem proativamente, incluindo a reforma agrícola, restaurando um sistema de solução de
controvérsias totalmente funcional e garantindo que as medidas ambientais apoiem, em vez de
dificultar, o comércio internacional. Sua palestra ressaltou a importância de garantir justiça,
imparcialidade e igualdade no comércio global (WTOb, 2025).
OMC: Banco de dados sobre comércio de minerais críticos lançado para apoiar a transição para
energia limpa
Minerais críticos como lítio, cobalto e elementos de terras raras são cruciais para
tecnologias de energia limpa, como baterias, turbinas eólicas e veículos elétricos. A iniciativa
visa aumentar a transparência, promover a colaboração e apoiar a tomada de decisões
informadas por formuladores de políticas e partes interessadas, contribuindo para o
desenvolvimento de cadeias de suprimentos de minerais críticos sustentáveis e resilientes que
ajudarão a atingir as metas de energia renovável e eficiência energética até 2030 (WTOc, 2025).
160
UNCTAD: relatório Shaping the Future
161
Figura 1 - Percentual de Metas dos ODS em Rumo ao Cumprimento
Fonte: UNCTAD, 2025, com base em United Nations, The Sustainable Development Goals Report 2024
(Special Edition).
162
Figura 2 - O desenvolvimento sustentável enfrenta desafios crescentes.
Fonte: UNCTAD, 2025, com base em World Inequality Database and Chancel and and Pikkety, 2021.
163
A necessidade de transformação estrutural
164
Transformação estrutural e cadeias globais de valor
A ascensão dos serviços, impulsionada por avanços tecnológicos, aponta para novas vias
de diversificação econômica. O comércio de serviços tem demonstrado maior dinamismo em
comparação com o comércio de mercadorias, com tecnologias digitais expandindo o escopo dos
serviços transacionáveis. No entanto, para capitalizar esse potencial, os países em
desenvolvimento precisam fortalecer as ligações intersetoriais e investir em infraestrutura
digital e capacitação de habilidades. A digitalização oferece oportunidades significativas para
impulsionar a produtividade e reduzir custos comerciais, mas também apresenta desafios, como
a concentração de mercado e a ampliação das lacunas tecnológicas (UNCTAD, 2025).
165
vizinhas e distantes por meio de interrupções no comércio internacional e nos fluxos financeiros
(UNCTAD, 2025).
Os mais pobres pagam o preço mais alto por choques e crises. Durante a pandemia,
milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza extrema, com trabalhadores de baixa
qualificação e mulheres sendo os mais afetados. Disrupções no comércio de alimentos, como as
causadas pela guerra na Ucrânia, levaram a aumentos recordes nos preços dos grãos,
impactando a acessibilidade e a segurança alimentar nos países em desenvolvimento. Políticas
pró-pobres são necessárias para garantir comércio mais resiliente e equitativo, especialmente
em mercados essenciais, como alimentos, onde a concentração de mercado e a financeirização
do comércio contribuem para a instabilidade de preços (UNCTAD, 2025).
166
necessárias para garantir que os benefícios da digitalização sejam compartilhados de forma
equitativa (UNCTAD, 2025).
167
Figura 7 - Cinco mudanças no financiamento são necessárias para a transformação
econômica sustentável.
168
Figura 8 - Número anual de projetos de investimento internacional em setores relevantes
para os ODS nos países em desenvolvimento (2015-2023)
A dívida pública nos países em desenvolvimento aumentou de US$ 8,1 trilhões em 2010
para US$ 28,8 trilhões em 2023, com muitos países gastando mais com o serviço da dívida do
que com saúde ou educação (UNCTAD, 2025).
169
Mais multilateralismo em um mundo multipolar - O surgimento do Sul Global
Desequilíbrios de representação
170
prejudica especialmente economias vulneráveis, como PMDs e PEIDs, que dependem de
mercados globais para diversificar suas exportações e reduzir a pobreza (UNCTAD, 2025).
Referências
1. Bradsher, K. China Assails Trump Tariffs and Threatens ‘Countermeasures’ Disponível em:
https://www.nytimes.com/2025/02/01/us/politics/china-trump-tariffs.html
2. EU. EU challenges China at WTO on royalties for EU high-tech sector. 2025. Disponível em:
https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/ip_25_293
3. WTOa. Davos: DG suggests deep breaths and to “chill” over trade tensions; ministers show WTO
support. 2025. Disponível em: https://www.wto.org/english/news_e/news25_e/dgno_24jan25_e.htm
4. WTOb. Paraguay President: Any multilateralism crisis can only be solved with more multilateralismo.
2025. Disponível em: https://www.wto.org/english/news_e/news25_e/pls_31jan25_e.htm
171
5. WTOc. New database on critical minerals trade launched to support clean energy transition. 2025.
Disponível em: https://www.wto.org/english/news_e/news24_e/envir_18dec24_e.htm
6. Unctad. Shaping the Future: Driving economic transformation for equitable, inclusive and sustainable
development. 2025. Disponível em: https://unctad.org/system/files/official-
document/osginf2024d7_en.pdf
172
A urgência da ação global diante das crises humanitárias, climáticas e de saúde
INTRODUÇÃO
A crise humanitária que afeta diversas regiões do mundo está se agravando a cada dia,
com a violência prolongada, os deslocamentos forçados e os desastres ambientais, levando
milhões de pessoas a viver em condições precárias. A situação no Kivu do Norte, na República
Democrática do Congo, é um exemplo claro disso. A violência contínua na região tem forçado
milhares de civis a deixar suas casas e a buscar refúgio em outras áreas, criando uma emergência
humanitária de grande escala. Organizações internacionais têm feito apelos urgentes por cessar-
fogo e pelo aumento do acesso humanitário para garantir que a ajuda chegue à população mais
afetada, especialmente nas zonas de conflito. Essa crise reflete uma realidade comum em várias
regiões do mundo, onde os conflitos prolongados dificultam a chegada de assistência e pioram
as condições de vida de populações que já viviam em situação de vulnerabilidade.
173
A Síria, que enfrenta mais de uma década de guerra civil, é outro exemplo de como os
conflitos prolongados causam impactos devastadores. Além da devastação material, a guerra
tem gerado um enorme sofrimento psicológico entre as vítimas. Iniciativas para fornecer
suporte psicossocial às pessoas afetadas são vitais para ajudar as vítimas a lidar com os traumas
e os efeitos psicológicos da crise. Em muitos casos, essas intervenções são essenciais para a
reconstrução do tecido social e para a restauração da dignidade dos indivíduos que sofrem com
os horrores da guerra.
A situação em Gaza, por sua vez, continua gravíssima, com o sistema de saúde local
praticamente destruído, sem recursos suficientes para lidar com a crescente demanda por
cuidados médicos. Ao mesmo tempo, na Ucrânia e no Sudão, a violência prolongada continua a
gerar crises humanitárias de proporções enormes, afetando gravemente a saúde da população
local e tornando muito difícil a prestação de assistência humanitária.
A crise humanitária não se limita, contudo, a zonas de guerra declarada. Nos Estados
Unidos, o fim do aplicativo “CBP One”, que ajudava migrantes a solicitar asilo, tem exacerbado
os riscos a que esses indivíduos estão expostos, especialmente no México, onde muitos
migrantes se veem em condições precárias e vulneráveis à violência, exploração e detenção. A
falta de uma política clara e de uma infraestrutura adequada tem contribuído para o aumento
da insegurança e da exploração de migrantes, tornando essa uma crise humanitária à parte, que
demanda uma resposta urgente. Em Gaza, a necessidade de apoio internacional é igualmente
crítica. Organizações como Médicos Sem Fronteiras (MSF) têm ressaltado a urgência de garantir
acesso irrestrito à ajuda humanitária, incluindo alimentos, medicamentos e cuidados médicos
para aqueles afetados pelo conflito.
O papel das organizações internacionais tem sido central na resposta a essas crises.
Muitas dessas organizações têm se empenhado em reforçar a proteção a profissionais de saúde,
que se encontram em risco constante em áreas de conflito. As ONGs também têm cobrado
políticas públicas mais eficazes para enfrentar questões de saúde em tempos de crise, incluindo
a prevenção de doenças cardiovasculares, que se tornam ainda mais prevalentes em ambientes
de guerra e deslocamento forçado. Além disso, há um apelo crescente por soluções diplomáticas
que ajudem a reduzir as tensões políticas e os conflitos armados, especialmente no Oriente
Médio e na África, onde os efeitos das guerras prolongadas sobre a saúde pública são
devastadores. A busca por maior transparência e responsabilidade no cumprimento das leis
humanitárias internacionais também se tornou uma prioridade, com organizações
internacionais clamando por maior acesso a regiões afetadas por conflitos e pela
responsabilização daqueles que cometem violações dos direitos humanos.
174
Além disso, organizações privadas, como a Wellcome Trust e a Gates Foundation, têm
investido em tecnologias inovadoras e em iniciativas de saúde global, com foco na redução de
doenças infecciosas e no fortalecimento da resiliência dos sistemas de saúde. O Global Fund,
por exemplo, tem mobilizado grandes investimentos para enfrentar doenças tropicais
negligenciadas e outras doenças infecciosas, enquanto a GAVI e a Fundação Rockefeller têm se
concentrado na criação de soluções para aumentar o acesso a vacinas e tratamentos em regiões
vulneráveis. Esses esforços visam não apenas aliviar o sofrimento imediato das populações
afetadas, mas também garantir que as comunidades possam resistir melhor a futuras crises
sanitárias e ambientais.
Crise humanitária
Saúde mental
Migrações
O encerramento abrupto do aplicativo CBP One, uma das poucas vias legais para
migrantes solicitarem asilo nos EUA, aumentou os riscos enfrentados por essas pessoas,
segundo Médicos Sem Fronteiras (MSF). Agora, muitos migrantes estão presos em áreas
perigosas no México, expostos à violência, tráfico humano e extorsão. A organização alerta para
os impactos negativos na saúde física e mental dessas populações e pede que os governos dos
EUA e do México implementem políticas migratórias mais humanas, que priorizem a segurança
e os direitos dos migrantes.3
175
Guerras e conflitos
A International Federation of Social Workers (IFSW) emitiu, pela segunda vez, uma carta
de censura executiva contra o sindicato israelense de Assistentes Sociais por “não defenderem
os princípios éticos da Federação de apoiar a paz e a não violência”. Em 2024 a carta referia-se
à negativa do sindicato em solicitar ao governo israelense a dispensa militar de assistentes
sociais de funções de combate. A Fundação considera que mesmo que negado por Israel, a
iniciativa configura um respeito ao princípio ético e profissional da categoria. Em 2018 a censura
foi em função da recusa do sindicato em reconhecer os direitos dos palestinos. Em 2022 a
censura foi removida após o sindicato reconhecer, em uma declaração, a igualdade de direitos
entre os povos palestinos e israelenses.4,5
O cessar-fogo temporário em Gaza trouxe alívio diante da devastação causada por mais
de 15 meses de conflito, com milhares de vidas perdidas e infraestrutura destruída. As
necessidades médicas e humanitárias são catastróficas, e a entrada de ajuda em larga escala é
urgente para atender à população em condições desesperadoras. Médicos Sem Fronteiras (MSF)
pede que Israel permita a chegada de suprimentos essenciais e evacuações médicas, enquanto
reforça a necessidade de um cessar-fogo duradouro para a reconstrução e recuperação das
vítimas.6
Global Health Council discute como conflitos armados em Gaza, Ucrânia e Sudan,
agravam as disparidades de saúde, afetando especialmente populações vulneráveis como
mulheres, crianças e idosos. Em Gaza, a escassez de suprimentos médicos e serviços de saúde
reprodutiva levou ao aumento da mortalidade materna. Na Ucrânia, houve um aumento
significativo nos casos de violência doméstica desde o início da guerra, e o acesso a serviços
essenciais diminuiu drasticamente. No Sudão, o conflito dificultou o acesso das mulheres
grávidas aos serviços de saúde materna devido à escassez e inacessibilidade das instalações de
saúde. Além disso, crianças nessas regiões enfrentam riscos imediatos à saúde e desafios de
desenvolvimento a longo prazo, incluindo desnutrição, traumas psicológicos e interrupção da
educação 8.
176
A World Medical Association manifestou apoio à trégua entre Israel e Gaza, destacando
a importância de proteger os profissionais de saúde em regiões de conflito. a organização
também enfatizou a necessidade de respeitar os direitos humanos e a legislação internacional,
especialmente no que se refere à proteção dos trabalhadores da saúde, que muitas vezes são
alvos durante conflitos armados.11
A Oxfam destacou uma pesquisa com 35 organizações humanitárias revelou que Israel
não melhorou o acesso à ajuda em Gaza no último ano, apesar da ordem da Corte Internacional
de Justiça (CIJ). A maioria das ONGs relata restrições sistemáticas à entrada de suprimentos
essenciais, atrasos de meses e destruição de infraestrutura humanitária. Mesmo com a trégua
temporária, a situação permanece crítica, e há denúncias de ataques a instalações e
trabalhadores humanitários. As organizações pedem acesso contínuo à ajuda e
responsabilização de Israel por violações do direito internacional, alertando para o risco de
repetição da crise sem medidas concretas.15
177
O People’s Health Movement publicou declaração em apoio ao cessar-fogo e em
solidariedade à Palestina. Na declaração, afirma que está junto ao povo de Gaza em alívio e
esperança cautelosa, destacando que, após 15 meses de agressão devastadora e genocida, este
cessar-fogo oferece um alívio muito necessário. Acrescenta, contudo, que o cessar-fogo sozinho
não é suficiente. Exige a libertação imediata dos profissionais de saúde detidos, incluindo o Dr.
Ahmed Mohanna e o Dr. Hussam Abu Safiya, dois diretores de hospital, assim como exige que
Israel forneça acesso humanitário irrestrito sem demora.17
Mudança climática
A diretora da Swasti The Health Catalyst publicou uma matéria em jornal online
chamando a atenção para o enfrentamento das mudanças climáticas como fator essencial para
a melhora dos resultados de saúde pública, lembrando que a crise climática tem afetado a vida
de milhões de pessoas. A matéria destacou o impacto da crise em populações em situação de
vulnerabilidade, como na Índia, onde ondas de calor extremas tornam-se um fenômeno mortal,
em especial em favelas urbanas (o Rajastão registrou temperatura de 51ºC), afetando mais
intensamente trabalhadores assalariados e idosos; as chuvas irregulares e secas agravam a
insegurança alimentar e desnutrição, afetando principalmente crianças, que têm seu
crescimento atrofiado e imunidade enfraquecida. 19
A CARE divulgou análise sobre os conflitos silenciosos que ocorrem em todo o mundo e
que afetam a mais de 180 milhões de pessoas. Entre as crises, a organização cita as mudanças
climáticas como promotora de crises negligenciadas e atinge uma população de mais de 35
milhões de pessoas, principalmente no Sul do continente africano, as quais vêm enfrentando a
fome extrema, sede e violências.20
178
saúde exacerbadas pela crise climática, como doenças relacionadas ao calor, doenças
transmitidas por vetores e água, desafios de saúde mental e desnutrição.22
Greenpeace comentou sobre o ano de 2024, que foi o mais quente já registrado,
ultrapassando o limite de 1,5°C, de acordo com o relatório de destaque climático global de
organizações como WMO, Copernicus e NASA. O ano foi marcado por desastres climáticos
extremos, como incêndios florestais, inundações e falhas de colheitas, agravados pelas altas
temperaturas e poluição. Ian Duff, do Greenpeace, afirmou que o aumento de lucros das
grandes empresas de petróleo e gás em meio à crise climática é inaceitável, exigindo que os
governos façam as empresas poluidoras pagarem pelos danos causados. Greenpeace também
apontou que a expansão dos combustíveis fósseis precisa ser interrompida, e que políticas
robustas precisam ser implementadas para combater a crise de maneira eficaz.23
A nova análise da Oxfam revelou que o 1% mais rico da população mundial consome sua
cota anual de carbono em apenas 10 dias, enquanto a metade mais pobre leva quase três anos
para atingir o mesmo nível de emissões. Chamado de “Pollutocrat Day”, esse marco ressalta o
impacto desproporcional dos ultra ricos na crise climática. Oxfam alerta que as emissões desse
grupo desde 1990 já causaram trilhões de dólares em danos econômicos, perdas agrícolas e
milhões de mortes prematuras. A organização defende medidas urgentes, como taxação
progressiva sobre os mais ricos, restrições a bens de luxo altamente poluentes (como jatos
privados e iates), além da implementação de regulamentações mais rígidas para reduzir
emissões corporativas. Segundo a Oxfam, os países desenvolvidos devem cumprir suas
obrigações climáticas e mobilizar pelo menos US$ 5 trilhões para financiar ações nos países do
Sul Global.25
A ACT Promoção da Saúde divulgou a pesquisa Datafolha que aponta que a maioria da
população brasileira apoia o aumento da tributação para produtos nocivos à saúde, 82% da
população concordam com o aumento da tributação de cigarro e derivados de tabaco, 77% com
aumento da taxação de bebidas alcoólicas, 81% são a favor de aumento de impostos para
179
produtos com alta emissão de carbono; 78%, para armas e munições e agrotóxicos; 66% para
embalagens plásticas; e 64% para combustíveis fósseis.27
A ACT Promoção da Saúde divulgou uma pesquisa que estima os custos da mortalidade
prematura por causas atribuíveis ao consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil, que
alcançam pelo menos R$10,4 bilhões por ano. Esse valor inclui os custos diretos do tratamento,
no Sistema Único de Saúde, de casos de hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2 associados ao
consumo desses alimentos, além dos custos previdenciários decorrentes de aposentadorias
precoces e licenças médicas, e das perdas econômicas relacionadas às mortes por todas as
causas atribuíveis aos ultraprocessados.29
A ACT Promoção da Saúde divulgou estudo sobre os custos diretos e indiretos atribuíveis
ao consumo de álcool no Brasil, estimando que, em 2019, esses custos totalizaram R$18,8
bilhões. Desses, R$1,1 bilhão corresponde a despesas federais diretas com hospitalizações e
procedimentos ambulatoriais no Sistema Único de Saúde. E, os restantes R$17,7 bilhões são
atribuídos a custos indiretos e incluem perdas de produtividade devido à mortalidade
prematura, licenças e aposentadorias precoces decorrentes de doenças associadas ao consumo
de álcool, além da perda de dias de trabalho por internação hospitalar e afastamentos médicos
previdenciários. O estudo foi realizado pela Fiocruz a pedido das organizações Vital Strategies e
ACT Promoção da Saúde, como parte da iniciativa RESET Álcool.30
A ACON elogiou o anúncio do governo estadual de Nova Gales do Sul sobre um projeto-
piloto de testagem de drogas em festivais de música em 2025, uma medida voltada à redução
de danos e proteção da saúde pública. O programa permitirá que as pessoas obtenham
informações detalhadas sobre as substâncias que podem consumir, ajudando na tomada de
decisões mais seguras e minimizando riscos. A organização reforçou que testagens de drogas já
demonstraram eficácia em outras regiões ao reduzir danos, melhorar o acesso a serviços de
apoio e salvar vidas. A ACON apoia fortemente políticas baseadas em evidências e trabalhará
em parceria com o governo para garantir o sucesso da iniciativa, buscando torná-la uma medida
permanente na abordagem de redução de danos.32
A ACON divulgou dicas essenciais para que o público possa aproveitar o Mardi Gras Gay
e Lésbico de 2025, o maior evento anual do orgulho LGBTQ+ na Austrália, com segurança e
responsabilidade, promovendo o bem-estar coletivo e o respeito mútuo durante as festividades.
A organização também reforçou a importância de priorizar a saúde e destacou que a
180
comunidade LGBTQ+ tem uma história consolidada de autocuidado e prevenção, sempre
adotando estratégias eficazes para reduzir riscos e manter a saúde, incluindo a prevenção de
danos relacionados ao uso de substâncias.33
A ACT Promoção da Saúde divulgou uma nota pública manifestando indignação diante
da tentativa de interferência na proibição dos cigarros eletrônicos, após a divulgação de um
áudio de uma reunião entre o secretário da Receita Federal do Brasil (RFB), Robinson
Barreirinhas, e o presidente da ANVISA, Antônio Barra Torres. No áudio, o secretário tenta
interceder em favor da liberação da venda de cigarros eletrônicos, cuja comercialização foi
proibida por unanimidade pela diretoria colegiada da ANVISA em 2024, após cinco anos de
análise criteriosa sobre esses produtos.34
Combate ao HIV/aids
181
prevenção e tratamento do HIV, defendendo também os direitos humanos e a igualdade de
gênero.39
A Public Citizen publicou uma matéria sobre o acordo bipartidário referente ao sistema
de saúde, que inclui restrições aos gestores de benefícios farmacêuticos, mas exclui reformas
mais amplas que poderiam combater os abusos dos monopólios das corporações
farmacêuticas.42
A Public Citizen criticou a medida da administração Trump que removeu páginas do site
da FDA sobre diversidade, equidade e inclusão nos ensaios clínicos utilizados para testar
medicamentos e dispositivos médicos. Essas páginas continham orientações e iniciativas
relacionadas à diversidade nos ensaios clínicos e à equidade no tratamento do câncer. A
organização afirmou que a remoção dessas páginas prejudica a pesquisa clínica, compromete a
integridade científica da FDA e ameaça a qualidade do atendimento aos pacientes.43
A Public Citizen emitiu declaração sobre a nova política dos Institutos Nacionais de
Saúde (NIH) dos Estados Unidos que apoia o acesso às tecnologias médicas de propriedade do
governo. A política exige que as farmacêuticas que utilizam patentes do NIH apresentem planos
para garantir o acesso aos seus produtos. A Public Citizen e seus aliados há muito tempo pedem
ao NIH que assegure o acesso às tecnologias médicas financiadas com recursos públicos,
especialmente durante a crise global de desigualdade na distribuição de vacinas contra a Covid-
19.44
A Public Citizen criticou a Bavarian Nordic, fabricante dinamarquesa de vacinas, por não
transferir a tecnologia da vacina contra a mpox para fabricantes em países em desenvolvimento,
o que permitiria reduzir os preços e aumentar a oferta. A organização destacou que a Bavarian
Nordic cobra valores elevados pela vacina, chegando a até $65 por dose para a UNICEF,
enquanto fabricantes em países em desenvolvimento vendem vacinas com tecnologias
semelhantes por preços muito mais baixos, como $5 ou menos. Embora a empresa tenha
firmado um acordo com o Serum Institute of Índia para expandir a produção da vacina, o
controle exclusivo da Bavarian Nordic sobre a vacina fora da Índia e seus preços elevados não
resolvem a questão da justiça e do acesso universal.45
182
Governança
Vacinação
Taxação da riqueza
183
congresso do WEF, pressionando por medidas concretas para redistribuir riqueza e financiar
ações sociais e ambientais.52
A Oxfam alertou que a riqueza dos bilionários na UE cresceu €138 bilhões em 2024,
aumentando €376 milhões por dia, enquanto a pobreza global permanece quase inalterada
desde 1990. O relatório Takers Not Makers revela que 74% dessa riqueza vem de herança,
monopólio ou conexões políticas. Além disso, o 1% mais rico de 12 países da UE extraiu €84,4
bilhões do Sul Global em 2023. Com a fortuna dos bilionários acelerando, Oxfam prevê pelo
menos cinco trilionários na próxima década e pede maior taxação sobre grandes fortunas para
conter a desigualdade crescente.55
184
Saúde do trabalhador
A NCD Alliance lançou um Mapa de Envolvimento em que pessoas que vivem com DCNT
podem compartilhar como tem se envolvido com o avanço na resposta das DCNT. 59
European Lung Foundation (ELF) divulgou apelo global para ações urgentes para
combater a poluição do ar e melhorar sua qualidade, destacando que a poluição do ar mata mais
de 7 milhões de pessoas por ano, trazendo consequências para a saúde pública como asma,
DPOC e câncer de pulmão. A entidade, em apoio à OMS, publicou uma série de compromissos
que são pedidos aos setores tomadores de decisão, como: redução das emissões de poluição,
utilização de padrões de qualidade do ar, priorizar a redução da poluição do ar buscando a
equidade em saúde, fortalecimento das políticas voltadas ao controle dos níveis de poluição e
aumentar o financiamento.60
A NCD Alliance produziu um briefing para advocacy das DCNT na 156ª sessão do Comitê
Executivo da OMS (EB 156). O comitê reúne 34 experts técnicos que são responsáveis por definir
a agenda que será discutida na Assembleia Mundial de Saúde 61
Educação sexual
Direitos humanos
A Fundação Huésped divulgou uma revista “O papel da justiça no acesso efetivo à saúde:
Debates atuais sobre saúde e direitos humanos”, publicada em conjunto com a Defensoria Geral
da Nação, que inclui artigos sob a perspectiva dos direitos humanos e enfoque interseccional,
185
debates sobre discriminação e criminalização no âmbito da saúde, e experiências comunitárias
para uma atenção integral.64
Equidade de gênero
Apoio à OMS
A World Medical Association divulgou duas declarações lideradas pela WHPA, pedindo
que os governos invistam nos profissionais de saúde para avançar na cobertura universal de
saúde. As declarações foram divulgadas no Dia da Cobertura Universal de Saúde, enquanto os
Estados-membros da OMS discutem uma resolução sobre a força de trabalho em saúde, que
será abordada na próxima reunião do Conselho Executivo da OMS (3-11 de fevereiro de 2025) e
poderá influenciar decisões na Assembleia Mundial da Saúde de 2025.67
A International Federation on Ageing (IFA) publicou notícia sobre seu projeto “Estrutura
de Mensagens sobre Visão e Envelhecimento Saudável, Banco de Mensagens e Boas Práticas”
desenvolvido em consulta com grupos de pacientes. Trata-se de um projeto que visa aproximar
os profissionais da área da saúde ocular e os da área do envelhecimento para identificar a
influência da visão no envelhecimento e vice-versa. Como resultado, a IFA espera que a saúde
da visão possa ser integrada às agendas do envelhecimento e as pessoas idosas possam ser
consideradas na política e prática de saúde da visão.68
Sustentabilidade e saúde
186
saúde da Oxfam, classificou os achados como um “grotesco retrocesso” e denunciou o modelo
de “finanças privadas primeiro”, que prioriza lucro em detrimento do direito à saúde. Relatórios
da Oxfam já haviam alertado sobre extorsão, negação de tratamento e prisões de pacientes em
hospitais financiados por bancos de desenvolvimento do Reino Unido, Alemanha, França e UE.70
Doenças negligenciadas
Doenças negligenciadas
A Wellcome Trust alerta que a leishmaniose, uma doença tropical negligenciada, afeta
até um milhão de pessoas anualmente e se expande devido a mudanças climáticas e
urbanização. O aumento das temperaturas e a alteração dos padrões de chuva favorecem a
proliferação dos vetores, ampliando sua presença, inclusive na Europa. Em resposta, a fundação
firmou parcerias com a DNDi e o Global Health Innovative Technology Fund para desenvolver
tratamentos mais acessíveis e eficazes, alinhados às metas da OMS de reduzir a letalidade da
doença e ampliar o acesso ao tratamento.72
Doenças Infecciosas
Inovações tecnológicas
187
Financiamento Global
Uma análise inédita elaborada por organizações como The Rockefeller Foundation,
divulgada no Fórum Econômico Mundial, revelou que o financiamento internacional para clima
e saúde atingiu US$7,1 bilhões em 2022, um aumento expressivo em relação a 2018. No entanto,
menos de 50% desse montante chegou a países de baixa renda, demonstrando as dificuldades
sistemáticas ao enfrentar os impactos das mudanças climáticas na saúde global. O relatório
destacou a necessidade de ampliar e agilizar o acesso a esses recursos, promovendo
investimentos mais coordenados, acessíveis e alinhados às prioridades globais para fortalecer
sistemas de saúde resilientes ao clima.75
Mudanças climáticas
As "cúpulas de calor" são sistemas de alta pressão que aprisionam o calor em uma
região, elevando as temperaturas e intensificando a poluição do ar. De acordo com a GAVI, The
Vaccine Alliance, em 2024, o mundo registrou o ano mais quente já registrado, com
temperaturas médias globais 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Essas condições extremas
resultaram em ondas de calor mortais, secas severas e incêndios florestais, especialmente em
países de baixa renda. Segundo a aliança, o calor persistente piora a qualidade do ar,
aumentando os riscos à saúde, como doenças respiratórias e cardiovasculares. 76
O Global Fund, em parceria com a Fundação Gates e a Sanofi, lançou o Fundo Catalítico
Climático e de Saúde, no valor de US$ 50 milhões, com o objetivo de apoiar países e
comunidades vulneráveis a enfrentar os impactos da mudança climática na saúde, ao mesmo
tempo em que fortalece sistemas de saúde resilientes e de baixo carbono. O fundo foi criado
em resposta ao aumento das demandas por ação climática, visando garantir que as
comunidades mais afetadas, como mulheres e crianças, recebam suporte urgente. Ele permitirá
que os países vulneráveis desenvolvam soluções locais para proteger a saúde frente aos
impactos climáticos e impulsionem propostas para aumentar o financiamento futuro. O fundo
também promoverá a adoção de tecnologias de saúde sustentáveis, sendo uma resposta crítica
para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na saúde pública.79
188
Governança Global da Saúde
Vacinação
A GAVI, The Vaccine Alliance em colaboração com parceiros, está implementando uma
nova abordagem para fornecer vacinas essenciais em conflitos humanitários. O objetivo é
garantir que populações vulneráveis, como refugiados e deslocados internos, tenham acesso a
imunizações vitais, mesmo em situações de crise. Essa iniciativa busca superar desafios logísticos
e de infraestrutura, adaptando estratégias de vacinação às necessidades específicas de
comunidades afetadas por conflitos ou desastres naturais. A parceria visa fortalecer a cobertura
vacinal e prevenir surtos de doenças em áreas de difícil acesso, promovendo a saúde global e a
equidade no atendimento. 82
Conflitos humanitários
A World Scouting afirmou que o cessar-fogo em Gaza é um passo crucial para encerrar
a violência e aliviar o sofrimento de inúmeras famílias e comunidades. A organização expressou
solidariedade com as pessoas afetadas pelo conflito, especialmente crianças e jovens que
enfrentaram dificuldades inimagináveis e perderam anos insubstituíveis de educação e
sustento, além de diversos problemas de saúde, físicos e psicológicos. 84
189
EVENTOS
Desigualdade
Saúde planetária
Crise climática
Armas nucleares
A International Physicians for the Prevention of Nuclear War (IPPNW) realizará sua
Reunião Regional Europeia em Genebra de 11 a 13 de abril de 2025, destacando o papel da
cidade como símbolo de paz e celebrando a inauguração do Escritório de Ligação de Genebra. O
evento reunirá representantes da sociedade civil, academia e política para debates e
planejamento estratégico, com o objetivo final de abolir as armas nucleares.89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
190
No campo da saúde pública, observa-se um esforço permanente para promover políticas
que combatam doenças crônicas e infecciosas. O aumento da tributação de produtos nocivos à
saúde, como bebidas açucaradas e cigarros eletrônicos, representa um avanço significativo na
prevenção de doenças cardiovasculares e metabólicas. Paralelamente, diversas iniciativas
buscam garantir acesso equitativo a medicamentos essenciais, combatendo monopólios
farmacêuticos e altos preços que limitam o tratamento de doenças como HIV/AIDS e mpox.
Por fim, observa-se que a colaboração global é indispensável para enfrentar os desafios
sanitários e ambientais que ameaçam a humanidade. O engajamento de diversas organizações
que investimentos em pesquisa, prevenção e infraestrutura são fundamentais para melhorar a
resiliência dos sistemas de saúde. A integração entre diferentes setores da sociedade, governos
e organismos internacionais será essencial para construir um futuro mais equitativo, onde o
direito à saúde e à dignidade humana sejam garantidos para todos.
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196
A estrada perigosa a frente: ameaças que não cabem numa lista
The risky path ahead: threats that can not be ranked
Abstract. In this inform, our first of 2025, we use the Global Risks Report 24-25 as a conductive
line, putting its ranking and concepts of threat upon scrutinization of CSO’ views and proposals.
We analysed a total of 17 documents on a 3 way division, first analysing risks under the category
of “State-based armed conflict”, then “Extreme Weather events” and “Critical change to Earth
systems” and a final section compiling the other 7 factors: “Geoeconomic confrontation”,
“Misinformation and disinformation”, “Societal polarization”, “Economic downturn”, “Lack of
economic opportunity or unemployment”, “Erosion of human rights and/or civic freedoms” and
“Inequality”. We also did a brief analysis of the risk number 20 “Decline of Health and Well-
being”.
Keywords: Davos. Trump Second term. COP29. Fossil Fascism. COP29. The Hague Group. Global
Risk Report.
Resumo. Neste informe, o nosso primeiro de 2025, utilizamos o Relatório de Riscos Globais 24-
25 como linha condutora, colocando a sua classificação e conceitos de risco no escrutínio das
opiniões e propostas das OSC. Analisamos um total de 17 documentos com divisão de três
partes, primeiro analisando os riscos na categoria de “conflito armado baseado no Estado”,
depois “eventos climáticos extremos” e “mudanças críticas nos sistemas terrestres” e uma seção
final compilando os outros 7 documentos. fatores: “Confronto geoeconómico”,
“Desinformação”, “Polarização social”, “Desaceleração económica”, “Falta de oportunidades
econômicas ou desemprego”, “Erosão dos direitos humanos e/ou liberdades civis” e
“Desigualdade”. Fizemos também uma breve análise do risco número 20 “Declínio da Saúde e
Bem-Estar”.
Palavras-chave: Davos. Segundo mandato de Trump. Fascismo Fóssil. Cop29. O Grupo de Haia.
Relatório de Risco Global.
197
em risco que formam o Conselho Consultivo do Relatório de Riscos Globais, o Conselho Futuro
Global sobre Riscos Complexos e a Comunidade de Diretores de Risco.”
O documento exibe a lista dos 10 maiores riscos para os nossos próximos 10 anos,
mostrando as mudanças de ranking com o tempo (previsões), os colocando como riscos short-
term ou longer-term. A lista completa de ameaças tem mais de 30 fatores, como perda da
biodiversidade, rompimento de bolhas financeiras, perturbações em cadeias de fornecimento,
proteção social insuficiente etc. Esses riscos são divididos em 5 categorias: Economia, Meio-
ambiente, Geopolítica, Social e Tecnológica. As 10 maiores ameaças latentes elencadas pelo
relatório 24-25 são as seguintes: Conflito armado entre Estados, Eventos climáticos extremos,
Confronto geoeconômico, Desinformação, Polarização social, Recessão econômica, Mudança
crítica nos Sistema Terra, Falta de oportunidades econômicas ou desemprego, Erosão dos
direitos humanos e/ou liberdades cívicas e Desigualdade. O documento foi usado para formular
a agenda de diálogos de Davos, com a mesa sobre Riscos tendo acontecido no dia 23 de Janeiro,
moderada por Zanny Minton Beddoes, a editora-chefe do The economist. A conversa entre os
líderes e representantes de Estado presentes pode ser resumida em afirmações vagas - “vamos
manter a mudança climática no centro das discussões” - e um aparente desconhecimento da
crise multifatorial que enfrentamos e, mais ainda, um desconhecimento de suas causas
sistêmicas. O mesmo pode ser dito do relatório que mesmo com suas mais de 100 páginas
parece fugir de uma análise profunda e minuciosa do modelo social que nos trouxe até a beira
deste colapso.
Dado isso, vamos apresentar o que a sociedade civil diz sobre esses mesmos tópicos,
suas análises tendem a ser mais amplas, orientadas ao cumprimento dos direitos integrais e
tendo - de fato - um novo modelo de relação entre a sociedade e a natureza no centro das suas
indagações. Abrimos mão dos nossos dois grandes blocos e analisamos os 10 primeiros itens da
lista de riscos, utilizando agrupamento de acordo com temas e sinalizando também alguns riscos
abaixo dos top ten, como o declínio da saúde e o mau uso da IA.
No topo, representando 23% dos cenários de risco. Categorizado como risco geopolítico.
Entra aqui todo tipo de conflito que tem, de algum dos lados, um Estado-Nação envolvido.
Basicamente tudo que vimos acontecer e escalar nos últimos 3 anos com Palestina, Ucrânia,
RDC, Sudão, Síria. Temos guerras com Estados envolvidos diretamente e Estados financiando,
formando realidades complexas de proxy war. A decaída da paz - dado o aparecimento de
conflitos latentes - também é apontado pelo Peace Index de 2024. O Index aponta uma escalada
da Militarização, trazendo um novo fator de análise, a global military capability, que junta
“sofisticação militar, tecnologia e prontidão para a batalha” num fator unificado - que aumentou
em 10% nos últimos 10 anos, caracterizando um mundo altamente armado e preparado para
conflitos complexos e grandes. O Index descreve a situação, apontando vagamente alguns
catalisadores - poderes emergentes, tecnologia.
198
pilares de força econômica de Israel e o fato dos testes das armas serem realizados no território
de Gaza parece não importar ou afetar a região mais pacífica do globo (Europa segue em
primeiro lugar no Peace Index) que segue usando estas tecnologias para visar pessoas migrantes
e que buscam situação de refúgio.
“Em dezembro, dois fabricantes de armas – Israel Aerospace Industries (IAI) e Airbus –
anunciaram que tinham assinado um contrato “de continuação” com a Frontex, a agência de
guarda de fronteiras da UE.
Tais anúncios têm como objetivo impressionar os acionistas e potenciais clientes, e não
informar o público. A própria Frontex não promoveu o acordo.
As empresas anunciaram que o drone Heron da IAI seria usado para rastrear refugiados
em perigosas viagens ao Mediterrâneo durante mais quatro anos.
Um porta-voz da Frontex não respondeu a uma pergunta que levantei sobre o genocídio
e o envolvimento da indústria de armas de Israel nele.”
Além disso, enquanto parte do arsenal de guerras que fazem crescer a tensão e a
possibilidade de conflitos, temos a instrumentalização da destruição de instituições de
manutenção da vida. A People’s Dispatch vem denunciando a destruição intencional dos
sistemas de saúde de Gaza - e também os projetos de privatização dos sistemas de saúde ao
redor do mundo - desde o início da escalada do genocídio em Outubro de 2023. Nos primeiros
dias do ano a rede publicou um novo documento, somando relatos locais de médicos e
trabalhadores da saúde de Gaza com um relatório da ONU publicado no último dia de 2024.
4. A situação deteriorou-se a um nível catastrófico desde outubro de 2023, uma vez que
o sistema de saúde já danificado foi alvo, resultando na morte de centenas de pessoas da saúde
e profissionais médicos. Este relatório estabelece padrões na condução das hostilidades em
199
relação a ataques a hospitais e nas suas imediações, examinando vários casos que o ACNUDH
tem acompanhado de perto. Os ataques a hospitais seguiram muitas vezes um padrão
semelhante, envolvendo ataques de mísseis contra edifícios hospitalares, a destruição de
instalações hospitalares, tiroteios contra civis, cercos, bem como assumindo temporariamente
edifícios hospitalares. O presente relatório não examina em detalhe os muitos casos de
detenção arbitrária, desaparecimento forçado e maus-tratos de pessoal médico e outros
palestinianos, incluindo pessoas deslocadas internamente (PDI), detidas no interior de hospitais,
o que foi relatado em outros lugares. Está claro, no entanto, que estas perdas de pessoal
qualificado contribuíram para o colapso do sistema de saúde.”
O âmbito das ações de Israel na Palestina vai além dos cuidados de saúde, mas é
fundamental compreender as estratégias utilizadas no setor da saúde de Gaza como um alerta
sobre o que poderá acontecer em outros lugares, alertaram os oradores. Esta nova “fase
genocida do capital global”, como descreve o Dr. Abu-Sittah, designou os cuidados de saúde
como um ponto-chave de ataque. Para aqueles que estão fora da Palestina, particularmente no
Sul Global, a devastação em Gaza serve como prova evidente de que o genocídio está a ser
utilizado como uma ferramenta de guerra imperialista – uma ferramenta que o capital não
hesitará em utilizar noutros lugares, concluiu o Dr.
Isto é verdade não só para o genocídio como estratégia imperialista, mas também para
os métodos específicos de guerra vistos na Palestina e no Líbano ao longo dos últimos 15 meses.
Nos ataques anteriores de Israel, “vimos muito sangue”, observou Zeina Mohanna. “Agora
estamos vendo pessoas queimando.” A mutilação deliberada de civis através de táticas como o
chamado ataque de pager no Líbano, juntamente com a utilização generalizada de fósforo
branco por Israel e a alegada utilização de urânio empobrecido, representa uma grave ameaça
à saúde humana e ecológica nos próximos anos. Estas ações não são acidentais – são calculadas
para alcançar a erradicação total.”
200
1. Defender a Resolução A/RES/Es-10/24 da ONU e, no caso dos Estados Partes, apoiar
os pedidos do Tribunal Penal Internacional para cumprir as nossas obrigações junto do Estatuto
de Roma, no que diz respeito aos mandados emitidos em 21 de Novembro 2024; e implementar
as medidas provisórias do Tribunal Internacional de Justiça, emitidas em 26 de janeiro, 28 de
março e 24 de maio de 2024.
Tomaremos novas medidas eficazes para acabar com a ocupação de Israel do Estado da
Palestina e remover os obstáculos à realização do direito do povo palestiniano à
autodeterminação, incluindo o direito ao seu Estado independente da Palestina. Convidamos
todos os Estados a tomarem todas as ações e políticas possíveis para acabar com a ocupação do
Estado da Palestina por Israel. Apelamos a todas as nações para que se juntem a nós no Grupo
de Haia no compromisso solene com uma ordem internacional baseada no Estado de direito e
no direito internacional, que, juntamente com os princípios da justiça, é essencial para a
coexistência pacífica e a cooperação entre os Estados.”
Eventos Climáticos Extremos (2) e Mudanças Críticas aos Sistema Terra (7)
201
todo grande conjunto de necessidades para assegurar que todos os países, em especial os com
menos recursos, possam atingir patamares seguros de mitigação e adaptação.
Uma outra crítica se soma às muitas já feitas: em meio à extensão temporal (foi dado
um dia a mais ao evento, para se tentar alcançar uma decisão sobre o valor comum) e o
resultado decepcionante, temos ainda o novo papel dos Bancos Multilaterais de
Desenvolvimento. Essas instituições foram apontadas como atores pivô na financiação da
transição, mitigação e adaptação. E os Bancos aceitaram essa proposta com entusiasmo. Porém,
como nos mostra um artigo do The Bretton Woods Project, essa decisão só adiciona ao projeto
de irresponsabilização dos países mais ricos, além de aumentar a crise da dívida, dado que esses
bancos efetuam operações de crédito (loans) e não concessões\doações (grants), vistas como
ação necessária dentro da lente do CBDR.
Esse tipo de movimento também leva as decisões e manobras sobre a justiça climática
para dentro de instituições privadas - e financeirizadas - e afasta e dificulta a adesão de
colocações da SCO. Durante a COP29 essas mesmas manobras de privatização da pauta pública
foram desafiadas através de um manifesto assinado por mais de 100 sindicatos de trabalhadores
da América Latina e do Caribe, da África e da Ásia (incluindo nossa CUT Brasil). O grupo pedia a
construção da justiça ambiental através de uma via popular, que restaure e garanta bens
públicos, movendo-se para longe da "descarbonização privada”.
A Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG) e uma nova era para a energia pública
202
da propriedade pública de infraestrutura e serviços de energia”, uma política que apoiamos
totalmente. Também apoiamos a demanda da Confederação Sindical das Américas (TUCA) de
que “a energia deve ser desmercantilizada e democratizada por meio de mudanças nos regimes
de propriedade e gestão, fortalecendo o caráter público e reorientando o papel das empresas
públicas para que sua gestão seja democrática e focada na garantia de direitos e melhores
condições de vida para a população trabalhadora”. Além disso, o NCQG deve garantir que a
entrega de todo o financiamento climático seja moldada por mecanismos que promovam o
controle público, democrático e transparente, e seja baseada no reconhecimento do princípio
da UNFCCC de Responsabilidades Comuns, porém diferenciadas.
1. Evitar o aumento da dívida e aliviar as imensas pressões da dívida existente nos países do
Sul. Muitos países do Sul já pagam mais pelo serviço da dívida do que se comprometem com
saúde, educação e serviços básicos. O financiamento climático deve manter e expandir esses
serviços públicos, que são vitais para os esforços de mitigação e adaptação.
2. Acabar com a política de "financiamento combinado" e "redução de riscos". Desde a COP15
em 2009, os níveis de capital comprometido têm sido, em primeiro lugar, mínimos e,
portanto, inadequados e, em segundo lugar, a maior parte das finanças foi mobilizada pelos
MDBs e, portanto, é financiamento público. A ideia de "bilhões a trilhões" do Banco Mundial
de que o dinheiro público "catalisaria" grandes quantidades de financiamento do setor
privado foi um fracasso absoluto. Um NCQG deve reconhecer que os investidores privados
não fornecerão o investimento necessário para atingir as metas climáticas e de energia de
baixo carbono, e a eficácia do financiamento climático dependerá das instituições públicas
e do financiamento público.
3. Ir além dos mecanismos de mercado, como a precificação e o comércio de carbono (que se
mostraram socialmente regressivos e ecologicamente ineficazes); e, finalmente, ver além
das compensações como um meio de reduzir as emissões por desmatamento e degradação
(REDD e REDD+). Conforme observado pela declaração da TUCA na COP29, essas políticas
foram promovidas por "países do Norte e corporações transnacionais para serem
desenvolvidas nos países do Sul global, aprofundam a crise e promovem a reprodução de
práticas colonialistas, ignorando as responsabilidades diferenciadas dos países do Norte
global".
4. Evite fazer o tipo de ataque ao setor público comum às Parcerias para Transição Energética
Justa. As propostas futuras não devem usar uma linguagem que favoreça e exiba os
interesses dos investidores privados. Em vez disso, elas devem usar uma linguagem que
aborde as principais preocupações dos trabalhadores, das comunidades e das necessidades
legítimas de desenvolvimento dos países do Sul
5. Permitir e incentivar uma abordagem de "recuperar e restaurar" os serviços públicos e de
utilidade pública e ajudar os governos do Sul a aumentarem seus ativos e capacidades,
colocando-os em uma posição mais forte para buscar o desenvolvimento industrial e social
de baixo carbono
203
relacionados ao clima e adaptação climática. Os países desenvolvidos também devem
cancelar (e não reprogramar) as dívidas ilegítimas e relacionadas ao clima (por exemplo,
dívidas por perdas e danos à infraestrutura, quebra de safras vitais etc.) para liberar espaço
fiscal para os países do Sul global responderem à crise climática. Tanto o financiamento
climático quanto o cancelamento da dívida podem ser considerados como parte das
reparações que o Norte global deve ao Sul global por sua responsabilidade histórica e
contínua pela crise climática.
2. O financiamento climático deve ser usado para expandir os ativos públicos: Ao contrário
dos esquemas de financiamento misto, como as Just Energy Transition Partnerships (JETPs),
que usam dinheiro público para reduzir o risco de investimentos privados e, ao mesmo
tempo, acumular dívidas governamentais, o compromisso anual de US$ 5 trilhões deve ser
direcionado para a reconstrução das capacidades dos governos de recuperar seus setores
de eletricidade e transporte para a propriedade e o controle públicos totais. As
condicionalidades do tipo JETP que visam criar "um ambiente propício para o setor privado"
por meio da desregulamentação, da liberalização e do enfraquecimento das empresas
públicas devem dar lugar a abordagens de "caminho público" para uma transição energética
justa.
3. Combater a pobreza energética: O sistema multilateral de empréstimos deve abandonar
sua agenda de "privatizar para descarbonizar" e endossar abertamente a abordagem de
"recuperar e restaurar" os serviços públicos de energia proposta pelos sindicatos que
apoiam o caminho público. Os bancos multilaterais de desenvolvimento deveriam parar de
favorecer as empresas privadas (como os chamados produtores independentes de energia,
ou IPPs) e insistir na "recuperação total dos custos" para as empresas públicas. Pioneiras do
Banco Mundial nas décadas de 1980 e 1990, as políticas de "ajuste estrutural" continuam a
ser uma característica dos atuais esquemas de financiamento climático, pois tornam o
financiamento dependente de reformas que promovem as empresas privadas, ao mesmo
tempo em que se esforçam para prejudicar os serviços e as entidades públicas. Esse é o
principal motivo pelo qual, no Sul Global, centenas de milhões de pessoas ainda não têm
acesso a eletricidade limpa e confiável e bilhões ainda dependem de fontes de energia sujas
para cozinhar e aquecer.
4. A transferência de tecnologia é necessária para a industrialização verde de alto valor
agregado e o desenvolvimento de baixo carbono: É preciso direcionar mais recursos
financeiros para a diversificação das cadeias de suprimentos globais por meio da
transferência de tecnologias, assistência técnica e parcerias público-públicas baseadas na
cooperação entre estados em termos não comerciais. Os setores verdes de hoje são
controlados por um punhado de países e empresas multinacionais que, com frequência,
estão mais preocupados com fluxos de receita, lucros e participação no mercado do que
com o enfrentamento da ameaça das mudanças climáticas.
5. O Norte deve liderar o declínio gerenciado do uso de combustíveis fósseis. O foco dos JETPs
na redução do uso de carvão em países como Indonésia, África do Sul e Vietnã evita a
realidade de que os países ricos são os maiores produtores e exportadores de combustíveis
fósseis. Os países ricos podem e devem assumir a liderança em termos de redução não
apenas do consumo de combustíveis fósseis, mas também de suas exportações. Isso deve
ser combinado com o fornecimento de assistência aos países em desenvolvimento para
acelerar a implantação de alternativas energéticas de baixo carbono, abordagens de última
geração para a eficiência energética e o desenvolvimento de infraestrutura e práticas
industriais modernas e resistentes ao clima.”
204
O Center for International Environmental Law - CIEL também fez denúncias importantes
sobre a COP29, dessa vez trazendo a perda gradativa de representação e recebimento das
colocações da SCO. Muitos ativistas preferiram não viajar ao Azerbeijão devido às violações
constantes aos direitos civis que acontecem no país, com isso, as participações foram menores
do que de costume. Junto a isso, vemos uma diminuição no espaço dado pelo mecanismo às
manifestações civis.
“Muitos ativistas decidiram não viajar para Baku ou praticar a autocensura e, à medida
que a COP se desenrolava, esses ativistas presentes na COP29 enfrentaram forte vigilância e
intimidação dentro da Zona Azul. Neste contexto, é ainda mais preocupante que o próprio
Secretariado da UNFCCC esteja cada vez mais restringindo a capacidade de organizar ações e
manifestações dentro do local da COP e policiar o que pode e o que não pode ser dito. Tais
restrições implicam a necessidade de provar uma ligação entre o ambiente e quaisquer
referências aos defensores dos direitos humanos, proibindo referências explícitas a
organizações intergovernamentais e implementando medidas desnecessárias, restrições
sonoras estritas, levando efetivamente a protestos silenciosos. O Acordo de Paris reconhece a
importância da ação climática participativa e o IPCC concluiu que o envolvimento ativo do
público é um pré-requisito para uma ação climática resiliente. Excluindo as vozes daqueles que
clamam por justiça e que tem experiências vividas sobre a crise climática irá minar ainda mais a
credibilidade e a legitimidade da UNFCCC. A UNFCCC e todas as suas Partes devem defender os
direitos humanos e garantir um ambiente seguro e um espaço cívico antes, durante e depois das
COPs dentro e fora da Zona Azul.”
A privatização da descarbonização parece ainda mais contraprodutiva uma vez que nos
deparamos com um novo artigo lançado pela The Lancet em sua edição de Fevereiro\2025, na
qual os autores demonstram como uma pesquisa feita com participação civil ativa é a chave para
a criação de programas e projetos que realmente consigam resolver a crise climática. “The
climate crisis and human health: identifying grand challenges through participatory research”
aponta um projeto com plena participação - acadêmicos, cientistas, ativistas, civis, pessoas que
enfrentam a crise cara a cara - e centrado na saúde e nas adaptações diferentes que cada local
deverá fazer a partir das suas necessidades e características singulares (health gap). A pesquisa
ainda está em fase preparatória e seus resultados serão publicados numa lista que terá acesso
público.
Confronto geoeconômico (3), Desinformação (4), Polarização social (5), Recessão econômica
(6), Falta de oportunidades econômicas ou desemprego (8), Erosão dos direitos humanos e/ou
liberdades cívicas (9) e Desigualdade (10)
Estas 7 ameaças representam juntas 33% das possibilidades analisadas serão analisadas
em conjunto. Apesar de serem categorizadas como pertencentes a 4 grupos diferentes -
205
geopolítica, tecnológica, social, econômica e social (as últimas 3) respectivamente - e referidas
como fatores isolados, as vemos como conectados fatores sistêmicos. Essa análise infelizmente
não é feita pelo documento original que, por exemplo, define a crise da desinformação como
um problema de tecnologia, não como um problema de disputa narrativa - quem dera as
fakenews se dessem pelo mau manejo das redes e não pela disseminação dolosa de inverdades
e pela inconveniente falta de regulação. Os confrontos geoeconômicos - tradewars - são um
problema, porém são um problema que releva como a intrincada rede de comércio
internacional que temos pode ser usada como arma - weaponized - pela economia mais forte.
Os pontos 5, 6, 8, 9 e 10 são ficha batida nos nossos informes. O descontentamento social, o
desespero gerado pela falta de possibilidades econômicas que garantam uma vida digna, junto
às políticas de austeridade que cortam políticas públicas e a ascensão de movimentos de
extrema-direita traduz uma realidade de infelicidade e insatisfação, um barril de pólvora social
no qual as narrativas batidas de culpabilização pontual de bodes expiatórios - como as usadas
pelos trumpistas - vencem análises radicais sistêmicas.
Essa realidade é alimentada pela realidade de que nunca antes vivemos num mundo tão
desigual, com tão pouca redistribuição de toda riqueza que é produzida. Segundo um novo
informe da OXFAM International 204 novos bilionários surgiram em 2024 e a fortuna dos super
ricos aumentou em 2 trilhões de USD em 2024 (lembrando que a proposta mais alta do NCQG
era de 1,3 trilhões de dólares por ano, sendo cortada para 300 bilhões). O número de pessoas
vivendo na pobreza não mudou muito em sua totalidade, mas a pobreza em si avança e atinge
níveis de indignidade novos, visto o corte global de políticas de proteção e seguridade social. A
pobreza nunca foi tão horrível quanto é hoje e, ao mesmo tempo, a riqueza nunca deu tantos
frutos quanto dá hoje ao seu seleto grupo. A Oligarquia econômica está - literalmente -
mandando no mundo, se juntando aos líderes fascista e negacionistas, inaugurando o “governo
dos bilionários” e encerrando com um estrondoso aplauso o que até ontem julgávamos que era
uma democracia - como se um regime que permitisse o surgimento de bilionários enquanto
meio mundo morre de fome fosse democrático para começo de história.
“Trump foi empossado rodeado pelos homens mais ricos e poderosos do mundo. Eles
tinham motivos para comemorar: os bilionários do mundo viram a sua riqueza crescer 2 biliões
de dólares no ano passado, três vezes mais rápido do que em 2023. E com um gabinete cheio
de bilionários, a nova administração está preparada para executar um programa de continuar a
enriquecer enquanto dividindo, reprimindo e levando à falência a classe trabalhadora. O nosso
país está a avançar rapidamente para uma forma de oligarquia mais flagrante e transparente –
governada pelos super-ricos. (...)
206
que prestam serviços ao povo americano, deixando milhares de membros da UE sem saber se
receberão seu próximo salário – ou qualquer salário. – a partir desta semana. Todas essas
medidas resultarão na demissão de trabalhadores e na redução dos padrões de vida de muitos
famílias da classe trabalhadora nos EUA.
As previsões podem estar erradas, claro, mas de maneira geral o segundo mandato de
Trump está caminhando para uma oligarquia capitalista que governará sua nação e todas as
relações externas de maneira pró-riqueza, posicionando-se contra medidas de redistribuição de
renda e influência. Essas medidas não serão capazes de lidar com os 7 riscos desta seção,
provavelmente - caso nada venha a mudar - gerando mais tensões e polarizações sociais durante
os próximos 4 anos de mandato.
Em contrapartida, e numa mobilização que visa avanços ao mesmo tempo que lida com
possíveis retardos do novo governo, e que busca novos caminhos passíveis de lidar com a crise
multifacetada, a SCO internacional publicou interessantes chamados de justiça econômica do
primeiro mês do ano.
A OXFAM International publicou um relatório intitulado “Takers not Makers: The unjust
poverty and unearned wealth of colonialism” no qual expõe as origens extrativistas e coloniais -
no sentido de práticas, mais do que um marcador temporal - das grandes fortunas atuais. A
organização citou como pilares deste sistema o BM, o FMI, o Conselho de Segurança, os bancos
privados e as multinacionais, expondo os fluxos fiscais ilegais e apontando a dívida externa como
produto de um sistema financeiro permeado por práticas de controle. O documento propõe
ações concretas para “descolonizar a nossa economia e destronar os super-ricos” e aponta o
207
ano de 2025 como palco perfeito para essa movimentação, uma vez que neste se completarão
70 anos da Conferência de Bandung e suas promessas de uma Nova Ordem Internacional.
• Reduzir radicalmente a desigualdade – definindo metas nacionais para fazê-lo. Fim das
riquezas exorbitantes. Comprometer-se com uma meta de desigualdade global que reduza
drasticamente a desigualdade entre o Norte Global e o Sul Global; por exemplo, os rendimentos
dos 10% mais ricos não devem ser superiores aos 40% mais pobres a nível mundial. Definir metas
semelhante com prazo determinado para reduzir a desigualdade econômica nacional, visando
que a renda total do 10% mais ricos não seja superior à renda total dos 40% mais pobres,
conhecida como Palma de 1,98
e pedir desculpas formalmente por toda a gama de crimes cometidos sob o colonialismo
e garantir que estes entrem na memória pública. Reparações às vítimas devem ser obrigadas a
garantir a restituição, proporcionar satisfação, compensar danos incorridos, garantir a
reabilitação e prevenir futuros abusos. O custo das reparações deve ser providos pelos mais
ricos, que mais se beneficiaram do colonialismo.
• Tributar os mais ricos para acabar com a riqueza extrema. Uma política de imposto
global deveria enquadrar-se numa nova convenção fiscal da ONU e facilitar o pagamento de
impostos mais elevados pelas pessoas e corporações mais ricas a radicalmente reduzir a
desigualdade e acabar com a riqueza extrema.
208
Junto a isso temos campanhas de cancelamento da dívida, pela Debt Justice UK e a
atenção da SCO com a atenção da SCO e dos acadêmicos-ativistas da área com a retomada dos
diálogos da UN Tax Convention - que será analisada na próxima quinzena.
Esta última questão foi trazida pelo People’s Health Dispatch no seu último boletim do
ano, uma recapitulação de 2024 e o que ele representou para a saúde pública e como bem
comum ao redor do mundo. “Another year of struggle and resilience in global health”, traz os
horrores vividos por trabalhadores da saúde em Gaza, assim como a super exploração dos
seguros privados de saúde nos Estados Unidos, as condições de trabalho insalubres das
enfermeiras no Brasil e como a prática da privatização avançou sem grandes barreiras no último
ano, temos também hospitais franceses gastando fortunas com aluguel e tendo que pagar
senhorios privados, estressando ainda mais o sistema de saúde público francês e mostrando a
realidade da crise dos trabalhadores de saúde na Europa, movidos pelas diferenças de salário
entre trabalhadores do setor privado e público.
209
Sul Global sob nova direção
Global South under new leadership
Regina Ungerer
Erica Kastrup
Tiago Nery
Abstract: The most important event for UNOSSC in 2025 will be the 22nd session of the High-Level
Committee on South-South Cooperation, scheduled for May 27 to 30, 2025. This committee is
the main policymaking body on South-South Cooperation within the United Nations system,
convening every two years to assess progress on the Buenos Aires Plan of Action (BAPA), BAPA40,
the new South-South Cooperation strategy, and the Nairobi outcome document from the United
Nations High-Level Conference on South-South Cooperation.
On January 13, 2025, the Republic of Iraq assumed the pro tempore presidency of the G-
77 and China, outlining nine key priorities that encompass the 2030 Agenda, climate change,
economic and financial issues facing developing countries, technology transfer, global security,
and the strengthening of multilateralism. During their inaugural participation, they addressed
the informal meeting of the UN General Assembly (UNGA) regarding the priorities set by the
President of the General Assembly for 2025. Under the theme “Unity in Diversity,” the UNGA
President emphasized the year's major events aimed at tackling urgent challenges, which will
serve as pivotal moments for fostering change. The Non-Aligned Movement (NAM), led by
Uganda, will celebrate its 70th anniversary in 2025, while the Non-Aligned Youth Movement
continues to promote the movement's history.
The South Centre published four articles on topics ranging from access to essential
medicines, emphasizing the role of intellectual property rights; the TRIPS agreement in light of
European Union law; and unilateral coercive measures in multinational companies and financial
institutions.
Keywords: South-South Cooperation. UNOSSC. G-77 and China. Non-Aligned Movement. South
Centre.
Resumen: El principal evento de la UNOSSC en 2025 será la 22ª sesión del Comité de Alto Nivel
sobre Cooperación Sur-Sur que se celebrará entre el 27 y el 30 de mayo de 2025. Este es el
principal órgano de formulación de políticas sobre Cooperación Sur-Sur en Naciones Unidas y se
reúne cada dos años para revisar los avances del PABA, el PABA+40, la nueva estrategia de
Cooperación Sur-Sur y el documento final de Nairobi del Alto. Nivel de las Naciones Unidas sobre
cooperación Sur-Sur.
210
El 13 de enero de 2025, la República de Irak asumió la presidencia pro-tempore del G-77
y China, destacando 9 prioridades de la Agenda 2030, el cambio climático, las cuestiones
económicas y financieras de los países en desarrollo, la transferencia de tecnología para la
seguridad global y el fortalecimiento multilateralismo. En su primera participación, hablaron en
la reunión informal de la AGNU sobre las prioridades del presidente de la Asamblea General para
2025. Bajo el tema “Unidad en la Diversidad”, el presidente de la AGNU destacó los principales
acontecimientos del año para afrontar los desafíos más urgentes que estos serán momentos
importantes para generar impulso para el cambio.
El Centro Sul publicó cuatro artículos sobre temas que van desde el acceso a
medicamentos esenciales, destacando el papel de los derechos de propiedad intelectual; el
acuerdo ADPIC a la luz de la legislación de la Unión Europea y las medidas coercitivas unilaterales
en empresas multinacionales e instituciones financieras.
Palabras clave: Cooperación Sur-Sur. ONUSC. G-77 y China. Movimiento de Países No Alineados.
Centro Sur.
Resumo: O principal evento do UNOSSC em 2025 será a 22ª sessão do Comitê de Alto Nível
sobre Cooperação Sul-Sul que será realizada entre 27 a 30 de maio de 2025. Este é o principal
órgão de formulação de políticas sobre Cooperação Sul-Sul no sistema das Nações Unidas e se
reúne a cada dois anos para revisar o progresso do BAPA, BAPA+40, a nova estratégia de
Cooperação Sul-Sul e o documento final de Nairóbi da Conferência de Alto Nível das Nações
Unidas sobre Cooperação Sul-Sul.
O Centro Sul publicou quatro artigos com temas desde o acesso a medicamentos
essenciais, enfatizando o papel dos direitos de propriedade intelectual; o acordo TRIPS à luz do
direito da União Europeia e as medidas coercitivas unilaterais em empresas multinacionais e
instituições financeiras.
211
Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul (UNOSSC)
O Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul promove, coordena e apoia a
cooperação Sul-Sul e triangular globalmente e dentro do sistema das Nações Unidas, incluindo:
1) Política e Apoio Intergovernamental; 2) Desenvolvimento de capacidades; 3) Cocriação e
Gestão do Conhecimento; 4) Gestão do Fundo Fiduciário Sul-Sul. O UNOSSC atua como uma
plataforma de compartilhamento de recursos onde parceiros do Sul Global se conectam
buscando soluções e explorando oportunidades de financiamento. Também conecta governos,
especialistas e grupos de reflexão para garantir que as perspectivas do Sul sejam incluídas nos
diálogos políticos.
Destaques do UNOSSC
Comitê de Alto Nível sobre Cooperação Sul-Sul – 22ª Sessão – 27 a 30 de maio de 2025
A 22ª sessão do Comitê de Alto Nível sobre Cooperação Sul-Sul será realizada de 27 a 30
de maio de 2025. Sendo o principal órgão de formulação de políticas sobre Cooperação Sul-Sul
no sistema das Nações Unidas e sendo um órgão subsidiário da Assembleia Geral da ONU
(AGNU), o Comitê se reúne a cada dois anos para:
3) Revisar o documento Final de Nairóbi da Conferência de Alto Nível das Nações Unidas sobre
Cooperação Sul-Sul;
4) Revisar o documento Final de Buenos Aires da Segunda Conferência de Alto Nível das Nações
Unidas sobre Cooperação Sul-Sul (BAPA + 40).
A Reunião preparatória para a 22ª Sessão do Comitê de Alto Nível sobre Cooperação
Sul-Sul será realizada em 24 de abril de 2025 para eleger a mesa diretora e adotar a agenda.
212
Podem participar das reuniões do Comitê de Alto Nível de Cooperação Sul-Sul, os
representantes dos Estados-Membros das Nações Unidas e observadores, tais como: agências
especializadas da ONU, fundos e programas; comissões regionais; e outras organizações
intergovernamentais sub-regionais, regionais e inter-regionais, bem como organizações não
governamentais credenciadas.
213
As principais notícias do final de 2024 encontram-se no Boletim mensal - South-South
Monthly, Dezembro de 2024
India-Fundo das Nações Unidas: Entrega do Centro de Cuidados Diários nos Estados Federados
da Micronésia
214
O Brasil na cooperação Sul-Sul: o caso do algodão
Nos últimos dois meses, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) divulgou uma série
de informações sobre projetos de cooperação Sul-Sul em torno do algodão. Tradicionalmente,
agricultura e saúde são assuntos importantes no diálogo internacional brasileiro e constituem
instrumentos para o exercício do soft power nacional. Com o crescimento do tema da
sustentabilidade dentro da agenda da política externa brasileira, os projetos em torno do
algodão ganharam espaço no noticiário de atividades de cooperação técnica internacional do
país, já que atualmente o Brasil se destaca na produção mundial de Algodão sustentável131.
Atualmente, o algodão é a fibra têxtil natural mais usada no mundo e representa um setor que
responde por cerca de 250 milhões de empregos diretos e indiretos no mundo132.
Com atividades na África e América Latina, projetos que tem como objeto a
cotonicultura parecem conformar a maior carteira de projetos de cooperação internacional para
o desenvolvimento do Brasil atualmente. A Agência Brasileira de Cooperação e o Instituto
Brasileiro do Algodão são as principais instituições desenvolvedoras dos projetos, que contam
também com a participação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de
outras instituições nacionais como universidades e institutos regionais. A cooperação
internacional brasileira em torno do tema segue a orientação nacional de compartilhar políticas
nacionais bem-sucedidas com países parceiros por meio da cooperação Sul-Sul
131
Cotonicultura brasileira é campeã de produtividade sem irrigação
132
Brasil investe em algodão com identidade latino-americana
133
Manejo agroecológico de insetos-praga do algodoeiro
134
Cooperação técnica brasileira na área de algodão
215
retaliar produtos norte-americanos. Na iminência de uma retaliação por parte do governo
brasileiro, os Estados Unidos resolveram firmar um acordo de compensação. Em 2010, foi
negociada a proposta de transferência de US$ 147,3 milhões anuais para ser destinado ao
Instituto Brasileiro do Algodão, instituição criada para gerir os recursos provenientes desse
acordo. Desde então, o objetivo deste fundo foi promover e fortalecer a cotonicultura brasileira,
impulsionando um importante desenvolvimento deste setor no Brasil135136. Na década de 2010,
o Brasil se consolidou como um dos maiores exportadores mundiais do algodão, e o produto
nacional se destacou por sua qualidade e sustentabilidade.
Em 2014, a cooperação em cotonicultura foi expandida para as bacias dos rios Shire e
Zambeze no Malawi e em Moçambique, por meio de uma parceria entre a ABC, IBA, Embrapa e
o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Essa iniciativa foi denominada
projeto Cotton Shire Zambeze. Uma avaliação deste projeto divulgada em 2022 identificou
grandes benefícios aos produtores locais139.
Em 2016, as inciativas foram expandidas para a bacia do Rio Victoria envolvendo Quênia,
Tanzânia e Burundi por meio do projeto Cotton Victoria. No Brasil, o projeto é desenvolvido pela
135
O contencioso do algodão: conquista histórica em xeque
136
O Contencioso Brasil X EUA do Algodão na Organização Mundial do Comércio
137
Cooperação técnica brasileira na área de algodão
138
Fortalecimento tecnológico e difusão de boas práticas agrícolas para o algodão em países do Cotton 4
e no Togo
139
Malawi - Projeto Cotton Shire-Zambeze
216
Universidade Federal de Lavras, referência nacional em Ciências Agronômicas e em
melhoramento da cultura do algodão, e apoio do IBA. O propósito é ampliar a capacidade de
utilização, tanto das instituições como dos recursos humanos, de tecnologias mais avançadas
para a produção do algodão, respeitando-se as particularidades locais. As atividades são
desenvolvidas em conjunto com as organizações de pesquisa e coexecutoras locais, incluem
capacitação de técnicos e estão voltadas para a sustentabilidade econômica da empreitada e da
cadeia produtiva do algodão em cada país parceiro.
140
Projeto “Cotton Zâmbia” avança com instalação de Unidade Técnica Demonstrativa e primeira reunião
do Comitê Gestor
141
Brasil investe em algodão com identidade Latino-Americana
217
de irrigação eficientes. Tem também promovido a inclusão de gênero, capacitando mulheres
produtoras de algodão e fortalecendo sua participação na cadeia produtiva.
Desde 2017, o programa +ALgodão tem trabalhado na Colômbia com o uso de técnicas
utilizadas na agricultura familiar brasileira como substituição de agrotóxico por biofertilizante,
sistema de irrigação que não desperdiça água e rotação de culturas. Isso tem reduzido os custos
da produção para os pequenos produtores colombianos.
Saiba mais
Saiba mais.
142
Brasil investe em algodão com identidade Latino-Americana
218
Em Tolima, na Colômbia, o projeto +ALgodão, se
uniu com a universidade para revitalizar o algodão no
país.
Saiba mais.
Saiba mais
Saiba mais.
Assista ao vídeo.
219
genético de cerca de 40 variedades de algodão. Ao longo dos 36 meses, o projeto prevê a
formação de um banco de germoplasma143.
Assista ao Vídeo
Assista ao Vídeo
Grupo do G-77
143
Germoplasma é o conjunto de material genético que caracteriza uma espécie ou população
144
UNCTAD - Comércio de Desenvolvimento da ONU
145
UNEP - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
146
UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
147
FAO - Organização para a Alimentação e Agricultura e IFAD - Fundo Internacional para o
Desenvolvimento Agrícola
148
UNIDO - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
149
G-24 - Assuntos monetários internacionais e desenvolvimento
220
Em 2025, o Iraque detém a presidência pró tempore do G-77.
Juntando sua voz às da maioria dos países do Sul Global, ele ressaltou que, de muitas
maneiras, os países em desenvolvimento receberam um acordo injusto, particularmente em
relação às finanças. Seu desenvolvimento tem sido adiado, repetidamente, devido a recursos
financeiros insuficientes e inacessíveis, juntamente com ciclos implacáveis de pagamento de
dívidas. Uma situação injusta também em relação ao apoio climático, onde os países são
privados dos recursos necessários para aumentar sua resiliência contra uma crise climática para
a qual contribuíram minimamente; e uma injusta falta de representação em órgãos decisórios
cruciais, que vão do sistema financeiro global à gestão de tecnologias inovadoras, incluindo o
próprio Conselho de Segurança da ONU.
O Secretário-Geral disse que os esforços devem ser intensificados em 2025 para que os
ODS sejam uma realidade para todas as pessoas em todos os lugares; para acabar com a pobreza
e a fome, transformar a educação e criar empregos, e possibilitar o acesso equitativo e acessível
221
à energia, tecnologia, finanças e mercados, elementos essenciais para que os países em
desenvolvimento prosperem; e para garantir que os países em desenvolvimento possam acessar
os recursos financeiros necessários para alimentar o desenvolvimento.
6. Manter o multilateralismo
8. Transferência de tecnologia
9. O aspecto social
222
Lembrando do sucesso da 3ª Cúpula do Sul que foi um marco importante de sua
presidência, o Embaixador Ayebare falou da importância da cooperação internacional mútua e
genuína para o desenvolvimento de acordo com os princípios estabelecidos de unidade,
complementaridade, cooperação e solidariedade dos países em desenvolvimento e sua
determinação em lutar pelo desenvolvimento econômico e social, individual ou coletivo.
223
Para ler a Declaração do Embaixador Adonia Ayebare, representante permanente da
República de Uganda junto à ONU, clique aqui.
Para ler a Declaração de SE Dr. Fuad Hussein, Vice Primeiro Ministro e Ministro das
Relações Exteriores da República do Iraque, clique aqui.
150
Nota Conceitual do 30º aniversário do Programa Mundial de Ação para a Juventude
224
Regras Nelson Mandela, que promovem o tratamento humano dos prisioneiros e oferecerá, pela
3ª vez, o Prêmio Nelson Mandela em 2025.
No dia 26 de junho, haverá uma reunião comemorativa da AGNU para celebrar o 80º
aniversário da Carta da ONU. E também estão em andamento, discussões para uma possível
Cúpula da ONU80 em setembro para celebrar ainda mais este marco.
E Philemon Yang apelou aos Estados-Membros para refletirem sobre a crise de liquidez
na ONU, alertando que as contribuições atrasadas e a retenção de contribuições podem
desencadear “uma crise de confiança nas Nações Unidas”.
Para ler a declaração do G-77 e da China nesta reunião da AGNU, clique aqui.
Para promover a paz, que ele chamou de "a razão de ser" da ONU, o Secretário-Geral
pediu que os Estados-Membros cumpram com seus compromissos do Pacto para o Futuro por:
225
António Guterres também destacou a necessidade de entender como a corrida
armamentista de hoje afeta o desenvolvimento sustentável e as oportunidades deste ano para
alcançar avanços nos ODS são:
A 69ª sessão da Comissão sobre o Status das Mulheres (CSW69), também conhecida
como ‘Pequim Mais-30.
Citando o Pacto para o Futuro em relação ao estímulo aos ODS, ele destacou que o
financiamento é essencial para fechar a lacuna de financiamento dos ODS, atualmente estimada
em US$ 4 trilhões por ano. Ele afirmou que o Pacto apela aos doadores para que cumpram os
compromissos de assistência oficial ao desenvolvimento (ODA) e para que o setor privado invista
no desenvolvimento sustentável.
Para ler todas as prioridades do Secretário Geral, assista ao vídeo ou leia aqui.
O Grupo enfatizou o enfrentamento das causas dos conflitos e o apoio aos países em
desenvolvimento para alcançar o desenvolvimento sustentável. Eles destacaram os desafios
climáticos sem precedentes enfrentados em 2024, pedindo a implementação total das decisões
das conferências climáticas da ONU, particularmente a COP29.
226
secretário geral da ONU, clique aqui.
A Conferência de alto nível das Nações Unidas de 2025 para Apoiar a Implementação do
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14: Conservar e usar de forma sustentável os
oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável (a Conferência dos
Oceanos da ONU de 2025 – UNOC3) será realizada em Nice, França, de 9 a 13 de junho de 2025,
coorganizada pela França e pela Costa Rica.
227
O Grupo enfatizou a necessidade de abordar a exclusão digital ao discutir o papel da
inteligência artificial (IA) e das tecnologias emergentes. Embora a tecnologia seja crucial para o
desenvolvimento, o acesso desigual aos seus benefícios persiste. Para promover uma Sociedade
da Informação inclusiva, é necessário que haja ações significativas para preencher essa lacuna.
À medida que existe uma transformação digital sem precedentes, a IA apresenta novas
oportunidades de desenvolvimento e pode acelerar o progresso em direção aos ODS em
dimensões econômicas, sociais e ambientais. No entanto, o Grupo expressou preocupação com
a falta de infraestrutura e habilidades digitais, particularmente em países em desenvolvimento
e menos desenvolvidos. Essa deficiência dificulta sua capacidade de utilizar a IA de forma eficaz
e exacerba as desigualdades existentes.
O Diálogo Global é vital para promover discussões inclusivas sobre as implicações mais
amplas da IA e deve-se priorizar a participação de todos mantendo uma base
intergovernamental forte, que garanta que as prioridades de todos os estados sejam centrais
para seus resultados.
New York, 20 de janeiro de2025 - Declaração feita por S.E. Dr Abbas Kadhom Obaid,
Representante Permanente Adjunto e encarregado de negócios da República do Iraque, em
nome do G-77 e da China, na reunião informativa conjunta dos Presidentes da AGNU e do
ECOSOC
228
O presidente da AGNU, Philémon Yang, e o presidente do Conselho Econômico e Social
da ONU (ECOSOC), Bob Rae, realizaram uma reunião informativa anual conjunta para atualizar
os Estados-membros sobre suas expectativas para o ano.
Entre outras prioridades compartilhadas com o ECOSOC, Philémon Yang destacou ações
para conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos para o
desenvolvimento sustentável (ODS 14), paz e segurança e igualdade de gênero.
Em seu pronunciamento, o G-7 e a China esclareceram que faltando cinco anos para
atingir as metas ambiciosas da Agenda 2030, constata-se que a implementação tem sido
decepcionante, refletindo mal na comunidade global. Este ano celebra-se o 80º aniversário das
Nações Unidas, e é, portanto, crucial refletir sobre as deficiências da Organização e mobilizar
esforços para atingir a Agenda 2030, o Acordo de Paris e a Agenda de Ação de Addis Abeba.
229
2030. Este ano, a colaboração entre a AGNU e o ECOSOC é essencial para cumprir com os
compromissos e aspirações dos Estados Membros.
Continuando seu pronunciamento, o Sr Obaid deixou claro que, hoje mais do que nunca,
é preciso abordar e superar os desafios globais com solidariedade, cooperação multilateral
renovada e uma resposta global coletiva. Portanto, é crucial que o ECOSOC intensifique seu
papel como órgão principal da ONU, bem como para os processos de acompanhamento de suas
atividades. É preciso cumprir com as promessas e compromissos assumidos, pois o tempo é
limitado e a ação é urgente e a única opção de sobrevivência.
Esses fóruns devem ir além das palavras e serem mais ambiciosos, já que existe uma
lacuna de US$ 4,3 trilhões no financiamento dos ODS e uma lacuna de US$ 1,5 trilhão no
financiamento da ação climática. Portanto, é preciso:
New York, 22 de janeiro de2025 – Declaração feita pela Delegação do Iraque junto às
Nações Unidas, em nome do G-77 e da China na apresentação informal sobre o rascunho 0 do
documento para a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento
(FfD4)
230
Recursos públicos nacionais - compromissos para alinhar sistemas fiscais com
desenvolvimento sustentável, incluindo tributação progressiva e combate a fluxos financeiros
ilícitos. Bancos nacionais de desenvolvimento devem estar capacitados com financiamento
externo e estruturas regulatórias personalizadas para mobilizar financiamento de longo prazo
alinhado com estratégias nacionais de desenvolvimento.
Para ler o Rascunho 0 apresentado aos Estados Membros no dia 22 de janeiro, clique aqui.
New York, 23 de janeiro de2025 – Declaração feita por S.E. Dr Abbas Kadhom Obaid,
Representante Permanente Adjunto e encarregado de negócios da República do Iraque, em
nome do G-77 e da China na apresentação conjunta do Banco Mundial e do Centro Universitário
da ONU para pesquisa de políticas (UNU-CPR) sobre a 4ª revisão acionária de 2025 do Grupo
Banco Mundial
De acordo com o G-77 e a China, a 4ª Revisão acionária de 2025 do Grupo Banco Mundial
tem grande importância, pois segue um movimento global que defende uma maior
representação de países emergentes e sub-representados em desenvolvimento dentro de
instituições financeiras internacionais.
231
A revisão também coincide com o 80º aniversário das Instituições de Bretton Woods e
das Nações Unidas, bem como a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o
Desenvolvimento (FfD4), criando uma oportunidade para reflexão e reforma.
Em nome do Sul Global, o G-77 e a China consideraram que a revisão acionária é uma
iniciativa essencial para garantir que o Grupo Banco Mundial (WBG) esteja bem equipado para
navegar no cenário de desenvolvimento global em evolução. Na última década, o ambiente
econômico global passou por mudanças significativas, com economias emergentes aumentando
sua participação na economia global enquanto outras ainda enfrentam novos desafios, como
mudanças climáticas, pandemias e fragilidade.
Esta revisão proporciona aos acionistas uma oportunidade crucial para investigar
abordagens que enfrentem riscos e vulnerabilidades globais emergentes. Ao realizar os ajustes
necessários na estrutura acionária, a revisão fortalece a representação de países em
desenvolvimento que são sub-representados e refletir de maneira precisa as dinâmicas em
constante mudança da economia global.
232
As cinco áreas prioritárias da resolução são:
****************
O Grupo expressou satisfação por ter concluído com sucesso as deliberações sobre
outros itens importantes, incluindo as estimativas revisadas e as implicações orçamentárias do
programa para resoluções, o Sistema Comum da ONU, o Padrão de Conferências, o Fundo de
Pensão da ONU e os Termos de Referência para o fundo de construção da paz, que desbloqueou
US$ 50 milhões propostos no orçamento regular. Além disso, o Grupo ficou satisfeito com os
resultados revisados da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina
no Oriente Próximo (UNRWA), esperando que isso traga alívio à agência durante este momento
difícil. O Grupo continuará a trabalhar para garantir que a UNRWA receba todos os recursos
necessários no futuro.
233
O 5º Comitê da AGNU é responsável pelas questões administrativas e orçamentárias da ONU
Além disso, o Grupo tomou nota das discussões sobre os aspectos administrativos e
orçamentários de possíveis locais para os arquivos do Tribunal Penal Internacional para Ruanda
(ICTR) e do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (ICTY), bem como do Mecanismo
Internacional de Resíduos para Tribunais Criminais. O Grupo está interessado em estudar o
contexto deste assunto durante as consultas informais. O Grupo reafirma que o 5º Comitê é o
Comitê Principal apropriado da AGNU, encarregado de responsabilidades por questões
administrativas e orçamentárias.
O Grupo observou que o orçamento proposto para 2025 é de US$ 60,2 milhões, uma
redução de US$ 5,27 milhões (8,1%) em relação a 2024, principalmente devido à abolição
planejada de 5 cargos temporários e 22 cargos gerais de assistência temporária até o final de
2025. A maioria desses cortes afeta a Filial de Arusha.
New York, 03 de dezembro de 2024 - Declaração feita pelo Embaixador Godfrey Kwoba,
Representante Permanente Adjunto da República de Uganda na ONU, em nome do G-77 e da
China na 2ª sessão do Comitê preparatório para a 4ª Conferência Internacional sobre
Financiamento para o Desenvolvimento.
O G-77 e a China enfatizaram que o documento final do FfD4 deve abordar os desafios
de financiamento que os países em desenvolvimento enfrentam, particularmente a lacuna
estimada de investimento anual para os ODS, que varia de US$ 2,5 trilhões a 4 trilhões. Essa
lacuna é exacerbada por fatores como altos encargos de dívida, fluxos financeiros ilícitos,
234
protecionismo comercial, medidas coercitivas unilaterais, um sistema financeiro internacional
desatualizado e impactos das mudanças climáticas. Eles reafirmaram a necessidade de um novo
financiamento adicional, de qualidade, adequado, sustentável e previsível para alcançar o
desenvolvimento sustentável e os ODS.
Sendo um dos eventos mais esperados e importantes do ano, o Grupo enfatizou que
abordar o espaço fiscal limitado em países em desenvolvimento requer fechar lacunas de
financiamento e investimento com urgência. O Grupo enfatizou que ações urgentes para
abordar o espaço fiscal limitado e acelerar a implementação da Agenda 2030 e a obtenção do
desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento devem incluir, entre outros, estes
19 itens:
e) Emitir novas alocações gerais de Direitos Especiais de Saque (SDRs), com distribuição
para países em desenvolvimento de acordo com suas necessidades;
g) Aumentar as trocas de dívida para ODS, incluindo trocas de dívida para clima e
natureza para permitir que países em desenvolvimento possam usar pagamentos de serviço de
dívida para investir em desenvolvimento sustentável e tomar medidas multilaterais para
padronizar o uso desses mecanismos;
235
j) Eliminar imediatamente todas as leis e regulamentos com impacto extraterritorial e
todas as outras formas de medidas econômicas coercitivas e medidas restritivas ao comércio,
incluindo sanções unilaterais e mecanismos de ajuste de fronteira unilaterais e discriminatórios
e taxas impostas sob o pretexto de proteção ambiental, contra países em desenvolvimento;
p) Reduzir ainda mais os custos das remessas, reconhecendo seu potencial para
contribuir para o desenvolvimento sustentável, sem substituir os fluxos financeiros tradicionais;
O Grupo enfatizou que o FfD4 deve aproveitar os resultados das conferências anteriores,
bem como os resultados relevantes negociados inter governamentalmente e devem concordar
com ações apropriadas para implementação para apoiar os países em desenvolvimento em sua
busca para alcançar o desenvolvimento sustentável em todas as suas três dimensões.
236
Espera-se que a conferência FfD4 que será realizada em Sevilha na Espanha de 30 de
junho a 3 de julho de 2025, produza um documento final que reflita compromissos e ações que
abordem os desafios de financiamento enfrentados pelos países em desenvolvimento. O
documento final deverá servir como um roteiro para a cooperação internacional e apoio no
financiamento de iniciativas de desenvolvimento sustentável
O G-77 e a China relembraram a Resolução 302 (IV) da Assembleia Geral de 1949, que
estabeleceu a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente
Próximo (UNRWA) para oferecer assistência humanitária e serviços essenciais aos refugiados
palestinos, particularmente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. O Grupo enfatizou que nenhuma
organização pode substituir o papel crítico da UNRWA e solicitou a comunidade internacional a
apoiar suas operações, alertando que qualquer interrupção afetaria severamente milhões de
refugiados.
237
ponto destacado foram as perdas financeiras significativas no Escritório das Nações Unidas para
Serviços de Projetos (UNOPS), incluindo uma perda de US$ 15,23 milhões devido a uma
transação financeira inadequada, levando a demandas por fortalecer a responsabilização e
controles internos.
151
PESSINA, Maria Elisa H. Solidariedade e Cooperação Sul-Sul em perspectiva histórica. In.
MILANI, Carlos R. S.; KRAYCHETE, Elsa (Orgs.). Política Externa e desenvolvimento no Sul geopolítico.
Salvador: EDUFBA, 2022. p. 15-42.
238
De 2024 a 2027, a presidência do MNA está a cargo da República de Uganda. O
presidente de Uganda, Yoweri Museveni é o presidente do Movimento dos Não-Alinhados. A
Delegação de Uganda junto às Nações Unidas é o representante do Presidente na ONU.
Fonte: https://www.instagram.com/p/DFNLKZGB5wN/
Fonte:
https://www.instagram.com/p/DExNqTFNxL8/?img_index=1
239
Destaques do Movimento Jovem dos Não-Alinhados em dezembro de 2024
A cúpula também refletiu sobre os desafios enfrentados pelas nações não alinhadas
diante das transformações geopolíticas pós-Guerra Fria. O evento reafirmou o compromisso do
MNA com a defesa da autodeterminação, da justiça social e dos direitos humanos, buscando
fortalecer a voz dos países em desenvolvimento no cenário global.
Fonte: https://www.instagram.com/p/DDo2tLwhJym/?img_index=1
152
OLIVEIRA, Maria Helena; TELES, Nair; CASARA, Rubens. Direitos humanos e saúde: reflexões e
possibilidades de intervenção. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2021; QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do
240
O Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro, remonta à
adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 1948.
Fonte: https://www.instagram.com/p/DDZrNLizIN6/
Centro Sul
poder e classificação social. In. SANTOS, Boaventura. S.; MENESES, Maria Paula (Orgs.), Epistemologias do
Sul. São Paulo: Cortez, 2010, p. 84-130.
241
15 de janeiro de 2025 - Artigo de Pesquisa - Aplicação da
Exceção Bolar: Diferentes Abordagens na União
Europeia (UE)
O texto destaca a exceção Bolar, um mecanismo legal projetado para permitir que os fabricantes
de medicamentos genéricos busquem a aprovação regulatória antes do vencimento de uma
patente, evitando assim a extensão de fato dos monopólios de patentes. Ademais, o estudo
examina a transformação da exceção Bolar de um caso legal específico em uma ferramenta
significativa do direito de propriedade intelectual, comercial e farmacêutico.
242
financeiras, além das estratégias que podem ser adotadas para mitigar tal excesso,
especialmente em relação às isenções humanitárias.
*******************
Resumo de Políticas
Policy Brief n. 40, 19 de dezembro de 2024. Cooperação Fiscal. Rumo a um Protocolo da ONU para
Tributação de Serviços Transfronteiriços em uma Economia Digitalizada. Por Abdul Muheet Chowdhary,
Anne Wanyagathi Maina and Kolawole Omole.
Policy Brief n. 133, 2 de dezembro de 2024. Contribuições do Centro Sul para o Documento referente 4ª
Conferência sobre financiamento para o desenvolvimento (FfD4) - Sustentabilidade da Dívida, Negócios
e Finanças, Tributação. Por Yuefen Li, Danish, Abdul Muheet Chowdhary .
Artigos de Pesquisa
Research Paper n. 213, 13 de dezembro de 2024. Navegando no Grupo de Trabalho da OMC sobre
Comércio e Transferência de Tecnologia: Uma Análise Crítica sob a Perspectiva dos Países em
Desenvolvimento. Por Nirmalya Syam.
SOUTHVIEWS
243
Começa a presidência da África do Sul no G20.
Canadá assume a presidência do G7 com grandes desafios internos e na conjuntura
internacional.
A resiliência e os desafios da economia no horizonte da OCDE.
South Africa's G20 presidency begins.
Canada assumes the presidency of the G7 with significant internal and international
challenges.
Resilience and the challenges of the economy on the OECD's horizon.
Pedro Burger
João Miguel Estephanio
Vitória Kavanami
Thaiany Medeiros Cury
Nina Bouqvar
Paulo Esteves
Abstract
G20 - Keeping up with the succession of leaders from the Global South in the G20, South Africa
begins its mandate in the bloc. Under the theme “Solidarity, Equality and Sustainability”, still in
its preliminary stages, the presidency has defined its agendas and priorities for the year.
G7 - In this first report of 2025, we will discuss the background of Canada’s previous G7
presidencies and the expectations for this year. The country is facing a historic political crisis
while also involved in a potential trade war with the United States. In addition, there is growing
tension surrounding the future of multilateralism and the role of a G7 undergoing significant
leadership changes.
OECD - The OECD's highlights include the publication of two studies on the economy of the Latin
American region, another on the global economic outlook and a fourth on gender budgeting in
Brazil. Also highlighted are two articles published by the OECD on health.
Keywords: G20; G7; OECD; South Africa; Canada; United States; multilateralism; international
cooperation.
Resumos
G20 - Dando continuidade à sucessão de lideranças do Sul Global no G20, a África do Sul inicia o
seu mandato no bloco. Sob o tema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, ainda em fase
inicial, a presidência define suas agendas e prioridades para o ano.
244
OCDE - Os destaques da OCDE se dividem entre a publicação de dois estudos sobre a economia
da região latino-americana, outro sobre a perspectiva econômica global e um quarto sobre
orçamentação de gênero no Brasil. Também são destaques dois artigos publicados pela OCDE
sobre saúde.
Palavras-chave: G20; G7; OCDE; África do Sul; Canadá; Estados Unidos; multilateralismo;
cooperação internacional.
G20 –
Pensando nas múltiplas crises que afetam o planeta e na necessidade de cumprir com
os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), o tema escolhido para guiar os trabalhos
da gestão foi: “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”. Com apenas 5 anos para completar
as metas propostas, muito ainda precisa ser feito e o G20 possui um importante papel para
acelerar a implementação da Agenda 2030 e promover um crescimento forte, sustentável e
inclusivo – sem deixar ninguém para trás.
A filosofia africana Ubuntu, que significa “eu sou porque nós somos”, aparece como
princípio norteador da presidência. Nesse sentido, por meio de soluções coletivas e da ideia de
uma humanidade compartilhada, o país pretende enfrentar esses desafios urgentes ao
reconhecer que as nações não prosperam de maneira isolada. Como coloca o ministro sul
africano das Relações Exteriores, Ronald Lamola: “Embora a cooperação internacional e o
multilateralismo sejam atualmente confrontados com uma geopolítica divisiva e desafios sem
precedentes, (...) o G20 deve avançar na formação de uma cooperação prática e mutuamente
benéfica que defenda uma ordem internacional mais justa, inclusiva e representativa”153.
153
SA will use G20 to look ahead to the African Union’s 2063 agenda, says Lamola. 09 dez. 2024. Disponível
em: https://g20.org/news/sa-will-use-g20-to-look-ahead-to-the-african-unions-2063-agenda-says-
lamola/. Acesso em: 02 fev. 2025.
245
de empréstimos, acesso restrito aos mercados de capital internacionais e condições rigorosas
impostas pelas instituições financeiras internacionais. Zâmbia e Gana são exemplos de países
que enfrentam graves crises de endividamento resultantes de práticas de empréstimo
insustentáveis, as quais são agravadas pela volatilidade dos mercados globais e pelo aumento
das taxas de juros cobradas pelos bancos154.
Em terceiro lugar temos o financiamento para uma transição energética justa. Para
tanto, pretende-se criar um acordo para aumentar a qualidade e quantidade de fluxos de
financiamento climático. Segundo o presidente sul africano, Cyril Ramaphosa, é necessário
pensar em mecanismos financeiros inovadores como o uso de capital privado e a tributação para
financiar o desenvolvimento sustentável, a partir, por exemplo, do uso dos Direitos Especiais de
Saque (SDRs, na sigla em inglês) não utilizados pelas nações mais ricas para a África e outros
países do Sul Global155.
É válido dizer que tais direcionamentos servirão como base para guiar as discussões dos
Grupos de Trabalho ao longo do ano, tanto na trilha dos Sherpas, como na trilha de Finanças.
Além de influenciarem as três Forças-Tarefa temporárias criadas pela gestão156:
● FT 2: Segurança Alimentar
Diante disso, temas que continuam a compor a agenda são: (i) o aumento de
financiamento justo para o desenvolvimento, inclusive por meio da ampliação dos Bancos
154
As Africa Assumes G20 Leadership, Strengthening African Financial Systems Key to Global Financial
Reforms. G20. 22 jan. 2025. Disponível em: https://g20.org/news/as-africa-assumes-g20-leadership-
strengthening-african-financial-systems-key-to-global-financial-reforms/. Acesso em: 02 fev. 2025.
155
Ramaphosa sets Bold Agenda for South Africa’s G20 Presidency. G20. 22 jan. 2025. Disponível em:
https://g20.org/news/ramaphosa-sets-bold-agenda-for-south-africas-g20-presidency/. Acesso em: 02
fev. 2025.
156
G20 Presidency to establish three dedicated task forces. 03 dez. 2024. Disponível em:
https://g20.org/news/g20-presidency-to-establish-three-dedicated-task-forces/. Acesso em: 02 fev.
2025.
246
Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs, na sigla em inglês); (ii) a reforma da arquitetura
financeira global; (iii) prevenção, preparação e resposta para futuras pandemias; (iv) regimes
tributários progressivos e a tributação de grandes fortunas.
157
HWG. G20. [s.d.]. Disponível em: https://g20.org/track/health/. Acesso em: 03 fev. 2025.
247
ministros da Saúde e do Trabalho para chegar a um consenso sobre ações e
investimentos em educação, criação de empregos na área da saúde e retenção da força
de trabalho para concretizar as ambições da CUS, da segurança da saúde e dos ODS. O
diálogo também explorará opções de financiamento nacionais e internacionais para
lidar com a crise da força de trabalho. Essas opções poderiam facilitar a busca de
soluções sustentáveis, inovadoras e equitativas para a escassez e a má distribuição da
força de trabalho na área da saúde e do atendimento, concentrando-se naquelas que
têm o maior impacto e que impulsionam o poder das tecnologias digitais de saúde.
● Organizar um seminário de alto nível para discutir as experiências dos Estados Membros
na limitação da comercialização de alimentos não saudáveis para crianças.
● A África do Sul convocará uma reunião global para fazer um balanço do progresso rumo
ao planejamento da PPRP. Essa reunião será baseada no encontro do G20 convocado
pelo Brasil para avançar no estabelecimento de uma Aliança para Produção e Inovação
Regional.
248
● Lições aprendidas em vários países sobre o que foi tentado, o que funciona e o que não
funciona ao usar recursos domésticos limitados para apoiar a ciência e estruturar a
consultoria científica no governo.
● Usar esse trabalho para estabelecer uma estrutura estratégica e prática para princípios
e possíveis práticas recomendadas de como os países podem estruturar, financiar e
sustentar seus ecossistemas científicos nacionais para a saúde e o crescimento
econômico.
● A África do Sul sediará um seminário presencial de alto nível sobre Ciência e Inovação
para a Saúde e o Crescimento Econômico.
Com mais de 130 reuniões planejadas ao longo do país, para além da Cúpula dos Líderes
que ocorrerá em Johanesburgo no mês de novembro, o ritmo do bloco no começo deste ano
ainda é lento e as primeiras reuniões dos Grupos de Trabalho passam a ocorrer a partir da
próxima quinzena.
Após uma gestão bem-sucedida por parte do Brasil, o qual conseguiu não somente
utilizar do espaço multilateral para promover seus interesses
e impulsionar novamente sua figura no cenário internacional,
mas também criar consensos e trazer inovações para dentro
do bloco, fica difícil para a África do Sul superar esse legado. A
ênfase em temas pouco explorados anteriormente como a
resiliência para desastres e a governança de recursos, todavia,
podem trazer bons resultados para o país. Com a presidência
de Trump nos Estados Unidos, mais incertezas são somadas a
um cenário já bastante complexo com guerras em andamento
e a contínua ascensão de uma extrema direita que cada vez
questiona mais o multilateralismo. Diante dessas condições, é
difícil imaginar uma humanidade compartilhada nos moldes
da filosofia que rege o ordenamento do G20 neste ano. No
entanto, a continuidade do protagonismo do Sul Global é algo
a ser celebrado. Resta a expectativa de que essas vozes continuem ecoando ainda que em
tempos mais difíceis e nebulosos.
G7 -
O G7 inicia mais um ano para discutir os grandes desafios globais entre as sete maiores
economias do mundo, à exceção da China e Índia158. Em 1º de janeiro de 2025 observamos o
Canadá assumir a presidência do G7 que alterna anualmente entre os países membros na
seguinte ordem: França, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá. A União
Europeia não faz parte do rodízio. A Cúpula dos Líderes do G7 neste ano será realizada em
Kananaskis, Alberta, que se encontra na região oeste do Canadá, nos dias 15 a 17 de junho de
158
De acordo com o segundo o mais recente relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em
inglês) do Fundo Monetário Internacional (FMI), as maiores economias do mundo em 2024 eram: em
primeiro lugar, Estados Unidos, e em ordem decrescente: China, Alemanha, Japão, Índia, Reino Unido,
França, Itália, Canadá e, em décimo lugar, Brasil. “As 50 maiores economias do mundo em 2024”. VALOR
ECONÔMICO. 2025. Disponível em: <https://www.terra.com.br/economia/quais-serao-as-50-maiores-
economias-do-mundo-em-2024-segundo-o-
fmi,7261adb8bf02192fbb4a47f81d4cb712ia7712io.html?utm_source=clipboard>. Acesso em:
02/02/2025.
249
2025. Até o momento, foi divulgado que a nova presidência trabalhará com os parceiros do G7
em prioridades comuns, como a construção de economias que beneficiem a todos, o combate
às mudanças climáticas e o gerenciamento de tecnologias em rápida evolução.
O Canadá já sediou seis cúpulas do G7 até o momento, sendo Quebec (2018), Ontario
(2010), Alberta (2002), Nova Escócia (1995), Ontario (1988) e a primeira delas em Ontario-
Quebec (1981). Ao longo de todas as presidências canadenses, pode-se destacar o investimento
histórico do G7 de quase US$ 3,8 bilhões em educação para mulheres e meninas em situações
de crise e conflito, feito durante a Cúpula do G7 em Charlevoix, Quebec, em 2018159. Além disso,
em Ontário, 2010, os conservadores prometeram US$ 1,1 bilhão para a saúde materna e fizeram
com que os países parceiros concentrassem parte de seus orçamentos no apoio à causa160. Na
tabela 1 abaixo, há um breve levantamento dos temas discutidos nas seis últimas presidências
canadenses desde 1981.
Ontario-
Ontario Nova Escócia Ontario Quebec
Quebec Alberta (2002)
(1988) (1995) (2010) (2018)
(1981)
Crescimento
Comércio e Comércio Comércio
Comércio Comércio inclusivo
Energia
Países em
Segurança
Política Agricultura Crise desenvolvi- Futuro do
nuclear
Monetária financeira mento e trabalho
África
Igualdade de
gênero e
Desenvolvi- Desenvolvi-
Defesa e Segurança empoderame
Paz e mento mento
Terrorismo nuclear nto das
segurança sustentável sustentável
mulheres
Mudanças
Países em Países em climáticas,
Crise de Segurança Paz e
desenvolvi- desenvolvi- oceanos e
Refugiados alimentar segurança
mento mento energia limpa
Desenvolvi-
Relação Meio Paz e
mento Saúde
Norte-Sul ambiente segurança
sustentável
Segurança Paz e
Alimentar segurança
159
Government of Canada. GOV. 2025. Disponível em: <https://www.international.gc.ca/world-
monde/international_relations-relations_internationales/g7/index.aspx?lang=eng>. Acesso em:
02/02/2025.
160
Canada set to preside over G7 in 2025 amid political instability at home and abroad. CBC. 2025.
Disponível em: <https://www.cbc.ca/news/politics/canada-g7-presidency-2025-1.7421639>. Acesso em:
02/02/2025.
250
No ano de 2025, o G7 completa 50 anos de encontros multilaterais entre os países
membros do grupo, que começou em 1975 com a presidência da França. No ano seguinte, o
Canadá foi convidado a participar do grupo.
É importante relembrar que foi somente a partir dos anos 1980 que o G7 expandiu suas
áreas de discussão para segurança internacional, direitos humanos e estabilidade global. Apesar
de incluir a pauta de meio ambiente, foi a partir dos anos 1990, especificamente na Cúpula de
Munique, Alemanha (1992), que os líderes começaram a discutir de forma mais formal as
mudanças climáticas. No entanto, foi apenas a partir de 2005, na Cúpula do G7 de Gleneagles,
Escócia, que a mudança climática se fixou como um tópico central na agenda dos países, com
compromissos de redução das emissões globais, por exemplo. Temas como saúde só
começaram a ganhar espaço na Cúpula de Lyon, França, em 1996, quando os países
reconheceram a importância de abordar os desafios globais de saúde, incluindo a epidemia de
HIV/AIDS, e começaram a se concentrar mais nas questões de saúde dentro do contexto mais
amplo de desenvolvimento e segurança global. Já no que se refere à agenda de equidade de
gênero, foi propriamente a partir de 2015, que em Elmau, Alemanha, se tornou parte
importante das discussões do G7. A partir de então, o compromisso com o empoderamento
econômico das mulheres, a eliminação da violência contra as mulheres e o aumento da
participação das mulheres nos processos de tomada de decisão têm sido pautas frequentes nas
agendas das sete economias. Foi, portanto, a partir do século XXI, que o G7 buscou envolver os
países em desenvolvimento nas discussões.
Uma pergunta surge neste momento: o que esperar do G7, um grupo multilateral, em
um ano com uma conjuntura internacional tão abalada pela posse de Donald Trump, em seu
segundo mandato, e o cumprimento de suas promessas? Além disso, a preocupação não recai
apenas no cenário internacional, mas Justin Trudeau (Partido Liberal) atravessa uma crise
política também interna. 2025 é um ano de eleições no Canadá e esperava-se que Trudeau
seguisse na presidência até outubro deste ano. No entanto, o partido passa por um
enfraquecimento desde 2021, quando não conseguiu maioria nas eleições e tem feito coalizões
com outros partidos para governar. Trudeau chegou a anunciar, no dia 6 de janeiro de 2025, que
renunciará ao cargo de líder do partido161, ficando no cargo de primeiro-ministro apenas até o
partido conseguir um substituto. Pesquisas indicam que os liberais não conseguirão se reeleger,
independente do substituto encontrado. No entanto, fontes afirmam que a escala da derrota
pode ser amenizada se Trudeau não estiver no comando162.
161
Justin Trudeau, premiê do Canadá, anuncia renúncia e diz que ficará no cargo até partido encontrar
substituto. G1. 2025. Disponível em: <Justin Trudeau, premiê do Canadá, anuncia renúncia e diz que ficará
no cargo até partido encontrar substituto | Mundo | G1>. Acesso em: 02/02/2025.
162
Ministros e ex-governadores: quem são os cotados a substituir Trudeau, premiê do Canadá; entenda
os cenários possíveis. G1. 2025. Disponível em:
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/01/07/ministros-e-ex-governadores-quem-sao-os-cotados-
a-substituir-trudeau-premie-do-canada-entenda-os-cenarios-possiveis.ghtml>. Acesso em: 02/02/2025.
163
Canada set to preside over G7 in 2025 amid political instability at home and abroad. CBC. 2025.
Disponível em: <https://www.cbc.ca/news/politics/canada-g7-presidency-2025-1.7421639>. Acesso em:
02/02/2025.
251
canadense são: o combate à interferência externa e a reforma de agências financeiras, como o
Banco Mundial. Grupos da sociedade civil e pesquisadores esperam que Trudeau reforce o apoio
à Organização Mundial da Saúde (OMS) em um momento em que Donald Trump anunciou a
saída da OMS, além disso que traga à mesa a reversão do corte nos gastos com ajuda externa
desde a pandemia de Covid-19, que impediram o progresso na erradicação de doenças graves.
Ainda, analistas refletem que essa é uma oportunidade para o Canadá recuperar a posição de
ator diplomático eficaz no mundo. O desafio será encaixar o calendário do G7, no calendário
político e eleitoral do Canadá este ano e quais iniciativas serão apresentadas para alcançar
algum consenso – analisa Peter Boehm, ex-diplomata que desempenhou um papel central na
participação do Canadá no G7 por décadas164.
No cenário Internacional, Trump ameaça impor tarifas de 25% sobre todos os produtos
canadenses se Trudeau não conter a determinação de Trump sobre o fluxo de migrantes e
drogas. Em contrapartida, o Canadá é um grande exportador de petróleo e gás natural para os
EUA, bem como de aço, alumínio e automóveis. Em resposta, durante um conselho consultivo
sobre relações Canadá-EUA, Trudeau afirmou: “Estamos prontos com uma resposta – uma
resposta proposital, enérgica, mas razoável, imediata. Não é o que queremos, mas se ele seguir
em frente, também agiremos”168. Em seguida, o primeiro-ministro impôs uma tarifa também de
25% aos produtos estadunidenses. Como devolutiva, Trump declara que não precisa de nada
que o Canadá oferece em termos comerciais e, mais uma vez, declara o interesse de anexar o
164
Ibid. 2025.
165
Ministros do G7 condenam ofensiva do M23 no leste da RD Congo. BBC. 2025. Disponível em:
<https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/ministros-do-g7-condenam-ofensiva-do-m23-no-leste-da-
rd-congo/>. Acesso em: 02/02/2025.
166
Insegurança no leste da RD Congo é motivo de grande preocupação na ONU. NAÇÕES UNIDAS. 2025.
Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2025/01/1843991>. Acesso em: 02/02/2025.
167
G7 Leaders Statement on Ceasefire and Hostage Deal. EUROPEAN COMMISION. 2025. Disponível em:
<https://neighbourhood-enlargement.ec.europa.eu/news/g7-leaders-statement-ceasefire-and-hostage-
deal-2025-01-17_en>. Acesso em: 02/02/2025.
168
Canadá responderá às ameaças tarifárias de Trump, diz Trudeau. PODER 360. 2025. Disponível em:
<https://www.poder360.com.br/poder-internacional/canada-respondera-as-ameacas-tarifarias-de-
trump-diz-trudeau/>. Acesso em: 02/02/2025.
252
Canadá ao território dos EUA169. Na cúpula de 2018, última sediada pelo Canadá, Trump ofuscou
a reunião ao se recusar a assinar a declaração final, se retirando da reunião mais cedo e
criticando Trudeau como “desonesto e fraco” ao tratar de tarifas. Além disso, foi difícil chegar a
algum consenso nas negociações sobre mudanças climáticas e desenvolvimento de armas
nucleares pelo Irã.
Há, ainda, um ponto interessante para se observar. A Cúpula do G7 de 2025 poderá ter
5 novos chefes de governo. Fontes acreditam que apenas a primeira-ministra da Itália e última
a assumir a presidência do G7, Giorgia Meloni (Partido Irmãos da Itália, extrema direita), e o
presidente da França, Emmanuel Macron (Partido Renascimento, centro-direita), permanecerão
nos cargos em relação à Cúpula de 2024. A tendência é que Alemanha e Canadá deem uma
guinada à direita. Se o cenário esperado se confirmar, será a 1ª vez em 14 anos que o G7 terá 5
de seus 7 líderes mais inclinados ao espectro político da direita170. Isso será um ponto relevante
para se pensar os consensos futuramente, principalmente em temas como: gênero, ajuda
humanitária, Ucrânia, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.
OCDE –
Desde o período após o lançamento do último informe de 2024 até o período de análise
do presente informe, é possível observar e ressaltar alguns feitos dentro da miríade de
realizações, estudos, avanços e continuidades produzidas e promovidas pela Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A exemplo, ainda em dezembro de 2024, a OCDE publicou o estudo “Public Trust in Tax
2024: Latin America and Beyond”171 em conjunto com a International Federation of Accountants
(IFAC) e a Association of Chartered Certified Accountants (ACCA). O documento busca fornecer
informações sobre as percepções do público sobre impostos e a confiança do público nos
169
Trump volta a defender anexação ao território dos EUA. PODER 360. 2025. Disponível em:
<https://www.poder360.com.br/poder-internacional/trump-volta-a-defender-anexacao-do-canada-ao-
territorio-dos-eua/>. Acesso em: 02/02/2025.
170
G7 terá dança das cadeiras e mais líderes de direita em 14 anos. PODER 360. 2025.
<https://www.poder360.com.br/poder-internacional/g7-deve-ter-5-lideres-de-direita-em-2025-depois-
de-14-anos/>. Acesso em: 02/02/2025.
171
OCDE, IFAC, ACCA. Public Trust in Tax 2024: Latin America and Beyond. Paris: OECD Publishing, 2024
[cited 2025 Jan 31]. Available from: https://doi.org/10.1787/52ce48d5-en.
253
sistemas tributários de 26 países – majoritariamente localizados na América Latina, mas também
incluindo casos da África e da Ásia. O estudo avalia os posicionamentos em relação à tributação,
tanto na teoria quanto na experiência pessoal, apresentando novas evidências sobre o estado
do contrato fiscal nos países estudados, bem como as opiniões em relação à concorrência e à
cooperação tributária. Ademais, o relatório analisa o grau de confiança de nove atores distintos,
incluindo políticos, contadores de impostos e mídias sociais, como fontes de informações sobre
impostos e a frequência com que são consultados.
Dessa forma, o relatório argumenta que os recursos públicos devem ser investidos com
mais eficiência, os impostos mais bem arrecadados e a dívida mais bem administrada através de
estruturas fiscais robustas para manter a sustentabilidade fiscal174. No entanto, mesmo com tais
melhorias, os recursos privados são entendidos pela OCDE como igualmente cruciais, já que as
receitas públicas não serão suficientemente capazes para financiar plenamente as profundas
transformações das quais a região necessita. Inclusive, é defendido que a intensidade, o acesso,
a inclusividade e a eficiência dos sistemas financeiros precisam melhorar ainda mais,
especialmente no que tange o benefício dos cidadãos e das empresas menores. Não obstante,
as empresas requerem mercados de capital mais fortes para financiar seus projetos de
investimento de longo prazo.
172
OCDE. Unlocking the potential of the social and solidarity economy for people, places and firms in Latin
America and the Caribbean. OECD Local Economic and Employment Development (LEED) Papers
[Internet]. Paris: OECD Publishing, 2024 [cited 2025 Jan 31];2024/12. Available from:
https://doi.org/10.1787/11fbb636-en.
173
OCDE, CEPAL, CAF, Comissão Europeia. Latin American Economic Outlook 2024: Financing Sustainable
Development. Paris: OECD Publishing, 2024 [cited 2025 Jan 31]. Available from:
https://doi.org/10.1787/c437947f-en.
174
OCDE. Latin America and the Caribbean need better fiscal policies to finance their development. OECD
[Internet]. 2024 Dez 09 [cited 2025 Jan 31]. Available from: https://www.oecd.org/en/about/news/press-
releases/2024/12/latin-america-and-the-caribbean-need-better-fiscal-policies-to-finance-their-
development.html.
254
e (iv) a adoção de uma agenda regional compartilhada com o objetivo de abordar o contexto
desafiador do financiamento internacional.
A mais recente edição da iniciativa indica que a economia global permaneceu resiliente
em 2024, apesar das diferenças na força da atividade entre países e setores. A inflação
continuou a se moderar, com o retorno da inflação geral às metas do Banco Central na maioria
das economias analisadas, e o aperto no mercado de trabalho também se atenuando, embora
as taxas de desemprego permaneçam, em geral, em níveis mínimos históricos ou próximos a
eles. Todavia, é enfatizado que os riscos observados pelo estudo estão lançando uma sombra
sobre o que, de outra forma, é uma projeção central relativamente benigna do futuro. Tais riscos
se referem a situações tais como a intensificação das tensões políticas (como, por exemplo, os
conflitos em curso no Oriente Médio), a inflação se tornar mais persistente do que o previsto
anteriormente e a uma forte reavaliação dos riscos nos mercados financeiros após surpresas
adversas.
Desse modo, a economia global deverá permanecer resiliente apesar dos desafios
significativos177. O relatório projeta, então, um crescimento do PIB global de 3,3% em 2025,
acima dos 3,2% em 2024, e permanecendo em 3,3% em 2026. Espera-se também que a inflação
na OCDE diminua ainda mais, dos 5,4% observados em 2024 para 3,8% em 2025 e 3,0% em 2026,
apoiada pela postura ainda restritiva da política monetária na maioria dos países.
175
OCDE, CEPAL, CAF, Comissão Europeia. Latin American Economic Outlook 2024: Financing Sustainable
Development – Brazil. Paris: OECD Publishing, 2024 [cited 2025 Jan 31]. Available from:
https://www.oecd.org/en/publications/latin-american-economic-outlook-2024_c437947f-en/full-
report/brazil_e57a5993.html.
176
OCDE. OECD Economic Outlook, Volume 2024 Issue 2. Paris: OECD Publishing, 2024 [cited 2025 Jan 31].
Available from: https://doi.org/10.1787/d8814e8b-en.
177
OCDE. Economic Outlook: Global growth to remain resilient in 2025 and 2026 despite significant risks.
OECD [Internet]. 2024 Dez 04 [cited 2025 Jan 31]. Available from:
https://www.oecd.org/en/about/news/press-releases/2024/12/economic-outlook-global-growth-to-
remain-resilient-in-2025-and-2026-despite-significant-risks.html.
255
choques futuros e gerar recursos para auxiliar a atender às grandes pressões de
gastos iminentes;
Figura 2. Projeções de crescimento real do PIB para 2024, 2025 e 2026 para economias
do G20, % em relação ao ano anterior.
Ademais, em sua avaliação individual do projeto para o Brasil178, a OCDE projetou que o
PIB real brasileiro cresceu 3,2% em 2024 e que em 2025 será de 2,3% e em 2026, estima-se 1,9%.
Tais projeções são embasadas na percepção que a criação persistente de empregos e o forte
crescimento dos salários impulsiona o consumo das famílias até 2025 e que, após uma forte
retomada em 2024, o investimento privado permanecerá dinâmico, embora com uma gradual
desaceleração. Além disso, uma desaceleração no crescimento do mercado de exportação
limitará a expansão das exportações.
178
OCDE. OECD Economic Outlook, Volume 2024 Issue 2 – Brazil. Paris: OECD Publishing, 2024 [cited 2025
Jan 31]. Available from: https://www.oecd.org/en/publications/oecd-economic-outlook-volume-2024-
issue-2_d8814e8b-en/full-report/brazil_e26b6824.html.
179
OCDE. Gender budgeting in Brazil. OECD Papers on Budgeting [Internet]. Paris: OECD Publishing, 2024
[cited 2025 Jan 31];2024/04. Available from: https://doi.org/10.1787/fa31b226-en.
256
introduzir uma dimensão de gênero no planejamento plurianual, bem como no processo
orçamentário anual brasileiro. Dessa maneira, o artigo recomenda uma série de ações para
fortalecer a orçamentação de gênero, com base na ”Framework for Gender Budgeting”
(Estrutura para Orçamentação de Gênero) da própria OCDE, bem como nas melhores práticas
internacionais.
Por fim, no que tange às publicações diretamente relacionadas à área de saúde, ressalta-
se a publicação do estudo “What Do We Know about Young People’s Interest in Health
Careers?”181, cujo foco principal é a preocupação crescente sobre a escassez de mão de obra na
área da saúde e suas reverberações e efeitos no futuro, muito agravados pelo envelhecimento
populacional. Assim, o relatório técnico analisa os dados disponíveis sobre o interesse de
estudantes em empregos no setor da saúde a partir de duas fontes principais: a pesquisa PISA
da OCDE, que abrange cerca de 80 países e economias da OCDE e outros países, e inscrições e
admissões de estudantes em programas de educação em saúde com base em dados
administrativos nacionais. O resultado apontado pela análise dos dados da pesquisa PISA
indicam que o interesse de estudantes de 15 anos de idade em seguir carreira no setor da saúde
diminuiu em cerca de metade dos países da OCDE entre os anos de 2018 e 2022 e também
diminuiu em vários países não pertencentes à OCDE.
180
Rigamonti S. Secretário da OCDE quer vir ao Brasil para discutir adesão ao bloco. Folha de S. Paulo
[Internet]. 2025 Jan 30 [cited 2025 Jan 31]. Available from:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2025/01/secretario-da-ocde-quer-vir-ao-brasil-para-
discutir-adesao-ao-bloco.shtml.
181
OCDE. What Do We Know about Young People’s Interest in Health Careers? Paris: OECD
Publishing, 2025 [cited 2025 Jan 31]. Available from: https://doi.org/10.1787/002b3a39-en.
182
Keelara R, Sutherland E, Almyranti M. Leading practices for the future of telemedicine:
Implementing telemedicine post-pandemic. OECD Health Working Papers [Internet]. Paris: OECD
Publishing, 2025 [cited 2025 Jan 31];173. Available from: https://doi.org/10.1787/496a8ffe-en.
257
Prioridades do Brasil ao assumir a presidência de turno do BRICS em 2025
Brazil's priorities when assuming the BRICS presidency in 2025
Claudia Hoirisch
Resumo: Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais
Inclusiva e Sustentável”, a presidência brasileira irá atuar nesse ano em dois eixos principais:
Cooperação do Sul Global e a Reforma da Governança Global. Entre os objetivos do foro está
o de fortalecer a cooperação econômica, política e social entre os membros e o aumento da
influência dos países do Sul Global na governança internacional, bem como impulsionar o
desenvolvimento socioeconômico sustentável e promover a inclusão social nessas nações. As
agendas do Brasil estão refletidas em cinco prioridades: facilitação do comércio e
investimentos entre os países do grupo, via desenvolvimento de meios de pagamento;
promoção da governança inclusiva e responsável da Inteligência Artificial para o
desenvolvimento; aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar as
mudanças climáticas, em diálogo com a COP 30; estímulo aos projetos de cooperação entre
países do Sul Global, com foco em saúde pública e fortalecimento institucional do BRICS. Esse
artigo pretende desenvolver cada um desses pontos, inclusive a cooperação entre países do
Sul Global, com foco em saúde pública. Nessa área, a Fiocruz organizará reuniões da Rede de
Institutos de Saúde Pública do BRICS, do Centro de P&D de Vacinas do BRICS e a Conferência
de Institutos Nacionais de Saúde Pública do BRICS.
Abstract: Under the theme “Strengthening Global South Cooperation for More Inclusive and
Sustainable Governance”, the Brazilian presidency will prioritize two main areas: advancing
Global South cooperation and reforming global governance structures. These themes translate
into five key priorities: facilitating Trade and Investment: Promoting economic integration
through the development of efficient payment systems; regulating Artificial Intelligence:
encouraging inclusive and responsible AI governance for development purposes; addressing
Climate Change: enhancing financing mechanisms to support global efforts, in coordination with
the COP30 Climate Summit; Public Health Collaboration: strengthening cooperation projects
among member countries, focusing on improving public health systems; Institutional
Development: bolstering the internal frameworks of BRICS to ensure effective governance and
decision-making. This article intends to develop each of these points, including cooperation
among countries in the Global South, with a focus on public health. In this field, Fiocruz will
organize meetings of the BRICS Network of Public Health Institutes, the BRICS Vaccine R&D
Centre and the Conference of the BRICS National Public Health Institutes.
Keywords: BRICS. Global South Cooperation. Global Governance Reform. Facilitation of trade
and investments. Development of methods of payment. Artificial intelligence. Financing to tackle
258
climate change. COP30. Cooperation between countries in the Global South, focusing on public
health. Institutional strengthening of BRICS. BRICS Network of Public Health Institutes. BRICS
Vaccine R&D Centre. Conference of the BRICS National Public Health Institutes.
Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais
Inclusiva e Sustentável”, a presidência brasileira irá atuar nesse ano, em dois eixos principais:
Cooperação do Sul Global e a Reforma da Governança Global.
4) estímulo aos projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde pública
1) Desenvolvimento Institucional
Em 2009, os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) tornaram-se um grupo autônomo
com o objetivo de reformar instituições financeiras internacionais, apoiar uma ordem mundial
multipolar mais democrática e justa e servir aos interesses comuns de economias de mercado
emergentes e países em desenvolvimento. Embora os representantes do BRIC tenham
enfatizado que o grupo não era antiamericano, alcançar a multipolaridade requer alguma forma
de equilíbrio suave para restringir a hegemonia dos EUA e transformar o sistema.
Em 2010, o BRIC convidou a África do Sul a se juntar, formando o BRICS. Desde então, o
grupo vem investindo em seu desenvolvimento e criou instituições como o Novo Banco de
Desenvolvimento (NDB) e o Arranjo Contingente de Reservas (CRA).
259
USD 30 bilhões. Já o Arranjo Contingente de Reservas foi criado em 2015 para apoiar
dificuldades temporárias de balanço de pagamento de seus membros.
A Cúpula do BRICS de 2023 anunciou a segunda ampliação do grupo original, que passou
a vigorar em 1º de janeiro de 2024183. Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e
Irã foram convidados a se unir ao grupo como membros plenos. A Arábia Saudita, apesar de não
ter assinado a adesão ao grupo, provavelmente priorizando sua relação com os EUA em meio
ao redesenho geopolítico no Oriente Médio, tem participado de todos os encontros.
A expectativa é que nove países ingressem formalmente no BRICS neste ano, entre
eles, Cuba, Bolívia, Malásia e Tailândia, sejam como membros plenos ou parceiros185.
A China já previa essa correlação positiva. Durante a cúpula do BRICS de 2017, propôs
uma grande mudança institucional para transformar o grupo em uma plataforma econômica e
política, capaz de reformar a governança econômica global. O MRE da China, Wang Yi, afirmou
que a China queria "ampliar o círculo de amigos do BRICS e transformá-lo na plataforma mais
influente para a cooperação Sul-Sul do mundo"187. O conceito BRICS+ expandiria a associação
ao mesmo tempo em que formaria uma plataforma ampla e integrativa para promover
colaboração econômica e elevaria o status global do BRICS.
260
2023, por outro lado, a participação do grupo G7 nas exportações globais caiu de 45,1% para
28,9 %188. Um padrão semelhante é visível no caso da participação nas importações de
mercadorias. Enquanto a participação do BRICS+ aumentou de 7,2% para 18,9% de 2000 para
2023, a do G7 caiu de 49,8% para 33,7%. Isso mostra que a importância do BRICS tem aumentado
progressivamente em termos de tamanho da economia e em termos de sua participação nas
exportações e importações mundiais189. Analistas apontam que o BRICS+ deverá ultrapassar o
G7 em 2026 em volume de exportações de mercadorias190.
188
https://www.business-standard.com/economy/news/brics-group-expected-to-surpass-g7-in-global-
trade-by-2026-ey-india-124103100815_1.html
189
https://www.business-standard.com/economy/news/brics-group-expected-to-surpass-g7-in-global-
trade-by-2026-ey-india-124103100815_1.html
190
https://www.business-standard.com/economy/news/brics-group-expected-to-surpass-g7-in-global-
trade-by-2026-ey-india-124103100815_1.html
191
https://brics-russia2024.ru/en/news/rossiya-predlozhila-stranam-briks-povysit-dostupnost-
vzaimnykh-investitsiy-i-tekhnologiy/
261
Tanto NDB quanto o CRA são organismos financeiros com os mesmos fins que o BM e o
FMI. O CRA foi criado para fornecer suporte de liquidez a países-membros que enfrentam
pressões de curto prazo na balança de pagamentos ou volatilidades cambiais.
Os membros do BRICS+ têm usado cada vez mais moedas locais para o comércio. Desde
2018, a parcela das exportações faturadas em dólares da Rússia para outras economias do BRICS
caiu de 85% para 36%192.
Para os membros do BRICS sob sanções dos EUA, a saber, Rússia e Irã, esta missão já é
uma prioridade nacional máxima. Outros, como a China, veem isso como uma maneira útil de
se isolar de potenciais sanções no futuro.
192
www.project-syndicate.org/onpoint/making-global-monetary-system-work-for-global-south-by-
hippolyte-fofack-2023-02
193
https://www.brics-pay.com/
194
Apesar dos esforços do BRICS, nenhum país que use um sistema alternativo como o BRICS Pay estará
imune a sanções.
262
Figura 1 – Parcela de emissão global (%)
Apesar de líderes da transição energética global para as fontes renováveis, China e Índia
são os maiores produtores de carvão do mundo. Em 2022, a Rússia foi o maior fornecedor
individual de pagamentos de subsídios para o setor de combustíveis fósseis. Após a invasão da
Ucrânia, a pauta climática perdeu ainda mais protagonismo no país. No caso do Brasil, apesar
das iniciativas mais ambiciosas e voltadas para a transição energética, incentivos aos
combustíveis fósseis, principalmente petróleo e gás, ainda estão presentes no arcabouço
energético do país e o desmatamento e a atividade agropecuária continuam a ser responsáveis
por altas taxas de emissões de gases de efeito estufa (GEE). A África do Sul carece de fontes de
financiamento adequadas para transformar sua matriz energética, altamente dependente de
combustíveis fósseis, e cumprir sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).195
Índia, África do Sul e Brasil, individualmente e no âmbito dos BRICS, reforçam o princípio
das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e suas respectivas capacidades (CBDR-
RC)196 e defendem que países desenvolvidos assumam uma maior responsabilidade pelo
financiamento das ações de mitigação e adaptação climática em países em desenvolvimento,
assim como pela transferência de tecnologia e cooperação técnica.
195
As NDC são metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) que os países signatários do
Acordo de Paris devem apresentar. Na COP29, o Brasil apresentou uma nova NDC, que inclui o
compromisso de não expandir novas áreas de petróleo e gás, principalmente na Amazônia. O país
também se comprometeu a implementar o Plano Clima, que guiará as ações para reduzir as emissões e
se adaptar aos impactos da mudança do clima até 2035.
196
RCDR-RC é um princípio do direito ambiental internacional que considera que os países têm
responsabilidades comuns na proteção do meio ambiente, mas que essas responsabilidades devem ser
diferenciadas de acordo com as capacidades de cada país.
197
https://www.gov.br/mma/pt-br/noticias/cop29-termina-com-acordo-sobre-nova-meta-de-
financiamento-climatico-global
263
implementação de ações de mitigação de emissões de gases de efeito estufa e de adaptação aos
impactos da mudança climática, além disso, a decisão convida as nações a cooperarem para
alcançar, até 2035, a cifra de USD 1,3 trilhão por ano, proveniente de fontes públicas e
privadas.198 Embora a definição da NCQG fosse o principal objetivo da conferência de Baku, o
valor foi considerado insuficiente pelos países em desenvolvimento e pela delegação brasileira,
que demandam USD 1,3 tri/ano como base da meta. Estudos apontam que as necessidades dos
países em desenvolvimento no enfrentamento à crise climática superam a casa dos trilhões de
dólares anuais.
A COP29 estabeleceu o “Roteiro Baku a Belém para 1,3T”, até novembro de 2025,
quando ocorrerá a COP30 em Belém sob a presidência do Brasil, os países devem trabalhar para
acordar uma trajetória de escalonamento do financiamento climático às nações em
desenvolvimento.
O Brasil foi um dos primeiros países a apresentar sua nova NDC durante a COP29, com
um compromisso de reduzir até 53,1% e até 67% de suas emissões até 2030 e 2035
respectivamente, em relação aos níveis de 2005.
Além da China, a Rússia e a Índia estão entre os dez países, incluindo EUA, Reino Unido,
Canada, Alemanha, França, Japão e Israel que estão desenvolvendo seus próprios modelos de
IA generativa. A Rússia prevê que o uso de tecnologias de IA em todos os setores adicionará USD
109 bilhões ao seu PIB em 2030.
Uma análise das declarações de cúpulas de líderes e reuniões ministeriais indica que os
BRICS veem a IA como uma forma catalisadora para o crescimento econômico,
desenvolvimento, progresso tecnológico e para sociedades inclusivas.
198
https://www.gov.br/mma/pt-br/noticias/cop29-termina-com-acordo-sobre-nova-meta-de-
financiamento-climatico-global
264
Os BRICS buscaram desenvolver suas políticas de IA e avançar as capacidades nessa área
nos membros. Isso pode ser evidenciado não apenas na criação do BRICS AI Study Group (agosto
2023), mas também na criação de um GT sobre Economia Digital para se concentrar em
melhorar as capacidades e capacidades digitais dos países BRICS por meio do desenvolvimento
de habilidades, implementação de infraestrutura digital, inovação digital e aprimoramento da
conectividade intra-BRICS. Em janeiro de 2024, Pequim solicitou que um centro de “Cooperação
para o Desenvolvimento de IA dos BRICS” fosse estabelecido na China. Um mês depois,
pesquisadores chineses divulgaram o AI Governance International Evaluation Index, avaliando o
nível de desenvolvimento de IA dos BRICS, ferramentas de governança e eficácia da governança
em relação aos países do G7. Isso implica um interesse de estabelecer a posição do grupo, em
vez da de membros individuais, como um parceiro de diálogo na governança global de IA.
O Banco dos BRICS está investindo em aplicações de IA nos países do grupo como o
“desenvolvimento de metrô inteligente” na China e está utilizando IA para melhorar suas
próprias práticas institucionais.
5) Estímulo aos projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde
pública
a) Rede TB do BRICS
199
https://www.mfa.gov.cn/eng/xw/zyxw/202410/t20241023_11514804.html
200
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2019-11/brasil-exporta-projeto-de-bancos-de-leite-
para-parceiros-do-brics
265
A participação de Instituições e laboratórios públicos brasileiros, o MS e governos e
laboratórios públicos e privados dos outros países dos BRICS são fundamentais.
Na área de prevenção, a vacina BCG tem mais de 100 anos e ainda é a única que ajuda
a prevenir a TB. É administrada principalmente em bebês e crianças, no entanto, é
essencialmente ineficaz para os adultos e adolescentes que desenvolvem a doença a cada ano.
A OMS estima que uma vacina para adultos e adolescentes poderia evitar de 37-76 milhões de
novos casos e de 4,6-8,5 milhões de óbitos associados à doença até 2050.
Além da colaboração intra-grupo, outra estratégia que pode ser eficaz para enfrentar a
tuberculose é a criação de uma plataforma de colaboração entre os BRICS, para compartilhar
informações, recursos e experiências. Pode facilitar a realização de pesquisas conjuntas, o
treinamento de profissionais de saúde e a troca de informações sobre práticas eficazes de
prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
Os países do BRICS são responsáveis por 70% dos casos globais de TB. Ao assumir um
papel proativo na luta contra a tuberculose, o Brasil pode influenciar positivamente as políticas
de saúde e incentivar outros países do BRICS a definirem estratégias para a eliminação da
doença até 2030202.
201
https://agencia.fapesp.br/resultados-de-nova-vacina-contra-a-tuberculose-sao-apresentados-na-
fapesp-week-china/52127
202
Também é fundamental que os governos dos BRICS trabalhem em estreita colaboração com
organizações internacionais, como a OMS e o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária,
para garantir que os esforços empreendidos sejam coordenados, eficazes e sustentáveis. Além disso, a
colaboração com organizações não governamentais e a sociedade civil é crucial para que as intervenções
propostas atendam às necessidades das comunidades afetadas.
203
https://redetb.org.br/rede-tb-participa-da-reuniao-do-brics-na-africa-do-sul/
266
b) O PQ BRICS em CT&I – O Programa-Quadro BRICS em CT&I vem publicando editais
em diferentes áreas. O de 2020, “Resposta à Pandemia Global COVID-19” selecionou quatro
projetos da Fiocruz, entre os quais está o reposicionamento de fármacos e validação de
compostos líderes contra a principal protease e a RNA polimerase dependente de RNA do Sars-
CoV-2204. A chamada de 2023 teve como tema Adaptação e Mitigação das Mudanças
Climáticas205.
No dia 27 de março de 2024, foi realizada uma reunião de especialistas do SIAP para
elaboração dos TRs para posterior aprovação dos MS dos países do BRICS207. Na ocasião, os
participantes apresentaram relatórios sobre a situação epidêmica em seus países e sobre
sistemas nacionais para detecção precoce e resposta à disseminação de doenças infecciosas
existentes e emergentes. A delegação russa também apresentou uma proposta para o
desenvolvimento posterior do Sistema Integrado.
• nomear coordenadores dos MS dos BRICS que mapearão os próximos passos para o
desenvolvimento do Sistema Integrado;
• nomear especialistas técnicos que criarão uma rede de especialistas do BRICS para
vigilância epidemiológica.
Sistema de Alerta Precoce para Surtos com Potencial Epi-Pandêmico (ÆSOP) tem apoio do MS,
da Rockefeller e da Fiocruz
204
https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/2307-covid-19-e-brics-fiocruz-tem-4-entre-os-12-
projetos-escolhidos
205
http://brics-sti.org/index.php?p=new/36
206
A 1ª reunião técnica do Sistema Integrado de Alerta Precoce para a Prevenção de Doenças Infecciosas
em Massa, realizada em 17 de julho de 2023, sob a liderança da África do Sul como Presidente do BRICS
em 2023 e reuniões de especialistas do Sistema Integrado de Alerta Precoce para a Prevenção de Doenças
Infecciosas em Massa foram realizadas em 27 de março sob a Presidência da Federação Russa em 2024.
207
https://www.brics-russia2024.ru/en/news/vstrecha-ekspertov-po-formirovaniyu-kompleksnoy-
sistemy-rannego-preduprezhdeniya-riskov/
267
crescimento populacional e migração.
Estão previstas três reuniões do CPDV, sendo uma no formato híbrido em 6 maio de
2025 e duas videoconferências, em 31 de março e 25 de setembro/2025.
Dentre as diversas áreas de interação entre os países do BRICS, uma das mais
promissoras é a cooperação no fortalecimento da saúde pública.
208
https://brics-russia2024.ru/en/events/vstrechi-rabochikh-grupp-mekhanizmov/zasedanie-po-
voprosu-funktsionirovaniya-tsentra-vaktsin-briks/
268
envolver o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) para financiar projetos conjuntos de
pesquisa, alinhados com as prioridades e interesses de cada nação, bem como com os do grupo.
Na conclusão da reunião, a Rede foi aprovada por unanimidade e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) foi designada como representante nacional.
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) da Fiocruz foi um dos bancos de
referência da rede.
BRICS e Fiocruz
não
06/mai 2ª Centro P&D Vacinas híbrida
oficial
não
29/mai 2ª Rede de Inst de Saúde Pública dos BRICS virtual
oficial
8,9,10 Conf. INSP (haverá espaços para a Rede TB, Rede não
presencial
set de Alerta Precoce...) oficial
não
25/set 3ª Centro P&D Vacinas virtual
oficial
269
Considerações finais
O BRICS se posiciona como uma instituição focal para o equilíbrio suave (soft
balancing209) das potências emergentes, ao mesmo tempo em que promove os interesses
individuais dos estados-membros. Como resultado, usam estrategicamente o grupo para
abordar necessidades mútuas, institucionalizar seletivamente a cooperação e buscar uma
agenda abrangente que inclui políticas de equilíbrio e não-equilíbrio.
Com a expansão do bloco, o BRICS+ passa a ocupar uma posição de maior destaque não
só nos rankings de emissão de GEE mas também no que diz respeito à produção e a reservas
globais de metais e minerais críticos para a transição energética. Em conjunto, o grupo detém
reservas significativas de metais como alumínio, cobalto, cobre, lítio, manganês, níquel e silício,
209
O conceito inicial de soft balancing de Robert Pape referia-se ao uso de coligações ad hoc pelas grandes
potências para conter a influência das políticas indesejáveis dos EUA. A literatura subsequente
reconheceu que potências menores também podem alvejar conjuntamente o hegemon por meio de
coligações ad hoc específicas para cada questão. Em 2002, sete países africanos resistiram à pressão dos
EUA para assinar um acordo que estabelecia o TPI, o que impediria esses países de processar cidadãos
dos EUA por crimes de guerra. A formação de uma coalizão permitiu que eles examinassem a política dos
EUA enquanto continuavam sendo os principais destinatários da ajuda dos EUA. Os Estados se envolvem
em tal balanceamento vinculando um Estado-alvo dentro de instituições internacionais para restringir seu
comportamento ou consolidando a unidade contra ele excluindo-o de instituições.
210 www.project-syndicate.org/onpoint/making-global-monetary-system-work-for-global-south-by-
hippolyte-fofack-2023-02
270
fundamentais para painéis fotovoltaicos para produção de energia limpa e renovável, turbinas
eólicas e veículos elétricos21.
Por todos estes motivos, é fundamental estar atento às ambições climáticas dos países
BRICS+. Dada a importância do BRICS+ como emissores de GEE e detentores de recursos críticos
para a transição energética, suas políticas climáticas terão um impacto significativo no combate
às mudanças climáticas. Este impacto diz respeito não apenas à redução de emissões, mas aos
contornos que a transição energética irá adquirir nesses países: em direção à justiça climática
ou à exacerbação de desigualdades, violências, conflitos e violações de direitos.
271
Portas fechadas, algemas apertadas e “América para os Americanos”: novos
(ou velhos?) desafios para a migração latino-americana no continente
Puertas cerradas, esposas apretadas y “América para los americanos”: nuevos (¿o
viejos?) desafíos para la migración latinoamericana en el continente
Sebastián Tobar
Samia de Brito Franco
Miryam Minayo
Resumo: Na primeira edição do ano de 2025, este informe discute como as medidas do novo
governo Trump afetaram imigrantes latino-americanos nos EUA e reverberaram nas relações
com países na região. Além disso, enumeramos, sem sermos conclusivos, seis potenciais
desafios regionais para 2025 que podem contribuir para novas ondas de migração e o
acirramento dos conflitos políticos e até mesmo securitários no continente americano. Entre
esses desafios, destacam-se: novos padrões de envolvimento dos EUA com a América Latina; as
eleições presidenciais no Caribe e América do Sul; o fraco crescimento econômico; a persistência
das iniquidades e desigualdades sociais; o clima de terror instaurado pelo crime organizado; o
efeito das mudanças climáticas e o impacto nas populações; e o maior engajamento da China na
América Latina.
Resumen: En la primera edición del año 2025, este informe analiza cómo las medidas de la nueva
administración Trump han afectado a los inmigrantes latinoamericanos en Estados Unidos y
repercutido en las relaciones con los países de la región. Además, enumeramos, sin ser
concluyentes, seis potenciales desafíos regionales para 2025 que podrían contribuir a nuevas
olas migratorias y a la intensificación de conflictos políticos e incluso de seguridad en el
continente americano. Estos desafíos incluyen: los nuevos patrones de compromiso de EEUU con
América Latina; las elecciones presidenciales en el Caribe y América del Sur; el débil crecimiento
económico; la persistencia de las desigualdades e inequidades sociales; el clima de terror
instigado por el crimen organizado; el efecto del cambio climático y el impacto en las
poblaciones; y el creciente compromiso de China en América Latina.
Considerando o contexto político global, o ano iniciou com a posse de Donald Trump na
presidência dos Estados Unidos. Trump assumiu o poder propondo uma agenda que questiona
os fundamentos do multilateralismo — particularmente a eficácia do sistema das Nações Unidas
— e que defende uma postura mais assertiva nas relações internacionais. Para tanto, o governo
tem priorizado a intensificação de negociações bilaterais com países como China, Rússia, Índia,
entre outros.
272
Diante desse cenário, a questão central é: de que maneira a ascensão de Trump à
presidência dos Estados Unidos afetará a América Latina?
Questões como tarifas, migração, tráfico de drogas e o uso da força deverão orientar a
política externa dos Estados Unidos em relação à América Latina nos próximos anos. A discussão
sobre tarifas já surgiu nas semanas que antecederam a posse de Trump. Destacando o déficit
comercial dos EUA, o então candidato já havia anunciado a aplicação de tarifas de 25% sobre
todos os produtos de origem mexicana, invocando princípios de segurança nacional e buscando
pressionar as relações comerciais com a China. Igualmente, Trump anunciou a taxação de 25%
dos produtos canadenses e 10% dos chineses.
Além disso, o Canal do Panamá também tem disso um tema importante da agenda de
política externa do presidente estadunidense desde antes de sua posse. Acusações foram feitas
por Trump sobre taxas “ridículas” e “exorbitantes”, acusando-as de “golpe”212., e o presidente
manifestou sua intenção de controlá-lo. O Canal do Panamá tem valor estratégico ao conectar
o Oceano Atlântico ao Pacífico, tanto para fins comerciais quanto de defesa. Os Estados Unidos,
seguidos pela China e pelo Japão, são os maiores clientes do Canal do Panamá, com quase 72%
da carga que passa por lá, originária ou destinada aos portos americanos.
211
James Monroe, presidente dos Estados Unidos de 1817 a 1825, foi o promotor da doutrina que leva
seu nome e um pilar da geopolítica dos EUA que parece ter se tornado mais relevante durante o primeiro
governo do presidente Trump, que em 2018, declarou perante as Nações Unidas: “Tem sido a política
formal do nosso país desde o Presidente Monroe que rejeitamos a interferência de nações estrangeiras
neste hemisfério e nos nossos próprios assuntos.” https://www.clarin.com/opinion/asuncion-trump-
puesta-valor-doctrina-monroe_0_1fdkTEeMJb.html
212
A autoridade do canal foi recentemente forçada a reduzir o número de embarcações devido à seca e
também aumentou os preços. O canal gerou US$ 3,45 bilhões em lucro líquido no ano fiscal de 2024.
213
Trump 2.o: Perspectivas y Desafíos para Centro América, Cuba y Venezuela. Evento organizado por el
Centro de Pensamiento Expediente Abierto y la asociación Gobierno y Análisis Político (Gapac). 16 de
diciembre. Disponible en: https://www.youtube.com/watch?v=P9wNlMsHNvs&t=272s
273
dos objetivos centrais da sua nova administração seria fechar as fronteiras dos EUA e levar a
cabo a “maior deportação” de migrantes da história dos EUA.
Esse endurecimento tem gerado um clima de muita tensão entre os migrantes latino-
americanos que estão no território ou em vias de entrar. Além disso, essas decisões têm efeito
também nas relações políticas e diplomáticas com os países de origem desses migrantes,
deflagrando um cenário de conflito entre o novo governo Trump e a região latino-americana.
Washington tem ensaiado uma reedição do “Big Stick”.
214
Donald Trump já havia anunciado durante sua campanha eleitoral: um dos objetivos centrais de seu
novo governo seria fechar as fronteiras dos Estados Unidos e realizar a "maior deportação" de migrantes
da história daquele país. https://www.theguardian.com/us-news/2024/nov/18/trump-military-mass-
deportation
215 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/01/24/mexico-se-nega-a-receber-voo-dos-eua-com-
imigrantes-deportados-diz-site.ghtml
216 https://www.bbc.com/mundo/articles/cn7g6d0z105o
217
https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/voo-de-nacionais-
deportados-pelos-eua
218
Vôos de deportação já existiam anteriormente e fazem parte de um acordo firmado entre 2018-2019
Brasil para agilizar os procedimentos de deportação de brasileiros nos EUA. No entanto, devido a alguns
episódios que causaram mal-estar um novo acordo foi assinado em 2021 para assegurar condições dignas
no translado dos brasileiros.
219 https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/01/29/itamaraty-anuncia-grupo-de-trabalho-com-
os-estados-unidos-para-discutir-deportacao-de-brasileiros.ghtml
274
O caso colombiano ganhou grande repercussão midiática após o presidente Gustavo
Petro negar a entrada de dois voos militares transportando nacionais colombianos. A tensão
escalou em poucas horas, após os presidentes terem trocado acusações, ameaças de aumento
recíproco de tarifas e de bloqueio de vistos, gerando uma indisposição diplomática entre dois
aliados tradicionais220. No entanto, ainda no mesmo dia, as diplomacias conseguiram suspender
as ameaças e o governo Petro, por sua parte, concordou em enviar aeronaves colombianas para
transladar seus nacionais, segundo ele em situação mais digna, e o governo Trump decidiu que
iria pausar a aplicação das tarifas extras e demais sanções.221
Ao mesmo tempo que a troca de acusações acontecia, Petro solicitou uma reunião
emergencial à CELAC e a presidente pro-tempore Xiomara Castro prontamente acatou o pedido.
No entanto, pouco tempo depois a reunião foi cancelada. Apesar do comunicado oficial indicar
que as deportações em massa são uma preocupação comum, a presidente pro-tempore afirmou
que o cancelamento está ligado a uma oposição sistemática de países-membros e à superação
do impasse entre Colômbia e EUA.224f
É importante, no entanto, destacar que essa escalada de tensões geradas pelo governo
Trump no tema de migração está longe de acabar, pois as condições conjunturais e estruturais
latino-americanas podem produzir novos incentivos para que as mobilidades internas se
asseverem. Abaixo, enumeramos seis potenciais desafios regionais para 2025 que, finalmente,
podem contribuir para novas ondas de migração e o acirramento dos conflitos políticos e até
mesmo securitários no continente americano. Entre esses desafios, destacam-se: as eleições
presidenciais em alguns países da região; o fraco crescimento econômico; a persistência das
iniquidades e desigualdades sociais; o clima de terror instaurado pelo crime organizado em
diversas localidades da América Latina; efeitos das mudanças climáticas e seu impacto nas
populações latino-americanas e o maior engajamento da China na Região. Esses elementos se
220 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/01/28/primeiros-deportados-dos-eua-chegam-a-
colombia-em-aviao-da-forca-aerea-do-pais.ghtml
221 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/01/28/primeiros-deportados-dos-eua-chegam-a-
colombia-em-aviao-da-forca-aerea-do-pais.ghtml
222
https://www.swissinfo.ch/spa/asesor-de-trump-dice-que-bukele-ofreci%c3%b3-%22tremendos-
niveles-de-cooperaci%c3%b3n%22-en-migraci%c3%b3n/88794078
223
https://www.cronica.com.mx/mundo/2025/01/28/ideologo-de-las-deportaciones-dice-que-bukele-
ofrece-tremenda-cooperacion/
224
https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/politica/audio/2025-01/reuniao-da-celac-
sobre-deportacao-de-imigrantes-nos-eua-e-cancelada
275
configuram como fatores cruciais que podem impulsionar o deslocamento de grandes grupos
populacionais em busca de condições mais dignas de sobrevivência.
Em 2025, o voto pragmático parece que ganhará força entre os eleitores latino-
americanos. A escolha por esquerda ou direita229 deve dar vez a temas como: perda de poder
de compra, ansiedade pela falta de segurança, fracas perspectivas de melhoria social e mau
funcionamento do Estado, dos partidos e da classe política. No Equador, Chile e Bolívia, o voto
deve transparecer a frustração de expectativas após os mandatos de Daniel Noboa, Gabriel Boric
e Luis Arce. Este ano também nos permitirá medir o comportamento de outras tendências
político-eleitorais presentes a partir de 2023-2024: a ascensão de candidatos anticastas (Javier
Milei e Nayib Bukele) e a consolidação de novas ditaduras, como a Nicarágua e a Venezuela,
onde as eleições parlamentares podem ser usadas para encobrir a deriva autoritária.
225
Em 26 de outubro, a Argentina renovará metade da Câmara dos Deputados (127 cadeiras) e um terço
do Senado (24) e haverá eleições legislativas provinciais em 12 províncias e na Cidade Autônoma de
Buenos Aires. Também serão eleitos governadores em Corrientes e Santiago del Estero, e delegados para
reformar as constituições provinciais em Santa Fé e Formosa. As eleições serão uma oportunidade para
avaliar o apoio popular à administração presidencial, descobrir quem domina na direita e ver como o
kirchnerismo/peronismo pode sobreviver.
226
Após a fraude eleitoral e a postura do chavismo em 10 de janeiro, a oposição enfrenta o dilema de
competir ou não nas eleições legislativas, regionais e municipais, correndo o risco de sofrer uma nova
derrota. Espera-se que Maduro tente se recuperar após as eleições presidenciais, que foram marcadas
pela falta de transparência.
227
No Uruguai, no 11 de maio haverá eleições locais, que serão usadas como um barômetro para o
governo de Yamandú Orsi, que tomará posse em março.
228
Em 2025, o México viverá uma experiência sem precedentes: eleições judiciais, fruto das reformas
constitucionais de Andrés Manuel López Obrador. Em setembro, 1.650 juízes federais e mais de 5.000
juízes estaduais serão eleitos. Não apenas a justiça se tornará politizada, mas também abrirá a porta para
partidos políticos promoverem candidatos que eles gostam para controlar o poder judicial. Isso causou
inquietação nos setores políticos e empresariais dos EUA diante das ameaças à segurança jurídica.
229
Os resultados de 2023 e 2024 nos permitem descartar a ideia de virar à direita ou à esquerda. A
população não vota ideologicamente, mas com o bolso ou guiada por um sentimento de angústia por
insegurança ou frustração quanto ao funcionamento do Estado, dos partidos e da classe política. Somente
em 2024 houve o mesmo número de vitórias oficiais que em todo o mandato de seis anos de 2018-2023.
Ideologicamente, a região continua muito heterogênea.https://www.realinstitutoelcano.org/analisis/las-
elecciones-latinoamericanas-en-2025-nuevas-y-viejas-dinamicas/
230
Ressalvas podem ser feitas para os casos de Costa Rica, em 2018, no Paraguai, em 2018 e 2023, e na
Nicarágua em 2021, apesar de condições antidemocráticas existirem.
276
problemas dos cidadãos. Essa dinâmica explica as vitórias oficiais de Claudia Sheinbaum no
México231, Nayib Bukele232 em El Salvador e Luis Abinader na República Dominicana233.
Na Bolívia, as eleições ocorrerão no dia 10 de agosto. O país vive uma dupla fratura:
evismo vs antievismo e masismo vs antimasismo. Na ausência de uma oposição competitiva, o
Movimento ao Socialismo, que apesar de estar há mais de 10 anos no poder, ainda se configura
como a única força de alcance nacional, rachou internamente, opondo o grupo que segue Evo
Morales e contra aquele liderado pelo presidente Luis Arce237, herdeiro político de Morales.
231
Andrés Manuel López Obrador reduziu a pobreza e manteve o poder de compra e tornou possível a
vitória de Sheinbaum
232
Bukele conseguiu reduzir significativamente as taxas de insegurança (de 35 homicídios por 100.000
habitantes em 2019 para 2,4 em 2024).
233
A Abinader implementou políticas públicas focadas no crescimento econômico, especialmente durante
a pandemia e pós-pandemia (2020-2022), protegendo o turismo, principal indústria nacional, e seus
empregos.
234
Para interessados no contexto eleitoral, recomendamos a revisão de Informes da América Latina destes
Cadernos em 2024 para consolidar informações importantes.
235
O limiar eleitoral de Luisa Gonzáles é alto (30%) e está próximo dos 50% no segundo turno, como em
2023. Os candidatos restantes alcançam apenas 11% do voto direto, enquanto os votos em branco/nulo
somam 10,4%, segundo para a empresa de pesquisas Comunicaliza. O terceiro lugar fica com Leonidas
Iza, do movimento indígena Pachakutik, com 2,2% das intenções de voto. O único que poderia contestar
a dicotomia noboísmo-correísmo era o bukelista Jan Topic, que obteve cerca de 10% de seu apelo à mão
pesada, mas o Tribunal Contencioso Eleitoral aceitou as contestações contra ele devido a um suposto
conflito de interesses devido à sua contratos com o Estado.
236
A pesquisa da Cedatos de dezembro indica que o índice de aprovação de Noboa caiu de 80% em
fevereiro para 39,7%, com uma taxa de desaprovação de 52%. Eventos recentes, como o assassinato de
quatro crianças e adolescentes por uma patrulha militar, aumentaram a indignação pública e podem
afetar suas chances se o que aconteceu não for esclarecido de forma rápida e transparente. Sua imagem
também foi afetada pelo confronto com a vice-presidente Verónica Abad, que o substituiria durante a
campanha eleitoral.
237
Arce foi ministro da Economia entre 2006 e 2019 e pai do “milagre econômico boliviano”, tornou-se
presidente em 2020.
277
Camacho, ainda preso, e o empresário e político Samuel Doria Medina. Todos eles prometem
“tornar a unidade da oposição uma realidade’238 com um único candidato.
O pleito definitivo em Honduras também será realizado em novembro, com uma eleição
interna preliminar em 9 de março. E temas como corrupção, tráfico de drogas e a situação
econômica e social devem ser o motor das eleições.242243 A detenção, extradição e condenação
do ex-presidente Juan Orlando Hernandez (2014-2022) do Partido Nacional pelos EUA pesará
sobre qualquer um dos quatro candidatos de seu partido que disputarão a candidatura nas
238
O partido de Manfred Reyes Villa, APB Súmate, não está incluído no acordo. Villa lidera as pesquisas
como principal oposição e já lançou sua candidatura. Vicente Cuéllar e Branko Marinkovic também não
entraram no acordo. Todos eles são velhos conhecidos da política local e sempre estiveram mais de 10
pontos atrás do MAS nas eleições presidenciais.
239
Evelyn Matthei é a favorita para ser candidata do amplo espectro que vai do centro à direita e a única
capaz de derrotar a esquerda. Sua carreira política remonta à década de 1990. Ela foi candidata em 2013
e perdeu o segundo turno para Bachelet. Ela foi prefeita de Providencia. Ela se apresenta como a mulher
capaz de levar Chile Vamos ao poder, derrotando Kast pela direita e depois derrotando a esquerda no
segundo turno. O estilo calmo e reformista de Matthei contrasta com o de Kast, que defende uma
abordagem dura para lidar com a insegurança, uma questão central. Matthei também atacou o governo
pela escalada da insegurança, dizendo que “ninguém está assumindo a responsabilidade”.
240
A esquerda busca seu candidato: na Concertación, de centro-esquerda, destacam-se a ministra do
Interior, Carolina Tohá, e a ex-presidente Michelle Bachelet. Bachelet parece mais competitiva, mas sua
terceira candidatura significaria um retorno ao passado. Tohá, uma das figuras mais brilhantes da centro-
esquerda, está sobrecarregada pelo trabalho medíocre do governo. Mais à esquerda, a indefinição é
maior. No momento, estão surgindo Tomás Vodanovic (prefeito de Maipú) e as ministras comunistas
Camila Vallejo e Jeannette Jara.
241
As primeiras pesquisas de intenção de voto241 dão Matthei 26%, Kast 8%, Bachelet 7%, Kaiser 5% e
Vodanovic 3%. Matthei vence em todos os cenários do segundo turno. Ele supera Bachelet por 12 pontos
(51% / 39%), Claudio Orrego por 23 (56% / 33%), o ex-presidente Eduardo Frei por 28 (57% / 29%), Kast
por 36 (57% / 21%) , Tohá por 41 (62% / 21%) e Kaiser por 51 (64% / 13%). Ver em
https://www.infobae.com/america/america-latina/2024/11/18/evelyn-matthei-y-jose-antonio-kast-
siguen-al-alza-en-la-carrera-presidencial-chilena-segun-una-encuesta/.
242
https://www.elmundo.es/internacional/2025/01/02/6775efb221efa07d678b4585.html
243
De fato, a ideia de Castro de fechar a base americana em Palmerola se Trump expulsar em massa os
imigrantes hondurenhos provocou ataques de Nasralla, que acusa o governo de ser aliado da China.
Nasralla já começou a acusar o governo de tentar repetir o que aconteceu na Venezuela, para arquitetar
uma fraude e garantir a vitória oficial. Uma vitória do Libre poderia desencadear uma crise institucional,
como em 2017, quando o PN de Hernández venceu de forma questionável.
https://www.youtube.com/watch?v=l0VBRGPvTpA
278
primárias: Ana García, esposa do ex-presidente Hernández, o ex-prefeito da capital Nasry Asfura,
o deputado Jorge Zelaya e o advogado, Carlos Portilho.
Por fim, o Haiti também irá as urnas em 2025. O país, que está sem presidente desde o
assassinato de Jovenel Moïse, em 2021, enfrenta uma crise de governabilidade, securitária e
econômica grave, o que consolida o país como estado falido248. Em 2024, além dos movimentos
internos para a criação de um criado o Conselho Presidencial para a Transição249, a ONU criou
uma Missão Multinacional de Apoio à Segurança das Nações Unidas (MMAS)250, mas que sofre
com a escassez de recursos para fazer frente aos desafios complexos de segurança no território.
Nesse cenário de frágil governança (política e de segurança), apesar de o Conselho de Transição
buscar a elaboração de uma Constituição e eleição de um presidente até 2025, os dois objetivos
parecem ainda difíceis de concretizar.
244
O PL entrou em crise quando o presidente Manuel Mel Zelaya (2006-2009) se aliou a Hugo Chávez e
tentou reformar a Constituição para ser reeleito, dividindo o partido. Após os acontecimentos de 2009, o
zelaiismo abandonou o PL, criou a Liberdade e Refundação (Libre), principal rival do PN, e com sua esposa,
Xiomara Castro, como candidata, chegou ao poder em 2022. Agora, com o PN enfraquecidos, os liberais
aspiram recuperar sua posição dominante
245 Candidato presidencial em 2013 e 2017, é personalista e messiânico (em 2021 criou o partido Salvador
de Honduras), tem uma mensagem anticastas (em 2013 fundou o Partido Anticorrupção), que foi aliado
do Libre. Em 2022, ele era vice-presidente de Castro, de quem acabou se distanciando. Conseguiu crescer
em popularidade por meio de seu papel de jornalista esportivo na televisão local e seu estilo de liderança.
246
https://www.libre.hn/
247
Em 2024, ficou conhecido o caso do narco-vídeo, um encontro ocorrido em 2013 entre narcotraficantes
e Carlos Zelaya, cunhado de Castro. O vídeo, publicado pelo Insight Crime, mostra vários traficantes de
drogas oferecendo a Zelaya US$ 650.000 para uma campanha política do Libre, o partido de Castro e seu
marido, o ex-presidente Zelaya. Os liberais acusaram Libre de financiar sua campanha com dinheiro do
tráfico. https://www.youtube.com/watch?v=oiJ3v_TUr0U e
https://www.bbc.com/mundo/articles/ce80jed2r33o
248
Gangues armadas, especialmente a Vivre Ensemble, uma potência liderada por Jimmy Cherisier, a
Barbecue, controla quase 80% de Porto Príncipe. Sua estratégia clientelista para conquistar a população
coexiste com ações terroristas contra outras gangues rivais e massacres para intimidar a população.
249
Conselho de transição do Haiti demitiu o primeiro-ministro Garry Conille e nomeou o empresário Alix
Didier Fils-Aime em seu lugar, em meio a alegações de corrupção e disputas sobre a legalidade do
processo. ex-candidato ao Senado sob a bandeira do partido político Verite
https://cnnespanol.cnn.com/2024/11/10/consejo-transicion-haiti-destituye-primer-ministro-garry-
conille-trax
250
Em junho, 400 soldados quenianos chegaram, menos que os 12.000 membros de gangues haitianas. A
chegada de 150 soldados guatemaltecos e salvadorenhos pouco ajuda a restabelecer o monopólio estatal
sobre a violência. Quando a ONU autorizou a missão, ela planejou uma força de 2.500 soldados, que
deveriam chegar em novembro, mas ainda não chegaram.
279
2. O crescimento moderado de 2.5% deve gerar maior insatisfação entre os latino-
americanos
A OECD252 aponta que os países da América Latina e do Caribe (ALC) devem melhorar a
arrecadação de impostos, os gastos e a gestão da dívida pública, bem como mobilizar mais
recursos privados para financiar suas ambiciosas agendas de desenvolvimento. Para reduzir a
lacuna de financiamento sustentável na ALC – estimada em US$ 99 bilhões por ano – a
coordenação entre os atores públicos e privados deve ser melhorada, com a ajuda de seus
parceiros internacionais. Dado o difícil contexto socioeconômico da região, é necessário um
conjunto abrangente de reformas.
A região da América Latina e do Caribe é a mais desigual do mundo. Os 10% mais ricos
da população têm em média 12 vezes mais renda do que os 10% mais pobres. A média para
países desenvolvidos na OCDE é de 4 vezes. Além disso, um em cada cinco habitantes da ALC é
classificado como pobre.
O Voces en Acción do BID253 observa que na Colômbia, Chile e Uruguai, cerca de um por
cento da população controla entre 37% e 40% da riqueza total, enquanto a metade mais pobre
controla apenas um décimo da riqueza. Ainda é observável que, segundo o relatório, o nível é
muito maior do que a faixa de 20% a 30% na Europa Ocidental e na Escandinavia. Na verdade, é
quase 42% dos Estados Unidos. Embora tenha havido conquistas entre 1990 e 2014, o progresso
na reversão da desigualdade estagnou e isso não parece se reverter no curto prazo de 2025.
A região abriga países com altíssima desigualdade de renda, como Brasil, Colômbia,
Guatemala, Panamá e Honduras. Mas também inclui Bolívia, República Dominicana, El Salvador
e Uruguai, onde as disparidades de renda são semelhantes às dos Estados Unidos.
251
https://www.cepal.org/es/publicaciones/81104-balance-preliminar-economias-america-latina-
caribe-2024
252
https://www.oecd.org/en/publications/latin-american-economic-outlook-2024_c437947f-en.html
253
O podcast “Voces en Acción” e sua série “Pensar la igualdad” (Pensando na Igualdade) oferecem uma
análise aprofundada da persistência, causas e consequências da desigualdade na América Latina e no
Caribe. Com evidências e rigor, aborda aspectos como trabalho, educação, gênero, raça, nutrição,
proteção social e poder.https://cloud.mail.iadb.org/PodcastVocesEnAccion
280
A desigualdade aumentou em média 2% entre 2019 e 2020 na América Latina e no
Caribe como consequência da pandemia da Covid-19.254 A queda nos níveis de emprego devido
à contração econômica causada pela pandemia está associada ao aumento da desigualdade de
renda, que, segundo as projeções da CEPAL, diminuirá progressivamente com a recuperação.
No entanto, a perda de escolaridade e de rendimento educacional devido à pandemia pode
gerar pressões sobre a desigualdade no futuro, quando os jovens em idade escolar entrarem no
mercado de trabalho, aprofundando ainda mais um cenário futuro de baixo desenvolvimento.
4. O crime organizado assusta e gera maior deslocamento interno e externo nos países da
América Latina
Como já apontamos em edições anteriores dos Cadernos CRIS, a América Latina, apesar
de ser considerada uma zona de paz, tem sido, historicamente, uma região extremamente frágil
do ponto de vista da segurança pública e cenário de altos índices de violência. A presença e
aprimoramento do crime organizado, especialmente do narcotráfico e do tráfico humano, em
lugar de reduzir, vem aumentando significativamente nas últimas décadas.255
Com o aumento do número de pessoas forçadas a deixar seus lares na América Latina e
no Caribe em 2024, o tráfico de migrantes passou de uma atividade criminosa periférica para se
tornar um pilar fundamental das operações de alguns dos grupos criminosos mais influentes da
região. Essa transformação ocorreu em um cenário onde esses mesmos grupos estão no cerne
das principais causas do deslocamento na região. Ao disputarem o controle de economias
ilícitas—como o narcotráfico e a extorsão—, desencadeiam conflitos que geram deslocamentos
forçados e impulsionam a migração irregular.256
254
https://publications.iadb.org/es/el-aumento-de-la-desigualdad-en-america-latina-un-efecto-
colateral-de-la-
pandemia#:~:text=La%20desigualdad%20aument%C3%B3%20en%20promedio,creciente%20en%20los%
20a%C3%B1os%20noventa.
255
As democracias latino-americanas enfrentam um duplo desafio, onde sua legitimidade e sobrevivência
a médio prazo estão em jogo: a estagnação econômica (que está entrando em seu décimo primeiro ano)
e o aumento da insegurança dos cidadãos (tanto em termos de vitimização quanto de percepção). Ambas
as dinâmicas alimentam a frustração e a desconfiança da população em relação a instituições ineficazes
cooptadas pelo crime organizado. A insegurança cidadã, que tem suas raízes nas transições para a
democracia na década de 1980, aumentou nos últimos 25 anos devido ao crescimento da economia e do
poder de fogo do crime organizado e dos cartéis de drogas que deram um salto qualitativo nos níveis de
violência e aumentaram sua presença regional e sua capacidade de penetração nas instituições. Esse
fracasso se deve ao fato de um problema de natureza estrutural, multilateral e regional ter sido abordado
apenas com uma visão nacional e não de forma abrangente.
https://www.realinstitutoelcano.org/analisis/america-latina-crimen-organizado-e-inseguridad-
ciudadana/
256
https://insightcrime.org/es/noticias/gamechangers-2024-crimen-organizado-se-beneficia-auge-
migratorio-latinoamerica/
281
violência e privação e entra em outro tão perverso quanto o que vivenciava – ou mais. Na
esperança de evadir do rígido controle migratório, os migrantes acabam caindo diretamente nas
mãos dos traficantes e se tornam ainda mais dependentes deles.
Por tanto, a presença do crime organizado, gangues e grupos criminosos na região tem
um importante impacto na mortalidade, deslocamentos de grupos populacionais e situações de
violência.
Outro tema muito atual e que vem sendo objeto de conflitos políticos e comerciais é o
opioide fentanil257. Hoje ele é um problema de segurança e de saúde pública não apenas para os
Estados Unidos, mas também para a América Latina258,259 e vem constituindo uma “ameaça
global”. Os fluxos de fentanil – droga opioide 50 vezes mais potente que a heroína e
extremamente letal, que utiliza precursores químicos de origem chinesa por meio de
laboratórios no México está se expandindo para além dos mercados dos EUA e se espalhando
para mercados no México, Brasil, Argentina e outros lugares da região. O novo governo Trump
já manifestou a ideia de declarar guerra ao fentanil e aos cartéis e grupos de tráfico de drogas,
que ele vincula à migração de latino-americanos em seu país.
257
O fentanil, um opioide sintético desenvolvido na década de 1960, foi originalmente projetado como
um analgésico poderoso para tratar dores intensas, principalmente em pacientes com câncer avançado
ou submetidos a cirurgias complexas. Sua potência é aproximadamente 50 vezes maior que a da heroína
e até 100 vezes maior que a da morfina. Quimicamente, pertence à família das fenilpiperidinas, compostos
projetados para interagir com receptores opioides no cérebro, bloqueando a percepção da dor e gerando
uma intensa sensação de euforia.
258
Na América Latina, o fentanil ainda não é uma preocupação como nos Estados Unidos ou Canadá. No
entanto, os alarmes soaram na América Central em 21 de novembro, depois que a Costa Rica informou
ter desmantelado a primeira gangue da região dedicada à venda e distribuição de fentanil. Além disso,
dias antes, Honduras havia apreendido 48.600 doses de fentanil que estavam escondidas em um
contêiner vindo da Europa. https://www.20minutos.es/noticia/5195176/0/no-solo-estados-unidos-
fentanilo-se-extiende-por-mundo-se-convierte-amenaza-global/
259
Em dezembro de 2024, autoridades mexicanas realizaram uma operação em Sinaloa que resultou na
apreensão de uma tonelada e meia de fentanil, quantidade suficiente para produzir 20 milhões de doses
e com valor estimado de 400 milhões de dólares. https://www.eleconomista.com.mx/opinion/fentanilo-
crisis-alcanzo-20250122-743190.html
260
https://www.brasil247.com/mundo/china-critica-tarifas-de-trump-e-diz-que-fentanil-e-problema-
dos-eua
282
Neste novo mapa da produção de coca de Colômbia, Bolívia e Peru261, foram
incorporadas Venezuela, Equador262 e várias áreas da América Central263. Um acontecimento
preocupante foi o estabelecimento de plantações industriais de coca na Venezuela264,
Guatemala e Honduras que replicaram o sistema de produção de cocaína estabelecido na
Colômbia, com plantações de coca próximas a laboratórios e pistas de pouso.
261
Embora o cultivo de coca tenha crescido exponencialmente na Colômbia, os outros países produtores,
Peru e Bolívia, também registraram aumentos. O que é preocupante em ambas as nações é como o caos
político está empurrando as estratégias de combate ao narcotráfico cada vez mais para baixo na lista de
prioridades governamentais. https://insightcrime.org/es/noticias/gamechangers-2023-cocaina-
fogonazo-estallido-2024/
262
No final de 2024, o presidente Daniel Noboa confirmou a descoberta de 2.000 hectares de plantações
de coca no Equador. Ao mesmo tempo, as Forças Armadas destruíram 12 laboratórios de drogas.
Especialistas sugerem que o país passou da fase de trânsito para a fase de processamento da substância.
https://www.ecuavisa.com/la-noticia-a-fondo/ecuador-pais-productor-y-refinador-de-coca-expertos-
responden-la-interrogante-XY8155077
263
Quase metade do norte da América Central tem condições agrícolas ideais para o cultivo de coca, a
matéria-prima da cocaína, de acordo com um novo estudo que alerta para a potencial expansão desse
cultivo ilícito na região. https://insightcrime.org/es/noticias/centroamerica-predispuesta-expansion-
coca/
264
A Venezuela se tornou um país de trânsito para um produtor de cocaína. Um estudo do 'Insight Crime'
afirma que durante o mandato de Maduro, a produção em plantações e laboratórios aumentou. "O tráfico
de drogas ganhou importância como um componente das estratégias de Maduro para se manter no poder
diante dos ataques sofridos por seu governo", afirma o Insight Crime.
https://elpais.com/internacional/2023-03-14/venezuela-de-pais-de-transito-a-productor-de-
cocaina.html
265
A América Latina está passando por uma grande transformação na forma como as estruturas do crime
organizado operam na região. A composição atual das gangues criminosas, o tipo de negócio que realizam,
a amplitude do território que seus tentáculos alcançam e o anonimato de muitos de seus líderes são
alguns dos fatores por trás dessa transformação. Uma tendência é a fragmentação. do crime paisagem
não era comum há cerca de dez anos. A segunda característica é a diversificação dos negócios desses
grupos, que vão desde o tráfico de pessoas e armas, prostituição, expansão de drogas sintéticas,
falsificação de medicamentos, assassinatos por encomenda e mineração ilegal, entre outros. Uma terceira
característica que podemos destacar é o anonimato dos líderes dessas organizações, que no passado
gostavam de se gabar de suas fortunas e poder. Por fim, outra característica é que esses grupos e o crime
organizado se espalharam por todos os países da América Latina, mesmo aqueles que costumavam ser
relativamente livres do crime organizado e que experimentaram um aumento na insegurança, violência e
ilegalidade. https://www.bbc.com/mundo/articles/cjmd4v847ewo
283
seguro e resiliente frente à desaceleração econômica global. Para sua extração, é necessário o
uso de mercúrio, um metal altamente tóxico empregado na separação do ouro de rochas e
sedimentos.
Todas essas atividades estão se expandindo na região, tanto em áreas florestais – como
a Amazônia, que abrange diversos países da América do Sul, as bacias do Orinoco na
Venezuela266 e o interior da Guiana e do Suriname – quanto em áreas urbanas, como a cidade
de Rosário, na Argentina267, e uma presença cada vez maior em Montevidéu, no Uruguai268.
266
https://nuso.org/articulo/el-arco-minero-del-orinoco/
267
A cidade de Rosário, localizada 300 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, tornou-se conhecida como
a cidade mais perigosa da Argentina, com a maior taxa de homicídios do país. Em 2023, o Centro de
Estudos Latino-Americanos sobre Insegurança e Violência da Universidade de Tres de Febrero determinou
que em 2020 houve 16,4 pessoas assassinadas por 100.000 habitantes. Segundo o Observatório de
Segurança Verisure, Rosário também foi a cidade com maior número de atos criminosos do país no ano
passado. https://www.bbc.com/mundo/articles/cy6zd2gv734o
268
CROCI, G (2024) “Criminalidad y Crimen Organizado en Uruguay: Alguna Recomendaciones para la
Reducción de la Violencia”. Disponible en: https://confederacionuy.com/wp-
content/uploads/2024/06/anexo-cce-uruguay-y-crimen-organizado.pdf
269
https://www.paho.org/es/temas/cambio-climatico-salud
270
https://www.caf.com/es/actualidad/noticias/el-cambio-climatico-acentua-la-crisis-migratoria-de-
america-latina-y-el-
caribe/#:~:text=Cada%20vez%20m%C3%A1s%20latinoamericanos%20y,por%20desastres%20en%20las
%20Am%C3%A9ricas.
284
indicadores, as alterações climáticas poderão resultar em mais de 250.000 mortes por ano nas
próximas décadas. Além disso, os eventos climáticos extremos forçam populações humanas e
animais a migrarem, o que, ao intensificar o fluxo e o contato entre esses grupos, acelera a
propagação de doenças – abrangendo tanto aquelas transmitidas entre humanos quanto as que
afetam plantas e animais, que são fundamentais como fontes de alimento e para a manutenção
de ecossistemas complexos.
Nesse sentido, torna-se cada vez mais necessário incorporar a abordagem de “Saúde
Única” ou “One Health”271. Um exemplo importante dos efeitos deletério do aquecimento global
é a questão dos mosquitos e das doenças transmitidas por eles. A elevação das temperaturas
prolonga a temporada de mosquitos e outros insetos – vetores de doenças – e com isso as
probabilidades de se espalhar geograficamente.272. A Organização Mundial da Saúde já alertou
sobre a disseminação da dengue e da chikungunya para além das áreas onde historicamente
estavam confinadas.
271
O conceito de “One Health” ou “Saúde Única" afirma que a saúde humana e a saúde animal são
interdependentes e estão ligadas aos ecossistemas nos quais coexistem. Nesse sentido, é definido como
“os esforços colaborativos de múltiplas disciplinas (pessoal médico, veterinários, pesquisadores, etc.) que
trabalham local, nacional e globalmente para alcançar a saúde ideal para pessoas, animais e nosso meio
ambiente”.
272
Como o World Mosquito Program coloca, "Doenças transmitidas por mosquitos matam mais de um
milhão de pessoas e infectam até 700 milhões a cada ano – quase uma em cada dez pessoas. À medida
que o planeta aquece e as mudanças climáticas prolongam a temporada de mosquitos, os mosquitos têm
mais probabilidade para se espalhar para outras partes do mundo. Os mosquitos, criaturas mais mortais
do mundo, expandirão seu alcance geográfico para novas regiões e ressurgirão em áreas onde o número
de mosquitos vinha diminuindo há décadas. Padrões climáticos extremos, como secas, ondas de calor,
inundações e chuvas, estão aumentando em gravidade e regularidade em todo o mundo. Tudo isso cria
condições favoráveis para a reprodução dos mosquitos e pode contribuir para a disseminação de seus
vírus para latitudes e altitudes mais altas”. https://www.worldmosquitoprogram.org/es/noticias-
historias/historias/explicativo-como-el-cambio-climatico-esta-amplificando-las
273
As tarifas de importação tornariam os produtos chineses mais caros para os consumidores americanos,
que acabariam tendo que pagar uma parcela significativa do custo de importação de tudo, de brinquedos
a roupas, o que provavelmente teria um efeito cascata na inflação americana.
274
A resposta oficial de Pequim à nova onda de tarifas de Donald Trump não demorou a chegar. A China
demonstrou sua rejeição total à "ação errônea" dos Estados Unidos de impor um imposto adicional de
10% sobre produtos importados do país asiático. A República Popular da China apresentará uma queixa à
Organização Mundial do Comércio (OMC) e tomará as contramedidas correspondentes para salvaguardar
firmemente seus direitos e interesses. https://elpais.com/internacional/2025-02-02/china-llevara-los-
aranceles-de-trump-a-la-omc-y-anuncia-contramedidas.html
285
aprofundamento das relações com a China e outras parcerias, incluindo nações dos BRICS. Esse
reposicionamento estratégico, no entanto, pode gerar novos conflitos e desafios diplomáticos
na região.275
A tensão entre Estados Unidos e China poderá levar o país asiático a evitar investimentos
em Títulos do Tesouro dos EUA282, possivelmente redirecionando esses recursos para a América
275
Historicamente, a América Latina tem sido considerada dentro da esfera natural de influência dos
Estados Unidos e um importante parceiro comercial dada sua proximidade geográfica. No entanto, as
relações entre as duas regiões não estão tão intimamente interligadas como antes. Os governos recentes
dos EUA se concentraram em outras regiões, como Oriente Médio e Ásia, e o envolvimento dos EUA com
a América Latina diminuiu. Enquanto isso, nos últimos dez anos, a China expandiu significativamente sua
influência na região por meio do aumento do comércio, investimento e crédito. À medida que as tensões
entre os Estados Unidos e a China continuam a aumentar, os laços estreitos da América Latina com a
China representam dilemas políticos significativos para os Estados Unidos. A chegada de Trump com sua
Recarga da Doutrina Monroe aumenta a possibilidade de tensões na América Latina
276
incluindo maior uso e exploração do porto de Chancay, operado pela COSCO
277
Em 11 de maio de 2023, a China e o Equador assinaram oficialmente o Acordo de Livre Comércio entre
o Governo da República Popular da China e o Governo da República do Equador, que entrou em vigor em
1º de maio de 2024. https://fta-mofcom-gov-
cn.translate.goog/topic/enecuador.shtml?_x_tr_sch=http&_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=es&_x_tr_hl=es&_x_tr
_pto=wa
278
Em 1º de janeiro de 2024, o Acordo de Livre Comércio entre a Nicarágua e a República Popular da China
entrou em vigor, avançando a passos largos para fortalecer ainda mais a unidade, o desenvolvimento, a
prosperidade e o futuro de ambos os povos e nações. https://www.lagaceta.gob.ni/tratado-de-libre-
comercio-entre-nicaragua-y-la-republica-popular-china-avanza-a-pasos-de-gigante/
279
22 capítulos do Acordo de Livre Comércio entre China e Honduras já foram negociados.
https://www.elheraldo.hn/honduras/que-se-ha-acordado-tratado-libre-comercio-honduras-china-
FF20078386.
Essa importante cooperação "fortalecerá" as relações diplomáticas entre Honduras e China, mas também
terá um "impacto positivo" nas comunidades hondurenhas, onde o projeto proporcionará oportunidades
educacionais, melhorias na infraestrutura escolar e beneficiará milhares de estudantes.
https://www.swissinfo.ch/spa/honduras-y-china-firman-acuerdo-para-estudio-sobre-proyecto-de-
infraestructura-
escolar/86784078#:~:text=Destac%C3%B3%20adem%C3%A1s%20que%20esta%20importante,beneficia
r%C3%A1%20a%20miles%20de%20estudiantes.
280
Em 2024, El Salvador e China iniciaram negociações para um acordo de livre comércio e estabeleceram
um grupo de trabalho para estabelecer a estrutura geral. O acordo não apenas fortalecerá o comércio
entre os dois países, mas também incentivará o investimento chinês em El Salvador.
https://www.elsalvador.com/noticias/negocios/el-salvador-china-tlc/1136739/2024/
281
Desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Panamá em 2017, um novo
capítulo foi aberto no relacionamento bilateral. Nestes sete anos, as relações bilaterais desenvolveram-
se de forma constante e a cooperação econômica e comercial rendeu frutos abundantes.
282
A China vem acumulando constantemente títulos do Tesouro dos EUA nas últimas décadas. Em
dezembro de 2019, o país asiático detinha US$ 1,07 trilhão, ou cerca de 5%, da dívida nacional dos EUA,
286
Latina, especialmente para grandes economias como o Brasil – que atua como porta de entrada
para o MERCOSUL – e o México, caso regularize sua situação com os Estados Unidos para acessar
seus mercados por meio do USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá). Além disso, como
parte de seu compromisso estratégico, a China deverá buscar novos “swaps bancários” e
acordos que permitam utilizar o yuan como moeda de transação com um número crescente de
governos regionalmente alinhados, contribuindo assim para reduzir a dependência do dólar
americano.
A crescente relação entre a região e a China deverá intensificar os fóruns bilaterais, com
a provável realização da Cúpula China-CELAC ainda este ano, abrindo uma janela de
oportunidade cuja neutralização pelos Estados Unidos é incerta. Além disso, a próxima Cúpula
do BRICS, a ser realizada no Brasil em outubro de 2025, representará um marco crucial para o
reposicionamento da China na região, possivelmente atraindo novos parceiros estratégicos.
Nesta primeira edição dos Cadernos de 2025, concluímos que este será um ano de
importantes desafios para a região. Nas primeiras semanas de janeiro já experimentamos crises
políticas e muitas incertezas com relação ao futuro da cooperação regional e um possível
aprofundamento da fragmentação política latino-americana. O panorama de segurança na
América Latina se agrava diante da expansão e diversificação das atividades ilícitas, que
abrangem desde o narcotráfico e o tráfico humano até a mineração ilegal e o comércio de
opioides como o fentanil. Essa conjuntura complexa, que impulsiona deslocamentos forçados e
reforça a vulnerabilidade dos migrantes, evidencia o papel central que os grupos criminosos
transnacionais têm assumido na região, promovendo não apenas conflitos e instabilidade
política, mas também sérios danos ambientais e riscos à saúde pública. Para piorar, o
recrudescimento das políticas migratórias de Trump, aumenta a exposição da população forçada
a se deslocar a redes de criminosos com a esperança de escapar do controle migratório. Diante
desse cenário multifacetado, torna-se imperativo o desenvolvimento de políticas integradas e
de US$ 23 trilhões, uma parcela maior do que qualquer outro país estrangeiro. Alguns analistas e
investidores temem que a China comece a vender títulos do Tesouro dos EUA em retaliação e que essas
ações possam aumentar as taxas de juros, o que poderia prejudicar o crescimento econômico.
https://www.tecnicasdetrading.com/2021/10/china-compra-bonos-tesoro-eeuu.html
283
https://www.lapatilla.com/2024/02/24/la-avanzada-china-sobre-la-seguridad-de-america-latina-y-el-
caribe/
284
O Plano de Ação Conjunta China-CELAC foi assinado na Terceira Reunião Ministerial do Fórum China-
CELAC realizada virtualmente em 3 de dezembro de 2021, para o período de 2022-2024 e identifica a
Cooperação como seu primeiro capítulo. Política e Segurança. Também promove a cooperação para
intercâmbios e atividades na área aeroespacial. O plano pode ser consultado em:
https://www.mfa.gov.cn/esp/wjdt/gongbao/202112/t20211213_10467311.html
287
cooperação regional que consigam enfrentar os desafios comuns de forma eficaz e garantir a
proteção das populações afetadas.
288
África
Abstract. This report addresses several crucial aspects of Africa's development, ranging from
agriculture and food security to health, the environment, the importance of data and statistics,
and international cooperation. The African Union has adopted a new Strategy and Action Plan
(2026-2035) for the Comprehensive Africa Agriculture Development Program (CAADP). Economic
and financial challenges require the mobilization of domestic resources, the fight against illicit
financial flows, and Africa's participation in building a fairer and more inclusive global financial
system. The WHO-AFRO report highlights the need for greater efforts to ensure that people have
access to quality health services without facing financial hardship. In the Great Lakes region, the
armed group M23, supported by Rwandan troops, has seized the city of Goma in the Eastern
Democratic Republic of Congo (DRC). The African Union has condemned the M23 attacks and
demanded the withdrawal of foreign forces. The humanitarian situation in Goma is dire, with
hospitals overcrowded, bodies in the streets, and basic services disrupted. Pope Francis has also
called for an end to the violence. The civil war in Sudan has worsened the humanitarian crisis,
with an increase in civilian casualties, displacement, and famine. Both conflicts highlight serious
humanitarian crises, with violence, displacement, and famine, requiring urgent international
action for peace and assistance.
Resumo. Este informe aborda diversos aspectos cruciais para o desenvolvimento da África,
desde a agricultura e segurança alimentar, até à saúde, meio ambiente, a importância de dados
e estatísticas e à cooperação internacional. A União Africana adotou uma nova Estratégia e Plano
de Ação (2026-2035) para o Programa Abrangente de Desenvolvimento da Agricultura Africana
(CAADP). Desafios econômicos e financeiros demandam mobilização de recursos domésticos,
do combate aos fluxos financeiros ilícitos e da participação da África na construção de um
sistema financeiro global mais justo e inclusivo. O relatório da OMS-AFRO destaca a necessidade
de mais esforços para garantir que as pessoas tenham acesso a serviços de saúde de qualidade
sem enfrentar dificuldades financeiras. Nos Grandes Lagos, o grupo armado M23, apoiado por
tropas ruandesas, tomou a cidade de Goma, no leste da República Democrática do Congo (RDC).
A União Africana condenou os ataques do M23 e exigiu a retirada de forças estrangeiras. A
situação humanitária em Goma é grave, com hospitais lotados, corpos nas ruas e serviços
básicos interrompidos. O Papa Francisco também pediu o fim da violência. A guerra civil no
Sudão agravou a crise humanitária, com aumento de vítimas civis, deslocamentos e fome.
Ambos os conflitos destacam crises humanitárias graves, com violência, deslocamentos e fome,
exigindo ação internacional urgente para paz e assistência.
289
União Africana
Uma nova Estratégia e Plano de Ação do CAADP de 10 anos, a ser implementada de 2026
a 2035, foi adotada numa Cimeira Extraordinária da União Africana em Kampala, Uganda. Esta
estratégia visa aumentar a produção agroalimentar do continente em 45% até 2035, reduzir as
perdas pós-colheita em 50%, triplicar o comércio intra-africano de produtos agroalimentares e
aumentar a proporção de alimentos processados localmente para 35% do PIB agroalimentar até
2035.
• Estimular o investimento
• Promover parcerias
• Capacitar os pequenos agricultores vulneráveis
• Promover a agricultura resiliente ao clima
• Melhorar as infraestruturas
• Reduzir o desperdício alimentar
• Melhorar o comércio regional de produtos agrícolas
A estratégia está alinhada com a Agenda 2063 da União Africana, que visa uma África
próspera baseada no crescimento inclusivo e no desenvolvimento sustentável. A estratégia
290
também pretende abordar desafios como as alterações climáticas, os conflitos, o rápido
crescimento populacional e as perturbações económicas que exacerbam a insegurança
alimentar em África.
A nova estratégia e plano de ação é diferente das declarações de Malabo e Maputo, pois
inclui uma estratégia abrangente e um plano de ação, o que permite que os estados membros
comecem a implementar imediatamente após a adoção. A estratégia enfatiza a importância dos
sistemas agroalimentares no crescimento económico e na garantia da segurança alimentar,
melhorando a nutrição e os resultados sustentáveis de saúde para todos.
Outro fator crucial é que a África é a única região onde as agências de classificação de risco
aplicam ratings nacionais a todas as atividades. Por exemplo, se o país X possui uma
classificação ruim, uma empresa, um investimento ou um projeto específico será classificado
como o país, independentemente de seu mérito. Assim, ao pagar as taxas de juros mais
altas, a África possui a menor liquidez e é classificada como de alto risco pelas agências de
classificação de risco.
291
A dívida da África gira em torno de US$ 1,1 trilhão. Você acha que isso não é um problema?
Não, não é um problema. Se você analisar o nível da dívida soberana da África, verá que é
insignificante, muitas vezes de um único dígito. O sistema financeiro global não teria
dificuldade em absorver tal nível de dívida. Lembra da frase "too big to fail"? Algumas
empresas foram socorridas a custos superiores à dívida total da África.
Existem três questões na arquitetura financeira internacional que devem ser abordadas:
Algumas dessas regras são mais rigorosas agora do que eram antes da crise financeira
global de 2008-2009. As regras tentam corrigir erros que a África não cometeu.
Podemos fazer mais? Claro que sim. Mas temos limitações porque 80% de nossas
exportações são commodities. Não controlamos seus preços, que dependem de choques de
demanda exógena.
292
Um país como a Nigéria, com 6% de pressão fiscal, pode tributar mais. Mas lembre-se, para
arrecadar mais internamente é necessário criar as condições certas para a transformação
estrutural, o que depende do acesso à liquidez. É uma espécie de problema cíclico.
Onde eu acho que não estamos fazendo o suficiente é no uso do dinheiro em fundos
institucionais como fundos de pensão. Há muito dinheiro lá que não está sendo usado
produtivamente.
Mas com a geopolítica, se você tentar renegociar contratos e apertar os controles, pode
perder investimentos.
Quando entrevistei você há 10 anos, você estava bastante otimista com as perspectivas
econômicas da África. Você ainda está otimista?
Sim. Se você olhar a perspectiva recém-publicada do FMI, nove das 20 economias que mais
crescem são africanas. A África é a segunda região que mais cresce, depois do Sudeste
Asiático.
Do ponto de vista demográfico, os custos do envelhecimento nas sociedades mais ricas serão
exponenciais e trarão consequências em termos de padrões de consumo e capacidades de
absorver novos desenvolvimentos tecnológicos que vão acelerar de forma bastante
significativa com a IA.
Acredito também que, devido à demografia, haverá outros tipos de migração, como a
migração digital, onde os serviços serão muito caros para serem mantidos em determinadas
jurisdições e será mais fácil distribuí-los com IA e enormes capacidades de conversão em
outras regiões.
293
A discussão na Espanha se concentrará em mudanças sistêmicas na arquitetura financeira
internacional.
A África não pode ficar para trás no surgimento de uma arquitetura financeira internacional
que abrace um novo tipo de transação e modelo de interoperabilidade.
A África também deve defender reformas que vão além do empréstimo concessional e
desempenhar um papel integral na construção de um sistema financeiro global mais justo e
inclusivo.
OMS AFRO
Um novo relatório do Escritório da OMS para a África afirma que tratamentos onerosos
pagos do próprio bolso afetam mais de 200 milhões de pessoas no continente, empurrando 150
milhões para a miséria.
❖ impor uma carga financeira a mais de 200 milhões de pessoas, incluindo empurrar
mais de 150 milhões para a pobreza ou aprofundá-la (dados mais recentes, de 2019)
em toda a Região Africana da OMS;
❖ exigir um alto preço da saúde das pessoas;
❖ dificultar o progresso no alcance de acesso/cobertura universal de saúde.
Apesar dos esforços dos países para construir sistemas de financiamento de saúde mais
sustentáveis, é preciso fazer mais para que as pessoas em toda a África tenham acesso aos
serviços de saúde de qualidade de que precisam, quando e onde precisam deles, sem ter que
enfrentar dificuldades financeiras, acrescentou a Dra. Moeti.
294
Deve-se dizer que, embora em ritmo mais lento que no mundo, houve progresso no
mesmo período, com a redução pela metade do número total de pessoas empurradas para a
pobreza ou aprofundadas nela devido a pagamentos diretos entre 2000 e 2019.
O relatório destaca boas práticas de vários países para enfrentar o ônus dos pagamentos
diretos, por exemplo, abolindo as taxas dos pacientes no momento do atendimento,
introduzindo esquemas de seguro de saúde e aumentando progressivamente a dependência dos
serviços de saúde financiados pelo governo.
295
Espero que este relatório fortaleça a determinação dos países em melhorar a proteção
financeira em saúde para suas populações e em investir em melhor geração, análise e uso de
dados para informar uma tomada de decisão mais eficaz, disse a Dra. Moeti.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO),
os locais de terra ou solo com altas concentrações de chumbo são os mais prevalentes dos
elementos traço.
Muitas crianças são expostas por contato direto, leite materno e até mesmo como fetos
em desenvolvimento quando as mães grávidas entram em contato com o chumbo.
296
Uma das fontes mais alarmantes de envenenamento por chumbo vem do
gerenciamento inadequado de e-waste e baterias de chumbo-ácido usadas (ULAB, Used Lead-
Acid Batteries). As práticas de reciclagem informais liberam partículas de chumbo no meio
ambiente, colocando em risco inúmeras comunidades.
Importância da Resolução:
A Resolução 3/9 é um marco importante na luta contra a poluição por chumbo, pois
reconhece a gravidade do problema e estabelece um plano de ação global. Ao abordar tanto a
exposição ao chumbo em produtos como tintas quanto o gerenciamento inadequado de
baterias, a resolução contribui para a proteção da saúde humana e do meio ambiente.
297
Implicações para a África:
A África é uma região particularmente afetada pela poluição por chumbo, e a Resolução
3/9 oferece um roteiro para os países africanos implementarem políticas e medidas para reduzir
a exposição ao chumbo. Ao adotar as recomendações da resolução, os países africanos podem
proteger a saúde de suas populações, especialmente as crianças, e promover o desenvolvimento
sustentável.
O caminho para um futuro mais seguro exige mais do que mudanças políticas e
investimentos. Exige um compromisso de proteger os mais vulneráveis.
Essa compreensão nos impulsiona a agir melhor para proteger o meio ambiente e a
saúde pública para nós mesmos e para as futuras gerações.
O facto de um em cada três africanos não ser contabilizado como país que não cumpre
os prazos do censo é um enorme revés para o planejamento do desenvolvimento.
Os governos africanos falam da importância dos dados, mas o investimento muitas vezes
fica aquém, diz Chinganya ao IPS. Ele destaca a urgência, apontando para a participação desigual
da África nos ciclos de censos liderados pela ONU desde 1990. Ele alertou que 376 milhões de
pessoas corriam o risco de não serem contabilizadas se mais países não participassem do censo.
Na Cúpula dos ODS em 2023, a ONU lançou "O Poder dos Dados" para desbloquear o
Dividendo de Dados como uma das 12 iniciativas de alto impacto para ajudar a ampliar os ODS.
298
Os governos africanos se comprometeram a investir 0,15% de seus orçamentos nacionais no
setor de estatísticas, mas poucos países cumpriram isso.
O Inter Presse Service (IPS) conversou com Chinganya, após a 11ª reunião do Fórum para
o Desenvolvimento Estatístico Africano (FASDEV), uma iniciativa da Comissão Econômica para a
África (ECA), que promove conexões entre países, parceiros e instituições que apoiam o
desenvolvimento estatístico. A seguir transcreve-se esta entrevista.
IPS: Do que realmente estamos falando quando mencionamos dados e estatísticas e por que
eles são importantes para o desenvolvimento da África?
Oliver Chinganya: Dados e estatísticas são muito importantes; eles são usados para
planejamento em diferentes níveis. Não é apenas o governo que precisa de dados hoje em
dia, mas todos. Antes de ir ao mercado para comprar o que quiser, você sempre precisa de
dados primeiro para tomar decisões antes de comprar - quanto custa e o que você precisaria
para trazer essas coisas para casa. No nível do governo, decisões semelhantes às que você
toma no nível doméstico estão sendo tomadas, onde o governo está fazendo perguntas
sobre o que precisamos planejar para podermos nos desenvolver. Por exemplo, de quantas
escolas precisamos e que tipo de currículo precisamos implementar? Que tipo de estradas
precisamos? Quais sistemas de produção são necessários no país? São necessários
diferentes dados e estatísticas para poder informar decisões. As estatísticas fornecem
evidências para as políticas. Eles ajudam a estabelecer metas, identificar necessidades e
monitorar o progresso. É impossível aprender com os erros e responsabilizar os
formuladores de políticas sem boas estatísticas. Boas estatísticas são cruciais para gerenciar
a prestação de serviços básicos de forma eficiente e eficaz, e desempenham um papel crucial
na melhoria da transparência e da prestação de contas. As estatísticas contribuem para o
progresso do desenvolvimento, não apenas como uma ferramenta de monitoramento, mas
também como uma ferramenta para impulsionar os resultados medidos pelas estatísticas.
Em termos de desenvolvimento nacional, as estatísticas desempenham um papel muito
importante.
299
IPS: Quais conquistas foram alcançadas e quais desafios foram encontrados?
Chinganya: Os países africanos fizeram progressos muito bons na realização de censos
populacionais. Em rodadas de censo anteriores, os países levavam de dois a cinco anos para
coletar e disseminar os dados, mas com sistemas modernizados, isso foi reduzido para 45
dias em alguns países. Este é um grande marco. A ECA introduziu um programa de liderança
estatística, que levou a mudanças em todo o continente. Nesse programa, os estatísticos
são mantidos atualizados e apresentados a maneiras de gerenciar sistemas estatísticos,
aumentando assim suas capacidades em toda a linha. O surto da doença do coronavírus
(Covid-19) expôs a vulnerabilidade dos sistemas estatísticos nacionais africanos tanto em
suas operações rotineiras quanto, mais particularmente, em suas atividades de coleta de
dados em campo. Para responder a esses desafios, a ECA aumentou a capacidade e forneceu
suporte técnico aos Estados-Membros na produção e disseminação de estatísticas
econômicas e contas nacionais harmonizadas e comparáveis, seguindo os padrões
estatísticos internacionais.
IPS: O que precisa ser feito para ajudar os países que não conseguiram realizar censos, o que,
segundo você, terá impacto nos ODS?
Chinganya: Para os países que progrediram em direção aos ODS, eles precisam de apoio
para acelerar seu progresso para que até 2030 possam atingir esses ODS. Os governos
devem investir um pouco mais em dados e estatísticas. Eles não devem esperar que outros,
incluindo parceiros de desenvolvimento, façam isso por eles. Estes são seus dados. Todos os
governos reconhecem a importância dos dados. Mas se for importante, então eles devem
valorizar o que é importante. O que é necessário são recursos, priorização e garantir que
dados e estatísticas façam parte dos processos de desenvolvimento nacional, desenvolvendo
uma estratégia nacional para estatísticas.
Na reunião anual dos embaixadores, Emmanuel Macron fez um discurso que reflete uma
visão neocolonial ultrapassada e uma incompreensão das dinâmicas internacionais atuais. Este
discurso, longe de tranquilizar, destaca os desafios colossais enfrentados pela política externa
francesa, especialmente na África e em relação à Rússia.
300
nações africanas à autonomia. À semelhança das críticas formuladas pelos líderes dos BRICS,
esse discurso revela a incapacidade da França de se adaptar a uma nova ordem mundial
multipolar. Ao se apegar a um modelo ultrapassado, Paris não apenas alimenta as tensões, mas
também se priva das oportunidades que uma cooperação sincera e equitativa com a África
poderia oferecer.
O fracasso das intervenções francesas em África, como no Mali, ilustra uma estratégia
mal definida centrada na militarização das relações internacionais. Inicialmente entendida como
uma missão de paz, a intervenção no Sahel transformou-se num pântano de conflitos,
acentuando a deslocação de populações e o sofrimento local. Ao mesmo tempo, a exploração
dos recursos naturais de África por empresas francesas, muitas vezes sob o pretexto de
cooperação, continua a manchar a imagem da França no continente. Este fracasso estende-se
também às suas relações internacionais, onde a França parece marginalizada, nomeadamente
no seio da União Europeia e face ao poder crescente dos países emergentes.
A captura de Goma ocorreu após um período de 48 horas imposto pelo M23 para que o
Exército da RDC depusesse as armas. Num comunicado de imprensa, o M23 pediu aos residentes
de Goma que se mantivessem calmos.
301
Por seu turno, o Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi,
garantiu que estava em curso "uma resposta vigorosa" no Leste do país e alertou para o risco de
uma escalada regional do conflito.
Goma, capital da província do Kivu-Norte e principal cidade do leste da RDC, foi ocupada
pelo grupo armado anti-governamental M23 e por tropas rwandesas, que tomaram o aeroporto.
Por sua vez, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o seu homólogo rwandês,
Paul Kagame, mantiveram uma conversa telefónica sobre o conflito intensificado no leste da
República Democrática do Congo (RDC). De acordo com uma declaração presidencial divulgada
em Pretória, “os dois chefes de Estado concordaram sobre a necessidade urgente de um cessar-
fogo e da retomada das conversações de paz entre todas as partes no conflito”.
Entretanto, num comunicado, citado pela Prensa Latina, o Chefe de Estado sul-africano
explicou como a presença de soldados sul-africanos na zona oriental da República Democrática
do Congo não constitui uma declaração de guerra contra qualquer país ou Estado.
Os membros da Força de Defesa Nacional Sul-Africana (Sandf, sigla em inglês) que estão
na RDC, lembrou, fazem parte dos esforços da Comunidade de Desenvolvimento da África
Austral (SADC) e das Nações Unidas para alcançar a paz e proteger milhares de vidas que são
constantemente ameaçados pelo conflito naquela nação.
“A presença das forças da Missão da SADC na República Democrática do Congo (SAMIDRC)
demonstra o compromisso dos Estados Membros da SADC em apoiar este país nos seus
esforços para alcançar uma paz e estabilidade duradouras e, em última análise, criar um
ambiente conducente ao desenvolvimento sustentável e à prosperidade”, destacou
Ramaphosa.
Estes combates, tal como descritos no texto, são o resultado de uma escalada de
combates por parte do grupo armado M23 e da milícia das Forças de Defesa do Rwanda (RDF),
que enfrenta as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) e ataca as forças
de manutenção da paz do SAMIDRC.
302
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana expressou profunda preocupação com
o aumento das tensões entre a República Democrática do Congo (RDC) e Rwanda, resultando
em mortes, feridos e deslocamentos.
O CPS exigiu que o M23, as ADF e as FDLR, bem como outros grupos armados que
operam no leste de da RDC, cessassem imediata e incondicionalmente os seus ataques,
dispersassem e depusessem permanentemente as suas armas.
Por último, elogiou os esforços do líder angolano, João Manuel Lourenço, como
Presidente da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos e Advogado da UA
para a Paz e Reconciliação, por facilitar o diálogo entre Kinshasa e Kigali e instou a continuar a
expandir a sua cooperação e colaboração aos esforços do facilitador.
"A situação humanitária é extremamente grave em Goma exige uma atenção imediata
da comunidade internacional. Em nome da comunidade humanitária na RDC, apelo ao respeito
pelo direito humanitário internacional e à proteção dos civis por todas as partes", afirmou
Lemarquis através das redes sociais.
Um dirigente da sociedade civil local disse à agência de notícias espanhola EFE que pelo
menos 111 corpos de civis, rebeldes e soldados foram recolhidos entre quarta-feira e quinta-
feira nas ruas da cidade.
303
Por outro lado, Lemarquis denunciou que vários centros de saúde e armazéns foram
saqueados, o que compromete a resposta humanitária.
Estes ataques, que, segundo o Comissário, visaram o material armazenado das agências
da ONU e das Organizações Não-Governamentais humanitárias, implicaram a perda de
quantidades significativas de alimentos, medicamentos e equipamento médico essencial.
Enquanto a guerra civil faz estragos no Sudão, a crise humanitária nacional continua a
piorar. O conflito armado causou uma escalada no número de vítimas civis e deslocamentos nos
últimos meses. Além disso, a fome ameaça as áreas mais afetadas pelo conflito no país, o que é
agravado por restrições mais rígidas que impedem a entrega de ajuda humanitária. Apesar de
numerosos apelos da comunidade internacional para a cessação das hostilidades, os esforços
de socorro estão gravemente subfinanciados.
304
de 2024. Aproximadamente 80 pessoas morreram e 400 ficaram feridas como resultado de
bombardeios de artilharia no oeste de Darfur. Civis e grupos de ajuda humanitária, incluindo
Médicos Sem Fronteiras (MSF), atribuíram essas baixas às hostilidades perpetradas pelas Forças
de Apoio Rápido (RSF).
De acordo com a Diretora Adjunta da Organização das Nações Unidas para Alimentação
e Agricultura (FAO), Beth Bechdol, a vasta escala da fome é resultado direto da guerra
prolongada, do deslocamento e do acesso humanitário restrito. Além disso, o relatório da IPC
afirma que "somente uma cessação imediata das hostilidades pode impedir que a crise piore".
305
Considerações finais
Saúde e resiliência
• A UA, juntamente com o CDC África e o UNICEF, estabeleceu uma estrutura de parceria
expandida para fortalecer a Atenção Primária à Saúde, gestão da cadeia de suprimentos,
aquisição conjunta, produção local e respostas a emergências de saúde pública;
• O CDC África lançou um programa de liderança em saúde mental, com uma perspectiva
de saúde pública e direitos humanos;
• Um novo Diretor Regional da OMS para África foi eleito e, infelizmente, faleceu antes
de ser confirmado pelo Conselho Executivo da OMS na sua plenária de fevereiro de 2025;
• A União Africana elegeu a educação como tema do ano de 2024, com o objetivo de
"Educar um africano apto para o século XXI".
• Vários eventos de alto nível foram realizados para comemorar o Ano da Educação da
União Africana, com foco na necessidade de transformar os sistemas educacionais em todo o
continente.
306
• A UA também tem dado destaque à educação de raparigas e mulheres através da
campanha continental #AfricaEducatesHer e da 1ª Conferência Pan-Africana sobre a Educação
das Raparigas e das Mulheres;
Paz e Segurança
• A União Africana aderiu ao G20 e juntou-se à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza,
comprometendo-se a prosseguir a missão, os objetivos e os princípios da Aliança;
• O apoio do Canadá à União Africana foi reforçado com o dobro da sua doação;
307
• A implementação da Área de Livre Comércio de África (AfCFTA) continua a ser uma
prioridade;
• A União Africana tem trabalhado para fortalecer as relações com a Turquia, criando
oportunidades de investimento e comércio.
• Na Etiópia, na Cúpula da União Africana, Lula exaltou a união entre Brasil e África.
destacou a importância histórica, cultural e econômica das raízes do Brasil com a África.
“Primeiro, porque eu tenho claro — e gostaria que o Brasil tivesse claro — de que nós temos
que ter uma relação preferencial com o continente africano. Não só porque o continente
africano faz parte da nossa história, da nossa cultura, do nosso jeito de ser, do nosso jeito de
falar, do nosso jeito de cantar, faz parte da nossa cor, mas também porque o continente africano
é um espaço extraordinário de futuro para quem acredita que o Sul Global vai ser a novidade do
século XXI na nova economia mundial”. Anunciou a ampliação da cooperação em saúde com o
continente, com a criação de uma representação da Fiocruz em Adis Abeba. O Presidente da
Fiocruz, Mario Moreira, acompanhou a comitiva brasileira, representando a Ministra da Saúde,
Nísia Trindade Lima, durante o encontro de Ministros da Saúde do continente africano.
285
Tirailleurs Sénégalais", ou Atiradores Senegaleses, eram soldados coloniais franceses recrutados na
África Ocidental para defender a França durante a II Guerra Mundial.
308
Um mundo mais dividido, mais desigual e mais violento. E isso não é uma surpresa
Lúcia Marques
Palavras chaves: Cenário 2024, Riscos 2025, Cessar-fogo em Gaza; Sul Global, EUA x OMS
Abstract: The political, ideological, religious, ethnic, economic and technological wars that took
place in 2024 show no signs of abating in 2025, quite the opposite. What lies ahead is a more
divided, more unequal and more violent world. And this is not a surprise. Considering that the
world is experiencing worsening inequality in times of multiple and overlapping crises, the impact
of the decisions of the new American government, Donald Trump, and the rise of far-right
governments that are segregationist and ignore human rights, 2025 will be a difficult year for a
good half of the world. For countries in the Global South, cooperation and joint work will be their
strengths. The report highlights both negative and positive aspects of 2024 and its
circumstances. The negative aspects involve actors from the superpowers; the positive aspects
286
Esses são os seis princípios muito atuais e que deveriam ser lembrados por governantes; princípios que
contam na primeira Declaração de Cúpula (Istambul, 1997) da Organização D-8 para a Cooperação
Econômica, que reúne oito países (Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Malásia, Nigéria, Paquistão, Turquia)
e tem como foco melhorar as posições desses países em desenvolvimento na economia mundial,
diversificar e criar novas oportunidades nas relações comerciais, aumentar a participação na tomada de
decisões em nível internacional e proporcionar um melhor padrão de vida.
309
involve countries from the Global South, especially from South, West and Central Asia, the Middle
East and Africa. And China's leadership in clean technology and now AI keeps the Asian giant in
the US's sights. • Anticipating the US’s break with the WHO, the three regional bodies worked to
secure more robust contributions from member countries. • After fifteen months, the end of the
war in Gaza has not come; a fragile three-phase ceasefire has been achieved, which could be
interrupted at any time, since the true cause of the war has not been thoroughly addressed. What
can we expect when the new leader of the world’s most warlike power states: “We will continue
to promote peace [in the Middle East] through force throughout the region”?
Keywords: Scenario 2024, Risks 2025, Ceasefire in Gaza; Global South, US x WHO
287
Segundo Geneva Academy, Instituto da Universidade de Genebra - https://geneva-
academy.ch/galleries/today-s-armed-conflicts
288
https://news.un.org/pt/story/2025/01/1843141
289
https://www.youtube.com/watch?v=9DYEQySRY0E
290
https://www.ohchr.org/en/press-releases/2024/05/un-experts-outraged-israeli-strikes-civilians-
sheltering-rafah-camps
310
Aconteceram mais de 70 eleições em todo o mundo, em países que abrigam mais da
metade da população global; entre elas, a eleição americana, que traz de volta ao poder o já
conhecido por suas políticas segregacionistas – e tão belicoso quanto seu antecessor –, Donald
Trump, que já nas primeiras medidas causa sérios impactos para a governança global, para a
saúde, para a ciência, para as questões climáticas e para ações de ajuda humanitária a países e
populações que vivem tragédias e conflitos – muitos deles provocados direta ou indiretamente
pelo país mais poderoso do mundo.
Vimos a queda de Bashar al-Assad, na Síria, que surpreendeu o mundo de certa forma,
embora houvesse sinais de enfraquecimento do exército sírio e aumento da dissidência. Sem
contar que os maiores aliados de Assad, Rússia e Irã, estavam, e ainda estão, cuidando de suas
próprias crises bélicas. O grupo Hay’at Tahrir al-Sham, que tomou o poder, é considerado
terrorista pelos EUA por suas ligações com a Al-Qaida. Formaram um governo provisório e o
discurso é construir uma Síria plural, para todos. Uma incógnita que devemos acompanhar.292
291
Aguiar, F. A América do Sul diante da Europa dm tempos de Trump. In: OBSERVATÓRIO
INTERNACIONAL DO SÉCULO XXI JANEIRO/2025. P. 18.
292
Aguiar, F. Afinal, o que aconteceu na Síria e na Coreia do Sul. In: OBSERVATÓRIO INTERNACIONAL DO
SÉCULO XXI JANEIRO/2025. P. 42.
293
Aguiar, F. Afinal, o que aconteceu na Síria e na Coreia do Sul. In: OBSERVATÓRIO INTERNACIONAL DO
SÉCULO XXI JANEIRO/2025. P. 44.
311
sob a ótica da ética social (capacidade de negociação, cooperação e paz), da etologia294
(capacidade de conflito e extermínio) e da geopolítica (poder, assimetralidade, inimigos e
aliados) podemos visualizar uma trajetória de extermínio de um grupo praticado por Israel e
seus aliados em prol de seus reais interesses em Gaza.295 E se o objetivo da guerra é o extermínio,
o cessar-fogo é frágil296, quiçá, um acordo de paz.297
Mas 2024 não foi de todo negativo. E terá desdobramentos em 2025. Apesar das guerras
e disputas geopolíticas – ou por causa delas -, cresceram as relações de cooperações
multilaterais, trilaterais e bilaterais entre os países do Sul Global, especialmente entre Ásia,
Oriente Médio e África. Os países das três regiões aprenderam a olhar para as oportunidades e
a superar as diferenças - diferentes níveis de desenvolvimento econômico e social, diferentes
realidades geográficas, climáticas, políticas e geopolíticas - e aproveitar as similaridades. Todos
buscam o desenvolvimento tecnológico, sustentável e reduzir as desigualdades. Quando a África
e a China, cuja população combinada chega a cerca de um terço da população mundial,
trabalharem juntas nessa agenda, haverá um efeito cascata em outras regiões, principalmente
no Sul Global.298
294
Etologia é o estudo de comportamento animal.
295
Daniel Barreiros em Guerra, Ética Etologia: fundamentos evolucionários do conflito e da cooperação
na linhagem do homem.p.1.
296
O cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro, será implementado em três fases. A primeira fase
em andamento envolve a troca de reféns, retirada de soldados de áreas densamente povoadas e entrada
de ajuda humanitária (alimentos, medicamentos e combustível). As outras duas fases ainda estão em
negociação: Fase 2, mais troca de reféns e negociação do fim da guerra; Fase 3, quem governará Gaza.
Cessar-fogo em Gaza: como será interrupção do conflito e libertação de reféns - BBC News Brasil
297
Marques, L. Guerra em Gaza: Poder, Ética e Etologia. In: Cadernos CRIS-Fiocruz Informe 12-2024. P
223-228.
298
Paul Frimpong, diretor executivo do Centro de Política e Aconselhamento África-China, um think tank
sediado em Gana. https://2024focacsummit.mfa.gov.cn/eng/zpfh_1/202409/t20240909_11487355.htm
299
Saiba mais em Marques, L. O centro de mundo se deslocando para a Ásia e o Sul Global ficando mais
poderoso. In: Cadernos CRIS-Fiocruz Informe 3-2023. P. 183-192; Marques, L. Fórum de Cooperação
China-África: modernização, desenvolvimento e fortalecimento da Cooperação Sul-Sul. In: Cadernos
CRIS-Fiocruz 16-2024. P.164-168 ; Marques, L. China e países árabes avançam nas relações bilaterais.
In: CRIS-Fiocruz Informe 17-2024, P.263-268 ; Jabbour, E. América do Sul entre a China e o Trump. In:
OBSERVATÓRIO INTERNACIONAL DO SÉCULO XXI JANEIRO/2025. P. 21
312
No entanto, não sejamos ingênuos. Desde o primeiro governo Donald Trump (2017-
2020), que acirrou seu combate à China que foram desde provocações, jogadas geopolíticas,
aplicações de sanções, aumento de tarifas sobre produtos chineses, o estabelecimento de bases
militares e de lançadores de mísseis em países vizinhos da China, aumentando a pressão sobre
Taiwan e no Mar Meridional da China, o gigante vermelho acelerou seu avanço em tecnologias
militares e em acordos de armas. A guerra na Ucrânia e em Gaza aceleraram esse “progresso
militar”. Mas os analistas olham essa elevação em orçamento militar como resposta a uma
política nacional defensiva. Hoje a China foca em tecnologias duais – defesa e economia civil.300
Considerando que a China é um país com mais de 1,4 bilhões de habitantes; que ela
precisa alimentar esse quase um milhão e meio de pessoas; gerar emprego e bem-estar para
toda essa gente; gerar energia e produzir bens de consumo para sua população, observamos
que seus interesses nas relações globais não são bélicos; são para atender essas necessidades.
E todo seu movimento para ser um Estado Nacional que segue as regras estabelecidas pelo
mundo político e financeiro ocidental, visa atender essa população. Suas relações com os
Estados da Ásia Central, da África, do Oriente Médio e da América Latina visam o gigantesco
projeto de integração econômica centrado na Iniciativa Cinturão e Rota ou a Nova Rota da Seda.
Portanto, a estabilidade nessas regiões é de grande interesse de Pequim. E esses países têm seus
próprios interesses e necessidades que podem ser atendidos pela China, que já domina 33 das
44 tecnologias duais,301 que propõem transferência de tecnologias, capacitação e treinamento.
Além de ser um grande mercado com mais de 1,4 bilhões de pessoas. Como escreve, Jabbour,302
a China é desprovida de ideologias nas relações internacionais e com nenhuma propensão ao
proselitismo303. Diferente do discurso americano que foca na defesa bélica e em valores como
liberdade e democracia – embora a América imponha seu poder de veto e pratique coerção com
sanções econômicas e tecnológicas em defesa de sua ideologia.
Mas as duas guerras também contribuíram para o estabelecimento – liderado pela China
e Rússia - de novas alianças, cujos exemplos são o BRICS+ e seus novos Estados membros e a
OCX e seus novos Estados membros, configurando uma base para o Sul Global. E quando se
somam os mais de 53 membros do FOCAC – Fórum China-África, começa a surgir uma nova força
nas relações internacionais e econômicas. É a base para uma nova ordem global.
Além disso, China não é de fazer promessas. Estabelece planos de ação e planos de
trabalho. E os põe em execução. E é isso que atrai os países em desenvolvimento que estão
cansados de promessas.
Outro destaque positivo de 2024 foi o passo inicial dos países desérticos para
transformar as condições negativas e áridas de sua geografia, em riqueza verde, frente à crise
energética e necessidade de descarbonização. 304 Ao mesmo tempo que entram no caminho da
300
Hoje, a China é líder mundial em 37 das 44 tecnologias importantes para o desenvolvimento econômico
e militar do futuro, nos setores de defesa, aeroespacial, robótica, microeletrônica, telecomunicação,
energia nuclear, química e biotecnologia, inteligência artificial e tecnologia quântica. Fiori, J. In: A disputa
de Taiwan, a preparação para a guerra e a inovação tecnológica. P. 30. Boletim_06_Julho-24.pdf (ufrj.br)
301
Fiori, J. In: A disputa de Taiwan, a preparação para a guerra e a inovação tecnológica. P. 30.
Boletim_06_Julho-24.pdf (ufrj.br)
302
Jabbour, E. O Grande Jogo Chinês no Oriente médio. In: Boletim_Observatorio_01-24.pdf (ufrj.br) , p.
21.
303
Intenção de converter
304
Marques, L. Fazendo do limão uma limonada: Região MENA emerge como ator-chave no comércio
do combustível do futuro. In: Cadernos CRIS-Fiocruz Informe 10-2024. P. 254-262
313
transformação energética para energia limpa, criando o hidrogênio verde a partir da energia
eólica e solar, se tornam atores-chave na exportação desse ouro verde para países da Europa,
principalmente, e também para o mundo. E os próprios futuros consumidores começaram a
investir na região MENA (Oriente Médio e Norte da África 305) para garantir essa fonte de
energia limpa.
Nos anos recentes, os EUA foram confrontados por uma potência produtiva, comercial
e tecnológica em ascensão, a China, por economias em crescimento no Sul Global (que
ultrapassaram o PIB do Norte Global em termos de PPC em 2007), por anos de negligência no
investimento de capital doméstico, pela financeirização da economia e a perda da superioridade
na indústria. Não é à toa que China foi definida pelo governo americano Joe Biden307 e agora
também pelo seu sucessor, Donal Trump, como seu grande competidor estratégico que deve
ser cercado e bloqueado em todos os pontos do sistema econômico mundial.308
Como bem resume Andrés Ferrari Haines, enquanto os EUA, com seu apoio às guerras
na Ucrânia e em Gaza, se isolam do mundo não ocidental, a China fortalece as relações
econômicas e de segurança em mais países e regiões.309
É o cenário que vimos em 2024 e parece que não será diferente em 2025. Portanto, nada
de novo no front.
305
O Norte da África está atualmente na vanguarda da energia solar, bem como dos recursos hídricos
renováveis, que em conjunto são utilizados para alimentar a eletrólise para produzir hidrogénio. O
potencial para uma produção significativa de hidrogénio em toda a África é de até 16 mil milhões de
toneladas por ano. Desbloquear esse potencial é uma oportunidade para garantir o fornecimento
global de energia, criar empregos, desenvolver a indústria pesada e transformar o acesso à água limpa
e à energia sustentável. https://www.world-hydrogen-summit.com/africa-forum-programme/
306
https://x.com/aguedescartoon/status/1883954359219745139?t=FLraZ4cNNgMq1SrZ9LS39g&s=08
307
“Competiremos efetivamente com a República Popular da China, que é o único concorrente tanto com
intenção quanto com, cada vez mais, capacidade de remodelar a ordem internacional, ao mesmo tempo em
que aperta uma Rússia perigosa.”https://www.state.gov/translations/portuguese/informativo-estrategia-de-
seguranca-nacional-do-governo-biden-
harris/#:~:text=A%20Estrat%C3%A9gia%20est%C3%A1%20enraizada%20em,do%20modo%20de%20vida%2
0americano.
308
Fiori, J. L. América do sul: um continente partido e tutelado. In: 308 Boletim do Observatório
Internacional do Século XXI, https://nubea.ufrj.br/images/Observatorio/Boletim_09_Janeiro_2025.pdf
pág. 7
309
Boletim do Observatório Internacional do Século XXI, do Grupo de Pesquisa Poder Global e Geopolítica
do Capitalismo do CNPQ/LABEPOG/NUBEA/UFRJ, edição de julho, p. 11. Boletim_06_Julho-24.pdf (ufrj.br)
314
O que atentar para 2025
Como aponta Tom Standage em seu The World Ahead 2025,310 a política de Trump
“América Primeiro” fará amigos e inimigos e isso poderá levar a realinhamentos geopolíticos,
elevar tensões e até proliferação nuclear. Segundo o autor, as economias ocidentais vão um
novo desafio: reduzir os déficits, aumentar os impostos, cortar gastos ou impulsionar o
crescimento. Muitos também podem ter que aumentar os orçamentos de defesa. E não será
diferente nos EUA uma vez que as políticas de Trump piorarão as coisas: pesadas tarifas de
importação podem dificultar o crescimento e reacender a inflação.
Por outro lado, em partes do Oriente Médio, Sul da Ásia e África, há uma população
jovem em expansão que, diante das crises econômicas e da escassez de empregos, o que pode
gerar risco de instabilidade.311
310
https://www.economist.com/the-world-ahead/2024/11/18/tom-standages-ten-trends-to-watch-in-
2025
311
https://www.economist.com/interactive/the-world-ahead/2024/11/18/world-leaders-are-getting-
older-except-in-democracies
315
Mas uma das ações que mais afetará as populações dos países mais vulneráveis e
milhões de pessoas negligenciadas e que vivem em áreas de conflitos ou afetadas pelos eventos
climáticos estremos é a saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS)312 e a retirada
dos financiamentos a agências das Nações Unidas.
Além disso, Trump suspendeu as ajudas financeiras dos National Institutes of Health
(NIH), agência que financia as pesquisas americanas dentro e fora dos EUA, que terá que explicar
em qual pesquisa e/ou para quem vai o financiamento.313 A pesquisa científica “pode perder
força no mundo e prejudicar a resposta mundial no combate às doenças”, como alerta Rubens
Belfort314, por tanto, a prevenção à futuras pandemias também está ameaçada.
Deisy Ventura faz uma excelente análise do impacto e do significado da ruptura dos EUA
com a OMS. Ventura aponta o movimento drástico, como a “ordem de retorno à Washington
dos servidores que desempenhem alguma função na organização; e a retirada das negociações
do acordo sobre pandemias, e recusará as emendas ao Regulamento Sanitário Internacional
recentemente adotadas.” A autora, metaforicamente, compara a um divórcio litigioso,
envolvendo muitas disputas. Para ela, sair da OMS faz parte de um amplo e vigoroso ataque ao
multilateralismo, sendo anunciada a ruptura de outros compromissos internacionais, entre eles
os relativos a mudanças climáticas. E lembra que “a ferrenha oposição das extremas direitas ao
sistema das Nações Unidas está relacionada principalmente à promoção de direitos individuais
e coletivos pelo sistema onusiano, que são contestados por alianças transnacionais
conservadoras.” Ventura lembra que são 42 emergências em curso no mundo, sendo 17 delas
em grau máximo.
Como era promessa de campanha, o ato não foi uma surpresa. Pelo estatuto, a saída
definitiva e suspensão dos pagamentos das contribuições devem acontecer daqui a um ano, por
tanto OMS e agências têm ainda um tempo para buscar alternativas.
As três regionais da OMS que cobrem a Região MENA, Ásia Pacífico e Sudeste,
respectivamente Mediterrâneo Oriental (EMRO); Pacífico Ocidental (WPRO); Sudeste Asiático
(SEARO), realizaram no final de 2024 as sessões dos seus comitês visando ouvir relatórios de
progresso, revisar e endossar novas iniciativas e formular políticas. E, antecipando a crise
anunciada que viria, destacaram a importância do aumento da participação financeira dos países
membros e aportes importantes foram anunciados, incluindo do Banco Islâmico de
312
https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/01/withdrawing-the-united-states-from-the-
worldhealth-organization/
313
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/01/22/pesquisa-cientfica-pode-perder-fora-no-mundo-
com-sada-dos-eua-da-oms-dizem-
especialistas.ghtml?giftId=1b37bc221aacc2c&utm_source=Copiarlink&utm_medium=Social&utm_camp
aign=compartilharmateria
314
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/01/22/pesquisa-cientfica-pode-perder-fora-no-mundo-
com-sada-dos-eua-da-oms-dizem-
especialistas.ghtml?giftId=1b37bc221aacc2c&utm_source=Copiarlink&utm_medium=Social&utm_camp
aign=compartilharmateria
316
Desenvolvimento – lembrando que boa parte dos países das três regionais são de maioria
islâmica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo de 30 anos, uma paz entre Israel e os Territórios Ocupados da Palestina nunca
foi para frente – as várias tentativas foram frustradas por diferentes causas e razões.315 Será
que agora, diante do novo contexto global, com novos atores em cena, com mais países ao redor
do mundo reconhecendo a Palestina como um Estado nacional, os dois lados da guerra
conseguirão manter o cessar-fogo e avançar para um processo de paz?
“O que era ideologia passou a ser crença. O que era política, tornou-se religião. O que
era religião, passou a ser estratégia de poder. Para fabricar armas, é preciso fabricar inimigos.
Para produzir inimigos, é imperioso sustentar fantasmas,”317 falou Mia Couto em discurso de
2011, que segue atualíssimo. O filósofo finalizou seu discurso afirmando que “há quem tenha
medo de que o medo acabe.”
As reflexões dos filósofos Mia Couto e Yuval Noah Harari, citada em publicação recente
do jornalista Mustafa Alrawi, refletem sobre a geografia do medo, sobre a necessidade de se
criar fantasmas, sobre a versão estereotipada versus a versão real, sobre os valores do Ocidente
contra os valores do Oriente, e que se encaixam no momento atual sobre as guerras de Israel,
no Oriente Médio, sobre a guerra na Ucrânia, sobre os interesses (ou medos) americanos e
europeus nas guerras e sobre o medo americano da perda da hegemonia econômica.
Para os países do Sul Global a cooperação e o trabalho conjunto serão suas forças.
315
https://oglobo.globo.com/mundo/entenda-em-30-anos-tentativas-de-alcancar-paz-entre-israel-
palestinos-fracassaram-23759962
316
https://www.unescwa.org/sites/default/files/event/materials/9-
%20Reducing%20inequality%20in%20times%20of%20crisis%202400673E.pdf
317
https://www.youtube.com/watch?v=5xtgUxggt_4
317
Atualização EUA
Guto Galvão
Sumário: Novas políticas de saúde. Desde a posse em 20 de janeiro de 2025, o novo presidente
emitiu 45 ordens executivas. Essas ações abrangem uma variedade de áreas, incluindo comércio
internacional, imigração e políticas de saúde, com implicações significativas para a América
Latina.
Fontes de financiamento para as Nações Unidas. As mudanças nas contribuições dos EUA podem
ter um impacto significativo em suas operações. Em 2022, os Estados Unidos emergiram como
o maior contribuinte para as Nações Unidas, fornecendo mais de US$ 18 bilhões em
financiamento. Esse apoio financeiro é essencial para o funcionamento de várias agências,
programas e missões da ONU.
As preocupações com a gripe aviária. Uma das principais preocupações de saúde pública nos
EUA hoje é a gripe aviária, particularmente a cepa H5N1. Esta doença pode afetar a saúde
humana de várias maneiras significativas.
Summary: New health policies. Since taking office on January 20, 2025, the new president has
issued 45 executive orders. These actions cover various areas, including international trade,
immigration, and health policies, with significant implications for Latin America.
Sources of funding for the United Nations. Changes in U.S. contributions could significantly
impact the organization's operations. In 2022, the United States emerged as the largest
contributor to the United Nations, providing over $18 billion in funding. This financial support is
essential for the functioning of various UN agencies, programmes, and missions.
Concerns about avian influenza. One of the major public health concerns in the U.S. today is bird
flu, particularly the H5N1 strain. This disease can affect human health in several significant ways.
Nesse segundo mandato, as ações tomadas pela administração devem gerar mudanças
significativas na política de saúde dos Estados Unidos, gerando debates e preocupações tanto
no âmbito nacional e internacional.
Como já foi mencionado em outros artigos dessa edição dos cadernos, a nomeação para
liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) de um secretário conhecido por
suas posições antivacina, tem gerado apreensão. Ele afirma que implementará as políticas da
nova administração, ainda quando tem demonstrado falhas na compreensão sobre temas
318
críticos como os sistemas de Medicare, Medicaid e de regulamentação e segurança de vacinas.
Especialistas temem que sua liderança possa comprometer iniciativas de saúde pública e a
confiança nas vacinas.
As mudanças nas contribuições dos EUA podem ter um impacto significativo em suas
operações. As principais fontes de financiamento da Organização das Nações Unidas (ONU)
consistem em:
319
Esses mecanismos de financiamento permitem que a ONU se envolva em uma vasta
gama de atividades, incluindo manutenção da paz, prevenção de conflitos, iniciativas de saúde,
assistência humanitária e desenvolvimento socioeconômico e cultural.
- Contribuições dos EUA: Em 2022, os Estados Unidos contribuíram com mais de US$ 18
bilhões para a ONU, com cerca de 17% alocados como contribuições avaliadas e o financiamento
restante classificado como contribuições voluntárias.
- Impacto dos cortes de financiamento: Reduções no financiamento dos EUA podem ter
repercussões substanciais para as operações da ONU, potencialmente levando à diminuição de
capacidades e serviços.
As contribuições financeiras dos Estados Unidos são críticas para a eficácia operacional
da ONU, e as flutuações nessas contribuições podem influenciar substancialmente o
desempenho e o impacto geral da organização.
Uma das principais preocupações de saúde pública nos EUA hoje é a gripe aviária,
particularmente a cepa H5N1. Esta doença pode afetar a saúde humana de várias maneiras
significativas:
320
Infecções humanas: O vírus pode infectar humanos, levando a doenças respiratórias
graves. No surto atual, 66 dos 68 casos humanos nos Estados Unidos ocorreram desde março,
com uma morte relatada na Louisiana.
Riscos à saúde pública: A propagação da gripe aviária para humanos representa um risco
mais amplo à saúde pública, exigindo monitoramento extensivo, testes e medidas preventivas
para gerenciar surtos e prevenir novas infecções humanas.
O grave impacto do surto de gripe aviária em curso nos produtores de ovos e na indústria
avícola em geral nos Estados Unidos destaca o custo emocional e financeiro para os agricultores,
os desafios impostos pelas medidas de biossegurança e o debate sobre a vacinação de aves para
controlar o vírus.
Medidas de biossegurança:
321
Necessidade de novas abordagens:
322
Trumpolinagem e outros desvios de conduta
Adhemar Bahadian
Escrevo poucas horas depois do discurso de posse de Trump no maior país do mundo.
O mais armado. O mais bem dotado de recursos humanos à disposição do progresso da ciência
e da tecnologia.
Talvez o mais unanimemente admirado por suas universidades e pelos progressos que
imprimiu à pesquisa científica.
E nunca reclamamos quando, em Dumbarton Oaks, o Brasil não foi escolhido como
membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, assim como nunca fomos
parcialmente contemplados no Plano Marshall, nós, único país da América do Sul a mandar
forças militares para o teatro de guerra.
Portanto, quando se fala da amizade Brasil-Estados Unidos sabemos que nossas relações
se pautam muito mais por nossos elos de afinidade com o sistema democrático do que por
interesses materiais que não se coadunem com o Direito Internacional, com a Carta das Nações
Unidas e com os propósitos de paz, justiça e combate à desigualdade nela inscritos.
Hoje, chocou-me ver o Presidente eleito denunciar o desrespeito de nações amigas aos
princípios de soberania e igualdade jurídica dos Estados, na bela cenografia da posse de Trump.
Bem verdade que a transferência das cerimônias de posse para o interior da Rotunda do
Capitólio não deixou de nos lembrar as ações de vandalismo ocorridas no mesmo local, em
grande parte apoiadas, senão orquestradas, pelo mesmo cidadão que hoje volta ao poder.
Impossível não ver as festividades de hoje senão turvadas por nossos olhos incapazes
de focar com nitidez a alegria de uma solenidade irreparavelmente confiscada pelo desrespeito
sacrílego do passado.
323
Há em tudo um certo olor de flores murchas, uma reminiscência arranhada de dor de
um passado que insiste em se fazer presente.
Por tudo isso, não esqueço a advertência de Biden de que se está a instalar no poder da
mais poderosa nação da terra uma conurbação entre o pior do capital e o mais abjeto da política.
Não há dúvida de que Trump não é o único responsável pelas distorções do capitalismo
que estamos a ver. Temos que reconhecer com humildade e honestidade que o renascimento
das políticas das canhoneiras - a se camuflar por trás do slogan MAGA - só se justifica porque
hoje se refaz a política do "empobrecimento do seu vizinho” como fórmula canhestra do
comércio livre.
Nós não temos nada a temer. Permanecemos a mesma nação confiante nos princípios
democráticos e, até por termos vivido experiências dramáticas ainda muito próximas, sabemos
do valor da liberdade e da dignidade humana.
324
Memórias póstumas dos passos perdidos
Adhemar Bahadian
Vivo, Machado de Assis certamente não escolheria nem a pena da galhofa, nem a tinta
da melancolia, para descrever as memórias póstumas de nossos passos perdidos neste primeiro
quarto do século, ainda sem nome, mas certamente muito distante do Século das Luzes.
Se há constatação inescapável é a de que estamos mais para o século das trevas, que
nossos antepassados ja ultrapassaram, e muito próximos das irracionalidades pretensiosas a
revestir nosso cotidiano de um obsessivo discurso de gralhas.
Animado, talvez por uma pulsão, que se Freud fosse vivo talvez denominasse de “Pulsão
de Herodes”, Trump extirpa os nascituros da cidadania redentora e, finalmente, acende a
primeira revolta de seu próprio povo contra o desrespeito ao preceito constitucional.
Outros conflitos virão, anunciados pelo desprezo granítico aos esforços da humanidade
contra os desastres climáticos que compuseram a música de fundo da cerimônia da posse
presidencial, destruindo a fogo as mansões de Los Angeles e soterrando no gelo as vias e
estradas de Washington, DC.
Triste sinfonia para um narcisista tóxico, a ter que fazer seu horrendo discurso inaugural
na Rotunda do Capitólio, a nos lembrar a todos, universo afora, a barbaridade dita patriótica do
6 de janeiro.
Não há como ainda não lembrar de Freud, quando, perguntado sobre o que achou da
Rotunda, Trump tenha dito que se havia maravilhado com “a excelência acústica” da sala, o que
não deixa de reconhecer que o bem ou o mal que ali ocorram chegam sempre aos ouvidos de
todos nós. Para nosso aplauso. Para nosso repúdio.
Ainda não satisfeito com o desmonte dos melhores passos de seus antepassados, Trump
anuncia com soberba a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde, como se
a epidemia da COVID19 não pudesse se repetir desta ou de outra forma e, mais do que nunca,
a pesquisa e o acesso a medicamentos fossem mais do que prioritários. Muito mais prioritários
do que as travessuras de Musk no Espaço.
Não creio que os Estados Unidos da América, mergulhado no malévolo conúbio entre o
pior do capitalismo e a mais mercantilista das visões políticas, darão apoio a esta aventura.
325
Não me parece compatível com a essência da liberdade e da democracia americanas.
Trump tem dois anos para espargir sua insânia. Em 2026 haverá eleições para o
Congresso americano e minha convicção é de que o povo americano melhor equilibrará os
tradicionais “pesos e contra-pesos” do jogo diplomático. Pato manco hoje, pato assado em
2026.
Parece-me, por muitas razões, dentre as quais nossa responsabilidade como país
signatário original da Carta de São Francisco, a importância de nossa Diplomacia como defensora
dos princípios consagrados nas Nações Unidas e seus órgãos subsidiários.
Temos muito trabalho pela frente, talvez igual ou maior do que tivemos a partir dos anos
60, quando um equívoco de visão política nos fez confundir diplomacia com subserviência.
==*==
EM TEMPO
1. Com perdões por falar do meu clube, só o Itamaraty, depois de escolher um craque
como Mauricio Lyrio para coordenar o G-20, nos apresenta Corrêa do Lago, outro maestro, para
coordenar as negociações climáticas. E temos outros, fazendo linha de passe. Bela Instituição do
Brasil.
2. “Ainda estou aqui” não é um filme. É uma virada espetacular no cinema brasileiro, só
comparável ao encontro de Tom-Jobim com Sinatra na música brasileira. Só que, desta vez, o
responsável se chama Walter Salles.
326
CRÉDITOS DOS AUTORES DOS CADERNOS
André Lobato - Mestre em mídias globais e comunicações, doutorando UFRJ, membro das
equipes do CRIS e do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, Fiocruz
Augusto Paulo José da Silva - Biólogo, mestre em biologia, Moldova State University, assessor
e pesquisador, Cris/Fiocruz
Caio Murta - Graduando, Instituto de Relações Internacionais (IRI), Universidade de São Paulo
Claudia Chamas - Pesquisadora sênior, CDTS Fiocruz e Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação em Doenças de Populações Negligenciadas
Denise Oliveira e Silva - Doutora em saúde pública, Pós Doutora em Antropologia, Pesquisadora
em Saúde Pública, Fiocruz Brasília
Diana Reyna Zeballos Rivas - Médica; Mestre em Medicina e Saúde; Doutoranda, Instituto de
Saúde Coletiva, UFBA
Erica Kastrup - Mestre em Saúde Global e Diplomacia da Saúde; Doutora em História das
Ciências e da Saúde; Analista do Cris/Fiocruz
Felix Júlio Rosenberg - Médico veterinário, mestre em ciências médicas. Diretor do Fórum
Itaboraí, Fiocruz. Secretário Executivo da RINSP/CPLP, coordenador da Rede Latino-Americana
e do Caribe de Institutos Nacionais de Saúde Pública, IANPHI
327
Heliton Barros - Pesquisador do Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz
Isis Pillar Cazumbá da Cruz - MBA em Gestão de Projetos e Relações Internacionais pela
Universidade Estácio de Sá. Assistente de pesquisa do CRIS/Fiocruz
Juan Garay - Professor of global health equity in Spain (ENS), Mexico (UNACH) and Cuba (ELAM,
UCLV and UNAH); Pesquisador Visitante Sênior, CRIS/Fiocruz
Laurenice Pires - Assistente Social, mestre em Serviço Social, doutoranda em Saúde Pública na
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz
Lúcia Marques - Jornalista, mestre em Saúde Pública, analista de gestão em saúde pública,
assessora Programa Fiocruz na Antártica, CRIS/Fiocruz
Luiz Augusto Galvão - Mestre em saúde pública, doutor em saúde coletiva. Professor adjunto
na Universidade Georgetown, EUA, e membro do Cris/Fiocruz
Luís Eugenio Portela Fernandes de Souza - Professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA,
Vice-presidente / Presidente-eleito da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública
Patrícia Lewis - Psicóloga, mestre em ciências pela USP, pesquisadora do Observatório Saúde e
Migração (OSM)
328
Paulo Marchiori Buss - Médico, doutor em ciências. Professor emérito da Fiocruz, Coordenador
do Cris/Fiocruz, membro titular da Academia Nacional de Medicina, Presidente da Alianza
Latino-americana de Salud Global - ALASAG
Rafael Gomes França - Doutorando da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
329
Cadernos CRIS Fiocruz sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde
Desde abril de 2020 o CRIS vem produzindo Cadernos sobre Saúde Global e Diplomacia
da Saúde. Desde então, já foram produzidos mais de 105 Informes quinzenais. Os
interessados na coleção podem acessar o conjunto de Informes em:
https://portal.fiocruz.br/cadernos-cris
https://portal.fiocruz.br/seminarios-avancados-em-saude-global
ou
https://www.youtube.com/playlist?list=PLz0vw2G9i8v-
mMVaQPrzpQUQhqa-0obSN
330
FICHA CATALOGRÁFICA
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Centro de Relações Internacionais em Saúde
Centro Colaborador OMS/OPAS em Diplomacia da Saúde Global e Cooperação Sul-Sul
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nota: Os artigos dos Cadernos CRIS/FIOCRUZ sobre Saúde Global e Diplomacia da Saúde são
de responsabilidade de seus autores a as opiniões expressas nos mesmos não
necessariamente coincidem com as opiniões dos organizadores ou do Centro de Relações
Internacionais em Saúde da Fiocruz.
331