Odis11 Guiao Saida Campo Douro Internacional
Odis11 Guiao Saida Campo Douro Internacional
º ano Jorge Reis · António Guimarães · Ana Bela Saraiva · Hugo Novais
ÀDescobertadaGeologia
de Portugal
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À Descoberta da Geologia de Portugal
Data: - - Professor/a:
O rio Douro nasce em Espanha, na serra de Urbión, a cerca de 2000 m de altitude, e desagua no oceano
Atlântico, na cidade do Porto. Com um comprimento de 927 km, percorre 597 km em Espanha, 122 km
na zona de fronteira – Douro Internacional – e 208 km em Portugal.
O perfil longitudinal do rio Douro evidencia, a montante, uma extensa zona planáltica onde o rio corre,
com um desnível de 400 m em cerca de 400 km percorridos. O troço correspondente ao Douro Interna-
cional apresenta um declive abrupto, descendo 430 m em 122 km de percurso, num vale de tipo
canhão. Ao longo do seu percurso em Portugal, desde Barca de Alva até ao Porto, o declive torna-se
bastante mais suave, descendo 125 m em cerca de 200 km (fig. 1).
2000
1500
Altitude (m)
Rio Douro
1000
500
Porto
0
Douro
Internacional
O Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), criado a 5 de junho de 1996, inclui os troços fronteiri-
ços dos rios Douro e Águeda, bem como as superfícies planálticas confinantes pertencentes aos con-
celhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta, Miranda do Douro e Mogadouro.
Ocupa uma área de 86 500 hectares, com um património geológico rico e diversificado que justifica
uma saída de campo pedagogicamente interessante.
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Guião de saída de campo: Douro Internacional
Propomos a realização de cinco paragens, indicadas na figura 2. Podem ainda ser incluídas outras
paragens, tais como:
• Miradouro da Fraga do Puio;
• Miradouro do Carrascalinho;
• Geossítio do Barreiro de Sendim;
• Geossítio do Pombal de Miranda do Douro.
São João
das Arribas
1
Miranda
do Douro
2
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N atu ciona
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Ribeira do
Mosteiro Penedo
Durão
4
3
5 Barca
de Alva
No Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) ocorrem algumas das rochas mais antigas de Portu-
gal, os gnaisses e as rochas ofiolíticas, testemunhos de antigos fundos oceânicos que foram trazidos à
superfície quando cavalgaram a crusta continental, devido aos esforços tectónicos, ocorridos durante
a Orogenia Varisca.
Além dos testemunhos paleozoicos, a atividade geológica mais recente está bem registada na área do
PNDI. A erosão da Cadeia Varisca, durante o Mesozoico, permitiu o desenvolvimento da primeira apla-
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nação durante o Cretácico. As condições climáticas variaram desde clima tropical, que gerou um
espesso manto de alteração, a um clima árido, que favoreceu uma erosão intensa e permitiu a remoção
desse manto e o desenvolvimento de nova aplanação, atualmente bem visível na paisagem.
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À Descoberta da Geologia de Portugal
No Cenozoico, a atividade tectónica associada à Orogenia Alpina induziu o movimento dos blocos e
A diversidade litológica desta região é enorme, encontrando-se diversos tipos de granitos, gnaisses,
migmatitos, serpentinitos, calcários, mármores, travertinos, quartzitos, xistos e grauvaques, assim
como diversos depósitos de terraço e cascalheiras. Em alguns locais encontram-se também fósseis de
uma antiga fauna marinha de idade câmbrica.
Miranda do Douro
Rio Douro
Depósitos de cobertura /
Miocénico e Quaternário
Metassedimentos
Devónico
Silúrico
Ordovícico
Fermoselle Câmbrico e Grupo do Douro
Olho de Sapo
es
Gnaisses e migmatitos
rn
To
Rochas básicas
Rio
4
Guião de saída de campo: Douro Internacional
Paragem 1
Miradouro de S. João das Arribas
Coordenadas: N41°32’22.75” / W6°13´19.94”
Tempo previsto: 1 h 30 min
O miradouro de S. João das Arribas é um local privilegiado para a observação do canhão fluvial do
Douro e das suas arribas graníticas, com cerca de 150 m de altura. Observam-se, também, os planos de
fraturação das rochas a condicionar o traçado do rio (fig. 4).
Fig. 4 Aspetos do miradouro, onde é visível a altura das escarpas graníticas e a fraturação dos granitos.
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À Descoberta da Geologia de Portugal
Neste miradouro podem ainda ser observados caos de blocos (fig. 5A) e estruturas de fluxo magmá-
A B
Fig. 5 Aspetos a observar no granito: A Caos de blocos. B Alinhamento dos megacristais de feldspato.
3 Relacione o encaixe do rio Douro com a fraturação das rochas que ele atravessa nesta paragem.
7 Identifique o tipo de magma que originou as rochas visíveis nesta paisagem e caracterize-o.
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Guião de saída de campo: Douro Internacional
Paragem 2
Estrada de acesso à barragem de Miranda do Douro
Tempo previsto: 2 h
Antes de descer para esta paragem, pare no miradouro da Sé de Miranda e observe a paisagem sobre o
canhão fluvial do rio Douro, no troço do Douro Internacional. Aqui, o entalhe do rio apresenta-se de
forma abrupta, exibindo paredes com cerca de 200 m, sobre a albufeira da barragem construída neste
local. É numa destas superfícies verticais, talhadas pelo rio na rocha granítica, que aparece a figura do
número 2, desenhado por manchas de líquenes na superfície do granito (fig. 6).
Este geossítio corresponde a um local onde um corte de estrada revelou a presença de rochas meta-
mórficas, como filitos, metagrauvaques e gnaisses, intruídos pelos granitos do Maciço de Ifanes. Trata-
-se de um local privilegiado para a observação de diferentes litologias e deformação nas rochas, como
as dobras da 3.ª fase de deformação Varisca que afetou os filitos e os metagrauvaques. Observam-se,
ainda, boudins de quartzo nos metassedimentos (fig. 7).
A B C
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Fig. 7 Aspetos visíveis na paragem 2. A Dobras nos filitos e metagrauvaques. B Boudins de quartzo. C Gnaisse
ocelado.
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12 Estabeleça a idade relativa dos gnaisses e do granito, referindo o princípio que usou nessa datação.
Do paredão da barragem pode-se observar o leito do rio a sofrer uma mudança de direção. Esta
mudança ocorre devido à presença de falhas responsáveis pelas zonas de menor resistência das
rochas (fig. 8).
Espanha
Falha
Portugal
Fal
ha
Espanha
Rio Douro
13 Estabeleça as diferenças entre o tipo de deformação que afetou as rochas metamórficas e a que
permitiu o encaixe do rio.
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Paragem 3
Miradouro do penedo Durão
Tempo previsto: 2 h
O penedo Durão, uma escarpa quartzítica sobranceira à barragem de Saucelle, que se ergue cerca de
500 m acima do nível do rio Douro, encontra-se num ponto de inflexão entre um dobramento em sincli-
nal (Sinforma de Poiares) e um dobramento em anticlinal, onde se instalou o granito de Saucelle e
onde, posteriormente, se encaixou o rio.
Deste miradouro, é possível a observação da superfície de aplanamento até à serra da Marofa e do vale
do rio Douro e de uma garganta estreita numa zona granítica, que possibilitou a instalação do aprovei-
tamento hidroelétrico de Saucelle (fig. 9).
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Paragem 4
Ribeira do Mosteiro
Tempo previsto: 1 h 30 min
A ribeira do Mosteiro é um curso de água ladeado por grandes penedos quartzíticos, que desagua no
rio Douro. Estes penedos são caracterizados pelas suas dobras com direção geral E-W, observáveis a
várias escalas, e atingindo algumas delas dezenas de metros. Estas dobras fazem parte de uma
macroestrutura regional, o sinclinal de Poiares (fig. 12).
500 m
Ribeira do Mosteiro
B C
18 Relacione a idade das formações afetadas pela dobra com a designação genérica da macroestrutura
como um sinclinal.
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À Descoberta da Geologia de Portugal
Nas proximidades de Barca de Alva, e em ambas as margens do rio Douro, é possível observar um con-
junto de espessos terraços fluviais, constituídos por um conglomerado formado essencialmente por
calhaus rolados, sobretudo de natureza quartzítica e granítica, unidos por uma matriz arenosa. Estes
depósitos do Pleistocénico constituem um precioso testemunho para a compreensão da dinâmica de
drenagem da bacia hidrográfica do Douro, que, inicialmente, não drenava para o mar, tendo apenas atin-
gido esse estágio há cerca de 3 Ma, em consequência do processo de encaixe respetivo.
A grande variedade de clastos (quartzitos, xistos, granitos de várias texturas), a sua dimensão e matriz
(arenoargilosa) indicam uma longa história de transporte, numa corrente com muita carga detrítica, de
uma rede hidrográfica que terá passado por diversas litologias. O rio passa, atualmente, 30 metros
abaixo deste afloramento, à cota 135 metros (fig. 13).
23 Explique por que razão os terraços fluviais da figura 13 e os que estão a formar-se atualmente nas
proximidades do rio Douro constituem uma exceção ao princípio da sobreposição.
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Guião de saída de campo: Douro Internacional
Parte C · Pós-saída
• Deverá organizar as suas fotografias e os vídeos, realizando uma pequena reportagem da visita de
estudo, em que descreva os principais aspetos observados.
• Se recolheu amostras de rochas ou de minerais em locais permitidos, poderá identificá-las no
laboratório da escola.
• Adicionalmente, poderá escrever uma notícia, para o jornal ou para o sítio da escola, sobre a saída
de campo efetuada, ilustrada com as fotografias tiradas durante a visita.
Glossário
Arriba – escarpado muito íngreme. Granito – rocha de textura granular, ácida, consti-
Boudins – estrutura produzida numa rocha compe- tuída por quartzo, feldspato e micas.
tente, devido a forças distensivas. Grauvaque – rocha sedimentar detrítica consoli-
Caos de blocos – paisagem característica de regiões dada, de grão fino, geralmente de cor cinzenta, cons-
graníticas, nas quais a meteorização e a erosão pro- tituída por fragmentos variados de quartzo, felds-
duzem um modelado específico de abundância de pato e micas unidos por um cimento de natureza
blocos que dão à paisagem um aspeto caótico. diversa.
Canhão fluvial – vale profundo de vertentes abrup- Icnofósseis – grupos de fósseis resultantes da pre-
tas, erodido por um curso de água. servação de marcas de atividade dos seres vivos.
Falha – fratura das camadas rochosas segundo um Metagrauvaques – rocha metamórfica foliada origi-
plano, ao longo do qual ocorreu movimento relativo nada por metamorfismo de grauvaques.
dos blocos. Metassedimentos – sedimentos sujeitos à ação de
Feldspato – família de minerais silicatados de alumí- metamorfismo, tendo evoluído para rochas meta-
nio, potássio, sódio, cálcio ou bário, constituinte mórficas.
importante de rochas magmáticas. Orogenia Varisca – processo de formação de monta-
Filão – rocha de natureza magmática, geralmente nhas, resultante da convergência de placas, ocorrido
planar, que interseta outras mais antigas. durante o Paleozoico Superior.
Filito – rocha metamórfica de grau mais baixo do que Porfiroide – textura de rochas magmáticas, na qual
o micaxisto, foliada, de grão fino, evoluída a partir de um grupo de minerais tem dimensões superiores
sedimentos essencialmente argilosos. aos da matriz.
Formação – série sedimentar, definida geografica- Quartzito – rocha metamórfica formada a partir do
mente, com características litológicas que permitem metamorfismo de arenitos.
o seu uso como unidade litostratigráfica de referên- Rochas metassedimentares – rochas metamórficas
cia local. originadas por evolução de rochas sedimentares.
Fluxo magmático – fluxo de magma dentro da Sinclinal – dobra cujo núcleo é ocupado pelos estra-
câmara magmática, por vezes testemunhado pelo tos mais recentes.
alinhamento preferencial de minerais segundo a Terraço fluvial – depósito de sedimentos, geral-
direção desse fluxo. mente com calhaus rolados, conservado nas mar-
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Gnaisse – rocha metamórfica foliada de elevado gens de um curso de água, resultante do facto de,
grau de metamorfismo, de composição mineralógica em tempos passados, esse rio se ter encontrado a
semelhante à do granito. um nível mais elevado do que o atual.
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Propostas de solução
Dependente da resposta do aluno. O topo do miradouro é formado por rochas
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Bibliografia
ICNF (s.d.). Geologia, hidrologia e clima do Parque Natural do Douro Internacional. Disponível em
http://www2.icnf.pt/portal/ap/p-nat/pndi/geo [consult. mar 2022]
Gomes, M., & Alencoão, A. M. (Coords.)(2005). Património Geológico Transfronteiriço na Região do Douro –
Roteiros (2.ª edição). Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. ISBN: 972-669-706-9
Rodrigues, J. (2008). Património geológico no Parque Natural do Douro Internacional: caracterização,
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Santos, V., Silva, P. F., & Brito, M. G. (2018). Estimating RMR values for underground excavations in a rock mass.
Minerals, 8(3), 78. DOI: 10.3390/min8030078
Créditos fotográficos
ODIS11DGP © Porto Editora
Ana Bela Saraiva – p. 5; p. 6; p. 7, fig. 7; p. 8; p. 9, fig. 10; p. 10; p. 11, fig. 12B; p. 12
Cristina Pinto – p. 7, fig. 6; p. 11, fig. 12C
©Shutterstock.com – imagem da capa; p. 9, fig. 9
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Amostra não comercializável – Versão do Professor