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Em Defesa Das Humanidades MaíraMarianaSue

O documento 'Em Defesa das Humanidades' discute a importância das humanidades e seu papel na universidade, especialmente em um contexto de ataques ideológicos e cortes orçamentários promovidos pelo governo atual. Os autores argumentam que as humanidades são essenciais para a reflexão crítica, a liberdade acadêmica e a construção de consensos sociais, além de serem fundamentais para a defesa de direitos humanos. O texto também critica a visão restrita do governo sobre a educação superior e a pesquisa, destacando a necessidade de proteger as universidades como espaços de pensamento livre e plural.
Direitos autorais
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Em Defesa Das Humanidades MaíraMarianaSue

O documento 'Em Defesa das Humanidades' discute a importância das humanidades e seu papel na universidade, especialmente em um contexto de ataques ideológicos e cortes orçamentários promovidos pelo governo atual. Os autores argumentam que as humanidades são essenciais para a reflexão crítica, a liberdade acadêmica e a construção de consensos sociais, além de serem fundamentais para a defesa de direitos humanos. O texto também critica a visão restrita do governo sobre a educação superior e a pesquisa, destacando a necessidade de proteger as universidades como espaços de pensamento livre e plural.
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EM DEFESA DAS

humanidades

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 1 15/04/2021 10:45:10


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

REITOR

João Carlos Salles Pires da Silva

VICE-REITOR

Paulo Cesar Miguez de Oliveira

ASSESSOR DO REITOR

Paulo Costa Lima

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

DIRETORA

Flávia Goulart Mota Garcia Rosa

CONSELHO EDITORIAL

Alberto Brum Novaes


Angelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Alves da Costa
Charbel Niño El-Hani
Cleise Furtado Mendes
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
Maria do Carmo Soares de Freitas
Maria Vidal de Negreiros Camargo

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Rafael Lopes Azize
ORGANIZADOR

EM DEFESA DAS
humanidades

SALVADOR
EDUFBA
2020

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 3 15/04/2021 10:45:11


2020, autores.
Direitos para esta edição cedidos à Edufba.
Feito o Depósito Legal.

Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.

CAPA E PROJETO GRÁFICO


Larissa Vieira de Oliveira Ribeiro

REVISÃO
Equipe da Edufba

NORMALIZAÇÃO
Marcely Moreira

SISTEMA UNIVERSITÁRIO DE BIBLIOTECAS - UFBA

D313 Em defesa das humanidades / Rafael Lopes Azize


(organizador). - Salvador: Edufba, 2020.
251 p.
ISBN: 978-65-5630-147-1
1. Ciência e humanidades. 2. Universidades e faculdades –
aspectos políticos. 3. Liberdade intelectual. 4. Pensamento crítico.
I. Azize, Rafael Lopes.

CDU: 3:378.1

Elaborada por Geovana Soares Lira CRB-5: BA-001975/O

EDITORA AFILIADA À

Editora da UFBA
Rua Barão de Jeremoabo
s/n – Campus de Ondina
40170-115 – Salvador – Bahia
Tel.: +55 71 3283-6164

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Em memória de Arley Ramos Moreno,
que ilustrava o sentido do espírito público.

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Sumário

apresentação
As humanidades em uma época estéril?
9 Rafael Lopes Azize e Juliana Ortegosa Aggio

I. as humanidades e a ideia de universidade

A área das humanidades na era da universidade tecnológica


33 Arley Ramos Moreno

História da filosofia, nosso escolasticismo e


a relevância prática da disciplina
51 José Crisóstomo de Sousa

What Was Liberal Education?


77 Richard Eldridge

II. o ataque às ciências sociais

Assédio moral e criminalização


do trabalho antropológico
93 Bruna Pastro Zagatto

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Ataques à antropologia
105 Marcelo Moura Mello

¿Y eso para qué sirve?


Política científica, medios de comunicación y el ataque a las
ciencias sociales y humanidades en la Argentina
117 Nicolás Viotti e Daniel Jones

III. as humanidades e a sociedade

O colapso do sentido em tempos sombrios,


um retorno à barbárie?
139 Cristiane M. C. Gottschalk

A última gota de cicuta


159 Juliana Ortegosa Aggio

“Banalizou a nível Brasil”


O cerco às artes e o declínio da experiência desinteressada
175 Leandro de Paula

Universidade e ideologia
Reflexões sobre os ataques às ciências humanas
e possibilidades da sua defesa
201 Maíra Kubik Mano, Mariana Thorstensen Possas,
Rafael Lopes Azize e Sue A. S. Iamamoto

Em defesa das humanidades


215 Roger Maioli dos Santos

A crise das humanidades e a ciência como


força produtiva no capitalismo neoliberal
231 Vinicius dos Santos

245 sobre os autores

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Universidade e ideologia
Reflexões sobre os ataques às ciências humanas
e possibilidades da sua defesa
maíra kubík mano, mariana thorstensen possas,
rafael lopes azize e sue a. s. iamamoto

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Em 30 de abril de 2019, a comunidade da Universidade Federal da Bahia
(UFBA) acordou com mais um elemento distópico do Brasil atual: o então
ministro da educação, Abraham Weintraub, havia declarado o bloqueio de
dotações orçamentárias de três universidades federais escolhidas a dedo. Os
critérios apresentados pelo ministro eram a promoção de “balbúrdia” [sic],
a realização de “evento ridículo” e o baixo desempenho acadêmico medido
“pelo ranking”, o qual não foi especificado pelo ministro.1
Queremos propor aqui uma breve reflexão sobre a atitude do ministro,
ainda que dias depois, após uma enxurrada de críticas, a decisão tenha sido
alterada e os cortes tenham se estendido a todas as universidades federais
indistintamente. De distinção total (três) para a indistinção total (todas), o
ministro dava um claro sinal de que não são apenas critérios técnicos ou

1 Disponível em https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,mec-cortara-verba-de-universidade-
por-balburdia-e-ja-mira-unb-uff-e-ufba,70002809579

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sequer racionais que estão valendo no momento político atual: a “ideolo-
gia” ou seja, as maneiras de pensar, política e culturalmente, diferentes do
governo, aparecem como critério publicamente aceitável para o corte de
recursos na educação superior e na pesquisa científica. Weintraub justifi-
cou os bloqueios, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, afirmando
que haveria “sem-terra” e “gente pelada” dentro do campus, sem especifi-
car ao que essas cenas ou eventos se referiam concretamente. Além des-
sas explicações, o ministro afirmou que essas universidades teriam “baixo
desempenho no ranking”, sem tampouco indicar a que ranking se referia.
Esse episódio pode ser compreendido como um ataque direto ao pen-
samento livre, justamente um dos pilares da universidade. O sentido de
liberdade aqui não implica, como às vezes se pensa, produzir conheci-
mento e reflexão sem regras e de maneira aleatória. A liberdade cuja im-
portância crucial queremos destacar é a liberdade dentro do próprio fazer
acadêmico, seja ele de natureza científica, filosófica ou artística. Esse fazer
acadêmico cotidiano, que envolve ensino, pesquisa e extensão, é guiado
por regras de todas as ordens, científicas, jurídicas, morais, políticas, ad-
ministrativas, institucionais, colegiadas. A liberdade a que nos referimos,
portanto, é em relação ao amplo universo de experimentação pelo qual a
produção de conhecimento e de representações sobre a realidade transi-
ta. Esse livre-trânsito é feito de maneira transversal a tendências ideoló-
gicas, a preferências políticas ou a identidades culturais.
O governo Bolsonaro, no entanto, compreende a universidade de
uma maneira intelectualmente restrita e culturalmente antiquada. De
maneira geral, os atuais responsáveis pela gestão da educação em âmbito
federal a enquadram em um modelo de baixa reflexão crítica, em que as
humanidades perdem em valor científico e importância moral.

IDEOLOGIA E A IDEOLOGIA DO OUTRO


O uso do termo “ideologia” no discurso público atual se tornou especial-
mente diversionista. Usa-se “ideologia”, por exemplo, para indicar uma
posição política quando essa posição é a do adversário. O governo usa
diversos epítetos para indicar essas posições antagônicas: “ideologia co-

202 • universidade e ideologia

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munista/socialista”, a “ideologia globalista” e “ideologia de gênero”, que
estaria associada às duas primeiras.
Classicamente, ideologia é um termo crítico, ou seja, ele é mobili-
zado no trabalho de crítica da ideologia mais do que na articulação de
proposições “ideológicas” – que, nessa acepção, justamente, buscam não
se afirmar como tais. Em termos muito rápidos, um dos seus usos denota
processos de comunicação pelos quais uma visão de mundo, uma posição
política, enfim, uma dada configuração de um sistema de crenças é vela-
da, fazendo-se passar pelo senso comum. (THOMPSON, 2011) Isso não
quer dizer que o uso do conceito de ideologia não tenha oscilado ao longo
do tempo (EAGLETON, 1994), servindo às vezes para indicar positivamen-
te um corpo coeso de ideias, geralmente de natureza política.
Selecionamos, contudo, para esta reflexão o sentido crítico desse con-
ceito. Quando sugerimos que há um ataque de tipo ideológico às univer-
sidades, queremos dizer não apenas que esse ataque parte de uma posição
política determinada; queremos dizer que esses pressupostos são velados,
de diversas maneiras que vão do diversionismo às falácias lógicas e de
novilíngua2 usualmente exploradas pelos ministros do atual governo. O
próprio termo ideologia é usado para essa operação de velamento e(ou)
diversionismo. Exemplos abundam, e podem ser colhidos a cada vez que
um ministro da saúde (houve já vários) minimiza a atual pandemia de
Sars-Cov-2, que o ministro do meio-ambiente ataca a legislação de pro-
teção ambiental, ou que a ministra responsável pela defesa dos direitos
humanos se pronuncia contra a população Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTQI+) e pessoas sem religião,
ou mesmo de denominações religiosas não-cristãs, ou fala em “ideologia
de gênero” como categoria acusatória.
É preciso desvelar esses pressupostos. É preciso mostrar que eles vio-
lam o que julgávamos serem consensos mínimos sobre o papel das uni-
versidades – crítica ao pensamento e à cultura, experimentação social,

2 Termo cunhado por George Orwell no seu romance 1984. No universo ficcional do livro, trata-
se de uma espécie de dialeto usado pelo governo autoritário de Oceania, no qual os usos das
palavras são manipulados, reduzidos e sobretudo roubados de nuances, de modo a impedir a
articulação de pensamentos críticos ao regime.

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denúncias de embargos a processos emancipatórios, pesquisa empírica
livre, etc. Esses consensos mínimos não são objetos de uma operação de
acobertamento – e portanto, no sentido definido acima, não são ideoló-
gicos. Mas são certamente ideológicas as manobras atualmente em curso,
de estrangulamento financeiro dos cursos de humanidades, sob o véu de
argumentos “técnicos”, geralmente de tipo financeiro.
Quais são esses pressupostos que fariam com que um governo se vol-
tasse contra instituições de pesquisa e ensino nas quais o país pensa as
diferentes dimensões da sua existência, investiga a experiência concreta
dos seus cidadãos e cidadãs, diagnostica os seus problemas e imagina so-
luções para eles? Em termos rápidos, trata-se de deslegitimar e, no limite,
inviabilizar essas instituições precisamente porque, nelas, o país repre-
sentado se quer incontornavelmente plural e cada vez mais democrático,
organizado em uma república progressivamente protegida contra arrou-
bos autoritários. Voltaremos a isso mais adiante.
Entre muitas outras funções sociais, as universidades são espaços
nos quais se trocam razões normativas, se confrontam interpretações de
conteúdos fáticos, e se criticam conceitos regulatórios e imagens sobre a
experiência social e individual (mitos nacionais, teorias sobre a natureza
humana e a saúde psíquica, etc.), de uma maneira a um tempo livre (no
sentido de experimentos de pensamento não tutelados) e responsável (no
sentido de explicitar sistematicamente os seus pressupostos e implica-
ções). Mas o exercício livre do pensamento e da pesquisa empírica fei-
to nas universidades, e em particular pelas humanidades, também visa
a construção de consensos mínimos essenciais à vida comum. Tais con-
sensos mínimos referem-se tanto a procedimentos quanto a conteúdos.
Assim, as universidades se pretendem espaços de vigilância e profilaxia
contra tentações autoritárias e de barragem a processos de emancipação.
O conceito de direitos humanos pode ser exemplar do tipo de consen-
so visado e construído em universidades – particularmente pelas ciências
humanas. Por um lado, nos últimos anos nós temos sentido no Brasil um
recuo da aplicabilidade do conceito de direitos humanos. As diferentes
aplicações desse conceito têm uma história rica e nuançada. Mas temati-
zar o debate sobre aplicações distintas desse conceito é diferente de ques-

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tionar a sua aplicabilidade e as condições inclusive para as suas distintas
aplicações – que sim incluem discordâncias importantes. Na medida em
que o discurso de “direitos humanos para humanos direitos” avança, nós
nos deparamos com a negativa de qualquer tentativa de definição e apli-
cação destes direitos. Esse recuo de aplicabilidade do conceito se nota nos
discursos de operadores jurídicos, em textos da grande mídia e, cada vez
mais, nos discursos ouvidos na rua. Ou seja, há dimensões ideológicas,
culturais, antropológicas, etc., envolvidas nesse processo complexo.
Ora, as ciências humanas são o espaço por excelência no qual esse
fenômeno pode ser compreendido e francamente combatido. Por outro
lado, os diversos meios – mídias tradicionais e novos meios digitais e re-
des sociais – são também palcos importante em que se travam batalhas
de persuasão na direção desse recuo, ou de resistência a ele. Contudo, é
nas diferentes ciências humanas que encontramos recursos conceituais
e metodológicos, e uma temporalidade estendida para além do fluxo rá-
pido de notícias e análises da semana, para uma compreensão mais pro-
funda e racional desse fenômeno. Mais ainda: recentes desenvolvimen-
tos da comunicação social, marcados por um esvaziamento das antigas
mediações, reiteram a importância de que a própria comunicação social
continue sendo pensada enquanto problema pelas ciências humanas, em
diálogo com a sociedade.
E aqui temos um dos nós-górdios subjacentes aos ataques do gover-
no às humanidades. Vivemos um momento peculiar tanto na maneira de
disseminação de informação, quanto nos modos de diálogo público. No-
ções de falso e verdadeiro estão relativizadas, não por razões críticas, mas
de modo a comprometer referências comuns mínimas sobre a realidade,
paralisando o uso público da razão. Como já afirmava Hannah Arendt
(2016, p. 319), a ausência de critérios para distinguir a verdade factual na
vida pública compromete profundamente a capacidade política humana:
“Se o passado e o presente são tratados como partes do futuro –isto é,
levados de volta a seu antigo estado de potencialidade – o âmbito político
priva-se não só de sua principal força estabilizadora como do ponto de
partida para transformar, para iniciar algo novo”. Assim, a constante mu-
dança e confusão causadas pela transformação de verdades factuais em

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meras “opiniões”, que podem ser contrariadas por “fatos alternativos”, le-
vam à esterilidade política. Quando se compromete as mediações neces-
sárias às trocas de razões, à interpretação de conteúdos factuais, ao que as
filósofas chamam de processos de deliberação, assentimento e formação
de opinião, etc., também a comunicação social se deteriora a um ponto de
paralisia. É ao que temos assistido no Brasil recente, com consequências
catastróficas para a vida republicana e a democracia.
Um dos perigos disso é abrir o caminho a discursos que não visam
contribuir para a qualidade dos nossos acordos e desacordos, mas sim
polarizar, radicalizar o proverbial guarda da esquina e as presas fáceis do
retorno de slogans autoritários antigos. Entre as muitas tarefas de cons-
trução da vida democrática no Brasil atual, é fundamental rediscutir em
paralelo dois conjuntos de problemas. O primeiro são os consensos ex-
pressos por conceitos absolutos como os de direitos humanos e laicidade.
O segundo é a comunicação social na qual emergem consensos possíveis
em geral, a partir da pluralidade de vozes do corpo social, e dos discursos
filtrados por mediações legítimas. Vejamos isso mais de perto.
Quando falamos de comunicação social, estamos falando do ambien-
te em que operam as mediações necessárias a que as pessoas deliberem,
troquem razões, deem assentimento, etc. Por exemplo, quando falamos
de cuidados com a situação pandêmica, essa mediação deveria ser feita
sobretudo pelos processos da ciência. Se a operação dessa mediação se
deteriora, abrem-se as portas para o terraplanismo que, lá na ponta, le-
gitima aglomerações e soluções mágicas contra a pandemia. Temos visto
uma enorme proliferação de iniciativas de denúncia contra notícias fal-
sas, e contra veículos jornalísticos de deontologia duvidosa. Infelizmente,
a sensação que temos é a de que essa é uma batalha perdida, se for travada
nesses termos. Precisamos compreender aspectos do problema que são
inevitavelmente múltiplos e complexos - justamente esses nos quais as
vozes das humanidades se mostram uma vez mais agudas e percucientes:
a influência de discursos religiosos e morais como lentes centrais para a
atuação na esfera pública (ALMEIDA, 2017); a ideia de uma suposta co-
municação direta, sempre unilateral, entre agentes públicos e cidadãos
(algo que marcou regimes autoritários do século passado) (GUIMARÃES;

206 • universidade e ideologia

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VAZ, 2019, URBINATI, 2016); o impacto das redes sociais na decadência
da geração de informação de maneira profissional (KEEN, 2009); etc.
Pode parecer caricatural que o atual (novembro de 2020) ministro da
Educação, Milton Ribeiro, junte a sua voz àquelas dos ministros anterio-
res e ataque os cursos de humanas através da pauta de costumes – como
quando ele os “denunciou” por “promover promiscuidade” (o ministro
referia-se ao ensino do pensamento existencialista; se você lembrou de
vozes como Simone de Beauvoir, Sartre e Merleau-Ponty como alvo dos
ataques do ministro da Educação brasileiro, a sua memória não lhe pre-
gou uma peça). (UNIVERSIDADES..., 2020)
Mas o que temos visto, cada vez mais, são ações concretas no sentido
de corroer por dentro a existência mesma de departamentos e programas
de pós-graduação de ciências humanas. Uma das mais graves é a recente
proposta de substituir o sistema Qualis pelo chamado fator de impacto. A
despeito de todos os seus problemas, o Qualis é um sistema de avaliação
de periódicos que vem sendo aperfeiçoado ao longo dos anos no sentido
de fornecer métricas diversamente adequadas à pluralidade das diferen-
tes áreas de conhecimento. Serve de base para decisões de alocação de
recursos e bolsas a programas de pós-graduação. O fator de impacto faz
sentido em outras áreas, como as de tecnologia, ciências formais e da na-
tureza. Se aplicado às ciências humanas, a sua tendência é fazer com que
virtualmente desapareçam revistas dessas áreas com qualificação elevada,
já que a lógica de citação, produção e autoria das ciências humanas é mui-
to diversa daquela com que operam as ciências exatas e biológicas. Isso
fornece argumento direto para cortes ainda maiores de dotações finan-
ceiras, auxílios e bolsas para programas de humanas. Ou seja, inviabiliza
sua atividade de pesquisa. A motivação de uma tal manobra, contudo, não
aparece à superfície do discurso, que agora pode inclusive se revestir de
um falacioso caráter “republicano” e “isonômico”. Eis a ideologia no seu
estado puro. Ataca-se as humanidades por dentro, sem a brutalidade apa-

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rente do segundo ministro da Educação bolsonarista (Weintraub), mas de
maneira muito mais deletéria e eficaz.

GRANDE DESEMPENHO ACADÊMICO E (GRANDES) CORTES


ORÇAMENTÁRIOS
As universidades federais vêm sofrendo cortes e contingenciamentos im-
portantes de recursos há alguns anos, iniciados nos governos petistas e se
arrastando até aos dias atuais, sempre sob a justificativa do “ajuste fiscal”.
Ainda no governo Dilma Rousseff, enfrentamos em 2015 uma dura greve
dos docentes, pela qual se questionava a aplicação das medidas de auste-
ridade na educação pública. Nessa ocasião, os investimentos nas univer-
sidades federais foram cortados em 47%. Em 2017, as verbas repassadas
se reduziram em R$ 247 milhões com relação a 2016. Em 2018, a queda foi
ainda maior. Em 2021, a previsão é de um novo corte, de R$ 1 bilhão.3 O
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Ca-
pes) também foram duramente atingidos.
A atitude de desprezo do governo Bolsonaro com a educação pública
de qualidade não inaugura o represamento de dinheiro que vivenciamos
na última década. No entanto, vemos agora um outro fenômeno, que se
associa ao primeiro: o represamento de recursos oficialmente justificado
de maneira ideológica.
Na já mencionada entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o minis-
tro mencionou “desempenho acadêmico” como uma justificativa para
os bloqueios de dotação orçamentária. Não especificou em quais docu-
mentos de medição de desempenho se baseava. Sabemos que os critérios
usados nos rankings de desempenho de universidades são, no mínimo,
questões em discussão aberta, havendo entre os especialistas discordân-
cias de superfície e de fundo acerca deles. No entanto, mesmo deixando
isso à parte, os rankings mais considerados no país e no mundo indicam

3 Ver https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/09/10/corte-de-quase-r-1-bi-para-
universidades-federais-e-mantido-mesmo-com-alteracao-no-orcamento-do-mec-para-2021-
dizem-reitores.ghtml

208 • universidade e ideologia

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exatamente o inverso no que diz respeito às três universidades4 inicialmen-
te singularizadas pelo ministério: elas subiram posições. Basta citar dois
desses rankings: Times Higher Education e Ranking Universitário Folha.
No caso da UFBA, a Reitoria publicou uma nota5 eloquente, na qual ex-
plicita o impacto do bloqueio de parte da dotação orçamentária sobre
as suas operações, e também os ganhos de desempenho alcançados nos
últimos anos, a despeito de reduções sucessivas de dotações.
As razões apresentadas pelo ministro para os cortes, além de não cor-
responderem à verdade factual relativamente ao desempenho acadêmico,
não se qualificam como razões legítimas. A despeito de não ter o ministro
detalhado exatamente os eventos que interpreta como “balbúrdia” e “ri-
dículos”, temos as duas indicações: a presença de “sem-terras” e de “gente
pelada”. Por extrapolação, digamos, o ministro se referia a eventos com
uma natureza de reflexão e expressão política, num caso, e artística, no
outro. Estamos supondo que o ministro tinha em mente performances
artísticas havidas em 2018, particularmente na UFF, uma das universida-
des escolhidas para cortes. Basta aqui dizer que se tratou de performances
artísticas com teor de denúncia à violência e às desigualdades de gênero
no país para deixar evidente o teor ideológico das críticas do ministro.
A outra hipótese é a de o ministro da educação do Brasil não ter uma
compreensão mínima do que seja uma performance artística, e do lugar
que elementos como nudez possam ter nesse tipo de expressão. Quere-
mos descartar essa hipótese.
Qual é o problema de pessoas do Movimento Sem Terra, ou de qual-
quer outro movimento social, estarem na universidade? Qual o proble-
ma de políticos, economistas, juristas, frequentarem a universidade, em
nome do debate de ideias? Assim como médicos, religiosos, indígenas ou
quilombolas? A ideia de que a universidade tem que ficar isolada da vida
política e cultural é muito ruim e reflete um dos grandes desafios à uni-

4 Ver o perfil das três universidades em https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/04/30/O-


perfil-das-3-universidades-atingidas-por-cortes-do-MEC

5 Ver: https://ufba.br/ufba_em_pauta/cortes-orcamentarios-nota-de-esclarecimento-da-
universidade-federal-da-bahia

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versidade: sair de sua bolha acadêmica e comunicar-se mais amplamente
com o mundo.
Reduzir a diversidade de pensamento, excluindo, por exemplo, tudo
que pode ser associado ao pensamento de esquerda, ou ao movimento
LGBT, ou ao movimento negro, significa eliminar da universidade seu
caráter de espaço do pensamento crítico, da experimentação livre - das
ciências às artes, da mecatrônica à antropologia. Ao mesmo tempo, a uni-
versidade de caráter exclusivamente técnico, focada nas disciplinas tec-
nológicas, está condenada a se limitar à função escolar de transmissão de
informação. O que vemos não é uma preocupação com a missão consti-
tucional das universidades, com a qualidade de ensino, ou com o gasto
de dinheiro público em instituições que, eventualmente, poderiam não
dar o retorno exigido pela sociedade – como o governo alegou no final
daquele 30 de abril de 2019, após muitas críticas – mas sim uma busca
por controle sobre as atividades que se desenvolvem dentro das universi-
dades. E isto configura uma ingerência sobre a autonomia universitária.

O PAPEL DAS UNIVERSIDADES E DAS CIÊNCIAS HUMANAS NO


BRASIL
É importante lembrar que as universidades públicas cumprem um papel,
no Brasil, que é intransferível, e que foi construído ao longo de várias
décadas. Elas são o espaço em que a sociedade reflete sobre si mesma, em
livres experimentos do pensamento e da imaginação. É assim em todos os
países que buscam soluções inclusivas e criativas para os seus problemas.
Significa que levamos aos nossos alunos e pesquisadores a possibilidade
de refletir sobre a sociedade e o mundo, a partir de ferramentas específi-
cas, adequadas às diferentes disciplinas.
No entanto, esse exercício do “pensar o mundo” pode significar trazer
à tona problemas da sociedade em seus mais variados setores que porven-
tura estivessem velados, e isso não é fácil, nem confortável. A filosofia, a
história e as ciências sociais em geral incomodam, e sempre incomoda-
ram, porque, ao traçar da sociedade retratos mais aproximados da sua
própria realidade, muitas vezes apontam o dedo para algumas realidades

210 • universidade e ideologia

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das quais nos envergonhamos e que muitos desejariam esconder ou sim-
plesmente esquecer. “A tarefa primordial de um professor capaz é a de
levar seus discípulos a reconhecerem que há fatos que produzem descon-
forto, assim entendidos os que são desagradáveis à opinião pessoal de um
indivíduo; com efeito, existem fatos extremamente desagradáveis para
cada opinião, inclusive a minha”. (WEBER, 1999, p. 41)
Weber fala de um desconforto produzido pela ciência diante das
descobertas de fatos novos da realidade, seja ela natural ou social. Esse
desconforto por parte das opiniões pessoais pode ocorrer em diversas ca-
madas, de forma simultânea ou não. Pode ser um desconforto (científico)
diante de uma descoberta que exige reformular teorias atuais; pode ser
um desconforto (político) diante de uma descoberta que que invalida de-
terminado discurso político; pode ser um desconforto (moral) diante de
uma descoberta que expõe certos costumes da sociedade que porventura
nos causem vergonha. A ciência pode causar desconfortos de várias or-
dens e os cientistas devem aprender a lidar com essa possibilidade, sobre-
tudo em relação aos desconfortos que os resultados das pesquisas podem
provocar em si mesmos. Mas também desconforto em relação aos outros,
aos colegas, a certos grupos da sociedade. As pesquisas sobre a alta taxa
de mortalidade de mulheres que fazem abortos clandestinos pode gerar
um desconforto (moral e religioso) àqueles que consideram o aborto um
grave pecado, e injustificável. Em suma, as ciências humanas em geral,
justamente por estudarem e refletirem sobre a realidade social e o ser hu-
mano em seus vários aspectos, produzem fatos científicos e reflexões que
podem ser altamente indigestos. E que podem gerar reações de muitas
ordens, inclusive agressivas.
Durante sua formação, o pesquisador aprende a equilibrar as opi-
niões e sentimentos pessoais, assim como as possíveis reações à pesquisa,
de modo a fazer uma constante vigilância epistemológica (BOURDIEU;
CHAMBOREDON; PASSERON, 1999) da atuação científica no mundo
social. Também é no âmbito das ciências humanas que aprendemos que
todo o conhecimento é localizado e sua objetividade está diretamente
vinculada à possibilidade de tornar-nos responsáveis pelo saber que gera-
mos. (HARAWAY, 1995) Ou seja, se de um lado buscamos gerar conheci-

maíra kubík mano, mariana thorstensen possas, rafael lopes azize e sue a. s. iamamoto • 211

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 211 15/04/2021 10:45:22


mento com objetividade, de outro lado esta atitude não elimina a possibi-
lidade de atuação concreta em situações que consideramos, por exemplo,
levar a injustiças e/ou desigualdades.
Nesse sentido, podemos mencionar muitos outros exemplos de des-
conforto que as ciências humanas podem causar, especialmente para de-
terminados grupos: 1) o estudo e análise da violência contra as mulheres
permitem indicar e caracterizar a realidade do machismo; 2) a pesquisa
e discussão sobre o alto número de mortes violentas de jovens negros
permitem que enxerguemos uma das dimensões do racismo; 3) o estudo
e análise de dados socioeconômicos geram constatações de que o cresci-
mento econômico pode ser acompanhado da redução do trabalho qua-
lificado e bem remunerado, além de caminhar no sentido contrário da
eliminação de trabalho escravo; 4) pesquisas podem indicar que empresas
e governo estão tomando direções contrárias à preservação do meio-am-
biente. Apesar de profundamente desconfortáveis e, para alguns, muito
inconvenientes, esses fatos existem e as implicações de não enfrentarmos
esses problemas devem ser explicitadas. Por essa razão, é papel da uni-
versidade falar deles e ajudar a pensar sobre as estratégias e caminhos de
enfrentá-los.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, a universidade pública viveu uma transformação pro-
funda, a partir da adoção da política de cotas e da ampliação de ações
de permanência de estudantes (residências universitárias, refeitórios, au-
xílio transporte, bolsas de iniciação científica etc.), de modo que hoje é
um espaço muito mais diversificado do que quando éramos alunos de
graduação. Temos hoje pessoas oriundas de todas as classes sociais, com
uma ampliação significativa de negros e negras, LGBTQIs e indígenas e
quilombolas.
A universidade tem se transformado em um espaço no qual é possí-
vel o encontro da sociedade em sua diversidade. Ainda estamos longe do
ideal, mas estamos numa busca de construir um ambiente em que indiví-
duos e grupos sociais possam pensar coletivamente e encontrar soluções

212 • universidade e ideologia

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 212 15/04/2021 10:45:22


para problemas concretos. O tripé da universidade pública, a saber, ensi-
no, pesquisa e extensão, é um caminho nessa direção.
Uma política direta de controle ideológico, como gostaria de realizar
o ex-ministro e outros tantos personagens do atual governo, em que se
excluam pessoas, eventos, disciplinas, áreas de conhecimento, por conta
de suas maneiras diferentes de ver o mundo, impacta negativamente so-
bre essa diversidade desejada e ainda distante de se concretizar em sua
plenitude.
Vivemos uma realidade política em âmbito federal que realiza fre-
quentes tentativas de abafar discordâncias internas. Isso compromete a
elaboração de diagnósticos complexos, já que estes exigem debate e con-
fronto de ideias, em busca de soluções para os problemas do país. Além
disso, o ataque a espaços de construção coletiva e múltipla de saberes,
como são as universidades públicas federais e estaduais, é exemplar do
movimento político-cultural autoritário que estamos vivendo. Nesse ce-
nário, não perdem somente nossas universidades, seus docentes, técni-
cos, estudantes e os trabalhadores terceirizados, sempre os primeiros a
serem atingidos. Perdemos como país, como seres humanos, capazes de
enfrentar os nossos problemas de frente e construir futuros melhores.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo. Cadernos Pagu,
Campinas, n. 50, p. 1-27, 2017.

ARENDT, H. Verdade e política. In: ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo:
Perspectiva, 2016. p. 282-325.

BOURDIEU, P.; CHAMBOREDON, J. C.; PASSERON, J. C. Ofício de sociólogo:


metodologia da pesquisa na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1999.

EAGLETON, T. Introduction. In: EAGLETON, T. (org.). Ideology. Londres: Longman,


1994. p. 1-22.

GUIMARÃES, M. C. F.; VAZ, M. A. Letícia Cesarino- “Todo populista bem-sucedido


hoje precisa ser também um bom influenciador digital”. Entrevistado: Letícia
Cesarino. Com Ciência, Campinas, 9 set. 2019. Disponível em: https://www.
comciencia.br/leticia-cesarino-todo-populista-bem-sucedido-hoje-precisa-ser-
tambem-um-bom-influenciador-digital/. Acesso em: 12 nov. 2020.

maíra kubík mano, mariana thorstensen possas, rafael lopes azize e sue a. s. iamamoto • 213

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 213 15/04/2021 10:45:22


HARAWAY, D. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o
privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 7-41, 1995.

KEEN, A. O culto do amador. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

SALLES, J. C. Democracia e universidade. São Paulo: Boitempo, 2020.

THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios
de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2011.

UNIVERSIDADES incentivam a promiscuidade, diz novo ministro da Educação.


Catraca Livre, [S. l.: s. n.] , 12 jul. 2020. Disponível em: https://catracalivre.com.
br/cidadania/universidades-incentivam-a-promiscuidade-diz-novo-ministro-da-
educacao/. Acesso em: 14 out. 2020.

URBINATI, N. Uma revolta contra os corpos intermediários. Leviathan: Cadernos de


Pesquisa Política, São Paulo, n. 12, p. 176-200, 2016.

WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1999.

214 • universidade e ideologia

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 214 15/04/2021 10:45:22


Sobre os autores
ARLEY RAMOS MORENO (In Memoriam)
Doutorou-se em filosofia pela Université de Provence (atual Aix-Marseille)
(1975) e foi professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Uni-
camp). Entre 1994 e 2018 coordenou o Grupo de Pesquisa “Filosofia da Lin-
guagem e do Conhecimento”, seminal nos estudos sobre Wittgenstein no
Brasil, particularmente o do chamado período intermediário. Foi organiza-
dor dos Colóquios Wittgenstein na Unicamp, que em 2015 tiveram a sua X
Edição Nacional e VII Internacional, e de várias publicações com alguns dos
nomes mais expressivos dos estudos wittgensteinianos no país e no mundo.
Entre os seus principais livros estão Wittgenstein - através das imagens (Ed.
da Unicamp, 2. ed. 1995), Introdução a uma Pragmática Filosófica (Ed. da
Unicamp, 2005), publicado em tradução para o francês com o título Intro-
duction à une épistémologie de l’usage: d’une philosophie d’activité thérapeuti-
que à une pragmatique philosophique (Ed. l’Harmattan, 2011) e Wittgenstein:
Apontamentos sobre uma epistemologia do uso (Ed. Quarteto, 2013).

BRUNA PASTRO ZAGATTO


Graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), com
mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universida-
de Federal da Bahia (PPGA-UFBA) e doutorado sanduíche em antropologia/
sociologia ambiental pela Université de Strasbourg (UNISTRA) /PPGA-U-
FBA. Foi professora substituta do departamento de Antropologia e Etnolo-
gia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) entre 2018 e 2020. Atualmente

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realiza estágio de pós-doutorado em ecologia política/antropologia no
Centre d’Étude de la Vie Politique (CEVIPOL) da Université Libre de Bru-
xelles (ULB) e é colaboradora do Centre Interdisciplinaire d'Étude des
Amériques (AmericaS - ULB). Nos últimos dois anos suas pesquisas têm
contribuído para o debate sobre zonas de sacrifício, necropolítica am-
biental e formação de milícias ambientais no Brasil.

CRISTIANE MARIA CORNÉLIA GOTTSCHALK


Professora no Departamento de Filosofia e Ciências da Educação e no
Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (FEUSP), linhas de pesquisa: Filosofia e Edu-
cação e Filosofia da Educação Matemática. É mestre em Matemática
Aplicada pela USP e doutora em Educação pela FEUSP com estágio de
pós-doutorado no Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa
(IFILNOVA). Coordena atualmente a área de “Cultura, Filosofia e Histó-
ria da Educação” do Programa de Pós-Graduação da FEUSP.

DANIEL JONES
Licenciado em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Univer-
sidade de Buenos Aires (UBA). Atualmente é Investigador Independente
do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONI-
CET) da Argentina, no Instituto de Investigações Gino Germani (IIGG) e
professor de Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais (UBA). Trabalha
sobre diferentes temas e cruzamentos entre saúde, sexualidade, gênero
e masculinidades, religião e política, epistemologias e metodologias da
investigação.

JOSÉ CRISÓSTOMO DE SOUSA


Doutor em Filosofia Política pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), professor titular do Departamento de Filosofia e do Progra-
ma de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF) da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), com estágios de pesquisa em Universidade da Califórnia

246 • em defesa das humanidades

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 246 15/04/2021 10:45:23


em Berkeley, New School e Universidade de Humboldt, sobre filosofia
contemporânea. Principais áreas de investigação: hegelianismo, Marx,
pragmatismo, neo-pragmatismo, teoria crítica pós-habermasiana, filoso-
fia política e social, fil. brasileira, metafilosofia, e discussões contemporâ-
neas envolvendo tais posições. Organizador e coordenador do grupo de
investigação e elaboração em filosofia Poética Pragmática, voltado para
o desenvolvimento de um ponto de vista poiético-pragmático, material,
em filosofia. Publicações destacadas: “A World of Our Own: A pragmati-
c-poietic trasformative perspective conversationally developed”, “Consi-
derações sobre o não-pragmatismo de Marx”, “Filosofia, Racionalidade,
Democracia: os debates Rorty-Habermas, “Marx and Feuerbachian Es-
sence”, “A questão da individualidade: a crítica do humano e do social na
polêmica Stirner-Marx”. Página: www.jcrisostomodesouza.ufba.br/

JULIANA ORTEGOSA AGGIO


Graduada, mestra e doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo
(USP). É professora de filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA),
mãe de Luã, poetisa, feminista, coordenadora do GT Filosofia e Gênero
da Anpof, tutora do PET-Filosofia/UFBA, pesquisadora de temas em tor-
no da subjetividade moderna, com base, sobretudo, no estoicismo relido
por Foucault, a noção de poder e liberdade em Foucault e de subversão e
performatividade em Butler. Publicou o livro Prazer e desejo em Aristóteles.

LEANDRO DE PAULA
Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ, 2016), Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio, 2009), bacharel em Pro-
dução Cultural pela UFF (2006), Pesquisador Visitante no departamento
de Religious Studies da Universidade da California (Santa Barbara, 2014-
2015). É professor adjunto no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências
professor Milton Santos da Universidade Federal da Bahia (IHAC/UFBA),
e professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Cultura e So-

sobre os autores • 247

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 247 15/04/2021 10:45:23


ciedade (Pós-Cultura), ambos na UFBA. Líder do Grupo de Pesquisa “Cul-
tura, Política, Lógicas Identitárias e Produtivas”, certificado pelo Conse-
lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tem
como foco prioritário de investigação a relação entre práticas discursivas
e imaginários históricos, privilegiando os temas da religião, da política e
do pluralismo democrático.

MAÍRA KUBIK MANO


É graduada em Comunicação Social, Habilitação Jornalismo, pela Ponti-
fícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, 2003) e pós-graduada
em Gênero e Comunicação pelo Instituto de Periodismo José Martí, de
Havana, Cuba (2011). Mestra em Ciências Sociais pela PUC-SP (2010) e
doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp, 2015), na linha de pesquisa de Estudos de Gênero, com dou-
torado sanduíche na Université Paris 7 - Diderot. Professora adjunta da
área de Teorias Feministas, do Departamento de Estudos de Gênero e
Feminismo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universi-
dade Federal da Bahia (FFCH/UFBA), e do Programa de Pós-Graduação
em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo do
Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (PPGNEIM/UFBA).
Pesquisadora do NEIM, na linha de Gênero, Poder e Políticas Públicas.
Áreas de atuação: teorias feministas; feminismo; estudos de gênero; par-
ticipação e representação política das mulheres. Seu último livro é Atuar
como mulheres - um olhar sobre a política institucional (2020).

MARCELO MOURA MELLO


Licenciado e bacharel em ciências sociais pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre e doutor em Antropologia Social, res-
pectivamente pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ).
Professor adjunto do departamento de antropologia e etnologia da Uni-
versidade Federal da Bahia (UFBA). Nos últimos anos, suas pesquisas têm

248 • em defesa das humanidades

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 248 15/04/2021 10:45:23


se concentrado na Guiana, em torno de questões relacionadas à religião,
ao colonialismo e à antropologia da história.

MARIANA THORSTENSEN POSSAS


Bacharel em direito Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
-SP) e ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP), mestrado em
direito penal (USP), doutorado em criminologia (University of Ottawa),
pós-doutorado no NEV/USP. Professora adjunta do Departamento de So-
ciologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e integra o Programa
de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS/UFBA) e o Mestrado Pro-
fissional em Segurança Pública (MPSPJC/UFBA). É uma das coordenado-
ras do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade (LASSOS/UFBA).
Suas áreas de pesquisa são: sociologia do direito, sociologia do crime e os
direitos humanos. Suas pesquisas recentes são sobre a produção e o tra-
tamento das mortes violentas (homicídios) nos grandes centros urbanos
e sobre a mobilização dos direitos humanos nas várias esferas sociais no
Brasil.

NICOLAS VIOTTI
Licenciado em Sociologia e Doutor em Antropologia Social pelo Museu
Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ). Atualmente
é Investigador Adjunto do Conselho Nacional de Investigações Científi-
cas e Técnicas (CONICET) da Argentina, no Instituto de Altos Estudos
Sociais da Universidade Nacional de San Martín (IDAES/UNSAM). É tam-
bém docente do IDAES/UNSAM e no Mestrado em Antropologia Social
e Política da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (FLACSO).
Seus temas de investigação têm que ver com as formas sociais da crença
e os critérios de evidência, com foco na religiosidade contemporânea e as
fronteias com os saberes científicos.

sobre os autores • 249

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 249 15/04/2021 10:45:23


RAFAEL AZIZE
Licenciado em Letras Inglês/Francês pela Faculdade de Letras da Univer-
sidade de Lisboa, mestre em Teoria Literária pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) e doutor em Filosofia pela Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp). Atua como professor adjunto no Departamen-
to de Filosofia da Universidade Federal da Bahia UFBA). Suas principais
áreas de interesse são estética e filosofia da arte e da crítica, com ênfase
nas relações entre arte, subjetividade, cultura e valor; filosofia da lingua-
gem ordinária, com ênfase nas relações entre pragmática, experiência
do significado, interpretação e racionalidade; crítica da modernidade;
metafilosofia. Movendo-se entre estética e antropologia filosófica, a sua
pesquisa mais recente investiga articulações filosóficas contemporâneas
sobre usos da arte no mundo da vida, através de uma tensão entre um
autonomismo radical, que informa versões da noção de valor intrínseco
da arte em uma autocontenção inconsequente, e um instrumentalismo
reducionista, em que se busca tutelar os modos como a arte ensaia visões
novas da sociedade e dos processos de subjetivização. Website: sites.goo-
gle.com/site/rafaelazize.

RICHARD ELDRIDGE
Mestre e doutor em filosofia pela Universidade de Chicago, professor emé-
rito de filosofia do Swarthmore College, e leitor de filosofia na Universida-
de do Tennessee. Suas áreas de especialidade são estética e teoria da crítica,
filosofia da linguagem, filosofia e literatura, idealismo alemão, Wittgens-
tein e romantismo. Dirige a coleção “Oxford Studies in Philosophy and
Literature” da Oxford University Press. Entre seus livros estão: Werner Her-
zog: Filmmaker and Philosopher (Bloomsbury, 2018), Images of History: Kant,
Benjamin, Freedom, and the Human Subject (Oxford University Press, 2016),
An Introduction to the Philosophy of Art (Cambridge University Press, 2. ed.,
2014), Literature, Life, and Modernity (Columbia University Press, 2008), The
Persistence of Romanticism: Essays in Philosophy and Literature (Cambridge
University Press, 2001) e Leading a Human Life: Wittgenstein, Intentionality,
and Romanticism (The University of Chicago Press, 1997).

250 • em defesa das humanidades

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 250 15/04/2021 10:45:23


ROGER MAIOLI
Assistant Professor of English na Universidade da Flórida. É mestre em Es-
tudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo
(USP) e mestre e doutor em Literatura Inglesa pela Johns Hopkins Uni-
versity. Suas áreas de pesquisa incluem a literatura britânica do século
XVIII, os estudos iluministas e a atual crise das humanidades. É autor de
Empiricism and the Early Theory of the Novel: Fielding to Austen (Palgrave,
2016) e de artigos sobre literatura, filosofia e história intelectual. Seu pro-
jeto mais recente é um livro sobre o relativismo iluminista. Seu website é
www.rogermaioli.org.

SUE A. S. IAMAMOTO
Doutora em ciência política pela Queen Mary University of London e
professora adjunta da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Também
possui graduação em jornalismo e mestrado em ciência política, ambos
pela Universidade de São Paulo (USP). Coordena o Grupo de Pesquisa
“Democracia, Participação e Representação Política” (Depare), cadastra-
do no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e sediado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH)
da UFBA. É autora do livro El nacionalismo boliviano en tiempos de pluri-
nacionalidade (2013), e atualmente pesquisa movimentos sociais de juven-
tude e memória coletiva sobre a ditadura militar no Brasil.

VINICIUS DOS SANTOS


Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) e licenciado em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano.
Mestre e doutor em Filosofia pela UFSCar. Professor adjunto do Departa-
mento de Filosofia e professor colaborador do Programa de Pós-Gradua-
ção em Filosofia da Universidade Federal da Bahia (PPGF-UFBA). Atual-
mente, pesquisa as relações entre o pensamento de Marx e o problema da
subjetividade (com um livro, no prelo, sobre o assunto).

sobre os autores • 251

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 251 15/04/2021 10:45:23


Colofão

Formato 16 x 23 cm

Tipologia Calluna
Calluna Sans
Papel Alcalino 75 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 300 g/m2 (capa)

Impressão EDUFBA

Capa e Acabamento Gráfica 3

Tiragem 300 exemplares

em-defesa-das-humanidades-miolo.indb 252 15/04/2021 10:45:23

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