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4-Apostila - Crimes em Espécie - Contra A Dignidade Sexual

O documento aborda os crimes contra a dignidade sexual, incluindo estupro, importunação sexual e assédio sexual, conforme previsto no Código Penal brasileiro. Explica as definições, sujeitos ativos e passivos, e as diferenças entre esses crimes, destacando a importância da dignidade da pessoa humana e a proteção da liberdade sexual. Além disso, menciona a evolução legislativa em resposta a fatos sociais e a necessidade de um entendimento mais amplo sobre assédio sexual fora do ambiente de trabalho.

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O documento aborda os crimes contra a dignidade sexual, incluindo estupro, importunação sexual e assédio sexual, conforme previsto no Código Penal brasileiro. Explica as definições, sujeitos ativos e passivos, e as diferenças entre esses crimes, destacando a importância da dignidade da pessoa humana e a proteção da liberdade sexual. Além disso, menciona a evolução legislativa em resposta a fatos sociais e a necessidade de um entendimento mais amplo sobre assédio sexual fora do ambiente de trabalho.

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PROFESSOR(A): MARCELLO SANTOS

Dos Crimes em Espécie

Crimes contra a Dignidade Sexual


Objetivo da Aula

Conhecer quais são os crimes contra a dignidade sexual, os tipos, as similitudes e as


diferenças entre eles.

Apresentação

Vamos olhar para os crimes sobre a dignidade sexual, explicar os verbos núcleos do tipo
e apresentar quem pode ser vítima e quem é o autor. Nesses crimes contra a dignidade
sexual, temos que ter uma atenção especial, pois, nesse momento, faremos um cotejo entre
o direito penal e a criminologia, para que você compreenda as relações entre as matérias.

Conteúdo

Os crimes contra a dignidade sexual se encontram no Código Penal, título VI, capítulo
I. Priorizaremos os seguintes crimes: estupro (art. 203), importunação sexual (art. 215-A)
e assédio sexual (art. 216-A) (BRASIL, 1940).
Antes de entrar nos delitos específicos, vou explicar um ponto que é fundamental.
Importante demonstrar que existe um princípio constitucional muito importante que
norteia a proteção da liberdade sexual. Esse princípio está previsto no art. 1º, inciso III, da
Constituição Federal de 1988:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]
III – a dignidade da pessoa humana. (BRASIL, 1988)

Note que nossa Carta Magna constitui como fundamento da República a dignidade da
pessoa humana.

Pode-se afirmar que a dignidade humana corresponde à compreensão do ser humano na sua
integridade física e psíquica, como autodeterminação consciente, garantia moral e juridica-
mente. (GARCIA, 2010)

Livro Eletrônico
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Ao cometer delito contra a dignidade sexual, o autor macula não só a liberdade e a


dignidade sexual da vítima, mas também a sua dignidade humana. Com esses tipos penais,
o legislador oferece proteção ao cidadão, salvaguardando bens de relevante valor social.
Justamente os tipos que norteiam os crimes contra a dignidade sexual protegem a dignidade
da pessoa humana e a sua autonomia de vontade, conforme visto. A pessoa tem o direito de
escolher com quem quer se relacionar, e o outro tem o dever de respeitar essa escolha.
Iniciaremos pelo crime de estupro, previsto no Código Penal:

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 (seis)
a 10 (dez) anos. (BRASIL, 1940)

Vamos analisar nossos tópicos: a) bem jurídico protegido é a tutela da liberdade sexual, a
pessoa pode dispor do próprio corpo, como, quando e onde e com quem for de sua vontade;
b) sujeito ativo é qualquer pessoa física, podendo ser homem ou mulher; c) sujeito passivo
é qualquer pessoa física homem ou mulher; d) conduta é constranger alguém mediante
violência ou fraude com o objetivo libidinoso. Constranger é forçar, coagir a pessoa, violência
é aplicar força física contra a vítima, e a grave ameaça é a força moral que se pratica contra
a pessoa, por exemplo, ameaça de morte (MOREIRA FILHO, 2020).
O crime de estupro está catalogado como crime hediondo, previsto na Lei n. 8.072/1990,
no art. 1º, inciso V:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no


2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados:
V – estupro (art. 213, caput e § § 1º e 2º).

Os crimes considerados hediondos são delitos com patamar de maior gravidade, e seus
autores não podem ser beneficiados por fiança, anistia ou indulto (BRASIL, 1990).
Sobre a consumação delitiva, vamos esclarecer dividindo o tipo penal em duas partes. Na
primeira parte do dispositivo, o crime se consuma com o coito carnal, desde que cometido
com violência ou grave ameaça. Na segunda parte, praticar ou permitir que se pratique
ato libidinoso se consuma independentemente do resultado da violência ou grave ameaça
empregada para a satisfação da lascívia (MOREIRA FILHO, 2020), estando diante da conjunção
carnal, que é a introdução completa ou incompleta do pênis na vagina, não se exigindo, em
nenhum dos casos, a ocorrência da ejaculação.

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Já com relação aos outros atos libidinosos, a consumação é mais ampla, pois as maneiras
de cometimento do crime são diversificadas, bastando o toque físico eficiente para gerar
a lascívia ou o constrangimento efetivo da vítima ou, até mesmo, a exposição sexual ao
agente para ser atingida a consumação (NUCCI, 2020).
Aprendemos que a pessoa tem a liberdade de escolher com quem quer se relacionar. O
ordenamento jurídico garante esse direito às pessoas, punindo aqueles que não respeitam
essa vontade. Verificamos que o crime de estupro tutela a liberdade sexual e a integridade
física, moral e psíquica. Passaremos ao crime de importunação sexual, previsto no art.
215-A do Código Penal:

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satis-
fazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não
constitui crime mais grave. (BRASIL, 1940)

O crime de importunação sexual é um tipo relativamente novo, que passou a vigorar


no Código Penal, a partir de setembro de 2018, com a promulgação da Lei n. 13.718/2018.
Antes disso, os crimes dessa natureza eram tratados como estupro, justamente por não
existir uma figura legislativa específica (BRASIL, 2018).
A mola propulsora para a criação desse tipo penal foi um caso ocorrido na cidade de
São Paulo, quando um homem, no ônibus, masturbou-se e ejaculou em uma passageira.
Essa notícia foi veiculada em diversos meios de comunicação, e o homem foi preso por
prática de estupro – lembre-se de que, em 2017, não existia a figura do crime previsto
como importunação sexual.

LINK
Para saber sobre esse assunto, acesse o link: https://g1.globo.com/
sao-paulo/noticia/homem-e-preso-suspeito-de-ato-obsceno-contra-
mulher-em-onibus-3-caso-em-sp.ghtml. Acesso em 19 out 2022.

A ausência de tipo penal causou questionamento da população, repercutindo no mundo


jurídico e social e na mídia. A inexistência dessa conduta evidenciou o vácuo legislativo.
Considerava-se um excesso punitivo, com a imputação do crime de estupro, o qual possui
natureza hedionda, e uma insuficiência punitiva frente à contravenção penal de importunação
ofensiva ao pudor (MASSON, 2019). Analisaremos o nosso esquema já conhecido!

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Vamos observar o seguinte: a) bem jurídico protegido é dignidade sexual; b) sujeito ativo
é qualquer pessoa, podendo ser qualquer um, conhecido ou desconhecido da vítima. Não
é incomum o autor usar lugares com aglomeração, como festas, ônibus ou metrôs, para
se esfregar e até mesmo ejacular na vítima; c) sujeito passivo é qualquer pessoa física que
tenha sua dignidade sexual maculada; d) a conduta é praticar ato libidinoso sem a anuência
e com o objetivo de satisfazer a lascívia pessoal (MOREIRA FILHO, 2020).
Para explicar mais detalhadamente, note que a ação nuclear está consubstanciada pelo
verbo “praticar”, sem a sua anuência, ato libidinoso (outras formas de realização do ato
sexual, que não a conjunção carnal e que não configurem o crime de estupro). Por exemplo,
passar a mão nas partes íntimas ou a masturbação direcionada ao sujeito passivo, com o
objetivo de satisfazer a lascívia (desejo sexual) do próprio sujeito ativo ou de terceiros. Esse
conceito deve estar bem sedimentado para você (CAPEZ, 2019).
Futuro criminologista, você tem a total capacidade de perceber a diferença entre
estupro e importunação sexual. Observe que, no crime de estupro, o autor pratica ato
sexual (conjunção carnal ou outro ato libidinoso) com a vítima, mediante violência ou grave
ameaça. Já no crime de importunação sexual, o autor pratica atos libidinosos, menos lesivos
que os atos próprios do estupro, com a finalidade de satisfazer seus desejos.
Atente-se para o seguinte ponto: como você bem observou, temos a existência de um
fato social (um homem que ejaculou em uma mulher). Disso, verificou-se que não existia
um tipo específico para esse fato, e do movimento social, jurídico e midiático adveio a
promulgação da Lei n. 13.718/2018, que criminaliza essa conduta. Estamos diante de um fator
extremamente importante para o futuro criminologista. Você deve compreender que esse
movimento faz parte do objeto da criminologia. Os artigos selecionados foram escolhidos
de forma muito particular, justamente para demonstrar esse tipo de movimento social.
Para finalizar esta aula, vamos tratar sobre assédio sexual, previsto no art. 216-A do
Código Penal (BRASIL, 1940, on-line):

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Inicialmente, vamos nos socorrer do nosso famoso esquema: a) bem jurídico protegido
é a liberdade sexual da pessoa humana; b) sujeito ativo é somente superior hierárquico ou
que tenha ascendência sobre a vítima, podendo ser qualquer pessoa, independentemente

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do gênero; c) sujeito passivo é somente o subordinado; d) a conduta criminosa recai sobre


o indivíduo que suporta o constrangimento (MOREIRA FILHO, 2020).
Quero chamar a sua atenção para o seguinte ponto: deve ficar claro que a única forma
de assédio sexual tipificado em nosso ordenamento é o decorrente das relações de trabalho.
Isso fica evidente pela leitura do tipo penal, que prevê que o autor se prevalece da sua
condição de superior hierárquico.
Mais uma vez, pretendo demonstrar algo muito relevante ao futuro criminologista.
Quando o legislador tipificou o assédio sexual dessa forma, ele fechou o tipo somente para
as relações de trabalho. Não existe assédio sexual fora do ambiente de trabalho. Ocorre
que o assédio sexual é muito mais amplo do que previsto em nosso ordenamento!
O assédio sexual pode se dar em diversas áreas da relação social; sendo exemplificativo,
pode ocorrer no meio acadêmico (alunos, servidores e professores), hospitalar (médicos,
auxiliares e pacientes) e religioso (sacerdotes e fiéis). O ordenamento deveria incluir essas
situações na redação do crime de assédio sexual, para puni-las criminalmente.
Apresento esse ponto justamente para demonstrar, mais uma vez, a importância do
estudo dos tipos penais. A compreensão desses ilícitos, dos tipos e dos verbos núcleos são
parte do estudo da criminologia. O futuro criminologista tem que se atentar e compreender
as nuances dos elementos constitutivos do tipo, uma vez que identificar isso é identificar
o objeto de estudo criminológico.

Considerações Finais

Você compreendeu a diferença entre os crimes de estupro, importunação sexual e


assédio sexual. Conheceu os tipos, quem pode cometer o delito, quem são as vítimas em
cada um deles e que o bem jurídico tutelado é a liberdade sexual, segundo a qual a pessoa
pode escolher com quem quer se relacionar.
Além disso, viu que os fatos sociais são propulsores para a criação de tipos penais novos.
O corpo social identifica novas necessidades de criminalizar condutas, e o legislador, após
estudar a viabilidade, aciona o processo de produção legislativa.
O importante deste tópico é você perceber que a sociedade se movimenta de forma rápida,
necessitando de respostas quase que imediatas, mas o direito não consegue acompanhar
esse anseio. Esse tema faz parte da criminologia, que identifica esses anseios, indicando
uma resposta plausível para a sociedade.

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Materiais Complementares
Filme:
Uma Garota de Muita Sorte. Esse filme é muito necessário, pois traz casos de estu-
pros que ocorrem em um meio social de alto padrão, mostra a nocividade desses
crimes, que deixam muitas marcas psicológicas, e corrobora com o que apresen-
tamos nesta aula.
Data de lançamento: 30 de setembro de 2022 (mundial);
Diretor: Mike Barker;
Produção: Mila Kunis, Bruna Papandrea, Lucy Kitada, Erik Feig, Jeanne Snow;
Distribuído por: Netflix.

Referências

BRASIL, Decreto-lei n. 2848, de 7 de dezembro de 1940.

BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1998.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito penal, parte especial (arts. 231 a 359-h). 17 ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019. Vol. 3.

GARCIA, Maria, SOUZA, Carlos Aurélio Mota de e CAVALCANTI, Thais Novaes. Princípios
Humanistas Constitucionais, Reflexões sobre o Humanismo do Século XXI, 1º Edição –
Editora Letras Jurídicas, 2010.

MASSON, Cleber. Direito Penal: parte especial (arts. 213 a 359-H). 9 ed. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019. Vol. 3.

MOREIRA FILHO, Garacy. Código Penal Comentado. 10º Ed. São Paulo: Rideel. 2020.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 20ª edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2020.

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