PROFESSOR(A): MARCELLO SANTOS
Direito Penal Constitucional Humanizado
Constituições: Evolução dos Direitos Humanos
Objetivo da Aula
Conhecer a evolução das constituições e como isso refletiu nos direitos humanos em
nosso país.
Apresentação
Vamos ter uma aula um pouco mais teórica, mas com o objetivo de começar a desmistificar
a ideia de que direitos humanos dizem respeito tão somente à integridade física. Os direitos
humanos vão muito além disso e pretendo apresentar isso para você.
Quero abordar as constituições brasileiras, através da perspectiva do professor Pedro
Lenza. Passaremos por cada uma das constituições do Brasil, explicando brevemente as
influências de constituições estrangeiras que refletiram em nossos ordenamentos, com o
intuito de demonstrar que cada constituição nacional tem uma fagulha de direitos humanos
e como se deu essa evolução, partindo da Constituição de 1824 até os dias atuais.
Vamos analisar, ainda, como eram as formas de governo, o território estabelecido,
a organização dos poderes, entre outros aspectos que culminaram na evolução dos direitos
humanos no Brasil. Esse caminho é importante para demonstrar como se deu essa evolução.
Ao final, apresentarei como esses pontos então atualmente previstos na Constituição
Federal de 1988.
Conteúdo
Inicialmente, vou me basear no Pedro Lenza (2019) para apresentar pontos sensíveis
sobre a evolução das constituições brasileiras. Outro ponto que pretendo deixar claro é
que direitos humanos são amplos e não dizem respeito somente à vida humana e à sua
liberdade ou dignidade. Direitos humanos são muito mais amplos que isso, versando sobre
Estado Democrático, garantias sobre propriedade, moderação do Estado frente ao corpo
social, entre outros.
Livro Eletrônico
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Partindo de 1824, o Brasil declara a independência, e Dom Pedro convoca, em 1823, uma
Assembleia Geral Constituinte, com ideais liberais. Mas essa assembleia se dissolveu, tendo em
vista os ideais liberais e as pretensões arbitrárias. Para suprir essa falta, Dom Pedro I criou um
conselho de Estado para elaborar um novo projeto, de acordo com a sua vontade de “Majestade
Imperial”.
Assim, em 25 de março de 1824, outorgou-se a Constituição do Império Brasileiro, sendo
a que durou mais tempo (1824 até 1891), a qual sofreu influência da constituição francesa
de 1814. Vamos olhar para algumas importantes características dessa constituição brasileira.
O governo ainda era monárquico, e o Estado era tratado de forma unitária. As antigas
capitanias hereditárias passaram a ser províncias. A dinastia imperante era a do Senhor D.
Pedro I, que defendia os interesses de seu império. A religião oficial era a católica apostólica
romana, mas todas as outras religiões eram permitidas – porém, seus cultos deveriam ser
domésticos e velados, sem poder se manifestar em templos. Sobre a organização dos poderes,
eram quatro: Poder Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador. O Poder Judiciário era
manifestado pelo Poder Judicial.
Importante esclarecer que houve tentativas frustradas de instalar um Estado Federativo
durante o Império, o que não ocorreu. Houve muitas insurreições populares durante o período
do Império, destacando-se: A cabanagem (no Pará, em 1835); a Farroupilha (no Rio Grande
do Sul, em 1835), a Sabinada (na Bahia, em 1838), a Balaiada (no Maranhão, em 1838) e a
Revolução Praieira (em Pernambuco, em 1848). Na ordem internacional, temos o reflexo
na Constituição 1824 da Revolução Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789). Essa
Constituição continha um rol importante sobre direitos civis e políticos, influenciando as
declarações de direitos e garantias subsequentes.
Novamente, temos, em 1890, uma Assembleia Constituinte e, em 24 de fevereiro de 1891,
temos a primeira Constituição da República do Brasil – a segunda do constitucionalismo
pátrio, sofrendo reformas em 1926 e vigorando até 1930 (LENZA, 2019, p. 131). Essa
Constituição sofreu forte influência da Revolução Americana de 1787, em que consagrou o
governo como presidencialista e a forma de Estado federal, tendo o regime representativo.
A capital do Brasil passou a ser o estado do Rio de Janeiro, mas sendo transformada em
Distrito Federal. Nessa Constituição, não há mais religião oficial.
Com relação à organização dos poderes, é importante ressaltar que o poder moderador
foi extinto, pois não havia mais a figura do rei. Temos os poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário – neste aparece a figura do Supremo Tribunal Federal como sendo órgão máximo,
composto de 15 Juízes.
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sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
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Em linhas gerais, podemos conceituar o Poder Moderador como a
prerrogativa que o rei tinha para intervir nos outros poderes. Para saber
mais sobre o Poder Moderador, visite: http://mapa.an.gov.br/index.php/
menu-de-categorias-2/298-poder-moderador. Acesso em 22 nov. 2022.
Importante falar sobre a declaração de direitos, o que não havia na constituição anterior. Ela
foi, então, aprimorada, abolindo-se as penas de galés, de banimento e de morte, e ressalvada
nas penas de morte, em caso de guerra declarada. Apareceram as proteções clássicas, como
direito à liberdade, direito à propriedade privada e garantias civis e políticas. Note que não
existia previsão para direito dos trabalhadores.
No tocante às garantias constitucionais, essa Constituição deixou expresso, pela primeira
vez, o remédio constitucional do habeas corpus. Sobre o habeas, esse, já naquela época, era
destinado exclusivamente para a liberdade de locomoção. O habeas corpus é um instituto
atual que serve para garantir o direito de locomoção dos indivíduos que sejam tolhidos de
sua liberdade por violência ou arbitrariedade do Estado. Você, como futuro criminalista,
deve aprofundar mais sobre esse assunto, considerando a sua importância.
A Constituição de 1934 sofreu enormes mudanças, considerando os movimentos sociais
por melhores condições de trabalho, que acabaram por influenciar o texto constitucional.
Essa constituição sofreu influências da Constituição de Weimar, da Alemanha de 1919,
evidenciando em nosso país os direitos humanos de 2ª geração e a perspectiva do Estado
Social de Direito – democracia social.
A forma de governo e o regime representativo eram constituídos pela união perpétua e
indissolúvel dos estados, do Distrito Federal e dos territórios em Estados Unidos do Brasil,
mantendo a forma de governo sob o regime representativo. Manteve-se a inexistência de
religião, sendo considerado um Estado laico, sem sofrer influências da religião. Os poderes
são separados em três poderes: o Poder Legislativo era exercido pela Câmara dos Deputados,
com a colaboração do Senado Federal; o Poder Executivo era exercido pelo Presidente da
República, juntamente com o Vice-Presidente, eleitos pelo sufrágio universal; e o Poder
Judiciário era composto de uma Suprema Corte, juízes federais e juízes militares.
Nessa Constituição, temos como declarações de direitos o voto feminino com o mesmo
valor do voto masculino e, também, o voto secreto. Aparecem, ainda, novos títulos, previstos
dentro da Constituição, como ordem econômica e social, família, educação e segurança
nacional. Priorizam a legislação trabalhista e a representação classista, mas uma das
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novidades mais importantes se traduz pelo aparecimento do mandado de segurança e da
ação popular.
Referente à Constituição de 1937 (Era Vargas), foi instaurada uma ditadura. Mas vamos
ao que interessa: a forma de governo ainda era a República, e a forma do Estado era o
federalismo. Não existia religião oficial. Os poderes eram separados em Legislativo, Executivo
e Judiciário.
A República é caracterizada como uma forma de governo na qual o chefe de Estado
é eleito pelo povo ou pelos seus representantes, tendo a sua chefia uma duração
limitada, assim como acontece atualmente.
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A maneira mais simples de definir Estado Federal é caracterizá-lo como
uma forma de organização e de distribuição do poder estatal, em que
a existência de um governo central não impede que sejam divididas
responsabilidades e competências entre ele e os Estados-membros.
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/jovemsenador/home/
arquivos/textos-consultoria/o-federalismo-brasileiro. Acesso em 07
nov. 2022.
Como declaração de direitos, não houve a previsão do mandado de segurança nem da
ação popular, e outros princípios foram retirados – lembrem-se de que estamos em uma
constituição ditatorial. Nesse tempo sombrio, a pena de morte poderia ser aplicada em
crimes políticos e nas hipóteses de homicídio cometido por motivo fútil e com extrema
perversidade. Ainda, a tortura era utilizada como instrumento de repressão. Foi nacionalizada
e formalizada a economia, bem como apareceram garantias e direitos aos trabalhadores.
Na Constituição de 1946, temos o início da democratização do país, além da forma
de governo republicano e da forma do Estado como federativa. Não havia religião oficial.
A separação dos poderes é tripartida, com o Executivo, Legislativo e Judiciário. Temos
como declaração de direitos o mandado de segurança e a ação popular prevista no texto
constitucional.
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Para esclarecer sobre mandado de segurança, leia: https://www.tjdft.jus.
br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-
semanal/mandado-de-seguranca. Acesso em 7 nov. 2022.
Para esclarecer sobre ação popular, leia: https://www.politize.com.br/acao-popular-o-
que-e/. Acesso em 7 nov. 2022.
Importante esclarecer que houve vedação da pena de morte, caracterizando uma
humanização, salvo em caso de guerra declarada. Também se retiraram a pena de banimento,
a de confisco e a de caráter perpétuo. Ademais, foi reconhecido, como uma garantia
trabalhista, o direito à greve.
Em 1967, após o golpe militar, temos uma outra constituição, na qual a forma de governo
se manteve a República. A forma de Estado se mantinha o federalismo, mas esse conceito
sofreu um duro golpe, pois, na prática, a forma de Estado se aproximava muito do Estado
unitário. Importante ressaltar que, nas declarações de direitos, havia a possibilidade de
suspensão de direitos políticos por até 10 anos. Mas convém explicar que os direitos dos
trabalhadores foram mais bem definidos, sendo a eles concedida maior eficácia.
Chegamos, por fim, à Constituição Federal de 1988, também conhecida como “Constituição
Cidadã”, por ampliar muitos direitos e garantias. A forma de governo é o republicano, o sistema
é presidencialista, e a forma de Estado é a federação. Inexiste religião oficial, muito embora
no preâmbulo contenha a palavra “Deus”. Prevê-se a separação dos poderes em Executivo,
Legislativo e Judiciário, sendo que esses são independentes e harmônicos entre si.
No preâmbulo, o que seria uma introdução, temos os valores supremos de um Estado
Democrático, o qual é fundado na harmonia social e comprometido com: o exercício dos
direitos sociais e individuais; a liberdade; a segurança; o bem-estar; o desenvolvimento; a
igualdade; e a justiça.
Como estamos diante de uma Constituição que ampliou os direitos e as garantias, vamos
elencar os principais pontos de forma resumida:
a) Os princípios democráticos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos
estão assegurados no texto;
b) O racismo e a tortura se tornaram crimes inafiançáveis;
c) Os direitos de trabalhadores foram ampliados;
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d) Os remédios constitucionais foram previstos no texto, habeas corpus, habeas data,
mandado de segurança e mandado de segurança coletivo;
e) A previsão da defensoria pública como instituição essencial à justiça também
foi prevista.
Considerações Finais
Nesta aula, percorremos todas as constituições brasileiras, sob a perspectiva evolutiva
histórica, sem nos descuidar dos aspectos históricos, em que demonstro a importância das
ideias que cada uma delas trouxe em seu momento histórico e evolutivo.
Cada constituição teve um papel importante na história brasileira, mas o registro
mais pungente é justamente o de que, na maioria das vezes, esses textos trouxeram uma
segurança jurídica para o corpo social, limitando o poder do Estado.
Observamos, de forma clara, que, sempre que houve mudança constitucional, novas
garantias foram implementadas. Através dessa construção social, temos, atualmente, uma
constituição vigente, que trouxe em seu corpo muito dessa evolução legislativa, concedendo
direitos e garantias mínimas para a sociedade.
Materiais Complementares
Documento: Constituições do Brasil. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/noticias/
verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=391696 . Acesso em 02 out. 2022.
Documento: Constituições Brasileiras, resumo. Disponível em: https://www12.senado.
leg.br/noticias/glossario-legislativo/constituicoes-brasileiras . Acesso em 02 out. 2022.
Imagem: Imagens das Constituições Brasileiras. Disponível em: https://www2.camara.
leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/copy_of_museu/publicacoes/arquivos-
pdf/Constituicoes%20Brasileiras-PDF.pdf. Acesso em 01 out. 2022.
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, v.1. 20ª ed. ver.,
ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014.
BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1998.
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LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 23 ed. São Paulo, Saraiva, 2019.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Pe-
nal Brasileiro: primeiro volume – Teoria Geral do Direito Penal. 2. Ed. Rio de Janeiro: Revan,
2003.
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