Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância
Tema:
História da filosofia antiga abre caminhos para refletir que o mundo actual
forja se com muitas crenças divergentes, por isso urge a necessidade de se
aprimorar o aprofundamento da pesquisa no ambiente da filosofia moderna.
Rofina Pinto Buane
Código:708243335
Curso: Licenciatura em ensino de Biologia
Cadeira de : Introducao a filosofia
Ano: 2°
Turma:A
Beira, Maio de 2025
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Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância
Tema:
História da filosofia antiga abre baminhos para refletir que o mundo
actual forja se com muitas crenças divergentes, por isso urge a
necessidade de se aprimorar o aprofundamento da pesquisa no
ambiente da filosofia moderna.
Rofina Pinto Buane
Código:708243335
Este trabalho é de carácter avaliativo da
cadeira: Introducao a filosofia, leccionado
pelo docente: Msc. José Castiano Cote
Beira, Maio de 2025
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Índice 0.5
Aspectos Introdução 0.5
Estrutura
organizacionais Discussão 0.5
Conclusão 0.5
Bibliografia 0.5
Contextualização (Indicação
1.0
clara do problema)
Descrição dos objectivos 1.0
Introdução
Metodologia adequada
2.0
ao objecto do
trabalho
Articulação e domínio do
Conteúdo
discurso académico
2.0
(expressão escrita cuidada,
Análise e coerência /
discussão coesão textual)
Revisão bibliográfica
nacional e internacionais 2.
relevantes na
área de estudo
Exploração dos dados 2.0
Conclusão Contributos teóricos práticos 2.0
Paginação, tipo e tamanho
de
Aspectos gerais Formatação 1.0
letra, paragrafo,
espaçamento entre linhas
Normas APA
Rigor e coerência
Referências 6ª edição
das 4.0
Bibliográfic e
citações/referências
as m
bibliográficas
citações e
bibliografia
3
Recomendações de melhoria:
4
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................. 6
1.1. Objectivos ......................................................................................................................... 6
Objetivo geral ................................................................................................................................ 6
Objetivos específicos .................................................................................................................... 6
1.2. Estrutura do trabalho.......................................................................................................... 6
1.3. Metodologias ..................................................................................................................... 6
2. História da filosofia antiga abre caminhos para refletir que o mundo actual forja se com
muitas crenças divergentes, por isso urge a necessidade de se aprimorar o aprofundamento da
pesquisa no ambiente da filosofia moderna. ............................................................................. 7
2.1. História da Filosofia e sua etapas .................................................................................. 7
Filosofia antiga .......................................................................................................................... 7
Filosofia medieval ..................................................................................................................... 8
Filosofía renacentista ................................................................................................................ 9
Filosofia moderna...................................................................................................................... 9
Filosofia do século XIX .......................................................................................................... 10
Filosofia contemporânea ......................................................................................................... 11
2.2. Particularidades da filosofia no contexto académico actual com a realidade
moçambicana........................................................................................................................... 12
2.2.1. Ensino da filosofia em Moçambique: os fundamentos e o conteúdo ...................... 12
Fundamentos da filosofia em Moçambique ................................................................................ 12
Conteúdo da filosofia em Moçambique .................................................................................. 13
2.3. A Interdisciplinaridade da Filosofia: Biologia, Física e História ................................... 14
Conclusão ............................................................................................................................ 17
Bibliografias ................................................................................................................................ 17
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1. Introdução
O presente trabalho de pesquisa tem como tema ‘’ História da filosofia antiga abre
caminhos para refletir que o mundo actual forja se com muitas crenças divergentes, por
isso urge a necessidade de se aprimorar o aprofundamento da pesquisa no ambiente da
filosofia moderna. Como se pode ver pelo tema, pela sua universalidade, como ciência
que se preocupa com o estudo do todo, e pela sua particularidade, a profundidade crítica
e analítica que aborda os fenómenos, a Filosofia foi chamada a dar o seu contributo na
resolução de problemas cadentes da sociedade moçambicana relacionados com o défice
epistemológico dos alunos do ensino geral e resgate dos valores morais dos jovens em
geral.
1.1.Objectivos
Objetivo geral
Compreender as etapas do surgimento da filosofia como ciência;
Objetivos específicos
Identificar as etapas de evolução da filosofia;
Descrever a filosofia dentro da comunidade e sociedades moçambicana;
Relacionar a filosofia com outras ciências.
1.2.Estrutura do trabalho
O trabalho está estruturado da seguinte maneira: Elementos pré-textuais: (capa, folha de
rosto, índice, folha de recomendações, folha de feedback e Introdução) e
Desenvolvimento do trabalho e Elementos pós-textuais: conclusão e a respetiva
referência bibliografia.
1.3.Metodologias
Refere-se a uma pesquisa básica de revisão bibliográfica e documental no formato
narrativo. De acordo com Rother (2007, p.1) artigos de revisão narrativas são
basicamente, utilização de publicações em livros, revistas impressas e eletrônicas sob a
perspectiva do autor. Para a realização do presente trabalho foram utilizados livros
impressos e digitais, documentos, e outros materiais encontrados em sites, destacando o
História da filosofia antiga abre caminhos para refletir que o mundo actual forja se com
muitas crenças divergentes, por isso urge a necessidade de se aprimorar o aprofundamento
da pesquisa no ambiente da filosofia moderna
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2. História da filosofia antiga abre caminhos para refletir que o mundo actual
forja se com muitas crenças divergentes, por isso urge a necessidade de se
aprimorar o aprofundamento da pesquisa no ambiente da filosofia moderna.
2.1.História da Filosofia e sua etapas
A filosofia como a conhecemos, entendida como filosofia ocidental, tem suas origens na
Grécia Antiga. Por ser uma disciplina ampla, complexa e mutável, uma maneira de
entendê-la é por meio de sua história, que é dividida em diferentes períodos. Aqueles que
estudam a história da filosofia muitas vezes discordam sobre o início ou o fim de cada
período, porém, em termos gerais, todos concordam com a divisão geral em quatro
grandes blocos: filosofia antiga, filosofia medieval, filosofia moderna e filosofia
contemporânea.
Filosofia antiga
Desde Tales de Mileto, por volta de 600 a.C., até os neoplatônicos do século VI d.C., o
povo grego e outras civilizações mediterrâneas praticavam a filosofia como forma de
conhecimento e também como estilo de vida.
Considera-se que os primeiros filósofos são os chamados de “pré-socráticos”, por ter
vivido e pensado antes de Sócrates. São conhecidos por terem dado o passo do mito para
o logos (pensamento racional), pois buscavam explicações racionais, com base em suas
observações da natureza, sobre a origem de tudo o que é. Entre eles encontram-se Tales
de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Xenófanes, Heráclito, Pitágoras, Parmênides,
Zeno, Anaxímenes, Empédocles e Demócrito.
Os pré-socráticos são seguidos pelo que se conhece como o Período Clássico Grego.
Este período começa com Sócrates, contemporâneo ao grupo dos sofistas (mestres da
retórica), que foi o mestre de Platão, que, por sua vez, ensinou Aristóteles. Tanto Sócrates
quanto Platão e Aristóteles são considerados os filósofos mais importantes da antiguidade
e são conhecidos como os “grandes socráticos”. Todas as suas obras ainda são objeto de
estudo e discussão na atualidade.
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O período helenístico sucedeu o período dos grandes socráticos. Esse período vai
desde a morte de Alexandre, o Grande, até a invasão romana à Macedônia. Nesta época,
as escolas de Sócrates e Platão coexistiram e foram continuadas por muitos de seus
discípulos.
A filosofia antiga chega ao fim com o desenvolvimento dos pensadores da
Antiguidade Tardia: os epicuristas, os estóicos, os céticos e depois os neoplatônicos. O
neoplatonismo é objeto de discussão entre vários historiadores da filosofia, uma vez que
pode ser considerado uma escola de transição entre a Antiguidade e o mundo medieval.
Filosofia medieval
A filosofia medieval surgiu entre os séculos V e VI, com a queda do Império Romano
em 476, e o século VI d.C., com o surgimento do Renascimento. Sua principal
característica é a inclusão de ideias clássicas nos dogmas das grandes religiões
monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo).
Esta tentativa de conciliar filosofia e religião se desenvolveu em um período de quase mil
anos. Após o aparecimento de Jesus de Nazaré no século I e a posterior evangelização do
mundo ocidental por seus discípulos, o cristianismo se tornou a religião oficial do
Império Romano. Isto significou que a filosofia foi forçada a ficar em segundo plano em
relação à teologia: as ferramentas filosóficas estavam à disposição das preocupações
teológicas e religiosas.
Os primeiros séculos foram palco dos esforços feitos pelos padres da Igreja Católica, cuja
doutrina foi chamada de “patrística”. O mais famoso deles foi Agostinho de Hipona (354–
430), mais conhecido como Santo Agostinho, que incorporou muitas das ideias
delineadas pelos neoplatônicos, que trouxeram para o Império Romano as obras
recuperadas de Platão.
A obra de Aristóteles, por sua vez, ainda era desconhecida pela maior parte do mundo
ocidental. Aqueles que chegaram a lê-lo o fizeram por meio das traduções latinas de
Boécio (477–524), que traduziu as Categorias de Aristóteles, e Isagoge, que é o
comentário de Porfírio às Categorias.
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Após o decreto de Carlos Magno em 787, que estabeleceu escolas em todos os mosteiros
de seu império, surgiu no mundo medieval o que é conhecido como “escolástica”. O
maior representante desse período foi João Escoto Eriúgena (815–877), que traduziu a
obra de Pseudo-Dionísio.
A escolástica, que teve seu apogeu entre os séculos XIII e XIV, surgiu oficialmente após
Eriugena, com o trabalho de Anselmo de Canterbury (1033–1109). Santo Anselmo é
conhecido por ter escrito o primeiro argumento ontológico (baseado no ser) para a
existência de Deus.
No apogeu da escolástica, as principais universidades europeias foram estabelecidas nas
grandes cidades. Foram fundadas também as ordens franciscana e dominicana.
Destas ordens religiosas surge a figura de Tomás de Aquino (1225–1274), conhecido
como São Tomás, que foi o maior conciliador entre a doutrina cristã e a racionalidade
grega, e deu origem ao que hoje é conhecido como “filosofia católica”.
Filosofía renacentista
A filosofia renascentista ou do Renascimento é aquela que se desenvolveu entre os
séculos XV e XVI. Durante este período, colocou-se a maior ênfase nas problemáticas
relativas à filosofia natural, ao humanismo e à filosofia política.
Seus principais pensadores foram Nicolau Maquiavel, Erasmo de Roterdã, Tomás Moro,
Michel de Montaigne, Giordano Bruno, Nicolau de Cusa e Francisco Suárez, entre outros.
Este período é considerado um período de transição porque está localizado entre a
Idade Média e a Idade Moderna. Estes períodos tiveram não apenas uma extensão
maior no tempo, mas também uma maior radicalidade no que diz respeito às
problemáticas discutidas e à maneira como foram tratadas.
Filosofia moderna
A filosofia moderna foi caracterizada por um período em que seus pensadores
trabalharam de forma autônoma em relação aos poderes políticos e religiosos.
Figuras como Hume e Descartes procuraram dar respostas a muitas questões separando-
se dos critérios científicos e filosóficos da maior parte da Igreja.
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O pensamento moderno se desenvolveu entre os séculos XVII e XX.
Ainda que haja algumas controvérsias a esse respeito, considera-se quase unanimemente
que a filosofia moderna começa com o pensamento de René Descartes (1596–1650), o
pai da modernidade e do racionalismo, uma das principais correntes modernas de
pensamento. Nesta tendência também se encontram filósofos do porte de Baruch
Espinosa e Gottfried Leibniz, entre outros.
O racionalismo se opôs à corrente britânica do empirismo. Suas principais figuras
foram John Locke, David Hume e George Berkeley (embora esse último também seja
considerado um racionalista). Diferentemente do racionalismo, que defendia uma
explicação racional do mundo, o empirismo explicava a realidade a partir dos sentidos e
das sensações que obtemos ao encontrar os objetos.
Ambas as correntes, além de suas diferenças, eram caracterizadas por tentar encontrar
um critério de verdade diferente do teológico, que era dado pela revelação divina ou
pela opinião das autoridades da Igreja. As duas escolas foram contemporâneas de
pensadores cujo pensamento às vezes é difícil de classificar, como Thomas Hobbes ou
Jean-Jacques Rousseau.
Filosofia do século XIX
A filosofia do século XIX, assim como a do Renascimento, é difícil de classificar. Com
ela surge o pensamento de Immanuel Kant, que conciliou o racionalismo com o
empirismo, e também o pensamento de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o pai do
idealismo alemão.
Tanto as obras de Kant quanto as de Hegel revolucionaram absolutamente a maneira
como a filosofia era feita. A Crítica da Razão Pura, de Kant, e a Fenomenologia do
Espírito, de Hegel, são obras que ainda hoje são exaustivamente estudadas, e nelas se
encontram novas formas de pensar não apenas sobre como conhecemos a realidade, mas
sobre o que ela é em si mesma.
O século XIX também deu origem às obras de filósofos como Fichte e Schelling,
idealistas alemães, ou Arthur Schopenhauer, um pensador radical que promulgou a ideia
do mundo como um jogo inútil de imagens e desejos. Neste período também surgiram
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Friedrich Engels, Karl Marx, John Stuart Mill, Kierkegaard e Edmund Husserl, entre
outros.
O século XIX, prolífico em pensadores e ideias revolucionárias em mais de um sentido,
foi também o século em que Friedrich Nietzsche viveu, pensou e escreveu. A figura de
Nietzsche, desde sua aparição, tem sido altamente controversa e conseguiu dividir a
filosofia em grandes grupos, de acordo com o fato de alguém ser seu detrator ou defensor.
Nietzsche é geralmente considerado aquele que dá início ao pensamento
contemporâneo: depois dele, não é mais possível falar de totalidades ou fundamentos da
realidade (e isso é o que caracteriza a filosofia pós-nietzschiana e contemporânea).
Filosofia contemporânea
A filosofia contemporânea teve início no século XX e continua até hoje. Por essa razão,
e por ser um pensamento vivo e em desenvolvimento, é difícil traçar seus limites ou suas
características próprias. Entretanto, há alguns elementos que podem ser mencionados.
O século XX foi o palco do surgimento das tradições filosóficas mais significativas da
filosofia contemporânea: a filosofia analítica e a filosofia continental. A primeira se
desenvolveu principalmente no mundo anglo-saxão, enquanto a segunda, na Europa
continental. Ambas as correntes foram contemporâneas do surgimento do positivismo
lógico, da fenomenologia, do existencialismo, do pós-estruturalismo e do materialismo
filosófico.
Todas essas correntes foram partícipes do que é conhecido como o “giro linguístico”, que
consistiu em uma importante discussão sobre a relação entre linguagem e filosofia. Ao
mesmo tempo, este giro ocorreu paralelamente à publicação das obras de Martin
Heidegger, na tradição continental, e Ludwig Wittgenstein, que se situa ao lado da
tradição analítica. A figura de Heidegger gerou muita controvérsia no mundo
filosófico por causa de sua aparente e suspeita adesão ao nazismo hitlerista na Alemanha
durante a Segunda Guerra Mundial.
Entre os filósofos mais conhecidos da filosofia contemporânea, além de Heidegger e
Wittgenstein, encontramos Bertrand Russel, Karl Popper, Michel Foucault, Jacques
Derrida, Jean Baudrillard, Gilles Deleuze, Felix Guattari, Jean-Francois Lyotard, Paul
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Preciado, Donna Haraway, Judith Butler, Hans-Georg Gadamer, Simone De Beauvoir,
Jean Paul Sartre e Giorgio Agamben, entre outros.
2.2.Particularidades da filosofia no contexto académico actual com a realidade
moçambicana.
2.2.1. Ensino da filosofia em Moçambique: os fundamentos e o conteúdo
Sobre os contornos do ensino da filosofia em Moçambique deveria ser obrigatória a
leitura do livro de António Cipriano, por apresentar de forma exaustiva e aglutinadora os
contornos, actores, estratégias e fundamentos deste processo. Não pretendemos nos
demorar apresentando estes aspectos, mas apenas tomar algumas considerações a seu
respeito.
Em 1998, nos dizeres de Cipriano (2011), foi reintroduzido o ensino da Filosofia em
Moçambique. Teve como actores a Universidade Pedagógica, o Ministério da Educação
e o professor Severino Elias Ngoenha. As estratégias incluíam uma testagem
experimental de dois anos (1998/1999) para posterior generalização e a formação nos
cursos intensivos dos futuros professores da disciplina. Deste processo importa
referenciar com detalhes dois elementos importantes: os fundamentos da introdução do
ensino de Filosofia e o Conteúdo de ensino.
Fundamentos da filosofia em Moçambique
A busca dos fundamentos para a introdução do ensino da Filosofia em Moçambique teve
as seguintes questões de partida: que situações endógenas justificam a introdução do
ensino da filosofia? Qual a concepção do mundo subjacente à Filosofia que iria ser
introduzida? Que problemas reais a Filosofia viria resolver com o seu ensino? (Cipriano,
2011). A primeira e a terceira são questões pragmáticas, ao passo que a segunda é uma
questão teórico-conceptual.
Iniciando com a questão teórico-conceptual, devemos entender que a preocupação
inerente à concepção do mundo inerente à Filosofia cujo ensino iria ser introduzido está
intimamente ligada à perspectiva conceptual da Filosofia e ao seu objecto. Ou seja, a
concepção de Filosofia que se tem influencia sobremaneira a forma como será ministrada,
isto é, a forma como os conteúdos, métodos e objectivos são delineados é sempre em
função do universo simbólico subjacente ao conceito.
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No que tange às questões pragmáticas, nomeadamente, as situações endógenas que
justificam a introdução do ensino da Filosofia e os problemas que a Filosofia procura
resolver, podemos considerar que elas encontram-se intrinsecamente ligadas.
Trata-se de problemas muito mais profundos que o simples facto dos “jovens não cederem
seus lugares aos mais velhos nos autocarros”. Sendo que estes problemas práticos, quer
chamemos de “deficit moral” ou “crise ética”, não estão vinculados directamente à
“ausência de ensino da Filosofia na educação escolar após a independência” (Cipriano,
2011, p. 43). Mas a Filosofia, como um todo, e a ética particularmente pode dar o seu
contributo na tentativa da sua superação.
Conteúdo da filosofia em Moçambique
Partindo das situações críticas cujas questões a Filosofia era chamada a responder, foram
seleccionados alguns conteúdos que acreditou-se que seriam os mais adequados para o
efeito. Entretanto, não pretendemos aqui apresentar detalhadamente todo o conteúdo que
corporiza o ensino da Filosofia no ensino secundário geral, mas apenas dispor, de uma
forma geral, os temas de ensino.
Dos vários manuais didácticos para o ensino da Filosofia, são objecto da nossa análise os
seguintes:
1. Biriate, M. & Geque, E. (2014).Filosofia: 11/12 – Pré-universitário. Maputo:
Pearson.
2. Borges, J. et al.(2014).Introdução à Filosofia. Maputo: Plural editore.
3. Chambisse, E. & Numaio, A. M. (2008). Filosofia: 11ª/ 12ª Classe. Maputo: Texto
Editores.
Em termos de conteúdo, podemos afirmar que os três manuais apresentam rigorosamente
os mesmos conteúdos e a mesma abordagem. A diferença é apenas na linguagem de
algumas unidades, as editoras, os títulos e as capas. Ora vejamos:
Em termos de divisão, todos os manuais são compostos por oito unidades, subdividas em
duas, correspondendo à 11ª e 12ª classe do ensino secundário geral.
A primeira unidade tem como título “Introdução à Filosofia”. Apresenta-se assuntos
relacionados com a Filosofia em geral, como disciplina: as tentativas de definição, as
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funções, métodos, objecto, disciplinas, a interdisciplinaridade e a contextualização
histórica das abordagens históricas.
A segunda unidade intitula-se “Pessoa como sujeito Moral”. É a unidade da propalada
parte da ética no ensino da Filosofia. Nela apresentam-se aspectos relacionados com a
distinção da moral e ética, o conceito pessoa, a consciência moral, a acção humana e os
valores, a pessoa como ser de relações e aspectos da bioética.
Na terceira unidade (Teoria do Conhecimento) expõe-se a análise do conhecimento, os
problemas e correntes da Filosofia do conhecimento, sobre a verdade e a epistemologia
contemporânea.
Trata-se do programa introduzido após o arrolamento de problemas de âmbito prático e
epistemológico que se acreditou a Filosofia poderia dar o seu contributo na resolução.
Significa que, a transmissão dos conteúdos acima arrolados iriam responder aos
problemas encontrados para fundamentar a introdução do ensino de Filosofia no ensino
secundário geral.
2.3.A Interdisciplinaridade da Filosofia: Biologia, Física e História
A filosofia, ao longo de sua evolução, demonstrou sua capacidade de dialogar com outras
áreas do saber humano, ajudando a interpretar criticamente os fundamentos, os métodos
e as implicações do conhecimento produzido pelas ciências. A interdisciplinaridade não
apenas fortalece a filosofia, mas permite às outras disciplinas repensarem seus próprios
limites e propósitos. Neste contexto, destacam-se três áreas com profunda interface
filosófica: biologia, física e história.
Filosofia e Biologia
A biologia moderna tem levantado questões filosóficas fundamentais sobre o que é avida,
qual o papel do ser humano na natureza e até onde a ciência pode intervir nos
processos naturais. Desde a formulação da teoria da evolução por Charles Darwin, com
sua obra A Origem das Espécies (1859), o pensamento filosófico se viu diante de uma
nova visão da existência, onde a ideia de criação fixa e teleológica (com fim
predeterminado) cede lugar à selecção natural e à mutabilidade das espécies.
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“Devo afirmar que estou firmemente convencido de que as espécies não são imutáveis;
que as espécies pertencentes ao que chamamos de mesmo género são descendentes
directas de alguma outra forma, geralmente extinta, do mesmo modo que as variedades
reconhecidas de qualquer espécie são descendentesdirectas dessa espécie.” Essa virada
científica levou filósofos como Herbert Spencer a aplicar o evolucionismo à sociedade,
fundando o que ficou conhecido como "darwinismo social". No entanto, suas
ideias foram posteriormente criticadas por distorcerem o pensamento de Darwin em favor
de uma ideologia elitista e determinista.
No século XX, o biólogo e divulgador científico Richard Dawkins, em sua influente
obra O Gene Egoísta (1976), afirma: “Somos máquinas de sobrevivência — veículos
robotizados cegamente programados para preservar as moléculas egoístas conhecidas
como genes.”
Essa visão reducionista da vida biológica foi contestada por Stephen Jay Gould, que
argumenta: “A seleção natural atua sobre organismos inteiros, não sobre genes isolados,
e a evolução é muito mais complexa do que uma simples competição genética.”
No campo ético, Hans Jonas, em O Princípio Responsabilidade (1979), introduz a ética
voltada para o futuro:
“O novo tipo de ação humana exige um novo tipo de ética, uma ética voltada
para o futuro, pois a tecnologia moderna é capaz de afetar as condições da vida
humana na Terra de forma duradoura e irreversível.”
Filosofia e Física
A física é um campo no qual a filosofia teve e ainda tem papel essencial. Desde Isaac
Newton, com sua Philosophiae Naturalis Principia Mathematica (1687), o universo foi
concebido como uma máquina precisa e previsível. Isso influenciou o racionalismo
moderno e uma crença inabalável na ordem científica.
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“É admissível a hipótese de que Deus, ao criar a matéria, a dotou de leis
universais que não sofrem variação com o tempo.”
Contudo, no século XX, a Teoria da Relatividade de Albert Einstein e os princípios da
mecânica quântica transformaram radicalmente essa visão. Einstein, em 1915, afirmou:
“Tempo e espaço não são condições absolutas; são formas relativas que dependem do
estado do observador.”
O filósofo francês Henri Bergson, em Duração e Simultaneidade (1922), rebate essa
redução da experiência subjetiva à física: “O tempo que se mede não é o tempo vivido.
Há, portanto, dois tempos: o da ciência, espacializado, e o da consciência, que flui
continuamente.”
Na física quântica, o Princípio da Incerteza, de Werner Heisenberg, desafia o
determinismo clássico: “O que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta
ao nosso método de questionamento.”
O famoso embate entre Bohr e Einstein reflecte essa tensão filosófica. Einstein
dizia:“Deus não joga dados com o universo.” Niels Bohr replicava:“Einstein, pare de
dizer a Deus o que fazer.”
Filosofia e História
A filosofia da história tem buscado compreender o sentido do tempo, da mudança e da
acção humana no mundo. Para Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a história é o
desdobramento do Espírito: “A história é o progresso da consciência da liberdade.”
Karl Marx, em sua análise materialista, critica essa abordagem idealista. Para ele: “A
história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes.”
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Conclusão
O ensino da Filosofia deve ter como ponto de partida o universo simbólico subjacente à
Filosofia como ciência, na sua universalidade e particularidade. A atitude filosófica da
busca pelo saber deve ser tomada como a referência fundamental. Desde a sua origem, o
espanto tem caracterizado a Filosofia. Portanto, a Filosofia prescinde de todo e qualquer
tipo de dogmatismo, de sabedoria pré-concebida e consolidada.
O método para o ensino da Filosofia deve preconizar o diálogo, a discussão, o contacto
directo dos alunos e professores com o objecto que se pretende discutir, seja a realidade
social, assim como o ponto de partida teórico sobre o qual se pretende analisar essa
realidade social.
Bibliografias
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Filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
2. Cipriano, A. (2011). Educação, Modernidade e Crise Ética em Moçambique.
Maputo: Dondza Editora.
3. Freire, P. (1967). Educação Como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e
Terra.
4. Mazula, B. (2008). Ética, Educação e Criação da Riqueza: uma Reflexão
Epistemológica. Maputo: Texto Editores.
5. Ngoenha, S. E. (1993). Das Independências às Liberdades. Maputo: Edições
Paulistas.
6. Scholte, J.A. (2002). “What Is Globalization? The Definitional Issue Again”.
CSGR WorkingPaper No. 109/02, December.
7. Silva, É. G. B.(2012). Ética Profissional. Rio Grande do Sul: Alegrete.
8. Zatti, V. (2007). Autonomia e Educação em Immanuel Kant e Paulo Freire. Porto
Alegre: Epicurs.
9. BUANAISSA, E. F.; PAREDES, M. de M. Severino Ngoenha: política e
liberdade no Moçambique contemporâneo. Revista Opinião Filosófica, v. 09, n.
01, Porto Alegre, 2018.
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