XXVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Manaus - 2018

Iniciação infantil ao violino com músicas folclóricas brasileiras

MODALIDADE: COMUNICAÇÃO

SUBÁREA: EDUCAÇÃO MUSICAL

Keeyth Vieira Vianna

UNIRIO - [email protected]

Resumo: Este artigo apresenta o resultado da pesquisa que desenvolvi em Mestrado, tendo por
objetivo apresentar um método de iniciação ao estudo do violino, direcionado a crianças. Canções
folclóricas brasileiras, uma história introdutória e ilustrações são utilizadas visando o
desenvolvimento técnico em etapas de dificuldades progressivas. Um livro de duetos acompanha o
método, servindo de material de apoio.

Palavras-chave: Pedagogia do violino. Folclore brasileiro. Educação musical.

Child Initiation to Violin with Brazilian Folk Songs

Abstract: This article presents an introductory method to violin playing, designed for children,
which was the outcome of my master`s program research. The method aims to develop the student`s
technique by using Brazilian folk songs displayed in a progressive level of difficulty, storytelling
and illustrations. A book of duets is included to serve as support material.

Keywords: Violin pedagogy. Brazilian folklore. Musical education.

1. Introdução
Este artigo apresenta os aspectos principais do método “ As Aventuras Musicais de
Aipim – O Aprendiz de Violino”, que desenvolvi no Mestrado Profissional em Ensino das
Práticas Musicais (PROEMUS - UNIRIO, 2016). Trata-se de uma proposta metodológica para
a iniciação de crianças no estudo do violino, firmada na utilização do folclore brasileiro.
O projeto nasceu de minha experiência como professora de violino na ONG
Orquestrando a Vida, (Campos dos Goytacazes - RJ), ao constatar a falta de um material
didático que pudesse se adequar à realidade dos alunos brasileiros, complementando os métodos
tradicionalmente utilizados na iniciação ao violino no Brasil. Desta forma, passei a aplicar as
canções folclóricas brasileiras em sala de aula, como prática corrente para a aquisição e
desenvolvimento da técnica pura (braço esquerdo, braço direito e coordenação),
proporcionando também, noções rítmicas e melódicas. Borges (2011, p.82) afirma que "os
livros de estudos do violino, utilizados no Brasil, são, em sua grande maioria, estrangeiros.

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Quase todos eles utilizam material folclórico, do próprio país [de origem], pouco conhecido do
brasileiro" [...].
Na busca por um método "brasileiro" de violino, observei que ainda é pequeno o
número de trabalhos dedicados ao ensino deste instrumento com uso de música folclórica
brasileira, diretamente voltado para crianças. Conversando com colegas que também atuam
como professores de violino em ONGs, e em cursos coletivos de ensino musical em escolas
vocacionais e demais instituições afins, percebi que eles também sentiam falta de um método
que sistematizasse as canções folclóricas, organizando-as em etapas, por grau de dificuldade,
da forma mais gradual e agradável possível.

2. As Fases da Pesquisa para o desenvolvimento do Método

Na primeira fase desta pesquisa realizamos uma revisão e análise dos métodos,
livros e materiais existentes. Os livros e trabalhos pesquisados que serviram de ponto de partida
para este trabalho foram dos autores: KUPFFER (1963); MAHLE (1971); MACIEL (1986);
KRUEGER e PEIXOTO (1990); JOHNSON (2005); CAMPOS (2006); CAMERON (2007);
DRUMMOND (2009); BARBOSA (2011); CARDOZO (2012); e CHANTAL (2013). Dentre
as pesquisas atuais voltadas à iniciação ao violino, usando o repertório folclórico nacional,
destacamos: O Método Suzuki e o Folclore Brasileiro no Ensino Básico de Violino (2007), O
Ensino coletivo direcionado ao violino (2007), e A inserção do folclore brasileiro no Método
Milanov de ensino: análise e substituição de melodias (2015).
Grande parte dos livros e métodos citados acima, utiliza o folclore brasileiro
juntamente com a música folclórica internacional e a música erudita, sem maiores preocupações
com uma progressão técnica; outros, oferecem um repertório condizente com as possibilidades
do violinista iniciante, privilegiando o ensino teórico musical. Por outro lado, alguns dentre eles
se preocupam com uma gradação técnica e teórica, sem se prenderem ao uso exclusivo do
folclore brasileiro. Entretanto, poucos oferecem uma progressão técnica, que acredito ser eficaz
para crianças iniciantes no estudo do violino, utilizando somente a música folclórica brasileira.
Embora possa não ser uma proposta inédita, este método procura apresentar um
novo olhar sobre a união da temática folclórica, aliada a uma progressão técnica e musical
voltada, especificamente, ao aprendizado do aluno iniciante, oferecendo diversidade musical,
para que a formação do aluno não se prenda somente ao estudo dos mestres clássicos
estrangeiros e do folclore internacional. Além disso, Paz (2012, p.121) nos alerta para o fato de
que o folclore deve ser aproveitado como material didático para o ensino, onde surgir
oportunidade.

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Na segunda fase da pesquisa, começamos a coleta de canções folclóricas brasileiras.

As publicações utilizadas foram: Guia Prático, (Villa-Lobos); Cirandando Brasil, (Nairzinha);
e 500 Canções Brasileiras, (Paz); sendo esta última publicação, a principal norteadora deste
trabalho.
Para a seleção das canções folclóricas brasileiras foram estabelecidos alguns
critérios quanto aos conteúdos técnicos e musicais, que são abordados através das canções.

3. Norteadores Metodológicos e Pedagógicos

Fundamentamos as escolhas técnicas utilizadas realizando uma análise de
importantes metodologias de ensino do violino, como o Método Suzuki, Maia Bang, Kato
Havas, Nicolas Laoureux e Paul Rolland. Dessa forma, objetivamos apresentar mais uma opção
ao ensino deste instrumento, lembrando que:

A escolha de uma metodologia de ensino é sempre motivo de grande preocupação

para o professor, porém, estamos cada vez mais convencidos de que não há um método
completo. O método não pode ser uma coisa rígida, mas precisa comportar uma
flexibilidade tal que permita, a quem faça uso dele, obter o máximo de rendimento,
sem a preocupação de encontrar o definitivo e, acima de tudo, trabalhando com
satisfação. A escolha do método, em suma, depende da realidade local e humana.
Quanto mais métodos e técnicas dominar o professor, maiores serão suas condições e
possibilidades de ajudar o aluno a encontrar, musicalmente, seu caminho (PAZ, 2010,
p.14).

Apoiando-nos nestas asserções, iniciamos o trabalho de seleção de canções

folclóricas, chegando à seguinte coletânea: O cravo brigou com a rosa, Passa passa gavião,
Marcha soldado, A barata, Ciranda cirandinha, Eu vi uma barata, Na corda da viola, A pobre
e a rica, Atirei o pau no gato, Margarida, Pirulito, Pezinho, Capelinha de melão, Fui à
Espanha, Cai cai balão, Bam-ba-la-lão, A canoa virou, Escravos de Jó, Peixe vivo, Boi boi,
Samba-lelê, Sapo jururú, A linda rosa juvenil, Na Bahia tem, Gatinha Parda, Terezinha de
Jesus, Nesta rua, Alecrim e Uma, duas angolinhas.
Todas as canções selecionadas são apresentadas com letra para desenvolver o canto
concomitantemente ao aprendizado do instrumento. Paz (2010, p.14) destaca que o canto vem
sendo utilizado como suporte na grande maioria das pedagogias musicais e métodos em todo
mundo, para o desenvolvimento de conceitos como melodia, pulsação, ritmo. Sobre a questão
rítmica, que está diretamente relacionada à condução do arco, o método proposto utiliza a
prosódia que nos reporta ao Método Orff.

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Além de trabalhar questões técnicas utilizando as canções folclóricas brasileiras, o

método também traz exercícios da mecânica do instrumento, de escalas, arpejos e terças. Muitos
dos exercícios da técnica violinística foram cedidos pelos professores Mariana Salles e Paulo
Bosísio1.
A preocupação com a postura correta de nossos pequenos violinistas também é um
aspecto importante no método. Assim, optamos pelo uso de imagens fotográficas, para explicar
as posturas do violino, conscientizando o aluno da importância das mesmas. Dessa forma,
procuramos evitar os textos longos e técnicos, que seriam cansativos para a criança:

Interessante observar o uso das imagens fotográficas nos livros didáticos: em sua
grande maioria, no sentido de garantir a existência do fato, isto é, de aproveitar a força
da realidade própria da fotografia, ora para ampliar a consciência social do aluno, ora
para uma aproximação mais fácil com um grupo de dados de informação considerados
relevantes para o projeto pedagógico do livro (BELMIRO, 2000, p. 23).

Outro importante aspecto do método diz respeito à relação entre os princípios

básicos de execução do instrumento, e o aprendizado da leitura musical. Acreditando que a
experiência deve vir antes da compreensão racional, o ensino acontecerá por imitação, assim
como no Método Suzuki. Segundo Borges (2011, p. 83):

O aprendizado sem leitura de notas, nos primeiros estágios de treinamento, princípio

da metodologia Suzuki, propicia o desenvolver dos mecanismos básicos de execução
do instrumento, como postura, posicionamento do instrumento, ação da mão esquerda,
condução do arco, afinação e qualidade de som, pois possibilita uma total atenção do
aluno aos princípios básicos da técnica instrumental. O desenvolvimento desses
mecanismos permitirá, mais tarde, maior liberdade do aluno para se concentrar no
processo de leitura. Com a crescente complexidade e extensão das obras musicais, a
leitura se tornará necessária na preparação do aluno.

A leitura musical será introduzida pelo (a) professor (a) de forma gradual e à medida
que os alunos apresentarem maturidade suficiente para tal. A observação auditiva e visual é
preferida à explicação verbal. Concordamos com Sá Pereira (1937) ao afirmar que “os
conhecimentos teóricos só terão importância se forem o resultado de uma experiência musical
vivenciada” (PEREIRA apud PAZ, 2013, p.49).

O método também dá ênfase à repetição objetiva, ou seja: o ato de repetir é

incentivado para que o aluno atinja os objetivos propostos nos exercícios e nas músicas, até o
ponto de estarem estabelecidos firmemente no inconsciente. Portanto, o ato de repetir deve

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estar sempre voltado para estes objetivos, evitando a repetição mecânica sem propósito
definido.

A abordagem pedagógica utilizada neste método possibilita a aplicação em aulas

individuais e coletivas. Entretanto, Suzuki (2007, p. 13) nos alerta para o fato de que quando o
estudante toca com outros alunos, sua execução melhora notavelmente, e se faz mais sólida a
memorização do repertório.
Acreditando nos benefícios que podemos trazer ao aluno como a afinação
harmônica, o trabalho rítmico, do fraseado, e o desenvolvimento da música de câmara,
apresentamos, juntamente com o método, um livro de duetos para violinos. Através dos duetos
promovemos a motivação e uma maior integração entre o professor e seu aluno, ou entre alunos
iniciantes e aqueles mais adiantados nos estudos. Os arranjos foram escritos por Mateus Freire,
em ordem crescente de dificuldade.

Este método procura envolver a criança com o seu estudo, utilizando não apenas as
canções, mas também outros elementos folclóricos como as lendas e seus personagens,
inserindo-a em um mundo mágico tão próprio da infância, onde poderá usar a própria
imaginação como um recurso em seu aprendizado. Dessa forma, o estudo do violino transforma-
se em uma experiência interessante, concreta, que possibilita o aprendizado interdisciplinar e
estimula a sociabilidade por meio da música, das artes plásticas e da literatura explorando
aspectos lúdicos em todas essas linguagens.

Reconhecemos a importância da ilustração nos livros infantis como um aliado da

aprendizagem, desenvolvendo uma função importante dentro do texto verbal. Concordamos
com Abreu (2010) ao afirmar que “ o planejamento gráfico é um recurso que, a cada dia ganha
espaço no mundo editorial de livros infantis. O recurso gráfico tornou-se um elemento essencial,
uma vez que aguça a percepção, a curiosidade e o imaginário infantil” (ABREU, 2010, p.341).

O método inicia-se com a história de um indiozinho (o curumim Aipim) que é

escolhido pela coruja Zé caburé, (espécie comum em nossas matas), para substituir um idoso
professor de violino, que encantava, com suas melodias, uma floresta brasileira habitada por
diversos animais falantes e personagens do nosso folclore, como o Saci e o Curupira. Estes
personagens vão ajudar as crianças e o curumim Aipim a desvendar os "mistérios" do
instrumento, os cuidados necessários para preservá-lo, as posturas corretas, as partes do violino
e do arco, e toda a técnica necessária à formação de uma base sólida no aprendizado do violino.

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As ilustrações foram idealizadas em preto e branco, para que o aluno pudesse

interagir com o livro, pintando-o, servindo como mais um recurso atrativo para as crianças. A
ilustração colorida da capa tem uma função descritiva, na medida em que apresenta os
personagens e cria um ambiente mágico, que desperta a curiosidade infantil para o aprendizado
do violino.

Zé caburé, o saci e o curumim Aipim2

Conclusão

Pensando em enriquecer e apresentar mais uma opção ao ensino do violino, sem a

preocupação em transformar-se numa metodologia definitiva e rígida, mas fundamentada em
importantes livros e metodologias de ensino do violino, o método “As Aventuras Musicais de
Aipim - O Aprendiz de Violino”, apresenta 30 canções brasileiras em ordem progressiva de
dificuldade, informações detalhadas sobre postura e posição do instrumento, exercícios técnicos
importantes, duetos, uma história introdutória e ilustrações que aguçam a imaginação da
criança, tornando mais divertido o aprendizado.
Sobre a escolha da utilização do folclore brasileiro, além dos aspectos técnicos e
teóricos que podemos desenvolver a partir da música folclórica, considero esse tipo de
repertório um excelente recurso motivador no processo de ensino e aprendizagem do violino

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para crianças brasileiras. Além disso, minha experiência em sala de aula evidencia que há uma
parte inegável da interiorização de elementos rítmicos e melódicos ligados às nossas raízes
folclóricas, que colaboram diretamente na assimilação do aprendizado musical.
Este método objetiva também a integração comunitária das crianças, religando-as a
suas raízes culturais, estimulando a capacidade imaginativa pelo envolvimento da criança com
personagens e ambientes do folclore brasileiro, com o intuito de ampliar as suas experiências
musicais e, a partir delas, desenvolver a capacidade de um convívio saudável, que abarque as
tradições de seu próprio país.
Publicado em 2018 pela Editora Musimed, o método As Aventuras Musicais de
Aipim - O Aprendiz de Violino vem sendo adotado por professores de violino, e em diversas
instituições musicais no Brasil.

Referências:

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Revista eletrônica do grupo de pesquisa em cinema e literatura, vol.1, n.7, p. 328-343, ano VII.
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CAMPOS, Regina Grossi. Violino Primeiros Passos. São Paulo: Irmãos Vitale, 2006.
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CHANTAL, Kênia. O ensino de violino no estágio pré-operacional: um estudo piloto sobre o
desenvolvimento técnico, com considerações da psicologia cognitiva e do desenvolvimento.
Dissertação (Mestrado em Música). UFMG, Belo Horizonte, 2007.
CHANTAL, Kênia. Violino para os pequeninos: volume 1 e 2. Belo Horizonte: Miguilim, 2013.

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DRUMMOND, Elvira. Peças para violinistas iniciantes. Fortaleza: L. Miranda, 2009.

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Notas
1
Esta pesquisa teve como orientadora a Profa. Dra. Inês de Almeida Rocha e como coorientadores o Prof. Dr.
Paulo Bosísio e a Profa. Dra. Mariana Isdebski Salles.
2
As ilustrações foram realizadas por Eunir Bomfim, especialmente para este método.