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SEGABINAZZI, T. A Insistência Do Discurso Autoritário, 2022

O trabalho de Tiago Segabinazzi discute a relação entre comunicação e política, abordando como movimentos políticos utilizam a disseminação de informações para criar uma aparência de multidão. A pesquisa questiona a passividade dos receptores e a eficácia da comunicação midiática, propondo que a resistência às mensagens e a dinâmica entre líderes e massas são fundamentais para entender o atual cenário sociopolítico. O estudo enfatiza que a comunicação não é apenas uma transmissão de ideias, mas um processo complexo que envolve a transformação e a interação entre emissor e receptor.

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SEGABINAZZI, T. A Insistência Do Discurso Autoritário, 2022

O trabalho de Tiago Segabinazzi discute a relação entre comunicação e política, abordando como movimentos políticos utilizam a disseminação de informações para criar uma aparência de multidão. A pesquisa questiona a passividade dos receptores e a eficácia da comunicação midiática, propondo que a resistência às mensagens e a dinâmica entre líderes e massas são fundamentais para entender o atual cenário sociopolítico. O estudo enfatiza que a comunicação não é apenas uma transmissão de ideias, mas um processo complexo que envolve a transformação e a interação entre emissor e receptor.

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Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

Serviço Social do Comércio – SESC São Paulo


Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP

IX PENSACOM BRASIL – 07 e 08 de dezembro de 2022

Resistência à mensagem e insistência do discurso autoritário1

Tiago SEGABINAZZI2
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, São Leopoldo, RS

RESUMO
Este resumo expandido é parte de um projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido a
nível de doutorado e tem por objetivo discutir aspectos epistemológicos e teóricos da
comunicação a partir da interface com a política. Movimentos político-partidários
recentes têm usado o compartilhamento em massa de informações – em que agentes
humanos e automatizados se confundem em sua performance maquínica – como forma
de construir uma aparência de multidão (SEGABINAZZI, 2021) àquilo que
propagandeiam. Este processo, aparentemente estratégico, em que a intenção do emissor
é conjurada no reflexo do receptor pode ser considerado comunicacional? A pesquisa em
comunicação deve requentar a teoria matemática da informação e voltar a pensar numa
sociedade de massas composta por indivíduos passivos e indefesos à mensagem
midiática/política? Este trabalho busca continuar a discussão em torno da problemática
sobre como a sociedade lida com as mensagens em circulação. A questão epistemológica
se baseia 1) na perspectiva de Ciro Marcondes Filho (2019, p. 19), que não chamaria de
acontecimento comunicacional qualquer ação passiva materializada no ato de
compartilhar ou de repassar conteúdo – “comunicação seria essa coisa que faz com que a
pessoa não saia da mesma forma como entrou, que nela ocorra algum fato que tenha a
possibilidade de alterá-la, ela promove uma transformação” – e 2) na de José Luiz Braga
(2010, p. 19), que considera a comunicação como a tentativa incerta, em que algo
relativamente previsível pode ocorrer – “é o processo voltado para reduzir o isolamento
– quaisquer que sejam os objetivos e os modos de fazer”. A provocação teórica devém
das perspectivas que os estudos em comunicação esquadrinharam ao longo do tempo em
relação ao que já foi chamado sem ressalvas de receptor: de mero depositório das
intenções dos produtores, este polo passou a negociar as mensagens que recebia até o
ponto de ignorá-las serenamente ou mesmo rejeitá-las frontalmente – emerge ali uma
hostilidade às “mentiras da imprensa”. Não é possível de se dizer simplesmente que esteja
em curso uma atualização do espírito do tempo que renuncia “àquilo que vem de cima”,
numa tendência sociológica de valorização do que é horizontal. A novidade é que junto
deste processo de desaprovação do bloco midiático há também um comportamento social
que reafirma a hierarquia e sugere um alinhamento que se assemelha ao acionamento de
robôs com o toque de um botão. Recentemente, fake news foram não apenas acreditadas
como desejadas e celebradas em transe coletivo (durante os protestos após o resultado das
eleições de 2022, por exemplo, manifestantes, descontentes com o resultado,
comemoravam a informação falsa de que houve fraude nas urnas). Estes episódios no
campo da política, atravessado pelas lógicas midiáticas, tornam relevante e complexa a
discussão sobre como apreender teórica e epistemologicamente tal estágio sociocultural.
Considerar que a mídia é capaz de transmitir ideias aos receptores é colocar demasiada

1 Trabalho apresentado no GT Pensamento Comunicacional, do PENSACOM BRASIL 2022.


2 Doutorando em Ciências da Comunicação no PPGCC da Unisinos, email: [email protected].

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centralidade da produção nesse processo. Na hipótese da agenda setting, por exemplo,


não é necessariamente porque a mídia fala durante muito tempo sobre alguma coisa que
as pessoas passarão a falar sobre isso. Este fenômeno pode acontecer até um certo nível,
mas esquece-se de levar em conta que é também porque a sociedade adota determinado
assunto como importante que a mídia passa a pautá-lo. Isso pode ser visto em programas
que se importam com os assuntos mais comentados em mídias sociais ou nas notícias que
são fruto de produções amadoras que se espalham nas redes – como os memes.
Contrariando a abordagem que considera haver imposição de cima para baixo, opressão
de uma classe para outra, ou da localização do poder num centro, que se joga para um
destino, a abordagem microfísica de Foucault (2013) sugere não haver tal coerção, pois o
poder não está no líder, mas é exercido por todos os pontos de contato. Conforme Deleuze
& Guattari (2010), as massas não sofreram o fascismo, desejaram-no. É possível, com
isso e a partir dos episódios aqui trazidos, pensar que o líder de um movimento é
materializado pela massa e mantido enquanto tal apenas se seguir o discurso – ou a
vontade – que dela emana. Em 2021, atos de apoio a Jair Bolsonaro no feriado de 7 de
setembro se concentraram em ataques ao Supremo Tribunal Federal e buscavam ruptura
democrática. Entretanto, a popularidade do presidente caiu (FOLHA, 2021) após frustrar
a expectativa dos manifestantes com a divulgação de uma carta em que recua da intenção
de agredir “quaisquer dos poderes”. Se for considerado que o que quer que Bolsonaro fale
seja aceito e compartilhado por seus apoiadores haveria razão nas teorias que consideram
o receptor isto: um mero receptor, passivo, pronto para ser acionado por mensagens de
um centro irradiador. Ali, houve uma diferença entre um discurso ser prontamente aceito
e compartilhado – como quando a pauta do voto impresso meteoricamente despontou nas
trocas de mensagens sem praticamente ter sido mencionada antes. O desejo das massas
não encontrou eco ou lastro naquele que o incentivava. Pouco mais de um ano depois,
após um dia e meio de hesitação diante dos bloqueios nas estradas que protestavam contra
o resultado das eleições de 2022, mirando seu capital eleitoral e sua sobrevivência
política, Bolsonaro pediu aos manifestantes que liberassem as vias. Há um vídeo
(TWITTER, 2022) que mostra como a decepção dos militantes por este desfecho foi
recapturada por um líder anônimo, que, ao microfone, excitou novamente os ânimos da
multidão reunida: “Não temos mais presidente, nós não queremos mais o Jair Messias
Bolsonaro como presidente, queremos sim uma intervenção militar, queremos o exército
pra vir botar a ordem no nosso país”. Gritos e festejos irromperam após a fala. Os recuos
nos protestos de 7 de setembro e pós-eleição ilustram que o líder populista escalou seu
apoio num discurso autoritário, mas deixou – por motivos políticos, estratégicos e
judiciais – de levar a cabo o que queriam as massas que o elegeram como seu enunciador.
Assim, não houve ali alinhamento entre as partes a partir de um centro emissor irradiador
e os receptores; houve resistência às mensagens: o bolsonarismo resistiu ao discurso que
buscava acalmar a revolta e o próprio Bolsonaro resistiu aos signos autoritários que
devinham do desejo do fluxo. As massas responderam que não há alguém que
efetivamente seja o líder, mas que alguém somente se mantém como tal – enquanto
houver alinhamento ao fluxo: este encontro do discurso com a vontade coletiva.

PALAVRAS-CHAVE: teorias da comunicação; Bolsonaro; autoritarismo; política.

REFERÊNCIAS

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Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP

IX PENSACOM BRASIL – 07 e 08 de dezembro de 2022

BRAGA, José Luiz. Nem rara, nem ausente - tentativa. MATRIZes, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 65-81,
2010. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38276>. Acesso em:
07 ago. 2022.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. São Paulo:


Editora 34, 2010.

FOLHA de S. Paulo. Bolsonaro desaba em popularidade digital após nota retórica sobre o
7 de Setembro, 2021. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/09/bolsonaro-desaba-em-popularidade-digital-
apos-nota-retorica-sobre-o-7-de-setembro.shtml>. Acesso em 20 set. 2022.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 27 ed. São Paulo: Graal, 2013.

MARCONDES FILHO, Ciro. A questão da comunicação. Paulus - Revista de Comunicação da


Fapcom. São Paulo, v. 3, n. 5, jan./jul. 2019 (p. 17-26). Disponível em:
<https://fapcom.edu.br/revista/index.php/revista-paulus/article/view/87/81>. Acesso em 05 ago.
2022.

SEGABINAZZI, Tiago. Facada News: pós-verdade e notícias falsas no Twitter em torno do


atentado a Bolsonaro. Belo Horizonte: PPGCOM/UFMG, 2021.

TWITTER, 2022. Desmentindo Bolsonaro – Tweet de 02 nov. 2022. Disponível em:


<https://twitter.com/desmentindobozo/status/1587982868986310656>. Acesso em 03 nov.
2022.

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