EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE NOVA FRIBURGO/RJ
Processo nº: [NÚMERO DO PROCESSO]
MARCELA, já devidamente qualificada nos autos em epígrafe, vem perante Vossa
Excelência, por meio deste instrumento e de modo tempestivo, oferecer suas
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS
com fulcro no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal, conforme as razões finais
de fato e direito que serão expostas a seguir:
I – DA SÍNTESE FÁTICO-PROCESSUAL
No dia 09 de dezembro de 2024, Marcela, estudante do oitavo período de Arquitetura,
realizou uma prova em sua faculdade, ocasião em que o professor orientou os alunos a
deixarem seus celulares em uma caixa, sendo autorizados a retirá-los apenas após a
entrega da avaliação. Marcela foi a primeira a concluir a prova e, por engano, retirou o
aparelho celular de sua colega Sabrina, acreditando ser o seu.
Ao chegar em casa, percebeu a troca e, ao ver o fundo de tela, constatou que estava com
o aparelho de Sabrina. Imediatamente tentou contatá-la para devolver o aparelho, mas
não obteve sucesso.
No dia seguinte, ao encontrá-la na faculdade, explicou o equívoco e devolveu o celular.
Sabrina, porém, não acreditou na justificativa e já havia registrado boletim de
ocorrência por furto.
Instaurado inquérito policial, Marcela foi denunciada pelo crime previsto no art. 155,
caput, do Código Penal. Em juízo, confirmou ter retirado o celular, mas reiterou que
tudo não passou de um erro, sem qualquer intenção de subtrair o bem. O Ministério
Público, em sua manifestação derradeira, requereu sua condenação nos termos da
denúncia.
Diante do exposto, é essencial que este juízo considere todas as alegações e provas
apresentadas, avaliando a veracidade dos fatos e a intenção das partes envolvidas, para
que a justiça seja devidamente aplicada.
II – DAS RAZÕES FINAIS DE MÉRITO
Da Inexistência de Intenção de Furtar
A denúncia foi oferecida com base no art. 155, caput, do CP. Contudo, a defesa sustenta
que as provas demonstram ausência de dolo por parte de Marcela, elemento subjetivo
indispensável para a configuração do tipo penal.
No presente caso, é evidente que a conduta de Marcela foi pautada por um erro
essencial de fato, nos termos do art. 20, caput, do Código Penal, o qual dispõe que “o
erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo”. Ao retirar da
caixa o aparelho celular acreditando tratar-se do seu, Marcela incorreu em um erro
plenamente compreensível, considerando que os celulares estavam misturados, sem
identificação, e que ela foi a primeira a se retirar. Tal circunstância tornou impossível à
acusada perceber que estava praticando uma conduta típica.
Não houve, em momento algum, vontade livre e consciente de subtrair coisa alheia
móvel, requisito indispensável à configuração do crime de furto, previsto no art. 155,
caput, do Código Penal. A ausência de dolo exclui a própria tipicidade subjetiva da
conduta, tornando-a atípica.
Da Boa-fé da Ré na devolução imediata
Além disso, a imediata tentativa de contato com a vítima e a devolução espontânea do
aparelho no dia seguinte demonstram a boa-fé objetiva e subjetiva da ré, afastando
qualquer juízo de reprovabilidade penal. Trata-se de erro escusável, ou seja, inevitável
mesmo diante do dever de cautela, o que reforça a tese de absolvição.
A jurisprudência é pacífica ao reconhecer que o erro essencial sobre elemento do tipo,
quando comprovado, afasta a responsabilidade penal. Assim, à luz do princípio da
culpabilidade, não há como imputar à ré a prática do delito, devendo ser absolvida com
fulcro no art. 386, inciso III, do Código de Processo Penal, ante a ausência de dolo.
IV – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, a defesa requer:
Que Vossa Excelência reconheça a ausência de dolo na conduta da ré, considerando que
a mesma agiu sob o manto de um erro essencial de fato, nos termos do art. 20, caput, do
Código Penal, excluindo-se, assim, a tipicidade subjetiva do delito imputado.
As provas constantes dos autos demonstram que Marcela não teve a intenção de subtrair
o bem de sua colega, tendo se tratado de um equívoco justificado pelas circunstâncias
dos fatos. Além disso, a atitude de tentar contato e a devolução imediata do celular
corroboram sua boa-fé e a inexistência de animus furandi.
Por tais razões, requer-se que Marcela seja absolvida, com fundamento no art. 386,
inciso III, do Código de Processo Penal, por não existir prova da existência do dolo
necessário à configuração do crime de furto.
Caso Vossa Excelência, por eventual entendimento diverso, não acolha as teses de
absolvição pleiteadas nestes memoriais e entenda pela condenação da acusada Marcela
nos termos da denúncia, requer-se, subsidiariamente, a concessão de todos os benefícios
legais cabíveis, nos seguintes termos:
1. Reconhecimento da atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do
Código Penal), tendo em vista que a acusada confessou a prática do fato tal
como descrito na denúncia, contribuindo com a instrução e revelando sua versão
dos acontecimentos;
2. Reconhecimento da ausência de dolo específico ou da dúvida razoável quanto à
intenção da acusada, o que autoriza a desclassificação da conduta para o tipo
penal do artigo 169, caput, do Código Penal (apropriação de coisa achada),
conduta mais compatível com o contexto narrado e provado nos autos;
3. Alternativamente, caso não acolhida a desclassificação, requer-se o
reconhecimento da forma privilegiada do furto, prevista no §2º do artigo 155 do
Código Penal, considerando-se o pequeno valor do bem subtraído e a
primariedade da ré, nos termos da jurisprudência consolidada dos tribunais
superiores;
4. Ainda, requer-se, com base nos princípios da individualização da pena e da
proporcionalidade, a fixação da pena-base no mínimo legal, com a aplicação do
regime inicial aberto, tendo em vista:
A primariedade da acusada;
A ausência de antecedentes criminais;
A conduta social irrepreensível e os bons antecedentes da acusada, estudante
universitária, às vésperas da conclusão do curso de Arquitetura;
O fato de o bem ter sido devolvido à vítima voluntariamente e no dia seguinte,
sem causar prejuízo material duradouro;
5. Pleiteia-se, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, nos termos do artigo 44 do Código Penal, tendo em vista o
preenchimento de todos os requisitos legais.
6. Caso Vossa Excelência entenda pela condenação e fixe a pena privativa de
liberdade em quantum igual ou inferior a 1 (um) ano, requer-se, com
fundamento no artigo 44, §2º, do Código Penal, a substituição da pena privativa
de liberdade por pena de multa, nos termos da lei, diante da primariedade, bons
antecedentes, devolução imediata do bem e ausência de prejuízo à vítima.
Termos em que
Pede Deferimento
Nova Friburgo/RJ, 12 de maio de 2025
[NOME DO ADVOGADO]
[OAB nº XXX]