A AMÉRICA DO SUL NA POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO LULA: IDEIAS E MUDANÇAS
Miriam Gomes Saraiva
Análise da PEB no governo Lula, com base em duas dimensões:
o Ideias que permeiam o processo decisório em PEB
o Grau de novidade introduzido nas diretrizes e áreas de atuação.
Argumento principal: o comportamento externo do governo Lula tem particularidades,
sobretudo no que diz respeito à dinâmica do processo decisório, mas também à forma de
inserção do país na ordem internacional.
Defende-se que o comportamento em relação à região teve variações entre o 1o e o 2o
mandatos.
Continuidade e descontinuidade na PEB de Lula
PEB marcada, grosso modo, pela continuidade desde a PEI até os anos 1990: questão da
concentração do processo de formulação no Itamaraty.
Predominou dentro do Itamaraty o paradigma globalista, sobretudo após os anos 1960.
Autonomia e universalismo como elementos norteadores da PEB
o Universalismo: ideia de receptividade a todos os países, sem considerar suas
localização geográficas, regimes ou políticas econômicas => agir como global
player.
o Autonomia: montante de espaço de manobra de um país em suas negociações
com outros Estados e na política internacional.
O processo de formulação de politicas historicamente concentrado no Brasil, com a
presença do Itamaraty como burocracia especializada, de uma perspectiva do
institucionalismo histórico, contribuiu para um comportamento consistente fundado
em princípios de longo prazo.
Brasil adota comportamento internacional multifacetado, buscando aproveitar o que o
sistema internacional pode oferecer, e simultaneamente conduzindo esforços para
remodelar o sistema com o objetivo de beneficiar países do Sul e adotar uma posição de
liderança na região.
A partir da década de 1990, quando a agenda de política externa passou a ganhar
espaço no domínio das políticas públicas e atrair interesse da sociedade civil, o
monopólio do Itamaraty na formulação de políticas começou a diminuir.
o Abertura da economia => politização da diplomacia como ferramenta da
distribuição desigual ;
o Consolidação democrática
Durante o Governo Collor, houve crise do paradigma globalista – mas isso não levou à
consolidação de uma única visão sobre a inserção internacional do BR. Ocorreu uma
divisão dentro do Itamaraty entre autonomistas e institucionalistas pragmáticos.
o Institucionalistas pragmáticos teriam se fortalecido no governo FHC.
PEB de Lula:
o Reforçou a atuação da corrente autonomista.
o Características mais marcantes:
Defesa de projeção mais autônoma e proativa na política internacional
Defesa da reforma de instituições internacionais
Estabelecer relações com outros países emergentes com características
similares
Construir liderança regional e ser visto como potência global
o Integração como meio de ganhar acesso a mercados externos, fortalecer o poder
de barganha do país em negociações econômicas internacionais e projetar a
indústria brasileira na região.
Uma nova corrente de pensamento na área de politica externa foi levada ao centro do
processo com a ascensão de Lula, originada em acadêmicos e lideranças políticas,
sobretudo do PT.
o Programa do PT para o governo 2003-2006:
Projeto de PEB prioritariamente voltado à América do Sul
Integração regional como elemento para impulsionar o desenvolvimento
o Convocação de Marco Aurélio Garcia para assessoria de Lula
o Entendimento de que a América do Sul tem identidade própria
o Disposição de arcar com os custos da integração regional
o Fortalecer o Mercosul nas esferas política, social e cultural.
Brasil toma postura proativa na cooperação com seus vizinhos; aceita as diferentes
posições políticas existentes na região.
Reforçar o universalismo por meio de iniciativas de cooperação sul-sul e em fóruns
multilaterais
Conforme aumenta a cooperação Sul-Sul e com outros países da região, algumas
agências e ministérios, como os Ministérios da Saúde, da Ciência e Tecnologia e da
Educação, passaram a estar mais envolvidos na formulação da política internacional de
cooperação do Brasil. Aumentou, também, a presença do BNDES em financiamentos
externos
Durante o governo, aumentou o interesse e o debate da PEB na sociedade civil, mais
especificamente na mídia.
Os primeiros passos da PEB de Lula para a América do Sul: mudanças sem ruptura
Discurso de posse de Lula destaca a ideia de mudança. Amorim fez discurso mais
reformista.
Texto defende que, embora tenha ocorrido continuidade nas crenças e na utilização da
PEB como instrumento para conseguir insumos para o desenvolvimento, os
autonomistas trouxeram uma descontinuidade na visão de mundo e nas estratégias
adotadas em relação à América do Sul e levaram o país a um movimento claro de
fortalecimento de sua presença internacional com global player e na construção de
liderança regional.
Cenário internacional abria espaço para a modificação de peso dos atores no processo
de conformação das regras do jogo.
Reforço das crenças na autonomia, no universalismo e no fortalecimento da presença
brasileira na política internacional.
Busca de aprofundamento da integração regional
Processo de articulação da América do Sul sob a liderança brasileira, com reforço do
multilateralismo na região.
Estratégia de consolidação da CASA (2004). I reunião de Presidentes (2005).
Importância dada ao Mercosul. Papel das eleições de Lula e de Kirchner: Consenso de
Buenos Aires (2003).
o Mas: o cenário não teria sido favorável para o fortalecimento do bloco. A
relevância dada à América do Sul teria prejudicado a aproximação BR-ARG.
Segundo mandato: liderança regional e ativismo internacional
Nesse mandato, a PEB assumiu mais fortemente as diferenças em relação ao gov. FHC.
Reforço do ativismo internacional e das iniciativas de construção de liderança na
América do Sul.
Revisionismo soft da ordem internacional mais visível
o Mas reivindicação de assento no CSNU perdeu vigor
Novas áreas de atrito com os EUA
o Fim das negociações da ALCA
Construção de liderança brasileira na região se aprofunda:
o Unasul, 2008
o Conselho Sul-Americano de Defesa
Importância da cooperação Sul-Sul. Ampliação da ABC na PEB.
Aumento dos investimentos brasileiros em países da região. Financiamentos do BNDES
para obras de infraestrutura na região. IIRSA.
Algumas tensões com vizinhos: reivindicações de concessões no campo econômico.
o Pressões do Paraguai pela reforma do Tratado de Itaipu
o Nacionalização dos hidrocarbonetos pela Bolívia
o Necessidade de articulação política em torno do projeto de liderança na região
Novas áreas de atuação: IBAS, BRICS.
Criação do FOCEM
Acordos comerciais assinados pelo Mercosul. Mas de pouca relevância.
Integração dentro do Mercosul, e entre BR-ARG, continuou importante. Parlamento do
Mercosul. Cooperação de diferentes ministérios brasileiros e argentinos.