📘 Capítulo I
Cenário: Rua de São Francisco de Paula, Lisboa, ano de 1875.
Principal foco: Apresentação da casa dos Maias — o Ramalhete — e o ambiente social
lisboeta da época.
A narrativa começa com a descrição da casa dos Maias, o Ramalhete, situada na Rua de
São Francisco de Paula. É uma mansão elegante, reformada segundo os gostos ingleses
do protagonista, Carlos Eduardo da Maia. Apesar do nome antigo e decadente, a casa
agora exibe um novo luxo burguês. A reabilitação do Ramalhete simboliza o regresso da
família Maia a Lisboa e o desejo de recuperar o prestígio social.
Carlos é médico, elegante, culto, e vive com o seu inseparável amigo João da Ega, um
dândi crítico da sociedade. Eça introduz personagens secundárias como Craft (um inglês
engenheiro, amigo de Carlos), Vilaça (o administrador da família Maia), e o conde de
Gouvarinho. O narrador expõe também a vida boémia e intelectual de Carlos, marcada por
ceias, saraus, leituras e discussões políticas e filosóficas, em ambientes que oscilam entre o
erudito e o fútil.
Temas: aparência vs. essência, declínio da nobreza, crítica à elite lisboeta, influência
britânica.
📘 Capítulo II
Cenário: Lisboa e arredores; memórias de infância.
Principal foco: Retrospetiva da infância de Carlos e a história do avô, Afonso da Maia.
A narrativa recua cerca de 20 anos para apresentar Afonso da Maia, patriarca da família,
homem de princípios liberais, racionalista, severo mas justo. Conhecemos a sua relação
com o filho Pedro da Maia, pai de Carlos, que é o oposto: fraco, romântico, sensível,
educado pela mãe beata e ultraconservadora, Maria Monforte. Afonso tenta educar Pedro
nos valores da razão e do progresso, mas Pedro sempre teve uma natureza sonhadora e
doentia.
Pedro casa-se com Maria Monforte contra a vontade do pai, e acabam por ter dois filhos:
Carlos e Maria Eduarda. A felicidade conjugal dura pouco. Maria Monforte foge com um
amante italiano, Tancredo, levando a filha pequena e abandonando Pedro e Carlos. Pedro,
devastado, suicida-se. Afonso assume a educação do neto Carlos e leva-o para Santa
Olávia (propriedade rural da família, nos arredores de Lisboa), onde é educado com cuidado
e liberdade intelectual.
Temas: conflito de gerações, idealismo romântico vs. racionalismo liberal, educação,
abandono familiar.
📘 Capítulo III
Cenário: Continuação da retrospetiva.
Principal foco: Educação de Carlos e o seu percurso até ao regresso a Lisboa.
Carlos cresce sob a tutela de Afonso da Maia e recebe uma educação moderna, liberal,
influenciada pelo Iluminismo e pelo pensamento científico. Estuda Medicina em Coimbra,
onde se destaca pela inteligência, elegância e carisma. Forma-se com distinção e regressa
a Lisboa com ideias novas, desejoso de aplicar os seus conhecimentos médicos, mas cedo
se deixa absorver pelos prazeres da vida urbana e pela superficialidade da elite lisboeta.
Ao regressar, instala-se com o avô no Ramalhete, que é novamente preparado para receber
a família Maia. A casa torna-se ponto de encontro de intelectuais, políticos e figuras sociais.
Carlos envolve-se em diversos projetos médicos e científicos, mas não consegue resistir ao
fascínio das festas, das mulheres e da vida elegante.
Temas: juventude e desilusão, cultura e ciência, ambição frustrada, futilidade da elite.
✍️ Adicionais:
1. Cronologia e estrutura narrativa
● Dominar a ordem dos acontecimentos, apesar dos analepses (recursos a
memórias e recuos temporais):
○ 1875 – Instalação de Carlos e Afonso no Ramalhete.
○ Retrospetiva da juventude de Afonso.
○ História de Pedro e Maria Monforte.
○ Suicídio de Pedro.
○ Educação de Carlos e regresso a Lisboa.
2. Função simbólica dos espaços
● O Ramalhete: símbolo da reentrada da família na alta sociedade e da nova
burguesia.
● Santa Olávia: espaço de recolhimento, formação, progresso e harmonia.
● Lisboa: espaço de ilusão, corrupção social, futilidade e superficialidade.
3. Caracterização de personagens secundárias
● João da Ega: intelectual irónico, idealista, espelho das frustrações de uma geração.
● Craft: engenheiro inglês, símbolo do progresso técnico.
● Vilaça: administrador da família, figura de confiança.
● Alencar: poeta romântico, patético e desfasado, símbolo da decadência da literatura
portuguesa.
● Conde de Gouvarinho: aristocrata vaidoso e vazio, alvo de crítica social.
4. Temas desenvolvidos com mais profundidade
● Conflito de gerações: Afonso (razão e progresso) vs. Pedro (emoção e fraqueza).
● Educação como ideal de regeneração (Afonso como mentor de Carlos).
● Romantismo vs. Realismo: Pedro vive um drama romântico; Afonso representa a
lucidez realista.
● Decadência da aristocracia e crítica à elite lisboeta.
● Ilusão da civilização portuguesa face à influência inglesa (moda, moral, ciência).
5. Estilo de Eça de Queirós
● Narrador omnisciente, culto, irónico, com tom crítico.
● Descrições longas, mas carregadas de intenção satírica.
● Alternância entre linguagem elevada e registos mais coloquiais, para marcar o
contraste entre personagens e ambientes.
6. Simbologia
● O Ramalhete: também representa o ideal de regeneração nacional, que acabará por
falhar.
● Maria Monforte: símbolo da paixão destruidora, da impulsividade descontrolada.
● Tancredo: imagem do estrangeiro romântico e destruidor.
● Pedro: encarnação do fracasso do sentimentalismo português.
● Carlos: promessa de regeneração que se dilui na futilidade.