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Direitos Humanos em Pauta: Questões Contemporâneas e Interdisciplinares Sobre o Direito À Comunicação e Sustentabilidade

A obra reúne análises interdisciplinares que conectam direito, tradução, sustentabilidade e justiça social. Abrangendo temas como juritraductologia, economia circular, multilinguismo na União Europeia, cidadania, gênero e educação em direitos humanos, oferece reflexões críticas sobre diversidade, inclusão e práticas sustentáveis em diferentes contextos globais e locais. Um convite à compreensão dos desafios contemporâneos e à construção de soluções inovadoras.
Direitos autorais
© Attribution Non-Commercial No-Derivs (BY-NC-ND)
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Direitos Humanos em Pauta: Questões Contemporâneas e Interdisciplinares Sobre o Direito À Comunicação e Sustentabilidade

A obra reúne análises interdisciplinares que conectam direito, tradução, sustentabilidade e justiça social. Abrangendo temas como juritraductologia, economia circular, multilinguismo na União Europeia, cidadania, gênero e educação em direitos humanos, oferece reflexões críticas sobre diversidade, inclusão e práticas sustentáveis em diferentes contextos globais e locais. Um convite à compreensão dos desafios contemporâneos e à construção de soluções inovadoras.
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

D598

Direitos Humanos em pauta: questões contemporâneas


e interdisciplinares sobre o direito à comunicação e
sustentabilidade / Organização Isabele Bandeira de Moraes
D’Angelo... [et al.]. – São Paulo: Pimenta Cultural, 2025.

Demais organizadores: Giorge Andre Lando, José Antônio


de Melo Bisneto, Andrea Costa do Amaral Motta.

Livro em PDF

ISBN 978-85-7221-294-6
DOI 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6

1. Direitos Humanos. 2. Juritraductologie. 3. Sustentabilidade.


4. Diversidade. 5. Cidadania. 6. Gênero. I. D’Angelo, Isabele
Bandeira de Moraes (Org.). II. Lando, Giorge Andre (Org.).
III. Melo Bisneto, José Antônio de (Org.). IV. Motta, Andrea
Costa do Amaral (Org.). V. Título.

CDD 323.6

Índice para catálogo sistemático:


I. Direitos Humanos - Cidadania
Simone Sale • Bibliotecária • CRB ES-000814/O
Copyright © Pimenta Cultural, alguns direitos reservados.

Copyright do texto © 2025 os autores e as autoras.

Copyright da edição © 2025 Pimenta Cultural.

Esta obra é licenciada por uma Licença Creative Commons:


Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional - (CC BY-NC-ND 4.0).
Os termos desta licença estão disponíveis em:
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Direitos para esta edição cedidos à Pimenta Cultural.
O conteúdo publicado não representa a posição oficial da Pimenta Cultural.

Direção editorial Patricia Bieging


Raul Inácio Busarello
Editora executiva Patricia Bieging
Gerente editorial Landressa Rita Schiefelbein
Assistente editorial Júlia Marra Torres
Estagiária editorial Ana Flávia Pivisan Kobata
Diretor de criação Raul Inácio Busarello
Assistente de arte Naiara Von Groll
Editoração eletrônica Andressa Karina Voltolini
Estagiárias em editoração Raquel de Paula Miranda
Stela Tiemi Hashimoto Kanada
Imagens da capa Freepik - freepik.com
Tipografias Acumin, Alternate Gothic, DejaVu Sans,
Euphorigenic
Revisão Erika Cristina Amaim Vasconcellos
Organizadores Isabele Bandeira de Moraes D’Angelo
Giorge Andre Lando
José Antônio de Melo Bisneto
Andrea Costa do Amaral Motta

PIMENTA CULTURAL
São Paulo • SP
+55 (11) 96766 2200
[email protected]
www.pimentacultural.com 2 0 2 5
CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO
Doutores e Doutoras

Adilson Cristiano Habowski Ary Albuquerque Cavalcanti Junior


Universidade La Salle, Brasil Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil
Adriana Flávia Neu Asterlindo Bandeira de Oliveira Júnior
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Universidade Federal da Bahia, Brasil
Adriana Regina Vettorazzi Schmitt Bárbara Amaral da Silva
Instituto Federal de Santa Catarina, Brasil Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Aguimario Pimentel Silva Bernadétte Beber
Instituto Federal de Alagoas, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Alaim Passos Bispo Bruna Carolina de Lima Siqueira dos Santos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil Universidade do Vale do Itajaí, Brasil
Alaim Souza Neto Bruno Rafael Silva Nogueira Barbosa
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Alessandra Knoll Caio Cesar Portella Santos
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Instituto Municipal de Ensino Superior de São Manuel, Brasil
Alessandra Regina Müller Germani Carla Wanessa do Amaral Caffagni
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Universidade de São Paulo, Brasil
Aline Corso Carlos Adriano Martins
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Universidade Cruzeiro do Sul, Brasil
Aline Wendpap Nunes de Siqueira Carlos Jordan Lapa Alves
Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil
Ana Rosangela Colares Lavand Caroline Chioquetta Lorenset
Universidade Federal do Pará, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
André Gobbo Cássio Michel dos Santos Camargo
Universidade Federal da Paraíba, Brasil Universidade Federal do Rio Grande do Sul-Faced, Brasil
Andressa Wiebusch Christiano Martino Otero Avila
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Universidade Federal de Pelotas, Brasil
Andreza Regina Lopes da Silva Cláudia Samuel Kessler
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Angela Maria Farah Cristiana Barcelos da Silva.
Universidade de São Paulo, Brasil Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil
Anísio Batista Pereira Cristiane Silva Fontes
Universidade do Estado do Amapá, Brasil Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Antonio Edson Alves da Silva Daniela Susana Segre Guertzenstein
Universidade Estadual do Ceará, Brasil Universidade de São Paulo, Brasil
Antonio Henrique Coutelo de Moraes Daniele Cristine Rodrigues
Universidade Federal de Rondonópolis, Brasil Universidade de São Paulo, Brasil
Arthur Vianna Ferreira Dayse Centurion da Silva
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Universidade Anhanguera, Brasil
Dayse Sampaio Lopes Borges Igor Alexandre Barcelos Graciano Borges
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil Universidade de Brasília, Brasil
Diego Pizarro Inara Antunes Vieira Willerding
Instituto Federal de Brasília, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Dorama de Miranda Carvalho Jaziel Vasconcelos Dorneles
Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Universidade de Coimbra, Portugal
Elena Maria Mallmann
Jean Carlos Gonçalves
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal do Paraná, Brasil
Eleonora das Neves Simões
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Jocimara Rodrigues de Sousa
Universidade de São Paulo, Brasil
Eliane Silva Souza
Universidade do Estado da Bahia, Brasil Joelson Alves Onofre
Elvira Rodrigues de Santana
Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil
Universidade Federal da Bahia, Brasil Jónata Ferreira de Moura
Éverly Pegoraro Universidade São Francisco, Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Jorge Eschriqui Vieira Pinto
Fábio Santos de Andrade Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil
Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil Jorge Luís de Oliveira Pinto Filho
Fabrícia Lopes Pinheiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Juliana de Oliveira Vicentini
Felipe Henrique Monteiro Oliveira Universidade de São Paulo, Brasil
Universidade Federal da Bahia, Brasil
Julierme Sebastião Morais Souza
Fernando Vieira da Cruz Universidade Federal de Uberlândia, Brasil
Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Junior César Ferreira de Castro
Gabriella Eldereti Machado
Universidade de Brasília, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Katia Bruginski Mulik
Germano Ehlert Pollnow
Universidade Federal de Pelotas, Brasil Universidade de São Paulo, Brasil
Geymeesson Brito da Silva Laionel Vieira da Silva
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Giovanna Ofretorio de Oliveira Martin Franchi Leonardo Pinheiro Mozdzenski
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Handherson Leyltton Costa Damasceno Lucila Romano Tragtenberg
Universidade Federal da Bahia, Brasil Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Hebert Elias Lobo Sosa Lucimara Rett
Universidad de Los Andes, Venezuela Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Helciclever Barros da Silva Sales Manoel Augusto Polastreli Barbosa
Instituto Nacional de Estudos Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Brasil
Marcelo Nicomedes dos Reis Silva Filho
Helena Azevedo Paulo de Almeida
Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil
Hendy Barbosa Santos Marcio Bernardino Sirino
Faculdade de Artes do Paraná, Brasil Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Humberto Costa Marcos Pereira dos Santos
Universidade Federal do Paraná, Brasil Universidad Internacional Iberoamericana del Mexico, México
Marcos Uzel Pereira da Silva Samuel André Pompeo
Universidade Federal da Bahia, Brasil Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil
Maria Aparecida da Silva Santandel Sebastião Silva Soares
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil Universidade Federal do Tocantins, Brasil
Maria Cristina Giorgi Silmar José Spinardi Franchi
Centro Federal de Educação Tecnológica Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Celso Suckow da Fonseca, Brasil Simone Alves de Carvalho
Maria Edith Maroca de Avelar Universidade de São Paulo, Brasil
Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Simoni Urnau Bonfiglio
Marina Bezerra da Silva Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Instituto Federal do Piauí, Brasil Stela Maris Vaucher Farias
Mauricio José de Souza Neto Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Universidade Federal da Bahia, Brasil Tadeu João Ribeiro Baptista
Michele Marcelo Silva Bortolai Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Universidade de São Paulo, Brasil Taiane Aparecida Ribeiro Nepomoceno
Mônica Tavares Orsini Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Taíza da Silva Gama
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Universidade de São Paulo, Brasil Tascieli Feltrin
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
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Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Thiago Barbosa Soares
Universidade Federal do Tocantins, Brasil
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Thiago Camargo Iwamoto
Universidade Estadual de Goiás, Brasil
Roberta Rodrigues Ponciano
Thiago Medeiros Barros
Universidade Federal de Uberlândia, Brasil
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
Robson Teles Gomes
Tiago Mendes de Oliveira
Universidade Católica de Pernambuco, Brasil Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Brasil
Rodiney Marcelo Braga dos Santos
Vanessa Elisabete Raue Rodrigues
Universidade Federal de Roraima, Brasil Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil
Rodrigo Amancio de Assis Vania Ribas Ulbricht
Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Rodrigo Sarruge Molina Wellington Furtado Ramos
Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil
Rogério Rauber Wellton da Silva de Fatima
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil Instituto Federal de Alagoas, Brasil
Rosane de Fatima Antunes Obregon Yan Masetto Nicolai
Universidade Federal do Maranhão, Brasil Universidade Federal de São Carlos, Brasil
PARECERISTAS
E REVISORES(AS) POR PARES
Avaliadores e avaliadoras Ad-Hoc

Alessandra Figueiró Thornton Jacqueline de Castro Rimá


Universidade Luterana do Brasil, Brasil Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Alexandre João Appio Lucimar Romeu Fernandes
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Instituto Politécnico de Bragança, Brasil
Bianka de Abreu Severo Marcos de Souza Machado
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Universidade Federal da Bahia, Brasil
Carlos Eduardo Damian Leite Michele de Oliveira Sampaio
Universidade de São Paulo, Brasil Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
Catarina Prestes de Carvalho Pedro Augusto Paula do Carmo
Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, Brasil Universidade Paulista, Brasil
Edson da Silva Samara Castro da Silva
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Brasil Universidade de Caxias do Sul, Brasil
Elisiene Borges Leal Thais Karina Souza do Nascimento
Universidade Federal do Piauí, Brasil Instituto de Ciências das Artes, Brasil
Elizabete de Paula Pacheco Viviane Gil da Silva Oliveira
Universidade Federal de Uberlândia, Brasil Universidade Federal do Amazonas, Brasil
Elton Simomukay Weyber Rodrigues de Souza
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Brasil
Francisco Geová Goveia Silva Júnior William Roslindo Paranhos
Universidade Potiguar, Brasil Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Indiamaris Pereira
Universidade do Vale do Itajaí, Brasil

Parecer e revisão por pares

Os textos que compõem esta


obra foram submetidos para
avaliação do Conselho Editorial
da Pimenta Cultural, bem como
revisados por pares, sendo
indicados para a publicação.
SUMÁRIO
Apresentação.............................................................................................12

CAPÍTULO 1
Taciana Cahu Beltrão
Noções acerca do direito à tradução
como garantia da equidade do processo
e do direito à ampla defesa de acordo com
a Diretiva 2010/64/UE e sua contribuição
para a realidade brasileira......................................................................14

CAPÍTULO 2
Rafael Fernandes de Mesquita
Economia circular:
uma análise das métricas de produção
e difusão do conhecimento
Circular economy: an analysis of knowledge
production and diffusion metrics.....................................................................................22

CAPÍTULO 3
Luiza Tavares da Motta
Alvaro Dickson Molinares Valencia
O papel do TJUE na interpretação jurídica
do multilinguismo na União Europeia
The role of the CJEU in the legal interpretation of multilingual.........................................................41
CAPÍTULO 4
Gabriel Alves Vitor
Giorge André Lando
Isabele Bandeira de Moraes D’Angelo
Relação gênero-saneamento e os impactos
causados na vida e saúde de mulheres em
um município do interior de Pernambuco
La relación género-saneo y los impactos causados en la vida
y la salud de las mujeres en un municipio del interior de Pernambuco
Gender-sanitation relationship and the impacts caused on the life
and health of women in a municipality in the interior of Pernambuco...............................................60

CAPÍTULO 5
Fernando da Silva Cardoso
Educação em direitos humanos,
cidadania e diversidade sociocultural:
breve genealogia desde a história recente do Brasil................................................83

CAPÍTULO 6
Elaine Ferreira do Nascimento
Liana Maria Ibiapina do Monte
Paulo de Tarso Xavier Sousa Júnior
Brota aí no bonde:
juventudes e modos de sustentabilidade...............................................................98

CAPÍTULO 7
Cláudson Carvalho
Rogéria Gladys
O trabalho como uma das garantias
de rompimento ao silêncio imposto
aos corpos invisibilizados
dos transexuais no Brasil
Work as one of the guarantees of breaking the silence imposed
on the invisibilized bodies of transexuals in Brazil....................................................................111
CAPÍTULO 8
Sylvie Monjean-Decaudin
La juritraductologie :
à la croisée entre droit et traductologie............................................................... 127

CAPÍTULO 9
Rafael Fernandes de Mesquita
Économie circulaire :
une analyse des métriques de production
et de diffusion des connaissances
Circular economy : an analysis of knowledge
production and diffusion metrics................................................................................... 143

CAPÍTULO 10
Luiza Tavares da Motta
Alvaro Dickson Molinares Valencia
Le rôle de la CJUE dans l’interprétation
juridique du multilinguisme
dans l’Union européenn
The role of the CJEU in the legal interpretation
of multilingualism in the European Union.......................................................................... 162

CAPÍTULO 11
Joëlle Popineau
Etude juritraductologique des notions
de nationalité et de citoyenneté en droits
constitutionnels français et anglais...................................................181

CAPÍTULO 12
Gabriel Alves Vitor
Giorge André Lando
Isabele Bandeira de Moraes D’Angelo
Relation genre-assainissement et impacts
sur la vie et la santé des femmes dans une
municipalité de l’intérieur du Pernambuco
La relación género-saneo y los impactos causados en la vida
y la salud de las mujeres en un municipio del interior de Pernambuco
Gender-sanitation relationship and the impacts caused on the life
and health of women in a municipality in the interior of Pernambuco............................................ 200
CAPÍTULO 13
Fernando da Silva Cardoso
Éducation aux droits de l’homme, à la
citoyenneté et à la diversité socioculturelle :
une brève généalogie de l’histoire récente du Brésil............................................ 223

CAPÍTULO 14
Elaine Ferreira do Nascimento
Liana Maria Ibiapina do Monte
Paulo de Tarso Xavier Sousa Júnior
Brota aí no bonde :
Ça pousse là-bas dans le tram :
jeunesse et moyens de durabilité...................................................................... 239

CAPÍTULO 15
Cláudson Carvalho
Rogéria Gladys
Le travail comme l’une des garanties
pour briser le silence imposé aux corps
invisibles des transsexuels au Brésil
Work as one of the guarantees of breaking the silence imposed
on the invisibilized bodies of transexuals in Brazil..................................................................252

Sobre os organizadores e as organizadoras................................. 269

Sobre os autores e as autoras............................................................270

Índice remissivo......................................................................................274
APRESENTAÇÃO
A dignidade humana tem como propósito assegurar as
pessoas o direito de levar uma vida digna de seres humanos.
Razão pela qual a dignidade humana se apresenta como um dos
fundamentos do Estado Democrático de Direito, o que representa
a impossibilidade de se pensar em direitos dissociados da ideia e
do conceito de dignidade. Dessa forma, para assegurar a dignidade
humana enquanto pilar de sustentação dos ordenamentos jurídicos
de Estados Democráticos, as suas respectivas Constituições devem
apresentar um conjunto de direitos fundamentais, protegidos sob o
manto das cláusulas pétreas.

Tais direitos supracitados são essenciais, portanto, para


assegurar a concretização e observância do acesso a uma vida
digna ao ser humano, que vai além das meras condições de sobrevi-
vência. Conjuntamente, a sua espécie, os direitos da personalidade,
da mesma forma, cumprem igual vocação, no âmbito das relações
privadas. Além disso, os direitos da personalidade têm como sin-
gularidade o objetivo de viabilizar, livre e condignamente, a própria
personalidade/identidade em um projeto existencial particular.

A igualdade, sob a mesma perspectiva, é outro princípio


constitucional valioso e indispensável para a concretização da cida-
dania. Afinal, se todos são iguais perante a lei, todos estão incluí-
dos na construção do âmbito e dos laços sociais. Contudo, para se
produzir um discurso ético, respeitar a dignidade humana e atribuir
cidadania é preciso ir além da igualdade genérica, ou seja, deve-se
inserir no discurso da igualdade o respeito às diferenças.

SUMÁRIO 12
É necessário afirmar, a partir disso, que o respeito as diferen-
ças são essenciais para a existência dos sujeitos, de modo singulari-
zado. É a diversidade que permite que cada pessoa tenha a sua pró-
pria identidade, a qual é construída a partir de características físicas,
bem como dos diferentes costumes de uma sociedade, podendo ser
mencionados também a vestimenta, a culinária, as manifestações
religiosas, línguas, as tradições, entre outros aspectos.

Nesse sentido, a presente obra discute temas diretamente


relacionados a dignidade humana, como o direito e os estudos da
tradução, direito a coexistência de sistemas linguísticos diferentes, a
relação gênero-saneamento, o direito ao trabalho e a invisibilização
de pessoas trans, juventude e meios de sustentabilidade, a impor-
tância da educação para os direitos humanos, cidadania e diver-
sidade sociocultural.

A abordagem é realizada com base no respeito às diferenças,


considerando a relevância do fato das pessoas exercerem as liberda-
des pessoais do modo mais amplo possível, seja produzindo escolhas,
seja criando uma identidade própria ou mesmo tomando decisões
quanto ao próprio corpo. São questões de relevo que dependem do
adequado enfrentamento para serem compreendidas pela sociedade
e reconhecidas juridicamente para a concretização da prometida
cidadania pelo Estado Constitucional Democrático de Direito.

Isabele Bandeira de Moraes D’Angelo


Giorge André Lando

SUMÁRIO 13
1
Taciana Cahu Beltrão

NOÇÕES ACERCA DO DIREITO


À TRADUÇÃO COMO GARANTIA
DA EQUIDADE DO PROCESSO
E DO DIREITO À AMPLA DEFESA
DE ACORDO COM A DIRETIVA
2010/64/UE E SUA CONTRIBUIÇÃO
PARA A REALIDADE BRASILEIRA

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.1
1. INTRODUÇÃO
Pessoas de nacionalidades diversas migram todos os dias
para outros países. A história da civilização humana é feita de migra-
ções, de diversidade cultural, e consequentemente, linguística. A tra-
dução possui e sempre possuiu um papel importante como elemento
de comunicação intercultural e de troca de ideias e de informações.

Semelhante papel observamos no tocante à tradução no


âmbito da comunicação jurídica intercultural. Com o aumento da
migração de pessoas e das relações jurídicas internacionais, a tra-
dução do direito ganha cada vez mais relevância, sobretudo no con-
texto da cooperação judiciária internacional.

No direito processual penal europeu, o acusado, ou suspeito


que não compreende o idioma do processo tem a garantia da assis-
tência de um tradutor para poder compreender o crime ou delito que
lhe é imputado e para se comunicar com o seu defensor.

Dada a relevância da necessidade da assistência de um


tradutor ou intérprete no âmbito sobretudo do processo penal, a
Diretiva 64 consagrou o direito à assistência linguística em favor
do acusado que não fala ou não compreende o idioma oficial do pro-
cesso. Neste caso, tal diretiva assegura o direito a assistência de um
intérprete assim como o direito à tradução das peças essenciais do
processo. Tais direitos foram expressamente consagrados na citada
norma, a fim de garantir o pleno exercício do direito de defesa e a
equidade do processo.

De maneira que atualmente no âmbito dos estudos e pesqui-


sas desenvolvidas no contexto da tradução jurídica, analisamos atual-
mente o chamado direito à tradução ou direito à assistência linguís-
tica, assim com a questão da metodologia de tradução do direito,
em razão notadamente das peculiaridades do vocabulário jurídico.

SUMÁRIO 15
O estudo da tradução do direito envolve, portanto, uma questão
de fundo e de forma.

Surge então a chamada « juritraductologie »1, que na França


possui como uma das pesquisadoras a jurista-linguista e professora
da Faculdade de Lettres da Sorbonne, Sylvie Monjean Decaudin.
Autora do livro entitulado « La traduction du droit dans la procédure
judiciaire. Contribution à l’étude de la linguistique juridique »2. Citada
professora é presidente do Centre de Recherche Interdisciplinaire en
juritraductologie (Cerije)3.

A chamada juritraductologie convida-nos à uma análise da


tradução do direito sob duas perspectivas complementares e de
certa maneira indissociáveis. Essencialmente interdisciplinar, a
tradução do direito exige o estudo de duas faces de uma mesma
moeda: De um lado as regras jurídicas sobre o direito à tradução, e
de outro lado os métodos de tradução aplicados ao direito.

2. O DIREITO À INTERPRETAÇÃO
E À TRADUÇÃO DOS DOCUMENTOS
ESSENCIAIS COMO GARANTIA
DE UM PROCESSO EQUITATIVO
O direito à tradução decorre do direito de defesa e do direito
à um processo equitativo, de um processo justo, e consequen-
temente erigido à categoria de direito processual fundamental,

1 Juritradutologia.
2 A adução do direito no procedimento judicial. Contribuição ao estudo da linguística jurídica.
3 https://www.cerije.eu/.

SUMÁRIO 16
conforme expressamente assegurado na Diretiva da União Europeia
n° 2010/64/EU de 20/10/2010.

Citada norma, define as regras relativas ao direito à inter-


pretação (tradução oral) como também à tradução dos documentos
essenciais no âmbito dos procedimentos penais e da execução de
mandado de prisão europeu.

Em seu artigo 2° ao citar o direito à interpretação, garante


ao suspeito ou pessoa investigada que não fala e não compreende
o idioma empregado no procedimento penal, a assistência de um
intérprete durante a fase do inquérito policial assim como durante
o procedimento judicial, notadamente durante a fase do interro-
gatório policial e nas audiências. Tal direito é também assegurado
durante a comunicação do acusado e seu defensor, visando a
garantia de um processo equitativo (processo justo), como previsto
no art. 6° da CEDH.

Citada diretiva esclarece que o “o direito à interpretação e à tra-


dução para as pessoas que não falam ou não compreendem a língua
do processo está consagrado no artigo 6º da CEDH, tal como interpre-
tado pela jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem”.

O parágrafo 1, do artigo 3° da citada Diretiva garante o direito


à tradução dos documentos essenciais do processo a fim de assegu-
rar o pleno exercício do direito de defesa e da equidade do processo.

A tradução no âmbito do direito, portanto, possui um papel


essencial notadamente sob a perspectiva da cooperação judiciária
internacional. A norma acima citada ressalta a importância inclusive
do direito à tradução para a efetiva garantia do princípio da confiança
e do reconhecimento mútuo das decisões proferidas pelos Estados
que integram a União europeia.

SUMÁRIO 17
3. O DIREITO À UMA
TRADUÇÃO DE QUALIDADE
A Diretiva 64/2010/EU já citada, no entanto, vai além da sim-
ples garantia do direito à tradução e da interpretação. Ela exige que
a tradução seja de qualidade.

Evidentemente, o direito possui um vocabulário próprio, cujo


sentido implica regras e consequências de ordem jurídica, gerando
direito e deveres. Por exemplo, teria o simples “registro de uma
ocorrência policial” o mesmo sentido e efeito de uma “denúncia”?
Evidentemente que não. No direito francês seria o caso respectiva-
mente da chamada « main courante » e da « plainte pénale ». Ora, são
termos que produzem efeitos jurídicos diferentes e o tradutor deve
conhecer com profundidade o vocabulário jurídico, seus sentidos e
seus empregos, sob pena de colocar em risco o pleno exercício do
direito de defesa, podendo ainda induzir o julgador em erro. É neste
particular que entendemos que o tradutor do direito deve conhecer
o direito, e em especial o direito comparado.

Neste sentido a citada diretiva estabelece que a tradução e


a interpretação devem ser de uma qualidade suficiente de maneira
a garantir a equidade do processo, a fim de que o suspeito tenha
efetivamente pleno acesso aos fatos que lhes são imputados e possa
exercer o direito de defesa (parágrafo 8 do artigo 2°).

No Brasil a lei n° 13445 de 24 maio de 2017 garante aos


estrangeiros o mesmo tratamento conferido aos nacionais no que diz
respeito ao direito ao acesso à justiça e à ampla defesa. Todavia, com
relação ao direito à assistência linguística, no âmbito do processo
penal as regras são deveras escassas e não garantem efetivamente
as condições necessárias para que o acusado estrangeiro possa
exercer plenamente o seu direito de defesa, colocando, por conse-
guinte, em risco a equidade do processo.

SUMÁRIO 18
Por outro lado, a questão da qualidade da tradução é um
aspecto não contemplado na legislação brasileira. A este respeito,
inclusive solta-nos aos olhos o parecer da Corregedoria Regional
da Justiça Federal da 3ª Região proferida no expediente administra-
tivo nº 2011.01.0218 COGE que considerou legal o uso da ferramenta
Google tradutor para a tradução de peças do processo cujo réu é
estrangeiro. Esta legalidade foi confirmada pelo TRF 3 região, tendo
como relator o desembargador federal Wilson Zayhy. Esta decisão
vai completamente ao arrepio do direito à uma tradução de quali-
dade prevista na diretiva da União europeia anteriormente citada
(Apelação criminal n° 0006151-21.2009.4.03.6119/SP).

Desta forma, observamos que legislação brasileira precisa


urgentemente, a exemplo no que ocorre no âmbito do direito proces-
sual penal europeu, comtemplar efetivamente o direito à assistência
linguística, com o auxílio de um intérprete ou tradutor e que as peças
essenciais do processo sejam efetivamente disponibilizadas no
idioma que compreende o acusado, a fim de garantir o pleno exercí-
cio do direito de defesa e a equidade do processo, sem esquecer o
aspecto importante da garantia de uma tradução de qualidade.

4. CONCLUSÃO
Com estas breves reflexões, constatamos que atualmente o
direito à interpretação e à tradução dos documentos essenciais à
luz da Diretiva 2010/64//EU é considerado um direito indispensável
para a efetiva garantia da equidade do processo penal e do direito à
ampla defesa. Sendo, portanto, um direito processual fundamental.

Tal garantia como vimos requer que a tradução permita o


efetivo acesso às informações relevantes contidas no processo e
necessárias para o pleno exercício do direito de defesa. Todavia,

SUMÁRIO 19
o debate a este respeito está apenas começando. É indispensável e
de extrema urgência uma maior reflexão acerca da questão de fundo
e de forma do papel do jurista-linguista e do tradutor jurídico nota-
damente nos procedimentos penais de repercussão transnacional,
o que nos obriga a refletir sobre as seguintes questões essenciais:
Quem deve traduzir o direito? E como traduzir?

REFERÊNCIAS
BOCQUET, Claude (1949-....). La traduction juridique : fondement et méthode / Claude
Bocquet, De Boeck, 2008.

CORNU, Marie, Traduction du droit e droit de la traduction.

CABRAL BARRETO, Ireneu, A convençao Europeia dos direitos do Homem Anotada,


Coimbra, Coimbra Editora 2010.

GLANERT, Simone. De la traductibilité du droit / Simone Glanert ; préface de Pierre


Legrand. Dalloz, 2000.

GROFFIER, Ethel. La lexicographie juridique : principes et méthodes / Ethel Groffier,...


David Reed,...Y. Blais, 1990.

LAPORTE-LEGEAIS M. Langues et procès / sous la direction de Marie Cornu, Faculté


droit & sciences sociales, Université de Poitiers, 2015.

MATZNER, Elsa, éditeur. Droit et langues étrangères 2. Presses universitaires de


Perpignan, 2001, https://doi.org/10.4000/books.pupvd.26599.

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SUMÁRIO 21
2
Rafael Fernandes de Mesquita

ECONOMIA CIRCULAR:
UMA ANÁLISE DAS MÉTRICAS DE PRODUÇÃO
E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO
CIRCULAR ECONOMY:
AN ANALYSIS OF KNOWLEDGE PRODUCTION
AND DIFFUSION METRICS

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.2
RESUMO
A economia circular surge como um modelo alternativo que busca utilizar
os recursos naturais de forma eficiente para alcançar o desenvolvimento
sustentável. No entanto, reconhecendo a falta de análises bibliométricas
acerca do tema, este artigo buscou analisar as evidências científicas
relacionadas à economia circular, utilizando-se da base de dados da
Scientific Electronic Library Online (SciELO) indexada na Web of ScienceTM.
Como resultados, foi identificado que este tema ainda é emergente,
carecendo de grandes pesquisas relacionadas, mas ainda com grande
potencial de desenvolvimento. Como principal contribuição, este artigo
traz uma agenda para futuras pesquisas.
Palavras-chave: economia circular; bibliometria; evidências científicas;
futuras pesquisas.

SUMÁRIO 23
ABSTRACT
The circular economy emerges as an alternative model that seeks to use
natural resources efficiently to achieve sustainable development. However,
recognizing the lack of bibliometric analyzes on the subject, this article
sought to analyze the scientific evidence related to the circular economy,
using the Scientific Electronic Library Online (SciELO) database indexed
on the Web of ScienceTM. As a result, it was identified that this topic is still
emerging, lacking major related research, but still with great potential for
development. As a main contribution, this article provides an agenda for
future research.
Keywords: circular economy; bibliometrics; scientific evidence; future research.

SUMÁRIO 24
INTRODUÇÃO
O contexto das economias globais é de escassez de maté-
rias primas, com agravantes relacionados a questões ambientais,
sendo assim, há a necessidade de utilizar os recursos de forma mais
eficiente, reduzindo desperdícios e contribuindo de maneira mais
sustentável (VALENÇAS, 2019). Nesse contexto surge a economia
circular como uma alternativa capaz de suprir esta necessidade de
utilizar os recursos naturais eficientemente. O modelo linear vigente
está no seu limite, tornando-se essencial a adoção de uma econo-
mia pautada na redução, reutilização, restauração e regeneração dos
recursos em um ciclo fechado (SILVA, 2019).

Tendo em vista estas questões, a economia circular vem


ganhando evidência por legisladores e na área acadêmica, sendo
cada vez mais relevante para o cenário internacional (GEISSDOERFER
et al., 2017). Portanto, percebendo também a falta de análises biblio-
métricas sobre o tema, esta pesquisa preencherá esta lacuna ao
analisar as publicações encontradas na base de dados da Scielo
indexada na Web of Science. Desta maneira, o objetivo deste artigo
é analisar as evidências científicas relacionadas a economia circular.

Este artigo está organizado da seguinte forma: esta primeira


seção tratou das considerações iniciais acerca do tema, apresen-
tando o objetivo deste estudo; a segunda seção revisa a literatura
sobre economia circular, conhecendo o estado da arte da temática;
a terceira seção esclarece as técnicas metodológicas empregadas;
a quarta seção apresenta e discute os resultados; por fim, a quinta
e última seção aponta as conclusões, destacando as contribui-
ções para a literatura.

SUMÁRIO 25
CONSIDERAÇÕES SOBRE
ECONOMIA CIRCULAR
A preocupação com a sustentabilidade está crescendo,
sendo cada vez mais incorporadas às agendas dos legisladores e às
estratégias das empresas. Nesse sentido, a sustentabilidade pode
ser considerada como uma situação em que a atividade humana é
realizada de tal forma que preserve as funções dos ecossistemas
terrestres, sendo assim, um estilo de vida humano baseado na otimi-
zação das condições de vida, apoiando continuamente a segurança,
o bem-estar e a saúde, ou seja, preza pela perpetuidade de todas as
formas de vida (GEISSDOERFER et al., 2017).

A Comissão Brundtland, em 1987, forneceu um importante


documento para a progressão do desenvolvimento sustentável,
neste relatório é apresentado o conceito mais comumente aceito
de sustentabilidade: “Desenvolvimento sustentável é, em essência,
o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às
suas próprias necessidades” (KEEBLE, 1988, p. 5). Desde então, as
preocupações ambientais foram temas frequentes em convenções
pelo mundo, e a humanidade passou a buscar o desenvolvimento
sustentável em diferentes cenários.

Outro conceito relevante para a difusão do desenvolvimento


sustentável é o chamado triple bottom line definido por Elkington
(2001). Nesse entendimento, a sustentabilidade é pautada em três
pilares principais, nas pessoas, no lucro e no planeta. Isto é, a sus-
tentabilidade se dá no equilíbrio entre os âmbitos social, econômico
e ambiental. Estas três esferas estão sistematicamente conectadas,
agindo como pilares interdependentes com alto poder de adaptação
a diferentes contextos (ELKINGTON, 2001).

SUMÁRIO 26
Em consequência da discussão acerca do desenvolvimento
sustentável, novas formas de pensar a economia surgiram, entre elas
a economia circular. Este modelo econômico tem seu princípio na
pesquisa de Boulding (1966), em que o autor descreveu o planeta
como um sistema fechado e cíclico com capacidade assimilativa
limitada. Portanto, Boulding (1966) concluiu que a economia e o meio
ambiente são sistemas que devem coexistir em harmonia e equilí-
brio. Em complemento, Pearce e Turner (1990), inspirando-se neste
princípio, conduziram uma investigação sobre as características line-
ares e abertas dos sistemas econômicos contemporâneos, iniciando
assim, uma discussão sobre o processo de produção e consumo e
seus respectivos resíduos, a base da economia circular.

Na perspectiva contemporânea, o conceito mais aceito de


economia circular é: “uma economia industrial que é restauradora
ou regenerativa por intenção e design” (MACARTHUR, 2013, p. 14).
Corroborando com esta ideia, Webster (2015, p. 16) complementa:
“uma economia circular é aquela que tem um design restaurador e
que visa manter produtos, componentes e materiais em sua maior
utilidade e valor, em todos os momentos”. Portanto, a economia cir-
cular tem seu foco no reaproveitamento dos recursos e minimização
do desperdício, buscando agregar valor em todo ciclo produtivo, e
assim, reduzindo o impacto ambiental causado.

Geissdoerfer et al. (2017) ainda fornece mais um conceito de


economia circular, buscando integrar as distintas perspectivas apre-
sentados pela literatura sobre o tema:
“[...] definimos a Economia Circular como um sistema
regenerativo no qual a entrada e o desperdício de recur-
sos, a emissão e o vazamento de energia são minimi-
zados pela desaceleração, fechamento e estreitamento
dos circuitos de material e energia”. (GEISSDOERFER
et al., 2017, p. 3).

SUMÁRIO 27
Dessa forma, apesar da economia circular e a sustentabi-
lidade abordarem problemas ambientais, econômicos e sociais,
a economia circular ainda aponta elementos não contemplados
pela sustentabilidade, objetivando fortalecer ainda mais as práticas
sustentáveis das empresas (TIOSSI; SIMON, 2021). De acordo com
Leitão (2015), a economia circular incentiva novas práticas de gestão
e abre novas oportunidades de criação de valor para organizações
que convivem em harmonia com o meio ambiente. Para a autora, a
economia circular como fonte de inovação em produtos, processos e
modelos de negócios, permite a reciclagem de resíduos para reduzir
a demanda por recursos naturais, sendo assim, este novo paradigma
do desenvolvimento sustentável traz uma perspectiva de alavanca-
gem para as empresas, possibilitando vantagens competitivas em
um mercado global dinâmico, além de uma base sólida e impulso
para crescimento futuro (LEITÃO, 2015).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para alcançar o objetivo pretendido, foi realizada uma pes-
quisa bibliométrica, portanto, trata-se de uma pesquisa quantitativa e
qualitativa, em que se buscou analisar as publicações sobre economia
circular presentes na base de dados da Scientific Electronic Library
Online (SciELO) indexada na Web of ScienceTM. Esta base de dados foi
escolhida tendo em vista sua relevância no contexto da América Latina.
Como critério de busca, as palavras utilizadas foram: “circular econom*”
or “economia circular*”. Foram encontrados 51 artigos durante a busca.

Selecionados os artigos a serem analisados, utilizou-se


o Software HistCite com o intuito de observar métricas, tais como
autores e países que mais publicam sobre o tema, instituições dos
autores, artigos mais citados e palavras-chave mais recorrentes. Para
a análise de elementos textuais, foi utilizado o Software VosViewer,
observando os termos mais comuns e criando um mapa de clusters

SUMÁRIO 28
com as relações de mais relevância na discussão sobre economia
circular. Por fim, este estudo sintetiza as principais sugestões de pes-
quisas futuras presentes nos artigos selecionados, tendo como obje-
tivo fazer progredir o debate sobre a economia circular apontando
gaps teóricos ainda potenciais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 51 artigos encontrados e selecionados para a análise
final, 14 deles foram publicados no ano de 2018, sendo este o ápice
das publicações. Esta análise não considerou limite de período nas
publicações, isto é, engloba todas as publicações de todos os anos
presentes na base de dados selecionada. No entanto, a primeira
publicação utilizando o termo “economia circular” só foi encontrada
no ano de 2017 com o artigo “La economía circular como factor de la
responsabilidad social”, em que os autores analisam o surgimento da
economia circular como um modelo emergente da economia verde
e suas contribuições para o meio ambiente (GONZÁLEZ ORDAZ;
VARGAS-HERNÁNDEZ, 2017). Na figura 01 abaixo apresenta-se a
evolução da produção ao longo dos anos.

Figura 1 - Evolução das publicações sobre economia circular

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da pesquisa extraídos do Software HistCite (2022).

SUMÁRIO 29
Percebe-se que após o ano de 2017 a produção acerca da
economia circular se impulsionou, e a produção científica se intensi-
ficou mantendo uma média de 12 artigos por ano após o ano inicial.

Quanto às publicações por países, destaca-se abaixo aqueles


que possuem acima de duas publicações encontradas. Dessa forma,
evidencia-se uma predominância de artigos na região sul-americana
com Brasil e Colômbia, tanto em quantidade de artigos como tam-
bém em número de citações.

Quadro 1 - Países com maior número de publicações


Países Nº de Artigos Citações
Brasil 12 3
Colômbia 10 2
México 6 0
Portugal 5 0
África do Sul 5 0
Chile 4 2
Espanha 3 1
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da pesquisa extraídos do Software HistCite (2022).

Dentre os países analisados no Índice de Desempenho Ambiental


de 2020 (Environmental Performance Index, EPI) - que apresenta um
resumo da performance ambiental baseado em dados do estado da sus-
tentabilidade em todo o mundo - Apenas a Espanha está entre os 20 pri-
meiros países, ocupando a 14ª posição. Ao passo em que os países que
mais publicam sobre o tema, Brasil e Colômbia, estão, respectivamente,
na 55ª e 50ª colocação (WENDLING et al., 2020). Portanto, percebe-se
que mesmo com práticas mais atuantes voltadas para a sustentabilidade,
isso não reflete nas publicações acadêmicas, o contrário também é ver-
dadeiro, no caso do Brasil e Colômbia que apresentaram mais pesquisas,
mas isso não reflete nas ações governamentais e sociais.

SUMÁRIO 30
Em relação aos autores, destaca-se aqueles que possuem
mais de uma publicação ou com duas ou mais citações de seus
trabalhos. Observando o baixo número de publicações e citações,
percebe-se que este ainda é um tema emergente e que há pouca
conexão entre os autores.

Quadro 2 - Autores com maior número de publicações


# Autores Publicações Citações
1 França, Sergio Luiz Braga 2 0
2 Oliveira, Fábio Ribeiro de 2 0
3 Rangel, Luís Alberto Duncan 2 0
4 Titova, Natalya Yu 2 0
5 Silva, Karine Liotino da 1 2
6 Karam, Junior Dib 1 2
7 Amaral, Mariana Correa do 1 2
8 Amato, Neto João 1 2
9 Zonatti, Welton Fernando 1 2
10 Baruque-Ramos, Julia 1 2
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da pesquisa extraídos do Software HistCite (2022).

No quadro 3 abaixo estão destacados os dez artigos mais


citados relacionados à economia circular. O estudo de caso condu-
zido por Amaral et al. (2018) se apresenta como o artigo de maior cita-
ção, seus autores estão representados no quadro anterior da posição
5 a 10. O estudo apresentou um panorama da indústria têxtil e de
confecção brasileira, destacando os processos de reciclagem e rea-
proveitamento mecânico e químico. Dessa forma, os autores fazem
considerações a respeito da economia circular correlacionando-os
aos principais fatores e obstáculos envolvidos na operação industrial
da reciclagem têxtil (AMARAL et al., 2018).

SUMÁRIO 31
Quadro 3 - Trabalhos mais citados

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da pesquisa extraídos do Software HistCite (2022).

SUMÁRIO 32
Todos os outros nove artigos tiveram uma citação cada,
sendo estes apenas os dez trabalhos que tiveram citações. Rengifo
et al. (2018) buscaram analisar as implicações ambientais da gera-
ção de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, e assim,
apresentar duas alternativas, sendo uma delas estratégias de uso
baseadas na economia circular. Céspedes et al. (2018) investigam,
por meio de robustos testes de laboratório, um composto fertilizante
orgânico que pode fornecer nutrientes, matéria orgânica, umidade
e microrganismos benéficos ao agroecossistema, utilizando-se de
uma abordagem baseada na economia circular para buscar a otimi-
zação deste composto.

Redondo et al. (2018), em pesquisa similar a de Céspedes


et al. (2018), apresentam um modelo de avaliação de estratégias
na gestão de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos
(REEE), sendo um modelo útil para a avaliação de estratégias de
gestão de resíduos em diferentes cenários. González e Cortés
(2018) realizaram uma revisão bibliográfica acerca das experiências
internacionais de exploração em tendência à economia circular em
relação aos copos descartáveis, comparando e relacionando às três
linhas do modelo circular.

Valenzuela-Inostroza et al. (2019) projetam uma rede de logís-


tica reversa para plásticos contaminados com petróleo, buscando
minimizar custos e torná-la mais atrativa financeiramente, fazendo
assim, uma importante contribuição para a efetivação da econo-
mia circular na indústria. Gómez-Rubiera et al. (2019) estudaram a
inter-relação entre a implementação de duas medidas para redução
de energia, para que, seguindo os critérios da economia circular,
equilibre a demanda de recursos e diminua seus impactos ao meio
ambiente. Moreno-Miranda et al. (2020) analisaram aspectos socioe-
conômicos e produtivos para compreender a dinâmica da cadeia de
bagas do Inca, introduzindo dimensionamentos vertical e horizontal,
assim, contribuindo com a avaliação do rendimento produtivo.

SUMÁRIO 33
Severino-González et al. (2021) exploraram as práticas de
consumo sustentável socialmente responsável em estudantes do
ensino superior da cidade de Talca, no Chile. De acordo com os auto-
res, a percepção dos estudantes universitários está em fase constru-
ção e suas abordagens formam a base dos enfoques em diferentes
disciplinas. Por fim, Fernandes et al. (2021), através de um estudo
de caso de um negócio baseado nos princípios de economia circu-
lar, buscam compreender como modelos de negócios sustentáveis​​
podem ser co-criados em contextos desafiadores.

Portanto, nota-se que os trabalhos citados abordam majo-


ritariamente os aspectos da economia circular em termos práticos,
sejam eles aplicados a organizações ou a técnicas específicas.

Quadro 4 - Os 10 termos com maior relevância


Os 10 termos com maior relevância
# Termos Ocorrência Relevância
1 Water 9 2.24
2 Value 11 2.00
3 Sustainability 9 1.34
4 Recycling 7 1.25
5 Sustainable Development 8 1.16
6 Technology 8 1.05
7 Strategy 11 1.00
8 Environment 12 0.99
9 Alternative 14 0.80
10 Economy 13 0.67
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da pesquisa extraídos do Software VOSviewer (2022).

SUMÁRIO 34
O quadro 4 acima destaca os termos mais utilizados e com
maior relevância dentre os artigos selecionados. A palavra de maior
relevância foi “water”, representando a aplicabilidade da economia
circular em diferentes contextos, neste caso, em usos voltados para
a água. “Value” foi a segunda palavra de maior destaque, demons-
trando um dos pilares da economia circular, o foco voltado na criação
de valor. “Sustainability”, “Recycling” e “Sustainable Development”
refletem a dimensão ambiental da economia circular voltada para
a progressão do desenvolvimento sustentável. A sétima palavra de
maior representatividade é “Technology” demonstrando uma das ver-
tentes mais atuais da temática, em que a tecnologia é utilizada para
o desenvolvimento de novas alternativas. “Environment”, “Alternative”
e “Economy” são os três últimos termos de maior relevância, enfati-
zando a conexão entre economia circular e meio ambiente.

Através do software VOSviewer, foi elaborado um mapa de


palavras e clusters com base nas publicações selecionadas. Os clus-
ters são agrupamentos de termos que indicam a existência de forte
ligação entre os termos presentes, aglomerado-os em uma mesma
discussão. Dessa forma, podem-se entender tais agrupamentos
como as tendências de pesquisas relacionadas ao tema governança
em cidades inteligentes. Sendo assim, o mapa de palavras destaca
os principais termos envolvidos nos estudos. Foram identificados
1.672 termos e a análise considerou os termos que se repetiam no
mínimo 5 vezes, reduzindo a 43 termos mais relevantes. Além disso,
elementos de natureza exclusivamente científica foram excluídos,
tais como: data, application, theory, author, abstract, research, article,
paper, study, type, analysis, model e methodology. Na Figura 2 a seguir,
está o mapa das palavras selecionadas, separadas por clusters.

SUMÁRIO 35
Figura 2 - Mapa de clusters destacando a relação dos elementos da economia circular

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da pesquisa extraídos do Software VOSviewer (2022).

Para enfatizar a relação dos clusters, o quadro 5 abaixo rela-


ciona os agrupamentos e elementos pertencentes a cada cluster.

Quadro 5 - Relação de Clusters


Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3
Economia Circular (circular economy) Companhia (Company) Ação (Action)
Economia (economy) Conceito (Concept) Alternativa (Alternative)
Princípio (Principle) Meio Ambiente (Environment) Efeito (Effect)
Processo (Process) Economia Verde (Green Economy) Geração (Generation)
Produção (Production) Implementação (Implementation) Tecnologia (Technology)
Serviço (Service) Reciclagem (Recycling) Tratamento (Treatment)
Stakeholder Estratégia (Strategy) Uso (Use)
Sustentabilidade (Sustainability) Desenvolvimento Sustentável Desperdício (Waste)
(Sustainable Development)
Valor (Value)
Água (Water)
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados da pesquisa extraídos do Software VOSviewer (2022).

SUMÁRIO 36
O cluster 1 é o que tem um maior número de termos, represen-
tando os artigos que tratam do core da economia circular, abordando
temas relacionados à aplicação dos princípios da temática nas áreas
de produção, buscando a geração de valor. O cluster 2 apresenta
outros elementos da economia circular, sendo eles mais voltados ao
meio ambiente, tratando de temas relacionados à reciclagem, econo-
mia verde e fomentação do desenvolvimento sustentável. Já o cluster
3 relaciona os aspectos técnicos do tema, como a implementação de
tecnologias, uso e desperdício de recursos, bem como da economia
circular como alternativa para abordagens tradicionais.

AGENDA DE PESQUISAS FUTURAS


Nesta seção, procurou-se destacar uma agenda para pes-
quisas, analisando os artigos selecionados nas etapas anteriores e
apresentando as lacunas existentes sobre a temática. Neste sentido,
destaca-se que este é um tema ainda pouco explorado no contexto
brasileiro, assim, seria benéfico para literatura mais estudos de caso
em que os conceitos da economia circular fossem aplicados. Além
disso, Rengifo et al. (2018) destacam a necessidade de análises
profundas no contexto gerado pelo metabolismo urbano do REEE,
sendo um tema que deve ser trabalhado a partir de novas aborda-
gens técnicas, políticas, educacionais e sociais, disseminando futu-
ros campos estratégicos de atuação na gestão desses resíduos.

Poucos estudos foram conduzidos no sentido de criação


de modelos relacionados a logística reversa, por isso, é sugerida a
necessidade de estabelecer novas variáveis ​​para pesquisas futuras
nesta área, buscando projetar modelos mais rentáveis e atraentes
para os stakeholders. Ainda é recomendado a utilização de indica-
dores que incorporem a sustentabilidade nas dimensões ambiental
e institucional, assim, tencionando a implementação de modelos de
cadeias produtivas circulares.

SUMÁRIO 37
Além do foco em aspectos produtivos, a literatura acerca
da economia circular se beneficiaria de estudos em instituições
não industriais, tais como instituições de ensino ou organizações
públicas, utilizando estratégias de economia circular para o dese-
nho de modelos educacionais ou públicos inclusivos, articulando
as demandas de diversos atores sociais. Ademais, análises com-
parativas entre casos de diferentes organizações podem fornecer
insights importantes para a literatura, principalmente se equivalente
de abordagens multidisciplinares, tendo em vista este caráter versátil
da economia circular.

CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi analisar as evidências científicas
relacionadas à economia circular, utilizando-se de uma abordagem
bibliométrica para tal. Com isto, verificando a base de dados da Scielo
pôde-se perceber que este é um tema emergente, ainda pouco
explorado pela literatura acadêmica, porém, com amplo potencial,
podendo ser aplicado em diferentes contextos.

Portanto, a principal contribuição acadêmica deste artigo


é a apresentação do panorama acerca da economia circular, bem
como a evidenciação de uma agenda para futuras pesquisas na área
estudada. Este estudo ainda oferece contribuições sociais, como os
benefícios que a temática pode disponibilizar à sociedade. Em com-
plemento, pode-se extrair contribuições gerenciais relacionadas ao
uso de estratégias baseadas na economia circular como alternativas
para diversas empresas.

Como limitação, apresenta-se somente a análise do termo


“economia circular” em apenas uma base de dados, portanto, diferen-
tes bases de dados podem ter mais ou diferentes publicações dentro

SUMÁRIO 38
do tema. Sendo assim, além das sugestões de pesquisas apresenta-
das no tópico anterior, ainda sugere-se a novas revisões bibliográfi-
cas ou bibliométricas que possam incorporar outras bases de dados,
ou até mesmo com enfoques em países específicos, como o Brasil.

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SUMÁRIO 40
3
Luiza Tavares da Motta
Alvaro Dickson Molinares Valencia

O PAPEL DO TJUE
NA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
DO MULTILINGUISMO
NA UNIÃO EUROPEIA
THE ROLE OF THE CJEU IN THE LEGAL
INTERPRETATION OF MULTILINGUAL

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.3
RESUMO
O presente artigo se propõe a expor o papel do TJUE diante das dificuldades
linguísticas que podem nascer da interpretação das normas da União
Europeia neste esforço de fazer valer o multilinguismo. A União Europeia
é uma enorme máquina encarregada da produção e execução de normas
jurídicas ao interior dos Estados Membros para assim puder não somente
criar uma união em termos jurídicos, mas também de aplicação normativa.
A União Europeia é uma enorme máquina encarregada da produção e
execução de normas jurídicas ao interior dos Estados Membros para assim
puder não somente criar uma união em termos jurídicos, mas também de
aplicação normativa. No entanto, por vezes, as normas europeias podem
apresentar certas dificuldades no referente à sua correta interpretação:
pode ser que a redação não seja suficientemente clara e apresente
ambiguidades que possam gerar uma aplicação incorreta. É possível que a
ampla normativa europeia possa levar a problemas de interpretação quando
as versões linguísticas dos julgamentos não representam necessariamente
um equivalente legal no idioma de destino a ser traduzido.
Palavras-chave: interpretação jurídica; TJUE; multilinguismo; União
Europeia; juritradutologia.

SUMÁRIO 42
ABSTRACT:
Thus, this article aims to expose the role of the CJEU in the face of linguistic
difficulties that may arise from the interpretation of European Union norms in
this effort to enforce multilingualism. The European Union is a huge machine
in charge of the production and enforcement of legal rules within the
Member States so that it can create a union not only in legal terms but also
in terms of enforcement. The European Union is a huge machine producing
and implementing legal rules within the Member States so that it can create
a union not only in legal terms but also in terms of enforcement. However,
European norms can sometimes present certain difficulties regarding their
correct interpretation: the wording may not be clear enough and may
present ambiguities that can lead to incorrect application. It is possible
that broad European standards may lead to interpretation problems when
the language versions of judgments do not necessarily represent a legal
equivalent in the target language to be translated.
Keywords: legal interpretation; CJEU; multilingualism; European Union;
juritradutology.

SUMÁRIO 43
INTRODUÇÃO
“Há que ter em conta, antes de nada, que os textos de
direito comunitário são redigidos em várias línguas e que
as várias versões linguísticas são igualmente autênticas;
por conseguinte, a interpretação de uma disposição de
direito comunitário implica uma comparação das versões
linguísticas” (TJUE, CILFIT, 1982).

A União Europeia é uma enorme máquina encarregada da


produção e execução de normas jurídicas ao interior dos Estados
Membros para assim puder não somente criar uma união em termos
jurídicos, mas também de aplicação normativa. Para este fim, a União
conta com a vigilância da Comissão Europeia1 quem, com as suas
prerrogativas pode realizar um controle extenso ante os Estados
Membros da União assim como nos outros órgãos da União. Os
Estados Membros estão, por conseguinte, obrigados a velar pela cor-
reta aplicação do direito da União ao interior dos seus estados. Esta
obrigatoriedade de aplicação atinge todos os órgãos dos Estados,
inclusive as jurisdições internas dos Estados quando estejam diante
da aplicação de uma norma de direito europeu.

A União Europeia implantou um sistema para promover


o multilinguismo não apenas nos seus documentos oficiais, mas
também como uma realidade quando nos seus documentos oficiais
todas as informações devem, a priori, serem publicadas na totalidade
de línguas da União.

1 Se a Comissão encontrar alguma inconsistência no correto cumprimento das obrigações jurídicas


que decorrem da dos Tratados Internacionais vinculantes dentro da mesma União, a Comissão po-
derá recorrer ao Tribunal de Justiça da União Europeia lhe apresentado por médio de um memorial
escrito, as informações relevantes, afim que o Tribunal possa emitir as devidas remediações.

SUMÁRIO 44
A União Europeia é uma enorme máquina encarregada da
produção e execução de normas jurídicas ao interior dos Estados
Membros para assim puder não somente criar uma união em termos
jurídicos, mas também de aplicação normativa.2

No entanto há alguns casos em que esta união linguística


não se aplica. Este é o caso da língua irlandesa. O irlandês é consi-
derado uma língua oficial da União, mas por uma questão de clareza,
e numa base transitória, as instituições da União não estão vincula-
das à obrigação de redigir ou traduzir para o irlandês todos os atos.
Não são obrigatoriamente traduzidas para o irlandês as decisões do
Tribunal de Justiça , com exceção dos regulamentos adotados con-
juntamente pelo Parlamento Europeu e o Conselho”.3 No entanto, a
União Européia ainda tem um ás na manga, pois em caso de incon-
sistência ou má interpretação (TFUE, Artigo 267, 2008) , o Tribunal de
Justiça da União Europeia será responsável pela interpretação das
versões linguísticas dos tratados, dos atos das instituições da União
Européia, assim como dos acórdãos da própria Corte.

No entanto, por vezes, as normas europeias podem apre-


sentar certas dificuldades no referente à sua correta interpretação:
pode ser que a redação não seja suficientemente clara e apresente
ambiguidades que possam gerar uma aplicação incorreta. É possível
que a ampla normativa europeia possa levar a problemas de inter-
pretação quando as versões linguísticas dos julgamentos não repre-
sentam necessariamente um equivalente legal no idioma de destino
a ser traduzido. É necessária uma interpretação real que permita

2 Há uma obrigação substantiva de redação em todos os idiomas. Conforme o artigo 4º do


Regulamento (CEE) nº 1/1958 de 15 de abril 1958,36 que estabelece o regime linguístico da UE,
«regulamentos e outros textos de aplicação geral devem ser redigidos nos idiomas oficiais».
3 RÈGLEMENT (UE, Euratom) 2015/2264 DU CONSEIL du 3 décembre 2015 prorogeant et supprimant
progressivement les mesures dérogatoires temporaires au règlement no 1 du 15 avril 1958 portant
fixation du régime linguistique de la Communauté économique européenne et au règlement no 1
du 15 avril 1958 portant fixation du régime linguistique de la Communauté européenne de l’énergie
atomique introduites par le règlement (CE) no 920/2005.

SUMÁRIO 45
aos tradutores expressar o significado do julgamento como tal e não
apenas transpor as palavras de uma língua para outra. Está claro na
jurisprudência que “quando uma versão contém uma ‘ambigüidade’,
ela deve ser interpretada “em um sentido consistente com as outras
versões linguísticas” (DE QUADROS, 2008).

Nestes casos, o direito europeu oferece uma possibilidade


aos juízes dos Estados Membros de manifestar as suas dúvidas ante
o Tribunal de Justiça da União Europeia (daqui em diante TJUE) por
meio de apresentação de questão prejudicial para que este possa,
por médio da ação de Reenvio Prejudicial, emitir uma resposta clara e
vinculante tanto para o juiz em questão como para todos os Estados
Membros, a fim de estabelecer a correta aplicação e interpretação da
norma jurídica em questão.

Esta ação de reenvio prejudicial permite ao juiz expressar


suas dúvidas diante o TJUE por médio de uma petição enviada dire-
tamente ao Tribunal para que este possa emitir um acórdão perante
o qual o juiz que fez inicialmente o reenvio prejudicial obtenha uma
resposta jurídica que lhe permita de decidir concretamente no pro-
cesso judicial que levou a criação de reenvio.

No momento em que o TJUE recebe a questão prejudicial


por meio do pedido de reenvio prejudicial, o Tribunal procede a uma
tradução do pedido para a língua francesa pois trata-se da língua
de procedimento do TJUE. Uma vez cumpridas todas as etapas pro-
cessuais do reenvio prejudicial, o acórdão final será emitido tanto
na língua original do pedido como nas outras 23 línguas4 da União
Europeia. Porém, apesar do esforço do TJUE para tentar consolidar
uma única interpretação válida ao nível europeu, essa interpretação
pode apresentar problemas no momento da leitura do acórdão emi-
tido, mas não de um ponto de vista jurídico, pois já estaríamos diante

4 Para maiores informações, ver MOLINARES V. A. D, The Future of the English language after Brexit:
Should English still be a lingua franca in Europe?”, 2020.

SUMÁRIO 46
um caso de cosa julgada, mas de uma interpretação linguística ao
momento da leitura do acórdão em suas diferentes traduções.

Assim, o presente artigo se propõe a expor o papel do TJUE


diante das dificuldades linguísticas que podem nascer da interpre-
tação das normas da União Europeia neste esforço de fazer valer
o multilinguismo. Mesmo se todas as traduções feitas à sentença
possuem igualdade e validade no que concerne sua aplicação, o fato
de criar diferentes versões nas 24 línguas pode levar a uma certa
insegurança jurídica pois uma tradução pode estar correta linguis-
ticamente mais diferente juridicamente falando; ou seja, é possível
encontrar-se em situações onde as traduções fazem que o voca-
bulário próprio do direito europeu, o qual possui uma aplicação e
definição inerente à um termo em específico, apresente várias adap-
tações linguísticas mas uma única interpretação jurídica válida no
seio do direito europeu.

É a razão pela qual este trabalho é centrado unicamente no


caráter linguístico da interpretação de acórdãos em reenvio preju-
dicial no TJUE sem entrar em discussão sobre as diferenças que
possam decorrer da interpretação jurídica. Porém, é necessário dizer
que, mesmo se em função da versão e da interpretação dada a uma
tradução é possível mudar a interpretação jurídica, nosso escrito
abordará o tema da interpretação desde um sentido linguístico que
não deixa de englobar também o jurídico.

Esse tipo de interpretação fruto de uma análise da jurilin-


guística pode apresentar possíveis soluções aos inconvenientes
nascentes das variadas interpretações nas traduções feitas aos
acórdãos em razão da sua particularidade. Não se trata de uma tra-
dução errada feita pelo serviço de tradução do Tribunal ou de uma
interpretação errada por parte do juiz requerente do reenvio prejudi-
cial, mas de uma nova leitura que pode se afastar do sentido inicial
criado pela sentença.

SUMÁRIO 47
Podem existir então várias interpretações jurisprudenciais
relativas à equivalência terminológica e nacional dos termos quando
as decisões são proferidas no Tribunal de Justiça da União Europeia.
Podem surgir certas questões linguísticas quando os juízes nacionais
dos Estados-Membros as interpretam, uma vez que, dependendo das
versões e traduções criadas, tais interpretações podem ser variadas.
Estas diferenças de interpretação podem causar problemas quando
uma única palavra com um determinado significado na língua em
que o julgamento foi proferido pode, no entanto, ter várias traduções
e interpretações em diferentes línguas.

Para poder oferecer uma resposta que seja válida tanto lin-
guística como juridicamente, o presente artigo divide-se em dois
blocos. Iremos tratar no primeiro bloco dos desafios linguísticos do
multilinguismo (I) e, no segundo bloco, procederemos a descrever a
possível solução ao problema jurídico resultante da interpretação do
TJUE em razão da língua (II).

I) OS DESAFIOS LINGUÍSTICOS DO
MULTILINGUISMO NA UNIÃO EUROPEIA
O uso de 24 línguas numa mesma instituição pode, além
de representar uma forma de integração para os Estados Membros
pois suas línguas são consideradas como oficiais, ser considerado
como um multilinguismo sui generis a nível internacional (A). Tal
multiplicidade de línguas está tanto na União quanto seus órgãos,
incluído o TJUE (B).

SUMÁRIO 48
A) UM MULTILINGUISMO ÚNICO NO MUNDO
Antes de tratarmos do multilinguismo legal na Europa, deve-
mos definir o multilinguismo. Esta palavra, originária do latim, signi-
fica “multus lingua”, “múltiplos idiomas”. Alguns autores podem des-
crevê-la como “uma situação social envolvendo grupos ou comuni-
dades que se comunicam, com proficiência variável, em mais de uma
língua, além de uma língua nacional ou padrão” (J.C MAHER, 2017).

Entretanto, discutiremos apenas o multilinguismo jurídico


na Europa, em vez de um multilinguismo europeu como objeto de
estudo. O multilingüismo jurídico na Europa é fundado graças aos
tratados europeus que o colocam como um dos pilares da União
Europeia. É costume falar da comunidade descrevendo-a como uma
“comunidade baseada no Estado de direito” (uma fórmula doutriná-
ria que apareceu na decisão de 1986, Les Verts contra Parlamento
Europeu), que se refere ao Estado de direito. Mas também poderia
ser dito que mais do que uma comunidade de direito, existe também
uma união através do direito, pois a União foi construída tendo o
direito como único instrumento. Pode não parecer muito claro, à pri-
meira vista, o que o multilinguismo tem a ver com uma comunidade
baseada no “Estado de direito”.

As regras do direito devem ser compreensíveis e acessíveis a


qualquer cidadão europeu com coerência entre as línguas. Em outras
palavras, a União Européia é uma máquina para produzir legislação
comunitária que será implementada por outros a fim de criar integra-
ção entre os membros do Estado europeu e seus cidadãos.

A existência de uma pluralidade de idiomas é notável devido


ao simples fato de ter 24 idiomas oficiais. Refere-se à possibilidade
de ter a capacidade jurídica e linguística, dentro de um único Estado,
organização internacional ou tribunal internacional, para oferecer
aos litigantes o acesso ao juiz em outros idiomas considerados ofi-
ciais. Como exemplo, pode-se ter o Estado belga, em que se vê um

SUMÁRIO 49
bilinguismo franco-flamengo5, ou o Canadá6, com inglês e francês.
O Tribunal de Justiça da União Européia permite que os cidadãos
se dirijam ao Tribunal em um dos 24 idiomas oficiais, o Tribunal
Unificado de Patentes7 oferece um sistema de idioma tripartite em
francês, alemão e inglês.

Então temos o multilinguismo dentro da União Européia, que


é um multilinguismo sui generis, sem equivalente em nenhum lugar
do mundo jurídico ou linguístico, já que não estamos falando aqui
de uma instituição de natureza internacional com um certo número
de línguas oficias ou idiomas de trabalho, como a Organização
das Nações Unidas com seus seis idiomas oficiais8, ou o Tribunal
Europeu de Direitos Humanos e sua condição bilíngüe9, mas sobre
uma instituição interestatal cujos idiomas oficiais são os mesmos
que os idiomas oficiais de seus Estados membros.

Este é um cenário de uma organização supranacional com


praticamente o mesmo número de idiomas oficiais que de Estados
membros. A União Européia tem atualmente 24 idiomas oficiais e
27 Estados membros. Esta coesão linguística significa que a União
Européia, como máquina normatizadora, pode produzir legislação
igual em conteúdo e, apesar das diferenças linguísticas, man-
tém uma tradução autorizada válida para todos os idiomas ofi-
ciais desta instituição.

Este tipo de multilinguismo é amplamente aplicado (II) pelo


Tribunal de Justiça da União Europeia. O uso das línguas acontece
tanto na recepção de demandas judiciais como na produção de
acórdãos em todas as línguas da União.

5 Constitution politique de la Belgique, article 4, « les régions linguistiques en Belgique ».


6 Loi sur les langues officielles – Official Languages Act.
7 Unified patent Court Agreement, article 49.
8 Charte des Nations Unies, article 1.11.
9 Règlement de la Cour Européenne de Droits de l’homme, Article 34.

SUMÁRIO 50
B) O REGIME LINGUÍSTICO DO TJUE
A Lei e as línguas estrangeiras. O artigo 6 da Convenção
Européia sobre Direitos Humanos e o artigo 47 da Carta dos Direitos
Fundamentais estabelece o direito de acesso a um juiz como garan-
tia de que o indivíduo tem acesso à justiça em um idioma que ele ou
ela entende. A possibilidade de se dirigir ao juiz de tal forma vai além
da simples observação da necessidade de um tradutor ou intérprete,
mas permite ao litigante ver seu caso jurídico conduzido em um
idioma que ele entende, uma vez que o acesso à justiça é colocado
acima de qualquer barreira legal ou mesmo linguística.

Pode tratar-se de uma variedade linguística em certos tribu-


nais internacionais, que facilita o acesso ao juiz em vários idiomas,
de modo a criar uma proteção legal nos casos apresentados perante
os Tribunais. Isto significa que os litigantes devem, portanto, ser
capazes de se comunicar uns com os outros em sua própria língua
quando estão em processo judicial no Tribunal10.

Em possíveis ações judiciais, o Tribunal de Justiça, que atua


como o guardião da União, persiste afirmando que “o requerente
deve escolher o idioma do processo entre os 24 idiomas oficiais da
União, a menos que o réu seja um Estado-Membro, caso em que
o idioma do processo será a língua oficial desse Estado, ou a lín-
gua oficial desse Estado escolhido pelo candidato, se houver vários
idiomas oficiais“ (VON BARDELEBEN, 2012). Isto implica uma ampla
gama de possibilidades quanto ao regime linguístico11 a ser utilizado
quando uma ação ou requerimento é apresentado a este Tribunal.
Outras instituições internacionais fora da União Européia também
mantêm um importante lugar na escala jurídica multilíngue.

10 Article 37 of the Reglement of the Cour of Justice of the European Union; article 35 of the Reglement
of the Tribunal of the European Union.
11 Règlement de Procédure de la Cour art 37, Art 35 RP Tribunal et Art 29 RP TFPUE.

SUMÁRIO 51
Como mencionamos acima, é obrigatório que as normas
europeias sejam redigidas em todos os idiomas oficiais da União
Europeia. Esta obrigação de redação pode ser definida, nas palavras
do Tribunal de Justiça: “a legislação comunitária é redigida em vários
idiomas e que as diferentes versões nos idiomas são todas igual-
mente autênticas. Uma interpretação de uma disposição do direito
comunitário assim envolve uma comparação das diferentes versões
linguísticas”. (TJUE, CILFIT, 1982).

Esta comparação entre as diferentes versões linguísticas


demonstra a necessidade de consistência sobre a interpretação não
só dos tratados, mas também de sua tradução. Com relação a isto, o
Tribunal de Justiça da União Europeia afirmou que “A necessidade de
uma uniforme interpretação dos regulamentos comunitários torna
impossível que essa passagem seja considerada em isolamento e
exige que ele seja interpretado e aplicado à luz das versões existen-
tes nos outros idiomas oficiais” (TJUE, Marianne Worsdorfer, 1979).
Entretanto, deve ser observado que, mesmo que à primeira vista o
multilinguismo continue a ser o principal objeto a ser protegido no
Tribunal de Justiça da União Europeia, seu idioma de procedimento
não é nem inglês nem alemão, mas francês.

Esta escolha linguística tem fundamentos jurídicos: o Tribunal


de Justiça da União Européia estabelece que “o Tribunal precisa de
uma linguagem comum para conduzir as deliberações”12. Esse idioma
é, por costume, o francês. Assim, todos os documentos apresentados
pelas partes no idioma do caso são traduzidos para o francês como
parte do arquivo interno de trabalho. No entanto, os documentos
trocados entre os registros e as partes estão no idioma do caso. Isto
assume particular importância no final do processo, uma vez que a
única versão autêntica da sentença proferida pelo Tribunal de Justiça
ou pelo Tribunal Geral é a que aparece na linguagem do caso.

12 Para maiores informações, ver o tópico do Regime Linguístico na página oficial do TJUE.

SUMÁRIO 52
O uso então das línguas ao seio do TJUE apresenta uma
grande vantagem para o claro entendimento do direito europeu a
todos os Estados Membros da União. Pode-se então afirmar que
o TJUE possui um papel (II) realmente importante no que tange à
interpretação dos acórdãos em razão da língua.

II) O PAPEL DO TJUE DIANTE DOS


CONFLITOS DE INTERPRETAÇÃO
EM RAZÃO DA LÍNGUA
Seguindo a tradição do multilinguismo como um dos grandes
pilares da União, o TJUE tem velado para que as versões dos acórdãos
em diferentes línguas mantenham sempre o sentido. No entanto, o
TJUE tem apresentado várias soluções linguísticas (A) para resolver
os possíveis problemas de interpretação que possam existir (B).

A) AS SOLUÇÕES LINGUÍSTICAS DO TJUE


Nos confrontamos, então, com uma disputa puramente
linguística cujas diferentes versões não deveriam constituir um
problema, uma vez que não estamos a olhar para o direito euro-
peu a partir do ponto de vista da tradução de uma língua para
outra, mas do ponto de vista do efeito útil (GALLA, 2006) direito
europeu enquanto tal.

Para fins de exemplo, o acórdão do Tribunal de Justiça


Europeu no caso de CODAN (processo CJEU, Codan, 1998) deve ser
visto como uma disputa entre várias versões terminológicas utiliza-
das numa directiva: “a versão alemã utiliza o equivalente da expres-
são impostos sobre transações em bolsa, na maioria das outras ver-

SUMÁRIO 53
sões linguísticas da directiva, ou seja, nas versões grega, espanhola,
francesa, italiana, holandesa, portuguesa, a expressão utilizada é
‘impostos sobre a transferência de títulos’”. Isto quer dizer, as versões
feitas podem manter uma interpretação linguística mas não jurídica,
ou uma semelhança linguística apresentando uma diferença jurídica.

Com base no princípio de interpretação uniforme de todas


as versões linguísticas introduzido pelo Tribunal de Justiça Europeu
em seu acórdão Erich Stauder de 1969, o Tribunal indicou que era
necessário “especificar o escopo exato da disposição em questão”.
Este esclarecimento do escopo indicaria, portanto, que, independen-
temente das versões linguísticas criadas, deve haver apenas uma
interpretação terminológica que enfatize o direito europeu como tal.

Existe, portanto, uma terminologia específica do direito euro-


peu, o que significa que ela não só é autônoma e única, mas tam-
bém que tem seu próprio significado em nível europeu, o que não
tem equivalente direto nos Estados Membros. O mesmo acontece
quando, na ausência de uma interpretação verdadeira pelo Tribunal
de Justiça, um regulamento europeu não pode interpretar ou indicar
em nenhum sentido ou versão linguística o alcance do significado
de uma palavra. Foi o caso no C-34/1028 relativo à ausência de
uma definição de “embrião humano”. Poderia ser que “nos Estados-
Membros com a concepção mais restrita do conceito de embrião
humano e, portanto, mais permissivos no que diz respeito às possi-
bilidades de patenteabilidade, devido ao fato de que a patenteabili-
dade de tais invenções seria excluída em outros Estados-Membros”,
tal situação prejudicaria o bom funcionamento do mercado interno,
que é o objetivo da Diretiva.

Essas variações na interpretação de uma regra quanto ao


significado que ela deveria ter não só em relação aos Estados-
Membros, mas também a priori dentro da União Européia deve-
riam ser esclarecidas para que todos os Estados-Membros pos-
sam, com base na interpretação feita pelo Tribunal de Justiça,

SUMÁRIO 54
introduzir essa definição em seus territórios, tanto em equivalentes
linguísticos quanto jurídicos.

Pode ser que os amplos acórdãos do Tribunal de Justiça da


União Europeia deem origem a problemas de interpretação quando
as versões linguísticas dos acórdãos não têm necessariamente um
equivalente linguístico no idioma de destino a ser traduzido, mas
uma interpretação real que permita aos tradutores expressar o signi-
ficado do julgamento como tal e não apenas transpor as palavras de
um idioma para outro.

A jurisprudência mostra que “quando uma versão contém


uma ‘ambiguidade’, ela deve ser interpretada ‘de forma consistente
com as outras versões linguísticas’” (QUADROS, 2007). Esta ambi-
guidade pode, portanto, surgir ou no final do processo, quando as
diferentes versões do julgamento são produzidas, ou logo no início
do processo, quando contém palavras intraduzíveis.

Em outras palavras, ambiguidades decorrentes de palavras


intraduzíveis podem ocorrer tanto em uma escala de tradução hori-
zontal dentro do próprio Tribunal quanto em um sentido vertical de
juiz para juiz por meio da referência preliminar.

As mencionadas palavras intraduzíveis são palavras que às


vezes mantêm seu próprio significado no direito europeu no nível
jurídico, mas podem estar presentes em várias versões linguísticas
um único significado apresentado em diferentes idiomas.

B) OS DESAFIOS DA APLICAÇÃO
NA INTERPRETAÇÃO LINGUÍSTICA
Interpretações jurisprudenciais relativas à equivalência ter-
minológica e nacional dos termos quanto às decisões proferidas no
Tribunal de Justiça da União Europeia podem gerar certas questões

SUMÁRIO 55
linguísticas quando os juízes nacionais dos Estados-Membros as
interpretam, uma vez que, dependendo das versões e traduções
criadas, podem surgir várias interpretações. Estas diferenças de
interpretação podem causar problemas quando uma única palavra
com um determinado significado na língua em que o julgamento
foi proferido pode, no entanto, ter várias traduções e interpretações
em diferentes línguas.

Este tipo de situação remete à concepção do papel dos


Estados Membros no sistema institucional. Os Estados-Membros
no sistema institucional fazem deles engrenagens na roda desse
sistema. Sem dúvida, a língua de cada Estado é uma língua oficial.
Contudo, a coexistência de textos autênticos em diferentes línguas
pode interferir com a aplicação do direito da União Europeia nos
seus Estados Membros. Caberia ao Tribunal de Justiça da União
Europeia, enquanto guardião dos Tratados que instituem a União
Europeia, assegurar a interpretação mais adequada de acordo com
as línguas utilizadas.

No seu acórdão CILFIT (Processo CJUE, Ciltif, 1982), o


Tribunal de Justiça da União Europeia declarou que “há de se ter
em conta, antes de mais nada, que os textos de direito comunitário
são redigidos em várias línguas e que as várias versões linguísticas
são igualmente autênticas; por conseguinte, a interpretação de uma
disposição de direito comunitário implica uma comparação das ver-
sões linguísticas”. Este julgamento mostra-nos, apesar da existência
de uma pluralidade de línguas autênticas, uma peculiaridade pró-
pria do direito europeu no sentido de que “deve notar-se, mesmo
quando as versões linguísticas são exatamente as mesmas, que o
direito comunitário utiliza a sua própria terminologia. Além disso, é
de se salientar que os conceitos jurídicos não têm necessariamente
o mesmo conteúdo no direito comunitário e nas várias leis nacionais”
(processo Cilfit do TJUE, 1982).

SUMÁRIO 56
Este poderia ser o caso quando em espanhol o Tribunal de
Justiça da União Europeia é chamado “Tribunal de Justicia de la
Unión Europea”:embora a palavra “Tribunal” tenha um equivalente
exato em português ao “Tribunal de Justiça”, não tem equivalente
direto nos outros Estados Membros da União Europeia. Verbi gra-
tia, o equivalente francês de “Tribunal de Justiça”, o nome dado ao
Tribunal de Justiça em francês é “Cour de Justice” (Corte de Justiça)
enquanto que em francês o Tribunal se refere ao Tribunal de Justiça
como um órgão de primeira instância enquanto que o “Tribunal de
Justiça” seria a segunda instância em português.

Em guisa de exemplo, o mesmo se aplica em espanhol, ita-


liano e inglês perante do Tribunal Unificado de Patentes, uma vez
que estas três línguas mantiveram o uso de “Corte” ou “Tribunal”
para referir-se a este órgão como: « European Patent Court » et
« Tribunale Unificato dei Brevetti » mas que em francês possui o
nome de “Juridiction Unifiée du Brevet”. Nesse sentido, em francês o
que eles consideram, para o caso concreto, uma Jurisdição deve-se
entender então como “Corte” ou “Tribunal” sem que isto afete a con-
cepção própria da palavra “jurisdição” num sentido amplo.

Se extrapolarmos o nosso raciocínio ao Tribunal de Justiça


Europeu, conclui-se não só que o Tribunal atua como guardião do
direito europeu e da coesão e interpretação do direito europeu
enquanto tal, mas que também supervisiona a interpretação feita
pelos Estados-Membros e pelas instituições à União Europeia no sen-
tido de que o Tribunal atua, através do procedimento (TFUE, 2003),
que é a pedra angular do direito europeu (Processo CJUE 2/13, 2013),
o Tribunal permite que o direito europeu seja interpretado de forma
harmoniosa e igual em todos os sentidos linguísticos e jurídicos nos
Estados-Membros e nas instituições europeias. Portanto, o objetivo
é encontrar o efeito útil do direito europeu e não simplesmente fazer
traduções de uma língua original para uma língua de destino.

SUMÁRIO 57
Seria então adequado considerar quais seriam as soluções
possíveis no que diz respeito aos dilemas linguísticos dos litigantes.
Afinal, “o direito europeu não possui uma cultura autônoma, mas ao
contrário, possui uma vocação a se adaptar às línguas e às culturas
dos vinte oito estados membros” (MROCCATI KLINCKSIECK, 2016).

BIBLIOGRAFIA

LEGISLAÇÃO
Conforme o artigo 4º do Regulamento (CEE) nº 1/1958 de 15 de abril 1958.

RÈGLEMENT (UE, Euratom) 2015/2264 DU CONSEIL du 3 décembre 2015.

Article 267 du TFUE Journal officiel n° 115 du 09/05/2008 p. 0164 - 0164.

Loi sur les langues officielles – Official Languages Act.

Unified patent Court Agreement, article 49.

Charte des Nations Unies, article 111.

Règlement de la Cour Européenne de Droits de l’homme, Article 34.

Article 37 of the Reglement of the Cour of Justice of the European Union; article 35 of the
Reglement of the Tribunal of the European Union.

Constitution politique de la Belgique, article 4, « les régions linguistiques en Belgique ».

Règlement de Procédure de la Cour art 37, Art 35 RP Tribunal et Art 29 RP TFPUE.

SUMÁRIO 58
JURISPRUDÊNCIA
Acórdão do Tribunal de Justiça (Quarta Secção) de 27 de junho de 2013
Verwertungsgesellschaft Wort (VG Wort) contra Kyocera e o. (C-457/11) e Canon
Deutschland GmbH (C-458/11) e Fujitsu Technology Solutions GmbH (C-459/11) e
Hewlett-Packard GmbH (C-460/11) contra Verwertungsgesellschaft Wort (VG Wort).
Pedidos de decisão prejudicial apresentados pelo Bundesgerichtshof.
Acórdão do Tribunal de 6 de Outubro de 1982. Srl CILFIT e Lanificio di Gavardo SpA contra
Ministero della Sanità. Pedido de decisão prejudicial: Corte suprema di Cassazione -
Itália. Obrigação de reenvio prejudicial. Processo 283/81.
Acórdão do Tribunal de Justiça (Primeira Secção) de 12 de Julho de 1979. Marianne
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van Beroep Zwolle - Países Baixos. Processo 9/79.
ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 12 de Novembro de 1969. No processo 29/69,
Verwaltungsgericht Stuttgart, Erich Stauder, 79 Ulm, Marienweg 15.

AUTORES
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VON BARDELEBEN, Eléonore. La Cour de Justice de l’Union Européenne et le droit
du contentieux européen, page 83 ; 2012, éditorial La Documentation française.
V.T GALLA « Understanding EC Law as “Diplomatic Law” and its language”, in B. Pozzo et
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Kluwer Law International, 2006.

DOCUMENTOS ELETRÓNICOS
MOLINARES V. A. D, The Future of the English language after Brexit: Should English
still be a lingua franca in Europe?”, 2020. http://petille.univ-poitiers.fr/notice/view/64070.
MROCCATI KLINCKSIECK, M. TRADUCTION ET INTERPRÉTATION DANS LE CADRE DU
RENVOI PRÉJUDICIEL EUROPÉEN | « Éla. Études de linguistique appliquée » 2016/3
N° 183 | pages 297 à 307 ISSN 0071-190X ISBN 9782252039977 https://www.cairn.info/
revue-ela-2016-3-page-297.htm.

SUMÁRIO 59
4
Gabriel Alves Vitor
Giorge André Lando
Isabele Bandeira de Moraes D’Angelo

RELAÇÃO GÊNERO-SANEAMENTO
E OS IMPACTOS CAUSADOS NA VIDA
E SAÚDE DE MULHERES EM UM MUNICÍPIO
DO INTERIOR DE PERNAMBUCO
LA RELACIÓN GÉNERO-SANEO Y LOS IMPACTOS CAUSADOS
EN LA VIDA Y LA SALUD DE LAS MUJERES EN UN MUNICIPIO
DEL INTERIOR DE PERNAMBUCO
GENDER-SANITATION RELATIONSHIP AND THE IMPACTS CAUSED
ON THE LIFE AND HEALTH OF WOMEN IN A MUNICIPALITY
IN THE INTERIOR OF PERNAMBUCO

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.4
RESUMO
A pesquisa pretende descrever os impactos que a falta de saneamento
básico traz a saúde da mulher em seu cotidiano e verificar a distribuição
temporal dos casos de doenças de veiculação hídrica notificados nos
serviços de referência de Arcoverde, Pernambuco, no período de 2015 a
2021 com a finalidade de caracterizar o perfil da população acometida
do gênero feminino. Para tanto, utilizou-se de pesquisa de abordagem
quantitativa, do tipo bibliográfica de campo e exploratória. De 2015 até
2021, foram registradas 1.118 notificações por doenças relacionadas ao
saneamento ambiental inadequado em Arcoverde, dessas, 52,68% (589)
foram de pessoas do gênero feminino, com maior faixa etária acometida
entre 0 a 4 anos (30,82%), sendo a raça autodeclara de 243 (46%) de
pessoas que se autodeclaram pardas, 48 (9%) brancas e 18 (4%) preta.
Conclui-se que a ausência de soluções sanitárias compromete, sobretudo,
a vida das mulheres, que têm no seu cotidiano tarefas relacionadas ao
saneamento, ao mesmo tempo pouco participam das tomadas de decisões
em relação a estas questões.
Palavras-chave: Gênero; Mulheres; Saneamento Básico; Doenças;
Veiculação hídrica.

SUMÁRIO 61
RESUMEN
La investigación tiene como objetivo desentrañar los impactos que
la falta de saneamiento básico trae a la salud de las mujeres en su
cotidiano y verificar la distribución temporal de dos casos de avería en un
camión cisterna reportados en los servicios de referencia de Arcoverde,
Pernambuco, en el período de 2015 al 2021 con el objetivo de caracterizar el
perfil de la población femenina. Para ello, se utilizó una investigación con
enfoque cuantitativo, bibliográfico y de campo exploratorio. De 2015 a 2021
se registraron 1.118 notificaciones a mujeres relacionadas con saneamiento
ambiental inadecuado en Arcoverde, de estas, 52,68% (589) para mujeres,
con edades entre 0 y 4 años (30,82%), raza declarada de 243 (46%) de
las personas que se declararon pardas, 48 (9%) blancas y 18 (4%) negras.
Concluí que la ausencia de soluciones sanitarias compromete, sobre
todo, la vida de las mujeres, que no hay tareas cotidianas relacionadas
con el saneamiento, al mismo tiempo poca participación en la toma de
decisiones sobre estos temas.
Palabras clave: Género; Mujeres; Saneamiento; Enfermedades; Circulación
de agua.

SUMÁRIO 62
ABSTRACT
The research aims to unravel the impacts that the lack of basic sanitation
brings to women’s health in their daily lives and to verify the temporal
distribution of two cases of breakdown in a water truck reported in the
reference services of Arcoverde, Pernambuco, in the period of 2015. to 2021
with the aim of characterizing the profile of the female population. For this, we
used a research with a quantitative approach, bibliographic and exploratory
field. From 2015 to 2021, 1.118 notifications were registered for women related
to inadequate environmental sanitation in Arcoverde, of these, 52,68% (589)
for female women, aged between 0 and 4 years (30,82%), race declared of
243 (46%) of the people who declared themselves to be brown, 48 (9%)
white and 18 (4%) black. I concluded that the absence of sanitary solutions
compromises, above all, the lives of women, that there are no daily tasks
related to sanitation, at the same time little participation in decision-making
regarding these issues.
Keywords: Gender; Women; Sanitation; Illnesses; Water circulation.

SUMÁRIO 63
INTRODUÇÃO
O acesso à água tratada e ao serviço de esgotamento sani-
tário são direitos humanos reconhecidos há anos pelas Nações
Unidas. Recentemente, esse assunto ganhou peso quando foi focada
conjuntamente a questão da igualdade de gênero ao tema do sanea-
mento (FREITAS, MAGNABOSCO, 2018).

Segundo o relator especial das Nações Unidas, o brasileiro


Léo Heller, a igualdade de gênero é um princípio fundamental dos
direitos humanos que nem sempre tem sido respeitado nas políticas
de desenvolvimento urbano. Na visão do relator, é necessária uma
ação transformadora para atingir a igualdade de gênero no que diz
respeito ao direito ao fornecimento regular de água tratada e à coleta
e tratamento de esgotamento sanitário (ONU, 2016).

A população mais atingida pelas consequências da falta


de saneamento são mulheres que vivem em condição de pobreza,
sendo, na sua maioria, afrodescendentes, as populações rurais e
as pessoas que vivem em assentamentos informais. As mulheres
são as mais afetadas, pois, em sua maioria, desempenham ativida-
des domésticas e cuidados com pessoas, na qual a falta de água e
outras estruturas condizentes ao saneamento, incidem sobre a sua
saúde. Com o bem-estar limitado, elas sofrem consequências tanto
na saúde, como na educação e no tempo dedicado às atividades
domésticas e econômicas (LIMA e ROESLER, 2021, p. 129).

De acordo com os dados da segunda edição do estudo


O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira, produzido no Brasil pela
BRK Ambiental no ano de 2022, foi evidenciado que, o número de
mulheres que residem em casas sem coleta de esgoto apresenta
uma taxa de crescimento anual de 15,5% do número de brasileiras
afetadas pelo problema. Nesse mesmo período, a população feminina

SUMÁRIO 64
prejudicada pela falta de água tratada totalizou 15,8 milhões, com a
ausência do serviço regular afetando 24,7 milhões de mulheres. Já o
índice de mulheres sem banheiro em casa cresceu para 2,5 milhões.

A inexistência de esgotamento sanitário também constitui


um agravante para as mulheres, uma vez que são elas as responsá-
veis pelo cuidado e, ou tratamento daqueles que são atingidos por
doenças relacionadas ao saneamento inadequado, em especial as
doenças de veiculação hídrica, sobretudo pela baixa qualidade dos
serviços e soluções, que afetam a segurança da água, em termos
de qualidade, quantidade e regularidade, e da coleta e disposição
ambientalmente adequada de esgotos e resíduos sólidos (SILVA,
2018; BREWSTER et al., 2006).

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, ocor-


reram cerca de 26,3 milhões de casos de afastamento de mulheres
por doenças de veiculação hídrica no país ao longo de 2019, outros
80,6 milhões de casos por afastamentos por doenças respiratórias
e de veiculação hídrica no mesmo ano, e cerca de 458,9 mil inter-
nações de mulheres por infecções gastrointestinais e respiratórias
associadas à falta de saneamento (IBGE, 2019).

Diante do exposto, reitera-se, nas notas introdutórias, a


imprescindível compreensão e reflexão de que o saneamento básico
é um fator diretamente ligado à saúde, a doença e aos direitos huma-
nos e sociais, sendo majoritariamente ligado as atividades diárias
das mulheres por todo o país.

Destarte, este estudo justifica-se pela importância de iden-


tificar os males decorrentes da falta de acesso das mulheres ao
saneamento básico, indagando a devida atenção as necessidades
especiais das mulheres com relação aos seus direitos fundamen-
tais e constitucionais, destinados à melhoria da qualidade de vida,
na qual o acesso adequado à água e ao esgotamento sanitário são
determinantes. Dessa forma, o trabalho tem como objetivo descrever

SUMÁRIO 65
quais os impactos a falta de saneamento básico trazem a saúde
da mulher em seu cotidiano e verificar a distribuição temporal dos
casos de doenças de veiculação hídrica notificados nos serviços
de referência de Arcoverde, Pernambuco, no período de 2015 a
2021 com a finalidade de caracterizar o perfil da população acome-
tida do gênero feminino.

METODOLOGIA
Trata-se de uma estratégia quantitativa de pesquisa, de cará-
ter exploratório, por meio de uma pesquisa bibliográfica de campo.
O método quantitativo se caracteriza pelo emprego da quantificação
tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no trata-
mento delas por meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples
até as mais complexas (RICHARDSON, 2002).

Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, sendo


esse um passo preliminar essencial em cada projeto de pesquisa
(CERVO; BERVIAN, 1996). A legitimidade dessa opção metodoló-
gica também é confirmada por (BECKER, 1993), quando afirma que
a revisão da literatura antes da coleta de dados de campo procura
explicar um problema a partir das referências teóricas publicadas
em documentos, resultando como base importante do trabalho para
complementar uma pesquisa empírica.

Acrescenta-se a presente pesquisa a análise exploratória, que


para Prestes (2007) e Dyniewicz (2009), este tipo de pesquisa tem
por finalidade, especialmente quando se trata de pesquisa bibliográ-
fica, proporcionar maiores informações sobre determinado assunto;
facilitar a delimitação de uma temática de estudo; definir os objetivos
ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou, ainda, descobrir um
novo enfoque para o estudo que se pretende realizar. Outrossim,

SUMÁRIO 66
esclarece e proporciona uma visão geral acerca de um determinado
aspecto, procurando saber como este fato ou fenômeno se mani-
festa, o que lhe causa interferência e como as variáveis envolvidas
se inter-relacionam.

A área geográfica do estudo foi todo o território da cidade


de Arcoverde, que está situada no estado de Pernambuco, região
Nordeste do Brasil. A população estudada compreende as notifi-
cações das mulheres que foram diagnosticadas com doenças de
veiculação hídrica e/ou outras doenças relacionadas ao sanea-
mento ambiental inadequado (DRSAI), no recorte temporal de 2015
a 2021 no município.

A base de dados foi composta por elementos secundários pro-


venientes do banco de dados Indicadores e Dados Básicos (BRASIL,
2022), disponível no sítio do Departamento de Informática do SUS
(DATASUS, 2022), mantido pelo Ministério da Saúde e também por
informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
(2022), a saber: Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SinanWeb); Sistema de Informações Hospitalares (SIH); Sistema de
Informações Ambulatoriais (SIA).

Os critérios de inclusão foram as notificações por doença de


veiculação hídrica nas bases de dados da Vigilância Epidemiológica
do município de Arcoverde/PE, no período de 1 de janeiro 2015 a
31 de dezembro de 2021; foram excluídas as notificações duplicadas
nos sistemas de informações epidemiológicas.

Os dados coletados foram tabulados em duplicata no software


Microsoft-Excel® v. 2013, e posteriormente, esses dados foram ordena-
dos, contabilizados, organizados e distribuídos em formato de gráficos.

SUMÁRIO 67
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fim de verificar a distribuição temporal dos casos de doen-
ças de DRSAI e doenças de veiculação hídrica (DVH) em Arcoverde
foi construído o gráfico 1 onde estão apresentados os dados das noti-
ficações das doenças de acordo com recorte temporal.

Estas doenças são causadas por patógenos que dependem


direta ou indiretamente da água para se desenvolverem, estando
relacionadas à exposição de pessoas a alternativas de abaste-
cimento de água e esgotamento sanitário precárias ou ausen-
tes (NASCIMENTO, 2011).

Gráfico 1 – Distribuição das notificações por DRSAI e doenças de veiculação hídrica


em Arcoverde-PE, nos anos de 2015 a 2021

Fonte: DATASUS, 2022. Elaboração: Próprios autores.

SUMÁRIO 68
De 2015 até 2021, foram registradas 1.118 notificações por
DRSAI em Arcoverde. O ano de 2016 foi o que apresentou o maior
número de casos, com 225 notificações, enquanto o ano de 2020
apresentou o menor número de casos, com 94. Assim, considerando
que o valor máximo foi verificado em um ano próximo do início da
série e o valor mínimo no ano mais recente, nota-se uma redução de
60,09% das internações por DRSAI no período estudado.

Com relação ao quantitativo de notificações por zona, evi-


denciamos que a zona rural do município totalizou 331 notificações.
Sendo os anos de 2019 e 2016 com maior número de DRSAI, 84 e 73
casos respectivamente, e o ano de 2020 com o menor número de
casos notificados na população da zona rural, 23 casos.

De forma similar ao presente estudo, um estudo, realizado


em área do nordeste do País apresentou um quantitativo de notifi-
cações de DRSAI superior à média da Região Nordeste geral, o que
evidencia as disparidades existentes nesse território do país como
um todo (PIMENTEL et al., 2020).

Um estudo, realizado na Região Nordeste do Brasil, identifi-


cou como possível causa dos surtos de DRSAI a água utilizada pela
população proveniente de uso de fontes alternativas de água, como
lagoas, poços, caminhões-pipa e reservatórios domésticos de água,
que estavam contaminadas com bactérias, vírus ou parasitas. Uma
vez que os surtos de DRSAI foram relacionados a fontes de água
provenientes tanto de áreas com baixa cobertura de saneamento
básico, quanto em situações em que o abastecimento de água é
interrompido ou sofre uma contaminação massiva. Dessa forma a
carência de água em quantidade e qualidade pode impedir a higiene
do ambiente domiciliar e seu entorno, criando condições para a
manutenção do ciclo de transmissão de doenças relacionadas ao
saneamento ambiental inadequado (RUFINO et al., 2016).

Nas comunidades rurais, em função de sua dispersão, o


colapso de sistemas de abastecimento de água nessas regiões é
decorrente principalmente pela má qualidade do tratamento da água
que abastece a população, onde metade da água fornecida atende

SUMÁRIO 69
apenas parcialmente aos padrões de potabilidade do Ministério da
Saúde. Assim, a má qualidade da água se sobrepõe a problemas
de distribuição e acesso tendo sido responsável pela produção de
grandes surtos das doenças. As condições do ambiente e do clima,
externas aos sistemas de abastecimento, podem agravar estas situ-
ações de risco em regiões semiáridas ou sujeitas a variabilidades
climáticas (RUFINO et al., 2016). Para Moreira et al. (2020) essas
doenças podem ter o seu desenvolvimento provocado pela falta de
conhecimento sobre coleta, manuseio e armazenamento adequado
da água, bem como de políticas precárias para serviços de sanea-
mento que afetam a qualidade do suprimento de água no semiárido.

Portanto, confirma-se uma relação entre o abastecimento de


água e as doenças de veiculação hídrica por meio da contaminação
da própria fonte de água, do acesso, da coleta, do armazenamento ou
do tratamento inadequado em populações do semiárido, que viven-
ciam uma escassez hídrica natural, que é agravada nos períodos de
seca (GOMES, 2021). O gráfico a seguir diz respeito aos dados dos
usuários que foram notificados por DRSAI e DVH no período estu-
dado, segundo o gênero.

Gráfico 2 – Distribuição das notificações por DRSAI e doenças de veiculação hídrica


em Arcoverde-PE, nos anos de 2015 a 2021, segundo a variável gênero

Fonte: DATASUS, 2022. Elaboração: Próprios autores.

SUMÁRIO 70
A amostra pesquisada teve um equilíbrio quanto à sua dis-
tribuição por gênero, com 52,68% (589) das notificações sendo do
sexo feminino e 47,32% (529) do sexo masculino. De forma similar ao
presente estudo, Amaral, Oliveira e Ramos (2019) demonstraram que
o número de infectados por DRSAI e doenças de veiculação hídrica
foi de 53,7% do sexo feminino e 46,3% do sexo masculino.

Relativo ao gênero os dados apresentados podem ser decor-


rentes de hábitos regionais, na qual são as mulheres que ocupam o
cargo de atividades domésticas, logo, disponibilizam de maior tempo
para buscar tratamentos das doenças acometidas. Considerando
ainda, que os homens são geralmente resistentes na procura
por serviços de saúde.

Ao considerar a perspectiva de gênero é importante com-


preender que o masculino e o feminino são construídos social-
mente a partir da valorização desigual da mão de obra e da dife-
rente atribuição de papéis entre homens e mulheres (NEVES, 2017).
Entende-se gênero como um sistema de hierarquia onde as mulhe-
res são subjugadas, oprimidas e violentadas. Nas palavras de Rosa
(et al. 2020, p. 98) 1(7):
A expressão gênero se refere à relação entre os diferentes
papéis, direitos e responsabilidades estabelecidos entre
homens e mulheres, resultado do processo de socializa-
ção, e influenciados por realidades históricas, religiosa,
econômica e cultural. O gênero é associado à desigual-
dade de poder, liberdade, status, e também, na capaci-
dade de acesso e controle de direitos, bens e recursos. Os
papéis de gênero não são estáticos, podendo mudar com
o tempo e lugar devido a diferentes construções culturais.

As diferenças entre homens e mulheres foram absorvidas


pelas relações trabalhistas, instituindo, assim, uma divisão
sexual do trabalho, onde as mulheres foram marginaliza-
das aos trabalhos reprodutivos. Mesmo com a inserção
da mão de obra feminina no mercado de trabalho, as
mulheres continuam sendo as principais responsáveis

SUMÁRIO 71
pelo trabalho doméstico e do cuidado e são sobrecarre-
gadas com a criação dos filhos, no cuidado da casa, dos
idosos ou outras pessoas que dependem de cuidados
(SOUZA et al., 2021).

Nessa condição, as mulheres são as mais afetadas com a


falta ou acesso inadequado à água, ao esgotamento sanitário e à
higiene. As mulheres ainda necessitam de cuidados específicos
com a sua higiene pessoal e a falta desses serviços pode gerar ou
agravar casos de doenças, além de causar uma pobreza menstrual
(SOUZA et al., 2021).

O estudo O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira (2018)


realizado pela empresa BRK Ambiental em parceria com o Instituto
Trata Brasil demonstra que a falta de água potável tem impactos
diretos na saúde da mulher brasileira. Com base em dados de órgãos
oficiais como o IBGE, o documento apresenta o quadro das doen-
ças gastrointestinais e de veiculação hídrica no Brasil: as mulheres
ficaram mais tempo afastadas de suas atividades; nos casos mais
graves, ficaram acamadas em maior número, bem como, foram
internadas e tiveram infecções gastrointestinais como causa de sua
morte em maior quantidade que os homens.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, nos


7,906 milhões de casos de afastamento de mulheres por diarreia e
outras DVH ocorridos no país, as mulheres afastadas ficaram longe
de suas atividades por 3,48 dias em média. Isso implicou a ocorrên-
cia de 27,506 milhões de dias de afastamento das atividades rotinei-
ras ao longo de um ano. Se não tivessem contraído infecções, essas
mulheres poderiam trabalhar, estudar ou simplesmente descansar
nesse período em que ficaram enfermas (IBGE, 2019).

Comparativamente à população masculina, vale mencionar


que o número médio de dias de afastamento das mulheres em razão
de diarreia ou DVH foi maior. No grupo dos homens, os afastamentos
por esse motivo duraram 3,15 dias em média. Assim, a população

SUMÁRIO 72
feminina respondeu por 55,3% do total de dias de afastamento e a
masculina, por apenas 44,7% (FREITAS, MAGNABOSCO, 2018).

Além das doenças ocasionadas, seja direta ou indiretamente,


pelos problemas relacionados ao saneamento ambiental inade-
quado, a questão hídrica pode desencadear centenas de conflitos
violentos, uma vez que 2,1 bilhões de pessoas no mundo não têm
acesso à água potável (CONFALONIERI et al., 2010; UNICEF, 2017).

Segundo WHO/Unicef (2017), em 80% das casas que não


têm acesso adequado à água são as mulheres e as meninas as
responsáveis pela coleta. Quando não há disponibilidade nas pro-
ximidades da casa, as mulheres e as crianças, muitas vezes, têm
que percorrer longas distâncias até a fonte de água mais próxima
(THE WORLD BANK, 2017).

A falta de disponibilidade de acesso à água acaba tornando-


-as vulneráveis à violência e aos abusos sexuais que podem acon-
tecer durante o percurso para se ter acesso as águas (HABID, 2020;
SORENSON et al., 2011; SOMMER et al., 2015). Estudos relatam casos
de estupros indicando que eles acontecem durante a coleta de água
ou a lavagem dos pertences que são feitas longe de casa. Abuso
sexual também é relatado quando a fonte de água se encontra dentro
de fazendas privadas. Além dos abusos sexuais e físicos, acidentes
com veículos e animais são frequentes, uma vez que os caminhos a
serem percorridos passam por perigosas rodovias ou trechos habi-
tados por diversos animais (HABID, 2020; SORENSON et al., 2011).

Junto a isso, o peso do recipiente de água, muitas vezes car-


regado sobre a cabeça, pode causar dores osteomusculares, aborto
prematuro e perda de cabelo (SORENSON et al., 2011; BAKER et al.,
2018; KOOWAL, WALLE, 2013; PICKERING, DAVIS, 2012). A falta de
água, portanto, pode prejudicar também a higiene durante o período
menstrual, que pode resultar em infecção do sistema reprodutor,
inflamação da pelve e infertilidade. A higiene precária pode provocar,

SUMÁRIO 73
ainda, infecções do trato urinário diretamente associadas a partos
prematuros, malformação fetal e pré-eclâmpsia (KOOWAL, WALLE,
2013; BAKER et al., 2018).

Dessa forma, algumas pesquisam mostram que, quando o


acesso é facilitado, a redução no tempo de coleta pode ser utilizada
em atividades geradoras de renda, no cuidado da saúde tanto da pró-
pria mulher, como dos filhos e nas atividades escolares (KOOWAL,
WALLE, 2013; PICKERING, DAVIS, 2012).

Gráfico 3 – Distribuição das notificações por DRSAI e doenças


de veiculação hídrica na população feminina de Arcoverde-PE
segundo faixa etária, entre 2015 e 2021, (n=589)

Fonte: DATASUS, 2022. Elaboração: Próprios autores.

O resultado para a incidência de DRSAI e doenças de veicu-


lação hídrica entre as diferentes faixas etárias analisadas na popu-
lação feminina, apresentou diferença estatisticamente significativa.
Deste modo, a faixa etária de 0 a 4 anos apresenta uma incidência
maior do que as outras onze categorias (30,82%) e que existe dife-
rença significativa também entre as categorias de menor de 1 ano
(17,22%) e entre 5 a 9 anos (14,8%) (Gráfico 3).

SUMÁRIO 74
No estudo de Freitas e Magnabosco (2018) os afastamen-
tos por doenças de veiculação hídrica estavam concentrados nas
mulheres mais jovens. Na faixa etária de até 14 anos de idade, a
incidência de afastamentos das atividades rotineiras chegou a 132,5
casos por mil mulheres. Na faixa entre 15 e 29 anos de idade, a inci-
dência caiu para 79,1 casos por mil mulheres. A partir dos 30 anos,
a taxa de incidência ficou entre 50 e 55 casos a cada mil mulheres.
Vale observar que, para quase todas as faixas etárias, a incidência
de afastamentos por DVH é maior na população feminina do que na
masculina. A maior diferença, tanto em valor absoluto quanto rela-
tivo, se deu na faixa etária de pessoas com 15 a 29 anos, onde há
nessa faixa havia uma concentração grande de estudantes e mães
(FREITAS, MAGNABOSCO, 2018).

Dessa forma, considera-se que as doenças de veiculação


hídrica ocorrerem em todas as faixas etárias, no entanto, a popu-
lação infantil, especialmente menores de cinco anos de idade é
considerada mais vulnerável, sendo uma das principais causas de
morbidade e mortalidade (ANDREAZZI, 2007; PEREIRA e CABRAL,
2008; SABINO, 2016).

De forma similar aos resultados do presente estudo, outros


estudos reforçam que o alto índice das doenças de veiculação hídrica
está concentrado nos extremos etários, principalmente no grupo dos
menores de 2 anos e os idosos, tornando-se os grupos com maior
número de internações e de permanência hospitalar no Norte e no
Nordeste (RASELLA, 2013; BÜHLER, 2014; SIQUEIRA et al., 2017).

Houve um período em que, a cada 14 segundos, morre uma


criança vítima de doenças hídricas. Estima-se que 80% de todas as
moléstias e mais de um terço dos óbitos dos países em desenvolvi-
mento sejam causados pelo consumo de água contaminada, e, em
média, até um décimo do tempo produtivo de cada pessoa se perde
devido a doenças relacionadas à água (FIALHO, 2016).

SUMÁRIO 75
Um dos fatores importantes para o surgimento, bem como
o controle de doenças hídricas na população infantil está associado
a escolaridade materna (PORTELA et al., 2011). Dessa forma, alguns
autores destacam a importância da criação de métodos e incentivos
que amenizem as ocorrências dessas doenças. Como por exemplo o
estudo realizado por Sabino (2016), que propôs a elaboração de uma
cartilha educativa com o intuito de promover a autoeficácia materna
para a prevenção e, consequentemente, a diminuição dos índices de
doenças hídricas infantis (SABINO, 2016).

Trindade, Sã-Oliveira e Silva et al. (2015) apontam que as


escolas são locais onde as crianças e adolescentes passam maior
parte de seu tempo durante o dia, com pelo menos 200 dias letivos
anuais. Esta permanência na escola determina que sejam ingeridas
relevantes quantidades de água. Diante disso, as águas distribuí-
das nos estabelecimentos escolares obrigatoriamente devem ter
qualidade potável de acordo com o preconizado pela legislação do
Ministério da Saúde.

Gráfico 4 – Distribuição das notificações por DRSAI e doenças de veiculação


hídrica na população feminina de Arcoverde-PE segundo raça autodeclarada,
entre 2015 e 2021, (n=589)

Fonte: DATASUS, 2022. Elaboração: Próprios autores.

SUMÁRIO 76
Os resultados expressos na tabela demonstram que no
quesito raça autodeclara, um total de 38 notificações são de pes-
soas que se autodeclaram amarelas (7%), outros 48 (9%) brancas,
243 (46%) pardas e 18 notificações dos usuários de pessoas auto-
declaradas da raça preta, cerca de 4% dos casos, foi notificado
1 caso em pessoas indígenas, e em outras 181 (34%) notificações
não foi informado a raça.

O estudo O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira (2018)


evidenciou que a incidência de afastamentos por doenças de vei-
culação hídrica foi extremamente elevada na população feminina
indígena. Nesse grupo, houve 175,9 casos a cada mil mulheres, o que
não é uma realidade em nosso estudo, visto que no município de
Arcoverde não há um grande grupo indígena. O estudo supracitado
ainda constatou que, a população de mulheres autodeclaradas par-
das também registrou índice elevado: 80,2 casos por mil mulheres.
E o índice foi relativamente menor entre as mulheres autodecla-
radas pretas, grupo em que a incidência foi de apenas 48,9 casos
por mil mulheres (TRATA BRASIL, 2018). Os dados acima citados
divergem com a situação do Brasil no ano de 2019, de acordo com
a Organização das Nações Unidas as mulheres negras são as mais
afetadas, pois, em sua maioria, desempenham atividades domés-
ticas e cuidados com pessoas, na qual a falta de água e outras
estruturas condizentes ao saneamento, incidem sobre a sua saúde.
Assim, são acometidas, prioritariamente as mulheres autodeclara-
das pardas, indígenas e pretas no Brasil (ONU, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As constatações deste trabalho remontam, portanto, ao
descompasso e as carências de saneamento que comprome-
tem diretamente a saúde das mulheres brasileiras e ocasionam

SUMÁRIO 77
desdobramentos em sua vida. As mulheres são consideradas como
as mais prejudicadas pelas consequências da falta de acesso a
água potável e as boas condições de esgotamento sanitário, ao
mesmo tempo pouco participam das tomadas de decisões em rela-
ção a estas questões.

Evidenciamos que, a falta de saneamento leva à ocorrência


de doenças de veiculação hídricas, que, a depender da gravidade,
ocasionaram o afastamento das mulheres de suas atividades roti-
neiras, o acamamento ou a internação. Em casos extremos, essas
infecções associadas à falta de saneamento levam até à morte.

Além das questões de saúde, a mulher é afetada quando


se pensa em outros contextos referentes à falta de saneamento
básico, principalmente onde a escassez da água é grande, e são
as mulheres que fazem o transporte, armazenamento e utilizam
a água, seja para cozinhar ou executar tarefas de limpeza, o que
ocasiona falta de tempo para realizarem outras atividades, seja
participar das políticas públicas, trabalhar ou estudar; além de
problemas de saúde; aumento na dependência econômica e ainda,
casos de violência.

Dessa forma, é possível observar as principais dificuldades


e obstáculos, e como a mulher é acometida pelas desigualda-
des sociais, tendo os seus direitos à saúde e vida digna violados.
Assim, em relação às questões relativas ao gênero e as condições
de saneamento básico, são necessárias políticas públicas espe-
cialmente paras as mulheres, que reflitam o quão ainda deve-se
avançar para que o direito ao bem-estar e a saúde sejam priori-
dades na efetivação dos direitos humanos e sociais das mulheres.
O que requer também o aprimoramento teórico-intelectual que
levem a novas concepções em torno do tema, em busca da justiça
social e da equidade.

SUMÁRIO 78
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SUMÁRIO 82
5
Fernando da Silva Cardoso

EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS, CIDADANIA E
DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL:
BREVE GENEALOGIA DESDE
A HISTÓRIA RECENTE DO BRASIL

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.5
INTRODUÇÃO
As noções centrais que perfazem a ideia sobre educação em
direitos humanos (EDH) estão imbricadas com a própria história de
lutas e de aprendizados alcançados/postos em prática por diferentes
grupos sociais que, ao longo do tempo – e, ainda hoje –, atuaram em
prol dos direitos humanos (DH). Os preceitos basilares para pensar
a sociedade e os seus rumos têm, pois, origem nas lutas por respeito
e reconhecimento da diversidade sociocultural.

Tal processo histórico, no Brasil, é delineado, nas últimas


décadas, a partir de acontecimentos que possibilitam experimentar
e argumentar sobre como as lutas populares foram, no passado, e
são, no presente do país, elementos fundamentais para o surgimento
de novas dinâmicas socioculturais de formação e amadurecimento
pela e na agenda social.

De tal modo, procuro, neste ensaio, refletir em que medida


as disputas políticas e populares protagonizadas nas últimas déca-
das, no Brasil, guardam pistas sobre como dimensionar criticamente
o passado, o presente e o porvir, sobretudo quanto à urgência de
novas dinâmicas sociais comprometidas com a justiça social e a
valorização da diversidade.

A EDH ENTRE A VIOLÊNCIA,


A DIVERSIDADE E AS LUTAS SOCIAIS
Dallari (2007) menciona que a agenda de lutas sociais, no
Brasil, está fortemente ligada ao protagonismo contra a ditadura
militar implantada em 1964, por um lado, e com o consenso mundial

SUMÁRIO 84
de que os direitos humanos devem ser fundamento de uma sociedade
livre, harmônica e justa1. De tal modo, segundo Fortes (2010, p. 07),
O preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos
Humanos já chamava a atenção para a necessidade
de que indivíduos e entidades se esforcem pela
Educação em Direitos Humanos, anunciando e colabo-
rando para forjar a inquietação de Hanna Arendt de que
os homens não nascem livres e iguais em dignidade e
direitos, mas conquistam esses direitos em processos de
construção e reconstrução, de organização e de luta
política (grifos nossos).

A importância do desenvolvimento da educação em os


direitos humanos, enquanto instrumento de “mobilização”, frente às
violações de direitos humanos, não só no Brasil, mas também no
mundo, foi articulado pela Organização das Nações Unidas (ONU)
quando da necessidade em ser disseminado, entre todos os povos,
os marcos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).
O documento, ainda, recomenda aos países que viabilizem a sua dis-
seminação, apresentação, leitura e exposição, sobretudo em escolas
e outras instituições educacionais (ONU, 1948).

No Brasil, antes mesmo do Golpe Militar de 1964, já na


década de 50, ações voltadas ao incentivo e facilitação da leitura
da DUDH em escolas e programas de educação, assim como por
meio da imprensa, do rádio e de vídeos educativos, eram execu-
tadas por diversos Conselhos ligados à ONU enquanto mecanis-
mos à difusão dos DH.

A partir das experiências desenvolvidas nesse período, em


1971, a Comissão de Direitos Humanos da ONU solicitou à Unesco

1 Tal consenso decorre dos esforços da ONU em construir um discurso global afirmador dos DH. No
texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, é indicada a noção de que toda a
humanidade compartilha de valores comuns, considerados fundamento e orientação no processo
de desenvolvimento da comunidade internacional, compreendida não apenas como a reunião de
Estados-Nação, independentes, mas também de indivíduos livres e iguais.

SUMÁRIO 85
a realização de um estudo sistemático quanto à viabilidade e ao
desenvolvimento de uma disciplina científico-acadêmica a respeito
do tema direitos humanos. A intenção das Nações Unidas apontava
para um cenário que viesse a facilitar a apreensão e ensino na forma-
ção superior e em outros níveis formativos sobre DH.

No campo de (re)significações da época, mesmo que de


modo intuitivo ou assistemático, foi a partir da EDH que a sociedade
civil brasileira e mundial encontraram subsídios à construção – e à
permanente busca – de um pensamento coletivo ligado democracia
e ao respeito da dignidade humana. Assim, a EDH assume na história
brasileira o cerne político-pedagógico-reivindicatório dos movimen-
tos contra todas as formas de opressão exercidas a partir de ideias
totalitárias. É no sentido de reafirmar tal característica de educar em
direitos humanos que tal campo contribui, a partir do engajamento
de cada pessoa, com a cidadania ativa (ALBUQUERQUE BENTO,
CARDOSO, 2021a, 2021b).

A aproximação com os movimentos sociais, na década de


1960, foi determinante para a sistematização de processos de conhe-
cimento e formação. Esta seria, segundo Silva (2000), a primeira
fase da EDH – denominada pela autora de ativismo político –, con-
siderando que a maneira espontaneísta pela qual a EDH deu-se, na
época, embora carregada de dada lógica de reivindicação, implicou
na idealização de experiências educacionais que romperam com o
pensamento autoritário vigente. Afinal,
[...] na ditadura militar, tivemos que aprender a resistir e
intervir [...]; nas décadas de 1970 e 1980, aprendemos a
educar em direitos humanos junto com os trabalhadores
rurais, o movimento pela anistia, o movimento feminista,
os movimentos populares, os movimentos dos direitos
humanos, os movimentos pela defesa da educação [...]
(ZENAIDE, 2010, p. 69, grifo nosso).

A educação em direitos humanos assumiu, antes de tudo,


a condição de mecanismo político de defesa dos DH e contra as

SUMÁRIO 86
variadas formas de violência. É, nesse momento, para resistir às
violências e opor-se à ditadura, que o povo, conscientemente, se
organizou e, precisamente nesse período, surgiram organizações
sociais de importância destacada no encaminhamento da história
de lutas populares, na afirmação de valores humanistas e na defesa
da democracia (DALLARI, 2007).

Portanto, existiu forte avanço na qualidade das reivindicações


da população. A contínua reflexividade quanto às demandas sociais
da época e a prática pautada em preceitos educativo-humanísticos
ocorreu, especialmente, graças à participação, a nível nacional, de:
[...] comissões de direitos humanos, compostas por
juristas, por membros da Igreja Católica, do meio univer-
sitário, de movimentos sociais, que foram incorporados
ao campo das lutas políticas, dos debates, das denún-
cias, das matérias de jornal, de teses acadêmicas [...]
(SADER, 2007, p. 81).

FORMAR PARA A CRÍTICA,


MUDANÇA E JUSTIÇA SOCIAL
Como no exemplo do Brasil, há também muito que se apren-
der com a experiência do Cone Sul2. Os abusos sofridos durante
os períodos de regime militar, que reduziam os direitos humanos à
dimensão mais elementar, meramente biológica, da sobrevivência,

2 Podemos ampliar este panorama de lutas pela “construção de uma história dos direitos humanos”
a outros países do Cone Sul Latino-americano. Merece forte destaque a mobilização ocorrida
na Argentina conhecida como “Abuelas de Plaza de Mayo”, uma dissidência do movimento das
“Madres de Plaza de Mayo”, formado por mães que foram submetidas a práticas de tortura e inú-
meras violências à época de seus partos e separadas de seus(suas) filhos(as) recém-nascidos(as).
Mostraram a toda a sociedade as graves violações pelas quais passaram. A educação em direitos
humanos foi elemento propulsor da busca por justiça e pela afirmação de um quadro não mais
violador de direitos, mas de uma educação para o “nunca mais”.

SUMÁRIO 87
requeriam do povo maior conhecimento de causa para o contradis-
curso e para a ação política. O quadro de transição para o regime
democrático representou, pois, a abertura ao processo de cons-
trução da subjetividade individual e coletiva e reconhecimento
em relação ao “outro”.

Foi a partir dos preceitos da educação em direitos humanos


que foram gestadas, ao longo dos períodos de transição democrá-
tica no Cone Sul, iniciativas que pontuavam a proteção/promoção
dos direitos dos direitos humanos a partir dos fundamentos da EDH.
Podemos exemplificar:
Em 1986, tem início o envolvimento da Comissão de Justiça
e Paz com o serviço Paz e Justiça (Serpaj), no Uruguai, fun-
dado [...] em 1980, em plena ditadura militar. Inspirando-se
na Teologia da Libertação e no trabalho de Paulo Freire, os
ativistas do Serpaj desenvolviam um projeto de Educação
em Direitos Humanos – o qual, pouco depois, seria pre-
miado pela Unesco (BENEVIDES, 2009, p. 322).

Existiu um forte elo entre a causa religiosa teológico-liber-


tadora, a “luta freireana” contra a opressão, a defesa do exercício
de direitos fundamentais e a noção que cerca a instrumentalização
da educação em direitos humanos neste período3. Benevides (2009)
e Albuquerque Bento e Cardoso (2021) apontam que o trabalho de
Margarida Genevois4 e de Paulo Freire foram elementos de destaque
na composição de um quadro e articulação em busca da democracia
e pela vivência problematizadora do cotidiano e das questões sociais.

Segundo Olabuenaga, Morales e Marroquin (1975, p. 25), os


ensinamentos de Freire colaboraram com o sentido de responsabilidade

3 Os cursos promovidos nesta época pelo Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH), se-
diado na Costa Rica, foram importantes instrumentos da Comissão de Justiça e Paz na promoção
da EDH e contra a repressão (BENEVIDES, 2009).
4 Tendo desenvolvido um importante trabalho junto a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de
São Paulo, a partir de 1972, na defesa e promoção dos direitos humanos, Margarida Genevois é um
dos grandes expoentes da EDH no Brasil.

SUMÁRIO 88
político-social ante às violações ocorridas e, sobretudo, fomentaram
uma “hipersensibilidad histórica” capaz de, no imaginário social,
difundir a reflexão ininterrupta sobre as violências. O ‘fidelismo’ às
ideias de Paulo Freire repercutiu nos movimentos/acontecimentos
por décadas, sob a forma de uma funcionalidade crítica, certamente,
a fidelidade quanto à emancipação social das pessoas oprimidas.
A consciência transitiva e dialogante proposta por Freire teve grande
valor e funcionalidade na luta pelo respeito aos DH, além de cons-
truir o conceito do que denomino neste ensaio de dimensionalismo
político da educação em direitos humanos.

O “unidimensialismo” político e social, a forte inação e alie-


nação das classes populares no que tange à cidadania e os direitos
sociais, dentre tantas outras questões, foram desafios à ação em prol
dos direitos humanos desde os anos 60 no Brasil e em outros países.
De tal modo, conceituo a ideia de dimensionalismo político da educa-
ção em direitos humanos como o processo formativo de resistência e
luta contra toda e qualquer dialética vanguardista autoritária e antide-
mocrática que ameace a vivência da cidadania individual e coletiva.

A vivência gestada a partir da pedagogia de Paulo Freire,


frente à ditadura civil-militar no Brasil, a meu ver, é um rico campo
para a contextualização do conceito. Apoio-me nas ideias de Freire
(1995; 1996) para argumentar que a EDH construiu espaços de
vivência democrática e de conhecimento acerca dos direitos funda-
mentais, sobretudo no período de luta contra o regime militar, que
são atemporais. Fomentou discursos e aprendizagens em relação às
reivindicações políticas.

A EDH desenvolvida ao longo dos anos 60, 70 e 80 ressal-


tou a convicção filosófica de Paulo Freire ao dimensionar, segundo
Olabuenaga, Morales e Marroquin (1975, p. 16), que: “Se han roto los
mecanismos de contención social que la estruturaban y se perfila um
nuevo juego de fuerzas y de condicionamientos para la convivencia

SUMÁRIO 89
social”. A partir da pedagogia da ação libertadora dos(as) oprimidos(as)
os movimentos sociais semearam e celebraram a vida frente à barbárie.

O pensamento freireano possibilitou ao povo brasileiro,


historicamente oprimido, a ser e construir um cenário liberto de
opressões e violências, com inspiração em um movimento educa-
tivo-humanístico e revolucionário. Os ideais freireanos contribuíram,
decisivamente, com a reconstrução da história do Brasil, ao lado de
outros(as) pensadores(as) como Florestan Fernandes, Margarida
Genevois, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Lélia González, que ajuda-
ram a compreender a estrutura social e política do país.

PARA PENSAR A EDH, A CIDADANIA


E A DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL
A EDH nasce e é afirmada enquanto processo e produto dos
princípios e do projeto de educação popular freireana, fundante e
também fundada para/na vocação de se construir um cenário de
direitos que potencialize a transformação social pelas lutas sociais.
Entendo-a, pois, como sendo ação de natureza histórica e polí-
tica, direcionada ao compromisso com a diversidade, cidadania e
mudança social. Os ideais educativo-humanistas rompem com a
barbárie, a cultura do autoritarismo e do esquecimento, apodera
sujeitos historicamente subalternizados acerca do passado e do pre-
sente e converge para um porvir humanista.

O empoderamento dos diferentes sujeitos e grupos sociais


vulnerabilizados, na história do país, é intimamente relacionado às
práticas sociais. A busca por inserção, assim, significa a luta por
emancipação dos atores sociais e indica para: “[...] um processo
político de classes dominadas que buscam a própria liberdade da
dominação, um longo processo histórico de que a educação é uma

SUMÁRIO 90
frente de luta” (FREIRE, 1995, p. 32). O pensamento de Paulo Freire
trouxe à tona a existência de processos desumanizantes, negadores
do diálogo. Ele contribuiu para a ideia de que educar em direitos
humanos desvela a sujeição e a negação de direitos, ao passo que
indica caminhos para o exercício da cidadania.

É a partir da noção do “estar com o mundo” e não apenas


“estar no mundo” que Paulo Freire instituiu dada dialética, formadora
da educação em direitos humanos. Toda a dialogicidade (re)afirmada
no pensamento freireano contribuiu para a abertura democrático-
-cidadã do país, enquanto um signo orientador, crítico, fundado na
reflexividade e não apenas de modo meramente mecânico. Nesse
sentido, há na história de lutas do Brasil um germe singular da edu-
cação em direitos humanos e a potencialidade epistêmica genuina-
mente freireana. A potencialidade educativo-humanística marca a
história da sociedade brasileira – e de tantos outros países, espe-
cialmente, os da América Latina – no que diz respeito à resignação
social frente às violações de direitos, exercício da cidadania e forma-
ção para a diversidade.

A EDH ressignifica a ação política e contribui para a transfor-


mação social no e pelo exercício de uma cidadania ativa (BENEVIDES,
1991), pela construção de fundamentos ético-democráticos mínimos
de justiça social. Tomando como referência a conceituação trazida
por Benevides, em que, para a autora, o exercício da cidadania ativa
traduz e requer a “participação popular como possibilidade de cria-
ção, transformação e controle sobre o poder ou os poderes” (1991,
p. 20), e é possível afirmar que:
[...] a educação para os direitos humanos, na perspectiva
da justiça, é exatamente aquela educação que desperta
os dominados para a necessidade da “briga”, da organi-
zação, da mobilização crítica, justa, democrática, séria,
rigorosa, disciplinada, sem manipulações, com vistas à
reinvenção do mundo, à reinvenção do poder (FREIRE,
1996, p. 99, grifo nosso).

SUMÁRIO 91
A EDH foi decisiva na história do país, em especial no perí-
odo da ditadura militar, para evidenciar a necessidade de concretiza-
ção da cidadania nacional, estilhaçada pelo totalitarismo da época.
De modo particular, os preceitos figuraram, entre as décadas de 60
e 90, como instrumento de conhecimento de direitos, na formação
de valores e de atitudes (MENDONÇA, CARDOSO, 2018), na e por
meio da luta social em favor do respeito aos direitos humanos, assim
como, na vivência – mesmo que ameaçada – destes.

São identificados, na história brasileira, inúmeros fatos que


evidenciam a importância e a dimensão do fazer e das ‘pedagogias
de lutas’. A ideia de autodeterminação congregou diversos segmen-
tos da sociedade civil brasileira a fim de viabilizar estratégias em prol
da diversidade sociocultural e pluralidade de ideias. O processo de
mobilização, de distensão política e de redemocratização do país sig-
nifica, pois, segundo Silva (2000), a segunda fase da EDH, iniciada
na metade dos anos 80.

Todo o processo de “conhecimento de direitos” alicerçado


em torno da EDH nos movimentos sociais idealizou ideias impor-
tantes para a democracia. O movimento pró-participação popular na
Constituinte, por exemplo, assumiu, neste momento da história bra-
sileira, a função de esclarecer à população – que conviveu durante 21
anos com o regime civil-militar – o que vinha a ser a democracia e a
liberdade. De modo particular, a segunda metade dos anos 80 trouxe
– junto à ideia de democracia – a noção de que a mera passagem de
um estado totalitário para o republicanismo não simbolizava a total
condição de serem ultrapassadas as graves violações aos direitos
humanos ocorridas. Pelo contrário, realçou-se a premissa de que
era indispensável ir além e romper com a cultura dos privilégios, da
estigmatização e preconceito e do não reconhecimento da coletivi-
dade e do outro enquanto bases da cidadania. É nessa época, e com
esse objetivo que, de modo expressivo e palpável, são desenvolvidas
importantes ações de educação em direitos humanos.

SUMÁRIO 92
Os anos que sucederam pré e pós Constituição Federal
foram um importante elo com o Instituto Interamericano de Direitos
Humanos (IIDH) e culminaram em ações de disseminação da
EDH no Brasil que, conforme aponta Miranda (2006, p. 56), foram
“[...] financiados pelo Instituto Interamericano de Direitos Humanos
e com o apoio da Unesco, dezenas de cursos, seminários, palestras,
oficinas”, organizados visando criar uma cultura de direitos e novas
práticas (CARDOSO, 2014). O período e ações marca, segundo
Magendzo (1999), a expansão em rede da EDH não apenas no Brasil,
mas em toda a América Latina.

Os projetos relacionados à EDH no nosso país foram


concentrados, inicialmente, em alguns polos: no Nordeste, com
a atuação da Universidade Federal da Paraíba e com o Gabinete
de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP), que
assumiram, junto com o Conselho Estadual de Defesa do Homem
e do Cidadão, a organização de inúmeras ações e importantes ini-
ciativas sobre o tema; e no Sudeste com o já mencionado Núcleo
de Direitos Humanos da PUC do Rio de Janeiro, e com o projeto
da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo
(CANDAU, 2000), ações que foram sucedidas por alguns seminá-
rios temáticos. Também, em Pernambuco, no período de 1987 a
1991, foi iniciada a experiência de relacionar os conteúdos de DH
no currículo escolar e na formação de profissionais no âmbito da
Secretaria Estadual de Educação, na perspectiva de desenvolvê-las
enquanto política do sistema educativo no Estado. A experiência
também contou com o apoio do Instituto Interamericano de Direitos
Humanos da Costa Rica.

O processo mobilizatório, instituinte e sistematizador do pro-


jeto de educar em direitos humanos contou, pois, com o impulso dos
cursos, oficinas, encontros, mesas e atividades promovidas por sin-
dicatos educativos e ONG’s, orientado para professores(as), líderes
comunitários, populares e outros agentes sociais.

SUMÁRIO 93
Foi tal concepção aberta do conteúdo dos DH que inspirou
a própria redação da Constituição Federal de 1988, que representa
um marco histórico para a EDH no Brasil, assim como é produto
dela. Neste cenário de ampliação/afirmação de direitos, houve a
ratificação da Convenção de Haia e dos Direitos da Criança e dos
Adolescentes e, em 1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do
Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1996.
A EDH readquiriu – de modo definido e vivo – a importante cono-
tação de instrumento ampliador de garantias, partindo das noções
de cidadania e governança para a – necessária – afirmação de uma
cultura de direitos.

É, na perspectiva emancipatório-participativa da CF bra-


sileira, que foi observada a contribuição e o avanço normativo, em
se tratando da temática dos DH no Brasil, resultado da própria
emancipação dos atores envolvidos. A importância da Carta Magna
é acompanhada, também, pela (re)afirmação de instrumentos, fun-
damentos e marcos jurídicos5 sobre a EDH, fator que abriu espaço,
a partir da década de 90, para a terceira fase da educação em direi-
tos humanos, marcada pela aprovação/publicação de importantes
marcos desse campo.

A EDH, portanto, ressurgiu, na contemporaneidade demo-


crática – mas, globalizada e individualizante – enquanto espaço e
mecanismo capaz de materializar as diretrizes normativas que asse-
guram os direitos humanos. É, na dialogicidade de seu debate, que o
real sentido da diversidade, da solidariedade e da dignidade – neste
ensaio entendida como reconhecimento do outro – constituem-se e
dão sentido às leis e aos DH.

5 Instrumentos que foram reafirmados na democracia e pelas conquistas das lutas cotidianas. No
âmbito internacional, e na América Latina, destacam-se normativas que reafirmam o objeto da
EDH, dentre elas: a DUDH de 1948, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o de defesa
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
para Prevenir e Punir a Tortura e para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, e a
sobre os Direitos das Crianças, todos ratificados e incorporados ao ordenamento brasileiro.

SUMÁRIO 94
Também, a conjuntura histórico-social do Brasil, regida pela
globalização – cada vez mais perversa –, pelas políticas de arranjo
neoliberal e na (in)segurança global, são circunstâncias que real-
çam a exclusão, em suas diferentes formas e manifestações, e,
consequentemente, tornam-se um desafio à EDH na conjuntura
democrática do país.

Candau (2000), sobre o referido cenário, ressalta que tais


problemas não afetam, igualmente, a todos os grupos sociais e cul-
turais, nem a todos os países, e, em cada país, às diferentes regiões
e pessoas. A nosso ver, opera nesta lógica forte “indivisibilização”, na
qual determinados sujeitos são assumidos enquanto “estranhos” às
pessoas que, por suas particularidades socio-político-culturais, não
se amoldam ao contexto social cada vez mais marcado pelo neolibe-
ralismo e pela técnica (SILVA, CARDOSO, 2018).

NOTAS A REFLETIR...
Assim, torna-se evidente que os preceitos educativo-huma-
nistas têm assumido, nas últimas décadas, no Brasil, a responsabi-
lidade de construir, além de uma renovada ordem democrática, o
contradiscurso no qual a recorrente “descartabilidade” humana seja
substituída pelo horizonte do ‘direito a ter direitos’ e pela responsabi-
lidade e deveres com o “humano” e o comum.

A vivência de valores democrático-republicanos, os preceitos


de solidariedade e o reconhecimento de dignidade humana de cada
cidadão, constituem, ao longo do tempo no Brasil, o fundamento e
a finalidade em “educar para os direitos humanos” na consolidação
desses direitos. Construir uma sociedade pautada na paz social e no
respeito aos direitos humanos instituiu-se como o maior desafio da
EDH nos últimos tempos.

SUMÁRIO 95
Os caminhos e desventuras percorridos a partir dos proces-
sos de EDH no Brasil evidenciam que é na intersecção entre digni-
dade, direitos e democracia que o próprio conceito de educar em
direitos se funda. O seu alcance como sistema de governo caminha,
na realidade brasileira, para a afirmação (lenta) de uma cultura de
valores a partir da educação em direitos humanos. Tem, no entanto,
significado a possibilidade de caminharmos para a participação
popular na construção do pleno respeito aos direitos humanos.

A experiência e trajetória brasileira revelam, pois, a impor-


tância da EDH na ampliação de princípios como a democracia e a
diversidade; de como tais pressupostos dinamizam e difundem a
politicidade a serviço dos direitos humanos e da cidadania ativa.

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SUMÁRIO 97
6
Elaine Ferreira do Nascimento
Liana Maria Ibiapina do Monte
Paulo de Tarso Xavier Sousa Júnior

BROTA AÍ NO BONDE:
JUVENTUDES E MODOS
DE SUSTENTABILIDADE

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.6
INTRODUÇÃO
Este texto propõe uma reflexão em torno da juventude e suas
interfaces com aspectos elementares para a sua formação como a
saúde, bem-estar, relações e territorialidade como consequências
dos modos de sustentabilidade. Neste sentido, para a construção
dessa discussão procurou-se problematizar acerca dos mecanismos
de operacionalização das ações relacionadas aos jovens, fundados a
partir de critérios de elegibilidades/exclusão e princípios de estigma-
tização. Cruz et al. (2018) apontam que é nesse momento da vida em
que surgem inquietações, escolhas, necessidades e mudanças em
modos de existência. Assim, essa etapa propicia debates, não antes
vistos, sobre situações experienciadas as quais refletem diretamente
em qualidade de saúde ou ausência desta.

Desta forma, discorrer sobre a categoria juventude requer,


num primeiro momento, contextualizá-la no tempo e no espaço.
Isso é fundamental para se construir estratégias de intervenção que
gerem conhecimento e adoção de práticas inovadoras no trato a
este segmento pautada, sobretudo, na sua legitimidade. Juventude
essa que se autodefine e se constrói, pois como afirmam Maffioleti e
Salvaro (2021) é bastante comum essa parcela da população estabe-
lecer questões necessárias para sua formação identitária, como por
exemplo, a forma de vivenciar e explorar a sua própria sexualidade
em contextos afetivos diversos.

E, é essa juventude em sua diversidade, trans e cis, de origem


raciais e étnicas diferenciadas/semelhantes, com múltiplas orienta-
ções sexuais ou nenhuma que estabelecem relações e permitem o
amadurecimento de aspectos da sua vida, refletindo diretamente
no contexto de seu bem estar social. Outro ponto fundamental é
o reconhecimento dos direitos garantidos à Sustentabilidade e ao
Meio Ambiente no Estatuto da Juventude, que em sua sessão X,

SUMÁRIO 99
Art. 34º coloca que: O jovem tem direito à sustentabilidade e ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida, e o dever de defendê-lo e
preservá-lo para a presente e as futuras gerações.

A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui o Estatuto


da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e
diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional
de Juventude (SINAJUVE). Essa Lei e as políticas públicas de juven-
tude são regidas pelos seguintes princípios promoção da autonomia
e emancipação dos jovens; valorização e promoção da participação
social e política, de forma direta e por meio de suas representações;
promoção da criatividade e da participação no desenvolvimento do
país; reconhecimento do jovem como sujeito de direitos universais,
geracionais e singulares; promoção do bem-estar, da experimenta-
ção e do desenvolvimento integral do jovem; respeito à identidade e
à diversidade individual e coletiva da juventude; promoção da vida
segura, da cultura da paz, da solidariedade e da não discriminação; e
valorização do diálogo e convívio do jovem com as demais gerações,
em suma ela garante aos jovens educação, saúde, cultura, trabalho,
participação ao território, à livre orientação sexual (BRASIL, 2013).

Assim, o artigo busca discutir sobre a tangência dessas


juventudes plurais no contexto brasileiro, levando em conta os
aspectos que dificultam a potencialização de suas identidades e
a compreensão de elementos que compõe suas vulnerabilidades,
numa perspectiva que inclua de forma ampla a sustentabilidade.

MÉTODO
Para isto se estabeleceu ao longo deste texto uma revisão de
literatura de caráter narrativo. Foram realizadas buscas nas seguintes
bibliotecas virtuais: Scielo, BVS Brasil, Pepsic, e Lilacs, utilizando os

SUMÁRIO 100
seguintes descritores: juventudes, territorialidade, vulnerabilidades,
afetividade, saúde mental e sustentatibilidade. Referências a partir
do ano de 2019 e escritas em língua portuguesa passam a integrar
este estudo. Já as publicações constituídas por resumos, resenhas
e entrevistas ficaram de fora desta investigação. Com base nesses
critérios, quinze trabalhos foram selecionados e organizados em
categorias de análise e discussão.

Os dados foram analisados a partir do método de interpreta-


ção de sentidos. Esse método baseia-se em princípios hermenêutico-
-dialéticos que buscam interpretar o contexto, as razões e as lógicas
do material pesquisado. Na trajetória analítico-interpretativa dos
textos foram percorridos os seguintes passos: (i) leitura compreen-
siva; (ii) identificação e recorte temático que emergiram dos dados;
(iii) identificação e problematização das ideias explícitas e implícitas
das categorias; (iv) busca de sentidos mais amplos (socioculturais),
subjacentes aos contextos; (v) diálogo entre as ideias problematizadas;
e (vi) elaboração de síntese interpretativa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

JUVENTUDE OU JUVENTUDES, DO QUE SE TRATA?


O termo juventude tem sido utilizado em seu plural – juventudes -,
em decorrência da diversidade das situações existenciais que afetam
os sujeitos. Salienta que a faixa-etária não abarca somente a questão
da juventude, pois esta categoria é uma construção social que pode
se expressar em diversas formas em diferentes períodos históricos e
contextos. A pluralidade juvenil manifesta-se nas escolhas, adesões
e identidades. O que significa localizar que essa juventude tem cor de
pele, etnia, identidade de gênero, que não necessariamente é binária,
que pode ter ou não uma orientação sexual definida, está inserida

SUMÁRIO 101
numa determinada classe econômica e social, e dentro desta perten-
cer a grupos específicos e ainda se encontrar em um certo território,
pertencer a grupos religiosos etc, mesmo com tudo isso essa juven-
tude que terá certas características e, portanto, poderá ser identifi-
cada enquanto uma categoria, será singular, heterogênea.

Nardelli, Dornelles e Leal (2019), ressaltam que a atenção


dada à juventude vem conquistando espaços nos discursos e prá-
ticas das agências governamentais, não governamentais e unila-
terais. Este quadro torna-se explicativo em virtude do crescimento
do estrato juvenil, uma vez que grande parte da nossa população é
composta de jovens. Por outro lado, a exposição desta juventude às
situações de carência, privações e pobreza, também se apresenta
como uma das motivações para desembocar ações destinadas
a este segmento. No quadro global de um conjunto de crises sem
precedentes, sendo uma delas em escala planetária, como as trans-
formações no mundo do trabalho, crise ambiental, fruto do avanço
do capitalismo, gerando consequências de alto impacto e custo para
a vida no planeta terra e causando sérios adoecimentos para a vida
humana juvenil nos territórios, particularmente, aqueles considera-
dos em situação de maior vulnerabilidade.

Se por um lado, todo esse cenário gera um nível de inse-


gurança, medo, angústia em razão da crise econômica e ambien-
tal, por outro lado há todo um movimento de mobilização para a
organização política e cultural das juventudes, sobre modos de
(r)existência e sustentabilidade. Nesse contexto, analisar sobre as
juventudes requer vislumbrar as diversidades e as singularidades
que envolvem esse segmento.

Ramos (2019) discorre sobre a armadilha presente na concep-


ção das juventudes como passagem de transição, na qual ressalta os
riscos que é tratar essa fase como transitoriedade, pois isso pode levar
a uma confusão de representatividade, no que se refere à dimensão
da vida social. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS),

SUMÁRIO 102
essa população se encontra entre o intervalo de 15 a 24 anos, em
contrapartida, o Estatuto da Criança e do Adolescente considera
pessoas entre 12 a 18 anos como adolescentes (BRASIL, 2007).
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
existem aproximadamente no Brasil 51,3 milhões de jovens vivendo
no Brasil, considerando estes entre o intervalo de idades entre 15 a
29 anos (BRASIL, 2010).

Apesar das diferenças encontradas e utilizadas pelos diver-


sos mecanismos sociais, políticos e culturais, é preciso considerar a
juventude em uma dimensão diversa e complexa, pois segundo Lima
(2021) não se pode reduzir esse momento como o responsável por
determinadas características biológicas e muito menos psicológicas.
Inúmeros fatores fazem com que atitudes, comportamentos e ideias
sejam tomadas e construídas. Dessa maneira, cada contexto deverá
ser tratado de forma particular e singular.

Uma questão importante a ser problematizada é que na


juventude os indivíduos iniciam e processam diferentes formas de
inserção social, além de significados em relação às condições de
vida – como trabalho, constituição de família e espaços de cidadania.
Nesse período são oportunizadas ou experienciadas possibilidades
ou impossibilidades de inserção na vida produtiva e social, de desen-
volvimento de projetos pessoais e sociais, aqui há uma reivindicação
da juventude pelo seu direito à participação social. Obviamente,
dependendo de acordo com questões estruturadas dadas para as/
os sujeitos de forma individual e coletivamente (SANDER, 2015).

EM BUSCA DO CUIDADO:
A JUVENTUDE BUSCANDO SOBREVIVER
Essa mesma juventude que se apresenta de maneira diversa,
se articula de diversos modos e formas. Assim, fica evidente a neces-
sidade de entender como esse mecanismo é formado e quais os

SUMÁRIO 103
pontos que sustentam essa formação pessoal. A pesquisa de Souza e
Reis (2021) apontam para o pontapé inicial para esta construção que
são os grupos. Cada indivíduo passa a se identificar com pares, em
que essa estratégia traduz em modos e crenças semelhantes. Além
disso, este fato aproxima as/os jovens uns dos outros e inclusive pro-
picia a iniciativa de atitudes com base no fortalecimento deste grupo.

São essas/esses jovens que também potencializam transfor-


mações importantes não apenas nos seus modos de vida e experiên-
cias pessoais, mas geram impactos no seu entorno. O ser/estar nesta
etapa do desenvolvimento humano também traduz em inovações
dentro da territorialidade a qual esta/este jovem se encontra inse-
rida/o. Foi dessa maneira que Barbosa (2020) afirma sobre a força
motriz que nascem das vozes dessas pessoas e causam mudanças
sociais. Mudanças essas decorrentes das vulnerabilidades presentes
nos modos de habitação e localidade. A união desses grupos então fala
sobre sua invisibilidade e a ausência do poder público. Este aspecto
também é essencial para o estado de bem-estar desses jovens.

Esse território que é dominado é próprio e tido como um


elemento inserido na identidade de cada um. Consequentemente,
isso auxilia na produção de sentidos pessoais de cada um. Outra
consequência desse movimento diz respeito as trocas estabelecidas
entre esses grupos de iguais. A juventude se mobiliza nos mesmos
como espaço de organização, mas também de saber. O conheci-
mento, que não é apenas científico, é compartilhado e tido como
uma característica que auxilia na junção desses membros. As experi-
ências de cada um também são atreladas a essa rede de informação
formada por essas/esses jovens. Entende-se aqui, um componente
fundamental para essa troca e segmentação dessa rede: os afetos
(SALLES; FRACH, 2021).

Ainda que este ponto esteja claro e evidente, é preciso enten-


der a existência da produção de afetos como um mecanismo popular
e cultural. Mattar e Bega (2020), por exemplo, apresenta um estudo

SUMÁRIO 104
sobre os meios afetivos produzidos por jovens dentro do contexto
escolar. Se por um lado, o estudo mostra este elemento como capaz
de fundar e formar a personalidade e a manutenção de bem-estar,
por outro, ele pode ser o responsável por realizar segregações e até
mesmo deslegitimar muitos sentidos e significados afetivos. É pre-
ciso, portanto, não apenas ouvir a experiência desses jovens, como
também proporcionar que eles próprios construam quais os simbo-
lismos presentes nessas ações.

A escola e outras instituições de ensino ou mesmo coleti-


vos e associações podem ser importantes espaços para a promo-
ção da educação ambiental para a juventude, visando a construção
de conhecimentos; o desenvolvimento de habilidades, atitudes e
valores sociais; o cuidado com a comunidade de vida; à justiça; à
equidade socioambiental; bem como, à proteção do meio ambiente
natural e construído. Uma vez que a educação ambiental tem como
objetivo uma dimensão educativa ampliada, crítica e transformadora
da realidade, resultante da responsabilidade cidadã e da reciproci-
dade das relações dos seres humanos entre si e com a natureza, uma
vez que foi justamente nos ambientes naturais que desenvolvemos
nossa capacidade de aprender juntos e continuamente, o que permi-
tiu aprimorar saberes e fazeres cada vez mais diversos e complexos.

Na perspectiva de fortalecimento da cidadania, do cuidado


com o meio ambiente como direito humano emergente, e de fun-
damentos para o futuro da humanidade, bem como a promoção do
cuidado com a comunidade de vida, ações articuladas entre Estado
e sociedade, deverão, considerar o estímulo e o fortalecimento de
organizações coletivas juvenis. Além de movimentos e redes que
atuem no âmbito da questão ambiental, na elaboração, na execu-
ção e na avaliação de políticas públicas que incorporem a dimensão
ambiental em prol do desenvolvimento sustentável. O conjunto des-
sas ações articuladas poderá promover um efeito em ondas capaz
de produzir relações de afetos e afetamentos das/dos jovens entre si
e com o meio em que se encontram.

SUMÁRIO 105
Esses afetamentos também são responsáveis pela capaci-
dade de se tornar legítimos os comportamentos e ideias de ações
constituídas pela juventude. Eles podem se utilizar, por exemplo,
da arte como meio de serem ouvidos e também de falarem. Essas
vozes constituem um grupo coeso, mas acima de tudo afetivo. Essa
produção subjetiva articula a formação de gritos e sinais artísticos,
mas com características sociais. Existe aí uma responsabilidade
diante dessa ação, que não mascara, mas problematiza e também
chama a comunidade ao debate e a construção coletiva entre outros
jovens (ARRUDA, 2020).

OS MEIOS DE ENGAJAMENTO JUVENIL POPULAR


Como já falando anteriormente, existe uma força bastante
poderosa dentro da união realizada por essa juventude. Ela inclusive
é capaz de produção de novos meios e modos de sustentabilidade
social. Roesler e Soares (2021) chamam atenção para a necessidade
de desenvolvimento de cuidados para com o meio, como alternativa de
saúde e bem-estar para as pessoas de uma determinada localidade.

É exatamente esses agentes que estão atentos as trans-


formações que acontecem nas cidades. E como representantes
desta mesma localidade, o engajamento desses grupos promovem
uma força para a produção ou a contrapartida diante de ações que
são excludentes ou estejam produzindo afetamentos negativos a
territorialidade. Existe aqui um movimento de apoio e não de vis-
lumbramento entre governos e instituições. São justamente esses
jovens que querem estar presentes auxiliando na construção de
um meio mais justo e coerente com as dificuldades encontradas.
Independentemente de ideologia ou conchavos políticos, são os
jovens que proporcionam um debate mais real e necessário diante
das melhorias a serem realizadas diante das mazelas sociais e
ambientais (BARROS, 2020).

SUMÁRIO 106
A juventude passa então a estar em outros espaços, utili-
zando das suas vozes e experiências uma base sólida para mudan-
ças efetivas nos modos e ações. Inclusive seu espaço também per-
passa o campo político, articulando assim medidas que auxiliam no
desenvolvimento local. O empoderamento surge nesse sentindo, em
que jovens acabam incentivando outros jovens e assim, a produção
de um ciclo de mudanças. Dessa forma, pode-se pensar em novas
alternativas de atenção e cuidado a saúde, bem-estar e cidadania.
Garantindo a presença dos direitos a quem sofre com a exclusão e
marginalização (FERNANDEZ, 2020).

Outro ponto importante nesse sentido, é o entendimento dos


benefícios a saúde dessa juventude em relação a todas as questões
descritas anteriormente. Concebida como um momento de crises
existenciais e demais dilemas, é bastante comum que neste período,
muitos jovens acabem entrando em conflitos. Essas rupturas nas
relações estabelecidas podem ser propiciadoras de esgotamentos e
mal-estar psíquico. Por isso, se faz necessário o cuidado do emocio-
nal dessa juventude, como afirma Rossi e Cid (2019).

O que significa entender que o direito ao meio ambiente e a


sustentabilidade nos levam a buscar na diversidade dos jovens, por
meio da sua participação nas suas diferentes manifestações e na
busca por uma educação ambiental crítica, formas de desenvolver
e aplicar, com imaginação, a visão de um mundo e de um modo de
vida sustentável, nos níveis local, regional, nacional e global. Afinal,
as crises que assolam quase que a totalidade das sociedades esgar-
çou o tecido social e jogou milhões na marginalidade e na exclu-
são. Vale destacar, também, que para alcançar a sustentabilidade
é necessário garantir meios de vida suficientes e decentes para
todas, todes e todos.

Pensar um mundo sustentável, é compreender uma lógica


em que equidade social e ecologia se alinhem numa perspectiva
que a igualdade de direitos da humanidade não se limita a povoar

SUMÁRIO 107
o planeta, consumir energia e produtos e descarregar desejos no
ambiente, em um planeta com disparidades extremas de acesso a
consumo entre habitantes. Mas de repensar o sentido e significados
da substituição dos direitos humanos tradicionais por direitos cul-
turais e ambientais, que ultrapassam os direitos jurídicos de igual-
dade entre os homens.

Fica claro e evidente, portanto, os inúmeros fatores os quais


provocam quebras e novos recomeços dentro da movimentação
realizada por jovens. Sejam de maneira virtual ou presencial, a sua
união vai provocando novos pilares e a quebra de muitos outros. As
referências apontam então para um novo futuro, não distante, mas
que se faz presente em inúmeras representações do que é ser jovem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo apresentou algumas ideias já construídas cien-
tificamente, mas acima de tudo, materializada pelos quatro cantos
do país. Essa juventude que ao mesmo tempo é diferente é também
múltipla. Ela inclusive, dispensa rótulos e amarras, construindo e se
apoderando cada vez mais da sua própria história.

É preciso permitir que essas vozes encontrem seu lugar,


sejam ouvidas e acima de tudo, chamadas a construírem juntos os
espaços sociais a quem é de direito. Dessa maneira, a cada nascer de
movimento, coletivo ou articulação, estará entrando no bonde novas
ideias, afetos e maneiras de encarar as vulnerabilidades existentes.

Essa juventude, portanto, é capaz de ensinar e a entender


muitas questões ainda não compreendidas por pessoas e institui-
ções. São todos esses sujeitos que serão agentes de transformação
social, contribuindo para uma sociedade mais justa e com a devida

SUMÁRIO 108
equidade necessária. Para isto, as referências mostraram que estes
jovens estão prontos e possuem todo o potencial possível para
isso, entretanto, se faz necessário que mais pessoas também acre-
ditem nisso. Afinal de contas, nesse bonde existem espaços para
todas, todes e todos.

“Eu vejo na TV o que eles falam


sobre o jovem não é sério

O jovem no Brasil
nunca é levado a sério”

(Charlie Brown Jr - Chorão / Negra Li


/ Champignon / Pelado, compôs

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SUMÁRIO 110
7
Cláudson Carvalho
Rogéria Gladys

O TRABALHO COMO UMA DAS


GARANTIAS DE ROMPIMENTO
AO SILÊNCIO IMPOSTO AOS
CORPOS INVISIBILIZADOS DOS
TRANSEXUAIS NO BRASIL
WORK AS ONE OF THE GUARANTEES OF BREAKING
THE SILENCE IMPOSED ON THE INVISIBILIZED
BODIES OF TRANSEXUALS IN BRAZIL

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.7
RESUMO
O histórico de violência contra as pessoas transexuais no Brasil é assustador,
questões estas que vieram a ser potencializadas com a crise pandêmica
no ano de 2020. Fatores políticos, sociais, culturais e econômicos resultam
nas desigualdades e hierarquias que alcançam os grupos subalternizados,
especialmente os transexuais.
Este artigo pretende demonstrar a importância do trabalho como um direito
social fundamental garantidor de uma vida digna às pessoas trans. O presente
trabalho utilizou-se de pesquisas bibliográficas onde foram utilizados artigos,
livros, teses e sites com ênfase nos estudos dos direitos das minorias à luz
dos direitos humanos, bem como da teoria do decolonialismo. As principais
fontes de pesquisa foram as obras das autoras Djamila Ribeiro e Fernanda
Frizzo Bragato. A exclusão destas pessoas, resultantes do preconceito, atinge
os postos de trabalhos em diversos setores, o que vem demonstrar a violação
dos direitos fundamentais sociais. O estudo demonstra a necessidade de
normas que possam garantir de forma efetiva a inclusão dessas minorias,
visando a ampliação de ações afirmativas no sistema jurídico brasileiro,
bem como a importância da criação de novos marcos civilizatórios, para
que possamos criar um modelo de sociedade mais inclusiva, plural, e,
consequentemente, menos discriminatório.
Palavras-chave: Discriminação; Transexualidade; Trabalho Digno-direitos
Humanos; Políticas Públicas.

SUMÁRIO 112
ABSTRACT
The history of violence against transgender people in Brazil is frightening,
issues that were intensified with the pandemic crisis in the year 2020.
Political, social, cultural and economic factors result in the inequalities and
hierarchies that affect subalternized groups, especially the transsexuals.
This article intends to demonstrate the importance of work as a fundamental
social right that guarantees trans people a decent life. The present work
used bibliographical research where articles, books, theses and websites
were used, with emphasis on the studies of minority rights in the light of
human rights, as well as the theory of decolonialism. The main sources of
research were the works of the authors Djamila Ribeiro and Fernanda Frizzo
Bragato. The exclusion of these people, resulting from prejudice, affects jobs
in various sectors, which demonstrates the violation of fundamental social
rights. The study demonstrates the need for norms that can effectively
guarantee the inclusion of these minorities, aiming at the expansion of
affirmative action in the Brazilian legal system, as well as the importance of
creating new civilizing frameworks, so that we can create a more inclusive
model of society , plural, and, consequently, less discriminatory.
Keywords: Discrimination; Transsexuality; Decent Work-Human rights;
Public policy.

SUMÁRIO 113
INTRODUÇÃO
A história mundial retrata as grandes marcas da violência
vivenciada pela humanidade, sobretudo as minorias. Esses confron-
tos perpassam gerações e persistem na era moderna, disseminando
uma ideologia inaceitável baseada na inferioridade de certos grupos
sociais em detrimentos de outros.

Com esse tipo de pensamento, as concepções preconceituosas


direcionadas às questões de sexo ganham proporções cada vez maio-
res, levando a uma triste realidade vivenciada no mundo e no Brasil.

O Brasil participa do grupo de países que mais registra homi-


cídios relacionados às pessoas transexuais no mundo, caracterizando
um preconceito enraizado que necessita ser mudado com urgência.

A população trans não sofre apenas com questões relaciona-


das à violência física, mas também enfrenta uma batalha pela ocupa-
ção no mercado de trabalho formal brasileiro.

Sendo assim, este trabalho buscará abordar a discriminação


sexual vivenciada pelas pessoas trans nas relações laborais, tendo
como objetivo geral a análise das garantias do nosso sistema jurídico
frente às relações trabalhistas, demonstrando de forma efetiva o pre-
conceito vivenciado por essas pessoas que são “invisíveis” aos olhos
do Estado e da sociedade.

TRANSEXUAIS COMO UM DOS GRUPOS


HISTORICAMENTE CONSIDERADOS
SUBALTERNOS E MARGINALIZADOS
As violações e o respeito aos direitos humanos não acon-
tecem aleatoriamente. São fatos que dependem do contexto que
enseja a criação de um ambiente propício e das características dos

SUMÁRIO 114
sujeitos afetados. Pois não basta simplesmente o Estado reparar
vítimas ou punir perpetradores, pois temos que aprender a pensar
em prevenção e identificação de fatores de riscos para violação dos
direitos humanos (BRAGATO, 2021, p. 4).

Qualquer análise de risco de graves violações aos direitos


humanos há um ponto de partida fundamental: os sujeitos afetados,
ou seja, as vítimas, pois a violação dos direitos humanos é seletiva
e costuma atingir seres humanos pertencentes a determinados
grupos com identidades específicas, mesmo que esses sujeitos não
desejem ser percebidos como pertencentes a este grupo.

Essas identidades constituem, para uma determinada par-


cela da sociedade, características depreciativas que tendem a rebai-
xar ou desumanizar seus portadores, pois atribuem hábitos, atitudes,
pensamentos, traços de personalidade negativos baseados em pre-
conceitos altamente arraigados e pouco questionados por aqueles
que, em contrapartida, colocam-se em posição de superioridade
(BRAGATO, 2021, p. 4).

Os grupos caracterizados por identidades depreciadas


são conhecidos como minorias, não por causa da quantidade de
integrantes, mas porque carecem de poder justamente pela posi-
ção de subordinação que o discurso desumanizante lhes reserva
(BRAGATO, 2021, p. 5).

Sociedades onde o racismo, a xenofobia, a misoginia, a


homofobia, a transfobia e outros tipos de preconceito são fortemente
presentes e demonstram alta aptidão para a violação dos direitos
destes grupos ou das pessoas pertencentes a estes grupos, o debate
é sobre a posição ocupada por cada grupo, entendendo o quanto
raça, gênero, classe e sexualidade se entrecruzam gerando formas
diferentes de experiências opressões, pois sendo estruturais, não
existe preferência de luta (RIBEIRO, 2020, p. 71).

SUMÁRIO 115
É como se os grupos minoritários não fossem dignos de direi-
tos humanos, as chamadas minorias são compostas de sub-huma-
nos, de modo que as diversas violências perpetradas não são vistas
propriamente como violações de direitos humanos: ou porque não
chocam ou porque são percebidas como merecidas. Muitas vezes,
os grupos das minorias são alvos de discursos de ódio.

Para Fernanda Frizzo Bragato, discursos de ódio implicam


caracterizações depreciativas e estereótipos negativos atreladas a
determinados grupos sociais que reforçam suas condições de subor-
dinação histórica e socialmente sedimentadas (BRAGATO, 2021, p. 13).

O Brasil, apesar de prever proteção contra crimes de discri-


minação e reconhecer a união entre pessoas do mesmo sexo, o que
configura um importante avanço social, naturalizou um processo de
marginalização e precarização para a aniquilação das pessoas trans.
Em 2020, o número de assassinatos contra travestis e mulheres trans
teve um aumento recorde, com um total de 175 casos, segundo pes-
quisa realizada pela ANTRA1 (ANTRA, 2021, p. 5).

O ciclo de violência que afeta travestis e mulheres trans se


assemelha na medida em que a morte é o ponto final de uma série
de violações anteriores e passa a fazer parte do cotidiano das pes-
soas trans cujo cenário é assustador, pois 8 entre 10 notícias com
as palavras travesti ou mulher trans, nos principais mecanismos de
busca, encontramos notícias relacionadas à violência ou a violações
de direitos humanos.

O Estado e a sociedade precisam pensar em formas mais efi-


cazes de enfrentamento do sistemático assassinato e das tentativas
de homicídio de pessoas trans no país.

1 ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

SUMÁRIO 116
A atenção por parte da comunidade, da sociedade civil e
das políticas públicas no combate à violência contra pessoas trans
contribui para dar mais ênfase no monitoramento e divulgação dos
casos de violações de direitos humanos, das diversas formas de vio-
lências, tentativas contra a vida e assassinatos violentos contra essa
parcela da população.

Parte dessa visibilidade sobre a transfobia, sobretudo, nos


casos graves de violações de direitos e assassinatos, é fruto de pes-
quisas de diversas associações e dos movimentos sociais, junto às
ações de incidência nacional e internacional. Dentre eles podemos
citar: Transvest (Belo Horizonte-MG), Grupo Dignidade (Curitiba-PR),
Nuances-Grupo pela Livre Expressão Sexual (Porto Alegre–RS),
Instituto Boa Vista (Recife-PE), Grupo Gay da Bahia (Salvado-BA) e
Mães pela diversidade.

Em verdade, toda essa violência é um reflexo de um sistema


trans excludente, que foi idealizado e sistematicamente imposto para
impedir a cidadania de nossa população, ao violar diariamente os
direitos, a vida e os corpos das pessoas trans.

Apesar do aumento de casos de transfobia no ano de 2020, os


estados e municípios continuam sem planejamento e políticas públi-
cas eficazes, a fim de enfrentar e reduzir crimes de transfobia, que
já vêm sendo denunciados há alguns anos. Os estados continuam
omissos, inclusive no levantamento de dados sobre lgbtifobia, homi-
cídios e violações de direitos humanos das pessoas trans. Situação
que se agravou com a pandemia da Covid-19, em decorrência da alta
demanda por serviços de saúde mental.

O Brasil é um dos países que mais mata transexuais, geral-


mente, são assassinadas de forma extremamente violenta e com
requintes de crueldade, como no caso do crime bárbaro, que ocorreu
em Recife-PE, contra a transexual Roberta da Silva. As estatísticas

SUMÁRIO 117
são aterrorizantes: a expectativa de vida das transexuais no Brasil
é de apenas 35 anos de idade e pouco se faz para mudança desse
cenário de tristeza e dor.

Segundo dados da ANTRA, Associação Nacional de Travestis


e Transexuais, o país passou do 55º lugar de 2018 para o 68º em 2019
no ranking de países seguros para a população LGBT.

A ampliação de políticas públicas e criação de cotas para


trabalhadoras e trabalhadores transexuais são algumas das alter-
nativas que o Estado poderia adotar para minimizar a violência e
garantir uma vida digna.

O Estado, Movimentos Sociais LGBTQIA+ e a sociedade pre-


cisam garantir ações de assistência, qualificação, conscientização,
trabalho e renda, geração de oportunidades e campanhas institucio-
nais para combater a intolerância, o preconceito e a marginalização,
pois a vida de Roberta não voltará. Toda e qualquer prestação dada
pelo Estado à família da vítima é louvável, mas muito pouco diante
do que poderia ter sido feito para prevenir e ter evitado um crime tão
bárbaro, afinal, vivemos num Estado Democrático de Direito.

Por fim, é importante frisar que os dados divulgados não


refletem exatamente a realidade, devido à política de subnotificação
do estado assim como a ausência de dados governamentais. No
entanto, a partir deste panorama, depreende-se que o Brasil vem
passando por um processo de recrudescimento em relação à forma
como trata travestis, mulheres, transexuais, homens trans e demais
pessoas trans. O que reforça a importância do monitoramento por
parte dos movimentos sociais, como uma ferramenta na construção
de dados e proposição de elementos que irão impactar a forma de
combate a violência transfóbica no País.

SUMÁRIO 118
A GARANTIA DE ACESSO
AO MERCADO DE TRABALHO COMO
UMA DAS ALTERNATIVAS PARA REDUÇÃO
DA VIOLÊNCIA CONTRA OS TRANSEXUAIS
Um dos maiores desafios do indivíduo transexual é a sua
inserção no mercado de trabalho, que é marcado por significativas e
persistentes desigualdades de sexo, gênero e raça.

No ambiente de trabalho, a situação ainda é mais delicada,


posto que o trabalhador ou a trabalhadora transexual é rechaçado de
determinados seguimentos ou profissões no mercado de trabalho.

Dificilmente um trabalhador transexual conseguirá alcançar


um alto cargo dentro de uma empresa, pois muitos empregadores
temem ter sua imagem ou marca associadas a do funcionário e com
isso afetar sua credibilidade. Então, para eles sobram os piores pos-
tos laborais, os quais, presumivelmente, são mais mal remunerados
(UCHÔA, 2016, p. 94).

A população trans em nosso país vive em situações de miséria


e vulnerabilidade, sendo excluídos de garantias básicas assegurados
em nossos princípios legais. A autora Sofia Silva (2015, p. 108) vem
detalhar de forma sucinta os motivos que fortalecem essas exclu-
sões, uma vez que, o Estado predominantemente capitalista vem
gerir artefatos distintos diante desta rejeição social nos dias atuais:
Na política de gestão controlada da exclusão, o Estado
moderno capitalista criou três mecanismos, os quais, longe
de eliminar a exclusão, servem para manter a tensão social
em níveis aceitáveis, quais sejam: a transferência do sistema
de exclusão para o sistema de desigualdade; divisão do
trabalho social de exclusão entre os espaços público e pri-
vado; e a estigmatização e demonização por meio da dife-
renciação das formas de exclusão segundo a perigosidade.

SUMÁRIO 119
Assim, há de se esclarecer que os problemas enfrentados
pelos transexuais surgem desde cedo. Os assédios, juntamente com
as práticas de bullying sofridos durante a fase de formação escolar
e acadêmica, vem impedir que muitos transexuais não consigam
concluir os estudos (SILVA, 2012, p. 1), ou seja, parte das escolas não
capacitam os professores e profissionais ligados à educação sobre a
temática. Da mesma forma, falar sobre corpo, gênero e sexualidade,
ainda continua sendo um tabu que precisa ser quebrado, a fim de
evitar os diversos tipos de violências psicológicas.

Espaços ou locais que deveriam protegê-los ou acolhê-los


por causa dos elos existentes, como a família, muitas vezes são os
ambientes mais inseguros, pois praticam violência de natureza ver-
bal, psicológica, física, sexual e ameaças contribuindo com a saída
precoce de casa e, aqueles que não têm para onde ir, tornam-se
pessoas em situação de rua. (RAMOS et al., 2020, p. 25).

Todos estes fatores trazem consequências drásticas que


refletem nas diversas áreas do meio social. Quando passamos
a relacionar as pessoas transexuais e sua exclusão no meio cole-
tivo e no mercado de trabalho brasileiro percebe-se uma barreira
extremamente difícil de ser superada. O preconceito atrelado à dis-
criminação social vem dificultar a contratação destas pessoas no
mundo do trabalho formal:
O Brasil naturalizou um projeto de marginalização das tra-
vestis. A maior parte da população Trans no país vive em
condições de miséria e exclusão social, sem acesso à edu-
cação, saúde, qualificação profissional, oportunidade de
inclusão no mercado de trabalho formal e políticas públi-
cas que considerem suas demandas específicas. Mas não
só: o que era ruim piorou ainda mais neste este ano, com
a eleição de um governo que é explicitamente transfóbico
por ideologia (BENEVIDES; NOGUEIRA, 2019 p. 10).

Existe hoje, no mundo do trabalho, determinados cargos


que possibilitam uma maior empregabilidade para as pessoas

SUMÁRIO 120
transexuais, é como demonstram os escritos de Silva (2012, p. 01):
“[...] muitos não conseguem fugir da vala comum de empregos que
possuem uma aceitação maior aos homossexuais, travestis e transe-
xuais como as atividades de cabeleireiras e maquiadoras [...]”.

Observa-se, assim, que a liberdade empregatícia para as


pessoas trans é totalmente restrita a certos cargos disponíveis no
mercado de trabalho. A taxatividade destes empregos vai de encon-
tro ao que assegura a nossa legislação vigente diante das mínimas
garantias, como por exemplo, a liberdade de emprego e a não discri-
minação. É necessário pontuar, também, que a falta de oportunida-
des leva as pessoas trans a situações extremas, como por exemplo:
a exploração sexual e a prostituição.

O Estado brasileiro vem garantir em seu ordenamento jurí-


dico princípios básicos como “promover o bem de todos, sem pre-
conceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação” (IV, art. 3° da Constituição Federal), proibindo
a diferença salarial e de função conforme inciso XXX, artigo 7° da
nossa lei maior. No entanto, tais princípios parecem não ter eficácia
quando falamos da população trans.

Vale mencionar que a Corte Internacional dos direitos


humanos vislumbra políticas de proteção voltadas para contrapor o
preconceito em razão da sexualidade das pessoas. Todavia, quando
passamos a esmiuçar as políticas públicas voltadas para a inserção
dos transexuais no mercado de trabalho, percebemos a falha global
e nacional sobre tais discussões.

Diante desse descaso, verifica-se a necessidade de ações con-


cretas que possam garantir o direito a dignidade e cidadania expres-
sados em nossa legislação independentemente da orientação sexual.

As normas trabalhistas reguladoras do sistema jurídico bra-


sileiro não garantem de forma efetiva a inclusão dos mais despro-
tegidos no mundo do trabalho. O enfrentamento dessas pessoas

SUMÁRIO 121
diante das diversas questões discriminatórias não recai apenas em
questões relacionadas à violência, mas também na dificuldade em
conseguir um trabalho que as dignifique.

Destarte, surge o questionamento diante da realidade con-


temporânea no mundo do trabalho a despeito de sua segregação
por questões de gênero, posto que é nítido que a empregabilidade
formal maior é ocupada por homens heterossexuais. São os ensinos
de Adelman a respeito desta questão:
Basta uma rápida olhada nos anúncios de emprego para
deixar claro que o mercado de trabalho possui uma estru-
tura segmentada pelo gênero-definido pela dicotomia
convencional homem/ mulher. Muitos valores subjetivos
e avaliações estão embutidos nesta divisão sobre aquilo
que um homem ou uma mulher pode ou deve fazer.
Pessoas com uma ambiguidade de gênero poderiam
causar confusão e sentir rejeição, por não se encaixarem
facilmente nos nichos que existem no mercado de tra-
balho. A mesma ambiguidade pode ser vista como algo
capaz de perturbar o desempenho da função, principal-
mente num mundo onde muitas ocupações se exercem
vinculadas à apresentação e conservação da imagem
(ADELMAN 2003, p. 83-84).

O enfrentamento das desigualdades diante de uma socie-


dade preconceituosa reflete a urgência da cessação vivenciada por
cada transexual do nosso país. Aspectos voltados a questões sala-
riais, violências e discriminação transmitem a realidade que neces-
sita ser modificadas.

As exigências discriminatórias do mercado de trabalho não


podem ser toleradas, visto que os requisitos devem ser pautados na
capacidade da pessoa, independentemente de sua sexualidade.

A discriminação no exercício da profissão, seja por parte do


empregador ou dos colegas de trabalho, é fonte de grande sofrimento
e perpetua a batalha que os transexuais encaram cotidianamente.

SUMÁRIO 122
No Brasil já existem medidas pautadas no combate à discrimi-
nação no ambiente do trabalho voltados para a população LGBTQI+:
[...] articular, em parceria com o Ministério Público do
Trabalho, a implementação de políticas de combate à dis-
criminação a gays, lésbicas e travestis no ambiente de tra-
balho; apoiar e fortalecer a rede de Núcleos de Combate
à Discriminação no Ambiente de Trabalho das Delegacias
Regionais do Ministério do Trabalho e Emprego; ampliar a
articulação com o Ministério do Trabalho, na implementa-
ção de políticas de combate à discriminação no ambiente
de trabalho, incluindo nos programas de políticas afir-
mativas existentes, como GRPE (Gênero, Raça, Pobreza
e Emprego) e da fiscalização do trabalho, o combate à
discriminação de gays, lésbicas e travestis, bem como
de políticas de acesso ao emprego, trabalho e renda;
desenvolver, em parceria com o Ministério do Trabalho,
programa de sensibilização de gestores públicos sobre a
importância da qualificação profissional de gays, lésbicas
e travestis, nos diversos segmentos do mundo do traba-
lho, contribuindo para a erradicação da discriminação
(BRASIL, 2004, p. 24).

Todavia, questiona-se a efetividade prática desses programas


brasileiro, uma vez que, um levantamento efetuado pela Associação
Nacional de Travestis e Transexuais estima que 90% das mulheres
trans e Travestis têm a prostituição como única fonte de subsistência
no Brasil e apenas 4% possui trabalho formal.

A distinção sexual no mundo do trabalho vem estabelecer


eixos preconcebidos dos transexuais em cargos subalternos e que
recebam salários inferiores em detrimento da demais pessoas. Tal
preconceito é nutrido por piadas preconceituosas que foram planta-
das no decorrer da nossa história e arraigadas nos nossos dias.

As dificuldades surgem mesmo quando os transexuais con-


seguem um emprego formal, haja vista que as chances de promoção
ou a atribuição de outros cargos são mínimas, por causa do precon-
ceito ou da falta de qualificação.

SUMÁRIO 123
É evidente a necessidade da atuação do Estado para modi-
ficar essa triste realidade vivenciada pelos transexuais no mundo do
trabalho, devendo o mesmo possibilitar políticas públicas; criar e
implementar medidas legais e políticas de antidiscriminação e ações
afirmativas no campo da educação e do emprego e renda, para evitar
que qualquer pessoa tenha que depender da venda do sexo como
meio de sobrevivência devido à pobreza ou discriminação.

Ademais, deve-se implementar locais de abrigamento para


pessoas LGBT+ em situação de rua ou expulsas de casa; incluir
no currículo escolar, temas ligados a educação sexual inclusiva e a
tolerância à diversidade, dentre outras medidas que assegurem uma
vida digna as pessoas transexuais.

É necessário mencionar que a responsabilidade diante de


tais políticas públicas é dever principal do Estado, porém a obrigação
de inclusão deve ser um compromisso também da sociedade. As
políticas públicas por si só não irão gerar seus efeitos concretos se a
sociedade não abraçar essa causa.

Enfim, a luta pelo combate à discriminação no ambiente


de trabalho (público ou privado) ainda é uma barreira que precisa
ser superada, haja vista que vivemos em uma sociedade capitalista
onde os interesses econômicos prevalecem em detrimento das pes-
soas. Portanto, as políticas públicas de inclusão não devem apenas
dominar os territórios da empregabilidade pública, mas também no
setor privado, para que assim, o Brasil possa declarar que todos são
iguais perante a lei.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As lutas postuladas por aqueles que são submetidos à “invi-
sibilidade” por questões de sexo ainda se encontram longe do fim.

SUMÁRIO 124
Os preceitos apresentados neste trabalho explanaram de forma clara
o enfrentamento que a população trans ainda encara em pleno século
XXI. Como demonstrado, as barreiras enfrentadas por estas pessoas
atingem os vários seguimentos sociais, chegando até mesmo nas
relações trabalhistas.

A exclusão dessas pessoas, resultantes do preconceito atinge


os postos de trabalhos em diversos setores, o que vem demonstrar
a violação dos direitos e garantias assegurados em nossa lei maior.

Percebe-se, assim, a necessidade de normas que pos-


sam garantir de forma efetiva a inclusão dessas minorias visando
a ampliação de ações afirmativas no sistema jurídico brasileiro,
bem como a criação de novos marcos civilizatórios, para que pen-
semos um novo modelo de sociedade mais inclusiva e plural, com
direito de fala para todos.

Enfim, o propósito deste trabalho foi demonstrar a realidade


vivenciada pelas pessoas Transexuais diante da invisibilidade e mar-
ginalização que estão submetidas na nossa sociedade essencial-
mente no ambiente de trabalho, tentando corroborar para o melho-
ramento daqueles que são rechaçados por questões de raça, gênero,
classe e sexualidade, diante de um país puramente discriminador.
Assim, há a necessidade de uma reflexão sobre o tema na postula-
ção de políticas públicas, para que desta maneira o Brasil possa ser
reconhecido não mais pelo país que mais mata e discrimina Trans
no mundo, mas sim por aquele que faz valer os direitos humanos
e o princípio da igualdade de forma efetiva garantindo uma socie-
dade inclusiva e plural.

SUMÁRIO 125
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SUMÁRIO 126
8
Sylvie Monjean-Decaudin

LA JURITRADUCTOLOGIE :
À LA CROISÉE ENTRE DROIT
ET TRADUCTOLOGIE

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.8
INTRODUCTION
La traduction du droit existe depuis la nuit des temps,
toutefois ce n’est qu’à compter du XXe siècle qu’elle constituera une
problématique scientifique.

Il semblerait que les textes juridiques aient été traduits


avant les textes religieux (BOCQUET, 2008, p. 69). Les premières
traces des traductions juridiques sont apparues en l’an 1258 avant
J.-C., dans le traité de paix de Qadesh conclu entre les Égyptiens
et les Hittites et rédigé en versions akkadienne et égyptienne
(MEYRAT, 2016, p. 130)1. Si les premières traductions juridiques
avaient une vocation diplomatique, à l’époque ptoléméenne, elles
s’avéraient toutefois indispensables car l’emploi du grec s’imposait
progressivement au fonctionnement de l’Égypte. Ce fait historique
est illustré par le célèbre exemple de la Pierre de Rosette, décret de
196 avant J.-C., prononcé sous le règne ptoléméen, qui a été rédigé
en trois langues, le hiéroglyphe, le grec et le démotique.

Nonobstant une pratique antique de la traduction juridique,


les juristes s’interrogent sur la traduction du droit, bien avant
l’émergence même de la science juridique. Ainsi, le consul Cicéron
ne s’est-il pas intéressé à la question à l’occasion de l’écriture du
Libellus de optiomo genere oratorum ? Quelques siècles plus tard,
Justinien ne s’inquiétera-t-il pas de la manière de traduire en grec
le Iuris Corpus Civilis ? Deux visions différentes pour ces deux
hommes d’État, le premier préconisait de ne pas traduire « verbum
pro verbo », c’est-à-dire littéralement, et le second exigeait une
traduction Kota poda, c’est-à-dire mot-à-mot. Dès l’Antiquité traduire
le droit posait question.

1 L’auteur dans la note n° 49 précise qu’il ne s’agirait pas du tout premier traité égypto-hittite, le traité
dit « de Kouroushtama » aurait été conclu sous Thoutmosis III ou Amenhotep II.

SUMÁRIO 128
À compter du XXe siècle, juristes et linguistes s’intéressent
à l’analyse du langage juridique et leurs travaux mèneront aux
premières études en traduction juridique.

Au début du XXe siècle, alors que Ferdinand de Saussure posait


les jalons de la linguistique contemporaine (SAUSSURE, 1916), les
juristes ébauchaient une linguistique juridique (GÉNY, 1921, p. 448)2.
À partir des années 1950, débutent les premières théorisations de
la traductologie en partant des études en linguistique (VINAY et
DARBELNET ; CATFORD ; NIDA). Toutefois, en 1970, Georges Mounin
s’interroge déjà sur les liens susceptibles d’exister entre linguistique
générale et linguistique juridique (MOUNIN, 1974). Les travaux en
traductologie, érigés depuis les années 1970, laissent à penser que si le
problème de la traduction juridique existe, la solution doit également
exister (MILLIARESSI, 2011, p. 11)3. Au départ, la traduction juridique
est considérée comme une traduction technique, au même titre que
la traduction médicale, par exemple. Puis, à partir des années 1980,
certains traductologues reconnaissent sa spécificité, en la définissant
comme une traduction pragmatique4 ou spécialisée (BOCQUET,
1996 ; GÉMAR, 1990). À la fin du XXe siècle, la science juridique s’est
ouverte à la question pour des raisons principalement pratiques
liées à la confrontation des droits que provoquait la mondialisation.
La construction du droit international force les juristes à envisager
la traduction non plus comme un seul transfert entre deux langues,
mais également comme un transfert entre deux droits.

La double perspective, juridique et traductologique, de


la traduction du droit fait émerger un nouveau champ d’étude
interdisciplinaire désigné sous le nom de « juritraductologie » ou

2 L’expression « linguistique juridique » est employée pour la première fois par François Gény. Elle
sera ensuite reprise par Gérard Cornu comme titre de son ouvrage.
3 D’après l’auteure, le recours à l’interdisciplinarité serait l’une des voies de cette solution.
4 C’est-à-dire celle qui traite de textes politiques, juridiques, techniques et commerciaux.

SUMÁRIO 129
traductologie juridique (MONJEAN-DECAUDIN, 2012, p. 405)5. Après
avoir défini la juritraductologie (I), il conviendra de présenter les
principaux traits des deux piliers qui la composent : le droit de la
traduction et la traduction du droit (II).

I. DÉFINITION DE LA JURITRADUCTOLOGIE
Nouveau champ d’étude interdisciplinaire à la confluence du
droit, des langues et de la traduction, la juritraductologie puise ses
racines dans les sciences juridiques et dans les sciences du langage.
Elle consiste à « décrire, analyser et théoriser l’objet à traduire et
l’objet traduit, en tant qu’objet appartenant au droit et utilisé par le
droit »6. Voyons précisément en quoi consistent les deux segments
principaux de cette définition.

Le premier segment à expliciter est : « décrire, analyser


et théoriser l’objet à traduire et l’objet traduit ». Il constitue l’étape
préliminaire à toute activité théorique et pratique de traduction, que
l’on pourrait dénommée l’avant traduire. L’observation des termes, des
concepts et des énoncés du droit à traduire s’effectue à partir du droit
et de la langue sources. Le champ est vaste car tout type de termes,
de concepts, de textes, de discours peut constituer l’objet à traduire,
pourvu qu’il s’insère dans un contexte de droit. Il peut s’agir de tout
type de termes désignant des concepts juridiques, mais également
de tout segment de phrases extraits de supports écrits ou oraux.
Les textes juridiques se caractérisent par leur immense variété, tels
que par exemple des traités, des lois, des décisions de justice, des
conventions, des actes sous-seing privés, des actes authentiques,

5 V. le site du Cerije https://www.cerije.eu/axes-de-recherche/.


6 Cette définition emprunte en partie à la traductologie, Mathieu Guidère la définit comme la dis-
cipline qui analyse, décrit et théorise la traduction, à savoir l’objet à traduire, l’objet traduit mais
également l’opération de traduction c’est-à-dire son processus (GUIDÈRE, 2016, p. 14).

SUMÁRIO 130
des documents administratifs, des articles doctrinaux, etc. Toutefois
et au-delà de l’énoncé spécifique à traduire, c’est le droit tout entier
qui est soumis à l’acte de traduction. L’objet à traduire s’inscrit
inéluctablement dans une culture juridique (BOCQUET, 2008, p. 69).

Concrètement, l’ensemble des éléments pertinents de cet


objet doivent être identifiés. Par exemple, la lecture d’un testament
espagnol informe, non seulement, sur le droit civil de ce pays mais
conduit également à prendre en compte, le cas échéant, le droit du
for propre à certaines communautés autonomes7. Cela signifie que
certaines mentions à traduire prennent une dimension culturelle
supplémentaire qui ne peuvent échapper au traducteur8. Ce dernier,
à la lecture de l’objet à traduire, est immergé dans la culture juridique
du pays de rédaction de cet objet. À noter que cette culture est
propre à un État – et, partant, unique – à la différence de la langue
de rédaction qui, elle, peut être partagée par plusieurs pays. Par
exemple, un donneur d’ordre indique qu’il cherche un traducteur
dans une combinaison linguistique précise (anglais vers français,
espagnol vers allemand, etc.), cette première indication s’affine, dès
lors qu’il précise les droits source et cible concernés par la traduction
juridique. Par exemple, le texte à traduire relève de la langue anglaise
et du droit des États-Unis et devra être traduit en langue française et
en droit belge. Ou bien le texte en langue espagnole porte sur le droit
chilien et il est à traduire en langue allemande et en droit suisse.

En juritraductologie, l’identification de l’objet à traduire et de


l’objet traduit s’effectue également à partir d’une typologie des textes
et des traductions juridiques. La démarche est fonctionnaliste car la
traduction d’un texte juridique poursuit une finalité. L’on ne traduit
pas le droit pour l’esthétique, mais bien pour des raisons purement

7 Le droit du for basque, par exemple, énonce ses propres règles de transmission des biens du défunt.
8 La notion très particulière de la vecindad illustre la manière dont le droit du for apparait dans un
texte notarié : « Don XXX, vecino de San Sebastian, con domicilio en ... ».

SUMÁRIO 131
pragmatiques rendues nécessaires par un contexte juridique et pour
des besoins propres au droit. À la dimension téléologique s’ajoute
des préoccupations méthodologiques, à savoir la dynamique de
la traduction que l’on pourrait dénommer le pendant traduire. La
juritraductologie vise à proposer des méthodologies appropriées
afin d’accompagner, pas à pas, le processus de traduction de
termes et de concepts juridiques complexes. Dès lors, intervient la
dimension herméneutique de la traduction9 qui prend une acuité
particulière dans le domaine du droit car toute interprétation de
la part du traducteur risquerait d’interférer sur l’intention même
du juriste rédacteur et donc de mettre à mal les effets juridiques
escomptés. Sont convoquées les questions portant sur la qualité de
la traduction (MONJEAN-DECAUDIN, 2011, p. 99) et sur la littéralité,
malheureusement de rigueur dans les prétoires (MONJEAN-
DECAUDIN, 2012, p. 251). Enfin, l’étude porte sur le résultat final de
l’activité de traduction, à savoir de l’après traduire, et il appartient à
la juritraductologie d’analyser les critères pertinents de qualité qui
s’ajustent aux attendus des linguistes-traductologues et des juristes.

Le second segment à expliciter est : « en tant qu’objet


appartenant au droit et utilisé par le droit ». L’objet, qu’il soit à traduire
ou qu’il soit traduit, relève du droit au regard d’une double appartenance
: l’une est d’ordre linguistico-culturel, l’autre est d’ordre fonctionnel.

L’appartenance de l’objet est d’ordre linguistico-culturel dans le


sens où tout droit, quel qu’il soit, est rattaché à une culture juridique et
à une langue d’expression. Le mode d’énonciation du droit se fonde sur
un vocabulaire juridique et des discours du droit10. Les juristes adaptent

9 Sans entrer sur la discussion philosophique de l’illusion de la compréhension et de l’interprétation


menant quasi inéluctablement à la subjectivité de la traduction. La théorie herméneutique de
la traduction a été initiée par Schleiermacher et adoptée par la suite par Schlegel et Humboldt.
Gadamer souligne que “tout traducteur est interprète” (GADAMER, 1996, p. 409).
10 Pour reprendre la division opérée dans le plan de division de la linguistique juridique de Gérard
Cornu (CORNU, 1990).

SUMÁRIO 132
leur langue de spécialité aux besoins de leur droit (SACCO, 1999, p. 164).
Vocabulaire et discours juridiques appartiennent aux catégories ou
spécialités que les juristes établissent eux-mêmes. Le droit continental
opère la summa divisio en distinguant les domaines du droit public
et du droit privé, international ou national. Puis les spécialités du
droit national se répartissent, selon les systèmes juridiques, entre
diverses branches. Par exemple, la classification retenue par le droit
français distingue le droit constitutionnel, le droit administratif, le
droit pénal, le droit de la procédure, le droit fiscal, le droit civil, le droit
commercial, le droit du travail, etc. Des différences de classement
existent, toutefois, au sein d’une même famille de droit.

En outre, les énoncés du droit obéissent à des contraintes


relatives à leur mode de formation établi par chaque système
juridique. Selon les droits, un formalisme plus ou moins strict encadre
la rédaction des actes juridiques. Ce formalisme peut porter sur
divers éléments, comme entre autres la qualité de l’auteur du texte
(magistrat, notaire, avocat, etc.), la présentation formelle du texte
( jugement et sa structure tripartite, contrat de mariage, constat
d’huissier, etc.), les caractéristiques rédactionnelles des écrits
juridiques (la stylistique, le phrasé, la méthode argumentative, etc.)
avec l’emploi obligatoire de formules figées (« ceci est mon testament » ;
« dont acte » ; « formule exécutoire » ; etc.). Par exemple, un contrat
entre soit dans la catégorie des contrats consensuels, soit dans celle
des contrats solennels. Sur le plan du formalisme, les premiers sont
moins contraints que les seconds qui doivent respecter strictement
les règles prescrites au risque d’être invalidés. Ainsi, en France, un
testament peut revêtir la forme soit d’un acte authentique, à savoir
être rédigé par un notaire, soit d’un acte sous seing privé et dans ce
cas le testament est dit « olographe » car il est rédigé de la main du
testateur. Si l’objet à traduire appartient naturellement à un langage
juridique et répond à un formalisme rédactionnel, à l’issue du
processus de traduction l’objet traduit devra s’ajuster culturellement
à la langue et au droit cibles.

SUMÁRIO 133
L’appartenance de l’objet est d’ordre fonctionnel, dès lors
que le droit utilise le texte. Ce point est particulièrement important
en matière de traduction juridique, comme l’avaient relevé les
premiers juritraductologues (PELAGE ; ABDEL HADI ; BOCQUET).
Cela signifie qu’il n’est pas nécessaire que l’objet soit exprimé dans
le langage juridique pour qu’il appartienne au droit. Dès lors qu’il
présente des effets juridiques, l’objet à traduire ou l’objet traduit entre
dans le champ d’analyse de la juritraductologie. La juritraductologie
française qualifie de juridique toute traduction qui concourt à la
réalisation du droit, y inclus celle qui porte sur des objets à traduire
et des objets traduits ne contenant aucun terme d’appartenance
juridique11. Dans ce cas, l’on peut dire que ces objets, sans affiliation
directe avec le droit, ne présentent pas une appartenance d’ordre
linguistico-culturel mais une appartenance d’ordre fonctionnel
puisqu’ils répondent à des besoins propres au droit. En l’absence de
terme d’appartenance juridique, seuls comptent les effets juridiques
conférés à la traduction de tout type d’énoncé. Cette spécificité
fait la particularité de la traduction juridique, au regard des autres
types de traductions spécialisées. Dès lors que l’objet à traduire
ou traduit contribue à la réalisation du droit, autrement dit qu’il est
porteur d’effets juridiques, il appartient au domaine du droit et entre
automatiquement dans le champ d’étude de la juritraductologie,
quelle que soit la forme linguistique adoptée pour son énonciation.

Finalement, « décrire, analyser et théoriser l’objet à traduire


et l’objet traduit en tant qu’objet appartenant au droit et utilisé par le
droit » consiste à situer logiquement et justement le champ de l’étude
sur la traduction juridique et à admettre la réalité de sa spécificité et
de sa fonctionnalité. Cela constitue le point de levier entre les deux
piliers sur lesquels s’érige la juritraductologie : le droit de la traduction
et la traduction du droit.

11 Contrairement aux études menées par les Legal Translation Studies qui ne portent que sur les
textes contenant des termes juridiques et écartent systématiquement les textes ayant des effets
juridiques (PRIETO RAMOS, 2014).

SUMÁRIO 134
II. LE DROIT DE LA TRADUCTION
ET LA TRADUCTION DU DROIT
L’originalité de la juritraductologie tient à son caractère à la fois
inédit et innovant la distinguant du reste des études en traductologie
juridique. Les analyses croisées qu’elle conduit reposent conjointement
sur deux disciplines mères : les sciences juridiques et les sciences du
langage. Comme l’illustre la figure ci-dessous, chaque science joue
pleinement son rôle en abreuvant la réflexion juritraductologique.

Tableau élaboré par Sylvie Monjean Decaudin

Les sciences juridiques apportent un cadre d’analyse en droit


de la traduction et la branche du droit comparé assure la jonction
entre les sciences juridiques et les sciences du langage. Il fournit
une approche utile à un double titre. D’une part, le droit comparé
soulève des problématiques pour la comparaison des droits qui
sont, en partie, similaires à celles que posent la traduction des droits.
D’autre part, le droit comparé offre une méthodologie qui participe
au processus de la traduction du droit, en général, et de la traduction

SUMÁRIO 135
des concepts complexes, en particulier, à l’instar de la linguistique
juridique qui concourt au cadre de réflexion sur la traduction du droit
et à sa réalisation (CORNU, 1990, p. 210). Ces outils, supplémentaires
et complémentaires, viennent en appui des apports théoriques et
pratiques de la traductologie.

La juritraductologie fondée sur ces deux disciplines mères


revient à articuler son étude autour de deux piliers le droit de la
traduction à la traduction du droit.

LE PREMIER PILIER :
LE DROIT DE LA TRADUCTION
Le droit de la traduction est formé de l’ensemble des
normes qui prescrivent et régissent la traduction, il a été mis au jour
par des juristes au début du XXIe siècle (RELMY, 2007 ; CORNU
et MOREAU, 2011).

La mondialisation a fait croitre les besoins de traduction à


tous les niveaux. Sur le plan institutionnel, la traduction est de plus
en plus le canal emprunté pour la production, la connaissance et la
compréhension de la norme internationale et nationale. La circulation
des personnes, physiques et morales, entre les pays s’accroit pour
de multiples raisons. La délinquance s’organise également à l’échelle
de plusieurs États, obligeant ces derniers à mettre en place une
coopération judiciaire internationale efficiente. Dès lors, la traduction
devient un acte incontournable. De même, sur le plan personnel,
la traduction s’avère de plus en plus nécessaire afin de faire valoir
ses droits dans un État dont on n’est pas ressortissant. L’exercice
de ce droit individuel est, dans certains cas, reconnu comme
un droit fondamental.

SUMÁRIO 136
De ce besoin croissant de traductions découle une inflation
des normes internationales et nationales régissant la traduction.
Ces dispositions normatives touchent toutes les branches du droit :
les procédure pénale, civile, administrative et fiscale, le droit fiscal,
le droit des marchés financiers, le droit commercial, le droit de la
consommation, le droit des assurances, le droit douanier, le droit de
l’industrie cinématographique, le droit de la communication, le droit
de la propriété intellectuelle, le droit rural, le droit de la santé publique,
le droit de la sécurité sociale, le droit de la mutualité, le droit du travail,
le droit pénal, la procédure militaire et le droit des étrangers. Cet
arsenal de normes s’explique par la nécessité d’utiliser la traduction
principalement pour l’énonciation du droit et sa réalisation, mais
également pour le fonctionnement des administrations et le respect
des droits linguistiques12.

À l’instar de la linguistique juridique, qui ne se conçoit pas


sans l’étude du droit du langage (CORNU, 1990, p. 17 ; GUILLOREL et
KOUBI, p. 22), la juritraductologie ne peut se concevoir sans l’étude
du droit de la traduction, vecteur causal de la traduction du droit13.
C’est, principalement, parce qu’il existe un lien de causalité entre la
règle de droit et l’acte de traduire que l’étude du droit de la traduction
ne va pas sans celle de la traduction du droit.

LE DEUXIÈME PILIER :
LA TRADUCTION DU DROIT
La traduction du droit ou la traduction juridique a fait l’objet
d’études scientifiques séparées en traductologie et en droit comparé.

12 Sur le droit fondamental à l’assistance linguistique, v. SMD l’EU consacre le DALAL.


13 Une différence fondamentale avec les Legal Translation Studies (PRIETO RAMOS, 2014).

SUMÁRIO 137
Lorsque la traductologie s’intéresse à la traduction juridique,
elle la classe dans l’étude des textes dits « technico-scientifiques ».
Puis, elle l’inclut dans la dénomination hyperonyme de « traduction
pragmatique » ou « traduction spécialisée » caractérisant, de
manière consensuelle, toute traduction de textes non littéraires. Sous
ce large spectre, vont se poser la question du comment traduire les
textes relevant des sciences dures, comme la traduction médicale,
des sciences techniques ou technologiques, comme les textes
d’ingénierie, ainsi que les textes appartenant au domaine du droit
ou de l’économie. La question principale porte sur le lexique et la
terminologie objet de la traduction de ces langues de spécialité.

Une nouvelle théorie initiée en Allemagne par Hans Vermeer


à la fin des années 1970 va ouvrir la voie à de nouvelles théories
(VERMEER, 1978 ; VERMEER et REISS, 1984). La théorie du skopos
s’inscrit dans le même cadre épistémologique que la théorie
actionnelle de la traduction, en ce sens qu’elle s’intéresse avant
tout aux textes pragmatiques et à leurs fonctions dans la culture
cible14. L’originalité à l’époque a consisté à montrer que le but ou la
finalité du texte (informatif, expressif, opérationnel) dans la culture
cible déterminait les choix et les décisions du traducteur. S’ouvrir à la
fonction même du texte traduit marque une étape fondamentale dans
l’étude de la traduction juridique, même si la théorie du skopos n’avait
pas été conçue spécifiquement pour ce domaine de spécialité. La
juritraductologie propose une classification des traductions selon les
fonctions qu’elles remplissent (MONJEAN-DECAUDIN, 2016, p. 194).

A partir des années 1980, la recherche sur la traduction


juridique prend un tournant décisif. Les théories élaborées pour la

14 La traduction est envisagée comme une activité humaine particulière (le transfert symbolique),
ayant une finalité précise (le skopos) et un produit final qui lui est spécifique (le translatum ou
le translat).

SUMÁRIO 138
traduction des textes pragmatiques servent, de par leur approche
téléologique, de point de départ à l’analyse de la traduction juridique.
En droit comparé, les juristes témoignent de plus en plus d’intérêt pour
la traduction du droit, qu’ils considéraient auparavant comme une
simple opération inter linguistique. Les études universitaires émergent
progressivement pour puiser dans des savoirs exogènes mêlant analyses
philosophiques, herméneutiques, téléologiques, anthropologiques,
méthodologiques, etc. (MONJEAN-DECAUDIN, 2012, p. 308).

Sur le plan pragmatique, la juritraductologie élabore ses


propres outils conceptuels lui permettant une analyse spécifique des
contextes de traduction et de ses enjeux. À partir des textes produits
par la science juridique ou par les praticiens du droit, elle établit
par une démarche téléologique des catégories et des typologies
empruntées au droit et à la linguistique. La prise en compte des
branches et des discours du droit révèle les spécificités des
traductions et détermine le processus juritraductionnel. Cela conduit
également à mettre en relief les effets juridiques qu’entraînent le texte
source et sa traduction, de façon conjointe ou séparée, immédiate ou
différée. La juritraductologie propose des solutions méthodologiques
en vue d’améliorer la qualité des traductions. Pour ce faire, elle
utilise les outils de la traductologie qu’elle combine aux méthodes
du droit comparé. La comparaison des droits est omniprésente dans
le processus de traduction, depuis l’analyse du texte source jusqu’à
la finalisation de l’opération. Le droit comparé est per se porteur
de solutions de traduction même face à des concepts juridiques
considérés comme intraduisibles (MONJEAN-DECAUDIN, 2019).
La juritraductologie prend également en considération l’ensemble
des prescriptions du droit et leurs éventuelles conséquences sur les
modes mêmes de traduction (MONJEAN-DECAUDIN, 2012, p. 410).
Les actions lexicales que le droit exerce sur la traduction peuvent
conduire à l’introduction dans le droit cible d’emprunts, de calques
issus du droit source, voire de néologismes (SACCO, 1999, p. 177).
Enfin, les théories et méthodes avancées sont enseignées dans le

SUMÁRIO 139
cadre de la formation initiale et continue. La traduction juridique
pose des difficultés méthodologiques et la traductologie peine à
les expliquer et à les surmonter. La théorie nourrit peu la pratique et
les professionnels sont trop souvent livrés à eux-mêmes sans cadre
clairement défini15.

En conclusion, il convient de souligner que la juritraductologie


ne propose pas une analyse du droit de la traduction et de la traduction
du droit par juxtaposition. Chaque pilier ne peut se concevoir sans
l’articulation qu’il établit avec l’autre. Si une disposition législative
impose la traduction dans le cadre judiciaire, par exemple pour
assister le justiciable allophone c’est le droit de la traduction qui est
activé. Le travail qui s’ensuivra relève naturellement de la traduction du
droit auquel est associé le processus du droit comparé, arque-bouté
entre droit de la traduction et traduction du droit. Enfin, la validation
de la qualité de la traduction qui sera faite in fine par le juge renvoie
de nouveau vers le droit de la traduction. Par ce jeu de va-et-vient
s’instaure une interaction symbiotique entre le droit de la traduction
et la traduction du droit que seule l’approche juritraductologique
peut mettre en exergue.

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SUMÁRIO 142
9
Rafael Fernandes de Mesquita

ÉCONOMIE CIRCULAIRE :
UNE ANALYSE DES MÉTRIQUES DE PRODUCTION
ET DE DIFFUSION DES CONNAISSANCES
CIRCULAR ECONOMY :
AN ANALYSIS OF KNOWLEDGE PRODUCTION
AND DIFFUSION METRICS

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.9
RÉSUMÉ
L’économie circulaire apparaît comme un modèle alternatif qui cherche
à utiliser efficacement les ressources naturelles pour parvenir à un
développement durable. Cependant, reconnaissant le manque d’analyses
bibliométriques sur le sujet, cet article a cherché à analyser les preuves
scientifiques liées à l’économie circulaire, en utilisant la base de données
Scientific Electronic Library Online (SciELO) indexée sur le Web of ScienceTM.
En conséquence, il a été identifié que ce sujet est encore émergent,
manquant de recherche connexe majeure, mais encore avec un grand
potentiel de développement. Comme contribution principale, cet article
propose un programme pour les recherches futures.
Mots clés : économie circulaire ; bibliométrie ; preuve scientifique ;
la recherche future.

SUMÁRIO 144
ABSTRACT
The circular economy emerges as an alternative model that seeks to use
natural resources efficiently to achieve sustainable development. However,
recognizing the lack of bibliometric analyzes on the subject, this article
sought to analyze the scientific evidence related to the circular economy,
using the Scientific Electronic Library Online (SciELO) database indexed
on the Web of ScienceTM. As a result, it was identified that this topic is still
emerging, lacking major related research, but still with great potential for
development. As a main contribution, this article provides an agenda for
future research.
Keywords: circular economy; bibliometrics; scientific evidence; future research.

SUMÁRIO 145
INTRODUCTION
Le contexte des économies mondiales est celui de la rareté des
matières premières, avec des facteurs aggravants liés aux problèmes
environnementaux, il est donc nécessaire d’utiliser les ressources
plus efficacement, de réduire les déchets et de contribuer de manière
plus durable (VALENÇAS, 2019). Dans ce contexte, l’économie
circulaire apparaît comme une alternative capable de répondre à ce
besoin d’utiliser efficacement les ressources naturelles. Le modèle
linéaire actuel est à sa limite, rendant indispensable l’adoption d’une
économie basée sur la réduction, la réutilisation, la restauration et la
régénération des ressources en cycle fermé (SILVA, 2019).

Au vu de ces enjeux, l’économie circulaire a gagné en évidence


auprès des législateurs et dans le domaine universitaire, étant de plus
en plus pertinente dans le scénario international (GEISSDOERFER
et al., 2017). Par conséquent, réalisant également le manque d’analyses
bibliométriques sur le sujet, cette recherche comblera cette lacune en
analysant les publications trouvées dans la base de données Scielo
indexée dans le Web of Science. Ainsi, l’objectif de cet article est
d’analyser les preuves scientifiques liées à l’économie circulaire.

Cet article est organisé comme suit : cette première section a traité
des premières considérations sur le sujet, présentant l’objectif de cette
étude ; la deuxième section passe en revue la littérature sur l’économie
circulaire, connaissant l’état de l’art du sujet ; la troisième section précise les
techniques méthodologiques employées ; la quatrième section présente
et discute les résultats ; enfin, la cinquième et dernière section rappelle les
conclusions, mettant en évidence les apports à la littérature.

SUMÁRIO 146
CONSIDÉRATIONS
D’ÉCONOMIE CIRCULAIRE
La préoccupation pour la durabilité est croissante, étant de
plus en plus intégrée dans les agendas des législateurs et les stratégies
des entreprises. En ce sens, la durabilité peut être considérée comme
une situation dans laquelle l’activité humaine est menée de manière à
préserver les fonctions des écosystèmes terrestres, donc un mode de
vie humain basé sur l’optimisation des conditions de vie, soutenant en
permanence la sécurité, le bien-être et la santé, c’est-à-dire qu’elle valorise
la pérennité de toutes les formes de vie (GEISSDOERFER et al., 2017).

La Commission Brundtland en 1987 a fourni un document


important pour l’avancement du développement durable, dans ce rapport
le concept de durabilité le plus communément accepté est présenté :
« Le développement durable est, par essence, un développement qui
répond aux besoins du présent sans compromettre la capacité de
générations futures pour répondre à leurs propres besoins » (KEEBLE,
1988, p. 5). Depuis lors, les préoccupations environnementales ont
été des thèmes fréquents dans les conventions du monde entier, et
l’humanité a commencé à rechercher le développement durable dans
différents scénarios.

Un autre concept pertinent pour la diffusion du développement


durable est ce que l’on appelle le triple bottom line défini par Elkington
(2001). Dans cette compréhension, la durabilité repose sur trois piliers
principaux : les personnes, le profit et la planète. Autrement dit, la
durabilité se situe dans l’équilibre entre les sphères sociale, économique
et environnementale. Ces trois sphères sont systématiquement
connectées, agissant comme des piliers interdépendants avec une
grande adaptabilité à différents contextes (ELKINGTON, 2001).

SUMÁRIO 147
À la suite de la discussion sur le développement durable,
de nouvelles façons de penser l’économie ont émergé, y compris
l’économie circulaire. Ce modèle économique trouve son origine
dans les recherches de Boulding (1966), dans lesquelles l’auteur
décrit la planète comme un système fermé et cyclique avec une
capacité d’assimilation limitée. Par conséquent, Boulding (1966) a
conclu que l’économie et l’environnement sont des systèmes qui
doivent coexister en harmonie et en équilibre. Par ailleurs, Pearce
et Turner (1990), inspirés par ce principe, ont mené une enquête sur
les caractéristiques linéaires et ouvertes des systèmes économiques
contemporains, initiant ainsi une réflexion sur les processus de
production et de consommation et leurs résidus respectifs, fondement
de l’économie circulaire.

Dans la perspective contemporaine, le concept le plus accepté


d’économie circulaire est : « une économie industrielle restauratrice
ou régénératrice par intention et par conception » (MACARTHUR,
2013, p. 14). Corroborant cette idée, Webster (2015, p. 16) ajoute :
« une économie circulaire est une économie qui a une conception
réparatrice et vise à maintenir les produits, les composants et les
matériaux à leur plus haute utilité et valeur, à tout moment ». Par
conséquent, l’économie circulaire se concentre sur la réutilisation
des ressources et la minimisation des déchets, cherchant à ajouter
de la valeur tout au long du cycle de production, et donc à réduire
l’impact environnemental causé.

Geissdoerfer et al. (2017) propose encore un autre concept


d’économie circulaire, cherchant à intégrer les différentes perspectives
présentées par la littérature sur le sujet :
“[...] Nous définissons l’économie circulaire comme un
système régénérateur dans lequel l’apport de ressources
et les déchets, les émissions et les fuites d’énergie sont
minimisés en ralentissant, fermant et rétrécissant les
boucles de matériaux et d’énergie”. (GEISSDOERFER
et al., 2017, p. 3).

SUMÁRIO 148
Ainsi, malgré l’économie circulaire et la durabilité répondant aux
problèmes environnementaux, économiques et sociaux, l’économie
circulaire pointe toujours vers des éléments non couverts par la
durabilité, visant à renforcer davantage les pratiques durables des
entreprises (TIOSSI ; SIMON, 2021). Selon Leitão (2015), l’économie
circulaire encourage de nouvelles pratiques de gestion et ouvre de
nouvelles opportunités de création de valeur pour les organisations
qui vivent en harmonie avec l’environnement. Pour l’auteur, l’économie
circulaire en tant que source d’innovation dans les produits, les
procédés et les modèles économiques, permet le recyclage des déchets
pour réduire la demande en ressources naturelles, par conséquent,
ce nouveau paradigme de développement durable apporte une
perspective de levier pour les entreprises, permettant des avantages
concurrentiels dans un marché mondial dynamique, ainsi qu’une base
solide et une dynamique de croissance future (LEITÃO, 2015).

PROCÉDURES MÉTHODOLOGIQUES
Pour atteindre l’objectif visé, une recherche bibliométrique a
été réalisée, il s’agit donc d’une recherche quantitative et qualitative,
dans laquelle nous avons cherché à analyser les publications sur
l’économie circulaire présentes dans la base de données Scientific
Electronic Library Online (SciELO) indexée sur le Web de ScienceTM.
Cette base de données a été choisie compte tenu de sa pertinence
dans le contexte de l’Amérique latine. Comme critères de recherche,
les mots utilisés étaient : « économie circulaire* » ou « économie
circulaire* ». 51 articles ont été trouvés lors de la recherche.

Après avoir sélectionné les articles à analyser, le logiciel


HistCite a été utilisé afin d’observer des métriques, telles que les
auteurs et les pays qui publient le plus sur le sujet, les institutions
des auteurs, les articles les plus cités et les mots-clés les plus
récurrents. Pour l’analyse des éléments textuels, le logiciel VosViewer
a été utilisé, en observant les termes les plus courants et en créant

SUMÁRIO 149
une carte des clusters avec les relations les plus pertinentes dans la
discussion sur l’économie circulaire. Enfin, cette étude synthétise les
principales pistes de recherches futures présentes dans les articles
sélectionnés, dans le but de faire avancer le débat sur l’économie
circulaire en pointant encore des lacunes théoriques potentielles.

RÉSULTATS ET DISCUSSION
Sur les 51 articles trouvés et sélectionnés pour l’analyse finale,
14 d’entre eux ont été publiés en 2018, soit le pic des publications. Cette
analyse n’a pas tenu compte des limites de période des publications,
c’est-à-dire qu’elle englobe toutes les publications de toutes les
années présentes dans la base de données sélectionnée. Cependant,
la première publication utilisant le terme « économie circulaire » n’a
été trouvée qu’en 2017 avec l’article « L’économie circulaire comme
facteur de responsabilité sociale », dans lequel les auteurs analysent
l’émergence de l’économie circulaire comme modèle émergent
d’économie verte. et ses contributions à l’environnement (GONZÁLEZ
ORDAZ ; VARGAS-HERNÁNDEZ, 2017). La figure 01 ci-dessous montre
l’évolution de la production au fil des années.

Figure 1 - Évolution des publications sur l’économie circulaire

Source : Préparé par l’auteur, basé sur des données de recherche extraites du logiciel HistCite (2022).

SUMÁRIO 150
On constate qu’après 2017, la production sur l’économie
circulaire a été dynamisée, et la production scientifique s’est intensifiée,
maintenant une moyenne de 12 articles par an après l’année initiale.

En ce qui concerne les publications par pays, celles qui ont plus
de deux publications sont mises en évidence ci-dessous. Ainsi, on note
une prédominance des articles dans la région sud-américaine avec le
Brésil et la Colombie, tant en nombre d’articles qu’en nombre de citations.

Tableau 1 - Pays avec le plus grand nombre de publications


Pays Nombre d’articles Citations
Brésil 12 3
Colombie 10 2
Mexique 6 0
le Portugal 5 0
Afrique du Sud 5 0
Chili 4 2
Espagne 3 1
Source : Préparé par l’auteur, basé sur des données de recherche extraites du logiciel HistCite (2022).

Parmi les pays analysés dans l’indice de performance


environnementale (EPI) 2020 (Environmental Performance Index, EPI) -
qui présente un résumé des performances environnementales basé sur
des données sur l’état de la durabilité dans le monde - seule l’Espagne
figure parmi les 20 premiers pays, se classant en 14e position. Alors
que les pays qui publient le plus sur le sujet, le Brésil et la Colombie,
sont respectivement à la 55e et 50e place (WENDLING et al., 2020).
Par conséquent, il est clair que même avec des pratiques plus actives
visant la durabilité, cela ne se reflète pas dans les publications
universitaires, l’inverse est également vrai, dans le cas du Brésil et de la
Colombie, qui ont présenté plus de recherches, mais cela ne se reflète
pas dans les publications gouvernementales et actions sociales.

SUMÁRIO 151
En ce qui concerne les auteurs, ceux qui ont plus d’une
publication ou avec deux citations ou plus de leur travail se
distinguent. En observant le faible nombre de publications et de
citations, il est clair qu’il s’agit encore d’un thème émergent et qu’il y
a peu de liens entre les auteurs.

Tableau 2 - Auteurs avec le plus grand nombre de publications


# Auteurs Publications Citations
1 França, Sergio Luiz Braga 2 0
2 Oliveira, Fábio Ribeiro de 2 0
3 Rangel, Luís Alberto Duncan 2 0
4 Titova, Natalya Yu 2 0
5 Silva, Karine Liotino da 1 2
6 Karam, Junior Dib 1 2
7 Amaral, Mariana Correa do 1 2
8 Amato, Neto João 1 2
9 Zonatti, Welton Fernando 1 2
10 Baruque-Ramos, Julia 1 2
Source: Préparé par l’auteur, basé sur des données de recherche extraites du logiciel HistCite (2022).

Le tableau 3 ci-dessous met en évidence les dix articles


les plus cités liés à l’économie circulaire. L’étude de cas menée par
Amaral et al. (2018) se présente comme l’article le plus cité, ses
auteurs sont représentés dans le tableau précédent de la position 5
à 10. L’étude a présenté un aperçu de l’industrie brésilienne du textile
et de l’habillement, mettant en évidence les processus de recyclage
et de réutilisation mécanique et chimique. De cette façon, les auteurs
font des réflexions sur l’économie circulaire, en les corrélant avec
les principaux facteurs et obstacles impliqués dans l’exploitation
industrielle du recyclage textile (AMARAL et al., 2018).

SUMÁRIO 152
Tableau 3 - Ouvrages les plus cités

Source : Préparé par l’auteur, basé sur des données de recherche extraites du logiciel HistCite (2022).

SUMÁRIO 153
Tous les neuf autres articles avaient une citation chacun, ceux-ci
étant seulement les dix ouvrages qui avaient des citations. Rengifo et al.
(2018) ont cherché à analyser les implications environnementales de la
génération de déchets d’équipements électriques et électroniques, et
présentent ainsi deux alternatives, dont l’une est d’utiliser des stratégies
basées sur l’économie circulaire. Céspedes et al. (2018) étudient,
à travers des tests de laboratoire robustes, un composé d’engrais
organique qui peut fournir des nutriments, de la matière organique, de
l’humidité et des micro-organismes bénéfiques à l’agroécosystème, en
utilisant une approche basée sur l’économie circulaire pour rechercher
l’optimisation de ce composé.

Redondo et al. (2018), dans une recherche similaire à celle de


Céspedes et al. (2018) présentent un modèle d’évaluation des stratégies
de gestion des déchets d’équipements électriques et électroniques
(DEEE), qui est un modèle utile pour évaluer les stratégies de gestion
des déchets dans différents scénarios. González et Cortés (2018) ont
réalisé une revue bibliographique sur les expériences internationales
d’exploration d’une tendance à l’économie circulaire en relation avec
les gobelets jetables, comparant et mettant en relation les trois lignes
du modèle circulaire.

Valenzuela-Inostroza et al. (2019) conçoivent un réseau de


logistique inverse pour les plastiques contaminés par le pétrole, cherchant
à minimiser les coûts et à le rendre plus attractif financièrement, apportant
ainsi une contribution importante à la réalisation de l’économie circulaire
dans l’industrie. Gomez-Rubiera et al. (2019) ont étudié l’interrelation
entre la mise en place de deux mesures de réduction d’énergie, afin que,
suivant les critères de l’économie circulaire, elle équilibre la demande
en ressources et réduise ses impacts sur l’environnement. Moreno-
Miranda et al. (2020) ont analysé les aspects socio-économiques et
productifs pour comprendre la dynamique de la chaîne des baies incas,
en introduisant un dimensionnement vertical et horizontal, contribuant
ainsi à l’évaluation du rendement productif.

SUMÁRIO 154
Severino-González et al. (2021) ont exploré les pratiques de
consommation durable socialement responsables chez les étudiants
de l’enseignement supérieur de la ville de Talca, au Chili. Selon les
auteurs, la perception des étudiants universitaires est en construction
et leurs approches constituent la base des approches dans différentes
disciplines. Enfin, Fernandes et al. (2021), à travers une étude de cas
d’une entreprise basée sur les principes de l’économie circulaire,
cherchent à comprendre comment des modèles d’affaires durables
peuvent être cocréés dans des contextes difficiles.

Ainsi, on constate que les travaux cités abordent majoritairement


des aspects de l’économie circulaire en termes pratiques, qu’ils soient
appliqués à des organisations ou à des techniques spécifiques.

Tableau 4 - Les 10 termes les plus pertinents


Les 10 termes les plus pertinents
# Termes Occurrence Pertinence
1 Water 9 2.24
2 Value 11 2.00
3 Sustainability 9 1.34
4 Recycling 7 1.25
5 Sustainable Development 8 1.16
6 Technology 8 1.05
7 Strategy 11 1.00
8 Environment 12 0.99
9 Alternative 14 0.80
10 Economy 13 0.67
Source : Préparé par l’auteur, basé sur des données de recherche extraites du logiciel VOSviewer (2022).

SUMÁRIO 155
Le tableau 4 ci-dessus met en évidence les termes les
plus utilisés et les plus pertinents parmi les articles sélectionnés.
Le mot le plus pertinent était « water », représentant l’applicabilité
de l’économie circulaire dans différents contextes, en l’occurrence,
dans les usages liés à l’eau. « Value » était le deuxième mot le plus
important, démontrant l’un des piliers de l’économie circulaire,
l’accent mis sur la création de valeur. “Sustainability”, “Recycling” et
“Sustainable Development” reflètent la dimension environnementale
de l’économie circulaire visant à faire progresser le développement
durable. Le septième mot le plus représentatif est «Technology»,
démontrant l’un des aspects les plus actuels du thème, dans lequel
la technologie est utilisée pour développer de nouvelles alternatives.
“Environment”, “Alternative” et “Economy” sont les trois derniers
termes les plus pertinents, soulignant le lien entre l’économie
circulaire et l’environnement.

À l’aide du logiciel VOSviewer, une carte de mots et de clusters


a été créée à partir des publications sélectionnées. Les clusters sont
des regroupements de termes qui indiquent l’existence d’un lien fort
entre les termes actuels, les regroupant dans la même discussion.
Ainsi, ces regroupements peuvent être compris comme des tendances
de recherche liées à la gouvernance dans les villes intelligentes. Par
conséquent, la carte des mots met en évidence les principaux termes
impliqués dans les études. 1 672 termes ont été identifiés et l’analyse
a pris en compte les termes répétés au moins 5 fois, en réduisant
les 43 termes les plus pertinents. De plus, les éléments de nature
exclusivement scientifique ont été exclus, tels que : data, application,
theory, author, abstract, research, article, paper, study, type, analysis,
model et methodology. Dans la figure 2 ci-dessous, il y a la carte des
mots sélectionnés, séparés par des clusters.

SUMÁRIO 156
Figure 2 - Carte des clusters mettant en évidence la relation des éléments
de l’économie circulaire

Source : Préparé par l’auteur, basé sur des données de recherche extraites du logiciel VOSviewer (2022).

Pour souligner la relation entre les clusters, le tableau 5 ci-dessous


répertorie les regroupements et les éléments appartenant à chaque cluster.

Tableau 5 - Liste de Clusters


Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3
Économie Circulaire (circular economy) Entreprise (Company) Action (Action)
Économie (economy) Concept (Concept) Alternative (Alternative)
Principe (Principle) Environnement (Environment) Effet (Effect)
Processus (Process) Économie Verte (Green Economy) Génération (Generation)
Production (Production) Exécution (Implementation) Technologie (Technology)
Service (Service) Recyclage (Recycling) Traitement (Treatment)
Parties prenantes (stakeholders) Stratégie (Strategy) Utilisation (Use)
Durabilité (Sustainability) Développement Durable Gaspillage (Waste)
(Sustainable Development)
Valeur (Value)
Eau (Water)
Source : Préparé par l’auteur, basé sur des données de recherche extraites du logiciel VOSviewer (2022).

SUMÁRIO 157
Le cluster 1 a le plus grand nombre de termes, représentant
les articles qui traitent du core de l’économie circulaire, abordant
des sujets liés à l’application des principes du thème dans les
zones de production, cherchant à générer de la valeur. Le cluster 2
présente d’autres éléments de l’économie circulaire, plus axés sur
l’environnement, traitant de sujets liés au recyclage, à l’économie
verte et à la promotion du développement durable. Le cluster 3
répertorie les aspects techniques du sujet, tels que la mise en œuvre
des technologies, l’utilisation et le gaspillage des ressources, ainsi que
l’économie circulaire comme alternative aux approches traditionnelles.

PROGRAMME DE RECHERCHE FUTUR


Dans cette section, on a tenté de mettre en évidence un
agenda de recherche, en analysant les articles sélectionnés dans les
étapes précédentes et en présentant les lacunes existantes sur le
sujet. En ce sens, il convient de noter qu’il s’agit d’un sujet encore
peu exploré dans le contexte brésilien, ainsi, davantage d’études de
cas dans lesquelles les concepts de l’économie circulaire seraient
appliqués seraient bénéfiques à la littérature. De plus, Rengifo
et al. (2018) soulignent la nécessité d’analyses approfondies dans
le contexte généré par le métabolisme urbain des DEEE, thème
qui doit être travaillé à partir de nouvelles approches techniques,
politiques, éducatives et sociales, diffusant de futurs champs d’action
stratégiques dans la gestion de ces déchets.

Peu d’études ont été menées afin de créer des modèles liés
à la logistique inverse, par conséquent, il est suggéré la nécessité
d’établir de nouvelles variables pour les recherches futures dans ce
domaine, en cherchant à concevoir des modèles plus rentables et
attractifs pour les parties prenantes (stakeholders). Il est toujours
recommandé d’utiliser des indicateurs qui intègrent la durabilité dans

SUMÁRIO 158
les dimensions environnementales et institutionnelles, visant ainsi à
mettre en œuvre des modèles de chaînes de production circulaires.

En plus de se concentrer sur les aspects productifs, la littérature


sur l’économie circulaire bénéficierait d’études dans des institutions
non industrielles, telles que des établissements d’enseignement ou
des organisations publiques, utilisant des stratégies d’économie
circulaire pour concevoir des modèles éducatifs ou des publics
inclusifs, articulant les demandes de différents acteurs. De plus, des
analyses comparatives entre des cas de différentes organisations
peuvent fournir des informations importantes pour la littérature,
surtout si elles sont équivalentes à des approches multidisciplinaires,
compte tenu de ce caractère polyvalent de l’économie circulaire.

CONCLUSION
L’objectif de ce travail était d’analyser les preuves scientifiques
liées à l’économie circulaire, en utilisant une approche bibliométrique.
Avec cela, en vérifiant la base de données Scielo, il a été possible de
percevoir qu’il s’agit d’un thème émergent, encore peu exploré par
la littérature académique, mais avec un grand potentiel, et peut être
appliqué dans différents contextes.

Par conséquent, la principale contribution académique de


cet article est la présentation d’un aperçu de l’économie circulaire,
ainsi que la divulgation d’un agenda pour les recherches futures dans
le domaine étudié. Cette étude offre également des contributions
sociales, telles que les avantages que le thème peut apporter à la
société. De plus, des contributions managériales liées à l’utilisation
de stratégies basées sur l’économie circulaire comme alternatives
pour plusieurs entreprises peuvent être extraites.

SUMÁRIO 159
Comme limitation, seule l’analyse du terme « économie
circulaire » est présentée dans une seule base de données, par
conséquent, différentes bases de données peuvent avoir plus ou
différentes publications dans le thème. Par conséquent, en plus des
suggestions de recherche présentées dans le sujet précédent, de
nouvelles revues bibliographiques ou bibliométriques sont également
suggérées qui peut incorporer d’autres bases de données, ou même
se concentrer sur des pays spécifiques, comme le Brésil.

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SUMÁRIO 161
10
Luiza Tavares da Motta
Alvaro Dickson Molinares Valencia

LE RÔLE DE LA CJUE DANS


L’INTERPRÉTATION JURIDIQUE
DU MULTILINGUISME DANS
L’UNION EUROPÉENN
THE ROLE OF THE CJEU IN THE LEGAL INTERPRETATION
OF MULTILINGUALISM IN THE EUROPEAN UNION

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.10
RÉSUMÉ
Cet article propose d’exposer le rôle de la CJUE face aux difficultés
linguistiques qui peuvent découler de l’interprétation des règles de l’Union
européenne dans cet effort pour faire respecter le multilinguisme. L’Union
européenne est une énorme machine chargée de produire et d’exécuter
des normes juridiques au sein des États membres afin qu’elle puisse non
seulement créer une union en termes juridiques, mais aussi en termes
d’application normative. L’Union européenne est une énorme machine
chargée de produire et d’exécuter des normes juridiques au sein des États
membres afin qu’elle puisse non seulement créer une union en termes
juridiques, mais aussi en termes d’application normative. Cependant,
les normes européennes peuvent parfois présenter certaines difficultés
quant à leur interprétation correcte : il se peut que la formulation ne
soit pas assez claire et présente des ambiguïtés pouvant conduire à
une mauvaise application. Il est possible qu’une large réglementation
européenne conduise à des problèmes d’interprétation lorsque les
versions linguistiques des arrêts ne représentent pas nécessairement un
équivalent juridique dans la langue cible à traduire.
Mots clés : interprétation juridique ; CJUE ; multilinguisme ; Union européenne ;
juritraductologie.

SUMÁRIO 163
ABSTRACT:
Thus, this article aims to expose the role of the CJEU in the face of linguistic
difficulties that may arise from the interpretation of European Union norms in
this effort to enforce multilingualism. The European Union is a huge machine
in charge of the production and enforcement of legal rules within the
Member States so that it can create a union not only in legal terms but also
in terms of enforcement. The European Union is a huge machine producing
and implementing legal rules within the Member States so that it can create
a union not only in legal terms but also in terms of enforcement. However,
European norms can sometimes present certain difficulties regarding their
correct interpretation: the wording may not be clear enough and may
present ambiguities that can lead to incorrect application. It is possible
that broad European standards may lead to interpretation problems when
the language versions of judgments do not necessarily represent a legal
equivalent in the target language to be translated.
Keywords: legal interpretation; CJEU; multilingualism; European Union;
juritradutology.

SUMÁRIO 164
INTRODUCTION
« Il convient de rappeler, tout d’abord, que les textes de
droit communautaire sont rédigés en plusieurs langues et
que les différentes versions linguistiques font également
foi ; dès lors, l’interprétation d’une disposition de droit
communautaire implique une comparaison des versions
linguistiques » (CJUE, CILFIT, 1982).

L’Union européenne est une énorme machine chargée


de produire et d’exécuter des normes juridiques au sein des États
membres afin qu’elle puisse non seulement créer une union en
termes juridiques, mais aussi en termes d’application normative. À
cette fin, l’Union s’appuie sur la tutelle de la Commission européenne1
qui, avec ses prérogatives, peut exercer un contrôle approfondi dans
les États membres de l’Union ainsi que dans d’autres organes de
l’Union. Les États membres sont donc tenus de veiller à ce que le
droit de l’Union soit correctement appliqué sur leur territoire. Cette
application obligatoire touche tous les organes de l’État, y compris
les juridictions internes des États lorsqu’elles sont confrontées à
l’application d’une règle de droit européen.

L’Union européenne a mis en place un système pour


promouvoir le multilinguisme non seulement dans ses documents
officiels, mais aussi comme une réalité lorsque dans ses documents
officiels toutes les informations doivent, a priori, être publiées dans
toutes les langues de l’Union.

L’Union européenne est une énorme machine chargée


de produire et d’exécuter des normes juridiques au sein des États

1 Si la Commission constate une incohérence dans l’exécution correcte des obligations juridiques
découlant de traités internationaux contraignants au sein de la même Union, la Commission peut
saisir la Cour de justice de l,’Union européenne, en lui présentant au moyen d’un mémoire écrit, les
informations pertinentes, afin que la Cour puisse ordonner les réparations nécessaires.

SUMÁRIO 165
membres afin qu’elle puisse non seulement créer une union en
termes juridiques, mais aussi en termes d’application normative.2

Cependant, il y a des cas où cette union linguistique ne


s’applique pas. C’est le cas de la langue irlandaise. L’irlandais est
considéré comme une langue officielle de l’Union, mais dans un
souci de clarté et à titre transitoire, les institutions de l’Union ne
sont pas liées par l’obligation de rédiger ou de traduire tous les
actes en irlandais. Les décisions de la Cour de justice ne sont pas
nécessairement traduites en irlandais, à l’exception des règlements
adoptés conjointement par le Parlement européen et le Conseil».3
Cependant, l’Union européenne a encore un atout dans sa manche,
puisqu’en cas d’incohérence ou d’interprétation erronée (TFUE,
article 267, 2008), la Cour de justice de l’Union européenne sera
chargée d’interpréter les versions linguistiques des traités, actes de
institutions de l’Union européenne, ainsi que les arrêts de la Cour.

Cependant, les normes européennes peuvent parfois


présenter certaines difficultés quant à leur interprétation correcte :
il se peut que la formulation ne soit pas assez claire et présente des
ambiguïtés pouvant conduire à une mauvaise application. Il est
possible que la large réglementation européenne puisse entraîner
des problèmes d’interprétation lorsque les versions linguistiques des
arrêts ne représentent pas nécessairement un équivalent juridique
dans la langue cible à traduire. Il faut une véritable interprétation qui
permette aux traducteurs d’exprimer le sens de l’arrêt en tant que tel et
pas seulement de transposer les mots d’une langue à l’autre. Il ressort

2 Il y a une exigence substantielle d’écriture dans toutes les langues. Selon l’article 4 du règlement
(CEE) n° 1/1958 du 15 avril 195836 qui établit le régime linguistique de l’UE, « les règlements et
autres textes de portée générale doivent être rédigés dans les langues officielles ».
3 RÈGLEMENT (UE, Euratom) 2015/2264 DU CONSEIL du 3 décembre 2015 prorogeant et supprimant
progressivement les mesures dérogatoires temporaires au règlement no 1 du 15 avril 1958 portant
fixation du régime linguistique de la Communauté économique européenne et au règlement no 1
du 15 avril 1958 portant fixation du régime linguistique de la Communauté européenne de l’énergie
atomique introduites par le règlement (CE) no 920/2005.

SUMÁRIO 166
clairement de la jurisprudence que « lorsqu’une version contient une
‘ambiguïté’, elle doit être interprétée « dans un sens cohérent avec les
autres versions linguistiques » (DE QUADROS, 2008).

Dans ces affaires, le droit européen offre aux juges des


États membres la possibilité d’exprimer leurs doutes devant la Cour
de justice de l’Union européenne (ci-après CJUE) au moyen d’une
décision préjudicielle afin que celle-ci puisse, par l’action du renvoi
préjudiciel, émettre une réponse claire et contraignante tant au juge
en question qu’à tous les États membres, afin d’établir l’application et
l’interprétation correctes de la règle de droit en question.

Cette décision préjudicielle permet au juge d’exprimer ses


doutes devant la CJUE au moyen d’une requête adressée directement
à la Cour afin que celle-ci rende un arrêt devant lequel le juge qui
a initialement rendu la décision préjudicielle obtient une réponse
juridique lui permettant de trancher notamment dans le processus
judiciaire qui a abouti à la création d’une saisine.

Lorsque la CJUE reçoit la question préjudicielle par le biais


de la demande de décision préjudicielle, la Cour procède à une
traduction de la demande en français, langue de procédure de
la CJUE. Une fois toutes les étapes procédurales de la décision
préjudicielle accomplies, l’arrêt définitif sera rendu à la fois dans la
langue originale de la demande et dans les 23 autres langues4 de
l’Union européenne. Cependant, malgré les efforts de la CJUE pour
essayer de consolider une interprétation unique valable au niveau
européen, cette interprétation peut poser des problèmes lors de la
lecture de l’arrêt rendu, mais pas d’un point de vue juridique, car
nous serions déjà confrontés à un cas de res judicata, mais d’une
interprétation linguistique au moment de la lecture de l’arrêt dans ses
différentes traductions.

4 Pour plus d’informations, voir MOLINARES V. A. D, The Future of the English language after Brexit:
Should English still be a lingua franca in Europe?”, 2020.

SUMÁRIO 167
Ainsi, cet article propose d’exposer le rôle de la CJUE face aux
difficultés linguistiques qui peuvent découler de l’interprétation des
règles de l’Union européenne dans cet effort pour faire respecter le
multilinguisme. Même si toutes les traductions faites à la phrase ont
égalité et validité quant à son application, le fait de créer des versions
différentes dans les 24 langues peut entraîner une certaine incertitude
juridique car une traduction peut être linguistiquement correcte mais
juridiquement différente ; c’est-à-dire qu’il est possible de se retrouver
dans des situations où les traductions amènent le vocabulaire du droit
européen, qui a une application et une définition inhérentes à un terme
spécifique, à présenter plusieurs adaptations linguistiques mais une
seule interprétation juridique valable au sein du droit européen.

C’est la raison pour laquelle ce travail se concentre uniquement


sur la nature linguistique de l’interprétation des arrêts préjudiciels de
la CJUE sans entrer dans une discussion sur les différences pouvant
résulter de l’interprétation juridique. Cependant, il faut dire que, même
si, selon la version et l’interprétation donnée à une traduction, il est
possible de changer l’interprétation juridique, notre écriture abordera
le thème de l’interprétation à partir d’un sens linguistique qui englobe
également le sens juridique.

Ce type d’interprétation, résultat d’une analyse jurilinguistique,


peut présenter des solutions possibles aux inconvénients
découlant des interprétations variées dans les traductions faites
des jugements en raison de leur particularité. Il ne s’agit pas d’une
mauvaise traduction faite par le service de traduction de la Cour ou
d’une mauvaise interprétation par le juge qui demande la décision
préjudicielle, mais d’une nouvelle lecture qui peut s’écarter du sens
initial créé par la sentence.

Il peut donc y avoir plusieurs interprétations jurisprudentielles


concernant l’équivalence terminologique et nationale des termes
lors du prononcé des décisions de la Cour de justice de l’Union
européenne. Certaines questions linguistiques peuvent survenir lors

SUMÁRIO 168
de leur interprétation par les juges nationaux des États membres,
car, selon les versions et les traductions créées, ces interprétations
peuvent varier. Ces différences d’interprétation peuvent poser des
problèmes lorsqu’un seul mot ayant un sens donné dans la langue
dans laquelle l’arrêt a été rendu peut néanmoins avoir de multiples
traductions et interprétations dans différentes langues.

Afin de proposer une réponse à la fois linguistiquement et


juridiquement valable, cet article est divisé en deux blocs. Dans le
premier bloc, nous traiterons des défis linguistiques du multilinguisme
(I) et, dans le deuxième bloc, nous procéderons à la description de la
solution possible au problème juridique résultant de l’interprétation
de la CJUE pour des raisons linguistiques (II).

I) LES DÉFIS LINGUISTIQUES


DU MULTILINGUISME DANS
L’UNION EUROPÉENNE
L’utilisation de 24 langues dans une même institution peut,
en plus de représenter une forme d’intégration pour les États
membres puisque leurs langues sont considérées comme officielles,
être considérée comme un multilinguisme sui generis au niveau
international (A). Une telle multiplicité de langues existe tant dans
l’Union que dans ses organes, dont la CJUE (B).

A) UN MULTILINGUISME UNIQUE AU MONDE


Avant d’aborder le multilinguisme juridique en Europe, nous
devons définir le multilinguisme. Ce mot, originaire du latin, signifie
« multus lingua », « plusieurs langues ». Certains auteurs peuvent

SUMÁRIO 169
la décrire comme « une situation sociale impliquant des groupes
ou des communautés qui communiquent, avec des compétences
variables, dans plus d’une langue, en plus d’une langue nationale ou
standard » (J.C MAHER, 2017).

Cependant, nous ne discuterons que du multilinguisme


juridique en Europe, plutôt que du multilinguisme européen en tant
qu’objet d’étude. Le multilinguisme juridique en Europe est fondé
grâce aux traités européens qui le placent comme l’un des piliers de
l’Union européenne. Il est d’usage de parler de communauté en la
qualifiant de « communauté de l’État de droit » (formule doctrinale
apparue dans l’arrêt de 1986, Les Verts c. Parlement européen), qui
renvoie à l’État de droit. Mais on pourrait aussi dire que plus qu’une
communauté de droit, il y a aussi une union par le droit, puisque
l’Union s’est construite avec le droit comme seul instrument. Il peut
ne pas sembler clair à première vue ce que le multilinguisme a à voir
avec une communauté basée sur « l’état de droit ».

Les règles de droit doivent être compréhensibles et accessibles


à tout citoyen européen avec une cohérence d’une langue à
l’autre. En d’autres termes, l’Union européenne est une machine à
produire une législation communautaire qui sera mise en œuvre par
d’autres afin de créer une intégration entre les membres de l’État
européen et ses citoyens.

L’existence d’une pluralité de langues est notable du simple


fait qu’elle compte 24 langues officielles. Elle renvoie à la possibilité
d’avoir la capacité juridique et linguistique, au sein d’un même
État, organisation internationale ou juridiction internationale, d’offrir
aux justiciables l’accès au juge dans d’autres langues considérées
comme officielles. A titre d’exemple, on peut avoir l’Etat belge, où
il y a un bilinguisme franco-flamand5, ou le Canada6, avec l’anglais

5 Constitution politique de la Belgique, article 4, « les régions linguistiques en Belgique ».


6 Loi sur les langues officielles – Official Languages Act.

SUMÁRIO 170
et le français. La Cour de justice de l’Union européenne permet aux
citoyens de s’adresser à la Cour dans l’une des 24 langues officielles,
la Juridiction unifiée du brevet7 propose un système linguistique
tripartite en français, allemand et anglais.

Nous avons donc le multilinguisme au sein de l’Union


européenne, qui est un multilinguisme sui generis, sans équivalent
nulle part dans le monde juridique ou linguistique, puisqu’il ne s’agit
pas ici d’une institution à caractère international avec un certain
nombre de langues officielles ou langues de travail, comme l’ONU
avec ses six langues officielles8, ou la Cour européenne des droits de
l’homme et son statut bilingue 9, mais d’une institution interétatique
dont les langues officielles sont les mêmes que les langues officielles
de ses États membres.

Il s’agit d’un scénario d’organisation supranationale avec


pratiquement le même nombre de langues officielles que d’États
membres. L’Union européenne compte actuellement 24 langues
officielles et 27 États membres. Cette cohésion linguistique permet à
l’Union européenne, en tant que machine normative, de produire une
législation de contenu égal et, malgré les différences linguistiques, de
maintenir une traduction autorisée valable dans toutes les langues
officielles de cette institution.

Ce type de multilinguisme est largement appliqué (II) par la


Cour de justice de l’Union européenne. L’utilisation des langues à lieu
tant dans la réception des demandes légales que dans la production
des jugements dans toutes les langues de l’Union.

7 Unified patent Court Agreement, article 49.


8 Charte des Nations Unies, article 1.11.
9 Règlement de la Cour Européenne de Droits de l’homme, Article 34.

SUMÁRIO 171
B) LE RÉGIME LINGUISTIQUE DU CJUE
Droit et langues étrangères. L’article 6 de la Convention
européenne des droits de l’homme et l’article 47 de la Charte des
droits fondamentaux établissent le droit d’accès à un juge comme
une garantie que l’individu a accès à la justice dans une langue qu’il
comprend. La possibilité de s’adresser ainsi au juge va au-delà du
simple constat de la nécessité d’un traducteur ou d’un interprète,
mais permet au justiciable de voir son procès se dérouler dans une
langue qu’il comprend, l’accès à la justice étant placé au-dessus de
toute même barrière linguistique.

Il peut s’agir d’une variété linguistique dans certaines


juridictions internationales, ce qui facilite l’accès au juge dans
plusieurs langues, afin de créer une protection juridique dans les
affaires présentées devant les juridictions. Cela signifie que les
justiciables doivent donc pouvoir communiquer entre eux dans leur
propre langue lorsqu’ils poursuivent devant un tribunal.10

Dans d’éventuels procès, la Cour de justice, qui fait office de


gardienne de l’Union, persiste à préciser que « le demandeur doit
choisir la langue de la procédure parmi les 24 langues officielles
de l’Union, sauf si le défendeur est un État membre », auquel cas
la langue de la procédure sera la langue officielle de cet État, ou la
langue officielle de cet État choisie par le candidat, s’il existe plusieurs
langues officielles » (VON BARDELEBEN, 20212). Cela implique
un large éventail de possibilités quant au régime linguistique11 à
utiliser lorsqu’une action ou une requête est déposée devant notre
Cour. D’autres institutions internationales extérieures à l’Union
européenne occupent également une place importante sur l’échelle
juridique multilingue.

10 Article 37 of the Reglement of the Cour of Justice of the European Union; article 35 of the Reglement
of the Tribunal of the European Union.
11 Règlement de Procédure de la Cour art 37, Art 35 RP Tribunal et Art 29 RP TFPUE.

SUMÁRIO 172
Comme mentionné ci-dessus, il est obligatoire que les
normes européennes soient rédigées dans toutes les langues
officielles de l’Union européenne. Cette obligation de rédaction peut
être définie, selon les termes de la Cour de justice : « La législation
communautaire est rédigée en plusieurs langues et que les différentes
versions linguistiques font toutes également foi. L’interprétation d’une
telle disposition de droit communautaire implique une comparaison
des différentes versions linguistiques » (CJUE, CILFIT, 1982).

Cette comparaison entre différentes versions linguistiques


démontre la nécessité d’une cohérence dans l’interprétation non
seulement des traités, mais aussi de leur traduction. À cet égard, la
Cour de justice de l’Union européenne a déclaré que « La nécessité
d’une interprétation uniforme des règlements communautaires
rend impossible l’examen de ce passage isolément et exige qu’il
soit interprété et appliqué à la lumière des versions existantes dans
d’autres langues officielles » (CJUE, Marianne Worsdorfer, 1979)
Cependant, il convient de noter que, même si à première vue le
multilinguisme reste le principal objet à protéger à la Cour de justice
de l’Union européenne, sa langue de procédure n’est ni Anglais ni
allemand mais français.

Ce choix de langue a des fondements juridiques : la Cour de


justice de l’Union européenne établit que « la Cour a besoin d’une
langue commune pour délibérer »12, cette langue est, par coutume,
le français. Ainsi, tous les documents déposés par les parties dans
la langue de procédure sont traduits en français dans le cadre du
dossier de travail interne. Cependant, les documents échangés entre
les greffes et les parties sont dans la langue de procédure. Ceci est
particulièrement important en fin de procédure, la seule version
authentique de l’arrêt rendu par la Cour de justice ou le Tribunal étant
celle qui figure dans la langue de procédure.

12 Pour plus d’informations, consultez la rubrique Régime linguistique sur la page officielle du TJUE.

SUMÁRIO 173
Par conséquent, l’utilisation des langues au sein de la CJUE
présente un grand avantage pour la compréhension claire du droit
européen à tous les États membres de l’Union. On peut alors dire que
la CJUE a un rôle vraiment important (II) en termes d’interprétation
des jugements en raison de la langue.

II) LE RÔLE DE LA CJUE FACE


AUX CONFLITS D’INTERPRÉTATION
DUS À LA LANGUE
Suivant la tradition du multilinguisme comme l’un des grands
piliers de l’Union, la CJUE a veillé à ce que les versions des arrêts
dans différentes langues conservent toujours leur sens. Cependant, la
CJUE a présenté plusieurs solutions linguistiques (A) pour résoudre
les éventuels problèmes d’interprétation pouvant exister (B).

A) LES SOLUTIONS LINGUISTIQUES DE LA CJUE


Nous sommes ainsi confrontés à un contentieux purement
linguistique dont les différentes versions ne devraient pas constituer
un problème, puisque nous n’envisageons pas le droit européen du
point de vue de la traduction d’une langue à l’autre, mais du point de
vue de l’effet utile (GALLA, 2006) Le droit européen en tant que tel.

Par exemple, l’arrêt de la Cour européenne de justice dans


l’affaire CODAN (affaire CJUE, Codan, 1998) doit être vu comme un
différend entre différentes versions terminologiques utilisées dans une
directive : « la version allemande utilise l’équivalent de l’expression
taxes sur les transactions en bourse, dans la plupart des autres versions
linguistiques de la directive, c’est-à-dire dans les versions grecque,

SUMÁRIO 174
espagnole, française, italienne, néerlandaise, portugaise, l’expression
utilisée est « impôts sur les mutations de titres ». C’est-à-dire que les
versions réalisées peuvent conserver une interprétation linguistique
mais non juridique, ou une similitude linguistique présentant une
différence juridique.

Se fondant sur le principe d’interprétation uniforme de


toutes les versions linguistiques introduit par la Cour européenne de
justice dans son arrêt Erich Stauder de 1969, la Cour a indiqué qu’il
fallait « préciser la portée exacte de la disposition en cause ». Cette
clarification du champ d’application indiquerait donc que, quelles
que soient les versions linguistiques créées, il ne devrait y avoir
qu’une seule interprétation terminologique mettant l’accent sur le
droit européen en tant que tel.

Il existe donc une terminologie spécifique du droit européen,


ce qui signifie qu’il est non seulement autonome et unique, mais
aussi qu’il a sa propre signification au niveau européen, qui n’a pas
d’équivalent direct dans les États membres. Il en va de même lorsque,
en l’absence d’une véritable interprétation de la Cour de justice, un
règlement européen ne peut interpréter ou indiquer en aucun sens
ou version linguistique la portée du sens d’un mot. C’était le cas dans
l’affaire C-34/1028 concernant l’absence de définition de «l’embryon
humain». Se pourrait-il que « dans les États membres ayant la
conception la plus restreinte du concept d’embryon humain et donc
plus permissifs quant aux possibilités de brevetabilité, du fait que
la brevetabilité de telles inventions serait exclue dans d’autres États
membres », une telle situation compromettrait le bon fonctionnement
du marché intérieur, qui est l’objectif de la directive.

Ces divergences d’interprétation d’une règle quant à la


signification qu’elle devrait avoir non seulement par rapport aux États
membres, mais aussi a priori au sein de l’Union européenne devraient
être clarifiées afin que tous les États membres puissent, sur la base de
l’interprétation faite par le Cour de justice, introduisent cette définition
sur leurs territoires, tant dans les équivalents linguistiques que juridiques.

SUMÁRIO 175
Il se peut que les arrêts larges de la Cour de justice de l’Union
européenne donnent lieu à des problèmes d’interprétation lorsque
les versions linguistiques des arrêts n’ont pas nécessairement un
équivalent linguistique dans la langue cible à traduire, mais une
véritable interprétation qui permet aux traducteurs d’exprimer le
jugement de sens en tant que tel et pas seulement de traduire des
mots d’une langue à une autre.

La jurisprudence montre que « lorsqu’une version contient


une ‘ambiguïté’, elle doit être interprétée ‘en cohérence avec les
autres versions linguistiques’ » (QUADROS, 2007). Cette ambiguïté
peut donc survenir soit à la fin du processus, lorsque les différentes
versions du jugement sont produites, soit tout au début du processus,
lorsqu’il contient des mots intraduisibles.

En d’autres termes, les ambiguïtés découlant de mots


intraduisibles peuvent se produire à la fois sur une échelle de
traduction horizontale au sein de la Cour elle-même et dans un sens
vertical de juge à juge via le renvoi préjudiciel.

Les mots intraduisibles mentionnés sont des mots qui


conservent parfois leur propre sens en droit européen au niveau
juridique, mais peuvent être présents dans plusieurs versions
linguistiques un sens unique présenté dans différentes langues.

B) LES DÉFIS DE L’APPLICATION


EN INTERPRÉTATION LINGUISTIQUE
Les interprétations jurisprudentielles relatives à l’équivalence
terminologique et nationale des termes par rapport aux décisions
rendues par la Cour de justice de l’Union européenne peuvent
générer certains problèmes linguistiques lorsque les juges nationaux
des États membres les interprètent, puisque, selon les versions et
les traductions créées, plusieurs interprétations. Ces différences

SUMÁRIO 176
d’interprétation peuvent poser des problèmes lorsqu’un seul mot
ayant un sens donné dans la langue dans laquelle l’arrêt a été rendu
peut néanmoins avoir de multiples traductions et interprétations
dans différentes langues.

Ce type de situation renvoie à la conception du rôle des États


membres dans le système institutionnel. Les États membres du
système institutionnel se font les rouages ​​de ce système. Sans aucun
doute, la langue de chaque État est une langue officielle. Cependant,
la coexistence de textes authentiques dans différentes langues
peut interférer avec l’application du droit de l’Union européenne
dans ses États membres. Il appartiendrait à la Cour de justice de
l’Union européenne, en tant que gardienne des traités instituant
l’Union européenne, d’en assurer l’interprétation la plus appropriée
en fonction des langues utilisées.

Dans son arrêt CILFIT (Affaire CJUE, Ciltif, 1982), la Cour de


justice de l’Union européenne a déclaré qu’ « il faut garder à l’esprit,
tout d’abord, que les textes de droit communautaire sont rédigés en
plusieurs langues et que les différentes versions linguistiques font
également foi; par conséquent, l’interprétation d’une disposition
de droit communautaire implique une comparaison des versions
linguistiques ». Cet arrêt nous montre, malgré l’existence d’une
pluralité de langues authentiques, une particularité du droit européen
en ce sens qu’ « il convient de constater, même lorsque les versions
linguistiques sont exactement les mêmes, que le droit communautaire
utilise sa propre terminologie ». Il convient de noter que « les notions
juridiques n’ont pas nécessairement le même contenu en droit
communautaire et dans les différents droits nationaux » (affaire
Cilfit de la CJUE, 1982).

Cela pourrait être le cas lorsqu’en espagnol la Cour de


justice de l’Union européenne s’appelle « Tribunal de Justicia de la
Unión Europea » : bien que le mot « Tribunal » ait un équivalent
exact en portugais de « Cour de justice », il n’a pas équivalent direct

SUMÁRIO 177
dans d’autres États membres de l’Union européenne. Verbi gratia,
l’équivalent français de « Cour de justice », le nom donné à la Cour
de justice en français est « Cour de justice » (Cour de justice) tandis
qu’en français la Cour se réfère à la Cour de justice comme un
tribunal de première classe tandis que la « Cour de justice » serait la
deuxième instance en portugais.

A titre d’exemple, il en est de même en espagnol, italien et


anglais devant la Juridiction Unifiée du Brevet, puisque ces trois
langues ont maintenu l’usage de « Tribunal » ou « Tribunal » pour
désigner cet organe comme : « Tribunal Européen du Brevet » et
« Tribunale Unificato dei Brevetti » mais qui en français porte le nom
de « Juridiction Unifiée du Brevet ». En ce sens, en français ce qu’ils
considèrent, pour le cas concret, une Juridiction doit alors s’entendre
comme « Cour » ou « Tribunal » sans que cela n’affecte la conception
propre du mot « juridiction » au sens large.

Si nous extrapolons notre raisonnement à la Cour de justice


européenne, il s’ensuit que non seulement la Cour agit en tant que
gardienne du droit européen, de la cohésion et de l’interprétation
du droit européen en tant que tel, mais qu’elle surveille également
l’interprétation faite par les États membres à l’Union européenne
en ce sens que la Cour agit, à travers la procédure (TFUE, 2003),
pierre angulaire du droit européen (Procédure CJUE 2/13, 2013), la
Cour permet l’interprétation du droit européen harmonieusement et
équitablement dans tous les sens linguistiques et juridiques dans les
États membres et les institutions européennes. L’objectif est donc de
trouver l’effet utile du droit européen et pas simplement de faire des
traductions d’une langue d’origine vers une langue cible.

Il conviendrait alors d’examiner quelles seraient les solutions


possibles au regard des dilemmes linguistiques des justiciables.
Après tout, « le droit européen n’a pas de culture autonome, mais
au contraire, il a vocation à s’adapter aux langues et cultures des
vingt-huit États membres » (MROCCATI KLINCKSIECK, 2016).

SUMÁRIO 178
BIBLIOGRAPHIE

LÉGISLATION
Conformément à l’article 4 du règlement (CEE) n° 1/1958 du 15 avril 1958.

RÈGLEMENT (UE, Euratom) 2015/2264 DU CONSEIL du 3 décembre 2015.

Article 267 du TFUE Journal officiel n° 115 du 09/05/2008 p. 0164 - 0164.

Loi sur les langues officielles – Official Languages Act.

Unified patent Court Agreement, article 49.

Charte des Nations Unies, article 111.

Règlement de la Cour Européenne de Droits de l’homme, Article 34.

Article 37 of the Reglement of the Cour of Justice of the European Union; article 35 of the
Reglement of the Tribunal of the European Union.
Constitution politique de la Belgique, article 4, « les régions linguistiques en Belgique ».

Règlement de Procédure de la Cour art 37, Art 35 RP Tribunal et Art 29 RP TFPUE.

JURISPRUDENCE
Arrêt de la Cour (quatrième chambre) du 27 juin 2013 Verwertungsgesellschaft Wort
(VG Wort) contre Kyocera et autres. (C-457/11) et Canon Deutschland GmbH (C-458/11)
et Fujitsu Technology Solutions GmbH (C-459/11) et Hewlett-Packard GmbH (C-460/11)
contre Verwertungsgesellschaft Wort (VG Wort). Demandes de décision préjudicielle du
Bundesgerichtshof.

Arrêt de la Cour du 6 octobre 1982. Srl CILFIT et Lanificio di Gavardo SpA contre Ministero
della Sanità. Demande de décision préjudicielle: Corte Suprema di Cassazione - Italie.
Obligation de transmettre nuisible. Processus 283/81.

SUMÁRIO 179
Arrêt de la Cour de justice (première chambre) du 12 juillet 1979. Marianne Koschniske
- Wörsdorfer, contre Raad van Arbeid. Demande de décision préjudicielle: Raad van
Beroep Zwolle - Pays-Bas. Processus 9/79.

ARRÊT DE LA COUR DE JUSTICE du 12 novembre 1969. Dans l‘affaire 29/69,


Verwaltungsgericht Stuttgart, Erich Stauder, 79 Ulm, Marienweg 15.

AUTEURS
In DE QUADROS F (2008), Droit de l’Union Européenne, p. 294.

J.C MAHER, Multilingualism A very short introduction, Oxford University Press, 2017, page 3.

VON BARDELEBEN, Eléonore. La Cour de Justice de l’Union Européenne et le droit


du contentieux européen, page 83 ; 2012, éditorial La Documentation française.

V.T GALLA « Understanding EC Law as “Diplomatic Law” and its language”, in B. Pozzo et
V Jacometti, Multilingualism and the Harmonisation of the European Law, la Haye,
Kluwer Law International, 2006.

DOCUMENTS ÉLECTRONIQUES
MOLINARES V. A. D, The Future of the English language after Brexit: Should English
still be a lingua franca in Europe?”, 2020. http://petille.univ-poitiers.fr/notice/view/64070.

MROCCATI KLINCKSIECK, M. TRADUCTION ET INTERPRÉTATION DANS LE CADRE DU


RENVOI PRÉJUDICIEL EUROPÉEN | « Éla. Études de linguistique appliquée » 2016/3
N° 183 | pages 297 à 307 ISSN 0071-190X ISBN 9782252039977 https://www.cairn.info/
revue-ela-2016-3-page-297.htm.

SUMÁRIO 180
11
Joëlle Popineau

ETUDE JURITRADUCTOLOGIQUE
DES NOTIONS DE NATIONALITÉ
ET DE CITOYENNETÉ EN
DROITS CONSTITUTIONNELS
FRANÇAIS ET ANGLAIS

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.11
Les récentes vagues de migrations provoquées par les
contextes de crises et de guerres, en Ukraine ou dans d’autres pays,
ont mis les notions de nationalité et de citoyenneté sous le feu des
projecteurs en Europe ou ailleurs dans le monde. Qui n’a pas vu les
images d’Ukrainiens fuyant leur pays dévasté, massés aux frontières
de la Pologne voisine, demandant un asile temporaire, voire définitif
dans d’autres pays d’Europe ? Qui n’a pas lu des récits glaçants
de migrants essayant de rejoindre les côtes britanniques dans des
embarcations de fortune, à la recherche d’un meilleur avenir ? Qui
n’a pas en mémoire les tentatives de fuite des ressortissants de l’ex
RDA, qui, bravant les miradors et leurs tirs meurtriers, franchissaient
le mur de Berlin ou le rideau de fer ? Les exemples de récits de fuite
sont légion et les mouvements de population d’un pays à un autre,
qu’ils soient forcés ou voulus, créent des afflux considérables de
potentiels candidats à une nouvelle vie et à une nouvelle nationalité
dans un pays d’accueil.

Notre étude porte sur une comparaison des notions de


citoyenneté et de nationalité en France et au Royaume-Uni ; cette
lecture comparée sur ces deux notions fondamentales en droit
constitutionnel permet d’un premier temps une mise en évidence de
similitudes et divergences et, à terme, d’atteindre une équivalence
juridiquement fondée et correcte dans les langues cibles (LC) et
d’identifier dissonances et consonnances institutionnelles.

Présenter les origines des deux droits étudiés est l’objet de


la première partie. La France est un pays de tradition civiliste, alors
que le Royaume-Uni est un pays de common law1 ; les conceptions
et représentations des droits sont par conséquent différentes, le
facteur historique jouant un rôle primordial dans la construction
du droit de ces pays.

1 Common law est un nom féminin en français, qui s’écrit sans majuscule ni police italique.

SUMÁRIO 182
Dans une deuxième partie, l’approche juritraductologique
en trois étapes (étape sémasiologique, droit comparé et étape
onomasiologique) sera effectuée autour de la notion de nationalité et
de citoyenneté : la comparaison des textes et droits permettra de mieux
appréhender divergences et similitudes entre les deux pays et traditions
juridiques. La Constitution française de la Cinquième République2
(1958) se contente de poser le principe, en son article 3, que :
Sont électeurs, dans les conditions déterminées par la
loi, tous les nationaux français majeurs des deux sexes,
jouissant de leurs droits civils et politiques.

La citoyenneté française est liée à la détention de la nationalité


française, condition de l’expression d’un droit civique, le suffrage. C’est
une notion constitutive fondamentale des définitions de nationalité et
de citoyenneté en France. Qu’en est-il pour le Royaume-Uni ? Les
droits civiques s’expriment en effet de façon différente en France,
pays de tradition romano-civiliste, et au Royaume-Uni, pays de
common law : d’un côté de la Manche, la nationalité et la citoyenneté
sont constitutionnellement liées en droit français, et il est difficile
d’en trouver mention ; de l’autre côté de la Manche, le droit de la
nationalité et de la citoyenneté britannique est complexe du fait de
l’histoire coloniale du Royaume-Uni : dans le British Nationality Act3 de
1981, six catégories de citoyens britanniques sont définies, chacune
jouissant de droits civiques différents. Même si tous sont citoyens du
Commonwealth, il est possible d’être ressortissant britannique sans
être citoyen britannique. L’histoire du Commonwealth4, organisation
intergouvernementale composée d’anciens territoires de l’Empire

2 https://www.conseil-constitutionnel.fr/le-bloc-de-constitutionnalite/texte-integral-de-la-constitution-
du-4-octobre-1958-en-vigueur.
3 Texte de loi posant les principes généraux du droit de la nationalité et de la citoyenneté au
Royaume-Uni.
4 Le Commonwealth ou le Commonwealth of Nations est une organisation intergouvernementale
composée de 54 membres, quasiment tous anciens territoires de l’Empire britannique (https://
fr.wikipedia.org/).

SUMÁRIO 183
britannique, est intrinsèquement inscrite dans ces deux notions. C’est
par le biais de la notion de droits civiques que notre étude en droit
comparé sera menée et permettra de répondre à cette question : la
nationalité et la citoyenneté sont-elles comparables et traduisibles
du français vers l’anglais ?

1. FONDEMENTS JURIDIQUES

1.1. DEUX REPRÉSENTATIONS DIFFÉRENTES DU DROIT….


Les langues juridiques française et anglaise puisent leurs
origines dans deux représentations différentes du droit (Mellinkoff,
1963 ; Didier, 1990 ; Gémar, 2002). Le droit romano-civiliste est le
fondement du droit en France ; la common law5 qui caractérise les
pays anglo-saxons puise son fondement dans la coutume normande
introduite par Guillaume le Conquérant lors de l’invasion et de
l’occupation du Royaume d’Angleterre au XIe siècle.

Les droits de tradition civiliste constituent un système


juridique qui est appelé également droit romano-civiliste ou droit
germano-civiliste ou droit continental ; au Québec, il est appelé
droit civil. Nous retiendrons l’appellation « droit romano-civiliste »
pour qualifier le droit français dans cet article. Le Code civil français,
promulgué par la loi du 30 ventôse an XII (21 mars 1804) et connu sous
le nom de code Napoléon (loi de 1807), est l’apogée de ce système
(Frison-Roche, 2017). Il s’agit d’un système complet de règles,
habituellement codifiées, qui sont appliquées et interprétées par des
juges civils et, dans ce système de droit écrit, les juges ont le statut de
fonctionnaires. Dans ce système, les règles sont posées par avance,
leur interprétation étant mécanique et neutre, au centre étant la loi.

5 Common law est de genre féminin (Richard, 2016).

SUMÁRIO 184
La common law régit la chose juridique outre-manche et
outre-Atlantique, à l’exception des droits mixtes6. Ce droit est créé
par les juges et non par la loi, la common law donnant la primauté
aux précédents jurisprudentiels (droit jurisprudentiel). À l’origine, les
juges itinérants (General Eyres7) avaient pour mission de parcourir le
territoire en circuits judiciaires, de tenir des audiences dans les comtés
et de rapporter les coutumes locales rencontrées ; certaines étaient
conservées, d’autres écartées, et cette accumulation de solutions
particulières trouvées par le juge pour résoudre des cas concrets
a construit la jurisprudence commune uniforme (ou common law)
; les décisions importantes ont fait naître des règles. Ces éléments
historiques expliquent encore aujourd’hui le rôle important des juges
dans les pays de common law. Née de traditions moyenâgeuses, la
common law s’est construite comme une quête réconciliant l’autorité
et la raison, les règles imposées et les coutumes motivant les
comportements humains et, à terme, l’universel et le concret :
Moreover, it is a tradition which has its roots in the Middle
Ages and so was shaped in its beginnings as a quest
for reconciling authority with reason, imposed rule with
customs of human conduct, and so the universal with the
concrete8 (Pound, 1937, p. 186).

La common law s’appuie ainsi sur des éléments concrets :


« pour le juriste britannique les éléments n’ont de réalité que pris
dans un raisonnement concret ; ils n’ont que le sens et la valeur que
leur donne, pour chaque cas litigieux, une argumentation valide
ou vraisemblable9 ».

6 La Louisiane est régie par un droit mixte (Levasseur, 1994).


7 Eyre est le nom donné au circuit judiciaire effectué par un juge itinérant dans l’Angleterre médié-
vale ou au tribunal présidé par ce juge.
8 Traduction : De plus il s’agit d’une tradition dont les origines remontent au Moyen-Age et qui initia-
lement a été conçue comme une quête visant à concilier la raison et l’autorité, les contraintes de
la loi et les us et coutumes des hommes, et par-là à concilier l’universel et le concret.
9 http://www.universalis-edu.com/encyclopedie/common-law/.

SUMÁRIO 185
1.2. DEUX HISTOIRES DIFFÉRENTES
La culture juridique reflète l’histoire politique, religieuse,
économique d’un pays (Levasseur, 1994). Ainsi, nous pourrions
décrire la chronologie du droit romano-civiliste français et énumérer
les « réformes subies et surtout détailler l’origine de ses principes à
la fois dans le droit romain et des siècles de pratiques coutumières10 ».
Tel n’est pas le but de cet article. Cependant, cette chronologie a joué
un rôle dans la construction des deux systèmes juridiques concernés
et les dates marquantes dans l’évolution de la langue juridique seront
mentionnées. Même dans le domaine qui nous intéresse, la guerre
et son lot de conquêtes et d’invasions ont durablement façonné
l’anglais juridique actuel.

Le premier événement marquant est la conquête de l’Angleterre


par Guillaume le Conquérant en 1066. Cette date marque l’apparition
de nombreux mots issus de l’ancien français (IXe au XIIIe siècle) et du
français médiéval (XIe au début du XIVe siècle) dans la langue du droit
anglais : la langue française s’impose au pays conquis pendant près
de trois cents ans à tous les niveaux administratifs et juridiques de la
société anglaise ; celle-ci subit de profonds changements et voit l’élite
anglo-saxonne disparaître au profit des seigneurs normands ; la loi
normande est intégrée au système juridique anglo-saxon préexistant11.
Un des premiers écrits, les Lois de Guillaume le Conquérant ou
Quadripartitus (1118), est une charte des libertés anglaises concédées
par Henri 1er, successeur de Guillaume, lors de son avènement ; cet
ouvrage rédigé en latin a pour but de faire connaître les anciennes
lois anglaises aux fonctionnaires normands du nouveau royaume et
marque les fondements du droit anglo-normand12.

10 Lévy, 2010, p. 3.
11 Le droit anglo-saxon (Anglo-Saxon law) est un ensemble de principes juridiques en vigueur en
Angleterre du vie siècle à la conquête normande (https://www.britannica.com).
12 Cette charte propose en quelque sorte des équivalences entre lois anglaises et lois normandes.

SUMÁRIO 186
La seconde date marquante est 1362, année de la
promulgation de The Pleading in English Act13 qui amorce le déclin
du règne du français comme langue juridique officielle orale en
Angleterre et l’instauration de l’anglais comme la langue obligatoire
de toutes les procédures judiciaires. 1362 est également l’année au
cours de laquelle la langue anglaise est utilisée pour la première fois
pour l’ouverture d’une session parlementaire à Londres. La disparition
du français dans les cours et tribunaux anglais est accélérée par un
autre événement militaire, la Guerre de Cent ans (1337-1453) contre
la France, qui impose le nationalisme anglais.

1.3. COHABITATION DE DEUX LANGUES ET PRÉSENCE


SIGNIFICANTE D’UN LEXIQUE FRANÇAIS
La diglossie du royaume d’Angleterre partitionnait la société
anglaise en plusieurs strates : l’écrit administratif (latin) et l’oral
juridique (ancien normand14), la langue de la cour (ancien normand,
puis anglo-normand) et la langue du peuple (vieil anglais). Malgré
la loi de 1362 qui était une révolte contre le français, il subsiste une
empreinte française durable dans le vocabulaire juridique moderne :
sentence15 ou felon16 sont quelques exemples parmi de nombreux
autres. De façon similaire, les doublets ou triplets juridiques17

13 Détail ironique : le texte de loi imposant l’anglais comme langue juridique est rédigé en vieux
français (http://www.languageandlaw.org/TEXTS/STATS/PLEADING.HTM).
14 L’ancien normand a été utilisé pour rédiger des documents administratifs et des textes littéraires
du Moyen Âge jusqu‘au XVe siècle.
15 Sentencion figure dans Godefroy (1990) (http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k4197p).
16 Latham Dict 1, 915c felonia : “crime against feudal superior, breach of vassalage”.
17 Les doublets ou triplets juridiques sont des suites de deux, trois ou plusieurs mots séparés par
une conjonction de coordination ou une virgule ; ils alternent mots anglais et mots en ancien
français ou latin : act and deed ; new and novel ; will and testament. Ils sont appelés “synonym
strings” (Mellinkoff, 1963, p. 121), « redoublements ou binômes synonymes » (Delisle et Woodsworth,
1995/2007/2014, p. 258).

SUMÁRIO 187
(will and testament18, swear and promise19) sont les témoins actuels de
ces contacts linguistiques antagonistes. On trouve en effet un nombre
élevé de mots d’origine romane : il ne s’agit pas d’une déviance de
la langue juridique, mais de « l’origine française de nombreux mots
dans le texte ayant une fonction juridique » remontant à l’invasion de
la Grande-Bretagne par Guillaume le Conquérant (Sorlin, 2014 : 75).

1.4. DROIT ANGLO-SAXON, DROIT ANGLO-


NORMAND, DROIT ANGLAIS
« La formation du droit commun anglais est certainement
l’une des pages les plus intéressantes de l’histoire du droit »
(Vinogradoff 1926 : 195).

Ainsi, trois grandes périodes historiques peuvent être


distinguées dans la formation du droit en Angleterre, puis au Royaume-
Uni, désignées par trois noms : le droit anglo-saxon, le droit anglo-
normand et le droit anglais sont trois appellations souvent associées
ou considérées comme synonymiques ; cependant elles ne sont pas
interchangeables, elles peuvent s’avérer en effet anachroniques car
elles se réfèrent chacune à une période spécifique de la formation du
droit contemporain au Royaume-Uni.

Le droit anglo-saxon désigne l’ensemble des lois écrites et


des coutumes en vigueur en Angleterre au haut Moyen âge (vers
le Ve siècle après J.-C.) jusqu’à la conquête normande de 1066.
L’héritage du droit romain, notamment les instituions mises en place
par les Romains, disparaissent complétement des iles britanniques
du Ve au VIIe siècles et le droit anglo-saxon s’y développe. Au
VIIe siècle, une nouvelle phase de christianisation commence et le
roi Kent Æthelberht, mort en 616, est le premier souverain anglais

18 Ces deux noms (dernières volontés et testament) désignant le testament en français.


19 Ces deux verbes (jurer et promettre) désignant l’engagement dans les serments.

SUMÁRIO 188
saxon converti au christianisme. Les codes de l’époque anglo-
saxonnes sont rédigés en vieil anglais ; les plus anciens sont la Loi
d’Æthelberht (début du VIIe siècle), la loi de Hlothhere et Eadric (fin
du VIIe siècle) et la loi de Wihtred et d’Ine de Wessex (début du VIIIe
siècle). Un désir d’équité et d’une justice réparatrice sous l’égide du
roi caractérisent ces codes.

Anglo-normand désigne la période s’entendant entre 1066 et


1189. Si le droit devient anglo-normand, « il est difficile de considérer
qu’après l’invasion normande il fut fait table rase des pratiques
judiciaires anglo-saxonnes tellement la tradition légale était forte »
(Vacher, 2004, thèse). Les Leges Henrici Primi ou Droit du roi Henri
1er rassemblent lois et coutumes anglo-saxonnes et anglo-danoises,
et forment une compilation des sources juridiques du XIIe siècles,
qui se terminant par les doctrines normandes du traité de Glanville20.
Ce traité de Glanville est rédigé en latin entre 1187 et 1189 : premier
traité compilant les lois et coutumes anglaises, il est considéré par les
historiens comme l’ace de naissance de la common law.

La plus ancienne loi toujours en vigueur en droit anglais est


le Distress Act21 de 1267, loi incluse dans the statute of Marlborough,
qui peut se trouver sur le site officiel juridique22 du Royaume-Uni
: cette loi dispose des conditions de demande de dommages et
intérêts (distresses), considérées comme illégales en dehors de tout
système juridique. Elaborée entre le XIe et le XVe siècles, la common
law s’enrichit de coutumes locales et accorde une importance plus

20 Ranulf de Glanville ou de Glanvill était un homme d’état et juge anglais (justiciar), haut-shérif du
comté de Leicestershire entre 1163 et 1170, auteur du premier traité connu sur les lois anglaises qui
porte son nom.
21 “It shall be lawful for no Man from henceforth, for any manner of Cause, to take Distresses out of his
Fee, nor in the King’s High-way, nor in the common Street, but only to the King or his Officers having
special Authority to do the same”. [Il ne sera désormais permis à aucun homme, pour quelque
raison que ce soit, de prendre des dommages et intérêts sur la propriété d’un individu, ni sur les
rues du roi, ni sur les routes communes, mais seulement auprès du roi ou de ses officiers ayant
une autorité spéciale pour le faire (ma traduction)].
22 https://www.legislation.gov.uk/aep/Hen3cc1415/52/1 ; ce site l’équivalent du site français Legifrance.

SUMÁRIO 189
grande aux précédents jurisprudentiels. Devant la rigidité de règles
de la common law et de certains manques, la notion d’equity fait son
apparition, qui est une juridiction parallèle basée sur les principes de
justice et d’équité ; deux branches de droit coexistent et il convient de
déterminer dans quelle branche de droit l’action se situera ; equity et
common law sont aussi important en droit anglais que droit public et
droit privé en droit français.

Le droit anglais est le système juridique prévalant en


Angleterre et au pays de Galles : il est distinct du droit écossais23 et
du droit de l’Irlande du Nord24 ; ces trois systèmes juridiques distincts
forment le droit du Royaume-Uni. C’est par les laws du Wales Act,
deux lois de 1535 et de 1542, que le système juridique du pays de
Galles est intégré à celui de l’Angleterre. Nous utiliserons le terme
droit anglais dans ce texte pour désigner le droit du Royaume-Uni.

2. ETUDE JURITRADUCTOLOGIQUE :
LES DROITS CIVIQUES EN DROIT ROMANO-CIVILISTE
ET EN COMMON LAW : DEUX NOTIONS DIFFÉRENTES ?

2.1. QU’EST-CE QUE LA JURITRADUCTOLOGIE ?


La juritraductologie est un « nouveau champ d’étude
interdisciplinaire qui se développe en France depuis le début du

23 Le droit écossais est un droit autonome garanti par l’Acte d’Union de 1707 et caractérisé par un
système mixte de common law et de droit romano-civiliste.
24 Le droit nord-irlandais existe depuis le Government of Ireland Act de 1920.

SUMÁRIO 190
XXIe siècle25 ». L’étude comparatiste entre droit romano-civiliste et
droit de la Common law menée sur les deux notions étudiées est une
approche juritraductologique26 en trois étapes (étape sémasiologique,
droit comparé et étape onomasiologique) : la première étape
sémasiologique (du mot vers le sens) est une étape conduite dans
les langues sources (LS) et consiste à analyser les définitions du
terme dans les dictionnaires généraux et juridiques en langue
source; la deuxième étape de droit comparé consiste en une
comparaison des définitions dans les textes juridiques des langues
étudiées (la constitution française par exemple) ; la troisième étape
onomasiologique (du sens vers le mot) permet de proposer une
équivalence juridiquement juste dans le langues cibles (LC) au vu des
analyses de similitudes et de divergences menées dans l’étape 2. Les
conclusions de l’analyse juritraductologique permettent de proposer
une équivalence éventuelle entre les notions en droit romano-civiliste
et en droit de common law (étape 3).

Une incursion dans les textes législatifs des deux pays permet
une délimitation et une lecture plus complète, voire complémen-
taire, de ces notions.

2.2. UNE AMBIGUÏTÉ SÉMANTIQUE ET UNE AMBIGUÏTÉ LEXICALE


La longue période de contact entre les langues normand-
française et anglo-saxonne en Angleterre (entre 1066 et 1362, année
de la promulgation de The Pleading in English Act, le plaidoyer en
anglais) a façonné une langue du droit comprenant de nombreux
emprunts français en langue juridique anglaise. Les faux amis ou

25 Monjean-Decaudin, Sylvie (2019) La juritraductologie, où en est-on en 2018 ? » in Franck Barbin et


Sylvie Monjean-Decaudin, dir. Aspects théoriques et pratiques de la traduction juridique et écono-
mique. Paris : Garnier (coll. Translatio), 17-31.
26 Monjean-Decaudin, Sylvie (2012b) : Le droit comparé dans le processus de la traduction juridique.
In : Christine Pagnoule. Traduire les Droits, Liège : Université de Liège, 71-88.

SUMÁRIO 191
mots transparents sont légion et il convient d’apporter certaines
clarifications lexicales pour la suite des propos qui nous intéressent,
car l’ambiguïté est grande : on parle de droits civiques et de civil
rights en anglais. Les deux notions sont-elles équivalentes ?

2.3. ETUDE JURITRADUCTOLOGIQUE SUR


LA NOTION DE DROITS CIVIQUES

2.3.1. Etape sémasiologique


La première étape consiste à rechercher les termes et
définitions dans les dictionnaires unilingues généralistes et juridiques.

Le dictionnaire généraliste français le Robert27 indique que


« civique est relatif au citoyen » et cite le composé « droits civiques ».
De son côté le Vocabulaire Juridique de G. Cornu (2016) indique sous
l’entrée « civique » : « concerne la participation active des citoyens au
gouvernement de la cité » ; sous droits civiques ce même dictionnaire
indique « droits civiques [sont les] droits que la loi confère aux citoyens,
ex. électoral, éligibilité, aptitude à être nommé à une fonction publique,
droit en justice, droit d’être tuteur ou curateur » (Cornu 2026 : 178).

Trois traductions en anglais de ce terme sont proposées


dans le dictionnaire en ligne Wordreference28 : civic rights, civil rights
et citizen’s rights.

a. Civic rights

Le dictionnaire généraliste Oxford English Dictionary (OED)29


indique que civic est « officially connected with a town or city »

27 https://dictionnaire.lerobert.com/definition/civique.
28 https://www.wordreference.com/fren/civique.
29 https://www.oxfordlearnersdictionaries.com/definition/english/civic.

SUMÁRIO 192
(en lien officiel avec une ville ou une métropole) ou « con-
nected with the people who live in a town or city » (en lien
avec les personnes vivant dans cette ville ou métropole » ; le
composé civic rights n’apparait pas, en revanche on peut lire
civic duties (obligations civiques). La définition de civic porte
sur les comportements des résidents d’une ville ou métropole
et ne concerne aucunement la notion de citoyenneté. Le dic-
tionnaire juridique Dictionary of Law (Oxford 2018) (ODL) ne
contient aucune entrée civic.

b. Civil rights

Civil se définit dans le OED comme « connected with the peo-


ple who live in a country30 » (en lien avec les habitants d’un
pays) ou « involving personal legal matters and not criminal
law » (impliquant des questions juridiques personnelles, en
dehors du droit pénal). L’entrée civil rights n’existe pas dans le
dictionnaire juridique ODL.

c. Citizen’s rights

Citizen est « a person who has the legal right to belong to a


particular country » (personne ayant le droit juridique d’appar-
tenir à un pays) dans le OED. L’entrée citizenship existe dans
le ODL « citizen of the UK and Colonies: a form of citizenship
created by the British Nationality Act 1948. By the British
Nationality Act 1981 it was replaced as from 1 January 1983
by British citizenship, British dependent Territories citizenship
and British Overseas citizenship” (citoyenneté du RU et des
colonies : statut de citoyenneté mis en place par le British
Nationality Act de 1948 et remplacé par le British Nationality
Act de 1981, en citoyenneté britannique, citoyenneté des ter-
ritoires dépendants britanniques, citoyenneté des territoires
britanniques d’outre-mer ».

30 https://www.oxfordlearnersdictionaries.com/definition/english/civil?q=civil.

SUMÁRIO 193
2.3.2. Etape de droit comparé
Les droits civiques ne doivent pas être confondus avec les
droits civils ou droits de l’Homme. L’une des différences principales
semble être que les droits civiques sont octroyés par l’État à ses
citoyens, alors que les étrangers aussi peuvent se prévaloir des droits
de l’Homme, qui sont universels. Les droits civiques sont l’ensemble
des droits et privilèges accordés à tous les citoyens d’un État. Ils ont
pour objectif de protéger les libertés de chaque individu ; ils sont
prévus et encadrés par les lois. Un citoyen français peut perdre
ses droits civiques suite à une procédure judiciaire ou en être privé
temporairement. La privation temporaire peut durer plus de 5 ans
pour un délit et 10 ans pour un crime. La perte des droits civiques est
inscrite dans le casier judiciaire de l’individu. Elle entraine la perte du
droit de vote et du droit d’éligibilité ou encore l’interdiction d’exercer
en tant que fonctionnaire.

a. La citoyenneté française

Sont citoyens français les personnes ayant la nationalité


française et jouissant de leurs droits civils et politiques. Le
droit de vote, le droit d’éligibilité, le droit d’élection sont des
droits civiques attachés à la nationalité française. Le texte de
la Constitution française se contente de poser le principe, en
son article 3, que :
Sont électeurs, dans les conditions déterminées par la
loi, tous les nationaux français majeurs des deux sexes,
jouissant de leurs droits civils et politiques.

b. Six types de nationalité britannique, chacune ayant des


degrés différents de droits politiques et de citizen’s rights

Sur le site gouvernemental officiel britannique31, citoyen-


neté et nationalité sont liées dans cette définition : British

31 https://www.gov.uk/types-of-british-nationality.

SUMÁRIO 194
citizenship is the most common type of British nationality
(la citoyenneté britannique est le statut le plus courant de
nationalité britannique), avec des conditions ; il existe ainsi
six classes de nationalités au Royaume-Uni :
– British Citizens (citoyens britanniques) ;

– British Overseas Territories citizens (citoyens des territoires


d’outre-mer britanniques) ;

– British Overseas Citizens (citoyens britanniques d’outre-mer) ;

– British subjects (sujets britanniques)32 ;

– British Nationals (overseas) (ressortissants britanniques


d’outre-mer) ;

– British protected persons (personnes bénéficiant de la protec-


tion du Royaume-Uni).

Ces six classes de nationalités au Royaume-Uni33 sont définies


en termes de citizen’s rights dont certains sont énumérés ci-dessous :
– les citoyens britanniques (British Citizens) sont titulaires d’un
passeport britannique, sont électeurs et éligibles pour tous les
scrutins, peuvent vivre et travailler librement au Royaume-Uni
(right of abode) sans aucun contrôle douanier lorsqu’ils quittent
ou entrent dans le pays ;

– les citoyens des territoires d’outre-mer britanniques (British


Overseas Territories citizens) peuvent être titulaires d’un pas-
seport britannique (avec indication du territoire, par exemple
Anguilla ou les Bermudes, les îles Caïman ou les îles Malouines),
sont électeurs et éligibles pour certains scrutins sous certaines
conditions, peuvent prétendre à la protection diplomatique
britannique, recevoir une assistance consulaire, mais sont
soumis aux contrôles douaniers lorsqu’ils entrent ou quittent le
Royaume-Uni, n’ont pas automatiquement le droit de vivre ou

32 James Bond se présente comme sujet de sa Majesté.


33 https://www.gov.uk/types-of-british-nationality/british-citizenship.

SUMÁRIO 195
travailler au Royaume-Uni et ne sont pas considérés comme
des ressortissants britanniques par l’Union Européenne ;

– les citoyens britanniques d’outre-mer (British Overseas Citizens


ou BOC) peuvent être titulaires d’un passeport britannique
(avec indication du territoire, tel Hong Kong), sont électeurs
et éligibles pour certains scrutins sous certaines conditions,
peuvent prétendre à la protection diplomatique britannique,
recevoir une assistance consulaire, mais sont soumis aux con-
trôles douaniers lorsqu’ils entrent ou quittent le Royaume-Uni
et n’ont pas automatiquement le droit de vivre ou travailler au
Royaume-Uni ;

– les sujets britanniques (British subjects)34 peuvent être titulaires


d’un passeport britannique, sont électeurs et éligibles pour cer-
tains scrutins sous certaines conditions, peuvent prétendre à
la protection diplomatique britannique, recevoir une assistance
consulaire, mais sont soumis aux contrôles douaniers lorsqu’ils
entrent ou quittent le Royaume-Uni et n’ont pas automatique-
ment le droit de vivre ou travailler au Royaume-Uni et ne sont
pas considérés comme des ressortissants britanniques par
l’Union Européenne ; il s’agit d’un statut honorifique, peu de
personnes demandent ce statut ;

– les ressortissants britanniques d’outre-mer (British Nationals


(overseas) peuvent être titulaires d’un passeport britannique,
sont électeurs et éligibles sous certaines conditions, peuvent
prétendre à la protection diplomatique britannique, recevoir
une assistance consulaire, mais sont soumis aux contrôles dou-
aniers lorsqu’ils entrent ou quittent le Royaume-Uni et n’ont pas
automatiquement le droit de vivre ou travailler au Royaume-Uni
et ne sont pas considérés comme des ressortissants britanni-
ques par l’Union Européenne ; cette classe de nationalité est
liée à l’ancienne colonie de Hong Kong concerne 2,9 millions
de personnes ;

– les personnes bénéficiant de la protection du Royaume-Uni


(British protected persons) peuvent être titulaires d’un passe-
port britannique, prétendre à la protection diplomatique britan-
nique, recevoir une assistance consulaire, mais sont soumis aux

34 James Bond se présente comme sujet de sa Majesté.

SUMÁRIO 196
contrôles aux contrôles douaniers lorsqu’ils entrent ou quittent
le Royaume-Uni et n’ont pas automatiquement le droit de vivre
ou travailler au Royaume-Uni et ne sont pas considérés comme
des ressortissants britanniques par l’Union Européenne.

Le British Nationality Act 1981 est souvent traduit en français


par le groupe coordonné « nationalité et citoyenneté35 » explicitant
que ces deux notions sont indépendantes, complémentaires
dans certains cas et non exclusives : on peut être ressortissant
britannique (national) sans être citoyen britannique (UK citizen)
pour autant, si la personne réside ou est née dans un pays
appartenant à l’Empire britannique, ou pour les habitants de Hong-
Kong) et sans jouir de tous les citizen’s rights, un droit de vote entier
et plein par exemple.

2.3.3. Etape onomasiologique


Les entrées civic rights et civil rights ne contiennent pas
de sens juridique ou sont existantes ; elles sont donc éliminées.
Un autre terme peut être trouvé : les civil liberties in the United
Kingdom font partie de la loi constitutionnelle du Royaume-Uni.
Trouvant leurs origines dans la Magna Carta36 de 1215, les droits
civiques se sont élargis au cours des siècles jusqu’à la ratification
des Human Man Act de 1998.

Le terme citizen’s right est plus approprié et prend en


compte les distinctions fondamentales du British Nationality
Act (1981) distinguant les six types de citoyenneté britannique
assortis de droits civiques différents et non universels. C’est cette
traduction qui est retenue.

35 https://fr.wikipedia.org/wiki/Droit_de_la_nationalit%C3%A9_et_de_la_citoyennet%C3%A9_britannique.
36 La Magna Carta ou Grande Charte, est une charte royale des droits votée par le roi Jean d’Angleterre à
Runnymede, près de Windsor, le 15 juin 1215. Ce document serait le document le plus important dans
l’histoire de la démocratie moderne, concrétisant le passage entre un Etat absolu à un Etat de droit.

SUMÁRIO 197
3. CONCLUSION
Mener une étude juritraductologique sur la notion de droits
civiques, notion centrale dans la définition de la nationalité et de
la citoyenneté dans les deux pays étudiés, a permis de mettre en
évidence des différences essentielles dans les définitions en droit
romano-germanique et en common law. Liée au contexte historico-
politico juridique du Royaume-Uni, la nationalité est distincte de la
citoyenneté outre-Manche, alors que les deux notions sont liées en
France. Il est quasiment impossible de trouver une définition précise de
nationalité et de citoyenneté dans les codes français ; par opposition,
le British Nationality Act 1981 énumère six classes de nationalités
distinctes et accordées aux citoyens britanniques en fonction de leurs
lieux et dates de naissance ou statuts entre autres. Ainsi, il convient
de traduire « nationalité » vers l’anglais par un composé coordonné
nationality and citizenship. Il est à remarquer que la même dichotomie
se retrouve aux Etats-Unis, pays dans lequel il est possible d’être
ressortissant américain sans être citoyen américain, tels les habitants
des îles américaines Samoa. De plus, les semblables restrictions aux
citizen’s rights (droits civiques) s’appliquent : ni les citoyens ni les
ressortissants des territoires américains ne votent lors des élections
fédérales, ni ne paient d’impôts sur le plan fédéral.

BIBLIOGRAPHIE INDICATIVE
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SUMÁRIO 199
12
Gabriel Alves Vitor
Giorge André Lando
Isabele Bandeira de Moraes D’Angelo

RELATION GENRE-ASSAINISSEMENT
ET IMPACTS SUR LA VIE ET LA SANTÉ
DES FEMMES DANS UNE MUNICIPALITÉ
DE L’INTÉRIEUR DU PERNAMBUCO
LA RELACIÓN GÉNERO-SANEO Y LOS IMPACTOS CAUSADOS
EN LA VIDA Y LA SALUD DE LAS MUJERES EN UN MUNICIPIO
DEL INTERIOR DE PERNAMBUCO
GENDER-SANITATION RELATIONSHIP AND THE IMPACTS CAUSED
ON THE LIFE AND HEALTH OF WOMEN IN A MUNICIPALITY
IN THE INTERIOR OF PERNAMBUCO

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.12
RÉSUMÉ
La recherche vise à décrire les impacts que le manque d’assainissement
de base a sur la santé des femmes dans leur vie quotidienne et à vérifier
la distribution temporelle des cas de maladies d’origine hydrique notifiés
dans les services de référence d’Arcoverde, Pernambuco, dans la période
de 2015 à 2021 dans le but de caractériser le profil de la population
féminine touchée. Pour cela, nous avons utilisé des recherches avec une
approche quantitative, de type bibliographique et exploratoire. De 2015 à
2021, 1 118 déclarations ont été enregistrées pour des maladies liées à un
assainissement environnemental inadéquat à Arcoverde, dont 52,68 %
(589) étaient des femmes, la tranche d’âge la plus touchée étant comprise
entre 0 et 4 ans (30,82 %), l’autorace déclarée de 243 (46%) personnes
qui se sont déclarées brunes, 48 ​​(9%) blanches et 18 (4%) noires. Il est
conclu que l’absence de solutions sanitaires met en péril, avant tout, la
vie des femmes, qui ont des tâches liées à l’assainissement dans leur vie
quotidienne, tout en participant peu à la prise de décision par rapport à
ces questions.
Mots clés : Genre ; Femmes ; Assainissement de base ; Les maladies ;
transmission de l’eau.

SUMÁRIO 201
RESUMEN
La investigación tiene como objetivo desentrañar los impactos que
la falta de saneamiento básico trae a la salud de las mujeres en su
cotidiano y verificar la distribución temporal de dos casos de avería en un
camión cisterna reportados en los servicios de referencia de Arcoverde,
Pernambuco, en el período de 2015 al 2021 con el objetivo de caracterizar el
perfil de la población femenina. Para ello, se utilizó una investigación con
enfoque cuantitativo, bibliográfico y de campo exploratorio. De 2015 a 2021
se registraron 1.118 notificaciones a mujeres relacionadas con saneamiento
ambiental inadecuado en Arcoverde, de estas, 52,68% (589) para mujeres,
con edades entre 0 y 4 años (30,82%), raza declarada de 243 (46%) de
las personas que se declararon pardas, 48 ​​(9%) blancas y 18 (4%) negras.
Concluí que la ausencia de soluciones sanitarias compromete, sobre
todo, la vida de las mujeres, que no hay tareas cotidianas relacionadas
con el saneamiento, al mismo tiempo poca participación en la toma de
decisiones sobre estos temas.
Palabras clave: Género; Mujeres; Saneamiento; Enfermedades; Circulación
de agua.

SUMÁRIO 202
ABSTRACT
The research aims to unravel the impacts that the lack of basic sanitation
brings to women’s health in their daily lives and to verify the temporal
distribution of two cases of breakdown in a water truck reported in the
reference services of Arcoverde, Pernambuco, in the period of 2015. to 2021
with the aim of characterizing the profile of the female population. For this, we
used a research with a quantitative approach, bibliographic and exploratory
field. From 2015 to 2021, 1.118 notifications were registered for women related
to inadequate environmental sanitation in Arcoverde, of these, 52,68% (589)
for female women, aged between 0 and 4 years (30,82%), race declared of
243 (46%) of the people who declared themselves to be brown, 48 (9%)
white and 18 (4%) black. I concluded that the absence of sanitary solutions
compromises, above all, the lives of women, that there are no daily tasks
related to sanitation, at the same time little participation in decision-making
regarding these issues.
Keywords: Gender; Women; Sanitation; Illnesses; Water circulation.

SUMÁRIO 203
INTRODUCTION
L’accès à l’eau potable et aux services d’assainissement
sont des droits humains reconnus par les Nations Unies depuis des
années. Récemment, ce sujet a pris du poids lorsque la question de
l’égalité des sexes a été focalisée conjointement sur la question de
l’assainissement (FREITAS, MAGNABOSCO, 2018).

Selon le rapporteur spécial des Nations Unies, le Brésilien


Léo Heller, l’égalité des genres est un principe fondamental des
droits humains qui n’a pas toujours été respecté dans les politiques
de développement urbain. De l’avis du rapporteur, une action
transformatrice est nécessaire pour parvenir à l’égalité des sexes
en ce qui concerne le droit à un approvisionnement régulier en eau
traitée et à la collecte et au traitement des eaux usées (ONU, 2016).

La population la plus touchée par les conséquences du


manque d’assainissement sont les femmes vivant dans la pauvreté,
dont la plupart sont d’ascendance africaine, les populations rurales
et les personnes vivant dans des établissements informels. Les
femmes sont les plus touchées, car la plupart d’entre elles exercent
des activités domestiques et s’occupent des personnes, dans
lesquelles le manque d’eau et d’autres structures compatibles avec
l’assainissement affectent leur santé. Avec un bien-être limité, elles
subissent des conséquences tant en termes de santé, d’éducation
que de temps consacré aux activités domestiques et économiques
(LIMA et ROESLER, 2021, p. 129).

Selon les données de la deuxième édition de l’étude


O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira, réalisée au Brésil par BRK
Ambiental en 2022, il a été mis en évidence que le nombre de femmes
résidant dans des maisons sans collecte des eaux usées présente un
taux de croissance annuel de 15,5% du nombre de Brésiliens touchés
par le problème. Au cours de la même période, la population féminine

SUMÁRIO 204
touchée par le manque d’eau traitée s’élevait à 15,8 millions, l’absence
de service régulier affectant 24,7 millions de femmes. Le nombre de
femmes sans salle de bain à la maison est passé à 2,5 millions.

L’absence d’assainissement sanitaire constitue également un


facteur aggravant pour les femmes, puisqu’elles sont responsables
de la prise en charge et/ou du traitement de celles qui sont touchées
par des maladies liées à un assainissement insuffisant, en particulier
des maladies hydriques, notamment en raison de la faible qualité
des services. et des solutions, qui affectent la sécurité de l’eau, en
termes de qualité, de quantité et de régularité, ainsi que la collecte
et l’élimination respectueuses de l’environnement des eaux usées et
des déchets solides (SILVA, 2018 ; BREWSTER et al., 2006).

Selon l’Enquête nationale sur la santé (PNS) de l’IBGE, il y a eu


environ 26,3 millions de cas de retrait de femmes dus à des maladies
d’origine hydrique dans le pays tout au long de 2019, 80,6 millions de
cas supplémentaires de retrait pour cause de transmission respiratoire
et hydrique la même année, et environ 458 900 hospitalisations de
femmes en raison d’infections gastro-intestinales et respiratoires
associées au manque d’assainissement (IBGE, 2019).

Compte tenu de ce qui précède, les notes introductives


réitèrent la compréhension et la réflexion essentielles selon lesquelles
l’assainissement de base est un facteur directement lié à la santé, à
la maladie et aux droits humains et sociaux, étant principalement lié
aux activités quotidiennes des femmes à travers le pays.

Ainsi, cette étude se justifie par l’importance d’identifier les


maux découlant du manque d’accès des femmes à l’assainissement
de base, en demandant l’attention voulue aux besoins particuliers des
femmes par rapport à leurs droits fondamentaux et constitutionnels,
visant à améliorer leur qualité de vie, en où un accès adéquat à l’eau
et à l’assainissement est crucial. Ainsi, l’objectif de ce travail est de
décrire les impacts que le manque d’assainissement de base apporte
à la santé des femmes dans leur vie quotidienne et de vérifier la

SUMÁRIO 205
distribution temporelle des cas de maladies d’origine hydrique
signalés dans les services de référence à Arcoverde, Pernambuco,
dans la période de 2015 à 2021 afin de caractériser le profil de la
population féminine touchée.

MÉTHODOLOGIE
Il s’agit d’une stratégie de recherche quantitative, à caractère
exploratoire, à travers une recherche bibliographique de terrain. La
méthode quantitative se caractérise par l’utilisation de la quantification
tant dans les modalités de collecte des informations que dans leur
traitement par des techniques statistiques, des plus simples aux plus
complexes (RICHARDSON, 2002).

Dans un premier temps, une recherche bibliographique a été


effectuée, étape préalable indispensable à chaque projet de recherche
(CERVO ; BERVIAN, 1996). La légitimité de cette option méthodologique
est également confirmée par (BECKER, 1993), lorsqu’il affirme que la
revue de la littérature avant de collecter des données de terrain cherche
à expliquer un problème à partir de références théoriques publiées
dans des documents, constituant une base importante pour le travail
de complément une recherche empirique.

L’analyse exploratoire s’ajoute à cette recherche, qui pour


Prestes (2007) et Dyniewicz (2009), ce type de recherche vise,
notamment lorsqu’il s’agit de recherche bibliographique, à apporter
plus d’informations sur un sujet donné ; faciliter la délimitation d’un
thème d’étude ; définir les objectifs ou formuler les hypothèses d’une
recherche ou, encore, découvrir un nouvel axe pour l’étude que l’on se
propose de mener. De plus, il clarifie et donne un aperçu d’un certain
aspect, en cherchant à savoir comment ce fait ou ce phénomène
se manifeste, ce qui provoque des interférences et comment les
variables impliquées interagissent.

SUMÁRIO 206
La zone géographique de l’étude était l’ensemble du
territoire de la ville d’Arcoverde, située dans l’État de Pernambuco,
dans la région nord-est du Brésil. La population étudiée comprend
les déclarations des femmes qui ont été diagnostiquées avec des
maladies d’origine hydrique et/ou d’autres maladies liées à un
assainissement environnemental inadéquat (DRSAI), dans la période
de 2015 à 2021 dans la commune.

La base de données se composait d’éléments secondaires de


la base de données des indicateurs et des données de base (BRASIL,
2022), disponible sur le site Web du Département d’informatique du
SUS (DATASUS, 2022), géré par le ministère de la Santé et également
par des informations de l’Instituto Institut brésilien de géographie et
de statistique – IBGE (2022), à savoir : Système d’information sur les
maladies à déclaration obligatoire (SinanWeb) ; Système d’Information
Hospitalier (SIH) ; Système d’information ambulatoire (SIA).

Les critères d’inclusion étaient les notifications de maladies


d’origine hydrique dans les bases de données de surveillance
épidémiologique de la municipalité d’Arcoverde/PE, du 1er janvier
2015 au 31 décembre 2021 ; les notifications en double dans les
systèmes d’information épidémiologique ont été exclues.

Les données collectées ont été tabulées en double dans


Microsoft-Excel® v. 2013 et plus tard, ces données ont été triées,
comptabilisées, organisées et distribuées sous forme de graphique.

RÉSULTATS ET DISCUSSION
Afin de vérifier la distribution temporelle des cas de MIRA et
de maladies d’origine hydrique (DVH) à Arcoverde, le graphique 1
a été construit, où les données des notifications des maladies sont
présentées selon la période.

SUMÁRIO 207
Ces maladies sont causées par des agents pathogènes
qui dépendent directement ou indirectement de l’eau pour se
développer, étant liées à l’exposition des personnes à des alternatives
précaires ou absentes pour l’approvisionnement en eau et les égouts
sanitaires (NASCIMENTO, 2011).

Graphique 1 - Répartition des déclarations par DRSAI et maladies hydriques


en Arcoverde-PE, de 2015 à 2021

Source : DATASUS, 2022. Elaboration: Propres auteurs.

De 2015 à 2021, 1 118 notifications DRSAI ont été enregistrées


à Arcoverde. L’année 2016 a enregistré le plus grand nombre de
cas, avec 225 notifications, tandis que l’année 2020 a enregistré le
plus faible nombre de cas, avec 94. Ainsi, considérant que la valeur
maximale a été vérifiée dans une année proche du début de la
série et que la valeur minimale valeur dans l’année la plus récente,
il y a une réduction de 60,09% des hospitalisations pour SARD
dans la période étudiée.

SUMÁRIO 208
En ce qui concerne le nombre de notifications par zone,
nous avons constaté que la zone rurale de la commune totalisait 331
notifications. Étant les années 2019 et 2016 avec le plus grand nombre
de DRSAI, 84 et 73 cas respectivement, et l’année 2020 avec le plus
faible nombre de cas signalés dans la population rurale, 23 cas.

Semblable à la présente étude, une étude réalisée dans une


zone du nord-est du pays a présenté un nombre de notifications de
DRSAI supérieur à la moyenne de la Région générale du Nord-Est,
ce qui met en évidence les disparités existantes sur ce territoire du
pays dans son ensemble (PIMENTEL et al., 2020).

Une étude, menée dans la région du nord-est du Brésil, a


identifié comme cause possible des épidémies de SARD l’eau utilisée
par la population à partir de sources d’eau alternatives, telles que
les étangs, les puits, les camions-citernes et les réservoirs d’eau
domestiques, qui ont été contaminés par des bactéries , virus ou
parasites. Étant donné que les épidémies de DRSAI étaient liées à
des sources d’eau provenant à la fois de zones à faible couverture
en assainissement de base et de situations où l’approvisionnement
en eau est interrompu ou souffre d’une contamination massive.
Ainsi, le manque d’eau en quantité et en qualité peut empêcher
l’hygiène de l’environnement domestique et de son environnement,
créant des conditions pour le maintien du cycle de transmission
des maladies liées à un assainissement environnemental inadéquat
(RUFINO et al., 2016).

Dans les communes rurales, du fait de leur dispersion,


l’effondrement des systèmes d’adduction d’eau dans ces régions est
principalement dû à la mauvaise qualité du traitement de l’eau qui
alimente la population, où la moitié de l’eau fournie ne répond que
partiellement aux normes de potabilité du Ministère de l’agriculture et
de la santé. Ainsi, la mauvaise qualité de l’eau chevauche les problèmes
de distribution et d’accès, ayant été responsables de la production de
grandes épidémies. Les conditions environnementales et climatiques,

SUMÁRIO 209
extérieures aux systèmes d’approvisionnement, peuvent aggraver
ces situations à risque dans les régions semi-arides ou soumises
à la variabilité climatique (RUFINO et al., 2016). Pour Moreira et al.
(2020) ces maladies peuvent avoir leur développement causé par
un manque de connaissances sur la collecte, la manipulation et le
stockage approprié de l’eau, ainsi que par des politiques précaires
pour les services d’assainissement qui affectent la qualité de
l’approvisionnement en eau dans la région semi-aride.

Par conséquent, une relation entre l’approvisionnement


en eau et les maladies d’origine hydrique se confirme à travers la
contamination de la source d’eau elle-même, l’accès, la collecte,
le stockage ou le traitement inadéquat dans les populations de la
région semi-aride, qui connaissent une pénurie d’eau naturelle, qui
s’aggrave en période de sécheresse (GOMES, 2021). Le graphique
suivant concerne les données des utilisateurs qui ont été notifiés par
DRSAI et DVH dans la période étudiée, selon le sexe.

Graphique 2 - Répartition des déclarations de DRSAI et maladies hydriques


en Arcoverde-PE, de 2015 à 2021, selon la variable genre

Source: DATASUS, 2022. Elaboration: Propres auteurs.

SUMÁRIO 210
L’échantillon interrogé était équilibré en termes de répartition
par sexe, avec 52,68 % (589) de notifications féminines et 47,32 %
(529) masculines. Semblable à la présente étude, Amaral, Oliveira et
Ramos (2019) ont démontré que le nombre de personnes infectées
par la SARD et les maladies d’origine hydrique était de 53,7 % de
femmes et de 46,3 % d’hommes.

En ce qui concerne le sexe, les données présentées peuvent


être dues aux habitudes régionales, dans lesquelles les femmes
sont en charge des activités domestiques, par conséquent, elles ont
plus de temps pour se faire soigner pour les maladies concernées.
Considérant également que les hommes sont généralement réticents
dans la recherche de services de santé.

Lorsque l’on considère la perspective de genre, il est


important de comprendre que le masculin et le féminin sont
socialement construits sur la base de la valorisation inégale du
travail et de l’attribution différente des rôles entre les hommes et les
femmes (NEVES, 2017). Le genre est compris comme un système
hiérarchique où les femmes sont subjuguées, opprimées et violées.
Dans les mots de Rosa (et al. 2020, p. 98) 1(7):
L’expression genre fait référence à la relation entre les
différents rôles, droits et responsabilités établis entre
les hommes et les femmes, résultant du processus de
socialisation, et influencés par les réalités historiques,
religieuses, économiques et culturelles. Le genre est
associé à l’inégalité de pouvoir, de liberté, de statut, ainsi
qu’à la capacité d’accéder et de contrôler les droits, les
biens et les ressources. Les rôles de genre ne sont pas
statiques, ils peuvent changer au fil du temps et du lieu en
raison de différentes constructions culturelles.

Les différences entre les hommes et les femmes ont été


absorbées par les relations de travail, établissant ainsi une division
sexuelle du travail, où les femmes étaient marginalisées dans le travail
reproductif. Même avec l’inclusion de la main-d’œuvre féminine sur

SUMÁRIO 211
le marché du travail, les femmes continuent d’être principalement
responsables du travail domestique et des soins et sont chargées
d’élever les enfants, de s’occuper de la maison, des personnes âgées
ou d’autres personnes qui dépendent des soins (SOUZA et al., 2021).

Dans cette situation, les femmes sont les plus touchées par
le manque ou l’insuffisance d’accès à l’eau, aux égouts et à l’hygiène.
Les femmes ont encore besoin de soins spécifiques pour leur hygiène
personnelle et le manque de ces services peut générer ou aggraver
des cas de maladies, en plus de provoquer une pauvreté menstruelle
(SOUZA et al., 2021) L’étude O Saneamento e a Vida da Mulher
Brasileira (2018) réalisée par la société BRK Ambiental en partenariat
avec l’Instituto Trata Brasil démontre que le manque d’eau potable
a des impacts directs sur la santé des femmes brésiliennes. Basé
sur des données d’organismes officiels tels que l’IBGE, le document
dresse le tableau des maladies gastro-intestinales et hydriques au
Brésil : les femmes sont restées plus longtemps éloignées de leurs
activités ; dans les cas les plus graves, elles étaient alitées en plus
grand nombre, ainsi que hospitalisées et avaient des infections
gastro-intestinales comme cause de leur décès en plus grand
nombre que les hommes.

Selon l’enquête nationale de santé (PNS) de l’IBGE, sur


les 7,906 millions de cas d’éloignement de femmes pour cause
de diarrhée et autres DVH survenus dans le pays, les femmes en
congé ont été absentes de leurs activités pendant une moyenne de
3,48 jours. Cela impliquait la survenue de 27,506 millions de jours
d’absence des activités de routine au cours d’une année. Si elles
n’avaient pas contracté d’infections, ces femmes pourraient travailler,
étudier ou simplement se reposer pendant cette période où elles
sont tombées malades (IBGE, 2019).

Par rapport à la population masculine, il convient de


mentionner que le nombre moyen de jours d’absence des femmes
en raison de la diarrhée ou de la VH était plus élevé. Dans le groupe

SUMÁRIO 212
des hommes, l’arrêt pour ce motif a duré en moyenne 3,15 jours.
Ainsi, la population féminine représentait 55,3 % du nombre total de
jours d’arrêt de travail et la population masculine seulement 44,7 %
(FREITAS, MAGNABOSCO, 2018).

Outre les maladies causées, directement ou indirectement, par


des problèmes liés à un assainissement environnemental inadéquat,
la question de l’eau peut déclencher des centaines de conflits
violents, puisque 2,1 milliards de personnes dans le monde n’ont pas
accès à l’eau potable (CONFALONIERI et al., 2010 ; UNICEF, 2017).

Selon l’OMS/Unicef ​​​​(2017), dans 80 % des ménages qui


n’ont pas un accès adéquat à l’eau, les femmes et les filles sont
responsables de la collecte de l’eau. Lorsqu’il n’y a pas de disponibilité
à proximité de la maison, les femmes et les enfants doivent souvent
parcourir de longues distances jusqu’à la source d’eau la plus proche
(THE WORLD BANK, 2017).

Le manque de disponibilité de l’accès à l’eau finit par les rendre


vulnérables à la violence et aux abus sexuels qui peuvent survenir
pendant le trajet pour accéder à l’eau (HABID, 2020 ; SORENSON
et al., 2011 ; SOMMER et al., 2015). Des études rapportent des cas de
viols indiquant qu’ils se produisent en allant chercher de l’eau ou en
lavant des affaires qui sont faites à l’extérieur de la maison. Des abus
sexuels sont également signalés lorsque la source d’eau se trouve
dans des fermes privées. Outre les abus sexuels et physiques, les
accidents avec des véhicules et des animaux sont fréquents, puisque
les chemins à emprunter passent par des autoroutes dangereuses
ou des tronçons habités par divers animaux (HABID, 2020 ;
SORENSON et al., 2011).

Parallèlement, le poids du réservoir d’eau, souvent porté


au-dessus de la tête, peut provoquer des douleurs musculos-
quelettiques, un avortement prématuré et une perte de cheveux
(SORENSON et al., 2011 ; BAKER et al., 2018 ; KOOWAL, WALLE, 2013 ;

SUMÁRIO 213
PICKERING, DAVIS, 2012). Le manque d’eau peut donc égale-
ment nuire à l’hygiène pendant la période menstruelle, ce qui peut
entraîner une infection du système reproducteur, une inflammation
du bassin et l’infertilité. Une mauvaise hygiène peut également cau-
ser des infections des voies urinaires directement associées aux
naissances prématurées, aux malformations fœtales et à la préé-
clampsie (KOOWAL, WALLE, 2013 ; BAKER et al., 2018). Ainsi, certai-
nes recherches montrent que, lorsque l’accès est facilité, la réduction
du temps de collecte peut être utilisée dans les activités génératrices
de revenus, dans les soins de santé pour la femme elle-même et
les enfants et dans les activités scolaires (KOOWAL, WALLE, 2013 ;
PICKING, DAVIS, 2012).

Graphique 3 - Répartition des déclarations de DRSAI et maladies hydriques


dans la population féminine d’Arcoverde-PE selon la tranche d’âge,
entre 2015 et 2021, (n=589)

Source: DATASUS, 2022. Elaboration: Propres auteurs.

Le résultat de l’incidence de la MIRA et des maladies d’origine


hydrique parmi les différents groupes d’âge analysés dans la popu-
lation féminine a montré une différence statistiquement significative.

SUMÁRIO 214
Ainsi, la tranche d’âge de 0 à 4 ans a une incidence plus élevée que
les onze autres catégories (30,82%) et qu’il existe également une dif-
férence significative entre les catégories d’enfants de moins de 1 an
(17,22%) et entre 5 à 9 ans (14,8%) (Graphique 3).

Dans l’étude de Freitas et Magnabosco (2018), les absences


dues aux maladies d’origine hydrique étaient concentrées chez les
femmes plus jeunes. Dans le groupe d’âge allant jusqu’à 14 ans,
l’incidence du retrait des activités de routine a atteint 132,5 cas
pour mille femmes. Dans la tranche d’âge comprise entre 15 et 29
ans, l’incidence a chuté à 79,1 cas pour mille femmes. A partir de 30
ans, le taux d’incidence était compris entre 50 et 55 cas pour mille
femmes. Il convient de noter que, pour presque tous les groupes
d’âge, l’incidence des feuilles dues à la DVH est plus élevée dans
la population féminine que dans la population masculine. La plus
grande différence, tant en valeur absolue que relative, s’est produite
dans le groupe d’âge des personnes âgées de 15 à 29 ans, où il y
avait une forte concentration d’étudiants et de mères dans ce groupe
d’âge (FREITAS, MAGNABOSCO, 2018).

Ainsi, on considère que les maladies d’origine hydrique


surviennent dans tous les groupes d’âge, cependant, la population
infantile, en particulier celle de moins de cinq ans, est considérée
comme plus vulnérable, étant l’une des principales causes de
morbidité et de mortalité (ANDREAZZI, 2007 ; PEREIRA et CABRAL,
2008 ; SABINO, 2016).

Semblables aux résultats de la présente étude, d’autres études


renforcent le fait que le taux élevé de maladies d’origine hydrique se
concentre dans les tranches d’âge extrêmes, principalement dans
le groupe des enfants de moins de 2 ans et des personnes âgées,
devenant les groupes avec le plus grand nombre d’hospitalisations.
et de séjour hospitalier dans le Nord et le Nord-Est (RASELLA, 2013 ;
BÜHLER, 2014 ; SIQUEIRA et al., 2017).

SUMÁRIO 215
Il fut un temps où, toutes les 14 secondes, un enfant mourait
de maladies hydriques. On estime que 80% de toutes les maladies
et plus d’un tiers des décès dans les pays en développement sont
causés par la consommation d’eau contaminée et, en moyenne,
jusqu’à un dixième du temps productif de chaque personne est perdu
en raison de maladies liées à l’eau. eau (FIALHO, 2016).

Un des facteurs importants pour l’émergence, ainsi que


le contrôle des maladies hydriques dans la population infantile,
est associé à l’éducation maternelle (PORTELA et al., 2011). Ainsi,
certains auteurs soulignent l’importance de créer des méthodes
et des incitations qui atténuent l’apparition de ces maladies. Par
exemple, l’étude menée par Sabino (2016), qui a proposé l’élaboration
d’un livret pédagogique dans le but de promouvoir l’auto-efficacité
maternelle pour la prévention et, par conséquent, la réduction des
taux de maladies hydriques infantiles (SABINO, 2016).

Trindade, Sã-Oliveira et Silva et al. (2015) soulignent que les


écoles sont des lieux où les enfants et les adolescents passent la
majeure partie de leur temps pendant la journée, avec au moins 200
jours d’école par an. Ce séjour à l’école détermine que des quantités
d’eau pertinentes sont ingérées. A cet effet, l’eau distribuée dans les
établissements scolaires doit être de qualité potable conformément
aux dispositions de la législation du Ministère de la Santé.

SUMÁRIO 216
Graphique 4 - Répartition des déclarations de DRSAI et maladies hydriques
dans la population féminine d’Arcoverde-PE selon la race auto-déclarée,
entre 2015 et 2021, (n=589)

Source: DATASUS, 2022. Elaboration: Propres auteurs.

Les résultats exprimés dans le tableau montrent que dans


la question de la race auto-déclarée, un total de 38 notifications
provient de personnes qui se déclarent jaunes (7%), 48 autres
(9%) blanches, 243 (46%) brunes et 18 notifications d’utilisateurs
de personnes autodéclarées noires, environ 4% des cas, 1 cas a été
signalé chez les autochtones, et dans 181 autres notifications (34%)
la race n’a pas été informée.

L’étude O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira (2018) a


montré que l’incidence des absences dues aux maladies d’origine
hydrique était extrêmement élevée dans la population féminine
indigène. Dans ce groupe, il y avait 175,9 cas pour mille femmes, ce
qui n’est pas une réalité dans notre étude, puisque la municipalité
d’Arcoverde ne compte pas un grand groupe autochtone. L’étude
susmentionnée a également révélé que la population des femmes
brunes autodéclarées enregistrait également un taux élevé : 80,2
cas pour mille femmes. Et le taux était relativement plus faible chez
les femmes noires autodéclarées, un groupe dans lequel l’incidence
n’était que de 48,9 cas pour mille femmes (TRATA BRASIL, 2018).

SUMÁRIO 217
Les données mentionnées ci-dessus diffèrent de la situation au
Brésil en 2019, selon les Nations Unies, les femmes noires sont les
plus touchées, car, pour la plupart, elles effectuent des activités
domestiques et s’occupent des personnes, dans lesquelles le manque
d’eau et d’autres des structures conformes à l’assainissement, affectent
leur santé. Ainsi, les femmes autoproclamées brunes, indigènes et
noires du Brésil sont principalement concernées (ONU, 2019).

CONSIDÉRATIONS FINALES
Les conclusions de ce travail remontent donc à l’inadéquation
et au manque d’assainissement qui compromettent directement la
santé des femmes brésiliennes et entraînent des conséquences dans
leur vie. Les femmes sont considérées comme les plus touchées par
les conséquences du manque d’accès à l’eau potable et à de bonnes
conditions d’assainissement, en même temps elles participent peu à
la prise de décision concernant ces questions.

Nous avons montré que le manque d’assainissement entraîne


la survenue de maladies d’origine hydrique qui, selon leur gravité,
conduisent les femmes à être soustraites à leurs activités de routine,
alitées ou hospitalisées. Dans les cas extrêmes, ces infections
associées à un mauvais assainissement entraînent la mort.

En plus des problèmes de santé, les femmes sont affectées


lorsqu’on pense à d’autres contextes liés au manque d’assainissement
de base, en particulier là où l’eau est rare, et ce sont les femmes qui
transportent, stockent et utilisent l’eau, que ce soit pour cuisiner ou
effectuer des tâches de nettoyage, ce qui provoque le manque de
temps pour mener à bien d’autres activités, qu’il s’agisse de participer
à des politiques publiques, de travailler ou d’étudier ; en plus des
problèmes de santé; augmentation de la dépendance économique
et même des cas de violence.

SUMÁRIO 218
De cette manière, il est possible d’observer les principales
difficultés et obstacles, et comment les femmes sont touchées par
les inégalités sociales, voient leurs droits à la santé et à une vie
digne violés. Ainsi, par rapport aux questions liées au genre et aux
conditions d’assainissement de base, des politiques publiques sont
nécessaires notamment pour les femmes, qui reflètent combien de
progrès doivent encore être accomplis pour que le droit au bien-
être et à la santé soient des priorités dans la réalisation du bien-
être humain des femmes. et les droits sociaux. Ce qui nécessite
également l’amélioration théorique et intellectuelle qui conduit à de
nouvelles conceptions autour du thème, à la recherche de la justice
sociale et de l’équité.

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SUMÁRIO 222
13
Fernando da Silva Cardoso

ÉDUCATION AUX
DROITS DE L’HOMME,
À LA CITOYENNETÉ
ET À LA DIVERSITÉ
SOCIOCULTURELLE :
UNE BRÈVE GÉNÉALOGIE DE
L’HISTOIRE RÉCENTE DU BRÉSIL

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.13
INTRODUCTION
Les notions centrales qui composent l’idée d’éducation aux
droits de l’homme (EDH) s’entremêlent avec l’histoire même des
luttes et des apprentissages réalisés/mis en pratique par différents
groupes sociaux qui, au fil du temps - et, encore aujourd’hui -, ont agi
pour droits de l’homme (DH). Les préceptes de base pour penser la
société et ses orientations trouvent donc leur origine dans les luttes
pour le respect et la reconnaissance de la diversité socioculturelle.

Un tel processus historique, au Brésil, se délimite, au cours des


dernières décennies, à partir d’événements qui permettent d’expérimenter
et d’argumenter sur la façon dont les luttes populaires ont été, dans le
passé, et sont, dans le présent du pays, des éléments fondamentaux pour
l’émergence de nouvelles dynamiques socioculturelles de formation et
de maturation par et dans l’agenda social.

De cette façon, j’essaie, dans cet essai, de refléter dans quelle


mesure les conflits politiques et populaires menés au cours des
dernières décennies, au Brésil, gardent des indices sur la façon de
dimensionner de manière critique le passé, le présent et l’avenir, en
particulier en ce qui concerne l’urgence de nouvelles dynamiques
sociales compromises avec justice sociale et valorisation de la diversité.

L’EDH ENTRE VIOLENCE, DIVERSITÉ


ET LUTTES SOCIALES
Dallari (2007) mentionne que l’agenda des luttes sociales au
Brésil est fortement lié au protagonisme contre la dictature militaire
mise en place en 1964, d’une part, et au consensus mondial selon

SUMÁRIO 224
lequel les droits de l’homme doivent être le fondement d’une société
libre, harmonieux et juste1. De telle manière, selon Fortes (2010, p. 07),
Le préambule de la Déclaration universelle des droits de
l’homme attirait déjà l’attention sur la nécessité pour
les individus et les entités de lutter pour l’éducation
aux droits de l’homme, annonçant et collaborant pour
forger la préoccupation d’Hanna Arendt selon laquelle
les hommes ne naissent pas libres et égaux en dignité
et en droits, mais qu’ils conquièrent ces droits dans
les processus de construction et de reconstruction,
d’organisation et de lutte politique. (nous soulignons).

L’importance de développer l’éducation aux droits de


l’homme, en tant qu’instrument de «mobilisation», face aux violations
des droits de l’homme, non seulement au Brésil, mais aussi dans
le monde, a été articulée par les Nations Unies (ONU) lorsqu’il y
avait un besoin diffuser, auprès de tous les peuples, les cadres de la
Déclaration universelle des droits de l’homme (DUDH). Le document
recommande également que les pays facilitent sa diffusion, sa
présentation, sa lecture et son exposition, en particulier dans les
écoles et autres établissements d’enseignement (ONU, 1948).

Au Brésil, avant même le coup d’État militaire de 1964, déjà


dans les années 1950, des actions visant à encourager et à faciliter
la lecture de la DUDH dans les écoles et les programmes éducatifs,
ainsi qu’à travers la presse, la radio et les vidéos éducatives, ont été
menées par divers Conseils liés à l’ONU en tant que mécanismes de
diffusion des droits de l’homme.

1 Un tel consensus découle des efforts de l’ONU pour construire un discours mondial qui affirme les
droits de l’homme. Dans le texte de la Déclaration universelle des droits de l’homme de 1948, il est
indiqué que toute l’humanité partage des valeurs communes, considérées comme le fondement
et la ligne directrice du processus de développement de la communauté internationale, entendues
non seulement comme le rassemblement d’acteurs indépendants, indépendants, mais aussi d’in-
dividus libres et égaux.

SUMÁRIO 225
Sur la base des expériences développées au cours de cette
période, en 1971, la Commission des droits de l’homme des Nations
Unies a demandé à l’UNESCO de réaliser une étude systématique
sur la viabilité et le développement d’une discipline scientifique et
universitaire sur le thème des droits de l’homme. L’intention des
Nations Unies a pointé vers un scénario qui faciliterait l’appréhension
et l’enseignement dans l’enseignement supérieur et à d’autres niveaux
de formation sur le HD.

Dans le champ des (re)significations à l’époque, même si de


manière intuitive ou non systématique, c’est à partir de l’EDH que la
société civile brésilienne et mondiale a trouvé des subsides pour la
construction - et la recherche permanente - d’une pensée collective liée
à la démocratie et le respect de la dignité humaine. Ainsi, l’EDH assume
dans l’histoire brésilienne le noyau politico-pédagogique-revendicatif
des mouvements contre toutes les formes d’oppression exercées
à partir d’idées totalitaires. C’est dans le sens de réaffirmer cette
caractéristique de l’éducation aux droits de l’homme que ce domaine
contribue, à partir de l’engagement de chacun, à une citoyenneté
active (ALBUQUERQUE BENTO, CARDOSO, 2021a, 2021b).

Le rapprochement avec les mouvements sociaux, dans les


années 1960, a été décisif pour la systématisation des processus
de connaissance et de formation. Ce serait, selon Silva (2000), la
première phase de l’EDH – appelée activisme politique par l’auteur –,
considérant que la manière spontanée dont se déroulait l’EDH, à
l’époque, bien que chargée d’une certaine logique de revendication,
impliquait l’idéalisation des expériences éducatives qui rompt avec la
pensée autoritaire dominante. À la fin,
[...] dans la dictature militaire, nous avons dû apprendre à
résister et à intervenir [...] ; Dans les années 1970 et 1980, nous
avons appris à éduquer aux droits de l’homme avec les
travailleurs ruraux, le mouvement d’amnistie, le mouvement
féministe, les mouvements populaires, les mouvements
des droits de l’homme, les mouvements de défense de
l’éducation [...] (ZENAIDE, 2010, p. 69, italiques ajoutés).

SUMÁRIO 226
L’éducation aux droits de l’homme assume avant tout le statut
d’un mécanisme politique de défense des droits de l’homme et contre
diverses formes de violence. C’est à ce moment-là, pour résister à la
violence et s’opposer à la dictature, que le peuple s’est consciemment
organisé et, précisément à cette époque, des organisations sociales
d’une importance capitale ont émergé dans la transmission de
l’histoire des luttes populaires, dans l’affirmation des valeurs
humanistes et pour la défense de la démocratie (DALLARI, 2007).

Il y a donc eu une forte progression de la qualité des revendications


de la population. La réflexivité continue concernant les exigences sociales
de l’époque et la pratique basée sur des préceptes éducatifs et humanistes
s’est produite, en particulier, grâce à la participation, au niveau national, de :
[...] les commissions des droits de l’homme, composées
de juristes, de membres de l’Église catholique, du milieu
universitaire, des mouvements sociaux, qui se sont
incorporées dans le champ des luttes politiques, débats,
dénonciations, articles de journaux, thèses universitaires
[...] (SADER, 2007, p. 81).

FORMATION POUR LA CRITIQUE,


LE CHANGEMENT ET LA JUSTICE SOCIALE
Comme dans l’exemple du Brésil, il y a aussi beaucoup à
apprendre de l’expérience du Cône Sud2. Les abus subis pendant les

2 On peut étendre ce panorama des luttes pour la « construction d’une histoire des droits de l’hom-
me » à d’autres pays latino-américains du Cône Sud. La mobilisation qui a eu lieu en Argentine
connue sous le nom de « Abuelas de Plaza de Mayo », une dissidence du mouvement des « Madres
de Plaza de Mayo », formée par des mères qui ont subi des pratiques de torture et d’innombrables
violences au moment de leur naissance et séparés de leurs enfants nouveau-nés. Ils montraient
à l’ensemble de la société les graves violations qu’ils avaient subies. L’éducation aux droits de
l’homme a été un élément moteur dans la recherche de la justice et l’affirmation d’un cadre qui ne
viole plus les droits, mais d’une éducation pour « plus jamais ».

SUMÁRIO 227
périodes de régime militaire, qui ont réduit les droits de l’homme à la
dimension la plus élémentaire, simplement biologique, de la survie,
ont exigé une plus grande connaissance de la cause de la part du
peuple pour un contre-discours et une action politique. Le cadre de la
transition vers le régime démocratique représentait donc l’ouverture
au processus de construction de la subjectivité individuelle et
collective et de la reconnaissance par rapport à « l’autre ».

C’est à partir des préceptes de l’éducation aux droits de


l’homme que se sont créées, tout au long des périodes de transition
démocratique dans le Cône Sud, des initiatives rythmant la
protection/promotion des droits de l’homme sur les fondements de
l’EDH. Nous pouvons illustrer:
En 1986, la Commission Justice et Paix s’associe au
service Paix et Justice (Serpaj) en Uruguay, fondé [...] en
1980, en pleine dictature militaire. Inspirés par la théologie
de la libération et le travail de Paulo Freire, les militants de
Serpaj ont développé un projet d’éducation aux droits de
l’homme - qui, peu de temps après, sera récompensé par
l’Unesco (BENEVIDES, 2009, p. 322).

Il y avait un lien fort entre la cause religieuse théologique-


libératrice, la « lutte freirienne » contre l’oppression, la défense de
l’exercice des droits fondamentaux et la notion d’instrumentalisation
de l’éducation aux droits de l’homme à cette époque3. Benevides
(2009) et Albuquerque Bento et Cardoso (2021) soulignent que les
travaux de Margarida Genevois4 et Paulo Freire ont été des éléments
marquants dans la composition d’un cadre et d’une articulation en
quête de démocratie et de l’expérience problématisant du quotidien
et des enjeux sociaux.

3 Les cours promus à l’époque par l’Institut interaméricain des droits de l’homme (IIDH), basé au
Costa Rica, ont été des instruments importants de la Commission Justice et Paix dans la promotion
de l’EDH et contre la répression (BENEVIDES, 2009).
4 Ayant effectué un travail important avec la Commission Justice et Paix de l’Archidiocèse de São
Paulo, depuis 1972, dans la défense et la promotion des droits de l’homme, Margarida Genevois est
l’une des grandes représentantes de l’EDH au Brésil.

SUMÁRIO 228
Selon Olabuenaga, Morales et Marroquin (1975, p. 25), les
enseignements de Freire collaboraient au sens de la responsabilité
politique et sociale face aux violations commises et, surtout,
favorisaient une « hypersensibilité historique » capable, dans
l’imaginaire social, diffusant la réflexion ininterrompue sur la violence.
La « fidélité » aux idées de Paulo Freire a eu des répercussions dans
les mouvements/événements pendant des décennies, sous la forme
d’une fonctionnalité critique, certes, la fidélité à l’émancipation sociale
des personnes opprimées. La conscience transitive et dialoguée
proposée par Freire avait une grande valeur et fonctionnalité dans
la lutte pour le respect des droits de l’homme, en plus de construire
le concept de ce que j’appelle dans cet essai le dimensionnisme
politique de l’éducation aux droits de l’homme.

« L’unidimensionnalise » politique et social, la forte inaction et


l’aliénation des classes populaires à l’égard de la citoyenneté et des
droits sociaux, parmi de nombreux autres problèmes, ont été des défis
à l’action en faveur des droits de l’homme depuis les années 1960 au
Brésil et dans d’autres pays. De cette manière, je conceptualise l’idée
du dimensionnisme politique de l’éducation aux droits de l’homme
comme le processus formatif de résistance et de lutte contre toute
dialectique d’avant-garde autoritaire et antidémocratique qui menace
l’expérience de la citoyenneté individuelle et collective.

L’expérience générée par la pédagogie de Paulo Freire, face


à la dictature civile-militaire au Brésil, à mon avis, est un champ
riche pour la contextualisation du concept. Je m’appuie sur les
idées de Freire (1995 ; 1996) pour soutenir que l’EDH a construit des
espaces d’expérience démocratique et de connaissance des droits
fondamentaux, en particulier dans la période de lutte contre le régime
militaire, qui sont intemporels. Discours et apprentissages favorisés
par rapport aux revendications politiques.

L’EDH qui s’est développée tout au long des années 1960,


1970 et 1980 a mis en évidence la conviction philosophique de

SUMÁRIO 229
Paulo Freire lorsqu’il affirmait, selon Olabuenaga, Morales et Marroquin
(1975, p. 16), que : “Se han roto los mecanismos de contención social
que la estruturaban y se perfila um nuevo juego de fuerzas y de
condicionamientos para la convivencia social”. A partir de la pédagogie
de l’action libératrice des opprimés, les mouvements sociaux ont semé
et célébré la vie face à la barbarie.

La pensée freirienne a permis au peuple brésilien,


historiquement opprimé, d’être et de construire un scénario libre
d’oppression et de violence, inspiré par un mouvement éducatif-
humaniste et révolutionnaire. Les idéaux de Freire ont contribué
de manière décisive à la reconstruction de l’histoire du Brésil, aux
côtés d’autres penseurs tels que Florestan Fernandes, Margarida
Genevois, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Lélia González, qui ont aidé
à comprendre la structure sociale et la politique du pays.

POUR RÉFLÉCHIR À L’EDH,


À LA CITOYENNETÉ ET À LA
DIVERSITÉ SOCIOCULTURELLE
L’EDH naît et s’affirme comme un processus et un produit des
principes et du projet d’éducation populaire de Freire, fondateur et
également fondé pour/dans la vocation de construire un scénario de
droits qui valorise la transformation sociale à travers les luttes sociales.
Je le comprends donc comme une action de nature historique et
politique, visant l’engagement pour la diversité, la citoyenneté et
le changement social. Les idéaux éducatifs-humanistes rompent
avec la barbarie, la culture de l’autoritarisme et de l’oubli, s’emparent
de sujets historiquement subalternes sur le passé et le présent et
convergent vers un avenir humaniste.

SUMÁRIO 230
L’autonomisation des différents sujets et groupes sociaux
vulnérables dans l’histoire du pays est étroitement liée aux pratiques
sociales. La recherche de l’insertion signifie donc la lutte pour
l’émancipation des acteurs sociaux et désigne : « [...] un processus
politique de classes dominées qui cherchent à s’affranchir de la
domination, un long processus historique dont l’éducation est un
front de lutte » (FREIRE, 1995, p. 32). La pensée de Paulo Freire a
mis en lumière l’existence de processus déshumanisants, niant le
dialogue. Il a contribué à l’idée que l’éducation aux droits de l’homme
révèle l’assujettissement et le déni des droits, tout en indiquant des
voies pour l’exercice de la citoyenneté.

C’est à partir de la notion « d’être avec le monde » et pas


seulement « d’être dans le monde » que Paulo Freire a institué une
dialectique donnée, qui a formé l’éducation aux droits de l’homme.
Tout dialogue (ré)affirmée dans la pensée de Freire a contribué
à l’ouverture citoyenne-démocratique du pays, comme un signe
directeur, critique, fondé sur la réflexivité et pas seulement de
manière purement mécanique. En ce sens, il y a dans l’histoire des
luttes au Brésil un germe unique d’éducation aux droits de l’homme
et un potentiel épistémique authentiquement freirien. Le potentiel
éducatif et humaniste marque l’histoire de la société brésilienne –
et de tant d’autres pays, en particulier ceux d’Amérique latine – en
ce qui concerne la résignation sociale face aux violations des droits,
l’exercice de la citoyenneté et la formation à la diversité.

L’EDH recadre l’action politique et contribue à la transformation


sociale dans et par l’exercice de la citoyenneté active (BENEVIDES,
1991), à travers la construction des fondements éthico-démocratiques
minimaux de la justice sociale. Prenant comme référence la
conceptualisation apportée par Benevides, dans laquelle, pour
l’auteur, l’exercice de la citoyenneté active se traduit et requiert
« la participation populaire comme possibilité de création, de
transformation et de contrôle du ou des pouvoirs » (1991, p. 20) , et il
est possible d’affirmer que:

SUMÁRIO 231
[...] l’éducation aux droits de l’homme, du point de vue
de la justice, est précisément cette éducation qui éveille
les dominés à la nécessité de «lutter», de s’organiser, de
se mobiliser de manière critique, juste, démocratique,
sérieuse, rigoureuse, disciplinée, sans manipulations,
en vue à la réinvention du monde, à la réinvention du
pouvoir (FREIRE, 1996, p. 99, je souligne).

L’EDH a été déterminante dans l’histoire du pays, notamment


sous la dictature militaire, pour mettre en lumière la nécessité d’accéder
à la citoyenneté nationale, brisée par le totalitarisme de l’époque. En
particulier, les préceptes sont apparus, entre les années 60 et 90,
comme un instrument de connaissance des droits, dans la formation
des valeurs et des attitudes (MENDONÇA, CARDOSO, 2018), dans
et par la lutte sociale en faveur du respect de la personne humaine.
droits, ainsi que dans l’expérience – même menacée – de ceux-ci.

Dans l’histoire brésilienne, de nombreux faits sont identifiés


qui montrent l’importance et la dimension du faire et des « pédagogies
des luttes ». L’idée d’autodétermination a réuni différents segments
de la société civile brésilienne afin de mettre en œuvre des
stratégies en faveur de la diversité socioculturelle et de la pluralité
des idées. Le processus de mobilisation, de distension politique et
de re démocratisation du pays signifie donc, selon Silva (2000), la
deuxième phase de l’EDH, qui a débuté au milieu des années 1980.

Tout le processus de « connaissance des droits » fondé


autour de l’EDH dans les mouvements sociaux a idéalisé des idées
importantes pour la démocratie. Le mouvement pro-participation
populaire à l’Assemblée constituante, par exemple, a assumé, à
ce moment de l’histoire brésilienne, la fonction de clarifier à la
population - qui a vécu avec le régime civile-militaire pendant 21 ans
- ce qu’étaient la démocratie et la liberté. En particulier, la seconde
moitié des années 1980 a amené - avec l’idée de démocratie - l’idée
que la simple transition d’un État totalitaire au républicanisme ne
symbolisait pas la pleine condition de surmonter les graves violations

SUMÁRIO 232
des droits de l’homme qui s’étaient produites. Au contraire, le
postulat a été mis en avant qu’il était indispensable d’aller plus loin et
de rompre avec la culture des privilèges, de la stigmatisation et des
préjugés et de la non-reconnaissance de la collectivité et de l’autre
comme fondement de la citoyenneté. C’est à ce moment, et avec cet
objectif en tête, que d’importantes actions d’éducation aux droits de
l’homme se développent de manière expressive et tangible.

Les années qui ont suivi avant et après la Constitution


fédérale ont été un lien important avec l’Institut interaméricain des
droits de l’homme (IIDH) et ont abouti à des actions de diffusion de
l’EDH au Brésil qui, comme le souligne Miranda (2006, p. 56), ont
été « [...] financés par l’Institut interaméricain des droits de l’homme
et avec le soutien de l’Unesco, des dizaines de cours, séminaires,
conférences, ateliers », organisés pour créer une culture des droits et
des nouvelles pratiques (CARDOSO, 2014). La période et les actions
marquent, selon Magendzo (1999), l’expansion du réseau de l’EDH
non seulement au Brésil, mais dans toute l’Amérique latine.

Les projets liés à l’EDH dans notre pays étaient initialement


concentrés dans quelques pôles : dans le nord-est, avec le travail
de l’Université fédérale de Paraíba et du Bureau de conseil juridique
pour les organisations populaires (GAJOP), qui, avec le Conseil
d’État, la Défense de l’Homme et du Citoyen, l’organisation de
nombreuses actions et initiatives importantes sur le sujet ; et dans
le Sud-Est avec le déjà mentionné Noyau des Droits de l’Homme de
la PUC à Rio de Janeiro, et avec le projet de la Commission Justice
et Paix de l’Archidiocèse de São Paulo (CANDAU, 2000), actions qui
ont été suivies de séminaires thématiques. De plus, à Pernambuco,
dans la période de 1987 à 1991, l’expérience de la mise en relation des
contenus HD dans le programme scolaire et dans la formation des
professionnels dans le cadre du Département d’État de l’éducation a
été initiée, en vue de les développer en tant que politique du système
éducatif de l’État. L’expérience a également bénéficié du soutien de
l’Institut interaméricain des droits de l’homme au Costa Rica.

SUMÁRIO 233
Le processus de mobilisation, d’institution et de systématisation
du projet d’éducation aux droits de l’homme a donc été impulsé
par des cours, des ateliers, des réunions, des tables et des activités
promus par des syndicats d’enseignants et des ONG, à l’intention des
enseignants, des leaders communautaires, des agents populaires et
autres agents sociaux.

C’est cette conception ouverte du contenu des droits de


l’homme qui a inspiré le libellé même de la Constitution fédérale de
1988, qui représente une étape historique pour les droits de l’homme
au Brésil, tout comme elle en est le produit. Dans ce scénario
d’expansion/affirmation des droits, il y a eu la ratification de la
Convention de La Haye et des droits de l’enfant et de l’adolescent et,
en 1990, le Statut de l’enfant et de l’adolescent et la loi sur les lignes
directrices et les bases de l’éducation ont été approuvés, en 1996.
L’EDH a retrouvé – de manière définitive et vivante – la connotation
importante d’un instrument élargissant les garanties, à partir des
notions de citoyenneté et de gouvernance pour l’affirmation –
nécessaire – d’une culture des droits.

C’est, dans la perspective émancipatrice-participative du FC


brésilien, que l’apport et l’avancée normative ont été observés, en
traitant du thème de la DH au Brésil, résultat de l’émancipation des
acteurs impliqués. L’importance de la Magna Carta s’accompagne
également de la (ré)affirmation d’instruments, de fondements et de
cadres juridiques5 sur l’EDH, facteur qui a ouvert l’espace, à partir
des années 1990, à la troisième phase de l’éducation aux droits
de l’homme, marquée par l’approbation/publication des jalons
importants dans ce domaine.

5 Des instruments qui se sont réaffirmés dans la démocratie et à travers les acquis des luttes quo-
tidiennes. Au niveau international, et en Amérique latine, il existe des réglementations qui réaffir-
ment l’objet du DSE, parmi lesquelles : la DUDH de 1948, le Pacte international relatif aux droits civils
et politiques et celui pour la défense des droits économiques, sociaux et culturels , la Convention
Déclaration américaine des droits de l’homme, pour prévenir et punir la torture et pour prévenir,
punir et éliminer la violence à l’égard des femmes, et relative aux droits des enfants, toutes ratifiées
et incorporées dans le système juridique brésilien.

SUMÁRIO 234
L’EDH a donc refait surface, dans la contemporanéité
démocratique – mais globalisée et individualisante – comme un espace
et un mécanisme capable de matérialiser les orientations normatives qui
garantissent les droits de l’homme. C’est dans la nature dialogique de son
débat que se constitue le véritable sens de la diversité, de la solidarité et
de la dignité – dans cet essai compris comme reconnaissance de l’autre
– et donne sens aux lois et aux droits de l’homme.

En outre, la situation historique et sociale du Brésil, régie


par la mondialisation – de plus en plus perverse –, par les politiques
néolibérales et l’(in)sécurité mondiale, sont des circonstances qui
renforcent l’exclusion, sous ses différentes formes et manifestations,
et, par conséquent, deviennent un défi pour l’EDH dans le contexte
démocratique du pays.

Candau (2000), à propos de ce scénario, souligne que ces


problèmes n’affectent pas de la même manière tous les groupes
sociaux et culturels, ni tous les pays, et, dans chaque pays,
différentes régions et personnes. Elle opère selon nous dans cette
logique forte « d’indivisibilisation », dans laquelle certains sujets
sont assumés comme « étrangers » à des personnes qui, du fait de
leurs particularités socio-politico-culturelles, ne se conforment pas
au contexte social de plus en plus marqué par le néolibéralisme et
technologie (SILVA, CARDOSO, 2018).

NOTES À RÉFLÉCHIR...
Ainsi, il devient évident que les préceptes humanistes
éducatifs ont assumé, au cours des dernières décennies, au Brésil,
la responsabilité de construire, en plus d’un ordre démocratique
renouvelé, le contre-discours dans lequel la « disponibilité » humaine
récurrente est remplacée par l’horizon du « droit d’avoir des droits » et
pour la responsabilité et les devoirs envers « l’humain » et le commun.

SUMÁRIO 235
L’expérience des valeurs démocrates-républicaines, les
préceptes de solidarité et la reconnaissance de la dignité humaine de
chaque citoyen, constituent, au fil du temps au Brésil, le fondement et
la finalité de «l’éducation aux droits de l’homme» dans la consolidation
de ces droits. Construire une société basée sur la paix sociale et le
respect des droits de l’homme est devenu le plus grand défi pour
l’EDH ces derniers temps.

Les chemins et mésaventures empruntés aux processus


d’EDH au Brésil montrent que c’est à l’intersection entre dignité,
droits et démocratie que se fonde le concept même d’éducation
aux droits. Sa portée en tant que système de gouvernement évolue,
dans la réalité brésilienne, vers l’affirmation (lente) d’une culture des
valeurs fondée sur l’éducation aux droits de l’homme. Cependant, la
possibilité d’évoluer vers la participation populaire à la construction
du plein respect des droits de l’homme est importante.

L’expérience et la trajectoire brésiliennes révèlent donc


l’importance de l’EDH dans l’expansion de principes tels que la
démocratie et la diversité ; sur la façon dont de telles hypothèses
dynamisent et propagent la politique au service des droits de
l’homme et de la citoyenneté active.

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SUMÁRIO 238
14
Elaine Ferreira do Nascimento
Liana Maria Ibiapina do Monte
Paulo de Tarso Xavier Sousa Júnior

BROTA AÍ NO BONDE :
ÇA POUSSE LÀ-BAS
DANS LE TRAM :
JEUNESSE ET MOYENS DE DURABILITÉ

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.14
INTRODUCTION
Ce texte propose une réflexion autour de la jeunesse et de
ses interfaces avec des aspects élémentaires pour sa formation
tels que la santé, le bien-être, les relations et la territorialité
comme conséquences des modes de durabilité. En ce sens, pour
la construction de cette discussion, une tentative a été faite de
problématiser les mécanismes d’opérationnalisation des actions
liées aux jeunes, sur la base de critères d’éligibilité/exclusion et de
principes de stigmatisation. Cruz et al. (2018) soulignent que c’est
à ce moment de la vie que surgissent les inquiétudes, les choix,
les besoins et les changements de modes d’existence. Ainsi, cette
étape offre des débats inédits sur des situations vécues qui reflètent
directement la qualité de la santé ou son absence.

Ainsi, discuter de la catégorie des jeunes nécessite, dans un


premier temps, de la contextualiser dans le temps et dans l’espace.
Cela est essentiel pour bâtir des stratégies d’intervention génératrices
de connaissances et d’adoption de pratiques novatrices auprès
de ce segment fondées, avant tout, sur sa légitimité. Une jeunesse
qui s’autodéfinit et se construit, car comme l’affirment Maffioleti et
Salvaro (2021), il est assez fréquent que cette partie de la population
se pose des questions nécessaires à sa formation identitaire, comme,
par exemple, comment vivre et explorer sa propre sexualité dans
divers contextes affectifs.

Et, ce sont ces jeunes dans leur diversité, trans et cis, d’origines
raciales et ethniques différentes/similaires, aux orientations sexuelles
multiples ou aucune, qui établissent des relations et permettent
la maturation d’aspects de leur vie, se reflétant directement dans
le contexte de leur vie sociale. bien-être. Un autre point clé est la
reconnaissance des droits garantis à la durabilité et à l’environnement
dans le Statut de la jeunesse, qui dans sa section X, l’art. 34 stipule
que : Les jeunes ont le droit à la durabilité et à un environnement

SUMÁRIO 240
écologiquement équilibré, un bien d’usage commun par les personnes,
essentiel à une qualité de vie saine, et le devoir de le défendre et de le
préserver pour les générations présentes et futures.

La loi n° 12 852 du 5 août 2013 établit le statut de la jeunesse


et prévoit les droits des jeunes, les principes et orientations des
politiques publiques de jeunesse et le système national de jeunesse
(SINAJUVE). Cette loi et les politiques publiques de jeunesse sont
régies par les principes suivants : promotion de l’autonomie et de
l’émancipation des jeunes ; l’appréciation et la promotion de la par-
ticipation sociale et politique, directement et à travers leurs repré-
sentations ; promotion de la créativité et participation au dévelo-
ppement du pays ; la reconnaissance des jeunes comme sujets à
droits universels, générationnels et uniques ; promotion du bien-être,
de l’expérimentation et du développement intégral des jeunes ;
le respect de l’identité et de la diversité individuelle et collective des
jeunes ; la promotion d’une vie sûre, d’une culture de paix, de solida-
rité et de non-discrimination ; et valorisant le dialogue et la convivia-
lité des jeunes avec les autres générations, bref, il garantit aux jeunes
l’éducation, la santé, la culture, le travail, la participation au territoire,
la libre orientation sexuelle (BRASIL, 2013).

Ainsi, l’article cherche à discuter de la tangence de ces jeunes


pluriels dans le contexte brésilien, en tenant compte des aspects qui
rendent difficile la valorisation de leurs identités et de comprendre les
éléments qui composent leurs vulnérabilités, dans une perspective
qui inclut largement la durabilité.

MÉTHODE
Pour cela, une revue de littérature narrative a été établie
tout au long de ce texte. Des recherches ont été effectuées dans
les bibliothèques virtuelles suivantes : Scielo, BVS Brasil, Pepsic et

SUMÁRIO 241
Lilacs, en utilisant les descripteurs suivants : jeunesse, territorialité,
vulnérabilités, affectivité, santé mentale et durabilité. Les références
de l’année 2019 et écrites en portugais font partie de cette étude.
Les publications composées de résumés, de critiques et d’entretiens
ont été exclues de cette enquête. Sur la base de ces critères,
quinze articles ont été sélectionnés et organisés en catégories
d’analyse et de discussion.

Les données ont été analysées à l’aide de la méthode


d’interprétation du sens. Cette méthode est basée sur des principes
herméneutiques-dialectiques qui cherchent à interpréter le contexte, les
raisons et la logique du matériel recherché. Dans la trajectoire analytique-
interprétative des textes, les étapes suivantes ont été suivies : (i) lecture
compréhensive ; (ii) l’identification et l’orientation thématique qui ont
émergé des données ; (iii) identification et problématisation des notions
explicites et implicites des catégories ; (iv) recherche de sens plus larges
(socioculturels), sous-jacents aux contextes ; (v) dialogue entre les idées
problématisées ; et (vi) élaboration d’une synthèse interprétative.

RÉSULTATS ET DISCUSSIONS

JEUNESSE OU JEUNESSE, DE QUOI S’AGIT-IL?


Le terme jeunesse a été utilisé au pluriel – jeunes -, en raison
de la diversité des situations existentielles qui affectent les sujets. Il
souligne que la tranche d’âge ne couvre pas seulement la question
de la jeunesse, car cette catégorie est une construction sociale qui
peut s’exprimer de différentes manières selon les périodes et les
contextes historiques. La pluralité des jeunes se manifeste dans
les choix, les adhésions et les identités. Qu’est-ce que cela signifie
de constater que ce jeune a une couleur de peau, une ethnie, une
identité de genre, qui n’est pas nécessairement binaire, qui peut ou

SUMÁRIO 242
non avoir une orientation sexuelle définie, est inséré dans une certaine
classe économique et sociale, et au sein de celle-ci appartient à des
groupes spécifiques et se retrouver quand même sur un certain
territoire, appartenir à des groupes religieux etc., même avec tout ça,
cette jeunesse aura certaines caractéristiques et, donc, pourra être
identifiée comme une catégorie, sera singulière, hétérogène.

Nardelli, Dornelles et Leal (2019), soulignent que l’attention


accordée aux jeunes a conquis des espaces dans les discours et les
pratiques des agences gouvernementales, non gouvernementales et
unilatérales. Ce tableau devient explicatif en raison de la croissance
de la strate des jeunes, puisqu’une grande partie de notre population
est composée de jeunes. D’autre part, l’exposition de cette jeunesse
à des situations de privation, de dénuement et de pauvreté, est aussi
l’une des motivations pour mener des actions destinées à ce segment.
Dans le contexte mondial d’un ensemble de crises sans précédent,
dont une à l’échelle planétaire, telles que les transformations du
monde du travail, la crise environnementale, résultat de l’avancée du
capitalisme, générant des conséquences à fort impact et coût pour la
vie sur la planète terre et provoquant des maladies graves pour la vie
humaine juvénile des territoires, notamment ceux considérés comme
étant en situation de plus grande vulnérabilité.

Si, d’une part, tout ce scénario génère un niveau d’insécurité, de


peur, d’angoisse dû à la crise économique et environnementale, d’autre
part, il y a tout un mouvement de mobilisation pour l’organisation
politique et culturelle des jeunesses, sur les modes de (r)existence et
durabilité. Dans ce contexte, analyser les jeunes nécessite d’envisager
les diversités et les singularités qui impliquent ce segment.

Ramos (2019) discute du piège présent dans la conception


de la jeunesse comme passage transitionnel, dans lequel il met en
évidence les risques encourus à traiter cette phase comme transitoire,
car cela peut conduire à une confusion de représentativité, au regard
de la dimension de la vie sociale. Selon l’Organisation mondiale de

SUMÁRIO 243
la santé (OMS), cette population est âgée de 15 à 24 ans, d’autre
part, le Statut de l’enfant et de l’adolescent considère les personnes
âgées de 12 à 18 ans comme des adolescents (BRASIL, 2007). Selon
l’Institut brésilien de géographie et de statistique (IBGE), il y a environ
51,3 millions de jeunes vivant au Brésil, en considérant qu’ils ont entre
15 et 29 ans (BRASIL, 2010).

Malgré les différences constatées et utilisées par les divers


mécanismes sociaux, politiques et culturels, il est nécessaire de
considérer la jeunesse dans une dimension diverse et complexe,
puisque, selon Lima (2021), ce moment ne peut être réduit comme
responsable de certaines caractéristiques biologiques, beaucoup
moins psychologique... D’innombrables facteurs provoquent l’adoption
et la construction d’attitudes, de comportements et d’idées. Ainsi,
chaque contexte doit être traité de manière particulière et unique.

Une question importante à problématiser est que, chez les


jeunes, les individus initient et traitent différentes formes d’insertion
sociale, en plus des significations liées aux conditions de vie - telles
que le travail, la formation de la famille et les espaces de citoyenneté.
Dans cette période, des possibilités ou des impossibilités d’insertion
dans la vie productive et sociale, de développement de projets
personnels et sociaux, sont rendues possibles ou expérimentées, il
y a ici une revendication des jeunes pour leur droit à la participation
sociale. Évidemment, en fonction des questions structurées données
aux sujets individuellement et collectivement (SANDER, 2015).

À LA RECHERCHE DE SOINS :
DES JEUNES QUI CHERCHENT À SURVIVRE
Cette même jeunesse, qui se présente de manière différente,
s’articule de manières et de formes différentes. Ainsi, la nécessité
de comprendre comment ce mécanisme se forme et quels sont les
points qui soutiennent cette formation personnelle est évidente.

SUMÁRIO 244
La recherche de Souza et Reis (2021) pointe le point de départ de
cette construction que sont les groupes. Chaque individu commence
à s’identifier à ses pairs, dans lesquels cette stratégie se traduit par
des modes et des croyances similaires. De plus, ce fait rapproche les
jeunes entre eux et encourage même l’initiative d’attitudes fondées
sur le renforcement de ce groupe.

Ce sont ces jeunes qui favorisent également des transformations


importantes non seulement dans leurs modes de vie et leurs
expériences personnelles, mais génèrent également des impacts
dans leur environnement. Être/être à ce stade du développement
humain se traduit aussi par des innovations au sein de la territorialité
dans laquelle ce/ce jeune s’insère. C’est ainsi que Barbosa (2020)
énonce la force motrice qui nait de la voix de ces personnes et
provoque des changements sociaux. Ces changements résultent
des vulnérabilités présentes dans les modes d’habitation et de
localisation. L’union de ces groupes parle alors de leur invisibilité
et de l’absence de puissance publique. Cet aspect est également
essentiel pour le bien-être de ces jeunes.

Ce territoire dominé est le leur et est vu comme un élément


inséré dans l’identité de chacun. Par conséquent, cela aide à la
production de significations personnelles pour chacun. Une autre
conséquence de ce mouvement concerne les échanges établis entre
ces groupes d’égaux. La jeunesse y est mobilisée comme espace
d’organisation, mais aussi de savoir. La connaissance, qui n’est pas
seulement scientifique, est partagée et vue comme une caractéristique
qui contribue à rapprocher ces membres. Les expériences de chacun
sont aussi liées à ce réseau d’information que forment ces jeunes. On
entend ici, une composante fondamentale de cet échange et de la
segmentation de ce réseau : les affections (SALLES ; FRACH, 2021).

Bien que ce point soit clair et évident, il est nécessaire de


comprendre l’existence de la production des affections en tant que
mécanisme populaire et culturel. Mattar et Bega (2020), par exemple,

SUMÁRIO 245
présentent une étude sur les moyens affectifs produits par les jeunes
en contexte scolaire. Si, d’une part, l’étude montre que cet élément est
capable de fonder et de former la personnalité et d’entretenir le bien-
être, d’autre part, il peut être responsable de la ségrégation, voire de
la délégitimation de nombreux sens et significations affectifs. Il faut
donc non seulement écouter le vécu de ces jeunes, mais aussi leur
permettre de construire la symbolique présente dans ces actions.

Les écoles et autres institutions d’enseignement ou encore


les collectifs et associations peuvent être des espaces importants
pour promouvoir l’éducation à l’environnement des jeunes, en vue
de la construction des connaissances ; le développement des
compétences, des attitudes et des valeurs sociales ; prendre soin de
la communauté de vie; la justice; l’équité socio-environnementale ;
ainsi que la protection de l’environnement naturel et bâti. Puisque
l’éducation à l’environnement vise une dimension éducative élargie,
critique et transformatrice de la réalité, issue de la responsabilité
citoyenne et de la réciprocité des relations des êtres humains entre eux
et avec la nature, puisque c’est précisément dans les milieux naturels
que nous avons développé notre capacité à apprendre ensemble
et en continu, ce qui a permis d’améliorer les connaissances et les
actions de plus en plus diverses et complexes.

Dans la perspective du renforcement de la citoyenneté,


de la protection de l’environnement en tant que droit de l’homme
émergent et fondements pour l’avenir de l’humanité, ainsi que de
la promotion de la protection de la communauté de vie, les actions
articulées entre l’État et la société devraient envisager la stimulation
et la renforcement des organisations collectives de jeunesse.
Outre les mouvements et réseaux qui agissent dans le cadre de la
problématique environnementale, dans l’élaboration, l’exécution
et l’évaluation des politiques publiques qui intègrent la dimension
environnementale en faveur du développement durable. L’ensemble
de ces actions articulées pourra favoriser un effet par vagues capable
de produire des relations d’affection et d’affects des jeunes entre eux
et avec l’environnement dans lequel ils se trouvent.

SUMÁRIO 246
Ces affectations sont aussi responsables de la capacité à
légitimer les comportements et les idées d’actions constituées par
les jeunes. Ils peuvent utiliser, par exemple, l’art comme moyen
de se faire entendre et aussi de parler. Ces voix constituent un
ensemble cohérent, mais surtout affectif. Cette production subjective
articule la formation de cris et de signes artistiques, mais avec des
caractéristiques sociales. Il y a là une responsabilité face à cette
action, qui ne masque pas, mais problématise et appelle aussi la
communauté au débat et à la construction collective entre autres
jeunes (ARRUDA, 2020).

LES MOYENS DE L’ENGAGEMENT POPULAIRE DES JEUNES


Comme je l’ai mentionné plus tôt, il y a une force très
puissante au sein de l’union réalisée par ce jeune. Elle est même
capable de produire de nouveaux moyens et modes de durabilité
sociale. Roesler et Soares (2021) attirent l’attention sur la nécessité
de développer le souci de l’environnement, comme alternative à la
santé et au bien-être des personnes dans un lieu donné.

Ce sont précisément ces agents qui sont conscients des


changements qui s’opèrent dans les villes. Et en tant que représentants
de cette même localité, l’engagement de ces groupes promeut
une force de production ou de contre-action qui exclut ou produit
des affects négatifs sur la territorialité. Il y a là un mouvement de
soutien et non un aperçu entre les gouvernements et les institutions.
Ce sont précisément ces jeunes qui veulent être présents pour
aider à construire un environnement plus juste et cohérent avec
les difficultés rencontrées. Indépendamment de l’idéologie ou des
accords politiques, ce sont les jeunes qui fournissent un débat plus
réel et nécessaire sur les améliorations à apporter face aux maux
sociaux et environnementaux (BARROS, 2020).

SUMÁRIO 247
Les jeunes commencent alors à être dans d’autres espaces,
utilisant leurs voix et leurs expériences comme une base solide pour
des changements efficaces de manières et d’actions. Son espace
imprègne également le champ politique, articulant ainsi des mesures
qui contribuent au développement local. L’autonomisation apparaît
dans ce sens, dans lequel les jeunes finissent par encourager
d’autres jeunes et produisent ainsi un cycle de changements. De
cette façon, on peut penser à de nouvelles alternatives d’attention
et de soins pour la santé, le bien-être et la citoyenneté. Assurer
la présence de droits pour ceux qui souffrent d’exclusion et de
marginalisation (FERNANDEZ, 2020).

Un autre point important dans ce sens est la compréhension


des bénéfices pour la santé de cette jeunesse par rapport à tous
les problèmes décrits ci-dessus. Conçue comme une période de
crises existentielles et autres dilemmes, il est assez courant qu’en
cette période, de nombreux jeunes finissent par entrer dans des
conflits. Ces ruptures dans les relations établies peuvent conduire
à l’épuisement et à l’inconfort psychique. Il faut donc prendre
soin de l’aspect émotionnel de cette jeunesse, comme l’affirment
Rossi et Cid (2019).

Qu’est-ce que cela signifie de comprendre que le droit à


l’environnement et à la durabilité nous amène à chercher dans la
diversité des jeunes, à travers leur participation à ses différentes
manifestations et à la recherche d’une éducation environnementale
critique, des moyens de développer et d’appliquer, avec imagination,
la vision d’un monde et d’un mode de vie durables aux niveaux
local, régional, national et mondial. Après tout, les crises qui
frappent presque toutes les sociétés ont déchiré le tissu social et
jeté des millions de personnes dans la marginalité et l’exclusion. Il
convient également de souligner que pour parvenir à la durabilité,
il est nécessaire de garantir des moyens de subsistance suffisants
et décents pour tous.

SUMÁRIO 248
Penser un monde durable, c’est comprendre une logique dans
laquelle équité sociale et écologie s’alignent dans une perspective où
l’égalité des droits de l’humanité ne se limite pas à peupler la planète,
consommer de l’énergie et des produits et décharger des désirs dans
l’environnement, sur une planète avec des disparités extrêmes d’accès
à la consommation parmi les habitants. Mais repenser le sens et les
significations du remplacement des droits humains traditionnels par
des droits culturels et environnementaux, qui vont au-delà des droits
légaux d’égalité entre les hommes.

Il est clair et évident, par conséquent, les nombreux facteurs


qui provoquent des ruptures et des nouveaux départs au sein du
mouvement porté par les jeunes. Que ce soit de manière virtuelle ou
en présentiel, leur union provoque de nouveaux piliers et la rupture
de bien d’autres. Les références pointent alors vers un nouvel avenir,
pas lointain, mais présent dans d’innombrables représentations de
ce que c’est que d’être jeune.

CONSIDÉRATIONS FINALES
Cet article présentait quelques idées déjà construites
scientifiquement, mais surtout, matérialisées par les quatre coins du
pays. Cette jeunesse, à la fois différente, est aussi multiple. Elle se
passe même d’étiquettes et de chaînes, construisant et assumant de
plus en plus sa propre histoire.

Il faut permettre à ces voix de trouver leur place, d’être entendues


et surtout appelées à construire ensemble les espaces sociaux auxquels
elles ont droit. Ainsi, à chaque naissance de mouvement, collectif ou
d’articulation, de nouvelles idées, affections et façons de faire face aux
vulnérabilités existantes rejoindront le train en marche.

SUMÁRIO 249
Cette jeunesse est donc capable d’enseigner et de comprendre
de nombreuses questions non encore comprises par les personnes
et les institutions. Ce sont tous ces sujets qui seront des agents de
transformation sociale, contribuant à une société plus juste avec l’équité
nécessaire. Pour cela, les références ont montré que ces jeunes sont
prêts et ont tout le potentiel possible pour cela, cependant, il faut que
plus de gens y croient aussi. Après tout, dans ce tram il y a des places
pour tout le monde, tout le monde et tout le monde.
“J’vois à la télé ce qu’on dit sur les
jeunes, c’est pas grave
Les jeunes au Brésil ne sont
jamais pris au sérieux”
(Charlie Brown Jr - Chorão / Negra Li
/ Champignon / Pelado, compositeur

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SUMÁRIO 250
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SUMÁRIO 251
15
Cláudson Carvalho
Rogéria Gladys

LE TRAVAIL COMME L’UNE


DES GARANTIES POUR BRISER
LE SILENCE IMPOSÉ AUX CORPS
INVISIBLES DES TRANSSEXUELS
AU BRÉSIL
WORK AS ONE OF THE GUARANTEES OF BREAKING
THE SILENCE IMPOSED ON THE INVISIBILIZED BODIES
OF TRANSEXUALS IN BRAZIL

DOI: 10.31560/pimentacultural/978-85-7221-294-6.15
RÉSUMÉ
L’histoire de la violence contre les personnes transgenres au Brésil est
effrayante, des problèmes qui ont été exacerbés par la crise pandémique de
2020. Des facteurs politiques, sociaux, culturels et économiques entraînent
les inégalités et les hiérarchies qui affectent les groupes subalternes, en
particulier les transsexuels.
Cet article entend démontrer l’importance du travail en tant que droit
social fondamental qui garantit une vie digne aux personnes trans. Le
présent travail a utilisé des recherches bibliographiques où des articles,
des livres, des thèses et des sites Web ont été utilisés en mettant
l’accent sur les études des droits des minorités à la lumière des droits
de l’homme, ainsi que sur la théorie du colonialisme. Les principales
sources de recherche ont été les travaux des auteurs Djamila Ribeiro
et Fernanda Frizzo Bragato. L’exclusion de ces personnes, résultant de
préjugés, affecte les emplois dans divers secteurs, ce qui démontre
la violation des droits sociaux fondamentaux. L’étude démontre la
nécessité de normes capables de garantir efficacement l’inclusion de
ces minorités, visant à l’expansion des actions positives dans le système
juridique brésilien, ainsi que l’importance de créer de nouvelles étapes
civilisatrices, afin que nous puissions créer un modèle plus inclusif. de la
société. , pluriel, et, par conséquent, moins discriminatoire.
Mots-clés : Discrimination ; Transsexualité ; Travail décent-Droits de l’homme ;
Politique publique.

SUMÁRIO 253
ABSTRACT
The history of violence against transgender people in Brazil is frightening,
issues that were intensified with the pandemic crisis in the year 2020.
Political, social, cultural and economic factors result in the inequalities and
hierarchies that affect subalternized groups, especially the transsexuals.
This article intends to demonstrate the importance of work as a fundamental
social right that guarantees trans people a decent life. The present work
used bibliographical research where articles, books, theses and websites
were used, with emphasis on the studies of minority rights in the light of
human rights, as well as the theory of decolonialism. The main sources of
research were the works of the authors Djamila Ribeiro and Fernanda Frizzo
Bragato. The exclusion of these people, resulting from prejudice, affects jobs
in various sectors, which demonstrates the violation of fundamental social
rights. The study demonstrates the need for norms that can effectively
guarantee the inclusion of these minorities, aiming at the expansion of
affirmative action in the Brazilian legal system, as well as the importance of
creating new civilizing frameworks, so that we can create a more inclusive
model of society, plural, and, consequently, less discriminatory.
Keywords: Discrimination; Transsexuality; Decent Work-Human rights;
Public policy.

SUMÁRIO 254
INTRODUCTION
L’histoire du monde dépeint les grandes marques de violence
vécues par l’humanité, en particulier les minorités. Ces affrontements
traversent des générations et perdurent à l’époque moderne,
propageant une idéologie inacceptable fondée sur l’infériorité de
certains groupes sociaux au détriment d’autres.

Avec ce genre de pensée, les conceptions préjudiciables


dirigées vers les questions sexuelles prennent des proportions de
plus en plus grandes, conduisant à une triste réalité vécue dans
le monde et au Brésil.

Le Brésil fait partie du groupe de pays qui enregistre le plus


d’homicides liés aux personnes transgenres dans le monde, avec un
préjugé profondément enraciné qu’il est urgent de changer.

La population trans souffre non seulement de problèmes liés


à la violence physique, mais est également confrontée à une bataille
pour l’occupation sur le marché du travail formel brésilien.

Par conséquent, ce travail cherchera à aborder la discrimination


sexuelle vécue par les personnes trans dans les relations de travail,
avec l’objectif général d’analyser les garanties de notre système
juridique en matière de relations de travail, démontrant efficacement
les préjugés vécus par ces personnes «invisibles» aux yeux de l’Etat
et de la société.

SUMÁRIO 255
LES TRANSSEXUELS COMME
L’UN DES GROUPES HISTORIQUEMENT
CONSIDÉRÉS COMME SUBORDONNÉS
ET MARGINALISÉS
Les violations et le respect des droits de l’homme ne se
produisent pas au hasard. Ce sont des faits qui dépendent du
contexte qui conduit à la création d’un environnement favorable et des
caractéristiques des sujets affectés. Car il ne suffit pas que l’État répare
simplement les victimes ou punisse les auteurs, il faut apprendre à
penser la prévention et l’identification des facteurs de risque de
violation des droits humains (BRAGATO, 2021, p. 4).

Toute analyse du risque de violations graves des droits de


l’homme part d’un point de départ fondamental : les sujets affectés,
c’est-à-dire les victimes, puisque la violation des droits de l’homme
est sélective et affecte généralement des êtres humains appartenant
à certains groupes ayant des identités spécifiques, même si ces sujets
ne souhaitent pas être perçus comme appartenant à ce groupe.

Ces identités constituent, pour une certaine partie de la


société, des traits dérogatoires qui tendent à avilir ou à déshumaniser
leurs porteurs, car ils attribuent des habitudes, des attitudes, des
pensées, des traits de personnalité négatifs fondés sur des préjugés
fortement enracinés et peu remis en cause par ceux qui, en revanche,
se place en position de supériorité (BRAGATO, 2021, p. 4).

Les groupes caractérisés par des identités dépréciées


sont dits minoritaires, non pas en raison du nombre de membres,
mais parce qu’ils manquent de pouvoir précisément en raison de
la position subalterne que leur réserve le discours déshumanisant
(BRAGATO, 2021, p. 5).

SUMÁRIO 256
Dans les sociétés où le racisme, la xénophobie, la misogynie,
l’homophobie, la transphobie et d’autres types de préjugés sont
fortement présents et démontrent une forte aptitude à violer
les droits de ces groupes ou des personnes appartenant à ces
groupes, le débat porte sur la place occupée par chaque groupe,
la compréhension combien la race, le genre, la classe et la
sexualité s’entremêlent, générant différentes formes d’expériences
d’oppression, car étant structurelles, il n’y a pas de préférence pour la
lutte (RIBEIRO, 2020, p. 71).

C’est comme si les groupes minoritaires n’étaient pas dignes


des droits de l’homme, les soi-disant minorités sont composées de
sous-hommes, si bien que les différentes violences perpétrées ne
sont pas à proprement parler considérées comme des violations des
droits de l’homme : soit parce qu’elles ne choquent pas, soit parce
qu’ils sont perçus comme mérités. Les groupes minoritaires sont
souvent la cible de discours de haine.

Pour Fernanda Frizzo Bragato, le discours de haine implique


des caractérisations désobligeantes et des stéréotypes négatifs
liés à certains groupes sociaux qui renforcent leurs conditions
de subordination historiquement et socialement sédimentées
(BRAGATO, 2021, p. 13).

Le Brésil, malgré la protection contre les délits de discrimination


et la reconnaissance des unions entre personnes du même sexe,
ce qui configure une avancée sociale importante, a naturalisé un
processus de marginalisation et de précarité pour l’anéantissement
des personnes trans. En 2020, le nombre de meurtres contre des
travestis et des femmes trans a connu une augmentation record,
avec un total de 175 cas, selon une étude menée par l’ANTRA1.
(ANTRA, 2021, p. 5).

1 ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

SUMÁRIO 257
Le cycle de violence qui touche les travestis et les femmes
trans est similaire dans la mesure où la mort est l’aboutissement
d’une série de violations antérieures et fait partie du quotidien des
personnes trans, dont le scénario fait peur, puisque 8 nouvelles sur 10
avec les mots travesti ou femme trans, dans les principaux moteurs
de recherche, on trouve des actualités liées à la violence ou aux
violations des droits humains.

L’État et la société doivent réfléchir à des moyens plus


efficaces de faire face au meurtre systématique et à la tentative de
meurtre de personnes transgenres dans le pays.

L’attention portée par la communauté, la société civile et


les politiques publiques à la lutte contre la violence envers les
personnes trans contribue à mettre davantage l’accent sur le suivi
et la publicisation des cas de violations des droits de l’homme, des
diverses formes de violence, des attentats à la vie et des meurtres de
la violence contre cette partie de la population.

Une partie de cette visibilité sur la transphobie, en particulier


dans les cas graves de violations des droits et de meurtres, est le résultat
de recherches menées par diverses associations et mouvements
sociaux, ainsi que d’actions de plaidoyer nationales et internationales.
Parmi eux, on peut citer : Transvest (Belo Horizonte-MG), Dignidade
Group (Curitiba-PR), Nuances-Group for Free Sexual Expression
(Porto Alegre–RS), Boa Vista Institute (Recife-PE), Bahia Gay Group
(Salvador - BA) et Mères pour la diversité.

En fait, toute cette violence est le reflet d’un système trans


d’exclusion, qui a été conçu et systématiquement imposé pour empêcher
la citoyenneté de notre population, en violant quotidiennement les
droits, la vie et le corps des personnes transgenres.

Malgré l’augmentation des cas de transphobie en 2020, les


États et les municipalités manquent toujours d’une planification et
de politiques publiques efficaces pour faire face et réduire les délits

SUMÁRIO 258
de transphobie, qui sont déjà dénoncés depuis quelques années.
Les États restent silencieux, y compris dans la collecte de données
sur la phobie lgbt, les homicides et les violations des droits humains
des personnes transgenres. Une situation qui s’est aggravée
avec la pandémie de Covid-19, en raison de la forte demande de
services de santé mentale.

Le Brésil est l’un des pays qui tue le plus de transsexuels,


généralement, ils sont assassinés de manière extrêmement violente
et avec des raffinements de cruauté, comme dans le cas du crime
barbare, qui s’est produit à Recife-PE, contre la transsexuelle Roberta
da Silva. Les statistiques sont terrifiantes : l’espérance de vie des
transsexuels au Brésil n’est que de 35 ans et peu est fait pour changer
ce scénario de tristesse et de douleur.

Selon les données de l’ANTRA, l’Association nationale des


travestis et transsexuels, le pays est passé du 55ème en 2018 au 68ème
en 2019 dans le classement des pays sûrs pour la population LGBT.

L’expansion des politiques publiques et la création de


quotas pour les travailleurs transgenres sont quelques-unes des
alternatives que l’État pourrait adopter pour minimiser la violence et
garantir une vie digne.

L’État, les mouvements sociaux LGBTQIA+ et la société


doivent garantir l’assistance, la qualification, la sensibilisation, le
travail et les revenus, la création d’opportunités et des campagnes
institutionnelles pour lutter contre l’intolérance, les préjugés et
la marginalisation, car la vie de Roberta ne reviendra pas. Tout
avantage accordé par l’État à la famille de la victime est louable,
mais très peu par rapport à ce qui aurait pu être fait pour prévenir et
éviter un crime aussi barbare, après tout, nous vivons dans un État
de droit démocratique.

Enfin, il est important de souligner que les données publiées


ne reflètent pas exactement la réalité, en raison de la politique de

SUMÁRIO 259
sous-déclaration de l’État, ainsi que de l’absence de données
gouvernementales. Cependant, de ce panorama, il ressort que le Brésil
traverse un processus de résurgence en ce qui concerne la manière
dont il traite les travestis, les femmes, les transsexuels, les hommes
trans et les autres personnes trans. Cela renforce l’importance du
suivi par les mouvements sociaux, en tant qu’outil de construction
de données et de proposition d’éléments qui auront un impact sur
la manière de lutter contre les violences transphobes dans le pays.

L’ACCÈS GARANTI AU MARCHÉ


DU TRAVAIL COMME L’UNE DES
ALTERNATIVES POUR RÉDUIRE LA
VIOLENCE ENVERS LES TRANSSEXUELS
L’un des plus grands défis pour l’individu transsexuel est son
insertion sur le marché du travail, qui est marquée par des inégalités
importantes et persistantes de sexe, de genre et de race.

Dans le milieu du travail, la situation est encore plus délicate,


puisque le travailleur transsexuel est rejeté de certains segments ou
métiers du marché du travail.

Il est difficile pour un travailleur transsexuel d’accéder à un


poste élevé au sein d’une entreprise, car de nombreux employeurs
craignent de voir leur image ou leur marque associée à celle de
l’employé et d’affecter ainsi leur crédibilité. Ainsi, ils se retrouvent
avec les pires emplois, vraisemblablement mal rémunérés (UCHÔA,
2016, p. 94).

La population trans de notre pays vit dans des situations de


misère et de vulnérabilité, étant exclue des garanties de base garanties

SUMÁRIO 260
par nos principes juridiques. L’auteure Sofia Silva (2015, p. 108) détaille
succinctement les raisons qui renforcent ces exclusions, puisque l’État
majoritairement capitaliste en vient à gérer différents artefacts face à
ce rejet social de nos jours:
Dans la politique de gestion contrôlée de l’exclusion,
l’État capitaliste moderne a créé trois mécanismes qui,
loin d’éliminer l’exclusion, servent à maintenir la tension
sociale à des niveaux acceptables, à savoir : le transfert
du système d’exclusion au système d’inégalité ; division
du travail social de l’exclusion entre espaces publics et
espaces privés ; et la stigmatisation et la diabolisation en
différenciant les formes d’exclusion selon la dangerosité.

Ainsi, il faut préciser que les problèmes rencontrés par les


transsexuels surviennent dès le plus jeune âge. Le harcèlement, ainsi
que les pratiques d’intimidation (bullying) subies pendant la phase
de formation scolaire et académique, empêchent de nombreux
transsexuels de terminer leurs études (SILVA, 2012, p. 1), c’est-à-
dire qu’une partie des écoles ne forme pas les enseignants et les
professionnels liés à l’éducation sur l’objet. De même, parler du corps,
du genre et de la sexualité reste un tabou qu’il faut briser pour éviter
les différentes violences psychologiques.

Les espaces ou les lieux qui devraient les protéger ou les


accueillir en raison des liens existants, comme la famille, sont
souvent les environnements les plus dangereux, car ils pratiquent
des violences verbales, psychologiques, physiques, sexuelles et
des menaces, contribuant au départ précoce des maison, et ceux
qui n’ont nulle part où aller deviennent des sans-abris (RAMOS
et al., 2020, p. 25).

Tous ces facteurs entraînent des conséquences dramatiques


qui se reflètent dans les différents domaines de l’environnement
social. Lorsque nous commençons à mettre en relation les
personnes transsexuelles et leur exclusion dans l’environnement
collectif et sur le marché du travail brésilien, nous voyons une

SUMÁRIO 261
barrière extrêmement difficile à surmonter. Les préjugés liés à la
discrimination sociale rendent difficile l’embauche de ces personnes
dans le monde du travail formel :
Le Brésil a naturalisé un projet visant à marginaliser les
travestis. La plupart de la population trans du pays vit dans
des conditions de misère et d’exclusion sociale, sans accès
à l’éducation, à la santé, à la qualification professionnelle,
à la possibilité d’être incluse dans le marché du travail
formel et aux politiques publiques qui tiennent compte
de leurs demandes spécifiques. Mais ce n’est pas tout :
ce qui n’allait pas s’est encore aggravé cette année, avec
l’élection d’un gouvernement explicitement transphobe
par idéologie (BENEVIDES; NOGUEIRA, 2019 p. 10).

Aujourd’hui, dans le monde du travail, il existe certains


postes qui permettent une plus grande employabilité des personnes
transgenres, comme le montrent les écrits de Silva (2012, p. 01) :
« [...] beaucoup ne peuvent pas échapper à la fosse commune des
emplois [...] qui acceptent mieux les homosexuels, les travestis et les
transsexuels, comme les coiffeurs et les maquilleurs [...] ».

On observe donc que la liberté d’emploi des personnes


trans est totalement restreinte à certains postes disponibles sur le
marché du travail. La fiscalité de ces emplois va à l’encontre de ce
que notre législation actuelle assure face aux garanties minimales,
comme par exemple la liberté d’emploi et la non-discrimination.
Il faut aussi souligner que le manque d’opportunités conduit les
personnes trans à des situations extrêmes, telles que : l’exploitation
sexuelle et la prostitution.

L’État brésilien vient de garantir dans son système juridique


des principes fondamentaux tels que « la promotion du bien de tous,
sans préjudice d’origine, de race, de sexe, de couleur, d’âge et de toute
autre forme de discrimination » (IV, art. 3 de la Constitution fédérale),
interdisant la différence de salaire et de fonction selon l’article XXX,

SUMÁRIO 262
article 7 de notre loi majeure. Cependant, de tels principes semblent
inefficaces lorsqu’on parle de la population trans.

Il convient de mentionner que la Cour internationale des droits


de l’homme envisage des politiques de protection visant à contrer les
préjugés fondés sur la sexualité des personnes. Cependant, lorsque
l’on commence à scruter les politiques publiques visant l’insertion
des transsexuels sur le marché du travail, on perçoit l’échec mondial
et national de telles discussions.

Face à cette négligence, des actions concrètes sont néces-


saires pour garantir le droit à la dignité et à la citoyenneté exprimé
dans notre législation, quelle que soit l’orientation sexuelle.

Les normes de travail réglementaires du système juridique


brésilien ne garantissent pas efficacement l’inclusion des plus vul-
nérables dans le monde du travail. La confrontation de ces person-
nes face aux différentes problématiques discriminatoires ne relève
pas seulement des problématiques liées à la violence, mais aussi de
la difficulté à décrocher un emploi qui les valorise.

Ainsi, le questionnement se pose face à la réalité contempo-


raine du monde du travail, malgré sa ségrégation due aux questions
de genre, puisqu’il est clair que la plus grande employabilité formelle
est occupée par les hommes hétérosexuels. Les enseignements
d’Adelman sur cette question sont-ils:
Un rapide coup d’œil aux offres d’emploi suffit à montrer
que le marché du travail a une structure sexuée définie
par la dichotomie classique homme/femme. De nom-
breuses valeurs et évaluations subjectives sont intégrées
dans cette division - sur ce qu’un homme ou une femme
peut ou doit faire. Les personnes ayant une ambiguïté de
genre peuvent semer la confusion et se sentir rejetées
parce qu’elles ne s’intègrent pas facilement dans les
créneaux qui existent sur le marché du travail. La même
ambiguïté peut être vue comme quelque chose suscep-
tible de perturber l’exercice de la fonction, surtout dans

SUMÁRIO 263
un monde où s’exercent de nombreuses occupations
liées à la présentation et à la préservation de l’image
(ADELMAN 2003, p. 83-84).

Faire face aux inégalités face à une société de préjugés reflète


l’urgence du renoncement vécue par chaque transsexuel dans notre
pays. Les aspects liés aux questions salariales, à la violence et à la
discrimination traduisent une réalité qu’il faut modifier.

Les exigences discriminatoires du marché du travail ne


peuvent être tolérées puisque les exigences doivent être fondées sur
la capacité de la personne, quelle que soit sa sexualité.

La discrimination dans l’exercice du métier, qu’elle soit de


la part de l’employeur ou des collègues, est une source de grande
souffrance et perpétue le combat auquel les transsexuels sont
confrontés au quotidien.

Au Brésil, il existe déjà des mesures basées sur la lutte


contre la discrimination dans l’environnement de travail visant
la population LGBTQI+:
[...] articuler, en partenariat avec le ministère du Travail,
la mise en œuvre de politiques de lutte contre les
discriminations à l’encontre des gays, lesbiennes et
travestis sur le lieu de travail ; soutenir et renforcer le réseau
des centres de lutte contre la discrimination sur le lieu de
travail des bureaux régionaux du ministère du Travail et de
l’Emploi; élargir l’articulation avec le ministère du Travail,
dans la mise en œuvre des politiques de lutte contre la
discrimination dans l’environnement de travail, y compris
dans les programmes de politique positive existants,
tels que le GRPE (Genre, Race, Pauvreté et Emploi) et
l’inspection du travail, la lutte contre la discrimination
à l’égard des gays, lesbiennes et travestis, ainsi que les
politiques d’accès à l’emploi, au travail et aux revenus ;
développer, en partenariat avec le ministère du Travail, un
programme de sensibilisation des gestionnaires publics
à l’importance de la qualification professionnelle des

SUMÁRIO 264
gays, lesbiennes et travestis, dans les différents segments
du monde du travail, contribuant à l’éradication des
discriminations (BRASIL, 2004, p. 24).

Cependant, l’efficacité pratique de ces programmes brésiliens


est remise en question, puisqu’une enquête menée par l’Association
nationale des travestis et transsexuels estime que 90 % des femmes
trans et des travestis ont la prostitution comme seule source de
revenus au Brésil et que seulement 4% ont un emploi formel travail.

La distinction sexuelle dans le monde du travail établit des


axes préconçus de transsexuels dans des positions subalternes et
qui reçoivent des salaires inférieurs au détriment des autres. De tels
préjugés sont nourris par des blagues sectaires qui ont été semées
tout au long de notre histoire et enracinées dans nos jours.

Des difficultés surviennent même lorsque les transsexuels


obtiennent un emploi formel, étant donné que les chances de
promotion ou d’affectation à d’autres postes sont minimes, en raison
de préjugés ou d’un manque de qualifications.

Il est évident que l’État doit agir pour modifier cette triste réalité
vécue par les transsexuels dans le monde du travail, ce qui devrait
permettre des politiques publiques ; créer et mettre en œuvre des
mesures juridiques et des politiques anti-discrimination et une action
positive dans le domaine de l’éducation, de l’emploi et des revenus,
pour éviter que quiconque dépende de la vente du sexe comme
moyen de survie en raison de la pauvreté ou de la discrimination.

De plus, des refuges devraient être mis en place pour


les personnes LGBT+ vivant dans la rue ou expulsées de chez
elles ; inclure dans le programme scolaire des sujets liés à l’éducation
sexuelle inclusive et à la tolérance de la diversité, entre autres mesures
garantissant une vie digne aux personnes transgenres.

Il est nécessaire de mentionner que la responsabilité devant


de telles politiques publiques est le devoir principal de l’État,

SUMÁRIO 265
cependant l’obligation d’inclusion doit aussi être un engagement de
la société. Les politiques publiques seules ne produiront pas leurs
effets concrets si la société ne s’approprie pas cette cause.

Enfin, la lutte contre la discrimination sur le lieu de travail (public


ou privé) reste un obstacle à franchir, étant donné que nous vivons
dans une société capitaliste où les intérêts économiques priment au
détriment des personnes. Par conséquent, les politiques publiques
d’inclusion ne devraient pas seulement dominer les territoires de
l’employabilité publique, mais aussi dans le secteur privé, afin que le
Brésil puisse déclarer que tous sont égaux devant la loi.

CONSIDÉRATIONS FINALES
Les luttes postulées par ceux qui sont soumis à « l’invisibilité »
pour des raisons sexuelles sont encore loin d’être terminées. Les
préceptes présentés dans cet ouvrage ont clairement expliqué la
confrontation à laquelle la population trans est encore confrontée au
21ème siècle. Comme démontré, les barrières auxquelles font face ces
personnes affectent les différents segments sociaux, même dans les
relations de travail.

L’exclusion de ces personnes, résultant de préjugés, affecte


les emplois dans différents secteurs, ce qui démontre la violation des
droits et garanties garantis dans notre plus haute loi.

Il apparaît donc clairement la nécessité de normes capables


de garantir efficacement l’inclusion de ces minorités, visant à
l’expansion des actions positives dans le système juridique brésilien,
ainsi qu’à la création de nouveaux jalons civilisateurs, afin que nous
puissions penser à un nouveau modèle d’une société plus inclusive
et plurielle, avec le droit de parler pour tous.

SUMÁRIO 266
Enfin, le but de ce travail était de démontrer la réalité
vécue par les personnes transgenres face à l’invisibilité et à la
marginalisation auxquelles elles sont soumises dans notre société,
essentiellement dans le milieu de travail, en essayant de corroborer
pour l’amélioration de ceux qui sont rejetés en raison de questions
de race, de sexe, de classe et de sexualité. , devant un pays purement
discriminatoire. Ainsi, il y a nécessité d’une réflexion sur le sujet dans
la postulation des politiques publiques, pour qu’ainsi le Brésil soit
reconnu non plus comme le pays qui tue et discrimine le plus les
Trans dans le monde, mais plutôt comme le pays qui fait respecter les
droits de l’homme et le principe d’égalité garantissant effectivement
une société inclusive et plurielle.

BIBLIOGRAPHIE
ADELMAN, Miriam. Travestis e transexuais e os outros: identidade e experiências de
vida. Niterói: UFF, 2003.

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SUMÁRIO 267
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UCHÔA, Marcelo Ribeiro. Mulher e mercado de trabalho no Brasil: um estudo sobre
igualdade efetiva: baseado no modelo normativo Espanhol. São Paulo: LTr, 2016.

SUMÁRIO 268
SOBRE OS ORGANIZADORES
E AS ORGANIZADORAS
Isabele Bandeira de Moraes D’Angelo
Pós-Doutora em Direito pelo Centro de Investigações Jurídico-Económicas (CIJE), da
Universidade do Porto, Portugal UP, Doutora e Mestra em Direito pela Universidade Federal
de Pernambuco - UFPE. Professora Adjunta da Universidade de Pernambuco (UPE).
Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento
Socioambiental da Universidade de Pernambuco (PPGSDS/UPE). Membra da Academia
Pernambucana de Direito do Trabalho (APDT). Líder do Grupo de Pesquisa em Direito do
Trabalho e os Dilemas da Sociedade Contemporânea (DITRA/CNPq).

José Antônio de Melo Bisneto


Advogado. Bacharel em Direito pela Universidade de Pernambuco - campus Arcoverde.
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento Socioambiental
da Universidade de Pernambuco - campus Garanhuns. Professor do Curso de Direito da
Faculdade Conceito Educacional (FACCON/Arcoverde). Membro Pesquisador do Grupo de
Pesquisa em Direito do Trabalho e os Dilemas da Sociedade Contemporânea (DITRA/CNPq).

Giorge Andre Lando


Pós-Doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Pós-
Doutor em Direito pela Università degli Studi di Messina (UNIME). Doutor em Direito
pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo (FADISP). Livre-Docente e Professor
Associado da Universidade de Pernambuco (UPE). Professor Permanente do Programa
de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento Socioambiental da Universidade de
Pernambuco (PPGSDS/UPE).

Andrea da Costa Amaral Motta


Advogada, Mestre em Direito Econômico, Especialista em Direito Tributário e Direito
Empresarial, Professora de cursos de pós-graduação, Palestrante Nacional e Internacional,
Autora de Livros e Artigos Científicos.

SUMÁRIO 269
SOBRE OS AUTORES
E AS AUTORAS
Alvaro Dickson Molinares Valencia
Advogado pela Universidad Libre Colombia. Mestre em Jurista-linguista pela
Université de Poitiers. Mestre em Direito Internacional pela Université de
Poitiers. Atualmente é Leitor de língua estrangeira da Université Paris-Ouest
Nanterre la Défense.
CV: http://lattes.cnpq.br/7294432674946630

Cláudson Carvalho
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Vale do Ipojuca. Pós-graduado
Lato sensu em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Universidade
Católica de Pernambuco - UNICAP. Pós-graduação - Lato Sensu em Direitos
humanos pelo Centro Universitário União das Américas Descomplica e em
Direito Digital e Compliance pelo Damásio Educacional. Advogado inscrito
na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Pernambuco. Atualmente
é Professor de Direito nas Instituições de Ensino: Faculdade de Ciências
Jurídicas de Belo Jardim - Pitágoras e UNINASSAU Caruaru.
CV: http://lattes.cnpq.br/4573420116961528

Elaine Ferreira do Nascimento


Tecnologista em Saúde Pública e Pesquisadora da Fiocruz Piauí. Possui
Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense.
Mestra em Ciências pelo Instituto Fernandes Figueira/ Fundação Oswaldo
Cruz. Doutora em Ciências pelo Instituto Fernandes Figueira /Fundação
Oswaldo Cruz. Pós-Doutorado em Culturas Africanas da Diáspora e dos
Povos Indígenas pela UPE.
CV: http://lattes.cnpq.br/0596416284994928

SUMÁRIO 270
Fernando da Silva Cardoso
Livre-docente. Bolsista de Produtividade em Pesquisa - Fundação de Amparo
à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco. Doutor em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com período sanduíche
no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre
em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Pernambuco. Bacharel em
Direito pelo Centro Universitário do Vale do Ipojuca. Professor Associado do
Curso de Direito, Campus Arcoverde, e Professor Permanente do Programa
de Pós-graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares
(Mestrado e Doutorado Profissional), ambos da Universidade de Pernambuco.
CV: http://lattes.cnpq.br/1087934915290279

Gabriel Alves Vitor


Mestre em Saúde e Desenvolvimento Socioambiental pela Universidade
de Pernambuco (UPE). Pós-Graduado em Saúde Coletiva pelo IPEMIG.
Pós-Graduado em Docência e Pesquisa para Área da Saúde pelo IPEMIG.
Pós-Graduado em Enfermagem Obstétrica pelo CEFAPP. Pós-Graduado em
Urgência e Emergência (UE) e UTI pela FIC. Bacharel em Enfermagem pela
Escola Superior de Saúde de Arcoverde (ESSA). Pesquisador do Grupo de
Pesquisa Direito do Trabalho e os Dilemas da Sociedade Contemporânea -
DITRA. Atua como Coordenador de Atenção Primária a Saúde e do Programa
de Imunização, no município de Capoeiras/PE. Tutor do Programa Saúde com
Agente - FAURGS.
CV: http://lattes.cnpq.br/6915007278907869

Joëlle Popineau
Mestrado LEA Tradução especializada (Inglês-Alemão) Univ de Metz (M.A.
em estudos de tradução). DEA Language Sciences (selo duplo) univ Nancy-
Metz) (MA em linguística). Doutorado em Linguística computacional - tripla
qualificação (7ª Ciências da Linguagem; 11ª Inglês; 12º Alemão). Professora
da Faculdade de Letras e Línguas, departamento LEA, Universidade de
Tours, França.
CV: https://www.univ-tours.fr/annuaire/joelle-popineau

SUMÁRIO 271
Liana Maria Ibiapina do Monte
Bacharela em Serviço Social pela Faculdade Adelmar Rosado. Mestra em
Interinstitucional em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco.
Doutora em Ciências da Educação pela Universidad Internacional Tres
Fronteras. Atuou como professora mestre e coordenadora do curso de
Serviço Social do Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão.
Atualmente é pesquisadora em Saúde Pública na Fiocruz-PI.
CV: http://lattes.cnpq.br/6292970855417500

Luiza Tavares da Motta


Doutoranda em Direito pela Queen Mary University of London. Mestre em
História do Direito, Bolsista Eiffel pela Universidade de Poitiers - França.
Graduada em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
CV: http://lattes.cnpq.br/2080518556058531

Paulo de Tarso Xavier Sousa Júnior


Mestre em Psicologia Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Especialização
em Neuropsicopedagogia Institucional e Educação Especial na Perspectiva da
Inc. pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Graduação em
Psicologia pelo Centro Universitário UniFacid.
CV: http://lattes.cnpq.br/1650628197467367

Rafael Fernandes de Mesquita


Doutor em Administração pela Universidade Potiguar (UnP), com intercâmbio
doutoral desenvolvido na University of British Columbia, Vancouver-Canadá, por
meio do programa Emerging Leaders in the Americas Program (ELAP), Mestre
(Unifor) e Bacharel (UFPI) em Administração de Empresas, MBA em Gestão de
Recursos Humanos (UNINTER), Especialista em Docência do Ensino Superior
(CEUT) e Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos (IFPI). Professor do Instituto
Federal do Piauí - IFPI, Campus Dirceu Arcoverde. Docente permanente do
Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica - PROFEPT,
IFPI Campus Parnaíba. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação
em Políticas Públicas e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Gestão
Pública, ambos da Universidade Federal do Piauí - UFPI.
CV: http://lattes.cnpq.br/2999577236068634

SUMÁRIO 272
Rogéria Gladys
Doutora em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Metra em
Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente é professora
titular da Universidade Católica de Pernambuco. Advogada. Membro do
Conselho Municipal da Mulher de Recife (Titular do biênio 2023/2026) e Vice-
presidente da Academia Pernambucana de Direito do Trabalho.
CV: http://lattes.cnpq.br/8293807290864299

Sylvie Monjean-Decaudin
Doutora em Direito pela Université Paris-Ouest Nanterre la Défense.
Atualmente é professora da Sorbonne Université. Tem experiência na área
de Linguística, com ênfase em Juritradutologia. Sylvie Monjean-Decaudin
est juriste-linguiste, docteure en droit français (Université Paris X) et en
droit espagnol (Université de Malaga). Sa thèse intitulée La traduction du
droit dans la procédure judiciaire. Contribution à l?étude de la linguistique
juridique a obtenu, en 2011, le Prix de la Recherche de l?École Nationale de
la Magistrature. En 2012, elle a créé le CERIJE qui est le premier centre de
recherche interdisciplinaire en juritraductologie consacré à l’étude croisée
du droit de la traduction et de la traduction du droit. De 1997 à 2006, elle a
dispensé des enseignements à Malaga en Espagne: à l?Université, l?Alliance
Française et le Barreau des avocats. En France, elle a enseigné à la Faculté
de droit de l?Université Paris X, à l?UFR de Langues de l?Université de Cergy-
Pontoise. Depuis septembre 2018, elle est professeure des universités à l?UFR
LEA à la Sorbonne Université.
CV: http://lattes.cnpq.br/6675799555331799

Taciana Cahu Beltrão


Doutoranda em Letras pela Sorbonne Université, SORBONNE, França.
Mestre em Direito Privado e Especialista em Direito Civil e Empresarial pela
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Jurista linguista/tradutora
juramentada junto à Corte de Apelação de Agen (França). Integra o Centro
de Pesquisa Interdisciplinar em Juritradutologia (CERIJE) com sede em Paris-
França (https://www.cerije.eu).
CV: http://lattes.cnpq.br/8181407534062977

SUMÁRIO 273
ÍNDICE REMISSIVO
A doenças 61, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79,
Arcoverde 61, 62, 63, 66, 67, 68, 69, 70, 74, 76, 77, 201, 202, 203, 81, 219, 221, 222
206, 207, 208, 210, 214, 217, 269, 271, 272 Droit 20, 59, 141, 172, 180, 188, 189, 199
assainissement de base 201, 205, 209, 218, 219 Droits de l’Homme 233
assainissement environnemental 201, 207, 209, 213 durabilité 11, 147, 149, 151, 158, 239, 240, 241, 242, 243, 247, 248
assistance linguistique 137, 141 E
assistência linguística 15, 18, 19 economia circular 23, 25, 27, 28, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 37,
B 38, 40, 161
bem-estar 26, 64, 78, 99, 100, 104, 105, 106, 107 economia verde 29, 37
bien-être 147, 204, 219, 240, 241, 245, 246, 247, 248 économie circulaire 144, 146, 148, 149, 150, 151, 152, 154, 155, 156,
157, 158, 159, 160
C
économie verte 150, 158
cidadania 9, 83, 86, 89, 90, 91, 92, 94, 96, 97, 103, 105, 107, 117,
educação 64, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 94, 96, 97, 100, 105,
121, 236, 237, 238
107, 120, 124, 236, 237, 238
citoyenneté 10, 11, 181, 182, 183, 184, 193, 194, 195, 197, 198, 223,
éducation 204, 216, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 230, 231, 232,
226, 229, 230, 231, 232, 233, 234, 236, 244, 246,
233, 234, 236, 238, 241, 246, 248, 261, 262, 265
248, 258, 263
environnement 148, 149, 150, 154, 156, 158, 205, 209, 222, 240,
CJUE 10, 56, 57, 162, 163, 165, 167, 168, 169, 172, 173, 174, 177, 178
245, 246, 247, 248, 249, 256, 261, 264
Cour de justice 165, 166, 167, 168, 171, 172, 173, 175, 176, 177,
esgotamento sanitário 64, 65, 68, 72, 78, 80, 221
178, 180
Estado 49, 51, 56, 79, 81, 93, 105, 114, 115, 116, 118, 119, 121, 124,
D 221, 271
desenvolvimento sustentável 23, 26, 27, 28, 35, 37, 105 État 128, 131, 136, 165, 170, 172, 177, 194, 207, 220, 225, 232, 233,
développement durable 144, 147, 148, 149, 156, 158, 246 246, 251, 256, 258, 259, 260, 261, 262, 265
dignidade humana 86, 95 experiência 87, 93, 96, 105, 110, 251, 273
dignité humaine 226, 236 G
Direito 97, 118, 126, 225, 238, 267, 269, 270, 271, 272, 273 gênero 9, 60, 61, 64, 66, 70, 71, 78, 80, 81, 101, 115, 119, 120, 122,
Direitos Humanos 50, 51, 80, 85, 88, 93, 94, 96, 97, 221, 237, 271 125, 126, 220, 222, 268
discriminação 100, 114, 116, 120, 121, 122, 123, 124, 126, 268 genre 10, 184, 200, 210, 211, 219, 242, 255, 257, 260, 261, 263, 268
discrimination 241, 255, 257, 262, 264, 265, 266 H
diversidade sociocultural 9, 83, 84, 92 humanidade 26, 85, 105, 107, 114
diversité socioculturelle 11, 223, 224, 232 humanité 147, 225, 246, 249, 255

SUMÁRIO 274
I políticas públicas 78, 100, 105, 109, 117, 118, 120, 121, 124, 125, 250
idiomas 45, 49, 50, 51, 52, 55 politiques publiques 218, 219, 241, 246, 258, 259, 262, 263, 265,
interpretação jurídica 8, 41, 42, 47 266, 267
interprétation juridique 10, 162, 163, 168 S
J saneamento ambiental 61, 67, 69, 73, 79, 81, 219, 222
jeunesse 11, 239, 240, 241, 242, 243, 244, 245, 246, 248, 249, 250 saneamento básico 61, 65, 66, 69, 78, 80, 81, 82, 220, 221, 222
juritraductologie 10, 16, 127, 129, 130, 131, 132, 134, 135, 136, 137, santé 10, 137, 147, 200, 201, 204, 205, 209, 211, 212, 214, 218, 219,
138, 139, 140, 142, 163, 190, 191, 198, 199, 273 240, 241, 242, 244, 247, 248, 259, 262
juritradutologia 42 saúde 9, 26, 60, 61, 64, 65, 66, 71, 72, 74, 77, 78, 79, 80, 81, 99,
100, 101, 106, 107, 109, 110, 117, 120, 219, 220, 221,
juventude 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110,
222, 250, 251
250, 251
saúde da mulher 61, 66, 72, 80, 220
L
sexualidade 99, 110, 115, 120, 121, 122, 125, 251
langues 20, 50, 58, 128, 129, 130, 138, 141, 142, 165, 166, 167, 168,
sexualité 240, 257, 261, 263, 264, 267
169, 170, 171, 172, 173, 174, 176, 177, 178, 179, 182,
184, 187, 191 sustentabilidade 9, 26, 28, 30, 37, 98, 99, 100, 102, 106, 107,
110, 251
legislação 19, 49, 50, 52, 76, 121
législation 170, 171, 173, 216, 262, 263 T
linguística 15, 16, 18, 19, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 271 TJUE 8, 41, 42, 44, 46, 47, 48, 51, 52, 53, 56, 173
linguistique 16, 20, 45, 59, 129, 131, 132, 134, 136, 137, 139, 141, tradução 8, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 46, 47, 50, 52, 53, 55, 271
142, 166, 167, 168, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, traduction 16, 20, 21, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137,
180, 199, 273 138, 139, 140, 141, 142, 167, 168, 171, 173, 174, 176,
livros 112 189, 191, 197, 198, 199, 273
transexuais 9, 111, 112, 114, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124,
M
126, 257, 267
maladies 201, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 215,
transexualidade 126, 268
216, 217, 218, 243
transsexuels 11, 252, 253, 256, 259, 260, 261, 262, 263, 264, 265
marché du travail 212, 255, 260, 261, 262, 263, 264
Tribunal de Justiça 44, 45, 46, 48, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 59
meio ambiente 27, 28, 29, 33, 35, 37, 100, 105, 107
mercado de trabalho 71, 114, 119, 120, 121, 122, 126, 268 U
multilinguisme 10, 162, 163, 165, 168, 169, 170, 171, 173, 174 União Europeia 8, 17, 41, 42, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 52,
55, 56, 57
multilinguismo 8, 41, 42, 44, 47, 48, 49, 50, 52, 53
Union européenne 20, 141, 163, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171,
O 172, 173, 175, 176, 177, 178
ONU 64, 77, 85, 171, 204, 218, 225
V
P veiculação hídrica 61, 65, 66, 67, 68, 70, 71, 72, 74, 75, 76,
Pernambuco 9, 10, 60, 61, 62, 63, 66, 67, 93, 110, 126, 200, 201, 77, 80, 221
202, 203, 206, 207, 233, 251, 268, 269, 270, 271,
272, 273

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