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Adam Generos Perspectiva Jean Michel Adam

Jean-Michel Adam propõe uma teoria dos gêneros discursivos que integra abordagens textuais, sociocomunicativas e socio-históricas, superando impasses terminológicos das tradições existentes. Sua tipologia analítica é baseada em uma tripartição que distingue entre protótipos de sequências textuais, gêneros de discurso e gêneros de texto, permitindo uma análise mais precisa das práticas discursivas. Adam critica tradições que isolam formas linguísticas do contexto social e enfatiza que os gêneros são mediadores essenciais entre texto e discurso, refletindo práticas sociais históricas.

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Adam Generos Perspectiva Jean Michel Adam

Jean-Michel Adam propõe uma teoria dos gêneros discursivos que integra abordagens textuais, sociocomunicativas e socio-históricas, superando impasses terminológicos das tradições existentes. Sua tipologia analítica é baseada em uma tripartição que distingue entre protótipos de sequências textuais, gêneros de discurso e gêneros de texto, permitindo uma análise mais precisa das práticas discursivas. Adam critica tradições que isolam formas linguísticas do contexto social e enfatiza que os gêneros são mediadores essenciais entre texto e discurso, refletindo práticas sociais históricas.

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**A Noção de Gêneros na Perspectiva de Jean-Michel Adam: Definição, Delimitação e

Fundamentação**

Jean-Michel Adam, em sua obra *Les Textes : types et prototypes* (4ª edição), propõe uma teoria

dos gêneros discursivos profundamente ancorada em uma abordagem textual, sociocomunicativa e

socio-histórica. Sua proposta busca integrar, reinterpretar e, em muitos casos, superar impasses

terminológicos e epistemológicos das tradições francesa, alemã, anglo-saxã e bakhtiniana,

estabelecendo uma tipologia coerente e operacionalmente útil para a análise textual e discursiva.

### 1. Ponto de Partida Terminológico e Epistemológico

Adam inicia seu percurso afirmando sua escolha pela expressão "gêneros de discurso" e não

"gêneros de texto", seguindo a tradição inaugurada por Bakhtin. Ele reconhece que essa escolha foi

influenciada pelas traduções francesas do ensaio "Problema dos Gêneros do Discurso" e pelas

reflexões do Círculo de Bakhtin, que articulam a linguagem com as práticas sociais. Para Adam, os

gêneros são formas relativamente estáveis de enunciado, que articulam função comunicativa, tema,

composição e estilo, moldando-se conforme as esferas da atividade humana.

No entanto, ele adota essa terminologia sem dogmatismo: sua leitura de Bakhtin é crítica,

adaptativa e reformuladora. Ao invés de simplesmente herdar conceitos, Adam busca

reorganizá-los dentro de sua proposta de análise textual dos discursos, ampliando a ideia de

gênero para além da oralidade ou da literatura.

### 2. Distinção Tripla: Sequência - Gênero de Discurso - Gênero de Texto

O ponto central da tipologia de Adam é sua tripartição analítica:

**(1) Prototipos de sequências textuais**: Adam delimita cinco macroformas discursivas ou modos

de textualização - narração, descrição, argumentação, explicação e diálogo. Essas sequências não

são gêneros em si, mas formas de organização discursiva que atravessam os gêneros e suas

composições.

**Exemplos:**

- **Narração**: relato de um escândalo político;


- **Descrição**: caracterização de um candidato ou cenário econômico;

- **Argumentação**: defesa de uma proposta de governo em uma entrevista;

- **Explicação**: detalhamento de políticas públicas em debates;

- **Diálogo**: interação em programas de entrevistas ou podcasts políticos.

**(2) Gêneros de discurso**: São categorias organizadas segundo práticas e formações

sociodiscursivas. Exemplos incluem gêneros do discurso jornalístico, religioso, literário, político,

publicitário, médico, universitário etc. Eles estão ancorados em esferas sociais e instituições,

marcados por convenções e finalidades comunicativas compartilhadas.

**Exemplos aplicados ao seu objeto de estudo:**

- Entrevista política no *Jornal Nacional* (gênero jornalístico-formal);

- Debate entre candidatos em canal aberto (gênero político-mediado);

- Entrevista em talk show de auditório (gênero híbrido: político + entretenimento);

- Participação de políticos em podcasts como Flow, PodPah, Inteligência Ltda (gênero midiatizado

informal).

**(3) Gêneros de texto**: Resultam do cruzamento entre os protótipos de sequências e os gêneros

de discurso. São formas empíricas reconhecíveis, como o conto, a fábula, o editorial, a bula de

remédio, o sermão, o programa eleitoral, entre outros. Esses gêneros apresentam estrutura

composicional, estilo, léxico e organização temática próprios.

**Exemplos no campo político-midiático:**

- Editorial político;

- Programa eleitoral gratuito;

- Entrevista jornalística;

- Roda-viva televisivo;

- Debate humorístico disfarçado (como nas interações com apresentadores de entretenimento).

Essa tripartição permite articular a heterogeneidade textual com as condições sociocomunicativas

de produção e interpretação dos discursos, superando dicotomias reducionistas entre forma e


função, texto e discurso.

### 3. Bakhtin Reformulado: Gêneros Primeiros e Segundos

Ao retomar Bakhtin, Adam enfatiza a distinção entre gêneros primeiros (do cotidiano) e gêneros

segundos (mais elaborados, como os literários). Mas ele também amplia esse modelo, observando

que há gêneros "mistos", híbridos e em mutação. Ele reconhece que os gêneros da fala moldam

nossa competência comunicativa tanto quanto a gramática, e que aprender a falar é, de fato,

aprender a mobilizar gêneros.

Contudo, Adam vai além de Bakhtin ao considerar que certas formas elementares, como narração,

argumentação e explicação, não são gêneros propriamente ditos, mas estruturas composicionais

que fundamentam a formação dos gêneros. Com isso, ele evita uma tipologia excessivamente

ampla ou indeterminada, propondo um modelo mais preciso para fins analíticos.

### 4. Crítica à Tradição Alemã e ao Formalismo Anglo-Saxão

Adam critica a tradição alemã, que separa rigidamente os *Texttypen* (tipos de texto) dos

*Textsorten* (gêneros de texto), e a ausência, nessa tradição, de qualquer consideração pelas

práticas discursivas. Embora reconheça a relevância das pesquisas tipológicas feitas por Werlich,

Isenberg e Dressler, ele denuncia a abstração excessiva desses modelos, que isolam formas

linguísticas sem considerar seu ancoramento social e pragmático.

De modo semelhante, Adam observa que parte da tradição anglo-saxã - incluindo Swales, Bhatia e,

em certos momentos, Bazerman - tende a formalizar moldes textuais (*textual templates*) a partir

de contextos institucionais muito restritos (como artigos científicos ou gêneros acadêmicos),

correndo o risco de tecnicismo.

### 5. A Posição Crítica Frente a Bronckart

Jean-Paul Bronckart é outro autor com quem Adam dialoga criticamente. Embora elogie a robustez

empírica do modelo de Bronckart e seu esforço por integrar práticas de linguagem e cognição,

Adam critica o uso terminológico do conceito de "gênero de texto", que em sua opinião obscurece o

nível sociodiscursivo dos gêneros. Para ele, Bronckart confunde "intertexto" com "interdiscurso" e
restringe os gêneros a modelos mentais internalizados pelos sujeitos.

**Distinção adamiana:**

- **Intertexto**: citação ou reformulação explícita (ex: uso de slogans ou leis);

- **Interdiscurso**: vozes e valores sociais amplos (ex: discursos de "ordem", "patriotismo",

"anticorrupção" que perpassam várias falas políticas).

Adam reafirma que o interdiscurso - entendido como memória social dos discursos organizados em

gêneros - é essencial para a produção textual. Portanto, os gêneros não são apenas modelos

internalizados, mas também dispositivos sociais exteriorizados historicamente.

### 6. Gênero como Interface entre Texto e Discurso

Ao longo de sua argumentação, Adam deixa claro que **não há texto sem gênero**. Todo texto é

uma realização linguística material de uma prática discursiva social e histórica. A textualidade só

adquire sentido na discursividade, e a discursividade se atualiza nos textos por meio dos gêneros.

Assim, o gênero é a categoria mediadora por excelência: ele articula a heterogeneidade formal do

texto com a heterogeneidade contextual do discurso. Essa concepção permite estudar os gêneros

como fenômenos históricos, culturais, institucionais e linguísticos ao mesmo tempo.

### 7. Conclusão: Um Modelo Integrador e Abduzido

A noção de gênero em Adam é relacional, contextual, histórica e funcional. Ela se ancora em uma

epistemologia textual-discursiva que busca integrar os níveis linguístico, composicional e

pragmático em uma análise multiescalar. Trata-se de uma proposta que evita tanto o normativismo

formalista quanto o relativismo sociológico.

**Comparando epistemologias:**

- **Anglo-saxã**: funcionalista e institucional, centrada na resposta comunicativa e na finalidade

retórica;

- **Bakhtiniana**: dialógica, ideológica e histórica, com foco na esfera da atividade e na

responsividade;

- **Francesa formalista**: estético-retórica, marcada por G. Genette e J.-M. Schaeffer, com


distinção rígida entre literário e não literário;

- **Adamiana**: relacional, integradora, interdisciplinar. Vê o gênero como ponte entre textualidade

e discursividade, ancorada em práticas sociais concretas.

A inovação de Adam reside na articulação entre: (a) tipos prototípicos de sequências; (b) gêneros

sociodiscursivos; (c) gêneros empíricos de texto.

Sua abordagem é especialmente útil para analisar os gêneros midiáticos contemporâneos - como

entrevistas políticas formais, debates televisivos e interações informais em podcasts - todos

marcados por hibridizações, polifonia e jogos de ethos, que exigem um modelo analítico flexível e

sensível às práticas discursivas emergentes.

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