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1 Introdução
O presente trabalho versa sobre o tratamento de resíduos da indústria alimentar dos abatedouros de aves e
suínos,
As indústrias alimentícias estão cada vez mais preocupadas em atingir e demonstrar o seu papel em
relação a sustentabilidade, por meio do controlo dos impactos de suas actividades. Assim, agem no
contexto da legislação cada vez mais exigente, no desenvolvimento de políticas económicas, e outras
medidas que visam a protecção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.
A indústria alimentícia é uma das maiores fontes geradoras de efluentes e resíduos orgânicos em sua linha
de produção, sem falar nos abatedouros de aves, bovinos e suínos. Efluentes provenientes desse tipo de
indústria precisam de tratamento antes de retornar ao meio ambiente, sendo gerenciados de acordo com os
seguintes aspectos: prevenção, minimização, reciclagem, tratamento e disposição.
De acordo com a norma NRB 10004 (2004), os resíduos sólidos são resultantes de actividades industriais,
doméstica, agrícola entre outros, incluindo os lodos das Estações de Tratamento de Efluentes (ETE’s),
resíduos gerados em equipamentos e instalações de controlo da poluição, e não podem ser lançados nos
esgotos públicos, nem em corpos hídricos.
Os resíduos da indústria alimentícia devem passar por tratamento antes dos efluentes retornarem ao meio
ambiente ou possam ser reutilizados em lavagem de pisos ou nas descargas dos sanitários, por exemplo.
Abatedouros, matadouros e frigoríficos são considerados agro-indústrias e seus resíduos são muito
volumosos e apresentam alto valor de matéria orgânica, o que pode causar sérios problemas ambientais.
No caso das aves, os efluentes são gerados nas lavagens de pisos e das instalações de diversas fases da
produção como área de recebimentos das aves; lavagens das caixas utilizadas no transporte; sala de abate;
sala de sangria; depenagem mecanizada; congelamento e expedição.
No caso dos suínos, os efluentes são gerados em diversas fases como águas de banho, limpeza de
pocilgas e currais, lavagem da sala da sangria, da carcaça, limpeza de equipamentos e graxaria, além das
águas de cozimento de embutidos.
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2 Objectivos
2.1 Geral
Compreender o tratamento de resíduos da indústria alimentar dos abatedouros de aves e
suínos
2.2 Específicos
Identificar os Subprodutos provenientes do abate de aves;
Descrever os Subprodutos provenientes do abate de suínos
3 Metodologia
Para a realização do presente trabalho recorreu – se a revisão bibliográfica que consistiu na
consulta de Manuais, Websites, Teses, Blogs do tema acima citada.
4 Revisão bibliográfica
4.1 Graxaria
No Brasil, usam o termo “ graxarias”, nome dado as fábricas de farinha, surgiram no início do
século com o objectivo de aproveitar os subprodutos gerados no abate de aves, suínos e bovinos
(penas, pêlos, vísceras, cascos, etc.), que antes eram jogados nos rios ou enterrados, e gerar
alimentos para animais, incorporando a farinha nas rações com demais farelos (FERROLI,
1999).
Segundo Barros (2007), a indústria que recicla os resíduos de origem animal pode ser
independente ou integrada ao frigorífico, a sua função básica é o processamento de resíduos,
produzindo farinhas para rações animais.
Na década de 80, com o crescimento dos conceitos de qualidade e produtividade, as graxarias
tiveram investimentos e treinamentos da mão-de-obra. Com a proliferação do conceito de
desenvolvimento ecologicamente sustentável a partir de 1987 a preocupação ambiental passou a
fazer parte das graxarias que começou a ser alvo da legislação (FERROLI, 1999).
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4.1.1 Graxaria sustentável
Para Meeker (2016) a sustentabilidade cria e mantém condições sob as quais os seres humanos e
a natureza pode existir em harmonia produtiva, permitindo satisfazer os requisitos sociais,
económicos e outros das gerações presente e futura.
A vantagem da sustentabilidade da indústria aparecerá com destaques nos futuros programas de
divulgação e na comunicação. Segundo a Associação Nacional de Graxaria, sustentabilidade não
significa “estar na moda” como algumas outras indústrias agem, mas uma constatação e foco nas
forças existentes da indústria que podem fazer com que a indústria de processamento de resíduos
animais cresça (MEEKER, 2016).
A síntese do processo sustentável é a reciclagem dos produtos que não competem com as fontes
de alimentos humanos e que seriam de outra forma descartados, poupando a quantidade de
ingredientes extras e o solo, água e nutrientes para produzi-los (MEEKER, 2016).
Os frigoríficos que geram resíduos como: sangue, ossos, vísceras e penas passam para as
indústrias que os transformam em farinhas e gorduras, e estes fornecem os subprodutos como
insumos para a ração animal. Este é um ciclo produtivo em que as etapas vão desde a obtenção
de matérias-primas e insumos, produção, até o consumo e a disposição final (GERALDES,
2014).
As indústrias de reciclagem animal colaboram com a protecção da saúde humana e da qualidade
ambiental. O reaproveitamento e a transformação dos resíduos não comestíveis dos frigoríficos
reduzem o volume de resíduos para descarte em aterros sanitários e incineradoras. Assim a
reciclagem animal promove o respeito aos princípios fundamentais da Política Nacional dos
Resíduos Sólidos (PNRS), da prevenção, impedindo danos, da precaução, gerenciando riscos a
saúde pública e ambiental, do desenvolvimento sustentável, tendo ganhos económicos e sociais e
reduzindo impactos negativos, da eco eficiência e da responsabilidade compartilhada pelo ciclo
de vida dos produtos e reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem
económico, de grande valor social que gera trabalho e renda (GERALDES, 2014).
A graxaria e a sustentabilidade caminham lado a lado, portanto, naturalmente a indústria tem
participado nas actividades de sustentabilidade por muitos anos, sem mencionar a palavra
sustentabilidade” (MEEKER, 2016, p. 59).
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4.2 Legislação
No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) por meio da instrução
normativa n°4, de 23 de Fevereiro de 2007 estabelece o regulamento técnico sobre as condições
higiénico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para estabelecimentos fabricantes de
produtos destinados a alimentação animal. As boas práticas de fabricação (BPF) são
procedimentos higiénicos, sanitários e operacionais aplicados em todo o fluxo de produção,
desde a obtenção dos ingredientes e matéria-prima até a distribuição do produto final, com o
objectivo de garantir a qualidade, conformidade e segurança dos produtos (BRASIL, 2007).
O regulamento define o controlo de qualidade como um conjunto de procedimentos que
envolvem programação, coordenação e execução com o objectivo de verificar e assegurar a
conformidade da matéria-prima, do ingrediente, do rótulo e da embalagem, do produto
intermediário e do produto acabado com as especificações estabelecidas (BRASIL, 2007).
A matéria-prima é toda substância que, para ser utilizada como ingrediente, necessita ser
submetida a tratamento ou transformação de natureza física, química ou biológica (BRASIL,
2007).
O regulamento ainda define os procedimentos operacionais padrões são descritos como técnicas
e instruções de operações rotineiras a ser utilizada pelos fabricantes de produtos destinados a
alimentação animal, visando a protecção, a garantia de preservação da qualidade e da inocuidade
das matérias-primas, o produto final a segurança dos manipuladores (BRASIL, 2007).
Nos requisitos higiénico-sanitários da produção, o estabelecimento não deve aceitar nenhuma
matéria-prima ou ingrediente que contenha parasitas, microrganismos, substâncias tóxicas ou
estranhas, que não possam ser reduzidas a níveis aceitáveis na industrialização. O produto final
deve atender os padrões de identidade e qualidade específicos. O estabelecimento deve garantir a
origem, qualidade e inocuidade da matéria-prima, ingrediente e embalagem (BRASIL, 2007).
Este regulamento considera fábrica de produtos não comestíveis como o estabelecimento que
manipula matérias-primas e resíduos animais, para o preparo exclusivo de produtos não
destinados a alimentação humana. A farinha é o subproduto não comestível, resultante do
processamento de resíduos animais, que atenda ao padrão de identidade e qualidade pré
estabelecido, nos aspectos higiénico-sanitários, tecnológicos e nutricionais. O produto gorduroso
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não comestível é resultante do processamento de resíduos animais, denominado genericamente
de sebo (ruminantes), graxa (suídeos) ou óleo (aves) (BRASIL, 2008).
Os produtos devem passar pela cocção, processamento térmico que visa a eliminação dos
patógenos bacterianos e a separação da humidade e da gordura da matéria prima, resultando em
uma fase líquida (água e gordura) e outra sólida (resíduos proteicos cozidos com fragmentos
ósseos) (BRASIL, 2008).
4.3 Subprodutos provenientes do abate de aves
4.3.1 Farinhas na alimentação de aves
No Brasil, devido ao crescimento do sector pecuárias, o tratamento de resíduos provenientes dos
abatedouros são usados para a produção de farinhas e óleo de origem animal rico em proteínas. O
uso de resíduos para produção de farinhas e óleo trata-se de um elo importante na cadeia de produção de
alimentos, na qual este crescimento tem exigido cada vez mais das indústrias a qualidade de seus
produtos, pois uma baixa qualidade na produção de insumos para a alimentação animal,
consequentemente terá uma carne para o consumo humano de baixa qualidade.
Em um abatedouro de aves, tem-se associado a fábrica de farinhas e óleo, onde recebem as partes não
comestíveis do frango abatido, estas consideradas matéria-prima na qual fazem parte: penas, sangue,
vísceras, resíduos de ossos, aves impróprias provenientes das condenações do Serviço de Inspecção
Federal e aves mortas no transporte. Os subprodutos produzidos a partir dos descartes do abatedouro são:
farinha de pena, farinha de víscera e óleo de ave. Para que se tenham estes produtos, as matérias-primas
passam por digestores que promovem o cozimento por meio de temperaturas elevadas a determinada
pressão e tempo. Durante o processo de fabricação das farinhas e óleo é realizado um controle de
qualidade da produção, na qual se inspecciona a adição de aditivos, a higienização dos equipamentos e
realiza análises do produto pronto.
O uso de farinhas, para a alimentação das aves, alternativos ao milho e soja passou a ser
importante para a indústria avícola de rações por causa da regulação de preço pelo mercado
internacional e dos grandes volumes requeridos. Assim, o uso das farinhas, com alto teor de
proteínas, torna-se uma oportunidade para redução dos custos das rações (BELLAVER, 2002).
Os ingredientes de origem animal que são mais utilizados nas rações de frangos de corte são as
farinhas de carne e ossos, farinha de sangue, farinha de penas e farinha de vísceras. Ingredientes
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estes que apresentam uma alta concentração de proteína, e podem substituir parcialmente o
bagaço de soja (PEREIRA, 1994).
4.3.2 Farinhas de penas e vísceras
Brasil (2009) define farinha de penas hidrolisadas como o produto resultante da cocção, sob
pressão, de penas limpas e não decompostas, obtidas no abate de aves, sendo permitida a
participação de sangue desde que a sua inclusão não altere significamente a sua composição
média. Farinha de vísceras é descrita como o produto resultante da cocção, prensagem e moagem
de vísceras de aves, sendo permitida a inclusão de cabeças e pés. Não deve conter penas, excepto
aquelas que podem ocorrer não intencionalmente, e nem resíduos de incubatório e de outras
matérias estranhas à sua composição.
Para produzir a farinha, se submete a matéria-prima (carne, vísceras e ossos) a temperaturas
acima de 100°C por mais de 30 minutos, podendo chegar a 140°C no descarregamento, assim
atingindo a esterilização industrial. As penas passam pelo processo de hidrólise a 125°C por 20
minutos e segue pelo processo variável de secagem onde ainda húmidas são expostas a
temperaturas acima de 100°C (CYPRIANO, 2014).
A reciclagem animal tem resultados visíveis, pois tem destino disponível, regulamentado, seguro
e económico de animais e partes de animais que se fossem destinados para outros fins, não
apresentariam todas essas vantagens reunidas (CYPRIANO, 2014).
Nutrientes importantes são reciclados dentro da cadeia de produção de produtos cárneos,
gorduras recicladas têm baixa emissão de carbono em biodiesel, sabões e rações. A não-
exposição de trabalhadores rurais, fauna silvestre, animais de produção domesticados,
trabalhadores de frigoríficos e açougues além da população de cidades a patógenos é garantida
(CYPRIANO, 2014). Ou seja: a Reciclagem Animal confere sustentabilidade à cadeia de
produção de carnes no Brasil e no Mundo (CYPRIANO, 2014, p. 23).
4.3.3 Obtenção dos resíduos
Todo o resíduo originado no frigorífico chegou por meio de tubulações com água até a fábrica de
farinha, sendo que, separadas em duas linhas: a de vísceras, que contém as vísceras não
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comestíveis, pulmão, estômago, intestino, cabeças, condenações do Serviço de Inspecção Federal
e aves mortas no transporte, e a linha de penas, com as penas dos frangos abatidos.
Tanto as vísceras quanto as penas passaram por uma peneira rotativa para separar a água, que
seguiu para tratamento. As vísceras foram para uma rosca 1, e depois uma rosca 2, e caíram em
uma moega, na rosca 2 foi adicionado um aditivo antioxidante.
4.3.4 Obtenção da farinha de vísceras
Da moega as vísceras foram para dentro dos digestores, que são grandes tanques que realizam a
fritura por pressão de 3 kgf./cm² obtido por meio de vapor oferecido de uma caldeira, a uma
temperatura de 135°C durante 1h e 40min, nessa moega foi adicionado um aditivo conservante.
Após o tempo de digestor, as vísceras, formaram uma massa que passou para um perculador,
onde começou a escorrer o óleo resultante da fritura, e então por meio de uma rosca chegou até a
prensa, que separou todo o óleo da massa deixando-a seca.
As crostas de massa de vísceras secas foram para um moinho, que refinou e deixou assim a
farinha pronta, sendo transportadas por uma rosca para o elevador, nessa rosca foi adicionado os
aditivos: antioxidante e antisalmonela, seguindo então para o armazenamento em silo, e depois
ensacado em big bags, acomodados sobre paletes de madeira.
4.3.5 Obtenção da farinha de pena
As penas, da peneira giratória também passaram por uma rosca até uma prensa, que retirou a
água, e seguiu por meio de duas roscas para os digestores, em uma dessas roscas foi adicionado o
aditivo antioxidante. No digestor ocorreu a hidrólise com 2,5 kgf/cm² de pressão, a 135°C
durante 30 minutos, que é o cozimento das penas com sangue, coletado por tubulação do
frigorífico. Decorrido a hidrólise foi retirada a pressão do digestor, e só com o calor realizado a
pré secagem durante uma hora e 20 minutos, logo em seguida foi retirada a massa cozida, caindo
em um percolador e seguiu por uma rosca até o secador rotativo, fazendo a secagem final.
A farinha seca passou em um moinho para refinar e por uma rosca, com a adição de aditivos
antioxidante e antisalmonela foi transportada por elevador ao silo e armazenada da mesma
maneira que a farinha de víscera. A diferenciação das farinhas nos big bags foi feita por
fichas contendo a data de fabricação, a validade, que é de 60 dias e o lote.
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O óleo que retirado da massa de vísceras, tanto no percolador quanto na prensa foi para um
tanque decantador para a retirada da borra, passando por uma centrífuga para refinamento e
armazenado em tanques. Todos esses três produtos, farinha de penas, de vísceras e óleo são
usados na composição de rações em uma fábrica agregada ao frigorífico, realizando assim um
ciclo.
4.3.6 Os aditivos
Os aditivos utilizados no processo de fabricação das farinhas são o antioxidante, antisalmonela e
conservante. Os antioxidantes são substâncias que evitam a formação de peróxido, oxidação das
farinhas, conservando suas qualidades. A oxidação de gorduras e óleos provoca a mudança de
odor e paladar nos produtos e os torna menos nutritivos. É composto por etoxiquina, BHT, BHA,
ácido cítrico, propilgalato e veículo, sendo usado em uma proporção de 250 a 1500 g/t de
produto.
O antisalmonela é um aditivo acidificante antibacteriano usado para descontaminação e
evitar contaminação de bactérias como Salmonella, Escherichia e outros. Composto por ácido
propiônico, ácido acético, ácido fórmico, ácido láctico, ácido cítrico, formiato de amônio,
propionato de cálcio e veículo, usado de 4 a 8 kg/t.
O aditivo conservante é usado no controle de crescimento microbiano e redução da acidez,
preservando assim a qualidade do produto por mais tempo. Composto por acetato de sódio,
formaldeído, propionato de cálcio, sorbato de potássio e veículo, utilizado em uma medida de 2 a
3 kg/t.
4.3.7 Controlo de qualidade das farinhas
Para determinar a qualidade das farinhas deve se colher amostras e realizados os métodos de
análises: índice de peróxido e índice de acidez. No entanto, os peróxidos são substâncias que
apresentam ligação oxigénio-oxigénio que contém oxigénio em estado de oxidação.
A peroxidação lipídica começa com formas químicas de oxigénio de grande reactividade, os
radicais livres, a formação é aumentada com a presença de metais, altas temperaturas, efeito de
luz solar, radiações e enzimas de alguns microrganismos (BRASIL, 2009).
Para determinar - se o índice de peróxido deve-se pesar 15 gramas de farinha em um erlenmeyer,
adicionado 70 ml de éter de petróleo e agitado por 20 minutos em agitador magnético, e após
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filtrado com o auxílio de um papel filtro. Do filtrado será retirado 20 ml e neste adicionado 20 ml
de ácido acético, 0,5 ml de solução iodeto de potássio e colocado no escuro por 1 minuto. Após
esse tempo adicionado 30 ml de água destilada e 1 ml de solução de amido a 1%.
Os peróxidos formados se ligam a um grande número de produtos instáveis, destruindo a
molécula de ácido graxo, gerando produtos de oxidação, que são tóxicos e causa um odor ranço,
processo esse que pode durar horas, semanas ou meses (BRASIL, 2009).
Se a farinha tiver peróxido, a solução apresenta uma coloração negra característica quando
adicionado a solução de amido, se a mesma não mudar de cor, é considerado 0% como resultado.
A acidez está ligada ao estado de conservação do produto, de sua deteriorização, ligado a
condições impróprias de armazenamento, enzimas de bactérias, temperatura e humidade
elevadas.;.’|
Deve - se pesar 5 gramas de farinha em erlenmeyer e adicionado 100 ml de álcool absoluto
neutralizado e colocado para agitação durante 15 minutos. Com o auxílio de papel filtro a
solução foi filtrada e adicionado 4 gotas de fenolftaleína como indicador, após, titulado com
hidróxido de sódio a 0,1 M até a solução obter uma coloração rosa claro.
4.4 Subprodutos provenientes do abate de suínos
De acordo com dados colhidos na literatura diversos são os subprodutos adquiridos através dos
resíduos provenientes do abate de suínos (FIEP, 2019; PORTAL SUÍNOS E AVES, 2018;
SILVA JUNIOR et al., 2018).
As vísceras descartadas no processo de abate são muito utilizadas para fabricação de farinhas de
vísceras, fabricadas em graxarias. Estas processam também outros resíduos advindos do abate,
como por exemplo: pêlos, ossos, gorduras, aparas de carne e sangue. Neste processo, os resíduos
são transformados em sebo (graxa) e posteriormente, em farinhas, que são utilizadas na produção
de ração (juntamente com outros grãos, como milho e trigo) ou adubo (FERROLI, et al. 2000).
Sabe-se também, que as graxarias são óptimas alternativas para o processamento de produtos
advindos de apreensões realizadas por autoridades locais e sanitárias, que utilizam este recurso
como uma tentativa de aproveitamento de produtos não comercializáveis, evitando ainda, a
disseminação de agentes causadores de enfermidades e/ou poluição. Este processo apresenta-se
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como uma forma adequada para destinação dos resíduos provenientes do abate, mas não é
considerado uma solução à sustentabilidade (REBOUÇAS, et al., 2010).
Autores como KREMER, SCHUBERT & BONFÍGLIO (2011), utilizaram a criodesidratação de
vísceras como uma forma de obtenção de peças anatômicas conservadas para estudos, com
características próprias e de fácil utilização em laboratórios de anatomia. Os autores relatam que
tal metodologia aplicada às vísceras, torna este resíduo em um material interessante para o
estudo anatómico, apresentando-se como uma reutilização, evitando o descarte inadequado deste
produto.
Autores também sugerem o desenvolvimento de produtos com menor teor de gordura, através da
substituição de sebo por vísceras. RAHMAN et al,. (2018), estudaram o efeito da substituição do
sebo por coração desengordurado em produtos do tipo salsicha, e observou que em
percentagens que atingiam 20% de substituição, houve: aceitação sensorial, diminuição de
crescimento microbiano e estabilidade oxidativa do produto.
Em relação às aparas e gorduras, provenientes do abate, autores como FERREIRA, FRAQUEZA
& BARRETO (2007), estudaram a fabricação de salsichas frescas adicionadas de sulfito de sódio
como inibidor bacteriano, utilizando como matéria-prima principal, as aparas. Gorduras, em
específico, são geralmente tratadas se utilizadas em ração. O que se sabe é que as gorduras são
muito bem-vindas diante dessa finalidade, pois melhoram o conteúdo energético do alimento.
Sob o ponto de vista calórico também são consideradas interessantes, visto que representam um
teor 2,25 vezes maior do que os demais alimentos presentes na formulação. Do ponto de vista
económico, são consideradas de baixo custo e ainda, reduzem o consumo de máquinas eléctricas
quando da fabricação de pellets, visto que diminuem a abrasividade (PUPA, 2004).
HUHN (1992) acredita que aparas, peças e condimentos também são óptimas matérias- primas
para o desenvolvimento de produtos como carne seca, carne de sol, toucinho, toucinho defumado
e linguiça mista. Tais produtos diferem na quantidade de matéria-prima utilizada, nos
diferenciais em relação às matérias-primas agregadoras, nos processos e no tratamento.
Em relação aos ossos advindos do abate de porcos, alguns autores utilizam-se da criatividade
para obtenção de produtos ou desenvolvimento de novos. Tratamentos para obtenção de proteína
óssea podem ser vistos em trabalhos como os de VOLLMER & ROSENFIELD (1983). Os
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autores relatam que a proteína extraída dos ossos (geralmente através de processos enzimáticos)
frescos ou curados, bem como fragmentos pequenos de ossos triturados, são utilizados para
fabricação de farinha de ossos. No Brasil, tais farinhas podem ser utilizadas como fertilizantes
orgânicos.
Já autores como SOBCZAK, KOWALSKI & WZOREK (2009), estudaram a possibilidade de
obtenção de cristais de hidroxiapatita a partir de ossos de porcos, gerando resultados bastante
satisfatórios. Tais autores afirmam que estes cristais são amplamente aplicados e utilizados na
ortopedia, odontologia, traumatologia e oftalmologia por apresentarem aplicações em próteses,
tratamentos de canal, entre outros.
Para ZHANG et al., (2017), sopas de ossos de porco também são subprodutos desenvolvidos a
partir da utilização de ossos de porcos advindos do abate, e que, se tratadas de forma adequada
em relação ao preparo, tornam-se sensorialmente aceitáveis a diversos provadores.
No intuito de valorizar os ossos de porcos rejeitados pelo abate, autores como VELASCO et al,.
(2016) estudaram o efeito do tratamento destes com ácido fosfórico e ácido sulfúrico no intuito
de aumentarem a sua porosidade e conseguirem elaborar biocarvão através do processo de
liberação de CO2 durante a pirólise. Os autores relataram que não somente conseguiram a
elaboração de um produto sólido estável e rico em carbono (biocarvão), como também
verificaram que o ácido sulfúrico apresenta resultados melhores quando comparados às amostras
controle e ao outro ácido utilizado (nas mesmas proporções).
Outro resíduo que pode ser utilizado como subproduto é o sangue. Estudos realizados por
CHOWDHURY et al,. (2015) tiveram o intuito de descobrir qual o efeito da incorporação de
sangue sobre a qualidade físico-química e sensorial de salsichas de porco, formuladas a partir de
carne magra de porco, banha, gordura picada, farinha de arroz, especiarias, soja e ovo. Ao final,
descobriram que o aumento de sangue na formulação aumentou também os seguintes índices:
Estabilidade da emulsão, pH, TBA, capacidade de retenção de água e actividade de água.
Sensorialmente, produtos com 10% de sangue foram os mais aceitos dentre os provadores.
Autores como CHOI et al,. (2015), avaliaram características de qualidade (como por exemplo:
coesão, elasticidade, mastigabilidade, entre outros) em linguiças adicionadas com sangue de
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porco advindos do abate e observaram que linguiças contendo 20% de adição de sangue
apresentaram melhor qualidade quando comparadas ao controle.
Por fim (e não menos importante) há também os autores que se predispõem a estudar os efeitos
e os tratamentos dos resíduos líquidos do abate de suínos, conhecidos como efluentes.
Autores como MORAES & COLLA (2017) realizaram um levantamento dos efluentes líquidos
em um frigorífico no Paraná (Brasil) e descobriram que o descarte atinge a casa de milhões de
litros descartados, visto o alto volume de água utilizada nos processos.
Já ORSSATTO (2017), em seus estudos sobre tratamento de efluentes, buscou alternativas para
otimização dos mesmos, através de eletrofloculação e combinação eletrofloculação/coagulação
orgânica. Oliveira (2018), no intuito de avaliar melhores estratégias de tratamento, avaliou o
comportamento de biodigestores do tipo CSTR, concluindo que tal estudo além de eficaz,
contribui para a redução de lodos nos sistemas de tratamento e minimiza os custos com o
tratamento.
5 Conclusão
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