Geografia Econômica
Commodities são produtos de qualidade e características uniformes que
podem ser estocados e vendidos no mercado global em qualquer momento,
sendo seu preço determinado pela oferta e procura internacional. Em sua
maioria eles são matérias-primas em estágio bruto ou com pequeno grau
de industrialização e, por isso, maior parte destas estão vinculadas ao
setor primário, como commodities agrícolas (café, trigo, soja, açúcar e
milho), minerais (ouro, petróleo, minério de ferro), dentre outras.
2.2 O setor secundário: a indústria e os fatores
locacionais
A atividade industrial tem tanta importância econômica e representa
tantas transformações especiais que há um único setor econômico destinado
exclusivamente para ela. Não é por menos que no desenvolvimento da Geografia
Econômica, emergiu a necessidade da atividade industrial ter uma área de estudo
exclusiva, daí emergiu a Geografia da Indústria.
Na contemporaneidade, estruturada em uma sociedade do consumo e acúmulo
de capital, tem-se na Indústria, como afirma Andrade (1989), o mais importante dos
setores de sua economia, ela provoca o desenvolvimento de atividades que lhe são
complementares, como fornecedoras de matérias-primas (setor primário) e energia,
fornece quantitativo expresso de emprego, forçando a qualificação profissional para
atuação nela, produz capitais e estimula o desenvolvimento do comércio (setor
terciário). É também uma das atividades principais responsáveis pela poluição dos
solos, da água, do ar e pela consequente degradação do meio ambiente.
Sua importância é tal que coloca os países e regiões mais industrializadas
na vanguarda do desenvolvimento, pois conseguiram avançar industrialmente
a partir do avanço tecnológico, fazendo com que aqueles países que não se
industrializaram se tornem dependentes deles. Salvo algumas exceções, os países
mais desenvolvidos são industrializados, enquanto os menos desenvolvidos são
produtores de alimentos de e de matérias primas, como o Brasil.
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Geografia Econômica
Muitas das particularidades que permeiam o mundo industrial, como
sua distribuição geográfica no mundo e seus níveis tecnológicos atuais, são
resultado dos processos ocorridos na Revolução Industrial. Tal revolução não
pode ser negligenciada quando tratamos da atividade industrial, uma vez que
compreender o passado nos dá orientações significativas para compreendermos
o presente.
Desta forma, nas sociedades em que dominam padrões pré-industriais,
os objetos são confeccionados pelos próprios indivíduos que desejam usá-los,
ou por artesãos que os fazem para uso de um pequeno número de clientes.
Nas áreas industrializadas ou em vias de industrialização, o homem adquire já
confeccionados os objetos de uso, sendo estes quase sempre produzidos em
estabelecimentos industriais que os fazem em grande número, com o objetivo
de serem vendidos em áreas de grandes comércios e a um grande número de
pessoas (Andrade, 1989).
Você sabe a diferença entre Empresa e Indústria? Muitas vezes existe
uma confusão no uso do termo que iremos esclarecer a vocês. A principal
questão está ligada ao fato de que toda indústria é uma empresa, mas
a empresa por si só não é uma indústria. Uma empresa é uma unidade
legal administrativa de natureza jurídica que estabelece contratos com
fornecedores, distribuidores, empregadores e, frequentemente, com
clientes. Ela pode ser um comércio (loja, supermercado), ou um prestador
de serviço (TV a cabo, provedor de internet) por exemplo. Já a indústria
é uma fábrica, toda indústria tem por objetivo transformar matéria-prima
bruta ou semiprocessada em um produto. E como tal, toda indústria é
também uma empresa. Exemplo: a Ford é uma indústria automobilística,
pois ela transforma matéria-prima em um produto.
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Geografia Econômica
A indústria moderna Figura 19 - Fábrica no período da Revolução Industrial
é uma consequência
da Revolução Industrial
que aconteceu na
Inglaterra na segunda
metade do Século
XVIII e nas primeiras
décadas do Século XIX,
daí se expandindo para
o continente europeu:
França e Bélgica na
primeira metade do
Século XIX, Alemanha e Fonte: Toda Matéria (2016)
Rússia, segunda metade
do Século XIX e posteriormente em países e em outros continentes como Estados
Unidos e Japão.
Ainda no Século XX, ela se expandiria para outros países ganhando grande
estímulo e dinamismo em todos os hemisférios, após a Segunda Guerra Mundial, quando
passaram a se industrializar países como a China, Índia, Brasil, México, Austrália,
África do sul etc, a Revolução Industrial permitiu a introdução, na atividade econômica,
de várias técnicas que permitiram a aceleração do processo de produção, de sua
diversificação, de seu transporte e do acúmulo financeiro nas mãos dos industriais. Com
estas transformações, a oferta de produtos foi ampliada exponencialmente, produtos
característicos de alguns países passaram a ser consumidos em outros países criando
novos nichos de mercados e avançando nas padronizações do consumo.
Entre os inventos que provocaram verdadeira transformação tecnológica nos
primórdios da Revolução Industrial, se destaca a máquina a vapor feita por Wall em
1777, seguida do tear mecânico, desenvolvida dez anos depois por Cartwright, já em
1793 desenvolvia-se a máquina que descaroçava o algodão. Tais transformações
impactaram também no transporte, tanto o ferroviário quanto aquaviário. A
abundância de fontes de energia como o carvão mineral, potencializado pela
máquina a vapor, é um importante elemento no desenvolvimento de tal revolução.
A Revolução Industrial, porém, essencialmente dinâmica, manteve em constante renovação
o parque industrial, os meios de transportes e as técnicas industriais. Assim, o carvão,
como combustível, foi largamente substituído pelo petróleo e pela energia hidrelétrica.
[...] As fábricas também se modificam constantemente, ampliando as suas áreas e a
capacidade de produção, utilizando técnicas mais modernas e sistemas de administração
cada vez mais eficientes; ao mesmo tempo em que se higienizam, apresentam padrões
estéticos que não possuíam na primeira metade do século XX. (Andrade, 1989, p. 185).
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Geografia Econômica
A Revolução Industrial promoveu a industrialização de muitos países no
mundo, mas como era de se esperar, de forma desigual. Isto nos leva a
compreender que atualmente existem estágios diferentes de industrialização
entre os vários países no mundo. O primeiro tipo de industrialização é a
clássica, que ocorreu na segunda metade do Século XVIII e se disseminou
por outros países no século seguinte, incluiu países como a Inglaterra,
França, Estados Unidos e o Japão.
O segundo tipo de industrialização é a chamada de industrialização
planificada, iniciada no Século XX com forte ação estatal em países da
extinta União soviética e outros. O terceiro tipo de industrialização é a
considerada como retardatária ou periférica, iniciada na segunda metade
do Século XX, predominante nos países em desenvolvimento de economia
emergente, países que possuem debilidades no desenvolvimento científico
e tecnológico e profunda desnacionalização de suas indústrias, efeitos
resultantes da enorme entrada de capital estrangeiro, como é o caso do
Brasil, África do Sul, México entre outros.
Podemos considerar que a Primeira Revolução Industrial ocorreu entre o
Século XVIII até fins do Século XIX e envolveu os seguintes avanços:
Figura 20 - Primeira Revolução Industrial
Surgimento da Máquina a Vapor;
Carvão como principal fonte de
energia;
Força de trabalho não especializada
nem qualificada;
Predomínio da Indústria Têxtil.
Fonte: Aulazen (2018)
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Já a Segunda Revolução Industrial iniciou-se para fins do Século XIX e contou com
avanços nos seguintes campos:
Figura 21 - Segunda Revolução Industrial
Surgimento da energia elétrica;
Petróleo como principal fonte de
energia;
Força de trabalho especializada;
Desenvolvimento das indústrias
petroquímicas, automobilísticas,
metalúrgicas e siderúrgicas.
Fonte: Mundo Cinema (2016)
A Quarta Revolução Industrial ou Revolução Técnico-Científica-informacional, iniciou-
se na década de 1990 e tem se estendido até atualmente. É a que possui o maior
número de inovações tecnológicas e menor nível de tempo de inserção de produtos
industrializados no mercado.
Figura 22 - Terceira Revolução Industrial
Nova divisão do trabalho (Pós-
Fordismo);
Desenvolvimento da TIPC;
Robótica;
Microeletrônica;
Química Fina;
Biotecnologia.
Fonte: Elpais (2016)
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A Quarta Revolução Industrial ou Revolução Técnico-Científica-informacional, iniciou-
se na década de 1990 e tem se estendido até atualmente. É a que possui o maior
número de inovações tecnológicas e menor nível de tempo de inserção de produtos
industrializados no mercado.
Figura 23 - Quarta Revolução Industrial
Ondas de rádio avançadas;
Jatos e satélites;
Acessibilidade de meios de
comunicação;
Micro e multiaparelhos
eletrônicos acessíveis;
Instantaneidade da informação
e Maior velocidade de
deslocamento.
Fonte: Veja (2018)
Muito embora a tecnologia, a ciência e a informação sejam fundamentais
no desenvolvimento de todos os setores econômicos, é fundamental
destacar que a estreita relação de dependência do setor secundário com o
desenvolvimento tecnológico implicou em novas e mais competitivas formas
de produção. Ele desemboca em formas de produzir produtos e formas de
trabalho. Desta forma, as revoluções industriais estão em consonância com
as mudanças na estrutura produtiva mundial que impactam expressivamente
o espaço geográfico global em diversas formas, níveis e escalas.
Isto implica em compreendermos os processos produtivos industriais, com
ênfase no Taylorismo, desenvolvido por Frederick Taylor; o Fordismo, termo
criado por Henry Ford; e o Toyotismo criado por Taiichi Ohno. Tais sistemas
industriais foram desenvolvidos no seio da indústria automobilística, mas
foram importados para outros segmentos industriais no mundo. As principais
características de cada um deles serão expressas a seguir:
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Figura 24 - Sistemas produtivos industriais
TAYLORISMO FORDISMO TOYOTISMO
• Divisão do trabalho; • Produção em massa; • Just-in-time;
• Metodologia científica; • Trabalhadores especializados; • Trabalhadores qualificados;
• Maximização da produtividade; • Verticalização da produção; • Automação e terceirização;
• Supervisão do trabalho • Concentração da atividade • Dispersão da atividade
industrial no mundo. industrial no mundo.
Fonte: Elaborada pelo Autor (2019).
Assim como o desenvolvimento tecnológico e dos processos produtivos, a
localização geográfica da indústria é um dos aspectos fundamentais a serem
considerados nessa atividade econômica. Não é por menos, como já abordado,
Alfred Weber buscou desenvolver a sua teoria da localização espacial pensando
nesta importante questão. Neste sentido, a questão locacional deve considerar
em sua constituição quesitos como: tipo de indústria, mercado consumidor,
tipo de processo produtivo, de tecnologia, fontes de energia, infraestrutura de
escoamento, acesso à força de trabalho qualificada entre outros.
Figura 25 - Fatores locacionais na indústria
Fonte: Elaborada pelo Autor (2019).
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Geografia Econômica
As características envolvidas na figura evidenciam que a questão espacial
para a atividade industrial não é algo tão simples, ela reflete uma relação entre
capacidade produtiva e mercado consumidor. Neste caso, a empresa tem que
analisar quais elementos lhe são fundamentais para que opte por escolher onde
se instalar, por isso a teoria de Weber foi tão importante quando publicada.
Empresas mais dinâmicas e voltadas para produtos tecnológicos necessitam
estar mais perto de centros de pesquisa, universidades, laboratórios etc. Já uma
indústria extrativista, necessita estar próxima da matéria-prima que irá produzir.
Neste caso, o preço da terra é algo fundamental. Em todas as atividades a
força de trabalho em abundância é considerada. O escoamento da produção
necessita de boa infraestrutura rodoviária, aeroviária, aquaviária, ferroviária, e
portuária para que os custos de transporte não encareçam ao ponto de não ser
lucrativa a sua comercialização.
No processo industrial, grande Figura 26 - Classificação industrial
quantidade de energia é necessária
para se produzir e em muitos casos
de forma ininterrupta, desta forma,
o acesso a fontes de energia é
outro elemento a ser considerado,
assim como incentivos fiscais que
favoreçam as implantações das
fábricas, considerando vantagens
proporcionadas pelos governos
como isenção fiscal, doação de
terras, construção de vias de
acesso etc.
Tradicionalmente, as
indústrias eram classificadas em
dois grandes grupos: indústrias
Adaptado pelo Autor (2019)
pesadas e indústrias leves. Em
virtude do avanço nos estudos
geoeconômicos, surgiram novas classificações a partir das novas complexidades
que emergiram nas transformações industriais. Conectadas dentro de uma
longa cadeia produtiva, as indústrias atualmente são divididas em três tipos:
indústrias de bens de produção, indústrias de bens de capital e indústrias de
bens de consumo.
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As indústrias de base ou bens de produção transformam matéria-prima bruta
em matéria-prima processada para a utilização por outras indústrias, temos como
exemplo as siderúrgicas, as metalúrgicas, petroquímicas entre outras. A Suzano
Papel e Celulose, instalada no Município de Imperatriz, no Estado do Maranhão, é
uma indústria de base, pois ela produz celulose a partir do eucalipto plantado no
estado e vende para que outras indústrias possam transformar a celulose em papel.
Figura 27 - Indústria de bens de produção no Maranhão – Suzano Papel e Celulose
Fonte: Elaborada pelo Autor (2018).
As indústrias de bens de capital ou indústrias intermediárias produzem
máquinas e equipamentos para serem utilizados nas outras indústrias ou
segmentos produtivos. A indústria que fabrica tratores ou máquinas de montagem
são exemplos desta categoria.
Figura 28 - Indústria de bens de capital
Fonte: WSJ (2016)
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Geografia Econômica
As indústrias de bens Figura 29 - Indústria de bens de consumo
de consumo, ou indústrias
leves, transformam matéria-
prima bruta ou beneficiada em
produtos para o consumidor final.
Como as indústrias de roupas,
sapatos, celulares, alimentos
etc. Sua produção pode ser
diversificada em três tipos de
bens: duráveis, semiduráveis e
não duráveis. Como podemos
observar, os tipos de bens
consumidos são classificados a
Fonte: Toda Materia (2018)
partir da temporalidade de uso
e funcionamento. Uma camisa é um bem semidurável, um alimento é um bem
não durável, e o que poderíamos considerar como bem durável em tempos de
obsolescência programada?
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, utiliza a classificação
dos setores econômicos para a saber o somatório do Produto Interno
Bruto – PIB do Brasil. O PIB representa a soma dos valores monetários de
tudo que é produzido e consumido em determinado período do país. Ele
serve como referência para compreendermos a produção geoeconômica
das atividades produtivas nacionais e considerar particularidades como
retração econômica ou expansão econômica. Os vários tipos de indústrias
possuem CNAES diferentes a partir das suas áreas de atuação. Na
indústria não é diferente, há uma classificação para as indústrias, seguida
das especificidades como a indústria extrativista, de transformação, de
alimentos etc.
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Geografia Econômica
Para que uma indústria possa produzir, ela transforma significativamente o espaço
geográfico, tais transformações são em várias etapas do processo produtivo, pois como
podemos ver, existem várias indústrias que atuam em cadeia para que a matéria-prima seja
retirada, beneficiada, transportada, transformada em mercadoria e, consequentemente,
chegue até o mercado consumidor. Todo este processo chama-se “cadeia produtiva”.
Cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas, ao longo das quais os
diversos insumos sofrem algum tipo de transformação, até a constituição de um produto
final (bem ou serviço) e ou sua faxina do mercado. Trata-se, portanto, de uma sucessão
de operações (ou de estágios técnicos de produção e de distribuição) integradas,
realizadas por diversas unidades interligadas como uma corrente, desde a extração e
manuseio da matéria-prima até a distribuição do produto. Elas resultam da crescente
divisão do trabalho e maior interdependência entre agentes econômicos.
Figura 30 - Esquema de uma cadeia produtiva
Fonte: Elaborada pelo Autor (2019).
No esquema em destaque, notemos que existem inúmeras e sucessivas etapas
até o produto final. Iniciando pela extração da matéria-prima, a sua produção em
uma mercadoria, sua distribuição até os centros de venda e por fim o consumo.
Analisemos que dentro dessa cadeia inúmeras pessoas cooperam para que toda
a dinâmica funcione perfeitamente: trabalhadores em diversos níveis, maquinário,
comerciantes, consumidores, produtores de insumos etc.
Para exemplificarmos o funcionamento de uma cadeia produtiva, vamos
considerar a indústria alimentícia, e em especial a indústria do leite que é consumido
todos os dias em nossas casas. Para que este leite chegue até nós, consumidores
finais, ele passa por uma série de processos e envolve uma série de agentes que
juntos formam a cadeia produtiva do leite.
Figura 31 - Exemplo de cadeia produtiva do leite
Fonte: Semagro (2015)
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Geografia Econômica
A cadeia se inicia com o produtor rural (setor primário), que ao retirar o leite, o
transporta para a indústria do leite (setor secundário), que o submeterá aos processos
industriais e transportará até o mercado (setor terciário) para a venda. Como podemos
perceber, os setores econômicos se ligam em uma intensa cadeia produtiva. Nesta
dinâmica transformam expressivamente o espaço geográfico através da constituição de
elementos artificiais que favoreçam as atividades geoeconômicas.
Tempos modernos é um filme estadunidense de 1936 escrito e dirigido por
Charlie Chaplin. O filme aborda críticas ao capitalismo industrial utilizando-
se do drama e da comédia. O filme aborda as linhas de montagens
industriais e os contornos advindos da Revolução Industrial, além das
lutas por melhores salários pelos trabalhadores e o sindicalismo que se
consolidava.
Você pode assistir ao vídeo clicando no link a seguir:
Assista aqui
2.3 O setor terciário: o urbano e os serviços
A cidade enquanto fenômeno urbano, surgiu a partir do momento em que a produção
ultrapassou as necessidades de consumo dos produtores, permitindo a existência de um
excedente que poderia ser apropriado por não produtores. Desta forma, historicamente, a
evolução das cidades está intimamente ligada à evolução do setor terciário e vice-versa.
Os povos primitivos que habitavam em comunidades, viviam da caça, da pesca
e da coleta, geralmente produziam para atender suas necessidades imediatas,
despreocupados de acumular para o futuro ou atender a outros grupos. Não havia
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