Caderno Digitalizado de Direito
Constitucional
-Organização do Estado – Aulas 1 a 7:
Federalismo Brasileiro
Aula 1:
Noção:
Artigo 1 e 18 da CF/88:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) V - o pluralismo
político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
“Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos
termos desta Constituição. § 1º Brasília é a Capital Federal. § 2º Os Territórios Federais
integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem
serão reguladas em lei complementar. § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-
se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do
Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o
desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por
Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações
dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados
e publicados na forma da lei.”
A federação envolve a descentralização espacial do poder político limitando/ Distribuição
Federal;
Funções: o poder político de governar e legislar.
>Características:
>Indissolubilidade: garantia constitucional que impede que uma das partes
(Estados/Municípios) da federação se separe do todo - Pacto Federativo;
>Repartição constitucional de competências: É a descentralização espacial do poder
político, garantindo autonomia constitucional (dos entes federados, com auto-organização
e competências próprias);
>Participação desses entes federados na formação da vontade geral, (exemplo: Senado
Federal, que representa os Estados), os municípios não participam, por isso, não considera
como algo essencial;
>O árbitro dos conflitos federativos é STF;
>Intervenção federal: medida excepcional, art. 34 CF/88.
>Composição e estrutura:
Composição > Ente Total (Estado federal: República federativa) e >Ente Parciais (Ente
nacional: União; Regional: Estados/DF; Locais: Municípios)
Existe uma diferença entre União e República Federativa:
República Federativa do
Aspecto União
Brasil
Natureza Pessoa jurídica de direito público Pessoa jurídica de direito
jurídica interno público internacional
É o conjunto da União, Estados,
Composição É uma das entidades federativas
DF e Municípios
Possui autonomia federativa Representa o Estado brasileiro
Autonomia
(administra e legisla) como um todo soberano
Relações É o sujeito de direito
Representa o Brasil nas relações
internacionai internacional nas relações com
exteriores
s outros Estados
Agente da Atos são praticados em nome da
Presidente da República (órgão da
representação República Federativa, por meio
União)
internacional da União
Portanto, a União é parte do Estado, mas não se confunde com ele, representa o Brasil
no exterior, mas quem é o sujeito de direito internacional é a República Federativa do
Brasil e somente ela possui a soberania;
No regime presidencialismo, o presidente possui 4 funções: Chefe de governo; estado;
administrativo e comandante das forças armadas;
Os entes parciais: todos são pessoas jurídicas de direito público interno com autonomia
constitucional de seus respectivos âmbitos territoriais; Para qualquer tipo de negócio
Internacional, deve ser aprovado pelo Senado/ Congresso Nacional.
>Vantagens do federalismo:
-Permite a pluralidade de unidades – convivência;
-Limitação do exercício do poder;
-Potencializa o princípio democrático.
>Desvantagens:
-Instabilidade política;
-Excesso de burocracia;
-Perda da eficiência da ação do poder público com maiores gastos.
Aula 2:
>Origem e evolução:
-Origem:
A) Por agregação/centrípeto; B) Por segregação/centrifuga:
A) Surge por agregação das colônias que se unem e formam a federação, ex: os Estados
Unidos, a primeira constituição do mundo; tem um federalismo centrípeto no qual o
Estado Federal se forma da periferia para o centro. No entanto, a sua competência de
concentração de poder é centrifuga, no qual proporciona uma maior descentralização de
poder com uma sensível diminuição do poder central e um incremento (aumento ou
ampliação) dos poderes regionais;
B) Formado a partir de uma divisão de um Estado unitário preexistente para um Estado
Federal (exemplo do Brasil), sendo assim, é um federalismo centrífugo, no qual o
Estado Federal é criado do centro para a periferia. Outrossim, possui competência de
poder centrípeta, que proporciona uma maior concentração de poder no governo (polo)
central.
-Quanto à repartição de competências:
A) Modelo dualista – B) Corporativa/Cooperativa:
A) Dois âmbitos de competências definidas e autônomas, ex: EUA e Brasil (mas só foi
utilizado na primeira república, e a maior concentração era para a União, que delegava o
restante para os Estados);
B) Caracteriza-se pela busca de colaboração recíproca através da possibilidade de
atuação comum ou concorrente entre os poderes central e regionais; seu apogeu foi com
o Estado social, inspirado na constituição alemã, o Brasil adotou este modelo em 1934,
configurando assim, um federalismo de equilíbrio: é aquele que objetiva instaurar uma
equilibrada e equitativa repartição de poderes;
-Quanto ao equacionamento das desigualdades:
-Federalismo simétrico: como nos EUA, há uma divisão igualitária de competências,
atribuições e receitas entre os entes federativos.
-Federalismo assimétrico: como no Canadá, reconhece desigualdades regionais
(socioeconômicas, culturais, políticas etc.) e adota tratamentos diferenciados para
superá-las.
-Quanto ao Brasil, há divergência. Alguns autores o consideram um federalismo
assimétrico, devido às desigualdades regionais e à existência de dispositivos
constitucionais que permitem tratamentos diferenciados (como os arts. 3º, III; 43; 46;
151, I; e 159, I, “c” da Constituição de 1988). No entanto, a interpretação defendida no
texto sustenta que, em regra, o federalismo brasileiro é simétrico, uma vez que há uma
distribuição igualitária de competências entre os entes e o art. 19, III da Constituição
proíbe discriminação entre eles, com base no princípio da homogeneidade federativa.
Assim, entende-se que a simetria é a regra, embora existam exceções assimétricas
justificadas pelas desigualdades regionais.
Repartições de competências:
-Vedações federativas: artigo 19;
Critérios para a repartição:
Preponderância de interesses(doutrinário), mas não serve para casos de competências
concorrentes,
>1. Forma de atribuição:
1.1- Expressa/ implícita ou enumeradas, artigos: 21, 22, 23-24- 25;
1.2- Reservada/ remanescentes/ residuais, artigos 25; Art. 21, alínea E; art. 30, exemplo:
transporte municipal.
Aula 3:
-Repartição de competência- Continuidade:
-Formas de atribuição:
1.1- Expressas: (explicitamente previstas na Constituição, com definição clara de quais
matérias cabem a cada ente); Implícitas:(Decorrem de interpretação da Constituição,
são necessárias para o exercício das competências expressas, aplicando-se aqui o
princípio da competência implícita/ teoria dos poderes implicitos)Um exemplo seria a
competência para legislar sobre a organização de serviços administrativos necessários à
execução de políticas públicas atribuídas ao ente)
1.2: Quanto à técnica de repartição: Competências enumeradas: (A Constituição
lista expressamente as matérias sobre as quais cada ente pode legislar ou atuar);
Remanescentes ou residuais: (não enumeradas para a União ou para os Municípios e
que, por exclusão, cabem aos Estados (art. 25, §1º da CF/88). Trata-se da lógica da
“cláusula residual”.)
-Lei 9093: A lei determina que os feriados devem ser instituídos por meio de legislação
específica, seja ela federal, estadual ou municipal. O Carnaval não é considerado feriado
nacional, a menos que haja uma lei local que o estabeleça como tal. A Lei nº 9.335, de
10 de dezembro de 1996, alterou a Lei nº 9.093/95, incluindo o inciso III ao Art. 1º,
permitindo que os municípios fixem como feriados os dias do início e do término do
ano do centenário de sua fundação.
As formas de atribuição implícita apresentam duas categorias:
A) Por conexão e B) Por instrumentalidade:
A) decorrem da necessidade de se exercer uma competência expressa. Elas se conectam
com uma atribuição constitucionalmente prevista, sendo essenciais para sua completa
realização ou eficácia. Está fundado no princípio da efetividade da norma
constitucional, ou seja, se a Constituição atribui a um ente federativo determinada
competência, presume-se que ele terá também as competências acessórias necessárias
para a tornar exequível, ainda que não estejam escritas. Exemplo prático: Se a
Constituição atribui à União a competência para legislar sobre direito penal (art. 22, I da
CF/88), entende-se que ela também possui competência implícita para legislar sobre
medidas processuais específicas ou administrativas que garantam a eficácia dessa
legislação penal, mesmo que isso não esteja expressamente mencionado. Extensão
temática da competência; ampliar o alcance da matéria que é da competência do ente
B) Mecanismo jurídico de coerência e viabilidade funcional dentro da repartição de
competências, garante que o ente competente possa efetivamente exercer sua função,
utilizando os meios necessários, ainda que esses meios não estejam expressamente.
Deriva da necessidade funcional de execução; meio necessário para que a competência
expressa seja efetivamente exercida, viabilizando a execução prática da competência
atribuída, tendo função operacional e prática.
>2. Critério quanto a natureza:
A) Materiais/Administrativas/ exucução; B)Legislativas:
A) Capacidade conferida pela Constituição para o desempenho direto de funções
administrativas, executivas ou operacionais, como construir escolas, prestar serviços de
saúde, manter vias públicas, proteger o meio ambiente, etc. A competência material está
principalmente prevista no: Art. 23 da CF/88(Competência comum); Art. 30, incisos I e
II – Competência dos Municípios para assuntos de interesse local e suplementação da
legislação federal e estadual e Art. 21 da CF/88 – Competência administrativa exclusiva
da União. Sendo as competências exclusivas e comuns.
B) Referem-se à faculdade que os entes federativos, têm de criar normas jurídicas com
força de lei, dentro dos limites definidos pela Constituição Federal de 1988. Elas são
centrais para o funcionamento do Estado Federal brasileiro, pois garantem a autonomia
legislativa de cada ente da federação, conforme sua esfera de atuação. Presentes nos
artigos 22 e 24 da CF.
>3. Quanto a Extensão:
1. Exclusivas; 2. Privativas; 3. Comuns; 4. Concorrentes aquelas atribuída a um único
ente da federação.
-Está classificação, diz respeito à amplitude ou ao alcance normativo de cada tipo de
competência entre os entes federativos no Brasil.
Tipo de Participação de Base Exemp
Conceito
competência outros entes constitucional lo
Direito
Somente um ente Não admite atuação
penal,
(normalmente a de outros entes,
Privativa Art. 22 CF/88 civil,
União) pode salvo delegação
comer
legislar autorizada por LC
cial
Somente um ente
Emitir
pode executar Não envolve
Exclusiva moeda
determinada legislação, mas Art. 21 CF/88
(Material) (União
tarefa execução
)
administrativa
União edita
normas gerais; Direito
Estados e DF tributá
Concorrente União + Estados + Art. 24 e §§ da
podem legislar rio,
(vertical) DF CF/88
sobre aspectos ambie
específicos ntal
(detalhamento)
Todos os entes Entre Estados ou Direito
Concorrente Interpretação
legisladores Municípios sobre urbaní
(horizontal) doutrinária
exercem igual matéria comum stico,
competência interes
plena, sem se
subordinação local
Saúde,
Todos os entes
meio
Comum (ou podem atuar
União + Estados + ambie
compartilhada administrativame Art. 23 CF/88
DF + Municípios nte,
material) nte sobre a
educaç
matéria
ão
Municí
Estados e
pio
Um ente Municípios
regula
complementa suplementam Art. 24, §2º e
Suplementar horári
norma geral de normas da União e art. 30, II CF/88
o de
outro dos Estados,
comér
respectivamente
cio
Legisla
A União autoriza
ção
por LC que os
Art. 22, estadu
Estados legislem Exige autorização
Delegada parágrafo al
sobre matéria de formal
único sobre
sua competência
trânsit
privativa
o
Organi
Matérias não zação
atribuídas a Apenas os Estados admini
Remanescente Art. 25, §1º
outros entes são têm competência strativ
(residual) CF/88
de competência residual a
dos Estados estadu
al
A licitação é uma norma geral que compete a União; -Toda lei Estadual que for
contraria a Lei Federal, tem sua eficácia suspendida; - A lei 9093 é considerada
inconstitucional.
Aula 4:
As competências concorrentes: conhecida pela doutrina, como “condomínio
legislativo”;
As competências legislativas são classificadas em horizontais e verticais, para explicar a
forma como os entes federativos compartilham competências legislativas e como elas se
organizam hierarquicamente ou de forma igualitária.
A partir da sua competência horizontal: É a competência legislativa exercida por entes do
mesmo nível federativo, de forma autônoma e sem subordinação hierárquica. Cada ente
pode legislar sobre a matéria no âmbito de sua competência específica, sem depender de
normas gerais de outro ente. Exemplos: Os Municípios podem legislar sobre assuntos de
interesse local (art. 30, I); Os Estados exercem competência remanescente (art. 25, §1º),
legislando sobre temas não atribuídos à União ou aos Municípios. Exemplo prático: O
Município legisla sobre o uso do solo urbano (ex: zoneamento); Outro Município pode
legislar de forma diferente, conforme sua realidade local; não há uma norma geral
nacional que os obrigue a uniformidade.
A concorrência vertical: É a competência legislativa compartilhada entre entes de
diferentes níveis federativos, onde há uma hierarquia funcional. Um ente superior
(geralmente a União) estabelece normas gerais, e os entes inferiores (Estados, DF e
Municípios) podem legislar de forma complementar ou suplementar. A competência
concorrente do art. 24 da CF/88 é vertical, porque: A União edita normas gerais; Os
Estados e o DF podem legislar: Suplementando as normas gerais; ou legislando
plenamente na ausência de norma geral federal (art. 24, §3º). Caso a União venha a
legislar posteriormente sobre o tema, suspende-se a eficácia da norma estadual que for
contrária (art. 24, §4º). Exemplo prático: Matéria ambiental: A União define princípios e
regras gerais; Os Estados podem detalhar essas normas conforme sua realidade ecológica.
>Entes da República Federativa:
→ União
-Pessoa jurídica do direito público interno, dotado de autonomia constitucional
abrangendo todo território nacional;
- A Constituição assegura autonomia: Política; Administrativa (art. 21 e 23) e financeira
(art. 123) > todos possuem autorganização, autogoverno e autolegislação(art. 22 e 24);
Auto-organização: organiza-se por meio da própria Constituição Federal; por leis
federais e regimentos internos dos seus poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário);
(arts. 2º, 44 a 135 da CF).
>Legislação: A União possui ampla competência legislativa, especialmente:
Competência legislativa privativa (art. 22); concorrente (art. 24); exclusiva para certas
matérias administrativas (art. 21), além disso, edita normas gerais que os Estados e
Municípios suplementam.
>AutoGoverno: por seus Três Poderes: Executivo: Presidente da República (art. 76);
Legislativo: Congresso Nacional (Senado + Câmara) – art. 44; Judiciário: Tribunais
Superiores (STF, STJ, etc.) e Justiça Federal. O Presidente da República é o Chefe de
Estado e de Governo, exercendo a função executiva em âmbito nacional.
O artigo 20 da Constituição Federal define os bens pertencentes à União, uma
titularidade de bens estratégicos, definidos no art. 20 da CF, que garantem sua função
soberana e seu papel central na Federação. Esses bens são incomerciáveis (não podem
ser vendidos, exceto por autorização legal e em situações específicas) e têm finalidade
pública. Esses bens são utilizados para fins de segurança nacional, defesa, preservação
ambiental, desenvolvimento científico e econômico. A exploração de alguns desses bens
(como minérios ou petróleo) depende de autorização ou concessão e deve respeitar o
interesse público (ex: art. 176 e 177 da CF).
Aula 5:
→ Estados
-Pessoa jurídica de direito público interno, dotado de autonomia constitucional e âmbito
regional;
-A estrutura da federação pode ser modificada:
A) Fusão B)Subdivisão C)Desmembramento
A Constituição Federal trata da alteração da divisão territorial dos Estados no art.
18, §3º: "Os Estados poderão incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se
anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da
população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar."
A) União de dois ou mais Estados, formando uma nova unidade federativa.
Procedimento: Consulta à população envolvida (plebiscito); Aprovação por lei
complementar do Congresso Nacional
B) Divisão de um Estado em dois ou mais novos Estados. (Extinção do Estado original
e criação de novas entidades federativas.) Procedimento: Plebiscito nas áreas
envolvidas; Lei complementar federal autorizando.
C) Separação de parte do território de um Estado para: Formar um novo Estado, ou ser
incorporada a outro Estado já existente. Diferença com subdivisão: O Estado de origem
continua a existir. Exemplo real: Criação do Estado do Tocantins, em 1988, a partir do
norte de Goiás.
Etapas do Procedimento: 1. Consulta popular por plebiscito: Realizado nas áreas
diretamente interessadas; pode envolver mais de um Estado, dependendo da proposta. 2.
Aprovação por Lei Complementar: Após o plebiscito favorável, Deve ser aprovada pelo
Congresso Nacional; Requer maioria absoluta nas duas casas (Câmara e Senado).
Os artigos 13, 14 e 15 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT):
Artigo 13: Este artigo estabelece a criação do Estado do Tocantins, resultante da divisão
do Estado de Goiás. Artigo 14: Este artigo define a transformação dos Territórios
Federais de Roraima e Amapá em Estados Federados, mantendo seus limites
geográficos. A instalação dos Estados dar-se-á com a posse dos governadores eleitos em
1990. Artigo 15: Este artigo trata de questões específicas sobre o Estado de Rondônia,
como a fixação de seu limite territorial, a transferência da capital para Porto Velho, e a
criação de municípios com recursos específicos.
ADI- 2240= LUÍS CARLOS MAGALHÃES: julgada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), questionou a constitucionalidade da Lei Estadual nº 7.619/2000, que criou o
município de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia. O Partido dos Trabalhadores (PT)
alegou que a criação do município violava o artigo 18, § 4º, da Constituição Federal,
que exige a edição de uma lei complementar federal para estabelecer normas sobre a
criação de municípios, a qual não havia sido promulgada até então. O debate central
girou em torno da ausência dessa lei complementar federal, tornando a criação do
município juridicamente inválida. No entanto, o município já estava em pleno
funcionamento, com estrutura administrativa estabelecida, eleições realizadas,
arrecadação de tributos e prestação de serviços públicos. Diante dessa realidade, o STF
enfrentou o dilema entre a estrita observância da norma constitucional e a consideração
dos efeitos práticos e sociais da extinção do município. O relator, ministro Eros Grau,
reconheceu a inconstitucionalidade formal da lei estadual, mas enfatizou a existência de
uma situação de fato consolidada, destacando que o município já operava como ente
federativo autônomo. Ele argumentou que a declaração de nulidade da lei traria graves
consequências para a população local e para a ordem jurídica, violando o princípio da
segurança jurídica. O ministro Gilmar Mendes, em seu voto-vista, concordou com essa
abordagem, ressaltando a importância de evitar o caos jurídico e social que poderia
advir da anulação do município. Dessa forma, o STF, por unanimidade, declarou a
inconstitucionalidade da Lei nº 7.619/2000, mas, por maioria, decidiu não pronunciar
sua nulidade imediata. Aplicando o artigo 27 da Lei nº 9.868/1999, o Tribunal modulou
os efeitos da decisão, mantendo a vigência da lei por 24 meses, período durante o qual o
legislador estadual poderia regularizar a situação conforme os parâmetros que viessem a
ser estabelecidos pela futura lei complementar federal. Essa decisão refletiu uma postura
pragmática do STF, buscando equilibrar a rigidez constitucional com as necessidades
práticas e sociais decorrentes da realidade consolidada do município.
>Autonomia Constitucional dos Estados:
-Político: Organização: Pelo poder constituinte derivado (limitado e condicional);
Governo; e Autolegislação: Art.18, 4º;
-Administrativo:
-Financeiro:
❖ -Político:
Poder constituinte derivado:
Segundo Bernardo Gonçalves, o Poder Constituinte Derivado Decorrente é o poder
conferido pela Constituição Federal aos Estados-membros para se auto-organizarem por
meio de suas Constituições Estaduais. Trata-se de um poder derivado, pois não é
originário, e decorrente, porque resulta diretamente da autorização constitucional
prevista nos artigos 25 da CF/88 e 11 do ADCT. Esse poder não é livre nem ilimitado:
ao contrário do Poder Constituinte Originário, que é inicial, ilimitado e incondicionado,
o poder decorrente é juridicamente condicionado e deve obedecer aos limites expressos
e implícitos da Constituição Federal.
Limitações:
A) Limitações expressas:
Estão diretamente previstas no texto da Constituição Federal, como: O art. 25, que
autoriza a auto-organização dos Estados por meio de Constituição própria; O art. 34,
que estabelece os princípios sensíveis (ex: forma republicana, direitos da pessoa
humana, ensino obrigatório etc.); O art. 125, que obriga a existência de um Tribunal
de Justiça estadual, tendo caráter mandatório ou vedatorio;
B) Limitações implícitas:
Resultam da própria lógica do sistema constitucional, como por exemplo: O respeito à
competência legislativa da União (art. 21 e seguintes); A impossibilidade de contrariar
princípios fundamentais da Constituição Federal.
C) Doutrina de José Afonso da Silva:
José Afonso distingue três tipos de princípios que limitam o poder constituinte
decorrente:
Princípios constitucionais sensíveis – cuja violação enseja intervenção federal (art. 34,
VII). Princípios constitucionais estabelecidos – obrigatoriamente presentes na
organização dos estados (ex: existência do TJ, MP estadual, Defensoria). Princípios
constitucionais decorrentes do sistema – extraídos implicitamente da estrutura
federativa e do Estado de Direito.
D) Princípio da Simetria
O Princípio da Simetria é reiteradamente utilizado pelo Supremo Tribunal Federal
para exigir que as Constituições Estaduais observem determinadas normas de
reprodução obrigatória da Constituição Federal, especialmente no que diz respeito: À
separação e organização dos poderes; À estrutura do Judiciário e do Ministério
Público; Às competências legislativas e administrativas. Exemplo clássico: o STF
invalida normas estaduais que atribuem ao Legislativo estadual funções que, no plano
federal, são exclusivas do Executivo ou do Judiciário.
- Embora o STF admita amplamente a aplicação da simetria, ele também reconhece
que nem toda regra federal deve ser reproduzida no plano estadual. Isso significa
que a simetria não é absoluta. Nesse sentido, destaca-se um ponto importante: A
simetria se aplica a instituições e funções equivalentes, mas não autoriza a
imposição de identidade absoluta entre o Presidente da República e os
Governadores. Em decisões como a ADI 4.029/BA e outras, o STF afirmou que: O
Presidente da República exerce funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo,
representando a União em suas relações internacionais, comandando as Forças Armadas
etc. Já os Governadores dos Estados exercem apenas o papel de Chefe de Governo,
pois não representam o Estado em relações internacionais nem comandam Forças
Armadas nacionais. Consequência jurídica:
Certas normas constitucionais federais aplicáveis ao Presidente não precisam nem
devem ser reproduzidas nos Estados. Por exemplo: Impeachment do Presidente:
regras específicas (art. 85, CF), com participação do Senado; Nos Estados, o processo
de julgamento do governador pode ter regras próprias (desde que respeitem o devido
processo legal e os princípios fundamentais), não precisando reproduzir
integralmente o modelo federal.
Aula 6:
Autogoverno:
Significa a capacidade que o ente federativo tem de eleger seus próprios governantes
(Executivo e Legislativo), por meio de eleições diretas, periódicas e com sufrágio
universal. Através da: eleição dos Governadores e Vice-Governadores;Da eleição dos
Deputados Estaduais, que compõem o Poder Legislativo estadual (Assembleia
Legislativa).
Art. 26 – trata da organização básica dos Estados: Estabelece que os Estados organizar-
se-ão e reger-se-ão pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios da
Constituição Federal. Art. 27 – trata da estrutura das Assembleias Legislativas:
Determina que os Deputados Estaduais terão mandatos de quatro anos, e que a
remuneração será fixada pela Assembleia Legislativa com base em critérios da
Constituição.
Interpretação conjunta: Esses dispositivos garantem que os Estados possuem
liberdade para definir sua estrutura institucional própria, dentro dos limites da CF, o que
inclui a escolha democrática de seus governantes e legisladores.
Autolegislação:
Expressão direta da autonomia dos Estados, permitindo-lhes legislar: Com base em
competência expressa (prevista diretamente na CF); Concorrentemente com a União
(em matérias previstas no art. 24); reservadamente, no exercício da competência
residual (art. 25, §1º).
Esse poder legislativo descentralizado garante maior pluralismo e flexibilidade ao
sistema federativo brasileiro, possibilitando que os Estados criem soluções normativas
adequadas às suas especificidades locais, sempre em consonância com a Constituição
Federal.
❖ Autoadministração:
Possuem de organizar, gerir e executar seus próprios serviços públicos e estruturas
administrativas, de maneira autônoma, sem subordinação hierárquica à União ou a
outros entes. Art. 25 da CF/88, Esse artigo garante que os Estados tenham estrutura
própria de governo, com poderes Executivo, Legislativo e Judiciário organizados de
forma independente, conforme suas Constituições estaduais. Art. 23 da CF/88: Trata das
competências administrativas comuns entre União, Estados, DF e Municípios,
Isso significa que Estados e União compartilham responsabilidades administrativas em
muitas áreas, podendo atuar de maneira cooperativa, mas sem subordinação — cada um
no exercício de sua autoadministração. Exemplos práticos: Criar e organizar suas
secretarias estaduais, autarquias e empresas públicas; administrar a Polícia Militar e
Civil do Estado (art. 144, CF); elaborar e executar o orçamento estadual (Lei
Orçamentária Anual e Plano Plurianual); definir e executar políticas públicas conforme
as necessidades locais; gerir a folha de pagamento de servidores estaduais, concursos
públicos e planos de carreira.
❖ Financeira:
A autonomia financeira dos Estados, assegurada pela Constituição Federal, permite-lhes
arrecadar tributos próprios (como ICMS, IPVA e ITCMD), cobrar taxas por serviços que
prestam, e receber repasses obrigatórios da União, como o FPE. Essa independência
orçamentária e tributária é fundamental para o funcionamento do federalismo
cooperativo, pois sem recursos, os Estados não conseguiriam efetivar sua autonomia
política, legislativa e administrativa.
→ Municípios:
-Pessoa jurídica do direito público interno, de autonomia constitucional;
- Integram a federação com autonomia política, administrativa, legislativa e
financeira, conforme o art. 18, caput, da Constituição Federal de 1988;
- A criação de novos Municípios é possível, mas encontra sérias restrições jurídicas e
materiais desde a Emenda Constitucional nº 15/1996, que acrescentou o §4º ao art.
18 da CF; Entretanto, como a lei complementar federal exigida nunca foi editada,
ficou travada a criação de novos municípios, o que causou diversos entraves
jurídicos.
-Autonomia política por meio: Da eleição direta do prefeito e vereadores (art. 29, I e
II, CF); Da elaboração da Lei Orgânica municipal, respeitados os princípios
constitucionais; Da competência para legislar sobre interesse local (art. 30, I); E de
legislar de forma suplementar à legislação federal e estadual quando couber (art. 30,
II).
Autonomia financeira: com receitas oriundas de: Tributos próprios (IPTU, ISS, ITBI,
taxas e contribuições); Quotas de impostos estaduais e federais (como parte do ICMS
e do FPM – Fundo de Participação dos Municípios); Transferências voluntárias e
convênios com a União e o Estado. Entretanto, devido à limitação da base tributária
municipal, muitos Municípios dependem fortemente do FPM para manter suas
atividades básicas.
Aula 7:
→ Distrito Federal:
Pessoa jurídica do direito público interno, dotado de autonomia constitucional
parcialmente tutelada pela União;
- Parcialmente tutelada pela União, em razão da sua singularidade jurídica e da sua
função como sede dos órgãos federais;
- O Distrito Federal apresenta um sistema híbrido: combinando características tanto
dos Estados quanto dos Municípios, o que o torna uma entidade singular dentro do
pacto federativo brasileiro. Essa particularidade decorre da necessidade de reunir, em
um único ente federado, as competências de Estado e Município, visto que não existe,
no DF, a criação de municípios;
- Artigo 32 CF; Dispõe que: O Distrito Federal possui organização político-
administrativa própria; exerce competências legislativas e executivas em âmbito
estadual e municipal; Sua Lei Orgânica, aprovada pelo Congresso Nacional, organiza
os poderes do DF, substituindo a Constituição Estadual e as Leis Orgânicas municipais.
-Autogoverno e autolegislação: O Distrito Federal elege diretamente seus
governadores e deputados distritais (equivalentes a deputados estaduais e
vereadores), exercendo autogoverno no âmbito executivo e legislativo.
-Sua autolegislação é própria para legislar sobre matérias tanto de competência estadual
quanto municipal, respeitando os limites constitucionais.
→ Territórios:
- Os Territórios Federais são unidades administrativas criadas pela União, mas que
não possuem a condição de entes federativos, ou seja, não têm autonomia política
plena;
- Os Territórios funcionam como autarquias territoriais, ou seja, são áreas destacadas
de Estados para serem administradas diretamente pela União, geralmente por razões
estratégicas, econômicas ou de desenvolvimento regional. Feita por órgãos federais
designados para prestar serviços e governar o território; sendo a competência legislativa
para essas áreas da União, por meio de leis federais, diferentemente dos Estados e
Municípios, que têm competência legislativa própria.
-Servem para que o Poder Público federal desloque serviços e políticas públicas para
atender a população local, especialmente em áreas consideradas estratégicas ou pouco
desenvolvidas. Por sua natureza, o objetivo é promover a administração direta da
União, visando o desenvolvimento regional, segurança nacional ou questões sociais
específicas;
- O artigo 18, §3º: Os Territórios são dependências administrativas da União; sua
organização, administração e legislação são de competência exclusiva da União; não
possuem autonomia política, legislativa ou financeira própria.
Intervenção federal:
-Mecanismo constitucional de exceção, previsto na Constituição de 1988 como
instrumento para assegurar a integridade da ordem constitucional, da Federação e dos
direitos fundamentais;
-Conceito: A intervenção federal é um ato político e jurídico excepcional, por meio do
qual a União atua de maneira extraordinária nos Estados ou no Distrito Federal,
visando preservar o pacto federativo, garantir direitos e restaurar a ordem
constitucional. Segundo Bernardo Gonçalves, trata-se de um instrumento de defesa
do Estado de Direito; É um ato político de natureza discricionária, ou seja, o
Presidente da República pode decidir se deve ou não intervir, mesmo diante de uma
hipótese prevista. Contudo, em alguns casos, a intervenção se torna obrigatória (ato
vinculado).
- O art. 34 da Constituição Federal prevê as hipóteses que autorizam a intervenção
da União nos Estados ou no Distrito Federal;
- Características:
-Excepcionalidade: só se admite em situações extremas e previstas expressamente;
-Provisoriedade: deve durar apenas o tempo necessário para restaurar a normalidade;
-Ato político do Presidente da República: normalmente discricionário, mas pode ser
vinculado;
-Controle pelo Congresso Nacional: o decreto de intervenção deve ser submetido à
apreciação do Congresso Nacional em até 24 horas, conforme o art. 36, §1º da CF
Modalidades:
A) De ofício (espontânea): O Presidente da República pode decretar a intervenção
diretamente, sem necessidade de provocação externa. Exemplos:
• Inciso I do art. 34 (manutenção da integridade nacional);
• Inciso II (repelir invasão estrangeira);
• Inciso III (garantir livre exercício dos poderes).
B) Provocada: A intervenção pode ser requerida por outro poder ou órgão, sendo:
-Por solicitação: ato político, sujeito ao juízo de conveniência do Presidente, (pode
recusar); do Poder Legislativo ou Executivo estadual (inciso III);
-Por requisição do STF, STJ ou TSE, ato técnico-jurídico, de cumprimento
obrigatório. Nos casos dos incisos IV e V:
O inciso IV, que trata do cumprimento de ordem ou decisão judicial, pode ser: Por
solicitação, ou por requisição do Poder Judiciário, situação em que a intervenção é
obrigatória.
Procedimento: art. 36
De acordo com o art. 36 da CF/88, a decretação da intervenção segue etapas formais:
Nos casos de intervenção de ofício (espontânea): o Presidente da República deve:
Ouvir o Conselho da República (art. 89, VII); Ouvir o Conselho de Defesa Nacional
(art. 91, §1º, III); Submeter o decreto ao Congresso Nacional, que o apreciará em até
24 horas.
Nos casos de intervenção por provocação: como por requisição judicial, o decreto
pode ser expedido diretamente após o pedido do Judiciário, sem necessidade dos
conselhos.
Intervenção nos Municípios: art. 35 da CF
Competência dos Estados, conforme o art. 35 da CF. A União não pode intervir
diretamente em Municípios, exceto se estiverem localizados no Distrito Federal ou
em Territórios Federais (casos excepcionais, que hoje não se aplicam).
A intervenção estadual nos Municípios pode ocorrer para: Assegurar a execução de
lei, ordem judicial ou princípios constitucionais; reorganizar as finanças locais;
garantir o pagamento de precatórios.
Se uma intervenção municipal ocorrer sem os requisitos constitucionais, pode ser
declarada inconstitucional pelo Judiciário, como ressalta Bernardo Gonçalves,
assegurando-se o controle judicial das medidas de exceção.
A intervenção federal, como explica Bernardo Gonçalves, é um instrumento extremo,
pontual e limitado pelo texto constitucional. Embora possa revestir-se de caráter
discricionário, nos casos de requisição judicial ou garantia dos princípios sensíveis,
torna-se obrigatória e vinculada. O sistema constitucional de exceção em que se insere
exige rigorosos controles institucionais e respeito à legalidade, à proporcionalidade e à
temporariedade. Sua má aplicação pode implicar abuso de poder e violação ao pacto
federativo.
Poder legislativo
-Origem e Evolução Histórica: Na Idade Média, o Poder Legislativo tinha função
principal de fiscalização e controle, representando os interesses dos súditos e da
nobreza em face do poder real. Tratava-se de uma tentativa de limitar o arbítrio do
monarca, especialmente no contexto da monarquia feudal. Com o fim do absolutismo
(sobretudo após as revoluções inglesa, americana e francesa), surge a necessidade de um
órgão com competência para produzir leis e limitar o poder do Estado. A separação dos
poderes proposta por Montesquieu fundamenta essa transformação: a criação de um
Poder Legislativo forte seria essencial para evitar a concentração do poder nas mãos do
rei (ou, em termos modernos, do Executivo).
- Função atual principal: legislar e fiscalizar os atos do Poder Executivo, garantindo a
representação democrática, deliberar e representar.
OBJETIVO:A função legislativa é fundamental para limitar o poder, estabelecendo
regras gerais e abstratas que o Estado e os cidadãos devem obedecer. Ao dividir o poder
e permitir sua fiscalização, protege-se a liberdade dos indivíduos. Bernardo Gonçalves
reforça uma ideia clássica do constitucionalismo liberal: "os erros legislativos são
menos prejudiciais do que os erros judiciais", porque: A lei é geral, abstrata e
impessoal. O legislador representa o povo (legitimidade democrática). O erro judicial
afeta diretamente uma pessoa; o legislativo, se errar, pode ser corrigido por nova
legislação.
Características: Material, abstrata e geral: a norma legislativa não é direcionada a
uma pessoa ou caso específico, mas sim a um conjunto de situações previstas em lei.
Aplicável em todo o território nacional (exceto quando for norma estadual ou
municipal, conforme competência).
- O sistema brasileiro é bicameral em nível federal: Congresso Nacional: Câmara dos
Deputados: representantes do povo e o Senado Federal: representantes dos estados e
do DF. Nos demais entes federativos: Estados: Assembleia Legislativa (unicameral);
Municípios: Câmaras Municipais; DF: Câmara Legislativa do Distrito Federal.
O funcionamento do Congresso Nacional: está disciplinado no Art. 57 da Constituição.
Os principais conceitos são:
>Legislatura: Corresponde ao período de 4 anos de mandato dos parlamentares
(deputados e senadores).
>Sessão Legislativa: Ocorre dentro de cada ano da legislatura. São dois períodos
ordinários: 1º período: 2 de fevereiro a 17 de julho e 2º período: 1º de agosto a 22 de
dezembro. Durante esses períodos, ocorrem as sessões parlamentares (discussões e
votações).
>Sessão Preparatória: Realizada no início da legislatura para: Dar posse aos
parlamentares; eleger a Mesa Diretora.
>Sessões Ordinárias: As que ocorrem regularmente, nos dias previstos, para o
exercício normal das funções parlamentares
>Sessões Extraordinárias: Convocadas fora do período normal para tratar de temas
urgentes ou relevantes.
Aula 9:
Continuação: funcionamento do Congresso Nacional;
>Legislatura: compreende quatro sessões legislativas ordinárias; é contínua e
ininterrupta, exceto pelos recessos regulares e eventos excepcionais.
>Sessão legislativa:
- A unidade de tempo do funcionamento parlamentar dentro de uma legislatura, e
tem uma estrutura que visa garantir continuidade institucional, previsibilidade dos
trabalhos e capacidade de resposta do Parlamento a temas relevantes e urgentes. Se
desdobram em sessões ordinárias, extraordinárias e preparatórias, conforme a
natureza e a finalidade.
> Ordinárias:
CF/88, art. 57, caput; Características: presenta o funcionamento regular do Congresso
Nacional, com as sessões deliberativas (para votação) e não deliberativas
(discussões, comunicações) ocorrem nesse intervalo, inclui os trabalhos em plenário e
reuniões das comissões permanentes e temporárias, no início de cada sessão
legislativa, é realizada uma sessão solene de abertura dos trabalhos com a leitura da
mensagem presidencial (CF, art. 84, XI).
> Extraordinárias:
CF/88, art. 57, §§6º a 8º; ocorre durante o recesso parlamentar, ou seja: De 23 de
dezembro a 1º de fevereiro, e de 18 de julho a 31 de julho. Conforme o art. 57, §6º,
quem tem competência de convocar: Presidente do Senado Federal, em caso de
urgência e interesse público relevante; Presidente da República; Presidente da
Câmara dos Deputados; Maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas
Legislativas.
Deliberação restrita: Art. 57, §8º da CF/88: "Na sessão legislativa extraordinária, o
Congresso Nacional somente deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado...";
No entanto, existe uma exceção: Mesmo se não fizer parte da pauta de convocação, é
permitido deliberar sobre medidas provisórias (MPs) em tramitação. A sessão
extraordinária só se encerra quando as matérias que justificaram sua convocação
forem votadas, assegurando o atendimento da urgência.
>Preparatória:
Art. 57, §4º, uma previsão implicita, com objetivos: Dar posse aos parlamentares
eleitos. Eleger as Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e
Instalar a legislatura.
Eleição das Mesas: A eleição ocorre na sessão preparatória, no início da legislatura
(1º de fevereiro). Mandato da Mesa: 2 anos.Vedação à reeleição para o mesmo cargo
na eleição seguinte dentro da mesma legislatura (salvo interpretação posterior do STF
que tem flexibilizado esse ponto, como em 2020). A eleição é feita por votação secreta,
em escrutínio único (Regimento Interno das duas Casas). Cada parlamentar vota nos
nomes indicados para cada cargo da Mesa. Quórum exigido: maioria absoluta (metade
mais um dos membros da Casa). A distribuição dos cargos na Mesa deve refletir a
composição partidária da Casa, ou seja, a representação proporcional dos partidos
e blocos parlamentares. Art. 58, §1º da CF/88. A composição da Mesa reflete a
proporcionalidade partidária, conforme o regimento interno de cada Casa.
>Deliberações e quóruns:
Tipo de Exemplo prático (Câmara:
Conceito
Maioria 513 deputados)
Metade +1 dos parlamentares Se 300 deputados estiverem
Maioria
presentes na sessão, desde que haja presentes, bastam 151 votos
Simples
o quórum mínimo de votação. favoráveis.
Sempre requer 257 votos
Metade +1 do total de membros da
Maioria favoráveis (513 ÷ 2 + 1).
Casa, independentemente do
Absoluta Mesmo com só 400
número presente.
presentes.
Percentual superior à maioria
3/5 = 308 votos (513 x 3 ÷ 5)
Maioria absoluta, exigida para matérias de
/ 2/3 = 342 votos (513 x 2 ÷
Qualificada maior importância constitucional.
3).
Ex: 3/5 ou 2/3.
-Quórum de instalação: número mínimo de parlamentares para que a sessão se inicie. --
-Quórum de votação: número mínimo de votos necessários para que a matéria seja
validamente aprovada, conforme o tipo de maioria exigido.
A maioria simples é usada para a maioria dos casos rotineiros e exige atenção ao
número de presentes, não ao total da Casa. A maioria absoluta não muda,
independentemente do número de presentes. A maioria qualificada é aplicada em
temas sensíveis, como alterações constitucionais, controle político, limites de poder etc.
Matéria em votação Maioria exigida Referência legal
Leis ordinárias Maioria simples CF, art. 47
Leis complementares Maioria absoluta CF, art. 69
Emendas constitucionais 3/5 dos membros CF, art. 60, §2º
Cassação de mandato 2/3 dos membros CF, art. 55, §2º
Aprovação de estado de defesa / Maioria absoluta ou
CF, arts. 49, IV e 136, §4º
intervenção qualificada
Aula 10: Correção da atividade sobre a CPIs:
Aula 11:
→ Órgãos do Congresso Nacional
O Congresso Nacional é o órgão legislativo bicameral do Brasil, composto pela
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, conforme previsto no art. 44 da
Constituição Federal de 1988. Ele exerce funções legislativas, fiscalizadoras,
julgadoras e administrativas.
>Plenário >Comissões (permanentes e temporárias):
>Mesa Diretora
Plenário:
É o órgão de deliberação máxima de cada Casa Legislativa (Câmara ou Senado). O
Plenário é onde se discutem e votam as proposições legislativas mais relevantes, como
emendas constitucionais, leis ordinárias, medidas provisórias, entre outras. Cada Casa
delibera, em regra, de forma isolada, a exceção: Quando a Constituição exige a sessão
conjunta, como na abertura do ano legislativo, votação de vetos presidenciais, ou
apreciação de créditos adicionais (art. 57 e 66 CF).
Sessão conjunta ≠ sessão unicameral: cada Casa vota de maneira autônoma, ainda que
na mesma sessão.
Comissões:
As comissões são órgãos internos que preparam, analisam, debatem e votam matérias
legislativas. Elas também desempenham funções fiscalizatórias e investigativas.
• Permanentes: funcionam durante toda a legislatura. Estão previstas nos
regimentos internos. Exemplos: Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
Comissão de Educação; Comissão de Relações Exteriores
• Temporárias: criadas para finalidade específica e se extinguem quando
cumprida. Exemplo: CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
São formadas: Isoladas: formadas por membros de uma única Casa (Câmara ou
Senado)/ Mistas: compostas por deputados e senadores (ex: Comissão Mista de
Orçamento)
Competências das comissões (art. 58, §§ 1º a 3º da CF): Emitir parecer sobre projetos
de lei; Realizar audiências públicas; Fiscalizar atos do Poder Executivo; Convocar
ministros de Estado para prestar informações; Criar CPIs, mediante requerimento de 1/3
dos membros da respectiva Casa
Importante: Ministros de Estado podem ser convocados para prestar informações. A
recusa injustificada pode gerar crime de responsabilidade. Magistrados e autoridades
do Judiciário, por sua natureza jurisdicional, não podem ser convocados, apenas
convidados.
Mesa do Congresso Nacional: Composta por: Presidente do Senado Federal (preside
o Congresso); Vice-presidentes da Câmara e do Senado; Secretários das duas
Casas; Importante: não é eleita autonomamente. Resulta da composição das mesas de
cada Casa.
Em 2015, Michel Temer, então presidente da Câmara, editou ato administrativo
vedando a candidatura à reeleição dos membros da Mesa para o segundo biênio da
legislatura, com base na vedação do art. 57, § 4º da Constituição. A controvérsia era
sobre se essa vedação se aplicaria também à recondução dentro da mesma legislatura,
mesmo que para cargo diverso — tema que depois chegou ao Supremo Tribunal Federal
(STF), especialmente no caso envolvendo Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre em 2020.
Obs: As comissões permanentes são importantes para o trabalho técnico e
especializado do Parlamento. O site da Câmara dos Deputados disponibiliza uma
lista de comissões permanentes, com suas competências temáticas e composição atual.
O art. 58 da CF é central para entender a função e o poder das comissões, inclusive no
contexto das CPIs. O Presidente da República pode ser convocado apenas nos termos
da Constituição e, em regra, comparece por decisão própria, pois a separação dos
Poderes impõe limites à interferência direta do Legislativo sobre o Chefe do Executivo.
Aula 12:
→ CPI’s
As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) são órgãos legislativos
temporários, criados para a investigação de fato determinado e relevante para a vida
pública, conforme previsto no art. 58, § 3º da Constituição Federal de 1988.
Natureza jurídica: A CPI é um órgão do Poder Legislativo com função investigativa
e fiscalizatória. Não é órgão do Poder Judiciário, não exerce função jurisdicional,
nem função policial. Atua no controle político-administrativo dos poderes e
instituições públicas, com poderes de instrução semelhantes aos do juiz (não ao
delegado de polícia).
Requisitos para Instalação da CPI:
-Requerimento de 1/3 dos membros da Casa Legislativa (Câmara ou Senado) ou de
ambas, no caso de CPI mista;
-Fato determinado: não se pode instaurar CPI com objeto genérico ou abstrato;
-Relevância do fato para a vida pública;
-Prazo certo de duração, prorrogável se houver justificativa razoável;
-Objetivo claro e legítimo, de acordo com as competências constitucionais da Casa
Legislativa.
Importante: A CPI não depende de aprovação pelo plenário, sendo sua criação um
direito da minoria (direito de oposição), conforme jurisprudência pacífica do STF (ex:
MS 24.831/DF).
Procedimento e Desenvolvimento da CPI:
Fase procedimental: A CPI se desenvolve por um conjunto sequencial de atos (
"procedimento"), podendo incluir: Audiências públicas; Convocação de autoridades e
testemunhas; Requisição de documentos públicos ou privados; Realização de diligências;
Elaboração de relatórios preliminares e finais.
Se no curso das investigações surgirem fatos conexos, é possível: Realizar adiamento
da CPI ou Fazer um aditamento ao requerimento inicial, desde que ainda vinculado ao
objeto principal.
Poderes das CPIs:
As CPIs têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, mas com
limites importantes impostos pela Constituição e pela jurisprudência.
-Convocar autoridades (exceto magistrados e membros do MP, que só podem ser
convidados);
-Tomar depoimentos de testemunhas (inclusive sob compromisso);
-Requisitar documentos da administração pública direta ou indireta;
Limites das CPIs:
-As CPIs não podem praticar atos que dependem de decisão judicial, pois isso é
prerrogativa exclusiva do Judiciário.
-Decretar busca e apreensão domiciliar (violaria o art. 5º, XI da CF);
-Autorizar interceptação telefônica (art. 5º, XII);
-Decretar prisões preventivas ou temporárias (exceto prisão em flagrante delito);
-Julgar ou punir investigados (não exercem função jurisdicional).
Princípios relacionados para este limite: Princípio da legalidade e do devido processo
legal (art. 5º, II e LIV da CF); Princípio da separação dos Poderes; Princípio da reserva
de jurisdição (atos que somente o juiz pode autorizar)
As CPIs elaboram um relatório final, que pode recomendar medidas legislativas ou
encaminhar o resultado de suas investigações ao Ministério Público, para que promova
a responsabilização civil ou penal dos envolvidos. As conclusões da CPI não têm força
vinculante, mas possuem peso político e jurídico.
Aula 14:
→ Estatuto dos congressista
Imunidades Parlamentares: Previstas no art. 53 da Constituição Federal, dividem-se
em:
Imunidade Material (art. 53, caput): Garante liberdade de expressão no exercício do
mandato. Parlamentar é inviolável civil e penalmente por suas opiniões, palavras e votos.
É absoluta e permanente (mantém-se mesmo após o mandato, se os fatos tiverem ocorrido
durante ele).
Imunidade Formal (art. 53, §§ 2º a 5º): Garante proteção quanto a prisão e processo
penal: Prisão: só é possível em flagrante de crime inafiançável, devendo a Casa
Legislativa decidir, em 24h, se mantém a prisão (§ 2º). Processo penal: a Casa Legislativa
pode sustar o andamento de ação penal contra parlamentar por maioria absoluta (§ 3º) —
embora esse dispositivo esteja, na prática, esvaziado pelo STF.
Foro por Prerrogativa de Função (Foro Privilegiado):
Evolução do entendimento do STF: Primeiro entendimento (tradicional): O parlamentar
era julgado pelo STF enquanto tivesse mandato, independentemente do momento em que
o crime foi cometido. Segundo entendimento – RE 937.718 (Rel. Min. Barroso, 2018) O
STF restringiu o foro privilegiado: Só há foro no STF para crimes cometidos durante o
mandato e relacionados ao cargo. Se o parlamentar perder o mandato, o processo é
remetido à 1ª instância. Terceiro entendimento (exceção à regra): Quando a ação penal já
está em fase avançada (instrução encerrada ou pronta para julgamento), a competência
permanece no STF, mesmo se o parlamentar perde o mandato, visando evitar manobras
protelatórias e garantir a efetividade da jurisdição penal. Quarto entendimento (ampliação
excepcional da competência): Em alguns casos (ex: eventos de 8 de janeiro de 2023), o
STF manteve a competência para julgar mesmo pessoas sem mandato, justificando pela:
Gravidade e conexão dos fatos; Relação com atos institucionais; Necessidade de coesão
no julgamento dos réus envolvidos
Exemplos práticos:
Chico Brasileiro: deputado federal cujo julgamento não ocorreu no STF mesmo após o
fim do mandato. Maria do Rosário: em alguns processos, o STF suspendeu a tramitação
e a prescrição durante o mandato — aplicando imunidade formal e controle de prazo
prescricional. 8 de janeiro: STF assumiu competência ampla, inclusive sobre civis e
militares, devido à magnitude institucional dos fatos.
Suspensão da Prescrição: Quando a ação penal é suspensa em razão da imunidade
formal, ou por decisão da Casa Legislativa, o prazo prescricional também fica suspenso.
Isso garante a eficácia futura da persecução penal, sem que a imunidade se torne escudo
para impunidade.
O Estatuto dos Congressistas é um instrumento constitucional de proteção da função
parlamentar, não um privilégio pessoal. O STF tem interpretado de forma mais restritiva
e funcional as prerrogativas parlamentares, para: Evitar impunidade; garantir celeridade
e efetividade processual; preservar a separação dos Poderes e o equilíbrio entre
imunidades e responsabilidade penal.
Resumo do livro: “Curso de Direito Constitucional” -
Bernado Gonçalves
Capitulo12: Organização do Estado
"Forma de Estado", pois qualquer Estado é organizado a partir de uma determinada forma,
e deve ser entendida como a distribuição do poder político em função de um território, ou
seja, como o poder político é exercido (desenvolvido) dentro de um território.
>ESPÉCIES OU TIPOS DE FORMAS DE ESTADO:
a) Estado Unitário: Forma de Estado onde o poder político é centralizado, sem divisão
geográfica do poder. No entanto, há descentralização administrativa, com a criação de
regiões ou entidades para facilitar a gestão pública. Embora o poder seja centralizado, a
descentralização ocorre para melhorar a democratização e desburocratização.
b) Estado Regional: Forma intermediária de Estado, presente na Itália, que é unitário,
mas com descentralização administrativa e legislativa nas regiões. As regiões possuem
competências próprias tanto administrativas quanto legislativas, criando uma estrutura
híbrida entre centralização e descentralização.
c) Estado Autonômico: Exemplo presente na Espanha, onde há descentralização
administrativa e legislativa. As províncias podem formar regiões com "estatutos de
autonomia", que estabelecem competências próprias, sempre sujeitos à aprovação pelo
Parlamento.
d) Confederação: Forma de união entre Estados soberanos, em que cada ente mantém
sua soberania. Ao contrário do Estado Federal, os membros de uma confederação podem
se separar a qualquer momento, e não há um órgão central com poder de resolver conflitos
entre os entes, pois cada um mantém seu sistema jurídico independente.
d) Estado Federal: Modelo onde há distribuição geográfica do poder político, com
soberania em um ente central e autonomia nos entes regionais. Caracteriza-se pela
indissolubilidade do pacto federativo, descentralização política, Constituição rígida, e a
presença de órgãos que resolvem conflitos entre os entes federados. Cada ente tem sua
própria autonomia política, administrativa e financeira.
>FEDERALISMO:
-Classificações do federalismo:
Federalismo por Agregação e por Segregação: Por agregação: Criado a partir da
reunião de Estados soberanos (exemplo: EUA). Por segregação: Formado pela divisão de
um Estado unitário preexistente em um Estado federal (exemplo: Brasil).
Federalismo Centrípeto e Centrífugo: Centrípeto: O federalismo se forma da periferia
para o centro, com maior centralização de poder (exemplo: EUA). Centrífugo: O
federalismo se forma do centro para a periferia, com maior descentralização de poder
(exemplo: Brasil).
Federalismo de Equilíbrio: Busca uma divisão equitativa de poderes entre o governo
central e os regionais, sem favorecer nem a centralização nem a descentralização.
Federalismo Dual e Cooperativo: Dual: Repartição de competências de forma
independente entre os entes federados, sem cooperação (exemplo: EUA). Cooperativo:
Busca colaboração entre os entes federados, permitindo atuação comum ou concorrente
(exemplo: sistemas sociais modernos).
Federalismo Simétrico e Assimétrico: Simétrico: Divisão igualitária de competências e
receitas entre os entes (exemplo: EUA). Assimétrico: Reconhece desigualdades regionais
e adota tratamento diferenciado para algumas regiões (exemplo: Canadá). No caso do
Brasil, o federalismo é geralmente considerado simétrico, com exceções pontuais que
tratam de desigualdades regionais, embora, em algumas situações, possam existir
elementos de assimetria.
-Análise do Federalismo na Constituição Brasileira:
O federalismo brasileiro tem uma história complexa e evolutiva, refletindo as mudanças
políticas e sociais ao longo do tempo. A primeira Constituição brasileira, de 1824,
estabeleceu um Estado unitário, mas, com a Proclamação da República em 1889, a
Constituição de 1891 instaurou um modelo de Estado Federal. O federalismo brasileiro
começou de forma "centrífuga", ou seja, com a descentralização do poder de um Estado
unitário para a criação de entes autônomos (estados federados). Historicamente, o
federalismo brasileiro foi caracterizado por uma centralização de poder na União,
especialmente nas constituições de 1934, 1946 e durante o regime militar (1967-69). A
Constituição de 1988 foi um marco importante, pois procurou estabelecer um federalismo
cooperativo, com competências compartilhadas entre a União, os Estados, os Municípios
e o Distrito Federal. No entanto, ainda persiste um desequilíbrio na distribuição de poder
entre esses entes, com a União mantendo uma posição preponderante.
Estrutura Federalista: A Constituição de 1988 consolidou um "federalismo de duplo
grau", com a União e os Estados formando o primeiro grau, enquanto os Municípios
compõem o segundo grau. O Distrito Federal também é considerado um ente autônomo;
Conceito de Autonomia: “autonomia é a capacidade de desenvolver atividades dentro de
limites previamente circunscritos pelo ente soberano.” A autonomia no federalismo
brasileiro se traduz na capacidade dos entes federados de se auto-organizarem, se auto
legislarem e se autoadministrarem, dentro dos limites definidos pela Constituição. Essa
autonomia, no entanto, é sempre limitada pela soberania do Estado Federal.
Distribuição de Competências: A Constituição estabelece competências privativas para
cada ente, mas também cria competências concorrentes, como as relacionadas à saúde e
previdência social. Conflitos de competência entre as leis federais, estaduais e municipais
são resolvidos pela Constituição, não existindo hierarquia entre essas leis, mas sim uma
distribuição que pode ser ajustada conforme a competência de cada ente.
União e República Federativa: A União não é soberana. A soberania está na República
Federativa do Brasil, que é formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e
Distrito Federal. A confusão sobre a relação entre a União e a República ocorre porque a
União representa a República em diversas esferas, como em relações internacionais.
>Auto-organização (ou normatização própria):
Respeito à capacidade de cada ente federativo (União, Estados, Municípios e Distrito
Federal) de se estruturar e estabelecer suas normas de funcionamento, tendo sua forma
própria organização política e administrativa, está ligada à autonomia política de cada
ente, permitindo-lhe definir suas próprias regras para o funcionamento dos poderes
(Executivo, Legislativo, Judiciário), bem como outras estruturas administrativas. De
acordo com a Constituição Federal de 1988 (CR/88): União: Se organiza por meio da
Constituição da República Federativa do Brasil (RFB) e sua legislação federal. Estados:
Se organizam por suas Constituições estaduais e legislações estaduais, conforme o art. 25
da CR/88. Municípios: Se organizam por suas Leis Orgânicas e legislações municipais,
conforme o art. 29 da CR/88. Distrito Federal: Se organiza por sua Lei Orgânica e
legislação distrital, conforme o art. 32 da CR/88.
>Autogoverno
O autogoverno envolve a capacidade de os entes federativos exercerem seus próprios
poderes políticos de forma independente, mas de maneira harmônica entre si. Cada ente
possui: União: Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário independentes, conforme o
art. 2º da CR/88. Estados: Assembleia Legislativa, Governador e Vice-Governador, e
Poder Judiciário estadual (art. 27, 28 e 125 da CR/88). Municípios: Prefeito e Vice-
Prefeito, além de um Poder Legislativo municipal composto pelas Câmaras de Vereadores
(art. 29 da CR/88). A Emenda Constitucional nº 58/2009 trouxe alterações sobre a
composição das câmaras e o limite de despesas do Legislativo municipal. Distrito
Federal: Possui o Poder Executivo com Governador e Vice-Governador, e o Poder
Legislativo com a Câmara Legislativa Distrital. O Judiciário, Ministério Público e
Defensoria Pública são organizados e mantidos pela União (art. 32 da CR/88).
>Autoadministração
A autoadministração refere-se ao exercício das competências legislativas, administrativas
e tributárias pelos entes federativos, o que permite que eles coloquem em prática a auto-
organização e o autogoverno, é essencial para garantir que os entes possam operar de
forma independente e eficaz no dia a dia, utilizando suas competências para implementar
suas políticas e governar. Possuem competências: Legislativas: Produção de normas e
leis. Administrativas: Execução de políticas públicas e decisões administrativas.
Tributárias: Capacidade de arrecadar tributos para manter a autonomia financeira.
Competências são faculdades ou poderes atribuídos aos entes para tomar decisões em
áreas como a criação de leis, a administração pública e a arrecadação de tributos, visando
garantir a autonomia dos entes federativos.
>TÉCNICAS DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS:
- Competências são distribuídas para permitir a organização e o funcionamento do Estado
em diferentes níveis (federal, estadual, municipal e distrital).
Técnica de Repartição Horizontal: refere-se à distribuição de competências entre os
diferentes entes federativos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), de maneira
estanque, ou seja, cada ente tem suas competências definidas de forma específica e
enumerada, sem sobreposição com as competências dos outros entes. Essa técnica
origina-se do federalismo dual ou clássico, como o dos Estados Unidos, onde a União
tem competências enumeradas, e os Estados possuem competências residuais
(remanescentes). O Brasil adotou essa técnica com a Constituição de 1891, e ela
permanece vigente na Constituição de 1988, incluindo os Municípios como entes
federativos. O princípio fundamental é a autonomia dos entes federativos, com a União
tendo competências específicas (enumeradas), e os Estados, Municípios e o Distrito
Federal com competências remanescentes, respeitando um equilíbrio entre as entidades.
Técnica de Repartição Vertical: Os entes federativos atuam conjuntamente ou
concorrentemente sobre a mesma matéria, surgiu na Constituição Alemã de 1919 e foi
incorporada ao Brasil na Constituição de 1934, com uma continuidade na de 1988. Ela
advém de um federalismo cooperativo, que busca a integração e a cooperação entre os
entes federativos. Dentro da repartição vertical, existem duas formas: Cumulativa: Não
há limites previamente definidos para a atuação dos entes federativos em uma mesma
matéria, permitindo maior flexibilidade e interação. Não cumulativa: Os entes têm suas
competências bem delimitadas, com a União editando normas gerais e os Estados e o
Distrito Federal complementando essas normas conforme suas especificidades regionais.
O Brasil adota a repartição vertical não cumulativa.
Sistema Complexo no Brasil: Inclui tanto a repartição horizontal (de competências
enumeradas e remanescentes) quanto a repartição vertical (de competências concorrentes
e comuns), com o objetivo de estabelecer um federalismo equilibrado, embora ainda em
processo de construção. Além disso, a Constituição de 1988 trata da competência
tributária de forma detalhada, dividindo os impostos entre os entes federativos (União,
Estados, Municípios e Distrito Federal), sendo a União a responsável por competências
residuais. Outro princípio importante é o Princípio da Predominância dos Interesses, que
sugere que os entes federativos devem agir conforme os interesses da sua respectiva área
geográfica: a União tem interesse geral, os Estados têm interesse regional, e os
Municípios têm interesse local. O Distrito Federal, por sua vez, possui interesses tanto
regionais quanto locais, equilibrando as necessidades e interesses de cada esfera do
governo.
Repartições horizontais: A União possui competências administrativas exclusivas,
abrangendo funções essenciais como manter relações exteriores, emitir moeda, declarar
guerra, explorar serviços públicos nacionais (telecomunicações, energia, transporte
interestadual, correios), organizar as Forças Armadas e a polícia do Distrito Federal, e
estabelecer diretrizes urbanas e ambientais. Além disso, detém competência legislativa
privativa sobre temas amplos e estruturantes, como direito civil, penal, eleitoral, trabalho,
telecomunicações, energia, transporte, mineração e educação. É possível, por meio de lei
complementar, a União delegar parte dessa competência legislativa aos Estados e ao
Distrito Federal, desde que em questões específicas e garantindo igualdade entre eles,
com a possibilidade de revogação dessa delegação a qualquer momento. Os Estados têm
competência residual, ou seja, podem legislar sobre tudo aquilo que não seja vedado
expressamente pela Constituição ou que não seja competência exclusiva da União.
Exemplos incluem o transporte intermunicipal e outras matérias de interesse regional. Os
Municípios legislam sobre assuntos de interesse local, com atuação administrativa na
prestação de serviços públicos locais, ordenação urbana, transporte municipal, coleta de
lixo, fiscalização sanitária, entre outros. A Constituição prioriza o princípio da
predominância do interesse local para definir essa competência. O Distrito Federal
acumula as competências legislativas tanto dos Estados quanto dos Municípios,
funcionando de forma híbrida. No âmbito financeiro, a Constituição prevê a repartição de
receitas tributárias: Estados e Distrito Federal participam da arrecadação dos impostos
federais; Municípios têm direito a participação na arrecadação da União e dos Estados;
além de repasses destinados a fundos estaduais, municipais e programas de
desenvolvimento regional. Em resumo, o sistema constitucional brasileiro distribui as
competências buscando preservar a autonomia de cada ente federativo conforme a
natureza da matéria e o interesse regional ou local, garantindo um equilíbrio entre
centralização e descentralização administrativa e legislativa.
Repartição Vertical de Competências na Constituição Federal de 1988: A
Constituição de 1988 estabelece a repartição vertical de competências entre os entes
federativos — União, Estados, Distrito Federal e Municípios — para organizar o
exercício do poder e garantir a cooperação federativa. Embora não haja uma hierarquia
formal entre esses entes, prevalece a divisão conforme a abrangência dos interesses:
nacional (União), regional (Estados) e local (Municípios).
Competências Comuns e Concorrentes: No âmbito administrativo, o artigo 23 da CF
trata das competências comuns, que exigem responsabilidade solidária dos entes
federativos em áreas como saúde, proteção ambiental, cultura e assistência social. Nesses
casos, os entes devem atuar em cooperação para evitar sobreposição e conflito, e a lei
complementar regula essa cooperação (exemplo: Lei Complementar 140/2011, sobre
meio ambiente). Já o artigo 24 dispõe sobre a competência legislativa concorrente, na
qual União, Estados e Distrito Federal podem legislar sobre matérias como direito
tributário, financeiro, meio ambiente, defesa da saúde e proteção ao consumidor. A União
estabelece normas gerais, e os Estados podem suplementá-las, ou legislar plenamente na
ausência de normas gerais da União. Contudo, se a União legisla posteriormente, suas
normas suspendem — mas não revogam — as normas estaduais em conflito. O Supremo
Tribunal Federal (STF) tem aplicado o critério da preponderância dos interesses para
resolver conflitos entre os entes: prevalece o interesse nacional para a União, o interesse
regional para os Estados e o interesse local para os Municípios.
Competência dos Municípios: Os Municípios possuem competência para legislar sobre
assuntos de interesse local e suplementar as legislações federal e estadual, conforme o
artigo 30, incisos I e II. Essa competência é limitada, não podendo os Municípios legislar
sobre temas de competência privativa da União, salvo autorização específica. A doutrina
diverge sobre a possibilidade dos Municípios exercerem competência legislativa plena
(suplementar-supletiva). A corrente majoritária defende que os Municípios só podem
complementar normas federais e estaduais, sem substituir sua ausência, para garantir a
segurança jurídica e evitar conflitos normativos. Na prática, o STF reconhece a validade
de leis municipais que complementam normas gerais, especialmente em áreas como
saúde, meio ambiente, defesa do consumidor e patrimônio cultural, desde que respeitados
os limites da competência local e sem invadir competências exclusivas da União ou dos
Estados.
Aspectos Especiais: A Constituição ainda prevê instrumentos para a cooperação
federativa, como consórcios públicos, convênios e delegação de atribuições
administrativas, buscando um federalismo cooperativo equilibrado. No campo dos bens
da União, destaca-se a proteção especial às terras indígenas, consideradas bens públicos
de uso especial, inalienáveis e imprescritíveis, com forte tutela constitucional para
garantir a posse permanente dos povos indígenas e o usufruto exclusivo de seus recursos.
Conclusão A repartição vertical de competências na Constituição Federal de 1988
configura um modelo federativo que combina autonomia dos entes com responsabilidade
solidária e cooperação. A legislação comum exige integração, a legislação concorrente
respeita a hierarquia normativa e a competência municipal é suplementar, com limites
claros. O STF atua como árbitro para harmonizar essas competências e assegurar a
preponderância dos interesses conforme a abrangência territorial e temática.
Princípio da Simetria e Separação dos Poderes: O Princípio da Simetria impõe que
os entes federativos respeitem, tanto quanto possível, os moldes constitucionais da União,
sobretudo quanto à separação dos poderes (art. 2º da CF/88). O STF tem declarado
inconstitucionais normas estaduais ou municipais que contrariem esse princípio,
inclusive normas de Constituições Estaduais. Mas não é absoluto: o STF já relativizou o
princípio quando a especificidade local justifica a diferenciação (ex: ADI 3855/RJ).
Regiões Administrativas (Art. 43 da CF/88): Previsão de ações integradas da União
para promoção do desenvolvimento regional e redução das desigualdades. Devem ser
reguladas por lei complementar, e contemplam incentivos econômicos, como: Isenções
fiscais; Prioridade para uso econômico de recursos hídricos; Juros favorecidos em
financiamentos;Igualdade tarifária. Exemplo: atuação da SUDENE e da SUDAM.
Bens da União (Art. 20 da CF/88): Classificação constitucional detalhada dos bens da
União, entre eles: Terras devolutas estratégicas (fronteiras, defesa, meio ambiente);
Rios, lagos e ilhas que cruzam estados ou fazem fronteira; Recursos minerais,
energéticos e naturais (subsolo, mar territorial, zona econômica exclusiva); Terras
indígenas (Art. 20, XI). Essas terras indígenas são: Inalienáveis e imprescritíveis; De
posse permanente dos indígenas, com usufruto exclusivo dos recursos naturais. Só
podem ser exploradas mediante autorização do Congresso Nacional e ouvida a
comunidade afetada (Art. 231, §3º).
A CF/88 adotou uma postura protetiva e de reconhecimento da diversidade cultural,
não mais assimilacionista. Súmula 650 do STF: terras de aldeamentos extintos não se
incluem nos incisos I e XI do art. 20, mesmo que ocupadas no passado por indígenas. As
terras tradicionalmente ocupadas não são apenas um bem público: são bens de uso
especial com finalidade social e cultural relevante. Esses temas podem ser interligados
em diversos estudos e perguntas dissertativas. Por exemplo, você pode ser instado a:
Discutir a tensão entre o princípio federativo e a simetria constitucional. Abordar o
alcance da competência legislativa dos municípios dentro da repartição constitucional.
Analisar o papel da União no enfrentamento das desigualdades regionais. Explicar o
regime jurídico das terras indígenas e sua proteção.
Territórios Federais no Brasil:
Os Territórios Federais são unidades administrativas criadas pela União como
descentralizações administrativas, ou seja, não possuem autonomia política própria,
diferente dos Estados e Municípios. Apesar de não terem autonomia política, os territórios
têm personalidade jurídica própria, podendo atuar como entes públicos. Atualmente,
não existem territórios federais no Brasil, pois os últimos — Amapá, Roraima e
Fernando de Noronha — foram transformados em Estados (Amapá e Roraima) ou
incorporados ao Estado de Pernambuco (Fernando de Noronha).
A Constituição de 1988 permite a criação de novos territórios federais, mas exige dois
requisitos formais: Consulta plebiscitária à população diretamente interessada (art. 18,
§ 2º, CF/88). Lei complementar do Congresso Nacional que estabeleça a criação. Após
a criação, a organização administrativa e judiciária do território será feita por lei
ordinária da União (art. 33, caput, CF/88).
O chefe do território será um governador nomeado pelo Presidente da República, com
aprovação do Senado Federal (art. 84, XIV, CF/88). Diferentemente dos Estados, o
governador do território não possui mandato fixo, pois é um cargo de nomeação. Em
relação à segurança pública, com a Emenda Constitucional nº 19/1998, a União não é
mais responsável pela organização das polícias civil, militar e corpo de bombeiros nos
territórios, transferindo essa atribuição para os próprios territórios. Os territórios com
mais de 100 mil habitantes terão órgãos judiciários (1ª e 2ª instâncias), Ministério Público
Federal e Defensoria Pública Federal, organizados pela União. Terão 4 deputados
federais fixos, independentemente da população (exceção à regra da proporcionalidade
do art. 45, § 2º, CF/88). Os territórios podem ser subdivididos em municípios, aos quais
se aplicam as normas relativas a eles, conforme o título III, capítulo IV da CF/88. Poderão
existir Assembleias ou Câmaras Territoriais, com competências deliberativas —
porém, não legislativas — pois os territórios não possuem autonomia política plena. As
contas dos territórios são fiscalizadas pelo Congresso Nacional, com parecer prévio do
Tribunal de Contas da União (TCU). O sistema de ensino nos territórios será
organizado pela União, conforme o art. 211 da CF/88.
-Distrito Federal:
O Distrito Federal é um ente federativo com autonomia política e administrativa,
diferente dos territórios, que são apenas descentralizações administrativas da União. O
Distrito Federal não pode ser subdividido em municípios e possui governador e vice-
governador eleitos, além de deputados federais e distritais. Os territórios são considerados
etapas transitórias para a possível criação de novos Estados.
A criação de novos Estados pode ocorrer por: Incorporação (fusão) de Estados existentes.
Subdivisão (cisão) de um Estado em dois ou mais. Desmembramento, que pode ser:
Anexação: parte de um Estado é anexada a outro. Formação: parte de um Estado forma
um novo Estado. Para qualquer mudança territorial, é obrigatória a realização de
plebiscito e aprovação pelo Congresso Nacional via lei complementar, garantindo
participação popular e controle legislativo.
Os Territórios Federais representam uma forma de descentralização administrativa sem
autonomia política plena, controlados diretamente pela União. Embora não existam hoje
no Brasil, a Constituição de 1988 prevê sua criação mediante procedimentos rigorosos, e
seu regime jurídico difere significativamente dos Estados e do Distrito Federal. Eles
podem funcionar como etapas intermediárias para a organização territorial do país,
podendo evoluir para a criação de novos Estados.
Criação de Novos Municípios > Formas de Criação> Requisitos Constitucionais
para Criação (Art. 18, § 4º, CF, modificado pela EC 15/96)
Lei Complementar Federal: Deve estabelecer o período em que é possível criar novos
municípios. Essa lei ainda não foi editada, conforme decisão do STF (ADI 3.682, 2007).
O STF fixou prazo de 18 meses para a elaboração dessa lei, que foi ultrapassado sem
cumprimento. Estudo de Viabilidade Municipal: Apresentação e publicação de estudos
que comprovem a viabilidade do novo município. Plebiscito Popular: Consulta à
população da área envolvida, ou seja, a população de todo o município que será afetado,
não apenas do distrito que deseja o desmembramento. Lei Estadual: Após cumprir os
requisitos anteriores, deve haver lei estadual autorizando a criação
Problemas e Jurisprudência: Inércia do Congresso: O Congresso não editou a lei
complementar, gerando um "vácuo" legal e inconstitucionalidade por omissão. Criação
Indevida por Estados:: Alguns estados continuaram criando municípios via leis
estaduais sem a lei complementar federal, violando o art. 18, § 4º da CF. O STF declarou
inconstitucionais essas leis estaduais, mas não anulou os municípios criados (ADI 2.240,
ADI 3.682).
"Anistia" pela EC 57/08: Para evitar o desaparecimento de municípios criados
irregularmente até 31/12/2006, o constituinte derivado reformador criou uma norma nos
ADCT (art. 96) que convalidou esses atos, desde que respeitados os requisitos estaduais
da época. Contudo, isso não resolveu o problema estrutural da falta da lei complementar
e mantém a possibilidade de futuras inconstitucionalidades. Decisões recentes do STF:
Suspensão da Lei 2.264/2010 de Rondônia por ferir o art. 18, § 4º (ADI 4992/RO).
Rejeição da lei complementar pelo veto presidencial em 2013 e 2014, dificultando a
regulamentação do tema.
Capítulo 13: Intervenção Federal
Princípios que regem a intervenção federal: Princípio da excepcionalidade: A
intervenção federal é uma medida excepcional, pois a regra no federalismo é a autonomia
dos entes federados (Estados, DF, Municípios). A intervenção é a antítese da autonomia:
uma ingerência que visa restabelecer o equilíbrio perturbado. O artigo 34 da Constituição
Federal (CF/88) explicita essa excepcionalidade: a União não intervirá nos Estados nem
no DF, salvo em hipóteses previstas. Princípio da taxatividade: As hipóteses de
intervenção estão taxativamente previstas na Constituição (numerus clausus). O rol do
art. 34 não é exemplificativo, ou seja, só são permitidas as hipóteses expressas. Princípio
da temporalidade: A intervenção terá prazo determinado, pois a autonomia é a regra e a
intervenção busca apenas o reestabelecimento do equilíbrio.
Conceito: A intervenção federal é um ato político excepcional que consiste na supressão
temporária da autonomia de um ente federado, sempre do ente maior (União) para o
menor (Estados e DF). Municípios só podem ser alvo da intervenção federal se forem
Municípios de Território da União; caso contrário, os Estados podem intervir nos
Municípios. As hipóteses são previstas na Constituição e visam proteger a soberania e a
autonomia federativa.
Procedimentos para a intervenção federal: Decretação pelo Presidente da República:
A intervenção é decretada pelo Presidente da República. Pode ser ex officio (de ofício)
nas hipóteses previstas nos incisos I, II, III e V do art. 34, ou mediante: solicitação do
Poder Legislativo ou Executivo do ente afetado que esteja coacto ou impedido; requisição
do Poder Judiciário via STF (se Judiciário estiver coacto ou impedido); requisição do
próprio STF, STJ ou TSE. Decreto presidencial deve fixar a amplitude, condições, termos
e prazo da intervenção, podendo nomear interventor (mas pode haver intervenção sem
interventor). O decreto está sujeito ao controle político do Congresso Nacional, que deve
apreciar o decreto em até 24 horas, inclusive em recesso. Se o Congresso não aprovar e o
Presidente mantiver a intervenção, configura-se crime de responsabilidade.
Exceções ao controle político: Não há controle político do Congresso nas hipóteses dos
incisos VI e VII do art. 34 (inexecução de lei federal, descumprimento de ordem ou
decisão judicial, e descumprimento de princípios sensíveis). Nestes casos, a intervenção
é baseada em decisão judicial, e o princípio da separação dos poderes justifica a ausência
de controle político.
Controle de constitucionalidade: A intervenção federal é um ato político, mas deve
obedecer rigorosamente aos procedimentos constitucionais.Caso contrário, pode ser
considerada inconstitucional e anulada. Exemplo: intervenção decretada ex officio sem
provocação (sem solicitação ou requisição) em caso de coação do Poder Legislativo sobre
o Executivo, o que é inconstitucional segundo o art. 34, IV.
Caso prático (2005): Em 2005, foi decretada intervenção federal em 9 hospitais públicos
do Município do Rio de Janeiro, disfarçada como requisição de bens e serviços. O
Município ajuizou mandado de segurança no STF, que concedeu a segurança contra o ato
do Presidente da República, pois a intervenção não observou os requisitos constitucionais.
Configurar intervenção indevida, pois a União não pode intervir diretamente em
Municípios, salvo nas hipóteses excepcionais previstas no art. 36, §3º, da CF; Ausência
de motivação expressa e de prazo certo para a intervenção; Violação à autonomia
municipal e ao pacto federativo. Portanto, o decreto de intervenção, mesmo sendo ato
político, deve respeitar a Constituição, sob pena de ser anulado pelo controle judicial.
Existe possibilidade de controle judicial sobre o decreto de intervenção federal?
Sim, sem dúvida. Ainda que o decreto de intervenção seja um ato de natureza política,
ele deve respeitar os procedimentos e limites impostos pela Constituição. Portanto, há
controle judicial para verificar se a intervenção respeita o devido procedimento
constitucional.
Fundamentos para esse controle: A intervenção federal só pode ser decretada nas
hipóteses taxativas previstas no art. 34 da Constituição Federal (CF/88). O Presidente da
República deve respeitar os procedimentos constitucionais, como a provocação prévia
dos poderes envolvidos (Legislativo ou Executivo local) ou requisição judicial, conforme
previsto. Caso o Presidente decreta a intervenção ex officio, sem provocação,
desrespeitando o procedimento, tal ato poderá ser declarado inconstitucional pelo
Judiciário.
Controle Político e o Papel do Congresso Nacional: A doutrina que defende o controle
do Congresso sobre um eventual segundo decreto de intervenção não é majoritária nem
parece compatível com a Constituição, pois: O art. 36, §3º, da CF prevê hipóteses em que
a intervenção não precisa passar pelo crivo do Congresso. A necessidade de um novo
decreto mais rigoroso não altera a natureza da intervenção, que deve continuar
fundamentada no descumprimento das condições do art. 34. O Presidente não pode
descumprir decisão judicial que fundamenta a intervenção, e não haveria base
constitucional para o Congresso descumprir essa decisão.
Intervenção Estadual em Municípios: A intervenção estadual é prerrogativa do Estado-
membro para atuar em seus Municípios, observando as hipóteses restritas previstas no
art. 35 da CF. A União não pode intervir diretamente em Municípios, salvo se forem de
território federal. O governador decreta a intervenção estadual, que deve ser submetida
ao controle político da Assembleia Legislativa estadual em 24 horas, salvo exceções.
Também aqui há controle judicial e político para garantir a constitucionalidade da
intervenção.
O controle judicial sobre o decreto de intervenção é possível e necessário para garantir o
respeito ao pacto federativo e aos princípios constitucionais. A intervenção deve sempre
obedecer aos procedimentos expressos na Constituição para evitar violações ao princípio
da separação dos poderes e à autonomia dos entes federados. Casos concretos julgados
pelo STF confirmam essa orientação, reconhecendo a autonomia dos Municípios e
Estados e limitando a atuação federal direta.
Capítulo 14: Poder Legislativo
1. FUNÇÕES: As funções típicas: são legislar e fiscalizar, atividades tradicionais desde
a formulação da teoria da separação dos Poderes, está delineada nos arts. 59 a 69 enquanto
a função fiscalizatória se expressa em dispositivos como os arts. 58, § 3º (Comissões
Parlamentares de Inquérito), 70 (fiscalização das contas com auxílio do Tribunal de
Contas) e 49, IX e X (julgamento das contas presidenciais e fiscalização dos atos do
Executivo, inclusive da administração indireta). Além disso, o Legislativo exerce funções
atípicas, por atribuição constitucional, que não lhe seriam naturalmente afetas, como
funções administrativas (arts. 51, IV e 52, XIII), voltadas à organização interna de suas
Casas, e funções judiciárias (arts. 52, I e II), como o julgamento do Presidente da
República e de Ministros do STF por crimes de responsabilidade.
2.COMPOSIÇÃO: O Poder Legislativo brasileiro é, em nível federal, bicameral,
composto pela Câmara dos Deputados (representação popular) e pelo Senado Federal
(representação dos Estados e do Distrito Federal). Nos âmbitos estaduais, distrital e
municipal, o Legislativo é unicameral. Os deputados federais, cujo número varia entre
8 e 70 por unidade da federação (totalizando 513), são eleitos pelo sistema proporcional
para mandatos de 4 anos, enquanto os senadores são eleitos pelo sistema majoritário
para mandatos de 8 anos, com renovação alternada de um e dois terços a cada 4 anos,
sendo três senadores por ente federativo. A fixação do número de deputados federais
gerou controvérsias jurídicas, culminando na declaração de inconstitucionalidade de
dispositivos da LC nº 78/93 e da Resolução TSE nº 23.389/2013 pelo STF, bem como do
Decreto Legislativo nº 424/2013.
Quanto às competências, a Câmara dos Deputados exerce, entre outras atribuições, a
autorização para processo contra o Presidente da República e a tomada de contas,
enquanto o Senado se destaca por funções de julgamento em crimes de responsabilidade
e sabatina de autoridades indicadas. Ambas as Casas, ou suas comissões, podem convocar
Ministros de Estado e demais autoridades para prestar informações, sendo assegurado o
comparecimento voluntário desses agentes para tratar de assuntos de interesse de seus
Ministérios.
Jurisprudência do STF, especialmente a decisão do ministro Luís Roberto Barroso no MS
33.729/DF, que reforça a interpretação de que a apreciação das contas presidenciais deve
ocorrer em sessão conjunta das Casas Legislativas, apesar de prática reiterada em sentido
contrário. Essa decisão reforça o papel do STF como guardião da Constituição, mesmo
diante de práticas institucionais consolidadas.
A Emenda Constitucional nº 41/2003 estabeleceu que o teto remuneratório no serviço
público corresponde ao subsídio mensal dos Ministros do STF, aplicando-se a todos os
Poderes e carreiras essenciais à Justiça. De eficácia imediata, conforme decidido pelo
STF no RE 609.381/GO, esse teto abrange todas as verbas remuneratórias, inclusive
aquelas adquiridas antes da emenda, sem violar o princípio da irredutibilidade de
vencimentos ou o direito adquirido. No RE 606.358/SP, com repercussão geral, o
Supremo reforçou que vantagens pessoais incorporadas antes da EC 41/2003 também se
submetem ao teto, embora valores recebidos de boa-fé até 2015 não precisem ser
devolvidos. O Congresso Nacional, por meio de decretos legislativos, equiparou os
subsídios de deputados e senadores aos dos Ministros do STF, embora essa paridade não
se estenda automaticamente ao Presidente da República e ministros de Estado. Em
julgamento da ADI 3461, o STF declarou inconstitucional a vinculação automática entre
subsídios de deputados estaduais e federais, por violar a autonomia dos entes federativos.
Já na ADI 4552, o Tribunal suspendeu norma estadual que concedia subsídio vitalício a
ex-governadores, por ausência de respaldo constitucional e afronta aos princípios da
legalidade orçamentária e da moralidade administrativa.
3. FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA: organiza-se em diversas unidades de tempo
e procedimentos internos que estruturam sua atividade ao longo dos mandatos
parlamentares.
A legislatura corresponde ao período de quatro anos que coincide com o mandato dos
deputados federais, enquanto os senadores, com mandatos de oito anos, vivenciam duas
legislaturas.
Dentro de cada legislatura, ocorrem quatro sessões legislativas ordinárias, cada uma
com duração anual, iniciando-se em 2 de fevereiro e encerrando-se, em regra, em 22 de
dezembro, com recesso entre 17 de julho e 1º de agosto. No primeiro ano da legislatura,
os trabalhos começam excepcionalmente em 1º de fevereiro, data reservada à posse e à
eleição das mesas diretoras das Casas. Cada sessão legislativa divide-se em dois períodos
legislativos, semestrais, e pode incluir:
sessões preparatórias, voltadas à organização dos trabalhos, especialmente no início da
legislatura. O dia legislativo é marcado pela
sessão ordinária, com estrutura própria nas duas Casas. Na Câmara dos Deputados,
desde 2012, as sessões deliberativas ordinárias ocorrem de terça a quinta-feira, das 14h
às 19h, sendo as segundas e sextas reservadas a sessões de debates, sem deliberação. Já
no Senado Federal, a norma é a realização de sessões ordinárias de segunda a sexta-feira.
Ambas as Casas estabelecem quóruns distintos: para instalação da sessão (1/10 dos
deputados e 1/20 dos senadores) e para deliberação (maioria absoluta). As sessões se
estruturam em pequeno expediente (comunicados breves), grande expediente
(discursos mais extensos), e ordem do dia (votações e deliberações).
As sessões extraordinárias podem ocorrer dentro do período legislativo, em horários ou
dias diferentes das sessões ordinárias, enquanto as sessões legislativas extraordinárias
acontecem durante o recesso, mediante convocação por motivo relevante, como estado
de defesa, estado de sítio, posse presidencial ou urgência pública. A Emenda
Constitucional nº 50/2006 alterou o procedimento de convocação extraordinária, exigindo
não apenas a iniciativa de autoridades ou da maioria absoluta dos membros das Casas,
mas também sua aprovação pela maioria absoluta de cada uma delas. Ademais, vedou-se
expressamente o pagamento de qualquer parcela indenizatória aos parlamentares em
razão de tais convocações. Por fim, ressalta-se que, nas convocações extraordinárias,
apenas os temas constantes da pauta podem ser objeto de deliberação, salvo as medidas
provisórias em vigor, que são automaticamente incluídas. Admite-se ainda a possibilidade
de múltiplas convocações extraordinárias dentro do mesmo recesso, desde que
preenchidos os requisitos constitucionais, o que confere flexibilidade ao Legislativo para
lidar com situações emergenciais sem comprometer o princípio da anualidade de suas
atividades.
Os quóruns de deliberação no Parlamento brasileiro: regulam a validade das votações
legislativas e variam conforme a matéria tratada, conforme disposto na Constituição
Federal de 1988 (CR/88). A regra geral está no art. 47 da CR/88: salvo disposição
constitucional em contrário, as deliberações são tomadas pela maioria de votos dos
presentes, desde que haja a presença mínima da maioria absoluta dos membros da
Casa (quórum de instalação). Esse é o chamado quórum de maioria simples ou relativa,
e permite a aprovação de matérias ordinárias, como leis ordinárias, com metade mais um
dos votos válidos dos presentes. Quanto à interpretação da maioria simples, existem
duas correntes doutrinárias. A primeira entende que se deve considerar apenas os votos
"sim" e "não", ignorando abstenções e nulos para fins de cálculo. A segunda corrente —
adotada pelos regimentos internos da Câmara dos Deputados e do Senado — considera
apenas os votos válidos efetivamente emitidos ("sim" e "não"), excluindo as abstenções
do cômputo do resultado final, embora elas contem para o quórum de presença. Além da
maioria simples, existem os quóruns qualificados, exigidos para matérias mais
relevantes. O quórum de maioria absoluta exige votos favoráveis da maioria do total
de membros da Casa, independentemente do número de presentes. Por exemplo, para
aprovar uma lei complementar na Câmara (com 513 membros), são necessários 257 votos
“sim”, mesmo que estejam presentes apenas 300 deputados. Já os quóruns de 3/5 ou 2/3
são exigidos em situações como reformas constitucionais (3/5) ou autorização para
processo do Presidente da República por crime de responsabilidade (2/3). Esses
quóruns também são fixos e não dependem do número de parlamentares presentes. Há
ainda o quórum de 2/5 dos membros do Congresso Nacional, previsto no art. 223 da
CR/88, aplicável a casos específicos como outorgas de concessão de radiodifusão.
Mesas Diretoras: que são órgãos estratégicos, responsáveis tanto pela condução dos
trabalhos legislativos quanto pela administração interna da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal. Existem, assim, três Mesas distintas: a da Câmara, a do Senado (ambas
com existência permanente) e a do Congresso Nacional, que se forma apenas em sessões
conjuntas das duas Casas, como, por exemplo, para a inauguração da sessão legislativa,
análise de vetos presidenciais e posse do Presidente da República. Cada Mesa é
composta por um presidente, dois vice-presidentes e quatro secretários, sendo que os
suplentes de secretário não integram formalmente a Mesa. A Mesa do Congresso
Nacional é presidida pelo presidente do Senado, e os demais cargos são exercidos de
forma alternada por membros das Mesas da Câmara e do Senado, conforme o art. 57,
§5º da Constituição Federal.
O mandato das Mesas é de dois anos, com vedação à reeleição imediata para o mesmo
cargo, conforme o art. 57, §4º da CF/88. No entanto, o entendimento prevalente no
Parlamento é que essa vedação se aplica apenas dentro da mesma legislatura (período
de quatro anos), permitindo, por exemplo, que um presidente de Mesa se candidate
novamente para o mesmo cargo na legislatura seguinte. Há ainda casos polêmicos —
como o de Rodrigo Maia — em que se admitiu a reeleição dentro da mesma legislatura,
sob o argumento de que o mandato anterior foi "tampão".
Por fim, no âmbito dos Estados e Municípios, o STF decidiu, nas ADIs 792 e 793, que
a vedação à reeleição prevista no art. 57, §4º da CF/88 não é norma de reprodução
obrigatória, ou seja, os Estados e Municípios têm liberdade para adotar ou não essa regra
em suas constituições estaduais e leis orgânicas. Isso significa que a reeleição para cargos
nas Mesas das Assembleias Legislativas ou Câmaras Municipais pode ser permitida, se
assim decidir o legislador local.
As comissões legislativas: são órgãos internos das Casas do Congresso Nacional que
atuam na análise e elaboração de proposições legislativas e na fiscalização dos atos do
Poder Executivo. Elas permitem a especialização dos trabalhos parlamentares e estão
divididas em diferentes tipos, conforme sua duração e composição.
a) Comissões Permanentes:
São comissões temáticas fixas que existem de forma contínua, ultrapassando legislaturas
(ou seja, continuam existindo mesmo com a renovação dos mandatos parlamentares). Um
exemplo clássico é a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que existe tanto na
Câmara dos Deputados quanto no Senado. Essas comissões analisam tecnicamente os
projetos, muitas vezes decidindo o destino das proposições antes que cheguem ao
plenário.
b) Comissões Temporárias:
Têm existência limitada no tempo e finalidade específica. São criadas para tratar de
assuntos pontuais e deixam de existir quando concluem sua missão ou com o fim da
legislatura. Exemplos incluem comissões especiais para analisar uma proposta de
emenda constitucional ou comissões externas que acompanham eventos de relevância
nacional.
c) Comissões Mistas:
Reúnem parlamentares das duas Casas — deputados e senadores — podendo ser
permanentes (como a comissão mista de orçamento, prevista no art. 166, §1º da CF/88)
ou temporárias (como as Comissões Parlamentares Mistas de Inquérito – CPMIs,
conforme o art. 58, §3º da CF/88).
d) Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs):
Previstas no art. 58, §3º da Constituição, são comissões temporárias destinadas à
investigação de fatos determinados e prazo certo, com poderes de investigação
próprios de autoridade judicial, como convocar testemunhas, requisitar documentos e
determinar diligências. Apesar disso, não podem julgar, condenar nem aplicar sanções
penais ou civis, pois isso é competência do Judiciário. Elas são importantes instrumentos
de fiscalização e controle político do Legislativo sobre o Executivo e a administração
pública. Esse modelo de comissões — especialmente as CPIs — é essencial para garantir
a efetividade da separação de poderes e assegurar a transparência e o controle sobre
os atos estatais.
CPI’S:
As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) são comissões temporárias
instituídas no âmbito das Casas Legislativas com a finalidade de apurar fato
determinado por um prazo certo, com base no art. 58, § 3º da Constituição Federal
de 1988 e na Lei nº 1.579/1952, com redação atualizada pela Lei nº 13.367/2016.
→ Exercem uma função fiscalizatória e investigativa típica do Poder Legislativo.
→ Ao final, podem encaminhar seus relatórios ao Ministério Público (ou a outros
órgãos competentes), caso apurem indícios de irregularidades ou ilícitos, para eventual
responsabilização cível ou penal dos envolvidos.
-Requisitos das CPIs:
Para a criação de uma CPI, exige-se:
1. Assinatura de 1/3 dos membros da Casa Legislativa respectiva:
a. 171 deputados (Câmara dos Deputados)
b. 27 senadores (Senado Federal)
c. Ou 1/3 dos membros do Congresso Nacional, no caso de CPMI (Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito)
2. Fato determinado: A investigação deve se restringir a um fato específico,
delimitado e não genérico.
3. Prazo certo: A CPI deve ter prazo de funcionamento previamente fixado (por
exemplo, 120 dias), podendo ser prorrogado dentro da mesma legislatura, pois
é comissão temporária.
Reflexões jurisprudenciais e regimentais relevantes:
✔️ Direito das Minorias
Segundo o STF, a CPI é um direito público subjetivo das minorias parlamentares,
sendo inconstitucional qualquer manobra regimental ou política que frustre esse direito:
MS 24.831/2005 e MS 24.845/2005: A omissão da maioria ou de líderes partidários em
indicar membros para compor a CPI não pode impedir sua instalação. O presidente da
Casa (Câmara ou Senado) tem o dever de suprir essa omissão.
✔️ Número de CPIs em funcionamento (Câmara dos Deputados):
• Art. 35, § 4º do Regimento Interno da Câmara: Estabelece um limite de cinco
CPIs simultâneas. Caso se aprove uma sexta, esta entra em uma fila de espera.
ADI 1.635/DF: O STF considerou constitucional essa limitação, por entender
que a norma organiza os trabalhos legislativos, sem eliminar o direito das
minorias (uma vez que 1/3 dos deputados pode aprovar resolução para iniciar
imediatamente a CPI, mesmo que outras cinco estejam em curso).
• ADI 3.619/SP: O STF julgou inconstitucional a norma do Regimento Interno da
ALESP que exigia maioria absoluta do plenário para instaurar CPI, pois isso
transforma um direito das minorias em prerrogativa da maioria, contrariando
o art. 58, § 3º da CF.
✔️ Fatos conexos
• O STF entende que fatos conexos ao objeto principal podem ser investigados,
desde que haja aditamento formal ao objeto inicial da CPI.
✔️ Prorrogação de prazo
• A prorrogação é admitida, mas limitada à mesma legislatura, dado o caráter
temporário das CPIs.
• Regimento Interno da Câmara: prazo inicial de 120 dias, prorrogável.
• Regimento Interno do Senado: silente quanto ao prazo, mas admite prorrogação.
Referências normativas principais:
• CF/88, art. 58, § 3º
• Lei nº 1.579/1952, especialmente art. 1º e art. 6º-A
• Regimentos Internos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
• Jurisprudência do STF: MS 24.831, MS 24.845, ADI 1.635, ADI 3.619
-O que são poderes de investigação de autoridade judicial? reconhece-se
que as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) possuem poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais, conforme o art. 58, § 3º da Constituição Federal.
Esses poderes não equivalem à jurisdição (isto é, não envolvem julgamento), mas sim
aos poderes instrutórios próprios da fase de dilação probatória, ou seja, àqueles
exercidos pelo juiz durante a fase de instrução processual, como:
• Requisição de documentos;
• Convocação e oitiva de testemunhas;
• Quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico (desde que fundamentada e aprovada
pelo colegiado).
-Limites das CPIs
Por exercerem poderes semelhantes aos da autoridade judicial na fase instrutória, as CPIs
também estão submetidas a diversos limites constitucionais e legais, como segue:
1. Fundamentação das decisões
• As decisões das CPIs devem ser fundamentadas, sob pena de nulidade (MS
24.217/DF). A fundamentação não precisa seguir o rigor da forma judicial
(relatório, fundamentação e parte dispositiva), mas deve apresentar elementos
mínimos que demonstrem a existência de causa provável (MS 23.716).
2. Princípio da colegialidade
• Todas as decisões relevantes da CPI, especialmente aquelas que importem
restrição de direitos fundamentais (ex: quebra de sigilos), devem ser tomadas
em colegiado, por maioria absoluta dos seus membros (MS 23.669).
3. Nexo com a coisa pública
• A atuação das CPIs deve guardar relação direta com a gestão da coisa pública,
visando à apuração de irregularidades que afetem o interesse coletivo ou a
Administração Pública. Não podem realizar devassas genéricas na vida de
pessoas ou instituições sem pertinência com o objeto da investigação.
4. Competência federativa
• CPIs do Congresso Nacional devem investigar temas de interesse nacional.
Questões locais ou estaduais devem ser objeto de CPIs das Assembleias
Legislativas ou Câmaras Municipais, salvo quando os fatos locais tiverem
repercussão nacional.
5. Prazo e prorrogação
• Por definição, as CPIs são comissões temporárias. Podem ser prorrogadas, mas
não podem ultrapassar a legislatura em que foram instauradas. O Regimento
Interno da Câmara dos Deputados fixa prazo inicial de 120 dias, prorrogável.
O Senado é silente, mas a jurisprudência admite a prorrogação, respeitado o
limite da legislatura.
-Amplitude das CPIs
As CPIs possuem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais (art. 58, §3º,
da CR/88). Independentemente do Judiciário, podem adotar as seguintes medidas:
Medidas que as CPIs podem adotar diretamente:
• Determinação de perícias.
• Oitiva de testemunhas e investigados, podendo determinar:
o Condução coercitiva de testemunhas (corrente majoritária admite essa
possibilidade, mesmo sem ordem judicial).
o Respeito ao direito ao silêncio para testemunhas e investigados, em nome
do direito constitucional à não autoincriminação.
• Convocação de autoridades, inclusive Ministros de Estado.
• Diligências externas e deslocamento da comissão a locais de interesse.
• Requisição de documentos e informações da administração pública (direta e
indireta).
• Busca e apreensão de bens fora de locais invioláveis (não inclui domicílios).
Importante: As CPIs têm limitações quanto a cláusulas de reserva de jurisdição e
poder geral de cautela.
-Impedimentos das CPIs
As CPIs não são órgãos do Poder Judiciário e, por isso, carecem de certos poderes,
mesmo em face da sua amplitude investigativa.
Medidas vedadas às CPIs (necessitam de autorização judicial):
• Prisão cautelar (preventiva ou temporária).
o Exceção: prisão em flagrante (ex.: falso testemunho ou desacato).
• Interceptação telefônica (CR/88, art. 5º, XII).
• Busca e apreensão domiciliar (CR/88, art. 5º, XI).
• Quebra de sigilo de processos que tramitam em segredo de justiça.
• Bloqueio, arresto, sequestro ou hipoteca de bens dos investigados.
o Cabe à CPI apenas requerer essas medidas ao Judiciário (Lei
13.367/2016).
• Impedir saída do investigado da comarca ou do país.
• Restringir atuação dos advogados.
o O investigado ou testemunha pode ser acompanhado de advogado,
mesmo em sessão secreta (Lei 10.679/03).
Resumo: As cláusulas de reserva de jurisdição (art. 5º da CR/88) impõem limites
constitucionais expressos à atuação direta das CPIs.
-Considerações Finais sobre as CPI
Prioridade nos procedimentos pós-relatório (Lei nº 10.001/2000)
• Relatórios das CPIs devem ser encaminhados às autoridades competentes (MP,
Judiciário ou administração pública).
• Estas devem informar providências em até 30 dias e atualizar semestralmente.
• Tais procedimentos têm prioridade de tramitação, exceto frente a habeas corpus,
habeas data e mandado de segurança.
• Sanções previstas para o descumprimento.
• Atenção: Lei estadual semelhante foi considerada inconstitucional (ADI
3041/RS) por invadir competência privativa da União (art. 22, I, CR/88).
-Prova emprestada entre CPIs
• STF reconheceu a legitimidade de compartilhamento de provas entre CPIs (ex:
caso Banestado – Inq. 2295).
3. Paralelismo com procedimentos judiciais
• A existência de inquérito judicial não impede a atuação da CPI, pois têm
finalidades distintas (HC 100.341/AM).
4. Encerramento da CPI prejudica ações judiciais conexas
• Com a conclusão da CPI, ações constitucionais contra ela (MS, HC, etc.)
perdem objeto (MS 25.459).
o Exceção: ACO 622, em que houve efeitos permanentes que justificavam
o prosseguimento da ação.
5. CPIs estaduais também podem quebrar sigilo bancário
• STF (ACO 730) reconheceu esse poder com base no princípio da simetria com
as CPIs federais.
-. ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS:
Imunidade Parlamentar –
Conceito Geral
• Conjunto de normas que disciplinam o regime jurídico de deputados e senadores,
com ênfase em direitos, imunidades, deveres, impedimentos e perda do cargo. As
imunidades têm como finalidade a proteção da independência do Poder
Legislativo, em respeito ao princípio da separação dos Poderes e ao Estado
Democrático de Direito.
A) Imunidade Material (Art. 53, caput, CF)
• Natureza Jurídica: Causa excludente de tipicidade (segundo STF e doutrina
majoritária).
• Âmbito de Proteção: Responsabilidade civil, penal, disciplinar e política por
opiniões, palavras e votos.
• Efeitos Jurídicos:
o Inviabilidade de responsabilização penal (p. ex., calúnia – art. 138, CP).
o Inviabilidade de responsabilização civil (p. ex., danos morais).
o Extensão (discutível) a responsabilidade administrativa e política.
-Características e Requisitos
• (1) Irrelevância do local: A imunidade se aplica tanto dentro quanto fora do
recinto parlamentar. Exceção: vereadores – restrição à circunscrição do município
(art. 29, VIII, CF).
• (2) Necessidade de nexo funcional com o mandato:
o As manifestações devem ter relação com o exercício da função
parlamentar.
Controvérsia jurisprudencial RE 463.671 AgR (2007): Se proferida em
plenário, prescinde de nexo com o mandato.
▪ Inq. 3672/RJ (2014): Idem.
▪ Inq. 4088 e 4097 (2015): Imunidade não é absoluta – exige-se
vínculo funcional mesmo no recinto parlamentar.
▪ Inq. 3932 e Pet 5243 (2016): Ofensas repetidas em entrevistas não
estão protegidas, mesmo que originadas em plenário.
Caso Jair Bolsonaro (declaração sobre a deputada Maria do Rosário): imunidade não
reconhecida quanto à repetição da fala em entrevistas, apesar de originada no parlamento.
Tensão entre liberdade de expressão e proteção da dignidade alheia. Oscilação do
STF entre interpretação mais ampla e mais restrita da imunidade material, sobretudo em
casos com forte impacto político e midiático.
Comparativo entre a doutrina e a jurisprudência quanto à amplitude da imunidade
material. Avaliação crítica da função contramajoritária do STF nos casos envolvendo
liberdade de expressão parlamentar. Imunidade material como cláusula pétrea? (análise à
luz do art. 60, §4º, CF). Eventual recepção (ou não) de dispositivos infraconstitucionais
que colidam com o escopo da imunidade parlamentar (ex: art. 286, CP, nos casos de
incitação ao crime).
- Imunidade Formal (art. 53, §§ 2º a 5º, da CF/88)
-Quanto à prisão (art. 53, § 2º, CF/88)
• Parlamentares não podem ser presos, salvo: Flagrante de crime inafiançável.
Consequência: no caso de flagrante, a Casa Legislativa decide, em 24 horas, por
maioria absoluta, sobre a manutenção da prisão.
• Espécies de prisão vedadas: Preventiva; Temporária; Civil (exceto por dívida
alimentícia).
b.2) Situações excepcionais reconhecidas pelo STF:
1. Crime Permanente como justificativa de flagrante (ex.: Caso Delcídio do
Amaral, 2015):
a. Prisão em flagrante por participação em organização criminosa e
embaraço à investigação (Lei 12.850/2013).
b. Interpretação do STF: os crimes eram permanentes e, portanto, o estado
de flagrância subsistia.
c. Inafiançabilidade no caso concreto, com base no art. 324, IV, do CPP
(risco à instrução criminal e aplicação da lei penal).
2. Prisão após trânsito em julgado (AP nº 396 e AP nº 565):
a. STF admitiu prisão imediata de parlamentares condenados com sentença
transitada em julgado, mesmo sem decretação prévia pelo Legislativo.
3. Flexibilização do art. 53, § 2º (HC 89.417/RO, "Operação Dominó"):
a. STF impediu Assembleia Legislativa de Rondônia de decidir sobre prisão
de seu presidente, por "anomalia institucional": quase todos os deputados
estavam envolvidos em organização criminosa.
b. Tese da "Constituição não pode ser aplicada contra ela mesma" (Min.
Cármen Lúcia).
C) Observações complementares:
• Extensão da imunidade formal: Deputados Estaduais e Distritais: sim (arts.
27, § 1º e 32, § 3º da CF/88). Vereadores: não têm imunidade formal quanto à
prisão.
• Discussão sobre prisão preventiva de parlamentar: Há doutrina que classifica
o caso Delcídio como prisão preventiva disfarçada de flagrante. STF evitou
assumir diretamente a tese da relativização do art. 53, § 2º, mas, na prática, abriu
precedentes para admiti-la em casos excepcionais.