UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA
CENTRO DE HUMANIDADES – CH
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO – PROGRAD
CURSO DE LETRAS
TOMÁS ALMEIDA COSTA
ANÁLISE DAS PÁGINAS INICIAIS DE DOIS DICIONÁRIOS BILÍNGUES DE
LÍNGUA INGLESA
CRATO – CE
2022
TOMÁS ALMEIDA COSTA
ANÁLISE DAS PÁGINAS INICIAIS DE DOIS DICIONÁRIOS BILÍNGUES DE
LÍNGUA INGLESA
Trabalho de Conclusão de Curso (artigo)
apresentado à banca examinadora como
requisito parcial para a conclusão do Curso de
Letras – habilitação em Língua Portuguesa e
Língua Inglesa, da Universidade Regional do
Cariri, no semestre letivo 2022.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Edmar Cialdine
Arruda
CRATO – CE
2022
TOMÁS ALMEIDA COSTA
ANÁLISE DAS PÁGINAS INICIAIS DE DOIS DICIONÁRIOS BILÍNGUES DE
LÍNGUA INGLESA
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Francisco Edmar Cialdine Arruda
Universidade Regional do Cariri - URCA
___________________________________________
Examinadora: Prof. Dra. Cristiane Rodrigues Vieira
Universidade Regional do Cariri - URCA
___________________________________________
Examinadora: Prof. Ma. Aryanne Christine Oliveira Moreira
SME/ São Gonçalo do Amarante-CE
Aprovado em ___/ ___/ ___
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ANÁLISE DAS PÁGINAS INICIAIS DE DOIS DICIONÁRIOS BILÍNGUES DE
LÍNGUA INGLESA
COSTA, Tomás Almeida
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo mostrar a importância das páginas iniciais de dicionários
de aprendizagem do tipo bilíngues para que o aprendiz de Língua Inglesa consiga utilizar o
dicionário de maneira mais proveitosa nos seus estudos. Para tanto são analisadas as páginas
iniciais de dois dicionários bilíngues direcionados a estudantes brasileiros: o Michaelis
Dicionário Universal Inglês (Inglês-Português/Português-Inglês) e o Longman Dicionário
Escolar (Inglês-Português/Português-Inglês). São discutidas as funções das páginas iniciais em
um dicionário bilíngue e a sua relevância tanto para a obra, como também para o usuário a partir
dos estudos de Duran e Xatara (2006), Duran (2008), Duran (2004), Kocjančič (2004), Barcelos
(2014), Pontes (2009), Welker (2004), Nascimento (2018), Santos (2011), Humblé (2006),
PNLD 2012 (Brasil) e BNCC 2018 (Brasil). Para tanto, a metodologia recorre a uma pesquisa
de natureza bibliográfica descritiva. Ao final, os resultados apontam que dar a devida atenção
às páginas iniciais faz com que o uso do dicionário se torne mais acessível aos seus leitores.
Palavras-chave: Páginas iniciais. Dicionário bilíngue. Língua Inglesa. Usuário.
ABSTRACT
This article aims to show the importance of the initial pages of bilingual learning dictionaries
so that the English language learner can use the dictionary more profitably in their studies. In
order to do so, the initial pages of two bilingual dictionaries targeted at Brazilian students are
analyzed: the Michaelis Universal English Dictionary (English-Portuguese/Portuguese-
English) and the Longman School Dictionary (English-Portuguese/Portuguese-English). The
functions of initial pages in a bilingual dictionary and their relevance both for the work and for
the user are discussed, based on studies by Duran and Xatara (2006), Duran (2008), Duran
(2004), Kocjančič (2004), Barcelos (2014), Pontes (2009), Welker (2004), Nascimento (2018),
Santos (2011), Humblé (2006), PNLD 2012 (Brazil) and BNCC 2018 (Brazil). For this purpose,
the methodology uses a descriptive bibliographic research. In the end, the results show that
giving due attention to the initial pages makes the use of the dictionary more accessible to its
readers.
Keywords: Initial pages. Bilingual dictionary. English language. User.
INTRODUÇÃO
De acordo com o Programa Nacional do Livro Didático, PNLD (Brasil, 2012), um
dicionário possui valor inestimável para o estudante que busca enriquecer seu vocabulário, pois
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transforma o ensino, o conhecimento da leitura e da escrita em um manancial de oportunidades
para a vida do aprendiz.
As páginas iniciais são uma seção presente em alguns dicionários que, em muitos
casos, não são consultadas pelos usuários. Essa prática faz com que, às vezes, os estudantes
pesquisem de forma errônea e não consigam encontrar a informação que buscam com precisão.
Diante deste dilema, surgem questões que tratam da função das páginas iniciais e da relevância
de suas características em um dicionário bilíngue, tanto para a própria obra, como também para
o consultante aprendiz. Tendo em mente essas questões, destacamos:
Que características apresentam as páginas iniciais do dicionário bilíngue de Língua
Inglesa?
Qual a relevância dessa introdução em obras lexicográficas para o consultante aprendiz?
Ciente desses fatos, esse trabalho visa a analisar as características das páginas
iniciais de dois dicionários bilíngues de Língua Inglesa, bem como busca abordar a relevância
dessa introdução nas obras lexicográficas para o consulente aprendiz. Uma vez que
compreendemos serem as páginas iniciais do dicionário um guia para uma consulta eficaz em
uma obra lexicográfica, buscamos, com este trabalho, fomentar a importância dessas primeiras
páginas do dicionário para os usuários, de modo que consigam êxito em suas consultas.
Para embasar a pesquisa foram utilizados os trabalhos de Duran e Xatara (2006),
Duran (2008), Duran (2004), Kocjančič (2004), Barcelos (2014), Pontes (2009), Welker (2004),
Nascimento (2018), Santos (2011), Humblé (2006), PNLD 2012 (Brasil) e BNCC 2018
(Brasil), uma vez que a área de estudo e análise pertence à Lexicografia, mais especificamente
a Metalexicografia.
O artigo encontra-se organizado em cinco seções: a introdução, na qual tratamos do
porquê da pesquisa, a fundamentação teórica, que aborda sobre a função e sobre a relevância
das páginas iniciais em dicionários bilíngues, a metodologia, na qual descrevemos os passos
metodológicos para a execução deste trabalho, as análises, nas quais detalhamos as páginas
iniciais das duas obras lexicográficas selecionadas para compor esta pesquisa e, por fim,
traçamos as considerações finais deste estudo.
1 FUNDAMENTAÇÃO
A Base Nacional Comum Curricular, BNCC (Brasil, 2018), apresenta o
desenvolvimento de habilidades junto ao uso de dicionários, do terceiro ao sexto ano,
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correspondentes ao Ensino Fundamental. O foco do trabalho é promover práticas de análise
linguística, englobando conhecimentos pertinentes à elucidação de questões ortográficas e
semânticas das palavras, assim como a leitura, a compreensão e a autonomia da escrita de
verbetes em Língua Portuguesa. O documento também visa que os estudantes conheçam a
organização interna de uma obra bilíngue, com o fim de formarem um repertório lexical
autônomo em Língua Inglesa.
De acordo com Duran e Xatara (2006), os lexicógrafos elaboraram um método
conhecido como guia do usuário com o fim de inteirar a falta de um ensino formal voltado para
a utilização do dicionário. Ao recorrer à leitura desse recurso, o consultante consegue entender
como buscar os termos e se localizar dentro da obra e dentro dos verbetes.
Duran (2006; 2008) também destaca que os dicionários de certas editoras vêm
acompanhados de instruções de utilização da obra contidas nos guias dos usuários, como
também em endereços eletrônicos, no entanto o usuário precisa ser determinado em obter
discernimento para usá-los.
Quanto aos usuários, Humblé (2006) afirma que um dicionário quando direcionado
a um leitor específico em mente, gera um nível satisfatório maior. Um usuário difere de outro
em suas necessidades e, por conseguinte, um dicionário tende a propiciar menos ou mais
informações. De outro modo, a obra não manterá seu propósito de modo desejado.
Ainda sobre este tópico, Geraldi Arroyo (2000 apud PONTES 2009) diz que os
lexicógrafos, de distintas orientações teóricas, são unânimes em concordar que os dicionários
precisam ser úteis e específicos a um usuário. Em concordância com esse prenúncio, Pontes
(2009) afirma que os usuários são peças imprescindíveis na definição dos variados modelos de
dicionários, levando-se em conta as diversas características formais ocasionadas por suas
inúmeras finalidades e usos. Ainda segundo Geraldi Arroyo (2000 apud Pontes 2009), os
aspectos para caracterizar os usuários podem estar ligados à competência linguística, a qual está
mais familiarizada ao nível de conhecimento de segunda língua, à idade ou com a ação dirigida
à compreensão ou à produção.
Já em relação à estrutura global que forma o texto lexicográfico, Pontes e Santos
(2011) explicam:
O texto lexicográfico constitui-se de uma estrutura global, a megaestrutura, onde se
encaixam estruturas menores. A macroestrutura é a lista de palavras que compõe o
corpo do dicionário e as informações sobre elas, também chamada de nomenclatura.
A microestrutura é formada pelas informações sobre a palavra entrada. A
medioestrutura constitui o sistema de remissões entre os verbetes do dicionário. E os
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textos externos que correspondem a todos os gêneros e informações externas à
nomenclatura (p. 193-194).
Para Barcelos (2014) chega a ser de suma importância que os estudantes de língua
estrangeira tenham absorvido satisfatoriamente as informações das páginas iniciais. Portanto,
se faz necessário que o lexicógrafo disponibilize essas informações de modo claro e objetivo,
dentre as referidas informações: as características técnicas da obra, as cores e os símbolos
empregados na publicação, assim como o guia do usuário, o qual é de suma relevância para
saber interagir com a língua estrangeira. Essas bases são indispensáveis, uma vez que cada
dicionário retrata suas averiguações de maneiras singulares.
2 METODOLOGIA
Como metodologia, o presente trabalho busca analisar as páginas iniciais de dois
dicionários bilíngues impressos (Inglês-Português/Português-Inglês) utilizados por estudantes
de Língua Inglesa no Brasil, sendo eles o Michaelis Dicionário Universal Inglês (Inglês-
Português/Português-Inglês) da editora Melhoramentos, quinta edição e do ano de dois mil e
três; e o Longman Dicionário Escolar (Inglês-Português/Português-Inglês), da editora
Pearson, segunda edição em dois mil e oito e primeira reimpressão em março de dois mil e
nove. A escolha do corpus levou em consideração dois fatores importantes: a popularidade e o
valor econômico das obras em estudo.
3 ANÁLISE DAS PÁGINAS INICIAIS DOS DICIONÁRIOS
Conforme Duran e Xatara (2006), as consultas aos dicionários específicos tendem
a se tornar acessíveis devido às informações necessárias para um público e uma função
específica. As autoras também afirmam que o guia do usuário, produzido pelos lexicógrafos, é
um recurso feito para preencher a falta de um ensino formal de como utilizar o dicionário, para
que o aprendiz não cometa o erro de não achar o termo pesquisado por falta de habilidade de
consulta.
Após a capa, a contracapa com a ficha catalográfica e o sumário, o Michaelis
Dicionário Universal Inglês (Inglês-Português e Português-Inglês) inicia com a seção do
prefácio. Neste, mais precisamente no primeiro parágrafo, é apresentada a quantidade de
verbetes (mais de 38.000) e a qual público-alvo a obra é direcionada, no caso, brasileiros que
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usam a Língua Inglesa e buscam falar e escrever o idioma, de acordo com os autores, “de forma
correta”. Em sequência, o segundo parágrafo revela que a obra foi elaborada, segundo os
escritores, por normas lexicográficas rigorosas, as quais visam padronizar a constituição dos
termos com o fim de tornar mais acessível a leitura e a informação aos seus usuários. Também
é dito que para a coleta dos verbetes, o dicionário recorreu ao banco de dados Michaelis, porém
não são fornecidas mais informações sobre esta fonte de consulta.
Já no terceiro parágrafo do prefácio, a publicação afirma que os verbetes, tanto os
de Língua Inglesa, como os de Língua Portuguesa, serão exibidos com suas divisões silábicas,
transcrições fonéticas, classes gramaticais, áreas de conhecimento, acepções numeradas,
expressões atuais e exemplos claros para facilitar as suas compreensões. Caso necessitem de
mais detalhes, serão anexadas notas a respeito de questões gramaticais e a aplicação de palavras
e expressões em inglês, fatos que condizem com a constituição interna da obra. Também é
divulgado que a publicação conta com um apêndice sobre diferentes temáticas (numerais,
conversão de pesos, temperaturas e medidas, lista de verbos irregulares, conjugação de verbos,
entre outros temas) em Língua Portuguesa.
Nos dois últimos parágrafos, os autores informam que a produção conta com as
variações linguísticas do inglês americano e britânico, apesar de estas não serem as únicas
existentes na Língua Inglesa, e que o material foi produzido por um grupo de dicionaristas
especializado no assunto, assim como por consultores técnicos, revisores, professores de
Línguas Portuguesa e Inglesa e foneticistas. O texto finaliza com a alegação que o público da
obra não é apenas estudantes de inglês, mas também profissionais de diferentes atuações que
queiram melhorar suas habilidades no idioma em foco.
Por sua vez, o Longman Dicionário Escolar (Inglês-Português/Português-Inglês) é
composto por uma capa, cujo o verso contém dois quadros, um com as pronúncias das
consoantes e vogais presentes na Língua Inglesa seguidos de exemplos, e outro com
abreviaturas usadas na obra. Em seguida, há a contracapa que apresenta no seu verso os dados
catalográficos. Posteriormente são apresentados o índice e o prefácio, introduzido pelo texto
Bilingual breakthrough, traduzido pelos próprios autores do Longman como Rompendo
barreiras do dicionário bilíngue, escrito por Jeremy Harmer, professor de inglês, pesquisador
na área de dicionários e autor de livros didáticos como The Practice of the English Language
Teaching, da editora Pearson e publicado em 2007. Este texto foi redigido originalmente em
Língua Inglesa, porém a obra oferece uma tradução deste para o português na página seguinte.
Harmer relata que o problema encontrado em dicionários bilíngues são informações errôneas,
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insuficientes, com poucos exemplos e falta de combinações comuns no idioma, fatos que
tornam as publicações menos confiáveis. Mesmo com estas caraterísticas negativas, os
estudantes os continuam utilizando como uma ferramenta para aprender uma língua. Por esta
razão, o professor defende que os dicionários necessitam de uma abordagem inovadora para
superar todas essas deficiências e conseguirem cumprir os seus objetivos com êxito.
Em sequência, Harmer afirma que o Longman foi projetado para este fim,
possuindo um corpus em inglês e em português brasileiro que abrange as habilidades de escrita
e de fala, especialmente voltadas para estudantes do ensino médio. As explicações das palavras
serão fornecidas em português, acompanhadas dos seus usos mais recorrentes e dentro de
variados contextos de uso. O autor destaca que o dicionário foi atualizado e houve a adição de
novos termos e expressões, além de passar por uma revisão para seguir o novo acordo
ortográfico da Língua Portuguesa.
Segundo Kocjančič (2004), uma das perguntas primordiais na microestrutura de um
dicionário é como selecionar as informações que possibilitam ao usuário acessá-las. Os
lexicógrafos, por sua vez, precisam se questionar para saber como sistematizarão os dados para
os usuários, pois é relevante que estes saibam como e onde achar o que procuram.
Dentro desta perspectiva, o Michaelis Dicionário Universal Inglês traz a seção
nomeada Organização do dicionário, a qual enumera nove paradigmas utilizados na
publicação ao apresentar cada verbete: entrada, transcrição fonética, classe gramatical, área de
conhecimento, formas irregulares, tradução, exemplificação, expressões e apêndice.
No paradigma um é explicado que a entrada da palavra:
● Será trazida em negrito e com divisão silábica;
● As remissões serão acompanhadas pelo sinal = como fim de demonstrar a forma do
termo mais comumente recorrido;
● Demonstrará a enumeração elevada de vocábulos com grafias iguais, porém com
origens divergentes;
● Terá a forma gráfica americana antecedendo a britânica.
No paradigma dois é esclarecido que as transcrições fonéticas tanto em inglês, como
em português serão visualizadas entre colchetes. Já o paradigma três diz que a classe gramatical:
● Será mostrada com abreviatura em itálico;
● Caso o termo apresente mais de uma classificação, esta será afastada da outra por meio
da representação de um ponto reto.
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No paradigma quatro, a área de conhecimento será sinalizada por uma abreviatura
destacada em itálico. Em sequência, o paradigma cinco traz as configurações irregulares, as
quais serão apontadas em negrito as formas dos plurais irregulares e de substantivos compostos
com hífen. Por sua vez, o paradigma seis fala sobre a tradução, processo que será abordado de
quatro maneiras: a) caso não existir a equivalência do sentido uma palavra em inglês no
português, a obra optará por uma definição aproximada; b) assim como na abordagem anterior,
se não houver a equivalência do sentido de um termo em português na Língua Inglesa, a
publicação recorrerá a uma definição dentro do contexto; c) palavras que possuem diferentes
sentidos: estas serão afastados umas das outras com o auxílio de algarismos em negrito e os
sinônimos juntos por algarismo e destacado por vírgulas; e d) será oferecida uma explicação
após a tradução, caso esta trate de um vocábulo pouco comum de ser utilizado.
Já no paradigma sete é discutido que a exemplificação trará citações e frases
elucidativas em itálico, com o objetivo de explanar melhor as suas definições. Depois, o
paradigma oito explica que expressões se apresentarão depois da tradução da palavra em ordem
alfabética e em negrito. Por fim, o paradigma nove aborda sobre o apêndice da obra, o qual
pode ser visualizado nas páginas finais da publicação e traz conteúdos consultados com
frequência como verbos irregulares em Língua Inglesa, verbos auxiliares, regulares, irregulares,
defectivos ou difíceis em Língua Portuguesa, os animais e seus gêneros, coletivos e vozes,
números ordinais, cardinais, multiplicativos e fracionários, símbolos matemáticos e tabelas de
conversão de pesos, medidas e temperaturas em graus Celsius e Fahrenheit. Estas informações
detalhadas não são fornecidas pelo outro dicionário em análise.
Por sua vez, o Longman, mostra na sua sequência a seção Dez coisas que você
necessita saber sobre este dicionário. O primeiro paradigma é que a obra foi desenvolvida
especificamente para estudantes do Brasil que estão aprendendo o idioma estrangeiro em foco.
O segundo paradigma explica o conceito de corpus, sem especificar a origem a qual ele foi
extraído, e afirma que a publicação fez o uso deste recurso nos dois idiomas, tanto em inglês,
quanto em português. O terceiro paradigma diz que são empregados diferentes exemplos de uso
para definir os significados das palavras. Os quarto e quinto paradigmas esclarecem que frases
e expressões idiomáticas foram incluídas na elucidação dos termos presentes em textos diversos
e de forma natural. O sexto paradigma aborda que para palavras em inglês com mais de uma
equivalência em português e também caso ocorra o contrário, do português para o inglês, haverá
quadros explicativos fornecendo detalhes da entrada.
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O paradigma sete aponta que notas culturais também estão presentes no dicionário
Longman com o fim de explicar o significado de um termo ou expressão, como por exemplo A
level e bed and breakfast. Os paradigmas oito e nove exibem a existência de um guia para
comunicação e de um guia de gramática dentro da publicação. O último paradigma revela que
o manual conta com centenas de ilustrações que acompanham algumas definições específicas,
cujo fim é facilitar a melhor compreensão dos termos, recurso este não encontrado no Michaelis.
Segundo Duran e Xatara (2006), para que haja produção oral das palavras
estrangeiras a informação sobre pronúncia oferece autonomia aos aprendizes. O uso dos
símbolos do Alfabeto Fonético Internacional (AFI) ou da transliteração, que consiste no
emprego dos sons da primeira língua com o objetivo de retratar a sonoridade das palavras de
outros idiomas, são as duas formas de expressar tal independência aos estudantes.
De acordo com Underhill (1985 apud Duran e Xatara, 2006), os aprendizes não
acham complicado aprender os símbolos fonéticos em sua essência, mas sim de compreender
os seus significados. Portanto, é preciso deixar claro que os sons são símbolos fonéticos.
Segundo Welker (2004), há bastante ênfase na Literatura Metalexicográfica no que
se refere aos dicionários bilíngues quanto a importância da ortoépia, por acreditar que os não-
nativos necessitam de ajuda no domínio da pronúncia. No entanto, Welker (2003:72s apud
Welker 2004) argumenta que só há necessidade de indicar a pronúncia quando nos casos não
tiver regras nítidas. Entretanto, Welker (2004) destaca que na Língua Inglesa a situação é
diferente, uma vez que em grande quantidade de lexemas a pronúncia é inexplicável, o que
torna as indicações uma ferramenta substancial.
Seguindo esta linha, o Michaelis aborda em sequência a seção nomeada
Transcrição fonética do inglês. Aqui, a discussão é dada em duas partes: I – Símbolos fonéticos
e II – Observações gerais. Na primeira é explicado que o sinal (‘) refere-se à sílaba posterior, a
qual é acentuada, e que (:) indica prolongação da pronúncia de uma vogal. Em seguida, são
ilustrados quatro quadros com os símbolos fonéticos das vogais, ditongos, semivogais e
consoantes da Língua Inglesa, todos com explicações associativas aos sons da Língua
Portuguesa e aplicação prática das pronúncias em inglês. Por sua vez, a segunda parte destaca
quatro pontos, a saber:
● A transcrição do Alfabeto Fonético Internacional será empregada entre colchetes
na pronúncia figurada da Língua Inglesa;
● O acento tônico (´) será utilizado antes da sílaba tônica;
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● A distinção de pronúncia do inglês americano em relação ao britânico é indicada
só em alguns termos que são mais frequentemente utilizados. Esta característica é
somente empregada nos derivados e nas entradas principais;
● Primeiro será expressa a pronúncia britânica e depois a americana e para separá-
las a publicação fará o uso de ponto-e-vírgula.
Em sequência há a seção Transcrição fonética do português (Figura 01), a qual é
explicada em três partes: I – Princípios gerais, II – Símbolos fonéticos e III – Observações
gerais. No primeiro trecho é dito que a publicação adota o AFI para realizar as transcrições dos
seus termos, sendo alguns dos seus símbolos modificados para melhor representar a pronúncia
da variante do português do Brasil. Para ilustrar a pronúncia deste idioma no manual, os autores
optaram pela variante dos falantes da cidade de São Paulo com escolaridade superior, assim
como também a de locutores de TV e rádio que desenvolvem seus trabalhos em rede nacional,
uma vez que a pronúncia, de acordo com os autores, apresenta poucas variações regionais.
Figura 01 - Parte da seção Transcrição fonética do inglês do Michaelis
Dicionário Universal Inglês
Fonte: Michaelis Dicionário Universal Inglês (2003, p. X)
Já a segunda parte é dividida em dois tópicos para ilustrar os símbolos fonéticos em
Língua Portuguesa: 1 – Vogais (orais, nasais e semivogais) e 2 – Consoantes, ambas as
situações organizadas e explicadas com o auxílio de quadros e com exemplos de uso (Figura
02). A terceira parte, III – Observações gerais, traz quatro pontos relevantes: 1 – Tonicidade,
que será indicada por [‘]; 2 – Composição de palavras, destacando que o acento secundário não
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será demonstrado na obra; 3 – Palavras compostas, as quais serão transcritas em boa parte dos
casos sem intervalos; e 4 – Palavras estrangeiras, estas representadas pelo Alfabeto Fonético
Internacional, porém com adaptações para melhor expressar as suas pronúncias nos seus
idiomas originais.
Figura 02 - Parte da seção Transcrição fonética do português do
Michaelis Dicionário Universal Inglês
Fonte: Michaelis Dicionário Universal Inglês (2003, p. XII)
Ao contrário da obra anterior, o Longman não detalha com precisão o campo
fonético da Língua Inglesa, apesar de recorrer ao uso do AFI, apenas introduz os símbolos
fonéticos, vogais e consoantes, e fornece um único exemplo para ilustrar cada caso, o que
diminui as chances de compreensão dos sons por parte dos usuários (Figura 03). Também é
relevante notar que a obra não contém uma explanação sobre a transcrição fonética da Língua
Portuguesa, como no outro dicionário analisado.
Figura 03 – Parte do quadro de pronúncia do Longman Dicionário Escolar
Fonte: Longman Dicionário Escolar (2009, verso da capa do
dicionário)
No fim das suas páginas de apresentação inicial, no Michaelis há a parte nomeada
Abreviaturas usadas neste dicionário, a qual expõe uma lista de quatro páginas com as
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abreviaturas mais recorrentes na obra com os seus respectivos significados em português e/ou
inglês (Figura 04). No Longman há somente um pequeno quadro de abreviaturas voltado ao
campo sintático e de variantes que indicam se a palavra corresponde ao inglês americano (AmE)
ou britânico (BrE), apresentados logo no verso da capa da publicação, abaixo do quadro de
pronúncia (Figura 05).
Figura 04 – Recorte da primeira das quatro páginas da lista de
abreviaturas do Michaelis Dicionário Universal Inglês
Fonte: Michaelis Dicionário Universal Inglês (2003, p. XVII)
Figura 05 – Quadro de abreviaturas do Longman Dicionário
Escolar
Fonte: Longman Dicionário Escolar (2009, verso da capa do
dicionário)
Segundo Nascimento (2018), o surgimento de novas tecnologias fez os meios
semióticos se integrarem à comunicação cotidiana, introduzir sentido e compor a comunicação
com o verbal. Assim, os textos converteram-se em multimodais, ao passo que recursos verbais
e não verbais se inserem na formação de ideias. O dicionário foi uma das obras que passaram
por estas mudanças.
Em relação a este ponto, o Longman exibe no final a parte chamada Como usar este
dicionário – Guia rápido (Figura 06), a qual traz um recorte de uma das páginas internas da
obra e aponta os elementos que compõem a sua estrutura. Entre os constituintes destacados na
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imagem estão: a entrada do termo em azul; a tradução; as diferentes acepções; as ilustrações
com legenda, recurso este não encontrado no Michaelis; a pronúncia entre barras e com a
marcação de acento tônico; a classe gramatical abreviada; exemplos de uso e suas traduções;
verbos acompanhados de partículas realçadas em azul; palavras que costumam ocorrer juntas;
o contexto; preposições empregadas junto ao verbo; e palavras-chave retratadas em quadros.
No verso desta página, a publicação apresenta a seção Photo acknowledgements1, na qual a
editora agradece o direito de reprodução das imagens no decorrer da obra aos seus autores de
origem.
Figura 06 – Seção Como usar este dicionário – Guia rápido do
Longman Dicionário Escolar
Fonte: Longman Dicionário Escolar (2009, p. IX)
1
Reconhecimento das fotos, tradução nossa.
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Após realizar esta análise detalhada das duas obras, consta-se que ambas
apresentam características semelhantes no que tange o propósito de fornecer ao seu público não
apenas a tradução comumente vista em outras produções, mas também recorrem ao campo
fonético, com o uso dos símbolos do Alfabeto Fonético Internacional, e exemplificam as
diferentes concepções as quais os termos podem ser empregados pelos falantes. Além disso,
mostram a classe gramatical que a palavra pertence logo após a sua entrada, a transcrição
fonética e o acompanhamento de exemplos referentes ao item pesquisado. As publicações
também são voltadas para estudantes brasileiros que estão aprendendo ou querem aperfeiçoar
os seus conhecimentos em Língua Inglesa.
Já em relação a pontos de divergência, o primeiro aspecto percebido é referente à
entrada e divisão silábica: no Michaelis, o termo é destacado em negrito, na cor preta e as suas
sílabas são separadas por pontos, enquanto no Longman as palavras são grifadas em negrito,
na cor azul e não tem suas sílabas separadas. O segundo ponto detectado está ligado à utilização
de imagens pelo Longman e a ausência deste recurso no Michaelis. O terceiro é sobre notas
culturais, sendo estas não empregadas no Michaelis. A quarta característica diferencial é a
presença da indicação da área de conhecimento, sendo esta não abordada no Longman. O quinto
e último ponto cabe especificar se a variação linguística refere-se ao inglês americano ou
britânico: no Longman, o esclarecimento é dado logo após anunciar a classe gramatical do
termo e no Michaelis somente depois da tradução da palavra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo teve como meta mostrar a importância das páginas iniciais de
dicionários de aprendizagem do tipo bilíngues para que o aprendiz de Língua Inglesa consiga
utilizar o dicionário de maneira mais proveitosa nos seus estudos. Para ilustrar este estudo foram
feitas as análises das páginas introdutórias dos dicionários Michaelis Dicionário Universal
Inglês (Inglês-Português/Português-Inglês) e Longman Dicionário Escolar (Inglês-
Português/Português-Inglês).
Apesar das dificuldades decorrentes da limitação de fontes de pesquisa mais
amplas, pois poucos trabalhos foram realizados sobre este assunto, o objetivo de direcionar o
usuário do dicionário às páginas iniciais para que este pudesse disponibilizar de informações
mais precisas, de amplos significados, fez com que os objetivos fossem relativamente
alcançados.
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Para que haja um leque maior de conhecimentos deste assunto, se faz necessário
um estudo mais profundo. A título de exemplo, ainda que a lexicografia seja uma área que está
se iniciando no Brasil, já temos algumas conquistas para a Lexicografia brasileira como o
PNLD. No entanto, este se direciona apenas para dicionários de escolares de Língua Portuguesa.
Portanto, faz-se necessário investir em futuras diretrizes que venham a organizar e categorizar
as páginas iniciais dessas obras.
REFERÊNCIAS
BARCELOS, V. R. O uso didático do dicionário escolar bilíngue português-inglês/inglês-
português na sala de aula de inglês como língua estrangeira. PERcursos Linguísticos, [S. l.],
v. 4, n. 9, p. 9–18, 2014. Disponível em:
<https://periodicos.ufes.br/percursos/article/view/7437>. Acesso em: 23 de mar. de 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Com direito à palavra:
dicionários em sala de aula. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica,
2012.
DURAN, M. S.; XATARA, C. M. A metalexicografia pedagógica. Cadernos de tradução,
Fundación Dialnet, vol. 2, nº. 18, p. 41-66, 2006. Disponível em:
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