Multigeracionalidade no trabalho ensinam a mentoria reversa
Rosângela Moreno
Professora, Palestrante, Consultora de Inovação, Marketing e Inteligência de Mercado
O novo paradigma da sociedade em movimento é entender, quando o mundo do trabalho
mudou e quais desafios desta convivência. Nova era dos porquês, ressignificando colaborações
e mentorias para alinhamento de linguagem e expectativas.
Quando quatro gerações dividem o mesmo escritório, podemos observar um choque geracional
de expectativas e comportamentos. No cenário corporativo contemporâneo, é cada vez mais
comum encontrar equipes formadas por profissionais de diferentes gerações trabalhando lado a
lado. Baby Boomers, Geração X, Millennials e Geração Z compartilham os mesmos ambientes,
desafios e metas, mas nem sempre os mesmos valores, hábitos ou visões de mundo. Essa
convivência, embora enriquecedora, também traz à tona um novo conjunto de desafios: os da
multigeracionalidade no trabalho.
A convivência entre diferentes gerações no ambiente de trabalho pode ser um poderoso motor
de inovação. Quando bem conduzida, essa diversidade amplia perspectivas, une repertórios
distintos e fortalece a capacidade de adaptação das equipes. No entanto, gerir essa pluralidade
exige sensibilidade e intenção. Estilos de comunicação variados, relações distintas com a
tecnologia e expectativas contrastantes sobre carreira e propósito costumam gerar ruídos e
tensões. Profissionais mais experientes, em geral, valorizam estabilidade e estruturas bem
definidas, enquanto os mais jovens priorizam flexibilidade, significado e velocidade. A
verdadeira riqueza desse convívio está na complementariedade das vivências. O desafio e
também a oportunidade é reconhecer que, mesmo em meio a desconfortos e contrastes, pode
surgir um novo território comum: mais colaborativo, criativo e inclusivo. Encontrar o novo
caminho perante as culturas organizacionais talvez seja o novo paradigma da sociedade, e este
entendimento parte desde os processos seletivos.
Em muitos destes processos, é comum encontrar descompassos, se por um lado existem os
principiantes, sem experiência nas funções e qualificações exigidas, do outro estão profissionais
sêniores cujo nível de formação, experiência ou competências pode até superar o escopo da
função disponível. Embora, à primeira vista, isso possa parecer uma vantagem, há uma
resistência velada por parte de algumas empresas, que temem descompasso entre expectativas e
realidade do cargo. Profissionais superqualificados, no entanto, nem sempre buscam ascensão
imediata, muitos enxergam na vaga uma oportunidade estratégica de transição, estabilidade ou
alinhamento de valores. Do outro lado, os profissionais que estão ingressando no mercado de
trabalho trazem consigo uma energia renovada, curiosidade aguçada e grande familiaridade com
tecnologias emergentes. Ainda que careçam de vivência prática, muitos compensam com
agilidade de aprendizagem, abertura para o novo e disposição para construir sua trajetória com
comprometimento, e só precisam de uma oportunidade.
O desafio está em abandonar suposições e abrir espaço para conversas francas, onde se
compreenda o que realmente motiva aquele candidato a se colocar à disposição para uma função
aparentemente aquém do seu perfil técnico, ou acolher talentos em início de carreira com
chances de moldar futuros líderes alinhados à cultura da empresa. O desafio está em oferecer
orientação clara, espaço para experimentação e, principalmente, um ambiente onde o erro
seja compreendido como parte do processo de desenvolvimento.
No ambiente corporativo um dos mais recorrentes atritos entre gerações está ligado à
familiaridade com a tecnologia. Jovens profissionais, que cresceram imersos em ferramentas
digitais, lidam com novas plataformas de forma quase instintiva. Já os colaboradores com mais
tempo de carreira, embora tragam uma bagagem valiosa, muitas vezes precisam de mais tempo
para se adaptar a essas mudanças rápidas o que pode gerar ruídos sutis nas relações: de um lado,
a pressa; do outro, a sensação de inadequação. Para que o ambiente de trabalho multigeracional
seja produtivo e saudável, é necessário promover uma cultura de respeito mútuo e aprendizado
contínuo. Programas de mentoria reversa, em que jovens ensinam habilidades digitais a
colegas mais velhos, promovendo trocas e fortalecendo vínculos entre as gerações. Do outro
lado Também ganha relevância a atuação de lideranças com inteligência emocional e visão
inclusiva.
Apesar dos desafios, a multigeracionalidade pode ser um dos maiores trunfos das empresas no
século XXI. Equipes diversas em idade e experiência têm maior capacidade de inovação,
oferecem múltiplas perspectivas para a resolução de problemas e se conectam melhor com um
público igualmente variado.
O segredo está em deixar de lado estereótipos e promover espaços onde cada geração se sinta
valorizada, não apesar de suas diferenças, mas por causa delas