César Augusto Velloso dos Santos, 2 CC.
Um breve resumo sobre os movimentos musicais brasileiros a partir
da década de 1950.
A arte contempla toda a trajetória da existência humana na terra, sua
espontaneidade permite que a criatividade flua através do subjetivo e do ser,
iluminando e expressando o âmago de uma cultura. Considerando o ser humano
e o fazer arte como uma coisa só, assim como os períodos de evolução e
mudança da humanidade, a arte desenvolveu-se em movimentos que se
tornaram parte da história do mundo e que servem como registro da caminhada
de nossa existência.
A música é uma das formas de expressão da arte, sua capacidade de
comunicação e expressividade coletiva permite facilmente que uma cultura
desenvolva sua própria maneira de fazer música, criando ritmos e variações que
acabam se tornando parte da identidade de todo um povo.
Como um país colonizado, no Brasil a música se desenvolveu por meio
de combinações e transformações da musicalidade de outros povos,
principalmente dos povos negros escravizados, que trouxeram de sua cultura
uma rítmica rica e que hoje podemos considerar a essência da música brasileira.
Neste trabalho será apresentado um relatório sobre os movimentos da
música popular brasileira a partir dos anos 50, revelando a origem das
referências e destacando os principais pontos que identificam cada movimento
da música brasileira.
O samba, a bossa nova e o baião
Antes de toda a variedade de movimentos musicais que surgiram no Brasil
a partir da década de 1950, o samba é o precursor da música popular brasileira,
sendo o principal gênero musical que carrega a identidade brasileira na nossa
cultura. Tendo origem dos ritmos dos povos africanos e do lirismo da música
portuguesa, o samba se consolidou nos anos de 1930 e relevou compositores e
cantores, como Noel Rosa, Vadico, Cartola, Orlando Silva, Aracy de Almeida,
Mário Reis, Nelson Gonçalves, Cyro Monteiro e o considerado “rei da voz”
Francisco Alves, que protagonizaram a considerada “era de ouro” da música
popular brasileira.
Nesse período a chegada do rádio no Brasil e facilidade de comunicação
que o aparelho possibilitava, fez com que o rádio se tornasse o principal veículo
de divulgação da música no Brasil. Durante o processo de popularização e a
oficialização do samba como ritmo nacional, sambistas baianos, cariocas e
paulistas constroem esse rico gênero musical brasileiro que futuramente da lugar
a novos movimentos da música popular brasileira.
Por volta da década de 1940, Luiz Gonzaga, com uma possível referência
dos lundus tocados por violeiros na zona rural do Nordeste, desenvolve o gênero
musical Baião, nome esse que é originário justamente de um modo, também
chamado baião, de tocar a viola.
Já com a vida artística consolidada, foi com o cearense Lauro Maia que
Luiz Gonzaga despontou no baião, nascendo dessa parceria uma das músicas
mais emblemáticas que ironicamente explica o que é o baião em sua letra, a
música também com o nome “Baião”, foi o início do movimento musical que
começou no Nordeste e futuramente ficou conhecido nacionalmente.
Paralelo ao sucesso de Luiz Gonzaga e a música nordestina, na década
de 1950 a Bossa Nova nasce no Rio de Janeiro, trazendo uma nova forma de
fazer samba com o ritmo mais lento e influências da harmonia complexa do jazz.
O gênero musical criado na zona sul do Rio de Janeiro, área nobre da cidade, é
considerado por alguns pesquisadores como o “embranquecimento” do samba.
Com seu auge no final da década de 1950, a bossa nova precede o
consagrado MPB e tem como principais compositores Tom Jobim e Vinicius de
Morais, mas foi o intérprete João Gilberto que protagonizou o movimento musical
e popularizou no país e no mundo a consagrada bossa nova.
Os Festivais Televisivos e a noite de 67
Com a chegada da televisão e após uma maior acessibilidade dessa
tecnologia, como uma sucessora do rádio, a televisão abre novas possibilidades
para os meios de comunicação relacionados a música nacional. Assim surge na
década de 1960 os Festivais Televisivos de Música Popular Brasileira,
idealizados por Solano Ribeiro que se inspirou nos festivais italianos.
Em abril de 1965, foi realizado em São Paulo o primeiro Festival de Música
Popular Brasileira transmitido pela TV Excelsior. Devido ao grande sucesso, a
emissora foi promovida e, no ano seguinte, a segunda competição foi mais uma
vez um sucesso absoluto. A resposta foi tão grande que a TV Records (SP)
também decidiu investir nesse modelo e criou seu próprio festival de música em
1966. Em 1967, o terceiro festival de música popular brasileira foi organizado
pela sua versão mais famosa, também pela TV Excelsior. Vários novos
compositores e intérpretes foram revelados, que acabaram escrevendo a história
da música popular brasileira, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil
e Elis Regina.
Dividida pela torcida para os seus compositores favoritos, a plateia dos
festivais agia como torcidas de futebol na final da copa do mundo, sendo assim
era normal que houvesse vaias, mas também explosões de aplausos. Em um
certo momento, a ferocidade da plateia por desestabilizar os cantores e
compositores que ela não gostasse era tão grande que as vais impediam que a
apresentação acontecesse, um exemplo disso é o caso do cantor Sérgio Ricardo
que ao ceder à raiva pela rejeição da plateia, quebrou seu violão no palco e
abandonou a etapa final do festival da noite de 67.
Mas foi de meio-fraque, violão na mão e a plateia gritando em uníssono
por seu nome, que Edu Lobo marcou a noite de 21 de outubro de 1967 cantando
sua música “Ponteio”, o evento era a etapa final do terceiro Festival de Música
Popular brasileira da TV Record e teve como ganhador o cantor e compositor
Edu Lobo, em primeiro lugar.
Além do sucesso de Edu Lobo, a noite do festival de 67 foi extremamente
importante para a posteridade da música brasileira, porque a partir dali surgiram
novas vertentes musicais decorrentes das influências dos gêneros musicais que
antecederam a era dos festivais e da influência da música internacional, naquele
dia nascia dois principais movimentos da música brasileira, a Tropicália com
Gilberto Gil e Caetano Veloso, e a Jovem Guarda com Roberto Carlos, Erasmo
Carlos e Wanderléa.
O Clube da Esquina
Considerado um movimento musical que inovou o cenário da música
brasileira e que marcou o estado de Minas Gerais e sua cultura na MPB, Clube
da Esquina é um álbum duplo de criação coletiva, tendo à frente Milton
Nascimento e Lô Borges como autores principais. O movimento reuniu músicos
de diferentes vertentes musicais que se complementavam, permitindo assim que
o álbum ganhasse sonoridades influenciadas não só pela cultura brasileira, mas
também de várias partes do mundo.
O movimento musical Clube da Esquina composto por músicos mineiros
recebe esse nome por causa do encontro desses mesmos músicos, quando
ainda meninos, na esquina em que morava Milton Nascimento e os irmãos
Borges (Lô Borges e Marcio Borges). Milton conta que naquela época eles não
tinham dinheiro para frequentar os clubes para desfrutar do entretenimento que
o estabelecimento oferecia, então os meninos confraternizavam ali na esquina
mesmo, tocando e criando músicas, foi então que surgiu o Clube da Esquina.
O Clube da Esquina tem como integrantes: Milton Nascimento, Lô Borges,
Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Beto Guedes, Toninho Horta, Wagner Tiso e
outros músicos que contribuíram para o desenvolvimento do movimento.