A Argumentação Na Redação Académica
A Argumentação Na Redação Académica
Resumo:
Claudia Helena Alvarenga
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil O artigo examina os esquemas argumentativos utilizados na
[email protected] redação académico-científica, com ênfase nas dificuldades
https://orcid.org/0000-0002-6984-6069 enfrentadas por estudantes iniciantes na pós-graduação
para a construção de argumentos eficazes e razoáveis no
Fecha recepción: 04/03/2025 contexto académico, particularmente nas ciências sociais
Fecha aceptación: 13/05/2025 e humanas. Reconhece-se que a formação de futuros
investigadores exige o desenvolvimento de uma escrita
Financiación: este trabajo no ha recibido adequada ao auditório de cientistas, envolvendo a conjunção
financiación. da retórica, da dialética e da demonstração científica. Neste
contexto, a análise proposta fundamenta-se nos pressupostos
Conflicto de intereses: la autora declara da Retórica, especialmente da Nova Retórica, redefinida a
que no hay conflicto de intereses. partir de meados do século XX pelos trabalhos pioneiros de
Perelman e Olbrechts-Tyteca. Esta análise é complementada
pelo conceito de slogan, conforme Olivier Reboul, e pela
abordagem da Psicologia Discursiva, conforme Michael
Billig. O corpus discursivo selecionado para análise é fictício
Licencia: este trabajo se comparte bajo e tem carácter ilustrativo, ou seja, não é extraído diretamente
la licencia de Atribución-NoComercial- de produções académicas autênticas de pós-graduandos
CompartirIgual 4.0 Internacional de Creative iniciantes. Em conformidade com os princípios éticos que
Commons (CC BY-NC-SA 4.0): https:// regem este estudo, de modo a preservar identidades e evitar
creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/ citações diretas, os enunciados foram construídos com base
em padrões típicos encontrados em textos de investigadores
© 2025 Claudia Helena Alvarenga iniciantes. O propósito é evidenciar os raciocínios recorrentes
e esclarecer o que se considera persuasivo no contexto da
comunicação académica. Entre as estratégias discursivas
destacam-se os argumentos de autoridade, as figuras da
presença e da comunhão, e a ocultação de atores sociais.
Em suma, o artigo busca oferecer subsídios para aprimorar
a escrita académica e fortalecer a argumentação de pós-
graduandos em formação, especialmente na área de ciências
sociais e humanas, considerando a sua atuação como futuros
pesquisadores.
1. INTRODUÇÃO
Sendo assim, seja no campo das ciências ou em qualquer outra situação comunicativa,
os nossos argumentos devem ser convincentes porque devem ser verdadeiros para as diver-
sas situações de interlocução. Igualmente, no campo das ciências, quando se escreve ou fala,
supomos um leitor ou ouvinte, no caso, os especialistas, os cientistas e investigadores, que
representam o ethos da comunidade científica. Como destacam Perelman e Olbrechts-Tyteca
(2005: 19), «não basta falar e escrever, cumpre ainda ser ouvido, ser lido», de modo que toda
a argumentação tem por finalidade alcançar a adesão daqueles a quem se dirige — o auditório.
Esclarecemos que este artigo não se ocupa dos procedimentos metodológicos e teóricos
envolvidos na construção de um problema de pesquisa, nem se propõe a avaliar o conteúdo
dos textos analisados. Aqui focalizam-se os raciocínios apresentados ao assentimento do au-
ditório, isto é, os vínculos que pós-graduandos novatos, como oradores, estabelecem entre
determinados enunciados, quando propõem projetos, estudos e artigos. As conclusões ou
relações afirmadas podem estar fundamentadas em razões, ou ponderações, que se mostram
inadequadas, seja pela escolha de certas premissas, seja pelo modo como são apresentadas
num texto científico enquanto discurso (argumento).
Aristóteles (2011) define três categorias como meios para a persuasão: orador (ethos) e
o seu caráter, que condensa uma dimensão social, uma vez que se acredita mais integral-
mente em pessoas que se avalia de boa índole do que em pessoas que não se sabe quem
são; o auditório (pathos) e a sua disposição de espírito a partir da interação emocional e
afetiva com o discurso que lhe é endereçado pelo orador; e o discurso (logos), concebido
em todas as modalidades de expressão (texto, imagem, gesto, fala, etc.), que opera como
demonstração, no sentido de que busca a verdade de uma argumentação persuasiva.
interlocução que tratam da verdade1 pelo que se considera persuasivo, descritos por Wolff
(1995): a retórica, a dialética e a demonstração científica.
A dialética trata do debate entre poucos (ainda que seja público), ou seja, é a técnica da
disputa, da polémica que se estabelece entre pares ou especialistas, aqueles que têm conhe-
cimento equivalente a respeito de um tema. Aristóteles (2011) define a retórica como com-
plementar à dialética, pois na comunicação, os interlocutores utilizam-se da dialética e da
retórica, visto que «em uma certa medida, todos procuram discutir e sustentar teses, realizar
a própria defesa e a acusação dos outros» (Aristóteles, 2011: 39). Tanto na retórica quanto
na dialética, o discurso como meio de persuasão parte dos enunciados (premissas) colocados
por raciocínios indutivos (exemplos) ou dedutivos. Na retórica, os enunciados se sustentam
no que se considera razoável e verosímil. Na dialética, as declarações apoiam-se na endoxa,
ou seja, no conjunto de premissas não ambivalentes e socialmente admitidas. O debate dialé-
tico visa contestar a afirmação do interlocutor para colocá-lo em contradição (Wolff, 1995).
1. Segundo Wolff (1995), a verdade é produzida na argumentação situada em contextos sociais. Legitima-se
pelo acordo intersubjetivo, no que é admitido entre interlocutores, e não propriamente por evidências em-
píricas diretas.
3. ARGUMENTOS DE AUTORIDADE
(Perelman & Olbrechts-Tyteca, 2005: 351).2 Neste caso, a reputação do autor torna as
palavras que escreve não apenas inquestionáveis, mas também objeto de todo o tipo de
apropriação por iniciantes na pós-graduação. No campo da educação, por exemplo, alguns
autores são citados para referendar argumentos de toda a espécie, em temas que abrangem
um amplo espectro: ensino à distância, inclusão, uso de tecnologias, gestão educacional,
entre outros. Neste caso, a autoridade se aproxima de um estatuto divino, tal qual um
valor universal cuja função é reger acordos mais abrangentes ou genéricos (Perelman &
Olbrechts-Tyteca, 2005).
Nesta situação, destacamos as citações de Paulo Freire, reconhecido como um dos mais
importantes educadores na história da pedagogia, frequentemente mencionadas por pós-gra-
duandos iniciantes. Por exemplo: «[...] ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém
se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo» (Frei-
re, 1983: 79); «ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção» (Freire, 2015: 48), entre tantas outras citações. A
alusão a certos autores pretende muitas vezes apenas impactar, apoiando-se no prestígio que
o autor tem, e pouco contribui para fortalecer a argumentação das questões de estudo, em
muitos casos. O uso do argumento de autoridade também aciona os clichés, o que explica-
remos mais adiante acerca dos objetos de acordo, e das figuras da presença e da comunhão.
2. As diferenças de grafia e estilo nas citações da obra de Perelman e Olbrechts-Tyteca devem-se à utili-
zação da tradução brasileira do Tratado da argumentação: a nova retórica.
3. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão federal brasileiro,
vinculado ao Ministério da Educação no Brasil. Em: https://www.gov.br/inep/pt-br (acesso: 13/12/2024).
sem indicar exatamente qual; «dados do IBGE4 indicam que [...]» — mas não se sabe o ano, o
leitor não tem acesso à hiperligação com informações e os parâmetros da pesquisa não são des-
critos. Em situação mais grave, a fonte é efetivamente anónima, como: «estudos buscam anali-
sar [...]» ou «pesquisas indicam que [...]», ou ainda, «alguns autores analisados afirmam [...]».
Em outras ocasiões, com outro exemplo hipotético, os dados numéricos podem aparecer
adjetivados: «nesse ano, apenas (grifo nosso) 32% dos professores frequentaram cursos de for-
mação continuada [...]». Supondo que no ano anterior, na mesma situação, o dado informasse
10%, a comparação permitiria afirmar que houve um aumento expressivo, não cabendo o
termo apenas antes da percentagem. Assim, é razoável afirmar que os números e as medidas
não podem ser apresentados de modo absoluto ou conforme juízos de valor. Quem escreve
precisa apresentar todo o contexto da informação, oferecendo ao leitor a oportunidade de de-
duzir a partir dos dados. Portanto, ao adjetivar números sem apresentar as premissas da sua
conclusão, o orador estabelece as inferências na direção em que ele deseja conduzir o inter-
locutor, o que não é persuasivo no ambiente científico, que se insere no quadro da dialética.
Por fim, o argumento de autoridade pode e deve ser utilizado em benefício da credi-
bilidade do orador e do argumento dirigido ao auditório. Para construir um problema de
Neste sentido, é razoável afirmar que o preferível tem o mesmo estatuto do real, uma vez
que um valor é um facto para aquele que o enuncia, não sendo possível ignorá-lo. Perelman e
Olbrechts-Tyteca (2005: 84) reiteram:
Reboul (1984) também analisa os clichés e distingue-os dos slogans, evidenciando os usos
de ambos na educação, o que denominou retórica abreviada. A diferenciação entre cliché e
slogan pode ser subtil. Segundo Reboul (1984), os clichés costumam se valer de expressões
habituais, previsíveis, expressas em valores comuns, enquanto o slogan tem um contorno
provocador, e pode gerar algum espanto pela combinação singular de palavras como, por
exemplo, em «saber aprender» [«savoir apprendre»] ou «aprender a aprender» [«apprendre
à apprendre»]. Reboul (1984) tipifica os slogans marcando cinco características: (1) é anóni-
mo, o que intensifica a sua força retórica por ser aquilo que sempre foi e que todos sabem;
(2) não aparenta ser o que é, tal como o cliché cuja eficácia está em passar despercebido; (3)
é controverso, ao estimular a adesão a uma causa em contraposição à outra; (4) é conciso,
sumário, e permite agregar inúmeros significados; (5) visa impactar mobilizando os afetos.
5. Conforme a ortografia do português no Brasil, o termo facto se grafa fato, e o vocábulo fenómeno tem
acento circunflexo em vez de acento agudo.
Ao tratar dos objetos de acordo, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) ainda destacam que
a escolha do que é apresentado como ponto de partida alicerça, em grande parte, toda a
argumentação. «Mas essa escolha também predomina nos debates científicos: escolha dos
fatos julgados relevantes, escolha das hipóteses, escolha das teorias que se acreditará dever
confrontar com os fatos, escolha dos próprios elementos que constituem fatos. O método de
cada ciência implica uma escolha [...]» (Perelman & Olbrechts-Tyteca, 2005: 132).
O relevo dado a certas narrativas e a ênfase em determinadas informações são meios para
valorizar enunciados, garantindo o efeito da presença pela amplificação do discurso. A noção
da presença não tem caráter propriamente ontológico, mas se vincula ao que o orador elege
para escrever ou falar e à forma como o faz. Os recursos de amplificação, a partir de racio-
cínios bilaterais (que apresentam controvérsias), podem ser utilizados pelos estudantes de
pós-graduação no sentido de destacar as questões de estudo. Os conteúdos polémicos e anta-
gónicos que suscitam um problema de pesquisa podem ser amplificados desde que se evitem
os expedientes que apelam aos afetos e ao uso de clichés, que defendam uma causa a priori e
adotem uma argumentação unilateral.
Os significados matizados na repetição podem ser apresentados por meio das diferentes
técnicas argumentativas (tautologia, metáfora, argumento quase-lógico, hipotipose, hipérbo-
le, etc.). Aqui focalizam-se os traços da amplificação que devem ser evitados na composição
dos documentos académico-científicos, pois se aproximariam da linguagem dos slogans e cli-
chés. Para tal, examinamos duas figuras recorrentes nos textos de pós-graduandos iniciantes,
especialmente nas ciências sociais e humanas: a hipotipose e a hipérbole.
Reboul (2004: 136) define a hipotipose como a figura mais veemente, pois «consiste em
pintar o objeto de que se fala de maneira tão viva que o auditório tem a impressão de tê-lo
diante dos olhos. A sua força de persuasão provém do fato de que ela “mostra” o argumento,
associando o pathos ao logos». Este recurso retórico da presença e comunhão costuma apa-
recer nas narrativas dos estudantes de pós-graduação em início de formação ao descreverem
as suas experiências pessoais nos seus ambientes profissionais, mescladas com impressões
como justificativas para a relevância da pesquisa. Segue um exemplo fictício para ilustrar a
hipotipose: «enquanto profissional da educação, vivencio o quotidiano precário da educação
escolar com salas de aula deficientes, aulas geralmente suspensas [...]». A hipotipose susten-
ta-se na descrição de eventos com evocação de certos detalhes para torná-los visíveis e pre-
sentes, visto que a exposição pormenorizada pretende alcançar a adesão do interlocutor pela
mobilização dos afetos.
Além destes relatos minuciosos, certas expressões de uso recorrente caracterizam o recur-
so à hipotipose ao convocar o interlocutor como espetador de um facto: «como se sabe [...]»;
«conforme já amplamente discutido na área [...]»; «como se observa [...]». Estas expressões
identificam-se com os clichés pelo anonimato das proposições que se julgam de conhecimen-
to público.
Outra figura que prepara a presença e a comunhão é a hipérbole. Segundo Reboul (2004:
123), a hipérbole pode ser definida como «a figura do exagero», por expressar o que se julga
indizível porque seria tão benéfico ou tão maléfico, tão grande ou tão pequeno que é, para
o orador, indescritível. Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) examinam a hipérbole no âmbito
dos argumentos baseados em crenças e juízos de valor (argumentos baseados na estrutura do
real), especificamente nos argumentos de superação que buscam apresentar os passos crescen-
tes em direção a certos valores. Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) categorizam as hipérboles
em duas espécies: amplificação e atenuação.
Desta maneira, os termos que recorrem a excessos são inadequados como recurso argumen-
tativo para um texto no âmbito académico-científico, por exemplo: «é de suma importância
[...]», «há a necessidade urgente de [...]», «dados extremamente relevantes indicam [...]»,
«é inevitável [...]», «é inegável [...]» e «é inconcebível [...]», entre outros. Estes termos acionam
igualmente os clichés, que se conjugam aos discursos que visam incitar à ação, próprios dos
manifestos. Por fim, importa esclarecer que a hipérbole, como figura do exagero, não encerra
uma mentira, mas tem uma função semântica ao expressar o que se considera, de algum modo,
indefinível (Reboul, 2004).
Na sequência, passamos ao último item, que será examinado pelas proposições no campo
da Psicologia Discursiva de Michael Billig: a escrita baseada em substantivos e a ocultação
dos sujeitos.
Segundo Billig (2013), ao descrever as dinâmicas sociais e as ações dos sujeitos, os pes-
quisadores nas ciências sociais e humanas tendem a substituir o verbo que define as ações
dos grupos por substantivos ou palavras substantivadas. Este uso da linguagem tem desdo-
bramentos, como explica Billig (2013: 7): «o problema é que quando usamos estilos basea-
dos em substantivos nas ciências sociais, nós corremos o risco de transformar retoricamente
as pessoas em coisas — de reificar as pessoas».6
Isso significa que a substantivação não propicia uma narrativa mais precisa acerca de
como agem os atores sociais, pois estas ações, enquanto fenómenos estereotipados, são ma-
terializadas, e os atores sociais, consequentemente, ocultados. Billig (2013) menciona alguns
exemplos de ações substantivadas que, uma vez “entificadas”, transformam-se em conceitos,
dissociados da sua génese, que descreveria uma ação dos sujeitos. Por exemplo, na Psicologia
Social, os pesquisadores utilizam o termo «categorização» [«categorization»] em vez de «as
pessoas categorizam» [«people categorize»] (Billig, 2013: 183) ou «desindividuação» [«dein-
dividuation»] em vez de «estar num estado de espírito de não se sentir um indivíduo que os
outros possam reconhecer» (Billig, 2013: 182).7
Assim, muitos conceitos nas ciências sociais e humanas constituem ações transmutadas
em coisas. Este procedimento linguageiro contribui para uma análise estática dos movimen-
tos de indivíduos e grupos sociais, ocultando quem faz e a respeito do que age. Avançando
6. «The trouble is that when we use noun-based styles in the social sciences, we run the risk of rhetorica-
lly turning people into things — of reifying people» (Billig, 2013: 7, tradução própria).
7. «[...] being in a state of mind of not feeling oneself to be an individual whom others might recognize»
(Billig, 2013: 182, tradução própria).
na análise, identifica-se outro uso da linguagem cujo efeito também propicia a invisibilização
dos atores sociais.
A ocultação dos sujeitos parece estar ainda mais entranhada no vocabulário das ciên-
cias sociais e humanas, quando, frequentemente, os sujeitos da ação são substituídos por
instituições e entidades de toda a espécie, de modo que não sabemos exatamente quem
assume o papel de agente. Seguem enunciados comummente encontrados, por exemplo,
na área da educação:
Nestes registos, as instituições, o currículo escolar e a escola são tratados como pessoas, de-
sempenhando funções humanas e ofuscam os sujeitos que as realizam. Em «é competência
da escola selecionar [...] estratégias educativas», por exemplo, não fica claro se seriam os pro-
fessores, os coordenadores, os administradores, ou se existiria uma ação conjunta de diferen-
tes atores sociais da comunidade escolar. A mesma apreciação se ajusta às demais afirmações.
Neste caso, não há propriamente ações substantivadas, como foi descrito anteriormente.
Trata-se de um caso de personificação, na medida em que a argumentação humaniza coisas,
delineando características humanas para as instituições ao descrever uma natureza intrínseca,
uma identidade para garantir uma unidade. A personificação é uma «figura argumentativa [que]
permite estabilizar os contornos do grupo, lembrar a sua coesão» (Perelman & Olbrechts-
Tyteca, 2005: 377). Neste caso, a personificação é, de facto, uma prosopopeia,8 pois a escola e
outras instituições são sujeitos ativos e influentes.
8. «A personificação será frequentemente enfatizada pelo emprego de outras figuras. Pela apóstrofe nós
nos dirigiremos ao que é personificado e, assim, tornado capaz de ser tomado como ouvinte; pela prosopo-
peia, faremos dele um sujeito discursante e atuante» (Perelman & Olbrechts-Tyteca, 2005: 377).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta exposição teve o objetivo de explicitar algumas estratégias argumentativas que me-
lhor contribuem para um raciocínio persuasivo na esfera académica. A persuasão não ocorre
pela força dos argumentos em si, mas pelo que se admite como verdadeiro nos contextos dis-
cursivos. Isto exige o conhecimento do auditório ao qual o discurso se destina, no caso em
questão, o auditório de especialistas.
Assim, foram analisadas questões relacionadas com a escolha dos elementos do discurso e
a sua adequação à argumentação na esfera académica. As escolhas discursivas do orador não
são neutras e influenciam as bases da argumentação, cujos pressupostos orientam o discurso
conforme determinados objetivos. Essas escolhas fundamentam a argumentação, direcionan-
do para os objetos de acordo, que se sustentam nas figuras da presença e da comunhão, bem
como nos argumentos de autoridade, entre outros expedientes que, pela sua extensão, não
cabe examinar neste artigo.
Por fim, esta análise poderia estender-se à investigação de outras técnicas discursivas,
como os raciocínios falhos ou falácias. No entanto, acreditamos que o exposto seja suficiente
para este momento. Outras ampliações poderão ser tema para um próximo artigo.
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