Aula 16 – Uso da Força 2: O Conselho de Segurança da ONU
O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) é o órgão central da ONU
responsável pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Sua atuação
se dá com base no Capítulo VII da Carta da ONU, que lhe confere poderes para
identificar ameaças à paz, rupturas da paz ou atos de agressão, e adotar medidas
coercitivas, inclusive o uso da força. Um exemplo recente é a Resolução 2699
(2023), que autorizou uma Missão Multinacional de Apoio à Segurança no Haiti,
reconhecendo a crise no país como uma ameaça à estabilidade regional. Essa
resolução permitiu aos Estados participantes tomar “todas as medidas necessárias”,
autoriza o uso da força armada, desde que em conformidade com o direito
internacional, incluindo o direito internacional dos direitos humanos.
O CSNU é composto por 15 membros, sendo cinco permanentes com poder de veto
(EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) e dez membros rotativos eleitos pela
Assembleia Geral. Para que uma resolução substancial seja aprovada, são
necessários nove votos favoráveis, incluindo os cinco permanentes, o que significa
que qualquer voto negativo de um membro permanente impede a adoção da
medida. Esse mecanismo de veto é frequentemente criticado por paralisar o
Conselho em situações de grave crise humanitária ou conflito armado.
As medidas adotadas pelo CSNU podem ser não coercitivas, como sanções
econômicas, diplomáticas ou restrições de viagens (Art. 41), ou coercitivas, como
intervenções militares (Art. 42). A ONU também pode autorizar missões de paz, que
se dividem em três categorias: peacekeeping (manutenção da paz com
consentimento das partes), peace enforcement (imposição da paz com uso da força)
e peacebuilding (reconstrução institucional e social pós-conflito). Apesar de seu
poder, o CSNU está sujeito a limites jurídicos, como as normas de jus cogens e os
princípios da Carta da ONU. Além disso, decisões do Conselho podem ser objeto de
controle judicial indireto, como demonstrado no caso Kadi, julgado pelo Tribunal de
Justiça da União Europeia, que limitou a aplicação de sanções da ONU por violarem
direitos fundamentais.
Aula 17 – Direito Diplomático e Consular
Suas principais fontes são a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas
(1961) e a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (1963).
Um dos pilares do direito diplomático é a inviolabilidade das missões diplomáticas
(Art. 22 da CVRD), que impede que agentes do Estado receptor ingressem nas
embaixadas sem consentimento. Os diplomatas gozam de imunidade penal, civil e
administrativa (Art. 31), o que significa que não podem ser processados
judicialmente pelo Estado receptor, salvo em casos excepcionais. O Estado anfitrião
pode, no entanto, declarar um diplomata como persona non grata (Art. 9), obrigando
sua retirada sem necessidade de justificativa.
Aula 17 (continuação) – Direito Internacional dos Direitos Humanos
A consolidação do DIDH se deu com os Pactos de 1966: o Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC). Esses tratados, vinculantes, detalham
os direitos fundamentais e estabelecem mecanismos de monitoramento, como o
Comitê de Direitos Humanos da ONU, que pode receber denúncias individuais. O
sistema global é complementado por sistemas regionais, como o europeu, o
africano e o interamericano.
Aula 18 – Corte Internacional de Justiça (CIJ)
A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judicial da ONU, com sede em
Haia. Composta por 15 juízes eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de
Segurança, a CIJ tem competência para resolver disputas jurídicas entre Estados
(jurisdição contenciosa) e emitir pareceres consultivos a pedido de órgãos da ONU
(jurisdição consultiva). A Corte só pode julgar Estados, não indivíduos ou
organizações.
A jurisdição contenciosa da CIJ pode ser aceita por cláusula compromissória em
tratados, por acordo posterior entre as partes, por declaração de aceitação da
jurisdição obrigatória (Art. 36.2 do Estatuto da CIJ) ou por forum prorrogatum. O
processo judicial na CIJ segue fases escritas e orais, e a Corte pode emitir medidas
provisórias para proteger direitos em risco. Suas decisões são vinculantes apenas
para as partes envolvidas, mas têm grande autoridade moral e jurídica.
Aula 20 – Organizações Internacionais
As organizações internacionais (OIs) são sujeitos de direito internacional criados por
tratados entre Estados, com personalidade jurídica própria e competências limitadas
aos seus objetivos fundacionais. A Opinião Consultiva da CIJ sobre Reparações
(1949) reconheceu a ONU como sujeito de direito internacional, capaz de
apresentar reclamações e celebrar tratados.
O princípio da especialidade rege as OIs: elas não têm soberania, mas apenas os
poderes necessários para cumprir suas funções. Esses poderes podem ser
expressos ou implícitos, como o poder de celebrar tratados, fazer reclamações,
possuir bens e criar tribunais administrativos. As OIs também produzem normas, por
meio de resoluções, declarações e recomendações, que podem influenciar o
costume internacional e a interpretação de tratados.
Aula 21 – Responsabilidade Internacional dos Estados
Não é necessário que haja dano material para que a responsabilidade se configure
— a simples violação da norma já é suficiente.
Os efeitos da responsabilidade incluem a obrigação de cessar o ato ilícito, garantir
sua não repetição e reparar os danos causados. A reparação pode assumir três
formas: restituição (retorno ao status quo ante), indenização (compensação
financeira) e satisfação (reconhecimento da violação, desculpas formais, etc.).
Existem também circunstâncias que excluem a ilicitude do ato, como o
consentimento do Estado lesado, a legítima defesa, as contramedidas, a força
maior, o perigo extremo e o estado de necessidade. No entanto, essas excludentes
não se aplicam a violações de normas de jus cogens, como a proibição da tortura ou
do genocídio.
A responsabilidade pode ser invocada tanto por Estados diretamente lesados
quanto por terceiros, em casos de obrigações erga omnes (devidas à comunidade
internacional como um todo), como no caso da proibição da escravidão ou da
agressão. A jurisprudência da CIJ, como nos casos das Atividades Armadas no
Congo e dos Reféns em Teerã, ilustra a aplicação prática desses princípios.
Aula 22 – Sistema Interamericano de Direitos Humanos
Sua base normativa é a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH),
também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, ratificada pelo Brasil
em 1992. O sistema é composto por dois órgãos principais: a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com funções de promoção e
supervisão, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CtIDH), com
competência contenciosa e consultiva.
A CADH estabelece obrigações claras aos Estados Partes, como o dever de
respeitar e garantir os direitos nela previstos (Art. 1) e de adotar medidas legislativas
e administrativas para sua efetivação (Art. 2). Os direitos protegidos vão desde o
direito à vida e à integridade pessoal até direitos políticos, liberdade de expressão e
proteção judicial. O sistema permite a apresentação de petições individuais por
qualquer pessoa ou grupo que alegue violação de direitos, desde que esgotados os
recursos internos.
Um dos conceitos mais inovadores da jurisprudência da CtIDH é o controle de
convencionalidade, que obriga os juízes nacionais a interpretar e aplicar o direito
interno em conformidade com a CADH e a jurisprudência da Corte.
Aula 23 – Direito Internacional Ambiental
Ele se estrutura em torno de princípios fundamentais, como o da prevenção, da
precaução, do desenvolvimento sustentável, da responsabilidade comum porém
diferenciada, do poluidor-pagador e da equidade intergeracional. Esses princípios
foram consagrados em documentos como a Declaração de Estocolmo (1972), a
Declaração do Rio (1992) e o Acordo de Paris (2015).
O princípio da prevenção impõe aos Estados o dever de evitar danos ambientais
significativos, inclusive além de suas fronteiras, como reconhecido no caso Trail
Smelter (EUA v. Canadá). Já o princípio da precaução permite a adoção de medidas
protetivas mesmo na ausência de certeza científica, sendo essencial em temas
como mudanças climáticas e biotecnologia. O desenvolvimento sustentável busca
equilibrar crescimento econômico, justiça social e proteção ambiental.
Apesar da importância crescente, o Direito Internacional Ambiental ainda é marcado
por uma predominância de normas de soft law, ou seja, não vinculantes. A
implementação dos tratados ambientais depende de mecanismos de
monitoramento, como relatórios periódicos e conferências das partes (COPs).
Aula 24 – Direito Penal Internacional e o Tribunal Penal Internacional (TPI)
Sua consolidação se deu após os julgamentos de Nuremberg e Tóquio, e foi
reforçada com a criação dos tribunais ad hoc para a Ex-Iugoslávia e Ruanda. O
marco definitivo foi o Estatuto de Roma (1998), que criou o Tribunal Penal
Internacional (TPI), com sede em Haia e jurisdição sobre os crimes de genocídio,
crimes contra a humanidade, crimes de guerra e, mais recentemente, o crime de
agressão.
O TPI é um tribunal de natureza complementar, ou seja, só atua quando os Estados
não têm vontade ou capacidade de investigar e julgar os crimes. Sua jurisdição é
limitada aos Estados Partes ou a situações encaminhadas pelo Conselho de
Segurança da ONU. O Estatuto de Roma consagra garantias processuais
fundamentais, como o princípio da legalidade, a presunção de inocência e o direito à
ampla defesa. A responsabilidade penal é individual e pode alcançar chefes de
Estado, como previsto no Art. 27, que afasta imunidades.
Regimes de Imunidades
A imunidade dos Estados baseia-se no princípio par in parem non habet imperium
(iguais não têm jurisdição entre si) e distingue entre atos de soberania (jure imperii),
que são protegidos, e atos comerciais (jure gestionis), que não gozam de
imunidade.
As organizações internacionais gozam de imunidade funcional, necessária para o
desempenho de suas funções, conforme previsto em tratados como a Convenção
sobre Privilégios e Imunidades da ONU (1946). Essa imunidade, no entanto, tem
sido questionada em casos de violações de direitos humanos, como no caso da
cólera no Haiti.
Os diplomatas e cônsules têm imunidades amplas, reguladas pelas Convenções de
Viena de 1961 e 1963, que garantem a inviolabilidade pessoal, das missões e dos
bens. Essas imunidades podem ser renunciadas apenas pelo Estado acreditante.
Por fim, a imunidade de chefes de Estado é relativizada no contexto de crimes
internacionais, como demonstrado no caso Pinochet (Reino Unido, 1998), em que
se reconheceu a possibilidade de responsabilização por crimes de tortura, mesmo
durante o exercício do cargo.
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