Avaliações Psicológicas para
Orientação Profissional e de
Carreira
PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL, SEM AUTORIZAÇÃO.
Lei nº 9610/98 – Lei de Direitos Autorais
2
De forma sucinta, a Orientação Profissional pode ser definida como um conjunto de
técnicas e práticas que tem por objetivo auxiliar indivíduos na busca por uma profissão
que seja alinhada a seus interesses pessoais, aptidões e habilidades. Em relação aos
marcos históricos da Orientação Profissional, Melo-Silva, Lassance e Soares (2004)
ressaltam a importância da criação do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em 1924,
bem como do primeiro serviço público estadual de Orientação Profissional em 1931, e da
obrigatoriedade da Orientação Educacional nas escolas, instituída em 1942. Frisam
também o desenvolvimento da Orientação por meio do SENAI (Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial) em 1942 e pelo SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial), em 1946.
Em 1947, com a criação do Instituto Nacional de Seleção e Orientação Profissional (ISOP),
no Estado do Rio de Janeiro, foi possível pela primeira vez publicar artigos científicos sobre
Psicologia Aplicada através da revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, fato que muito
ajudou no desenvolvimento dos estudos teóricos acerca da Orientação Profissional. As
autoras (MELO-SILVA, LASSANCE & SOARES, 2004) destacam ainda o histórico profissional
do psicólogo e médico espanhol Emilio Mira y López, pois foi uma figura cujo trabalho
influenciou muito os estudos acerca do tema no Brasil. O ISOP esteve sob a direção do
médico por 17 anos, e ele também atuou como pesquisador e psicólogo na USP, no
Ministério da Educação, no Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), no
SENAI e na Divisão de Ensino e Seleção da Estrada de Ferro Sorocabana. Ainda com a
intenção de construir uma retrospectiva histórica, as autoras (MELO-SILVA, LASSANCE &
SOARES, 2004) apontam para a criação de cursos de psicologia a partir da
institucionalização da profissão psicólogo em 1962, bem como para a criação da
Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) em 1993, como marcos para a
oferta de Orientação Profissional qualificada no Brasil e para o desenvolvimento e
divulgação da Orientação Profissional de forma científica.
De modo a concluir essa brevíssima análise histórica, é importante ressaltar que, em seus
primórdios (entre os anos 1930 e1960), a aplicação da Orientação Profissional pertencia
exclusivamente à área da Educação e era destinada aos filhos da classe trabalhadora,
enquanto as crianças da elite estudavam em escolas secundárias. (MELO-SILVA,
LASSANCE & SOARES, 2004). Atualmente, a Orientação profissional é analisada e
desenvolvida sob três óticas diferentes na psicologia: “(1) da Psicologia do Trabalho,
vinculada à Seleção de Pessoal, cujas intervenções centraram-se na modalidade
estatística; (2) da Psicologia Educacional, centrando-se na questão da passagem de um
ciclo educativo a outro; e (3) do Aconselhamento, focalizando determinadas crises
evolutivas no ciclo vital” (MELO-SILVA; LASSANCE; SOARES, 2004, p.34). As intervenções
da Orientação Profissional e de Carreira, portanto, variam muito de acordo com a
necessidade do paciente ou contratante do serviço, pois podem ser necessárias em
diversos contextos e momentos da vida de cada indivíduo.
Conforme Barros e Ambiel (2020), o uso de ferramentas psicológicas variadas no processo
de Orientação Profissional faz parte de uma prática estândar desde o surgimento do
campo e, com o tempo, se complexificou pelo alargamento de arcabouço teórico e de
forma a acompanhar as transformações sociais e no mundo do trabalho; “Assim, muda-se
o foco do instrumento utilizado como um fim (avaliação centrada no resultado da
testagem) e passa-se a compreendê-lo e utilizá-lo como um meio (avaliação centrada no
3
processo).” (BARROS; AMBIEL, 2020, p. 3). Os principais testes de Orientação Profissional
disponíveis atualmente no mercado são: Escala de Maturidade para a Escolha Profissional
– EMEP, Avaliação de Interesses Profissionais – AIP, Escala de Aconselhamento Profissional
– EAP, Jogo – Critérios para Escolhas Profissionais, Teste das Dinâmicas Profissionais – TDP.
Nesta unidade, tratamos mais especificamente do EAP e do Quati para a realização deste
processo, contudo, destaca-se a liberdade doe cada profissional para escolher os
instrumentos que deseja utilizar em seu trabalho.
Escala de Aconselhamento Profissional – EAP
Caio Cesar Rodrigues Toledo (2008, p. 451) explicita que o objetivo do EAP é “avaliar as
preferências por atividades profissionais”. O teste é destinado a jovens e adultos a partir
dos 17 anos e funciona da seguinte maneira: possui 61 questões, que devem ser
respondidas de acordo com intensidade, de 1 a 5, de acordo com o quanto a pessoa
examinada gostaria de realizar as atividades descritas. Sua aplicação pode ser feita
individual ou coletivamente, não há limite de tempo para sua realização e a correção é
feita de forma manual.
O instrumento apresenta sete dimensões: ‘Ciências Exatas’, ‘Artes e Comunicação’,
‘Ciências Biológicas e da Saúde’, ‘Ciências Agrárias e Ambientais’, ‘Atividades
Burocráticas’, ‘Ciências Humanas e Sociais Aplicadas’ e ‘Entretenimento’.
A primeira busca avaliar interesses por tarefas mais concretas e relacionadas à tecnologia,
como produzir equipamentos e programas de computador. O segundo aspecto considera
atividades de cunho criativo, como escrever textos e desenhar. A terceira dimensão
avalia o desejo pelo cuidado de pessoas e o trabalho de pesquisa, como investigar a causa
de doenças e realizar cirurgias. O quarto fator avaliado pelo teste é referente à vontade
em trabalhar com o meio ambiente, em espaços abertos e realizando atividades
concretas, como lidar com lavouras e gado. (TOLEDO, 2008).
O quinto aspecto agrupa questões relacionadas ao cuidado organizacional, como
intermediar empresas e empregados. A sexta dimensão foca na vontade de aprender
sobre os problemas sociais e o interesse por trabalhar com a assistência social. O último
fator avalia o interesse por entreter pessoas, seja por meio da organização de eventos,
performances, atividades relacionadas ao turismo ou outros meios (TOLEDO, 2008). A
partir das respostas a esse conjunto de questões que abordam as mais diversas áreas, o
profissional poderá realizar um trabalho a partir das informações reunidas que visa auxiliar
o orientando em suas escolhas.
QUATI – Questionário de Avaliação Tipológica
O questionário QUATI é realizado a partir de 90 questões, que são divididas em 6 tipos de
situações cotidianas. A pessoa avaliada deve escolher, dentre as 15 questões de cada
situação, as que mais se aproximam do seu comportamento. Embasado nos tipos
psicológicos de Carl Jung, o objetivo do teste é avaliar a personalidade do orientando
qualitativa e quantitativamente, a partir das questões escolhidas (ZACHARIAS, 2003). O
teste, assim como o EAP, pode ser aplicado de forma individual ou coletiva e não possui
limite de tempo, no entanto, destina-se também a adolescentes, podendo ser trabalhado
4
com indivíduos a partir da 8ª série do ensino fundamental.
Pode-se considerar que os testes de orientação profissional aqui descritos são ferramentas
possíveis no intuito de ajudar as pessoas a descobrirem qual carreira seguir. De formas
diferentes, ambos os testes possuem, portanto, o mesmo intuito: ajudar os indivíduos a
descobrirem quais são seus interesses, habilidades e valores, e como eles se relacionam
com as carreiras disponíveis no mercado de trabalho.
5
Referências
AGIBO, M. L. L. C., MELO-SILVA, L. L. Orientação profissional e de carreira na perspectiva
de adolescentes moçambicanos. SPAGESP, [S.L.], v. 19, n. 2, p. 49-63, 2018.
BARROS, L. DE O.; AMBIEL, R. A. M. Instrumentos de Avaliação Psicológica em Orientação
de Carreira: Análise da Produção Nacional. Psicologia: Ciência e Profissão, [S.L.], v. 40,
n. Psicol. cienc. prof., jan. 2020.
LEITE, M. S. S. Orientação profissional: O que fazer?. São Paulo : Blucher, 2018.
MATOS, F. R.; PIRES, F. M. Técnicas e Medidas em Orientação Profissional e de Carreira:
Resenha do Livro. Psico-USF, [S.L.], v. 26, n. 2, p. 381-383, jun. 2021.
MELO-SILVA, L. L.; LASSANCE, M. C. P.; SOARES, D. H. P. A orientação profissional no
contexto da educação e trabalho. Rev. bras. orientac. prof, São Paulo, v. 5, n. 2, p.
31-52, dez. 2004 .
NORONHA, A. P., SISTO, F., SANTOS, A. A. A. Escala de Aconselhamento Profissional-
EAP: Manual Técnico (Brasil). São Paulo: Vetor, 2007.
SAVICKAS, M. L. Um modelo para a avaliação de carreira. Em Leitão, Lígia Mexia .
Avaliação Psicológica em orientação escolar e profissional. Coimbra: Quarteto, 2004.
SPACCAQUERCHE, M. E. Orientação profissional: passo a passo. 3. ed. São Paulo:
Paulus, 2022.
TOLEDO, C. C. R. Escala de Aconselhamento Profissional: apresentação de um teste para
orientação vocacional. Aval. psicol., Porto Alegre , v. 7, n. 3, p. 451-453, dez. 2008.
ZACHARIAS, J. J. de M. QUATI: questionário de avaliação tipológica (versão II): manual. 5
ed. São Paulo: Vetor, 2003.