Romantismo
Professor Emerson Dantas e Pimenta
Conceito:
O Romantismo é uma escola literária burguesa por excelência. Surge na Alemanha,
num movimento chamado Sturm und Drang (tempestade e ímpeto). Esse movimento se
baseia na emoção exacerbada e se opõe ao equilíbrio artificial do Arcadismo.
O Arcadismo, para os românticos, refletia a arte da nobreza, que após a revolução
francesa, viu-se cada vez mais decadente. A burguesia precisava de um movimento que
dialogasse com sua realidade. A realidade, para a burguesia, era o poder da
individualidade, e, consequentemente, da subjetividade.
Apenas os temas que expressassem o sentimento individual eram valorizados.
Contraditoriamente, como esses sentimentos eram universais (amor, traição, por exemplo),
o romantismo torna-se uma estética que prega o sentimento individual de forma
universalizada.
Essa escola literária foi muito influente na Europa e no Brasil, e sua linguagem ainda
é difundida. Pensar em romantismo é pensar em sonho, escapismo, idealização da mulher e
do amor, sentimentalismo, arquétipos, etc.
Contexto histórico – Século XIX
Europa
Revolução Francesa
Crescente espírito nacionalista
Revolução Industrial
Ascensão da tipografia
Romance em folhetim
“No início, os romances eram publicados diariamente nos jornais de
forma fragmentada, assim, a cada dia um novo capítulo da história era
revelada. Esse esquema, importado para a colônia, ficou conhecido
como "folhetim" ou "romance de folhetim" e deu origem às telenovelas
que conhecemos nos dias de hoje.”
Novos valores sociais
Novo sentido de VIDA – Individuo – deixar um legado
Individualismo
Extinção dos privilégios da nobreza – O ponto de vista da burguesia
que passa a ser o guia das artes.
Mobilidade social – Fim do abismo entre as classes
Sociedade burguesa letrada = público leitor
Uma linguagem subjetiva – O “Eu”
impera
Eu
Individu
al
Vejo Sinto Percebo
Goethe e “Os sofrimentos do Jovem
Werther”
O primeiro Best Seller do mundo.
Cunho Autobiográfico
Exemplo de literatura comercial = Influenciadora de comportamento
“Efeito Werther”
Trechos da obra:
“Os homem sofreriam menos se não se concentrassem tanto (e só Deus sabe por
que eles são assim!) na lembrança de seus males, em vez de esforçar-se por
tornar o presente suportável.” (p. 13)
“Acontece com a distância o mesmo que acontece com o futuro: um todo imenso,
e como que envolvido por uma neblina, estende-se diante de nossa alma: nosso
coração ali mergulha e se perde.” (p. 32)
“Tenho tanto! E o sentimento que tenho por ela devora tudo. Tenho tanta coisa,
mas sem ela tudo para mim é como se nada existisse.” (p. 84)
Lord Byron
Vida boêmia, bebidas, drogas, sexualidade à flor da pele...
Infância difícil, mas uma facilidade de se relacionar com as pessoas.
Poesia pessimista, mas boêmia e conquistadora.
O pequeno jovem coxo, antes recusado por inúmeras garotas, era
então o ideal imaginário de nove entre dez mulheres inglesas. Todas
fantasiavam suas feições, imaginavam seus dotes e deslumbravam-
se aos versos de uma literatura excêntrica e real.
O reconto do Don Juan
O coração é um céu dentro dos céus,
Mas muda como o céu, da noite ao dia.
Às vezes com seus raios e escarcéus
De terror e de trevas se anuvia.
Mas quando se descarna expia os seus
Males com gotas de água. Olho expia
A dor com sangue transformado em pranto
Que os Ingleses agora vertem tanto.
O fígado é um asilo para a bile,
Mas muito pouco exerce essa função –
Que a primeira paixão ali se exile
É para que o resto entre em ação
E um ninho de serpentes lá instile
Ciúme, despeito, amor, horror, que vão
Roendo e arrancando dessa entranha
Terremotos que o fogo desentranha.
A pintura no Romantismo
A pintura do período romântico surge como uma reação ao equilíbrio, a
impessoalidade, a racionalidade e sobriedade do classicismo revivido
pelos árcades. A ênfase, agora, estava na expressão de visões pessoais
fortemente coloridas pela emoção dramática e irracional.
O sonho é matéria prima.
O sentimento é matéria prima.
A percepção do artista é matéria prima.
Frederic Leighton: O pescador e a sereia
Edwin Landseer: Salvo.
William Mulready: O soneto
Delacroix: A Liberdade guiando o povo
Arquitetura romântica
Na busca de se afastar das imposições da arquitetura neoclássica, a
arquitetura romântica tende a retornar à estética medieval. Um
movimento de revivalismo. É irregular e colorida. É pitoresca.
Características gerais do
Romantismo
Estrutura do texto em prosa, longo; narrativa ampla refletindo uma sequência de
tempo;
O indivíduo passa a ser o centro das atenções;
Surgimento de um público consumidor (folhetim);
Uso de versos livres e versos brancos;
Exaltação do nacionalismo, da natureza e da pátria;
Idealização da sociedade, do amor e da mulher;
Criação de um herói nacional;
Sentimentalismo e supervalorização das emoções pessoais;
Subjetivismo e egocentrismo;
Saudades da infância;
Fuga da realidade.
Contexto histórico Brasil – Século
XIX
Chegada da Família real Portuguesa (1808)
Capital: Rio de Janeiro
Independência do Brasil (1822)
Romantismo no Brasil
Na poesia temos três fases:
A indianista
A ultrarromântica
A Condoreira
Na prosa temos movimentos:
Os romances urbanos
Os romances regionais
Os romances históricos
Os romances indianistas
Os romances sertanejos
A primeira geração do Romantismo
– Indianista
Nacionalismo e o Indianismo.
Período : 1836 a 1852
O temas explorados pelos escritores são: natureza, sentimentalismo,
religiosidade, ufanismo, nacionalismo.
Nesse sentido, o indianismo, expressa uma das buscas aos temas
nacionais, visto que o Brasil havia conquistado sua independência
pouco antes, em 1822. Interessante notar que nessa fase, os autores
buscam um retorno ao passado histórico bem como ao medievalismo.
Gonçalves de Magalhães
O Visconde do Araguaia, nasceu no Rio de Janeiro dia 13 de agosto de
1811. Desde cedo desenvolveu o gosto pelas artes, sobretudo, pintura e
literatura.
Junto aos escritores brasileiros Manuel de Araújo Porto-Alegre e Francisco
de Sales Torres Homem fundaram a Revista Niterói (Nitheroy, revista
brasiliense) focada na divulgação de textos nas áreas das ciências, letras
e artes, com o intuito de divulgar a cultura brasileira.
Escreveu poesias indianistas, amorosas e religiosas.
Sua obra “Suspiros Poéticos e Saudades” foi a primeira obra romântica
brasileira.
A Flor Suspiros
Eu amo as flores Assim, minha alma,
Que mudamente Suspiros geras,
Paixões explicam Que ferir podem
Que o peito sente. As mesmas feras.
Amo a saudade, É sempre triste,
O amor-perfeito; Ensanguentado,
Mas o suspiro Quer seco morra,
Trago no peito. Quer brilhe em prado.
A forma esbelta Tais meus suspiros...
Termina em ponta, Mas não prossigas,
Como uma lança Ninguém se move,
Que ao céu remonta. Por mais que digas.
A Confederação dos Tamoios
Niterói! Niterói! como és formosa!
Eu me glorio de dever-te o braço!
Montanhas, várzeas, lagos, mares, ilhas, Prolífica Natura, céu
ridente, Léguas e léguas de prodígios tantos.
Num todo tão harmônico e sublime, Onde olhos o verão longe
deste Éden?
Gonçalves Dias
Poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro.
Morou fora durante muito tempo e disso viera a inspiração para
escrever seu poema mais famoso: “Canção do exílio”
É também autor de outros importantes poemas da nossa
historiografia literária:
Canção do Tamoio
I-Juca-Pirama
Leito de folhas verdes
Canto do Piaga
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
I-Juca-Pirama
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o covarde do forte:
Pois choraste, meu filho não és.”
...
– Basta! Clama o chefe dos Timbiras, – Basta, guerreiro
ilustre! Assaz lutaste, E para o sacrifício é mister forças.
Canção do Tamoio
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.
Leito de folhas verdes
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida! Na perspectiva do Romantismo, a representação
feminina espelha concepções expressas no poema
pela
A flor que desabrocha ao romper d’alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta: A ) reprodução de estereótipos sociais e de gênero.
Eu sou aquela flor que espero ainda B) presença de traços marcadores de nacionalidade.
Doce raio do sol que me dê vida. C) sublimação do desejo por meio da espiritualização.
D) correlação feita entre estados emocionais e
natureza.
E) mudança de paradigmas relacionados à
DIAS, G. Antologia poética. Rio de Janeiro: Agir, 1979 sensibilidade.
(fragmento).
A segunda geração do Romantismo
– Os ultrarromânticos
Conhecida como a geração do “Mal do Século” ou “Ultrarromântica”, a
a segunda geração do romantismo foi profundamente influenciada pela
poesia do inglês George Gordon Byron (Lord Byron). Por isso, é muitas
vezes chamada de geração “Byroniana”.
Período aproximado: 1850 a 1860
É uma poesia marcada por aspectos negativos, a poesia desse período
romântico é permeada dos temas:
Egocentrismo
negativismo
pessimismo
dúvida
desilusão
boêmia
exaltação da morte
Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu na cidade de São Paulo, dia
12 de setembro de 1831.
Em 1848, com apenas 17 anos, matriculou-se no curso de Direito da
Faculdade de Direito de São Paulo, destacando-se pelo seu brilhantismo e
engajamento.
As obras de Álvares de Azevedo estiveram marcadas pelo pessimismo.
Muito influenciado por Lord Byron, temas sobre a morte, dor,
enfermidade, desilusão amorosa e frustração, permeadas muitas vezes,
por um tom sarcástico e irônico.
Álvares de Azevedo faleceu no Rio de Janeiro, dia 25 de abril de 1852, de
uma tuberculose que o acompanhou durante muito tempo, com apenas
20 anos. Um mês antes havia escrito o poema intitulado “Se eu morresse
amanhã”. A produção foi lida no dia do seu enterro pelo literato Joaquim
Manoel de Macedo.
“Se eu morresse amanhã”
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
O Lenço Dela
Quando a primeira vez, da minha terra
Deixei as noites de amoroso encanto,
A minha doce amante suspirando
Volveu-me os olhos úmidos de pranto.
Um romance cantou de despedida,
Mas a saudade amortecia o canto!
Lágrimas enxugou nos olhos belos...
E deu-me o lenço que molhava o pranto.
Quantos anos contudo já passaram!
Não olvido porém amor tão santo!
Guardo ainda num cofre perfumado
O lenço dela que molhava o pranto...
Nunca mais a encontrei na minha vida,
Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!
Oh! quando eu morra estendam no meu rosto
O lenço que eu banhei também de pranto!
Amor
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Noite na Taverna
Expressão da literatura gótica brasileira
O mal do século exposto: Sexo, drogas, bebida, horror, morbidez,
suicíduio...
5 amigos, 5 histórias:
Solfieri – Necrofilia
Bertram – Canibalismo
Gennaro – aborto e homicídio
Claudius Hermann – Estupro
Johann – Incesto
Casimiro de Abreu
Casimiro José Marques de Abreu nasceu no Estado do Rio de Janeiro
no dia 4 de janeiro de 1839. Em novembro de 1853 viaja para
Portugal, com o intuito de completar seus estudos.
Casimiro de Abreu volta ao Brasil em julho de 1857 e continua
trabalhando no comércio. Conhece vários intelectuais e faz amizade
com Machado de Assis, ambos com 18 anos de idade. Em 1859
publica seu único livro de poemas “As Primaveras”.
Leva um estilo de vida boêmio, apesar de noivo. Contrai tuberculose,
morre aos 21 anos de idade.
Meus Oito Anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonho, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor! (...)
Canção do exílio
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!
Fagundes Varela
Nasceu em 1841, no Estado do Rio de Janeiro.
Filho de família abastada, entra no curso de direito, mas abandona,
percebendo que sua grande paixão é a literatura
Sua poesia expressa sua tristeza e angustia na vida. Perdeu dois
filhos e uma das esposas. Entrega-se a boemia e falece em 1875,
com 34 anos, vítima de apoplexia (acidente vascular cerebral-AVC).
Cântico do Calvário
“Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste!- Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!”
A terceira geração do romantismo –
A geração Condoreira
Chamada de “Geração Condoreira”, a terceira leva de poetas do
romantismo é caracterizada pela poesia libertária e social.
Período aproximado: 1870 a 1880
Com isso, o período está associado ao condor, águia da cordilheira dos
Andes, com o intuito de revelar sua mais importante característica: a
liberdade a visão do alto.
Vale lembrar que essa geração sofreu muita influencia do escritor
francês Victor-Marie Hugo, daí ser conhecida também como geração
“Hugoana”.
Castro Alves
O poeta dos escravos
Suas obras expressavam indignação e protesto em relação aos
problemas sociais da época, principalmente à crueldade
da escravidão.
Nasceu na Bahia em 1847. Castro Alves era sempre ovacionado pelas
multidões, impressionando com seu poder de expressão e voz
possante. Em seus textos, o uso acentuado de hipérboles e de espaços
amplos como o mar, o céu e o infinito se faziam presentes.
Navio Negreiro
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!…
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus…
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão…
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe… bem longe vêm…
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N’alma — lágrimas e fel…
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis…
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus …
…Adeus, ó choça do monte,
…Adeus, palmeiras da fonte!…
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Tobias Barreto – A escravidão
Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.
Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...
Sousândrade
Joaquim Manuel de Sousa Andrade era escritor e professor.
Destacou-se pela ousadia e originalidade seja pela escolha de temas
sociais, nacionalistas e nostálgicos, bem como pelo uso de palavras
estrangeiras (em inglês e indígenas) e de neologismos.
O poeta chega morar em Nova Iorque, estabelecendo um diálogo
entre a poesia brasileira e a americana.
Há em sua poesia um ar de experimentação, semelhante a dos
Modernistas do século XX.
Canto Segundo
Alvissareiras no areial:
— Aos céus sobem estrelas,
Tupã-Caramuru!
É Lindóia, Moema
Coema,
É a Paraguaçu;
— Sobem céus as estrelas,
Do festim rosicler!
Idalinas, Verbenas
De Atenas,
Corações de mulher;
— Moreninhas, Consuelos,
Olho-azul Marabás,
Palidez Juvenílias,
Marílias
Sem Gonzaga Tomás!
(...)
Netuno:
— Os poetas plagiam,
Desde rei Salomão:
Se Deus cria — procriam,
Transcriam —
Mafamed e Sultão
(...)
Cunhãmas e Cunhãtans:
— Lamartine é sagrado?
— Se não tem maracás,
Ô, ô, ô! — vibram arcos
Macacos,
Tatus-Tupinambás.
Questão 1) - O Romantismo brasileiro encontrou no índio a sua mais autêntica expressão de
nacionalidade. Sobre essa fase do Romantismo, é correto afirmar:
I. O indianismo foi uma das principais tendências do Romantismo brasileiro. Destacaram-se,
nessa fase, Gonçalves Dias, na poesia, e José de Alencar, na prosa.
II. No indianismo, encontramos elementos como a depressão, o devaneio, o sonho e a
perspectiva da morte, características encontradas na poesia de Álvares de Azevedo.
III. Constituiu um painel de estilos diversificados. Cada poeta criava sua própria linguagem,
mas todos estavam preocupados com a afirmação dos ideais abolicionistas e republicanos.
IV. No indianismo, é comum ver a representação do índio como o “bom selvagem”, bem
como o reconhecimento do índio como um símbolo de nacionalidade.
V. Seus principais representantes foram Visconde de Taunay, José de Alencar e Manuel
Antônio de Almeida.
a) I e IV.
b) I, II e IV.
c) II e V.
d) II, III e V.
e) I e III.
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias
Gonçalves Dias consolidou o romantismo no Brasil. Sua “Canção do exílio” pode ser considerada tipicamente romântica
porque
a) apoia-se nos cânones formais da poesia clássica greco-romana; emprega figuras de
ornamento, até com certo exagero; evidencia a musicalidade do verso pelo uso de
aliterações.
b) exalta terra natal; é nostálgica e saudosista; o tema é tratado de modo sentimental,
emotivo.
c) utiliza-se do verso livre, como ideal de liberdade criativa; sua linguagem é hermética,
erudita; glorifica o canto dos pássaros e a vida selvagem.
d) poesia e música se confundem, como artifício simbólico; a natureza e o tema bucólico são
tratados com objetividade; usa com parcimônia as formas pronominais de primeira pessoa.
e) refere-se à vida com descrença e tristeza; expõe o tema na ordem sucessiva, cronológica;
utiliza-se do exílio como o meio adequado de referir-se à evasão da realidade.
A prosa no Romantismo
Disseminada pelos folhetins
Literatura com viés de entretenimento
Nacionalista
Linguagem subjetiva
Idealização de instituições sociais
Idealização da mulher
Religiosidade
Amor platônico
A natureza responde à emoção
Romances Indianistas
O Romance indianista busca a valorização do herói nacional
dentro da proposta narrativa do romantismo. São explorados
temas como a natureza e o sentimentalismo. O heroísmo é
representado pela nobreza de caráter e valentia das
personagens.
José de Alencar é o autor representante e fundador do estilo.
Escreveu Iracema, O guarani e Ubirajara com essa temática.
José de Alencar
Patrono da cadeira nº 23 da Academia Brasileira de Letras. Foi jornalista,
crítico, advogado, dramaturgo e político.
Nasceu em 1º de maio de 1829 na cidade de Messejana, no Ceará.
Escreveu romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos.
Além de crônicas, críticas e teatro.
Indianistas Urbanos Regionalistas Históricos
Iracema Diva O sertanejo Guerra dos
Mascates
O guarani Senhora Til
Ubirajara Cinco Minutos
A viuvinha
Lucíola
Seixas era homem honesto; mas ao atrito da secretaria e ao calor das salas, sua honestidade
havia tomado essa têmpera flexível da cera que se molda às fantasias da vaidade e aos
reclamos da ambição.
Era incapaz de apropriar-se do alheio, ou de praticar um abuso de confiança; mas professava a
moral fácil e cômoda, tão cultivada atualmente em nossa sociedade.
Segundo essa doutrina, tudo é permitido em matéria de amor; e o interesse próprio tem plena
liberdade, desde que se transija com a lei e evite o escândalo.
ALENCAR, J. Senhora. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015
A literatura romântica reproduziu valores sociais em sintonia com seu contexto de mudanças.
No fragmento de Senhora, as concepções românticas do narrador repercutem a
a) resistência à relativização dos parâmetros éticos.
b) idealização de personagens pela nobreza de atitudes.
c) crítica aos modelos de austeridade dos espaços coletivos.
D) defesa da importância da família na formação moral do indivíduo.
E) representação do amor como fator de aperfeiçoamento do espírito.
Romances Urbanos
O plano de fundo dos romances urbanos é retratar a pequena
burguesia, a ascensão da classe média, as relações sociais e morais.
As portas das casas e palacetes se abrem. São narrativas lentas,
minuciosamente descritivas da ambientação das personagens.
Joaquim Manoel de Macedo
Um dos fundadores do romance no Brasil, com sua obra intitulada “A
Moreninha”, publicada em 1844.Esse romance foi caracterizado como a
primeira obra da Literatura Brasileira, uma vez que enfocou no retrato
dos hábitos da burguesia carioca.
Ademais, foi um dos principais responsáveis pela criação do teatro no
Brasil e segundo ele: “O teatro é a mais extensa e concorrida escola da
boa ou má educação do povo.”
Com 18 anos mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar medicina.
Formando-se em 1844, ano da publicação de sua obra mais
conhecida, A Moreninha. Chegou a trabalhar como médico, porém,
dedicou-se o resto da vida à literatura, uma vez que essa obra lhe
proporcionou fama e fortuna.
A moreninha
A história de quatro estudantes de medicina (Filipe, Leopoldo, Augusto e
Fabrício) que vão passar um final de semana em uma ilha na costa do rio de
janeiro. Nessa ocasião, um deles, Augusto, se apaixona pela protagonista, a
moreninha Carolina. Antes de partirem Filipe havia feito uma aposta com
Augusto: se este voltasse da Ilha sem ter se apaixonado verdadeiramente por
uma das meninas, Filipe escreveria um romance por ter perdido a aposta. Caso
se apaixonasse, Augusto é quem deveria escrevê-lo.
A esmeralda e o camafeu.
O amor romântico e a predestinação.
A superficialidade das personagens.
“Em uma das ruas do jardim duas rolinhas mariscavam: mas, ao sentirem passos, voaram e pousando não muito longe,
em um arbusto, começaram a beijar-se com ternura: e esta cena se passava aos olhos de Augusto e Carolina!...
Igual pensamento, talvez, brilhou em ambas aquelas almas, porque os olhares da menina e do moço se encontraram ao
mesmo tempo e os olhos da virgem modestamente se abaixaram e em suas faces se acendeu um fogo, que era pejo. E o
mancebo, apontando para ambos, disse:
- Eles se amam!
E a menina murmurou apenas:
- São felizes.
-Pois acredita que em amor possa haver felicidade?
-Às vezes.
-Acaso, já tem a senhora amado!...
-Eu?!...e o senhor?
- Comecei a amar há poucos dias.
A virgem guardou silêncio e o mancebo, depois de alguns instantes, perguntou tremendo:
- E a senhora já ama também?
Novo silêncio; ela pareceu não ouvir, mas suspirou. Ele falou menos baixo:
- Já ama também?...
Ela abaixou ainda mais os olhos e com voz quase extinta disse:
- Não...Não sei...talvez...
- E a quem?...
-Eu não perguntei a quem o senhor amava.
-Quer que lho diga?...
-Eu não pergunto.
-Posso eu fazê-lo?
-Não lho impeço.
-É a senhora.
D. Carolina fez-se cor-de-rosa e só depois de alguns instantes pôde perguntar, forcejando um sorriso:
-Por quantos dias?
-Oh! Para sempre!... - respondeu Augusto, apertando-lhe vivamente o braço.
Manuel Antônio de Almeida
“Um homem a frente de seu tempo, os escritos de Manuel Antônio de
Almeida, a despeito de pertencerem ao estilo romântico, possuem
tendências realistas, repletas de humor e sarcasmo, assinaladas por
uma linguagem coloquial, direta e descompromissada. Escreveu um
único livro “Memórias de um sargento de milícias” (1853) e uma peça de
teatro intitulada “Dois Amores”, em 1861.Além disso escreveu ensaios,
crônicas, críticas literárias e artigos, contudo, foi ignorado pela crítica,
uma vez que abordava temas mais realistas, os quais ultrapassavam os
excessos românticos.”
“Memórias de um Sargento de Milícias” se afasta dos padrões
românticos da época, relata numa linguagem mais popular, o
envolvimento do malandro Leonardo com Luisinha. Manuel se
preocupou em apresentar personagens com personalidade mais
próxima da realidade, desmistificando a figurado herói romântico
idealizado.
“Filho de uma pisadela e de um beliscão”
"O pequeno, enquanto se achou novato em casa do padrinho, portou-se com toda a sisudez e
gravidade; apenas porém foi tomando mais familiaridade, começou a pôr as manguinhas de
fora. Apesar disto, captou do padrinho maior afeição, que se foi aumentando de dia em dia, e
que em breve chegou ao extremo da amizade cega e apaixonada. Até nas próprias travessuras
do menino, as mais das vezes, achava o bom do homem muita graça; não havia para ele em
todo o bairro rapazinho mais bonito, e não se fartava de contar à vizinhança tudo o que ele dizia
e fazia; às vezes eram verdadeiras ações de menino mal-criado, que ele achava cheio de
espírito e de viveza; outras vezes eram ditos que denotavam já muita velhacaria para aquela
idade, e que ele julgava os mais ingênuos do mundo.”
“O coração da mulher é assim, parece feito de palha, incendeia-se com facilidade, produz muita
fumaça, mas em cinco minutos é tudo cinza que o mais leve sopro espalha e desvanece.”
Romances Regionalistas
A prosa romântica regionalista no Brasil representa o povo,
diferente dos nobres na Corte. Demonstra o ambiente rural, em
oposição às cidades. Representam o sertanejo, as paisagens e os
costumes do sertão.
Principais Autores: José de Alencar está entre os principais
autores dessa fase da prosa romântica brasileira, com a obra, O
Sertanejo. Também destacaram-se: Bernardo Guimarães, com A
Escrava Isaura, e Visconde de Taunay, com Inocência.
Maria Firmina dos Reis
Nasceu no Maranhão, em 1825.
Professora muito querida pelos alunos, conhecida pelo seu jeito contido,
carinhoso, conselheiro e frágil.
A primeira mulher a figurar no escalão do cânone brasileiro. Sendo seu livro
Úrsula (1859) o primeiro livro abolicionista escrito por uma mulher no Brasil.
“A escritora é um exemplo de mulher que teve acesso à educação, mesmo
sendo afro-brasileira. Dessa forma, pode-se dizer que a educação foi a forma
encontrada para que a autora manifestasse sua visão crítica quanto à
sociedade em que vivia.”
“Maria Firmina dos Reis ainda impressionou a comunidade em que viveu
fundando uma escola mista, algo inédito para a época. Sua educação
transcendeu a formação das mulheres de seu tempo, o que pode ser
comprovado nos relatos dos muitos escritos deixados pela autora, dando
relevância à reconstituição histórica do papel da mulher na sociedade do
século XIX no Brasil.”
Úrsula
O amor da bela e frágil Úrsula e do bacharel Tancredo.
Um romance comum para a época, mas um tratamento diferenciado a mulher dado a
mulher, ao negro e à escravidão.
Diz Túlio:
“O homem que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia contar 25 anos, e que
na franca expressão de sua fisionomia deixava adivinhar toda a nobreza de um coração bem
formado. O sangue africano refervia-lhe nas veias; o mísero ligava-se à odiosa cadeia da
escravidão; e embalde o sangue ardente que herdara de seus pais, e que o nosso clima e a
escravidão não puderam resfriar, embalde – dissemos – se revoltava; porque se lhe erguia
como barreira – o poder do forte contra o fraco.”
Diz a preta Susana:
“– Sim, para que estas lágrimas?!...Dizes bem! Elas são inúteis, meu Deus; mas é um tributo
de saudade, que não posso deixar de render a quem me foi caro! [...] Tranquila no seio da
felicidade, via despontar o sol rutilante e ardente do meu país. Ah, Túlio, tudo me obrigaram
os bárbaros a deixar! oh! tudo, até a própria liberdade.”
Bernardo de Guimarães e A escrava
Isaura
Ideal “abolicionista”: Mas Guimarães não se ateve a mostrar o sofrimento
Dos escravizados.
Isaura, mocinha escrava aos moldes das mocinhas francesas.
"A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada,
que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. (.) Na fronte calma e lisa como
o mármore polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada
de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste da inspiração.“
“O autor claramente conseguiu o que queria. A sociedade brasileira do século XIX, que tanto
se apiedou das desventuras de Isaura, aceitou-a porque ela era branca e educada. O autor
pôde, assim, demonstrar, através do seu sofrimento, o quanto "é vã e ridícula toda a distinção
que provém do nascimento e da riqueza". E é claro, a cor de Isaura serve, como afirma o
crítico Antônio Cândido, "para facilitar a ação de Álvaro, compreensivelmente apaixonado e
decidido a desposá-la, como fez."
Teixeira e Sousa e “O filho do
pescador”
O primeiro romance (folhetim) tipicamente brasileiro para alguns críticos.
Elementos característicos do estilo: Reviravoltas, crimes, mistério, romance, vingança.
A história de amor de Laura, moça belíssima e de passado triste, e o filho do pescador,
Augusto. Em um contexto que demonstra o dia a dia dos pescadores e da comunidade
ribeirinha, algo que não era comum nos romances da época.
Visconde de Taunay e “Inocência”
Passa-se no Mato Grosso, a história de amor entre Inocência e Cirino. Apaixonada
pelo farmacêutico que se intitulava médico, a inocente jovem era noiva do rude
Manecão. Relacionamento arranjado pelo pai da moça, Pereira, que via em
Manecão segurança para sua filha. O romance termina de forma trágica, com o
assassinato de Cirino causado por Manecão e pela morte de Inocência, causada
por desgosto.
O romance regionalista leva o homem do centro a conhecer a cor local do interior,
além dos costumes:
“Essa areia solta, e um tanto grossa, tem cor uniforme que reverbera com
intensidade os raios do Sol, quando nela batem de chapa. Em alguns pontos é tão
fofa e movediça que os animais das tropas arquejam de cansaço, ao vencerem
aquele terreno incerto, que lhes foge de sob os cascos e onde se enterram até meia
canela.”
“... Bem faziam os nossos do tempo antigo. As raparigas andavam direitinhas que
nem um fuso... Uma piscadela de olho mais duvidosa, era logo pau... Contaram-me
que hoje lá nas cidades... arrenego!... não há menina, por pobrezinha que seja, que
não saiba ler livros de letra de forma e garatujar no papel... que deixe de ir a
fonçonatas com vestidos abertos na frente como raparigas fadistas e que
saracoteiam em danças e falam alto e mostram os dentes por dá cá aquela palha
com qualquer tafulão malcriado... pois pelintras e beldroegas não faltam...”
A fase romântica de Machado de
Assis
Machado de Assis é considerado o maior escritor
brasileiro e um dos maiores do mundo. Sua obra
extensa tem crônicas, contos, poesias, romances e
teatro, divididos entre as fases romântica e realista.
Mulato, de família pobre e órfão de mãe desde muito
cedo, Machado de Assis foi criado no Morro do
Livramento e estudou por conta própria e em escolas
públicas até escrever seu primeiro soneto “A Ilma Sra.
D.P.J.A.”. Trabalhou como tipógrafo, revisor e redator
até que começou a publicar seus primeiros livros,
chegando às suas principais obras primas e sendo o
fundador-presidente da Academia Brasileira de
Letras.
Fase romântica
O escritor Machado de Assis é da última geração do romantismo e se
inspirou nessa primeira escola para criar suas primeiras histórias.
Mesmo avesso a rigidez de escolas literárias e criando um estilo
próprio e exclusivo, Machado de Assis criou obras com o amor como
tema, relações amorosas.
Sua primeira obra dessa fase foi Ressurreição, um romance que se
seguiu de A Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia, Contos Fluminenses e
Histórias da Meia Noite. Mesmo com todos os ingredientes do
romantismo, nessas histórias já havia o senso crítico e psicológico
dos personagens, uma das principais características de seus textos.
Helena
“A face, de um moreno-pêssego, tinha a mesma imperceptível penugem da fruta de
que tirava a cor; naquela ocasião tingiam-na uns longes cor-de-rosa, a princípio mais
rubros, natural efeito do abalo. As linhas puras e severas do rosto parecia que as
traçara a arte religiosa. Se os cabelos, castanhos como os olhos, em vez de dispostos
em duas grossas tranças lhe caíssem espalhadamente sobre os ombros, e se os
próprios olhos alçassem as pupilas ao céu, disséreis um daqueles anjos adolescentes
que traziam a Israel as mensagens do Senhor. Não exigiria a arte maior correção e
harmonia de feições, e a sociedade bem podia contentar-se com a polidez de maneiras
e a gravidade do aspecto. Uma só coisa pareceu menos aprazível ao irmão: eram os
olhos, ou antes o olhar, cuja expressão de curiosidade sonsa e suspeitosa reserva foi o
único senão que lhe achou, e não era pequeno.”
“Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a afeição da família. Era
dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes
por excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de triunfo,
era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de espíritos,
arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres.”
Exercícios de fixação
1) - Sobre o romance regional estão corretas, exceto:
a) O romance regional não seguia o modelo europeu. Por esse motivo, foi obrigado
a construir seus próprios modelos e, em virtude disso, a Literatura Brasileira
alcançou maior autonomia.
b) Os escritores do romance regional foram influenciados pelo espírito racionalista:
estavam sintonizados com o cientificismo da época, que explicava o mundo
através de leis objetivas e a influência do meio no comportamento humano.
c) Foram quatro os espaços nacionais que despertaram o interesse entre os
escritores românticos: o das capitais, com destaque para o Rio de Janeiro, e os
espaços das regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste.
d) Seus principais representantes foram José de Alencar, Franklin Távora e Visconde
de Taunay.
e) Um dos principais problemas encontrados pelos autores regionalistas foi a
adequação da variedade linguística regional à linguagem literária, cuja principal
característica é o emprego da norma culta.
2 - Sobre o romance urbano, estão corretas as alternativas:
I. Entre as principais obras desse período, destacam-se Urupês, de Monteiro Lobato, O
cortiço, de Aluísio Azevedo, e Lucíola, de José de Alencar.
II - O romance urbano, que extraía da vida cotidiana da burguesia a sua obra-prima,
conquistou grande prestígio entre os representantes dessa classe. Esse êxito
propiciou a sua consolidação, bem como o amadurecimento do gênero.
III - Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, Lucíola e
Senhora, de José de Alencar, estão entre os romances urbanos que se destacaram.
IV - O romance urbano teve, entre suas principais preocupações, compreender e
valorizar as diferenças étnicas, linguísticas, sociais e culturais das regiões brasileiras.
V-Senhora e Memórias de um Sargento de Milícias são obras consideradas
precursoras do Realismo, mas que ainda apresentam características do romantismo.
a) II, III e IV.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) II, III e V.
e) II e V.
3 - Memórias de um Sargento de Milícias, obra de Manuel Antônio de Almeida que representa
o romance urbano, não apresenta a idealização e sentimentalismo comuns ao Romantismo.
É uma obra excêntrica, bastante diferente das narrativas dessa escola literária.
Assinale a alternativa em que se evidencia o antissentimentalismo, o distanciamento do
lugar-comum romântico.
a) "Isto tudo vem para dizermos que Maria Regalada tinha um verdadeiro amor ao major
Vidigal."
b) "Não é também pequena desventura o cairmos nas mãos de uma mulher a quem deu na
veneta querer-nos bem deveras."
c) "O Leonardo estremeceu por dentro, e pediu ao céu que a lua fosse eterna; virando o
rosto, viu sobre seus ombros aquela cabeça de menina iluminada."
d) "Sem saber como, unia-se ao Leonardo, firmava-se com as mãos sobre os seus ombros
para se poder sustentar mais tempo nas pontas dos pés, falava-lhe e comunicava-lhe a sua
admiração."
e) "Leonardo ficou também por sua vez extasiado; pareceu-lhe então o rosto mais lindo que
jamais vira."