Arquitetura hospitalar
humanizada e
sustentabilidade:
o caso de estudo do Hospital
São Camilo Pompéia, projeto do
arquiteto Siegbert Zanettini
Ana Lídia Galhardi
Marvulle
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
ANA LÍDIA GALHARDI MARVULLE
São Carlos
2024
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação emArquitetura e Urbanismo
do Instituto de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, como parte
dos requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Área de concentração: Teoria e História da
Arquitetura e do Urbanismo
Orientador: Prof. Dr. Paulo Yassuhide
Fujioka
Universidade de São Paulo
Instituto de Arquitetura e Urbanismo
Arquitetura hospitalar
humanizada e
sustentabilidade:
o caso de estudo do Hospital
São Camilo Pompéia, projeto do
arquiteto Siegbert Zanettini
Versão Corrigida
AUTORIZO A REPRODUCAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRONICO, PARA FINS
DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Bibliotecária responsável pela estrutura de catalogação da publicação de acordo com a AACR2:
Brianda de Oliveira Ordonho Sígolo - CRB - 8/8229
MM391a
Marvulle, Ana Lídia Galhardi
Arquitetura hospitalar humanizada e
sustentabilidade: o caso de estudo do Hospital São
Camilo Pompéia, projeto do arquiteto Siegbert
Zanettini / Ana Lídia Galhardi Marvulle; orientador
Paulo Yassuhide Fujioka. -- São Carlos, 2024.
316 p.
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo, Teoria e História da
Arquitetura e do Urbanismo -- Instituto de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,
2024.
1. Arquitetura Hospitalar. 2. Projeto
arquitetônico. 3. Humanização hospitalar. 4.
Sustentabilidade. 5. Siegbert Zanettini. I. Fujioka,
Paulo Yassuhide , orient.II. Título.
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
Dedico este trabalho aos
meus pais, Mario Junior e
Stella Maris, e ao meu irmão,
Mario Neto, por todo o suporte
que recebi. Sem eles, eu não
estaria onde estou hoje.
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, o Prof. Dr. Paulo Yassuhide Fujioka, pela
sua dedicação à orientação e pelos seus ensinamentos, que me
tornaram uma pessoa e um profissional melhor.
Aos funcionários do IAU, em especial às funcionárias Mara, Flávia,
Ana Paula e Valéria, que me auxiliarem durante todo o mestrado.
Ao arquiteto Siegbert Zanettini, por ter sido bastante disponível e
atencioso durante o decorrer da pesquisa, contribuindo para a
complementação do texto.
À equipe do escritório Zanettini Arquitetura, pelos projetos
arquitetônicos e referências bibliográficas que disponibilizaram,
contribuindo para a análise do Hospital São Camilo – Unidade
Pompeia.
À arquiteta Dyane de Arruda, por me acompanhar durante as visitas
ao hospital e se disponibilizar a entrevista, contribuindo para o
desenvolvimento da pesquisa.
Ao departamento de arquitetura do Hospital São Camilo, pelo
atendimento excepcional durante as visitas técnicas.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico CNPq pelo
financiamento desta pesquisa.
RESUMO
A arquitetura hospitalar vem se modificando e desenvol-
vendo desde seus primórdios. Somadas a essa evolução, surgem
novas preocupações, que ganham mais relevância em meados da
década de 1990, referentes a qualidade dos seus espaços físicos
internos e externos, e nas consequências que esse tipo de edifica-
ção ocasiona no conforto dos seus usuários e no meio ambiente
como um todo. Assim, a projeto visa estudar as características da
arquitetura hospitalar e dos princípios de humanização espacial e
sustentabilidade, objetivando maior aprofundamento destes cam-
pos de conhecimento e um maior entendimento quanto a sua devi-
da aplicação em um projeto arquitetônico hospitalar. Para tal, será
utilizado como estudo de caso o Hospital São Camilo Pompeia, do
arquiteto Siegbert Zanettini, localizado na cidade de São Paulo.
Palavras Chaves: Arquitetura hospitalar, projeto arquitetônico, hu-
manização hospitalar, sustentabilidade, Siegbert Zanettini.
MARVULLE,Ana Lídia G. Arquitetura hospitalar humanizada
e sustentabilidade: o caso de estudo do Hospital São Camilo
Pompéia, projeto do arquiteto Siegbert Zanettini. 2023. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Instituto de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2023.
ABSTRACT
MARVULLE, Ana Lídia G. Humanized hospital architecture and
sustainability: the case study of Hospital São Camilo Pompéia,
project by architect Siegbert Zanettini. 2023. Dissertation (Master’s in
Architecture and Urbanism) – Institute of Architecture and Urbanism,
University of São Paulo, São Carlos, 2023.
Hospital architecture has been changing and developing sin-
ce its early days. Added to this evolution, there are new concerns,
which gain more relevance in the mid-1990s, regarding the quality
of its internal and external physical spaces, and the consequences
that this type of building causes in the comfort of its users and in the
environment as a whole. Thus, the project aims to study the cha-
racteristics of hospital architecture and the principles of spatial hu-
manization and sustainability, aiming at a deeper understanding of
these fields of knowledge and a better understanding of their proper
application in a hospital architectural project. To this end, the Hospi-
tal São Camilo Pompeia, by architect Siegbert Zanettini, located in
the city of São Paulo, will be used as a case study.
Keywords: Hospital architecture, architectural design, hospital hu-
manization, sustainability, Siegbert Zanettini.
Introdução
Capítulo 1 – Aspectos da Arquitetura Hospitalar
1.1. Breve evolução histórica da arquitetura hospitalar
1.2. Pluralidade dimensional, programa e organização
espacial da edificação de saúde contemporânea
1.3. Atributos de projeto da arquitetura da edificação de
saúde contemporânea
1.3.1. Implantação, acessos e inserção urbana
1.3.2. Fatores físico-funcionais
1.3.3. Normas técnicas de construção hospitalar e sua
aplicação
Capítulo 2 – Humanização dos espaços para saúde
2.1. Evolução histórica
2.2. Conceitos adotados de humanização
2.3. Elementos da humanização espacial
2.3.1. Ventilação
2.3.2. Iluminação
2.3.3. Cores
2.3.4. Projetos de Interiores e soluções decorativas
2.3.5. Ergonomia e Acessibilidade
2.3.6. Vegetação e Jardinagem
2.3.6.1. Jardins Externos
2.3.6.2. Terraços-Jardins
2.3.6.3. Jardins Terapêutico
2.3.6.4. Jardins Internos
2.3.7. Ruídos positivos
2.3.8. Espaços lúdicos
2.4. Exemplos da aplicação de humanização espacial
em edifícios hospitalares
2.4.1. Sanatório de Paimio, Finlândia
2.4.2. Atrium Hospital Albert Einstein, São Paulo /
Brasil
2.4.3. Hospitais Rede Sarah, Brasília / Brasil
2.5. Dificuldades enfrentadas atualmente em relação à
humanização dos ambientes de saúde
Capítulo 3 – Sustentabilidade na Arquitetura Hospi-
talar
3.1. Conceitualização e evolução histórica
3.2. Aplicação do conceito de sustentabilidade
3.2.1. Técnicas Sustentáveis aplicadas em ambientes
hospitalares
3.2.1.1. Implantação e inserção urbana
3.2.1.2. Conforto termoacústico
3.2.1.3. Energia
3.2.1.4. Água e efluentes
SUMÁRIO
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13
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149
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156
61
67
68
73
76
3.2.1.5. Vegetação e jardinagem
3.2.1.6. Materiais
3.2.1.7. Resíduos
3.3. Aparato legal e certificações
3.4. Exemplos de aplicação da sustentabilida na cons-
trução civil
3.4.1. Hospital Universitário de Mirebalais HMU, Haiti
3.4.2. Hospital Mater Dei, Belo Horizonte/Brasil
3.5. Dificuldades enfrentadas atualmente em relação a
sustentabilidade
Capítulo 4 – Arqto. Siegbert Zanettini: ideias e
obras
4.1. O livre exercício da profissão
Capítulo 5 – Hospital São Camilo Pompeia
5.1. Breve histórico do Hospital São Camilo Pompeia
5.2. Partido arquitetônico
5.3. Análises
5.3.1. Da aplicação do princípio de humanização
espacial
5.3.2. Da aplicação das técnicas sustentáveis
Considerações Finais
Referência Bibliográfica
ANEXOS
ANEXO I – Entrevista com o Arqto. Siegbert Zanettini
ANEXO II – Entrevista com a Arqta. Dyane Assis de
Arruda
ANEXO III – Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
do (TCLE)
ANEXO IV – TCLE Arqto. Siegbert Zanettini
ANEXO V – TCLE Arqta. Dyane Assis de Arruda
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277
285
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
A arquitetura hospitalar é um campo complexo que envolve
diversos fatores. Essa complexidade engloba tanto questões proje-
tuais e construtivas como interpessoais, onde suas interpretações e
necessidades são transformadas pelos arquitetos em característi-
cas físico-funcionais dos Edifícios Assistenciais à Saúde (EAS).
Os hospitais evoluíram em conjuntura com a Medicina, a Psi-
cologia e a Tecnologia, que, por sua vez, influenciaram a Arquitetu-
ra. Com o passar do tempo, esses edifícios foram se tornando cada
vez mais amplos e complexos, ganhando um dimensionamento físi-
co-funcional para a sua adequação perante as novas técnicas e tec-
nologias hospitalares. Segundo Vincent F. Gardner, no livro Manual
de Ingenierìa de Hospitales (1976), a concepção arquitetônica e a
disposição dos edifícios passaram a seguir um sistema construtivo
funcional, visando oferecer um atendimento mais humanizado aos
pacientes, assim como houve uma melhoria no sistema elétrico e
mecânico hospitalar. Dessa forma, novas preocupações começa-
ram a surgir em relação à qualidade do ambiente construído, dentre
elas a humanização e a sustentabilidade aplicada à arquitetura.
Essa preocupação com o bem-estar dos seres humanos não
é atual. Ela é conhecida desde a antiguidade, mas ganhou força no
século XIX, sobretudo a partir da publicação a Declaração de Alma
Ata sobre Cuidados Primários de Saúde, elaborada pela Conferên-
cia Internacional das Nações Unidas sobre os Serviços Primários
de Saúde, que estabeleceu a saúde como um direito humano uni-
versal. Essa declaração também apresenta um conjunto de ações
de extrema importância que deveriam ser aplicados por todos os
governos, no campo de saúde e do desenvolvimento, com o intuito
de promovê-los em todos os povos do mundo (OMS, 1978).
Os hospitais, até o século XIX, apresentavam características
muitas vezes angustiantes e insalubres, ocupando um lugar único
na sociedade e, consequentemente, se tornando um equipamento
INTRODUÇÃO
02
urbano. E. Todd Wheeler, em seu livro Diseño funcional y organi-
zación de hospitales (1976) defende que a arquitetura é um dos
elementos que auxiliou na diminuição desse caráter assustador pre-
sente nos EAS. Segundo o autor (1976: pp. 21, 22), os enfermos
têm uma sensibilidade apurada a todos os elementos ao seu redor
e ao ambiente físico como um todo, cabendo ao arquiteto eliminar,
ao máximo, as características que possam causar qualquer dano ao
meio ambiente. Para tal, é necessário aplicar o princípio de Huma-
nização.
Esse princípio deve ser utilizado com o intuito de tornar os
espaços parte integrante do processo de cura dos enfermos, desca-
racterizando-os como elementos de confinamento e proporcionando
conforto aos pacientes e funcionários do hospital. Com a pandemia
da Covid-19, que ocorreu em 2020, essa questão se tornou ainda
mais relevante, gerando novas discussões e tornando sua implanta-
ção um fator relevante para as decisões projetuais.
Para conseguir atingir o objetivo de trazer conforto aos usuá-
rios, os arquitetos devem utilizar técnicas que influenciem positiva-
mente os cinco sentidos humanos. Essas técnicas são implantadas
tanto na organização espacial como nos elementos técnicos e deco-
rativos, entre eles a aplicação de cores, o equilíbrio entre iluminação
natural e artificial, o controle dos ruídos negativos e a presença de
vegetação. Essa se destaca entre os demais por contribuir tanto
para o conforto térmico, visual, acústico e olfativo do edifício, como
por oferecer a sensação de aconchego aos pacientes e aproximar
os acamados aos ambientes externos.
Assim como a humanização, a Sustentabilidade também não
é um conceito novo em sua totalidade, tendo sido apresentado pela
primeira vez no Relatório Brundtland (1987), publicado pela Comis-
são Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sob a coor-
denação pela doutora Gro Harlem Brundtland, da Noruega. Este do-
cumento define desenvolvimento sustentável como um processo de
mudança onde a exploração do recurso, a direção dos investimen-
tos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança ins-
titucional estão em harmonia, aumentando o potencial atual e futuro
03
para atender às aspirações e recursos humanos (CMED, 1987: p.
56). Dessa forma, traz um conjunto de ações que as nações deve-
riam seguir e/ou desenvolver com o objetivo de combinar a susten-
tabilidade ambiental com o crescimento econômico, sobretudo para
que as gerações futuras atendam às suas próprias necessidades.
Em relação à arquitetura hospitalar, Fabio Bitencourt, no ca-
pítulo A sustentabilidade em ambientes de serviços de saúde: um
componente de utopia ou de sobrevivência? (2006), afirma que:
“[…] projetar sustentavelmente um ambiente hos-
pitalar significa criar espaços que sejam ambiental-
mente saudáveis, viáveis economicamente e sen-
síveis às necessidades sociais, considerando toda
a sua amplitude e todas as dimensões envolvidas”
(Bitencourt, 2006: p. 17).
Para tal, esse princípio deve ser aplicado nas diferentes eta-
pas de projeto de um edifício hospitalar, iniciando pela escolha do
terreno e da implantação do projeto até a especificação de materiais
até o descarte dos resíduos gerados durante a etapa de construção,
manutenção e eventual demolição do edifício. Em outras palavras, a
sustentabilidade deve ser aplicada durante todo o Ciclo de Vida Útil
da construção.
Dóris Vilas-Boas, arquiteta especializada na aplicação de
sustentabilidade em edifícios hospitalares, traz em seu artigo Sus-
tentabilidade em estabelecimentos assistenciais de saúde: soluções
do projeto arquitetônico (2011), considerações a respeito da realida-
de brasileira quanto a aplicação desse princípio nos EAS. Segundo
a autora (2011: p. 13), apesar de já ser aplicado em outras tipolo-
gias, como a residencial, e ser uma meta intrínseca à maioria dos
edifícios contemporâneos de grande porte, sua aplicação, no Brasil,
ainda é desconsiderada na maioria dos projetos voltados à saúde.
Dentre os arquitetos que se dedicam a projetar edifícios hos-
pitalares e que se preocupam com a qualidade dos ambientes cons-
truídos, o Arqto. Siegbert Zanettini se destaca em razão a sua mate-
rialidade arquitetônica, voltada sobretudo para a industrialização e
o desenvolvimento de novas técnicas projetuais. Nascido em 1934
04
e graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer-
sidade de São Paulo (FAU-USP) em 1959, faz parte da geração de
arquitetos inseridos na produção paulistana da arquitetura desde os
anos 50. Na década de 1970, realizou seu primeiro projeto hospita-
lar, o Hospital Maternidade De Vila Nova Cachoeirinha, localizado
na capital paulista. A partir daí, começou a questionar a produção
da sua geração, desenvolvendo uma linguagem mais tecnológica
voltada, sobretudo, para a ecoeficiência bioclimática.
Entre os vários projetos destinados à saúde realizados pelo
arquiteto Zanettini, foi escolhido como objeto de estudo de caso o
Hospital São Camilo – unidade Pompeia (Figura 1), na cidade de
São Paulo. O bloco original do hospital, construído na década de
1923, sofreu sua primeira intervenção projetada por Zanettini em
1999, que foi futuramente englobado no projeto do Complexo São
Camilo, formulado pelo arquiteto no ano seguinte. No período 2000-
20, foram realizadas diversas intervenções, sendo construídos qua-
tro novos blocos, todos apresentando a aplicação de técnicas de
humanização e soluções sustentáveis.
05
Figura 1 Diagrama de implantação do Hospital São Camilo Pompeia, baseado no projeto do arqto. Zanettini.
Fonte:acervo pessoal da autora, 2024.
06
Objetivo da pesquisa
A presente pesquisa teve como objetivo analisar as caracte-
rísticas da arquitetura hospitalar e os princípios da humanização e
sustentabilidade aplicados às construções de saúde, analisando cri-
ticamente como o arquiteto Siegbert Zanettini usou esses conceitos
no projeto de expansão do Hospital São Camilo Pompeia, visando
proporcionar conforto aos pacientes, médicos e funcionários.
Metadologia da pesquisa
Como metodologia de pesquisa adotada, a Pesquisa de Es-
tudo de Caso consiste em uma estratégia para realizar a investiga-
ção empírica de questões contemporâneas e situações especificas.
Segundo o livro O Estudo de Caso como Modalidade de Pesquisa,
de Magda M. Ventura (2007: pp. 385-386):
“Esta metodologia tem grande utilidade em pesquisas
exploratórias por possuir uma grande maleabilidade,
sendo recomendada o seu uso em fases iniciais das
investigações quando o tema é mais complexo, prin-
cipalmente para a elaboração de hipóteses e proble-
mas da pesquisa. Da mesma forma, o estudo de caso
pode ser aplicado em situações em que o objeto já
é conhecido a ponto de ser determinado como uma
situação ideal ou também em um cenário onde há
exploração de novos processos ou comportamentos,
porque ele traz a função importante de construir hipó-
teses e teorias.”
Robert K. Yin, em seu livro Estudo de caso: Planejamento
e Métodos (2001: p. 27), explica que o estudo de caso conta com
muitas técnicas e ferramentas utilizadas pelas pesquisas históricas,
porém sua maior particularidade é a ampla variedade de evidên-
cias, coletadas e catalogadas junto a fontes secundárias e primárias
de pesquisa. Segundo Rosália Ono et al., na publicação Avaliação
Pós-Ocupação (2018: p. 121), algumas das ferramentas utilizadas
para a coleta de dados apresentam um caráter mais qualitativo, en-
07
tre elas: o walkthrough, walkfinding, entrevistas individuais ou em
grupo, poema dos desejos, métodos observacionais e discurso do
sujeito coletivo.
Entre os citados, foram escolhidos para a aplicação nessa
pesquisa apenas as entrevistas e leituras espaciais do projeto arqui-
tetônico, adquirido junto ao escritório Zanettini Arquitetura. Os pro-
jetos de iluminação, estrutura, elétrica e complementares não foram
disponibilizados para estudo pelo Hospital São Camilo Pompeia.
Em um aspecto geral, as entrevistas são importantes para
conseguir compreender a interação entre a pessoa e o ambiente,
apresentando, segundo Yin (2001: pp. 111, 114), uma espontaneida-
de, não apenas para conseguir dados referentes as interpretações
do entrevistado a respeito de acontecimentos específicos, como
também permitir conseguir outras evidências a partir dos relatos re-
alizados.
Para conseguir informações e relatos a respeito da arquite-
tura do Hospital São Camilo Pompeia, do processo de criação de
projeto e definição dos parâmetros arquitetônicos foram realizadas
entrevistas com o Arqto. Siegbert Zanettini e com a Arqta. Dyane
Assis de Arruda, arquiteta do hospital que também nos acompanhou
durante a visita técnica ao edifício.
Em virtude do objeto de estudo de caso se tratar de um edi-
fício hospitalar e ter um caráter mais técnico, de análise projetual,
foi decidido por não realizar nenhuma coleta de dado envolvendo,
de forma direta, pacientes e funcionários do corpo médico e enfer-
magem. A fim de assegurar a privacidade de todos os envolvidos
na pesquisa, foi distribuído o Termo de Consentimento Livre e Es-
clarecido (TCLE), o qual é um documento que assegura aos partici-
pantes da pesquisa os seus direitos. Nele, todos estão cientes dos
procedimentos realizados, dos riscos e benefícios da pesquisa, bem
como expressam o seu consentimento quanto à participação no pro-
cesso (Ono et al., 2018: pp. 69,70).
08
Estrutura da dissertação
Ventura (2007: p. 385) afirma que um estudo de caso não
apresenta um roteiro rígido que deve ser utilizado pelos pesquisa-
dores de modo a chegar a um determinado resultado, porém é pos-
sível dividir esse método de pesquisa em quatro fases correlatas,
sendo elas: determinação da unidade-caso; realização da coleta de
dados; seleção, análise e interpretação dos dados; e elaboração do
relatório final. Essa dissertação, portanto, se caracteriza como o do-
cumento contendo o relatório final e a análise dos dados levantados,
realizada a partir do embasamento teórico.
Para tal, o trabalho se divide em duas partes. A primeira,
contendo três capítulos que expõem a revisão teórico-conceitual da
temática da pesquisa; e a segunda parte, com três capítulos relacio-
nados ao objeto de estudo de caso, o arquiteto autor do projeto e a
análise dos dados coletados. Portanto, a dissertação apresenta-se
organizada da seguinte forma, a partir desta Introdução:
O Capítulo 1, Aspectos da Arquitetura Hospitalar, aborda
uma breve evolução da arquitetura hospitalar e sua relação com
outras áreas de conhecimento, como a Medicina e Psicologia. Por
ser um capítulo de entendimento a respeito desse ramo da arquite-
tura, também apresenta um levantamento a respeito do programa
e organização espacial da edificação de saúde contemporânea e
as suas principais características projetuais. Para fundamentar tais
argumentações, são adotados como textos-base: Anatomia do edi-
fício hospitalar, de Lauro Carlos Miquelin (1992); Manual prático de
arquitetura hospitalar, de Ronald de Góes (2011); e Compreenden-
do o edifício de saúde, de João Carlos Bross (2013).
O capítulo seguinte, intitulado Humanização dos espaços
para a saúde, apresenta uma análise das características da hu-
manização espacial, desde a definição do conceito até a descrição
dos elementos que afetam a qualidade dos ambientes internos e
externos de Edifícios Assistenciais à Saúde (EAS), bem como as
09
dificuldades encontradas pelos arquitetos para aplicar este princípio
atualmente. Esse capítulo adota Arquitetura, razão e sensibilidade,
de Siegbert Zanettini (2002); Humanização de ambientes hospita-
lares: características arquitetônicas responsáveis pela integração
interior/exterior, de Renata T. B. Vasconcelos (2004); e O espaço
arquitetônico como elemento terapêutico: a função da ambiência na
recuperação e na qualidade de vida do paciente internado, de Pier
P. B. Pizzolato (2014), como textos-base devido a sua importância e
aprofundamento ao tema.
O capítulo 3, Sustentabilidade na Arquitetura Hospitalar,
é dedicado tanto ao levantamento histórico desse princípio como a
categorização as técnicas projetuais sustentáveis aplicadas em edi-
fícios hospitalares e sua importância para a qualidade dos ambien-
tes dessa tipologia. Foram adotados, portanto, o documento Quali-
ficação e sustentabilidade das construções dos estabelecimentos
assistenciais de saúde, do Ministério da Saúde (2014) e o livro Ar-
quitetura Ecológica, da Dominique Gauzin-Müller (2011), como tex-
tos-base.
No quarto capítulo , Arqto. Siegbert Zanettini: ideias e
obras, são apresentados as contribuições do arquiteto para o cam-
po da arquitetura, especialmente a hospitalar.
O quinto capítulo possui como foco o objeto de estudo de
caso, o Hospital São Camilo Pompeia. Nele não apenas é apre-
sentado o levantamento histórico do projeto como as suas carac-
terísticas arquitetônicas, enfatizando as relacionadas com os dois
princípios descritos nos capítulos anteriores. O intuito desse capí-
tulo é trazer, junto de todo o embasamento teórico, a análise crítica
acerca dos dados levantados durante as visitas técnicas realizadas
no hospital e a análise do seu projeto arquitetônico.
O quinto capítulo possui como foco o objeto de estudo de caso,
o Hospital São Camilo Pompeia. Nele não apenas é apresentado
o levantamento histórico do projeto como as suas características
arquitetônicas, enfatizando as relacionadas com os dois princípios
descritos nos capítulos anteriores. O intuito desse capítulo é trazer,
junto de todo o embasamento teórico, a análise crítica acerca dos
10
dados levantados durante as visitas técnicas realizadas no hospital
e a análise do seu projeto arquitetônico.
Por fim, as Considerações finais, apresentam as conclu-
sões dessa pesquisa.
11
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
1.1 Breve história da arquitetura hospita-
lar
Não é possível analisar a evolução da arquitetura hospitalar
sem descrever e discutir o progresso da Medicina, uma vez que
as descobertas, técnicas e tecnologias médicas influenciaram a for-
ma como o paciente era tratado, o seu processo de cura e, conse-
quentemente, o espaço arquitetônico necessário. Essas influências
foram percebidas tanto na arquitetura dos ambientes construídos
quanto nas grandes intervenções urbanísticas e sanitárias.
De acordo com Roy Porter, em seu livro Cambridge História
Ilustrada da Medicina (1996: p. 12), os seres humanos, chamados
de “caçadores-coletores”, passaram por experiências que foram fun-
damentais para o seu desenvolvimento. Por viverem em pequenos
grupos e de forma nômade, permaneciam em um mesmo ambiente
por pouco tempo, não poluindo as fontes de água com dejetos hu-
manos nem acumulando resíduos, uma vez que não praticavam a
agricultura e a domesticação animal. Como consequência, não so-
friam com a incidência de doenças tanto de origem vegetais, como
as doenças do milho, como bacterianas ou virais, como a varíola,
transmitida pelos animais.
Com a agricultura e da domesticação animal, os seres hu-
manos aumentaram a capacidade de sobrevivência em relação aos
ambientes em que habitavam. Viviam em grupos sociais e cultu-
rais, onde, quando um integrante ficava doente, buscavam, em seus
conhecimentos primitivos, formas de minimizar as dores sofridas e
restaurar a sua saúde. Por fim, buscavam nas crenças religiosas
Capítulo 1
Aspectos da arquitetura hospitalar
13
Figura 2
Cannabis: uma planta
com múltiplos usos ao
longo da história.
Fonte: Matyszak, 2019.
uma maneira de aliviar as angústias emocionais, proporcionando
um controle sobrenatural ao ato de cura e vinculando a Medicina a
religião.
Dessa forma, a ação de cura, diretamente ligada à busca
constante pela diminuição da dor, não pertence a uma civilização ou
cultura específica, ocorrendo em diversos tempos e lugares. Com
isso, não é possível estabelecer uma única origem para o conceito
para a cura ou espaço hospitalar.
Para permitir que os pacientes sofressem menos durante os
tratamentos e procedimentos cirúrgicos, determinados tipos de dro-
gas e bebidas alcoólicas eram aplicados no corpo humano, tanto
interna como externamente, devido aos seus efeitos anestésicos e
entorpecentes. Philip Matyszak (2019), estudioso das civilizações
clássicas, destaca a papoula, e a cannabis (Figura 2), que chegaram
ao norte e ao centro da Europa há mais de cinco mil anos através da
Rota da Seda, que ligava o Oriente à Europa e ao leste africano.
Além de utilizadas como
entorpecentes, essas drogas
também poderiam auxiliar no
alívio aos doentes terminais sem
chance de sobrevivência. Isso
se deve ao fato de que as civi-
lizações, desde a Mesopotâmia,
já apresentavam consciência de
que essas, e outras substâncias
psicoativas, causavam a morte
quando utilizadas em excesso,
como constatado por Hipócra-
tes.
Como já mencionado,
pessoas realizavam ritos religio-
sos para as entida-des enquanto
aplicavam medicamentos para
tentar a cura. Nota-se, então,
uma maior relevância dada pela
14
busca da cura da alma, deixando a cura física em segundo plano.
Embora existam registros que demonstram êxitos e milagres
realizados, há outros que indicam fracassos em que o enfermo su-
cumbia a doença. Niall Ferguson relata um exemplo de Medicina
primitiva em seu livro Civilização: Ocidente x Oriente (2011). Segun-
do seus relatos:
“[…] a aldeia de Jajak é notável porque tem nada menos
que três curandeiros tradicionais, um deles uma mulher
idosa chamada Han Diop. As pessoas vêm de quilôme-
tros de distância para consultá-la e, conforme me contou
quando a visitei em Jajak, em 2010, ela é capaz de curar
qualquer coisa […] com remédios à base de ervas e uma
pitada de profecia. Este tipo de medicina vem sendo pra-
ticado pelos africanos há centenas, talvez milhares de
anos. […] As ervas e os feitiços são notadamente ine-
ficazes contra a maioria das doenças tropicais” (Fergu-
son, 2011: p. 206).
Embora muitos pesquisadores e historiadores atribuírem a
origem da tradição da Medicina aos gregos e romanos, outras civili-
zações já praticavam procedimentos médicos anteriormente, como
na Antiga Mesopotâmia e no Egito. Em escavações no Oriente Mé-
dio, foram encontrados fragmentos de textos babilônicos antigos,
gravados em tabletes de argila, contendo a descrição de diversos
sintomas de doenças, muitas delas infecciosas. Essas, e outras atri-
buídas a males sobrenaturais, eram tratadas por dois tipos diferen-
tes de xamãs. O primeiro se dedicava aos encantamentos e rituais
de cura, aplicando o exorcismo para afugentar os “demônios” do
corpo dos doentes. O segundo tratava os enfermos com a aplicação
de drogas, poções, bandagens e similares (Porter, 1996: pp. 49, 50).
Todavia, devido aos registros não indicarem os espaços onde
eram realizadas as ações de cura, muitos pesquisadores acredita-
ram, por muito tempo, que essa civilização não possuía médicos,
deixando os cuidados para os leigos. Essa controvérsia pode ser
observada no livro História e Evolução dos Hospitais, publicado pelo
Ministério da Saúde em 1965. Segundo o livro, a prática da medici-
na era realizada nos mercados, onde os tratamentos dos doentes
eram decididos segundo os pareceres das pessoas ali presentes
(Brasil, 1965: p. 08).
15
Figura 3
Papiro contendo dese-
nho dos instrumentos ci-
rúrgicos.
Fonte: BBC, 2017.
Nos templos egípcios, os
sacerdotes dividiam-se em espe-
cialidades. Enquanto alguns se
concentravam exclusivamente
nas dores que afetavam a cabeça,
outros cuidavam dos dentes, do
abdômen, ou das doenças invisí-
veis. Para isso, usavam os senti-
dos para identificar as alterações
patológicas, tocando, observando
e, em alguns casos, cheirando o
paciente (Porter, 1996: p. 51). Os
cuidados com o corpo do enfermo
se concentravam em sua limpeza,
tanto externa quanto interna, com
banhos perfumados e enemas, ao
mesmo tempo em que eram apli-
16
cados purgantes e outras drogas. Por fim, realizavam cirurgias utili-
zando diferentes instrumentos (Figura 3) (BBC, 2017).
Outra prática importante presente na cultura egípcia é o ato
de mumificação. Ao preservarem o corpo, os egípcios não apresen-
tavam a mesma visão religiosa de outras civilizações a respeito do
manuseio do cadáver. Durante a dissecação, retiravam os órgãos,
aprendendo sobre anatomia ao mesmo tempo em que os analisa-
vam, identificando suas ligações com determinadas doenças. As-
sim, desenvolveram sua medicina e técnicas médicas, que, em
conjunto com a medicina mesopotâmica, se estenderam a outras
civilizações, dentre elas, a Grécia Antiga.
Para os gregos, os pacientes eram tratados em três locais
diferentes, conforme o livro Anatomia dos edifícios hospitalares
(1992), de Lauro Miquelin. Segundo o autor (1992: p. 29), a primeira
forma de atendimento era realizada nas hospedarias denominadas
Xenodochium, onde se prestavam assistência tanto à população
quanto aos estrangeiros. O segundo local de atendimento eram as
moradias estabelecidas pelos médicos para abrigar seus pacientes
durante o período de tratamento, denominadas Iatruia, ou Iatreion.
Figura 4
Relevo em homenagem
ao deus da cura Asclépio
que está se apoiando no
bastão com a serpente
entrelaçada, 350 a.C.
Fonte: Porter, 1996: p.
47.
Por último, os Templos de Asclépio, os mais utilizados.
Conforme os registros e a mitologia grega, Asclépio (Figura
4) era um ser humano que passou a ser considerado o Deus da
Medicina. Na mitologia, era filho de Apolo, Deus do Sol, dedicou-se
ao aprendizado da arte médica. Aprendeu ofícios que se relaciona-
vam com o trabalho manual e com a natureza, utilizando dos pode-
res medicinais das plantas para tratar dos enfermos. Como Deus
da Medicina, suas intervenções ocorriam principalmente durante os
sonhos dos enfermos, curando-os diretamente ou revelando para si
qual procedimento deveria ser realizado para que este fosse cura-
do.
17
Os templos dedicados a Asclépio eram localizados fora das
cidades gregas, próximos a bosques e cursos d’água. O Templo de
Asclepieion de Cos (Figura 5), construído no século II a.C., é um
dos mais importantes, porque era ali que Asclépio ensinava seus
discípulos.
Segundo registros, esse templo, implantado em 3 diferentes
terraços, trazia a separação entre o pórtico utilizado pelos sacerdo-
tes, localizado no terraço superior, e o Enkoimeterion, construído
no terraço inferior. Essa diferenciação foi realizada, principalmente,
Legenda:
Terraço superio:
1. Templo de Asclépio
2. Pórtico
Terraço mediano
1. Altar
2. Templo de Apolo
3. Templo de Asclépio
Terraço inferior
1. Acesso
2. Pórtico dos pacientes
3. Fonte e áreas de treina-
mento
Figura 5
Planta de reconstrução esque-
mática do Asclepieion de Cos.
Fonte: Miquelin, 1992: p. 30.
porque os pórticos em volta do templo eram utilizados apenas du-
rante o período de “incubação”, onde, após a consulta, o paciente
tinha que se retirar. O local sagrado tinha como finalidade dar ao do-
ente acesso à decisão terapêutica ou prognóstica divina. Dessa for-
ma, os tratamentos aos pacientes ocorriam no Enkoimeterion. Essa
construção compartimentada era aberta para o Templo e fechada
para o exterior, com dimensão de 110 metros de comprimento por
11 metros de profundidade e uma fachada marcada por 41 colunas
dóricas. Em seu interior, 17 colunas jônicas dividiam os espaços em
duas galerias separadas. (Miquelin, 1992: pp. 29, 30).
18
De acordo com José Leopoldo Ferreira Antunes, no livro
Hospital: instituição e história social (1991), foram encontradas, em
escavações arqueológicas nas ruinas do templo, placas contendo
descrição das doenças da época e instruções sobre os procedimen-
tos curativos que deveriam ser realizados. Estes eram lidos com fre-
quência pelos médicos e aprendizes, servindo como um apoio para
educação prática da arte da cura (Antunes, 1991: p. 27). É possível
afirmar que estes seriam os primeiros registros de prontuário clínico
completo, com a descrição dos sintomas, dos remédios e dos méto-
dos curativos utilizados.
Dentre os discípulos de Asclépio, se destaca Hipócrates
(460–377 a.C.), conhecido como o “pai da Medicina”. Autor de 60
tratados, reunidos no Corpus Hippocratius, nos quais desmente a
origem sobrenatural nas doenças, atribuindo-as ao comportamen-
to humano e elementos naturais. Hipócrates defendia que médicos
deveriam estar atentos aos comportamentos e rotinas dos pacien-
tes para conseguir compreender as enfermidades que os afetavam,
para assim, encontrar a forma correta de tratamento. Em virtude
dessa argumentação, é possível afirmar que, nesse momento, fo-
ram realizados os primeiros estudos, ainda que primitivos, a respei-
to de como o ambiente influencia o ser humano e como a rotina, a
dieta e o estado emocional interferem em sua saúde.
Segundo o artigo A epidemiologia de Hipócrates ao Século
XXI (2014), de Carlos Pereira e Nélio Veiga, Hipócrates desenvolveu
a Teoria Humoral Hipocrática, na qual o corpo humano é composto
por quatro humores, diretamente relacionados às quatro vísceras.
São eles: o sangue, que está ligado ao coração; a fleuma, presen-
te no sistema respiratório; a bílis amarela, produzida pelo fígado;
e a bílis negra, encontrada no baço. A doença, portanto, se mani-
festava quando um ou mais desses humores estão desregulados.
Consequentemente, interpretavam certos sintomas, como vômitos,
suor excessivo, tosse e hematúria, entre outros, como uma tentati-
va do organismo de liberar o excesso desses humores, de modo a
restaurar a normalidade. Portanto, competia ao médico prescrever
mudanças alimentares e realizar sangrias para auxiliar o corpo a se
19
recuperar, reforçando o tratamento com a aplicação de medicamen-
tos (Pereira; Veiga, 2014: p. 133).
Ao contrário dos egípcios, os médicos gregos não tinham o
hábito de realizar a dissecação dos corpos humanos, tratando as
doenças como sendo desequilíbrios do corpo e da alma, realizando
cirurgias apenas quando necessário, acompanhadas pelo uso de
drogas, provenientes do Egito, e vinho nos locais onde seriam reali-
zadas as operações para diminuir a sepse. Além disso, tinham uma
compreensão equivocada sobre a anatomia humana até o século IV
a.C., quando o conhecimento anatômico sofreu grandes alterações
devido às investigações zoológicas e biológicas realizadas, sobre-
tudo, por Aristóteles e Diócles de Carystus, autor do primeiro livro
sobre dissecação animal (Porter, 1996: pp. 53, 54).
Os progressos em anatomia humana surgiram fora da Gré-
cia, na nova cidade de Alexandria. As conquistas de Alexandre, o
Grande (reinou de 336-323 a.C.), trouxeram a civilização helênica
para fora da bacia do Egeu, cobrindo todo o Oriente Médio. A partir
de 250 a.C., o mundo helênico sucumbiu ao poder militar de Roma.
Até 80 a.C., os médicos gregos e as ideias eram comuns na Itália,
criando os metodistas, que desde 60 d.C. foram dominantes na me-
dicina latina (Porter, 1996: pp. 54, 55).
De acordo com diversos historiadores, a Roma Antiga apre-
sentava três formas de assistência aos doentes. A primeira forma diz
respeito ao atendimento doméstico, onde os sacerdotes visitavam
as residências de seus pacientes para realizar o ato de cura. Segun-
do Leonardo Benevolo, no livro História da Cidade (1982), existiam
duas tipologias residenciais romanas: as domus (Figura 6) e as in-
sulae (Figura 7). As domus eram casas térreas ou sobrados, típicas
das cidades mediterrâneas e usadas pelas famílias mais ricas, que
ficavam fechadas para o exterior e abertas para os espaços internos
que, por sua vez, eram agrupados em torno do átrio e peristilo. As
insulae eram construções coletivas com múltiplos andares somando
uma área de 300 a 400 m² de área, com espaços para comércio no
térreo e muitos cômodos nos pavimentos superiores, com janelas
e balcões voltados para os caminhos externos (Benevolo, 1982: p.
20
Figura 6 Fragmento da forma urbis onde são observados, à esquerda, três domus, uma ao
lado da outra. Fonte: Benevolo, 2019: p. 185.
Figura 7 Fragmento da forma urbis com plantas de insulae. Fonte: Benevolo, 2019: p. 185.
21
Figura 8
Termas de Badenweiler,
aproximadamente 70
d.C.
Fonte: Miquelin, 1992:
p. 32.
Legenda:
1. Entrada;
2. Pátios;
3. Vestiários;
4. Captação de
fonte;
5. Banhos termais;
6. Banhos frios;
7. Banhos quentes;
8. Banhos de vapor.
175). Além da diferença de classes, é possível notar, também, a se-
melhança entre as Insulae romanas e as Iatreions gregas, por serem
usadas, sobretudo, como hospedarias
A segunda vertente diz respeito às Termas. Essas constru-
ções, presentes em todo o Império Romano, são consideradas como
grandes modelos de arquitetura sanitária, vinculadas aos aquedutos.
Eram locais onde os romanos se dirigiam para tomar seus banhos e
realizar seus tratamentos, além de permitir interações sociais, cultu-
rais e momentos de lazer. Geralmente, compreendiam a um saguão
de entrada que dava acesso aos vestiários, salas de repouso, salas
de banho quente (caldarium), e as piscinas para banho frio (frigida-
rium) (Miquelin, 1992: p. 31).
Além de Termas romanas como as de Caracala, construída
por volta de 216 d.C. em Roma, existiam outras em todo o Império
Romano, dentre elas as Termas de Badenweiler (Figura 8). Constru-
ídas por volta de 10 d.C. onde atualmente localiza-se o estado ale-
mão Baden-Württemberg, suas ruínas foram encontradas em 1784
por um grupo de arqueológicos e historiadores.
22
Figura 9
Corte com indicação da
localização das caldeiras
(em laranja).
Fonte: Boeyung, 2009:
p. 137.
Segundo Ulrich Boeyung, em seu artigo publicado na revista
Denkmalpflege in Baden-Württemberg (Conservação de monumen-
tos de Baden-Württemberg) (2009), os arqueólogos constataram
que a construção apresentava uma organização espacial peculiar,
com entradas distintas para homens e mulheres, o que não era uma
solução aplicada com frequência. Essas entradas abobadadas da-
vam acesso aos vestiários, que, por sua vez, apresentavam absides
semicirculares, quatro lavatórios nas paredes longitudinais, circun-
dados por nichos semicirculares para a instalação de estátuas, e
uma passagem para o banheiro adjacente. As bacias de banho, ba-
nheiros, pisos e rodapés foram revestidos com opus signinum (arga-
massa de tijolo triturado finamente), enquanto as paredes apresen-
tavam revestimentos com afrescos. Após deixarem os vestiários, os
romanos podiam tomar banhos termais nas piscinas maiores, que
apresentavam um volume de 60 metros quadrados e 1 metro de
profundidade. Estas eram rodeadas por corredores estreitos que
conduziam às escadarias de acesso aos banhos quente e frio, bem
como ao banho de vapor. Junto a parede norte, se encontrava a
captação de água, que era direcionada as caldeiras (Figura 9) (Bo-
eyung, 2009).
Os Valentudinarium (Figura 10) representam a terceira ver-
tente. Esses eram os hospitais militares de campanha, que ofere-
ciam assistência aos legionários e aos escravos que lutavam nas
guerras. Eram situados distantes dos centros dos acampamentos,
de modo a proporcionar a recuperação dos doentes, além de ofe-
recer serviços farmacêuticos e cirúrgicos básicos. A construção era
23
Figura 10
Plano de Construção do
Valentudinarium de Vin-
donissa. Detalhe: dispo-
sição das enfermarias.
Fonte: Antunes, 1991: p.
35.
composta por dois blocos, sendo o primeiro localizado no centro,
contendo a cozinha e o refeitório. O segundo, circundava completa-
mente o pátio central e um único corredor dava acesso aos quartos
compartilhados, com capacidade para três pacientes. Por não pos-
suírem uma comunicação direta com o corredor central, os dormitó-
rios apresentavam uma redução da quantidade de poeira e ruído em
seu interior, além de uma maior privacidade (Antunes, 1991: pp. 33,
34).
Na metade oriental do Império Romano, a medicina era pra-
ticada por imigrantes de baixa renda, enquanto, na parte ocidental,
médicos gregos exerciam a sua profissão como magistrados e mé-
dicos civis (Porter, 1996: p. 55). Galeno (n. 129 d.C.) além de ter
sido um dos principais estudiosos do período, foi um dos intérpretes
de Hipócrates, conciliando seus ensinamentos sobre o funciona-
mento do organismo saudável com a filosofia de outros pensado-
res, como Platão (428-348 a.C.) e Aristóteles (384–322 a.C.). Ao
analisar a prática médica realozada em sua época e observar que
alguns medicavam seus pacientes sem a aplicação de nenhum mé-
todo para identificar as doenças sofridas, Galeno defendia a ideia
24
de que todos os médicos deveriam dominar a interdisciplinaridade.
Nas palavras das cientistas Camille Bertha Stülp e Samira Schultz
Mansur, Galeno defendia que:
“[…] o médico deveria dominar a lógica (arte de pensar),
a física (ciência da natureza), a ética (norma de condu-
ta), a filosofia - situada no âmago da ciência -, e a con-
fiança do paciente, ato imprescindível para a cura, e não
ser um simples prático de doenças baseado no empiris-
mo” (Stülp; Mansur, 2019: p. 158).
Dessa forma, Galeno começou a elaborar teorias a respeito
do organismo, com base nos ensinamentos hipocráticos e nas dis-
secações de animais, além de descrever diversas doenças como
a malária, a peste e a tuberculose. Além disso, Galeno sustentava
que a maioria dos sintomas apresentados pelos pacientes estavam
relacionados a fatores emocionais, sugerindo que os médicos tam-
bém prescrevessem técnicas para os enfermos poderem exercer
controle sobre suas emoções, visando manter uma vida saudável
(Stülp; Mansur, 2019). É possível afirmar que aqui estão os primei-
ros pensamentos e registros referente a Psicologia, apesar do seu
desenvolvimento ter ocorrido somente alguns séculos depois, como
uma ramificação da Filosofia.
Com a decadência do Império Romano, o sistema de hospi-
tais criados pelos gregos e romanos perdeu força. A conquista árabe
do século VII despertou o interesse dos árabes a se interessarem
pela Medicina Romana, fundamentada nos textos de Galena e nos
tratados médicos gregos, levando-os a construir espaços que se-
riam novos modelos de espaços de saúde, como o leprosário.
Na cultura islâmica, o modelo hospitalar chamou-se Bima-
ristan (bimar = pessoa enferma, e stan = casa) (Figura 11), que,
além de oferecer tratamentos aos doentes, também servia como
local de ensino da prática médica. Essa construção apresenta uma
implantação ortogonal, estabelecendo uma diferenciação entre o
atendimento masculino do feminino, além da divisão dos pacientes
de acordo com as patologias apresentadas. Devido à influência bi-
zantina, o hospital apresenta áreas para atendimento e consultas
externas, despensa de medicamentos e áreas reservadas para os
enfermos com doenças mentais. Os muçulmanos, por se preocu-
25
Figura 11
Xenodochium Bizantino, ou
Bimaristan, localizado em
Baghdad.
Fonte: Miquelin, 1992: p. 34.
Legenda:
1. Entrada
2. Pórtico
3. Pátio Central
4. Quartos
5. Lojas
parem com a higiene e a salubridade nos ambientes internos, apli-
caram estratégias para distribuir água e ventilação em seu interior,
além de oferecer a aproximação com a natureza (Miquelin, 1992: p.
34).
Foi no Oriente Médio que surgiram os primeiros tratados mé-
dicos após Hipócrates, Galeno e a Dioscórides, abrangendo desde
estudos sobre diferentes especialidades, como a pediatria e a oftal-
mologia, até a distinção entre doenças. Al-Zaharawi (Albucasis), por
exemplo, produziu excelentes trabalhos cirúrgicos, nos quais relata-
va detalhes de complexas operações abdominais (Porter, 1996: p.
61).
Na Europa medieval, a prática médica se vincula à religião
católica, sendo realizada nos mosteiros e conventos. Como os mon-
ges tinham conhecimento de latim, estudavam e transcreviam os
textos galênicos e hipocráticos, aprendendo a diagnosticar as doen-
ças ao mesmo tempo em que ofereciam os tratamentos adequados
nas enfermarias e ambulatórios, situadas dentro dessas constru-
ções.
O mosteiro de St. Gallen (Figura 12), de 820 d.C., na Suíça,
é um dos maiores exemplos de implantação das enfermarias nos
mosteiros. Ao examinar a planta, é possível identificar uma setoriza-
ção espelhada, com a capela como seu eixo central e uma organiza-
26
Figura 13
Hospital do Santo Espíri-
to de Lübeck 1286. Sem
escala.
Fonte: Miquelin, 1992: p.
32.
Figura 12
Plano de St. Gallen (São
Galo), Suíça, 820 d.C.
Fonte: Costa, 2009: p. 12.
Legenda:
1. Entrada
2. Vestíbulo
3. Capela
4. Altar
5. Nave dos leitos
6. Pátio
7. Serviços
27
ção espacial que se assemelha às construções romanas, ao rodear
os pátios abertos com galerias arcadas. Essa setorização marca a
diferença entre os espaços utilizados pelos pacientes, à esquerda,
e os que são exclusivos dos noviços, à direita. Além dessa constru-
ção, outros blocos também auxiliavam no tratamento dos enfermos,
tais como: o destinado à sangria, uma prática médica bastante di-
fundida desde a antiguidade; os quartos utilizados pelos pacientes
em estado crítico; as cozinhas; os banheiros; o cemitério; e o Jardim
de Ervas Medicinais, ou Jardim terapêutico, onde eram plantadas as
ervas utilizadas na fabricação de fitoterápicos.
Infelizmente, alguns monastérios não foram construídos, o
que alterou a morfologia básica do hospital medieval. Esses edi-
fícios passaram a apresentar a tipologia em nave, refletindo os
avanços das técnicas estruturais, sobretudo por apresentarem vãos
maio¬res e melhores condições de iluminação e ventilação, além
de separarem os pacientes por patologias e sexo (Miquelin, 1992: p.
32).
Esses edifícios (Figura 13) eram compostos por um corpo
principal dedicado à nave, onde os leitos eram enfileirados e ilumi-
nados por grandes aberturas. O altar era localizado nas extremi-
dades desse ambiente, normalmente próximo à entrada principal,
facilitando seu acesso, seja física ou visualmente. Algumas salas
menores possuíam acessos diretos a nave e eram utilizados duran-
te os tratamentos e para isolamento, enquanto os demais espaços,
de suporte ao funcionamento do hospital, eram localizados na parte
externa, se conectando ao edifício por circulações cobertas e claus-
tros.
Durante a Idade Média, doenças como a Peste Negra devas-
taram a Europa, causando inúmeras mortes. Dessa forma, os admi-
nistradores das cidades medievais desenvolveram ações públicas
visando manter a saúde coletiva, tais como: o recolhimento da água
das chuvas para consumo doméstico; a proibição da entrada de mi-
grantes na cidade; o desbloqueio das vias de irrigação; o fechamen-
to dos portos marítimos; a aplicação de quarentenas, dentre outras
(Antunes, 1991: p. 103). Apesar de serem primitivas, essas seriam
28
Figura 14
Lazaretto Vecchio de Ve-
neza (1403 / 1630).
Fonte: Lazzaretti Vene-
ziani. Disponível no site:
< https://lazzarettivene-
ziani.it/en/lazzaretti/his-
tory-lazzaretto-vecchio
>. Acesso em: jun. 2023.
as primeiras políticas de saneamento básico em escala urbana a
serem aplicadas na Europa.
Para a realização da quarentena, surgiu um novo tipo de
construção: o Lazareto (Figura 14). Esses estabelecimentos, situa-
dos próximos às fronteiras terrestres e marítimas das cidades, eram
cárceres para todos que apresentavam sinais da doença, perma-
necendo no interior dessas construções até sucumbirem a ela ou
mostrarem indícios de que estavam curados. É importante salientar
que os lazaretos mantiveram sua atividade ininterrupta até o final
do século XX, mesmo quando a ameaça da peste parecia inexistir,
recebendo portadores de diversas patologias, alterando seu nome
para “hospital de isolamento” (Antunes, 1991: pp. 106, 128).
29
Com a busca das elites pelo conhecimento e a recuperação
dos tratados, o Renascimento iniciou-se, marcado por avanços sig-
nificativos na Medicina. Durante este período histórico, o “homem
renascentista” busca um olhar mais empírico. Considera-se uma
criação de Deus, logo, por se considerar superior, ele se vê capaz
de realizar atos que, até então, era considerado impossível. Assim
rompe com os dogmas católicos ao iniciar a dissecação de cadáve-
res a fim de obter uma melhor compreensão do corpo humano. Essa
prática possibilitou o surgimento da figura do médico como é conhe-
cida atualmente, devido ao apoio teórico, científico e prático que
começa a ser aplicado nas práticas médicas e hospitalares. Como
consequência, a medicina foi, gradualmente, se desvinculando da
religião.
Segundo Marchry (2010: p. 121), além do surgimento da epi-
demiologia, a Teoria dos Miasmas foi desenvolvida, acompanhada
da descoberta do processo de circulação sanguínea e da técnica de
cauterização de feridas, o que permitiu intervenções cirúrgicas mais
delicadas. É a partir deste momento, que os edifícios hospitalares
sofrem uma alteração em seu dimensionamento e complexidade,
inserindo-se no contexto urbano. A implantação em nave é substi-
tuída pela cruciforme, com pátios internos rodeados por galerias e
corredores. Porém, há registros de variações quanto aos formatos
de implantação dos hospitais desse período histórico, onde era pos-
sível encontrar exemplares em cruz, “T”, “L”, “U” e plano quadrado
(Miquelin, 1992: pp. 40, 41).
Dentre os hospitais renascentistas, o Ospedale Maggiore de
Milano (1456) (Figura 15), projetado por Filarete, é considerado o
mais importante hospital do Renascimento Italiano, apesar de ter
sido construído parcialmente. A implantação foi realizada em um
plano quadrado, demonstrando a simetria do conjunto, onde todos
os alojamentos foram organizados em um plano cruciforme, apoia-
do por pátios e galerias. Filarete demonstrou preocupação com a
salubridade e o saneamento em seu projeto, ao incluir: cabines sa-
nitárias junto aos leitos; áreas de serviço de lavagem de roupas lo-
calizadas sob os alojamentos; um sistema de esgoto que dispunha
30
Figura 15
Ospedale Maggiore de
Milão.
Fonte: Miquelin, 1992: p.
41.
de um dispositivo de autolimpeza aproveitando a pressão e o volume
das águas pluviais; e fácil acesso aos locais de banho (Miquelin, 1992:
p. 41).
Com o progresso científico no âmbito do planejamento hos-
pitalar, no final do século XVIII, surgiram importantes reflexões a
respeito da qualidade do es-paço construído, incentivadas pela ne-
cessidade de reconstrução do Hôtel-Dieu de Paris, cujo prédio foi
atingido por um incêndio de grande magnitude em 1772. Este hos-
pital se tornou um grande exemplo, porém não pela sua excelência.
A superlotação, a falta de ventilação nas salas e a falta de higiene
nos procedimentos cirúrgicos tornaram este hospital em um “mode-
lo negativo para a organização hospitalar” e um “protótipo de tudo
que os hospitais deveriam evitar” (Antunes, 1991: p. 142). A partir
dessa análise, desenvolve-se a tipologia das enfermarias abertas,
que seria posteriormente nomeada como “Enfermaria Nightingale”.
Após suas experiências durante a Guerra da Criméia (1853–
1856), Florence Nightingale identificou os problemas dos hospitais
em termos de insalubridade e superlotação dos quartos, que apre-
sentavam áreas mínimas de leito, resultando na criação da enferma-
ria que receberia seu nome (Figura 16). Esse amplo salão, com um
pé-direito amplo, apresentava leitos dispostos perpendicularmente
às paredes, com janelas altas entre eles, instaladas em ambos os
lados, permitindo a ventilação cruzada e a entrada de luz natural
31
Figura 16
Planta da Enfermaria “Ni-
ghtingale”.
Fonte: Miquelin, 1992: p.
47.
para o interior do ambiente. As salas de isolamento e apoio ocupa-
vam o espaço entre o salão e o corredor de ligação com os demais
pavilhões, enquanto o posto de enfermagem se encontrava ao cen-
tro da enfermaria, próximo ao sistema de calefação ou à lareira.
De acordo com Eudes Campos (2011), o sistema pavilhonar
só foi reconhecido internacionalmente depois do sucesso do hospi-
tal Lariboisière (Figura 17), de Paris, projetado pelo arquiteto Martin-
-Pierre Gauthier (1790–1855) e construído entre 1846 e 1854. Este
hospital apresentava 10 pavilhões com três pavimentos, dispostos
de forma paralela e equidistante, com áreas ajardinadas entre eles,
para oferecer conforto aos pacientes. Ao centro, um grande pátio
que ordenava o espaço, tendo a capela localizada em sua extremi-
dade, que, por sua vez, estava rodeada por outros ambientes que
auxiliavam no funcionamento do hospital.
Nos pavilhões, os leitos eram dispostos próximos às paredes
e as aberturas, que ofereciam ventilação cruzada. Esses leitos eram
dispostos juntos, como um leito duplo, sem divisórias entre eles.
Miquelin (1992: p. 44) complementa a descrição deste hospital ao
mencionar que, ao lado das circulações verticais de cada pavilhão,
os quartos menores eram destinados a pacientes que necessitavam
de maior privacidade, como era o caso das mulheres em trabalho de
parto.
32
Figura 17 Planta do Hospital Lariboisière. Fonte: Campos, 2011
33
Figura 18
Projeção horizontal da
Santa Casa de Misericór-
dia de São Paulo.
Fonte: Silva, 2017
Legenda:
1. Entrada
2. Pátio
3. Capela
4. Administração
5. Farmácia
6. Cozinha
7. Lavanderia
8. Consultas
9. Internações
10. Serviços
A Santa Casa de Misericórdia (1884), localizada em São
Paulo, é considerada um dos exemplos brasileiros de hospitais com
essa tipologia arquitetônica. O hospital, projetado pelos arquitetos
italianos Luigi Pucci e Guilio Micheli, apresenta características que
remetem aos conceitos adotados no hospital de Lariboisière, como
a disposição dos leitos, os pátios e a forma como os pavilhões foram
implantados. Segundo Eudes Campos (2011), Pucci apresentou no
memorial que elaborou para acompanhar seu projeto os aspectos
positivos dessa construção que o levaram a elaborar a solução pro-
jetual. Em suas palavras:
“evita-se com esta disposição o ajuntamento demasia-
do de doentes, formando cada enfermaria um pequeno
hospital, com a vantagem que os commodos de serviço
são communs a todos elles. Outra vantagem das salas
isoladas e relativamente pequenas, é que se podem se-
parar os doentes segundo as differentes enfermidades,
e até em caso de doenças contagiosas pode-se segre-
gar completamente uma ou outra enfermaria” (Campos,
2011).
34
Figura 19
Corte de uma enferma-
ria segundo o sistema
Tollet.
Fonte: Campos, 2011.
O hospital apresentava um programa complexo composto
por: enfermarias, com 200 leitos em sua totalidade; salas de confe-
rências médicas; salas de cirurgia e autópsia; cômodos para os mé-
dicos residentes; cômodos para as irmãs de caridade, enfermeiros
e demais funcionários; rouparia; refeitório; sala dos convalescentes;
despensa e cozinha; capela, sacristia, necrotério e cômodos para o
capelão; salão da Provedoria, arquivo e dependências; biblioteca;
Roda de Expostos, cômodos para criação e educação dos expostos
e ingênuos; casa de banhos e duchas; lavanderia; sala de trabalhos
de costura e engomagem (Figura 18) (Campos, 2011).
No entanto, o foco principal deste projeto não é a complexida-
de do programa, mas sim a solução aplicada pelo Pucci para com-
bater a insalubridade, conhecido como Sistema Tollet (Figura 19).
Este, desenvolvido pelo engenheiro francês Casimir Tollet (1828 –
1899), objetivava garantir a salubridade dos ambientes hospitalares,
permitindo que a ascensão do ar viciado pelo perfil ogival do teto das
enfermarias ocorresse. Após se concentrar no alto das abóbadas, o
ar interno escapava pelos óculos agenciados na parte superior das
paredes extremas das enferma-
rias e pelas chaminés dispostas
ao longo dos pontos mais altos
do teto abobadado. Já o ar junto
ao piso era retirado do ambiente
por dutos instalados no interior
das paredes (Campos, 2011).
Dessa forma, de acordo com
esse sistema, Pucci construiu
os pavilhões com pés-direitos
maiores e abóbodas ogivais, o
que auxiliou o partido higienista
do edifício, complementando as
características neogóticas exis-
tentes.
35
É perceptível que a arquitetura hospitalar deixa de se derivar
da religiosa e palaciana para se concentrar em plantas com uma
organização espacial orientada pelas atividades e necessidades
hospitalares, diferenciando-se dos demais usos devidos, sobretudo,
aos avanços das técnicas e tecnologias médicas. Apesar de a ti-
pologia pavilhonar ter uma qualidade espacial bastante satisfatória,
necessitava de grandes espaços livres devido à sua configuração
horizontal, o que levou ao afastamento dos hospitais dos centros ur-
banos. Os hospitais pavilhonares, construídos em áreas rurais, com
grandes campos abertos e bosques, passaram a tratar de doenças
específicas, como tuberculose e hanseníase, devido à necessidade
de reclusão imposta pelas doenças, bem como à qualidade do ar
puro e à insolação, que auxiliavam no tratamento.
Por volta de 1800, a média mundial de expectativa de vida
ao nascer era de apenas 28,5 anos (Ferguson, 2011: p. 180). O
aumento da expectativa de vida esteve fortemente associado às
melhorias em saneamento básico e saúde pública, acompanhadas
pelo desenvolvimento de vacinas. O bacteriologista ganha um novo
papel na sociedade, sobretudo devido às doenças tropicais trans-
mitidas à Europa durante o Imperialismo, com a colonização dos
continentes africano e asiático. Foram, então, construídos os Insti-
tutos de Medicina Tropical, locais onde as doenças eram estudadas,
tendo como seus melhores exemplares: o Instituto Pasteur (1887)
de Paris, a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (1899)
e o Instituto de Marinha Mercante e Doenças Tropicais (1901), com
sede em Hamburgo.
Segundo Ferguson (2011: p. 204), dentre as contribuições
relacionadas às enfermidades tropicais, destacam-se: a descober-
ta da bactéria Vibrio cholerae, responsável pela cólera, por Robert
Koch; a identificação do bacilo responsável pela peste bubônica, por
Alexandre Yersin; e a exposição minuciosa da etiologia da malária e
do papel do mosquito na sua transmissão, por Ronald Rossa. Dessa
forma, o século XIX torna a África e a Ásia em grandes laboratórios
para a medicina moderna.
Concomitantemente, outros progressos nas técnicas e tecno-
logias médicas foram realizados, dentre elas o desenvolvimento da
36
anestesia, que marcou o século XIX por ser responsável pelo sur-
gimento do bloco cirúrgico. Este corresponde ao agrupamento de
salas de cirurgia, unidades de tratamento intensivo (UTIs), serviços
de suporte, e áreas de preparação e recuperação dos pacientes,
oferecendo uma melhor perspectiva de recuperação e a diminuição
das taxas de mortalidade por infecções.
Maria Alice Lopes Medeiros apresenta algumas indagações
interessantes sobre a arquitetura moderna dos edifícios hospitala-
res. As soluções Iluministas, segundo a pesquisadora (2005: p. 64),
não apresentaram novidades aos hospitais, sobretudo em relação
às suas características arquitetônicas, em contrapartida, os novos
conceitos foram influenciados, principalmente, pela demanda por
leitos para feridos e doentes de guerra, em decorrência da Segunda
Guerra Mundial. Os hospitais precisavam de um dimensionamento
maior para atender esta demanda, ao mesmo tempo, em que aco-
modavam os novos ambientes e tecnologias médicas. No entanto,
os hospitais evoluíram desde o final da Primeira Guerra Mundial,
sobretudo devido à pandemia da Gripe Espanhola de 1918, que
causou cerca de 50 milhões de mortes.
Com a Revolução Industrial e o surgimento da força de tra-
balho operária, o número de acidentes nas fábricas e nos canteiros
de obras, somados ao aumento de epidemias ocorridas em virtude
das más condições habitacionais, ocasionando alterações quanto o
dimensionamento e complexidade nos edifícios hospitalares, assim
como a implementação de políticas públicas de saúde. O edifício
hospitalar torna-se uma máquina que visa curá-los e devolvê-los
para o mercado de trabalho. Os profissionais de saúde passam a
considerar os pacientes como uma materialização de sintomas de
uma doença que deveria ser identificada, tratada e catalogada, re-
fletindo na despersonalização do seu atendimento.
Dessa forma, os edifícios hospitalares passam a apresentar
uma nova morfologia construtiva: a do monobloco. Esta tipologia é
composta por um agrupamento de setores em pavimentos horizon-
tais, interligados verticalmente por elevadores e caixas de escadas.
Esses diversos setores são agrupados em “zonas”, das quais três
37
Figura 20
Hospital Beaujon, 1932.
Fonte: Miquelin, 1992:
p. 56.
se destacam. A primeira é a de internação, na qual os pacientes per-
maneciam internados durante toda a estadia no hospital, recebendo
os cuidados médicos necessários e os tratamentos adequados. A
segunda, denominada a zona clínica, era composta pelos serviços
de diagnóstico e tratamento, bem como pelos blocos cirúrgicos. E
a terceira era composta pelos serviços de administração, nutrição e
dietética, lavanderia, estoque de materiais, farmácia, esterilização
de materiais, áreas de instalações especiais (gases medicinais, su-
bestação de energia, central de ar-condicionado etc.), tratamento e
descarte de resíduos, entre outros serviços de apoio necessários
para o hospital poder se manter em funcionamento (Medeiros, 2005:
p. 65).
Em 1932, o Hospital Beaujon foi inaugurado. Idealizado pelos
arquitetos Walter, Plousey e Cassan, esse hospital é considerado
como um dos mais ino-vadores da Europa, uma vez que é cons-
truído com aço e concreto, além de ter 1100 leitos distribuídos em
doze pavimentos (Figura 20) (Fugazza, 2021: p. 142). O hospital
é formado por uma lâmina horizontal, que abriga os apartamentos
individuais de internação e os serviços comuns, e enfermarias aber-
tas, articuladas perpendicularmente à lâmina, apresentavam uma
conformação espacial semelhante às enfermarias Nightingale (Figu-
ra 21). Já o Bloco Operatório e outros serviços médicos ocupavam
construções independentes de três pavimentos, localizados nas ex-
tremidades do edifício principal (Miquelin, 1992: p. 55).
38
Figura 21
Planta parcial do andar
de internação e cirurgia.
Fonte: Miquelin, 1992:
p. 56.
Figura 22 Foto comparativa entre o Hospital Beaujon (1932) e o Hospital de Clínicas Dr. Manuel Quintela (1928).
Fontes: Fugazza, 2021: p. 142; e Montevideo Antigo, 2023. Disponível no site: <https://www.montevideoantiguo.net/
hospital-de-clinicas/>. Acesso em: jun. 2023.
A relevância desta construção se deve, sobretudo, à confor-
mação espacial, setorização e separação dos diversos fluxos per-
tencentes ao organismo hospitalar (Miquelin, 1992: p. 55). Apesar
disso, é possível notar que sua solução arquitetônica foi inspirada
em outros países, uma vez que se assemelha ao projeto do Hospital
de Clínicas Dr. Manuel Quintela, da Faculdade de Medicina da Uni-
versidade da República do Uruguai, inaugurado quatro anos antes
(Figura 22).
39
Figura 23 Hospital Memorial França-Estados Unidos, Saint-Lô, 1955. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: Machry, 2010: p. 136.
Como é possível notar, a partir desse momento, o hospital terá
uma alteração na sua volumetria, especialmente para acomodar os
equipamentos médicos, devido ao seu tamanho e especificidades
para o seu funcionamento. A tipologia do monobloco ganha novas
derivações e complexidades, sendo uma delas nomeada como “Tor-
re sobre pódio”, apresentando uma volumetria semelhante a um “T”
invertido, resultado da sobreposição de dois edifícios, um vertical e
outro horizontal. No elemento vertical, estão localizadas as zonas
de internação e o bloco cirúrgico. Já no plano horizontal, a zona de
apoio e diagnóstico divide es¬paço com a zona clínica, devido, so-
bretudo, ao fácil acesso à rua e ao estacionamento de ambulâncias.
Essa tipologia tem como protótipo o Hospital Memorial França-Es-
tados Unidos (Saint-Lô, França) (Figura 23), projetado por Paul
Nelson em 1950, considerado uma das mais relevantes referencias
hospitalares dessa década. Esse edifício hospitalar é composto por
oito pavimentos de internação sobrepostos ao bloco de serviços lo-
gísticos e médicos, localizado no pavimento térreo. Na torre, cada
pavimento comporta duas unidades de internação, orientadas para
o sul, com a circulação vertical localizada na intersecção entre elas
(Miquelin, 1992: p. 59).
40
Figura 24 Maquete Física do Hospital Perola Byington, conhecido
popularmente como Hospital da Cruzada Pró-Infância.
Fonte: Arquivo.arq. Disponível no site: < https://arquivo.arq.br/pro-
jetos/hospital-da-cruzada-pro-infancia>. Acesso em jun./ 2023.
Essa tipologia foi reproduzida em diversas partes do mundo,
inclusive no Brasil, evidenciando o traço modernista de diversos ar-
quitetos. Miquelin (1992: p. 56) destaca os hospitais Gastroclínica,
de Oscar Niemeyer, e o Perola Byington, de Rino Levi e Roberto
Cerqueira César, como exemplos de aplicação da tipologia “bloco-
-torre” em solos brasileiros.
A inauguração do Hospital
Pérola Byington (Figura 24), anti-
go Hospital da Cruzada Pró-Infân-
cia, ocorreu em 1958 na cidade de
São Paulo. Com a fachada princi-
pal voltada para a Av. Brigadeiro
Luiz Antônio, este edifício possui
15 pavimentos, totalizando cerca
de 45,5 metros de altura e 11.440
m² de área (Acrópole, 1951). Rino
Levi, assim como muitos arquitetô-
nicos contemporâneos a ele, traz o
brutalismo brasileiro para o proje-
to do edifício, caracterizado pelos
elementos em concreto armado,
como os brises verticais.
Em relação à sua setorização espacial, o hospital apresen-
ta uma solução bastante interessante para a época (Figura 25). O
acesso principal está situado no terceiro pavimento, que abriga a re-
cepção e todo o setor administrativo. Desta forma, os dois pavimen-
tos inferiores são destinados às zonas de serviço e abastecimento
do hospital, com necrotério, lavanderia, cozinha, refeitório, dentre
outros ambientes. O quarto pavimento é destinado ao ambulatório,
com os consultórios médicos de diversas especialidades e o setor
de imagem e diagnóstico. A torre, que se projeta para além da volu-
metria da base, é dedicada: as enfermarias, situadas do 6º ao 12º
andar; ao centro cirúrgico e obstétrico, no 13º; e ao solário e casa de
máquinas, no 14º pavimento (Acrópole, 1951).
41
Figura 25 Distribuição interna por pavimento e setorização de fluxo por identificação de entradas. Fonte:
Arquivo.arq. Disponível no site: < https://arquivo.arq.br/projetos/hospital-da-cruzada-pro-infancia>. Acesso
em: jun. 2023.
A evolução e o progresso da tecnologia médica passaram a
exigir que fossem necessários espaços para dutos de ar-condicio-
nado e outras instalações especiais como os dutos de ar-condicio-
nado, entre outros. Na arquitetura moderna, os sistemas de cons-
trução eram de concreto armado, com lajes e vigas. Com as novas
tubulações, tornava-se necessário racionalizar a construção de uma
maneira mais adequada. A viga Vierendeel mostrou-se a mais ade-
quada, uma vez que permitia que as tubulações transpassassem as
vigas sem perfurá-las e sem a necessidade de instalação de forro,
possibilitando o aumento do pé-direito dos pavimentos.
Isso pode ser observado no projeto de Richards Medical Re-
search Laboratories para a Universidade da Pensilvânia, Filadélfia
(1965), de Louis Kahn. O arquiteto norte-americano optou por pro-
jetar um edifício com uma planta composta pelo agrupamento dos
ambientes internos em torres verticais de apoio dispostas em torno
do núcleo central de serviços, permitindo que cada torre apresen-
tasse três faces expostas ao sol. A torre ganha uma configuração
espacial única ao possuir uma malha estrutural formada por ele-
mentos pré-moldados de concreto, enquanto caixas de escadas e
elevadores se sobressaem como elementos verticais (Figura 26).
42
Figura 26 Plantas e maquete estrutural do Richards Medical Research Laboratories (2964), Louis Kahn.
Fonte: Architecture - history, 2023. Disponível no site: <http://architecture-history.org/architects/architects/KAHN%202/OB-
JECTS/1957,%20Richards%20Medical%20Research%20Laboratories,%20University%20of%20Pennsylvania,%20Phila-
delphia,%20USA.html>. Acesso em: jun. 2023.
Figura 27 Fotos internas do Richards Medical Research Laboratories (2964), Louis Kahn.
Fonte: Architecture - history, 2023. Disponível no site: <http://architecture-history.org/architects/architects/KAHN%202/OB-
JECTS/1957,%20Richards%20Medical%20Research%20Laboratories,%20University%20of%20Pennsylvania,%20Phila-
delphia,%20USA.html>. Acesso em: jun. 2023.
No projeto, não há uma hierarquia volumétrica. Todas foram
implantadas de forma que, conjuntamente, cumprissem o programa
integralmente, abrigando laboratórios, salas de estudos, salas de
aulas e outros serviços. A flexibilidade de layout foi possível devi-
do à utilização das vigas Vierendeel, que, por sua vez, permitiu a
conexão centralizada dos encanamentos e outras tubulações, que,
em muitos dos ambientes, estão à mostra por não possuírem forro
(Figura 27).
43
Figura 28 Hospital Femina (1954).
Fonte: VICENTE, 2018: p. 41.
No Brasil, no início da década de 1950, após Rino Levi, Iri-
neu Breitman (1930-2001), formado em 1953, iniciou sua carreira
na área da saúde, em 1954, com o projeto do Hospital Fêmina (Fi-
gura 28), dedicado à saúde da mulher, que se tornou, segundo o
artigo A arquitetura de hospitais de Irineu Breitman de Erick Vicente
(2018: p. 41), “um dos mais importantes hospitais de Porto Alegre/
Rio Grande do Sul”. Vera Mascarello, em sua dissertação Princí-
pios bioclimáticos e princípios de arquitetura moderna - evidências
no edifício hospitalar (2005: p. 91), complementa a análise a esse
edifício ao afirmar que o seu projeto marcou o início da implanta-
ção da arquitetura moderna na capital gaúcha, onde os elementos
mais significativos identificados no hospital são: o uso de pilotis; a
utilização da janela em fita, fachada e planta livre; e a presença do
terraço-jardim.
O projeto do hospital propõe uma lâmina vertical suspensa
por pilotis com uma organização tripartida formada pelo embasa-
mento, pelo corpo principal e pelo ático. O embasamento é com-
posto pelo espaço aberto dos pilotis e o grande saguão recuado,
determinando o acesso principal com um amplo plano de vidro. O
corpo principal, por sua vez, é um grande volume prismático com
dez pavimentos, com a sua fachada marcada por pastilhas cor de
rosa, abrigando unidades de internação nos 4º, 5º e 6º pavimentos
(Mascarello, 2005: p. 91), que apresentam 18 apartamentos com-
partilhados com banheiros, além de postos de enfermagem e solário
destinado ao convívio de seus usuários (Figura 29).
44
Figura 29 Planta dos pavimentos destinados às enfermarias. Fonte: Vicente, 2018: p. 42.
Apesar de não chegar a ser construído conforme o projeto
inicial, Irineu Breitman contou com a consultoria do Arqto. Jarbas
Karman para o desenvolvimento do pavimento técnico desse hos-
pital, que apresentava, aproximadamente, 1,80 m de pé-direito. Em
virtude disso, este hospital é considerado o pri-meiro a apresentar
essa solução em solo brasileiro (Vicente, 2018: p. 42).
De acordo com Medeiros (2005: pp. 72,73), este espaço “tra-
ta-se de uma espécie de pavimento técnico intercalado entre dois
pavimentos dedicados às outras funções do edifício”. Com a utiliza-
ção de estruturas modulares, metálicas ou de concreto pré-molda-
do, era possível alcançar grandes vãos com plantas livres, por onde
ocorre a distribuição horizontal dos dutos e instalações especi¬ais.
Já a conexão vertical entre os pavimentos é realizada por poços
e shafts, pelos quais os dutos passariam de um pavimento para o
outro sem interrupção. Este pavimento, por possuir essa finalidade
técnica, normalmente apresenta um pé-direito de até 2 metros de
altura, para que os serviços de manutenção possam ocorrer sem
interferir no funcionamento do hospital.
Para Luiz Carlos Toledo, em seu livro Feitos para Curar
(2020: p. 37), Irineu Breitman defendeu o surgimento de uma nova
proposta, que seria composta por hospitais horizontais de dois pavi-
mentos, onde os diferentes setores hospitalares se distribuíam pela
extensão do edifício e pelos pisos intercalados, ligados por rampas.
Esse novo pensamento se manifestou em diversos projetos, como o
Hospital Público Infantil Joana de Gusmão (1977) (Figura 30), cons-
truído na cidade de Florianópolis/Santa Catarina, e que, em 2018,
45
Figura 30 Hospital Infantil Joana de Gusmão. Fonte: Vicente, 2018: p. 46.
Figura 31 Perspectiva das
“meias-rampas” - Hospital
Infantil Joana de Gusmão.
Fonte: Vicente, 2018: p. 47.
passou a ser considerado um dos mais importantes hospitais infan-
tis e de ensino de pediatria da América Latina (Vicente, 2018: p. 46).
Acomodado no declive do terreno, o edifício é composto por
três patamares em “meio nível”, possibilitando a adoção de “meias-
-rampas” (Figura 31), diminuindo as distâncias percorridas pelos
usuários. A distribuição do programa também contribuiu para a dimi-
nuição dos percursos. Segundo descrição de Erick Vicente (2018: p.
47):
46
Figura 32 Planta da in-
ternação - Hospital In-
fantil Joana de Gusmão.
Fonte: Vicente, 2018: p.
48.
“O pavimento térreo abriga os ambulatórios, a emergên-
cia, a radiologia, o laboratório, a neonatologia, a adminis-
tração e o conforto médico. O primeiro pavimento, que
fica sobre o térreo, concentra as unidades de internação.
Por fim, estão posicionados no segundo piso as unida-
des que atendem todo o hospital, como o centro cirúrgi-
co, a UTI, a CME e as áreas de apoio técnico e logístico
(cozinha, lavanderia, almoxarifado, centrais de abaste-
cimento etc.). Sendo assim, para se atingir os setores
localizados no segundo piso do bloco central, é preciso
percorrer apenas meio lance de rampa”.
No entanto, o que mais se destaca no projeto é a distribuição
espacial dos quartos de internação e a presença dos jardins (Figu-
ra 32), que trazem um grande diferencial, sobretudo em termos de
qualidade espacial e o conforto para os pacientes e usuários. Os
quartos estão localizados em ambas as fachadas, permitindo que
todos os pacientes tenham acesso à vista da área externa. No cen-
tro do andar, Irineu posicionou as áreas de terapia, o apoio técnico
e os dois postos de enfermagem descentralizados, característica
marcante em todos os seus projetos.
A vegetação foi um elemento trabalhado de duas maneiras
distintas pelo arquiteto. A primeira foi a não realização de grandes
alterações na massa arbórea envoltória do hospital. A segunda se
47
caracterizava pela criação de diversos jardins internos, posiciona-
dos no centro dos pavimentos de forma equidistante. O arquiteto
teve como objetivo trazer a vegetação para dentro do edifício, prin-
cipalmente por colaborar com a recuperação dos doentes e oferecer
iluminação e ventilação naturais para os ambientes que estão ao
redor desses espaços ajardinados.
Como contemporâneo de Breitman, Jarbas Karman (1917-
2008) esteve fortemente envolvido com o desenvolvimento do edi-
fício hospitalar, tanto nacional como internacionalmente. O arqui-
teto, formado em 1947, começou a trabalhar no Serviço Especial
de Saúde Pública (SESP), onde, segundo Erick Vicente, em sua
dissertação intitulada As estratégias projetuais de Jarbas Karman:
análises gráficas de cinco hospitais projetados na segunda meta-
de do século XX (2020: pp. 17, 19), desenvolvia e supervisionava
projetos de construção, reformas e adequações de instituições de
saúde para a população ribeirinha nos Vales Amazônico e São Fran-
cisco. Na década de 1950, criou o Instituto Nacional de Pesquisas e
de Desenvolvimento Hospitalares (INPDH), que, um ano depois, se
tornou o Instituto Brasileiro de Pesquisas Hospitalares (IPH), uma
organização sem fins lucrativos que tem como objetivo desenvolver
e divulgar pesquisas e conhecimentos sobre o planejamento físico-
-funcional dos edifícios hospitalares, estando ativa até os dias atu-
ais.
Em 1977, durante um congresso promovido pela Federação
Internacional de Hospitais (IFH), apresentou o conceito de “hospitais
horizontais” (Gomes, 2014: p. 17), já defendido por Irineu Breitman.
Essa solução também foi aplicada em diversos de seus projetos,
apesar de alguns deles não terem sido efetivamente construídos.
Dentre eles, destaca-se o realizado para o concurso do Hospital
Santa Mônica (Figura 33).
Esse hospital, que está apoiado no terreno (Figura 34), se
desenvolve em cinco pavimentos, com todos os serviços relaciona-
dos ao atendimento hospitalar concentrados no térreo e nos primei-
ros pavimentos. Os andares seguintes são dedicados às áreas de
internação, que contam com ventilação cruzada, e aos postos de
48
Figura 33 Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e Alfred Willer para o concurso do Hospital
Santa Mônica. Fonte: Vicente, 2020: p. 25.
Figura 34 Corte longitudinal do Hospital Santa Mônica. Fonte: Vicente, 2020: p. 34.
Figura 35 Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e Alfred Willer para o concurso de projetos do
Hospital Albert Einstein. Fonte: Vicente, 2020: p. 22.
49
Figura 36 Corte trans-
versal da proposta
para o concurso de
projetos do Hospital
Albert Einstein.
Fonte: Vicente, 2020:
p. 22.
enfermagem descentralizados. Karman também posiciona jardins
internos que, além de serem acessíveis a todos os usuários, per-
mitem a entrada de iluminação e ventilação para dentro do edifício
(Vicente, 2020: p. 34).
O arquiteto também aplicava o pavimento técnico a cada dois
pavimentos úteis em seus projetos. A sua proposta para o primeiro
edifício do Hospital Isra-elita Albert Einstein (1958) (Figura 35), ela-
borada em conjunto com o arquiteto Alfred Willer, previa 8 pavimen-
tos para os serviços médicos, técnicos e administrativos, além de 7
espaços técnicos “interandares”, que permitiriam a ventilação inter-
na (cruzada ou não) e iluminação (direta ou indireta) dos quartos e
banheiros das enfermarias (Figura 36) (Vicente, 2020: pp. 21,25).
Segundo o autor:
“Essa estratégia resultou em pavimentos soltos uns dos
outros, em barras horizontais sobrepostas e levemente
afastadas; solução que confere leveza ao volume do edi-
fício” (Vicente, 2020: p. 25).
50
Jarbas Karman, ao longo de sua trajetória profissional, con-
tribuiu significativamente para o desenvolvimento do edifício hospi-
talar, ao desenvolver 19 estratégias projetuais que foram posterior-
mente adaptadas e aplicadas por outros profissionais. Erick Vicente
realizou o compilado dessas estratégias (Quadro 1), categorizando-
as em cinco grupos distintos, sendo eles: agrupamento funcional do
programa; flexibilidade física dos ambientes; eficiência operacional
do hospital; segurança biológica; e conforto físico e psicológico dos
usuários dos edifícios hospitalares.
Aproximadamente no final do século XX a humanização es-
pacial volta a ser uma preocupação na arquitetura hospitalar. Isso
se deve, sobretudo, à publicação da Declaração de Alma Ata sobre
Cuidados Primários de Saúde, elaborada pela Conferência Interna-
cional das Nações Unidas sobre os Serviços Primários de Saúde,
em 1978, que estabeleceu a saúde como um direito fundamental do
ser humano.
Nesse mesmo período, a sustentabilidade começa a ser
aplicada na construção civil, apesar de seu início ter sido em resi-
dências e edifícios corporativos. O conceito de sustentabilidade foi
desenvolvido em 1987, com a publicação do Relatório Bruntland,
elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desen-
volvimento sob a coordenação da doutora norueguesa Gro Harlem
Brundtland. Dentre os arquitetos que aplicam os dois conceitos em
seus proje¬tos, dois se destacam: João Filgueiras Lima e Siegbert
Zanettini.
João Filgueiras Lima (Lelé) iniciou sua carreira na área da
arquitetura hospitalar em 1967, quando, por indicação do arquiteto
Oscar Niemeyer, participou do programa de reformulação dos hos-
pitais da Fundação Hospitalar do Distrito Federal, coordenado por
Wilson Sesana, secretário de Saúde de Brasília na época, onde ao
estabelecerem novos princípios que norteariam os hospitais de Bra-
sília, projetaram o hospital distrital da cidade satélite de Taguatinga
(Lima (Lelé), 2012: p. 68). Em seus projetos brutalistas, Lelé utiliza
a tecnologia como ferramenta para humanizar o espaço, visando o
conforto e uma melhor convivência. Essas questões são apresen-
51
Quadro 1 Relação entre as categorias e as estratégias projetuais de Jarbas Karman
Fonte: adaptado de Vicente, 2020: p. 311
Categoria Estratégias projetuais relacionadas
Agrupamen-
to Funcional
1ª estratégia: criação de unidades funcionais autônomas, que possam ser acessa-
das diretamente, sem a necessidade de se percorrer corredores internos de outras
unidades.
2ª estratégia: nos hospitais verticais, as unidades de atendimento ao paciente externo
e as unidades técnico-logísticas devem ser aproximadas do solo para facilitar os aces-
sos e diminuir os deslocamentos verticais. A posição delas, no plano horizontal, deve
ser feita para possibilitar entradas distintas (sem cruzamentos) e maior controle dos
acessos. As unidades de atendimento ao paciente interno podem ocupar pavimentos
mais elevados, porém não muito distantes do térreo, possibilitando, assim, mais con-
trole dos tráfegos internos.
3ª estratégia: nos hospitais horizontais, as unidades de atendimento ao paci-ente ex-
terno e as unidades técnicologísticas devem ocupar faixas paralelas ou opostas, para
possibilitar acessos segregados e sem cruzamentos. As unidades de atendimento ao
paciente interno devem ser posicionadas em uma faixa mais centralizada, possibilitan-
do, assim, mais controle dos tráfegos internos.
4ª estratégia: aproximar as unidades críticas, principalmente do centro cirúr-gico, do
centro obstétrico e da UTI.
5ª estratégia: aproximar ou aglutinar as unidades que possuem intensas rela-ções
funcionais, principalmente do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de
material esterilizado.
6ª estratégia: nos hospitais verticais, as internações devem ocupar os últimos pavi-
mentos.
7ª estratégia: nos hospitais horizontais, as internações devem ser posiciona-das para
favorecer os acessos segregados e a redução dos percursos inter-nos.
Flexibilidade
Física
8ª estratégia: nos hospitais horizontais, criação de jardins internos que sirvam de
área para futuras expansões das unidades funcionais, de forma independente umas
das outras.
9ª estratégia: nos hospitais verticais, previsão da construção de novos blocos, orde-
nadamente, causando o menor impacto possível nas unidades funcionais constituídas.
10ª estratégia: criação de espaços técnicos com dimensões que possibilitem o aces-
so dos funcionários da manutenção em todo o complexo hospitalar, sobre ou sob as
unidades, priorizando os que ficam sobre ou sob os centros cirúrgicos e as UTIs.
E f i c i ê n c i a
Operacional
11ª estratégia: separar o máximo possível os acessos e as circulações inter-nas e
externas, tanto as horizontais quanto as verticais, evitando cruzamentos e situações
que facilitem o acesso do público externo nas circulações internas sem um controle ou
cadastro prévio.
12ª estratégia: criar circulações restritas para os centros cirúrgicos e para os ambien-
tes onde haverá procedimentos invasivos nos pacientes, por meio de vestiários de
barreiras e áreas de transferências, quando necessário.
13ª estratégia: projetar unidades “duplamente carregadas”, com quartos ao longo das
duas achadas longitudinais dos edifícios.
14ª estratégia: descentralizar os postos de enfermagem, aproximando a en-ferma-
gem dos pacientes internados o máximo possível.
Segurança
Biológica
15ª estratégia: agrupar, ou aglutinar em uma só unidade, o centro cirúrgico, o centro
obstétrico (quando houver) e a central de material esterilizado, preservando os dife-
rentes acessos, as barreiras (sempre que necessárias) e o fluxo contínuo de esterili-
zação do material, criando áreas de entrega e de recepção dos materiais para dentro
e para fora do centro cirúrgico.
16ª estratégia: separar os pacientes críticos em boxes individuais, para au-mentar a
flexibilidade de ocupação da unidade e a segurança contra as infecções hospitalares.
Conforto
Físico e Psi-
cológico
17ª estratégia: criar jardins internos entre os volumes construídos para au-mentar a
oferta de iluminação e ventilação natural e os espaços de convivência descobertos e
ajardinados.
18ª estratégia: rebaixar as lajes de cobertura das circulações para permitir a insta-
lação de janelas altas e possibilitar a iluminação e ventilação naturais dos ambientes
localizados mais ao centro do pavimento.
19ª estratégia: criar áreas de transição entre o espaço externo e o hospital para a
convivência dos pacientes externos, acompanhantes e visitantes.
52
Figura 37 Imagem comparativa da utilização de sheds entre o Hospital Miguel Piltcher (1958), de Irineu Breitman, e
Hospital Rede SARAH Lago Norte Brasília (2003), de João Filgueira Lima (Lelé).
Fonte da foto superior: Vicente, 2018: p. 18. Fonte da foto inferior: Lima (Lelé), 2012: p. 216.
tadas em diferentes aspectos, a começar pela implantação, com o
aproveitamento da topografia natural do terreno, até nas soluções
arquitetônicas e construtivas aplicadas no projeto. Ainda assim, é
possível determinar que sua arquitetura teve influências de outros
arquitetos brutalistas, mesmo eles não sendo, algumas vezes, iden-
tificados.
Um exemplo dessa questão é a aplicação dos sheds para
a entrada de ventilação e iluminação natural. Ao analisar a forma
como o arquiteto aplicou-os em seu projeto da Unidade Lago Norte
do Hospital Rede Sarah Brasília, em 2003, é possível determinar
que ele teve os projetos de Irineu Breitman como referência, des-
tacando-se o Hospital Miguel Piltcher, construído em 1958 (Figura
37).
53
Figura 38 Vista Aérea
do Centro de Tecno-
logia da Rede Sarah
CTRS, Salvador, BA.
Fonte: Lima (Lelé),
2012: p. 137.
Diferente de outros profissionais que utilizavam itens fabrica-
dos em canteiro, Lelé optou por construir o Centro de Tecnologia da
Rede Sarah (CTRS) (Figura 38) como uma oportunidade de aper-
feiçoar e desenvolver desde elementos construtivos até mobiliários
para todos os hospitais dessa rede, construídos em diversos ma-
teriais, dentre eles: concreto armado, madeira, plástico, estruturas
metálicas e fibras de vidro (Lima (Lelé), 2012: pp. 135-137). Atual-
mente, o centro tecnológico se dedica exclusivamente à manuten-
ção dos prédios, equipamentos e instalações de todas as unidades
da rede, uma vez que, após a morte do arquiteto, outros hospitais da
Rede Sarah não foram construídos.
O CTRS está localizado na parte inferior do terreno do Hos-
pital da Rede Sarah Salvador, ao longo da encosta da colina (Figu-
ra 35), com um grande bosque separando ambas as construções.
Construído em 1993, esse edifício ocupa uma área plana de apro-
ximadamente de 800 metros de comprimento por 100 metros de
largura, apresentando uma área construída total de 20.000 m² (Lima
(Lelé), 2012: p. 137).
54
Figura 40 Foto interna
da oficina de metalurgia
pesada.
Fonte: Lima (Lelé),
2012: pp. 138.
Figura 39 Corte esque-
mático, sem escala, indi-
cando o local de implan-
tação do CTRS.
Fonte: Lima (Lelé),
2012: p. 137.
Figura 41 Foto da portaria. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 139.
Em seu interior, foram instaladas as oficinas de metalurgia
pesada, metalurgia leve, marcenaria, argamassa armada e mate-
riais plásticos. Estas se de-senvolvem em um conjunto de prédios
térreos interligados, com pé-direito duplo de 6 metros de altura e um
mezanino, construído em estrutura metálica, ocupando parte da pro-
jeção do pavimento térreo. Este é destinado aos setores técnicos-
-administrativos, apresentando um fechamento em plano de vidro,
permitindo total visualização
dos acontecimentos no interior
das oficinas (Figura 40).
Um elemento desta-
cado no projeto é a portaria
compartilhada do complexo
(Figura 41), composta por uma
marquise metálica pintada de
laranja. No lado esquerdo, os
passageiros do sistema de
transporte coletivo da cidade
podem se abrigar, enquanto
no lado direito, os visitantes,
funcionários e pacientes do
hospital podem aguardar o ve-
ículo de transporte interno do
conjunto, utilizando os bancos
produzidos CTRS (Lima (Lelé),
2012: p. 139). Essa marquise
55
Figura 42 Foto da co-
bertura das oficinas em
sheds.
Fonte: Lima (Lelé),
2012: p. 142.
pode ser encontrada em outros projetos do arquiteto, sempre mar-
cando as entradas e com tons alaranjados, independentemente de
serem de concreto armado ou de elemento metálico.
Segundo a epidemiologia, as pandemias enfrentadas pela
humanidade desde a Gripe Espanhola de 1918 provocaram altera-
ções significativas no cotidiano urbano, nas políticas públicas e na
arquitetura hospitalar. As emergências mundiais listadas pela Orga-
nização Pan-Americana de Saúde (OPAS) incluem a pandemia de
H1N1 em 2009; a disseminação da Poliomielite em 2014; o surto
de Ebola na África Ocidental em 2016; o surto de Zika na República
Democrática do Congo, em 2018; e, por fim, a pandemia do Coro-
navírus, ocorrida entre 2020 e 2023.
A última, também conhecida como COVID-19, foi causada
pelo SARS-CoV-2, um vírus que pertence à família viral que causa
infecções respiratórias, com registros de sua existência datados de
1937 e 1965. Em 2019, a Organização Mundial de Saúde notificada
de diversos casos de pneumonia de causas desconhecidas na cida-
de de Wuhan, na província de Hubei, República Popular da China.
No entanto, apenas em 7 de janeiro de 2020, as autoridades chine-
sas identificaram, através de exames laboratoriais, a existência do
coronavírus (OPAS, 2023). Desde então, a pandemia da COVID-19
iniciou-se, tornando-se a sexta Emergência de Saúde Pública de
Como nos hospitais, todas as ofici-
nas do CTRS apresentam uma cobertura
composta por sheds (Figura 42) formados
por treliças metálicas apoiadas em viga-
mento duplo de chapas metálicas dobra-
das. Essas linhas de sheds estão dispostas
a cada 7,50 metros, apoiadas por pilares
tubulares, que também servem como con-
dutores para a captação de águas pluviais,
coletadas por calhas de aço inoxidável alo-
jadas entre as vigas duplas (Lima (Lelé),
2012: p. 141).
56
Figura 43 Implantação
do hospital de campanha
no CEU Paraisópolis.
Fonte: G1, 2020.
Importância Internacional, alcançando uma dimensão global. Utili-
zar máscaras, manter a distância e o isolamento social, optar por
espaços abertos e bem ventilados, enfatizar a necessidade de ba-
nho de sol e manter a higiene das mãos é alguns exemplos de medi-
das preventivas adotadas durante a pandemia, que se assemelham
ao que a sociedade realizava durante a Gripe Espanhola.
Em relação à arquitetura, outros aspectos também influencia-
ram os ambientes hospitalares. Primeiramente, locais como esco-
las, igrejas, ginásios e estádios foram fechados durante a pandemia
e adaptados para atender aos hospitais de campanha ou emergen-
ciais, enquanto outros foram construídos em locais abertos. Isso se
deu, sobretudo, ao aumento da demanda por leitos para atender
aos pacientes, desafogando os hospitais e permitindo que pacientes
com outras doenças e problemas de saúde recebessem tratamento.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, o Centro Educacional Unifica-
do (CEU) Paraisópolis foi uma das escolas transformadas em hos-
pitais de campanha para atender pacientes de alta, média e baixa
complexidade. Com reorganização setorial (Figura 48), conseguiu
oferecer 320 leitos, o que ajudou a desafogar o Hospital do Campo
Limpo, que estava sofrendo com sua superlotação (G1, 2020).
57
Figura 44 Vista da
Fachada Principal.
Fonte: SBPR, 2023
Além disso, hospitais foram construídos ou tiveram seus
atendimentos alterados para atender, exclusivamente, pacientes
com COVID-19, como o Hospital de Urgência de São Bernardo do
Campo/SP (Figura 44), projetado pelo escritório SBPR, de Angelo
Bucci. Inaugurado em 2019, este edifício, com uma área total de
20.600 m², ocupa toda a extensão de uma quadra estreita e longa,
possibilitando uma volumetria horizontal formada por dois volumes
sobrepostos, que, apesar de serem independentes, apresentam um
programa formado pelo atendimento adulto e pediátrico, acrescidos
de setores de apoio (SBPR, 2023).
O primeiro volume (Figura 45), com acesso principal voltado
para a rua Joaquim Nabuco, mede 185 m de comprimento por cerca
de 35 m de largura. A rua Cacilda da Cruz Ferreira delimita toda a
extensão posterior do edifício, funcionando como uma rua interna
para acesso de ambulâncias, serviços e docas. O volume superior,
com três pisos, mede 115 m de comprimento por 15 m de largura e
abriga 159 leitos de internação somados pediátrico e adulto (Figura
46). Entre os dois, Bucci locou um andar com um terraço jardim (Fi-
gura 47) ocupando a cobertura do embasamento, que se estender
para além da projeção da lâmina de internação, para proporcionar
espaços de descanso e descompressão para os funcionários, assim
como os ambientes administrativos e de ensino (SBPR, 2023).
Além disso, a relevância da ventilação natural para a reno-
vação de ar, embora não seja uma inovação recente na arquitetura
hospitalar, fez com que o condicionamento de ar fosse utilizado ape-
nas em ambientes como UTIs, remetendo à reflexão sobre soluções
58
Figura 45 Andar térreo do primeiro volume. Sem escala. Fonte: SBPR, 2023
Figura 46 Andar de internação. Sem escala. Fonte: SBPR, 2023
Figura 47 Foto do terraço jardim.
Fonte: SBPR, 2023
59
projetuais que apliquem, positivamente, a ventilação cruzada. Se-
gundo publicação Orientações para Serviços de Saúde: Medidas de
prevenção e controle que devem ser adotados durante a Assistência
aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo corona-
vírus (SARS-CoV-2), atualizada pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) em 2021, os quartos utilizados para internação
deveriam atender à seguintes recomendações:
“A acomodação dos casos suspeitos ou confirmados de
infecção pelo SARS-CoV-2 deve ser realizada, preferen-
cialmente, em um quarto privativo com porta fechada e
bem ventilado (ar-condicionado que garanta a exaustão
adequada ou janelas abertas). Deve-se reduzir a circu-
lação de pacientes e profissionais ao mínimo possível.”
(Anvisa, 2021: p. 29)
Essa questão da ventilação está atrelada a exposição ao sol
e ao distanciamento, onde os leitos deveriam permanecer a 1 metro
de distância entre si. Essa determinação, sobretudo, pode alterar al-
gumas das condições das enfermarias compartilhadas de hospitais,
ocasionando uma superlotação nos quartos dos hospitais. Situação
essa que é muito encontrada nos hospitais públicos brasileiros.
60
1.2 Pluralidade dimensional , programa e or-
ganização espacial da edificação de saúde
contemporânea
Ao imaginar um hospital ideal, considera-se uma instituição
dedicada ao diagnóstico e tratamento de pacientes, bem planeja-
da espacialmente e convenientemente administrada consoante aos
padrões e normas previamente estabelecidos. Adicionalmente, o
hospital deveria atender a todos os tipos de pacientes, ao mesmo
tempo que incentiva a prática e o ensino das artes médicas, bem
como o desenvolvimento de pesquisas nas mais diversas áreas de
conhecimento. No entanto, são poucos os hospitais que se enqua-
dram nessa definição.
Isso se deve a dois grandes fatores. O primeiro é referente
ao fato de o edifício hospitalar apresentar um dos programas mais
complexos existentes, com uma setorização e organização espa-
cial que variam conforme o porte e especialidade do EAS, com um
agrupamento de funções diversificadas que, em certo modo, podem
ser incompatíveis entre si. Já o segundo está relacionado ao fato de
que uma abundância de hospitais ocupa construções já existentes,
requerendo adaptações sucessivas para atender às necessidades
hospitalares atuais ao mesmo tempo que devem prever reformas
futuras. Nesse sentido, Toledo (2020: p. 63) afirma que esses hos-
pitais sofrem expansões frequentes e desordenadas, o que, mui-
tas vezes, prejudica a qualidade espacial dessas construções, ao
mesmo tempo, em que diminui o papel do edifício como elemento
auxiliador na cura dos pacientes.
Para determinar o perfil de uma unidade hospitalar é neces-
sário considerar alguns fatores, como a resolubilidade1
, o porte do
edifício, a tipologia construtiva e a área adscrita. Ao mesmo tempo,
um EAS se classifica como hospital, independentemente do perfil
que apresenta, a partir de sua capacidade de internar os pacientes,
1 O termo resolubilidade refere-se à capacidade de um EAS receber, diagnosticar
e dar prosseguimento ao tratamento dos pacientes que o procuram. Quanto maior a reso-
lubilidade de uma unidade, mais complexos deverão ser o seu apoio ao diagnóstico e os
setores de tratamento e internação (Toledo, 2020: p. 61).
61
tanto nos Serviços de Pronto Atendimento quanto nas unidades de
internação e especialidades, devido ao longo tempo necessário para
a realização do tratamento. Apesar disso, o tamanho dos hospitais
vem diminuindo com o tempo devido ao alto custo de implantação e
operações das unidades de grande porte, às dificuldades de geren-
ciamento e ao aumento do risco de infecções hospitalares (Toledo,
2020: pp. 64, 65).
Essa diminuição do dimensionamento dos hospitais também
está relacio-nada a capacidade de internação e ao número de leitos
presentes nas enfermarias e andares de internação. Conforme a
RDC-50, a metragem mínima para quartos privados (com um leito)
é de 10 m²/leito, enquanto nas enfermarias compartilhadas com até
seis leitos, essa área é reduzida para 6 m²/leito (Anvisa, 2002). As-
sim, diversos hospitais, com perfis menores e um número restrito de
leitos, passam a atender como Hospital-Dia, onde os pacientes per-
manecem, em média, por 48 horas. Isso é importante, principalmen-
te, para prevenir as infecções, uma vez que apenas casos especiais
são mantidos por um longo período ou transferidos para outros EAS
de maior porte.
Além da resolubilidade e do porte, a tipologia de cada unida-
de hospitalar também é um fator relevante para a diferenciação das
edificações hospitalares, uma vez que está relacionada às áreas
adscritas a construção, que, segundo Toledo (2020: p. 70), repre-
sentam a área de influência da unidade, podendo ser classificada
como local, regional, distrital, nacional ou internacional. Quanto as
tipologias existentes atualmente, os hospitais podem apresentar di-
versas caracterizações2
. A primeira, nomeada como Hospital Geral,
visa atender os pacientes que necessitam de assistência médica
geral, podendo apresentar um forte apoio ao diagnóstico constituído
por unidades de imagiologia (Raio-X, tomógrafo, ressonância mag-
nética, endoscopia etc.), áreas de tratamento (marcado pelo cen-
tro cirúrgico e unidades de tratamento intensivo e de pronto-aten-
dimento) e de internação. A segunda, o Hospital de emergência,
caracteriza-se por unidades que contém centro cirúrgico, unidades
2 Todas as caracterizações tipológicas apresentam como referência as colocações
realizadas por Luiz Carlos Toledo (2020: pp. 67-70)
62
de tratamento intensivo e, em alguns casos, internação de queima-
dos, diagnosticando e tratando, adequadamente, de pacientes que
necessitam de cuidados imediatos devido à gravidade de seus feri-
mentos ou estado de saúde.
O Hospital pediátrico ou infantil, como o nome já indica,
oferece atendi-mento desde recém-nascidos até jovens de 18 anos.
Apesar de apresentar um programa e uma setorização muito seme-
lhante a um hospital geral, essa tipolo-gia apresenta suas unida-
des de internação divididas segundo as idades dos pacientes, não
apenas para facilitar no tratamento como para conseguir oferecer
uma ambiência e um conforto maior, por apresentar características
particulares para cada idade, além de oferecer a oportunidade de
interação entre pacientes de mesma faixa etária.
As Maternidades apresentam como finalidade prestar aten-
dimento às gestantes durante todo o período de gravidez, parto e
pós-parto, oferecendo também cuidados ao recém-nascido. O pro-
grama desse tipo de EAS é muito variável, existindo desde mater-
nidades com elevada resolubilidade e grande complexidade tecno-
lógica, capazes de atender gestantes com gravidez de alto risco,
até as pequenas “casas de parto”, onde os trabalhos de parto são
assistidos por parteiras sob supervisão médica. Por sua vez, muitas
cidades também apresentam hospitais especializados, que se de-
dicam ao diagnóstico e, principalmente, ao tratamento e à recupera-
ção de pacientes com patologias crônicas e específicas, tais como
os hospitais de traumato-ortopedia, oncologia, cardiologia etc. ou
ainda unidades voltadas para o tratamento de pacientes portadores
de doenças infectocontagiosas.
Por fim, têm-se os Hospitais de apoio, para aumentar a ro-
tatividade de internação das unidades de maior complexidade, e as
Unidades mistas, que, por sua vez, oferecem serviços de atendi-
mento primários, sendo normalmente caracterizados como os pos-
tos ou centros de saúde de bairro. Essas unidades podem conter
com apoio ao diagnóstico de baixa complexidade, centro cirúrgico e
obstétrico e uma pequena capacidade de internação.
Sendo assim, é crucial que os arquitetos realizem a identi-
63
Quadro 2 Relação entre a divisão das áreas construtivas propostas pelos dois gru-
pos de autores
Fonte: Góes, 2011: p. 60
ficação e a compreensão do perfil hospitalar para poderem avaliar
as particularidades e as dificuldades a serem enfrentadas (Toledo,
2020: p. 70) desde a etapa de projeto. Torna-se necessário realizar
uma análise de todos os setores que serão implantados, seus requi-
sitos e, sobretudo, sua interrelação, para determinar a sua contigui-
dade. Isso porque, segundo Góes (2011: p. 59):
“A contiguidade entre setores e unidades do edifício hos-
pitalar permite maior segurança e conforto ao paciente,
eleva o nível de eficiência do trabalho de médicos, enfer-
meiros e auxiliares, pela redução de deslocamentos des-
necessários, evitando-se ou reduzindo-se ao máximo a
duplicação de recursos humanos e materiais”.
Em relação ao agrupamento dos setores hospitalares, o autor
(2011: p. 60) apresenta um estudo pertinente, uma vez que afirma
que não existe uma divisão universal para os setores do hospital,
o que resulta numa alteração significativa na proporção das áreas
construtivas dos mesmos durante a elaboração do projeto arquite-
tônico (Quadro 2).
GRUPO 1 GRUPO 2
• Internação 40%
• Serviços médicos 30%
• Pacientes 10%
• Áreas industriais 12%
• Administração, staff 0,8%
• Internação 40%
• Serviços médicos 40%
• Serviços logísticos 20%
O primeiro grupo de profissionais divide o hospital em quatro
grandes setores, sendo eles: Serviços médicos, que compreen-
dem todos os ambientes envolvidos no atendimento e tratamento
dos pacientes, como o centro cirúrgico, o centro obstétrico, os ser-
viços de diagnósticos e terapia, radioterapia e radiologia, os labora-
tórios de patologia clínica, anatomia patológica e fisioterapia; Áreas
para pacientes externos, incluindo um leito independente de ur-
gência e outro para ambulatório; Áreas industriais ou de serviços
não médicos, contendo o serviço de nutrição e dietética, a central
de suprimentos, as instalações mecânicas e de manutenção; e Áre-
64
as administrativas, públicas e de conforto dos colaboradores
(Góes, 2011: p. 59).
O segundo caracteriza o edifício hospitalar em apenas 3 se-
tores: Setor de Internação, destinado ao paciente que permanecer
por mais de 24 horas no hospital; Setor de Diagnóstico e Terapia,
composto por todos os serviços, equipamentos e instalações neces-
sários para o atendimento direto ao paciente, seja ele interno ou ex-
terno; e Setores de Suporte Logístico¸ composto pelo serviço de
nutrição e dietética, lavanderia, central de suprimentos, instalações
mecânicas e de manutenção e vestiários (Góes, 2011: p. 60).
A Resolução n.º 50 (2002) é a norma técnica em vigor publi-
cada pela ANVISA, que estabelece critérios e informações sobre o
regulamento técnico para o planejamento, programação, elabora-
ção e avaliação de projetos físicos de EAS. Esta norma diverge das
classificações apresentadas anteriormente, apresentando um novo
critério (Figura 48), que, além dos setores citados, também inclui a
função de ensino de pesquisa, importante para o desenvolvimento
de pesquisas na área da saúde, além de proporcionar a formação e
especialização de seus funcionários (Quadro 3).
É notório que há uma tendência crescente de terceirização
de setores, retirando-os quase totalmente da edificação hospitalar,
sobretudo em relação aos serviços de apoio técnico e logístico. Isso
se deve, sobretudo, ao fato de permitir que os hospitais possam
expandir sem a necessidade de construir novas edificações, apro-
veitando os espaços que eram anteriormente ocupados por esses
setores, como demonstrado por Toledo (2020: p. 168). Por exemplo,
lavanderias e centrais de esterilização de materiais, por trabalharem
em escala industrial, atendem a diversos hospitais, resultando na
remoção, parcial ou total, desses ambientes dos hospitais.
Além disso, o setor de nutrição e dietética também apresen-
ta alterações no seu funcionamento, apesar de a cozinha requerer
uma análise cautelosa quanto à sua localização e disposição es-
pacial. Diversos EAS estão oferecendo aos funcionários alimentos
produzidos fora do edifício hospitalar ou Vale Refeições, para pode-
rem se alimentar em outros lugares, tornando a cozinha exclusiva
65
Figura 48 Diagrama de setorização do hospital geral segundo RDC n. 50. Fonte: Góes, 2011: p. 62
Quadro 3 Agrupamento detalhado dos setores do diagrama.
Fonte: Góes, 2011: p. 62
1. Atendimento básico de saúde.
• Atendimento individualizado;
• Demonstração e educação em saúde;
• Imunização;
• Armazenamento e distribuição de ali-mentos;
• Ambiente de apoio.
2. Ambulatório.
• Enfermagem;
• Consultórios;
• Centro cirúrgico ambulatorial.
3. Atendimento Imediato.
• Urgências;
• Emergências.
4. Atendimento em Regime de Internação.
• Enfermagem;
• Consultórios;
• Centro cirúrgico ambulatorial.
5. Apoio ao Diagnóstico e Terapia.
• Patologia clínica - análises clínicas;
• Imagiologia - radiologia, resso-nância magnética; tomo-
grafia computadorizada, ultrassonogra-fia; e métodos
gráficos.
• Anatomia patológica e necrópsia;
• Medicina nuclear;
• Centro cirúrgico e obstétrico-cirúrgico;
• Centro obstétrico normal;
• Reabilitação
• Fisioterapia;
• Quimioterapia;
• Diálise
• Banco de leite
6. Apoio Técnico.
• Nutrição e dietética;
• Lactário;
• Farmácia;
• Central de material esterilizado.
7. Ação para Formação e Desenvolvi-mento de Re-
cursos Humanos e Pesquisa.
• Sala de aula
• Anfiteatro / auditório;
• Sala de estudo;
• Sala do professor;
• Biblioteca;
• Apoio/ administração;
• Alojamentos.
8. Apoio Administrativo.
• Diretoria geral;
• Diretoria clínica:
i. Médica;
ii. Cirúrgica;
iii. Diretoria Técnica e manutenção;
• Diretoria de enfermagem;
• Pessoal;
• Contabilidade;
• Finanças;
• Compras;
• CPD;
• Arquivo médico e estatística.
9. Apoio Logístico.
• Processamento de roupas e lavanderia;
• Central de administração do material e equipamentos, e
almoxarifado;
• Manutenção
• Conforto e higiene;
• Limpeza e zeladoria.
10. Geral.
• Garagem;
• Estacionamento;
• Guaritas;
• Central de gases;
• Casa de força e subestação;
• Caldeiras;
• Tratamento de resíduos.
66
para o preparo das refeições dos pacientes, uma vez que as dietas
específicas são requeridas e as refeições são distribuídas diversas
vezes ao dia. Dessa forma, apesar de a cozinha ter uma alteração
no seu tamanho, este é um setor em que não é recomendado que
seja removido totalmente do edifício (Toledo, 2020: p. 170).
Outra situação observada atualmente, sobretudo nos hospi-
tais privados, é a presença de laboratórios de exames de sangue
e diagnóstico por imagem, que são operados por outras empresas
privadas. Esta relação, que não afeta o funcionamento do hospital,
demonstra a crescente participação das empresas privadas no se-
tor hospitalar, o que requer que os arquitetos necessitem por incluir
novos espaços para o programa das EAS, como um número maior
de recepções e locais para retirada de exames, e uma nova organi-
zação espacial.
1.3 Atributos de projeto da arquitetura da
edificação de saúde contemporânea
Em relação à arquitetura de EAS, é importante evidenciar
como questões geográficas, urbanas, epidemiológicas e de progra-
ma influenciam nas decisões de projeto. Assim, independentemente
da complexidade do programa, o arquiteto deve trabalhar em con-
junto com diversos profissionais para inserir em seus problemas as-
pectos técnicos, tanto envolvendo o local de implantação do edifício
até os físico-funcionais, que influenciarão no partido arquitetônico
adotado e na organização setorial do programa do hospital.
67
1.3.1. Implantação, acessos e incersão urbana
Os hospitais, por muito tempo, foram construídos longe dos
centros urbanos, para prevenir a proliferação de doenças, como a
tuberculose. Com a Revolução Industrial e o desenvolvimento urba-
no, essas construções foram incorporadas à malha urbana das cida-
des, o que, por sua vez, causou impactos significativos no entorno
imediato das edificações. Segundo Antônio Carvalho, em seu livro
Introdução à arquitetura hospitalar (2014: p. 78), a decisão sobre o
local de implantação de um hospital envolve diversos fatores, sobre-
tudo políticas de saúde, o que torna esse processo “um dos maiores
desafios para a arquitetura hospitalar”, uma vez que envolve todos
os aspectos que devem ser considerados durante toda a etapa de
formulação do projeto executivo do EAS.
Essas condições, somadas a realidade de que os arquitetos
são constantemente contratados para elaborar projetos hospitalares
em terrenos pré-estabelecidos pelos clientes, seja para a constru-
ção de um novo hospital ou para a reforma e expansão dos já exis-
tentes, torna a elaboração de estudos prelimina-res de localização
uma das etapas mais importantes durante elaboração do projeto
arquitetônico. Esses estudos preliminares devem:
“[…] contemplar uma análise cuidadosa das redes exis-
tentes, da qualidade dos serviços públicos prestados,
das condições de acessibilidade, do uso do solo predomi-
nante no entorno, das características socioeconômicas e
epidemiológicas da população na área de influência da
unidade. Deverão ser, ainda, considerados aspectos físi-
co-urbanísticos, tais como a localização e as dimensões
das áreas disponíveis, suas características topográficas
e geológicas, climas, insolação, níveis de ruído e legisla-
ção urbanística” (Toledo, 2020: p. 77).
Para muitos, um edifício hospitalar pode ser considerado
como um elemento em constante transformação. A partir de sua
inauguração, sofre reformas, adaptações e ampliações, o que o tor-
na um “grande consumidor de área” (Carvalho, 2014: p. 77), inde-
pendentemente do partido arquitetônico adotado. Portanto, mesmo
68
tendo dimensões reduzidas devido à malha urbana, é preciso prever
um dimensionamento de terreno ou soluções projetuais que permi-
tam expansões futuras sem ocasionar grandes problemas para o
entorno ou para a estrutura da cidade onde o hospital será constru-
ído.
Carvalho (2014: p. 78) defende também que os EAS devem
ser construídos em terrenos com 10% de declividade, uma vez que
é economicamente mais viável, já que áreas com grandes declives
requerem implantações mais dispendiosas por necessitarem de ter-
raplanagem. De fato, terrenos com pouco caimento não só reduzem
os custos, como também facilitam a escolha das soluções projetu-
ais. No entanto, diversos profissionais adaptam o hospital à topo-
grafia do terreno, resultando em construções onde a terraplanagem
é utilizada apenas nos locais de extrema necessidade, diminuindo
o custo de construção e trazendo benefícios para o meio ambiente.
Em outras palavras, a busca por soluções que envolvam a alteração
mínima do terreno não apenas pode ser realizada independente-
mente da conformação do espaço físico como é uma das primeiras
ações de aplicação da Sustentabilidade na construção civil.
Outro fator relevante a ser considerado são as condições de
infraestrutura urbana, primordiais para o seu bom funcionamento e
para o seu abastecimento. Em termos de vias de circulação e aces-
so, um EAS pode apresentar diversos tipos funcionais de acessos
em um único espaço físico, dependendo da interligação e aglutina-
ção das unidades funcionais existentes (Anvisa, 2002: p. 86). No en-
tanto, é indispensável a diferenciação entre os acessos de veículos
e os de pedestres, para evitar o cruzamento entre eles (Carvalho,
2014: p. 78), uma vez que as vias para veículos e as entradas para
os estacionamentos devem ser bem-sinalizadas.
Em relação aos estacionamentos, estes devem ser previstos
tanto para viaturas de serviços quanto para passageiros, sempre
considerando o número de vagas recomendado pelos códigos de
obras municipais. Em locais onde o código de obras é omisso em
respeito ao tema, é recomendado que o profissional considere uma
área mínima de 12 m² para a vaga ou uma vaga para veículo a cada
69
quatro leitos presentes no hospital (ANVISA, 2002: p. 86). Além dis-
so, é indispensável que a norma de acessibilidade, a NBR-9050,
seja cumprida, sobretudo, em edifícios de grande e médio porte.
Isso se deve ao fato de que, além das vagas para ambulâncias, 1%
das vagas para os usuários do hospital devem ser reservadas para
pessoas com necessidade especiais (PNE).
Dado que os hospitais são grandes consumidores de energia
e água, torna-se indispensável o fornecimento contínuo, uma vez
que sua falta pode ocasionar riscos à saúde e à vida dos pacientes.
No que diz respeito à energia, essencial para o funcionamento do
edifício, dos equipamentos e dos sistemas de comunicação, a solu-
ção é instalar geradores e placas solares, a fim de permitir que os
hospitais permaneçam independentes da rede urbana por um perío-
do. Muitos prontuários médicos, por exemplo, não são mais impres-
sos em papel, ficando armazenados na rede do hospital, permitindo
que mais de um profissional consiga acessá-los simultaneamente.
Se houver uma falha no sistema devido à falta de energia, os mé-
dicos, enfermeiros e outros profissionais não terão acesso a esses
prontuários, o que dificultará a execução do tratamento.
Com o surgimento de uma legislação ambiental cada vez
mais restritiva, tornou-se necessário que os esgotos gerados nos
hospitais fossem tratados no próprio local antes de serem lançados
na rede pública, sobretudo quando são despejados em redes de
drenagem pluvial ou em mananciais (Toledo, 2020: p. 77). Dessa
forma, as unidades de tratamento passaram a ser instaladas nos
hospitais, localizados próximos aos espaços para o armazenamen-
to, transporte, tratamento e disposição do lixo contaminado produ-
zido no hospital, que também requer um cuidado especial, uma vez
que não pode ser jogado no lixo comum.
Jarbas Karman, em seu livro Manutenção incorporada à ar-
quitetura hospitalar (1995: p. 55), afirma que os profissionais devem
ter cautela ao projetar todo o sistema de infraestrutura do prédio. A
passagem de redes de esgoto em ambientes assépticos e críticos
deve ser evitada para prevenir o “gotejamento” de água poluída,
causado pelas juntas, conexões e curvas das tubulações. Para tal,
70
Figura 49 Represen-
tação esquemática do
sistema de esgoto de
segurança com “Colu-
na-Ladrão”.
Fonte: Karman, 1995:
p 72.
propõe-se a utilização de um sistema denominado “Rede de Segu-
rança”, composto por uma rede paralela, vertical e horizontal, aco-
plada a uma “Coluna-Ladrão” (Figura 49).
A utilização da água como meio de higienização torna esse
suprimento indispensável em todos os estabelecimentos de saúde,
ao mesmo tempo, em que ser analisada com frequência e limpa
constantemente nos reservatórios para que a qualidade geral da
água esteja em boas condições, sobretudo para a prevenção de
contaminação. Segundo Jarbas Karman:
“Devem ser sempre duplos, para facilidade de limpeza e
mesmo quádruplos, quando o hospital dispuser de sis-
tema de válvula fluxível, para a descarga de bacias sa-
nitárias. nesse sistema, quando a bacia sanitária estiver
cheia (por obstrução) pode ocorrer a formação de vácuo
no duto de alimentação da bacia sanitária, em decorrên-
cia de repetidas descargas e consequente aspiração da
71
água poluída da bacia, com risco de contaminação da
rede de água potável; daí a destinação de dois reser-
vatórios, exclusivos e independentes, para o abasteci-
mento de válvulas fluxíveis, de esguichos de mesa de
necrópsia e similares” (Karman, 1995: p. 54).
Em contrapartida, os reservatórios enterrados, devido à ne-
cessidade de uma proteção especial contra infiltração e controle de
vazamentos, são construídos em locais isolados, com um espaço
livre e drenado, sob uma laje inferior de fácil acesso para inspeção
e manutenção.
Carvalho (2014: p. 78) também sustenta que os hospitais de-
vem ser implantados em locais distantes das sedes do corpo de
bombeiros, aeroportos, clubes e casas de espetáculo, indústrias
poluentes ou de alto risco e depósitos de resíduos sólidos. Ele re-
aliza essa argumentação não apenas pelos hospitais necessitarem
de ambientes saudáveis no entorno, como também por não serem
fontes de ruídos excessivos e estresse. Se estes imóveis estão si-
tuados em áreas próximas a fontes de ruídos, como grandes aveni-
das ou autoestradas, é indispensável realizar o conforto acústico no
edifício, seja através da inclusão de barreiras acústicas e vegetais,
ou da aplicação de isolantes acústicos nos elementos construtivos,
como a implementação de janelas antirruídos. Apesar de serem
mais caras, essas e outras soluções estão diretamente ligadas à
qualidade do ambiente hospitalar e, consequentemente, à humani-
zação espacial dos edifícios hospitalares.
Assim, ao se realizar qualquer ampliação em hospitais já
existentes, é importante ser realizado uma coleta de dados a res-
peito da satisfação da população que mora ou trabalha nas áreas
adjacentes aos EAS, para, principalmente, determinar eventuais
transtornos causados pela unidade, sejam eles relacionados com
impactos ambientais, no tráfego, no comércio local e na qualidade
de vida do entorno (Toledo, 2020: p. 78). Esse levantamento, muitas
vezes correla¬cionado à Avaliação Pós-Ocupação, pode guiar os
arquitetos na formulação de soluções projetuais e da determinação
dos fatores físico-funcionais aplicados nas EAS.
72
Figura 50 Partido hori-
zontal com sistema em
corredor único.
Fonte: Carvalho, 2014:
p. 82.
1.3.2. Fatores físicos-funcionais
A decisão entre adotar um partido vertical ou horizontal em
um estabelecimento de saúde requer uma análise aprofundada,
uma vez que envolve diversos fatores, o que pode trazer benefícios
ou riscos projetuais. De acordo com Góes (2011: p. 47), um edifí-
cio hospitalar, devido ao seu grande porte, deveria ser construído
preferencialmente em um único pavimento térreo. Esse partido hori-
zontal, geralmente representado pela tipologia pavilhonar, apresen-
ta uma setorização espacial que se assemelha muito à estrutura das
pequenas cidades.
Esse tipo de zoneamento é necessário, principalmente por-
que há certos usos que não são aconselháveis de estarem próximos
(Figura 50). Dessa forma, as circulações devem, segundo Carvalho
(2014: p. 81), obedecer a um sistema de hierarquia para minimizar
conflitos e garantir a segurança de todos. Além disso, alguns traje-
tos - como os de cadáveres, resíduos, roupas sujas, pacientes em
estado grave, dentre outros - devem ser cuidadosamente estrutura-
dos e equacionados, para não ocorrerem acidentes ou constrangi-
mentos.
73
Figura 51 Perfil de um
típico partido vertical em
Torre base.
Fonte: Carvalho, 2014:
p. 81
A verticalização, por outro lado, é quase uma imposição nas
grandes e médias cidades, uma vez que os terrenos possuem di-
mensões reduzidas e preços elevados. Alguns arquitetos argumen-
tam que um hospital não deve ter mais do que oito pavimentos, tota-
lizando 18 metros de altura a partir do nível do terreno (Góes, 2011:
p. 48). No entanto, para determinar a altura máxima de um edifício,
é imprescindível considerar os parâmetros urbanísticos da região
onde a unidade hospitalar será construída.
Dado que, para o partido vertical, rampas e elevadores são
elementos que, muitas vezes, organizam os espaços, muitas unida-
des de saúde adotam a tipologia da torre-base (Figura 51), onde,
no elemento vertical, estão setores que requerem condições espe-
cíficas de conforto e ambiência interna, como o de internação. No
bloco longitudinal, os demais usos são organizados para facilitar o
atendimento, ao mesmo tempo, em que oferecem um controle no
padrão de circulação.
Seja qual for o partido escolhido, os fatores físicos-funcionais
de um edifício hospitalar podem ser considerados dinâmicos devido
às constantes transformações que sofrem, sejam elas resultantes
da incorporação de inovações tecnológicas e novos procedimen-
tos ou das alterações nos setores hospitalares. Essa complexida-
74
de programática, indispensável para o funcionamento adequado do
hospital, além de abrigar funções diversificadas e que, em alguns
casos, pode ser incompatível entre si (Toledo, 2020: p. 72), pode
sofrer alterações no dimensionamento de determinados setores ou
a sua eliminação total devido à terceiri¬zação, como já citado ante-
riormente.
Um programa arquitetônico hospitalar deve conter uma lista
de espaços em diferentes níveis de abrangência, a fim de atender
a todas as necessidades previstas, além de permitir a possibilidade
de alterações futuras. Para tal, é necessário realizar uma análise
minuciosa de cada unidade funcional e de cada ambiente hospitalar,
de acordo com uma pesquisa aprofundada, considerando: o número
de pacientes e de agentes de saúde que ocuparão os espaços; os
espaços dos equipamentos que serão instalados; a identificação do
mobiliário; e, em casos específicos, como centros cirúrgicos, o posi-
cionamento e o deslocamento dos pacientes, médicos, enfermeiros
e auxiliares durante os procedimentos (Toledo, 2020: p. 73).
Como visto, além das atividades terapêuticas, de apoio ao
diagnóstico e ao tratamento, o hospital desempenha outras funções,
como as de hotelaria – que recebem, hospedam e alimentam pa-
cientes e acompanhantes – e as industriais – que produzem, pro-
cessam e distribuem diversos insumos, tais como roupas, materiais
esterilizados, medicamentos e gases. Isso requer que os profissio-
nais apresentem todas as diferenças funcionais requeridas, acom-
panhadas de tratamento arquitetônico específico (Toledo, 2020: p.
72,73), sobretudo na disposição espacial e na escolha dos materiais
que serão aplicados nos pisos e revestimentos.
As circulações são consideradas um dos elementos-chave
para o projeto hospitalar. Conforme a RDC-50 (2002: p. 87), os cor-
redores destinados à circulação de pacientes ambulantes ou em ca-
deiras de rodas, macas ou camas, de-vem ter a largura mínima de
2,00 m para percursos com 11,00 m e 1,20 m para os demais, não
podendo ser utilizados como locais de espera para não obstruir a
passagem. Para fins de segurança, todos os corredores destinados
à circulação de pacientes devem conter corrimãos com finalização
75
curva e bate-macas, que podem ser instalados a uma altura de 80
cm a 92 cm do piso acabado.
Outro fator relevante de projeto está relacionado às necessi-
dades de infraestrutura de cada ambiente. Para elaborar o projeto
de um dos quartos de internação, por exemplo, o arquiteto deve
ter conhecimento aprofundado das suas características para, com
a ajuda de especialistas, poder determinar: o número e a localiza-
ção das diferentes tomadas e interruptores; o local de instalação da
régua de gases, que contém os pontos de oxigênio, ar comprimido,
óxido nitroso e vácuo; a necessidade de exaustão e condicionamen-
to do ar interno; a instalação de telefonia, comunicação e sinaliza-
ção, de modo a assegurar a chamada dos profissionais sobretudo
em emergências; dentre outros.
1.3.3. Normas técnicas de construção hospitalar
e sua aplicação
Antes de iniciar a discussão sobre a legislação vigente para a
arquitetura dos EAS e sua correta aplicação, é crucial compreender
a diferença entre Normatização e Acreditação, uma vez que ambas
têm critérios próprios e abordagens específicas que devem ser se-
guidos. Geralmente, são acompanhadas por certificações, que ates-
tam a sua aplicabilidade.
Segundo Bross (2013: pp. 164-166), enquanto a Norma é
uma forma de estabelecer um padrão para a execução de projetos
ou avaliação deles, a Acreditação visa reconhecer aspectos especí-
ficos, como a qualidade do atendimento prestado pelos profissionais
de saúde, a qualidade do ambiente construído, o nível de sustenta-
bilidade dos hospitais31
, dentre outros. Independentemente dessa
diferenciação, ambos estão envolvidos no processo de regulamen-
tação, para aprimorar os edifícios e melhorar a qualidade dos servi-
ços prestados. Isso é extremamente relevante devido à complexida-
3 Quanto a sustentabilidade, a acreditação e certificação aplicada, normalmente, é
a LEED (Leasdership in Energy and Environmental Design). Essa certificação é apresen-
tada e analisada no item 3.3.1 dessa dissertação.
76
Figura 52 Exemplo de planta de um
quarto de internação, representada no
livro Elements of the General Hospital.
Fonte: Carvalho, 2017: p. 22.
de dos edifícios hospitalares e ao seu constante aperfeiçoamento.
Embora alguns autores e pesquisadores apontem que o pro-
cesso de normatização e regulamentação de projetos iniciou-se na
década de 196042
, outros sustentam que essa busca constante por
parâmetros e padrões projetuais remonta ao ano de 1940. Isso se
deve ao fato de que, até a publicação da RDC 50/2002, foram expe-
didos diversos materiais que não apenas incorporaram os critérios e
aspectos específicos dos edifícios hospitalares, como criaram uma
metodologia que auxiliou os arquitetos na elaboração de seus proje-
tos.
Gabriela Camelo, Marcio Souza e Fábio Bitencourt (2021:
p. 61) argumentam que o processo de evolução da normatização
brasileira foi lento, tendo sido iniciado com a criação do SESP na
década de 40, que utilizava o guia americano Elements of the Ge-
neral Hospital (1946) para elaborar as primeiras orientações sobre
o tema. Este documento, segundo Antônio Pedro Alves de Carvalho
(2017: pp. 22, 23), apresentava plantas setoriais com dimensiona-
mento e relação detalhada de mobiliário e equipamentos (Figura
52), sem descrições ou orientações escritas a respeito dos setores
que compõem os edifícios hospitalares. Nesse mesmo período, o
SESP publicou o livro Padrões Mínimos Hospitalares, composto por
23 páginas de modelos de plantas arquitetônicas (Figura 53), se-
guindo os mesmos moldes do guia norte-americano.
4 João Carlos Bross (2013: p. 164) e Luiz Carlos Toledo (2020: p. 56) foram dois
dos autores que apresentaram esse levantamento, com uma maior descrição a respeito,
sendo importante evidenciá-los.
77
Figura 53 Planta de um andar de internação do guia Padrões Mínimos Hospitais. Fonte: Carvalho, 2017: p. 23.
Na década de 50, os arquitetos Amador Cintra do Prado, Jar-
bas Karman e Rino Levi coordenaram a publicação do livro Planeja-
mento de Hospitais, composto por transcrições de aulas e palestras
ministradas durante um curso de infraestrutura hospitalar, elabora-
das por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfer-
meiros, engenheiros, arquitetos e administradores (Camelo; Souza;
Bitencourt, 2021: p. 62).
Dez anos depois, o livro Projeto de Normas Disciplinadoras
das Construções Hospitalares (1965) foi escrito pelos arquitetos
Oscar Valdetaro e Roberto Nadalutti, com a consultoria do doutor
Henrique Bandeira de Mello. Este livro apresentava um aumento no
número de desenhos de unidades e na quantidade de explicações
teóricas para projetos, em comparação com o material anteriormen-
te publicado (Figura 54) (Carvalho, 2017: p. 24), porém não difere
de sua metodologia. Apesar disso, sua publicação teve uma grande
relevância, uma vez que foi o primeiro documento normativo brasi-
leiro de âmbito nacional.
Em 1977, uma nova norma foi publicada, a Portaria n.º
400/1977, intitulada Normas e Padrões de construções e instala-
ções de serviços de saúde. Segundo Toledo (2020: p. 160), essa
portaria apresentava um programa arquitetônico definido, com a lis-
ta de ambientes de cada unidade, contendo metragem mínima e
observações básicas. Apesar de tratar das instalações prediais para
EAS de forma genérica, está normativa apresenta uma rigidez inco-
mum até então, refletindo a ditadura militar vivida durante a década
de 1970.
78
Figura 54 Exemplo de planta presente no Projeto de Normas Disciplinadoras das Construções Hospitalares.
Fonte: Carvalho, 2017: p. 26.
Figura 55 Exemplo de planta apresentada na segunda edição da Portaria 400/1977. Fonte: Carvalho, 2017: p. 27.
79
Em 1987, essa portaria recebeu uma segunda edição (Figura
55) tornando-se um instrumento de regulamentação dos ambientes
hospitalares, o que, por sua vez, teve um impacto positivo referente
ao desenvolvimento do sistema de fiscalização da ANVISA (Came-
lo; Souza; Bitencourt, 2021: p. 63). Concomitantemente, o Estado
passou a apresentar o dever de oferecer saúde a toda a popula-
ção, conforme a Constituição Brasileira de 1988. Esses progressos
culminaram na Lei Orgânica de Saúde de 1990, que estabeleceu o
Sistema Único de Saúde. No entanto, a rigidez da primeira edição
persistiu, o que resultou na utilização das mesmas tipologias em
todos os estabelecimentos de saúde (Toledo, 2020: p. 161). Isso era
um grande problema devido ao tamanho continental do país, com
climas e condicionantes ambientais diferentes, além da carência de
recursos para manter o edifício em boas condições.
A partir da década de 1990, as normativas foram gradual-
mente perdendo o caráter rígido que apresentavam, passando a
descrever as atividades prestadas nos serviços de saúde e nos am-
bientes hospitalares (Figura 56) e não mais apresentando desenhos
gráficos. Isso permitiu que arquitetos e engenheiros tivessem uma
maior liberdade de escolha quanto à disposição espacial desses
ambientes.
Dentre todas elas, a Resolução n. 50 (RDC 50) é considera-
da a normativa vigente em relação à arquitetura para EAS. A norma
em questão, publicada em 2002, apresenta critérios e informações
relevantes que, além de auxiliar os profissionais na elaboração do
projeto, também destrincha a arquitetura hospitalar para facilitar a
compreensão de sua complexidade, abrangendo desde os aspec-
tos físicos-funcionais de um EAS até os fundamentos para projetos,
considerados fundamentais para o bom funcionamento do edifício.
Estes são agrupados em oito grandes atribuições gerais, abrangen-
do áreas e unidades que compõem os programas dos EAS (Quadro
4).
Apesar de ser uma norma, os arquitetos não são obrigados
a incorporar em seus projetos todas essas atribuições ou tratá-las
independentemente, uma vez que algumas atividades podem ser
80
Figura 56 Exemplo de quadro da Portaria 1884/1994. Fonte: Carvalho, 2017: p. 32.
Quadro 4 Atribuições gerais de assistência à saúde.
Fonte: Anvisa, 2002: pp. 24,25.
1. Prestação de atendimento eletivo de promoção e assistência à saúde em
regime ambulatorial e de hospital-dia – atenção à saúde incluindo de promoção,
prevenção, vigilância à saúde da comunidade e atendimento a pacientes externos de
forma programada e continuada;
2. Prestação de atendimento imediato de assistência à saúde – atendimento a
pacientes externos em situações de sofrimento, sem risco de vida (urgência) ou com
risco de vida (emergência);
3. Prestação de atendimento de assistência à saúde em regime de internação
– atendimento a pacientes que necessitam de assistência direta programada por
período superior a 24 horas (pacientes internos);
4. Prestação de atendimento de apoio ao diagnóstico e terapia – atendimento a
pacientes internos e externos em ações de apoio direto ao reconhecimento e recupe-
ração do estado de saúde (contato direto);
5. Prestação de serviços de apoio técnico – atendimento direto a assistência à saú-
de em funções de apoio (contato indireto);
6. Formação e desenvolvimento de recursos humanos e de pesquisa – atendimen-
to direta ou indiretamente relacionado à atenção à saúde em funções de ensino e
pesquisa;
7. Prestação de serviços de apoio à gestão e execução administrativa – atendi-
mento ao estabelecimento em funções administrativas;
8. Prestação de serviços de apoio logístico – atendimento ao estabelecimento em
funções de suporte operacional.
81
Figura 57 Exemplo de
layout apresentado no
SomaSUS com os códi-
gos dos equipamentos
e mobiliário.
Fonte: Carvalho, 2017:
p. 32.
executadas em um mesmo ambiente ou compartilhadas entre duas
ou mais unidades (Anvisa, 2002: p. 37). Isso retrata a realidade
brasileira de hospitais que apresentam unidades laboratoriais, de
ensino, administrativas e/ou centros de tratamento especializados
localizados fora dos complexos, em quadras adjacentes, com ou
sem ligação direta entre si.
Dessa forma, o profissional deve analisar as demandas
apresentadas pelos clientes e pelas outras profissões que atuam
no atendimento à saúde para determinar quais atribuições serão
executadas e como serão projetadas. Para tal, a RDC 50 apresen-
ta tabelas com dimensionamentos e informações mínimas a serem
seguidos para cada área ou unidade envolvidas nas atribuições em
questão.
Apesar de a RDC 50/2002 ser bem fundamentada, a nor-
ma não especifica as informações essenciais para a programação
arquitetônica para a elaboração de projetos, como fluxos internos,
mobiliário e equipamentos. Visando solucionar essa questão, o Mi-
nistério da Saúde criou o Sistema de Apoio à Elaboração de Proje-
tos de Investimentos em Saúde (SomaSUS) para auxiliar na orienta-
ção, divulgação e implementação dessa norma, utilizando recursos
gráficos com exemplos de layout para os mais diversos ambientes
(Figura 57) (Carvalho, 2017: pp. 34-36).
Isso demonstra que, no
que diz respeito à arquitetura
hospitalar, o arquiteto deve
ter uma formação multidisci-
plinar e trabalhar com diferen-
tes profissionais para desen-
volver um projeto que atenda
às qualidades e especificida-
des necessárias, tendo como
base a RDC-50 e as demais
normas publicadas pela Asso-
ciação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
82
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
O termo humanizar é caracterizado como antropocêntri-
co, o que significa dar condições humanas a algo ou a um lugar.
Devido à sua subjetividade bas-tante complexa, é de difícil com-
preensão, especialmente por envolver fatores sociais, éticos,
educacionais e psicológicos. No que diz respeito aos ambientes
hospitalares, o conceito de humanização pode ser aplicado des-
de a qualidade do serviço prestado pelos profissionais de saúde
até os atributos espaciais dos EAS.
De acordo com Vasconcelos, em sua dissertação intitu-
lada Humanização de ambientes hospitalares: características
arquitetônicas responsáveis pela in-tegração interior/exterior
(2004: p. 24), esses atributos são qualificados para proporcionar
conforto físico e psicológico aos usuários durante a execução de
suas atividades, por meio de características ambientais que pro-
porcionam uma sensação de bem-estar. Isso se deve ao fato de
os Serviços de Atenção à Saúde dos Indivíduos terem em mente
que os pacientes sofrem agressões psicossomáticas causadas
pela percepção de risco em relação ao seu estado e aos proce-
dimentos que serão submetidos nos hospitais (BROSS, 2013:
pp. 35, 41, 42).
Capítulo 2
Humanização dos espaços de saúde
84
2.1 Evolução histórica
Como mencionado no capítulo anterior, o doente é conside-
rado portador de um distúrbio que deve ser diagnosticado e tratado,
uma vez que, nos hospi-tais, há uma constante preocupação em
restaurar o corpo humano ao seu estado normal, de acordo com
princípios preestabelecidos pela sociedade. Além disso, a arquite-
tura esteve, por um longo tempo, ligada à religião e ao misticismo.
Com a humanização, não foi diferente.
Na Antiguidade, buscavam na natureza, nas fontes de água
e na luz solar uma aproximação com as divindades, ao mesmo tem-
po em que utilizavam esses elementos para fins terapêuticos. Os
tratados, como os de Galeno, já continham informações sobre o es-
tado emocional dos pacientes e sua interação com os ambientes,
indicando que a utilização da humanização foi intuitiva durante esse
período.
Na Idade Média, as enfermarias, ou ambulatórios de mostei-
ro, eram compostas por pátios internos e externos, que eram utili-
zados pelos pacientes para banhos de sol, com vegetação e jardins
terapêuticos, que continham ervas utilizadas nos tratamentos e na
formulação dos medicamentos. Essas construções eram, geralmen-
te, isoladas, muitas vezes situadas fora dos limites das cidades, ser-
vindo, sobretudo, para prevenir a proliferação de doenças.
A Revolução Industrial, por sua vez, alterou a maneira como
os indivíduos se relacionavam com a cidade e o trabalho, trans-
formando-os em mercadoria e força de trabalho. Assim, com o au-
mento da população, as longas jornadas de trabalho, os acidentes
e as condições insalubres, o número de doentes aumentou, tornan-
do-se evidente a necessidade de um novo modelo hospitalar, com
ambientes adequados e voltados para a reabilitação dos pacientes.
Com isso, surgiram novas preocupações, sobretudo em relação à
qualidade do ambiente construído, influenciando a arquitetura.
Florence Nightingale percebeu os efeitos do meio ambiente
nos seus pacientes. A partir de suas experiências como enfermeira
na Guerra da Criméia (Figura 58), ela escreveu os livros Notes on
85
Figura 58 Florence Ni-
ghtingale atendendo so-
breviventes da Guerra
da Criméia, no Hospital
Scutari. Litografia colori-
da de E. Walker, 1856,
segundo W. Simpson.
Fonte: https://wellcome-
collection.org/. Acesso
em: jan. 2023.
Nursing e Notes on Hospitals, publicados na Inglaterra em 1859,
nos quais aponta os defeitos dos hospitais existentes em termos de
qualidade do ambiente hospitalar e as consequências para a recu-
peração dos pacientes, questionando a Teoria dos Miasmas (Mique-
lin, 1992: p. 46).
Além dessas informações, Florence Nightingale traz em seu
livro 18 princípios para a construção de hospitais (Quadro 5a e 5b)
que nortearam a formulação espacial da “Enfermaria Nightingale”
(Figura 59). Esta pode ser descrita da seguinte forma:
“[…] um salão longo e estreito com os leitos dispostos
perpendicularmente em relação às paredes perimetrais;
um pé direito generoso, e janelas altas entre um leito e
outro de ambos os lados do salão garantiam ventilação
cruzada e iluminação natural. As instalações sanitárias
ficavam numa das extremidades com ventilação em três
fazer do bloco. Locais de isolamento do paciente termi-
nal, escritório da enfermeira chefe, utilidades, copa e de-
pósito ocupavam o espaço intermediário entre o salão e
o corredor de ligação com outros pavilhões. Um posto de
enfermagem é implantado no centro do salão, onde tam-
bém ficava o sistema de calefação (quando existente) ou
a lareira “(Miquelin, 1992: pp. 46,47).
86
Quadro 5a Princípios de Florence Nightingale para a construção de hospitais do século XIX
Fonte: adaptado de Draganov; Sanna, 2017: pp. 97, 98.
• Princípio • Descrição • Observações
• 1 • Número de pavi-
mentos
• A construção de um único pavimento é
recomendada para evitar a contaminação
do andar superior pelo ar contaminante
do piso inferior.
• 2 • Número de alas
ou uni-dades por
pavilhão
• Se houver mais de uma ala, é recomen-
dável interromper o piso com a utilização
de uma escada, para evitar a troca de ar.
• 3 • Dimensionamen-
to das alas ou
unidades
• Recomendava metragem de 4,5 m para o
pé direito.
• 4 • Espaçamento
entre leitos
• Deveria ser considerado um espaçamen-
to entre as camas de 3 a 3,5 m.
• 5 • Relação entre
leitos e janelas
• As alas deveriam conter uma janela
a cada dois leitos, com uma distância
máxima de 1,20 metros. O peitoril deveria
estar a uma distância de 60 a 90 centí-
metros do chão e 30 centímetros do teto,
para as janelas altas.
• 6 e 7 • Materiais de
construção e
partido arquite-
tônico
• Recomendava escolher superfícies que
fossem resistentes, laváveis e fáceis de
limpar. Indicava, dentre os materiais dis-
poníveis, cimento aparente ou concreto e
carvalho ou pinho.
• 8 • Salas de
enfermagem e
localização
• As salas de enfermagem deveriam ficar
em espaços com facilidade de visualiza-
ção da ala, com mobiliário para descan-
so e espaço para guarda e controle de
materiais.
• 9 e 10 • Casa de banho,
lavatórios, vasos
sanitários e pia
para lavagem de
materiais
• É aconselhado que esses espaços sejam
construídos separadamente, com cautela
na escolha do revestimento, além da
instalação de um sistema de tratamento
de água e louças sanitárias com sifona-
mento.
• 11 • Ventilação na-
tural
• É indispensável em edificações de saúde,
sobretudo devido à constante troca de ar
e à salubridade do ambiente. Para aque-
cer o ar frio, recomendava a instalação de
equipamento semelhante às chaminés, e
persianas.
• 12 • Mobiliário da uni-
dade do paciente
• O quarto deveria ser composto por um lei-
to, uma cadeira com apoio de braço, duas
mesas e um biombo, para privacidade.
• 13 • Leito • Recomendava o uso de colchões de crina
de cavalo ou de ar, ou de água, com
estrado de tecido elástico, trançado ou
en¬trelaçado, e leito de ferro forjado.
• 14 • Tratamento da
água
• Recomendava análises químicas e o
tratamento in loco da água para uso com
os doentes.
87
Quadro 5b Princípios de Florence Nightingale para a construção de hospitais do século XIX
(continuação)
Figura 59 Planta da En-
fermaria “Nightingale”.
Fonte: Miquelin, 1992:
p. 47.
Fonte: adaptado de Draganov; Sanna, 2017: pp. 97, 98.
• Princípio • Descrição • Observações
• 15 • Sistema de
esgoto
• Recomendava uso de sistemas de sifona-
gem e vedação hermética.
• 16 • Cozinha e ali-
mentos
• Recomendava que ficassem afastados
das alas.
• 17 • Lavanderia • Recomendava o uso de tubo hermético
para despejo de roupas, equipamento
para lavagem e esterilização, e espaço
para manutenção e preparo das roupas.
• 18 • Centro cirúrgico • Planta física deve estar voltada para o
norte, aproveitando a condição de ilumi-
nação natural e as conexões com alas,
favorecendo o fluxo de funcionários e
pacientes.
O Manual de Conforto Ambiental em Estabelecimentos As-
sistenciais de Saúde, publicado pela ANVISA em 2014, apresenta
alguns trechos do livro Notes on Hospitals, de Florence Nightingale,
dentre eles se destaca:
“Nenhuma enfermaria é, em qualquer sentido, uma boa
enfermaria quando os d-entes não são abastecidos em
todos os momentos com ar puro, luz e uma temperatu-
ra adequada. Estes são os resultados a serem obtidos
da arquitetura hospitalar, e não a fachada ou aparência.
Novamente, nenhum destes elementos precisa ser sa-
crificado no intuito de obter outro. E quem se sentir em
dificuldades para atender a estes três requisitos pode
descansar tranquilo, pois a arquitetura hospitalar não é a
sua vocação” (Anvisa, 2014: p. 19).
88
A Enfermaria Nightingale se tornou uma inovação na anato-
mia hospitalar do final do século XIX, tornando-se um modelo de
internação com exemplares espalhados pelo mundo ocidental. Des-
de então, os hospitais têm sofrido grandes mudanças tecnológicas
e científicas, bem como físicas e quanto à sua relevância para a
população usuária.
No século XX, devido aos edifícios hospitalares estarem si-
tuados nas áreas urbanas das cidades, com um dimensionamento
decrescente, a tendência de verticalização dos hospitais se tornou
necessária. Nesse mesmo período, a ideia de que o ambiente pode,
de forma positiva ou negativa, influenciar o paciente, auxiliando ou
interferindo no processo de cura, gerou novas discussões. Segundo
Ramos e Lukiantchuki (2015: p. 4):
“É somente quando são considerados os aspectos sociais,
econômicos, culturais e psicológicos no tratamento dos doen-
tes, que ocorre a quebra do modelo hospitalar e a discussão
para a sua devida reformulação, visando garantir o direito uni-
versal à saúde e o desenvolvimento da medicina preventiva”
Por muitos anos a situação permaneceu assim até a publica-
ção da Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários de Saú-
de, elaborada pela Conferência Internacional das Nações Unidas
sobre os Serviços Primários de Saúde, em 1978, onde se estabele-
ceu a saúde como um direito humano universal. Esta declaração es-
tabeleceu também que todos os seres humanos têm o direito a um
tratamento de saúde de qualidade e gratuito, o que torna ainda mais
relevante a preocupação com o bem-estar dos seres humanos, so-
bretudo no que diz respeito à arquitetura hospitalar. Pier Pizzolato,
em sua tese O espaço arquitetônico como elemento terapêutico:
a função da ambiência na recuperação e na qualidade de vida do
paciente internado (2014: p. 188), afirma que as necessidades dos
pacientes e dos profissionais envolvidos na ação curativa se tor-
naram fundamentais para determinar critérios técnicos, formais e
funcionais que devem ser implementados ainda durante a fase de
concepção de projeto.
89
Angelica Thieriot, após um período de internação hospitalar
considerado traumático, fundou, em 1978, a Planetree Internacio-
nal, uma organização norte-americana cujo objetivo é certificar as
instituições de saúde quanto à humanização do atendimento, vi-
sando restaurar a dimensão humana no tratamento de saúde, fun-
damentada na assistência centrada no paciente (Planetree Brasil,
2023). No Brasil, apenas o Hospital Israelita Albert Einstein possui
esta certificação (Martorelli, 2016: p. 39).
No Brasil, A Declaração de Alma Ata foi incorporada à Cons-
tituição Federal de 1988, reafirmando o direito de todos os seres
humanos à saúde gratuita e de qualidade. Como dever do Estado,
o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para promover a saúde
da população, além de cumprir outras responsabilidades, como a de
controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de inte-
resse para a saúde. Além disso, é responsável por coordenar a for-
mação de profissionais na área da saúde, incentivando o progresso
científico e tecnológico, e formular políticas e executar medidas de
saneamento básico, colaborando para a proteção do meio ambiente
(Brasil, 2016).
Em 2003, o Ministério de Saúde lançou a política de humani-
zação conhecida como HumanizaSUS. A cartilha apresenta diretri-
zes que norteiam as atividades institucionais envolvendo usuários e
profissionais da saúde, tendo como foco a humanização dos aten-
dimentos aos pacientes, incentivo ao desenvolvimento profissional
dos funcionários dos hospitais e a melhoria das condições de tra-
balho (Brasil, 2013). A ambiência, portanto, apresenta uma grande
importância, uma vez que a criação de ambientes saudáveis pro-
porciona um melhor ambiente de trabalho, além de ser um fator que
auxilia no tratamento dos enfermos e oferece espaços para a cursos
de humanização nos hospitais.
90
2.2 Conceitos adotados de humanização
Os seres humanos percebem o espaço através dos seus cin-
co sentidos, sendo eles: visão, audição, tato, olfato e paladar. Desde
os seus primórdios, utilizam essa percepção para se adaptar aos
ambientes, buscando constantemente formas de torná-los mais se-
guros e confortáveis. Além disso, essa capacidade de interpretar os
estímulos gerados pelos cinco sentidos deu aos humanos a capa-
cidade de se relacionar com outros que não estão inseridos no seu
círculo social, independentemente da sua cultura e comportamento.
Quando se está doente, o ser humano apresenta um esta-
do físico e mental debilitado devido, sobretudo, às dores e medos
experimentados. Ao serem transferidos para o interior de estabe-
lecimentos hospitalares, o seu estado psicológico pode sofrer um
declínio ainda maior devido à distância do convívio social e de seu
cotidiano. Somando isso ao estresse sentido, tanto pelos pacien-
tes como pelos próprios funcionários, suas percepções espaciais
pioram, podendo ocasionar desde o agravamento dos sintomas já
manifestados pelos pacientes, como o aparecimento de novos.
Para contornar essa situação, arquitetos devem tornar o am-
biente construído um espaço confortável para todos os seus usu-
ários, influenciando as sensações humanas. Diante da perda do
senso de controle, individualidade e pertencimento devido ao isola-
mento social, algumas características já são benéficas durante todo
o tratamento, como o oferecimento do controle do ambiente, do su-
porte social e das distrações positivas.
O Controle do Ambiente é caracterizado pela necessidade
das pessoas exercerem controle sobre o ambiente que as cercam,
de diversas maneiras. Isso porque, segundo Vasconcelos (2004: p.
36), a redução da autonomia nos pacientes pode causar diversos
problemas, como depressão, apatia, aumento da pressão arterial e
diminuição da capacidade imunológica. Dessa forma, para lidar com
essa situação e oferecer aos pacientes a possibilidade de controlar
91
as condições ambientais dos espaços em que estão, os controles de
temperatura, de iluminação e dos eletrônicos instalados nos quartos
devem estar próximos aos leitos. Além disso, espaços como jardins,
pátios e salas recreativas devem ser acessíveis e apresentar uma
arquitetura convidativa, facilitando assim que seus usuários possam
realizar atividades de lazer e explorar habilidades. Ao mesmo tem-
po, os espaços de descanso para a equipe médica e de enferma-
gem devem proporcionar privacidade para poderem regular seus
estados físicos e psicológicos.
O Suporte Social pode ser composto por diversos elemen-
tos, nos quais os pacientes podem se beneficiar de forma física e
emocional com o contato constante e prolongado com familiares,
amigos e/ou profissionais do hospital, reduzindo o nível de estresse
e aumentando os estímulos positivos. Para isso. um ambiente deve
ser confortável e aconchegante, além de apresentar uma disposição
de mobiliário que permita a interação social e encoraja o desen-
volvimento das relações interpessoais, sem negar a privacidade do
paciente (Vasconcelos, 2004: pp. 39 - 42).
As Distrações positivas, por sua vez, são aquelas que pro-
porcionam uma sensação de bem-estar para o seu usuário, ofere-
cendo um nível moderado de estimulação (Vasconcelos, 2004: p.
42). É importante salientar que, nem sempre, lidar com distrações
positivas é uma tarefa simples, uma vez que a maneira como uma
população utiliza um espaço define as atividades realizadas em seu
interior, considerando critério como idade, sexo, gênero, nível cultu-
ral, social e religioso. Sendo assim, cabe ao arquiteto filtrar esses
critérios e aplicar técnicas físicas, construtivas e decorativas para
tornar o ambiente com a melhor qualidade espacial possível.
92
Quadro 6 Percepção e efeitos adversos sobre os desvios de temperatura ambiental.
Fonte: Anvisa, 2014: pp. 34.
2.3 Elementos da humanização
2.3.1. Ventilação
A ventilação é considerada um dos elementos diretamente li-
gado ao conforto térmico de um edifício, que está relacionado a dois
fatores: os ambientais, que interferem diretamente nas condições
dos espaços, e os pessoais, que influenciam diretamente na per-
cepção que o corpo humano tem das qualidades de um determina-
do ambiente. Sendo assim, é necessário adotar abordagens distin-
tas em relação ao impacto das condições adversas de temperatura
sobre o estado psicológico e fisiológico de uma pessoa (Quadro 6)
(Anvisa, 2014: pp. 34, 35).
Para tal, profissionais devem aplicar o índice de Sensação
Térmica (IST) (Quadro 7), desenvolvido por Frederico Luis Finati
em 2006. Este índice apresente onze faixas de sensação térmica
que determinam a resposta fisiológica em um indivíduo em determi-
93
Quadro 7 Classe do índice de Sensação Térmica (IST) e respectivas respostas fisiológi-
cas em determinadas classes de temperatura em graus Celsius.
Fonte: Anvisa, 2014: p. 35.
nadas temperaturas (Anvisa, 2014: p. 35). Dessa forma, é possível
notar que o conforto térmico está entre 18 °C e 26,9 °C, onde tem-
peraturas inferiores ou superiores a essa faixa causam desconforto
e respostas fisiológicas e psicológicas.
Além de considerar as sensações térmicas, os arquitetos de-
vem estar atentos às condições climáticas do local de implantação
do edifício. Dessa forma, a aplicação da carta solar, as condições
climáticas de temperatura e umidade do ar, e o sentido predominan-
te dos ventos são fatores que norteiam as características arquitetô-
nicas do edifício e a escolha dos materiais construtivos.
Outro fator de extrema relevância é a salubridade. Os edi-
fícios que apre-sentam condições térmicas desfavoráveis podem
ocasionar uma síndrome conhecida como Síndrome do Edifício Do-
94
ente (SED), ou Sick Building Syndrome (SBS), definida pela Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS) como:
“um conjunto de moléstias ou enfermidades (dor de ca-
beça, astenia, falta de concentração e de rendimento
laboral, sequidão da pele e das mucosas, ardência dos
olhos, tosses contínuas e outras) que podem aparecer
durante a permanência no interior de determinadas edi-
ficações climatizadas artificialmente” (Anvisa, 2014: p.
44).
No entanto, essa síndrome pode surgir em qualquer ambien-
te que não atenda às condições adequadas de renovação do ar,
independentemente do tipo de climatização projetado pelos arqui-
tetos. Além disso, o hospital deve usar a ventilação para eliminar
infecções e agentes patológicos presentes no interior, como odo-
res de materiais e produtos (Pizzolato, 2014: p. 223). Isso requer
uma atenção maior dos profissionais, principalmente por se tratar de
EAS.
2.3.2. Iluminação
A luz, seja ela natural ou artificial, é percebida pelos olhos,
onde os impulsos geram tanto estímulos visuais quanto em outras
áreas do cérebro, intimamente ligadas às emoções e à regulação
hormonal. De acordo com Pizzolato (2014: p. 203), o elemento pode
interferir no ritmo biológico dos seres humanos, causando altera-
ções de humor e interferindo na capacidade de absorção de medi-
camentos, além de causar desconforto, ofuscamento e fadiga visu-
al.
Além disso, as variações no ciclo de dia e noite interferem
diretamente na produção de melatonina, hormônio diretamente rela-
cionado ao período de sono dos seres humanos e ao estado de es-
pírito. Ingrid C. Fonseca, Maria M. Porto e Cynthia Clarke, trouxeram
indagações relevantes sobre o estado de ânimo do usuário em seu
artigo Qualidade da luz e sua influência sobre o estado de Ânimo do
usuário (2002). Conforme as pesquisadoras (2002: p. 184), as mu-
danças no tempo podem afetar o estado depressivo do ser humano,
95
o que pode influenciar o comportamento suicida de pacientes com
desordens afetivas, dentre elas o Transtorno Afetivo Sazonal, ou
Seasonal Affective Disorder (SAD). Essa desordem é mais comum
em países com latitudes extremas do hemisfério norte, onde o clima
rigoroso, o céu cinzento e o clima chuvoso são as principais caracte-
rísticas. Ao longo de todos os estudos, constatou-se que, em geral,
os pacientes com SAD apresentam sintomas de baixa sociabilida-
de, sonolência durante o dia, dificuldade de concentração e estado
de ânimo negativo durante os períodos depressivos. Como forma
de tratamento, os médicos e psiquiatras recomendam a exposição
à luz, preferencialmente a solar, além de fornecer suplementos de
vitamina D.
A luz também exerce um papel importante no controle en-
dócrino, na regulação do estresse, na absorção de cálcio e fósforo
– nutrientes fundamentais para o crescimento e fortalecimento dos
ossos –, na diminuição da pressão arterial, no aumento do nível de
oxigênio no sangue, na melhoria da capacidade física do paciente, e
na prevenção de infecções virais e bacterianas (Vasconcelos, 2004:
pp. 48,49). Assim, é possível afirmar que esse elemento pode oca-
sionar um impacto significativo no estado psicológico e fisiológico do
ser humano, mais especificamente nos pacientes acamados. Cabe
ao arquiteto, com seus conhecimentos e técnicas, projetar espaços
onde a iluminação, seja natural ou artificial, se torne um elemento
relevante para a qualificação dos espaços hospitalares.
Os funcionários, por sua vez, devem desfrutar dos benefí-
cios proporcionados pela iluminação, especialmente aqueles que
trabalham por períodos prolongados. No entanto, é necessário ter
cautela com o grau de insolação, uma vez que os brilhos luminosos,
provocados pelo posicionamento das aberturas, podem causar pro-
blemas como estresse, fadiga e possíveis erros médicos (Pizzolato,
2014: p. 205).
Além do conforto visual e psicológico, a iluminação pode con-
tribuir para o conforto térmico dos pacientes. A maioria desse con-
forto é proporcionada pela luz natural, que, direta ou indiretamente,
entra no ambiente através das janelas, átrios e aberturas zenitais.
96
No entanto, em países tropicais, como o Brasil, o arquiteto deve ter
cautela com a sua aplicação, pois a incidência solar é alta, o que
pode causar um aquecimento elevado dos ambientes (Pizzolato,
2014: p. 203).
Em situações em que não é possível a presença de luz so-
lar em áreas ocupadas por pacientes e/ou equipes médicas e de
enfermagem, a utilização de lâmpadas incandescentes amarelas
instaladas indiretamente pode proporcionar uma sensação de natu-
ralidade ao ambiente. Isso se deve ao fato de que o corpo humano
interpreta a luz fria emitida pelas lâmpadas fluorescentes como es-
curidão, o que não traz benefícios à saúde (Vasconcelos, 2004: p.
49). As ultravioletas, por outro lado, são benéficas para a saúde, por
emitem raios semelhantes aos solares. Pizzolato (2014: p. 204) lista
alguns dos benefícios, destacando a diminuição da tensão arterial e
da sensação de fadiga, e o aumento da produção de endorfina.
Independentemente do tipo da luz presente do projeto lumi-
notécnico, é necessário que o controle da iluminação do quarto pelo
paciente seja realizado com facilidade. Esse aspecto tem um efeito
benéfico no estado mental do paciente, uma vez que os controles,
que ficam ao lado do leito, permitem tanto o controle das luzes como
das janelas e dos dispositivos de proteção contra a luz solar, como
cortinas, persianas e brises móveis.
2.3.3. Cores
A cor é, conceitualmente, a reação, ou sensação, que a luz
provoca no órgão da visão, tornando o olho um receptor e decifra-
dor do fluxo luminoso, decompondo-o ou modificando-o através da
retina. Segundo o pintor Israel Pedrosa, em seu livro Da cor à cor
inexistente (1977: p. 20), os estímulos que causam as sensações
cromáticas nas retinas dos globos oculares são divididos em dois
grupos, devido às suas origens. O primeiro tipo de radiação lumino-
sa, também chamado de luz colorida, ou visível, composta pela luz
branca, mais bem exemplificada pela luz solar, que corresponde ao
97
Figura 60 Espectro visível
das cores.
Fonte: Vasconcelos, 2004:
p. 52.
resultado da soma, equilibradamente, de todas as matrizes existen-
tes na natureza. O segundo, denominado cor-pigmento, é a subs-
tância que, de acordo com a sua natureza, absorve, refrata e reflete
os raios luminosos que se propagam sobre ela. Em outras palavras,
um objeto é considerado colorido quando absorve os raios de luz
branca incidentes, refletindo apenas tons específicos para os olhos.
Ao estudar o espectro visível das cores (Figura 60) é possível
identificar que elas podem ser classificadas como frias e quentes.
Chamam-se de “quentes” as que integram os tons avermelhados,
alaranjados e amarelados. Já os tons “frios” são compostos pelos
tons roxos, azuis e verdes.
Como elemento fundamental da vida humana, as cores es-
tão vinculadas a diversos aspectos, dentre eles a cura. Segundo
Rahmanian e Mahmoudi (2020: p. 62), para os coloristas greco-ro-
manos, o desequilíbrio do corpo indicava a falta de uma ou mais
cores. Essa seria a origem para a prática médica conhecida como
Cromoterapia, que se baseia na exposição do corpo humano e/ou
de seus órgãos a diferentes cores para promover o bem-estar e a
saúde. Isso se deve ao fato de que as cores afetam os seres huma-
nos de forma tanto física quanto psicológica, logo, é preciso com-
preender esses efeitos para aplicá-los corretamente na arquitetura.
De acordo com Vasconcelos (2004: p. 52), o vermelho esti-
mula o sistema nervoso simpático, aumenta a atividade cerebral,
e acelera o ritmo cardíaco, a pressão arterial e a respiração. Além
disso, devido ao seu efeito estimulante e energizante, é a melhor
opção para o tratamento de anemias e doenças do sangue, bem
98
como para o tratamento de bronquite, reumatismo, tuberculose e in-
fertilidade (Rahmanian e Mahmoudi, 2020: p. 63). No entanto, essa
cor pode estimular a agressividade, sobretudo quando aplicada em
excesso (Góes, 2011: p. 201).
O amarelo pode ser usado para o tratamento de doenças
hepáticas e es-tomacais, além de enxaquecas graves, por estimular
o sistema nervoso, e paralisias, estimulando a força muscular. Além
disso, é antidepressiva, estimulando a concentração e a criatividade
(Góes, 2011: p. 201). Dado que é caracterizada como cor quente,
pessoas hiperativas, nervosas, hipertireoidistas, obesas e hiperten-
sas não devem ficar expostas a ela, especialmente por um longo
período (Rahmanian; Mahmoudi, 2020: p. 63).
O laranja desperta o apetite e aumenta a produção de leite
materno durante a gestação (Góes, 2011: p. 201). Esse tom é bas-
tante utilizado no tratamento de cálculos renais e biliares, depres-
são, asma, bronquite, hipertireoidismo, pulmões fracos e doenças
gastrointestinais. Seu uso exagerado, no entanto, pode causar de-
sequilíbrio o sistema nervoso, portanto, é recomendável que essa
cor seja aplicada em conjunto com o azul ou o verde (Rahmanian;
Mahmoudi, 2020: p. 63).
O azul, por ser considerado um tom “frio”, estimula o sistema
nervoso parassimpático, causando efeito tranquilizante (Vasconce-
los, 2004: p. 52), além de fortalecer o sistema de defesa do orga-
nismo, sendo útil no tratamento de doenças como asma, catapora
e icterícia (Rahmanian e Mahmoudi, 2020: p. 63). Entretanto, se
utilizada em excesso, pode causar depressão (Góes, 2011: p. 202).
O verde tem propriedades anti-infecciosas e sua utilização
pode ser benéfica para o tratamento de insônia, dores intensas nas
costas, enxaquecas e letargia, além de transtornos mentais e es-
tresse. Essa cor também contribui para o aumento da taxa de cres-
cimento das células do corpo, o que é benéfico para o tratamento de
doenças cardiovasculares, como hipertensão e hipotensão (Rahma-
nian e Mahmoudi, 2020: p. 63). Por ser uma cor fria, assim como o
azul, a exposição excessiva pode causar depressão (Góes, 2011: p.
202).
99
O roxo causa um efeito calmante e contribui para a purifica-
ção do sangue, removendo toxinas e estimulando a produção de
células de defesa, apesar de não ser eficaz no tratamento contra
a depressão. Na cromoterapia, é frequentemente empregada para
tratar raquitismo, ciática, epilepsia, pneumonia e asma (Rahmanian
e Mahmoudi, 2020: p. 63). Góes (2011: p. 202), divide a cor roxa em
dois tons: os escuros e os claros. Os tons escuros, representados
pelo Violeta, têm um efeito bactericida e antisséptico, estimulando
a atividade cerebral. Por sua vez, o Lilás, cor típica dos tons claros,
tem propriedades sedativas e relaxantes, sendo uma cor bastante
utilizada em ambientes como o CTI e UTI.
O tom branco, uma cor neutra como resultante da soma de
todas as cores, pode intensificar a ação das outras. Já o Preto, por
sua vez, tem um efeito isolante, o que pode evitar tanto os efeitos be-
néficos quanto os negativos das outras cores (Góes, 2011: p. 202).
O Cinza, como um tom neutro resultante da mistura entre branco e
preto, tem o efeito calmante, mas o seu uso excessivo pode causar
uma baixa estimulação visual, tornando o ambiente hospitalar mo-
nótono (Rahmanian; Mahmoudi, 2020: pp. 64,65).
A percepção das cores pelos globos oculares é influenciada
pela luz. Sendo assim, o arquiteto deve ter consciência de que o pro-
jeto luminotécnico também terá um impacto positivo sobre o estado
físico e psicológico dos pacientes, sobretudo aqueles que estão. O
profissional pode aplicá-la em diversos elementos, tais como reves-
timentos, pisos, elementos decorativos e mobiliários, para atingir
os objetivos desejados. Em alguns casos, a composição cromática
apresenta mais de um tom, sendo necessário trabalhar com cores
complementares e opostas.
100
Como já mencionado, muitos EAS se preocupam em propor-
cionar aos seus usuários ambientes que os auxiliem a se recuperar
física e psicologicamente. Para isso, é necessário ter conhecimento
das características da população que utilizará o espaço, para os
profissionais poderem projetá-lo adequadamente.
De acordo com o arquiteto Siegbert Zanettini, em seu livro
Arquitetura, razão e sensibilidade (2002: p. 456), uma obra arqui-
tetônica não só se adequa ao seu tempo, mas também trabalha
conjuntamente com diversos elementos, sempre em consonância
e dissonância com as obras de arte. Essa relação está presente
nos EAS devido aos efeitos que esses elementos causam no psico-
lógico dos pacientes. Estudos revelaram que pacientes internados
em quartos de UTI com pinturas de paisagem, com árvores e água,
relataram uma diminuição da ansiedade e da necessidade de me-
dicamentos para aliviar dores. Em contrapartida, enfermos locados
em quartos sem pinturas, sem outros estímulos visuais e/ou com
pinturas abstratas, demonstraram uma piora nos seus estados psi-
cológicos e um aumento na utilização de medicamentos (Pizzolato,
2014: p. 230).
Essa diferença é explicada pela relação subconsciente que
os pacientes apresentam em relação às representações de pai-
sagens naturais. Mesmo que o paciente tenha acesso, apenas, a
representação de elementos vegetativos, seu subconsciente traz o
relaxamento causado pela imagem, semelhante ao que obteria se
tivesse acesso aos jardins e à paisagem natural. Sendo assim, é
possível incluir outros elementos naturais nos projetos de interiores,
como quadros, painéis e pinturas decorativas (Figura 61).
2.3.4. Projetos de interiores e soluções
decorativas
101
Figura 61 Painéis deco-
rativos com pinturas orgâ-
nicas nos corredores do
UCSF Cenioff Children’s
Hospital, São Francisco.
Fonte Blow up lab, 2023.
Dessa forma, a humani-
zação não está apenas presente
nos elementos estruturais, mas
também nos decorativos, tornan-
do os diversos ambientes hospi-
talares em ambientes estimulan-
tes, interessantes e confortáveis.
Sem esses elementos, o objetivo
esperado da humanização espa-
cial pode não ser alcançado de
forma satisfatória.
2.3.5. Ergonomia e acessibilidade
Aergonomia é uma disciplina científica que se dedica ao estu-
do das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sis-
temas, visando melhorar o bem-estar e seu desempenho (Abrahão
et al., 2009: p. 18), não sendo possível identificar o momento em
que começou a ser aplicada nos hospitais. Florentino Serranheira,
António Uva e Paulo Sousa, em seu artigo Ergonomia hospitalar e
segurança do doente: mais convergências que divergências (2010:
p. 61), argumentam que, a partir da II Guerra Mundial, a ergonomia
tornou-se uma prática comum em todos os tipos de edifícios, visan-
do aprimorar a relação entre o ser humano ao ambiente de trabalho,
prevenindo acidentes e doenças profissionais, ao mesmo tempo,
em que se busca uma maior produtividade.
102
Figura 62 À esquerda,
esquema de bancada
de trabalho com altura
inadequada encontrada
nos hospitais brasilei-
ros. À direita, esquema
de bancada de trabalho
com altura adequada.
Fonte: Alexandre, 1998:
p. 105
103
Assim, esses espaços devem conter elementos tragam
a sensação de bem-estar, segurança e limpeza (Góes, 2011: pp.
200,201), vinculando a ergonomia à humanização espacial e a aces-
sibilidade. Segundo a norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) 9050 de Acessibilidade a edificações, mobiliário,
espaços e equipamentos urbanos, acessibilidade é definida com:
Dado que os edifícios hospitalares apresentam um eleva-
do nível de estresse, desde os serviços básicos de limpeza até
as cirurgias de alta complexidade, é crucial que a ergonomia seja
aplicada aos ambientes, abrangendo aspectos físicos, cognitivos,
organizacionais e funcionais. É crucial que os arquitetos projetem
adequadamente tanto as áreas de trabalho quanto os equipamen-
tos e mobiliários instalados nos ambientes internos para atender
às necessidades humanas, como indagado pela enfermeira Neusa
Alexandre (1998: p. 104), que, ao analisar os hospitais brasileiros,
constatou uma abundância de superfícies de trabalho com alturas
inadequadas, muito abaixo do que seria considerado adequado e
acessível. Estes devem ser construídos e/ou instalados conforme o
tamanho do profissional e o tipo de trabalho a ser executado, com
uma altura máxima de 5 a 10 centímetros abaixo da altura dos coto-
velos dos funcionários (Figura 62).
Figura 64 Medidas para superfícies acessíveis. Fonte: ABNT, 2020: p. 119
Figura 63 Dimensões, em metros, do
módulo de referência (M.R.).
Fonte: ABNT, 2020: p. 8.
“[…] a possibilidade e condição de alcance, percepção
e entendimento para utilização, com segurança e auto-
nomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,
edificações, transportes, informação e comunicação, in-
clusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros
serviços e instalações abertos ao público, de uso público
ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como
na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade redu-
zida” (ABNT, 2020: p. 2)
Em outras palavras, um ambiente ou uma construção são
acessíveis quando apresentam características que permitem que
uma pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida usufrua dos
espaços, dos equipamentos e dos mobiliários presentes. Para fins
de projeto deve-se sempre considerar o módulo
de referência (M.R.) para Pessoa em Cadeiras de
Rodas (P.C.R.), com um tamanho de 0,80 m por
1,20 no piso (Figura 63). Isso se deve ao fato de
que os hospitais apresentam uma tipologia que
requer dimensionamentos específicos para facili-
tar a locomoção de macas de cadeiras de rodas,
utilizadas pelos pacientes ao longo de todo o pro-
cesso de tratamento e recuperação.
104
105
2.3.6. Vegetação e jardinagem
Como já mencionado, a vegetação pode auxiliar na recupe-
ração do paciente, oferecendo benefícios psicológicos e estímulos
sensoriais. De Asclépio e outros locais onde eram realizados os ri-
tuais de cura até os dias atuais, alguns tipos de jardins são implan-
tados devido à sua grande importância e contribuição histórica para
a medicina e farmacologia. Além disso, os solários, espaços que
permitem dos pacientes realizem seus “banhos de sol”, estão pre-
sentes em hospitais de diferentes localidades e, em sua maioria,
são cercados por árvores, arbustos e plantas típicas da região.
Com o decorrer do tempo e tendo em vista que o hospital
está inserido num espaço urbano de dimensões reduzidas, outras
possibilidades de jardins foram criadas, mas sempre visando pro-
porcionar ambientes estimulantes. Isso ocorre porque, nem sempre,
é possível construir EAS em áreas com grandes massas de vegeta-
ção.
Ainda assim, a visualização de ambientes naturais pode con-
tribuir para uma melhora significativa na recuperação dos pacien-
tes, especialmente aqueles que estão acamados. Roger S. Ulrich,
em sua obra View Through a Window May Influence Recovery from
Surgery (1984), comprovou que os quartos que possuíam abertu-
ras com visão dos acontecimentos ocorridos no exterior do edifício
e para a vegetação ocasionavam uma diminuição da permanência
do paciente no hospital, uma redução significativa na necessidade
de aplicação de anestésicos fortes e uma melhora em seu estado
psicológico. Dessa forma, a visão para o ambiente externo requer
que sejam considerados alguns fatores que possam ter um impacto
direto no projeto do edifício e no partido arquitetônico adotado pelo
profissional, como o dimensionamento e disposição das aberturas,
bem como as suas proximidades com o exterior.
No que diz respeito à composição física dos jardins, é impor-
tante considerar o fato de a natureza ser mutável, proporcionando
Figura 65 Esboço de
exemplificação de um es-
paço exterior contíguo à
zona de refeições.
Fonte: Costa, 2009: p. 83.
estímulos sensoriais variados ao longo do ano. Segundo Vasconce-
los (2004: pp. 72,73), isso se deve ao fato de existirem elementos
como luz, cor, som, aroma, textura e forma na paisagem natural,
sem distinção de intensidade, quantidade ou qualidade. Sendo as-
sim, é possível concluir que, dentre as ferramentas da Humaniza-
ção, a vegetação é a que mais se destaca por, num espaço redu-
zido, despertar os cinco sentidos humanos, potencializando-os e
estimulando-os.
Esses espaços não devem se limitar a atender exclusiva-
mente aos pacientes, uma vez que os funcionários também podem
usufruir deles em seus momentos de descanso, conforme apontado
pelo Arqto. Zanettini em entrevista. Para tal, espaços ajardinados
próximos a refeitórios ou cafeterias (Figura 65), como espaços com
grande fluxo de pessoas, podem incentivar sua utilização por visi-
tantes e funcionários, durante o almoço ou o descanso, e pacientes
de ambulatório (Costa, 2009: p. 83).
É crucial compreender que os jardins requerem diretrizes
projetuais específicas para facilitar a aproximação com os seus usu-
ários, de modo a evitar a monotonia, despertando a curiosidade e o
interesse do observador, sem que a vegetação se transforme numa
barreira visual para os eventos do entorno (Vasconcelos, 2004: p.
84).
106
Figura 66 Desenho de
exemplificação de se-
paração de espaços
(pacientes e funcioná-
rios), tendo como ob-
jetivo oferecer a priva-
cidade para ambos os
grupos de usuários.
Fonte: Costa, 2009: p.
84.
107
É importante salientar que, com frequência, um problema
enfrentado é a falta de privacidade, sobretudo em áreas ajardina-
das com vistas amplas. Para lidar com essa questão, os arquitetos
necessitam criar espaços multifuncionais amplos, com setorização
que permita que pacientes e funcionários possam usufruir do espa-
ço sem serem constantemente observados, para tal, a diferenciação
dos níveis de solo e a implantação de diferentes mobiliários podem
servir como elementos auxiliadores na setorização dos jardins, se-
parando o utilizado exclusivamente pelos pacientes e acompanhan-
tes do que é usado pelos funcionários (Figura 66). Estes espaços
têm acessos conectados, o que facilita caso seja necessária alguma
intervenção do profissional de saúde, mas, por serem segmentados,
oferecem uma privacidade convidativa. (Costa, 2009: pp. 83, 84).
Além disso, esses ambientes polivalentes devem sempre vir acom-
panhados de um bom projeto luminotécnico.
Embora muitas pessoas pensem que essas características
e necessidades sejam comuns, para os arquitetos paisagistas, elas
são extremamente relevantes porque interferem na elaboração de
projetos, exigindo que sejam tomados os devidos cuidados, uma
vez que, se mal projetados, os jardins podem se tornar locais des-
confortáveis e desinteressantes. Para tal, é possível trabalhar com
diferentes tipos de paisagens vegetais, tais como Jardins Externos,
Terraços-Jardins, Jardins Terapêuticos e Jardins Internos, descritos
a seguir.
Figura 67 Imagem antes e depois da praça voltada para o sul. Fonte: Ben-Tor, 2018.
2.3.6.1. Jardins Externos
O Jardim Externo é composto por áreas externas, ao nível do
solo, grama-das ou não. Situado entre edifícios de um mesmo com-
plexo hospitalar, oferece espaços para caminhadas, mobiliário para
descanso e outros elementos que tornam este espaço um local de
contemplação (Vasconcelos, 2004: p. 87). De acordo com o tama-
nho do terreno onde as EAS serão implantadas, esse tipo de jardim
também pode ser usado como praças públicas.
Um exemplo de Jardim Externo está situado na cidade de
Vanderbilt, Estados Unidos. O Centro Médico Universitário, constru-
ído em 1980, apresentava um espaço externo entre os dois edifícios
centrais, com grande impermeabilização e pouco sombreamento, o
que o tornava um ambiente quente e desconfortável (Figura 67). Em
2018, o escritório de arquitetura Blair+Mui Down Architects apresen-
tou um novo projeto paisagístico, composto por um novo desenho
de piso, canteiros verdes com vegetação de médio porte, coberturas
leves, mobiliário confortável e um projeto luminotécnico (Figura 68)
(Ben-Tor, 2018).
108
Figura 68 Adequação dos níveis de iluminação, implantação de novo mobiliário e ele-
mentos vegetativos tornam a praça convidativa até mesmo durante o período noturno.
Fonte: Ben-Tor, 2018.
109
Este exemplo foi escolhido para demonstrar o problema an-
teriormente mencionado. Devido às suas características e à falta de
qualidade espacial, este jardim era considerado apenas um local de
passagem, se tornando um espaço de descanso e contemplação
somente após sua reformulação, quando pacientes, acompanhan-
tes e funcionários começaram a utilizá-lo com mais frequência.
2.3.6.2. Terraços-jardins
Quando não é possível criar jardins externos, uma vez que o
terreno de implantação tem dimensões reduzidas, os arquitetos pre-
ferem projetar Terraços-Jardins, que podem ocupar toda a cobertura
das edificações ou emoldurar as laterais dos edifícios, proporcio-
nando um ponto de vista diferenciado para os usuários do espaço.
Segundo Vasconcelos (2004: p. 92), este ambiente apresenta uma
vegetação e mobiliário atraentes e confortáveis, além de permitir a
escolha entre sol e sombra, privacidade e privacidade e integração,
e acessibilidade e visibilidade para os usuários.
Dentre diversos exemplos de terraços-jardins, o projeto de-
senvolvido no Harrison Memorial Hospital (Figura 69), Estados Uni-
dos, visa estimular os sentidos humanos. O terraço apresenta um
Figura 69 Terraço jardim, Harrison Memorial Hospital, EUA.
Fonte: Vasconcelos, 2004: p. 93.
desenho de piso orgânico, composto por elementos com texturas
variadas, combinados com vegetações arbustivas e floreiras (Vas-
concelos, 2004: p. 93).
2.3.6.3. Jardins terapêuticos
Também conhecido como Jardim de Ervas Medicinais ou
Jardim Botânico, seus exemplares podem ser encontrados desde
a Idade Média, com plantas que têm capacidade de curar, desper-
tar e estimular os seus observadores, além de serem usadas como
matéria-prima para cremes, medicamentos, chás e outros produtos
farmacêuticos homeopáticos. De acordo com Vasconcelos (2004: p.
94), o seu princípio é ser um local tranquilo, suave e aconchegante.
110
Figura 70 Jardim Bo-
tânico da Universida-
de de Pádua, Itália.
Fonte: Thonson,
2019.
111
Um dos exemplos mais conhecidos é o Jardim Botânico da
Universidade de Pádua, na Itália (Figura 70), cujo objetivo foi au-
xiliar o desenvolvimento da medicina e farmacologia. Em sua obra
The birthplace of modern medicine (2019), Rosi Thomson descreve
a universidade, fundada em 1222, como o berço da medicina mo-
derna. O jardim, construído em 1535, foi crucial para o progresso
dos estudos realizados pelos estudantes, além de introduzir plantas
novas à culinária italiana, como girassóis, batatas, gergelim e café.
A psicóloga Claudia Azevedo também enfatiza a relevância
do jardim terapêutico para os pacientes com transtornos psiquiá-
tricos. Durante a implantação do Projeto Plantando Sonhos, que
ocorreu na área externa do Hospital Jurandyr Manfredini, locali-
zado na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, os pacientes
não apenas permaneceram no espaço, como também realizavam a
plantação e manutenção do jardim. Segundo a autora, a atividade
proporcionava aos pacientes a oportunidade de sair do isolamento
interno através da interação com o outro, o que resultava na melho-
ria da autoestima, além de proporcionar ao hospital um ambiente
com grande expressividade visual (Azevedo, 2002).
2.3.6.4. Jardins internos
Por fim, alguns hospitais apresentam pequenos jardins em
seu interior, nomeados como Jardins Internos ou Jardins de Inverno.
Embora alguns arquitetos e pesquisadores apontem que a escolha
paisagística está relacionada às limitações de espaço e de recursos
financeiros, outros, como Vasconcelos (2004: p. 95), sustentam que
esses jardins oferecem uma vista mais agradável para aque¬les que
estão usando o espaço. Além disso, quando não estão protegidos
por planos de vidros, a vegetação e as flores podem proporcionar
estímulos visuais, olfativos e sonoros aos pacientes.
Em contrapartida, alguns profissionais, principalmente da
área de saúde, defendem que as plantas não devem ser instaladas
em ambientes internos aos edifícios, por serem fontes de contami-
nação ao permitir a entrada de insetos. Zanettini refuta essa argu-
mentação ao afirmar que certos tipos de plantas e soluções projetu-
ais podem ser benéficos, caso sejam tomados os devidos cuidados
e seja realizada uma manutenção periódica.
2.3.7. Ruidos positivos
A situação hospitalar é bastante controversa, uma vez que
requer condi-ções especiais de conforto acústico, com níveis de ru-
ído que atendem às recomendações técnicas, enquanto apresen-
ta diversas fontes com sonoridades altas. Florence Nightingale já
afirmava que “o ruído desnecessário é a mais cruel ausência de
cuidado” (Anvisa, 2014: p. 48), uma vez que o som pode ajudar ou
prejudicar a recuperação dos pacientes, além de tornar o ambiente
de trabalho desagradável para os funcionários.
O som é considerado “indesejável” quando não contribui para
a privacidade dos pacientes nem auxilia na comunicação entre es-
tes e os médicos (Pizzolato, 20104: p. 201). Dessa forma, conside-
rando que a tolerância ao ruído diminui consideravelmente durante
112
Quadro 7 Valores em decibéis considerados confortável para o ser humano.
Fonte: Góes, 2011: p. 200.
113
todo o período em que o ser humano está doente, a exigência do
silêncio nos hospitais é considerada uma das mais antigas tradições
no cuidado ao doente a ser seguida (Anvisa, 2014: p. 50).
Segundo a OMS, o limite de ruído de fundo permitido é de
35 dB (decibéis) durante o dia e 30 dB à noite, não podendo haver
picos de som maiores que 40 dB (Quadro 7) (Pizzolato, 2014: pp.
201). No entanto, os valores encontrados em ambientes hospitala-
res são exorbitantemente maiores, podendo atingir valores entre 65
e 85 dB.
Homem e conforto acústico
Atividade Nível de ruído,
em dB
Observação
Farfalhar de folhas 10 Somente audível
Sussurro 15 -
Enfermaria à noite 25 -
Enfermaria no dia 30 Silencioso
Biblioteca pública (níveis acei-
táveis para usuá-rios ou pa-
cientes)
40 Silencioso
Áreas de hospitais em geral 45 Silencioso
Escritórios 55 Silencioso
Unidade de ar-condicionado 60 Silencioso
Conversação normal a 1 m 65 Silencioso
Máquina de lavar doméstica 80 Barulhento
Choro de bebê 85 Muito barulhento
Motociclista a 8 m 90 Níveis de riscos para o
ser humano
Jato a 200 m 103 Níveis com riscos para o
ser humano
Banda de rock 114 Níveis de riscos para o
ser humano
Banda de heavy metal 120 Níveis de riscos para o
ser humano
Testes de turbina (local de) 140 Dor física
Testes de turbinas (local de) 150 A pele queima
Lançamento de foguetes 200 Exposição prolongada
pode matar
Quadro 8 Valores mínimos e máximos aferidos no ambiente hospitalar em diferentes locais
(dB-NPS)..
Fonte Costa; Lacerda; Marques, 2013: p. 644.
Gisele Costa, Adriana Lacerda e Jair Marques (2013: p. 644)
coletaram os valores mínimos e máximos de diversos ambientes do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, localiza-
do em Curitiba. (Quadro 8). De acordo com seus registros, o nível
de ruído nos corredores é, aproximadamente, de 52,5 dB a 82 dB,
enquanto nos postos de enfermagem é de 51 dB a 85 dB.
Dessa forma, observou-se a preocupação com o impacto do
ruído nos profissionais de saúde, sobretudo aqueles que trabalham
por períodos prolongados. Como aponta Costa, Lacerda e Marques
(2013: pp. 649,650), a exposição prolongada a altos níveis de ruí-
do pode causar danos tanto físicos quanto psicológicos, tais como:
irritabilidade, enxaqueca, diminuição da capacidade de concentra-
ção, zumbidos no ouvido, perda auditiva e redução da qualidade do
sono.
Como é possível notar, os pacientes têm uma menor tolerân-
cia ao ruído em comparação com os funcionários dos hospitais, o
que se deve ao desequilíbrio físico e mental que estão enfrentando.
Conforme o artigo Ruído e seus impactos nos hospitais brasileiros:
uma revisão de literatura (2016: p. 310), de Walderes Aparecida
Filius et al., esses fatores, além dos já citados, podem aumentar
a ansiedade e a sensação dolorosa e prolongar o tempo de con-
valescença. Vasconcelos (2004: p. 55) complementa a listagem de
sintomas, incluindo: o aumento da pressão arterial, o surgimento
de doenças cardiovasculares e úlceras, a diminuição da percepção
visual, e a diminuição da capacidade de aprendizagem.
114
115
Além disso, foi constatado que a diferença de faixa etária en-
tre os pacientes resulta em respostas distintas quando expostos a
estímulos sonoros. Os idosos, por exemplo, sofrem de insônia e
desorientação, enquanto os bebês, quando expostos a ambientes
barulhentos, tornamse letárgicos, apresentando dificuldade para se
expressar e para desenvolver atividades (Vasconcelos, 2004: p. 55).
Os bebês prematuros, por sua vez, por apresentarem sistemas au-
ditivos imaturos, podem sofrer lesões irreversíveis e, consequente-
mente, perder a audição devido ao alto nível de ruído (Filius et al.,
2016: p. 310).
É importante salientar que a poluição sonora também pode
ser causada por fontes externas ao hospital, uma vez que muitos se
encontrarem implantados próximos a usos causadores de ruídos,
como aeroportos, indústrias, oficinas e estádios esportivos. A situa-
ção caótica da urbanização brasileira, com dimensões reduzidas de
terreno, muitas vezes impede que os arquitetos apliquem soluções
paisagísticas como barreiras acústicas, o que faz com que busquem,
nos elementos construtivos e no desenvolvimento tecnológico, for-
mas de contornar a situação, aplicando materiais com menor tempo
de reverberação nos revestimentos e forros, além da instalação de
janelas acústicas antirruídos.
Dentre as fontes internas de ruídos, os equipamentos com
alarmes sonoros são os que mais causam transtornos e irritações
em pacientes, por diversos motivos. É inconcebível desativá-los,
uma vez que são fundamentais para alertar médicos e enfermeiros
sobre alterações nas condições clínicas dos pacientes ou proble-
mas no seu funcionamento, tornando espaços como as UTIs, que
deveriam ser silenciosos e tranquilos, em ambientes ruidosos e es-
tressantes (Filius, et al., 2016: pp. 307,310).
‘Algumas das estratégias para diminuir os níveis de ruído es-
tão relacionadas à arquitetura, tais como: a substituição dos alar-
mes acústicos por visuais, requerendo do arquiteto uma adaptação
do projeto arquitetônico para a locação das sinalizações, uma vez
que essas não podem ser bloqueadas por outros elementos; e a
aplicação dos chamados “ruídos positivos”, que podem variar des-
de sons naturais até música, ocasionando uma interdisciplinaridade
entre a arquitetura, as artes e a medicina.
Louise Campos e Maria Nakasu (2016: p. 11) destacam os
efeitos biológicos da música no ser humano, dentre eles: o aumento
ou diminuição da energia muscular, a aceleração da respiração ou
a alteração da sua regularidade, além da produção de mudanças
na pressão sanguínea, na função endócrina, no metabolismo e na
biossíntese de diversos processos enzimáticos. No artigo Música
no ambiente hospitalar: uma possibilidade de proporcionar alegria
e ludicidade na internação (2018: p. 210), Guilherme Silva e Julia-
ne Piovesan apresentam a tese de que a música atua diretamente
no sistema cerebral, mais especificamente, no sistema límbico, au-
mentando a liberação de endorfinas e auxiliando na prevenção de
doenças como estresse, depressão e ansiedade.
A aplicação da música nos ambientes hospitalares pode ocor-
rer de diver-sas maneiras, como a transmissão de caixas de som, a
instalação de instrumentos nos hospitais, a oferta de espaços para o
ensino de música aos pacientes e a apresentação musical em audi-
tórios. O Arqto. Zanettini, um dos principais defensores da presença
da música nos ambientes hospitalares, teve a sua primeira experi-
ência no Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, projeto original
de Oscar Niemeyer, onde instalou um piano, utilizado até hoje por
pacientes, funcionários e público em geral.
2.3.8. Espaços lúdicos
Ao contrário das outras ferramentas da humanização, a apli-
cação da ludi-cidade de um espaço é um processo subjetivo, mas
que apresenta a mesma proposta de promover ambientes que au-
xiliem no fortalecimento do estado emocional do paciente, especial-
mente no que diz respeito à reclusão hospitalar. Cleide Izidoro e Mil-
ton Sogabe, em seu artigo Design e o lúdico no ambiente hospitalar
(2021: p. 18), corroboram essa argumentação ao enfatizarem que a
ludicidade está presente desde a aplicação das demais ferramentas
da humanização espacial até a determinação do uso dos espaços,
116
117
uma vez que muitos deles representam o dia a dia do paciente, fa-
vorecendo a socialização e a interação interpessoal.
Já é de conhecimento público que certos espaços lúdicos
são de suma importância para os pacientes, como as brinquedote-
cas, os restaurantes, as cafeterias e as capelas. Contudo, outros,
como lojas, galerias de arte e serviços bancários, ainda apresentam
controvérsias quanto à sua implantação. Isso se deve ao fato de que
muitos profissionais, sejam arquitetos ou administradores, buscam
transformar o hall de entrada ou o pavimento térreo em uma réplica
de uma pequena cidade, perdendo o controle sobre o que realmente
beneficia o paciente. Contudo, outros especialistas defendem ser
preciso realizar um estudo de uso e ocupação para determinar quais
espaços lúdicos são adequados às EAS, como enfatizado pelo ar-
quiteto Zanettini, em entrevista.
Assim, tratar dos espaços lúdicos é extremamente importante, po-
rém requerem que o arquiteto faça uma análise a respeito dos espa-
ços que serão im-plantados, para que estes coadunam com a com-
plexidade do projeto, não apresentando usos equivocados, além de
aplicar as demais ferramentas da humanização espacial para que
eles se tornem confortáveis e complementares ao processo de cura
do paciente.
2.4 Exemplos da aplicação de humaniza-
ção em edifícios hospitalares
O presente tópico analisa a aplicação da humanização espa-
cial e construtiva em hospitais, construídos em décadas distintas.
A escolha desses projetos para análise se deu pelo fato de seus
autores serem extremamente relevantes para o desenvolvimento da
arquitetura hospitalar e pela grande preocupação com a qualidade
do ambiente construído, sobretudo para o conforto dos pacientes.
Figura 71 Entrada
do Sanatório Paimio.
Fonte: Alvar Aalto
Foundation, 2023.
2.4.1 Sanatório de Paimio, Finlândia
Inaugurado em 1933, o Sanatório de Paimio (Figura 71) foi
projetado por Alvar Aalto e construído a cerca de três quilômetros
da cidade de Paimio, Fin-lândia. A escolha do local de implantação
foi motivada pelas condições ambientais finlandesas, que, além de
serem relevantes para a recuperação dos pacientes, influenciaram
também os aspectos arquitetônicos e construtivos do edifício.
Catherine E. Velez, em sua pesquisa intitulada La pausa y
el silencio: Arquitecturas para el aislamiento (2023: p. 32), afirma
que Alvar Aalto sempre desenvolveu a sua arquitetura em conjunto
com a paisagem natural do local de implantação, a incorporando
em seu projeto, seja visual ou fisicamente. O arquiteto buscou, nes-
te projeto, manter a paisagem natural preservada, considerando-a
como um dos pilares da humanização espacial. Ao mesmo tempo,
alterou o caráter do hospital, tornando-o visualmente interessante e
acolhedor, ao combinar o branco dos revestimentos externos com o
colorido das escadas e dos toldos.
Aalto também alterou o acesso ao pátio de entrada do Sa-
natório, dando um aspecto cinematográfico ao trajeto, como pode
118
Figura 72 Planta geral
do sanatório
Fonte: Moretti, 1935: p.
157
Legenda:
A) Pavilhão hospita-
lar;
B) Pavilhão das reu-
niões;
C) Serviços;
D) Central térmico;
E- F) Acomodações
dos médicos e de-
mais funcionários.
119
ser observado no depoimento de Catherine Velez. Segundo suas
palavras:
“O Sanatório de Tuberculose de Paimio é acessado
de carro por uma estrada que atravessa uma densa
floresta de pinheiros proeminentes e bétulas com tron-
cos esguios e eretos. No meio desta paisagem natural,
encontra-se o edifício com a sua natureza manipulada
pelo homem. À medida que o visitante se aproxima do
edifício, a densidade do bosque diminui e culmina numa
clareira que forma o pátio de entrada” (Venez, 2023: p.
44 – tradução própria).
O hospital é comporto por um conjunto de blocos interligados por
corredores (Figura 72), sendo o Bloco A o principal deles, com quar-
tos compartilhados voltados para o sul-sudeste, solário e enferma-
rias. No Bloco B, encontram-se os consultórios médicos, as salas
de reuniões e todo o apoio administrativo do sanatório. O Bloco C,
composto por dois pavimentos, abriga os serviços gerais, o refeitório
e a sala de repouso. Os geradores e outros equipamentos necessá-
rios para o funcionamento adequado do hospital estão localizados
nos outros blocos, bem como as acomodações dos funcionários,
construídas no entorno do sanatório.
Figura 73 Entrada do
Sanatório de Paimio.
Fonte: Fabrice Fou-
illet, 2023. Disponí-
vel no site: <https://
divisare.com/projects/
386217-alvar-aalto-fa-
brice-fouillet-paimio-sa-
natorium> Acesso em
julho de 2023.
O acesso principal do hospital, situado entre os Blocos A e B,
é marcado por uma marquise com desenho orgânico, semelhante
ao desenho de piso, que se diferencia do restante da ortogonalidade
do edifício. Esse elemento, também presente em outros projetos do
arquiteto, não se difere visualmente do hospital, por ser da mesma
tonalidade branca do revestimento externo (Figura 73).
A entrada do hospital é caracterizada por uma antecâmara,
cujo objetivo é prevenir a contaminação cruzada causada pelo ar ex-
terno. Esta dá acesso ao saguão de recepção, com uma modulação
de pilares que organiza o espaço interno (Figura 74), criando uma
área de espera e descanso composto por poltronas e uma grande
sapateira em formato de “H’ no centro do ambiente (Moretti, 1935: p.
156). Dado que o edifício apresenta paredes isolantes constituídas
por uma camada de tijolos revestidos com placas de Insulite, o sa-
natório possui também um sistema de aquecimento central que atua
em conjunto com o aquecimento por piso radiante e com o sistema
de calefação, como é possível visualizar na figura 75.
Ao analisar o projeto é possível perceber como humaniza-
ção espacial é aplicada em diversos elementos. Para aproximar os
pacientes da natureza, o arquiteto instalou grandes aberturas para
permitir a visualização da paisagem natural e a entrada de luz na-
tural para dentro do edifício. Em algumas das aberturas, é aplicado
um material translúcido na parte inferior para aumentar a privacida-
de (Figura 75). Além do contato visual, as plantas foram posiciona-
das nos ambientes internos, especialmente nas salas de espera, e
120
Figura 74 Planta Baixa do Sanatório Paimio, sem escala.
Fonte: Moretti, 1935: p. 158
Legenda:
BLOCO A:
1. Central de enfermagem
2. Enfermarias
3. Serviço diurno
4. Distribuição de roupa de
cama
5. Guarda-roupa
6. Análise
7. Banheiros
8. Salas de cura
BLOCO B:
9. Vestíbulo
10. Vestiário
11. Central telefônica
12. Sala de espera
13. Sala da direção
14. Consultório médico
15. Sala de tratamento
16. Centro cirúrgico
17. Sala de helioterapia
18. Laboratórios, farmácia etc.
BLOCO C:
19. Chegada de material
20. Distribuição
21. Freezer
22. Cafeteria
Figura 75 Foto interna da sala de
espera na recepção, com o sistema
de calefação por trás das poltronas.
Fonte: Fabrice Fouillet, 2023.
119
Figura 76 A direita, po-
sicionamento dos vasos
junto as poltronas na re-
cepção. A esquerda, re-
gistro atual dos jardins de
inverno.
Fonte: Venez, 2023: pp.
75,113
Figura 77 Escada principal.
Fonte: Fabrice Fouillet, 2023.
nos jardins internos, cercados por planos de vidro para não interferir
na percepção do espaço (Figura 76).
Outro aspecto que demonstra a aplicação da humanização
no projeto é o uso de diferentes tonalidades de cor, onde o arquiteto
optou por trabalhar com duas paletas de cores diferentes, mas que
se complementam. A primeira paleta, com cores intensas, revela, so-
bretudo, os elementos arquitetônicos e construtivos, como pode ser
observado: pelo tom amarelo da escada principal e pelo tom azulado
que marca a localização do corrimão central (Figura 77); pelo piso
marrom-claro e pelo tom azulado das
paredes do corredor (Figura 78); pelos
tons azulados dos quartos (Figura 79);
pelos toldos alaranjados (Figura 80) e
esverdeados (Figura 81); e pelo tom
avermelhado do mobiliário (Figura 81).
122
Figura 79 Quartos de internação.
Fonte: Fabrice Fouillet, 2023.
Figura 78 Corredor do andar das enfermarias.
Fonte: Fabrice Fouillet, 2023
Figura 81 Refeitório.
Fonte: Fabrice Fouillet, 2023.
Figura 80 Toldos alaranjados.
Fonte: Fabrice Fouillet, 2023.
121
Figura 83 Quarto dos pacientes.
Foto tirada em 1933.
Fonte: Aalto, 2023.
Figura 82 Posicionamento do corpo nos mobiliários de Aalto. Fonte: Venez, 2023: p. 112
A segunda paleta de cores é composta por tons neutros e
terrosos, pre-sentes principalmente no mobiliário do hospital, dife-
renciando as texturas dos materiais. Todos eram produzidos em
fábrica, apesar de alguns serem desenvolvidos por Aalto como a
cadeira Paimio, que, posteriormente, se tornou um ícone de design
internacional (Figura 82).
De acordo com a descrição do escritório de Alvar Aalto, “a
mobília dos quartos dos pacientes era composta por aço tubular”
(Aalto, 2023), como pode ser observado pela estrutura das camas
e dos apoiadores de toalhas (Figura 83). Além desses mobiliários,
o arquiteto também se preocupou com a constante troca de ar in-
terna, onde o ar fresco adentra o ambiente através do vão existente
entre duas grandes ja-
nelas de madeira com
armação metálica (Fi-
gura 84) (Moretti, 1935:
p. 156).
124
Figura 84 Planta esquemática dos quar-
tos. Fonte: Moretti, 1935: p. 159
Legenda:
1. Persiana
2. Vão para ventilação
3. Pilar de concreto
4. Bancada de madeira
5. Leito
6. Mesa de cabeceira
7. Guarda-roupa
8. Parede fixa
9. Cuspideira
10. Pia
11. Shafts para passagem de ar
12. Pilar
13. Canal de canalização
O sanatório apresenta dois espaços para banhos de sol, ne-
cessários para o tratamento dos pacientes com tuberculose. O pri-
meiro, localiza-se no primeiro pavimento do Bloco B (Figura 85),
permitindo que os pacientes usufruem da luz solar mesmo quando
o tempo e o clima não favorecem a prática de atividades ao ar livre.
Esse solário, diretamente ligado ao refeitório (Figura 86), é caracte-
rizado pelas grandes aberturas, do chão ao teto, que permitem uma
vista panorâmica para o bosque. O segundo ocupa uma parte da
cobertura do edifício, sendo abrigado por uma laje de concreto com
desenho orgânico, permitindo que os pacientes tenham uma visão
privilegiada da vegetação e do entorno do sanatório, aproveitando o
ar natural nos dias mais quentes (Figura 87).
125
Figura 85 Planta do primeiro andar do Sanatório Paimio.
Fonte: Moretti, 1935: p. 158.
Legenda:
1. Sala de jantar
2. Curas solares.
3. Sala de reunião
4. Entrada e escritório.
5. Cozinha.
6. Refeitório dos funcionários.
7. Direção
Figura 86 Esquema da sala de repouso.
Fonte: Venez, 2023: p. 110
Figura 87 Terraço na cobertura. Foto tirada em 1933.
Fonte: Aalto, 2023.
126
Figura 88 Planta Baixa
do Pavimento Térreo
do Atrium do Hospital
Albert Einstein.
Fonte: Zanettini, 2002:
p. 395.
2.4.2 Atrium Hospital Albert Einstein,
São Paulo / Brasil
Em 1999, o escritório Zanettini Arquitetura foi contratado para
realizar a reforma do Atrium do Hospital Albert Einstein, construído
da capital paulista. De acordo com o Arqto. Zanettini, durante en-
trevista, o hospital era uma “cidade edificada”, com diversos espa-
ços lúdicos, como farmácias, restaurantes e lojas, que, por estarem
localizados principalmente no térreo do edifício, davam um ar de
praça de alimentação de shopping center ao Atrium, sem uma or-
ganização funcional adequada, o que tornava o ambiente bastante
caótico.
Dessa forma, o arquiteto promoveu uma nova setorização
espacial, tornando-o em um grande saguão principal, que não ape-
nas abriga um restaurante e uma lanchonete, como também uma
área de acesso e permanência (Figura 88). Essa solução empre-
gada por Zanettini marca o raciocínio de que é necessário realizar
uma análise a respeito de quais espaços lúdicos serão implantados
127
Figura 89 Foto externa do Atrium - acesso ao edifício. Fonte: Zanettini, 2002: p. 392
nos edifícios, seja por necessidade ou vontade do cliente, para que
estes estejam de acordo com a complexidade do projeto, não apre-
sentando usos equivocados nem exageros.
Esse espaço é marcado por uma grande marquise composta
por elementos tubulares e com fechamento por um plano de vidro
(Figura 89). De acordo com Rutman (2011: p. 88), essa marquise foi
resolvida por meio de uma geometria espacial composta por dois
arcos que se cruzam, sendo um côncavo e outro convexo. Além
disso, seu prolongamento em grande balanço, apoiado por tirantes,
protege os acessos, organizando o fluxo de pedestres e veículos. O
plano de vidro laminado foi fixado em molduras de alumínio, cobrin-
do a marquise e fechando o espaço do Atrium ao mesmo tempo em
que apresenta uma parte descoberta devido a uma grande árvore, o
que, possibilitou uma grande área de sombreamento no interior do
ambiente.
A solução estrutural adotada para a cobertura do Atrium tam-
bém permite uma visão ampla dos acontecimentos externos, permi-
tindo uma maior amplitude visual ao observador. Nas extremidades
dessa estrutura, duas áreas externas ajardinadas apresentam ele-
mentos de natureza variada, como bancos de pedras, fontes d’água
e vegetação arbustiva e de forração (Figura 90). Além disso, a ve-
128
Figura 90 Foto da praça lateral. Fonte: Zanettini, 2002: p. 392
Figura 91 Foto do acesso de entrada. Fonte: Zanettini, 2002: p. 393
getação também pode ser encontrada no interior dos espaços, dis-
postas em vasos (Figura 91), o que a aproxima tanto física quanto
visualmente do paciente.
No que diz respeito ao mobiliário e ao projeto de interiores de
hotelaria hospitalar do hospital, o Atrium não se difere dessa carac-
terização, principalmente nas áreas de espera e na área de mesas,
localizada próximas à cafeteria (Figura 92). Como não há obstáculos
físicos, mas sim visuais, o fluxo não é interrompido, tornando o am-
biente mais acessível apara os pacientes, acompanhantes e funcio-
nários.
129
Figura 92 Fotos dos espaços internos do Atrium do Hospital Israelita Albert Einstein, projeto do Arqto. Siegbert Zanettini. A
direita, sala de estar. A esquerda, área de mesas e cafeteria. Fonte: Zanettini, 2002: pp. 393,395.
Zanettini trabalha com uma paleta de cores complementares,
com tons mais claros e neutros nos elementos construtivos, como
nos metálicos da cobertura, no revestimento e nos pisos, e cores vi-
brantes nos móveis e objetos decorativos. Essa diferenciação acen-
tua as diferentes texturas dos presentes, ao mesmo tempo em que
torna os ambientes mais aconchegantes e acolhedores.
2.4.3 Hospitais da Rede Sarah, Brasília / Brasil
Em Brasília, há duas unidades da Rede SARAH que atendem
adultos e crianças, em diferentes estágios de tratamento, projeta-
das pelo arquiteto João Filgueira Lima, Lelé. A primeira unidade é o
Hospital do Aparelho Locomotor, de 1980, e a segunda é o Centro
Internacional de Neurociências e Reabilitação, também conhecido
como Rede SARAH Lago Norte, inaugurado em 2003. Embora este-
jam localizadas em áreas com características urbanísticas distintas,
essas unidades estão interligadas por uma rede de vias e uma linha
de ônibus exclusiva para os hospitais da Rede Sarah.
O Hospital do Aparelho Locomotor (Figura 93), também co-
nhecido como Sarah Centro, foi concebido para servir como um cen-
130
Figura 93 Vista aérea evidenciando o Hospital do Aparelho Locomotor, localizado próximo ao auditório e conectado ao Bloco
de ensino por uma passarela. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 87
tro de referência de um subsistema de saúde no campo do aparelho
locomotor. Ele está situado entre o Centro de Reabilitação Sarah
Kubitschek (Sarinha), projetado pelo arquiteto Glauco Campello em
1960, e o Hospital de Base de Brasília, totalizando 60.000 m² de
área construída, dos quais cerca de 10.000 m² foram destinados ao
bloco de treinamento e ao ensino (Lima (Lelé), 2012: pp. 90, 103).
Este novo bloco se conecta ao hospital por uma grande passarela
metálica revestida com policarbonato transparente.
Para o desenvolvimento do projeto deste hospital, foram ela-
borados novos conceitos, sendo o mais relevante a alteração do
conceito tradicional de leito para o de “cama-maca”, o que permitiu
aos pacientes uma grande mobilidade, uma vez que, à medida que
se deslocavam para todos os setores de diagnóstico e tratamento,
a estrutura física do hospital se alterava (Lima (Lelé), 2012: p. 89).
Dessa forma, de acordo com Toledo (2020: p. 166), o atendimento
médico e de enfermagem foi sendo influenciado simultaneamente.
As camas-macas foram implantadas em todas as unidades
desta rede de hospitais e tiveram seu desenvolvimento realizado
por um grupo de diferentes profissionais, dentre eles o designer
131
Figura 94 Cama-maca
desenvolvida pelo de-
signer Alex Chacon.
Fonte: Lima
(Lelé),2012: p. 89
Figura 95 Fachada for-
mada pelas vigas Vie-
rendeel, marcando a lo-
calização dos terraços.
Fonte: Lima (Lelé),
2012: p. 92
Alex Chacon, que introduziu o qua-
dro balcânico em arco ao corpo da
cama (Figura 94). A utilização desse
mobiliário trouxe diversas vantagens,
tais como: aprimorar a prevenção de
infecções cruzadas, uma vez que a
cama-maca acompanha o paciente
toda a sua permanência no hospital;
facilitar a aplicação da filosofia de
“cuidados progressivos”, onde o en-
fermo seria transferido gradualmente para ambientes com carac-
terísticas físicas e disponibilidades técnicas adequadas para cada
estágio de evolução de seu quadro clínico; possibilitar autonomia ao
paciente; e eliminar a transferência entre leito-maca ou vice-versa,
muito dolorosa ou desconfortável para, principalmente, os pacientes
imobilizados (Lima (Lelé), 2012: pp. 89, 90).
Devido ao tamanho reduzido de terreno, o arquiteto optou por
um projeto bastante reduzido, com uma construção composta por
elementos pré-moldados em concreto e argamassa armada, confor-
me o módulo construtivo de 1,10 m x 1,10 m (Lima (Lelé), 2012: p.
96). Dentre esses elementos, destacam-se os sheds de argamassa
armada e os pilares, vigas duplas e vigas Vierendeel, em concreto
armado.
As vigas Vierendeel foram
utilizadas como fechamento dos
setores de internação, dispostos
em pavimentos alternados (Figu-
ra 95), tendo uma largura de 3,30
m e uma altura total de 3,50 m, o
que corresponde ao pé-direito do
pavimento, delimitando grandes
terraços ajardinados que recebem
a luz solar e se integram às en-
fermarias. Sendo justapostas no
montante, as vigas apresentam
132
Figura 96 Corte es-
quemático dos terra-
ços ajardinados com
identificação das torres
de circulação vertical e
sanitários.
Fonte: Lima (Lelé),
2012: p. 82
Figura 97 Nichos exis-
tentes entre as vigas
duplas e os pilares para
a passagem das insta-
lações prediais. Fonte:
Lima (Lelé), 2012: p. 99
um comprimento de 20 metros entre eixos de sustentação e 10 me-
tros em balanço. As paredes de concreto dos conjuntos de instala-
ções sanitárias e das torres de circulação vertical, com elevadores
e escadas, são fundidas no local por um sistema de protensão, que
serve como elemento de sustentação para as vigas Vierendeel (Fi-
gura 96), sistema esse muito utilizado em pontes com balanços su-
cessíveis (Lima (Lelé), 2012: p. 90, 92, 96, 97).
De modo a não interferir visualmente nos ambientes, Lelé op-
tou por instalar todas as instalações elétricas, telefônicas e de sono-
rização nos eletrodutos que ficam entre as vigas. Já as instalações
de água, esgoto e drenagem correm horizontalmente ao vigamento
do piso ou entre as vigas duplas, e verticalmente entre os pilares du-
plos, com fechamento em placas metálicas (Figura 97) (Lima (Lelé),
2012: p. 99).
133
Figura 98 Planta esquemática de
situação.
Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 96
Figura 99 Passarela de ligação
entre o hospital com o prédio de
ensino.
Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 101
Legenda:
1. Prédio de ensino;
2. Auditório;
3. Ampliação dos labora-
tórios;
4. Ampliação do setor de
imagem;
5. Escola de paralisia ce-
rebral;
6. Sarinha;
7. Hospital do Aparelho
Locomotor;
8. Ampliação do refeitório
dos funcionários;
9. Passarela.
Como já mencionado, este hospital, ao longo de sua existên-
cia, tornou-se um laboratório para aperfeiçoamento de técnicas de
tratamento em ortopedia e reabilitação. Dessa forma, foram acres-
centados novos espaços físicos à setorização espacial programada,
sempre mantendo a integridade da concepção original (Figura 98).
As intervenções mais relevantes foram a criação de espaços para
o treinamento dos funcionários, onde o antigo prédio de escritório,
situado ao lado da via de acesso ao hospital, foi totalmente reforma-
do, tendo dependências para ensino, como salas de aulas e biblio-
teca. Para conectar este edifício ao hospital, Lelé projetou uma pas-
sarela metálica, revestida com placas de policarbonato transparente
(Figura 99) (Lima (Lelé), 2012: pp. 100,101).
134
Figura 100 Jardim interno. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 93
Figura 101 Terraço-jar-
dim das enfermarias.
Fonte: Lima (Lelé),
2012: p. 93
No que diz respeito à humanização espacial, o paisagismo se
tornou um elemento extremamente significativo, tanto para o con-
forto dos usuários quanto para a qualidade térmica dos ambientes.
A arquiteta Alda Rabello Cunha foi a responsável por todo o proje-
to paisagístico do hospital, realizando principalmente um trabalho
quanto à escolha do tipo de vegetação para os diferentes ambientes
ajardinados presentes. Os jardins internos (Figura 100), situados
nas áreas de espera e nas salas, oferecem ao usuário acesso a es-
tímulos visuais, olfativos e sonoros. Durante a visita ao hospital, foi
possível ouvir o cantar dos pássaros próximos às aberturas zenitais,
que eram transpassadas pela vegetação.
Nos andares de internação, os terraços ajardinados e solá-
rios (Figura 101) apresentam uma lógica ortogonal, permitindo que
os pacientes internados usem esses espaços como locais de so-
cialização. Como os pavimentos são construídos alternadamente,
os terraços apresentam um pé-direito duplo, proporcionando uma
amplitude que, juntamente com a vista para a cidade, diminui a sen-
sação de isolamento e confina-
mento dos pacientes. Ademais,
Lelé afirma que esses terraços
também apresentam outra fun-
ção, sendo:
135
Figura 102 Vista aérea do auditório. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 102
“Cumpre-se assim a função fundamental de ameni-
zar os espaços das enfer-marias. […] o deslocamento
rotineiro dos pacientes para esses terraços, desocu-
pando integralmente as enfermarias, possibilita que
estas sejam limpas e desinfetadas com o rigor dese-
jável” (Lima (Lelé), 2012: p. 92,93.)
Lelé também incluiu espaços para lazer, incluindo um novo
auditório (Figura 102), inaugurado em 1998. Há dois níveis de aces-
so: um na cota -3,75 m – que corresponde ao pavimento dos labo-
ratórios, setor de imagem, centro cirúrgico e outros – e outro na cota
-7,50 m – destinada aos serviços gerais (Figura 103). Este auditó-
rio tem uma capacidade de trezentos lugares na parte central da
plateia, além de duas amplas áreas laterais para acomodar cerca
de oitenta pacientes em cadeiras de rodas ou camas-maca (Figura
104). Esse auditório conta também com um palco polivalente, proje-
tado para abrigar conferências, apresentações musicais e teatrais.
O foyer do auditório, situado no nível técnico do hospital, apresenta
um fechamento em estrutura metálica que auxilia no controle da
qualidade da iluminação interna e proporciona um controle térmico
mais eficiente (Lima (Lelé), 2012: pp. 101-103). A solução espacial
desenvolvida para o auditório também foi aplicada em outros pro-
jetos do arquiteto, como Centro Internacional de Neurociências e
Reabilitação.
136
Figura 103 Planta do nível -3,75 do auditório. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 105
Figura 104 Corte esquemático do auditório. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 103
Legenda:
1. Foyer
2. Jardim
3. Cabine de projeções
4. Plateia
5. Plateia para camas-macas
e cadeiras de rodas
6. Palco
7. Ligação com o hospital.
137
Figura 105 Planta esque-
mática do conjunto.
Fonte: Lima (Lelé), 2012:
pp. 214.
Legenda:
1. Esportes náuticos;
2. Internação;
3. Serviços gerais;
4. Residência;
5. Auditório;
6. Centro de estudos;
7. Apoio ao lesado
cerebral;
8. Apoio ao anfiteatro.
Como o terreno do Sarah Centro tem dimensões restritas,
não tendo áreas verdes próximas para o desenvolvimento de tera-
pias de reabilitação ao ar livre, o Centro Internacional de Neuroci-
ências e Reabilitação foi construído em uma área ampla à beira do
lago, oferecendo espaços para o atendimento e tratamento dos pa-
cientes, bem como uma estrutura para a pesquisa e o treinamento
dos profissionais da área (Figura 105). Para permitir a acomodação
de todas as construções e espaços em um terreno com uma queda
de 20 metros, foram construídos platôs interligados por taludes ajar-
dinados e rampas suaves para pedestres (Figura 106) (Lima (Lelé),
2012: pp. 212-215.).
138
Figura 106 Corte esquemático do conjunto. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 215.
Legenda:
1. Galpão para esportes náuticos (cota 0,80 m);
2. Ambulatório, hidroterapia, laboratório para produção de equipamentos, internação, administração, vestiários e
serviços gerais (cota 4,60 m);
3. Reabilitação infantil (cota 10,70 m);
4. Centro de estudos, auditório, residência e centro de habilidades (cota 18,20 m).
Figura 107 Corte esquemático do
sistema de ventilação e ilumina-
ção do ginásio do Hospital Sarah
Brasília Lago Norte e foto interna
do ginásio de fisioterapia.
Fonte: Lima (Lelé), 2012: pp .217,
218.
Dentre os diversos arquitetos que aplicam soluções para a
renovação de ar em hospitais, Lelé se destaca pelo constante de-
senvolvimento e instalações dos sheds. Diferente dos presentes no
Sarah Centro, o sistema do Hospital Sarah Lago Norte (Figura 107)
foi construído com materiais metálicos, o que lhes permitiu uma
maior capacidade de dimensionamento e uma solução mais eficien-
te no controle das aberturas. Contudo, existem áreas que requerem
ar-condicionado devido às suas especificidades, como centro cirúr-
gico, apoio ao diagnóstico por imagem e unidades de terapia inten-
siva.
139
Figura 108 Painel divisório vazado, em madeira laqueada brilhante com acabamento acetinado nas cores laranja, ocre e vinho.
Fonte: IPHAN, 2018: p. 95.
A fim de assegurar uma maior ambiência em seus projetos,
Lelé contou com a colaboração do artista plástico Athos Bulcão para
criar elementos decorativos e soluções construtivas para a execu-
ção do edifício (Lelé), 2012: p. 94). Essas reafirmam a necessida-
de constante de Lelé pela qualidade do espaço construído, onde
os formatos geométricos são caracterizados pelo uso de diferentes
materiais – painéis de madeira, azulejos, elementos em argamassa
armada, dentre outros – somados à aplicação de cores, que, em
alguns ambientes, apresentam tons vivos enquanto, em outros, os
tons pastéis se tornam predominantes. Assim:
“A contribuição artística de Athos nos espaços dos
hospitais da Rede Sarah Kubitschek foi determinan-
te para o reconhecimento internacional da excelência
qualitativa do ambiente médico-hospitalar projetado
por Lelé para esses edifícios” (IPHAN, 2018: p. 08).
Dentre os diversos elementos de sua contribuição artística,
é possível destacar algumas delas. A primeira está localizada no
Sarah Centro, onde o painel divisório vazado (Figura 108), que está
fixado no piso e na sessão horizontal das vigas duplas de concreto
pré-moldado, separa a área de espera do ambulatório da circulação
de entrada. Esse painel é composto por uma sequência de quarenta
e duas peças verticais de madeira laqueada, com sessões em “L” e
vazios geométricos (IPHAN, 2018: p. 95), permitindo que os usuá-
rios tenham acesso à visão dos eventos ao seu redor sem perder a
privacidade.
140
Figura 109 Painel de azu-
lejos na área de espera da
radiologia.
Fonte: IPHAN, 2018: p. 124
Figura 110 Vista interna do auditório do
Hospital Sarah Brasília Lago Norte.
Fonte: Lima (Lelé),2012: p. 221.
Além disso, se destaca o painel de azulejos (Figura 109),
composto por peças repetidas dispostas de forma aleatória, que
está localizado no fundo do jardim interno da sala de espera da
radiologia, complementando o projeto paisagístico de Alda Rabello
Cunha. O IPHAN reforça a descrição do painel ao afirmar que:
“O primeiro padrão (em azul) apresenta três arcos concên-
tricos de quarto de circunferência, sendo que o menor arco
possui maior largura. Os arcos azuis são estampados sobre
azulejo esmaltado branco. O segundo (em verde), estampa-
do também em azulejo branco, contém dois arcos, dispostos
em vértices opostos da peça, sendo que um deles apresenta
linha mais larga e o outro, linha dupla. A proporção de azule-
jos azuis é maior do que a de verdes” (IPHAN, 2018: p. 124).
No Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação,
se destaca o painel no auditório (Figura 110). Este painel é com-
posto por formas geométricas de madeira laqueada em “meia-lua”
na cor verde, fixadas sobre uma parede de alvenaria pintada de
azul (IPHAN, 2018: p. 179), revelando uma interessante interpreta-
ção das ondas na superfície
d’água, além de criar uma
semelhança com a curvatu-
ra da cobertura, formada pe-
los sheds de ventilação.
141
2.5 Dificuldades enfrentadas atualmente
em relação à humanização dos ambientes
de saúde.
Como já mencionado, a aplicação da humanização nos edi-
fícios de saúde não é uma novidade. Os seus benefícios para a re-
cuperação dos pacientes e para a saúde dos profissionais já foram
documentados e analisados pelas mais diversas áreas de conheci-
mento, como medicina, psicologia, psiquiatria e arquitetura, desde
a antiguidade, ganhando maior força durante o modernismo. Entre-
tanto, é perceptível que a maioria dos estudos e pesquisas sobre a
aplicação da humanização se concentra na chamada “humanização
da assistência”.
Isto é corroborado por outros autores, como Maria Alice Lo-
pes e Luciana de Medeiros, que, em seu artigo Humanização hos-
pitalar: origem, uso e banalização do termo (2004), complementam
afirmando que esse tipo de humanização se refere à mudança de
atitude dos profissionais em relação ao contato com os pacientes,
oferecendo uma conotação de atendimento mais cordial, mais calo-
roso e mais personalizado. A própria cartilha da Política Nacional de
Humanização (2013) apresenta essa conotação, enfatizando mais
a forma de tratamento aos doentes do que as características am-
bientais dos edifícios e a qualidade do espaço físico para o benefício
físico e mental dos pacientes e funcionários dos hospitais.
Devido à ausência desse foco, muitos profissionais não têm
um conhecimento aprofundado sobre o tema, dificultando a com-
preensão de sua real relevância. Zanettini, em entrevista, comentou
que muitos profissionais, principalmente gestores e administrado-
res hospitalares, deixam a aplicação da humanização espacial e
construtiva em segundo plano, devido, principalmente, a escassez
de recursos financeiros para a construção, reforma e manutenção
dos hospitais, concentrando-os nas soluções relevantes para o fun-
cionamento do hospital. Sendo assim, cabe aos arquitetos inseri-
rem-na como uma linguagem de projeto, buscando acabamentos
viáveis dentro do orçamento disponível pelo cliente, porém com um
bom design.
142
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
A sustentabilidade é considerada, por muitos, um conceito
recente e em constante evolução, uma vez que os problemas am-
bientais se tornaram mais evidentes na sociedade no final do século
XX, sendo incorporada à construção civil a partir da década de 80.
Contudo, é possível afirmar que sua aplicação já existia antes da
definição deste conceito, ainda que primitivamente, uma vez que
os seres humanos apresentavam uma relação com o meio em que
viviam distintamente daquela observada a partir da Revolução In-
dustrial.
Carlos Machado de Freitas e Marcelo Firpo Porto (2006: p.
40) sustentam essa argumentação, uma vez que o desenvolvimento
humano causou alterações no meio ambiente, em diferentes esca-
las e magnitudes, tais como: o desflorestamento e a alteração dos
habitats naturais; a ampliação e a intensificação das atividades agrí-
colas e pecuárias; a irrigação e a construção de represas, alterando
os ciclos hidrológicos; as atividades de extração e mineração de
recursos naturais renováveis e não renováveis; o crescimento das
cidades e da concentração populacional nos ambientes urbanos; e
a produção de bens industriais e bens de consumo e suas formas de
apropriação de energia, matéria-prima e produção de resíduos.
Essas alterações aproximaram os seres humanos de diver-
sos agentes patogênicos e, consequentemente, de diversas doen-
ças, embora as mudanças no ecossistema tenham reduzido ou eli-
minado algumas delas. Em países e regiões menos desenvolvidos,
os problemas de saúde estão diretamente relacionados às condi-
ções precárias de moradia, uma vez que uma grande parcela da
população não tem acesso ao saneamento ou ao abastecimento
Capítulo 3
Sustentabilidade na arquitetura hospi-
talar
144
adequado de água para consumo humano.
Conforme a Organização das Nações Unidas, em um pla-
neta com 8 bilhões de habitantes, apenas 26% têm acesso à água
potável, representando 2 bilhões de pessoas, e 46% da população
mundial não têm acesso a serviços de saneamento seguros, cor-
respondendo a 3,6 bilhões (NU, 2023). Esses problemas são acres-
cidos aos relacionados à poluição química, que afetam os solos, a
atmosfera, as águas e a cadeia alimentar, tanto nas áreas urbanas
quanto nas rurais de entorno (Freitas; Porto, 2006: p. 69).
Márcio Oliveira (2021: p. 5) aponta que o setor de serviços
de saúde é um dos que mais emitem dióxido de carbono no mundo,
sendo responsável por cerca de 4,6% das emissões mundiais de
gases de efeito estufa e poluentes tóxicos no ar, sendo a maioria
dessas emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Essa contribuição não se limita aos edifícios, mas abrange toda a
rede de suporte para seu funcionamento, ou seja, desde a fabrica-
ção, uso e descarte de produtos hospitalares, passando pelo trans-
porte de mercadorias, medicamentos e pacientes, até os sistemas
de climatização e outros equipamentos instalados no interior do edi-
fício.
Durante décadas, foi perceptível o aumento significativo no
uso de climatização na construção civil, devido à alteração na mu-
dança climática, o que gerou um círculo vicioso, uma vez que mais
gases de efeito estufa foram liberados na atmosfera. Para lidar com
a situação, foram realizados diversos programas e conferências, vi-
sando inserir o tema na esfera política. Dentre eles, destaca-se o
Protocolo de Kyoto, realizado em 1996, por ser o primeiro tratado
internacional para controle da emissão de gases de efeito estufa na
atmosfera. Este tratado estabeleceu um compromisso dos líderes
governamentais presentes na conferência em reduzir em 5,2% a
emissão de poluentes, principalmente nos países industrializados.
Dessa forma, ocorreram mudanças significativas nos gases utili-
zados para a fabricação de alguns equipamentos de refrigeração,
porém a climatização dos ambientes continuou sendo utilizada
(Oliveira, 2021: p. 07). Muitos defendiam que, além das mudanças
145
climáticas, outro fator que contribuiu para o aumento no uso e ins-
talação de ar-condicionado em ambientes hospitalares foi a deterio-
ração da qualidade do ar nas cidades, que se tornou cada vez mais
poluído e seco. No entanto, diversos arquitetos demonstraram ser
viável construir hospitais utilizando sistemas de ventilação natural,
limitando a utilização de climatização do ar em locais de extrema ne-
cessidade, como é demonstrado nos hospitais projetados por Lelé.
Esses levantamentos e discussões provocaram mudanças
nos hábitos, nos comportamentos e na consciência ambiental, de-
vido às mudanças nos paradigmas humanos em relação às de-
mandas, individuais e coletivas, em termos de qualidade de vida
(Zanettini, 2002: p. 456), tornando indispensável a aplicação deste
princípio em EAS.
3.1. Conceitualização e evolução histórica
A partir das décadas de 1960 e 1970, as discussões am-
bientais começaram a ganhar força. O movimento ambientalista,
difundido desde os anos 50, começou a abordar na esfera pública
questões que dizem respeito às ameaças e aos perigos ambientais,
associando-os aos modelos econômico, industrial, político e social
existentes. Ao mesmo tempo, enfatizavam os problemas à saúde
provocados, principalmente, pela poluição química e radioativa cau-
sada pelas usinas nucleares e pelos diversos acidentes ocorridos,
destacando-se o de Chernobyl (Freitas; Porto, 2006: pp. 48, 49).
Em 1972, Estocolmo sediou a 1ª Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, onde foi publicado o rela-
tório intitulado Os Limites do Crescimento. O documento alertava
sobre a degradação acelerada dos recursos naturais e sua relação
direta com o desenvolvimento da sociedade (Bittencourt, 2006: pp.
17,18). Apesar desse levantamento, foi apenas 15 anos depois que
atitudes foram tomadas no âmbito mundial, com a publicação do
Relatório Bruntland, redigido pela Comissão Mundial Sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, sob a coordenação de Gro Harlem
Bruntland da Noruega. Este documento é um grande marco para a
146
“[…] transformar o modelo de desenvolvimento
num rumo mais sustentável em termos do mane-
jo dos recursos naturais, da preservação da bio-
diversidade, equânime e justo tanto nas relações
econômicas entre os países como na distribuição
da riqueza nacional entre os diferentes segmentos
sociais”.
sustentabilidade, uma vez que apresenta, pela primeira vez, a defi-
nição de desenvolvimento sustentável, reconhecendo os problemas
ambientais no âmbito político, ambiental, social e econômico, além
de apresentar um conjunto de ações nas quais as nações deveriam
se apoiar para se desenvolver, sem prejudicar as gerações futuras.
Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
biente e Desenvolvimento na cidade do Rio de Janeiro, também co-
nhecida como Rio 92, publicou a Agenda 21, que, segundo Freitas e
Porto (2006: p. 23), visa:
Dominique Gauzin-Müller, em seu livro Arquitetura Ecológica
(2011: p. 28), afirma que, para relação ao meio ambiente e à gestão
racional dos recursos naturais, a Agenda 21 apresenta algumas re-
comendações e ações que deveriam ser seguidas, tais como: ações
de proteção da atmosfera; a concepção integrada do planejamento
e gestão das terras; o combate ao desmatamento; a preservação da
biodiversidade; a gestão ecologicamente racional das substâncias
químicas tóxicas, resíduos perigosos, resíduos sólidos, águas servi-
das e resíduos radioativos; dentre outros.
Dessa forma, a sustentabilidade apresenta três pilares de
sustentação, sendo eles: o econômico, que consiste na capacida-
de da sociedade de produzir riquezas com o intuito de beneficiar o
maior número de pessoas em sua intensidade e velocidade, com
padrões controláveis de concentração econômico-financeira; o so-
cial, que visa permitir que a população se beneficie da produção de
bens e serviços essenciais à vida; e o ecológico, permitindo que a
sociedade consiga usufruir dos benefícios ofertados pela natureza,
sem destruí-la, permitindo que as gerações futuras também possam
147
se beneficiar delas (Góes, 2011: 194).
Ainda assim, L. L. Brasileiro e J. M. E. Matos (2015: p. 182)
afirmam que para uma sociedade conseguir atingir o desenvolvi-
mento sustentável é necessário que ela apresente a construção civil
como seu maior suporte, já que este é um dos pilares inerentemente
relacionado com as suas profundas transformações. Dessa forma,
dado que as EAS apresentam particularidades e uma complexidade
única, os hospitais não se diferenciam dessa procura constante pela
aplicação da sustentabilidade, já que, segundo Bitencourt (2006: p.
17), seus espaços devem sempre ser ambientalmente saudáveis,
viáveis economicamente e sensíveis às necessidades dos locais em
que serão construídos.
3.2. Aplicação do conceito de sustentabili-
dade
Em suma, a sustentabilidade é um programa de mudanças
e aperfeiçoamentos que visa adaptar a civilização às atividades
humanas, para garantir um nível básico de qualidade de vida. Ao
mesmo tempo, visa preservar a biodiversidade e os ecossistemas
naturais do mundo, bem como os sistemas sociais, para criar um
maior equilíbrio que permita que outras gerações possam usufruir
desses mesmos benefícios e características.
Os estabelecimentos assistenciais de saúde são edifícios
complexos, que abrigam diversos setores, cada um com suas espe-
cificidades e funções. São empreendimentos que demandam gran-
des investimentos na construção, na aquisição de equipamentos e,
sobretudo, na manutenção dos custos operacionais. Somados a es-
sas questões, as transformações construtivas executadas sem pla-
nejamento e as soluções arquitetônicas inadequadas ao clima local
e outras condicionantes ambientais são agravadas pela demanda
de ampliações para o atendimento e acompanhamento de novas
tecnologias e equipamentos.
A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura publi-
cou em 2012 o Guia sustentabilidade na arquitetura: diretrizes de
148
escopo para projetistas e contratantes como uma forma de orientar
todos os profissionais envolvidos para a aplicação da sustentabili-
dade em seus projetos. Segundo eles (2012: p. 14), as premissas
sustentáveis trazem ao profissional um aumento em sua responsa-
bilidade frente ao resultado de seu trabalho, ou seja, à obra cons-
truída e utilizada. Isso exige, sobretudo dos arquitetos, uma maior
dedicação intelectual e interação com diferentes elos da cadeia pro-
dutiva, principalmente porque o planejamento é considerado uma
das mais importantes ferramentas para garantir o bom desempenho
da edificação. Assim, esse princípio deve ser aplicado desde a ela-
boração do projeto, que deve incluir a escolha do local de implanta-
ção, as técnicas projetuais utilizadas e os materiais escolhidos, até
sua construção, manutenção e eventual demolição.
3.2.1. Técnica sustentáveis aplicadas em ambien-
tes hospitalares
Por considerar que uma cidade é um organismo vivo, pas-
sível de transformação, um empreendimento, sobretudo de grande
porte, como um hospital, pode influenciar positiva ou negativamente
o entorno do local em que será inserido. Para a sustentabilidade,
se torna imprescindível que se fomente o exercício da cidadania
e da igualdade, principalmente para desenvolver o sentimento de
pertencimento dos cidadãos e as novas formas de interação com o
entorno (AsBEA, 2012: p. 33).
Assim, a participação da comunidade, com ênfase na inte-
gração e organização espacial, se torna indispensável para a cria-
ção de um espaço urbano sustentável. Isso depende não apenas
da conscientização para o uso racional de recursos, mas também
da integração da comunidade local em todas as etapas do projeto,
desde a elaboração do projeto até a definição das características
arquitetônicas do edifício, integrando-o à caracterização urbanística
local (AsBEA, 2012: pp. 33,35).
3.2.1.1. Implantação e inserção urbana
149
Figura 111 Hospital
municipal Ermelino
Matarazzo.
Fonte: acervo do escri-
tório Zanettini Arquite-
tura, 2023.
Figura 112 Planta do 1º pavimento do Hospital Municipal Ermelino Matarazzo, com identificação da UTI (n.º
3). Fonte: Zanettini, 2002: p. 212.
Zanettini, por exemplo, envolveu a comunidade do distrito de
Ermelino Matarazzo na formulação do projeto do hospital, que rece-
beu o mesmo nome (Figura 111). O hospital, inaugurado em 1991,
começou a ser construído na gestão Mário Covas, como resultado
de uma luta desenvolvida pela comissão distrital de saúde, ligada
ao movimento de saúde da zona leste. Essa situação propiciou uma
experiência até então não vivenciada pelo arquiteto: planejar a obra
discutindo cada passo com representantes da comunidade, ouvindo
sugestões e acatando mudanças, como o aumento no número de
leitos e a inclusão de uma UTI, que, em um primeiro momento, não
era programada (Figura 112) (Zanettini, 2002: pp. 211,213).
150
Com a explicação da arquitetura, de suas etapas e relevân-
cia, Zanettini e os demais profissionais envolvidos realizaram inten-
sas discussões a respeito do projeto e da execução da obra com a
comissão de saúde, sempre incluindo as pautas previamente dis-
cutidas em assembleias com os moradores locais. Isso não ape-
nas demonstrou, para a construtora, a importância do processo da
participação popular, como, para o arquiteto, trouxe o ensinamento
a respeito do levantamento das necessidades da população, que,
muitas vezes, não são percebidas, em sua totalidade, pelos profis-
sionais (Zanettini, 2002: pp. 213, 214).
Como parte do princípio da sustentabilidade, a estratégia de
implantação dos edifícios a ser adotada pelos arquitetos ao elabora-
rem o projeto deve respeitar as características do terreno e do clima,
prevendo o máximo de áreas permeáveis possível, sem modificar
a vegetação existente, sobretudo se houver a presença de corpos
d’água na proximidade. Também é importante observar a orientação
do edifício em relação ao sol e às massas de vegetação.
Segundo Vilas-Boas (2011: p. 15), a implantação de fachadas
expostas ao poente, em climas tropicais, evita o acúmulo de calor
nos ambientes. No entanto, é importante salientar a relevância dos
elementos de sombreamento e isola­
mento térmico, uma vez que
a insolação constante dos elementos construtivos pode aquecê-los
facilmente, transmitindo esse calor para o interior dos ambien­
tes.
Além disso, deve-se sempre considerar o efeito de sombreamento
ocasio­
nado pelas construções do entorno, sobretudo para a deter-
minação da localiza­
ção das aberturas nas fachadas (AsBEA, 2012:
p. 34).
Ademais, também é necessário realizar um estudo quanto
ao sombrea-mento ocasionado pelo estabelecimento a ser constru-
ído (AsBEA, 2012: p. 34), uma vez que o hospital projetado pode
apresentar um maior número de pavi-mentos quando comparado
com as construções do entorno, muitas vezes caracterizadas como
casas térreas e/ou sobrados, dependendo do local de implantação
escolhido. Isso porque o edifício não deve se tornar uma barreira
para a insolação no entorno, nem deve auxiliar os efeitos incômodos
151
Figura 113 Detalhe
para fachada venti-
lada.
Fonte: Vilas-Boas,
2011: p. 16.
dos ventos, a fim de assegurar à vizinhança qualidades salubres
dos ambientes e o direito à iluminação e ventilação natural (AsBEA,
2012: p. 34).
3.2.1.2. Conforto termoacústico
Os seres humanos passam grande parte do tempo em am-
bientes fechados, seja para se abrigar, seja para trabalhar, estudar
ou descansar. Ao se trata de um edifício hospitalar, onde os funcio-
nários e pacientes se encontram envoltos de fontes de estresse, a
qualidade da ambiência e do conforto termoacústico apresenta uma
maior importância, por influenciar na saúde e na qualidade de vida
dessas pessoas, interferindo no tratamento.
Em relação ao conforto térmico, algumas diretrizes de projeto
podem garantir uma melhor qualidade nas condições ambientais,
principalmente quanto à melhoria do desempenho da envoltória do
edifício, do sistema construtivo aplicado e dos materiais seleciona-
dos (AsBEA, 2012: p. 69). Quando se trata de soluções para o iso-
lamento térmico das fachadas de uma edificação, destacam-se: a
fachada ventilada, o teto verde, os jardins verticais, a aplicação de
brises para sombreamento e a utilização de telhas termoacústicas.
Gauzin-Müller (2011: p. 110) defende que,
para assegurar o conforto dos usuários em um
ambiente, é recomendável trabalhar com a ven-
tilação cruzada, direcionando o ar das áreas ex-
postas ao sol as não expostas, permitindo a en-
trada de ar fresco e a regulação térmica desses
ambientes de uma forma natural (Gauzin-Müller,
2011: p. 110). A fachada ventilada (Figura 113) é
uma solução projetual que segue esse princípio,
porém tendo como foco o sentido ascendente
de ventilação, ocasionado pelo espaço vertical
oriundo da fixação do revestimento deslocado
das estruturas em alvenaria (Vilas-Boas, 2011:
p. 16). Com isso, o ar quente é liberado tanto por
aberturas superiores, próximas às vigas e outros
152
Figura 114 Soluções de
umidificação para redu-
ção de temperatura no
entorno das edificações.
Fonte: Anvisa, 2014: p.
23.
elementos estruturais, como por zenitais, utilizando dos princípios
de aeração por diferença de pressão e do “efeito chaminé”, muito
aplicado nos hospitais do Arqto. Lelé.
A utilização de coberturas termoacústicas, por sua vez, não
apenas reduz a transmissão de calor, como também os níveis de
ruídos para dentro dos ambientes internos das edificações. Essas
telhas, compostas por duas chapas metálicas de aço ou alumínio re-
cheadas com lã de vidro, lã de rocha, espuma de poliuretano ou po-
liestireno expandido, podem ser usadas isoladamente, sendo mais
adequadas para pavimentos técnicos ou áreas de convivência, ou
sobrepostas a lajes, não apresentando restrições em seu uso (Vilas-
-Boas, 2011: p. 16, 17).
A ventilação natural é, portanto, fundamental para um edifício
hospitalar e para uma arquitetura bioclimática, não somente para
o controle térmico do edifício como para o combate de infecções
hospitalares. Em um país tropical, a forma do edifício e seus deta-
lhes construtivos são fundamentais para assegurar a sua eficiência,
sobretudo porque, de acordo com Gauzin-Müller (2011: p. 110), os
sistemas de ventilação podem representar de 20 a 60% das despe-
sas energéticas. Valor que cresce a cada ano devido ao aperfeiçoa-
mento dos elementos de isolamento térmico dos edifícios.
Como visto, não basta apenas realizar um estudo de posi-
cionamento das aberturas e a escolha dos tipos de janelas, como
também usufruir de outros elementos, como vegetação e espelhos
d’água. Segundo a Anvisa (2014: pp. 22, 23), estes elementos, além
de atuarem como atenuadores da temperatura radiante (Figura
114), também auxiliam na umidificação do ambiente, melhorando
153
sua qualidade em climas quentes e secos. Contudo, é necessário
que os profissionais adotem um sistema de manutenção e cuidado
para evitar a proliferação de vetores, especialmente os mosquitos.
Tal como mencionado no capítulo anterior, a luz contribui tan-
to para o bem-estar visual e mental dos pacientes e dos funcionários
quanto para o conforto térmico, tornando-se um elemento essencial
para a implementação de sustentabilidade em edifícios hospitala-
res. A grande parte desse conforto é proporcionada pela entrada,
direta ou indireta, de luz natural no interior dos ambientes. No entan-
to, como mencionado por Pizzolato (2014: p. 203), é imprescindível
que o arquiteto faça uma análise da posição e do tamanho das aber-
turas utilizando a carta solar, uma vez que a incidência solar é maior
em países tropicais, como o Brasil. Essa incidência, por sua vez,
pode causar um aquecimento excessivo e indesejado nos espaços,
além de ofuscar os usuários, causando irritação e outros problemas
de saúde. Sendo assim, o projeto de iluminação não se restringe
apenas à tarefa de adicionar a luz ao ambiente, como também con-
trolá-la, reduzindo ou eliminando sua presença dependendo da ne-
cessidade e do tipo de atividade a ser realizada no ambiente. Para
tal, se faz necessário a instalação de elementos de sombreamento,
como brise-soleil, para filtrar essa incidência solar.
Além desses elementos, Vilas-Boas (2011: p. 17) menciona
outras soluções projetuais que permitem a captação de luz de forma
indireta, tais como: a aplicação de grandes vãos de aberturas som-
breadas, especialmente nas áreas de recepção e espera, permitin-
do a entrada controlada de iluminação e a visão dos acontecimentos
externos ao edifício; e a instalações de sheds e aberturas zenitais,
que promovem iluminação e ventilação cruzada.
O conforto acústico depende igualmente das condições lo-
cais, de implantação do empreendimento no terreno e das caracte-
rísticas do edifício propriamente dito. Como mencionando no capí-
tulo anterior, o ruído está presente na realidade hospitalar, apesar
de sua existência ser uma controvérsia, podendo causar danos à
saúde, tanto de pacientes como de funcionários, além de prejudicar
a comunicação entre eles, gerando inúmeras fontes de estresse.
154
Como uma forma de contornar a situação, os arquitetos aplicam em
seus projetos elementos arquitetônicos espaciais e de isolamento
acústico, tanto para filtrar os ruídos externos como os internos (As-
BEA, 2012: p. 82). Concomitantemente, os profissionais de saúde
realizam a exigência do silêncio dos hospitais, como uma forma de
diminuir os barulhos gerados pelos seres humanos, principalmente
por considerar que a tolerância ao ruído diminui consideravelmente
durante todo o período em que o ser humano está doente (Anvisa,
2014: p. 50).
3.2.1.3. Energia
Aconstrução civil é um dos setores que mais consomem ener-
gia, utilizando-a ao longo de todo o ciclo de vida do edifício. Para
um EAS este consumo torna-se mais relevante, uma vez que a sua
falta pode comprometer a saúde dos pacientes, exigindo, portanto,
um funcionamento contínuo e ininterrupto. Como solução, muitos
hospitais apresentam geradores próprios, localizados nas casas de
máquinas e centrais de energia, sendo necessário um cuidado pro-
jetual para a sua localização e controle de acesso.
Além disso, alternativas para a geração de energia devem
ser aplicadas. Segundo Gauzin-Müller (2011: p. 115), o emprego de
energias renováveis deve ser parte integrante de uma estratégia po-
lítica que depende do contexto nacional e das suas potencialidades.
Dessa forma, estão inseridas desde a fase de concepção de projeto
e determinação do partido arquitetônico a ser adotado.
Dentre as fontes de energia renovável, as placas fotovoltai-
cas são as mais relevantes, por converterem a energia solar em
eletricidade por meio de semicondutores fabricados com compostos
de silício. Para os painéis fotovoltaicos poderem ser aproveitados
eficientemente, é necessário realizar um estudo quanto à orientação
solar, instalando-os nas fachadas e na cobertura do edifício.
Em 2015, a Lei brasileira 1525/2015 estabeleceu a obrigato-
riedade da instalação de painéis solares fotovoltaicos em hospitais
155
Figura 115 Vista aérea
do Hospital Universitá-
rio de Mirebalais, Haiti.
Fonte: Corneille, 2020.
públicos e privados do Estado de São Paulo. A presente lei foi elabo-
rada devido ao aumento anual de 3% no consumo final de energia,
o que significa que a energia gerada pelas placas fotovoltaicas não
somente abastece o edifício, como também pode ser usada para
abastecer a rede pública e/ou as construções do entorno (Alesp,
2015).
Essa situação pode ser exemplificada pelo Hospital Univer-
sitário de Mire­
balais (HUM) (Figura 115), localizado no Haiti. Esse
hospital, reconhecido como o maior hospital movido a energia solar
do mundo, apresenta 1800 painéis fotovoltaicos em seu telhado,
gerando mais de 100% de energia, que não só abastece o hospital
como também as construções ao redor, que dependem de uma rede
pública insuficiente (Alesp, 2015).
3.2.1.4. Água e efluentes
A água é um recurso cada vez mais desperdiçado nos paí-
ses industrializados, onde, segundo Gauzin-Müller (2011: p. 119),
cada habitante norte-americano consumia em média, na década de
2010, 1000 litros de água por dia, enquanto, em algumas regiões
mais precárias da América do Sul, África e Ásia, eram consumidos,
apenas, 40 litros/dia, indicando uma discrepância exorbitante rela-
cionada, sobretudo, à qualidade do sistema hídrico e ao seu acesso.
Hoje, segundo a Organização das Nações Unidas, o consumo bra-
156
sileiro por pessoa aumentou para um valor de, aproximadamente,
200 litros/dia (Sabesp, 2023), valores semelhantes a alguns países
europeus.
Dessa forma, é imprescindível que seja realizado um estudo
quanto a concepção do uso da água em um empreendimento, con-
siderando o impacto que este causará no entorno, na microbacia hi-
drográfica em que será inserido e no meio ambiente (AsBEA, 2012:
p. 61). Esse levantamento influenciará principalmente nas soluções
projetuais aplicadas, que, por sua vez, poderão interferir diretamen-
te no partido arquitetônico do edifício.
Segundo AsBEA,
“O melhor projeto será aquele que, dentro de uma análise
sistêmica de gestão de demanda e oferta de água, gerar
menores impactos ambientais e garantir ou melhorar a
qualidade das atividades realizadas pelos usuários, oca-
sionando benfeitoria ao entorno. Quanto maior a carên-
cia da infraestrutura local, mais complexas as soluções
de projeto para a gestão de demanda e oferta de água a
serem implantadas” (AsBEA, 2012: p. 61).
Além desses impactos, outros também podem ser gerados,
principalmente ao considerar a importância que a água apresenta
tanto para o correto funcionamento do edifício durante todo o seu
ciclo de vida como para auxiliar no seu equilíbrio térmico interno.
Dentre eles, destacam-se: o consumo de energia elétrica dos equi-
pamentos hidráulicos, o uso de produtos químicos nos sistemas de
tratamento, e a frequência de automonitoramento e o controle de
vazão de lançamentos, estabelecidos pelas exigências técnicas dos
órgãos de fiscalização ambiental (AsBEA, 2012: p. 62).
Na construção, existem várias medidas que favorecem o ge-
renciamento sustentável do ciclo da água, onde seus exemplares
são majoritariamente encontrados em construções residenciais.
Porém, é importante ressaltar que essas soluções projetuais estão
ganhando espaço no mercado, sendo encontradas também em edi-
fícios de grande porte, como escolas, edifícios corporativos e hos-
pitais, apesar deste último requerer alguns cuidados especiais em
virtude da preocupação com a proliferação de doenças e infecções
hospitalares.
157
Figura 116 Filtro autolimpante para
águas pluviais.
Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 119
Figura 117 Esquema de
instalação de recupera-
ção das águas pluviais
com cisterna enterrada
em residência.
Fonte: Gauzin-Müller,
2011: p. 119
Legenda:
1. Filtro autolimpante
2. Filtro
3. Cisterna
4. Filtro de aspiração
flutuante
5. Tubo de sucção
6. Bomba
7. Tubo sob pressão
8. Válvula automática
9. Ladrão
10. Painel de controle
11. Válvula magnética
12. Abastecimento de
água potável
13. Válvula de retenção
Dentre as medidas, é possível destacar: a
aplicação de tetos-jardins e coberturas verdes, onde
pode ser realizado a captação das águas pluviais; o
tratamento natural das águas servidas; a realização
da filtragem com sistemas autolimpantes (Figura 116)
antes de chegar à cisterna (Figura 117), ocorrendo a
separação entre a água e os corpos orgânicos pre-
sentes nas tubulações; a instalação, no interior do
reservatório, de duas etapas de depuração que não
necessitem de manutenção; o emprego de bombas
de baixo consumo de energia para a distribuição da
água reciclada; e a identificação de todo o sistema de
canalização com a menção “água não potável” (Gau-
zin-Müller, 2011: p. 119).
As águas pluviais podem ser utilizadas, principalmente, na
rega das áreas verdes, nas caixas de descarga dos vasos sanitá-
rios, na limpeza em geral e nas máquinas de lavar roupa. Na Ale-
manha, essas águas também são conduzidas a lagoas próximas,
158
Figura 118 Laguna-
gem no jardim do cen-
tro hospitalar de Järna,
no sul do Estocolmo.
Fonte: Gauzin-Müller,
2011: p. 120.
desenvolvendo um biótopo e propiciando o crescimento da flora e
da fauna locais (Gauzin-Müller, 2011: p. 121), reestabelecendo a
qualidade do meio ambiente.
Outra aplicação realizada é a Lagunagem, que representa
a depuração dos esgotos domésticos por meio de plantas aquáti-
cas. No sul de Estocolmo, esta solução foi aplicada no jardim do
centro hospitalar de Järma (Figura 118), onde sete reservatórios
são alimentados por fontes em cascatas integrados ao paisagismo
(Gauzin-Müller, 2011: p. 120). Isto mostra que é possível utilizar es-
sas soluções projetuais sustentáveis como auxiliadores ambientais,
uma vez que esses elementos ga-
nham atrativos visuais e auditivos,
além de tornar o ambiente mais
confortável termicamente. Porém,
é necessário sempre ter cuidados
com o PH da água, como forma
de controle para a proliferação de
mosquitos transmissores de doen-
ças, como a dengue.
A AsBEA (2012: p. 62) também enfatiza que, principalmente
nos centros urbanos, é importante que as águas que escoam de su-
perfícies com risco de poluição, como estacionamentos e zonas de
circulação de veículos, devem receber tratamento adequado antes
do seu descarte. Gauzin-Müller (2011: p. 121) traz um exemplo de
utilização dessa fonte de água, onde, após a filtragem, podem ser
integradas ao paisagismo que cerca as edificações, principalmente
para a rega da vegetação, diminuindo a quantidade de água potável
utilizada para tal e o custo dos edifícios.
Independentemente da solução projetual aplicada, é impor-
tante evidenciar que, quando houver o uso de fontes alternativas,
como água de reuso, águas pluviais ou subterrâneas, é necessário
um monitoramento contínuo da qualidade da água, realizado por
pessoas capacitadas, resguardando a saúde das pessoas e o de-
sempenho dos sistemas (AsBEA, 2012: p. 62).
159
Figura 119 Efeito oxigenante da vegetação.
Fonte: Brasil, 1995: p. 83.
3.2.1.5. Vegetação e jardinagem
A vegetação possui funções diretamente ligadas à renovação
da qualidade do solo e dos corpos d’água, bem como ao conforto
térmico e acústico das cidades e do ambiente construído, relacio-
nando-se, por sua vez, com o partido arquitetônico adotado e as
soluções de projetos empregadas no edifício.
Por meio da evaporação, as árvores também recuperam a
água absorvida pelas raízes, melhorando a umidade do ar das me-
trópoles. Em áreas urbanas, um hectare de bosque pode produ-
zir, por evapotranspiração, cerca de 5.000 toneladas de água por
ano (Brasil, 1995: p. 83). Em virtude de grandes centros urbanos
não terem áreas com vegetação arbórea, além de parques e praças
pontualmente locados, a necessidade de políticas urbanas para a
transformação de grandes avenidas em boulevards tem se tornado
uma prática crescente nas cidades, auxiliando na qualidade do ar e
no controle térmico.
Isso se dá porque a vegetação também interfere na tempe-
ratura local (Figura 120), podendo causar uma diminuição de 1 °C
a 4 °C (Gauzin-Müller, 2011: p. 68), tornando os ambientes mais
Conforme mencionado anterior-
mente, a área da saúde é responsável
por 4,6% das emissões mundiais de ga-
ses do efeito estufa (Oliveira, 2021: p.
05). A vegetação, por sua vez, é uma
das maneiras mais eficazes de lidar com
este problema, uma vez que, devido à
sua função clorofílica, realiza a evapora-
ção por fotossíntese, retendo o carbono
e liberando o oxigênio (Figura 119). De
acordo com diversos estudos realiza-
dos, 1 km² de massa arbórea pode libe-
rar 1000 t de oxigênio para a atmosfera
(Brasil, 1995: p. 83), o que, consequen-
temente, melhora a qualidade do ar.
160
Figura 120 Soluções
paisagísticas para redu-
ção de temperatura no
entorno das edificações.
Fonte: Anvisa, 2014: p.
24.
Figura 121 Detalhamentos da platibanda de um teto verde.
Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 120.
Legenda:
1. Vegetação rasteira
2. Camada de revestimento com Zincobum
3. Manta anti erosão em juta de trama larga
4. Substrato
5. Elementos de drenagem perfurados
6. Manta protetora e absorvente
7. Impermeabilização com proteção antirraízes
8. Calha.
confortáveis e frescos, sobretudo devido à queda da temperatura
dos elementos construtivos do edifício. Além dos grandes jardins e
canteiros com vegetação arbórea, outro elemento que tem ganhado
espaço nas construções sustentáveis são os jardins verticais, es-
pecialmente quando instalados nas paredes que sofrem insolação
durante todo o dia.
Em situações em que não é
possível implantar a vegetação no
nível do solo, muitos profissionais
preferem os chamados Tetos Ver-
des (Figura 121), ou Green Roofs,
apesar de essa solução também
apresentar outras denominações no
mercado internacional. Essa solu-
ção projetual, instalada nas cober-
turas dos edifícios, cobrindo-as de
forma parcial ou total, ajuda a com-
bater o efeito de ilha de calor.
161
De acordo com Vilas-Boas (2011: p. 16), essas áreas ajar-
dinadas são formadas por um sistema simplificado que permite o
crescimento de plantas e flores em canteiros sobre uma laje con-
vencional, absorvendo o calor e não o irradiando para a atmosfera,
como ocorre com as áreas concretadas.
Para tal, o arquiteto paisagista deve escolher criteriosamente
a vegetação adequada, conforme as condições de cada cidade e
as características físicas do edifício. As espécies mais baixas, que
crescem e se multiplicam rapidamente, são as mais adequadas por
terem uma grande resistência à seca e não necessitam de irriga-
ção ou adubação especiais (Vilas-Boas, 2011: p. 16), diminuindo
a necessidade frequente de manutenção e os gastos de água com
irrigação.
A vegetação, também, tem a propriedade de diminuir a po-
luição sonora, atuando como uma barreira acústica, dependendo
da densidade das áreas de vegetação e do tipo de planta (Gauzin-
-Müller, 2011: p. 68). Dado que o nível de ruído urbano próximo aos
edifícios hospitalares é, muitas vezes, elevado, em virtude dos EAS
estarem inseridos na malha urbana, nem sempre é possível implan-
tar grandes barreiras vegetais para esse fim, requerendo o uso de
outros elementos termoacústicos para proporcionar maior conforto
no interior do edifício. No entanto, em casos em que o terreno já
apresenta uma grande massa vegetal ou um dimensionamento que
permita uma permeabilidade maior do solo, o recomendado seria
que o arquiteto utilize a potencialidade máxima da vegetação.
3.2.1.6. Materiais
Conforme mencionado pelo próprio arquiteto Zanettini duran-
te entrevista, é possível realizar uma arquitetura de qualidade com
qualquer material e acabamento, independentemente do orçamen-
to disponível. Porém, quando se trata de edifícios hospitalares, é
preciso ter um maior cuidado ao escolher os materiais, sobretudo
porque eles não podem ser nocivos à saúde nem facilitar a infecção
hospitalar. Além dessas restrições, devem ser seguidas algumas re-
162
comendações, como o uso de materiais que sejam recicláveis, que
possam ser reutilizados ou biodegradáveis e que reduzam a neces-
sidade de manutenção.
Com isso, a especificação de materiais se torna outra ativida-
de projetual crucial para a construção de uma edificação hospitalar
sustentável. Com isso, os arquitetos devem também ser responsá-
veis pela conferência dos materiais, para ter certeza de sua toxici-
dade, além de implementar materiais provenientes de localidades
próximas e pela utilização de madeiras certificadas, de refloresta-
mento ou de demolição (Vilas-Boas, 2011: p. 18). O Guia de Sus-
tentabilidade na Arquitetura: diretrizes de escopo para projetistas e
contratantes complementa essa responsabilidade ao indagar que os
profissionais, no momento da especificação dos materiais, devem
buscar o atendimento e a adequação às normas de desempenho
vigentes, buscando todas as informações junto aos fornecedores ou
demais fontes disponíveis no mercado (AsBEA, 2012: p. 48).
Em relação ao uso da madeira, este material requer um cui-
dado especial. Gauzin-Müller (2011: p. 15) afirma que não é toda a
madeira que pode ser usada na construção civil, mesmo elas apre-
sentando certificações, uma vez que consomem energia em exces-
so durante o corte, além das grandes distâncias entre as regiões
de extração, de corte e de consumo no Brasil. Dessa forma, a sus-
tentabilidade deve também ser abordada criteriosamente, já que a
extração, o corte, o transporte e a instalação consomem recursos
naturais, causando danos ao meio-ambiente. Logo, a madeira de
reflorestamento é a mais adequada para se utilizar por ter um ciclo
de renovação relativamente curto e as distâncias entre as áreas de
reflorestamento e os principais centros consumidores são menores
(Gauzin-Müller, 2011: p. 15).
O surgimento de colas e vernizes à base de água aumentou
a variedade estética e a capacidade de aplicação destes materiais,
que, devido à sua baixa toxicidade, tornaram-se elementos frequen-
tes em edifícios hospitalares, especialmente no mobiliário, revesti-
mentos e elementos decorativos. Além disso, a madeira industriali-
zada, a qual também é utilizada em andaimes, escores, formas de
163
concreto, tapumes e barracos, não encerra seu ciclo de uso com a
desmontagem da obra. Estas devem ser reutilizadas, evitando-se
assim o desperdício e diminuindo a quantidade de RCD (Gauzin-
-Müller, 2011: p. 15).
Independentemente do material que será utilizado no projeto
hospitalar, o arquiteto deve sempre conferir a RDC 50/2002, que
descreve as características necessárias dos elementos aplicados
em pisos, paredes, tetos e esquadrias de cada ambiente do EAS.
Segundo a norma, os revestimentos de paredes, pisos e tetos de-
vem ser resistente nos ambientes de áreas críticas e resistentes à
lavagem e ao uso de desinfectantes, além de serem monolíticos,
apresentando o mínimo de ranhuras e frestas (Anvisa, 2022: p. 107),
para, sobretudo, evitar o crescimento o acúmulo de microrganismos
permitindo a proliferação de doenças e infecções.
3.2.1.7. Resíduos
A construção civil consome entre 20 e 50% dos recursos na-
turais do planeta, o que, consequentemente, resulta na quantidade
alarmante de Resíduos da Construção e Demolição (RCD), atingin-
do variações entre 40% e 70% da massa total de Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU) (Brasileiro; Matos, 2015: pp. 178,179). Essa ques-
tão ganhou relevância pública, uma vez que não se limita ao cantei-
ro de obras, mas abrange a produção, a distribuição, o manejo e o
transporte de materiais utilizados na construção de edifícios. Segun-
do Gauzin-Müller (2011: p. 129), cabe aos arquitetos persuadirem
os seus clientes da necessidade de diminuir os efeitos nocivos dos
resíduos, aplicando soluções para diminuir sua quantidade.
Em um canteiro de obras, são encontrados três tipos distintos
de resíduos, que necessitam de cuidados específicos para seu ma-
nejo e descarte. Em média, 65% são os inertes (terra, gesso, cerâ-
mica, vidro comum, lãs minerais e materiais de demolição); 29% são
os domésticos e similares (embalagens, madeira não tratada, metal,
plástico e materiais de demolição misturados); e 6% são os resíduos
perigosos ou nocivos (tintas, madeiras tratadas com derivados de
164
metais pesados, amianto e hidrocarbonetos) (Gauzin-Müller, 2011:
p. 131). Para conseguir diminuir a quantidade dos resíduos, o pri-
meiro passo, segundo a AsBEA (2012: P. 54), é a especificação ade-
quada de materiais e sistemas construtivos, conferindo ao edifício
durabilidade, além de definir os impactos ambientais ao longo do
ciclo de vida do empreendimento.
Zanettini, em entrevista, afirmou que os RCD também repre-
sentam grandes despesas aos empreendimentos, representando
30% do valor investido, uma perda considerável e que pode ser con-
tornada não apenas com soluções projetuais, como com a escolha
dos materiais e a industrialização da construção. Em seus projetos,
o arquiteto trabalha com a construção industrializada, tornando os
canteiros de obras em locais de montagem, reduzindo consideravel-
mente os resíduos ao utilizar elementos pré-fabricados de concreto
e metálico.
Essa prática pode ser observada em outros projetos, tanto
nacionais quanto internacionais, muitas vezes incentivada por agen-
tes governamentais. Na França, a Agência para o Meio Ambiente e
o Controle da Energia (Ademe) 51
financiou o programa denominado
“canteiros de obras verdes”, que, além de limitar os efeitos nocivos e
a poluição, possibilitou a seleção dos resíduos no local para facilitar
a reciclagem e o reaproveitamento dos RCD, resultando numa redu-
ção de cerca de 20% nos resíduos devido à utilização de elementos
industrializados com dimensões de fábricas, como: divisórias, pai-
néis de madeira e pisos (Gauzin-Müller, 2011: pp. 129,130).
Brasileiro e Matos (2015: p. 182) argumentam que diversos
países desenvolvidos, como a Alemanha, a Coreia e o Japão, apre-
sentam leis que incentivam a utilização de materiais reciclados, mui-
tas vezes aplicando cobranças com valores elevados para a deposi-
ção de RCD em aterros, contribuindo para o incentivo à reciclagem
dos resíduos, resultando na redução da sua deposição no solo e,
consequentemente, na diminuição da poluição do solo e dos lençóis
freáticos. No Brasil, não havia nenhuma política pública voltada para
os resíduos gerados pelo setor da construção civil até 2002, ocasio-
nando a falta de controle sobre o despejo ilegal de resíduos, sobre-
5 Agence de l’Environnement et de la Maîtrise de l’Ènergie (Ademe)
165
tudo os perigosos ou nocivos. A Resolução n.º 307 do Conselho Na-
cional de Meio Ambiente (CONAMA), publicada em 05 de julho de
2002, estabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos para a sua
gestão, visando proporcionar benefícios conforme os três pilares da
sustentabilidade. Dois anos depois, a resolução n.º 348 do CONA-
MA que altera o item IV do artigo 3 da Resolução n.º 307, onde:
“Considerando-se que os resíduos dessa natureza re-
presentam um significativo percentual dos resíduos só-
lidos produzidos nas áreas urbanas e que a disposição
de resíduos da construção civil em locais inadequados
contribui para a degradação da qualidade ambiental, os
Municípios são os responsáveis pela gestão e destina-
ção ambientalmente correta de tais resíduos, buscando
a efetiva redução dos impactos ambientais” (Brasileiro;
Matos, 2015: p. 182).
Sendo assim, é relevante salientar a importância do cuidado
com resíduos, sobretudo tendo em mente que os edifícios hospita-
lares são construções em constante transformação devido à neces-
sidade de expansão e manutenção. Ao aplicar sistemas construtivos
que permitam a mudança facilitada no layout dos ambientes, facili-
tando a sua desmontagem, contribuir para auxiliar da reciclabilidade
dos materiais, aumentando, assim, o ciclo de vida do edifício.
3.3. Aparato legal e certificações
A partir da publicação do Relatório Brundtland, na década de
80, os países começaram a desenvolver políticas de normatização e
acreditação para incentivar a aplicação da sustentabilidade no setor
da construção civil, sobretudo por ser extremamente poluente, com
altos valores de emissão de CO² e geração de resíduos oriundos,
principalmente, dos canteiros de obras. Em 2011, por exemplo, foi
estimado, no Reino Unido, que o setor de construção era respon-
sável por quase metade das emissões de CO², seja pelo consumo
de energia, seja pela produção de materiais de construção (Gauzin-
-Müller, 2011: p. 34).
166
Quadro 8 Critérios do BREEAM
Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 34.
Assim, buscaram utilizar todo o aparato legal e de acreditação
como uma forma de incentivar o mercado a aderir à sustentabilida-
de, independentemente de seu pilar: social, econômico ou ambien-
tal. No Reino Unido, em 1990, a Fundação Britânica de Pesquisa da
Construção (Biulding Research Estabilishment - BRE) lançou o Mé-
todo de Avaliação Ambiental da BRE, ou Environmental Assessment
Method (BREEAM), que, apesar de inicialmente ser voltado para
edifícios de escritórios, se tornou uma das primeiras abordagens
ambientais, apresentando uma tabela de avaliação composta por
diversos critérios (Quadro 8), os quais são quantificados e utilizados
para a avaliação das construções. Atualmente, esse tipo de creden-
ciamento pode ser aplicado em quatro tipos de programas, sendo
habitação, serviços, comércio e indústria (Gauzin-Müller, 2011: p.
34)
Critérios Gerais
• Gerenciamento;
• Saúde e bem-estar;
• Energia (consumo e emissões de CO2);
• Transporte (distâncias e emissões de CO2);
• Consumo de água;
• Impacto ambiental dos materiais;
• Utilização do terreno (superfícies verdes e superfí-
cies impermeabilizadas);
• Valorização ecológica do sítio;
• Poluição do ar e da água.
Concomitantemente, a certificação mais difundida em solo
francês é a da Alta Qualidade Ambiental (Haute Qualité Environne-
mentale HQE) que, ao contrário de outros países europeus, visa as-
segurar um compromisso entre os agentes envolvidos, unindo uma
lógica de qualidade e conforto ambiental, aplicada à construção ci-
vil, aos princípios de gerenciamento necessários para sua correta
aplicação. Esta certificação apresenta catorze objetivos agrupados
em quatro temas (Quadro 9), o que, devido à sua grande comple-
xidade ambígua, torna-se um desafio para os profissionais, além
167
Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 34.
Quadro 9 Os 14 objetivos do Alta Qualidade Ambiental (HQE)
No Brasil, no que diz respeito à sustentabilidade, arquitetos
podem seguir a Agenda 21, a certificação ISO 14000 e a Normativa
n.º 1/2010, do Ministério do Planejamento, para, acima de tudo,
Os 14 objetivos do Alta Qualidade Ambiental
(HQE)
Controle dos impactos sobre o ambiente externo
Ecocons-
trução
• Relação harmoniosa do edifício com o
meio ambiente imediato;
• Escolha integrada dos sistemas e mate-
riais de construção;
• Canteiros de obras de baixo impacto.
Ecoges-
tão
• Gestão da energia;
• Gestão de água;
• Gestão dos resíduos de atividades;
• Conservação.
Criação de um ambiente interno satisfatório
Conforto • Conforto higrométrico;
• Conforto acústico;
• Conforto visual;
• Conforto olfativo.
Saúde • Concisões sanitárias;
• Qualidade do ar;
• Qualidade da água.
“[…] economizar nos gastos com manutenção e operação
dos edifícios públicos, além de reduzir o consumo de energia
e água, usando tecnologias e materiais que reduzam o im-
pacto ambiental” (Vilas-Boas, 2011: p. 14).
É perceptível que não há uma norma brasileira específica
para a aplicação deste princípio em edifícios hospitalares, sendo
168
de ser uma necessidade indispensável de aplicação (Gauzin-Müller,
2011: p. 36).
necessário que os profissionais adotem certificações nacionais e in-
ternacionais, tanto em relação às edificações quanto aos materiais
utilizados na construção, a fim de alcançar o máximo de objetivos
e exigências solicitadas. Ainda assim, a avaliação sustentável da
construção de EAS deve iniciar com estudos de impacto ambiental
da obra, podendo, inclusive, desaconselhar a sua execução (Brasil,
2015: p. 39).
Algumas das exigências que arquitetos, construtoras e de-
mais profissionais devem seguir são: o descarte adequado dos re-
síduos provenientes de canteiros de obras em aterros sanitários ou
usinas de tratamento de lixo; a aplicação e a instalação de procedi-
mentos para reduzir o consumo de energia, como a implantação de
energia solar; a utilização de materiais atóxicos, reciclados e biode-
gradáveis, que reduzem a necessidade de manutenção constante;
e a utilização de madeira com identificação e comprovação de sua
origem (Vilas-Boas, 2011: p. 15).
Estas são englobadas em diversas Certificações de Quali-
ficação, tais como: o Programa Brasileiro de Qualidade na Produ-
ção – Habitação (PBQP-H); o Programa Setorial de Qualidade, que
visa objetivar os níveis de qualidade dos produtos cerâmicos; o Pro-
grama de Eficiência Energética; o Black Economic Empowerment
(BEE), uma certificação internacional que estabelece critérios de
desempenho energético nas edificações; e o Leadership in Energy
and Environmental Design (LEED) (Góes, 2011: pp. 195,196).
Esta última é a mais utilizada pelos brasileiros no ramo da
construção civil, visando avaliar e certificar as construções nos pa-
râmetros propostos pelo Green Building Council dos Estados Uni-
dos (US-BGC), que estabeleceu quatro níveis de certificação (Qua-
dro 10). Ao contrário de outras certificações, as recomendações do
LEED, segundo Bross (2013: p. 173):
“[…] cobrem toda a fase de concepção do projeto,
chegando até a operação e manutenção das edifica-
ções, tendo, como exemplo: o estudo de viabilidade
do negócio, a Localização do terreno, o Estudo de
Concepção arquitetônica e das engenharias com re-
comendações para os Projetos Executivos, a Cons-
169
trução, a Operação, a Manutenção dos edifícios e a Geração
e Remoção de Resíduos” (Bross, 2013: 173).
NÍVEIS DE CERTIFICAÇÃO LEED
• Certified, 26 a 32 pontos (40 a 60%)
• Silver, 33 a 38 pontos (51 a 60%)
• Gold, 39 a 51 pontos (60 a 80%)
• Platinum, > 52 pontos. [195]
Estas recomendações abrangem desde a concepção de pro-
jeto até a construção e eventual manutenção das edificações. As-
sim, não apenas analisa questões que dizem respeito à construção
civil, como energia e água, como também incentiva uma melhoria
na qualidade de vida da comunidade (USGBC, 2023), apresentando
dez categorias (Quadro 11). São elas: LEED NC (New Construcion),
para novas construções e grandes projetos de renovação; LEED EB
(Existing Building), para edifícios existentes; LEED CI Comercial In-
terior, para projetos de interiores em edifícios comerciais; LEED CS
(Core e Shell), para projetos do envoltório do empreendimento e das
características arquitetônicas dos ambientes internos; LEED SCHO-
OL, certificação exclusiva para escolas; LEED ND (Neighbourhood),
focado na avaliação e desenvolvimentos de bairros urbanos e co-
munidades; LEED FOR HOME: residencial (USGBC, 2023). Bross
(2013: p. 173), complementa esta lista com os seguintes itens: LEED
Retail, voltado para varejo, e LEED For healthcare, focado nos EAS,
sobretudo hospitais. No entanto, ambas as categorias continuam
em fase de desenvolvimento para aplicação, sobretudo no Brasil.
170
Fonte: Góes, 2011: p. 195.
Quadro 10 Níveis de certificação LEED
Leadership in Energy and Environmental Design é um sistema norte-americano
de certificação aplicado pelo USGBC (United States Green Builing Council), que
considera o impacto gerado no meio ambiente em conse¬quência dos processos
relacionados ao edifício (projeto, construção e operação).
Como funciona Pontua soluções nos quesitos: espaço sustentável, locali-
zação, entorno, eficiência no uso de água, energia, quali-
dade do ar, uso de materiais, qualidade ambiental interna,
inovação e processos.
Uso um checklist com as principais exigências das sete
categorias.
Classificação • Certified, 26 a 32 pontos (40 a 60%)
• Silver, 33 a 38 pontos (51 a 60%)
• Gold, 39 a 51 pontos (60 a 80%)
• Platinum, > 52 pontos. [195]
Categoria de análise LEED NC (New Construcion)
LEED CS (Core e Shell).
LEED CI (Comercial Interior). Complementa o LEED CS.
LEED ND
LEED School
LEED EB (Existing Building).
LEED FOR HOME: residencial
LEED RETAIL: Lojas
LEED Healthcare
Participação/custos Taxa de cadastro: US$ 600.
• Projetos com até 5000 m² pagam mais US$ 2500.
• De 5000 até 50000 m² pagam mais US$ 0,45 por m²
• Acima de 50000 m³ mais US$ 22500
Consultoria: aproximadamente 1% do custo da obra.
171
Fonte: adaptada de Góes, 2011: pp. 195,197.
Quadro 11 Síntese do Certificado LEED
3.4. Exemplos de aplicação da sustentabili-
dade na construção civil
3.4.1. Hospital Universitário de Mirebalais
HMU, Haiti
O presente tópico objetiva levantar exemplos da aplicação
da sustentabili-dade na construção civil. A escolha desses projetos
para análise se deu pelo fato de sua relação com a área da saúde,
pelos benefícios ocasionados e pelos aspectos projetuais e constru-
tivos.
O hospital universitário de Mirebalais está localizado no Pla-
nalto Central do Haiti e é considerado como “o maior projeto de
reconstrução pós-terremoto no setor de saúde pública” (Corneille,
2020). O projeto, desenvolvido pelo Nicholas Clark Architects em
conjunto com a organização norte-americana Build Health Interna-
tional, alcançou um reconhecimento mundial, uma vez que é um
edifício hospitalar extremamente sustentável, demonstrando ser
possível atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável em
EAS, sobretudo nos que apresentando grande porte.
Como o maior e mais avançado hospital público no Haiti, a
equipe de de-signers e arquitetos trabalhou em conjunto com médi-
cos e enfermeiros habituados ao contexto local para definir as espe-
cificidades do projeto, o seu partido arquitetônico e os recursos de
biotecnologia que seriam implantados no hospital para oferecer cui-
dados de alta qualidade (Build Health International, 2023). O com-
plexo hospitalar, com 205 mil metros quadrados de área construída,
é composto por sete edifícios (Figura 122) de, no máximo, 2 pavi-
mentos, onde o bloco central apresenta 6 salas de cirurgias, central
de radiologia, alas de internação e setor ambulatorial. Nos demais
blocos concentram-se as salas e laboratórios variados, tornando-o
em um grande centro de ensino e pesquisa nas áreas médicas (Mei-
nhold, 2011).
172
Figura 122 Vista superior do Hospital. Fonte: Meinhold, 2011
Figura 123 Planta baixa
do primeiro pavimento
hospital.
Fonte: Meinhold, 2011
Dada a ocorrência de cortes de energia no Haiti que, em mé-
dia, duram três horas por dia, os arquitetos optaram por instalar 1800
painéis solares no telhado do hospital (Figura 123). Estes equipa-
mentos produzem até 140 megawatts/hora de eletricidade nos dias
com insolação mais intensa, suprindo todas as necessidades diárias
de energia do hospital, além de uma demanda adicional, que, por
sua vez, é direcionada a rede pública, alimentando as construções
próximas (Inhabitats, 2013).
173
Figura 124 Esquema de
ventilação cruzada das
enfermarias.
Fonte: Meinhold, 2011
O hospital também apresenta outras soluções sustentáveis
aplicadas em seu projeto. Nele, os jardins e pátios internos estão
localizados próximos às salas de espera e quartos de internação
(Figura 123), permitindo o conforto dos pacientes e estimulando
o resfriamento dos ambientes internos. Os quartos de internação,
com plantas em formato de “L”, apresentam aberturas altas que per-
mitem a ventilação cruzada (Figura 124), tornando o ambiente mais
salubre, com temperaturas mais amenas e melhores condições am-
bientais, servindo como auxiliadores no tratamento de pacientes
com doenças respiratórias. Além desta solução, aberturas zenitais
auxiliam na entrada controlada de iluminação natural, transforman-
do a própria cobertura em um elemento de sombreamento. Segun-
do Meinhold (2011), esse aproveitamento das condições naturais de
ventilação e iluminação fizeram com que grande parte de energia
solar seja direcionada para o funcionamento dos equipamentos hos-
pitalares.
Além da movimentação de ar, o hospital também realiza o
tratamento de seus resíduos, onde uma estação de tratamento de
águas residuais torna a água do afluente que o alimenta mais limpa,
auxiliando na profilaxia e na diminuição da disseminação de doen-
ças como cólera (Inhabitats, 2013).
Essas soluções projetuais demonstram que edifícios hospita-
lares em países em desenvolvimento podem, sim, atingir um nível
elevado de sustentabilidade, aproveitando das condições naturais
dos locais de implantação ao mesmo tempo que servem como ele-
mentos auxiliadores do entorno, gerando benefícios tanto para o
meio ambiente como para a sociedade.
174
Figura 125 Vista
aérea do hospital.
Fonte: Google Earth,
2023.
3.4.2. Hospital Mater Dei, Belo Horizonte /
Brasil
O Hospital Mater Dei, de autoria do arquiteto Siegbert Za-
nettini, foi inaugurado em 2011, em Belo Horizonte, tendo seu pro-
jeto caracterizado, sobretudo, pelos princípios da sustentabilidade,
conservação ambiental e eficiência energética. Este hospital, com
310 leitos, atende mais de 3.000 pessoas por dia (Zanettini Arquite-
tura, 2023) e oferece todos os serviços de um EAS de grande porte
e complexidade, como um centro cirúrgico completo, restaurantes,
helipontos, Pronto Socorro, Centro de Tratamento Intensivo com
163 leitos, dentre outros (Rutman, 2011: p. 82).
Essa complexidade se estende também ao partido arquitetô-
nico, uma vez que o seu dimensionamento foi determinado pelo for-
mato trapezoidal do terreno (Figura 125) (Rutman, 2011: p. 82). Em
entrevista com a IPH (2014: p. 26), Zanettini afirmou que essa obra
totalizou 70 mil metros quadrados, se tornando o maior hospital de
Minas Gerais, onde, em virtude, sobretudo, da quantidade de vagas
para estacionamento, seria inviável que o partido horizontal fosse
adotado.
O terreno foi escolhido devido à
facilidade de acesso e à extensa área
verde existente, incorporada no proje-
to pelo arquiteto (Figura 126) (Impren-
sa Zanettini, 2023), onde, ao atender
todas as condicionantes locais, como
o desnível com cotas diferentes em to-
das as vias de contorno, possibilitou a
determinação de diferentes entradas,
em níveis diversos (IPH, 2014: p. 26).
Essa massa arbórea do entorno
trouxe benefícios significativos para o
hospital, sobretudo no que diz respei-
to ao conforto termoacústico, atuando
como uma barreira contra a incidência
175
Figura 126 Foto interna de
um dos restaurantes.
Fonte: acervo do escritório
Zanettini Arquitetura, 2012.
solar e o ruído do entorno nos pavimentos inferiores (Figura 126).
Segundo o depoimento do presidente do Hospital Mater Dei, foi de-
senvolvido um hospital que fosse autossustentável, aplicando solu-
ções desde a implantação até as características construtivas. Além
disso, Zanettini buscou contribuir para a meio ambiente local, de-
senvolvendo uma arquitetura industrializada com resíduo zero (Im-
prensa Zanettini, 2023).
Conforme depoimento do Arqto. Zanettini, buscou-se alongar
a vida útil da edificação ao adotar soluções sustentáveis (Impren-
sa Zanettini, 2023), dentre elas, a racionalização do consumo de
água e energia, tanto no hospital quanto durante sua construção, e
a implantação de coberturas ajardinadas. Estas contribuíram para
aumentar a área permeável do projeto, permitindo a captação de
água pluvial e o conforto térmico dos ambientes internos do (Rut-
man, 2011: p. 82).
Além disso, tendo em vista a preocupação com a qualidade
do ambiente construído, os materiais e acabamentos foram criterio-
samente selecionados, sempre seguindo o princípio da sustentabi-
lidade, destacando-se: os revestimentos externos com aplicação de
chapas de ACM, as esquadrias acústicas de vidro insulado azul com
persiana interna para escurecimento de alguns ambientes, e brises
para assegurar o conforto térmico (Figura 127). (Imprensa Zanettini,
2023).
176
Figura 127 Vista do revestimento externo em ACM branco e verde e vidro insulado azul.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura
Este projeto é um exemplo de aplicação da sustentabilida-
de desenvolvida pelo arquiteto Zanettini, destacando-se pela forma
como foi implantado, sobretudo pelo fato de o arquiteto utilizar a
vegetação natural como partido arquitetônico, sem a derrubada de
nenhuma árvore, o que é incomum no Brasil, especialmente em ter-
renos situados na malha urbana de grandes centros urbanos.
3.5. Dificuldades enfrentadas atualmente
em relação à sustentabilidade.
Apesar de ser bastante aplicada na arquitetura residencial e
corporativa, a sustentabilidade ainda é desconsiderada na maioria
dos projetos de EAS no Bra¬sil (Vilas-Boas, 2011: p. 13), acarretan-
do dificuldades técnicas e teóricas, uma vez que os edifícios hospi-
talares são construções geradoras de uma quantidade abundante
de resíduos e grandes consumidores de água e energia.
Essa argumentação também é defendida por outros autores e
pesquisadores, que apresentam pontos relevantes sobre o contexto
brasileiro. Gauzin-Müller (2011: p. 14) argumenta que a maioria das
edificações construídas no Brasil não conta com a participação de
177
um arquiteto em nenhuma etapa de seu desenvolvimento, apresen-
tando um projeto pouco adequado ao clima e ao contexto brasileiro.
Além disso, uma vez que algumas soluções projetuais sustentáveis
apresentam, de início, valores mais elevados no mercado, muitos
empresários decidem não as aplicar em seus projetos hospitalares,
como uma forma equivocada de economizar no orçamento.
Ao mesmo tempo, o crescente interesse econômico pela
imagem do edifício sustentável, verde ou ecológico, vinculada ao
sistema de certificação de desempenho ambiental existente no
mercado, faz com que, segundo Gonçalves e Bode (2015: p. 523),
esse interesse, às vezes, seja superior ao entendimento e ao inte-
resse pelo real desempenho ambiental. Vilas-Boas também obser-
vou esse problema, onde, segundo ela (2011: p. 12), o princípio da
sustentabilidade tem sido, nas últimas décadas, aplicado de forma
generalizada nas construções, sem o devido cuidado e aprofunda-
mento.
Sobre as certificações, outras questões são levantadas. Góes
(2011: p. 197), por exemplo, defende que, em virtude da não exis-
tência de critérios de certificação genuinamente brasileiros, as em-
presas de construção civil acabam por utilizar o LEED para avaliar e
certificar suas obras, porém seria necessário, em suas palavras:
178
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
Siegbert Zanettini (n. 1934) é um arquiteto paulistano forma-
do pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo (FAU-USP, turma de 1959). Em 1664, tornou-se professor
assistente na FAU-USP, aposentando-se 40 anos depois como pro-
fessor titular. Conforme a entrevista concedida à revista IPH (2014:
p. 23), o arquiteto revelou que ocupou diversos cargos acadêmicos
ao longo de sua carreira, variando desde diretor de departamento a
membro de congregação. Nesse período, produziu diversos traba-
lhos, convergindo o seu conhecimento intelectual com a experiência
profissional, fundamentando uma análise crítica das crises cíclicas
enfrentadas pela realidade urbana das cidades e a busca constante
pela renovação científica e cultural (Zanettini, 2002: p. 14).
Segundo o depoimento de Hélio Duarte publicado em Sie-
gbert Zanettini (Cadernos Brasileiros de Arquitetura – volume oito)
(1981: p. 06), o arquiteto teve um papel fundamental na criação de
uma metodologia de ensino para as disciplinas de Projeto e Planeja-
mento e de Plástica e Desenho Industrial, que “deveriam ser desen-
volvidas convergentemente para a solução de uma única temática”,
o que ainda não era realizado.
A mudança da FAU da escala residencial da Vila Penteado
para a nova sede projetada por Vilanova Artigas representou um
novo desafio, uma vez que ocorreu um aumento de 80 para 150
alunos por turma (Fujioka; Severino, 2018: p. 40), o que exigiu que
os professores desenvolvessem uma nova forma de transmitir o co-
nhecimento em sala de aula (Duarte, 1981: p. 06). Em O Ensino de
Projeto na Área de Edificações, o arquiteto examina os principais
desafios educacionais na arquitetura, apontando o desinteresse das
Capítulo 4
Arqto. Siegbert Zanettini: ideiais e
obras
180
políticas governa¬mentais nas questões culturais, como um dos
principais problemas enfrentados. Além disso, apresenta soluções
em relação às questões estruturais e de ensino nas universidades,
nos departamentos e nas disciplinas (Zanettini, 2002: p. 14).
Ao contrário de outros acadêmicos, Zanettini não se limitava
à pesquisa teórica. Segundo Eduardo de Almeida (1981: p. 08), o
arquiteto, desde aquele período, também trazia para a vida acadê-
mica e para a sala de aula seu conhecimento como profissional, de-
senvolvendo projetos e técnicas construtivas como um “verdadeiro
pesquisador num contínuo processo de renovação”, que surgem da
reflexão sobre as relações entre o meio e o edifício. De acordo com
depoimentos de alunos da FAU-USP na década de 1980, Zanettini
sempre enfatizava a importância da pesquisa na busca de soluções
adequadas que fossem fruto da inovação pioneira em materiais e
técnicas, mesmo nos exercícios das disciplinas de Projeto ministra-
das ao 1º ano (Fujioka; Severino, 2018: p. 42).
Além disso, o arquiteto também mencionava aos alunos o
seu aprendizado em marcenaria, adquirido com o pai, um mestre
marceneiro, que o levou a amar a madeira como material de arquite-
tura e design. Essa paixão se manifestou no texto Uso da madeira,
publicado no Siegbert Zanettini (Cadernos Brasileiros de Arquitetura
– volume oito) (1981: pp. 44-47) e nos projetos residenciais que rea-
lizou, destacando o detalhamento executivo da Residência Raphael
de Freitas, construída em 1973 na capital paulista (Fujioka; Severi-
no, 2018: p. 42).
Embora tenha se aposentado em 2004, nunca deixou de lado
a paixão por ensinar e divulgar conhecimentos, participando cons-
tantemente em eventos acadêmico-científicos e ministrando aulas
e palestras tanto para cursos de especialização, como o de Arqui-
tetura Hospitalar do Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e
Pesquisa, quanto para outros profissionais. Em 2019, por exemplo,
o arquiteto participou da Semana de Sustentabilidade São Camilo,
onde apresentou a relevância da arquitetura hospitalar para médi-
cos, enfermeiros e outros profissionais que atuam tanto no funciona-
mento dos hospitais dessa rede quanto no ato de cura.
181
4.1. O livre exercício da profissão
Zanettini já realizava projetos e obras antes de se formar, en-
quanto cursava o seu terceiro ano de graduação. No entanto, foram
os primeiros anos da década de 1960 que registraram o início da
experiência profissional como arquiteto formado, o que fez emergir
lacunas conceituas relevantes para o entendimento, sobretudo, da
construção civil. Isso motivou o arquiteto a retomar os estudos, ao
mesmo tempo em que buscava novas referências teóricas para fun-
damentar e orientar a sua produção arquitetônica (Zanettini, 2002:
p. 21).
No final deste período, a consciência do quadro crítico do
momento político brasileiro colide com a reavaliação crítica do pró-
prio “fazer arquitetônico” (Zanettini, 2002: p. 21). Dessa forma, ini-
cia-se a revisão dos fundamentos da obra produzida, marcada por
importantes construções, como a Maternidade Escola Vila Nova
Cachoeirinha (Figura 128), primeiro edifício hospitalar projetado por
Zanettini.
O hospital, projetado em 1968, está situado na Zona Norte da
cidade de São Paulo e, segundo Segawa et al. em Siegbert Zanetti-
ni (Cadernos Brasileiros de Arquitetura – volume oito) (1981: p. 34),
foi o vencedor do concurso privado promovido pela Secretaria de
182
Figura 128 Maternidade
escola vila nova cacho-
eirinha. Fonte: acevo do
Zanettini Arquitetura
Figura 129 Croqui de im-
plantação.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 63
Higiene e Saúde da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP). Em
1971, foi premiado na exposição anual do Instituto de Arquitetos do
Brasil São Paulo (IAU/SP), na categoria Projetos de Edifícios para
fins de Saúde. Este corresponde ao primeiro projeto realizado para
o conjunto médico-hospitalar, onde, em um primeiro momento, ape-
nas a maternidade com 90 leitos foi construída, totalizando 8.500 m²
(Xavier; Corona; Lemos, 1983: p. 100).
Inicialmente, o local de implantação do edifício foi concebido
para abrigar um dos maiores cemitérios da capital, o que levou à
mudança para um terreno próximo. Nele foi projetado um conjunto
médico-hospitalar composto por dois blocos interligados por ram-
pas, com uma área de 120 mil metros quadrados (Figura 129) (Za-
nettini, 2002: p. 64).
O bloco leste, com uma volumetria retangular de 22 m x 60
m, abriga as funções de assistência concentrada. No térreo, estão
os serviços gerais e de apoio ao funcionamento do hospital, como
a cozinha, a lavanderia, o almoxarifado, o vestiário e a administra-
ção. No pavimento superior, estão o centro obstétrico, as salas de
higienização, o preparo de parto, a recuperação pós-operatória, a
central de esterilização e os vestiários dos médicos e enfermeiras
(Xavier; Corona; Lemos, 1983: p. 100). Segundo Zanettini (2002:
183
Figura 130 Setorização do hospital. Fonte: Zanettini, 2022: p. 63
p. 65), as unidades pós-operatórias estão localizadas ao lado dos
quartos, tendo os postos de enfermagem ao centro.
O bloco oeste, com dimensões semelhantes, abriga, nos dois
pavimentos superiores, as enfermarias e o berçário, além de um
posto de saúde polivalente (Xavier; Corona; Lemos, 1983: p. 100).
Essa separação foi idealizada devido à complexidade do atendi-
mento e à necessidade de cuidado constante dos profissionais (Za-
nettini, 2002: p. 65), estruturando, dessa forma, o partido horizontal
adotado pelo arquiteto (Figura 130).
Este hospital demonstra a aplicação de questões projetuais,
bem como o desenvolvimento de soluções e elementos construtivos
que Zanettini incorpora aos outros projetos hospitalares que realiza.
Até os dias atuais, esse edifício é considerado um dos exemplos de
projetos hospitalares brasileiros, sendo considerado uma referên-
cia, sobretudo devido às suas qualidades espaciais e às soluções
projetuais aplicadas.
184
Figura 131 Foto interna de uma das
rampas de acesso.
Fonte: acervo do escritório Zanettini
Arquitetura.
Figura 133 Foto do canteiro central.
Fonte: acervo do escritório Zanettini
Arquitetura.
A humanização espacial e a sustentabilidade já são aplicadas
neste projeto, onde o arquiteto demonstra preocupação com o confor-
to dos pacientes. Em termos de humanização, é importante salientar
a presença de uma paleta de cores marcada pelo laranja e pelo azul
no piso em manta do edifício (Figuras 131 e 132), além do amarelo
dos brises metálicos; o posicionamento das aberturas, voltadas prin-
cipalmente para o cinturão verde, os jardins internos (Figura 133) e a
cidade; e o projeto paisagístico. Dado que o cemitério está situado nas
proximidades do terreno, um cinturão verde foi utilizado como barreira
visual, ao mesmo tempo em que foram projetados jardins internos no
nível do térreo, que podem ser acessados tanto fisicamente quanto
visualmente pelos pacientes (Figura 134).
185
Figura 132 Foto do quarto de
recuperação.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 67
Figura 134 Planta do hospital
evidenciando o canteiro central.
Fonte: Xavier; Corona; Lemos,
1983: p. 100
Legenda:
1. Apoio médico
2. Sala de parto
3. Trabalho de parto
4. Rampas
5. Enfermaria
A sustentabilidade pode ser observada sobretudo na utiliza-
ção de divisórias leves (Figura 135) e do piso em manta, desenvolvi-
do pelo arquiteto, que reduz as reentrâncias e torna mais fácil a ma-
nutenção e a mudança de layout dos ambientes, e pela disposição
das aberturas, do piso ao forro, encobertas com brise metálico, que
permitem a ventilação natural e o controle da entrada de luz natural
dentro das enfermarias (Figura 136).
186
Figura 135 Enfermaria.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 67
Figura 136 Detalhe da caixilharia.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 67
A década de 1970 foi marcada pelo aumento significativo de
sua produção, tanto de cunho profissional como acadêmico. Há uma
perspectiva de uma abordagem mais sistêmica quanto à produção
dos edifícios e a possibilidade de se usar outros materiais construti-
vos, como a madeira e a estrutura metálica (Zanettini, 2002: p. 73).
Essa variada gama arquitetônica, desde residências até igrejas e
indústrias, ainda demonstrava o repertório modernista, ao mesmo
tempo em que apresentava o caráter inovador do arquiteto em sua
constante busca pelo aperfeiçoamento de sua arquitetura.
Zanettini desenvolve, a partir desta década, experiências sig-
nificativas com a madeira, demonstrando o seu envolvimento com
questões relacionadas às condições ambientais. Isso se deve ao
fato de que, ao contrário de outros países, como Finlândia, Japão e
Noruega, que consideram a madeira como um elemento nobre, de
uso valorizado e para fins específicos, no Brasil, esse elemento foi
mantido em uma posição muito secundária, o que resultou numa
visão predatória da paisagem (Segawa et al., 1981: p. 44). Nessa
187
Figura 137 Esquema de ventilação natural.
Escola estadual de 1º grau.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 130
perspectiva, Zanettini optou por utilizar madeiras de reflorestamen-
to como matéria-prima para seus projetos, aplicando um sistema
industrializado de vigas compostas de pinho, que, até então, era
pouco explorado pela construção civil (Zanettini, 2002: p. 73).
Em relação as suas experiências com aço, Zanettini, inicial-
mente, se limitava a usar a estrutura em condições mais ou menos
convencionais, tirando proveito do vazio criado pelos elementos
treliçados. Mais tarde, trabalhou com formas variadas, explorando
novas possibilidades de espaço, otimizando a articulação dos ele-
mentos lineares dos treliçados e evoluindo habilmente para formas
não lineares. Como consequência, desenvolve projetos específicos
para cada situação e um detalhamento próprio da estrutura que ca-
racteriza a condição de cada solução espacial. Há um estudo e uma
preocupação em solucionar, sobretudo, como a estrutura se articu-
la com os demais elementos construtivos, utilizados principalmente
para vedação (Zanettini, 2002: pp. 124, 125).
Além disso, isso possibilitou soluções distintas envolvendo as
aberturas, tanto para ventilação quanto iluminação natural, propor-
cionadas pela composição do material. No projeto da escola estadu-
al de 1º grau, que foi construída na cidade de Dracena/SP em 1976,
o arquiteto utilizou um módulo tridimensional, formado por quatro
apoios e uma membrana horizontal em “V” (Zanettini, 2002: p. 125),
permitindo a passagem da ventilação natural próximo à cobertura,
melhorando as condições térmicas internas (Figura 137).
188
Figura 138 Zoneamento do hospital muni-
cipal de Osasco.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 132
Figura 139 Circulação interna.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 135.
Em 1976, Zanettini projetou o Hospital Municipal de Osasco,
tendo como base as condições específicas de projeto, fundamen-
tadas na experiência adquirida anteriormente, e nas condições do
terreno. Dessa forma, uma “rua médica” foi desenvolvida como ele-
mento articulador de todo o projeto, configurando um eixo longitudi-
nal que atravessa toda a massa arquitetônica e, ao mesmo tempo,
se conecta verticalmente com todas as circulações horizontais per-
pendiculares à unidade de internação, localizadas nos diversos pa-
vimentos do único bloco vertical. Esses eixos, longitudinal e trans-
versal, além de zonearem (Figura 138) todos os setores do hospital,
permitem a quase totalidade dos seus acessos (Figura 139) (Zanet-
tini, 2002: p. 132).
O acesso diferenciado à “rua-médica”, que é reservada para
funcionários e pacientes internados (Zanettini, 2002: p. 132), con-
tribui para a melhoria da privacidade dos pacientes. É importante
salientar que essa diferenciação de fluxos também é observada em
outros projetos hospitalares, como o Hospital Sarah Centro, projeta-
189
Figura 140 Foto exter-
na. Clínica Pistelli
Fonte: Zanettini, 2002:
p. 240.
do por Lelé em 1980.
A década de 1980 consolidou a visão global liberta de referen-
ciais formais e técnicas construtivas ultrapassadas, estabelecendo
uma linguagem arquitetônica própria ao arquiteto, aproximando seu
trabalho das atividades realizadas internacionalmente por Norman
Foster, Richards Rogers, Renzo Piano, Santiago Calatrava, Jean
Nouvel, entre outros (Zanettini, 2002: p. 175). Segundo suas pala-
vras:
“Mais importantes que os textos antigos e publicações que
chegam do exterior, como subsídio teórico para a compre-
ensão deste novo e importante momento da arquitetura in-
ternacional, são as experiências efetivamente enfrentadas
como desafios de cada contexto, na forma, na complexidade
e nas dimensões que apresentam, consolidando uma com-
preensão madura de nossa realidade e do vir a ser da arqui-
tetura” (Zanettini, 2002: p. 175).
O projeto do Hospital Ermelino Matarazzo é muito relevante
para esse período devido à participação da comunidade na elabo-
ração do projeto. Ocorre também o desenvolvimento de tecnologias
limpas e da noção de qualidade construtiva, características aplica-
das por Zanettini em seus projetos, como o da Clínica Ortopédica
Pistelli (Zanettini, 2002: p 175).
A Clínica Pistelli (Figura 140), fundada em 1980 na cidade de
São Paulo/SP, tem como diretrizes projetuais a racionalização do
espaço de acordo com as dimensões do terreno e a otimização das
relações funcionais entre ambientes. Concebida a partir de uma tra-
ma modular, o arquiteto projetou essa construção em três pavimen-
tos, onde no térreo, foram instaladas as áreas destinadas ao públi-
co, com consultórios, sala de fisioterapia, copa, sanitários e áreas
de espera. No primeiro
pavimento, estão, além
de consultórios, outros
ambientes utilizados ex-
clusivamente pelos fun-
cionários, como a biblio-
teca, o conforto médico e
os vestiários. No subsolo,
190
Figura 141 Foto do hall de espera. Clínica Pistelli.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 242.
acessível por rampas, estão o centro cirúrgico, a sala de repouso, o
central de materiais e o raio-x (Zanettini, 2002: p. 241).
Devido à leveza de linguagem e às dimensões do edifício, o
arquiteto optou pelo aço como solução estrutural, atribuindo esbel-
tez aos pórticos compostos por pilares em cruz e vigas em “U” e “I”,
definindo cubos colorido que se sobrepõe, resultando em um vo-
lume rico e plasticamente interessante. Placas de concreto celular
autoclavado foram utilizadas como elementos de vedação e lajes,
devido ao seu excelente desempenho estrutural termoacústico, tor-
nando o processo de construção mais eficiente e menos artesanal
(Zanettini, 2002: p. 241,243).
As esquadrias metálicas, os materiais de acabamento, a ra-
cionalidade nas instalações elétricas e hidráulicas, a família cromá-
tica (Figura 141), e a presença de fossos jardins, que contribuem
para assegurar ao subsolo ventilação e iluminação natural, confe-
rem ao edifício um aspecto único na coerência da linguagem e no
equilíbrio formal (Zanettini, 2002: p. 243).
191
Figura 142 Projeto
Casa Limpa-Eco 92.
Fonte: Zanettini, 2002:
p. 284.
Na década de 1990, o conceito de arquitetura contemporâ-
nea foi explicado pelo amadurecimento de um conjunto de condi-
cionantes, tais como: a essência multidisciplinar da arquitetura; a
relevância ambiental na construção civil; e o aprofundamento teó-
rico-prático resultante do aprimoramento as linguagens do concre-
to, da alvenaria estrutural, da madeira e do aço (Zanettini, 2002: p.
261). A preocupação com a sustentabilidade na construção civil ga-
nha espaço no debate global. Zanettini, neste período, desenvolve
o projeto Casa Limpa – Eco 92 (Figura 142).
Este projeto é considerado como a concretização de uma
nova abordagem para a cultura urbana, que considera a condição
humana como um tema central, ao mesmo tempo em que repensa
a relação entre o homem e a natureza, considerando ambos como
agentes ativos de um processo cultural global e indivisível. Dado
que a construção é composta exclusivamente por processos indus-
trializados, o arquiteto buscou uma solução que atenda às mais di-
versas necessidades e tipologias, de baixa a média complexidade,
192
Figura 143 Vista
da fachada externa.
Anexo Hospital São
Francisco
Fonte: Zanettini,
2002: p. 389
como casas, escolas e centros de saúde, incentivando e promoven-
do o uso de tecnologias limpas (Zanettini, 2002: p. 285).
Após uma análise de viabilidade de diversos sistemas cons-
trutivos, Zanettini optou pelo uso de uma estrutura metálica, com-
posta por perfis tubulares parafusados em nós articuladores, que,
além de serem compatíveis, permitem grande flexibilidade e os mais
variados arranjos espaciais. As vedações externas são compostas,
preferencialmente, por painéis confeccionados com materiais re-
cicláveis, como chapas de aço resultantes do processamento de
sucata, aglomerados de entulhos, fibra orgânica resinada, dentre
outros. As esquadrias, os diversos componentes, equipamentos e
revestimentos, apresentam uma lógica construtiva limpa, dispen-
sando o longo acabamento in loco (Zanettini, 2002: p. 285). Dessa
forma, a racionalização do processo e da construção não apenas
promove um aumento da produtividade, como também reduz os re-
síduos gerados e acelera a execução da obra, ocasionando benefí-
cios financeiros.
Durante esse período, houve um aumento no número de hos-
pitais projetados pelo arquiteto, incluindo o Anexo do Hospital São
Francisco (Figura 143), que foi construído em 1998 e localizado em
Ribeirão Preto/SP, e os projetos realizados em São Paulo por volta
de 1999, como o Atrium do Hospital Albert Einstein61
, o Hospital Pro-
fessor Edmundo Vasconcelos e a primeira intervenção
6 Análise do projeto se encontra nas páginas 130 a 132.
no Hospital São Camilo – Uni-
dade Pompeia. Todos esses
projetos apresentam uma lin-
guagem arquitetônica muito
semelhante, sobretudo devido
à industrialização e raciona-
lização da construção, bem
como à preocupação do arqui-
teto com a qualidade do am-
biente construído e o conforto
dos pacientes.
193
Figura 144 Capela ecumênica.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 388
Figura 145 Vista parcial do hall de entrada.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 388
Figura 146 Vista parcial da sala de estar.
Fonte: Zanettini, 2002; p. 388.
No Anexo do Hospital São Francisco, o arquiteto utilizou a
estrutura metálica para dar um aspecto orgânico ao edifício, eviden-
ciada pela aplicação de placas de ACM como elemento de vedação,
além de uma leveza ao recuar a entrada. No interior, aplicou uma
paleta de cores em tons neutros e terrosos, principalmente nos mo-
biliários, e tons azulados nos biombos da capela ecumênica (Figu-
ra 144). Por evidenciar a utilização de iluminação natural em seus
projetos, instalou grandes planos de vidros, que também permitem
a visão para a cidade e para a vegetação externa. Nestes locais,
posicionou principalmente os espaços de espera e estar (Figura 145
e 146).
194
Figura 147 Siegbert
Zanettini e Jarbas
Karman, 2003.
Fonte: IPH, 2014:
p. 24
Zanettini, assim como muitos arquitetos, realizou uma análise crítica
da arquitetura ao longo das décadas, especialmente ao examinar
os desafios enfrentados pela sociedade e pelos centros urbanos.
De acordo com a análise apresentada pelo arquiteto João Filgueiras
Lima (Lelé) (2011: p. 07), Zanettini apresenta uma preocupação em
integrar, ao longo do processo criativo de cada projeto, o conheci-
mento disponível e adequado, passando a realizar a convergência
equilibrada entre a razão e a sensibilidade. Em outras palavras, o
“fazer arquitetônico contemporâneo” representa trabalhar com
a interdiscipli-naridade, embasada no conhecimento científico
e sensível de forma sistê-mica que globalize o histórico, o am-
biental, o social, o político, o econômico e o tecnológico (Rut-
man, 2011: p. 10).
Dessa forma, as mudanças nos paradigmas do ser humano em rela-
ção às demandas individuais e coletivas em relação à qualidade de
vida e à sua evolução como ser social, sobretudo em relação à alte-
ração de hábitos e comportamentos e à consciência ambiental, dão
ao conceito de projeto arquitetônico uma nova dimensão (Zanettini,
2002: p. 456), requerendo uma troca contínua de conhecimento e
experiências. Zanettini aborda essa realidade ao relatar sua relação
com Jarbas Karman (Figura 147), com quem muito conversava, du-
rante sua entrevista com a revista IPH. Em suas palavras:
“O que me identificava muito com o
Jarbas é essa visão abrangente e
sobre a qual conversávamos muito.
Todas as palestras que ele dava, eu
comparecia e ele também assistia às
minhas e trocávamos ideias sobre a
abordagem, não só como arquiteto e
engenheiro, mas de uma forma mais
ampla. Em 2003, eu tive uma sala es-
pecial na Feira Hospitalar - ADH São
Camilo. Ele compareceu e trocamos
ideias sobre as experiências expos-
tas. Isso nos aproximava, porque a
nossa forma de pensar era próxima”
(IPH, 2014: p. 25)
195
Figura 148 Implanta-
ção da ampliação do
CENPES.
Fonte: Rutman, 2011:
p. 98
A arquitetura contemporânea de Zanettini demonstra-se atra-
vés da clareza de conceitos e de seu posicionamento firme como
arquiteto generalista, como um elemento indispensável para a inte-
gração dos diversos saberes que atuam na produção arquitetônica
(Lima (Lelé), 2011: p. 07). Com isso, os projetos realizados a partir
dos anos 2000 demonstram um esforço para compreender a racio-
nalidade da construção industrial em sua máxima capacidade e a
complexidade crescente dos programas.
Dentre os projetos que realizou, destacam-se: a passarela
do Hospital das Clínicas de São Paulo, a ampliação do Centro de
Pesquisas da Petrobras (CENPES) e o projeto do Complexo Hospi-
talar São Camilo – Unidade Pompeia. A ampliação do CENPES da
Petrobras foi concluída em 2010 e realizada na Ilha do Fundão/RJ.
O complexo é composto por 20 edifícios (Figura 148), totalizando
124.368,58 m² de área construída (Rutman, 2011: pp. 96,98), po-
-dendo ser considerado o maior centro de pesquisa do Brasil e o
segundo maior do mundo em termos de número de laboratórios e
cientistas (IPH, 2014: p. 24).
196
Figura 149 Corte transversal do Prédio Central. Fonte: Rutman, 2011: p. 100
Figura 150 Planta de um jardim entre laboratórios. Fonte: Rutman, 2011: p. 100
A forma arquitetônica deste grande complexo está condicio-
nada aos pa-drões climáticos locais (Figura 149), com uma estética
contemporânea que visa o equilíbrio e a harmonia arquitetônicas
decorrentes do dimensionamento adequado de cada espaço. Como
um edifício sustentável e voltado para o conforto interno, já uma efi-
ciência no uso das águas, com a reutilização da água pluvial para,
sobretudo, a irrigação dos jardins e bacias sanitárias, e na gera-
ção de energia elétrica, com a instalação de painéis fotovoltaicos.
A vegetação, por sua vez, está presente em todo o complexo, tanto
nos jardins do Prédio Central, projetados para serem espaços de
reunião abertos (Figura 149), quanto nas áreas ajardinadas ao nível
do solo, destinadas à socialização (Figura 150) (Rutman, 2011: pp.
100,102).
197
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
5.1 Breve história do hospital
O hospital São Camilo Pompeia está localizado no bairro da
Pompeia, zona oeste de São Paulo. Esse bairro surgiu após o térmi-
no da escravidão, em 1888, e à chegada de imigrantes, que vieram
ao Brasil em busca de novas condições de vida e emprego.
A região oferecia diversos atrativos para a população assa-
lariada, desde as condições climáticas até a presença de diversas
fábricas, como a Companhia Melhoramentos, a Santa Marina e as
indústrias Matarazzo. Segundo Levino Ponciano, em seu livro Bair-
ros paulistanos de A a Z (2001: p. 168), esse bairro se tornou “um
bairro operário abarrotado de imigrantes italianos, portugueses, es-
panhóis e outros”. Dessa forma, a região foi sendo povoada, onde
as chácaras antigas foram se transformando em novos loteamentos.
O loteamento da Vila Pompeia foi realizado por Rodolfo Miranda, da
Companhia Urbana Predial, no início do século XX (Figura 151). A
Vila Pompeia, situada entre a Vila Romana e o bairro de Perdizes,
era delimitada pelos córregos Água Branca e Água Preta, sendo
cortada por uma via de mesmo nome.
Há duas interpretações para a determinação do nome Pom-
peia. A primeira versão conta que Rodolfo de Miranda resolveu bati-
zar o loteamento em homenagem à sua esposa, Aretuza Pompeia.
A segunda está relacionada com uma família italiana. Família essa
que está envolvida com o próprio surgimento do hospital.
Em 1920, o casal Claudio de Souza e Luiza Leite de Souza
viajou à Itália para visitar o Santuário de Nossa Senhora do Rosário,
situado na cidade de Pompeia, na província de Nápoles. Durante a
Capítulo 5
Hospital São Camilo Pompeia
199
200
Figura 151 Mapa do bairro de Pompeia 1930. Com destaque para a quadra onde está localizado o hospital São Camilo.
Fonte: Geosampa, 2023. Disponível no site:< https://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em
abril/ 2024.
Figura 152 Capela da N. Sr.ª do Rosário de Pompeia. sem data.
Fonte: Igreja da Pompeia, 2023.
visita, oraram para que Maria, mãe de Jesus, invocada como Nossa
Senhora do Rosário, intercedesse por sua filha, que estava doente
em São Paulo/SP (Igreja da Pompeia, 2023).
Após retornarem ao Brasil e
encontrarem a filha curada, o casal
ordenou a construção de uma cape-
la em um terreno no ponto mais alto
do outeiro que dominava a região
(Figura 152). A capela apresentava
uma planta retangular de sete por
quatorze metros, com a imagem
de Nossa Senhora do Rosário de
Pompeia, trazida da Itália a pedido
do casal, ao centro do altar (Igreja
da Pompeia, 2023).
Em novembro de 1923, o pa-
dre Inocente Radrizzani assumiu a
administração da capela, instalan-
do, aos fundos, uma escola para
crianças da região e, ao lado, um
consultório médico, com atendi-
mento gratuito a todos. Com o crescimento do bairro e do número
de moradores, foi necessário substituir a capela por uma igreja, com
um espaço que comportasse mais pessoas durante os cultos. Para
tal, o arquiteto italiano Guiseppe Sachetti foi contratado, iniciou a
construção em 1928. Após cinco anos, a igreja foi inaugurada, apre-
sentando características arquitetônicas semelhantes às do Santuá-
rio de Pompeia, na Itália (Figura 153) (Igreja da Pompeia, 2023).
No mapa cartográfico de 1954 (Figura 154), é possível identi-
ficar a localização e a volumetria da igreja e da construção utilizada
para o atendimento médico, que, com o decorrer dos anos, passou
a ser administrado por outras instituições que prestam assistência à
saúde. Este edifício, composto por três edificações geminadas, foi
adquirido pelo Hospital São Camilo em 1960, ano em que foi inau-
gurada a Unidade Pompeia.
Em 1999, diante das dificuldades encontradas e da necessi-
dade de incluir novas atividades para assegurar a funcionalidade do
hospital, o escritório Zanettini Arquitetura foi contratado para realizar
uma reforma geral do edifício. Conforme os relatores de Zanettini,
a construção apresentava um centro cirúrgico precário, quartos mal
resolvidos, setores de insumos com baixa qualidade, um desalinha-
mento notável na fachada, esquadrias discordantes e materiais e
revestimentos bastante deteriorados (Zanettini, s. d.).
201
Figura 152 Imagem comparativa entre a arquitetura da Paróquia N. Sra. do Rosário de Pompeia – São Paulo / Brasil (ima-
gem superior) e o Santuário da Virgem do Rosário de Pompeia – Pompeia / Itália (imagem inferior). Fontes: Arquisp, 2023.
Disponível no site:< https://arquisp.org.br/regiaose/paroquias/paroquia-nossa-senhora-do-rosario-de-pompeia/matriz-pa-
roquial-nossa-senhora-do-rosario-de-pompeia>. Acesso em: jun. 2023, e Scaramuzzino, 2021. Disponível no site: <https://
pt.italiani.it/santu%C3%A1rio-madonna-rosario-pompei/>. Acesso em: jun. 2023.
Figura 155 Bloco I - entrada Pronto Socorro Infantil. Fonte: Google Street View, 2017
202
Após uma análise preliminar do programa da unidade, o ar-
quiteto iniciou o projeto de reforma nos pavimentos inferiores volta-
dos para a Avenida Pompeia, onde estão localizados os prontos-so-
corros adulto e pediátrico. Além de uma nova setorização espacial,
projetou coberturas metálicas que marcam as entradas e um retrofit
na fachada (Figura 155).
Figura 154 Localização do edifício original do Hospital São Camilo Pompeia, em 1954. Fonte: Geosampa, 2023. Disponível no
site:< https://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em abril/ 2024.
Figura 156 Plano Diretor do Hospi-
tal São Camilo Pompeia, baseado
no projeto do arqto. Zanettini.
Fonte:acervo pessoal da autora,
2024.
A necessidade de expansão fez com que o escritório fosse
novamente contratado para elaborar o Plano Diretor do Complexo
Pompeia (Figura 156), que orientaria todas as futuras construções.
Como de costume, este projeto foi realizado em conjunto com uma
equipe multidisciplinar composta por arquitetos, engenheiros, dire-
tores, médicos e outros profissionais envolvidos no funcionamento
do hospital (Zanettini [a], 2019). Segundo Zanettini, ao elaborar o
Plano Diretor, foram analisadas as áreas do hospital, as possibilida-
des de acesso e integração ao bloco existente e as características
positivas e negativas que poderiam influenciar no partido arquitetô-
nico adotado para os demais blocos.
203
204
Como vários hospitais da época, essa instituição apresentava
construções nas quadras vizinhas, que serviam como laboratórios,
escritórios e consultórios. Visando agrupar essas funcionalidades
às necessidades existentes e permitir uma expansão ordenada do
hospital, a solução encontrada foi a aquisição sucessiva e progra-
mada de terrenos vizinhos ao Bloco I, na sua maioria, sobrados.
Após a aquisição, as construções foram demolidas e os terrenos
incorporados ao tamanho inicial do projeto, quintuplicando o seu di-
mensionamento.
Zanettini desenvolveu um projeto de acréscimos que se agre-
gam ao bloco inicial para assegurar a continuidade formal, visando
aumentar o número de leitos de 100 para 400 unidades. Além da
construção separada de cada bloco, foi necessária a escavação de
subsolos para garagens e espaços de circulação para pedestres
e veículos. Adicionalmente, foram construídas casas de máquinas,
centrais de energia e redes de instalações, de modo a atender às
necessidades técnicas e funcionais necessárias para o funciona-
mento do hospital e dos equipamentos e tecnologias médicas (Za-
nettini [a], 2019).
Dessa forma, a elaboração do Plano foi realizada em três
etapas. A primeira etapa foi a construção do Bloco II, que se esten-
de perpendicularmente ao Bloco I, conectando-o ao edifício lateral
utilizado como centro administrativo, além de ocupar o estaciona-
mento já existente (Figura 157). Este era, inicialmente, destinado
às acomodações dos padres da paróquia. Zanettini propôs um es-
tacionamento no subsolo, além de uma capela e ambientes para
os insumos diretamente relacionados ao funcionamento do hospital,
situados na proximidade com a circulação vertical. Além disso, pro-
pôs-se o aumento da quantidade de leitos nos andares superiores.
A organização espacial do hospital foi concebida em torno do eixo
central de circulação com interações laterais, o que permitiu o de-
senvolvimento de novas condições de conexão com os demais blo-
cos do complexo.
Figura 158 Vista externa Bloco III.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
205
Figura 157 HVista aérea da contrução do Complexo Hospitalar São Camilo Pompeia, em 2004. Fonte: Geosampa, 2023.
Disponível no site:< https://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em abril/ 2024.
Em seguida, foi realizada a construção dos
blocos III e IV, respectivamente. O Bloco III (Figu-
ra 158), construído em 2007, apresenta atividades
compatíveis com os blocos anteriores, tais como
novas unidades de internação, um novo centro de
materiais, uma lavanderia, dois auditórios e um
terraço jardim. Zanettini também projetou os dois
primeiros andares para o atendimento ambulato-
rial, composto por consultórios, salas de exames
e ambientes de apoio aos funcionários. O Bloco IV
(Figura 159), como uma extensão do Bloco II, pos-
sibilitou um novo acesso ao hospital pela via Barão
do Bananal. Esta nova recepção é marcada por
um grande saguão, com pé-direito duplo devido ao
mezanino, dispondo de espaços de estar e acesso
a restaurantes e lojas.
Figura 159 Vista externa Bloco IV. Fonte:
acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 160 Foto do Bloco V durante etapa de construção. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
206
Por fim, foi realizada a construção do últi-
mo bloco. O Bloco V (Figura 160), inaugurado em
2020, está situado na via Barão do Bananal, sen-
do interligado ao Bloco IV por passarelas metáli-
cas aéreas e um túnel subterrâneo, que conecta
as garagens, permitindo a passagem de veículos,
serviços e instalações (Zanettini, s. d.). A constru-
ção é composta por 16 pavimentos, sendo cinco
deles dedicados ao estacionamento subterrâneo.
Nos pavimentos superiores, há consultórios e sa-
las de exames para atendimento ambulatorial,
atendimento fisioterápico e ortopédico, com pisci-
na interna climatizada, 92 apartamentos individu-
ais e uma cobertura, com paredes verdes e pai-
néis solares (Zanettini [b], 2019).
Desde a elaboração do projeto de Zanettini,
o hospital tem enfrentado reformas constantes de-
vido à mudança no tipo de atendimento oferecido
e à adequação do mesmo para facilitar a limpeza
e a manutenção, além de prevenir infecções hos-
pitalares e contaminação cruzada, preocupação
recorrente em EAS.
Á
207
Figura 161 Planta Pronto-Socorro Infantil. Bloco I. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
5.2. Partido arquitetônico
Como mencionado anteriormente, o Bloco I era o único edifí-
cio existente, composto por três construções geminadas, totalizando
sete pavimentos. Zanettini realizou uma reforma que alterou o layout
dos pavimentos, visando melhorar a qualidade ambiental dentro do
possível devido à herança patrimonial existente, como mencionado
pelo arquiteto em entrevista.
208
O arquiteto iniciou a reforma pelos pavimentos inferiores,
onde estão situados os prontos-socorros infantil e adulto, nos pri-
meiros e segundos pavimentos, devido ao acesso direto à avenida
Pompeia. O pronto-socorro infantil (Figura 161) possui uma organi-
zação espacial horizontal, apresentando consultórios, salas de es-
pera, brinquedoteca e salas de exames de imagens. A sua entrada é
marcada pela cobertura metálica, que conecta o edifício à nova ca-
bine de medição e transformação (Zanettini, s d.), necessária para
atender à nova divisão espacial e às funcionalidades previstas no
projeto.
209
No pavimento superior, o pronto-socorro adulto apresenta
uma organização espacial muito parecida, porém com uma entrada
principal ao centro do pavimento, com um café próximo, com as
mesas voltadas para a avenida (Figura 162). Uma cobertura de aço
e vidro, pintada de branco, conecta as mesas do café à entrada do
estacionamento de ambulâncias, situado na lateral do edifício (Figu-
ra 163), aumento também a área de espera.
Figura 162 Planta Pronto-Socorro
Adulto. Bloco I. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini
Arquitetura, 2020.
210
211
Figura 163 Planta da área externa - avenida Pompeia.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 407.
Zanettini, em entrevista, afirmou que essa solução projetual
surgiu da necessidade de organizar o fluxo e aumentar a área útil
do edifício, sem ocasionar grandes alterações na volumetria do edi-
fício. Como o edifício foi construído muito próximo a avenida, ficava
imprudente criar grandes acréscimos, sendo assim, a instalação de
coberturas leves aumentava o espaço útil do pavimento sem preju-
dicar a mobilidade urbana existente.
Esta solução de layout foi, posteriormente, alterada. A entra-
da para acompanhantes e visitantes foi transferida para o acesso
voltado para a via Barão do Bananal, tornando este espaço no Bloco
I desnecessário e inutilizado. A cafeteria foi substituída por novos
consultórios, enquanto o espaço de mesas foi transformado em um
local de espera, com um fechamento de aço e vidro que acompanha
o desenho da cobertura (Figura 164). A decisão de alterar o layout
foi tomada devido à necessidade de salas de espera em ambientes
abertos ou com ventilação adequada para prevenir a disseminação
da COVID-19 durante a pandemia.
Figura 164 Vistas internas da sala de espera instalada embaixo da cobertura metálica.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
212
213
Figura 165 Planta terceiro pavimento. Bloco I. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
A ala de UTIs (Figura 165), adulta e pediátrica, está locali-
zada no terceiro pavimento. Este pavimento também sofreu altera-
ções no layout, sobretudo nos ambientes das extremidades, onde
foram retiradas as divisórias internas, tornando-os em enfermeiras
únicas, com o posto de enfermagem ao centro (Figura 166). Essa
nova organização espacial permitiu que os enfermeiros tivessem
uma melhor visualização dos seus leitos, posicionados próximos às
aberturas (Figura 167).
Figura 166 Posto
de enfermagem UTI
adulto.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022..
Figura 167 Interior
UTI adulto.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022
214
No quarto pavimento, estão instalados todos os ambientes
voltados ao tratamento oncológico, tanto adulto como pediátrico (Fi-
gura 168). Embora este atendimento já estivesse previsto no projeto
de Zanettini, a determinação de que o andar fosse utilizado exclusi-
vamente para este fim foi realizada posteriormente, sobretudo para
acomodar uma farmácia especializada em medicamentos quimiote-
rápicos.
Os quartos de internação, tanto individuais quanto comparti-
lhados, estão presentes nos quinto e sexto pavimentos (Figura 169).
A configuração espacial destes andares, com o posto de enferma-
gem no centro do pavimento, próximo às circulações verticais, pos-
sibilitou a criação de um grande eixo horizontal de circulação sem
obstrução.
215
Figura 168 Foto acesso a
recepção e sala de espera
do centro oncológico infantil.
Fonte: acervo pessoal da
autora, 2022.
Figura 169 Planta quinto e sexto pavimentos. Bloco I.
Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
216
Figura 170 Planta Centro Cirúrgico. Bloco I. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
O último pavimento deste bloco abriga o centro cirúrgico (Fi-
gura 170), que também recebeu um novo tratamento arquitetônico
devido às características necessárias para a sua funcionalidade ide-
al. As salas de cirurgia apresentam uma organização espacial que
concentra os equipamentos no centro do ambiente, delimitados por
uma cortina de ar instalada no forro (Figura 171). Este equipamento
auxilia na assepsia durante todo o processo cirúrgico, protegendo
contra a contaminação externa. Nas paredes internas, as réguas de
tomadas e gases estão instaladas em uma altura que facilita o seu
acesso físico e visual (Figura 172). Atualmente, as portas são me-
tálicas, de correr e automatizadas, facilitando o fluxo e permitindo
um maior controle de acesso, garantindo a proteção e a privacidade
durante os procedimentos (Figura 173). As pias de assepsia (Figura
174) estão localizadas próximas de todas as portas de entradas das
salas de cirurgia, bem como os controles de tubulação dos diferen-
tes gases, facilitando sua manutenção.
217
Figura 171 Cortina de ar
instalado no teto. Bloco I.
Fonte: acervo pessoal da
autora, 2022.
218
Figura 172 Sala Cirúrgica. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 173 Corredor Centro Cirúrgico. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 174 Pia para assepsia. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
219
Dada as condições dos elementos construtivos e decorativos,
o arquiteto optou por substituí-los, sobretudo os pisos internos. Ele
aplicou o piso em manta, com desenhos ortogonais formados por fai-
xas coloridas. Contudo, devido à necessidade de manutenção e às
alterações no layout dos pavimentos, estes foram novamente substi-
tuídos por outro de mesmo material, porém em branco monocromáti-
co (Figura 175).
Figura 176 Altereação do desenho de piso em manta no Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
220
Além disso, Zanettini realizou um projeto de retrofit na fa-
chada, substituindo os revestimentos por placas cimentícias com
acabamento melamínico branco e realinhando os vãos das facha-
das, padronizando os fechamentos com esquadrias de vidro duplo
e persianas móveis para proteger os pacientes acamados dos ruí-
dos provenientes do tráfego externo (Figura 176). O arquiteto tam-
bém aplicou placas de granito apicoado nos pisos das entradas,
nas calçadas e nos acessos, adornados por um projeto paisagísti-
co acrescido de totens de identificação e sinalização (Zanettini, s.
d.).
A volumetria composta pelos blocos II e IV visava estender
perpendicularmente o Bloco I e estabelecer uma ligação entre os
demais blocos do hospital, permitindo um novo acesso pela via Ba-
rão do Bananal. O térreo do edifício (Figura 177), com pé-direito du-
plo devido ao mezanino, tem um fechamento em plano de vidro, se-
melhante às coberturas do bloco I. Ademais, Zanettini criou espaços
para o bem-estar dos pacientes e visitantes, como o restaurante, as
lojas, as áreas de estar (Figura 178) e a capela , localizada próximo
ao acesso ao terceiro pavimento do Bloco I e a um dos conjuntos
de circulação vertical. Essa edificação também apresenta conexão
Figura 176 Perspectiva da
fachada da avenida Pompeia.
Fonte: Zanettini, 2002: p. 406.
221
Figura 177 Planta
térreo. Bloco II e IV.
Sem escala. Fonte:
acervo do escritório
Zanettini Arquitetu-
ra, 2020.
222
direta com os blocos III e V, sendo este último realizado por pas-
sarelas aéreas. O mezanino (Figura 179) possui acesso à primeira
passarela, o que ocasionou uma extensão deste pavimento e uma
alteração em seu layout, aumentando sua área útil.
Figura 178 Fotos da área de estar. Bloco II e IV. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
223
Figura 179 Planta
mezanino. Bloco II
e IV. Sem escala.
Fonte: acervo do
escritório Zanettini
Arquitetura, 2020.
224
Figura 180 Planta 3º, 4º e 5º
pavimentos. Bloco II e IV. Sem
escala.
Fonte: acervo do escritório Zanet-
tini Arquitetura, 2020.
225
Figura 181 Varandas privativas. Bloco II e IV.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura,
2020.
Figura 182 Localização varandas voltadas a via Barão do Bananal. Bloco II e IV. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
Figura 182 Localização varandas voltadas a via Barão do Bananal. Bloco II e IV. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
Os três andares subsequentes
(Figura 180) são destinados aos quartos
de internação, totalizando 72 unidades.
Estes contêm varandas particulares, se-
paradas por biombos metálicos vazados
brancos e uma cobertura metálica bran-
ca (Figura 181), contendo um desenho
semelhante a outros elementos desen-
volvidos por Zanettini. Por questões de
segurança, foram instaladas placas de
vidros duplos no apoio do guarda corpo.
Também foram disponibilizados quartos
com as varandas voltadas para a via
Barão do Bananal (Figura 182).
226
Figura 183 Planta 6º pavimento.
Bloco II e IV. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini
Arquitetura, 2020.
No sexto pavimento (Figura 183), está o atendimento ambu-
latorial pediátrico, com 11 unidades de internação, salas de estar
para as mães, UTI pediátrica e UTI neonatal. Além disso, há o aces-
so à segunda plataforma metálica aérea, o que resultou em uma
nova setorização espacial, devido à alteração do posicionamento do
centro de enfermagem.
227
Figura 184 Planta 7º pavimento.
Bloco II e IV. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanetti-
ni Arquitetura, 2020.
O atendimento obstétrico e ginecológico está localizado no
sétimo pavimento (Figura 184), com seis unidades de quartos de
internação, berçários com 12 berços cada um, além de ambientes
de conforto médico para os funcionários. O oitavo pavimento é uti-
lizado como centro cirúrgico para atendimento ambulatorial. Devido
às condições espaciais necessárias, estes pavimentos não apre-
sentam varandas, mas seu fechamento em vidro permite a entrada
de luz natural.
228
No subsolo deste bloco, estão os ambientes de apoio ao fun-
cionamento do hospital que requerem grandes dimensões, como
o restaurante e a cozinha (Figura 185). O refeitório (Figura 186) é
utilizado pelos funcionários, enquanto a cozinha apresenta uma se-
torização para otimização do tempo, focada, sobretudo, no preparo
dos alimentos dos pacientes. Este ambiente apresenta, ao fundo, o
setor de lavagem e armazenamento de panelas e utensílios (Figura
187) com torneiras de água quente, o setor de preparo de carnes,
cereais e legumes e o setor de sobremesas. Ao centro estão os
espaços utilizados pelos nutricionistas para elaborar dietas perso-
nalizadas, bem como o local de preparo dos alimentos (Figura 188).
Por fim, o setor de cocção das refeições gerais (Figura 189) e o de
cocção de dietas, instalados separadamente devido às restrições
alimentares e alérgicas. Junto a ele são posicionados os carrinhos
(Figura 190), utilizados para o transporte das refeições de todos os
pacientes.
Esses ambientes apresentam pisos e revestimentos em por-
celanato branco, que, devido à alta temperatura e umidade, apresen-
tam seus rejuntes escurecidos. Segundo a Arqta. Dyane, o depar-
tamento de arquitetura do hospital está desenvolvendo um projeto
de reforma para a cozinha e refeitório, com uma nova setorização
interna, troca de revestimento e uma nova solução para a exaustão
do ar quente que está presente no ambiente. A necessidade desta
reforma se deu, sobretudo, devido à terceirização da alimentação
dos funcionários e à existência de espaços que não estão sendo
utilizados, como o local de distribuição de café (Figura 191).
229
Figura 185 Planta da
cozinha e refeitório
funcionários no subso-
lo. Bloco II e IV. Sem
escala.
Fonte: acervo do
departamento de
arquitetura do Hospital
São Camilo, 2020.
Figura 186 Refeitório
funcionários.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022.
230
Figura 187 Setor de limpeza de pane-
las e utensílios.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022
Figura 188 Setor de pré-preparo dos alimentos.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 189 Setor de cocção de alimentos. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 190 Local de estacionamento dos carrinhos. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
231
Figura 192 Sala de espera visitantes. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
As salas de estar para visitantes (Figura 192) estão dispostas
em todos os corredores que ligam este bloco ao Bloco III. Esses
ambientes, com um mobiliário semelhante aos das outras áreas de
estar do hospital, apresentam um fechamento em plano de vidro,
conferindo leveza à arquitetura.
Figura 191 Setor de distribuição de café para funcionários.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
232
Figura 193 Planta se-
gundo subsolo. Bloco III.
Sem escala
Fonte: acervo do escritó-
rio Zanettini Arquitetura,
2020.
O Bloco III é composto por 12 pavimentos, sendo três deles
subterrâneos. A área de estacionamento subterrâneo e as casas de
máquinas dos condicionadores dos andares deste bloco estão loca-
lizadas no terceiro subsolo.
O segundo subsolo (Figura 193) é composto por dois auditó-
rios, separados por uma divisória acústica que permite transformá-
-los em um único ambiente quando necessário, permitindo a aco-
modação de um número maior de pessoas. Ainda assim, segundo
233
a Arqta. Dyane, esses ambientes são normalmente utilizados sepa-
radamente, com reuniões, palestras e outros eventos ocorrendo si-
multaneamente. A lado desses dois ambientes, está o Foyer (Figura
194), com um fechamento em vidro fosco que aumenta a privacida-
de, e o local de retirada de exames, com uma sala de espera pró-
pria. Todavia, houve uma alteração no layout deste andar em 2021,
devido ao acréscimo do Carrefour Bairro próximo ao hall social. Esta
inclusão ocasionou a remoção da sala de espera e do balcão de re-
tirada de exames (Figura 195).
Figura 194 Foyer dos auditórios. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 195 Guichê estacionamento ocupando antiga área do balcão de
retirada de exames. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
234
235
Os ambientes necessários para o atendimento ambulatorial
estavam previstos no primeiro subsolo (Figura 196) e no térreo, com
consultórios, salas de exames, ambientes de apoio aos funcionários
e salas de espera. Dado que este tipo de atendimento foi transferido
para os blocos IV e V, estes pavimentos passaram a ser utilizados
como andares administrativos.
Figura 196 Planta primeiro subsolo.
Bloco III. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini
Arquitetura, 2020.
236
Os quartos de internação individuais estão dispostos do pri-
meiro ao sétimo andar (Figura 197 e 198). Durante a pandemia da
COVID-19, dois pavimentos foram utilizados como UTI para con-
ter a doença e controlar sua disseminação. Consequentemente, os
apartamentos foram reformados (Figura 199), apresentando um re-
baixamento do forro devido ao novo sistema de condicionamento de
ar e tubulações vinculadas ao controle de qualidades ambientais,
presente ao lado da porta de entrada.
Figura 197 Planta 1º
- 7º pavimento. Bloco
III. Sem escala. Fonte:
acervo do escritório
Zanettini Arquitetura,
2020.
237
Figura 199 Foto comparativa entre projeto do Zanettini e reforma
realizada posteriormente. Quartos individuais. Bloco III. Fonte:
acervo pessoal da autora, 2022
Figura 198 Corte longitudinal dos quartos individuais.
Bloco III. Sem escala
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
238
Os pavimentos de internação são marcados por sacadas (Fi-
gura 200) voltadas para a via Tavares Bastos. A instalação de pai-
néis de vidro foi necessária devido a questões administrativas e de
segurança (Figura 201 e 202). Zanettini acompanhou a instalação
desta solução, uma vez que a fachada recebeu uma premiação,
logo, não pode sofrer alterações significativas que alterem o partido
arquitetônico adotado. Desta forma, o vidro segue a linguagem ar-
quitetônica do arquiteto, complementando os elementos de revesti-
mento das elevações, tais como os painéis de pré-moldado e o vidro
laminado das aberturas (Figura 203).
Figura 200 Planta da sacada. Fonte: acervo do escritório
Zanettini Ar-quitetura, 2020.
Figura 201 Corte longitudina das sacadas com instação dos
vidros de proteção; Bloco III. Sem escala
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
239
Figura 203 Elevação
frontal. Bloco III. Sem
escala.
Fonte: acervo do escri-
tório Zanettini Arquitetu-
ra, 2020.
Legenda:
Figura 202 Foto interna
da sacada. Bloco III.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022.
240
241
Figura 204 Oitavo pavimento. Bloco III.
Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini
Arquitetura, 2020.
O oitavo pavimento (Figura 204) foi projetado para conter o
centro de esterilização dos materiais e uma grande lavanderia, com
dimensionamento para atender todo o hospital. Com a terceiriza-
ção deste serviço, esse andar teve o seu layout alte-rado, permi-
tindo que o centro de materiais apresentasse um dimensionamento
maior. No último pavimento, foi projetado um terraço jardim para a
deambulação dos pacientes (Figura 205).
242
243
Figura 205 Terraço-Jardim. Bloco III. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
244
Figura 206 Fachada frontal do Bloco V.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Em 2020, foi inaugurado o último bloco do complexo hospita-
lar, o Bloco V, localizado do outro lado da via Barão do Bananal. Se-
gundo Zanettini, o edifício apresenta características arquitetônicas
diversas, mas que se adéquam à linguagem arquitetônica de todo o
complexo. Dessa forma, foi elaborado um projeto com um tratamen-
to mais sofisticado, tanto nos elementos internos quanto externos,
apresentando um nível de qualidade e finalização mais elevado. As
fachadas (Figura 206) são compostas por placas de ACM e planos
de vidro, com brises metálicos na fachada nordeste, devido ao refle-
xo dos prédios vizinhos nas superfícies envidraçadas.
sobe
S
i=8.33%
2
1
E
D
C
B
A
3.70 10.80
8.40
8.40
7.20
7.20
SHAFT PRESS.
BB
ARQ-035
4
ARQ-033
P = 30cm
E = 16,75cm
GC = 90cm
25 degraus
ESCADA 01
05
01 01
PCF1
HIDRANTE
AL18
AL01
AL16
AL17
AL17
I
ARQ-042
I
ARQ-042
0.25
9.00
0.25
0.67
1.65
3.63
3.72
1.65
0.15
1.65
0.25
0.25 3.45 0.25
4.49
PERGOLADO
(FECHAMENTO EM VIDRO)
DET-51
LAJE IMPERMEABILIZADA SOBRE ENTRADA DE AR
(PRESSURIZAÇÃO ESCADA)
100.43 m²
GINÁSIO/
CINESIOTERAPIA/
MECANOTERAPIA
03
10 03
24.53 m²
TERAPIA
OCUPACIONAL
/ A.V.D.
03
10 03
9.38 m²
BOX TERAPIA
03
10 03
9.45 m²
BOX TERAPIA
03
10 03
9.01 m²
BOX TERAPIA
03
10 03
9.80 m²
BOX TERAPIA
03
10 03
11.21 m²
CONSULTÓRIO
03
10 03
10.78 m²
CONSULTÓRIO
03
10 03
232.43 m²
CIRCULAÇÃO
03
01 05
3.75 m²
SANIT. PCD
02
03 03
8.74 m²
SANIT. PUBL.
MASC.
02
03 03
5.15 m²
DEPÓSITO
03
05 03
2.55 m²
CIRC.
03
05 03
3.14 m²
SANIT. FUNC.
01
05 03
8.53 m²
SANIT. PUBL.
FEM.
02
03 03
17.09 m²
ATENDIMENTO
62.17 m²
CIRCULAÇÃO
03
01 05
VS04
VS04
VS04
PM5* PM5*
PM2a
PM2a
PM2a
PM2a
PM2a
PM2b
PM1
PM1
PM2a
0.70
0.35
1.10 1.10
0.40 0.40
0.70
0.35
0.80
0.60
1.70 1.70
0.40
1.85
2.50
0.40
0.40
0.25 5.88 2.40
2.94 1.92 0.36
5.34
2.81
3.50
3.30
4.80
10.80
2.30
2.34 3.00
3.00
0.25 2.28 4.34 4.48
0.25 2.28 3.60 2.10
1.84
1.50
3.34
1.30
1.23
PM1
PM1
PM1
2.77
1.44
1.67
0.25
4.76 m²
ROUPA SUJA
01
05 03
2.30
2.40
1.78
4.52 m²
POSTO/
SERVIÇO
03
01 03
0.40
3.05 2.42 2.34
0.40
1.60
0.50
107.06
106.66
2.20
2.52
4.80
3.10
0.50
2.05
0.25
PM9b
CORRIMÃO
CORRIMÃO
PROJEÇÃO
CANALETA
CAPTAÇÃO SOB O
BANCO
PREVER
CAPTAÇÃO
2.00
0.40
2.00
0.40
2.00
2.73
EXECUTAR ENCHIMENTO
LEVE NA RAMPA
0.40
0.40
0.70
0.50
SHAFT
ZA - HOLD - 05/01/18 - 05/01/18
A VERIFICAR COM CLIMATIZAÇÃO POSSÍVEIS
ABERTURAS OU NÃO PARA ESTA ÁREA
245
Figura 207 Planta primeiro pavimento. Bloco V. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
O primeiro pavimento (Figura 207) é dedicado ao atendimen-
to fisioterápico e ortopédico, com consultórios, salas de terapia ocu-
pacional, piscina terapêutica interna climatizada (Figura 208), giná-
sio (Figura 209) e acesso à primeira passarela metálica. Os dois
andares seguintes contêm o atendimento ambulatorial, com recep-
ção (Figura 210), consultórios, salas de exames, salas de espera
(Figura 211) e lanchonete. Zanettini dividiu o atendimento nos dois
pavimentos subsequentes, concentrando o pediátrico e ginecológi-
co no terceiro pavimento.
sobe
sobe
S
S
S
9
6
5
4
3 10
8
5'
7.20 7.20 7.20 7.20 7.20 3.60 3.70
SHAFT PRESS.
ELEV. LEITO
(24 pessoas)
ELEV. MACA 1
(16 pessoas)
ELEV. MACA 2
(16 pessoas)
ELEV.
SOCIAL 1
(15 pessoas)
ELEV.
SOCIAL 2
(15 pessoas)
ELEV.
SOCIAL 3
(15 pessoas)
AA
ARQ-034
AA
ARQ-034
BB
ARQ-035
P = 30cm
E = 16,75cm
GC = 90cm
25 degraus
P = 30cm
E = 16,75cm
GC = 90cm
25 degraus
13.64 m²
CONSULTÓRIO
ORTOPEDIA
03
10 03
13.86 m²
CONSULTÓRIO
ORTOPEDIA
03
10 03
13.86 m²
CONSULTÓRIO
ORTOPEDIA
03
10 03
13.86 m²
CONSULTÓRIO
ORTOPEDIA
03
10 03
13.80 m²
CONSULTÓRIO
ORTOPEDIA
03
10 03
6.02 m²
TURBILHÃO
02
19 03
10.45 m²
A.C.
03
01 03
11.93 m²
A.C.
03
01 03
7.47 m²
SANIT. PUBL.
FEM.
02
03 03
3.49 m²
SANIT. PCD
02
03 03
7.24 m²
SANIT. PUBL.
MASC.
02
03 03
28.11 m²
GESSO
03
10 03
ESCADA 03
05
01 01
ESCADA 02
05
01 01
HALL SOCIAL
06
01 03
CIRCULAÇÃO
03
06 05
CIRCULAÇÃO
03
01 05
RECEPÇÃO
ESPERA
37 lug.
03
01 03
ESPERA
36 lug.
03
01 03
11
PCF1
PM2a PM2a PM2a PM2a
PM2a
PM1 PM1
PM8b
PM5*
PS4
VT03
VT03
TOTEM SENHA
TV/SENHA
TV/SENHA
TV/SENHA
TV/SENHA TV/SENHA
TV/SENHA
FI
TV
TV/SENHA
TV/SENHA
NS NS
NS NS
NS
ND
CC
ARQ-036
CC
ARQ-036
3.82 m²
TELEMÁTICA
03
16 05
PM2a
PS3
106.84
106.66
HIDRANTE
AL01
AL03
AL03 AL02
AL02
AL08
AL08
AL12
AL12
AL10
AL11
K
ARQ-042
K
ARQ-042
J
ARQ-042
J
ARQ-042
DET-012
H
ARQ-042
H
ARQ-042
0.25
1.67 3.63 1.65
1.65
0.15
1.65
0.25
3.45
0.25
0.70
1.79 0.90 0.25 1.00 0.25 2.75
2.65
0.25
2.09
0.15
2.09
0.25
0.25 0.70 0.25 3.00 0.25 2.75 0.25
1.09
1.43
1.64
1.25
0.25
1.20
3.09
2.23 0.15 2.23 0.15 2.23
0.25
2.25
0.20
3.66 3.60 3.60 3.60 3.48
0.25
4.08
3.61
9.47
0.25
0.40
0.93
0.93
0.33 2.09 2.20 2.23 0.36 3.80 1.90 1.43 0.35 2.03
1.84
7.20 2.51 2.74 2.17 3.37
PS8
0.44
1.58
1.58
1.64
2.44
0.25
PS5 PS8
1.14 1.14
1.20
0.40 0.40
0.45
0.50
0.40
1.20
1.10
0.40
0.70
0.35
1.25 2.16
1.25
1.97
0.25 3.45 0.25
8.77
0.83
1.65
3.30
3.92
1.65 0.15 1.65
0.19
2.60
2.28
2.60
2.28
R
0.6
8
R
0.6
8
0.16
SHAFT
1.14
PS4
PCF8
ACESSO
PASSARELA
PROJ. SHAFT
CORREIO
PNEUMÁTICO
0.50
09
09
3.50
SHAFT
SHAFT PRESS.
PS2
DUTO DE EXAUSTÃO
VER PROJETO DE INSTALAÇÕES
0.40
0.40
0.40
1.00
0.30
0.35
0.40
1.30
0.85
0.40 0.80
0.40
0.50
0.40
1.80 3.61 2.10
0.60
CORREIO
PNEUMÁTICO
5.43 m²
DML
01
05 03
6.15 m²
UTILIDADES
01
05 03
4.62 m²
RESÍDUOS
01
05 03
7.81 m²
COPA COLAB.
01
05 03
11.11 m²
CURATIVOS /
PROCEDIMENTOS
03
10 03
2.83 m²
SANIT.
COLAB.
01
05 03
2.83 m²
SANIT.
COLAB.
01
05 03
6.41 m²
POSTO/
SERVIÇO
03
06 03
0.25
3.98
0.15
0.65
0.25
2.20
0.25
SHAFT PRESS.
SHAFT
0.45
PCF1
PCF16
PCF16
7
PS10
PM5a
PM2 PM9 PM9 PM1
0.30
NS
0.40
TV/SENHA
P = 35cm
E = 15cm
6 degraus
49.97 m²
PISCINA
TERAPÊUTICA
17
11.46 m²
VEST.
PACIENTE
02
19 03
11.51 m²
VEST.
PACIENTE
02
19 03
52.58 m²
CIRCULAÇÃO
15
19 11
4.39 m²
DML
01
05 03 5.52 m²
CASA
BOMBAS
03
12 01
3.12 m²
SANIT.
COLAB.
01
05 03
3.12 m²
SANIT.
COLAB.
01
05 03
5.15 m²
COPA COLAB.
01
05 03
9.62 m²
RECEPÇÃO
03
01 03
39.54 m²
LANCHONETE
22.36 m²
ESPERA
11 lug.
03
01 03
(DEFINIÇÃO DOS ACABAMENTOS A CARGO
DO PROJ. ESPECÍFICO DA LANCHONETE)
0.80 0.40
0.80 0.40
PM2b
PM8*
PM2b
PM2
PM5*
PM1
PM1
PM1
PM5*
PM1
VEDAÇÃO A SER DEFINIDA EM PROJETO
ESPECÍFICO DA LANCHONETE
0.50
0.50
0.45
0.40
0.45
0.50
2.15
1.07
0.27
1.07
2.18
0.25
0.90
1.21
1.18
0.90
2.81 1.87
2.24 2.44
12.00 2.24 2.44 0.25
2.53 2.35 2.33
2.10
1.35
3.45
2.40
2.17
2.12
1.34
1.34
2.40
2.28
0.33
2.06 2.74
4.80
9.90
106.66
106.56
106.16
BANCO
h=40cm
106.66
P = 35cm
E = 13,3cm
3 degraus
2.27
2.40
0.25
0.50 9.30
BANCO
h=40cm
BANCO
h=40cm
2.08
1.01
0.40
CADEIRA
ELEVADOR
PARA PISCINA
0.05
0.40
0.32
0.80
1.22
DET
DET-046
6.50
7.50
3.45
CORRIMÃO
DET
DET-053
1.75 1.20 0.70 0.30
DET
DET-053
107.46
EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE
NO BOX DE CHUVEIRO
EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE
NO BOX DE CHUVEIRO
EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE
NOS DEGRAUS DE ESCADA
1.20
PM2
0.05
P = 30cm
E = 17cm
3 degraus
EXECUTAR
ENCHIMENTO LEVE NOS
DEGRAUS DE ESCADA
2.50
106.16
SHAFT
N
ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI
ARQUITETO COORDENADOR
CLIENTE:
OBRA:
LOCAL:
ASSUNTO:
PROJETO:
CÓDIGO:
ETAPA: REVISÃO: FOLHA
ESCALA
ARQUITETURA EQUIPE
ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI
DATA: / /
DATA: / /
APROVAÇÃO DO CLIENTE
DATA INICIAL
PROJETO
ARQUITETA
ENGENHEIRO
ARQUITETOS COLAB.
.
THAIS BARZOCCHINI
CARLA ANDRADE
ERNANI MOURA
ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA,
RAQUEL, ÉRIC
PROJETO EXECUTIVO
RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992
zanettini@zanettini.com.br DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS
ZANETTINI
ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA
1 : 50
07/05/15
PLANTA DO 1º PAVIMENTO
HOSPITAL SÃO CAMILO
POMPÉIA
ARQ-021
Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP
HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5
ARQ - ARQUITETURA
879 - PBB
R9
ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-021-01P-R9
REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA
R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16
R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16
R3 REVISÃO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI ZANETTINI 23/05/16
R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16
BASE A EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS (1P-9P) CARLA THAÍS 13/04/17
R5 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17
R6 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17
R7 REVISÃO VAGAS (1ºSS) / CENTRAL GASES / COMPAT. ACÚSTICA (TER) / ONDE
INDICADO
CARLA THAÍS 18/09/17
R8 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17
R9 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18
246
CARRO
EMERG.
sobe
2
1 3
E
D
C
B
A
3.70 10.80 7.20
8.40
8.40
7.20
7.20
SHAFT PRESS.
BB
ARQ-035
21.09 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.72 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.72 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.72 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.83 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.29 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.29 m²
APARTAMENTO
03
10 03
3.89 m²
BANHO
TIPO A
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
5.84 m²
DEPOS. MAT.
E EQUIPAM.
03
10 03
3.89 m²
BANHO
TIPO A
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
13.39 m²
SERVIÇO
03
09 03
RELATÓRI
03
09 0
4.75 m²
DML
01
05 03
ESCADA 01
05
01 01
ESTAR
FAMILIARES
03
09 03
P = 30cm
E = 16,95cm
GC = 90cm
20 degraus
COBERTURA
VERDE
COBERTURA
VERDE
124.49
124.39
124.49
124.39
04 04 04 04
04 04 04
PM4a PM4a PM4a
PM4a PS5
PCF1
PS5
PS2
PM2
PM4a PM4a
PM4a PS5
PS2
PM2
14
PTV
FR1
PTV
FR1 FR1
FR1
PTV
PTV
PTV
FR1
PTV
FR1
FR1
PTV
ND
TV TV
CORREIO
PNEUMÁTICO
RP
RP
RP RP
RP
RP
RP
peitoril h=1,24m
peitoril h=1,24m
CC
ARQ-036
CC
ARQ-036
AL17
AL15
AL17
AL04
DET-008
DET-008
I
ARQ-042
I
ARQ-042
DET-012
AMP-029
A,B,C
DET-009
0.25 3.45 0.25 3.48 3.60 3.60 3.00 2.40
0.63 1.31 1.54 1.53 1.34 1.45 1.34 1.53 1.80 1.20
0.67
0.22
4.71
3.00
1.20 1.50
1.83
3.06
8.05
3.43
2.57
7.93
0.20
0.30
0.78
0.38
0.55
0.74
0.95
1.76
2.71
0.61
1.0
7
1.89
2.84
2.54
0.45
0.55
1.54 1.53 1.34 1.45 1.34 1.53 1.53 1.34 1.44
0.20
0.30
0.78
0.38
0.61
2.71
0.45
1.89
0.79
0.95
2.97
2.67
0.78 23.40
0.25
0.78
4.95
0.86
0.28
0.67
0.25
4.65
2.99
1.36
0.25
1.65 0.15 1.65
0.25
1.00
4.81
1.00
0.25 1.00 8.55 1.00 0.25
PONTOS DE
ANCORAGEM
DET-010
0.25
0.50
0.50
0.50
PONTOS DE
ANCORAGEM
DET-010
7.20
10.45
18.50
25.45
0.25 10.55 0.25 6.97
3.70
25.45
0.93
2.12
0.62
3.05
0.45
0.30
0.20
1.34 0.78 0.00 2.01
0.40
0.28 0.85
1.53
CIRCULAÇÃO
03
09 05
4.13 m²
COPA COLA
01
05 03
2.83 m²
ROUPA SUJ
01
05 03
DE
ÁREAS AJARDINADAS, ÁRVORES, GUIAS
REBAIXADAS E PAGINAÇÃO DE PISO DE
CALÇADAS E ÁREAS EXTERNAS (TÉRREO)
DEVERÃO SER VERIFICADAS NO
PROJETO DE PAISAGISMO.
ÁREAS AJARDINA
REBAIXADAS E P
CALÇADAS E ÁREA
DEVERÃO SE
PROJETO
1.90
HIDRANTE
PM4
PM2
0.32
1.10
FI
GE
MIC
0.45
0.80
0.82
ABERTURA EM ESQUADRIA
P/ MANUTENÇÃO
ABERTURA EM ESQUADRIA
P/ MANUTENÇÃO
Figura 208 Ginásio. Bloco V.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 209 Piscina interna. Bloco V.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 210 Recepção. Bloco V.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 211 Sala de espera. Bloco V.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
247
As 92 unidades de quarto individual estão dispostas do quarto
ao oitavo pavimento (Figura 212) (Zanettini [b], 2019). Os pavimen-
tos apresentam simetrias espaciais semelhantes, devido à alteração
na volumetria do edifício (Figura 213), marcada pela existência de
coberturas verdes. O acesso à segunda passarela está localizado
no sexto pavimento. O nono e o decido pavimento são destinados ao
pavimento técnico e à cobertura, respectivamente.
sobe
sobe
DN DN
9
6
5
4 10
8
5'
7.20 7.20 7.20 7.20 3.60 3.70
ELEV. LEITO
(24 pessoas)
ELEV. MACA 1
(16 pessoas)
ELEV. MACA 2
(16 pessoas)
ELEV.
SOCIAL 1
(15 pessoas)
ELEV.
SOCIAL 2
(15 pessoas)
ELEV.
SOCIAL 3
(15 pessoas)
AA
ARQ-034
AA
ARQ-034
BB
ARQ-035
11.93 m²
A.C.
03
09 03
11.26 m²
A.C.
03
09 03
3.84 m²
TELEMÁTICA
03
16 05
4.90 m²
EXPURGO
01
05 03
2.64 m²
SANIT.
02
03 03
3.18 m²
SANIT. PCD
02
03 03
19.79 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.26 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.26 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.26 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.26 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.26 m²
APARTAMENTO
03
10 03
20.71 m²
APARTAMENTO
03
10 03
4.10 m²
RESÍDUOS
01
05 03
3.89 m²
BANHO
TIPO A
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
4.56 m²
BANHO
02
03 03
3.89 m²
BANHO
TIPO A
02
03 03
IO
03
POSTO DE
ENFERMAGEM
03
09 03
P = 30cm
E = 16,95cm
GC = 90cm
20 degraus
P = 30cm
E = 16,95cm
GC = 90cm
20 degraus
ESCADA 02
05
01 01
124.40
04
04
04
04
04
04
04
PCF1
PM4a PM4a PM4a PM4a PM4a
PS5
PM4a
PS5
PM4a
PM2a
PM1
PM2b
PM2 PM2
PS2
PS5
14
VT09
FR1 FR1 FR1 FR1
FR1
FR1
PTV
FR1
PTV PTV PTV PTV PTV PTV
RP
RP RP RP RP RP RP
124.58
124.40
PS3
HIDRANTE
AL12
AL12
AL15
AL04
AL20
AL03
AL03 AL02
AL02
AL09
AL09 AL05
AL05
K
ARQ-042
K
ARQ-042
J
ARQ-042
J
ARQ-042
H
ARQ-042
H
ARQ-042
1.66 1.43 0.16 1.47 1.89 3.65 7.20 7.20 1.54 1.89
3.41 3.60 3.60 3.60 3.60 3.60 3.48
0.79
0.95
1.27 0.47 1.32 1.31 1.35 1.34 1.53 2.87 1.45 1.34 1.54 1.53 1.34 1.45 1.34 1.54 1.54 1.31 0.63 1.57
2.71
0.61
0.20
0.30
0.78
0.38
0.45
1.0
7
1.83
0.56
0.50
0.75
0.40
1.20
1.68 0.25 7.13 0.10 1.33 0.56 1.07 1.13 2.84 0.25 17.78 1.55
2.24
1.96
1.64
1.25
0.25
2.09
0.15
2.09
0.25
2.65
0.25
0.70
0.25
3.45
0.25
0.20
2.24
0.25
4.67
0.27 0.69 0.25 3.07 3.09
0.25
0.70
0.25
2.20
0.25
0.65
0.15
3.98
0.25
1.25 0.25 2.75 0.25
0.50
4.75
0.89
1.04 1.72 0.25 0.70 0.25 3.00 0.25 2.75 0.25
0.78
1.65
1.80
2.47 0.15 2.23 0.15 2.23 0.47
0.37
1.98
2.70
2.70
0.25
2.07
0.38
10.45
3.95
28.90
14.65
7.20
11.53
6.98
18.50
1.80 1.65
2.70 1.65 0.25
2.69 0.25 4.00 0.25
21.69
DD
ARQ-040
DD
ARQ-040
SHAFT
1.56
0.40
0.50
1.14
PS4
SHAFT
SHAFT
SHAFT PRESS.
PS2
SHAFT
DET-009
ESCADA 03
SHAFT
PAREDE A SER CONSTRUÍDA
APÓS A MONTAGEM DOS DUTOS
DE PRESSURIZAÇÃO
DUTO DE EXAUSTÃO
VER PROJETO DE INSTALAÇÕES
0.28 0.85 0.85 0.28
0.30
0.20
0.40
0.40
0.45
0.30
0.20
0.45
0.93
2.12
0.62
0.62
3.05
0.13
0.20
1.65
10.41 m²
COPA
PACIENTE
01
05 03
33.89 m²
HALL SOCIAL
06
09 03
125.79 m²
CIRCULAÇÃO
03
09 05
AB.
3
JA
3
SHAFT PRESS.
PCF16
PCF1
PS10
7
PCF19
BALCÃO EM GRANITO
h=1.10m
PROJEÇÃO MURETA DE ALVENARIA
PROJ. MURETA
ALVENARIA
BALCÃO EM GRANITO
h=1.10m
BALCÃO EM GRANITO
h=0.85m (PCD)
PROJ.
CORTINA
CORTA
FOGO
PROJ.
CORTINA
CORTA
FOGO
PROJ. MURETA
ALVENARIA
HIDRANTE
1.65
PM11
PM2
PCF16
0.05
ADAS, ÁRVORES, GUIAS
PAGINAÇÃO DE PISO DE
AS EXTERNAS (TÉRREO)
ER VERIFICADAS NO
DE PAISAGISMO.
3.91 m²
A.C. ISOL.
03
10 03
3.87 m²
BANHO ISOL.
02
03 03
13.27 m²
ISOLAMENTO
03
10 03
04
RP
FR1
PTV
PCF20
0.25
6.18
0.64
0.45
2.25
0.45
0.80 0.20 0.20
1.06
PM4
PM2
PM9
0.32
MQ MIC
FG1
JUNTA DE
DILATAÇÃO ENTRE
PAREDES
0.20
0.50
0.30
0.35
1.34 2.11
3.45
0.85
0.72
0.50
0.87
BG4a
BG5a
PM2
PM4*
PM4*a
PS4
0.45
0.95
0.30
N
ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI
ARQUITETO COORDENADOR
CLIENTE:
OBRA:
LOCAL:
ASSUNTO:
PROJETO:
CÓDIGO:
ETAPA: REVISÃO: FOLHA
ESCALA
ARQUITETURA EQUIPE
ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI
DATA: / /
DATA: / /
APROVAÇÃO DO CLIENTE
DATA INICIAL
PROJETO
ARQUITETA
ENGENHEIRO
ARQUITETOS COLAB.
.
THAIS BARZOCCHINI
CARLA ANDRADE
ERNANI MOURA
ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA,
RAQUEL, ÉRIC
PROJETO EXECUTIVO
RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992
zanettini@zanettini.com.br DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS
ZANETTINI
ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA
1 : 50
07/05/15
PLANTA DO 6º PAVIMENTO
HOSPITAL SÃO CAMILO
POMPÉIA
ARQ-026
Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP
HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5
ARQ - ARQUITETURA
879 - PBB
R9
ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-026-06P-R9
REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA
R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16
R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16
R3 REVISÃO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI ZANETTINI 23/05/16
R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16
BASE A EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS CARLA ZANETTINI 01/02/17
BASE B EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS (1P-9P) CARLA THAÍS 13/04/17
R5 INCLUSAO DE DISP. ELETRON. INTERNAÇÕES CARLA THAÍS 04/05/17
R6 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17
R7 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17
R8 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17
R9 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18
Figura 212 Planta sexto pavimento. Bloco V. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
248
As passarelas aéreas que interligam o Bloco IV ao Bloco V
são compostas por estruturas metálicas e fechamentos em vidro
azulado, idêntico ao aplicado nas fachadas do Bloco V. O seu in-
terior é pintado de branco, com piso revestido em porcelanato e lu-
minárias embutidas, que percorrem toda a estrutura (Figura 214). A
primeira passarela está apoiada em dois pilares (Figura 215), tendo
um desvio no eixo de circulação devido à existência de uma árvore
(Figuras 216), sendo usada principalmente pelos pacientes e acom-
panhantes. A segunda (Figura 217), de uso exclusivo dos funcioná-
rios, não apresenta desvios em seu eixo de circulação, permitindo
uma ligação direta entre os dois blocos.
9º PAV.
134.60
1º PAV.
106.66
2º PAV.
110.85
3º PAV.
114.24
4º PAV.
117.63
5º PAV.
121.02
6º PAV.
124.40
7º PAV.
127.79
8º PAV.
131.18
3º SS
92.17
2º SS
95.47
4º SS
88.87
5º SS
85.57
E D C B A
COBERTURA
139.90
COBERTURA ESCADA
143.29
TÉRREO
102.27
1° SS
98.80
8.40
8.40
7.20
7.20
3.39
5.30
3.42
3.39
3.39
3.39
3.39
3.39
3.39
4.19
4.39
3.47
3.33
3.30
3.30
3.30
2.50
2.50
1.31
DET-009
DET-009
DET-008
0.50
DET-009
DET-044
2.50
2.80
1.24
3.17
1.31
2.38
2.50
1.47
DET-42A
GUARDA CORPO COM
FECHAMENTO EM TELA
ONDULADA
CORRIMÃO
EM AÇO
ESCADA
METÁLICA
DET-42B
2.48
2.38
0.19
0.25
1.10
1.75
2.65
2.65
2.65
2.65
2.50
3.50
CORTINA CORTA FOGO
CORTINA CORTA FOGO
CORTINA CORTA FOGO
CORTINA CORTA FOGO
CORTINA CORTA FOGO
107.06
2.70
2.30
2.40
2.40
2.40
2.40
2.40
2.40
2.40
2.80
ESCADA 02
TOMADA DE
AR
ESTACIONAMENTO
TOMADA DE
AR
ESTACIONAMENTO
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
A.C.
CIRCULAÇÃO
A.C.
ELEV.
SOCIAL 1
(15 pessoas)
A.C.
A.C.
HALL SOCIAL
HALL SOCIAL
BANHO
TIPO A
HALL SOCIAL
A.C.
A.C.
ESPERA
36 lug.
BANHO
TIPO A
HALL SOCIAL CIRCULAÇÃO
HALL SOCIAL
BANHO
TIPO A
BANHO
TIPO A
HALL SOCIAL
CIRCULAÇÃO
A.C.
SANIT. PUBL.
MASC.
SANIT. PUBL.
FEM.
SANIT. PUBL.
MASC.
SANIT. PUBL.
FEM.
HALL SOCIAL
SALA DE
MÉDIA
TENSÃO
CIRCULAÇÃO
CASA DE
MÁQUINAS
(ELEVADORES) ESCADA 02
CASA DE
BOMBAS
(descoberta)
ESTACIONAMENTO
ESTACIONAMENTO
ESTACIONAMENTO
COBERTURA
VERDE
A.C.
A.C.
HALL SOCIAL
A.C.
A.C.
COBERTURA
ESCADA
ÁREA
EXTERNA
SALA UPS
PISO TÉCNICO
Ambiente
CASA MÁQ.
PRESS.
ESCADA 02
CASA DE
MÁQUINAS
(ELEVADORES)
COBERTURA
POÇO DOS
ELEVADORES
A.C.
ESPERA
33 lug.
HALL SOCIAL
CIRCULAÇÃO
CIRCULAÇÃO
SHAFT PRESS.
CIRCULAÇÃO
SHAFT PRESS.
CIRCULAÇÃO
ESPERA
40 lugares
2.30
2.30
2.50
2.50
2.50
2.50
2.50
2.50
2.50
2.50
2.50
2.50
2.80
2.50
2.50
2.50
2.50
2.50
1 : 100
CORTE AA
CORTE AA - PERSPECTIVA
Figura 213 Corte transversal. Bloco V. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
249
Figura 215 Vista e corte de ambas as plataformas.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
Figura 214 Interior da primeira plataforma.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
CALÇADA INT.
CALÇADA
corre
38M3
PISTA DE ACESSO
DE AUTOMÓVEIS
(LOMBOFAIXA)
RESERVATÓRIO
ÁGUA
PLUVIAL 3 100,22
102,15
102,00
102,15
1º PAV.
106.66
2º PAV.
110.85
3º PAV.
114.24
4º PAV.
117.63
5º PAV.
121.02
6º PAV.
124.40
7º PAV.
127.79
TÉRREO
102.27
02°PAV - BL2 (EXIST.)
110.00
03°PAV - BL2 (EXIST.)
113.30
3.39
4.19
4.39
i =6.1%
107.09
FORRO
PRUMADA DE CAPTAÇÃO
DA COBERTURA
6º PAV. (EXIST.)
123.13
7º PAV. (EXIST.)
126.37
2.80
106.66
SOBE i=8.1%
3.22
2.40
3.14
PRUMADA DE CAPTAÇÃO
DA COBERTURA
A VARANDA DO 6°PAVIMENTO DEVERÁ SER
REMOVIDA PARA A ESTRUTURA DA
PASSARELA SER APOIADA NA ESTRUTURA
EXISTENTE.
VERIFICAR CONDIÇÕES.
GUARDA CORPO EM AÇO
INOX
COM ESTRUTURA VERTICAL
ALINHADA NOS MONTANTES
DA ESQUADRIA DE FACHADA
CORRIMÃO E GUIA DE
BALIZAMENTO EM AÇO INOX
CORRIMÃO E GUIA DE
BALIZAMENTO EM AÇO INOX
DET
DET-046
DET
DET-046
GUARDA CORPO EM AÇO INOX
COM ESTRUTURA VERTICAL
ALINHADA NOS MONTANTES DA
ESQUADRIA DE FACHADA
CORRIMÃO E GUIA DE
BALIZAMENTO EM AÇO INOX
CORRIMÃO E GUIA DE
BALIZAMENTO EM AÇO INOX
DET
DET-046
DET
DET-046
1.20
0.60
FORRO
123.77
FORRO
FORRO
SOBE i=8.1%
i =6.1%
1º PAV.
106.66
2º PAV.
110.85
3º PAV.
114.24
4º PAV.
117.63
5º PAV.
121.02
6º PAV.
124.40
7º PAV.
127.79
8º PAV.
131.18
6
TÉRREO
102.27
3.39
4.19
4.39
DET-045
107.09
7.15
4.82
FORRO
i =5%
COBERTURA EM
TELHA METÁLICA
ZIPADA
RUFO
127.52
128.02
CALHA
Ver proj. espec. de
hidráulica
CAPTAÇÃO
HIDRÁULICA
Ver proj. espec.
RUFO
COBERTURA EM
TELHA METÁLICA
ZIPADA
RUFO
CALHA
Ver proj. espec. de
hidráulica
CAPTAÇÃO
HIDRÁULICA
Ver proj. espec.
RUFO
i =5%
3.14
ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI
ARQUITETO COORDENADOR
CLIENTE:
OBRA:
LOCAL:
ASSUNTO:
PROJETO:
CÓDIGO:
ETAPA: REVISÃO: FOLHA
ESCALA
ARQUITETURA EQUIPE
ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI
DATA: / /
DATA: / /
APROVAÇÃO DO CLIENTE
DATA INICIAL
PROJETO
ARQUITETA
ENGENHEIRO
ARQUITETOS COLAB.
.
THAIS BARZOCCHINI
CARLA ANDRADE
ERNANI MOURA
ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA,
RAQUEL, ÉRIC
PROJETO EXECUTIVO
RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992
zanettini@zanettini.com.br DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS
ZANETTINI
ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA
1 : 50
07/05/15
PASSARELA - PLANTA DE COBERTURA E CORTES
HOSPITAL SÃO CAMILO
POMPÉIA
ARQ-040
Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP
HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5
ARQ - ARQUITETURA
879 - PBB
R7
ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-040-PAS - CTS-R7
1 : 50
CORTE DD - PASSARELA
1 : 50
CORTE EE - PASSARELA
REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA
R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16
R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16
R3 REVISÃO ONDE INDICADO ERNANI ZANETTINI 13/05/16
R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16
R5 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17
R6 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17
R7 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18
250
S
S
shaft
shaft
proj. vigas tubulares calandradas
6
5
2
2
4
4
TV
22"
proj. forro
proj. forro
QUARTO
2
QUARTO
1
projeção
pav.
superior
6
5
E
5'
PROJ.
MARQUISE
(EXISTENTE)
PROJ.
BLOCO
2
(EXISTENTE)
PROJ.
MARQUISE
(EXISTENTE)
BLOCO 2
(EXISTENTE)
1º PAVIMENTO
PILAR DE APOIO
PASSARELA
106.66
106.59 (N.O.)
2.65
3.65
CONSULTÓRIO
ORTOPEDIA
03
10 03
CONSULTÓRIO
ORTOPEDIA
03
10 03
1
ARQ-030
DD
ARQ-040
DD
ARQ-040
0.45
2.30
PILAR DE APOIO
PASSARELA
3.46
2.65
9.45
EE
ARQ-040
EE
ARQ-040
107.09
106.66
106.66
107.09
i =6.1%
i =6.1%
PCF20
AL23
AL23
AL23
AL22
PCF8
8.47
PASSARELA
01 03
02
02
01
PRUMADA DE
CAPTAÇÃO DA
COBERTURA
107.09
PCF20
08
PRUMADA DE
CAPTAÇÃO DA
COBERTURA
1.51
1.20
1.20
GUARDA-CORPO H= 1,10m
GUARDA-CORPO H= 1,10m
CORRIMÃO
CORRIMÃO
CORRIMÃO
GUARDA-CORPO H= 1,10m
CORRIMÃO
CORRIMÃO
0.85
0.85
CORRIMÃO
CORRIMÃO
6.96
6.92
DET
DET-046
DET
DET-046
-
---
-
---
2
CMP-004
2
CMP-004
6
5
E
5'
BLOCO 2
(EXISTENTE) 2º
PAVIMENTO
BLOCO 5
2º PAVIMENTO
0.22
6.98
ELEV.
SOCIAL 3
(15 pessoas)
30.34 m²
HALL SOCIAL
ESPERA
22 lug.
1
ARQ-030
DD
ARQ-040
DD
ARQ-040
EE
ARQ-040
EE
ARQ-040
MÁQ. CAFÉ /
SNACKS
110.00
AL23
AL23
AL23
AL22
CAPTAÇÃO AP DA
COBERTURA
CAPTAÇÃO AP DA
COBERTURA
CAPTAÇÃO AP DA
COBERTURA
8.36
COBERTURA PASSARELA
TELHA METÁLICA ZIPADA
ROOF METÁLICO
5%
5%
5%
IN
T
E
R
L
IG
A
R
-
---
-
---
2
CMP-004
2
CMP-004
1 : 50
1° PAVIMENTO - PASSARELA
1 : 50
2º PAVIMENTO - COBERTURA PASSARELA
Figura 216 Planta e vista da primeira passarela. Bloco V. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
251
DN
DN
S
i= 8,0%
S
i= 8,1%
BANHEIRO
C
B
A
E
1
ARQ-030
DD
ARQ-040
DD
ARQ-040
EE
ARQ-040
EE
ARQ-040
PCF20
A VARANDA DO 6°PAVIMENTO DEVERÁ SER
REMOVIDA PARA A ESTRUTURA DA PASSARELA
SER APOIADA NA ESTRUTURA EXISTENTE.
VERIFICAR CONDIÇÕES.
SUGESTÃO:
DESVIO DA CAPTAÇÃO DA
COBERTURA DA
PASSARELA
SUGESTÃO:
DESVIO DA CAPTAÇÃO DA
COBERTURA DA
PASSARELA
PASSARELA
01 03 02
PCF23
ISOLAMENTO
A.C. ISOL.
BANHO ISOL.
HALL SOCIAL
CIRCULAÇÃO
03
09 05
GUARDA-CORPO H= 1,10m
GUARDA-CORPO H= 1,10m
CORRIMÃO CORRIMÃO
CORRIMÃO
CORRIMÃO
DET
DET-046
DET
DET-046
-
---
-
---
2
CMP-004
2
CMP-004
AL24
02
0.20
2.60
0.20
1.41 7.86 15.00 7.83
6
5
E
5'
1
ARQ-030
DD
ARQ-040
DD
ARQ-040
EE
ARQ-040
EE
ARQ-040
CAPTAÇÃO DA
COBERTURA
CAPTAÇÃO DA
COBERTURA
COBERTURA PASSARELA
TELHA METÁLICA ZIPADA
RUFO METÁLICO
5%
A VARANDA DO 6°PAVIMENTO DEVERÁ SER
REMOVIDA PARA A ESTRUTURA DA
PASSARELA SER APOIADA NA ESTRUTURA
EXISTENTE.
VERIFICAR CONDIÇÕES.
ISOLAMENTO
APARTAMENTO
BANHO
TIPO A
BANHO ISOL.
A.C. ISOL.
HALL SOCIAL
-
---
-
---
2
CMP-004
2
CMP-004
CALHA METÁLICA
1 : 50
6º PAVIMENTO - PASSARELA
1 : 50
7º PAVIMENTO - COBERTURA DA PASSARELA
Figura 217 Planta e vista da segunda passarela. Bloco V. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
252
5.3. Análises
5.3.1. Da aplicação do princípio de humanização
espacial
Zanettini demonstra grande preocupação com a ambiência
dos espaços projetados e com o conforto dos usuários. No hospital,
o arquiteto aplicou diversas ferramentas da humanização espacial,
tendo cuidado para que esses elementos fossem incorporados con-
soante os orçamentos estabelecidos pelo cliente, além de respeitar
a história da instituição e do edifício original.
Em seu projeto, grandes aberturas e planos de vidros (Figura
218) foram posicinadors particularmente nos blocos IV e V, de modo
a permitir a entrada de luz natural nos ambientes e a visualização
dos acontecimentos externos e da passagem de tempo. No Bloco I,
o arquiteto reposicionou as janelas das unidades de UTI de tal forma
que os pacientes deitados pudessem ter uma vista desobstruída do
céu e da igreja próxima (Figura 219).
Figura 218 Espaço de estar
do saguão principal. Bloco
II e IV.
Fonte: acervo pessoal da
autora, 2022
Figura 219 Vista da janela
da UTI para a Igreja, ângulo
de visão do paciente deitado.
Bloco V.
Fonte: acervo pessoal da
autora, 2022.
253
A setorização espacial, que prioriza os espaços utilizados pe-
los pacientes em virtude da entrada de luz natural e outros fatores
ambientais, é indispensável para auxiliar no processo de cura. Em
razão dessa prioridade, alguns ambientes não apresentam janelas,
como é possível notar nas salas de estar nos pavimentos de interna-
ção do Bloco V (Figura 220). Para tornar esses espaços mais con-
fortáveis e agradáveis, o arquiteto aplicou um projeto luminotécnico
com uma iluminação indireta quente, posicionada no forro.
Zanettini também utilizou diversas luminárias, com desenhos
que demonstram o período de construção dos edifícios. No Bloco
III, foram instaladas luminárias tubulares com fechamento em gradil
(Figura 221). Contudo, devido à necessidade de limpeza, estas fo-
ram substituídas pelas de embutir, instaladas no forro.
Figura 221 Corredor dos andares de internação. Bloco III.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 220 Sala de espera no 6º pavimento. Bloco V.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
254
O arquiteto trabalhou com paletas de cores que se comple-
mentam (Figuras 222 e 223), presentes tanto em revestimentos e pi-
sos, quanto no mobiliário e elementos decorativos. A primeira paleta
é composta por tonalidades claras e neutras, representadas pelo
branco das paredes e pisos, pelo amarronzado dos mobiliários e
divisórias de madeira, e pelo acinzentado das bancadas de granito
e alumínio. A segunda, com tonalidades mais intensas e coloridas,
está presente no desenho original do piso, no mobiliário, nos ele-
mentos decorativos e nos revestimentos dos quartos e consultórios.
Conforme mencionado no segundo capítulo, elementos deco-
rativos podem alterar a percepção que o usuário tem do espaço. No
hospital, Zanettini realizou um trabalho interessante ao não cobrir os
azulejos decorativos existentes desde 1960 (Figura 224), demons-
trando o cuidado do arquiteto em preservar a história do edifício ao
mesmo tempo em que aproveita a ambiência pré-existente. Além
disso, ele também posicionou quadros nos corredores das áreas
de internação e painéis decorativos em locais específicos, como na
entrada da capela (Figura 225).
Figura 222 Identificação do desenho de piso original de Zanettini, em creme e laranja,
acompanhado por uma paleta de cores neutras nos demais elementos arquitetônicos e
decorativos. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
255
Figura 223 apartamento individual.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
Figura 224 Azulejos decorativos de 1960. Bloco I.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 225 mural na entrada da capela.
Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
256
Estes elementos estão diretamente ligados à organização
espacial dos ambientes. No Bloco I, o arquiteto alterou o layout dos
quartos de internação, projetando duas conformações espaciais dis-
tintas, uma para os quartos individuais e outra para os compartilha-
dos (Figura 226), porém com características arquitetônicas seme-
lhantes, gerando a mesma ambiência. Infelizmente, não foi possível
fotografar esses apartamentos durante a visita técnica.
As unidades de UTI (Figura 227) de todo o hospital têm a
mesma linguagem arquitetônica, com pequenas variações em rela-
ção à sua localização. Algumas delas apresentam um formato trape-
zoidal de implantação, com uma entrada angular, enquanto outras
têm um formato ortogonal, com entradas frontais ou laterais. Segun-
do o projeto de Zanettini para a ala de UTI do Bloco I, era previsto o
fechamento por cortina (Figura 228), mas, como medida preventiva
de contaminação cruzada, esses elementos foram substituídos por
portas de vidro de correr ou abrir (Figura 229). Apenas em unidades
que ainda apresentam o formato trapezoidal, as cortinas permane-
ceram, devido ao tamanho e à angulação do vão, o que, caso con-
trário, causaria dificuldades para a locomoção das macas.
Figura 226 Planta dos
quartos do Bloco I.
Fonte: projeto arquitetô-
nico do hospital dispo-
nibilizado pelo escritório
Zanettini Arquitetura.
257
Figura 227 Interior de um dos quartos de UTI, Bloco I.
Fonte: acesso pessoal da autora, 2023.
Figura 228 Fechamento das unidades de UTI por portas de correr transparentes. Fonte:
acervo pessoal da autora, 2022.
Figura 229 Entrada de quartos no andar
de UTI com fechamento em cortina. Fon-
te: acesso pessoal da autora, 2023.
258
Os quartos de internação e consultórios apresentam uma
organização espacial que facilita a acessibilidade, com um dimen-
sionamento que proporciona facilidade de locomoção. A linguagem
arquitetônica nos consultórios (Figura 230) é a mesma para todos
os blocos do hospital, onde o arquiteto trabalha com diferentes ma-
teriais e uma paleta de cores complementares e equilibradas, não
sobrecarregando os pacientes.
O projeto paisagístico do hospital apresenta particularidades
em relação às configurações espaciais dos blocos. Dada a limitação
espacial imposta pela malha urbana atual, os blocos I, II, III e IV
apresentam áreas reduzidas de vegetação ao nível do solo. Os can-
teiros existentes visam proporcionar aos usuários uma aproximação
visual da vegetação, bem como marcar as entradas (Figura 231). O
Bloco V difere por apresentar vegetação arbórea e mobiliário urba-
no, como bancos de concreto, que delimitam os canteiros e permi-
tem que os usuários do hospital usufruam do espaço e da qualidade
ambiental existente (Figura 232).
Figura 230 Consultó-
rio médico. Bloco V.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022.
Figura 231 Canteiro ao
térreo. Bloco III.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022.
259
Zanettini também incorporou a vegetação nas coberturas dos
blocos, proporcionando uma aproximação tanto física quanto visu-
al. Na cobertura do Bloco III, o arquiteto projetou um terraço jardim
destinado à deambulação de pacientes e funcionários (Figuras 233).
Este apresenta um desenho de piso orgânico que circula a volume-
tria da casa de máquinas e delimita os canteiros com vegetação pre-
dominantemente arbustiva. De acordo com a arquiteta Dyane, em
entrevista, este espaço está sendo utilizado apenas para atividades
pontuais, previamente autorizadas pelo departamento de segurança
do hospital, ficando constantemente interditado. Dessa forma, não
foi possível vislumbrar como os pacientes utilizam o local.
Figura 232 Canteiro na
entrada do Bloco V.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022.
Figura 233 Foto pano-
râmica do terraço-jar-
dim.
Fonte: acesso pessoal
da autora, 2023.
260
No Bloco V, o arquiteto também projetou locais com cobertu-
ra verde (Figura 234), marcados pelas alterações na volumetria do
edifício (Figura 235), porém, diferente do terraço-jardim, os usuá-
rios do hospital não têm acesso físico a eles. Os canteiros ajardina-
dos, com vegetação rasteira, são delimitados por pisos cimentícios
e estão localizados no quarto, quinto e sexto pavimentos (Figuras
9º PAV.
134.60
1º PAV.
106.66
2º PAV.
110.85
3º PAV.
114.24
4º PAV.
117.63
5º PAV.
121.02
6º PAV.
124.40
7º PAV.
127.79
8º PAV.
131.18
3º SS
92.17
2º SS
95.47
4º SS
88.87
5º SS
85.57
E D C B A
COBERTURA
139.90
COBERTURA ESCADA
143.29
TÉRREO
102.27
1° SS
98.80
7.20 7.20 8.40 8.40
3.39
5.30
3.42
3.39
3.39
3.39
3.39
3.39
3.39
4.19
4.39
3.47
3.33
3.30
3.30
3.30
1.20
2.50
1.24
1.23
1.23
1.20
1.31
80.15
0.75
0.80
0.55
RESERVATÓRIO INFERIOR
80.15
DET-009
DET-008
DET-009
DET-009
DET-041
DET-008
DET-044
DET-044
DET-017
A
DET-015
DET-021
DET-015
DET-021
5.42
81.15
80.15
83.85
1.30
0.95
5.05
3.90
BASE RESERVATÓRIO
h=30cm
2.40
2.60
2.50
2.50
2.40
1.23
2.40
3.41
2.80
3.41
2.65
2.65
2.65
2.65
4.65
3.70
0.40
3.40
3.50
2.30
0.40
2.70
1.20
1.30
0.90
0.80
107.06
2.40
2.40
2.40
2.40
2.80
2.80
1.23
1.23
1.23
ESTACIONAMENTO
RECEPÇÃO /
CRACHÁ
SANIT. PCD
RELATÓRIO
POSTO DE
ENFERMAGEM
RELATÓRIO
POSTO DE
ENFERMAGEM
ESPERA
30 lug.
ESPERA
15 lugares
RELATÓRIO
ESPERA
40 lug.
RELATÓRIO POSTO DE
ENFERMAGEM
RELATÓRIO
POSTO DE
ENFERMAGEM
CIRCULAÇÃO
CIRCULAÇÃO
ESPERA
10 lug.
CIRCULAÇÃO
CIRCULAÇÃO
ESTACIONAMENTO
ESTACIONAMENTO
ESTACIONAMENTO
COBERTURA
VERDE
POSTO DE
ENFERMAGEM
COBERTURA
VERDE
RESERVATÓRIOS
INFERIORES
ÁREA
EXTERNA
PISO TÉCNICO
Ambiente
ESTACIONAMENTO
MACA /
CADEIRA DE
RODAS
COBERTURA
CENTRAL DE
AQUECIMENTO
RESERVATÓRIO
DE ÁGUA DE
REUSO
(volume=48m³)
COPA COLAB. COPA PAC.
COPA
PACIENTE
ROUPA SUJA
COPA PAC.
COPA COLAB.
ROUPA SUJA
COPA COLAB.
ROUPA SUJA
ESPERA
PEDIATRIA
24 lug.
?
?
RECEPÇÃO
LANCHONETE
SANIT.
COLAB.
SANIT.
COLAB.
COPA COLAB.
CASA
BOMBAS
ESPERA
11 lug.
CIRCULAÇÃO
PISCINA
TERAPÊUTICA
1.23
106.16 106.16
106.56
2.80
2.50
N
ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI
ARQUITETO COORDENADOR
CLIENTE:
OBRA:
LOCAL:
ASSUNTO:
PROJETO:
CÓDIGO:
ETAPA: REVISÃO: FOLHA
ESCALA
ARQUITETURA EQUIPE
ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI
DATA: / /
DATA: / /
APROVAÇÃO DO CLIENTE
DATA INICIAL
PROJETO
ARQUITETA
ENGENHEIRO
ARQUITETOS COLAB.
.
THAIS BARZOCCHINI
CARLA ANDRADE
ERNANI MOURA
ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA,
RAQUEL, ÉRIC
PROJETO EXECUTIVO
RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992
zanettini@zanettini.com.br DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS
ZANETTINI
ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA
1 : 100
07/05/15
CORTE CC
HOSPITAL SÃO CAMILO
POMPÉIA
ARQ-036
Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP
HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5
ARQ - ARQUITETURA
879 - PBB
R7
ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-036-CTC-R7
1 : 100
CORTE CC
CORTE CC - PERSPECTIVA
REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA
R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16
R2 REVISÃO ONDE INDICADO ERNANI ZANETTINI 13/05/16
R3 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16
R4 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17
R5 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17
R6 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17
R7 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18
236 e 237). Zanettini posicionou locais
utilizados pelos usuários nas proximi-
dades com os canteiros, priorizando os
quartos de internação e os corredores
de acessos, permitindo sua fácil visua-
lização por grandes planos de vidros e
aberturas basculantes (Figura 238).
Figura 234 Cobertura
verde do Bloco V.
Fonte: acesso pessoal
da autora, 2023.
Figura 235 Corte transversal enfatizando a
alteração de volumetria do edifício.
Fonte: acervo escritório Zanettini arquitetu-
ra, 2020.
261
Figura 236 localização das coberturas verdes nos pavimentos e a ocupação do entorno. A direita, quarto pavimento.
A esquerda, quinto pavimento. Fonte: acervo escritório Zanettini arquitetura, 2020.
Figura 237 localização das coberturas verdes do sexto pavimento e a ocupação do entorno.
Fonte: acervo escritório Zanettini arquitetura, 2020.
Figura 238 Foto interna do corredor do quinto pavimento. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
262
O hospital foi concebido com diferentes espaços lúdicos, com
base em outros projetos do arquiteto, como o Atrium do Hospital
Albert Einstein. No saguão principal dos blocos II e IV, inicialmen-
te, foram planejadas uma cafeteria e quatro lojas, visando atender
às necessidades dos usuários (Figuras 239). Após a construção do
bloco V e das passarelas aéreas, houve uma alteração no layout
do mezanino, o que ocasionou a substituição desses espaços pela
Casa Bauducco, com uma área dedicada às mesas (Figuras 240).
O piano, previsto no mezanino, está ocupando um dos espaços de
estar previsto no projeto de Zanettini. A Arqta. Dyane informou, em
entrevista, que este instrumento era utilizado pelos usuários até
2020, quando foi proibida a sua utilização em razão da pandemia da
Covid-19.
Figura 239 Diagrama
comparativo de setoriza-
ção de parte do saguão.
Fonte: acervo próprio da
autora, 2023
Legenda:
Lojas
Cafeteria
Recepção
Figura 240 Casa Bauducco.
Fonte: acervo pessoal da
autora, 2022.
263
O mezanino foi ampliado devido à primeira plataforma metá-
lica que dá acesso ao Bloco V (Figura 241). Nele foram instalados
dois ambientes de estar, com sofás de cores semelhantes às dos
mobiliários do andar inferior (Figura 242), além do restaurante De-
ola, conforme previsto no projeto de Zanettini. Este restaurante tem
fechamento em vidro para iluminação e ventilação natural, com uma
faixa listrada fosca para garantir a privacidade dos usuários.
Restaurante
Áreas de estar
Figura 241 Diagrama de
alteração no layout do
pavimento.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2023.
Legenda:
Figura 242 Local de
mesas ao lado do
balcão de recepção.
Fonte: acervo pessoal
da autora, 2022
264
O arquiteto também projetou a capela localizada no corredor
de ligação entre os blocos I e II, com um grande mural marcando a
sua entrada e os vitrais coloridos com desenho orgânico. O layout
atual (Figura 243) revela uma alteração no projeto, realizada pelos
próprios arquitetos do hospital, que incluiu o rebaixamento do forro
e a substituição do mobiliário.
Em 2021, o Carrefour Bairro foi incorporado ao subsolo do
Bloco III (Figura 244). Em entrevista, a Arqta. Dyane informou que,
apesar de ainda não ser muito comum, este é um novo produto da
rede Carrefour que está sendo introduzido nos edifícios comerciais
e de saúde, especialmente nos hospitais de grande porte e com-
plexidade. Segundo ela, ao contrário do mercado de Santana, o da
unidade Pompeia não é exclusivo para os funcionários, sendo usado
também pelos acompanhantes. É importante salientar que, indepen-
dentemente do público-alvo, o mercado atende às determinações do
hospital, especialmente no que diz respeito ao combate à dissemi-
nação de doenças ou contaminação cruzada.
Figura 243 Foto interna da capela. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.
265
Figura 244 Planta de layout e fachada do Carrefour Bairro. Fonte: departamento de arquitetura do hospital São Camilo, 2022.
266
5.3.2. Da aplicação das técnicas sustentáveis
A sustentabilidade é fundamentada em três pilares – o eco-
nômico, o social e o ambiental – que norteiam as soluções aplicadas
aos edifícios. Zanettini demonstra preocupação com a relação entre
o edifício e o meio ambiente, aplicando esse princípio em seus pro-
jetos desde a década de 1970, assim como em todos os blocos do
Hospital São Camilo Pompeia, principalmente no bloco V.
Dado que a intervenção no Bloco I não causou alterações
significativas na estrutura do edifício, a sustentabilidade foi aplicada
pontualmente, sobretudo na redução do volume de resíduos gera-
dos durante a reforma. A instalação de coberturas metálicas indus-
trializadas, a utilização de divisórias leves e a substituição do piso
existente por manta asfáltica foram algumas das soluções realiza-
das.
A utilização de pisos em manta sem reentrâncias e divisórias
leves facilita a manutenção e alteração de layout dos ambientes, di-
minuindo a quantidade de resíduos. Este raciocínio, presente desde
o projeto do Hospital Maternidade Escola Vila Nova Cachoeirinha,
foi aplicado também nos demais blocos do hospital.
Ao elaborar o Plano Diretor, o arquiteto acrescentou outras
soluções sustentáveis, incorporando tecnologias inovadoras. Pri-
meiramente, realizou uma análise de ocupação da área, visando
considerar as condições atmosféricas e ambientais como elementos
fundamentais para a definição do projeto. Ao adquirir os terrenos
vizinhos, foram projetadas diversas circulações horizontais, ao nível
do solo, com pisos industrializados e permeáveis, permitindo a dre-
nagem das águas pluviais.
Além disso, Zanettini concebeu soluções projetuais que or-
ganizaram a circulação de veículos, como a inclusão de estacio-
namentos subterrâneos e vagas para ambulâncias nas laterais
dos edifícios. Dessa forma, procurou-se desafogar a avenida e, ao
mesmo tempo, complementar o transporte público, incorporando os
pontos de ônibus existentes ao projeto (Figura 245).
267
Apesar de as limitações físicas dos terrenos não permitirem
grandes áreas de vegetação, foram projetados canteiros ao nível
do solo (Figura 246), um terraço-jardim, coberturas verdes e pa-
rede verde, construída ao redor dos chillers, na cobertura (Figura
247). Estes últimos foram construídos nos blocos III e V, respecti-
vamente. Além de absorver as águas pluviais, essas soluções tam-
bém aumentam a liberação de oxigênio, melhorando a qualidade do
ar, e protegem a estrutura do edifício
das ondas de calor, reduzindo a tem-
peratura interna. Zanettini demonstra,
portanto, a importância da vegetação
para o projeto arquitetônico, uma vez
que, além do que já foi citado, o arqui-
teto demonstra uma preocupação com
a flora brasileira, dando preferência as
espécies nativas, além de preservar a
vegetação existente no terreno onde o
hospital foi construído.
Figura 245 Localização dos pontos de ônibus. Fonte: Geosampa, 2023. Disponível no site:< https://geosampa.prefeitura.
sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em abril/ 2024.
Figura 246 Corte do
canteiro com identifi-
cação do tanque para
águas pluviais. Bloco III.
Fonte: acervo do escritó-
rio Zanettini Arquitetura,
2020.
268
E D C B A
7.20 7.20 8.40 8.40
1.20
2.50
1.24
1.23
1.23
1.20
1.31
0.75
DET-009
DET-008
D
DET-009
DET-008
DET-015
1.30
5.05
3.90
BASE RESERVATÓRIO
h=30cm
2.40
2.60
2.50
2.50
2.40
1.23
2.40
3.41
2.80
3.41
2.65
2.65
0.40
3.40
3.50
2.30
0.40
2.70
1.20
1.30
0.90
0.80
107.06
2.40
2.40
2.40
2.40
2.80
2.80
1.23
1.23
1.23
ESTACIONAMENTO
RECEPÇÃO /
CRACHÁ
SANIT. PCD
RELATÓRIO
POSTO DE
ENFERMAGEM
RELATÓRIO
POSTO DE
ENFERMAGEM
ESPERA
30 lug.
ESPERA
15 lugares
RELATÓRIO
ESPERA
40 lug.
RELATÓRIO POSTO DE
ENFERMAGEM
RELATÓRIO
POSTO DE
ENFERMAGEM
CIRCULAÇÃO
CIRCULAÇÃO
ESPERA
10 lug.
CIRCULAÇÃO
CIRCULAÇÃO
ESTACIONAMENTO
ESTACIONAMENTO
COBERTURA
VERDE
POSTO DE
ENFERMAGEM
COBERTURA
VERDE
ÁREA
EXTERNA
PISO TÉCNICO
ESTACIONAMENTO
MACA /
CADEIRA DE
RODAS
COBERTURA
CENTRAL DE
AQUECIMENTO
RESERVATÓRIO
DE ÁGUA DE
REUSO
(volume=48m³)
COPA COLAB. COPA PAC.
COPA
PACIENTE
ROUPA SUJA
COPA PAC.
COPA COLAB.
ROUPA SUJA
COPA COLAB.
ROUPA SUJA
ESPERA
PEDIATRIA
24 lug.
RECEPÇÃO
LANCHONETE
SANIT.
COLAB.
SANIT.
COLAB.
COPA COLAB.
CASA
BOMBAS
ESPERA
11 lug.
CIRCULAÇÃO
PISCINA
TERAPÊUTICA
1.23
106.16 106.16
106.56
2.80
2.50
sobe
6
5
4
2
1 3
E
D
C
B
5'
3.70 10.80 7.20 7.20
0.22
6.98 7.20
8.40
7.20
7.20
AA
ARQ-034
AA
ARQ-034
BB
ARQ-035
139.89
ESCADA 02
05
01 01
CASA DE
MÁQUINAS
(ELEVADORES)
05
12 01
139.90
14
PCF1a
PCF1
peitoril h=1,30m
peitoril h=1,30m
peitoril h=1,30m
peitoril
h=1,30m
peitoril
h=1,30m
peitoril
h=1,30m
peitoril
h=1,30m
CC
ARQ-036
CC
ARQ-036
JUNTA
DE
DILATAÇÃO
I
ARQ-042
I
ARQ-042
J
ARQ-042
J
ARQ-042
DET-017
C
0.25 1.71 3.60 1.62 0.25
0.20 12.41 0.20 3.04 0.25 1.75 0.25 4.93
0.25
9.95
11.53
21.70 14.15
DET-010
PONTOS DE
ANCORAGEM
DET-010
PONTOS
DE
ANCORAGEM
PONTOS DE
ANCORAGEM
DET-010
0.50
0.50
0.50
1.05
0.50
PONTOS DE
ANCORAGEM
DET-010
0.50
0.50
DET-010
0.25
PONTOS DE
ANCORAGEM
DET-010
0.20
8.00
0.25
4.33
0.25
2.75
0.25
2.40
0.25
1.65
0.25
54.74 m²
CASA DE
BOMBAS
(descoberta)
13
14
CASA DE
MÁQUINAS
(ELEVADORES)
05
12 01
1.20
0.30
0.90 0.20
1.20 0.20
2.00
0.20
1.75 0.25 4.93
219.68 m²
CHILLERS
(descoberto)
13
14
140.00
140.00
139.90
140.00
140.00
140.00
139.90
COBERTURA
14
PCF7a
PCF7a
PCF7a
PCF14a
PCF14a
PCF14a
PCF14a
PCF14a
PCF14a
PAREDE VERDE
VENEZIANADA PARA ALÍVIO DE
PRESSÃO DA ESCADA. VER
ESPECIFICAÇÃO NO PROJETO DE
INSTALAÇÕES.
PEITORIL
h
=
1.47
DET-013
DET-013
1.60
0.20
17.88
0.20
1.60
HIDRANTE
1.80
HIDRANTE
0.60
PCF1
PCF1a
DET-052
12.37
17.84
1 : 50
COBERTURA
Figura 247 Corte transversal enfatizando posicionamento das paredes verdes na cobertura. Bloco V.
Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020.
269
9 10
8
7.20 3.60 3.70
BB
ARQ-035
peitoril h=1,30m
peitoril h=1,30m
peitoril
h=1,30m
K
ARQ-042
K
ARQ-042
H
ARQ-042
H
ARQ-042
21.70
PONTOS DE
ANCORAGEM
0.50
PAINÉIS SOLARES (VER. PROJETO DE INSTALAÇÕES)
DUTO DE EXAUSTÃO
VER PROJETO DE INSTALAÇÕES
7
5
4
C
B
5'
AA
ARQ-034
AA
ARQ-034
BB
ARQ-035
BB
ARQ-035
7.20
0.22
143.29
COBERTURA
ESCADA
14
3.73
8.40
ESCADA MARINHEIRO
J
ARQ-042
J
ARQ-042
0.39
0.39
N
ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI
ARQUITETO COORDENADOR
CLIENTE:
OBRA:
LOCAL:
ASSUNTO:
PROJETO:
CÓDIGO:
ETAPA: REVISÃO: FOLHA
ESCALA
ARQUITETURA EQUIPE
ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI
DATA: / /
DATA: / /
APROVAÇÃO DO CLIENTE
DATA INICIAL
PROJETO
ARQUITETA
ENGENHEIRO
ARQUITETOS COLAB.
.
THAIS BARZOCCHINI
CARLA ANDRADE
ERNANI MOURA
ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA,
RAQUEL, ÉRIC
PROJETO EXECUTIVO
RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992
zanettini@zanettini.com.br DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS
ZANETTINI
ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA
1 : 50
07/05/15
PLANTA DE COBERTURA / COB. ESCADA
HOSPITAL SÃO CAMILO
POMPÉIA
ARQ-029
Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP
HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5
ARQ - ARQUITETURA
879 - PBB
R7
ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-029-COB-R7
1 : 50
COBERTURA DA ESCADA
REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA
R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16
R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16
R3 REVISÃO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI ZANETTINI 23/05/16
R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16
BASE A EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS CARLA ZANETTINI 01/02/17
R5 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17
R6 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17
R7 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18
O hospital também dispõe de uma subestação de energia
para atender aos blocos, sobretudo em períodos de escassez de
energia, tornando-o independente da rede pública. Esta subesta-
ção, composta por placas solares, está localizada na cobertura do
Bloco V (Figura 248), abastecendo o hospital. Além dessa solução
para economia de energia, o arquiteto também analisou o posicio-
namento das aberturas e instalou planos de vidro, que permitem a
entrada de luz natural para o interior dos ambientes.
Figura 248 Planta cobertura.
Bloco V. Sem escala.
Fonte: acervo do escritório
Zanettini Arquitetura, 2020.
270
Em termos de ventilação natural, é perceptível que as aber-
turas e portas de entrada dos ambientes, sobretudo nos quartos de
internação, permitem a ventilação cruzada, auxiliando no conforto
térmico interno e na qualidade ambiental. Já nos ambientes como
centros cirúrgicos e nas passarelas aéreas, o arquiteto optou por
aplicar o condicionamento forçado do ar.
Os edifícios foram construídos com uma variedade de solu-
ções industriais, tais como: estruturas pré-moldadas de concreto e
metálica, divisórias de painéis montadas e removíveis, revestimen-
tos de placas industrializadas de diversos tipos para parâmetros
internos; ferragens e peças hidráulicas industrializadas, ferragens
e peças hidráulicas industrializadas, argamassas de pedras indus-
triais, banheiros de concreto pré-moldado prontos de fábrica, e fa-
chadas unitizadas compostas por painéis modulares fechados com
vidro (Zanettini, 2019:5). Zanettini demonstra grande preocupação
com os resíduos, especialmente os RCDs e com o tempo de cons-
trução das edificações, ao trabalhar com a racionalização e indus-
trialização da construção, transformando o canteiro de obras num
local de montagem.
271
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos
Os edifícios hospitalares apresentam grande complexidade
projetual e construtiva, e estão em constante transformação e adap-
tação devido à evolução das técnicas e tecnologias construtivas e
médicas, que interferem diretamente no projeto arquitetônico e no
diálogo do projeto com o entorno. Essa complexidade também se
deve à necessidade de incluir no programa do hospital variados
setores envolvidos no seu funcionamento, cada setor envolvendo
questões projetuais específicos. Os profissionais devem estar ca-
pacitados a tornar a edificação um elemento auxiliador no processo
de cura, onde a aplicação dos princípios de humanização espacial e
sustentabilidade construtiva tornam-se extremamente relevantes na
qualidade do ambiente construído.
No Brasil, arquitetos modernos estiveram diretamente envol-
vidos com a evolução da arquitetura hospitalar, propondo novas so-
luções espaciais e construtivas. Arquitetos como Oscar Niemeyer,
Rino Levi, Irineu Breitman, Jarbas Karman, João Filgueiras Lima e
Siegbert Zanettini, entre outros, se dedicaram tanto a projetar edifí-
cios assistenciais à saúde quanto a divulgar os conhecimentos ad-
quiridos com os estudos e a experiência profissional. Todos eles,
inclusive Zanettini, se destacam pelo desenvolvimento de novas
soluções projetuais e de elementos construtivos, bem como pela
preocupação constante com a qualidade ambiental de seus projetos
e o conforto dos usuários.
Florence Nightingale foi a primeira a registrar observações a
respeito da qualidade do serviço prestado pelos médicos e enfer-
meiros e da relação entre as características do ambiente construído
e a cura dos pacientes, sendo considerada a precursora da humani-
Considerações finais
273
zação hospitalar. A partir da Revolução Industrial, e a consequente
superpopulação das cidades, a saúde pública passou a atender um
público cada vez maior, através de atendimento massificado – ape-
sar dos avanços extraordinários na ciência médica desde o século
XIX. A necessidade de atendimento em massa, combinado com os
avanços tecnológicos nas práticas de diagnóstico, cirurgia, anes-
tesia, epidemiologia, etc., levou à desumanização da Medicina, tal
como exposto por Ivan Illich. A arquitetura dos edifícios de saúde foi
afetada por esta visão massificada.
O conceito de sustentabilidade surgiu nos anos 1980, sendo
aplicada, a princípio, em edifícios residenciais, escolares, industriais
e comerciais. Os edifícios hospitalares são grandes consumidores
de recursos naturais, como água e energia, além de gerarem gran-
de quantidade de resíduos, durante a construção e no cotidiano
de seu funcionamento. Portanto, a aplicação de práticas de sus-
tentabilidade construtiva e ambiental, nos edifícios assistenciais à
saúde torna-se cada vez mais relevante. Contudo, as normas de
sustentabilidade arquitetônica hospitalar ainda não são oficialmen-
te adotadas no Brasil, uma vez que as certificações internacionais
não foram elaboradas de acordo com a realidade brasileira, o que
resulta numa compreensão vaga de como devem ser aplicadas, e
não estão definidas pelas autoridades de saúde.
Dada a relevância da humanização hospitalar e do concei-
to emergente de sustentabilidade, este trabalho objetivou analisar
suas aplicações em um caso de estudo selecionado, o Hospital São
Camilo Unidade Pompeia, projetado por Zanettini. As leituras espa-
ciais, entrevistas e visitas técnicas evidenciaram que, quando esses
princípios são aplicados corretamente, eles se tornam parte funda-
mental da edificação, permanecendo nas mudanças futuras.
Apreocupação com a humanização espacial está presente na
utilização de cores complementares em pisos e paredes; nas aber-
turas para luz e ventilação natural, voltadas para a paisagem urbana
que, entre outros fatores, tornam os ambientes mais confortáveis e
atrativos, tanto para os pacientes quanto para os funcionários. Toda-
274
via, foi possível constatar alterações projetuais, como mudanças de
layout e de materiais de acabamento em alguns espaços internos,
além da inclusão de espaços lúdicos como o Carrefour Bairro. Esta
questão abre espaço para discussões quanto a importância da sele-
ção criteriosa dos espaços lúdicos, que vem sendo adicionados aos
edifícios hospitalares, desde os anos 1980.
A preocupação com a questão da sustentabilidade foi de-
monstrada em várias etapas do projeto, sobretudo na elaboração
do projeto executivo – como nas especificações de construção –
objetivando um canteiro de obras limpo, com montagem de peças
pré-fabricadas e montadas in situ.
O dimensionamento das aberturas e o estudo de seu posicio-
namento, a racionalização da construção através de materiais se-
rializados e padronizados produzidos fora do canteiro, a aplicação
de pisos permeáveis e a instalação de placas solares na cobertura
estão vinculadas ao conforto dos usuários.
A vegetação, tanto como elemento de humanização do es-
paço hospitalar quanto de sustentabilidade, tem um grande impacto
no projeto. Infelizmente, como mencionado durante entrevista com
a arquiteta Dyane de Arruda e observado in loco, o terraço-jardim,
concebido por Zanettini para a deambulação dos pacientes, teve
seu acesso restrito devido à segurança física deles. Um fator um
tanto contraditório, uma vez que esse ambiente deveria auxiliar no
processo de cura e no estado físico e psicológico dos pacientes.
Assim, é possível concluir que, apesar percebermos neste
projeto o engajamento ativo e consciente de Zanettini em relação
à humanização hospitalar e sustentabilidade (sempre presente em
seu discurso como arquiteto, pensador e professor), algumas das
soluções projetuais pertinentes a estes dois aspectos foram alte-
rados ou substituídos posteriormente, pelas necessidades sempre
cambiantes do programa hospitalar; e de acomodação das exigên-
cias programáticas manifestadas pelos clientes habituais dos proje-
tos hospitalares: médicos, enfermeiros e administradores.
Muitos destes ainda não compreendem, parcial ou integral-
mente, a importância das questões de humanização e de susten-
275
tabilidade. As visões destes profissionais estão frequentemente de-
limitadas pelo campo, mais restrito, de suas especialidades, além
das demandas geradas pelo próprio mercado da medicina privada.
Nisto, não diferem muito de grande parte de outras categorias de
clientes de arquitetos. Assim, cabe aos arquitetos enfatizarem os
conceitos de sustentabilidade e humanização hospitalar como fun-
damentos de projeto, além de incentivar o conhecimento e o debate
da aplicação desses princípios em edifícios hospitalares.
276
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284
Nota de Introdução. Esta entrevista foi realizada como parte
desta pesquisa de Mestrado em desenvolvimento, acerca das
características projetuais da arquitetura hospitalar e da aplicação
dos princípios de humanização espacial e sustentabilidade em
edifícios hospitalares, tendo o projeto do Hospital São Camilo -
Unidade Pompeia, projeto do Arqto. Siegbert Zanettini, como caso
de estudo.
Antes de começarmos as perguntas, o Arqto. Zanettini abriu
a entrevista com uma reflexão crítica do estado atual da produção
da arquitetura no Brasil, da prática profissional do arquiteto,
dos problemas da inserção do arquiteto na produção da cidade,
prosseguindo com os fundamentos gerais de sua prática de
projeto como um todo, do contexto urbano ao partido e programa,
evoluindo para questionamentos a respeito da arquitetura hospitalar
contemporânea e uma análise crítica da aplicação do conceito
da sustentabilidade para a construção de edifícios assistenciais a
saúde.
Arqto. Zanettini - Teria algumas coisas mais gerais para a gente
entender a discussão e a colocação hoje, que eu entendo como ar-
quitetura contemporânea no caso brasileiro. Ela tem uma condição
ambiental muito importante para atender, que é a regionalidade do
Brasil em relação ao contexto mundial. E por estar num continente
que talvez tenha sido o mais estável em termos climáticos, de toda
a Terra.
Isso é importante porque pensar projetos para o país sem
essa base conceitual, como um local situado no globo terrestre, com
todos os privilégios ambientais que tem, aonde nenhum outro país
do mundo tem. Não existe nenhum outro país com as condições
ambientais no Brasil e não sabemos utilizá-las.
Anexo I
Entrevista com o arquiteto Siegbert
Zanettini no dia 17/02/2023.
285
Nossa arquitetura ao longo do tempo, inclusive a Moderna,
não foi capaz de entender essa questão estrutural. Quando eu co-
mecei a entender essas questões, na década de 60, que chamei de
ecoeficiência, não se falava nisso. O que é um contexto espacial
integrado com as condições ambientais e que é importante que seja
atendido.
Então lutar pela Amazônia e manter essas condições é pre-
servar nossa marca. E não é só a Amazônia, mas o país todo. Por-
que o que se destruiu do solo, do mar e dos rios aqui no Brasil é uma
coisa impressionante. Se destruiu pelos usos inadequados e por
intervenções do tipo da Vale, extremamente terríveis para o país.
Então é muito importante que, antes de pensar na nossa ar-
quitetura, temos que entender sua condição ambiental não só para
aproveitá-la, mas auxiliá-la também e não levar para ela todos os
detritos do mar, dos rios, e os detritos na superfície como o lixo ur-
bano.
Então antes de você pensar em colocar mais uma edificação
em mais um conjunto de edificações… como que eu, no meu proje-
to, começo a considerar essas questões todas para minimizá-las. A
minha contribuição tem que ser positiva e não negativa.
Essa relação de espaço e do ambiente no caso brasileiro,
para mim, é fundamental. Assim nasceu a minha ideia, a minha defi-
nição de ecoeficiência e que, depois, se transformou em sustentabi-
lidade. Na década de 92, quando apresentei o projeto Casa Limpa,
com os conceitos de sustentabilidade como hoje é divulgada e que
era, na realidade, uma evolução do conceito de ecoeficiência, que
eu já tratava desde a década de 60, em todos os meus projetos.
Não há nenhum projeto meu que não tem essa luz, essa ventilação
natural, condições muito importantes para a vida humana. Condi-
ções que precisam fazer parte dos nossos conceitos para que as
nossas proposições de arquitetura entejam sempre a favor e não
contra, como é até hoje essa forma de construção desencontrada
das cidades brasileiras. Como é o caso de São Paulo, uma divisão
de espaços sem nenhum critério.
Sobre planejamento na cidade, quando falam de planejamen-
to urbano, dou risada. Que planejamento urbano? Em São Paulo é
pegar a área e dividir, para dar maior lucro possível. Isso não é pla-
nejamento, e sim dividir inadequadamente o espaço.
Tenho críticas severas a nossa maneira de incorporar e im-
286
plantar cidades, porque é necessário condições estruturais para
você desenvolver tudo que vem junto, inclusive o específico. Pro-
jeto que já atende na sua especificidade e se integra num conjunto
que vai constituir a visão mais global. Isso não ocorrendo, então as
nossas intervenções ficam parciais e equivocadas e que constitui a
quase totalidade das cidades brasileiras.
Edifícios com orientações inadequadas, com a não inclusão
das questões ambientais no projeto. Esses projetos que são feitos
na cidade de São Paulo, possuem apartamentos ou escritórios vol-
tados para norte, sul, leste e oeste. Os projetos não têm orientação
solar, porque são divididos para dar o maior lucro possível.
Não entender essas coisas é continuar a implantar edifícios,
conjuntos e setores urbanos de maneira inadequada. O que cabe a
nós arquitetos profissionais que estamos preocupados? Primeiro é
saber se é uma condição estrutural que deve ser considerada, e não
erroneamente pensar nos seus projetos específicos.
Todos os nossos projetos tentam resolver essas condições
que a gente recebe como herança, como um terreno que tenha con-
dições inadequadas de implantação, de fluxos, de ocupação e uso
dos espaços vazios.
O que nasce antes do projeto é a forma de ocupação da área,
e incorporar as condições atmosféricas e ambientais, que são es-
truturais na definição de projeto. E isso vem sendo desconsiderado
na arquitetura brasileira. O que o edifício vai ocasionar na região?
O que ele recebe da região? O que eu preciso fazer para que esse
projeto beneficie a maior área possível?
Essas críticas venho colocar de início porque, se não, fica-
mos discutindo questões secundárias sem entender que antes de-
las existem condições estruturais mais importantes que temos que
considerar.
Todo plano diretor precisa considerar essas questões que
irão condicionar as demais: econômicas, espaciais, de circulação,
do sistema viário e na sequência as outras condicionantes que são
mais funcionais e mais diretamente atreladas à cada tipologia.
Eu posso implantar um edifício explorando melhor as condi-
ções locais, e as condições estruturais que o cercam superando os
conflitos pela circulação inadequada de acesso, que são determi-
nantes da região para o seu projeto.
Isso aconteceu no caso do São Camilo Pompeia. Uma aveni-
287
da extremamente ocupada, a Av. Pompeia como avenida principal, e
duas linhas de circulação, laterais e outra posterior, que se começou
a considerar no plano.
Mas seguimos na ordem e foi como é sempre. Fomos cha-
mados para resolver as entradas dos prontos socorros em relação
com a avenida, que era o projeto inicial, solucionando o térreo do
Bloco 1 existente.
Dá uma arrumada aqui embaixo que está muito ruim. Para
acessar, para acomodar pessoas, separar fluxos, fazer as condi-
ções funcionais ficarem um pouco melhor. Com a entrada do prédio
independente dos PS.
Então o primeiro projeto foi tratar o bloco ligado a avenida e
solucionar a parte inferior toda, que já deu uma melhorada significa-
tiva, porque era muito ruim realmente.
Arqta. Ana Lídia - Até a respeito do pronto-socorro adulto. A entra-
da do Pronto Socorro Adulto, antes situada em entrada central do
bloco, foi transferida para o acesso da entrada do estacionamento.
O senhor soube dessa alteração? Qual a sua opinião a respeito?
Arqto. Zanettini - Alterações vem, às vezes inadequadamente, in-
dependente da nossa vontade. São decisões internas de uma dire-
ção. Isso faz parte do contexto. Não dá discutir se é algo bom ou
mal porque tem outras razões que levaram a fazer uma mudança
que talvez não passe pelo nosso plano. Tem soluções muito mais
ligadas a problemas específicos de uma orientação que, às vezes,
não está muito lógica.
Mas o que tínhamos feito ali, além desse tratamento, pois
esse edifício tinha um uma série de problemas e ele precisava de
uma série de funções que ele não tinha. Tinha um centro cirúrgi-
co precário, quartos mal resolvidos, toda a parte de insumos muito
ruim, e era necessário crescer. Mas crescer nesse edifício? Não
tem como. Nós temos que ver quais são as áreas disponíveis que
existem? E existia uma área mais ou menos grande atrás da parte
posterior do Bloco I, usada como estacionamento.
Precisávamos ver como que se acessa a essa área, como
que ela se integra ao bloco, e como o plano leva em consideração o
existente com todas as suas peculiaridades, positivas e negativas,
como herança que recebemos. E depois, ver como isso irá se de-
288
senvolver de forma ordenada.
Foi então que propusemos o desenvolvimento do Plano Dire-
tor Geral, que eles acabaram aceitando, porque viram que precisa-
vam de uma orientação mais integrada.
Havia ao redor, na mesma quadra, um conjunto de casa pe-
quenas. Recomendei adquiri-las e integrá-las a essa área central.
Precisamos de espaço para passar de 100 leitos para 400. Tínha-
mos que pensar num processo evolutivo e gradual para atender es-
ses 400 leitos. Porque não são apenas os 400 leitos, são 400 e
todos os insumos, que é bem maior.
Vamos desenvolver um projeto sequente de acréscimos que
vão se acoplando ao bloco inicial para dar continuidade funcional,
alocando novas relações, que são necessárias para um complexo
maior. Com uma certa lógica, gradativamente. Fazer a aquisição de
alguns lotes de custo baixo próximos. Incorporá-los nessa amplia-
ção que é 4 a 5 vezes o tamanho inicial do projeto.
Então propusemos um Bloco II, anexo interligado ao Bloco I,
para ele continuidade, com essa conexão, com uma bateria de leitos
em alguns andares e deixar circulações que conectam essa região
central e que dê continuidade para o crescimento futuro. Propuse-
mos um eixo central com interações laterais de circulação para criar
condições de acréscimo de novos blocos.
Foram adquiridos os lotes voltados para a rua lateral, com os
quais construímos o Bloco III, quase um ano depois, com mais leitos
e mais funções. Aqui pusemos uma lavanderia completa e uma área
de atendimento, integrando com circulações contínuas o conjunto
todo, por circulações que se conectam.
Então surgiram condições para o Bloco IV. Este se situava
no terreno de uma pequena escola que era necessário adquirir para
dar continuidade na mesma quadra.
Foram adquirindo esses lotes todos e fomos acompanhando
com construções anexas, em setores que estavam dentro do budget
de investimento deles, naquela época. Durante alguns anos, não
me lembro exatamente, foram adquiridos lotes, dentro das disponi-
bilidades econômicas do grupo. Esses blocos foram se anexando
ao inicial
E tinha ainda o edifício de residência dos padres, antigamen-
te. Esse bloco foi, mais tarde, transformado no centro administrativo
do complexo.
289
E eles já tinham adquirido, inclusive, um terreno do outro lado
da rua, fora da quadra. Como integrá-lo?
Aí surgiu o bloco V. Isso levou 2 – 3 anos. Através de duas
conexões aéreas de pedestres e uma subterrânea de veículos e
instalações de sistemas, que se integrava ao conjunto. Então esse
bloco foi construído depois e nós fizemos um projeto com conexões,
2 que eram aparentes sobre a via e uma subterrânea com ligação
entre garagens.
Então esse complexo surgiu em 5 importantes etapas suces-
sivas integrando o programa todo. E hoje reúne um complexo de
atendimento de alta complexidade funcional com a capacidade de
400 leitos, com todos os insumos necessários a um hospital desse
porte.
E fomos introduzindo ao longo desse tempo uma série de
inovações tecnológicas importantes. Quando fizemos o bloco IV,
já o fizemos quase totalmente pré-industrializado. Tanto paredes e
fechamentos, como até banheiros prontos. Foi o primeiro edifício
com banheiros prontos, produzidos em fábrica. Em uma semana,
montamos 90 banheiros, montados e acabados. Foi uma série de
atributos que introduzíamos ao longo de um planejamento contínuo,
com uma série de avanços tecnológicos.
Arqta. Ana Lídia - Em relação a esse Plano Diretor. 1. Em uma en-
trevista que o senhor realizou para a revista AU, o senhor comentou
sobre ter trabalhado com uma equipe multidisciplinar para a concep-
ção do Plano Diretor do Complexo São Camilo Pompeia. O senhor
poderia me contar um pouco mais sobre essa experiencia?
Arqto. Zanettini - Normalmente, o que se faz com a maioria dos
edifícios? Se contrata algum arquiteto e profissionais que trabalham
na área da engenharia e se faz um projeto sem dar muita conexão
com o que foi, ao que é e ao que será. Quando vou fazer um pro-
jeto, primeiramente tenho que entender como que ele está inserido
presente e como eu o preparo para o seu futuro, sempre com uma
visão mais planejadora para que, depois de 5, 10 anos, aqueles in-
vestimentos não se percam. E foi o que aconteceu e foi muito bem
resolvido. As construções eram feitas dentro do budget econômico
de cada momento. As aquisições eram feitas com orientação, pre-
290
parando as intervenções.
Esse foi um exemplo, com um edifício existente com todos os
compromissos que ele já tinha existentes de uma época muito an-
terior. Esse primeiro bloco era de 40 anos anteriores. Esse conjunto
foi crescendo, formando um complexo que teve muita unidade. O
resultado foi muito bom, onde a gente conseguiu introduzir tecnolo-
gias novas e incorporar disciplinas do conhecimento ligadas a área
das engenharias.
Então um plano de diretor, não é só um conjunto de ativida-
des e soluções físicas, mas todos os insumos das várias disciplinas
que vão integrar esse todo que é único.
Como é que entra uma instalação elétrica? Uma instalação
de ar-condicionado e uma solução de gases, de resíduo e de circu-
lações de pessoas e serviços. Uma série de itens que não são do
teu projeto, mas com ele se completa funcionalmente. Todo hospital,
que não tiver claramente, desde o início, uma integração de todas
as disciplinas, vai ter problemas futuros.
Como ocorre na maioria dos casos. Nós fomos chamados
para resolver muitos hospitais. Por que não está funcionando? Por
que está dando um problema sério? Preciso ampliar, mas para
onde? Porque não cresceu de forma planejada. Cresceu em função
das pressões de cada momento ou de investimento isolados. Em
todo projeto procuro fazer os clientes entenderem que é preciso ter
todas as disciplinas juntas.
Arqta. Ana Lídia - No envolvimento de médicos, enfermeiros e ad-
ministradores na elaboração do projeto, existe uma prática metodo-
lógica de procedimentos (checklists, reuniões periódicas com seto-
res e grupo etc.) para o encaminhamento das decisões de projeto?
Arqto. Zanettini - O caminho é entender o cliente desde a presidên-
cia até a área técnica, médica e da área de serviço, e de cada setor
para entender o problema na sua totalidade.
Colocamos para eles o que é necessário para resolver esses
problemas, em sua totalidade. Como que o edifício vai ser implan-
tado? Quanto tempo de construção? Quanto será o investimento?
Condições que devem ser atendidas para estar dentro do budget do
cliente que está te contratando. Vou fazer um projeto sabendo o que
ele quer e o quanto que ele pode investir.
291
A maioria dos clientes não entende que arquitetura não é só
o edifício, mas também tudo aquilo que vai dentro. Se eu for colocar
um bunker de radioterapia, tem imposições desse bunker que você
tem que atender para que um não interfira no restante.
E tem também questões ambientais que são fundamentais.
Isso nunca abro mão. O Brasil tem essas condições que devemos
aproveitar de maneira econômica, clara e funcional, utilizando o
nosso ambiente natural. Analisar a região e entender como ela fun-
ciona. Ver como é o regime de ventos, de insolação, aquilo que o
ambiente coloca.
Arqta. Ana Lídia - E partindo do plano para os blocos, em específi-
co. Eu tenho algumas perguntas que são mais técnicas, de projeto.
Começando pela intervenção do Bloco I. Por que a cobertura me-
tálica transparente que dá acesso ao Ponto Socorro Adulto não se
estende até a entrada do estacionamento?
Arqto. Zanettini - Primeiro porque existem construções anteriores.
Então tem condições que você recebe de herança. Essa era uma
parte do Pronto Atendimento que já existia e o coloquei para baixo,
porque precisava um acesso mais fácil da avenida, porque era o
único acesso para aquela área de entrada principal desse edifício.
Arqta. Ana Lídia - E por que não foi estendida a área de cobertura?
Arqto. Zanettini - Porque não se tinha uma área de estacionamen-
to de ambulâncias. As ambulâncias paravam na avenida. Criamos
um lugar para o estacionamento de ambulâncias e tínhamos que
manter a circulação. Se o plano vai se estender para o futuro, é
necessário manter uma circulação de veículos que vai atravessar a
quadra. Entrar aqui na Av. Pompeia e sair na Rua Barão do Bananal
e manter a possibilidade de conectar cada bloco com a circulação
de pessoas, no nível do solo, como única circulação possível.
Arqta. Ana Lídia - Essa cobertura era para ser utilizada apenas
como passagem ou tinha outra função?
Arqto. Zanettini - Era para aumentar a área de espera, que era
muito pequena. E eu fiz uma área de permanência não prolongada
292
para ampliar a área. Mas eu não poderia construir aqui, porque a
área no recuo com a avenida. Propus essa cobertura mais leve,
mais aberta, porque não poderia ter construção, como lugar de es-
pera se ampliarmos.
Conforme a solução que foi dada, criasse 2 coberturas que
não só davam uma estética mais nova ao hospital, como também
colocavam ampliações em setores possíveis.
Arqta. Ana Lídia - Quais são os materiais que compõe a estrutura
e as placas transparentes da cobertura?
Arqto. Zanettini - Eu trabalho muito com estrutura metálica. Come-
cei a fazer obras em aço na década de 70. Não tinha indústria de
aço na época. Depois, foi se desenvolvendo e hoje tem uma indús-
tria vigorosa. Hoje faço hospitais inteiros em aço como um processo
de montagem.
Fiz agora uma reformulação toda do Einstein, uma obra
imensa, sem construção e com pro¬dução toda fora do canteiro.
Fiz, também, um hospital enorme em Salvador que foi montado em
18 meses sem obras no local.
Também uso madeira reciclada. Já fiz várias obras reutilizan-
do. Fiz obras com concreto pré-moldado, muitas. O Hospital São
Camilo Pompeia, por exemplo, tem banheiros de concreto pré-mol-
dado, as placas de fachada no bloco IV de pré-moldado. Vinham
prontas de fábrica.
Quando você recebe um edifício antigo como esse bloco I,
você vai ter que adaptá-lo e dar continuidade a sua lógica produtiva.
Os novos blocos II, III, IV e V foram feitos com sistemas produtivos
industrializados.
Acabamos de visitar, em Salvador, um hospital de quase 100
metros de altura em 18 meses. 1/3 do tempo natural de obra. Então
planejamento não é só espacial, mas de implantação e relação com
o lugar e com o entorno, como também de qualidade produtiva, in-
dustrializada, isenta de poeira, de barulho e de resíduos.
Resíduo é 30% do que você está investindo, na obra tradicional.
Tem que começar a pensar na maneira mais integrada, e que en-
volve disciplinas que se tem conhecimento e que hoje temos como
incorporá-las. Todo o projeto de hospital nasce junto com um grupo
de especialistas.
293
Arqta. Ana Lídia - O senhor foi informado de que esse espaço foi
convertido em entrada e sala de espera, por conta, principalmen-
te, das necessidades de isolamento criadas pela pandemia de CO-
VID-19? Qual a sua opinião a respeito?
Arqto. Zanettini - AÍ são coisas que não dependem de nós. Estão
fora de qualquer planejamento. Uma surpresa que acontecesse em
nível internacional, que tem influências específicas e, que você ajus-
ta os espaços dentro das condições que foram possíveis.
Arqta. Ana Lídia - Passando para o Bloco II. Durante visita didática
passamos pela cozinha e refeitório. Estes foram detalhados pelo
escritório ou por uma empresa especializada em projeto, montagem
e operação de cozinha industrial?
Arqto. Zanettini - Primeiro tivemos que fazer a locação de amplia-
ção no mesmo local. Não tinha como mudar nem como parar, como
uma herança de um setor em funcionamento. A cozinha e parte do
refeitório precisaram ser ajustado no mesmo local. E a ampliação
dela, aconteceu frente necessidade de aumento do hospital. Teve
que ir se adequando e dimensionando em função do aumento do
número de leito.
Arqta. Ana Lídia - Durante visita didática soube que foram feitas
alterações na planta do térreo do bloco, com alteração do posicio-
namento da recepção, tornando a entrada ao hospital pela via Barão
do Bananal mais restrita, e a diminuição nos espaços lúdicos, princi-
palmente das lojas laterais. Essa alteração foi de sua autoria? Qual
foi o motivo para a realização dessa alteração?
Arqto. Zanettini - Essa alteração não foi de minha autoria. Depois
que projetamos o bloco 5, foi o último trabalho que eu fiz para eles.
Equipes internas ou outros arquitetos e fizeram reformulações lá.
Então não tive conhecimento e não sei como opinar.
Arqta. Ana Lídia - No projeto disponibilizado pelo escritório não se
encontra nenhuma iden¬tificação de existência de catraca na en-
trada para a via Barão do Bananal, apenas a recepção. Além disso,
294
estava previsto em projeto uma cafeteria. O projeto previa que esse
lugar fosse aberto ao público externo, tal como o restaurante no
Atrium do Hospital Israelita Albert Einstein?
Arqto. Zanettini - Nessa época não tinha isso. Nesse setor já tinha
catraca, mas nos outros foi feito a análise de barreira.
O programa funcional depende de como você o recebe. No caso
do Einstein, o Atrium era já todo ocupado por restaurantes, mais
parecendo um shopping center. não era átrio de recepção. E eu fiz
a reformulação. Deixei só uma área para lanches e um dos restau-
rantes, que pediram para manter. O resto reformando com uma área
de acesso e de permanência. Lá coloquei um painel de informação.
Surgiu uma praça de convívio e de recepção.
Arqta. Ana Lídia - Só para confirmar, foi o escritório quem realizou
o projeto de interiores desse andar e do mezzanino, com a confor-
mação das poltronas e escolha das cores?
Arqto. Zanettini - Esses hospitais todos tiveram um projeto de ar-
quitetura, justamente com o de interiores. Inclusive o Bloco V. Mas
a decisão de pôr uma poltrona como tal, não é minha. Não posso
opinar.
Arqta. Ana Lídia - O piano de cauda no mezanino estava previsto
no projeto ou foi uma ideia dos clientes? Estava previsto que ele fos-
se utilizado pelo público e/ou médicos, enfermeiros, funcionários? A
presença do piano implicaria que esta área foi concebida como um
espaço social para médicos, enfermeiros, funcionários, pacientes,
acompanhantes - com a finalidade de agregar pessoas e grupos
para eventos sociais, culturais e de descompressão?
Arqto. Zanettini - Não, não havia sido previsto. O que aconteceu
foi que, quando fiz o projeto para o Edmundo Vasconcelos, um ou-
tro hospital, introduzi um ambiente que tivesse um piano e um local
para eventos. Isso porque faziam um evento a cada ano, para pa-
cientes e para o público. E contrataram o meu filho, que é maestro,
para fazer esse evento e o faz até hoje. E eu coloquei lá um piano
de calda. E a isso se tornou praticamente uma norma. Todo hospital
novo tem um, como se o piano fosse mais um elemento do mobiliá-
295
rio. Música sempre faz bem!
Arqta. Ana Lídia - Alguns hospitais, principalmente internacionais,
estimulam a produção de apresentações musicais dentro de seus
espaços, muitas vezes por orquestras, bandas ou corais formados
pelos próprios médicos, enfermeiros e funcionários do hospital.
Estas formações podem contribuir para o bem-estar e a despres-
surização das equipes, pacientes e acompanhantes, em eventos
acadêmicos, sociais e cívico-institucionais. As performances podem
ocorrer em áreas públicas do hospital, ou ainda auditórios, foyers e
salões de festas. Um bom exemplo é TMCO-Texas Medical Center
Orchestra (Doctor’s Orchestra of Houston), do Texas Medical Center
de Houston (premiada como uma das melhores orquestras comuni-
tárias dos EUA, com vários vídeos no Youtube). Para o senhor, por
que isso não acontece nos hospitais brasileiros?
Arqto. Zanettini - Não tem sido considerado. Estou fazendo um
trabalho para a Unimed agora, onde eu não só fiz o espaço, como
um auditório. Que atende fora e internamente. E com um patamar
do auditório só para doentes. Então eles podem ir de maca nesse
lugar e assistir um evento. Para você ver o nível que eu cheguei já?!
Isso é lindíssimo. Você tem um público externo e um público interno,
que não se mistura. O paciente vai de cadeira de roda, de muleta
ou de uma cama que pode ser deslocada e ficar no patamar dele.
Quando fiz isso para a Unimed da Vitória da Conquista, o pessoal
achou maravilhoso.
Arqta. Ana Lídia - Indo para o bloco 3. Por que os pisos dos corre-
dores foram paginados com faixas coloridas de desenho orgânico,
que adentram os apartamentos?
Arqto. Zanettini - Primeiramente, isso eu fiz para todos os blocos,
não só para o bloco 3. Esse projeto foi um dos projetos meus de
soluções novas de pisos. Todos os ambientes tinham pisos específi-
cos, desenhos de piso que davam uniformidade e soluções compa-
tíveis do conjunto.
Sobre o desenho, quando se pega o piso em manta, é mais lógico
que você não o divida em pedaços, porque é uma manta. Fiz faixas
de manta contínuas que atravessam os ambientes como um dese-
296
nho, com uma lógica compatível com o material utilizado.
Arqta. Ana Lídia - Quais são os materiais de acabamento das ban-
cadas dos banheiros?
Arqto. Zanettini - Isso varia muito em função do custo. O custo que
é determinante para você fazer uma solução A, B ou C. Se o cliente
quer um espaço mais sofisticado, é necessário maior investimento.
Então pias, acabamentos de parede, piso e bancadas dependem do
nível de investimento. Aqui, funciona bem, com o custo mais baixo.
Por exemplo, posso resolver uma pia, a um custo mais baixo
e funcional. Coloca uma mesa de ACM com a pia sobreposta inde-
pendente. É a solução mais barata e boa.
Ou então faço uma pia de granito ou de aço inoxidável. Cada
solução tem a sua lógica e o seu custo. E aí depende muito do pa-
drão que você vai ter no hospital. Se quero um hospital com bom
funcionamento e com acabamentos mais modestos, sem grandes
luxos. Tudo bem. Não é isso que dá qualidade ao projeto. Posso ter
projeto revestido com cerâmica e sem excelente. Desde que essa
cerâmica seja adequada, boa, que funcione bem e dure. O nível de
investimento vem determinado pelo cliente.
Arqta. Ana Lídia - O projeto de paisagismo do terraço jardim foi
realizado pelo escritório ou é de autoria de arquiteto paisagista, es-
colhido pelo escritório?
Arqto. Zanettini - Foi todo nosso. Esse e os dos quartos. O pessoal
hoje me pede para fazer isso porque acha que é um custo que pode
pagar. Ter um quarto que se abre para uma varanda, é uma delícia.
Para os pacientes e para os acompanhantes.
Eu me lembro que, durante uma das Copas do Mundo, um cliente
quis ficar na varanda no domingo. Eu vou assistir à Copa aqui, que
está gostoso. E ele ficou mais 1 dia internado.
Arqta. Ana Lídia - A implantação do terraço jardim foi uma decisão
em conjunto dos clientes com o arquiteto ou sugestão específica do
arquiteto de acordo com práticas de sustentabilidade ambiental e
humanização da arquitetura hospitalar?
297
Arqto. Zanettini - Foi uma decisão de projeto porque eu queria
uma área de deambulação de pacientes. Eu achava que, para esse
bloco, era necessário. Como não tinha espaços internos para fazer
isso, por que não aproveitar a cobertura? Em vez de colocar um te-
lhado, fizemos uma área ajardinada para o paciente, visitante e para
a enfermagem. Porque a área de deambulação é para os pacientes,
pessoas externas e funcionários. Os funcionários adoram ir nesses
espaços, ajardinados, após o almoço, para sentar e bater um papo.
Não é área exclusiva para paciente.
Arqta. Ana Lídia - Foi construída uma unidade do Carrefour Bairro
dentro do Hospital São Camilo Pompeia. Qual a sua opinião a res-
peito?
Arqto. Zanettini - Não sabia disto. Não é atividade para um hos-
pital. Não sei por que, não foi de minha época. Aconteceu depois.
Pode ser que esteja adequado ou não, mas não posso fazer crítica a
respeito do que não conheço. Provavelmente utilizaram um espaço
que era de outra atividade e decidiram por colocar esse serviço.
Arqta. Ana Lídia - Pergunto por que, em relação à humanização
espacial, eles falam sobre a importância dos espaços lúdicos, entre
eles o comercial.
Arqto. Zanettini - Podem existir quando o hospital tiver um porte
muito grande. Por exemplo, no Einstein, estou fazendo uma refor-
mulação. Lá tem de tudo, lojas, farmácia, restaurantes de vários
tipos, mas é um complexo. É praticamente uma cidade edificada.
São vários locais onde vão acontecendo atividades desse tipo. Para
o investidor é um meio de renda! É um investimento que traz movi-
mento, traz pessoas para uma permanência mais prolongada.
Arqta. Ana Lídia - E como que esses espaços podem beneficiar a
humanização espacial dos hospitais?
Arqto. Zanettini - Se for bem-conceituado, sim. Se não… é o caso
do Atrium do Einstein, que era uma confusão total. Parecia uma es-
tação de trem. Dependendo do tipo do porte do hospital cabe. Exis-
tem atividades que se coadunam com a complexidade do projeto.
298
Tem outras que são completamente equivocadas. Isso independe
do arquiteto, principalmente quando são implantados posteriormen-
te.
Arqta. Ana Lídia - Em relação ao bloco 5, o bloco mais recente.
Qual foi o critério para escolha do porcelanato como piso do Bloco V
e diferente dos outros blocos do Complexo?
Arqto. Zanettini - Primeiro, por ser um prédio que não tinha ligação
direta com os outros. Os outros tinham uma comunicação de circu-
lação. O bloco V, do outro lado da rua, feito numa outra época, com
esse novo tratamento e separado dos demais blocos.
Arqta. Ana Lídia - Qual o revestimento externo das paredes dos
terraços jardins? Qual foi o critério para escolha desse material?
Arqto. Zanettini - Argamassa de acabamento e nas fachadas, com
tratamento diferente dos outros prédios, com painéis unificados de
vidro e ACM. São painéis montados sobre a estrutura.
Arqta. Ana Lídia - Os terraços jardins são de acesso restritos?
Arqto. Zanettini - Era de acesso público. Os blocos eram maiores
embaixo. Como não subia a prumada toda, formava terraços com
tratamento paisagístico, que resultavam um visual agradável.
Arqta. Ana Lídia - Então eles tinham uma intenção maior de serem
coberturas verdes e não terraços?
Arqto. Zanettini - Isso.
Arqta. Ana Lídia - Quais são os materiais utilizados como acaba-
mento para as bancadas dos banheiros?
Arqto. Zanettini - O bloco 5 teve um tratamento mais sofisticado,
tanto interno como externamente, com um padrão um pouco mais
alto. Os outros eram mais simples. Os pisos eram em manta asfálti-
ca. Neste o piso foi de porcelanato e as paredes também. No caso
da bancada do banheiro era de granito com um desenho mais atual
299
e compatível com o acabamento do todo.
Arqta. Ana Lídia - Quais foram as maiores dificuldades o senhor
enfrentou quanto à aplicação da humanização espacial em edifícios
hospitalares?
Arqto. Zanettini - Não teve dificuldade não. O que acontece é que
ninguém sabe o porquê disso no hospital. Parece um luxo. Não. O
tratamento mais confortável para quem trabalha, para a enferma-
gem, para pacientes e acompanhantes. Você está contribuindo para
o ambiente. Se tenho um custo limitado, meu nível de qualidade
será limitado também. Então toda a solução ambiental será de uma
maneira mais econô-mica, mas com bom design. O bom design
você consegue fazer em qualquer nível!
Arqta. Ana Lídia - Se a humanização espacial procura tornar os
ambientes confortáveis para os seus usuários, quais são e como
se aplicam critérios específicos de acessibilidade durante o projeto
- considerando, tanto o fato de que certos ambientes terem dimen-
sionamentos pequenos, quanto a presença de Pessoas com Defici-
ência, com acompanhantes e terapeutas.
Arqto. Zanettini - Não depende de custo isso. O dimensionamento,
o fluxo e a locação não dependem de custo. Depende de um projeto
bem resolvido, bem-planejado. Pessoas com deficiência requerem
um dimensionamento como uma especificação correta.
Arqta. Ana Lídia - a última questão… Apesar de a vegetação ter
um papel importante para a humanização espacial, alguns profis-
sionais, principalmente de saúde, são contra a utilização de plantas,
em canteiros ou vasos, em locais internos ao edifício (como salas de
espera) e defendem essa argumentação pelas plantas serem fontes
de contaminação, permitindo a entrada de insetos para dentro do
edifício. Qual a sua opinião a respeito? Lembrando que, mesmo em
ambientes domésticos isto pode ser um problema. Marcos Acayaba,
por exemplo, retirou o jardim interno da Casa Millan há alguns anos.
Arqto. Zanettini - Tem certos tipos de plantas, certos tipos de solu-
ções. Um vaso de planta, por exemplo, você pode colocar que não
300
tem problema algum, se é tratado e cuidado. Os jardins internos que
precisam de cuidado e manutenção constante e isso pode ser com-
plicado. Sobre isso, não sou a favor nem contra. Acho que depende
que a solução seja compatível. Não entulhar de jardins dentro se
não tem como cuidar. E para cuidar já basta os pacientes, o que é
muito.
301
Nota de Introdução. Esta entrevista foi realizada como parte
desta pesquisa de Mestrado em desenvolvimento, acerca das
características projetuais da arquitetura hospitalar e da aplicação
dos princípios de humanização espacial e sustentabilidade em
edifícios hospitalares, tendo o projeto do Hospital São Camilo -
Unidade Pompeia, projeto do Arqto. Siegbert Zanettini, como caso
de estudo.
Realizamos a entrevista com a arquiteta Dyane Assis de
Arruda, que nos acompanhou durante as visitas técnicas ao edifício.
Arqta. Ana Lídia - Trouxe algumas questões pontuais. Vou iniciar
pelo bloco I. Quando visitamos o pronto socorro adulto, percebi que
o espaço parecia menor, contudo, no projeto do Zanettini, era pre-
visto um café. Houve alguma mudança no uso do ambiente?
Arqta. Dyane - É bem provável, mas é uma adaptação bem antiga,
bem antiga mesmo. Tenho o projeto do Zanettini comigo, mas para
fazer a entrada do PS. foi promovido uma cobertura ainda maior da-
quele lado. Hoje, temos aquela área metálica avançando na frente
do PS. Eu tenho um projeto que a cobertura metálica fica totalmente
na lateral, de forma que a pessoa consiga entrar e parar o carro de-
baixo da cobertura, porém nós não conseguimos viabilizar ainda por
conta de área construída.
Arqta. Ana Lídia - Então a cobertura se estenderia até a entrada do
estacionamento?
Arqta. Dyane - Isso.
Arqta. Ana Lídia - Antigamente estava previsto que a entrada, da
Anexo II
Entrevista com a arquiteta Dyane Assis de
Arruda no dia 31/08/2022.
302
internação, seria pelo centro do pavimento e não pela cobertura me-
tálica. Por acaso, ocorreu algum problema de fluxo com essa mu-
dança?
Arqta. Dyane - Houve uma mudança de fluxo. Não sei te dizer a
data, mas o fluxo para internação passou para a rua de trás, que é
a Barão do Bananal. Lá conseguimos um fluxo onde o carro entre,
pare, o Vallet pegue o carro, o paciente desce em área coberta, para
poder entrar. Já no Pronto Socorro, a entrada fica mais adequada
porque o paciente não tem escada para vencer. Porque essa entra-
da central fica numa área da Avenida Pompéia que não tem recuo,
que tem grande movimento. Tem ponto de ônibus ali próximo. Então
a entrada na lateral do prédio facilitou bastante.
Arqta. Ana Lídia - Está certo. Eu ia pedir para ver, se possível, es-
ses arquivos que vocês têm também para atualizar o projeto que eu
tenho aqui comigo.
Arqta. Dyane - As plantas atualizadas?
Arqta. Ana Lídia - Isso. Porque eu sei que houve alterações futuras
que eu não tenho em registro. Por exemplo, a inclusão do Carrefour
Bairro dentro do Hospital.
Arqta. Dyane - Ah sim. E ela é bem recente.
Arqta. Ana Lídia - Você saberia me dizer quando que foi feita essa
inclusão? A construção desse espaço?
Arqta. Dyane - O Carrefour foi feito em 2021.
Arqta. Ana Lídia - Por que exatamente decidiu-se por colocar um
Carrefour dentro do hospital?
Arqta. Dyane - É um novo produto do Carrefour, né. Nós não somos
nem os primeiros a fazer. Então ele tem esse serviço. Às vezes,
ele é voltado só para os funcionários, às vezes para funcionários e
público. Lá na Unidade Pompeia, ficou para funcionário e público. A
gente também repetiu em outra unidade, a Santana. Só que aí ficou
303
só para funcionário.
Arqta. Ana Lídia - E não tem risco de contaminação?
Arqta. Dyane - Não. Eles fazem todos os processos deles. Aparta-
do do nosso material, mas segue as determinações que a gente tem
dentro do hospital.
Arqta. Ana Lídia - Eu lembro que na visita, você comentou que a
capela também está com um projeto diferenciado, que houve uma
reforma. Você saberia me dizer quem foi o autor do projeto?
Arqta. Dyane - Provavelmente foi o departamento de projetos daqui
mesmo.
Arqta. Ana Lídia - Durante a visita você comentou também que foi
trocado o piso em manta, do desenho colorido para um tom mais
neutro. O Arqto. Zanettini chegou a ver essa mudança?
Arqta. Dyane - Sim, ele sabe da mudança sim. Tanto é que no bloco
V, ele já utilizou os novos acabamentos.
Arqta. Ana Lídia - E além dessa troca, teve algum outro elemento
que também foi alterado?
Arqta. Dyane - O que eu sei te falar é que tem uma luminária bem
característica dos projetos do Zanettini, tubular e telada. Foi um ele-
mento que tivemos que mudar, porque dá entrada de vetor no hos-
pital. Hoje em dia é aquela luminária de sobrepor. A gente teve que
passar para a luminária de LED embutida no forro bem vedada. Me
chamou bastante atenção porque era uma luminária bem bonita,
mas precisou ser alterada.
Arqta. Ana Lídia - Em relação àquele andar dos anfiteatros. Você
saberia me fizer em que frequência, normalmente, os anfiteatros
são utilizados?
Arqta. Dyane - Eu não sei te falar agora. Porque existe já uma reu-
nião semanal uma vez por semana, onde toda a gerência executiva
com as coordenações da unidade. E tem os treinamentos. Eu não
304
sei te falar exatamente agora, mas há um ano atras era bem difícil
conseguir horário para fazer reuniões.
Arqta. Ana Lídia - Pergunto para conseguir entender a necessidade
de dois anfiteatros. Se eu não me engano, o Santana também dois.
E aí surgiu esse questionamento.
Arqta. Dyane - Ah entendi. Tanto Santana como Pompeia, tem dois
anfiteatros que, na verdade, é um grande que consegue ser dividido
em dois. Aí nós temos não só treinamento assistencial, como tam-
bém campanhas de prevenção de acidentes, de lavagem de mãos…
campanha de outros setores que são feitos lá. Então você mobiliza
um lado, mas ainda tem o outro para ser utilizado para reunião.
Arqta. Ana Lídia - E você tinha comentado sobre o terraço jardim.
Você poderia repetir o motivo dele estar fechado, por favor?
Arqta. Dyane - Então, para o terraço jardim é questão de seguran-
ça. A lateral dele não tem o fechamento adequado, por conta dos
pacientes, e temos também o problema da entrada de vetores no
hospital. Então para o paciente estar utilizando esse espaço, você
precisaria colocar uma pessoa, e não somente um segurança, mas
um funcionário para estar acompanhando esse paciente em tempo
integral.
Porque o vetor você consegue resolver com o ar-condiciona-
do, as cortinas de ar. É muito a questão dos pacientes. A gente teria
que subir o fechamento para poder garantir a segurança. Aí a ideia
bacana da visão iria se perder. Ou então fazer em vidro.
Arqta. Ana Lídia - Entendi. Eu fico me perguntando se teria a pos-
sibilidade do paciente, que não está em bom estado mental, se ele
não conseguiria quebrar esse vidro e acabar se machucando?
Arqta. Dyane - A gente teria que fazer com os vidros da nossa fa-
chada, que são vidros de segurança. Eles têm espessura maior e
são laminados. Mas eu não sei dizer se algum paciente já conseguiu
quebrar algum dos vidros de nossas sacadas. Posso até questionar
isso para você.
305
Arqta. Ana Lídia - Se fizesse as alterações e gerasse um maior
segurança, o ambiente voltaria a ser utilizado?
Arqta. Dyane - No meu entendimento, sim. Mas como isso é um
assunto que a gente não discute no hospital, eu posso questionar
com as equipes que foram responsáveis por encerrar a atividade lá,
porque é uma questão também do paciente não ter atividade. Se a
gente tivesse alguma atividade para o paciente nesse espaço, eu
acho que seria liberado.
Arqta. Ana Lídia - Eu cheguei a conversar com o Zanettini antes
da pandemia, e ele comentou que o terraço jardim seria usado para
que o paciente tivesse uma aproximação com a vegetação e tomar
o banho de sol. Não teria uma atividade especifica prevista para
aquele ambiente.
Arqta. Dyane - Ah certo, ele simplesmente utilizaria como uma área
aberta. Acho prudente conversar com a assistência e com a equipe
de segurança para entender certinho.
Arqta. Ana Lídia - E, se possível, incluir também, quando for con-
versar com eles, a dúvida de se os funcionários também podem
utilizar desse espaço. Porque em alguns projetos, esses ambientes
sem exclusivos aos pacientes. No máximo, o funcionário que está
acompanhando-o. Em outros, é aberto a ambos, onde os funcioná-
rios podem usufruir do ambiente em horário de almoço ou descanso.
Arqta. Dyane - Ah certo. Por exemplo, aqui no Ipiranga, só para
você fazer um comparativo, tem um jardim bem pequenino em fren-
te da capela e é bem comum os funcionários usarem no horário do
almoço. A internação não usa porque não é um lugar muito fácil de
descer, por conta da estrutura do Ipiranga, acaba mais funcionário
usando.
Arqta. Ana Lídia - Os jardins do Bloco V, que tem acesso restritos
dos quartos, são utilizados pelos pacientes ou acompanhantes?
Arqta. Dyane - Não. Esses jardins também não são utilizados, nem
pelos pacientes que estão nos quartos. Eles estão fechados assim
como o terraço jardim.
306
Arqta. Ana Lídia - Tem algum motivo específico para isso?
Arqta. Dyane - Eu acredito que o motivo seja o mesmo do terraço
jardim.
Arqta. Ana Lídia - Além da inclusão do Carrefour bairro no projeto,
teve alguma outra alteração de projeto ou novas reformas no hos-
pital?
Arqta. Dyane - Você diz, quando comparado com o projeto original?
Arqta. Ana Lídia - Sim
Arqta. Dyane - Ah sim. Eu consigo te relatar o que eu estive presen-
te. Então você tem desde o terceiro subsolo, que foi ampliada a área
de apoio para a instalação de área de hotelaria e engenharia clínica.
Eu creio que já era previsto essas áreas, mas elas foram ampliadas.
A criação de subestações dentro do hospital, para atender os blocos
e dar independência de uso de acordo com a falta de energia públi-
ca. Teve a instalação do Carrefour e, agora, de uma Casa Bauduc-
co. Então em vez de ter um café, agora tem dois. Tem a Deola, que
é o restaurante. Foi ampliado o centro cirúrgico, mas foi feito mais
uma sala de hemodinâmica.
Foi revisto, do Bloco I, mais uma hemodinâmica, onde, inclu-
sive, foi construída uma nova área técnica, uma passarela técnica,
para podem ampliar a área. E foi criado um centro oncológico na
Pompeia. Eu não sei se anteriormente havia no projeto do Zanettini,
mas foi um projeto anterior.
Arqta. Ana Lídia - E quando que foi feito?
Arqta. Dyane - O Centro Oncológico, em 2018. Foi logo que eu en-
trei. Foi feito uma farmácia de quimioterápicos também, também em
2018. Também projeto do Zanettini.
Arqta. Ana Lídia - Em relação as ampliações, o que norteou a de-
cisão de realizá-las?
Arqta. Dyane - Foi o caminho que a direção do hospital resolveu
307
seguir em relação a negócios. Você começa a ter tratamentos que
geram uma renda maior ou menor e você negocia com os planos de
saúde ou é a demanda que o público pede. E em cima disso, a gente
vai fazendo a adaptação do hospital para poder receber esse trata-
mento. Isso é comum para qualquer hospital. Porque com o tempo a
tecnologia muda e as negociações para o tratamento dos pacientes
mudam. O hospital acaba não sendo uma coisa engessada.
Arqta. Ana Lídia - Voltando ao assunto do jardim, quando se estu-
da a Humanização Espacial, principalmente aplicada na arquitetura
hospitalar, é falado que a vegetação, a iluminação natural, o pacien-
te ter a possibilidade de tomar sol, tudo isso ajuda para aumentar a
qualidade do ambiente e na recuperação dos pacientes. Então eu
acabo sempre voltando a tocar no assunto.
Arqta. Dyane - Eu entendo., porque já passei por esse choque. Você
tem todos aqueles trabalhos de design de trazer a vegetação para
o paciente e quando você chega no prédio real, o paciente não usa.
Eu como profissional do hospital, eu entendo mesmo o que você
está falando. E a questão da vegetação é tão séria. A gente não
pode usar vegetação internamente ao hospital. Para você entender,
eu não posso colocar vasos em áreas de esperar nem internação,
porque pode trazer bichinhos, vetores que podem comprometer o
tratamento do paciente. Mas tem a questão da humanização. É até
mesmo frustrante, você tem as áreas, mas não consegue utilizar.
Arqta. Ana Lídia - Quando falamos da Humanização tem outras fer-
ramentas quer o arquiteto pode utilizar. O Zanettini faz muito isso. E
uma delas é a aplicação da música, dos ruídos positivos, para filtrar
os ruídos do hospital, para trazer o conforto acústico para os pa-
cientes e acompanhantes. E para os funcionários. E eu me lembrei
do piado, que você tinha comentado que antigamente tocavam. Foi
por conta da pandemia que pararam de tocar ou por outras razões?
Arqta. Dyane - Primeiro que o piano ficava em um local mais con-
fortável. Ele ficava em uma área de espera, que ficava um pouco
apartada, próxima a Deola. Hoje essa área virou uma área de cir-
culação, porque ela dá acesso ao Bloco V, para a passarela. Então
esse Piano desceu para o térreo e está exprimido no cantinho, pró-
308
ximo dos painéis, que é o memorial em referência a Unidade Pom-
peia. Ele está em um lugar que já não é convidativo. E tem aquele
conflito também de que a pessoa que toca, não toca muito bem,
então não tem o incentivo que antigamente tinha.
Arqta. Ana Lídia - Antigamente qualquer um podia tocar u iam mú-
sicos lá tocar?
Arqta. Dyane - Eu não tenho registro de contratação de músicos
para vir tocar o piano. Não tenho essa informação. Era livre para
tocar. Eu lembro que até mesmo gerente de unidade tocava o pia-
no. Eu já cheguei a presenciar, também, acompanhando tocando o
piano. Então eu falei que ele está numa área mais apartada, mas
vamos dar um seguimento de revitalização das nossas esperas. E
a proposta que a nossa direção está tendo, a gente até requalifica o
espaço do piano para utilização.
Arqta. Ana Lídia - Vocês estão planejando reformar todas as salas
de espera ou só aquela da entrada do Bloco IV?
Arqta. Dyane - Não é nem reforma, é rever posição de mobiliário
mesmo.
309
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
“Arquitetura Hospitalar Humanizada e Sustentabilidade: o caso
do Hospi-tal São Camilo Pompeia, do arquiteto Siegbert Zanet-
tini”
Você está sendo convidado(a) para participar, como volun-
tário, do projeto de pes-quisa acima citado. O documento abaixo
contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que
estamos realizando. Sua colaboração neste estudo será de muita
importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não
causará nenhum prejuízo a você.
Após ler com atenção este documento, ser esclarecido(a)
sobre as informações a seguir e, no caso de aceitar fazer parte do
estudo, você deve realizar a declaração de que concorda de livre e
espontânea vontade em participar dessa pesquisa. Sem essa de-
claração, você não poderá participar da pesquisa e seus dados não
serão analisa-dos.
Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá entrar
em contato com o pes-quisador responsável, arquiteta Ana Lídia
Galhardi Marvulle pelo telefone: (19) 998320240 ou pelo e-mail:
ana.lidia.gm@usp.br.
Em caso de dúvidas sobre os seus direitos como participante nesta
pesquisa, você poderá entrar em contato com a Comissão de Pes-
quisa (CPq) do Instituto de Arquite¬tura e Urbanismo da Universida-
de de São Paulo (IAU-USP), de Ética em Pesquisa do Hospital São
Camilo, pelo endereço de e-mail: cpqiau@sc.usp.br.
O participante fica ciente de que:
Anexo III
Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
do (TCLE)
I) A pesquisa possui como objetivo estudar como o
arquiteto Siegbert Zanettini aplicou os conceitos de huma-
nização espacial e sustentabilidade no projeto do Hospital
São Camilo Pompeia. Para tal serão realizadas entrevistas
com o arquiteto Siegbert Zanettini e outros profissionais
envolvidos com o projeto do hospital, e visitas técnicas ao
complexo, para coleta de material fotográ¬fico do edifício e
para entender melhor como a aplicação desses conceitos
310
influência os ambientes internos dos blocos do hospital.
II) O participante ou voluntário da pesquisa fica ciente
que, por questões de segurança, as entrevistas, realizadas
de formato online, serão gravadas e transcritas. As trans-
crições serão enviadas aos entrevistados via e-mail.
III) Todas os registros fotográficos realizados durante a
visita técnica terão tra-tamento para não permitir a identifi-
cação de qualquer pessoa neles conti-dos.
IV) O participante ou voluntário da pesquisa deve res-
ponder somente às ques-tões que têm condição de res-
ponder.
V) O participante ou voluntário tem a liberdade de de-
sistir ou de interromper a colaboração neste estudo no
momento que desejar, sem necessidade de qualquer ex-
plicação, sem penalização nenhuma e sem prejuízo a sua
saúde ou bem-estar físico.
VI) O participante da pesquisa não receberá remunera-
ção e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo
sua participação voluntária.
VII) Benefícios: o participante da pesquisa contribuirá
para acrescentar dados referentes a aplicação dos concei-
tos de humanização espacial e sustenta-bilidade em am-
bientes hospitalares, que serão publicados na dissertação
de mestrado da pesquisadora responsável, que trará be-
nefícios para a co-munidade científica e acadêmica. Além
disso, as informações coletadas po¬derão ser utilizadas
em melhorias do espaço físico de futuros hospitais.
VIII) Riscos: A participação na pesquisa poderá causar
riscos mínimos de quebra de sigilo de informações.
IX) Os dados obtidos durante a pesquisa serão manti-
dos em sigilo pelos pesquisadores, assegurando ao partici-
pante ou voluntário a privacidade quanto aos dados confi-
denciais envolvidos na pesquisa.
X) Os resultados serão divulgados em publicações
acadêmicas, dissertação de mestrado, e científicas, man-
tendo sigilo dos dados pessoais.
XI) Durante a realização da pesquisa serão obtidas as
assinaturas dos partici-pantes da pesquisa e do pesquisa-
dor, também constarão em todas as ru-bricas do pesquisa-
dor e do participante da pesquisa.
XII) Caso o participante da pesquisa desejar, poderá
pessoalmente, ou por meio de telefone, entrar em contato
com o pesquisador responsável para tomar conhecimento
dos resultados parciais e finais desta pesquisa.
311
Eu, __________, residente e domiciliado na _________________
____________________, portador da Cédula de Identi-dade, RG
__________, abaixo assinado, e nascido(a) em __/__/____, de-
claro que obtive esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apre-
sentadas. Desta forma, concordo de livre e espontânea vontade em
participar como voluntário (a) do estudo acima descrito.
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa
( ) Não desejo conhecer os resultados dessa pesquisa
Campinas, __ de _______ de ____
Assinatura do participante: ________________________
Testemunha 1: _____________________________
(Nome, RG, Telefone)
Assinatura do Responsável da pesquisa: ____________________
Assinatura do Pesquisador Responsável: ___________________
Contato eletrônico do Pesquisador Responsável: ana.lidia.gm@
usp.br
Contato telefônico do Pesquisador Responsável: (19) 998320240
312
Anexo IV
TCLE do Arqto. Siegbert Zanettini
313
314
Anexo V
TCLE do Arqta. Dyane Assis de Arruda
315
316
arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos

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arquiteturta hospitalar - conceitos e estudos

  • 1. Arquitetura hospitalar humanizada e sustentabilidade: o caso de estudo do Hospital São Camilo Pompéia, projeto do arquiteto Siegbert Zanettini Ana Lídia Galhardi Marvulle
  • 3. ANA LÍDIA GALHARDI MARVULLE São Carlos 2024 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação emArquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Área de concentração: Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo Orientador: Prof. Dr. Paulo Yassuhide Fujioka Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo Arquitetura hospitalar humanizada e sustentabilidade: o caso de estudo do Hospital São Camilo Pompéia, projeto do arquiteto Siegbert Zanettini Versão Corrigida
  • 4. AUTORIZO A REPRODUCAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRONICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a) Bibliotecária responsável pela estrutura de catalogação da publicação de acordo com a AACR2: Brianda de Oliveira Ordonho Sígolo - CRB - 8/8229 MM391a Marvulle, Ana Lídia Galhardi Arquitetura hospitalar humanizada e sustentabilidade: o caso de estudo do Hospital São Camilo Pompéia, projeto do arquiteto Siegbert Zanettini / Ana Lídia Galhardi Marvulle; orientador Paulo Yassuhide Fujioka. -- São Carlos, 2024. 316 p. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo -- Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2024. 1. Arquitetura Hospitalar. 2. Projeto arquitetônico. 3. Humanização hospitalar. 4. Sustentabilidade. 5. Siegbert Zanettini. I. Fujioka, Paulo Yassuhide , orient.II. Título.
  • 6. Dedico este trabalho aos meus pais, Mario Junior e Stella Maris, e ao meu irmão, Mario Neto, por todo o suporte que recebi. Sem eles, eu não estaria onde estou hoje. DEDICATÓRIA
  • 7. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, o Prof. Dr. Paulo Yassuhide Fujioka, pela sua dedicação à orientação e pelos seus ensinamentos, que me tornaram uma pessoa e um profissional melhor. Aos funcionários do IAU, em especial às funcionárias Mara, Flávia, Ana Paula e Valéria, que me auxiliarem durante todo o mestrado. Ao arquiteto Siegbert Zanettini, por ter sido bastante disponível e atencioso durante o decorrer da pesquisa, contribuindo para a complementação do texto. À equipe do escritório Zanettini Arquitetura, pelos projetos arquitetônicos e referências bibliográficas que disponibilizaram, contribuindo para a análise do Hospital São Camilo – Unidade Pompeia. À arquiteta Dyane de Arruda, por me acompanhar durante as visitas ao hospital e se disponibilizar a entrevista, contribuindo para o desenvolvimento da pesquisa. Ao departamento de arquitetura do Hospital São Camilo, pelo atendimento excepcional durante as visitas técnicas. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico CNPq pelo financiamento desta pesquisa.
  • 8. RESUMO A arquitetura hospitalar vem se modificando e desenvol- vendo desde seus primórdios. Somadas a essa evolução, surgem novas preocupações, que ganham mais relevância em meados da década de 1990, referentes a qualidade dos seus espaços físicos internos e externos, e nas consequências que esse tipo de edifica- ção ocasiona no conforto dos seus usuários e no meio ambiente como um todo. Assim, a projeto visa estudar as características da arquitetura hospitalar e dos princípios de humanização espacial e sustentabilidade, objetivando maior aprofundamento destes cam- pos de conhecimento e um maior entendimento quanto a sua devi- da aplicação em um projeto arquitetônico hospitalar. Para tal, será utilizado como estudo de caso o Hospital São Camilo Pompeia, do arquiteto Siegbert Zanettini, localizado na cidade de São Paulo. Palavras Chaves: Arquitetura hospitalar, projeto arquitetônico, hu- manização hospitalar, sustentabilidade, Siegbert Zanettini. MARVULLE,Ana Lídia G. Arquitetura hospitalar humanizada e sustentabilidade: o caso de estudo do Hospital São Camilo Pompéia, projeto do arquiteto Siegbert Zanettini. 2023. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2023.
  • 9. ABSTRACT MARVULLE, Ana Lídia G. Humanized hospital architecture and sustainability: the case study of Hospital São Camilo Pompéia, project by architect Siegbert Zanettini. 2023. Dissertation (Master’s in Architecture and Urbanism) – Institute of Architecture and Urbanism, University of São Paulo, São Carlos, 2023. Hospital architecture has been changing and developing sin- ce its early days. Added to this evolution, there are new concerns, which gain more relevance in the mid-1990s, regarding the quality of its internal and external physical spaces, and the consequences that this type of building causes in the comfort of its users and in the environment as a whole. Thus, the project aims to study the cha- racteristics of hospital architecture and the principles of spatial hu- manization and sustainability, aiming at a deeper understanding of these fields of knowledge and a better understanding of their proper application in a hospital architectural project. To this end, the Hospi- tal São Camilo Pompeia, by architect Siegbert Zanettini, located in the city of São Paulo, will be used as a case study. Keywords: Hospital architecture, architectural design, hospital hu- manization, sustainability, Siegbert Zanettini.
  • 10. Introdução Capítulo 1 – Aspectos da Arquitetura Hospitalar 1.1. Breve evolução histórica da arquitetura hospitalar 1.2. Pluralidade dimensional, programa e organização espacial da edificação de saúde contemporânea 1.3. Atributos de projeto da arquitetura da edificação de saúde contemporânea 1.3.1. Implantação, acessos e inserção urbana 1.3.2. Fatores físico-funcionais 1.3.3. Normas técnicas de construção hospitalar e sua aplicação Capítulo 2 – Humanização dos espaços para saúde 2.1. Evolução histórica 2.2. Conceitos adotados de humanização 2.3. Elementos da humanização espacial 2.3.1. Ventilação 2.3.2. Iluminação 2.3.3. Cores 2.3.4. Projetos de Interiores e soluções decorativas 2.3.5. Ergonomia e Acessibilidade 2.3.6. Vegetação e Jardinagem 2.3.6.1. Jardins Externos 2.3.6.2. Terraços-Jardins 2.3.6.3. Jardins Terapêutico 2.3.6.4. Jardins Internos 2.3.7. Ruídos positivos 2.3.8. Espaços lúdicos 2.4. Exemplos da aplicação de humanização espacial em edifícios hospitalares 2.4.1. Sanatório de Paimio, Finlândia 2.4.2. Atrium Hospital Albert Einstein, São Paulo / Brasil 2.4.3. Hospitais Rede Sarah, Brasília / Brasil 2.5. Dificuldades enfrentadas atualmente em relação à humanização dos ambientes de saúde Capítulo 3 – Sustentabilidade na Arquitetura Hospi- talar 3.1. Conceitualização e evolução histórica 3.2. Aplicação do conceito de sustentabilidade 3.2.1. Técnicas Sustentáveis aplicadas em ambientes hospitalares 3.2.1.1. Implantação e inserção urbana 3.2.1.2. Conforto termoacústico 3.2.1.3. Energia 3.2.1.4. Água e efluentes SUMÁRIO 02 13 13 84 85 91 93 93 95 97 101 102 105 108 109 110 112 112 116 117 118 127 130 142 144 146 148 149 149 152 155 156 61 67 68 73 76
  • 11. 3.2.1.5. Vegetação e jardinagem 3.2.1.6. Materiais 3.2.1.7. Resíduos 3.3. Aparato legal e certificações 3.4. Exemplos de aplicação da sustentabilida na cons- trução civil 3.4.1. Hospital Universitário de Mirebalais HMU, Haiti 3.4.2. Hospital Mater Dei, Belo Horizonte/Brasil 3.5. Dificuldades enfrentadas atualmente em relação a sustentabilidade Capítulo 4 – Arqto. Siegbert Zanettini: ideias e obras 4.1. O livre exercício da profissão Capítulo 5 – Hospital São Camilo Pompeia 5.1. Breve histórico do Hospital São Camilo Pompeia 5.2. Partido arquitetônico 5.3. Análises 5.3.1. Da aplicação do princípio de humanização espacial 5.3.2. Da aplicação das técnicas sustentáveis Considerações Finais Referência Bibliográfica ANEXOS ANEXO I – Entrevista com o Arqto. Siegbert Zanettini ANEXO II – Entrevista com a Arqta. Dyane Assis de Arruda ANEXO III – Termo de Consentimento Livre e Esclareci- do (TCLE) ANEXO IV – TCLE Arqto. Siegbert Zanettini ANEXO V – TCLE Arqta. Dyane Assis de Arruda 160 162 164 166 172 172 175 177 182 180 199 200 207 253 253 267 285 302 310 313 315 273 277 285
  • 13. A arquitetura hospitalar é um campo complexo que envolve diversos fatores. Essa complexidade engloba tanto questões proje- tuais e construtivas como interpessoais, onde suas interpretações e necessidades são transformadas pelos arquitetos em característi- cas físico-funcionais dos Edifícios Assistenciais à Saúde (EAS). Os hospitais evoluíram em conjuntura com a Medicina, a Psi- cologia e a Tecnologia, que, por sua vez, influenciaram a Arquitetu- ra. Com o passar do tempo, esses edifícios foram se tornando cada vez mais amplos e complexos, ganhando um dimensionamento físi- co-funcional para a sua adequação perante as novas técnicas e tec- nologias hospitalares. Segundo Vincent F. Gardner, no livro Manual de Ingenierìa de Hospitales (1976), a concepção arquitetônica e a disposição dos edifícios passaram a seguir um sistema construtivo funcional, visando oferecer um atendimento mais humanizado aos pacientes, assim como houve uma melhoria no sistema elétrico e mecânico hospitalar. Dessa forma, novas preocupações começa- ram a surgir em relação à qualidade do ambiente construído, dentre elas a humanização e a sustentabilidade aplicada à arquitetura. Essa preocupação com o bem-estar dos seres humanos não é atual. Ela é conhecida desde a antiguidade, mas ganhou força no século XIX, sobretudo a partir da publicação a Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários de Saúde, elaborada pela Conferên- cia Internacional das Nações Unidas sobre os Serviços Primários de Saúde, que estabeleceu a saúde como um direito humano uni- versal. Essa declaração também apresenta um conjunto de ações de extrema importância que deveriam ser aplicados por todos os governos, no campo de saúde e do desenvolvimento, com o intuito de promovê-los em todos os povos do mundo (OMS, 1978). Os hospitais, até o século XIX, apresentavam características muitas vezes angustiantes e insalubres, ocupando um lugar único na sociedade e, consequentemente, se tornando um equipamento INTRODUÇÃO 02
  • 14. urbano. E. Todd Wheeler, em seu livro Diseño funcional y organi- zación de hospitales (1976) defende que a arquitetura é um dos elementos que auxiliou na diminuição desse caráter assustador pre- sente nos EAS. Segundo o autor (1976: pp. 21, 22), os enfermos têm uma sensibilidade apurada a todos os elementos ao seu redor e ao ambiente físico como um todo, cabendo ao arquiteto eliminar, ao máximo, as características que possam causar qualquer dano ao meio ambiente. Para tal, é necessário aplicar o princípio de Huma- nização. Esse princípio deve ser utilizado com o intuito de tornar os espaços parte integrante do processo de cura dos enfermos, desca- racterizando-os como elementos de confinamento e proporcionando conforto aos pacientes e funcionários do hospital. Com a pandemia da Covid-19, que ocorreu em 2020, essa questão se tornou ainda mais relevante, gerando novas discussões e tornando sua implanta- ção um fator relevante para as decisões projetuais. Para conseguir atingir o objetivo de trazer conforto aos usuá- rios, os arquitetos devem utilizar técnicas que influenciem positiva- mente os cinco sentidos humanos. Essas técnicas são implantadas tanto na organização espacial como nos elementos técnicos e deco- rativos, entre eles a aplicação de cores, o equilíbrio entre iluminação natural e artificial, o controle dos ruídos negativos e a presença de vegetação. Essa se destaca entre os demais por contribuir tanto para o conforto térmico, visual, acústico e olfativo do edifício, como por oferecer a sensação de aconchego aos pacientes e aproximar os acamados aos ambientes externos. Assim como a humanização, a Sustentabilidade também não é um conceito novo em sua totalidade, tendo sido apresentado pela primeira vez no Relatório Brundtland (1987), publicado pela Comis- são Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sob a coor- denação pela doutora Gro Harlem Brundtland, da Noruega. Este do- cumento define desenvolvimento sustentável como um processo de mudança onde a exploração do recurso, a direção dos investimen- tos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança ins- titucional estão em harmonia, aumentando o potencial atual e futuro 03
  • 15. para atender às aspirações e recursos humanos (CMED, 1987: p. 56). Dessa forma, traz um conjunto de ações que as nações deve- riam seguir e/ou desenvolver com o objetivo de combinar a susten- tabilidade ambiental com o crescimento econômico, sobretudo para que as gerações futuras atendam às suas próprias necessidades. Em relação à arquitetura hospitalar, Fabio Bitencourt, no ca- pítulo A sustentabilidade em ambientes de serviços de saúde: um componente de utopia ou de sobrevivência? (2006), afirma que: “[…] projetar sustentavelmente um ambiente hos- pitalar significa criar espaços que sejam ambiental- mente saudáveis, viáveis economicamente e sen- síveis às necessidades sociais, considerando toda a sua amplitude e todas as dimensões envolvidas” (Bitencourt, 2006: p. 17). Para tal, esse princípio deve ser aplicado nas diferentes eta- pas de projeto de um edifício hospitalar, iniciando pela escolha do terreno e da implantação do projeto até a especificação de materiais até o descarte dos resíduos gerados durante a etapa de construção, manutenção e eventual demolição do edifício. Em outras palavras, a sustentabilidade deve ser aplicada durante todo o Ciclo de Vida Útil da construção. Dóris Vilas-Boas, arquiteta especializada na aplicação de sustentabilidade em edifícios hospitalares, traz em seu artigo Sus- tentabilidade em estabelecimentos assistenciais de saúde: soluções do projeto arquitetônico (2011), considerações a respeito da realida- de brasileira quanto a aplicação desse princípio nos EAS. Segundo a autora (2011: p. 13), apesar de já ser aplicado em outras tipolo- gias, como a residencial, e ser uma meta intrínseca à maioria dos edifícios contemporâneos de grande porte, sua aplicação, no Brasil, ainda é desconsiderada na maioria dos projetos voltados à saúde. Dentre os arquitetos que se dedicam a projetar edifícios hos- pitalares e que se preocupam com a qualidade dos ambientes cons- truídos, o Arqto. Siegbert Zanettini se destaca em razão a sua mate- rialidade arquitetônica, voltada sobretudo para a industrialização e o desenvolvimento de novas técnicas projetuais. Nascido em 1934 04
  • 16. e graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer- sidade de São Paulo (FAU-USP) em 1959, faz parte da geração de arquitetos inseridos na produção paulistana da arquitetura desde os anos 50. Na década de 1970, realizou seu primeiro projeto hospita- lar, o Hospital Maternidade De Vila Nova Cachoeirinha, localizado na capital paulista. A partir daí, começou a questionar a produção da sua geração, desenvolvendo uma linguagem mais tecnológica voltada, sobretudo, para a ecoeficiência bioclimática. Entre os vários projetos destinados à saúde realizados pelo arquiteto Zanettini, foi escolhido como objeto de estudo de caso o Hospital São Camilo – unidade Pompeia (Figura 1), na cidade de São Paulo. O bloco original do hospital, construído na década de 1923, sofreu sua primeira intervenção projetada por Zanettini em 1999, que foi futuramente englobado no projeto do Complexo São Camilo, formulado pelo arquiteto no ano seguinte. No período 2000- 20, foram realizadas diversas intervenções, sendo construídos qua- tro novos blocos, todos apresentando a aplicação de técnicas de humanização e soluções sustentáveis. 05
  • 17. Figura 1 Diagrama de implantação do Hospital São Camilo Pompeia, baseado no projeto do arqto. Zanettini. Fonte:acervo pessoal da autora, 2024. 06
  • 18. Objetivo da pesquisa A presente pesquisa teve como objetivo analisar as caracte- rísticas da arquitetura hospitalar e os princípios da humanização e sustentabilidade aplicados às construções de saúde, analisando cri- ticamente como o arquiteto Siegbert Zanettini usou esses conceitos no projeto de expansão do Hospital São Camilo Pompeia, visando proporcionar conforto aos pacientes, médicos e funcionários. Metadologia da pesquisa Como metodologia de pesquisa adotada, a Pesquisa de Es- tudo de Caso consiste em uma estratégia para realizar a investiga- ção empírica de questões contemporâneas e situações especificas. Segundo o livro O Estudo de Caso como Modalidade de Pesquisa, de Magda M. Ventura (2007: pp. 385-386): “Esta metodologia tem grande utilidade em pesquisas exploratórias por possuir uma grande maleabilidade, sendo recomendada o seu uso em fases iniciais das investigações quando o tema é mais complexo, prin- cipalmente para a elaboração de hipóteses e proble- mas da pesquisa. Da mesma forma, o estudo de caso pode ser aplicado em situações em que o objeto já é conhecido a ponto de ser determinado como uma situação ideal ou também em um cenário onde há exploração de novos processos ou comportamentos, porque ele traz a função importante de construir hipó- teses e teorias.” Robert K. Yin, em seu livro Estudo de caso: Planejamento e Métodos (2001: p. 27), explica que o estudo de caso conta com muitas técnicas e ferramentas utilizadas pelas pesquisas históricas, porém sua maior particularidade é a ampla variedade de evidên- cias, coletadas e catalogadas junto a fontes secundárias e primárias de pesquisa. Segundo Rosália Ono et al., na publicação Avaliação Pós-Ocupação (2018: p. 121), algumas das ferramentas utilizadas para a coleta de dados apresentam um caráter mais qualitativo, en- 07
  • 19. tre elas: o walkthrough, walkfinding, entrevistas individuais ou em grupo, poema dos desejos, métodos observacionais e discurso do sujeito coletivo. Entre os citados, foram escolhidos para a aplicação nessa pesquisa apenas as entrevistas e leituras espaciais do projeto arqui- tetônico, adquirido junto ao escritório Zanettini Arquitetura. Os pro- jetos de iluminação, estrutura, elétrica e complementares não foram disponibilizados para estudo pelo Hospital São Camilo Pompeia. Em um aspecto geral, as entrevistas são importantes para conseguir compreender a interação entre a pessoa e o ambiente, apresentando, segundo Yin (2001: pp. 111, 114), uma espontaneida- de, não apenas para conseguir dados referentes as interpretações do entrevistado a respeito de acontecimentos específicos, como também permitir conseguir outras evidências a partir dos relatos re- alizados. Para conseguir informações e relatos a respeito da arquite- tura do Hospital São Camilo Pompeia, do processo de criação de projeto e definição dos parâmetros arquitetônicos foram realizadas entrevistas com o Arqto. Siegbert Zanettini e com a Arqta. Dyane Assis de Arruda, arquiteta do hospital que também nos acompanhou durante a visita técnica ao edifício. Em virtude do objeto de estudo de caso se tratar de um edi- fício hospitalar e ter um caráter mais técnico, de análise projetual, foi decidido por não realizar nenhuma coleta de dado envolvendo, de forma direta, pacientes e funcionários do corpo médico e enfer- magem. A fim de assegurar a privacidade de todos os envolvidos na pesquisa, foi distribuído o Termo de Consentimento Livre e Es- clarecido (TCLE), o qual é um documento que assegura aos partici- pantes da pesquisa os seus direitos. Nele, todos estão cientes dos procedimentos realizados, dos riscos e benefícios da pesquisa, bem como expressam o seu consentimento quanto à participação no pro- cesso (Ono et al., 2018: pp. 69,70). 08
  • 20. Estrutura da dissertação Ventura (2007: p. 385) afirma que um estudo de caso não apresenta um roteiro rígido que deve ser utilizado pelos pesquisa- dores de modo a chegar a um determinado resultado, porém é pos- sível dividir esse método de pesquisa em quatro fases correlatas, sendo elas: determinação da unidade-caso; realização da coleta de dados; seleção, análise e interpretação dos dados; e elaboração do relatório final. Essa dissertação, portanto, se caracteriza como o do- cumento contendo o relatório final e a análise dos dados levantados, realizada a partir do embasamento teórico. Para tal, o trabalho se divide em duas partes. A primeira, contendo três capítulos que expõem a revisão teórico-conceitual da temática da pesquisa; e a segunda parte, com três capítulos relacio- nados ao objeto de estudo de caso, o arquiteto autor do projeto e a análise dos dados coletados. Portanto, a dissertação apresenta-se organizada da seguinte forma, a partir desta Introdução: O Capítulo 1, Aspectos da Arquitetura Hospitalar, aborda uma breve evolução da arquitetura hospitalar e sua relação com outras áreas de conhecimento, como a Medicina e Psicologia. Por ser um capítulo de entendimento a respeito desse ramo da arquite- tura, também apresenta um levantamento a respeito do programa e organização espacial da edificação de saúde contemporânea e as suas principais características projetuais. Para fundamentar tais argumentações, são adotados como textos-base: Anatomia do edi- fício hospitalar, de Lauro Carlos Miquelin (1992); Manual prático de arquitetura hospitalar, de Ronald de Góes (2011); e Compreenden- do o edifício de saúde, de João Carlos Bross (2013). O capítulo seguinte, intitulado Humanização dos espaços para a saúde, apresenta uma análise das características da hu- manização espacial, desde a definição do conceito até a descrição dos elementos que afetam a qualidade dos ambientes internos e externos de Edifícios Assistenciais à Saúde (EAS), bem como as 09
  • 21. dificuldades encontradas pelos arquitetos para aplicar este princípio atualmente. Esse capítulo adota Arquitetura, razão e sensibilidade, de Siegbert Zanettini (2002); Humanização de ambientes hospita- lares: características arquitetônicas responsáveis pela integração interior/exterior, de Renata T. B. Vasconcelos (2004); e O espaço arquitetônico como elemento terapêutico: a função da ambiência na recuperação e na qualidade de vida do paciente internado, de Pier P. B. Pizzolato (2014), como textos-base devido a sua importância e aprofundamento ao tema. O capítulo 3, Sustentabilidade na Arquitetura Hospitalar, é dedicado tanto ao levantamento histórico desse princípio como a categorização as técnicas projetuais sustentáveis aplicadas em edi- fícios hospitalares e sua importância para a qualidade dos ambien- tes dessa tipologia. Foram adotados, portanto, o documento Quali- ficação e sustentabilidade das construções dos estabelecimentos assistenciais de saúde, do Ministério da Saúde (2014) e o livro Ar- quitetura Ecológica, da Dominique Gauzin-Müller (2011), como tex- tos-base. No quarto capítulo , Arqto. Siegbert Zanettini: ideias e obras, são apresentados as contribuições do arquiteto para o cam- po da arquitetura, especialmente a hospitalar. O quinto capítulo possui como foco o objeto de estudo de caso, o Hospital São Camilo Pompeia. Nele não apenas é apre- sentado o levantamento histórico do projeto como as suas carac- terísticas arquitetônicas, enfatizando as relacionadas com os dois princípios descritos nos capítulos anteriores. O intuito desse capí- tulo é trazer, junto de todo o embasamento teórico, a análise crítica acerca dos dados levantados durante as visitas técnicas realizadas no hospital e a análise do seu projeto arquitetônico. O quinto capítulo possui como foco o objeto de estudo de caso, o Hospital São Camilo Pompeia. Nele não apenas é apresentado o levantamento histórico do projeto como as suas características arquitetônicas, enfatizando as relacionadas com os dois princípios descritos nos capítulos anteriores. O intuito desse capítulo é trazer, junto de todo o embasamento teórico, a análise crítica acerca dos 10
  • 22. dados levantados durante as visitas técnicas realizadas no hospital e a análise do seu projeto arquitetônico. Por fim, as Considerações finais, apresentam as conclu- sões dessa pesquisa. 11
  • 24. 1.1 Breve história da arquitetura hospita- lar Não é possível analisar a evolução da arquitetura hospitalar sem descrever e discutir o progresso da Medicina, uma vez que as descobertas, técnicas e tecnologias médicas influenciaram a for- ma como o paciente era tratado, o seu processo de cura e, conse- quentemente, o espaço arquitetônico necessário. Essas influências foram percebidas tanto na arquitetura dos ambientes construídos quanto nas grandes intervenções urbanísticas e sanitárias. De acordo com Roy Porter, em seu livro Cambridge História Ilustrada da Medicina (1996: p. 12), os seres humanos, chamados de “caçadores-coletores”, passaram por experiências que foram fun- damentais para o seu desenvolvimento. Por viverem em pequenos grupos e de forma nômade, permaneciam em um mesmo ambiente por pouco tempo, não poluindo as fontes de água com dejetos hu- manos nem acumulando resíduos, uma vez que não praticavam a agricultura e a domesticação animal. Como consequência, não so- friam com a incidência de doenças tanto de origem vegetais, como as doenças do milho, como bacterianas ou virais, como a varíola, transmitida pelos animais. Com a agricultura e da domesticação animal, os seres hu- manos aumentaram a capacidade de sobrevivência em relação aos ambientes em que habitavam. Viviam em grupos sociais e cultu- rais, onde, quando um integrante ficava doente, buscavam, em seus conhecimentos primitivos, formas de minimizar as dores sofridas e restaurar a sua saúde. Por fim, buscavam nas crenças religiosas Capítulo 1 Aspectos da arquitetura hospitalar 13
  • 25. Figura 2 Cannabis: uma planta com múltiplos usos ao longo da história. Fonte: Matyszak, 2019. uma maneira de aliviar as angústias emocionais, proporcionando um controle sobrenatural ao ato de cura e vinculando a Medicina a religião. Dessa forma, a ação de cura, diretamente ligada à busca constante pela diminuição da dor, não pertence a uma civilização ou cultura específica, ocorrendo em diversos tempos e lugares. Com isso, não é possível estabelecer uma única origem para o conceito para a cura ou espaço hospitalar. Para permitir que os pacientes sofressem menos durante os tratamentos e procedimentos cirúrgicos, determinados tipos de dro- gas e bebidas alcoólicas eram aplicados no corpo humano, tanto interna como externamente, devido aos seus efeitos anestésicos e entorpecentes. Philip Matyszak (2019), estudioso das civilizações clássicas, destaca a papoula, e a cannabis (Figura 2), que chegaram ao norte e ao centro da Europa há mais de cinco mil anos através da Rota da Seda, que ligava o Oriente à Europa e ao leste africano. Além de utilizadas como entorpecentes, essas drogas também poderiam auxiliar no alívio aos doentes terminais sem chance de sobrevivência. Isso se deve ao fato de que as civi- lizações, desde a Mesopotâmia, já apresentavam consciência de que essas, e outras substâncias psicoativas, causavam a morte quando utilizadas em excesso, como constatado por Hipócra- tes. Como já mencionado, pessoas realizavam ritos religio- sos para as entida-des enquanto aplicavam medicamentos para tentar a cura. Nota-se, então, uma maior relevância dada pela 14
  • 26. busca da cura da alma, deixando a cura física em segundo plano. Embora existam registros que demonstram êxitos e milagres realizados, há outros que indicam fracassos em que o enfermo su- cumbia a doença. Niall Ferguson relata um exemplo de Medicina primitiva em seu livro Civilização: Ocidente x Oriente (2011). Segun- do seus relatos: “[…] a aldeia de Jajak é notável porque tem nada menos que três curandeiros tradicionais, um deles uma mulher idosa chamada Han Diop. As pessoas vêm de quilôme- tros de distância para consultá-la e, conforme me contou quando a visitei em Jajak, em 2010, ela é capaz de curar qualquer coisa […] com remédios à base de ervas e uma pitada de profecia. Este tipo de medicina vem sendo pra- ticado pelos africanos há centenas, talvez milhares de anos. […] As ervas e os feitiços são notadamente ine- ficazes contra a maioria das doenças tropicais” (Fergu- son, 2011: p. 206). Embora muitos pesquisadores e historiadores atribuírem a origem da tradição da Medicina aos gregos e romanos, outras civili- zações já praticavam procedimentos médicos anteriormente, como na Antiga Mesopotâmia e no Egito. Em escavações no Oriente Mé- dio, foram encontrados fragmentos de textos babilônicos antigos, gravados em tabletes de argila, contendo a descrição de diversos sintomas de doenças, muitas delas infecciosas. Essas, e outras atri- buídas a males sobrenaturais, eram tratadas por dois tipos diferen- tes de xamãs. O primeiro se dedicava aos encantamentos e rituais de cura, aplicando o exorcismo para afugentar os “demônios” do corpo dos doentes. O segundo tratava os enfermos com a aplicação de drogas, poções, bandagens e similares (Porter, 1996: pp. 49, 50). Todavia, devido aos registros não indicarem os espaços onde eram realizadas as ações de cura, muitos pesquisadores acredita- ram, por muito tempo, que essa civilização não possuía médicos, deixando os cuidados para os leigos. Essa controvérsia pode ser observada no livro História e Evolução dos Hospitais, publicado pelo Ministério da Saúde em 1965. Segundo o livro, a prática da medici- na era realizada nos mercados, onde os tratamentos dos doentes eram decididos segundo os pareceres das pessoas ali presentes (Brasil, 1965: p. 08). 15
  • 27. Figura 3 Papiro contendo dese- nho dos instrumentos ci- rúrgicos. Fonte: BBC, 2017. Nos templos egípcios, os sacerdotes dividiam-se em espe- cialidades. Enquanto alguns se concentravam exclusivamente nas dores que afetavam a cabeça, outros cuidavam dos dentes, do abdômen, ou das doenças invisí- veis. Para isso, usavam os senti- dos para identificar as alterações patológicas, tocando, observando e, em alguns casos, cheirando o paciente (Porter, 1996: p. 51). Os cuidados com o corpo do enfermo se concentravam em sua limpeza, tanto externa quanto interna, com banhos perfumados e enemas, ao mesmo tempo em que eram apli- 16 cados purgantes e outras drogas. Por fim, realizavam cirurgias utili- zando diferentes instrumentos (Figura 3) (BBC, 2017). Outra prática importante presente na cultura egípcia é o ato de mumificação. Ao preservarem o corpo, os egípcios não apresen- tavam a mesma visão religiosa de outras civilizações a respeito do manuseio do cadáver. Durante a dissecação, retiravam os órgãos, aprendendo sobre anatomia ao mesmo tempo em que os analisa- vam, identificando suas ligações com determinadas doenças. As- sim, desenvolveram sua medicina e técnicas médicas, que, em conjunto com a medicina mesopotâmica, se estenderam a outras civilizações, dentre elas, a Grécia Antiga. Para os gregos, os pacientes eram tratados em três locais diferentes, conforme o livro Anatomia dos edifícios hospitalares (1992), de Lauro Miquelin. Segundo o autor (1992: p. 29), a primeira forma de atendimento era realizada nas hospedarias denominadas Xenodochium, onde se prestavam assistência tanto à população quanto aos estrangeiros. O segundo local de atendimento eram as moradias estabelecidas pelos médicos para abrigar seus pacientes durante o período de tratamento, denominadas Iatruia, ou Iatreion.
  • 28. Figura 4 Relevo em homenagem ao deus da cura Asclépio que está se apoiando no bastão com a serpente entrelaçada, 350 a.C. Fonte: Porter, 1996: p. 47. Por último, os Templos de Asclépio, os mais utilizados. Conforme os registros e a mitologia grega, Asclépio (Figura 4) era um ser humano que passou a ser considerado o Deus da Medicina. Na mitologia, era filho de Apolo, Deus do Sol, dedicou-se ao aprendizado da arte médica. Aprendeu ofícios que se relaciona- vam com o trabalho manual e com a natureza, utilizando dos pode- res medicinais das plantas para tratar dos enfermos. Como Deus da Medicina, suas intervenções ocorriam principalmente durante os sonhos dos enfermos, curando-os diretamente ou revelando para si qual procedimento deveria ser realizado para que este fosse cura- do. 17 Os templos dedicados a Asclépio eram localizados fora das cidades gregas, próximos a bosques e cursos d’água. O Templo de Asclepieion de Cos (Figura 5), construído no século II a.C., é um dos mais importantes, porque era ali que Asclépio ensinava seus discípulos. Segundo registros, esse templo, implantado em 3 diferentes terraços, trazia a separação entre o pórtico utilizado pelos sacerdo- tes, localizado no terraço superior, e o Enkoimeterion, construído no terraço inferior. Essa diferenciação foi realizada, principalmente,
  • 29. Legenda: Terraço superio: 1. Templo de Asclépio 2. Pórtico Terraço mediano 1. Altar 2. Templo de Apolo 3. Templo de Asclépio Terraço inferior 1. Acesso 2. Pórtico dos pacientes 3. Fonte e áreas de treina- mento Figura 5 Planta de reconstrução esque- mática do Asclepieion de Cos. Fonte: Miquelin, 1992: p. 30. porque os pórticos em volta do templo eram utilizados apenas du- rante o período de “incubação”, onde, após a consulta, o paciente tinha que se retirar. O local sagrado tinha como finalidade dar ao do- ente acesso à decisão terapêutica ou prognóstica divina. Dessa for- ma, os tratamentos aos pacientes ocorriam no Enkoimeterion. Essa construção compartimentada era aberta para o Templo e fechada para o exterior, com dimensão de 110 metros de comprimento por 11 metros de profundidade e uma fachada marcada por 41 colunas dóricas. Em seu interior, 17 colunas jônicas dividiam os espaços em duas galerias separadas. (Miquelin, 1992: pp. 29, 30). 18
  • 30. De acordo com José Leopoldo Ferreira Antunes, no livro Hospital: instituição e história social (1991), foram encontradas, em escavações arqueológicas nas ruinas do templo, placas contendo descrição das doenças da época e instruções sobre os procedimen- tos curativos que deveriam ser realizados. Estes eram lidos com fre- quência pelos médicos e aprendizes, servindo como um apoio para educação prática da arte da cura (Antunes, 1991: p. 27). É possível afirmar que estes seriam os primeiros registros de prontuário clínico completo, com a descrição dos sintomas, dos remédios e dos méto- dos curativos utilizados. Dentre os discípulos de Asclépio, se destaca Hipócrates (460–377 a.C.), conhecido como o “pai da Medicina”. Autor de 60 tratados, reunidos no Corpus Hippocratius, nos quais desmente a origem sobrenatural nas doenças, atribuindo-as ao comportamen- to humano e elementos naturais. Hipócrates defendia que médicos deveriam estar atentos aos comportamentos e rotinas dos pacien- tes para conseguir compreender as enfermidades que os afetavam, para assim, encontrar a forma correta de tratamento. Em virtude dessa argumentação, é possível afirmar que, nesse momento, fo- ram realizados os primeiros estudos, ainda que primitivos, a respei- to de como o ambiente influencia o ser humano e como a rotina, a dieta e o estado emocional interferem em sua saúde. Segundo o artigo A epidemiologia de Hipócrates ao Século XXI (2014), de Carlos Pereira e Nélio Veiga, Hipócrates desenvolveu a Teoria Humoral Hipocrática, na qual o corpo humano é composto por quatro humores, diretamente relacionados às quatro vísceras. São eles: o sangue, que está ligado ao coração; a fleuma, presen- te no sistema respiratório; a bílis amarela, produzida pelo fígado; e a bílis negra, encontrada no baço. A doença, portanto, se mani- festava quando um ou mais desses humores estão desregulados. Consequentemente, interpretavam certos sintomas, como vômitos, suor excessivo, tosse e hematúria, entre outros, como uma tentati- va do organismo de liberar o excesso desses humores, de modo a restaurar a normalidade. Portanto, competia ao médico prescrever mudanças alimentares e realizar sangrias para auxiliar o corpo a se 19
  • 31. recuperar, reforçando o tratamento com a aplicação de medicamen- tos (Pereira; Veiga, 2014: p. 133). Ao contrário dos egípcios, os médicos gregos não tinham o hábito de realizar a dissecação dos corpos humanos, tratando as doenças como sendo desequilíbrios do corpo e da alma, realizando cirurgias apenas quando necessário, acompanhadas pelo uso de drogas, provenientes do Egito, e vinho nos locais onde seriam reali- zadas as operações para diminuir a sepse. Além disso, tinham uma compreensão equivocada sobre a anatomia humana até o século IV a.C., quando o conhecimento anatômico sofreu grandes alterações devido às investigações zoológicas e biológicas realizadas, sobre- tudo, por Aristóteles e Diócles de Carystus, autor do primeiro livro sobre dissecação animal (Porter, 1996: pp. 53, 54). Os progressos em anatomia humana surgiram fora da Gré- cia, na nova cidade de Alexandria. As conquistas de Alexandre, o Grande (reinou de 336-323 a.C.), trouxeram a civilização helênica para fora da bacia do Egeu, cobrindo todo o Oriente Médio. A partir de 250 a.C., o mundo helênico sucumbiu ao poder militar de Roma. Até 80 a.C., os médicos gregos e as ideias eram comuns na Itália, criando os metodistas, que desde 60 d.C. foram dominantes na me- dicina latina (Porter, 1996: pp. 54, 55). De acordo com diversos historiadores, a Roma Antiga apre- sentava três formas de assistência aos doentes. A primeira forma diz respeito ao atendimento doméstico, onde os sacerdotes visitavam as residências de seus pacientes para realizar o ato de cura. Segun- do Leonardo Benevolo, no livro História da Cidade (1982), existiam duas tipologias residenciais romanas: as domus (Figura 6) e as in- sulae (Figura 7). As domus eram casas térreas ou sobrados, típicas das cidades mediterrâneas e usadas pelas famílias mais ricas, que ficavam fechadas para o exterior e abertas para os espaços internos que, por sua vez, eram agrupados em torno do átrio e peristilo. As insulae eram construções coletivas com múltiplos andares somando uma área de 300 a 400 m² de área, com espaços para comércio no térreo e muitos cômodos nos pavimentos superiores, com janelas e balcões voltados para os caminhos externos (Benevolo, 1982: p. 20
  • 32. Figura 6 Fragmento da forma urbis onde são observados, à esquerda, três domus, uma ao lado da outra. Fonte: Benevolo, 2019: p. 185. Figura 7 Fragmento da forma urbis com plantas de insulae. Fonte: Benevolo, 2019: p. 185. 21
  • 33. Figura 8 Termas de Badenweiler, aproximadamente 70 d.C. Fonte: Miquelin, 1992: p. 32. Legenda: 1. Entrada; 2. Pátios; 3. Vestiários; 4. Captação de fonte; 5. Banhos termais; 6. Banhos frios; 7. Banhos quentes; 8. Banhos de vapor. 175). Além da diferença de classes, é possível notar, também, a se- melhança entre as Insulae romanas e as Iatreions gregas, por serem usadas, sobretudo, como hospedarias A segunda vertente diz respeito às Termas. Essas constru- ções, presentes em todo o Império Romano, são consideradas como grandes modelos de arquitetura sanitária, vinculadas aos aquedutos. Eram locais onde os romanos se dirigiam para tomar seus banhos e realizar seus tratamentos, além de permitir interações sociais, cultu- rais e momentos de lazer. Geralmente, compreendiam a um saguão de entrada que dava acesso aos vestiários, salas de repouso, salas de banho quente (caldarium), e as piscinas para banho frio (frigida- rium) (Miquelin, 1992: p. 31). Além de Termas romanas como as de Caracala, construída por volta de 216 d.C. em Roma, existiam outras em todo o Império Romano, dentre elas as Termas de Badenweiler (Figura 8). Constru- ídas por volta de 10 d.C. onde atualmente localiza-se o estado ale- mão Baden-Württemberg, suas ruínas foram encontradas em 1784 por um grupo de arqueológicos e historiadores. 22
  • 34. Figura 9 Corte com indicação da localização das caldeiras (em laranja). Fonte: Boeyung, 2009: p. 137. Segundo Ulrich Boeyung, em seu artigo publicado na revista Denkmalpflege in Baden-Württemberg (Conservação de monumen- tos de Baden-Württemberg) (2009), os arqueólogos constataram que a construção apresentava uma organização espacial peculiar, com entradas distintas para homens e mulheres, o que não era uma solução aplicada com frequência. Essas entradas abobadadas da- vam acesso aos vestiários, que, por sua vez, apresentavam absides semicirculares, quatro lavatórios nas paredes longitudinais, circun- dados por nichos semicirculares para a instalação de estátuas, e uma passagem para o banheiro adjacente. As bacias de banho, ba- nheiros, pisos e rodapés foram revestidos com opus signinum (arga- massa de tijolo triturado finamente), enquanto as paredes apresen- tavam revestimentos com afrescos. Após deixarem os vestiários, os romanos podiam tomar banhos termais nas piscinas maiores, que apresentavam um volume de 60 metros quadrados e 1 metro de profundidade. Estas eram rodeadas por corredores estreitos que conduziam às escadarias de acesso aos banhos quente e frio, bem como ao banho de vapor. Junto a parede norte, se encontrava a captação de água, que era direcionada as caldeiras (Figura 9) (Bo- eyung, 2009). Os Valentudinarium (Figura 10) representam a terceira ver- tente. Esses eram os hospitais militares de campanha, que ofere- ciam assistência aos legionários e aos escravos que lutavam nas guerras. Eram situados distantes dos centros dos acampamentos, de modo a proporcionar a recuperação dos doentes, além de ofe- recer serviços farmacêuticos e cirúrgicos básicos. A construção era 23
  • 35. Figura 10 Plano de Construção do Valentudinarium de Vin- donissa. Detalhe: dispo- sição das enfermarias. Fonte: Antunes, 1991: p. 35. composta por dois blocos, sendo o primeiro localizado no centro, contendo a cozinha e o refeitório. O segundo, circundava completa- mente o pátio central e um único corredor dava acesso aos quartos compartilhados, com capacidade para três pacientes. Por não pos- suírem uma comunicação direta com o corredor central, os dormitó- rios apresentavam uma redução da quantidade de poeira e ruído em seu interior, além de uma maior privacidade (Antunes, 1991: pp. 33, 34). Na metade oriental do Império Romano, a medicina era pra- ticada por imigrantes de baixa renda, enquanto, na parte ocidental, médicos gregos exerciam a sua profissão como magistrados e mé- dicos civis (Porter, 1996: p. 55). Galeno (n. 129 d.C.) além de ter sido um dos principais estudiosos do período, foi um dos intérpretes de Hipócrates, conciliando seus ensinamentos sobre o funciona- mento do organismo saudável com a filosofia de outros pensado- res, como Platão (428-348 a.C.) e Aristóteles (384–322 a.C.). Ao analisar a prática médica realozada em sua época e observar que alguns medicavam seus pacientes sem a aplicação de nenhum mé- todo para identificar as doenças sofridas, Galeno defendia a ideia 24
  • 36. de que todos os médicos deveriam dominar a interdisciplinaridade. Nas palavras das cientistas Camille Bertha Stülp e Samira Schultz Mansur, Galeno defendia que: “[…] o médico deveria dominar a lógica (arte de pensar), a física (ciência da natureza), a ética (norma de condu- ta), a filosofia - situada no âmago da ciência -, e a con- fiança do paciente, ato imprescindível para a cura, e não ser um simples prático de doenças baseado no empiris- mo” (Stülp; Mansur, 2019: p. 158). Dessa forma, Galeno começou a elaborar teorias a respeito do organismo, com base nos ensinamentos hipocráticos e nas dis- secações de animais, além de descrever diversas doenças como a malária, a peste e a tuberculose. Além disso, Galeno sustentava que a maioria dos sintomas apresentados pelos pacientes estavam relacionados a fatores emocionais, sugerindo que os médicos tam- bém prescrevessem técnicas para os enfermos poderem exercer controle sobre suas emoções, visando manter uma vida saudável (Stülp; Mansur, 2019). É possível afirmar que aqui estão os primei- ros pensamentos e registros referente a Psicologia, apesar do seu desenvolvimento ter ocorrido somente alguns séculos depois, como uma ramificação da Filosofia. Com a decadência do Império Romano, o sistema de hospi- tais criados pelos gregos e romanos perdeu força. A conquista árabe do século VII despertou o interesse dos árabes a se interessarem pela Medicina Romana, fundamentada nos textos de Galena e nos tratados médicos gregos, levando-os a construir espaços que se- riam novos modelos de espaços de saúde, como o leprosário. Na cultura islâmica, o modelo hospitalar chamou-se Bima- ristan (bimar = pessoa enferma, e stan = casa) (Figura 11), que, além de oferecer tratamentos aos doentes, também servia como local de ensino da prática médica. Essa construção apresenta uma implantação ortogonal, estabelecendo uma diferenciação entre o atendimento masculino do feminino, além da divisão dos pacientes de acordo com as patologias apresentadas. Devido à influência bi- zantina, o hospital apresenta áreas para atendimento e consultas externas, despensa de medicamentos e áreas reservadas para os enfermos com doenças mentais. Os muçulmanos, por se preocu- 25
  • 37. Figura 11 Xenodochium Bizantino, ou Bimaristan, localizado em Baghdad. Fonte: Miquelin, 1992: p. 34. Legenda: 1. Entrada 2. Pórtico 3. Pátio Central 4. Quartos 5. Lojas parem com a higiene e a salubridade nos ambientes internos, apli- caram estratégias para distribuir água e ventilação em seu interior, além de oferecer a aproximação com a natureza (Miquelin, 1992: p. 34). Foi no Oriente Médio que surgiram os primeiros tratados mé- dicos após Hipócrates, Galeno e a Dioscórides, abrangendo desde estudos sobre diferentes especialidades, como a pediatria e a oftal- mologia, até a distinção entre doenças. Al-Zaharawi (Albucasis), por exemplo, produziu excelentes trabalhos cirúrgicos, nos quais relata- va detalhes de complexas operações abdominais (Porter, 1996: p. 61). Na Europa medieval, a prática médica se vincula à religião católica, sendo realizada nos mosteiros e conventos. Como os mon- ges tinham conhecimento de latim, estudavam e transcreviam os textos galênicos e hipocráticos, aprendendo a diagnosticar as doen- ças ao mesmo tempo em que ofereciam os tratamentos adequados nas enfermarias e ambulatórios, situadas dentro dessas constru- ções. O mosteiro de St. Gallen (Figura 12), de 820 d.C., na Suíça, é um dos maiores exemplos de implantação das enfermarias nos mosteiros. Ao examinar a planta, é possível identificar uma setoriza- ção espelhada, com a capela como seu eixo central e uma organiza- 26
  • 38. Figura 13 Hospital do Santo Espíri- to de Lübeck 1286. Sem escala. Fonte: Miquelin, 1992: p. 32. Figura 12 Plano de St. Gallen (São Galo), Suíça, 820 d.C. Fonte: Costa, 2009: p. 12. Legenda: 1. Entrada 2. Vestíbulo 3. Capela 4. Altar 5. Nave dos leitos 6. Pátio 7. Serviços 27
  • 39. ção espacial que se assemelha às construções romanas, ao rodear os pátios abertos com galerias arcadas. Essa setorização marca a diferença entre os espaços utilizados pelos pacientes, à esquerda, e os que são exclusivos dos noviços, à direita. Além dessa constru- ção, outros blocos também auxiliavam no tratamento dos enfermos, tais como: o destinado à sangria, uma prática médica bastante di- fundida desde a antiguidade; os quartos utilizados pelos pacientes em estado crítico; as cozinhas; os banheiros; o cemitério; e o Jardim de Ervas Medicinais, ou Jardim terapêutico, onde eram plantadas as ervas utilizadas na fabricação de fitoterápicos. Infelizmente, alguns monastérios não foram construídos, o que alterou a morfologia básica do hospital medieval. Esses edi- fícios passaram a apresentar a tipologia em nave, refletindo os avanços das técnicas estruturais, sobretudo por apresentarem vãos maio¬res e melhores condições de iluminação e ventilação, além de separarem os pacientes por patologias e sexo (Miquelin, 1992: p. 32). Esses edifícios (Figura 13) eram compostos por um corpo principal dedicado à nave, onde os leitos eram enfileirados e ilumi- nados por grandes aberturas. O altar era localizado nas extremi- dades desse ambiente, normalmente próximo à entrada principal, facilitando seu acesso, seja física ou visualmente. Algumas salas menores possuíam acessos diretos a nave e eram utilizados duran- te os tratamentos e para isolamento, enquanto os demais espaços, de suporte ao funcionamento do hospital, eram localizados na parte externa, se conectando ao edifício por circulações cobertas e claus- tros. Durante a Idade Média, doenças como a Peste Negra devas- taram a Europa, causando inúmeras mortes. Dessa forma, os admi- nistradores das cidades medievais desenvolveram ações públicas visando manter a saúde coletiva, tais como: o recolhimento da água das chuvas para consumo doméstico; a proibição da entrada de mi- grantes na cidade; o desbloqueio das vias de irrigação; o fechamen- to dos portos marítimos; a aplicação de quarentenas, dentre outras (Antunes, 1991: p. 103). Apesar de serem primitivas, essas seriam 28
  • 40. Figura 14 Lazaretto Vecchio de Ve- neza (1403 / 1630). Fonte: Lazzaretti Vene- ziani. Disponível no site: < https://lazzarettivene- ziani.it/en/lazzaretti/his- tory-lazzaretto-vecchio >. Acesso em: jun. 2023. as primeiras políticas de saneamento básico em escala urbana a serem aplicadas na Europa. Para a realização da quarentena, surgiu um novo tipo de construção: o Lazareto (Figura 14). Esses estabelecimentos, situa- dos próximos às fronteiras terrestres e marítimas das cidades, eram cárceres para todos que apresentavam sinais da doença, perma- necendo no interior dessas construções até sucumbirem a ela ou mostrarem indícios de que estavam curados. É importante salientar que os lazaretos mantiveram sua atividade ininterrupta até o final do século XX, mesmo quando a ameaça da peste parecia inexistir, recebendo portadores de diversas patologias, alterando seu nome para “hospital de isolamento” (Antunes, 1991: pp. 106, 128). 29
  • 41. Com a busca das elites pelo conhecimento e a recuperação dos tratados, o Renascimento iniciou-se, marcado por avanços sig- nificativos na Medicina. Durante este período histórico, o “homem renascentista” busca um olhar mais empírico. Considera-se uma criação de Deus, logo, por se considerar superior, ele se vê capaz de realizar atos que, até então, era considerado impossível. Assim rompe com os dogmas católicos ao iniciar a dissecação de cadáve- res a fim de obter uma melhor compreensão do corpo humano. Essa prática possibilitou o surgimento da figura do médico como é conhe- cida atualmente, devido ao apoio teórico, científico e prático que começa a ser aplicado nas práticas médicas e hospitalares. Como consequência, a medicina foi, gradualmente, se desvinculando da religião. Segundo Marchry (2010: p. 121), além do surgimento da epi- demiologia, a Teoria dos Miasmas foi desenvolvida, acompanhada da descoberta do processo de circulação sanguínea e da técnica de cauterização de feridas, o que permitiu intervenções cirúrgicas mais delicadas. É a partir deste momento, que os edifícios hospitalares sofrem uma alteração em seu dimensionamento e complexidade, inserindo-se no contexto urbano. A implantação em nave é substi- tuída pela cruciforme, com pátios internos rodeados por galerias e corredores. Porém, há registros de variações quanto aos formatos de implantação dos hospitais desse período histórico, onde era pos- sível encontrar exemplares em cruz, “T”, “L”, “U” e plano quadrado (Miquelin, 1992: pp. 40, 41). Dentre os hospitais renascentistas, o Ospedale Maggiore de Milano (1456) (Figura 15), projetado por Filarete, é considerado o mais importante hospital do Renascimento Italiano, apesar de ter sido construído parcialmente. A implantação foi realizada em um plano quadrado, demonstrando a simetria do conjunto, onde todos os alojamentos foram organizados em um plano cruciforme, apoia- do por pátios e galerias. Filarete demonstrou preocupação com a salubridade e o saneamento em seu projeto, ao incluir: cabines sa- nitárias junto aos leitos; áreas de serviço de lavagem de roupas lo- calizadas sob os alojamentos; um sistema de esgoto que dispunha 30
  • 42. Figura 15 Ospedale Maggiore de Milão. Fonte: Miquelin, 1992: p. 41. de um dispositivo de autolimpeza aproveitando a pressão e o volume das águas pluviais; e fácil acesso aos locais de banho (Miquelin, 1992: p. 41). Com o progresso científico no âmbito do planejamento hos- pitalar, no final do século XVIII, surgiram importantes reflexões a respeito da qualidade do es-paço construído, incentivadas pela ne- cessidade de reconstrução do Hôtel-Dieu de Paris, cujo prédio foi atingido por um incêndio de grande magnitude em 1772. Este hos- pital se tornou um grande exemplo, porém não pela sua excelência. A superlotação, a falta de ventilação nas salas e a falta de higiene nos procedimentos cirúrgicos tornaram este hospital em um “mode- lo negativo para a organização hospitalar” e um “protótipo de tudo que os hospitais deveriam evitar” (Antunes, 1991: p. 142). A partir dessa análise, desenvolve-se a tipologia das enfermarias abertas, que seria posteriormente nomeada como “Enfermaria Nightingale”. Após suas experiências durante a Guerra da Criméia (1853– 1856), Florence Nightingale identificou os problemas dos hospitais em termos de insalubridade e superlotação dos quartos, que apre- sentavam áreas mínimas de leito, resultando na criação da enferma- ria que receberia seu nome (Figura 16). Esse amplo salão, com um pé-direito amplo, apresentava leitos dispostos perpendicularmente às paredes, com janelas altas entre eles, instaladas em ambos os lados, permitindo a ventilação cruzada e a entrada de luz natural 31
  • 43. Figura 16 Planta da Enfermaria “Ni- ghtingale”. Fonte: Miquelin, 1992: p. 47. para o interior do ambiente. As salas de isolamento e apoio ocupa- vam o espaço entre o salão e o corredor de ligação com os demais pavilhões, enquanto o posto de enfermagem se encontrava ao cen- tro da enfermaria, próximo ao sistema de calefação ou à lareira. De acordo com Eudes Campos (2011), o sistema pavilhonar só foi reconhecido internacionalmente depois do sucesso do hospi- tal Lariboisière (Figura 17), de Paris, projetado pelo arquiteto Martin- -Pierre Gauthier (1790–1855) e construído entre 1846 e 1854. Este hospital apresentava 10 pavilhões com três pavimentos, dispostos de forma paralela e equidistante, com áreas ajardinadas entre eles, para oferecer conforto aos pacientes. Ao centro, um grande pátio que ordenava o espaço, tendo a capela localizada em sua extremi- dade, que, por sua vez, estava rodeada por outros ambientes que auxiliavam no funcionamento do hospital. Nos pavilhões, os leitos eram dispostos próximos às paredes e as aberturas, que ofereciam ventilação cruzada. Esses leitos eram dispostos juntos, como um leito duplo, sem divisórias entre eles. Miquelin (1992: p. 44) complementa a descrição deste hospital ao mencionar que, ao lado das circulações verticais de cada pavilhão, os quartos menores eram destinados a pacientes que necessitavam de maior privacidade, como era o caso das mulheres em trabalho de parto. 32
  • 44. Figura 17 Planta do Hospital Lariboisière. Fonte: Campos, 2011 33
  • 45. Figura 18 Projeção horizontal da Santa Casa de Misericór- dia de São Paulo. Fonte: Silva, 2017 Legenda: 1. Entrada 2. Pátio 3. Capela 4. Administração 5. Farmácia 6. Cozinha 7. Lavanderia 8. Consultas 9. Internações 10. Serviços A Santa Casa de Misericórdia (1884), localizada em São Paulo, é considerada um dos exemplos brasileiros de hospitais com essa tipologia arquitetônica. O hospital, projetado pelos arquitetos italianos Luigi Pucci e Guilio Micheli, apresenta características que remetem aos conceitos adotados no hospital de Lariboisière, como a disposição dos leitos, os pátios e a forma como os pavilhões foram implantados. Segundo Eudes Campos (2011), Pucci apresentou no memorial que elaborou para acompanhar seu projeto os aspectos positivos dessa construção que o levaram a elaborar a solução pro- jetual. Em suas palavras: “evita-se com esta disposição o ajuntamento demasia- do de doentes, formando cada enfermaria um pequeno hospital, com a vantagem que os commodos de serviço são communs a todos elles. Outra vantagem das salas isoladas e relativamente pequenas, é que se podem se- parar os doentes segundo as differentes enfermidades, e até em caso de doenças contagiosas pode-se segre- gar completamente uma ou outra enfermaria” (Campos, 2011). 34
  • 46. Figura 19 Corte de uma enferma- ria segundo o sistema Tollet. Fonte: Campos, 2011. O hospital apresentava um programa complexo composto por: enfermarias, com 200 leitos em sua totalidade; salas de confe- rências médicas; salas de cirurgia e autópsia; cômodos para os mé- dicos residentes; cômodos para as irmãs de caridade, enfermeiros e demais funcionários; rouparia; refeitório; sala dos convalescentes; despensa e cozinha; capela, sacristia, necrotério e cômodos para o capelão; salão da Provedoria, arquivo e dependências; biblioteca; Roda de Expostos, cômodos para criação e educação dos expostos e ingênuos; casa de banhos e duchas; lavanderia; sala de trabalhos de costura e engomagem (Figura 18) (Campos, 2011). No entanto, o foco principal deste projeto não é a complexida- de do programa, mas sim a solução aplicada pelo Pucci para com- bater a insalubridade, conhecido como Sistema Tollet (Figura 19). Este, desenvolvido pelo engenheiro francês Casimir Tollet (1828 – 1899), objetivava garantir a salubridade dos ambientes hospitalares, permitindo que a ascensão do ar viciado pelo perfil ogival do teto das enfermarias ocorresse. Após se concentrar no alto das abóbadas, o ar interno escapava pelos óculos agenciados na parte superior das paredes extremas das enferma- rias e pelas chaminés dispostas ao longo dos pontos mais altos do teto abobadado. Já o ar junto ao piso era retirado do ambiente por dutos instalados no interior das paredes (Campos, 2011). Dessa forma, de acordo com esse sistema, Pucci construiu os pavilhões com pés-direitos maiores e abóbodas ogivais, o que auxiliou o partido higienista do edifício, complementando as características neogóticas exis- tentes. 35 É perceptível que a arquitetura hospitalar deixa de se derivar da religiosa e palaciana para se concentrar em plantas com uma
  • 47. organização espacial orientada pelas atividades e necessidades hospitalares, diferenciando-se dos demais usos devidos, sobretudo, aos avanços das técnicas e tecnologias médicas. Apesar de a ti- pologia pavilhonar ter uma qualidade espacial bastante satisfatória, necessitava de grandes espaços livres devido à sua configuração horizontal, o que levou ao afastamento dos hospitais dos centros ur- banos. Os hospitais pavilhonares, construídos em áreas rurais, com grandes campos abertos e bosques, passaram a tratar de doenças específicas, como tuberculose e hanseníase, devido à necessidade de reclusão imposta pelas doenças, bem como à qualidade do ar puro e à insolação, que auxiliavam no tratamento. Por volta de 1800, a média mundial de expectativa de vida ao nascer era de apenas 28,5 anos (Ferguson, 2011: p. 180). O aumento da expectativa de vida esteve fortemente associado às melhorias em saneamento básico e saúde pública, acompanhadas pelo desenvolvimento de vacinas. O bacteriologista ganha um novo papel na sociedade, sobretudo devido às doenças tropicais trans- mitidas à Europa durante o Imperialismo, com a colonização dos continentes africano e asiático. Foram, então, construídos os Insti- tutos de Medicina Tropical, locais onde as doenças eram estudadas, tendo como seus melhores exemplares: o Instituto Pasteur (1887) de Paris, a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (1899) e o Instituto de Marinha Mercante e Doenças Tropicais (1901), com sede em Hamburgo. Segundo Ferguson (2011: p. 204), dentre as contribuições relacionadas às enfermidades tropicais, destacam-se: a descober- ta da bactéria Vibrio cholerae, responsável pela cólera, por Robert Koch; a identificação do bacilo responsável pela peste bubônica, por Alexandre Yersin; e a exposição minuciosa da etiologia da malária e do papel do mosquito na sua transmissão, por Ronald Rossa. Dessa forma, o século XIX torna a África e a Ásia em grandes laboratórios para a medicina moderna. Concomitantemente, outros progressos nas técnicas e tecno- logias médicas foram realizados, dentre elas o desenvolvimento da 36
  • 48. anestesia, que marcou o século XIX por ser responsável pelo sur- gimento do bloco cirúrgico. Este corresponde ao agrupamento de salas de cirurgia, unidades de tratamento intensivo (UTIs), serviços de suporte, e áreas de preparação e recuperação dos pacientes, oferecendo uma melhor perspectiva de recuperação e a diminuição das taxas de mortalidade por infecções. Maria Alice Lopes Medeiros apresenta algumas indagações interessantes sobre a arquitetura moderna dos edifícios hospitala- res. As soluções Iluministas, segundo a pesquisadora (2005: p. 64), não apresentaram novidades aos hospitais, sobretudo em relação às suas características arquitetônicas, em contrapartida, os novos conceitos foram influenciados, principalmente, pela demanda por leitos para feridos e doentes de guerra, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Os hospitais precisavam de um dimensionamento maior para atender esta demanda, ao mesmo tempo, em que aco- modavam os novos ambientes e tecnologias médicas. No entanto, os hospitais evoluíram desde o final da Primeira Guerra Mundial, sobretudo devido à pandemia da Gripe Espanhola de 1918, que causou cerca de 50 milhões de mortes. Com a Revolução Industrial e o surgimento da força de tra- balho operária, o número de acidentes nas fábricas e nos canteiros de obras, somados ao aumento de epidemias ocorridas em virtude das más condições habitacionais, ocasionando alterações quanto o dimensionamento e complexidade nos edifícios hospitalares, assim como a implementação de políticas públicas de saúde. O edifício hospitalar torna-se uma máquina que visa curá-los e devolvê-los para o mercado de trabalho. Os profissionais de saúde passam a considerar os pacientes como uma materialização de sintomas de uma doença que deveria ser identificada, tratada e catalogada, re- fletindo na despersonalização do seu atendimento. Dessa forma, os edifícios hospitalares passam a apresentar uma nova morfologia construtiva: a do monobloco. Esta tipologia é composta por um agrupamento de setores em pavimentos horizon- tais, interligados verticalmente por elevadores e caixas de escadas. Esses diversos setores são agrupados em “zonas”, das quais três 37
  • 49. Figura 20 Hospital Beaujon, 1932. Fonte: Miquelin, 1992: p. 56. se destacam. A primeira é a de internação, na qual os pacientes per- maneciam internados durante toda a estadia no hospital, recebendo os cuidados médicos necessários e os tratamentos adequados. A segunda, denominada a zona clínica, era composta pelos serviços de diagnóstico e tratamento, bem como pelos blocos cirúrgicos. E a terceira era composta pelos serviços de administração, nutrição e dietética, lavanderia, estoque de materiais, farmácia, esterilização de materiais, áreas de instalações especiais (gases medicinais, su- bestação de energia, central de ar-condicionado etc.), tratamento e descarte de resíduos, entre outros serviços de apoio necessários para o hospital poder se manter em funcionamento (Medeiros, 2005: p. 65). Em 1932, o Hospital Beaujon foi inaugurado. Idealizado pelos arquitetos Walter, Plousey e Cassan, esse hospital é considerado como um dos mais ino-vadores da Europa, uma vez que é cons- truído com aço e concreto, além de ter 1100 leitos distribuídos em doze pavimentos (Figura 20) (Fugazza, 2021: p. 142). O hospital é formado por uma lâmina horizontal, que abriga os apartamentos individuais de internação e os serviços comuns, e enfermarias aber- tas, articuladas perpendicularmente à lâmina, apresentavam uma conformação espacial semelhante às enfermarias Nightingale (Figu- ra 21). Já o Bloco Operatório e outros serviços médicos ocupavam construções independentes de três pavimentos, localizados nas ex- tremidades do edifício principal (Miquelin, 1992: p. 55). 38
  • 50. Figura 21 Planta parcial do andar de internação e cirurgia. Fonte: Miquelin, 1992: p. 56. Figura 22 Foto comparativa entre o Hospital Beaujon (1932) e o Hospital de Clínicas Dr. Manuel Quintela (1928). Fontes: Fugazza, 2021: p. 142; e Montevideo Antigo, 2023. Disponível no site: <https://www.montevideoantiguo.net/ hospital-de-clinicas/>. Acesso em: jun. 2023. A relevância desta construção se deve, sobretudo, à confor- mação espacial, setorização e separação dos diversos fluxos per- tencentes ao organismo hospitalar (Miquelin, 1992: p. 55). Apesar disso, é possível notar que sua solução arquitetônica foi inspirada em outros países, uma vez que se assemelha ao projeto do Hospital de Clínicas Dr. Manuel Quintela, da Faculdade de Medicina da Uni- versidade da República do Uruguai, inaugurado quatro anos antes (Figura 22). 39
  • 51. Figura 23 Hospital Memorial França-Estados Unidos, Saint-Lô, 1955. (a) planta; (b) perspectiva. Fonte: Machry, 2010: p. 136. Como é possível notar, a partir desse momento, o hospital terá uma alteração na sua volumetria, especialmente para acomodar os equipamentos médicos, devido ao seu tamanho e especificidades para o seu funcionamento. A tipologia do monobloco ganha novas derivações e complexidades, sendo uma delas nomeada como “Tor- re sobre pódio”, apresentando uma volumetria semelhante a um “T” invertido, resultado da sobreposição de dois edifícios, um vertical e outro horizontal. No elemento vertical, estão localizadas as zonas de internação e o bloco cirúrgico. Já no plano horizontal, a zona de apoio e diagnóstico divide es¬paço com a zona clínica, devido, so- bretudo, ao fácil acesso à rua e ao estacionamento de ambulâncias. Essa tipologia tem como protótipo o Hospital Memorial França-Es- tados Unidos (Saint-Lô, França) (Figura 23), projetado por Paul Nelson em 1950, considerado uma das mais relevantes referencias hospitalares dessa década. Esse edifício hospitalar é composto por oito pavimentos de internação sobrepostos ao bloco de serviços lo- gísticos e médicos, localizado no pavimento térreo. Na torre, cada pavimento comporta duas unidades de internação, orientadas para o sul, com a circulação vertical localizada na intersecção entre elas (Miquelin, 1992: p. 59). 40
  • 52. Figura 24 Maquete Física do Hospital Perola Byington, conhecido popularmente como Hospital da Cruzada Pró-Infância. Fonte: Arquivo.arq. Disponível no site: < https://arquivo.arq.br/pro- jetos/hospital-da-cruzada-pro-infancia>. Acesso em jun./ 2023. Essa tipologia foi reproduzida em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, evidenciando o traço modernista de diversos ar- quitetos. Miquelin (1992: p. 56) destaca os hospitais Gastroclínica, de Oscar Niemeyer, e o Perola Byington, de Rino Levi e Roberto Cerqueira César, como exemplos de aplicação da tipologia “bloco- -torre” em solos brasileiros. A inauguração do Hospital Pérola Byington (Figura 24), anti- go Hospital da Cruzada Pró-Infân- cia, ocorreu em 1958 na cidade de São Paulo. Com a fachada princi- pal voltada para a Av. Brigadeiro Luiz Antônio, este edifício possui 15 pavimentos, totalizando cerca de 45,5 metros de altura e 11.440 m² de área (Acrópole, 1951). Rino Levi, assim como muitos arquitetô- nicos contemporâneos a ele, traz o brutalismo brasileiro para o proje- to do edifício, caracterizado pelos elementos em concreto armado, como os brises verticais. Em relação à sua setorização espacial, o hospital apresen- ta uma solução bastante interessante para a época (Figura 25). O acesso principal está situado no terceiro pavimento, que abriga a re- cepção e todo o setor administrativo. Desta forma, os dois pavimen- tos inferiores são destinados às zonas de serviço e abastecimento do hospital, com necrotério, lavanderia, cozinha, refeitório, dentre outros ambientes. O quarto pavimento é destinado ao ambulatório, com os consultórios médicos de diversas especialidades e o setor de imagem e diagnóstico. A torre, que se projeta para além da volu- metria da base, é dedicada: as enfermarias, situadas do 6º ao 12º andar; ao centro cirúrgico e obstétrico, no 13º; e ao solário e casa de máquinas, no 14º pavimento (Acrópole, 1951). 41
  • 53. Figura 25 Distribuição interna por pavimento e setorização de fluxo por identificação de entradas. Fonte: Arquivo.arq. Disponível no site: < https://arquivo.arq.br/projetos/hospital-da-cruzada-pro-infancia>. Acesso em: jun. 2023. A evolução e o progresso da tecnologia médica passaram a exigir que fossem necessários espaços para dutos de ar-condicio- nado e outras instalações especiais como os dutos de ar-condicio- nado, entre outros. Na arquitetura moderna, os sistemas de cons- trução eram de concreto armado, com lajes e vigas. Com as novas tubulações, tornava-se necessário racionalizar a construção de uma maneira mais adequada. A viga Vierendeel mostrou-se a mais ade- quada, uma vez que permitia que as tubulações transpassassem as vigas sem perfurá-las e sem a necessidade de instalação de forro, possibilitando o aumento do pé-direito dos pavimentos. Isso pode ser observado no projeto de Richards Medical Re- search Laboratories para a Universidade da Pensilvânia, Filadélfia (1965), de Louis Kahn. O arquiteto norte-americano optou por pro- jetar um edifício com uma planta composta pelo agrupamento dos ambientes internos em torres verticais de apoio dispostas em torno do núcleo central de serviços, permitindo que cada torre apresen- tasse três faces expostas ao sol. A torre ganha uma configuração espacial única ao possuir uma malha estrutural formada por ele- mentos pré-moldados de concreto, enquanto caixas de escadas e elevadores se sobressaem como elementos verticais (Figura 26). 42
  • 54. Figura 26 Plantas e maquete estrutural do Richards Medical Research Laboratories (2964), Louis Kahn. Fonte: Architecture - history, 2023. Disponível no site: <http://architecture-history.org/architects/architects/KAHN%202/OB- JECTS/1957,%20Richards%20Medical%20Research%20Laboratories,%20University%20of%20Pennsylvania,%20Phila- delphia,%20USA.html>. Acesso em: jun. 2023. Figura 27 Fotos internas do Richards Medical Research Laboratories (2964), Louis Kahn. Fonte: Architecture - history, 2023. Disponível no site: <http://architecture-history.org/architects/architects/KAHN%202/OB- JECTS/1957,%20Richards%20Medical%20Research%20Laboratories,%20University%20of%20Pennsylvania,%20Phila- delphia,%20USA.html>. Acesso em: jun. 2023. No projeto, não há uma hierarquia volumétrica. Todas foram implantadas de forma que, conjuntamente, cumprissem o programa integralmente, abrigando laboratórios, salas de estudos, salas de aulas e outros serviços. A flexibilidade de layout foi possível devi- do à utilização das vigas Vierendeel, que, por sua vez, permitiu a conexão centralizada dos encanamentos e outras tubulações, que, em muitos dos ambientes, estão à mostra por não possuírem forro (Figura 27). 43
  • 55. Figura 28 Hospital Femina (1954). Fonte: VICENTE, 2018: p. 41. No Brasil, no início da década de 1950, após Rino Levi, Iri- neu Breitman (1930-2001), formado em 1953, iniciou sua carreira na área da saúde, em 1954, com o projeto do Hospital Fêmina (Fi- gura 28), dedicado à saúde da mulher, que se tornou, segundo o artigo A arquitetura de hospitais de Irineu Breitman de Erick Vicente (2018: p. 41), “um dos mais importantes hospitais de Porto Alegre/ Rio Grande do Sul”. Vera Mascarello, em sua dissertação Princí- pios bioclimáticos e princípios de arquitetura moderna - evidências no edifício hospitalar (2005: p. 91), complementa a análise a esse edifício ao afirmar que o seu projeto marcou o início da implanta- ção da arquitetura moderna na capital gaúcha, onde os elementos mais significativos identificados no hospital são: o uso de pilotis; a utilização da janela em fita, fachada e planta livre; e a presença do terraço-jardim. O projeto do hospital propõe uma lâmina vertical suspensa por pilotis com uma organização tripartida formada pelo embasa- mento, pelo corpo principal e pelo ático. O embasamento é com- posto pelo espaço aberto dos pilotis e o grande saguão recuado, determinando o acesso principal com um amplo plano de vidro. O corpo principal, por sua vez, é um grande volume prismático com dez pavimentos, com a sua fachada marcada por pastilhas cor de rosa, abrigando unidades de internação nos 4º, 5º e 6º pavimentos (Mascarello, 2005: p. 91), que apresentam 18 apartamentos com- partilhados com banheiros, além de postos de enfermagem e solário destinado ao convívio de seus usuários (Figura 29). 44
  • 56. Figura 29 Planta dos pavimentos destinados às enfermarias. Fonte: Vicente, 2018: p. 42. Apesar de não chegar a ser construído conforme o projeto inicial, Irineu Breitman contou com a consultoria do Arqto. Jarbas Karman para o desenvolvimento do pavimento técnico desse hos- pital, que apresentava, aproximadamente, 1,80 m de pé-direito. Em virtude disso, este hospital é considerado o pri-meiro a apresentar essa solução em solo brasileiro (Vicente, 2018: p. 42). De acordo com Medeiros (2005: pp. 72,73), este espaço “tra- ta-se de uma espécie de pavimento técnico intercalado entre dois pavimentos dedicados às outras funções do edifício”. Com a utiliza- ção de estruturas modulares, metálicas ou de concreto pré-molda- do, era possível alcançar grandes vãos com plantas livres, por onde ocorre a distribuição horizontal dos dutos e instalações especi¬ais. Já a conexão vertical entre os pavimentos é realizada por poços e shafts, pelos quais os dutos passariam de um pavimento para o outro sem interrupção. Este pavimento, por possuir essa finalidade técnica, normalmente apresenta um pé-direito de até 2 metros de altura, para que os serviços de manutenção possam ocorrer sem interferir no funcionamento do hospital. Para Luiz Carlos Toledo, em seu livro Feitos para Curar (2020: p. 37), Irineu Breitman defendeu o surgimento de uma nova proposta, que seria composta por hospitais horizontais de dois pavi- mentos, onde os diferentes setores hospitalares se distribuíam pela extensão do edifício e pelos pisos intercalados, ligados por rampas. Esse novo pensamento se manifestou em diversos projetos, como o Hospital Público Infantil Joana de Gusmão (1977) (Figura 30), cons- truído na cidade de Florianópolis/Santa Catarina, e que, em 2018, 45
  • 57. Figura 30 Hospital Infantil Joana de Gusmão. Fonte: Vicente, 2018: p. 46. Figura 31 Perspectiva das “meias-rampas” - Hospital Infantil Joana de Gusmão. Fonte: Vicente, 2018: p. 47. passou a ser considerado um dos mais importantes hospitais infan- tis e de ensino de pediatria da América Latina (Vicente, 2018: p. 46). Acomodado no declive do terreno, o edifício é composto por três patamares em “meio nível”, possibilitando a adoção de “meias- -rampas” (Figura 31), diminuindo as distâncias percorridas pelos usuários. A distribuição do programa também contribuiu para a dimi- nuição dos percursos. Segundo descrição de Erick Vicente (2018: p. 47): 46
  • 58. Figura 32 Planta da in- ternação - Hospital In- fantil Joana de Gusmão. Fonte: Vicente, 2018: p. 48. “O pavimento térreo abriga os ambulatórios, a emergên- cia, a radiologia, o laboratório, a neonatologia, a adminis- tração e o conforto médico. O primeiro pavimento, que fica sobre o térreo, concentra as unidades de internação. Por fim, estão posicionados no segundo piso as unida- des que atendem todo o hospital, como o centro cirúrgi- co, a UTI, a CME e as áreas de apoio técnico e logístico (cozinha, lavanderia, almoxarifado, centrais de abaste- cimento etc.). Sendo assim, para se atingir os setores localizados no segundo piso do bloco central, é preciso percorrer apenas meio lance de rampa”. No entanto, o que mais se destaca no projeto é a distribuição espacial dos quartos de internação e a presença dos jardins (Figu- ra 32), que trazem um grande diferencial, sobretudo em termos de qualidade espacial e o conforto para os pacientes e usuários. Os quartos estão localizados em ambas as fachadas, permitindo que todos os pacientes tenham acesso à vista da área externa. No cen- tro do andar, Irineu posicionou as áreas de terapia, o apoio técnico e os dois postos de enfermagem descentralizados, característica marcante em todos os seus projetos. A vegetação foi um elemento trabalhado de duas maneiras distintas pelo arquiteto. A primeira foi a não realização de grandes alterações na massa arbórea envoltória do hospital. A segunda se 47
  • 59. caracterizava pela criação de diversos jardins internos, posiciona- dos no centro dos pavimentos de forma equidistante. O arquiteto teve como objetivo trazer a vegetação para dentro do edifício, prin- cipalmente por colaborar com a recuperação dos doentes e oferecer iluminação e ventilação naturais para os ambientes que estão ao redor desses espaços ajardinados. Como contemporâneo de Breitman, Jarbas Karman (1917- 2008) esteve fortemente envolvido com o desenvolvimento do edi- fício hospitalar, tanto nacional como internacionalmente. O arqui- teto, formado em 1947, começou a trabalhar no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), onde, segundo Erick Vicente, em sua dissertação intitulada As estratégias projetuais de Jarbas Karman: análises gráficas de cinco hospitais projetados na segunda meta- de do século XX (2020: pp. 17, 19), desenvolvia e supervisionava projetos de construção, reformas e adequações de instituições de saúde para a população ribeirinha nos Vales Amazônico e São Fran- cisco. Na década de 1950, criou o Instituto Nacional de Pesquisas e de Desenvolvimento Hospitalares (INPDH), que, um ano depois, se tornou o Instituto Brasileiro de Pesquisas Hospitalares (IPH), uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo desenvolver e divulgar pesquisas e conhecimentos sobre o planejamento físico- -funcional dos edifícios hospitalares, estando ativa até os dias atu- ais. Em 1977, durante um congresso promovido pela Federação Internacional de Hospitais (IFH), apresentou o conceito de “hospitais horizontais” (Gomes, 2014: p. 17), já defendido por Irineu Breitman. Essa solução também foi aplicada em diversos de seus projetos, apesar de alguns deles não terem sido efetivamente construídos. Dentre eles, destaca-se o realizado para o concurso do Hospital Santa Mônica (Figura 33). Esse hospital, que está apoiado no terreno (Figura 34), se desenvolve em cinco pavimentos, com todos os serviços relaciona- dos ao atendimento hospitalar concentrados no térreo e nos primei- ros pavimentos. Os andares seguintes são dedicados às áreas de internação, que contam com ventilação cruzada, e aos postos de 48
  • 60. Figura 33 Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e Alfred Willer para o concurso do Hospital Santa Mônica. Fonte: Vicente, 2020: p. 25. Figura 34 Corte longitudinal do Hospital Santa Mônica. Fonte: Vicente, 2020: p. 34. Figura 35 Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e Alfred Willer para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein. Fonte: Vicente, 2020: p. 22. 49
  • 61. Figura 36 Corte trans- versal da proposta para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein. Fonte: Vicente, 2020: p. 22. enfermagem descentralizados. Karman também posiciona jardins internos que, além de serem acessíveis a todos os usuários, per- mitem a entrada de iluminação e ventilação para dentro do edifício (Vicente, 2020: p. 34). O arquiteto também aplicava o pavimento técnico a cada dois pavimentos úteis em seus projetos. A sua proposta para o primeiro edifício do Hospital Isra-elita Albert Einstein (1958) (Figura 35), ela- borada em conjunto com o arquiteto Alfred Willer, previa 8 pavimen- tos para os serviços médicos, técnicos e administrativos, além de 7 espaços técnicos “interandares”, que permitiriam a ventilação inter- na (cruzada ou não) e iluminação (direta ou indireta) dos quartos e banheiros das enfermarias (Figura 36) (Vicente, 2020: pp. 21,25). Segundo o autor: “Essa estratégia resultou em pavimentos soltos uns dos outros, em barras horizontais sobrepostas e levemente afastadas; solução que confere leveza ao volume do edi- fício” (Vicente, 2020: p. 25). 50
  • 62. Jarbas Karman, ao longo de sua trajetória profissional, con- tribuiu significativamente para o desenvolvimento do edifício hospi- talar, ao desenvolver 19 estratégias projetuais que foram posterior- mente adaptadas e aplicadas por outros profissionais. Erick Vicente realizou o compilado dessas estratégias (Quadro 1), categorizando- as em cinco grupos distintos, sendo eles: agrupamento funcional do programa; flexibilidade física dos ambientes; eficiência operacional do hospital; segurança biológica; e conforto físico e psicológico dos usuários dos edifícios hospitalares. Aproximadamente no final do século XX a humanização es- pacial volta a ser uma preocupação na arquitetura hospitalar. Isso se deve, sobretudo, à publicação da Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários de Saúde, elaborada pela Conferência Interna- cional das Nações Unidas sobre os Serviços Primários de Saúde, em 1978, que estabeleceu a saúde como um direito fundamental do ser humano. Nesse mesmo período, a sustentabilidade começa a ser aplicada na construção civil, apesar de seu início ter sido em resi- dências e edifícios corporativos. O conceito de sustentabilidade foi desenvolvido em 1987, com a publicação do Relatório Bruntland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desen- volvimento sob a coordenação da doutora norueguesa Gro Harlem Brundtland. Dentre os arquitetos que aplicam os dois conceitos em seus proje¬tos, dois se destacam: João Filgueiras Lima e Siegbert Zanettini. João Filgueiras Lima (Lelé) iniciou sua carreira na área da arquitetura hospitalar em 1967, quando, por indicação do arquiteto Oscar Niemeyer, participou do programa de reformulação dos hos- pitais da Fundação Hospitalar do Distrito Federal, coordenado por Wilson Sesana, secretário de Saúde de Brasília na época, onde ao estabelecerem novos princípios que norteariam os hospitais de Bra- sília, projetaram o hospital distrital da cidade satélite de Taguatinga (Lima (Lelé), 2012: p. 68). Em seus projetos brutalistas, Lelé utiliza a tecnologia como ferramenta para humanizar o espaço, visando o conforto e uma melhor convivência. Essas questões são apresen- 51
  • 63. Quadro 1 Relação entre as categorias e as estratégias projetuais de Jarbas Karman Fonte: adaptado de Vicente, 2020: p. 311 Categoria Estratégias projetuais relacionadas Agrupamen- to Funcional 1ª estratégia: criação de unidades funcionais autônomas, que possam ser acessa- das diretamente, sem a necessidade de se percorrer corredores internos de outras unidades. 2ª estratégia: nos hospitais verticais, as unidades de atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas devem ser aproximadas do solo para facilitar os aces- sos e diminuir os deslocamentos verticais. A posição delas, no plano horizontal, deve ser feita para possibilitar entradas distintas (sem cruzamentos) e maior controle dos acessos. As unidades de atendimento ao paciente interno podem ocupar pavimentos mais elevados, porém não muito distantes do térreo, possibilitando, assim, mais con- trole dos tráfegos internos. 3ª estratégia: nos hospitais horizontais, as unidades de atendimento ao paci-ente ex- terno e as unidades técnicologísticas devem ocupar faixas paralelas ou opostas, para possibilitar acessos segregados e sem cruzamentos. As unidades de atendimento ao paciente interno devem ser posicionadas em uma faixa mais centralizada, possibilitan- do, assim, mais controle dos tráfegos internos. 4ª estratégia: aproximar as unidades críticas, principalmente do centro cirúr-gico, do centro obstétrico e da UTI. 5ª estratégia: aproximar ou aglutinar as unidades que possuem intensas rela-ções funcionais, principalmente do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material esterilizado. 6ª estratégia: nos hospitais verticais, as internações devem ocupar os últimos pavi- mentos. 7ª estratégia: nos hospitais horizontais, as internações devem ser posiciona-das para favorecer os acessos segregados e a redução dos percursos inter-nos. Flexibilidade Física 8ª estratégia: nos hospitais horizontais, criação de jardins internos que sirvam de área para futuras expansões das unidades funcionais, de forma independente umas das outras. 9ª estratégia: nos hospitais verticais, previsão da construção de novos blocos, orde- nadamente, causando o menor impacto possível nas unidades funcionais constituídas. 10ª estratégia: criação de espaços técnicos com dimensões que possibilitem o aces- so dos funcionários da manutenção em todo o complexo hospitalar, sobre ou sob as unidades, priorizando os que ficam sobre ou sob os centros cirúrgicos e as UTIs. E f i c i ê n c i a Operacional 11ª estratégia: separar o máximo possível os acessos e as circulações inter-nas e externas, tanto as horizontais quanto as verticais, evitando cruzamentos e situações que facilitem o acesso do público externo nas circulações internas sem um controle ou cadastro prévio. 12ª estratégia: criar circulações restritas para os centros cirúrgicos e para os ambien- tes onde haverá procedimentos invasivos nos pacientes, por meio de vestiários de barreiras e áreas de transferências, quando necessário. 13ª estratégia: projetar unidades “duplamente carregadas”, com quartos ao longo das duas achadas longitudinais dos edifícios. 14ª estratégia: descentralizar os postos de enfermagem, aproximando a en-ferma- gem dos pacientes internados o máximo possível. Segurança Biológica 15ª estratégia: agrupar, ou aglutinar em uma só unidade, o centro cirúrgico, o centro obstétrico (quando houver) e a central de material esterilizado, preservando os dife- rentes acessos, as barreiras (sempre que necessárias) e o fluxo contínuo de esterili- zação do material, criando áreas de entrega e de recepção dos materiais para dentro e para fora do centro cirúrgico. 16ª estratégia: separar os pacientes críticos em boxes individuais, para au-mentar a flexibilidade de ocupação da unidade e a segurança contra as infecções hospitalares. Conforto Físico e Psi- cológico 17ª estratégia: criar jardins internos entre os volumes construídos para au-mentar a oferta de iluminação e ventilação natural e os espaços de convivência descobertos e ajardinados. 18ª estratégia: rebaixar as lajes de cobertura das circulações para permitir a insta- lação de janelas altas e possibilitar a iluminação e ventilação naturais dos ambientes localizados mais ao centro do pavimento. 19ª estratégia: criar áreas de transição entre o espaço externo e o hospital para a convivência dos pacientes externos, acompanhantes e visitantes. 52
  • 64. Figura 37 Imagem comparativa da utilização de sheds entre o Hospital Miguel Piltcher (1958), de Irineu Breitman, e Hospital Rede SARAH Lago Norte Brasília (2003), de João Filgueira Lima (Lelé). Fonte da foto superior: Vicente, 2018: p. 18. Fonte da foto inferior: Lima (Lelé), 2012: p. 216. tadas em diferentes aspectos, a começar pela implantação, com o aproveitamento da topografia natural do terreno, até nas soluções arquitetônicas e construtivas aplicadas no projeto. Ainda assim, é possível determinar que sua arquitetura teve influências de outros arquitetos brutalistas, mesmo eles não sendo, algumas vezes, iden- tificados. Um exemplo dessa questão é a aplicação dos sheds para a entrada de ventilação e iluminação natural. Ao analisar a forma como o arquiteto aplicou-os em seu projeto da Unidade Lago Norte do Hospital Rede Sarah Brasília, em 2003, é possível determinar que ele teve os projetos de Irineu Breitman como referência, des- tacando-se o Hospital Miguel Piltcher, construído em 1958 (Figura 37). 53
  • 65. Figura 38 Vista Aérea do Centro de Tecno- logia da Rede Sarah CTRS, Salvador, BA. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 137. Diferente de outros profissionais que utilizavam itens fabrica- dos em canteiro, Lelé optou por construir o Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS) (Figura 38) como uma oportunidade de aper- feiçoar e desenvolver desde elementos construtivos até mobiliários para todos os hospitais dessa rede, construídos em diversos ma- teriais, dentre eles: concreto armado, madeira, plástico, estruturas metálicas e fibras de vidro (Lima (Lelé), 2012: pp. 135-137). Atual- mente, o centro tecnológico se dedica exclusivamente à manuten- ção dos prédios, equipamentos e instalações de todas as unidades da rede, uma vez que, após a morte do arquiteto, outros hospitais da Rede Sarah não foram construídos. O CTRS está localizado na parte inferior do terreno do Hos- pital da Rede Sarah Salvador, ao longo da encosta da colina (Figu- ra 35), com um grande bosque separando ambas as construções. Construído em 1993, esse edifício ocupa uma área plana de apro- ximadamente de 800 metros de comprimento por 100 metros de largura, apresentando uma área construída total de 20.000 m² (Lima (Lelé), 2012: p. 137). 54
  • 66. Figura 40 Foto interna da oficina de metalurgia pesada. Fonte: Lima (Lelé), 2012: pp. 138. Figura 39 Corte esque- mático, sem escala, indi- cando o local de implan- tação do CTRS. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 137. Figura 41 Foto da portaria. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 139. Em seu interior, foram instaladas as oficinas de metalurgia pesada, metalurgia leve, marcenaria, argamassa armada e mate- riais plásticos. Estas se de-senvolvem em um conjunto de prédios térreos interligados, com pé-direito duplo de 6 metros de altura e um mezanino, construído em estrutura metálica, ocupando parte da pro- jeção do pavimento térreo. Este é destinado aos setores técnicos- -administrativos, apresentando um fechamento em plano de vidro, permitindo total visualização dos acontecimentos no interior das oficinas (Figura 40). Um elemento desta- cado no projeto é a portaria compartilhada do complexo (Figura 41), composta por uma marquise metálica pintada de laranja. No lado esquerdo, os passageiros do sistema de transporte coletivo da cidade podem se abrigar, enquanto no lado direito, os visitantes, funcionários e pacientes do hospital podem aguardar o ve- ículo de transporte interno do conjunto, utilizando os bancos produzidos CTRS (Lima (Lelé), 2012: p. 139). Essa marquise 55
  • 67. Figura 42 Foto da co- bertura das oficinas em sheds. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 142. pode ser encontrada em outros projetos do arquiteto, sempre mar- cando as entradas e com tons alaranjados, independentemente de serem de concreto armado ou de elemento metálico. Segundo a epidemiologia, as pandemias enfrentadas pela humanidade desde a Gripe Espanhola de 1918 provocaram altera- ções significativas no cotidiano urbano, nas políticas públicas e na arquitetura hospitalar. As emergências mundiais listadas pela Orga- nização Pan-Americana de Saúde (OPAS) incluem a pandemia de H1N1 em 2009; a disseminação da Poliomielite em 2014; o surto de Ebola na África Ocidental em 2016; o surto de Zika na República Democrática do Congo, em 2018; e, por fim, a pandemia do Coro- navírus, ocorrida entre 2020 e 2023. A última, também conhecida como COVID-19, foi causada pelo SARS-CoV-2, um vírus que pertence à família viral que causa infecções respiratórias, com registros de sua existência datados de 1937 e 1965. Em 2019, a Organização Mundial de Saúde notificada de diversos casos de pneumonia de causas desconhecidas na cida- de de Wuhan, na província de Hubei, República Popular da China. No entanto, apenas em 7 de janeiro de 2020, as autoridades chine- sas identificaram, através de exames laboratoriais, a existência do coronavírus (OPAS, 2023). Desde então, a pandemia da COVID-19 iniciou-se, tornando-se a sexta Emergência de Saúde Pública de Como nos hospitais, todas as ofici- nas do CTRS apresentam uma cobertura composta por sheds (Figura 42) formados por treliças metálicas apoiadas em viga- mento duplo de chapas metálicas dobra- das. Essas linhas de sheds estão dispostas a cada 7,50 metros, apoiadas por pilares tubulares, que também servem como con- dutores para a captação de águas pluviais, coletadas por calhas de aço inoxidável alo- jadas entre as vigas duplas (Lima (Lelé), 2012: p. 141). 56
  • 68. Figura 43 Implantação do hospital de campanha no CEU Paraisópolis. Fonte: G1, 2020. Importância Internacional, alcançando uma dimensão global. Utili- zar máscaras, manter a distância e o isolamento social, optar por espaços abertos e bem ventilados, enfatizar a necessidade de ba- nho de sol e manter a higiene das mãos é alguns exemplos de medi- das preventivas adotadas durante a pandemia, que se assemelham ao que a sociedade realizava durante a Gripe Espanhola. Em relação à arquitetura, outros aspectos também influencia- ram os ambientes hospitalares. Primeiramente, locais como esco- las, igrejas, ginásios e estádios foram fechados durante a pandemia e adaptados para atender aos hospitais de campanha ou emergen- ciais, enquanto outros foram construídos em locais abertos. Isso se deu, sobretudo, ao aumento da demanda por leitos para atender aos pacientes, desafogando os hospitais e permitindo que pacientes com outras doenças e problemas de saúde recebessem tratamento. Na cidade de São Paulo, por exemplo, o Centro Educacional Unifica- do (CEU) Paraisópolis foi uma das escolas transformadas em hos- pitais de campanha para atender pacientes de alta, média e baixa complexidade. Com reorganização setorial (Figura 48), conseguiu oferecer 320 leitos, o que ajudou a desafogar o Hospital do Campo Limpo, que estava sofrendo com sua superlotação (G1, 2020). 57
  • 69. Figura 44 Vista da Fachada Principal. Fonte: SBPR, 2023 Além disso, hospitais foram construídos ou tiveram seus atendimentos alterados para atender, exclusivamente, pacientes com COVID-19, como o Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo/SP (Figura 44), projetado pelo escritório SBPR, de Angelo Bucci. Inaugurado em 2019, este edifício, com uma área total de 20.600 m², ocupa toda a extensão de uma quadra estreita e longa, possibilitando uma volumetria horizontal formada por dois volumes sobrepostos, que, apesar de serem independentes, apresentam um programa formado pelo atendimento adulto e pediátrico, acrescidos de setores de apoio (SBPR, 2023). O primeiro volume (Figura 45), com acesso principal voltado para a rua Joaquim Nabuco, mede 185 m de comprimento por cerca de 35 m de largura. A rua Cacilda da Cruz Ferreira delimita toda a extensão posterior do edifício, funcionando como uma rua interna para acesso de ambulâncias, serviços e docas. O volume superior, com três pisos, mede 115 m de comprimento por 15 m de largura e abriga 159 leitos de internação somados pediátrico e adulto (Figura 46). Entre os dois, Bucci locou um andar com um terraço jardim (Fi- gura 47) ocupando a cobertura do embasamento, que se estender para além da projeção da lâmina de internação, para proporcionar espaços de descanso e descompressão para os funcionários, assim como os ambientes administrativos e de ensino (SBPR, 2023). Além disso, a relevância da ventilação natural para a reno- vação de ar, embora não seja uma inovação recente na arquitetura hospitalar, fez com que o condicionamento de ar fosse utilizado ape- nas em ambientes como UTIs, remetendo à reflexão sobre soluções 58
  • 70. Figura 45 Andar térreo do primeiro volume. Sem escala. Fonte: SBPR, 2023 Figura 46 Andar de internação. Sem escala. Fonte: SBPR, 2023 Figura 47 Foto do terraço jardim. Fonte: SBPR, 2023 59
  • 71. projetuais que apliquem, positivamente, a ventilação cruzada. Se- gundo publicação Orientações para Serviços de Saúde: Medidas de prevenção e controle que devem ser adotados durante a Assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo corona- vírus (SARS-CoV-2), atualizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021, os quartos utilizados para internação deveriam atender à seguintes recomendações: “A acomodação dos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2 deve ser realizada, preferen- cialmente, em um quarto privativo com porta fechada e bem ventilado (ar-condicionado que garanta a exaustão adequada ou janelas abertas). Deve-se reduzir a circu- lação de pacientes e profissionais ao mínimo possível.” (Anvisa, 2021: p. 29) Essa questão da ventilação está atrelada a exposição ao sol e ao distanciamento, onde os leitos deveriam permanecer a 1 metro de distância entre si. Essa determinação, sobretudo, pode alterar al- gumas das condições das enfermarias compartilhadas de hospitais, ocasionando uma superlotação nos quartos dos hospitais. Situação essa que é muito encontrada nos hospitais públicos brasileiros. 60
  • 72. 1.2 Pluralidade dimensional , programa e or- ganização espacial da edificação de saúde contemporânea Ao imaginar um hospital ideal, considera-se uma instituição dedicada ao diagnóstico e tratamento de pacientes, bem planeja- da espacialmente e convenientemente administrada consoante aos padrões e normas previamente estabelecidos. Adicionalmente, o hospital deveria atender a todos os tipos de pacientes, ao mesmo tempo que incentiva a prática e o ensino das artes médicas, bem como o desenvolvimento de pesquisas nas mais diversas áreas de conhecimento. No entanto, são poucos os hospitais que se enqua- dram nessa definição. Isso se deve a dois grandes fatores. O primeiro é referente ao fato de o edifício hospitalar apresentar um dos programas mais complexos existentes, com uma setorização e organização espa- cial que variam conforme o porte e especialidade do EAS, com um agrupamento de funções diversificadas que, em certo modo, podem ser incompatíveis entre si. Já o segundo está relacionado ao fato de que uma abundância de hospitais ocupa construções já existentes, requerendo adaptações sucessivas para atender às necessidades hospitalares atuais ao mesmo tempo que devem prever reformas futuras. Nesse sentido, Toledo (2020: p. 63) afirma que esses hos- pitais sofrem expansões frequentes e desordenadas, o que, mui- tas vezes, prejudica a qualidade espacial dessas construções, ao mesmo tempo, em que diminui o papel do edifício como elemento auxiliador na cura dos pacientes. Para determinar o perfil de uma unidade hospitalar é neces- sário considerar alguns fatores, como a resolubilidade1 , o porte do edifício, a tipologia construtiva e a área adscrita. Ao mesmo tempo, um EAS se classifica como hospital, independentemente do perfil que apresenta, a partir de sua capacidade de internar os pacientes, 1 O termo resolubilidade refere-se à capacidade de um EAS receber, diagnosticar e dar prosseguimento ao tratamento dos pacientes que o procuram. Quanto maior a reso- lubilidade de uma unidade, mais complexos deverão ser o seu apoio ao diagnóstico e os setores de tratamento e internação (Toledo, 2020: p. 61). 61
  • 73. tanto nos Serviços de Pronto Atendimento quanto nas unidades de internação e especialidades, devido ao longo tempo necessário para a realização do tratamento. Apesar disso, o tamanho dos hospitais vem diminuindo com o tempo devido ao alto custo de implantação e operações das unidades de grande porte, às dificuldades de geren- ciamento e ao aumento do risco de infecções hospitalares (Toledo, 2020: pp. 64, 65). Essa diminuição do dimensionamento dos hospitais também está relacio-nada a capacidade de internação e ao número de leitos presentes nas enfermarias e andares de internação. Conforme a RDC-50, a metragem mínima para quartos privados (com um leito) é de 10 m²/leito, enquanto nas enfermarias compartilhadas com até seis leitos, essa área é reduzida para 6 m²/leito (Anvisa, 2002). As- sim, diversos hospitais, com perfis menores e um número restrito de leitos, passam a atender como Hospital-Dia, onde os pacientes per- manecem, em média, por 48 horas. Isso é importante, principalmen- te, para prevenir as infecções, uma vez que apenas casos especiais são mantidos por um longo período ou transferidos para outros EAS de maior porte. Além da resolubilidade e do porte, a tipologia de cada unida- de hospitalar também é um fator relevante para a diferenciação das edificações hospitalares, uma vez que está relacionada às áreas adscritas a construção, que, segundo Toledo (2020: p. 70), repre- sentam a área de influência da unidade, podendo ser classificada como local, regional, distrital, nacional ou internacional. Quanto as tipologias existentes atualmente, os hospitais podem apresentar di- versas caracterizações2 . A primeira, nomeada como Hospital Geral, visa atender os pacientes que necessitam de assistência médica geral, podendo apresentar um forte apoio ao diagnóstico constituído por unidades de imagiologia (Raio-X, tomógrafo, ressonância mag- nética, endoscopia etc.), áreas de tratamento (marcado pelo cen- tro cirúrgico e unidades de tratamento intensivo e de pronto-aten- dimento) e de internação. A segunda, o Hospital de emergência, caracteriza-se por unidades que contém centro cirúrgico, unidades 2 Todas as caracterizações tipológicas apresentam como referência as colocações realizadas por Luiz Carlos Toledo (2020: pp. 67-70) 62
  • 74. de tratamento intensivo e, em alguns casos, internação de queima- dos, diagnosticando e tratando, adequadamente, de pacientes que necessitam de cuidados imediatos devido à gravidade de seus feri- mentos ou estado de saúde. O Hospital pediátrico ou infantil, como o nome já indica, oferece atendi-mento desde recém-nascidos até jovens de 18 anos. Apesar de apresentar um programa e uma setorização muito seme- lhante a um hospital geral, essa tipolo-gia apresenta suas unida- des de internação divididas segundo as idades dos pacientes, não apenas para facilitar no tratamento como para conseguir oferecer uma ambiência e um conforto maior, por apresentar características particulares para cada idade, além de oferecer a oportunidade de interação entre pacientes de mesma faixa etária. As Maternidades apresentam como finalidade prestar aten- dimento às gestantes durante todo o período de gravidez, parto e pós-parto, oferecendo também cuidados ao recém-nascido. O pro- grama desse tipo de EAS é muito variável, existindo desde mater- nidades com elevada resolubilidade e grande complexidade tecno- lógica, capazes de atender gestantes com gravidez de alto risco, até as pequenas “casas de parto”, onde os trabalhos de parto são assistidos por parteiras sob supervisão médica. Por sua vez, muitas cidades também apresentam hospitais especializados, que se de- dicam ao diagnóstico e, principalmente, ao tratamento e à recupera- ção de pacientes com patologias crônicas e específicas, tais como os hospitais de traumato-ortopedia, oncologia, cardiologia etc. ou ainda unidades voltadas para o tratamento de pacientes portadores de doenças infectocontagiosas. Por fim, têm-se os Hospitais de apoio, para aumentar a ro- tatividade de internação das unidades de maior complexidade, e as Unidades mistas, que, por sua vez, oferecem serviços de atendi- mento primários, sendo normalmente caracterizados como os pos- tos ou centros de saúde de bairro. Essas unidades podem conter com apoio ao diagnóstico de baixa complexidade, centro cirúrgico e obstétrico e uma pequena capacidade de internação. Sendo assim, é crucial que os arquitetos realizem a identi- 63
  • 75. Quadro 2 Relação entre a divisão das áreas construtivas propostas pelos dois gru- pos de autores Fonte: Góes, 2011: p. 60 ficação e a compreensão do perfil hospitalar para poderem avaliar as particularidades e as dificuldades a serem enfrentadas (Toledo, 2020: p. 70) desde a etapa de projeto. Torna-se necessário realizar uma análise de todos os setores que serão implantados, seus requi- sitos e, sobretudo, sua interrelação, para determinar a sua contigui- dade. Isso porque, segundo Góes (2011: p. 59): “A contiguidade entre setores e unidades do edifício hos- pitalar permite maior segurança e conforto ao paciente, eleva o nível de eficiência do trabalho de médicos, enfer- meiros e auxiliares, pela redução de deslocamentos des- necessários, evitando-se ou reduzindo-se ao máximo a duplicação de recursos humanos e materiais”. Em relação ao agrupamento dos setores hospitalares, o autor (2011: p. 60) apresenta um estudo pertinente, uma vez que afirma que não existe uma divisão universal para os setores do hospital, o que resulta numa alteração significativa na proporção das áreas construtivas dos mesmos durante a elaboração do projeto arquite- tônico (Quadro 2). GRUPO 1 GRUPO 2 • Internação 40% • Serviços médicos 30% • Pacientes 10% • Áreas industriais 12% • Administração, staff 0,8% • Internação 40% • Serviços médicos 40% • Serviços logísticos 20% O primeiro grupo de profissionais divide o hospital em quatro grandes setores, sendo eles: Serviços médicos, que compreen- dem todos os ambientes envolvidos no atendimento e tratamento dos pacientes, como o centro cirúrgico, o centro obstétrico, os ser- viços de diagnósticos e terapia, radioterapia e radiologia, os labora- tórios de patologia clínica, anatomia patológica e fisioterapia; Áreas para pacientes externos, incluindo um leito independente de ur- gência e outro para ambulatório; Áreas industriais ou de serviços não médicos, contendo o serviço de nutrição e dietética, a central de suprimentos, as instalações mecânicas e de manutenção; e Áre- 64
  • 76. as administrativas, públicas e de conforto dos colaboradores (Góes, 2011: p. 59). O segundo caracteriza o edifício hospitalar em apenas 3 se- tores: Setor de Internação, destinado ao paciente que permanecer por mais de 24 horas no hospital; Setor de Diagnóstico e Terapia, composto por todos os serviços, equipamentos e instalações neces- sários para o atendimento direto ao paciente, seja ele interno ou ex- terno; e Setores de Suporte Logístico¸ composto pelo serviço de nutrição e dietética, lavanderia, central de suprimentos, instalações mecânicas e de manutenção e vestiários (Góes, 2011: p. 60). A Resolução n.º 50 (2002) é a norma técnica em vigor publi- cada pela ANVISA, que estabelece critérios e informações sobre o regulamento técnico para o planejamento, programação, elabora- ção e avaliação de projetos físicos de EAS. Esta norma diverge das classificações apresentadas anteriormente, apresentando um novo critério (Figura 48), que, além dos setores citados, também inclui a função de ensino de pesquisa, importante para o desenvolvimento de pesquisas na área da saúde, além de proporcionar a formação e especialização de seus funcionários (Quadro 3). É notório que há uma tendência crescente de terceirização de setores, retirando-os quase totalmente da edificação hospitalar, sobretudo em relação aos serviços de apoio técnico e logístico. Isso se deve, sobretudo, ao fato de permitir que os hospitais possam expandir sem a necessidade de construir novas edificações, apro- veitando os espaços que eram anteriormente ocupados por esses setores, como demonstrado por Toledo (2020: p. 168). Por exemplo, lavanderias e centrais de esterilização de materiais, por trabalharem em escala industrial, atendem a diversos hospitais, resultando na remoção, parcial ou total, desses ambientes dos hospitais. Além disso, o setor de nutrição e dietética também apresen- ta alterações no seu funcionamento, apesar de a cozinha requerer uma análise cautelosa quanto à sua localização e disposição es- pacial. Diversos EAS estão oferecendo aos funcionários alimentos produzidos fora do edifício hospitalar ou Vale Refeições, para pode- rem se alimentar em outros lugares, tornando a cozinha exclusiva 65
  • 77. Figura 48 Diagrama de setorização do hospital geral segundo RDC n. 50. Fonte: Góes, 2011: p. 62 Quadro 3 Agrupamento detalhado dos setores do diagrama. Fonte: Góes, 2011: p. 62 1. Atendimento básico de saúde. • Atendimento individualizado; • Demonstração e educação em saúde; • Imunização; • Armazenamento e distribuição de ali-mentos; • Ambiente de apoio. 2. Ambulatório. • Enfermagem; • Consultórios; • Centro cirúrgico ambulatorial. 3. Atendimento Imediato. • Urgências; • Emergências. 4. Atendimento em Regime de Internação. • Enfermagem; • Consultórios; • Centro cirúrgico ambulatorial. 5. Apoio ao Diagnóstico e Terapia. • Patologia clínica - análises clínicas; • Imagiologia - radiologia, resso-nância magnética; tomo- grafia computadorizada, ultrassonogra-fia; e métodos gráficos. • Anatomia patológica e necrópsia; • Medicina nuclear; • Centro cirúrgico e obstétrico-cirúrgico; • Centro obstétrico normal; • Reabilitação • Fisioterapia; • Quimioterapia; • Diálise • Banco de leite 6. Apoio Técnico. • Nutrição e dietética; • Lactário; • Farmácia; • Central de material esterilizado. 7. Ação para Formação e Desenvolvi-mento de Re- cursos Humanos e Pesquisa. • Sala de aula • Anfiteatro / auditório; • Sala de estudo; • Sala do professor; • Biblioteca; • Apoio/ administração; • Alojamentos. 8. Apoio Administrativo. • Diretoria geral; • Diretoria clínica: i. Médica; ii. Cirúrgica; iii. Diretoria Técnica e manutenção; • Diretoria de enfermagem; • Pessoal; • Contabilidade; • Finanças; • Compras; • CPD; • Arquivo médico e estatística. 9. Apoio Logístico. • Processamento de roupas e lavanderia; • Central de administração do material e equipamentos, e almoxarifado; • Manutenção • Conforto e higiene; • Limpeza e zeladoria. 10. Geral. • Garagem; • Estacionamento; • Guaritas; • Central de gases; • Casa de força e subestação; • Caldeiras; • Tratamento de resíduos. 66
  • 78. para o preparo das refeições dos pacientes, uma vez que as dietas específicas são requeridas e as refeições são distribuídas diversas vezes ao dia. Dessa forma, apesar de a cozinha ter uma alteração no seu tamanho, este é um setor em que não é recomendado que seja removido totalmente do edifício (Toledo, 2020: p. 170). Outra situação observada atualmente, sobretudo nos hospi- tais privados, é a presença de laboratórios de exames de sangue e diagnóstico por imagem, que são operados por outras empresas privadas. Esta relação, que não afeta o funcionamento do hospital, demonstra a crescente participação das empresas privadas no se- tor hospitalar, o que requer que os arquitetos necessitem por incluir novos espaços para o programa das EAS, como um número maior de recepções e locais para retirada de exames, e uma nova organi- zação espacial. 1.3 Atributos de projeto da arquitetura da edificação de saúde contemporânea Em relação à arquitetura de EAS, é importante evidenciar como questões geográficas, urbanas, epidemiológicas e de progra- ma influenciam nas decisões de projeto. Assim, independentemente da complexidade do programa, o arquiteto deve trabalhar em con- junto com diversos profissionais para inserir em seus problemas as- pectos técnicos, tanto envolvendo o local de implantação do edifício até os físico-funcionais, que influenciarão no partido arquitetônico adotado e na organização setorial do programa do hospital. 67
  • 79. 1.3.1. Implantação, acessos e incersão urbana Os hospitais, por muito tempo, foram construídos longe dos centros urbanos, para prevenir a proliferação de doenças, como a tuberculose. Com a Revolução Industrial e o desenvolvimento urba- no, essas construções foram incorporadas à malha urbana das cida- des, o que, por sua vez, causou impactos significativos no entorno imediato das edificações. Segundo Antônio Carvalho, em seu livro Introdução à arquitetura hospitalar (2014: p. 78), a decisão sobre o local de implantação de um hospital envolve diversos fatores, sobre- tudo políticas de saúde, o que torna esse processo “um dos maiores desafios para a arquitetura hospitalar”, uma vez que envolve todos os aspectos que devem ser considerados durante toda a etapa de formulação do projeto executivo do EAS. Essas condições, somadas a realidade de que os arquitetos são constantemente contratados para elaborar projetos hospitalares em terrenos pré-estabelecidos pelos clientes, seja para a constru- ção de um novo hospital ou para a reforma e expansão dos já exis- tentes, torna a elaboração de estudos prelimina-res de localização uma das etapas mais importantes durante elaboração do projeto arquitetônico. Esses estudos preliminares devem: “[…] contemplar uma análise cuidadosa das redes exis- tentes, da qualidade dos serviços públicos prestados, das condições de acessibilidade, do uso do solo predomi- nante no entorno, das características socioeconômicas e epidemiológicas da população na área de influência da unidade. Deverão ser, ainda, considerados aspectos físi- co-urbanísticos, tais como a localização e as dimensões das áreas disponíveis, suas características topográficas e geológicas, climas, insolação, níveis de ruído e legisla- ção urbanística” (Toledo, 2020: p. 77). Para muitos, um edifício hospitalar pode ser considerado como um elemento em constante transformação. A partir de sua inauguração, sofre reformas, adaptações e ampliações, o que o tor- na um “grande consumidor de área” (Carvalho, 2014: p. 77), inde- pendentemente do partido arquitetônico adotado. Portanto, mesmo 68
  • 80. tendo dimensões reduzidas devido à malha urbana, é preciso prever um dimensionamento de terreno ou soluções projetuais que permi- tam expansões futuras sem ocasionar grandes problemas para o entorno ou para a estrutura da cidade onde o hospital será constru- ído. Carvalho (2014: p. 78) defende também que os EAS devem ser construídos em terrenos com 10% de declividade, uma vez que é economicamente mais viável, já que áreas com grandes declives requerem implantações mais dispendiosas por necessitarem de ter- raplanagem. De fato, terrenos com pouco caimento não só reduzem os custos, como também facilitam a escolha das soluções projetu- ais. No entanto, diversos profissionais adaptam o hospital à topo- grafia do terreno, resultando em construções onde a terraplanagem é utilizada apenas nos locais de extrema necessidade, diminuindo o custo de construção e trazendo benefícios para o meio ambiente. Em outras palavras, a busca por soluções que envolvam a alteração mínima do terreno não apenas pode ser realizada independente- mente da conformação do espaço físico como é uma das primeiras ações de aplicação da Sustentabilidade na construção civil. Outro fator relevante a ser considerado são as condições de infraestrutura urbana, primordiais para o seu bom funcionamento e para o seu abastecimento. Em termos de vias de circulação e aces- so, um EAS pode apresentar diversos tipos funcionais de acessos em um único espaço físico, dependendo da interligação e aglutina- ção das unidades funcionais existentes (Anvisa, 2002: p. 86). No en- tanto, é indispensável a diferenciação entre os acessos de veículos e os de pedestres, para evitar o cruzamento entre eles (Carvalho, 2014: p. 78), uma vez que as vias para veículos e as entradas para os estacionamentos devem ser bem-sinalizadas. Em relação aos estacionamentos, estes devem ser previstos tanto para viaturas de serviços quanto para passageiros, sempre considerando o número de vagas recomendado pelos códigos de obras municipais. Em locais onde o código de obras é omisso em respeito ao tema, é recomendado que o profissional considere uma área mínima de 12 m² para a vaga ou uma vaga para veículo a cada 69
  • 81. quatro leitos presentes no hospital (ANVISA, 2002: p. 86). Além dis- so, é indispensável que a norma de acessibilidade, a NBR-9050, seja cumprida, sobretudo, em edifícios de grande e médio porte. Isso se deve ao fato de que, além das vagas para ambulâncias, 1% das vagas para os usuários do hospital devem ser reservadas para pessoas com necessidade especiais (PNE). Dado que os hospitais são grandes consumidores de energia e água, torna-se indispensável o fornecimento contínuo, uma vez que sua falta pode ocasionar riscos à saúde e à vida dos pacientes. No que diz respeito à energia, essencial para o funcionamento do edifício, dos equipamentos e dos sistemas de comunicação, a solu- ção é instalar geradores e placas solares, a fim de permitir que os hospitais permaneçam independentes da rede urbana por um perío- do. Muitos prontuários médicos, por exemplo, não são mais impres- sos em papel, ficando armazenados na rede do hospital, permitindo que mais de um profissional consiga acessá-los simultaneamente. Se houver uma falha no sistema devido à falta de energia, os mé- dicos, enfermeiros e outros profissionais não terão acesso a esses prontuários, o que dificultará a execução do tratamento. Com o surgimento de uma legislação ambiental cada vez mais restritiva, tornou-se necessário que os esgotos gerados nos hospitais fossem tratados no próprio local antes de serem lançados na rede pública, sobretudo quando são despejados em redes de drenagem pluvial ou em mananciais (Toledo, 2020: p. 77). Dessa forma, as unidades de tratamento passaram a ser instaladas nos hospitais, localizados próximos aos espaços para o armazenamen- to, transporte, tratamento e disposição do lixo contaminado produ- zido no hospital, que também requer um cuidado especial, uma vez que não pode ser jogado no lixo comum. Jarbas Karman, em seu livro Manutenção incorporada à ar- quitetura hospitalar (1995: p. 55), afirma que os profissionais devem ter cautela ao projetar todo o sistema de infraestrutura do prédio. A passagem de redes de esgoto em ambientes assépticos e críticos deve ser evitada para prevenir o “gotejamento” de água poluída, causado pelas juntas, conexões e curvas das tubulações. Para tal, 70
  • 82. Figura 49 Represen- tação esquemática do sistema de esgoto de segurança com “Colu- na-Ladrão”. Fonte: Karman, 1995: p 72. propõe-se a utilização de um sistema denominado “Rede de Segu- rança”, composto por uma rede paralela, vertical e horizontal, aco- plada a uma “Coluna-Ladrão” (Figura 49). A utilização da água como meio de higienização torna esse suprimento indispensável em todos os estabelecimentos de saúde, ao mesmo tempo, em que ser analisada com frequência e limpa constantemente nos reservatórios para que a qualidade geral da água esteja em boas condições, sobretudo para a prevenção de contaminação. Segundo Jarbas Karman: “Devem ser sempre duplos, para facilidade de limpeza e mesmo quádruplos, quando o hospital dispuser de sis- tema de válvula fluxível, para a descarga de bacias sa- nitárias. nesse sistema, quando a bacia sanitária estiver cheia (por obstrução) pode ocorrer a formação de vácuo no duto de alimentação da bacia sanitária, em decorrên- cia de repetidas descargas e consequente aspiração da 71
  • 83. água poluída da bacia, com risco de contaminação da rede de água potável; daí a destinação de dois reser- vatórios, exclusivos e independentes, para o abasteci- mento de válvulas fluxíveis, de esguichos de mesa de necrópsia e similares” (Karman, 1995: p. 54). Em contrapartida, os reservatórios enterrados, devido à ne- cessidade de uma proteção especial contra infiltração e controle de vazamentos, são construídos em locais isolados, com um espaço livre e drenado, sob uma laje inferior de fácil acesso para inspeção e manutenção. Carvalho (2014: p. 78) também sustenta que os hospitais de- vem ser implantados em locais distantes das sedes do corpo de bombeiros, aeroportos, clubes e casas de espetáculo, indústrias poluentes ou de alto risco e depósitos de resíduos sólidos. Ele re- aliza essa argumentação não apenas pelos hospitais necessitarem de ambientes saudáveis no entorno, como também por não serem fontes de ruídos excessivos e estresse. Se estes imóveis estão si- tuados em áreas próximas a fontes de ruídos, como grandes aveni- das ou autoestradas, é indispensável realizar o conforto acústico no edifício, seja através da inclusão de barreiras acústicas e vegetais, ou da aplicação de isolantes acústicos nos elementos construtivos, como a implementação de janelas antirruídos. Apesar de serem mais caras, essas e outras soluções estão diretamente ligadas à qualidade do ambiente hospitalar e, consequentemente, à humani- zação espacial dos edifícios hospitalares. Assim, ao se realizar qualquer ampliação em hospitais já existentes, é importante ser realizado uma coleta de dados a res- peito da satisfação da população que mora ou trabalha nas áreas adjacentes aos EAS, para, principalmente, determinar eventuais transtornos causados pela unidade, sejam eles relacionados com impactos ambientais, no tráfego, no comércio local e na qualidade de vida do entorno (Toledo, 2020: p. 78). Esse levantamento, muitas vezes correla¬cionado à Avaliação Pós-Ocupação, pode guiar os arquitetos na formulação de soluções projetuais e da determinação dos fatores físico-funcionais aplicados nas EAS. 72
  • 84. Figura 50 Partido hori- zontal com sistema em corredor único. Fonte: Carvalho, 2014: p. 82. 1.3.2. Fatores físicos-funcionais A decisão entre adotar um partido vertical ou horizontal em um estabelecimento de saúde requer uma análise aprofundada, uma vez que envolve diversos fatores, o que pode trazer benefícios ou riscos projetuais. De acordo com Góes (2011: p. 47), um edifí- cio hospitalar, devido ao seu grande porte, deveria ser construído preferencialmente em um único pavimento térreo. Esse partido hori- zontal, geralmente representado pela tipologia pavilhonar, apresen- ta uma setorização espacial que se assemelha muito à estrutura das pequenas cidades. Esse tipo de zoneamento é necessário, principalmente por- que há certos usos que não são aconselháveis de estarem próximos (Figura 50). Dessa forma, as circulações devem, segundo Carvalho (2014: p. 81), obedecer a um sistema de hierarquia para minimizar conflitos e garantir a segurança de todos. Além disso, alguns traje- tos - como os de cadáveres, resíduos, roupas sujas, pacientes em estado grave, dentre outros - devem ser cuidadosamente estrutura- dos e equacionados, para não ocorrerem acidentes ou constrangi- mentos. 73
  • 85. Figura 51 Perfil de um típico partido vertical em Torre base. Fonte: Carvalho, 2014: p. 81 A verticalização, por outro lado, é quase uma imposição nas grandes e médias cidades, uma vez que os terrenos possuem di- mensões reduzidas e preços elevados. Alguns arquitetos argumen- tam que um hospital não deve ter mais do que oito pavimentos, tota- lizando 18 metros de altura a partir do nível do terreno (Góes, 2011: p. 48). No entanto, para determinar a altura máxima de um edifício, é imprescindível considerar os parâmetros urbanísticos da região onde a unidade hospitalar será construída. Dado que, para o partido vertical, rampas e elevadores são elementos que, muitas vezes, organizam os espaços, muitas unida- des de saúde adotam a tipologia da torre-base (Figura 51), onde, no elemento vertical, estão setores que requerem condições espe- cíficas de conforto e ambiência interna, como o de internação. No bloco longitudinal, os demais usos são organizados para facilitar o atendimento, ao mesmo tempo, em que oferecem um controle no padrão de circulação. Seja qual for o partido escolhido, os fatores físicos-funcionais de um edifício hospitalar podem ser considerados dinâmicos devido às constantes transformações que sofrem, sejam elas resultantes da incorporação de inovações tecnológicas e novos procedimen- tos ou das alterações nos setores hospitalares. Essa complexida- 74
  • 86. de programática, indispensável para o funcionamento adequado do hospital, além de abrigar funções diversificadas e que, em alguns casos, pode ser incompatível entre si (Toledo, 2020: p. 72), pode sofrer alterações no dimensionamento de determinados setores ou a sua eliminação total devido à terceiri¬zação, como já citado ante- riormente. Um programa arquitetônico hospitalar deve conter uma lista de espaços em diferentes níveis de abrangência, a fim de atender a todas as necessidades previstas, além de permitir a possibilidade de alterações futuras. Para tal, é necessário realizar uma análise minuciosa de cada unidade funcional e de cada ambiente hospitalar, de acordo com uma pesquisa aprofundada, considerando: o número de pacientes e de agentes de saúde que ocuparão os espaços; os espaços dos equipamentos que serão instalados; a identificação do mobiliário; e, em casos específicos, como centros cirúrgicos, o posi- cionamento e o deslocamento dos pacientes, médicos, enfermeiros e auxiliares durante os procedimentos (Toledo, 2020: p. 73). Como visto, além das atividades terapêuticas, de apoio ao diagnóstico e ao tratamento, o hospital desempenha outras funções, como as de hotelaria – que recebem, hospedam e alimentam pa- cientes e acompanhantes – e as industriais – que produzem, pro- cessam e distribuem diversos insumos, tais como roupas, materiais esterilizados, medicamentos e gases. Isso requer que os profissio- nais apresentem todas as diferenças funcionais requeridas, acom- panhadas de tratamento arquitetônico específico (Toledo, 2020: p. 72,73), sobretudo na disposição espacial e na escolha dos materiais que serão aplicados nos pisos e revestimentos. As circulações são consideradas um dos elementos-chave para o projeto hospitalar. Conforme a RDC-50 (2002: p. 87), os cor- redores destinados à circulação de pacientes ambulantes ou em ca- deiras de rodas, macas ou camas, de-vem ter a largura mínima de 2,00 m para percursos com 11,00 m e 1,20 m para os demais, não podendo ser utilizados como locais de espera para não obstruir a passagem. Para fins de segurança, todos os corredores destinados à circulação de pacientes devem conter corrimãos com finalização 75
  • 87. curva e bate-macas, que podem ser instalados a uma altura de 80 cm a 92 cm do piso acabado. Outro fator relevante de projeto está relacionado às necessi- dades de infraestrutura de cada ambiente. Para elaborar o projeto de um dos quartos de internação, por exemplo, o arquiteto deve ter conhecimento aprofundado das suas características para, com a ajuda de especialistas, poder determinar: o número e a localiza- ção das diferentes tomadas e interruptores; o local de instalação da régua de gases, que contém os pontos de oxigênio, ar comprimido, óxido nitroso e vácuo; a necessidade de exaustão e condicionamen- to do ar interno; a instalação de telefonia, comunicação e sinaliza- ção, de modo a assegurar a chamada dos profissionais sobretudo em emergências; dentre outros. 1.3.3. Normas técnicas de construção hospitalar e sua aplicação Antes de iniciar a discussão sobre a legislação vigente para a arquitetura dos EAS e sua correta aplicação, é crucial compreender a diferença entre Normatização e Acreditação, uma vez que ambas têm critérios próprios e abordagens específicas que devem ser se- guidos. Geralmente, são acompanhadas por certificações, que ates- tam a sua aplicabilidade. Segundo Bross (2013: pp. 164-166), enquanto a Norma é uma forma de estabelecer um padrão para a execução de projetos ou avaliação deles, a Acreditação visa reconhecer aspectos especí- ficos, como a qualidade do atendimento prestado pelos profissionais de saúde, a qualidade do ambiente construído, o nível de sustenta- bilidade dos hospitais31 , dentre outros. Independentemente dessa diferenciação, ambos estão envolvidos no processo de regulamen- tação, para aprimorar os edifícios e melhorar a qualidade dos servi- ços prestados. Isso é extremamente relevante devido à complexida- 3 Quanto a sustentabilidade, a acreditação e certificação aplicada, normalmente, é a LEED (Leasdership in Energy and Environmental Design). Essa certificação é apresen- tada e analisada no item 3.3.1 dessa dissertação. 76
  • 88. Figura 52 Exemplo de planta de um quarto de internação, representada no livro Elements of the General Hospital. Fonte: Carvalho, 2017: p. 22. de dos edifícios hospitalares e ao seu constante aperfeiçoamento. Embora alguns autores e pesquisadores apontem que o pro- cesso de normatização e regulamentação de projetos iniciou-se na década de 196042 , outros sustentam que essa busca constante por parâmetros e padrões projetuais remonta ao ano de 1940. Isso se deve ao fato de que, até a publicação da RDC 50/2002, foram expe- didos diversos materiais que não apenas incorporaram os critérios e aspectos específicos dos edifícios hospitalares, como criaram uma metodologia que auxiliou os arquitetos na elaboração de seus proje- tos. Gabriela Camelo, Marcio Souza e Fábio Bitencourt (2021: p. 61) argumentam que o processo de evolução da normatização brasileira foi lento, tendo sido iniciado com a criação do SESP na década de 40, que utilizava o guia americano Elements of the Ge- neral Hospital (1946) para elaborar as primeiras orientações sobre o tema. Este documento, segundo Antônio Pedro Alves de Carvalho (2017: pp. 22, 23), apresentava plantas setoriais com dimensiona- mento e relação detalhada de mobiliário e equipamentos (Figura 52), sem descrições ou orientações escritas a respeito dos setores que compõem os edifícios hospitalares. Nesse mesmo período, o SESP publicou o livro Padrões Mínimos Hospitalares, composto por 23 páginas de modelos de plantas arquitetônicas (Figura 53), se- guindo os mesmos moldes do guia norte-americano. 4 João Carlos Bross (2013: p. 164) e Luiz Carlos Toledo (2020: p. 56) foram dois dos autores que apresentaram esse levantamento, com uma maior descrição a respeito, sendo importante evidenciá-los. 77
  • 89. Figura 53 Planta de um andar de internação do guia Padrões Mínimos Hospitais. Fonte: Carvalho, 2017: p. 23. Na década de 50, os arquitetos Amador Cintra do Prado, Jar- bas Karman e Rino Levi coordenaram a publicação do livro Planeja- mento de Hospitais, composto por transcrições de aulas e palestras ministradas durante um curso de infraestrutura hospitalar, elabora- das por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfer- meiros, engenheiros, arquitetos e administradores (Camelo; Souza; Bitencourt, 2021: p. 62). Dez anos depois, o livro Projeto de Normas Disciplinadoras das Construções Hospitalares (1965) foi escrito pelos arquitetos Oscar Valdetaro e Roberto Nadalutti, com a consultoria do doutor Henrique Bandeira de Mello. Este livro apresentava um aumento no número de desenhos de unidades e na quantidade de explicações teóricas para projetos, em comparação com o material anteriormen- te publicado (Figura 54) (Carvalho, 2017: p. 24), porém não difere de sua metodologia. Apesar disso, sua publicação teve uma grande relevância, uma vez que foi o primeiro documento normativo brasi- leiro de âmbito nacional. Em 1977, uma nova norma foi publicada, a Portaria n.º 400/1977, intitulada Normas e Padrões de construções e instala- ções de serviços de saúde. Segundo Toledo (2020: p. 160), essa portaria apresentava um programa arquitetônico definido, com a lis- ta de ambientes de cada unidade, contendo metragem mínima e observações básicas. Apesar de tratar das instalações prediais para EAS de forma genérica, está normativa apresenta uma rigidez inco- mum até então, refletindo a ditadura militar vivida durante a década de 1970. 78
  • 90. Figura 54 Exemplo de planta presente no Projeto de Normas Disciplinadoras das Construções Hospitalares. Fonte: Carvalho, 2017: p. 26. Figura 55 Exemplo de planta apresentada na segunda edição da Portaria 400/1977. Fonte: Carvalho, 2017: p. 27. 79
  • 91. Em 1987, essa portaria recebeu uma segunda edição (Figura 55) tornando-se um instrumento de regulamentação dos ambientes hospitalares, o que, por sua vez, teve um impacto positivo referente ao desenvolvimento do sistema de fiscalização da ANVISA (Came- lo; Souza; Bitencourt, 2021: p. 63). Concomitantemente, o Estado passou a apresentar o dever de oferecer saúde a toda a popula- ção, conforme a Constituição Brasileira de 1988. Esses progressos culminaram na Lei Orgânica de Saúde de 1990, que estabeleceu o Sistema Único de Saúde. No entanto, a rigidez da primeira edição persistiu, o que resultou na utilização das mesmas tipologias em todos os estabelecimentos de saúde (Toledo, 2020: p. 161). Isso era um grande problema devido ao tamanho continental do país, com climas e condicionantes ambientais diferentes, além da carência de recursos para manter o edifício em boas condições. A partir da década de 1990, as normativas foram gradual- mente perdendo o caráter rígido que apresentavam, passando a descrever as atividades prestadas nos serviços de saúde e nos am- bientes hospitalares (Figura 56) e não mais apresentando desenhos gráficos. Isso permitiu que arquitetos e engenheiros tivessem uma maior liberdade de escolha quanto à disposição espacial desses ambientes. Dentre todas elas, a Resolução n. 50 (RDC 50) é considera- da a normativa vigente em relação à arquitetura para EAS. A norma em questão, publicada em 2002, apresenta critérios e informações relevantes que, além de auxiliar os profissionais na elaboração do projeto, também destrincha a arquitetura hospitalar para facilitar a compreensão de sua complexidade, abrangendo desde os aspec- tos físicos-funcionais de um EAS até os fundamentos para projetos, considerados fundamentais para o bom funcionamento do edifício. Estes são agrupados em oito grandes atribuições gerais, abrangen- do áreas e unidades que compõem os programas dos EAS (Quadro 4). Apesar de ser uma norma, os arquitetos não são obrigados a incorporar em seus projetos todas essas atribuições ou tratá-las independentemente, uma vez que algumas atividades podem ser 80
  • 92. Figura 56 Exemplo de quadro da Portaria 1884/1994. Fonte: Carvalho, 2017: p. 32. Quadro 4 Atribuições gerais de assistência à saúde. Fonte: Anvisa, 2002: pp. 24,25. 1. Prestação de atendimento eletivo de promoção e assistência à saúde em regime ambulatorial e de hospital-dia – atenção à saúde incluindo de promoção, prevenção, vigilância à saúde da comunidade e atendimento a pacientes externos de forma programada e continuada; 2. Prestação de atendimento imediato de assistência à saúde – atendimento a pacientes externos em situações de sofrimento, sem risco de vida (urgência) ou com risco de vida (emergência); 3. Prestação de atendimento de assistência à saúde em regime de internação – atendimento a pacientes que necessitam de assistência direta programada por período superior a 24 horas (pacientes internos); 4. Prestação de atendimento de apoio ao diagnóstico e terapia – atendimento a pacientes internos e externos em ações de apoio direto ao reconhecimento e recupe- ração do estado de saúde (contato direto); 5. Prestação de serviços de apoio técnico – atendimento direto a assistência à saú- de em funções de apoio (contato indireto); 6. Formação e desenvolvimento de recursos humanos e de pesquisa – atendimen- to direta ou indiretamente relacionado à atenção à saúde em funções de ensino e pesquisa; 7. Prestação de serviços de apoio à gestão e execução administrativa – atendi- mento ao estabelecimento em funções administrativas; 8. Prestação de serviços de apoio logístico – atendimento ao estabelecimento em funções de suporte operacional. 81
  • 93. Figura 57 Exemplo de layout apresentado no SomaSUS com os códi- gos dos equipamentos e mobiliário. Fonte: Carvalho, 2017: p. 32. executadas em um mesmo ambiente ou compartilhadas entre duas ou mais unidades (Anvisa, 2002: p. 37). Isso retrata a realidade brasileira de hospitais que apresentam unidades laboratoriais, de ensino, administrativas e/ou centros de tratamento especializados localizados fora dos complexos, em quadras adjacentes, com ou sem ligação direta entre si. Dessa forma, o profissional deve analisar as demandas apresentadas pelos clientes e pelas outras profissões que atuam no atendimento à saúde para determinar quais atribuições serão executadas e como serão projetadas. Para tal, a RDC 50 apresen- ta tabelas com dimensionamentos e informações mínimas a serem seguidos para cada área ou unidade envolvidas nas atribuições em questão. Apesar de a RDC 50/2002 ser bem fundamentada, a nor- ma não especifica as informações essenciais para a programação arquitetônica para a elaboração de projetos, como fluxos internos, mobiliário e equipamentos. Visando solucionar essa questão, o Mi- nistério da Saúde criou o Sistema de Apoio à Elaboração de Proje- tos de Investimentos em Saúde (SomaSUS) para auxiliar na orienta- ção, divulgação e implementação dessa norma, utilizando recursos gráficos com exemplos de layout para os mais diversos ambientes (Figura 57) (Carvalho, 2017: pp. 34-36). Isso demonstra que, no que diz respeito à arquitetura hospitalar, o arquiteto deve ter uma formação multidisci- plinar e trabalhar com diferen- tes profissionais para desen- volver um projeto que atenda às qualidades e especificida- des necessárias, tendo como base a RDC-50 e as demais normas publicadas pela Asso- ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 82
  • 95. O termo humanizar é caracterizado como antropocêntri- co, o que significa dar condições humanas a algo ou a um lugar. Devido à sua subjetividade bas-tante complexa, é de difícil com- preensão, especialmente por envolver fatores sociais, éticos, educacionais e psicológicos. No que diz respeito aos ambientes hospitalares, o conceito de humanização pode ser aplicado des- de a qualidade do serviço prestado pelos profissionais de saúde até os atributos espaciais dos EAS. De acordo com Vasconcelos, em sua dissertação intitu- lada Humanização de ambientes hospitalares: características arquitetônicas responsáveis pela in-tegração interior/exterior (2004: p. 24), esses atributos são qualificados para proporcionar conforto físico e psicológico aos usuários durante a execução de suas atividades, por meio de características ambientais que pro- porcionam uma sensação de bem-estar. Isso se deve ao fato de os Serviços de Atenção à Saúde dos Indivíduos terem em mente que os pacientes sofrem agressões psicossomáticas causadas pela percepção de risco em relação ao seu estado e aos proce- dimentos que serão submetidos nos hospitais (BROSS, 2013: pp. 35, 41, 42). Capítulo 2 Humanização dos espaços de saúde 84
  • 96. 2.1 Evolução histórica Como mencionado no capítulo anterior, o doente é conside- rado portador de um distúrbio que deve ser diagnosticado e tratado, uma vez que, nos hospi-tais, há uma constante preocupação em restaurar o corpo humano ao seu estado normal, de acordo com princípios preestabelecidos pela sociedade. Além disso, a arquite- tura esteve, por um longo tempo, ligada à religião e ao misticismo. Com a humanização, não foi diferente. Na Antiguidade, buscavam na natureza, nas fontes de água e na luz solar uma aproximação com as divindades, ao mesmo tem- po em que utilizavam esses elementos para fins terapêuticos. Os tratados, como os de Galeno, já continham informações sobre o es- tado emocional dos pacientes e sua interação com os ambientes, indicando que a utilização da humanização foi intuitiva durante esse período. Na Idade Média, as enfermarias, ou ambulatórios de mostei- ro, eram compostas por pátios internos e externos, que eram utili- zados pelos pacientes para banhos de sol, com vegetação e jardins terapêuticos, que continham ervas utilizadas nos tratamentos e na formulação dos medicamentos. Essas construções eram, geralmen- te, isoladas, muitas vezes situadas fora dos limites das cidades, ser- vindo, sobretudo, para prevenir a proliferação de doenças. A Revolução Industrial, por sua vez, alterou a maneira como os indivíduos se relacionavam com a cidade e o trabalho, trans- formando-os em mercadoria e força de trabalho. Assim, com o au- mento da população, as longas jornadas de trabalho, os acidentes e as condições insalubres, o número de doentes aumentou, tornan- do-se evidente a necessidade de um novo modelo hospitalar, com ambientes adequados e voltados para a reabilitação dos pacientes. Com isso, surgiram novas preocupações, sobretudo em relação à qualidade do ambiente construído, influenciando a arquitetura. Florence Nightingale percebeu os efeitos do meio ambiente nos seus pacientes. A partir de suas experiências como enfermeira na Guerra da Criméia (Figura 58), ela escreveu os livros Notes on 85
  • 97. Figura 58 Florence Ni- ghtingale atendendo so- breviventes da Guerra da Criméia, no Hospital Scutari. Litografia colori- da de E. Walker, 1856, segundo W. Simpson. Fonte: https://wellcome- collection.org/. Acesso em: jan. 2023. Nursing e Notes on Hospitals, publicados na Inglaterra em 1859, nos quais aponta os defeitos dos hospitais existentes em termos de qualidade do ambiente hospitalar e as consequências para a recu- peração dos pacientes, questionando a Teoria dos Miasmas (Mique- lin, 1992: p. 46). Além dessas informações, Florence Nightingale traz em seu livro 18 princípios para a construção de hospitais (Quadro 5a e 5b) que nortearam a formulação espacial da “Enfermaria Nightingale” (Figura 59). Esta pode ser descrita da seguinte forma: “[…] um salão longo e estreito com os leitos dispostos perpendicularmente em relação às paredes perimetrais; um pé direito generoso, e janelas altas entre um leito e outro de ambos os lados do salão garantiam ventilação cruzada e iluminação natural. As instalações sanitárias ficavam numa das extremidades com ventilação em três fazer do bloco. Locais de isolamento do paciente termi- nal, escritório da enfermeira chefe, utilidades, copa e de- pósito ocupavam o espaço intermediário entre o salão e o corredor de ligação com outros pavilhões. Um posto de enfermagem é implantado no centro do salão, onde tam- bém ficava o sistema de calefação (quando existente) ou a lareira “(Miquelin, 1992: pp. 46,47). 86
  • 98. Quadro 5a Princípios de Florence Nightingale para a construção de hospitais do século XIX Fonte: adaptado de Draganov; Sanna, 2017: pp. 97, 98. • Princípio • Descrição • Observações • 1 • Número de pavi- mentos • A construção de um único pavimento é recomendada para evitar a contaminação do andar superior pelo ar contaminante do piso inferior. • 2 • Número de alas ou uni-dades por pavilhão • Se houver mais de uma ala, é recomen- dável interromper o piso com a utilização de uma escada, para evitar a troca de ar. • 3 • Dimensionamen- to das alas ou unidades • Recomendava metragem de 4,5 m para o pé direito. • 4 • Espaçamento entre leitos • Deveria ser considerado um espaçamen- to entre as camas de 3 a 3,5 m. • 5 • Relação entre leitos e janelas • As alas deveriam conter uma janela a cada dois leitos, com uma distância máxima de 1,20 metros. O peitoril deveria estar a uma distância de 60 a 90 centí- metros do chão e 30 centímetros do teto, para as janelas altas. • 6 e 7 • Materiais de construção e partido arquite- tônico • Recomendava escolher superfícies que fossem resistentes, laváveis e fáceis de limpar. Indicava, dentre os materiais dis- poníveis, cimento aparente ou concreto e carvalho ou pinho. • 8 • Salas de enfermagem e localização • As salas de enfermagem deveriam ficar em espaços com facilidade de visualiza- ção da ala, com mobiliário para descan- so e espaço para guarda e controle de materiais. • 9 e 10 • Casa de banho, lavatórios, vasos sanitários e pia para lavagem de materiais • É aconselhado que esses espaços sejam construídos separadamente, com cautela na escolha do revestimento, além da instalação de um sistema de tratamento de água e louças sanitárias com sifona- mento. • 11 • Ventilação na- tural • É indispensável em edificações de saúde, sobretudo devido à constante troca de ar e à salubridade do ambiente. Para aque- cer o ar frio, recomendava a instalação de equipamento semelhante às chaminés, e persianas. • 12 • Mobiliário da uni- dade do paciente • O quarto deveria ser composto por um lei- to, uma cadeira com apoio de braço, duas mesas e um biombo, para privacidade. • 13 • Leito • Recomendava o uso de colchões de crina de cavalo ou de ar, ou de água, com estrado de tecido elástico, trançado ou en¬trelaçado, e leito de ferro forjado. • 14 • Tratamento da água • Recomendava análises químicas e o tratamento in loco da água para uso com os doentes. 87
  • 99. Quadro 5b Princípios de Florence Nightingale para a construção de hospitais do século XIX (continuação) Figura 59 Planta da En- fermaria “Nightingale”. Fonte: Miquelin, 1992: p. 47. Fonte: adaptado de Draganov; Sanna, 2017: pp. 97, 98. • Princípio • Descrição • Observações • 15 • Sistema de esgoto • Recomendava uso de sistemas de sifona- gem e vedação hermética. • 16 • Cozinha e ali- mentos • Recomendava que ficassem afastados das alas. • 17 • Lavanderia • Recomendava o uso de tubo hermético para despejo de roupas, equipamento para lavagem e esterilização, e espaço para manutenção e preparo das roupas. • 18 • Centro cirúrgico • Planta física deve estar voltada para o norte, aproveitando a condição de ilumi- nação natural e as conexões com alas, favorecendo o fluxo de funcionários e pacientes. O Manual de Conforto Ambiental em Estabelecimentos As- sistenciais de Saúde, publicado pela ANVISA em 2014, apresenta alguns trechos do livro Notes on Hospitals, de Florence Nightingale, dentre eles se destaca: “Nenhuma enfermaria é, em qualquer sentido, uma boa enfermaria quando os d-entes não são abastecidos em todos os momentos com ar puro, luz e uma temperatu- ra adequada. Estes são os resultados a serem obtidos da arquitetura hospitalar, e não a fachada ou aparência. Novamente, nenhum destes elementos precisa ser sa- crificado no intuito de obter outro. E quem se sentir em dificuldades para atender a estes três requisitos pode descansar tranquilo, pois a arquitetura hospitalar não é a sua vocação” (Anvisa, 2014: p. 19). 88
  • 100. A Enfermaria Nightingale se tornou uma inovação na anato- mia hospitalar do final do século XIX, tornando-se um modelo de internação com exemplares espalhados pelo mundo ocidental. Des- de então, os hospitais têm sofrido grandes mudanças tecnológicas e científicas, bem como físicas e quanto à sua relevância para a população usuária. No século XX, devido aos edifícios hospitalares estarem si- tuados nas áreas urbanas das cidades, com um dimensionamento decrescente, a tendência de verticalização dos hospitais se tornou necessária. Nesse mesmo período, a ideia de que o ambiente pode, de forma positiva ou negativa, influenciar o paciente, auxiliando ou interferindo no processo de cura, gerou novas discussões. Segundo Ramos e Lukiantchuki (2015: p. 4): “É somente quando são considerados os aspectos sociais, econômicos, culturais e psicológicos no tratamento dos doen- tes, que ocorre a quebra do modelo hospitalar e a discussão para a sua devida reformulação, visando garantir o direito uni- versal à saúde e o desenvolvimento da medicina preventiva” Por muitos anos a situação permaneceu assim até a publica- ção da Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários de Saú- de, elaborada pela Conferência Internacional das Nações Unidas sobre os Serviços Primários de Saúde, em 1978, onde se estabele- ceu a saúde como um direito humano universal. Esta declaração es- tabeleceu também que todos os seres humanos têm o direito a um tratamento de saúde de qualidade e gratuito, o que torna ainda mais relevante a preocupação com o bem-estar dos seres humanos, so- bretudo no que diz respeito à arquitetura hospitalar. Pier Pizzolato, em sua tese O espaço arquitetônico como elemento terapêutico: a função da ambiência na recuperação e na qualidade de vida do paciente internado (2014: p. 188), afirma que as necessidades dos pacientes e dos profissionais envolvidos na ação curativa se tor- naram fundamentais para determinar critérios técnicos, formais e funcionais que devem ser implementados ainda durante a fase de concepção de projeto. 89
  • 101. Angelica Thieriot, após um período de internação hospitalar considerado traumático, fundou, em 1978, a Planetree Internacio- nal, uma organização norte-americana cujo objetivo é certificar as instituições de saúde quanto à humanização do atendimento, vi- sando restaurar a dimensão humana no tratamento de saúde, fun- damentada na assistência centrada no paciente (Planetree Brasil, 2023). No Brasil, apenas o Hospital Israelita Albert Einstein possui esta certificação (Martorelli, 2016: p. 39). No Brasil, A Declaração de Alma Ata foi incorporada à Cons- tituição Federal de 1988, reafirmando o direito de todos os seres humanos à saúde gratuita e de qualidade. Como dever do Estado, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para promover a saúde da população, além de cumprir outras responsabilidades, como a de controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de inte- resse para a saúde. Além disso, é responsável por coordenar a for- mação de profissionais na área da saúde, incentivando o progresso científico e tecnológico, e formular políticas e executar medidas de saneamento básico, colaborando para a proteção do meio ambiente (Brasil, 2016). Em 2003, o Ministério de Saúde lançou a política de humani- zação conhecida como HumanizaSUS. A cartilha apresenta diretri- zes que norteiam as atividades institucionais envolvendo usuários e profissionais da saúde, tendo como foco a humanização dos aten- dimentos aos pacientes, incentivo ao desenvolvimento profissional dos funcionários dos hospitais e a melhoria das condições de tra- balho (Brasil, 2013). A ambiência, portanto, apresenta uma grande importância, uma vez que a criação de ambientes saudáveis pro- porciona um melhor ambiente de trabalho, além de ser um fator que auxilia no tratamento dos enfermos e oferece espaços para a cursos de humanização nos hospitais. 90
  • 102. 2.2 Conceitos adotados de humanização Os seres humanos percebem o espaço através dos seus cin- co sentidos, sendo eles: visão, audição, tato, olfato e paladar. Desde os seus primórdios, utilizam essa percepção para se adaptar aos ambientes, buscando constantemente formas de torná-los mais se- guros e confortáveis. Além disso, essa capacidade de interpretar os estímulos gerados pelos cinco sentidos deu aos humanos a capa- cidade de se relacionar com outros que não estão inseridos no seu círculo social, independentemente da sua cultura e comportamento. Quando se está doente, o ser humano apresenta um esta- do físico e mental debilitado devido, sobretudo, às dores e medos experimentados. Ao serem transferidos para o interior de estabe- lecimentos hospitalares, o seu estado psicológico pode sofrer um declínio ainda maior devido à distância do convívio social e de seu cotidiano. Somando isso ao estresse sentido, tanto pelos pacien- tes como pelos próprios funcionários, suas percepções espaciais pioram, podendo ocasionar desde o agravamento dos sintomas já manifestados pelos pacientes, como o aparecimento de novos. Para contornar essa situação, arquitetos devem tornar o am- biente construído um espaço confortável para todos os seus usu- ários, influenciando as sensações humanas. Diante da perda do senso de controle, individualidade e pertencimento devido ao isola- mento social, algumas características já são benéficas durante todo o tratamento, como o oferecimento do controle do ambiente, do su- porte social e das distrações positivas. O Controle do Ambiente é caracterizado pela necessidade das pessoas exercerem controle sobre o ambiente que as cercam, de diversas maneiras. Isso porque, segundo Vasconcelos (2004: p. 36), a redução da autonomia nos pacientes pode causar diversos problemas, como depressão, apatia, aumento da pressão arterial e diminuição da capacidade imunológica. Dessa forma, para lidar com essa situação e oferecer aos pacientes a possibilidade de controlar 91
  • 103. as condições ambientais dos espaços em que estão, os controles de temperatura, de iluminação e dos eletrônicos instalados nos quartos devem estar próximos aos leitos. Além disso, espaços como jardins, pátios e salas recreativas devem ser acessíveis e apresentar uma arquitetura convidativa, facilitando assim que seus usuários possam realizar atividades de lazer e explorar habilidades. Ao mesmo tem- po, os espaços de descanso para a equipe médica e de enferma- gem devem proporcionar privacidade para poderem regular seus estados físicos e psicológicos. O Suporte Social pode ser composto por diversos elemen- tos, nos quais os pacientes podem se beneficiar de forma física e emocional com o contato constante e prolongado com familiares, amigos e/ou profissionais do hospital, reduzindo o nível de estresse e aumentando os estímulos positivos. Para isso. um ambiente deve ser confortável e aconchegante, além de apresentar uma disposição de mobiliário que permita a interação social e encoraja o desen- volvimento das relações interpessoais, sem negar a privacidade do paciente (Vasconcelos, 2004: pp. 39 - 42). As Distrações positivas, por sua vez, são aquelas que pro- porcionam uma sensação de bem-estar para o seu usuário, ofere- cendo um nível moderado de estimulação (Vasconcelos, 2004: p. 42). É importante salientar que, nem sempre, lidar com distrações positivas é uma tarefa simples, uma vez que a maneira como uma população utiliza um espaço define as atividades realizadas em seu interior, considerando critério como idade, sexo, gênero, nível cultu- ral, social e religioso. Sendo assim, cabe ao arquiteto filtrar esses critérios e aplicar técnicas físicas, construtivas e decorativas para tornar o ambiente com a melhor qualidade espacial possível. 92
  • 104. Quadro 6 Percepção e efeitos adversos sobre os desvios de temperatura ambiental. Fonte: Anvisa, 2014: pp. 34. 2.3 Elementos da humanização 2.3.1. Ventilação A ventilação é considerada um dos elementos diretamente li- gado ao conforto térmico de um edifício, que está relacionado a dois fatores: os ambientais, que interferem diretamente nas condições dos espaços, e os pessoais, que influenciam diretamente na per- cepção que o corpo humano tem das qualidades de um determina- do ambiente. Sendo assim, é necessário adotar abordagens distin- tas em relação ao impacto das condições adversas de temperatura sobre o estado psicológico e fisiológico de uma pessoa (Quadro 6) (Anvisa, 2014: pp. 34, 35). Para tal, profissionais devem aplicar o índice de Sensação Térmica (IST) (Quadro 7), desenvolvido por Frederico Luis Finati em 2006. Este índice apresente onze faixas de sensação térmica que determinam a resposta fisiológica em um indivíduo em determi- 93
  • 105. Quadro 7 Classe do índice de Sensação Térmica (IST) e respectivas respostas fisiológi- cas em determinadas classes de temperatura em graus Celsius. Fonte: Anvisa, 2014: p. 35. nadas temperaturas (Anvisa, 2014: p. 35). Dessa forma, é possível notar que o conforto térmico está entre 18 °C e 26,9 °C, onde tem- peraturas inferiores ou superiores a essa faixa causam desconforto e respostas fisiológicas e psicológicas. Além de considerar as sensações térmicas, os arquitetos de- vem estar atentos às condições climáticas do local de implantação do edifício. Dessa forma, a aplicação da carta solar, as condições climáticas de temperatura e umidade do ar, e o sentido predominan- te dos ventos são fatores que norteiam as características arquitetô- nicas do edifício e a escolha dos materiais construtivos. Outro fator de extrema relevância é a salubridade. Os edi- fícios que apre-sentam condições térmicas desfavoráveis podem ocasionar uma síndrome conhecida como Síndrome do Edifício Do- 94
  • 106. ente (SED), ou Sick Building Syndrome (SBS), definida pela Organi- zação Mundial de Saúde (OMS) como: “um conjunto de moléstias ou enfermidades (dor de ca- beça, astenia, falta de concentração e de rendimento laboral, sequidão da pele e das mucosas, ardência dos olhos, tosses contínuas e outras) que podem aparecer durante a permanência no interior de determinadas edi- ficações climatizadas artificialmente” (Anvisa, 2014: p. 44). No entanto, essa síndrome pode surgir em qualquer ambien- te que não atenda às condições adequadas de renovação do ar, independentemente do tipo de climatização projetado pelos arqui- tetos. Além disso, o hospital deve usar a ventilação para eliminar infecções e agentes patológicos presentes no interior, como odo- res de materiais e produtos (Pizzolato, 2014: p. 223). Isso requer uma atenção maior dos profissionais, principalmente por se tratar de EAS. 2.3.2. Iluminação A luz, seja ela natural ou artificial, é percebida pelos olhos, onde os impulsos geram tanto estímulos visuais quanto em outras áreas do cérebro, intimamente ligadas às emoções e à regulação hormonal. De acordo com Pizzolato (2014: p. 203), o elemento pode interferir no ritmo biológico dos seres humanos, causando altera- ções de humor e interferindo na capacidade de absorção de medi- camentos, além de causar desconforto, ofuscamento e fadiga visu- al. Além disso, as variações no ciclo de dia e noite interferem diretamente na produção de melatonina, hormônio diretamente rela- cionado ao período de sono dos seres humanos e ao estado de es- pírito. Ingrid C. Fonseca, Maria M. Porto e Cynthia Clarke, trouxeram indagações relevantes sobre o estado de ânimo do usuário em seu artigo Qualidade da luz e sua influência sobre o estado de Ânimo do usuário (2002). Conforme as pesquisadoras (2002: p. 184), as mu- danças no tempo podem afetar o estado depressivo do ser humano, 95
  • 107. o que pode influenciar o comportamento suicida de pacientes com desordens afetivas, dentre elas o Transtorno Afetivo Sazonal, ou Seasonal Affective Disorder (SAD). Essa desordem é mais comum em países com latitudes extremas do hemisfério norte, onde o clima rigoroso, o céu cinzento e o clima chuvoso são as principais caracte- rísticas. Ao longo de todos os estudos, constatou-se que, em geral, os pacientes com SAD apresentam sintomas de baixa sociabilida- de, sonolência durante o dia, dificuldade de concentração e estado de ânimo negativo durante os períodos depressivos. Como forma de tratamento, os médicos e psiquiatras recomendam a exposição à luz, preferencialmente a solar, além de fornecer suplementos de vitamina D. A luz também exerce um papel importante no controle en- dócrino, na regulação do estresse, na absorção de cálcio e fósforo – nutrientes fundamentais para o crescimento e fortalecimento dos ossos –, na diminuição da pressão arterial, no aumento do nível de oxigênio no sangue, na melhoria da capacidade física do paciente, e na prevenção de infecções virais e bacterianas (Vasconcelos, 2004: pp. 48,49). Assim, é possível afirmar que esse elemento pode oca- sionar um impacto significativo no estado psicológico e fisiológico do ser humano, mais especificamente nos pacientes acamados. Cabe ao arquiteto, com seus conhecimentos e técnicas, projetar espaços onde a iluminação, seja natural ou artificial, se torne um elemento relevante para a qualificação dos espaços hospitalares. Os funcionários, por sua vez, devem desfrutar dos benefí- cios proporcionados pela iluminação, especialmente aqueles que trabalham por períodos prolongados. No entanto, é necessário ter cautela com o grau de insolação, uma vez que os brilhos luminosos, provocados pelo posicionamento das aberturas, podem causar pro- blemas como estresse, fadiga e possíveis erros médicos (Pizzolato, 2014: p. 205). Além do conforto visual e psicológico, a iluminação pode con- tribuir para o conforto térmico dos pacientes. A maioria desse con- forto é proporcionada pela luz natural, que, direta ou indiretamente, entra no ambiente através das janelas, átrios e aberturas zenitais. 96
  • 108. No entanto, em países tropicais, como o Brasil, o arquiteto deve ter cautela com a sua aplicação, pois a incidência solar é alta, o que pode causar um aquecimento elevado dos ambientes (Pizzolato, 2014: p. 203). Em situações em que não é possível a presença de luz so- lar em áreas ocupadas por pacientes e/ou equipes médicas e de enfermagem, a utilização de lâmpadas incandescentes amarelas instaladas indiretamente pode proporcionar uma sensação de natu- ralidade ao ambiente. Isso se deve ao fato de que o corpo humano interpreta a luz fria emitida pelas lâmpadas fluorescentes como es- curidão, o que não traz benefícios à saúde (Vasconcelos, 2004: p. 49). As ultravioletas, por outro lado, são benéficas para a saúde, por emitem raios semelhantes aos solares. Pizzolato (2014: p. 204) lista alguns dos benefícios, destacando a diminuição da tensão arterial e da sensação de fadiga, e o aumento da produção de endorfina. Independentemente do tipo da luz presente do projeto lumi- notécnico, é necessário que o controle da iluminação do quarto pelo paciente seja realizado com facilidade. Esse aspecto tem um efeito benéfico no estado mental do paciente, uma vez que os controles, que ficam ao lado do leito, permitem tanto o controle das luzes como das janelas e dos dispositivos de proteção contra a luz solar, como cortinas, persianas e brises móveis. 2.3.3. Cores A cor é, conceitualmente, a reação, ou sensação, que a luz provoca no órgão da visão, tornando o olho um receptor e decifra- dor do fluxo luminoso, decompondo-o ou modificando-o através da retina. Segundo o pintor Israel Pedrosa, em seu livro Da cor à cor inexistente (1977: p. 20), os estímulos que causam as sensações cromáticas nas retinas dos globos oculares são divididos em dois grupos, devido às suas origens. O primeiro tipo de radiação lumino- sa, também chamado de luz colorida, ou visível, composta pela luz branca, mais bem exemplificada pela luz solar, que corresponde ao 97
  • 109. Figura 60 Espectro visível das cores. Fonte: Vasconcelos, 2004: p. 52. resultado da soma, equilibradamente, de todas as matrizes existen- tes na natureza. O segundo, denominado cor-pigmento, é a subs- tância que, de acordo com a sua natureza, absorve, refrata e reflete os raios luminosos que se propagam sobre ela. Em outras palavras, um objeto é considerado colorido quando absorve os raios de luz branca incidentes, refletindo apenas tons específicos para os olhos. Ao estudar o espectro visível das cores (Figura 60) é possível identificar que elas podem ser classificadas como frias e quentes. Chamam-se de “quentes” as que integram os tons avermelhados, alaranjados e amarelados. Já os tons “frios” são compostos pelos tons roxos, azuis e verdes. Como elemento fundamental da vida humana, as cores es- tão vinculadas a diversos aspectos, dentre eles a cura. Segundo Rahmanian e Mahmoudi (2020: p. 62), para os coloristas greco-ro- manos, o desequilíbrio do corpo indicava a falta de uma ou mais cores. Essa seria a origem para a prática médica conhecida como Cromoterapia, que se baseia na exposição do corpo humano e/ou de seus órgãos a diferentes cores para promover o bem-estar e a saúde. Isso se deve ao fato de que as cores afetam os seres huma- nos de forma tanto física quanto psicológica, logo, é preciso com- preender esses efeitos para aplicá-los corretamente na arquitetura. De acordo com Vasconcelos (2004: p. 52), o vermelho esti- mula o sistema nervoso simpático, aumenta a atividade cerebral, e acelera o ritmo cardíaco, a pressão arterial e a respiração. Além disso, devido ao seu efeito estimulante e energizante, é a melhor opção para o tratamento de anemias e doenças do sangue, bem 98
  • 110. como para o tratamento de bronquite, reumatismo, tuberculose e in- fertilidade (Rahmanian e Mahmoudi, 2020: p. 63). No entanto, essa cor pode estimular a agressividade, sobretudo quando aplicada em excesso (Góes, 2011: p. 201). O amarelo pode ser usado para o tratamento de doenças hepáticas e es-tomacais, além de enxaquecas graves, por estimular o sistema nervoso, e paralisias, estimulando a força muscular. Além disso, é antidepressiva, estimulando a concentração e a criatividade (Góes, 2011: p. 201). Dado que é caracterizada como cor quente, pessoas hiperativas, nervosas, hipertireoidistas, obesas e hiperten- sas não devem ficar expostas a ela, especialmente por um longo período (Rahmanian; Mahmoudi, 2020: p. 63). O laranja desperta o apetite e aumenta a produção de leite materno durante a gestação (Góes, 2011: p. 201). Esse tom é bas- tante utilizado no tratamento de cálculos renais e biliares, depres- são, asma, bronquite, hipertireoidismo, pulmões fracos e doenças gastrointestinais. Seu uso exagerado, no entanto, pode causar de- sequilíbrio o sistema nervoso, portanto, é recomendável que essa cor seja aplicada em conjunto com o azul ou o verde (Rahmanian; Mahmoudi, 2020: p. 63). O azul, por ser considerado um tom “frio”, estimula o sistema nervoso parassimpático, causando efeito tranquilizante (Vasconce- los, 2004: p. 52), além de fortalecer o sistema de defesa do orga- nismo, sendo útil no tratamento de doenças como asma, catapora e icterícia (Rahmanian e Mahmoudi, 2020: p. 63). Entretanto, se utilizada em excesso, pode causar depressão (Góes, 2011: p. 202). O verde tem propriedades anti-infecciosas e sua utilização pode ser benéfica para o tratamento de insônia, dores intensas nas costas, enxaquecas e letargia, além de transtornos mentais e es- tresse. Essa cor também contribui para o aumento da taxa de cres- cimento das células do corpo, o que é benéfico para o tratamento de doenças cardiovasculares, como hipertensão e hipotensão (Rahma- nian e Mahmoudi, 2020: p. 63). Por ser uma cor fria, assim como o azul, a exposição excessiva pode causar depressão (Góes, 2011: p. 202). 99
  • 111. O roxo causa um efeito calmante e contribui para a purifica- ção do sangue, removendo toxinas e estimulando a produção de células de defesa, apesar de não ser eficaz no tratamento contra a depressão. Na cromoterapia, é frequentemente empregada para tratar raquitismo, ciática, epilepsia, pneumonia e asma (Rahmanian e Mahmoudi, 2020: p. 63). Góes (2011: p. 202), divide a cor roxa em dois tons: os escuros e os claros. Os tons escuros, representados pelo Violeta, têm um efeito bactericida e antisséptico, estimulando a atividade cerebral. Por sua vez, o Lilás, cor típica dos tons claros, tem propriedades sedativas e relaxantes, sendo uma cor bastante utilizada em ambientes como o CTI e UTI. O tom branco, uma cor neutra como resultante da soma de todas as cores, pode intensificar a ação das outras. Já o Preto, por sua vez, tem um efeito isolante, o que pode evitar tanto os efeitos be- néficos quanto os negativos das outras cores (Góes, 2011: p. 202). O Cinza, como um tom neutro resultante da mistura entre branco e preto, tem o efeito calmante, mas o seu uso excessivo pode causar uma baixa estimulação visual, tornando o ambiente hospitalar mo- nótono (Rahmanian; Mahmoudi, 2020: pp. 64,65). A percepção das cores pelos globos oculares é influenciada pela luz. Sendo assim, o arquiteto deve ter consciência de que o pro- jeto luminotécnico também terá um impacto positivo sobre o estado físico e psicológico dos pacientes, sobretudo aqueles que estão. O profissional pode aplicá-la em diversos elementos, tais como reves- timentos, pisos, elementos decorativos e mobiliários, para atingir os objetivos desejados. Em alguns casos, a composição cromática apresenta mais de um tom, sendo necessário trabalhar com cores complementares e opostas. 100
  • 112. Como já mencionado, muitos EAS se preocupam em propor- cionar aos seus usuários ambientes que os auxiliem a se recuperar física e psicologicamente. Para isso, é necessário ter conhecimento das características da população que utilizará o espaço, para os profissionais poderem projetá-lo adequadamente. De acordo com o arquiteto Siegbert Zanettini, em seu livro Arquitetura, razão e sensibilidade (2002: p. 456), uma obra arqui- tetônica não só se adequa ao seu tempo, mas também trabalha conjuntamente com diversos elementos, sempre em consonância e dissonância com as obras de arte. Essa relação está presente nos EAS devido aos efeitos que esses elementos causam no psico- lógico dos pacientes. Estudos revelaram que pacientes internados em quartos de UTI com pinturas de paisagem, com árvores e água, relataram uma diminuição da ansiedade e da necessidade de me- dicamentos para aliviar dores. Em contrapartida, enfermos locados em quartos sem pinturas, sem outros estímulos visuais e/ou com pinturas abstratas, demonstraram uma piora nos seus estados psi- cológicos e um aumento na utilização de medicamentos (Pizzolato, 2014: p. 230). Essa diferença é explicada pela relação subconsciente que os pacientes apresentam em relação às representações de pai- sagens naturais. Mesmo que o paciente tenha acesso, apenas, a representação de elementos vegetativos, seu subconsciente traz o relaxamento causado pela imagem, semelhante ao que obteria se tivesse acesso aos jardins e à paisagem natural. Sendo assim, é possível incluir outros elementos naturais nos projetos de interiores, como quadros, painéis e pinturas decorativas (Figura 61). 2.3.4. Projetos de interiores e soluções decorativas 101
  • 113. Figura 61 Painéis deco- rativos com pinturas orgâ- nicas nos corredores do UCSF Cenioff Children’s Hospital, São Francisco. Fonte Blow up lab, 2023. Dessa forma, a humani- zação não está apenas presente nos elementos estruturais, mas também nos decorativos, tornan- do os diversos ambientes hospi- talares em ambientes estimulan- tes, interessantes e confortáveis. Sem esses elementos, o objetivo esperado da humanização espa- cial pode não ser alcançado de forma satisfatória. 2.3.5. Ergonomia e acessibilidade Aergonomia é uma disciplina científica que se dedica ao estu- do das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sis- temas, visando melhorar o bem-estar e seu desempenho (Abrahão et al., 2009: p. 18), não sendo possível identificar o momento em que começou a ser aplicada nos hospitais. Florentino Serranheira, António Uva e Paulo Sousa, em seu artigo Ergonomia hospitalar e segurança do doente: mais convergências que divergências (2010: p. 61), argumentam que, a partir da II Guerra Mundial, a ergonomia tornou-se uma prática comum em todos os tipos de edifícios, visan- do aprimorar a relação entre o ser humano ao ambiente de trabalho, prevenindo acidentes e doenças profissionais, ao mesmo tempo, em que se busca uma maior produtividade. 102
  • 114. Figura 62 À esquerda, esquema de bancada de trabalho com altura inadequada encontrada nos hospitais brasilei- ros. À direita, esquema de bancada de trabalho com altura adequada. Fonte: Alexandre, 1998: p. 105 103 Assim, esses espaços devem conter elementos tragam a sensação de bem-estar, segurança e limpeza (Góes, 2011: pp. 200,201), vinculando a ergonomia à humanização espacial e a aces- sibilidade. Segundo a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) 9050 de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, acessibilidade é definida com: Dado que os edifícios hospitalares apresentam um eleva- do nível de estresse, desde os serviços básicos de limpeza até as cirurgias de alta complexidade, é crucial que a ergonomia seja aplicada aos ambientes, abrangendo aspectos físicos, cognitivos, organizacionais e funcionais. É crucial que os arquitetos projetem adequadamente tanto as áreas de trabalho quanto os equipamen- tos e mobiliários instalados nos ambientes internos para atender às necessidades humanas, como indagado pela enfermeira Neusa Alexandre (1998: p. 104), que, ao analisar os hospitais brasileiros, constatou uma abundância de superfícies de trabalho com alturas inadequadas, muito abaixo do que seria considerado adequado e acessível. Estes devem ser construídos e/ou instalados conforme o tamanho do profissional e o tipo de trabalho a ser executado, com uma altura máxima de 5 a 10 centímetros abaixo da altura dos coto- velos dos funcionários (Figura 62).
  • 115. Figura 64 Medidas para superfícies acessíveis. Fonte: ABNT, 2020: p. 119 Figura 63 Dimensões, em metros, do módulo de referência (M.R.). Fonte: ABNT, 2020: p. 8. “[…] a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e auto- nomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, in- clusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade redu- zida” (ABNT, 2020: p. 2) Em outras palavras, um ambiente ou uma construção são acessíveis quando apresentam características que permitem que uma pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida usufrua dos espaços, dos equipamentos e dos mobiliários presentes. Para fins de projeto deve-se sempre considerar o módulo de referência (M.R.) para Pessoa em Cadeiras de Rodas (P.C.R.), com um tamanho de 0,80 m por 1,20 no piso (Figura 63). Isso se deve ao fato de que os hospitais apresentam uma tipologia que requer dimensionamentos específicos para facili- tar a locomoção de macas de cadeiras de rodas, utilizadas pelos pacientes ao longo de todo o pro- cesso de tratamento e recuperação. 104
  • 116. 105 2.3.6. Vegetação e jardinagem Como já mencionado, a vegetação pode auxiliar na recupe- ração do paciente, oferecendo benefícios psicológicos e estímulos sensoriais. De Asclépio e outros locais onde eram realizados os ri- tuais de cura até os dias atuais, alguns tipos de jardins são implan- tados devido à sua grande importância e contribuição histórica para a medicina e farmacologia. Além disso, os solários, espaços que permitem dos pacientes realizem seus “banhos de sol”, estão pre- sentes em hospitais de diferentes localidades e, em sua maioria, são cercados por árvores, arbustos e plantas típicas da região. Com o decorrer do tempo e tendo em vista que o hospital está inserido num espaço urbano de dimensões reduzidas, outras possibilidades de jardins foram criadas, mas sempre visando pro- porcionar ambientes estimulantes. Isso ocorre porque, nem sempre, é possível construir EAS em áreas com grandes massas de vegeta- ção. Ainda assim, a visualização de ambientes naturais pode con- tribuir para uma melhora significativa na recuperação dos pacien- tes, especialmente aqueles que estão acamados. Roger S. Ulrich, em sua obra View Through a Window May Influence Recovery from Surgery (1984), comprovou que os quartos que possuíam abertu- ras com visão dos acontecimentos ocorridos no exterior do edifício e para a vegetação ocasionavam uma diminuição da permanência do paciente no hospital, uma redução significativa na necessidade de aplicação de anestésicos fortes e uma melhora em seu estado psicológico. Dessa forma, a visão para o ambiente externo requer que sejam considerados alguns fatores que possam ter um impacto direto no projeto do edifício e no partido arquitetônico adotado pelo profissional, como o dimensionamento e disposição das aberturas, bem como as suas proximidades com o exterior. No que diz respeito à composição física dos jardins, é impor- tante considerar o fato de a natureza ser mutável, proporcionando
  • 117. Figura 65 Esboço de exemplificação de um es- paço exterior contíguo à zona de refeições. Fonte: Costa, 2009: p. 83. estímulos sensoriais variados ao longo do ano. Segundo Vasconce- los (2004: pp. 72,73), isso se deve ao fato de existirem elementos como luz, cor, som, aroma, textura e forma na paisagem natural, sem distinção de intensidade, quantidade ou qualidade. Sendo as- sim, é possível concluir que, dentre as ferramentas da Humaniza- ção, a vegetação é a que mais se destaca por, num espaço redu- zido, despertar os cinco sentidos humanos, potencializando-os e estimulando-os. Esses espaços não devem se limitar a atender exclusiva- mente aos pacientes, uma vez que os funcionários também podem usufruir deles em seus momentos de descanso, conforme apontado pelo Arqto. Zanettini em entrevista. Para tal, espaços ajardinados próximos a refeitórios ou cafeterias (Figura 65), como espaços com grande fluxo de pessoas, podem incentivar sua utilização por visi- tantes e funcionários, durante o almoço ou o descanso, e pacientes de ambulatório (Costa, 2009: p. 83). É crucial compreender que os jardins requerem diretrizes projetuais específicas para facilitar a aproximação com os seus usu- ários, de modo a evitar a monotonia, despertando a curiosidade e o interesse do observador, sem que a vegetação se transforme numa barreira visual para os eventos do entorno (Vasconcelos, 2004: p. 84). 106
  • 118. Figura 66 Desenho de exemplificação de se- paração de espaços (pacientes e funcioná- rios), tendo como ob- jetivo oferecer a priva- cidade para ambos os grupos de usuários. Fonte: Costa, 2009: p. 84. 107 É importante salientar que, com frequência, um problema enfrentado é a falta de privacidade, sobretudo em áreas ajardina- das com vistas amplas. Para lidar com essa questão, os arquitetos necessitam criar espaços multifuncionais amplos, com setorização que permita que pacientes e funcionários possam usufruir do espa- ço sem serem constantemente observados, para tal, a diferenciação dos níveis de solo e a implantação de diferentes mobiliários podem servir como elementos auxiliadores na setorização dos jardins, se- parando o utilizado exclusivamente pelos pacientes e acompanhan- tes do que é usado pelos funcionários (Figura 66). Estes espaços têm acessos conectados, o que facilita caso seja necessária alguma intervenção do profissional de saúde, mas, por serem segmentados, oferecem uma privacidade convidativa. (Costa, 2009: pp. 83, 84). Além disso, esses ambientes polivalentes devem sempre vir acom- panhados de um bom projeto luminotécnico. Embora muitas pessoas pensem que essas características e necessidades sejam comuns, para os arquitetos paisagistas, elas são extremamente relevantes porque interferem na elaboração de projetos, exigindo que sejam tomados os devidos cuidados, uma vez que, se mal projetados, os jardins podem se tornar locais des- confortáveis e desinteressantes. Para tal, é possível trabalhar com diferentes tipos de paisagens vegetais, tais como Jardins Externos, Terraços-Jardins, Jardins Terapêuticos e Jardins Internos, descritos a seguir.
  • 119. Figura 67 Imagem antes e depois da praça voltada para o sul. Fonte: Ben-Tor, 2018. 2.3.6.1. Jardins Externos O Jardim Externo é composto por áreas externas, ao nível do solo, grama-das ou não. Situado entre edifícios de um mesmo com- plexo hospitalar, oferece espaços para caminhadas, mobiliário para descanso e outros elementos que tornam este espaço um local de contemplação (Vasconcelos, 2004: p. 87). De acordo com o tama- nho do terreno onde as EAS serão implantadas, esse tipo de jardim também pode ser usado como praças públicas. Um exemplo de Jardim Externo está situado na cidade de Vanderbilt, Estados Unidos. O Centro Médico Universitário, constru- ído em 1980, apresentava um espaço externo entre os dois edifícios centrais, com grande impermeabilização e pouco sombreamento, o que o tornava um ambiente quente e desconfortável (Figura 67). Em 2018, o escritório de arquitetura Blair+Mui Down Architects apresen- tou um novo projeto paisagístico, composto por um novo desenho de piso, canteiros verdes com vegetação de médio porte, coberturas leves, mobiliário confortável e um projeto luminotécnico (Figura 68) (Ben-Tor, 2018). 108
  • 120. Figura 68 Adequação dos níveis de iluminação, implantação de novo mobiliário e ele- mentos vegetativos tornam a praça convidativa até mesmo durante o período noturno. Fonte: Ben-Tor, 2018. 109 Este exemplo foi escolhido para demonstrar o problema an- teriormente mencionado. Devido às suas características e à falta de qualidade espacial, este jardim era considerado apenas um local de passagem, se tornando um espaço de descanso e contemplação somente após sua reformulação, quando pacientes, acompanhan- tes e funcionários começaram a utilizá-lo com mais frequência. 2.3.6.2. Terraços-jardins Quando não é possível criar jardins externos, uma vez que o terreno de implantação tem dimensões reduzidas, os arquitetos pre- ferem projetar Terraços-Jardins, que podem ocupar toda a cobertura das edificações ou emoldurar as laterais dos edifícios, proporcio- nando um ponto de vista diferenciado para os usuários do espaço. Segundo Vasconcelos (2004: p. 92), este ambiente apresenta uma vegetação e mobiliário atraentes e confortáveis, além de permitir a escolha entre sol e sombra, privacidade e privacidade e integração, e acessibilidade e visibilidade para os usuários. Dentre diversos exemplos de terraços-jardins, o projeto de- senvolvido no Harrison Memorial Hospital (Figura 69), Estados Uni- dos, visa estimular os sentidos humanos. O terraço apresenta um
  • 121. Figura 69 Terraço jardim, Harrison Memorial Hospital, EUA. Fonte: Vasconcelos, 2004: p. 93. desenho de piso orgânico, composto por elementos com texturas variadas, combinados com vegetações arbustivas e floreiras (Vas- concelos, 2004: p. 93). 2.3.6.3. Jardins terapêuticos Também conhecido como Jardim de Ervas Medicinais ou Jardim Botânico, seus exemplares podem ser encontrados desde a Idade Média, com plantas que têm capacidade de curar, desper- tar e estimular os seus observadores, além de serem usadas como matéria-prima para cremes, medicamentos, chás e outros produtos farmacêuticos homeopáticos. De acordo com Vasconcelos (2004: p. 94), o seu princípio é ser um local tranquilo, suave e aconchegante. 110
  • 122. Figura 70 Jardim Bo- tânico da Universida- de de Pádua, Itália. Fonte: Thonson, 2019. 111 Um dos exemplos mais conhecidos é o Jardim Botânico da Universidade de Pádua, na Itália (Figura 70), cujo objetivo foi au- xiliar o desenvolvimento da medicina e farmacologia. Em sua obra The birthplace of modern medicine (2019), Rosi Thomson descreve a universidade, fundada em 1222, como o berço da medicina mo- derna. O jardim, construído em 1535, foi crucial para o progresso dos estudos realizados pelos estudantes, além de introduzir plantas novas à culinária italiana, como girassóis, batatas, gergelim e café. A psicóloga Claudia Azevedo também enfatiza a relevância do jardim terapêutico para os pacientes com transtornos psiquiá- tricos. Durante a implantação do Projeto Plantando Sonhos, que ocorreu na área externa do Hospital Jurandyr Manfredini, locali- zado na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, os pacientes não apenas permaneceram no espaço, como também realizavam a plantação e manutenção do jardim. Segundo a autora, a atividade proporcionava aos pacientes a oportunidade de sair do isolamento interno através da interação com o outro, o que resultava na melho- ria da autoestima, além de proporcionar ao hospital um ambiente com grande expressividade visual (Azevedo, 2002).
  • 123. 2.3.6.4. Jardins internos Por fim, alguns hospitais apresentam pequenos jardins em seu interior, nomeados como Jardins Internos ou Jardins de Inverno. Embora alguns arquitetos e pesquisadores apontem que a escolha paisagística está relacionada às limitações de espaço e de recursos financeiros, outros, como Vasconcelos (2004: p. 95), sustentam que esses jardins oferecem uma vista mais agradável para aque¬les que estão usando o espaço. Além disso, quando não estão protegidos por planos de vidros, a vegetação e as flores podem proporcionar estímulos visuais, olfativos e sonoros aos pacientes. Em contrapartida, alguns profissionais, principalmente da área de saúde, defendem que as plantas não devem ser instaladas em ambientes internos aos edifícios, por serem fontes de contami- nação ao permitir a entrada de insetos. Zanettini refuta essa argu- mentação ao afirmar que certos tipos de plantas e soluções projetu- ais podem ser benéficos, caso sejam tomados os devidos cuidados e seja realizada uma manutenção periódica. 2.3.7. Ruidos positivos A situação hospitalar é bastante controversa, uma vez que requer condi-ções especiais de conforto acústico, com níveis de ru- ído que atendem às recomendações técnicas, enquanto apresen- ta diversas fontes com sonoridades altas. Florence Nightingale já afirmava que “o ruído desnecessário é a mais cruel ausência de cuidado” (Anvisa, 2014: p. 48), uma vez que o som pode ajudar ou prejudicar a recuperação dos pacientes, além de tornar o ambiente de trabalho desagradável para os funcionários. O som é considerado “indesejável” quando não contribui para a privacidade dos pacientes nem auxilia na comunicação entre es- tes e os médicos (Pizzolato, 20104: p. 201). Dessa forma, conside- rando que a tolerância ao ruído diminui consideravelmente durante 112
  • 124. Quadro 7 Valores em decibéis considerados confortável para o ser humano. Fonte: Góes, 2011: p. 200. 113 todo o período em que o ser humano está doente, a exigência do silêncio nos hospitais é considerada uma das mais antigas tradições no cuidado ao doente a ser seguida (Anvisa, 2014: p. 50). Segundo a OMS, o limite de ruído de fundo permitido é de 35 dB (decibéis) durante o dia e 30 dB à noite, não podendo haver picos de som maiores que 40 dB (Quadro 7) (Pizzolato, 2014: pp. 201). No entanto, os valores encontrados em ambientes hospitala- res são exorbitantemente maiores, podendo atingir valores entre 65 e 85 dB. Homem e conforto acústico Atividade Nível de ruído, em dB Observação Farfalhar de folhas 10 Somente audível Sussurro 15 - Enfermaria à noite 25 - Enfermaria no dia 30 Silencioso Biblioteca pública (níveis acei- táveis para usuá-rios ou pa- cientes) 40 Silencioso Áreas de hospitais em geral 45 Silencioso Escritórios 55 Silencioso Unidade de ar-condicionado 60 Silencioso Conversação normal a 1 m 65 Silencioso Máquina de lavar doméstica 80 Barulhento Choro de bebê 85 Muito barulhento Motociclista a 8 m 90 Níveis de riscos para o ser humano Jato a 200 m 103 Níveis com riscos para o ser humano Banda de rock 114 Níveis de riscos para o ser humano Banda de heavy metal 120 Níveis de riscos para o ser humano Testes de turbina (local de) 140 Dor física Testes de turbinas (local de) 150 A pele queima Lançamento de foguetes 200 Exposição prolongada pode matar
  • 125. Quadro 8 Valores mínimos e máximos aferidos no ambiente hospitalar em diferentes locais (dB-NPS).. Fonte Costa; Lacerda; Marques, 2013: p. 644. Gisele Costa, Adriana Lacerda e Jair Marques (2013: p. 644) coletaram os valores mínimos e máximos de diversos ambientes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, localiza- do em Curitiba. (Quadro 8). De acordo com seus registros, o nível de ruído nos corredores é, aproximadamente, de 52,5 dB a 82 dB, enquanto nos postos de enfermagem é de 51 dB a 85 dB. Dessa forma, observou-se a preocupação com o impacto do ruído nos profissionais de saúde, sobretudo aqueles que trabalham por períodos prolongados. Como aponta Costa, Lacerda e Marques (2013: pp. 649,650), a exposição prolongada a altos níveis de ruí- do pode causar danos tanto físicos quanto psicológicos, tais como: irritabilidade, enxaqueca, diminuição da capacidade de concentra- ção, zumbidos no ouvido, perda auditiva e redução da qualidade do sono. Como é possível notar, os pacientes têm uma menor tolerân- cia ao ruído em comparação com os funcionários dos hospitais, o que se deve ao desequilíbrio físico e mental que estão enfrentando. Conforme o artigo Ruído e seus impactos nos hospitais brasileiros: uma revisão de literatura (2016: p. 310), de Walderes Aparecida Filius et al., esses fatores, além dos já citados, podem aumentar a ansiedade e a sensação dolorosa e prolongar o tempo de con- valescença. Vasconcelos (2004: p. 55) complementa a listagem de sintomas, incluindo: o aumento da pressão arterial, o surgimento de doenças cardiovasculares e úlceras, a diminuição da percepção visual, e a diminuição da capacidade de aprendizagem. 114
  • 126. 115 Além disso, foi constatado que a diferença de faixa etária en- tre os pacientes resulta em respostas distintas quando expostos a estímulos sonoros. Os idosos, por exemplo, sofrem de insônia e desorientação, enquanto os bebês, quando expostos a ambientes barulhentos, tornamse letárgicos, apresentando dificuldade para se expressar e para desenvolver atividades (Vasconcelos, 2004: p. 55). Os bebês prematuros, por sua vez, por apresentarem sistemas au- ditivos imaturos, podem sofrer lesões irreversíveis e, consequente- mente, perder a audição devido ao alto nível de ruído (Filius et al., 2016: p. 310). É importante salientar que a poluição sonora também pode ser causada por fontes externas ao hospital, uma vez que muitos se encontrarem implantados próximos a usos causadores de ruídos, como aeroportos, indústrias, oficinas e estádios esportivos. A situa- ção caótica da urbanização brasileira, com dimensões reduzidas de terreno, muitas vezes impede que os arquitetos apliquem soluções paisagísticas como barreiras acústicas, o que faz com que busquem, nos elementos construtivos e no desenvolvimento tecnológico, for- mas de contornar a situação, aplicando materiais com menor tempo de reverberação nos revestimentos e forros, além da instalação de janelas acústicas antirruídos. Dentre as fontes internas de ruídos, os equipamentos com alarmes sonoros são os que mais causam transtornos e irritações em pacientes, por diversos motivos. É inconcebível desativá-los, uma vez que são fundamentais para alertar médicos e enfermeiros sobre alterações nas condições clínicas dos pacientes ou proble- mas no seu funcionamento, tornando espaços como as UTIs, que deveriam ser silenciosos e tranquilos, em ambientes ruidosos e es- tressantes (Filius, et al., 2016: pp. 307,310). ‘Algumas das estratégias para diminuir os níveis de ruído es- tão relacionadas à arquitetura, tais como: a substituição dos alar- mes acústicos por visuais, requerendo do arquiteto uma adaptação do projeto arquitetônico para a locação das sinalizações, uma vez que essas não podem ser bloqueadas por outros elementos; e a aplicação dos chamados “ruídos positivos”, que podem variar des-
  • 127. de sons naturais até música, ocasionando uma interdisciplinaridade entre a arquitetura, as artes e a medicina. Louise Campos e Maria Nakasu (2016: p. 11) destacam os efeitos biológicos da música no ser humano, dentre eles: o aumento ou diminuição da energia muscular, a aceleração da respiração ou a alteração da sua regularidade, além da produção de mudanças na pressão sanguínea, na função endócrina, no metabolismo e na biossíntese de diversos processos enzimáticos. No artigo Música no ambiente hospitalar: uma possibilidade de proporcionar alegria e ludicidade na internação (2018: p. 210), Guilherme Silva e Julia- ne Piovesan apresentam a tese de que a música atua diretamente no sistema cerebral, mais especificamente, no sistema límbico, au- mentando a liberação de endorfinas e auxiliando na prevenção de doenças como estresse, depressão e ansiedade. A aplicação da música nos ambientes hospitalares pode ocor- rer de diver-sas maneiras, como a transmissão de caixas de som, a instalação de instrumentos nos hospitais, a oferta de espaços para o ensino de música aos pacientes e a apresentação musical em audi- tórios. O Arqto. Zanettini, um dos principais defensores da presença da música nos ambientes hospitalares, teve a sua primeira experi- ência no Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, projeto original de Oscar Niemeyer, onde instalou um piano, utilizado até hoje por pacientes, funcionários e público em geral. 2.3.8. Espaços lúdicos Ao contrário das outras ferramentas da humanização, a apli- cação da ludi-cidade de um espaço é um processo subjetivo, mas que apresenta a mesma proposta de promover ambientes que au- xiliem no fortalecimento do estado emocional do paciente, especial- mente no que diz respeito à reclusão hospitalar. Cleide Izidoro e Mil- ton Sogabe, em seu artigo Design e o lúdico no ambiente hospitalar (2021: p. 18), corroboram essa argumentação ao enfatizarem que a ludicidade está presente desde a aplicação das demais ferramentas da humanização espacial até a determinação do uso dos espaços, 116
  • 128. 117 uma vez que muitos deles representam o dia a dia do paciente, fa- vorecendo a socialização e a interação interpessoal. Já é de conhecimento público que certos espaços lúdicos são de suma importância para os pacientes, como as brinquedote- cas, os restaurantes, as cafeterias e as capelas. Contudo, outros, como lojas, galerias de arte e serviços bancários, ainda apresentam controvérsias quanto à sua implantação. Isso se deve ao fato de que muitos profissionais, sejam arquitetos ou administradores, buscam transformar o hall de entrada ou o pavimento térreo em uma réplica de uma pequena cidade, perdendo o controle sobre o que realmente beneficia o paciente. Contudo, outros especialistas defendem ser preciso realizar um estudo de uso e ocupação para determinar quais espaços lúdicos são adequados às EAS, como enfatizado pelo ar- quiteto Zanettini, em entrevista. Assim, tratar dos espaços lúdicos é extremamente importante, po- rém requerem que o arquiteto faça uma análise a respeito dos espa- ços que serão im-plantados, para que estes coadunam com a com- plexidade do projeto, não apresentando usos equivocados, além de aplicar as demais ferramentas da humanização espacial para que eles se tornem confortáveis e complementares ao processo de cura do paciente. 2.4 Exemplos da aplicação de humaniza- ção em edifícios hospitalares O presente tópico analisa a aplicação da humanização espa- cial e construtiva em hospitais, construídos em décadas distintas. A escolha desses projetos para análise se deu pelo fato de seus autores serem extremamente relevantes para o desenvolvimento da arquitetura hospitalar e pela grande preocupação com a qualidade do ambiente construído, sobretudo para o conforto dos pacientes.
  • 129. Figura 71 Entrada do Sanatório Paimio. Fonte: Alvar Aalto Foundation, 2023. 2.4.1 Sanatório de Paimio, Finlândia Inaugurado em 1933, o Sanatório de Paimio (Figura 71) foi projetado por Alvar Aalto e construído a cerca de três quilômetros da cidade de Paimio, Fin-lândia. A escolha do local de implantação foi motivada pelas condições ambientais finlandesas, que, além de serem relevantes para a recuperação dos pacientes, influenciaram também os aspectos arquitetônicos e construtivos do edifício. Catherine E. Velez, em sua pesquisa intitulada La pausa y el silencio: Arquitecturas para el aislamiento (2023: p. 32), afirma que Alvar Aalto sempre desenvolveu a sua arquitetura em conjunto com a paisagem natural do local de implantação, a incorporando em seu projeto, seja visual ou fisicamente. O arquiteto buscou, nes- te projeto, manter a paisagem natural preservada, considerando-a como um dos pilares da humanização espacial. Ao mesmo tempo, alterou o caráter do hospital, tornando-o visualmente interessante e acolhedor, ao combinar o branco dos revestimentos externos com o colorido das escadas e dos toldos. Aalto também alterou o acesso ao pátio de entrada do Sa- natório, dando um aspecto cinematográfico ao trajeto, como pode 118
  • 130. Figura 72 Planta geral do sanatório Fonte: Moretti, 1935: p. 157 Legenda: A) Pavilhão hospita- lar; B) Pavilhão das reu- niões; C) Serviços; D) Central térmico; E- F) Acomodações dos médicos e de- mais funcionários. 119 ser observado no depoimento de Catherine Velez. Segundo suas palavras: “O Sanatório de Tuberculose de Paimio é acessado de carro por uma estrada que atravessa uma densa floresta de pinheiros proeminentes e bétulas com tron- cos esguios e eretos. No meio desta paisagem natural, encontra-se o edifício com a sua natureza manipulada pelo homem. À medida que o visitante se aproxima do edifício, a densidade do bosque diminui e culmina numa clareira que forma o pátio de entrada” (Venez, 2023: p. 44 – tradução própria). O hospital é comporto por um conjunto de blocos interligados por corredores (Figura 72), sendo o Bloco A o principal deles, com quar- tos compartilhados voltados para o sul-sudeste, solário e enferma- rias. No Bloco B, encontram-se os consultórios médicos, as salas de reuniões e todo o apoio administrativo do sanatório. O Bloco C, composto por dois pavimentos, abriga os serviços gerais, o refeitório e a sala de repouso. Os geradores e outros equipamentos necessá- rios para o funcionamento adequado do hospital estão localizados nos outros blocos, bem como as acomodações dos funcionários, construídas no entorno do sanatório.
  • 131. Figura 73 Entrada do Sanatório de Paimio. Fonte: Fabrice Fou- illet, 2023. Disponí- vel no site: <https:// divisare.com/projects/ 386217-alvar-aalto-fa- brice-fouillet-paimio-sa- natorium> Acesso em julho de 2023. O acesso principal do hospital, situado entre os Blocos A e B, é marcado por uma marquise com desenho orgânico, semelhante ao desenho de piso, que se diferencia do restante da ortogonalidade do edifício. Esse elemento, também presente em outros projetos do arquiteto, não se difere visualmente do hospital, por ser da mesma tonalidade branca do revestimento externo (Figura 73). A entrada do hospital é caracterizada por uma antecâmara, cujo objetivo é prevenir a contaminação cruzada causada pelo ar ex- terno. Esta dá acesso ao saguão de recepção, com uma modulação de pilares que organiza o espaço interno (Figura 74), criando uma área de espera e descanso composto por poltronas e uma grande sapateira em formato de “H’ no centro do ambiente (Moretti, 1935: p. 156). Dado que o edifício apresenta paredes isolantes constituídas por uma camada de tijolos revestidos com placas de Insulite, o sa- natório possui também um sistema de aquecimento central que atua em conjunto com o aquecimento por piso radiante e com o sistema de calefação, como é possível visualizar na figura 75. Ao analisar o projeto é possível perceber como humaniza- ção espacial é aplicada em diversos elementos. Para aproximar os pacientes da natureza, o arquiteto instalou grandes aberturas para permitir a visualização da paisagem natural e a entrada de luz na- tural para dentro do edifício. Em algumas das aberturas, é aplicado um material translúcido na parte inferior para aumentar a privacida- de (Figura 75). Além do contato visual, as plantas foram posiciona- das nos ambientes internos, especialmente nas salas de espera, e 120
  • 132. Figura 74 Planta Baixa do Sanatório Paimio, sem escala. Fonte: Moretti, 1935: p. 158 Legenda: BLOCO A: 1. Central de enfermagem 2. Enfermarias 3. Serviço diurno 4. Distribuição de roupa de cama 5. Guarda-roupa 6. Análise 7. Banheiros 8. Salas de cura BLOCO B: 9. Vestíbulo 10. Vestiário 11. Central telefônica 12. Sala de espera 13. Sala da direção 14. Consultório médico 15. Sala de tratamento 16. Centro cirúrgico 17. Sala de helioterapia 18. Laboratórios, farmácia etc. BLOCO C: 19. Chegada de material 20. Distribuição 21. Freezer 22. Cafeteria Figura 75 Foto interna da sala de espera na recepção, com o sistema de calefação por trás das poltronas. Fonte: Fabrice Fouillet, 2023. 119
  • 133. Figura 76 A direita, po- sicionamento dos vasos junto as poltronas na re- cepção. A esquerda, re- gistro atual dos jardins de inverno. Fonte: Venez, 2023: pp. 75,113 Figura 77 Escada principal. Fonte: Fabrice Fouillet, 2023. nos jardins internos, cercados por planos de vidro para não interferir na percepção do espaço (Figura 76). Outro aspecto que demonstra a aplicação da humanização no projeto é o uso de diferentes tonalidades de cor, onde o arquiteto optou por trabalhar com duas paletas de cores diferentes, mas que se complementam. A primeira paleta, com cores intensas, revela, so- bretudo, os elementos arquitetônicos e construtivos, como pode ser observado: pelo tom amarelo da escada principal e pelo tom azulado que marca a localização do corrimão central (Figura 77); pelo piso marrom-claro e pelo tom azulado das paredes do corredor (Figura 78); pelos tons azulados dos quartos (Figura 79); pelos toldos alaranjados (Figura 80) e esverdeados (Figura 81); e pelo tom avermelhado do mobiliário (Figura 81). 122
  • 134. Figura 79 Quartos de internação. Fonte: Fabrice Fouillet, 2023. Figura 78 Corredor do andar das enfermarias. Fonte: Fabrice Fouillet, 2023 Figura 81 Refeitório. Fonte: Fabrice Fouillet, 2023. Figura 80 Toldos alaranjados. Fonte: Fabrice Fouillet, 2023. 121
  • 135. Figura 83 Quarto dos pacientes. Foto tirada em 1933. Fonte: Aalto, 2023. Figura 82 Posicionamento do corpo nos mobiliários de Aalto. Fonte: Venez, 2023: p. 112 A segunda paleta de cores é composta por tons neutros e terrosos, pre-sentes principalmente no mobiliário do hospital, dife- renciando as texturas dos materiais. Todos eram produzidos em fábrica, apesar de alguns serem desenvolvidos por Aalto como a cadeira Paimio, que, posteriormente, se tornou um ícone de design internacional (Figura 82). De acordo com a descrição do escritório de Alvar Aalto, “a mobília dos quartos dos pacientes era composta por aço tubular” (Aalto, 2023), como pode ser observado pela estrutura das camas e dos apoiadores de toalhas (Figura 83). Além desses mobiliários, o arquiteto também se preocupou com a constante troca de ar in- terna, onde o ar fresco adentra o ambiente através do vão existente entre duas grandes ja- nelas de madeira com armação metálica (Fi- gura 84) (Moretti, 1935: p. 156). 124
  • 136. Figura 84 Planta esquemática dos quar- tos. Fonte: Moretti, 1935: p. 159 Legenda: 1. Persiana 2. Vão para ventilação 3. Pilar de concreto 4. Bancada de madeira 5. Leito 6. Mesa de cabeceira 7. Guarda-roupa 8. Parede fixa 9. Cuspideira 10. Pia 11. Shafts para passagem de ar 12. Pilar 13. Canal de canalização O sanatório apresenta dois espaços para banhos de sol, ne- cessários para o tratamento dos pacientes com tuberculose. O pri- meiro, localiza-se no primeiro pavimento do Bloco B (Figura 85), permitindo que os pacientes usufruem da luz solar mesmo quando o tempo e o clima não favorecem a prática de atividades ao ar livre. Esse solário, diretamente ligado ao refeitório (Figura 86), é caracte- rizado pelas grandes aberturas, do chão ao teto, que permitem uma vista panorâmica para o bosque. O segundo ocupa uma parte da cobertura do edifício, sendo abrigado por uma laje de concreto com desenho orgânico, permitindo que os pacientes tenham uma visão privilegiada da vegetação e do entorno do sanatório, aproveitando o ar natural nos dias mais quentes (Figura 87). 125
  • 137. Figura 85 Planta do primeiro andar do Sanatório Paimio. Fonte: Moretti, 1935: p. 158. Legenda: 1. Sala de jantar 2. Curas solares. 3. Sala de reunião 4. Entrada e escritório. 5. Cozinha. 6. Refeitório dos funcionários. 7. Direção Figura 86 Esquema da sala de repouso. Fonte: Venez, 2023: p. 110 Figura 87 Terraço na cobertura. Foto tirada em 1933. Fonte: Aalto, 2023. 126
  • 138. Figura 88 Planta Baixa do Pavimento Térreo do Atrium do Hospital Albert Einstein. Fonte: Zanettini, 2002: p. 395. 2.4.2 Atrium Hospital Albert Einstein, São Paulo / Brasil Em 1999, o escritório Zanettini Arquitetura foi contratado para realizar a reforma do Atrium do Hospital Albert Einstein, construído da capital paulista. De acordo com o Arqto. Zanettini, durante en- trevista, o hospital era uma “cidade edificada”, com diversos espa- ços lúdicos, como farmácias, restaurantes e lojas, que, por estarem localizados principalmente no térreo do edifício, davam um ar de praça de alimentação de shopping center ao Atrium, sem uma or- ganização funcional adequada, o que tornava o ambiente bastante caótico. Dessa forma, o arquiteto promoveu uma nova setorização espacial, tornando-o em um grande saguão principal, que não ape- nas abriga um restaurante e uma lanchonete, como também uma área de acesso e permanência (Figura 88). Essa solução empre- gada por Zanettini marca o raciocínio de que é necessário realizar uma análise a respeito de quais espaços lúdicos serão implantados 127
  • 139. Figura 89 Foto externa do Atrium - acesso ao edifício. Fonte: Zanettini, 2002: p. 392 nos edifícios, seja por necessidade ou vontade do cliente, para que estes estejam de acordo com a complexidade do projeto, não apre- sentando usos equivocados nem exageros. Esse espaço é marcado por uma grande marquise composta por elementos tubulares e com fechamento por um plano de vidro (Figura 89). De acordo com Rutman (2011: p. 88), essa marquise foi resolvida por meio de uma geometria espacial composta por dois arcos que se cruzam, sendo um côncavo e outro convexo. Além disso, seu prolongamento em grande balanço, apoiado por tirantes, protege os acessos, organizando o fluxo de pedestres e veículos. O plano de vidro laminado foi fixado em molduras de alumínio, cobrin- do a marquise e fechando o espaço do Atrium ao mesmo tempo em que apresenta uma parte descoberta devido a uma grande árvore, o que, possibilitou uma grande área de sombreamento no interior do ambiente. A solução estrutural adotada para a cobertura do Atrium tam- bém permite uma visão ampla dos acontecimentos externos, permi- tindo uma maior amplitude visual ao observador. Nas extremidades dessa estrutura, duas áreas externas ajardinadas apresentam ele- mentos de natureza variada, como bancos de pedras, fontes d’água e vegetação arbustiva e de forração (Figura 90). Além disso, a ve- 128
  • 140. Figura 90 Foto da praça lateral. Fonte: Zanettini, 2002: p. 392 Figura 91 Foto do acesso de entrada. Fonte: Zanettini, 2002: p. 393 getação também pode ser encontrada no interior dos espaços, dis- postas em vasos (Figura 91), o que a aproxima tanto física quanto visualmente do paciente. No que diz respeito ao mobiliário e ao projeto de interiores de hotelaria hospitalar do hospital, o Atrium não se difere dessa carac- terização, principalmente nas áreas de espera e na área de mesas, localizada próximas à cafeteria (Figura 92). Como não há obstáculos físicos, mas sim visuais, o fluxo não é interrompido, tornando o am- biente mais acessível apara os pacientes, acompanhantes e funcio- nários. 129
  • 141. Figura 92 Fotos dos espaços internos do Atrium do Hospital Israelita Albert Einstein, projeto do Arqto. Siegbert Zanettini. A direita, sala de estar. A esquerda, área de mesas e cafeteria. Fonte: Zanettini, 2002: pp. 393,395. Zanettini trabalha com uma paleta de cores complementares, com tons mais claros e neutros nos elementos construtivos, como nos metálicos da cobertura, no revestimento e nos pisos, e cores vi- brantes nos móveis e objetos decorativos. Essa diferenciação acen- tua as diferentes texturas dos presentes, ao mesmo tempo em que torna os ambientes mais aconchegantes e acolhedores. 2.4.3 Hospitais da Rede Sarah, Brasília / Brasil Em Brasília, há duas unidades da Rede SARAH que atendem adultos e crianças, em diferentes estágios de tratamento, projeta- das pelo arquiteto João Filgueira Lima, Lelé. A primeira unidade é o Hospital do Aparelho Locomotor, de 1980, e a segunda é o Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação, também conhecido como Rede SARAH Lago Norte, inaugurado em 2003. Embora este- jam localizadas em áreas com características urbanísticas distintas, essas unidades estão interligadas por uma rede de vias e uma linha de ônibus exclusiva para os hospitais da Rede Sarah. O Hospital do Aparelho Locomotor (Figura 93), também co- nhecido como Sarah Centro, foi concebido para servir como um cen- 130
  • 142. Figura 93 Vista aérea evidenciando o Hospital do Aparelho Locomotor, localizado próximo ao auditório e conectado ao Bloco de ensino por uma passarela. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 87 tro de referência de um subsistema de saúde no campo do aparelho locomotor. Ele está situado entre o Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek (Sarinha), projetado pelo arquiteto Glauco Campello em 1960, e o Hospital de Base de Brasília, totalizando 60.000 m² de área construída, dos quais cerca de 10.000 m² foram destinados ao bloco de treinamento e ao ensino (Lima (Lelé), 2012: pp. 90, 103). Este novo bloco se conecta ao hospital por uma grande passarela metálica revestida com policarbonato transparente. Para o desenvolvimento do projeto deste hospital, foram ela- borados novos conceitos, sendo o mais relevante a alteração do conceito tradicional de leito para o de “cama-maca”, o que permitiu aos pacientes uma grande mobilidade, uma vez que, à medida que se deslocavam para todos os setores de diagnóstico e tratamento, a estrutura física do hospital se alterava (Lima (Lelé), 2012: p. 89). Dessa forma, de acordo com Toledo (2020: p. 166), o atendimento médico e de enfermagem foi sendo influenciado simultaneamente. As camas-macas foram implantadas em todas as unidades desta rede de hospitais e tiveram seu desenvolvimento realizado por um grupo de diferentes profissionais, dentre eles o designer 131
  • 143. Figura 94 Cama-maca desenvolvida pelo de- signer Alex Chacon. Fonte: Lima (Lelé),2012: p. 89 Figura 95 Fachada for- mada pelas vigas Vie- rendeel, marcando a lo- calização dos terraços. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 92 Alex Chacon, que introduziu o qua- dro balcânico em arco ao corpo da cama (Figura 94). A utilização desse mobiliário trouxe diversas vantagens, tais como: aprimorar a prevenção de infecções cruzadas, uma vez que a cama-maca acompanha o paciente toda a sua permanência no hospital; facilitar a aplicação da filosofia de “cuidados progressivos”, onde o en- fermo seria transferido gradualmente para ambientes com carac- terísticas físicas e disponibilidades técnicas adequadas para cada estágio de evolução de seu quadro clínico; possibilitar autonomia ao paciente; e eliminar a transferência entre leito-maca ou vice-versa, muito dolorosa ou desconfortável para, principalmente, os pacientes imobilizados (Lima (Lelé), 2012: pp. 89, 90). Devido ao tamanho reduzido de terreno, o arquiteto optou por um projeto bastante reduzido, com uma construção composta por elementos pré-moldados em concreto e argamassa armada, confor- me o módulo construtivo de 1,10 m x 1,10 m (Lima (Lelé), 2012: p. 96). Dentre esses elementos, destacam-se os sheds de argamassa armada e os pilares, vigas duplas e vigas Vierendeel, em concreto armado. As vigas Vierendeel foram utilizadas como fechamento dos setores de internação, dispostos em pavimentos alternados (Figu- ra 95), tendo uma largura de 3,30 m e uma altura total de 3,50 m, o que corresponde ao pé-direito do pavimento, delimitando grandes terraços ajardinados que recebem a luz solar e se integram às en- fermarias. Sendo justapostas no montante, as vigas apresentam 132
  • 144. Figura 96 Corte es- quemático dos terra- ços ajardinados com identificação das torres de circulação vertical e sanitários. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 82 Figura 97 Nichos exis- tentes entre as vigas duplas e os pilares para a passagem das insta- lações prediais. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 99 um comprimento de 20 metros entre eixos de sustentação e 10 me- tros em balanço. As paredes de concreto dos conjuntos de instala- ções sanitárias e das torres de circulação vertical, com elevadores e escadas, são fundidas no local por um sistema de protensão, que serve como elemento de sustentação para as vigas Vierendeel (Fi- gura 96), sistema esse muito utilizado em pontes com balanços su- cessíveis (Lima (Lelé), 2012: p. 90, 92, 96, 97). De modo a não interferir visualmente nos ambientes, Lelé op- tou por instalar todas as instalações elétricas, telefônicas e de sono- rização nos eletrodutos que ficam entre as vigas. Já as instalações de água, esgoto e drenagem correm horizontalmente ao vigamento do piso ou entre as vigas duplas, e verticalmente entre os pilares du- plos, com fechamento em placas metálicas (Figura 97) (Lima (Lelé), 2012: p. 99). 133
  • 145. Figura 98 Planta esquemática de situação. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 96 Figura 99 Passarela de ligação entre o hospital com o prédio de ensino. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 101 Legenda: 1. Prédio de ensino; 2. Auditório; 3. Ampliação dos labora- tórios; 4. Ampliação do setor de imagem; 5. Escola de paralisia ce- rebral; 6. Sarinha; 7. Hospital do Aparelho Locomotor; 8. Ampliação do refeitório dos funcionários; 9. Passarela. Como já mencionado, este hospital, ao longo de sua existên- cia, tornou-se um laboratório para aperfeiçoamento de técnicas de tratamento em ortopedia e reabilitação. Dessa forma, foram acres- centados novos espaços físicos à setorização espacial programada, sempre mantendo a integridade da concepção original (Figura 98). As intervenções mais relevantes foram a criação de espaços para o treinamento dos funcionários, onde o antigo prédio de escritório, situado ao lado da via de acesso ao hospital, foi totalmente reforma- do, tendo dependências para ensino, como salas de aulas e biblio- teca. Para conectar este edifício ao hospital, Lelé projetou uma pas- sarela metálica, revestida com placas de policarbonato transparente (Figura 99) (Lima (Lelé), 2012: pp. 100,101). 134
  • 146. Figura 100 Jardim interno. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 93 Figura 101 Terraço-jar- dim das enfermarias. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 93 No que diz respeito à humanização espacial, o paisagismo se tornou um elemento extremamente significativo, tanto para o con- forto dos usuários quanto para a qualidade térmica dos ambientes. A arquiteta Alda Rabello Cunha foi a responsável por todo o proje- to paisagístico do hospital, realizando principalmente um trabalho quanto à escolha do tipo de vegetação para os diferentes ambientes ajardinados presentes. Os jardins internos (Figura 100), situados nas áreas de espera e nas salas, oferecem ao usuário acesso a es- tímulos visuais, olfativos e sonoros. Durante a visita ao hospital, foi possível ouvir o cantar dos pássaros próximos às aberturas zenitais, que eram transpassadas pela vegetação. Nos andares de internação, os terraços ajardinados e solá- rios (Figura 101) apresentam uma lógica ortogonal, permitindo que os pacientes internados usem esses espaços como locais de so- cialização. Como os pavimentos são construídos alternadamente, os terraços apresentam um pé-direito duplo, proporcionando uma amplitude que, juntamente com a vista para a cidade, diminui a sen- sação de isolamento e confina- mento dos pacientes. Ademais, Lelé afirma que esses terraços também apresentam outra fun- ção, sendo: 135
  • 147. Figura 102 Vista aérea do auditório. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 102 “Cumpre-se assim a função fundamental de ameni- zar os espaços das enfer-marias. […] o deslocamento rotineiro dos pacientes para esses terraços, desocu- pando integralmente as enfermarias, possibilita que estas sejam limpas e desinfetadas com o rigor dese- jável” (Lima (Lelé), 2012: p. 92,93.) Lelé também incluiu espaços para lazer, incluindo um novo auditório (Figura 102), inaugurado em 1998. Há dois níveis de aces- so: um na cota -3,75 m – que corresponde ao pavimento dos labo- ratórios, setor de imagem, centro cirúrgico e outros – e outro na cota -7,50 m – destinada aos serviços gerais (Figura 103). Este auditó- rio tem uma capacidade de trezentos lugares na parte central da plateia, além de duas amplas áreas laterais para acomodar cerca de oitenta pacientes em cadeiras de rodas ou camas-maca (Figura 104). Esse auditório conta também com um palco polivalente, proje- tado para abrigar conferências, apresentações musicais e teatrais. O foyer do auditório, situado no nível técnico do hospital, apresenta um fechamento em estrutura metálica que auxilia no controle da qualidade da iluminação interna e proporciona um controle térmico mais eficiente (Lima (Lelé), 2012: pp. 101-103). A solução espacial desenvolvida para o auditório também foi aplicada em outros pro- jetos do arquiteto, como Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação. 136
  • 148. Figura 103 Planta do nível -3,75 do auditório. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 105 Figura 104 Corte esquemático do auditório. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 103 Legenda: 1. Foyer 2. Jardim 3. Cabine de projeções 4. Plateia 5. Plateia para camas-macas e cadeiras de rodas 6. Palco 7. Ligação com o hospital. 137
  • 149. Figura 105 Planta esque- mática do conjunto. Fonte: Lima (Lelé), 2012: pp. 214. Legenda: 1. Esportes náuticos; 2. Internação; 3. Serviços gerais; 4. Residência; 5. Auditório; 6. Centro de estudos; 7. Apoio ao lesado cerebral; 8. Apoio ao anfiteatro. Como o terreno do Sarah Centro tem dimensões restritas, não tendo áreas verdes próximas para o desenvolvimento de tera- pias de reabilitação ao ar livre, o Centro Internacional de Neuroci- ências e Reabilitação foi construído em uma área ampla à beira do lago, oferecendo espaços para o atendimento e tratamento dos pa- cientes, bem como uma estrutura para a pesquisa e o treinamento dos profissionais da área (Figura 105). Para permitir a acomodação de todas as construções e espaços em um terreno com uma queda de 20 metros, foram construídos platôs interligados por taludes ajar- dinados e rampas suaves para pedestres (Figura 106) (Lima (Lelé), 2012: pp. 212-215.). 138
  • 150. Figura 106 Corte esquemático do conjunto. Fonte: Lima (Lelé), 2012: p. 215. Legenda: 1. Galpão para esportes náuticos (cota 0,80 m); 2. Ambulatório, hidroterapia, laboratório para produção de equipamentos, internação, administração, vestiários e serviços gerais (cota 4,60 m); 3. Reabilitação infantil (cota 10,70 m); 4. Centro de estudos, auditório, residência e centro de habilidades (cota 18,20 m). Figura 107 Corte esquemático do sistema de ventilação e ilumina- ção do ginásio do Hospital Sarah Brasília Lago Norte e foto interna do ginásio de fisioterapia. Fonte: Lima (Lelé), 2012: pp .217, 218. Dentre os diversos arquitetos que aplicam soluções para a renovação de ar em hospitais, Lelé se destaca pelo constante de- senvolvimento e instalações dos sheds. Diferente dos presentes no Sarah Centro, o sistema do Hospital Sarah Lago Norte (Figura 107) foi construído com materiais metálicos, o que lhes permitiu uma maior capacidade de dimensionamento e uma solução mais eficien- te no controle das aberturas. Contudo, existem áreas que requerem ar-condicionado devido às suas especificidades, como centro cirúr- gico, apoio ao diagnóstico por imagem e unidades de terapia inten- siva. 139
  • 151. Figura 108 Painel divisório vazado, em madeira laqueada brilhante com acabamento acetinado nas cores laranja, ocre e vinho. Fonte: IPHAN, 2018: p. 95. A fim de assegurar uma maior ambiência em seus projetos, Lelé contou com a colaboração do artista plástico Athos Bulcão para criar elementos decorativos e soluções construtivas para a execu- ção do edifício (Lelé), 2012: p. 94). Essas reafirmam a necessida- de constante de Lelé pela qualidade do espaço construído, onde os formatos geométricos são caracterizados pelo uso de diferentes materiais – painéis de madeira, azulejos, elementos em argamassa armada, dentre outros – somados à aplicação de cores, que, em alguns ambientes, apresentam tons vivos enquanto, em outros, os tons pastéis se tornam predominantes. Assim: “A contribuição artística de Athos nos espaços dos hospitais da Rede Sarah Kubitschek foi determinan- te para o reconhecimento internacional da excelência qualitativa do ambiente médico-hospitalar projetado por Lelé para esses edifícios” (IPHAN, 2018: p. 08). Dentre os diversos elementos de sua contribuição artística, é possível destacar algumas delas. A primeira está localizada no Sarah Centro, onde o painel divisório vazado (Figura 108), que está fixado no piso e na sessão horizontal das vigas duplas de concreto pré-moldado, separa a área de espera do ambulatório da circulação de entrada. Esse painel é composto por uma sequência de quarenta e duas peças verticais de madeira laqueada, com sessões em “L” e vazios geométricos (IPHAN, 2018: p. 95), permitindo que os usuá- rios tenham acesso à visão dos eventos ao seu redor sem perder a privacidade. 140
  • 152. Figura 109 Painel de azu- lejos na área de espera da radiologia. Fonte: IPHAN, 2018: p. 124 Figura 110 Vista interna do auditório do Hospital Sarah Brasília Lago Norte. Fonte: Lima (Lelé),2012: p. 221. Além disso, se destaca o painel de azulejos (Figura 109), composto por peças repetidas dispostas de forma aleatória, que está localizado no fundo do jardim interno da sala de espera da radiologia, complementando o projeto paisagístico de Alda Rabello Cunha. O IPHAN reforça a descrição do painel ao afirmar que: “O primeiro padrão (em azul) apresenta três arcos concên- tricos de quarto de circunferência, sendo que o menor arco possui maior largura. Os arcos azuis são estampados sobre azulejo esmaltado branco. O segundo (em verde), estampa- do também em azulejo branco, contém dois arcos, dispostos em vértices opostos da peça, sendo que um deles apresenta linha mais larga e o outro, linha dupla. A proporção de azule- jos azuis é maior do que a de verdes” (IPHAN, 2018: p. 124). No Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação, se destaca o painel no auditório (Figura 110). Este painel é com- posto por formas geométricas de madeira laqueada em “meia-lua” na cor verde, fixadas sobre uma parede de alvenaria pintada de azul (IPHAN, 2018: p. 179), revelando uma interessante interpreta- ção das ondas na superfície d’água, além de criar uma semelhança com a curvatu- ra da cobertura, formada pe- los sheds de ventilação. 141
  • 153. 2.5 Dificuldades enfrentadas atualmente em relação à humanização dos ambientes de saúde. Como já mencionado, a aplicação da humanização nos edi- fícios de saúde não é uma novidade. Os seus benefícios para a re- cuperação dos pacientes e para a saúde dos profissionais já foram documentados e analisados pelas mais diversas áreas de conheci- mento, como medicina, psicologia, psiquiatria e arquitetura, desde a antiguidade, ganhando maior força durante o modernismo. Entre- tanto, é perceptível que a maioria dos estudos e pesquisas sobre a aplicação da humanização se concentra na chamada “humanização da assistência”. Isto é corroborado por outros autores, como Maria Alice Lo- pes e Luciana de Medeiros, que, em seu artigo Humanização hos- pitalar: origem, uso e banalização do termo (2004), complementam afirmando que esse tipo de humanização se refere à mudança de atitude dos profissionais em relação ao contato com os pacientes, oferecendo uma conotação de atendimento mais cordial, mais calo- roso e mais personalizado. A própria cartilha da Política Nacional de Humanização (2013) apresenta essa conotação, enfatizando mais a forma de tratamento aos doentes do que as características am- bientais dos edifícios e a qualidade do espaço físico para o benefício físico e mental dos pacientes e funcionários dos hospitais. Devido à ausência desse foco, muitos profissionais não têm um conhecimento aprofundado sobre o tema, dificultando a com- preensão de sua real relevância. Zanettini, em entrevista, comentou que muitos profissionais, principalmente gestores e administrado- res hospitalares, deixam a aplicação da humanização espacial e construtiva em segundo plano, devido, principalmente, a escassez de recursos financeiros para a construção, reforma e manutenção dos hospitais, concentrando-os nas soluções relevantes para o fun- cionamento do hospital. Sendo assim, cabe aos arquitetos inseri- rem-na como uma linguagem de projeto, buscando acabamentos viáveis dentro do orçamento disponível pelo cliente, porém com um bom design. 142
  • 155. A sustentabilidade é considerada, por muitos, um conceito recente e em constante evolução, uma vez que os problemas am- bientais se tornaram mais evidentes na sociedade no final do século XX, sendo incorporada à construção civil a partir da década de 80. Contudo, é possível afirmar que sua aplicação já existia antes da definição deste conceito, ainda que primitivamente, uma vez que os seres humanos apresentavam uma relação com o meio em que viviam distintamente daquela observada a partir da Revolução In- dustrial. Carlos Machado de Freitas e Marcelo Firpo Porto (2006: p. 40) sustentam essa argumentação, uma vez que o desenvolvimento humano causou alterações no meio ambiente, em diferentes esca- las e magnitudes, tais como: o desflorestamento e a alteração dos habitats naturais; a ampliação e a intensificação das atividades agrí- colas e pecuárias; a irrigação e a construção de represas, alterando os ciclos hidrológicos; as atividades de extração e mineração de recursos naturais renováveis e não renováveis; o crescimento das cidades e da concentração populacional nos ambientes urbanos; e a produção de bens industriais e bens de consumo e suas formas de apropriação de energia, matéria-prima e produção de resíduos. Essas alterações aproximaram os seres humanos de diver- sos agentes patogênicos e, consequentemente, de diversas doen- ças, embora as mudanças no ecossistema tenham reduzido ou eli- minado algumas delas. Em países e regiões menos desenvolvidos, os problemas de saúde estão diretamente relacionados às condi- ções precárias de moradia, uma vez que uma grande parcela da população não tem acesso ao saneamento ou ao abastecimento Capítulo 3 Sustentabilidade na arquitetura hospi- talar 144
  • 156. adequado de água para consumo humano. Conforme a Organização das Nações Unidas, em um pla- neta com 8 bilhões de habitantes, apenas 26% têm acesso à água potável, representando 2 bilhões de pessoas, e 46% da população mundial não têm acesso a serviços de saneamento seguros, cor- respondendo a 3,6 bilhões (NU, 2023). Esses problemas são acres- cidos aos relacionados à poluição química, que afetam os solos, a atmosfera, as águas e a cadeia alimentar, tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais de entorno (Freitas; Porto, 2006: p. 69). Márcio Oliveira (2021: p. 5) aponta que o setor de serviços de saúde é um dos que mais emitem dióxido de carbono no mundo, sendo responsável por cerca de 4,6% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e poluentes tóxicos no ar, sendo a maioria dessas emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis. Essa contribuição não se limita aos edifícios, mas abrange toda a rede de suporte para seu funcionamento, ou seja, desde a fabrica- ção, uso e descarte de produtos hospitalares, passando pelo trans- porte de mercadorias, medicamentos e pacientes, até os sistemas de climatização e outros equipamentos instalados no interior do edi- fício. Durante décadas, foi perceptível o aumento significativo no uso de climatização na construção civil, devido à alteração na mu- dança climática, o que gerou um círculo vicioso, uma vez que mais gases de efeito estufa foram liberados na atmosfera. Para lidar com a situação, foram realizados diversos programas e conferências, vi- sando inserir o tema na esfera política. Dentre eles, destaca-se o Protocolo de Kyoto, realizado em 1996, por ser o primeiro tratado internacional para controle da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Este tratado estabeleceu um compromisso dos líderes governamentais presentes na conferência em reduzir em 5,2% a emissão de poluentes, principalmente nos países industrializados. Dessa forma, ocorreram mudanças significativas nos gases utili- zados para a fabricação de alguns equipamentos de refrigeração, porém a climatização dos ambientes continuou sendo utilizada (Oliveira, 2021: p. 07). Muitos defendiam que, além das mudanças 145
  • 157. climáticas, outro fator que contribuiu para o aumento no uso e ins- talação de ar-condicionado em ambientes hospitalares foi a deterio- ração da qualidade do ar nas cidades, que se tornou cada vez mais poluído e seco. No entanto, diversos arquitetos demonstraram ser viável construir hospitais utilizando sistemas de ventilação natural, limitando a utilização de climatização do ar em locais de extrema ne- cessidade, como é demonstrado nos hospitais projetados por Lelé. Esses levantamentos e discussões provocaram mudanças nos hábitos, nos comportamentos e na consciência ambiental, de- vido às mudanças nos paradigmas humanos em relação às de- mandas, individuais e coletivas, em termos de qualidade de vida (Zanettini, 2002: p. 456), tornando indispensável a aplicação deste princípio em EAS. 3.1. Conceitualização e evolução histórica A partir das décadas de 1960 e 1970, as discussões am- bientais começaram a ganhar força. O movimento ambientalista, difundido desde os anos 50, começou a abordar na esfera pública questões que dizem respeito às ameaças e aos perigos ambientais, associando-os aos modelos econômico, industrial, político e social existentes. Ao mesmo tempo, enfatizavam os problemas à saúde provocados, principalmente, pela poluição química e radioativa cau- sada pelas usinas nucleares e pelos diversos acidentes ocorridos, destacando-se o de Chernobyl (Freitas; Porto, 2006: pp. 48, 49). Em 1972, Estocolmo sediou a 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, onde foi publicado o rela- tório intitulado Os Limites do Crescimento. O documento alertava sobre a degradação acelerada dos recursos naturais e sua relação direta com o desenvolvimento da sociedade (Bittencourt, 2006: pp. 17,18). Apesar desse levantamento, foi apenas 15 anos depois que atitudes foram tomadas no âmbito mundial, com a publicação do Relatório Bruntland, redigido pela Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sob a coordenação de Gro Harlem Bruntland da Noruega. Este documento é um grande marco para a 146
  • 158. “[…] transformar o modelo de desenvolvimento num rumo mais sustentável em termos do mane- jo dos recursos naturais, da preservação da bio- diversidade, equânime e justo tanto nas relações econômicas entre os países como na distribuição da riqueza nacional entre os diferentes segmentos sociais”. sustentabilidade, uma vez que apresenta, pela primeira vez, a defi- nição de desenvolvimento sustentável, reconhecendo os problemas ambientais no âmbito político, ambiental, social e econômico, além de apresentar um conjunto de ações nas quais as nações deveriam se apoiar para se desenvolver, sem prejudicar as gerações futuras. Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am- biente e Desenvolvimento na cidade do Rio de Janeiro, também co- nhecida como Rio 92, publicou a Agenda 21, que, segundo Freitas e Porto (2006: p. 23), visa: Dominique Gauzin-Müller, em seu livro Arquitetura Ecológica (2011: p. 28), afirma que, para relação ao meio ambiente e à gestão racional dos recursos naturais, a Agenda 21 apresenta algumas re- comendações e ações que deveriam ser seguidas, tais como: ações de proteção da atmosfera; a concepção integrada do planejamento e gestão das terras; o combate ao desmatamento; a preservação da biodiversidade; a gestão ecologicamente racional das substâncias químicas tóxicas, resíduos perigosos, resíduos sólidos, águas servi- das e resíduos radioativos; dentre outros. Dessa forma, a sustentabilidade apresenta três pilares de sustentação, sendo eles: o econômico, que consiste na capacida- de da sociedade de produzir riquezas com o intuito de beneficiar o maior número de pessoas em sua intensidade e velocidade, com padrões controláveis de concentração econômico-financeira; o so- cial, que visa permitir que a população se beneficie da produção de bens e serviços essenciais à vida; e o ecológico, permitindo que a sociedade consiga usufruir dos benefícios ofertados pela natureza, sem destruí-la, permitindo que as gerações futuras também possam 147
  • 159. se beneficiar delas (Góes, 2011: 194). Ainda assim, L. L. Brasileiro e J. M. E. Matos (2015: p. 182) afirmam que para uma sociedade conseguir atingir o desenvolvi- mento sustentável é necessário que ela apresente a construção civil como seu maior suporte, já que este é um dos pilares inerentemente relacionado com as suas profundas transformações. Dessa forma, dado que as EAS apresentam particularidades e uma complexidade única, os hospitais não se diferenciam dessa procura constante pela aplicação da sustentabilidade, já que, segundo Bitencourt (2006: p. 17), seus espaços devem sempre ser ambientalmente saudáveis, viáveis economicamente e sensíveis às necessidades dos locais em que serão construídos. 3.2. Aplicação do conceito de sustentabili- dade Em suma, a sustentabilidade é um programa de mudanças e aperfeiçoamentos que visa adaptar a civilização às atividades humanas, para garantir um nível básico de qualidade de vida. Ao mesmo tempo, visa preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais do mundo, bem como os sistemas sociais, para criar um maior equilíbrio que permita que outras gerações possam usufruir desses mesmos benefícios e características. Os estabelecimentos assistenciais de saúde são edifícios complexos, que abrigam diversos setores, cada um com suas espe- cificidades e funções. São empreendimentos que demandam gran- des investimentos na construção, na aquisição de equipamentos e, sobretudo, na manutenção dos custos operacionais. Somados a es- sas questões, as transformações construtivas executadas sem pla- nejamento e as soluções arquitetônicas inadequadas ao clima local e outras condicionantes ambientais são agravadas pela demanda de ampliações para o atendimento e acompanhamento de novas tecnologias e equipamentos. A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura publi- cou em 2012 o Guia sustentabilidade na arquitetura: diretrizes de 148
  • 160. escopo para projetistas e contratantes como uma forma de orientar todos os profissionais envolvidos para a aplicação da sustentabili- dade em seus projetos. Segundo eles (2012: p. 14), as premissas sustentáveis trazem ao profissional um aumento em sua responsa- bilidade frente ao resultado de seu trabalho, ou seja, à obra cons- truída e utilizada. Isso exige, sobretudo dos arquitetos, uma maior dedicação intelectual e interação com diferentes elos da cadeia pro- dutiva, principalmente porque o planejamento é considerado uma das mais importantes ferramentas para garantir o bom desempenho da edificação. Assim, esse princípio deve ser aplicado desde a ela- boração do projeto, que deve incluir a escolha do local de implanta- ção, as técnicas projetuais utilizadas e os materiais escolhidos, até sua construção, manutenção e eventual demolição. 3.2.1. Técnica sustentáveis aplicadas em ambien- tes hospitalares Por considerar que uma cidade é um organismo vivo, pas- sível de transformação, um empreendimento, sobretudo de grande porte, como um hospital, pode influenciar positiva ou negativamente o entorno do local em que será inserido. Para a sustentabilidade, se torna imprescindível que se fomente o exercício da cidadania e da igualdade, principalmente para desenvolver o sentimento de pertencimento dos cidadãos e as novas formas de interação com o entorno (AsBEA, 2012: p. 33). Assim, a participação da comunidade, com ênfase na inte- gração e organização espacial, se torna indispensável para a cria- ção de um espaço urbano sustentável. Isso depende não apenas da conscientização para o uso racional de recursos, mas também da integração da comunidade local em todas as etapas do projeto, desde a elaboração do projeto até a definição das características arquitetônicas do edifício, integrando-o à caracterização urbanística local (AsBEA, 2012: pp. 33,35). 3.2.1.1. Implantação e inserção urbana 149
  • 161. Figura 111 Hospital municipal Ermelino Matarazzo. Fonte: acervo do escri- tório Zanettini Arquite- tura, 2023. Figura 112 Planta do 1º pavimento do Hospital Municipal Ermelino Matarazzo, com identificação da UTI (n.º 3). Fonte: Zanettini, 2002: p. 212. Zanettini, por exemplo, envolveu a comunidade do distrito de Ermelino Matarazzo na formulação do projeto do hospital, que rece- beu o mesmo nome (Figura 111). O hospital, inaugurado em 1991, começou a ser construído na gestão Mário Covas, como resultado de uma luta desenvolvida pela comissão distrital de saúde, ligada ao movimento de saúde da zona leste. Essa situação propiciou uma experiência até então não vivenciada pelo arquiteto: planejar a obra discutindo cada passo com representantes da comunidade, ouvindo sugestões e acatando mudanças, como o aumento no número de leitos e a inclusão de uma UTI, que, em um primeiro momento, não era programada (Figura 112) (Zanettini, 2002: pp. 211,213). 150
  • 162. Com a explicação da arquitetura, de suas etapas e relevân- cia, Zanettini e os demais profissionais envolvidos realizaram inten- sas discussões a respeito do projeto e da execução da obra com a comissão de saúde, sempre incluindo as pautas previamente dis- cutidas em assembleias com os moradores locais. Isso não ape- nas demonstrou, para a construtora, a importância do processo da participação popular, como, para o arquiteto, trouxe o ensinamento a respeito do levantamento das necessidades da população, que, muitas vezes, não são percebidas, em sua totalidade, pelos profis- sionais (Zanettini, 2002: pp. 213, 214). Como parte do princípio da sustentabilidade, a estratégia de implantação dos edifícios a ser adotada pelos arquitetos ao elabora- rem o projeto deve respeitar as características do terreno e do clima, prevendo o máximo de áreas permeáveis possível, sem modificar a vegetação existente, sobretudo se houver a presença de corpos d’água na proximidade. Também é importante observar a orientação do edifício em relação ao sol e às massas de vegetação. Segundo Vilas-Boas (2011: p. 15), a implantação de fachadas expostas ao poente, em climas tropicais, evita o acúmulo de calor nos ambientes. No entanto, é importante salientar a relevância dos elementos de sombreamento e isola­ mento térmico, uma vez que a insolação constante dos elementos construtivos pode aquecê-los facilmente, transmitindo esse calor para o interior dos ambien­ tes. Além disso, deve-se sempre considerar o efeito de sombreamento ocasio­ nado pelas construções do entorno, sobretudo para a deter- minação da localiza­ ção das aberturas nas fachadas (AsBEA, 2012: p. 34). Ademais, também é necessário realizar um estudo quanto ao sombrea-mento ocasionado pelo estabelecimento a ser constru- ído (AsBEA, 2012: p. 34), uma vez que o hospital projetado pode apresentar um maior número de pavi-mentos quando comparado com as construções do entorno, muitas vezes caracterizadas como casas térreas e/ou sobrados, dependendo do local de implantação escolhido. Isso porque o edifício não deve se tornar uma barreira para a insolação no entorno, nem deve auxiliar os efeitos incômodos 151
  • 163. Figura 113 Detalhe para fachada venti- lada. Fonte: Vilas-Boas, 2011: p. 16. dos ventos, a fim de assegurar à vizinhança qualidades salubres dos ambientes e o direito à iluminação e ventilação natural (AsBEA, 2012: p. 34). 3.2.1.2. Conforto termoacústico Os seres humanos passam grande parte do tempo em am- bientes fechados, seja para se abrigar, seja para trabalhar, estudar ou descansar. Ao se trata de um edifício hospitalar, onde os funcio- nários e pacientes se encontram envoltos de fontes de estresse, a qualidade da ambiência e do conforto termoacústico apresenta uma maior importância, por influenciar na saúde e na qualidade de vida dessas pessoas, interferindo no tratamento. Em relação ao conforto térmico, algumas diretrizes de projeto podem garantir uma melhor qualidade nas condições ambientais, principalmente quanto à melhoria do desempenho da envoltória do edifício, do sistema construtivo aplicado e dos materiais seleciona- dos (AsBEA, 2012: p. 69). Quando se trata de soluções para o iso- lamento térmico das fachadas de uma edificação, destacam-se: a fachada ventilada, o teto verde, os jardins verticais, a aplicação de brises para sombreamento e a utilização de telhas termoacústicas. Gauzin-Müller (2011: p. 110) defende que, para assegurar o conforto dos usuários em um ambiente, é recomendável trabalhar com a ven- tilação cruzada, direcionando o ar das áreas ex- postas ao sol as não expostas, permitindo a en- trada de ar fresco e a regulação térmica desses ambientes de uma forma natural (Gauzin-Müller, 2011: p. 110). A fachada ventilada (Figura 113) é uma solução projetual que segue esse princípio, porém tendo como foco o sentido ascendente de ventilação, ocasionado pelo espaço vertical oriundo da fixação do revestimento deslocado das estruturas em alvenaria (Vilas-Boas, 2011: p. 16). Com isso, o ar quente é liberado tanto por aberturas superiores, próximas às vigas e outros 152
  • 164. Figura 114 Soluções de umidificação para redu- ção de temperatura no entorno das edificações. Fonte: Anvisa, 2014: p. 23. elementos estruturais, como por zenitais, utilizando dos princípios de aeração por diferença de pressão e do “efeito chaminé”, muito aplicado nos hospitais do Arqto. Lelé. A utilização de coberturas termoacústicas, por sua vez, não apenas reduz a transmissão de calor, como também os níveis de ruídos para dentro dos ambientes internos das edificações. Essas telhas, compostas por duas chapas metálicas de aço ou alumínio re- cheadas com lã de vidro, lã de rocha, espuma de poliuretano ou po- liestireno expandido, podem ser usadas isoladamente, sendo mais adequadas para pavimentos técnicos ou áreas de convivência, ou sobrepostas a lajes, não apresentando restrições em seu uso (Vilas- -Boas, 2011: p. 16, 17). A ventilação natural é, portanto, fundamental para um edifício hospitalar e para uma arquitetura bioclimática, não somente para o controle térmico do edifício como para o combate de infecções hospitalares. Em um país tropical, a forma do edifício e seus deta- lhes construtivos são fundamentais para assegurar a sua eficiência, sobretudo porque, de acordo com Gauzin-Müller (2011: p. 110), os sistemas de ventilação podem representar de 20 a 60% das despe- sas energéticas. Valor que cresce a cada ano devido ao aperfeiçoa- mento dos elementos de isolamento térmico dos edifícios. Como visto, não basta apenas realizar um estudo de posi- cionamento das aberturas e a escolha dos tipos de janelas, como também usufruir de outros elementos, como vegetação e espelhos d’água. Segundo a Anvisa (2014: pp. 22, 23), estes elementos, além de atuarem como atenuadores da temperatura radiante (Figura 114), também auxiliam na umidificação do ambiente, melhorando 153
  • 165. sua qualidade em climas quentes e secos. Contudo, é necessário que os profissionais adotem um sistema de manutenção e cuidado para evitar a proliferação de vetores, especialmente os mosquitos. Tal como mencionado no capítulo anterior, a luz contribui tan- to para o bem-estar visual e mental dos pacientes e dos funcionários quanto para o conforto térmico, tornando-se um elemento essencial para a implementação de sustentabilidade em edifícios hospitala- res. A grande parte desse conforto é proporcionada pela entrada, direta ou indireta, de luz natural no interior dos ambientes. No entan- to, como mencionado por Pizzolato (2014: p. 203), é imprescindível que o arquiteto faça uma análise da posição e do tamanho das aber- turas utilizando a carta solar, uma vez que a incidência solar é maior em países tropicais, como o Brasil. Essa incidência, por sua vez, pode causar um aquecimento excessivo e indesejado nos espaços, além de ofuscar os usuários, causando irritação e outros problemas de saúde. Sendo assim, o projeto de iluminação não se restringe apenas à tarefa de adicionar a luz ao ambiente, como também con- trolá-la, reduzindo ou eliminando sua presença dependendo da ne- cessidade e do tipo de atividade a ser realizada no ambiente. Para tal, se faz necessário a instalação de elementos de sombreamento, como brise-soleil, para filtrar essa incidência solar. Além desses elementos, Vilas-Boas (2011: p. 17) menciona outras soluções projetuais que permitem a captação de luz de forma indireta, tais como: a aplicação de grandes vãos de aberturas som- breadas, especialmente nas áreas de recepção e espera, permitin- do a entrada controlada de iluminação e a visão dos acontecimentos externos ao edifício; e a instalações de sheds e aberturas zenitais, que promovem iluminação e ventilação cruzada. O conforto acústico depende igualmente das condições lo- cais, de implantação do empreendimento no terreno e das caracte- rísticas do edifício propriamente dito. Como mencionando no capí- tulo anterior, o ruído está presente na realidade hospitalar, apesar de sua existência ser uma controvérsia, podendo causar danos à saúde, tanto de pacientes como de funcionários, além de prejudicar a comunicação entre eles, gerando inúmeras fontes de estresse. 154
  • 166. Como uma forma de contornar a situação, os arquitetos aplicam em seus projetos elementos arquitetônicos espaciais e de isolamento acústico, tanto para filtrar os ruídos externos como os internos (As- BEA, 2012: p. 82). Concomitantemente, os profissionais de saúde realizam a exigência do silêncio dos hospitais, como uma forma de diminuir os barulhos gerados pelos seres humanos, principalmente por considerar que a tolerância ao ruído diminui consideravelmente durante todo o período em que o ser humano está doente (Anvisa, 2014: p. 50). 3.2.1.3. Energia Aconstrução civil é um dos setores que mais consomem ener- gia, utilizando-a ao longo de todo o ciclo de vida do edifício. Para um EAS este consumo torna-se mais relevante, uma vez que a sua falta pode comprometer a saúde dos pacientes, exigindo, portanto, um funcionamento contínuo e ininterrupto. Como solução, muitos hospitais apresentam geradores próprios, localizados nas casas de máquinas e centrais de energia, sendo necessário um cuidado pro- jetual para a sua localização e controle de acesso. Além disso, alternativas para a geração de energia devem ser aplicadas. Segundo Gauzin-Müller (2011: p. 115), o emprego de energias renováveis deve ser parte integrante de uma estratégia po- lítica que depende do contexto nacional e das suas potencialidades. Dessa forma, estão inseridas desde a fase de concepção de projeto e determinação do partido arquitetônico a ser adotado. Dentre as fontes de energia renovável, as placas fotovoltai- cas são as mais relevantes, por converterem a energia solar em eletricidade por meio de semicondutores fabricados com compostos de silício. Para os painéis fotovoltaicos poderem ser aproveitados eficientemente, é necessário realizar um estudo quanto à orientação solar, instalando-os nas fachadas e na cobertura do edifício. Em 2015, a Lei brasileira 1525/2015 estabeleceu a obrigato- riedade da instalação de painéis solares fotovoltaicos em hospitais 155
  • 167. Figura 115 Vista aérea do Hospital Universitá- rio de Mirebalais, Haiti. Fonte: Corneille, 2020. públicos e privados do Estado de São Paulo. A presente lei foi elabo- rada devido ao aumento anual de 3% no consumo final de energia, o que significa que a energia gerada pelas placas fotovoltaicas não somente abastece o edifício, como também pode ser usada para abastecer a rede pública e/ou as construções do entorno (Alesp, 2015). Essa situação pode ser exemplificada pelo Hospital Univer- sitário de Mire­ balais (HUM) (Figura 115), localizado no Haiti. Esse hospital, reconhecido como o maior hospital movido a energia solar do mundo, apresenta 1800 painéis fotovoltaicos em seu telhado, gerando mais de 100% de energia, que não só abastece o hospital como também as construções ao redor, que dependem de uma rede pública insuficiente (Alesp, 2015). 3.2.1.4. Água e efluentes A água é um recurso cada vez mais desperdiçado nos paí- ses industrializados, onde, segundo Gauzin-Müller (2011: p. 119), cada habitante norte-americano consumia em média, na década de 2010, 1000 litros de água por dia, enquanto, em algumas regiões mais precárias da América do Sul, África e Ásia, eram consumidos, apenas, 40 litros/dia, indicando uma discrepância exorbitante rela- cionada, sobretudo, à qualidade do sistema hídrico e ao seu acesso. Hoje, segundo a Organização das Nações Unidas, o consumo bra- 156
  • 168. sileiro por pessoa aumentou para um valor de, aproximadamente, 200 litros/dia (Sabesp, 2023), valores semelhantes a alguns países europeus. Dessa forma, é imprescindível que seja realizado um estudo quanto a concepção do uso da água em um empreendimento, con- siderando o impacto que este causará no entorno, na microbacia hi- drográfica em que será inserido e no meio ambiente (AsBEA, 2012: p. 61). Esse levantamento influenciará principalmente nas soluções projetuais aplicadas, que, por sua vez, poderão interferir diretamen- te no partido arquitetônico do edifício. Segundo AsBEA, “O melhor projeto será aquele que, dentro de uma análise sistêmica de gestão de demanda e oferta de água, gerar menores impactos ambientais e garantir ou melhorar a qualidade das atividades realizadas pelos usuários, oca- sionando benfeitoria ao entorno. Quanto maior a carên- cia da infraestrutura local, mais complexas as soluções de projeto para a gestão de demanda e oferta de água a serem implantadas” (AsBEA, 2012: p. 61). Além desses impactos, outros também podem ser gerados, principalmente ao considerar a importância que a água apresenta tanto para o correto funcionamento do edifício durante todo o seu ciclo de vida como para auxiliar no seu equilíbrio térmico interno. Dentre eles, destacam-se: o consumo de energia elétrica dos equi- pamentos hidráulicos, o uso de produtos químicos nos sistemas de tratamento, e a frequência de automonitoramento e o controle de vazão de lançamentos, estabelecidos pelas exigências técnicas dos órgãos de fiscalização ambiental (AsBEA, 2012: p. 62). Na construção, existem várias medidas que favorecem o ge- renciamento sustentável do ciclo da água, onde seus exemplares são majoritariamente encontrados em construções residenciais. Porém, é importante ressaltar que essas soluções projetuais estão ganhando espaço no mercado, sendo encontradas também em edi- fícios de grande porte, como escolas, edifícios corporativos e hos- pitais, apesar deste último requerer alguns cuidados especiais em virtude da preocupação com a proliferação de doenças e infecções hospitalares. 157
  • 169. Figura 116 Filtro autolimpante para águas pluviais. Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 119 Figura 117 Esquema de instalação de recupera- ção das águas pluviais com cisterna enterrada em residência. Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 119 Legenda: 1. Filtro autolimpante 2. Filtro 3. Cisterna 4. Filtro de aspiração flutuante 5. Tubo de sucção 6. Bomba 7. Tubo sob pressão 8. Válvula automática 9. Ladrão 10. Painel de controle 11. Válvula magnética 12. Abastecimento de água potável 13. Válvula de retenção Dentre as medidas, é possível destacar: a aplicação de tetos-jardins e coberturas verdes, onde pode ser realizado a captação das águas pluviais; o tratamento natural das águas servidas; a realização da filtragem com sistemas autolimpantes (Figura 116) antes de chegar à cisterna (Figura 117), ocorrendo a separação entre a água e os corpos orgânicos pre- sentes nas tubulações; a instalação, no interior do reservatório, de duas etapas de depuração que não necessitem de manutenção; o emprego de bombas de baixo consumo de energia para a distribuição da água reciclada; e a identificação de todo o sistema de canalização com a menção “água não potável” (Gau- zin-Müller, 2011: p. 119). As águas pluviais podem ser utilizadas, principalmente, na rega das áreas verdes, nas caixas de descarga dos vasos sanitá- rios, na limpeza em geral e nas máquinas de lavar roupa. Na Ale- manha, essas águas também são conduzidas a lagoas próximas, 158
  • 170. Figura 118 Laguna- gem no jardim do cen- tro hospitalar de Järna, no sul do Estocolmo. Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 120. desenvolvendo um biótopo e propiciando o crescimento da flora e da fauna locais (Gauzin-Müller, 2011: p. 121), reestabelecendo a qualidade do meio ambiente. Outra aplicação realizada é a Lagunagem, que representa a depuração dos esgotos domésticos por meio de plantas aquáti- cas. No sul de Estocolmo, esta solução foi aplicada no jardim do centro hospitalar de Järma (Figura 118), onde sete reservatórios são alimentados por fontes em cascatas integrados ao paisagismo (Gauzin-Müller, 2011: p. 120). Isto mostra que é possível utilizar es- sas soluções projetuais sustentáveis como auxiliadores ambientais, uma vez que esses elementos ga- nham atrativos visuais e auditivos, além de tornar o ambiente mais confortável termicamente. Porém, é necessário sempre ter cuidados com o PH da água, como forma de controle para a proliferação de mosquitos transmissores de doen- ças, como a dengue. A AsBEA (2012: p. 62) também enfatiza que, principalmente nos centros urbanos, é importante que as águas que escoam de su- perfícies com risco de poluição, como estacionamentos e zonas de circulação de veículos, devem receber tratamento adequado antes do seu descarte. Gauzin-Müller (2011: p. 121) traz um exemplo de utilização dessa fonte de água, onde, após a filtragem, podem ser integradas ao paisagismo que cerca as edificações, principalmente para a rega da vegetação, diminuindo a quantidade de água potável utilizada para tal e o custo dos edifícios. Independentemente da solução projetual aplicada, é impor- tante evidenciar que, quando houver o uso de fontes alternativas, como água de reuso, águas pluviais ou subterrâneas, é necessário um monitoramento contínuo da qualidade da água, realizado por pessoas capacitadas, resguardando a saúde das pessoas e o de- sempenho dos sistemas (AsBEA, 2012: p. 62). 159
  • 171. Figura 119 Efeito oxigenante da vegetação. Fonte: Brasil, 1995: p. 83. 3.2.1.5. Vegetação e jardinagem A vegetação possui funções diretamente ligadas à renovação da qualidade do solo e dos corpos d’água, bem como ao conforto térmico e acústico das cidades e do ambiente construído, relacio- nando-se, por sua vez, com o partido arquitetônico adotado e as soluções de projetos empregadas no edifício. Por meio da evaporação, as árvores também recuperam a água absorvida pelas raízes, melhorando a umidade do ar das me- trópoles. Em áreas urbanas, um hectare de bosque pode produ- zir, por evapotranspiração, cerca de 5.000 toneladas de água por ano (Brasil, 1995: p. 83). Em virtude de grandes centros urbanos não terem áreas com vegetação arbórea, além de parques e praças pontualmente locados, a necessidade de políticas urbanas para a transformação de grandes avenidas em boulevards tem se tornado uma prática crescente nas cidades, auxiliando na qualidade do ar e no controle térmico. Isso se dá porque a vegetação também interfere na tempe- ratura local (Figura 120), podendo causar uma diminuição de 1 °C a 4 °C (Gauzin-Müller, 2011: p. 68), tornando os ambientes mais Conforme mencionado anterior- mente, a área da saúde é responsável por 4,6% das emissões mundiais de ga- ses do efeito estufa (Oliveira, 2021: p. 05). A vegetação, por sua vez, é uma das maneiras mais eficazes de lidar com este problema, uma vez que, devido à sua função clorofílica, realiza a evapora- ção por fotossíntese, retendo o carbono e liberando o oxigênio (Figura 119). De acordo com diversos estudos realiza- dos, 1 km² de massa arbórea pode libe- rar 1000 t de oxigênio para a atmosfera (Brasil, 1995: p. 83), o que, consequen- temente, melhora a qualidade do ar. 160
  • 172. Figura 120 Soluções paisagísticas para redu- ção de temperatura no entorno das edificações. Fonte: Anvisa, 2014: p. 24. Figura 121 Detalhamentos da platibanda de um teto verde. Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 120. Legenda: 1. Vegetação rasteira 2. Camada de revestimento com Zincobum 3. Manta anti erosão em juta de trama larga 4. Substrato 5. Elementos de drenagem perfurados 6. Manta protetora e absorvente 7. Impermeabilização com proteção antirraízes 8. Calha. confortáveis e frescos, sobretudo devido à queda da temperatura dos elementos construtivos do edifício. Além dos grandes jardins e canteiros com vegetação arbórea, outro elemento que tem ganhado espaço nas construções sustentáveis são os jardins verticais, es- pecialmente quando instalados nas paredes que sofrem insolação durante todo o dia. Em situações em que não é possível implantar a vegetação no nível do solo, muitos profissionais preferem os chamados Tetos Ver- des (Figura 121), ou Green Roofs, apesar de essa solução também apresentar outras denominações no mercado internacional. Essa solu- ção projetual, instalada nas cober- turas dos edifícios, cobrindo-as de forma parcial ou total, ajuda a com- bater o efeito de ilha de calor. 161
  • 173. De acordo com Vilas-Boas (2011: p. 16), essas áreas ajar- dinadas são formadas por um sistema simplificado que permite o crescimento de plantas e flores em canteiros sobre uma laje con- vencional, absorvendo o calor e não o irradiando para a atmosfera, como ocorre com as áreas concretadas. Para tal, o arquiteto paisagista deve escolher criteriosamente a vegetação adequada, conforme as condições de cada cidade e as características físicas do edifício. As espécies mais baixas, que crescem e se multiplicam rapidamente, são as mais adequadas por terem uma grande resistência à seca e não necessitam de irriga- ção ou adubação especiais (Vilas-Boas, 2011: p. 16), diminuindo a necessidade frequente de manutenção e os gastos de água com irrigação. A vegetação, também, tem a propriedade de diminuir a po- luição sonora, atuando como uma barreira acústica, dependendo da densidade das áreas de vegetação e do tipo de planta (Gauzin- -Müller, 2011: p. 68). Dado que o nível de ruído urbano próximo aos edifícios hospitalares é, muitas vezes, elevado, em virtude dos EAS estarem inseridos na malha urbana, nem sempre é possível implan- tar grandes barreiras vegetais para esse fim, requerendo o uso de outros elementos termoacústicos para proporcionar maior conforto no interior do edifício. No entanto, em casos em que o terreno já apresenta uma grande massa vegetal ou um dimensionamento que permita uma permeabilidade maior do solo, o recomendado seria que o arquiteto utilize a potencialidade máxima da vegetação. 3.2.1.6. Materiais Conforme mencionado pelo próprio arquiteto Zanettini duran- te entrevista, é possível realizar uma arquitetura de qualidade com qualquer material e acabamento, independentemente do orçamen- to disponível. Porém, quando se trata de edifícios hospitalares, é preciso ter um maior cuidado ao escolher os materiais, sobretudo porque eles não podem ser nocivos à saúde nem facilitar a infecção hospitalar. Além dessas restrições, devem ser seguidas algumas re- 162
  • 174. comendações, como o uso de materiais que sejam recicláveis, que possam ser reutilizados ou biodegradáveis e que reduzam a neces- sidade de manutenção. Com isso, a especificação de materiais se torna outra ativida- de projetual crucial para a construção de uma edificação hospitalar sustentável. Com isso, os arquitetos devem também ser responsá- veis pela conferência dos materiais, para ter certeza de sua toxici- dade, além de implementar materiais provenientes de localidades próximas e pela utilização de madeiras certificadas, de refloresta- mento ou de demolição (Vilas-Boas, 2011: p. 18). O Guia de Sus- tentabilidade na Arquitetura: diretrizes de escopo para projetistas e contratantes complementa essa responsabilidade ao indagar que os profissionais, no momento da especificação dos materiais, devem buscar o atendimento e a adequação às normas de desempenho vigentes, buscando todas as informações junto aos fornecedores ou demais fontes disponíveis no mercado (AsBEA, 2012: p. 48). Em relação ao uso da madeira, este material requer um cui- dado especial. Gauzin-Müller (2011: p. 15) afirma que não é toda a madeira que pode ser usada na construção civil, mesmo elas apre- sentando certificações, uma vez que consomem energia em exces- so durante o corte, além das grandes distâncias entre as regiões de extração, de corte e de consumo no Brasil. Dessa forma, a sus- tentabilidade deve também ser abordada criteriosamente, já que a extração, o corte, o transporte e a instalação consomem recursos naturais, causando danos ao meio-ambiente. Logo, a madeira de reflorestamento é a mais adequada para se utilizar por ter um ciclo de renovação relativamente curto e as distâncias entre as áreas de reflorestamento e os principais centros consumidores são menores (Gauzin-Müller, 2011: p. 15). O surgimento de colas e vernizes à base de água aumentou a variedade estética e a capacidade de aplicação destes materiais, que, devido à sua baixa toxicidade, tornaram-se elementos frequen- tes em edifícios hospitalares, especialmente no mobiliário, revesti- mentos e elementos decorativos. Além disso, a madeira industriali- zada, a qual também é utilizada em andaimes, escores, formas de 163
  • 175. concreto, tapumes e barracos, não encerra seu ciclo de uso com a desmontagem da obra. Estas devem ser reutilizadas, evitando-se assim o desperdício e diminuindo a quantidade de RCD (Gauzin- -Müller, 2011: p. 15). Independentemente do material que será utilizado no projeto hospitalar, o arquiteto deve sempre conferir a RDC 50/2002, que descreve as características necessárias dos elementos aplicados em pisos, paredes, tetos e esquadrias de cada ambiente do EAS. Segundo a norma, os revestimentos de paredes, pisos e tetos de- vem ser resistente nos ambientes de áreas críticas e resistentes à lavagem e ao uso de desinfectantes, além de serem monolíticos, apresentando o mínimo de ranhuras e frestas (Anvisa, 2022: p. 107), para, sobretudo, evitar o crescimento o acúmulo de microrganismos permitindo a proliferação de doenças e infecções. 3.2.1.7. Resíduos A construção civil consome entre 20 e 50% dos recursos na- turais do planeta, o que, consequentemente, resulta na quantidade alarmante de Resíduos da Construção e Demolição (RCD), atingin- do variações entre 40% e 70% da massa total de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) (Brasileiro; Matos, 2015: pp. 178,179). Essa ques- tão ganhou relevância pública, uma vez que não se limita ao cantei- ro de obras, mas abrange a produção, a distribuição, o manejo e o transporte de materiais utilizados na construção de edifícios. Segun- do Gauzin-Müller (2011: p. 129), cabe aos arquitetos persuadirem os seus clientes da necessidade de diminuir os efeitos nocivos dos resíduos, aplicando soluções para diminuir sua quantidade. Em um canteiro de obras, são encontrados três tipos distintos de resíduos, que necessitam de cuidados específicos para seu ma- nejo e descarte. Em média, 65% são os inertes (terra, gesso, cerâ- mica, vidro comum, lãs minerais e materiais de demolição); 29% são os domésticos e similares (embalagens, madeira não tratada, metal, plástico e materiais de demolição misturados); e 6% são os resíduos perigosos ou nocivos (tintas, madeiras tratadas com derivados de 164
  • 176. metais pesados, amianto e hidrocarbonetos) (Gauzin-Müller, 2011: p. 131). Para conseguir diminuir a quantidade dos resíduos, o pri- meiro passo, segundo a AsBEA (2012: P. 54), é a especificação ade- quada de materiais e sistemas construtivos, conferindo ao edifício durabilidade, além de definir os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida do empreendimento. Zanettini, em entrevista, afirmou que os RCD também repre- sentam grandes despesas aos empreendimentos, representando 30% do valor investido, uma perda considerável e que pode ser con- tornada não apenas com soluções projetuais, como com a escolha dos materiais e a industrialização da construção. Em seus projetos, o arquiteto trabalha com a construção industrializada, tornando os canteiros de obras em locais de montagem, reduzindo consideravel- mente os resíduos ao utilizar elementos pré-fabricados de concreto e metálico. Essa prática pode ser observada em outros projetos, tanto nacionais quanto internacionais, muitas vezes incentivada por agen- tes governamentais. Na França, a Agência para o Meio Ambiente e o Controle da Energia (Ademe) 51 financiou o programa denominado “canteiros de obras verdes”, que, além de limitar os efeitos nocivos e a poluição, possibilitou a seleção dos resíduos no local para facilitar a reciclagem e o reaproveitamento dos RCD, resultando numa redu- ção de cerca de 20% nos resíduos devido à utilização de elementos industrializados com dimensões de fábricas, como: divisórias, pai- néis de madeira e pisos (Gauzin-Müller, 2011: pp. 129,130). Brasileiro e Matos (2015: p. 182) argumentam que diversos países desenvolvidos, como a Alemanha, a Coreia e o Japão, apre- sentam leis que incentivam a utilização de materiais reciclados, mui- tas vezes aplicando cobranças com valores elevados para a deposi- ção de RCD em aterros, contribuindo para o incentivo à reciclagem dos resíduos, resultando na redução da sua deposição no solo e, consequentemente, na diminuição da poluição do solo e dos lençóis freáticos. No Brasil, não havia nenhuma política pública voltada para os resíduos gerados pelo setor da construção civil até 2002, ocasio- nando a falta de controle sobre o despejo ilegal de resíduos, sobre- 5 Agence de l’Environnement et de la Maîtrise de l’Ènergie (Ademe) 165
  • 177. tudo os perigosos ou nocivos. A Resolução n.º 307 do Conselho Na- cional de Meio Ambiente (CONAMA), publicada em 05 de julho de 2002, estabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos para a sua gestão, visando proporcionar benefícios conforme os três pilares da sustentabilidade. Dois anos depois, a resolução n.º 348 do CONA- MA que altera o item IV do artigo 3 da Resolução n.º 307, onde: “Considerando-se que os resíduos dessa natureza re- presentam um significativo percentual dos resíduos só- lidos produzidos nas áreas urbanas e que a disposição de resíduos da construção civil em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade ambiental, os Municípios são os responsáveis pela gestão e destina- ção ambientalmente correta de tais resíduos, buscando a efetiva redução dos impactos ambientais” (Brasileiro; Matos, 2015: p. 182). Sendo assim, é relevante salientar a importância do cuidado com resíduos, sobretudo tendo em mente que os edifícios hospita- lares são construções em constante transformação devido à neces- sidade de expansão e manutenção. Ao aplicar sistemas construtivos que permitam a mudança facilitada no layout dos ambientes, facili- tando a sua desmontagem, contribuir para auxiliar da reciclabilidade dos materiais, aumentando, assim, o ciclo de vida do edifício. 3.3. Aparato legal e certificações A partir da publicação do Relatório Brundtland, na década de 80, os países começaram a desenvolver políticas de normatização e acreditação para incentivar a aplicação da sustentabilidade no setor da construção civil, sobretudo por ser extremamente poluente, com altos valores de emissão de CO² e geração de resíduos oriundos, principalmente, dos canteiros de obras. Em 2011, por exemplo, foi estimado, no Reino Unido, que o setor de construção era respon- sável por quase metade das emissões de CO², seja pelo consumo de energia, seja pela produção de materiais de construção (Gauzin- -Müller, 2011: p. 34). 166
  • 178. Quadro 8 Critérios do BREEAM Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 34. Assim, buscaram utilizar todo o aparato legal e de acreditação como uma forma de incentivar o mercado a aderir à sustentabilida- de, independentemente de seu pilar: social, econômico ou ambien- tal. No Reino Unido, em 1990, a Fundação Britânica de Pesquisa da Construção (Biulding Research Estabilishment - BRE) lançou o Mé- todo de Avaliação Ambiental da BRE, ou Environmental Assessment Method (BREEAM), que, apesar de inicialmente ser voltado para edifícios de escritórios, se tornou uma das primeiras abordagens ambientais, apresentando uma tabela de avaliação composta por diversos critérios (Quadro 8), os quais são quantificados e utilizados para a avaliação das construções. Atualmente, esse tipo de creden- ciamento pode ser aplicado em quatro tipos de programas, sendo habitação, serviços, comércio e indústria (Gauzin-Müller, 2011: p. 34) Critérios Gerais • Gerenciamento; • Saúde e bem-estar; • Energia (consumo e emissões de CO2); • Transporte (distâncias e emissões de CO2); • Consumo de água; • Impacto ambiental dos materiais; • Utilização do terreno (superfícies verdes e superfí- cies impermeabilizadas); • Valorização ecológica do sítio; • Poluição do ar e da água. Concomitantemente, a certificação mais difundida em solo francês é a da Alta Qualidade Ambiental (Haute Qualité Environne- mentale HQE) que, ao contrário de outros países europeus, visa as- segurar um compromisso entre os agentes envolvidos, unindo uma lógica de qualidade e conforto ambiental, aplicada à construção ci- vil, aos princípios de gerenciamento necessários para sua correta aplicação. Esta certificação apresenta catorze objetivos agrupados em quatro temas (Quadro 9), o que, devido à sua grande comple- xidade ambígua, torna-se um desafio para os profissionais, além 167
  • 179. Fonte: Gauzin-Müller, 2011: p. 34. Quadro 9 Os 14 objetivos do Alta Qualidade Ambiental (HQE) No Brasil, no que diz respeito à sustentabilidade, arquitetos podem seguir a Agenda 21, a certificação ISO 14000 e a Normativa n.º 1/2010, do Ministério do Planejamento, para, acima de tudo, Os 14 objetivos do Alta Qualidade Ambiental (HQE) Controle dos impactos sobre o ambiente externo Ecocons- trução • Relação harmoniosa do edifício com o meio ambiente imediato; • Escolha integrada dos sistemas e mate- riais de construção; • Canteiros de obras de baixo impacto. Ecoges- tão • Gestão da energia; • Gestão de água; • Gestão dos resíduos de atividades; • Conservação. Criação de um ambiente interno satisfatório Conforto • Conforto higrométrico; • Conforto acústico; • Conforto visual; • Conforto olfativo. Saúde • Concisões sanitárias; • Qualidade do ar; • Qualidade da água. “[…] economizar nos gastos com manutenção e operação dos edifícios públicos, além de reduzir o consumo de energia e água, usando tecnologias e materiais que reduzam o im- pacto ambiental” (Vilas-Boas, 2011: p. 14). É perceptível que não há uma norma brasileira específica para a aplicação deste princípio em edifícios hospitalares, sendo 168 de ser uma necessidade indispensável de aplicação (Gauzin-Müller, 2011: p. 36).
  • 180. necessário que os profissionais adotem certificações nacionais e in- ternacionais, tanto em relação às edificações quanto aos materiais utilizados na construção, a fim de alcançar o máximo de objetivos e exigências solicitadas. Ainda assim, a avaliação sustentável da construção de EAS deve iniciar com estudos de impacto ambiental da obra, podendo, inclusive, desaconselhar a sua execução (Brasil, 2015: p. 39). Algumas das exigências que arquitetos, construtoras e de- mais profissionais devem seguir são: o descarte adequado dos re- síduos provenientes de canteiros de obras em aterros sanitários ou usinas de tratamento de lixo; a aplicação e a instalação de procedi- mentos para reduzir o consumo de energia, como a implantação de energia solar; a utilização de materiais atóxicos, reciclados e biode- gradáveis, que reduzem a necessidade de manutenção constante; e a utilização de madeira com identificação e comprovação de sua origem (Vilas-Boas, 2011: p. 15). Estas são englobadas em diversas Certificações de Quali- ficação, tais como: o Programa Brasileiro de Qualidade na Produ- ção – Habitação (PBQP-H); o Programa Setorial de Qualidade, que visa objetivar os níveis de qualidade dos produtos cerâmicos; o Pro- grama de Eficiência Energética; o Black Economic Empowerment (BEE), uma certificação internacional que estabelece critérios de desempenho energético nas edificações; e o Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) (Góes, 2011: pp. 195,196). Esta última é a mais utilizada pelos brasileiros no ramo da construção civil, visando avaliar e certificar as construções nos pa- râmetros propostos pelo Green Building Council dos Estados Uni- dos (US-BGC), que estabeleceu quatro níveis de certificação (Qua- dro 10). Ao contrário de outras certificações, as recomendações do LEED, segundo Bross (2013: p. 173): “[…] cobrem toda a fase de concepção do projeto, chegando até a operação e manutenção das edifica- ções, tendo, como exemplo: o estudo de viabilidade do negócio, a Localização do terreno, o Estudo de Concepção arquitetônica e das engenharias com re- comendações para os Projetos Executivos, a Cons- 169
  • 181. trução, a Operação, a Manutenção dos edifícios e a Geração e Remoção de Resíduos” (Bross, 2013: 173). NÍVEIS DE CERTIFICAÇÃO LEED • Certified, 26 a 32 pontos (40 a 60%) • Silver, 33 a 38 pontos (51 a 60%) • Gold, 39 a 51 pontos (60 a 80%) • Platinum, > 52 pontos. [195] Estas recomendações abrangem desde a concepção de pro- jeto até a construção e eventual manutenção das edificações. As- sim, não apenas analisa questões que dizem respeito à construção civil, como energia e água, como também incentiva uma melhoria na qualidade de vida da comunidade (USGBC, 2023), apresentando dez categorias (Quadro 11). São elas: LEED NC (New Construcion), para novas construções e grandes projetos de renovação; LEED EB (Existing Building), para edifícios existentes; LEED CI Comercial In- terior, para projetos de interiores em edifícios comerciais; LEED CS (Core e Shell), para projetos do envoltório do empreendimento e das características arquitetônicas dos ambientes internos; LEED SCHO- OL, certificação exclusiva para escolas; LEED ND (Neighbourhood), focado na avaliação e desenvolvimentos de bairros urbanos e co- munidades; LEED FOR HOME: residencial (USGBC, 2023). Bross (2013: p. 173), complementa esta lista com os seguintes itens: LEED Retail, voltado para varejo, e LEED For healthcare, focado nos EAS, sobretudo hospitais. No entanto, ambas as categorias continuam em fase de desenvolvimento para aplicação, sobretudo no Brasil. 170 Fonte: Góes, 2011: p. 195. Quadro 10 Níveis de certificação LEED
  • 182. Leadership in Energy and Environmental Design é um sistema norte-americano de certificação aplicado pelo USGBC (United States Green Builing Council), que considera o impacto gerado no meio ambiente em conse¬quência dos processos relacionados ao edifício (projeto, construção e operação). Como funciona Pontua soluções nos quesitos: espaço sustentável, locali- zação, entorno, eficiência no uso de água, energia, quali- dade do ar, uso de materiais, qualidade ambiental interna, inovação e processos. Uso um checklist com as principais exigências das sete categorias. Classificação • Certified, 26 a 32 pontos (40 a 60%) • Silver, 33 a 38 pontos (51 a 60%) • Gold, 39 a 51 pontos (60 a 80%) • Platinum, > 52 pontos. [195] Categoria de análise LEED NC (New Construcion) LEED CS (Core e Shell). LEED CI (Comercial Interior). Complementa o LEED CS. LEED ND LEED School LEED EB (Existing Building). LEED FOR HOME: residencial LEED RETAIL: Lojas LEED Healthcare Participação/custos Taxa de cadastro: US$ 600. • Projetos com até 5000 m² pagam mais US$ 2500. • De 5000 até 50000 m² pagam mais US$ 0,45 por m² • Acima de 50000 m³ mais US$ 22500 Consultoria: aproximadamente 1% do custo da obra. 171 Fonte: adaptada de Góes, 2011: pp. 195,197. Quadro 11 Síntese do Certificado LEED
  • 183. 3.4. Exemplos de aplicação da sustentabili- dade na construção civil 3.4.1. Hospital Universitário de Mirebalais HMU, Haiti O presente tópico objetiva levantar exemplos da aplicação da sustentabili-dade na construção civil. A escolha desses projetos para análise se deu pelo fato de sua relação com a área da saúde, pelos benefícios ocasionados e pelos aspectos projetuais e constru- tivos. O hospital universitário de Mirebalais está localizado no Pla- nalto Central do Haiti e é considerado como “o maior projeto de reconstrução pós-terremoto no setor de saúde pública” (Corneille, 2020). O projeto, desenvolvido pelo Nicholas Clark Architects em conjunto com a organização norte-americana Build Health Interna- tional, alcançou um reconhecimento mundial, uma vez que é um edifício hospitalar extremamente sustentável, demonstrando ser possível atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável em EAS, sobretudo nos que apresentando grande porte. Como o maior e mais avançado hospital público no Haiti, a equipe de de-signers e arquitetos trabalhou em conjunto com médi- cos e enfermeiros habituados ao contexto local para definir as espe- cificidades do projeto, o seu partido arquitetônico e os recursos de biotecnologia que seriam implantados no hospital para oferecer cui- dados de alta qualidade (Build Health International, 2023). O com- plexo hospitalar, com 205 mil metros quadrados de área construída, é composto por sete edifícios (Figura 122) de, no máximo, 2 pavi- mentos, onde o bloco central apresenta 6 salas de cirurgias, central de radiologia, alas de internação e setor ambulatorial. Nos demais blocos concentram-se as salas e laboratórios variados, tornando-o em um grande centro de ensino e pesquisa nas áreas médicas (Mei- nhold, 2011). 172
  • 184. Figura 122 Vista superior do Hospital. Fonte: Meinhold, 2011 Figura 123 Planta baixa do primeiro pavimento hospital. Fonte: Meinhold, 2011 Dada a ocorrência de cortes de energia no Haiti que, em mé- dia, duram três horas por dia, os arquitetos optaram por instalar 1800 painéis solares no telhado do hospital (Figura 123). Estes equipa- mentos produzem até 140 megawatts/hora de eletricidade nos dias com insolação mais intensa, suprindo todas as necessidades diárias de energia do hospital, além de uma demanda adicional, que, por sua vez, é direcionada a rede pública, alimentando as construções próximas (Inhabitats, 2013). 173
  • 185. Figura 124 Esquema de ventilação cruzada das enfermarias. Fonte: Meinhold, 2011 O hospital também apresenta outras soluções sustentáveis aplicadas em seu projeto. Nele, os jardins e pátios internos estão localizados próximos às salas de espera e quartos de internação (Figura 123), permitindo o conforto dos pacientes e estimulando o resfriamento dos ambientes internos. Os quartos de internação, com plantas em formato de “L”, apresentam aberturas altas que per- mitem a ventilação cruzada (Figura 124), tornando o ambiente mais salubre, com temperaturas mais amenas e melhores condições am- bientais, servindo como auxiliadores no tratamento de pacientes com doenças respiratórias. Além desta solução, aberturas zenitais auxiliam na entrada controlada de iluminação natural, transforman- do a própria cobertura em um elemento de sombreamento. Segun- do Meinhold (2011), esse aproveitamento das condições naturais de ventilação e iluminação fizeram com que grande parte de energia solar seja direcionada para o funcionamento dos equipamentos hos- pitalares. Além da movimentação de ar, o hospital também realiza o tratamento de seus resíduos, onde uma estação de tratamento de águas residuais torna a água do afluente que o alimenta mais limpa, auxiliando na profilaxia e na diminuição da disseminação de doen- ças como cólera (Inhabitats, 2013). Essas soluções projetuais demonstram que edifícios hospita- lares em países em desenvolvimento podem, sim, atingir um nível elevado de sustentabilidade, aproveitando das condições naturais dos locais de implantação ao mesmo tempo que servem como ele- mentos auxiliadores do entorno, gerando benefícios tanto para o meio ambiente como para a sociedade. 174
  • 186. Figura 125 Vista aérea do hospital. Fonte: Google Earth, 2023. 3.4.2. Hospital Mater Dei, Belo Horizonte / Brasil O Hospital Mater Dei, de autoria do arquiteto Siegbert Za- nettini, foi inaugurado em 2011, em Belo Horizonte, tendo seu pro- jeto caracterizado, sobretudo, pelos princípios da sustentabilidade, conservação ambiental e eficiência energética. Este hospital, com 310 leitos, atende mais de 3.000 pessoas por dia (Zanettini Arquite- tura, 2023) e oferece todos os serviços de um EAS de grande porte e complexidade, como um centro cirúrgico completo, restaurantes, helipontos, Pronto Socorro, Centro de Tratamento Intensivo com 163 leitos, dentre outros (Rutman, 2011: p. 82). Essa complexidade se estende também ao partido arquitetô- nico, uma vez que o seu dimensionamento foi determinado pelo for- mato trapezoidal do terreno (Figura 125) (Rutman, 2011: p. 82). Em entrevista com a IPH (2014: p. 26), Zanettini afirmou que essa obra totalizou 70 mil metros quadrados, se tornando o maior hospital de Minas Gerais, onde, em virtude, sobretudo, da quantidade de vagas para estacionamento, seria inviável que o partido horizontal fosse adotado. O terreno foi escolhido devido à facilidade de acesso e à extensa área verde existente, incorporada no proje- to pelo arquiteto (Figura 126) (Impren- sa Zanettini, 2023), onde, ao atender todas as condicionantes locais, como o desnível com cotas diferentes em to- das as vias de contorno, possibilitou a determinação de diferentes entradas, em níveis diversos (IPH, 2014: p. 26). Essa massa arbórea do entorno trouxe benefícios significativos para o hospital, sobretudo no que diz respei- to ao conforto termoacústico, atuando como uma barreira contra a incidência 175
  • 187. Figura 126 Foto interna de um dos restaurantes. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2012. solar e o ruído do entorno nos pavimentos inferiores (Figura 126). Segundo o depoimento do presidente do Hospital Mater Dei, foi de- senvolvido um hospital que fosse autossustentável, aplicando solu- ções desde a implantação até as características construtivas. Além disso, Zanettini buscou contribuir para a meio ambiente local, de- senvolvendo uma arquitetura industrializada com resíduo zero (Im- prensa Zanettini, 2023). Conforme depoimento do Arqto. Zanettini, buscou-se alongar a vida útil da edificação ao adotar soluções sustentáveis (Impren- sa Zanettini, 2023), dentre elas, a racionalização do consumo de água e energia, tanto no hospital quanto durante sua construção, e a implantação de coberturas ajardinadas. Estas contribuíram para aumentar a área permeável do projeto, permitindo a captação de água pluvial e o conforto térmico dos ambientes internos do (Rut- man, 2011: p. 82). Além disso, tendo em vista a preocupação com a qualidade do ambiente construído, os materiais e acabamentos foram criterio- samente selecionados, sempre seguindo o princípio da sustentabi- lidade, destacando-se: os revestimentos externos com aplicação de chapas de ACM, as esquadrias acústicas de vidro insulado azul com persiana interna para escurecimento de alguns ambientes, e brises para assegurar o conforto térmico (Figura 127). (Imprensa Zanettini, 2023). 176
  • 188. Figura 127 Vista do revestimento externo em ACM branco e verde e vidro insulado azul. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura Este projeto é um exemplo de aplicação da sustentabilida- de desenvolvida pelo arquiteto Zanettini, destacando-se pela forma como foi implantado, sobretudo pelo fato de o arquiteto utilizar a vegetação natural como partido arquitetônico, sem a derrubada de nenhuma árvore, o que é incomum no Brasil, especialmente em ter- renos situados na malha urbana de grandes centros urbanos. 3.5. Dificuldades enfrentadas atualmente em relação à sustentabilidade. Apesar de ser bastante aplicada na arquitetura residencial e corporativa, a sustentabilidade ainda é desconsiderada na maioria dos projetos de EAS no Bra¬sil (Vilas-Boas, 2011: p. 13), acarretan- do dificuldades técnicas e teóricas, uma vez que os edifícios hospi- talares são construções geradoras de uma quantidade abundante de resíduos e grandes consumidores de água e energia. Essa argumentação também é defendida por outros autores e pesquisadores, que apresentam pontos relevantes sobre o contexto brasileiro. Gauzin-Müller (2011: p. 14) argumenta que a maioria das edificações construídas no Brasil não conta com a participação de 177
  • 189. um arquiteto em nenhuma etapa de seu desenvolvimento, apresen- tando um projeto pouco adequado ao clima e ao contexto brasileiro. Além disso, uma vez que algumas soluções projetuais sustentáveis apresentam, de início, valores mais elevados no mercado, muitos empresários decidem não as aplicar em seus projetos hospitalares, como uma forma equivocada de economizar no orçamento. Ao mesmo tempo, o crescente interesse econômico pela imagem do edifício sustentável, verde ou ecológico, vinculada ao sistema de certificação de desempenho ambiental existente no mercado, faz com que, segundo Gonçalves e Bode (2015: p. 523), esse interesse, às vezes, seja superior ao entendimento e ao inte- resse pelo real desempenho ambiental. Vilas-Boas também obser- vou esse problema, onde, segundo ela (2011: p. 12), o princípio da sustentabilidade tem sido, nas últimas décadas, aplicado de forma generalizada nas construções, sem o devido cuidado e aprofunda- mento. Sobre as certificações, outras questões são levantadas. Góes (2011: p. 197), por exemplo, defende que, em virtude da não exis- tência de critérios de certificação genuinamente brasileiros, as em- presas de construção civil acabam por utilizar o LEED para avaliar e certificar suas obras, porém seria necessário, em suas palavras: 178
  • 191. Siegbert Zanettini (n. 1934) é um arquiteto paulistano forma- do pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP, turma de 1959). Em 1664, tornou-se professor assistente na FAU-USP, aposentando-se 40 anos depois como pro- fessor titular. Conforme a entrevista concedida à revista IPH (2014: p. 23), o arquiteto revelou que ocupou diversos cargos acadêmicos ao longo de sua carreira, variando desde diretor de departamento a membro de congregação. Nesse período, produziu diversos traba- lhos, convergindo o seu conhecimento intelectual com a experiência profissional, fundamentando uma análise crítica das crises cíclicas enfrentadas pela realidade urbana das cidades e a busca constante pela renovação científica e cultural (Zanettini, 2002: p. 14). Segundo o depoimento de Hélio Duarte publicado em Sie- gbert Zanettini (Cadernos Brasileiros de Arquitetura – volume oito) (1981: p. 06), o arquiteto teve um papel fundamental na criação de uma metodologia de ensino para as disciplinas de Projeto e Planeja- mento e de Plástica e Desenho Industrial, que “deveriam ser desen- volvidas convergentemente para a solução de uma única temática”, o que ainda não era realizado. A mudança da FAU da escala residencial da Vila Penteado para a nova sede projetada por Vilanova Artigas representou um novo desafio, uma vez que ocorreu um aumento de 80 para 150 alunos por turma (Fujioka; Severino, 2018: p. 40), o que exigiu que os professores desenvolvessem uma nova forma de transmitir o co- nhecimento em sala de aula (Duarte, 1981: p. 06). Em O Ensino de Projeto na Área de Edificações, o arquiteto examina os principais desafios educacionais na arquitetura, apontando o desinteresse das Capítulo 4 Arqto. Siegbert Zanettini: ideiais e obras 180
  • 192. políticas governa¬mentais nas questões culturais, como um dos principais problemas enfrentados. Além disso, apresenta soluções em relação às questões estruturais e de ensino nas universidades, nos departamentos e nas disciplinas (Zanettini, 2002: p. 14). Ao contrário de outros acadêmicos, Zanettini não se limitava à pesquisa teórica. Segundo Eduardo de Almeida (1981: p. 08), o arquiteto, desde aquele período, também trazia para a vida acadê- mica e para a sala de aula seu conhecimento como profissional, de- senvolvendo projetos e técnicas construtivas como um “verdadeiro pesquisador num contínuo processo de renovação”, que surgem da reflexão sobre as relações entre o meio e o edifício. De acordo com depoimentos de alunos da FAU-USP na década de 1980, Zanettini sempre enfatizava a importância da pesquisa na busca de soluções adequadas que fossem fruto da inovação pioneira em materiais e técnicas, mesmo nos exercícios das disciplinas de Projeto ministra- das ao 1º ano (Fujioka; Severino, 2018: p. 42). Além disso, o arquiteto também mencionava aos alunos o seu aprendizado em marcenaria, adquirido com o pai, um mestre marceneiro, que o levou a amar a madeira como material de arquite- tura e design. Essa paixão se manifestou no texto Uso da madeira, publicado no Siegbert Zanettini (Cadernos Brasileiros de Arquitetura – volume oito) (1981: pp. 44-47) e nos projetos residenciais que rea- lizou, destacando o detalhamento executivo da Residência Raphael de Freitas, construída em 1973 na capital paulista (Fujioka; Severi- no, 2018: p. 42). Embora tenha se aposentado em 2004, nunca deixou de lado a paixão por ensinar e divulgar conhecimentos, participando cons- tantemente em eventos acadêmico-científicos e ministrando aulas e palestras tanto para cursos de especialização, como o de Arqui- tetura Hospitalar do Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, quanto para outros profissionais. Em 2019, por exemplo, o arquiteto participou da Semana de Sustentabilidade São Camilo, onde apresentou a relevância da arquitetura hospitalar para médi- cos, enfermeiros e outros profissionais que atuam tanto no funciona- mento dos hospitais dessa rede quanto no ato de cura. 181
  • 193. 4.1. O livre exercício da profissão Zanettini já realizava projetos e obras antes de se formar, en- quanto cursava o seu terceiro ano de graduação. No entanto, foram os primeiros anos da década de 1960 que registraram o início da experiência profissional como arquiteto formado, o que fez emergir lacunas conceituas relevantes para o entendimento, sobretudo, da construção civil. Isso motivou o arquiteto a retomar os estudos, ao mesmo tempo em que buscava novas referências teóricas para fun- damentar e orientar a sua produção arquitetônica (Zanettini, 2002: p. 21). No final deste período, a consciência do quadro crítico do momento político brasileiro colide com a reavaliação crítica do pró- prio “fazer arquitetônico” (Zanettini, 2002: p. 21). Dessa forma, ini- cia-se a revisão dos fundamentos da obra produzida, marcada por importantes construções, como a Maternidade Escola Vila Nova Cachoeirinha (Figura 128), primeiro edifício hospitalar projetado por Zanettini. O hospital, projetado em 1968, está situado na Zona Norte da cidade de São Paulo e, segundo Segawa et al. em Siegbert Zanetti- ni (Cadernos Brasileiros de Arquitetura – volume oito) (1981: p. 34), foi o vencedor do concurso privado promovido pela Secretaria de 182 Figura 128 Maternidade escola vila nova cacho- eirinha. Fonte: acevo do Zanettini Arquitetura
  • 194. Figura 129 Croqui de im- plantação. Fonte: Zanettini, 2002: p. 63 Higiene e Saúde da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP). Em 1971, foi premiado na exposição anual do Instituto de Arquitetos do Brasil São Paulo (IAU/SP), na categoria Projetos de Edifícios para fins de Saúde. Este corresponde ao primeiro projeto realizado para o conjunto médico-hospitalar, onde, em um primeiro momento, ape- nas a maternidade com 90 leitos foi construída, totalizando 8.500 m² (Xavier; Corona; Lemos, 1983: p. 100). Inicialmente, o local de implantação do edifício foi concebido para abrigar um dos maiores cemitérios da capital, o que levou à mudança para um terreno próximo. Nele foi projetado um conjunto médico-hospitalar composto por dois blocos interligados por ram- pas, com uma área de 120 mil metros quadrados (Figura 129) (Za- nettini, 2002: p. 64). O bloco leste, com uma volumetria retangular de 22 m x 60 m, abriga as funções de assistência concentrada. No térreo, estão os serviços gerais e de apoio ao funcionamento do hospital, como a cozinha, a lavanderia, o almoxarifado, o vestiário e a administra- ção. No pavimento superior, estão o centro obstétrico, as salas de higienização, o preparo de parto, a recuperação pós-operatória, a central de esterilização e os vestiários dos médicos e enfermeiras (Xavier; Corona; Lemos, 1983: p. 100). Segundo Zanettini (2002: 183
  • 195. Figura 130 Setorização do hospital. Fonte: Zanettini, 2022: p. 63 p. 65), as unidades pós-operatórias estão localizadas ao lado dos quartos, tendo os postos de enfermagem ao centro. O bloco oeste, com dimensões semelhantes, abriga, nos dois pavimentos superiores, as enfermarias e o berçário, além de um posto de saúde polivalente (Xavier; Corona; Lemos, 1983: p. 100). Essa separação foi idealizada devido à complexidade do atendi- mento e à necessidade de cuidado constante dos profissionais (Za- nettini, 2002: p. 65), estruturando, dessa forma, o partido horizontal adotado pelo arquiteto (Figura 130). Este hospital demonstra a aplicação de questões projetuais, bem como o desenvolvimento de soluções e elementos construtivos que Zanettini incorpora aos outros projetos hospitalares que realiza. Até os dias atuais, esse edifício é considerado um dos exemplos de projetos hospitalares brasileiros, sendo considerado uma referên- cia, sobretudo devido às suas qualidades espaciais e às soluções projetuais aplicadas. 184
  • 196. Figura 131 Foto interna de uma das rampas de acesso. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura. Figura 133 Foto do canteiro central. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura. A humanização espacial e a sustentabilidade já são aplicadas neste projeto, onde o arquiteto demonstra preocupação com o confor- to dos pacientes. Em termos de humanização, é importante salientar a presença de uma paleta de cores marcada pelo laranja e pelo azul no piso em manta do edifício (Figuras 131 e 132), além do amarelo dos brises metálicos; o posicionamento das aberturas, voltadas prin- cipalmente para o cinturão verde, os jardins internos (Figura 133) e a cidade; e o projeto paisagístico. Dado que o cemitério está situado nas proximidades do terreno, um cinturão verde foi utilizado como barreira visual, ao mesmo tempo em que foram projetados jardins internos no nível do térreo, que podem ser acessados tanto fisicamente quanto visualmente pelos pacientes (Figura 134). 185
  • 197. Figura 132 Foto do quarto de recuperação. Fonte: Zanettini, 2002: p. 67 Figura 134 Planta do hospital evidenciando o canteiro central. Fonte: Xavier; Corona; Lemos, 1983: p. 100 Legenda: 1. Apoio médico 2. Sala de parto 3. Trabalho de parto 4. Rampas 5. Enfermaria A sustentabilidade pode ser observada sobretudo na utiliza- ção de divisórias leves (Figura 135) e do piso em manta, desenvolvi- do pelo arquiteto, que reduz as reentrâncias e torna mais fácil a ma- nutenção e a mudança de layout dos ambientes, e pela disposição das aberturas, do piso ao forro, encobertas com brise metálico, que permitem a ventilação natural e o controle da entrada de luz natural dentro das enfermarias (Figura 136). 186
  • 198. Figura 135 Enfermaria. Fonte: Zanettini, 2002: p. 67 Figura 136 Detalhe da caixilharia. Fonte: Zanettini, 2002: p. 67 A década de 1970 foi marcada pelo aumento significativo de sua produção, tanto de cunho profissional como acadêmico. Há uma perspectiva de uma abordagem mais sistêmica quanto à produção dos edifícios e a possibilidade de se usar outros materiais construti- vos, como a madeira e a estrutura metálica (Zanettini, 2002: p. 73). Essa variada gama arquitetônica, desde residências até igrejas e indústrias, ainda demonstrava o repertório modernista, ao mesmo tempo em que apresentava o caráter inovador do arquiteto em sua constante busca pelo aperfeiçoamento de sua arquitetura. Zanettini desenvolve, a partir desta década, experiências sig- nificativas com a madeira, demonstrando o seu envolvimento com questões relacionadas às condições ambientais. Isso se deve ao fato de que, ao contrário de outros países, como Finlândia, Japão e Noruega, que consideram a madeira como um elemento nobre, de uso valorizado e para fins específicos, no Brasil, esse elemento foi mantido em uma posição muito secundária, o que resultou numa visão predatória da paisagem (Segawa et al., 1981: p. 44). Nessa 187
  • 199. Figura 137 Esquema de ventilação natural. Escola estadual de 1º grau. Fonte: Zanettini, 2002: p. 130 perspectiva, Zanettini optou por utilizar madeiras de reflorestamen- to como matéria-prima para seus projetos, aplicando um sistema industrializado de vigas compostas de pinho, que, até então, era pouco explorado pela construção civil (Zanettini, 2002: p. 73). Em relação as suas experiências com aço, Zanettini, inicial- mente, se limitava a usar a estrutura em condições mais ou menos convencionais, tirando proveito do vazio criado pelos elementos treliçados. Mais tarde, trabalhou com formas variadas, explorando novas possibilidades de espaço, otimizando a articulação dos ele- mentos lineares dos treliçados e evoluindo habilmente para formas não lineares. Como consequência, desenvolve projetos específicos para cada situação e um detalhamento próprio da estrutura que ca- racteriza a condição de cada solução espacial. Há um estudo e uma preocupação em solucionar, sobretudo, como a estrutura se articu- la com os demais elementos construtivos, utilizados principalmente para vedação (Zanettini, 2002: pp. 124, 125). Além disso, isso possibilitou soluções distintas envolvendo as aberturas, tanto para ventilação quanto iluminação natural, propor- cionadas pela composição do material. No projeto da escola estadu- al de 1º grau, que foi construída na cidade de Dracena/SP em 1976, o arquiteto utilizou um módulo tridimensional, formado por quatro apoios e uma membrana horizontal em “V” (Zanettini, 2002: p. 125), permitindo a passagem da ventilação natural próximo à cobertura, melhorando as condições térmicas internas (Figura 137). 188
  • 200. Figura 138 Zoneamento do hospital muni- cipal de Osasco. Fonte: Zanettini, 2002: p. 132 Figura 139 Circulação interna. Fonte: Zanettini, 2002: p. 135. Em 1976, Zanettini projetou o Hospital Municipal de Osasco, tendo como base as condições específicas de projeto, fundamen- tadas na experiência adquirida anteriormente, e nas condições do terreno. Dessa forma, uma “rua médica” foi desenvolvida como ele- mento articulador de todo o projeto, configurando um eixo longitudi- nal que atravessa toda a massa arquitetônica e, ao mesmo tempo, se conecta verticalmente com todas as circulações horizontais per- pendiculares à unidade de internação, localizadas nos diversos pa- vimentos do único bloco vertical. Esses eixos, longitudinal e trans- versal, além de zonearem (Figura 138) todos os setores do hospital, permitem a quase totalidade dos seus acessos (Figura 139) (Zanet- tini, 2002: p. 132). O acesso diferenciado à “rua-médica”, que é reservada para funcionários e pacientes internados (Zanettini, 2002: p. 132), con- tribui para a melhoria da privacidade dos pacientes. É importante salientar que essa diferenciação de fluxos também é observada em outros projetos hospitalares, como o Hospital Sarah Centro, projeta- 189
  • 201. Figura 140 Foto exter- na. Clínica Pistelli Fonte: Zanettini, 2002: p. 240. do por Lelé em 1980. A década de 1980 consolidou a visão global liberta de referen- ciais formais e técnicas construtivas ultrapassadas, estabelecendo uma linguagem arquitetônica própria ao arquiteto, aproximando seu trabalho das atividades realizadas internacionalmente por Norman Foster, Richards Rogers, Renzo Piano, Santiago Calatrava, Jean Nouvel, entre outros (Zanettini, 2002: p. 175). Segundo suas pala- vras: “Mais importantes que os textos antigos e publicações que chegam do exterior, como subsídio teórico para a compre- ensão deste novo e importante momento da arquitetura in- ternacional, são as experiências efetivamente enfrentadas como desafios de cada contexto, na forma, na complexidade e nas dimensões que apresentam, consolidando uma com- preensão madura de nossa realidade e do vir a ser da arqui- tetura” (Zanettini, 2002: p. 175). O projeto do Hospital Ermelino Matarazzo é muito relevante para esse período devido à participação da comunidade na elabo- ração do projeto. Ocorre também o desenvolvimento de tecnologias limpas e da noção de qualidade construtiva, características aplica- das por Zanettini em seus projetos, como o da Clínica Ortopédica Pistelli (Zanettini, 2002: p 175). A Clínica Pistelli (Figura 140), fundada em 1980 na cidade de São Paulo/SP, tem como diretrizes projetuais a racionalização do espaço de acordo com as dimensões do terreno e a otimização das relações funcionais entre ambientes. Concebida a partir de uma tra- ma modular, o arquiteto projetou essa construção em três pavimen- tos, onde no térreo, foram instaladas as áreas destinadas ao públi- co, com consultórios, sala de fisioterapia, copa, sanitários e áreas de espera. No primeiro pavimento, estão, além de consultórios, outros ambientes utilizados ex- clusivamente pelos fun- cionários, como a biblio- teca, o conforto médico e os vestiários. No subsolo, 190
  • 202. Figura 141 Foto do hall de espera. Clínica Pistelli. Fonte: Zanettini, 2002: p. 242. acessível por rampas, estão o centro cirúrgico, a sala de repouso, o central de materiais e o raio-x (Zanettini, 2002: p. 241). Devido à leveza de linguagem e às dimensões do edifício, o arquiteto optou pelo aço como solução estrutural, atribuindo esbel- tez aos pórticos compostos por pilares em cruz e vigas em “U” e “I”, definindo cubos colorido que se sobrepõe, resultando em um vo- lume rico e plasticamente interessante. Placas de concreto celular autoclavado foram utilizadas como elementos de vedação e lajes, devido ao seu excelente desempenho estrutural termoacústico, tor- nando o processo de construção mais eficiente e menos artesanal (Zanettini, 2002: p. 241,243). As esquadrias metálicas, os materiais de acabamento, a ra- cionalidade nas instalações elétricas e hidráulicas, a família cromá- tica (Figura 141), e a presença de fossos jardins, que contribuem para assegurar ao subsolo ventilação e iluminação natural, confe- rem ao edifício um aspecto único na coerência da linguagem e no equilíbrio formal (Zanettini, 2002: p. 243). 191
  • 203. Figura 142 Projeto Casa Limpa-Eco 92. Fonte: Zanettini, 2002: p. 284. Na década de 1990, o conceito de arquitetura contemporâ- nea foi explicado pelo amadurecimento de um conjunto de condi- cionantes, tais como: a essência multidisciplinar da arquitetura; a relevância ambiental na construção civil; e o aprofundamento teó- rico-prático resultante do aprimoramento as linguagens do concre- to, da alvenaria estrutural, da madeira e do aço (Zanettini, 2002: p. 261). A preocupação com a sustentabilidade na construção civil ga- nha espaço no debate global. Zanettini, neste período, desenvolve o projeto Casa Limpa – Eco 92 (Figura 142). Este projeto é considerado como a concretização de uma nova abordagem para a cultura urbana, que considera a condição humana como um tema central, ao mesmo tempo em que repensa a relação entre o homem e a natureza, considerando ambos como agentes ativos de um processo cultural global e indivisível. Dado que a construção é composta exclusivamente por processos indus- trializados, o arquiteto buscou uma solução que atenda às mais di- versas necessidades e tipologias, de baixa a média complexidade, 192
  • 204. Figura 143 Vista da fachada externa. Anexo Hospital São Francisco Fonte: Zanettini, 2002: p. 389 como casas, escolas e centros de saúde, incentivando e promoven- do o uso de tecnologias limpas (Zanettini, 2002: p. 285). Após uma análise de viabilidade de diversos sistemas cons- trutivos, Zanettini optou pelo uso de uma estrutura metálica, com- posta por perfis tubulares parafusados em nós articuladores, que, além de serem compatíveis, permitem grande flexibilidade e os mais variados arranjos espaciais. As vedações externas são compostas, preferencialmente, por painéis confeccionados com materiais re- cicláveis, como chapas de aço resultantes do processamento de sucata, aglomerados de entulhos, fibra orgânica resinada, dentre outros. As esquadrias, os diversos componentes, equipamentos e revestimentos, apresentam uma lógica construtiva limpa, dispen- sando o longo acabamento in loco (Zanettini, 2002: p. 285). Dessa forma, a racionalização do processo e da construção não apenas promove um aumento da produtividade, como também reduz os re- síduos gerados e acelera a execução da obra, ocasionando benefí- cios financeiros. Durante esse período, houve um aumento no número de hos- pitais projetados pelo arquiteto, incluindo o Anexo do Hospital São Francisco (Figura 143), que foi construído em 1998 e localizado em Ribeirão Preto/SP, e os projetos realizados em São Paulo por volta de 1999, como o Atrium do Hospital Albert Einstein61 , o Hospital Pro- fessor Edmundo Vasconcelos e a primeira intervenção 6 Análise do projeto se encontra nas páginas 130 a 132. no Hospital São Camilo – Uni- dade Pompeia. Todos esses projetos apresentam uma lin- guagem arquitetônica muito semelhante, sobretudo devido à industrialização e raciona- lização da construção, bem como à preocupação do arqui- teto com a qualidade do am- biente construído e o conforto dos pacientes. 193
  • 205. Figura 144 Capela ecumênica. Fonte: Zanettini, 2002: p. 388 Figura 145 Vista parcial do hall de entrada. Fonte: Zanettini, 2002: p. 388 Figura 146 Vista parcial da sala de estar. Fonte: Zanettini, 2002; p. 388. No Anexo do Hospital São Francisco, o arquiteto utilizou a estrutura metálica para dar um aspecto orgânico ao edifício, eviden- ciada pela aplicação de placas de ACM como elemento de vedação, além de uma leveza ao recuar a entrada. No interior, aplicou uma paleta de cores em tons neutros e terrosos, principalmente nos mo- biliários, e tons azulados nos biombos da capela ecumênica (Figu- ra 144). Por evidenciar a utilização de iluminação natural em seus projetos, instalou grandes planos de vidros, que também permitem a visão para a cidade e para a vegetação externa. Nestes locais, posicionou principalmente os espaços de espera e estar (Figura 145 e 146). 194
  • 206. Figura 147 Siegbert Zanettini e Jarbas Karman, 2003. Fonte: IPH, 2014: p. 24 Zanettini, assim como muitos arquitetos, realizou uma análise crítica da arquitetura ao longo das décadas, especialmente ao examinar os desafios enfrentados pela sociedade e pelos centros urbanos. De acordo com a análise apresentada pelo arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé) (2011: p. 07), Zanettini apresenta uma preocupação em integrar, ao longo do processo criativo de cada projeto, o conheci- mento disponível e adequado, passando a realizar a convergência equilibrada entre a razão e a sensibilidade. Em outras palavras, o “fazer arquitetônico contemporâneo” representa trabalhar com a interdiscipli-naridade, embasada no conhecimento científico e sensível de forma sistê-mica que globalize o histórico, o am- biental, o social, o político, o econômico e o tecnológico (Rut- man, 2011: p. 10). Dessa forma, as mudanças nos paradigmas do ser humano em rela- ção às demandas individuais e coletivas em relação à qualidade de vida e à sua evolução como ser social, sobretudo em relação à alte- ração de hábitos e comportamentos e à consciência ambiental, dão ao conceito de projeto arquitetônico uma nova dimensão (Zanettini, 2002: p. 456), requerendo uma troca contínua de conhecimento e experiências. Zanettini aborda essa realidade ao relatar sua relação com Jarbas Karman (Figura 147), com quem muito conversava, du- rante sua entrevista com a revista IPH. Em suas palavras: “O que me identificava muito com o Jarbas é essa visão abrangente e sobre a qual conversávamos muito. Todas as palestras que ele dava, eu comparecia e ele também assistia às minhas e trocávamos ideias sobre a abordagem, não só como arquiteto e engenheiro, mas de uma forma mais ampla. Em 2003, eu tive uma sala es- pecial na Feira Hospitalar - ADH São Camilo. Ele compareceu e trocamos ideias sobre as experiências expos- tas. Isso nos aproximava, porque a nossa forma de pensar era próxima” (IPH, 2014: p. 25) 195
  • 207. Figura 148 Implanta- ção da ampliação do CENPES. Fonte: Rutman, 2011: p. 98 A arquitetura contemporânea de Zanettini demonstra-se atra- vés da clareza de conceitos e de seu posicionamento firme como arquiteto generalista, como um elemento indispensável para a inte- gração dos diversos saberes que atuam na produção arquitetônica (Lima (Lelé), 2011: p. 07). Com isso, os projetos realizados a partir dos anos 2000 demonstram um esforço para compreender a racio- nalidade da construção industrial em sua máxima capacidade e a complexidade crescente dos programas. Dentre os projetos que realizou, destacam-se: a passarela do Hospital das Clínicas de São Paulo, a ampliação do Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES) e o projeto do Complexo Hospi- talar São Camilo – Unidade Pompeia. A ampliação do CENPES da Petrobras foi concluída em 2010 e realizada na Ilha do Fundão/RJ. O complexo é composto por 20 edifícios (Figura 148), totalizando 124.368,58 m² de área construída (Rutman, 2011: pp. 96,98), po- -dendo ser considerado o maior centro de pesquisa do Brasil e o segundo maior do mundo em termos de número de laboratórios e cientistas (IPH, 2014: p. 24). 196
  • 208. Figura 149 Corte transversal do Prédio Central. Fonte: Rutman, 2011: p. 100 Figura 150 Planta de um jardim entre laboratórios. Fonte: Rutman, 2011: p. 100 A forma arquitetônica deste grande complexo está condicio- nada aos pa-drões climáticos locais (Figura 149), com uma estética contemporânea que visa o equilíbrio e a harmonia arquitetônicas decorrentes do dimensionamento adequado de cada espaço. Como um edifício sustentável e voltado para o conforto interno, já uma efi- ciência no uso das águas, com a reutilização da água pluvial para, sobretudo, a irrigação dos jardins e bacias sanitárias, e na gera- ção de energia elétrica, com a instalação de painéis fotovoltaicos. A vegetação, por sua vez, está presente em todo o complexo, tanto nos jardins do Prédio Central, projetados para serem espaços de reunião abertos (Figura 149), quanto nas áreas ajardinadas ao nível do solo, destinadas à socialização (Figura 150) (Rutman, 2011: pp. 100,102). 197
  • 210. 5.1 Breve história do hospital O hospital São Camilo Pompeia está localizado no bairro da Pompeia, zona oeste de São Paulo. Esse bairro surgiu após o térmi- no da escravidão, em 1888, e à chegada de imigrantes, que vieram ao Brasil em busca de novas condições de vida e emprego. A região oferecia diversos atrativos para a população assa- lariada, desde as condições climáticas até a presença de diversas fábricas, como a Companhia Melhoramentos, a Santa Marina e as indústrias Matarazzo. Segundo Levino Ponciano, em seu livro Bair- ros paulistanos de A a Z (2001: p. 168), esse bairro se tornou “um bairro operário abarrotado de imigrantes italianos, portugueses, es- panhóis e outros”. Dessa forma, a região foi sendo povoada, onde as chácaras antigas foram se transformando em novos loteamentos. O loteamento da Vila Pompeia foi realizado por Rodolfo Miranda, da Companhia Urbana Predial, no início do século XX (Figura 151). A Vila Pompeia, situada entre a Vila Romana e o bairro de Perdizes, era delimitada pelos córregos Água Branca e Água Preta, sendo cortada por uma via de mesmo nome. Há duas interpretações para a determinação do nome Pom- peia. A primeira versão conta que Rodolfo de Miranda resolveu bati- zar o loteamento em homenagem à sua esposa, Aretuza Pompeia. A segunda está relacionada com uma família italiana. Família essa que está envolvida com o próprio surgimento do hospital. Em 1920, o casal Claudio de Souza e Luiza Leite de Souza viajou à Itália para visitar o Santuário de Nossa Senhora do Rosário, situado na cidade de Pompeia, na província de Nápoles. Durante a Capítulo 5 Hospital São Camilo Pompeia 199
  • 211. 200 Figura 151 Mapa do bairro de Pompeia 1930. Com destaque para a quadra onde está localizado o hospital São Camilo. Fonte: Geosampa, 2023. Disponível no site:< https://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em abril/ 2024. Figura 152 Capela da N. Sr.ª do Rosário de Pompeia. sem data. Fonte: Igreja da Pompeia, 2023. visita, oraram para que Maria, mãe de Jesus, invocada como Nossa Senhora do Rosário, intercedesse por sua filha, que estava doente em São Paulo/SP (Igreja da Pompeia, 2023). Após retornarem ao Brasil e encontrarem a filha curada, o casal ordenou a construção de uma cape- la em um terreno no ponto mais alto do outeiro que dominava a região (Figura 152). A capela apresentava uma planta retangular de sete por quatorze metros, com a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, trazida da Itália a pedido do casal, ao centro do altar (Igreja da Pompeia, 2023). Em novembro de 1923, o pa- dre Inocente Radrizzani assumiu a administração da capela, instalan- do, aos fundos, uma escola para crianças da região e, ao lado, um consultório médico, com atendi-
  • 212. mento gratuito a todos. Com o crescimento do bairro e do número de moradores, foi necessário substituir a capela por uma igreja, com um espaço que comportasse mais pessoas durante os cultos. Para tal, o arquiteto italiano Guiseppe Sachetti foi contratado, iniciou a construção em 1928. Após cinco anos, a igreja foi inaugurada, apre- sentando características arquitetônicas semelhantes às do Santuá- rio de Pompeia, na Itália (Figura 153) (Igreja da Pompeia, 2023). No mapa cartográfico de 1954 (Figura 154), é possível identi- ficar a localização e a volumetria da igreja e da construção utilizada para o atendimento médico, que, com o decorrer dos anos, passou a ser administrado por outras instituições que prestam assistência à saúde. Este edifício, composto por três edificações geminadas, foi adquirido pelo Hospital São Camilo em 1960, ano em que foi inau- gurada a Unidade Pompeia. Em 1999, diante das dificuldades encontradas e da necessi- dade de incluir novas atividades para assegurar a funcionalidade do hospital, o escritório Zanettini Arquitetura foi contratado para realizar uma reforma geral do edifício. Conforme os relatores de Zanettini, a construção apresentava um centro cirúrgico precário, quartos mal resolvidos, setores de insumos com baixa qualidade, um desalinha- mento notável na fachada, esquadrias discordantes e materiais e revestimentos bastante deteriorados (Zanettini, s. d.). 201 Figura 152 Imagem comparativa entre a arquitetura da Paróquia N. Sra. do Rosário de Pompeia – São Paulo / Brasil (ima- gem superior) e o Santuário da Virgem do Rosário de Pompeia – Pompeia / Itália (imagem inferior). Fontes: Arquisp, 2023. Disponível no site:< https://arquisp.org.br/regiaose/paroquias/paroquia-nossa-senhora-do-rosario-de-pompeia/matriz-pa- roquial-nossa-senhora-do-rosario-de-pompeia>. Acesso em: jun. 2023, e Scaramuzzino, 2021. Disponível no site: <https:// pt.italiani.it/santu%C3%A1rio-madonna-rosario-pompei/>. Acesso em: jun. 2023.
  • 213. Figura 155 Bloco I - entrada Pronto Socorro Infantil. Fonte: Google Street View, 2017 202 Após uma análise preliminar do programa da unidade, o ar- quiteto iniciou o projeto de reforma nos pavimentos inferiores volta- dos para a Avenida Pompeia, onde estão localizados os prontos-so- corros adulto e pediátrico. Além de uma nova setorização espacial, projetou coberturas metálicas que marcam as entradas e um retrofit na fachada (Figura 155). Figura 154 Localização do edifício original do Hospital São Camilo Pompeia, em 1954. Fonte: Geosampa, 2023. Disponível no site:< https://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em abril/ 2024.
  • 214. Figura 156 Plano Diretor do Hospi- tal São Camilo Pompeia, baseado no projeto do arqto. Zanettini. Fonte:acervo pessoal da autora, 2024. A necessidade de expansão fez com que o escritório fosse novamente contratado para elaborar o Plano Diretor do Complexo Pompeia (Figura 156), que orientaria todas as futuras construções. Como de costume, este projeto foi realizado em conjunto com uma equipe multidisciplinar composta por arquitetos, engenheiros, dire- tores, médicos e outros profissionais envolvidos no funcionamento do hospital (Zanettini [a], 2019). Segundo Zanettini, ao elaborar o Plano Diretor, foram analisadas as áreas do hospital, as possibilida- des de acesso e integração ao bloco existente e as características positivas e negativas que poderiam influenciar no partido arquitetô- nico adotado para os demais blocos. 203
  • 215. 204 Como vários hospitais da época, essa instituição apresentava construções nas quadras vizinhas, que serviam como laboratórios, escritórios e consultórios. Visando agrupar essas funcionalidades às necessidades existentes e permitir uma expansão ordenada do hospital, a solução encontrada foi a aquisição sucessiva e progra- mada de terrenos vizinhos ao Bloco I, na sua maioria, sobrados. Após a aquisição, as construções foram demolidas e os terrenos incorporados ao tamanho inicial do projeto, quintuplicando o seu di- mensionamento. Zanettini desenvolveu um projeto de acréscimos que se agre- gam ao bloco inicial para assegurar a continuidade formal, visando aumentar o número de leitos de 100 para 400 unidades. Além da construção separada de cada bloco, foi necessária a escavação de subsolos para garagens e espaços de circulação para pedestres e veículos. Adicionalmente, foram construídas casas de máquinas, centrais de energia e redes de instalações, de modo a atender às necessidades técnicas e funcionais necessárias para o funciona- mento do hospital e dos equipamentos e tecnologias médicas (Za- nettini [a], 2019). Dessa forma, a elaboração do Plano foi realizada em três etapas. A primeira etapa foi a construção do Bloco II, que se esten- de perpendicularmente ao Bloco I, conectando-o ao edifício lateral utilizado como centro administrativo, além de ocupar o estaciona- mento já existente (Figura 157). Este era, inicialmente, destinado às acomodações dos padres da paróquia. Zanettini propôs um es- tacionamento no subsolo, além de uma capela e ambientes para os insumos diretamente relacionados ao funcionamento do hospital, situados na proximidade com a circulação vertical. Além disso, pro- pôs-se o aumento da quantidade de leitos nos andares superiores. A organização espacial do hospital foi concebida em torno do eixo central de circulação com interações laterais, o que permitiu o de- senvolvimento de novas condições de conexão com os demais blo- cos do complexo.
  • 216. Figura 158 Vista externa Bloco III. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 205 Figura 157 HVista aérea da contrução do Complexo Hospitalar São Camilo Pompeia, em 2004. Fonte: Geosampa, 2023. Disponível no site:< https://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em abril/ 2024. Em seguida, foi realizada a construção dos blocos III e IV, respectivamente. O Bloco III (Figu- ra 158), construído em 2007, apresenta atividades compatíveis com os blocos anteriores, tais como novas unidades de internação, um novo centro de materiais, uma lavanderia, dois auditórios e um terraço jardim. Zanettini também projetou os dois primeiros andares para o atendimento ambulato- rial, composto por consultórios, salas de exames e ambientes de apoio aos funcionários. O Bloco IV (Figura 159), como uma extensão do Bloco II, pos- sibilitou um novo acesso ao hospital pela via Barão do Bananal. Esta nova recepção é marcada por um grande saguão, com pé-direito duplo devido ao mezanino, dispondo de espaços de estar e acesso a restaurantes e lojas.
  • 217. Figura 159 Vista externa Bloco IV. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 160 Foto do Bloco V durante etapa de construção. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 206 Por fim, foi realizada a construção do últi- mo bloco. O Bloco V (Figura 160), inaugurado em 2020, está situado na via Barão do Bananal, sen- do interligado ao Bloco IV por passarelas metáli- cas aéreas e um túnel subterrâneo, que conecta as garagens, permitindo a passagem de veículos, serviços e instalações (Zanettini, s. d.). A constru- ção é composta por 16 pavimentos, sendo cinco deles dedicados ao estacionamento subterrâneo. Nos pavimentos superiores, há consultórios e sa- las de exames para atendimento ambulatorial, atendimento fisioterápico e ortopédico, com pisci- na interna climatizada, 92 apartamentos individu- ais e uma cobertura, com paredes verdes e pai- néis solares (Zanettini [b], 2019). Desde a elaboração do projeto de Zanettini, o hospital tem enfrentado reformas constantes de- vido à mudança no tipo de atendimento oferecido e à adequação do mesmo para facilitar a limpeza e a manutenção, além de prevenir infecções hos- pitalares e contaminação cruzada, preocupação recorrente em EAS.
  • 218. Á 207 Figura 161 Planta Pronto-Socorro Infantil. Bloco I. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 5.2. Partido arquitetônico Como mencionado anteriormente, o Bloco I era o único edifí- cio existente, composto por três construções geminadas, totalizando sete pavimentos. Zanettini realizou uma reforma que alterou o layout dos pavimentos, visando melhorar a qualidade ambiental dentro do possível devido à herança patrimonial existente, como mencionado pelo arquiteto em entrevista.
  • 219. 208 O arquiteto iniciou a reforma pelos pavimentos inferiores, onde estão situados os prontos-socorros infantil e adulto, nos pri- meiros e segundos pavimentos, devido ao acesso direto à avenida Pompeia. O pronto-socorro infantil (Figura 161) possui uma organi- zação espacial horizontal, apresentando consultórios, salas de es- pera, brinquedoteca e salas de exames de imagens. A sua entrada é marcada pela cobertura metálica, que conecta o edifício à nova ca- bine de medição e transformação (Zanettini, s d.), necessária para atender à nova divisão espacial e às funcionalidades previstas no projeto.
  • 220. 209 No pavimento superior, o pronto-socorro adulto apresenta uma organização espacial muito parecida, porém com uma entrada principal ao centro do pavimento, com um café próximo, com as mesas voltadas para a avenida (Figura 162). Uma cobertura de aço e vidro, pintada de branco, conecta as mesas do café à entrada do estacionamento de ambulâncias, situado na lateral do edifício (Figu- ra 163), aumento também a área de espera.
  • 221. Figura 162 Planta Pronto-Socorro Adulto. Bloco I. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 210
  • 222. 211 Figura 163 Planta da área externa - avenida Pompeia. Fonte: Zanettini, 2002: p. 407. Zanettini, em entrevista, afirmou que essa solução projetual surgiu da necessidade de organizar o fluxo e aumentar a área útil do edifício, sem ocasionar grandes alterações na volumetria do edi- fício. Como o edifício foi construído muito próximo a avenida, ficava imprudente criar grandes acréscimos, sendo assim, a instalação de coberturas leves aumentava o espaço útil do pavimento sem preju- dicar a mobilidade urbana existente. Esta solução de layout foi, posteriormente, alterada. A entra- da para acompanhantes e visitantes foi transferida para o acesso voltado para a via Barão do Bananal, tornando este espaço no Bloco I desnecessário e inutilizado. A cafeteria foi substituída por novos consultórios, enquanto o espaço de mesas foi transformado em um local de espera, com um fechamento de aço e vidro que acompanha o desenho da cobertura (Figura 164). A decisão de alterar o layout foi tomada devido à necessidade de salas de espera em ambientes abertos ou com ventilação adequada para prevenir a disseminação da COVID-19 durante a pandemia.
  • 223. Figura 164 Vistas internas da sala de espera instalada embaixo da cobertura metálica. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 212
  • 224. 213 Figura 165 Planta terceiro pavimento. Bloco I. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. A ala de UTIs (Figura 165), adulta e pediátrica, está locali- zada no terceiro pavimento. Este pavimento também sofreu altera- ções no layout, sobretudo nos ambientes das extremidades, onde foram retiradas as divisórias internas, tornando-os em enfermeiras únicas, com o posto de enfermagem ao centro (Figura 166). Essa nova organização espacial permitiu que os enfermeiros tivessem uma melhor visualização dos seus leitos, posicionados próximos às aberturas (Figura 167).
  • 225. Figura 166 Posto de enfermagem UTI adulto. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022.. Figura 167 Interior UTI adulto. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022 214
  • 226. No quarto pavimento, estão instalados todos os ambientes voltados ao tratamento oncológico, tanto adulto como pediátrico (Fi- gura 168). Embora este atendimento já estivesse previsto no projeto de Zanettini, a determinação de que o andar fosse utilizado exclusi- vamente para este fim foi realizada posteriormente, sobretudo para acomodar uma farmácia especializada em medicamentos quimiote- rápicos. Os quartos de internação, tanto individuais quanto comparti- lhados, estão presentes nos quinto e sexto pavimentos (Figura 169). A configuração espacial destes andares, com o posto de enferma- gem no centro do pavimento, próximo às circulações verticais, pos- sibilitou a criação de um grande eixo horizontal de circulação sem obstrução. 215
  • 227. Figura 168 Foto acesso a recepção e sala de espera do centro oncológico infantil. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 169 Planta quinto e sexto pavimentos. Bloco I. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 216
  • 228. Figura 170 Planta Centro Cirúrgico. Bloco I. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. O último pavimento deste bloco abriga o centro cirúrgico (Fi- gura 170), que também recebeu um novo tratamento arquitetônico devido às características necessárias para a sua funcionalidade ide- al. As salas de cirurgia apresentam uma organização espacial que concentra os equipamentos no centro do ambiente, delimitados por uma cortina de ar instalada no forro (Figura 171). Este equipamento auxilia na assepsia durante todo o processo cirúrgico, protegendo contra a contaminação externa. Nas paredes internas, as réguas de tomadas e gases estão instaladas em uma altura que facilita o seu acesso físico e visual (Figura 172). Atualmente, as portas são me- tálicas, de correr e automatizadas, facilitando o fluxo e permitindo um maior controle de acesso, garantindo a proteção e a privacidade durante os procedimentos (Figura 173). As pias de assepsia (Figura 174) estão localizadas próximas de todas as portas de entradas das salas de cirurgia, bem como os controles de tubulação dos diferen- tes gases, facilitando sua manutenção. 217
  • 229. Figura 171 Cortina de ar instalado no teto. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 218
  • 230. Figura 172 Sala Cirúrgica. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 173 Corredor Centro Cirúrgico. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 174 Pia para assepsia. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 219
  • 231. Dada as condições dos elementos construtivos e decorativos, o arquiteto optou por substituí-los, sobretudo os pisos internos. Ele aplicou o piso em manta, com desenhos ortogonais formados por fai- xas coloridas. Contudo, devido à necessidade de manutenção e às alterações no layout dos pavimentos, estes foram novamente substi- tuídos por outro de mesmo material, porém em branco monocromáti- co (Figura 175). Figura 176 Altereação do desenho de piso em manta no Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 220
  • 232. Além disso, Zanettini realizou um projeto de retrofit na fa- chada, substituindo os revestimentos por placas cimentícias com acabamento melamínico branco e realinhando os vãos das facha- das, padronizando os fechamentos com esquadrias de vidro duplo e persianas móveis para proteger os pacientes acamados dos ruí- dos provenientes do tráfego externo (Figura 176). O arquiteto tam- bém aplicou placas de granito apicoado nos pisos das entradas, nas calçadas e nos acessos, adornados por um projeto paisagísti- co acrescido de totens de identificação e sinalização (Zanettini, s. d.). A volumetria composta pelos blocos II e IV visava estender perpendicularmente o Bloco I e estabelecer uma ligação entre os demais blocos do hospital, permitindo um novo acesso pela via Ba- rão do Bananal. O térreo do edifício (Figura 177), com pé-direito du- plo devido ao mezanino, tem um fechamento em plano de vidro, se- melhante às coberturas do bloco I. Ademais, Zanettini criou espaços para o bem-estar dos pacientes e visitantes, como o restaurante, as lojas, as áreas de estar (Figura 178) e a capela , localizada próximo ao acesso ao terceiro pavimento do Bloco I e a um dos conjuntos de circulação vertical. Essa edificação também apresenta conexão Figura 176 Perspectiva da fachada da avenida Pompeia. Fonte: Zanettini, 2002: p. 406. 221
  • 233. Figura 177 Planta térreo. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetu- ra, 2020. 222
  • 234. direta com os blocos III e V, sendo este último realizado por pas- sarelas aéreas. O mezanino (Figura 179) possui acesso à primeira passarela, o que ocasionou uma extensão deste pavimento e uma alteração em seu layout, aumentando sua área útil. Figura 178 Fotos da área de estar. Bloco II e IV. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 223
  • 235. Figura 179 Planta mezanino. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 224
  • 236. Figura 180 Planta 3º, 4º e 5º pavimentos. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanet- tini Arquitetura, 2020. 225
  • 237. Figura 181 Varandas privativas. Bloco II e IV. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. Figura 182 Localização varandas voltadas a via Barão do Bananal. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. Figura 182 Localização varandas voltadas a via Barão do Bananal. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. Os três andares subsequentes (Figura 180) são destinados aos quartos de internação, totalizando 72 unidades. Estes contêm varandas particulares, se- paradas por biombos metálicos vazados brancos e uma cobertura metálica bran- ca (Figura 181), contendo um desenho semelhante a outros elementos desen- volvidos por Zanettini. Por questões de segurança, foram instaladas placas de vidros duplos no apoio do guarda corpo. Também foram disponibilizados quartos com as varandas voltadas para a via Barão do Bananal (Figura 182). 226
  • 238. Figura 183 Planta 6º pavimento. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. No sexto pavimento (Figura 183), está o atendimento ambu- latorial pediátrico, com 11 unidades de internação, salas de estar para as mães, UTI pediátrica e UTI neonatal. Além disso, há o aces- so à segunda plataforma metálica aérea, o que resultou em uma nova setorização espacial, devido à alteração do posicionamento do centro de enfermagem. 227
  • 239. Figura 184 Planta 7º pavimento. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanetti- ni Arquitetura, 2020. O atendimento obstétrico e ginecológico está localizado no sétimo pavimento (Figura 184), com seis unidades de quartos de internação, berçários com 12 berços cada um, além de ambientes de conforto médico para os funcionários. O oitavo pavimento é uti- lizado como centro cirúrgico para atendimento ambulatorial. Devido às condições espaciais necessárias, estes pavimentos não apre- sentam varandas, mas seu fechamento em vidro permite a entrada de luz natural. 228
  • 240. No subsolo deste bloco, estão os ambientes de apoio ao fun- cionamento do hospital que requerem grandes dimensões, como o restaurante e a cozinha (Figura 185). O refeitório (Figura 186) é utilizado pelos funcionários, enquanto a cozinha apresenta uma se- torização para otimização do tempo, focada, sobretudo, no preparo dos alimentos dos pacientes. Este ambiente apresenta, ao fundo, o setor de lavagem e armazenamento de panelas e utensílios (Figura 187) com torneiras de água quente, o setor de preparo de carnes, cereais e legumes e o setor de sobremesas. Ao centro estão os espaços utilizados pelos nutricionistas para elaborar dietas perso- nalizadas, bem como o local de preparo dos alimentos (Figura 188). Por fim, o setor de cocção das refeições gerais (Figura 189) e o de cocção de dietas, instalados separadamente devido às restrições alimentares e alérgicas. Junto a ele são posicionados os carrinhos (Figura 190), utilizados para o transporte das refeições de todos os pacientes. Esses ambientes apresentam pisos e revestimentos em por- celanato branco, que, devido à alta temperatura e umidade, apresen- tam seus rejuntes escurecidos. Segundo a Arqta. Dyane, o depar- tamento de arquitetura do hospital está desenvolvendo um projeto de reforma para a cozinha e refeitório, com uma nova setorização interna, troca de revestimento e uma nova solução para a exaustão do ar quente que está presente no ambiente. A necessidade desta reforma se deu, sobretudo, devido à terceirização da alimentação dos funcionários e à existência de espaços que não estão sendo utilizados, como o local de distribuição de café (Figura 191). 229
  • 241. Figura 185 Planta da cozinha e refeitório funcionários no subso- lo. Bloco II e IV. Sem escala. Fonte: acervo do departamento de arquitetura do Hospital São Camilo, 2020. Figura 186 Refeitório funcionários. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 230
  • 242. Figura 187 Setor de limpeza de pane- las e utensílios. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022 Figura 188 Setor de pré-preparo dos alimentos. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 189 Setor de cocção de alimentos. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 190 Local de estacionamento dos carrinhos. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 231
  • 243. Figura 192 Sala de espera visitantes. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. As salas de estar para visitantes (Figura 192) estão dispostas em todos os corredores que ligam este bloco ao Bloco III. Esses ambientes, com um mobiliário semelhante aos das outras áreas de estar do hospital, apresentam um fechamento em plano de vidro, conferindo leveza à arquitetura. Figura 191 Setor de distribuição de café para funcionários. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 232
  • 244. Figura 193 Planta se- gundo subsolo. Bloco III. Sem escala Fonte: acervo do escritó- rio Zanettini Arquitetura, 2020. O Bloco III é composto por 12 pavimentos, sendo três deles subterrâneos. A área de estacionamento subterrâneo e as casas de máquinas dos condicionadores dos andares deste bloco estão loca- lizadas no terceiro subsolo. O segundo subsolo (Figura 193) é composto por dois auditó- rios, separados por uma divisória acústica que permite transformá- -los em um único ambiente quando necessário, permitindo a aco- modação de um número maior de pessoas. Ainda assim, segundo 233
  • 245. a Arqta. Dyane, esses ambientes são normalmente utilizados sepa- radamente, com reuniões, palestras e outros eventos ocorrendo si- multaneamente. A lado desses dois ambientes, está o Foyer (Figura 194), com um fechamento em vidro fosco que aumenta a privacida- de, e o local de retirada de exames, com uma sala de espera pró- pria. Todavia, houve uma alteração no layout deste andar em 2021, devido ao acréscimo do Carrefour Bairro próximo ao hall social. Esta inclusão ocasionou a remoção da sala de espera e do balcão de re- tirada de exames (Figura 195). Figura 194 Foyer dos auditórios. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 195 Guichê estacionamento ocupando antiga área do balcão de retirada de exames. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 234
  • 246. 235
  • 247. Os ambientes necessários para o atendimento ambulatorial estavam previstos no primeiro subsolo (Figura 196) e no térreo, com consultórios, salas de exames, ambientes de apoio aos funcionários e salas de espera. Dado que este tipo de atendimento foi transferido para os blocos IV e V, estes pavimentos passaram a ser utilizados como andares administrativos. Figura 196 Planta primeiro subsolo. Bloco III. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 236
  • 248. Os quartos de internação individuais estão dispostos do pri- meiro ao sétimo andar (Figura 197 e 198). Durante a pandemia da COVID-19, dois pavimentos foram utilizados como UTI para con- ter a doença e controlar sua disseminação. Consequentemente, os apartamentos foram reformados (Figura 199), apresentando um re- baixamento do forro devido ao novo sistema de condicionamento de ar e tubulações vinculadas ao controle de qualidades ambientais, presente ao lado da porta de entrada. Figura 197 Planta 1º - 7º pavimento. Bloco III. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 237
  • 249. Figura 199 Foto comparativa entre projeto do Zanettini e reforma realizada posteriormente. Quartos individuais. Bloco III. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022 Figura 198 Corte longitudinal dos quartos individuais. Bloco III. Sem escala Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 238
  • 250. Os pavimentos de internação são marcados por sacadas (Fi- gura 200) voltadas para a via Tavares Bastos. A instalação de pai- néis de vidro foi necessária devido a questões administrativas e de segurança (Figura 201 e 202). Zanettini acompanhou a instalação desta solução, uma vez que a fachada recebeu uma premiação, logo, não pode sofrer alterações significativas que alterem o partido arquitetônico adotado. Desta forma, o vidro segue a linguagem ar- quitetônica do arquiteto, complementando os elementos de revesti- mento das elevações, tais como os painéis de pré-moldado e o vidro laminado das aberturas (Figura 203). Figura 200 Planta da sacada. Fonte: acervo do escritório Zanettini Ar-quitetura, 2020. Figura 201 Corte longitudina das sacadas com instação dos vidros de proteção; Bloco III. Sem escala Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 239
  • 251. Figura 203 Elevação frontal. Bloco III. Sem escala. Fonte: acervo do escri- tório Zanettini Arquitetu- ra, 2020. Legenda: Figura 202 Foto interna da sacada. Bloco III. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 240
  • 252. 241
  • 253. Figura 204 Oitavo pavimento. Bloco III. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. O oitavo pavimento (Figura 204) foi projetado para conter o centro de esterilização dos materiais e uma grande lavanderia, com dimensionamento para atender todo o hospital. Com a terceiriza- ção deste serviço, esse andar teve o seu layout alte-rado, permi- tindo que o centro de materiais apresentasse um dimensionamento maior. No último pavimento, foi projetado um terraço jardim para a deambulação dos pacientes (Figura 205). 242
  • 254. 243
  • 255. Figura 205 Terraço-Jardim. Bloco III. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 244
  • 256. Figura 206 Fachada frontal do Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Em 2020, foi inaugurado o último bloco do complexo hospita- lar, o Bloco V, localizado do outro lado da via Barão do Bananal. Se- gundo Zanettini, o edifício apresenta características arquitetônicas diversas, mas que se adéquam à linguagem arquitetônica de todo o complexo. Dessa forma, foi elaborado um projeto com um tratamen- to mais sofisticado, tanto nos elementos internos quanto externos, apresentando um nível de qualidade e finalização mais elevado. As fachadas (Figura 206) são compostas por placas de ACM e planos de vidro, com brises metálicos na fachada nordeste, devido ao refle- xo dos prédios vizinhos nas superfícies envidraçadas. sobe S i=8.33% 2 1 E D C B A 3.70 10.80 8.40 8.40 7.20 7.20 SHAFT PRESS. BB ARQ-035 4 ARQ-033 P = 30cm E = 16,75cm GC = 90cm 25 degraus ESCADA 01 05 01 01 PCF1 HIDRANTE AL18 AL01 AL16 AL17 AL17 I ARQ-042 I ARQ-042 0.25 9.00 0.25 0.67 1.65 3.63 3.72 1.65 0.15 1.65 0.25 0.25 3.45 0.25 4.49 PERGOLADO (FECHAMENTO EM VIDRO) DET-51 LAJE IMPERMEABILIZADA SOBRE ENTRADA DE AR (PRESSURIZAÇÃO ESCADA) 100.43 m² GINÁSIO/ CINESIOTERAPIA/ MECANOTERAPIA 03 10 03 24.53 m² TERAPIA OCUPACIONAL / A.V.D. 03 10 03 9.38 m² BOX TERAPIA 03 10 03 9.45 m² BOX TERAPIA 03 10 03 9.01 m² BOX TERAPIA 03 10 03 9.80 m² BOX TERAPIA 03 10 03 11.21 m² CONSULTÓRIO 03 10 03 10.78 m² CONSULTÓRIO 03 10 03 232.43 m² CIRCULAÇÃO 03 01 05 3.75 m² SANIT. PCD 02 03 03 8.74 m² SANIT. PUBL. MASC. 02 03 03 5.15 m² DEPÓSITO 03 05 03 2.55 m² CIRC. 03 05 03 3.14 m² SANIT. FUNC. 01 05 03 8.53 m² SANIT. PUBL. FEM. 02 03 03 17.09 m² ATENDIMENTO 62.17 m² CIRCULAÇÃO 03 01 05 VS04 VS04 VS04 PM5* PM5* PM2a PM2a PM2a PM2a PM2a PM2b PM1 PM1 PM2a 0.70 0.35 1.10 1.10 0.40 0.40 0.70 0.35 0.80 0.60 1.70 1.70 0.40 1.85 2.50 0.40 0.40 0.25 5.88 2.40 2.94 1.92 0.36 5.34 2.81 3.50 3.30 4.80 10.80 2.30 2.34 3.00 3.00 0.25 2.28 4.34 4.48 0.25 2.28 3.60 2.10 1.84 1.50 3.34 1.30 1.23 PM1 PM1 PM1 2.77 1.44 1.67 0.25 4.76 m² ROUPA SUJA 01 05 03 2.30 2.40 1.78 4.52 m² POSTO/ SERVIÇO 03 01 03 0.40 3.05 2.42 2.34 0.40 1.60 0.50 107.06 106.66 2.20 2.52 4.80 3.10 0.50 2.05 0.25 PM9b CORRIMÃO CORRIMÃO PROJEÇÃO CANALETA CAPTAÇÃO SOB O BANCO PREVER CAPTAÇÃO 2.00 0.40 2.00 0.40 2.00 2.73 EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE NA RAMPA 0.40 0.40 0.70 0.50 SHAFT ZA - HOLD - 05/01/18 - 05/01/18 A VERIFICAR COM CLIMATIZAÇÃO POSSÍVEIS ABERTURAS OU NÃO PARA ESTA ÁREA 245
  • 257. Figura 207 Planta primeiro pavimento. Bloco V. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. O primeiro pavimento (Figura 207) é dedicado ao atendimen- to fisioterápico e ortopédico, com consultórios, salas de terapia ocu- pacional, piscina terapêutica interna climatizada (Figura 208), giná- sio (Figura 209) e acesso à primeira passarela metálica. Os dois andares seguintes contêm o atendimento ambulatorial, com recep- ção (Figura 210), consultórios, salas de exames, salas de espera (Figura 211) e lanchonete. Zanettini dividiu o atendimento nos dois pavimentos subsequentes, concentrando o pediátrico e ginecológi- co no terceiro pavimento. sobe sobe S S S 9 6 5 4 3 10 8 5' 7.20 7.20 7.20 7.20 7.20 3.60 3.70 SHAFT PRESS. ELEV. LEITO (24 pessoas) ELEV. MACA 1 (16 pessoas) ELEV. MACA 2 (16 pessoas) ELEV. SOCIAL 1 (15 pessoas) ELEV. SOCIAL 2 (15 pessoas) ELEV. SOCIAL 3 (15 pessoas) AA ARQ-034 AA ARQ-034 BB ARQ-035 P = 30cm E = 16,75cm GC = 90cm 25 degraus P = 30cm E = 16,75cm GC = 90cm 25 degraus 13.64 m² CONSULTÓRIO ORTOPEDIA 03 10 03 13.86 m² CONSULTÓRIO ORTOPEDIA 03 10 03 13.86 m² CONSULTÓRIO ORTOPEDIA 03 10 03 13.86 m² CONSULTÓRIO ORTOPEDIA 03 10 03 13.80 m² CONSULTÓRIO ORTOPEDIA 03 10 03 6.02 m² TURBILHÃO 02 19 03 10.45 m² A.C. 03 01 03 11.93 m² A.C. 03 01 03 7.47 m² SANIT. PUBL. FEM. 02 03 03 3.49 m² SANIT. PCD 02 03 03 7.24 m² SANIT. PUBL. MASC. 02 03 03 28.11 m² GESSO 03 10 03 ESCADA 03 05 01 01 ESCADA 02 05 01 01 HALL SOCIAL 06 01 03 CIRCULAÇÃO 03 06 05 CIRCULAÇÃO 03 01 05 RECEPÇÃO ESPERA 37 lug. 03 01 03 ESPERA 36 lug. 03 01 03 11 PCF1 PM2a PM2a PM2a PM2a PM2a PM1 PM1 PM8b PM5* PS4 VT03 VT03 TOTEM SENHA TV/SENHA TV/SENHA TV/SENHA TV/SENHA TV/SENHA TV/SENHA FI TV TV/SENHA TV/SENHA NS NS NS NS NS ND CC ARQ-036 CC ARQ-036 3.82 m² TELEMÁTICA 03 16 05 PM2a PS3 106.84 106.66 HIDRANTE AL01 AL03 AL03 AL02 AL02 AL08 AL08 AL12 AL12 AL10 AL11 K ARQ-042 K ARQ-042 J ARQ-042 J ARQ-042 DET-012 H ARQ-042 H ARQ-042 0.25 1.67 3.63 1.65 1.65 0.15 1.65 0.25 3.45 0.25 0.70 1.79 0.90 0.25 1.00 0.25 2.75 2.65 0.25 2.09 0.15 2.09 0.25 0.25 0.70 0.25 3.00 0.25 2.75 0.25 1.09 1.43 1.64 1.25 0.25 1.20 3.09 2.23 0.15 2.23 0.15 2.23 0.25 2.25 0.20 3.66 3.60 3.60 3.60 3.48 0.25 4.08 3.61 9.47 0.25 0.40 0.93 0.93 0.33 2.09 2.20 2.23 0.36 3.80 1.90 1.43 0.35 2.03 1.84 7.20 2.51 2.74 2.17 3.37 PS8 0.44 1.58 1.58 1.64 2.44 0.25 PS5 PS8 1.14 1.14 1.20 0.40 0.40 0.45 0.50 0.40 1.20 1.10 0.40 0.70 0.35 1.25 2.16 1.25 1.97 0.25 3.45 0.25 8.77 0.83 1.65 3.30 3.92 1.65 0.15 1.65 0.19 2.60 2.28 2.60 2.28 R 0.6 8 R 0.6 8 0.16 SHAFT 1.14 PS4 PCF8 ACESSO PASSARELA PROJ. SHAFT CORREIO PNEUMÁTICO 0.50 09 09 3.50 SHAFT SHAFT PRESS. PS2 DUTO DE EXAUSTÃO VER PROJETO DE INSTALAÇÕES 0.40 0.40 0.40 1.00 0.30 0.35 0.40 1.30 0.85 0.40 0.80 0.40 0.50 0.40 1.80 3.61 2.10 0.60 CORREIO PNEUMÁTICO 5.43 m² DML 01 05 03 6.15 m² UTILIDADES 01 05 03 4.62 m² RESÍDUOS 01 05 03 7.81 m² COPA COLAB. 01 05 03 11.11 m² CURATIVOS / PROCEDIMENTOS 03 10 03 2.83 m² SANIT. COLAB. 01 05 03 2.83 m² SANIT. COLAB. 01 05 03 6.41 m² POSTO/ SERVIÇO 03 06 03 0.25 3.98 0.15 0.65 0.25 2.20 0.25 SHAFT PRESS. SHAFT 0.45 PCF1 PCF16 PCF16 7 PS10 PM5a PM2 PM9 PM9 PM1 0.30 NS 0.40 TV/SENHA P = 35cm E = 15cm 6 degraus 49.97 m² PISCINA TERAPÊUTICA 17 11.46 m² VEST. PACIENTE 02 19 03 11.51 m² VEST. PACIENTE 02 19 03 52.58 m² CIRCULAÇÃO 15 19 11 4.39 m² DML 01 05 03 5.52 m² CASA BOMBAS 03 12 01 3.12 m² SANIT. COLAB. 01 05 03 3.12 m² SANIT. COLAB. 01 05 03 5.15 m² COPA COLAB. 01 05 03 9.62 m² RECEPÇÃO 03 01 03 39.54 m² LANCHONETE 22.36 m² ESPERA 11 lug. 03 01 03 (DEFINIÇÃO DOS ACABAMENTOS A CARGO DO PROJ. ESPECÍFICO DA LANCHONETE) 0.80 0.40 0.80 0.40 PM2b PM8* PM2b PM2 PM5* PM1 PM1 PM1 PM5* PM1 VEDAÇÃO A SER DEFINIDA EM PROJETO ESPECÍFICO DA LANCHONETE 0.50 0.50 0.45 0.40 0.45 0.50 2.15 1.07 0.27 1.07 2.18 0.25 0.90 1.21 1.18 0.90 2.81 1.87 2.24 2.44 12.00 2.24 2.44 0.25 2.53 2.35 2.33 2.10 1.35 3.45 2.40 2.17 2.12 1.34 1.34 2.40 2.28 0.33 2.06 2.74 4.80 9.90 106.66 106.56 106.16 BANCO h=40cm 106.66 P = 35cm E = 13,3cm 3 degraus 2.27 2.40 0.25 0.50 9.30 BANCO h=40cm BANCO h=40cm 2.08 1.01 0.40 CADEIRA ELEVADOR PARA PISCINA 0.05 0.40 0.32 0.80 1.22 DET DET-046 6.50 7.50 3.45 CORRIMÃO DET DET-053 1.75 1.20 0.70 0.30 DET DET-053 107.46 EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE NO BOX DE CHUVEIRO EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE NO BOX DE CHUVEIRO EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE NOS DEGRAUS DE ESCADA 1.20 PM2 0.05 P = 30cm E = 17cm 3 degraus EXECUTAR ENCHIMENTO LEVE NOS DEGRAUS DE ESCADA 2.50 106.16 SHAFT N ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI ARQUITETO COORDENADOR CLIENTE: OBRA: LOCAL: ASSUNTO: PROJETO: CÓDIGO: ETAPA: REVISÃO: FOLHA ESCALA ARQUITETURA EQUIPE ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI DATA: / / DATA: / / APROVAÇÃO DO CLIENTE DATA INICIAL PROJETO ARQUITETA ENGENHEIRO ARQUITETOS COLAB. . THAIS BARZOCCHINI CARLA ANDRADE ERNANI MOURA ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA, RAQUEL, ÉRIC PROJETO EXECUTIVO RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992 [email protected] DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS ZANETTINI ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA 1 : 50 07/05/15 PLANTA DO 1º PAVIMENTO HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA ARQ-021 Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5 ARQ - ARQUITETURA 879 - PBB R9 ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-021-01P-R9 REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16 R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16 R3 REVISÃO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI ZANETTINI 23/05/16 R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16 BASE A EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS (1P-9P) CARLA THAÍS 13/04/17 R5 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17 R6 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17 R7 REVISÃO VAGAS (1ºSS) / CENTRAL GASES / COMPAT. ACÚSTICA (TER) / ONDE INDICADO CARLA THAÍS 18/09/17 R8 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17 R9 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18 246
  • 258. CARRO EMERG. sobe 2 1 3 E D C B A 3.70 10.80 7.20 8.40 8.40 7.20 7.20 SHAFT PRESS. BB ARQ-035 21.09 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.72 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.72 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.72 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.83 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.29 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.29 m² APARTAMENTO 03 10 03 3.89 m² BANHO TIPO A 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 5.84 m² DEPOS. MAT. E EQUIPAM. 03 10 03 3.89 m² BANHO TIPO A 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 13.39 m² SERVIÇO 03 09 03 RELATÓRI 03 09 0 4.75 m² DML 01 05 03 ESCADA 01 05 01 01 ESTAR FAMILIARES 03 09 03 P = 30cm E = 16,95cm GC = 90cm 20 degraus COBERTURA VERDE COBERTURA VERDE 124.49 124.39 124.49 124.39 04 04 04 04 04 04 04 PM4a PM4a PM4a PM4a PS5 PCF1 PS5 PS2 PM2 PM4a PM4a PM4a PS5 PS2 PM2 14 PTV FR1 PTV FR1 FR1 FR1 PTV PTV PTV FR1 PTV FR1 FR1 PTV ND TV TV CORREIO PNEUMÁTICO RP RP RP RP RP RP RP peitoril h=1,24m peitoril h=1,24m CC ARQ-036 CC ARQ-036 AL17 AL15 AL17 AL04 DET-008 DET-008 I ARQ-042 I ARQ-042 DET-012 AMP-029 A,B,C DET-009 0.25 3.45 0.25 3.48 3.60 3.60 3.00 2.40 0.63 1.31 1.54 1.53 1.34 1.45 1.34 1.53 1.80 1.20 0.67 0.22 4.71 3.00 1.20 1.50 1.83 3.06 8.05 3.43 2.57 7.93 0.20 0.30 0.78 0.38 0.55 0.74 0.95 1.76 2.71 0.61 1.0 7 1.89 2.84 2.54 0.45 0.55 1.54 1.53 1.34 1.45 1.34 1.53 1.53 1.34 1.44 0.20 0.30 0.78 0.38 0.61 2.71 0.45 1.89 0.79 0.95 2.97 2.67 0.78 23.40 0.25 0.78 4.95 0.86 0.28 0.67 0.25 4.65 2.99 1.36 0.25 1.65 0.15 1.65 0.25 1.00 4.81 1.00 0.25 1.00 8.55 1.00 0.25 PONTOS DE ANCORAGEM DET-010 0.25 0.50 0.50 0.50 PONTOS DE ANCORAGEM DET-010 7.20 10.45 18.50 25.45 0.25 10.55 0.25 6.97 3.70 25.45 0.93 2.12 0.62 3.05 0.45 0.30 0.20 1.34 0.78 0.00 2.01 0.40 0.28 0.85 1.53 CIRCULAÇÃO 03 09 05 4.13 m² COPA COLA 01 05 03 2.83 m² ROUPA SUJ 01 05 03 DE ÁREAS AJARDINADAS, ÁRVORES, GUIAS REBAIXADAS E PAGINAÇÃO DE PISO DE CALÇADAS E ÁREAS EXTERNAS (TÉRREO) DEVERÃO SER VERIFICADAS NO PROJETO DE PAISAGISMO. ÁREAS AJARDINA REBAIXADAS E P CALÇADAS E ÁREA DEVERÃO SE PROJETO 1.90 HIDRANTE PM4 PM2 0.32 1.10 FI GE MIC 0.45 0.80 0.82 ABERTURA EM ESQUADRIA P/ MANUTENÇÃO ABERTURA EM ESQUADRIA P/ MANUTENÇÃO Figura 208 Ginásio. Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 209 Piscina interna. Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 210 Recepção. Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 211 Sala de espera. Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 247
  • 259. As 92 unidades de quarto individual estão dispostas do quarto ao oitavo pavimento (Figura 212) (Zanettini [b], 2019). Os pavimen- tos apresentam simetrias espaciais semelhantes, devido à alteração na volumetria do edifício (Figura 213), marcada pela existência de coberturas verdes. O acesso à segunda passarela está localizado no sexto pavimento. O nono e o decido pavimento são destinados ao pavimento técnico e à cobertura, respectivamente. sobe sobe DN DN 9 6 5 4 10 8 5' 7.20 7.20 7.20 7.20 3.60 3.70 ELEV. LEITO (24 pessoas) ELEV. MACA 1 (16 pessoas) ELEV. MACA 2 (16 pessoas) ELEV. SOCIAL 1 (15 pessoas) ELEV. SOCIAL 2 (15 pessoas) ELEV. SOCIAL 3 (15 pessoas) AA ARQ-034 AA ARQ-034 BB ARQ-035 11.93 m² A.C. 03 09 03 11.26 m² A.C. 03 09 03 3.84 m² TELEMÁTICA 03 16 05 4.90 m² EXPURGO 01 05 03 2.64 m² SANIT. 02 03 03 3.18 m² SANIT. PCD 02 03 03 19.79 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.26 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.26 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.26 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.26 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.26 m² APARTAMENTO 03 10 03 20.71 m² APARTAMENTO 03 10 03 4.10 m² RESÍDUOS 01 05 03 3.89 m² BANHO TIPO A 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 4.56 m² BANHO 02 03 03 3.89 m² BANHO TIPO A 02 03 03 IO 03 POSTO DE ENFERMAGEM 03 09 03 P = 30cm E = 16,95cm GC = 90cm 20 degraus P = 30cm E = 16,95cm GC = 90cm 20 degraus ESCADA 02 05 01 01 124.40 04 04 04 04 04 04 04 PCF1 PM4a PM4a PM4a PM4a PM4a PS5 PM4a PS5 PM4a PM2a PM1 PM2b PM2 PM2 PS2 PS5 14 VT09 FR1 FR1 FR1 FR1 FR1 FR1 PTV FR1 PTV PTV PTV PTV PTV PTV RP RP RP RP RP RP RP 124.58 124.40 PS3 HIDRANTE AL12 AL12 AL15 AL04 AL20 AL03 AL03 AL02 AL02 AL09 AL09 AL05 AL05 K ARQ-042 K ARQ-042 J ARQ-042 J ARQ-042 H ARQ-042 H ARQ-042 1.66 1.43 0.16 1.47 1.89 3.65 7.20 7.20 1.54 1.89 3.41 3.60 3.60 3.60 3.60 3.60 3.48 0.79 0.95 1.27 0.47 1.32 1.31 1.35 1.34 1.53 2.87 1.45 1.34 1.54 1.53 1.34 1.45 1.34 1.54 1.54 1.31 0.63 1.57 2.71 0.61 0.20 0.30 0.78 0.38 0.45 1.0 7 1.83 0.56 0.50 0.75 0.40 1.20 1.68 0.25 7.13 0.10 1.33 0.56 1.07 1.13 2.84 0.25 17.78 1.55 2.24 1.96 1.64 1.25 0.25 2.09 0.15 2.09 0.25 2.65 0.25 0.70 0.25 3.45 0.25 0.20 2.24 0.25 4.67 0.27 0.69 0.25 3.07 3.09 0.25 0.70 0.25 2.20 0.25 0.65 0.15 3.98 0.25 1.25 0.25 2.75 0.25 0.50 4.75 0.89 1.04 1.72 0.25 0.70 0.25 3.00 0.25 2.75 0.25 0.78 1.65 1.80 2.47 0.15 2.23 0.15 2.23 0.47 0.37 1.98 2.70 2.70 0.25 2.07 0.38 10.45 3.95 28.90 14.65 7.20 11.53 6.98 18.50 1.80 1.65 2.70 1.65 0.25 2.69 0.25 4.00 0.25 21.69 DD ARQ-040 DD ARQ-040 SHAFT 1.56 0.40 0.50 1.14 PS4 SHAFT SHAFT SHAFT PRESS. PS2 SHAFT DET-009 ESCADA 03 SHAFT PAREDE A SER CONSTRUÍDA APÓS A MONTAGEM DOS DUTOS DE PRESSURIZAÇÃO DUTO DE EXAUSTÃO VER PROJETO DE INSTALAÇÕES 0.28 0.85 0.85 0.28 0.30 0.20 0.40 0.40 0.45 0.30 0.20 0.45 0.93 2.12 0.62 0.62 3.05 0.13 0.20 1.65 10.41 m² COPA PACIENTE 01 05 03 33.89 m² HALL SOCIAL 06 09 03 125.79 m² CIRCULAÇÃO 03 09 05 AB. 3 JA 3 SHAFT PRESS. PCF16 PCF1 PS10 7 PCF19 BALCÃO EM GRANITO h=1.10m PROJEÇÃO MURETA DE ALVENARIA PROJ. MURETA ALVENARIA BALCÃO EM GRANITO h=1.10m BALCÃO EM GRANITO h=0.85m (PCD) PROJ. CORTINA CORTA FOGO PROJ. CORTINA CORTA FOGO PROJ. MURETA ALVENARIA HIDRANTE 1.65 PM11 PM2 PCF16 0.05 ADAS, ÁRVORES, GUIAS PAGINAÇÃO DE PISO DE AS EXTERNAS (TÉRREO) ER VERIFICADAS NO DE PAISAGISMO. 3.91 m² A.C. ISOL. 03 10 03 3.87 m² BANHO ISOL. 02 03 03 13.27 m² ISOLAMENTO 03 10 03 04 RP FR1 PTV PCF20 0.25 6.18 0.64 0.45 2.25 0.45 0.80 0.20 0.20 1.06 PM4 PM2 PM9 0.32 MQ MIC FG1 JUNTA DE DILATAÇÃO ENTRE PAREDES 0.20 0.50 0.30 0.35 1.34 2.11 3.45 0.85 0.72 0.50 0.87 BG4a BG5a PM2 PM4* PM4*a PS4 0.45 0.95 0.30 N ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI ARQUITETO COORDENADOR CLIENTE: OBRA: LOCAL: ASSUNTO: PROJETO: CÓDIGO: ETAPA: REVISÃO: FOLHA ESCALA ARQUITETURA EQUIPE ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI DATA: / / DATA: / / APROVAÇÃO DO CLIENTE DATA INICIAL PROJETO ARQUITETA ENGENHEIRO ARQUITETOS COLAB. . THAIS BARZOCCHINI CARLA ANDRADE ERNANI MOURA ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA, RAQUEL, ÉRIC PROJETO EXECUTIVO RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992 [email protected] DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS ZANETTINI ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA 1 : 50 07/05/15 PLANTA DO 6º PAVIMENTO HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA ARQ-026 Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5 ARQ - ARQUITETURA 879 - PBB R9 ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-026-06P-R9 REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16 R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16 R3 REVISÃO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI ZANETTINI 23/05/16 R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16 BASE A EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS CARLA ZANETTINI 01/02/17 BASE B EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS (1P-9P) CARLA THAÍS 13/04/17 R5 INCLUSAO DE DISP. ELETRON. INTERNAÇÕES CARLA THAÍS 04/05/17 R6 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17 R7 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17 R8 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17 R9 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18 Figura 212 Planta sexto pavimento. Bloco V. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 248
  • 260. As passarelas aéreas que interligam o Bloco IV ao Bloco V são compostas por estruturas metálicas e fechamentos em vidro azulado, idêntico ao aplicado nas fachadas do Bloco V. O seu in- terior é pintado de branco, com piso revestido em porcelanato e lu- minárias embutidas, que percorrem toda a estrutura (Figura 214). A primeira passarela está apoiada em dois pilares (Figura 215), tendo um desvio no eixo de circulação devido à existência de uma árvore (Figuras 216), sendo usada principalmente pelos pacientes e acom- panhantes. A segunda (Figura 217), de uso exclusivo dos funcioná- rios, não apresenta desvios em seu eixo de circulação, permitindo uma ligação direta entre os dois blocos. 9º PAV. 134.60 1º PAV. 106.66 2º PAV. 110.85 3º PAV. 114.24 4º PAV. 117.63 5º PAV. 121.02 6º PAV. 124.40 7º PAV. 127.79 8º PAV. 131.18 3º SS 92.17 2º SS 95.47 4º SS 88.87 5º SS 85.57 E D C B A COBERTURA 139.90 COBERTURA ESCADA 143.29 TÉRREO 102.27 1° SS 98.80 8.40 8.40 7.20 7.20 3.39 5.30 3.42 3.39 3.39 3.39 3.39 3.39 3.39 4.19 4.39 3.47 3.33 3.30 3.30 3.30 2.50 2.50 1.31 DET-009 DET-009 DET-008 0.50 DET-009 DET-044 2.50 2.80 1.24 3.17 1.31 2.38 2.50 1.47 DET-42A GUARDA CORPO COM FECHAMENTO EM TELA ONDULADA CORRIMÃO EM AÇO ESCADA METÁLICA DET-42B 2.48 2.38 0.19 0.25 1.10 1.75 2.65 2.65 2.65 2.65 2.50 3.50 CORTINA CORTA FOGO CORTINA CORTA FOGO CORTINA CORTA FOGO CORTINA CORTA FOGO CORTINA CORTA FOGO 107.06 2.70 2.30 2.40 2.40 2.40 2.40 2.40 2.40 2.40 2.80 ESCADA 02 TOMADA DE AR ESTACIONAMENTO TOMADA DE AR ESTACIONAMENTO A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. A.C. CIRCULAÇÃO A.C. ELEV. SOCIAL 1 (15 pessoas) A.C. A.C. HALL SOCIAL HALL SOCIAL BANHO TIPO A HALL SOCIAL A.C. A.C. ESPERA 36 lug. BANHO TIPO A HALL SOCIAL CIRCULAÇÃO HALL SOCIAL BANHO TIPO A BANHO TIPO A HALL SOCIAL CIRCULAÇÃO A.C. SANIT. PUBL. MASC. SANIT. PUBL. FEM. SANIT. PUBL. MASC. SANIT. PUBL. FEM. HALL SOCIAL SALA DE MÉDIA TENSÃO CIRCULAÇÃO CASA DE MÁQUINAS (ELEVADORES) ESCADA 02 CASA DE BOMBAS (descoberta) ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO COBERTURA VERDE A.C. A.C. HALL SOCIAL A.C. A.C. COBERTURA ESCADA ÁREA EXTERNA SALA UPS PISO TÉCNICO Ambiente CASA MÁQ. PRESS. ESCADA 02 CASA DE MÁQUINAS (ELEVADORES) COBERTURA POÇO DOS ELEVADORES A.C. ESPERA 33 lug. HALL SOCIAL CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO SHAFT PRESS. CIRCULAÇÃO SHAFT PRESS. CIRCULAÇÃO ESPERA 40 lugares 2.30 2.30 2.50 2.50 2.50 2.50 2.50 2.50 2.50 2.50 2.50 2.50 2.80 2.50 2.50 2.50 2.50 2.50 1 : 100 CORTE AA CORTE AA - PERSPECTIVA Figura 213 Corte transversal. Bloco V. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 249
  • 261. Figura 215 Vista e corte de ambas as plataformas. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. Figura 214 Interior da primeira plataforma. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. CALÇADA INT. CALÇADA corre 38M3 PISTA DE ACESSO DE AUTOMÓVEIS (LOMBOFAIXA) RESERVATÓRIO ÁGUA PLUVIAL 3 100,22 102,15 102,00 102,15 1º PAV. 106.66 2º PAV. 110.85 3º PAV. 114.24 4º PAV. 117.63 5º PAV. 121.02 6º PAV. 124.40 7º PAV. 127.79 TÉRREO 102.27 02°PAV - BL2 (EXIST.) 110.00 03°PAV - BL2 (EXIST.) 113.30 3.39 4.19 4.39 i =6.1% 107.09 FORRO PRUMADA DE CAPTAÇÃO DA COBERTURA 6º PAV. (EXIST.) 123.13 7º PAV. (EXIST.) 126.37 2.80 106.66 SOBE i=8.1% 3.22 2.40 3.14 PRUMADA DE CAPTAÇÃO DA COBERTURA A VARANDA DO 6°PAVIMENTO DEVERÁ SER REMOVIDA PARA A ESTRUTURA DA PASSARELA SER APOIADA NA ESTRUTURA EXISTENTE. VERIFICAR CONDIÇÕES. GUARDA CORPO EM AÇO INOX COM ESTRUTURA VERTICAL ALINHADA NOS MONTANTES DA ESQUADRIA DE FACHADA CORRIMÃO E GUIA DE BALIZAMENTO EM AÇO INOX CORRIMÃO E GUIA DE BALIZAMENTO EM AÇO INOX DET DET-046 DET DET-046 GUARDA CORPO EM AÇO INOX COM ESTRUTURA VERTICAL ALINHADA NOS MONTANTES DA ESQUADRIA DE FACHADA CORRIMÃO E GUIA DE BALIZAMENTO EM AÇO INOX CORRIMÃO E GUIA DE BALIZAMENTO EM AÇO INOX DET DET-046 DET DET-046 1.20 0.60 FORRO 123.77 FORRO FORRO SOBE i=8.1% i =6.1% 1º PAV. 106.66 2º PAV. 110.85 3º PAV. 114.24 4º PAV. 117.63 5º PAV. 121.02 6º PAV. 124.40 7º PAV. 127.79 8º PAV. 131.18 6 TÉRREO 102.27 3.39 4.19 4.39 DET-045 107.09 7.15 4.82 FORRO i =5% COBERTURA EM TELHA METÁLICA ZIPADA RUFO 127.52 128.02 CALHA Ver proj. espec. de hidráulica CAPTAÇÃO HIDRÁULICA Ver proj. espec. RUFO COBERTURA EM TELHA METÁLICA ZIPADA RUFO CALHA Ver proj. espec. de hidráulica CAPTAÇÃO HIDRÁULICA Ver proj. espec. RUFO i =5% 3.14 ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI ARQUITETO COORDENADOR CLIENTE: OBRA: LOCAL: ASSUNTO: PROJETO: CÓDIGO: ETAPA: REVISÃO: FOLHA ESCALA ARQUITETURA EQUIPE ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI DATA: / / DATA: / / APROVAÇÃO DO CLIENTE DATA INICIAL PROJETO ARQUITETA ENGENHEIRO ARQUITETOS COLAB. . THAIS BARZOCCHINI CARLA ANDRADE ERNANI MOURA ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA, RAQUEL, ÉRIC PROJETO EXECUTIVO RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992 [email protected] DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS ZANETTINI ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA 1 : 50 07/05/15 PASSARELA - PLANTA DE COBERTURA E CORTES HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA ARQ-040 Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5 ARQ - ARQUITETURA 879 - PBB R7 ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-040-PAS - CTS-R7 1 : 50 CORTE DD - PASSARELA 1 : 50 CORTE EE - PASSARELA REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16 R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16 R3 REVISÃO ONDE INDICADO ERNANI ZANETTINI 13/05/16 R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16 R5 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17 R6 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17 R7 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18 250
  • 262. S S shaft shaft proj. vigas tubulares calandradas 6 5 2 2 4 4 TV 22" proj. forro proj. forro QUARTO 2 QUARTO 1 projeção pav. superior 6 5 E 5' PROJ. MARQUISE (EXISTENTE) PROJ. BLOCO 2 (EXISTENTE) PROJ. MARQUISE (EXISTENTE) BLOCO 2 (EXISTENTE) 1º PAVIMENTO PILAR DE APOIO PASSARELA 106.66 106.59 (N.O.) 2.65 3.65 CONSULTÓRIO ORTOPEDIA 03 10 03 CONSULTÓRIO ORTOPEDIA 03 10 03 1 ARQ-030 DD ARQ-040 DD ARQ-040 0.45 2.30 PILAR DE APOIO PASSARELA 3.46 2.65 9.45 EE ARQ-040 EE ARQ-040 107.09 106.66 106.66 107.09 i =6.1% i =6.1% PCF20 AL23 AL23 AL23 AL22 PCF8 8.47 PASSARELA 01 03 02 02 01 PRUMADA DE CAPTAÇÃO DA COBERTURA 107.09 PCF20 08 PRUMADA DE CAPTAÇÃO DA COBERTURA 1.51 1.20 1.20 GUARDA-CORPO H= 1,10m GUARDA-CORPO H= 1,10m CORRIMÃO CORRIMÃO CORRIMÃO GUARDA-CORPO H= 1,10m CORRIMÃO CORRIMÃO 0.85 0.85 CORRIMÃO CORRIMÃO 6.96 6.92 DET DET-046 DET DET-046 - --- - --- 2 CMP-004 2 CMP-004 6 5 E 5' BLOCO 2 (EXISTENTE) 2º PAVIMENTO BLOCO 5 2º PAVIMENTO 0.22 6.98 ELEV. SOCIAL 3 (15 pessoas) 30.34 m² HALL SOCIAL ESPERA 22 lug. 1 ARQ-030 DD ARQ-040 DD ARQ-040 EE ARQ-040 EE ARQ-040 MÁQ. CAFÉ / SNACKS 110.00 AL23 AL23 AL23 AL22 CAPTAÇÃO AP DA COBERTURA CAPTAÇÃO AP DA COBERTURA CAPTAÇÃO AP DA COBERTURA 8.36 COBERTURA PASSARELA TELHA METÁLICA ZIPADA ROOF METÁLICO 5% 5% 5% IN T E R L IG A R - --- - --- 2 CMP-004 2 CMP-004 1 : 50 1° PAVIMENTO - PASSARELA 1 : 50 2º PAVIMENTO - COBERTURA PASSARELA Figura 216 Planta e vista da primeira passarela. Bloco V. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 251
  • 263. DN DN S i= 8,0% S i= 8,1% BANHEIRO C B A E 1 ARQ-030 DD ARQ-040 DD ARQ-040 EE ARQ-040 EE ARQ-040 PCF20 A VARANDA DO 6°PAVIMENTO DEVERÁ SER REMOVIDA PARA A ESTRUTURA DA PASSARELA SER APOIADA NA ESTRUTURA EXISTENTE. VERIFICAR CONDIÇÕES. SUGESTÃO: DESVIO DA CAPTAÇÃO DA COBERTURA DA PASSARELA SUGESTÃO: DESVIO DA CAPTAÇÃO DA COBERTURA DA PASSARELA PASSARELA 01 03 02 PCF23 ISOLAMENTO A.C. ISOL. BANHO ISOL. HALL SOCIAL CIRCULAÇÃO 03 09 05 GUARDA-CORPO H= 1,10m GUARDA-CORPO H= 1,10m CORRIMÃO CORRIMÃO CORRIMÃO CORRIMÃO DET DET-046 DET DET-046 - --- - --- 2 CMP-004 2 CMP-004 AL24 02 0.20 2.60 0.20 1.41 7.86 15.00 7.83 6 5 E 5' 1 ARQ-030 DD ARQ-040 DD ARQ-040 EE ARQ-040 EE ARQ-040 CAPTAÇÃO DA COBERTURA CAPTAÇÃO DA COBERTURA COBERTURA PASSARELA TELHA METÁLICA ZIPADA RUFO METÁLICO 5% A VARANDA DO 6°PAVIMENTO DEVERÁ SER REMOVIDA PARA A ESTRUTURA DA PASSARELA SER APOIADA NA ESTRUTURA EXISTENTE. VERIFICAR CONDIÇÕES. ISOLAMENTO APARTAMENTO BANHO TIPO A BANHO ISOL. A.C. ISOL. HALL SOCIAL - --- - --- 2 CMP-004 2 CMP-004 CALHA METÁLICA 1 : 50 6º PAVIMENTO - PASSARELA 1 : 50 7º PAVIMENTO - COBERTURA DA PASSARELA Figura 217 Planta e vista da segunda passarela. Bloco V. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 252
  • 264. 5.3. Análises 5.3.1. Da aplicação do princípio de humanização espacial Zanettini demonstra grande preocupação com a ambiência dos espaços projetados e com o conforto dos usuários. No hospital, o arquiteto aplicou diversas ferramentas da humanização espacial, tendo cuidado para que esses elementos fossem incorporados con- soante os orçamentos estabelecidos pelo cliente, além de respeitar a história da instituição e do edifício original. Em seu projeto, grandes aberturas e planos de vidros (Figura 218) foram posicinadors particularmente nos blocos IV e V, de modo a permitir a entrada de luz natural nos ambientes e a visualização dos acontecimentos externos e da passagem de tempo. No Bloco I, o arquiteto reposicionou as janelas das unidades de UTI de tal forma que os pacientes deitados pudessem ter uma vista desobstruída do céu e da igreja próxima (Figura 219). Figura 218 Espaço de estar do saguão principal. Bloco II e IV. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022 Figura 219 Vista da janela da UTI para a Igreja, ângulo de visão do paciente deitado. Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 253
  • 265. A setorização espacial, que prioriza os espaços utilizados pe- los pacientes em virtude da entrada de luz natural e outros fatores ambientais, é indispensável para auxiliar no processo de cura. Em razão dessa prioridade, alguns ambientes não apresentam janelas, como é possível notar nas salas de estar nos pavimentos de interna- ção do Bloco V (Figura 220). Para tornar esses espaços mais con- fortáveis e agradáveis, o arquiteto aplicou um projeto luminotécnico com uma iluminação indireta quente, posicionada no forro. Zanettini também utilizou diversas luminárias, com desenhos que demonstram o período de construção dos edifícios. No Bloco III, foram instaladas luminárias tubulares com fechamento em gradil (Figura 221). Contudo, devido à necessidade de limpeza, estas fo- ram substituídas pelas de embutir, instaladas no forro. Figura 221 Corredor dos andares de internação. Bloco III. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 220 Sala de espera no 6º pavimento. Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 254
  • 266. O arquiteto trabalhou com paletas de cores que se comple- mentam (Figuras 222 e 223), presentes tanto em revestimentos e pi- sos, quanto no mobiliário e elementos decorativos. A primeira paleta é composta por tonalidades claras e neutras, representadas pelo branco das paredes e pisos, pelo amarronzado dos mobiliários e divisórias de madeira, e pelo acinzentado das bancadas de granito e alumínio. A segunda, com tonalidades mais intensas e coloridas, está presente no desenho original do piso, no mobiliário, nos ele- mentos decorativos e nos revestimentos dos quartos e consultórios. Conforme mencionado no segundo capítulo, elementos deco- rativos podem alterar a percepção que o usuário tem do espaço. No hospital, Zanettini realizou um trabalho interessante ao não cobrir os azulejos decorativos existentes desde 1960 (Figura 224), demons- trando o cuidado do arquiteto em preservar a história do edifício ao mesmo tempo em que aproveita a ambiência pré-existente. Além disso, ele também posicionou quadros nos corredores das áreas de internação e painéis decorativos em locais específicos, como na entrada da capela (Figura 225). Figura 222 Identificação do desenho de piso original de Zanettini, em creme e laranja, acompanhado por uma paleta de cores neutras nos demais elementos arquitetônicos e decorativos. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 255
  • 267. Figura 223 apartamento individual. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. Figura 224 Azulejos decorativos de 1960. Bloco I. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 225 mural na entrada da capela. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 256
  • 268. Estes elementos estão diretamente ligados à organização espacial dos ambientes. No Bloco I, o arquiteto alterou o layout dos quartos de internação, projetando duas conformações espaciais dis- tintas, uma para os quartos individuais e outra para os compartilha- dos (Figura 226), porém com características arquitetônicas seme- lhantes, gerando a mesma ambiência. Infelizmente, não foi possível fotografar esses apartamentos durante a visita técnica. As unidades de UTI (Figura 227) de todo o hospital têm a mesma linguagem arquitetônica, com pequenas variações em rela- ção à sua localização. Algumas delas apresentam um formato trape- zoidal de implantação, com uma entrada angular, enquanto outras têm um formato ortogonal, com entradas frontais ou laterais. Segun- do o projeto de Zanettini para a ala de UTI do Bloco I, era previsto o fechamento por cortina (Figura 228), mas, como medida preventiva de contaminação cruzada, esses elementos foram substituídos por portas de vidro de correr ou abrir (Figura 229). Apenas em unidades que ainda apresentam o formato trapezoidal, as cortinas permane- ceram, devido ao tamanho e à angulação do vão, o que, caso con- trário, causaria dificuldades para a locomoção das macas. Figura 226 Planta dos quartos do Bloco I. Fonte: projeto arquitetô- nico do hospital dispo- nibilizado pelo escritório Zanettini Arquitetura. 257
  • 269. Figura 227 Interior de um dos quartos de UTI, Bloco I. Fonte: acesso pessoal da autora, 2023. Figura 228 Fechamento das unidades de UTI por portas de correr transparentes. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 229 Entrada de quartos no andar de UTI com fechamento em cortina. Fon- te: acesso pessoal da autora, 2023. 258
  • 270. Os quartos de internação e consultórios apresentam uma organização espacial que facilita a acessibilidade, com um dimen- sionamento que proporciona facilidade de locomoção. A linguagem arquitetônica nos consultórios (Figura 230) é a mesma para todos os blocos do hospital, onde o arquiteto trabalha com diferentes ma- teriais e uma paleta de cores complementares e equilibradas, não sobrecarregando os pacientes. O projeto paisagístico do hospital apresenta particularidades em relação às configurações espaciais dos blocos. Dada a limitação espacial imposta pela malha urbana atual, os blocos I, II, III e IV apresentam áreas reduzidas de vegetação ao nível do solo. Os can- teiros existentes visam proporcionar aos usuários uma aproximação visual da vegetação, bem como marcar as entradas (Figura 231). O Bloco V difere por apresentar vegetação arbórea e mobiliário urba- no, como bancos de concreto, que delimitam os canteiros e permi- tem que os usuários do hospital usufruam do espaço e da qualidade ambiental existente (Figura 232). Figura 230 Consultó- rio médico. Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 231 Canteiro ao térreo. Bloco III. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 259
  • 271. Zanettini também incorporou a vegetação nas coberturas dos blocos, proporcionando uma aproximação tanto física quanto visu- al. Na cobertura do Bloco III, o arquiteto projetou um terraço jardim destinado à deambulação de pacientes e funcionários (Figuras 233). Este apresenta um desenho de piso orgânico que circula a volume- tria da casa de máquinas e delimita os canteiros com vegetação pre- dominantemente arbustiva. De acordo com a arquiteta Dyane, em entrevista, este espaço está sendo utilizado apenas para atividades pontuais, previamente autorizadas pelo departamento de segurança do hospital, ficando constantemente interditado. Dessa forma, não foi possível vislumbrar como os pacientes utilizam o local. Figura 232 Canteiro na entrada do Bloco V. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. Figura 233 Foto pano- râmica do terraço-jar- dim. Fonte: acesso pessoal da autora, 2023. 260
  • 272. No Bloco V, o arquiteto também projetou locais com cobertu- ra verde (Figura 234), marcados pelas alterações na volumetria do edifício (Figura 235), porém, diferente do terraço-jardim, os usuá- rios do hospital não têm acesso físico a eles. Os canteiros ajardina- dos, com vegetação rasteira, são delimitados por pisos cimentícios e estão localizados no quarto, quinto e sexto pavimentos (Figuras 9º PAV. 134.60 1º PAV. 106.66 2º PAV. 110.85 3º PAV. 114.24 4º PAV. 117.63 5º PAV. 121.02 6º PAV. 124.40 7º PAV. 127.79 8º PAV. 131.18 3º SS 92.17 2º SS 95.47 4º SS 88.87 5º SS 85.57 E D C B A COBERTURA 139.90 COBERTURA ESCADA 143.29 TÉRREO 102.27 1° SS 98.80 7.20 7.20 8.40 8.40 3.39 5.30 3.42 3.39 3.39 3.39 3.39 3.39 3.39 4.19 4.39 3.47 3.33 3.30 3.30 3.30 1.20 2.50 1.24 1.23 1.23 1.20 1.31 80.15 0.75 0.80 0.55 RESERVATÓRIO INFERIOR 80.15 DET-009 DET-008 DET-009 DET-009 DET-041 DET-008 DET-044 DET-044 DET-017 A DET-015 DET-021 DET-015 DET-021 5.42 81.15 80.15 83.85 1.30 0.95 5.05 3.90 BASE RESERVATÓRIO h=30cm 2.40 2.60 2.50 2.50 2.40 1.23 2.40 3.41 2.80 3.41 2.65 2.65 2.65 2.65 4.65 3.70 0.40 3.40 3.50 2.30 0.40 2.70 1.20 1.30 0.90 0.80 107.06 2.40 2.40 2.40 2.40 2.80 2.80 1.23 1.23 1.23 ESTACIONAMENTO RECEPÇÃO / CRACHÁ SANIT. PCD RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM ESPERA 30 lug. ESPERA 15 lugares RELATÓRIO ESPERA 40 lug. RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO ESPERA 10 lug. CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO COBERTURA VERDE POSTO DE ENFERMAGEM COBERTURA VERDE RESERVATÓRIOS INFERIORES ÁREA EXTERNA PISO TÉCNICO Ambiente ESTACIONAMENTO MACA / CADEIRA DE RODAS COBERTURA CENTRAL DE AQUECIMENTO RESERVATÓRIO DE ÁGUA DE REUSO (volume=48m³) COPA COLAB. COPA PAC. COPA PACIENTE ROUPA SUJA COPA PAC. COPA COLAB. ROUPA SUJA COPA COLAB. ROUPA SUJA ESPERA PEDIATRIA 24 lug. ? ? RECEPÇÃO LANCHONETE SANIT. COLAB. SANIT. COLAB. COPA COLAB. CASA BOMBAS ESPERA 11 lug. CIRCULAÇÃO PISCINA TERAPÊUTICA 1.23 106.16 106.16 106.56 2.80 2.50 N ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI ARQUITETO COORDENADOR CLIENTE: OBRA: LOCAL: ASSUNTO: PROJETO: CÓDIGO: ETAPA: REVISÃO: FOLHA ESCALA ARQUITETURA EQUIPE ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI DATA: / / DATA: / / APROVAÇÃO DO CLIENTE DATA INICIAL PROJETO ARQUITETA ENGENHEIRO ARQUITETOS COLAB. . THAIS BARZOCCHINI CARLA ANDRADE ERNANI MOURA ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA, RAQUEL, ÉRIC PROJETO EXECUTIVO RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992 [email protected] DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS ZANETTINI ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA 1 : 100 07/05/15 CORTE CC HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA ARQ-036 Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5 ARQ - ARQUITETURA 879 - PBB R7 ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-036-CTC-R7 1 : 100 CORTE CC CORTE CC - PERSPECTIVA REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16 R2 REVISÃO ONDE INDICADO ERNANI ZANETTINI 13/05/16 R3 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16 R4 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17 R5 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17 R6 REVISADO ONDE INDICADO (LAYOUT / PASSARELA) CARLA THAÍS 22/12/17 R7 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18 236 e 237). Zanettini posicionou locais utilizados pelos usuários nas proximi- dades com os canteiros, priorizando os quartos de internação e os corredores de acessos, permitindo sua fácil visua- lização por grandes planos de vidros e aberturas basculantes (Figura 238). Figura 234 Cobertura verde do Bloco V. Fonte: acesso pessoal da autora, 2023. Figura 235 Corte transversal enfatizando a alteração de volumetria do edifício. Fonte: acervo escritório Zanettini arquitetu- ra, 2020. 261
  • 273. Figura 236 localização das coberturas verdes nos pavimentos e a ocupação do entorno. A direita, quarto pavimento. A esquerda, quinto pavimento. Fonte: acervo escritório Zanettini arquitetura, 2020. Figura 237 localização das coberturas verdes do sexto pavimento e a ocupação do entorno. Fonte: acervo escritório Zanettini arquitetura, 2020. Figura 238 Foto interna do corredor do quinto pavimento. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 262
  • 274. O hospital foi concebido com diferentes espaços lúdicos, com base em outros projetos do arquiteto, como o Atrium do Hospital Albert Einstein. No saguão principal dos blocos II e IV, inicialmen- te, foram planejadas uma cafeteria e quatro lojas, visando atender às necessidades dos usuários (Figuras 239). Após a construção do bloco V e das passarelas aéreas, houve uma alteração no layout do mezanino, o que ocasionou a substituição desses espaços pela Casa Bauducco, com uma área dedicada às mesas (Figuras 240). O piano, previsto no mezanino, está ocupando um dos espaços de estar previsto no projeto de Zanettini. A Arqta. Dyane informou, em entrevista, que este instrumento era utilizado pelos usuários até 2020, quando foi proibida a sua utilização em razão da pandemia da Covid-19. Figura 239 Diagrama comparativo de setoriza- ção de parte do saguão. Fonte: acervo próprio da autora, 2023 Legenda: Lojas Cafeteria Recepção Figura 240 Casa Bauducco. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 263
  • 275. O mezanino foi ampliado devido à primeira plataforma metá- lica que dá acesso ao Bloco V (Figura 241). Nele foram instalados dois ambientes de estar, com sofás de cores semelhantes às dos mobiliários do andar inferior (Figura 242), além do restaurante De- ola, conforme previsto no projeto de Zanettini. Este restaurante tem fechamento em vidro para iluminação e ventilação natural, com uma faixa listrada fosca para garantir a privacidade dos usuários. Restaurante Áreas de estar Figura 241 Diagrama de alteração no layout do pavimento. Fonte: acervo pessoal da autora, 2023. Legenda: Figura 242 Local de mesas ao lado do balcão de recepção. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022 264
  • 276. O arquiteto também projetou a capela localizada no corredor de ligação entre os blocos I e II, com um grande mural marcando a sua entrada e os vitrais coloridos com desenho orgânico. O layout atual (Figura 243) revela uma alteração no projeto, realizada pelos próprios arquitetos do hospital, que incluiu o rebaixamento do forro e a substituição do mobiliário. Em 2021, o Carrefour Bairro foi incorporado ao subsolo do Bloco III (Figura 244). Em entrevista, a Arqta. Dyane informou que, apesar de ainda não ser muito comum, este é um novo produto da rede Carrefour que está sendo introduzido nos edifícios comerciais e de saúde, especialmente nos hospitais de grande porte e com- plexidade. Segundo ela, ao contrário do mercado de Santana, o da unidade Pompeia não é exclusivo para os funcionários, sendo usado também pelos acompanhantes. É importante salientar que, indepen- dentemente do público-alvo, o mercado atende às determinações do hospital, especialmente no que diz respeito ao combate à dissemi- nação de doenças ou contaminação cruzada. Figura 243 Foto interna da capela. Fonte: acervo pessoal da autora, 2022. 265
  • 277. Figura 244 Planta de layout e fachada do Carrefour Bairro. Fonte: departamento de arquitetura do hospital São Camilo, 2022. 266
  • 278. 5.3.2. Da aplicação das técnicas sustentáveis A sustentabilidade é fundamentada em três pilares – o eco- nômico, o social e o ambiental – que norteiam as soluções aplicadas aos edifícios. Zanettini demonstra preocupação com a relação entre o edifício e o meio ambiente, aplicando esse princípio em seus pro- jetos desde a década de 1970, assim como em todos os blocos do Hospital São Camilo Pompeia, principalmente no bloco V. Dado que a intervenção no Bloco I não causou alterações significativas na estrutura do edifício, a sustentabilidade foi aplicada pontualmente, sobretudo na redução do volume de resíduos gera- dos durante a reforma. A instalação de coberturas metálicas indus- trializadas, a utilização de divisórias leves e a substituição do piso existente por manta asfáltica foram algumas das soluções realiza- das. A utilização de pisos em manta sem reentrâncias e divisórias leves facilita a manutenção e alteração de layout dos ambientes, di- minuindo a quantidade de resíduos. Este raciocínio, presente desde o projeto do Hospital Maternidade Escola Vila Nova Cachoeirinha, foi aplicado também nos demais blocos do hospital. Ao elaborar o Plano Diretor, o arquiteto acrescentou outras soluções sustentáveis, incorporando tecnologias inovadoras. Pri- meiramente, realizou uma análise de ocupação da área, visando considerar as condições atmosféricas e ambientais como elementos fundamentais para a definição do projeto. Ao adquirir os terrenos vizinhos, foram projetadas diversas circulações horizontais, ao nível do solo, com pisos industrializados e permeáveis, permitindo a dre- nagem das águas pluviais. Além disso, Zanettini concebeu soluções projetuais que or- ganizaram a circulação de veículos, como a inclusão de estacio- namentos subterrâneos e vagas para ambulâncias nas laterais dos edifícios. Dessa forma, procurou-se desafogar a avenida e, ao mesmo tempo, complementar o transporte público, incorporando os pontos de ônibus existentes ao projeto (Figura 245). 267
  • 279. Apesar de as limitações físicas dos terrenos não permitirem grandes áreas de vegetação, foram projetados canteiros ao nível do solo (Figura 246), um terraço-jardim, coberturas verdes e pa- rede verde, construída ao redor dos chillers, na cobertura (Figura 247). Estes últimos foram construídos nos blocos III e V, respecti- vamente. Além de absorver as águas pluviais, essas soluções tam- bém aumentam a liberação de oxigênio, melhorando a qualidade do ar, e protegem a estrutura do edifício das ondas de calor, reduzindo a tem- peratura interna. Zanettini demonstra, portanto, a importância da vegetação para o projeto arquitetônico, uma vez que, além do que já foi citado, o arqui- teto demonstra uma preocupação com a flora brasileira, dando preferência as espécies nativas, além de preservar a vegetação existente no terreno onde o hospital foi construído. Figura 245 Localização dos pontos de ônibus. Fonte: Geosampa, 2023. Disponível no site:< https://geosampa.prefeitura. sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx# >. Acesso em abril/ 2024. Figura 246 Corte do canteiro com identifi- cação do tanque para águas pluviais. Bloco III. Fonte: acervo do escritó- rio Zanettini Arquitetura, 2020. 268
  • 280. E D C B A 7.20 7.20 8.40 8.40 1.20 2.50 1.24 1.23 1.23 1.20 1.31 0.75 DET-009 DET-008 D DET-009 DET-008 DET-015 1.30 5.05 3.90 BASE RESERVATÓRIO h=30cm 2.40 2.60 2.50 2.50 2.40 1.23 2.40 3.41 2.80 3.41 2.65 2.65 0.40 3.40 3.50 2.30 0.40 2.70 1.20 1.30 0.90 0.80 107.06 2.40 2.40 2.40 2.40 2.80 2.80 1.23 1.23 1.23 ESTACIONAMENTO RECEPÇÃO / CRACHÁ SANIT. PCD RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM ESPERA 30 lug. ESPERA 15 lugares RELATÓRIO ESPERA 40 lug. RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM RELATÓRIO POSTO DE ENFERMAGEM CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO ESPERA 10 lug. CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO COBERTURA VERDE POSTO DE ENFERMAGEM COBERTURA VERDE ÁREA EXTERNA PISO TÉCNICO ESTACIONAMENTO MACA / CADEIRA DE RODAS COBERTURA CENTRAL DE AQUECIMENTO RESERVATÓRIO DE ÁGUA DE REUSO (volume=48m³) COPA COLAB. COPA PAC. COPA PACIENTE ROUPA SUJA COPA PAC. COPA COLAB. ROUPA SUJA COPA COLAB. ROUPA SUJA ESPERA PEDIATRIA 24 lug. RECEPÇÃO LANCHONETE SANIT. COLAB. SANIT. COLAB. COPA COLAB. CASA BOMBAS ESPERA 11 lug. CIRCULAÇÃO PISCINA TERAPÊUTICA 1.23 106.16 106.16 106.56 2.80 2.50 sobe 6 5 4 2 1 3 E D C B 5' 3.70 10.80 7.20 7.20 0.22 6.98 7.20 8.40 7.20 7.20 AA ARQ-034 AA ARQ-034 BB ARQ-035 139.89 ESCADA 02 05 01 01 CASA DE MÁQUINAS (ELEVADORES) 05 12 01 139.90 14 PCF1a PCF1 peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m CC ARQ-036 CC ARQ-036 JUNTA DE DILATAÇÃO I ARQ-042 I ARQ-042 J ARQ-042 J ARQ-042 DET-017 C 0.25 1.71 3.60 1.62 0.25 0.20 12.41 0.20 3.04 0.25 1.75 0.25 4.93 0.25 9.95 11.53 21.70 14.15 DET-010 PONTOS DE ANCORAGEM DET-010 PONTOS DE ANCORAGEM PONTOS DE ANCORAGEM DET-010 0.50 0.50 0.50 1.05 0.50 PONTOS DE ANCORAGEM DET-010 0.50 0.50 DET-010 0.25 PONTOS DE ANCORAGEM DET-010 0.20 8.00 0.25 4.33 0.25 2.75 0.25 2.40 0.25 1.65 0.25 54.74 m² CASA DE BOMBAS (descoberta) 13 14 CASA DE MÁQUINAS (ELEVADORES) 05 12 01 1.20 0.30 0.90 0.20 1.20 0.20 2.00 0.20 1.75 0.25 4.93 219.68 m² CHILLERS (descoberto) 13 14 140.00 140.00 139.90 140.00 140.00 140.00 139.90 COBERTURA 14 PCF7a PCF7a PCF7a PCF14a PCF14a PCF14a PCF14a PCF14a PCF14a PAREDE VERDE VENEZIANADA PARA ALÍVIO DE PRESSÃO DA ESCADA. VER ESPECIFICAÇÃO NO PROJETO DE INSTALAÇÕES. PEITORIL h = 1.47 DET-013 DET-013 1.60 0.20 17.88 0.20 1.60 HIDRANTE 1.80 HIDRANTE 0.60 PCF1 PCF1a DET-052 12.37 17.84 1 : 50 COBERTURA Figura 247 Corte transversal enfatizando posicionamento das paredes verdes na cobertura. Bloco V. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 269
  • 281. 9 10 8 7.20 3.60 3.70 BB ARQ-035 peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m peitoril h=1,30m K ARQ-042 K ARQ-042 H ARQ-042 H ARQ-042 21.70 PONTOS DE ANCORAGEM 0.50 PAINÉIS SOLARES (VER. PROJETO DE INSTALAÇÕES) DUTO DE EXAUSTÃO VER PROJETO DE INSTALAÇÕES 7 5 4 C B 5' AA ARQ-034 AA ARQ-034 BB ARQ-035 BB ARQ-035 7.20 0.22 143.29 COBERTURA ESCADA 14 3.73 8.40 ESCADA MARINHEIRO J ARQ-042 J ARQ-042 0.39 0.39 N ARQUITETO RESPONSÁVEL SIEGBERT ZANETTINI ARQUITETO COORDENADOR CLIENTE: OBRA: LOCAL: ASSUNTO: PROJETO: CÓDIGO: ETAPA: REVISÃO: FOLHA ESCALA ARQUITETURA EQUIPE ARQUITETO RESPONSÁVEL - SIEGBERT ZANETTINI DATA: / / DATA: / / APROVAÇÃO DO CLIENTE DATA INICIAL PROJETO ARQUITETA ENGENHEIRO ARQUITETOS COLAB. . THAIS BARZOCCHINI CARLA ANDRADE ERNANI MOURA ALESSANDRA, CAMILA, NATÁLIA, RAQUEL, ÉRIC PROJETO EXECUTIVO RUA CHILON 310 SÃO PAULO TEL. 3849-0394 / 2557 / 9992 [email protected] DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS ZANETTINI ARQUITETURA PLANEJAMENTO E CONSULTORIA LTDA 1 : 50 07/05/15 PLANTA DE COBERTURA / COB. ESCADA HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA ARQ-029 Rua Barão do Bananal, 1086, São Paulo - SP HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA - BLOCO 5 ARQ - ARQUITETURA 879 - PBB R7 ZA-0879 - PBB-ARQ-PE-ARQ-029-COB-R7 1 : 50 COBERTURA DA ESCADA REV. DESCRIÇÃO EXEC. VERIF. DATA R1 REVISÃO GERAL ERN/CAR ZANETTINI 31/03/16 R2 ALTERAÇÃO ALINHAMENTO PASSARELA / REVISADO ONDE INDICADO ERNANI/CARLA ZANETTINI 09/05/16 R3 REVISÃO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI ZANETTINI 23/05/16 R4 REVISÃO GERAL CAR/ERN ZANETTINI 02/09/16 BASE A EMISSÃO BASE: REVISÃO BOMBEIROS CARLA ZANETTINI 01/02/17 R5 REVISÃO GERAL CARLA THAÍS 12/06/17 R6 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS / REVISADO ONDE INDICADO CARLA/ERNANI THAÍS 16/08/17 R7 REVISADO ONDE INDICADO / COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS CAR/EQ ZA THAÍS 07/02/18 O hospital também dispõe de uma subestação de energia para atender aos blocos, sobretudo em períodos de escassez de energia, tornando-o independente da rede pública. Esta subesta- ção, composta por placas solares, está localizada na cobertura do Bloco V (Figura 248), abastecendo o hospital. Além dessa solução para economia de energia, o arquiteto também analisou o posicio- namento das aberturas e instalou planos de vidro, que permitem a entrada de luz natural para o interior dos ambientes. Figura 248 Planta cobertura. Bloco V. Sem escala. Fonte: acervo do escritório Zanettini Arquitetura, 2020. 270
  • 282. Em termos de ventilação natural, é perceptível que as aber- turas e portas de entrada dos ambientes, sobretudo nos quartos de internação, permitem a ventilação cruzada, auxiliando no conforto térmico interno e na qualidade ambiental. Já nos ambientes como centros cirúrgicos e nas passarelas aéreas, o arquiteto optou por aplicar o condicionamento forçado do ar. Os edifícios foram construídos com uma variedade de solu- ções industriais, tais como: estruturas pré-moldadas de concreto e metálica, divisórias de painéis montadas e removíveis, revestimen- tos de placas industrializadas de diversos tipos para parâmetros internos; ferragens e peças hidráulicas industrializadas, ferragens e peças hidráulicas industrializadas, argamassas de pedras indus- triais, banheiros de concreto pré-moldado prontos de fábrica, e fa- chadas unitizadas compostas por painéis modulares fechados com vidro (Zanettini, 2019:5). Zanettini demonstra grande preocupação com os resíduos, especialmente os RCDs e com o tempo de cons- trução das edificações, ao trabalhar com a racionalização e indus- trialização da construção, transformando o canteiro de obras num local de montagem. 271
  • 284. Os edifícios hospitalares apresentam grande complexidade projetual e construtiva, e estão em constante transformação e adap- tação devido à evolução das técnicas e tecnologias construtivas e médicas, que interferem diretamente no projeto arquitetônico e no diálogo do projeto com o entorno. Essa complexidade também se deve à necessidade de incluir no programa do hospital variados setores envolvidos no seu funcionamento, cada setor envolvendo questões projetuais específicos. Os profissionais devem estar ca- pacitados a tornar a edificação um elemento auxiliador no processo de cura, onde a aplicação dos princípios de humanização espacial e sustentabilidade construtiva tornam-se extremamente relevantes na qualidade do ambiente construído. No Brasil, arquitetos modernos estiveram diretamente envol- vidos com a evolução da arquitetura hospitalar, propondo novas so- luções espaciais e construtivas. Arquitetos como Oscar Niemeyer, Rino Levi, Irineu Breitman, Jarbas Karman, João Filgueiras Lima e Siegbert Zanettini, entre outros, se dedicaram tanto a projetar edifí- cios assistenciais à saúde quanto a divulgar os conhecimentos ad- quiridos com os estudos e a experiência profissional. Todos eles, inclusive Zanettini, se destacam pelo desenvolvimento de novas soluções projetuais e de elementos construtivos, bem como pela preocupação constante com a qualidade ambiental de seus projetos e o conforto dos usuários. Florence Nightingale foi a primeira a registrar observações a respeito da qualidade do serviço prestado pelos médicos e enfer- meiros e da relação entre as características do ambiente construído e a cura dos pacientes, sendo considerada a precursora da humani- Considerações finais 273
  • 285. zação hospitalar. A partir da Revolução Industrial, e a consequente superpopulação das cidades, a saúde pública passou a atender um público cada vez maior, através de atendimento massificado – ape- sar dos avanços extraordinários na ciência médica desde o século XIX. A necessidade de atendimento em massa, combinado com os avanços tecnológicos nas práticas de diagnóstico, cirurgia, anes- tesia, epidemiologia, etc., levou à desumanização da Medicina, tal como exposto por Ivan Illich. A arquitetura dos edifícios de saúde foi afetada por esta visão massificada. O conceito de sustentabilidade surgiu nos anos 1980, sendo aplicada, a princípio, em edifícios residenciais, escolares, industriais e comerciais. Os edifícios hospitalares são grandes consumidores de recursos naturais, como água e energia, além de gerarem gran- de quantidade de resíduos, durante a construção e no cotidiano de seu funcionamento. Portanto, a aplicação de práticas de sus- tentabilidade construtiva e ambiental, nos edifícios assistenciais à saúde torna-se cada vez mais relevante. Contudo, as normas de sustentabilidade arquitetônica hospitalar ainda não são oficialmen- te adotadas no Brasil, uma vez que as certificações internacionais não foram elaboradas de acordo com a realidade brasileira, o que resulta numa compreensão vaga de como devem ser aplicadas, e não estão definidas pelas autoridades de saúde. Dada a relevância da humanização hospitalar e do concei- to emergente de sustentabilidade, este trabalho objetivou analisar suas aplicações em um caso de estudo selecionado, o Hospital São Camilo Unidade Pompeia, projetado por Zanettini. As leituras espa- ciais, entrevistas e visitas técnicas evidenciaram que, quando esses princípios são aplicados corretamente, eles se tornam parte funda- mental da edificação, permanecendo nas mudanças futuras. Apreocupação com a humanização espacial está presente na utilização de cores complementares em pisos e paredes; nas aber- turas para luz e ventilação natural, voltadas para a paisagem urbana que, entre outros fatores, tornam os ambientes mais confortáveis e atrativos, tanto para os pacientes quanto para os funcionários. Toda- 274
  • 286. via, foi possível constatar alterações projetuais, como mudanças de layout e de materiais de acabamento em alguns espaços internos, além da inclusão de espaços lúdicos como o Carrefour Bairro. Esta questão abre espaço para discussões quanto a importância da sele- ção criteriosa dos espaços lúdicos, que vem sendo adicionados aos edifícios hospitalares, desde os anos 1980. A preocupação com a questão da sustentabilidade foi de- monstrada em várias etapas do projeto, sobretudo na elaboração do projeto executivo – como nas especificações de construção – objetivando um canteiro de obras limpo, com montagem de peças pré-fabricadas e montadas in situ. O dimensionamento das aberturas e o estudo de seu posicio- namento, a racionalização da construção através de materiais se- rializados e padronizados produzidos fora do canteiro, a aplicação de pisos permeáveis e a instalação de placas solares na cobertura estão vinculadas ao conforto dos usuários. A vegetação, tanto como elemento de humanização do es- paço hospitalar quanto de sustentabilidade, tem um grande impacto no projeto. Infelizmente, como mencionado durante entrevista com a arquiteta Dyane de Arruda e observado in loco, o terraço-jardim, concebido por Zanettini para a deambulação dos pacientes, teve seu acesso restrito devido à segurança física deles. Um fator um tanto contraditório, uma vez que esse ambiente deveria auxiliar no processo de cura e no estado físico e psicológico dos pacientes. Assim, é possível concluir que, apesar percebermos neste projeto o engajamento ativo e consciente de Zanettini em relação à humanização hospitalar e sustentabilidade (sempre presente em seu discurso como arquiteto, pensador e professor), algumas das soluções projetuais pertinentes a estes dois aspectos foram alte- rados ou substituídos posteriormente, pelas necessidades sempre cambiantes do programa hospitalar; e de acomodação das exigên- cias programáticas manifestadas pelos clientes habituais dos proje- tos hospitalares: médicos, enfermeiros e administradores. Muitos destes ainda não compreendem, parcial ou integral- mente, a importância das questões de humanização e de susten- 275
  • 287. tabilidade. As visões destes profissionais estão frequentemente de- limitadas pelo campo, mais restrito, de suas especialidades, além das demandas geradas pelo próprio mercado da medicina privada. Nisto, não diferem muito de grande parte de outras categorias de clientes de arquitetos. Assim, cabe aos arquitetos enfatizarem os conceitos de sustentabilidade e humanização hospitalar como fun- damentos de projeto, além de incentivar o conhecimento e o debate da aplicação desses princípios em edifícios hospitalares. 276
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  • 296. Nota de Introdução. Esta entrevista foi realizada como parte desta pesquisa de Mestrado em desenvolvimento, acerca das características projetuais da arquitetura hospitalar e da aplicação dos princípios de humanização espacial e sustentabilidade em edifícios hospitalares, tendo o projeto do Hospital São Camilo - Unidade Pompeia, projeto do Arqto. Siegbert Zanettini, como caso de estudo. Antes de começarmos as perguntas, o Arqto. Zanettini abriu a entrevista com uma reflexão crítica do estado atual da produção da arquitetura no Brasil, da prática profissional do arquiteto, dos problemas da inserção do arquiteto na produção da cidade, prosseguindo com os fundamentos gerais de sua prática de projeto como um todo, do contexto urbano ao partido e programa, evoluindo para questionamentos a respeito da arquitetura hospitalar contemporânea e uma análise crítica da aplicação do conceito da sustentabilidade para a construção de edifícios assistenciais a saúde. Arqto. Zanettini - Teria algumas coisas mais gerais para a gente entender a discussão e a colocação hoje, que eu entendo como ar- quitetura contemporânea no caso brasileiro. Ela tem uma condição ambiental muito importante para atender, que é a regionalidade do Brasil em relação ao contexto mundial. E por estar num continente que talvez tenha sido o mais estável em termos climáticos, de toda a Terra. Isso é importante porque pensar projetos para o país sem essa base conceitual, como um local situado no globo terrestre, com todos os privilégios ambientais que tem, aonde nenhum outro país do mundo tem. Não existe nenhum outro país com as condições ambientais no Brasil e não sabemos utilizá-las. Anexo I Entrevista com o arquiteto Siegbert Zanettini no dia 17/02/2023. 285
  • 297. Nossa arquitetura ao longo do tempo, inclusive a Moderna, não foi capaz de entender essa questão estrutural. Quando eu co- mecei a entender essas questões, na década de 60, que chamei de ecoeficiência, não se falava nisso. O que é um contexto espacial integrado com as condições ambientais e que é importante que seja atendido. Então lutar pela Amazônia e manter essas condições é pre- servar nossa marca. E não é só a Amazônia, mas o país todo. Por- que o que se destruiu do solo, do mar e dos rios aqui no Brasil é uma coisa impressionante. Se destruiu pelos usos inadequados e por intervenções do tipo da Vale, extremamente terríveis para o país. Então é muito importante que, antes de pensar na nossa ar- quitetura, temos que entender sua condição ambiental não só para aproveitá-la, mas auxiliá-la também e não levar para ela todos os detritos do mar, dos rios, e os detritos na superfície como o lixo ur- bano. Então antes de você pensar em colocar mais uma edificação em mais um conjunto de edificações… como que eu, no meu proje- to, começo a considerar essas questões todas para minimizá-las. A minha contribuição tem que ser positiva e não negativa. Essa relação de espaço e do ambiente no caso brasileiro, para mim, é fundamental. Assim nasceu a minha ideia, a minha defi- nição de ecoeficiência e que, depois, se transformou em sustentabi- lidade. Na década de 92, quando apresentei o projeto Casa Limpa, com os conceitos de sustentabilidade como hoje é divulgada e que era, na realidade, uma evolução do conceito de ecoeficiência, que eu já tratava desde a década de 60, em todos os meus projetos. Não há nenhum projeto meu que não tem essa luz, essa ventilação natural, condições muito importantes para a vida humana. Condi- ções que precisam fazer parte dos nossos conceitos para que as nossas proposições de arquitetura entejam sempre a favor e não contra, como é até hoje essa forma de construção desencontrada das cidades brasileiras. Como é o caso de São Paulo, uma divisão de espaços sem nenhum critério. Sobre planejamento na cidade, quando falam de planejamen- to urbano, dou risada. Que planejamento urbano? Em São Paulo é pegar a área e dividir, para dar maior lucro possível. Isso não é pla- nejamento, e sim dividir inadequadamente o espaço. Tenho críticas severas a nossa maneira de incorporar e im- 286
  • 298. plantar cidades, porque é necessário condições estruturais para você desenvolver tudo que vem junto, inclusive o específico. Pro- jeto que já atende na sua especificidade e se integra num conjunto que vai constituir a visão mais global. Isso não ocorrendo, então as nossas intervenções ficam parciais e equivocadas e que constitui a quase totalidade das cidades brasileiras. Edifícios com orientações inadequadas, com a não inclusão das questões ambientais no projeto. Esses projetos que são feitos na cidade de São Paulo, possuem apartamentos ou escritórios vol- tados para norte, sul, leste e oeste. Os projetos não têm orientação solar, porque são divididos para dar o maior lucro possível. Não entender essas coisas é continuar a implantar edifícios, conjuntos e setores urbanos de maneira inadequada. O que cabe a nós arquitetos profissionais que estamos preocupados? Primeiro é saber se é uma condição estrutural que deve ser considerada, e não erroneamente pensar nos seus projetos específicos. Todos os nossos projetos tentam resolver essas condições que a gente recebe como herança, como um terreno que tenha con- dições inadequadas de implantação, de fluxos, de ocupação e uso dos espaços vazios. O que nasce antes do projeto é a forma de ocupação da área, e incorporar as condições atmosféricas e ambientais, que são es- truturais na definição de projeto. E isso vem sendo desconsiderado na arquitetura brasileira. O que o edifício vai ocasionar na região? O que ele recebe da região? O que eu preciso fazer para que esse projeto beneficie a maior área possível? Essas críticas venho colocar de início porque, se não, fica- mos discutindo questões secundárias sem entender que antes de- las existem condições estruturais mais importantes que temos que considerar. Todo plano diretor precisa considerar essas questões que irão condicionar as demais: econômicas, espaciais, de circulação, do sistema viário e na sequência as outras condicionantes que são mais funcionais e mais diretamente atreladas à cada tipologia. Eu posso implantar um edifício explorando melhor as condi- ções locais, e as condições estruturais que o cercam superando os conflitos pela circulação inadequada de acesso, que são determi- nantes da região para o seu projeto. Isso aconteceu no caso do São Camilo Pompeia. Uma aveni- 287
  • 299. da extremamente ocupada, a Av. Pompeia como avenida principal, e duas linhas de circulação, laterais e outra posterior, que se começou a considerar no plano. Mas seguimos na ordem e foi como é sempre. Fomos cha- mados para resolver as entradas dos prontos socorros em relação com a avenida, que era o projeto inicial, solucionando o térreo do Bloco 1 existente. Dá uma arrumada aqui embaixo que está muito ruim. Para acessar, para acomodar pessoas, separar fluxos, fazer as condi- ções funcionais ficarem um pouco melhor. Com a entrada do prédio independente dos PS. Então o primeiro projeto foi tratar o bloco ligado a avenida e solucionar a parte inferior toda, que já deu uma melhorada significa- tiva, porque era muito ruim realmente. Arqta. Ana Lídia - Até a respeito do pronto-socorro adulto. A entra- da do Pronto Socorro Adulto, antes situada em entrada central do bloco, foi transferida para o acesso da entrada do estacionamento. O senhor soube dessa alteração? Qual a sua opinião a respeito? Arqto. Zanettini - Alterações vem, às vezes inadequadamente, in- dependente da nossa vontade. São decisões internas de uma dire- ção. Isso faz parte do contexto. Não dá discutir se é algo bom ou mal porque tem outras razões que levaram a fazer uma mudança que talvez não passe pelo nosso plano. Tem soluções muito mais ligadas a problemas específicos de uma orientação que, às vezes, não está muito lógica. Mas o que tínhamos feito ali, além desse tratamento, pois esse edifício tinha um uma série de problemas e ele precisava de uma série de funções que ele não tinha. Tinha um centro cirúrgi- co precário, quartos mal resolvidos, toda a parte de insumos muito ruim, e era necessário crescer. Mas crescer nesse edifício? Não tem como. Nós temos que ver quais são as áreas disponíveis que existem? E existia uma área mais ou menos grande atrás da parte posterior do Bloco I, usada como estacionamento. Precisávamos ver como que se acessa a essa área, como que ela se integra ao bloco, e como o plano leva em consideração o existente com todas as suas peculiaridades, positivas e negativas, como herança que recebemos. E depois, ver como isso irá se de- 288
  • 300. senvolver de forma ordenada. Foi então que propusemos o desenvolvimento do Plano Dire- tor Geral, que eles acabaram aceitando, porque viram que precisa- vam de uma orientação mais integrada. Havia ao redor, na mesma quadra, um conjunto de casa pe- quenas. Recomendei adquiri-las e integrá-las a essa área central. Precisamos de espaço para passar de 100 leitos para 400. Tínha- mos que pensar num processo evolutivo e gradual para atender es- ses 400 leitos. Porque não são apenas os 400 leitos, são 400 e todos os insumos, que é bem maior. Vamos desenvolver um projeto sequente de acréscimos que vão se acoplando ao bloco inicial para dar continuidade funcional, alocando novas relações, que são necessárias para um complexo maior. Com uma certa lógica, gradativamente. Fazer a aquisição de alguns lotes de custo baixo próximos. Incorporá-los nessa amplia- ção que é 4 a 5 vezes o tamanho inicial do projeto. Então propusemos um Bloco II, anexo interligado ao Bloco I, para ele continuidade, com essa conexão, com uma bateria de leitos em alguns andares e deixar circulações que conectam essa região central e que dê continuidade para o crescimento futuro. Propuse- mos um eixo central com interações laterais de circulação para criar condições de acréscimo de novos blocos. Foram adquiridos os lotes voltados para a rua lateral, com os quais construímos o Bloco III, quase um ano depois, com mais leitos e mais funções. Aqui pusemos uma lavanderia completa e uma área de atendimento, integrando com circulações contínuas o conjunto todo, por circulações que se conectam. Então surgiram condições para o Bloco IV. Este se situava no terreno de uma pequena escola que era necessário adquirir para dar continuidade na mesma quadra. Foram adquirindo esses lotes todos e fomos acompanhando com construções anexas, em setores que estavam dentro do budget de investimento deles, naquela época. Durante alguns anos, não me lembro exatamente, foram adquiridos lotes, dentro das disponi- bilidades econômicas do grupo. Esses blocos foram se anexando ao inicial E tinha ainda o edifício de residência dos padres, antigamen- te. Esse bloco foi, mais tarde, transformado no centro administrativo do complexo. 289
  • 301. E eles já tinham adquirido, inclusive, um terreno do outro lado da rua, fora da quadra. Como integrá-lo? Aí surgiu o bloco V. Isso levou 2 – 3 anos. Através de duas conexões aéreas de pedestres e uma subterrânea de veículos e instalações de sistemas, que se integrava ao conjunto. Então esse bloco foi construído depois e nós fizemos um projeto com conexões, 2 que eram aparentes sobre a via e uma subterrânea com ligação entre garagens. Então esse complexo surgiu em 5 importantes etapas suces- sivas integrando o programa todo. E hoje reúne um complexo de atendimento de alta complexidade funcional com a capacidade de 400 leitos, com todos os insumos necessários a um hospital desse porte. E fomos introduzindo ao longo desse tempo uma série de inovações tecnológicas importantes. Quando fizemos o bloco IV, já o fizemos quase totalmente pré-industrializado. Tanto paredes e fechamentos, como até banheiros prontos. Foi o primeiro edifício com banheiros prontos, produzidos em fábrica. Em uma semana, montamos 90 banheiros, montados e acabados. Foi uma série de atributos que introduzíamos ao longo de um planejamento contínuo, com uma série de avanços tecnológicos. Arqta. Ana Lídia - Em relação a esse Plano Diretor. 1. Em uma en- trevista que o senhor realizou para a revista AU, o senhor comentou sobre ter trabalhado com uma equipe multidisciplinar para a concep- ção do Plano Diretor do Complexo São Camilo Pompeia. O senhor poderia me contar um pouco mais sobre essa experiencia? Arqto. Zanettini - Normalmente, o que se faz com a maioria dos edifícios? Se contrata algum arquiteto e profissionais que trabalham na área da engenharia e se faz um projeto sem dar muita conexão com o que foi, ao que é e ao que será. Quando vou fazer um pro- jeto, primeiramente tenho que entender como que ele está inserido presente e como eu o preparo para o seu futuro, sempre com uma visão mais planejadora para que, depois de 5, 10 anos, aqueles in- vestimentos não se percam. E foi o que aconteceu e foi muito bem resolvido. As construções eram feitas dentro do budget econômico de cada momento. As aquisições eram feitas com orientação, pre- 290
  • 302. parando as intervenções. Esse foi um exemplo, com um edifício existente com todos os compromissos que ele já tinha existentes de uma época muito an- terior. Esse primeiro bloco era de 40 anos anteriores. Esse conjunto foi crescendo, formando um complexo que teve muita unidade. O resultado foi muito bom, onde a gente conseguiu introduzir tecnolo- gias novas e incorporar disciplinas do conhecimento ligadas a área das engenharias. Então um plano de diretor, não é só um conjunto de ativida- des e soluções físicas, mas todos os insumos das várias disciplinas que vão integrar esse todo que é único. Como é que entra uma instalação elétrica? Uma instalação de ar-condicionado e uma solução de gases, de resíduo e de circu- lações de pessoas e serviços. Uma série de itens que não são do teu projeto, mas com ele se completa funcionalmente. Todo hospital, que não tiver claramente, desde o início, uma integração de todas as disciplinas, vai ter problemas futuros. Como ocorre na maioria dos casos. Nós fomos chamados para resolver muitos hospitais. Por que não está funcionando? Por que está dando um problema sério? Preciso ampliar, mas para onde? Porque não cresceu de forma planejada. Cresceu em função das pressões de cada momento ou de investimento isolados. Em todo projeto procuro fazer os clientes entenderem que é preciso ter todas as disciplinas juntas. Arqta. Ana Lídia - No envolvimento de médicos, enfermeiros e ad- ministradores na elaboração do projeto, existe uma prática metodo- lógica de procedimentos (checklists, reuniões periódicas com seto- res e grupo etc.) para o encaminhamento das decisões de projeto? Arqto. Zanettini - O caminho é entender o cliente desde a presidên- cia até a área técnica, médica e da área de serviço, e de cada setor para entender o problema na sua totalidade. Colocamos para eles o que é necessário para resolver esses problemas, em sua totalidade. Como que o edifício vai ser implan- tado? Quanto tempo de construção? Quanto será o investimento? Condições que devem ser atendidas para estar dentro do budget do cliente que está te contratando. Vou fazer um projeto sabendo o que ele quer e o quanto que ele pode investir. 291
  • 303. A maioria dos clientes não entende que arquitetura não é só o edifício, mas também tudo aquilo que vai dentro. Se eu for colocar um bunker de radioterapia, tem imposições desse bunker que você tem que atender para que um não interfira no restante. E tem também questões ambientais que são fundamentais. Isso nunca abro mão. O Brasil tem essas condições que devemos aproveitar de maneira econômica, clara e funcional, utilizando o nosso ambiente natural. Analisar a região e entender como ela fun- ciona. Ver como é o regime de ventos, de insolação, aquilo que o ambiente coloca. Arqta. Ana Lídia - E partindo do plano para os blocos, em específi- co. Eu tenho algumas perguntas que são mais técnicas, de projeto. Começando pela intervenção do Bloco I. Por que a cobertura me- tálica transparente que dá acesso ao Ponto Socorro Adulto não se estende até a entrada do estacionamento? Arqto. Zanettini - Primeiro porque existem construções anteriores. Então tem condições que você recebe de herança. Essa era uma parte do Pronto Atendimento que já existia e o coloquei para baixo, porque precisava um acesso mais fácil da avenida, porque era o único acesso para aquela área de entrada principal desse edifício. Arqta. Ana Lídia - E por que não foi estendida a área de cobertura? Arqto. Zanettini - Porque não se tinha uma área de estacionamen- to de ambulâncias. As ambulâncias paravam na avenida. Criamos um lugar para o estacionamento de ambulâncias e tínhamos que manter a circulação. Se o plano vai se estender para o futuro, é necessário manter uma circulação de veículos que vai atravessar a quadra. Entrar aqui na Av. Pompeia e sair na Rua Barão do Bananal e manter a possibilidade de conectar cada bloco com a circulação de pessoas, no nível do solo, como única circulação possível. Arqta. Ana Lídia - Essa cobertura era para ser utilizada apenas como passagem ou tinha outra função? Arqto. Zanettini - Era para aumentar a área de espera, que era muito pequena. E eu fiz uma área de permanência não prolongada 292
  • 304. para ampliar a área. Mas eu não poderia construir aqui, porque a área no recuo com a avenida. Propus essa cobertura mais leve, mais aberta, porque não poderia ter construção, como lugar de es- pera se ampliarmos. Conforme a solução que foi dada, criasse 2 coberturas que não só davam uma estética mais nova ao hospital, como também colocavam ampliações em setores possíveis. Arqta. Ana Lídia - Quais são os materiais que compõe a estrutura e as placas transparentes da cobertura? Arqto. Zanettini - Eu trabalho muito com estrutura metálica. Come- cei a fazer obras em aço na década de 70. Não tinha indústria de aço na época. Depois, foi se desenvolvendo e hoje tem uma indús- tria vigorosa. Hoje faço hospitais inteiros em aço como um processo de montagem. Fiz agora uma reformulação toda do Einstein, uma obra imensa, sem construção e com pro¬dução toda fora do canteiro. Fiz, também, um hospital enorme em Salvador que foi montado em 18 meses sem obras no local. Também uso madeira reciclada. Já fiz várias obras reutilizan- do. Fiz obras com concreto pré-moldado, muitas. O Hospital São Camilo Pompeia, por exemplo, tem banheiros de concreto pré-mol- dado, as placas de fachada no bloco IV de pré-moldado. Vinham prontas de fábrica. Quando você recebe um edifício antigo como esse bloco I, você vai ter que adaptá-lo e dar continuidade a sua lógica produtiva. Os novos blocos II, III, IV e V foram feitos com sistemas produtivos industrializados. Acabamos de visitar, em Salvador, um hospital de quase 100 metros de altura em 18 meses. 1/3 do tempo natural de obra. Então planejamento não é só espacial, mas de implantação e relação com o lugar e com o entorno, como também de qualidade produtiva, in- dustrializada, isenta de poeira, de barulho e de resíduos. Resíduo é 30% do que você está investindo, na obra tradicional. Tem que começar a pensar na maneira mais integrada, e que en- volve disciplinas que se tem conhecimento e que hoje temos como incorporá-las. Todo o projeto de hospital nasce junto com um grupo de especialistas. 293
  • 305. Arqta. Ana Lídia - O senhor foi informado de que esse espaço foi convertido em entrada e sala de espera, por conta, principalmen- te, das necessidades de isolamento criadas pela pandemia de CO- VID-19? Qual a sua opinião a respeito? Arqto. Zanettini - AÍ são coisas que não dependem de nós. Estão fora de qualquer planejamento. Uma surpresa que acontecesse em nível internacional, que tem influências específicas e, que você ajus- ta os espaços dentro das condições que foram possíveis. Arqta. Ana Lídia - Passando para o Bloco II. Durante visita didática passamos pela cozinha e refeitório. Estes foram detalhados pelo escritório ou por uma empresa especializada em projeto, montagem e operação de cozinha industrial? Arqto. Zanettini - Primeiro tivemos que fazer a locação de amplia- ção no mesmo local. Não tinha como mudar nem como parar, como uma herança de um setor em funcionamento. A cozinha e parte do refeitório precisaram ser ajustado no mesmo local. E a ampliação dela, aconteceu frente necessidade de aumento do hospital. Teve que ir se adequando e dimensionando em função do aumento do número de leito. Arqta. Ana Lídia - Durante visita didática soube que foram feitas alterações na planta do térreo do bloco, com alteração do posicio- namento da recepção, tornando a entrada ao hospital pela via Barão do Bananal mais restrita, e a diminuição nos espaços lúdicos, princi- palmente das lojas laterais. Essa alteração foi de sua autoria? Qual foi o motivo para a realização dessa alteração? Arqto. Zanettini - Essa alteração não foi de minha autoria. Depois que projetamos o bloco 5, foi o último trabalho que eu fiz para eles. Equipes internas ou outros arquitetos e fizeram reformulações lá. Então não tive conhecimento e não sei como opinar. Arqta. Ana Lídia - No projeto disponibilizado pelo escritório não se encontra nenhuma iden¬tificação de existência de catraca na en- trada para a via Barão do Bananal, apenas a recepção. Além disso, 294
  • 306. estava previsto em projeto uma cafeteria. O projeto previa que esse lugar fosse aberto ao público externo, tal como o restaurante no Atrium do Hospital Israelita Albert Einstein? Arqto. Zanettini - Nessa época não tinha isso. Nesse setor já tinha catraca, mas nos outros foi feito a análise de barreira. O programa funcional depende de como você o recebe. No caso do Einstein, o Atrium era já todo ocupado por restaurantes, mais parecendo um shopping center. não era átrio de recepção. E eu fiz a reformulação. Deixei só uma área para lanches e um dos restau- rantes, que pediram para manter. O resto reformando com uma área de acesso e de permanência. Lá coloquei um painel de informação. Surgiu uma praça de convívio e de recepção. Arqta. Ana Lídia - Só para confirmar, foi o escritório quem realizou o projeto de interiores desse andar e do mezzanino, com a confor- mação das poltronas e escolha das cores? Arqto. Zanettini - Esses hospitais todos tiveram um projeto de ar- quitetura, justamente com o de interiores. Inclusive o Bloco V. Mas a decisão de pôr uma poltrona como tal, não é minha. Não posso opinar. Arqta. Ana Lídia - O piano de cauda no mezanino estava previsto no projeto ou foi uma ideia dos clientes? Estava previsto que ele fos- se utilizado pelo público e/ou médicos, enfermeiros, funcionários? A presença do piano implicaria que esta área foi concebida como um espaço social para médicos, enfermeiros, funcionários, pacientes, acompanhantes - com a finalidade de agregar pessoas e grupos para eventos sociais, culturais e de descompressão? Arqto. Zanettini - Não, não havia sido previsto. O que aconteceu foi que, quando fiz o projeto para o Edmundo Vasconcelos, um ou- tro hospital, introduzi um ambiente que tivesse um piano e um local para eventos. Isso porque faziam um evento a cada ano, para pa- cientes e para o público. E contrataram o meu filho, que é maestro, para fazer esse evento e o faz até hoje. E eu coloquei lá um piano de calda. E a isso se tornou praticamente uma norma. Todo hospital novo tem um, como se o piano fosse mais um elemento do mobiliá- 295
  • 307. rio. Música sempre faz bem! Arqta. Ana Lídia - Alguns hospitais, principalmente internacionais, estimulam a produção de apresentações musicais dentro de seus espaços, muitas vezes por orquestras, bandas ou corais formados pelos próprios médicos, enfermeiros e funcionários do hospital. Estas formações podem contribuir para o bem-estar e a despres- surização das equipes, pacientes e acompanhantes, em eventos acadêmicos, sociais e cívico-institucionais. As performances podem ocorrer em áreas públicas do hospital, ou ainda auditórios, foyers e salões de festas. Um bom exemplo é TMCO-Texas Medical Center Orchestra (Doctor’s Orchestra of Houston), do Texas Medical Center de Houston (premiada como uma das melhores orquestras comuni- tárias dos EUA, com vários vídeos no Youtube). Para o senhor, por que isso não acontece nos hospitais brasileiros? Arqto. Zanettini - Não tem sido considerado. Estou fazendo um trabalho para a Unimed agora, onde eu não só fiz o espaço, como um auditório. Que atende fora e internamente. E com um patamar do auditório só para doentes. Então eles podem ir de maca nesse lugar e assistir um evento. Para você ver o nível que eu cheguei já?! Isso é lindíssimo. Você tem um público externo e um público interno, que não se mistura. O paciente vai de cadeira de roda, de muleta ou de uma cama que pode ser deslocada e ficar no patamar dele. Quando fiz isso para a Unimed da Vitória da Conquista, o pessoal achou maravilhoso. Arqta. Ana Lídia - Indo para o bloco 3. Por que os pisos dos corre- dores foram paginados com faixas coloridas de desenho orgânico, que adentram os apartamentos? Arqto. Zanettini - Primeiramente, isso eu fiz para todos os blocos, não só para o bloco 3. Esse projeto foi um dos projetos meus de soluções novas de pisos. Todos os ambientes tinham pisos específi- cos, desenhos de piso que davam uniformidade e soluções compa- tíveis do conjunto. Sobre o desenho, quando se pega o piso em manta, é mais lógico que você não o divida em pedaços, porque é uma manta. Fiz faixas de manta contínuas que atravessam os ambientes como um dese- 296
  • 308. nho, com uma lógica compatível com o material utilizado. Arqta. Ana Lídia - Quais são os materiais de acabamento das ban- cadas dos banheiros? Arqto. Zanettini - Isso varia muito em função do custo. O custo que é determinante para você fazer uma solução A, B ou C. Se o cliente quer um espaço mais sofisticado, é necessário maior investimento. Então pias, acabamentos de parede, piso e bancadas dependem do nível de investimento. Aqui, funciona bem, com o custo mais baixo. Por exemplo, posso resolver uma pia, a um custo mais baixo e funcional. Coloca uma mesa de ACM com a pia sobreposta inde- pendente. É a solução mais barata e boa. Ou então faço uma pia de granito ou de aço inoxidável. Cada solução tem a sua lógica e o seu custo. E aí depende muito do pa- drão que você vai ter no hospital. Se quero um hospital com bom funcionamento e com acabamentos mais modestos, sem grandes luxos. Tudo bem. Não é isso que dá qualidade ao projeto. Posso ter projeto revestido com cerâmica e sem excelente. Desde que essa cerâmica seja adequada, boa, que funcione bem e dure. O nível de investimento vem determinado pelo cliente. Arqta. Ana Lídia - O projeto de paisagismo do terraço jardim foi realizado pelo escritório ou é de autoria de arquiteto paisagista, es- colhido pelo escritório? Arqto. Zanettini - Foi todo nosso. Esse e os dos quartos. O pessoal hoje me pede para fazer isso porque acha que é um custo que pode pagar. Ter um quarto que se abre para uma varanda, é uma delícia. Para os pacientes e para os acompanhantes. Eu me lembro que, durante uma das Copas do Mundo, um cliente quis ficar na varanda no domingo. Eu vou assistir à Copa aqui, que está gostoso. E ele ficou mais 1 dia internado. Arqta. Ana Lídia - A implantação do terraço jardim foi uma decisão em conjunto dos clientes com o arquiteto ou sugestão específica do arquiteto de acordo com práticas de sustentabilidade ambiental e humanização da arquitetura hospitalar? 297
  • 309. Arqto. Zanettini - Foi uma decisão de projeto porque eu queria uma área de deambulação de pacientes. Eu achava que, para esse bloco, era necessário. Como não tinha espaços internos para fazer isso, por que não aproveitar a cobertura? Em vez de colocar um te- lhado, fizemos uma área ajardinada para o paciente, visitante e para a enfermagem. Porque a área de deambulação é para os pacientes, pessoas externas e funcionários. Os funcionários adoram ir nesses espaços, ajardinados, após o almoço, para sentar e bater um papo. Não é área exclusiva para paciente. Arqta. Ana Lídia - Foi construída uma unidade do Carrefour Bairro dentro do Hospital São Camilo Pompeia. Qual a sua opinião a res- peito? Arqto. Zanettini - Não sabia disto. Não é atividade para um hos- pital. Não sei por que, não foi de minha época. Aconteceu depois. Pode ser que esteja adequado ou não, mas não posso fazer crítica a respeito do que não conheço. Provavelmente utilizaram um espaço que era de outra atividade e decidiram por colocar esse serviço. Arqta. Ana Lídia - Pergunto por que, em relação à humanização espacial, eles falam sobre a importância dos espaços lúdicos, entre eles o comercial. Arqto. Zanettini - Podem existir quando o hospital tiver um porte muito grande. Por exemplo, no Einstein, estou fazendo uma refor- mulação. Lá tem de tudo, lojas, farmácia, restaurantes de vários tipos, mas é um complexo. É praticamente uma cidade edificada. São vários locais onde vão acontecendo atividades desse tipo. Para o investidor é um meio de renda! É um investimento que traz movi- mento, traz pessoas para uma permanência mais prolongada. Arqta. Ana Lídia - E como que esses espaços podem beneficiar a humanização espacial dos hospitais? Arqto. Zanettini - Se for bem-conceituado, sim. Se não… é o caso do Atrium do Einstein, que era uma confusão total. Parecia uma es- tação de trem. Dependendo do tipo do porte do hospital cabe. Exis- tem atividades que se coadunam com a complexidade do projeto. 298
  • 310. Tem outras que são completamente equivocadas. Isso independe do arquiteto, principalmente quando são implantados posteriormen- te. Arqta. Ana Lídia - Em relação ao bloco 5, o bloco mais recente. Qual foi o critério para escolha do porcelanato como piso do Bloco V e diferente dos outros blocos do Complexo? Arqto. Zanettini - Primeiro, por ser um prédio que não tinha ligação direta com os outros. Os outros tinham uma comunicação de circu- lação. O bloco V, do outro lado da rua, feito numa outra época, com esse novo tratamento e separado dos demais blocos. Arqta. Ana Lídia - Qual o revestimento externo das paredes dos terraços jardins? Qual foi o critério para escolha desse material? Arqto. Zanettini - Argamassa de acabamento e nas fachadas, com tratamento diferente dos outros prédios, com painéis unificados de vidro e ACM. São painéis montados sobre a estrutura. Arqta. Ana Lídia - Os terraços jardins são de acesso restritos? Arqto. Zanettini - Era de acesso público. Os blocos eram maiores embaixo. Como não subia a prumada toda, formava terraços com tratamento paisagístico, que resultavam um visual agradável. Arqta. Ana Lídia - Então eles tinham uma intenção maior de serem coberturas verdes e não terraços? Arqto. Zanettini - Isso. Arqta. Ana Lídia - Quais são os materiais utilizados como acaba- mento para as bancadas dos banheiros? Arqto. Zanettini - O bloco 5 teve um tratamento mais sofisticado, tanto interno como externamente, com um padrão um pouco mais alto. Os outros eram mais simples. Os pisos eram em manta asfálti- ca. Neste o piso foi de porcelanato e as paredes também. No caso da bancada do banheiro era de granito com um desenho mais atual 299
  • 311. e compatível com o acabamento do todo. Arqta. Ana Lídia - Quais foram as maiores dificuldades o senhor enfrentou quanto à aplicação da humanização espacial em edifícios hospitalares? Arqto. Zanettini - Não teve dificuldade não. O que acontece é que ninguém sabe o porquê disso no hospital. Parece um luxo. Não. O tratamento mais confortável para quem trabalha, para a enferma- gem, para pacientes e acompanhantes. Você está contribuindo para o ambiente. Se tenho um custo limitado, meu nível de qualidade será limitado também. Então toda a solução ambiental será de uma maneira mais econô-mica, mas com bom design. O bom design você consegue fazer em qualquer nível! Arqta. Ana Lídia - Se a humanização espacial procura tornar os ambientes confortáveis para os seus usuários, quais são e como se aplicam critérios específicos de acessibilidade durante o projeto - considerando, tanto o fato de que certos ambientes terem dimen- sionamentos pequenos, quanto a presença de Pessoas com Defici- ência, com acompanhantes e terapeutas. Arqto. Zanettini - Não depende de custo isso. O dimensionamento, o fluxo e a locação não dependem de custo. Depende de um projeto bem resolvido, bem-planejado. Pessoas com deficiência requerem um dimensionamento como uma especificação correta. Arqta. Ana Lídia - a última questão… Apesar de a vegetação ter um papel importante para a humanização espacial, alguns profis- sionais, principalmente de saúde, são contra a utilização de plantas, em canteiros ou vasos, em locais internos ao edifício (como salas de espera) e defendem essa argumentação pelas plantas serem fontes de contaminação, permitindo a entrada de insetos para dentro do edifício. Qual a sua opinião a respeito? Lembrando que, mesmo em ambientes domésticos isto pode ser um problema. Marcos Acayaba, por exemplo, retirou o jardim interno da Casa Millan há alguns anos. Arqto. Zanettini - Tem certos tipos de plantas, certos tipos de solu- ções. Um vaso de planta, por exemplo, você pode colocar que não 300
  • 312. tem problema algum, se é tratado e cuidado. Os jardins internos que precisam de cuidado e manutenção constante e isso pode ser com- plicado. Sobre isso, não sou a favor nem contra. Acho que depende que a solução seja compatível. Não entulhar de jardins dentro se não tem como cuidar. E para cuidar já basta os pacientes, o que é muito. 301
  • 313. Nota de Introdução. Esta entrevista foi realizada como parte desta pesquisa de Mestrado em desenvolvimento, acerca das características projetuais da arquitetura hospitalar e da aplicação dos princípios de humanização espacial e sustentabilidade em edifícios hospitalares, tendo o projeto do Hospital São Camilo - Unidade Pompeia, projeto do Arqto. Siegbert Zanettini, como caso de estudo. Realizamos a entrevista com a arquiteta Dyane Assis de Arruda, que nos acompanhou durante as visitas técnicas ao edifício. Arqta. Ana Lídia - Trouxe algumas questões pontuais. Vou iniciar pelo bloco I. Quando visitamos o pronto socorro adulto, percebi que o espaço parecia menor, contudo, no projeto do Zanettini, era pre- visto um café. Houve alguma mudança no uso do ambiente? Arqta. Dyane - É bem provável, mas é uma adaptação bem antiga, bem antiga mesmo. Tenho o projeto do Zanettini comigo, mas para fazer a entrada do PS. foi promovido uma cobertura ainda maior da- quele lado. Hoje, temos aquela área metálica avançando na frente do PS. Eu tenho um projeto que a cobertura metálica fica totalmente na lateral, de forma que a pessoa consiga entrar e parar o carro de- baixo da cobertura, porém nós não conseguimos viabilizar ainda por conta de área construída. Arqta. Ana Lídia - Então a cobertura se estenderia até a entrada do estacionamento? Arqta. Dyane - Isso. Arqta. Ana Lídia - Antigamente estava previsto que a entrada, da Anexo II Entrevista com a arquiteta Dyane Assis de Arruda no dia 31/08/2022. 302
  • 314. internação, seria pelo centro do pavimento e não pela cobertura me- tálica. Por acaso, ocorreu algum problema de fluxo com essa mu- dança? Arqta. Dyane - Houve uma mudança de fluxo. Não sei te dizer a data, mas o fluxo para internação passou para a rua de trás, que é a Barão do Bananal. Lá conseguimos um fluxo onde o carro entre, pare, o Vallet pegue o carro, o paciente desce em área coberta, para poder entrar. Já no Pronto Socorro, a entrada fica mais adequada porque o paciente não tem escada para vencer. Porque essa entra- da central fica numa área da Avenida Pompéia que não tem recuo, que tem grande movimento. Tem ponto de ônibus ali próximo. Então a entrada na lateral do prédio facilitou bastante. Arqta. Ana Lídia - Está certo. Eu ia pedir para ver, se possível, es- ses arquivos que vocês têm também para atualizar o projeto que eu tenho aqui comigo. Arqta. Dyane - As plantas atualizadas? Arqta. Ana Lídia - Isso. Porque eu sei que houve alterações futuras que eu não tenho em registro. Por exemplo, a inclusão do Carrefour Bairro dentro do Hospital. Arqta. Dyane - Ah sim. E ela é bem recente. Arqta. Ana Lídia - Você saberia me dizer quando que foi feita essa inclusão? A construção desse espaço? Arqta. Dyane - O Carrefour foi feito em 2021. Arqta. Ana Lídia - Por que exatamente decidiu-se por colocar um Carrefour dentro do hospital? Arqta. Dyane - É um novo produto do Carrefour, né. Nós não somos nem os primeiros a fazer. Então ele tem esse serviço. Às vezes, ele é voltado só para os funcionários, às vezes para funcionários e público. Lá na Unidade Pompeia, ficou para funcionário e público. A gente também repetiu em outra unidade, a Santana. Só que aí ficou 303
  • 315. só para funcionário. Arqta. Ana Lídia - E não tem risco de contaminação? Arqta. Dyane - Não. Eles fazem todos os processos deles. Aparta- do do nosso material, mas segue as determinações que a gente tem dentro do hospital. Arqta. Ana Lídia - Eu lembro que na visita, você comentou que a capela também está com um projeto diferenciado, que houve uma reforma. Você saberia me dizer quem foi o autor do projeto? Arqta. Dyane - Provavelmente foi o departamento de projetos daqui mesmo. Arqta. Ana Lídia - Durante a visita você comentou também que foi trocado o piso em manta, do desenho colorido para um tom mais neutro. O Arqto. Zanettini chegou a ver essa mudança? Arqta. Dyane - Sim, ele sabe da mudança sim. Tanto é que no bloco V, ele já utilizou os novos acabamentos. Arqta. Ana Lídia - E além dessa troca, teve algum outro elemento que também foi alterado? Arqta. Dyane - O que eu sei te falar é que tem uma luminária bem característica dos projetos do Zanettini, tubular e telada. Foi um ele- mento que tivemos que mudar, porque dá entrada de vetor no hos- pital. Hoje em dia é aquela luminária de sobrepor. A gente teve que passar para a luminária de LED embutida no forro bem vedada. Me chamou bastante atenção porque era uma luminária bem bonita, mas precisou ser alterada. Arqta. Ana Lídia - Em relação àquele andar dos anfiteatros. Você saberia me fizer em que frequência, normalmente, os anfiteatros são utilizados? Arqta. Dyane - Eu não sei te falar agora. Porque existe já uma reu- nião semanal uma vez por semana, onde toda a gerência executiva com as coordenações da unidade. E tem os treinamentos. Eu não 304
  • 316. sei te falar exatamente agora, mas há um ano atras era bem difícil conseguir horário para fazer reuniões. Arqta. Ana Lídia - Pergunto para conseguir entender a necessidade de dois anfiteatros. Se eu não me engano, o Santana também dois. E aí surgiu esse questionamento. Arqta. Dyane - Ah entendi. Tanto Santana como Pompeia, tem dois anfiteatros que, na verdade, é um grande que consegue ser dividido em dois. Aí nós temos não só treinamento assistencial, como tam- bém campanhas de prevenção de acidentes, de lavagem de mãos… campanha de outros setores que são feitos lá. Então você mobiliza um lado, mas ainda tem o outro para ser utilizado para reunião. Arqta. Ana Lídia - E você tinha comentado sobre o terraço jardim. Você poderia repetir o motivo dele estar fechado, por favor? Arqta. Dyane - Então, para o terraço jardim é questão de seguran- ça. A lateral dele não tem o fechamento adequado, por conta dos pacientes, e temos também o problema da entrada de vetores no hospital. Então para o paciente estar utilizando esse espaço, você precisaria colocar uma pessoa, e não somente um segurança, mas um funcionário para estar acompanhando esse paciente em tempo integral. Porque o vetor você consegue resolver com o ar-condiciona- do, as cortinas de ar. É muito a questão dos pacientes. A gente teria que subir o fechamento para poder garantir a segurança. Aí a ideia bacana da visão iria se perder. Ou então fazer em vidro. Arqta. Ana Lídia - Entendi. Eu fico me perguntando se teria a pos- sibilidade do paciente, que não está em bom estado mental, se ele não conseguiria quebrar esse vidro e acabar se machucando? Arqta. Dyane - A gente teria que fazer com os vidros da nossa fa- chada, que são vidros de segurança. Eles têm espessura maior e são laminados. Mas eu não sei dizer se algum paciente já conseguiu quebrar algum dos vidros de nossas sacadas. Posso até questionar isso para você. 305
  • 317. Arqta. Ana Lídia - Se fizesse as alterações e gerasse um maior segurança, o ambiente voltaria a ser utilizado? Arqta. Dyane - No meu entendimento, sim. Mas como isso é um assunto que a gente não discute no hospital, eu posso questionar com as equipes que foram responsáveis por encerrar a atividade lá, porque é uma questão também do paciente não ter atividade. Se a gente tivesse alguma atividade para o paciente nesse espaço, eu acho que seria liberado. Arqta. Ana Lídia - Eu cheguei a conversar com o Zanettini antes da pandemia, e ele comentou que o terraço jardim seria usado para que o paciente tivesse uma aproximação com a vegetação e tomar o banho de sol. Não teria uma atividade especifica prevista para aquele ambiente. Arqta. Dyane - Ah certo, ele simplesmente utilizaria como uma área aberta. Acho prudente conversar com a assistência e com a equipe de segurança para entender certinho. Arqta. Ana Lídia - E, se possível, incluir também, quando for con- versar com eles, a dúvida de se os funcionários também podem utilizar desse espaço. Porque em alguns projetos, esses ambientes sem exclusivos aos pacientes. No máximo, o funcionário que está acompanhando-o. Em outros, é aberto a ambos, onde os funcioná- rios podem usufruir do ambiente em horário de almoço ou descanso. Arqta. Dyane - Ah certo. Por exemplo, aqui no Ipiranga, só para você fazer um comparativo, tem um jardim bem pequenino em fren- te da capela e é bem comum os funcionários usarem no horário do almoço. A internação não usa porque não é um lugar muito fácil de descer, por conta da estrutura do Ipiranga, acaba mais funcionário usando. Arqta. Ana Lídia - Os jardins do Bloco V, que tem acesso restritos dos quartos, são utilizados pelos pacientes ou acompanhantes? Arqta. Dyane - Não. Esses jardins também não são utilizados, nem pelos pacientes que estão nos quartos. Eles estão fechados assim como o terraço jardim. 306
  • 318. Arqta. Ana Lídia - Tem algum motivo específico para isso? Arqta. Dyane - Eu acredito que o motivo seja o mesmo do terraço jardim. Arqta. Ana Lídia - Além da inclusão do Carrefour bairro no projeto, teve alguma outra alteração de projeto ou novas reformas no hos- pital? Arqta. Dyane - Você diz, quando comparado com o projeto original? Arqta. Ana Lídia - Sim Arqta. Dyane - Ah sim. Eu consigo te relatar o que eu estive presen- te. Então você tem desde o terceiro subsolo, que foi ampliada a área de apoio para a instalação de área de hotelaria e engenharia clínica. Eu creio que já era previsto essas áreas, mas elas foram ampliadas. A criação de subestações dentro do hospital, para atender os blocos e dar independência de uso de acordo com a falta de energia públi- ca. Teve a instalação do Carrefour e, agora, de uma Casa Bauduc- co. Então em vez de ter um café, agora tem dois. Tem a Deola, que é o restaurante. Foi ampliado o centro cirúrgico, mas foi feito mais uma sala de hemodinâmica. Foi revisto, do Bloco I, mais uma hemodinâmica, onde, inclu- sive, foi construída uma nova área técnica, uma passarela técnica, para podem ampliar a área. E foi criado um centro oncológico na Pompeia. Eu não sei se anteriormente havia no projeto do Zanettini, mas foi um projeto anterior. Arqta. Ana Lídia - E quando que foi feito? Arqta. Dyane - O Centro Oncológico, em 2018. Foi logo que eu en- trei. Foi feito uma farmácia de quimioterápicos também, também em 2018. Também projeto do Zanettini. Arqta. Ana Lídia - Em relação as ampliações, o que norteou a de- cisão de realizá-las? Arqta. Dyane - Foi o caminho que a direção do hospital resolveu 307
  • 319. seguir em relação a negócios. Você começa a ter tratamentos que geram uma renda maior ou menor e você negocia com os planos de saúde ou é a demanda que o público pede. E em cima disso, a gente vai fazendo a adaptação do hospital para poder receber esse trata- mento. Isso é comum para qualquer hospital. Porque com o tempo a tecnologia muda e as negociações para o tratamento dos pacientes mudam. O hospital acaba não sendo uma coisa engessada. Arqta. Ana Lídia - Voltando ao assunto do jardim, quando se estu- da a Humanização Espacial, principalmente aplicada na arquitetura hospitalar, é falado que a vegetação, a iluminação natural, o pacien- te ter a possibilidade de tomar sol, tudo isso ajuda para aumentar a qualidade do ambiente e na recuperação dos pacientes. Então eu acabo sempre voltando a tocar no assunto. Arqta. Dyane - Eu entendo., porque já passei por esse choque. Você tem todos aqueles trabalhos de design de trazer a vegetação para o paciente e quando você chega no prédio real, o paciente não usa. Eu como profissional do hospital, eu entendo mesmo o que você está falando. E a questão da vegetação é tão séria. A gente não pode usar vegetação internamente ao hospital. Para você entender, eu não posso colocar vasos em áreas de esperar nem internação, porque pode trazer bichinhos, vetores que podem comprometer o tratamento do paciente. Mas tem a questão da humanização. É até mesmo frustrante, você tem as áreas, mas não consegue utilizar. Arqta. Ana Lídia - Quando falamos da Humanização tem outras fer- ramentas quer o arquiteto pode utilizar. O Zanettini faz muito isso. E uma delas é a aplicação da música, dos ruídos positivos, para filtrar os ruídos do hospital, para trazer o conforto acústico para os pa- cientes e acompanhantes. E para os funcionários. E eu me lembrei do piado, que você tinha comentado que antigamente tocavam. Foi por conta da pandemia que pararam de tocar ou por outras razões? Arqta. Dyane - Primeiro que o piano ficava em um local mais con- fortável. Ele ficava em uma área de espera, que ficava um pouco apartada, próxima a Deola. Hoje essa área virou uma área de cir- culação, porque ela dá acesso ao Bloco V, para a passarela. Então esse Piano desceu para o térreo e está exprimido no cantinho, pró- 308
  • 320. ximo dos painéis, que é o memorial em referência a Unidade Pom- peia. Ele está em um lugar que já não é convidativo. E tem aquele conflito também de que a pessoa que toca, não toca muito bem, então não tem o incentivo que antigamente tinha. Arqta. Ana Lídia - Antigamente qualquer um podia tocar u iam mú- sicos lá tocar? Arqta. Dyane - Eu não tenho registro de contratação de músicos para vir tocar o piano. Não tenho essa informação. Era livre para tocar. Eu lembro que até mesmo gerente de unidade tocava o pia- no. Eu já cheguei a presenciar, também, acompanhando tocando o piano. Então eu falei que ele está numa área mais apartada, mas vamos dar um seguimento de revitalização das nossas esperas. E a proposta que a nossa direção está tendo, a gente até requalifica o espaço do piano para utilização. Arqta. Ana Lídia - Vocês estão planejando reformar todas as salas de espera ou só aquela da entrada do Bloco IV? Arqta. Dyane - Não é nem reforma, é rever posição de mobiliário mesmo. 309
  • 321. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO “Arquitetura Hospitalar Humanizada e Sustentabilidade: o caso do Hospi-tal São Camilo Pompeia, do arquiteto Siegbert Zanet- tini” Você está sendo convidado(a) para participar, como volun- tário, do projeto de pes-quisa acima citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos realizando. Sua colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. Após ler com atenção este documento, ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir e, no caso de aceitar fazer parte do estudo, você deve realizar a declaração de que concorda de livre e espontânea vontade em participar dessa pesquisa. Sem essa de- claração, você não poderá participar da pesquisa e seus dados não serão analisa-dos. Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com o pes-quisador responsável, arquiteta Ana Lídia Galhardi Marvulle pelo telefone: (19) 998320240 ou pelo e-mail: [email protected]. Em caso de dúvidas sobre os seus direitos como participante nesta pesquisa, você poderá entrar em contato com a Comissão de Pes- quisa (CPq) do Instituto de Arquite¬tura e Urbanismo da Universida- de de São Paulo (IAU-USP), de Ética em Pesquisa do Hospital São Camilo, pelo endereço de e-mail: [email protected]. O participante fica ciente de que: Anexo III Termo de Consentimento Livre e Esclareci- do (TCLE) I) A pesquisa possui como objetivo estudar como o arquiteto Siegbert Zanettini aplicou os conceitos de huma- nização espacial e sustentabilidade no projeto do Hospital São Camilo Pompeia. Para tal serão realizadas entrevistas com o arquiteto Siegbert Zanettini e outros profissionais envolvidos com o projeto do hospital, e visitas técnicas ao complexo, para coleta de material fotográ¬fico do edifício e para entender melhor como a aplicação desses conceitos 310
  • 322. influência os ambientes internos dos blocos do hospital. II) O participante ou voluntário da pesquisa fica ciente que, por questões de segurança, as entrevistas, realizadas de formato online, serão gravadas e transcritas. As trans- crições serão enviadas aos entrevistados via e-mail. III) Todas os registros fotográficos realizados durante a visita técnica terão tra-tamento para não permitir a identifi- cação de qualquer pessoa neles conti-dos. IV) O participante ou voluntário da pesquisa deve res- ponder somente às ques-tões que têm condição de res- ponder. V) O participante ou voluntário tem a liberdade de de- sistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento que desejar, sem necessidade de qualquer ex- plicação, sem penalização nenhuma e sem prejuízo a sua saúde ou bem-estar físico. VI) O participante da pesquisa não receberá remunera- ção e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo sua participação voluntária. VII) Benefícios: o participante da pesquisa contribuirá para acrescentar dados referentes a aplicação dos concei- tos de humanização espacial e sustenta-bilidade em am- bientes hospitalares, que serão publicados na dissertação de mestrado da pesquisadora responsável, que trará be- nefícios para a co-munidade científica e acadêmica. Além disso, as informações coletadas po¬derão ser utilizadas em melhorias do espaço físico de futuros hospitais. VIII) Riscos: A participação na pesquisa poderá causar riscos mínimos de quebra de sigilo de informações. IX) Os dados obtidos durante a pesquisa serão manti- dos em sigilo pelos pesquisadores, assegurando ao partici- pante ou voluntário a privacidade quanto aos dados confi- denciais envolvidos na pesquisa. X) Os resultados serão divulgados em publicações acadêmicas, dissertação de mestrado, e científicas, man- tendo sigilo dos dados pessoais. XI) Durante a realização da pesquisa serão obtidas as assinaturas dos partici-pantes da pesquisa e do pesquisa- dor, também constarão em todas as ru-bricas do pesquisa- dor e do participante da pesquisa. XII) Caso o participante da pesquisa desejar, poderá pessoalmente, ou por meio de telefone, entrar em contato com o pesquisador responsável para tomar conhecimento dos resultados parciais e finais desta pesquisa. 311
  • 323. Eu, __________, residente e domiciliado na _________________ ____________________, portador da Cédula de Identi-dade, RG __________, abaixo assinado, e nascido(a) em __/__/____, de- claro que obtive esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apre- sentadas. Desta forma, concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário (a) do estudo acima descrito. ( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa ( ) Não desejo conhecer os resultados dessa pesquisa Campinas, __ de _______ de ____ Assinatura do participante: ________________________ Testemunha 1: _____________________________ (Nome, RG, Telefone) Assinatura do Responsável da pesquisa: ____________________ Assinatura do Pesquisador Responsável: ___________________ Contato eletrônico do Pesquisador Responsável: ana.lidia.gm@ usp.br Contato telefônico do Pesquisador Responsável: (19) 998320240 312
  • 324. Anexo IV TCLE do Arqto. Siegbert Zanettini 313
  • 325. 314
  • 326. Anexo V TCLE do Arqta. Dyane Assis de Arruda 315
  • 327. 316