Carlos Alberto de Lira
Médico Ginecologista & Obstetra (CREMEB: 5813)
Diretor Técnico do Hospital São José e Maternidade Santa Helena
Assistência Materno-Infantil em ILHÉUS
Dentro do conceito de hierarquização e regionalização do SUS, constitui
aassistência hospitalar a ATENÇÃO TERCIÁRIA em saúde. Precedem-na a
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE(APS) e a ATENÇÃO SECUNDÁRIA ou ATENÇÃO
ESPECIALIZADA.
A qualidade da prestação de saúde à comunidade pelo SUS está
vinculada primordialmente à eficiência do funcionamento da cadeia simples:
atenção primária, secundária e terciária.
A adequada integração desse sistema – sem exclusão de nenhum deles –
propicia o bem-estar mínimo necessário. Para tanto, necessária se faz a aplicação
adequada e em quantitativo justo dos recursos financeiros.
No item Atenção Terciária ou Hospitalar, no quesito específico de
assistência materno-infantil em ILHÉUS, deparamo-nos com uma progressiva e
inexorável deterioração na qualidade da assistência às gestantes e recém-nascidos,
não obstante os esforços das equipes médicas e de enfermagem disponíveis para
tanto.
A deficiência notória da assistência pré-natalno município (atenção
primária em saúde - APS) sobrecarrega a única maternidade em Ilhéus,
transferindo para esta também a missão de prestar assistência em atenção básica,
responsabilidade que é dos postos de saúde, se efetivamente estivessemcom
equipe multiprofissional preparada e instalações funcionando a contento. A cadeia
é rompida e a qualidade de assistência à saúde da comunidade é comprometida.
Os parcos recursos que o SUS disponibiliza para as unidades
hospitalares, defasados ao longo de 15 anos, estão comprometendo sobremaneira
a assistência materno-infantil em nossa cidade, ameaçando em curto prazoo
funcionamento da única maternidade em funcionamento: a Maternidade Santa
Helena, vinculada ao Hospital São José. Médicos neonatologistas, de cujo labor
necessita-se para assistência especializada aos recém-nascidos, estão a se desligar
do vínculo hospitalar pelos aviltantes honorários que recebem e escassez de
recursos técnicos; médicos obstetras, responsáveis pela coordenação e assistência
às gestantes em trabalho de parto, também estão paulatinamente exonerando-se
dos plantões sem que a direção do hospital consiga substituí-los. Não há atrativos
para esses profissionais. Todavia, diuturnamente responsabilizados por eventuais
decessos. O bom exercício da prática médica perpassa pelos honorários adequados,
pelas condições de trabalho e material médico condizentes com a responsabilidade
de assistir vidas.
Deterioram-se as condições hospitalares ao exercício da medicina e de
enfermagem, desestimulando a prática profissional nos hospitais. No contexto,
evidenciam-se as possibilidades de atos médicos e de enfermagem inadequados,
aumentando infelizmente as estatísticas de erros. URGE a necessidade de
reequipar os hospitais, propiciar cursos de reciclagem de seu corpo técnico,
reorganizar administrativamente os métodos gerenciais. Ações estas capazes de
atrair profissionais para o exercício de uma atenção terciária digna. Em síntese,
sem investimentos adequados ― hoje inexistentes pela total ausência de recursos
próprios na rede hospitalar ― o caos está à vista.
A assistência materno-infantil na cidade de Ilhéus― que também atende
à microrregião que envolve as cidades circunvizinhas de Una, Canavieiras,
Uruçuca, Itacaré, Maraú, etc ―está seriamente comprometida. Esta
responsabilidade não pode ater-se tão somente à administração da Santa Casa de
Misericórdia de Ilhéus, mantenedora da Maternidade Santa Helena e do Hospital
São José. Na gestão plena de saúde em que Ilhéus está inserida, é responsabilidade
sobremaneira do município prover meios adequados para corrigir o rumo da
assistência materno-infantil. Não com o mero discurso doProjeto Rede Cegonha.
Relevante, porém sem resultados imediatos que venham corrigir as deficientes e
atuais condições de funcionamento da única maternidade em funcionamento.
Estamos inermes, e em decorrência, inertes, não por comodismo, porém
desprovidos de recursos financeiros condizentes com a importância da
Maternidade Santa Helena no contexto da hierarquização e regionalização que se
prever no Sistema Único de Saúde.
Se ações coletivas, envolvendo os órgãos e instituições diretamente
vinculados ao contexto assistencial efetivamente não forem estabelecidas,
caminharemos para a interrupção no funcionamento de nossa única maternidade.
Pagar para ver? Aguardemos os acontecimentos.
***********

Mais conteúdo relacionado

PPT
Desafios e avanços da universalização do saneamento básico no Brasi
DOCX
28.03.14.suspensão de processo seletivo vai prejudicar atendimento à saúde em...
PDF
Cress ms manifesto
PDF
Programa de saúde da família beneficia 200 mil famílias
DOC
24.03.14.Unidade de saúde Euler Ázaro, volta a funcionar depois de ser recupe...
PDF
Sintonia 06-01-17
PDF
Mo+ç+âo assistentes sociais rs
Desafios e avanços da universalização do saneamento básico no Brasi
28.03.14.suspensão de processo seletivo vai prejudicar atendimento à saúde em...
Cress ms manifesto
Programa de saúde da família beneficia 200 mil famílias
24.03.14.Unidade de saúde Euler Ázaro, volta a funcionar depois de ser recupe...
Sintonia 06-01-17
Mo+ç+âo assistentes sociais rs

Destaque (10)

PDF
PPT
Diaporama : Jésus marche sur les eaux
PDF
Partitura aline barros - tudo é teu
PDF
Partitura aline barros - fico feliz
PDF
PDF
A miragem (o clone)
PDF
A lista de schindler
PDF
Paritura roberto carlos - esse cara sou eu
Diaporama : Jésus marche sur les eaux
Partitura aline barros - tudo é teu
Partitura aline barros - fico feliz
A miragem (o clone)
A lista de schindler
Paritura roberto carlos - esse cara sou eu
Anúncio

Semelhante a Assistencia materno infantil em ilheus (20)

PDF
TextoComplementar.pdf
PDF
manual de assistencia ao recem nascido
PDF
0104manual_assistencia kanakion.pdf
PDF
Atendimento humanizado 4
PDF
Enfermagem Obstétrica. Diretrizes assistenciais
PDF
assistência a gestante enf(1)
PDF
PROFAE - Enfermagem - CADERNO 08
PDF
Tecnico centro cirurgico
PDF
PROFAE - Enfermagem - CADERNO 05
PDF
Enfermagem capote
PDF
PROFAE - Enfermagem - CADERNO 06
PDF
Livro profae - saúde coletiva - ministerio da saúde
PDF
Linha guiasaudeidoso
PDF
Guia prático do programa saúde da família (parte 2)
DOCX
2º ano tema saude publica
PDF
Melhoria na saúde
PDF
Manual programa saúdeemcasa-saúdedoidoso-mg (1)
DOC
30.07.14.Saúde de Ilhéus investe nos serviços de atenção domiciliar
TextoComplementar.pdf
manual de assistencia ao recem nascido
0104manual_assistencia kanakion.pdf
Atendimento humanizado 4
Enfermagem Obstétrica. Diretrizes assistenciais
assistência a gestante enf(1)
PROFAE - Enfermagem - CADERNO 08
Tecnico centro cirurgico
PROFAE - Enfermagem - CADERNO 05
Enfermagem capote
PROFAE - Enfermagem - CADERNO 06
Livro profae - saúde coletiva - ministerio da saúde
Linha guiasaudeidoso
Guia prático do programa saúde da família (parte 2)
2º ano tema saude publica
Melhoria na saúde
Manual programa saúdeemcasa-saúdedoidoso-mg (1)
30.07.14.Saúde de Ilhéus investe nos serviços de atenção domiciliar
Anúncio

Mais de Guy Valerio Barros dos Santos (20)

PDF
Diário eletrônico edição_129.pdf
PDF
Cartilha fiol-fev2019
PDF
Novo documento 2017 10-02
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 23-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 22-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 21-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 20-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 17-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 16-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 15-03-2017
PDF
Edital Secretaria de Saúde
PDF
Edital Secretaria de Saúde
PDF
Edital Secretária de Saúde
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 10-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 09-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 08-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 07-03-2017
PDF
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 06-03-2017
Diário eletrônico edição_129.pdf
Cartilha fiol-fev2019
Novo documento 2017 10-02
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 23-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 22-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 21-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 20-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 17-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 16-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 15-03-2017
Edital Secretaria de Saúde
Edital Secretaria de Saúde
Edital Secretária de Saúde
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 10-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 09-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 08-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 07-03-2017
DIÁRIO OFICIAL DE ILHÉUS DO DIA 06-03-2017

Assistencia materno infantil em ilheus

  • 1. Carlos Alberto de Lira Médico Ginecologista & Obstetra (CREMEB: 5813) Diretor Técnico do Hospital São José e Maternidade Santa Helena Assistência Materno-Infantil em ILHÉUS Dentro do conceito de hierarquização e regionalização do SUS, constitui aassistência hospitalar a ATENÇÃO TERCIÁRIA em saúde. Precedem-na a ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE(APS) e a ATENÇÃO SECUNDÁRIA ou ATENÇÃO ESPECIALIZADA. A qualidade da prestação de saúde à comunidade pelo SUS está vinculada primordialmente à eficiência do funcionamento da cadeia simples: atenção primária, secundária e terciária. A adequada integração desse sistema – sem exclusão de nenhum deles – propicia o bem-estar mínimo necessário. Para tanto, necessária se faz a aplicação adequada e em quantitativo justo dos recursos financeiros. No item Atenção Terciária ou Hospitalar, no quesito específico de assistência materno-infantil em ILHÉUS, deparamo-nos com uma progressiva e inexorável deterioração na qualidade da assistência às gestantes e recém-nascidos, não obstante os esforços das equipes médicas e de enfermagem disponíveis para tanto. A deficiência notória da assistência pré-natalno município (atenção primária em saúde - APS) sobrecarrega a única maternidade em Ilhéus, transferindo para esta também a missão de prestar assistência em atenção básica, responsabilidade que é dos postos de saúde, se efetivamente estivessemcom equipe multiprofissional preparada e instalações funcionando a contento. A cadeia é rompida e a qualidade de assistência à saúde da comunidade é comprometida. Os parcos recursos que o SUS disponibiliza para as unidades hospitalares, defasados ao longo de 15 anos, estão comprometendo sobremaneira a assistência materno-infantil em nossa cidade, ameaçando em curto prazoo funcionamento da única maternidade em funcionamento: a Maternidade Santa Helena, vinculada ao Hospital São José. Médicos neonatologistas, de cujo labor necessita-se para assistência especializada aos recém-nascidos, estão a se desligar do vínculo hospitalar pelos aviltantes honorários que recebem e escassez de recursos técnicos; médicos obstetras, responsáveis pela coordenação e assistência às gestantes em trabalho de parto, também estão paulatinamente exonerando-se dos plantões sem que a direção do hospital consiga substituí-los. Não há atrativos para esses profissionais. Todavia, diuturnamente responsabilizados por eventuais decessos. O bom exercício da prática médica perpassa pelos honorários adequados, pelas condições de trabalho e material médico condizentes com a responsabilidade de assistir vidas.
  • 2. Deterioram-se as condições hospitalares ao exercício da medicina e de enfermagem, desestimulando a prática profissional nos hospitais. No contexto, evidenciam-se as possibilidades de atos médicos e de enfermagem inadequados, aumentando infelizmente as estatísticas de erros. URGE a necessidade de reequipar os hospitais, propiciar cursos de reciclagem de seu corpo técnico, reorganizar administrativamente os métodos gerenciais. Ações estas capazes de atrair profissionais para o exercício de uma atenção terciária digna. Em síntese, sem investimentos adequados ― hoje inexistentes pela total ausência de recursos próprios na rede hospitalar ― o caos está à vista. A assistência materno-infantil na cidade de Ilhéus― que também atende à microrregião que envolve as cidades circunvizinhas de Una, Canavieiras, Uruçuca, Itacaré, Maraú, etc ―está seriamente comprometida. Esta responsabilidade não pode ater-se tão somente à administração da Santa Casa de Misericórdia de Ilhéus, mantenedora da Maternidade Santa Helena e do Hospital São José. Na gestão plena de saúde em que Ilhéus está inserida, é responsabilidade sobremaneira do município prover meios adequados para corrigir o rumo da assistência materno-infantil. Não com o mero discurso doProjeto Rede Cegonha. Relevante, porém sem resultados imediatos que venham corrigir as deficientes e atuais condições de funcionamento da única maternidade em funcionamento. Estamos inermes, e em decorrência, inertes, não por comodismo, porém desprovidos de recursos financeiros condizentes com a importância da Maternidade Santa Helena no contexto da hierarquização e regionalização que se prever no Sistema Único de Saúde. Se ações coletivas, envolvendo os órgãos e instituições diretamente vinculados ao contexto assistencial efetivamente não forem estabelecidas, caminharemos para a interrupção no funcionamento de nossa única maternidade. Pagar para ver? Aguardemos os acontecimentos. ***********