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AULA 3 - JORNALISMO DE DECLARATÓRIO, DE DOSSIÊ E INVESTIGATIVO
Neste texto você vai estudar alguns conceitos jornalísticos importantes. Vai conhecer, por
exemplo, as diferenças entre alguns termos bastante usados no jornalismo, como o Jornalismo
Declaratório, o Jornalismo de Dossiê e o Jornalismo Investigativo. São definições empírica dos
termos, tiradas a partir da prática diária do jornalismo, mas que farão que você tenha uma
leitura crítica do seu campo profissional.
Jornalismo Declaratório
Com o passar dos anos, o Jornalismo foi evoluindo e tomando novos formatos, diferentes
aparências e se especializando. Em sua gênese, o Jornalismo nasce como um meio que serve
para informar os diferentes públicos com notícias comerciais, sensacionalistas, econômicas e
até mesmo as “fofocas” sobre reis e príncipes.
Posteriormente, o Jornalismo adquire novas funções. Já no período pré e pós Revolução
Francesa, ele é utilizado como meio de divulgação e propagação de ideias, buscando “formar”
a opinião pública e convencer o grande público.
Já no século XIX, o Jornalismo passa por uma reestruturação técnica. A divisão do trabalho
chega até o Jornalismo. São criadas as funções de repórter, redator, editor, fotógrafo, enfim, o
“fazer jornalístico” passa a ser fragmentado (alijando o profissional jornalista da noção de “todo”
e, conseqüentemente, levando-o a um processo de alienação)
É nessa época, e principalmente nos EUA, que o Jornalismo vai procurar formas de se auto-
sustentar, e para isso, o conteúdo editorial vai ser duramente atingido com o objetivo de não
afastar possíveis anunciantes.
No século XX, o Jornalismo se industrializa e atinge a grande massa. Como conseqüência,
assiste à formação de grandes conglomerados. O fazer jornalístico de outrora ganha contornos
completamente distintos. Apesar da transformação, ainda existe a sede de buscar a “verdade”
e torná-la pública.
O Jornalismo Investigativo é a maior prova disso. Nasce da investigação sobre a situação
norte-americana no Vietnã, convence a opinião pública, derruba um presidente e ganha o
mundo afora. Esse modismo, no entanto, percorreu ao longo dos anos caminhos não tão
almejados pelos puristas que faziam do seu ofício a busca do esclarecimento e da
transparência.
O Jornalismo passa a sofrer cada vez mais influências do Jornalismo Empresarial e de
interesses privados. A profissionalização da informação extrapola o universo das empresas e
corporações e atinge as redações sob o formato de releases. O Jornalismo sério, de
investigação, pesquisa intensa e apuração passa a ser marcado pelos releases oficiais, pelas
versões e pelas respostas burocráticas.
O chamado Jornalismo Declaratório, ao em vez de esclarecer a opinião pública, esconde o seu
real objetivo que é o mascaramento de condutas erradas e ofensivas à sociedade. Ele ocorre
toda vez que uma assessoria divulga um release ou nota sobre um fato que lhe é pertinente.
Ao repórter, cabe o intenso trabalho checagem e investigação, para avaliar se as informações
divulgadas pelas assessorias são procedentes e cobertas de veracidade. Caso contrário, sem
a checagem das informações, o jornalista passa a fazer o mero Jornalismo Declaratório, ou
seja, se transforma num mero reprodutor de versões “oficiais”.
Atualmente, pelo enxugamento das redações, passou a ser comum encontrar esse tipo de
jornalismo, uma vez que com poucos funcionários, excesso de trabalho e jornadas excessivas
acabaram por contribuir com a proliferação do Jornalismo Declaratório.
JORNALISMO DE DOSSIÊ
É comum em nosso país, desde o processo de Independência, o acirramento dos ânimos
durante os períodos que antecedem as disputas políticas. Foi assim quando surgiram os
pasquins, passando pelo período pré-republicano, quando vários jornais surgiram com esse
intuito, e assim continuou durante o século XX.
Desde a eleição de Artur Bernardes, em 1922, quando o Correio da Manhã publicou uma série
de cartas falsas contendo supostas críticas de Bernardes aos militares, podemos encontrar a
fabricação de notícias com o intuito de prejudicar alguém politicamente. No episódio citado,
Bernardes, que venceu as eleições, chegou a contratar um perito que confirmou a falsidade
das cartas.
Esse tipo de comportamento se alastrou durante todo o século passado: no golpe de Getúlio
Vargas, no período ditatorial iniciado em 1964, na eleição de Fernando Collor, em 1989, e mais
recentemente, passou a fazer parte do cotidiano pré-eleitoral brasileiro.
Devemos lembrar ainda dos anos 1990, quando o denuncismo ganhou as páginas dos jornais
e uma fábrica de dossiês se instalou no país. É notável o caso da briga pela imprensa entre
Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, cada um com o seu grau de influência,
estampando as páginas das principais revistas semanais Veja e Istoé, cada uma partidarizada
a seu modo.
É importante alertar o estudante de jornalismo e dizer que o Jornalismo de Dossiê vem
“facilitar” a vida do “repórter investigativo” desavisado. Em vez de o jornalista ir atrás da notícia,
a notícia vem até o jornalista, numa inversão completa de valores, com objetivos e interesses
maléficos ao grande público.
As razões para a existência disso são muitas. A precarização da profissão pode ser apontada
como a primeira delas. A multiplicação das fontes de informação é outra, diretamente ligada à
banalização da investigação. De uma hora para outra, na busca da audiência, tudo passou a
ser “informação exclusiva” e “investigativa”.
É singular também o caso da entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson sobre o “mensalão”
dada à repórter Renata LoPrete, da Folha de S.Paulo. Até determinado momento, a repórter
gabou-se publicamente de sua entrevista (vide Observatório da Imprensa na época) sobre o
seu até então “furo” jornalístico. Dias depois, o mesmo deputado, em depoimento transmitido
em rede nacional, no Congresso, admitiu que ele próprio havia escolhido a profissional a quem
concedeu a entrevista.
Esse e outros casos relatam um modismo e um vício que o Jornalismo moderno adquiriu. Uma
técnica de trabalho que oculta em vez de explicitar a “verdade”. O jornalista investigativo deve
se pautar pelo combate a esse tipo de rotina, caso contrário, estará contribuindo para o fim da
investigação, num processo completamente contraditório à sua razão de ser.
O verdadeiro Jornalismo Investigativo
Como dizia o filósofo Friederich Nietzsche : “não existem fatos, apenas interpretações”. O
jornalista investigativo deve correr atrás da reconstituição dos fatos, ainda que eles não mais
existam. E minimizar o quanto puder as falsas “interpretações”. O verdadeiro jornalista
investigativo não se contenta com as informações que lhe são fornecidas, seja por meio de
uma fonte anônima, por meio de um dossiê, ou por uma assessoria de imprensa.
É dever dele, ter essas informações como ponto de partida para a sua atividade. É a partir da
apuração e investigação das informações que lhe são fornecidas, que ele chegará mais
próximo de uma verdade que está sendo ocultada da sociedade em favor de terceiros.
O DENUNCISMO
Para encerrar a parte conceitual, é preciso que abordemos de maneira mais enfática a questão
do denuncismo. Como vimos nesta unidade, existe uma grande diferença entre o jornalismo
declaratório, o jornalismo de dossiê e o jornalismo realmente investigativo.
Vimos que o jornalismo declaratório se limita ao mero ato de reproduzir um release. Que o
jornalismo investigativo checa, cruza e apura informações, no intuito de estar mais próximo da
verdade. E vimos o jornalismo de dossiê, que nada mais é do que o interesse particular em
“plantar” uma notícia em determinado veículo de imprensa para poder obter algum tipo de
vantagem com a veiculação de determinada notícia.
Quando as denúncias, via jornalismo de dossiê, se tornam uma rotina, estamos então num
quadro caracterizado como denuncismo. A banalização das denúncias sem provas, sem
julgamento e sem culpados acaba por gerar um quadro desgastante para as várias instituições
envolvidas.
O denuncismo é prejudicial ao país, pois coloca em xeque as instituições do próprio país: a
Justiça, o Legislativo, o Executivo, passando por outras instâncias, como a Mídia e a Democracia
de uma forma geral.
Desacreditar nesses pilares fundamentais do sistema democrático é colocar o país em situação
de risco, no qual as liberdades individuais e a nação acabam sendo os maiores prejudicados.
Questões para discussão:
1) Quais as principais características que podemos apontar no Jornalismo
Declaratório?
2) Qual a principal diferença que podemos estabelecer entre o jornalismo de
dossiê e o jornalismo investigativo?
3) Por que a prática do denuncismo é tão condenável para o jornalista?

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Aula 3 declaratorio, dossie e investigativo

  • 1. AULA 3 - JORNALISMO DE DECLARATÓRIO, DE DOSSIÊ E INVESTIGATIVO Neste texto você vai estudar alguns conceitos jornalísticos importantes. Vai conhecer, por exemplo, as diferenças entre alguns termos bastante usados no jornalismo, como o Jornalismo Declaratório, o Jornalismo de Dossiê e o Jornalismo Investigativo. São definições empírica dos termos, tiradas a partir da prática diária do jornalismo, mas que farão que você tenha uma leitura crítica do seu campo profissional. Jornalismo Declaratório Com o passar dos anos, o Jornalismo foi evoluindo e tomando novos formatos, diferentes aparências e se especializando. Em sua gênese, o Jornalismo nasce como um meio que serve para informar os diferentes públicos com notícias comerciais, sensacionalistas, econômicas e até mesmo as “fofocas” sobre reis e príncipes. Posteriormente, o Jornalismo adquire novas funções. Já no período pré e pós Revolução Francesa, ele é utilizado como meio de divulgação e propagação de ideias, buscando “formar” a opinião pública e convencer o grande público. Já no século XIX, o Jornalismo passa por uma reestruturação técnica. A divisão do trabalho chega até o Jornalismo. São criadas as funções de repórter, redator, editor, fotógrafo, enfim, o “fazer jornalístico” passa a ser fragmentado (alijando o profissional jornalista da noção de “todo” e, conseqüentemente, levando-o a um processo de alienação) É nessa época, e principalmente nos EUA, que o Jornalismo vai procurar formas de se auto- sustentar, e para isso, o conteúdo editorial vai ser duramente atingido com o objetivo de não afastar possíveis anunciantes. No século XX, o Jornalismo se industrializa e atinge a grande massa. Como conseqüência, assiste à formação de grandes conglomerados. O fazer jornalístico de outrora ganha contornos completamente distintos. Apesar da transformação, ainda existe a sede de buscar a “verdade” e torná-la pública. O Jornalismo Investigativo é a maior prova disso. Nasce da investigação sobre a situação norte-americana no Vietnã, convence a opinião pública, derruba um presidente e ganha o mundo afora. Esse modismo, no entanto, percorreu ao longo dos anos caminhos não tão almejados pelos puristas que faziam do seu ofício a busca do esclarecimento e da transparência. O Jornalismo passa a sofrer cada vez mais influências do Jornalismo Empresarial e de interesses privados. A profissionalização da informação extrapola o universo das empresas e corporações e atinge as redações sob o formato de releases. O Jornalismo sério, de investigação, pesquisa intensa e apuração passa a ser marcado pelos releases oficiais, pelas versões e pelas respostas burocráticas. O chamado Jornalismo Declaratório, ao em vez de esclarecer a opinião pública, esconde o seu real objetivo que é o mascaramento de condutas erradas e ofensivas à sociedade. Ele ocorre
  • 2. toda vez que uma assessoria divulga um release ou nota sobre um fato que lhe é pertinente. Ao repórter, cabe o intenso trabalho checagem e investigação, para avaliar se as informações divulgadas pelas assessorias são procedentes e cobertas de veracidade. Caso contrário, sem a checagem das informações, o jornalista passa a fazer o mero Jornalismo Declaratório, ou seja, se transforma num mero reprodutor de versões “oficiais”. Atualmente, pelo enxugamento das redações, passou a ser comum encontrar esse tipo de jornalismo, uma vez que com poucos funcionários, excesso de trabalho e jornadas excessivas acabaram por contribuir com a proliferação do Jornalismo Declaratório. JORNALISMO DE DOSSIÊ É comum em nosso país, desde o processo de Independência, o acirramento dos ânimos durante os períodos que antecedem as disputas políticas. Foi assim quando surgiram os pasquins, passando pelo período pré-republicano, quando vários jornais surgiram com esse intuito, e assim continuou durante o século XX. Desde a eleição de Artur Bernardes, em 1922, quando o Correio da Manhã publicou uma série de cartas falsas contendo supostas críticas de Bernardes aos militares, podemos encontrar a fabricação de notícias com o intuito de prejudicar alguém politicamente. No episódio citado, Bernardes, que venceu as eleições, chegou a contratar um perito que confirmou a falsidade das cartas. Esse tipo de comportamento se alastrou durante todo o século passado: no golpe de Getúlio Vargas, no período ditatorial iniciado em 1964, na eleição de Fernando Collor, em 1989, e mais recentemente, passou a fazer parte do cotidiano pré-eleitoral brasileiro. Devemos lembrar ainda dos anos 1990, quando o denuncismo ganhou as páginas dos jornais e uma fábrica de dossiês se instalou no país. É notável o caso da briga pela imprensa entre Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, cada um com o seu grau de influência, estampando as páginas das principais revistas semanais Veja e Istoé, cada uma partidarizada a seu modo. É importante alertar o estudante de jornalismo e dizer que o Jornalismo de Dossiê vem “facilitar” a vida do “repórter investigativo” desavisado. Em vez de o jornalista ir atrás da notícia, a notícia vem até o jornalista, numa inversão completa de valores, com objetivos e interesses maléficos ao grande público. As razões para a existência disso são muitas. A precarização da profissão pode ser apontada como a primeira delas. A multiplicação das fontes de informação é outra, diretamente ligada à banalização da investigação. De uma hora para outra, na busca da audiência, tudo passou a ser “informação exclusiva” e “investigativa”. É singular também o caso da entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson sobre o “mensalão” dada à repórter Renata LoPrete, da Folha de S.Paulo. Até determinado momento, a repórter gabou-se publicamente de sua entrevista (vide Observatório da Imprensa na época) sobre o
  • 3. seu até então “furo” jornalístico. Dias depois, o mesmo deputado, em depoimento transmitido em rede nacional, no Congresso, admitiu que ele próprio havia escolhido a profissional a quem concedeu a entrevista. Esse e outros casos relatam um modismo e um vício que o Jornalismo moderno adquiriu. Uma técnica de trabalho que oculta em vez de explicitar a “verdade”. O jornalista investigativo deve se pautar pelo combate a esse tipo de rotina, caso contrário, estará contribuindo para o fim da investigação, num processo completamente contraditório à sua razão de ser. O verdadeiro Jornalismo Investigativo Como dizia o filósofo Friederich Nietzsche : “não existem fatos, apenas interpretações”. O jornalista investigativo deve correr atrás da reconstituição dos fatos, ainda que eles não mais existam. E minimizar o quanto puder as falsas “interpretações”. O verdadeiro jornalista investigativo não se contenta com as informações que lhe são fornecidas, seja por meio de uma fonte anônima, por meio de um dossiê, ou por uma assessoria de imprensa. É dever dele, ter essas informações como ponto de partida para a sua atividade. É a partir da apuração e investigação das informações que lhe são fornecidas, que ele chegará mais próximo de uma verdade que está sendo ocultada da sociedade em favor de terceiros. O DENUNCISMO Para encerrar a parte conceitual, é preciso que abordemos de maneira mais enfática a questão do denuncismo. Como vimos nesta unidade, existe uma grande diferença entre o jornalismo declaratório, o jornalismo de dossiê e o jornalismo realmente investigativo. Vimos que o jornalismo declaratório se limita ao mero ato de reproduzir um release. Que o jornalismo investigativo checa, cruza e apura informações, no intuito de estar mais próximo da verdade. E vimos o jornalismo de dossiê, que nada mais é do que o interesse particular em “plantar” uma notícia em determinado veículo de imprensa para poder obter algum tipo de vantagem com a veiculação de determinada notícia. Quando as denúncias, via jornalismo de dossiê, se tornam uma rotina, estamos então num quadro caracterizado como denuncismo. A banalização das denúncias sem provas, sem julgamento e sem culpados acaba por gerar um quadro desgastante para as várias instituições envolvidas. O denuncismo é prejudicial ao país, pois coloca em xeque as instituições do próprio país: a Justiça, o Legislativo, o Executivo, passando por outras instâncias, como a Mídia e a Democracia de uma forma geral. Desacreditar nesses pilares fundamentais do sistema democrático é colocar o país em situação de risco, no qual as liberdades individuais e a nação acabam sendo os maiores prejudicados.
  • 4. Questões para discussão: 1) Quais as principais características que podemos apontar no Jornalismo Declaratório? 2) Qual a principal diferença que podemos estabelecer entre o jornalismo de dossiê e o jornalismo investigativo? 3) Por que a prática do denuncismo é tão condenável para o jornalista?