e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z 
NAodeixo 
mAisoue 
meAgridAm 
Há dois assuntos sobre os quais Bárbara Paz, 
definitivamente, não gosta de falar. O primeiro é seu passado 
trágico, de menina órfã de pai e mãe que saiu de Campo 
Bom, pequena cidade de 58 mil habitantes no interior do Rio 
Grande do Sul, para tentar a vida em São Paulo – e que, 
antes de virar a bem-sucedida atriz da TV Globo, enfrentou 
dor, fome e solidão. O segundo é seu casamento com o 
cineasta Hector Babenco, 67 anos, quase 30 a mais do que 
ela. Nesta entrevista exclusiva, ela fala sobre ambos 
p o r A d r i a n a N e g r e i r o s f o t o E d u a r d o R e z e n d e 
de família pobre, caçula de qua-tro 
irmãs, Bárbara aprendeu tudo 
o que sabe sobre a vida na práti-ca 
– aos 17 anos, quando se mu-dou 
para São Paulo, começou, 
com uma avidez quase desespe-rada, 
sua própria busca do tempo 
perdido. Tão rapidamente quan-to 
pôde, leu livros, viu filmes, ou-viu 
discos. “Sempre tive sede de 
conhecimento”, conta. Ganhava 
a vida como modelo quando en-frentou 
uma nova tragédia – um 
acidente de carro que lhe deixou 
cicatrizes no rosto. Em 2001, sua 
sorte começaria a mudar em defi-nitivo. 
Venceu o primeiro reality 
show daTV brasileira, a Casa dos 
Artistas, no SBT, e na sequência 
74 agosto 2013 
ganhou reconhecimento como 
atriz de teatro. Em 2009, estrea-ria 
naTVGlobo com a alcoólatra 
Renata, da novela Viver a Vida. 
Hoje, aos 38 anos, Bárbara 
Paz está em sua terceira novela 
na Globo. Em Amor à Vida, do 
horário das 9, dá vida à estilista 
Edith, ex-prostituta casada com 
o homossexual Félix, vilão inter-pretado 
pelo ator Mateus Solano. 
A rotina espartana de gravações 
obriga a atriz a acordar diariamen-te 
antes das 7 e, muitas vezes, vi-rar 
noites no Projac, o centro de 
produções da emissora.Otraba-lho 
intenso não impede Bárbara 
de se dedicar a outras atividades, 
como dois documentários – um 
deles sobre o marido e outro sobre 
um bailarino turco –, um livro e 
o planejamento de duas peças de 
teatro.Uma tentativa de fazer psi-cologia 
barata talvez levasse a con-cluir 
que ela age assim por fuga. 
“Quando não estou produzindo, 
fico triste, impotente, parece que 
não habito o mundo”, afirma. A 
atriz, no entanto, prefere crer em 
vício. “Talvez eu seja apenas uma 
workaholic.” Na noite do dia 10 
de julho, Bárbara recebeu Marie 
Claire em um restaurante bada-lado 
da Barra da Tijuca, na zo-na 
oeste do Rio de Janeiro, para 
a conversa a seguir. Pediu meia 
garrafa de vinho, para aquecer o 
corpo e inspirar a alma.
Barbara Paz
e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z 
MARIE CLAIRE Olivro que vo-cê 
está escrevendo é uma au-tobiografia? 
BÁRBARAPAZÉde tudoumpou-co. 
Tempoesias, contos, inquieta-ções 
de uma vida. São coisas que 
venho esboçando ao longo dos 
anos e a primeira vez que tive co-ragem 
de mandar para alguémfoi 
agora, para uma amiga escritora. 
MCVocê temmedode se expor 
ao publicar algo tão íntimo? 
BP Não tenho, já me expus de-mais. 
Tenho mais medo que me 
exponham. Estou em um mo-mento 
em que só quero falar do 
que me interessa. Se é para me ex-por, 
que seja do meu jeito. Pou-cas 
pessoas conhecem meu lado 
poético, melancólico. Ninguém 
conhece essa Bárbara. 
MC Será que você não tem 
umaimagemmelancólica con-solidada? 
76 agosto 2013 
Não me refiro só ao 
seu passado trágico, mas a al-go 
que você já definiu como 
um“olhar triste” que cai bem 
em alguns papéis. 
BP Eu me refiro ao que escrevo. E 
não sei qual é a imagem que te-nho 
no mercado, não estou preo-cupada 
com isso. Só quero fazer 
um bom trabalho e, para tanto, 
tenho de me doar muito. O que 
tenho dentro de mim traz melan-colia. 
E eu não aguento mais fa-lar 
da minha história porque fi-ca 
repetitivo, parece que só quero 
contar a minha vida trágica. As 
cicatrizes ficam, mas a minha vi-da 
não é trágica há algum tempo. 
MCVocê certa vez disse: “Nun-ca 
pentearam o meu cabelo”. 
Órfã de pai e com uma mãe 
doente, você cresceu sem cui-dados 
e referências, inclusive 
de livros e filmes, certo? 
BP Total. Meu livro é minha vida. 
Depois dos 17 anos, quando mi-nha 
mãe morreu, é que fui buscar 
o conhecimento. Não me lembro 
de um livro que a minha mãe te-nha 
lido, porque ela não podia, 
estava na cama, sofria muito. Eu 
preferia falar com ela e ouvir as 
histórias que me contava. Isso aju-dava 
a passava a dor que ela sentia. 
vez essas pessoas não tenham me 
dado o valor que merecia.Emvez 
de colocar a minha personalida-de 
e a minha opinião em nossas 
reuniões, eu não me expus. Mas o 
Hector sempre me ajudou muito. 
MC Oque ele dizia a respeito 
desse seu sentimento? 
BP Ele não concordava, não acei-tava. 
Dizia: “Pare de se sentir as-sim. 
Você tem uma história de vi-da 
que muitas pessoas que sabem 
tudo, falam todas as línguas, le-ram 
tudo e viram todos os filmes 
não tiveram. Você tem a maior ri-queza, 
que é a sua vida, e está in-do 
atrás do resto”. 
MC Bem, faz sentido. 
BP Éumconflito interno. É aque-la 
coisa do respeito, de quem vem 
do interior. Às vezes, ainda sou 
a menina do interior. A que se 
sente saindo lá de Campo Bom, 
tentando conquistar o mundo e 
pensando: “Mãe, eu vou vencer, 
eu vou ser alguém”. 
MC E o que seus amigos 
acham disso? 
BPQuandomeveemnessa turma, 
não me reconhecem. “Você mu-da 
muito”, eles falam. Mas eu não 
consigo ser diferente. Nós somos 
os nossos leões, com quem temos 
de brigar a vida toda. Quando co-meço 
a namorar alguém, sempre 
penso: “O que vou apresentar pa-ra 
essa pessoa?”. Não tenho pai, 
mãe, minha família é totalmente 
desestruturada. A família sou eu. 
E isso me faz sempre me sentir 
inferior. Mas os anos vão passan-do 
e você entende que vão gos-tar 
de você no seu todo – mes-mo 
não tendo bens, não falando 
todas as línguas, não tendo viaja-do 
o mundo inteiro. E a escolha 
foi minha. Eu escolhi andar com 
essas pessoas mais inteligentes. 
MCVocê poderia ter escolhido 
um caminho mais fácil, não? 
BP Poderia, mas eu gosto da difi- 
vezes, 
sou a menina 
do interior 
tentando 
conquistar 
o mundo” 
MC Houve um momento em 
que você se comparou a ou-tras 
pessoas e se sentiu dimi-nuída 
por isso? 
BP Muito. Aliás, me sinto assim 
até hoje, embora atualmente es-se 
sentimento de inferioridade es-teja 
mais suavizado. Somente os 
inteligentes me interessam, e eu 
quero estar junto deles para me 
tornar uma pessoa melhor. Tenho 
de andar com gente mais inteli-gente 
do que eu. Sempre busquei 
pessoas mais velhas, mais cultas, 
porque queria me alimentar. 
MC Mas isso tem um preço. 
BP Sim. Isso me fez sentir infe-rior 
sempre. Sou casada com um 
homem mais velho e muito inte-ligente 
que está cercado de inte-lectuais, 
jornalistas, cineastas. São 
pessoas de conhecimento e vivên-cia 
muito superiores aos meus 
– eles têm quase três gerações a 
mais. E tenho tido de enfrentar 
isso nesses anos. Eu nunca contei 
isso para ninguém, mas acho que 
posso falar agora porque já me 
sinto bem melhor. O fato é que 
sempre me senti inferior. E, sim, 
era menor. Eu dizia: “Quando os 
maiores falam, eu calo”. E, como 
me calo porque quero escutar, tal-Às 
Realização: SandRa BittencouRt / Beleza: HenRique MaRtinS (capa Mgt) / 
pRodução de Moda: aManda BeRtagnoni / tRataMento de iMageM: RicaRdo MontanHa / aSSiStente de foto: denny SacH
agosto 2013 77 
culdade. Não sofro porque é uma 
coisa pequena, mas sei como é o 
preconceito por eu ser casada com 
um homem mais velho. 
MCVocê escuta muitos comen-tários 
maldosos sobre sua re-lação 
como Babenco? 
BP Não ouço, porque não fa-lam 
para mim. As pessoas não 
entendem o que é a nossa re-lação. 
Criam estereótipos e ró-tulos. 
Só nós dois sabemos co-mo 
o nosso relacionamento é 
lindo. Como temos respeito e 
admiração por esse nosso mo-mento. 
Que é efêmero, porque 
não sabemos o dia de amanhã. 
MC Como assim? 
BP Eu tenho 38 anos. Ele tem 67. 
Sabemos para onde a vida vai ca-minhar. 
São muitos fatores. Sa-bemos 
que nosso relacionamen-to 
vai ser para sempre, mas não 
sabemos os rumos que vai tomar. 
Eu estou começando a ir para a 
metade da vida. Ele está se aproxi-mando 
de uma segunda metade. 
MCVocês chegam a conversar 
sobre isso? 
BP Sim, temos essa sensibilidade. 
Estou vivendo um momento de 
mudanças.OHector tem a vida 
dele constituída, mas chega uma 
hora delicada em que vou ter que 
decidir onde colocar tudo o que 
construí, sabe? É um momento 
de escolhas. Estouumpouco can-sada 
de cuidar de mim. Eu que-ro 
ter um filho. Mas para isso eu 
preciso ter a certeza da estabilida-de. 
Como passei muita necessida-de 
na vida, não quero que o meu 
filho passe pelo mesmo. 
MC Que tipo de necessidade? 
BP Eu varria o pátio do clube e, 
em quatro semanas, ganhava uma 
carteirinha para poder usar a pis-cina 
no verão. Eu tinha uns 7, 8 
anos, varria dançando, me dava 
uma felicidade imensa porque ia 
poder usar a piscina. Mas eu pas-sava 
a tarde inteira na piscina na-dando, 
no sol, e, quando saía de 
lá, morrendo de fome, não tinha 
dinheiro para comprarumpicolé. 
Lembro até hoje de um cachorro-quente 
que tinha no clube, mui-to 
gostoso. Uma vez por semana 
eu conseguia comprar. Mas, nos 
outros dias, não. Aquilo me doía 
muito. Eu sempre pensava que 
alguma coisa boa ia acontecer, e 
acontecia – alguém me pagava 
um cachorro-quente ou eu po-dia 
comer e pagar depois. Claro 
que essa necessidade toda me fez 
melhor, me transformou na gla-diadora 
que sou hoje, mas não 
quero dar isso para uma criança. 
Não quero que ela não possa rece-ber 
o presente que quis no Natal. 
MC Bárbara, fique tranquila. 
Isso não vai acontecer. 
BP Mas a carreira de atriz é mui-to 
instável! Por isso eu não sou só 
atriz. Se não tiver trabalho aqui, 
faço outras coisas – posso pintar, 
maquiar, escrever, dirigir. Eu te-nho 
paúra. Não quero isso para o 
los têm mais força para seguir 
em frente. Você concorda? 
BP Sim, eu sou essa pessoa por 
causa da minha história. Ela me 
fez melhor, mas me deixou mar-cada. 
Há buracos que não fecham 
e nem a análise resolve. Eu sei que 
tenho um vazio paternal. E co-mo 
preencho isso? Por isso que 
me envolvo com homens mais 
velhos? Talvez. Sim. Mas está re-solvido, 
não tenho problemas. 
Tento preencher os meus vazios 
do melhor jeito possível, não me 
importa o que os outros pensem. 
A minha atitude é livre. 
MC Você se sente bem na TV 
Globo e pertencendo ao uni-verso 
das celebridades? 
BP Quando estou no Projac, es-tou 
inteira. Tenho muito orgu-lho 
de trabalhar na TV Globo. 
Tenho vários amigos do teatro 
que estão se rendendo à televisão, 
que cansaram de contar moedi-nha 
para comprar um hambúr-guer 
para a filha. E, quanto ao 
universo das celebridades, eu fa-ço 
parte disso. Eu me tornei co-nhecida 
do grande público em 
um reality show (Casa dos Artis-tas, 
no SBT, em 2001). Não me 
sinto nem um pouco forçada a 
nada, amo o que faço. 
MC Você já se sentiu forçada 
em alguma situação? 
BP Sim. Porque eu precisava de 
dinheiro, fiz um clipe dos Titãs, 
muitos anos atrás, que eu detes-to. 
Adoro os Titãs, mas o clipe é 
de muito mau gosto. Eu apareço 
mostrando os seios. Nada me dei-xou 
mais triste do que ver aque-le 
clipe. Eu precisava da grana 
para pagar o IPTU, o seguro do 
carro, essas coisas básicas. Mas 
foi uma coisa muito violenta. Eu 
me senti atacada, para mim foi 
muito agressivo. Hoje não dei-xo 
mais que façam isso comigo. 
Graças a Deus cheguei aqui e não 
Sei como é 
o preconceito 
por eu ser 
casada com 
um homem 
mais velho” 
meu filho. Era uma criancinha e 
chegava às lojas pedindo empre-go. 
As pessoas davam risada. Eu 
fazia flores para botar no cabe-lo, 
artesanato. No Natal, a mi-nha 
mãe não me dava a boneca 
que eu queria. E eu nem chora-va, 
porque sabia que ela não po-dia 
comprar o brinquedo. 
MC Há quem diga que pes-soas 
que superaram obstácu-
e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z 
deixo mais me agredirem. Já le-vei 
tanta porrada da vida, sabe? 
MC Quando olha a sua vida 
em retrospectiva, você sente 
orgulho do que vê? 
BP Sinto muito, mas não sei por-que 
e nem para quê. Eu sempre 
quero que a pessoa que está co-migo 
tenha orgulho, não eu. Às 
vezes, penso: “Para que fiz tudo 
isso?”. Eu queria fazer coisas para 
mostrar para minha mãe. Quan-do 
acaba a peça de teatro, por 
exemplo, a plateia vai embora e 
dá um vazio... Eu falo: “E não 
ficou ninguém?”. Mas o fato é 
que conquistei tudo o que pro-meti 
para mim mesma. Até mais. 
MC Você prometeu isso para 
sua mãe? 
BP Prometi. Eu falei para ela: 
“Vou ser alguém na vida, pode 
acreditar em mim”. Eu me lem-bro 
indo embora da cidade com 
duas malas, sozinha, caminhan-do 
sete quadras para pegar o ôni-bus. 
Eu olhava para trás e sabia 
que não ia voltar. Eu dizia, com 
meu All Star rasgado: “Vou achar 
um espaço no mundo pra mim”. 
MCTinha grandes chances de 
dar errado, mas deu certo. 
BP Vejo que valeu a pena e que 
eu consegui. Quantas pessoas 
não conseguem? Então, o que 
vier agora é lucro. Mas é claro 
que quero mais. E me pergunto: 
“Mas querer mais para quem?”. 
É por isso que preciso de ou-tro 
alguém, e esse alguém tem 
de chegar. Tem de vir um filho. 
MCVocê completa 40 anos em 
outubro de 2014. Já sente os si-nais 
da idade? 
BP Meu corpo e minha energia 
não me dizem que vou fazer 40 
anos. Antigamente, com essa ida-de 
você já era uma idosa. Eu vejo 
o envelhecimento pelas minhas 
mãos. É engraçado, porque elas 
estão ficando cada vez mais pare-cidas 
78 agosto 2013 
com as da minha mãe. De 
vez em quando, olho para elas 
e penso: “Não posso esquecer a 
minha história jamais, porque ela 
está nas minhas mãos”. 
MC Você está em crise com a 
idade? 
BP Não é uma coisa que me preo-cupa. 
Às vezes olho para meni-nas 
muito mais jovens e vejo que 
estão bem mais envelhecidas do 
que eu. Cuido muito de mim e 
estou atenta ao futuro, para li- 
MC Um clichê sobre relacio-namentos 
diz que os homens 
têm medo de mulheres bem-sucedidas. 
Será? 
BP Não creio. O homem gosta 
de mulher independente, mas 
que respeite os valores femini-nos. 
Nos últimos tempos, os 
homens se retraíram. E o que 
deveria ter feito a mulher? Fi-car 
na dela e esperar o homem 
vir conquistá-la. Mas elas, ao 
contrário, avançam! 
MCAs feministas vão ficar ou-riçadas 
com sua teoria. 
BP Ah, é? Elas não vão gostar? 
MC Desconfio que não. 
BP Ai, meu Deus! Eu não que-ro 
ser antifeminista. O que eu 
acho é que a gente tem de ser 
ativa em tudo na vida, mas não 
pode perder a essência da mu-lher. 
Se você gosta de um rela-cionamento 
heterossexual, tem 
de respeitar isso. Não quero di-zer 
que seja preciso ser mulher-zinha. 
Mas, muitas vezes, a mu-lher 
afasta o homem porque to-ma 
muita atitude na hora do pri-meiro 
beijo, da primeira transa, 
faz a primeira ligação. Eu tenho 
padrões antigos, infelizmente. 
MCOunão,quemhádesaber? 
BP Só que eu não quero ser an-tifeminista! 
Eu sinto que as me-ninas 
da minha geração, quando 
estão a fim de um homem, vão 
atrás, ligam, sufocam o cara. Eu 
falo para elas: “Calma! Não li-gue, 
espere ele ligar”. Porque eu 
acho que, se o homem está in-teressado, 
ele vai ligar. Homem 
não gosta de mulher que corre 
atrás dele. Eu gosto do mistério, 
de ser conquistada. Algumas mu-lheres 
estão enlouquecendo pela 
falta de homens querendo rela-cionamento 
estável. Têm pavor 
de ficar sozinhas. Eu, pelo me-nos, 
adoro estar casada. Gosto de 
dividir a vida com alguém. 
A mulher 
deveria ficar 
na dela e 
esperar o 
homemvir 
conquistá-la” 
dar com isso de uma forma tran-quila. 
Tem mulheres que piram. 
Começam a fazer plásticas e não 
adianta nada, porque só mexem 
na casca. Eu acho muito bonito 
quem sabe envelhecer bem. Per-to 
dos 40 o mar acalma, a gente 
vê a vida sob outro prisma e fi-ca 
mais sábia. Mas é óbvio que a 
gente perde muitas coisas. 
MC Quero crer que também 
ganhamos. 
BP Será? Bem, converso com mu-lheres 
mais velhas, no auge dos 
50 anos, e sempre tem uma ou 
outra que se separou, mas já es-tá 
namorando de novo. A gente 
sempre acha que, se nos separar-mos, 
ninguém vai mais nos que-rer. 
Muito pelo contrário. Se vo-cê 
envelhece bem, tem para todos 
os gostos. Fico triste quando vejo 
mulheres com dinheiro, com tu-do 
para ser felizes, mas que estão 
gordas, desleixada, com maridos 
que nem olham mais para elas. 
BÁRBaRa uSa: paletó e calça de gaBaRdine HeRcHcovitcH;alexandRe, caMiSa de Seda Reinaldo louRenço

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Barbara Paz

  • 1. e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z NAodeixo mAisoue meAgridAm Há dois assuntos sobre os quais Bárbara Paz, definitivamente, não gosta de falar. O primeiro é seu passado trágico, de menina órfã de pai e mãe que saiu de Campo Bom, pequena cidade de 58 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul, para tentar a vida em São Paulo – e que, antes de virar a bem-sucedida atriz da TV Globo, enfrentou dor, fome e solidão. O segundo é seu casamento com o cineasta Hector Babenco, 67 anos, quase 30 a mais do que ela. Nesta entrevista exclusiva, ela fala sobre ambos p o r A d r i a n a N e g r e i r o s f o t o E d u a r d o R e z e n d e de família pobre, caçula de qua-tro irmãs, Bárbara aprendeu tudo o que sabe sobre a vida na práti-ca – aos 17 anos, quando se mu-dou para São Paulo, começou, com uma avidez quase desespe-rada, sua própria busca do tempo perdido. Tão rapidamente quan-to pôde, leu livros, viu filmes, ou-viu discos. “Sempre tive sede de conhecimento”, conta. Ganhava a vida como modelo quando en-frentou uma nova tragédia – um acidente de carro que lhe deixou cicatrizes no rosto. Em 2001, sua sorte começaria a mudar em defi-nitivo. Venceu o primeiro reality show daTV brasileira, a Casa dos Artistas, no SBT, e na sequência 74 agosto 2013 ganhou reconhecimento como atriz de teatro. Em 2009, estrea-ria naTVGlobo com a alcoólatra Renata, da novela Viver a Vida. Hoje, aos 38 anos, Bárbara Paz está em sua terceira novela na Globo. Em Amor à Vida, do horário das 9, dá vida à estilista Edith, ex-prostituta casada com o homossexual Félix, vilão inter-pretado pelo ator Mateus Solano. A rotina espartana de gravações obriga a atriz a acordar diariamen-te antes das 7 e, muitas vezes, vi-rar noites no Projac, o centro de produções da emissora.Otraba-lho intenso não impede Bárbara de se dedicar a outras atividades, como dois documentários – um deles sobre o marido e outro sobre um bailarino turco –, um livro e o planejamento de duas peças de teatro.Uma tentativa de fazer psi-cologia barata talvez levasse a con-cluir que ela age assim por fuga. “Quando não estou produzindo, fico triste, impotente, parece que não habito o mundo”, afirma. A atriz, no entanto, prefere crer em vício. “Talvez eu seja apenas uma workaholic.” Na noite do dia 10 de julho, Bárbara recebeu Marie Claire em um restaurante bada-lado da Barra da Tijuca, na zo-na oeste do Rio de Janeiro, para a conversa a seguir. Pediu meia garrafa de vinho, para aquecer o corpo e inspirar a alma.
  • 3. e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z MARIE CLAIRE Olivro que vo-cê está escrevendo é uma au-tobiografia? BÁRBARAPAZÉde tudoumpou-co. Tempoesias, contos, inquieta-ções de uma vida. São coisas que venho esboçando ao longo dos anos e a primeira vez que tive co-ragem de mandar para alguémfoi agora, para uma amiga escritora. MCVocê temmedode se expor ao publicar algo tão íntimo? BP Não tenho, já me expus de-mais. Tenho mais medo que me exponham. Estou em um mo-mento em que só quero falar do que me interessa. Se é para me ex-por, que seja do meu jeito. Pou-cas pessoas conhecem meu lado poético, melancólico. Ninguém conhece essa Bárbara. MC Será que você não tem umaimagemmelancólica con-solidada? 76 agosto 2013 Não me refiro só ao seu passado trágico, mas a al-go que você já definiu como um“olhar triste” que cai bem em alguns papéis. BP Eu me refiro ao que escrevo. E não sei qual é a imagem que te-nho no mercado, não estou preo-cupada com isso. Só quero fazer um bom trabalho e, para tanto, tenho de me doar muito. O que tenho dentro de mim traz melan-colia. E eu não aguento mais fa-lar da minha história porque fi-ca repetitivo, parece que só quero contar a minha vida trágica. As cicatrizes ficam, mas a minha vi-da não é trágica há algum tempo. MCVocê certa vez disse: “Nun-ca pentearam o meu cabelo”. Órfã de pai e com uma mãe doente, você cresceu sem cui-dados e referências, inclusive de livros e filmes, certo? BP Total. Meu livro é minha vida. Depois dos 17 anos, quando mi-nha mãe morreu, é que fui buscar o conhecimento. Não me lembro de um livro que a minha mãe te-nha lido, porque ela não podia, estava na cama, sofria muito. Eu preferia falar com ela e ouvir as histórias que me contava. Isso aju-dava a passava a dor que ela sentia. vez essas pessoas não tenham me dado o valor que merecia.Emvez de colocar a minha personalida-de e a minha opinião em nossas reuniões, eu não me expus. Mas o Hector sempre me ajudou muito. MC Oque ele dizia a respeito desse seu sentimento? BP Ele não concordava, não acei-tava. Dizia: “Pare de se sentir as-sim. Você tem uma história de vi-da que muitas pessoas que sabem tudo, falam todas as línguas, le-ram tudo e viram todos os filmes não tiveram. Você tem a maior ri-queza, que é a sua vida, e está in-do atrás do resto”. MC Bem, faz sentido. BP Éumconflito interno. É aque-la coisa do respeito, de quem vem do interior. Às vezes, ainda sou a menina do interior. A que se sente saindo lá de Campo Bom, tentando conquistar o mundo e pensando: “Mãe, eu vou vencer, eu vou ser alguém”. MC E o que seus amigos acham disso? BPQuandomeveemnessa turma, não me reconhecem. “Você mu-da muito”, eles falam. Mas eu não consigo ser diferente. Nós somos os nossos leões, com quem temos de brigar a vida toda. Quando co-meço a namorar alguém, sempre penso: “O que vou apresentar pa-ra essa pessoa?”. Não tenho pai, mãe, minha família é totalmente desestruturada. A família sou eu. E isso me faz sempre me sentir inferior. Mas os anos vão passan-do e você entende que vão gos-tar de você no seu todo – mes-mo não tendo bens, não falando todas as línguas, não tendo viaja-do o mundo inteiro. E a escolha foi minha. Eu escolhi andar com essas pessoas mais inteligentes. MCVocê poderia ter escolhido um caminho mais fácil, não? BP Poderia, mas eu gosto da difi- vezes, sou a menina do interior tentando conquistar o mundo” MC Houve um momento em que você se comparou a ou-tras pessoas e se sentiu dimi-nuída por isso? BP Muito. Aliás, me sinto assim até hoje, embora atualmente es-se sentimento de inferioridade es-teja mais suavizado. Somente os inteligentes me interessam, e eu quero estar junto deles para me tornar uma pessoa melhor. Tenho de andar com gente mais inteli-gente do que eu. Sempre busquei pessoas mais velhas, mais cultas, porque queria me alimentar. MC Mas isso tem um preço. BP Sim. Isso me fez sentir infe-rior sempre. Sou casada com um homem mais velho e muito inte-ligente que está cercado de inte-lectuais, jornalistas, cineastas. São pessoas de conhecimento e vivên-cia muito superiores aos meus – eles têm quase três gerações a mais. E tenho tido de enfrentar isso nesses anos. Eu nunca contei isso para ninguém, mas acho que posso falar agora porque já me sinto bem melhor. O fato é que sempre me senti inferior. E, sim, era menor. Eu dizia: “Quando os maiores falam, eu calo”. E, como me calo porque quero escutar, tal-Às Realização: SandRa BittencouRt / Beleza: HenRique MaRtinS (capa Mgt) / pRodução de Moda: aManda BeRtagnoni / tRataMento de iMageM: RicaRdo MontanHa / aSSiStente de foto: denny SacH
  • 4. agosto 2013 77 culdade. Não sofro porque é uma coisa pequena, mas sei como é o preconceito por eu ser casada com um homem mais velho. MCVocê escuta muitos comen-tários maldosos sobre sua re-lação como Babenco? BP Não ouço, porque não fa-lam para mim. As pessoas não entendem o que é a nossa re-lação. Criam estereótipos e ró-tulos. Só nós dois sabemos co-mo o nosso relacionamento é lindo. Como temos respeito e admiração por esse nosso mo-mento. Que é efêmero, porque não sabemos o dia de amanhã. MC Como assim? BP Eu tenho 38 anos. Ele tem 67. Sabemos para onde a vida vai ca-minhar. São muitos fatores. Sa-bemos que nosso relacionamen-to vai ser para sempre, mas não sabemos os rumos que vai tomar. Eu estou começando a ir para a metade da vida. Ele está se aproxi-mando de uma segunda metade. MCVocês chegam a conversar sobre isso? BP Sim, temos essa sensibilidade. Estou vivendo um momento de mudanças.OHector tem a vida dele constituída, mas chega uma hora delicada em que vou ter que decidir onde colocar tudo o que construí, sabe? É um momento de escolhas. Estouumpouco can-sada de cuidar de mim. Eu que-ro ter um filho. Mas para isso eu preciso ter a certeza da estabilida-de. Como passei muita necessida-de na vida, não quero que o meu filho passe pelo mesmo. MC Que tipo de necessidade? BP Eu varria o pátio do clube e, em quatro semanas, ganhava uma carteirinha para poder usar a pis-cina no verão. Eu tinha uns 7, 8 anos, varria dançando, me dava uma felicidade imensa porque ia poder usar a piscina. Mas eu pas-sava a tarde inteira na piscina na-dando, no sol, e, quando saía de lá, morrendo de fome, não tinha dinheiro para comprarumpicolé. Lembro até hoje de um cachorro-quente que tinha no clube, mui-to gostoso. Uma vez por semana eu conseguia comprar. Mas, nos outros dias, não. Aquilo me doía muito. Eu sempre pensava que alguma coisa boa ia acontecer, e acontecia – alguém me pagava um cachorro-quente ou eu po-dia comer e pagar depois. Claro que essa necessidade toda me fez melhor, me transformou na gla-diadora que sou hoje, mas não quero dar isso para uma criança. Não quero que ela não possa rece-ber o presente que quis no Natal. MC Bárbara, fique tranquila. Isso não vai acontecer. BP Mas a carreira de atriz é mui-to instável! Por isso eu não sou só atriz. Se não tiver trabalho aqui, faço outras coisas – posso pintar, maquiar, escrever, dirigir. Eu te-nho paúra. Não quero isso para o los têm mais força para seguir em frente. Você concorda? BP Sim, eu sou essa pessoa por causa da minha história. Ela me fez melhor, mas me deixou mar-cada. Há buracos que não fecham e nem a análise resolve. Eu sei que tenho um vazio paternal. E co-mo preencho isso? Por isso que me envolvo com homens mais velhos? Talvez. Sim. Mas está re-solvido, não tenho problemas. Tento preencher os meus vazios do melhor jeito possível, não me importa o que os outros pensem. A minha atitude é livre. MC Você se sente bem na TV Globo e pertencendo ao uni-verso das celebridades? BP Quando estou no Projac, es-tou inteira. Tenho muito orgu-lho de trabalhar na TV Globo. Tenho vários amigos do teatro que estão se rendendo à televisão, que cansaram de contar moedi-nha para comprar um hambúr-guer para a filha. E, quanto ao universo das celebridades, eu fa-ço parte disso. Eu me tornei co-nhecida do grande público em um reality show (Casa dos Artis-tas, no SBT, em 2001). Não me sinto nem um pouco forçada a nada, amo o que faço. MC Você já se sentiu forçada em alguma situação? BP Sim. Porque eu precisava de dinheiro, fiz um clipe dos Titãs, muitos anos atrás, que eu detes-to. Adoro os Titãs, mas o clipe é de muito mau gosto. Eu apareço mostrando os seios. Nada me dei-xou mais triste do que ver aque-le clipe. Eu precisava da grana para pagar o IPTU, o seguro do carro, essas coisas básicas. Mas foi uma coisa muito violenta. Eu me senti atacada, para mim foi muito agressivo. Hoje não dei-xo mais que façam isso comigo. Graças a Deus cheguei aqui e não Sei como é o preconceito por eu ser casada com um homem mais velho” meu filho. Era uma criancinha e chegava às lojas pedindo empre-go. As pessoas davam risada. Eu fazia flores para botar no cabe-lo, artesanato. No Natal, a mi-nha mãe não me dava a boneca que eu queria. E eu nem chora-va, porque sabia que ela não po-dia comprar o brinquedo. MC Há quem diga que pes-soas que superaram obstácu-
  • 5. e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z deixo mais me agredirem. Já le-vei tanta porrada da vida, sabe? MC Quando olha a sua vida em retrospectiva, você sente orgulho do que vê? BP Sinto muito, mas não sei por-que e nem para quê. Eu sempre quero que a pessoa que está co-migo tenha orgulho, não eu. Às vezes, penso: “Para que fiz tudo isso?”. Eu queria fazer coisas para mostrar para minha mãe. Quan-do acaba a peça de teatro, por exemplo, a plateia vai embora e dá um vazio... Eu falo: “E não ficou ninguém?”. Mas o fato é que conquistei tudo o que pro-meti para mim mesma. Até mais. MC Você prometeu isso para sua mãe? BP Prometi. Eu falei para ela: “Vou ser alguém na vida, pode acreditar em mim”. Eu me lem-bro indo embora da cidade com duas malas, sozinha, caminhan-do sete quadras para pegar o ôni-bus. Eu olhava para trás e sabia que não ia voltar. Eu dizia, com meu All Star rasgado: “Vou achar um espaço no mundo pra mim”. MCTinha grandes chances de dar errado, mas deu certo. BP Vejo que valeu a pena e que eu consegui. Quantas pessoas não conseguem? Então, o que vier agora é lucro. Mas é claro que quero mais. E me pergunto: “Mas querer mais para quem?”. É por isso que preciso de ou-tro alguém, e esse alguém tem de chegar. Tem de vir um filho. MCVocê completa 40 anos em outubro de 2014. Já sente os si-nais da idade? BP Meu corpo e minha energia não me dizem que vou fazer 40 anos. Antigamente, com essa ida-de você já era uma idosa. Eu vejo o envelhecimento pelas minhas mãos. É engraçado, porque elas estão ficando cada vez mais pare-cidas 78 agosto 2013 com as da minha mãe. De vez em quando, olho para elas e penso: “Não posso esquecer a minha história jamais, porque ela está nas minhas mãos”. MC Você está em crise com a idade? BP Não é uma coisa que me preo-cupa. Às vezes olho para meni-nas muito mais jovens e vejo que estão bem mais envelhecidas do que eu. Cuido muito de mim e estou atenta ao futuro, para li- MC Um clichê sobre relacio-namentos diz que os homens têm medo de mulheres bem-sucedidas. Será? BP Não creio. O homem gosta de mulher independente, mas que respeite os valores femini-nos. Nos últimos tempos, os homens se retraíram. E o que deveria ter feito a mulher? Fi-car na dela e esperar o homem vir conquistá-la. Mas elas, ao contrário, avançam! MCAs feministas vão ficar ou-riçadas com sua teoria. BP Ah, é? Elas não vão gostar? MC Desconfio que não. BP Ai, meu Deus! Eu não que-ro ser antifeminista. O que eu acho é que a gente tem de ser ativa em tudo na vida, mas não pode perder a essência da mu-lher. Se você gosta de um rela-cionamento heterossexual, tem de respeitar isso. Não quero di-zer que seja preciso ser mulher-zinha. Mas, muitas vezes, a mu-lher afasta o homem porque to-ma muita atitude na hora do pri-meiro beijo, da primeira transa, faz a primeira ligação. Eu tenho padrões antigos, infelizmente. MCOunão,quemhádesaber? BP Só que eu não quero ser an-tifeminista! Eu sinto que as me-ninas da minha geração, quando estão a fim de um homem, vão atrás, ligam, sufocam o cara. Eu falo para elas: “Calma! Não li-gue, espere ele ligar”. Porque eu acho que, se o homem está in-teressado, ele vai ligar. Homem não gosta de mulher que corre atrás dele. Eu gosto do mistério, de ser conquistada. Algumas mu-lheres estão enlouquecendo pela falta de homens querendo rela-cionamento estável. Têm pavor de ficar sozinhas. Eu, pelo me-nos, adoro estar casada. Gosto de dividir a vida com alguém. A mulher deveria ficar na dela e esperar o homemvir conquistá-la” dar com isso de uma forma tran-quila. Tem mulheres que piram. Começam a fazer plásticas e não adianta nada, porque só mexem na casca. Eu acho muito bonito quem sabe envelhecer bem. Per-to dos 40 o mar acalma, a gente vê a vida sob outro prisma e fi-ca mais sábia. Mas é óbvio que a gente perde muitas coisas. MC Quero crer que também ganhamos. BP Será? Bem, converso com mu-lheres mais velhas, no auge dos 50 anos, e sempre tem uma ou outra que se separou, mas já es-tá namorando de novo. A gente sempre acha que, se nos separar-mos, ninguém vai mais nos que-rer. Muito pelo contrário. Se vo-cê envelhece bem, tem para todos os gostos. Fico triste quando vejo mulheres com dinheiro, com tu-do para ser felizes, mas que estão gordas, desleixada, com maridos que nem olham mais para elas. BÁRBaRa uSa: paletó e calça de gaBaRdine HeRcHcovitcH;alexandRe, caMiSa de Seda Reinaldo louRenço