Professora Pollyanna Soares
BARROCO
 A palavra “barroco” tem sua origem
controvertida. Enquanto alguns
afirmam que está ligada a um processo
relativo à memória que indicava um
silogismo aristotélico de conclusão
falsa, outros defendem que designaria
um tipo de pérola de forma irregular, ou
mesmo um terreno desigual,
assimétrico.
 O Barroco é um estilo de época
caracterizado pelo conflito e culto ao
contraste. Ele surgiu no contexto
histórico da Reforma Protestante e da
Contrarreforma Católica.
 Surgido no final do século XVI, na Itália;
 Caracterizado por forte influência
religiosa;
 Forte apelo aos prazeres sensoriais.
Contexto Histórico
 Reforma Protestante
 O padre alemão Martinho Lutero (1483-1546)
denunciou a venda do perdão como prática corrupta
da Igreja Católica.
 Lutero defendia que a salvação só é conseguida por
meio de uma vida marcada pela religiosidade, pelo
arrependimento dos pecados e pela fé em Deus.
 Ao entenderem que não precisavam pagar, com
doações e penitências, pela absolvição, muitos fiéis
abandonaram a Igreja para seguir o luteranismo.
 João Calvino (1509-1564) defendia a ideia de que o
lucro obtido pelo trabalho é uma dádiva divina, o que
aumentou a debandada de fiéis.
 Contrarreforma Católica
 No Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja
definiu ações para combater a Reforma
Protestante.
→ Medidas importantes:
 Ressurgimento do Tribunal do Santo Ofício
(Santa Inquisição);
 Criação do Índice dos livros proibidos —
Index librorum prohibitorum;
 Fundação da Companhia de Jesus pelo
padre Inácio de Loyola (1491-1556).
Características"
 O Barroco é um estilo de época marcado pela
oposição e pelo conflito, o que acaba revelando
uma forte angústia existencial. Dessa forma, as
obras literárias dessa época apresentam visões
opostas:
Antropocentrismo versus teocentrismo
Sagrado versus profanoLuz versus sombra
Paganismo versus cristianismo
Racional versus irracional
Material versus espiritual
Fé versus razão
Pecado versus perdão
Juventude versus velhice
Céu versus terra
Erotismo versus espiritualidade
 Fusionismo: fusão entre a visão medieval e a
renascentista;
 Antítese e paradoxo: refletem uma época de
contrastes;
 Pessimismo: a felicidade, impossível na Terra,
só se realizaria no plano celestial;
 Feísmo: fascinação pela miséria humana,
crueldade, dor, podridão e morte;
 Rebuscamento: ornamentação excessiva da
linguagem, atrelada a um apelo visual;
 Hipérbole: exagero;
 Sinestesia: apelo sensorial;
 Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras
(sinônimos, antônimos, homônimos, trocadilhos,
 Conceptismo ou quevedismo: jogo de
ideias (comparações e argumentação
engenhosa);
 Morbidez;
 Sentimento de culpa;
 Carpe diem: aproveitar o momento;
 Emprego da medida nova: versos
decassílabos;
 Principais temáticas: fragilidade humana,
fugacidade do tempo, crítica à vaidade,
contradições do amor.
É preciso ressaltar que a
presença de luz e sombra, nos textos
barrocos, normalmente, está associada à
juventude (luz) e à velhice (sombra).
Nessa perspectiva, o poeta barroco
sempre lembra aos leitores o quanto a
juventude é fugaz e o quão rápido chega
a velhice e, consequentemente, a morte.
Há, por isso, uma supervalorização da
juventude e dos prazeres que essa fase
da vida pode oferecer.
Nessa mesma linha de pensamento,
a natureza, quando retratada, serve
para lembrar que a beleza – por
exemplo, a de uma rosa – é fugaz,
assim como a juventude. Além disso,
imagens como a da aurora (transição
entre a noite e o dia) e a do crepúsculo
(transição entre o dia e a noite)
simbolizam o dualismo típico do estilo
barroco.
Barroco na Europa
Os maiores nomes da literatura barroca europeia são
os espanhóis:
 Luis de Góngora (1561-1627)
 Francisco de Quevedo (1580-1645)
Já o Barroco português (1580-1756) contou com
estes autores:
 Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622): A
primavera (1601);
 Jerónimo Baía (1620-1688): poema Ao menino
Deus em metáfora de doce;
 António Barbosa Bacelar (1610-1663): soneto A
uma ausência;
 Gaspar Pires de Rebelo (1585-1642):
Infortúnios trágicos da constante Florinda (1625);
 Teresa Margarida da Silva e Orta (1711-1793):
Aventuras de Diófanes (1752);
 Pe. António Vieira (1608-1697): Os sermões
(1679);
 D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666):
Obras métricas (1665);
 Soror Violante do Céu (1601-1693): Romance a
Cristo Crucificado (1659);
 Soror Mariana Alcoforado (1640-1723): Cartas
portuguesas (1669).
 Trecho de uma das cartas de amor de Soror
Mariana Alcoforado. O que chama a atenção
é a aproximação entre o sagrado e o
profano, já que ela era uma freira, vivia em
um lugar considerado sagrado e, nesse
mesmo lugar, deu vazão ao seu desejo
erótico:
 “Acho que acabo causando um mal enorme
aos meus sentimentos quando me esforço
para explicá-los a você numa carta. Como eu
ficaria feliz se você pudesse compreendê-los
pela intensidade dos seus! Mas não devo
confiar em você, nem posso deixar de dizer
— ainda que sem a violência com que sinto
— que você não devia me maltratar desse
jeito, com um desprezo que me leva ao
desespero, e que chega a ser vergonhoso
para você. É justo que você suporte pelo
menos as queixas dessa infelicidade que
[...]
Atribuo toda essa infelicidade à cegueira com
que me deixei unir a você. Não devia eu ter
previsto que meu prazer terminaria mais
depressa que meu amor? Como eu podia
esperar que você ficasse em Portugal pelo
resto de sua vida, que renunciasse a seu
futuro e a seu país para pensar somente em
mim? Não há alívio possível para meu
sofrimento, e a lembrança daquele prazer me
enche de desespero. Será que todo o meu
desejo foi inútil, então, e que jamais verei
você de novo em meu quarto, cheio de
Sei que todas as emoções que ocupavam
minha cabeça e meu coração só despertavam
em você no momento de certos prazeres; e
que, como eles, logo desapareciam. Durante
aqueles momentos tão felizes, eu devia ter
apelado à razão e moderado o fatal exagero
da delícia do prazer, e me prevenido contra
tudo o que hoje sofro. Mas eu me entregava
tão inteiramente a você que não tinha
condição de pensar em nada que fosse
destruir minha alegria e me impedir de gozar
plenamente o testemunho ardente da sua
paixão. Sentir que eu estava com você era
tão maravilhoso que eu não tinha como
Barroco no Brasil "(1601-1768)
 Inaugurado pelo livro Prosopopeia (1601), de
Bento Teixeira (1561-1618)
Principais autores desse estilo no país são
 Gregório de Matos (1636-1696) ;
 Pe. António Vieira (1608-1697.
Primeira parte do Sermão do Mandato de 1643. Nesse
sermão, Vieira defende que Deus está doente de amor:
“Quem entrar hoje nesta casa — todo-poderoso e todo
amoroso Senhor — quem entrar hoje nesta casa — que é o
refúgio último da pobreza e o remédio universal das
enfermidades — quem entrar, digo, a visitar-vos nela —
como faz todo este concurso da piedade cristã — com muito
fundamento pode duvidar se viestes aqui por pródigo, se por
enfermo. Destes o céu, destes a terra, destes-vos a vós
mesmo, e quem tão prodigamente despendeu quanto era e
quanto tinha, não é muito que viesse a parar em um hospital.
Quase persuadido estava eu a este pensamento, mas no
juízo dos males sempre conjecturou melhor quem
presumiu os maiores. Diz o vosso evangelista, Senhor, que
a enfermidade vos trouxe a este lugar, e não a prodigalidade.
Enfermo diz que estais, e tão enfermo que a vossa mesma
ciência vos promete poucas horas de vida, e que por
De amor: cum dilexisset; de amor nosso: suos qui
erant in mundo; e de amor incurável e sem remédio:
in finem dilexit eos. Este é, enfermo Senhor, e
saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de
que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E
porque quisera mostrar aos que me ouvem que,
devendo-vos tudo pela morte, vos devem ainda
mais pela enfermidade, só falarei dela.
Acomodando-me pois ao dia, ao lugar e ao
Evangelho, sobre as palavras que tomei dele,
tratarei quatro coisas, e uma só. Os remédios do
amor e o amor sem remédio. Este será, amante
divino, com licença de vosso coração, o argumento
do meu discurso. Ainda não sabemos de certo se o
vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não
distinguem, peço-vos o vosso amor, sem o qual se
não pode falar dele, e se são coisas distintas, por
amor do mesmo amor vos peço a vossa graça. Ave
 Conceptismo: Vieira inicia a defesa de uma
ideia;
 Pessimismo: “[...], mas no juízo dos males
sempre conjecturou melhor quem presumiu os
maiores”;
 Antíteses: “[...] enfermo Senhor, e saúde de
nossas almas, este é o mal ou o bem de que
adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E
porque quisera mostrar aos que me ouvem que,
devendo-vos tudo pela morte, [...]”; “Os remédios
do amor e o amor sem remédio”; e “Ainda não
sabemos de certo se o vosso amor se distingue
da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos
o vosso amor, […]”;
No decorrer do sermão, os leitores entendem
que quatro coisas são essas — os remédios
do amor. São eles: o tempo, a ausência, a
ingratidão e o melhorar de objeto. No entanto,
esses remédios provocam o efeito contrário
em Deus, pois aumentam ainda mais o seu
amor.
Gregório de Matos
 Boca do Inferno
 Poesia;
 Lírica ou filosófica:
temática amorosa,
oposição entre espírito
e matéria, fugacidade
do tempo;
 Sacra: temática
religiosa, fragilidade
humana e medo da
condenação divina;
 Satírica: crítica social,
econômica e política
Inconstância dos bens do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

BARROCO.ppt

  • 1.
  • 2.
     A palavra“barroco” tem sua origem controvertida. Enquanto alguns afirmam que está ligada a um processo relativo à memória que indicava um silogismo aristotélico de conclusão falsa, outros defendem que designaria um tipo de pérola de forma irregular, ou mesmo um terreno desigual, assimétrico.
  • 3.
     O Barrocoé um estilo de época caracterizado pelo conflito e culto ao contraste. Ele surgiu no contexto histórico da Reforma Protestante e da Contrarreforma Católica.  Surgido no final do século XVI, na Itália;  Caracterizado por forte influência religiosa;  Forte apelo aos prazeres sensoriais.
  • 4.
    Contexto Histórico  ReformaProtestante  O padre alemão Martinho Lutero (1483-1546) denunciou a venda do perdão como prática corrupta da Igreja Católica.  Lutero defendia que a salvação só é conseguida por meio de uma vida marcada pela religiosidade, pelo arrependimento dos pecados e pela fé em Deus.  Ao entenderem que não precisavam pagar, com doações e penitências, pela absolvição, muitos fiéis abandonaram a Igreja para seguir o luteranismo.  João Calvino (1509-1564) defendia a ideia de que o lucro obtido pelo trabalho é uma dádiva divina, o que aumentou a debandada de fiéis.
  • 5.
     Contrarreforma Católica No Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja definiu ações para combater a Reforma Protestante. → Medidas importantes:  Ressurgimento do Tribunal do Santo Ofício (Santa Inquisição);  Criação do Índice dos livros proibidos — Index librorum prohibitorum;  Fundação da Companhia de Jesus pelo padre Inácio de Loyola (1491-1556).
  • 6.
    Características"  O Barrocoé um estilo de época marcado pela oposição e pelo conflito, o que acaba revelando uma forte angústia existencial. Dessa forma, as obras literárias dessa época apresentam visões opostas: Antropocentrismo versus teocentrismo Sagrado versus profanoLuz versus sombra Paganismo versus cristianismo Racional versus irracional Material versus espiritual Fé versus razão
  • 7.
    Pecado versus perdão Juventudeversus velhice Céu versus terra Erotismo versus espiritualidade
  • 8.
     Fusionismo: fusãoentre a visão medieval e a renascentista;  Antítese e paradoxo: refletem uma época de contrastes;  Pessimismo: a felicidade, impossível na Terra, só se realizaria no plano celestial;  Feísmo: fascinação pela miséria humana, crueldade, dor, podridão e morte;  Rebuscamento: ornamentação excessiva da linguagem, atrelada a um apelo visual;  Hipérbole: exagero;  Sinestesia: apelo sensorial;  Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras (sinônimos, antônimos, homônimos, trocadilhos,
  • 9.
     Conceptismo ouquevedismo: jogo de ideias (comparações e argumentação engenhosa);  Morbidez;  Sentimento de culpa;  Carpe diem: aproveitar o momento;  Emprego da medida nova: versos decassílabos;  Principais temáticas: fragilidade humana, fugacidade do tempo, crítica à vaidade, contradições do amor.
  • 10.
    É preciso ressaltarque a presença de luz e sombra, nos textos barrocos, normalmente, está associada à juventude (luz) e à velhice (sombra). Nessa perspectiva, o poeta barroco sempre lembra aos leitores o quanto a juventude é fugaz e o quão rápido chega a velhice e, consequentemente, a morte. Há, por isso, uma supervalorização da juventude e dos prazeres que essa fase da vida pode oferecer.
  • 11.
    Nessa mesma linhade pensamento, a natureza, quando retratada, serve para lembrar que a beleza – por exemplo, a de uma rosa – é fugaz, assim como a juventude. Além disso, imagens como a da aurora (transição entre a noite e o dia) e a do crepúsculo (transição entre o dia e a noite) simbolizam o dualismo típico do estilo barroco.
  • 12.
    Barroco na Europa Osmaiores nomes da literatura barroca europeia são os espanhóis:  Luis de Góngora (1561-1627)  Francisco de Quevedo (1580-1645) Já o Barroco português (1580-1756) contou com estes autores:  Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622): A primavera (1601);  Jerónimo Baía (1620-1688): poema Ao menino Deus em metáfora de doce;  António Barbosa Bacelar (1610-1663): soneto A uma ausência;
  • 13.
     Gaspar Piresde Rebelo (1585-1642): Infortúnios trágicos da constante Florinda (1625);  Teresa Margarida da Silva e Orta (1711-1793): Aventuras de Diófanes (1752);  Pe. António Vieira (1608-1697): Os sermões (1679);  D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666): Obras métricas (1665);  Soror Violante do Céu (1601-1693): Romance a Cristo Crucificado (1659);  Soror Mariana Alcoforado (1640-1723): Cartas portuguesas (1669).
  • 14.
     Trecho deuma das cartas de amor de Soror Mariana Alcoforado. O que chama a atenção é a aproximação entre o sagrado e o profano, já que ela era uma freira, vivia em um lugar considerado sagrado e, nesse mesmo lugar, deu vazão ao seu desejo erótico:
  • 15.
     “Acho queacabo causando um mal enorme aos meus sentimentos quando me esforço para explicá-los a você numa carta. Como eu ficaria feliz se você pudesse compreendê-los pela intensidade dos seus! Mas não devo confiar em você, nem posso deixar de dizer — ainda que sem a violência com que sinto — que você não devia me maltratar desse jeito, com um desprezo que me leva ao desespero, e que chega a ser vergonhoso para você. É justo que você suporte pelo menos as queixas dessa infelicidade que
  • 16.
    [...] Atribuo toda essainfelicidade à cegueira com que me deixei unir a você. Não devia eu ter previsto que meu prazer terminaria mais depressa que meu amor? Como eu podia esperar que você ficasse em Portugal pelo resto de sua vida, que renunciasse a seu futuro e a seu país para pensar somente em mim? Não há alívio possível para meu sofrimento, e a lembrança daquele prazer me enche de desespero. Será que todo o meu desejo foi inútil, então, e que jamais verei você de novo em meu quarto, cheio de
  • 17.
    Sei que todasas emoções que ocupavam minha cabeça e meu coração só despertavam em você no momento de certos prazeres; e que, como eles, logo desapareciam. Durante aqueles momentos tão felizes, eu devia ter apelado à razão e moderado o fatal exagero da delícia do prazer, e me prevenido contra tudo o que hoje sofro. Mas eu me entregava tão inteiramente a você que não tinha condição de pensar em nada que fosse destruir minha alegria e me impedir de gozar plenamente o testemunho ardente da sua paixão. Sentir que eu estava com você era tão maravilhoso que eu não tinha como
  • 18.
    Barroco no Brasil"(1601-1768)
  • 19.
     Inaugurado pelolivro Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira (1561-1618) Principais autores desse estilo no país são  Gregório de Matos (1636-1696) ;  Pe. António Vieira (1608-1697.
  • 20.
    Primeira parte doSermão do Mandato de 1643. Nesse sermão, Vieira defende que Deus está doente de amor: “Quem entrar hoje nesta casa — todo-poderoso e todo amoroso Senhor — quem entrar hoje nesta casa — que é o refúgio último da pobreza e o remédio universal das enfermidades — quem entrar, digo, a visitar-vos nela — como faz todo este concurso da piedade cristã — com muito fundamento pode duvidar se viestes aqui por pródigo, se por enfermo. Destes o céu, destes a terra, destes-vos a vós mesmo, e quem tão prodigamente despendeu quanto era e quanto tinha, não é muito que viesse a parar em um hospital. Quase persuadido estava eu a este pensamento, mas no juízo dos males sempre conjecturou melhor quem presumiu os maiores. Diz o vosso evangelista, Senhor, que a enfermidade vos trouxe a este lugar, e não a prodigalidade. Enfermo diz que estais, e tão enfermo que a vossa mesma ciência vos promete poucas horas de vida, e que por
  • 21.
    De amor: cumdilexisset; de amor nosso: suos qui erant in mundo; e de amor incurável e sem remédio: in finem dilexit eos. Este é, enfermo Senhor, e saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E porque quisera mostrar aos que me ouvem que, devendo-vos tudo pela morte, vos devem ainda mais pela enfermidade, só falarei dela. Acomodando-me pois ao dia, ao lugar e ao Evangelho, sobre as palavras que tomei dele, tratarei quatro coisas, e uma só. Os remédios do amor e o amor sem remédio. Este será, amante divino, com licença de vosso coração, o argumento do meu discurso. Ainda não sabemos de certo se o vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos o vosso amor, sem o qual se não pode falar dele, e se são coisas distintas, por amor do mesmo amor vos peço a vossa graça. Ave
  • 22.
     Conceptismo: Vieirainicia a defesa de uma ideia;  Pessimismo: “[...], mas no juízo dos males sempre conjecturou melhor quem presumiu os maiores”;  Antíteses: “[...] enfermo Senhor, e saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E porque quisera mostrar aos que me ouvem que, devendo-vos tudo pela morte, [...]”; “Os remédios do amor e o amor sem remédio”; e “Ainda não sabemos de certo se o vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos o vosso amor, […]”;
  • 23.
    No decorrer dosermão, os leitores entendem que quatro coisas são essas — os remédios do amor. São eles: o tempo, a ausência, a ingratidão e o melhorar de objeto. No entanto, esses remédios provocam o efeito contrário em Deus, pois aumentam ainda mais o seu amor.
  • 24.
    Gregório de Matos Boca do Inferno  Poesia;  Lírica ou filosófica: temática amorosa, oposição entre espírito e matéria, fugacidade do tempo;  Sacra: temática religiosa, fragilidade humana e medo da condenação divina;  Satírica: crítica social, econômica e política
  • 25.
    Inconstância dos bensdo mundo Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?
  • 26.
    Mas no Sol,e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.