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EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE
Rogério Ferraz de Andrade – Aula 01
APRESENTAÇÃO
DE APOIO
Doutor em letras pela Uniritter/UCS. Mestre em educação pela
UFSM (2002). MBA em recursos humanos pela Uninter. Possuo
graduação em letras pela universidade de cruz alta (1999), graduação
em bacharelado em teologia pelo centro de estudos teológicos j.
Vianney (1996). Diretor acadêmico da faculdade de tecnologia La
Salle estrela, coordenador de pós-graduação da FTLE e professor -
colégio La Salle São joão. Membro da comissão de formação da
província lassalista de porto alegre e membro do conselho de ensino
superior da província lassalista de Porto Alegre .Tem experiência na
área de filosofia, com ênfase em ética, atuando principalmente nos
seguintes temas: motivação, humanização, ensino religioso, educação
e diálogo.
ROGÉRIO FERRAZ DE ANDRADE
Professor Convidado
JOSÉ GABRIEL PERISSÉ MADUREIRA
Professor PUCRS
Autor de mais de 30 livros voltados para filosofia, ética,
espiritualidade e produção de texto, Gabriel Perissé é referência
na área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação,
principalmente, nos segmentos da leitura, linguagem, ética,
estética, escrita criativa, didática, formação de professores,
cultura religiosa e formação cristã. Desde 1983, ministra palestras
e minicursos em escolas, universidades, empresas, editoras,
sindicatos e associações culturais. São mais de 500 cidades
brasileiras percorridas durante toda a carreira que ainda soma
mais de mil artigos e ensaios para revistas (acadêmicas e de
divulgação científica), jornais, blogs e sites. Além disso, já traduziu
mais de 20 livros - em inglês, espanhol e francês - para diferentes
editoras.
Professores
Educação, autoconhecimento e espiritualidade. Educação da interioridade no
atual contexto histórico. Espiritualidade, aprendizado e educabilidade. Pedagogia da
admiração e do encontro como formas de desenvolvimento espiritual. Espiritualidade
como caminho de equilíbrio de pensamentos, impulsos, afetos e emoções. Espiritualidade
e valores: o ser humano como ser axiotrópico. Espiritualidade e sentido da vida.
Ementa da disciplina
O que está para ser
transformado, antes
de tudo, tem a ver
com as relações
que
estabelecemos...
I- Espiritualidade e Educação: aproximações
a) Espiritualidade
b) Educação
c) O desencanto pós-moderno
d) Ethos educativo
II- Interpelações existenciais
III-A Cultura do Encontro –Abrir janelas
O encontro da educação com a
espiritualidade: aproximações
“Para atingir o ápice do conhecimento, que é conhecer a Deus
plenamente, é necessário abandonar as imagens materiais.”
(Eckart)
a) O que é/o que se entende por
espiritualidade? Entre conceitos e
indefinições.
“A espiritualidade não é nada
mais do que esse fabuloso
convite para nos banharmos
nas águas desse lugar além
das palavras e é a cristalina
fonte de todo o sentido.”
Faustino Teixeira
1.1 – A espiritualidade como
experiência
“Perior”-experimentar (provar) e pôr à prova.
Espiritualidade remete a um sair de si, um
ultrapassar-se a si mesmo, um elevar-se por
sentir-se insuficiente. “O ser humano é sempre
insuficiente” (Bauman).
Conhecimento matutino X
conhecimento vespertino
O Conhecimento matutino é o conhecimento do homem interior, do
homem nobre, que compreende as coisas em Deus, princípio do
conhecimento. O conhecimento vespertino, ao contrário, é um
conhecimento incompleto, porque não realizou até o fim a transfiguração
das coisas.
1.2 Expressão do humano.
“A grande obra da espiritualidade
e da mística é justamente
sensibilizar o sujeito para captar o
‘outro lado das coisas’, perceber
aquilo que está sempre presente,
mas escapa ao olhar desatento.”
Linguagem Apofática
1. A noética negativa é privilégio particular de quem experimentou o “estar com
Deus;
2. O discurso negativo tem como estrutura a ideia de ruptura, só que esta ruptura é
uma forma de imperativo epistêmico: Deus, por ser extra-linguístico, e pelo fato do
místico ter “estado” neste espaço “ extra-linguístico”, a narrativa apofática falará
de uma antropologia apofática;
3. O não-místico vaga às cegas, tateando no vazio, entre o espelho e o uso.
1.3- A linguagem que é um ‘mais
calar’.
A linguagem da espiritualidade, quase
sempre tangencia o ‘totalmente outro’. É
praticamente impossível alcançar o
transcendente sem passar pela linguagem
simbólica, poética, artística...De Deus, as
vezes fala-se, mas quase sempre se cala.
1.4 A espiritualidade como resistência
A linguagem da oração (da espiritualidade) é a linguagem da resistência contra a
ameaçadora banalidade da nossa vida, contra a total falta de sentido da vida, numa
sociedade meramente de troca e de satisfação de necessidades, na qual a capacidade
para o luto e para a celebração está se reduzindo cada vez mais, porque não se podem
celebrar as necessidades, mas somente satisfazê-las, e porque não se ganha
literalmente nada com o luto.
Metz in: mística de olhos abertos, p. 129, 2013.
b) A educação
“A educação é o processo
de humanização que
acontece no encontro face
a face. O ato de educar
constitui o processo que
faz cada pessoa ser mais
humana. É mediante a
educação que a
humanidade configura o
mundo circundante”
(DALLA ROSA, 2012, p.
145).
Conceitos que se sobrepõem
Educação como cultivo- cultura
–aprendizagem
- Cognição
- Ciência
- Razão
- ...
“A característica definidora da modernidade é, sem dúvida, a
aposta decidida no império da razão como instrumento
privilegiado nas mãos do ser humano que lhe permite ordenar
a atividade científica e técnica, o governo das pessoas, e a
administração das coisas, sem recurso a forças e poderes
externos ou sobrenaturais.”
(Perez Gomez, 1998, p. 21)
A modernidade iniciada com Descartes cria o individualismo,
posto que cada consciência é autônoma, e conduz
diretamente ao subjetivismo. Para ele, o único ponto de
partida possível é o “eu” com suas ideias, posto que
ignoramos a existência de outras coisas.
À razão é atrelada toda forma
de conhecimento. Os sentidos
são questionados, “o
pensamento é a única
realidade dada imediatamente
ao espírito, e qualquer outra
realidade deve ser deduzida
daquela.”
Consequências:
-Indivíduo passa a ser o centro... e com Kant, também da moral. A
referência torna-se o próprio indivíduo.
-A religião passa a ser entendida como espaço individual e intimista.
- “O que há´, em última instância, não são comunidades, mas
indivíduos que estabelecem entre eles laços consensuais aos quais
personificamos indevidamente ao falar de comunidade. Ela é uma
rede de conexões’, não um ente a parte.
- Ênfase em num moralismo de controle pela lei e não pela
consciência.
c) O desencanto pós-moderno
“Sem os punhos de ferro
da modernidade, a pós-
modernidade precisa de
nervos de aço.”
(Zigmunt Bauman)
Pós (?)moderno
A condição pós-moderna nos faz encarar o “demônio da improcedência
da certeza”, que em sua forma mais assustadora suscita a suspeita de
que a ciência pudesse ser apenas uma forma de mitologia sofisticada,
“apenas uma versão dentre muitas”.
“A cultura já não pode
mais proporcionar uma
explicação adequada do
mundo que nos permita
construir ou ordenar
nossas vidas.
Características da Pós-modernidade:
a) Desfundamentação da razão: A verdade, a realidade a razão são construções
sociais relativas e contingentes, são versões, talvez privilegiadas pelos grupos de
poder de uma fluida e cambiante realidade plural tal e como é representada por
diferentes perspectivas mais ou menos dominantes e marginais.
b) Perda da fé no progresso: Dissolução da crença na possibilidade de
desenvolvimento ilimitado da sociedade humana....
c) Pragmatismo como forma de vida e de pensamento: A busca de prazer e a
satisfação do presente sem demasiada preocupação nem por seus fundamentos
nem por suas consequências.
d) Desencanto e indiferença: O ser humano precisa aprender a viver a incerteza e o
sem sentido teológico do presente.
-Primazia da estética sobre a ética: O meio é a mensagem e o continente desaloja o conteúdo.
-Crítica ao etnocentrismo e à universalidade: Tudo vale pelo mero fato de existir, ante a
dificuldade de encontrar critérios de discernimento e contraste, entre o respeito à diversidade e
à afirmação do relativismo.
-Multiculturalismo e aldeia global: Imposição sutil de padrões culturais dos grupos de poderio
econômico e político.
-Ressurgimento de fundamentalismos e nacionalismos: “A busca de identidade em um mundo
anônimo de intercâmbios mercantis desiguais, injustos e discriminatórios conduz à afirmação
irracional da diferença.
-Historicismo e fim da história: Os acontecimentos só têm sentido em seu contexto e não têm
um fio condutor que possa explicar a evolução como continuidade.
Pós-
modernidade
ou
radicalização
da
modernidade
?
Contradições:
1- A pós-modernidade tenta desconstruir os argumentos da razão usando a razão.
2- O relativismo absolutiza a ideia de que tudo tem o mesmo valor....que todas as ideias
têm o mesmo peso e, portanto, devem ser respeitadas de igual maneira,
desconsiderando aspectos históricos, valores, significados construídos pelas
comunidades éticas.
3- A linguagem culta pós-moderna torna difícil a apreensão democrática do discursos,
gerando ainda mais exclusão justificando e legitimando a mesma exclusão dos mais
desfavorecidos provocada pelas condições econômicas e sociais da pós-modernidade.
d) Ethos educativo
“O ser constrói-se também
dos projetos de mudança,
projetos que guiam as
ações do sujeito.”
(Nuttin, 1983, p. 157)
“A educação depende do clima de humanidade
que se respira na comunidade educativa...”
(Francisco Catão, 1977, p. 26)
P 1- A educação está diretamente implicada na experiência
que ultrapassa o meramente imanente, porque o ser humano
é um ser de interioridade. E por ser assim, a educação não
consiste apenas em apresentar figuras do mundo, mas
conduzir o homem ao íntimo de si, onde – e apenas ali-
encontrará as raízes do seu próprio ser.
P2- A educação reclama a “qualidade do ser”:
a) Qualidade do sujeito, como qualificação do seu agir
pessoal livre em vista do bem;
b) Qualidade mimética, isto é: dom recebido e, como tal,
temos a incumbência de transmiti-la;
c) Qualidade voltada para o outro numa atitude fundamental
de respeito, que torna o convívio verdadeiramente
humano.
II- INTERPELAÇÕES EXISTENCIAIS
“ O tempo é pura
esperança. É mesmo o
lugar natal da
esperança.”
(Lévinas, 2003, P. 113)
2.1 –Educação como expressão do
encontro inter-humano
“O rosto do outro me obriga a tomar posição porque fala, pro-voca, e-
voca e con-voca. [...] a educação é o lugar e o tempo do encontro dos
rostos. Encontrar outrem é acolher um mestre que me ensina.”
(Dalla Rosa, 2012, 195-196)
2.2- Educar para a vida a serviço do
outro
Falar de Deus significa referir-se à relação humana. A
manifestação do outro possibilita um processo de
humanização e de libertação.
2.4 –Educar para a sensibilidade
“[...] um processo de aprendizagem que leva as pessoas à
intolerância frente ao diferente abre as portas para uma
cultura do narcisismo. Pois ‘o que justamente caracteriza a
subjetividade na cultura do narcisismo é a impossibilidade de
poder admirar o outro em sua diferença radical, já que não
consegue se descentrar de si mesmo.”
(Assmann; Mo Sung, 2000, p. 97.
2.3 – Educar para uma espiritualidade
ética
“Experimentar Deus não é falar de
Deus aos outros, mas falar a Deus
junto com os outros.”
(Boff, 2002, p.10)
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  • 1. EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE Rogério Ferraz de Andrade – Aula 01 APRESENTAÇÃO DE APOIO
  • 2. Doutor em letras pela Uniritter/UCS. Mestre em educação pela UFSM (2002). MBA em recursos humanos pela Uninter. Possuo graduação em letras pela universidade de cruz alta (1999), graduação em bacharelado em teologia pelo centro de estudos teológicos j. Vianney (1996). Diretor acadêmico da faculdade de tecnologia La Salle estrela, coordenador de pós-graduação da FTLE e professor - colégio La Salle São joão. Membro da comissão de formação da província lassalista de porto alegre e membro do conselho de ensino superior da província lassalista de Porto Alegre .Tem experiência na área de filosofia, com ênfase em ética, atuando principalmente nos seguintes temas: motivação, humanização, ensino religioso, educação e diálogo. ROGÉRIO FERRAZ DE ANDRADE Professor Convidado JOSÉ GABRIEL PERISSÉ MADUREIRA Professor PUCRS Autor de mais de 30 livros voltados para filosofia, ética, espiritualidade e produção de texto, Gabriel Perissé é referência na área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação, principalmente, nos segmentos da leitura, linguagem, ética, estética, escrita criativa, didática, formação de professores, cultura religiosa e formação cristã. Desde 1983, ministra palestras e minicursos em escolas, universidades, empresas, editoras, sindicatos e associações culturais. São mais de 500 cidades brasileiras percorridas durante toda a carreira que ainda soma mais de mil artigos e ensaios para revistas (acadêmicas e de divulgação científica), jornais, blogs e sites. Além disso, já traduziu mais de 20 livros - em inglês, espanhol e francês - para diferentes editoras. Professores
  • 3. Educação, autoconhecimento e espiritualidade. Educação da interioridade no atual contexto histórico. Espiritualidade, aprendizado e educabilidade. Pedagogia da admiração e do encontro como formas de desenvolvimento espiritual. Espiritualidade como caminho de equilíbrio de pensamentos, impulsos, afetos e emoções. Espiritualidade e valores: o ser humano como ser axiotrópico. Espiritualidade e sentido da vida. Ementa da disciplina
  • 4. O que está para ser transformado, antes de tudo, tem a ver com as relações que estabelecemos...
  • 5. I- Espiritualidade e Educação: aproximações a) Espiritualidade b) Educação c) O desencanto pós-moderno d) Ethos educativo II- Interpelações existenciais III-A Cultura do Encontro –Abrir janelas
  • 6. O encontro da educação com a espiritualidade: aproximações “Para atingir o ápice do conhecimento, que é conhecer a Deus plenamente, é necessário abandonar as imagens materiais.” (Eckart)
  • 7. a) O que é/o que se entende por espiritualidade? Entre conceitos e indefinições. “A espiritualidade não é nada mais do que esse fabuloso convite para nos banharmos nas águas desse lugar além das palavras e é a cristalina fonte de todo o sentido.” Faustino Teixeira
  • 8. 1.1 – A espiritualidade como experiência “Perior”-experimentar (provar) e pôr à prova. Espiritualidade remete a um sair de si, um ultrapassar-se a si mesmo, um elevar-se por sentir-se insuficiente. “O ser humano é sempre insuficiente” (Bauman).
  • 9. Conhecimento matutino X conhecimento vespertino O Conhecimento matutino é o conhecimento do homem interior, do homem nobre, que compreende as coisas em Deus, princípio do conhecimento. O conhecimento vespertino, ao contrário, é um conhecimento incompleto, porque não realizou até o fim a transfiguração das coisas.
  • 10. 1.2 Expressão do humano. “A grande obra da espiritualidade e da mística é justamente sensibilizar o sujeito para captar o ‘outro lado das coisas’, perceber aquilo que está sempre presente, mas escapa ao olhar desatento.”
  • 11. Linguagem Apofática 1. A noética negativa é privilégio particular de quem experimentou o “estar com Deus; 2. O discurso negativo tem como estrutura a ideia de ruptura, só que esta ruptura é uma forma de imperativo epistêmico: Deus, por ser extra-linguístico, e pelo fato do místico ter “estado” neste espaço “ extra-linguístico”, a narrativa apofática falará de uma antropologia apofática; 3. O não-místico vaga às cegas, tateando no vazio, entre o espelho e o uso.
  • 12. 1.3- A linguagem que é um ‘mais calar’. A linguagem da espiritualidade, quase sempre tangencia o ‘totalmente outro’. É praticamente impossível alcançar o transcendente sem passar pela linguagem simbólica, poética, artística...De Deus, as vezes fala-se, mas quase sempre se cala.
  • 13. 1.4 A espiritualidade como resistência A linguagem da oração (da espiritualidade) é a linguagem da resistência contra a ameaçadora banalidade da nossa vida, contra a total falta de sentido da vida, numa sociedade meramente de troca e de satisfação de necessidades, na qual a capacidade para o luto e para a celebração está se reduzindo cada vez mais, porque não se podem celebrar as necessidades, mas somente satisfazê-las, e porque não se ganha literalmente nada com o luto. Metz in: mística de olhos abertos, p. 129, 2013.
  • 14. b) A educação “A educação é o processo de humanização que acontece no encontro face a face. O ato de educar constitui o processo que faz cada pessoa ser mais humana. É mediante a educação que a humanidade configura o mundo circundante” (DALLA ROSA, 2012, p. 145).
  • 15. Conceitos que se sobrepõem Educação como cultivo- cultura –aprendizagem - Cognição - Ciência - Razão - ...
  • 16. “A característica definidora da modernidade é, sem dúvida, a aposta decidida no império da razão como instrumento privilegiado nas mãos do ser humano que lhe permite ordenar a atividade científica e técnica, o governo das pessoas, e a administração das coisas, sem recurso a forças e poderes externos ou sobrenaturais.” (Perez Gomez, 1998, p. 21)
  • 17. A modernidade iniciada com Descartes cria o individualismo, posto que cada consciência é autônoma, e conduz diretamente ao subjetivismo. Para ele, o único ponto de partida possível é o “eu” com suas ideias, posto que ignoramos a existência de outras coisas.
  • 18. À razão é atrelada toda forma de conhecimento. Os sentidos são questionados, “o pensamento é a única realidade dada imediatamente ao espírito, e qualquer outra realidade deve ser deduzida daquela.”
  • 19. Consequências: -Indivíduo passa a ser o centro... e com Kant, também da moral. A referência torna-se o próprio indivíduo. -A religião passa a ser entendida como espaço individual e intimista. - “O que há´, em última instância, não são comunidades, mas indivíduos que estabelecem entre eles laços consensuais aos quais personificamos indevidamente ao falar de comunidade. Ela é uma rede de conexões’, não um ente a parte. - Ênfase em num moralismo de controle pela lei e não pela consciência.
  • 20. c) O desencanto pós-moderno “Sem os punhos de ferro da modernidade, a pós- modernidade precisa de nervos de aço.” (Zigmunt Bauman)
  • 21. Pós (?)moderno A condição pós-moderna nos faz encarar o “demônio da improcedência da certeza”, que em sua forma mais assustadora suscita a suspeita de que a ciência pudesse ser apenas uma forma de mitologia sofisticada, “apenas uma versão dentre muitas”.
  • 22. “A cultura já não pode mais proporcionar uma explicação adequada do mundo que nos permita construir ou ordenar nossas vidas.
  • 23. Características da Pós-modernidade: a) Desfundamentação da razão: A verdade, a realidade a razão são construções sociais relativas e contingentes, são versões, talvez privilegiadas pelos grupos de poder de uma fluida e cambiante realidade plural tal e como é representada por diferentes perspectivas mais ou menos dominantes e marginais. b) Perda da fé no progresso: Dissolução da crença na possibilidade de desenvolvimento ilimitado da sociedade humana.... c) Pragmatismo como forma de vida e de pensamento: A busca de prazer e a satisfação do presente sem demasiada preocupação nem por seus fundamentos nem por suas consequências. d) Desencanto e indiferença: O ser humano precisa aprender a viver a incerteza e o sem sentido teológico do presente.
  • 24. -Primazia da estética sobre a ética: O meio é a mensagem e o continente desaloja o conteúdo. -Crítica ao etnocentrismo e à universalidade: Tudo vale pelo mero fato de existir, ante a dificuldade de encontrar critérios de discernimento e contraste, entre o respeito à diversidade e à afirmação do relativismo. -Multiculturalismo e aldeia global: Imposição sutil de padrões culturais dos grupos de poderio econômico e político. -Ressurgimento de fundamentalismos e nacionalismos: “A busca de identidade em um mundo anônimo de intercâmbios mercantis desiguais, injustos e discriminatórios conduz à afirmação irracional da diferença. -Historicismo e fim da história: Os acontecimentos só têm sentido em seu contexto e não têm um fio condutor que possa explicar a evolução como continuidade.
  • 26. Contradições: 1- A pós-modernidade tenta desconstruir os argumentos da razão usando a razão. 2- O relativismo absolutiza a ideia de que tudo tem o mesmo valor....que todas as ideias têm o mesmo peso e, portanto, devem ser respeitadas de igual maneira, desconsiderando aspectos históricos, valores, significados construídos pelas comunidades éticas. 3- A linguagem culta pós-moderna torna difícil a apreensão democrática do discursos, gerando ainda mais exclusão justificando e legitimando a mesma exclusão dos mais desfavorecidos provocada pelas condições econômicas e sociais da pós-modernidade.
  • 27. d) Ethos educativo “O ser constrói-se também dos projetos de mudança, projetos que guiam as ações do sujeito.” (Nuttin, 1983, p. 157)
  • 28. “A educação depende do clima de humanidade que se respira na comunidade educativa...” (Francisco Catão, 1977, p. 26)
  • 29. P 1- A educação está diretamente implicada na experiência que ultrapassa o meramente imanente, porque o ser humano é um ser de interioridade. E por ser assim, a educação não consiste apenas em apresentar figuras do mundo, mas conduzir o homem ao íntimo de si, onde – e apenas ali- encontrará as raízes do seu próprio ser.
  • 30. P2- A educação reclama a “qualidade do ser”: a) Qualidade do sujeito, como qualificação do seu agir pessoal livre em vista do bem; b) Qualidade mimética, isto é: dom recebido e, como tal, temos a incumbência de transmiti-la; c) Qualidade voltada para o outro numa atitude fundamental de respeito, que torna o convívio verdadeiramente humano.
  • 31. II- INTERPELAÇÕES EXISTENCIAIS “ O tempo é pura esperança. É mesmo o lugar natal da esperança.” (Lévinas, 2003, P. 113)
  • 32. 2.1 –Educação como expressão do encontro inter-humano “O rosto do outro me obriga a tomar posição porque fala, pro-voca, e- voca e con-voca. [...] a educação é o lugar e o tempo do encontro dos rostos. Encontrar outrem é acolher um mestre que me ensina.” (Dalla Rosa, 2012, 195-196)
  • 33. 2.2- Educar para a vida a serviço do outro Falar de Deus significa referir-se à relação humana. A manifestação do outro possibilita um processo de humanização e de libertação.
  • 34. 2.4 –Educar para a sensibilidade “[...] um processo de aprendizagem que leva as pessoas à intolerância frente ao diferente abre as portas para uma cultura do narcisismo. Pois ‘o que justamente caracteriza a subjetividade na cultura do narcisismo é a impossibilidade de poder admirar o outro em sua diferença radical, já que não consegue se descentrar de si mesmo.” (Assmann; Mo Sung, 2000, p. 97.
  • 35. 2.3 – Educar para uma espiritualidade ética “Experimentar Deus não é falar de Deus aos outros, mas falar a Deus junto com os outros.” (Boff, 2002, p.10)