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T H I A G O B A R B O S A S O A R E S
Entre a norma culta e a norma
padrão: entre o real e o ideal
Sondagem dialógica
 O que é norma?
 Essa aplicada à língua cria seu uso
normativo?
 Então o que é norma culta e norma padrão
da língua?
Leiamos o seguinte poema de C. Drummond:
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de
letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é
quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha
ignorância.
Figuras de gramática,
esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me,
sequestram-me.
Já esqueci a língua em que
comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava
pontapé,
a língua, breve língua
entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o
outro, mistério.
Questionamentos acerca do poema de
Drommond
 Do que trata o poema de Drommond? É
possível, por uma leitura atenta, depreender
que existem dois tipos de português, o do
próprio autor e o do professor Góis? Ora, é
desses tipos que falamos ao tratar de norma
culta e norma padrão.
O português não é homogêneo
 O português, como todas as línguas, é heterogêneo:
cada grupo dentro de uma comunidade possui
características próprias do seu falar. A essas
diferentes modalidades de língua chamamos
variedades linguísticas (BAGNO, 2001).
A norma padrão
 A norma padrão brasileira surgiu no séc. XIX, partindo da
necessidade que alguns membros letrados das altas camadas da
sociedade viram, e veem, em unificar a língua, tornando-a
unitária e homogênea e combatendo mudanças e variações.
 Trata-se de um conjunto de regras prescritivas, inspirado no
uso literário de alguns poucos escritores do passado
considerados exemplares a ser imitados (BAGNO, 2013).
 Estabeleceu-se com equívocos: a supervalorização da escrita em
detrimento da fala e a visão das mudanças linguísticas como
prejudiciais à língua em vez de meras mudanças.
 Exemplos: "Fi-lo porque qui-lo"; dar-te-ei vos o que quiserdes;
trabalharei até ao anoitecer ...
A norma culta
 O termo norma culta designa a variedade utilizada pelas
pessoas que possuem mais contato com a “cultura
enciclopédica".
 Trata-se, então, de um conjunto formado pelas variedades
urbanas de prestígio, faladas e escritas por cidadãs e
cidadãos com elevado grau de letramento (qualificado pela
posse de diploma de curso superior) (BAGNO, 2013).
 No Brasil, considera-se como falante de norma culta
apenas as pessoas que já se formaram no Ensino Superior.
Por isso, seus falantes, em sua maioria, são pertencentes às
camadas mais privilegiadas da sociedade (BAGNO, 2003).
 Exemplos: Fiz porque quis; vou te dar o que quiser; vou
trabalhar até à noite.
Exemplos
 Norma padrão:
palha;
planta;
homem, falaram;
córrego, bêbado;
cheiro, beijo, manteiga,
feijão, peixe, cenoura...
 Norma culta:
paia;
pranta;
home, falaro;
córgo, beudo;
chêro, bêjo, mantêga,
fejão, pêxe, cenora...
Exemplos:
 Norma padrão:
eu fora, ele fora;
encontrei-a na rua;
eu cantarei;
chegaram os livros;
se eu quiser;
assistir ao jogo;
a obra cujo autor escreveu;
 Norma culta:
eu tinha ido, ele tinha ido;
encontrei ela na rua;
eu vou cantar;
chegou os livros;
se eu querer;
assistir o jogo;
a obra que o autor escreveu.
(BAGNO, 2001, 2003; POSSENTI, 1996)
Variedades estigmatizadas
 "A língua da grande maioria pobre e dos analfabetos do
nosso país" (BAGNO, 2001. p. 28). Por ser utilizada pelas
camadas marginalizadas da sociedade, também sofre
preconceito.
 Trata-se de um conjunto de variações no uso da língua
condicionada por diversos fatores: socioeconômicos,
socioculturais, regionais, entre outros.
 Ataca-se essas variedades por se ter a falsa crença de que
são deturpações da "verdadeira" língua portuguesa. São
chamadas comumente de erradas.
 Exemplos: "fizo purque quizo; vô te dá o que quisé; vô
trabaia té a noiti"
Observe: um uso urbano da língua, outro uso rural
Observe: um uso regional da língua
Observe: outro uso regional da língua
Em síntese:
 A norma padrão pode ser considerada o “padrão
ideal” que se constitui no português que alguns
escolheram arbitrariamente como “o melhor” que
deve ser utilizado por quem “preza o valor de sua
língua”; enquanto a norma culta pode ser
considerada o “padrão real”, ou seja, o padrão que
realmente é utilizado por uma parte da sociedade; já
as variedades estigmatizadas são desprestigiadas e
marginalizadas por não configurarem a norma culta
tampouco a norma padrão (BAGNO, 2001; 2003).
Avaliação
 "Mas eu quero fazer uma observação. É que
nenhuma dessas reformas alterará os direitos
adquiridos pelos cidadãos brasileiros. Como menos
fosse sê-lo-ia pela minha formação democrática e
pela minha formação jurídica" (TEMER, 2016).
 "Macunaíma estava muito contrariado. Não
conseguia reaver a muiraquitã e isso dava ódio. O
milhor era matar Piaimã... Então saiu da cidade e foi
no mato" (...) (ANDRADE, 2016, p. 43).
 "Mas a água só é limpa é nas cabeceiras. O mal ou o
bem, estão em quem faz; não é no efeito que dão. O
senhor ouvindo seguinte, me entende" (ROSA, 2001,
p. 113).
Questões
 a) Pode-se dizer, respeitando as devidas diferenças
entre as condições de produção de cada um dos textos
representados pelos excertos acima, que cada um tem
objetivos diferentes, entretanto há um que "parece"
querer se distanciar do uso comum da língua. Qual é
esse? Como o faz? E por quais possíveis motivos?
 b) Ao ficar claro que a norma padrão é uma abstração,
a norma culta passa a ser encarada como variedades
de prestígio no uso da língua. Qual dos excertos pode
ser considerado como pertencente à norma culta?
Justifique sua resposta com elementos do recorte.
Escolha um excerto e lhe transcreva para a norma
culta da língua.
 c) No interior da língua, existem variedades de maior
e menor prestígio social, tal construção simbólica
está vinculada aos valores econômico, midiático,
cultural, e educacional atribuídos aos seus falantes.
Em quais fragmentos pode-se verificar o uso de
variedade de menor prestígio da língua? Quais
seriam os traços que marcam essa variedade na
escrita? Há nesses traços vestígios de oralidade?
 d) Quais sãos os efeitos que pode causar um texto
escrito numa variedade de menor prestígio da norma
culta? Esses estão condicionados ao contexto de
produção do texto? Explique.
Referências
 ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no
caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
 ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem caráter. Barueri, SP: Ciranda Cultural,
2016.
 BAGNO, M. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
 _________ . A língua de Eulália: novela sociolinguística. 10ª ed. São Paulo:
Contexto, 2001.
 BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2006 (v.1).
 DRUMMOND, A. C. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
 GERALDI, J. W. (org). O texto na sala de aula: leitura e produção. 2ª ed. Cascavel,
PR, Assoeste, 1984.
 POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado
de Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1996.
 ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. 19 ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
 http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/discursos/discursos-do-
presidente-da republica/discurso-do-presidente-da-republica-michel-temer-
durante-cerimonia-de-posse-dos-novos-ministros-de-estado-palacio-do-planalto
acessado em 26/02/2017 às 10h34min.
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Entre a norma culta e a norma padrão

  • 1. T H I A G O B A R B O S A S O A R E S Entre a norma culta e a norma padrão: entre o real e o ideal
  • 2. Sondagem dialógica  O que é norma?  Essa aplicada à língua cria seu uso normativo?  Então o que é norma culta e norma padrão da língua?
  • 3. Leiamos o seguinte poema de C. Drummond: Aula de português A linguagem na ponta da língua tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a priminha. O português são dois; o outro, mistério.
  • 4. Questionamentos acerca do poema de Drommond  Do que trata o poema de Drommond? É possível, por uma leitura atenta, depreender que existem dois tipos de português, o do próprio autor e o do professor Góis? Ora, é desses tipos que falamos ao tratar de norma culta e norma padrão.
  • 5. O português não é homogêneo  O português, como todas as línguas, é heterogêneo: cada grupo dentro de uma comunidade possui características próprias do seu falar. A essas diferentes modalidades de língua chamamos variedades linguísticas (BAGNO, 2001).
  • 6. A norma padrão  A norma padrão brasileira surgiu no séc. XIX, partindo da necessidade que alguns membros letrados das altas camadas da sociedade viram, e veem, em unificar a língua, tornando-a unitária e homogênea e combatendo mudanças e variações.  Trata-se de um conjunto de regras prescritivas, inspirado no uso literário de alguns poucos escritores do passado considerados exemplares a ser imitados (BAGNO, 2013).  Estabeleceu-se com equívocos: a supervalorização da escrita em detrimento da fala e a visão das mudanças linguísticas como prejudiciais à língua em vez de meras mudanças.  Exemplos: "Fi-lo porque qui-lo"; dar-te-ei vos o que quiserdes; trabalharei até ao anoitecer ...
  • 7. A norma culta  O termo norma culta designa a variedade utilizada pelas pessoas que possuem mais contato com a “cultura enciclopédica".  Trata-se, então, de um conjunto formado pelas variedades urbanas de prestígio, faladas e escritas por cidadãs e cidadãos com elevado grau de letramento (qualificado pela posse de diploma de curso superior) (BAGNO, 2013).  No Brasil, considera-se como falante de norma culta apenas as pessoas que já se formaram no Ensino Superior. Por isso, seus falantes, em sua maioria, são pertencentes às camadas mais privilegiadas da sociedade (BAGNO, 2003).  Exemplos: Fiz porque quis; vou te dar o que quiser; vou trabalhar até à noite.
  • 8. Exemplos  Norma padrão: palha; planta; homem, falaram; córrego, bêbado; cheiro, beijo, manteiga, feijão, peixe, cenoura...  Norma culta: paia; pranta; home, falaro; córgo, beudo; chêro, bêjo, mantêga, fejão, pêxe, cenora...
  • 9. Exemplos:  Norma padrão: eu fora, ele fora; encontrei-a na rua; eu cantarei; chegaram os livros; se eu quiser; assistir ao jogo; a obra cujo autor escreveu;  Norma culta: eu tinha ido, ele tinha ido; encontrei ela na rua; eu vou cantar; chegou os livros; se eu querer; assistir o jogo; a obra que o autor escreveu. (BAGNO, 2001, 2003; POSSENTI, 1996)
  • 10. Variedades estigmatizadas  "A língua da grande maioria pobre e dos analfabetos do nosso país" (BAGNO, 2001. p. 28). Por ser utilizada pelas camadas marginalizadas da sociedade, também sofre preconceito.  Trata-se de um conjunto de variações no uso da língua condicionada por diversos fatores: socioeconômicos, socioculturais, regionais, entre outros.  Ataca-se essas variedades por se ter a falsa crença de que são deturpações da "verdadeira" língua portuguesa. São chamadas comumente de erradas.  Exemplos: "fizo purque quizo; vô te dá o que quisé; vô trabaia té a noiti"
  • 11. Observe: um uso urbano da língua, outro uso rural
  • 12. Observe: um uso regional da língua
  • 13. Observe: outro uso regional da língua
  • 14. Em síntese:  A norma padrão pode ser considerada o “padrão ideal” que se constitui no português que alguns escolheram arbitrariamente como “o melhor” que deve ser utilizado por quem “preza o valor de sua língua”; enquanto a norma culta pode ser considerada o “padrão real”, ou seja, o padrão que realmente é utilizado por uma parte da sociedade; já as variedades estigmatizadas são desprestigiadas e marginalizadas por não configurarem a norma culta tampouco a norma padrão (BAGNO, 2001; 2003).
  • 15. Avaliação  "Mas eu quero fazer uma observação. É que nenhuma dessas reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros. Como menos fosse sê-lo-ia pela minha formação democrática e pela minha formação jurídica" (TEMER, 2016).  "Macunaíma estava muito contrariado. Não conseguia reaver a muiraquitã e isso dava ódio. O milhor era matar Piaimã... Então saiu da cidade e foi no mato" (...) (ANDRADE, 2016, p. 43).  "Mas a água só é limpa é nas cabeceiras. O mal ou o bem, estão em quem faz; não é no efeito que dão. O senhor ouvindo seguinte, me entende" (ROSA, 2001, p. 113).
  • 16. Questões  a) Pode-se dizer, respeitando as devidas diferenças entre as condições de produção de cada um dos textos representados pelos excertos acima, que cada um tem objetivos diferentes, entretanto há um que "parece" querer se distanciar do uso comum da língua. Qual é esse? Como o faz? E por quais possíveis motivos?  b) Ao ficar claro que a norma padrão é uma abstração, a norma culta passa a ser encarada como variedades de prestígio no uso da língua. Qual dos excertos pode ser considerado como pertencente à norma culta? Justifique sua resposta com elementos do recorte. Escolha um excerto e lhe transcreva para a norma culta da língua.
  • 17.  c) No interior da língua, existem variedades de maior e menor prestígio social, tal construção simbólica está vinculada aos valores econômico, midiático, cultural, e educacional atribuídos aos seus falantes. Em quais fragmentos pode-se verificar o uso de variedade de menor prestígio da língua? Quais seriam os traços que marcam essa variedade na escrita? Há nesses traços vestígios de oralidade?  d) Quais sãos os efeitos que pode causar um texto escrito numa variedade de menor prestígio da norma culta? Esses estão condicionados ao contexto de produção do texto? Explique.
  • 18. Referências  ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.  ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem caráter. Barueri, SP: Ciranda Cultural, 2016.  BAGNO, M. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.  _________ . A língua de Eulália: novela sociolinguística. 10ª ed. São Paulo: Contexto, 2001.  BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2006 (v.1).  DRUMMOND, A. C. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.  GERALDI, J. W. (org). O texto na sala de aula: leitura e produção. 2ª ed. Cascavel, PR, Assoeste, 1984.  POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1996.  ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. 19 ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.  http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/discursos/discursos-do- presidente-da republica/discurso-do-presidente-da-republica-michel-temer- durante-cerimonia-de-posse-dos-novos-ministros-de-estado-palacio-do-planalto acessado em 26/02/2017 às 10h34min.  http://humortadela.bol.uol.com.br/charges/33888.