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Fernando Pessoa:
poemas fundamentais
Ortônimo e heterônimos
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Poema em linha reta, do heterônimo Álvaro de Campos
• Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
• E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das
etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, (...)
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Lisbon revisited, do heterônimo Álvaro de Campos
• Não: não quero nada
Já disse que não quero nada.
• Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
• Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
• Que mal fiz eu aos deuses todos?
• Se têm a verdade, guardem-na!
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Autopsicografia, de Fernando Pessoa
• O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
• E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
• E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Tabacaria, do heterônimo Álvaro de Campos
• Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Isto, de Fernando Pessoa
• Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
• Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
• Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Ode triunfal, do heterônimo Álvaro de Campos
• Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
• Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Presságio, de Fernando
Pessoa
• O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Aniversário, do heterônimo Álvaro de Campos
• No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião
qualquer.
• No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• O guardador de rebanhos, do heterônimo Alberto Caeiro
• Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Não sei quantas almas tenho,
de Fernando Pessoa
• Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Mar português, de Fernando Pessoa
• Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
•
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor,
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
Ortônimo e heterônimos
• Poema Todas as cartas de amor são
ridículas de Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa)
• Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
• Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
• As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
• Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
• Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
• A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
• (Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Modernismo português
Florbela Espanca
• A poetisa Florbela Espanca (1894-1930) é dos
maiores nomes da literatura portuguesa.
• Com poemas relacionados as mais variadas
temáticas, Florbela passeou na forma fixa e livre
e compôs versos de amor, de elogio, de
desespero, experimentando cantar os mais
diversos sentimentos.
Modernismo português
Florbela Espanca
Modernismo português
Florbela Espanca
• Fanatismo
• Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...“
• https://www.youtube.com/watch?v=3kKbsBBFJl8
Modernismo português
Florbela Espanca
• Eu
• Eu sou a que no mundo anda
perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e
forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre
incompreendida!...
• Sou aquela que passa e ninguém
vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por
quê ...
• Sou talvez a visão que Alguém
sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me
ver
E que nunca na vida me encontrou!
Modernismo português
Florbela Espanca
• Subi ao alto, à minha Torre
esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.
• Contei-lhes os meus sonhos, a
alegria
Dos versos que são meus, do meu
sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: “Que
fantasia,
• Criança doida e crente! Nós
também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!...”
• Calaram-se os poetas,
tristemente...
E é desde então que eu choro
amargamente
Na minha Torre esguia junto ao
Céu!...
Modernismo português
Florbela Espanca
• Vaidade
• Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
• Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
• Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!
• E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...
Recordando: Futurismo: o que foi e
principais obras
• O Futurismo foi um movimento artístico e literário
que surgiu no começo do século XX, representando
uma das vanguardas europeias que visavam quebrar
tradições e explorar outros modos de criação.
• No dia 20 de fevereiro de 1909, o poeta italiano
Filippo Marinetti publicou o Manifesto Futurista no
jornal francês Le Figaro, marcando o começo oficial
do movimento.
Recordando: Futurismo: o que foi e
principais obras
Recordando: Futurismo: o que foi e
principais obras
• Influenciado pelos tempos modernos e suas
transformações, o escritor rejeitava o passado
e exaltava as novas tecnologias, elogiando aspectos
como a sua energia e velocidade.
• Iconoclasta, Marinetti foi mais longe e se atreveu a
declarar que um simples carro poderia ser
esteticamente superior a uma das estátuas mais
famosas da Antiguidade Clássica:
• Iconoclasta – aquele que destrói imagens
Recordando: Futurismo: o que foi e
principais obras
• Nós afirmamos que a magnificência do mundo
enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da
velocidade. Um automóvel de corrida com seu
cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a
serpentes de hálito explosivo... um automóvel
rugidor, que correr sobre a metralha, é mais
bonito que a Vitória de Samotrácia.
• A Vitória de Samotrácia, também conhecida como Nice de Samotrácia, é uma escultura que representa a
deusa grega Nice.
Recordando: Futurismo: o que foi e
principais obras
• Características do Futurismo
• Valorização da tecnologia e das máquinas;
• Valorização da velocidade e do dinamismo;
• Representação da vida urbana e contemporânea;
• Rejeição do passado e do conservadorismo;
• Ruptura com as tradições e modelos artísticos;
• Busca daquilo que representa e simboliza o futuro;
• Temáticas como a violência, a guerra e a militarização;
• Aproximação entre a arte e o design;
• Posicionamentos de ideologia fascista;
Recordando: Futurismo: o que foi e
principais obras
• Na literatura, os futuristas se destacaram
pelo uso da tipografia, valorizando a
propaganda enquanto veículo de
comunicação. Nas obras, escritas em
linguagem vernácula, tipicamente nacional,
se destaca o uso de onomatopeias. A poesia
da época se caracteriza pelo verso livre, as
exclamações e a fragmentação das frases.
• linguagem vernácula - Diz-se da linguagem desprovida de estrangeirismos, que se apresenta com vocabulário e/ou construções
sintáticas originais e corretas; castiço, polido, purista.
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Retrato dos futuristas italianos (Luigi Russolo, Carlo Carrà, Filippo Marinetti, Umberto Boccioni e Gino Severini) em 1912.

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Fernando pessoa poemas fundamentais

  • 2. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Poema em linha reta, do heterônimo Álvaro de Campos • Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. • E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, (...) Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
  • 3. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Lisbon revisited, do heterônimo Álvaro de Campos • Não: não quero nada Já disse que não quero nada. • Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. • Não me tragam estéticas! Não me falem em moral! Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — Das ciências, das artes, da civilização moderna! • Que mal fiz eu aos deuses todos? • Se têm a verdade, guardem-na!
  • 4. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Autopsicografia, de Fernando Pessoa • O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. • E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. • E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.
  • 5. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Tabacaria, do heterônimo Álvaro de Campos • Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
  • 6. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Isto, de Fernando Pessoa • Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. • Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. • Por isso escrevo em meio Do que não está de pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê!
  • 7. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Ode triunfal, do heterônimo Álvaro de Campos • Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! • Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento A todos os perfumes de óleos e calores e carvões Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
  • 8. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Presságio, de Fernando Pessoa • O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer... Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar...
  • 9. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Aniversário, do heterônimo Álvaro de Campos • No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. • No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
  • 10. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • O guardador de rebanhos, do heterônimo Alberto Caeiro • Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pôr de sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela.
  • 11. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Não sei quantas almas tenho, de Fernando Pessoa • Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem, Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: «Fui eu?» Deus sabe, porque o escreveu.
  • 12. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Mar português, de Fernando Pessoa • Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! • Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor, Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.
  • 13. Fernando Pessoa Ortônimo e heterônimos • Poema Todas as cartas de amor são ridículas de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) • Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. • Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. • As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. • Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas. • Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. • A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. • (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)
  • 14. Modernismo português Florbela Espanca • A poetisa Florbela Espanca (1894-1930) é dos maiores nomes da literatura portuguesa. • Com poemas relacionados as mais variadas temáticas, Florbela passeou na forma fixa e livre e compôs versos de amor, de elogio, de desespero, experimentando cantar os mais diversos sentimentos.
  • 16. Modernismo português Florbela Espanca • Fanatismo • Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver! Não és sequer a razão do meu viver, Pois que tu és já toda a minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida... Passo no mundo, meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida! "Tudo no mundo é frágil, tudo passa..." Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros: "Ah! Podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...“ • https://www.youtube.com/watch?v=3kKbsBBFJl8
  • 17. Modernismo português Florbela Espanca • Eu • Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa ténue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... • Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê ... • Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou!
  • 18. Modernismo português Florbela Espanca • Subi ao alto, à minha Torre esguia, Feita de fumo, névoas e luar, E pus-me, comovida, a conversar Com os poetas mortos, todo o dia. • Contei-lhes os meus sonhos, a alegria Dos versos que são meus, do meu sonhar, E todos os poetas, a chorar, Responderam-me então: “Que fantasia, • Criança doida e crente! Nós também Tivemos ilusões, como ninguém, E tudo nos fugiu, tudo morreu!...” • Calaram-se os poetas, tristemente... E é desde então que eu choro amargamente Na minha Torre esguia junto ao Céu!...
  • 19. Modernismo português Florbela Espanca • Vaidade • Sonho que sou a Poetisa eleita, Aquela que diz tudo e tudo sabe, Que tem a inspiração pura e perfeita, Que reúne num verso a imensidade! • Sonho que um verso meu tem claridade Para encher todo o mundo! E que deleita Mesmo aqueles que morrem de saudade! Mesmo os de alma profunda e insatisfeita! • Sonho que sou Alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a terra anda curvada! • E quando mais no céu eu vou sonhando, E quando mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho... E não sou nada!...
  • 20. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • O Futurismo foi um movimento artístico e literário que surgiu no começo do século XX, representando uma das vanguardas europeias que visavam quebrar tradições e explorar outros modos de criação. • No dia 20 de fevereiro de 1909, o poeta italiano Filippo Marinetti publicou o Manifesto Futurista no jornal francês Le Figaro, marcando o começo oficial do movimento.
  • 21. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras
  • 22. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Influenciado pelos tempos modernos e suas transformações, o escritor rejeitava o passado e exaltava as novas tecnologias, elogiando aspectos como a sua energia e velocidade. • Iconoclasta, Marinetti foi mais longe e se atreveu a declarar que um simples carro poderia ser esteticamente superior a uma das estátuas mais famosas da Antiguidade Clássica: • Iconoclasta – aquele que destrói imagens
  • 23. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia. • A Vitória de Samotrácia, também conhecida como Nice de Samotrácia, é uma escultura que representa a deusa grega Nice.
  • 24. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Características do Futurismo • Valorização da tecnologia e das máquinas; • Valorização da velocidade e do dinamismo; • Representação da vida urbana e contemporânea; • Rejeição do passado e do conservadorismo; • Ruptura com as tradições e modelos artísticos; • Busca daquilo que representa e simboliza o futuro; • Temáticas como a violência, a guerra e a militarização; • Aproximação entre a arte e o design; • Posicionamentos de ideologia fascista;
  • 25. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Na literatura, os futuristas se destacaram pelo uso da tipografia, valorizando a propaganda enquanto veículo de comunicação. Nas obras, escritas em linguagem vernácula, tipicamente nacional, se destaca o uso de onomatopeias. A poesia da época se caracteriza pelo verso livre, as exclamações e a fragmentação das frases. • linguagem vernácula - Diz-se da linguagem desprovida de estrangeirismos, que se apresenta com vocabulário e/ou construções sintáticas originais e corretas; castiço, polido, purista.
  • 26. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Arte visuais: principais obras futuristas • O Dinamismo de um Automóvel
  • 27. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Dinamismo de Um Cão na Coleira
  • 28. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Hieróglifo dinâmico do Bal Tabarin
  • 29. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Cavaleiro Vermelho
  • 30. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras • Formas Únicas de Continuidade no Espaço
  • 31. Recordando: Futurismo: o que foi e principais obras Retrato dos futuristas italianos (Luigi Russolo, Carlo Carrà, Filippo Marinetti, Umberto Boccioni e Gino Severini) em 1912.