Geodiversidade brasil
Geodiversidade brasil
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Conhecer o passado,
para entender o presente e prever o futuro
Geodiversidade brasil
EDITOR
Cassio Roberto da Silva
Geólogo, MSc,
Departamento de Gestão Territorial
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
Rio de Janeiro, Brasil
2008
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Conhecer o passado,
para entender o presente e prever o futuro
REVISORES
Cassio Roberto da Silva
Marcelo Eduardo Dantas
Regina Célia Gimenez Armesto
Sabino Loguercio
Paulo César de Azevedo Branco
PROJETO GRÁFICO / EDITORAÇÃO
CPRM/SGB – DEPAT / DIEDIG
Agmar Alves Lopes
Andréia Amado Continentino
José Luiz Coelho
Laura Maria Rigoni Dias
Pedro da Silva
Valter Alvarenga Barradas
Adriano Lopes Mendes (estagiário)
Juliana Colussi (estagiária)
REVISORA LINGÜÍSTICA
Sueli Cardoso de Araújo
Este produto pode ser encontrado em www.cprm.gov.br e seus@rj.cprm.gov.br
Silva, Cassio Roberto da.
Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o
presente e prever o futuro / editor: Cassio Roberto da Silva.
Rio de Janeiro: CPRM, 2008.
264 p.: il.: 28 cm.
1.Geodiversidade – Brasil. 2.Meio ambiente – Brasil.
3.Planejamento territorial – Brasil. 4.Geologia ambiental – Brasil.
I.Título.
CDD 551.0981
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA
MINISTRO DE ESTADO
Edison Lobão
SECRETÁRIO EXECUTIVO
Márcio Pereira Zimmermann
SECRETÁRIO DE GEOLOGIA,
MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL
Cláudio Scliar
COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS /
SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL (CPRM/SGB)
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor-Presidente
Agamenon Sergio Lucas Dantas
Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial
José Ribeiro Mendes
Diretor de Geologia e Recursos Minerais
Manoel Barretto da Rocha Neto
Diretor de Relações Institucionais e Desenvolvimento
Fernando Pereira de Carvalho
Diretor de Administração e Finanças
Eduardo Santa Helena da Silva
APRESENTAÇÃO O Ministério de Minas e Energia (MME), por intermédio da Secretaria de
Geologia, Mineração e Transformação Mineral, tem a satisfação de entregar à
sociedade brasileira o livro GEODIVERSIDADE DO BRASIL: Conhecer o Passado,
para Entender o Presente e Prever o Futuro. Com a elaboração desta cole-
tânea, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Bra-
sil (CPRM/SGB) objetiva oferecer aos diversos segmentos da sociedade uma tra-
dução do conhecimento geológico-científico, com vistas à sua aplicação ao uso
adequado do território.
Mais do que um lançamento, este produto representa passo fundamental
no esforço para a consolidação definitiva, tanto internamente, quanto no seio
da sociedade, do conceito de geodiversidade, que veio para estabelecer protoco-
lo facilitador de comunicação com os vários setores de governo, mediante abor-
dagem integrada do meio físico terrestre, considerando-se aspectos dos recursos
existentes, como uma contribuição a ser levada em conta no planejamento do
ordenamento territorial sustentável.
Em termos de topologia das informações e comunicação, buscou-se utilizar uma lin-
guagem ao mesmo tempo precisa (porém sem se aprofundar em demasia nos conceitos
técnico-científicos) e de compreensão universal, entendendo-se que o público-alvo a que
esta obra se destina é muito variado. Em suma, o objetivo é popularizar a geodiversidade,
mostrando suas múltiplas aplicações em vários setores sociais, ambientais e econômicos.
As abordagens, nos 14 capítulos subseqüentes, vão desde a origem e a evolução do
planeta Terra até os dias atuais, juntamente com a evolução, aparecimento e extinção de
espécies ao longo do tempo geológico, utilizando-se os estudos paleontológicos. Atenção
especial é dada à água, substância vital para a vida, e às imensas riquezas minerais, tanto no
continente, quanto no fundo marinho.
Mostra-se, também, a imensa fragilidade do meio físico, em relação às áreas costeiras,
as características e aplicações dos solos tropicais, o potencial do patrimônio geológico para
o geoturismo e a geoconservação. São apresentados, de forma sucinta, os riscos relativos
ao deslizamento de encostas, inundações, tremores de terra e desertificação (arenização), o
uso imprescindível da geodiversidade para entendermos melhor as mudanças climáticas
globais, empregando-se abordagem humanística e a aplicação desses conhecimentos em
várias áreas e setores produtivos.
No último capítulo, apresentam-se, de forma sintética, os grandes geossistemas for-
madores do território nacional, suas limitações e potencialidades, considerando-se a cons-
tituição litológica da supra e da infra-estrutura geológica. São abordadas, também, as ca-
racterísticas geotécnicas, as coberturas de solos, a migração, acumulação e disponibilidade
de recursos hídricos, as vulnerabilidades e capacidades de suportes à implantação das diver-
sas atividades antrópicas dependentes dos fatores geológicos e a disponibilidade de recur-
sos minerais essenciais para o desenvolvimento econômico-social do país. No final do livro é
apresentado em CD-ROM em 74 painéis, a história da origem e evolução do planeta Terra,
dos primórdios aos dias de hoje.
Temos certeza de que este livro será extremamente utilizado por todos que entendem
o conhecimento geológico para além de sua reconhecida dimensão econômica, isto é, em
suas dimensões social e ambiental, sejam eles estudantes, professores, profissionais das mais
diversas áreas, empresas e, muito especialmente, gestores públicos.
Por meio da geodiversidade, facilita-se, enormemente, a inserção da geologia nas polí-
ticas públicas governamentais como fator de melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Rio de Janeiro, dezembro de 2008
Agamenon Sergio Lucas Dantas
Diretor-Presidente
CPRM/Serviço Geológico do Brasil
PREFÁCIO Ao subtítulo do presente livro – Conhecer o Passado, para Entender o Presente
e Prever o Futuro –, poderíamos acrescentar: “... da Humanidade”, dada a importância
que o conhecimento da geodiversidade vem ganhando nas últimas décadas.
As intervenções inadequadas no meio físico têm acarretado sérios problemas, tanto
para a nossa qualidade de vida, como para o meio ambiente. Somos totalmente dependentes
das características geológicas dos ambientes naturais, ou seja, da geodiversidade, na medida
em que dela extraímos as matérias-primas vitais (minerais, água, alimentos etc.) para a
nossa sobrevivência e desenvolvimento social. É necessário, assim, conhecer e entender
todos os seus significados, já que, uma vez modificados, removidos ou destruídos, quase
sempre os aspectos da geodiversidade sofrerão mudanças irreversíveis.
Devido à íntima relação entre os componentes do meio físico – geodiversidade –, ao
fornecer suporte ao desenvolvimento dos componentes bióticos (biodiversidade), deve-se encarar de
maneira sistêmica as relações de estabilidade entre esses dois grandes componentes ambientais.
Nos últimos tempos, veio a se ter compreensão de que as relações mantidas entre o homem
(meio social) e a natureza, em seus aspectos culturais e econômicos, devem estar inseridas nas
análises ambientais.
Entende-se que, ao efetuarmos intervenções no território, devemos adotar uma visão a mais
abrangente possível, integrando a geodiversidade (meio físico), a biodiversidade, as questões sociais,
culturais e econômicas.
Essas preocupações ocorrem em nível mundial. Nesse sentido, a União Internacional de Ciências
Geológicas (International Union of Geological Science – IUGS), a qual congrega centenas de serviços
geológicos e milhares de profissionais das Ciências da Terra, juntamente com a UNESCO-ONU,
estabeleceu 2008 como o Ano Internacional do Planeta Terra (International Year Earth Planet). As
atividades de comemorações iniciaram em janeiro de 2007 e se estenderão até dezembro de 2009,
tendo como objetivo principal a contribuição das Ciências da Terra na busca do desenvolvimento
sustentável.
Assim, vislumbra-se que a geodiversidade terá um papel fundamental no mundo, ao atuar na
prevenção de desastres naturais, mudanças climáticas, qualidade alimentar e disponibilidade de água
potável (monitoramento geoquímico), fornecimento de energia tradicional e alternativa, bens minerais
a custos menores, constituindo-se, ainda, em instrumento indispensável para a definição e implantação
de políticas públicas para os governos federal, estaduais e municipais.
Rio de Janeiro, dezembro de 2008
José Ribeiro Mendes
Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial
CPRM/Serviço Geológico do Brasil
Geodiversidade brasil
1. COMEÇO DE TUDO ............................................................................ 11
Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica Barreto Ramos,
Augusto José Pedreira, Marcelo Eduardo Dantas
2. EVOLUÇÃO DA VIDA ......................................................................... 21
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho,
, Norma Maria da Costa Cruz
3. ORIGEM DAS PAISAGENS .................................................................. 33
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
4. ÁGUA É VIDA .................................................................................... 57
Frederico Cláudio Peixinho, Fernando A. C. Feitosa
5. RECURSOS MINERAIS DO MAR.......................................................... 65
Luiz Roberto Silva Martins, Kaiser Gonçalves de Souza
6. REGIÕES COSTEIRAS ......................................................................... 89
Ricardo de Lima Brandão
7. RIQUEZAS MINERAIS ......................................................................... 99
Vitório Orlandi Filho, Valter José Marques, Magda Chambriard, Kátia da Silva
Duarte, Glória M. dos S. Marins, Cintia Itokazu Coutinho, Luciene Ferreira
Pedrosa, Marianna Vieira Marques Vargas, Aramis J. Pereira Gomes, Paulo
Roberto Cruz
8. SOLOS TROPICAIS ........................................................................... 121
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
9. RISCOS GEOLÓGICOS...................................................................... 135
Pedro A. dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide Mansini Maia,
Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda
10. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL ................... 147
Marcos Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus,
Antonio Ivo de Menezes Medina
11. MUDANÇAS CLIMÁTICAS .............................................................. 163
Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo
12. ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE .................................. 175
Suely Serfaty-Marques
13. APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO
DA GEODIVERSIDADE.......................................................................... 181
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas,
Edgar Shinzato
14. GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES
AO USO E OCUPAÇÃO ......................................................................... 203
Antonio Theodorovicz, Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
ANEXO – DE VOLTA PARA O FUTURO:
UMA VIAGEM PELO TEMPO GEOLÓGICO (CD-ROM) ........................... 263
Sergio Kleinfelder Rodriguez
SUMÁRIO
Geodiversidade brasil
11
COMEÇO DE TUDO
Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas
1
COMEÇO DE TUDO
Cassio Roberto da Silva (cassio@rj.cprm.gov.br)
Maria Angélica Barreto Ramos (mabr@sa.cprm.gov.br)
Augusto José Pedreira (pedreira@sa.cprm.gov.br)
Marcelo Eduardo Dantas (mdantas@rj.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Geodiversidade e Origem da Terra ............................................. 12
Meio Ambiente ........................................................................... 14
Origem, Processos e Evolução da Geodiversidade
no Território Brasileiro ................................................................ 15
Bibliografia ................................................................................. 19
12
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
GEODIVERSIDADE E ORIGEM DA TERRA
O conceito de geodiversidade é relativamente novo.
Sua utilização se inicia a partir dos anos de 1990, consoli-
dando-se ao longo dos últimos anos dessa década. Na lite-
raturainternacional,ageodiversidadetemsidoaplicadacom
maior ênfase aos estudos de geoconservação. Nesse senti-
do, destacam-se os estudos destinados à preservação do
patrimônio natural, tais como monumentos geológicos,
paisagens naturais, sítios paleontológicos etc.
Eberhard(1997)introduzoconceitodegeodiversidade
comesseviés,definindo-ocomo“adiversidadenaturalentre
aspectos geológicos, do relevo e dos solos”. Cada cenário
da diversidade natural (ou paisagem natural) estaria em
constante dinâmica por meio da atuação de processos de
natureza geológica, biológica, hidrológica e atmosférica.
Gray (2004) concebe uma definição bastante similar; toda-
via, estende sua aplicação aos estudos de planejamento
territorial,aindaquecomênfasedestinadaàgeoconservação.
Stanley (2001) já apresenta uma concepção mais
ampla para o termo “geodiversidade”, em que as paisa-
gens naturais, entendidas como a variedade de ambientes
e processos geológicos, estariam relacionadas a seu povo
e a sua cultura. Desse modo, o autor estabelece uma
interação entre a diversidade natural dos terrenos (com-
preendida como uma combinação de rochas, minerais,
relevo e solos) e a sociedade, em uma aproximação com
o clássico conceito lablacheano de “gênero de vida”.
No Brasil, o conceito de geodiversidade é desenvolvi-
do praticamente de forma simultânea a outros países,
porém, ressaltando-se, aqui, um caráter mais aplicado ao
planejamento territorial, ainda que os estudos voltados
para a geoconservação não sejam desconsiderados. Xavier
da Silva e Carvalho Filho (2001) definem geodiversidade a
partir da “variabilidade das características ambientais de
uma determinada área geográfica”, cabendo ao pesquisa-
dor, com base em um estudo sistemático de enorme mas-
sa de dados ambientais disponíveis em base de dados
georreferenciada, a seleção das variáveis que melhor de-
terminam a geodiversidade em cada local.
Veiga (1999), por sua vez, enfatiza o estudo das águas
superficiais e subterrâneas nos estudos de geodiversidade.
Para o autor, a geodiversidade “expressa as particularida-
des do meio físico, compreendendo as rochas, o relevo, o
clima, os solos e as águas, subterrâneas e superficiais, e
condiciona a morfologia da paisagem e a diversidade bio-
lógica e cultural”. O estudo da geodiversidade é, em sua
opinião,umaferramentaimprescindíveldegestãoambiental
e norteador das atividades econômicas.
Com base nessas proposições, a CPRM (2006) define
geodiversidade como:
“O estudo da natureza abiótica (meio físico) consti-
tuída por uma variedade de ambientes, composição, fe-
nômenos e processos geológicos que dão origem às pai-
sagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e
outros depósitos superficiais que propiciam o desenvol-
vimento da vida na Terra, tendo como valores intrínse-
cos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o
educativo e o turístico.“
A biodiversidade está assentada sobre a geodiversida-
de e, por conseguinte, é dependente direta desta, pois as
rochas, quando intemperizadas, juntamente com o relevo
e clima, contribuem para a formação dos solos, disponi-
bilizando, assim, nutrientes e micronutrientes, os quais
são absorvidos pelas plantas, sustentando e desenvolven-
do a vida no planeta Terra.
Em síntese, pode-se considerar que o conceito de
geodiversidade abrange a porção abiótica do geossistema
(o qual é constituído pelo tripé que envolve a análise inte-
grada de fatores abióticos, bióticos e antrópicos). Esse
reducionismo permite, entretanto, ressaltar os fenômenos
geológicos em estudos integrados de gestão ambiental e
planejamento territorial.
A Terra é um sistema vivo que abriga milhões de orga-
nismos, incluindo os humanos, e apresenta delicado equilí-
brio para manter a vida. Como a geologia é a ciência que
estuda a Terra – origem, composição, evolução e funciona-
mento–,oconhecimentodaíadvindopoderácontribuirpara
desenvolver e preservar os habitats que o planeta abriga.
A origem do universo, assim como a do planeta Terra,
remonta a bilhões de anos. Atualmente, segundo Press et
al. (2006), a explicação científica mais aceita é a teoria da
GrandeExplosão(“BigBang”),aqualconsideraqueouniver-
so começou entre 13 e 14 bilhões de anos atrás, a partir de
uma “explosão” cósmica. Os astrônomos entendem que, a
partir desse evento, o universo expandiu-se e dividiu-se para
formar as galáxias e as estrelas. Os geólogos ainda analisam
os últimos 4,5 bilhões de anos dessa vasta expansão, um
tempo durante o qual nosso sistema solar, estrela que nós
chamamos de Sol, e os planetas que em torno dela orbitam,
formaram-se e evoluíram. Os geólogos estudam a origem
do sistema solar para entender a formação da Terra.
Embora a Terra tenha se esfriado após um período in-
candescente, ela continua um planeta inquieto, mudando
continuamente por meio das atividades geológicas, tais
como terremotos, vulcões e glaciações. Essas atividades são
governadas por dois mecanismos térmicos: um interno e
outro externo. Mecanismos como, por exemplo, o motor a
gasolina de um automóvel, que transforma calor em movi-
mento mecânico ou trabalho. O mecanismo interno da Ter-
ra é governado pela energia térmica aprisionada durante a
origem cataclísmica do planeta e gerada pela radioativida-
de em seus níveis mais profundos. O calor interior controla
os movimentos no manto e no núcleo, suprindo energia
para fundir rochas, mover continentes e soerguer monta-
nhas. O mecanismo externo da Terra é controlado pela ener-
gia solar (calor da superfície terrestre proveniente do Sol). O
calor do Sol energiza a atmosfera e os oceanos, sendo res-
ponsável pelo clima e condições meteorológicas. Chuva,
vento e gelo erodem montanhas e modelam a paisagem,
sendo que esse relevo da superfície da Terra é capaz de
provocar mudanças climáticas (Figura 1.1).
13
COMEÇO DE TUDO
Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas
A TERRA É UM SISTEMA ABERTO QUE TROCA ENERGIA E MASSA COM O SEU ENTORNO
O SISTEMA TERRA É CONSTITUÍDO POR TODAS AS PARTES DE NOSSO PLANETA E SUAS INTERAÇÕES
Figura 1.1 ––––– Principais componentes e subsistemas do sistema Terrra. As interações entre os componentes são governadas pelas energias do
Sol e do interior do planeta e organizadas em três geossistemas globais: os sistemas do clima, das placas tectônicas e do geodínamo
(modificado de Press et al., 2006).
14
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Todas as partes do planeta e suas interações constitu-
em o Sistema Terra. Embora os cientistas que estudam a
Terra (ou geocientistas) pensassem, já há algum tempo, em
termos de sistemas naturais, foi apenas nas últimas déca-
das do século XX que eles passaram a dispor de equipa-
mentos adequados para investigar como o Sistema Terra
realmente funciona. Dentre os principais avanços, estão as
redes de instrumentos e satélites orbitais de coleta de infor-
mações em escala global e o uso de computadores com
capacidade suficiente para calcular a massa e a energia
transferidas dentro do Sistema Terra (PRESS et al., 2006).
Os principais componentes do Sistema Terra são: (i)
internos (energizados pelo calor interno da Terra): litosfera,
astenosfera, manto inferior, núcleo externo e núcleo inter-
no; (ii) externos (energizados pela energia solar): atmosfe-
ra, hidrosfera e biosfera.
Embora pensemos a Terra como sendo um único sis-
tema, é um desafio estudá-la por inteiro, de uma só vez.
Ao invés disso, se focarmos nossa atenção em partes do
sistema, estaremos avançando em seu entendimento. Por
exemplo, nas discussões sobre mudanças climáticas re-
centes, consideram-se primeiramente as interações entre
atmosfera, hidrosfera e biosfera, as quais são controladas
pela energia solar. A abordagem sobre a formação dos
continentes focaliza as interações entre a crosta e as por-
ções mais profundas do manto, que são controladas pela
energia interna da Terra.
Os subsistemas específicos que encerram elementos
característicos da dinâmica terrestre são denominados
geossistemas (PRESS et al., 2006). O Sistema Terra pode
ser pensado como uma coleção desses geossistemas aber-
tos e interativos (que, freqüentemente, se sobrepõem).
Os geossistemas que operam em escala global são: clima,
placas tectônicas e geodínamo (esse último é responsável
pelo campo magnético terrestre) (Figura 1.1).
A Terra é quimicamente zoneada: sua crosta, manto
e núcleo são camadas quimicamente distintas que se se-
gregaram desde a origem do planeta. A Terra é também
zoneada pela reologia (dobra, falha, fratura, cisalhamento),
ou seja, pelos diferentes comportamentos dos materiais
ao resistir à deformação. Por sua vez, a deformação dos
materiais depende de sua composição química (tijolos são
frágeis; barras de sabão, dúcteis) e da temperatura (cera
fria é frágil; cera quente, dúctil). De certa forma, a parte
externa da Terra sólida comporta-se como uma bola de
cera quente. O resfriamento da superfície torna frágil a
casca mais externa ou litosfera (do grego lithos ou ‘pe-
dra’), a qual envolve uma quente e dúctil astenosfera (do
grego asthéneia ou ‘falta de vigor’). A litosfera inclui a
crosta terrestre e o topo do manto até uma profundidade
média de cerca de 100 km. Quando submetida a uma
força (compressão), a litosfera tende a se comportar como
uma casca rígida e frágil, enquanto a astesnofera sotoposta
flui como um sólido moldável ou dúctil (PRESS et al., 2006).
A figura 1.2 apresenta, de forma estilizada, o “motor”
interno do planeta Terra.
De acordo com a notável teoria da tectônica de pla-
cas, a litosfera não é uma casca contínua; ela é composta
por 12 grandes “placas” que se movem sobre a superfície
terrestre a taxas de alguns centímetros por ano. O movi-
mento das placas é a manifestação superficial da convecção
do manto. Controlado pelo calor interno da Terra, o mate-
rial quente do manto sobe onde as placas se separam,
começando, assim, a endurecer a litosfera. À medida que
se move para longe desse limite divergente, a litosfera
esfria e se torna mais rígida. Porém, ela pode, eventual-
mente, afundar na astenosfera e arrastar material de volta
para o manto, nos bordos onde as placas convergem, em
um processo contínuo de criação e destruição.
MEIO AMBIENTE
Segundo Press et al. (2006), o habitat humano é uma
delgada interface entre a Terra e o céu, onde grandes forças
interagemparamoldarafacedoplaneta.Asforçastectônicas
que atuam no interior da litosfera, controladas pelo calor
interno das profundezas, geram terremotos, erupções vul-
cânicas e o soerguimento de montanhas. As forças
meteorológicas dentro da atmosfera e da hidrosfera, con-
troladas pelo calor do Sol, produzem tempestades, inunda-
ções, geleiras e outros agentes de erosão. As interações
entre os geossistemas globais da tectônica de placas e do
clima mantêm um equilibrado ambiente na superfície ter-
restre, onde a sociedade humana pode prosperar e crescer.
Na verdade, nossos números e atividades estão se
multiplicando a taxas fenomenais. De 1930 a 2000, a
população mundial cresceu 300% ––––– de dois para seis bi-
lhões de habitantes. Nos próximos 30 anos, estima-se que
esse total exceda a oito bilhões. Entretanto, a energia total
utilizada aumentou em 1.000% durante os últimos 70
anos e está, agora, subindo duas vezes mais rápido que a
taxa de crescimento da população.
Ao longo de sua história, o homem tem modificado
o meio ambiente por meio de desmatamento, agricultura
e outros tipos de uso do solo. Entretanto, os efeitos des-
sas transformações nos tempos antigos eram, comumente,
restritos ao habitat local ou regional. Hoje, a sociedade
afeta o meio ambiente em uma escala inteiramente nova:
tais atividades acarretam conseqüências globais. A mag-
nitude das atuais atividades humanas em relação aos sis-
temas das placas tectônicas e do clima, que governam a
superfície terrestre, é ilustrada por alguns dados estatísti-
cos, segundo Press et al. (2006):
• Os reservatórios construídos pelo homem retêm cer-
ca de 30% dos sedimentos transportados pelos rios.
• Na maioria dos países desenvolvidos, obras de enge-
nharia civil removem maior volume de solos e rocha a
cada ano do que todos os processos naturais de erosão
combinados.
• Nos 50 anos após a invenção da refrigeração com
gás fréon, clorofluorcarbonetos fabricados pelo homem
vazaram de refrigeradores e de aparelhos condicionadores
15
COMEÇO DE TUDO
Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas
de ar para a estratosfera, em quantidade suficiente para
danificar a camada de ozônio que protege a superfície
terrestre.
• Desde o advento da Revolução Industrial, o desmata-
mento e a queima de combustíveis fósseis aumentaram a
quantidade de dióxido de carbono na atmosfera em mais
de 30%. O dióxido de carbono atmosférico está aumen-
tando a uma taxa sem precedentes – 4% por década – e,
provavelmente, causará expressivo aquecimento global em
futuro próximo.
Tais questões são relevantes e os geocientistas po-
dem contribuir significativamente com informações da
geodiversidade (meio físico) para que políticos,
planejadores e gestores do território tomem decisões acer-
tadas quanto ao uso adequado dos espaços geográficos.
ORIGEM, PROCESSOS E EVOLUÇÃO DA
GEODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO
BRASILEIRO
O Brasil apresenta, em seu território, um dos mais
completos registros da evolução geológica do planeta Ter-
ra, com expressivos testemunhos geológicos das primei-
ras rochas preservadas, do Arqueano Inferior, datando de
mais de 3.0 bilhões de anos e, de forma quase ininterrupta,
até os dias atuais.
Para descrever, mesmo de forma sucin-
ta, os compartimentos geológicos que com-
põem o território brasileiro, é necessário in-
formar que, a partir dos paleocontinentes
arqueanos (núcleos granito-greenstones), ao
longo do Paleoproterozóico (2.300-1.800
M.a.) ocorreram diversas colagens nas mar-
gens ativas, isto é, margens de um continen-
te onde o oceano é consumido e os blocos
continentais vão se acrescionando ao conti-
nente (Figura 1.3).
Enquanto isso, no interior das placas, a
culminância do processo de acresção teve
como resultado o megacontinente Atlântica,
sobre o qual se depositaram extensas cober-
turas sedimentares, sendo exemplos os gru-
pos Roraima e Espinhaço, além de coberturas
vulcanossedimentares do tipo continental (Fi-
gura 1.4).
Ao final desse período (1.800-1.600
M.a.), houve fragmentação desse grande blo-
co crustal. Ao longo do Mesoproterozóico
(1.600-1.000 M.a.), uma outra sucessão de
colisões levou à constituição de uma nova
grande massa continental denominada Rodí-
nia (Figura 1.5).
Entre 900 e 700 milhões de ano, uma
nova fragmentação de Rodínia levou à sepa-
ração de três grandes blocos: Gondwana Les-
te, Laurentia e Gondwana Oeste (englobando
o território brasileiro).
Durante o Neoproterozóico (1.000-545 M.a.), a
movimentação e a junção dos blocos Gondwana Leste e
Figura 1.4 ––––– Desenho esquemático mostrando a deposição de
rochas sedimentares e erupção de rochas vulcânicas sobre a placa
continental.
Figura 1.3 ––––– À esquerda, apresenta-se o oceano sendo consumido
entre dois blocos continentais A e B; à direita, observa-se a colagem
dos blocos A e B, após o consumo do oceano.
Figura 1.2 ––––– Exemplo estilizado do funcionamento interno do planeta Terra.
Fonte: Scientific American Brasil (2007).
16
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Oeste, entre 750-490 M.a., constituíram o
megacontinente Gondwana.
No Paleozóico, novas massas continen-
tais vieram a se somar a Gondwana. Ao final
desse período, formou-se o supercontinente
Pangéia (Figura 1.6). No interior dos conti-
nentes, os processos extensionais atuaram no
sentido de originar as regiões rebaixadas, per-
mitindo o desenvolvimento de extensas baci-
as deposicionais (sinéclises), a exemplo das
bacias do Parnaíba, Amazonas e Paraná.
A mesma geodinâmica que formou o
Pangéiaveioafragmentá-lo,processoquecon-
sumiuaproximadamente100milhõesdeanos,
no Jurássico e Cretáceo. De especial interesse
nesse processo foi a separação de Brasil e Áfri-
ca, com a abertura do oceano Atlântico, dan-
do origem a inúmeras bacias sedimentares costeiras, porta-
doras de petróleo, sais e outros recursos minerais.
Um importante avanço na compreensão da evolu-
ção dos continentes nos é dado pela teoria dos chama-
dos “Ciclos de Wilson”, segundo a qual os continentes
passam por ciclos de colisão e afastamento uns dos ou-
tros, obedecendo a uma periodicidade de apro-
ximadamente 500 milhões de anos. Dessa for-
ma, através de bilhões de anos de evolução
experimentados pelos continentes, existem re-
gistros de choques e afastamento de diversas
placas continentais pretéritas, que, aos pou-
cos, foram se soldando até constituírem o que
hoje conhecemos como América do Sul e os
demais continentes (Figura 1.7).
Somente é possível entender o arcabouço
geológico se tivermos em mente a teoria da
migração das placas tectônicas, segundo a qual
os continentes se movem sobre as camadas
mais internas da Terra, devido a movimentos
convectivos sob grandes temperaturas (Figura
1.8).
No que concerne à formação da geodiversidade do
território brasileiro, são destacadas três condições geo-
lógicas fundamentais: margens ativas, margens passi-
vas e ambiente intraplaca (Figura 1.9). Elas nos permi-
tem compreender a intrincada relação geométrico-es-
pacial das unidades geológicas que compõem o arca-
bouço geológico do território brasileiro que,
por conseguinte, forneceu o embasamen-
to teórico factual para a formulação dos
critérios para a subdivisão dos geossiste-
mas e das unidades geológico-ambientais
(mapa geodiversidade do Brasil, escala
1:2.500.000).
No que diz respeito aos ambientes em
que as rochas se formam, distinguem-se duas
situações extremas: (a) zona de colisão ou
zona orogênica, que cedo ou tarde vai cons-
tituir uma cadeia de montanhas; (b) parte
interna das placas, protegida do intenso me-
tamorfismo que ocorre nas faixas de colisão.
Naturalmente, entre as duas situações existem
situações intermediárias margeando os cintu-
rões metamórficos.
Figura 1.5 ––––– Supercontinente Rodínia, formado aproximadamente há 1,1 bilhão
de anos (Mesoproterozóico), começando a se fragmentar há, aproximadamente,
750 M.a. (modificado de Press et al., 2006).
Figura 1.6 ––––– Desenho esquemático do supercontinente Pangéia, já agregado, há
237 M.a., no Triássico Inferior, circundado pelo superoceano Pantalassa (do grego
‘todos os mares’) (modificado de Press et al., 2006).
Figura 1.7 ––––– Configuração atual dos continentes (modificado de Press et al.,
2006).
17
COMEÇO DE TUDO
Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas
Figura 1.8 ––––– Movimentação das placas tectônicas (modificado de
Teixeira et al., 2000).
Figura 1.9 –a/b::::: apresentam o perfil de um limite de placa
convergente mostrando as principais feições geológicas formadas e
as associações de rochas relacionadas; c: fragmentação de uma
massa continental e desenvolvimento de margens continentais
passivas (modificado de Teixeira et al., 2000).
No auge da evolução dos cinturões orogênicos, tere-
mos a formação, preferencialmente, das chamadas rochas
cristalinas, plutônicas e metamórficas; enquanto nas por-
ções intraplaca depositar-se-ão as coberturas sedimenta-
res, associadas a vulcanismo de grandes dimensões. Cabe
ainda salientar que, no lado oposto da zona colisional,
entre duas placas, forma-se, normalmente, uma margem
passiva, onde predomina a tectônica distensional, dando
origem à atual plataforma marinha brasileira, por exem-
plo.
Nos tempos atuais, América do Sul e África estão
se afastando a alguns centímetros por ano. Esse afasta-
mento contínuo, iniciado há cerca de 200 milhões de
anos, deu origem ao oceano Atlântico. No outro lado
do continente sul-americano, contudo, a partir do final
do Cretáceo, tem-se o choque da Placa de Nazca (ba-
sáltica), que afunda sobre a América do Sul, dando ori-
gem a duas grandes feições geológicas: a Cadeia Andi-
na, que se eleva a quase seis mil metros de altura, e um
intenso magmatismo plutonovulcânico, decorrente da
fusão de camadas internas da crosta, devido ao grande
calor gerado ao longo da zona de subducção da Placa
de Nazca (Figura 1.10).
Figura 1.10 ––––– Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra. Os números representam as velocidades em cm/ano
entre as placas; as setas, os sentidos do movimento (modificado de Teixeira et al., 2000).
18
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 1.11Figura 1.11Figura 1.11Figura 1.11Figura 1.11 ––––– Mapeamento batimétrico do relevo e estruturas do oceano Atlântico entre os continentes América do Sul e África.
A importância da orogênese andina para a evolução
geológica do território brasileiro é espetacular, constituin-
do-se na base da origem das bacias terciárias da porção
ocidental do país, pelas flutuações climáticas, e por fim,
por toda a evolução dos geossistemas. Na figura 1.11 é
mostrado o relevo do continente e do fundo oceânico
(cadeia mesooceânica) entre os continentes sul-america-
no e africano.
Na figura 1.12 é apresentada toda a extensão da geo-
diversidade brasileira, constítuída pela porção continental
emersa com área de 8.500.000 km² e a Plataforma Conti-
nental Jurídica com 4.500.000 km², totalizando o territó-
rio continental e marinho brasileiro a área de 13.000.000
km² (Souza et al., 2007).
Segundo Martins e Souza (2007), a Plataforma Con-
tinental Jurídica compreende o prolongamento submerso
de massa terrestre composta pelo seu leito, subsolo,
talude e elevação continental. Apesar de pouco estuda-
da, apresenta elevado potencial mineral, dentre os quais
destacamos: óleo e gás (já uma realidade); areia e cas-
calhos, utilizados na construção civil e reconstrução
praial; granulados bioclásticos, utilizados para correção
de solos na agricultura e para a indústria cimenteira;
depósitos de pláceres (cassiterita, ilmenita, ouro e dia-
mante); fosforitas (P2
O5
), utilizados como fertilizante
na agricultura; nódulos polimetálicos de níquel, cobalto,
cobre, fósforo, manganês, ferro e sulfetos polimetálicos
(chumbo, cobre, zinco, niquel, cobalto, titânio, ouro e
prata).
Além das questões de segurança nacional, depósitos
minerais e da riqueza da biodiversidade, o estudo da
geodiversidade dos fundos marinhos tem fornecido im-
portantes subsídios para consolidar a teoria da deriva dos
continentes, bem como para entender os processos geo-
lógicos que ocorreram nos últimos 200 milhões de anos e
as conseqüências atuais nos continentes.
19
COMEÇO DE TUDO
Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas
Figura 1.12 – Extensão territorial da geodiversidade brasileira constituída pela porção emersa, continente (colorida) e a marinha,
denominada Plataforma Continental Jurídica (preto e branco), delimitada pela linha azul.
BIBLIOGRAFIA
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vista de Geografia, Recife: DCG/UFPE, n. 1, p. 57-64, 2001.
20
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
CASSIO ROBERTO DA SILVA
Graduado em Geologia (1977) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestrado em Hidrogeologia
e Geologia Econômica (1995) pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, cursa o doutorado na área de
Geologia Médica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 1978, atuando (por 13 anos) na Superintendência Regional de
São Paulo (SUREG/SP) e na Residência de Porto Velho (5 anos). Há 12 anos no Escritório Rio de Janeiro, é responsável
pelo Departamento de Gestão Territorial (DEGET). Tem experiência profissional na execução e no gerenciamento de
projetos em Mapeamento Geológico, Prospecção Mineral e Geologia Ambiental, além de prestar consultoria internacional
em Mapeamento Geológico e Geologia Ambiental. Ministra palestras em várias entidades e eventos nacionais e
internacionais sobre Geologia Ambiental, Geodiversidade, Geologia Médica e Informações do Meio Físico para Gestão
Territorial. Editor do livro “Geologia Médica no Brasil”, co-autor do livro “Prospecção Mineral de Depósitos Metálicos,
Não-Metálicos, Óleo e Gás”. Autor de 44 trabalhos individuais e outros 20 como co-autor. Atuação no CREA,
Associações de Empregados e Profissional de Geólogos. Coordenador da Divisão da América do Sul da International
Medical Geology Association (IMGA). Distinção com os prêmios Qualidade CPRM (1993), CREA-RJ de Meio Ambiente
(2001) e Patrono da Turma de Formandos de Geologia de 2003 da UFRRJ.
MARCELO EDUARDO DANTAS
Graduado em Geografia (1992) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com os títulos de licenciado em
Geografia e Geógrafo. Mestre em Geomorfologia e Geoecologia (1995) pela UFRJ. Nesse período, integrou a equipe de
pesquisadores do Laboratório de Geo-Hidroecologia (GEOHECO/UFRJ), tendo atuado na investigação de temas como:
Controles Litoestruturais na Evolução do Relevo; Sedimentação Fluvial; Impacto das Atividades Humanas sobre as
Paisagens Naturais no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul. Em 1997, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), atuando como geomorfólogo até o presente. Desenvolveu atividades
profissionais em projetos na área de Geomorfologia, Diagnósticos Geoambientais e Mapeamentos da Geodiversidade,
em atuação integrada com a equipe de geólogos do Programa GATE/CPRM. Dentre os trabalhos mais relevantes,
destacam-se: Mapa Geomorfológico e Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro; Mapa Geomorfológico
do ZEE RIDE Brasília; Estudo Geomorfológico Aplicado à Recomposição Ambiental da Bacia Carbonífera de Criciúma;
Análise da Morfodinâmica Fluvial Aplicada ao Estudo de Implantação das UHEs de Santo Antônio e Jirau (Rio Madeira-
Rondônia). Atua, desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/UNISUAM. Atualmente, é coordenador
nacional de Geomorfologia do Projeto Geodiversidade do Brasil (CPRM/SGB). Membro efetivo da União da Geomorfologia
Brasileira (UGB) desde 2007.
MARIA ANGÉLICA BARRETO RAMOS
Geóloga formada (1989) pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre (1993) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Ingressou na CPRM/BA em 1994, onde atuou em Mapeamento Geológico no Projeto Aracaju ao Milionésimo. A partir
de 1999, na área de Gestão Territorial, participou dos projetos Acajutiba-Aporá-Rio Real e Porto Seguro-Santa Cruz
Cabrália, onde também passou a atuar na área de Geoprocessamento, integrando a equipe de coordenação do
Programa GIS do Brasil e do Banco de Dados GEOBANK. Atualmente, exerce a Coordenação Nacional de
Geoprocessamento do Projeto Geodiversidade do Brasil no Departamento de Gestão Territorial (DEGET).
AUGUSTO J. PEDREIRA DA SILVA
Graduado em Geologia (1996) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialização (1971) em Fotogeologia (CIAF,
Bogotá). Doutor (1994) em Geociências (área de concentração: Geotectônica), pela Universidade de São Paulo (USP).
Atuou em Mapeamento Geológico (CEPLAC, 1967-1969) e Geologia Econômica (TECMINAS, 1970). Geólogo da
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) desde 1972. Participou de
mapeamento geológico na Amazônia e Meio-Norte (Projeto RADAM), Bahia, outros estados e no exterior (Líbia, 1985).
Atualmente, é coordenador executivo do Departamento de Geologia (DEGEO), atuando na Divisão de Geologia Básica
(DIGEOB). Suas principais áreas de interesse são: Geologia Regional, Bacias Sedimentares (especialmente pré-cambrianas),
Sistemas Deposicionais e Tectônica.
21
EVOLUÇÃO DA VIDA
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz
2
EVOLUÇÃO DA VIDA
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho (marise.sardenberg@gmail.com)
Norma Maria da Costa Cruz (ncruz@rj.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Primeiros Seres Vivos................................................................... 22
Primeiros Seres Multicelulares..................................................... 22
Cambriano: Evolução dos Invertebrados Marinhos e Primeiros
Cordados .................................................................................... 22
Ordoviciano: Diversidade Marinha e Surgimento dos Agnatas .. 24
Siluriano: Conquista do Ambiente Terrestre ............................... 24
Devoniano: Primeiras Florestas e Idade dos Peixes...................... 24
Carbonífero: Idade dos Anfíbios e dos Depósitos de Carvão ..... 24
Permiano: Diversificação dos Répteis e Expansão das
Gimnospermas ............................................................................ 26
Triássico: Primeiros Dinossauros e Mamíferos ............................. 26
Jurássico: Apogeu dos Dinossauros e Primeiras Aves.................. 26
Cretáceo: Extinção de Dinossauros e Pterossauros, Surgimento
das Angiospermas e Presença de Mamíferos.............................. 27
Paleoceno: Diversificação e Irradiação dos Mamíferos e
Angiospermas ............................................................................. 28
Eoceno: Expansão das Aves e Angiospermas ............................. 28
Oligoceno: Primatas Antropóides ............................................... 28
Mioceno: Diversificação de Mamíferos e Angiospermas ............. 29
Plioceno: Formação de Savanas e Primeiros Hominídeos ............ 29
Pleistoceno: Extinção de Espécies e Surgimento do Homem ...... 29
Holoceno: Dispersão da Espécie Humana ................................... 30
Microfósseis ................................................................................ 30
Bibliografia ................................................................................. 31
22
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
PRIMEIROS SERES VIVOS
A Terra formou-se por volta de 4,5 bilhões de anos
antes do presente. Sua atmosfera primitiva sofreu transfor-
mações no decorrer do tempo geológico. Há 2,0 bi-
lhões de anos os mares tornaram-se oxigenados, com
exceção das partes profundas, e o oxigênio
começou a se acumular na atmosfera. As primeiras
formas de vida foram datadas em mais de 3,5 bi-
lhões de anos e se constituíam de organismos com
uma estrutura celular bem simples, sem um núcleo
organizado,denominadosprocariontes.Essasformas
mais antigas de vida foram encontradas em esteiras
microbianas e estromatólitos de 3,5 bilhões de anos
na Austrália. Alguns desses microorganismos
procariontes, semelhantes às cianobactérias, eram capa-
zes de formar longas esteiras ou bioconstruções com rele-
vo. No Brasil, estromatólitos são conhecidos desde o Pré-
Cambriano ao Fanerozóico, em unidades geológicas de ida-
des diferentes como os grupos Araras, Una, Macaúbas,
Bambuí, dentre outros, em geral associados a rochas
carbonáticas, nos estados da Bahia, Mato Grosso do Sul,
Goiás, São Paulo e Minas Gerais (Figura 2.1). Os fósseis, que constituem restos ou vestígios de ani-
mais e vegetais que viveram em épocas pretéritas e fica-
ram preservados nas rochas sedimentares, são estudados
pela Paleontologia. É através dessa ciência que são anali-
sados os registros fossilíferos que refletem as mudanças
da flora e da fauna, as extinções em massa e as mudanças
climáticas ocorridas ao longo do tempo geológico.
PRIMEIROS SERES MULTICELULARES
O surgimento de organismos com células eucariontes,
ou seja, com um núcleo delimitado, deu origem a formas
de vida mais complexas, como os organismos do reino
Protista e os multicelulares Animália, Fungi e Plantae
(Margulis e Schwartz, 2001). O surgimento desses últi-
mos seres data de 2,1 bilhões de anos, ainda no Arqueano.
Mas, há cerca de 600 M.a., próximo ao final do
Proterozóico, surgiram os primeiros animais com o corpo
mole e achatado, semelhantes a anelídeos e artrópodes.
Essa fauna, assinalada pela primeira vez na Austrália, é
conhecida como fauna de Ediacara, sendo registrada, pos-
teriormente, em outras partes do mundo, inclusive no
Brasil (Figura 2.4).
CAMBRIANO: EVOLUÇÃO DOS
INVERTEBRADOS MARINHOS E
PRIMEIROS CORDADOS
Comparado ao longo espaço de tempo do Arqueano
e do Proterozóico (3.600-542 M.a.), o Cambriano (542-
488 M.a.), primeiro período da era paleozóica, foi bas-
tante curto. A vida diversificou-se e permaneceu confi-
nada aos oceanos, onde houve a grande evolução de
invertebrados marinhos, como cnidários, braquiópodes,
Figura 2.1 ––––– Associação de estromatólitos colunares. Grupo Bambuí,
Proterozóico Superior, Bahia (modificado de Souza-Lima, 2001).
O período de tempo que vai desde a formação da
Terra até o surgimento dos primeiros seres vivos é deno-
minado Arqueano. Após esse tempo, milhares de espécies
de plantas e animais evoluíram, algumas delas prospera-
ram e tiveram uma ampla distribuição geológica, enquan-
to outras experimentaram curta duração e extinguiram-se.
A distribuição dos seres através do tempo geológico está
demonstrada na espiral da vida (Figura 2.2).
A idade da Terra foi subdividida em blocos de tempo,
baseados em grandes eventos no desenvolvimento da vida.
Divide-se em três grandes éons: Arqueano, Proterozóico e
Fanerozóico, este subdividido em três eras: Paleozóica,
Mesozóica e Cenozóica. Uma tabela do tempo geológico
apresenta os principais eventos que marcaram a evolução
(Figura 2.3).
Figura 2.2 ––––– Espiral da vida (modificado de Press et al., 2006).
23
EVOLUÇÃO DA VIDA
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz
Figura 2.3 ––––– Tabela do tempo geológico (modificado de Long, 1995).
moluscos, equinodermas e graptozoários (Figura 2.5). Um
grupo bem-sucedido foi o dos artrópodes; dentre estes,
os trilobitas, que tiveram ampla distribuição mundial. Duas
grandes conquistas aconteceram: o desenvolvimento de
carapaças e a origem dos cordados, animais com
notocorda, estrutura que, mais tarde, originou a coluna
vertebral. O início do Cambriano foi definido pelo apare-
cimento dos organismos com carapaças, possibilitando a
correlação de rochas com base no conteúdo fossilífero.
Figura 2.4 ––––– Corumbella werneri é o representante
da fauna de Ediacara no Brasil, tendo sido encontrado
em calcários do Grupo Corumbá (MS). Considerado
como um provável predador, apresentou ampla
distribuiçãogeográfica(disponívelem:
<http://www.unb.br/acs/bcopauta/geologia5.htm>;
acesso em: 28 ago. 2007).
Figura 2.5 ––––– A fauna do Burgess apresenta
artrópodes, como trilobitas e crustáceos, e outros
animais não incluídos em nenhum grupo
moderno. Apresenta também Pikaia (vista acima,
à esquerda), que apresenta as características dos
cordados: faixas musculares e notocorda ao
longo do corpo (modificado de Levinton, 1992).
Dessa época são assinaladas três faunas importantes: a
fauna Tomotiana, de distribuição mundial, com minúscu-
las formas de conchas e arqueociatas, não classificadas
em nenhum grupo moderno; a fauna de Chengjiang, na
China, com invertebrados, urocordados e cefalocordados;
e a mais conhecida, a do Folhelho Burgess, no Canadá,
com esponjas, braquiópodes, crustáceos, trilobitas e Pikaia
gracilens, um cefalocordado. O final do Cambriano é
marcado por uma grande extinção em massa.
24
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
ORDOVICIANO: DIVERSIDADE MARINHA
E SURGIMENTO DOS AGNATAS
No Ordoviciano (488-443,7 M.a.), havia um clima
com temperaturas mais amenas. Nos mares quentes, sur-
giram vários invertebrados que se desenvolveram e se di-
ferenciaram, aumentando a complexidade de suas carapa-
ças. Os mais comuns foram braquiópodes, crinóides e
briozoários, que construíram os primeiros recifes. Apare-
ceram os moluscos biválvios e os nautilóides, esses últi-
mos parentes dos modernos polvos e lulas (Figura 2.6).
Surgiram também os primeiros peixes, os agnatas,
que possuíam ainda notocorda, mas não apresentavam
maxilas. Tinham uma armadura óssea no corpo, rece-
bendo por isso a denominação de “ostracodermas”. São
os craniados mais primitivos e seus representantes atuais
são as lampreias e feiticeiras. Eram geralmente bentônicos
e a impossibilidade de triturar alimentos foi o maior fator
contra seu desenvolvimento (Figura 2.7).
Figura 2.7 – Agnata: peixes sem maxilas
(disponível em :<http://www.universe-review.ca/I10-27-
jawlessfishçjpg/>; acesso em: 17 set. 2007).
Figura 2.6 ––––– Reconstrução de um ambiente do Ordoviciano,
com moluscos, trilobitas e corais
(disponível em: <http://www.geocities.com/arturordoviciano>;
acesso em: 27 ago. 2007).
SILURIANO: CONQUISTA DO AMBIENTE
TERRESTRE
No Siluriano (443,7-416 M.a.), artrópodes e plan-
tas invadiram o ambiente terrestre. Nos oceanos, prolife-
raram e se expandiram os braquiópodes, briozoários, co-
rais, crinóides, esponjas, biválvios e gastrópodes. Os
trilobitas e graptólitos tiveram um declínio, enquanto as
formas dos nautilóides se diversificaram.
O Siluriano foi marcado pelo aparecimento das ma-
xilas nos peixes, um dos eventos mais importantes da
história evolutiva dos vertebrados. Esses primeiros peixes
com mandíbulas são os gnatostomados, que incluem
placodermas, acantódios, condríctes e osteíctes, grupo
ao qual pertence a maioria dos peixes atuais.
A documentação paleontológica do Siluriano no Bra-
sil é apresentada, por exemplo, no grupo Trombetas, na
bacia do Amazonas (Figura 2.8), e na Formação Tianguá,
na bacia do Parnaíba (Figura 2.9).
DEVONIANO: PRIMEIRAS FLORESTAS E
IDADE DOS PEIXES
Após sua origem no Siluriano, as plantas vasculares
se diversificaram rapidamente no Devoniano (416-359,2
M.a.), quando se formaram as primeiras florestas. Alguns
grupos de animais se aventuraram pela terra, entre eles os
insetos e os anfíbios. O Devoniano é considerado como a
“idade dos peixes” devido à grande diversificação desse
grupo. Os sarcopterígios, peixes osteíctes com nadadeiras
lobadas, surgiram e deram origem aos tetrápodas. O gru-
po dos dipnóicos (peixes pulmonados) desenvolveu um
aparelho respiratório que lhes permitia absorver o oxigê-
nio, adquirindo, desse modo, a capacidade de respirar ar
atmosférico. Outra extinção ocorreu no final do Devoniano,
sendo os invertebrados marinhos os mais atingidos.
O Devoniano foi um período importante na sedimen-
tação das bacias paleozóicas do Amazonas, Parnaíba e
Paraná (Figura 2.10).
CARBONÍFERO: IDADE DOS ANFÍBIOS E
DOS DEPÓSITOS DE CARVÃO
O Carbonífero (359-299 M.a.) representa a “idade
dos anfíbios”. Eles viviam nos pântanos e nas margens
dos cursos de água, mas algumas espécies se adaptaram
para sobreviver uma maior parte do tempo em terra seca,
voltando à água apenas para desovar. Entre as plantas
surgiram as gimnospermas primitivas, como as
Glossopteris presentes em todo o continente Gondwana
(Figura 2.11).
Grande parte das atuais jazidas de carvão formou-se
nessa época, pela decomposição de matéria vegetal. Nes-
se propício ambiente úmido, a vida dos insetos prolife-
rou intensamente. Os amonóides, mesmo sofrendo um
pequeno declínio com a extinção do final do Devoniano,
25
EVOLUÇÃO DA VIDA
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz
ainda permaneceram como os principais invertebrados
predadores. Aparecem os primeiros registros fósseis de
amniota, um grupo de vertebrados tetrápodas cujos em-
briões são rodeados por uma membrana amniótica. Esse
tipo de ovo permitiu que os antepassados das aves, dos
mamíferos e dos répteis reproduzissem em terra. Surgi-
ram os primeiros répteis, com o crânio compacto, sem
as aberturas temporais, características do grupo.
Figura 2.10 ––––– Reconstituição paleobiológica do mesodevoniano na bacia do Parnaíba.
Mapa mostrando os afloramentos das formações Pimenteira e Cabeças. A flora com
Psilofitales e Licopodiáceas e a fauna com conulários, tentaculites, gastrópodes, biválvios,
braquiópodes e condrictes (tubarão) (modificado de Santos e Carvalho, 2005).
Figura 2.11 ––––– Representante da flora de
Glossopteris da seqüência gonduânica da bacia
do Paraná: carvão da Formação Rio Bonito
(disponível em: <http://www.cprm.gov.br/
coluna/floraglosspt.htm>;
acesso em: 11 set. 2007).
Figura 2.8 ––––– Climacograptus innotatus var.
brasiliensis – Graptozoário da Formação
Trombetas, bacia do Amazonas (fotografia:
Norma Cruz).
Figura 2.9 ––––– Microfósseis da Formação
Tianguá. Quitinozoários (1 a 4) e
acritarcos (5 a 11) (modificado de Santos
e Carvalho, 2005).
26
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
PERMIANO: DIVERSIFICAÇÃO DOS
RÉPTEIS E EXPANSÃO DAS
GIMNOSPERMAS
No início do Permiano (299-251 M.a.), o movimen-
to das placas tectônicas formou o supercontinente
Pangéia. As regiões interiores desse vasto continente es-
tavam, provavelmente, secas e a glaciação diminuiu.
O resultado dessa nova configuração global foi o desen-
volvimento e a diversificação da fauna de vertebrados
terrestres e a redução das comunidades marinhas.
Houve a diversificação dos répteis e a expansão das
gimnospermas.
O final do Permiano foi marcado pela maior de to-
das as extinções em massa. Afetou muitos grupos de
organismos, em ambientes diferentes, mas, principal-
mente, as comunidades marinhas, causando a extinção
da maioria dos invertebrados. Com o fim do Permiano,
encerra-se a era paleozóica, que durou aproximadamen-
te 300 milhões de anos.
No Brasil, o Permiano está representado, principal-
mente, nas bacias do Parnaíba e do Paraná (Figura 2.12).
TRIÁSSICO: PRIMEIROS DINOSSAUROS E
MAMÍFEROS
Com o Triássico (251-199,6 M.a.), começou a era
mesozóica, que durou 130 milhões de anos. Ocorreu o
início da fragmentação do Pangéia. Vários grupos de
répteis apareceram, como crocodilos, dinossauros e
pterossauros, como também os primeiros mamíferos, que
eram de pequeno porte (Figura 2.13). As gimnospermas
passamaserasformasdominantesentreasplantas.Afauna
marinha não era muito diversificada, já que 90% das espé-
cies haviam desaparecido na grande extinção do Permiano.
Figura 2.12 ––––– Reconstituição paleobiológica do Permiano na bacia do Parnaíba. Mapa
mostra afloramentos da Formação Pedra de Fogo. Flora com Psaronius, Calamitales e
Cordaitáceas; fauna com répteis e peixes (modificado de Santos e Carvalho, 2005).
Figura 2.13 ––––– Dinodontosaurus e Prestosuchus da bacia do
Paraná. Diorama do Museu de Ciências da Terra
(fotografia: Alex Souto).
O final do Triássico também foi marca-
do por uma grande extinção.
No Brasil, na bacia do Paraná, en-
contramos fósseis de répteis ou de gru-
pos aparentados com os mamíferos,
como rincossauros e dicinodontes, res-
pectivamente. Esses tetrápodas triássi-
cos são encontrados nos sedimentosdas
formações Sanga do Cabral, Santa Ma-
ria e Caturrita, no estado do Rio Gran-
de do Sul.
JURÁSSICO: APOGEU DOS
DINOSSAUROS E
PRIMEIRAS AVES
Nos mares do Jurássico (199,6-
145,5 M.a.), viveram peixes e répteis
marinhos, como ictiossauros e plesi-
ossaurus. Do Jurássico até fins do Cre-
táceo, há 65 milhões de anos, os gran-
des répteis continuaram dominando.
Multiplicaram-se prodigiosamente nas
planícies cada vez mais úmidas e quen-
tes, alcançando enormes dimensões. O Jurássico foi a
idade dos grandes saurópodes e dos pterossauros. Nos
mares, os moluscos, como os grandes amonóides, tor-
naram-se muito abundantes (Figura 2.14). A passagem
do Jurássico para o Cretáceo não foi marcada por qual-
quer grande extinção, evolução ou alteração na diversi-
dade dos organismos. O Jurássico não é bem represen-
tado no Brasil.
27
EVOLUÇÃO DA VIDA
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz
CRETÁCEO: EXTINÇÃO DE DINOSSAUROS
E PTEROSSAUROS, SURGIMENTO DAS
ANGIOSPERMAS E PRESENÇA DE
MAMÍFEROS
Com a continuidade da fragmentação do superconti-
nente Pangéia e o conseqüente afastamento das placas
tectônicas, aumentaram as diferenças regionais entre as
floras e faunas. No Cretáceo (145,5-65,5 M.a.), os mais
importantes eventos foram: surgimento de angiospermas,
plantas com flores e mamíferos marsupiais e placentários.
Figura 2.15 –Figura 2.15 –Figura 2.15 –Figura 2.15 –Figura 2.15 – Reconstrução do ambiente de Amazonsaurus
maranhensis. Albiano da Formação Itapecuru, bacia do Grajaú, MA
(SANTOS e CARVALHO, 2005).
Figura 2.14 –Figura 2.14 –Figura 2.14 –Figura 2.14 –Figura 2.14 – Reconstituição paleoecológica do oceano Tétis no
Jurássico superior tendo representados moluscos, poliquetas e
plantas (disponível em: <http://fossil.uc.pt/pags/utili.dwt>; acesso
em: 27 set. 2007).
Figura 2.18Figura 2.18Figura 2.18Figura 2.18Figura 2.18 ––––– Insetos e vegetais com grande diversidade e
excepcional preservação, encontrados na bacia do Araripe, no
calcário laminado do Membro Crato.
O fim desse período foi marcado por uma grande
extinção em massa (Limite K-T), com o desaparecimento
de grupos bem-sucedidos, como dinossauros e amonóides.
A extinção desses grandes répteis constitui-se ainda em
grande controvérsia. Duas teorias são mais aceitas para
essa extinção: mudanças climáticas e colisão de um enor-
me meteorito com a Terra. Esse período é ricamente mar-
cado na paleontologia brasileira. São inúmeras as ocor-
rências de fósseis nas bacias do Araripe, Sergipe-Alagoas,
Pernambuco-Paraíba, Potiguar e bacias interiores do Nor-
deste (Figuras 2.15, 2.16, 2.17 e 2.18).
Figura 2.17Figura 2.17Figura 2.17Figura 2.17Figura 2.17 ––––– Tharrhias araripis Jordan & Branner, 1908, um dos
peixes mais comuns nos nódulos calcários do Membro Romualdo da
bacia do Araripe (MAISEY, 1991).
Figura 2.16 –Figura 2.16 –Figura 2.16 –Figura 2.16 –Figura 2.16 – O conjunto de 13 sítios fossilíferos com pegadas de
dinossauros na Formação Sousa, bacia do rio do Peixe (PB), contém
grandes e pequenos terópodes, saurópodes, ornitópodes e
ornitísquio (LEONARDI e CARVALHO, 2002).
28
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
PALEOCENO: DIVERSIFICAÇÃO E
IRRADIAÇÃO DOS MAMÍFEROS E
ANGIOSPERMAS
No Paleoceno (65,5-55,8 M.a.), houve o sucesso da
evolução dos grandes mamíferos que se tornaram cada
vez mais diversificados. A principal característica dessa
época é a proliferação de pequenos mamíferos, ancestrais
dos roedores, e primatas atuais. A fauna marinha é carac-
terizada por biválvios, gastrópodes, equinóides e
foraminíferos, sendo que esses últimos se tornaram muito
abundantes. A vegetação e o clima tropical eram predo-
minantes e alguns mamíferos já estavam dominando o
meio aquático. Houve também a diversificação e irradia-
ção das angiospermas. O Paleoceno foi um estágio impor-
tantíssimo na história dos mamíferos. Infelizmente, mui-
tos fósseis dessa época são escassos ou inteiramente des-
conhecidos. No Brasil, temos representantes desse perío-
do, por exemplo, na bacia de Itaboraí (RJ) (Figura 2.19).
EOCENO: EXPANSÃO DAS AVES E
ANGIOSPERMAS
Durante os 20 milhões de anos de duração do Eoceno
(55,8-33,9 M.a.), os mamíferos se desenvolveram ainda
mais e houve uma modernização importante da fauna. As
aves se expandiram e surgiu grande parte das linhagens
das atuais angiospermas. O Eoceno Inferior teve as mais
altas temperaturas de todo o Cenozóico, bem acima de
30°C. Existiam ligações de terra entre a Antártida e a Aus-
trália, entre América do Norte e Europa através da
Groenlândia e, provavelmente, entre a América do Norte
e a Ásia com o Estreito de Bering. Surge a maioria dos
mamíferos modernos, todos de tamanho pequeno. No
Eoceno Médio, a separação entre a Antártida e a Austrália
criou uma passagem de água entre esses continentes, mu-
dando os padrões de circulação das correntes oceânicas.
No Eoceno Superior, a nova circulação dos oceanos resul-
tou em temperaturas mais baixas. O tamanho do corpo
dos mamíferos aumentou, houve um avanço da vegeta-
ção de savanas e redução nas florestas (Figura 2.20).
No Brasil, a Bacia de Fonseca, situada na região do
Quadrilátero Ferrífero, no estado de Minas Gerais, consti-
tui um exemplo de sedimentos provavelmente eocênicos
da Formação Fonseca, com grande quantidade de
angiospermas.
OLIGOCENO: PRIMATAS ANTROPÓIDES
O Oligoceno (33.9-23 M.a.) registra uma extensão
relativamente curta, embora um grande número de mu-
danças tenha ocorrido durante esse tempo, como o apa-
recimento dos primeiros elefantes, dos cavalos moder-
nos, das gramíneas e dos primatas antropóides. Houve o
início de um esfriamento generalizado, com geleiras que
se formam pela primeira vez na Antártida durante o Ce-
nozóico. O aumento das camadas de gelo causou um
recuo no nível de
mar. Embora tenha
havido um período
de aumento de
temperatura no Oli-
goceno Superior, a
tendência de esfri-
amento global con-
tinuou, culminan-
do nas idades do
Gelo quaternárias.
Houve a principal
evolução e a disper-
são de tipos moder-
nos de angiosper-
mas. A vegetação
das latitudes mais
altas do hemisfério
Norte transformou
a floresta tropical
em um bosque
temperado. A con-
tinuação da disper-
Figura 2.19 ––––– Reconstrução do Carodnia, um dos mamíferos
herbívoros encontrados em Itaboraí, que ajudou a entender a
evolução das formas de esmalte dental (FERRAZ, 2007).
Figura 2.21 ––––– Paraphysornis
brasiliensis, um predador de quase
dois metros de altura, originário da
bacia de Taubaté (disponível em:
<http://revistagalileu.globo.com/>;
acesso em: 27 set. 2007).
Figura 2.20 – O fóssil mais notável é uma flor que apresenta seu
primeiro registro no Cenozóico do Brasil – Eriotheca prima:
(a) impressão; (b) reconstituição (MELLO et al., 2002).
29
EVOLUÇÃO DA VIDA
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz
Figura 2.22 – Biocalcirrudito com abundante conteúdo
fossilífero (TÁVORA et al., 2002).
são da fauna de mamíferos por terra entre a Ásia e a
América do Norte foi responsável pelo surgimento de
diversas linhagens nos novos continentes.
No Brasil, temos o exemplo da bacia de Taubaté (Fi-
gura 2.21), cujos sedimentos foram depositados no Neo-
Oligoceno/Eomioceno.
MIOCENO: DIVERSIFICAÇÃO DE
MAMÍFEROS E ANGIOSPERMAS
No Mioceno (23-5,30 M.a.), continuou a diversifi-
cação dos mamíferos e das angiospermas e, no final do
período, o clima esfriou. Foi um momento de climas
mais favoráveis que os do Oligoceno e do Plioceno,
marcado por uma expansão dos campos e cerrados
correlacionada a um clima mais árido no inte-
rior dos continentes. A Placa Africana-Arábica
uniu-se à Ásia, fechando o mar que havia se-
parado previamente esses dois continentes. As-
sim, as respectivas faunas se uniram, gerando
novas competições e extinções, aparecendo
novas espécies animais e vegetais. Mamíferos
e aves se desenvolveram. Além das mudan-
ças em terra, os recém-formados ecossistemas
marinhos levaram ao desenvolvimento de no-
vos organismos.
O sítio paleontológico Ilha de Fortaleza,
no município de São João de Pirabas, no esta-
do do Pará, guarda uma das mais expressivas
ocorrências do Cenozóico marinho do Brasil,
com grande variedade de moluscos e
equinóides. Esse sítio é considerado a seção-
tipo da Formação Pirabas (Mioceno), marcan-
do o limite sul da província paleobiogeográfica
caribeana (Figura 2.22).
PLIOCENO: FORMAÇÃO DE SAVANAS E
PRIMEIROS HOMINIDEOS
No Plioceno (5,33-1,80 M.a.), a evolução dos
primatas se caracterizou pela evolução dos símios bípedes
ou dos primeiros hominídeos (homens primitivos). Ocor-
reram eras glaciais que causaram um resfriamento glo-
bal. Houve uma acumulação de gelo nos pólos que con-
duziriam à extinção de muitas espécies. O clima mudou
de tropical para mais frio. A junção das placas tectônicas
das Américas do Norte e do Sul foi causada por um des-
locamento da Placa do Caribe, que se moveu ligeiramen-
te para leste, formando o istmo do Panamá. A conexão
entre as Américas teve impacto na flora e na fauna (Figu-
ra 2.23). A criação do istmo permitiu o intercâmbio das
Figura 2.23 ––––– Purussaurus brasiliensis, um jacaré gigantesco que viveu no
Plioceno (Formação Solimões) no Brasil (Acre) e na Venezuela. Estima-se que podia
atingir 20 metros de comprimento (disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/
controlPanel/materia/view/4242>; acesso em: 18 set. 2007).
espécies entre os dois continentes e a junção das placas
tectônicas conduziu também a mudanças no ambiente
marinho.
PLEISTOCENO: EXTINÇÃO DE ESPÉCIES E
SURGIMENTO DO HOMEM
No Pleistoceno (1,8-0,01 M.a.), ocorreu a extinção
de muitas formas de mamíferos, aves e plantas e o
surgimento da espécie humana. A glaciação avançou cada
vez mais em direção ao Equador, esfriando uma terça
parte da Terra. Depois, retrocedeu e o clima voltou a ser
temperado. No final, as geleiras avançaram e retrocede-
ram várias vezes. Ocorreram as glaciações mais recentes
e o clima e as temperaturas mudaram drasticamente.
Houve um bom número de animais de grande porte,
hoje extintos, como, por exemplo, o mastodonte, o
mamute e o tigre-dente-de-sabre. Os fósseis desse perío-
do são abundantes, bem preservados e sua datação é
30
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 2.26Figura 2.26Figura 2.26Figura 2.26Figura 2.26 ––––– Representantes de alguns grupos de microfósseis:
(1) nanofóssil calcário; (2) acritarco; (3) diatomácea; (4) ostracode;
(5) conodonte; (6) escolecodonte; (7) radiolário; (8) quitinozoário;
(9) foraminífero; (10) esporo; (11) pólen; (12) dinoflagelado.
precisa. Os foraminíferos, diatomáceas e grãos de pólen
são diagnósticos sobre os paleoclimas (Figura 2.24).
Figura 2.25Figura 2.25Figura 2.25Figura 2.25Figura 2.25 ––––– Rochas do Grupo Serra Grande (Bacia do Parnaíba),
abrigo de homens pré-históricos (SANTOS e CARVALHO, 2005).
Figura 2.24 –Figura 2.24 –Figura 2.24 –Figura 2.24 –Figura 2.24 – Mamíferos do Pleistoceno (bacia do Parnaíba):
toxodon, veado catingueiro, mastodonte, tatu gigante, tatu comum,
lhama e coelho (SANTOS e CARVALHO, 2005).
MICROFÓSSEIS
Aliados aos macrofósseis, os microfósseis desem-
penham um papel importante no desenvolvimento das
biotas passadas. O seu registro desde o Pré-Cambriano
permite datações precisas ao longo do tempo (acritar-
cos, quitinozoários, dinoflagelados, conodontes, esco-
lecodontes radilários, diatomáceas, foraminíferos, ostra-
codes, esporos e grãos de polen, dentre outros) e são
elementos importantes para o estudo de petróleo, car-
vão, diatomito e demais rochas de origem orgânica (Fi-
gura 2.26).
Eles são imprescindíveis nos zoneamentos
cronobioestratigráficos, nas correlações estratigráficas
intra- e intercontinentais e no mapeamento geológico
das bacias sedimentares. Além disso, os paleontólogos
estudam, por meio de seus registros, a influência das
mudanças climáticas sobre as biotas.
Devido a sua ampla distribuição geográfica e cro-
noestratigráfica, os microfósseis são encontrados nos
mais variados ambientes continentais e marinhos, ha-
vendo registros de suas ocorrências em toda a coluna
geológica, do Pré-Cambriano ao Holoceno (Figura
2.27).
HOLOCENO: DISPERSÃO DA ESPÉCIE
HUMANA
Essa época é caracterizada pela dispersão da espé-
cie humana e este é o nome dado aos últimos 11 mil
anos da história da Terra, começando no fim da última
era glacial ou Idade do Gelo. Desde então, houve peque-
nas mudanças do clima. O Holoceno testemunhou toda
a história da humanidade e a ascensão e queda de todas
as suas civilizações (Figura 2.25).
A poluição e a destruição dos vários habitats, inclu-
sive pelo homem, estão causando uma extinção maciça
de muitas espécies de plantas e de animais. Durante o
Holoceno, houve o grande desenvolvimento do conhe-
cimento e da tecnologia humana. Os paleontólogos to-
mam parte nesse esforço para compreender a mudança
global, já que os fósseis fornecem dados sobre o clima e
o meio ambiente passado.
31
EVOLUÇÃO DA VIDA
Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz
Figura 2.27 ––––– Ocorrência e distribuição de microfósseis (modificado de Petrobras, 2005).
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Serviço Geológico do Brasil, 2005. Programa Levanta-
mentos Geológicos Básicos do Brasil. Relatório interno.
CD-ROM.
32
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
NORMA MARIA DA COSTA CRUZ
Paleontóloga, bacharel e licenciada em História Natural pela Universidade do Brasil (UFRJ). Doutora em Ciências-Geologia
pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Academia Brasileira de Ciências. Trabalhou no Departamento Nacional
da Produção Mineral (DNPM), onde desenvolveu trabalhos na área de Micropaleontologia. Em 1970, ingressou na
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) para organizar, estruturar e
implantar o Laboratório de Bioestratigrafia do Laboratório de Análises Minerais (LAMIN). Desde 1998 exerce a função de
chefe da Divisão de Paleontologia do Departamento de Geologia. Suas áreas de pesquisa são: Bioestratigrafia e
Micropaleontologia, com ênfase em Palinologia. Tem atuado no estudo de microfósseis, nas datações cronobioestratigráficas,
determinações paleoambientais e correlações estratigráficas, com base em microfósseis, para projetos executados pela
CPRM/SGB. Tem como linha de pesquisa específica: Palinologia e Bioestratigrafia do Paleozóico.
SOUZA-LIMA, W. Os fósseis da bacia Sergipe-Alagoas: al-
gas e construções algais. Phoenix, v. 3, n. 32, p. 1-2, 2001.
TÁVORA, V. A.; FERNANDES, A. C. S.; FERREIRA, C. S.
Ilha de Fortaleza, PA: expressivo registro de fósseis do
cenozóico marinho do Brasil. In: SCHOBBENHAUS, C.;
CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-
BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do
Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Comissão Brasileira de Sí-
tios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, p.
139-144.
MARISE SARDENBERG SALGADO DE CARVALHO
Graduada em História Natural pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutorado em Geologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (2002). Paleontóloga da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais desde 1970, especializando-
se em pesquisas sobre peixes do Cretáceo do Brasil e bacias sedimentares brasileiras. Desenvolveu trabalhos em projetos
sobre carvão, sulfetos e calcários, colaborando em vários relatórios da CPRM. Participou de diversos trabalhos de campo
com coleta de fósseis que resultaram em artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. É membro da
Sociedade Brasileira de Paleontologia, participando de congressos e simpósios. Consultora em exposições do Museu de
Ciências da Terra-DNPM e na Coleção de Paleovertebrados do Instituto de Geociências da UFRJ e da UERJ. Professora
convidada da Disciplina Paleontologia de Vertebrados do Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFRJ. Aposentou-
se da CPRM em 2007 e continua realizando trabalhos de pesquisa em paleontologia de vertebrados.
33
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
3
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas (mdantas@rj.cprm.gov.br)
Regina Célia Gimenez Armesto (gimenez@rj.cprm.gov.br)
Amílcar Adamy (adamy@pv.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Geodiversidade das Paisagens Naturais ...................................... 34
A Geomorfologia como um Saber Estratégico para a Análise
Integrada dos Estudos do Meio Físico ........................................ 34
Compartimentação Morfológica dos Terrenos e
Geodiversidade no Brasil ............................................................. 39
Domínio das Terras Baixas Florestadas Equatoriais da
Amazônia.................................................................................... 39
Domínio dos Chapadões Semi-Úmidos Tropicais do Cerrado ...... 41
Domínio das Depressões Semi-Áridas Tropicais da Caatinga....... 44
Domínio dos Mares-de-Morros Úmidos Tropicais da
Mata Atlântica ............................................................................ 46
Domínio dos Planaltos Úmidos Subtropicais da Mata de
Araucárias................................................................................... 51
Domínio das Coxilhas Úmidas Subtropicais da Campanha
Gaúcha ....................................................................................... 52
Domínio da Planície Inundável Semi-Úmida Tropical do
Pantanal ..................................................................................... 53
Bibliografia ................................................................................. 55
34
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
GEODIVERSIDADE DAS PAISAGENS
NATURAIS
Um dos primeiros elementos de análise no estudo do
meiofísicoéapaisagemnaturaloupaisagemgeomorfológica.
Destaca-senasuperfícieterrestreumaprofusãodediferentes
tipos de paisagens naturais com gênese e desenvolvimento
distintos. Desde as cordilheiras, com as montanhas mais al-
tas do planeta (por exemplo, Himalaia, Andes, Rochosas,
Alpes, Cáucaso etc.), até as mais extensas planícies fluviais
domundo(porexemplo,Amazonas,Congo,Ganges,Yang-
Tzé, Mississipi etc.), pode-se estudar uma grande diversida-
dedeformasdemodeladodorelevo.Paraenten-
derapaisagemnaturalougeomorfológica,éne-
cessário estudar a morfologia dos terrenos, sua
gênese, evolução e a fisiologia das paisagens.
A morfologia dos terrenos é um dos prin-
cipais temas de análise da geomorfologia e é
resultante de uma intrincada inter-relação de
um conjunto de elementos do meio
geobiofísico (rochas, clima, solos, água, biota)
queestáemdinâmicatransformaçãodecorrente
da ação dos processos geológicos, hidrológicos
e atmosféricos (SELBY, 1985). Essa dinâmica
superficial da paisagem geomorfológica é, por
sua vez, continuamente transformada pela ação
do homem no espaço geográfico, atividade
cada vez mais intensa à medida que a socieda-
de se torna mais tecnificada. Desse modo, não
é possível preconizar a existência de paisagens
naturais, pois todas apresentam, em maior ou
menor grau, a interferência do homem.
O estudo das paisagens naturais por meio
da geomorfologia reveste-se, portanto, de re-
levante interesse para a avaliação da
geodiversidade de uma determinada região, uma vez que
a morfologia dos terrenos traduz uma interface entre to-
das as outras variáveis do meio físico e consiste em um
dos elementos em análise, segundo definição de
geodiversidade proposta por CPRM (2006):
“Oestudodanaturezaabiótica(meiofísico)constituída
porumavariedadedeambientes,composição,fenômenose
processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas,
minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos su-
perficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra,
tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o eco-
nômico, o científico, o educativo e o turístico.”
A origem das formas de relevo pode ser analisada
com relação a seu substrato (ou meio abiótico), pela atu-
ação compartilhada de processos endógenos (tectônica,
vulcanismo, sismicidade) – que promovem a geração de
massa rochosa e relevos positivos ou negativos – e pro-
cessos exógenos (intemperismo, erosão, sedimentação) –
que promovem a esculturação e a denudação das massas
rochosas anteriormente geradas (SUMMERFIELD, 1991).
Essa denudação do relevo, contudo, não ocorre de forma
uniforme, devido à resistência diferencial das distintas
litologias frente aos processos de intemperismo (físico e
químico) e erosão. Freqüentemente, rochas muito resis-
tentes, tais como quartzitos ou granitos, geram relevos
residuais positivos em uma paisagem desgastada pela ero-
são, produzindo serras isoladas ou inselbergs.
De forma simples, pode-se afirmar que, enquanto
os processos endógenos promovem o soerguimento da
crosta terrestre, gerando relevos montanhosos, os pro-
cessos exógenos promovem o arrasamento dos relevos
soerguidos, gerando relevos aplainados e as grandes pla-
nícies (Figura 3.1).
Desse modo, as formas de relevo observadas em uma
determinada região devem ser compreendidas como pro-
dutos de um estágio de desenvolvimento do conjunto das
paisagens geomorfológicas. Ou seja, um “pão-de-açúcar”,
um rift-valley, uma escarpa erosiva, uma planície aluvionar
ou uma superfície de aplainamento sofreram um longo
período de atuação de processos endógenos e/ou exógenos
para atingir sua morfologia atual.
A GEOMORFOLOGIA COMO UM SABER
ESTRATÉGICO PARA A ANÁLISE
INTEGRADA DOS ESTUDOS DO MEIO
FÍSICO
AB’SABER (1969) já propunha uma análise dinâmica
da geomorfologia aplicada aos estudos ambientais, com
base na pesquisa de três fatores interligados: identificação
de uma compartimentação morfológica dos terrenos; le-
vantamento da estrutura superficial das paisagens; estudo
da fisiologia da paisagem (Figura 3.2).
Figura 3.1 ––––– A paisagem geomorfológica como resultante da interação
dinâmica entre processos endógenos (controlados pela tectônica) e processos
exógenos (controlados pelo clima) (PRESS et al., 2006, p. 460).
35
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
Figura 3.2 ––––– Proposição de análise geomorfológica, onde são considerados: análise da compartimentação morfológica do relevo; estrutura
superficial dos terrenos; fisiologia da paisagem (AB’SABER, 1969).
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GEODIVERSIDADE DO BRASIL
A compartimentação morfológica dos terrenos é ob-
tida a partir da avaliação empírica dos diversos conjuntos
de formas e padrões de relevo posicionados em diferentes
níveis topográficos, por meio de observações de campo e
análise de sensores remotos (fotografias aéreas, imagens
de satélite e Modelo Digital de Terreno – MDT). Essa ava-
liação é diretamente aplicada aos estudos de ordenamento
do uso do solo e planejamento territorial, constituindo-se
em uma primeira e fundamental contribuição da
geomorfologia.
A estrutura superficial das paisagens pode ser enten-
dida com o estudo dos mantos de alteração in situ (for-
mações superficiais autóctones) e das coberturas
inconsolidadas (formações superficiais alóctones) que ja-
zem sob a superfície dos terrenos. Tais estudos são funda-
mentais para a compreensão da gênese e evolução das
formas de relevo, pois, aliados à compreensão da
compartimentação morfológica dos terrenos, consistem
em uma importante ferramenta para avaliação do grau de
fragilidadenaturaldosterrenosfrenteaosprocessoserosivos
e deposicionais.
O estudo da fisiologia da paisagem, por sua vez,
consiste na análise integrada das diversas variáveis
ambientais em sua interface com a geomorfologia, ou
seja, a influência dos condicionantes litológico-estrutu-
rais, dos padrões climáticos e dos tipos de solos na
configuração física das paisagens. O objetivo de tal ava-
liação é compreender a ação dos processos erosivo-
deposicionais atuais, incluindo todos os impactos de-
correntes da ação antropogênica sobre a paisagem na-
tural. Assim, inclui-se na análise geomorfológica o es-
tudo da morfodinâmica, com ênfase para a análise de
processos.
Em escalas pequenas, de grande abrangência espa-
cial, tal como no mapeamento da geodiversidade do Bra-
sil na escala 1:2.500.000 (CPRM, 2006), a contribuição
da geomorfologia para o mapeamento da geodiversidade
concentra-se no estudo da morfologia dos terrenos que
consiste, em uma primeira abordagem, da análise
geomorfológica. Todavia, em nenhum momento deve-se
desconsiderar uma avaliação genética e evolutiva do mo-
delado do relevo.
Para a análise do modelado dos terrenos, são utiliza-
dos parâmetros morfológicos e morfométricos que
mensuram as características fisiográficas do relevo, desta-
cando-se:
• Amplitude de relevo: É um parâmetro que
mensura o desnivelamento de relevo entre a cota dos fun-
dos de vales e a cota dos divisores de água em uma bacia
de drenagem. Esse parâmetro retrata o grau de
entalhamento de uma determinada unidade de paisagem
e a correspondente dimensão das formas de relevo pre-
sentes. Áreas com elevadas amplitudes de relevo são con-
sideradas montanhosas. Por sua vez, áreas com baixas
amplitudes de relevo são aplainadas ou, no máximo,
colinosas.
• Gradiente: É um parâmetro que mensura o ân-
gulo de declividade de uma vertente ou de uma bacia de
drenagem. Reflete, de forma geral, a vulnerabilidade de
uma unidade de paisagem frente aos processos erosivo-
deposicionais. Áreas com elevados gradientes são, em
geral, morrosas ou montanhosas; já as com baixos gradi-
entes são aplainadas ou colinosas. Áreas deposicionais
(planícies) apresentam gradiente inexpressivo.
• Densidade de drenagem: É um parâmetro que
mensura a razão entre o comprimento total de canais e a
área da bacia de drenagem. Retrata o grau de dissecação
de uma determinada unidade de paisagem. Áreas com
elevada densidade de drenagem apresentam relevo mo-
vimentado, típico de regiões morrosas ou montanhosas;
as com baixa densidade de drenagem, por sua vez, apre-
sentam relevo suave, típico de superfícies planas ou
colinosas.
• Geometria de topos e vertentes: Consiste em
uma avaliação morfológica que descreve a forma de
denudação de uma determinada unidade de paisagem,
indicando o modo pelo qual as formas de relevo foram
modeladas ao longo do tempo geológico. As formas geo-
métricas de topos podem ser classificadas em: aguçadas,
ou em cristas; arredondadas; ou tabulares. Já as formas
geométricas das vertentes podem ser classificadas em:
convexas, retilíneas e côncavas.
Com base na leitura qualitativo-quantitativa da
fisiografia, pode-se classificar a paisagem natural em dis-
tintas unidades geomorfológicas, que consistem no pro-
duto da resistência diferencial dos materiais frente aos pro-
cessos de erosão e sedimentação:
• Planícies: Consistem em áreas planas, resultan-
tes de acumulação fluvial, marinha ou flúvio-marinha,
geralmente sujeitas a inundações periódicas,
correspondendo às várzeas atuais ou zonas embrejadas.
São constituídas por sedimentos inconsolidados de ida-
de quaternária. Caracterizam-se por relevos deposicionais.
Apresentam amplitudes de relevo e declividades
inexpressivas (Figura 3.3).
Figura 3.3 ––––– Planície fluvial do alto curso do rio São João
(município de Silva Jardim, RJ).
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ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
• Tabuleiros: São formas de relevo suavemente
dissecadas que apresentam extensas superfícies de gradi-
entes extremamente suaves, com topos planos e alonga-
dos e vertentes retilíneas nos vales encaixados em forma
de “U”, resultantes da dissecação fluvial recente. São cons-
tituídas, em geral, por rochas sedimentares pouco litificadas
de idade cenozóica. Apresentam amplitudes de relevo
baixas, declividades inexpressivas e baixa densidade de dre-
nagem (Figura 3.4).
• Planaltos: São superfícies pouco acidentadas, consti-
tuindograndesmassasderelevoarrasadaspelaerosão,
posicionadas em cotas mais elevadas que as superfícies
adjacentes.Quandomodeladosemrochassedimentares
antigas, recebem a denominação de “chapadas”, que
sãosuperfíciestabularesalçadas,ourelevossoerguidos,
planos ou aplainados, incipientemente dissecados. Os
rebordosdessassuperfícies,posicionadosemcotasele-
vadas, são delimitados, em geral, por vertentes íngre-
mes a escarpadas. Apresentam internamente amplitu-
desderelevoedeclividadesbaixasamoderadasebaixa
densidade de drenagem (Figura 3.5).
• Superfícies de aplainamento: São superfícies
planas a levemente onduladas, geradas a partir do arra-
samento geral dos terrenos, truncando todas as litologias
(Figura 3.6). É freqüente a ocorrência de relevos residu-
ais isolados (inselbergs) (Figura 3.7), destacados na pai-
sagem aplainada. Essas superfícies representam, em li-
nhas gerais, tanto os planaltos mais elevados (superfíci-
es de erosão mais antigas – por exemplo, a Chapada
dos Guimarães/MT), quanto grandes extensões das de-
pressões interplanálticas do território brasileiro (superfí-
cies de erosão mais jovens – por exemplo, Depressão
Sertaneja/BA). Apresentam amplitudes de relevo e
declividades inexpressivas e baixa densidade de drena-
gem.
• Depressão:Depressão:Depressão:Depressão:Depressão: Trata-se de uma zona
geomorfológica que está em posição altimétrica mais
baixa que as áreas contíguas. Área ou porção do relevo
Figura 3.4 ––––– Tabuleiros dissecados pelo rio Guaxindiba (município
de São Francisco do Itabapoana, norte fluminense).
Figura 3.5 ––––– Aspecto de chapada isolada no sul do Piauí, em vasta
superfície de aplainamento (município de Corrente, PI).
Figura 3.6 ––––– Depressão Sertaneja. Vasta superfície de
aplainamento truncando todas as litologias no sul do Piauí
(município de Parnaguá, PI).
Figura 3.7 ––––– Morro de Santo Antônio. Depressão Cuiabana
(município de Santo Antônio do Leverger, MT).
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GEODIVERSIDADE DO BRASIL
situada abaixo do nível do mar é uma depressão abso-
luta (por exemplo, mar Morto). Quando a área ou por-
ção do relevo está situada abaixo do nível das regiões
que lhe estão próximas, é considerada uma depressão
relativa (por exemplo, vale do rio Paraíba do Sul). As
depressões podem apresentar relevo aplainado ou
colinoso (Figura 3.8).
• Colinas: Consiste em um relevo pouco disseca-
do, com vertentes convexas ou convexo-côncavas e to-
pos amplos ou arredondados. O sistema de drenagem
principal apresenta deposição de planícies aluviais relati-
vamente amplas. Apresentam amplitudes de relevo e
declividades moderadas e moderada a alta densidade de
drenagem (Figura 3.9).
• Montanhas: É um relevo muito acidentado, com
vertentes predominantemente retilíneas a côncavas, escar-
padas e topos de cristas alinhadas, aguçados ou levemen-
te arredondados, com sedimentação de colúvios e depó-
sitos de tálus. Sistema de drenagem principal em franco
processo de entalhamento. Apresenta amplitudes de rele-
vo e declividades elevadas e alta densidade de drenagem
(Figura 3.10).
• Escarpas:Escarpas:Escarpas:Escarpas:Escarpas: É um tipo de relevo montanhoso, mui-
to acidentado, transicional entre dois padrões de relevo,
com desnivelamentos superiores a, pelo menos, 300 m.
Apresentam vertentes muito íngremes e dissecadas, com
geometria retilíneo-côncava. Há ocorrência freqüente de
vertentes escarpadas com gradientes muito elevados (su-
periores a 45o
) e paredões rochosos subverticais. Apresen-
tam amplitudes de relevo e declividades elevadas e alta
densidade de drenagem (Figura 3.11).
Figura 3.9 ––––– Colinas amplas e suaves (município de
Araruama, RJ).
Figura 3.10 ––––– Relevo montanhoso da região serrana do Rio de
Janeiro. Em destaque, a Pedra Aguda (município de
Bom Jardim, RJ).
Figura 3.11 ––––– Alto da escarpa da serra Geral. Estrada da serra do
rio do Rastro (Coluna White, divisa SC–RS).
Figura 3.8 ––––– Depressão Sertaneja, embutida entre a borda leste da
Chapada Diamantina e a serra de Jacobina (BA).
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ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
COMPARTIMENTAÇÃO MORFOLÓGICA
DOS TERRENOS E GEODIVERSIDADE NO
BRASIL
A idade da geração das rochas não guarda qualquer
relação com a presente configuração morfológica do relevo
do Brasil. O atual cenário geomorfológico do território bra-
sileiro começa a se delinear a partir de fins do Cretáceo
com: a progressiva abertura do oceano Atlântico; a
orogênese Andina ao longo do Terciário; o desequilíbrio
isostático da Placa Sul-Americana; a subsidência da Amazô-
nia Ocidental, do Chaco e do Pantanal; o soerguimento
epirogenético da plataforma brasileira. Destacam-se, nesse
contexto, os grandes falhamentos cenozóicos na Fachada
Atlântica brasileira, gerando as escarpas das serras do Mar e
da Mantiqueira, e as bacias sedimentares interiores e da
plataforma continental. As superfícies de aplainamento (ex-
cetuando-se as cimeiras mais elevadas), os planaltos residu-
ais e as depressões periféricas e interplanálticas também
são esculpidas a partir da epirogênese pós-cretácica.
Entende-se por orogênese um conjunto de processos
geológicos que resulta na formação de uma cadeia de
montanhas (orógeno) e que está relacionado à tectônica
compressional das placas tectônicas. A epirogênese, por
sua vez, consiste em uma movimentação verticalizada,
positiva ou negativa, sem deformação da crosta terrestre,
geralmente lenta e que afeta uma ampla região, em de-
corrência de reações isostáticas atuantes na placa tectônica.
A seguir, serão apresentados, de forma sumária, os
principais conjuntos ou domínios geomorfológicos brasi-
leiros, identificados com base na classificação de domíni-
os morfoclimáticos e províncias geológicas proposta por
AB’SABER (1967, 1970). Para cada domínio são destaca-
das: configuração morfológica; evolução paleogeográfica;
inter-relação com distintos tipos pedológicos, climáticos e
fitogeográficos (Figura 3.12).
DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORES-
TADAS EQUATORIAIS DA AMAZÔNIA
Nesse domínio se destacam quatro padrões
morfológicos principais: planícies de inundação e terraços
fluviais das várzeas amazônicas; tabuleiros de terra firme;
superfícies de aplainamento das áreas cratônicas; planaltos
eserrasmodeladosemcoberturasplataformaisoulitologias
mais resistentes à erosão (planaltos e serras residuais). Esses
ambientes estão submetidos a um regime climático quente
e úmido a superúmido e sob intensa atuação do
intemperismo químico e lixiviação dos solos, que permite a
formação de paisagens, em geral, monótonas, recobertas
em quase sua totalidade pela vegetação florestal.
O rio Amazonas, até aproximadamente 10 milhões
de anos (entre o Mioceno e o Plioceno), fluía para o oeste
em direção ao oceano Pacífico. A partir da orogênese
Andina, devido à colisão da Placa Sul-Americana e da Pla-
ca de Nazca, essa passagem para oeste foi bloqueada e o
rio Amazonas inverteu seu sentido para leste, passando a
desembocar no oceano Atlântico (RÄSÄNEN et al., 1987).
Na Amazônia Ocidental, formou-se uma imensa bacia
sedimentar entulhada por sedimentos provenientes da ero-
são da cordilheira dos Andes, gerando assim uma sedi-
mentação flúvio-lacustrina (Formação Solimões), com a
posterior formação de depósitos fluviais de idade
quaternária. A partir do Pleistoceno Superior, esses depó-
sitos passam a ser incipientemente entalhados, sendo que
os níveis deposicionais atuais limitam-se às atuais várzeas.
Planície de Inundação
As planícies de inundação e terraços fluviais das vár-
zeas amazônicas ocupam os vastos fundos de vales dos
principais rios da Amazônia que alcançam, por vezes,
dezenas de quilômetros de largura e consistem nas únicas
zonas deposicionais ativas na Amazônia. Essas planícies
aluviais, caracterizadas por vegetação de igapó e matas
de várzea adaptadas a ambientes inundáveis, apresentam
idade quaternária. Os terraços fluviais são correlatos ao
Pleistoceno Superior e as planícies de inundação, ao
Holoceno. As várzeas amazônicas apresentam notável di-
versidade morfológica, devido a distintos padrões de sedi-
mentação aluvial desenvolvidos por uma rede de drena-
gem de padrão meandrante de alta sinuosidade (tais como
as planícies ao longo dos rios Purus e Juruá) ou de padrão
anastomosado ou anabranching (tais como as dos rios
Solimões e Negro). Nesse contexto, são identificadas for-
mas deposicionais, como furos, paranás, planícies de
acreção em barras de pontal, planícies de decantação; ilhas
fluviais, barras arenosas, lagos, diques marginais etc.
(LATRUBESSE e FRANZINELLI, 2002) (Figura 3.13).
Figura 3.12 ––––– Mapa de domínios morfoclimáticos do Brasil
(AB’SABER, 1969).
40
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
concrecionários e horizontes aluminosos em diversas áreas
dostabuleirosedassuperfíciesaplainadasemtodaaAmazô-
nia (COSTA, 1991; HORBE et al., 1997).
Superfícies de Aplainamentos
As superfícies de aplainamento apresentam cotas
que variam entre 200 e 350 m. Notabilizam-se pela ocor-
rência de extensas áreas aplainadas ou levemente enta-
lhadas pela rede de drenagem. Nesse caso, as superfícies
aplainadas são entalhadas e reafeiçoadas, formando um
relevo colinoso de baixa amplitude (Perfil 3.1). Tendo em
vista que as fases de arrasamento do relevo correspondem
a longos períodos de maior aridez ao longo do Cenozóico,
o atual clima quente e úmido tende a dissecar os
Os rios amazônicos apresentam colorações diferenci-
adas de acordo com o pH, carga de sedimentos e compo-
sição química de suas águas, podendo ser barrentas, cla-
ras ou pretas (SIOLI, 1957). As planícies constituídas por
rios de água barrenta que drenam a vertente oriental da
cordilheira andina (por exemplo, rios Madeira e Solimões)
(Figura 3.14) apresentam planícies mais extensas e solos
com boa fertilidade natural (condição rara na Amazônia),
devido à grande descarga de sedimentos oriunda da dis-
secação (erosão) dos Andes. As planícies constituídas por
rios de água preta (por exemplo, rio Negro) apresentam
menor sedimentação aluvial, decorrente de baixa carga de
sedimentos em suspensão, aliada à alta concentração de
sesquióxidos de ferro. As nascentes do rio Negro ocupam
um ambiente de clima superúmido do noroeste da Ama-
zônia, na região do cráton das Guianas, com larga ocor-
rência de solos profundamente lixiviados. As planícies cons-
tituídas por rios de água clara, que drenam o planalto
brasileiro (por exemplo, rios Tapajós e Xingu), também
apresentam esparsas planícies fluviais com moderada car-
ga de sedimentos, porém sem grande concentração de
ferro em suas águas.
Tabuleiros de Terra Firme
Ostabuleirosdeterrafirmeocupamgrandesextensões
da Amazônia, sendo caracterizados por terrenos planos e
baixos (em cotas inferiores a 200 m), com solos espessos,
pobresebemdrenados(emgeral,LatossolosAmarelos).Em
certas porções desses terrenos, os tabuleiros são dissecados
em um relevo colinoso ou de colinas tabulares, assumindo
particular relevância no Acre e na área ao norte de Manaus
(Figura 3.15). Essa morfologia decorre de um longo proces-
so de elaboração de espessos perfis intempéricos lateríticos
com desenvolvimento de horizontes ferruginosos
Figura 3.13 ––––– Calha do rio Solimões durante o período máximo de
cheia (junho/2008). Observam-se diques marginais acima da cota de
cheia ou parcialmente rompidos. Ao fundo, a planície fluvial
inundada (margem esquerda do rio Solimões, entre Iranduba e
Manacapuru, AM).
FFFFFigura 3.14 ––––– Ampla calha do rio Madeira, apresentando águas
barrentas em longo trecho da corredeira Morrinhos,
correspondente ao Alto Estrutural Guajará-Mirim–Porto Velho (RO).
Figura 3.15 ––––– Aspecto da superfície dos tabuleiros, dissecados em
pequenos vales ortogonais ao longo do percurso da rodovia BR–
174, próximo a Presidente Figueiredo (AM). Observam-se topos
concordantes e subnivelados das colinas tabulares até a
linha do horizonte.
41
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
aplainamentos previamente elaborados (AB’SABER, 1982;
BIGARELLA e FERREIRA, 1985). Assim como nos tabu-
leiros, os solos são, em geral, espessos, pobres, bem
drenados (Latossolos e Argilosos) (EMBRAPA, 2001) e
ocupados por mata de terra firme.
Planaltos e Serras Residuais
Os planaltos residuais em coberturas plataformais são
superfícies planas e elevadas que apresentam um aspecto
residual em meio às vastas superfícies aplainadas, distri-
buindo-se nos crátons do Xingu e das Guianas. Esses pla-
naltos apresentam, no topo, solos espessos, em geral are-
nosos, pobres e bem drenados, ocupados ora por mata de
terra firme, ora por formações de savanas, em especial no
norte de Roraima, onde a vegetação é similar aos llanos
venezuelanos. Os tepuys representam uma notável feição
morfológica da geodiversidade do extremo norte do Brasil
(Figura 3.16).
Além das chapadas, ressaltam vários conjuntos serra-
nos residuais em meio às terras baixas amazônicas, em
geral, esculpidas em litologias mais resistentes à erosão.
Destacam-se, nesse contexto, as serras do Carajás (PA) (Perfil
3.1), do Navio (AP) e do Tumucumaque (fronteira entre o
Brasil e as Guianas), sendo as duas primeiras importantes
províncias minerais desenvolvidas em greenstone belts,
enquanto as porções mais elevadas da serra do
Tumucumaque são esculpidas em granitos e charnockitos
(CPRM, 2006).
DOMÍNIO DOS CHAPADÕES SEMI-
ÚMIDOS TROPICAIS DO CERRADO
Nesse domínio, destacam-se quatro padrões
morfológicos principais: topos dos chapadões sustenta-
dos por couraças ferruginosas; planaltos dissecados; de-
pressões interplanálticas; planície do rio Araguaia. Esses
ambientes estão submetidos a um regime climático quen-
te e semi-úmido, com regime estacional bem definido,
com verões chuvosos e invernos secos. Ainda assim, as
paisagens são submetidas à forte atuação do intemperismo
químico com formação de solos espessos, lixiviados e
laterizados, recobertas por vegetação de savana, que varia
desde campos-cerrados, onde predomina a vegetação her-
bácea, até cerradões, em que predomina vegetação
arbustivo-arbórea.
Topos dos Chapadões
Os topos dos chapadões, sustentados por couraças
ferruginosas, ocupam as superfícies mais elevadas do
Planalto Central brasileiro. Destacam-se, nesse contex-
to: Planalto do Distrito Federal (em cotas que variam
entre 1.000 e 1.300 m); Espigão Mestre, no oeste da
Bahia (em cotas que variam entre 700 e 1.000 m);
Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso (em cotas
que variam entre 700 e 900 m); Chapada das
Mangabeiras, no sul do Maranhão e Piauí (em cotas
que variam entre 500 e 700 m); Planalto dos Parecis,
em Mato Grosso e sul de Rondônia (em cotas que vari-
am entre 500 e 700 m) (Figura 3.17).
As chapadas apresentam solos muito profundos,
lixiviados, ácidos (elevado teor de alumínio) e de baixa
fertilidade natural (Latossolos álicos, em geral),
freqüentemente capeados por couraças detrítico-lateríticas
(MAMEDE, 1996; PENTEADO, 1976). Esses terrenos apre-
sentam nível freático, em geral, profundo, mas caracteri-
zado por grande oscilação sazonal, devido ao regime
pluviométrico típico dos trópicos semi-úmidos. Essa am-
pla variação do lençol freático sobre material muito
intemperizado promove a remobilização dos sesquióxidos
de ferro e sua concentração em um determinado horizon-
Figura 3.16 ––––– Altos platôs (tepuys) sustentados por cornijas de
arenitos conglomeráticos do Supergrupo Roraima, alçado centenas
de metros acima do piso regional representado por vastas
superfícies de aplainamento do norte da Amazônia (norte de
Roraima, próximo à fronteira com a Venezuela). Fotografia:
Maria Adelaide Maia.
Figura 3.17 ––––– Aspecto monótono do topo da Chapada das Covas,
apresentando relevo plano a suave ondulado, francamente utilizado
para a agricultura mecanizada, de alta produtividade (estrada
Silvânia–Luziânia, GO).
42
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
te do perfil do solo, originando o concrecionamento
laterítico. Essas formações superficiais, assim como as
características físicas e químicas dos solos, atestam idade
antiga à elaboração dessas superfícies tabulares. O topo
das chapadas é marcado pelo desenvolvimento de uma
crosta detrítico-laterítica bastante resistente ao
intemperismo e à erosão (Perfil 3.2). O relevo plano e ta-
bular, marcado por escarpas e rebordos erosivos das
chapadas elevadas está preservado da dissecação moder-
na, exceto pelo recuo das vertentes (Figura 3.18).
Essas superfícies de aplainamento representam fei-
ções reliquiares na paisagem do Planalto Central desde o
Paleógeno. Assim sendo, atestam estabilidade dos pro-
cessos morfodinâmicos, mas também refletem intensa atu-
ação de processos de pediplanação e etchplanação, onde
o papel do intemperismo químico na formação de espes-
sos mantos de alteração e rebaixamento das superfícies é
de fundamental importância para compreensão da gênese
desse tipo de relevo. Apenas o soerguimento promovido
pela epirogênese pós-cretácica é capaz de explicar que tais
superfícies planas, originalmente elaboradas em ajuste no
nível de base regional, estejam alçadas em cotas tão ele-
vadas (Perfil 3.2).
Essa unidade pode apresentar, de forma localizada,
uma ocorrência generalizada de voçorocamentos que po-
dem atingir quilômetros de comprimento, muitas vezes,
propagados a partir da conversão de cerrado nativos para
culturas temporárias (soja, milho, algodão), em solos de
maior erodibilidade.
Planaltos Dissecados
Os planaltos dissecados abrangem terrenos
colinosos a morrosos com ocorrência de serras isola-
das, típicos do Planalto Central goiano ou do Planalto
do centro-noroeste mineiro. Subordinadamente, ocor-
rem manchas de capões de mata no interior de Goiás e
no Triângulo Mineiro, que representam refúgios flores-
tais em meio ao domínio dos cerrados situados em
interflúvios sustentados por rochas de composição bá-
sica e solos argilosos, de alta fertilidade natural. Esse
peculiar condicionante geopedológico favorece o esta-
belecimento de vegetação florestal isolada, devido à
maior capacidade de armazenamento de água no solo
e disponibilidade de nutrientes minerais. Também po-
dem ocorrer as matas secas, exclusivamente em áreas
de afloramento de rochas calcárias, apresentando so-
los, em geral, pouco profundos (devido à dissolução
química do carbonato de cálcio) e com alta fertilidade
natural. Esses terrenos constituem-se em refúgios de
vegetação florestal, mas, devido à baixa capacidade de
armazenamento de água no solo, essa mata perde as
folhas na estação seca, o que a caracteriza como mata
decídua ou caducifólia.
Depressões Interplanálticas
As depressões interplanálticas compreendem uma
extensa superfície aplainada, que oblitera ou trunca as
estruturas do substrato rochoso, apresentando
morfologia levemente ondulada, que é drenado por uma
rede de baixa densidade, correspondendo a terrenos que
sofreram mais intensamente os efeitos do aplainamento.
Destacam-se as depressões interplanálticas dos vales dos
rios Tocantins e Araguaia, que apresentam cotas entre
450 e 200 m com caimento de sul para norte. Não há
desenvolvimento expressivo de formações superficiais
cenozóicas, sendo que, mesmo os fundos de vales, não
registram expressiva sedimentação aluvial. Comumente,
observam-se, ao sul, alinhamentos serranos isolados sus-
tentados por quartzitos ou, ao norte, morros-testemu-
nhos sustentados por seqüências sedimentares da Bacia
do Parnaíba mais resistentes ao intemperismo (Figura
3.19).
Figura 3.18 ––––– Perfil de solo representativo da cobertura de
concreções detrítico-lateríticas imaturas no Planalto Central
brasileiro, ressaltando, no topo, horizonte de nódulos pisolíticos,
muito endurecidos, de forma subarredondada e diâmetro variando
entre 1 a 5 cm, imerso em matriz argilosa
(município de Anápolis, GO).
43
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
Perfil3.1–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectRoraima–SerradosCarajás(PA).
Perfil3.2–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectCorumbá(MS)–Brasília(DF).
44
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Uma feição da paisagem característica dos cerrados,
tanto nos planaltos quanto nas depressões, são as matas-
galeria – que ocupam os fundos de vales de toda a rede de
canais que disseca as chapadas e se apresentam, devido a
uma condição local de umidade, como refúgio para a vege-
tação florestal. Apesar de a longa duração do período seco
na região (em torno de seis meses), o lençol freático dos
espessossolosdocerradoalimentacontinuamenteoscanais
principais, mantendo-os perenes o ano inteiro. Ab’Saber
(1963) destaca esse aspecto hidrológico como fundamental
para distinguir as áreas de cerrados das áreas de caatingas.
Planície do Rio Araguaia
A planície do rio Araguaia consiste em uma vasta
zona deposicional ativa em meio à depressão interplanáltica
do Araguaia. Caracteriza-se por uma depressão inundável,
alongada no sentido norte-sul e entulhada por sedimenta-
ção quaternária, onde se destaca a ilha do Bananal, consi-
derada a maior ilha fluvial do mundo.
DOMÍNIO DAS DEPRESSÕES SEMI-ÁRIDAS
TROPICAIS DA CAATINGA
Nesse domínio, destacam-se quatro padrões
morfológicos principais: superfícies de aplainamento da De-
pressão Sertaneja; chapadas sustentadas por rochas
sedimentares; serras isoladas e brejos de altitude; Planalto
da Borborema. Esses ambientes estão submetidos a um
regime climático quente e semi-árido, com estiagem muito
prolongada (entre 7 e 10 meses). Assim sendo, as paisa-
gens se caracterizam por uma atuação mais intensa do
intemperismo físico (desagregação mecânica das rochas),
comformaçãodesolosrasosepedregosos,sendorecobertas
por uma xeromórfica arbustiva ou arbustivo-arbórea, ou
mesmo, vegetação semelhante à das estepes, em que se
desdobram as diferentes fitofisionomias da caatinga.
Superfícies de Aplainamento da
Depressão Sertaneja
AsvastassuperfíciesdeaplainamentodaDepressãoSer-
tanejaqueabrangemamaiorpartedosemi-áridonordestino
destacam-sepelasextensasplanurasconservadasoumuitofra-
camenteentalhadasporredededrenagemintermitente(exce-
tuando-seorioSãoFrancisco)demuitobaixadensidade.Ao
contráriodamaiorpartedassuperfíciesaplainadasnoBrasil,a
DepressãoSertanejaapresenta-senotavelmenteconservadafren-
teàsfasesdedissecaçãoneógenas,devidoaopredomíniode
condiçõesclimáticassemi-áridasqueinibiramadissecaçãoflu-
vial moderna (AB’SABER, 1974). A Depressão Sertaneja está
embutida em cotas baixas, inferiores a 300 m, no estado do
CearáenointeriordosestadosdoRioGrandedoNorte,Paraíba,
Pernambuco,AlagoaseSergipe(Perfil3.3).Nomédiovaledo
rio São Francisco, apresenta cotas entre 300 e 500 m. Essa
superfícieestádelimitada:aleste,peloPlanaltodaBorborema
(noNordesteOriental)eChapadaDiamantina(naporçãocen-
tral da Bahia); a oeste, pela Chapada da Ibiapaba (no Piauí) e
EspigãoMestre(nooestedaBahia);anorte,nivela-secomos
tabuleiroslitorâneosdoGrupoBarreiras(nolitoraldoCearáe
RioGrandedoNorte).
Os solos são, em geral, rasos, de textura arenosa a
cascalhenta (Luvissolos). Freqüentemente, nas áreas mais
baixas, chamadas de “rasos”, desenvolvem-se solos com
argilas expansivas (Vertissolos) ou com alto teor de sais
(Planossolos Solódicos), estes com sérias limitações à agri-
cultura irrigada (EMBRAPA, 2001).
A rede de drenagem intermitente é um fator
determinante para diferenciar as depressões semi-áridas
ocupadas pela caatinga dos planaltos semi-úmidos ocu-
pados pelo cerrado, visto que, nos cerrados, sustentados
por solos espessos e com boa capacidade de
armazenamento de água, a rede de drenagem é perene,
mesmo suportando estiagens de 4 a 6 meses. No caso da
caatinga, com solos mais rasos e arenosos, com baixa ca-
pacidade de armazenamento de água e enfrentando estia-
gens mais severas, praticamente toda a rede de canais
seca durante o auge do período seco (Figura 3.20).
Figura 3.19 ––––– Aspecto das vertentes declivosas dos rebordos erosivos
sustentados por rochas sedimentares e o topo plano do Planalto de
Uruçuí, no sudoeste do Piauí. Em primeiro plano, vasto pedimento
revestido por cerrado no vale do rio Gurguéia (município de Cristino
Câmara, PI).
Figura 3.20 ––––– Aspecto árido e desolado da vasta superfície de
aplainamento da Depressão Sertaneja, com ocorrência de solos rasos
e pedregosos revestidos por caatinga hiperxerófila. Ao fundo,
destaca-se agrupamento de inselbergs alinhados sobre zona de
cisalhamento de rochas silicificadas (estrada Senhor do Bonfim–
Juazeiro–Carapebus, BA).
45
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
A Depressão Sertaneja, caracterizada por essas exten-
sas superfícies planas, é interrompida não somente pelas
vertentes dos rebordos erosivos e escarpas dos planaltos e
chapadas circundantes, mas também por grande quanti-
dade de relevos residuais, tais como inselbergs ou alinha-
mentos serranos isolados, muitas vezes, exibindo forte
controle litoestrutural do substrato ígneo-metamórfico pré-
cambriano. Os inselbergs são de relevos residuais que apa-
recem na paisagem como montes isolados, elevando-se,
em muitos casos, centenas de metros acima do piso da
superfície regional. Em parte, essas formas de relevo resi-
dual são originadas a partir da resistência diferencial ao
intemperismo e à erosão de determinadas litologias (em
especial, rochas graníticas ou quartzíticas) frente ao con-
junto de litologias aflorantes em determinada região (Fi-
gura 3.21).
Chapadas Sustentadas por Rochas
Sedimentares
As chapadas sustentadas por rochas sedimentares re-
presentam uma antiga cobertura sedimentar marinha de
idade cretácica que recobriu grande parte da Depressão
Sertaneja. Tal fato é facilmente reconhecido pelo alto con-
teúdo fossilífero encontrado na Chapada do Araripe (em
especial, a ictiofauna do Cretáceo) e sugere uma expressi-
va invasão marinha no nordeste setentrional após a aber-
tura do oceano Atlântico. Destacam-se, nesse contexto: a
Chapada do Araripe, entre o Cariri cearense e os sertões
paraibano e pernambucano (uma uniforme superfície ta-
bular em cotas que variam entre 750 e 950 m) (Perfil 3.3);
a Chapada do Apodi, na divisa entre o Rio Grande do
Norte e o Ceará (mais baixa e próxima do litoral, com
cotas que variam entre 150 e 250 m). O soerguimento
promovido pela epirogênese pós-cretácica alçou o antigo
fundo marinho ao nível do topo dessas chapadas sendo,
posteriormente, removidas pela erosão ao longo do
Cenozóico. As chapadas existentes são, portanto, rema-
nescentes de um antigo capeamento marinho outrora
muito mais amplo. A Chapada da Ibiapaba, na divisa
entre Ceará e Piauí (em cotas que variam entre 600 e
900 m), está sustentada por rochas mais antigas da Ba-
cia do Parnaíba.
Em contraste com as superfícies aplainadas, os topos
das chapadas apresentam solos profundos e com melhor
capacidade de armazenamento de água. Esse fato explica
uma melhor condição de umidade do Cariri, no sopé da
escarpa norte do Araripe, onde as cidades de Crato e
Juazeiro do Norte estão situadas. Isso se deve ao fato de
que as camadas de rochas sedimentares na Chapada do
Araripe sofreram basculamento para norte, produzindo um
movimento da água subterrânea nessa direção e o
surgimento de um grande número de nascentes (“olhos
d’água”) na borda norte do Araripe (ANDRADE, 1964).
Em contraste, as vertentes sul e leste, voltadas para
Pernambuco e Paraíba, são muito mais áridas.
Destaque especial deve ser conferido à Chapada
Diamantina, situada na porção central do estado da Bahia.
Apresenta direção alongada no sentido N-S e consiste em
extensa cobertura plataformal, constituída por rochas
sedimentares de idade proterozóica que jazem sobre o
Cráton do São Francisco e representam um conjunto de
elevações imponentes, de grande beleza cênica, apresen-
tando topos planos, cujas cotas se situam entre 1.200 e
1.600 m (Figura 3.22). Predominam arenitos (alguns
diamantíferos), conglomerados e calcários com dominância
de solos rasos e permeáveis (Cambissolos, Neossolos
Litólicos e Neossolos Quartzarênicos) de expressiva
vulnerabilidade ambiental (BONFIM et al., 1994). A ver-
tente voltada para leste é coberta por um refúgio florestal
de Mata Atlântica, enquanto a vertente voltada para o
oeste, mais seca, é coberta por vegetação de caatinga.
Serras Isoladas e Brejos de Altitude
As serras isoladas que ressaltam em meio à Depres-
sãoSertanejatambémconstituemumimportanteelemento
da paisagem do semi-árido nordestino, pois representam
Figura 3.21 ––––– Alinhamentos isolados de cristas de quartzitos
gerando formas de relevo residuais (inselbergs) em meio à vasta
superfície aplainada da Depressão Sertaneja (açude de Caribobó)
(município de Canudos, BA). Fotografia: Rogério Ferreira.
Figura 3.22 ––––– Topos planos dos altos planaltos bruscamente
delimitados por paredões rochosos subverticais. Abaixo, prevalecem
extensas encostas detríticas que convergem para vales amplos e
profundos, perfazendo o cenário físico da Chapada Diamantina
(município de Lençóis, BA). Disponível em: <http://
ricciardionline.com/>.
46
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
um enclave climático de maior umidade, sendo denomi-
nados “brejos de altitude”. A maior pluviosidade das ser-
ras (700 a 1.000 mm anuais) em relação às superfícies
aplainadas (300 a 700 mm anuais) decorre do efeito
orográfico promovido pelas elevações montanhosas que
retêm maior quantidade de umidade atmosférica, apre-
sentando um refúgio de vegetação florestal, com solos
mais espessos e argilosos e drenagem perene. Destacam-
se, dentre as principais, as serras de Baturité (apresentan-
do cristas com cotas entre 500 e 900 m) e de Uruburetama
(com topos dissecados em cotas entre 600 e 1.000 m),
ambas no embasamento ígneo-metamórfico do estado do
Ceará, e a serra Talhada (em cotas entre 800 e 1.100 m),
constituída por um plúton granítico em Triunfo (PE).
Planalto da Borborema
Extenso planalto em núcleo arqueado (AB’SABER,
1998; ROSS, 1997) que abrange a porção central dos es-
tados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do
Norte. Apresenta cotas que variam entre 500 e 1.000 m,
caracterizando-se pela ocorrência de extensas áreas planas
ou de colinas amplas e suaves delimitadas por
escarpamentos ou degraus em borda de planalto, tanto
na borda leste, quanto na borda oeste (Perfil 3.3).
A vertente leste, ou atlântica, do Planalto da
Borborema drena para a Zona da Mata nordestina e é
constituída por colinas, tabuleiros e planícies costeiras que
ocupamolitoralorientaldoNordeste,entreAracajue Natal.
Trata-se de uma área úmida situada na vertente a barla-
vento da Borborema. Devido a essa barreira orográfica, os
ventos alísios de leste (Massa Equatorial Atlântica) são
impelidos a galgar o planalto, promovendo intensa
pluviosidade, em especial, no inverno.
Por outro lado, a vertente oeste ou interiorana, cons-
tituída por vastas superfícies aplainadas, drena para a De-
pressão Sertaneja em localidades como Salgueiro (PE),
Patos (PB) e Caicó (RN). Trata-se de uma área semi-árida
situada na vertente a sotavento da Borborema. Nesse caso,
os ventos alíseos ultrapassam o Planalto da Borborema
sem umidade, o que explica a falta de chuvas no interior,
área de domínio da caatinga.
O Planalto da Borborema propriamente dito, em lo-
calidades como Caruaru (PE), Garanhuns (PE) e Campina
Grande (PB), apresenta uma área de clima transicional,
semi-úmido (região do Agreste), com ocorrência de bre-
jos de altitude similares às que ocorrem nos maciços e
serras isoladas.
DOMÍNIO DOS MARES-DE-MORROS
ÚMIDOS TROPICAIS DA MATA
ATLÂNTICA
Nesse domínio, destacam-se cinco padrões
morfológicos principais: planícies litorâneas; tabuleiros do
Grupo Barreiras; alinhamentos serranos da Fachada Atlân-
tica; relevo dominante dos mares-de-morros florestados;
Planalto da Bacia do Paraná. Esses ambientes estão sub-
metidos a um regime climático quente e úmido a
superúmido, sob intensa atuação do intemperismo quími-
co e lixiviação dos solos em situações de extrema diversi-
dade morfológica, onde coexistem áreas que apresentam
grande vulnerabilidade à inundação e áreas com grande
vulnerabilidade a movimentos de massa (escorregamentos,
deslizamentos).
Planícies Litorâneas
As planícies litorâneas compreendem variado conjunto
deformasdeposicionais,genericamentedenominadas“bai-
xadas”, que preenchem extensas áreas deprimidas locali-
zadas próximo ao litoral. Apresentam sedimentação de
interface entre ambientes fluvial, marinho e lagunar, de
idade pleistocênica a holocênica. Abrangem grande parte
da linha de costa, desde Santa Catarina até o Rio Grande
do Norte (Figura 3.23).
Apresentam cotas topográficas sempre inferiores a 20
m. Nesse contexto, podem ser individualizadas: planícies
fluviais, planícies flúvio-marinhas, planícies flúvio-lagunares
e planícies costeiras. Essas unidades apresentam alto po-
tencial de vulnerabilidade a eventos de inundação, exce-
tuando-se as planícies costeiras.
As planícies litorâneas foram originadas pelas
flutuações do nível relativo do mar a partir do Pleistoceno
Superior. Desde então, registram-se pelo menos dois má-
ximos transgressivos associados a períodos interglaciais. A
penúltimatransgressãodatadeaproximadamente120.000
anos a.P. (até o Presente) (Pleistoceno Superior), e a últi-
ma, datada de aproximadamente 5.100 anos a.P.
(Holoceno) (SUGUIO et al., 1985). Entre os dois máximos
transgressivos, registram-se testemunhos de antigos cor-
dões arenosos e terraços fluviais de idade pleistocênica,
não erodidos pela transgressão holocênica. A partir de
Figura 3.23 ––––– Extensa planície lagunar recentemente
colmatada por sedimentos fluviais e ocupados por pastagens,
apresentando freqüentes áreas inundáveis (estrada Campos–
Farol de São Tomé, RJ).
47
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
5.100 anos a.P., foram geradas ilhas-barreiras que isola-
ram extensos corpos lagunares, principalmente entre San-
ta Catarina e Rio de Janeiro e delinearam a configuração
atual das baixadas, marcadas por intensa sedimentação
flúvio-marinha ou flúvio-lagunar resultante do período de
regressão marinha subseqüente ao máximo transgressivo
holocênico. Ou seja, grande parte das atuais planícies lito-
râneas (Planície do Vale do Itajaí/SC; Baixada de Paranaguá/
PR; Planície do Vale do Ribeira/SP; Baixada de Santos/SP;
Baixada Fluminense/RJ; Baixada Campista/RJ; Planície
Deltaica do rio Doce/ES; Planície Deltaica do rio
Jequitinhonha/BA; dentre outras) estiveram parcialmente
submersas há aproximadamente 5.000 anos.
Os baixos cursos fluviais são preenchidos por planí-
cies flúvio-marinhas ou flúvio-lagunares e recobertas por
matas de várzea. Caracterizam-se por terrenos mal a mui-
to maldrenados, com padrão de canais meandrantes a
divagantes. As zonas intermarés são cobertas por man-
gues. As planícies lagunares, por sua vez, são cobertas
por brejos (campos de várzea) sobre Gleissolos, muitos
dos quais com influência marinha devido à concentração
de sais ou enxofre (Gleissolos Salinos ou Tiomórficos).
As planícies costeiras, por sua vez, compreendem uma
sucessãodefeixesderestingasresultantesdoempilhamento
de cristas de cordões litorâneos decorrente da ação mari-
nha. Caracterizam-se por alternância de cristas arenosas
paralelas entre si (antigas linhas de praia) com depressões
embrejadas intercordões. Predominam solos bem drenados
e muito permeáveis (Espodossolos e Neossolos
Quartzarênicos) (EMBRAPA, 2001), cobertos por vegetação
pioneira e mata de restinga. No topo dessas cristas areno-
sas pode ocorrer algum retrabalhamento do material por
ação eólica, resultando na formação de campos de dunas
(AMADOR, 1997).
A linha de costa apresenta tanto áreas de progradação
(sedimentação), quanto áreas de retrogradação (erosão).
É bastante freqüente a ocorrência de problemas de erosão
costeira em extensas áreas do litoral brasileiro (Figura 3.24).
Tabuleiros do Grupo Barreiras
Os tabuleiros estão embasados por rochas
sedimentares de idade terciária, pouco litificadas, do Gru-
po Barreiras. São expressivos do litoral norte do Rio de
Janeiro até o Rio Grande do Norte, ocupando vasta super-
fície pré-litorânea. Caracterizam-se por uma superfície pra-
ticamente plana (em cotas que variam entre 20 e 200 m),
com solos espessos, pobres, bem drenados (Latossolos
Amarelos) (EMBRAPA, 2001), recobertos por mata de ta-
buleiro.
As superfícies tabulares são entalhadas, em geral,
por uma rede de drenagem paralela de baixa densidade,
formando vales encaixados em “U”, ou em colinas tabu-
lares, principalmente quando a densidade de drenagem
torna-se maior, próximo ao contato com o substrato pré-
cambriano. Os tabuleiros costeiros estão associados a fei-
ções singulares, tais como lagunas estreitas e alongadas
e falésias ativas ou inativas. Essas falésias são taludes
abruptos (barreiras) junto ao litoral, produzidos por pro-
cesso de abrasão marinha. Apresentam grande beleza
cênica, como no litoral sul da Bahia (Porto Seguro e Pra-
do) (Figura 3.25).
Alinhamentos Serranos da Fachada
Atlântica
Os alinhamentos serranos da Fachada Atlântica re-
presentam um conjunto de escarpas montanhosas
festonadas, fortemente alinhadas e compostas pelas ser-
ras do Mar e da Mantiqueira (Perfil 3.4). Esse conjunto
de terrenos montanhosos representa uma notável feição
morfológica da geodiversidade do sul-sudeste brasileiro.
As escarpas serranas apresentam, em geral,
desnivelamentos extremamente elevados, às vezes, su-
periores a 2.000 m. As vertentes são íngremes, por ve-
Figura 3.24 ––––– Aspecto da planície costeira de Jurubatiba,
recoberta por vegetação de restinga, sendo constituída de sucessivo
empilhamento de cordões arenosos marinhos em condições de linha
de costa progradante. Local: Estrada Macaé–Carapebus (RJ).
Fotografia cedida por Edgar Shinzato.
Figura 3.25 ––––– Aspecto das falésias ativas do Grupo Barreiras em
processo de recuo erosivo do tabuleiro costeiro por abrasão
marinha (município de Porto Seguro, BA).
48
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
zes rochosas, freqüentemente recobertas por depósitos
de tálus e colúvios. Os gradientes são muito elevados e
os topos aguçados ou em cristas alinhadas apresentam
densidade de drenagem muito alta, sob freqüente con-
trole estrutural (DANTAS, 2001). Predominam solos jo-
vens, como Cambissolos e Neossolos Litólicos (EMBRAPA,
2001), cobertos por Mata Atlântica de encosta, sendo
que os principais fragmentos remanescentes da mata
original situam-se nesses terrenos muito acidentados. Nos
topos mais elevados dos alinhamentos serranos, a Mata
Atlântica é substituída por campos de altitude ou refúgio
de mata de araucária, tal como registrado no Planalto da
Bocaina, no maciço do Itatiaia e na serra dos Órgãos.
Esses alinhamentos apresentam alto potencial de
vulnerabilidade a eventos de movimentos de massa devi-
do à existência de terrenos de alta declividade em áreas
onde ocorrem períodos de fortes precipitações produzi-
das por sistemas frontais, associadas a chuvas orográficas.
A pluviosidade média das escarpas serranas é bastante
superior àquelas registradas nas baixadas e áreas colinosas
adjacentes, atingindo um acúmulo anual de chuvas supe-
rior a 2.000 ou 2.500 mm. Em cidades como Blumenau e
Joinville, no vale do Itajaí (SC), Ubatuba e Caraguatatuba
(SP), no front da escarpa da serra do Mar, no litoral norte
do estado de São Paulo e em Petrópolis e Nova Friburgo,
na região serrana do Rio de Janeiro, são recorrentes os
“desastres naturais” acarretados por eventos de
deslizamentos e inundações que promovem consideráveis
danos materiais e vítimas.
Segundo Asmus e Ferrari (1978), tanto os maciços
costeiros quanto os escarpamentos das cadeias monta-
nhosas das serras do Mar e da Mantiqueira são resultantes
do soerguimento e basculamento de blocos escalonados,
apresentando direção preponderante WSW-ENE. Essa
tectônica cenozóica originou, entre os blocos elevados,
depressões tectônicas que se comportam como
hemigrabens, tais como: bacias de Curitiba e de São Pau-
lo; médio vale do rio Paraíba do Sul; Baixada Fluminense.
Todavia, segundo Almeida e Carneiro (1998), a escarpa
da serra do Mar resulta de um extenso recuo erosivo de
antiga escarpa de falha originada junto à falha de Santos,
a partir do Paleoceno. Segundo esses autores, a escarpa
daserradaMantiqueiranãosofreurecuotãoextenso,sendo
que seu plano de falha localiza-se junto à borda norte das
bacias de Resende e Taubaté.
A escarpa da serra do Mar prolonga-se desde o sul de
SantaCatarinaatéoRiodeJaneiroeconsisteemumaabrupta
e imponente barreira montanhosa que se levanta junto à
linha da costa nos estados de Santa Catarina, Paraná, São
Paulo e Rio de Janeiro. Sua direção preponderante é SSW-
NNE, entre Santa Catarina e Paraná; a norte do Arco de
Ponta Grossa, inflete para uma direção dominante WSW-
ENE. Seus cimos apresentam cotas que variam entre 500 m
(na serra das Araras/RJ) a 2.300 m (na serra dos Órgãos/
RJ), com uma linha de cumeada que oscila mais frequen-
temente entre 800 e 1.300 m (Figura 3.26).
A escarpa da serra da Mantiqueira estende-se de São
Paulo ao Espírito Santo, atravessando os estados do Rio de
Janeiro e Minas Gerais. Apresenta direção preponderante
WSW-ENE,separandoovaledorioParaíbadoSuldoPlanal-
to Sul-Mineiro (Bacia do alto rio Grande) (Perfil 3.4). Seus
cimosatingemcotassuperioresa2.700m,comonomaciço
do Itatiaia (2.787 m, na divisa entre Rio de Janeiro e Minas
Gerais) e no maciço do Caparaó (2.890 m, na divisa entre
Minas Gerais e Espírito Santo), com uma linha de cumeada
que oscila mais freqüentemente entre 1.000 e 1.600 m. A
cidade mais alta do Brasil, a 1.600 m de altitude, é Campos
do Jordão (SP), situada justamente na serra da Mantiqueira.
As serras do Mar e da Mantiqueira resultam, portan-
to, do notável soerguimento tectônico de um conjunto
de extensas e majestosas muralhas orográficas de grande
beleza cênica, com 1.000 a quase 3.000 m de
desnivelamento, que orlam uma parte expressiva do lito-
ral brasileiro. Em diversos casos, os picos mais elevados
são sustentados por rochas graníticas em forma de pon-
tões de topo arredondado.
No interior de Minas Gerais, diversos alinhamentos
serranossedestacamdapaisagemdemar-de-morrosdomi-
nante, via de regra, ressaltados por erosão diferencial, pois
estão sustentados por quartzitos, tais como as serras de
Ibitipoca (em cotas que alcançam 1.600 m), do Caraça,
esta no Quadrilátero Ferrífero (em cotas que superam os
2.000 m) (Figura 3.27) e do Cipó, situada no Espinhaço
(em cotas que alcançam 1.700 m). No alto dessas eleva-
ções, com solos muito rasos, dominam os campos rupestres
e os campos de altitude. O Quadrilátero Ferrífero, além de
sua grande relevância para o setor mineral, também se des-
taca topograficamente na paisagem mineira, visto que os
itabiritos e as formações ferríferas bandadas sustentam as
serras do Curral, Moeda e Gandarela, via de regra, capeadas
por espessas formações de cangas e alçadas 500 a 800 m
acima do nível colinoso regional.
Figura 3.26 ––––– Aspecto imponente da muralha montanhosa e
festonada da escarpa da serra da Bocaina no litoral sul fluminense,
com cotas superiores a 1.000 m em sua linha de cumeada. A linha
de costa assume um padrão recortado, alternando exíguas planícies
flúvio-marinhas em fundos de baías e enseadas com pontões
rochosos que atingem o litoral (rodovia Rio–Santos, município de
Paraty, RJ).
49
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
Mares-de-Morros Florestados
O relevo dominante dos mares-de-morros florestados
é caracterizado por terrenos colinosos de baixa a média
amplitude de relevo, com desnivelamentos locais entre
50e100m,sendooriginalmenterecobertoporMataAtlân-
tica. Esse relevo de colinas e morros baixos pode estar
associado a setores de planaltos ou a depressões
interplanálticas.
Os planaltos consistem em terrenos colinosos a mon-
tanhosos, localizados, em geral, no reverso das escarpas
serranas, tais como o Planalto Sul Mineiro (em cotas entre
600 e 900 m), e o Planalto Paulistano, situado no alto vale
do rio Paraíba do Sul (em cotas entre 800 e 1.100 m).
Trata-se de superfícies residuais, soerguidas por tectônica,
que resistiram aos processos erosivos e de aplainamento
atuantes durante o Cenozóico Superior, configurando-se,
portanto, em terrenos elevados.
As depressões interplanálticas apresentam-se embuti-
das entre planaltos ou alinhamentos serranos que ocu-
pam grandes extensões na Zona da Mata mineira e no
vale do rio Paraíba do Sul (em cotas entre 200 e 600 m).
Em termos gerais, esses terrenos foram originados por in-
fluência de rebaixamento tectônico, a partir da abertura
do oceano Atlântico e do soerguimento das cadeias mon-
tanhosas das serras do Mar e da Mantiqueira, durante o
final do Cretáceo e o Terciário (ALMEIDA, 1976; ASMUS
e FERRARI, 1978) (Perfil 3.4). Trata-se de ampla unidade
caracterizada por colinas, morrotes e morros baixos com
vertentes convexo-côncavas, de gradiente suave a médio
e topos arredondados e subnivelados (Figura 3.28).
O domínio de mares-de-morros notabiliza-se pela for-
mação de solos espessos (Argissolos e Latossolos)
(EMBRAPA, 2001), em condições de intenso intemperismo
químico, freqüentemente recobertos por colúvios, ates-
tando também uma efetiva atuação de processos erosivos.
Algumas áreas desse domínio colinoso, em especial, em
determinados trechos do médio vale do rio Paraíba do
Sul, destacam-se pela intensidade dos processos
geomorfológicos que podem estar condicionados pela di-
nâmica da água subterrânea sobre as linhas de fraqueza
do substrato geológico (COELHO NETTO, 1999, 2003),
com ocorrência generalizada de voçorocamentos, captu-
ras de drenagem e inversão de relevo.
Planalto da Bacia do Paraná
O extenso Planalto da Bacia do Paraná foi modelado
em uma antiga bacia sedimentar gondwânica, soerguida
ao longo do Cenozóico. Apresenta cotas que variam entre
300 e 800 m, caracterizando-se por um relevo de topos
tabulares (espigões) e de colinas amplas e suaves.
O Planalto da Bacia do Paraná pode ser segmentado
em três unidades: Depressão Periférica; cuestas de
Botucatu; Planalto Ocidental (PONÇANO et al., 1981).
A Depressão Periférica consiste na porção aflorante
da seqüência sedimentar paleozóica (devoniano-
permiana) da Bacia do Paraná, situada entre o Planalto
Atlântico e o front escarpado das cuestas de Botucatu,
constituindo-se de colinas amplas e suaves de baixa am-
plitude de relevo.
A cuesta de Botucatu é uma crista dissimétrica susten-
tada por cornijas de derrames basálticos da Formação Serra
Geral, com o front escarpado voltado para a Depressão
Periférica (Figura 3.29). Nessas vertentes declivosas, afloram
arenitosortoquartzíticosdaFormaçãoBotucatu.Osdegraus
escarpados perfazem um desnivelamento de 200 a 350 m.
A rede de drenagem principal é obseqüente em relação a
esse compartimento geológico-geomorfológico. Sendo as-
sim, os rios Mogi-Guaçu, Tietê, Piracicaba e Paranapanema
escavampassagens(gargantasepigênicas)emmeioaofront
da cuesta para alcançar o Planalto Ocidental Paulista, con-
ferindo, assim, um caráter fragmentado às cuestas de
Botucatu (Figura 3.29). Muitas dessas gargantas foram uti-
Figura 3.27 –Figura 3.27 –Figura 3.27 –Figura 3.27 –Figura 3.27 – A resistência diferencial das litologias ao
intemperismo e à erosão demonstra um contraste entre o relevo
suave ondulado de colinas amplas embasadas por xistos do
Supergrupo Rio das Velhas e o relevo montanhoso do maciço do
Caraça, ao fundo, sustentado por quartzitos do Grupo Caraça
(Santuário do Caraça, Quadrilátero Ferrífero, MG). Fotografia:
Antônio Ivo Medina.
Figura 3.28 –Figura 3.28 –Figura 3.28 –Figura 3.28 –Figura 3.28 – Aspecto regional do relevo de colinas e morros baixos
ocupados por pastagens e capoeiras, da depressão interplanáltica do
médio vale do rio Paraíba do Sul, sendo denominado relevo de “mar-de-
morros”. Ao fundo, a serra da Mantiqueira, em território mineiro
(estrada Barra do Piraí–Valença, RJ).
50
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Perfil3.3–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectTeresina(PI)–Recife(PE).
Perfil3.4–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectAngradosReis(RJ)–Itamonte(MG).
51
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
lizadas para aproveitamento hidrelétrico. Localiza-se justa-
mente nesse front dos degraus escarpados das cuestas de
Botucatu uma das mais importantes áreas de recarga do
Aqüífero Guarani.
O Planalto Ocidental consiste na porção aflorante de
parte da seqüência sedimentar mesozóica (jurocretácica)
da Bacia do Paraná, situada no extenso reverso da cuesta
de Botucatu, sustentada por rochas básicas da Formação
Serra Geral e arenitos da Formação Bauru. Apresenta ex-
tensos espigões de topo plano, escavados por amplos va-
les dos tributários do rio Paraná. Predominam solos espes-
sos, em geral argilosos e bem drenados (Latossolos e
Nitossolos) (EMBRAPA, 2001), ocupados outrora por Mata
Atlântica. Os Nitossolos, popularmente conhecidos como
“terra roxa”, apresentam elevada fertilidade, em razão da
vasta ocorrência de basaltos na superfície do planalto, em
especial sobre os topos dos espigões.
Merece destaque especial o fato de que no Planalto
da Bacia do Paraná localiza-se o maior reservatório de água
subterrânea no mundo: o Aqüífero Guarani, que está ar-
mazenado nos arenitos jurássicos da Formação Botucatu.
Esses arenitos finos, ortoquartzíticos, de origem eólica
(paleoclima desértico), apresentam alta porosidade e se
encontram confinados na base por folhelhos, argilitos e
siltitos bastante impermeáveis do Grupo Tubarão; no topo,
estão capeados por derrames vulcânicos (rocha maciça e
fraturada – basaltos, riolitos ou dacitos) da Formação Ser-
ra Geral. Eis uma condição hidrogeológica ideal para a
formação de um aqüífero confinado de grandes propor-
ções. O Aqüífero Guarani abrange grande parte do cen-
tro-sul do país (parte dos estados do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso e Triângulo Mineiro); do centro-leste do
Paraguai; do nordeste da Argentina e noroeste do Uru-
guai. Devido a sua importância estratégica como a maior
jazida de água subterrânea do planeta, é de fundamental
importância o estabelecimento de um acordo no âmbito
do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) para regular o
uso controlado do Aqüífero Guarani (evitando, assim, uma
superexplotação) e a proteção de suas áreas de recarga.
DOMÍNIO DOS PLANALTOS ÚMIDOS
SUBTROPICAIS DA MATA DE
ARAUCÁRIAS
Nesse domínio, destacam-se quatro padrões
morfológicos principais, similares aos já descritos no Pla-
naltodaBaciadoParanápaulista(recobertoporMataAtlân-
tica): Primeiro Planalto Paranaense ou Planalto Atlântico;
Segundo Planalto Paranaense ou Depressão Periférica; Ter-
ceiro Planalto Paranaense ou Planalto Arenítico-Basáltico;
Planalto dos Campos Gerais, conforme delineado por
MAACK (1947).
Esses ambientes estão submetidos a um regime cli-
mático subtropical e úmido, com precipitações bem dis-
tribuídas ao longo de todo o ano e invernos frios, com
ocorrência freqüente de geadas em todo o domínio e
eventuais precipitações de neve no Planalto dos Cam-
pos Gerais (São Joaquim e Lajes/SC e serra Gaúcha).
Tais paisagens ocupam o interior dos estados do Paraná
e Santa Catarina e o norte do Rio Grande do Sul. São
submetidas a uma moderada atuação do intemperismo
químico, devido às temperaturas mais baixas, com for-
mação de solos de espessura variável e acúmulo de
matéria orgânica (desde Cambissolos Brunos, no pla-
nalto de Lages (SC), a Latossolos Roxos, no oeste do
Paraná) (EMBRAPA, 2001), sendo recobertas por pecu-
liar floresta de coníferas de clima temperado denomi-
nada “mata de araucárias”.
Planalto Atlântico
O Planalto Atlântico é constituído pelo embasamento
ígneo-metamórfico da Faixa Ribeira junto ao Arco de Pon-
ta Grossa. Está situado entre o reverso da serra do Mar e o
front de cuestas demarcado pela Serrinha, com
desnivelamentos totais entre 100 e 150 m, no contato
com a borda leste da Bacia do Paraná (Perfil 3.5). No inte-
rior desse planalto está embutida a bacia sedimentar
cenozóica de Curitiba, que consiste em um relevo de co-
linas amplas e suaves e morros subordinados (em cotas
que variam entre 800 e 1.000 m). No interior da Bacia de
Curitiba, dominam as superfícies tabulares de baixa am-
plitude de relevo, esculpidas sobre rochas sedimentares
pouco litificadas de idade cenozóica e amplas planícies
aluviais do rio Iguaçu e tributários.
Depressão Periférica
ADepressãoPeriféricaocupaexpressivaporçãodointe-
rior dos estados do Paraná e de Santa Catarina, sendo escul-
pida em arenitos siluro-devonianos da Formação Furnas;
folhelhosdevonianosdaFormaçãoPontaGrossaeaseqüên-
cia sedimentar permocarbonífera do Grupo Tubarão, com-
pondo a seqüência paleozóica da Bacia do Paraná (CPRM,
2006). Essa unidade está situada entre o reverso da Serrinha
dePontaGrossaeafrentedascuestasdaFormaçãoBotucatu
Figura 3.29 ––––– Visada lateral do front escarpado da cuesta de
Botucatu, separando a Depressão Periférica do Planalto Ocidental
Paulista (município de Botucatu, SP). Disponível em: <http://
www.polocuesta.com.br/ botucatu/>.
52
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
e consiste em topos planos de superfícies cimeiras sustenta-
das por arenitos da Formação Furnas (alçados a cotas entre
1.000 e 1.250 m) e um relevo de colinas e morros interiores
(em cotas que variam entre 600 e 900 m).
Planalto Arenítico-Basáltico
O Planalto Arenítico-Basáltico ocupa a porção centro-
ocidental dos estados do Paraná e de Santa Catarina e o
norte do Rio Grande do Sul. É constituído por derrames
vulcânicos de composição ácida (riolitos e dacitos) a bási-
ca (basaltos) da Formação Serra Geral, em parte, capeada
por arenitos cretácicos, compondo a seqüência mesozóica
da Bacia do Paraná (CPRM, 2006). Essa unidade está situ-
ada no reverso da cuesta de Botucatu e suas cotas dimi-
nuem gradativamente para oeste na medida em que se
aproxima da calha do rio Paraná, já sob domínio da Mata
Atlântica, como por exemplo, em Foz do Iguaçu (Perfil
3.5). As áreas mais elevadas, junto às cuestas de Botucatu,
são, por sua vez, dominadas por matas de araucária. Apre-
senta extensos planaltos de topo plano ou reafeiçoados
em colinas amplas e suaves.
Planalto dos Campos Gerais
O Planalto dos Campos Gerais corresponde a um tre-
cho mais elevado do Planalto Meridional, abrangendo o
sudeste de Santa Catarina e a serra Gaúcha no nordeste
do Rio Grande do Sul. É totalmente constituído por riolitos,
dacitos e basaltos da Formação Serra Geral, de idade
jurocretácica (CPRM, 2006). Esse planalto elevado está
alçado a cotas que variam entre 900 e 1.500 m, sendo
dominado por vastas superfícies aplainadas, levemente
adernadas para oeste, com ocorrência de áreas de relevo
montanhoso, com picos que atingem 1.800 m de altitu-
de. Os rios das Antas, Pelotas e Canoas, que drenam o
planalto, esculpem vales bastante aprofundados, indican-
do que o padrão de entalhamento processado no Planalto
dos Campos Gerais obedece, claramente, ao
acamadamento dos derrames de rochas vulcânicas, ge-
rando vales escalonados, platôs e mesetas (ALMEIDA,
1952) (Figura 3.30). Predominam solos pouco espessos,
tais como Cambissolos Brunos e Neossolos Litólicos, de-
vido à baixa velocidade do intemperismo químico
(EMBRAPA, 2001). Trata-se da região mais fria do Brasil,
com registro de temperaturas negativas no inverno. As
superfícies planálticas são, portanto, dominadas por cam-
pos limpos, enquanto que as matas de araucária ocupam
capões isolados ou vales encaixados.
Uma notável feição morfológica da geodiversidade do
sul do Brasil é representada pela escarpa da serra Geral,
onde está situado o cânion de Aparados da Serra. Esse
majestoso escarpamento, com aproximadamente 1.000 m
de desnivelamento total e intensamente sulcado por uma
densarededecanais,éumrelevodetransição,demorfologia
muito acidentada, entre o Planalto dos Campos Gerais e a
baixada costeira do litoral sul de Santa Catarina. Ao longo
da Coluna White, observa-se um empilhamento de derra-
mes vulcânicos de cerca de 700 m de espessura, evidenci-
ando que o “Vulcanismo Serra Geral”, ocorrido há 130
milhões de anos, correlato à abertura do oceano Atlântico,
correspondeu ao mais extenso extravasamento de lavas na
história geológica do planeta. Além de recobrir grande par-
te da Bacia do Paraná, também é documentado no sul da
África, pois, nesse período, esses continentes ainda esta-
vam ligados (época terminal do antigo supercontinente
Gondwana). As falésias litorâneas e os morros-testemunhos
na cidade de Torres (RS) atestam tal fato geológico.
DOMÍNIO DAS COXILHAS ÚMIDAS
SUBTROPICAIS DA CAMPANHA GAÚCHA
Nesse domínio, destacam-se quatro padrões
morfológicos principais: Planalto Sul-Rio-Grandense; De-
pressão do rio Ibicuí; Coxilha de Haedo; Planalto de
Uruguaiana. Esses ambientes estão submetidos a um re-
gime climático subtropical e úmido, todavia, são menos
chuvosos que o Planalto das Araucárias. São ambientes
bastante vulneráveis ao avanço das massas polares, em
especial no inverno, quando essa região descampada en-
contra-se assolada por ventos gélidos do quadrante sul,
denominados “minuano”. As paisagens ocupam o sul do
estado do Rio Grande do Sul, em uma região tradicional-
mente denominada Campanha Gaúcha. São submetidas à
moderada atuação do intemperismo químico, com for-
mação de solos pouco profundos e húmicos, de boa ferti-
lidade natural (predomínio de solos Litólicos eutróficos,
Argissolos e Brunizém e ocorrência subordinada de
Vertissolos) (EMBRAPA, 2001), sendo cobertas por uma
formação herbácea similar às pradarias de clima tempera-
do, caracterizada por campos limpos (Figura 3.31).
Figura 3.30Figura 3.30Figura 3.30Figura 3.30Figura 3.30 ––––– Planalto dos Campos Gerais coberto por campos
limpos e capões de araucária, apresentando forte dissecação fluvial
em três níveis de patamares escalonados, controlados por derrames
de rochas vulcânicas no alto vale do rio das Antas (município de São
José dos Ausentes, RS).
53
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
A Campanha Gaúcha é delimitada, a norte, pela de-
pressão dos rios Jacuí e Ibicuí. As áreas rebaixadas consistem
em depressões periféricas que separam o Escudo Sul-Rio-
Grandense do Planalto das Araucárias (Perfil 3.6). A leste, a
Campanha Gaúcha é delimitada pela planície litorânea das
lagoasdosPatoseMirim,dominadapordepósitosrecentes,
deorigemmarinha,compostosporrestingasedunas;oude
origem lagunar, compostos pelos banhados. A sul, o domí-
nio se estende pelo território uruguaio e parte do território
argentino,sendoregionalmentedenominado“Pampas”.
Planalto Sul-Rio-Grandense
O Planalto Sul-Rio-Grandense apresenta, em linhas
gerais, conformação dômica de um núcleo arqueado
(AB’SABER, 1998; ROSS, 1997), sendo constituído pelo
embasamento ígneo-metamórfico do Escudo Sul-Rio-
Grandense (em especial, granitos, gnaisses e rochas
metavulcânicas) (CPRM, 2006). Esse planalto, situado en-
tre a planície litorânea e as depressões dos rios Jacuí e Ibicuí,
está dissecado em relevo de colinas e morros amplos, per-
fazendo cotas que variam entre 200 e 500 m (Perfil 3.6).
Depressão do Rio Ibicuí
A Depressão do rio Ibicuí apresenta-se como um cor-
redor norte-sul, no qual se encontra encaixado o vale do
rio Santa Maria. Está situada entre o Planalto Sul-Rio-
Grandense e o front de cuesta da Coxilha de Haedo. A
depressão foi esculpida em rochas sedimentares da Bacia
do Paraná, de composição fina (em geral, folhelhos,
argilitos e siltitos de idade permotriássica) (CPRM, 2006).
Consiste em um relevo de colinas baixas, fortemente
dissecadas, devido à baixa permeabilidade das rochas e
dos solos, cobertas por extensas planícies aluviais. A de-
pressão se encontra embutida em cotas que variam entre
100 e 200 m, representando uma área típica da vegeta-
ção estépica (campos limpos) da Campanha Gaúcha.
Coxilha de Haedo
A Coxilha de Haedo consiste em uma frente de
cuesta sustentada por cornijas de derrames vulcânicos
da Formação Serra Geral, com o front escarpado voltado
para leste, em direção à Depressão do rio Ibicuí. Nas
vertentes declivosas afloram os arenitos ortoquartzíticos
das formações Guará e Botucatu (CPRM, 2006). Os re-
bordos erosivos perfazem um desnivelamento de 70 a
150 m, atingindo cotas que variam entre 250 a 300 m.
A Coxilha de Haedo representa, portanto, um relevo de
transição entre a Depressão do rio Ibicuí e o Planalto de
Uruguaiana.
Planalto de Uruguaiana
O Planalto de Uruguaiana está situado no sudoeste
do Rio Grande do Sul, sendo totalmente constituído por
andesitos, riodacitos e basaltos da Formação Serra Geral,
de idade jurocretácica (CPRM, 2006). O planalto está al-
çado a cotas que variam entre 70 e 300 m, com suave
caimento de leste para oeste, em direção à calha do rio
Uruguai. Seus tributários principais entalham vales que
expõem os arenitos da Formação Botucatu, onde são
registrados sérios problemas de arenização do solo
(SUERTEGARAY et al., 1999). O planalto apresenta, próxi-
mo à Coxilha de Haedo, relevo dissecado em colinas e
morros. Em direção ao rio Uruguai, esse relevo é substitu-
ído por monótonas superfícies aplainadas, suavemente
entalhadas por uma rede de drenagem de baixa densida-
de, onde se ressalta a Coxilha de Santana.
DOMÍNIO DA PLANÍCIE INUNDÁVEL
SEMI-ÚMIDA TROPICAL DO PANTANAL
A Planície do Pantanal é uma bacia sedimentar ativa,
de idade quaternária. Estende-se por toda a porção cen-
tral do continente sul-americano, incluindo a Bacia Platina
e região do Chaco.
A Planície do Pantanal abrange vastas áreas dos es-
tados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e adentra os
territórios da Bolívia e do Paraguai. É caracterizada pelas
planícies aluviais do rio Paraguai e tributários importan-
tes, como os rios Cuiabá, Taquari e São Lourenço; gran-
des planícies flúvio-lacustres, periodicamente inundadas
que perfazem a maior parte do Pantanal; “cordilheiras”
que consistem em pequenas elevações ou tesos, poucos
metros acima do nível da planície flúvio-lacustre, mas a
salvo das inundações periódicas (AB’SABER, 1988) (Fi-
gura 3.32).
São terrenos constituídos por solos hidromórficos
(Planossolos, Gleissolos, Espodossolos e Vertissolos
(EMBRAPA, 2001)), apresentando cotas que variam entre
100 e 200 m. Notabilizam-se pela ocorrência de extensas
áreas deposicionais. O leque aluvial do Taquari é um exce-
lente exemplo da forma como essa bacia sedimentar vem
Figura 3.31 ––––– Relevo de colinas muito amplas e suaves
(coxilhas), cobertas por campos limpos, com tradicional vocação
econômica para a pecuária de corte, o que caracteriza a região
da Campanha Gaúcha (RS) (município de Bagé, (RS). Fotografia:
Vitório Orlandi Filho.
54
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Perfil3.5–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectParanaguá(PR)–FozdoIguaçu(PR).
Perfil3.6–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectPassoFundo(RJ)–SantanadoLivramento(RJ).
55
ORIGEM DAS PAISAGENS
Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy
sendo entulhada de sedimentos. A leste, a Planície do Pan-
tanal é bruscamente delimitada por uma escarpa de falha
(serra de Maracaju), com desnivelamentos entre 300 e
400 m. A serra de Maracaju define o rebordo ocidental do
Planalto Brasileiro, de onde partem as nascentes dos rios
que drenam para o Pantanal. O desmatamento do cerrado
nativo para a expansão da economia agroexportadora no
planalto tem promovido impactos ambientais relevantes
no Pantanal, devido ao aumento expressivo da descarga
de sedimentos nos canais. Estes, quando atingem a Planí-
cie do Pantanal, têm sua velocidade e capacidade de trans-
porte reduzidas, produzindo o assoreamento do leito dos
canais e o agravamento do nível das cheias sazonais.
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Figura 3.32 ––––– Baixada aluvial e lacustrina, prolongadamente
inundável, constituída por sedimentos holocênicos de textura argilo-
arenosa ou argilosa que preenchem a bacia quaternária do Pantanal.
Rede desorganizada de canais divagantes, pontilhada por lagos,
coberta por formações graminosas e florestais do complexo do
Pantanal, com uso restrito a pastagens naturais extensivas. Vista da
cidade de Corumbá, situada no sopé de uma elevação isolada.
Fotografia: Antônio Theodorovicz.
56
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
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New York: Wiley, 1991. 537 p.
MARCELO EDUARDO DANTAS
Graduado em Geografia (1992) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com os títulos de licenciado em Geografia
e Geógrafo. Mestre em Geomorfologia e Geoecologia (1995) pela UFRJ. Nesse período, integrou a equipe de pesquisadores
do Laboratório de Geo-Hidroecologia (GEOHECO/UFRJ), tendo atuado na investigação de temas como: Controles Litoestruturais
na Evolução do Relevo; Sedimentação Fluvial; Impacto das Atividades Humanas sobre as Paisagens Naturais no Médio Vale do
Rio Paraíba do Sul. Em 1997, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/
SGB), atuando como geomorfólogo até o presente. Desenvolveu atividades profissionais em projetos na área de Geomorfologia,
Diagnósticos Geoambientais e Mapeamentos da Geodiversidade, em atuação integrada com a equipe de geólogos do
Programa GATE/CPRM. Dentre os trabalhos mais relevantes, destacam-se: Mapa Geomorfológico e Diagnóstico Geoambiental
do Estado do Rio de Janeiro; Mapa Geomorfológico do ZEE RIDE Brasília; Estudo Geomorfológico Aplicado à Recomposição
Ambiental da Bacia Carbonífera de Criciúma; Análise da Morfodinâmica Fluvial Aplicada ao Estudo de Implantação das UHEs
de Santo Antônio e Jirau (Rio Madeira-Rondônia). Atua, desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/
UNISUAM. Atualmente, é coordenador nacional de Geomorfologia do Projeto Geodiversidade do Brasil (CPRM/SGB). Atua,
desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/UNISUAM. Membro efetivo da União da Geomorfologia
Brasileira (UGB) desde 2007.
REGINA CELIA GIMENEZ ARMESTO
Geógrafa graduada (1974) pela Universidade do Estado da Guanabara, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). Especialização em: Engenharia de Meio Ambiente (1991), pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); Avaliação, Planejamento e Gerenciamento Ambiental (1992), pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Ciências Ambientais (1996), pela Universidade Estácio de Sá. Ingressou na Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) no início de 1976, no Departamento de Geologia
(DEGEO), onde permaneceu até 1985, destacando-se no desenvolvimento de atividades de Cartografia Geológica. Entre
1985 e 1990, assumiu a chefia da Divisão de Cartografia (DICART). No período de 1992-1996, foi responsável pela
Cartografia Geológica do DEGEO. Desde 1996, é chefe da Divisão de Gestão Territorial, participando da concepção do
Programa de Gestão Territorial da CPRM/SGB e exercendo atividades de coordenação/supervisão de mais de uma centena
de projetos em todo o território nacional de Geologia Ambiental, visando a subsidiar a Gestão Territorial.
AMÍLCAR ADAMY
Geólogo formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Fotointerpretação Geológica
pelo Centro Interamericano de Fotinterpretacion, Bogotá (Colômbia). Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente, pela Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Experiência em Mapeamento Geológico; Prospecção
Geoquímica; Metalogenia; Pesquisa Mineral para Ouro no Vale do Tapajós (Pará); Gestão Territorial em Municípios da
Amazônia; Zoneamento Ecológico-Econômico na Região Fronteiriça Brasil-Bolívia; Seleção de Áreas para Disposição de
Resíduos Sólidos Urbanos e Cemitério; Participação no Projeto Geodiversidade. Chefia da Unidade Regional da CPRM em
Porto Velho (1990-1992). Delegado do Ministério de Minas e Energia (MME) em Rondônia (1992-1996). Gerente
Regional de Hidrologia e Gestão Territorial em Rondônia (1996-2008).
57
ÁGUA É VIDA
Frederico Peixinho, Fernando Feitosa
4
ÁGUA É VIDA
Frederico Cláudio Peixinho (peixinho@rj.cprm.gov.br)
Fernando A. C. Feitosa (ffeitosa@fo.cprm.gov.br )
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
A Ciência Hidrológica ................................................................. 58
Ciclo Hidrológico ........................................................................ 58
Recursos Hídricos ........................................................................ 59
Hidrologia e Clima ..................................................................... 59
Recursos Hídricos Superficiais ..................................................... 60
Recursos Hídricos Subterrâneos.................................................. 60
Desafios da Água no Brasil ......................................................... 62
Bibliografia ................................................................................. 63
58
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
A CIÊNCIA HIDROLÓGICA
A água é um recurso natural essencial à vida de todas
as espécies existentes na face da Terra. Por se tratar de um
componente importante na bioquímica dos seres vivos,
exerce enorme influência sobre os valores socioculturais
dos povos, integrando a cadeia produtiva de vários bens
de consumo e intermediários. Com respeito ao homem, o
corpo humano contém 70% de água, a qual exerce um
papel fundamental em seu metabolismo.
A utilização da água pelo homem remonta a muitos
séculos e sua importância para a humanidade se encontra
registrada nas culturas de nossos antepassados. Na mito-
logia egípcia, Osíris era a personificação da fecundidade,
a fonte total e criadora das águas. Os gregos considera-
vam os rios e as fontes filhos do deus Oceano e os
divinizavam, dedicando-lhes oferendas.
Essa visão mitológica dos povos antigos começou a
ser abalada com as primeiras concepções científicas e filo-
sóficas da cultura ocidental, elaboradas pela Escola de
Mileto. Dentre os fundadores, destaca-se o pensador Tales
de Mileto, que afirmava ser a água a origem de todas as
coisas. Mais adiante, o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.),
refletindo sobre o surgimento da água, especulou acerca
das correlações entre a água proveniente da chuva e os
lençóis subterrâneos, postulando que os rios se origina-
ram, em parte, de água de chuva, bem como a umidade
do ar do interior das cavernas nas montanhas, que, ao se
condensar no solo, dava origem aos mananciais. Essa con-
cepção filosófica se aproximou do conceito preconizado
pela ciência hidrológica.
A hidrologia, em seu conceito etimológico, é a ciên-
cia que estuda a ocorrência, a distribuição, o movimento
e as propriedades da água na atmosfera, na superfície e
no subsolo terrestre.
Observar a água fluindo nos rios, ou apreciá-la nos
lagos e oceanos é atividade acessível a qualquer pessoa.
Entretanto, não nos é possível observar a água
armazenadanaatmosferae/ounosubsolonem
os mecanismos que orientam sua entrada nes-
ses locais de armazenamento e sua saída.
Quando a água evapora, ela desaparece na
atmosfera como vapor; quando se infiltra no
subsolo, torna-se invisível aos nossos olhos.
A complexidade dos processos que en-
volvem o ciclo da água torna a hidrologia uma
ciência de atuação interdisciplinar, envolven-
do a participação de profissionais de várias
áreas, como engenheiros, geólogos, agrôno-
mos, matemáticos, estatísticos, geógrafos,
biólogos, dentre outros.
CICLO HIDROLÓGICO
Na natureza, a água é a única substância
a ser encontrada nos três estados da matéria
(sólido, líquido e gasoso), estando distribuída em todos
os ambientes do planeta Terra: atmosfera, oceanos e con-
tinentes.
Essa ocorrência, entretanto, não é estática. A água
está em um processo dinâmico e contínuo de movimen-
to. O conjunto formado por precipitação, escoamento,
infiltração e evaporação forma um sistema fechado deno-
minado “ciclo hidrológico” (Figura 4.1).
Esse ciclo é governado, no solo e subsolo, pela ação
da gravidade, bem como pelo tipo e densidade da cober-
tura vegetal; na atmosfera e superfícies líquidas (rios, la-
gos, mares e oceanos), por elementos e fatores climáti-
cos, como, por exemplo, temperatura do ar, ventos, umi-
dade relativa do ar e insolação (função da radiação solar),
que são os responsáveis pelos processos de evaporação
que transportam grandes volumes de água, na forma de
vapor, para a atmosfera.
Em determinadas condições de temperatura e umi-
dade, o vapor de água da atmosfera se condensa em mi-
núsculas gotas que formam as nuvens e se precipita, na
forma de chuva ou neve, sobre os oceanos e continentes.
Uma parte da precipitação escoa pela superfície da
Terra, em direção ao mar, formando a rede de drenagem e
as massas de água superficial, sujeitas diretamente aos
processos de evaporação.
A outra parte da água que se precipita sobre os conti-
nentes se infiltra, através do solo, pelos espaços abertos
(juntas e fraturas) ou pelos poros (espaços entre grãos) exis-
tentes nas rochas. A água infiltrada pode ficar retida como
umidade no solo ou chegar até a zona saturada (aqüíferos),
incorporando-se ao fluxo subterrâneo. A água retida nos
solospodeserabsorvidapelasraízesdasplantas,retornando
à atmosfera através do processo de transpiração da vegeta-
ção. A água incorporada ao fluxo subterrâneo pode ressur-
gir na superfície, nas zonas de descarga dos aqüíferos, na
forma de nascentes ou como fluxo de base de rios ou lagos
ou, ainda, fluir diretamente para os oceanos.
Figura 4.1 – Ilustração esquemática do ciclo hidrológico (TEIXEIRA et al., 2000).
59
ÁGUA É VIDA
Frederico Peixinho, Fernando Feitosa
RECURSOS HÍDRICOS
A quantidade total de água disponível
no mundo é de cerca de 1,37 bilhão de km3
.
Se cobrirmos com esse volume o território
dos Estados Unidos da América, seus esta-
dos ficariam submersos por uma lâmina de
água de aproximadamente 145 km de pro-
fundidade.
Esse volume é constante, embora o flu-
xo de um reservatório para outro possa variar
diariamente: ou ano a ano, ou até, secular-
mente. Durante esses intervalos de tempo,
geologicamente curtos, não há ganho ou
perda de água para fora ou para o interior da Terra nem
qualquer perda da água da atmosfera para o espaço exte-
rior (Figura 4.2).
Embora esse volume de água possa impressionar à
primeira vista, na verdade, verifica-se que do total de água
existente, apenas 2,8% constituem a água doce, principal
fonte de utilização da humanidade. Se considerarmos o
total de água no planeta expresso por 1 litro, a água doce
existente seria apenas de 28 ml, o que seria relativamente
pouco, embora sendo um valor que ultrapassa 38 milhões
de km3
. Indo um pouco além, verifica-se que, desse total,
cerca de 21,7 ml (quase 30 milhões de km3
) estão indis-
poníveis ao homem, retidos nas geleiras, na atmosfera e/
ou na forma de umidade do solo. Assim, utilizando a ana-
logia proposta, de mil ml de água existentes no planeta, a
humanidade dispõe apenas de 6,27 ml de água doce para
a sua sobrevivência. Vale ressaltar, ainda, que desses 6,27
ml, a água visível ao homem, representada por rios, la-
gos, lagoas, não ultrapassa 0,1 ml (algo em torno de 120
mil km3
), que poderia ser subterrânea.
Figura 4.2 – Total de água no planeta Terra.
O crescimento populacional, o processo de mudan-
ças climáticas e a diminuição das águas disponíveis decor-
rente da degradação ambiental são fatores que têm con-
tribuído para o déficit hídrico em escala mundial, obri-
gando a que o uso da água entre na arena do debate das
políticas públicas. O Brasil possui grande disponibilidade
hídrica, distribuída de forma desigual em relação à densi-
dade populacional (Tabela 4.1).
HIDROLOGIA E CLIMA
Em muitos aspectos, a hidrologia local (quantidade
de água existente em uma região e a forma como ela flui
de um reservatório para outro) é mais importante que a
hidrologia global. O fator que mais exerce influência so-
bre a hidrologia local é o clima, o qual inclui a precipita-
ção e temperatura. Onde quer que se viva, o clima e a
geologia da região influenciam fortemente a quantidade
de água que se desloca de um reservatório a outro. Os
especialistas em hidrologia estão interessados em saber
Tabela 4.1 – Balanço hídrico das principais bacias hidrográficas do Brasil
Bacia hidrográfica Área (km2
)
Média da
precipitação
Média de
descarga (m3
/s)
Evapo-
transpiração
(m3
/s)
Descarga/
precipitação (%)
Amazônica 6.112.000 491.191 202.000 291.491 41
Tocantins 757.000 42.387 11.300 31.087 27
Atlântico Norte 242.000 16.388 6.000 10.388 37
Atlântico Nordeste 787.000 27.981 3.130 24.851 11
São Francisco 634.000 19.829 3.040 16.789 15
Atlântico Leste-Norte 242.000 7.784 670 7.114 9
Atlântico Leste-Sul 303.000 11.791 3.710 8.081 31
Paraná 877.000 39.935 11.200 28.735 28
Paraguai 368.000 16.326 1.340 14.986 8
Uruguai 178.000 9.589 4.040 5.549 42
Atlântico Sul 224.000 10.515 4.570 5.949 43
Brasil, incluindo a Amazônia 10.724.000 696.020 251.000 445.000 36
Fonte: BRAGA et al. (1998).
60
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
como as mudanças nas precipitações e eva-
porações afetam o abastecimento de água
devido à alteração no fluxo das águas super-
ficiais e subterrâneas. Se o nível do mar su-
bir em decorrência de um aquecimento glo-
bal, as águas subterrâneas nas terras baixas
das regiões costeiras poderão se tornar sal-
gadas, à medida que a água do mar for inva-
dindo os aqüíferos que eram inicialmente de
água doce.
RECURSOS HÍDRICOS
SUPERFICIAIS
As precipitações afetam fortemente o
escoamento dos rios, observando-se inunda-
ções rápidas depois de chuvas torrenciais.
Em áreas úmidas, uma proporção maior
da precipitação escoa superficialmente para
os rios; os mananciais subterrâneos, em ge-
ral,recebemumamaiorquantidadederecarga
na época das chuvas e, no período de estia-
gem, retribuem essa água aos rios, que per-
manecem com escoamento durante todo o
período seco. Nessa situação, os rios são de-
nominados “perenes” (Figura 4.3a).
Já em climas áridos ou semi-áridos, com
baixos índices de precipitação pluviométrica,
somente uma pequena fração da água da
chuva acaba como escoamento superficial.
Nessas regiões, boa parte da precipitação ou
infiltra ou evapora; nos períodos de estiagem,
há uma tendência de os rios secarem, pois
não há contribuição dos mananciais subter-
râneos (descarga de base). Nesses casos, os rios são de-
nominados “intermitentes” (Figura 4.3b).
Um grande rio pode carregar enorme quantidade de
água de uma região úmida para uma região seca. A meta-
de do escoamento superficial mundial provém de 70 gran-
des rios. Entre estes, destaca-se o Amazonas, contribuin-
do com praticamente um quarto do escoamento total. O
Amazonas transporta cerca de 10 vezes mais águas que o
Mississipi, maior rio da América do Norte.
No Brasil, país de dimensão continental, com grande
diversidade fisiográfica, hidrológica, ambiental, econômi-
ca e social, foi instituída, em 1997, a Política Nacional de
Recursos Hídricos – um marco institucional –, a qual in-
corpora princípios, normas e padrões de gestão da água
universalmente aceitos e praticados em muitos países.
O novo modelo de administração das águas conside-
ra a gestão descentralizada e participativa, envolvendo
múltiplos usos e diferentes formas de compartilhamento
das águas, representando uma verdadeira revolução não
apenas na gestão hídrica, como ambiental.
Dentre os princípios instituídos, merece destaque
aquele que define a bacia hidrográfica como unidade
Figura 4.3 – (a) rios perenes em zonas úmidas; (b) rios intermitentes em zonas
secas (adaptado de TEIXEIRA et al., 2000).
territorial de planejamento, permitindo, por meio dessa
delimitação geográfica, realizar o cotejamento, de forma
mais fácil, entre as disponibilidades e demandas, essenci-
ais para o que se denomina balanço hídrico. Nessa dire-
ção foi criada a Divisão Hidrográfica Nacional, que embasa
a aplicação dos instrumentos de gestão da Política Nacio-
nal de Recursos Hídricos (Figura 4.4).
Os demais princípios tratam dos usos múltiplos das
águas; do reconhecimento da água como bem finito e
vulnerável; do valor econômico da água; da adoção do
modelo de gestão da água de forma descentralizada e
participativa.
RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
Certamente, pelo fato de a utilização das águas sub-
terrâneas ser, relativamente, mais barata e as obras não
serem tão fotogênicas quanto as barragens e estações de
tratamento construídas para utilização das águas de su-
perfície, o manancial subterrâneo tem sido, freqüente-
mente, omitido nos planos de gerenciamento de recur-
sos hídricos. Não obstante, o manancial subterrâneo cons-
(a)
(b)
61
ÁGUA É VIDA
Frederico Peixinho, Fernando Feitosa
titui o maior volume de água doce líquida que ocorre na
Terra.
A distribuição da água em subsuperfície ocorre como
ilustrado na figura 4.5. Há duas zonas distintas: não-
saturada e saturada. Na primeira, os poros estão preenchi-
dos por água e por ar, constituindo duas faixas distintas:
(i) a faixa de água do solo, que se estende até a profundi-
dade em que as raízes das plantas conseguem captar água;
(ii) a faixa intermediária, que se estende desde o limite
inferior da faixa de água do solo até o topo da
zona saturada.
É considerada água subterrânea apenas
aquela que ocorre abaixo da superfície, na
zona de saturação, onde todos os poros es-
tão preenchidos por água. A formação geo-
lógica que tem capacidade de armazenar e
transmitir água é denominada “aqüífero”. Em
relação à geologia, existem dois domínios
principais de ocorrência das águas subterrâ-
neas: rochas cristalinas e cársticas e rochas
sedimentares.
Nas rochas cristalinas e cársticas, onde
não existe porosidade primária, a água se acu-
mula nos espaços vazios gerados por quebra-
mentos, descontinuidades e dissolução do
corpo rochoso, formando aqüíferos que vari-
am de baixa (cristalino) a alta (calcários) po-
tencialidade, em função da limitação do ta-
manho e descontinuidade dos reservatórios.
Nesse domínio, a qualidade da água está inti-
mamente associada ao clima, apresentando,
em geral, água com alta salinidade nas regi-
ões semi-áridas e, geralmente, água com teo-
res elevados de carbonatos/bicarbonatos nos
calcários (águas duras).
No domínio das rochas sedimentares,
onde as formações geológicas apresentam
porosidade primária intergranular, a água pre-
enche os poros em toda a extensão de ocor-
rência da rocha, formando grandes aqüíferos
regionais. Nesses aqüíferos, onde está arma-
zenada a quase totalidade dos cerca de 10 mi-
lhões de km3
de água subterrânea existentes
no planeta, em geral, a água apresenta uma
boa qualidade físico-química, com baixos teo-
res de sólidos totais dissolvidos.
A figura 4.6 ilustra claramente a dife-
rença entre a forma de ocorrência da água
nos domínios das rochas cristalinas – mos-
trando a descontinuidade e a heterogeneida-
de dos reservatórios com a existência de po-
ços secos – e rochas sedimentares, apresen-
tando, ao contrário, continuidade e homo-
geneidade.
No Brasil, existem três grandes bacias
sedimentares, dentre outras de menor porte,
que concentram a maior parte da ocorrência de água sub-
terrânea: bacia sedimentar do Paraná, onde ocorre, dentre
outros, o aqüífero Guarani (anteriormente, denominado
aqüífero Botucatu); bacia sedimentar do Parnaíba, com os
aqüíferos Serra Grande e Cabeças; bacia sedimentar do
Amazonas, com o aqüífero Alter do Chão.
No mapa da figura 4.7 é apresentada a divisão do
país em províncias hidrogeológicas, regiões que apresen-
tam semelhanças no comportamento hidrogeológico com
Figura 4.4 – Divisão hidrográfica nacional (CONEJO et al., 2005).
Figura 4.5 – Distribuição vertical da água em subsuperfície
(TEIXEIRA et al., 2000).
62
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
base, principalmente, na geologia, mostrando as potenci-
alidades de cada uma no que se refere ao armazenamento
de água subterrânea.
Figura 4.7 – Províncias hidrogeológicas do Brasil e seus potenciais em termos de ocorrência de água subterrânea (modificado de TEIXEIRA et
al., 2000).
Figura 4.6 – Ocorrência da água subterrânea em rochas cristalinas e em rochas
sedimentares (adaptado de RIBEIRO e FEITOSA, 2000).
Na tabela 4.2 são apresentadas as po-
tencialidades e os intervalos médios das va-
zões mais freqüentes dos poços produtores,
para os principais aqüíferos brasileiros.
DESAFIOS DA ÁGUA NO BRASIL
A produção total de água doce no Brasil
representa 53% do continente sul-americano
e 12% do total mundial (REBOUÇAS, 1996).
Todavia, 80% da produção hídrica brasileira
se concentram em três grandes unidades
hidrográficas: Amazonas, São Francisco e
Paraná.
Devem-se considerar, ainda, as grandes
reservas de água subterrânea existentes no
Brasil, fundamentais para o abastecimento
e a irrigação em muitas regiões do país.
No que diz respeito à qualidade da água,
a insuficiência de redes de monitoramento no país dificulta
a realização de um diagnóstico mais preciso da qualidade
da água. Estudos recentes apontam que as regiões mais
63
ÁGUA É VIDA
Frederico Peixinho, Fernando Feitosa
críticas com relação ao Índice de Qualidade das Águas (ca-
tegorias ruim e péssima) localizam-se nas proximidades das
principais regiões metropolitanas e estão associadas, princi-
palmente, ao lançamento de esgotos domésticos.
A disponibilidade hídrica desigual nas diversas regi-
ões do país, a contaminação das águas superficiais e sub-
terrâneas, sobretudo em regiões densamente povoadas, a
falta, ou mesmo a existência de deficientes instrumentos
de gestão da água e o desperdício de água são os princi-
pais fatores que têm contribuído para o déficit hídrico em
várias regiões do Brasil.
Diante desse cenário, para preservar e garantir às ge-
rações atuais e futuras o acesso às reservas hídricas, nos
diversos pontos de seu território, o Brasil deverá promover
uma gestão da água eficaz. Nesse contexto, é indispensá-
vel buscar-se uma equalização inter-regional e
intertemporal, por meio de políticas públicas que privile-
giem uma abordagem integrada do ciclo hidrológico e
programem ações conseqüentes de geração de conheci-
mento de demanda e oferta da água, que ajudarão a defi-
nir marcos regulatórios, bem como a capacidade de su-
porte (retirada) de cada bacia hidrográfica.
BIBLIOGRAFIA
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Tabela 4.2 – Reserva de água subterrânea no Brasil e intervalos mais freqüentes das vazões dos poços (REBOUÇAS, 1996)
Domínio aqüífero
Área
(km2
)
Sistema aqüífero principal Reservas (km3
)
Intervalo vazão
poço (m3
/h)
Substrato aflorante 600.000 Zonas fraturadas (P€) 80 <1-5
Substrato alterado 4.000.000 Manto rocha alterada e/ou fraturas (P€) 10.000 5-10
Bacia sedimentar Amazonas 1.300.000
Gr. Barreiras (TQb)
Fm. Alter do Chão (K)
32.500 10-400
Bacia sedimentar São Luís-Barreirinhas 50.000
Fm. São Luís (TQ)
Fm. Itapecuru (Ki)
250 10-150
Bacia sedimentar Maranhão 700.000
Fm. Itapecuru (Ki)
Fm. Cordas-Grajaú (Jc)
Fm. Motuca (PTRm)
Fm. Poti-Piauí (Cpi)
Fm. Cabeças (Dc)
Fm. Serra Grande (Sdsg)
17.500 10-1000
Bacia sedimentar Potiguar-Recife 23.000
Gr. Barreiras (TQb)
Fm. Calc. Jandaíra (Kj)
Fm. Açu-Beberibe (Ka)
230 5-550
Bacia sedimentar Alagoas/Sergipe 10.000
Gr. Barreiras (TQb)
Fm. Marituba (Km)
100 10-350
Bacia sedimentar Jatobá-Tucano-
Recôncavo
56.000
Fm. Marizal (Kmz)
Fm. São Sebastião (Kss)
Fm. Tacaratu (SDt)
840 10-500
Bacia sedimentar Paraná (Brasil) 1.000.000
Gr. Bauru-Caiuá (Kb)
Fm. Serra Geral (Jksg)
Fm. Botucatu-Pirambóia-Rio do Rastro
(Pr/TRp/Jb)
Fm. Furnas-Aquidauana (D/PCa)
50.400 10-700
Depósitos diversos 773.000 Aluviões, dunas (Q) 411 2-40
Totais 8.512.000 ≈ 112.000
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FREDERICO CLÁUDIO PEIXINHO
Engenheiro Civil (1972) pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Hidrologia
Aplicada (1973) pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). MBA de
Qualidade Total (2002) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), MBA em Gestão Estratégica da Informação (2003) pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Avaliação Ambiental (2004) pela Pontifícia Universidade Católica (PUC).
Mestrando em Tecnologia da Informação (2008) pela UFRJ. Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/
Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 1974. Desde 1975 exerce a coordenação do Programa de Hidrologia da
CPRM, desenvolvendo atividades relacionadas a levantamento, estudos e pesquisas na área de Recursos Hídricos Superficiais
e Subterrâneos. Responsável técnico pela implementação, operação e integração do Sistema de Informações de Águas
Subterrâneas (SIAGAS) em estados brasileiros e países da América Latina. Linhas de atuação atuais: Hidrologia, Gestão
Estratégica, Sistemas de Informação.
FERNANDO A. C. FEITOSA
Geólogo (1982) e mestre em Hidrogeologia (1990) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutorando em
Hidrogeologia pela UFPE. Atuou na CONESP, ATEPE, ACQUAPLAN, EMATER-PE e FUNCEME. Foi chefe da Divisão de
Hidrogeologia da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) no período de
2001 a 2007. Atualmente, é coordenador executivo do Departamento de Hidrologia (DEHID). Coordenador da Rede de
Pesquisa de Estudos Hidrogeológicos do Semi-Árido Brasileiro – FINEP/CPRM-UFBA-UFC-UFCG-UFRN-UFPE (2005-2008).
Linhas de atuação: Avaliação e Gestão de Aqüíferos; Estudos Hidrogeológicos; Construção e Avaliação de Poços.
65
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
5
RECURSOS MINERAIS
DO MAR
Luiz Roberto Silva Martins1
(luiz.martins@ufrgs.br)
Kaiser Gonçalves de Souza2
(kaiser@df.cprm.gov.br)
1
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Minerais do Fundo Marinho ....................................................... 66
Ocorrências Superficiais .............................................................. 66
Granulados siliciclásticos (areia e cascalho) .............................. 66
Granulados bioclásticos ........................................................... 69
Depósitos de pláceres .............................................................. 69
Fosforitas ................................................................................. 75
Nódulos polimetálicos .............................................................. 76
Crostas cobaltíferas ................................................................. 79
Sulfetos polimetálicos e outros depósitos hidrotermais .......... 79
Outras ocorrências .................................................................. 81
Glauconita ............................................................................ 81
Barita .................................................................................... 82
Lamas orgânicas ................................................................... 82
Vasas organogênicas............................................................. 82
Ocorrências de Subsuperfície ..................................................... 82
Evaporitos................................................................................ 82
Enxofre .................................................................................... 82
Carvão ..................................................................................... 83
Hidratos de gás ....................................................................... 83
Zona Costeira como um Recurso ................................................ 85
Considerações Finais ................................................................... 86
Bibliografia ................................................................................. 87
66
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
MINERAIS DO FUNDO MARINHO
A distribuição mundial desigual de recursos minerais
no continente, a sensibilidade política que tal fato causa e
um atento crescimento da importância na proteção e con-
servação dos ambientes aumentaram o significado futuro
dos minerais marinhos, além do óleo e gás. O conheci-
mento sobre sua distribuição, categoria, gênese e abun-
dância, embora ainda imperfeito, cresce rapidamente,
particularmente para aqueles minerais economicamente
significantes em um futuro próximo.
Atualmente, a mais importante mercadoria (exclu-
indo óleo e gás) minerada em mar aberto, tanto em
quantidade como em valor, é composta de agregados
(areia e cascalho) para a indústria da construção, segui-
da pelos pláceres submersos de estanho, os carbonatos
bioclásticos para corretivo de solo e cimento, as acu-
mulações fosfáticas para uso em fertilizantes. As lamas
ricamente mineralizadas do mar Vermelho serão breve-
mente exploradas. As grandes quantidades de nódulos
de manganês (polimetálicos) também devem ser consi-
deradas como contribuição valiosa para o suprimento
mundial de níquel, cobre, cobalto e manganês. Acu-
mulações de sulfetos mapeados no Pacífico leste repre-
sentam novas ocorrências a serem pesquisadas com
profundidade, embora requerendo o desenvolvimento
de novas tecnologias, antes de serem minerados eco-
nomicamente.
A explotação de minerais marinhos depende, em es-
sência, do custo competitivo de outros recursos que, por
sua vez, estão vinculados ao desenvolvimento de uma
tecnologia disponível de baixo custo, bem como de seu
valor e quantidade disponível.
Entre os muitos fatores que determinam a distribui-
ção dos recursos minerais marinhos, a evolução dos oce-
anos é de influência básica. Dessa maneira, a localização
dos minerais foi determinada durante os diferentes estági-
os de evolução oceânica.
Essas etapas são: estágios essenciais da deriva das
massas continentais, quando a expansão oceânica iniciou
e o fundo do rifte central foi construído de crosta oceâni-
ca como, por exemplo, no mar Vermelho; o estágio quan-
do o rifte alargou-se e uma dorsal foi formada no oceano,
onde mais crosta oceânica foi formada, expandindo a par-
tir da dorsal, esfriando, como no oceano Atlântico; um
terceiro estágio, quando a crosta oceânica colidiu com a
crosta continental e submergiu abaixo dela, como, por
exemplo, no leste do Pacífico.
Sulfetos polimetálicos e sedimentos metalíferos po-
dem ser depositados ao longo dos maiores limites de
fratura e placas, na crista das dorsais, durante todos
esses estágios de evolução oceânica e durante períodos
de vulcanismo de arco de ilhas. Os depósitos são for-
mados por atividade hidrotermal, particularmente em
áreas tectonicamente ativas, onde o grau de expansão é
alto.
Nódulos de manganês são mais abundantes em áre-
as com taxas inexpressivas de sedimentação e condições
oxidantes, característica das grandes e profundas bacias
oceânicas, como, por exemplo, o Pacífico equatorial nor-
te-leste.
Por sua vez, a distribuição dos pláceres e agregados é
restrita à plataforma continental e está relacionada a fato-
res como proximidade de área-fonte no continente e mu-
danças recentes no nível do mar. Depósitos fosfáticos
marinhos estão restritos às margens continentais e associ-
ados a fenômenos de ressurgências.
Depósitos minerais do piso marinho podem ser ca-
racterizados como não-consolidados e, portanto, capa-
zes de serem coletados diretamente por dragagem, ou
consolidados, requerendo energia adicional para fragmen-
tação do depósito antes da coleta. Cada um dos tipos
pode ocorrer na superfície ou abaixo da interface sedi-
mento/água.
Depósitos não-consolidados incluem materiais de
construção, como cascalho e areia; material bioclástico
(carbonatos); pláceres de minerais pesados contendo
titânio, estanho e ouro; lamas metalíferas, como as en-
contradas no mar Vermelho; nódulos polimetálicos e va-
sas silicosas e carbonáticas.
Depósitos consolidados incluem seqüências estratifi-
cadas, tais como carvão e ferro; crostas, como as encon-
tradas nos montes submarinos do oceano Pacífico, for-
madas por óxidos de manganês ricos em cobalto.
SANTANA (1999) sintetizou o conhecimento sobre a
ocorrência de recursos minerais da margem continental
brasileira e regiões adjacentes fornecendo um mapa na
escala 1:5.592.000. Trabalhos adicionais realizados pela
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Ge-
ológico do Brasil (CPRM/SGB) e por centros de pesquisa
vinculados a universidades enriqueceram o trabalho inici-
al com novas informações sobre areia, minerais pesados,
carbonatos e fosfatos.
OCORRÊNCIAS SUPERFICIAIS
Granulados siliciclásticos
(areia e cascalho)
Praias, por seus aspectos estéticos e por muitas ou-
tras razões, despertam o interesse público. Elas são for-
madas por areia e cascalho, matéria-prima para obras e
construções, e serviram durante muito tempo como fonte
de material para tais aplicações.
Felizmente, o crescimento acentuado do turismo,
apesar de os problemas associados que aportaram à zona
costeira, serviu para o surgimento de medidas visando a
sua preservação. O aumento gradativo da importância
da manutenção de um campo de dunas, como elemento
absorvente da energia de onda durante as ressacas, for-
neceu embasamento para medidas governamentais vi-
sando a sua preservação e manejo, bem como de todo o
67
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
perfil praial. Contudo, variações do nível do mar, provo-
cadas por ação antrópica ou como causa natural, vêm
causando sérios danos à linha de costa, por meio da
erosão.
Essas razões são suficientes argumentos para o cres-
cente interesse dos depósitos de areia e cascalho presen-
tes na plataforma continental, os quais excedem em volu-
me e potencial o valor de qualquer outro recurso não-
vivo, exceto o óleo e gás. Sua utilização é dividida entre a
indústria da construção e os programas de reconstrução
praial, como os conduzidos pelo Minerals Management
Service (MMS) na costa leste dos Estados Unidos da Amé-
rica, por exemplo. Por serem commodities de baixo cus-
to, é importante que o material seja minerado de local
próximo ao mercado consumidor.
Em certas ocorrências, contudo, como nas costas da
Sibéria, norte do Canadá, Namíbia, norte e leste da Aus-
trália, as suas explotações não perfazem as condições eco-
nômicas requeridas. Da mesma forma, os depósitos de
areia e cascalho situados além do limite das 200 milhas
ou fora dos contornos fisiográficos da plataforma conti-
nental não são tão atraentes.
A produção de areia e cascalho provavelmente pros-
seguirá em locais próximos a grandes cidades e centros
turísticos para mitigar locais de severa erosão praial. Edisto
Beach, Carolina do Sul, nos Estados Unidos, é um des-
ses casos com registro do problema e plano de recupera-
ção; já a praia do Hermenegildo, no Rio Grande do Sul,
possui o problema, mas nenhum plano de beach
nourishment.
Para se ter uma idéia do crescimento da importância
de areia e cascalho, calcula-se que em 1980 somente 1,5%
de material usado eram de origem de mar aberto. Para
alguns países, contudo, a produção offshore é de grande
significado, como no Reino Unido, que obtém 25% desse
material em mar aberto. Entretanto, a produção maior
(cerca de 50% da produção mundial de agregados) é rea-
lizada pelo Japão.
Como a mineração é desenvolvida próximo à linha
de costa, uma série de cuidados deve ser seguida com
vistas à preservação ambiental. Isso ocorre no Reino Uni-
do, onde a dragagem é regulada, sendo confinada a es-
pecíficas áreas de concessões. O mesmo sucede nos Es-
tados Unidos, onde a realização de tais trabalhos é coor-
denada por agências como United States Geological
Survey (USGS), Minerals Management Service (MMS) e
Center for Environmental Research and Conservation
(CERC).
A maior parte das dragagens é realizada a profundi-
dades menores de 45 m, estando previsto um aumento
para 50-60 m em um futuro próximo. O material pode ser
minerado por meio de dragas ou bombas hidráulicas, ou
ambos os métodos, sempre com regras sensíveis ao ambi-
ente marinho. Medidas governamentais restringem a mi-
neração muito próxima à linha de costa de duas maneiras:
pela distância ou pela profundidade da lâmina de água.
Em Brunswick (Canadá), a distância é de 300 m, enquan-
to no Japão a dragagem é proibida em um limite de 4/5
km da costa. No Reino Unido, as licenças de mineração
de mar aberto não são concedidas para águas mais rasas
que 18 m.
Danos ao fundo marinho e ao ambiente pela extra-
ção de areia e cascalho podem ser causados de muitas
formas. O aumento da turbidez na água do mar pode
reduzir o desenvolvimento de plantas em águas rasas, o
que prejudica o habitat de certas espécies de peixes e
crustáceos e reduz a captura comercial e as oportunida-
des de pesca recreativa. O acúmulo expressivo de lama,
que muitas vezes tem de ser removida quando deposita-
da, pode asfixiar as vegetações e recifes. Deve ser consi-
derado também que a remoção de areia e cascalho sob a
espessura uniforme de grandes áreas irá destruir a fauna
de fundo e locais de procriação, gerando áreas estéreis
do piso marinho, que levarão muitos anos para serem
recuperadas.
Sugestões existem para diminuir danos ao ambiente,
como, por exemplo, a realização de corte de trincheiras
no piso marinho rodeadas por áreas não perturbadas, onde
é criada uma variação de relevo que poderá ser benéfica à
população de peixes.
A extensa bibliografia específica sobre o tema (con-
sultar, por exemplo, Earney, 1990) revela que os proble-
mas decorrentes da mineração marinha têm sido intensa-
mente estudados pelas nações mais desenvolvidas e algu-
mas possíveis soluções estão atualmente bem documen-
tadas. Ações governamentais apontam para a realização
de estudos detalhados sobre o ambiente marinho e de
seus processos naturais de sustentação, de forma que a
legislação prevenirá danos irreversíveis ao ambiente ou a
outras atividades que utilizam o meio marinho, particular-
mente aquelas baseadas na utilização sustentável dos re-
cursos vivos.
Estudos sobre estoques arenosos presentes na plata-
forma continental interna e de conseqüente realimenta-
ção de praias erodidas são encontrados em trabalhos como
o DE AMATO (1994) para a plataforma leste dos Estados
Unidos. No sul do Brasil e Uruguai, estoques arenosos
foram avaliados por MARTINS et al. (1999, 2005),
MARTINS e Urien (2004) e MARTINS E TOLDO JR. (2006b).
Na figura 5.1 são mostradas as ocorrências de areia e
cascalho na plataforma leste dos Estados Unidos. Na figu-
ra 5.2 são apresentadas as concessões de Reino Unido,
Holanda, Bélgica e França para o mesmo tipo de explota-
ção no mar do Norte, cujas licenças, fornecidas pelas res-
pectivas agências nacionais pertinentes, para direito de
dragagem, estão sujeitas a restrições relacionadas à pesca
e à proteção costeira. Na figura 5.3 são representadas áre-
as de dragagens de areia no canal inglês e, nas figuras 5.4
e 5.5, detalhes relativos à extração e estocagem de areia e
cascalho. Na figura 5.6 estão representadas áreas com
potencial de areia, presentes na plataforma continental do
Rio Grande do Sul.
68
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 5.1 – Areia e cascalho representam, por seu volume, o potencial mineral econômico mais importante da plataforma continental dos
Estados Unidos (COUPER, 1983).
Figura 5.2 – O mar do Norte, uma das mais ricas áreas do mundo
em areia e cascalho, foi dividido pelos países costeiros (Reino Unido,
Holanda, Bélgica e França) em áreas de concessão para dragagem
(COUPER, 1983).
Figura 5.3 – Áreas de dragagem de areia no canal inglês
(SUMMERHAYES, 1998).
Figura 5.4 – Cascalho sendo minerado com utilização de draga
(SUMMERHAYES, 1998).
Figura 5.5 – Areia e cascalho de mar aberto estocado para
distribuição (SUMMERHAYES, 1998).
69
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
Granulados bioclásticos
Carbonato de cálcio é minerado como material recifal
consolidado ou como acumulações bioclásticas não-con-
solidadas recifais ou de conchas. A mineração de cama-
das de conchas é mais comum, enquanto recifes
coralígenos representam fontes de carbonato de cálcio,
mas a utilização de corais não-vivos ou mortos aumenta
a vulnerabilidade a dano mediante a ação de ondas e tem-
pestades.
No meio marinho, o esforço mais expressivo da pes-
quisa encontra-se dirigido a oólitos, corais, algas
coralígenas e conchas. Nas ilhas tropicais com franjas de
recifes coralígenos, as areias não são de quartzo, mas de
fragmentos de corais de carbonato de cálcio, componen-
te básico do cimento. Carbonato de cálcio sob a forma
de conchas é também comum nas plataformas continen-
tais.
A planta exploratória de areia aragonítica situada em
Cat Cay, nas Bahamas, é uma das mais expressivas, com
mais de 37.500 milhões de m3
, abastecendo segmentos
do mercado norte-americano com carbonato de cálcio
para corretivos de solos e cimento.
Areias calcárias denominadas marl são também
dragadas da plataforma continental francesa para aplica-
Figura 5.6 – Potencial de areia quartzosa, areia quartzosa com
bioclastos e areia e cascalho bioclástico da plataforma continental
interna do Rio Grande do Sul (MARTINS et al., 1999).
ção direta nos solos ácidos da Bretanha. Tais depósitos
possuem composição similar às areias encontradas no nor-
deste do Brasil. A produção é bastante expressiva – entre
500 e 700 t/ano.
Estudo de COUTINHO (1992) na província carbonática
da plataforma continental brasileira que se estende do rio
Pará (0,5°S) até as vizinhanças de Cabo Frio (23,5°S), em
uma provavelmente mais longa e contínua plataforma
atapetada por sedimentos carbonáticos do mundo, reve-
lou interessantes aspectos dessa sedimentação. Os sedi-
mentos carbonáticos que ocupam as porções média e ex-
terna da plataforma estão representados por areias e cas-
calhos formados por algas coralígenas ramificadas e ma-
ciças, concreções, artículos de Halameda, moluscos,
briozoários e foraminíferos bentônicos.
MONT’ALVERNE E COUTINHO (1992) calcularam
uma reserva de 1,96 x l0 t, considerando a isóbata entre
20 e 30 m na plataforma continental de Pernambuco,
admitindo uma espessura média de 1,5 m.
Segundo SANTANA (1979, 1999), a margem conti-
nental do nordeste e leste do Brasil até a altura de Cabo
Frio possui sedimentos ricos em carbonato, contendo mais
de 75% de CaCo3
. O autor considerou uma espessura
média para esses depósitos de 5 m, representando uma
reserva de 2 x 1011
t, correspondendo, na época, a mais
de 50 vezes a reserva estimada do continente.
O conhecimento relativo aos depósitos de calcário
bioclástico ocorrente na plataforma continental interna do
Rio Grande do Sul, vinculado a antigas linhas de praia de
alta energia (MARTINS et al., 1972), foi sintetizado por
CALLIARI et al. (1999), com especial ênfase nas áreas de
Albardão e Carpinteiro, representando um potencial eco-
nômico de 1 bilhão de toneladas (Figura 5.7). Em Santa
Catarina, estudos realizados na zona costeira foram divul-
gados por Caruso Jr. (1999).
Depósitos de pláceres
Depósitos de cassiterita, ilmenita, ouro e diamante,
ocorrentes nas plataformas continentais, são formados do
mesmo modo que as acumulações aluvionares fluviais. O
mineral ou gema é erodido(a) das rochas nas cabeceiras
dos rios e carregado(a) pelo curso fluvial se o fluxo é sufi-
cientemente vigoroso até sua diminuição, quando as par-
tículas mais pesadas assentam em seu leito, preferencial-
mente em áreas de remanso. Inundações periódicas mo-
vem essas acumulações rio abaixo, onde assentam nova-
mente e são cobertas por outros sedimentos. Praias do
mundo inteiro têm sido mineradas para muitos minerais,
incluindo diamante (Namíbia), ouro (Alasca e Nova Escó-
cia) e cromita (Oregon).
As concentrações de minerais física e quimicamente
resistentes são formadas a partir da erosão de corpos
mineralizados liberados por meio do intemperismo e acu-
mulados mecanicamente. Esses minerais podem perma-
necer in situ ou serem transportados e concentrados em
70
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 5.7 – Localização das acumulações do Albardão, Parcel do
Carpinteiro e Mostardas na plataforma continental interna do Rio
Grande do Sul (CALLIARI et al., 1999).
areias e cascalhos ocorrentes em rios e praias, incluindo
ouro nativo, platina, cassiterita (estanho), rutilo e ilmenita
(titânio), magnetita (ferro), zircão (zircônio), volframita
(tungstênio), cromita (cromo), monazita (cério e tório) e
pedras preciosas.
Ainda que ocorram ao longo do tempo geológico
(como ouro encontrado em rochas do Pré-Cambriano da
África do Sul), a maioria se formou nos últimos 65 mi-
lhões de anos. Depósitos importantes podem ser indica-
dos como ouro no Alasca; areia titanífera na Flórida, Sri
Lanka, Índia, Austrália e Brasil; estanho na Malásia e
Indonésia; magnetita nas praias do Japão.
Alguns dos pláceres encontrados nas plataformas
continentais estão situados em camadas fluviais que fo-
ram afogadas pela elevação do nível do mar a partir de -
130/-150 m durante os últimos 18 mil anos. Outros
pláceres são formados por meio do retrabalhamento de
alguns desses depósitos aluvionares por ondas e correntes
na linha de praia durante os níveis de estabilização tem-
porária da transgressão holocênica. Outras acumulações
mais recentes representam o material erodido carregado
para o mar por ação fluvial para depósitos praiais (usual-
mente associados a deltas), ou pela erosão de areias cos-
teiras que contenham concentrações de minerais pesados.
Zonas rasas da plataforma continental servem para a
explotação de diamante (Namíbia), cassiterita (Malásia,
Indonésia e Tailândia) (Tabela 5.1). Outros minerais, como
cromita (cromo), rutilo (titânio), ilmenita (ferro e titânio),
magnetita (ferro), zircão (zirconita), monazita (terras-ra-
ras) e sheelita (tungstênio), foram ou estão sendo dragados
em vários locais do Sri Lanka e Austrália.
De maneira geral, os depósitos de pláceres não se
estendem muito distante da linha de costa. Os problemas
ambientais associados à mineração de pláceres são simila-
Tabela 5.1 – Relações entre profundidade e modo de ocorrência de minerais marinhos não-consolidados
Profundidade Modo de ocorrência
Mineral
0-30 m 30-200 m Praia
Praia
submersa
Cursos
submersos
Sedimentos
superficiais
Ilmenita X X X X
Rutilo X X X X
Zircão X X X X
Monazita X X X X
Titânio X X X
Estanho X X X
Ouro X X X X
Platina X X X X
Diamante X X X X X
Ferro X X X X X
Areia X X X X X X
Cascalho X X X X X X
71
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
res aos ligados à explotação de areia e casca-
lho, exceto pela tendência seletiva e geografi-
camente mais limitada em área (Figura 5.8).
A possibilidade de mineração de pláceres
de mar aberto será a mesma nas acumula-
ções costeiras e dependente de fatores como
custo da exploração, obtenção de permissão
para a mineração, necessidade de satisfazer a
regulamentos ambientais, tecnologia de
beneficiamento e custos de transporte. En-
quanto alguns pláceres contêm recursos como
ilmenita e rutilo e são amplamente distribuí-
dos, estanho aluvial é restrito a áreas como
sudeste da Ásia, onde ocorrem a partir de gra-
nitos estaníferos. Pláceres comerciais de ouro
são menos freqüentes e os de diamante, com-
parativamente raros.
O sul da costa da Namíbia é a principal
fontedosdiamantesmarinhos.Antesde1961,
esses diamantes eram obtidos pela minera-
ção de terraços ao norte do rio Orange. Dia-
mantes de kimberlitos intemperizados foram
transportados pelo rio Orange e seus tributá-
rios do rio Vaal até a zona costeira, onde fo-
ram coletados (Figuras 5.9, 5.10 e 5.11) e,
posteriormente, soterrados por sedimentos
calcários. Muitos diamantes foram também
levados em direção norte por fortes correntes
e eventualmente acumulados em areias e la-
mas na plataforma continental. A mineração
desses diamantes de mar aberto em águas de
até 35 m de profundidade iniciou em 1961 e
prosseguiu por uma década, quando as ativi-
dades se tornaram não-econômicas para a
maioria das empresas mineradoras, sendo as
operações de mar aberto deslocadas para a
plataforma interna. A produção em zonas in-
ternas rasas continuou com operadoras inde-
pendentes usando pequenos barcos ou
bombeamento para a praia. A produção em
1996 foi de 90.000 quilates. Após 1971, gran-
des companhias começaram a explorar em
águas profundas e nos 12 anos seguintes
constataram a existência de cascalhos comer-
ciais ricos em diamantes na plataforma mé-
dia em águas de até 200 m. Esses depósitos
foram explotados utilizando-se novas técni-
cas desenvolvidas em 1990.
Nesse ano, a De Beers Marine produziu
29.195 quilates na plataforma continental
média e a produção subiu para 470.000 qui-
lates em 1996, quando representou um terço
da produção de diamantes na Namíbia. Em
1997, a exploração de diamante da Namíbia e África do
Sul estendeu-se à isóbata de 500 m. Os estudos revelaram
que as camadas produtivas de mar aberto da Namíbia e
Figura 5.8 – Ocorrência de pláceres de minerais pesados na zona costeira e
plataforma continental adjacente.
Figura 5.9 – Áreas licenciadas para exploração e mineração do sul da
África apresentando batimetria e principais pontos operacionais
(GARNETT, 1999b).
África do Sul devem sua origem a uma complexa interação
de sistemas de alta energia fluvial, marinha e eólica que
operaram no oeste da costa pelo menos desde o Oligoceno.
72
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 5.10 – Feições típicas de acumulação de diamante na
plataforma interna (GARNETT, 1999b).
Figura 5.11 – Perfil litológico de feição da plataforma continental
interna rica em diamantes (GARNETT, 1999b).
tidades comerciais sejam ocorrentes além da zona superi-
or do declive continental.
Os depósitos de ouro do Alasca (Figura 5.12) devem
sua origem a uma singular combinação de: (a) minerali-
zação primária vizinha; (b) glaciação; (c) falhamento re-
corrente da linha de costa; (d) mudanças no nível do mar;
(e) uma linha de costa totalmente exposta a condições
marinhas de elevada energia. A existência das concentra-
ções pode ser resumida como sendo integrada por uma
combinação de fatores: os depósitos de ouro primário
foram erodidos por glaciação e redepositados como mo-
rainas laterais e terminais. Os detritos glaciais e partículas
de ouro foram submetidos a repetidos falhamentos ao lon-
go de uma linha de costa climaticamente exposta e a vari-
ações de nível do mar (GARNETT, 1999a).
A mineração foi desenvolvida nas praias, estenden-
do-se mais tarde em direção ao continente, mais especi-
Figura 5.12 – As praias de Nome no Alasca são conhecidas por possuírem ouro
desde o século XIX (COUPER, 1983).
Explorações para amostragem de diamantes ocorre-
ram nas margens continentais de Angola, Sierra Leoa,
Indonésia,Austrália(golfosBonaparteeCarpentaria),Rússia
(mar Branco e mar Azov) e Canadá (golfo
Coronation).
Os pláceres de diamante da costa da
Namíbia e África do Sul foram transportados
por cursos fluviais após sua erosão de kimber-
litos situados a centenas de quilômetros no
continente. Correntes litorâneas combinadas
a fortes ventos e ação de ondas de elevada
energia durante períodos de consideráveis
mudanças no nível do mar concentraram os
diamantes em paleolinhas da costa e outras
feições geológicas litorâneas.
Os cascalhos existentes formam uma fixa
camada sobre um embasamento irregular,
ocorrendo em setores da plataforma interna e
média ao longo das costas da Namíbia e Áfri-
ca do Sul.
Pláceres contendo ouro são encontrados
em zonas costeiras da África do Sul, Alasca,
norte do Canadá, Sibéria e Filipinas. Tanto ouro
como diamante são menos abundantes pro-
gressivamente, à medida que a distância da
fonte aumenta. Assim, é improvável que quan-
73
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
ficamente em praias antigas. Na zona costei-
ra, a maior concentração de ouro é encon-
trada onde finas camadas de cascalho relicto
recobrem material de deriva glacial. Os de-
pósitos de mar aberto foram amostrados por
perfurações no gelo que cobrem o mar a
maior parte do ano. As condições climáticas
e a distância do Alasca adicionam fatores con-
sideráveis no custo da mineração, mas, com
o crescente desenvolvimento da tecnologia,
o interesse comercial pode aumentar (COU-
PER, 1983).
Concentrações e ocorrências de minerais
pesados estão presentes ao longo da zona
costeira do Brasil, do Piauí ao Rio Grande do
Sul, tanto sob a forma emersa, como submer-
sa. Na parte emersa, são minerados na Paraí-
ba, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro (il-
menita, rutilo, monazita e zircão), sobressa-
indo as concentrações de Cumuruxatiba
(Bahia) e Itabapoana (Rio de Janeiro).
A reserva de Cumuruxatiba envolve
171.000 t de ilmenita, 4.000 t de monazita e 365.000 t
de zircão e rutilo (SANTANA, 1999).
Os estudos realizados na zona costeira do Rio Grande
do Sul foram iniciados por VILLWOCK et al. (1979), pros-
seguiram com MUNARO (1994) e foram sintetizados por
CARUSO Jr. et al. (1999) (Tabela 5.2).
Boa parte das acumulações está relacionada à linha
de costa moderna e representa usualmente depósitos alon-
gados paralelos e subparalelos à praia, com 30 a 100 m
de largura e 18 km de comprimento. Outros depósitos
estão relacionados a campos de dunas holocênicas, reco-
brindo terrenos pleistocênicos.
Um dos exemplos de explotação econômica de
pláceres é o de estanho do sudeste da Ásia, contendo
cassiterita (SnO2
) liberada a partir de rochas duras (usual-
mente granitos) por processo intempérico durante tem-
pos geológicos recentes (Figura 5.13).
A cassiterita migrou com auxílio da gravidade e água
corrente para formar um depósito aluvial. As operações
de extração situam-se preferencialmente em zonas
abrigadas rasas estuarinas ou da plataforma interna. O
sudeste da Ásia é uma das regiões de maior produção de
Figura 5.13 – A Indonésia é uma das principais regiões do mundo, onde pláceres
de mar aberto são minerados.
estanho, com os recursos ocorrendo por uma distância
apreciável de 2.900 km, do norte de Burma, península da
Tailândia, oeste da Malásia, até as ilhas Bangka, Belitung e
Sengkep da Indonésia. Cerca de 7% da produção mundial
de estanho provêm de mar aberto.
Na Indonésia, depósitos primários de estanho ocor-
rem em rochas graníticas do continente e os minerais pe-
sados (incluindo cassiterita) foram transportados, deposi-
tados e concentrados durante o Quaternário em vales flu-
viais como trapas naturais que se estenderam em mar aber-
to. A explotação atual está limitada a profundidades de 50
m, mas os depósitos encontrados em profundidades mai-
ores podem ser minerados no futuro. O potencial desse
recurso na Indonésia é estimado em 1,6 milhões de tone-
ladas, dos quais 40% são de mar aberto.
As atividades de mineração na zona costeira e em
mar aberto, países envolvidos e status atual da explora-
ção/explotação em termos de minerais industriais e do tipo
plácer encontram-se resumidos no Quadro 5.1.
Outros projetos de extração da cassiterita foram esta-
belecidos na baía Saint Ives, em Cornwall, Inglaterra, e na
península Seward, no Alasca.
Tabela 5.2 – Reservas de minerais pesados da região de Bujurú (RS) (segundo MUNARO, 1994)
Local Espessura (m) Volume Toneladas % Conteúdo
Estreito 2,92 46.790.000 74.864.000 3,22 2.412.040
Bujurú 3,62 35.638.000 72.060.000 4,59 3.309.062
Bujurú norte 3,34 49.219.000 78.750.400 4,74 3.729.000
Total 3,29 131.647.000 225.675.200 4,19 9.450.240
Reserva 1,32 22.847.000 40.280.000 3,52 1.419.358
74
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Quadro 5.1 – Atividades de mineração na zona costeira e mar aberto, relativas a minerais industriais e do tipo plácer
(HALE e McLAREN, 1984)
Bem mineral País Estado atual
Minerais industriais
A. Textualmente dependentes: areia
e cascalho (agregados)
Canadá; Cuba; Dinamarca; França; Holanda;
Japão; Nigéria; Suécia; EUA; Reino Unido
Mineração e exploração em mar aberto
B. Dependentes da composição:
carbonato de cálcio (cimento,
agricultura)
Bahamas; Brasil; Cuba; Dinamarca; Fiji;
França; Kenya; República da China; Reino
Unido; EUA; Mauritânia
Mineração atual em mar aberto
Areia (sílica de alto grau) Finlândia;
Canadá;
Nova Zelândia
Mineração praial
Mineração de mar aberto
Exploração/avaliação em mar aberto
Pláceres minerais
Cassiterita (estanho)
Indonésia; Tailândia; URSS;
Reino Unido;
Nova Zelândia;
Austrália
Mineração em mar aberto
Mineração escala piloto em mar aberto
Exploração em mar aberto
Cromita (cromo) EUA;
Moçambique
Exploração em praia e mar aberto
Exploração em mar aberto
Diamantes Namíbia Exploração em mar aberto
Ouro Canadá; Nova Zelândia;
Filipinas;
EUA;
URSS;
Fiji;
Índia
Mineração em praia e mar aberto
Areias ferríferas Brasil;
Fiji; África do Sul;
Japão;
Austrália; Nova Zelândia; Flórida, EUA;
Filipinas;
Moçambique; S.W, Índia;
Sri Lanka
Mineração em praia, exploração em mar
aberto
Anteriormente exploração em mar aberto
Anteriormente praia, exploração e
mineração em mar aberto
Exploração em mar aberto
Monazita
(terras-raras e tório)
Austrália; Brasil; S.W, Índia; Sri Lanka
Fosforita (fósforo) Austrália; México; Nova Zelândia;
EUA
Exploração em mar aberto
Mineração em praia
Mineração em praia
Platina EUA Mineração em praia e mar aberto
Mineração em praia
Rutilo Austrália;
Brasil;
S.W, Índia;
Sri Lanka;
Canadá
Mineração em praia
Exploração em mar aberto
Zircão Sri Lanka;
Canadá;
Austrália;
Moçambique
Mineração em praia
Exploração em mar aberto
Anteriormente mineração em praia
Mineração em praia, exploração em mar
aberto
Exploração em mar aberto
75
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
Fosforitas
Acumulações de fosforitas são conheci-
das como ocorrentes especialmente nas plata-
formas continentais e parte superior do decli-
ve em muitas partes do mundo, mas a maior
quantidade dos depósitos é de teor baixo e
pouco espessos (BURNETT e RIGGS, 1990).
Estudos detalhados de sísmica realizados na
plataforma continental da Carolina do Norte e
no platô Blake ao largo da Flórida revelaram a
ocorrência de concentrações comerciais com
espessuras de 10 m. Igualmente, foram de-
senvolvidas plantas de mineração de nódulos
de fosforita ao sul da Califórnia. Os depósitos
de fosforita de Chatham Rise, no leste da Nova
Zelândia, foram cuidadosamente examinados
e dimensionados com 30-100 milhões de to-
neladas de rocha fosfática delineada com um
potencial adicional de glauconita rica em po-
tássio, associada à fosforita. Estudos relativos
aoimpactoambientaldemineraçãodefosforita
a profundidades superiores a 700 m não fo-
ram ainda estabelecidos.
O termo “fosforita” é normalmente aplicado ao de-
pósito sedimentar composto principalmente por minerais
fosfáticos (Figura 5.14). Uma combinação de fatores, en-
tre eles preço de mercado e custo da extração, tem inibi-
do a extração de fosforita em muitos casos. Os depósitos
de mar aberto oferecem uma alternativa interessante em
regiões pobres em fosfato.
Fosforitas compostas por cálcio-fluorapatita ocorrem
em variados tamanhos desde areia até matacões e são
descritos na bibliografia como ocorrentes nas margens
continentais do México, Peru, Chile, Austrália, Estados
Unidos e oeste da África, tendo algumas delas recebido
atenção comercial.
No Brasil, SANTANA (1979) indicou a ocorrência de
rochas fosfatadas no guyot do Ceará, com teores de até
18,4% de P2
O5
. Mais tarde, KLEIN et al. (1992) descreve-
ram preliminarmente a ocorrência de nódulos fosfáticos
na margem continental do Rio Grande do Sul.
Fosforitas marinhas foram descobertas como nódulos,
por meio de dragagens realizadas no Agulhas Bank (África
doSul)duranteamissãoChallenger(1872-76),sendoposte-
riormente identificadas e descritas em outros locais. Ocor-
remnormalmentenasmargenscontinentaisepartessuperi-
ores dos declives continentais a profundidades menores de
500 m e normalmente situadas com pequenas exceções en-
tre as latitudes 40°N e 40°S. Podem igualmente ocorrer em
altostopográficos,comomontessubmarinos,guyots,eleva-
ções, cristas e platôs, especialmente no Atlântico oeste.
Nódulos de fosforita em Chatham Rise encontram-se
amplamente distribuídos, com a ocorrência sendo acom-
panhada por 480 km ao longo da crista dessa feição. A
maior acumulação ocorre próximo ao meridiano 180° e a
uma profundidade de 350 a 450 m. Os nódulos possuem
tamanho de 2-4 cm de diâmetro, constituídos de calcários
de foraminíferos fosfatizados, datados como de idade do
Mioceno Inferior e Médio. Ocorrem associados a lamas are-
nosas glauconíticas de coloração esverdeada que recobrem
uma vasa branca de foraminíferos de idade oligocênica. Os
nódulos possuem cor cinza-oliva, superfície lisa polida e
um teor de 15 a 25% de P2
O5
(Figura 15B).
Fosforitassãoigualmenteconhecidascomoocorrentes
em larga escala no Agulhas Bank, tendo se tornado uma
das áreas mais intensamente estudadas no mundo. Uma
variedade bastante grande de fosforitas foi identificada,
porém, a mais importante em termos de concentração e
distribuição está representada por calcários orgânicos
fosfatizados compostos principalmente por microfósseis,
foraminíferos planctônicos e conglomerados fosfáticos que
contêm fragmentos desses calcários em uma matriz de
glauconita, microfósseis e areia quartzosa, todos cimen-
tados por apatita. Os dois tipos de fosforitas podem ser
correlacionados ao calcário de idade do Mioceno Inferior
a Plioceno, que forma extensos afloramentos na platafor-
ma média e externa ao nordeste da África do Sul. Uma
terceira variedade, de composição mineralógica compará-
vel, consiste de conglomerados fosfatizados caracteriza-
dos por uma mistura variável de nódulos com microfósseis
e fragmentos de ossos, coincidente com o afloramento
alongado de sedimentos do Paleoceno da região interna
do Agulhas Bank paralelo à costa ao sul do Cabo. Amos-
tras de fosforitas do Agulhas Bank revelaram um valor en-
tre 15% de P2
O5
(Figura 15C).
Nódulos de fosforita foram identificados na Califórnia
em 1937, durante uma dragagem realizada pelo Scripps
Figura 5.14 ––––– Carbonato fosfático com percentual de P2
O5
ao redor de 15-18%
dragado da plataforma continental do Marrocos (dimensão máxima 12 cm). É
formado por um conglomerado de seixos de calcário fosfatizado imersos em uma
matriz fosforítica, onde estão presentes grãos tamanho areia, verde-escuro a preto
de glauconita (SUMMERHAYS, 1998).
76
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Institution of Oceanography. Atualmente, é conhecida sua
ampla distribuição estendendo-se de Point Reyes, ao nor-
te de São Francisco, até o golfo da Califórnia, em profun-
didades variáveis de 60 a 180 m, distante poucos quilô-
metros da costa até o limite da plataforma. Um número
elevado de mais de 30 depósitos individuais foram identi-
ficados ao sul da Califórnia, 10 dos quais foram seleciona-
dos para estudos de detalhe. Os recursos foram estimados
em 50 Mt de nódulos e 12,5 Mt de areias fosfáticas com
Figura 5.15 ––––– Distribuição mundial das principais ocorrências de fosforita: (A) Califórnia; (B) Chattham Rise; (C) Agulhas Bank
(COOPER, 1983).
um teor de P2
O5
variável de menos de 1 a 31,4%. A ocor-
rência de areia fosfática da baía de Santa Mônica é de
especial interesse por sua ocorrência em águas relativa-
mente rasas de 55 m (Figura 15A).
Nódulos polimetálicos
Após atingir um pico em 1970, o interesse na explo-
ração e explotação dos minerais associados ao oceano pro-
77
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
Figura 5.16 – Consumo primário e indireto de níquel na China no
período 1990-2000 (ANTRIM, 2005).
Figura 5.17 – Zona de fratura Clarion-Clipperton e área de ocorrência dos nódulos, mostrando igualmente a distribuição de freqüência de
níquel e cobre comparada à dos oceanos Índico e Pacífico (norte e sul) (COOPER, 1983).
fundo declinou de forma acentuada. O interesse no apro-
veitamento desses depósitos, governado pela capacidade
tecnológica, diminui em função da ausência de perspecti-
vas econômicas.
Nos anos futuros, a economia será o fator principal e
a tecnologia desempenhará o papel de elemento suporte.
A demanda de níquel, por exemplo, em grande parte para
produção de aço inoxidável, cresceu rapidamente na últi-
ma década, face à crescente industrialização da China,
Índia e outros países em desenvolvimento. Na Figura 5.16
é apresentada a crescente evolução da demanda por ní-
quel na economia da China.
Cobalto igualmente favoreceu essa crescente deman-
da, face à sua utilização na obtenção de maior densida-
de de energia em baterias. Por sua vez, o cobre também
respondeu à crescente industrialização automobilística.
Nódulos polimetálicos ocorrem normalmente a gran-
des profundidades (ao redor de 4.000 m) nas bacias oce-
ânicas, não sendo significantes as ocorrências em águas
rasas. Segundo SANTANA (1999), são abundantes no Pa-
cífico norte, tornando essa região economicamente mais
atraente para futura explotação (Figura 5.17). Recentemen-
te, o Instituto Federal Alemão para Geociências e Recursos
Naturais submeteu à International Seabed Authority (ISA)
aplicação para um contrato de exploração de uma área
com nódulos polimetálicos entre o sudeste do Havaí e o
sudoeste da Califórnia. A aplicação de tal natureza repre-
senta a primeira, segundo as regras de contrato: a da ISA
indicou que a concentração média de níquel, cobre, cobalto
é de 2,5 a 3,0% (BLISSENBACH, 1979).
Alguns fatores devem ser considerados pelas concen-
trações menores encontradas no Atlântico quando com-
paradas às do Pacífico. Com uma área três vezes menor, o
Atlântico recebe um volume comparativamente mais alto
de sedimentos terrígenos transportados através de corren-
78
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
tes de turbidez e outros fluxos gravitacionais para a região
abissal, apresentando uma taxa de sedimentação intensa
e contínua, gerando um ambiente pouco favorável à ocor-
rência de reações diagênicas propícias ao desenvolvimen-
to dos nódulos.
A diferença mais importante entre os nódulos encon-
trados no Atlântico em relação aos de outros oceanos é,
principalmente, a alta taxa de Mn/Fe, provavelmente de-
vido à contribuição terrígena mais intensa e ao alto con-
teúdo de ferro presente nos sedimentos.
No Brasil, SANTANA (1999) indica uma dragagem
realizada no platô de Pernambuco a uma profundidade
entre 1.750 e 2.200 m com recuperação de 150 kg de
material, formado predominantemente por nódulos
polimetálicos, de alta esfericidade, densa cobertura metá-
lica e com diâmetro de 2 a 12 cm. Cerca de 90% dos
nódulos recuperados possuíam um núcleo de rochas
fosfáticas com lâminas concêntricas de 0,5-0,7 cm de es-
pessura. A composição é variável, com 28% de P2
O5
no
núcleo, e 20-30% de manganês, 30% de ferro, 0,6 a 1,5
de cobalto, 0,04 a 0,23 de cobre, 0,08 a 0,53 de chumbo
e 0,12% de zinco metálico nas lâminas concêntricas. O
autor, em seu mapa, apresenta outras ocorrências situa-
das na Zona Costeira Econômica Exclusiva.
Na zona de fratura Clarion-Clipperton (CCZ) (entre o
HavaíeaBajaCalifórnia),depósitosdenódulospolimetálicos
encontram-se situados a nordeste do oceano Pacífico tropi-
cal. Duas fontes são atribuídas aos metais presentes nos de-
pósitos: fontes hidrotermais de vulcões submarinos e fontes
continentais dos rios do norte e centro do continente ameri-
cano. Os nódulos apresentam quantidades significantes de
Figura 5.18 – Concentrações de níquel e cobalto em nódulos do
Pacífico norte (COOPER, 1983).
manganês, níquel, cobre e cobalto (Figura 5.18). Por sua
vez, as concentrações de níquel e cobalto nos nódulos do
Pacífico norte são apresentadas na Figura 5.19.
MORGAN (1999) sintetizou o atual conhecimento so-
bre as potencialidades da região, estimando os recursos
Figura 5.19 – Concentração de nódulos
polimetálicos no Pacífico norte
(HORN et al., 1972).
79
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
em milhões de toneladas para o manganês-7500, níquel-
340, cobre-2,65 e cobalto-78%. Segundo o autor, a área
de ocorrência atinge 9 bilhões de km2
, contendo cerca de
34 bilhões de toneladas de nódulos de manganês.
JAUHARI E PATTAN (1999) realizaram um detalhado
estudo sobre a bacia central do oceano Índico (Figura 5.20).
STACKELBERG (1999) efetuou o mesmo trabalho, com os
nódulos de manganês da bacia do Peru.
Crostas cobaltíferas
Em realidade, trata-se de crostas de manganês
enriquecidas por cobalto que costumam ocorrer como
cobertura de substratos duros como basalto, em diversas
regiões. Tipicamente encontrados em montes submarinos
onde existe influxo modesto de sedimento, esses depósi-
tos vêm sendo considerados como possível fonte de
manganês e cobalto. Os melhores depósitos encontrados
até agora em cadeias de montes submarinos a diferentes
profundidades situam-se nas porções central e leste do
oceano Pacífico e no oceano Índico.
Estão normalmente associados a crostas polimetálicas,
formadas por óxidos de manganês e ferro, que incorpo-
ram outros metais em sua estrutura.
São associados a superfícies expostas do fundo oceâ-
nico e em declives de montes submarinos. Em algumas
áreas, as crostas possuem níveis elevados de cobalto in-
corporando a designação de crostas cobaltíferas. Crostas
de ferro-manganês ricas em cobalto foram objeto de estu-
do no oceano Pacífico por HEIN et al. (1999).
Figura 5.20 – Ocorrência de nódulos de ferro-manganês na bacia
do oceano Índico (JAUHARI e PATTAN, 1999).
Figura 5.21 – Depósitos metalíferos de ferro, manganês e associados de sulfetos, óxidos, silicatos e barita (COOPER, 1983).
Sulfetos polimetálicos e outros
depósitos hidrotermais
Os primeiros depósitos de sulfetos maciços (Figura
5.21) foram identificados no East Pacific Rise em 1978, em
uma área de colinas vulcânicas apresentando fissuras e com
incisiva atividade hidrotermal próxima ao eixo de expansão.
Os depósitos são aproximadamente cilíndricos, apresentan-
80
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
do de 3 a 10 m de altura com 5 m de diâmetro e cores
variadas: ocre, cinza, marrom e vermelha. MARCHIG(1999)
ampliou o conhecimento relativo à atividade hidrotermal
no East Pacific Rise e às mineralizações associadas.
Amostras coletadas revelam a presença de sulfetos
de ferro, zinco e cobre em acentuadas concentrações.
Outras áreas mineralizadas têm sido descobertas, incluin-
do várias regiões entre as ilhas de Galápagos, Equador e
Juan de Fuca Ridge, ao largo do estado de Oregon (USA).
As ocorrências necessitam de uma fase exploratória
mais detalhada, antes da etapa de avaliação de sua impor-
tância econômica. Dados recentemente divulgados (2006)
indicam os valores comerciais dos metais contidos em de-
pósitos de sulfetos, crostas polimetálicas e nódulos
polimetálicos (Tabela 5.3) e nas mais variadas regiões do
oceano profundo (Figura 5.22).
A atividade hidrotermal no mar Vermelho (Figuras
5.23 e 5.24) acha-se ligada ao movimento divergente das
placas Africana e Arábica e subseqüente formação de nova
crosta oceânica. A formação dos depósitos hidrotermais é
facilitada por duas razões:
• desenvolvimento de nova crosta oceânica, focada
em uma área relativamente pequena (depressão isolada);
• ocorrência de salmouras salinas que favorece a pre-
servação dos depósitos hidrotermais; como resultado, fer-
ro, manganês, sulfato e fácies de sedimentos sulfetados
são encontrados.
Figura 5.22 – Valores dos metais contidos em depósitos de mar
profundo, presentes em várias regiões.
Esses depósitos são únicos em comparação a outras
mineralizações metalíferas em limites de placas divergen-
tes por suas altas concentrações.
SHOLTEN et al. (1999) realizaram minuciosa investi-
gação sobre as diferentes fácies sedimentares, caracteri-
zando as denominadas fácies goetita, hematita, sulfeto e
normal. O estudo fornece uma visão ampla do complexo
conjunto de minerais ocorrentes na área.
As lamas metalíferas do mar Vermelho foram desco-
bertas em 1963. Ainda que investigações subseqüentes
tenham mostrado que existem vários depósitos associa-
dos a salmouras quentes, somente a depressão Atlantis II
Tabela 5.3 – Valores dos metais comerciais contidos nos depósitos de sulfeto, crostas polimetálicas e nódulos
polimetálicos (ANTRIM, 2005) (Agosto 2006, $/Ton)
Sulfetos
Polimetálicos
Crostas
Cobaltíferas
Nódulos
Polimetálicos
S/Ton
Arcos
Intraoceânicos
Arcos
Intraoceânicos/
Continentais
Chaminésricas
emCobre
Dorsal
meso-Atlântico
IlhasMarshall
CrostaPacífico
PacíficoSul
OceanoÍndico
ZonaClarion-
Clipperton
Níquel 6,771 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00 $38,70 $36,58 $36,35 $20,48 $86,67
Cobre 1,652 $84,25 $33,04 $522,02 $67,73 $1,75 $1,78 $1,77 $2,51 $16,85
Cobalto 15,198 $0,00 $0,00 $2,43 $0,00 $119,88 $96,84 $114,50 $50,85 $36,48
Chumbo 969 $11,63 $111,45 $0,00 $1,94 $1,74 $1,72 $0,72 $1,00 $0,44
Zinco 881 $133,04 $162,11 $0,35 $103,08 $0,76 $0,60 $0,59 $0,45 $1,23
Titânio 7,770 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00 $85,47 $59,83 $77,70 $69,93 $41,18
Prata 145,189 $28,31 $401,59 $0,00 $20,33 $0,00 $0,10 $0,00 $0,58 $0,00
Ouro 9,797,042 $28,41 $37,23 $0,00 $11,76 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00
Valor Total dos Metais
Comerciais
$285,64 $745,42 $524,80 $204,83 $248,30 $197,45 $231,62 $145,80 $182,84
81
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
é de interesse comercial. Os depósitos estão todos locali-
zados nas partes central e norte, formados por sedimen-
tos de granulação fina, estratificados e multicoloridos com
variação química considerável. Altas concentrações de 6%
de zinco, 1% de cobre e 100 ppm de prata são encontra-
das em sulfetos, óxidos e silicatos. A depressão Atlantis II
cobre uma área de aproximadamente 60 km2
. A lama me-
talífera está localizada a 2.000 m abaixo do nível do mar,
variando em espessura de 2 a 25 m, sendo coberta por
200 m de densa salmoura, com temperaturas registradas
de 62°C. Isso sugere que a atividade hidrotermal prosse-
gue a depositar os metais. A depressão situa-se na ZEE do
Sudão e Arábia Saudita. Uma comissão conjunta foi cria-
da para administrar a exploração (COUPER, 1983).
Outras ocorrências
Glauconita
Um silicato hidratado de potássio, ferro e alumínio
que pode ser encontrado nas margens continentais. Se-
gundo a maioria dos geoquímicos marinhos, trata-se de
um produto autigênico produzido junto à interface sedi-
mento-água. Alguns autores indicam ser a glauconita um
produto de intemperismo marinho, o que não invalida
sua condição de componente da fase denominada hal-
mirólise ou diagênese inicial. Ocorre normalmente com
sedimentos terrígenos e contém de 2 a 9% de KO2
, ser-
vindo como fonte de potássio para fertilizan-
tes.
Tem sido descrita nas margens continen-
tais dos Estados Unidos (Califórnia), África do
Sul, Austrália, Portugal, Nova Zelândia, Filipi-
nas, China, Japão e Escócia.
Os grãos individuais de glauconita encon-
trados em lamas marinhas raramente excedem
a 1 mm de diâmetro, embora possam ser tam-
bém encontrados, ocasionalmente, como aglo-
merados em nódulos de vários centímetros de
diâmetro cimentados por material fosfático.
Os grãos típicos de glauconita são arredonda-
dos, de coloração verde-escura; freqüentemen-
te, apresentam forma e aparência de carapa-
ças de foraminíferos.
Sedimentos autígenos freqüentemente
resultam de processos associados a alta pro-
dutividade orgânica e elevados níveis de ma-
téria orgânica nos sedimentos marinhos. Es-
ses minerais, tais como fosforitas e glauconitas,
são conhecidos por se formarem dentro das
áreas de grande produtividade vinculadas à
ressurgência.
No Brasil, estudos sobre a ocorrência de
glauconitas foram divulgados a partir da déca-
da de 1970, sendo descritos tanto em amos-
tras superficiais como em testemunhos.
Figura 5.23 – Camadas multicoloridas representando diferentes
minerais depositados a partir das salmouras ricas em metais do mar
Vermelho: a) secção verde-cinza com 125 a 145 cm, formada por
sedimentos biodetríticos (carapaças de foraminíferos formadas por
calcita altamente magnesiana) e mistura finamente laminada desses
sedimentos com sulfetos de ferro no topo e fundo; b) secção
vermelho-marrom e amarela com 125 a 165 cm, integrada por
uma mistura amarelo-laranja de goetita e limonita amorfa
(SUMMERHAYES, 1998).
Figura 5.24 – Lamas metalíferas do mar Vermelho.
(a) (b)
82
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Barita
Foi encontrada sob a forma de concreções nas cerca-
nias de Colombo, no oceano Índico. As concentrações
apresentam cerca de 75% de sulfato de bário. Outras ocor-
rências foram descritas na Califórnia, a 304 m. De modo
geral, ela se encontra bastante distribuída nos sedimentos
marinhos, especialmente associada a sedimentos
biogênicos, usualmente como grãos individuais. Sua ori-
gem é bastante controversa, incluindo fonte hidrotermal
e atividade biogênica.
Lamas orgânicas
Podem estar associadas a várias regiões costeiras.
Foram erodidas das áreas continentais adjacentes, em pe-
quenas bacias. Face às condições redutoras e à falta de
acumulação nessas bacias, esses sedimentos são preser-
vados.
Alguns autores indicam que essas lamas podem ser
usadas como fertilizantes.
Os sedimentos da bacia Santa Bárbara, ao sul da
Califórnia, contêm uma média de 4% de matéria orgânica.
Freqüentemente, nessas condições redutoras, sulfetos
metálicos podem ocorrer (pirita especialmente).
Vasas organogênicas
No piso oceânico profundo, ocorrem depósitos cons-
tituídos por material de origem biogênica, denominados
“vasas organogênicas”. Algumas vasas têm potencial eco-
nômico, mas se encontram praticamente inexploradas, face
à grande profundidade de ocorrência. Dois tipos predo-
minam, com as respectivas áreas de ocorrência governa-
das pelo controle de latitude: calcárias (formadas usual-
mente do foraminífero globigerina) e silicosas (diatomáceas
e radiolários).
As vasas de globigerina apresentam um teor de até
99% de carbonato de cálcio, ocupando uma área de 128
milhões de km2
(36%) dos fundos dos oceanos, com es-
pessura de até 400 m, estimando-se haver no fundo dos
oceanos um volume da ordem de um trilhão de toneladas
com 200 m de espessura.
As vasas calcárias ocupam o piso marinho nos trópi-
cos e subtrópicos, a batimétricas superiores à profundida-
de de compensação do carbonato de cálcio.
As vasas silicosas cobrem áreas profundas do piso
marinho, abaixo da profundidade de compensação do car-
bonato de cálcio. Embora possuam composição bastante
elevada em termos de sílica, a profundidade de ocorrência
representa o maior empecilho a sua explotação econômica.
Areiascompostasdominantementeporgrãosdequart-
zo representam fonte potencial de sílica para vidro e pos-
sivelmente modelos de fundição. Várias gerações de
retrabalhamento no material original são requeridas para
produção de um material de alta qualidade e pureza.
Embora significativos depósitos ocorram na Finlândia e
Canadá, as acumulações de alta qualidade parecem limi-
tadas a extensões regionais.
OCORRÊNCIAS DE SUBSUPERFÍCIE
Evaporitos
As ocorrências de evaporitos na margem continental
brasileira de idade aptiana são formadas por anidrita,
gibsita, halita, potássio e sais de manganês. Os depósitos
se estendem da bacia de Alagoas ao platô de São Paulo.
Santana (1999) mostra o limite de mar aberto das bacias
evaporíticas, baseado em perfis sísmicos de reflexão e re-
fração, complementados por dados de perfuração. A mai-
or largura das bacias salíferas ocorre na costa de Santos,
estendendo-se por 650 km a partir do platô de São Paulo.
O sal ocorre tanto estratificado como formando estru-
turas dômicas ou do tipo almofada, com as primeiras ocor-
rendo nas porções norte e sul da bacia evaporítica. Nas
bacias de Sergipe e Alagoas, onde os depósitos ocorrem
estratificados ou formando almofadas, sais de potássio e
magnésio (carnalita e silvita) foram identificados. A ocor-
rência apresentando espessura de 15 a 50 m acha-se locali-
zada a 3.000 m de profundidade. No mesmo mapa, Santa-
na (1999) apresenta as ocorrências de domos de sal, con-
tendo halita de alta pureza, detectados no domo de Barra
Nova (ES). Os domos identificados ao norte de Abrolhos e
Mucuri (BA), juntamente com os de Barra Nova, podem ser
economicamente interessantes, pois são relativamente ra-
sos e não muito distantes da costa. Como os processos de
extração são bem conhecidos e não dispendiosos, os sais
podem ser economicamente significantes.
Barra Nova apresenta sete domos localizados a 30-50
km da linha de costa e a uma profundidade de 30-55 m.
Um deles se apresenta em uma situação de quase afloran-
te e os outros se situam de 106 a 900 m. Mucuri mostra
dois domos com o topo do sal quase aflorando e outro
com o topo situado a 800 m. Todos eles localizados de 20
a 25 km da linha de costa e recobertos por uma lâmina de
água de 20-25 m.
Enxofre
Todas as bacias que abrigam hidrocarbonetos tendem
a ter depósitos de enxofre. Eles podem ocorrer estratificados
ou presentes nas rochas capeadoras dos domos de sal.
Dessa forma, é provável a existência de depósitos de en-
xofre bastante expressivos na margem continental brasilei-
ra, devido à presença de extensas bacias evaporíticas.
Santana (1979) indica que, na época, dois projetos – “En-
xofre na Plataforma Continental” e “Enxofre na Bacia
Evaporítica do Espírito Santo: Partes Emersas” – foram
preparados, mas, devido a dificuldades nas etapas de equi-
pamentoparaperfuraçãoefinanciamento,elesforamaban-
donados. Também a Petrobras, pouco tempo antes, anun-
83
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
A mineração de carvão da plataforma é desenvolvida
há muitos anos. Normalmente, ela é realizada pela exten-
são de galerias a partir da terra, sob a plataforma conti-
nental, até atingir os estratos ricos no mineral. Segundo a
literatura disponível, existe uma quantidade apreciável de
carvão sob a plataforma continental em muitas partes do
mundo, mas sua extensão ainda é desconhecida.
Perfurações nas províncias de gás do mar do Norte
confirmaram a presença de grandes quantidades de car-
vão de boa qualidade nas camadas carboníferas do
Permiano, a uma profundidade de 7.000 m abaixo do piso
marinho. Tal situação é inacessível com a tecnologia atual
de extração de carvão. As possibilidades residem no futu-
ro,quandoocarvãopoderáserextraídoporumatecnologia
mais avançada.
Muitos desses depósitos de carvão podem ser
explotados no futuro por meio da utilização de técnicas
de gaseificação com plantas localizadas em ilhas artifici-
ais. Na baía de Ariake (Japão), ilhas artificiais já foram
construídas, mas destinadas a facilitar a extensão da mi-
neração do carvão a partir do continente.
Hidratos de gás
A busca incessante de fontes alternativas de energia a
partir dos oceanos estabeleceu, no decorrer dos anos, o
desenvolvimento de muitos estudos e projetos com a fi-
nalidade de fornecer um melhor conhecimento de seu
potencial, bem como alguns princípios básicos fundamen-
tais para o seu aproveitamento (MARTINS, 2003).
Por mais de um século, cientistas de várias partes do
mundo detêm conhecimento sobre hidratos de gás,
ocorrentes naturalmente em certas áreas dos oceanos, vin-
culados especialmente ao declive e à elevação continen-
tal. A partir de 1964, vem crescendo o interesse científico
com conotações econômicas sobre essas acumulações.
DILLON (1997) sintetizou as principais situações de acu-
mulação de hidratos de metano (Figura 5.25).
Estudos realizados pelo USGS indicam que esses de-
pósitos, em nível mundial, atingem o dobro dos hidrocar-
bonetos fósseis. Nos Estados Unidos, as reservas até aqui
ciou a descoberta de enxofre nas bacias de Sergipe a Espí-
rito Santo, através de camadas estratificadas boas gerado-
ras desse recurso.
Baseadas em secções sísmicas, mapas gravimétricos e
perfurações (ROCHA, 1975), foram selecionadas 21 estru-
turas como capazes de abrigar enxofre em suas rochas ca-
peadoras. Localizadas na desembocadura do rio Doce e,
conseqüentemente, nas porções submersas da bacia do
Espírito Santo, onde enxofre foi identificado, é possível que
esse elemento esteja presente em suas rochas capeadoras.
Enxofre pode ser formado através da redução do sul-
fato de anidrita para gás sulfídrico por meio da ação de
bactérias na presença de hidrocarbonetos e subseqüente
oxidação do gás que libera enxofre na forma elementar.
Antigos trabalhos da CPRM/SGB na área dos domos
de Janaína, Yemanjá e Mucuná, embora promissores, não
prosseguiram em função de empecilhos técnicos e de fi-
nanciamento.
Em Abrolhos norte, três domos estão situados de 60
a 70 km da costa, com o topo do sal localizado em 300
m, e uma profundidade de 20-30 m.
Na desembocadura do rio Doce, os domos estão a
uma distância de 30 a 50 km da costa, cobertos por uma
lâmina de água de 30 a 70 m; são denominados: Yemanjá,
Janaína, Yara, Inaê, Mucuná, rio Doce norte e rio Doce
sul. Os cinco primeiros apresentam topo do sal a 270 m,
300 m, 750 m e 800 m, respectivamente. Rio Doce norte
possui seu topo recoberto por uma coluna de água de 15
m, enquanto o do rio Doce sul não foi determinado.
Carvão
Inglaterra, Japão, Canadá e Austrália são países que
apresentam importante ocorrência de carvão em suas pla-
taformas continentais, geralmente formando extensões de
camadas sedimentares do continente adjacente. Para se ter
uma idéia da importância desses depósitos, pode-se indicar
que 30% da produção de carvão do Japão e 10% da Ingla-
terra provêm de camadas sedimentares submarinas. A re-
gião da Nova Escócia, no Canadá, contribuiu com 80% do
carvão extraído dos depósitos submarinos de Sidney.
No Brasil, carvão é encontrado na formação Rio Bo-
nito, Permiano Médio da bacia do Paraná. O Serviço Geo-
lógico do Brasil (CPRM/SGB), juntamente com o Departa-
mento Nacional da Produção Mineral (DNPM), desenvol-
veu vários projetos na zona costeira entre Araranguá (San-
ta Catarina) e Tramandaí (Rio Grande do Sul). Na área pró-
xima à praia de Santa Terezinha, localizada entre Torres e
Tramandaí (Rio Grande do Sul), a CPRM/SGB perfurou al-
guns poços, identificando, a 700-800 m de profundida-
de, camadas de carvão com espessura variável de 0,35 a
2,65 m. As extensões das camadas de carvão foram con-
firmadas, embora com dados ainda insuficientes para con-
siderar a ocorrência economicamente viável. Perfis sísmi-
cos obtidos na plataforma continental serão necessários
para uma avaliação mais consistente.
Figura 5.25 – Situações de acumulação de hidratos de metano
(DILLON, 1997).
84
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
estudadas estão localizadas especialmente no platô Blake
e no golfo do México (Figura 5.26).
Em oceano profundo, hidratos de metano foram
identificados em testemunhos geológicos obtidos pelo
Ocean Drilling Project (ODP), tendo surpreendido as equi-
pes de pesquisadores a extensão e a espessura desses
depósitos.
Hidratos de metano são substâncias sólidas semelhan-
tes ao gelo, compostas por água e gás natural. Costu-
mam ocorrer naturalmente em áreas onde o metano e a
água podem se combinar em condições apropriadas de
temperatura e pressão. Os estudos sobre o aproveitamen-
to dos hidratos de metano encontram-se alicerçados em
cinco componentes maiores: caracterização do recurso,
produção, mudanças climáticas globais, segurança e es-
tabilidade do piso marinho. É esperado que os hidratos de
metano ingressem no panorama econômico como um
recurso em cenário a partir de 2010.
Os hidratos de metano constituem o maior reservató-
rio de carbono do ambiente global (Figura 5.27).
Com suficientes fontes de metano e água, os hidratos
são estáveis em profundidades de 150 a 2.000 m abaixo
do permafrost; no fundo oceânico, a profundidades mai-
ores que 300 a 400 m e 1.100 m abaixo do piso marinho.
A maior parte dos depósitos oceânicos de hidratos
do metano possui origem biogênica. Esses depósitos são
encontrados nos declives continentais de margens passi-
vas, zonas de subducção, em dobramentos e vales entre a
linha de costa e as cordilheiras, acima das placas de
subducção e em bacias do tipo back-arc.
O processo básico de recuperação do gás natural en-
volve quebra no equilíbrio de manutenção do hidrato e o
bombeamento do gás para a superfície. Um dos métodos
consiste no aumento da temperatura do hidrato por inje-
ção termal; outro é efetuar a redução da pressão, o que
resulta na dissociação do gás a partir da água, ou injetar
solvente que altera as características de pressão-tempera-
tura, favorecendo a dissociação do gás.
Japão e Índia investem fortemente na pesquisa de
hidratos de gás. Os resultados desse esforço são mostra-
dos nas Figuras 5.28 e 5.29.
O pesqueiro Ocean Selector recuperou, em missão
realizada em novembro de 2000, cerca de 1 t de frag-
mentos de hidratos de metano (Figura 5.30) com uma
rede de arrasto, à profundidade de 800 m, nas cabeceiras
do cânion Barcley, junto à ilha de Vancouver.
Os estudos do Brasil são ainda em pequeno número,
tendo TANAKA et al. (2003) apresentado resultados obti-
dos no Cone do Amazonas.
A compreensão relativa à presença de hidratos no piso
marinho vem crescendo rapidamente, visando a promover
um melhor conhecimento sobre o fluxo do gás em subsu-
perfície, bem como de seus modelos de formação e disso-
ciação. Além disso, a avaliação do possível impacto do gás
contido nos hidratos, no clima global, só será atingida pela
Figura 5.27 – Distribuição de carbono no ambiente
(ANTRIM, 2005).
Figura 5.26 – Hidratos de gás do cânion Mississipi (LORENSON et
al., 2002).
Figura 5.28 – Depósitos de hidrato na costa do Japão
(ANTRIM, 2005).
85
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
pelo homem. Os fenômenos naturais como, por exemplo,
terremotos, inundações, tempestades, podem resultar em
apreciáveis mudanças na linha de costa. Algumas dessas
mudanças podem ser globais em extensão, como a eleva-
ção eustática do nível do mar, resultado do aquecimento
global e que afetará enormemente a zona costeira, produ-
zindo inundação marinha, salinização e destruição dos
sistemas aqüíferos costeiros.
As mudanças induzidas pelo homem, como constru-
ção de portos, retirada de sedimentos do perfil praial,
dragagens, podem conduzir a fenômenos de erosão cos-
teira regional ou local. A construção de barragens pode
afetar o aporte de sedimentos ou nutrientes conduzindo a
drásticas mudanças tanto em recursos vivos como não-
vivos da zona costeira.
O interesse despertado pela zona costeira em orga-
nismos como a UNESCO e a OEA, Comunidade Européia,
entre outras, conduziu à realização de inúmeras conferên-
cias, seminários, workshops e outras reuniões científicas
sobre o tema, como a Conferência Internacional Coastal
Change, realizada em Bordeaux, França, com a participa-
ção de mais de 400 cientistas e administradores costeiros.
Na oportunidade, ficou clara a importância das zonas cos-
teiras, seriamente afetadas por ações naturais e antrópicas,
como erosão, salinização de aqüíferos e contaminação.
Uma das metas do evento foi amplamente atingida, faci-
litando a comunicação efetiva entre cientistas, usuários e
administradores da zona costeira, pela análise de diversas
questões, tais como:
• Quais são os vários mecanismos e processos res-
ponsáveis pelas mudanças físicas ocorrentes na zona cos-
teira?
• Como a ciência pode ser utilizada no desenvolvi-
mento sustentável dessa região?
• Quais são as implicações socioeconômicas dessas
mudanças?
Nesse verdadeiro cenário de estudo e preservação da
zona costeira, pelo que ela representa como um recurso
em si, alguns aspectos fundamentais devem ser levados
em consideração:
compreensão de como ele é liberado na coluna de água e
se o gás pode eventualmente atingir a atmosfera.
Conhecidos durante algum tempo na indústria do pe-
tróleo como estorvo nas tubulações de óleo e gás, onde
sob certas condições promoviam efeito similar ao do coles-
terol nas artérias humanas, os hidratos de gás passaram a
constituir um atraente tema a partir da década de 1960, em
função de suas conotações de caráter econômico-ambien-
tal. A atual distribuição de depósitos de hidratos de meta-
no, conhecidas e inferidas, é apresentada na Figura 5.31.
ZONA COSTEIRA COMO UM RECURSO
A adoção da zona costeira como um recurso não-
vivo é decorrente de inúmeras discussões promovidas du-
rante as reuniões do Grupo de Coordenação do programa
Ocean Science in Relation to Non Living Resources (OSNLR)
(COI/UNESCO).
Em realidade, a zona costeira representa um de nos-
sos recursos mais preciosos, pois abriga grande parte da
população mundial. Trata-se de uma zona frágil que res-
ponde de maneira adversa a mudanças em seu perfil de
equilíbrio. Essas mudanças podem ser naturais ou induzidas
Figura 5.29 – Depósitos de hidrato de metano na Índia
(ANTRIM, 2005).
Figura 5.30 – (a) Lascas de hidratos de metano no porão do barco
pesqueiro (branco), peixes (vermelho) e rochas carbonáticas (preto);
(b) lascas de hidratos de metano descarregadas de retorno ao mar
(SPENCE e CHAPMAN, 2001).
Figura 5.31 – Ocorrência global de depósitos de hidratos de
metano (KVENVOLDEN, 2001).
86
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
• gerenciamento integrado dos ambientes costeiros,
incluindo biodiversidade;
• exploração sustentável dos recursos marinhos vivos;
• explotação dos recursos não-vivos, a um custo efe-
tivo e de uma forma ambientalmente aceitável;
• avaliação e previsão de eventos episódicos cos-
teiros geralmente catastróficos, com vistas a minimizar
seus impactos na vida humana e na infra-estrutura exis-
tente;
• avaliação da capacidade da zona costeira em absor-
ver as mudanças produzidas;
• formação e fortalecimento da capacidade científica
dos países menos desenvolvidos, de forma a permitir par-
ticipação em programas costeiros internacionais de rele-
vância para suas prioridades e aspirações nacionais;
• comunicação mais efetiva dos resultados científicos
aos usuários e administradores para uma melhor condu-
ção de suas ações na zona costeira;
• união mais efetiva entre ciências costeiras e a soci-
edade para assegurar o seu desenvolvimento e conscienti-
zação com relação à zona costeira.
A importância da zona costeira como um recurso em
si é enfatizada nos trabalhos desenvolvidos pelo USGS,
que, inclusive, estabeleceu uma série de publicações es-
peciais procurando indicar a importância das linhas de
praiaseterrasbaixasadjacentes.Taisdocumentosenfatizam
queodesconhecimentodessesprocessostraznormalmente
trágicas colisões entre o homem e a natureza. A geologia
costeira e marinha, quando aplicada a essas situações, pode
contribuir para a compreensão e o equacionamento de
muitos desses problemas.
Em plano regional, a adoção da zona costeira como
um recurso em si foi enfatizada quando da realização das
1ªs
Jornadas Ibero-Americanas de Ciência e Tecnologia
Marinha (Cartagena, 1995) e a criação de um grupo de
trabalho denominado “A Zona Costeira como um Recur-
so: Aspectos Científicos e Tecnológicos”. O grupo estabe-
leceu sua pauta de trabalho versando sobre:
a) estabilidade e vulnerabilidade dos ecossistemas
costeiros e a explotação sustentável de seus recursos, in-
cluindo os aspectos socioeconômicos;
b)efeitos em longo prazo do contínuo enriquecimen-
to das águas costeiras por nutrientes e matéria orgânica
(eutroficação e floração de algas nocivas);
c)efeitos na zona costeira de mudanças climáticas
globais (incluindo processos de erosão) e sua adequada
identificação.
No Brasil, vários estudos foram desenvolvidos nos
últimos anos, considerando a zona costeira como um re-
curso em si. A contribuição do PGGM sobre erosão e pro-
gradação do litoral brasileiro foi feita por MUEHE (2006)
e representa uma contribuição de valor apreciável.
No âmbito regional (Brasil, Uruguai e Argentina), o
trabalho de MARTINS et al. (2002), abordando aspectos
erosivos da linha de costa dos três países, constitui um
estudo de igual valor.
Pelas razões aqui discutidas, considera-se a zona cos-
teira como recurso em si, merecendo, dessa forma, uma
atenção compatível com sua importância na interface con-
tinente/oceano (MARTINS e TOLDO Jr., 2006b).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De todos os recursos minerais discutidos no presente
artigo, nosso país tem informações de sua ocorrência em
sua ZEE e área oceânica adjacente.
Os depósitos não-combustíveis, relacionados ao piso
marinho, são formados por aqueles que podem ser explo-
tados de locais relativamente rasos em zonas costeiras (me-
nos de 200 m de profundidade), incluindo agregados como
areia e cascalho, conchas e outros tipos de depósitos de
carbonato de cálcio, fosforitas, pláceres de minerais pesa-
dos ou gemas e depósitos de enxofre de subsuperfície. Os
depósitos de mar profundo situam-se a profundidades ex-
pressivas (3.500 a 5.500 m), requerendo uma tecnologia
bastante distinta para os estudos exploratórios.
Com relação ao Brasil, o volume de informação é ape-
nasrazoável,destacando-seaheterogeneidadenaprofundi-
dadeefidelidadedosdadosexistentes.Algunstrabalhospos-
suem boa qualidade de informações e foram obtidos por
meio de programas plurianuais sob a responsabilidade de
uma rede, reunindo muitas instituições (OSNLR, REMAT,
PGGM, por exemplo). No momento, encontram-se em de-
senvolvimentooutrosprojetossimilares(REMPLAC,COMAR).
Não devem ser esquecidas as questões político-estra-
tégicas a serem definidas pelo Brasil para os recursos mi-
nerais da área internacional dos oceanos (SOUZA et al.,
2007), com a criação de uma rede regional de instituições
Figura 5.32 – Elevação do nível do mar e erosão costeira:
problemas do recurso zona costeira.
87
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza
(Brasil, Argentina, Uruguai) para desenvolver atividades
exploratórias na área da elevação do Rio Grande.
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Geólogo formado (1983) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS). Doutor (1991) em Geologia
Marinha pela Universidade de Paris. Pós-doutorado (1995) pelo Instituto de Geociências e Recursos Naturais em Hannover
(Alemanha). Treinamento em Exploração de Recursos Minerais Marinhos patrocinado pela Comissão Preparatória da
Autoridade Internacional do Leito Marinho e do Tribunal Internacional das Leis do Mar (Nações Unidas). Especialização
em assuntos relativos à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Atuou como especialista em recursos do
mar no Ministério da Ciência e Tecnologia em colaboração com a Comissão Interministerial de Recursos do Mar. Trabalhou
como geólogo marinho na Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (Nações Unidas) (Jamaica), quando contribuiu
para o desenvolvimento de atividades visando ao aproveitamento sustentado de recursos minerais marinhos localizados
em áreas oceânicas além das jurisdições nacionais. Atualmente, é chefe da Divisão de Geologia Marinha da Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde sua principal atuação tem sido a implementação do Programa de
Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (REMPLAC).
LUIZ ROBERTO SILVA MARTINS
Doutor, livre-docência e pós-doutorado em Geologia Marinha. Fundador do Centro de Estudos de Geologia Costeira e
Oceânica (CECO-UFRGS). Fundador e coordenador do Programa de Geologia e Geofísica Marinha (PGGM) (1969-1979).
Fundador e coordenador do Curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) (1971-1972). Coordenador técnico do CNPq no Projeto REMAC (1972-1978). Especialista em Ciências do Mar
junto ao Escritório Regional da UNESCO para Ciência e Tecnologia (1982-1983). Coordenador Regional do Programa
OSNLR/UNESCO (1984-2002). Perito em Ciências do Mar junto à Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar.
Coordenador Científico da Rede COMAR (2003-2008). Membro Emérito da Society for Sedimentary Geology (USA).
Publicou 250 títulos entre livros, capítulos de livro, artigos completos e resumos expandidos. Pesquisador sênior do CNPq.
Professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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89
REGIÕES COSTEIRAS
Ricardo de Lima Brandão
6
REGIÕES COSTEIRAS
Ricardo de Lima Brandão (ricardo@fo.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
As Regiões Costeiras ................................................................... 90
Variações do Nível Relativo do Mar no Litoral Brasileiro e
Evolução das Planícies Costeiras ................................................. 90
O Problema da Erosão Costeira .................................................. 92
Mobilização Eólica de Sedimentos: Campos
de Dunas Costeiras ..................................................................... 94
Preservação e Gerenciamento das Áreas Costeiras ..................... 96
Bibliografia ................................................................................. 97
90
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
AS REGIÕES COSTEIRAS
Olitoralbrasileiropossuiumaextensãodeaproximada-
mente 8.500 km, ao longo da qual ocorrem unidades
fisiográficasvariadas(Figura6.1).Demodogeral,observa-se
umasucessãodeplaníciescosteirasalternando-secomfalésias
e costões rochosos. As planícies costeiras são constituídas
por sedimentos quaternários, acumulados em ambientes
continentais, transicionais (mistos) e marinhos. Exibem lar-
guras mais expressivas no litoral norte, em grande parte sob
influência da volumosa descarga sólida (principalmente de
sedimentos lamosos) do rio Amazonas. Planícies mais largas
tambémsãoobservadasjuntoàsdesembocadurasdeoutros
rios principais, como Parnaíba e São Francisco, na costa nor-
deste,eJequitinhonha,DoceeParaíbadoSul,nacostaleste.
Falésias são formadas quando pacotes de sedimentos mais
antigos, consolidados, são expostos à ação direta das ondas
do mar. No litoral brasileiro são, dominantemente, esculpi-
das nos sedimentos tércio-quaternários do Grupo Barreiras
ou formações correlatas. Os sedimentos Barreiras ocorrem
como uma faixa descontínua e de largura variável, desde o
AmapáatéoRiodeJaneiro,sobaformadetabuleiroscostei-
ros, que, por vezes, projetam-se até a linha de praia. Os
costõesrochososocorremquandoaaçãodasondaséexercida
sobre rochas cristalinas, tanto ígneas quanto metamórficas,
commaiordestaqueparaolitoralsudeste,ondeasencostas
da serra do Mar atingem diretamente a linha de costa em
váriossetores.
Regiões costeiras são resultantes da interconexão en-
tre componentes da geosfera (continente), hidrosfera (oce-
ano) e atmosfera. Constituem as áreas de mais intensa
troca de energia e matéria do sistema Terra. Devido ao
frágil equilíbrio existente entre os diferentes processos físi-
cos atuantes e à complexidade e diversidade de ecossiste-
mas presentes (como praias, manguezais, recifes de co-
rais, entre outros), caracterizam-se como áreas de elevada
vulnerabilidade à degradação de seus recursos naturais,
frente a atividades humanas inadequadas.
A geologia assume papel de destaque no
planejamento e ordenamento territorial de re-
giões costeiras. O conhecimento da evolução
ao longo do tempo geológico, envolvendo
os processos passados e atuais, que resultam
nas feições costeiras hoje observadas e na di-
nâmica que modifica constantemente a con-
figuração morfológica dessas áreas, faz da in-
formação geológica um instrumento funda-
mental para a gestão sustentável da zona cos-
teira. Os processos geológicos ativos nessas
regiões,fundamentalmenterelacionadosàsva-
riações do nível relativo do mar, aos padrões
de circulação litorânea de sedimentos, que
causam erosão ou progradação da linha de
costa, e à mobilização eólica de grandes vo-
lumes de areia, estão sendo modificados pelo
homem, o que torna imprescindível um ade-
quado controle sobre o uso e ocupação des-
sas áreas, visando à manutenção de sua qua-
lidade ambiental.
VARIAÇÕES DO NÍVEL
RELATIVO DO MAR NO LITORAL
BRASILEIRO E EVOLUÇÃO DAS
PLANÍCIES COSTEIRAS
As flutuações do nível relativo do mar,
sobretudo no decorrer do Quaternário, são
um dos principais fatores controladores dos
padrões de sedimentação e erosão, responsá-
veispelaelaboraçãodasplaníciescosteirasbra-
sileiras. O episódio mais antigo de nível mari-
nho acima do atual, reconhecido e datado
no litoral brasileiro, ocorreu por volta de
123.000 anos AP (Antes do Presente), com o
mar se estabilizando em torno de 8 a 10 m
Figura 6.1 ––––– Classificação da costa brasileira proposta por Silveira (1964) e
modificada por Cruz et al. (1985). Fonte: VILLWOCK et al. (2005).
91
REGIÕES COSTEIRAS
Ricardo de Lima Brandão
acima do nível atual. Durante essa transgressão mari-
nha, os cursos inferiores dos rios foram afogados e trans-
formados em feições do tipo ilhas-barreira/lagunas. Após
esse máximo transgressivo, teve início uma longa fase
de regressão marinha, responsável pela progradação da
linha de costa através da deposição de sucessivos cor-
dões litorâneos, formando os terraços arenosos
pleistocênicos, que ocorrem desde os estados da Paraíba
até o Rio Grande do Sul, nas porções mais internas das
planícies costeiras (Figura 6.2). Um dos mais bem pre-
servados testemunhos desse ciclo transgressivo-regressi-
vo é o sistema Laguna-Barreira III (VILLWOCK et al.,
1986), amplamente distribuído na costa sul-rio-grandense
e responsável pela individualização da lagoa dos Patos,
maior sistema lagunar do Brasil. No litoral do estado do
Rio de Janeiro, cordões arenosos pleistocênicos contro-
laram a formação de importantes lagunas, como o com-
plexo Araruama-Saquarema-Maricá, lagoa Rodrigo de
Freitas e lagoa de Jacarepaguá.
Em torno de 17.500 anos AP, segundo curva eustática
apresentada para o litoral do Rio Grande do Sul (CORRÊA,
1990), o nível do mar se estabilizou entre 120 e 130 m
abaixo do atual, expondo praticamente toda a plataforma
continental. Verificou-se, em seguida, uma nova fase
transgressiva, em períodos alternados de maior ou menor
velocidade, com o nível marinho aproximando-se do atu-
al entre 7.000 e 6.500 anos atrás.
Os registros das variações nos últimos 7.000 anos
são mais bem conhecidos no litoral leste-nordeste do Bra-
sil, onde foram realizadas mais de 700 datações de
radiocarbono, permitindo construir curvas de flutuações
do nível do mar para diversos setores costeiros. Segundo
Suguio et al. (1985), Martin et al. (1987) e Dominguez et
al. (1981, 1990), após passar pelo nível do mar atual, em
torno de 7.000 anos AP, nosso litoral esteve em submer-
são até cerca de 5.150 anos AP, quando foi atingido um
máximo transgressivo entre 4 e 5 m acima do nível atual.
Durante essa fase, formaram-se novos sistemas de ilhas-
barreira/lagunas, principalmente nas desembocaduras de
grandes rios, como o Doce e o Paraíba do Sul. Desde
então, o nível relativo do mar sofreu um abaixamento,
irregular e descontínuo, até atingir a posição atual.
Durante esse episódio, que modelou as formas finais
das planícies costeiras, foram construídos os terraços ma-
rinhos holocênicos (Figura 6.2), marcados por feixes de
cordões arenosos, muitas vezes retrabalhados por proces-
sos eólicos que deram origem aos campos de dunas atu-
ais. Grandes corpos lagunares, como, por exemplo, a la-
goa de Marapendi, na Barra da Tijuca (cidade do Rio de
Janeiro), desenvolveram-se entre esses cordões holocêni-
cos e as barreiras arenosas mais internas (cordões pleisto-
cênicos).
O estudo desses registros pretéritos reveste-se de es-
pecial interesse, hoje em dia, quando se discutem os im-
pactos de uma possível elevação do nível do mar causada
pelo aumento da temperatura global da Terra. De acordo
com o relatório do IPCC/ONU (BINDOFF et al., 2007), de
1961 a 2003 o nível do mar global aumentou a uma taxa
média de 1,8 mm por ano, sendo que de 1993 a 2003 o
aumento foi de 3,1 mm por ano. O fato de uma taxa mais
rápida refletir uma variação da década, ou um aumento
na tendência de longo prazo, ainda não pode ser determi-
nado. Antes de se fazer qualquer previsão sobre as conse-
qüências de uma eventual subida do nível do mar, para os
próximos 50-100 anos, deve-se conhecer a evolução pas-
sada a fim de se determinar a tendência da região conside-
rada. Enquanto na costa do Brasil o nível do mar desceu
cerca de 5 m durante os últimos 5.000 anos, no mesmo
período a costa atlântica dos Estados Unidos, por exemplo,
experimentou contínua elevação do nível do mar, caracteri-
zando-se como uma costa em submersão (Figura 6.3).
Figura 6.2 ––––– Terraços arenosos na planície costeira do litoral norte
do estado da Bahia (modificado de Dominguez, 2006):
Terraço A: terraços arenosos continentais (depósitos de leques
aluviais), pleistocênicos, de idade anterior a 120.000 anos AP
Terraço B: terraços arenosos marinhos, pleistocênicos, associados ao
nível de mar alto de 120.000 anos AP e à regressão subseqüente.
Terraço C: terraços arenosos marinhos, holocênicos, associados ao
nível de mar alto de 5.100 anos AP e à regressão subseqüente.
Figura 6.3 ––––– Curvas esquemáticas médias de variações dos níveis
relativos do mar ao longo da costa central brasileira e ao longo das
costas Atlântica e do golfo do México dos Estados Unidos, durante
os últimos sete mil anos (SUGUIO et al., 1985).
92
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
O PROBLEMA DA EROSÃO COSTEIRA
Segundo alguns autores, mais de 70% das linhas de
costa do mundo têm sido afetadas pela erosão nas últi-
mas décadas. Esse fenômeno, nos dias de hoje, tem sido
discutido por numerosos pesquisadores e a maioria deles
advoga que a subida acelerada do nível relativo do mar,
atualmente em curso, seria a causa mais importante. Deve-
se considerar, no entanto, que a maior parte da literatura
sobre o tema é produzida em países do hemisfério Norte,
onde, conforme já comentado, predominam zonas cos-
teiras em submersão. A subida do nível do mar atual nes-
sas regiões deve provocar efeitos adversos maiores que
em zonas costeiras em emersão, podendo até ser a causa
principal da erosão. Evidentemente, se as previsões de
subida do nível do mar para as próximas décadas se con-
firmarem, setores do litoral brasileiro submetidos a pro-
cessos erosivos serão bem mais impactados, pois as taxas
de erosão serão fortemente aceleradas (DOMINGUEZ,
1995).
O balanço de sedimentos (contribuições x perdas
sedimentares) parece ser o principal fator que condiciona
a erosão ou a progradação ao longo da costa brasileira.
Quando ocorre redução do volume de sedimentos que
alimenta determinado setor costeiro, a linha de costa ten-
de a recuar (erosão). Quando o suprimento sedimentar se
mantém, permanece estabilizada. Se houver incremento
do volume de areia no trecho considerado, a linha de cos-
ta avança em direção ao mar (progradação).
Inúmeros fatores, tanto naturais (intrinsecamente li-
gados à dinâmica costeira) quanto relacionados às inter-
venções humanas, atuam direta ou indiretamente no ba-
lanço de sedimentos, determinando as tendências para o
comportamento da linha de costa. Quando o resultado do
balanço de sedimentos é negativo (déficit sedimentar),
provocando a erosão, os principais são:
• Retenção dos sedimentos transportados pelas cor-
rentes de deriva litorânea (longshore currents), causada
por obstáculos localizados a montante da área de inte-
resse. Essas correntes longitudinais são criadas quando
as ondas incidem obliquamente à linha de costa, geran-
do um fluxo paralelo à faixa de praia (Figura 6.4). Na
dinâmica costeira, constituem o principal agente de trans-
porte e dispersão de sedimentos litorâneos. Os obstácu-
los podem ser naturais (pontais rochosos ou arenosos e
algumas desembocaduras fluviais, que, em condições de
descarga favoráveis, funcionam como “espigões hidráu-
licos” bloqueando o trânsito litorâneo de sedimentos)
ou obras de engenharia costeira perpendiculares à linha
de costa (molhes ou espigões). Esses obstáculos provo-
cam acumulação de sedimentos a montante e erosão a
jusante.
• Retenção de sedimentos transportados pelos rios
devido à construção de barragens, impedindo que che-
guem à linha de costa e sejam redistribuídos pelas corren-
tes de deriva litorânea. A mineração de areia nas planícies
fluviais, quando executada de forma inadequada, também
pode contribuir para a erosão costeira, por meio da dimi-
nuição da carga de sedimentos que seria transportada e
incorporada à linha de costa.
• Remoção de sedimentos, em direção à platafor-
ma continental adjacente, por correntes de retorno (rip
currents) geradas pela atuação de correntes longitudi-
nais de sentidos opostos que convergem no mesmo se-
tor praial, formando células de circulação litorânea (Fi-
gura 6.5).
• Diminuição do aporte transversal de sedimentos are-
nosos da plataforma continental para a linha de costa.
• Remoção de sedimentos causada pelo avanço de
frentes frias, com marés meteorológicas e ondas de tem-
pestades associadas. Esses eventos são mais freqüentes
na costa sul-sudeste do Brasil. Nos últimos anos, tem-se
observado uma intensificação dos fenômenos climáticos
extremos, como o caso da passagem do furacão Catarina,
entre os dias 27 e 28 de março de 2004, considerado o
primeiro furacão extratropical registrado no Atlântico Sul
(Figura 6.6).
• Remobilização eólica de areia das praias para a ge-
ração de campos de dunas.
Obras de engenharia costeira, como molhes/espigões,
quebra-mares, muros de contenção (sea wall) etc.,
construídas com a finalidade de estabilizar a posição da
linha de costa, têm se mostrado ineficientes, pois, apesar
de protegerem patrimônios públicos e privados, não re-
solvem as causas da erosão e geralmente resultam na
Figura 6.4 ––––– Correntes de deriva litorânea (longshore currents)
geradas por ondas que incidem obliquamente à praia (COASTAL
PROCESSES AND SHORELINE EROSION).
Figura 6.5 ––––– Células de circulação litorânea, com correntes de
retorno que podem transportar sedimentos transversalmente à
linha de costa em direção à plataforma continental (COASTAL
PROCESSES AND SHORELINE EROSION).
93
REGIÕES COSTEIRAS
Ricardo de Lima Brandão
destruição da praia recreativa, além de propagar o pro-
blema para setores adjacentes. Entretanto, em alguns
casos, como em áreas já densamente ocupadas, essas
intervenções tornam-se uma medida necessária e imedi-
ata. Exemplos desse tipo de obra podem ser encontrados
ao longo de toda a costa brasileira. No litoral de Fortale-
za (CE), a construção de uma série de estruturas rígidas,
na tentativa de deter o processo erosivo estabelecido a
partir da retenção de sedimentos pelo molhe principal
do porto do Mucuripe, além de degradar grande trecho
da orla urbana, provocou a transferência da erosão, em
“efeito dominó”, no sentido da deriva litorânea, atingin-
do com mais intensidade as praias do setor oeste. O caso
mais representativo é a praia de Iparana (município de
Caucaia), caracterizada como uma área de recuo acele-
rado da linha de costa, onde o mar já avançou cerca de
200 m nos últimos 30 anos (Figura 6.7).
Outro exemplo semelhante ocorre no setor litorâneo
a norte do Recife (PE), submetido aos efeitos da erosão
costeira desencadeada principalmente pela construção e
ampliação do antigo porto da capital pernambucana. Uma
bateria de molhes (35) foi instalada nas praias do municí-
pio de Olinda, alterando o padrão de circulação de sedi-
mentos na área e transferindo a ação erosiva para jusante,
até o trecho da Ilha de Itamaracá. A praia de Boa Viagem,
na cidade do Recife, sofre acelerado processo erosivo de-
vido principalmente à urbanização desordenada da faixa
de pós-praia, que impede a troca de sedimentos entre o
mar e os depósitos costeiros. A construção do porto de
Suape, no município de Ipojuca, também contribuiu para
intensificar o fenômeno. Intervenções emergenciais foram
implementadas com o objetivo de proteger vias públicas
e outros equipamentos urbanos (Figura 6.8).
No litoral do estado do Rio de Janeiro, junto à de-
sembocadura do rio Paraíba do Sul, a localidade de Atafona
vem sendo severamente atingida pela erosão, cujas cau-
Figura 6.6 ––––– Furacão Catarina, que atingiu o litoral sul entre os
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em março de 2004
(disponível em: http://www.inpe.br).
Figura 6.7 ––––– Obras de engenharia costeira (espigões e quebra-mares) construídas ao longo do litoral de Fortaleza (CE).
Figura 6.8 ––––– Obra para contenção do avanço do mar na praia de
Boa Viagem (Recife-PE).
94
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
sas (naturais e humanas) ainda não são totalmente conhe-
cidas. Segundo COSTA (1994) citado por MUEHE et al.
(2006), um dos fatores que intensificaram o fenômeno se
relaciona à redução das descargas líquida e sólida do rio,
em conseqüência da derivação das águas para o sistema
Lajes-Guandu, na barragem de Santa Cecília, localizada a
382 km da foz. Essa intervenção refletiu-se na interação
entre rio e oceano, modificando a direção e intensidade
dos processos atuantes localmente (Figura 6.9).
Problemaserosivostambémocorremnaplaníciecostei-
radorioSãoFrancisco,sendosuascausasatribuídasàreten-
ção de sedimentos fluviais pelas várias usinas hidrelétricas e
reservatórios construídos no curso desse rio. Em 1998, o
povoado de Cabeço, no município de Brejo Grande (SE), foi
praticamente todo destruído pelo avanço do mar.
Ao longo do litoral brasileiro, existem ambientes e
feições fisiográficas que funcionam como barreiras natu-
rais, protegendo a costa contra a ação erosiva das ondas
do mar, a exemplo das áreas de manguezais, associadas
a planícies fluviomarinhas, que ocorrem desde o Amapá
até Santa Catarina. A degradação causada pela expansão
urbana, instalações portuárias e industriais, atividades de
carcinicultura, dentre outras, têm comprometido impor-
tantes funções ambientais (físicas e biológicas) desses
ecossistemas. Dunas frontais, recifes de coral e arenitos
de praia (beach-rocks) são outras feições costeiras que
ajudam a absorver parte da energia das ondas, diminuin-
do a remoção de sedimentos da face de praia.
O transporte eólico de sedimentos nas planícies cos-
teiras contribui, em alguns setores específicos, para a
manutenção do equilíbrio dinâmico da linha de costa, atra-
vés do fluxo de areias provenientes de dunas móveis em
direção à faixa de praia.
Um amplo trabalho sobre o comportamento da linha
de costa brasileira (MUEHE, 2006) apresenta, para cada
estado litorâneo, uma síntese dos estudos de identifica-
ção das áreas com características de erosão, estabilidade e
progradação. O diagnóstico realizado mostra que a ero-
são ocorre por toda a costa, prevalecendo sobre os tre-
chos de acresção e que não há clareza sobre as causas, se
naturais ou induzidas por intervenções humanas, na mai-
or parte das ocorrências. Ainda segundo o autor, não exis-
tem evidências conclusivas, até o momento,
quanto ao comportamento do nível do mar
atual. A baixa declividade de grande parte da
plataforma continental interna favorece uma
ampla resposta erosiva da linha de costa, no
caso de uma elevação acelerada do nível do
mar. Por outro lado, grande parte do relevo
costeiro, como as falésias e os recifes, reduz
esse impacto.
Em termos gerais, pode-se considerar
que a erosão costeira resulta essencialmente
do conflito entre um processo natural, o re-
cuo da linha de costa, e as atividades huma-
nas. O problema para o homem (risco natu-
ral) ocorre quando é construído algum tipo
de referencial fixo (residências, estradas e
outras obras permanentes) que se interpõe
na trajetória de recuo da linha de costa (DO-
MINGUEZ, 1995). O controle do problema
passa, necessariamente, pelo gerenciamento
e ordenamento territorial das áreas costeiras,
devendo ser consideradas a manutenção de
faixas de não-edificação junto à orla e a ne-
cessidade de estudos adequados para a implantação de
obras costeiras.
MOBILIZAÇÃO EÓLICA DE SEDIMENTOS:
CAMPOS DE DUNAS COSTEIRAS
Ao longo do litoral brasileiro, os campos de dunas
ocorrem, de maneira mais expressiva, nos seguintes tre-
chos: costa norte-nordeste, principalmente entre a baía
de São Marcos (Maranhão) e o cabo Calcanhar (Rio Gran-
de do Norte), costa de Sergipe-Alagoas (planície costeira
do rio São Francisco), costa do Rio de Janeiro (região de
Cabo Frio) e costa meridional, entre a ilha de Santa Cata-
rina e o extremo sul do Rio Grande do Sul. Atingem maior
desenvolvimento no Parque Nacional dos Lençóis Mara-
nhenses, reconhecido como o maior registro de sedimen-
tação eólica quaternária da América do Sul.
As dunas costeiras são formadas pela acumulação
de sedimentos arenosos removidos da face de praia pela
ação dos ventos. Para que se desenvolvam, são neces-
sárias as seguintes condições essenciais: (i) existência
de estoque abundante de sedimentos, com textura ade-
quada; (ii) atuação de ventos soprando costa adentro e
com velocidades suficientes para movimentar os grãos
Figura 6.9 ––––– Aspecto da intensa erosão costeira na localidade de Atafona,
município de São João da Barra (RJ) (MUEHE, 2007).
95
REGIÕES COSTEIRAS
Ricardo de Lima Brandão
de areia; (iii) existência de superfície adequada para a
mobilização e deposição dos sedimentos; (iv) baixo teor
de umidade, visto que areias mais úmidas necessitam de
maior energia eólica para iniciar a movimentação dos
grãos.
Migração de dunas ocorre quando o deslocamento
contínuo dos grãos de areia provoca a movimentação de
todo o corpo da duna. É um processo natural que depen-
de, além do regime de ventos, de sua estruturação interna
(baixa coesão dos grãos) e da ausência de vegetação fixa-
dora ou estabilizadora. Essas dunas são classificadas como
móveis, livres ou transgressivas. Quando as condições dos
depósitos são mais estáveis, pela maior coesão dos grãos
e pela presença de um revestimento vegetal que detém
ou atenua os efeitos da ação dos ventos, as dunas são
classificadas como fixas ou estacionárias. A migração ocorre
predominantemente durante as estações secas, diminuin-
do bastante, ou mesmo cessando, nos períodos chuvo-
sos. GONÇALVES (1998) estudou a movimentação eólica
de sedimentos nos Lençóis Maranhenses, observando que
a taxa de transporte ao longo do primeiro se-
mestre do ano (maior pluviosidade) é signifi-
cativamente menor que a do segundo semes-
tre (menor pluviosidade). O regime de ventos
é de baixa energia para os meses de fevereiro
a julho e de alta energia para os meses de
agosto a dezembro. O autor calculou uma taxa
de migração das dunas de 10 a 15 m por
ano, com um sentido de deslocamento entre
63o
e 72o
SW.
Dependendo da configuração da linha de
costa, as dunas móveis podem exercer impor-
tante função no aporte de sedimentos para a
faixa praial, através de áreas de bypass. No
Ceará, essas áreas são, em grande parte, rela-
cionadas a zonas de promontórios. Após mi-
grarem sobre essas feições, as areias alimen-
tam as correntes de deriva litorânea, ou dire-
tamenteafaixadeestirâncio,contribuindopara
manter o aporte regulador e o equilíbrio das
praias. Observa-se que a ocupação desses se-
tores, na maioria das vezes por casas de vera-
neio, associada à utilização de técnicas para
fixação das dunas e/ou para desviar a trajetória do fluxo
eólico, têm alterado os padrões naturais de circulação dos
sedimentos, potencializando a ação erosiva nos trechos
situados a jusante.
O transpasse de sedimentos eólicos para o fluxo li-
torâneo se dá, também, através do avanço de dunas so-
bre canais estuarinos. Dependendo das condições hidro-
dinâmicas e do volume de sedimentos envolvidos, pode
ocorrer o barramento da desembocadura, resultando na
formação de lagoas costeiras, ou o transporte do materi-
al arenoso pelo canal e sua posterior redistribuição pela
deriva litorânea ao longo da linha de costa. Deve-se, por-
tanto, nesses casos, preservar as dunas para que conti-
nuem migrando e participando da dinâmica sedimentar
costeira.
Em algumas áreas, a migração de dunas ocasiona
o assoreamento de ecossistemas aquáticos, como lago-
as, banhados e mangues. Da mesma forma, áreas
urbanizadas ou agricultadas, estabelecidas nas zonas
de migração, podem ser lentamente soterradas pelas
areias. A retirada da cobertura vegetal fixadora das du-
nas, apesar de proibida pela legislação ambiental, é uma
prática comum ao longo do litoral brasileiro, promo-
vendo a transformação de dunas fixas em dunas mó-
veis (Figura 6.10).
Construções de estradas, loteamentos e outros equi-
pamentos públicos e privados, assim como as atividades
de mineração de areia e minerais pesados em dunas, re-
sultam na desestabilização e até mesmo no desmonte
desses depósitos, alterando significativamente a dinâmica
eólica dessas áreas, além de degradar um patrimônio
paisagístico com elevado potencial para atividades de tu-
rismo e lazer (Figura 6.11).
Figura 6.11 ––––– Degradação ambiental causada pela mineração de
areia em área de dunas (Sabiaguaba, Fortaleza, CE).
Figura 6.10 ––––– Migração de dunas, causando o assoreamento da lagoa do
Portinho (Parnaíba, PI) (disponível em: Google Earth).
96
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Os campos de dunas (recentes e paleodunas) são
aqüíferos superficiais livres, de elevado potencial, mere-
cendo destaque na captação de água subterrânea de boa
qualidade nas regiões litorâneas. Por outro lado, pelas mes-
mas características que os tornam um excelente
armazenador, ou seja, os elevados índices de porosidade
e permeabilidade, representam ambientes altamente vul-
neráveis à contaminação hídrica. Várias são as fontes po-
tencialmente poluidoras, tais como: águas superficiais
poluídas, lixões, fossas, cemitérios, postos de gasolina e
poços construídos sem critérios técnicos. Além disso, a
urbanização indiscriminada atinge as áreas de recarga,
impermeabilizando os terrenos e comprometendo a
potencialidade desses aqüíferos.
Observa-se também, em algumas cidades litorâne-
as, a ocorrência de processos de favelização em dunas,
ocasionando o aparecimento de áreas de risco associa-
das a movimentos de massa, principalmente em perío-
dos de pluviosidade elevada. A constituição arenosa dos
morros (favorecendo uma alta taxa de infiltração das águas
pluviais e, conseqüentemente, um elevado nível de satu-
ração do solo), a declividade acentuada, a distribuição e
pressão das habitações nas encostas, o acúmulo de lixo
e entulho nos taludes, o lançamento das águas servidas
em superfície ou em fossas (contribuindo para aumentar
a saturação do solo), a remoção da cobertura vegetal e a
ação dos ventos que promovem a remobilização dos se-
dimentos, são os principais fatores que induzem as mo-
vimentações gravitacionais nessas áreas, quase sempre
Figura 6.12 ––––– Ocupação por favela em duna (Morro de Santa Terezinha, Fortaleza, CE).
com resultados desastrosos para seus habitantes (Figura
6.12).
PRESERVAÇÃO E GERENCIAMENTO DAS
ÁREAS COSTEIRAS
A grande extensão do litoral brasileiro, a diversidade
de formações físico-bióticas, os padrões de ocupação hu-
mana e as atividades econômicas em geral, como expan-
são urbana, atividades portuárias e industriais, exploração
petrolífera, exploração turística em larga escala etc. cons-
tituem os principais desafios para a gestão ambiental das
áreas costeiras. Muitos conflitos gerados em conseqüên-
cia dessas intervenções podem ser minimizados, ou mes-
mo evitados, se os processos naturais forem mais bem
conhecidos e avaliados no planejamento e ordenamento
territorial dessas áreas. Como exposto anteriormente, vari-
ações do nível relativo do mar, erosão ou recuo da linha
de costa e migração de dunas são processos inter-relacio-
nados que modelam a paisagem litorânea. Eles estão sen-
do modificados pelo homem e/ou desconsiderados na di-
nâmica de uso e ocupação desses espaços, o que tem
causado o aparecimento de áreas de risco e a degradação
do meio ambiente e da qualidade de vida das populações
que lá residem, ou para lá fluem em busca de lazer e
entretenimento.
Em áreas já densamente ocupadas, como as regiões
metropolitanas, pouco pode ser feito em termos de zo-
neamento ou disciplinamento de uso do solo (medidas
97
REGIÕES COSTEIRAS
Ricardo de Lima Brandão
preventivas), a fim de enfrentar os problemas observa-
dos, muitas vezes sendo possível apenas a implementa-
ção de algumas medidas corretivas ou mitigadoras, como,
por exemplo, a implantação de obras de proteção de
propriedades contra a erosão costeira, a regeneração ar-
tificial de praias (engordamentos/aterros) e técnicas para
estabilização ou fixação de dunas móveis. Em áreas ain-
da pouco ocupadas, as medidas preventivas podem e
devem ser efetivamente implementadas. Uma delas é o
estabelecimento de faixas de recuo para a ocupação da
linha de costa, que devem ser adotadas com larguras
que levem em consideração os registros históricos de
marés meteorológicas, as tendências locais de retrogra-
dação da linha de costa e possíveis cenários de elevação
do nível do mar.
As concessões de licenciamentos ambientais para pro-
jetos e empreendimentos diversos devem ser criteriosa-
mente embasadas no conhecimento técnico das inúmeras
variáveis (geológicas, geomorfológicas, oceanográficas,
climáticas e hidrológicas) responsáveis pela dinâmica na-
tural das regiões costeiras.
A legislação ambiental brasileira possui uma gama de
leis e decretos que direta ou indiretamente protegem os
ambientes costeiros. O grande desafio é criar os mecanis-
mos necessários para que essa legislação seja efetivamen-
te cumprida e, para isso, é fundamental a existência de
uma estrutura fiscalizadora eficiente e integrada entre os
diversos órgãos das esferas federal, estaduais e munici-
pais. No que se refere a programas e projetos específicos
para gestão integrada da zona costeira e marinha, o Brasil
dispõe do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro
(PNGC), criado pela Lei n. 7.661, de 16 de maio de1988,
e regulamentado pelo Decreto n. 5.300, de 7 de dezem-
bro de 2004, coordenado em nível nacional pelo Ministé-
rio do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Ama-
zônia Legal (MMA). Esse programa vem realizando inú-
meras ações voltadas para o ordenamento de usos e ocu-
pação, com o apoio de zoneamentos, diagnósticos,
monitoramentoseprojetosintersetoriaisdegestãoemáreas
costeiras.
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94-113.
RICARDO DE LIMA BRANDÃO
Graduado em Geologia (1978) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Trabalhou em projetos de
Mapeamento Geológico na Região Amazônica nos períodos de 1978-1981 e 1986-1990, pela Companhia de Pesquisa
de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Entre esses dois períodos, exerceu função de supervisão
e acompanhamento de projetos na área de Metalogenia e Geologia Econômica, no Escritório Rio de Janeiro da CPRM/
SGB (1981-1986). Desde 1990, está lotado na Residência de Fortaleza da CPRM/SGB, onde vem desenvolvendo trabalhos
relativos aos temas Geologia Ambiental e Recursos Hídricos Subterrâneos, com ênfase em processos geológicos e
problemas ambientais em regiões costeiras.
99
RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL
Vitório Orlandi, Valter Marques
7
RIQUEZAS MINERAIS
PANORAMA GERAL
Vitório Orlandi Filho1
(vitorioorlandi@gmail.com)
Valter José Marques1
(vmarques@be.cprm.gov.br)
PETRÓLEO E GÁS
Magda M. R. Chambriard2
(magda@anp.gov.br)
Kátia da Silva Duarte2
(kduarte@anp.gov.br)
Glória M. dos S. Marins2
(gloria.marins@ogx.com.br)
Cintia Itokazu Coutinho2
(ccoutinho@anp.gov.br)
Luciene Ferreira Pedrosa2
(lpedrosa@anp.gov.br)
Marianna Vieira Marques Vargas2
(mvargas.ciee@anp.gov.br)
CARVÃO MINERAL
Aramis J. Pereira Gomes1
(arampergo@yahoo.com.br)
Vitório Orlandi Filho1
(vitorioorlandi@gmail.com)
URÂNIO
Paulo Roberto Cruz3
(pcruz@cnem.gov.br)
1
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
2
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
3
CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear
SUMÁRIO
Panorama Geral ........................................................................ 100
Petróleo e Gás .......................................................................... 110
Carvão Mineral ......................................................................... 115
Urânio....................................................................................... 118
Bibliografia ............................................................................... 119
100
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
PANORAMA GERAL
Por suas dimensões continentais e
diversificada geologia, o Brasil se constitui
em um país com enorme vocação mineral e
um grande produtor de insumos básicos pro-
venientes da mineração. Atualmente, figura
no cenário internacional ao lado de países
com tradicional vocação mineira, tais como
Canadá, Austrália, África do Sul e Estados
Unidos.
A produção mineral brasileira tem sido
crescente nas últimas décadas, devendo-se
esse fato, pelo menos parcialmente, a sig-
nificativos investimentos realizados por em-
presas de mineração em prospecção mine-
ral, aliado ao esforço realizado pelos gover-
nos federal e estaduais na execução de ex-
tensos programas de levantamentos geoló-
gicos sistemáticos levados a efeito, princi-
palmente, nas décadas de 1960 e 1970, e
retomados nas décadas de 1980, 1990 e
2000, pela Companhia de Pesquisa de Re-
cursos Minerais/Serviço Geológico do Bra-
sil (CPRM/SGB), juntamente com o Depar-
tamento Nacional da Produção Mineral
(DNPM) e universidades. Os programas mais
recentes de levantamento geológico contam
com o apoio de levantamentos geofísicos e
geoquímicos, o que os tornam mais completos e efeti-
vos no mapeamento e prospecção dos recursos mine-
rais do território nacional.
Desse esforço conjunto – governo e iniciativa priva-
da – resultaram as descobertas de jazidas de minérios
metálicos e não-metálicos, gemas, minerais energéticos.
Muitas dessas jazidas estão em pleno processo de
explotação, gerando riqueza para o país.
Como conseqüência, a produção mineral do país tem
crescido sistematicamente nos últimos anos, atingindo,
em 2005, o total de R$85 bilhões, o que corresponde a
algo em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), de-
monstrando o crescimento alcançado pelo setor mineral
brasileiro.
Os bens minerais se constituem em um dos grandes
patrimônios não-renováveis da geodiversidade, sendo um
importante fator no desenvolvimento sustentável e na
melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. A indústria
extrativa é uma das mais importantes fontes de emprego
e desenvolvimento regional, já que as jazidas, na maioria
das vezes, situam-se em regiões isoladas, carentes de in-
vestimentos econômico-sociais. Assim, a ampla distribui-
ção dos recursos minerais no território nacional ajuda a
manter a mão-de-obra no interior do país, evitando sua
emigração para os grandes centros urbanos, já altamente
habitados e com sérios problemas socioambientais (Figu-
ra 7.1).
Figura 7.1 – Distribuição espacial dos recursos minerais.
Fonte: CPRM/GEOBANK.
A distribuição dos recursos minerais é função da vo-
cação metalogenética dos elementos crustais que formam
as províncias geológicas do Brasil, sendo responsável pela
grande diversidade mineral desses recursos e por sua am-
pla distribuição geográfica (Figuras 7.2 a 7.9).
Dessa maneira, a atividade mineira se constitui em
um importante fator de desenvolvimento em níveis nacio-
nal, regional e local, contribuindo para o desenvolvimen-
to socioeconômico do país. A crescente produção mine-
ral do Brasil, motivada pelo aumento de preço e da de-
manda de países emergentes como China e Índia, tem
permitido um significativo crescimento do setor mineral,
antevendo-se uma boa perspectiva para o setor no curto e
médio prazo. A atual crise imobiliária e financeira nos Es-
tados Unidos, com reflexos em outros setores da econo-
mia e sobre a própria economia mundial, vem modifican-
do gradativamente esse cenário.
Entretanto, contrapondo-se a esse cenário otimista
de demanda por insumos minerais, constata-se que, nos
últimos anos, muitas áreas potencialmente favoráveis à
existência de jazidas minerais foram ou estão sendo obje-
to de implantação de unidades de conservação, inibindo
de maneira preocupante a atual e futura atividade minei-
ra, tão necessária ao desenvolvimento do país. Esse con-
flito de uso e ocupação do solo é extremamente acentua-
do na região Norte do Brasil, onde concentrações mine-
rais importantes estão situadas em unidades de conserva-
101
RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL
Vitório Orlandi, Valter Marques
Figura 7.2 – Distribuição espacial: água mineral e potável (azul); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
Fonte: CPRM/GEOBANK.
Figura 7.3Figura 7.3Figura 7.3Figura 7.3Figura 7.3 – Distribuição espacial: gemas e pedras preciosas (verde); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
Fonte: CPRM/GEOBANK.
102
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 7.4Figura 7.4Figura 7.4Figura 7.4Figura 7.4 – Distribuição espacial: insumos para a agricultura (vermelho); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
Fonte: CPRM/GEOBANK.
Figura 7.5Figura 7.5Figura 7.5Figura 7.5Figura 7.5 – Distribuição espacial: materiais energéticos (verde: turfa / rosa: carvão mineral / cinza-claro e escuro: áreas potenciais para
petróleo e gás); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
103
RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL
Vitório Orlandi, Valter Marques
Figura 7.6Figura 7.6Figura 7.6Figura 7.6Figura 7.6 – Distribuição espacial: material de uso na construção civil (preto); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
Fonte: CPRM/GEOBANK.
Figura 7.7Figura 7.7Figura 7.7Figura 7.7Figura 7.7 – Distribuição espacial: minerais industriais não-metálicos (azul); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
Fonte: CPRM/GEOBANK.
104
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 7.8Figura 7.8Figura 7.8Figura 7.8Figura 7.8 – Distribuição espacial: minerais metálicos (verde); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
Fonte: CPRM/GEOBANK.
Figura 7.9Figura 7.9Figura 7.9Figura 7.9Figura 7.9 – Distribuição espacial: rochas ornamentais (rosa); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
Fonte: CPRM/GEOBANK.
105
RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL
Vitório Orlandi, Valter Marques
ção e terras indígenas, em proporções cada vez maiores
(Figura 7.10).
Assim, em nome da preservação da biodiversidade –
que julgamos necessária –, importantes riquezas minerais
tornar-se-ão intocáveis em grandes áreas do nosso territó-
rio. Portanto, torna-se imperiosa uma melhor reflexão, se
considerarmos que, atualmente, utilizando-se modernas
técnicas, é perfeitamente possível a exploração mineral,
sem degradação ambiental sensível, ou até mesmo, sem
nenhuma degradação em diversos casos.
Muitas dessas unidades de conservação foram
demarcadassemmesmoseremavaliadasaspotencialidades
minerais da área. A realização de levantamentos geológi-
cos, incluindo prospecção geofísica e geoquímica, pode-
ria avaliar a existência ou não de depósitos minerais na
área e estabelecer seu grau de importância estratégica para
o país, evitando-se, dessa maneira, o estabelecimento de
conflitos de interesses de uso e ocupação do solo, sem as
devidas avaliações de custo/benefício.
Por outro lado, é importante que se ressalte que os
bens minerais, quando extraídos da natureza com tecno-
logia adequada, transformam-se em riquezas sem degra-
dar o meio físico. Normalmente, atribui-se à atividade
mineral um papel poluidor de grandes dimensões, embo-
Figura 7.10Figura 7.10Figura 7.10Figura 7.10Figura 7.10 – Áreas de relevante interesse mineral, áreas protegidas e áreas
especiais.
ra seja reconhecido que a degradação extrema (retirada da
vegetação ou mudança da paisagem, por exemplo), quan-
do inevitável, normalmente é pontual. Felizmente, nos
últimos anos, com a crescente divulgação na mídia dos
cuidados que as empresas de mineração estão tendo com
o meio ambiente, essa imagem negativa da atividade mi-
neira vem diminuindo.
Atualmente, no Brasil, cerca de 80% das empresas
de mineração de grande porte e 37% das de médio porte
possuem a ISO 14.000, relativa à certificação ambiental
de seus processos de extração de minérios. Todas as
mineradoras de grande porte têm implantado o Sistema
de Gestão Ambiental (SGA); as de médio porte, cerca de
75% (IN MINE, 2007).
Além da grande potencialidade mineral do território
continental do Brasil, recentemente, estudos geológicos
realizados na plataforma marinha, também conhecida
como Amazônia Azul, revelaram que, além das enormes
reservas de petróleo ali existentes, a plataforma contém
animadores indícios de depósitos de fosforitas, diamante,
calcário e ouro, entre outros bens minerais já identifica-
dos pelas pesquisas. Os recursos minerais dessa parte do
território brasileiro transformam, dessa forma, essa região
de uso econômico exclusivo em uma nova fronteira mine-
ral para o país.
A produção mineral brasileira, que con-
templa, atualmente, mais de uma centena de
substâncias, permite a auto-suficiência do país
na maioria dos produtos minerais e gera sig-
nificativos excedentes. O Brasil destaca-se
como o maior exportador de minério de ferro
e ligas de nióbio, situando-se entre os gran-
des produtores de petróleo, caulim, tantalita,
bauxita, grafita, amianto, cassiterita,
magnesita, vermiculita, rochas ornamentais,
talco, rocha fosfática e ouro. Como a maioria
dos países, o Brasil ainda depende da impor-
tação de alguns produtos minerais, necessári-
os a seu desenvolvimento socioeconômico.
Essa dependência externa ainda existe no que
se refere à importação de petróleo bruto leve,
carvão metalúrgico, fosfato, potássio e maté-
rias-primas para a metalurgia de metais não-
ferrosos (especialmente zinco).
Segundo o “Anuário Mineral Brasileiro”
(DNPM, 2006):
“As exportações de bens primários em
2005 totalizaram US$ 13,1 bilhões (FOB), re-
presentando expressivo crescimento de 11%
em relação a 2004. O minério de ferro, mais
expressivo, representou 55% do total da pau-
ta, alcançando US$ 7,2 bilhões, com acrésci-
mo de 55% no valor. A principal “commodity
na pauta do ferro foi minério de ferro não
aglomerado e seus concentrados (NCM
26011100), com vendas de US$ 4,43 bilhões
106
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
FOB, 45% superiores a 2004 (US$ 3,04 bilhões FOB). Vale
destacar as exportações de cobre (US$ 303 milhões FOB)
e alumínio (US$ 229 milhões FOB), apontando acrésci-
mos da ordem de 77% e 21%, respectivamente. Dentre
as 4 (quatro) categorias que compõem a pauta de expor-
tações do Setor Mineral Brasileiro, a de produtos primári-
os foi a que apresentou crescimento mais expressivo em
2005, registrando US$ 13,1 bilhões FOB, evoluindo 57%
(US$ 8,3 bilhões FOB) em 2004”.
A commodity minério de ferro não-aglomerados e
seus concentrados (NCM 26011100) continua sendo o
principal produto comercializado na pauta de exportações
do setor mineral brasileiro, cujo fluxo prevalente de co-
mércio em 2005 obedeceu à seguinte proporção: EUA
(US$6,709 bilhões), China (US$3,132 bilhões), Japão
(US$1,545 bilhão), Argentina (US$1,534 bilhão), Bahamas
(US$1,482 bilhão), Alemanha (US$1,223 bilhão), Coréia
do Sul (US$1,157 bilhão) e Holanda (US$873 milhões).
Por outro ângulo, a balança comercial do setor mine-
ral brasileiro registrou saldos deficitários, em 2005, com:
Argélia (US$2,792 bilhões), Nigéria (US$2,234 bilhões),
Arábia Saudita (US$1,104 bilhão), Bolívia (US$876 mi-
lhões), Rússia (US$642 milhões), Iraque (US$522 milhões)
e Chile (US$461 milhões). Nesse ano, o somatório dos
déficits comerciais do Brasil atingiu US$11,22 bilhões.
A propósito, a principal commodity comercializada
na pauta de importações brasileiras em 2005 foi o petró-
leo (NCM 27090010), originado da Nigéria (US$4,4 bi-
lhão; 41% do total), Argélia (US$2,57 bilhões; 24%),
Arábia Saudita (US$1,82 bilhões; 17%), Iraque (US$857
milhões; 8,0%) e Argentina (US$214 milhões; 2%).
Os Estados Unidos (inclusive Porto Rico), principal
parceiro comercial do Brasil em 2005, movimentaram um
fluxo de transações comerciais de US$8,774 bilhões.
As exportações do setor mineral brasileiro registra-
ram US$31,6 bilhões (FOB) em 2005, com acréscimo de
34,4% em relação a 2004. A composição da pauta de
exportações do setor, em 2005, teve como principal cate-
goria os bens primários, representando 42%, seguida pe-
los manufaturados, 31%, semimanufaturados, 25%, e
compostos químicos, 2%.
Em recente entrevista realizada durante o III Simpósio
Brasileiro de Explotação Mineral, ocorrido em maio de
2008, na cidade de Ouro Preto (MG), o ministro de Minas
e Energia destacou a importância do setor mineral no de-
senvolvimento do país. Segundo o ministro, os dados do
comércio internacional de 2007 mostram que a minera-
ção – incluindo o petróleo e gás – e a primeira transfor-
mação mineral – siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos
e não-metálicos – responderam por 21% das exportações
e 43% do saldo comercial brasileiro. A participação do
setor mineral no PIB nacional, segundo a mesma fonte,
ficou entre 4 a 5%. Na mesma ocasião, o ministrou infor-
mou que em 2008 estão destinados R$565 milhões para a
realização de levantamentos geológico-geofísicos, em todo
o país, com ênfase para a Amazônia (CPRM, 2008).
Por meio de análise ambiental estratégica, com base
no encarte “Áreas de Relevante Interesse Mineral, Áreas
Protegidas e Áreas Especiais”, contido no “Mapa Geodi-
versidade do Brasil” (CPRM, 2006), buscou-se apresentar,
de forma sintética, um conjunto de informações capazes
de traduzir a dimensão ecológico-econômica e social das
atividades mineiras, bem como o potencial geológico do
país.
Destarte, foram analisados os capitais econômico e
humano envolvidos nas atividades setoriais, ao que se
comparam os impactos ambientais, para, finalmente, su-
mariar-se uma visão estratégica que inclui as relações cus-
to/benefício e a essencialidade dos recursos minerais para
o desenvolvimento e a segurança nacional (Quadro 7.1).
Ressalta-se, por exemplo, que as atividades minerárias
de uma série de insumos, sobretudo os materiais para a
construção civil, são tanto mais abundantes quanto mais
populosas forem as regiões do país. Destaca-se, também,
a má distribuição de alguns recursos essenciais para o
desenvolvimento econômico, como é o caso dos calcários
para corretivos de solos, raros ou até mesmo inexistentes
em algumas unidades da Federação, como é o caso do
estado de Roraima, onde o preço dessa matéria-prima da
agricultura exerce importante papel no desempenho do
agronegócio.
No que respeita aos impactos ambientais decorrentes
da mineração, devem-se pinçar algumas constatações pro-
venientes da experiência adquirida ao longo de décadas.
A primeira é que a mineração organizada causa menos
impactos nocivos e é muito mais facilmente controlada
pelo poder público. Por outro lado, o extrativismo mineral
realizado de maneira informal, sem planejamento e con-
trole, constitui-se em fonte de grandes passivos ambientais.
Seu controle é muito problemático, sobretudo porque
envolve parcelas da população que, privadas dessa fonte
de sustento, vêem-se marginalizadas e excluídas de qual-
quer fonte de renda.
Uma outra questão candente diz respeito à minera-
ção em áreas urbanas, que, sendo realizada, de modo
geral, sem adequado planejamento e inserção em planos-
diretores municipais, vem gerando imensos conflitos quan-
to ao uso da terra, além de múltiplos impactos ambientais.
Tratando-se de uma atividade que, comumente, causa
impactos nas áreas de preservação permanente, é imperi-
oso que se promovam o aperfeiçoamento dos métodos
de lavra e a reutilização dos espaços minerados.
Com vistas ao desenvolvimento social e econômico,
faz-se necessário reservar (ordenamento geomineiro) áreas
com potencial mineral no entorno das regiões urbanas,
objetivando o barateamento da habitação, pois o transpor-
te desses materiais é determinante no preço final dos prin-
cipais insumos para a construção civil (areia, brita e argila).
A análise estratégica também aponta no sentido de
que o país poderia melhor aproveitar seu potencial em
pedras ornamentais e água mineral, propiciando expressi-
vos recursos (divisas) decorrentes da exportação dessas
107
RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL
Vitório Orlandi, Valter Marques
Quadro 7.1 – Avaliação estratégica
Substância
Capital
econômico
(US$ bilhões)
Capital
humano
Impactos
ambientais
Custo/benefício/essencialidade
Insumos para
a agricultura
Calcários,
dolomitos,
margas, fosfatos,
potássio, salitre e
turfas
Importações: 2,3
Exportações: 0,48
17.000
empregos nas
minas e usinas
Lavra
normalmente a
céu aberto, com
impactos restritos
às cavas.
Desmatamento e
patrimônio
espeleológico são
formas comuns de
impacto.
Embora o país tenha grandes reservas
globais, elas estão mal distribuídas e,
em alguns casos, como em Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, as
reservas são críticas. Abundantes no
Centro-Oeste e no Nordeste, são raros
na Amazônia, comprometendo os
custos das atividades agrícolas e dos
materiais de construção. Em algumas
situações, como no SW de Goiás,
Rondônia, Piauí e Maranhão, os
depósitos de calcários dolomíticos,
embora pequenos, ocupam localização
estratégica com relação aos pólos de
grãos.
Carvão
turfa
Importações: 1,52
Exportações: 0,04
4.600 empregos
nas minas e
usinas
Os principais
impactos são a
contaminação das
águas
subterrâneas e
superficiais
provenientes de
depósitos de
rejeitos.
O carvão representa atividade
tradicional no Rio Grande do Sul e
Santa Catarina, onde faz parte da
paisagem social, além de constituir-se
em fonte energética alternativa. A
exploração de turfa é incipiente no
país, embora exista um potencial
geológico interessante na Amazônia.
Atividades mineiras com tradição de
alto impacto ambiental demandam
investimentos em tecnologias para
mineração, beneficiamento, transporte
e queima.
Gás e óleo leve
Materiais
energéticos
Óleo
Participações
Governamentais:
5,91
58.170
empregados na
extração de
petróleo e
serviços
relacionados, e
fabricação de
produtos
derivados do
petróleo
Importantes
impactos sociais
pelo aumento da
riqueza. Riscos de
acidentes, com
grande impacto
sobre as águas,
fauna e flora
associadas.
Reservas em franco crescimento. Alto
valor estratégico para o
desenvolvimento econômico e a
segurança nacional. No caso do gás,
importante como fonte de energia
favorável ao meio ambiente urbano.
Importante para a indústria naval, a
industria petrolífera alimenta uma
grande cadeia de manufatura de
componentes e serviços.
Gemas e
pedras
preciosas
Diamante,
esmeralda,
ametista, cristal
de rocha,
turmalina,
topázio, água
marinha, ágata,
alexandrita,
opala,
crisoberilo,
heliodoro
Importações: 0,01
Exportações: 0,13
1.350 empregos
nas minas e
usinas
Impacto restrito às
cavas e drenagens
adjacentes. Outras
formas de impacto
dependem do
processo utilizado
na lavra.
Jazimentos raros, de altíssimo valor
econômico agregado por
unidade/volume e base de uma
diversificada cadeia de produtos (jóias)
e artesanatos. Base para APLs. A lavra,
através de extrativismo, além de
complementar a renda em regiões com
economia deprimida, emprega mão-
de-obra, que, de outra forma, viveria
na marginalidade, ou depredando
recursos da biodiversidade. É
estratégico delimitar e preservar áreas
potenciais para futuras explotações.
108
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Quadro 7.1 – Avaliação estratégica (continuação)
Substância
Capital
econômico
(US$ bilhões)
Capital
humano
Impactos
ambientais
Custo/benefício/essencialidade
Minerais
metálicos
Ouro, ferro,
cobre, cromo,
chumbo, zinco,
níquel,
manganês,
estanho, titânio,
nióbio, terras-
raras, elementos
do grupo da
platina
Importações: 3,38
Exportações: 16,95
38.500
empregos nas
minas e usinas
Impacto restrito às
cavas e barragens
de rejeitos. Outras
formas de impacto
dependem dos
cuidados nos
processos na lavra
e beneficiamento e
principalmente
relacionados a
rejeitos ricos em
arsênio.
Jazimentos raros, de alto valor
econômico e base de cadeia produtiva
baseada em metalurgia e produtos
industriais – base do parque industrial
brasileiro. No caso do ouro, quando
lavrado através do extrativismo
(garimpagem), emprega grandes
quantidades de mão-de-obra, que, de
outra forma, viveriam na
marginalidade, ou depredando
recursos da biodiversidade. Os grandes
distritos mineiros atraem enormes
contingentes que vêm a constituir
periferias com baixa qualidade de vida,
em contraste com a área do
empreendimento; esse efeito
indesejável requer uma reflexão sobre
as políticas empresariais, públicas e a
destinação dos impostos.
Minerais
industriais
não-metálicos
Vermiculita,
quartzo hialino
(cristal de rocha),
potássio,
salgema,
feldspato, talco,
caulim, barita,
argila
Importações: 3,44
Exportações: 2,65
7.000 empregos
nas minas e
usinas
Impacto reduzido
sobretudo às cavas
ou barragens de
rejeitos. Outras
formas de impacto
dependem dos
cuidados nos
processos
utilizados na lavra
e beneficiamento.
Jazimentos irregularmente distribuídos
pelo território nacional, servindo de
base para diversificadas cadeias
produtivas. A não produção, no país,
traria severas conseqüências na balança
de pagamentos e implicaria
dependência de territórios e políticas
estrangeiras. É estratégico delimitar e
preservar áreas potenciais para futuras
explotações.
Água mineral
e potável
Água mineral,
água potável de
mesa
Mercado nacional:
Águas potáveis:
0,25
Águas minerais:
0,2
11.400
empregos nas
minas e usinas
Impactos
reduzidos sobre
todos os aspectos
pela própria
natureza do
produto, que
requer
conservação
ambiental.
O mercado interno para águas minerais
e potáveis é pequeno e as exportações
são insignificantes. A produção está
muito aquém das potencialidades
geológicas do território nacional; dado
o crescimento da demanda, pode-se
prognosticar um expressivo
crescimento da produção nacional nos
próximos anos.
Rochas
ornamentais
Granitos,
mármores,
sienitos,
quartzitos,
gabros, quartzo-
monzonitos
Importações:
0,017
Exportações: 0,59
10.000
empregos nas
minas e usinas
Impacto reduzido,
restrito às cavas e
seu entorno
(poluição sonora e
do ar). Nos casos
em que a atividade
se faz de maneira
desordenada, o
impacto sobre as
paisagens pode ser
grande.
É um setor que vem crescendo a taxas
elevadas nas últimas décadas, capaz de
gerar empregos, requerendo recursos
moderados em termos de tecnologia
de lavra e beneficiamento, infra-
estrutura e demanda de capital social.
Esforços no sentido de aumentar o
beneficiamento no país podem resultar
em grande aumento do valor da
produção exportada e na criação
interna de milhares de empregos
baseados em mão-de-obra facilmente
qualificável.
109
RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL
Vitório Orlandi, Valter Marques
commodities, cada vez mais valorizadas pelos mercados
nacionais e internacionais.
Um outro aspecto relaciona-se à necessidade de pla-
nejamento territorial integrado, por exemplo, com respei-
to à infra-estrutura, evitando-se custos desnecessários para
viabilizar depósitos minerais que, às vezes, são marginali-
zados e se tornam antieconômicos, o que é sobremaneira
grave, principalmente em regiões economicamente depri-
midas, carentes de bases para arranjos produtivos.
Com respeito aos recursos minerais existentes na
Amazônia, além dos já conhecidos “mamutes geológi-
cos” e a grande probabilidade para que se encontrem ou-
tros, pode-se prognosticar o grau de importância dos
insumos para agricultura, calcários dolomíticos e sal-gema,
que, não somente são raros, como mal distribuídos, re-
querendo-se um cuidadoso planejamento de forma a evi-
tar o engessamento de áreas de relevante interesse para
esses minerais, tornando indisponíveis matérias-primas
cruciais para a sustentabilidade social e econômica e, por
conseqüência, ecológica, de toda a região.
Dentro dessa visão, os recursos minerais devem ser
considerados como parte da infra-estrutura territorial, sali-
entando-se, ainda mais, a sua rigidez locacional, diferen-
temente de infra-estrutura logística como estradas, redes
de energia, oleodutos, gasodutos etc., essenciais para o
desenvolvimento econômico-social.
Aliás, é justamente na Amazônia que despontam os
principais conflitos de uso e ocupação, haja vista a cons-
trução de uma dualidade extremada entre conservação e
exploração dos recursos naturais, fruto da falta de visão
de que o desenvolvimento humano e ambiental (natural)
são indissociáveis.
Um dos principais óbices à tomada de decisões, no
momento, é a falta de conhecimento científico sobre o
território, sobre a sua composição e funcionamento dos
geossistemas, de sorte que se possam embasar decisões
seguras, passíveis de serem consensuadas.
Finalmente, com respeito à exploração de petróleo e
gás, salienta-se a importância desses recursos para a eco-
nomia e a segurança nacional, não somente para a gera-
ção de energia, em diversas formas, como pelo papel que
desempenham de impulsão de diversos setores industri-
ais, com destaque para a petroquímica, naturalmente, para
a indústria naval, além dos setores de apoio.
Quadro 7.1 – Avaliação estratégica (continuação)
Substância
Capital
econômico
(US$ bilhões)
Capital
humano
Impactos
ambientais
Custo/benefício/essencialidade
Materiais
de uso na
construção
civil
Caulim,
feldspato, flúor,
grafita,
muscovita,
vermiculita,
talco, barita,
areia industrial,
quartzo, cianita,
silimanita,
bentonita,
asbesto, calcita,
salgema,
granada,
andaluzita,
diatomito
Importações: 0,11
Exportações: 0,70
65.600
empregos nas
minas e usinas
Destruição das
matas ciliares,
turbidez,
contaminação do
lençol freático,
degradação da
paisagem,
conflitos com
outros usos,
poluição sonora,
emissão de
particulados e
acidentes
rodoviários devido
ao transporte
pesado.
Os materiais de construção são bens
essenciais para o desenvolvimento
econômico e social. Sua exploração
econômica requer transporte a
pequenas distâncias, de forma a
baratear os custos das moradias e
obras civis. Em muitos casos, as
atividades se ressentem de estudos de
alternativas e disciplinamento que
devem estar incorporados aos planos-
diretores municipais. É, portanto,
essencial que se destinem áreas para
mineração urbana e se planeje a
reutilização do solo, no pós-lavra; entre
outros cuidados, deve-se coibir o uso
da madeira como combustível.
110
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
PETRÓLEO E GÁS
No Brasil, a exploração das bacias sedimentares ini-
ciou-se em terra. A primeira bacia sedimentar onde se des-
cobriu uma acumulação comercial de petróleo foi a do
Recôncavo, na Bahia, após a descoberta do campo de
Lobato, em 1939, ainda na gestão do Conselho Nacional
do Petróleo (CNP).
A partir de 1953, esforços exploratórios foram reali-
zadospelaPetrobrasemquasetodasasbaciassedimentares
brasileiras. Em terra, nas décadas de 1930 a 1960, havia
grande dificuldade de acesso, o que orientou a distribui-
ção do esforço exploratório ao longo do litoral e nas mar-
gens de rios como o Amazonas.
As descobertas realizadas no decorrer dos anos, de
maior produtividade nas bacias marítimas, direcionaram
os investimentos exploratórios para a plataforma continen-
tal, principalmente para a Bacia de Campos. A descoberta
do campo de Garoupa, em 1974, favoreceu a opção pela
exploração no mar, onde novas descobertas ocorriam à
medida que se dominavam novas tecnologias: para a ex-
ploração e produção em águas cada vez mais profundas,
para a produção de óleos mais pesados e para a perfura-
ção de poços mais profundos.
Como resultado, atualmente a produção brasileira de
petróleo e/ou gás natural é proveniente das bacias de San-
tos, Campos, Espírito Santo, Recôncavo, Tucano Sul,
Sergipe-Alagoas, Ceará, Potiguar e Solimões, totalizando
cerca de 1,8 milhões de barris/dia de óleo e 48,4 milhões
de m³/dia de gás, sendo que a Bacia de Campos é respon-
sável pela maior parte da produção de óleo. No entanto, a
Bacia de Santos vem aumentando sua contribuição na pro-
dução brasileira de gás natural e óleo leve.
Em 1997, foi criada a Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), para gerir os recursos
petrolíferos da União e estudar as bacias petrolíferas brasi-
leiras, inclusive sendo responsável por contratar a coleta de
dados e informações de geologia e geofísica, visando a
diminuir o risco nas áreas de fronteiras exploratórias e atrair
o interesse privado para a exploração e produção de petró-
leo no Brasil. Dessa forma, ciente de que apenas o aumen-
to do conhecimento aumentará a atratividade das nossas
fronteiras exploratórias, o corpo técnico da ANP elaborou
um plano plurianual voltado mais especificamente para o
estudo das bacias de nova fronteira, com atividades plane-
jadas até o ano de 2012. Os estudos previstos obedecem,
em geral, à seguinte seqüência de atividades: levantamen-
tos geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos, levanta-
mentos sísmicos 2D regionais, integração de dados e per-
furação de poços estratigráficos.
As bacias sedimentares brasileiras, tanto em terra
como em mar, apresentam relevante potencial para petró-
leo e gás considerando-se que condições geológicas simi-
lares no mundo proporcionam produção relevante. No en-
tanto, a pesquisa e o conseqüente conhecimento dessas
bacias se encontram em diferentes estágios, de forma que
grandes extensões ainda permanecem pouco conhecidas
quanto aos aspectos da geologia de petróleo (((((Figuras 7.11
e 7.12).
As principais bacias sedimentares brasileiras, com po-
tencial para a prospecção de hidrocarbonetos, recobrem
uma área de aproximadamente 7,5 milhões de km2
; entre-
tanto, somente nove dessas bacias são produtoras atual-
mente. Em termos de área, apenas cerca de 5% do total
das bacias sedimentares brasileiras se encontram sob con-
cessão para a pesquisa exploratória.
Bacias maduras, tais como Recôncavo, Sergipe-
Alagoas, Espírito Santo (terra) e Potiguar, com produção e
sistemas petrolíferos bem determinados, não apresentam
descobertas de grande porte há mais de 10 anos. No en-
tanto, uma vez que ainda atraem investimentos privados,
não se configuram como prioridade para estudos com re-
cursos públicos (Figura 7.13).
Bacias de elevado potencial, tais como Campos, San-
tos, Espírito Santo (mar) e Sergipe (águas profundas), apre-
sentam importantes descobertas de petróleo e gás que
despertam interesse e atraem investimentos privados para
a pesquisa exploratória. Nessas áreas têm sido explorados
horizontes cada vez mais profundos, em função do contí-
nuo aprimoramento tecnológico (Figura 7.14).
As demais bacias são classificadas como “Novas Fron-
teiras”, sendo que a maioria delas conta com investimen-
tos previstos no Plano Plurianual de Geologia e Geofísica
da ANP (Figuras 7.15 e 7.16).
Dados sobre as diferentes bacias sedimentares brasi-
leiras, bem como as atividades previstas em nível de in-
vestimentos públicos e privados, foram agrupados no
Quadro 7.2.
111
RIQUEZAS MINERAIS – PETRÓLEO E GÁS – Magda Chambriard, Kátia Duarte, Glória Marins,
Cintia Coutinho, Luciene Pedrosa, Marianna Vargas
Figura 7.12 – Poços com indícios ou descobertas de óleo e/ou gás.
Figura 7.11 – Áreas de relevante interesse para petróleo (óleo e gás).
112
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 7.14 – Bacias de elevado potencial (setas amarelas).
Figura 7.15 – Bacias de novas fronteiras (terra) (setas amarelas).
Figura 7.16 – Bacias de novas fronteiras (mar) (setas amarelas).
Figura 7.13 – Bacias maduras (setas amarelas).
113
RIQUEZAS MINERAIS – PETRÓLEO E GÁS – Magda Chambriard, Kátia Duarte, Glória Marins,
Cintia Coutinho, Luciene Pedrosa, Marianna Vargas
Quadro 7.2 – Bacias sedimentares brasileiras: petróleo e gás1
Bacia sedimentar Classificação
Blocos em
concessão
Campos Atividade prevista
Campos EP 33 59
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Santos NF, EP 81 15
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Espírito Santo NF, EP, M 44 48
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Recôncavo M 49 81
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Sergipe-Alagoas M 54 35
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Potiguar M 106 70
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Pelotas NF 6 0
Investimentos privados e públicos: conclusão de
levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos
2D regionais; integração de dados e perfuração de
poço estratigráfico.
Jacuípe NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos sísmicos 2D
regionais; integração de dados e perfuração de poço
estratigráfico.
Mucuri e Cumuruxatiba NF 12 0
Investimentos privados e públicos: Investigação da
sensibilidade ambiental – Abrolhos.
Camamu-Almada NF 16 4
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Jequitinhonha NF 10 0
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Pernambuco-Paraíba NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos sísmicos 2D
regionais.
Pará-Maranhão NF 4 0
Investimentos privados e públicos: integração de
dados.
Foz do Amazonas NF 21 0
Investimentos privados e públicos: integração de
dados.
Barreirinhas NF 8 0
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
114
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Quadro 7.2 – Bacias sedimentares brasileiras: petróleo e gás1
Ceará NF 2 4
Investimentos privados inerentes às concessões e aos
trabalhos das prestadoras de serviço.
Marajó NF 0 0 Investimentos públicos: integração de dados.
Acre e Madre de Dios NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos geofísicos
aéreos, levantamentos geoquímicos; levantamentos
sísmicos 2D regionais; integração de dados e
perfuração de poço estratigráfico.
Solimões NF 26 10
Investimentos privados e públicos: levantamentos
geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos;
levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de
dados e perfuração de poço estratigráfico.
Amazonas NF 0 2
Investimentos públicos: conclusão de levantamentos
geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos;
levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de
dados e perfuração de poço estratigráfico.
Tacutu NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos;
levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de
dados e perfuração de poço estratigráfico.
São Luiz e Bragança-Vizeu NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos;
levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de
dados e perfuração de poço estratigráfico.
Parnaíba NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos;
levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de
dados e perfuração de poço estratigráfico.
Irecê e Lençóis NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos e
integração de dados.
Tucano e Jatobá NF 0 6
Investimentos privados e públicos: levantamentos
geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais;
integração de dados e perfuração de poço
estratigráfico.
Parecis NF 0 0
Investimentos públicos: conclusão de levantamentos
geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais;
integração de dados e perfuração de poço
estratigráfico.
Paraná NF 0 1
Investimentos privados e públicos: levantamentos
geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos;
levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de
dados e perfuração de poço estratigráfico.
Rio do Peixe NF 0 0 Investimentos privados.
Araripe NF 0 0
Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos;
levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de
dados e perfuração de poço estratigráfico.
São Francisco NF 30 0
Investimentos privados e públicos: levantamentos
sísmicos 2D regionais; integração de dados e
perfuração de poço estratigráfico.
Notas: (1) Dados de 2007.
(2) NF = Nova Fronteira; EP = Elevado Potencial, M = Madura
Obs.: (i) Uma mesma bacia pode ter setores com diferentes classificações;
(ii) os campos com acumulações marginais não estão incluídos na tabela.
115
RIQUEZAS MINERAIS – CARVÃO MINERAL
Aramis Gomes, Vitório Orlandi
CARVÃO MINERAL
O carvão mineral já era conhecido desde os primórdios
da história das civilizações. Os antigos romanos registra-
ram que os povos da Gália já utilizavam o carvão como
combustível antes de 80 a.C. e os saxões, em terras britâ-
nicas, utilizam-no juntamente com a turfa, no aquecimento
e iluminação de suas habitações. Os chineses já minera-
vam o carvão muitos séculos antes de Cristo.
No final do século XVIII, a Revolução Industrial eclodiu
na Europa e a energia proveniente do carvão permitiu a
criação de inventos que impulsionaram a economia mun-
dial. Graças a essa nova forma de energia, instalaram-se
inúmeras ferrovias que alavancaram rapidamente o comér-
cio entre os povos e permitiram o desenvolvimento eco-
nômico das nações.
No Brasil, a descoberta do carvão ocorreu em 1795
(CPRM, 2003), na localidade de Curral Alto, na Estância
do Leão (município de Minas do Leão, RS), pelo soldado
português Vicente Wenceslau Gomes. Já o carvão
catarinense foi descoberto casualmente por tropeiros, na
serra do 12 (atual serra do rio do Rastro), em 1822.
O consumo de carvão no Brasil cresceu consideravel-
mente durante a Primeira Guerra Mundial (1914), especi-
almente devido à viação férrea. No pós-guerra, o carvão
foi utilizado na primeira usina térmica a carvão – Usina do
Gasômetro –, que fornecia, em 1928, eletricidade para as
ruas e moradias de Porto Alegre. Já a partir de 1931, de-
cretos presidenciais obrigavam o consumo de 10 a 20%
do carvão nacional nas indústrias instaladas no país. Esse
fato, juntamente com a Segunda Guerra Mundial (1938-
1945), proporcionou um incremento na produção nacio-
nal. Com o término do conflito, o Brasil entrou na era da
siderurgia com a criação da Companhia Siderúrgica Naci-
onal (CSN) em Volta Redonda (RJ), que começou a utili-
zar o carvão metalúrgico nacional na produção de aço.
Em 1954, foi implantado o Plano Nacional do Car-
vão, visando a incrementar o aproveitamento energético
desse bem mineral. A partir daí, foram construídas diver-
sas usinas termoelétricas que estão até hoje em funciona-
mento, tais como Candiota, Charqueadas e Butiá e São
Jerônimo, todas no estado do Rio Grande do Sul.
Os chamados “choques” do petróleo ocorridos em
1973 e 1979 obrigaram o governo a voltar a implementar
o uso de insumos energéticos nacionais, entre eles o
carvão. Em 1980, foi criado o Programa de Mobilização
Energética (PME), que mobilizou enormes recursos na
pesquisa das jazidas de carvão, principalmente no Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. Esse programa viabilizou
a implantação de grandes minas mecanizadas e aumen-
tou o consumo do carvão junto à indústria do setor de
cimento.
Em 1990, com a desregulamentação da comerciali-
zação do carvão, terminou a obrigatoriedade do uso do
carvão nacional pelo setor estatal e a liberação dos preços
e da importação de carvão estrangeiro, o que obrigou as
indústrias a introduzirem grandes modificações em seus
parques produtivos, visando a atender ao mercado e a se
adaptar às novas regras do governo. O carvão metalúrgi-
co nacional foi substituído, por meio da importação, por
carvão de melhor qualidade. O carvão energético nacio-
nal continua abastecendo as usinas termoelétricas do país,
que cada vez mais contribuem para a geração de energia
elétrica, crescendo em participação, na matriz energética
adotada pelo Brasil.
As maiores jazidas de carvão mineral situam-se no
sul do Brasil. Os maiores jazimentos localizam-se no esta-
do do Rio Grande do Sul, seguido de Santa Catarina, Paraná
e São Paulo. Nove dessas jazidas concentram o maior volu-
me de carvão: Sul-Catarinense (SC); Santa Terezinha,
Morungava-Chico-Lomã, Charqueadas, Leão, Iruí, Capané
e Candiota (RS); Figueira-Sapopema (PR) (Figura 7.17).
Em termos geológicos, o carvão encontra-se associa-
do à Formação Rio Bonito, pertencente ao Grupo Guatá,
que ocorre na porção inferior da seqüência sedimentar da
Bacia Sedimentar do Paraná. Esses depósitos de carvão
foram formados há milhões de anos, no período denomi-
nado pelos geólogos de Permiano. Nesse período, desen-
volveu-se na região da Bacia Sedimentar do Paraná uma
extensa cobertura vegetal que, ao longo do tempo, foi
perecendo e se acumulando no fundo das lagunas, pân-
Figura 7.17 – Localização das principais jazidas de carvão mineral
na bacia sedimentar do Paraná (RS-SC-PR). Fonte: CPRM (2003).
116
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
tanos e nas planícies de inundação. Toda a matéria orgâ-
nica assim depositada fossilizou, formando extensos e es-
pessos pacotes de turfa que, posteriormente, transforma-
ram-se em carvão mineral.
A Bacia Sedimentar do Paraná é uma extensa bacia
(1,2 milhões de km2
), formada no interior de uma placa
geológica (intracratônica), o que propiciou a deposição
lenta e contínua de camadas sedimentares, sem dobra-
mentos importantes. Sua conformação atual se deve a
falhamentos e erosão ao longo de milhões de anos. A
lenta subsidência apresentada ao longo da evolução da
bacia propiciou a deposição de carvão com alternância
de outros materiais, como areia e lama, formando con-
juntos sedimentares heterogêneos, tanto na vertical como
na horizontal. O carvão assim formado é constituído por
matéria orgânica vegetal e substâncias minerais (silte e
argila). A matéria vegetal é decomposta e carbonificada
sob ação de temperatura e pressão por milhares de anos,
dando origem à matéria carbonosa. As reservas de car-
vão somam 32 bilhões de toneladas (CPRM, 2003) (Ta-
bela 7.1).
Cerca de 90% das reservas do carvão nacional situa-se
no estado do Rio Grande do Sul e é representado por car-
vão vapor, isto é, carvão que, por suas características ener-
géticas, é utilizado na produção de energia térmica. Dos 32
bilhões de toneladas de carvão mineral, 12 bilhões encon-
tram-se na região de Candiota (RS), perfazendo 37% das
reservas nacionais. Essas reservas possuem uma situação
estratégica em relação ao Bloco Mercosul, sendo garantia
de energia abundante e barata para toda a região.
Os carvões brasileiros são diferenciados de acordo com
sua história genética, com os eventos ocorridos durante a
acumulação vegetal na turfeira e com sua evolução diage-
nética. Assim, cada depósito apresenta determinadas ca-
racterísticas do carvão que são bem específicas para aque-
la região.
Os carvões gondwânicos apresentam, geralmente, a
inertinita como constituinte mais abundante do carvão mi-
neral, totalizando cerca de 50%, seguida da vitrinita, que
varia de 13 a 38%, e exinita, com variação de 2 a 13%.
O Brasil produz cerca de 6,0 Mt de carvão energético
(MME-SGM, 2007), que é empregado principalmente na
geração de termoeletricidade. O carvão metalúrgico utili-
zado nas siderúrgicas é totalmente importado, principal-
mente de Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Cana-
dá.Adistinçãoentrecarvãoenergéticoecarvãometalúrgico
está ligada diretamente às características composicionais
da rocha que compõe o pacote carbonoso, às característi-
cas originais da flora (quantidade de carbono ––––– hidrogê-
nio, matérias voláteis, maturação da matéria orgânica,
qualidade dos macerais), da história geológica da bacia
sedimentar (velocidade de sedimentação, circulação dos
sedimentos e águas na bacia sedimentar), além da tempe-
ratura e carbonificação (CPRM, 2003). Além do carvão
mineral, o Brasil possui inúmeros depósitos de turfa, que,
paulatinamente, estão sendo estudados e aproveitados
como insumos para a agricultura ou na geração local de
energia.
A explotação de carvão mineral no Rio Grande do Sul
e Santa Catarina, nos séculos XIX e XX, deixou um grande
passivo ambiental, principalmente nas regiões onde a la-
vra se processou a céu aberto. Grandes áreas foram ocu-
padas por rejeito do carvão, formando uma paisagem lu-
nar, sem nenhum aproveitamento e totalmente degrada-
da. As águas superficial e subterrânea tornaram-se ácidas,
devido ao ferro contido na pirita, afetando enormemente
o biossistema regional e danificando a flora e a fauna da
região (Figura 7.18).
Tabela 7.1 – Reservas de carvão mineral in situ na bacia sedimentar do Paraná
Estado Jazida Recursos (106
t) % do Brasil
Candiota 12.278
Santa Terezinha 4.283
Morungava/Chico Lomã 3.128
Charqueadas 2.993
Leão 2.439
Iruí 1.666
Capané 1.203
Outras 994
Rio Grande do Sul
SOMA 28.804 89,25
Santa Catarina Sul-Catarinense 3.363 10,41
Paraná Diversas 104 0,32
São Paulo Diversas 8 0,02
TOTAL 32.279 100,00
117
RIQUEZAS MINERAIS – CARVÃO MINERAL
Aramis Gomes, Vitório Orlandi
Nas últimas décadas, entretanto, projetos de recupe-
ração ambiental, levados a efeito por empresários, sindi-
catos, governo e empresas estatais, têm revertido essa si-
tuação, recuperando gradativamente as áreas degradadas,
tanto no Rio Grande do Sul como em Santa Catarina. As
Figura 7.18 – Mineração de carvão mineral a céu aberto: mina do Faxinal (RS). Fotografia: Luiz Fernando Pardi Zanini.
atuais lavras são conduzidas utilizando-se técnicas ade-
quadas que visam à não-poluição e não-degradação do
meio físico. As áreas mineradas estão sendo recuperadas
logo após a lavra, de maneira a minimizar o impacto da
atividade sobre o meio ambiente.
118
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
URÂNIO
Mineral nuclear é todo mineral que contém em sua
composição um ou mais elementos nucleares (urânio e
tório).
Os principais minerais de urânio são: uraninita,
pechblenda, torbenita, autunita, carnotita, betafita,
coffinita, euxenita, pirocloro e samarskita; de tório são:
monazita, torita, torianita e euxenita.
A principal aplicação do urânio é na geração de ener-
gia, como combustível nuclear. Já o tório, é pouco usado
como elemento gerador de energia. O urânio ainda é uti-
lizado na indústria bélica sob a forma de explosivos; na
indústria fotográfica, sob a forma de nitratos; na indústria
química, sob a forma de acetatos; na produção de vidros,
sob a forma de sal.
O tório é usado principalmente sob a forma de óxido,
na fabricação de camisas para lampiões; na produção de
ligas, principalmente com o magnésio; na indústria ele-
trônica; na fabricação de lâmpadas elétricas e na produ-
ção de vidros para lentes, na indústria óptica.
O Brasil possui uma reserva de urânio que totaliza
309.370 t de U3
O8
contido. O Complexo Mínero-Industrial
de Caetité, no centro-sul da Bahia, é atualmente a única
área produtora de urânio do país. Por outro lado, o Com-
plexo Mínero-Industrial de Poços de Caldas, no sul de Minas
Gerais, até então a única área produtora do Brasil, está
sendo descomissionado, tendo em vista o esgotamento
do minério economicamente viável. Nesse complexo, teve
início o desenvolvimento da tecnologia do ci-
clo do combustível nuclear para geração de
energia elétrica, tratando-se quimicamente o
minério de urânio e transformando-o em
yellowcake. Atendeu, basicamente, às deman-
das de recargas do reator de Angra I e de pro-
gramas de desenvolvimento tecnológico.
Em Poços de Caldas, o urânio ocorre es-
sencialmente como uraninita associada a ro-
chas do complexo alcalino gerado entre o
Cretáceo e Paleógeno, destacando-se as jazi-
das do Cercado e do Agostinho. A primeira,
com reserva de 21.800 t de U3
O8
contido, foi
explorada até 1998 na mina Osamu Utsumi.
Na segunda, as reservas estimadas foram de
50.000 t de U3
O8
contido. Três fases de
mineralização foram distinguidas em Poços de
Caldas: duas hidrotermais e uma de alteração
supergênica.
Em Caetité, o minério de urânio, repre-
sentado essencialmente por uraninita, está
distribuído em cerca de 33 jazidas que com-
põem o Distrito Uranífero de Lagoa Real. O
minério ocorre em uma série de corpos de
albititos lenticulares associados a zonas de ci-
salhamento que cortam metamorfitos arque-
anos e granitos paleoproterozóicos. A mine-
ralização foi possivelmente gerada no início do Neoprote-
rozóico e sofreu remobilização no final do evento Brasili-
ano. As reservas totais são da ordem de 100.000 t de
U3
O8
contido, suficientes para a operação dos reatores nu-
cleares das usinas de Angra I, II e III.
As demais reservas uraníferas são representadas pelas
áreas de Itataia, Figueira, Amorinópolis, Espinharas, Cam-
pos Belos, Rio Preto, Quadrilátero Ferrífero e Rio Cristalino
(Figura 7.19).
Embora a jazida fósforo-uranífera de Itataia, no cen-
tro do Ceará, seja a maior reserva de urânio do país, com
142,5 mil t de U3
O8
contido, sua viabilidade econômica é
dependente da exploração do fosfato associado. As prin-
cipais rochas regionais relacionadas ao depósito de Itataia
são paragnaisses pré-cambrianos com grandes lentes car-
bonáticas. O urânio ocorre em hidroxiapatita criptocrista-
lina associada a massas de colofano e a vênulas e sto-
ckwork de colofano em mármores, gnaisses e epissieni-
tos. A idade da mineralização é considerada neoprotero-
zóica a cambro-ordoviciana.
As demais reservas de urânio são menores. Os depósi-
tos de Figueira, no leste do Paraná, e Amorinópolis, no sul
de Goiás, ocorrem em rochas sedimentares paleozóicas da
Bacia do Paraná, respectivamente do Permiano e Devonia-
no. Em Figueira, o urânio ocorre como uraninita em areni-
tos ou associado com matéria orgânica em argilas carbono-
sas e carvões. Em Amorinópolis, a rocha hospedeira da
mineralização de urânio (autunita, sabugalita, uraninita e
coffinita) é uma camada de arcóseo. Já o depósito de urâ-
Figura 7.19 – Localização dos principais depósitos de urânio. Fonte: CNEN.
119
RIQUEZAS MINERAIS – URÂNIO
Paulo Roberto Cruz
nio de Espinharas, na Paraíba, ocorre em gnaisses e xistos
pré-cambrianos associados a granitos intrusivos, que foram
alterados por processos metassomáticos do final do ciclo
Brasiliano, como albitização e hematitização, com lixivia-
ção da sílica e enriquecimento em fosfato. Trata-se de um
depósito do tipo epigenético, similar a outras várias ocor-
rências espalhadas no Nordeste brasileiro. Por sua vez, a
mineralização de urânio de Campos Belos (autunita, torbe-
nita e renardita) e Rio Preto (uraninita), ambas na parte cen-
tral de Goiás, estão hospedadas essencialmente em xistos
grafíticos paleoproterozóicos.
Metaconglomerados e quartzitos da Formação Moe-
da, base do Paleoproterozóico, no Quadrilátero Ferrífero,
em Minas Gerais, apresentam ocorrências de urânio
(uraninita, brannerita e coffinita) associadas a ouro e pirita.
Na área do Rio Cristalino, sul do Pará, ocorrências uraníferas
(uraninita, kasolita e meta-autunita), relacionadas a
psamitos paleoproterozóicos, estão em processo de avali-
ação. Por fim, podem ser referidas ocorrências uraníferas
que acompanham mineralizações de cassiterita e outros
minerais em Pitinga, no nordeste do Amazonas, e em
mineralizações de cobre e ouro, em Carajás, no sudeste
do Pará. Essas ocorrências de urânio têm um potencial
estimado em 150.000 t de U3
O8
contido.
BIBLIOGRAFIA
CPRM. Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil.
Brasília: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2003.
______. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala
1:2.500.000. Legenda expandida. Brasília: CPRM/Serviço
Geológico do Brasil, 2006. 68 p. CD-ROM.
______. Informativo do Serviço Geológico do Brasil, n.
20. Brasília: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2008.
DNPM. Anuário Mineral Brasileiro. Brasília: Departamen-
to Nacional da Produção Mineral, 2006.
IN MINE. Meio ambiente: como a mineração atende seu
compromisso com a sociedade. , São Paulo: Facto Edito-
rial, ano II, n. 9, maio-jun. 2007.
MME/SGM. Sinopse 2007. Brasília: MME/SGM, 2007.
KÁTIA DA SILVA DUARTE
Geóloga formada pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre e doutora em Geotecnia pelo Departamento de Tecnologia
da Universidade de Brasília. Servidora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) desde 2002.
VITÓRIO ORLANDI FILHO
Geólogo (1967) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Sensoriamento Remoto e
Fotointerpretação no Panamá e Estados Unidos. De 1970 a 2007, exerceu suas atividades junto à Companhia de Pesquisa
de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde desenvolveu projetos ligados a Mapeamento
Geológico Regional, Prospecção Mineral e Gestão Territorial. Em 2006, participou da elaboração do Mapa Geodiversidade
do Brasil (CPRM/SGB).
VALTER JOSÉ MARQUES
Graduação (1966) em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Petrologia
(1979), pela Universidade de São Paulo (USP), e em Engenharia do Meio Ambiente (1991), pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Nos primeiros 25 anos de carreira dedicou-se ao ensino universitário, na Universidade de Brasília
(UnB), e ao mapeamento geológico na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/
SGB), entremeando um período em empresas privadas (Mineração Morro Agudo e Camargo Correa), onde atuou na
prospecção mineral por todo o país. De 1979 até o presente, desenvolve suas atividades na CPRM/SGB, onde exerceu
diversas funções e cargos, dentre os quais o de Chefe do Departamento de Geologia (DEGEO) e o de Superintendente
de Recursos Minerais. Nos últimos quinze anos, vem se dedicando à gestão territorial, com destaque para o Zoneamento
Ecológico-Econômico (ZEE), sobretudo nas faixas de fronteiras com os países vizinhos da Amazônia, atuando como
coordenador técnico-científico dos projetos binacionais.
MAGDA M. R. CHAMBRIARD
Engenheira Civil formada pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em
Engenharia Química pela COPPE. Ingressou na PETROBRAS em 1989. Cedida à Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP) de 2002.- 2008. Atualmente Diretora da ANP.
120
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
ARAMIS J. PEREIRA GOMES
Geólogo (1973) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde 1973 trabalha na Companhia de Pesquisa
de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Especialista em carvão mineral. A partir de 1975, participou
de diversos projetos de pesquisa e desenvolvimento de jazidas desse bem mineral no Brasil e em Moçambique. Foi diretor-
presidente da Companhia Riograndense de Mineração – CRM (1991-1994). Tem desenvolvido estudos relacionados ao
incremento do emprego do carvão nacional na matriz energética brasileira.
PAULO ROBERTO CRUZ
Geólogo (1965) pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor do Instituto de Geociência da Universidade Federal do
Pará (UFPA). Trabalhou na Divisão de Geologia e Mineralogia do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM),
onde realizou vários trabalhos na área de Geologia Econômica. Ainda no DNPM, organizou, implantou e chefiou o setor
de Geologia Econômica da Divisão de Fomento. Em 1971, organizou, implantou e dirigiu o Departamento de Recursos
Minerais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), atual Coordenação de Matérias-Primas e Minerais da Diretoria
de Radioproteção e Segurança, onde coordena os trabalhos de geologia do setor nuclear.
GLORIA MARIA DOS SANTOS MARINS
Geóloga formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Geoquímica pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ocupou o cargo de Especialista em Regulação de Petróleo e Derivados na Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) até março de 2008. Atualmente, é Gerente de Segurança,
Saúde e Meio Ambiente da empresa OGX Petróleo e Gás Ltda.
CINTIA ITOKAZU COUTINHO
Engenheira Civil formada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestre em Engenharia Ambiental pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Servidora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) desde 2004.
LUCIENE FERREIRA PEDROSA
Oceanógrafa formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Servidora da Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) desde 2006.
MARIANNA VIEIRA MARQUES VARGAS
Estudante de graduação em Geologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Estagiária da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
121
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
8
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato 1
(shinzato@rj.cprm.gov.br)
Amaury Carvalho Filho 2
(amaury@cnps.embrapa.br)
Wenceslau Geraldes Teixeira 2
(wenceslau@cpao.embrapa.br)
1
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
2
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
SUMÁRIO
Argissolos ................................................................................. 122
Cambissolos .............................................................................. 122
Chernossolos ............................................................................ 123
Espodossolos ............................................................................ 123
Gleissolos .................................................................................. 123
Latossolos ................................................................................. 124
Luvissolos .................................................................................. 125
Neossolos.................................................................................. 125
Nitossolos ................................................................................. 126
Organossolos ............................................................................ 126
Planossolos ............................................................................... 127
Plintossolos ............................................................................... 127
Vertissolos ................................................................................. 128
Terras Pretas de Índios da Amazônia ........................................ 128
Bibliografia ............................................................................... 133
122
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Solo é a superfície inconsolidada, constituída de ca-
madas que diferem pela natureza física, química,
mineralógica e biológica, desenvolvida ao longo do tem-
po sob a influência do clima, material originário, relevo e
da própria atividade biológica.
Uma das possibilidades de apresentação das infor-
mações pedológicas é o mapa de solos. Este se constitui
em uma estratificação de ambientes que permite a sepa-
ração de áreas para diversos fins, além de fornecer subsí-
dios para programas especiais de conservação de solos e
preservação do meio ambiente.
Grande parte dos problemas relacionados aos solos
está ligada à complexidade e dificuldade de sua identifica-
ção. Quando esta é obtida, é possível determinar suas li-
mitações e potencialidades que refletem diretamente em
seu manejo para um uso adequado.
É necessário considerar que, ao longo do tempo, as
pesquisas sobre os solos foram desenvolvidas com fins
agronômicos, porém, isso tem mudado com a influên-
cia de estudos correlatos, principalmente
geotécnicos, para produção de informações
de melhor qualidade, possibilitando um uso
mais amplo das informações de solos.
A nomenclatura aqui apresentada está de
acordo com o sistema de classificação de solos
atualmente em uso no Brasil (EMBRAPA, 2006).
O enfoque apresentado objetiva, de ma-
neira simples, tecer alguns comentários gerais
sobre as limitações e potencialidades para uso
agrícola e não-agrícola, tendo como base as
características dos principais solos do Brasil. Os
interessados em abordagens mais detalhadas e
aprofundadas devem recorrer à extensa biblio-
grafia existente.
ARGISSOLOS
Compreendem solos nos quais normal-
mente o teor de argila no horizonte B
(subsuperficial) é bem maior que no horizon-
te A (superficial), caracterizando o horizonte
B textural (Bt). Esse incremento de argila é percebido
sem dificuldade quando se procede ao exame da textu-
ra e, algumas vezes, pela diferenciação da cor e outras
características. No caso de ocorrer mudança textural
abrupta (gradiente textural muito acentuado em curto
espaço vertical), torna-se ainda mais visível. O horizon-
te Bt, que pode apresentar constituição e morfologia
muito distintas e ocorrer em diversas profundidades,
caracteriza um comportamento bastante variável des-
ses solos. Em extensão, constitui a segunda classe de
maior importância no país. Abrange uma ampla diver-
sificação de solos, desde rasos (<50 cm) a muito pro-
fundos (>2,00 m), abruptos (elevado gradiente textural),
eutróficos (saturação por bases >50%) e distróficos (sa-
turação por bases <50%), com cascalhos, com fragipã
(horizonte adensado), com caráter solódico (presença
de sódio), entre outros. Devido a essa gama de varia-
ção, torna-se difícil proceder a uma abordagem genera-
lizada para esses solos. Argissolos com horizonte Bt de
baixa condutividade hidráulica situados em regiões de
alta pluviosidade podem desenvolver “lençol freático
suspenso”, facilitando o processo de deslizamento, de-
vido ao excesso de água no plano de cisalhamento en-
tre os horizontes A e Bt, que funciona como um lubri-
ficante, facilitando a movimentação do material super-
ficial (OLIVEIRA, 2005). Os mais suscetíveis aos proces-
sos erosivos são aqueles de caráter abrupto e os que
ocorrem em relevos movimentados.
Conforme a coloração do horizonte Bt, dividem-se
em Argissolos Vermelhos, Vermelho-Amarelos, Amarelos,
Bruno-Acinzentados e Acinzentados; com freqüência, en-
contram-se associados a Latossolos, por todo o território
nacional (Figura 8.1).
CAMBISSOLOS
Compreendem solos pouco desenvolvidos e que apre-
sentam grande variação em sua espessura, ocorrendo des-
de rasos (<50 cm) a profundos (<2,00 m). Apresentam
horizonte A, de qualquer tipo, sobreposto a horizonte B
incipiente (Bi), de características variáveis. Muitas vezes
são cascalhentos, pedregosos e rochosos. Os Cambissolos
estão relacionados a áreas mais movimentadas, preferen-
cialmente regiões serranas. Devido à variação de atribu-
tos, torna-se difícil definir um padrão de comportamento
para esses solos. Por apresentarem pequeno desenvolvi-
mento e teores de silte em geral mais altos que em outros
solos, com relação silte/argila elevada, são mais suscetí-
veis aos processos erosivos. A presença de silte também
Figura 8.1 ––––– Perfil de Argissolo em relevo forte ondulado, com vegetação de
floresta e pastagem.
123
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
em superfície, em alguns desses solos, favorece a forma-
ção de poeira bastante densa, o que deve ser considerado
no caso de seu aproveitamento com atividades de lazer.
Ocorrem em todo o país, porém, com pequena expressão
na região amazônica (Figura 8.2).
CHERNOSSOLOS
Compreendem solos com horizonte superficial do tipo
A chernozêmico (cor escura, boa fertilidade natural e teores
elevadosdematériaorgânica)assentadossobrehorizonteB,
em geral avermelhado, com argila de atividade alta (capaci-
dade de troca catiônica (CTC) >27 cmolc
por kg
de argila). São solos de elevado potencial agríco-
la, pois são ricos quimicamente, com horizonte
superficialaeradoebemestruturado,alémdecon-
teremgrandequantidadedematériaorgânica.
Quando molhados, a elevada plasticidade e
pegajosidade do horizonte superficial dificulta a
trafegabilidade e o preparo para o plantio. Para
alguns desses solos, onde o saprolito é relativa-
mentebrando,nãoserecomendaousocomater-
ros sanitários, lagoas de decantação e cemitérios.
Ocorrem em várias regiões do Brasil, em
geral relacionados a material de natureza calcária,
em condições de clima mais seco. Estão tam-
bém relacionados aos basaltos da região Sul.
ESPODOSSOLOS
Constituemsolosdominantementearenosos,
com concentração de ferro, matéria orgânica ou
de ambos em subsuperfície, o que caracteriza o horizonte
B espódico, que pode ocorrer em diferentes profundidades.
A condição arenosa determina elevada permeabilidade,
ressecamento rápido, elevada taxa de decomposição da
matéria orgânica e pequena capacidade de retenção de nu-
trientes.
Alguns desses solos podem apresentar o horizonte B
espódico próximo da superfície, influindo diretamente em
sua condição hídrica, proporcionando maior retenção de
umidade. Naqueles em que esse horizonte se encontra a
vários metros de profundidade, o comportamento físico
pode ser comparado ao dos Neossolos
Quartzarênicos. Alguns Espodossolos apresen-
tam camada subsuperficial muito endurecida
(orstein), o que dificulta o enraizamento, prin-
cipalmente das plantas arbóreas, como tam-
bém de escavações. Ocorrem expressivamente
ao longo da costa brasileira , assim como na
região amazônica (Figura 8.3).
GLEISSOLOS
São solos característicos de áreas sujeitas a
alagamento, como margens de rios, ilhas, gran-
des planícies, lagoas etc. e, conseqüentemente,
com problemas de aeração e drenagem defici-
ente. Com isso, devido à redução do ferro, apre-
sentam cores acinzentadas ou esverdeadas.
Os Gleissolos Tiomórficos apresentam séri-
as limitações ao uso agrícola e não-agrícola, devido à pre-
sença de enxofre. Em tais solos, quando drenados, ocorre,
em um curto espaço de tempo, a formação do horizonte
sulfúrico, o que representa risco de corrosão para tubula-
ções enterradas. Da mesma forma, os Gleissolos com ex-
cesso de sais e com caráter vértico (baixa permeabilidade,
argilas expansivas) podem prejudicar essas tubulações.
Ocorrem em todo o território brasileiro, com freqüên-
cia associados às planícies de inundação dos rios. De
maneira geral, pela presença de lençol freático próximo à
superfície e posição topográfica em que ocorrem, não são
adequados para uso como cemitérios, aterros sanitários,
lagoas de decantação e áreas de lazer (Figura 8.4).
Figura 8.2 ––––– Perfil de Cambissolo com horizonte B incipiente em relevo
ondulado de topo sob vegetação de campo graminoso.
Figura 8.3 ––––– Perfil de Espodossolo com horizonte de acúmulo de ferro e
matéria orgânica em relevo plano do Grupo Barreiras, sob vegetação de restinga.
124
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 8.4 ––––– Perfil de Gleissolo Háplico em área de baixada sujeita a inundações
periódicas sob pastagem. Fotografia: José Francisco Lumbreras.
LATOSSOLOS
Compreendem solos profundos e muito profundos
(<3,00 m), com horizonte B latossólico (Bw). São solos
em avançado estágio de intemperização, muito evoluí-
dos, como resultado de enérgicas transformações no ma-
terial constitutivo. O incremento de argila do horizonte A
para o B é inexpressivo, com relação textural (B/A) insufi-
ciente para caracterizar o horizonte B textural.
Tendem a apresentar estrutura granular, ou quando
em blocos, de fraco grau de desenvolvimento e elevadas
porosidade e permeabilidade interna, com drenagem ex-
cessiva ou muito rápida, garantindo maior resistência aos
processos erosivos em relação às outras classes de solos.
No entanto, alguns solos dessa classe, com estrutura gra-
nular muito desenvolvida, podem ser altamente suscetí-
veis à erosão em sulcos quando sujeitos a fluxo de água
concentrado (RESENDE et al., 1992), devido à pequena
coesão entre as unidades estruturais, que, nesse caso, com-
portam-se fisicamente como areia fina ou silte (pseudo-
silte). Situação semelhante é observada nos solos de tex-
tura média mais leve.
Representam uma das classes de maior expressão ge-
ográfica no país, ocupando grandes extensões. Apesar de
a baixa fertilidade natural, são muito utilizados com agri-
cultura, em razão do relevo pouco movimentado em que
em geral ocorrem e das boas condições físicas. Desenvol-
vem-se em todos os tipos de relevo, com menor expres-
são, é claro, nas áreas montanhosas, onde tendem a ocu-
par áreas de conformação convexa. Em algumas áreas é
verificada a ocorrência significativa de solos dessa classe
com espessura do solum (horizontes A + B) inferior a 1,5
m, sendo denominados Latossolos câmbicos, apresentan-
do, portanto, maior suscetibilidade à erosão que os
Latossolos típicos. Conforme a coloração do horizonte B,
são subdivididos em:
• Latossolos Brunos: São profundos, com hori-
zonte A escurecido, em geral espesso; o hori-
zonte subsuperficial em tons brunados, sendo
comum apresentarem avermelhamento em pro-
fundidade. São solos argilosos ou muito argilo-
sos, com alta capacidade de retração com a per-
da de umidade, esta facilmente verificada pelo
fendilhamento nos barrancos expostos ao sol.
São comuns nos planaltos interioranos do sul
do país, em altitudes superiores a >800 m e em
clima subtropical.
• Latossolos Amarelos: São profundos, de co-
loração amarelada, bem drenados e de baixa fer-
tilidade natural. Ocupam grandes áreas nas
zonas de Tabuleiros Costeiros e baixo e médio
Amazonas.
• LatossolosVermelhos:Sãomuitohomogeneos,
bem drenados, de coloração vermelho-escura;
quando originados de rochas básicas,
freqüentemente basaltos da Formação Serra Geral, no
sudeste e sul do país, apresentam elevadas quantida-
des de óxidos de ferro e atração pelo ímã quando se-
cos. Apesar de quimicamente pobres, possuem eleva-
do potencial agrícola devido ao relevo suavizado em
que ocorrem. Os Latossolos Vermelhos são bastante
expressivos na região Centro-Oeste, respondendo por
grande parte de sua produção agrícola.
• Latossolos Vermelho-Amarelos: São bem drenados;
possuem cores vermelho-amareladas, de baixa fertilidade
natural, ocorrendo em praticamente todo o território na-
cional, com menores expressões no Rio Grande do Sul.
São muito utilizados com agricultura quando a textura é
argilosa e com pecuária, quando média.
Apesar de a pequena capacidade de troca de cátions,
a grande espessura e boa aeração qualificam esses solos
como adequados para aterros sanitários, depósitos de
efluentes, lagoas de decantação e cemitérios. A baixa ativi-
dade da argila e a drenagem rápida elevam esses solos para
a categoria de excelentes pisos de estradas (Figura 8.5).
Figura 8.5 ––––– Perfil de Latossolo Vermelho textura argilosa em
relevo suave ondulado com plantio de milho e pastagem.
125
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
LUVISSOLOS
São solos pouco profundos ou profundos, de cores
avermelhadas, com horizonte B textural ou B nítico abai-
xo do horizonte A, sendo comum a presença de casca-
lhos e pedregosidade. Apresentam argila de atividade
alta (>27 cmolc
por kg de argila), conjugada a alta sa-
turação por bases (V>50%). Face a seu pequeno grau
de intemperização, observa-se a presença de teores
médios a altos de minerais facilmente decomponíveis.
A presença desses elementos no solo pode ter implica-
ções com maior solubilização das bases presentes nos
minerais primários facilmente decomponíveis, possibi-
litando a ascensão de sais para os horizontes superio-
res, tornando esses solos suscetíveis à salinização. No
caso de ocorrerem pedras e concreções, pode haver im-
plicações na disponibilidade de água e de nutrientes
para as plantas.
Apequenaprofundidadeeoelevadogradientetextural,
em geral distintivo de caráter abrupto, aliados à condição
de relevo, contribuem para a fragilidade desses solos quan-
to à erosão, amplificada na região do semi-árido, onde as
chuvas são concentradas. É comum a presença de calhaus
e matacões na superfície, o que dificulta o uso agrícola,
mas, por outro lado, protege contra a erosão.
Distribuem-se principalmente na região mais seca do
país, semi-árido nordestino, sendo ocupados somente com
a pecuária extensiva. Ocorrem também nas regiões Sul e
na Amazônia, sendo ocupados com agricultura e pasta-
gem plantada, respectivamente.
NEOSSOLOS
Compreendem solos pouco desenvolvidos, sem apre-
sentar qualquer tipo de horizonte B. Reúnem solos rasos
(rocha a menos de 50 cm de profundidade), Neossolos
Litólicos; solos profundos e arenosos, Neossolos
Quartzarênicos; com horizonte A sobre C e presença de
minerais primários de fácil decomposição, Neossolo
Regolítico; e solos de natureza aluvionar, os Neossolos
Flúvicos.
Os Neossolos Flúvicos são formados em terraços de
deposição aluvionar recente, referidos ao Quaternário. Sua
principal característica é a estratificação de camadas sem
relação pedogenética entre si, o que pode ser evidenciado
pela grande variação textural e de conteúdo de carbono
em profundidade. Apresentam, portanto, grande variabi-
lidade espacial. Possuem seqüência de horizontes A-C,
eventualmente com evidências de gleização face à proxi-
midade dos cursos de água, e ao lençol freático, em geral
a pequena profundidade, sendo susceptíveis a eventuais
inundações.
São solos que apresentam grande variabilidade, po-
dendo ser pobres ou ricos em nutrientes. Podem apre-
sentar teores elevados de sais ou de sódio. Suas limita-
ções aumentam à medida que se elevam as concentra-
ções desses elementos, implicando corrosão de materi-
ais enterrados. A redução dessa limitação depende da
permeabilidade interna, que permita “lavar” os sais e o
sódio (Figura 8.6).
Os Neossolos Quartzarênicos compreendem solos are-
nosos, essencialmente quartzosos, virtualmente destituídos
de minerais primários pouco resistentes ao intemperismo;
são fortemente a excessivamente drenados, muito permeá-
veis, profundos ou muito profundos. Possuem baixa fertili-
dade natural, com capacidade de troca de cátions e satura-
çãoporbasesmuitoreduzidas.Atexturaarenosacondiciona
também uma baixa capacidade de retenção de água e de
eventuais elementos nutrientes aplicados, o que constitui
forte limitação ao seu aproveitamento agrícola. Em razão
de sua constituição arenosa, com grãos soltos, o que possi-
bilita fácil desagregação, tendem a ser muito suscetíveis à
erosão, mesmo quando ocorrem em relevo suave. São bas-
tante expressivos no Brasil, principalmente no centro-oeste
e ao longo da costa litorânea.
Apesar de serem muito permeáveis e terem uma es-
pessa zona de aeração, a baixa capacidade de adsorção
facilita a lixiviação de materiais tóxicos e metais pesados,
aumentando a possibilidade de contaminação do lençol
freático (Figura 8.7).
Figura 8.6 ––––– Perfil de Neossolo Flúvico em terraço de relevo plano
com pastagem natural.
Figura 8.7 ––––– Perfil de Neossolo Quartzarênico desenvolvido em
relevo suave ondulado com pastagem.
126
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Os Neossolos Litólicos são solos rasos ou muito
rasos, com horizonte A, exceto o chernozêmico, assen-
tado diretamente sobre a rocha. A maior limitação des-
ses solos é a pequena profundidade efetiva, que limita
o desenvolvimento radicular das plantas e culturas, re-
duzindo a capacidade de “sustentação” delas, tanto mais
expressiva quanto mais próximo a rocha estiver da su-
perfície. Essas características conferem a esses solos
pouca capacidade de sustentabilidade da vegetação. A
condição de desmatamento ou de pouca cobertura ve-
getal, quando aliada às precipitações concentradas, fa-
cilita a formação de erosões laminares e em sulcos nes-
ses solos.
Por se tratar de solos rasos, é comum a ocorrência de
cascalhos e calhaus, caráter pedregoso e rochoso na su-
perfície do terreno, funcionando ora como protetor, dimi-
nuindo a taxa de evaporação da água no solo, ora como
barreira ao deslocamento de máquinas. Os Neossolos
Litólicos não são adequados para uso com cemitérios e
aterros sanitários, sendo terras mais indicadas para preser-
vação da flora e da fauna.
São muito susceptíveis à erosão em virtude da espes-
sura reduzida e do relevo onde se localizam. A textura
leve em superfície e o contato direto com a rocha a pe-
quena profundidade tornam esses solos bastante suscep-
tíveis aos processos de escorregamento de massa, pois o
rápido encharcamento do horizonte superficial e o exces-
so de água no plano de cisalhamento funcionam como
lubrificante, facilitando a movimentação do material
suprajacente a esse plano (Figura 8.8).
Os Neossolos Regolíticos são solos pouco desen-
volvidos, medianamente profundos ou mais espessos
(A + C >50 cm), de textura em geral arenosa, conten-
do, na fração areia, apreciáveis teores de minerais facil-
mente intemperizáveis. São predominantemente
eutróficos, muito porosos e de baixa capacidade de re-
tenção de água, podendo, ou não, apresentar fragipã
(horizonte adensado) a diferentes profundidades, de-
senvolvido ou em formação. A presença desse horizon-
te adensado é benéfica na região do semi-árido, devido
à manutenção da umidade próximo da superfície, exceto
quando o solo apresentar elevadas concentrações de
sódio. Os Neossolos Regolíticos são mais expressivos
no semi-árido nordestino, além de ocorrerem também
no Mato Grosso do Sul.
Os Neossolos distribuem-se praticamente por todas
as regiões do país, porém, por especificidade de ocorrên-
cia de alguns deles, como é o caso dos Neossolos Flúvicos,
ao longo de rios e riachos; já os Neossolos Litólicos, em
encostas muito declivosas; em algumas áreas, seu
mapeamento somente é possível em escalas maiores.
NITOSSOLOS
Os Nitossolos compreendem solos com horizonte B
nítico de argila de atividade baixa. São solos profundos ou
muito profundos, bem drenados, com baixo gradiente
textural e com estruturas em blocos e cerosidade bem de-
senvolvidas no horizonte B, por definição de textura argi-
losa ou muito argilosa. Em geral, são originados de rochas
básicas,basaltos,apresentandocoloraçãobemavermelhada
(anteriormente denominados Terras Roxas Estruturadas). O
baixo gradiente textural e o caráter argiloso se refletem em
uma menor suscetibilidade à erosão que nos solos com
horizonte B textural, como os Argissolos. Além disso, a
excelente estruturação lhes confere boas condições de
permeabilidade interna do perfil de solo.
Por serem de grande espessura, bem drenados, com
boa aeração, esses solos são adequados para aterros sani-
tários, depósitos de efluentes, lagoas de decantação e ce-
mitérios. São também indicados como excelentes pisos de
estradas.
Ocorrem em praticamente todo o país,
sendo expressivos na bacia platina, desde Goiás
até o Rio Grande do Sul. São encontrados tam-
bém no estado do Tocantins, sul do Maranhão,
Pará e Mato Grosso.
ORGANOSSOLOS
Os Organossolos são solos pouco evoluí-
dos, constituídos por material orgânico (>80 g/
kg de carbono orgânico) proveniente de acu-
mulação de restos vegetais em variados estádi-
os de decomposição. Apresentam horizonte
hístico espesso, rico em material orgânico cons-
tituído de fibras que são facilmente identificáveis pela ori-
gem vegetal, dentro dos primeiros 100 cm de profundida-
de. Estão presentes nas várzeas planas, alagadiças, em am-
bientes mal a muito drenados, com lençol freático à super-
fície ou próximo a ela, correspondentes às áreas mais
abaciadas e deprimidas em relação aos terrenos adjacentes.
É muito comum apresentarem coloração escura, pre-
ta, cinzenta ou marrom e teores muito elevados de carbo-
no orgânico (mais de 50%). A capacidade de troca de
cátions na camada orgânica é alta a muito alta, mas a
soma de bases é muito baixa, significando que essa CTC
(valor T) se deve à presença significante de íons H+
, refe-
Figura 8.8 ––––– Perfil de Neossolo Litólico desenvolvido em relevo suave ondulado
com vegetação de campo graminoso.
127
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
diente textural elevado. O horizonte superficial é muito
suscetível à erosão laminar e o Bt pode desenvolver sulcos
e ravinas pela ação combinada de antropismo e caracte-
rísticas internas que favorecem os processos erosivos, mes-
mo que o relevo seja plano. São solos expressivos no semi-
árido nordestino, ocorrendo também no Pantanal mato-
grossense e no Rio Grande do Sul (Figura 8.10).
PLINTOSSOLOS
Compreendem solos com presença significativa de
plintita(materialricoemferroepobreemmatériaorgânica),
ou com expressiva ocorrência de concreções de ferro
(petroplintita) ou até mesmo cangas. Esses últimos são de-
nominados Plintossolos Pétricos e, apesar de a presença das
concreções, são mais bem drenados. Ocorrem em grandes
extensõesnosplanaltosdaregiãoCentro-Oesteeemalguns
platôsdaAmazônia.OsdemaisPlintossoloscaracterizam-se
pelapresençade mosqueamentos,devidoàdrenagemdefi-
ciente e à ocorrência de plintita no perfil do solo. Têm gran-
de potencial de utilização para agricultura, desde que sejam
tomadososdevidoscuidadoscomrelaçãoàdrenagem,pois
a alteração da dinâmica hídrica nesses solos pode levar ao
endurecimento irreversível da plintita (Figura 8.11).
rente à acidez da matéria orgânica. São solos que apre-
sentam elevados teores de água durante praticamente
todo o ano, dificultando o manejo para exploração agrí-
cola.
É importante conhecer tanto os teores como o es-
tágio de decomposição da matéria orgânica nesses so-
los, pois, além de sua classificação, influenciam a den-
sidade, tamanho dos poros e respectiva força de reten-
ção da água, condutividade hidráulica e capacidade de
suporte. Quanto menor o grau de decomposição da ma-
téria orgânica, mais intensa será a capacidade de
subsidência.
Esses solos ocorrem em todo o território nacional, mas
em locais específicos de acumulação de água e de restos
vegetais, como ao longo das margens de rios, lagos etc.,
cuja representação em mapas requer, em geral, maior esca-
la (Figura 8.9).
PLANOSSOLOS
Compreendem solos imperfeitamente a mal drena-
dos, com horizonte superficial de textura mais leve que
contrasta abruptamente com o horizonte Bt (B
plânico), de textura argilosa, adensado e com
baixa permeabilidade, muitas vezes responsá-
vel pela manutenção de um lençol freático pró-
ximo à superfície. Sua fertilidade natural é vari-
ável, apresentando sérias limitações físicas.
Alguns Planossolos podem apresentar te-
ores elevados de sódio (Nátricos), sendo o seu
horizonte B de permeabilidade interna bem
reduzida e de consistência muito dura quan-
do seco. Isso é intensificado se as argilas tive-
rem atividade elevada, com maior
contratilidade e expansibilidade. Nesse caso,
a permeabilidade é baixíssima.
Embora se situem em relevos planos e su-
aves, a erodibilidade desses solos é moderada,
em virtude de suas condições físicas e do gra-
Figura 8.9 ––––– Organossolo desenvolvido em relevo plano com cana-
de-acúcar.
Figura 8.10 ––––– Planossolo desenvolvido em relevo plano e com
pastagem natural.
Figura 8.11 ––––– Perfil de Plintossolo desenvolvido em relevo plano e preparado
para plantio da pastagem.
128
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Nos Plintossolos Pétricos, a presença de grandes quan-
tidades de concreções em superfície dificulta bastante o
preparo do terreno, desgasta os implementos agrícolas e
diminui significativamente o volume de água e nutrientes
para as plantas. Por outro lado, são excelentes como fonte
de material para pavimentação de estradas.
Ocorrem praticamente em todo o território nacional,
com destaque para a Baixada Maranhense e Piauí, médio
Amazonas, vale do Paraná, Pantanal mato-grossense e pla-
nícies do Araguaia e Guaporé (Figura 8.12).
VERTISSOLOS
Compreendem solos profundos e pouco profundos,
com argila de muito alta atividade, apresentando grande
expansão e contração do material, sendo comum a ocor-
rência de fendas e superfícies de fricção (slikensides). Apre-
sentam cores escuras ou amareladas e, em menor expres-
são, avermelhadas. São solos muito férteis e estão mais
relacionados a condições de clima seco, sendo expressivos
no semi-árido nordestino. Ocorrem também no Pantanal
mato-grossense, Recôncavo baiano e Campanha gaúcha.
Altos teores de argila de elevada atividade determi-
nam consistência extremamente dura e muito dura quan-
do secos e muito plástica e muito pegajosa quando mo-
lhados. Devido à grande capacidade de contração, é co-
mum o desenvolvimento de rachaduras no período seco,
podendo danificar raízes e até estruturas enterradas, como
dutos. Assim, não é recomendável sua utilização para
construção civil nem como aterros sanitários (Figura 8.13).
TERRAS PRETAS DE ÍNDIOS DA
AMAZÔNIA
Algumas áreas de terra firme na Amazônia Central
são conhecidas localmente como Terras Pretas de Índios
(TPI). Essas áreas – denominadas Amazonian Dark Earths
em língua inglesa – são solos que apresentam horizontes
superficiais escuros e férteis. As cores escuras desses solos
são devidas à elevada concentração de algumas formas
aromáticas de carbono (black carbon) de origem predomi-
nantemente pirogênica, muito estáveis e de alto poder
pigmentante. Adicionalmente, apresentam uma grande
densidade de cargas negativas, que conferem a esses ho-
rizontes uma elevada capacidade de troca de cátions (CTC).
Essas áreas são também caracterizadas por elevadas con-
centrações dos cátions: cálcio, magnésio, zinco e
manganês. Os horizontes enriquecidos das TPI também
apresentam, normalmente, artefatos cerâmicos arqueoló-
gicos e elevada concentração de fósforo total e disponível
para plantas (P), quando comparados com os solos adja-
centes formados do mesmo material de origem. A datação
por C14
dessas áreas tem indicado que o principal período
de sua formação foi entre 700 e 2.500 anos (AP).
Os solos que apresentam os horizontes típicos das TPI
nãotêmumaclassificaçãoespecíficanosistema brasileirode
classificaçãode solos,sendocaracterizadosnoslevantamen-
tos como solos com horizonte A antrópico, de Argissolos
(Acrisols) e Latossolos (Ferralsols) e, menos freqüentemente,
da classe dos Plintossolos (Plinthosols) e Espodossolos
(Spodosols).Nasáreasdevárzeas,sãoencontradoshorizon-
tes antrópicos normalmente soterrados, principalmente na
classe dos Gleissolos (Gleisols) (Figuras 8.14 e 8.15).
Há, na literatura, resultados promissores sobre o
uso de carvão vegetal como condicionador do solo,
havendo recomendações no sentido de que esse tipo
de material poderia ser utilizado para aumento da efici-
ência de fertilizantes. A carbonização de resíduos vege-
tais tem potencial para aumentar a sustentabilidade da
capacidade produtiva do solo, reduzir as emissões de
carbono para a atmosfera, dar uma utilização correta
aos resíduos orgânicos poluidores e ainda auxiliar no
desenvolvimento rural.
Detalhe da superfície de fricção que ocorre nesses solos, devido aos
movimentos de contração e expansão das partículas de solo,
denominadas slickensides.
Figura 8.13 ––––– Perfil de Vertissolo desenvolvido em relevo plano
sob vegetação de campo.
Figura 8.12 ––––– Perfil de Plintossolo Pétrico desenvolvido em relevo
plano sob vegetação de cerrado e com coleta de cangas lateríticas.
129
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
No Quadro 8.1, é apresentada uma síntese das prin-
cipais classes de solos, em nível de ordem e subordem
Figura 8.14 – Perfil de solo mostrando o horizonte A antrópico
(Terra Preta de Índio) (Município de Rio Preto da Eva, AM).
Figura 8.15 – Trincheira em área de ocorrência de Terra Preta de
Índio (município de Rio Preto da Eva, AM).
(primeiro e segundo níveis categóricos), suas limitações e
potencialidades.
130
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Quadro8.1–PrincipaissolosdoBrasilesuasprincipaislimitaçõesepotencialidades
OrdemSubordemSigla
Prof.
relativa
Drenagem
interna
LimitaçõesPotencialidades
Bruno-AcinzentadoPB>2mBem
AcinzentadoPAC>2mModeradamente
AmareloPA>2mBem
VermelhoPV>3mBem
Argissolos
Vermelho-AmareloPVA>3mBem
Pequenodesenvolvimentoradicular
quandodebaixafertilidade.Solos
sujeitosacompactação,intensificados
quandoatexturaforargilosanoA.
Quandoabruptos,sãomaissuscetíveis
aosprocessoserosivos.
Quandoeutróficosoudeboafertilidade
natural,sãodeelevadopotencialagrícolanos
relevosmaissuavizados.
HúmidoCH<2mBem
Horizontesuperficialbem
desenvolvido.
FlúvioCY>3m
Moderadamentea
imperfeitamente
Sujeitoàinundaçãoperiódica.
Drenagemdeficiente.
Cambissolos
HáplicoCX<2mBem
Pequenodesenvolvimentoradicular
porbaixafertilidadeouporpresença
depedregosidade.Amecanização
agrícolaélimitadaseorelevofor
movimentado.Solossujeitosa
compactação,intensificadapela
presençasignificativadesilte.
Relevoplano.Solosprofundos.Bom
desenvolvimentoradicularquandoa
fertilidadeforboa.
RêndzicoMD<1,5mModeradamente
EbânicoME<2mModeradamente
ArgilúvicoMT<2mBem
Chernossolos
HáplicoMX<2mBem
Relevosmaismovimentados.Riscode
erosãoelevado.Dificuldadede
preparodosoloquandoseco.Solo
sujeitoacompactação.
Elevadafertilidadenatural.Quando
profundos,sãodeboapotencialidade
agrícola.
HumilúvicoEK>2m
Moderadamentea
imperfeitamente
FerrilúvicoES>2m
Moderadamentea
imperfeitamente
Espodossolos
FerrihumilúvicoESK>2m
Moderadamentea
imperfeitamente
Pequenacapacidadederetençãode
águaenutrientes.Baixafertilidade
natural.Solodesprovidode
micronutrientes.Dificuldadede
manejodevidoasuaconstituição
arenosa.
Relevoplanominimizaoprocessoerosivo.
TiomórficoGJ<2mMuitomalExtremamenteácidoquandodrenado.
SálicoGZ<2mMuitomal
MelânicoGM<2mMalGleissolos
HáplicoGX<2mMal
Riscodeinundaçãofreqüente.
Necessidadededrenagemparauso.
Limitaçãoparaculturasadaptadasao
encharcamento.Facilidadede
contaminaçãodolençol.
Relevoplano.Pequenaouquasenula
suscetibilidadeaosprocessoserosivos.
Quandoeutróficos,sãodeboapotencialidade
agrícolaparaculturasadaptadasao
encharcamento.
131
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
Quadro8.1–PrincipaissolosdoBrasilesuasprincipaislimitaçõesepotencialidades(Cont.)
OrdemSubordemSigla
Prof.
relativa
Drenagem
iterna
LimitaçõesPotencialidades
BrunoLB>3mBem
AmareloLA>3mBem
VermelhoLV>3mMuitoBem
Latossolos
Vermelho-AmareloLVA>3mMuitoBem
Baixafertilidadenatural.Poucaágua
disponívelnosolo,intensificada
quandoatexturaéleve.Baixoteorde
fósforo.Solossujeitosacompactação,
principalmentequandoargilososou
muitoargilosos.Noscoesospode
haverlimitaçãoaodesenvolvimento
radiculardevidoaoadensamento.
Profundidadedosoloelevada.Solosde
elevadapermeabilidadeeporosidade.
Resistênciaaosprocessoserosivos.Grandes
extensõescontínuasemrelevossuavizadas.
Fácilmanejo.
CrômicoTC<1,5m
Bema
Moderadamente
Luvissolos
HáplicoTX<2mBem
Ocorrênciadepedregosidadeem
superfíciepodelimitaramecanização.
Erodibilidadeelevadapelamudança
texturalabrupta.Limitaçãoquantoà
águadisponívelnosoloemlocais
maissecos.Riscodesalinizaçãosemal
manejado.
Apresentaaltasaturaçãoporbases,sendode
boafertilidadenatural.Presençademinerais
primáriosfacilmenteintemperizáveis(reserva
nutricional).
LitólicoRL<1mModeradamente
Solosrasosepoucoprofundos.Relevo
movimentado.Associaçãocom
pedregosidadeerochosidade.
Elevadoriscodeerosão.
Emcasodeboafertilidadenatural,o
enraizamentonãoéprejudicadosearocha
nãofordura.Recomenda-separa
preservaçãodafloraedafauna.
FlúvicoRY>3m
Moderadamentea
imperfeitamente
Sujeitoainundaçãoperiódica.
Drenagemdeficiente.
Relevoplano.Solosprofundos.Bom
desenvolvimentoradicularquandoa
fertilidadeforboa.
RegolíticoRR<2mModeradamente
Pequenacapacidadederetençãode
umidade.Ocorrênciadehorizontes
adensados.
Profundidademediana.
Riscodesalinização.
Boafertilidadenatural.Relevosuavizado.
Neossolos
QuartzarênicoRQ>2mExcessivamente
Pequenacapacidadederetençãode
águaenutrientes.Baixafertilidade
natural.Solodesprovidode
micronutrientes.Dificuldadede
manejodevidoasuaconstituição
arenosa.
Relevominimizaosriscosdosprocessos
erosivos.
132
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Quadro8.1–PrincipaissolosdoBrasilesuasprincipaislimitaçõesepotencialidades(Cont.)
OrdemSubordemSigla
Prof.
relativa
Drenagem
interna
LimitaçõesPotencialidades
BrunoNB>3mMuitoBem
VermelhoNV>3mMuitoBem
Nitossolos
HáplicoNX>3mBem
Fertilidadenaturalbaixa.Baixa
quantidadedeáguadisponívelno
solo.Quandoemrelevo
movimentado,sãosuscetíveisaos
processoserosivos.Solosmuitoprofundos.Teoresde
micronutrienteselevados.Boapermeabilidade
eporosidade.Grandesextensõescontínuas.
TiomórficoOT>2mMuitomal
Sedrenado,opHficaextremamente
baixo.
FólicoOO<1,5mMuitomalOrganossolos
HáplicoOX>2mMuitomal
Elevadolençolfreático.Riscode
inundaçãopermanente.Necessidade
dedrenagemparauso.Necessidade
dealtasdosesdecalagemparaefeito.
Relevoplano.
Elevadacapacidadedetrocacatiônica.
NátricoSN<2m
Imperfeitamentea
Mal
Areaçãodosoloéneutraoualcalinano
horizonteB.
Planossolos
HáplicoSX<2mMal
Granderiscodeerosãodevidoao
elevadogradientetextural.
Impedimentoaoenraizamento.Solos
sujeitosacompactação.
Ocorrememrelevossuaveseplanos.Os
eutróficostêmmenosproblemascom
enraizamento.
PétricoFF>2mModeradamente
Impedimentoàmecanização.
Restriçãoaoenraizamento.
ArgilúvicoFT>2m
Moderadamentea
Imperfeitamente
Plintossolos
HáplicoFX>2mModeradamente
Restriçãoàdrenagem.Restriçãoao
enraizamento.
Quandoeutróficos,sãodeboapotencialidade
agrícola.
HidromórficoVG<2mMal
EbânicoVE<2m
Imperfeitamentea
MalVertissolos
HáplicoVX<2m
Imperfeitamentea
Mal
Solodemanejomuitodifícil.Muito
duroquandosecoemuitoplásticoe
pegajosoquandoúmido.Ocorrência
defendilhamento.Permeabilidade
muitobaixa.
Elevadafertilidadenatural.Relevosuavizado.
AfloramentosdeRochaAR
133
SOLOS TROPICAIS
Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira
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geofísica,recursosminerais,economiamineral,hidrogeologia,
estudos de chuvas intensas, solos, aptidão agrícola, uso e
coberturadosolo,inventáriodeescorregamentos,diagnósti-
co geoambiental. Rio de Janeiro: CPRM: Embrapa Solos;
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134
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA
Graduado, em 1989, em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Mestre em Agronomia
(área de concentração: Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) em 1992. Doutor em
Geoecologia (PhD) pela Universidade de Bayreuth (Alemanha) em 2001. Atualmente, é pesquisador do Centro de
Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ocidental (Manaus/AM). Colabora como professor associado da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM) no Curso de Pós-Graduação em Agronomia Tropical e no Curso de Agricultura do Trópico
Úmido, convênio UFAM-INPA. Trabalha na área de Agronomia, com ênfase em Física, Manejo e Conservação do Solo e
da Água, atuando principalmente nos seguintes temas: Indicadores da Qualidade Física de Áreas Degradadas, Métodos
de Avaliação das Propriedades e Características Físico-Hídricas de Solos Tropicais, Modelagem de Fluxos de Água no Solo,
Entendimento da Gênese das Terras Pretas de Índio e no Uso de Carvão Vegetal como Condicionador do Solo.
AMAURY CARVALHO FILHO
Pesquisador da EMBRAPA Solos desde 1990. Formado em Engenharia Agronômica (1985), com mestrado em Agronomia
(área de concentração: Solos e Nutrição de Plantas), em 1989, pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Doutor em
Ciência do Solo (2008) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Trabalha na área de Agronomia, com ênfase em
Pedologia, Gênese e Classificação do Solo. Como principais trabalhos desenvolvidos, constam levantamentos de solos da
microbacia de Morrinhos e Silvania (GO); Estado do Rio de Janeiro; Estação Experimental de Ponta Porã e Dourados;
bacias dos rios Dourados e Brilhante (MS); Área de Proteção Ambiental – APA Sul (MG). É membro do núcleo de
discussão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.
EDGAR SHINZATO
Natural de Campo Grande (MS). Formado em Engenharia Agronômica (1990) pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ). Mestre em Agronomia (área de concentração: Solos e Meio Ambiente) pela Universidade Estadual do
Norte Fluminense (UENF) em 1998. Iniciou sua carreira profissional em 1990, na iniciativa privada, desenvolvendo
estudos de solos, principalmente para Engenharia de Irrigação no Nordeste do Brasil. Em 1994, ingressou na Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde vem desenvolvendo estudos de solos e
geoprocessamento voltados para a área ambiental. Como Coordenador Executivo do Departamento de Gestão Territorial
(DEGET), desenvolve projetos referentes à área de Agronomia em integração com a Geologia. É membro do núcleo de
discussão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Entre os principais trabalhos desenvolvidos, constam levantamentos
de solos de Morro do Chapéu; Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália (BA); APA de Lagoa Santa (MG), APA Sul (BH); Cuiabá
e Várzea Grande (MT); SUFRAMA (AM). É instrutor da área de geoprocessamento da CPRM/SGB, especializado nos
softwares ArcGis e Envi.
135
RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M.
Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda
9
RISCOS GEOLÓGICOS
Pedro A. dos S. Pfaltzgraff (pedroaugusto@re.cprm.gov.br)
Rogério V. Ferreira (rogerio@re.cprm.gov.br)
Maria Adelaide Mansini Maia (adelaide@ma.cprm.gov.br)
Rafael Fernandes Bueno (rafaelfernbueno@yahoo.com)
Fernanda S. F. de Miranda (fmiranda@pv.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Conceitos e Definições.............................................................. 136
Histórico da Pesquisa dos Riscos Geológicos ............................. 136
Caracterização dos Diversos Riscos Geológicos ......................... 137
Riscos endógenos .................................................................. 137
Terremotos.......................................................................... 137
Vulcões ............................................................................... 138
Tsunamis ............................................................................. 139
Riscos exógenos ..................................................................... 139
Deslizamentos ..................................................................... 139
Erosão................................................................................. 139
Erosão hídrica .................................................................. 139
Erosão costeira ................................................................ 140
Subsidências ....................................................................... 140
Solos colapsíveis.................................................................. 140
Solos expansíveis................................................................. 140
Ação dos ventos ................................................................. 140
Riscos Geológicos no Brasil ....................................................... 140
Bibliografia ............................................................................... 145
136
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Ao longo da história da espécie humana,
o homem sempre esteve exposto aos perigos
advindos dos fenômenos geológicos naturais.
A posterior organização do homem em co-
munidades alterou de forma significativa as
condições naturais do meio ambiente, geran-
do situações de risco que acarretam perdas
sociais, econômicas e ambientais.
A partir da década de 1960, estudiosos
como Gilbert White iniciaram pesquisas so-
bre os perigos naturais a que estavam sujeitas
as populações do mundo. Uma evolução na-
tural desses estudos levou ao uso do termo
“riscos ambientais”, cujas classificações pro-
postas por Augusto Filho (1999), usadas no
Brasil, e por ISDR (2004), são apresentadas na
Figura 9.1.
CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Aidéiaderiscoestáassociadaàexposiçãode
pessoasepropriedadesaperigos,perdaseprejuí-
zosocasionadosporprocessosdeorigemnatural
ouantrópica.Todavia,naliteraturacientíficaelaboradatanto
em língua portuguesa como francesa ou inglesa, os termos
“risco”, “perigo” e “desastre” são, cada vez mais, utilizados
comosinônimos,independentementedepossuírem,original-
mente,definiçõesdiferentes,conformeCastro(2005).
Varnes (1984), em trabalho realizado para UNESCO,
propôs uma série de conceitos sobre risco muito usada
até hoje. Derivada de seu conceito, a caracterização de
risco mais genérica e utilizada pela maioria dos autores é
representada por:
R = P x C
Onde:
R = risco
P = probabilidade de ocorrência do processo =
suscetibilidade
C = conseqüência social e econômica potencial as-
sociada = vulnerabilidade
Os termos mais atuais e utilizados são:
• Processo geológico: caracteriza-se por qualquer mu-
dança nas condições ambientais (movimentação de du-
nas, modelagem do relevo, alterações do nível do mar)
induzida por fontes de energia naturais endógenas ou exó-
genas.
•Evento geológico: trata-se de fenômenos naturais cujos
efeitos não ocasionaram perdas de vidas humanas ou eco-
nômicas, como, por exemplo, terremotos de grande in-
tensidade em áreas desertas.
• Perigo geológico: caracteriza uma situação de poten-
cial ameaça a pessoas e bens materiais e econômicos por
um evento geológico, sem, entretanto, dimensionar tais
perdas.
• Risco geológico: caracteriza uma situação de potenci-
al ameaça a pessoas e bens materiais e econômicos por
um evento geológico, havendo a possibilidade de
quantificação dessas perdas.
• Acidente geológico: evento geológico de grande in-
tensidade, ocasionando perdas econômicas e de vidas
humanas, tal como ocorre nos terremotos de grande in-
tensidade que atingem áreas densamente povoadas. Con-
forme o número de vítimas e de perdas econômicas, em
uma escala crescente, o acidente geológico será definido
como acidente, desastre ou catástrofe (DIAS, 2002).
HISTÓRICO DA PESQUISA DOS RISCOS
GEOLÓGICOS
Um marco na pesquisa e conhecimento dos riscos
geológicos foi a instituição, pela Organização das Nações
Unidas (ONU), da década de 1990 como Década Interna-
cional de Redução de Desastres Naturais (DIRDN).
A DIRDN foi instituída a partir da Resolução 44/236
da Assembléia Geral das Nações Unidas e teve início em
1º de janeiro de 1990. Como resultados dessa iniciativa,
foram criados vários programas de cooperação internaci-
onal, com a participação de 72 países, inclusive o Brasil.
Em 2001, a International Federation of the Red Cross
and Red Crescent Societies informou que 42% dos desas-
tres naturais com perdas econômicas e de vidas se devem
a inundações e deslizamentos.
Em 2005, a International Strategy for Disaster Reducti-
on (ISDR), criada pela ONU para dar continuidade aos pro-
pósitos da DIRDN, publicou ampla pesquisa abrangendo os
anos de 1900 a 2003, apresentando dados sobre os danos
sociais e econômicos causados pelos desastres naturais. Na
Figura 9.2 são apresentadas as três principais categorias de
desastres naturais ocorridos durante o século XX e os três
Figura 9.1 ––––– a) Principais tipos de riscos ambientais (adaptado de Augusto
Filho, 1999). b) Principais tipos de riscos naturais (adaptado de ISDR, 2004).
137
RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M.
Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda
primeiros anos do século XXI, subdivididos em: desastres
hidrometeorológicos (inundações, tempestades, furacões,
tornados, tufões, secas, temperaturas extremas e avalan-
ches de neve); desastres geológico-geofísicos (terremotos,
tsunamis, deslizamentos, subsidências, erosão, colapsivi-
dade e expansividade de solos e erupções vulcânicas); de-
sastres biológicos (epidemias e pragas de insetos).
Essa subdivisão é bastante semelhante à de Augusto
Filho (1999), diferenciando-se, principalmente, pelo uso do
termo“desastrenatural”emsubstituiçãoa“riscoambiental”.
CARACTERIZAÇÃO DOS DIVERSOS
RISCOS GEOLÓGICOS
Na subdivisão dos riscos ambientais, os riscos geoló-
gicos são classificados em endógenos e exógenos. Os pri-
meiros estão relacionados à energia gerada e proveniente
do interior do planeta, enquanto os exógenos são resulta-
do de energias geradas (normalmente) na superfície do
planeta.
Riscos Endógenos
Terremotos
Os terremotos (ou sismos) são movimentos bruscos
provocados pelo deslocamento das placas
tectônicas – blocos rochosos de grandes di-
mensões que formam a crosta terrestre. Como
resultado, durante esses movimentos há a li-
beração de uma imensa quantidade de ener-
gia acumulada na crosta. Nos locais em que
se dá o encontro de duas placas, formam-se
zonas de fraqueza (falhas) que servirão como
pontos de escape dessas tensões. Algumas
dessas falhas podem atingir 50 a 70 km de
profundidade e centenas de quilômetros de
comprimento, onde são gerados os terremo-
tos de maior intensidade. Os terremotos se
distribuem ao longo do globo terrestre. Nor-
malmente, estão associados a movimentos
tectônicos; entretanto, aqueles de pequena in-
tensidade podem estar associados a extração
mineral, obras de engenharia, como grandes barragens,
colapso do teto de cavernas de calcário e extração de pe-
tróleo e água (Figura 9.3).
Para definir a quantidade de energia liberada e o
tamanho dos danos causados por terremotos, foram
Figura 9.3 ––––– Distribuição dos terremotos no globo terrestre (disponível em: http://www.iag.usp.br/siae98/terremoto/terremotos.htm).
Figura 9.2 ––––– Número de desastres naturais (de acordo com sua classe)
registrados no período de 1900 a 2003 (ISDR, 2004).
138
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
criadas as escalas de magnitude, que se relacionam
diretamente com a quantidade de energia liberada no
foco do terremoto (com intervalos variando de 1 até 9), e
a de intensidade, que descreve os danos observados na
superfície do terreno atingido por um sismo. Dentre as
diversas escalas de intensidade, a mais utilizada é a Mercalli
Modificada, com intervalos variando de 1 a12.
Figura 9.4 ––––– Distribuição dos vulcões pelo globo terrestre (TEIXEIRA et al., 2000).
Figura 9.5 ––––– Vulcões Etna (22 jul. 2001) (disponível em: http://
br.geocities.com/vulcoes/Etna.htm) e Vesúvio (disponível em: http://
br.geocities.com/vulcoes/Vesuvio.htm), dois dos vulcões mais conhecidos.
Vulcões
Originam-se a partir de fissuras ou rompimentos da
crosta terrestre, por onde extravasam material rochoso em
estado de fusão ou fragmentos de rocha e gases. Locali-
zam-se principalmente no encontro de placas tectônicas
(Figuras 9.4 e 9.5).
139
RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M.
Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda
Tsunamis
Terremotos no fundo dos oceanos, bem como erup-
ções vulcânicas submarinas ou deslizamentos em taludes
subaquáticospodemgerarondasdeproporçõesgigantescas
quesedeslocamemgrandevelocidade.Aoalcançaracosta,
essaimensaquantidadedeáguapodecausaradestruiçãode
cidades, vilas e outras construções (Figuras 9.6 e 9.7).
Riscos exógenos
Deslizamentos
São movimentos de massa (solos e rochas) que ocor-
rem impulsionados pela força da gravidade, a partir de
encostas de declividade elevada. Essa massa pode se des-
locar com grande velocidade e transportar volumes de
materiais de milhares de metros cúbicos por vários quilô-
metros. Entre as várias causas dos deslizamentos, pode-
mos citar: sismos naturais e induzidos; cortes inadequa-
dos de taludes para obras de engenharia; mineração; uso
urbano; desmatamento de encostas (amplificando a ação
das águas); alterações rápidas do nível da água subterrâ-
nea nas encostas.
A mecânica dos deslizamentos é caracterizada pela
ruptura das condições de equilíbrio de uma massa de solo,
sedimentos ou rochas, em um talude natural, ou de ori-
gem antrópica. Os responsáveis pela ruptura desse equilí-
brio podem ter origem geológica (fraturamentos, presen-
ça de minerais argilosos expansivos preenchendo as fratu-
ras das rochas etc.), geomecânica (alterações do peso es-
pecífico do solo devido à saturação, perda de coesão, al-
terações do lençol freático), climática (pluviosidade);
antrópica(compactaçãodoterrenoaumentandooseupeso
específico, vibrações provocadas por explosões ou pelo
tráfego de veículos pesados); ou devido a forças naturais,
como os terremotos ou tsunamis.
Erosão
É definida como o processo de desagregação e re-
moção de partículas do solo ou de fragmentos de rochas
realizado por ação da água, vento, organismos (plantas e
animais) e gelo (em regiões de clima frio e temperado e
nas altas montanhas), associado à declividade do terreno
(SALOMÃO e IWASA, 1995). A erosão pode ser normal
ou acelerada.
A erosão normal (geológica ou natural) ocorre sob
condições naturais do ambiente, envolvendo menores
quantidades de material removido do solo, não sendo
perceptível em curto prazo.
A erosão acelerada é decorrente de alterações pro-
movidas pelo homem no ambiente (interferência antrópi-
ca), a exemplo da retirada da cobertura vegetal, ou mu-
danças climáticas, resultando na remoção de grande quan-
tidade de material superficial (BIGARELLA, 2003).
• Erosão hídrica
É o processo de erosão mais comum nas regiões de
clima intertropical, a exemplo do Brasil. Ela se inicia com o
impacto das gotas de chuva no solo, desagregando as par-
tículas do solo que são removidas e transportadas pelo es-
coamento superficial, sendo depositadas nas partes mais
baixas do terreno, nos leitos dos rios ou transportadas por
estes até os lagos ou oceanos. O tipo de escoamento super-
ficial divide a erosão hídrica em: laminar – provocada pelo
escoamento difuso, que resulta em uma remoção progres-
siva e uniforme das camadas do solo; linear – ocasionada
pela concentração dos fluxos de água em pequenos sulcos
que podem evoluir, pelo aprofundamento da incisão, para
ravinas. Quando acontece uma ampliação no tamanho das
ravinas, provocada, além das águas superficiais, também
por fluxos de águas subsuperficiais (incluindo o lençol
freático), ocorrem as voçorocas, processo erosivo que pode
alcançar grandes proporções e é de difícil remediação.
Figura 9.6 ––––– Chegada de um tsunami à costa do Sri Lanka (26 dez.
2004) (disponível em: http://ciencia.hsw.uol.com.br/tsunami.htm).
Figura 9.7 ––––– Chegada de um tsunami à costa tailandesa (26 dez.
2004) (disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Tsunami).
140
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
• Erosão costeira
É o processo que ocorre ao longo da linha de costa e
se deve à ação das ondas, correntes marinhas e marés.
Tanto acontece nas costas rochosas, assim como nas prai-
as arenosas. Nas primeiras, a ação erosiva do mar forma
as falésias; nas segundas, ocorre a redução da largura da
praia, onde o sedimento removido pelas ondas é transpor-
tado lateralmente pelas correntes de deriva litorânea. Nas
praias arenosas, a erosão constitui um grave problema para
as populações costeiras. Os danos causados vão desde a
destruição das habitações e infra-estrutura, até a perda e
desequilíbrio de habitats naturais (SOUZA et al., 2005).
Os principais fatores responsáveis pela erosão costeira
e conseqüente recuo da linha de costa são: elevação do
nível do mar; diminuição do aporte de sedimentos forneci-
dos à faixa de praia; degradação antropogênica do ambien-
te natural, devido à ocupação desordenada das áreas cos-
teiras; grandes obras de engenharia costeira, a exemplo da
construção de portos, com seus muros, molhes e quebra-
mares.
Subsidências
Abatimento de porções do terreno devido à ruptura
do teto de cavidades subterrâneas, ocasionado pela dimi-
nuição da resistência ao peso das camadas sobrejacentes.
Trata-se de um evento comum em áreas de relevo cárstico,
onde são típicas as dolinas – cavidades subterrâneas forma-
das devido à dissolução de rochas carbonáticas pelas águas,
em áreas de extração de petróleo, gás e água ou de minera-
ção subterrânea (Figuras 9.8 e 9.9).
Solos colapsíveis
Os solos colapsíveis são aqueles que, quando ume-
decidos e mesmo sem serem submetidos a cargas, sofrem
uma redução de volume devido à destruição de sua estru-
tura interna, resultante do aumento do teor de umidade
no solo. Esse comportamento pode gerar sérios danos em
construções.
Solos expansíveis
Estes, constituídos principalmente por argilas da fa-
mília das esmectitas, aumentam de volume ao contato
com a água e diminuem de volume quando perdem água.
Podem danificar construções e taludes de solo, além de
atuarem como agentes desagregadores em maciços ro-
chosos quando preenchem fraturas de rocha.
Ação dos ventos
A ação geológica dos ventos pode ser muito intensa
em algumas regiões do mundo. Em áreas principalmente
de clima árido e semi-árido, constituídas por sedimentos
arenosos, forma as dunas móveis, que se deslocam de
acordo com a direção dos ventos, podendo, nesse movi-
mento, soterrar cidades inteiras. Em áreas constituídas por
sedimentos mais siltosos, como o loess, encontrado prin-
cipalmente na Ásia, forma tempestades de poeira que
abrangem grandes áreas e podem durar várias horas, pre-
judicando diversas atividades econômicas.
RISCOS GEOLÓGICOS NO BRASIL
As catástrofes naturais que mais atingem o Brasil
(ISDR, 2004) são, principalmente, as inundações e os
deslizamentos. Entretanto, no que se refere apenas a ris-
cos geológicos, o país também está sujeito a subsidências,
erosão costeira e erosão hídrica, soterramentos por sedi-
mentação eólica e presença de solos colapsíveis e expan-
sivos.
No que se refere aos desastres naturais que atingiram
o Brasil, a ISDR (2004) contabilizou um total de 4.949
mortes entre 1948 e 2004, sendo que 58.357.034 pesso-
as foram afetadas por esses desastres. Já o IPT (2005)
contabilizou um total de 1.572 mortes por deslizamentos
no período de 1988 a 2005.
Os deslizamentos apresentam ampla distribuição pelo
território brasileiro. A maioria das grandes metrópoles si-
Figura 9.9 ––––– Subsidência do terreno na cidade de Teresina (PI).
Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 – Dolinas.
Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 – Dolinas.
141
RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M.
Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda
tuadas nas regiões Sudeste e Nordeste,
como Rio de Janeiro e Recife, além de
São Paulo, Salvador e Belo Horizonte,
têm sido afetadas por eles. Esse fato está
relacionado, principalmente, à ocupação
desordenada e sem critérios técnicos de
encostas com alta suscetibilidade natu-
ral aos deslizamentos (Figura 9.10).
No Rio de Janeiro, os deslizamentos
ocorrem principalmente nas áreas de
morros da cidade do Rio de Janeiro e na
região serrana do estado. As áreas afeta-
das possuem, geralmente, espessas co-
berturas de solos que recobrem rochas
cristalinas (pertencentes aos domínios de
geodiversidade D20 e D23, na capital, e
D20 e D21, na região serrana, do “Mapa
Geodiversidade do Brasil”, escala
1:2.500.000 (CPRM, 2006)), além de
apresentarem blocos e lascas de rochas
com equilíbrio instável, sujeitos a rola-
mentos e tombamentos, distribuídos em
vários pontos.
Na região Nordeste, a cidade do
Recife sofre com os deslizamentos há
várias décadas, sendo estes concentrados, principalmen-
te, nos morros da área norte da cidade e nos municípios
vizinhos de Olinda, Camaragibe, Cabo de Santo Agosti-
nho e Jaboatão dos Guararapes. Esses morros são forma-
dos por sedimentos argilo-arenosos bastante friáveis (per-
tencentes ao domínio de geodiversidade D6.1 (CPRM,
2006)) (Figuras 9.11 e 9.12).
Assubsidênciasatingem,principalmente,as áreas com
substrato constituído por rochas calcárias, onde os movi-
mentos da água subterrânea dissolvem o carbonato de
cálcio presente nos minerais formadores dessas rochas,
criando espaços vazios no subsolo. O peso das camadas
superiores pode fazer ruir o teto dessas cavidades e gerar
Figura 9.11 ––––– Seqüência de deslizamentos em encostas da
Formação Barreiras (D6.1). Córrego da Andorinha, Camaragibe (PE).
Figura 9.12 ––––– Deslizamento translacional (notar os três patamares
formados pelo deslizamento), que evoluiu para uma grande
voçoroca (Quipapá, PE).
Figura 9.10 ––––– Principais regiões onde ocorrem deslizamentos, com vítimas, no Brasil
(elaborado por Jorge Pimentel).
depressões (dolinas) e grandes afundamentos no terreno.
Exemplos de tais feições são encontrados no Parque Esta-
dual de Vila Velha (Ponta Grossa, Paraná), onde camadas
de calcário subterrâneas, ao se dissolverem, formam aba-
timentos do terreno, de forma circular, com mais de 50 m
de profundidade e 100 m de diâmetro.
Outro exemplo de subsidência situa-se em Cajamar
(São Paulo), onde, em 1986, várias casas na área urbana
do município foram destruídas ou danificadas por
subsidências do terreno provocadas, de acordo com uma
das hipóteses, pela extração excessiva da água subterrâ-
nea que preenchia as grandes cavidades subterrâneas exis-
tentes nos calcários do subsolo.
142
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
A sedimentação eólica é responsável por
elevados prejuízos econômicos a prefeituras,
moradores e empresas situadas em áreas de
ocorrência de dunas móveis (pertencentes ao
domínio de geodiversidade D4.2 (CPRM,
2006)). No Brasil, são encontradas dunas mó-
veis em várias regiões, como em áreas dos es-
tados do Maranhão e Rio de Janeiro.
No litoral do Maranhão, na localidade de
Tutóia, as dunas avançam cobrindo casas e vias
públicas em curto espaço de tempo. Já no es-
tado do Rio de Janeiro, a estrada que liga os
municípios de Cabo Frio e Arraial do Cabo en-
contra-se,constantemente,obstruídapelaareia
proveniente das dunas, o que também afeta
trechos da área urbana de Cabo Frio, obrigan-
do a prefeitura do município a uma constante
mobilização para o trabalho de desobstrução
das vias públicas (Figura 9.13).
Os solos colapsíveis e expansíveis são en-
contrados, principalmente, em regiões com
marcantes diferenças entre as estações secas e
chuvosas, como em Petrolândia (Pernambuco),
onde são registrados danos em várias casas, e
em Campo Novo (Mato Grosso), onde ocorreram afunda-
mentos dos pisos de galpões para estocagem de grãos de
até um metro (NAIME et al., 1996) (Figura 9.14).
A erosão costeira está presente em vários pontos ao
longo da costa brasileira, sendo difícil definir em qual deles
ela é mais intensa. Entretanto, como bons exemplos desse
problema, deve ser citado o grande avanço do mar ao lon-
go da costa do estado de Pernambuco, onde, em locais
como na praia de Boa Viagem (Recife) e nas praias dos
municípios vizinhos de Olinda e Jaboatão dos Guararapes,
foi necessária a construção de estrutura de rocha para ten-
tar conter o avanço do mar (Figuras 9.15 e 9.16). Também
na foz do rio São Francisco, em Sergipe, e na foz do rio
Paraíba do Sul, em Atafona, litoral do Rio de Janeiro, esse
problema está instalado e se intensifica a cada ano, com o
marpreenchendoáreasantesocupadasporsedimentosare-
nosos (D1.4, CPRM op cit.) e até por sedimentos de man-
gues (D1.6, CPRM op cit.).
A erosão hídrica que afeta as áreas do continente
ocasiona problemas muito graves para os estados e os
municípios, tais como: perda de área agricultável (cerca
de 500 mil toneladas de solo no Brasil), destruição de
residências, construções públicas e históricas e vias públi-
cas. Como exemplos, temos Quipapá, Olinda e bacia do
rio Botafogo, em Pernambuco, e Bauru, em São Paulo. As
fontes principais desse problema são, além da falta de
cuidados de manejo com os solos agrícolas,
os desmatamentos e a ocupação inadequada
do solo (Figuras 9.17 e 9.19).
Na região amazônica, ocorre outro tipo
de erosão hídrica – a erosão fluvial –, con-
dicionada pela dinâmica dos rios, que, in-
cessantemente, buscam o equilíbrio, ora ero-
dindo, ora depositando sedimento. Como
resultado dessa dinâmica, ocorre o fenôme-
no denominado “terras caídas”, que são des-
lizamentos, geralmente nas margens dos
grandes rios, causados pela erosão fluvial,
que escava a base do talude marginal de-
sestabilizando o terreno, levando-o ao so-
lapamento. Embora esse fenômeno seja ine-
rente à dinâmica fluvial, uma série de tra-
balhos indica a interferência da atividade ne-
otectônica na região como um dos condi-
cionantes do processo (Figura 9.18).
Figura 9.14 ––––– Danos provocados em casas no município de Petrolândia (PE)
(AMORIM, 2004).
Figura 9.13 ––––– Avanço das dunas sobre vias públicas (Cabo Frio, RJ)
(disponível em: http://www.reservataua.com.br/dunas_costeiras.htm).
143
RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M.
Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda
Figura 9.18 ––––– Fenômeno “terras caídas”, causado pela erosão
fluvial.
Figura 9.15 ––––– Erosão marinha atuante na praia de Boa Viagem
(PE) em 1995.
Figura 9.16 ––––– Muro para contenção da erosão marinha
construído na praia de Boa Viagem (PE), em 1995, no mesmo local
apresentado na figura anterior.
Figura 9.17 ––––– Voçoroca em expansão, localizada na cidade de
Quipapá (PE), que evoluiu após deslizamento da encosta.
Figura 9.19 ––––– Três tipos de erosão em área de cultivo de cana-de-açúcar (1: laminar; 2: sulcos; 3: voçoroca)
(bacia do rio Botafogo, PE).
144
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 9.21 ––––– Registros de ocorrências de sismos no Brasil no período de 1720 a 2007 (figura
elaborada por Jorge Pimentel).
Figura 9.20 ––––– Fenômeno “terras caídas” (Parintins, 2006).
Um grande número de municípios amazônicos possui
suas sedes localizadas às margens dos rios, assentadas so-
bre rochas sedimentares mesozóicas e cenozóicas alteradas
por intensos processos intempéricos, geralmente suscetí-
veis à erosão. Como resultado, são freqüentemente atingi-
das pelo fenômeno “terras caídas”, acarretando perda de
áreasagricultáveis,moradias,gadoevidashumanas.Aação
antrópica atua de forma a acelerar esse processo, seja com
desmatamentos, uso inadequado do solo ou ausência de
infra-estrutura.Comoexemplos,podemsercitadososeven-
tos ocorridos em 2006, no município de Parintins (Figura
9.20), e em 2007, em São Paulo de Olivença.
Não há registros no Brasil de grandes desastres natu-
rais relacionados a terremotos. Embora seja elevado o re-
gistro recente de sismos no país (principalmente nas regi-
ões Norte, Nordeste e Sudeste), os danos materiais são
pequenos.
O Brasil situa-se no centro da Placa Sul-Americana,
com pequenos tremores causados por falhamentos exis-
tentes, ou, então, por reflexos de tremores ocorridos em
países vizinhos. A sismicidade brasileira é bem menos in-
tensa que aquela registrada na região andina; entretanto,
é bastante significativa.
De maneira geral, é aceita a idéia de que o território
brasileiro está a salvo de terremotos, porém, há relatos de
abalos sísmicos no Brasil desde o início do século XVII.
No Brasil, já foram registrados vários tremores com
magnitude acima de 5,0 (tendo um sismo, no estado do
Espírito Santo, em 1955, atingido intensidade 6.5).
Os relatos de sismos em território brasileiro têm au-
mentado significativamente ao longo do último século e
início deste, principalmente, por conta da ocupação pela
população de áreas mais remotas do interior do país e da
instalação de vários sismógrafos por empresas de energia
elétrica (próximo a grandes barragens) (Figura 9.21).
Como exemplo recente, em 9 de dezembro de 2007
ocorreu, na cidade mineira de Itacarambi, um dos maio-
res terremotos registrados no Brasil. O abalo teve uma
intensidade de 4,9 graus na escala Richter, derrubando 76
casas e causando a morte de uma criança de cinco anos
(a primeira morte decorrente de um sismo registrada no
Brasil). Especialistas acreditam que o epicentro do tremor
(causado por uma falha geológica, com aproximadamen-
te 3 km de extensão), localizou-se a 5 km abaixo da super-
fície (Figura 9.22).
Não se registram no Brasil, até a presente data, de-
sastres relacionados a vulcanismo e tsunamis.
145
RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M.
Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda
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Figura 9.22 ––––– Destruição causada por terremoto em Itacarambi (MG)
(disponível em: http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid93085,0.htm).
146
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
ROGÉRIO VALENÇA FERREIRA
Bacharel em Geografia (1993) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialização (1994) em Cartografia
Aplicada ao Geoprocessamento pela UFPE. Mestre (1999) em Geociências pela UFPE e doutor (2008) em Geociências
pela UFPE. Atualmente, é Analista de Recursos Naturais da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço
Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Experiência na área de Geociências, com ênfase em Geografia Física, atuando nas áreas
de Geomorfologia, Sedimentologia e Sensoriamento Remoto.
PEDRO A. DOS S. PFALTZGRAFF
Geólogo formado (1984) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestrado (1994) na área de Geologia
de Engenharia e Geologia Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutorado (2007) em Geologia
Ambiental pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Trabalhou, entre 1984 e 1988, em obras de barragens e
projetos de sondagem geotécnica na empresa Enge Rio – Engenharia e Consultoria S.A. e como geólogo autônomo
entre os anos de 1985-1994. Trabalha na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil
(CPPRM/SGB) desde 1994, onde atua em diversos projetos de Geologia Ambiental.
MARIA ADELAIDE MANSINI MAIA
Geóloga formada (1996) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com especialização em Geoprocessamento
pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Atua desde 1997 na Superintendência Regional de Manaus da Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), nos projetos de Gestão Territorial e
Geoprocessamento, destacando-se os Zoneamentos Ecológico-Econômico (ZEEs) do Vale do Rio Madeira, do estado de
Roraima, do Distrito Agropecuário da Zona Franca de Manaus. Atualmente, dedica-se à coordenação estadual do Mapa
Geodiversidade do Amazonas.
FERNANDA SOARES FLORÊNCIO DE MIRANDA
Graduada em Geologia (2007) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atua na Companhia de Pesquisa de
Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) desde 2007, na área de Geologia Ambiental. Atualmente, faz
parte da equipe de elaboração dos mapas de geodiversidade dos estados do Piauí e Rio Grande do Norte.
RAFAEL FERNANDES BUENO
Formado em Geologia (2003) pela Universidade de São Paulo (USP). De outubro de 2004 a janeiro de 2007, atuou como
geólogo na Subprefeitura de Aricanduva/Formosa, (São Paulo), com identificação e caracterização de áreas de risco em
encosta e margens de córregos. De fevereiro de 2007 a janeiro de 2008, atuou como geólogo na Superintendência
Regional de Manaus, da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), na área
de Gestão Territorial. Desde fevereiro de 2008 atua como geólogo exploracionista, na VALE, na região de Carajás (PA).
147
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL
Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina
10
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO:
TURISMO SUSTENTÁVEL
Marcos Antonio Leite do Nascimento (mnascimento@re.cprm.gov.br)
Carlos Schobbenhaus (schobben@df.cprm.gov.br)
Antonio Ivo de Menezes Medina(ivomedina@terra.com.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Conceitos.................................................................................. 148
Publicações sobre Geoturismo .................................................. 149
Relação entre Geoturismo e Ecoturismo ................................... 149
Prática de Geoturismo no Brasil................................................ 150
Patrimônio Geomorfológico ..................................................... 150
Patrimônio Paleontológico ....................................................... 152
Patrimônio Espeleológico ......................................................... 152
Patrimônio Mineiro................................................................... 153
Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos
(SIGEP) ...................................................................................... 155
Geoparques .............................................................................. 156
Projetos Geoturísticos no Brasil ................................................ 157
Bibliografia ............................................................................... 159
148
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Historiadores vêm registrando a mobilidade do ho-
mem no planeta Terra, ao longo dos tempos, impulsiona-
da por variadas motivações. Nos últimos 100 anos, inten-
sificou-se o deslocamento através do planeta em função
do turismo. Este é um fruto da sociedade industrial e das
conquistas sociais, quando o período anual de descanso
dos que a ele têm acesso vem sendo aproveitado, cada
vez mais, em viagens turísticas.
Uma determinada forma de turismo faz uso da pai-
sagem, na concepção geográfica de espaço (ambiente
ou meio), formada por elementos da biosfera e geosfera,
zona de interseção da litosfera, atmosfera, hidrosfera e
biosfera, explorando-os com o propósito de lazer e re-
creação.
Na superfície terrestre, há uma grande variedade de
atrativos naturais que oferecem, para a prática do turis-
mo, recursos dos mais diferenciados, representados por
elementos dos meios biótico (fauna e flora) ou abiótico
(os diferentes tipos de rochas com suas formas e paisa-
gens, a hidrografia e o clima). Para a prática desse tipo de
turismo, ainda podem ser adicionados a esses recursos os
patrimônios culturais registrados pelo homem primitivo
nas rochas (as inscrições rupestres).
O Brasil, em termos de rochas, minerais e fósseis de
variados tipos e idades, diferentes paisagens (formas de
relevo) e coberturas de solos relacionados, apresenta exem-
plos dos mais didáticos e completos. Assim, há testemu-
nhos com registros que recuam aos primórdios da história
do planeta (rochas com mais de 3 bilhões de anos) e per-
correm todo o tempo geológico até alcançar o presente, a
exemplo das dunas atuais e outros depósitos de sedimen-
tos. Muitos desses registros geológicos constituem, por
um lado, sítios de interesse científico e, por outro, monu-
mentos naturais ou paisagens de beleza cênica excepcio-
nal. Esses monumentos ou paisagens, além de seu valor
natural, podem também apresentar interesses históricos e
culturais associados, recebendo visitas espontâneas ou
guiadas por agências de turismo. Esse tipo de turismo,
que lança mão do patrimônio geológico, é denominado
“geoturismo”.
Certamente, o Brasil possui um dos maiores potenci-
ais do globo para a criação de parques geológicos ou
geoparques por sua grande extensão territorial, aliada à
sua rica geodiversidade, possuindo testemunhos de prati-
camente toda a história geológica do planeta. Registros
importantes dessa história, alguns de caráter único, repre-
sentam parte do patrimônio natural da nação e também
de toda a humanidade. Esses registros são identificados
em áreas relativamente pontuais – os chamados sítios
geológicos, geossítios, geotopos (ou geótopos),
geomonumentos ou locais de interesse geológico – e em
áreas relativamente extensas e bem delimitadas – os
geoparques. Estes incluem grande número de sítios geo-
lógicos (de tipologias diversas ou não) e são comumente
associados a geoformas e paisagens originadas da evolu-
ção geomorfológica da região.
CONCEITOS
O geoturismo pode ser definido como o turismo eco-
lógico com informações e atrativos geológicos. Abrange
a descrição de monumentos naturais, parques geológi-
cos, afloramentos de rocha, cachoeiras, cavernas, sítios
fossilíferos, paisagens, fontes termais, minas desativadas
e outros pontos ou sítios de interesse geológico.
Atividades turísticas ligadas ao patrimônio geológico
já ocorrem há muito tempo, porém, o termo “geoturismo”
passou a ser amplamente divulgado na Europa após ser
definido pelo pesquisador inglês Thomas Hose, em 1995,
em uma revista de interesse ambiental.
De acordo com esse autor, o geoturismo é “a provi-
são de serviços e facilidades interpretativos que permita
aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento da
geologia e geomorfologia de um sítio (incluindo sua con-
tribuição para o desenvolvimento das ciências da Terra),
além de mera apreciação estética”. Em 2000, o mesmo
autor faz uma revisão no conceito de geoturismo, passan-
do a utilizar o termo para designar “a provisão de facilida-
des interpretativas e serviços para promover o valor e os
benefícios sociais de lugares e materiais geológicos e
geomorfológicos e assegurar sua conservação, para uso
de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse re-
creativo ou de lazer”.
Recentemente, RUCHKYS (2007), com base nas defi-
nições da EMBRATUR (1994) para segmentos de turismo
específicos e em definições preexistentes, caracterizou o
geoturismo como sendo “um segmento da atividade tu-
rística que tem o patrimônio geológico como seu princi-
pal atrativo e busca sua proteção por meio da conserva-
ção de seus recursos e da sensibilização do turista, utili-
zando, para isto, a interpretação deste patrimônio tornan-
do-o acessível ao público leigo, além de promover a sua
divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra”.
Todavia, nem todas as definições de geoturismo estão
diretamente relacionadas a temas geológicos. Por exemplo,
em 2001, a National Geographic Society (NGS), em conjun-
to com a Travel Industry Association (TIA), dos EUA, realizou
o estudo denominado “The Geoturism Study”, sobre os há-
bitos turísticos dos norte-americanos (STUEVE et al., 2002).
O estudo define geoturismo como “o turismo que mantém
ou reforça as principais características geográficas de um lu-
gar – seu ambiente, cultura, estética, patrimônio e o bem-
estardosseusresidentes”.Buckley(2003)tambémassumea
definição de geoturismo da mesma forma que NGS e TIA,
entretanto,relacionando-aaoecoturismo.
Porém, percebe-se que esse segmento está mais dire-
tamente relacionado aos aspectos geológicos dos desti-
nos turísticos, como abordado por Dowling e Newsome
(2006). Para esses autores, o prefixo “geo-” da palavra
“geoturismo” está diretamente associado ao de “geolo-
gia” e “geomorfologia” e aos demais recursos naturais da
paisagem, tais como relevo, rochas, minerais, fósseis e
solo com ênfase no conhecimento dos processos que de-
149
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL
Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina
ram origem a tais materiais. Esses autores ainda conside-
ram que o geoturismo pode ser tratado como parte do
ecoturismo, portanto, devendo ser considerado como um
subsegmento.
Neste ano de 2008, foi realizada na Austrália a Glo-
bal Geotourism Conference, tendo como objetivos:
• Promover maior percepção da comunidade e pro-
teção ao nosso patrimônio geológico.
• Reunir geocientistas, profissionais de turismo, aca-
dêmicos e gestores de áreas protegidas, objetivando for-
talecer e promover a disciplina de geoturismo.
• Discutir o papel do geoturismo como uma discipli-
na acadêmica que fornece estrutura e treinamento para
aplicação prática do geoturismo.
• Discutir a essência do geoturismo, ou seja: atrati-
vos e desenvolvimento do geossítio, o conceito de
geoparque, gestão dos visitantes e interpretação e gestão
do geossítio/paisagem.
• Definir o cenário para a integração de atrativos geo-
lógicos como uma componente essencial do turismo e
ecoturismo baseado na natureza.
Esses objetivos atestam que o geoturismo incorpora
o conceito de turismo sustentável, ou seja, o seu objeto
deve beneficiar a população local e os visitantes, mas, ao
mesmo tempo, ser protegido para as gerações futuras.
PUBLICAÇÕES SOBRE GEOTURISMO
Até o momento, existe apenas uma publicação acer-
ca desse tema no Brasil. Foi recentemente publicado o
livro intitulado “Geodiversidade, Geoconservação e
Geoturismo: Trinômio Importante para a Proteção do
Patrimônio Geológico” de NASCIMENTO et al. (2008) (Fi-
gura 10.1a), sob o patrocínio da Sociedade Brasileira de
Geologia (SBGeo). Em outros países, esse tema é aborda-
do em livros, periódicos e revistas, porém, pouco acessí-
veis no Brasil.
Há dois livros que tratam diretamente do termo
“geoturismo”. O primeiro – “Geoturismo: Scoprire le
Bellezze della Terra Viaggiando” – foi escrito por Matteo
Garofano, na ocasião presidente da Associazione
Geoturismo da Itália. O livro, atualmente em sua terceira
edição, foi publicado em 2003. Trata dos principais locais
geoturísticos da Itália, o que proporciona ao leitor uma
viagem por aquele país, além de mostrar sua geologia e
trazer sugestões de como organizar uma viagem
geoturística. O segundo, lançado no início de 2006 –
“Geotourism: Sustainability, Impacts and Management” –
, foi editado por Ross Dowling e David Newsome (Figura
10.1b). O livro, além de trazer os conceitos básicos sobre
geoturismo, permite ao leitor conhecer a prática desse
segmento do turismo em diversos países, tais como Esta-
dos Unidos da América, Inglaterra, Irlanda, Espanha, Chi-
na, África do Sul, Austrália e Irã. O livro contempla ainda
inúmeras informações sobre os diferentes geoparques
encontrados no mundo (DOWLING e NEWSOME, 2006).
Outras publicações, mais voltadas para a conserva-
ção do patrimônio geológico (a geoconservação), algu-
mas vezes dedicam capítulos ao tema “geoturismo”. Den-
tre as principais, destacam-se: “Geology on your Doorstep:
The Role of Urban Geology in Earth Heritage Conservation”
(BENNETT et al., 1996); “Geological Heritage: Its
Conservation and Management” (BARETTINO et al., 2000);
“Patrimônio Geológico e Geoconservação: a Conservação
da Natureza na sua Vertente Geológica” (BRILHA, 2005).
RELAÇÃO ENTRE GEOTURISMO E
ECOTURISMO
No Brasil, a definição mais utilizada para ecoturismo
foi dada pelo Grupo de Trabalho Interministerial em
Ecoturismo, que descreve esse segmento como “a ativi-
dade turística que utiliza, de forma sustentável, o
patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e
busca a formação de uma consciência ambientalista atra-
vés da interpretação do ambiente, promovendo o bem-
estar das populações envolvidas” (EMBRATUR, 1994).
Essa definição enfatiza o uso do recurso natural origi-
nal ou pouco explorado como cenário para o desenvolvi-
mento do ecoturismo, além de levantar princípios nos quais
a atividade deve se desenvolver, tais como sustentabilidade
dos recursos, participação da comunidade e consciência
ecológica por meio de educação e interpretação ambiental.
Dessa forma, o ecoturismo caracteriza-se por ser um
segmento do turismo de natureza que usa o patrimônio
natural de forma sustentável e que busca sua proteção
por meio da sensibilização e da educação ambiental. No
entanto, o termo “patrimônio natural” vai além dos as-
pectos relacionados ao meio biótico (ou à biodiversidade).
A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mun-
dial, Cultural e Natural, adotada em 1972 pela Conferên-
cia Geral da Organização das Nações Unidas para Educa-
ção, a Ciência e a Cultura, constitui um dos instrumentos
mais importantes na conceituação e criação de um
patrimônio de valor universal. Em seu artigo 2º (UNESCO,
1972), considera como “patrimônio natural”:
Figura 10.1 ––––– Capas dos livros conhecidos, até o momento, sobre
geoturismo. a)a)a)a)a) “Geodiversidade, Geoconservação e Geoturismo”
(NASCIMENTO et al., 2008); b)b)b)b)b) “Geotourism: Sustainability, Impacts
and Management” (DOWLING e NEWSOME, 2006).
150
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
• os monumentos naturais constituídos por forma-
ções físicas e biológicas ou por conjuntos de formações
de valor universal excepcional do ponto de vista estético
ou científico;
• as formações geológicas e fisiográficas, e as zonas
estritamente delimitadas que constituam habitat de espé-
cies animais e vegetais ameaçadas de valor universal ex-
cepcional do ponto de vista estético ou científico;
• os sítios naturais ou as áreas naturais estritamente
delimitadas detentoras de valor universal excepcional do
ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza
natural.
Assim, o “patrimônio” natural não envolve somente
as formações biológicas, mas também as geológicas; po-
rém, no ecoturismo, as formações geológicas não são
tratadas com mesmo grau de profundidade, embora os
aspectos associados ao meio abiótico, especialmente o
relevo, também sejam atrativos importantes para o
ecoturismo. Os maiores apelos a esse segmento são, sem
dúvida, os atrativos relacionados ao meio biótico (fauna
e flora).
Considerando a característica marcante de privilegiar
os atrativos associados ao meio biótico, pesquisadores
preocupados em valorizar e em conservar o patrimônio
associado ao meio abiótico vêm promovendo a divulga-
ção do geoturismo como um novo segmento do turismo
de natureza.
Portanto, entende-se que o ecoturismo seria o seg-
mento do turismo que trata mais especificamente do meio
biótico (biodiversidade) como atração turística, enquanto
o geoturismo teria o meio abiótico (geodiversidade) como
principal atrativo. Deve-se lembrar, no entanto, que am-
bos os segmentos estão sempre se desenvolvendo, de for-
ma a promover a proteção do patrimônio natural, históri-
co e cultural da região visitada.
PRÁTICA DE GEOTURISMO NO BRASIL
No Brasil, uma das primeiras providências para se
desenvolver o geoturismo é a identificação de aspectos
geológicos que possam vir a se tornar atrativos turísticos.
Sem dúvida, muitos exemplos de locais de interesse
geoturístico já eram atrações, mesmo antes de os
geocientistas os terem estudados. Alguns são verdadeiros
cartões-postais do Brasil, que servem, inclusive, para iden-
tificar o país na atração de turistas do exterior, com desta-
que para Cataratas do Iguaçu, Pão de Açúcar e Lençóis
Maranhenses.
O Brasil, por sua geodiversidade, é detentor de inú-
meras feições geológicas que possuem potencial para o
geoturismo. Em decorrência, são diversos os exemplos
de locais propícios à prática dessa atividade turística. A
seguir, serão apresentados exemplos de alguns tipos em
que o patrimônio geológico pode ser dividido em:
geomorfológico, paleontológico, espeleológico e mi-
neiro.
PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO
Em várias regiões brasileiras, o relevo se destaca, pro-
porcionando paisagens de grande beleza cênica formadas
por chapadas, serras, picos, morros e cachoeiras, cujos
melhores exemplos são: Chapada Diamantina (BA),
Chapada dos Veadeiros (GO), Chapada dos Guimarães
(MT); serra da Capivara (PI); Sete Cidades (PI); Pão de Açú-
car (RJ); Pedra da Gávea (RJ); Cataratas do Iguaçu (PR);
picos vulcânicos do Cabugi (RN) e de Nova Iguaçu (RJ);
serra da Mantiqueira (MG-RJ-SP); Aparados da Serra (RS e
SC), dentre muitos outros (Figuras 10.2, 10.3, 10.4).
Cabe destacar os Aparados da Serra, próximo ao li-
toral, na divisa dos estados Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, cuja paisagem sobressai pela presença de um
formidável conjunto de cânions escavados no planalto
vulcânico da serra Geral e voltados para a planície litorâ-
nea quase mil metros abaixo. Do ponto de vista geológi-
co, essa região testemunha as conseqüências cataclísmicas
da migração continental que separou a América do Sul
da África, através da abertura do oceano Atlântico, pas-
Figura 10.3 – Serra da Mantiqueira, na região de Taubaté (SP),
formada por granitos e gnaisses (fotografia de Antonio Liccardo).
Figura 10.2 ––––– Morro do Pai Inácio (à direita) e morro do Camelo
(à esquerda), na chapada Diamantina (BA), testemunhos erosivos
formados por arenitos e conglomerados
(fotografia de Antonio Liccardo).
151
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL
Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina
sando pelo desenvolvimento de um ambiente desértico
sucedido pelo maior derrame vulcânico continental do
planeta. Essa área, hoje, apresenta meio ambiente e infra-
estrutura qualificados que a transformam em um pólo
turístico de grande expressão no sul do Brasil (Figura
10.5).
As diferentes formas da superfície da Terra ou
geoformas constituem o relevo, que resulta da ação de
forças ou agentes que agiram por milhões de anos. Os
agentes internos ou endógenos são processos estruturais
que atuam de dentro para fora da Terra, como tectonismo,
vulcanismo e abalos sísmicos. Os agentes externos ou
exógenos são processos esculturais que atuam externamen-
te, modificando a paisagem, como intemperismo, ação
das águas das chuvas, mares e rios e dos seres vivos, entre
outros. Cumpre referir ainda a ação de agentes extrater-
restres representados por estruturas de impacto de
meteoritos ou astroblemas que atingiram a Terra no pas-
sado geológico (CROSTA, 2002).
A atuação dos processos erosivos, com predomínio
de erosão diferencial, juntamente com a atuação dos pro-
cessos de intemperismo, proporciona o desgaste da ro-
cha, com a conseqüente formação do cenário atual. Os
sedimentos erodidos durante a formação desse modelado
do relevo são, em parte, transportados pelos rios para o
mar, onde são retrabalhados pelas ondas e hoje constitu-
em os depósitos arenosos que ocorrem ao longo do litoral
brasileiro.
No litoral, a paisagem se destaca pela presença de
falésias, escarpas costeiras abruptas não-cobertas por
vegetação, que se localizam na linha de contato entre a
terra e o mar, sendo do tipo ativa ou inativa. Elas ocorrem
em praticamente todo o litoral brasileiro, porém com maior
destaque na região Nordeste, especialmente entre os esta-
dos do Ceará e da Bahia. Em geral, são formadas por
arenitos e conglomerados (rochas sedimentares) associa-
das principalmente ao Grupo Barreiras. Como alguns exem-
plos geoturísticos, têm-se as falésias de Pipa (RN) (Figura
10.6), Ponta Grossa (CE) e Porto Seguro (BA).
Outro atrativo paisagístico do litoral são as dunas
geradas por acumulação de areia depositada pela ação
do vento dominante, podendo ser fixas ou móveis. Mui-
tas dessas dunas são consideradas cartões-postais dos
lugares onde ocorrem. É o caso das dunas do morro do
Careca (RN) e dos Lençóis Maranhenses (MA) (Figura
10.7).
A intenção de utilizar a paisagem (e seu relevo) como
atração geoturística vem da necessidade de cobrir uma la-
cuna do ponto de vista da informação. A idéia é permitir
que o turista não só contemple aquelas paisagens, como
também entenda algo sobre os processos geológicos res-
ponsáveis por sua formação, o que acarretaria maior valori-
zação do cenário.
Figura 10.4 – Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro. Os olhos da
“Cabeça do Imperador” são formados por erosão diferencial no
contato entre o granito (acima) e o gnaisse (abaixo)
(fotografia de Ivo Medina).
Figura 10.5 ––––– Cânion Fortaleza, divisa entre Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, esculpido nas escarpas do planalto dos Aparados da
Serra, exibindo 13 derrames de lavas do vulcanismo serra Geral
(fotografia de Renato Grimm).
Figura 10.6 – Falésia da praia da Pipa (RN)
(fotografia de Guilherme Pierri).
152
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO
Apaleontologiaéaciêncianaturalqueestudaavidado
passado da Terra e o seu desenvolvimento ao longo do tem-
po geológico, bem como os processos de integração da in-
formaçãobiológicanoregistrogeológico,istoé,aformação
dos fósseis. O fascínio em saber algo sobre o passado da
vida na Terra faz com que os locais onde existem esses regis-
tros do passado sejam hoje sítios paleontológicos bastante
visitados. No Brasil, são inúmeros os sítios paleontológicos
com enfoque turístico, destacando-se Chapada do Araripe
(CE-PE), Vale dos Dinossauros (PB), Parque dos Dinossauros
(MG), Floresta Petrificada do Rio Grande do Sul, Floresta Pe-
trificada do Tocantins Setentrional, rica fauna pleistocênica
da serra da Capivara (PI), dentre muitos outros. Os principais
atrativosdeumsítiopaleontológicosãoosfósseis,quecom-
preendem restos ou vestígios deixados nas rochas por ani-
mais e/ou plantas no passado geológico.
Um excelente exemplo de sítios paleontológicos com
fins geoturísticos é o Geoparque Araripe, primeiro
geoparque nacional com reconhecimento da UNESCO. Este
foi definido principalmente pela relevância paleontológica.
Provavelmente, a região é a mais rica em depósitos de
vertebrados fósseis do Brasil e um dos mais importantes
do mundo, chamando a atenção pelo excelente estado de
preservação. É de lá a origem daqueles milhares de fósseis
com peixes encontrados nas feiras e lojas por todo o Brasil
– vale salientar que o comércio de fósseis é crime. No
geoparque, ocorrem fósseis de dinossauros (mais raros),
bem como de peixes, tartarugas, crocodilianos,
pterossauros, foraminíferos, crustáceos, gastrópodes,
ostracóides, bivalves e equinóides. A região oferece uma
possibilidade única para se compreender parte importante
do passado geológico e a vida na Terra.
Em muitos sítios paleontológicos são encontradas
também inscrições rupestres (pinturas e gravuras) repre-
sentando aspectos do dia-a-dia, danças, ritos e cerimô-
nias dos antigos habitantes da região, além de figuras de
animais, alguns já extintos. Essas inscrições pré-históri-
cas, com idades entre 6 e 12 mil anos, estão gravadas
em paredões de rochas. Vale salientar que as inscrições
rupestres fazem parte dos sítios arqueológicos; todavia,
estes são considerados patrimônio cultural e protegidos
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
nal (IPHAN) e, portanto, enquadram-se no turismo cul-
tural. No entanto, é notória sua forte associação a fei-
ções geológicas importantes (Figuras 10.8, 10.9).
PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO
Esse tipo de patrimônio se refere às cavernas que se
desenvolvem, principalmente, em calcários e mármores,
emboratambémemarenitos,quartzitosegranitos.Quando
geradas por processos de dissolução pela ação da água,
as cavernas se formam em calcários (rocha sedimentar) e
mármores (rocha metamórfica), gerando o relevo cárstico.
Esse tipo de relevo apresenta um conjunto de feições muito
características que, além das próprias cavernas, configu-
ram uma grande beleza cênica, como maciços rochosos
expostos, paredões ou escarpas, vales, torres, depressões,
dolinas, lagoas, além das próprias cavernas.
Figura 10.7 – Dunas dos Lençóis Maranhenses (MA)
(fotografia de Luiz Fernandes)
Figura 10.8 – Fóssil de libélula (símbolo do Museu de Paleontologia
de Santana do Cariri) (fotografia de Patrícia Rose).
Figura 10.9 – Fóssil de peixe cladocyclus
(fotografia de Alexandre Sales).
153
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL
Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina
Segundo AULER e ZOGBI (2005), o Brasil é um país
favorável à descoberta de novas grutas. Existem apenas cer-
ca de 4.000 registradas, mas o potencial brasileiro é, no
mínimo, 10 vezes maior. As grutas encontram-se distribuí-
das principalmente desde o sul de Minas Gerais até o cen-
tro-oeste da Bahia, passando pelo leste de Goiás. Estas gru-
tas estão associadas aos calcários do Grupo Bambuí. Um
dos principais locais de ocorrência é a região de Lagoa San-
ta (MG) (BERBERT-BORN, 2002), berço da espeleologia bra-
sileira, com mais de 700 grutas registradas (Figura 10.10).
Na Bahia, destaca-se a Gruta do Padre, com 16,3 km
de extensão – terceira maior caverna descoberta no país.
Em sua porção central, as principais cavernas de interesse
ocorrem na região da Chapada Diamantina, com várias ca-
vernas de grande extensão e beleza, como a Lapa Doce.
Registra-se, ainda, a região de Campo Formoso, que apre-
senta as duas maiores cavernas do país: Toca da Boa Vista
(AULER e SMART, 2002) e Toca da Barriguda, com 105 km
e 32 km de extensão, respectivamente.
No sul do estado de São Paulo e no Paraná, é possível
encontrar mais de 300 cavernas de grande beleza. No lado
paulista, por exemplo, a maior concentração está no Par-
que Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), com algu-
mas das cavernas mais ornamentadas do país, como a Ca-
verna Santana e a Caverna do Diabo (KARMANN e FERRARI,
2002) (Figura 10.11).
Em boa parte do Brasil, apesar de existirem muitas
cavernas, ainda não foram reveladas grutas de grande por-
te.NoCeará,umadasmaisconhecidaséaGrutadeUbajara,
um dos parques nacionais mais antigos do Brasil. No Rio
Grande do Norte, a região entre Felipe Guerra e Apodi é
onde se concentra a maior quantidade de cavernas, com
destaqueparaaCasadePedradeMartins,consideradauma
das maiores cavernas em mármore do Brasil.
Muitas cavernas no Brasil já são consideradas de uso
turístico.Essetipodegeoturismo,tambémdenominado“tu-
rismo espeleológico” (ou espeleoturismo), é a prática pura-
mente esportiva e recreativa de visitação às cavernas, mas
que deve ser realizada com o auxílio de especialistas. Para
AULER e ZOGBI (2005), a abertura de uma caverna para o
turismo em massa provoca uma série de intervenções que
podemviraalteraroumesmodanificarpermanentementea
caverna. A instalação de luz artificial, por exemplo, pode
levar à alteração da temperatura e da umidade da caverna.
Uma das cavernas mais impactadas pela adaptação para o
turismo é a Furna dos Morcegos (SE), próxima a Paulo Afon-
so (BA). Nessa gruta, a escavação de um elevador na rocha e
a construção de um enorme chafariz descaracterizou
irreversivelmente o ambiente da caverna.
PATRIMÔNIO MINEIRO
A mineração apresenta também um potencial
geoturístico particular no Brasil, atividade esta já bastante
difundida em outros países. Como exemplos, são citadas
as minas de ouro de Morro Velho (Nova Lima) e da Passa-
gem (Mariana), em Minas Gerais; tungstênio, em Brejuí,
(Currais Novos – RN); chumbo, no vale da Ribeira (SP);
cobre, em Camaquã (Caçapava do Sul – RS); carvão (RS),
dentre outras. Vale salientar que muitas cidades brasileiras
foram construídas ao redor de minas e que a cultura mi-
neira encontra-se associada a essa população.
A mina da Passagem em Mariana (MG) é uma das
maiores minas de ouro abertas à visitação no mundo. Foi
a primeira mina de ouro mecanizada e industrial no Brasil.
Atualmente, representa um bom exemplo de utilização de
minas antigas para a prática do geoturismo. Como meio
de acesso às galerias subterrâneas, os visitantes utilizam
um trole (Figura 10.12). Durante a visitação, recebem in-
formações a respeito da história da mina e dos métodos
antigos de exploração do ouro. Há alguns anos, a mina
também passou a ser utilizada para mergulho nas galerias
e túneis inundados por águas do lençol freático. No local,
há infra-estrutura de apoio com restaurante e banheiro,
além de uma loja de artesanato e um museu com peças
da época do ciclo do ouro (RUCHKYS, 2007).
A mina do Camaquã (RS), a primeira lavra de cobre
do Brasil (foi fundada em 1870), aponta para a perspecti-
va de se tornar um dos pontos turísticos mais visitados na
região de Caçapava do Sul (PAIM, 2002).
Figura 10.10 ––––– Entrada da Gruta da Lapinha, caverna aberta à
visitação turística na APA Carste de Lagoa Santa (MG)
(fotografia de Dionísio Azevedo).
Figura 10.11 ––––– Caverna do Diabo (Parque Estadual Turístico do
Alto Ribeira – PETAR – SP).
154
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
A mina Brejuí (Currais Novos – RN) é outro exemplo
de sucesso no que se refere à adaptação de uma mina em
atrativo turístico. Ela foi uma das maiores produtoras de
scheelita da América do Sul, com sua exploração iniciada
em 1943 e tendo seu apogeu durante a Segunda Guerra
Mundial. Em 1996, a mina teve suas atividades paralisa-
das, retornando a elas no ano de 2005. No entanto, já a
partir de 2000, as atividades voltadas ao turismo começa-
ram a ser implantadas. Hoje, a mina Brejuí é considerada o
maior parque temático do Rio Grande do Norte, sendo visi-
tada diariamente por turistas e estudantes oriundos de to-
das as regiões do Brasil e do exterior, catalogando-se mais
de 26.000 turistas em visita à mina. Os turistas e estudan-
tes podem desfrutar das riquezas históricas e culturais da
mina, por meio da visitação aos túneis, dunas de rejeito,
museu mineral e outras atrações (Figura 10.13).
Outro aspecto é valorizar e preservar, também, rotei-
ros de antigos circuitos mineiros como a Estrada Real,
que liga Diamantina (MG) a Parati (RJ), passando por Ouro
Preto (MG). Ao longo da Estrada Real, o passado e o pre-
sente registram a história, a identidade e a cultura da re-
gião. O conhecimento geocientífico desse roteiro valoriza
o patrimônio geológico mineiro, tornando-o acessível às
comunidades locais e aos visitantes.
O mesmo caminho que, no século XVIII, transportou a
riqueza de Minas Gerais para o resto do mundo, hoje pode
promover e integrar as diversas oportunidades de negócios,
comarevitalizaçãodaáreadeinfluênciadaantigarotacolo-
nial e o aproveitamento de sua potencialidade nos vários
segmentos: turístico, histórico, cultural, ecológico,
gastronômico, rural, negócios, religioso e aventura.
Ao longo de quase 1.400 km que cortam 162 muni-
cípios em Minas Gerais, 7 em São Paulo e 8 no Rio de
Janeiro, a Estrada Real pode servir de trajeto turístico a
milhares de viajantes de todo o mundo, agregando im-
portância e valor à indústria mineira de turismo.
Hoje, o viajante encontra sérias dificuldades para apro-
veitar a potencialidade da Estrada Real, especialmente pela
ausência de informações integradas sobre seus atrativos
(Figura 10.14).
Figura 10.13 ––––– Bica e vagonete utilizados para descida e retirada
do minério (mina Brejuí, Currais Novos – RN) (fotografia de Joaquim
das Virgens).
Figura 10.12 ––––– Acesso à mina por meio de trole (mina da
Passagem, Mariana, MG) (fotografia de Dionísio Azevedo).
Figura 10.14 – Estrada Real (MG e RJ). Disponível em: <http://www.estradareal.org.br/mapas/index.asp>.
155
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL
Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina
COMISSÃO BRASILEIRA DE SÍTIOS
GEOLÓGICOS E PALEOBIOLÓGICOS (SIGEP)
Em março de 1997, foi instituída a Comissão Brasi-
leira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), em
consonância com o Working Group on Geological and
Palaeobiological Sites do Patrimônio Mundial da UNESCO.
Essa comissão hoje é representada pelas seguintes insti-
tuições: Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associa-
ção Brasileira de Estudos do Quaternário (ABEQUA), De-
partamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Institu-
to Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), Petróleo Brasileiro S.A.
(PETROBRAS), Companhia de Pesquisa de Recursos Mi-
nerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), Socie-
dade Brasileira de Espeleologia (SBE), Sociedade Brasilei-
ra de Geologia (SBGeo), Sociedade Brasileira de
Paleontologia (SBP).
A criação dessa comissão partiu da premissa de que
compete a cada nação identificar e delimitar os diferentes
bens situados em seu território, de acordo com o artigo
3º da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural (UNESCO, 1972), adotada pelo Brasil
em 1989. A missão da SIGEP insere-se no artigo 2º dessa
convenção que trata dos monumentos naturais e das for-
mações geológicas e fisiográficas com valor universal ex-
cepcional, do ponto de vista da ciência, conservação ou
beleza natural.
Para tanto, a comissão realiza inventário ou cadastro
baseada em avaliações técnico-científicas, envolvendo os
membros da comissão e a comunidade geocientífica em
geral, baseados no teor das propostas apresentadas. Uma
vez a proposta aprovada, segue-se a descrição científica
do sítio para cadastro (inventariação). Como referido no
sítio da SIGEP, as propostas aprovadas são descritas pela
comunidade geocientífica e, em seguida, amplamente
divulgadas, prestando-se ao “fomento da pesquisa cientí-
fica básica e aplicada, à difusão do conhecimento nas áre-
as das ciências da Terra, ao fortalecimento da consciência
conservacionista, ao estímulo a atividades educacionais,
recreativas ou turísticas, sempre em prol da participação e
do desenvolvimento socioeconômico das comunidades lo-
cais”. Todos esses objetivos vêm acompanhados da ne-
cessidade de estabelecer estratégias próprias de
monitoramento e de manutenção da integridade dos pon-
tos geológicos magnos do Brasil. A comissão objetiva,
ainda, “fomentar ações de conservação, principalmente
de sítios que estão em risco ou processo de depredação e,
mesmo, extinção”. Alguns sítios geológicos descritos pela
SIGEP representam os embriões de propostas de futuros
geoparques.
Os sítios são classificados por seu tipo mais significa-
tivo, em diversas categorias, perfazendo, até o momento,
um total de 88 sítios descritos, assim distribuídos:
Até o momento, abrangendo o assunto, foram publi-
cados dois volumes: em livro (SCHOBBENHAUS et al.,
2002) e pela internet (WINGE et al., 2005); um terceiro se
encontra em preparação. Do total de sítios descritos, 35%
apresentam atrativos para o geoturismo, alguns já utiliza-
dos com essa finalidade desde longa data. Seguem alguns
exemplos desses sítios de valor geoturístico:
• Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB: o mais
marcante registro de pegadas de dinossauros do Brasil
(LEONARDI e CARVALHO, 2002).
• A Costa do Descobrimento, BA: a geologia vista
das caravelas (DOMINGUEZ et al., 2002).
• Pão de Açúcar RJ: cartão-postal geológico do Brasil
(SILVA e ANDRADE RAMOS, 2002).
• Vila Velha, PR: impressionante relevo ruiniforme
(MELO et al., 2002).
• Parque Nacional do Iguaçu, PR: cataratas de fama
mundial (SALAMUNI et al., 2002).
• Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, GO:
sítio de grande beleza cênica do centro-oeste brasileiro
(DARDENNE e CAMPOS, 2002).
• Parque Nacional de Sete Cidades, PI: magnífico mo-
numento natural (DELLA FÁVERA, 2002).
• Arquipélago de Fernando de Noronha, PE: registro
de monte vulcânico do Atlântico Sul (ALMEIDA, 2002).
• Poço Encantado, Chapada Diamantina (Itaetê) (BA):
caverna com lago subterrâneo de rara beleza e importân-
cia científica (KARMANN, 2002).
Astroblema (3), Espeleológico (10), Estratigráfico (1),
Geomorfológico (13), Hidrogeológico (1), História da Ge-
ologia e da Mineração (6), Ígneo (2), Marinho (5),
Paleoambiental (11), Paleontológico (28) e
Sedimentológico (8) (Figura 10.15).
Figura 10.15 ––––– Mapa de localização dos sítios geológicos e
paleontológicos publicados pela SIGEP. Disponível em: <http://
www.unb.br/ig/sigep/mapindex/mapindex.htm>.
156
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
• Domo de Araguainha, GO/MT: o maior astroblema
da América do Sul (CROSTA, 2002).
• Monte Roraima, RR: sentinela de Macunaíma (REIS,
2006).
• Membro Romualdo da Formação Santana, Chapada
do Araripe, CE: um dos mais importantes depósitos
fossilíferos do cretáceo brasileiro (KELLNER, 2002).
• Pico de Itabira, MG: marco estrutural, histórico e
geográfico do Quadrilátero Ferrífero (ROSIÈRE et al.,
2005).
• Granito do Cabo de Santo Agostinho, PE: único
granito conhecido de idade cretácea do Brasil (NASCIMEN-
TO e SOUZA, 2005).
• Sítio Peirópolis e Serra da Galga, Uberaba, MG: ter-
ra dos dinossauros do Brasil (RIBEIRO e CARVALHO, 2007).
• Bacia São José de Itaboraí, RJ: berço dos mamífe-
ros no Brasil (BERGQVIST et al., 2008).
• Gruta do Lago Azul, Bonito, MS: onde a luz do sol
se torna azul (BOGGIANI et al., 2008).
• Itaimbezinho e Fortaleza, RS/SC: magníficos
canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra do pla-
nalto vulcânico da Bacia do Paraná (WILDNER et al., 2006).
• Carste e Cavernas do Parque Estadual Turístico do
Alto Ribeira (PETAR) (SP): sistemas de cavernas com paisa-
gens subterrâneas únicas (KARMANN e FERRARI, 2002).
• Morro do Pai Inácio, BA: marco morfológico da
Chapada Diamantina (PEDREIRA e BOMFIM, 2002).
GEOPARQUES
Os geoparques ou geoparks, criados por iniciativa
da UNESCO (2004), envolvem áreas geográficas com
limites bem definidos, onde sítios do patrimônio geo-
lógico constituem parte de um conceito holístico de
proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Es-
sas áreas envolvem diversos geossítios ou locais de in-
teresse do patrimônio geológico-paleontológico de es-
pecial importância científica, raridade ou beleza, cuja
importância é realçada não unicamente por razões geo-
lógicas, mas também em virtude de conterem aspectos
adicionais de valor arqueológico, ecológico, histórico
ou cultural.
Um geoparque, no conceito da UNESCO, é uma área
que apresenta um significativo patrimônio geológico, for-
te estrutura de gestão e estratégia de desenvolvimento
econômico sustentável. Um geoparque cria oportunida-
des de emprego para as pessoas que ali vivem, trazendo
benefício econômico sustentável e real, normalmente atra-
vés do desenvolvimento do turismo sustentável. No âm-
bito de um geoparque, o patrimônio geológico e o co-
nhecimento geológico são compartilhados com o público
em geral e relacionados aos aspectos mais amplos do am-
biente natural e cultural, muitas vezes estreitamente rela-
cionados à geologia e à paisagem. Estas têm influenciado
profundamente a sociedade, a civilização e a diversidade
cultural de nosso planeta. Assim, a criação de um
geoparque pretende estimular a sustentabilidade econô-
mica das comunidades locais. As atividades econômicas
baseadas na geodiversidade podem ser de diversos tipos,
desde a produção de artesanato à criação de atividades
comerciais de apoio ao visitante do geoparque, tais como
alojamento, alimentação, animação cultural etc. Os
geoparques possuem assim, de modo quase imediato, uma
inegável ligação com o geoturismo.
Nas palavras de Chris Woodley-Stewart, gerente do
Geoparque North Pennines (AONB), Reino Unido,
“geoparques não tratam apenas de rochas – eles também
tratam de pessoas. É fundamental que elas se envolvam –
nós queremos ver tantas pessoas quanto possível sair e
desfrutar a geologia da área. Nosso objetivo é maximizar
o geoturismo [...] em benefício da economia local e para
ajudar as pessoas a compreender a evolução de sua paisa-
gem local” (UNESCO, 2006).
Em 2004, a UNESCO criou a Rede Global de
Geoparques (Global Geoparks Network), cujos fundamen-
tos estão expressos em Eder e Patzak (2004), que realçam
o patrimônio geológico da Terra como ferramenta para a
educação pública e o desenvolvimento sustentável. Des-
tacam o valor de suas paisagens e das formações geológi-
cas, testemunhas-chaves da história da vida e da evolução
do planeta. A iniciativa da UNESCO de apoiar a criação de
geoparques é uma resposta a um forte anseio expresso,
nos anos recentes, por instituições geológicas, geocientistas
e organizações não-governamentais. Acrescentou-se, as-
sim, uma nova dimensão à Convenção para a Proteção do
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972),
pondo em evidência o potencial de interação entre desen-
volvimento socioeconômico-cultural e conservação do
meio ambiente natural.
A Rede Global de Geoparques assistida pela
UNESCO fornece uma plataforma de cooperação ativa
entre especialistas e praticantes do patrimônio geológi-
co. Sob a égide da UNESCO e com o intercâmbio entre
os parceiros da rede mundial, importantes sítios geoló-
gicos nacionais ganham reconhecimento internacional
e proveito, com o intercâmbio de conhecimentos,
expertise, competência e experiência pessoal com ou-
tros geoparques.
Desde o seu lançamento, em 2004, 57 geoparques
nacionais de alta qualidade, selecionados de 18 paí-
ses, são atualmente membros da Rede Global de
Geoparques (Austrália, Áustria, Brasil, China, Croácia,
República Checa, França, Alemanha, Grécia, Irlanda,
Itália, Irã, Malásia, Noruega, Portugal, Romênia,
Espanha, Reino Unido).
Em 2006, foram divulgadas as diretrizes e os critérios
para os geoparques nacionais que procuram a assistência
da UNESCO para aderir à Rede Global de Geoparques,
incluindo formulários de avaliação (UNESCO, 2006).
A proteção e o desenvolvimento sustentável do
patrimônio geológico e da geodiversidade, com a iniciati-
va de geoparques, contribuem para os objetivos da Agen-
157
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL
Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina
da 21, a Agenda da Ciência para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento para o século XXI, adotada pela Confe-
rência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desen-
volvimento (UNCED, Rio de Janeiro, 1992) e confirmada
pela Cúpula de Johannesburg na cidade sul-africana entre
26 de agosto e 4 de setembro de 2002.
Diversas áreas no Brasil com características de se tor-
narem parques geológicos foram identificadas, mas ainda
precisam ser devidamente avaliadas. Algumas dessas pro-
postas se encontram em estudo pelo Projeto Geoparques
da CPRM/SGB. Outras, com potencial de se transforma-
rem em futuros geoparques, poderão ser identificadas. O
estudo deverá, como primeiro passo, elaborar um docu-
mento básico, com a colaboração de geocientistas de uni-
versidades, governos estaduais e de outras entidades en-
volvidas com o tema, contendo propostas de criação de
geoparques nacionais. Em um passo seguinte, algumas
dessas propostas serão avaliadas sob o enfoque das dire-
trizes e critérios definidos pela UNESCO, objetivando sua
candidatura à inserção na Rede Global de Geoparques (Fi-
gura 10.16).
O Geoparque Chapada do Araripe (CE) é o primeiro
geoparque incorporado pela UNESCO à Rede Global de
Geoparques, por iniciativa do governo do estado do Cea-
rá, em parceria com a Universidade Regional do Cariri.
Esse geoparque, que se estende por uma área superior a
5.000 km2
, possibilita ao visitante uma abrangente com-
preensão da origem, evolução e estrutura atual da bacia
sedimentar do Araripe. Além disso, nele são desenvolvi-
dos projetos inovadores de caráter social, para os quais se
busca o apoio e a participação de entidades públicas, pri-
vadas, não-governamentais e do conjunto da sociedade.
Propostas de novos aspirantes a geoparques, com
seus trabalhos já mais avançados, estão sendo realiza-
das, atualmente, para o Quadrilátero Ferrífero (MG),
Alto Ribeira (SP-PR), Bodoquena-Pantanal (MS) e Cam-
pos Gerais (PR). O primeiro é uma iniciativa do governo
de Minas Gerais, com apoio da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Universidade Fe-
deral de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de
Ouro Preto (UFOP) e CPRM/SGB. A proposta de Alto
Ribeira (SP-PR) é uma iniciativa da CPRM/SGB, abran-
gendo parte da bacia hidrográfica do rio Ribeira de
Iguape. A proposta do Geoparque Serra da Bodoquena-
Pantanal (MT e MS) é coordenada pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com
a participação da CPRM/SGB. Já a proposta do
Geoparque Campos Gerais está em elaboração por Mi-
nérios do Paraná S.A. (MINEROPAR).
PROJETOS GEOTURÍSTICOS NO BRASIL
O Brasil possui alguns projetos e desenvolve ações
diretamente relacionadas ao geoturismo. Dentre elas, des-
tacam-se:
• Projeto Caminhos Geológicos: iniciativa pi-
oneira do Departamento de Recursos Minerais
do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ). Iniciado
em 2001, representa atualmente o programa
mais desenvolvido. O objetivo principal do pro-
jeto é divulgar o conhecimento geológico do
referido estado, com base na conservação de
seus monumentos naturais e por meio da im-
plantação de painéis explicativos sobre a evolu-
ção geológica do local. Até julho de 2008, já
haviam sido implantados 67 painéis com infor-
mações geológicas em 24 municípios do Rio de
Janeiro (Figura 10.17).
Seguindo o modelo adotado pelo Projeto
CaminhosGeológicos(DRM-RJ)eadaptadoàrea-
lidade local, três outros estados do Brasil estão
promovendo o levantamento de seus monumen-
tos geológicos com vistas à sua conservação e di-
vulgação como atrativo geoturístico.
Por meio de Minerais do Paraná S.A.
(MINEROPAR), o estado do Paraná iniciou, em
2003, o Projeto Sítios Geológicos e Paleontológicos do Esta-
do do Paraná, com a intenção de valorizar esses sítios, inte-
grando-os aos roteiros do turismo ecológico, de lazer, de
aventura e outros, com publicação de material de divulga-
ção e orientação. Foram implantados, até o momento, 32
painéis ilustrativos em 12 municípios.
No estado da Bahia, o Projeto Caminhos Geológicos
da Bahia, também iniciado em 2003, vem contando a
história das belezas naturais baianas do ponto de vista da
geologia. A CPRM/SGB, em parceria com a PETROBRAS,
já inaugurou 5 painéis em pontos de interesse geológico
(Figura 10.18).
Figura 10.16 ––––– Mapa com propostas de alguns geoparques
nacionais (SCHOBBENHAUS, 2006).
158
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
No Rio Grande do Norte, em janeiro de 2006, por
intermédio do Instituto de Defesa do Meio Ambiente do
Rio Grande do Norte (IDEMA), em parceria com a
PETROBRAS e CPRM/SGB-Natal, foi criado o Projeto Mo-
numentos Geológicos do Rio Grande do Norte, com a
finalidade de contar a história geológica potiguar em pai-
néis explicativos. Até agora, 16 pontos de interesse geoló-
gicos, incluindo sítios geológicos do litoral e interior, fo-
ram selecionados e descritos (Figura 10.19).
Com a intenção de divulgar esses locais de interesse
geológico, o referido projeto confeccionou também car-
tões-postais,possibilitandoumconhecimentopréviodolocal
que se pretende visitar geoturisticamente (Figura 10.20).
O Programa Geoecoturismo, da CPRM/SGB, cuja fi-
nalidade é promover a caracterização física de regiões de
interesse geoturístico, tem como objetivo disseminar o
conhecimento básico de geologia, informações
geoambientais, geo-históricas e sobre o patrimônio mi-
neiro entre as comunidades, profissionais e cidadãos em
geral. No sítio da CPRM/SGB é possível obter informações
detalhadas sobre os primeiros 17 diferentes produtos rela-
cionados a esse programa. Há roteiros que abrangem a
descrição de monumentos, feições e parques geológicos,
afloramentos, cachoeiras, cavernas, sítios fossilíferos,
patrimônio mineiro (minas desativadas), fontes termais,
paisagens, trilhas/excursões e outras curiosidades
geoturísticas. Dentre esses produtos, cabe destacar:
• Mapa de Trilhas e Pontos Turísticos do Parque Naci-
onal da Chapada Diamantina, Bahia (1995).
• Mapa de Infra-Estrutura e dos Pontos Turísticos do
Município de Morro do Chapéu, Bahia (1995).
• Mapa Ecoturístico Geológico do Projeto Porto Se-
guro-Santa Cruz de Cabrália, Bahia (2000).
• Roteiro Geológico sobre a Coluna White, Santa
Catarina (2003).
• Excursões virtuais aos Aparados da Serra (RS) (2004)
e Quadrilátero Ferrífero (MG) (2007).
• Participação no livro “Sítios Geológicos e
Paleontológicos do Brasil” (SCHOBBENHAUS et al., 2002),
com artigos científicos.
Além do Programa Geoecoturismo, a CPRM/SGB con-
ta ainda com o Projeto Mapa Geodiversidade do Brasil
(escala 1:2.500.000). Esse projeto tem o objetivo de ofe-
recer aos diversos segmentos da sociedade brasileira uma
tradução do conhecimento geológico-científico, com vis-
tas a sua aplicação ao uso adequado do território, incluin-
do a prática do geoturismo. Pela primeira vez, foi apre-
sentada à sociedade uma síntese dos grandes geossistemas
formadores do território nacional, suas limitações e
potencialidades, considerando-se a constituição litológica
da supra- e infra-estrutura geológica. Foram abordadas,
também, características geotécnicas, coberturas de solos,
migração, acumulação e disponibilidade de recursos
hídricos, vulnerabilidades e capacidades de suporte à im-
plantação de diversas atividades antrópicas dependentes
de fatores geológicos, como o geoturismo.
Essa iniciativa insere-se em um projeto maior – o de
dotar o Brasil de cartas temáticas territoriais do meio físico
como ferramentas de planejamento, em todas as áreas do
campo de atribuições institucionais. Em 2007, iniciou-se a
produçãodosmapasdegeodiversidadedosestadosbrasilei-
ros, em escalas 1:1.000.000 a 1:500.000. O mapa de
geodiversidadepermiteassociarosgeossistemasaregiõesde
Figura 10.18 ––––– Placa ilustrativa da Fonte do Tororó (Salvador, BA).
Projeto Caminhos Geológicos da Bahia (CPRM/Salvador) (fotografia
de Antonio J. Dourado Rocha).
Figura 10.17 ––––– Painel afixado em área do Pão de Açúcar (RJ) que
conta a história geológica desse monumento natural (fotografia de
Kátia Mansur).
Figura 10.19 ––––– Painel sobre a geodiversidade do Parque das Dunas
(Natal, RN). Projeto Monumentos Geológicos do Rio Grande do
Norte (fotografia de Marcos Nascimento).
159
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL
Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina
interesse especial para estudos de geodiversidade, em parti-
cular, áreas de interesse para geoturismo e geoconservação,
incluindo patrimônios paleontológicos e geomineiros, mo-
numentos naturais, cavernas e paisagens de beleza cênica.
No XLII Congresso Brasileiro de Geologia, ocorrido
em outubro de 2004, na cidade de Araxá (MG), ocorre-
ram dois simpósios cujos trabalhos versavam sobre o
trinômio geoturismo, geodiversidade e geoconservação:
“Desenvolvimento Sustentável, Geologia e Turismo” (com
32 trabalhos apresentados) e “Monumentos Geológicos”
(com 31 trabalhos). Destes 63 trabalhos, identificam-se,
seguramente, 39 diretamente focados em aspectos do
geoturismo. Esta foi a primeira edição de um congresso
brasileiro de geologia a trazer à tona a temática do
geoturismo e o único evento científico nacional, até en-
tão, a abordar tal tema.
Em dezembro de 2004, foi criado um grupo de dis-
cussão na internet, baseado no Yahoo Grupos, atualmen-
te com 177 participantes de várias partes do Brasil, com a
finalidade de levantar informações e discutir as temáticas
geoturismo, geodiversidade e geoconservação. No grupo
também são disponibilizadas publicações (artigos, proje-
tos) e links para sítios que tratam do assunto.
Já em setembro de 2006, no XLIII Congresso Brasilei-
ro de Geologia, na cidade de Aracaju (SE), deu-se conti-
nuidade às discussões sobre a temática “geoturismo” du-
ranteoSimpósioGeoconservaçãoeGeoturismo:UmaNova
Perspectiva para o Patrimônio Natural. Nesse evento, fo-
ram apresentados 41 trabalhos oferecendo uma panorâ-
mica da situação atual das atividades relacionadas à
geoconservação e ao geoturismo no Brasil. O evento con-
tou ainda com palestra do geólogo português José Brilha
(Universidade de Minho, Braga, Portugal), um dos princi-
pais incentivadores do assunto na Europa, com o tema
“Geoconservação: Precisa-se... Porque só há uma Terra”.
Um dos principais resultados desse encontro foi a elabo-
ração e aprovação, por unanimidade, pela Assembléia da
Sociedade Brasileira de Geologia (SBGeo), da Geocarta de
Aracaju, primeira declaração sobre o tema geoconservação
e afins fora da Europa.
No início de fevereiro de 2007, foi disponibilizado na
internet o sítio <http://www.geoturismobrasil.com>, cuja
proposta é oferecer informações e imagens que possam
contribuir para o desenvolvimento do geoturismo no Bra-
sil. O Geoturismobrasil foi criado pelo geólogo e fotógra-
fo Antonio Liccardo e apresenta versões em português e
inglês. Segundo o idealizador do sítio, a versão em inglês
está proporcionando inúmeras visitas de estrangeiros, in-
cluindo pesquisadores de geoturismo de outros países. É
o primeiro sítio dedicado à divulgação desse segmento do
turismo no Brasil. Nele, o visitante aprende o que é
geoturismo, informando-se sobre os avanços dessa ativi-
dade no Brasil, além de acesso a artigos sobre o assunto e
a imagens deslumbrantes da geodiversidade brasileira.
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CARLOS SCHOBBENHAUS
Geólogo formado (1964) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor (1993) pela Albert-Ludwigs
Universität, Freiburg (RFA). Participou da coordenação, edição e co-autoria de grandes projetos nacionais e sul-americanos
de integração da geologia e recursos minerais, publicados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço
Geológico do Brasil (CPRM/SGB) e pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Destacam-se: Carta
Geológica do Brasil ao Milionésimo (DNPM, 1974 a 1979; CPRM, 2004); Mapa Geológico do Brasil (DNPM, 1981; CPRM,
2001); Mapa Geológico da América do Sul (CGMW/DNPM/CPRM/UNESCO, 2000/2001); livros “Geologia do Brasil”
(DNPM, 1984), “Principais Depósitos Minerais do Brasil” (6 volumes, DNPM/CVRD/CPRM, 1985 a 1997), “Metalogênese
do Brasil” (CPRM/EdUnB, 2001) e “Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil” (CPRM, 2003). Vice-presidente
para a América do Sul da Commission for the Geological Map of the World (CGMW) e membro fundador e presidente
da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP). Na CPRM/SGB, coordena os projetos SIG-América
do Sul 1:1:1.000.000 e Geoparques do Brasil. Principais homenagens recebidas: Medalha Orville Derby (2002), da
Sociedade Brasileira de Geologia (SBG); Comenda da Ordem do Mérito Cartográfico (2003), da Sociedade Brasileira de
Cartografia; Medalha Irajá Damiani Pinto (2007), no Jubileu de Ouro da Escola de Geologia da UFRGS.
MARCOS ANTONIO LEITE DO NASCIMENTO
Geólogo formado (1998) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre (2000) e doutor (2003) pela
UFRN. Desenvolve pesquisas nas áreas de Petrologia Ígnea, Litogeoquímica e Geocronologia. Foi professor colaborador
do Curso de Turismo da UFRN, na disciplina Recursos Naturais e o Turismo no RN; da Faculdade Natalense de Ensino e
Cultura (FANEC), na disciplina Produto Ecoturístico; da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), nas disciplinas
Geologia e Mineralogia e Geologia Aplicada à Engenharia. Atualmente, é geólogo da Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), atuando como chefe do Projeto Mapeamento Geológico e Recursos
Minerais da Folha Currais Novos (escala 1:100.000), coordenador do Projeto Monumentos Geológicos do Rio Grande do
Norte e membro da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) pela CPRM/SGB. Experiência na
área de Geociências, com ênfase em: Mapeamento Geológico, Petrologia Ígnea, Geocronologia, Geologia Aplicada e
Geoturismo.
ANTONIO IVO DE MENEZES MEDINA
Geólogo formado (1967) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalhou em pesquisa de carvão mineral na
Bacia do Parnaíba (MA e TO), em mapeamentos geológico-geotécnicos para hidrelétricas, em áreas de riscos geológicos
para Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro. Coordenou e desenvolveu projetos ambientais na Engevix Engenharia S.A.
Contratado em 1973 pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), executou
e foi supervisor de projetos de Mapeamento Básico, Pesquisa de Carvão Mineral e Turfa em todo o território brasileiro. De
1996 a 2007, exerceu a função de coordenador executivo do Departamento de Gestão Territorial (DEGET), trabalhando
na coordenação, análise e execução de projetos geoambientais e na coordenação do Projeto Geoecoturismo do Brasil.
Pesquisador e autor do capítulo 3 – “Geologia Ambiental: Contribuição para o Desenvolvimento Sustentável” – do livro
Tendências Tecnológicas Brasil 2015: Geociências e Tecnologia Mineral (CETEM/MCT, 2007).
163
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo
11
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maria Angélica Barreto Ramos (mabr@sa.cprm.gov.br)
Samuel Viana (samuel@rj.cprm.gov.br)
Elias Bernard do Espírito Santo (elias@sa.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Conceitos e Causas ................................................................... 164
Poluição atmosférica.............................................................. 167
Efeito estufa .......................................................................... 168
Buraco na camada de ozônio ................................................ 168
Aquecimento global .............................................................. 169
Ações da ONU .......................................................................... 169
Fragilidades e inconsistências nos modelos do IPCC .............. 170
Cenários Futuros....................................................................... 170
Ações Propostas ....................................................................... 170
Geoindicadores ...................................................................... 171
Sugestões de medidas de adaptações no Brasil .................... 173
Bibliografia ............................................................................... 173
164
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
CONCEITOS E CAUSAS
Mudanças climáticas constituem-se em flutuações do
clima predominante de uma determinada região, que po-
dem estender-se de algumas dezenas de anos (mais de 30-
35 anos, segundo (AYOADE, 2002) até dezenas de milha-
res de anos (SUGUIO, 2008). A variação espacial e a flutu-
ação temporal são características marcantes do tempo e do
clima. A flutuação temporal do clima é uma característica
que deve ser pesquisada e discutida com maiores detalhes,
desde o passado longínquo (paleoclima), o passado recen-
te e como o é no presente, permitindo a construção de
modelos e a simulação de cenários climáticos futuros.
Para um melhor entendimento do estudo das
flutuações climáticas, é necessário o entendimento dos con-
ceitos de variabilidade, de anomalia e de mudança climáti-
ca. Define-se a variabilidade climática como uma variação
das condições climáticas em torno da média climatológica.
Já anomalia climática refere-se a uma flutuação extrema de
um elemento em uma série climatológica, com desvios
acentuados do padrão observado de variabilidade. Já mu-
dança climática é um termo que designa uma tendência de
alteração da média no tempo.
Com os resultados dos estudos da paleoclimatolo-
gia, verifica-se que, ao longo da história da Terra, o cli-
ma apresentou variações em diferentes escalas de tempo
e espaço. Tais escalas de tempo são correspondentes a
períodos geológicos (na ordem de milhões de anos),
períodos de registros históricos (na ordem de milhares
de anos) e seculares ou instrumentais (períodos de 100 a
150 anos).
AYOADE (2002) classifica as teorias sobre os meca-
nismos que originam as mudanças climáticas em três ca-
tegorias: terrestres, astronômicas e extraterrestres.
As terrestres são: deriva continental; vulcanismo; ter-
remotos; maremotos; mudanças na topografia da Terra;
variações na composição atmosférica; mudanças na dis-
tribuição das superfícies continentais e hídricas; variações
na cobertura de neve e gelo. A essas causas naturais que
envolveram fatores geológicos e geográficos, somam-se
alguns exemplos, tais como:
1. A carência de grandes massas continentais antes
de 2,5 G.a. ou bilhões de anos atrás, permitindo um
transporte de calor mais eficiente e impedindo, assim, o
crescimento de capas de gelo polar (ENDAL e SCHAT-
TEN, 1982).
2. A semelhança da paleogeografia global do final
do Pré-Cambriano, (cerca de 542 M.a. ou milhões de anos
atrás) Permiano (cerca de 251 M.a.) e Pleistoceno (cerca
de 11,7 AP Antes do Presente ou mil anos atrás), com
grande massa continental nas regiões polares:
• Tais massas de terra serviam como plataforma de
gelo (por exemplo, Groenlândia, 60º N). Esse tipo de
ambiente favorece o não-derretimento durante o verão;
uma alta reflexão da radiação solar (taxa de albedo eleva-
da) pela neve e gelo reduzindo ainda mais a temperatura;
redução do nível do mar com exposição da plataforma
continental.
• O baixo calor específico da Terra em relação à água
faz com que as massas de terra se resfriem mais rapida-
mente que as massas de água nos pólos.
• Bacias fechadas promovem acumulações de gelo
marinho.
3. A geografia continental influenciando na circula-
ção oceânica:
• Paleoceno (cerca de 65,5 a 55,8 M.a.): no seu fi-
nal, ocorreu a abertura dos mares da Noruega e Labrador
favoreceu a passagem de correntes de água fria para o
Atlântico norte (Figura 11.1).
• Eoceno-Mioceno Inferior (cerca de 49 a 24 M.a.):
Apesar das incertezas quanto a sua cronologia, houve uma
circulação circumpolar antes da formação da pasagem do
Drake, que separou Antártica da América do Sul, e permi-
tiu um acúmulo de geleiras na Antártica; este evento oca-
sionou um grande declínio do CO2
na atmosfera.
• Plioceno (cerca de 5,3 a 2,6 M.a.): o fechamento
do Panamá (Bolivar Trench) a cerca de 3 M.a. precedeu a
um resfriamento global semelhante ao do Permiano, quan-
do a Pangéia formada no equador forçou uma circulação
oceânica N-S. O fechamento do mar da Indonésia prece-
deu à desertificação africana (CAIN e MOLNAR, 2001).
4. Espalhamento do piso oceânico controlando o CO2
atmosférico (BERNER et al., 1983). WORSLEY et al. (1986)
sugerem que um ciclo de mudança climática de 0,5 G.a.
seria resultado de ciclos de tectonismo, espalhamento do
piso oceânico e mudança atmosférica. Efeitos do CO2
at-
mosférico e Ca, Mg e HCO3
no oceano:
• Espalhamentodopisooceânico:subducçãoemmar-
gem de placas resulta em metamorfismo de carbonatos.
Vulcanismos injetam C subductado como CO2
na atmos-
fera.
• Feedback negativo: acúmulo de CO2
atmosférico
aumenta a temperatura e acelera o intemperismo.
Atualmente, visto que 71% da superfície do nosso
planeta são compostos por oceanos, uma das principais
componentes do sistema climático da Terra é representa-
da pela interação entre a superfície desses mares e a baixa
atmosfera adjacente a ela. Os processos de troca de ener-
gia e umidade entre esses meios determinam o comporta-
mento do clima; quaisquer alterações desses processos
podem afetar o clima regional e global.
Um típico exemplo se refere às variações anormais de
temperaturas superficiais das águas oceânicas e seus efei-
tos. Na última década, dois importantes fenômenos dessa
natureza foram fortemente difundidos pela mídia, com
origem específica no oceano Pacífico: O El Niño, quando
se refere ao aquecimento anormal dessas águas, e o La
Niña, de características opostas, referente ao esfriamento
superficial das águas.
Informações obtidas no sítio da CPTEC/INPE, com base
no livro de Oliveira (1999), consideram que o evento de El
Niño e La Niña tem uma tendência a se alternar a cada 3-7
165
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo
Figura 11.1 ––––– Passagem das correntes no Atlântico norte e a corrente equatorial.
anos. Porém, de um evento ao seguinte, o intervalo pode
mudar de 1 a 10 anos, representando uma alteração do
sistema oceano-atmosfera no oceano Pacífico tropical, com
conseqüências no tempo e no clima em todo o planeta. No
caso do aquecimento do oceano e com o enfraquecimento
dos ventos, mudanças da circulação da atmosfera nos ní-
veis baixos e altos determinam mudanças nos padrões de
transporte de umidade; portanto, variações na distribuição
das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e
altas. Em algumas regiões do globo também são observa-
dos aumento ou queda de temperatura. Por outro lado,
com o resfriamento superficial das águas, os ventos alíseos
se tornam mais intensos e um maior volume de água fica
“represado” no Pacífico Equatorial Oeste, ocasionando um
desnível entre o Pacífico Ocidental e Oriental. Essas águas
“represadas” e mais quentes geram maior evaporação e
movimentos ascendentes, que, por sua vez, aumentam a
concentração de nuvens de chuva, ao passo que no Pacífi-
co Equatorial Oriental os processos de ressurgência se in-
tensificam (Figuras 11.2 e 11.3).
As causas extraterrestres seriam as variações na quan-
tidade de radiação solar (output solar) e na absorção da
radiação solar exterior à atmosfera terrestre.
As principais causas astronômicas são: variações da
excentricidade da órbita da Terra em torno do Sol, poden-
do ser mais elíptica ou mais circular; obliqüidade, que é a
alteração do ângulo entre o eixo da Terra e o plano da
elíptica–segundoHenderson-SELLERS e ROBINSON (1999),
esse ângulo varia de 22 a 24,5º, com um período de
40.000 anos; precessão da localização do periélio (ponto
na órbita da Terra no qual o planeta passa mais próximo
ao Sol), ou seja, devido à atração gravitacional de outros
planetas, o ponto do periélio muda de posição causando
a precessão dos equinócios.
Alguns impactos de corpos celestes (meteoritos) re-
gistrados ao longo da história terrestre podem ter sido
responsáveis por alterações climáticas, que causaram epi-
sódios de extinções em massa de diversas espécies, tanto
animais quanto vegetais. Dentre esses episódios, o mais
famoso, que supostamente teria ocasionado a extinção
dos dinossauros, marcando o fim do Cretáceo a cerca de
65,5 M.a., tem como principal teoria um “bombardea-
mento” de asteróides na superfície da Terra (HECHT, 1993).
Há evidências de que as erupções vulcânicas afetam
o comportamento do clima em curtos períodos de tempo
e, possivelmente, influenciam as alterações de longa du-
ração. Esse processo se dá pela liberação de gases vulcâ-
nicos constituídos principalmente por cinzas e SO2
. Esse
gás interage com o vapor de água da estratosfera, for-
mando aerossóis que, ao interceptarem a luz solar, dimi-
nuem a temperatura da superfície terrestre e da própria
atmosfera.
SELF et al. (1996) relataram que a erupção do monte
Pinatubo, nas Filipinas, em 1991, formou uma nuvem com
cerca de 22 milhões de toneladas de SO2
com sensível
queda da temperatura global (ca. 0,5º C) nos anos se-
166
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
guintes. Um similar fenômeno ocorreu em abril de 1815
com a erupção do vulcão Tambora (Indonésia), a mais
poderosa erupção registrada na história, responsável pelo
resfriamento global da temperatura em 3º C. Em algumas
partes da Europa e América do Norte, o ano de 1816 foi
conhecido como “o ano sem verão” (KIOUS e TILLING,
1996). Invernos mais quentes e verões mais frios que a
média, sobre áreas continentais do hemisfério Norte, têm
sido registrados e modelados após diversas erupções vul-
cânicas (GROISMAN, 1992; ROBOCK e LIU, 1994).
A Terra, desde sua origem, há aproximadamente 4,6
bilhões de anos, sempre esteve em constantes mudanças
de temperatura, alternando longos períodos de aqueci-
mento e glaciação causados por fenômenos naturais.
Em recente trabalho efetuado por BRANCO e MAR-
QUES (2008) são apresentadas abaixo as principais mu-
danças geológicas e climáticas ocorridas na Terra:
Proterozóico (2500 a 542 M.a.): extinção das bacté-
rias anaeróbicas e extensa glaciação há 1,5 bilhões de anos,
intensa atividade orogenética.
Paleozóico/Cambriano (542 a 488 M.a.): explosão
evolutiva dos animais.
Paleozóico/Permiano Superior (260 a 251 M.a.):
extinção de 95% das espécies e formação do Pangea no
seu final.
Mesozóico/Triássico (251 a 199,6 M.a.): no sul do
Brasil o clima foi árido, originando um vasto deserto;
Mesozóico/Jurássico (199,6 a 145,5 M.a.): a Terra
“rachou ao meio”, com intenso vulcanismo basáltico e
separação dos continentes.
Mesozóico/Cretáceo (145,5 a 65,5 M.a.): no seu fi-
nal, houve a extinção em massa de grandes répteis
(dinossauros), tendo duas hipóteses: mudanças climáti-
cas e/ou colisão na Terra de um imenso meteorito.
Cenozóico/ Neógeno/Mioceno (23 a 5 M.a.): climas
mais áridos no interior dos continentes, favoráveis a ex-
pansão de campos e cerrados; início da formação de ge-
leiras na Antártica.
Cenozóico/Neógeno/Plioceno (5 a 1,8 M.a.): grande
diversificação dos campos e savanas, o clima passa de
tropical para mais frio, com vastas áreas glaciais, provo-
cando um esfriamento global; 75% das espécies sobrevi-
vem até o presente.
Cenozóico/Quaternário/Pleistoceno (1,8 M.a. a 11,7
AP): na época máxima de glaciação do Hemisfério Norte,
quase 30% de toda a superfície dos continentes estavam
cobertas por uma camada de gelo e ocorria gelo no mar
em ambas regiões polares. Como conseqüência desta gran-
de remoção de água livre no sistema global, houve uma
queda acentuada do nível do mar e de pluviosidade; exis-
tem evidências mostrando que existiram quatro períodos
de muito frio no Hemisfério Norte no Pleistoceno, o pri-
meiro deles há 600 k.a.; em todas estas épocas, as gelei-
ras do Ártico expandiram-se para as regiões de latitudes
Figura 11.2 ––––– Variações no clima decorrente do fenômeno El Niño.
Figura 11.3 ––––– Variações no clima decorrente do fenômeno La Niña.
167
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo
mais baixas da Eurásia e América do Norte e, nas épocas
mais quentes, as geleiras retraíram para o Norte; no He-
misfério Sul, a glaciação foi muito mais limitada e, na
maioria das vezes, confinada às altitudes maiores, como
por exemplo nos Andes; há 20 AP, o planeta vivia o ápice
de uma era glacial; durante este período a plataforma con-
tinental brasileira estava quase completamente exposta,
dado a quantidade de gelo retida nas calotas polares o
que fez o nível do mar recuar mais de 100 metros vertical-
mente (ou 100 km em relação à linha de costa atual) for-
mando uma extensa planície costeira; embora o domínio
glacial não tenha atingido o Brasil, o clima desta época
era consideravelmente mais seco.
Cenozóico/Quaternário/Holoceno (11,7 AP): no Pri-
meiro Ótimo Climático (8.000 AP), o clima transformou-
se em quente e úmido, havendo subida do nível do mar
de até 5 metros. O Segundo Ótimo Climático (200-1000
DC Depois de Cristo), originou um clima ameno no he-
misfério norte. Dentre as mudanças climáticas mais re-
centes tem-se a Pequena Idade do Gelo, quando a tempe-
ratura média era inferior à atual, que se estendeu de 1540
até 1890. Neste intervalo de tempo o recrudescimento do
frio ocorreu em três etapas: de 1540 a 1680, de 1740 a
1770 e entre 1800 a 1890. Os limites do fenômeno de
resfriamento foram diferenciados de local para local, mas
acredita-se que a temperatura média durante a Pequena
Idade do Gelo tenha chegado a ser 2º C inferior a atual.
A partir do final do século XVIII, com o advento da
Revolução Industrial, o planeta passou a enfrentar uma
nova realidade: a utilização intensiva de combustíveis fós-
seis para gerar energia para indústrias e veículos, a des-
truição das florestas pelo desmatamento e queimadas, a
expansão das atividades agropecuárias de forma não sus-
tentável, são apenas alguns itens que contribuem para a
imensa quantidade de dióxido de carbono (CO2
), metano
(CH4
) e outros gases lançados na atmosfera. Esses gases
passaram a interferir nas condições naturais, constituin-
do-se em agentes preponderantes para o aumento da tem-
peratura do planeta.
Dentre as possíveis causas de mudanças climáticas
geradas pela ação do homem em conseqüência de altera-
ções na concentração de componentes atmosféricos, po-
dem ser citados:
Poluição Atmosférica
Resulta da emissão de gases poluentes ou de partícu-
las sólidas na atmosfera. Destacam-se, por suas emissões,
as unidades industriais e de produção de energia, como a
geração de energia elétrica por meio de termoelétricas;
refinarias; fábricas de pasta de papel; siderúrgicas; cimen-
teiras; indústria química e de adubos (Figura 11.4).
A utilização de combustíveis para a produção de
energia é responsável pela maior parte das emissões de
dióxido de monoenxofre (SO2
), trióxido de monoenxofre
(SO3
) e CO2
, contribuindo, ainda, de forma significativa
para as emissões de monóxido de carbono (CO). O uso
de solventes em colas, tintas, produtos de proteção de
superfícies, aerossóis, limpeza de metais e lavanderias é
responsável pela emissão de quantidades apreciáveis de
compostos orgânicos voláteis. Outras fontes poluidoras
em certas condições podem se tornar relevantes, tais
como: a queima de resíduos urbanos, industriais, agrí-
colas e florestais, feita, muitas vezes, em situações in-
controladas; a queima de resíduos de explosivos, resi-
nas, tintas, plásticos e pneus; incêndios florestais; uso
de fertilizantes e o excesso de concentração agropecuá-
ria são os principais contribuintes para as emissões de
metano, amoníaco (NH3
), nitrito (NO2
) e nitrato (NO3
);
por último, as fontes móveis, sobretudo os transportes
rodoviários, devido à emissão de gases de escape, mas
também como resultado da evaporação de combustí-
veis. São os principais emissores de óxido de nitrigênio
(NO), nitrogênio (N), CO e CO2
, além de serem respon-
sáveis pela emissão de poluentes específicos, como o
chumbo (Pb) (Figuras 11.5 e 11.6).
Figura 11.5 ––––– Foco de incêndio em área florestal do Paraná
(disponível em: <http://www.ambienteemfoco.com.br/>.
Figura 11.4 ––––– Pólo petroquímico de Cubatão. (disponível
em:<cienciaecultura.bvs.br/>).
168
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
de dióxido de carbono e outros gases-estufa produzidos
pelo homem. A atmosfera, agora mais densa, retém gran-
de parte da radiação infravermelha que deveria escapar e
se irradiar pelo espaço. Como resultado, a temperatura da
atmosfera terrestre – e também dos oceanos – está se
tornando perigosamente mais alta, transformando a Terra
em uma grande “estufa”.
Dentre os gases causadores do efeito estufa, o CO2
em geral é considerado o principal culpado, pois respon-
de por 80% do total de emissões de gases-estufa. Isso
acontece quando são queimados combustíveis fósseis (pe-
tróleo, gás natural e carvão), seja em casa, carros, fábri-
cas, usinas elétricas, seja na queima de florestas ou na
produção de cimento (GORE, 2006).
Também podem ser citados metano (CH4
) e óxido de
nitrogênio (NO), que já existiam na atmosfera, mas tive-
ram suas concentrações aumentadas de forma expressiva
em decorrência da atividade humana. Atualmente, 60%
do metano na atmosfera são produzidos pelo homem:
aterros sanitários, fazenda de criação de animais, queima
de combustíveis fósseis, tratamento de água e esgoto e
outras atividades (GORE, 2006).
O óxido nitroso (N2
O), pela atividade humana, teve
um incremento de mais de 17% na atmosfera provindo
de fertilizantes, de combustíveis fósseis, de queima de
floresta e de resíduos de plantações.
Também como causadores do efeito estufa podem
ser citados: hexafluoreto de enxofre (SF6
), PFCs (perfluor-
carbonos), HFCs (hidrofluorcarbonetos), que são exclusi-
vamente produzidos pela atividade humana. Os PFCs e os
SF6
são liberados na atmosfera por atividades industriais,
como a fundição de alumínio e a fabricação de semicon-
dutores, assim como pela rede elétrica.
Finalmente, o vapor de água, que é um gás-estufa
natural que aumenta de volume com a elevação das tem-
peraturas, ampliando o impacto de todos os outros gases-
estufa artificiais (GORE, 2006).
Buraco na Camada de Ozônio
Com o desenvolvimento industrial, foram utilizados
durante muito tempo os chamados clorofluorcabonetos
(CFCs). Sua emissão provinha de sistemas de refrigerado-
res e constituía gases-estufa muito potentes que, ao atin-
gir a camada de ozônio, destruíam as moléculas de ozô-
nio (O3
) que a formam, causando, assim, a destruição
dessa camada da atmosfera (Figura 11.8).
A camada de ozônio, situada na estratosfera, constitui
uma fina capa que envolve a Terra e a protege de vários
tipos de radiação, sendo que a principal delas, a radiação
ultravioleta, é a principal causadora de câncer de pele.
A partir do Protocolo de Montreal, assinado por 180
países em 1997, com o compromisso de reduzir a emis-
são de gases clorofluorcarbonetos (CFCs), começou a ha-
ver uma diminuição do buraco na camada de ozônio (Fi-
gura 11.9). Depois de alcançar o tamanho máximo de 29
Figura 11.6 ––––– Fluxo de veículos em um centro urbano (disponível
em: <http://www.ambienteecologico.com>).
Efeito estufa
O fenômeno do efeito estufa ocorre devido à presença
natural de gases, como o dióxido de carbono, o metano e o
vapor de água em nossa atmosfera, que permite que parte
da energia emitida pelo Sol seja aprisionada.
De acordo com GORE (2006), quando a energia do Sol
incidenaatmosferasobaformadeondasdeluzaquecendo
a Terra, parte dessa energia é refletida e volta a irradiar-se
pelo espaço, sob a forma de ondas infravermelhas. Em con-
dições normais, uma parte dessa radiação é naturalmente
retida pela atmosfera – e isso é bom, pois mantém a tem-
peraturadaTerradentrodelimitesconfortáveis(Figura11.7).
Assim, o efeito estufa é um fenômeno natural que
mantém o planeta aproximadamente 30º C mais quente
em comparação à Terra sem a presença da atmosfera (HEN-
DERSON-SELLERS e ROBINSON, 1999).
Ainda segundo GORE (2006), o problema enfrenta-
do agora é que a fina camada atmosférica está se tornan-
do mais espessa em conseqüência da enorme quantidade
Figura 11.7 ––––– Mecanismos de atuação do efeito estufa
(disponível em: <http://www.rudzerhost.com/ambiente/
estufa.htm>).
169
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo
milhões de km2
em 2003, ele encolheu para 27 milhões
de km2
no ano de 2006. Porém, o ritmo de sua recuperação
é mais lento que o previsto inicialmente pelos cientistas.
Segundo as novas medições, a camada de ozônio sobre as
áreas mais habitadas do planeta só voltará aos níveis da
década de 1970 por volta do ano 2049. E o buraco sobre o
pólo Sul não vai fechar antes de 2065, ou seja, 15 anos
mais tarde do que os cientistas esperavam.
Aquecimento Global
O aquecimento global é um fenômeno climático de
larga extensão – um aumento da temperatura média su-
perficial global que vem acontecendo nos últimos 150
anos. Entretanto, o significado desse aumento de tempe-
ratura ainda é objeto de muitos estudos entre os cientis-
tas. Causas naturais ou antropogênicas (provocadas pelo
homem) têm sido propostas para explicar o fenômeno.
De fato, têm sido detectadas subidas de nível do mar,
atribuídas ao degelo como conseqüência do aumento de
temperatura durante o século XX. Entretanto, no momento
não há testemunhos para se atribuir esse aumento de tem-
peratura a um ciclo natural do clima ou às atividades indus-
triais. Talvez as causas antrópicas estejam até mesmo acele-
rando um processo que já estaria em caminhamento.
Dentre as causas antropogênicas, a interação da po-
luição atmosférica, do efeito estufa e do aumento do bu-
raco da camada de ozônio são consideradas as mais pro-
váveis causadoras das alterações climáticas e, conseqüen-
temente, pelo aquecimento global. No que se refere a
essas causas, podemos, no entanto, atuar para minimizar
os seus efeitos, o que tem sido alvo de conferências e
acordos entre nações nas últimas décadas.
AÇÕES DA ONU
Em 1988, a Organização das Nações Uni-
das (ONU), a partir da percepção de que a ação
humana poderia estar exercendo uma forte in-
fluência sobre o clima do planeta e que seria
necessário acompanhar esse processo, criou o
PainelIntergovernamentalsobreMudançasCli-
máticas (IPCC), que é um órgão composto por
delegações de 130 governos para prover avali-
ações regulares sobre as mudanças climáticas.
Desde então, o IPCC tem publicado di-
versos documentos e pareceres técnicos. O
primeiro Relatório de Avaliação sobre o Meio
Ambiente (Assessment Report, ou, simples-
mente, AR) foi publicado em 1990 e reuniu
argumentos em favor da criação da Conven-
ção do Quadro das Nações Unidas para Mu-
danças do Clima (UNFCC), a instância em que
os governos negociam políticas referentes às
mudanças climáticas.
O segundo relatório do IPCC foi publica-
do em 1995 e acrescentou ainda mais elementos às dis-
cussões que resultaram na adoção do Protocolo de Kyoto
dois anos depois, graças ao trabalho da UNFCC. O tercei-
ro relatório do IPCC foi publicado em 2001. Em 2007, o
grupo publicou seu quarto relatório.
Desde o primeiro relatório, o trabalho do IPCC, pro-
duzido por três grupos de trabalho, é publicado em qua-
tro etapas.
O primeiro grupo é responsável pelo primeiro capítulo,
que reúne evidências científicas de que a mudança climática
se deve à ação do homem; o segundo grupo trata das
conseqüências da mudança climática para o meio ambi-
ente e para a saúde humana; o terceiro grupo estuda ma-
neiras de se combater as mudanças climáticas e prover
Figura 11.8 ––––– Esquema ilustrativo do buraco na camada de ozônio
(disponível em: <http://www.canalkids.com.br/.../imagens/
buraco.gif>).
Figura 11.9 – Seqüência de imagens que mostram a diminuição do tamanho do
buraco na cama da de ozônio (disponível em: <blog.estadao.com.br/blog/media/>).
170
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
alternativas de adaptação das populações. Posteriormen-
te, é gerado um capítulo que sintetiza as conclusões dos
anteriores.
No relatório IPCC (2007), pela primeira vez, os cien-
tistas demonstraram confiança de que a mudança climáti-
ca contemporânea se deve em grande parte à ação huma-
na, sobretudo por meio da emissão de gases como dióxi-
do de carbono, óxido nitroso e metano, que causam o
efeito estufa. Essa ação seria a principal responsável pelo
aquecimento global nos últimos 50 anos, cujos efeitos se
estenderiam a outros aspectos do clima, como elevação
da temperatura dos oceanos, variações extremas de tem-
peratura e até padrões dos ventos.
Para o IPCC, os países poderiam diminuir os efeitos
maléficos do aquecimento global, estabilizando em um
patamar razoável as emissões de carbono até 2030, o que
custaria cerca de 3% do PIB mundial.
Fragilidades e inconsistências nos
modelos do IPCC
Segundo BRANCO e MARQUES (2008),,,,, a Terra tem
sofrido oscilações periódicas de temperatura e clima, que
podem ser associadas à quantidade de radiação solar so-
bre a sua superfície. Estas variações, em ciclos maiores de
aproximadamente 1100, 80 e 11 anos, também são influ-
enciadas por outros fatores, como a órbita elíptica da Ter-
ra em torno do Sol, inclinação do eixo de rotação da Terra
e oscilação desse eixo. GERHARD, L. C. (2007) apresenta
dados que demonstram que a temperatura da Terra no
hemisfério norte apresenta covariância forte com a irradi-
ação e não com a variação do CO2
na atmosfera.
Projeções dos modelos climáticos permitem a gera-
ção de cenários de clima no futuro, mas ainda não distin-
guem ou separam os efeitos da variabilidade natural do
clima, da variabilidade induzida pelo homem. Efeitos como
as explosões dos vulcões podem produzir um esfriamento
da atmosfera que pode durar até dois anos, mas o aqueci-
mento continua depois. Níveis de confiança nas previsões
podem ser maiores se for considerado o impacto de incre-
mento nas concentrações dos gases de efeito estufa nas
mudanças dos componentes dos balanços de energia e
hidrológicos globais, enquanto que pode haver pouca
confiança em previsões de mudanças na freqüência e in-
tensidade de eventos extremos de tempo e clima (El Niño,
períodos secos, chuvas intensas, freqüência e intensidade
de ciclones tropicais e furações, tornados, etc.).
Estudos da Oscilação em Ciclos de 25-30 anos da
temperatura do Pacífico (PDO) e do Atlântico Norte (NAO),
conhecidas e monitoradas desde 1880, as quais apresen-
tam uma forte correlação com flutuações glaciais e os
sunspots (manchas escuras que aparecem no Sol), que
correspondem a fortes campos magnéticos (primeiramente
observadas por Galileo Galilei em 1610, e monitoradas
diariamente desde 1749) http://icecap.us/images/uploads/
GSA.pdf , foram validados e anunciados pelo JPL-NASA,
comprovam que as previsões catastróficas do aquecimen-
to global feitas pelo IPCC são altamente inacuradas e im-
precisas, evidenciando-se o oposto, com maior clareza para
as projeções feitas até 2040, que estamos terminando um
ciclo de aquecimento e iniciando décadas de resfriamento
global, com base nos estudos do Prof. Don Easterbrook,
em 2001, 2006, 2007, publicados na GSA.
CENÁRIOS FUTUROS
Com os dados disponibilizados nas pesquisas, os cien-
tistas preparam modelos de previsão simulando cenários fu-
turos que podem se apresentar mais ou menos favoráveis.
Dentre tais cenários, o IPCC estima que até o fim
deste século a temperatura da Terra deva subir entre 1,8º
C e 4º C, o que aumentaria a intensidade de tufões e
secas, ameaçando cerca de um terço das espécies do
planeta, juntamente com uma maior vulnerabilidade das
populações frente às doenças e escassez de comida.
O grupo também calcula que o derretimento das ca-
madas polares pode fazer com que os oceanos se elevem
entre 18 cm e 58 cm até 2100, fazendo desaparecer pe-
quenas ilhas e obrigando centenas de milhares de pessoas
a engrossar o fluxo dos chamados “refugiados ambien-
tais” – pessoas que são obrigadas a deixar o local onde
vivem em conseqüência da piora do meio ambiente.
A estimativa do IPCC é de que mais de um bilhão de
pessoas poderiam ficar sem água potável por conta do der-
retimentodogelonotopodecordilheirasimportantes,como
Himalaia e Andes. Essas cordilheiras geladas servem como
“depósitos naturais” que armazenam a água da chuva e a
liberamgradualmente,garantindoumabastecimentocons-
tante dos rios que sustentam populações ribeirinhas.
Em seu segundo relatório, o IPCC alerta que partes
da Amazônia podem virar savana e que há a possibilidade
de 50% da maior floresta tropical do mundo se transfor-
marem parcialmente em cerrado. Há riscos também para
o Nordeste brasileiro, que poderia ver, no pior cenário, até
75% de suas fontes de água desaparecerem até 2050. Os
manguezais também seriam afetados pela elevação do nível
da água.
MARENGO (2006) afirma que, apesar de a contribui-
ção do Brasil para a concentração global de gases de efei-
to estufa ser menor que a dos países industrializados, a
contribuição devido a queimadas (fumaça e aerossóis) é
bastante elevada. O Brasil é o quarto maior emissor do
planeta, quando são levados em conta os gases lançados
na atmosfera em conseqüência de queimadas que ocasio-
nam desmatamento.
AÇÕES PROPOSTAS
Há várias maneiras de reduzir as emissões dos gases
de efeito estufa, como diminuir o desmatamento, incenti-
var o uso de energias renováveis não-convencionais, prá-
tica da eficiência energética e reciclagem de materiais,
171
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo
melhoria do transporte público, programas de educação
ambiental etc.
Outras ações passíveis de serem adotadas por um ci-
dadão comum, por mais simples que sejam, quando visto
de forma coletiva, também contribuem para a diminuição
do aquecimento do planeta. Essas ações incluem: econo-
mia de energia, redução do desperdício de água, substi-
tuição de carros populares por transporte coletivo eficien-
te ou veículos que utilizem combustíveis menos poluen-
tes, como o biocombustível ou álcool, utilização de ener-
gias limpas, recuperação e preservação de áreas verdes
das grandes cidades.
Como conseqüência de uma série de eventos envol-
vendo diversos países, deu-se início, a partir de 1997, em
Kyoto (Japão), à discussão e assinatura de um tratado in-
ternacional que visasse à redução da emissão de gases
que provocam o efeito estufa (GEE). Esse tratado, conhe-
cido como “Protocolo de Kyoto”, prevê o chamado Me-
canismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) como um dos
mecanismos de flexibilização para auxiliar no processo de
redução desses gases na atmosfera.
Com esse mecanismo, os países desenvolvidos têm
até 2012 para reduzir suas emissões em 5,2%, na média,
com relação aos níveis de 1990, para dióxido de carbono,
metano e óxido nitroso, e aos níveis de 1995 para hexafluo-
reto de enxofre – SF6
e famílias de hidrofluorcarbonos –
HFC e perfluorcarbonos – PFC.
Além de cortar localmente suas emissões, os países
desenvolvidos podem também comprar uma parcela de
suas metas em créditos de carbono gerados em projetos
em outros países.
O Protocolo de Kyoto entrou em vigor a partir de 16
de fevereiro de 2005, com o objetivo de diminuição da
temperatura global nos próximos anos. Entretanto, a Aus-
trália e os Estados Unidos (EUA) não aceitaram o acordo,
alegando que este prejudicaria seus respectivos desenvol-
vimentos industriais, sendo os EUA o país que mais emite
poluentes no mundo.
Após a conclusão da quarta avaliação do IPCC em
2007, membros da UNFCC na 13ª Conferência das Partes
sobre o Clima (COP-13), realizada em Bali na Indonésia,
aprovaram o Mapa do Caminho. Esse documento define
o conteúdo e o prazo das negociações que, em 2009,
definirão o novo regime de proteção ao clima e ao com-
bate do aquecimento global após 2012, quando expira o
Protocolo de Kyoto.
Em nível nacional, foi criado o Grupo de Pesquisa em
Mudança Climática (GPMC), que tem como objetivo o
desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao tema, inclu-
indo estudos de monitoramento para caracterizar o clima
dopresenteesuavariabilidadeemlongoprazo,assimcomo
projeções de cenários futuros para modelamento do clima
até o final do século, de acordo com variadas taxas de emis-
sões de gases de efeito estufa. O GPMC é liderado pelo
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)
e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Entre os membros, há pesquisadores que trabalham
nas áreas de mudanças de clima, análises de vulnerabilida-
de, estudos de impactos de diversas instituições, incluindo:
universidades públicas federais, como a Universidade de
São Paulo (USP); fundações, como a Fundação Brasileira
para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS); instituições do
governo federal, como Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (EMBRAPA), Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET), Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ), Agência Na-
cional de Águas (ANA), Agência Nacional de Energia Elétri-
ca (ANEEL), dentre outras; centros estaduais de meteorolo-
gia e organizações não-governamentais, como World Wide
Fund for Nature (WWF), Instituto do Homem e Meio Am-
bientedaAmazônia(IMAZON)eGreenpeace.Ogrupotam-
bém trabalha em conjunto com o Programa Nacional de
Mudanças Climáticas do Brasil e com programas nacionais
de alguns países da América do Sul.
Geoindicadores
Outra importante ferramenta que tem sido divulgada
nos últimos anos pela comunidade científica se refere à
utilização de geoindicadores. Com base nos trabalhos de
BERGER & IAMS (1996) e BERGER (1997), a IUGS, atra-
vés da (Comission on Geological Sciences for
Environmental Planning (COGEOENVIRONMENT), promo-
veu diversos encontros que culminaram na Iniciativa
GEOIN http://www.lgt.lt/geoin/ , que estabeleceu 27
geoindicadores básicos que foram usados em diversos tra-
balhos no Brasil e em diversos países, sobre diversos te-
mas relacionados às mudanças climáticas, seus impactos
e ações de adaptação, principalmente, e prevenção.
Os Geoindicadores são medidas (magnitudes, fre-
qüências, taxas e tendências) de processos geológicos e
fenômenos que ocorrem na superfície terrestre ou próxi-
mo a esta, sujeitos a mudanças significativas para o en-
tendimento de mudança ambiental em períodos de, no
máximo, 100 anos (podendo se estender para 100-200
anos). Seu conhecimento e monitoramento é um impor-
tante subsídio para as medidas de adaptação e ao desen-
volvimento sustentável. Tais indicadores são baseados em
métodospadronizadoseprocedimentosdemonitoramento
multidisciplinares, com base científica, a partir de dados
de geologia, geoquímica, geomorfologia, geofísica,
hidrologia e outras ciências da Terra, no intuito de se ava-
liar as condições de ambientes terrestres e costeiros, tanto
em nível local quanto global, para então entender as cau-
sas e efeitos produzidos por esforços antrópicos ou natu-
rais adicionados ao sistema.
As colunas da direita do Quadro 11.1 são uma tenta-
tiva de mostrar a importância relativa das forças naturais,
em contraste com as tensões induzidas pelo homem, nas
causas da mudança que um determinado geoindicador
controla (BERGER, 1998).
A aplicação desses parâmetros, que determinam alte-
rações nas paisagens, tanto em áreas urbanas quanto ru-
172
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Quadro 11.1 – Lista dos geoindicadores e respectivas influências das tensões humanas e das forças naturais
Geoindicadores Mudanças ambientais que refletem
Forças
naturais
Tensões
humanas
Zonas áridas e semi-áridas
Crostas e fissuras em superfície desértica Aridez 1 2
Formação e reativação de dunas
Velocidade e direção dos ventos, umidade, aridez,
disponibilidade de sedimentos
1 2
Magnitude, duração e freqüência de
tempestade de areia
Transporte de areia, aridez, uso do solo 1 2
Erosão eólica Clima, uso do solo, cobertura vegetal 1 2
Criosfera
Atividade de solo congelado Clima, hidrologia, movimento de talude 1 2
Flutuações de geleiras Precipitação, insolação, fluxo de derretimento 1 3
Zonas costeiras e marinhas
Química do coral e padrão de
crescimento
Temperatura da água de superfície e salinidade 1 1
Nível relativo do mar
Subsidência e elevação costeira, clima, extração de
fluidos, sedimentação e compactação
1 2
Linha da costa
Erosão costeira, transporte e deposição de sedimentos,
uso do solo, nível do mar, clima
1 1
Lagos
Níveis e salinidade de lagos
Clima, uso do solo, fluxo de água (vazão), circulação da
água subterrânea
1 1
Rios e riachos
Fluxo de corrente Clima, precipitação, bacia de drenagem, uso do solo 1 1
Morfologia de canal
Carga de sedimento, velocidade de fluxo, clima, uso de
solo, subsidência
1 1
Armazenamento e carga de fluxo de
sedimento
Transporte de sedimento, taxa de fluxo, bacia de
drenagem, uso de solo
1 1
Áreas úmidas
Extensão, estrutura e hidrologia de
terras úmidas
Uso do solo, clima, produtividade biológica, vazão de
fluxo
1 1
Águas de superfície e subterrâneas
Qualidade de água de superfície
Clima, uso do solo, interações água-solo-rocha,
velocidade de fluxo
1 1
Qualidade da água subterrânea
Uso do solo, contaminação, alteração de rocha e solo,
radioatividade, precipitação de ácidos
2 1
Química da água subterrânea na zona
não saturada
Alteração de solos e rochas, clima, uso do solo 1 1
Nível da água subterrânea Clima, impermeabilização e recarga 2 1
Atividade cárstica
Química e fluxo da água subterrânea, clima, cobertura
vegetal, processos fluviais
1 2
Solos
Qualidade do solo
Processos químicos, biológicos e físicos no solo, uso do
solo
2 1
Erosão de solos e sedimentos Clima, tempestade de água, vento, uso do solo 1 1
Riscos naturais
Deslizamento de encostas
Estabilidade de taludes, movimentos lentos e rápidos de
massa, uso do solo, precipitação
1 1
Sismicidade
Natural e induzida pelo homem liberando tensões da
Terra
1 2
Atividade vulcânica
Movimento de magma próximo à superfície, liberação
de gases magmáticos, fluxos de calor
1 3
Outros
Seqüência e composição de sedimentos Clima, uso do solo, erosão e deposição 1 1
Regime de temperatura de subsuperfície Clima, fluxo de calor, uso do solo, cobertura vegetal 1 2
Deslocamento da superfície
Sublevação e subsidência da Terra, falhamento, extração
de fluidos
1 2
Nota: 1= Forte influência; 2 = Pode influenciar; 3 = Pouca influência
Fonte: BERGER (1997, 1998).
173
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo
rais, tem sido uma importante ferramenta entre gestores e
pessoas que tomam decisões. Os geoindicadores podem
ajudar a determinar impactos ambientais, monitorar ecos-
sistemas de forma contínua, selecionar práticas de reflo-
restamento e determinar condições de base prévias para
todo o planejamento de exploração mineral, usos da ter-
ra, construções de vias, canais, desvios de rios etc.
No caso de um país de dimensões continentais como
o Brasil, com grande diversidade de paisagens, clima, fau-
na, flora, uso do solo etc., é de extrema necessidade, a
partir de ações integradas entre órgãos governamentais,
universidades e organizações e pesquisadores autônomos,
o estabelecimento de uma rede nacional de geoindicado-
res integrada às demais redes internacionais. Dos 27 geo-
indicadores propostos por BERGER (1997), com exceção
daqueles relacionados às atividades vulcânicas ou gelei-
ras, praticamente todos podem ser incorporados à reali-
dade brasileira.
O conhecimento de nosso ambiente, a partir de mé-
todos científicos, precederia às tomadas de decisões ne-
cessárias, tanto para minimizar os impactos antrópicos
causados no meio, quanto ao desaceleramento das mu-
danças, ainda que ocorram a partir de causas naturais, ou
até para a adaptação humana às novas condições ambien-
tais, quando estas se tornam irreversíveis.
Sugestões de Medidas de Adaptação no
Brasil
Apesar das criticas ao modelo do IPCC por não consi-
derar os dados das ciências da Terra e estabelecer cenários
em parte inconsistentes, a intervenção do homem no meio
ambiente é notória e, assim, no Brasil, segundo BRANCO
e MARQUES (2008),,,,, deve-se já ir pensando na adaptação
com vistas a se adequar aos impactos causados pela mu-
dança global do clima, por meio da formulação e imple-
mentação de um conjunto de estratégias setoriais, que
consequentemente darão maior capacidade de adaptação
as populações, principalmente as que são mais carentes e
habitam em regiões sujeitas a um maior impacto das
intempéries.
Essa adequação se baseia na identificação da
vulnerabilidade dos biomas brasileiros ao aumento da con-
centração de gases de efeito estufa, e dos impactos decor-
rentes na sociedade brasileira, particularmente nas áreas
de zonas costeiras, saúde, biodiversidade, agropecuária,
florestas, recursos hídricos e energia.
Primeiramente, é absolutamente necessário aprimo-
rar a coleta de dados e dispor de modelos para elaboração
dos cenários futuros do clima no território nacional, de tal
forma a permitir melhores avaliações das vulnerabilidades
e dos impactos das mudanças climáticas globais, e permi-
tir assim a priorização de estratégias de adaptação.
Neste sentido é importante ressaltar que os modelos
do IPCC são construídos com base em pesquisas e traba-
lhos localizados quase que totalmente (aproximadamente
95%) realizados no Hemisfério Norte, o que torna esses
modelos enviesados do ponto de vista estatístico.
No que diz respeito ao estudo dos paleoclimas, é
importante a contribuição da Paleontologia, o estudo dos
espeleotemas e outras formas existentes nas cavernas em
ambiente cárstico, através de datações com isótopos de
C14
, O18
, U absoluto.
O monitoramento da mobilidade da linha de costa,
para distinguir tendências de ciclos e, assim, melhor orientar
asaçõesdegerenciamentocosteiroeordenamentosmunici-
pais de ocupação urbana, é outro elemento importante.
Como instrumento de gestão para a previsão de im-
pactos e estabelecimento de estratégias de adaptação de
estabelecimentos agrícolas às mudanças climáticas, res-
salta-se a importância de integração de zoneamentos eco-
lógicos e edafoclimáticos, que sinalizem para o uso sus-
tentável dos recursos naturais e dos ecossistemas, sobre-
tudo em áreas mais vulneráveis.
No que diz respeito aos recursos hídricos, reco-
menda-se aplicar instrumentos de gestão, notadamente
a gestão integrada de bacias hidrográficas, a fim de
facilitar a adaptação aos efeitos da mudança climática
sobre os regimes hidrológicos. O aumento populacional
no planeta não condiz com o aumento na demanda
por recursos hídricos. Há necessidade de mudança de
hábitos de consumo, ou seja, mudança de paradigmas.
A gestão dos recursos hídricos e o planejamento do
desenvolvimento urbano são estratégias para essa mu-
dança.
Examinar os impactos ambientais considerando a fre-
qüência e intensidade de desastres naturais para as popula-
çõespobresruraiseurbanasesobreainfra-estruturaurbana.
E, o uso racional de fertilizantes nitrogenados em ati-
vidades agrícolas e pecuárias.
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MARIA ANGÉLICA BARRETO RAMOS
Geóloga formada (1989) pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre (1993) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Ingressou na CPRM/BA em 1994, onde atuou em Mapeamento Geológico no Projeto Aracaju ao Milionésimo. A partir de
1999, na área de Gestão Territorial, participou dos projetos Acajutiba-Aporá-Rio Real e Porto Seguro-Santa Cruz Cabrália,
onde também passou a atuar na área de Geoprocessamento, integrando a equipe de coordenação do Programa GIS do
Brasil e do Banco de Dados GEOBANK. Atualmente, exerce a Coordenação Nacional de Geoprocessamento do Projeto
Geodiversidade do Brasil no Departamento de Gestão Territorial (DEGET).
SAMUEL MAGALHÃES VIANA
Graduado em Geologia (1999) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre (UERJ/2003). Doutor em
Ciências (UERJ/2008), com área de concentração em Análise de Bacias e Faixas Móveis. Iniciou suas atividades profissionais
como geólogo de Engenharia em Projetos de Usinas Hidrelétricas. Entre 2005 e 2006, exerceu pela UNAP atividades de
perfilagem em poços off shore para exploração de petróleo. Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/
Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 2007. Desde então, desenvolve suas atividades no Departamento de Gestão
Territorial (DEGET), com atividades aplicadas a riscos geológicos envolvendo escorregamentos e inundações.
ELIAS BERNARD DA SILVA DO ESPÍRITO SANTO
Graduado em Geografia (2004), pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Especialização em Modelagem
em Ciências da Terra e do Ambiente (UEFS 2006). Professor de Fundamentos de Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento pela Faculdade Maria Milza (2006 – 2007). A partir de 2005 passou a atuar na equipe da Divisão de
Geoprocessamento da CPRM-DIGEOP.
175
ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE
Suely Serfaty-Marques
12
ECOLOGIA HUMANA NA
GEODIVERSIDADE
Suely Serfaty-Marques (suely_serfaty@be.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Escopo, Conceitos e Objetivos .................................................. 176
Campo de Aplicação ................................................................. 177
Abordagem Metodológica ....................................................... 177
Desafios e Contribuições .......................................................... 178
Enfoque Humanístico ............................................................... 178
A Ética na Ciência ..................................................................... 179
Lições de Ética .......................................................................... 179
Conclusão ................................................................................. 180
Bibliografia ............................................................................... 180
176
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
A geodiversidade e sua aplicação representam a fu-
são do conhecimento das geociências, que, juntamente
com o saber das demais áreas científicas, são indispensá-
veis ao planejamento e ocupação do território nacional,
em prol da sociedade brasileira.
Não obstante, cabe refletir sobre a conduta ética de-
sejável nos programas e projetos de desenvolvimento que
projetem a plena realização dos mais nobres desejos de
uma população jovem, que almeja um meio ambiente
natural e social harmonioso, com espaço para a convivên-
cia pacífica entre todos.
Desse modo, urge que se adote um novo paradigma
que apregoe o bem-estar coletivo como política máxima,
sobrepondo-se a visões demagógicas, setoriais ou indivi-
dualistas.
Para que se obtenha tal avanço e consolidação, preci-
sa-se estudar e diagnosticar a atuação das sociedades hu-
manas sobre os territórios e a aplicação desses conheci-
mentos no planejamento dos programas e projetos de
desenvolvimento econômico e social.
O resultado da evolução da consciência individual e
coletiva sobre o papel homem-natureza é essencial em
qualquer estudo; só assim serão soterrados os modelos
cartesianos, com relação aos meios físico, biótico e social.
A ecologia humana estuda o comportamento do ho-
mem sob variáveis ambientais. É alicerçada por conceitos
da biologia e compreende três abordagens: de sistemas,
evolutiva e aplicada ou demográfica. Seu estudo da “rela-
ção do homem com o ambiente” repercute em pondera-
ções econômicas, sociais e psicológicas, transcendendo a
singular visão da ciência ecológica.
A adaptação do indivíduo ou do grupo significa para a
espécie humana uma das maiores razões para o sucesso
reprodutivo. Quanto ao ambiente, é comum incluir-se “am-
biente social” como uma variável ambiental, o que signifi-
ca ampliar-se o conceito de ambiente ao aplicá-lo às popu-
lações humanas. Assim sendo, identificam-se várias “eco-
logias humanas”, provenientes da junção de áreas
dessemelhantes, muitas vezes conceitualmente indefinidas
ou pouco claras.
O planeta Terra remonta uma história geológica, cuja
matéria mineral, mínero-orgânica, primordialmente não-
viva, evoluiu para um sistema orgânico, comumente cha-
mado de vida orgânica. Trata-se de uma película que en-
volve um esqueleto essencialmente abiótico – a hipótese
de Gaia, a Terra viva.
O conjunto dos componentes da Terra interage se-
gundo vinculações sistêmicas, disso sucedendo que essa
é a forma mais correta de abordagem do temário, que diz
respeito ao conhecimento das inter-relações.
Embora sua idade seja superior a quatro e meio bi-
lhões de anos, o homo sapiens, que provém de uma li-
nhagem evolutiva, somente nela apareceu há cerca de seis
milhões de anos. Apesar disso, essa espécie, nos últimos
100.000 anos, desenvolveu grande habilidade para sobre-
viver às mais extremas mudanças climático-ambientais. Su-
cessivas tecnologias permitiram-lhe habitar praticamente
todos os recantos dos cinco continentes, em quase todas
as altitudes e latitudes, o que representa um incomparável
feito em termos biológicos.
No que tange à agricultura e à pecuária, o homem
produziu inúmeras e potentes ferramentas e tecnologias,
que se vêm constituindo em importantes agentes
ambientais sobre os ecossistemas. Por essa razão, muitos
geólogos especializados em geologia do Cenozóico acei-
tam o período de 10.000 a.P. (antes do presente) como o
limite para o Quinário ou Tecnógeno (TER-STEPANIAN,
1988), em que o papel desempenhado pelo homem mo-
derno, depois que começou a praticar a agricultura, re-
presenta um evento geológico de magnitude global.
Nesse ponto, cabe argumentar que, filosoficamente,
a sociedade atribui à espécie humana um grande diferen-
cial em relação aos demais animais, seja por sua inteligên-
cia ou pela dotação de uma alma de origem divina. Con-
tudo, não se podem desconhecer as relações de
interdependência entre o homem e os fenômenos plane-
tários e cosmosféricos. Os geólogos perceberam e
enfatizaram o quanto o desenvolvimento das espécies ve-
getais e animais co-evoluiu com os geossistemas, ao lon-
go de bilhões de anos.
Entrementes, o antropocentrismo obliterou a transfe-
rência dessa “verdade” para as relações da espécie huma-
na com o meio ambiente. Com exceções a culturas pouco
tecnológicas ou científicas, os povos que se expandiram e
dominaram continentes agiram como se estivessem no
centro da criação, em que o meio ambiente existia para
servir a seus propósitos, segundo desígnios superiores.
Assim, o tratado das civilizações humanas é ponti-
lhado de grandes desastres ecológicos e sociais, refletindo
a progressiva degradação dos recursos ambientais, como
decorrência da má ocupação do meio ambiente, desta-
cando-se o declínio das grandes civilizações mediterrâ-
neas e mesopotâmicas, que foram o berço da humanida-
de. Por exemplo, no século XII, a Europa já sofria um
desmatamento desenfreado.
Somente a partir do século XIX, com o crescimento
explosivo da população mundial, surgiu a consciência das
limitações dos recursos ambientais e da singularidade do
meio ambiente.
ESCOPO, CONCEITOS E OBJETIVOS
A “ecologia humana” foi criada por Juan José Tapia
Fortunato (1993), com uma enorme massa de dados pró-
prios e oriundos de diversas teorias, tais como: Psicologia
Analítica de Jung, Programação NeuroLingüística (PNL),
Aprendizagem Acelerativa, Análise Transacional, Física
Quântica, Teoria Holotrópica da Mente e muitas outras,
formando um verdadeiro arsenal de tecnologia aplicável
ao desenvolvimento da ética individual, a partir de enfoques
educacionais, organizacionais e psicoterápicos, usando
todos os meios disponíveis de comunicação.
177
ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE
Suely Serfaty-Marques
É uma ciência transdisciplinar, com ascendência a
todos os demais campos da ciência, no que tange ao pro-
cesso evolutivo do homem em relação ao planeta Terra.
Seu objeto de estudo é a relação do ser humano com o
seu ambiente natural.
Assim sendo, a ecologia humana é uma hipótese so-
bre a convivência, a ética e a condição humana, cujo co-
nhecimento e treinamento sistemático, em prol da boa
relação humana, objetivam recuperar a harmonia com o
meio ambiente e cultivar os deveres, o respeito e a ética
individual e coletiva.
Os ecossistemas humanos ou antrópicos conjugam
tantooselementosnaturais(orgânicoseinorgânicos)quan-
to os culturais (hábitos, valores e tecnologias). São res-
ponsáveis pelo suporte à vida humana, cujo enfoque
antropocêntrico se caracteriza pela busca ao atendimento
das necessidades físicas e psicológico-mentais.
Dessa forma, o ambiente afetado pela população
humana poderá ser mais ou menos favorável à conserva-
ção dos serviços ambientais benéficos à saúde, ao forneci-
mento de matérias-primas essenciais ao bem-estar ou
manutenção das civilizações, despontando nesse quesito
a água, os solos e os recursos minerais.
O homem exerce influência em outra variável essen-
cial ao suporte da vida, que é o clima, uma questão con-
siderada, até então, de fundamental interesse geológico
(mudançaslentas,segundoperíodosoueras).Apartirdessa
percepção, os primeiros exercícios concernentes às conta-
bilidades ambientais demonstraram que o estilo de vida
“industrial”, que hoje se propaga por quase todo o plane-
ta, é ambientalmente insustentável, considerando-se os
atuais níveis tecnológicos predominantes.
CAMPO DE APLICAÇÃO
Não há um consenso universal sobre qual deva ser o
papel da ecologia humana, coexistindo várias linhas con-
temporâneas. A interação de populações humanas com o
meio ambiente é analisada sob o ponto de vista da ecolo-
gia e de disciplinas afins, como a antropologia, geografia,
sociologia e psicologia.
Por outro lado, apesar da tentação de encarar-se a
ecologia humana como um ramo da ecologia, implican-
do a aplicação de métodos dessa ciência, isso não é corre-
to, uma vez que ela inclui fatores econômicos, sociais e
psicológicos, que incluem as variáveis que nos diferenci-
am, em termos de comportamento, de outras espécies
animais.
É justamente essa sobreposição da capacidade de mu-
dareadaptaromeioambienteàssuasnecessidades,emum
sentido mais amplo que apenas a satisfação das necessida-
des básicas, que faz com que a ecologia humana se revista
de tantos desafios para a compreensão e o modelamento.
A ecologia humana inclui o mapeamento da diversi-
dade cultural em todos os seus aspectos, mas também é
mais do que apenas um retrato, um instantâneo, na me-
dida em que a cultura evolui conforme evolui mentalmente
o individual e o coletivo; nesse sentido, ocorre uma difi-
culdade intrínseca, que é a incapacidade de realizar expe-
rimentos em larga escala ou que possam ser reproduzidos
com o grau de confiabilidade das chamadas ciências exa-
tas – e a economia é pródiga.
Os resultados auferidos por meio de documentos his-
tóricos não são suficientes para que se afirme a sua repro-
dução, uma vez que os sistemas vivos têm a peculiar capa-
cidade de aprender e ohomo sapiensem particular. É como
se disséssemos que o presente não é a chave do passado,
mas a decorrência, o resultado de concepções e ações to-
madas anteriormente. Da mesma forma que o futuro não é
uma simples projeção do passado, ou como diria GODET
(1985, 1997): “o futuro é uma construção social” que é
uma das pedras de suporte do raciocínio que conduz às
técnicas de elaboração de cenários futuros.
ABORDAGEM METODOLÓGICA
Metodologicamente, devem-se recuperar algumas
abordagens interessantes aos estudos do homem. Assim,
MARGALEFF (1977) apresenta dois enfoques: a) o homem
como mais uma espécie componente dos ecossistemas;
b) o homem e a natureza, como sistemas individuais. O
primeiro é mais científico e, o segundo, mais prático. Na
realidade, o primeiro enfoque tem sido característico das
ciências biológicas e o segundo, das sociais.
No caso dos esforços de órgãos de planejamento para
coordenar e ordenar a ocupação do território brasileiro,
sobretudo na Amazônia, inicialmente se adotou o segun-
do enfoque, na medida em que as zonas ecológico-eco-
nômicas seriam definidas a partir da intersecção de ele-
mentos do meio físico-biótico (sustentabilidade e vulnera-
bilidade) e do meio social (potencialidade).
Essa abordagem, ainda que útil, não consegue cap-
turar todos os elementos necessários para um zoneamento
que conduza ao desenvolvimento sustentável. Conseqüen-
temente, os trabalhos conduzidos pela Companhia de Pes-
quisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil
(CPRM/SGB), sobretudo na Amazônia, valeram-se dos con-
ceitos desenvolvidos por ODUM (1983, 1985). Eles pro-
põem que a natureza, em sua estrutura e função, consista
de animais, plantas e microorganismos adaptados ou em
adaptação ao meio físico e ao clima, ou seja, um
ecossistema e sociedades humanas, em que as partes vi-
vas são interligadas por um fluxo de substâncias químicas
e energia, enquanto na porção antrópica ocorrem trocas
de informações e trocas econômicas (monetárias).
Tal percepção conduziu à busca simultânea de se
desenvolverem modelos capazes de tornar previsível o
comportamento da biodiversidade e do meio físico e de
técnicas que permitissem auscultar o futuro não como
uma projeção do passado, mas como uma construção
social, fruto da interação dos entes sociais ao longo da
trajetória a ser descrita.
178
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Desse modo, adotaram-se técnicas de elaboração de
cenários alternativos às práticas de zoneamento ecológi-
co-econômico, fundamentais para uma sociedade em pro-
cesso de modernização, mas com graves problemas soci-
ais. Correspondem a modelos de desenvolvimento viáveis,
em uma projeção para as próximas décadas, sendo forte-
mente influenciados pela apropriação de recursos natu-
rais, sobretudo de recursos minerais, petróleo e água, so-
los (agroflorestais) e serviços ambientais.
Assim sendo, é eminente o papel dos recursos da
geodiversidade como elementos estratégicos para o de-
senvolvimento econômico e social do país. Não se res-
tringe, portanto, à descoberta e aproveitamento dos re-
cursos da biodiversidade, mas a utilizá-los dentro de uma
perspectiva cujo contexto seja ambientalmente sustentá-
vel, economicamente viável e socialmente justo, ou seja,
efetivamente humano, conforme as mais modernas con-
cepções.
O bom êxito depende do correto planejamento e da
construção coletiva, elaborados a partir de uma visão do
futuro desejado, com base nesses conceitos, definindo as
oportunidades e prevenindo acidentes de percurso inter-
nos e ameaças externas, que produzirão os caminhos crí-
ticos ou eixos de desenvolvimento desejáveis que contem-
plem um cenário futuro de bem-estar coletivo (felicidade
social).
Em verdade, poder-se-ia dizer que dentro de uma vi-
são filosófica, os recursos da biodiversidade devem ser
encarados como um capital natural, posto à disposição
da humanidade para que esta dele se utilize em prol de
seu desenvolvimento físico, mental e espiritual.
DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES
Aqueles que se debruçam sobre a geodiversidade fa-
cilmente se apercebem que o território brasileiro realmen-
te abarca uma grande variedade de ambientes e recursos
minerais, combustíveis fósseis, solos, água, energia eólica,
belezas cênicas e outros, sob forma de metais,
petroquímicos, energia, transporte. Apesar disso, a socie-
dade, como um todo, desconhece a real importância da
atividade mineral e a falta que faz o discernimento geoló-
gico em todas as suas atividades, predominando, assim,
uma visão simplista de que ela destrói o meio ambiente.
Por outro lado, com relação ao setor mineral, há a
necessidadedeseinternalizaraocupaçãohumanaemáreas
ínvias, desprovidas de logística, diferentemente da agri-
cultura, por exemplo. A mineração é capaz de criar imen-
sos pólos de riqueza (PIB) que funcionam como promoto-
res de uns poucos milhares de empregos bem remunera-
dos, cercados por um halo de pobreza, formado pelos
excluídos dos processos produtivos no campo e na cida-
de, emergentes de todo o país.
Onde está, então, o problema, no que tange à mine-
ração organizada, geradora de riqueza, que vem pagando
os devidos impostos e contribuindo para o balanço de
pagamentos? Naqueles que, não tendo mais o que per-
der, vivem a expensas das sobras do megaempreendimen-
to? Para onde foram destinados os impostos oriundos da
mineração, às vezes por décadas? A resposta se resume
na governabilidade ou qualidade da governança, o que
significa que, embora sem riqueza, pode-se satisfazer às
necessidades básicas de todos, desde que haja uma boa
gestão, sem a qual jamais se poderão obter resultados
satisfatórios.
Todo esse infortúnio se justifica pela ausência de bons
projetos de desenvolvimento, capazes de mobilizar a so-
ciedade, melhorando a rentabilidade dos investimentos,
com políticas públicas embasadas na ética, no potencial
econômico e nas possibilidades intelectuais e culturais.
Dessa forma, precis-se complementar uma visão ecológi-
co-preservacionista aos aspectos psicológicos das popula-
ções afetadas, em termos de perdas culturais, hábitos de
sobrevivência humana, auto-estima e dignidade; variáveis
ou indicadores que ainda não conseguem competir, no
mesmo nível, com os fatores econômicos clássicos.
O maior dos desafios consiste em se estabelecer mo-
delos econômicos adequados às sociedades que irão im-
pactar, como elemento primário para a racionalização dos
processos desenvolvimentistas. A construção social de um
futuro comum, de alta qualidade, deve ser, obrigatoria-
mente, o objetivo maior a ser perseguido. Para alcançá-lo,
torna-se necessário definir as habilidades e especificidades
contidas no ramo do conhecimento das engenharias cons-
trutivas, ambientais, sociais, bem como a ética coletiva
na implementação de programas econômicos. Sempre se
devem implementar estudos com base em uma nova en-
genharia, que defina, nesta ordem, os processos sociais,
econômicos e ambientalmente sustentáveis, e não mode-
los aleatórios.
ENFOQUE HUMANÍSTICO
A análise sistêmica demonstra que existem profundas
correlações entre o macro- e o microcosmo, assim como
entre as segmentações convencionais do conhecimento
que chamamos de “ciências”.
A análise transacional, por exemplo, que tem como
fundador Eric Berne, representa uma ferramenta impor-
tante ao autoconhecimento e à expansão da consciência;
proporciona às pessoas uma visão real do todo, imprimin-
do-lhes o dever de aceitação e de boa convivência com o
diferente, dentro da imensa diversidade do Universo, bus-
cando, assim, a obtenção da eficiência na vida e nas orga-
nizações.
A trabalhabilidade é um conceito criado para descre-
ver uma nova condição do trabalhador ou das instituições
(e grupos de trabalho) diante do mercado de trabalho.
Consiste em que, a cada indivíduo ou coletivamente, cabe
assumir a responsabilidade de gerenciar o desenvolvimen-
to e aperfeiçoamento de suas competências duráveis e
atualizar, de forma constante, as competências transitóri-
179
ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE
Suely Serfaty-Marques
as ou renováveis, competências essas que possuem um
valor de mercado (econômico latu sensu) e poderão ser
utilizadas tanto na relação empregatícia como em outras
formas de atividade remunerada, ou seja: existe mercado
para o que se produz?
Pessoas e instituições que investem em suas compe-
tências duráveis e, por isso, têm condições de constante-
mente atualizar-se, possuem maior amplitude de opções,
elevando assim sua probabilidade de sucesso.
Em termos de análise transacional, há um modelo teó-
rico da personalidade individual ou coletiva, segundo o qual
o estado de ego desempenha a função de executivo da per-
sonalidade. Os três estados de ego, descontaminados, atu-
amcombasenosdadosdarealidadeinternaeexterna,fruto
do diálogo entre o que permite às pessoas tomarem suas
decisões de forma consciente, responsável e gratificante.
Competências duráveis são capacidades, conhecimen-
tos, aptidões e experiências que proporcionam às pessoas
suficiente estabilidade e equilíbrio interno para lidar com
a instabilidade e a imprevisibilidade externa.
As competências duráveis manifestam-se por meio
de comportamentos, visão de mundo, posicionamentos,
decisões e trajetória de vida, que refletem a coerência pra-
ticada entre as palavras e as ações, fruto de um processo
de integração e equilíbrio entre os aspectos afetivos,
comportamentais e cognitivos.
São elementos construtivos das competências durá-
veis: autoconhecimento; competência interpessoal; sensi-
bilidade e intuição; conectividade; versatilidade/adaptabi-
lidade; capacidade de negociação e de administrar confli-
tos; abertura e disposição para aprender e reconstruir ex-
periências.
Oelemento-síntese,quecongregatodososdemais,éa
capacidade de criar e manter redes de relacionamento (o
outro intangível), engajar pessoas em objetivos comuns, es-
tabelecer vínculos duradouros e autênticos com uma ampla
gama de pessoas, parcerias, alianças e contatos diversifica-
dos.
A conectividade está intimamente ligada à competên-
cia interpessoal, autenticidade, empatia, credibilidade, en-
tusiasmo, amplitude de interesses e sensibilidade.
E, por assim ser, a análise transacional é uma teoria
que se vem difundindo globalmente, com seu jeito sim-
ples e prático de ajudar o ser humano; dessa forma, está-
se tornando efetiva no apoio à vida e às organizações.
A ÉTICA NA CIÊNCIA
A ética é a teoria ou ciência do comportamento mo-
ral dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma
forma específica de comportamento humano (Aristóteles,
384-322 a.C.).
Ainda segundo Aristóteles, toda a atividade humana,
em qualquer campo, tende a um fim que é, por sua vez, um
bem: o bem supremo ou sumo bem, que seria resultado do
exercício perfeito da razão, função própria do homem.
O estudo dos juízos referentes à conduta humana é
vital na produção da realidade social. Relaciona-se ao de-
sejo de realização plena da vida.
Todas as atividades envolvem uma carga moral, inter-
ligando a ética ao comportamento humano. Valores so-
bre o bem e o mal, certo e errado, permitido e proibido
definem diferentes protótipos.
O Homem só realiza sua existência no encontro com
seu semelhante, sendo que todas as suas ações e decisões
afetam as outras pessoas. Algumas regras coordenam e
harmonizam essa inter-relação de convivência e coexis-
tência. Elas indicam os limites de submissão ou
sobreposição de cada indivíduo e representam os códigos
culturais, que protegem ao mesmo tempo em que obri-
gam.
A moral tem um poderoso caráter social. Ela é adqui-
rida como herança e preservada pela comunidade. Apóia-
se na cultura, história e natureza humana.
LIÇÕES DE ÉTICA
Sobre o estabelecimento da ética nas atividades rela-
cionadas ao Homem, depreendem-se algumas conclusões
fundamentais.
Do ser humano, há de se fazer aflorar seu potencial
de individualidade e autonomia. Para isso, precisa ser cul-
tivado o limiar de sua auto-estima, que advém de uma
conduta esmerada, por meio de uma disciplina individual
e coletiva despertada pela consciência sobre o fundamen-
to de cada coisa, do pontual para o todo e deste para o
detalhe.
Incidentes traumáticos, decorrentes da falta de
humanismo, do ódio, da fome, da corrupção ou da guer-
ra, ameaçam toda a espécie humana. Sem dúvida, afe-
tam a inteligência, o rendimento e a motivação para a
vida.
Objetivamente,nasuperfíciedoplaneta,todasasações
devem ter como prioridade a solução para a fome básica,
ou seja, a preservação da sobrevivência. A seguir, deve-se
levar em conta a supervivência (evolução humana).
Aliado a isso, o espaço e o território são instrumentos
fundamentais à teoria e técnicas da ecologia humana. Por
meio deles, descobre-se o “entorno” essencial, onde se de-
senvolve o processo de mudança do ser humano. Consiste
no alcance, em profundidade, do que é viver ecologicamen-
te consigo mesmo, com os outros e com o universo.
O meio ambiente humano combina, assim, tanto os
elementos naturais (orgânicos e inorgânicos) quanto os
culturais, que dão suporte à vida humana nos diversos
ambientes em que ela se desenvolve e pode ser observado
nas mais diferentes escalas espaciais.
É fundamental a conscientização de que há uma sé-
rie de atitudes não descritas nos códigos de todas as pro-
fissões, mas que são inerentes a qualquer atividade.
Portanto, não se pode dissociar o sucesso contínuo
do comportamento eticamente adequado.
180
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
CONCLUSÃO
Do exposto, conclui-se que a compreensão do fenô-
meno humano, quanto ao atendimento a suas necessida-
des e potencialidades, é fundamental à implementação
de programas e projetos que disponham sobre os recur-
sos da natureza, inclusive os da geodiversidade.
Tais programas e projetos precisam de interação e
sobreposição analogamente a uma pirâmide, que vai do
atendimento às necessidades básicas, na base, culminan-
do, no topo, para as aspirações mais elevadas.
Em síntese, é preciso que os cientistas, os técnicos e
a população em geral adquiram a consciência de que não
há um futuro pronto que os espere. Ao contrário, o futu-
ro, com relação ao ambiente natural e social-econômico,
será conseqüência das ações no percurso de cada indiví-
duo ou sociedade.
O homem, que é parte constituinte de um sistema
ecológico, deve cingir-se segundo as relações evolutivas
de seus subsistemas físico, mental e espiritual.
Dopontodevistadaavaliaçãoeplanejamentodousoe
desenvolvimento do território (geodiversidade), é preciso
conheceradequadamenteoscomponentesfísicosebióticos,
bemcomomapearosatoressociais,suapotência,motricidade,
tendências e interações segundo o seu grau de incerteza,
conjugados com os estados (hipóteses) críticos.
De posse de um modelo estruturado, construído por
meio de uma conduta eticamente adequada, transformar-
se-ão as incertezas em significativas probabilidades, pro-
porcionando, assim, o máximo de felicidade ao maior nú-
mero de pessoas.
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SUELY SERFATY-MARQUES
Graduada (1975) em Geologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Especialização em Petrologia e Engenharia do
Meio Ambiente. Atualmente, trabalha como geóloga da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico
do Brasil (CPRM/SGB), onde exerce a função de assistente da chefia da Divisão de Gestão Territorial da Amazônia. Durante
todo o período universitário, trabalhou como estagiária no Projeto RADAM. Nos primeiros 15 anos de carreira, dedicou-
se à análise petrográfica e a estudos de Petrologia e Mineralogia, tendo atuado nos estados do Pará e Goiás em diversos
órgãos geocientíficos governamentais, tais como: SUDAM, IDESP (POLAMAZÔNIA), UFPA/FADESP, NUCLEBRAS, DNPM/
CPRM. A partir de 1991, voltou-se para os estudos ambientais. De 1992 a 1997, dedicou-se ao abastecimento hídrico e
à gestão municipal. A partir de 1997, vem-se envolvendo com o Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia
(Organização dos Estados Americanos – OEA), especialmente nas faixas de fronteiras com os países da Pan-Amazônia,
onde atuou como assistente da coordenação brasileira nos projetos de cooperação com a Venezuela, Colômbia, Peru e
Bolívia. Recentemente, vem direcionando seus esforços à divulgação do papel e aplicação do conhecimento da Ecologia
Humana, na gestão territorial voltada para o desenvolvimento sustentável.
181
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
13
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS
DO CONHECIMENTO DA
GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva (cassio@rj.cprm.gov.br)
Valter José Marques (vmarques@be.cprm.gov.br)
Marcelo Eduardo Dantas (mdantas@rj.cprm.gov.br)
Edgar Shinzato (shinzato@rj.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Instrumento de Planejamento, Gestão e Ordenamento
Territorial .................................................................................. 183
Ordenamento urbano ........................................................... 185
Ocupação e uso do território ................................................ 186
Descoberta de concentrações minerais .................................... 188
Recursos Minerais do Mar......................................................... 190
Grandes Obras de Engenharia.................................................. 191
Agricultura ............................................................................... 191
Disponibilidade de Água e Adequada Utilização...................... 192
Saúde ....................................................................................... 193
Evolução da Terra e da Vida ..................................................... 194
Meio Ambiente......................................................................... 196
Prevenção de Desastres Naturais .............................................. 196
Avaliação e Monitoramento das Mudanças Climáticas ............. 199
Geoconservação e Geoturismo ................................................. 199
Educação .................................................................................. 201
Políticas Públicas ....................................................................... 201
Bibliografia ............................................................................... 202
182
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
A geodiversidade se manifesta, no ambiente natural,
por meio das paisagens e das características do meio físi-
co dos locais em que vivemos. Uma intervenção inade-
quada na geodiversidade pode gerar problemas críticos
para a nossa qualidade de vida e, também, para o meio
ambiente. Somos, assim, bastante dependentes das ca-
racterísticas geológicas dos ambientes naturais – a geodi-
versidade –, na medida em que dela extraímos as matéri-
as-primas vitais para a nossa sobrevivência e desenvolvi-
mento social. É mister, assim, conhecer e entender seus
significados, já que, uma vez modificados, removidos
ou destruídos, quase sempre os aspectos da geodiversi-
dade sofrerão mudanças irreversíveis. Devido à íntima
relação entre os componentes do meio físico (suporte) –
geodiversidade – e os componentes bióticos (biodiversi-
dade), deve-se encarar de maneira sistêmica as relações
de estabilidade entre esses dois grandes componentes
ambientais.
Modernamente, veio a se ter a compreensão de que
as relações mantidas entre o homem (meio social) e a
natureza, em seus aspectos culturais e econômicos, de-
vem estar inseridas em análises ambientais, configuran-
do-se o que se convencionou denominar “ecologia pro-
funda”. Para realizarmos intervenções no território, deve-
mos adotar uma visão a mais abrangente possível, sistê-
mica, integrando a geodiversidade (meio físico), a biodi-
versidade (meio biótico), as questões sociais, culturais e
econômicas (sociodiversidade).
A comunidade geológica ingressa nesse rico debate a
partir da década de 1980, na medida em que busca apro-
ximar a geologia das demandas da sociedade, com a emer-
gência da “geologia social” (BERBERT, 1995), via estudos
vinculados à geologia ambiental. A par-
tir de então, o conhecimento geológi-
co passa a ser intensamente utilizado
nas análises voltadas para estudos am-
bientais, incorporando-se, ao domínio
comum, conceitos fundamentais como
os de exaustão dos recursos naturais e
de ética e sustentabilidade ambiental
(CORDANI, 2002; KELLER, 1996).
No que tange à demarcação do
campo de atuação da denominada ge-
ologia ambiental, esta congrega todas
as aplicações da ciência geológica, em
um enfoque sistêmico (o sistema Ter-
ra), aos estudos de gestão ambiental e
planejamento territorial (CORDANI,
2000; DOROTHY, 1998). Nesse senti-
do, a geologia se revelou uma ciência
profícua e de múltiplas aplicações, prin-
cipalmente no que concerne ao desen-
volvimento de alguns campos especí-
ficos do conhecimento geológico,
como: prospecção mineral, mapeamen-
to geológico, geofísica, geologia de pla-
nejamento, geologia de engenharia, geotecnia, pedolo-
gia, hidrologia; paleoclimatologia, paleontologia, espe-
leologia, geoquímica prospectiva e ambiental, geologia
urbana, riscos geológicos, geologia médica; geologia cos-
teira e marinha, ordenamento territorial geomineiro, ge-
oconservação, geoturismo, dentre outros (Figura 13.1).
Dentre as múltiplas contribuições do profissional em
geologia às esferas social, econômica, cultural e ambien-
tal, destacam-se: análise de desastres naturais (deslizamen-
tos, inundações, abalos sísmicos, colapso de terrenos etc.)
em áreas de risco geológico; disponibilização e preserva-
çãodeáguasubterrâneaoriundadeaqüíferossubterrâneos
para abastecimento humano, industrial, irrigação, desse-
dentação etc.; investigação de fatores que comprometem
a saúde pública, decorrentes de excesso ou carência de
determinados elementos químicos, ou a causas naturais
(intemperismo ou contaminação natural a partir do subs-
trato rochoso), ou a razões antrópicas (poluição doméstica
ou industrial); aplicação dos estudos do meio físico, lato
sensu, para subsidiar políticas de uso e ordenamento do
território (BENNETT e DOYLE, 1997; CORRÊA e RAMOS,
1995; DANTAS et al., 2001; DINIZ et al., 2005; KELLER,
1996; SILVA, 2008; THEODOROVICZ et al., 1999).
A partir da elaboração do conceito de geodiversida-
de, as geociências desenvolveram um novo e eficaz ins-
trumento de análise da paisagem de forma integral, ou
ecótopo (Figura 13.2), utilizando o conhecimento do meio
físico a serviço da conservação do meio ambiente, em
prol do planejamento territorial em bases sustentáveis,
permitindo, assim, avaliar os impactos decorrentes da
implantação das distintas atividades econômicas sobre o
espaço geográfico.
Figura 13.1 ––––– Principais aplicações da geodiversidade.
183
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO,
GESTÃO E ORDENAMENTO TERRITORIAL
De acordo com a metodologia adotada pela Compa-
nhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do
Brasil (CPRM/SGB), ao se proceder a um estudo da geodiver-
sidade,osdiversoscomponentesdomeioabióticoquecons-
tituem a paisagem do meio físico são analisados de acordo
com um conjunto de parâmetros geológicos, geotécnicos,
geomorfológicos, pedológicos e hidrológicos. Nesse senti-
do, o mapa geológico reveste-se de fundamental importân-
cia, por ser a infra-estrutura dos demais, os quais estão in-
trinsecamenterelacionadosedependentesdeste.
Osresultados,mapasetextoscaracterizam-seporuma
linguagem simples e objetiva das informações sobre o meio
físico, objetivando subsidiar o planejamento e a gestão do
território brasileiro em bases sustentáveis, principalmente
quanto às obras de infra-estrutura, exploração do potencial
mineral, práticas agrícolas, uso dos recursos hídricos e ris-
cos de contaminação dos solos e águas subterrâneas frente
a fontes poluidoras (THEODOROVICZ et al., 1999) e o apro-
veitamento do potencial de geoturismo (geoparques, sítios
geológicos, minas antigas, monumentos paleontológicos e
espeleológicos), apontando as adequabilidades e limitações
para o uso e ocupação dos territórios.
Essa abordagem vem sendo adotada por diversos
pesquisadores de várias partes do Brasil e de outros paí-
ses, sob a denominação de geologia ambiental ou geo-
ambiental, a partir dos enfoques clássicos desenvolvidos
pelas disciplinas do meio físico, tendo por objetivo a gera-
ção de informações voltadas para o planejamento e de-
senvolvimento sustentado do território.
Dessa forma, os estudos da geodiversidade têm-se re-
velado um excelente instrumento de planejamento e orde-
namento territorial, fornecendo subsídios técnicos para vá-
rios setores como: mineração (recursos minerais); energia
(petróleo, gás, carvão, turfa, hidrelétricas, nuclear, eólica,
solar); agricultura (fertilidade do solo, fertilizantes, correti-
vos de solos, disponibilidade hídrica); saúde pública (quali-
dade das águas, solos, ar); urbanismo (indicação de limita-
ção ou expansão); moradia (material de construção); defe-
sa civil (escorregamentos, inundações, abalos sísmicos,
abatimento de terrenos); transporte (obras viárias); turismo
(áreas de belezas cênicas); meio ambiente (diagnóstico e
recuperação de áreas degradadas) e planejamento, bem
como para diversas instituições públicas, comitês de bacias
hidrográficas, empresas privadas e também para progra-
mas de governo, como zoneamento ecológico-econômi-
co, ordenamento territorial, estudos da plataforma conti-
nental e ambientes costeiros (Quadro 13.1).
Figura 13.2 ––––– Ecótopos e níveis hierárquicos (adaptado de
ZONNEVELD, 1989).
Quadro 13.1 ––––– Quadro exemplificativo das interfaces do conhecimento geológico (geodiversidade) com setores produtivos, do
conhecimento e planejamento
Setor Contribuição Resultados
MineraL
Mapeamento geológico, geofísico, geoquímico,
bancos de dados. Metalogênese. Mapeamento das
variáveis ambientais
Aumento das reservas minerais e da produtividade do
setor. Adoção de modelos sustentáveis.
Agricultura
Hidrologia, hidrogeologia, hidrogeoquímica e geo-
química ambiental, insumos agrícolas, erosão, moni-
toramento de bacias
Melhoria da produtividade, adoção de modelos
sustentáveis.
Política agrária
Recursos minerais e hídricos para assentamentos;
sustentabilidade ambiental, monitoramento.
Melhoria da produtividade, adoção de modelos
sustentáveis. Solução de problemas sociais.
Urbanismo
Hidrologia urbana, hidrogeologia, abastecimento
hídrico, geotecnia.
Melhoria da qualidade de vida, aumento da produti-
vidade e adoção de modelos sustentáveis.
Desenvolvimento
nacional
Hidrologia e hidrogeologia, recursos minerais, para
apoiar os projetos de desenvolvimento, ao longo dos
macroeixos de desenvolvimento. Modelamento e
monitoramento de bacias.
Adoção de modelos sustentáveis. Redução dos custos
de implantação e manutenção das condições ambien-
tais.
Geopolítica e soberania
nacional
Avaliação integrada dos recursos naturais, para o
desenvolvimento sustentado. Modelamento de baci-
as, geoquímica ambiental, modelos sedimentométri-
cos, balanço de massa.
Adoção de modelos sustentáveis. Melhoria da ima-
gem nacional, perante as demais nações.
Geomedicina
Geoquímica ambiental, modelamento de bacias. Na
análise sistêmica, aplicada à previsão de áreas de risco
de endemias.
Melhoria da qualidade de vida e aumento da eficiên-
cia dos recursos aplicados na área de saúde, sanita-
rismo e urbanismo.
184
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Como exemplo da utilidade das in-
formações da geodiversidade para fins
de uso e ocupação, apresenta-se o caso
recente da Vila Pan-Americana do Rio
de Janeiro – que sofreu episódios de
afundamento de suas vias internas – e o
afundamento de uma das pistas da Ave-
nida Ayrton Senna, principal via de aces-
so à Barra da Tijuca (RJ), a 10 dias do
início dos XV Jogos Pan-Americanos Rio
2007 (Figura 13.3). O “Mapa Geoambi-
ental do Estado do Rio de Janeiro” (DAN-
TAS et al., 2001) contém informações
de trabalhos de campo na escala
1:250.000, tendo sido disponibilizado,
em 2000, na escala 1:500.000, para
vários órgãos do estado, prefeituras e
universidade. O mapa apontava para a
unidade geoambiental 2b, onde se en-
contram a Vila Pan-Americana e a Ave-
nida Ayrton Senna, a ocorrência de so-
los orgânicos de baixa capacidade de car-
ga, constituídos por argilas moles, que
condicionaram o processo de recalque diferencial que
afetou o arruamento e estruturas de um dos prédios da
Vila Pan-Americana (Figura 13.4). O mapa indicava a ina-
dequação daqueles materiais para a ocupação e constru-
Figura 13.3 ––––– Reportagem do jornal “O Globo”, às vésperas do início dos XV Jogos
Pan-Americanos Rio 2007.
Figura 13.4 ––––– Detalhe do Mapa Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro, escala 1:500.000, onde foi mapeada a Unidade
Geoambiental Planícies Flúvio-Lagunares 2b, na qual está inserida a Vila Pan-Americana, na Barra da Tijuca (DANTAS et al., 2001).
ção, sem a devida adoção de métodos construtivos es-
pecíficos das fundações, que atendessem às característi-
cas dos riscos geológico-geotécnicos naquele local (Fi-
gura 13.5).
185
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
Ordenamento Urbano
Nesse estrato do planejamento e gestão, o conheci-
mento geológico ilumina um amplo campo de aplica-
ções, principalmente nas regiões metropolitanas, que se
caracterizam por apresentarem expressivo adensamento
populacional e uma considerável concentração de ren-
da, além de graves distorções tipicamente urbanas, como
o crescimento físico desmesurado e desordenado, co-
nurbação, conflitos entre diversas atividades econômi-
cas, retenção especulativa do solo urbano e produção de
vazios sem infra-estrutura, uso e ocupação de solos ina-
dequados, crescimento físico nas periferias urbanas, com
formação de cidades-dormitório e segregação espacial
da população de baixa renda, aumento da poluição e da
agressão ao meio ambiente, com o comprometimento
dos recursos naturais.
Inúmeros são os casos documentados, na literatura
geológica, de áreas que possuíam depósitos minerais pas-
síveis de serem usados pela indústria da construção civil
(areia, saibro, seixo, argila, brita) e que foram ocupados
Figura 13.6 ––––– Disposição de lixo nas margens de lagoa em Rio
Branco (AC). Fotografia: Amilcar Adamy.
Figura 13.7 ––––– Implantação de cemitério em topo de duna fixa,
parcialmente desmatada (município de Baixio, litoral norte da Bahia).
Fotografia: L.C.B. Freitas.
Figura 13.5 ––––– Recorte da legenda do Mapa Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro, que descreve a subunidade geoambiental 2b1,
contendo muita matéria orgânica no solo. Em “Limitações”, observa-se que a área é inadequada para urbanização, obras viárias
e disposição de resíduos sólidos (DANTAS et al., 2001).
Unidades
Geoambientais
Descrição
2b Planícies
Flúvio-lagunares
(brejos)
Planícies fluvio lagunares com sedimentos quaternários, argilo-arenosos ou argilosos ricos em matéria orgânica. Ambiente redutor, com Solos
Gleis Pouco Húmicos salinos, Gleis Húmicos Tiomórficos e Solos Orgânicos Tiomórficos. Campos hidrófitos de várzea (2b1) e campos
halófitos de várzea (2b2) ocupados por pastagens. A precipitação média anual varia de 700 a 1.300mm.
Esta subunidade é expressiva nos baixos cursos dos rios São João, Una, Macaé e Macabu, nas áreas mais próximas à linha de costa das baixadas
fluviomarinhas de Sepetiba e de Guanabara e nas baixadas fluviolagunares de Jacarepaguá, Maricá, Saquarema e entorno da Lagoa Feia.
Terrenos inundáveis, com baixa capacidade de carga. Solos com altos teores de
sais e enxofre (Solos Tiomórficos), com elevado risco de acidificação nas drenagens.
Inaptos na agricultura e pastagem plantada. Lençol freático subaflorante.
Inadequados na urbanização, obras viárias e disposição de resíduos
sólidos. Aqüíferos livres, rasos, com potencial restrito e águas freqüentemente
salinizadas. Teores altos de Pb, Al e Se nas águas de Araruama, Al e F na foz dos
rios S. João e Una, Zn e F na água e sedimentos de corrente da Região de R. dos
Bandeirantes.
Pastagens naturais. Atividade pesqueira nas lagunas. Na Baixada Campista, ocorrem
aqüíferos confinados e semiconfinados de potencialidade higrogeológica.
Preservação e recuperação ambiental de lagunas, brejos e banhados. Cuidados
para evitar contaminação e rebaixamento do lençol freático.
Limitações Potencialidades
Recomendações
por vilas populares, obrigando a sociedade a se valer de
jazidas cada vez mais distantes dos centros consumido-
res, a custos crescentes, com prejuízos sociais expressi-
vos.
É importante racionalizar a utilização dos recursos
naturais existentes na região, necessários para o incre-
mento da produção mineral, principalmente, de materi-
ais para a construção civil, abastecimento de água e in-
sumos básicos para a atividade industrial, de forma a
compatibilizar a aptidão do meio físico e a preservação
ambiental com o desenvolvimento econômico e a me-
lhoria da qualidade de vida da população. Por falta de
planejamento, é comum a ocorrência de áreas adequa-
das à agricultura (cinturão verde) e nascentes de rios ur-
banizadas de forma inconseqüente. É também corriquei-
ra, infelizmente, a ocorrência de aterros sanitários/lixões
e cemitérios às margens de rios ou em solos que facili-
tam a contaminação dos lençóis de águas subterrâneas,
bem como ocupação humana em áreas de riscos geoló-
gico-geotécnicos (deslizamento, afundamento, inunda-
ção) (Figuras 13.6 e 13.7).
186
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Essas situações, comuns à grande maioria das regi-
ões metropolitanas, tipificam um verdadeiro caos ambi-
ental e são devidas à falta de um planejamento adequado,
para o qual é de fundamental importância a disponibilida-
de de informações básicas sobre as características do meio
físico, contemplando aptidões e restrições ao uso e ocu-
pação.
Ocupação e Uso do Território
O conhecimento da geodiversidade é um aspecto
essencial para que se proceda à ocupação segura dos di-
versos terrenos e paisagens. A desconsideração dessa afir-
mativa tem sido responsável por inúmeros prejuízos am-
bientais, econômicos e sociais por parte da sociedade bra-
sileira, como estão a atestar inúmeras experiências históri-
cas e recentes na ocupação do território brasileiro.
Um dos exemplos didáticos é a alocação de colonos
ou de empreendimentos agrícolas de forma inadequada,
previsivelmente insustentável do ponto de vista da dispo-
nibilidade hídrica, dos potenciais solos, ou da estabilidade
dos terrenos, frente à retirada da vegetação (Figura 13.8).
Outra situação que, de maneira análoga, influencia
o tipo de manuseio e finalidade do território, diz respeito
às características estruturais e morfológicas dos terrenos
localizados na porção ocidental do estado do Acre, afe-
tados por importante tectônica reflexa, oriunda da for-
mação da Cadeia Andina (Figuras 13.9, 13.10, 13.11 e
13.12).
A ocupação das áreas litorâneas é sensível aos fenô-
menos geológicos naturais, como a tectônica moderna
(recente), a qual é responsável pelo modelado costeiro
em tempos históricos, bem como as atividades induzidas
pelo homem por meio de obras civis e as modificações
Figura 13.9 ––––– Imagem orbital TM-7 e fotografia de campo,
ilustrando o efeito da neotectônica sobre terrenos quaternários, de
topografia suave, tornando-os susceptíveis à erosão, sobretudo
após a retirada da vegetação. Fotografia: V. J. Marques.
Figura 13.10 ––––– Região periurbana de Brasiléia (AC), a oeste da
imagem anterior, observando-se a transição para terrenos
morfologicamente mais acidentados, frágeis do ponto de vista da
capacidade de suporte à intervenção.
Figura 13.8 ––––– Situação dos lotes frente às características do
modelado do terreno (áreas planas, platôs, áreas íngremes e
em solos inaptos) (região norte da cidade de Manaus, AM).
187
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
dos ecossistemas costeiros – a ocupação urbana e a re-
moção ou manipulação de mangues. Dessas “interven-
ções”, decorrem mudanças drásticas nas taxas de sedi-
mentação e erosão costeiras, capazes de pôr em risco ou
mesmo destruir o modelado atual, com gran-
des prejuízos ecológicos e financeiros.
Um exemplo dessa situação é observado
na região do delta do rio Parnaíba (MA). As
dunas se situam sobre blocos relativamente
estáveis e com baixa declividade; as falésias,
ao contrário, localizam-se em rampas com
movimento positivo. As taxas de movimenta-
ção são elevadas e a ocupação do litoral exi-
ge o seu reconhecimento e monitoração (Fi-
gura 13.13).
Registra-se outro exemplo de erosão no
litoral do Maranhão. Segundo moradores, a
linha de costa sempre foi regressiva, com uma
taxa de mais ou menos 3 m/ano; contudo,
há 2 anos diminuiu bruscamente para a taxa
atual. A causa mais provável seria que o re-
fluxo da maré tornou-se muito mais forte,
devido à diminuição das áreas de salgueiro,
pela construção dos diques dos criatórios de
camarão. Estima-se que a altura das marés
aumentou 1,5 m no período (Figura 13.14).
A ciclicidade dos fenômenos de eleva-
ção e abaixamento de blocos no litoral nor-
Figura 13.11 ––––– Imagem orbital TM-7 e fotografia de campo ilustrando as faixas
de maior tectonismo moderno, sobre as unidades quaternárias (Formação
Solimões) no estado do Acre (perfil na Rodovia Assis Brasil–Brasiléia, AC).
Fotografia: Cláudio Sczlafcztein.
Figura 13.12 ––––– Região de Assis Brasil (AC), junto à
fronteira com o Peru, observando-se topografia
acidentada, com drenagens bem encaixadas, devido
à intensa atividade neotectônica registrada na região.
destino, compondo uma “tectônica do tipo teclas de pia-
no”, pode ainda ser comprovada pelos registros de afoga-
mento e exumação de florestal de mangue (Figuras 13.15
e 13.16).
Figura 13.13 ––––– Região do delta do rio Parnaíba (MA). Imagem Landsat TM.
Observa-se o elevado grau de controle tectônico da localização dos campos de
dunas e mangues.
188
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
DESCOBERTA DE CONCENTRAÇÕES
MINERAIS
Na busca de depósitos minerais (prospecção e pes-
quisa mineral), aplicam-se os conhecimentos geológi-
cos para se delimitar, em mapa, os vários tipos de ro-
chas, suas características e potencialidades de conte-
rem minerais de interesse econômico (Figura 13.17).
Por exemplo, uma rocha granítica que não tenha sido
submetida a grandes deformações em estágio rúptil e
sendo constituída por minerais que não se alterem fa-
cilmente, poderá ser indicada para uso ornamental (pi-
sos, paredes, mesas, pias etc.), de acordo com sua re-
sistência e beleza natural. Após essas indicações, são
efetuadas sondagens para identificar extensão, profun-
didade e largura dessa jazida, para verificar a economi-
cidade do empreendimento.
Concomitantemente à confecção do mapa geológi-
co, é elaborado o mapa de potencial mineral, com o ca-
dastramento das ocorrências e depósitos minerais, bem
como das minas que já se encontram em exploração. Esse
mapa apresenta dados factuais que facilitam a delimita-
ção de alvos com alta potencialidade em conter depósitos
minerais (Figura 13.18).
Outras ferramentas, como as imagens de satélites,
são utilizadas para inferir áreas mineralizadas por meio
da geoquímica, analisando-se as águas e sedimentos dos
rios, para verificar se apresentam valores anômalos para
elementos metálicos como chumbo, zinco e cobre, por
exemplo. Ao se verificarem valores anômalos e a locali-
zação da origem desses elementos, efetuam-se análises
de solos para delimitar com maior precisão o local onde
ocorre o depósito mineral. Realiza-se, também, a geofí-
sica para confirmar, indiretamente, a
extensão do corpo em profundidade.
Em seguida, dá-se início à fase de son-
dagem, para delimitar o corpo de mi-
nério em profundidade, em que são
realizadas análises dos testemunhos de
sondagem para verificação do teor de
minério, para, a partir daí, proceder-
se a estudos de viabilidade econômi-
ca (Figura 13.19).
A geofísica (métodos sísmicos) é
muito utilizada na pesquisa de petró-
leo e gás. Consiste na emissão de on-
das de choque e medição de sua ve-
locidade nos diversos meios rochosos
em profundidade. Como cada tipo de
rocha apresenta velocidades específi-
cas, essa leitura permite que se ma-
peiem estruturas como dobras, falhas,
empilhamento das rochas e delimita-
ção dos corpos rochosos, onde se en-
contram os reservatórios de petróleo
e gás.
Figura 13.14 ––––– Erosão do litoral do Maranhão – delta do rio
Parnaíba. Porção de costa apresentando processo erosivo violento
(700 a 800 m em dois anos), destruindo uma rodovia. Coordenadas:
W 41° 27’06"; S 2° 54’23,3". Fotografia: V. J. Marques.
Figura 13.15 ––––– Ocorrência de uma extensa floresta de mangue
afogada por areia. Fotografia: V. J. Marques.
Figura 13.16 ––––– Observa-se, por algumas centenas de metros, a presença de restos de
vegetação, salientando-se os abundantes troncos de árvores soterrados por areias praiais.
Coordenadas: W 41° 41’44" ; S 2° 50’05". Fotografia: V. J. Marques.
189
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
Figura 13.17 ––––– Mapa geológico simplificado do estado do Rio de Janeiro
(modificado de CPRM-DRM/RJ, 2000).
Figura 13.18 ––––– Mapa do potencial mineral da região de Salanópole – CE (CPRM, 2005). O mapa mostra a ocorrência de vários corpos de
pegmatitos contendo gemas, rodeando, principalmente, os corpos graníticos intrusivos.
190
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Os bens minerais são de alto interesse social: veícu-
los, trens, aviões, energia, eletrodomésticos, habitações,
insumos para agricultura, água e nutrientes minerais para
dieta alimentar dos humanos e animais. Em suma, a soci-
edade é totalmente dependente dos bens minerais para
manter o seu bem-estar e a qualidade de vida (Figura
13.20).
RECURSOS MINERAIS DO MAR
Com vistas à futura exaustão de alguns bens mine-
rais, parte das atenções mundiais está voltada para os re-
cursos do mar. Atualmente, já ocorre expressiva minera-
ção em mar aberto, tanto em quantidade como em valor.
É composta de agregados (areia e cascalho) para a indús-
tria da construção, seguida pelos pláceres submersos de
estanho, carbonatos bioclásticos para corretivo de solo e
cimento e acumulações fosfáticas para uso em fertilizan-
tes. As lamas ricamente mineralizadas do mar Vermelho
serão brevemente exploradas. As grandes quantidades de
nódulos polimetálicos (Figura 13.21) também devem ser
consideradas como contribuição valiosa para o suprimen-
to mundial de níquel, cobre, cobalto e manganês. Acu-
mulações de sulfetos mapeados no oceano Pacífico leste
representam ocorrências a serem pesquisadas, embora o
desenvolvimento de novas tecnologias venha a ser reque-
rido, antes de serem minerados economicamente (MAR-
TINS e SOUZA, 2008).
A explotação de minerais marinhos depende, em es-
sência, do custo competitivo de outros recursos que, por
sua vez, estão vinculados ao desenvolvimento de uma tec-
nologia de baixo custo, bem como de seu valor e quanti-
dade acessíveis. Entre os muitos fatores que determinam
a distribuição dos recursos minerais marinhos, a evolução
Figura 13.19 ––––– Minério de lítio em veio pegmatítico de cor clara,
encaixado em biotita-andaluzita-xistos escuros da mina Cachoeira
(Companhia Brasileira de Lítio, Araçuaí, MG).
Figura 13.20 ––––– Bens minerais utilizados em habitações (RODRIGUEZ, 1995).
191
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
dos oceanos é determinante (MARTINS e SOUZA, 2008).
Dessa maneira, a localização dos minerais, decorrente dos
diferentes estágios de evolução oceânica, foi identificada
a partir do conhecimento da evolução da geodiversidade
dos fundos oceânicos.
O petróleo e gás, na plataforma continental brasilei-
ra, têm se mostrado estratégicos para o Brasil; a pesqui-
sa efetuada pelos geólogos com métodos indiretos –
como geofísica de alta resolução, interpretações dos am-
bientes de sedimentação e configuração geológico-es-
trutural – e métodos diretos, como testemunhos de son-
dagem, são fundamentais para as descobertas e avalia-
ções de novos depósitos em águas profundas, a exemplo
das camadas pré-sal, localizadas a mais de 7.500 m de
profundidade.
GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA
Obras de engenharia, como usinas hidroelétricas, ro-
dovias, ferrovias, pontes, túneis, minas subterrâneas, ga-
sodutos, oleodutos, minerodutos, grandes edifícios e edi-
ficações em geral, exercem cargas sobre os terrenos, tan-
to durante as etapas construtivas, quanto durante a ope-
ração a que são destinadas.
Os terrenos (rochas e solos), por sua vez, respondem
às solicitações impostas de acordo com suas característi-
cas geológico-geotécnicas intrínsecas, podendo, em caso
de projetos inadequados, não resistirem às cargas que
passam a atuar sobre eles, entrando em colapso e origi-
nando graves acidentes.
A geologia de engenharia é o ramo das ciências geo-
lógicas que tem como objetivo principal o conhecimento
das características geológico-geotécnicas dos terrenos,
adequando os projetos de obras de engenharia a essas
características, dimensionando-os corretamente, dentro de
uma margem de segurança, de tal forma que não haja
riscos de acidentes, com a perda de vidas humanas e pre-
juízos financeiros.
Do mesmo modo, a geologia de engenharia é cha-
mada a atuar no sentido de avaliar e, quando necessário,
corrigir ocupações inadequadas, colaborando com inves-
tigações específicas para o desenvolvimento de projetos
corretivos das situações de risco criadas pelo uso incorre-
to do solo (Figura 13.22).
AGRICULTURA
É indiscutível a importância do conhecimento do meio
físico, dos recursos naturais, principalmente solos, para o
desenvolvimento das atividades do homem no nosso pla-
neta. Os solos representam a base de sustentação da agri-
cultura e pecuária, além de comportarem toda a vegeta-
ção natural, estando intimamente ligados à biodiversida-
de. O conhecimento da geodiversidade, a qual inclui os
solos, resulta no entendimento desse corpo de maneira
integrada ao ambiente em que vivemos. Essa é a grande
aplicação desse conhecimento que agrega aos solos ou-
tras variáveis correlatas, inclusive aqueles fatores de sua
própria formação, como geologia, relevo, clima, organis-
mos e tempo.
Considerando os aspectos da integração de dados e
análises multitemáticas, o uso da geodiversidade no cam-
po da agricultura torna-se bastante útil, pois ela, além de
transformar a linguagem pedológica em linguagem mais
acessível, atualiza conceitos da integração solos x geotec-
nia x hidrologia, necessários ao planejamento e conserva-
ção dos recursos naturais.
À medida que nos aproximamos de escalas maiores
de estudos, a integração temática torna-se também mais
complexa. Da mesma forma, nos estudos da geodiversi-
Figura 13.21 ––––– Áreas de interesse do Brasil, no oceano Atlântico
sul, para pesquisa mineral (SOUZA, 2007).
Figura 13.22 ––––– Obra de contenção de encosta em área em que
já havia ocorrido escorregamento em 2004 (Bairro Areal, Angra
dos Reis, RJ). Fotografia: C. R. Silva.
192
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
dade os solos passam a ter maior importância nessa
integração. Podemos citar alguns usos mais importan-
tes da geodiversidade sobre o ponto de vista da agricul-
tura:
• Desenvolvimento de projetos de pólos agrícolas,
considerando os aspectos relacionados às próprias limita-
ções e potencialidades dos solos da região, associados aos
centros de produção de insumos agrícolas.
• Desenvolvimento de projetos agrícolas, relacionan-
do as informações de disponibilidade hídrica, tanto super-
ficial quanto subsuperficial (hidrologia e hidrogeologia).
• Desenvolvimento de projetos agrícolas sustentáveis,
considerando as informações do meio físico (geologia,
geomorfologia, recursos hídricos, clima etc.) e de infra-
estrutura.
• Aplicação dos conhecimentos para assentamentos
rurais, recuperação de áreas degradadas, reflorestamento,
dentre outros.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA E
ADEQUADA UTILIZAÇÃO
As águas de superfície e subterrâneas são essenciais
para a sobrevivência humana e demais seres vivos. O co-
nhecimento dos processos hidrológicos, como o ciclo da
água, o regime de chuva, o balanço hídrico, associados à
quantidade e qualidade das águas, à localização, ao esco-
amento e evaporação e às condições das áreas de recarga
dosaqüíferos,énecessárioparaoadequadogerenciamento
desse recurso natural.
O ciclo hidrológico completo apresenta três fases dis-
tintas: atmosférica, superficial e subterrânea.
A fase atmosférica se inicia com a evaporação da
água de lagos, mares e oceanos ou da evapotranspira-
ção da vegetação. Essa água ascende à atmosfera em
forma de vapor (estado gasoso); no momento em que
atinge determinada altitude, o correspondente rebaixa-
mento da temperatura torna a massa de ar instável, pois
atinge o ponto de saturação (temperatura de ponto de
orvalho). Nesse momento, o vapor d’água se conden-
sa, formando nuvens (microgotículas de água ou mi-
crocristais de gelo).
A partir do momento em que a quantidade de umi-
dade nas nuvens excede sua capacidade de sustenta-
ção, ocorre o processo de precipitação (por meio de
aglutinação de microgotículas ou coalescência a partir
de partículas). A precipitação pode ocorrer em estado
líquido (chuva) ou sólido (neve ou granizo); a precipi-
tação terminal é o início da fase superficial do ciclo
hidrológico.
Quando a chuva atinge o solo, sofre processo de in-
tercepção vegetal (intercepção dossel, fluxo de atravessa-
mento, fluxo de tronco, intercepção da serrapilheira). Nesse
momento, a água pode tomar três caminhos: infiltração;
escoamento superficial; retorno à atmosfera por meio da
evapotranspiração.
Em solos expostos ou com baixa taxa de cobertura
vegetal, predominam os processos de escoamento super-
ficial, que alimentam os canais fluviais, drenando bacias
de drenagem até atingir lagos, mares e oceanos. É nessa
fase do ciclo hidrológico que a água – como recurso hí-
drico – é mais consumida em sociedades agrárias ou ur-
bano-industriais em seus usos múltiplos.
A infiltração da água na matriz do solo inicia a fase
subterrânea do ciclo hidrológico. Parte da água infiltra-
da é absorvida pelas raízes e retorna à atmosfera via
evapotranspiração. Outra parte recarrega o lençol freá-
tico, que corresponde ao aqüífero livre ou nível satura-
do do solo.
A água no lençol freático tem dois caminhos: sua
descarga nos canais de drenagem, retornando à fase su-
perficial do ciclo hidrológico; ou a recarga de aqüíferos
confinados profundos (podendo ser aqüíferos fissurais, em
rochas cristalinas; aqüíferos porosos ou intergranulares,
em rochas sedimentares; ou aqüíferos cársticos, em ro-
chas carbonáticas). Na fase subterrânea do ciclo hidroló-
gico, o movimento da água é extremamente lento, mas
produz grandes reservas potenciais de água doce, ainda
pouco utilizada pela atividade humana.
Os estudos hidrológicos e hidrogeológicos propiciam
os conhecimentos necessários, com base em ações que
identifiquem as vazões, os sedimentos em suspensão,
a dinâmica fluvial e o monitoramento da vazão e pro-
fundidade dos rios (Figura 13.23), como também os
mananciais subterrâneos, as atuais condições de explo-
tação e a disponibilidade hídrica dos aqüíferos. Tais ações
consistem em: programas de cadastramento de fontes
de abastecimento por águas subterrâneas; pesquisas e
estudos sobre a dinâmica de aqüíferos; avaliação das
potencialidades de aqüíferos. A integração desses dados
se dá por meio de sistema de informações geográficas
(SIG), visando à elaboração de modelos que propiciem
uma efetiva gestão dos recursos hídricos, no que tange
a seus usos múltiplos, tais como: abastecimento huma-
no; agricultura (irrigação); hidroeletricidade; navegação
e transporte por cabotagem; pesca e aqüicultura; des-
sedentação animal; uso industrial; lazer ou recreação;
turismo; mineração.
Na questão das águas subterrâneas é vital, ainda, o
monitoramento com vistas a possíveis contaminações,
principalmente das áreas de recarga dos aqüíferos. A men-
cionar, ainda, a superexplotação das águas subterrâneas
ou superficiais em áreas cársticas que pode levar ao co-
lapso obras de infra-estrutura, casas, prédios, como tam-
bém a perdas de solos e acidentes com animais domés-
ticos. Por outro lado, em regiões costeiras, a explotação
descontrolada dos recursos hídricos subterrâneos pode
ocasionar a salinização dos aqüíferos por intrusão de água
proveniente do mar, a exemplo do que ocorre atualmen-
te em Recife.
Assim como hoje – quando já vivenciamos proble-
mas de acesso à água –, no futuro, a qualidade e disponi-
193
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
bilidade de água terão papel preponderante na qualidade
de vida da sociedade; conseqüentemente, torna-se vital o
gerenciamento adequado desse bem mineral. Para tanto,
o conhecimento da geodiversidade que abriga e rodeia os
mananciais superficiais e subterrâneos deverá ser bem
aplicado.
Os impactos socioambientais e econômicos devido à
inexistência de gerenciamento dos recursos hídricos têm
acarretado sérios problemas, em especial, nas metrópo-
les. Há uma forte correlação entre a adoção e implemen-
tação de políticas de saneamento ambiental e a redução
da incidência de internações por doenças de veiculação
hídrica ou infecto-contagiosas em uma determinada re-
gião. O saneamento ambiental promove uma drástica re-
dução dessas enfermidades, contribuindo para a diminui-
ção dos índices de mortalidade infantil e aumento da qua-
lidade de vida da população. Historicamente, no Brasil, a
implementação do saneamento ambiental (construção de
sistemas de distribuição de água tratada e de coleta e tra-
tamento de esgoto) é priorizada nas áreas nobres, lócus
da elite social e econômica. Bairros periféricos de baixa
renda são, em geral, desprovidos de infra-estrutura de sa-
neamento ambiental, o que agrava, indiretamente e de
forma perversa, a imensa desigualdade social existente em
nosso país.
SAÚDE
A geologia médica, campo do conhecimento de-
senvolvido nos últimos anos pelos geólogos, pode ser
definida como o estudo das relações entre os fatores
geológicos naturais e a saúde, visando ao bem-estar
dos seres humanos e outros organismos vivos. Outro
entendimento mais conciso é de ser o estudo do im-
pacto dos materiais e processos geológicos na saúde
pública. De acordo com essa visão, a geologia médica
inclui a identificação e caracterização das fontes natu-
rais e antrópicas de materiais nocivos no ambiente,
buscando prever o movimento e alteração dos agentes
químicos, infecciosos e outros causadores de doenças
ao longo do tempo e espaço, bem como compreender
como as pessoas estão expostas a tais materiais e o que
pode ser feito para minimizar ou evitar tal exposição
(SILVA et al., 2006).
A união proporcionada pela geologia médica entre
geólogos e outros cientistas, como médicos, dentistas,
veterinários e biólogos, em um esforço para resolver as
questões de saúde, local e globalmente, objetiva fortale-
cer e integrar as pesquisas que possam reduzir as ameaças
ambientais à saúde e bem-estar dos seres humanos e à
biodiversidade.
As questões associadas à saúde geralmente se refe-
rem a seres humanos e outras criaturas vivas, em tempos
recentes, ao passo que o foco da geologia repousa sobre
o substrato inanimado e o passado. Assim, embora pos-
sam estar em áreas distintas do conhecimento ou requei-
ram diferentes abordagens de investigação, as relações
diretas entre essas duas disciplinas não podem ser ignora-
das. Segundo SILVA et al., (op cit.), “a vida desenvolve-se
numa matriz de materiais da terra – rochas, minerais, so-
los, água, ar – cuja disponibilidade exerce um profundo
controle sobre o que todas as criaturas vivas ingerem e
como elas se desenvolvem biológica e culturalmente [...]
somos o que comemos e bebemos”.
O ar que respiramos, a água que bebemos e os nu-
trientes que consumimos dependem do ambiente geoló-
gico, o qual podemos controlar somente de forma parci-
al. Como lutamos para nos adequar a um mundo que
terá, em futuro próximo, cerca de 10 bilhões de pessoas,
um melhor entendimento acerca dos processos pelos
quais o ambiente natural (geossistema) influencia a nos-
sa saúde permitirá decisões mais apropriadas. É consen-
so geral que mudanças globais estão relacionadas aos
poderosos impactos produzidos pelo homem em sua vi-
zinhança, a partir do Holoceno (10.000 anos AP), sobre-
tudo após o início da era industrial. Justamente, os efei-
tos nocivos ou benéficos que, por vezes, os materiais e
processos geológicos provocam sobre os seres huma-
nos, constituem o tema central da geologia médica (Fi-
gura 13.24).
Sobre a fauna e a flora constata-se a influência dos
materiais geológicos, inclusive sobre o desenvolvimento e
concentração de indivíduos e biomas e seus fenótipos.
Estudos recentes têm demonstrado a relação entre a pro-
dutividade de animais domesticados e o conteúdo geo-
químico de elementos químicos decorrentes de sua distri-
buição natural.
Há grande expectativa no sentido de que os geocien-
tistas, juntamente com os profissionais da saúde, venham
a contribuir, significativamente, para a melhoria da quali-
dade da saúde pública das populações humanas e da bio-
diversidade.
Figura 13.23 ––––– Estação de medidas de descarga líquida e altura
do nível da estação Carrapato (Brumal) no ribeirão Santa Bárbara
(município de Santa Bárbara, MG) (CPRM/ANA).
194
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
EVOLUÇÃO DA TERRA E DA
VIDA
Por meio de estudos paleontológicos, é
possível reconhecer os processos e eventos
geológicos e biológicos naturais ocorridos
nos últimos 400 milhões de anos e correla-
cionar a evolução da crosta terrestre e a vida
nos diversos continentes (Figura 13.25).
Esses estudos são efetuados com o re-
conhecimento de fósseis da flora e fauna
antigas, para estabelecer o empilhamento
estratigráfico e a idade relativa das rochas
sedimentares. Paleoambientes deposicio-
nais têm mostrado o aparecimento, a evo-
lução e o desaparecimento de várias espé-
cies biológicas, permitindo a identificação,
com precisão, de mudanças climáticas pre-
téritas, sua distribuição geográfica, suas
causas e seus impactos sobre os ecossiste-
mas. Desses estudos, é possível inferirem-
se preciosas lições quanto à intensidade,
extensão superficial, duração e ciclicidade
das grandes modificações ditas geológicas ou naturais,
ocorridas no passado, inclusive em tempos históricos ou
sub-históricos. É possível, inclusive, afirmar que, nessa
visada, o “passado pode ser a chave do futuro”, na me-
dida em que as análises se baseiam em observações que
abrangem um tempo maior que apenas os últimos 100-
200 anos, que é o campo da meteorologia, além de abran-
gerem a interação de um número maior de sistemas e
dimensões (terrestres, aquáticos, marinhos, globais e até
mesmo cósmicos). Dessa forma, o que se costuma de-
nominar geologia do Quaternário, sob essa ótica, passa
a ter importância ressaltada.
A paleontologia também contribui para a identifica-
ção de ambientes propícios à ocorrência de materiais ener-
géticos (petróleo, carvão, turfa), industriais (fertilizantes,
barita) e para a construção civil (areia, argila).
Observa-se, portanto, que a abrangência do conheci-
mento geológico e, por certo, da geodiversidade, é muito
mais amplo quando se refere ao passado, isto é, antes do
presente, englobando todas as ciências naturais dos pro-
Figura 13.24 ––––– Tabela Periódica (elementos essenciais e tóxicos) e os possíveis efeitos biológicos (modificado de Plant et al., 2001).
Figura 13.25 ––––– Linha do tempo geológico da história da Terra. Abreviaturas: Ma
(mega annu), milhões de anos; Ga (giga annu), bilhões de anos (PRESS et al., 2006).
195
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
Figura 13.26 ––––– Mapas dos paleoclimas da América do Sul.
cessos geológicos atuais, em pedologia, geomorfologia,
climatologia, biologia etc.
A coluna estratigráfica compreende, além dos regis-
tros biólogos de eventos extremos, como inovações e ex-
tinções, os registros paleoambientais de mudanças climá-
ticas. Processos e eventos geológicos e biológicos natu-
rais são registrados desde 400 milhões de anos atrás até o
tempo atual, permitindo correlacionar os processos evo-
lutivos da crosta terrestre e da vida, nos diferentes interva-
los de tempo.
Essa é uma contribuição da paleontologia, para com-
plementar os estudos de meio ambiente, para a compre-
ensão dos processos geológicos e biológicos naturais do
passado, nos atuais estudos para a preservação da vida
existente no planeta, incluindo a vida humana. As mani-
festações de vida são recursos naturais renováveis, impor-
tantes para o presente e o futuro da humanidade.
A compreensão plena da geodiversidade somente é
possível incorporando-se a história evolutiva do planeta,
sobretudo os acontecimentos ocorridos nos últimos mi-
lhares de anos, cujas variabilidades e flutuações e respec-
tivas conseqüências nos permitem ter referenciais isentos
do quanto somos insignificantes perante os grandes even-
tos geológicos, apesar de nossa pretendida capacidade de
controlar a natureza.
Como exemplo, observemos como o clima da Amé-
rica do Sul mudou nos poucos últimos milhares de anos e
sua implicação sobre os ecossistemas terrestres, salientan-
do-se a enorme expansão da floresta ombrófila amazôni-
ca a taxas elevadíssimas (Figura 13.26).
EVOLUÇÃO CLIMÁTICA DA AMÉRICA DO SUL
196
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
MEIO AMBIENTE
O levantamento de informações da geodiversidade
propicia a avaliação da intervenção do homem na nature-
za abiótica e suas conseqüências na biodiversidade. Os
tipos de solos, rochas, relevo, águas fornecem subsídios
para a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental (EIA)
e de Relatórios de Impactos Ambientais (RIMA). Da mes-
ma forma, a geoquímica – por meio de análises quantita-
tivas de elementos químicos nos solos, sedimento de cor-
rente, águas e ar – e a geofísica, por meio de métodos
específicos, fornecem subsídios para avaliar a degradação
ambiental de qualquer área ou região. Como exemplos,
citam-se os aterros sanitários, lixões, cemitérios, dejetos
industriais e domésticos, minas, agricultura (agrotóxicos,
fertilizantes), águas superficiais e subterrâneas, postos de
gasolina etc. (Figura 13.27).
O conhecimento da geodiversidade contribui, subs-
tancialmente, para a preservação e proteção ambiental ao
apontar as fragilidades e limitações do meio físico frente
ao uso e ocupação potencial, bem como das áreas já ocu-
padas. Assim, por exemplo, paisagens naturais, em que a
instalação de processos erosivos decorrentes de causas
naturais (arqueamento tectônico) nos indica que cuida-
dos muito especiais devem ser tomados no que concerne
à ocupação desses terrenos (Figura 13.28).
Em resumo, com o conhecimento do solo, subsolo,
água e ar, torna-se possível elaborar diagnósticos a respei-
to da qualidade ambiental, como também apontar o tipo
de degradação, a localização e as medidas a serem adota-
das para recuperar ou mitigar os problemas encontrados.
PREVENÇÃO DE DESASTRES NATURAIS
O homem, desde o seu aparecimento na Terra, há
cerca de 6 milhões de anos, esteve sujeito a riscos advin-
dos de fenômenos geológicos, como erupções vulcâni-
cas, terremotos e maremotos, inundações, escorregamen-
tos de encostas, erosão (Figura 13.29), corridas de lamas,
desertificação (Figura 13.30), arenização e outros. Com o
adensamento populacional das áreas rurais e urbanas, esse
risco, além de aumentar estatisticamente, tendo em vista
as alterações das condições naturais do meio ambiente,
deu origem a perdas humanas, econômicas e ambientais,
muitas vezes irreparáveis. Destarte, a previsão e a preven-
ção de desastres naturais foram características marcantes
das mais diversas civilizações.
No Brasil, como em outros países, o crescimento
populacional, sobretudo nas regiões urbanas, tem propi-
ciado forte demanda de ações por parte dos governos, na
medida em que se multiplicam as ocorrências de colap-
sos, afundamentos, movimentos de massa e inundações,
com grandes perdas de vidas e prejuízos econômicos. Essa
pressão social exercida sobre o meio ambiente, represen-
tada pela ocupação desordenada dos espaços territoriais
inadequados à urbanização, tem resultado no agravamen-
to do quadro social, sobretudo das grandes cidades.
O conhecimento das características geológico-geo-
técnicas dos terrenos, suas fragilidades e suscetibilidades
frente aos processos dinâmicos, naturais ou induzidos, suas
aptidões e capacidade de suportar as crescentes solicita-
ções, tanto geradas pela expansão urbana, como pelo pro-
cesso global de antropização dos espaços naturais, está
relacionado ao ramo de geologia de engenharia e geotéc-
nica e ao ordenamento territorial.
Figura 13.27 ––––– Área parcialmente degradada por atividade
garimpeira (município de São João da Chapada, MT).
Figura 13.28 ––––– Processo erosivo provocado por arqueamento
tectônico da crosta terrestre.
Figura 13.29 ––––– Erosão desenvolvida a partir de desmatamento e
falta de drenagens adequadas (município de Rio Branco, AC).
Fotografia: Amilcar Adamy.
197
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
Assim, desenvolvem-se atividades específicas que en-
volvem, dentre outras: caracterização geológico-geotécnica
dos terrenos; mapeamento de áreas de risco geológico; ca-
dastramentodeocorrênciasdemovimentosdemassa(Figu-
ra13.31);cadastramentodeinvestigaçõesgeotécnicas,como
sondagens e ensaios; concentração de esforços e subsídios,
financeiros e humanos, para atendimento às necessidades
de conhecimento das características do meio físico, com vis-
tasàprevençãodedesastresnaturaiseinduzidos,comreba-
timentonaspropostasdeordenamentoterritorial.
Figura 13.31 ––––– Deslizamento em encostas, em janeiro de 2007
(Bairro Vilage, Nova Friburgo, RJ). Fotografia: Jorge Pimentel.
Figura 13.30 ––––– Fenômeno de desertificação em Gilbués (sul do
estado do Piauí), onde os processos de erosão laminar e linear
acelerados promoveram perda dos horizontes superficiais do solo e
acarretaram assoreamento e desorganização da rede de drenagem,
em uma condição de irreversibilidade do retorno da vegetação
natural (caatinga). Fotografia: M. E. Dantas.
Levantamentos de medições sistemáticas da preci-
pitação das chuvas e dos níveis e vazões dos rios, asso-
ciados às análises climatológicas, possibilitam prever
inundações com antecedência de horas/dias/meses, de-
pendendo da região. Atualmente, há três sistemas em
operação de previsão de alerta de enchentes e inunda-
ções, os quais beneficiam 1,4 milhão de habitantes:
Bacia do rio Doce (MG) (Figura 13.32), região do Pan-
tanal mato-grossense (Figura 13.33) e Manaus (AM)
(Figura 13.34).
Figura 13.32 ––––– Sistema de alerta da bacia do rio Doce que beneficia cerca de um milhão de habitantes (no canto inferior direito, vista
panorâmica da cidade de Governador Valadares, MG). (CPRM/DEHID).
198
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 13.33 ––––– Previsões de níveis de água com até quatro semanas de antecedência (região do Pantanal mato-grossense, municípios de
Aquidauana, Barão de Melgaço, Bodoquena, Cáceres, Corumbá, Coxim, Ladário, Miranda, Poconé, Porto Murtinho, Rio Negro e Rio Verde de
Mato Grosso, beneficiando 350.000 habitantes) (CPRM/DEHID).
Figura 13.34 ––––– Previsão do nível d’água máximo com antecedência regressiva de 75, 45 e 15 dias, beneficiando 57.000 pessoas (Manaus,
AM) (CPRM/DEHID).
199
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
Para os escorregamentos de encostas, que muitos
danos e mortes têm causado às populações mais pobres,
foram desenvolvidos os sistemas de alertas com previsão
de horas e/ou dias, para as cidades de São Paulo, Rio de
Janeiro e Vitória. São utilizados os dados de mapeamento
geotécnico, o qual apresenta a localização das áreas de
riscos a deslizamento, associados às informações de pre-
cipitação das chuvas e análises climatológicas.
AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Para os geocientistas que objetivam mapear as evi-
dências das mudanças climáticas que vêm ocorrendo
no planeta Terra, é necessária a utilização de geoindica-
dores – medidas de magnitudes, freqüências, taxas e
tendências de processos e fenômenos geológicos que
ocorrem na superfície da Terra ou próximos a ela e que
estejam submetidas a variações significativas em perío-
dos de 100 anos ou menos (BERGER e IAMS, 1996).
Tais indicadores são baseados em métodos padroniza-
dos e procedimentos de monitoramento multidiscipli-
nares, a partir de dados de geologia, geoquímica, geo-
morfologia, geofísica, hidrologia e outras ciências da
Terra. O objetivo é a avaliação das condições dos ambi-
entes terrestres e costeiros, tanto em nível local quanto
global, para se depreender as causas e efeitos produzi-
dos por ações antrópicas e naturais, dentro do grande
sistema planetário.
Geoindicadores passíveis de monitoramento são: for-
mação e reativação de dunas; erosão eólica; química e
padrão de crescimento dos corais; nível relativo do mar e
da linha de costa; níveis e salinidade de lagos; fluxo de
corrente das águas; morfodinâmica fluvial (morfologia e
padrão de canal; vazão líquida e aporte de sedimentos;
assoreamento e erosão fluvial); extensão, desertificação
(Figura 13.35), estrutura e hidrologia das terras úmidas;
qualidade das águas superficiais e subterrâneas; quími-
ca e nível das águas subterrâneas na zona não satura-
da; atividade cárstica; qualidade e erosão de solos e
sedimentos; deslizamento de encostas; sismicidade; se-
qüência e composição de sedimentos, regime de tem-
peratura de subsuperfície; aparecimento e/ou extinção
de espécies.
GEOCONSERVAÇÃO E GEOTURISMO
Segundo TRAININI (2003), “no Brasil existe uma tra-
dicional exploração de grandes feições naturais como Vila
Velha, no Paraná, Cataratas do Iguaçu, a região de Boni-
to, no Pantanal, as grutas calcárias, etc. Porém, mesmo
aí, é falha a indicação do significado geológico destas
feições, deixando-se de agregar um maior valor ao produ-
to turístico. A simples indicação da história geológica das
cenas agrega valor à paisagem, aumentando o seu poten-
cial como produto gerador de turismo e renda”.
Para SILVA (2004), “as minas abandonadas e/ou de-
sativadas, denominadas de passivo ambiental e vistas como
problemas, devem ser protegidas e consideradas como
Patrimônio Mineiro, tornando-se excelentes atrativos tu-
rísticos”.
Atualmente, o geoturismo voltado para a geoconser-
vação tem-se expandido em grande escala em várias par-
tes do mundo, principalmente nos países europeus e na
América do Norte. Da mesma forma, também no Brasil o
geoturismo vem se desenvolvendo rapidamente.
Os atrativos turísticos mais comuns são os monumen-
tos geológicos (Pão de Açúcar e Pedra da Gávea, na cidade
do Rio Janeiro; Pico Dedo de Deus, na serra dos Órgãos;
Cabo Frio, no Rio de Janeiro; ou Vale dos Dinossauros, na
Paraíba), geoparques, afloramentos, cachoeiras, cavernas,
sítiosfossilíferos,alémdeinúmerasminasdesativadas/aban-
donadas,fontestermais,paisagens,trilhasetc.(Figuras13.36
e 13.37).
Essas atividades têm grande importância para a con-
servação dos registros da evolução do planeta Terra e a
divulgação das geociências, ao mesmo tempo em que
propiciam a geração de empregos e renda para as popula-
ções locais.
Outras feições da geodiversidade, como os campos
de dunas do Maranhão, conhecidos como Lençóis Mara-
nhenses, já se tornaram, merecidamente, celebridades de
nível internacional, em face de sua deslumbrante beleza
exótica (Figura 13.38).
As cavernas constituem-se em outro objeto geológi-
co de grande interesse para o turismo, tanto no que con-
cerne à visitação com vistas ao lazer, como no conheci-
mento da nossa antropologia. Um dos pontos de grande
interesse no território nacional é o Parque Nacional da
Serra da Capivara, onde se pode visitar o Museu do Ho-
mem Americano e centenas de cavernas ricas em pinturas
rupestres (Figuras 13.39 e 13.40).
Figura 13.35 ––––– Solo em processo de desertificação no nordeste
brasileiro (CPRM/DEHID).
200
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 13.36 ––––– Exemplos de atrativos naturais, brasileiros, adequados ao geoecoturismo.
Figura 13.37 ––––– Projeto Caminhos Geológicos, realizado
pelo DRM-RJ e várias parcerias. O painel mostra uma
síntese do conhecimento e da evolução geológica da
região de Cabo Frio (RJ). Fotografia: Kátia Mansur.
Figura 13.40 ––––– Pintura rupestre (Parque Nacional da
Serra da Capivara, PI).
Figura 13.39 ––––– Museu do Homem Americano (Parque
Nacional da Serra da Capivara, PI).
Figura 13.38 ––––– Campos de dunas barcanas, no litoral
do estado do Maranhão. Fotografia: V. J. Marques.
201
APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato
POLÍTICAS PÚBLICAS
O conhecimento da geodiversidade em toda sua
amplitude – com destaque para as informações sobre o
comportamento dos terrenos frente à apropriação do ter-
ritório pela irrefreável pressão demográfica e mais diversas
atividades econômicas, sobre suas limitações e potenciali-
dades para serem aplicadas em vários setores e regiões de
conflito ao uso, como urbanização, energia, saúde, habi-
tação, agricultura, mineração, obras de engenharia, defe-
sa civil, meio ambiente, terras das populações tradicio-
EDUCAÇÃO
O conhecimento da origem do planeta, a co-evolu-
ção do meio físico e biótico, as forças geológicas externas
que atuam sobre a superfície em que se localiza a camada
biológica e as transformações internas promovidas pela
dinâmica interna do planeta Terra precisam ser dissemina-
das desde a educação fundamental da nossa população.
Somente assim, os conceitos de preservação e aproveita-
mento racional do meio natural – o desenvolvimento sus-
tentável propriamente dito – poderão ser plenamente com-
preendidos em suas dimensões geológicas espaçotempo-
rais.
Outra questão de relevante teor social é a conscienti-
zação da população em relação à ocupação das áreas de
riscos a escorregamentos de encostas e inundações. Nes-
se sentido, diversas instituições atuantes na área das geo-
ciências têm elaborado cartilhas educativas e distribuído
para os moradores em áreas de riscos (Figuras 13.41 e
13.42).
nais, regiões metropolitanas, turismo e educação – forne-
ce subsídios básicos para o planejamento, gestão e orde-
namento do território.
Entretanto, tem-se verificado que a maioria dos ins-
trumentos de planejamento efetuados no Brasil vem dei-
xando a desejar quanto ao uso das informações da geodi-
versidade brasileira.
Esta tem sido uma preocupação mundial por parte
da União Internacional de Ciências Geológicas (Internatio-
nal Union of Geological Science (IUGS)), que, juntamente
com a UNESCO-ONU, estabeleceu 2008 como o Ano In-
ternacional do Planeta Terra (International Year Earth Pla-
net). As atividades de comemorações iniciaram em janei-
ro de 2007 e se estenderão até dezembro de 2009.
Assim, com a adoção do lema “Ciências da Terra para
a Sociedade”, têm-se como objetivos principais demons-
trar o grande potencial das ciências da Terra na constru-
ção de uma sociedade mais segura, sadia e sustentada e
encorajar a sociedade a aplicar esse potencial, mais efici-
entemente, em seu próprio benefício (Figura 13.43).
Prevê-se, para as próximas décadas,
que a busca por recursos naturais em ter-
mos globais será cada vez maior, em vista
do aumento da população mundial, com
oconseqüenteincrementodademandapor
alimentos, água, energia, minerais metáli-
cos e construção de moradias, bem como
da contínua urbanização e da degradação
ambiental crescente nos países subdesen-
volvidos.
A degradação dos recursos ambientais
que atinge o globo terrestre demonstra que
a natureza não possui condições de sus-
tentar esse crescimento econômico desen-
freado, principalmente o implementado
pelas potências ocidentais desde a Revolu-
ção Industrial (com destaque para os Esta-
dos Unidos da América) e recentemente
seguido pelos denominados “países emer-
gentes” (em especial, a China). A explora-
ção indiscriminada pode provocar uma si-
tuação de esgotamento ou deterioração
irreversível desses recursos naturais, consi-
derando-se que os processos de renovação
natural não alcançam a mesma velocidade
da produção de matérias-primas, alimentos e da própria
degradação.
O ordenamento territorial,precedidopeloZoneamen-
to Ecológico-Econômico (ZEE), constitui-se em uma fer-
ramenta técnico-gerencial de caráter tecnológico, polí-
tico, jurídico e educativo, que possibilita à sociedade
tomar as melhores decisões para preservar os processos
e mecanismos de renovação dos recursos naturais, con-
servando as condições ambientais sustentáveis para as
gerações futuras. Portanto, ele deve ser planejado so-
bre bases concretas e bem definidas, considerando, em
Figura 13.42 ––––– Cartilha de alerta aos
hábitos da população que podem causar
danos relativos a escorregamento de encostas
e inundações (PIMENTEL et al., 2007).
Figura 13.41 ––––– Cartilha destinada
a orientar a população para a
adequada ocupação de morros
(FIDEM, 2006).
202
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 13.43 ––––– Representação dos 10 temas considerados pelos geocientistas de relevante interesse para a sociedade (BERBERT, 2008).
um viés histórico, as variáveis da geodiversidade, os fato-
res sociais e econômicos, como também valores filosófi-
cos, como holismo, ética e sustentabilidade ambiental.
Vislumbra-se, assim, que a geodiversidade – princi-
palmente com a atuação de profissionais como geólogos,
agrônomos e geógrafos – é de fundamental importância,
propiciando a pesquisa de métodos e enfoques que
objetivam a otimização do gerenciamento dos usos dos
recursos naturais, compatibilizando-os com suas limita-
ções ecológicas e incorporando a variável ambiental ao
processo de ordenamento territorial.
Os referidos profissionais atuam em diversas linhas
de pesquisa, tais como: monitoramento geoquímico da
qualidade alimentar e disponibilidade de água potável;
fornecimento de energia tradicional e alternativa; disponi-
bilização de bens minerais e insumos agrícolas a custos
menores; prevenção de desastres naturais; avaliação de
mudanças climáticas; elaboração de instrumentos de pla-
nejamento, gestão e ordenamento territorial.
Dessa forma, entendemos que o conhecimento da
geodiversidade é instrumento indispensável para a defini-
ção e implantação de políticas públicas, para os governos
federal, estaduais e municipais.
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GEODIVERSIDADE DO BRASIL
EDGAR SHINZATO
Natural de Campo Grande (MS). Formado em Engenharia Agronômica (1990) pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ). Mestre em Agronomia (área de concentração: Solos e Meio Ambiente) pela Universidade Estadual do
Norte Fluminense (UENF) em 1998. Iniciou sua carreira profissional em 1990, na iniciativa privada, desenvolvendo
estudos de solos, principalmente para Engenharia de Irrigação no Nordeste do Brasil. Em 1994, ingressou na Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde vem desenvolvendo estudos de solos e
geoprocessamento voltados para a área ambiental. Como Coordenador Executivo do Departamento de Gestão Territorial
(DEGET), desenvolve projetos referentes à área de Agronomia em integração com a Geologia. É membro do núcleo de
discussão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Entre os principais trabalhos desenvolvidos, constam levantamentos
de solos de Morro do Chapéu; Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália (BA); APA de Lagoa Santa (MG), APA Sul (BH); Cuiabá
e Várzea Grande (MT); SUFRAMA (AM). É instrutor da área de geoprocessamento da CPRM/SGB, especializado nos
softwares ArcGis e Envi.
MARCELO EDUARDO DANTAS
Graduado em Geografia (1992) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com os títulos de licenciado em
Geografia e Geógrafo. Mestre em Geomorfologia e Geoecologia (1995) pela UFRJ. Nesse período, integrou a equipe de
pesquisadores do Laboratório de Geo-Hidroecologia (GEOHECO/UFRJ), tendo atuado na investigação de temas como:
Controles Litoestruturais na Evolução do Relevo; Sedimentação Fluvial; Impacto das Atividades Humanas sobre as
Paisagens Naturais no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul. Em 1997, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), atuando como geomorfólogo até o presente. Desenvolveu atividades
profissionais em projetos na área de Geomorfologia, Diagnósticos Geoambientais e Mapeamentos da Geodiversidade,
em atuação integrada com a equipe de geólogos do Programa GATE/CPRM. Dentre os trabalhos mais relevantes,
destacam-se: Mapa Geomorfológico e Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro; Mapa Geomorfológico
do ZEE RIDE Brasília; Estudo Geomorfológico Aplicado à Recomposição Ambiental da Bacia Carbonífera de Criciúma;
Análise da Morfodinâmica Fluvial Aplicada ao Estudo de Implantação das UHEs de Santo Antônio e Jirau (Rio Madeira-
Rondônia). Atua, desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/UNISUAM. Atualmente, é coordenador
nacional de Geomorfologia do Projeto Geodiversidade do Brasil (CPRM/SGB). Membro efetivo da União da Geomorfologia
Brasileira (UGB) desde 2007.
CASSIO ROBERTO DA SILVA
Graduado em Geologia (1977) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestrado em Hidrogeologia
e Geologia Econômica (1995) pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, cursa o doutorado na área de
Geologia Médica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 1978, atuando (por 13 anos) na Superintendência Regional de
São Paulo (SUREG/SP) e na Residência de Porto Velho (5 anos). Há 12 anos no Escritório Rio de Janeiro, é responsável
pelo Departamento de Gestão Territorial (DEGET). Tem experiência profissional na execução e no gerenciamento de
projetos em Mapeamento Geológico, Prospecção Mineral e Geologia Ambiental, além de prestar consultoria internacional
em Mapeamento Geológico e Geologia Ambiental. Ministra palestras em várias entidades e eventos nacionais e
internacionais sobre Geologia Ambiental, Geodiversidade, Geologia Médica e Informações do Meio Físico para Gestão
Territorial. Editor do livro “Geologia Médica no Brasil”, co-autor do livro “Prospecção Mineral de Depósitos Metálicos,
Não-Metálicos, Óleo e Gás”. Autor de 44 trabalhos individuais e outros 20 como co-autor. Atuação no CREA,
Associações de Empregados e Profissional de Geólogos. Coordenador da Divisão da América do Sul da International
Medical Geology Association (IMGA). Distinção com os prêmios Qualidade CPRM (1993), CREA-RJ de Meio Ambiente
(2001) e Patrono da Turma de Formandos de Geologia de 2003 da UFRRJ.
VALTER JOSÉ MARQUES
Graduação (1966) em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Petrologia
(1979), pela Universidade de São Paulo (USP), e em Engenharia do Meio Ambiente (1991), pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Nos primeiros 25 anos de carreira dedicou-se ao ensino universitário, na Universidade de Brasília
(UnB), e ao mapeamento geológico na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/
SGB), entremeando um período em empresas privadas (Mineração Morro Agudo e Camargo Correa), onde atuou na
prospecção mineral por todo o país. De 1979 até o presente, desenvolve suas atividades na CPRM/SGB, onde exerceu
diversas funções e cargos, dentre os quais o de Chefe do Departamento de Geologia (DEGEO) e o de Superintendente
de Recursos Minerais. Nos últimos quinze anos, vem se dedicando à gestão territorial, com destaque para o Zoneamento
Ecológico-Econômico (ZEE), sobretudo nas faixas de fronteiras com os países vizinhos da Amazônia, atuando como
coordenador técnico-científico dos projetos binacionais.
205
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
14
GEODIVERSIDADE:
ADEQUABILIDADES
E LIMITAÇÕES AO USO
E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz (theodoro@sp.cprm.gov.br)
Ângela Maria de Godoy Theodorovicz (angela@sp.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Coberturas Sedimentares Fanerozóicas Inconsolidadas ou Muito
pouco Consolidadas (1) ............................................................ 207
Coberturas Sedimentares Fanerozóicas pouco a Moderadamente
Consolidadas (2) ....................................................................... 213
Coberturas Sedimentares ou Vulcanossedimentares Paleozóicas e
Proterozóicas não-Dobradas (3) ............................................... 218
Rochas Vulcânicas Extrusivas e Intrusivas Cenozóicas
e Mesozóicas (4) ....................................................................... 229
Coberturas Metassedimentares e Metavulcanossedimentares
Proterozóicas, Diferentemente Tectonizadas, Dobradas e
Metamorfizadas (5)................................................................... 236
Rochas Graníticas (6) ................................................................. 251
Rochas Gnaisse-Migmatíticas (7) ............................................... 258
Bibliografia ............................................................................... 263
206
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Em decorrência de sua grande extensão territorial e
como reflexo de uma complexa e longa história geológica
que, à luz da tectônica de placas (Figuras 14.1, 14.2 e
14.3), envolveu a superposição de vários eventos geotec-
tônicos de fragmentação, separação, choques ou subduc-
ção de placas tectônicas e, por conseqüência, de massas
continentais, o território brasileiro se destaca por apresen-
tar uma das mais complexas e variadas geologia do mun-
do. Como tudo o que existe na superfície, de uma forma
ou outra, é reflexo da geologia, há no Brasil terrenos com
as mais variadas e contrastantes particularidades em ter-
Figura 14.1 – Posição dos continentes nas diferentes eras
geológicas da Terra, segundo a teoria da tectônica de placas.
Figura 14.3 – É o processo descrito na figura anterior que faz
com que, hoje, os continentes sul-americano e africano estejam, a
partir da cadeia mesooceânica, separando-se um do outro.
Figura 14.2 – Um processo de separação de continentes se inicia
a partir da instalação de correntes de convecão, controlados pelo
calor interno do globo, que empurram os blocos em sentidos
opostos.
mos de adequabilidades e limitações ao uso e ocupação.
Ter conhecimento prévio de tais particularidades e levá-las
em consideração nas decisões de planejamento e de ges-
tão ambiental, tanto em nível regional como setorial, é de
fundamental importância para se evitar graves problemas
ambientais, muitos dos quais, se não irreversíveis, são de
complexas e onerosas soluções.
É no sentido de contribuir com esse conhecimento
que a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Ser-
viço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) vem executando
diversos estudos em várias regiões do Brasil. Dentre eles,
destacam-se os zoneamentos geoambientais executados
pela Superintendência Regional de São Paulo (SUREG/
SP), com a finalidade de subsidiar o planejamento e a
gestão ambiental de sua área de jurisdição – os estados
de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Por meio
desses zoneamentos, concluiu-se que, de uma ou outra
forma, as adequabilidades e limitações que um local ou
uma região apresentam frente ao uso e ocupação são
reflexos diretos das variações da geologia. Também se
chegou à conclusão de que a cada particularidade geo-
lógica se relacionam diversas outras características im-
portantes de serem consideradas nas decisões de plane-
jamento que lhes são inerentes, passíveis de serem assu-
midas como factuais e de serem estendidas a qualquer
região onde houver recorrência dessa particularidade. Por
exemplo, as diferentes regiões do Brasil que têm em co-
mum o fato de serem sustentadas por uma rocha que
apresenta o quartzo como mineral essencial em sua com-
posição, também têm em comum o fato de serem sus-
tentadas por rochas de baixa resistência ao cisalhamen-
to, de alta resistência ao intemperismo químico e que se
alteram para solos arenosos liberando poucos nutrien-
tes. Em conseqüência, são terrenos com grande possibi-
lidade de ocorrência de rochas duras, geralmente bas-
tante fraturadas, percolativas e das quais se soltam blo-
cos com facilidade em taludes de corte; de alta abrasivi-
dade; problemáticas de serem perfuradas com sondas
rotativas; os solos aí identificados, residuais, são bastan-
te permeáveis, naturalmente erosivos, ácidos, de baixa
207
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
fertilidade natural; de baixa capacidade hídrica, de baixa
capacidade de reter nutrientes e eliminar poluentes, as-
sim por diante. Utilizando-se dessa lógica, diversas ou-
tras deduções com objetivos diferentes podem ser leva-
das a efeito.
Tal lógica é válida tanto para as variações locais da
geologia e no caso de um terreno ser sustentado por um
Figura 14.4 – Área de definição do geossistema 1.
A tectônica de placas é um grupo de conceitos que procura explicar as complexidades geológicas da Terra como sendo resultantes
de movimentos de placas tectônicas que se afastam ou se aproximam uma das outras. Tais conceitos se originaram da hipótese da
deriva continental, formulada por Alfred Wegener (1912), a qual postula que os atuais continentes, que hoje se encontram separados
uns dos outros por mares e oceanos, há cerca de 200 milhões de anos estiveram unidos em uma única massa continental denominada
Pangéia. De acordo com tal teoria, o Pangéia também se teria formado pela colagem de vários continentes muito antigos, que, nas
diferentes eras geológicas, eram em número bem diferente dos atuais continentes, ocupavam outras posições da Terra e, ao longo de
sua história evolutiva, passaram por vários episódios de fragmentação, separação e colagem tectônica. De acordo com a teoria da
tectônica de placas, os continentes se fragmentam e se deslocam, afastando-se ou se aproximando uns dos outros, devido a um
esforço gerado pelas correntes de convecção (Figura 14.2), um movimento que se forma perto da base da litosfera pelo deslocamento
de materiais quentes provenientes das partes mais profundas da Terra. Ao alcançarem as partes mais superficiais, esses materiais
entram em atrito com a litosfera rígida, perdem calor, deslocam-se lateralmente e descem, gerando um contínuo movimento
circulatório. É o mesmo processo que se observa quando se esquenta a água – a água mais quente sobe e a mais fria desce. É esse
processo que faz com que atualmente os continentes sul-americano e africano estejam, a partir da cadeia mesooceânica, separando-
se a alguns centímetros por ano (Figura 14.3). A cada um desses eventos e nos diferentes momentos de sua evolução, lagos, mares
e oceanos se formam ou se extinguem, transformando-se em montanhas e vice-versa; diversos tipos de rochas se formam e rochas
preexistentes se metamorfizam em outras rochas bem diferentes do que eram originalmente. O território brasileiro, que hoje se
encontra em relativa calmaria, já foi palco de vários episódios de intensa atividade tectônica; isso se reflete na existência de uma
diversidade enorme de terrenos com as mais contrastantes adequabilidades e limitações ao uso e ocupação.
único tipo de rocha, como para as variações regionais que
diferenciam os grandes geossistemas (Figura 14.4), os
quais, na maioria das vezes, são sustentados por uma com-
plexaassociaçãoderochasdasmaisvariadasecontrastantes
características físico-químico-texturais.
Partindo-sedessapremissaeconsiderando-seumasérie
de particularidades com expressão areal suficientemente
grande para influenciar as características geo-
ambientais de uma região, a geologia do Bra-
sil foi diferenciada, ou agrupada, em sete gran-
des geossistemas.
Neste capítulo, são apresentadas as par-
ticularidades geológicas distintivas de cada um
dos geossistemas (domínios) e o que elas sig-
nificam em termos de adequabilidades e limi-
tações frente à execução de obras, à agricul-
tura, aos recursos hídricos e à implantação de
fontes poluidoras, aos potenciais turístico e
mineral.
COBERTURAS SEDIMENTARES
FANEROZÓICAS
INCONSOLIDADAS OU MUITO
POUCO CONSOLIDADAS (1)
Tais coberturas sustentam grande parte
do território brasileiro (Figura 14.4). Corres-
pondem aos terrenos geologicamente mais
novos e, diferentemente dos outros geossis-
temas a seguir descritos, nos quais as rochas
e o relevo se encontram em processo de ero-
são, são terrenos que se encontram em pro-
cesso de construção, uma vez que corres-
pondem a áreas baixas nas quais estão se
208
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.5 – Várzeas associadas ao rio Ribeira de Iguape (Vale do Ribeira, SP).
depositando os detritos erodidos nos terre-
nos altos circunvizinhos e que para elas são
transportados por rios, enxurradas, ventos e,
na faixa costeira, pela ação do mar. Encai-
xam-se nessa situação as áreas planas que
margeiam os rios, popularmente conhecidas
como várzeas (Figura 14.5); as planícies que
existem ao longo da região costeira; as gran-
des áreas pantanosas, a exemplo do Pantanal
mato-grossense, da Ilha do Bananal e as imen-
sas áreas planas e alagadiças que existem na
Amazônia, dentre outras.
Adequabilidades e limitações
Frente à execução de obras
Nas decisões de planejamento que en-
volvem a execução de obras, é importante que
se considere que a geologia influencia de for-
ma mais negativa que positiva nas caracterís-
ticas geotécnicas desse geossistema, pelas se-
guintes razões:
• O substrato é formado por um empi-
lhamento irregular de camadas horizontali-
zadas das mais diversas espessuras de areia,
silte, argila e cascalho. A espessura do paco-
te sedimentar varia de poucos metros nas pe-
quenas várzeas até muitas centenas de me-
tros nas grandes áreas pantanosas e nas imen-
sas áreas planas e alagadiças da região ama-
zônica. Trata-se, portanto, de um empilha-
mento de materiais de características granu-
lométricas, mineralógicas, geomecânicas e hi-
dráulicas bastante contrastantes e que mu-
dam bruscamente de uma camada para ou-
tra. Significa que as características geotécni-
cas variam bastante na vertical e as mudan-
ças abruptas de uma litologia para outra se
constituem em descontinuidades geomecâ-
nicas que facilitam os processos erosivos e
as desestabilizações em paredes escavadas
(Figura 14.6).
• Os sedimentos se encontram pouco consolidados e
trata-se de uma configuração morfológica favorável a que,
em muitos locais, os sedimentos e os solos se encontrem
saturados em água e sejam ricos em matéria orgânica –
solos hidromórficos. Tais materiais apresentam muito bai-
xa capacidade de suporte e são colapsíveis. Significa que
se uma obra for edificada sobre eles – prática ambiental-
mente incorreta –, estará sujeita a abatimentos e trinca-
mentos freqüentes, como também aos efeitos negativos
da umidade dos solos, que se mantém bastante alta na
maior parte do ano (Figura 14.7).
• Os cursos d’água, ao chegarem à área de definição
desse geossistema, sofrem uma quebra brusca de energia
e passam a depositar mais do que a escavar. Conseqüen-
temente, encontram-se em franco e acelerado processo
de assoreamento, o que exige cuidados especiais, para
que neles não se aumente o aporte de sedimentos.
• Trata-se de uma configuração geomorfológica favo-
rável a que o lençol freático aflore em vários locais ou
esteja situado a baixas profundidades na maior parte da
área de definição do geossistema. Tal característica torna
esses terrenos extremamente problemáticos para a execu-
ção de obras subterrâneas que envolvem escavações, pois
estão sujeitos a rápido alagamento, acarretando que as
obras fiquem imersas ou situadas em solos excessivamen-
te úmidos e corrosivos (Figura 14.8).
Figura 14.6 – Erosão diferencial nos sedimentos da Bacia do Pantanal (MS). A
porção inferior erosiva é uma camada de areia fina; a camada superior é uma areia
grossa um tanto laterizada.
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GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.7 – Área de várzea sendo aterrada para ser urbanizada
(região metropolitana de Curitiba).
Figura 14.8 – Exemplo de execução de obras em
local de baixa profundidade do lençol freático.
Figura 14.9 – A construção de uma obra viária sobre a área de definição desse
geossistema reduz ainda mais o precário escoamento superficial; os aterros podem
funcionar como barreiras que propiciam a formação de enchentes de longa
duração, não pelo extravasamento dos rios, mas pelo represamento das águas
das chuvas. Tais obras devem ser dotadas de dutos que possibilitem o escoamento
da água das chuvas sobre a área de definição do geossistema 1
(município de Pariquera-Açu, SP).
• Obras viárias têm de ser executadas so-
bre altos aterros, o que ambientalmente é in-
correto (Figura 14.9), além de serem muito
onerosas, pois se terá de buscar material de
empréstimo para os aterros a longas distânci-
as. Ademais, a construção de aterros interfere
negativamente no escoamento superficial, que
naturalmente é bastante deficiente.
• Dentre os sedimentos, é comum a exis-
tência de camadas de argilas moles, excessi-
vamente plásticas e saturadas em água. Tais
camadas,casosejamdescompressionadaspela
execução de escavações, podem desencadear
o fenômeno conhecido como “corrida de
lama”, ou seja, esse material mole pode mi-
grar para as escavações, gerando condições
propícias a que ocorram colapsos nas imedia-
ções das escavações.
• É comum a existência, dentre os sedi-
mentos, de camadas de argilas ou excessiva-
mente plásticas e pegajosas, ou rijas e duras,
ou então de cerosidade elevada. Também é comum a ocor-
rência de cascalhos formados por uma mistura desorgani-
zada de seixos, blocos e matacões de rochas duras,
abrasivas e de características geotécnicas diferenciadas.
Tais camadas dificultam a escavação e a perfuração com
sondas rotativas, além de apresentarem características
geotécnicas bastante heterogêneas.
• É possível a existência de camadas à base de maté-
ria orgânica que podem liberar gás metano, o qual é pre-
judicial à saúde, altamente inflamável, de alta mobilidade
e que pode entrar em combustão espontânea. Esse gás
pode se infiltrar pela tubulação das obras, gerando situa-
ções propícias a que ocorram incêndios e até violentas
explosões (Figura 14.10).
• Como a matéria orgânica libera ácidos bastante
corrosivos, nas regiões de clima chuvoso essa liberação,
aliada à baixa profundidade do lençol freático, faz com
que materiais enterrados nesse geossistema se danifiquem
rapidamente, o que exige cuidados especiais com a quali-
dade dos materiais utilizados nas obras enterradas, princi-
palmente se forem destinadas à circulação e ao armaze-
namento de substâncias poluentes, como oleodutos, tan-
ques de combustíveis etc. Se ocorrer um vazamento, o
risco de os poluentes entrarem em contato direto com o
lençol freático é grande (Figura 14.11).
• São terrenos desprovidos de rochas duras para se-
rem utilizadas como agregados. Tal característica encare-
ce a execução de obras onde tais sedimentos sustentam
extensas superfícies – a exemplo do Pantanal mato-
grossense e das áreas alagadiças da região amazônica –,
pois os agregados são transportados de longas distâncias.
210
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.10 – Exemplo de infiltração de gás em tubulação de
obra construída sobre uma camada rica em matéria orgânica.
Figura 14.11 – Vazamento de poluente em áreas onde o lençol
freático é pouco profundo.
• As características geomorfológicas são favoráveis
a que se formem empoçamentos de água (Figura 14.12)
e a que os rios formem enchentes freqüentes de longo
tempo de duração e grande área de abrangência (Figura
14.13).
Frente à agricultura
Nesse caso, a influência da geologia é tanto positiva
como negativa, pelas seguintes razões:
• Há grandes parcelas com drenabilidade superficial e
subsuperficial deficiente; ou sujeitas a empoçamentos de
água de longo tempo de permanência; ou com lençol
freático aflorante ou situado próximo à superfície; ou
recobertas por solos saturados em água; ou sujeitas a en-
chentes (Figura 14.14).
• Tais áreas são inadequadas ao plantio de espécies
de raízes profundas (estas podem apodrecer) e para cultu-
ras que necessitam da aplicação de agrotóxicos – o risco
de os agrotóxicos entrarem em contato direto com o len-
çol freático, contaminando-o, é alto (Figura 14.15).
Figura 14.12 – Planícies aluviais do rio Barigui (região
metropolitana de Curitiba, PR).
Figura 14.13 – Pantanal mato-grossense, em época de cheia
do rio Paraguai (MS).
• Em muitos locais, para melhorar a drenabilidade do
solo, é necessário abrir profundas valas, o que não é
ambientalmentecorreto.Talpráticainterferenegativamente
na dinâmica das águas superficiais e subterrâneas. As áre-
as úmidas e os banhados que existem em grande quanti-
dade na área de definição do geossistema 1 são importan-
tes para manter a regularidade da vazão dos cursos d’água,
da umidade do ar e para recarregar as águas subterrâneas.
Por isso, não devem ser secadas.
• Trata-se de um ambiente favorável a que a umidade
dos solos se mantenha alta na maior parte do ano, favore-
cendo a proliferação de vários tipos de insetos, fungos e
bactérias. Portanto, não é adequado a culturas suscetíveis
a pragas, a exemplo de diversas hortaliças.
• As características geomorfológicas são favoráveis à
existência de manchas de solos salinos, de péssimas ca-
racterísticas químicas para a agricultura, a exemplo de
muitos locais do Pantanal mato-grossense.
• As características do relevo e de drenagem são mais
favoráveis à concentração do que à dispersão de poluentes
terrestres e atmosféricos. Significa que são terrenos onde
211
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.14 – Área com lençol freático aflorante ou situado
próximo à superfície.
Figura 14.15 – Plantio de banana, cultura na qual se aplicam,
freqüentemente, grandes quantidades dos mais diferentes e fortes
agrotóxicos (região do Vale do Ribeira, SP).
os poluentes agrícolas necessitam de um maior tempo
para se dispersarem e se depurarem.
• Em muitos locais, os solos podem conter excesso
de matéria orgânica. Tais solos são excessivamente ácidos
e, por isso, necessitam ser freqüentemente corrigidos com
a aplicação de grandes quantidades de calcário dolomítico.
Esse aspecto pode inviabilizar a prática agrícola nas regi-
ões onde não há disponibilidade desse corretivo a uma
distância que seja economicamente viável de ser transpor-
tado.
• As características geomorfológicas são favoráveis
a que, nas regiões de clima temperado, a temperatura se
eleve bastante no verão e diminua muito no inverno,
possibilitando a formação de geadas, a exemplo do que
acontece nas várzeas existentes nas áreas montanhosas
da região Sul e em boa parte da região Sudeste (Figura
14.16).
• Como particularidades positivas, salienta-se que, em
meio às áreas pantanosas e alagadiças, há manchas de
Figura 14.16 – Geada em uma planície aluvial da região
metropolitana de Curitiba (PR).
terras mais sobrelevadas (terraços) que o nível atual das
enchentes. Tais parcelas podem ser bem aproveitadas para
o plantio, uma vez que o potencial erosivo é praticamente
nulo, podem ser facilmente mecanizadas com equipamen-
tos motorizados e geralmente são recobertas por solos
ricos em matéria orgânica. Esses solos, além de apresen-
tarem boa fertilidade natural, são bastante porosos e apre-
sentam alta capacidade de reter e fixar nutrientes, ou seja,
respondem bem à adubação.
As particularidades retrodestacadas permitem concluir
que o aproveitamento agrícola desse geossistema deve ser
muito bem planejado, devendo-se priorizar o plantio or-
gânico.
Frente aos recursos hídricos e à implantação
de fontes poluidoras
As características geológicas tornam a área de defini-
ção desse geossistema um ambiente de grande importân-
cia hídrica e muito vulnerável frente a qualquer fonte com
potencial poluidor.
• As características morfolitoestruturais são favoráveis
a que águas das chuvas sejam retidas nesse geossistema
por longo tempo. Como a maior parte de sua superfície é
recoberta por solos bastante permeáveis e de alta capaci-
dade de armazenar água, são terrenos importantes para a
recarga das águas subterrâneas.
• Por serem terrenos topograficamente rebaixados, as
águas das chuvas que se infiltram nas áreas altas
circunvizinhas neles se minam, recarregando os rios que,
por sua vez, recarregam as águas subterrâneas. São, por-
tanto, ao mesmo tempo, áreas de recarga e de descarga
das águas subterrâneas (Figuras 14.17 e 14.18).
• Dentre os sedimentos que os sustentam, há espes-
sas e extensas camadas horizontalizadas de areia e casca-
lho inconsolidados, materiais bastante porosos e permeá-
veis e quase sempre situados próximos à superfície, como
identificado especialmente nas áreas das várzeas e nas pla-
212
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.17 – Área de definição do geossistema 1 na região de
Mangaratiba (RJ).
Figura 14.18 – Exemplifica-se porque a área de definição do
geossistema 1 é favorável tanto à recarga como à descarga das
águas subterrâneas.
nícies costeiras. Significa que são aqüíferos granulares
horizontalizados, de alto potencial de explotação, boa
expressividade areal, boa homogeneidade hidrodinâmica
lateral e de fácil e barata explotação.
Por todas as características retromencionadas, a área
de definição desse geossistema, além de ser de grande
importância para a recarga das águas subterrâneas e ma-
nutenção da regularidade da vazão dos rios, constitui-se
em uma importante fonte de água doce para muitas regi-
ões. No entanto, no caso de se explotar água, devem-se
considerar as seguintes particularidades negativas:
• Em muitos locais, as águas circulam por entre ca-
madas ricas em matéria orgânica. Nesse caso, é possível
que a água apresente problemas de acidez elevada e mau
cheiro.
• Na área de definição do geossistema, junto à linha
de costa, as águas subterrâneas podem ser salobras, em
razão da interferência da água do mar.
• São terrenos com características de relevo e de dre-
nagem mais favoráveis à concentração do que à dispersão
de poluentes, tanto terrestres como atmosféricos. Em caso
de contaminação, exigem complexas e onerosas soluções
(Figura 14.19).
• O fluxo de água subterrânea se dá na horizontal,
em todas as direções, através de camadas de areia e cas-
calho, materiais de muito baixa capacidade de reter e de-
purar poluentes. Assim sendo, uma fonte poluidora, mes-
mo pontual, pode espalhar os poluentes por longas dis-
tâncias e em todas as direções. Por isso, não se deve con-
sumir água de poços rasos, tipo cacimba, se houver fon-
tes contaminantes na região (Figura 14.20).
• Os cursos d’água e as enxurradas provenientes das
áreas altas circunvizinhas, ao chegarem a esse geossiste-
ma, sofrem uma quebra brusca de energia e suas águas
passam a ser lentas, pouco turbulentas, pouco oxigena-
das e de baixa capacidade de se autodepurarem. Significa
Figura 14.19 – Rios com águas lentas apresentam baixa
capacidade para dispersar e depurar poluentes (Sete Barras, SP).
Figura 14.20 – Um poço tipo cacimba, escavado em uma várzea
do Vale do Ribeira (SP), em meio a uma plantação de banana,
cultivada com aplicação dos mais variados agrotóxicos.
213
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.21 – Sistema hídrico das planícies amazônicas.
Figura 14.22 – Paisagem formada pelo contraste das áreas planas
do geossistema 1 e o relevo montanhoso sustentado por rochas
muito antigas e deformadas (Vale do Ribeira, PR).
Figura 14.23 – Pantanal mato-grossense (região da serra
do Amolar, MS).
que, se um poluente alcançar um curso de água desse
geossistema, demorará muito tempo para se dispersar e
se depurar.
• No caso de implantação de dutos e tanques para o
armazenamento de substâncias poluentes, é grande a pos-
sibilidade de eles ficarem imersos ou enterrados em mate-
riais ricos em matéria orgânica, que libera ácidos bastante
corrosivos, danificando-os rapidamente.
Tais particularidades indicam que, para qualquer ini-
ciativa de implantação de uma fonte com potencial
poluidor nesse geossistema, criteriosos cuidados técnicos
devem ser observados.
Frente ao potencial turístico
A configuração morfoestrutural possibilitou que a esse
geossistema se associassem alguns dos mais belos e im-
portantes ecossistemas do Brasil, destacando-se dentre eles
o Pantanal mato-grossense, a Ilha do Marajó, as amplas
planícies amazônicas. Tais regiões apresentam um belo,
denso e complexo sistema hídrico com vegetação típica,
adaptada às águas e às secas; por isso, são habitat de uma
infinidade de animais, aves e plantas terrestres e aquáti-
cas. Também fazem parte dele todas as planícies costei-
ras, onde existem belas praias, além de se constituírem
em importantes ecossistemas de transição entre ambien-
tes marinhos e terrestres e as várzeas dos rios (Figuras
14.21, 14.22 e 14.23).
Frente ao potencial mineral
Trata-se de uma ambiência geológica e geomorfoló-
gica favorável à explotação de vários bens minerais.
• A dinâmica dos cursos d’água é favorável à forma-
ção de depósitos de minerais pesados do tipo pláceres, ou
seja, depositados pela ação dos rios. Destacam-se, nesse
caso, os depósitos de ouro, cassiterita e diamantes.
• É um ambiente favorável à lavra de vários tipos de
areia, argila, cascalho e turfa (Figura 14.24).
• Associados às planícies costeiras mais afastadas da
linha de costa, há depósitos de areia industrial, assim como,
associadas às areias da linha de praia, há concentrações
de minerais pesados radioativos (areias monazíticas), como
as identificadas no litoral do Espírito Santo.
COBERTURAS SEDIMENTARES
FANEROZÓICAS POUCO A
MODERADAMENTE CONSOLIDADAS (2)
Tais coberturas recobrem boa parte do território
brasileiro. Elas se originaram a partir de detritos que, em
tempos geológicos não muito distantes – entre mais ou
menos 55 e 2 milhões de anos –, depositaram-se em
pequenas e grandes depressões que se formaram por
conseqüência de grandes falhas geológicas, que tanto
soergueramcomorebaixaramporçõesdacrostacontinental
brasileira, em decorrência do mecanismo de separação do
continente sul-americano do africano (Figura 14.25).
214
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.24 – Lavra de turfa, associada às várzeas do rio Paraíba
do Sul (município de São José dos Campos, SP).
À medida que tais depressões se formavam, transfor-
mavam-se em lagos, nos quais se depositavam diversos
tiposdeareias,cascalhos,argilasesiltes,transportadospelos
rios e pelas enxurradas dos terrenos altos circunvizinhos.
Com o passar do tempo, os lagos se atulharam e se
extinguiram e os sedimentos neles depositados hoje apa-
recem sustentando terrenos que, na literatura geológica,
pertencem às bacias sedimentares de Curitiba, São Paulo,
Taubaté, Resende, Solimões, Parecis, Urucuia, dentre ou-
tras. Também se encaixam nesse contexto os sedimentos
que ocorrem ao longo de uma estreita e longa faixa da
margem continental, pertencentes ao Grupo Barreiras.
Figura 14.25 – Área de definição do geossistema 2.
Em decorrência dessa história geológica, as áreas
destacadas na figura 14.25 têm em comum o fato de
serem sustentadas por um empilhamento irregular de ca-
madas ou lentes horizontalizadas das mais diferentes es-
pessuras e compostas de diversos tipos de areias, argilas,
siltes, cascalhos, geralmente pouco a moderadamente
consolidados. Em razão de tais características, a área de
definição desse geossistema apresenta diversas particu-
laridades importantes de serem consideradas nas deci-
sões de planejamento das várias formas de uso e ocupa-
ção.
Adequabilidades e limitações
Frente à execução de obras
Como implicações geotécnicas importantes decorren-
tes da geologia, salienta-se que:
• O substrato desse geossistema é forma-
do por um empilhamento irregular de cama-
das de litologias de características granulomé-
tricas e composicionais diferentes. Conseqüen-
temente, em caso de execução de obras que
envolvam escavações profundas, é grande a
possibilidade de se expor nas paredes escava-
das materiais dos mais variados comportamen-
tos geomecânicos e hidráulicos. Isso favorece
as desestabilizações, os processos erosivos e o
aparecimento de surgências de água em talu-
des de corte (Figura 14.26).
• Por serem bacias sedimentares forma-
das por falhas geológicas, a espessura do pa-
cote sedimentar pode variar de poucas cente-
nas de metros – como se observa nas bacias
de Curitiba, São Paulo, Taubaté e Rezende e
na Formação Barreiras –, a milhares de metros
nas grandes bacias – por exemplo, Solimões e
Urucuia.
• Nas bacias de Curitiba, São Paulo, Tau-
baté e Rezende, a espessura do pacote sedi-
mentar é bastante irregular, variando de local
para local de poucos metros a mais de uma
centena de metros. Em caso de escavações e
perfurações profundas, é grande a possibilida-
de de se encontrar rochas do embasamento das bacias e
de características geotécnicas totalmente distintas das dos
sedimentos desse geossistema.
• Dentre os sedimentos, é bastante comum a existên-
cia de camadas de argilas excessivamente plásticas, pega-
josas e rijas, como também de camadas de siltitos de
cerosidade elevada. Tais materiais apresentam problemas
face à escavação e perfuração com sondas rotativas – os
equipamentos se emplastam excessivamente e a alta
cerosidade propicia que as sondas patinem.
• É comum a existência de camadas de sedimentos à
base de argilominerais expansivos. Tais sedimentos e os
215
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.26 – As desestabilizações e os processos erosivos
observados nas falésias que existem principalmente ao longo do
litoral nordestino, sustentadas por sedimentos da Formação
Barreiras, são decorrentes do baixo grau de consolidação e da
alternância de litologias de características geomecânicas e
hidráulicas muito diferentes (Porto Seguro, BA).
respectivos solos residuais, se expostos à variação de grau
de umidade, tornam-se colapsíveis e sofrem o fenômeno
do empastilhamento, ou seja, desagregam-se em peque-
nas pastilhas. Por essa razão, obras neles enterradas po-
dem sofrer deformações e trincamentos; além disso, se
tais materiais forem expostos à oscilação dos estados úmido
e seco, tornam-se tão erosivos quanto as areias
inconsolidadas (Figuras 14.27, 14.28 e 14.29).
• Dentre os sedimentos, também se registra a ocor-
rência de camadas de areia e cascalho, materiais de carac-
terísticas granulométricas e geomecânicas bastante hete-
rogêneas.
• Como se trata de um empilhamento horizontalizado
de camadas de várias composições, a textura dos solos
residuais pode variar de argilosa a arenosa, principalmen-
te nas áreas onde o relevo é mais movimentado e os va-
les, mais aprofundados.
• Por serem as camadas horizontalizadas ou subori-
zontalizadas, o relevo geralmente é formado por eleva-
ções de topos amplos, suavizados e delimitados por ver-
tentes um pouco mais íngremes. Entremeiam-se às eleva-
ções áreas baixas, com relevo quase plano. Tal configura-
ção propicia que nessas áreas baixas as águas das chuvas
se concentrem, formando lençol freático permanente ou
temporário bem próximo à superfície (Figura 14.30). Tam-
bém é grande a possibilidade de que nesses locais existam
camadas de argilas moles, saturadas em água, sujeitas ao
fenômeno da “corrida de lama”, se forem descompressio-
nadas por meio de escavações. Também é possível a exis-
tência de solos transportados ricos em matéria orgânica
(Figura 14.31). Tais solos apresentam baixa capacidade de
suporte e são excessivamente ácidos, por isso, são bastan-
te corrosivos; materiais neles enterrados se danificam ra-
pidamente, o que recomenda cuidados especiais com a
qualidade dos materiais empregados nas obras.
Figura 14.27 – Particularidade geotécnica interessante associada
aos sedimentos da Bacia de Curitiba: a base do talude, embora
sustentada por sedimentos argilosos, por conter argilominerais
expansivos, é bem mais erosiva que a parte superior, sustentada
por sedimentos arenosos (região metropolitana de Curitiba, PR).
Figura 14.28 – Processos erosivos decorrentes da exposição dos
sedimentos argilosos da Formação Guabirutuba associada à Bacia de
Curitiba contendo argilominerais expansivos (região metropolitana
de Curitiba, PR).
Figura 14.29 – Área sofrendo processo de erosão decorrente da
existência de argilominerais expansivos, relacionados aos sedimentos
da Formação Solimões (estado do Acre).
216
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.30 – Área de definição do geossistema 2 na região
de Boa Vista (RR), onde o relevo é favorável a que se formem
muitas lagoas e a que o lençol freático esteja situado próximo à
superfície. Esta é uma particularidade também encontrada em
muitos locais da área de definição da Bacia de Curitiba (PR).
Figura 14.31 – Na área de definição do geossistema 2, na região
metropolitana de Curitiba (PR), solos com alto teor de matéria
orgânica são explorados e vendidos para jardinagem.
Figura 14.32 – A parte superior desse anfiteatro suspenso é
sustentada por laterita, também conhecida como canga, que é uma
crosta ferruginosa dura e mais resistente à erosão que o material ao
qual está sobreposta (serra do Curral, MG).
Figura 14.33 – Conglomerado constituído por seixos e blocos de
rochas à base de quartzo (Eldorado Paulista, SP).
• São terrenos onde se encontram crostas lateríticas,
especialmente nas regiões amazônica e Centro-Oeste,
material à base de alumínio, ácido e corrosivo, além de
que, em muitos locais, ele se encontra bastante endureci-
do (Figura 14.32).
• Dentre os sedimentos, é comum a existência de
camadas de conglomerados formados por uma mistura
caótica de seixos, blocos e até matacões de diversos tipos
de rochas duras, na maioria das vezes, compostos de ro-
chas à base de quartzo, portanto, muito duras e abrasivas.
Trata-se de material de comportamento geomecânico bas-
tante heterogêneo e difícil de ser escavado e perfurado
com sondas rotativas (Figura 14.33).
• Na área de definição do geossistema, não há rochas
duras para serem usadas como agregados (brita). Isso en-
carece bastante a execução de obras nos domínios da re-
gião amazônica – os agregados têm de ser transportados
de longas distâncias.
• Nas regiões sustentadas por sedimentos do Grupo
Urucuia e da Bacia do Parecis, predominam sedimentos à
base de quartzo. Tais sedimentos costumam se encontrar
densamente fraturados em várias direções e se alteram
para solos arenosos extremamente erosivos e excessiva-
mente permeáveis.
• Como particularidade positiva, salienta-se que a
configuração morfolitoestrutural desse geossistema é fa-
vorável à predominância de relevos suavizados, de baixo
potencial erosivo e de movimentos naturais de massa.
Além disso, predominam materiais que podem ser esca-
vados com certa facilidade, apenas com ferramentas e
maquinários de corte.
Frente à agricultura
Em decorrência da geologia, a área de definição des-
se geossistema apresenta tanto características negativas
como positivas para o uso agrícola. Como particularida-
des negativas, salienta-se que:
• Em toda a sua área de definição, predominam
litologias que se alteram liberando poucos nutrientes.
Conseqüentemente, há predominância de solos de fertili-
dade natural muito baixa.
• Pelo fato de o substrato rochoso ser formado por um
empilhamento irregular e horizontalizado de camadas are-
217
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
nosas, argilosas, siltosas e conglomeráticas, das mais varia-
das espessuras, a textura e, por conseqüência, a qualidade
agrícola dos solos residuais, é uma variável que depende
bastante de qual desses sedimentos predomina e ocupa a
porção superior do pacote sedimentar e do tipo de relevo.
Assim sendo, há regiões nas quais predominam solos argi-
losos; outras, solos arenosos; e aquelas em que a textura
dos solos varia em poucos metros de arenosa a argilosa.
• Nas regiões onde predominam solos arenosos, como
no caso da área de definição do Grupo Urucuia, além da
baixa fertilidade natural, os solos também são bastante
erosivos, ácidos, excessivamente permeáveis, com baixa
capacidade de armazenar água, de reter nutrientes e de
assimilar matéria orgânica. Além disso, são terrenos com
pouca disponibilidade hídrica superficial. Tais característi-
cas indicam que essas áreas não são adequadas à agricul-
tura de ciclo curto, ao plantio de plantas de raízes curtas,
as quais necessitam de muita água e mecanização fre-
qüente do solo.
• Em regiões em que predominam sedimentos síltico-
argilosos, como no caso da Bacia de Curitiba, destaca-se
que tais sedimentos se alteram para solos argilosos ou
argilossiltosos liberando muito alumínio. Portanto, além da
baixa fertilidade natural, os solos são muito ácidos e se
compactam e se impermeabilizam bastante se forem conti-
nuamente mecanizados com equipamentos pesados ou
pisoteados por gado – cargas elevadas contínuas sobre so-
los argilosos propiciam a formação de uma camada
subsuperficial altamente endurecida e quase que imperme-
ável, fenômeno conhecido como “pé de grade”. Tal cama-
da, nos períodos de chuva, funciona como uma superfície
de deslize da camada superior, que, por ser mais fofa e
porosa, encharca-se e é facilmente removida por erosão
laminar (Figura 14.34). Por outro lado, solos argilosos apre-
sentam boa capacidade de retenção e fixação de elemen-
tos, são bastante porosos e armazenam bastante água. Sig-
nifica que mantêm boa disponibilidade de água para as
plantas por longo tempo dos períodos secos, assimilam
bem a matéria orgânica e, quando adubados, fixam bem os
nutrientes. Conseqüentemente, desde que o relevo seja
adequado e os solos devidamente manejados e corrigidos,
tais terrenos apresentam bom potencial agrícola.
• Outro aspecto a ser considerado é que se trata de
uma ambiência geomorfológica favorável à existência,
especialmente nas regiões amazônica e Centro-Oeste, de
manchas de solos lateríticos. Tais solos, além de serem de
fertilidade natural muito baixa, são excessivamente áci-
dos, respondem mal à adubação e, em muitos locais, apre-
sentam problemas de dureza e pedregosidade elevadas.
• Como particularidade positiva, destaca-se que, de-
vido às camadas sedimentares serem horizontalizadas,
predominam relevos suavizados, de baixo potencial erosivo,
com boa parte da superfície favorável à utilização de
maquinários motorizados. Esse tipo de relevo também é
favorável à existência de parcelas baixas e recobertas por
solos transportados, ricos em matéria orgânica, a exem-
plo do que ocorre em grande parte da Bacia de Curitiba.
Tais solos apresentam boa fertilidade natural, são bastante
porosos e de alta reatividade química, ou seja, quando
adubados, retêm e fixam bem os nutrientes.
Frente aos recursos hídricos e à implantação
de fontes poluidoras
Destacam-se como particularidades importantes:
• Trata-se de uma ambiência favorável à existência de
camadas de areia e de conglomerados de bom potencial
armazenador e circulador de água, de boa expressividade
areal e boa homogeneidade hidrodinâmica lateral. São,
portanto, aqüíferos granulares, nos quais, se um poço
apresentar boa vazão, é grande a possibilidades de que
outros, com a mesma profundidade, em outros locais,
também a apresentem (Figura 14.35).
• São áreas potenciais à existência de aqüíferos confi-
nados, ou seja, as camadas arenosas e conglomeráticas
podem estar intercaladas entre camadas pouco permeá-
veis e, por isso, protegidas da contaminação. Portanto,
nelas podem existir aqüíferos de excelente potabilidade.
Por outro lado, nos aqüíferos confinados, a recarga é muito
lenta, fato que deve ser considerado no caso de explotação
de água: se a explotação não for bem planejada, os poços
podem secar (Figura 14.36).
• As características morfoestruturais são favoráveis à
existência de manchas de solos ricos em matéria orgânica.
Tais solos, por serem bastante permeáveis e porosos, têm
grande importância hídrica para o geossistema, principal-
mente nas regiões onde predominam sedimentos síltico-
argilosos, como no caso das bacias de Curitiba e de São
Paulo. Funcionam como uma esponja que absorve e arma-
zena grande quantidade de água das chuvas, contribuindo
para melhorar o potencial de recarga das águas subterrâne-
as, como também para minimizar os problemas decorren-
tes do escoamento superficial rápido dos terrenos síltico-
argilosos. Por isso, é importante que tais solos sejam preser-
vados e não impermeabilizados (Figura 14.37).
Figura 14.34 – Focos erosivos decorrentes do pisoteamento
contínuo do gado sobre solo argiloso.
218
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.35 – Exemplo de aqüífero granular.
Figura 14.36 – Aqüífero confinado.
Figura 14.37 – Boa parte da área de definição desse geossistema
é recoberta por espesso manto de solo orgânico (região
metropolitana de Curitiba, PR).
bastante perméaveis e apresentarem baixa capacidade de
retenção e depuração de poluentes. Assim sendo, nos lo-
cais em que tais sedimentos afloram e sobre os respecti-
vos solos residuais, cuidados especiais devem ser toma-
dos com as fontes potencialmente poluidoras.
• Outro aspecto negativo a ser considerado é que a
configuração morfolitoestrutural desse geossistema é favo-
rável a que os cursos de água apresentem águas lentas,
pouco turbulentas e pouco oxigenadas; por isso, possuem
baixa capacidade de depuração de poluentes. Portanto, se
um poluente atingi-los, será necessário um longo período
de tempo para a depuração e dispersão desse elemento.
Frente ao potencial turístico
Como atrativos turísticos importantes, os sedimentos
do Grupo Barreiras sustentam as bonitas falésias ao longo
do litoral nordestino. Também é do Grupo Barreiras que
se extraem as areias finas e coloridas utilizadas em interes-
sante e típico artesanato da região Nordeste.
Na região de Urucuia, a configuração morfolitoestrural
foi favorável a que os processos erosivos esculpissem áre-
as de grande beleza cênica e que fossem drenadas por
muitos rios com formações de cachoeiras, corredeiras e
piscinas naturais. Já na região amazônica, na área de defi-
nição da Formação Solimões, a geomorfologia propicia a
existência de amplas planícies recortadas por um denso,
belo e complexo sistema de rios com importantes
ecossistemas associados.
Frente ao potencial mineral
Trata-se de uma ambiência geológica favorável à
explotação de diversos tipos de areia, argila e cascalho.
Destaca-se que a parte do geossistema compreendida pela
Bacia Solimões é uma ambiência favorável à existência de
depósitos de hidrocarbonetos, xisto betuminoso, arenito
asfáltico, barita, gipsita, sal-gema e anidrita.
COBERTURAS SEDIMENTARES OU
VULCANOSSEDIMENTARES PALEOZÓICAS
E PROTEROZÓICAS NÃO-DOBRADAS (3)
Essas coberturas sustentam grande parte do território
brasileiro e se originaram a partir de vários tipos de detri-
tos, como areia, cascalho, argila, siltes, matéria orgânica
e, mais restritamente, de lavas vulcânicas e precipitados
químicos, que se depositaram em extensas e profundas
bacias sedimentares originadas nas mais diferentes épo-
cas da história geológica da Terra (Figura 14.38).
Tais bacias se formaram por conseqüência de falhas
geológicas que tanto soerguiam como rebaixavam gran-
des extensões da crosta continental. A longa história
evolutiva de tais bacias, que durou mais de 400 milhões
de anos, possibilitou que nelas se depositassem materi-
ais relacionados aos mais diferentes ambientes climáti-
• Quanto à vulnerabilidade à contaminação das águas
subterrâneas por contaminantes superficiais, esta varia de
baixa – nas regiões onde camadas argilossiltosas afloram
– a muito alta – onde há camadas arenosas e conglome-
ráticas aflorantes –, pelo fato de esses sedimentos serem
219
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.38 – Área de definição do geossistema 3.
co-deposicionais, tais como continental, flu-
vial, marinho, desértico e vulcânico. Com
isso, elas foram preenchidas pelos mais dife-
rentes tipos de materiais. Com o passar do
tempo, tais materiais se consolidaram e se
transformaram em rochas. As areias se trans-
formaram em arenitos; as argilas, em argilitos
e folhelhos; os siltes, em siltitos; os casca-
lhos, em conglomerados; os precipitados quí-
micos carbonáticos, em calcários.
Em decorrência dessa história geológica,
essas bacias são sustentadas por um empilha-
mento horizontalizado de camadas de rochas
das mais variadas composições. Em sua área
de definição, dependendo de qual dos sedi-
mentos predomina, ocupa a porção superior
do pacote sedimentar e aflora, existem terre-
nos com os mais contrastantes comportamen-
tos em termos de adequabilidade e limitações
ao uso e à ocupação.
Adequabilidades e limitações
Frente à execução de obras
Em caso de execução de qualquer tipo
de obra sobre a área de definição desse geos-
sistema, é importante que se considerem as
particularidades geotécnicas descritas a seguir.
• Tratam-se de terrenos em que as carac-
terísticas geotécnicas do substrato rochoso va-
riam e contrastam bastante na vertical, man-
tendo-se relativamente homogêneas na hori-
zontal. Portanto, em caso de execução de es-
cavações e perfurações profundas, especial-
mente nas regiões destacadas na figura 14.39,
é grande a possibilidade de se encontrarem
intercalações irregulares de materiais dos mais
diversos e contrastantes comportamentos ge-
omecânicos e hidráulicos, que mudam brus-
camente de um para o outro (Figura 14.40).
Tais mudanças se constituem em descontinui-
dades que facilitam as desestabilizações, os
processos erosivos e o aparecimento de sur-
gências de água em taludes de corte.
• Dentre os componentes litológicos, es-
pecialmente nas regiões destacadas nas figu-
ras 14.39 e 14.47, é bastante comum a ocor-
rência de sedimentos síltico-argilosos finamen-
te laminados (Figura 14.41), como também
de sedimentos portadores de argilominerais
expansivos (Figuras 14.42, 14.43 e 14.44),
materiais que se desagregam e se tornam bas-
tante erosivos e instáveis se expostos à varia-
ção dos estados úmido e seco. Assim, deve
Figura 14.39 – Regiões onde predominam e afloram sedimentos síltico-argilosos
e onde a composição litológica varia bastante na vertical.
220
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.40 – Bandamento horizontalizado
planoparalelo conseqüente da alternância
de sedimentos de diferentes composições
(Formação Irati, SP).
Figura 14.41 – Folhelho finamente laminado, que se desagrega
e se desestabiliza com facilidade em taludes de corte
(Formação Irati, SP).
Figura 14.42 – Sedimentos da Formação Aquidauana (SP).
Figura 14.43 – Erosão diferencial entre uma camada de
arenito (topo) e uma de siltito à base de argilominerais
expansivos (Formação Presidente Prudente, SP).
Figura 14.44 – Desestabilização em um talude de
corte sustentado por sedimentos da Formação
Santo Anastácio (SP).
221
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
ser evitada sua exposição em taludes de corte e em obras
terraplenadas.
As porções de topo dos taludes apresentados nas fi-
guras 14.42, 14.43 e 14.44 são sustentadas por arenitos.
As porções inferiores são sustentadas por sedimentos
síltico-argilosos. Observa-se que as porções inferiores,
embora sejam à base de argila, encontram-se recortadas
por sulcos de erosão (Figura 14.42). Era de se esperar o
contrário. Isso acontece porque as camadas argilosas são
portadoras de argilominerais expansivos. Tais minerais so-
frem o fenômeno da alternância dos estados de expansão
e contração quando expostos à variação dos estados úmi-
do e seco. Isso faz com que se desagreguem em peque-
nas pastilhas, que, além de erodirem com muita facilida-
de, podem gerar sérios problemas de instabilidade em ta-
ludes de corte, especialmente pelo descalçamento de ho-
rizontes mais consistentes sobrepostos às camadas argilo-
sas (Figura 14.43). Quando todo o talude é composto de
sedimentos à base de argilominerais expansivos, a contí-
nua desagregação superficial promove instabilidades por
deformações na geometria do talude (Figura 14.44).
• Também é bastante comum a ocorrência de cama-
das de argilas excessivamente rijas, endurecidas e plásti-
cas, bem como de camadas de siltitos com cerosidade
elevada, materiais difíceis de serem escavados e perfura-
dos, principalmente com sondas rotativas – causam
emplastamento excessivo de ferramentas e maquinários,
assim como a alta cerosidade pode prender ou fazer as
sondas patinarem.
• Sedimentos síltico-argilosos se alteram para solos
argilosos, que, quando secos, entram facilmente em sus-
pensão (Figura 14.45); quando molhados, tornam-se bas-
tante aderentes e escorregadios. Significa que, em áreas
por eles sustentadas, não se deve iniciar grandes obras
que envolvem a execução de escavações e movimentação
de terra durante os períodos de chuva prolongados – en-
frentar-se-ão muitos problemas com o emplastamento ex-
cessivo de maquinários e ferramentas e para trafegar pelas
vias de acesso às obras, que se tornam bastante escorre-
gadias e pegajosas.
• Uma situação que causa danos ambientais, além de
afetar seriamente a saúde, está relacionada a terrenos sus-
tentados por sedimentos síltico-argilosos e diz respeito à
poeira levantada pelo tráfego nas vias de acesso às planta-
ções de cana-de-açúcar. Como essa cultura necessita de
muitas vias de acesso e a coleta de cana-de-açúcar se dá
nos períodos de seca, a intensa circulação dos caminhões
provoca o levantamento de poeira, que permanece bas-
tante tempo em suspensão. Esse fato, aliado à fumaça
originada das queimadas da cana, torna o ar dessas regi-
ões quase que irrespirável.
• As áreas em destaque na figura 14.47 diferenciam-
se pelo fato de se intercalarem, aos sedimentos síltico-
argilosos, camadas das mais diversas espessuras de rochas
calcárias (Figura 14.46). A mineralogia das rochas calcári-
as é à base de carbonatos, minerais que se dissolvem com
facilidade pela ação das águas. Portanto, tais camadas
podem conter cavidades dos mais diferentes tamanhos.
Conseqüentemente, onde elas são espessas e estão aflo-
rantes, há potencial para ocorrências de colapso, ou seja,
afundamentos bruscos. O aspecto geotécnico positivo das
rochas calcárias é que elas apresentam boas característi-
cas físico-químicas para serem usadas como agregados.
Além disso, alteram-se para solos argilosos plásticos, de
boa capacidade de suporte, de alta reatividade química,
pouco permeáveis, pouco erosivos e de boa estabilidade
em taludes de corte. Por isso, os solos residuais dessas
áreas são bons para utilização como material de emprésti-
mo, inclusive como barreiras de elementos químicos.
• Em boa parte do geossistema afloram espessos e
extensos pacotes de sedimentos quartzo-arenosos, repre-
sentados por vários tipos de arenitos. Tais sedimentos são
à base de quartzo, mineral muito duro e abrasivo e de alta
resistência ao intemperismo físico-químico. Assim sendo,
Figura 14.45 – Poeira levantada por tráfego em via de acesso
construída sobre terrenos sustentados por sedimentos síltico-
argilosos (Formação Aquidauana, SP).
Figura 14.46 – Talude de corte com exposição de rochas calcárias
na base e sedimentos síltico-argilosos no topo, dois materiais de
características geomecânicas e hidráulicas bem distintas. A existência
de rochas calcárias indica que em um determinado momento as
bacias sedimentares passaram por um ambiente marinho.
222
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.47 – Áreas onde entre os sedimentos existem rochas calcárias.
Figura 14.48 – Áreas onde predominam e afloram sedimentos quartzo-
arenosos.
em caso de se proceder a escavações, é grande a possibi-
lidade de se encontrar nesses terrenos locais onde os
arenitos podem ser de alta resistência ao cor-
te e à penetração, principalmente por sondas
rotativas – o quartzo promove um desgaste
rápido nas brocas das sondas (Figura 14.48).
• Litologias à base de quartzo apresen-
tam baixa resistência ao cisalhamento, ou seja,
quebram-se facilmente quando submetidas à
tensão. Essa característica propicia que, em
muitos locais, as rochas se encontrem densa-
mente fendilhadas em várias direções, o que
as torna bastante percolativas, podendo sol-
tar blocos com facilidade em taludes de corte
(Figura 14.49).
• Sedimentosquartzo-arenosossealteram
para solos arenosos excessivamente permeá-
veis, friáveis e erosivos (Figuras 14.50, 14.51
e 14.52).
• Boa parte das regiões onde tais sedi-
mentos afloram é recoberta por espessos
areiões inconsolidados, excessivamente friáveis
e sujeitos ao fenômeno da liquefação, ou seja,
podem se comportar como areia movediça,
principalmente quando compostos por grãos
de quartzo esféricos, como os solos deriva-
dos de arenitos de deposição eólica (Figura
14.53). Em razão de tais características, em
caso de execução de obras viárias, deve haver
estrita obediência a critérios técnicos, no sen-
tido de disciplinar e quebrar a energia da água
das chuvas, bem como proteger contra a ero-
são (Figura 14.54).
• Em terrenos quartzo-arenosos pode
haver pseudodolinas, ou seja, depressões que
se formam na superfície porque a areia mi-
grou ou está migrando para um curso d’água
subterrâneo. Essas pseudodolinas são
indicativas da existência, nesses locais, de uma
cavidade (caverna) ou da passagem de um rio
subterrâneo. Em virtude dessas características,
não se deve construir sobre esses locais. As-
sim como, antes de execução de qualquer obra
que exerça tensão nas proximidades desses
locais, é importante que se proceda a estudos
geotécnicos detalhados e apoiados em inves-
tigações geofísicas que possam identificar a
existência de cavidades, uma vez que são su-
jeitas a sofrerem colapso (afundamento brus-
co) (Figuras 14.55 e 14.56).
• Nos terrenos onde predominam sedi-
mentos quartzo-arenosos também é bastante
comum a ocorrência de camadas de conglo-
merados constituídos por seixos, blocos e
matacões de vários tipos de rochas, em geral
duras e abrasivas. Trata-se de um material di-
fícil de ser escavado e perfurado e de características
geomecânicas e hidráulicas bastante heterogêneas.
223
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.49 – Arenitos eólicos densamente
fraturados (Formação Botucatu, Águas da Prata, SP).
Figuras 14.50 e 14.51 – Processos erosivos induzidos pela
concentração das águas das chuvas em um talude de corte e
em uma área de terraplenagem sobre terrenos arenosos da
Formação Marília (SP). Nos terrenos arenosos, deve-se evitar a
execução de obras que envolvem escavações e terraplenagem
durante os períodos chuvosos. Obras desse tipo devem ser de
imediato dotadas de disciplinamento das águas das chuvas e
de proteção contra a erosão.
Figura 14.52––––– Processos erosivos induzidos pela concentração
das águas das chuvas por arruamentos quadriculados e feitos em
concordância com o declive do terreno arenoso. Para evitar esse
problema, o desenho dos loteamentos em áreas arenosas deve
fugir dos modelos quadriculados, de modo a evitar a execução
de cortes profundos e a concentração da energia das águas das
chuvas, ou seja, devem ser concordantes e não perpendiculares
às curvas de nível.
224
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.53 – Estradas não-pavimentadas sobre
areiões são difíceis de serem trafegadas; a circulação
dos carros aprofunda o leito, sujeitando-os a
“atolarem” na areia inconsolidada (área de definição
dos arenitos da Formação Botucatu, SP).
Figura 14.55 – Pseudodolina associada a arenitos da Formação Furnas (região
metropolitana de Curitiba, PR).
Figura 14.56 – Gruta de Itambé,
formada nos arenitos da Formação
Botucatu (município de Altinópolis, SP).
Figura 14.54 – Obra viária bem executada em uma área de solos arenosos, dotada de obras
de disciplinamento das águas das chuvas e de bacias de contenção em suas margens (trecho de
rodovia que liga a cidade de Brotas à cidade de Jaú, SP).
• Como aspecto geotécnico positivo, salienta-se que
as rochas arenosas são boas fontes de saibro.
Frente à agricultura
Dentre as particularidades da geologia que influenci-
am o potencial agrícola desse geossistema, salientam-se
as seguintes:
• Pelo fato de as camadas serem horizontalizadas e
não-deformadas, predominam terrenos de relevos suavi-
zados, com a maior parte da superfície com declividades
favoráveis ao uso de implementos agrícolas motorizados.
• Como a variação litológica se dá na vertical, a tex-
tura dos solos se mantém relativamente homogênea nas
áreas de relevo mais suavizado e pode variar de argilosa a
arenosa nas áreas onde o relevo é um pouco mais movi-
mentado e vales de drenagem são mais aprofundados.
• Em boa parte do geossistema, predominam e aflo-
ram sedimentos síltico-argilosos (Figura 14.39). Como par-
ticularidade importante desses terrenos, destaca-se que, in-
dependentemente de outras variáveis que influenciam as
características do solo, tais sedimentos são portadores de
argilominerais expansivos e se alteram para solos com teor
elevado de argila, liberando poucos nutrientes e muito alu-
225
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
mínio. Como implicações positivas de tais características,
os solos residuais desses terrenos, por serem argilosos, são
bastante porosos, pouco permeáveis e apresentam boa ca-
pacidade de reter elementos. Conseqüentemente, armaze-
nam bastante água; por isso, apresentam boa capacidade
hídrica,mantendoboadisponibilidadedeáguaparaasplan-
tas por longo tempo nos períodos mais secos; assimilam
bem a matéria orgânica e, quando adubados, retêm e fi-
xambemosnutrientes(respondembemàadubação).Como
implicações negativas, destaca-se que solos com teores ele-
vados de argila se impermeabilizam, compactam-se exces-
sivamente e se tornam bastante erosivos se forem continu-
amente mecanizados com equipamentos pesados ou piso-
teadosporgado.Emtalsituação,forma-seuma
camada subsuperficial altamente compactada
e impermeabilizada, fenômeno conhecido
como “pé-de-grade”. Por ocasião das chuvas,
essa camada funciona como uma superfície de
deslize da camada superior, que sofre erosão
laminar. Além disso, solos residuais de sedi-
mentos síltico-argilosos costumam conter ex-
cesso de alumínio, ou seja, são bastante áci-
dos e, quando são pouco evoluídos, pelo fato
de conterem argilominerais expansivos, se não
forem bem manejados, podem se tornar tão
erosivos quanto os solos arenosos (Figura
14.57).
• Em algumas regiões, intercalam-se a
outrossedimentoscamadasderochascalcárias
(Figura 14.47). Tais rochas também se alteram
parasolosargilosos,portanto,dopontodevista
textural, apresentam as mesmas implicações
destacadas para os solos residuais de sedimen-
tos síltico-argilosos. Uma particularidade im-
portante e intrínseca às rochas calcárias é que
elassealteramliberandováriosnutrientes,prin-
cipalmente cálcio e magnésio, para solos bási-
cos e de alta reatividade química. Assim sen-
do, os solos residuais desses terrenos apresen-
tam boa fertilidade natural, são naturalmente
pouco erosivos e apresentam alta capacidade
de reter nutrientes e de assimilar matéria orgâ-
nica.Taiscaracterísticasindicamque,desdeque
o relevo seja favorável e os solos devidamente
manejados e corrigidos, as regiões destacadas
na figura 14.47, do ponto de vista da influên-
cia da geologia, apresentam ótimo potencial
agrícola.
• Dentre os constituintes litológicos
(como acontece especialmente nas áreas des-
tacadas na figura 14.48), existem espessos e
extensos pacotes de sedimentos quartzo-are-
nosos. Nesse caso, as implicações da geolo-
gia no que se refere à qualidade agrícola dos
solos residuais são mais negativas que positi-
vas, pelas seguintes razões:
Figura 14.57 – Cicatrizes de erosão geradas pela exposição à alternância dos
estados úmido e seco de solos residuais pouco evoluídos de argilitos à base de
argilominerais expansivos.
– Tais sedimentos se alteram para solos excessiva-
mente arenosos, friáveis, de baixa fertilidade natural e, na
maior parte das vezes, excessivamente permeáveis,
erosivos, ácidos e de muito baixa capacidade hídrica e de
reter e fixar nutrientes. Significa que respondem mal à
adubação e perdem água rapidamente. Além disso, são
terrenos com pouca disponibilidade de água superficial,
sujeitos à arenização e formações de grandes voçorocas
(Figura 14.58). Conseqüentemente, são inadequados para
a agricultura extensiva, principalmente para o cultivo de
plantas de raízes curtas e para o uso agrícola de ciclo
curto, em que os solos precisam ser freqüentemente me-
canizados. Qualquer iniciativa de aproveitamento agrícola
Figura 14.58 – Focos erosivos, relacionados aos arenitos da Formação Botucatu
(região de Cajuru, SP), induzidos pela prática agrícola inadequada, são bastante
comuns na área de definição dos sedimentos arenosos. A maior parte das erosões
é causada pelo desmatamento e pela concentração das águas pluviais nas
cabeceiras dos vales de drenagem, locais onde as matas têm um papel fundamental
para diminuir o potencial erosivo dos solos arenosos. Por isso, deveriam ser
preservadas, conforme determina o Código Florestal.
226
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
das áreas em destaque na figura 14.48 deve obedecer a
rigorosos cuidados técnicos, especialmente no que se re-
fere ao não-desmatamento das cabeceiras e das margens
dos canais de drenagem.
Frente aos recursos hídricos e à implantação
de fontes poluidoras
Como particularidade hidrológica importante e exten-
siva a toda a área de definição do geossistema, salienta-se
que são aqüíferos granulares (Figura 14.35). Como se tra-
ta de um empilhamento de camadas sedimentares
horizontalizadas de diferentes espessuras de sedimentos,
com as mais variadas e contrastantes características
hidrodinâmicas, o potencial hidrológico e o risco de con-
taminação das águas subterrâneas são bastante variáveis,
dependendo de qual das litologias predomina e aflora na
região.
• Nas regiões onde predominam sedimentos finos
(Figura 14.39), estes são pouco permeáveis, geralmente
pouco fraturados, alterando-se para solos argilosos tam-
bém muito pouco permeáveis. Conseqüentemente, nas
áreas por eles sustentadas, quando chove, pouca água
se infiltra no subsolo – a maior parte escorre rapidamen-
te para os canais de drenagem. Por isso, são ambientes
desfavoráveis à recarga das águas subterrâneas, com baixo
número de nascentes e de cursos d’água e com baixo
potencial para a existência de bons aqüíferos subterrâ-
neos. Também são terrenos nos quais os cursos d’água
apresentam grandes e rápidas oscilações de vazão com
as mudanças climáticas, ou seja, quando chove, a vazão
sobe bastante e rapidamente; tão logo a chuva cessa, a
vazão abaixa, também rapidamente. Tais características
indicam que, nas áreas onde predominam sedimentos
síltico-argilosos, a cobertura vegetal desempenha um
papel hídrico importante para reter por mais tempo as
águas das chuvas e assim melhorar o potencial de infil-
tração. Como aspecto positivo, destaca-se que, em al-
guns locais, entre as camadas síltico-argilosas, pode ha-
ver camadas arenosas e conglomeráticas com boa per-
meabilidade e bom potencial armazenador de água. No
que se refere à vulnerabilidade à contaminação das águas
subterrâneas por fontes poluentes superfici-
ais, o risco é baixo, pois tanto os sedimentos
síltico-argilosos, como os calcários e os so-
los deles derivados, além de serem pouco
permeáveis, apresentam boa capacidade de
reter, fixar e eliminar poluentes.
• Nas regiões destacadas na figura 14.47,
salienta-se como particularidade positiva a
ocorrência de rochas calcárias, as quais po-
dem conter cavidades subterrâneas preenchi-
das com água, podendo haver aqüíferos
cársticos. Nesse tipo de aqüífero, o potencial
hidrogeológico é bastante irregular. A existên-
cia de depósitos de água depende da espes-
sura das camadas calcárias, das condições climáticas lo-
cais e de os poços atingirem cavidades subterrâneas ou
zonas fraturadas. Quanto à vulnerabilidade à contamina-
ção das águas subterrâneas, varia de alta – onde as rochas
calcárias afloram –, a baixa – onde os solos são espessos;
solos calcários apresentam alta capacidade de reter e de-
purar poluentes.
• Nas áreas onde predominam e afloram espessos e
extensos pacotes de sedimentos quartzo-arenosos (Figura
14.48), as águas subterrâneas tanto podem estar armaze-
nadas e circulando através de falhas e fraturas que tais
rochas costumam conter, como por meio de espaços va-
zios existentes entre os grãos de quartzo. Nesses terrenos,
é possível a ocorrência de aqüíferos que podem ser ao
mesmo tempo granular e fissural (Figura 14.59). Essas
áreas apresentam alto potencial para a existência de bons
aqüíferos subterrâneos e, nesse caso, pelo fato de as ca-
madas serem espessas e horizontalizadas, pode haver
aqüíferos de boa expressividade vertical e lateral; isso sig-
nifica que, se um poço apresentar boa vazão, outros,
mesmo à distância, também podem apresentar o mesmo
comportamento.
• Dentre os arenitos, destacam-se como de maior
potencial à existência de excelentes depósitos d’água aque-
les depositados pela ação dos ventos em ambientes de
deserto. Arenitos assim originados sustentam boa parte
desse geossistema (Figura 14.60). Dentre eles, destacam-
se os que compõem o Aqüífero Guarani (Figura 14.61),
que, além das excelentes características hidrodinâmicas,
fazem parte de uma morfolitoestrutura favorável a que se
constituam nos maiores e melhores depósitos de água doce
do mundo.
• No que se refere ao potencial hidrológico superfici-
al, este é baixo. Devido à permeabilidade elevada, terre-
nos arenosos costumam conter poucos cursos d’água. A
maior parte das águas que brota nas nascentes infiltra-se
novamente no subsolo arenoso permeável. Além disso,
muito cursos d’água são extintos pelo assoreamento, de-
vido ao alto potencial erosivo dos solos. Por outro lado, o
aspecto positivo da permeabilidade elevada é que são ter-
renos onde as águas subterrâneas são recarregadas em
abundância (Figura 14.62).
Figura 14.59 ––––– Aqüífero granular e fissural.
227
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.60 ––––– Áreas onde afloram sedimentos arenosos de deposição eólica.
O Aqüífero Guarani localiza-se na região centro-leste
da América do Sul e ocupa uma área de 1,2 milhões
de km², estendendo-se pelo Brasil (840.000 km²),
Paraguai (58.500 km²), Uruguai (58.500 km²) e
Argentina (255.000 km²). Em território brasileiro,
abrange os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul. O aqüífero é formado por um espesso
pacote de arenitos depositados em um ambiente
desértico por processos fluviais e especialmente
eólicos, durante os períodos Triássico e Jurássico, ou
seja, entre 200 e 130 milhões de anos atrás. É um
aqüífero especial porque apresenta excelentes
características hidrodinâmicas. Mais de 90% de sua
área total são recobertos por mais de 1.500 m de
rochas basálticas, aqui reportadas como pertencentes
ao geossistema 4. Esse pacote basáltico, por ser
espesso e de baixa permeabilidade, age como uma
camada protetora da contaminação do aqüífero e
permite que as águas subterrâneas fiquem nele
retidas. Por outro lado, essa capa de rochas ígneas
impede que o aqüífero seja recarregado em sua maior
área de definição. Dessa forma, tem importância
especial para a recarga do aqüífero a região onde os
arenitos afloram. Isso acontece principalmente no
interior do estado de São Paulo, onde grande parte
dos 10% do Aqüífero Guarani aflorante ocorre.
Figura 14.61 ––––– Área de definição do Aqüífero Guarani (em azul no
continente), o maior manancial de água doce subterrânea
transfronteiriço do mundo.
• Quanto à vulnerabilidade à contamina-
ção das águas subterrâneas, é muito alta, es-
pecialmente nesse caso, uma vez que predo-
minam arenitos pouco consolidados, altamen-
te permeáveis, que se alteram para solos quart-
zo-arenosos também bastante permeáveis e
de muito baixa capacidade de reter e depurar
poluentes. Além disso, pelas fraturas que cos-
tumam conter em alta densidade, poluentes
podem se infiltrar e chegar rapidamente às
águas subterrâneas. São terrenos em que cui-
dados especiais devem ser observados, no que
se refere a todas as fontes potencialmente
poluidoras (Figura 14.63).
Frente ao potencial turístico
As espessas camadas horizontalizadas se
constituíram em uma morfoestrutura favorá-
vel a que os processos erosivos esculpissem
na área de definição desse geossistema algu-
mas das mais belas paisagens brasileiras (Fi-
guras 14.64, 14.65, 14.66, 14.67, 14.68 e
14.69), destacando-se locais com altos
paredões rochosos; profundos cânions e
228
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.62 ––––– Um curso d’água totalmente assoreado, associado aos arenitos
da Formação Marília (SP).
Figura 14.63 ––––– Lixo depositado sobre arenitos
da Formação Botucatu, área de exposição e
de recarga do Aqüífero Guarani (cabeceiras
do rio Cajuru, SP).
Figura 14.64 ––––– As belas e curiosas formas erosivas da Chapada
Diamantina, sustentadas por sedimentos da Formação Tombador
(Lençóis, BA).
Figura 14.65 ––––– Formas erosivas de Vila Velha (PR), sustentadas por
arenitos da Formação Furnas.
Figura 14.66 ––––– Formas erosivas de Sete
Cidades (PI), um magnífico monumento
natural, constituído de afloramentos
rochosos devonianos da Bacia
Sedimentar do Parnaíba.
Figura 14.67 ––––– Formas erosivas do monte
Roraima (RR), sustentadas, principalmente,
por arenitos muito antigos (mais de dois
bilhões de anos), correlacionados ao
Supergrupo Roraima.
Figura 14.68 ––––– Formas erosivas da
Chapada dos Guimarães (MT), sustentadas,
principalmente, por sedimentos devonianos
da Formação Furnas.
229
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
grotões; belas formas erosivas; cursos d’água com vales
profundos, encaixados, delimitados por paredões escar-
pados e correndo sobre o substrato rochoso, formando
magníficas corredeiras, cachoeiras e piscinas naturais. Além
disso, trata-se de uma ambiência geológica onde se cons-
tata a existência de camadas fossilíferas de grande impor-
tância científica.
Frente ao potencial mineral
A área de definição desse geossistema é uma
ambiência geológica favorável à prospecção de:
• Fosfatos, xisto betuminoso, evaporitos, petróleo, gás
e carvão.
• Vários tipos de areia e argilas, inclusive caulim (Fi-
gura 14.70).
• Pedra de revestimento, inclusive com qualidades re-
fratárias, associada às áreas quartzo-arenosas. Associadas
às rochas síltico-argilosas, há ardósias e outros litótipos que
se desplacam em finas lâminas planoparalelas que podem
ser usadas como pedra de revestimento (Figura 14.71).
• Diamantes associados às camadas de conglomera-
dos, a exemplo do que ocorre na região da Chapada
Diamantina (BA).
• No caso das áreas destacadas na figura 14.47,
calcários são explorados para diversos fins (Figura 14.72).
ROCHAS VULCÂNICAS EXTRUSIVAS E
INTRUSIVAS CENOZÓICAS E
MESOZÓICAS (4)
Em épocas geológicas passadas, o território brasileiro
foi palco de intensa atividade vulcânica, que deu origem
às rochas que sustentam o geossistema 4 (Figuras 14.73 e
Figura 14.69 ––––– Corredeiras e cachoeiras da trillha Fumacinha
(Chapada Diamantina, BA).
Figura 14.71 ––––– No Paraná, arenitos essencialmente quartzosos e
silicificados da Formação Furnas são explorados como rocha
refratária e pedra de revestimento.
Figura 14.70 ––––– Depósito de caulim, associado à
Formação Alter do Chão (Manaus, AM).
Figura 14.72 ––––– A porção escura dessa frente de lavra corresponde
a uma camada de calcário dolomítico pertencente à Formação Irati,
explorado para corretivo de solos. A parte superior mais clara
representa sedimentos argilosos da Formação Corumbataí,
explorados para fabricação de cerâmica (SP).
230
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.73 ––––– Área de definição do geossistema 4, onde o vulcanismo ocorreu
sob a forma de derrames.
Figura 14.74 ––––– Ilha Trindade, originada a partir de
vulcanismo marinho cenozóico.
14.79). Esse vulcanismo ocorreu em dois momentos dis-
tintos, mas ambos relacionados ao processo de separação
dos continentes sul-americano e africano.
O vulcanismo mais recente aconteceu na era
cenozóica (Terciário), ou seja, a partir de 65 milhões de
anos atrás. Nessa época, originaram-se as diversas ilhas
oceânicas que existem ao longo da costa brasileira, a exem-
plo de Fernando de Noronha, Trindade (Figura 14.74), Pe-
nedo de São Pedro e São Paulo.
O vulcanismo mais antigo se deu no final da era
mesozóica, ou seja, há mais ou menos 150 e 65 milhões
de anos, constituindo-se em uma das maiores manifesta-
ções vulcânicas da história geológica da Terra. Esse vulca-
nismo se iniciou quando os continentes sul-americano e
africano – há cerca de 200 milhões de anos, eles estavam
unidos em uma única massa continental, o Gondwana –
começaram a se afastar um do outro.
No início do processo de separação, grandes e pro-
fundas fendas se abriram e, por elas, durante muitos mi-
lhões de anos, um imenso volume de magma, principal-
mente de composição básica, bastante fluido, infiltrou-
se. Grande parte desse magma chegou à superfície atra-
vés de sucessivos derrames que cobriram, com mais de
1.500 m de espessura de lava vulcânica, grandes exten-
sões do território sul-americano, estendendo-se de forma
contínuaporumalargafaixaqueabrangeterrenosdoMato
Grosso ao Paraguai, Uruguai e Argentina (Figura 14.75).
Parte do material magmático também se cristalizou
em profundidade como pequenos veios (Figura 14.76),
Figura 14.75 ––––– A grande espessura do “pacote”
vulcânico é que possibilitou que se formasse a bela
paisagem de Aparados da Serra (RS), sustentada
por derrames basálticos.
Figura 14.76 ––––– A porção escura é uma rocha originada
do magma básico que se cristalizou em uma pequena fenda,
por onde subiu a lava que deu origem aos derrames basálticos.
como uma série de pequenas intrusões circulares, bem
como se manifestou como típicos vulcões (Figuras 14.77,
14.78 e 14.79).
No caso do magmatismo que se manifestou como
vulcões, as rochas que sustentavam as paredes dos co-
nes vulcânicos já erodiram e hoje só afloram as que se
231
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.79 ––––– Locais onde as manifestações magmáticas se deram como
típicos vulcões, ou onde o magma se cristalizou em profundidade como
intrusões plutônicas.
Figura 14.77 ––––– Vestígios da grande cratera
de vulcão de Poços de Caldas, que envolve terrenos
dos estados de Minas Gerais e São Paulo.
Figura 14.78 ––––– O extinto vulcão de Tunas
do Paraná, do qual ainda se preservam vestígios
de pelo menos três chaminés vulcânicas.
cristalizaram em altas profundidades nas
raízes do cone vulcânico. Como em um vul-
cão acontecem várias pulsações magmáticas
de composições químicas diferentes e o
magma se cristaliza em profundidade e em
tempos diferentes, os terrenos vulcânicos se
caracterizam por serem sustentados por uma
variedade enorme de rochas das mais dife-
rentes cores e características químicas, mi-
nerais e texturais.
Já o magmatismo extrusivo se deu sob a
forma de uma sucessão de derrames de lavas
de grande fluidez, principalmente de compo-
sição básica e, em menor proporção, de com-
posição ácida e intermediária. A fluidez possi-
bilitou que o magma se esparramasse – co-
brindo grandes extensões do território brasi-
leiro – e se cristalizasse como se fosse uma
sucessão de “camadas” horizontalizadas das
mais diferentes texturas (Figura 14.80).
Adequabilidades e limitações
Frente à execução de obras
Comoparticularidadesgeotécnicasimpor-
tantes decorrentes da geologia e que são ex-
Figura 14.80 ––––– Talude com exposição de dois derrames de composição e
textura diferentes. A parte superior é sustentada por um dacito intensamente
fraturado. A inferior é sustentada por um basalto vesiculado e pouco fraturado.
Essa diferença é devida à composição diferente do magma e ao tempo com
que levou para se esfriar e se cristalizar. O que esfriou mais rapidamente é mais
fino e mais fraturado.
232
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
tensivas a toda a área de definição do geossistema 4, des-
tacam-se:
• Independentemente da forma como se cristalizou o
magma e de sua composição, todas as rochas que susten-
tam o geossistema se alteram de modo bastante hetero-
gêneo e peculiar, deixando blocos e matacões em meio
aos solos, característica que pode dificultar bastante a exe-
cução de obras subterrâneas em muitos locais da área de
definição desse geossistema (Figuras 14.81 e 14.82). As-
sim, mesmo onde os solos são profundos e bem evoluí-
dos, é grande a possibilidade de neles existirem mergulha-
dos blocos e matacões arredondados de rochas de alta
resistência ao corte e à penetração, os quais podem ocor-
Figuras 14.81 e 14.82 ––––– A maior parte das rochas que sustentam esse
geossistema se decompõe de forma esferoidal, ou seja, alteram-se gerando
escamas concêntricas que se soltam como as cascas da cebola. Em razão disso,
os blocos e matacões assumem formas arredondadas, característica que os torna
popularmente conhecidos como “pedra-capote” (município de Castro, PR).
rer tanto isolados e irregularmente distribuídos, como con-
centrados em grande número (Figura 14.83). Isso signifi-
ca que se deve evitar sua exposição em taludes de corte,
como também atentar para que as fundações de uma obra
não fiquem sobre eles parcialmente apoiadas. Em tal situ-
ação, podem se movimentar e as obras se desestabilizarem;
por isso, é importante que sondagens geotécnicas de ma-
lha pouco espaçada sejam realizadas antes do início de
uma obra.
• Predominam rochas de composição básica, que, no
início do processo de alteração, geram argilominerais ex-
pansivos, ou seja, minerais que sofrem o fenômeno da
alternância dos estados de expansão e contração se são
submetidos à alternância dos estados úmido
e seco. Por isso, não são rochas adequadas à
utilização como agregados em obras sujeitas
a grandes oscilações de temperatura e grau
de umidade. Além disso, os solos residuais
pedogeneticamente pouco evoluídos são
colapsíveis e se tornam bastante erosivos se
expostos à alternância dos estados úmido e
seco (Figura 14.84).
• Predominam rochas que se alteram para
solos argilosos. O aspecto negativo é que os
solos residuais se tornam bastante pegajosos e
escorregadios, quando molhados; quando se-
cos, entram facilmente em suspensão e assim
permanecem por longo tempo. Isso indica que
nãosedeveminiciargrandesedemoradasobras
que envolvem escavações e movimentação de
terra durante os períodos de chuvas prolonga-
dos. Enfrentar-se-ão muitos problemas com o
emplastamento excessivo dos equipamentos,
como também para trafegar pelas vias de aces-
so às obras. Por outro lado, os solos argilosos,
quandopedogeneticamentebemevoluídos,não
sãoexcessivamentepermeáveis,apresentamboa
capacidade de compactação, são pouco
erosivos e mantêm boa estabilidade em talu-
des de corte. Portanto, nesse caso, é um bom
material de empréstimo.
• Rochas vulcânicas extrusivas, como no
caso das que sustentam as áreas destacadas
na figura 14.77, costumam ser portadoras de
alta densidade de fendas abertas dispostas em
várias direções e com os mais diferentes ân-
gulos de mergulho (Figura 14.85). Conseqüen-
temente, soltam blocos com facilidades em
taludes de corte e são bastante percolativas, o
que exige cuidados especiais com as obras que
envolvem escavações e das quais possam va-
zar substâncias poluentes. Além disso, as
mudanças de um derrame para o outro se
constituem em descontinuidades geomecâni-
cas e hidráulicas que favorecem as desestabi-
lizações em taludes de corte (Figura 14.80).
233
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.83 ––––– Blocos e matacões relacionados ao vulcão extinto
de Tunas do Paraná.
Figura 14.84 ––––– Erosão diferencial em solo derivado de basalto. A parte
inferior mais erosiva é sustentada por um solo pouco evoluído e portador de
argilominerais expansivos – a variação dos estados de expansão e contração
dos argilominerais expansivos faz com que o solo se desagregue em pequenas
pastilhas que erodem como se fossem areias inconsolidadas. A parte superior,
pouco erosiva, é sustentada por solo bem evoluído. Nesse caso, mantém boa
estabilidade em taludes de corte (região de Fernandópolis, SP).
• Nas áreas destacadas na figura 14.73, também po-
dem ser encontrados derrames basálticos portadores de
alta densidade de vesículas das mais variadas dimensões
(variando de milimétricas a métricas), que podem ou não
estar preenchidas com outros minerais – principalmente
quartzo e calcita – e interligadas. Nesse caso, são rochas
de comportamentos geomecânicos e hidráulicos muito
heterogêneos, podendo ser bastante permeáveis; se sub-
metidas a cargas elevadas, principalmente quando se en-
contram parcialmente alteradas, obras sobre elas apoia-
das podem sofrer trincamento, bem como problemas de
pequenos colapsos (Figura 14.86).
Frente à agricultura
Como particularidade geológica impor-
tante que influencia o potencial agrícola des-
se geossistema, destaca-se:
• Predominam rochas que se alteram para
minerais de argila liberando vários elementos
químicos, principalmente cálcio, magnésio,
ferro, sódio, potássio e muito alumínio e que,
no início do processo de alteração, geram
argilominerais expansivos.
• Como implicações positivas, salienta-
se que os solos residuais dessas rochas apre-
sentam boa fertilidade natural; são bastante
porosos, conseqüentemente, armazenam bas-
tante água e mantêm boa disponibilidade
hídrica para as plantas por longo tempo dos
períodos secos; apresentam boa capacidade
de reter, fixar elementos e de assimilar maté-
ria orgânica – respondem bem à adubação.
Figura 14.85 ––––– Rochas basálticas exibindo denso sistema de
fendas abertas e verticalizadas. São fendas de alívio, ou seja, geradas
durante resfriamento rápido do magma (região de Cascavel, PR).
Figura 14.86 ––––– Basalto vesiculado.
234
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Cabe destacar que é das rochas basálticas que sustentam
grande parte desse geossistema que se originou a famosa
terra roxa, que ocorre em parte das regiões Sul e Sudeste
do Brasil, considerada uma das melhores terras do mundo
(Figura 14.87).
• Como aspecto negativo, merece destaque o fato de
que os solos residuais, por serem argilosos, compactam-
se, impermeabilizam-se e se tornam bastante erosivos se
forem continuamente mecanizados com equipamentos
pesados ou pisoteados por gado. Cargas elevadas contí-
nuas propiciam a formação de uma camada subsuperficial
altamente endurecida e impermeável, fenômeno conheci-
do como “pé-de-grade”. Por tal motivo, quando chove
um pouco mais forte, essa camada endurecida funciona
como uma superfície de deslize da camada superficial,
que, por ser mais friável, mais porosa e permeável,
encharca-se e é facilmente removida por erosão laminar.
Cabe mencionar que os solos argilosos, quando
pedogeneticamente pouco evoluídos, costumam ser por-
tadores de argilominerais expansivos. Nesse caso, tornam-
se bastante erosivos quando desprotegidos de cobertura
vegetal e expostos à alternância dos estados úmido e seco.
Assim, mesmo sendo argilosos e de baixa erodibilidade
natural, os solos desse geossistema, se forem manusea-
dos de forma inadequada, podem se tornar bastante
erosivos (Figura 14.88).
• Solos argilosos pouco evoluídos são pouco perme-
áveis. Portanto, no caso de irrigá-los, deve-se optar pelo
método do gotejamento. Por outros métodos, a maior
parte da água não se infiltra, escorrendo para os canais de
drenagem. Outro fator negativo é que os solos derivados
de rochas básicas, quando pedogeneticamente bem evo-
luídos, costumam ser bastante laterizados, ou seja, enri-
quecidos em ferro e alumínio. Nesse caso, podem apre-
sentar o problema da acidez elevada.
Tais características permitem concluir que a influên-
cia da geologia no potencial agrícola desse geossistema é
mais positiva que negativa. Portanto, desde que o relevo
Figura 14.87 ––––– Solo residual de basalto tipo terra roxa
estruturada.
Figura 14.88 ––––– Erosão laminar decorrente do uso contínuo
de maquinários pesados no cultivo da cana-de-açúcar sobre solos
residuais de basaltos da região de Ribeirão Preto (SP). Além de erodir
um solo de excelente qualidade, essa prática está reduzindo o já
baixo potencial de infiltração natural das águas das chuvas
dos terrenos basálticos.
seja adequado, são terrenos que podem ser intensivamen-
te aproveitados para os mais variados tipos de práticas
agrícolas.
Frente aos recursos hídricos e à implantação
de fontes poluidoras
As manifestações vulcânicas que deram origem aos
terrenos basálticos destacados na figura 14.77 foram de
grande importância hídrica para o continente sul-ameri-
cano, especialmente para o Brasil. Quando ocorreu o
evento vulcânico, boa parte do território brasileiro era
um grande deserto, no qual a ação dos ventos depositou
um pacote de areia de excelentes características
hidrodinâmicas de mais de 400 m de espessura. Os su-
cessivos derrames vulcânicos cobriram esse deserto e se
cristalizaram em rochas pouco permeáveis. Tal
empilhamento de rochas pouco permeáveis, sobre um
pacote de areia altamente porosa e permeável (Figura
14.89), possibilitou que se formasse uma morfolitoes-
trutura de excelentes características hidrodinâmicas, co-
nhecida como Aqüífero Guarani (Figura 14.62) – um dos
maiores, melhores e mais importantes depósitos de água
doce subterrânea do mundo.
• As rochas magmáticas – tanto extrusivas como in-
trusivas –, geralmente, são portadoras de alta densidade
de fendas abertas dispostas em várias direções e com vá-
rios ângulos de mergulho. Trata-se, portanto, de aqüíferos
fraturados, ou fissurais, com bom potencial armazenador
e circulador de água subterrânea. No entanto, o potencial
de explotação de água é bastante irregular: depende de o
poço cruzar zonas fraturadas, da densidade das fraturas e
de elas estarem interligadas. Por isso, um poço pode apre-
sentar boa vazão em um local e outro, imediatamente ao
lado, ser seco.
235
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.89 ––––– A porção superior mais escura desse talude é
sustentada por basaltos; a parte inferior avermelhada é de arenitos
pertencentes ao Aqüífero Guarani.
• No caso de vulcanismo sob a forma de derrames, o
potencial também depende da porção do derrame que o
poço atinge. O potencial é maior nas partes mais superfi-
ciais, uma vez que é aí que se concentram as fraturas
abertas – elas tendem a se fechar nas porções mais cen-
trais dos derrames. Há de se destacar também que, nesse
caso, pode haver derrames com permeabilidade e
porosidade altas relacionadas à existência de vesículas va-
zias (cavidades geradas pelo aprisionamento de gases) que,
geralmente, ocorrem interligadas umas às outras, possibi-
litando que as águas se armazenem e circulem.
• Outra particularidade importante é o predomínio de
rochas que se alteram para solos argilosos pouco permeá-
veis. Conseqüentemente, são terrenos desfavoráveis a que
as águas subterrâneas sejam recarregadas. Nesse sentido,
destaca-se a importância que a vegetação assume para
melhorar o potencial de infiltração.
• A vulnerabilidade à contaminação das águas subter-
râneas por fontes contaminantes superficiais varia de mui-
to alta – onde as rochas afloram – a baixa – onde os solos
são espessos. Pelas fraturas, poluentes podem se infiltrar e
alcançar rapidamente as águas subterrâneas sem serem
depurados. Portanto, onde as rochas afloram, cuidados
especiais devem ser tomados com todas as fontes poten-
cialmente poluidoras. Por outro lado, nesse geossistema
predominam rochas que se alteram para solos argilosos
pouco permeáveis e de alta capacidade de reter, fixar e
eliminar poluentes.
Frente ao potencial turístico
Destaca-se que o modo como aconteceu o vulcanismo
que originou os derrames basálticos possibilitou a forma-
ção de uma morfoestrutura favorável a que os processos
erosivos formassem alguns dos mais belos e importantes
atrativos turísticos do Brasil (Figuras 14.90, 14.91 e 14.92).
Na maior parte das áreas onde o magmatismo se deu
sob a forma de vulcões, predominam relevos montanho-
sos, muitos de grande beleza cênica e portadores de cur-
sos d’água correndo sobre o substrato rochoso, forman-
do belas cachoeiras, corredeiras e piscinas naturais (Figura
14.93).
Figura 14.90 ––––– Cataratas do Iguaçu, localizadas na divisa do
estado do Paraná com a Argentina.
Figura 14.92 ––––– Cachoeira do
Saltão (município de Itirapina, SP).
Figura 14.91 ––––– Cânion Fortaleza
(região de Aparados da Serra, RS).
Figura 14.93 ––––– Ilha vulcânica de Fernando de
Noronha (PE).
236
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Além disso, muitos dos terrenos vulcânicos se notabi-
lizam por serem portadores de fontes hidrotermais, inclusi-
ve com águas com qualidades medicinais, algumas delas
importantes pólos turísticos, como no caso do município
dePoçosdeCaldas(MG),famosoporsuaságuassulfurosas,
que chegam à superfície com a temperatura de 45,5ºC.
Frente ao potencial mineral
O magmatismo que deu origem a esse geossistema
foi de grande importância mineral. Às manifestações
magmáticas sob a forma de vulcões e intrusões plutôni-
cas associam-se diversos bens minerais, destacando-se:
cobre, apatita, magnetita, bauxita, urânio, terras-raras,
níquel, cromo, caulim, nióbio, titânio e rochas fosfáti-
cas. Também são fontes de vários tipos de rochas de
excelentes características físico-químicas para serem usa-
das como agregados e rocha ornamental (Figura 14.94).
Associadas aos derrames basálticos, ocorrem impor-
tantes mineralizações de geodos de ametista e ágata, como
as que existem no Rio Grande do Sul, onde há uma das
maiores concentrações de gemas desse tipo do mundo (Fi-
gura 14.95). Além disso, destaca-se a possibilidade de exis-
tirem mineralizações de cobre, como também, em muitos
locais, basaltos, riolitos e dacitos são explorados para brita.
COBERTURAS METASSEDIMENTARES
E METAVULCANOSSEDIMENTARES
PROTEROZÓICAS, DIFERENTEMENTE
TECTONIZADAS, DOBRADAS
E METAMORFIZADAS (5)
Tais coberturas recobrem boa parte do território bra-
sileiro (Figura 14.96). Originaram-se a partir de vários ti-
pos de areias, cascalhos, argilas, precipitados químicos e
carbonáticos e, mais restritamente, de lavas vulcânicas que
Figura 14.94 ––––– Lavra de rocha alcalina associada ao vulcão extinto
de Tunas do Paraná.
Figura 14.95 ––––– Os geodos com cristais de ametista extraídos
no norte do Rio Grande do Sul podem atingir mais de 2 m
de comprimento. Originaram-se a partir da migração da sílica
para bolhas de gás aprisionadas no topo dos derrames durante o
processo de resfriamento rápido da lava. Normalmente, os geodos
são preenchidos por cristais de ametista, ágata, quartzo branco e/ou
rosa, ônix, jásper, calcita, apofilita, zeolita, opala, gipsita e barita.
se depositaram em mares e oceanos muito antigos, certa-
mente com idades superiores a 570 milhões de anos. De-
vido aos movimentos das placas tectônicas, esses mares e
oceanos passaram tanto por uma tectônica distensiva,
quando se formaram, como por uma tectônica compres-
siva, quando se fecharam e se extinguiram.
Em razão dessa compressão, os materiais que neles
se depositaram como camadas horizontalizadas se dobra-
ram (Figura 14.97), constituíram-se em montanhas (Figu-
ras 14.98 e 14.99) e se extinguiram. Esse processo de
dobramentofoiacompanhadoporumesquen-
tamento diferenciado dos materiais. Com isso,
sob pressão, eles se metamorfizaram e se trans-
formaram em rochas bem diferentes do que
eram originalmente. As areias se transforma-
ram em metarenitos ou quartzitos; as argilas,
rochas à base de micas, hoje representadas
por vários tipos de filitos e xistos; os precipita-
dos carbonáticos, em metacalcários; e assim
por diante.
Em decorrência dessa história geológi-
ca, a área de definição do geossistema 5 é
sustentada por uma variedade enorme de ro-
chas com as mais diferentes características
composicionais, deformacionais e texturais.
Tais litologias tanto ocorrem como finas ca-
madas ou lentes intercaladas irregularmente
entre si, como podem aparecer isoladas sob
a forma de espessas camadas. Isso faz com
que a área de definição desse geossistema
237
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.96 ––––– Área de definição do geossistema 5.
Figura 14.97 ––––– Exemplar de um filito
complexamente dobrado, um dos litótipos bastante
comum na área de definição do geossistema 5. São
produtos do metamorfismo de antigas camadas de
argila que se depositaram em um ambiente marinho.
Figura 14.98 ––––– Início de um processo distensivo que dá origem a
uma fossa tectônica, que pode evoluir para formar um mar ou um
oceano. Nessa fase embrionária de um ambiente marinho, ocorrem
intensas atividades tectônica e magmática. Com isso, juntamente
com os sedimentos que vão se depositando no fundo da fossa
tectônica, deposita-se muita lava vulcânica.
Figura 14.99 ––––– Exemplo do que acontece com as camadas que
se depositaram em um ambiente distensivo que mudou para
compressivo.
apresente particularidades importantes em termos de
adequabilidades e limitações ao uso e ocupação.
Adequabilidades e limitações
Frente à execução de obras
Nas decisões de planejamento que envolvem a exe-
cução de obras, destacam-se como particularidades
geotécnicas importantes:
• Na maior parte da área de definição do geossistema
5, as características geotécnicas variam e contrastam bas-
tante, tanto na lateral como na vertical, especialmente
nas regiões destacadas na Figura 14.100, em razão de
maior diversidade litológica e de as seqüências se encon-
trarem complexamente dobradas. Por conseqüência, são
terrenos onde as características geotécnicas – tanto do
substrato rochoso, como dos solos e relevo – podem vari-
ar e contrastar bastante de região para região e, por vezes,
de local para local. Significa que, na maior parte do geos-
sistema, ensaios geotécnicos pontuais têm pouca repre-
sentatividade lateral e vertical.
• Predominam litologias, principalmente nas áreas
destacadas na figura 14.100, bastante tectonizadas, com-
plexamente dobradas e portadoras de alta densidade de
falhas, fraturas, diáclases e outras descontinuidades
geomecânicas e hidráulicas que facilitam a percolação de
fluidos e as desestabilizações em taludes de corte. Aspec-
to importante de ser considerado na execução de obras
subterrâneas (Figura 14.101).
238
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.100 ––––– Áreas onde o tectonismo foi mais intenso e a variação
litológica é grande.
corte – se os taludes ficarem em posição des-
favorável à do mergulho dos estratos, estarão
sujeitos a desestabilizações freqüentes.
• Nasáreasdiferenciadasnafigura14.100,
em razão do intenso dobramento, predomi-
nam relevos acidentados, geralmente recorta-
dos por alta densidade de canais de drenagem
e com alta densidade de elevações com decli-
vidades acentuadas. Por isso, predominam ter-
renos naturalmente suscetíveis a processos ero-
sivos e a importantes movimentos naturais de
massa (escorregamentos). Em caso de execu-
ção de extensas obras lineares, tornam-se ne-
cessárias profundas escavações, de modo a mi-
nimizar declives, bem como a movimentação
de grande volume de terra para altos aterros.
• Nas regiões em destaque na figura
14.102, as deformações não foram tão inten-
sas; por isso, as rochas se encontram pouco
dobradas e tectonizadas. Nesse caso, diferen-
ciam-se da situação anterior pela predominân-
cia de estratos rochosos horizontalizados ou
suborizontalizados. Assim, as características
geotécnicasehidráulicassemantêmumpouco
mais homogêneas na horizontal, porém vari-
am bastante na vertical. Além disso, as ro-
chas contêm menos descontinuidades geome-
cânicas e hidráulicas e o relevo costuma ser
do tipo assimétrico, ou seja, formado por to-
pos relativamente suavizados e bordas escar-
padas (Figura 14.107) geralmente recobertas
por espessos depósitos de tálus, ou seja, de-
pósitos formados por uma mistura caótica de
solos com blocos e matacões desprendidos
das encostas, material naturalmente instável.
• Dentre os constituintes litológicos, é
bastante comum, especialmente nas áreas em
destaque na figura 14.103, a existência de
metassedimentos síltico-argilosos, cuja mine-
ralogiaéàbasedemicasisorientadas,quepode
ser sericita, biotita ou muscovita. São, portan-
to, rochas que apresentam textura xistosa ou
filítica e geralmente portadoras de alta densi-
dade de superfícies planares pouco espaçadas,
nas quais se concentram minerais micáceos
formando planos de alta fissilidade. Tais planos
facilitam os processos erosivos e fazem com
que das rochas se soltem placas em taludes de
corte, principalmente quando se encontram
parcialmente alteradas e se os taludes são exe-
cutados em posição concordante à do mergu-
lho desses planos (Figuras 14.104 e 14.105). Nesses terre-
nos, portanto, deve-se ter preocupação especial em não
executar escavações muito profundas e não expor tais sedi-
mentos em taludes de corte e obras terraplanadas,
desprotegidos de obras de contenção.
Figura 14.101 ––––– Característica comum do substrato rochoso na área desse
geossistema é a existência de rochas complexamente dobradas e falhadas, a
exemplo desse calcário associado ao Grupo Açungui (Vale do Ribeira, SP).
• O mergulho dos estratos rochosos, especialmente
nas áreas destacadas na figura 14.100, pode variar, de
local para local, de horizontalizado a verticalizado, carac-
terística que complica a execução de obras que envolvem
escavações mais profundas e a confecção de taludes de
239
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.102 ––––– Áreas onde as rochas se encontram menos deformadas.
Figura 14.103 ––––– Áreas onde predominam metassedimentos síltico-argilosos.
xistos e filitos encontram-se bastante dobra-
dos e aparecem sustentando relevos bastante
acidentados, geralmente montanhosos, com
alta densidade de canais de drenagem e de
muito alto potencial de movimentos naturais
de massa (Figuras 14.106 e 14.107).
• Os solos de alteração de rochas xisto-
sas, quando pedogeneticamente pouco evo-
luídos, podem conter restos preservados de
bandas micáceas; nesse caso, quase sempre
também são portadores de argilominerais ex-
pansivos. Tais solos são bastante erosivos e
colapsíveis. Por isso, não se prestam à utili-
zação como material de empréstimo (Figura
14.108).
• Litologias à base de micas, indepen-
dentemente de outras variáveis que influenci-
am as características dos solos, alteram-se para solos argi-
losos que se tornam bastante pegajosos e escorregadios
quando molhados; quando secos, entram facilmente em
• Metassedimentos síltico-argilosos são bastante plás-
ticos, ou seja, mudam irreversivelmente de forma quando
submetidos a tensões. Por isso, na maior parte das vezes,
Figura 14.105 ––––– Esquema mostrando o que
acontece quando se fez um corte em posição
concordante ao mergulho dos planos de fissilidade
das rochas.
Figura 14.104 ––––– Desplacamento em talude de corte
de filitos do Grupo Açungui (região metropolitana
de Curitiba, PR).
240
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figuras 14.106 e 14.107 ––––– Relevo montanhoso e com muitos movimentos
naturais de massa, sustentado por xistos e filitos do Grupo Açungui (Vale do
Ribeira, PR).
suspensão. Em razão disso, nas regiões onde
tais sedimentos predominam, não é recomen-
dável iniciar grandes obras que envolvem es-
cavações e movimentação de terra durante os
períodos de chuvas ou de secas prolongadas.
Nos períodos de chuvas, enfrentar-se-ão pro-
blemas com emplastamento excessivo das fer-
ramentas e equipamentos, bem como para
trafegar pelas vias de acesso às obras (que se
tornam excessivamente escorregadias). Nos
períodossecos,enfrentar-se-ãoproblemascom
a poeira excessiva que se desprende das vias
não-pavimentadas.
• Em muitos locais, especialmente das
áreas em destaque na figura 14.100, é bas-
tante comum a existência de espessos paco-
tes formados por intercalações de finas cama-
das ou lentes de litologias das mais diferentes
composições e características texturais (Figu-
ra 14.109). As mudanças bruscas entre uma
litologia e outra (Figura 14.110) se constitu-
em em descontinuidades geomecânicas e hi-
dráulicas que favorecem os movimentos de
massa, as desestabilizações em taludes de
corte e os processos erosivos.
• Dentre os constituintes litológicos, es-
pecialmente nas áreas em destaque na figura
14.111, existem camadas das mais diversas
espessuras de metassedimentos à base de
quartzo, representados por diversos tipos de
metarenitos e quartzitos. Trata-se de litologi-
as de baixa resistência ao cisalhamento, ou
seja, quando submetidas a tensões, ao invés
de se deformarem, quebram-se. Por isso, nes-
ses terrenos é bastante comum ocorrerem
rochas densamente fendilhadas em várias di-
reções. Conseqüentemente, são bastante per-
colativas e delas podem se soltar blocos com
facilidade em taludes de corte (Figuras 14.112
e 14.113).
• Rochas quartzo-arenosas alteram-se
para solos arenosos de alta erosividade natu-
Figura 14.108 ––––– Solo residual de filito com
pedogênese diferenciada, preservando no horizonte C
bandas micáceas parcialmente alteradas (Bateias,
Campo Largo, PR).
Figura 14.109 ––––– Seqüência formada por finas camadas de litologias de diferentes
composições (Grupo Açungui, Itapirapuã Paulista, SP).
Figura 14.110 ––––– Vista da Morraria do Urucum, um relevo assimétrico,
sustentado por camadas pouco ou não deformadas e horizontalizadas de arenitos
da Formação Urucum e formações ferromanganesíferas da Formação Santa Cruz
(Corumbá, MS).
241
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.111 ––––– Áreas onde dentre os litótipos existem tipos à base de quartzo.
Figura 14.112 ––––– Quartzitos densamente fendilhados,
associados ao Grupo Açungui
(Vale do Ribeira, PR).
ral, excessivamente permeáveis e sujeitos ao fenômeno da
liquefação, ou seja, em alguns locais podem se compor-
tar como areias movediças.
• O quartzo é um mineral bastante duro,
abrasivo e de alta resistência ao intemperis-
mo físico-químico. Por isso, em muitos lo-
cais, as rochas quartzo-arenosas podem se
encontrar bastante endurecidas e apresentar
alta resistência ao corte e à penetração por
sondas rotativas – as brocas se desgastam ra-
pidamente.
• Como implicações geotécnicas positi-
vas, destaca-se que as rochas quartzosas
metamorfizadas, como nesse caso, apresen-
tam alta capacidade de suporte e resistência
à compressão, bem como resistem bem ao
intemperismo físico-químico. Os solos delas
derivados, por serem à base de quartzo, são
bons para serem usados como saibro, antipó,
areia e material inerte.
• Nas regiões destacadas na figura
14.114, dentre as litologias ocorrem cama-
das das mais diferentes espessuras de rochas
metacalcárias. Como particularidade geotéc-
nica importante desses terrenos, destaca-se
que a mineralogia das rochas calcárias é à
base de carbonato, mineral que se dissolve
com facilidade pela ação das águas (Figuras
14.115, 14.116 e 14.117). Além disso, ro-
Figura 14.113 ––––– Quartzitos densamente fendilhados,
associados à Formação Tombador (Chapada
Diamantina, BA).
Figura 14.114 ––––– Áreas com ocorrências de rochas metacalcárias.
242
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figuras 14.115, 14.116 e 14.117 ––––– As cavidades se formam nas rochas calcárias porque o carbonato de cálcio é um mineral que se
dissolve com facilidade quando em contato com a água da chuva, que, ao passar pelo solo, acidifica-se, torna-se corrosiva, penetra pelas
fendas que as rochas calcárias costumam conter e aos poucos vão dissolvendo o carbonato. Este, dissolvido, cai em um fluxo d’água
subterrâneo; assim, as fendas vão se alargando, ramificando-se, até formarem desde pequenas até imensas cavernas, as quais podem
estar ligadas à superfície através das dolinas e sumidouros de drenagem.
chas calcárias, principalmente quando tectonizadas, alte-
ram-se de forma bastante diferenciada para solos argilo-
sos básicos. Isso tem implicações geotécnicas tanto posi-
tivas como negativas.
• Dentre as implicações geotécnicas negativas, sali-
enta-se que se trata de terrenos portadores de um com-
plexo e ramificado sistema de rios e cavidades subterrâne-
as, cujas dimensões variam de alguns centímetros a quilô-
metros. Tais cavidades são sujeitas a desmoronamentos
que provocam afundamentos bruscos na superfície (co-
lapso); nessas cavidades, podem se armazenar gases na-
turais ou provenientes de fluidos contaminados com gra-
xas, combustíveis etc., que chegam até elas pelo fluxo
d’água superficial.
• Muitas dessas cavidades podem estar interligadas à
superfície através de dolinas (Figuras 14.118 e 14.119) e
sumidouros de cursos d’água, que são também locais de
ligação direta entre os fluxos d’água superficial e subterrâ-
neo. Portanto, são locais de alto potencial de afundamen-
tos bruscos (colapso) e de alta vulnerabilidade à contami-
nação. Por isso, sobre esses locais ou em sua proximidade
Figuras 14.118 e 14.119 ––––– Moradia construída junto a dolinas, prática não recomendada, uma vez que o risco de afundamento em um
local como este é alto (município de Almirante Tamandaré, PR).
não se deve construir – o risco de a obra afundar subita-
mente é alto.
• Nos terrenos calcários, a profundidade do substrato
rochoso costuma ser bastante irregular. Mesmo onde os
solos são bem evoluídos, em meio deles podem aparecer
aleatoriamente distribuídos restos de rochas totalmente
frescas e duras (Figuras 14.120 e 14.121).
• Os solos residuais de calcários, por serem argilosos,
tornam-se bastante aderentes e escorregadios quando
molhados; quando secos, entram facilmente em suspen-
são – formam muita poeira. Tais características dificultam
a execução de obras que envolvem escavações e movi-
mentação de terra durante os períodos chuvosos, devido
ao emplastamento excessivo das ferramentas e equipamen-
tos de corte.
Dentre as implicações positivas, destacam-se:
• As rochas calcárias apresentam boas características
físico-químicas para serem usadas como agregados.
• Os solos residuais dessas rochas são pouco agressi-
vos, plásticos, pouco permeáveis, apresentam boa capa-
cidade de compactação e são de alta reatividade química.
243
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.120 ––––– Afloramento de rocha calcária isolado em meio a
solos bem evoluídos é uma característica que complica sobremaneira
a execução de escavações e obras subterrâneas em terrenos
calcários, como nesse caso, relacionado ao Grupo Açungui
(região metropolitana de Curitiba, PR).
Figura 14.121 ––––– Nessa frente de lavra de rocha metacalcária do
Grupo Açungui, observam-se diversas fraturas verticalizadas e
preenchidas por solos. É por elas que as águas das chuvas se
infiltram e vão alterando de modo diferenciado as rochas calcárias.
Conseqüentemente, são pouco erosivos, mantêm boa es-
tabilidade em taludes de corte e são ótimos para serem
usados como material de empréstimo, inclusive como
barreiras de retenção de elementos químicos.
As particularidades geotécnicas retromencionadas in-
dicam que, em caso de execução de obras sobre a área de
definição desse geossistema, é necessário proceder a estu-
dos geotécnicos detalhados, apoiados em grande número
de ensaios geotécnicos de malha pouco espaçada e de
materiais coletados de várias profundidades. Nas áreas cal-
cárias, é importante que os estudos geotécnicos sejam apoi-
ados em estudos geofísicos que identifiquem e mapeiem
cavidades, implicando, portanto, custos elevados, tanto na
fase de planejamento como na de execução das obras.
Frente à agricultura
A heterogeneidade litológica faz com que nas áreas
desse geossistema existam solos com as mais diferentes e
contrastantescaracterísticasfísico-químicas(Figura14.122).
Conseqüentemente, a qualidade agrícola dos solos varia
bastante de região para região; na maior parte das vezes,
de local para local, dependendo de qual das litologias é
predominante e é aflorante.
• Nas áreas em que predominam e afloram metasse-
dimentos síltico-argilosos (Figura 14.103), como particu-
laridades importantes salienta-se que, independentemen-
te de outras variáveis que influenciam a qualidade agríco-
la do solo, tais litologias se alteram para argilominerais,
liberando poucos nutrientes e muito alumínio. O aspecto
positivo é que os solos residuais são bastante argilosos,
conseqüentemente, bastante porosos, apresentando boa
capacidade hídrica – mantêm boa disponibilidade de água
para as plantas por longo tempo dos períodos mais secos.
Também apresentam boa capacidade de reter e fixar ele-
mentos – fixam bem a matéria orgânica e, quando aduba-
dos, retêm e fixam bem os nutrientes. Por outro lado,
costumamsersolosdebaixafertilidadenatural;geralmente,
apresentam elevados teores de alumínio tóxico e são bas-
tante ácidos (Figura 14.123). Por isso, necessitam ser fre-
qüentemente corrigidos com aplicação de altas cargas de
calcário dolomítico. Além disso, solos argilosos compac-
tam-se e se impermeabilizam excessivamente se forem
continuamente mecanizados com equipamentos pesados
ou se pisoteados por gado. Cargas elevadas contínuas pro-
piciam a formação de uma camada subsuperficial alta-
mente compactada e impermeabilizada, fenômeno conhe-
cido como “pé-de-grade”. Essa camada funciona como
uma superfície de deslize da camada mais superior, que,
por ser mais fofa e permeável, quando chove, encharca-
se e é facilmente removida por erosão laminar.
Tais características permitem concluir que o potencial
agrícola dos terrenos destacados na figura 14.103 é uma
Figura 14.122 ––––– As cores diferentes observadas no solo dessa
região são decorrentes da variação litológica. A porção avermelhada
é um solo residual de metacalcário; a amarelada é um solo residual
de filito. Ambos têm em comum a textura argilosa. A diferença é
que o solo da camada de calcário é básico e de boa fertilidade
natural, enquanto o derivado de filito é ácido e de baixa fertilidade
natural. É uma situação que pode ocorrer com freqüência na área
desse geossistema.
244
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.123 ––––– Solo residual de um metassedimento síltico-
argiloso do Grupo Açungui (Vale do Ribeira, PR). A cor amarelada é
um indicativo de que contém altos teores de alumínio.
variável que depende mais das características do relevo e da
evolução pedogenética dos solos. As áreas onde o relevo é
adequado e os solos são bem desenvolvidos, desde que os
solos sejam devidamente manejados e corrigidos, podem
ser bem aproveitadas para qualquer tipo de agricultura.
• Nas regiões em que predominam e afloram metas-
sedimentos à base de quartzo (Figura 14.111), destacam-
se como particularidades importantes que tais litologias
apresentam alta resistência ao intemperismo e se alteram
liberando poucos elementos químicos para solos quartzo-
arenosos (Figura 14.124). Conseqüentemente, nessas áre-
as, os solos residuais são bastante erosivos, costumam
apresentar baixa fertilidade natural, são excessivamente
permeáveis e de baixa capacidade de reter e fixar nutrien-
tes. Portanto, são difíceis de serem corrigidos, quase não
assimilam matéria orgânica, respondem mal à adubação e
perdem água rapidamente (solos de baixa capacidade hí-
drica). Além disso, são terrenos onde predominam rele-
vos acidentados, com solos geralmente pouco desenvol-
vidos e, na maior parte das vezes, apresentando proble-
mas de rochosidade ou pedregosidade elevadas.
• Tais características indicam que as áreas destacadas
na Figura 14.111 são inadequadas para a agricultura ex-
tensiva, especialmente para o cultivo de plantas de raízes
curtas, para as que necessitam de muita água, de solos
férteis e mecanização freqüente.
• Nas regiões em que predominam e afloram rochas
metacalcárias (Figura 14.114), como particularidades im-
portantes desses terrenos, que influenciam o potencial
agrícola, destacam-se as rochas metacalcárias, que se al-
teram para solos argilosos básicos, de muito alta reatividade
química, liberando vários elementos químicos, principal-
mente cálcio e magnésio. Outra particularidade a ser des-
tacada é o fato de que nos terrenos calcários podem existir
dolinas (Figuras 14.126 e 14.127) e sumidouros de água.
• Como implicações positivas de tais características,
destaca-se que os solos residuais de calcários apresentam
baixo potencial erosivo natural; são bastante porosos; ar-
Figura 14.125 ––––– Solo residual de metacalcário com o horizonte
superior rico em matéria orgânica (região de Itaiacoca, PR).
mazenam bastante água, ou seja, apresentam alta capaci-
dade hídrica e, por isso, mantêm boa disponibilidade de
água por longo tempo dos períodos secos; são bastante
férteis e apresentam alta capacidade de reter, fixar nutrien-
tes e assimilar matéria orgânica (Figura 14.125).
• Como implicações negativas, salienta-se que, por
serem argilosos, solos residuais de calcários também se
compactam e se impermeabilizam excessivamente se fo-
rem submetidos a cargas elevadas contínuas. Portanto,
nesse caso, apresentam os mesmos problemas destaca-
dos para os solos derivados dos metassedimentos síltico-
argilosos. Além disso, as dolinas e sumidouros de água
são locais de ligação direta entre os fluxos de água super-
ficial e subterrânea e por eles os poluentes agrícolas po-
dem se infiltrar e alcançar rapidamente as águas subterrâ-
neas sem sofrer depuração.
Tais particularidades permitem concluir que, desde
que observados os devidos cuidados para que os poluentes
agrícolas não cheguem até as dolinas e aos cursos d’água
e o relevo seja adequado, os terrenos metacalcários apre-
sentam excelente potencial agrícola (Figura 14.128).
Figura 14.124 ––––– Quartzito alterado para um solo excessivamente
arenoso, de péssimas características agrícolas (Tunas do Paraná, PR).
245
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figuras 14.126 e 14.127 ––––– Hortaliças plantadas no entorno e sobre dolinas associadas aos terrenos metacalcários da região metropolitana
de Curitiba (PR). Trata-se de uma prática bastante inadequada. Nas áreas agrícolas, dever-se-ia preservar uma larga faixa do entorno das
dolinas e dos canais de drenagem como área de mata natural. Estas têm um papel importante para impedir que os poluentes cheguem até as
dolinas e, por conseqüência, até as águas subterrâneas. O cultivo mais adequado para as áreas calcárias portadoras de dolinas é o orgânico.
Figura 14.128 ––––– Terrenos metacalcários com relevo suavizado da região
metropolitana de Curitiba são intensamente utilizados para a agricultura.
Frente aos recursos hídricos e à implantação
de fontes poluidoras
Como particularidade importante e extensiva a toda a
área de definição desse domínio, destaca-se que, devido
ao intenso tectonismo e ao metamorfismo a que foram
submetidas as litologias, as águas subterrâneas nesses ter-
renos se encontram armazenadas e circulam mais pelas
fendas abertas, relacionadas a falhas, fraturas e outras
descontinuidades estruturais, do que por entre os poros
das rochas. Trata-se, portanto, de aqüíferos fissurais (Figu-
ra 14.129). Nesse tipo de aqüífero, o potencial de explo-
tação de água é bastante irregular: depende da existência
e da densidade das fendas, que, por sua vez, dependem
das características composicionais e estrutu-
rais das rochas. Como isso varia bastante, o
potencial hídrico superficial e subterrâneo e
as adequabilidades e limitações frente à im-
plantação de fontes poluentes subterrâneas
variam, de local para local, de muito alto a
muito baixo, uma vez que se intercalam lito-
logias das mais diferentes características hi-
drodinâmicas.
• Nas regiões onde predominam metas-
sedimentos síltico-argilosos (Figura 14.103),
como particularidades hidrológicas importan-
tes, salienta-se que, nesses terrenos, predo-
minam litologias pouco permeáveis, geralmen-
te portadoras de poucas estruturas (falhas e
fraturas) que podem se constituir em armadi-
lhas de água. Portanto, são terrenos com bai-
xo potencial armazenador e circulador de
água. Além disso, tais metassedimentos se
alteram para solos também pouco permeáveis
e, por isso, predominam relevos geralmente
bastante movimentados, recortados por alta
densidade de canais de drenagem (Figura 14.130), com
escoamento superficial rápido. São, portanto, ambientes
desfavoráveis a que as águas subterrâneas sejam recarre-
gadas – quando chove, a maior parte da água escorre
rapidamente para os canais de drenagem e pouca água se
infiltra no subsolo. Por isso, também contêm baixo núme-
ro de nascentes e os poucos cursos d’água perenes que
existem costumam apresentar grandes e bruscas oscila-
ções de vazão com as mudanças climáticas – quando cho-
ve, a vazão sobe muito e rapidamente; quando a chuva
cessa, abaixa também muito e rapidamente. Nesse senti-
do, são terrenos com baixo potencial para existência de
bons depósitos de água subterrânea e com os quais se
deve ter uma preocupação especial no sentido de preser-
246
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.129 ––––– Em um aqüífero fissural, o potencial de explotação de água é
bastante irregular, dependendo de o poço cruzar zonas fraturadas. Por isso, um
poço pode apresentar excelente vazão e outro, ao lado, ser seco.
Figura 14.130 ––––– Tipo de relevo que predomina nas áreas sustentadas por
metassedimentos síltico-argilosos (área de definição do Grupo Açungui, Vale do
Ribeira, SP).
var a cobertura vegetal. Tem um papel fundamental para
reter por mais tempo as águas das chuvas, melhorando o
potencial de infiltração no subsolo. Por outro lado, como
aspecto positivo, salienta-se que a cobertura de solos argi-
losos apresenta boa capacidade de reter e depurar poluen-
tes. Portanto, o risco de contaminação das águas subter-
râneas é baixo.
• Nas regiões onde predominam metassedimentos à
base de quartzo, representados por diversos tipos de
metarenitos e quartzitos (Figura 14.116), como particula-
ridade hidrológica importante destaca-se que são rochas
portadoras de alta densidade de falhas e fraturas abertas
dispostas em várias direções e com vários ângulos de
mergulho. Isso tem implicações hidrológicas tanto positi-
vas como negativas. Dentre as positivas, merece destaque
o fato de que as falhas e fraturas podem estar interligadas
e apresentam bom potencial armazenador e
circuladordeáguasubterrânea(Figura14.131).
Isso também os torna terrenos geralmente
portadores de muitas nascentes e cursos
d’água que mantêm boa vazão o ano todo
(Figura 14.132). Além disso, nas rochas à base
de quartzo, as águas subterrâneas costumam
apresentar excelentes características de
potabilidade. Como aspecto negativo, desta-
ca-se que, pelas fendas abertas que as rochas
quartzo-arenosas costumam conter em alta
densidade, poluentes podem se infiltrar e al-
cançarrapidamenteaságuassubterrâneassem
sofrer depuração. Além disso, os solos delas
derivados são à base de quartzo, mineral de
muito baixa capacidade de reter e depurar
poluentes. Por isso, são terrenos onde as águas
subterrâneas são bastante vulneráveis à con-
taminação. Portanto, cuidados especiais de-
vem ser observados com relação a toda fonte
potencialmente poluidora.
• Nas regiões onde ocorrem rochas
metacalcárias (Figura 14.114), destaca-se que,
nas rochas calcárias, as águas subterrâneas se
infiltram, armazenam-se e circulam pelas ca-
vidades que nelas se formam pela dissolução
dos carbonatos (Figuras 14.115, 14.116 e
14.117). São, portanto, aqüíferos cársticos.
Outro aspecto a ser destacado é que se trata
de rochas que se alteram para solos argilosos
poucopermeáveisedealtacapacidadedereter
elementos.
• Como conseqüência negativa de tais ca-
racterísticas, destaca-se que aqüíferos cársticos
sofrem recarga e descarga rápidas, ou seja, as
águas das chuvas se infiltram rapidamente em
abundância, mas também podem escorrer ra-
pidamente através de rios subterrâneos.
• O potencial de explotação de água sub-
terrânea é bastante irregular, dependendo bas-
tante das condições climáticas locais e de o poço cruzar
zonas fraturadas ou alcançar uma cavidade subterrânea
quecontenhaáguaarmazenada.Conseqüentemente,pode
ocorrer que um poço apresente excelente vazão em um
local e outro, imediatamente ao lado, seja seco.
• Como as águas podem estar armazenadas em ca-
vernas, se a explotação não for bem planejada ocorrerá
seu esvaziamento rápido, ocasionando sua descompressão,
que provocará o desmoronamento de suas paredes e cau-
sar colapsos na superfície. Além disso, se o bombeamento
não for bem dimensionado, acarretará o rebaixamento ex-
cesso do nível freático, com conseqüente secamento das
águas superficiais.
• As águas subterrâneas associadas aos terrenos
metacalcários podem apresentar excesso de carbonato,
fenômeno conhecido como “água dura”, que é prejudici-
247
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.131 ––––– Quartzito densamente fraturado em várias
direções, o que o torna uma rocha de alta permeabilidade e
porosidade secundárias (município de Castro, PR).
Figura 14.132 ––––– Bela surgência de água, localizada no sopé de
uma crista quartzítica associada às seqüências metavulcanosse-
dimentares do Grupo Açungui (região metropolitana
de Curitiba, PR).
al à saúde. Em caso de explotação de água,
deve-se considerar a possibilidade de o carbo-
nato aderir às paredes das tubulações e entu-
pi-las rapidamente.
• Ao se perfurar terrenos metacalcários,
deve-se considerar a possibilidade de as son-
das atingirem bruscamente uma cavidade sub-
terrânea. Isso pode fazer com que partes dos
equipamentos se desprendam; nesse caso, é
muito difícil repescá-las.
• É principalmente por dolinas (Figura
14.133), sumidouros de drenagem e fraturas
que as águas subterrâneas dos terrenos meta-
calcários são recarregadas. Mas é também por
eles que poluentes alcançam rapidamente as
águas subterrâneas – inclusive um rio subter-
râneo –, espalhando-os por longas distâncias
e causando impactos regionalizados e de gran-
des proporções (Figura 14.134). Por isso, sobre dolinas
ou em suas proximidades, a vulnerabilidade à contamina-
ção das águas subterrâneas é muito alta. Nesses locais,
não se deve implantar fontes potencialmente poluidoras,
assim como cuidados especiais devem ser observados para
que poluentes não alcancem os cursos d’água (Figura
14.135).
• Como particularidade positiva, destaca-se que as
rochas metacalcárias se alteram para solos argilosos pou-
co permeáveis e de alta reatividade química, de alta capa-
cidade de reter e depurar poluentes. Conseqüentemente,
onde os solos são profundos e distantes dos cursos d’água
e das dolinas, o risco de as águas subterrâneas serem con-
taminadas por fontes superficiais é baixo.
Em razão de tais particularidades, qualquer iniciativa
para explotação de água, bem como para locação de fon-
tes contaminantes sobre terrenos metacalcários, deve ser
precedida de criteriosos estudos hidrogeológicos regionais
Figura 14.133 ––––– A depressão circular que se observa no terreno é
uma pequena dolina associada aos terrenos metacalcários da região
de Itaiacoca (PR). A dimensão das dolinas varia de poucos metros a
dezenas de metros.
Figura 14.134 ––––– Esquema de contaminação de águas subterrâneas, em caso de
implantação de uma fonte poluidora sobre uma dolina ou em suas proximidades.
248
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.135 ––––– Depósito de lixo que inclui vários elementos
metálicos sobre o substrato metacalcário da região metropolitana
de Curitiba (PR). A possibilidade de que as águas subterrâneas
estejam sendo contaminadas é grande.
e de detalhe, os quais devem ser apoiados em levanta-
mentos geofísicos que possam detectar a presença de ca-
vidades subterrâneas.
Frente ao potencial turístico
A diversidade litológica e o intenso tectonismo a que
foram submetidas as seqüências metassedimentares e
metavulcanossedimentaresproterozóicaspossibilitaramque
em diferentes regiões do geossistema 5 se formassem os
mais variados atrativos turísticos naturais.
• Na maior parte de definição desse geossistema, pre-
dominam relevos montanhosos de grande beleza cênica
(Figuras 14.136 e 14.137).
• Nas regiões em que ocorrem rochas calcárias, há
belas e exóticas paisagens cársticas (Figura 14.138), mui-
tas das quais portadoras de grande número de magníficas
Figura 14.136 ––––– O belo e diversificado relevo montanhoso
sustentado pelas seqüências metavulcanossedimentares do Grupo
Açungui (Vale do Ribeira, PR). Destaca-se, ao fundo, uma sucessão
de altas cristas quartzíticas – um atrativo turístico pouco conhecido
e aproveitado.
Figura 14.137 ––––– Serra do Amolar, constituída por rochas
quartzíticas, isolada em meio ao Pantanal mato-grossense (MS).
O contraste do relevo montanhoso em meio à planície com
as águas espelhadas é uma paisagem de rara beleza.
Figura 14.138 ––––– Relevo montanhoso do Vale do Betari (SP),
sustentado pelas seqüências que envolvem metacalcários
do Grupo Açungui.
cavernas (Figuras 14.139 e 14.140) e rios de águas crista-
linas (Figura 14.141).
• O tectonismo diferenciado e a existência de interca-
lações de litologias com diferentes graus de resistência ao
intemperismo físico-químico são características que favo-
receram a existência, na área de definição desse
geossistema, de muitos cursos d’água, formando belas
corredeiras, cachoeiras e piscinas naturais (Figura 14.142).
Frente ao potencial mineral
A área de definição desse geossistema é uma
ambiência geológica favorável à prospecção de vários bens
minerais, destacando-se: chumbo, prata, cobre, ferro, ouro
e manganês (Figuras 14.143 e 14.144), fosfato, barita,
fluorita. As mais importantes jazidas de ferro, manganês e
ouro do Brasil estão associadas a esses terrenos, destacan-
do-se, dentre outras, as minas do Quadrilátero Ferrífero
249
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.139 ––––– Gruta Azul (Bonito, MS), formada em
metacalcários do Grupo Corumbá.
Figura 14.140 ––––– A bela entrada da caverna do Morro Preto.
É a entrada de caverna mais ornamentada do mundo (Vale do
Ribeira, SP).
Figura 14.141 ––––– Rio da Prata. Terrenos metacalcários da região
de Jardim (MS).
Figura 14.142 ––––– Cachoeira situada na região do Perau (Vale
do Ribeira, PR).
(MG); de serra do Navio (AP); de serra Pelada, Tapajós e
Carajás (PA); da região de Crixás (GO), nesses casos, asso-
ciadas às seqüências metavulcanossedimentares do tipo
greenstone belt – as quais se diferenciam por incluírem
rochas vulcânicas oceânicas básico-ultrabásicas ricas em
magnésio (Figura 14.145).
Além dos minerais metálicos, esse geossistema tam-
bém apresenta alto potencial para a prospecção de vári-
os bens minerais não-metálicos. Em várias regiões, são
explorados quartzitos (Figura 14.146). Metassedimentos
à base de argilominerais são explorados para diversos fins.
Rochas calcárias são exploradas com intensidade para fa-
bricação de cimento e cal, como rocha ornamental (Fi-
gura 14.147), corretivo de solo (Figura 14.148) e para
uma infinidade de outros usos.
O potencial mineral é um aspecto importante a ser
considerado nas decisões de planejamento. Sua explotação
deve ser um uso a prevalecer sobre os demais que não
250
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.143 ––––– Mina de ferro da Morraria do
Urucum, MS.
Figura 14.145 ––––– Regiões onde ocorrem seqüências metavulcanossedimentares
do tipo greenstone belt.
Figura 14.147 ––––– Lavra de mármore comercialmente
conhecido como “Bege Bahia”, resultante da
descalcificação dos calcários do Grupo Bambuí,
com posterior redeposição.
Figura 14.144 ––––– Formação ferromanganesífera da região de Urucum, MS.
Figura 14.146 ––––– Lavra de quartzito utilizado como
pedra de revestimento (serra do Pico do Gavião,
município de São Thomé das Letras, MG).
251
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.148 ––––– Lavra de calcário dolomítico
utilizado para fabricação de corretivo de solo.
Região metropolitana de Curitiba (PR), área
de definição do Grupo Açungui.
Figura 14.149 ––––– Área de definição do geossistema 6.
sejam de cunho preservacionista, uma vez que
bens minerais não ocorrem onde se deseja, mas
onde a natureza os formou.
ROCHAS GRANÍTICAS (6)
Tais rochas sustentam boa parte do ter-
ritório brasileiro (Figura 14.149) e se deriva-
ram de magmas das mais diferentes compo-
sições, cristalizados nas mais diferentes eras
geológicas e nos mais diversos ambientes
tectônicos. Em razão disso, há no Brasil uma
grande variedade de granitos, os quais, con-
forme o momento e a ambiência tectônica
em que se cristalizaram ou se deformaram,
são conhecidos geologicamente como grani-
tos pré-, sin-, tardi-, pós-tectônicos.
Os granitos pré- e sintectônicos afloram
principalmente nas áreas destacadas na Figura
14.150. Diferenciam-se por apresentarem mi-
neralogiaintensamentedeformada,recristaliza-
da e orientada segundo uma direção preferen-
cial em toda a extensão dos maciços (Figura
14.152). As áreas destacadas na figura 14.151
são sustentadas por granitos tardi- e pós-
tectônicos.Ostarditectônicossediferenciampela
mineralogia, que varia de não-orientada nas
porções centrais dos maciços, a bem orientada
nas porções mais de borda. Os pós-tectônicos
apresentamamineralogianão-deformadaenão-
orientada, ou seja, isótropa, em toda a exten-
são dos maciços (Figura 14.153).
Adequabilidades e limitações
Como particularidades importantes, em termos de
adequabilidades e limitações ao uso e ocupação, destaca-
se que, independentemente da ambiência tectônica em
que se cristalizaram, todo os granitos têm em comum:
Figura 14.150 ––––– Áreas onde predominam granitos pré- e sintectônicos.
• Composição mineral à base de feldspatos, que po-
dem ser sódicos e potássicos, em porcentagens que vari-
am entre 50 e 70%; quartzo, entre 20 e 30%; em propor-
ção menor, minerais ferromagnesianos, principalmente
252
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Figura 14.151 ––––– Área onde predominam granitos tardi- e
pós-tectônicos.
Figura 14.152 ––––– Exemplar de um granito pré-
tectônico, com a mineralogia deformada, orientada,
segundo uma direção preferencial e recortada por
veio de uma fase pós-tectônica sem orientação
mineral (porções mais claras).
Figura 14.153 ––––– Exemplar de um granito pré-
tectônico, sem orientação mineral.
biotita e hornblenda; em proporção bem menor, outros
minerais acessórios.
• Dentre seus minerais, predominam feldspatos e
quartzo, minerais de moderada a alta resistência ao
intemperismo físico-químico.
• Rochas graníticas se alteram de modo bastante di-
ferenciado para solos de textura argilo-síltico-arenosa.
• Geralmente, sustentam relevos acidentados.
Frente à execução de obras
Como particularidades geotécnicas importantes de-
correntes das características retrodestacadas, salientam-se:
• Os solos residuais de granitos apresentam alto po-
tencial erosivo e se desestabilizam com facilidade em ta-
ludes de corte, principalmente quando são pouco evoluí-
dos. Nesse caso, não são adequados à utilização como
material de empréstimo em obras desprovidas de medidas
de impermeabilização e nas quais possam ficar sujeitos à
concentração das águas das chuvas (Figuras 14.154 e
14.155). Processos erosivos decorrentes da exposição de
solos residuais pouco evoluídos de granitos em talude de
corte e utilizados na confecção de aterros são problemas
bastante comuns em todas as estradas construídas em ter-
renos graníticos. O material erodido nesses locais contri-
bui para o assoreamento e extinção dos cursos d’água,
além de exigirem gastos elevados para as constantes obras
recuperativas, que aprofundam o leito das estradas e au-
mentam a superfície exposta à erosão. Em caso de execu-
ção de obras viárias sobre terrenos graníticos, devem ser
evitados cortes profundos e ter preocupação especial com
o controle das águas pluviais. É importante destacar que
em material com alta suscetibilidade à erosão, como no
caso dos solos graníticos pouco evoluídos, os processos
erosivos, uma vez instalados, caso não sejam adotadas,
rapidamente, medidas mitigadoras, tendem a adquirir cada
vez maior expressão.
• Por outro lado, os solos residuais pouco evoluídos,
principalmente quando ainda preservam cristais de
feldspato, são bons para serem usados como saibro.
• Granitos, principalmente os não-deformados (pós-
tectônicos), alteram-se de modo bastante diferenciado,
quase sempre deixando blocos e matacões em meio aos
solos, que tanto podem ocorrer isolados (Figura 14.156)
ealeatoriamentedistribuídos,comoconcentradosemgran-
de número (Figura 14.157). Em razão disso, a profundi-
dade do substrato rochoso nos terrenos graníticos costu-
ma ser bastante irregular, variando, em poucos metros,
de rasa a bastante profunda. Isso pode dificultar e encare-
cer a execução de escavações, perfurações e obras subter-
râneas, uma vez que em muitos locais será necessária a
utilização de explosivos para o desmonte de rochas duras.
Além disso, se a fundação de uma obra se apoiar parcial-
mente sobre blocos e matacões, estes podem se movi-
mentar e desestabilizá-la (Figura 14.158).
253
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
• Nos terrenos graníticos predominam
relevos acidentados e com as vertentes côn-
cavas, locais naturalmente susceptíveis a im-
portantes movimentos de massa, inclusive com
rolamento de blocos e grandes matacões. Por
isso, não se deve construir no sopé dessas en-
costas – o risco de que, inesperadamente,
ocorra movimento de massa em um local
como este é alto (Figuras 14.159 e 14.160).
• As rochas graníticas, especialmente
tardi- e pós-tectônicas, costumam ser bastan-
te fraturadas (Figuras 14.161 e 14.162), prin-
cipalmente nas bordas dos maciços. Nesse
caso, são bastante percolativas e delas se sol-
tam blocos com facilidade em taludes de cor-
te, o que recomenda cuidados especiais com
as obras subterrâneas, especialmente as des-
tinadasàimplantaçãodefontespotencialmen-
te poluidoras.
• A alta erosividade dos solos, aliada ao relevo geral-
mente acidentado dos terrenos graníticos, favorece os
processos erosivos e os movimentos naturais de massa,
Figuras 14.154 e 14.155 ––––– Processos erosivos decorrentes da exposição de
solos residuais pouco evoluídos de granitos em talude de corte e utilizados na
confecção de aterros (região do Vale do Ribeira, SP).
Figura 14.156 ––––– Matacões de rochas graníticas em
meio ao solo, particularidade que complica bastante a
urbanização desses terrenos (Piedade, SP).
Figura 14.157 ––––– Devido à forma como se alteram os
granitos, é grande a possibilidade de existirem na área
de definição desse geossistema blocos e matacões
mergulhados no solo (município de Piedade, SP).
Figura 14.158 ––––– Exemplo de situação possível de ocorrer com freqüência em
terrenos graníticos, especialmente no caso dos granitos pós-tectônicos.
inclusive envolvendo rolamento de blocos e grandes ma-
tacões.
• Granitos pré- e sintectônicos costumam conter alta
proporção de minerais micáceos e apresentam mineralo-
254
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
gia diferentemente deformada e estirada segundo uma
direção preferencial, principalmente nas bordas dos maci-
ços (Figura 14.163). Nesse caso, apresentam grande ani-
sotropia geomecânica e hidráulica local; as bandas micá-
ceas isorientadas formam superfícies planares que facili-
tam a percolação de fluidos, os processos intempéricos,
as desestabilizações em taludes de corte e os processos
erosivos, principalmente no caso de os granitos se encon-
trarem parcialmente alterados (Figura 14.164).
• Como particularidades geotécnicas positivas, sali-
enta-se que os granitos pós-tectônicos apresentam textura
granular isótropa (Figura 14.165), com boa homogenei-
dade geomecânica e hidráulica lateral e vertical; alto grau
de coesão e alta capacidade de suporte.
Tais particularidades, aliadas à baixa porosidade pri-
mária das rochas graníticas, fazem com que, dentre os
granitos, os tipos pós-tectônicos sejam os que apresen-
tam maior resistência à compressão e ao intemperismo
físico-químico. Por isso, são excelentes para obtenção de
brita e como rochas de fundação.
Figuras 14.159 e 14.160 ––––– Blocos e matacões podem rolar com facilidade, se expostos em taludes de corte e em encostas com declives
um pouco mais acentuados. Por isso, não se deve construir no sopé dessas encostas, como verificado nos terrenos graníticos da região do
Vale do Ribeira (PR).
Figuras 14.161 e 14.162 ––––– Granitos da região do Vale do Ribeira (PR). O espaçamento entre as fraturas pode variar de poucos centímetros
a centenas de metros. É por essas fendas que as águas das chuvas se infiltram, se armazenam e vão alterando progressivamente as rochas
graníticas, possibilitando que blocos e matacões vão se isolando em meio aos solos.
Frente à agricultura
Nas decisões de planejamento, visando ao aproveita-
mento agrícola desse geossistema, é importante conside-
rar que:
• Independentemente da origem tectônica, todas as
rochas graníticas se alteram para solos com alto teor de
argila. O aspecto positivo dessa característica é que os
solos residuais de todos os maciços são bastante porosos
e apresentam boa capacidade de reter elementos. Conse-
qüentemente, quando adubados, retêm e fixam bem os
nutrientes, assimilam bem matéria orgânica e apresentam
boa capacidade hídrica, ou seja, armazenam bastante água
e, por isso, mantêm boa disponibilidade de água para as
plantas por longo tempo dos períodos secos.
• A fertilidade natural dos solos graníticos é variável
(Figuras 14.166 e 14.167). Como são rochas à base de
feldspatos, que podem ser sódicos ou potássicos, os solos
podem ser ricos nesses elementos, mas, pobres em outros.
A fertilidade natural é bastante melhorada em razão da par-
255
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.163 – Exemplar de granito
pré-tectônico com a mineralogia fortemente
e diferentemente deformada e estirada
segundo uma direção preferencial. Isso é
indicativo de que o granito se cristalizou ou
se recristalizou sob condições de elevadas
temperaturas e pressões.
Figura 14.164 – Voçoroca desenvolvida
paralelamente à foliação mineral de granito
parcialmente alterado da região
metropolitana de Curitiba (PR). Se as águas
das chuvas escorrem paralelamente à foliação
mineral de um granito deformado, podem se
formar erosões tão grandes quanto as que se
formam nas áreas arenosas.
Figura 14.165 – Exemplar de um granito
pós-tectônico com textura isótropa, ou seja,
sem orientação mineral e com boa
homogeneidade textural lateral e vertical
(Granito Galvão, ES).
ticipação de minerais ferromagnesianos. No entanto, como
estes são minerais secundários, no geral predominam solos
com fertilidade que varia de baixa a moderada.
• Independentemente da origem e das variações
composicionais, todos os granitos se alteram liberando
muito alumínio para os solos. Por ser um mineral de baixa
mobilidade, os solos residuais de granito geralmente apre-
sentam acidez elevada. Os solos bem evoluídos podem
apresentar excesso de alumínio, o que os torna difíceis de
serem corrigidos.
• A erosividade natural dos solos graníticos é uma
variável que depende bastante do grau de evolução pedo-
genética. A erosividade é bastante alta (Figura 14.164)
nos solos pouco evoluídos, especialmente se forem resi-
duais de granitóides com a mineralogia orientada, varian-
do de moderada a baixa nos bem evoluídos. Já a erosivi-
dade induzida, depende da forma como são manejados,
pois, independentemente do granito de origem e da evo-
lução pedogenética, todos os solos derivados de granitos
contêm alta proporção de argila em sua composição. Em
razão disso, compactam-se e se impermeabilizam bastan-
te se forem continuamente mecanizados com equipamen-
tos pesados ou pisoteados por gado. Cargas elevadas con-
tínuas sobre solos com alto teor de argila propiciam que
se forme uma camada subsuperficial altamente compac-
tada, endurecida e impermeabilizada, fenômeno conheci-
do como “pé-de-grade”. Quando chove, essa camada fun-
ciona como uma superfície de deslize da camada mais
superficial, que, por ser mais porosa e permeável, enchar-
ca-se e é facilmente removida por erosão laminar.
Tais características permitem concluir que, no que se
refere à erosividade e à qualidade química dos solos residu-
ais de granitos, são variáveis que dependem bastante da
composição dessas rochas e do grau de evolução pedoge-
nética. Como são características não-restritivas, desde que
os solos sejam devidamente corrigidos e manuseados e o
relevo seja adequado, são terrenos que podem ser bem
aproveitados para agricultura, especialmente para o cultivo
de ciclo longo, como no caso das frutíferas (Figura 14.168).
Figura 14.166 – Solo residual de um granito pós-tectônico do
Vale do Ribeira (PR), sem minerais ferromagnesianos, o que o
classifica como um solo de muito baixa fertilidade natural.
Figura 14.167 – A porção inferior desse talude é um solo residual
do Granito Três Córregos (Vale do Ribeira, PR), que contém razoável
proporção de minerais ferromagnesianos, portanto, bem mais fértil
que o solo apresentado na figura anterior.
256
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
Frente aos recursos hídricos e à implantação
de fontes poluidoras
Nas iniciativas para explotação de água subterrânea
e/ou de qualquer forma de uso e ocupação com potencial
poluidor sobre a área de definição desse geossistema, é
importante considerar:
• Asrochasgraníticasapresentambaixapermeabilidade
e baixa porosidade primárias, mas podem apresentar alta
permeabilidade e porosidade secundárias, relacionadas à
existência de falhas e fraturas abertas (Figuras 14.161 e
14.162) que costumam conter em densidades diferencia-
das. Significa que são aqüíferos fissurais (Figura 14.129).
Nesses aqüíferos, o potencial de explotação de água sub-
terrânea é bastante irregular: depende do clima, da exis-
tência e da densidade de falhas e fraturas abertas, de elas
estarem interligadas e de o poço cruzá-las. Por isso, mes-
mo nas regiões chuvosas, um poço pode dar boa vazão e
outro, imediatamente ao lado, ser seco. Dentre os grani-
tos, os tardi- e os pós-tectônicos são os que apresentam
maior potencial de conterem fraturas abertas, principal-
mente nas bordas dos maciços (Figura 14.161).
• Devido ao bom potencial armazenador de água
subterrânea em falhas e fraturas, nas regiões onde chove
bastante durante uma época do ano, os terrenos graníti-
cos, principalmente aqueles de relevo acidentado, costu-
mam conter muitas nascentes de água que mantêm boa
vazão o ano todo. Por isso, são áreas com boa disponibi-
lidade hídrica superficial e importantes para a manuten-
ção da regularidade da vazão dos cursos d’água.
• Quanto à vulnerabilidade à contaminação das águas
subterrâneas desse geossistema, varia de baixa a muito
alta, dependendo da espessura dos solos. Solos residuais
de granitos, por conterem alto teor de argila, são pouco
permeáveis e apresentam boa capacidade de reter e depu-
rar poluentes. Portanto, nos locais em que são profundos
Figura 14.168 – Na região do Vale do Ribeira (PR), terrenos graníticos são
intensamente aproveitados para o plantio de cítricos.
Figura 14.169 – Exemplo de como os poluentes se infiltram em
locais em que os solos graníticos são pouco espessos e as rochas
afloram.
e bem evoluídos, a vulnerabilidade é baixa.
Onde são rasos ou pouco evoluídos e onde as
rochas graníticas afloram, a vulnerabilidade é
muito alta. Os poluentes podem se infiltrar
pelas falhas e fraturas, como também chega-
rem rapidamente até às águas subterrâneas
sem serem depurados (Figura 14.169).
Frente ao potencial turístico
Pelo fato de as rochas graníticas serem
compostas de minerais de moderada a alta
resistência ao intemperismo físico-químico, os
terrenos por elas sustentados geralmente se
destacam por serem os relevos mais monta-
nhosos de uma região, muitos dos quais de
grande beleza paisagística (Figuras 14.170 e
14.171). Também são terrenos onde se en-
contram muitos cursos d’água correndo so-
bre o substrato rochoso ou entre blocos e matacões, for-
mando belas corredeiras, cachoeiras e piscinas naturais
(Figuras 14.172, 14.173 e 14.174). Além disso, o modo
Figura 14.170 – Ao fundo, destaca-se o relevo montanhoso
sustentado pelo Granito Graciosa (região metropolitana
de Curitiba, PR).
257
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.171 – A erosão diferencial dos granitos possibilita que
se formem curiosas e belas esculturas naturais, a exemplo do Pico do
Dedo-de-Deus, na serra dos Órgãos (Guapimirim, Teresópolis, RJ).
Figuras 14.172 e 14.173 – Um rio, ao passar por um terreno granítico,
geralmente forma belas corredeiras, a exemplo desse trecho em que o rio Ribeira
de Iguape passa pelo granito Três Córregos (Vale do Ribeira, PR).
Figura 14.174 ––––– Granito Itaóca (Vale do Ribeira, SP).
Figura 14.175 ––––– Pedra do Elefante (Granito
Piedade, SP).
como se alteram possibilita que se formem bonitas e curi-
osas esculturas naturais (Figuras 14.171 e 14.175).
Frente ao potencial mineral
O magmatismo que deu origem aos diversos tipos de
granitos foi de grande importância mineral para o Brasil,
pois:
• São fontes excepcionais de vários tipos de rocha
ornamental (Figuras 14.176 e 14.177), brita e pedra de
cantaria.
• Os solos de alteração parcial dos granitos são bas-
tante usados como saibro.
• Na região amazônica, há muitas ocorrências de gra-
nitos mineralizados em cassiterita (estanho), columbita-
tantalita e topázio e metais raros (Zr, NB, Ta, Y, ETR).
• Ao magmatismo que deu origem às
rochas graníticas se associaram fluidos
hidrotermais, muito dos quais mineralizados
em vários bens metálicos, especialmente co-
bre e ouro; muitos desses fluidos, por sua vez,
deram origem a pegmatitos, importantes fon-
tes de feldspatos, caulim e quartzo. Também
há pegmatitos mineralizados em mica, berilo,
minerais de lítio, tantalita, columbita, como
em vários tipos de gemas.
258
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
ROCHAS GNAISSE-MIGMATÍTICAS (7)
Tais rochas sustentam grande parte do território bra-
sileiro (Figura 14.178). Diferenciam-se por serem produ-
tos de rochas muito antigas que sofreram os efeitos da
superposição de vários episódios tectônicos sob condi-
ções de elevadas temperaturas e pressões. Por isso, ao
longo de sua história evolutiva, fundiram-se, refundiram-
se, foram penetradas por material magmático mais novo
(Figuras 14.184, 14.185 e 14.186) e sofreram grande
transporte tectônico em estado dúctil (estado subsólido).
Por conseqüência, diferenciam-se por serem formadas
Figuras 14.176 e 14.177 – Lavras de granitos utilizados como rocha ornamental e pedra de cantaria (região metropolitana de Curitiba, PR).
Figura 14.178 ––––– Terrenos sustentados por rochas gnaisse-migmatíticas
(geossistema 7).
por uma mistura fundida de litologias das mais variadas
idades, origens e características físico-químico-texturais
(Figuras 14.179, 14.180 e 14.181). No Brasil, há rochas
gnaisse-migmatíticas que são produtos da fusão total ou
parcial de antigas rochas magmáticas, assim como há
rochas que se derivaram da fusão de antigas seqüências
sedimentares ou vulcanossedimentares. Por tal razão, a
área de definição do geossistema 7 apresenta caracterís-
ticas peculiares em termos de adequabilidades e limita-
ções ao uso e ocupação.
Adequabilidades e limitações
Frente à execução de obras
Como particularidades geotécnicas importantes de-
correntes das características distintivas das rochas gnaisse-
migmatíticas, extensivas a toda a área de defi-
nição desse geossistema, destacam-se:
• São rochas que apresentam grande ani-
sotropia geomecânica e hidráulica lateral e
vertical. A área de definição desse geossiste-
ma se diferencia por serem terrenos em que
as características geotécnicas, tanto do subs-
trato rochoso, como dos solos e relevo, vari-
am e contrastam bastante de região para re-
gião e, na maior parte das vezes, de local para
local (Figuras 14.179, 14.180 e 14.181).
• Geralmente, encontram-se bastante tec-
tonizadas e, por isso, costumam ser portado-
ras de muitas descontinuidades geomecâni-
cas e hidráulicas, relacionadas a planos de fa-
lhas, fraturas, à diferenciação litológica ou de-
formacional das bandas, ou, então, decorren-
tes da existência de bandas com concentra-
ções diferenciadas de minerais micáceos iso-
rientados (biotita). Tais descontinuidades faci-
litam a infiltração de água e fazem com que
das rochas se soltem blocos com facilidade
em taludes de corte (Figura 14.182).
259
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figuras 14.179, 14.180 e 14.181 ––––– Exemplares de rochas gnaisse-migmatíticas. As porções mais escuras são ricas em minerais planares
isorientados, geralmente biotita, e são vestígios de antigas rochas que sofreram fusão. As porções mais claras são mais novas, quartzo-
feldspáticas e se originaram a partir de fluidos graníticos que se formaram durante o processo de fusão. Essa diferença faz com que sejam
materiais que se alteram de forma diferenciada, apresentando características geomecânicas bastante contrastantes um dos outros
(região do Vale do Ribeira, SP).
• São rochas que intemperizam de forma bastante
diferenciada. Por isso, nos solos residuais dessas rochas
e com pedogênese pouco desenvolvida, é possível en-
contrar restos de rochas com os mais variados graus de
alteração. Isso facilita as desestabilizações em taludes de
corte e o aparecimento de grandes processos erosivos
nos locais em que as águas das chuvas se concentram
sobre esses solos (Figuras 14.183, 14.184, 14.185 e
14.186).
• São rochas que podem conter bandas
compostas de minerais que, no início do pro-
cesso de alteração, transformam-se em
argilominerais expansivos – minerais que so-
frem o fenômeno da alternância dos estados
de expansão e contração se expostos à oscila-
ção dos estados úmido e seco. Esse fenôme-
no torna os solos portadores de argilominerais
expansivos bastante erosivos e problemáticos
para obras subterrâneas – com a variação cli-
mática, os solos expansivos trabalham, cau-
sando danos às obras.
• A profundidade do substrato rochoso
dos terrenos gnaisse-migmatíticos costuma ser
bastante irregular, variando em curtas distân-
cias e, por vezes, de local para local, de rasa a
bastante profunda. Mesmo onde os solos são
profundos, é grande a possibilidade de neles
existirem mergulhados e aleatoriamente dis-
tribuídos blocos e matacões de rochas duras
(Figura 14.185), o que pode complicar e en-
Figura 14.182 ––––– Talude de corte da Rodovia Régis Bittencourt (SP), sustentado
por rochas gnáissicas com duas proeminentes superfícies planares que facilitam o
desprendimento de blocos.
carecer bastante a execução de escavações e obras subter-
râneas.
• Rochas gnaisse-migmatíticas se alteram para solos
com alto teor de argila e, por isso, pouco permeáveis,
moderadamente plásticos e de boa capacidade de
compactação. Por outro lado, tornam-se bastante aderen-
tes e pegajosos quando molhados; quando secos, entram
facilmente em suspensão – formam muita poeira.
260
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
tos à formação de enxurradas de alto potencial destruidor
de obras.
• Solos derivados de rochas gnaisse-migmatíticas,
quando bem evoluídos, podem ser colapsíveis, ou seja,
com a infiltração de fluidos sobre tensão sofrem rearranjo
brusco de sua estrutura e perdem a capacidade de susten-
tação, o que implica trincamentos e outros sérios proble-
mas às obras.
Figura 14.184 ––––– Se as águas das chuvas se
concentrarem e escorrerem paralelamente aos planos
de foliação das rochas gnaisse-migmatíticas
alteradas, pode haver a formação de processos
erosivos tão grandes quanto os que se formam nos
solos arenosos, a exemplo desse caso, na região
metropolitana de Curitiba (PR).
• Por serem as rochas gnaisse-migmatíticas bastante
tectonizadas e os solos residuais pouco permeáveis, na
área de definição do geossistema predominam relevos
bastante movimentados (Figuras 14.187 e 14.188), geral-
mente recortados por alta densidade de canais de drena-
gem. Conseqüentemente, são terrenos naturalmente sus-
ceptíveis a movimentos de massa, de alto potencial de
erosão hídrica, com escoamento superficial rápido, sujei-
Figura 14.183 ––––– Focos erosivos induzidos pela
exposição de rochas gnaisse-migmatíticas parcial e
diferentemente alteradas para solos que ainda
preservam a estruturação mineral ou são portadores
de argilominerais expansivos (Rodovia Régis
Bittencourt, região metropolitana de Curitiba, PR).
Figura 14.186 ––––– Deslizamento em talude de corte nos terrenos gnaisse-
migmatíticos, problema bastante freqüente na área de definição desse geossistema
(município de Bocaiúva do Sul, PR).
Figura 14.185 ––––– Solo residual de rochas migmatíticas, com evolução
pedogenética diferenciada e contendo blocos e matacões de rochas duras, é
comum na área de definição desse geossistema. Deve-se evitar sua exposição em
taludes de corte, em caso de edificações, como também tomar cuidados para que
as fundações das obras não se apóiem parcialmente sobre blocos e matacões, pois
estes podem se movimentar e desestabilizar as construções.
261
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
Figura 14.187 ––––– Uma das formas de relevo que
ocorre com freqüência na área de definição desse
geossistema. Nesse caso, trata-se de uma vertente
côncava, feição que amplia bastante os potenciais
erosivos e de movimentos de massa, uma vez que
esta é uma zona onde se concentra a energia das
águas superficiais e subsuperficiais.
Figura 14.188 ––––– Cicatrizes de erosão induzidas pelo desmatamento e
pisoteamento do gado sobre solos residuais de rochas gnaisse-migmatíticas. É um
problema bastante comum nas áreas de pastagens, principalmente onde tais
rochas sustentam relevos acidentados. Focos erosivos como estes são fontes de
alta carga de detritos que assoreiam e extinguem os cursos d’água. Além disso, em
uma área tão declivosa como esta, o gado circula paralelamente às curvas de nível.
Como as curvas são muito próximas uma das outras, a maior parte da superfície se
transforma em caminhos altamente compactados e impermeabilizados. Nesses
caminhos, as águas das chuvas não se infiltram e se concentram, formando
enxurradas de alto potencial erosivo. Uma área como esta deveria ser isolada com
cerca para que a mata se recupere.
Em razão das características retromenci-
onadas, antes de se construir na área de defi-
nição desse geossistema, estudos geotécnicos
detalhados, apoiados em amostragem de
materiais coletados em malha pouco espaça-
da e de várias profundidades, devem ser reali-
zados. Ensaios geotécnicos pontuais têm pou-
ca representatividade lateral e vertical.
Em caso de arruamentos e parcelamento
do solo para fins urbanos, deve-se evitar os modelos qua-
driculados. Os modelos adequados são aqueles com os tra-
çados dos arruamentos concordantes às curvas de nível.
Eles evitam a execução de cortes profundos, a concentra-
ção da energia das águas das chuvas e a eliminação das
camadassuperficiaisdosolo,que,porseremmenoserosivas,
funcionam como protetoras dos horizontes inferiores.
Frente à agricultura
Como particularidades que influenciam bastante o
potencial agrícola desse geossistema, destacam-se que
rochas gnaissicas migmatíticas:
• Alteram-se para solos com elevado teor de argila. O
aspecto positivo é que os solos residuais dessas rochas são
poucopermeáveis,bastanteporosose,porisso,apresentam
boa capacidade de reter elementos. Significa que, quando
adubados, retêm e fixam bem os nutrientes, assimilam bem
amatériaorgânica,apresentamboacapacidadedearmaze-
nar água e, por isso, mantêm boa disponibilidade de água
para as plantas por longo tempo dos períodos secos. Por
outro lado, solos com altos teores de argila são altamente
susceptíveis à compactação e à impermeabilização por car-
gaselevadascontínuas(Figura14.189);quandosecammui-
to, tornam-se bastante duros e, por serem pouco permeá-
veis,apresentamrestriçõesaousodeirrigaçãoporaspersão.
• Alteram-se para solos com erosividade que, depen-
dendo da evolução pedogenética e da forma com que os
solos são manejados, varia de baixa a alta. A erosividade
Figura 14.189 ––––– Cicatrizes de erosão induzidas pelo uso contínuo
de maquinários pesados sobre solos argilosos residuais de
migmatitos (região metropolitana de Curitiba, PR).
natural é baixa nos solos bem evoluídos e muito alta nos
pouco evoluídos; independentemente da evolução
pedogenética, tornam-se bastante erosivos se forem con-
tinuamente mecanizados com maquinários pesados (Fi-
gura 14.189) ou pisoteados por gado. Nessas situações,
compactam-se, impermeabilizam-se e podem erodir tan-
to quanto um solo arenoso.
• Alteram-se de forma bastante diferenciada e, por
isso, os solos residuais, principalmente os pouco evoluí-
dos, podem apresentar muitas diferenciações locais de ca-
racterísticas físico-químicas (Figura 14.190) e, conseqüen-
temente, de qualidade agrícola.
262
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
• A mineralogia das rochas gnaisse-migmatíticas é
rica em minerais que liberam alumínio durante o intem-
perismo, razão pela qual os solos residuais, principalmen-
te quando são pedogeneticamente bem evoluídos, podem
conter excesso desse elemento tóxico às plantas.
As características retromencionadas permitem con-
cluir que a influência das rochas gnaisse-migmatíticas no
potencial agrícola desse geossistema é mais
positiva que negativa. Portanto, desde que o
relevo seja adequado e os solos bem maneja-
dos, são terrenos que podem ser bem apro-
veitados para a agricultura.
Frente aos recursos hídricos e à
implantação de fontes poluidoras
Nas iniciativas para explotação de água
subterrânea e superficial e para locação de
fontes com potencial poluidor sobre esse
geossistema, deve-se considerar que:
• Nas rochas gnaisse-migmatíticas, as
águas das chuvas se infiltram e se armaze-
nam em falhas, fraturas e outras descontinui-
dades estruturais. São, portanto, aqüíferos fis-
surais (Figura 14.129). Nesse tipo de aqüífe-
ro, o potencial de explotação de águas subter-
râneas é bastante irregular, dependendo das
condições climáticas da região, da existência
e da densidade das falhas e fraturas abertas e
Figura 14.190 ––––– Solo residual de um migmatito paraderivado, ou seja, produto
da fusão parcial de uma seqüência vulcanossedimentar. As diferentes colorações
são resultantes das variações composicionais dos materiais que compõem esse tipo
de migmatito. As características fisico-químicas são bem diferentes para cada um
desses materiais, o que faz com que a qualidade agrícola dos solos varie bastante
de local para local, de muito boa a muito ruim. As bandas de cor avermelhada são
associadas a rochas ricas em minerais ferromagnesianos que liberam vários
nutrientes; as esbranquiçadas, a rochas graníticas, pobres em nutrientes; as
amareladas, a rochas calciossilicáticas, que liberam bastante cálcio.
de elas estarem interligadas. Sendo assim,
mesmo nas regiões chuvosas, um poço pode
apresentar excelente vazão em um local e um
outro, imediatamente ao lado, ser seco. É im-
portante salientar que o material de alteração
parcial das rochas gnaisse-migmatíticas pode
se constituir em um bom aqüífero superficial,
pois apresenta bom potencial armazenador e
circulador de água.
• São rochas de baixa permeabilidade pri-
mária, que se alteram para solos com alto
teor de argila, portanto, também pouco per-
meáveis. Significa que a área de definição
desse geossistema é um ambiente natural-
mente pouco permeável. Em razão disso, pre-
dominam terrenos bastante movimentados,
geralmente recortados por alta densidade de
canais de drenagem (Figura 14.191) e com
o escoamento superficial rápido. Significa
que, quando chove, pouca água se infiltra
no subsolo. A maior parte escorre rapidamen-
te para os canais de drenagem, formando en-
xurradas de alto potencial erosivo. São, por-
tanto, ambientes desfavoráveis a que as águas
subterrâneas sejam recarregadas. Por isso,
contêm poucas nascentes e a vazão dos cur-
sos de água sofre grandes e bruscas oscila-
ções com as mudanças climáticas – quando chove, sobe
bastante e rapidamente; quando a chuva cessa, abaixa
também bastante e muito rapidamente. Em razão disso,
são terrenos com os quais se deve ter uma preocupação
especial, para não impermeabilizá-los e não desmatá-los
excessivamente – a cobertura vegetal tem um papel im-
portantíssimo para aumentar o tempo de retenção das
Figura 14.191 ––––– Em razão da baixa permeabilidade primária das rochas gnaisse-
migmatíticas, dos solos residuais e intenso tectonismo a que foram submetidas, a
maior parte dos terrenos por elas sustentados se caracteriza pelo relevo bastante
movimentado, geralmente montanhoso, a exemplo dessa paisagem do Vale do
Ribeira (SP). Mesmo as áreas de relevo suavizado, geralmente, são portadoras de
alta densidade de canais de drenagem.
263
GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO
Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz
águas das chuvas, para melhorar o potencial
de infiltração e minimizar os problemas de-
correntes do escoamento superficial rápido.
• Quanto à vulnerabilidade à contami-
nação das águas subterrâneas, varia de baixa
a alta. Nas áreas onde os solos são profun-
dos, o risco de as águas subterrâneas serem
contaminadas por fontes superficiais é bai-
xo, uma vez que as rochas gnaisse-migmatí-
ticas se alteram para solos com alto teor de
argila e, por isso, não são muito permeáveis,
apresentando boa capacidade de reter e de-
purar poluentes. Já onde os solos são rasos e
onde as rochas afloram, o risco de contami-
nação é alto. Pelas falhas e fraturas que tais
rochas costumam conter em alta densidade,
poluentes podem se infiltrar e alcançar rapi-
damente as águas subterrâneas sem serem
depurados.
Frente ao potencial turístico
Pelo fato de as rochas gnaisse-migmatí-
ticas se alterarem de forma bastante diferen-
ciada e em razão do intenso tectonismo a que
foram submetidas, nesse geossistema ocorrem
os mais variados tipos de paisagens, muitas
das quais de grande beleza cênica, a exemplo
de toda a faixa costeira brasileira, onde se en-
contram espetaculares formas de relevo, bem
como muitos rios correndo sobre o substrato
rochoso formando belas corredeiras, cachoei-
ras e piscinas naturais (Figuras 14.192 e
14.193).
Frente aos recursos minerais
No que se refere ao potencial metaloge-
nético, os processos de fusão a que foram
submetidas e os processos erosivos que atua-
ram ao longo da história evolutiva das rochas
gnaisse-migmatíticas atuaram mais no senti-
do de dispersar do que concentrar elementos
metálicos. Portanto, são terrenos de baixo
potencial metalogenético.
Quanto ao potencial para não-metálicos,
dentre as rochas gnaisse-migmatíticas existem
tipos com qualidades físico-químicas favorá-
veis à exploração para agregados, pedra de
cantaria e rocha ornamental.
BIBLIOGRAFIA
BIZZI, L. A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R. M. et al.
Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil. Texto,
mapas e SIG. Brasília: CPRM, 2003. 674 p. il. DVD anexo.
Figura 14.193 ––––– Um rio encachoeirado, associado aos terrenos gnaisse-
migmatíticos do Vale do Ribeira (SP).
Figura 14.192 ––––– A maior parte da magnífica paisagem do Rio de Janeiro e do
belo relevo montanhoso da faixa costeira do Brasil são sustentados por rochas
gnaisse-migmatíticas. No Rio de Janeiro, morros como os do Pão de Açúcar e do
Corcovado, dentre outros, são sustentados por gnaisses paraderivados, ou seja,
resultantes da fusão de seqüências sedimentares ou vulcanossedimentares muito
antigas, que sofreram fusão e se transformaram em magmas, que se cristalizaram
e se transformaram em gnaisse. Por serem os gnaisses mais resistentes ao
intemperismo do que as rochas circunvizinhas, estes se encontram mais
preservados. A diferença de resistência ao intemperismo entre essas rochas
possibilitou a formação desse belo cenário.
CPRM. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000.
Legenda expandida. Brasília: CPRM/Serviço Geológico do
Brasil, 2006. 68 p. CD-ROM.
LACERDA FILHO, J. V. de; BRITO, R. S. C. de; SILVA, M.
da G. da; OLIVEIRA, C. C. de MORETON, L. C.; MARTINS,
E. G.; LOPES, R. da C.; LIMA, T. M.; LARIZZATTI, J. H. de;
264
GEODIVERSIDADE DO BRASIL
VALENTE, C. R. Geologia e recursos minerais do estado
do Mato Grosso do Sul. 1:1.000.000. Campo Grande:
CPRM/SGB, 2006.
SCHOBBENHAUS, C.; GONÇALVES, J. H.; SANTOS, J. O.
S. et al. Carta geológica do Brasil ao milionésimo: siste-
ma de informações geográficas (SIG) e 46 folhas na escala
1:1.000.000. Brasília: CPRM/SGB, 2004. 41 CD-ROMs.
TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI,
F. (Orgs.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Tex-
tos, 2000. 557 p.
THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G.;
CANTARINO, S. da C. Projeto Curitiba: informações bási-
cas sobre o meio físico – subsídios para o planejamento
territorial, folha Curitiba 1:100.000. Curitiba: CPRM/SGB,
1994. 109 p. Convênio CPRM/COMEC.
THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G.;
CANTARINO, S. da C. Projeto Curitiba: atlas geoambiental
da região metropolitana de Curitiba – subsídios para o
ANTONIO THEODOROVICZ
Geólogo formado (1977) pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialização em Geologia Ambiental (CPRM/
1990). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) –
Superintendência Regional de Porto Velho (SUREG/PV) em 1978. Desde 1982 atua na Superintendência Regional de São
Paulo (CPRM-SUREG/SP). Executou e chefiou vários projetos de mapeamento geológico, prospecção mineral e metalogenia
em diversas escalas nas regiões Amazônica, Sul e Sudeste. Desde 1990 atua como supervisor/executor de vários estudos
geoambientais, para os quais concebeu uma metodologia, também adaptada e aplicada na geração dos mapas
Geodiversidade do Brasil e estaduais. Atualmente, também é coordenador regional do Projeto Geoparques da CPRM/
SGB, ministrando treinamentos de campo para caracterização do meio físico para fins de planejamento e gestão
ambiental, para equipes da CPRM/SGB e de países da América do Sul.
ANGELA MARIA DE GODOY THEODOROVICZ
Geóloga formada (1977) pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialização em Geologia Ambiental (CPRM/
1990). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) –
Superintendência Regional de São Paulo (SUREG/SP) em 1978. Atuou em diversos projetos de Mapeamento Geológico
Básico, Pesquisa Mineral para Não-Metálicos, Metalogenia e Planejamento Minerário. De 1980 a 1981, trabalhou na
Superintendência Regional de Porto Velho (CPRM-SUREG/PV), em projetos de Metalogenia e Prospecção de Carvão.
Desde 1990 atua na área de Estudo do Meio Físico para o Planejamento do Uso e Ocupação do Solo, como executora e
chefe de projetos na SUREG/SP. A partir de 2006 passou a integrar a equipe do Projeto Geodiversidade do Brasil.
planejamento territorial. 1:150.000. São Paulo: CPRM/SGB,
1999. 48 p.
THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G. Pro-
jeto Mogi-Guaçu-Pardo: zoneamento geoambiental do
médio Pardo – subsídios para o planejamento territorial e
gestão ambiental. 1:100.000. São Paulo: CPRM/SGB,
1999. 69 p. Convênio CPRM/SEMA-SP.
THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G;
CANTARINO, S. da C. Atlas geoambiental das bacias
hidrográficas dos rios Mogi-Guaçu e Pardo-SP: subsídios
para o planejamento territorial e gestão ambiental.
1:350.000. São Paulo: CPRM/SGB, 2002. CD-ROM. Con-
vênio CPRM/SEMA-SP.
THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G. Atlas
geoambiental: subsídios ao planejamento territorial e à
gestão ambiental da bacia hidrográfica do rio Ribeira de
Iguape. 1:250.000. São Paulo: CPRM/SGB, 2005, 91 p.
Convênio CPRM/UNICAMP/IAL/FAPESP.
DE VOLTA PARA O FUTURO:
UMA VIAGEM PELO TEMPO
GEOLÓGICO
Sergio Kleinfelder Rodriguez (sergiokr@sp.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
ANEXO
No CD-ROM em anexo, é recontada, em 74 painéis, a história da origem e
evolução do planeta Terra, dos primórdios aos dias de hoje.
É uma viagem com muitos inícios e fins: a origem da vida e as várias extinções
que se sucederam; a formação dos continentes e sua fragmentação, formando
novos continentes; os minerais e seus usos pelo homem. Temas antigos que hoje
parecem novos – dinossauros, petróleo, terremotos, efeito estufa – são apresen-
tados compondo a narrativa evolutiva de nosso planeta.
O surgimento das espécies. Os mamíferos, sua biodiversidade evolutiva e o apa-
recimento do homem quase no final dessa saga planetária.
Apertem os cintos e boa viagem!
SERGIO KLEINFELDER RODRIGUEZ
Graduado em Geologia (1983) pela Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (UNESP). Mestrado (1993) e doutorado (1998) em
Geologia Sedimentar, com a tese “Geologia Urbana da Região
Metropolitana de São Paulo - SP”, pela Universidade de São Paulo (USP).
Em 1994, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/
Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), na Superintendência Regional
de São Paulo (SUREG/SP). Desde 1996, é Gerente de Relações Institucionais
e Desenvolvimento em São Paulo. Autor das cartilhas “Nossa Terra, Nossa
Casa” e “Água é Vida”, bem como do capítulo “São Paulo de Milhões e Milhões de Anos:
Evolução Geológica de São Paulo”, do Atlas Ambiental do Município de São Paulo, dentre outras
publicações.
Geodiversidade brasil

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Geodiversidade brasil

  • 3. GEODIVERSIDADE DO BRASIL Conhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro
  • 5. EDITOR Cassio Roberto da Silva Geólogo, MSc, Departamento de Gestão Territorial CPRM – Serviço Geológico do Brasil Rio de Janeiro, Brasil 2008 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Conhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro
  • 6. REVISORES Cassio Roberto da Silva Marcelo Eduardo Dantas Regina Célia Gimenez Armesto Sabino Loguercio Paulo César de Azevedo Branco PROJETO GRÁFICO / EDITORAÇÃO CPRM/SGB – DEPAT / DIEDIG Agmar Alves Lopes Andréia Amado Continentino José Luiz Coelho Laura Maria Rigoni Dias Pedro da Silva Valter Alvarenga Barradas Adriano Lopes Mendes (estagiário) Juliana Colussi (estagiária) REVISORA LINGÜÍSTICA Sueli Cardoso de Araújo Este produto pode ser encontrado em www.cprm.gov.br e [email protected] Silva, Cassio Roberto da. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro / editor: Cassio Roberto da Silva. Rio de Janeiro: CPRM, 2008. 264 p.: il.: 28 cm. 1.Geodiversidade – Brasil. 2.Meio ambiente – Brasil. 3.Planejamento territorial – Brasil. 4.Geologia ambiental – Brasil. I.Título. CDD 551.0981 MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA MINISTRO DE ESTADO Edison Lobão SECRETÁRIO EXECUTIVO Márcio Pereira Zimmermann SECRETÁRIO DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL Cláudio Scliar COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS / SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL (CPRM/SGB) DIRETORIA EXECUTIVA Diretor-Presidente Agamenon Sergio Lucas Dantas Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial José Ribeiro Mendes Diretor de Geologia e Recursos Minerais Manoel Barretto da Rocha Neto Diretor de Relações Institucionais e Desenvolvimento Fernando Pereira de Carvalho Diretor de Administração e Finanças Eduardo Santa Helena da Silva
  • 7. APRESENTAÇÃO O Ministério de Minas e Energia (MME), por intermédio da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, tem a satisfação de entregar à sociedade brasileira o livro GEODIVERSIDADE DO BRASIL: Conhecer o Passado, para Entender o Presente e Prever o Futuro. Com a elaboração desta cole- tânea, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Bra- sil (CPRM/SGB) objetiva oferecer aos diversos segmentos da sociedade uma tra- dução do conhecimento geológico-científico, com vistas à sua aplicação ao uso adequado do território. Mais do que um lançamento, este produto representa passo fundamental no esforço para a consolidação definitiva, tanto internamente, quanto no seio da sociedade, do conceito de geodiversidade, que veio para estabelecer protoco- lo facilitador de comunicação com os vários setores de governo, mediante abor- dagem integrada do meio físico terrestre, considerando-se aspectos dos recursos existentes, como uma contribuição a ser levada em conta no planejamento do ordenamento territorial sustentável. Em termos de topologia das informações e comunicação, buscou-se utilizar uma lin- guagem ao mesmo tempo precisa (porém sem se aprofundar em demasia nos conceitos técnico-científicos) e de compreensão universal, entendendo-se que o público-alvo a que esta obra se destina é muito variado. Em suma, o objetivo é popularizar a geodiversidade, mostrando suas múltiplas aplicações em vários setores sociais, ambientais e econômicos. As abordagens, nos 14 capítulos subseqüentes, vão desde a origem e a evolução do planeta Terra até os dias atuais, juntamente com a evolução, aparecimento e extinção de espécies ao longo do tempo geológico, utilizando-se os estudos paleontológicos. Atenção especial é dada à água, substância vital para a vida, e às imensas riquezas minerais, tanto no continente, quanto no fundo marinho. Mostra-se, também, a imensa fragilidade do meio físico, em relação às áreas costeiras, as características e aplicações dos solos tropicais, o potencial do patrimônio geológico para o geoturismo e a geoconservação. São apresentados, de forma sucinta, os riscos relativos ao deslizamento de encostas, inundações, tremores de terra e desertificação (arenização), o uso imprescindível da geodiversidade para entendermos melhor as mudanças climáticas globais, empregando-se abordagem humanística e a aplicação desses conhecimentos em várias áreas e setores produtivos. No último capítulo, apresentam-se, de forma sintética, os grandes geossistemas for- madores do território nacional, suas limitações e potencialidades, considerando-se a cons- tituição litológica da supra e da infra-estrutura geológica. São abordadas, também, as ca- racterísticas geotécnicas, as coberturas de solos, a migração, acumulação e disponibilidade de recursos hídricos, as vulnerabilidades e capacidades de suportes à implantação das diver- sas atividades antrópicas dependentes dos fatores geológicos e a disponibilidade de recur- sos minerais essenciais para o desenvolvimento econômico-social do país. No final do livro é apresentado em CD-ROM em 74 painéis, a história da origem e evolução do planeta Terra, dos primórdios aos dias de hoje.
  • 8. Temos certeza de que este livro será extremamente utilizado por todos que entendem o conhecimento geológico para além de sua reconhecida dimensão econômica, isto é, em suas dimensões social e ambiental, sejam eles estudantes, professores, profissionais das mais diversas áreas, empresas e, muito especialmente, gestores públicos. Por meio da geodiversidade, facilita-se, enormemente, a inserção da geologia nas polí- ticas públicas governamentais como fator de melhoria da qualidade de vida das pessoas. Rio de Janeiro, dezembro de 2008 Agamenon Sergio Lucas Dantas Diretor-Presidente CPRM/Serviço Geológico do Brasil
  • 9. PREFÁCIO Ao subtítulo do presente livro – Conhecer o Passado, para Entender o Presente e Prever o Futuro –, poderíamos acrescentar: “... da Humanidade”, dada a importância que o conhecimento da geodiversidade vem ganhando nas últimas décadas. As intervenções inadequadas no meio físico têm acarretado sérios problemas, tanto para a nossa qualidade de vida, como para o meio ambiente. Somos totalmente dependentes das características geológicas dos ambientes naturais, ou seja, da geodiversidade, na medida em que dela extraímos as matérias-primas vitais (minerais, água, alimentos etc.) para a nossa sobrevivência e desenvolvimento social. É necessário, assim, conhecer e entender todos os seus significados, já que, uma vez modificados, removidos ou destruídos, quase sempre os aspectos da geodiversidade sofrerão mudanças irreversíveis. Devido à íntima relação entre os componentes do meio físico – geodiversidade –, ao fornecer suporte ao desenvolvimento dos componentes bióticos (biodiversidade), deve-se encarar de maneira sistêmica as relações de estabilidade entre esses dois grandes componentes ambientais. Nos últimos tempos, veio a se ter compreensão de que as relações mantidas entre o homem (meio social) e a natureza, em seus aspectos culturais e econômicos, devem estar inseridas nas análises ambientais. Entende-se que, ao efetuarmos intervenções no território, devemos adotar uma visão a mais abrangente possível, integrando a geodiversidade (meio físico), a biodiversidade, as questões sociais, culturais e econômicas. Essas preocupações ocorrem em nível mundial. Nesse sentido, a União Internacional de Ciências Geológicas (International Union of Geological Science – IUGS), a qual congrega centenas de serviços geológicos e milhares de profissionais das Ciências da Terra, juntamente com a UNESCO-ONU, estabeleceu 2008 como o Ano Internacional do Planeta Terra (International Year Earth Planet). As atividades de comemorações iniciaram em janeiro de 2007 e se estenderão até dezembro de 2009, tendo como objetivo principal a contribuição das Ciências da Terra na busca do desenvolvimento sustentável. Assim, vislumbra-se que a geodiversidade terá um papel fundamental no mundo, ao atuar na prevenção de desastres naturais, mudanças climáticas, qualidade alimentar e disponibilidade de água potável (monitoramento geoquímico), fornecimento de energia tradicional e alternativa, bens minerais a custos menores, constituindo-se, ainda, em instrumento indispensável para a definição e implantação de políticas públicas para os governos federal, estaduais e municipais. Rio de Janeiro, dezembro de 2008 José Ribeiro Mendes Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial CPRM/Serviço Geológico do Brasil
  • 11. 1. COMEÇO DE TUDO ............................................................................ 11 Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica Barreto Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo Eduardo Dantas 2. EVOLUÇÃO DA VIDA ......................................................................... 21 Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, , Norma Maria da Costa Cruz 3. ORIGEM DAS PAISAGENS .................................................................. 33 Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy 4. ÁGUA É VIDA .................................................................................... 57 Frederico Cláudio Peixinho, Fernando A. C. Feitosa 5. RECURSOS MINERAIS DO MAR.......................................................... 65 Luiz Roberto Silva Martins, Kaiser Gonçalves de Souza 6. REGIÕES COSTEIRAS ......................................................................... 89 Ricardo de Lima Brandão 7. RIQUEZAS MINERAIS ......................................................................... 99 Vitório Orlandi Filho, Valter José Marques, Magda Chambriard, Kátia da Silva Duarte, Glória M. dos S. Marins, Cintia Itokazu Coutinho, Luciene Ferreira Pedrosa, Marianna Vieira Marques Vargas, Aramis J. Pereira Gomes, Paulo Roberto Cruz 8. SOLOS TROPICAIS ........................................................................... 121 Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira 9. RISCOS GEOLÓGICOS...................................................................... 135 Pedro A. dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide Mansini Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda 10. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL ................... 147 Marcos Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina 11. MUDANÇAS CLIMÁTICAS .............................................................. 163 Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo 12. ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE .................................. 175 Suely Serfaty-Marques 13. APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE.......................................................................... 181 Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato 14. GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO ......................................................................... 203 Antonio Theodorovicz, Ângela Maria de Godoy Theodorovicz ANEXO – DE VOLTA PARA O FUTURO: UMA VIAGEM PELO TEMPO GEOLÓGICO (CD-ROM) ........................... 263 Sergio Kleinfelder Rodriguez SUMÁRIO
  • 13. 11 COMEÇO DE TUDO Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas 1 COMEÇO DE TUDO Cassio Roberto da Silva ([email protected]) Maria Angélica Barreto Ramos ([email protected]) Augusto José Pedreira ([email protected]) Marcelo Eduardo Dantas ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Geodiversidade e Origem da Terra ............................................. 12 Meio Ambiente ........................................................................... 14 Origem, Processos e Evolução da Geodiversidade no Território Brasileiro ................................................................ 15 Bibliografia ................................................................................. 19
  • 14. 12 GEODIVERSIDADE DO BRASIL GEODIVERSIDADE E ORIGEM DA TERRA O conceito de geodiversidade é relativamente novo. Sua utilização se inicia a partir dos anos de 1990, consoli- dando-se ao longo dos últimos anos dessa década. Na lite- raturainternacional,ageodiversidadetemsidoaplicadacom maior ênfase aos estudos de geoconservação. Nesse senti- do, destacam-se os estudos destinados à preservação do patrimônio natural, tais como monumentos geológicos, paisagens naturais, sítios paleontológicos etc. Eberhard(1997)introduzoconceitodegeodiversidade comesseviés,definindo-ocomo“adiversidadenaturalentre aspectos geológicos, do relevo e dos solos”. Cada cenário da diversidade natural (ou paisagem natural) estaria em constante dinâmica por meio da atuação de processos de natureza geológica, biológica, hidrológica e atmosférica. Gray (2004) concebe uma definição bastante similar; toda- via, estende sua aplicação aos estudos de planejamento territorial,aindaquecomênfasedestinadaàgeoconservação. Stanley (2001) já apresenta uma concepção mais ampla para o termo “geodiversidade”, em que as paisa- gens naturais, entendidas como a variedade de ambientes e processos geológicos, estariam relacionadas a seu povo e a sua cultura. Desse modo, o autor estabelece uma interação entre a diversidade natural dos terrenos (com- preendida como uma combinação de rochas, minerais, relevo e solos) e a sociedade, em uma aproximação com o clássico conceito lablacheano de “gênero de vida”. No Brasil, o conceito de geodiversidade é desenvolvi- do praticamente de forma simultânea a outros países, porém, ressaltando-se, aqui, um caráter mais aplicado ao planejamento territorial, ainda que os estudos voltados para a geoconservação não sejam desconsiderados. Xavier da Silva e Carvalho Filho (2001) definem geodiversidade a partir da “variabilidade das características ambientais de uma determinada área geográfica”, cabendo ao pesquisa- dor, com base em um estudo sistemático de enorme mas- sa de dados ambientais disponíveis em base de dados georreferenciada, a seleção das variáveis que melhor de- terminam a geodiversidade em cada local. Veiga (1999), por sua vez, enfatiza o estudo das águas superficiais e subterrâneas nos estudos de geodiversidade. Para o autor, a geodiversidade “expressa as particularida- des do meio físico, compreendendo as rochas, o relevo, o clima, os solos e as águas, subterrâneas e superficiais, e condiciona a morfologia da paisagem e a diversidade bio- lógica e cultural”. O estudo da geodiversidade é, em sua opinião,umaferramentaimprescindíveldegestãoambiental e norteador das atividades econômicas. Com base nessas proposições, a CPRM (2006) define geodiversidade como: “O estudo da natureza abiótica (meio físico) consti- tuída por uma variedade de ambientes, composição, fe- nômenos e processos geológicos que dão origem às pai- sagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvol- vimento da vida na Terra, tendo como valores intrínse- cos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o educativo e o turístico.“ A biodiversidade está assentada sobre a geodiversida- de e, por conseguinte, é dependente direta desta, pois as rochas, quando intemperizadas, juntamente com o relevo e clima, contribuem para a formação dos solos, disponi- bilizando, assim, nutrientes e micronutrientes, os quais são absorvidos pelas plantas, sustentando e desenvolven- do a vida no planeta Terra. Em síntese, pode-se considerar que o conceito de geodiversidade abrange a porção abiótica do geossistema (o qual é constituído pelo tripé que envolve a análise inte- grada de fatores abióticos, bióticos e antrópicos). Esse reducionismo permite, entretanto, ressaltar os fenômenos geológicos em estudos integrados de gestão ambiental e planejamento territorial. A Terra é um sistema vivo que abriga milhões de orga- nismos, incluindo os humanos, e apresenta delicado equilí- brio para manter a vida. Como a geologia é a ciência que estuda a Terra – origem, composição, evolução e funciona- mento–,oconhecimentodaíadvindopoderácontribuirpara desenvolver e preservar os habitats que o planeta abriga. A origem do universo, assim como a do planeta Terra, remonta a bilhões de anos. Atualmente, segundo Press et al. (2006), a explicação científica mais aceita é a teoria da GrandeExplosão(“BigBang”),aqualconsideraqueouniver- so começou entre 13 e 14 bilhões de anos atrás, a partir de uma “explosão” cósmica. Os astrônomos entendem que, a partir desse evento, o universo expandiu-se e dividiu-se para formar as galáxias e as estrelas. Os geólogos ainda analisam os últimos 4,5 bilhões de anos dessa vasta expansão, um tempo durante o qual nosso sistema solar, estrela que nós chamamos de Sol, e os planetas que em torno dela orbitam, formaram-se e evoluíram. Os geólogos estudam a origem do sistema solar para entender a formação da Terra. Embora a Terra tenha se esfriado após um período in- candescente, ela continua um planeta inquieto, mudando continuamente por meio das atividades geológicas, tais como terremotos, vulcões e glaciações. Essas atividades são governadas por dois mecanismos térmicos: um interno e outro externo. Mecanismos como, por exemplo, o motor a gasolina de um automóvel, que transforma calor em movi- mento mecânico ou trabalho. O mecanismo interno da Ter- ra é governado pela energia térmica aprisionada durante a origem cataclísmica do planeta e gerada pela radioativida- de em seus níveis mais profundos. O calor interior controla os movimentos no manto e no núcleo, suprindo energia para fundir rochas, mover continentes e soerguer monta- nhas. O mecanismo externo da Terra é controlado pela ener- gia solar (calor da superfície terrestre proveniente do Sol). O calor do Sol energiza a atmosfera e os oceanos, sendo res- ponsável pelo clima e condições meteorológicas. Chuva, vento e gelo erodem montanhas e modelam a paisagem, sendo que esse relevo da superfície da Terra é capaz de provocar mudanças climáticas (Figura 1.1).
  • 15. 13 COMEÇO DE TUDO Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas A TERRA É UM SISTEMA ABERTO QUE TROCA ENERGIA E MASSA COM O SEU ENTORNO O SISTEMA TERRA É CONSTITUÍDO POR TODAS AS PARTES DE NOSSO PLANETA E SUAS INTERAÇÕES Figura 1.1 ––––– Principais componentes e subsistemas do sistema Terrra. As interações entre os componentes são governadas pelas energias do Sol e do interior do planeta e organizadas em três geossistemas globais: os sistemas do clima, das placas tectônicas e do geodínamo (modificado de Press et al., 2006).
  • 16. 14 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Todas as partes do planeta e suas interações constitu- em o Sistema Terra. Embora os cientistas que estudam a Terra (ou geocientistas) pensassem, já há algum tempo, em termos de sistemas naturais, foi apenas nas últimas déca- das do século XX que eles passaram a dispor de equipa- mentos adequados para investigar como o Sistema Terra realmente funciona. Dentre os principais avanços, estão as redes de instrumentos e satélites orbitais de coleta de infor- mações em escala global e o uso de computadores com capacidade suficiente para calcular a massa e a energia transferidas dentro do Sistema Terra (PRESS et al., 2006). Os principais componentes do Sistema Terra são: (i) internos (energizados pelo calor interno da Terra): litosfera, astenosfera, manto inferior, núcleo externo e núcleo inter- no; (ii) externos (energizados pela energia solar): atmosfe- ra, hidrosfera e biosfera. Embora pensemos a Terra como sendo um único sis- tema, é um desafio estudá-la por inteiro, de uma só vez. Ao invés disso, se focarmos nossa atenção em partes do sistema, estaremos avançando em seu entendimento. Por exemplo, nas discussões sobre mudanças climáticas re- centes, consideram-se primeiramente as interações entre atmosfera, hidrosfera e biosfera, as quais são controladas pela energia solar. A abordagem sobre a formação dos continentes focaliza as interações entre a crosta e as por- ções mais profundas do manto, que são controladas pela energia interna da Terra. Os subsistemas específicos que encerram elementos característicos da dinâmica terrestre são denominados geossistemas (PRESS et al., 2006). O Sistema Terra pode ser pensado como uma coleção desses geossistemas aber- tos e interativos (que, freqüentemente, se sobrepõem). Os geossistemas que operam em escala global são: clima, placas tectônicas e geodínamo (esse último é responsável pelo campo magnético terrestre) (Figura 1.1). A Terra é quimicamente zoneada: sua crosta, manto e núcleo são camadas quimicamente distintas que se se- gregaram desde a origem do planeta. A Terra é também zoneada pela reologia (dobra, falha, fratura, cisalhamento), ou seja, pelos diferentes comportamentos dos materiais ao resistir à deformação. Por sua vez, a deformação dos materiais depende de sua composição química (tijolos são frágeis; barras de sabão, dúcteis) e da temperatura (cera fria é frágil; cera quente, dúctil). De certa forma, a parte externa da Terra sólida comporta-se como uma bola de cera quente. O resfriamento da superfície torna frágil a casca mais externa ou litosfera (do grego lithos ou ‘pe- dra’), a qual envolve uma quente e dúctil astenosfera (do grego asthéneia ou ‘falta de vigor’). A litosfera inclui a crosta terrestre e o topo do manto até uma profundidade média de cerca de 100 km. Quando submetida a uma força (compressão), a litosfera tende a se comportar como uma casca rígida e frágil, enquanto a astesnofera sotoposta flui como um sólido moldável ou dúctil (PRESS et al., 2006). A figura 1.2 apresenta, de forma estilizada, o “motor” interno do planeta Terra. De acordo com a notável teoria da tectônica de pla- cas, a litosfera não é uma casca contínua; ela é composta por 12 grandes “placas” que se movem sobre a superfície terrestre a taxas de alguns centímetros por ano. O movi- mento das placas é a manifestação superficial da convecção do manto. Controlado pelo calor interno da Terra, o mate- rial quente do manto sobe onde as placas se separam, começando, assim, a endurecer a litosfera. À medida que se move para longe desse limite divergente, a litosfera esfria e se torna mais rígida. Porém, ela pode, eventual- mente, afundar na astenosfera e arrastar material de volta para o manto, nos bordos onde as placas convergem, em um processo contínuo de criação e destruição. MEIO AMBIENTE Segundo Press et al. (2006), o habitat humano é uma delgada interface entre a Terra e o céu, onde grandes forças interagemparamoldarafacedoplaneta.Asforçastectônicas que atuam no interior da litosfera, controladas pelo calor interno das profundezas, geram terremotos, erupções vul- cânicas e o soerguimento de montanhas. As forças meteorológicas dentro da atmosfera e da hidrosfera, con- troladas pelo calor do Sol, produzem tempestades, inunda- ções, geleiras e outros agentes de erosão. As interações entre os geossistemas globais da tectônica de placas e do clima mantêm um equilibrado ambiente na superfície ter- restre, onde a sociedade humana pode prosperar e crescer. Na verdade, nossos números e atividades estão se multiplicando a taxas fenomenais. De 1930 a 2000, a população mundial cresceu 300% ––––– de dois para seis bi- lhões de habitantes. Nos próximos 30 anos, estima-se que esse total exceda a oito bilhões. Entretanto, a energia total utilizada aumentou em 1.000% durante os últimos 70 anos e está, agora, subindo duas vezes mais rápido que a taxa de crescimento da população. Ao longo de sua história, o homem tem modificado o meio ambiente por meio de desmatamento, agricultura e outros tipos de uso do solo. Entretanto, os efeitos des- sas transformações nos tempos antigos eram, comumente, restritos ao habitat local ou regional. Hoje, a sociedade afeta o meio ambiente em uma escala inteiramente nova: tais atividades acarretam conseqüências globais. A mag- nitude das atuais atividades humanas em relação aos sis- temas das placas tectônicas e do clima, que governam a superfície terrestre, é ilustrada por alguns dados estatísti- cos, segundo Press et al. (2006): • Os reservatórios construídos pelo homem retêm cer- ca de 30% dos sedimentos transportados pelos rios. • Na maioria dos países desenvolvidos, obras de enge- nharia civil removem maior volume de solos e rocha a cada ano do que todos os processos naturais de erosão combinados. • Nos 50 anos após a invenção da refrigeração com gás fréon, clorofluorcarbonetos fabricados pelo homem vazaram de refrigeradores e de aparelhos condicionadores
  • 17. 15 COMEÇO DE TUDO Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas de ar para a estratosfera, em quantidade suficiente para danificar a camada de ozônio que protege a superfície terrestre. • Desde o advento da Revolução Industrial, o desmata- mento e a queima de combustíveis fósseis aumentaram a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera em mais de 30%. O dióxido de carbono atmosférico está aumen- tando a uma taxa sem precedentes – 4% por década – e, provavelmente, causará expressivo aquecimento global em futuro próximo. Tais questões são relevantes e os geocientistas po- dem contribuir significativamente com informações da geodiversidade (meio físico) para que políticos, planejadores e gestores do território tomem decisões acer- tadas quanto ao uso adequado dos espaços geográficos. ORIGEM, PROCESSOS E EVOLUÇÃO DA GEODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO BRASILEIRO O Brasil apresenta, em seu território, um dos mais completos registros da evolução geológica do planeta Ter- ra, com expressivos testemunhos geológicos das primei- ras rochas preservadas, do Arqueano Inferior, datando de mais de 3.0 bilhões de anos e, de forma quase ininterrupta, até os dias atuais. Para descrever, mesmo de forma sucin- ta, os compartimentos geológicos que com- põem o território brasileiro, é necessário in- formar que, a partir dos paleocontinentes arqueanos (núcleos granito-greenstones), ao longo do Paleoproterozóico (2.300-1.800 M.a.) ocorreram diversas colagens nas mar- gens ativas, isto é, margens de um continen- te onde o oceano é consumido e os blocos continentais vão se acrescionando ao conti- nente (Figura 1.3). Enquanto isso, no interior das placas, a culminância do processo de acresção teve como resultado o megacontinente Atlântica, sobre o qual se depositaram extensas cober- turas sedimentares, sendo exemplos os gru- pos Roraima e Espinhaço, além de coberturas vulcanossedimentares do tipo continental (Fi- gura 1.4). Ao final desse período (1.800-1.600 M.a.), houve fragmentação desse grande blo- co crustal. Ao longo do Mesoproterozóico (1.600-1.000 M.a.), uma outra sucessão de colisões levou à constituição de uma nova grande massa continental denominada Rodí- nia (Figura 1.5). Entre 900 e 700 milhões de ano, uma nova fragmentação de Rodínia levou à sepa- ração de três grandes blocos: Gondwana Les- te, Laurentia e Gondwana Oeste (englobando o território brasileiro). Durante o Neoproterozóico (1.000-545 M.a.), a movimentação e a junção dos blocos Gondwana Leste e Figura 1.4 ––––– Desenho esquemático mostrando a deposição de rochas sedimentares e erupção de rochas vulcânicas sobre a placa continental. Figura 1.3 ––––– À esquerda, apresenta-se o oceano sendo consumido entre dois blocos continentais A e B; à direita, observa-se a colagem dos blocos A e B, após o consumo do oceano. Figura 1.2 ––––– Exemplo estilizado do funcionamento interno do planeta Terra. Fonte: Scientific American Brasil (2007).
  • 18. 16 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Oeste, entre 750-490 M.a., constituíram o megacontinente Gondwana. No Paleozóico, novas massas continen- tais vieram a se somar a Gondwana. Ao final desse período, formou-se o supercontinente Pangéia (Figura 1.6). No interior dos conti- nentes, os processos extensionais atuaram no sentido de originar as regiões rebaixadas, per- mitindo o desenvolvimento de extensas baci- as deposicionais (sinéclises), a exemplo das bacias do Parnaíba, Amazonas e Paraná. A mesma geodinâmica que formou o Pangéiaveioafragmentá-lo,processoquecon- sumiuaproximadamente100milhõesdeanos, no Jurássico e Cretáceo. De especial interesse nesse processo foi a separação de Brasil e Áfri- ca, com a abertura do oceano Atlântico, dan- do origem a inúmeras bacias sedimentares costeiras, porta- doras de petróleo, sais e outros recursos minerais. Um importante avanço na compreensão da evolu- ção dos continentes nos é dado pela teoria dos chama- dos “Ciclos de Wilson”, segundo a qual os continentes passam por ciclos de colisão e afastamento uns dos ou- tros, obedecendo a uma periodicidade de apro- ximadamente 500 milhões de anos. Dessa for- ma, através de bilhões de anos de evolução experimentados pelos continentes, existem re- gistros de choques e afastamento de diversas placas continentais pretéritas, que, aos pou- cos, foram se soldando até constituírem o que hoje conhecemos como América do Sul e os demais continentes (Figura 1.7). Somente é possível entender o arcabouço geológico se tivermos em mente a teoria da migração das placas tectônicas, segundo a qual os continentes se movem sobre as camadas mais internas da Terra, devido a movimentos convectivos sob grandes temperaturas (Figura 1.8). No que concerne à formação da geodiversidade do território brasileiro, são destacadas três condições geo- lógicas fundamentais: margens ativas, margens passi- vas e ambiente intraplaca (Figura 1.9). Elas nos permi- tem compreender a intrincada relação geométrico-es- pacial das unidades geológicas que compõem o arca- bouço geológico do território brasileiro que, por conseguinte, forneceu o embasamen- to teórico factual para a formulação dos critérios para a subdivisão dos geossiste- mas e das unidades geológico-ambientais (mapa geodiversidade do Brasil, escala 1:2.500.000). No que diz respeito aos ambientes em que as rochas se formam, distinguem-se duas situações extremas: (a) zona de colisão ou zona orogênica, que cedo ou tarde vai cons- tituir uma cadeia de montanhas; (b) parte interna das placas, protegida do intenso me- tamorfismo que ocorre nas faixas de colisão. Naturalmente, entre as duas situações existem situações intermediárias margeando os cintu- rões metamórficos. Figura 1.5 ––––– Supercontinente Rodínia, formado aproximadamente há 1,1 bilhão de anos (Mesoproterozóico), começando a se fragmentar há, aproximadamente, 750 M.a. (modificado de Press et al., 2006). Figura 1.6 ––––– Desenho esquemático do supercontinente Pangéia, já agregado, há 237 M.a., no Triássico Inferior, circundado pelo superoceano Pantalassa (do grego ‘todos os mares’) (modificado de Press et al., 2006). Figura 1.7 ––––– Configuração atual dos continentes (modificado de Press et al., 2006).
  • 19. 17 COMEÇO DE TUDO Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas Figura 1.8 ––––– Movimentação das placas tectônicas (modificado de Teixeira et al., 2000). Figura 1.9 –a/b::::: apresentam o perfil de um limite de placa convergente mostrando as principais feições geológicas formadas e as associações de rochas relacionadas; c: fragmentação de uma massa continental e desenvolvimento de margens continentais passivas (modificado de Teixeira et al., 2000). No auge da evolução dos cinturões orogênicos, tere- mos a formação, preferencialmente, das chamadas rochas cristalinas, plutônicas e metamórficas; enquanto nas por- ções intraplaca depositar-se-ão as coberturas sedimenta- res, associadas a vulcanismo de grandes dimensões. Cabe ainda salientar que, no lado oposto da zona colisional, entre duas placas, forma-se, normalmente, uma margem passiva, onde predomina a tectônica distensional, dando origem à atual plataforma marinha brasileira, por exem- plo. Nos tempos atuais, América do Sul e África estão se afastando a alguns centímetros por ano. Esse afasta- mento contínuo, iniciado há cerca de 200 milhões de anos, deu origem ao oceano Atlântico. No outro lado do continente sul-americano, contudo, a partir do final do Cretáceo, tem-se o choque da Placa de Nazca (ba- sáltica), que afunda sobre a América do Sul, dando ori- gem a duas grandes feições geológicas: a Cadeia Andi- na, que se eleva a quase seis mil metros de altura, e um intenso magmatismo plutonovulcânico, decorrente da fusão de camadas internas da crosta, devido ao grande calor gerado ao longo da zona de subducção da Placa de Nazca (Figura 1.10). Figura 1.10 ––––– Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra. Os números representam as velocidades em cm/ano entre as placas; as setas, os sentidos do movimento (modificado de Teixeira et al., 2000).
  • 20. 18 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 1.11Figura 1.11Figura 1.11Figura 1.11Figura 1.11 ––––– Mapeamento batimétrico do relevo e estruturas do oceano Atlântico entre os continentes América do Sul e África. A importância da orogênese andina para a evolução geológica do território brasileiro é espetacular, constituin- do-se na base da origem das bacias terciárias da porção ocidental do país, pelas flutuações climáticas, e por fim, por toda a evolução dos geossistemas. Na figura 1.11 é mostrado o relevo do continente e do fundo oceânico (cadeia mesooceânica) entre os continentes sul-america- no e africano. Na figura 1.12 é apresentada toda a extensão da geo- diversidade brasileira, constítuída pela porção continental emersa com área de 8.500.000 km² e a Plataforma Conti- nental Jurídica com 4.500.000 km², totalizando o territó- rio continental e marinho brasileiro a área de 13.000.000 km² (Souza et al., 2007). Segundo Martins e Souza (2007), a Plataforma Con- tinental Jurídica compreende o prolongamento submerso de massa terrestre composta pelo seu leito, subsolo, talude e elevação continental. Apesar de pouco estuda- da, apresenta elevado potencial mineral, dentre os quais destacamos: óleo e gás (já uma realidade); areia e cas- calhos, utilizados na construção civil e reconstrução praial; granulados bioclásticos, utilizados para correção de solos na agricultura e para a indústria cimenteira; depósitos de pláceres (cassiterita, ilmenita, ouro e dia- mante); fosforitas (P2 O5 ), utilizados como fertilizante na agricultura; nódulos polimetálicos de níquel, cobalto, cobre, fósforo, manganês, ferro e sulfetos polimetálicos (chumbo, cobre, zinco, niquel, cobalto, titânio, ouro e prata). Além das questões de segurança nacional, depósitos minerais e da riqueza da biodiversidade, o estudo da geodiversidade dos fundos marinhos tem fornecido im- portantes subsídios para consolidar a teoria da deriva dos continentes, bem como para entender os processos geo- lógicos que ocorreram nos últimos 200 milhões de anos e as conseqüências atuais nos continentes.
  • 21. 19 COMEÇO DE TUDO Cassio Roberto da Silva, Maria Angélica B. Ramos, Augusto José Pedreira, Marcelo E. Dantas Figura 1.12 – Extensão territorial da geodiversidade brasileira constituída pela porção emersa, continente (colorida) e a marinha, denominada Plataforma Continental Jurídica (preto e branco), delimitada pela linha azul. BIBLIOGRAFIA CPRM. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000. Legenda expandida. Brasília: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2006. 68 p. CD-ROM. EBERHARD, R. (Ed.). Pattern and process: towards a regi- onal approach to national estate assessment of geodiversity. Technical Series, n. 2. Australian Heritage Commission; Environment Forest Taskforce, Environment Australia, Canberra, 1997. GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. New York: John Wiley & Sons, 2004. 434 p. MARTINS, L. R. S.; KAISER G. de S. Ocorrência de recursos minerais na plataforma continental brasileira e áreas oceâni- cas adjacentes. Brasília: Parcerias Estratéticas, n. 24, p. 137- 190, ago. 2007. 274 p. Edição Especial – Estudos do Mar. PRESS, F; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Tradução Rualdo Menegat. Porto Alegre: Artmed, 2006. 656 p. il. SCIENTIFICAMERICANBRASIL.SãoPaulo:Duetto,n.20,2007. STANLEY, M..... Welcome to the 21st century. Geodiversity Update, 1, p. 1-8, 2001. TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Tex- tos, 2000. 557 p. VEIGA, A. T. C. A geodiversidade e o uso dos recursos minerais da Amazônia. Terra das Águas, Brasília: NEAz/ UnB, n. 1, p. 88-102, 1999. XAVIER DA SILVA, J.; CARVALHO FILHO, L. M. Índice de geodiversidade da restinga da Marambaia (RJ): um exem- plo do geoprocessamento aplicado à geografia física. Re- vista de Geografia, Recife: DCG/UFPE, n. 1, p. 57-64, 2001.
  • 22. 20 GEODIVERSIDADE DO BRASIL CASSIO ROBERTO DA SILVA Graduado em Geologia (1977) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestrado em Hidrogeologia e Geologia Econômica (1995) pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, cursa o doutorado na área de Geologia Médica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 1978, atuando (por 13 anos) na Superintendência Regional de São Paulo (SUREG/SP) e na Residência de Porto Velho (5 anos). Há 12 anos no Escritório Rio de Janeiro, é responsável pelo Departamento de Gestão Territorial (DEGET). Tem experiência profissional na execução e no gerenciamento de projetos em Mapeamento Geológico, Prospecção Mineral e Geologia Ambiental, além de prestar consultoria internacional em Mapeamento Geológico e Geologia Ambiental. Ministra palestras em várias entidades e eventos nacionais e internacionais sobre Geologia Ambiental, Geodiversidade, Geologia Médica e Informações do Meio Físico para Gestão Territorial. Editor do livro “Geologia Médica no Brasil”, co-autor do livro “Prospecção Mineral de Depósitos Metálicos, Não-Metálicos, Óleo e Gás”. Autor de 44 trabalhos individuais e outros 20 como co-autor. Atuação no CREA, Associações de Empregados e Profissional de Geólogos. Coordenador da Divisão da América do Sul da International Medical Geology Association (IMGA). Distinção com os prêmios Qualidade CPRM (1993), CREA-RJ de Meio Ambiente (2001) e Patrono da Turma de Formandos de Geologia de 2003 da UFRRJ. MARCELO EDUARDO DANTAS Graduado em Geografia (1992) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com os títulos de licenciado em Geografia e Geógrafo. Mestre em Geomorfologia e Geoecologia (1995) pela UFRJ. Nesse período, integrou a equipe de pesquisadores do Laboratório de Geo-Hidroecologia (GEOHECO/UFRJ), tendo atuado na investigação de temas como: Controles Litoestruturais na Evolução do Relevo; Sedimentação Fluvial; Impacto das Atividades Humanas sobre as Paisagens Naturais no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul. Em 1997, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), atuando como geomorfólogo até o presente. Desenvolveu atividades profissionais em projetos na área de Geomorfologia, Diagnósticos Geoambientais e Mapeamentos da Geodiversidade, em atuação integrada com a equipe de geólogos do Programa GATE/CPRM. Dentre os trabalhos mais relevantes, destacam-se: Mapa Geomorfológico e Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro; Mapa Geomorfológico do ZEE RIDE Brasília; Estudo Geomorfológico Aplicado à Recomposição Ambiental da Bacia Carbonífera de Criciúma; Análise da Morfodinâmica Fluvial Aplicada ao Estudo de Implantação das UHEs de Santo Antônio e Jirau (Rio Madeira- Rondônia). Atua, desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/UNISUAM. Atualmente, é coordenador nacional de Geomorfologia do Projeto Geodiversidade do Brasil (CPRM/SGB). Membro efetivo da União da Geomorfologia Brasileira (UGB) desde 2007. MARIA ANGÉLICA BARRETO RAMOS Geóloga formada (1989) pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre (1993) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ingressou na CPRM/BA em 1994, onde atuou em Mapeamento Geológico no Projeto Aracaju ao Milionésimo. A partir de 1999, na área de Gestão Territorial, participou dos projetos Acajutiba-Aporá-Rio Real e Porto Seguro-Santa Cruz Cabrália, onde também passou a atuar na área de Geoprocessamento, integrando a equipe de coordenação do Programa GIS do Brasil e do Banco de Dados GEOBANK. Atualmente, exerce a Coordenação Nacional de Geoprocessamento do Projeto Geodiversidade do Brasil no Departamento de Gestão Territorial (DEGET). AUGUSTO J. PEDREIRA DA SILVA Graduado em Geologia (1996) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialização (1971) em Fotogeologia (CIAF, Bogotá). Doutor (1994) em Geociências (área de concentração: Geotectônica), pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou em Mapeamento Geológico (CEPLAC, 1967-1969) e Geologia Econômica (TECMINAS, 1970). Geólogo da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) desde 1972. Participou de mapeamento geológico na Amazônia e Meio-Norte (Projeto RADAM), Bahia, outros estados e no exterior (Líbia, 1985). Atualmente, é coordenador executivo do Departamento de Geologia (DEGEO), atuando na Divisão de Geologia Básica (DIGEOB). Suas principais áreas de interesse são: Geologia Regional, Bacias Sedimentares (especialmente pré-cambrianas), Sistemas Deposicionais e Tectônica.
  • 23. 21 EVOLUÇÃO DA VIDA Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz 2 EVOLUÇÃO DA VIDA Marise Sardenberg Salgado de Carvalho ([email protected]) Norma Maria da Costa Cruz ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Primeiros Seres Vivos................................................................... 22 Primeiros Seres Multicelulares..................................................... 22 Cambriano: Evolução dos Invertebrados Marinhos e Primeiros Cordados .................................................................................... 22 Ordoviciano: Diversidade Marinha e Surgimento dos Agnatas .. 24 Siluriano: Conquista do Ambiente Terrestre ............................... 24 Devoniano: Primeiras Florestas e Idade dos Peixes...................... 24 Carbonífero: Idade dos Anfíbios e dos Depósitos de Carvão ..... 24 Permiano: Diversificação dos Répteis e Expansão das Gimnospermas ............................................................................ 26 Triássico: Primeiros Dinossauros e Mamíferos ............................. 26 Jurássico: Apogeu dos Dinossauros e Primeiras Aves.................. 26 Cretáceo: Extinção de Dinossauros e Pterossauros, Surgimento das Angiospermas e Presença de Mamíferos.............................. 27 Paleoceno: Diversificação e Irradiação dos Mamíferos e Angiospermas ............................................................................. 28 Eoceno: Expansão das Aves e Angiospermas ............................. 28 Oligoceno: Primatas Antropóides ............................................... 28 Mioceno: Diversificação de Mamíferos e Angiospermas ............. 29 Plioceno: Formação de Savanas e Primeiros Hominídeos ............ 29 Pleistoceno: Extinção de Espécies e Surgimento do Homem ...... 29 Holoceno: Dispersão da Espécie Humana ................................... 30 Microfósseis ................................................................................ 30 Bibliografia ................................................................................. 31
  • 24. 22 GEODIVERSIDADE DO BRASIL PRIMEIROS SERES VIVOS A Terra formou-se por volta de 4,5 bilhões de anos antes do presente. Sua atmosfera primitiva sofreu transfor- mações no decorrer do tempo geológico. Há 2,0 bi- lhões de anos os mares tornaram-se oxigenados, com exceção das partes profundas, e o oxigênio começou a se acumular na atmosfera. As primeiras formas de vida foram datadas em mais de 3,5 bi- lhões de anos e se constituíam de organismos com uma estrutura celular bem simples, sem um núcleo organizado,denominadosprocariontes.Essasformas mais antigas de vida foram encontradas em esteiras microbianas e estromatólitos de 3,5 bilhões de anos na Austrália. Alguns desses microorganismos procariontes, semelhantes às cianobactérias, eram capa- zes de formar longas esteiras ou bioconstruções com rele- vo. No Brasil, estromatólitos são conhecidos desde o Pré- Cambriano ao Fanerozóico, em unidades geológicas de ida- des diferentes como os grupos Araras, Una, Macaúbas, Bambuí, dentre outros, em geral associados a rochas carbonáticas, nos estados da Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais (Figura 2.1). Os fósseis, que constituem restos ou vestígios de ani- mais e vegetais que viveram em épocas pretéritas e fica- ram preservados nas rochas sedimentares, são estudados pela Paleontologia. É através dessa ciência que são anali- sados os registros fossilíferos que refletem as mudanças da flora e da fauna, as extinções em massa e as mudanças climáticas ocorridas ao longo do tempo geológico. PRIMEIROS SERES MULTICELULARES O surgimento de organismos com células eucariontes, ou seja, com um núcleo delimitado, deu origem a formas de vida mais complexas, como os organismos do reino Protista e os multicelulares Animália, Fungi e Plantae (Margulis e Schwartz, 2001). O surgimento desses últi- mos seres data de 2,1 bilhões de anos, ainda no Arqueano. Mas, há cerca de 600 M.a., próximo ao final do Proterozóico, surgiram os primeiros animais com o corpo mole e achatado, semelhantes a anelídeos e artrópodes. Essa fauna, assinalada pela primeira vez na Austrália, é conhecida como fauna de Ediacara, sendo registrada, pos- teriormente, em outras partes do mundo, inclusive no Brasil (Figura 2.4). CAMBRIANO: EVOLUÇÃO DOS INVERTEBRADOS MARINHOS E PRIMEIROS CORDADOS Comparado ao longo espaço de tempo do Arqueano e do Proterozóico (3.600-542 M.a.), o Cambriano (542- 488 M.a.), primeiro período da era paleozóica, foi bas- tante curto. A vida diversificou-se e permaneceu confi- nada aos oceanos, onde houve a grande evolução de invertebrados marinhos, como cnidários, braquiópodes, Figura 2.1 ––––– Associação de estromatólitos colunares. Grupo Bambuí, Proterozóico Superior, Bahia (modificado de Souza-Lima, 2001). O período de tempo que vai desde a formação da Terra até o surgimento dos primeiros seres vivos é deno- minado Arqueano. Após esse tempo, milhares de espécies de plantas e animais evoluíram, algumas delas prospera- ram e tiveram uma ampla distribuição geológica, enquan- to outras experimentaram curta duração e extinguiram-se. A distribuição dos seres através do tempo geológico está demonstrada na espiral da vida (Figura 2.2). A idade da Terra foi subdividida em blocos de tempo, baseados em grandes eventos no desenvolvimento da vida. Divide-se em três grandes éons: Arqueano, Proterozóico e Fanerozóico, este subdividido em três eras: Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. Uma tabela do tempo geológico apresenta os principais eventos que marcaram a evolução (Figura 2.3). Figura 2.2 ––––– Espiral da vida (modificado de Press et al., 2006).
  • 25. 23 EVOLUÇÃO DA VIDA Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz Figura 2.3 ––––– Tabela do tempo geológico (modificado de Long, 1995). moluscos, equinodermas e graptozoários (Figura 2.5). Um grupo bem-sucedido foi o dos artrópodes; dentre estes, os trilobitas, que tiveram ampla distribuição mundial. Duas grandes conquistas aconteceram: o desenvolvimento de carapaças e a origem dos cordados, animais com notocorda, estrutura que, mais tarde, originou a coluna vertebral. O início do Cambriano foi definido pelo apare- cimento dos organismos com carapaças, possibilitando a correlação de rochas com base no conteúdo fossilífero. Figura 2.4 ––––– Corumbella werneri é o representante da fauna de Ediacara no Brasil, tendo sido encontrado em calcários do Grupo Corumbá (MS). Considerado como um provável predador, apresentou ampla distribuiçãogeográfica(disponívelem: <http://www.unb.br/acs/bcopauta/geologia5.htm>; acesso em: 28 ago. 2007). Figura 2.5 ––––– A fauna do Burgess apresenta artrópodes, como trilobitas e crustáceos, e outros animais não incluídos em nenhum grupo moderno. Apresenta também Pikaia (vista acima, à esquerda), que apresenta as características dos cordados: faixas musculares e notocorda ao longo do corpo (modificado de Levinton, 1992). Dessa época são assinaladas três faunas importantes: a fauna Tomotiana, de distribuição mundial, com minúscu- las formas de conchas e arqueociatas, não classificadas em nenhum grupo moderno; a fauna de Chengjiang, na China, com invertebrados, urocordados e cefalocordados; e a mais conhecida, a do Folhelho Burgess, no Canadá, com esponjas, braquiópodes, crustáceos, trilobitas e Pikaia gracilens, um cefalocordado. O final do Cambriano é marcado por uma grande extinção em massa.
  • 26. 24 GEODIVERSIDADE DO BRASIL ORDOVICIANO: DIVERSIDADE MARINHA E SURGIMENTO DOS AGNATAS No Ordoviciano (488-443,7 M.a.), havia um clima com temperaturas mais amenas. Nos mares quentes, sur- giram vários invertebrados que se desenvolveram e se di- ferenciaram, aumentando a complexidade de suas carapa- ças. Os mais comuns foram braquiópodes, crinóides e briozoários, que construíram os primeiros recifes. Apare- ceram os moluscos biválvios e os nautilóides, esses últi- mos parentes dos modernos polvos e lulas (Figura 2.6). Surgiram também os primeiros peixes, os agnatas, que possuíam ainda notocorda, mas não apresentavam maxilas. Tinham uma armadura óssea no corpo, rece- bendo por isso a denominação de “ostracodermas”. São os craniados mais primitivos e seus representantes atuais são as lampreias e feiticeiras. Eram geralmente bentônicos e a impossibilidade de triturar alimentos foi o maior fator contra seu desenvolvimento (Figura 2.7). Figura 2.7 – Agnata: peixes sem maxilas (disponível em :<http://www.universe-review.ca/I10-27- jawlessfishçjpg/>; acesso em: 17 set. 2007). Figura 2.6 ––––– Reconstrução de um ambiente do Ordoviciano, com moluscos, trilobitas e corais (disponível em: <http://www.geocities.com/arturordoviciano>; acesso em: 27 ago. 2007). SILURIANO: CONQUISTA DO AMBIENTE TERRESTRE No Siluriano (443,7-416 M.a.), artrópodes e plan- tas invadiram o ambiente terrestre. Nos oceanos, prolife- raram e se expandiram os braquiópodes, briozoários, co- rais, crinóides, esponjas, biválvios e gastrópodes. Os trilobitas e graptólitos tiveram um declínio, enquanto as formas dos nautilóides se diversificaram. O Siluriano foi marcado pelo aparecimento das ma- xilas nos peixes, um dos eventos mais importantes da história evolutiva dos vertebrados. Esses primeiros peixes com mandíbulas são os gnatostomados, que incluem placodermas, acantódios, condríctes e osteíctes, grupo ao qual pertence a maioria dos peixes atuais. A documentação paleontológica do Siluriano no Bra- sil é apresentada, por exemplo, no grupo Trombetas, na bacia do Amazonas (Figura 2.8), e na Formação Tianguá, na bacia do Parnaíba (Figura 2.9). DEVONIANO: PRIMEIRAS FLORESTAS E IDADE DOS PEIXES Após sua origem no Siluriano, as plantas vasculares se diversificaram rapidamente no Devoniano (416-359,2 M.a.), quando se formaram as primeiras florestas. Alguns grupos de animais se aventuraram pela terra, entre eles os insetos e os anfíbios. O Devoniano é considerado como a “idade dos peixes” devido à grande diversificação desse grupo. Os sarcopterígios, peixes osteíctes com nadadeiras lobadas, surgiram e deram origem aos tetrápodas. O gru- po dos dipnóicos (peixes pulmonados) desenvolveu um aparelho respiratório que lhes permitia absorver o oxigê- nio, adquirindo, desse modo, a capacidade de respirar ar atmosférico. Outra extinção ocorreu no final do Devoniano, sendo os invertebrados marinhos os mais atingidos. O Devoniano foi um período importante na sedimen- tação das bacias paleozóicas do Amazonas, Parnaíba e Paraná (Figura 2.10). CARBONÍFERO: IDADE DOS ANFÍBIOS E DOS DEPÓSITOS DE CARVÃO O Carbonífero (359-299 M.a.) representa a “idade dos anfíbios”. Eles viviam nos pântanos e nas margens dos cursos de água, mas algumas espécies se adaptaram para sobreviver uma maior parte do tempo em terra seca, voltando à água apenas para desovar. Entre as plantas surgiram as gimnospermas primitivas, como as Glossopteris presentes em todo o continente Gondwana (Figura 2.11). Grande parte das atuais jazidas de carvão formou-se nessa época, pela decomposição de matéria vegetal. Nes- se propício ambiente úmido, a vida dos insetos prolife- rou intensamente. Os amonóides, mesmo sofrendo um pequeno declínio com a extinção do final do Devoniano,
  • 27. 25 EVOLUÇÃO DA VIDA Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz ainda permaneceram como os principais invertebrados predadores. Aparecem os primeiros registros fósseis de amniota, um grupo de vertebrados tetrápodas cujos em- briões são rodeados por uma membrana amniótica. Esse tipo de ovo permitiu que os antepassados das aves, dos mamíferos e dos répteis reproduzissem em terra. Surgi- ram os primeiros répteis, com o crânio compacto, sem as aberturas temporais, características do grupo. Figura 2.10 ––––– Reconstituição paleobiológica do mesodevoniano na bacia do Parnaíba. Mapa mostrando os afloramentos das formações Pimenteira e Cabeças. A flora com Psilofitales e Licopodiáceas e a fauna com conulários, tentaculites, gastrópodes, biválvios, braquiópodes e condrictes (tubarão) (modificado de Santos e Carvalho, 2005). Figura 2.11 ––––– Representante da flora de Glossopteris da seqüência gonduânica da bacia do Paraná: carvão da Formação Rio Bonito (disponível em: <http://www.cprm.gov.br/ coluna/floraglosspt.htm>; acesso em: 11 set. 2007). Figura 2.8 ––––– Climacograptus innotatus var. brasiliensis – Graptozoário da Formação Trombetas, bacia do Amazonas (fotografia: Norma Cruz). Figura 2.9 ––––– Microfósseis da Formação Tianguá. Quitinozoários (1 a 4) e acritarcos (5 a 11) (modificado de Santos e Carvalho, 2005).
  • 28. 26 GEODIVERSIDADE DO BRASIL PERMIANO: DIVERSIFICAÇÃO DOS RÉPTEIS E EXPANSÃO DAS GIMNOSPERMAS No início do Permiano (299-251 M.a.), o movimen- to das placas tectônicas formou o supercontinente Pangéia. As regiões interiores desse vasto continente es- tavam, provavelmente, secas e a glaciação diminuiu. O resultado dessa nova configuração global foi o desen- volvimento e a diversificação da fauna de vertebrados terrestres e a redução das comunidades marinhas. Houve a diversificação dos répteis e a expansão das gimnospermas. O final do Permiano foi marcado pela maior de to- das as extinções em massa. Afetou muitos grupos de organismos, em ambientes diferentes, mas, principal- mente, as comunidades marinhas, causando a extinção da maioria dos invertebrados. Com o fim do Permiano, encerra-se a era paleozóica, que durou aproximadamen- te 300 milhões de anos. No Brasil, o Permiano está representado, principal- mente, nas bacias do Parnaíba e do Paraná (Figura 2.12). TRIÁSSICO: PRIMEIROS DINOSSAUROS E MAMÍFEROS Com o Triássico (251-199,6 M.a.), começou a era mesozóica, que durou 130 milhões de anos. Ocorreu o início da fragmentação do Pangéia. Vários grupos de répteis apareceram, como crocodilos, dinossauros e pterossauros, como também os primeiros mamíferos, que eram de pequeno porte (Figura 2.13). As gimnospermas passamaserasformasdominantesentreasplantas.Afauna marinha não era muito diversificada, já que 90% das espé- cies haviam desaparecido na grande extinção do Permiano. Figura 2.12 ––––– Reconstituição paleobiológica do Permiano na bacia do Parnaíba. Mapa mostra afloramentos da Formação Pedra de Fogo. Flora com Psaronius, Calamitales e Cordaitáceas; fauna com répteis e peixes (modificado de Santos e Carvalho, 2005). Figura 2.13 ––––– Dinodontosaurus e Prestosuchus da bacia do Paraná. Diorama do Museu de Ciências da Terra (fotografia: Alex Souto). O final do Triássico também foi marca- do por uma grande extinção. No Brasil, na bacia do Paraná, en- contramos fósseis de répteis ou de gru- pos aparentados com os mamíferos, como rincossauros e dicinodontes, res- pectivamente. Esses tetrápodas triássi- cos são encontrados nos sedimentosdas formações Sanga do Cabral, Santa Ma- ria e Caturrita, no estado do Rio Gran- de do Sul. JURÁSSICO: APOGEU DOS DINOSSAUROS E PRIMEIRAS AVES Nos mares do Jurássico (199,6- 145,5 M.a.), viveram peixes e répteis marinhos, como ictiossauros e plesi- ossaurus. Do Jurássico até fins do Cre- táceo, há 65 milhões de anos, os gran- des répteis continuaram dominando. Multiplicaram-se prodigiosamente nas planícies cada vez mais úmidas e quen- tes, alcançando enormes dimensões. O Jurássico foi a idade dos grandes saurópodes e dos pterossauros. Nos mares, os moluscos, como os grandes amonóides, tor- naram-se muito abundantes (Figura 2.14). A passagem do Jurássico para o Cretáceo não foi marcada por qual- quer grande extinção, evolução ou alteração na diversi- dade dos organismos. O Jurássico não é bem represen- tado no Brasil.
  • 29. 27 EVOLUÇÃO DA VIDA Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz CRETÁCEO: EXTINÇÃO DE DINOSSAUROS E PTEROSSAUROS, SURGIMENTO DAS ANGIOSPERMAS E PRESENÇA DE MAMÍFEROS Com a continuidade da fragmentação do superconti- nente Pangéia e o conseqüente afastamento das placas tectônicas, aumentaram as diferenças regionais entre as floras e faunas. No Cretáceo (145,5-65,5 M.a.), os mais importantes eventos foram: surgimento de angiospermas, plantas com flores e mamíferos marsupiais e placentários. Figura 2.15 –Figura 2.15 –Figura 2.15 –Figura 2.15 –Figura 2.15 – Reconstrução do ambiente de Amazonsaurus maranhensis. Albiano da Formação Itapecuru, bacia do Grajaú, MA (SANTOS e CARVALHO, 2005). Figura 2.14 –Figura 2.14 –Figura 2.14 –Figura 2.14 –Figura 2.14 – Reconstituição paleoecológica do oceano Tétis no Jurássico superior tendo representados moluscos, poliquetas e plantas (disponível em: <http://fossil.uc.pt/pags/utili.dwt>; acesso em: 27 set. 2007). Figura 2.18Figura 2.18Figura 2.18Figura 2.18Figura 2.18 ––––– Insetos e vegetais com grande diversidade e excepcional preservação, encontrados na bacia do Araripe, no calcário laminado do Membro Crato. O fim desse período foi marcado por uma grande extinção em massa (Limite K-T), com o desaparecimento de grupos bem-sucedidos, como dinossauros e amonóides. A extinção desses grandes répteis constitui-se ainda em grande controvérsia. Duas teorias são mais aceitas para essa extinção: mudanças climáticas e colisão de um enor- me meteorito com a Terra. Esse período é ricamente mar- cado na paleontologia brasileira. São inúmeras as ocor- rências de fósseis nas bacias do Araripe, Sergipe-Alagoas, Pernambuco-Paraíba, Potiguar e bacias interiores do Nor- deste (Figuras 2.15, 2.16, 2.17 e 2.18). Figura 2.17Figura 2.17Figura 2.17Figura 2.17Figura 2.17 ––––– Tharrhias araripis Jordan & Branner, 1908, um dos peixes mais comuns nos nódulos calcários do Membro Romualdo da bacia do Araripe (MAISEY, 1991). Figura 2.16 –Figura 2.16 –Figura 2.16 –Figura 2.16 –Figura 2.16 – O conjunto de 13 sítios fossilíferos com pegadas de dinossauros na Formação Sousa, bacia do rio do Peixe (PB), contém grandes e pequenos terópodes, saurópodes, ornitópodes e ornitísquio (LEONARDI e CARVALHO, 2002).
  • 30. 28 GEODIVERSIDADE DO BRASIL PALEOCENO: DIVERSIFICAÇÃO E IRRADIAÇÃO DOS MAMÍFEROS E ANGIOSPERMAS No Paleoceno (65,5-55,8 M.a.), houve o sucesso da evolução dos grandes mamíferos que se tornaram cada vez mais diversificados. A principal característica dessa época é a proliferação de pequenos mamíferos, ancestrais dos roedores, e primatas atuais. A fauna marinha é carac- terizada por biválvios, gastrópodes, equinóides e foraminíferos, sendo que esses últimos se tornaram muito abundantes. A vegetação e o clima tropical eram predo- minantes e alguns mamíferos já estavam dominando o meio aquático. Houve também a diversificação e irradia- ção das angiospermas. O Paleoceno foi um estágio impor- tantíssimo na história dos mamíferos. Infelizmente, mui- tos fósseis dessa época são escassos ou inteiramente des- conhecidos. No Brasil, temos representantes desse perío- do, por exemplo, na bacia de Itaboraí (RJ) (Figura 2.19). EOCENO: EXPANSÃO DAS AVES E ANGIOSPERMAS Durante os 20 milhões de anos de duração do Eoceno (55,8-33,9 M.a.), os mamíferos se desenvolveram ainda mais e houve uma modernização importante da fauna. As aves se expandiram e surgiu grande parte das linhagens das atuais angiospermas. O Eoceno Inferior teve as mais altas temperaturas de todo o Cenozóico, bem acima de 30°C. Existiam ligações de terra entre a Antártida e a Aus- trália, entre América do Norte e Europa através da Groenlândia e, provavelmente, entre a América do Norte e a Ásia com o Estreito de Bering. Surge a maioria dos mamíferos modernos, todos de tamanho pequeno. No Eoceno Médio, a separação entre a Antártida e a Austrália criou uma passagem de água entre esses continentes, mu- dando os padrões de circulação das correntes oceânicas. No Eoceno Superior, a nova circulação dos oceanos resul- tou em temperaturas mais baixas. O tamanho do corpo dos mamíferos aumentou, houve um avanço da vegeta- ção de savanas e redução nas florestas (Figura 2.20). No Brasil, a Bacia de Fonseca, situada na região do Quadrilátero Ferrífero, no estado de Minas Gerais, consti- tui um exemplo de sedimentos provavelmente eocênicos da Formação Fonseca, com grande quantidade de angiospermas. OLIGOCENO: PRIMATAS ANTROPÓIDES O Oligoceno (33.9-23 M.a.) registra uma extensão relativamente curta, embora um grande número de mu- danças tenha ocorrido durante esse tempo, como o apa- recimento dos primeiros elefantes, dos cavalos moder- nos, das gramíneas e dos primatas antropóides. Houve o início de um esfriamento generalizado, com geleiras que se formam pela primeira vez na Antártida durante o Ce- nozóico. O aumento das camadas de gelo causou um recuo no nível de mar. Embora tenha havido um período de aumento de temperatura no Oli- goceno Superior, a tendência de esfri- amento global con- tinuou, culminan- do nas idades do Gelo quaternárias. Houve a principal evolução e a disper- são de tipos moder- nos de angiosper- mas. A vegetação das latitudes mais altas do hemisfério Norte transformou a floresta tropical em um bosque temperado. A con- tinuação da disper- Figura 2.19 ––––– Reconstrução do Carodnia, um dos mamíferos herbívoros encontrados em Itaboraí, que ajudou a entender a evolução das formas de esmalte dental (FERRAZ, 2007). Figura 2.21 ––––– Paraphysornis brasiliensis, um predador de quase dois metros de altura, originário da bacia de Taubaté (disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/>; acesso em: 27 set. 2007). Figura 2.20 – O fóssil mais notável é uma flor que apresenta seu primeiro registro no Cenozóico do Brasil – Eriotheca prima: (a) impressão; (b) reconstituição (MELLO et al., 2002).
  • 31. 29 EVOLUÇÃO DA VIDA Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz Figura 2.22 – Biocalcirrudito com abundante conteúdo fossilífero (TÁVORA et al., 2002). são da fauna de mamíferos por terra entre a Ásia e a América do Norte foi responsável pelo surgimento de diversas linhagens nos novos continentes. No Brasil, temos o exemplo da bacia de Taubaté (Fi- gura 2.21), cujos sedimentos foram depositados no Neo- Oligoceno/Eomioceno. MIOCENO: DIVERSIFICAÇÃO DE MAMÍFEROS E ANGIOSPERMAS No Mioceno (23-5,30 M.a.), continuou a diversifi- cação dos mamíferos e das angiospermas e, no final do período, o clima esfriou. Foi um momento de climas mais favoráveis que os do Oligoceno e do Plioceno, marcado por uma expansão dos campos e cerrados correlacionada a um clima mais árido no inte- rior dos continentes. A Placa Africana-Arábica uniu-se à Ásia, fechando o mar que havia se- parado previamente esses dois continentes. As- sim, as respectivas faunas se uniram, gerando novas competições e extinções, aparecendo novas espécies animais e vegetais. Mamíferos e aves se desenvolveram. Além das mudan- ças em terra, os recém-formados ecossistemas marinhos levaram ao desenvolvimento de no- vos organismos. O sítio paleontológico Ilha de Fortaleza, no município de São João de Pirabas, no esta- do do Pará, guarda uma das mais expressivas ocorrências do Cenozóico marinho do Brasil, com grande variedade de moluscos e equinóides. Esse sítio é considerado a seção- tipo da Formação Pirabas (Mioceno), marcan- do o limite sul da província paleobiogeográfica caribeana (Figura 2.22). PLIOCENO: FORMAÇÃO DE SAVANAS E PRIMEIROS HOMINIDEOS No Plioceno (5,33-1,80 M.a.), a evolução dos primatas se caracterizou pela evolução dos símios bípedes ou dos primeiros hominídeos (homens primitivos). Ocor- reram eras glaciais que causaram um resfriamento glo- bal. Houve uma acumulação de gelo nos pólos que con- duziriam à extinção de muitas espécies. O clima mudou de tropical para mais frio. A junção das placas tectônicas das Américas do Norte e do Sul foi causada por um des- locamento da Placa do Caribe, que se moveu ligeiramen- te para leste, formando o istmo do Panamá. A conexão entre as Américas teve impacto na flora e na fauna (Figu- ra 2.23). A criação do istmo permitiu o intercâmbio das Figura 2.23 ––––– Purussaurus brasiliensis, um jacaré gigantesco que viveu no Plioceno (Formação Solimões) no Brasil (Acre) e na Venezuela. Estima-se que podia atingir 20 metros de comprimento (disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/ controlPanel/materia/view/4242>; acesso em: 18 set. 2007). espécies entre os dois continentes e a junção das placas tectônicas conduziu também a mudanças no ambiente marinho. PLEISTOCENO: EXTINÇÃO DE ESPÉCIES E SURGIMENTO DO HOMEM No Pleistoceno (1,8-0,01 M.a.), ocorreu a extinção de muitas formas de mamíferos, aves e plantas e o surgimento da espécie humana. A glaciação avançou cada vez mais em direção ao Equador, esfriando uma terça parte da Terra. Depois, retrocedeu e o clima voltou a ser temperado. No final, as geleiras avançaram e retrocede- ram várias vezes. Ocorreram as glaciações mais recentes e o clima e as temperaturas mudaram drasticamente. Houve um bom número de animais de grande porte, hoje extintos, como, por exemplo, o mastodonte, o mamute e o tigre-dente-de-sabre. Os fósseis desse perío- do são abundantes, bem preservados e sua datação é
  • 32. 30 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 2.26Figura 2.26Figura 2.26Figura 2.26Figura 2.26 ––––– Representantes de alguns grupos de microfósseis: (1) nanofóssil calcário; (2) acritarco; (3) diatomácea; (4) ostracode; (5) conodonte; (6) escolecodonte; (7) radiolário; (8) quitinozoário; (9) foraminífero; (10) esporo; (11) pólen; (12) dinoflagelado. precisa. Os foraminíferos, diatomáceas e grãos de pólen são diagnósticos sobre os paleoclimas (Figura 2.24). Figura 2.25Figura 2.25Figura 2.25Figura 2.25Figura 2.25 ––––– Rochas do Grupo Serra Grande (Bacia do Parnaíba), abrigo de homens pré-históricos (SANTOS e CARVALHO, 2005). Figura 2.24 –Figura 2.24 –Figura 2.24 –Figura 2.24 –Figura 2.24 – Mamíferos do Pleistoceno (bacia do Parnaíba): toxodon, veado catingueiro, mastodonte, tatu gigante, tatu comum, lhama e coelho (SANTOS e CARVALHO, 2005). MICROFÓSSEIS Aliados aos macrofósseis, os microfósseis desem- penham um papel importante no desenvolvimento das biotas passadas. O seu registro desde o Pré-Cambriano permite datações precisas ao longo do tempo (acritar- cos, quitinozoários, dinoflagelados, conodontes, esco- lecodontes radilários, diatomáceas, foraminíferos, ostra- codes, esporos e grãos de polen, dentre outros) e são elementos importantes para o estudo de petróleo, car- vão, diatomito e demais rochas de origem orgânica (Fi- gura 2.26). Eles são imprescindíveis nos zoneamentos cronobioestratigráficos, nas correlações estratigráficas intra- e intercontinentais e no mapeamento geológico das bacias sedimentares. Além disso, os paleontólogos estudam, por meio de seus registros, a influência das mudanças climáticas sobre as biotas. Devido a sua ampla distribuição geográfica e cro- noestratigráfica, os microfósseis são encontrados nos mais variados ambientes continentais e marinhos, ha- vendo registros de suas ocorrências em toda a coluna geológica, do Pré-Cambriano ao Holoceno (Figura 2.27). HOLOCENO: DISPERSÃO DA ESPÉCIE HUMANA Essa época é caracterizada pela dispersão da espé- cie humana e este é o nome dado aos últimos 11 mil anos da história da Terra, começando no fim da última era glacial ou Idade do Gelo. Desde então, houve peque- nas mudanças do clima. O Holoceno testemunhou toda a história da humanidade e a ascensão e queda de todas as suas civilizações (Figura 2.25). A poluição e a destruição dos vários habitats, inclu- sive pelo homem, estão causando uma extinção maciça de muitas espécies de plantas e de animais. Durante o Holoceno, houve o grande desenvolvimento do conhe- cimento e da tecnologia humana. Os paleontólogos to- mam parte nesse esforço para compreender a mudança global, já que os fósseis fornecem dados sobre o clima e o meio ambiente passado.
  • 33. 31 EVOLUÇÃO DA VIDA Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Norma Maria da Costa Cruz Figura 2.27 ––––– Ocorrência e distribuição de microfósseis (modificado de Petrobras, 2005). BIBLIOGRAFIA BLUM, S. Tharrhias Jordan @ Branner, 1908. In: MAISEY, J. G. (Ed.). Santana fossils: an illustrated atlas. New Jersey: T. F. H. Publications, 1991. 459 p. p. 286-295. FERRAZ, M. Os dentes contam a história: mamíferos her- bívoros do paleoceno tinham esmalte dental resistente. Revista Ciência Hoje, Rio de Janeiro, n. 234, jan.-fev. 2007. Disponível em: <<<<<http://cienciahoje.uol.com.br>.>.>.>.>. LEONARDI, G.; CARVALHO, I. S. Icnofósseis da bacia do rio do Peixe, PB: o mais marcante registro de pegadas de dinossauros do Brasil. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, p. 101-111. LEVINTON, J. S. The Big Bang of animal evolution. Scientific American, New York, n. 267, p. 84-91, nov. 1992. LONG, J. A. The rise of fishes: 500 million years of evolution. Baltimore: The John Hopkins University Press, 1995. 223 p. MARGULIS, L.; SCHWARTZ, K. Cinco reinos: um guia ilus- trado dos filos da vida na Terra. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 497 p. MAISEY, J. G. (Ed.). Santana fossils: an illustrated atlas. New Jersey: T. F. H. Publications, 1991. 459 p. MELLO, C. L.; SANT’ANNA, L. G.; BERGQVIST, L. P. Fon- seca, MG: vegetais fósseis do terciário brasileiro. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Co- missão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002. v. 1, p. 73-79. PETROBRAS. Tabela cronoestratigráfica de microfósseis. PETROBRAS: Gerência de Bioestratigrafia e Paleontologia, 2005. Avulso. PRESS, F; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Tradução Rualdo Menegat. Porto Alegre: Artmed, 2006. 656 p. il. SANTOS, M. E. C. M.; CARVALHO, M. S. S. de. Paleontologia das bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luís: reconstituições paleobiológicas. Rio de Janeiro: CPRM/ Serviço Geológico do Brasil, 2005. Programa Levanta- mentos Geológicos Básicos do Brasil. Relatório interno. CD-ROM.
  • 34. 32 GEODIVERSIDADE DO BRASIL NORMA MARIA DA COSTA CRUZ Paleontóloga, bacharel e licenciada em História Natural pela Universidade do Brasil (UFRJ). Doutora em Ciências-Geologia pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Academia Brasileira de Ciências. Trabalhou no Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), onde desenvolveu trabalhos na área de Micropaleontologia. Em 1970, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) para organizar, estruturar e implantar o Laboratório de Bioestratigrafia do Laboratório de Análises Minerais (LAMIN). Desde 1998 exerce a função de chefe da Divisão de Paleontologia do Departamento de Geologia. Suas áreas de pesquisa são: Bioestratigrafia e Micropaleontologia, com ênfase em Palinologia. Tem atuado no estudo de microfósseis, nas datações cronobioestratigráficas, determinações paleoambientais e correlações estratigráficas, com base em microfósseis, para projetos executados pela CPRM/SGB. Tem como linha de pesquisa específica: Palinologia e Bioestratigrafia do Paleozóico. SOUZA-LIMA, W. Os fósseis da bacia Sergipe-Alagoas: al- gas e construções algais. Phoenix, v. 3, n. 32, p. 1-2, 2001. TÁVORA, V. A.; FERNANDES, A. C. S.; FERREIRA, C. S. Ilha de Fortaleza, PA: expressivo registro de fósseis do cenozóico marinho do Brasil. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT- BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Comissão Brasileira de Sí- tios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, p. 139-144. MARISE SARDENBERG SALGADO DE CARVALHO Graduada em História Natural pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutorado em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002). Paleontóloga da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais desde 1970, especializando- se em pesquisas sobre peixes do Cretáceo do Brasil e bacias sedimentares brasileiras. Desenvolveu trabalhos em projetos sobre carvão, sulfetos e calcários, colaborando em vários relatórios da CPRM. Participou de diversos trabalhos de campo com coleta de fósseis que resultaram em artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. É membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia, participando de congressos e simpósios. Consultora em exposições do Museu de Ciências da Terra-DNPM e na Coleção de Paleovertebrados do Instituto de Geociências da UFRJ e da UERJ. Professora convidada da Disciplina Paleontologia de Vertebrados do Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFRJ. Aposentou- se da CPRM em 2007 e continua realizando trabalhos de pesquisa em paleontologia de vertebrados.
  • 35. 33 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy 3 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas ([email protected]) Regina Célia Gimenez Armesto ([email protected]) Amílcar Adamy ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Geodiversidade das Paisagens Naturais ...................................... 34 A Geomorfologia como um Saber Estratégico para a Análise Integrada dos Estudos do Meio Físico ........................................ 34 Compartimentação Morfológica dos Terrenos e Geodiversidade no Brasil ............................................................. 39 Domínio das Terras Baixas Florestadas Equatoriais da Amazônia.................................................................................... 39 Domínio dos Chapadões Semi-Úmidos Tropicais do Cerrado ...... 41 Domínio das Depressões Semi-Áridas Tropicais da Caatinga....... 44 Domínio dos Mares-de-Morros Úmidos Tropicais da Mata Atlântica ............................................................................ 46 Domínio dos Planaltos Úmidos Subtropicais da Mata de Araucárias................................................................................... 51 Domínio das Coxilhas Úmidas Subtropicais da Campanha Gaúcha ....................................................................................... 52 Domínio da Planície Inundável Semi-Úmida Tropical do Pantanal ..................................................................................... 53 Bibliografia ................................................................................. 55
  • 36. 34 GEODIVERSIDADE DO BRASIL GEODIVERSIDADE DAS PAISAGENS NATURAIS Um dos primeiros elementos de análise no estudo do meiofísicoéapaisagemnaturaloupaisagemgeomorfológica. Destaca-senasuperfícieterrestreumaprofusãodediferentes tipos de paisagens naturais com gênese e desenvolvimento distintos. Desde as cordilheiras, com as montanhas mais al- tas do planeta (por exemplo, Himalaia, Andes, Rochosas, Alpes, Cáucaso etc.), até as mais extensas planícies fluviais domundo(porexemplo,Amazonas,Congo,Ganges,Yang- Tzé, Mississipi etc.), pode-se estudar uma grande diversida- dedeformasdemodeladodorelevo.Paraenten- derapaisagemnaturalougeomorfológica,éne- cessário estudar a morfologia dos terrenos, sua gênese, evolução e a fisiologia das paisagens. A morfologia dos terrenos é um dos prin- cipais temas de análise da geomorfologia e é resultante de uma intrincada inter-relação de um conjunto de elementos do meio geobiofísico (rochas, clima, solos, água, biota) queestáemdinâmicatransformaçãodecorrente da ação dos processos geológicos, hidrológicos e atmosféricos (SELBY, 1985). Essa dinâmica superficial da paisagem geomorfológica é, por sua vez, continuamente transformada pela ação do homem no espaço geográfico, atividade cada vez mais intensa à medida que a socieda- de se torna mais tecnificada. Desse modo, não é possível preconizar a existência de paisagens naturais, pois todas apresentam, em maior ou menor grau, a interferência do homem. O estudo das paisagens naturais por meio da geomorfologia reveste-se, portanto, de re- levante interesse para a avaliação da geodiversidade de uma determinada região, uma vez que a morfologia dos terrenos traduz uma interface entre to- das as outras variáveis do meio físico e consiste em um dos elementos em análise, segundo definição de geodiversidade proposta por CPRM (2006): “Oestudodanaturezaabiótica(meiofísico)constituída porumavariedadedeambientes,composição,fenômenose processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos su- perficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o eco- nômico, o científico, o educativo e o turístico.” A origem das formas de relevo pode ser analisada com relação a seu substrato (ou meio abiótico), pela atu- ação compartilhada de processos endógenos (tectônica, vulcanismo, sismicidade) – que promovem a geração de massa rochosa e relevos positivos ou negativos – e pro- cessos exógenos (intemperismo, erosão, sedimentação) – que promovem a esculturação e a denudação das massas rochosas anteriormente geradas (SUMMERFIELD, 1991). Essa denudação do relevo, contudo, não ocorre de forma uniforme, devido à resistência diferencial das distintas litologias frente aos processos de intemperismo (físico e químico) e erosão. Freqüentemente, rochas muito resis- tentes, tais como quartzitos ou granitos, geram relevos residuais positivos em uma paisagem desgastada pela ero- são, produzindo serras isoladas ou inselbergs. De forma simples, pode-se afirmar que, enquanto os processos endógenos promovem o soerguimento da crosta terrestre, gerando relevos montanhosos, os pro- cessos exógenos promovem o arrasamento dos relevos soerguidos, gerando relevos aplainados e as grandes pla- nícies (Figura 3.1). Desse modo, as formas de relevo observadas em uma determinada região devem ser compreendidas como pro- dutos de um estágio de desenvolvimento do conjunto das paisagens geomorfológicas. Ou seja, um “pão-de-açúcar”, um rift-valley, uma escarpa erosiva, uma planície aluvionar ou uma superfície de aplainamento sofreram um longo período de atuação de processos endógenos e/ou exógenos para atingir sua morfologia atual. A GEOMORFOLOGIA COMO UM SABER ESTRATÉGICO PARA A ANÁLISE INTEGRADA DOS ESTUDOS DO MEIO FÍSICO AB’SABER (1969) já propunha uma análise dinâmica da geomorfologia aplicada aos estudos ambientais, com base na pesquisa de três fatores interligados: identificação de uma compartimentação morfológica dos terrenos; le- vantamento da estrutura superficial das paisagens; estudo da fisiologia da paisagem (Figura 3.2). Figura 3.1 ––––– A paisagem geomorfológica como resultante da interação dinâmica entre processos endógenos (controlados pela tectônica) e processos exógenos (controlados pelo clima) (PRESS et al., 2006, p. 460).
  • 37. 35 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy Figura 3.2 ––––– Proposição de análise geomorfológica, onde são considerados: análise da compartimentação morfológica do relevo; estrutura superficial dos terrenos; fisiologia da paisagem (AB’SABER, 1969).
  • 38. 36 GEODIVERSIDADE DO BRASIL A compartimentação morfológica dos terrenos é ob- tida a partir da avaliação empírica dos diversos conjuntos de formas e padrões de relevo posicionados em diferentes níveis topográficos, por meio de observações de campo e análise de sensores remotos (fotografias aéreas, imagens de satélite e Modelo Digital de Terreno – MDT). Essa ava- liação é diretamente aplicada aos estudos de ordenamento do uso do solo e planejamento territorial, constituindo-se em uma primeira e fundamental contribuição da geomorfologia. A estrutura superficial das paisagens pode ser enten- dida com o estudo dos mantos de alteração in situ (for- mações superficiais autóctones) e das coberturas inconsolidadas (formações superficiais alóctones) que ja- zem sob a superfície dos terrenos. Tais estudos são funda- mentais para a compreensão da gênese e evolução das formas de relevo, pois, aliados à compreensão da compartimentação morfológica dos terrenos, consistem em uma importante ferramenta para avaliação do grau de fragilidadenaturaldosterrenosfrenteaosprocessoserosivos e deposicionais. O estudo da fisiologia da paisagem, por sua vez, consiste na análise integrada das diversas variáveis ambientais em sua interface com a geomorfologia, ou seja, a influência dos condicionantes litológico-estrutu- rais, dos padrões climáticos e dos tipos de solos na configuração física das paisagens. O objetivo de tal ava- liação é compreender a ação dos processos erosivo- deposicionais atuais, incluindo todos os impactos de- correntes da ação antropogênica sobre a paisagem na- tural. Assim, inclui-se na análise geomorfológica o es- tudo da morfodinâmica, com ênfase para a análise de processos. Em escalas pequenas, de grande abrangência espa- cial, tal como no mapeamento da geodiversidade do Bra- sil na escala 1:2.500.000 (CPRM, 2006), a contribuição da geomorfologia para o mapeamento da geodiversidade concentra-se no estudo da morfologia dos terrenos que consiste, em uma primeira abordagem, da análise geomorfológica. Todavia, em nenhum momento deve-se desconsiderar uma avaliação genética e evolutiva do mo- delado do relevo. Para a análise do modelado dos terrenos, são utiliza- dos parâmetros morfológicos e morfométricos que mensuram as características fisiográficas do relevo, desta- cando-se: • Amplitude de relevo: É um parâmetro que mensura o desnivelamento de relevo entre a cota dos fun- dos de vales e a cota dos divisores de água em uma bacia de drenagem. Esse parâmetro retrata o grau de entalhamento de uma determinada unidade de paisagem e a correspondente dimensão das formas de relevo pre- sentes. Áreas com elevadas amplitudes de relevo são con- sideradas montanhosas. Por sua vez, áreas com baixas amplitudes de relevo são aplainadas ou, no máximo, colinosas. • Gradiente: É um parâmetro que mensura o ân- gulo de declividade de uma vertente ou de uma bacia de drenagem. Reflete, de forma geral, a vulnerabilidade de uma unidade de paisagem frente aos processos erosivo- deposicionais. Áreas com elevados gradientes são, em geral, morrosas ou montanhosas; já as com baixos gradi- entes são aplainadas ou colinosas. Áreas deposicionais (planícies) apresentam gradiente inexpressivo. • Densidade de drenagem: É um parâmetro que mensura a razão entre o comprimento total de canais e a área da bacia de drenagem. Retrata o grau de dissecação de uma determinada unidade de paisagem. Áreas com elevada densidade de drenagem apresentam relevo mo- vimentado, típico de regiões morrosas ou montanhosas; as com baixa densidade de drenagem, por sua vez, apre- sentam relevo suave, típico de superfícies planas ou colinosas. • Geometria de topos e vertentes: Consiste em uma avaliação morfológica que descreve a forma de denudação de uma determinada unidade de paisagem, indicando o modo pelo qual as formas de relevo foram modeladas ao longo do tempo geológico. As formas geo- métricas de topos podem ser classificadas em: aguçadas, ou em cristas; arredondadas; ou tabulares. Já as formas geométricas das vertentes podem ser classificadas em: convexas, retilíneas e côncavas. Com base na leitura qualitativo-quantitativa da fisiografia, pode-se classificar a paisagem natural em dis- tintas unidades geomorfológicas, que consistem no pro- duto da resistência diferencial dos materiais frente aos pro- cessos de erosão e sedimentação: • Planícies: Consistem em áreas planas, resultan- tes de acumulação fluvial, marinha ou flúvio-marinha, geralmente sujeitas a inundações periódicas, correspondendo às várzeas atuais ou zonas embrejadas. São constituídas por sedimentos inconsolidados de ida- de quaternária. Caracterizam-se por relevos deposicionais. Apresentam amplitudes de relevo e declividades inexpressivas (Figura 3.3). Figura 3.3 ––––– Planície fluvial do alto curso do rio São João (município de Silva Jardim, RJ).
  • 39. 37 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy • Tabuleiros: São formas de relevo suavemente dissecadas que apresentam extensas superfícies de gradi- entes extremamente suaves, com topos planos e alonga- dos e vertentes retilíneas nos vales encaixados em forma de “U”, resultantes da dissecação fluvial recente. São cons- tituídas, em geral, por rochas sedimentares pouco litificadas de idade cenozóica. Apresentam amplitudes de relevo baixas, declividades inexpressivas e baixa densidade de dre- nagem (Figura 3.4). • Planaltos: São superfícies pouco acidentadas, consti- tuindograndesmassasderelevoarrasadaspelaerosão, posicionadas em cotas mais elevadas que as superfícies adjacentes.Quandomodeladosemrochassedimentares antigas, recebem a denominação de “chapadas”, que sãosuperfíciestabularesalçadas,ourelevossoerguidos, planos ou aplainados, incipientemente dissecados. Os rebordosdessassuperfícies,posicionadosemcotasele- vadas, são delimitados, em geral, por vertentes íngre- mes a escarpadas. Apresentam internamente amplitu- desderelevoedeclividadesbaixasamoderadasebaixa densidade de drenagem (Figura 3.5). • Superfícies de aplainamento: São superfícies planas a levemente onduladas, geradas a partir do arra- samento geral dos terrenos, truncando todas as litologias (Figura 3.6). É freqüente a ocorrência de relevos residu- ais isolados (inselbergs) (Figura 3.7), destacados na pai- sagem aplainada. Essas superfícies representam, em li- nhas gerais, tanto os planaltos mais elevados (superfíci- es de erosão mais antigas – por exemplo, a Chapada dos Guimarães/MT), quanto grandes extensões das de- pressões interplanálticas do território brasileiro (superfí- cies de erosão mais jovens – por exemplo, Depressão Sertaneja/BA). Apresentam amplitudes de relevo e declividades inexpressivas e baixa densidade de drena- gem. • Depressão:Depressão:Depressão:Depressão:Depressão: Trata-se de uma zona geomorfológica que está em posição altimétrica mais baixa que as áreas contíguas. Área ou porção do relevo Figura 3.4 ––––– Tabuleiros dissecados pelo rio Guaxindiba (município de São Francisco do Itabapoana, norte fluminense). Figura 3.5 ––––– Aspecto de chapada isolada no sul do Piauí, em vasta superfície de aplainamento (município de Corrente, PI). Figura 3.6 ––––– Depressão Sertaneja. Vasta superfície de aplainamento truncando todas as litologias no sul do Piauí (município de Parnaguá, PI). Figura 3.7 ––––– Morro de Santo Antônio. Depressão Cuiabana (município de Santo Antônio do Leverger, MT).
  • 40. 38 GEODIVERSIDADE DO BRASIL situada abaixo do nível do mar é uma depressão abso- luta (por exemplo, mar Morto). Quando a área ou por- ção do relevo está situada abaixo do nível das regiões que lhe estão próximas, é considerada uma depressão relativa (por exemplo, vale do rio Paraíba do Sul). As depressões podem apresentar relevo aplainado ou colinoso (Figura 3.8). • Colinas: Consiste em um relevo pouco disseca- do, com vertentes convexas ou convexo-côncavas e to- pos amplos ou arredondados. O sistema de drenagem principal apresenta deposição de planícies aluviais relati- vamente amplas. Apresentam amplitudes de relevo e declividades moderadas e moderada a alta densidade de drenagem (Figura 3.9). • Montanhas: É um relevo muito acidentado, com vertentes predominantemente retilíneas a côncavas, escar- padas e topos de cristas alinhadas, aguçados ou levemen- te arredondados, com sedimentação de colúvios e depó- sitos de tálus. Sistema de drenagem principal em franco processo de entalhamento. Apresenta amplitudes de rele- vo e declividades elevadas e alta densidade de drenagem (Figura 3.10). • Escarpas:Escarpas:Escarpas:Escarpas:Escarpas: É um tipo de relevo montanhoso, mui- to acidentado, transicional entre dois padrões de relevo, com desnivelamentos superiores a, pelo menos, 300 m. Apresentam vertentes muito íngremes e dissecadas, com geometria retilíneo-côncava. Há ocorrência freqüente de vertentes escarpadas com gradientes muito elevados (su- periores a 45o ) e paredões rochosos subverticais. Apresen- tam amplitudes de relevo e declividades elevadas e alta densidade de drenagem (Figura 3.11). Figura 3.9 ––––– Colinas amplas e suaves (município de Araruama, RJ). Figura 3.10 ––––– Relevo montanhoso da região serrana do Rio de Janeiro. Em destaque, a Pedra Aguda (município de Bom Jardim, RJ). Figura 3.11 ––––– Alto da escarpa da serra Geral. Estrada da serra do rio do Rastro (Coluna White, divisa SC–RS). Figura 3.8 ––––– Depressão Sertaneja, embutida entre a borda leste da Chapada Diamantina e a serra de Jacobina (BA).
  • 41. 39 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy COMPARTIMENTAÇÃO MORFOLÓGICA DOS TERRENOS E GEODIVERSIDADE NO BRASIL A idade da geração das rochas não guarda qualquer relação com a presente configuração morfológica do relevo do Brasil. O atual cenário geomorfológico do território bra- sileiro começa a se delinear a partir de fins do Cretáceo com: a progressiva abertura do oceano Atlântico; a orogênese Andina ao longo do Terciário; o desequilíbrio isostático da Placa Sul-Americana; a subsidência da Amazô- nia Ocidental, do Chaco e do Pantanal; o soerguimento epirogenético da plataforma brasileira. Destacam-se, nesse contexto, os grandes falhamentos cenozóicos na Fachada Atlântica brasileira, gerando as escarpas das serras do Mar e da Mantiqueira, e as bacias sedimentares interiores e da plataforma continental. As superfícies de aplainamento (ex- cetuando-se as cimeiras mais elevadas), os planaltos residu- ais e as depressões periféricas e interplanálticas também são esculpidas a partir da epirogênese pós-cretácica. Entende-se por orogênese um conjunto de processos geológicos que resulta na formação de uma cadeia de montanhas (orógeno) e que está relacionado à tectônica compressional das placas tectônicas. A epirogênese, por sua vez, consiste em uma movimentação verticalizada, positiva ou negativa, sem deformação da crosta terrestre, geralmente lenta e que afeta uma ampla região, em de- corrência de reações isostáticas atuantes na placa tectônica. A seguir, serão apresentados, de forma sumária, os principais conjuntos ou domínios geomorfológicos brasi- leiros, identificados com base na classificação de domíni- os morfoclimáticos e províncias geológicas proposta por AB’SABER (1967, 1970). Para cada domínio são destaca- das: configuração morfológica; evolução paleogeográfica; inter-relação com distintos tipos pedológicos, climáticos e fitogeográficos (Figura 3.12). DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORES- TADAS EQUATORIAIS DA AMAZÔNIA Nesse domínio se destacam quatro padrões morfológicos principais: planícies de inundação e terraços fluviais das várzeas amazônicas; tabuleiros de terra firme; superfícies de aplainamento das áreas cratônicas; planaltos eserrasmodeladosemcoberturasplataformaisoulitologias mais resistentes à erosão (planaltos e serras residuais). Esses ambientes estão submetidos a um regime climático quente e úmido a superúmido e sob intensa atuação do intemperismo químico e lixiviação dos solos, que permite a formação de paisagens, em geral, monótonas, recobertas em quase sua totalidade pela vegetação florestal. O rio Amazonas, até aproximadamente 10 milhões de anos (entre o Mioceno e o Plioceno), fluía para o oeste em direção ao oceano Pacífico. A partir da orogênese Andina, devido à colisão da Placa Sul-Americana e da Pla- ca de Nazca, essa passagem para oeste foi bloqueada e o rio Amazonas inverteu seu sentido para leste, passando a desembocar no oceano Atlântico (RÄSÄNEN et al., 1987). Na Amazônia Ocidental, formou-se uma imensa bacia sedimentar entulhada por sedimentos provenientes da ero- são da cordilheira dos Andes, gerando assim uma sedi- mentação flúvio-lacustrina (Formação Solimões), com a posterior formação de depósitos fluviais de idade quaternária. A partir do Pleistoceno Superior, esses depó- sitos passam a ser incipientemente entalhados, sendo que os níveis deposicionais atuais limitam-se às atuais várzeas. Planície de Inundação As planícies de inundação e terraços fluviais das vár- zeas amazônicas ocupam os vastos fundos de vales dos principais rios da Amazônia que alcançam, por vezes, dezenas de quilômetros de largura e consistem nas únicas zonas deposicionais ativas na Amazônia. Essas planícies aluviais, caracterizadas por vegetação de igapó e matas de várzea adaptadas a ambientes inundáveis, apresentam idade quaternária. Os terraços fluviais são correlatos ao Pleistoceno Superior e as planícies de inundação, ao Holoceno. As várzeas amazônicas apresentam notável di- versidade morfológica, devido a distintos padrões de sedi- mentação aluvial desenvolvidos por uma rede de drena- gem de padrão meandrante de alta sinuosidade (tais como as planícies ao longo dos rios Purus e Juruá) ou de padrão anastomosado ou anabranching (tais como as dos rios Solimões e Negro). Nesse contexto, são identificadas for- mas deposicionais, como furos, paranás, planícies de acreção em barras de pontal, planícies de decantação; ilhas fluviais, barras arenosas, lagos, diques marginais etc. (LATRUBESSE e FRANZINELLI, 2002) (Figura 3.13). Figura 3.12 ––––– Mapa de domínios morfoclimáticos do Brasil (AB’SABER, 1969).
  • 42. 40 GEODIVERSIDADE DO BRASIL concrecionários e horizontes aluminosos em diversas áreas dostabuleirosedassuperfíciesaplainadasemtodaaAmazô- nia (COSTA, 1991; HORBE et al., 1997). Superfícies de Aplainamentos As superfícies de aplainamento apresentam cotas que variam entre 200 e 350 m. Notabilizam-se pela ocor- rência de extensas áreas aplainadas ou levemente enta- lhadas pela rede de drenagem. Nesse caso, as superfícies aplainadas são entalhadas e reafeiçoadas, formando um relevo colinoso de baixa amplitude (Perfil 3.1). Tendo em vista que as fases de arrasamento do relevo correspondem a longos períodos de maior aridez ao longo do Cenozóico, o atual clima quente e úmido tende a dissecar os Os rios amazônicos apresentam colorações diferenci- adas de acordo com o pH, carga de sedimentos e compo- sição química de suas águas, podendo ser barrentas, cla- ras ou pretas (SIOLI, 1957). As planícies constituídas por rios de água barrenta que drenam a vertente oriental da cordilheira andina (por exemplo, rios Madeira e Solimões) (Figura 3.14) apresentam planícies mais extensas e solos com boa fertilidade natural (condição rara na Amazônia), devido à grande descarga de sedimentos oriunda da dis- secação (erosão) dos Andes. As planícies constituídas por rios de água preta (por exemplo, rio Negro) apresentam menor sedimentação aluvial, decorrente de baixa carga de sedimentos em suspensão, aliada à alta concentração de sesquióxidos de ferro. As nascentes do rio Negro ocupam um ambiente de clima superúmido do noroeste da Ama- zônia, na região do cráton das Guianas, com larga ocor- rência de solos profundamente lixiviados. As planícies cons- tituídas por rios de água clara, que drenam o planalto brasileiro (por exemplo, rios Tapajós e Xingu), também apresentam esparsas planícies fluviais com moderada car- ga de sedimentos, porém sem grande concentração de ferro em suas águas. Tabuleiros de Terra Firme Ostabuleirosdeterrafirmeocupamgrandesextensões da Amazônia, sendo caracterizados por terrenos planos e baixos (em cotas inferiores a 200 m), com solos espessos, pobresebemdrenados(emgeral,LatossolosAmarelos).Em certas porções desses terrenos, os tabuleiros são dissecados em um relevo colinoso ou de colinas tabulares, assumindo particular relevância no Acre e na área ao norte de Manaus (Figura 3.15). Essa morfologia decorre de um longo proces- so de elaboração de espessos perfis intempéricos lateríticos com desenvolvimento de horizontes ferruginosos Figura 3.13 ––––– Calha do rio Solimões durante o período máximo de cheia (junho/2008). Observam-se diques marginais acima da cota de cheia ou parcialmente rompidos. Ao fundo, a planície fluvial inundada (margem esquerda do rio Solimões, entre Iranduba e Manacapuru, AM). FFFFFigura 3.14 ––––– Ampla calha do rio Madeira, apresentando águas barrentas em longo trecho da corredeira Morrinhos, correspondente ao Alto Estrutural Guajará-Mirim–Porto Velho (RO). Figura 3.15 ––––– Aspecto da superfície dos tabuleiros, dissecados em pequenos vales ortogonais ao longo do percurso da rodovia BR– 174, próximo a Presidente Figueiredo (AM). Observam-se topos concordantes e subnivelados das colinas tabulares até a linha do horizonte.
  • 43. 41 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy aplainamentos previamente elaborados (AB’SABER, 1982; BIGARELLA e FERREIRA, 1985). Assim como nos tabu- leiros, os solos são, em geral, espessos, pobres, bem drenados (Latossolos e Argilosos) (EMBRAPA, 2001) e ocupados por mata de terra firme. Planaltos e Serras Residuais Os planaltos residuais em coberturas plataformais são superfícies planas e elevadas que apresentam um aspecto residual em meio às vastas superfícies aplainadas, distri- buindo-se nos crátons do Xingu e das Guianas. Esses pla- naltos apresentam, no topo, solos espessos, em geral are- nosos, pobres e bem drenados, ocupados ora por mata de terra firme, ora por formações de savanas, em especial no norte de Roraima, onde a vegetação é similar aos llanos venezuelanos. Os tepuys representam uma notável feição morfológica da geodiversidade do extremo norte do Brasil (Figura 3.16). Além das chapadas, ressaltam vários conjuntos serra- nos residuais em meio às terras baixas amazônicas, em geral, esculpidas em litologias mais resistentes à erosão. Destacam-se, nesse contexto, as serras do Carajás (PA) (Perfil 3.1), do Navio (AP) e do Tumucumaque (fronteira entre o Brasil e as Guianas), sendo as duas primeiras importantes províncias minerais desenvolvidas em greenstone belts, enquanto as porções mais elevadas da serra do Tumucumaque são esculpidas em granitos e charnockitos (CPRM, 2006). DOMÍNIO DOS CHAPADÕES SEMI- ÚMIDOS TROPICAIS DO CERRADO Nesse domínio, destacam-se quatro padrões morfológicos principais: topos dos chapadões sustenta- dos por couraças ferruginosas; planaltos dissecados; de- pressões interplanálticas; planície do rio Araguaia. Esses ambientes estão submetidos a um regime climático quen- te e semi-úmido, com regime estacional bem definido, com verões chuvosos e invernos secos. Ainda assim, as paisagens são submetidas à forte atuação do intemperismo químico com formação de solos espessos, lixiviados e laterizados, recobertas por vegetação de savana, que varia desde campos-cerrados, onde predomina a vegetação her- bácea, até cerradões, em que predomina vegetação arbustivo-arbórea. Topos dos Chapadões Os topos dos chapadões, sustentados por couraças ferruginosas, ocupam as superfícies mais elevadas do Planalto Central brasileiro. Destacam-se, nesse contex- to: Planalto do Distrito Federal (em cotas que variam entre 1.000 e 1.300 m); Espigão Mestre, no oeste da Bahia (em cotas que variam entre 700 e 1.000 m); Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso (em cotas que variam entre 700 e 900 m); Chapada das Mangabeiras, no sul do Maranhão e Piauí (em cotas que variam entre 500 e 700 m); Planalto dos Parecis, em Mato Grosso e sul de Rondônia (em cotas que vari- am entre 500 e 700 m) (Figura 3.17). As chapadas apresentam solos muito profundos, lixiviados, ácidos (elevado teor de alumínio) e de baixa fertilidade natural (Latossolos álicos, em geral), freqüentemente capeados por couraças detrítico-lateríticas (MAMEDE, 1996; PENTEADO, 1976). Esses terrenos apre- sentam nível freático, em geral, profundo, mas caracteri- zado por grande oscilação sazonal, devido ao regime pluviométrico típico dos trópicos semi-úmidos. Essa am- pla variação do lençol freático sobre material muito intemperizado promove a remobilização dos sesquióxidos de ferro e sua concentração em um determinado horizon- Figura 3.16 ––––– Altos platôs (tepuys) sustentados por cornijas de arenitos conglomeráticos do Supergrupo Roraima, alçado centenas de metros acima do piso regional representado por vastas superfícies de aplainamento do norte da Amazônia (norte de Roraima, próximo à fronteira com a Venezuela). Fotografia: Maria Adelaide Maia. Figura 3.17 ––––– Aspecto monótono do topo da Chapada das Covas, apresentando relevo plano a suave ondulado, francamente utilizado para a agricultura mecanizada, de alta produtividade (estrada Silvânia–Luziânia, GO).
  • 44. 42 GEODIVERSIDADE DO BRASIL te do perfil do solo, originando o concrecionamento laterítico. Essas formações superficiais, assim como as características físicas e químicas dos solos, atestam idade antiga à elaboração dessas superfícies tabulares. O topo das chapadas é marcado pelo desenvolvimento de uma crosta detrítico-laterítica bastante resistente ao intemperismo e à erosão (Perfil 3.2). O relevo plano e ta- bular, marcado por escarpas e rebordos erosivos das chapadas elevadas está preservado da dissecação moder- na, exceto pelo recuo das vertentes (Figura 3.18). Essas superfícies de aplainamento representam fei- ções reliquiares na paisagem do Planalto Central desde o Paleógeno. Assim sendo, atestam estabilidade dos pro- cessos morfodinâmicos, mas também refletem intensa atu- ação de processos de pediplanação e etchplanação, onde o papel do intemperismo químico na formação de espes- sos mantos de alteração e rebaixamento das superfícies é de fundamental importância para compreensão da gênese desse tipo de relevo. Apenas o soerguimento promovido pela epirogênese pós-cretácica é capaz de explicar que tais superfícies planas, originalmente elaboradas em ajuste no nível de base regional, estejam alçadas em cotas tão ele- vadas (Perfil 3.2). Essa unidade pode apresentar, de forma localizada, uma ocorrência generalizada de voçorocamentos que po- dem atingir quilômetros de comprimento, muitas vezes, propagados a partir da conversão de cerrado nativos para culturas temporárias (soja, milho, algodão), em solos de maior erodibilidade. Planaltos Dissecados Os planaltos dissecados abrangem terrenos colinosos a morrosos com ocorrência de serras isola- das, típicos do Planalto Central goiano ou do Planalto do centro-noroeste mineiro. Subordinadamente, ocor- rem manchas de capões de mata no interior de Goiás e no Triângulo Mineiro, que representam refúgios flores- tais em meio ao domínio dos cerrados situados em interflúvios sustentados por rochas de composição bá- sica e solos argilosos, de alta fertilidade natural. Esse peculiar condicionante geopedológico favorece o esta- belecimento de vegetação florestal isolada, devido à maior capacidade de armazenamento de água no solo e disponibilidade de nutrientes minerais. Também po- dem ocorrer as matas secas, exclusivamente em áreas de afloramento de rochas calcárias, apresentando so- los, em geral, pouco profundos (devido à dissolução química do carbonato de cálcio) e com alta fertilidade natural. Esses terrenos constituem-se em refúgios de vegetação florestal, mas, devido à baixa capacidade de armazenamento de água no solo, essa mata perde as folhas na estação seca, o que a caracteriza como mata decídua ou caducifólia. Depressões Interplanálticas As depressões interplanálticas compreendem uma extensa superfície aplainada, que oblitera ou trunca as estruturas do substrato rochoso, apresentando morfologia levemente ondulada, que é drenado por uma rede de baixa densidade, correspondendo a terrenos que sofreram mais intensamente os efeitos do aplainamento. Destacam-se as depressões interplanálticas dos vales dos rios Tocantins e Araguaia, que apresentam cotas entre 450 e 200 m com caimento de sul para norte. Não há desenvolvimento expressivo de formações superficiais cenozóicas, sendo que, mesmo os fundos de vales, não registram expressiva sedimentação aluvial. Comumente, observam-se, ao sul, alinhamentos serranos isolados sus- tentados por quartzitos ou, ao norte, morros-testemu- nhos sustentados por seqüências sedimentares da Bacia do Parnaíba mais resistentes ao intemperismo (Figura 3.19). Figura 3.18 ––––– Perfil de solo representativo da cobertura de concreções detrítico-lateríticas imaturas no Planalto Central brasileiro, ressaltando, no topo, horizonte de nódulos pisolíticos, muito endurecidos, de forma subarredondada e diâmetro variando entre 1 a 5 cm, imerso em matriz argilosa (município de Anápolis, GO).
  • 45. 43 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy Perfil3.1–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectRoraima–SerradosCarajás(PA). Perfil3.2–PerfilGeológico-GeomorfológicoEsquemáticodoTransectCorumbá(MS)–Brasília(DF).
  • 46. 44 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Uma feição da paisagem característica dos cerrados, tanto nos planaltos quanto nas depressões, são as matas- galeria – que ocupam os fundos de vales de toda a rede de canais que disseca as chapadas e se apresentam, devido a uma condição local de umidade, como refúgio para a vege- tação florestal. Apesar de a longa duração do período seco na região (em torno de seis meses), o lençol freático dos espessossolosdocerradoalimentacontinuamenteoscanais principais, mantendo-os perenes o ano inteiro. Ab’Saber (1963) destaca esse aspecto hidrológico como fundamental para distinguir as áreas de cerrados das áreas de caatingas. Planície do Rio Araguaia A planície do rio Araguaia consiste em uma vasta zona deposicional ativa em meio à depressão interplanáltica do Araguaia. Caracteriza-se por uma depressão inundável, alongada no sentido norte-sul e entulhada por sedimenta- ção quaternária, onde se destaca a ilha do Bananal, consi- derada a maior ilha fluvial do mundo. DOMÍNIO DAS DEPRESSÕES SEMI-ÁRIDAS TROPICAIS DA CAATINGA Nesse domínio, destacam-se quatro padrões morfológicos principais: superfícies de aplainamento da De- pressão Sertaneja; chapadas sustentadas por rochas sedimentares; serras isoladas e brejos de altitude; Planalto da Borborema. Esses ambientes estão submetidos a um regime climático quente e semi-árido, com estiagem muito prolongada (entre 7 e 10 meses). Assim sendo, as paisa- gens se caracterizam por uma atuação mais intensa do intemperismo físico (desagregação mecânica das rochas), comformaçãodesolosrasosepedregosos,sendorecobertas por uma xeromórfica arbustiva ou arbustivo-arbórea, ou mesmo, vegetação semelhante à das estepes, em que se desdobram as diferentes fitofisionomias da caatinga. Superfícies de Aplainamento da Depressão Sertaneja AsvastassuperfíciesdeaplainamentodaDepressãoSer- tanejaqueabrangemamaiorpartedosemi-áridonordestino destacam-sepelasextensasplanurasconservadasoumuitofra- camenteentalhadasporredededrenagemintermitente(exce- tuando-seorioSãoFrancisco)demuitobaixadensidade.Ao contráriodamaiorpartedassuperfíciesaplainadasnoBrasil,a DepressãoSertanejaapresenta-senotavelmenteconservadafren- teàsfasesdedissecaçãoneógenas,devidoaopredomíniode condiçõesclimáticassemi-áridasqueinibiramadissecaçãoflu- vial moderna (AB’SABER, 1974). A Depressão Sertaneja está embutida em cotas baixas, inferiores a 300 m, no estado do CearáenointeriordosestadosdoRioGrandedoNorte,Paraíba, Pernambuco,AlagoaseSergipe(Perfil3.3).Nomédiovaledo rio São Francisco, apresenta cotas entre 300 e 500 m. Essa superfícieestádelimitada:aleste,peloPlanaltodaBorborema (noNordesteOriental)eChapadaDiamantina(naporçãocen- tral da Bahia); a oeste, pela Chapada da Ibiapaba (no Piauí) e EspigãoMestre(nooestedaBahia);anorte,nivela-secomos tabuleiroslitorâneosdoGrupoBarreiras(nolitoraldoCearáe RioGrandedoNorte). Os solos são, em geral, rasos, de textura arenosa a cascalhenta (Luvissolos). Freqüentemente, nas áreas mais baixas, chamadas de “rasos”, desenvolvem-se solos com argilas expansivas (Vertissolos) ou com alto teor de sais (Planossolos Solódicos), estes com sérias limitações à agri- cultura irrigada (EMBRAPA, 2001). A rede de drenagem intermitente é um fator determinante para diferenciar as depressões semi-áridas ocupadas pela caatinga dos planaltos semi-úmidos ocu- pados pelo cerrado, visto que, nos cerrados, sustentados por solos espessos e com boa capacidade de armazenamento de água, a rede de drenagem é perene, mesmo suportando estiagens de 4 a 6 meses. No caso da caatinga, com solos mais rasos e arenosos, com baixa ca- pacidade de armazenamento de água e enfrentando estia- gens mais severas, praticamente toda a rede de canais seca durante o auge do período seco (Figura 3.20). Figura 3.19 ––––– Aspecto das vertentes declivosas dos rebordos erosivos sustentados por rochas sedimentares e o topo plano do Planalto de Uruçuí, no sudoeste do Piauí. Em primeiro plano, vasto pedimento revestido por cerrado no vale do rio Gurguéia (município de Cristino Câmara, PI). Figura 3.20 ––––– Aspecto árido e desolado da vasta superfície de aplainamento da Depressão Sertaneja, com ocorrência de solos rasos e pedregosos revestidos por caatinga hiperxerófila. Ao fundo, destaca-se agrupamento de inselbergs alinhados sobre zona de cisalhamento de rochas silicificadas (estrada Senhor do Bonfim– Juazeiro–Carapebus, BA).
  • 47. 45 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy A Depressão Sertaneja, caracterizada por essas exten- sas superfícies planas, é interrompida não somente pelas vertentes dos rebordos erosivos e escarpas dos planaltos e chapadas circundantes, mas também por grande quanti- dade de relevos residuais, tais como inselbergs ou alinha- mentos serranos isolados, muitas vezes, exibindo forte controle litoestrutural do substrato ígneo-metamórfico pré- cambriano. Os inselbergs são de relevos residuais que apa- recem na paisagem como montes isolados, elevando-se, em muitos casos, centenas de metros acima do piso da superfície regional. Em parte, essas formas de relevo resi- dual são originadas a partir da resistência diferencial ao intemperismo e à erosão de determinadas litologias (em especial, rochas graníticas ou quartzíticas) frente ao con- junto de litologias aflorantes em determinada região (Fi- gura 3.21). Chapadas Sustentadas por Rochas Sedimentares As chapadas sustentadas por rochas sedimentares re- presentam uma antiga cobertura sedimentar marinha de idade cretácica que recobriu grande parte da Depressão Sertaneja. Tal fato é facilmente reconhecido pelo alto con- teúdo fossilífero encontrado na Chapada do Araripe (em especial, a ictiofauna do Cretáceo) e sugere uma expressi- va invasão marinha no nordeste setentrional após a aber- tura do oceano Atlântico. Destacam-se, nesse contexto: a Chapada do Araripe, entre o Cariri cearense e os sertões paraibano e pernambucano (uma uniforme superfície ta- bular em cotas que variam entre 750 e 950 m) (Perfil 3.3); a Chapada do Apodi, na divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará (mais baixa e próxima do litoral, com cotas que variam entre 150 e 250 m). O soerguimento promovido pela epirogênese pós-cretácica alçou o antigo fundo marinho ao nível do topo dessas chapadas sendo, posteriormente, removidas pela erosão ao longo do Cenozóico. As chapadas existentes são, portanto, rema- nescentes de um antigo capeamento marinho outrora muito mais amplo. A Chapada da Ibiapaba, na divisa entre Ceará e Piauí (em cotas que variam entre 600 e 900 m), está sustentada por rochas mais antigas da Ba- cia do Parnaíba. Em contraste com as superfícies aplainadas, os topos das chapadas apresentam solos profundos e com melhor capacidade de armazenamento de água. Esse fato explica uma melhor condição de umidade do Cariri, no sopé da escarpa norte do Araripe, onde as cidades de Crato e Juazeiro do Norte estão situadas. Isso se deve ao fato de que as camadas de rochas sedimentares na Chapada do Araripe sofreram basculamento para norte, produzindo um movimento da água subterrânea nessa direção e o surgimento de um grande número de nascentes (“olhos d’água”) na borda norte do Araripe (ANDRADE, 1964). Em contraste, as vertentes sul e leste, voltadas para Pernambuco e Paraíba, são muito mais áridas. Destaque especial deve ser conferido à Chapada Diamantina, situada na porção central do estado da Bahia. Apresenta direção alongada no sentido N-S e consiste em extensa cobertura plataformal, constituída por rochas sedimentares de idade proterozóica que jazem sobre o Cráton do São Francisco e representam um conjunto de elevações imponentes, de grande beleza cênica, apresen- tando topos planos, cujas cotas se situam entre 1.200 e 1.600 m (Figura 3.22). Predominam arenitos (alguns diamantíferos), conglomerados e calcários com dominância de solos rasos e permeáveis (Cambissolos, Neossolos Litólicos e Neossolos Quartzarênicos) de expressiva vulnerabilidade ambiental (BONFIM et al., 1994). A ver- tente voltada para leste é coberta por um refúgio florestal de Mata Atlântica, enquanto a vertente voltada para o oeste, mais seca, é coberta por vegetação de caatinga. Serras Isoladas e Brejos de Altitude As serras isoladas que ressaltam em meio à Depres- sãoSertanejatambémconstituemumimportanteelemento da paisagem do semi-árido nordestino, pois representam Figura 3.21 ––––– Alinhamentos isolados de cristas de quartzitos gerando formas de relevo residuais (inselbergs) em meio à vasta superfície aplainada da Depressão Sertaneja (açude de Caribobó) (município de Canudos, BA). Fotografia: Rogério Ferreira. Figura 3.22 ––––– Topos planos dos altos planaltos bruscamente delimitados por paredões rochosos subverticais. Abaixo, prevalecem extensas encostas detríticas que convergem para vales amplos e profundos, perfazendo o cenário físico da Chapada Diamantina (município de Lençóis, BA). Disponível em: <http:// ricciardionline.com/>.
  • 48. 46 GEODIVERSIDADE DO BRASIL um enclave climático de maior umidade, sendo denomi- nados “brejos de altitude”. A maior pluviosidade das ser- ras (700 a 1.000 mm anuais) em relação às superfícies aplainadas (300 a 700 mm anuais) decorre do efeito orográfico promovido pelas elevações montanhosas que retêm maior quantidade de umidade atmosférica, apre- sentando um refúgio de vegetação florestal, com solos mais espessos e argilosos e drenagem perene. Destacam- se, dentre as principais, as serras de Baturité (apresentan- do cristas com cotas entre 500 e 900 m) e de Uruburetama (com topos dissecados em cotas entre 600 e 1.000 m), ambas no embasamento ígneo-metamórfico do estado do Ceará, e a serra Talhada (em cotas entre 800 e 1.100 m), constituída por um plúton granítico em Triunfo (PE). Planalto da Borborema Extenso planalto em núcleo arqueado (AB’SABER, 1998; ROSS, 1997) que abrange a porção central dos es- tados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Apresenta cotas que variam entre 500 e 1.000 m, caracterizando-se pela ocorrência de extensas áreas planas ou de colinas amplas e suaves delimitadas por escarpamentos ou degraus em borda de planalto, tanto na borda leste, quanto na borda oeste (Perfil 3.3). A vertente leste, ou atlântica, do Planalto da Borborema drena para a Zona da Mata nordestina e é constituída por colinas, tabuleiros e planícies costeiras que ocupamolitoralorientaldoNordeste,entreAracajue Natal. Trata-se de uma área úmida situada na vertente a barla- vento da Borborema. Devido a essa barreira orográfica, os ventos alísios de leste (Massa Equatorial Atlântica) são impelidos a galgar o planalto, promovendo intensa pluviosidade, em especial, no inverno. Por outro lado, a vertente oeste ou interiorana, cons- tituída por vastas superfícies aplainadas, drena para a De- pressão Sertaneja em localidades como Salgueiro (PE), Patos (PB) e Caicó (RN). Trata-se de uma área semi-árida situada na vertente a sotavento da Borborema. Nesse caso, os ventos alíseos ultrapassam o Planalto da Borborema sem umidade, o que explica a falta de chuvas no interior, área de domínio da caatinga. O Planalto da Borborema propriamente dito, em lo- calidades como Caruaru (PE), Garanhuns (PE) e Campina Grande (PB), apresenta uma área de clima transicional, semi-úmido (região do Agreste), com ocorrência de bre- jos de altitude similares às que ocorrem nos maciços e serras isoladas. DOMÍNIO DOS MARES-DE-MORROS ÚMIDOS TROPICAIS DA MATA ATLÂNTICA Nesse domínio, destacam-se cinco padrões morfológicos principais: planícies litorâneas; tabuleiros do Grupo Barreiras; alinhamentos serranos da Fachada Atlân- tica; relevo dominante dos mares-de-morros florestados; Planalto da Bacia do Paraná. Esses ambientes estão sub- metidos a um regime climático quente e úmido a superúmido, sob intensa atuação do intemperismo quími- co e lixiviação dos solos em situações de extrema diversi- dade morfológica, onde coexistem áreas que apresentam grande vulnerabilidade à inundação e áreas com grande vulnerabilidade a movimentos de massa (escorregamentos, deslizamentos). Planícies Litorâneas As planícies litorâneas compreendem variado conjunto deformasdeposicionais,genericamentedenominadas“bai- xadas”, que preenchem extensas áreas deprimidas locali- zadas próximo ao litoral. Apresentam sedimentação de interface entre ambientes fluvial, marinho e lagunar, de idade pleistocênica a holocênica. Abrangem grande parte da linha de costa, desde Santa Catarina até o Rio Grande do Norte (Figura 3.23). Apresentam cotas topográficas sempre inferiores a 20 m. Nesse contexto, podem ser individualizadas: planícies fluviais, planícies flúvio-marinhas, planícies flúvio-lagunares e planícies costeiras. Essas unidades apresentam alto po- tencial de vulnerabilidade a eventos de inundação, exce- tuando-se as planícies costeiras. As planícies litorâneas foram originadas pelas flutuações do nível relativo do mar a partir do Pleistoceno Superior. Desde então, registram-se pelo menos dois má- ximos transgressivos associados a períodos interglaciais. A penúltimatransgressãodatadeaproximadamente120.000 anos a.P. (até o Presente) (Pleistoceno Superior), e a últi- ma, datada de aproximadamente 5.100 anos a.P. (Holoceno) (SUGUIO et al., 1985). Entre os dois máximos transgressivos, registram-se testemunhos de antigos cor- dões arenosos e terraços fluviais de idade pleistocênica, não erodidos pela transgressão holocênica. A partir de Figura 3.23 ––––– Extensa planície lagunar recentemente colmatada por sedimentos fluviais e ocupados por pastagens, apresentando freqüentes áreas inundáveis (estrada Campos– Farol de São Tomé, RJ).
  • 49. 47 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy 5.100 anos a.P., foram geradas ilhas-barreiras que isola- ram extensos corpos lagunares, principalmente entre San- ta Catarina e Rio de Janeiro e delinearam a configuração atual das baixadas, marcadas por intensa sedimentação flúvio-marinha ou flúvio-lagunar resultante do período de regressão marinha subseqüente ao máximo transgressivo holocênico. Ou seja, grande parte das atuais planícies lito- râneas (Planície do Vale do Itajaí/SC; Baixada de Paranaguá/ PR; Planície do Vale do Ribeira/SP; Baixada de Santos/SP; Baixada Fluminense/RJ; Baixada Campista/RJ; Planície Deltaica do rio Doce/ES; Planície Deltaica do rio Jequitinhonha/BA; dentre outras) estiveram parcialmente submersas há aproximadamente 5.000 anos. Os baixos cursos fluviais são preenchidos por planí- cies flúvio-marinhas ou flúvio-lagunares e recobertas por matas de várzea. Caracterizam-se por terrenos mal a mui- to maldrenados, com padrão de canais meandrantes a divagantes. As zonas intermarés são cobertas por man- gues. As planícies lagunares, por sua vez, são cobertas por brejos (campos de várzea) sobre Gleissolos, muitos dos quais com influência marinha devido à concentração de sais ou enxofre (Gleissolos Salinos ou Tiomórficos). As planícies costeiras, por sua vez, compreendem uma sucessãodefeixesderestingasresultantesdoempilhamento de cristas de cordões litorâneos decorrente da ação mari- nha. Caracterizam-se por alternância de cristas arenosas paralelas entre si (antigas linhas de praia) com depressões embrejadas intercordões. Predominam solos bem drenados e muito permeáveis (Espodossolos e Neossolos Quartzarênicos) (EMBRAPA, 2001), cobertos por vegetação pioneira e mata de restinga. No topo dessas cristas areno- sas pode ocorrer algum retrabalhamento do material por ação eólica, resultando na formação de campos de dunas (AMADOR, 1997). A linha de costa apresenta tanto áreas de progradação (sedimentação), quanto áreas de retrogradação (erosão). É bastante freqüente a ocorrência de problemas de erosão costeira em extensas áreas do litoral brasileiro (Figura 3.24). Tabuleiros do Grupo Barreiras Os tabuleiros estão embasados por rochas sedimentares de idade terciária, pouco litificadas, do Gru- po Barreiras. São expressivos do litoral norte do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte, ocupando vasta super- fície pré-litorânea. Caracterizam-se por uma superfície pra- ticamente plana (em cotas que variam entre 20 e 200 m), com solos espessos, pobres, bem drenados (Latossolos Amarelos) (EMBRAPA, 2001), recobertos por mata de ta- buleiro. As superfícies tabulares são entalhadas, em geral, por uma rede de drenagem paralela de baixa densidade, formando vales encaixados em “U”, ou em colinas tabu- lares, principalmente quando a densidade de drenagem torna-se maior, próximo ao contato com o substrato pré- cambriano. Os tabuleiros costeiros estão associados a fei- ções singulares, tais como lagunas estreitas e alongadas e falésias ativas ou inativas. Essas falésias são taludes abruptos (barreiras) junto ao litoral, produzidos por pro- cesso de abrasão marinha. Apresentam grande beleza cênica, como no litoral sul da Bahia (Porto Seguro e Pra- do) (Figura 3.25). Alinhamentos Serranos da Fachada Atlântica Os alinhamentos serranos da Fachada Atlântica re- presentam um conjunto de escarpas montanhosas festonadas, fortemente alinhadas e compostas pelas ser- ras do Mar e da Mantiqueira (Perfil 3.4). Esse conjunto de terrenos montanhosos representa uma notável feição morfológica da geodiversidade do sul-sudeste brasileiro. As escarpas serranas apresentam, em geral, desnivelamentos extremamente elevados, às vezes, su- periores a 2.000 m. As vertentes são íngremes, por ve- Figura 3.24 ––––– Aspecto da planície costeira de Jurubatiba, recoberta por vegetação de restinga, sendo constituída de sucessivo empilhamento de cordões arenosos marinhos em condições de linha de costa progradante. Local: Estrada Macaé–Carapebus (RJ). Fotografia cedida por Edgar Shinzato. Figura 3.25 ––––– Aspecto das falésias ativas do Grupo Barreiras em processo de recuo erosivo do tabuleiro costeiro por abrasão marinha (município de Porto Seguro, BA).
  • 50. 48 GEODIVERSIDADE DO BRASIL zes rochosas, freqüentemente recobertas por depósitos de tálus e colúvios. Os gradientes são muito elevados e os topos aguçados ou em cristas alinhadas apresentam densidade de drenagem muito alta, sob freqüente con- trole estrutural (DANTAS, 2001). Predominam solos jo- vens, como Cambissolos e Neossolos Litólicos (EMBRAPA, 2001), cobertos por Mata Atlântica de encosta, sendo que os principais fragmentos remanescentes da mata original situam-se nesses terrenos muito acidentados. Nos topos mais elevados dos alinhamentos serranos, a Mata Atlântica é substituída por campos de altitude ou refúgio de mata de araucária, tal como registrado no Planalto da Bocaina, no maciço do Itatiaia e na serra dos Órgãos. Esses alinhamentos apresentam alto potencial de vulnerabilidade a eventos de movimentos de massa devi- do à existência de terrenos de alta declividade em áreas onde ocorrem períodos de fortes precipitações produzi- das por sistemas frontais, associadas a chuvas orográficas. A pluviosidade média das escarpas serranas é bastante superior àquelas registradas nas baixadas e áreas colinosas adjacentes, atingindo um acúmulo anual de chuvas supe- rior a 2.000 ou 2.500 mm. Em cidades como Blumenau e Joinville, no vale do Itajaí (SC), Ubatuba e Caraguatatuba (SP), no front da escarpa da serra do Mar, no litoral norte do estado de São Paulo e em Petrópolis e Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, são recorrentes os “desastres naturais” acarretados por eventos de deslizamentos e inundações que promovem consideráveis danos materiais e vítimas. Segundo Asmus e Ferrari (1978), tanto os maciços costeiros quanto os escarpamentos das cadeias monta- nhosas das serras do Mar e da Mantiqueira são resultantes do soerguimento e basculamento de blocos escalonados, apresentando direção preponderante WSW-ENE. Essa tectônica cenozóica originou, entre os blocos elevados, depressões tectônicas que se comportam como hemigrabens, tais como: bacias de Curitiba e de São Pau- lo; médio vale do rio Paraíba do Sul; Baixada Fluminense. Todavia, segundo Almeida e Carneiro (1998), a escarpa da serra do Mar resulta de um extenso recuo erosivo de antiga escarpa de falha originada junto à falha de Santos, a partir do Paleoceno. Segundo esses autores, a escarpa daserradaMantiqueiranãosofreurecuotãoextenso,sendo que seu plano de falha localiza-se junto à borda norte das bacias de Resende e Taubaté. A escarpa da serra do Mar prolonga-se desde o sul de SantaCatarinaatéoRiodeJaneiroeconsisteemumaabrupta e imponente barreira montanhosa que se levanta junto à linha da costa nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Sua direção preponderante é SSW- NNE, entre Santa Catarina e Paraná; a norte do Arco de Ponta Grossa, inflete para uma direção dominante WSW- ENE. Seus cimos apresentam cotas que variam entre 500 m (na serra das Araras/RJ) a 2.300 m (na serra dos Órgãos/ RJ), com uma linha de cumeada que oscila mais frequen- temente entre 800 e 1.300 m (Figura 3.26). A escarpa da serra da Mantiqueira estende-se de São Paulo ao Espírito Santo, atravessando os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Apresenta direção preponderante WSW-ENE,separandoovaledorioParaíbadoSuldoPlanal- to Sul-Mineiro (Bacia do alto rio Grande) (Perfil 3.4). Seus cimosatingemcotassuperioresa2.700m,comonomaciço do Itatiaia (2.787 m, na divisa entre Rio de Janeiro e Minas Gerais) e no maciço do Caparaó (2.890 m, na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo), com uma linha de cumeada que oscila mais freqüentemente entre 1.000 e 1.600 m. A cidade mais alta do Brasil, a 1.600 m de altitude, é Campos do Jordão (SP), situada justamente na serra da Mantiqueira. As serras do Mar e da Mantiqueira resultam, portan- to, do notável soerguimento tectônico de um conjunto de extensas e majestosas muralhas orográficas de grande beleza cênica, com 1.000 a quase 3.000 m de desnivelamento, que orlam uma parte expressiva do lito- ral brasileiro. Em diversos casos, os picos mais elevados são sustentados por rochas graníticas em forma de pon- tões de topo arredondado. No interior de Minas Gerais, diversos alinhamentos serranossedestacamdapaisagemdemar-de-morrosdomi- nante, via de regra, ressaltados por erosão diferencial, pois estão sustentados por quartzitos, tais como as serras de Ibitipoca (em cotas que alcançam 1.600 m), do Caraça, esta no Quadrilátero Ferrífero (em cotas que superam os 2.000 m) (Figura 3.27) e do Cipó, situada no Espinhaço (em cotas que alcançam 1.700 m). No alto dessas eleva- ções, com solos muito rasos, dominam os campos rupestres e os campos de altitude. O Quadrilátero Ferrífero, além de sua grande relevância para o setor mineral, também se des- taca topograficamente na paisagem mineira, visto que os itabiritos e as formações ferríferas bandadas sustentam as serras do Curral, Moeda e Gandarela, via de regra, capeadas por espessas formações de cangas e alçadas 500 a 800 m acima do nível colinoso regional. Figura 3.26 ––––– Aspecto imponente da muralha montanhosa e festonada da escarpa da serra da Bocaina no litoral sul fluminense, com cotas superiores a 1.000 m em sua linha de cumeada. A linha de costa assume um padrão recortado, alternando exíguas planícies flúvio-marinhas em fundos de baías e enseadas com pontões rochosos que atingem o litoral (rodovia Rio–Santos, município de Paraty, RJ).
  • 51. 49 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy Mares-de-Morros Florestados O relevo dominante dos mares-de-morros florestados é caracterizado por terrenos colinosos de baixa a média amplitude de relevo, com desnivelamentos locais entre 50e100m,sendooriginalmenterecobertoporMataAtlân- tica. Esse relevo de colinas e morros baixos pode estar associado a setores de planaltos ou a depressões interplanálticas. Os planaltos consistem em terrenos colinosos a mon- tanhosos, localizados, em geral, no reverso das escarpas serranas, tais como o Planalto Sul Mineiro (em cotas entre 600 e 900 m), e o Planalto Paulistano, situado no alto vale do rio Paraíba do Sul (em cotas entre 800 e 1.100 m). Trata-se de superfícies residuais, soerguidas por tectônica, que resistiram aos processos erosivos e de aplainamento atuantes durante o Cenozóico Superior, configurando-se, portanto, em terrenos elevados. As depressões interplanálticas apresentam-se embuti- das entre planaltos ou alinhamentos serranos que ocu- pam grandes extensões na Zona da Mata mineira e no vale do rio Paraíba do Sul (em cotas entre 200 e 600 m). Em termos gerais, esses terrenos foram originados por in- fluência de rebaixamento tectônico, a partir da abertura do oceano Atlântico e do soerguimento das cadeias mon- tanhosas das serras do Mar e da Mantiqueira, durante o final do Cretáceo e o Terciário (ALMEIDA, 1976; ASMUS e FERRARI, 1978) (Perfil 3.4). Trata-se de ampla unidade caracterizada por colinas, morrotes e morros baixos com vertentes convexo-côncavas, de gradiente suave a médio e topos arredondados e subnivelados (Figura 3.28). O domínio de mares-de-morros notabiliza-se pela for- mação de solos espessos (Argissolos e Latossolos) (EMBRAPA, 2001), em condições de intenso intemperismo químico, freqüentemente recobertos por colúvios, ates- tando também uma efetiva atuação de processos erosivos. Algumas áreas desse domínio colinoso, em especial, em determinados trechos do médio vale do rio Paraíba do Sul, destacam-se pela intensidade dos processos geomorfológicos que podem estar condicionados pela di- nâmica da água subterrânea sobre as linhas de fraqueza do substrato geológico (COELHO NETTO, 1999, 2003), com ocorrência generalizada de voçorocamentos, captu- ras de drenagem e inversão de relevo. Planalto da Bacia do Paraná O extenso Planalto da Bacia do Paraná foi modelado em uma antiga bacia sedimentar gondwânica, soerguida ao longo do Cenozóico. Apresenta cotas que variam entre 300 e 800 m, caracterizando-se por um relevo de topos tabulares (espigões) e de colinas amplas e suaves. O Planalto da Bacia do Paraná pode ser segmentado em três unidades: Depressão Periférica; cuestas de Botucatu; Planalto Ocidental (PONÇANO et al., 1981). A Depressão Periférica consiste na porção aflorante da seqüência sedimentar paleozóica (devoniano- permiana) da Bacia do Paraná, situada entre o Planalto Atlântico e o front escarpado das cuestas de Botucatu, constituindo-se de colinas amplas e suaves de baixa am- plitude de relevo. A cuesta de Botucatu é uma crista dissimétrica susten- tada por cornijas de derrames basálticos da Formação Serra Geral, com o front escarpado voltado para a Depressão Periférica (Figura 3.29). Nessas vertentes declivosas, afloram arenitosortoquartzíticosdaFormaçãoBotucatu.Osdegraus escarpados perfazem um desnivelamento de 200 a 350 m. A rede de drenagem principal é obseqüente em relação a esse compartimento geológico-geomorfológico. Sendo as- sim, os rios Mogi-Guaçu, Tietê, Piracicaba e Paranapanema escavampassagens(gargantasepigênicas)emmeioaofront da cuesta para alcançar o Planalto Ocidental Paulista, con- ferindo, assim, um caráter fragmentado às cuestas de Botucatu (Figura 3.29). Muitas dessas gargantas foram uti- Figura 3.27 –Figura 3.27 –Figura 3.27 –Figura 3.27 –Figura 3.27 – A resistência diferencial das litologias ao intemperismo e à erosão demonstra um contraste entre o relevo suave ondulado de colinas amplas embasadas por xistos do Supergrupo Rio das Velhas e o relevo montanhoso do maciço do Caraça, ao fundo, sustentado por quartzitos do Grupo Caraça (Santuário do Caraça, Quadrilátero Ferrífero, MG). Fotografia: Antônio Ivo Medina. Figura 3.28 –Figura 3.28 –Figura 3.28 –Figura 3.28 –Figura 3.28 – Aspecto regional do relevo de colinas e morros baixos ocupados por pastagens e capoeiras, da depressão interplanáltica do médio vale do rio Paraíba do Sul, sendo denominado relevo de “mar-de- morros”. Ao fundo, a serra da Mantiqueira, em território mineiro (estrada Barra do Piraí–Valença, RJ).
  • 53. 51 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy lizadas para aproveitamento hidrelétrico. Localiza-se justa- mente nesse front dos degraus escarpados das cuestas de Botucatu uma das mais importantes áreas de recarga do Aqüífero Guarani. O Planalto Ocidental consiste na porção aflorante de parte da seqüência sedimentar mesozóica (jurocretácica) da Bacia do Paraná, situada no extenso reverso da cuesta de Botucatu, sustentada por rochas básicas da Formação Serra Geral e arenitos da Formação Bauru. Apresenta ex- tensos espigões de topo plano, escavados por amplos va- les dos tributários do rio Paraná. Predominam solos espes- sos, em geral argilosos e bem drenados (Latossolos e Nitossolos) (EMBRAPA, 2001), ocupados outrora por Mata Atlântica. Os Nitossolos, popularmente conhecidos como “terra roxa”, apresentam elevada fertilidade, em razão da vasta ocorrência de basaltos na superfície do planalto, em especial sobre os topos dos espigões. Merece destaque especial o fato de que no Planalto da Bacia do Paraná localiza-se o maior reservatório de água subterrânea no mundo: o Aqüífero Guarani, que está ar- mazenado nos arenitos jurássicos da Formação Botucatu. Esses arenitos finos, ortoquartzíticos, de origem eólica (paleoclima desértico), apresentam alta porosidade e se encontram confinados na base por folhelhos, argilitos e siltitos bastante impermeáveis do Grupo Tubarão; no topo, estão capeados por derrames vulcânicos (rocha maciça e fraturada – basaltos, riolitos ou dacitos) da Formação Ser- ra Geral. Eis uma condição hidrogeológica ideal para a formação de um aqüífero confinado de grandes propor- ções. O Aqüífero Guarani abrange grande parte do cen- tro-sul do país (parte dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Triângulo Mineiro); do centro-leste do Paraguai; do nordeste da Argentina e noroeste do Uru- guai. Devido a sua importância estratégica como a maior jazida de água subterrânea do planeta, é de fundamental importância o estabelecimento de um acordo no âmbito do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) para regular o uso controlado do Aqüífero Guarani (evitando, assim, uma superexplotação) e a proteção de suas áreas de recarga. DOMÍNIO DOS PLANALTOS ÚMIDOS SUBTROPICAIS DA MATA DE ARAUCÁRIAS Nesse domínio, destacam-se quatro padrões morfológicos principais, similares aos já descritos no Pla- naltodaBaciadoParanápaulista(recobertoporMataAtlân- tica): Primeiro Planalto Paranaense ou Planalto Atlântico; Segundo Planalto Paranaense ou Depressão Periférica; Ter- ceiro Planalto Paranaense ou Planalto Arenítico-Basáltico; Planalto dos Campos Gerais, conforme delineado por MAACK (1947). Esses ambientes estão submetidos a um regime cli- mático subtropical e úmido, com precipitações bem dis- tribuídas ao longo de todo o ano e invernos frios, com ocorrência freqüente de geadas em todo o domínio e eventuais precipitações de neve no Planalto dos Cam- pos Gerais (São Joaquim e Lajes/SC e serra Gaúcha). Tais paisagens ocupam o interior dos estados do Paraná e Santa Catarina e o norte do Rio Grande do Sul. São submetidas a uma moderada atuação do intemperismo químico, devido às temperaturas mais baixas, com for- mação de solos de espessura variável e acúmulo de matéria orgânica (desde Cambissolos Brunos, no pla- nalto de Lages (SC), a Latossolos Roxos, no oeste do Paraná) (EMBRAPA, 2001), sendo recobertas por pecu- liar floresta de coníferas de clima temperado denomi- nada “mata de araucárias”. Planalto Atlântico O Planalto Atlântico é constituído pelo embasamento ígneo-metamórfico da Faixa Ribeira junto ao Arco de Pon- ta Grossa. Está situado entre o reverso da serra do Mar e o front de cuestas demarcado pela Serrinha, com desnivelamentos totais entre 100 e 150 m, no contato com a borda leste da Bacia do Paraná (Perfil 3.5). No inte- rior desse planalto está embutida a bacia sedimentar cenozóica de Curitiba, que consiste em um relevo de co- linas amplas e suaves e morros subordinados (em cotas que variam entre 800 e 1.000 m). No interior da Bacia de Curitiba, dominam as superfícies tabulares de baixa am- plitude de relevo, esculpidas sobre rochas sedimentares pouco litificadas de idade cenozóica e amplas planícies aluviais do rio Iguaçu e tributários. Depressão Periférica ADepressãoPeriféricaocupaexpressivaporçãodointe- rior dos estados do Paraná e de Santa Catarina, sendo escul- pida em arenitos siluro-devonianos da Formação Furnas; folhelhosdevonianosdaFormaçãoPontaGrossaeaseqüên- cia sedimentar permocarbonífera do Grupo Tubarão, com- pondo a seqüência paleozóica da Bacia do Paraná (CPRM, 2006). Essa unidade está situada entre o reverso da Serrinha dePontaGrossaeafrentedascuestasdaFormaçãoBotucatu Figura 3.29 ––––– Visada lateral do front escarpado da cuesta de Botucatu, separando a Depressão Periférica do Planalto Ocidental Paulista (município de Botucatu, SP). Disponível em: <http:// www.polocuesta.com.br/ botucatu/>.
  • 54. 52 GEODIVERSIDADE DO BRASIL e consiste em topos planos de superfícies cimeiras sustenta- das por arenitos da Formação Furnas (alçados a cotas entre 1.000 e 1.250 m) e um relevo de colinas e morros interiores (em cotas que variam entre 600 e 900 m). Planalto Arenítico-Basáltico O Planalto Arenítico-Basáltico ocupa a porção centro- ocidental dos estados do Paraná e de Santa Catarina e o norte do Rio Grande do Sul. É constituído por derrames vulcânicos de composição ácida (riolitos e dacitos) a bási- ca (basaltos) da Formação Serra Geral, em parte, capeada por arenitos cretácicos, compondo a seqüência mesozóica da Bacia do Paraná (CPRM, 2006). Essa unidade está situ- ada no reverso da cuesta de Botucatu e suas cotas dimi- nuem gradativamente para oeste na medida em que se aproxima da calha do rio Paraná, já sob domínio da Mata Atlântica, como por exemplo, em Foz do Iguaçu (Perfil 3.5). As áreas mais elevadas, junto às cuestas de Botucatu, são, por sua vez, dominadas por matas de araucária. Apre- senta extensos planaltos de topo plano ou reafeiçoados em colinas amplas e suaves. Planalto dos Campos Gerais O Planalto dos Campos Gerais corresponde a um tre- cho mais elevado do Planalto Meridional, abrangendo o sudeste de Santa Catarina e a serra Gaúcha no nordeste do Rio Grande do Sul. É totalmente constituído por riolitos, dacitos e basaltos da Formação Serra Geral, de idade jurocretácica (CPRM, 2006). Esse planalto elevado está alçado a cotas que variam entre 900 e 1.500 m, sendo dominado por vastas superfícies aplainadas, levemente adernadas para oeste, com ocorrência de áreas de relevo montanhoso, com picos que atingem 1.800 m de altitu- de. Os rios das Antas, Pelotas e Canoas, que drenam o planalto, esculpem vales bastante aprofundados, indican- do que o padrão de entalhamento processado no Planalto dos Campos Gerais obedece, claramente, ao acamadamento dos derrames de rochas vulcânicas, ge- rando vales escalonados, platôs e mesetas (ALMEIDA, 1952) (Figura 3.30). Predominam solos pouco espessos, tais como Cambissolos Brunos e Neossolos Litólicos, de- vido à baixa velocidade do intemperismo químico (EMBRAPA, 2001). Trata-se da região mais fria do Brasil, com registro de temperaturas negativas no inverno. As superfícies planálticas são, portanto, dominadas por cam- pos limpos, enquanto que as matas de araucária ocupam capões isolados ou vales encaixados. Uma notável feição morfológica da geodiversidade do sul do Brasil é representada pela escarpa da serra Geral, onde está situado o cânion de Aparados da Serra. Esse majestoso escarpamento, com aproximadamente 1.000 m de desnivelamento total e intensamente sulcado por uma densarededecanais,éumrelevodetransição,demorfologia muito acidentada, entre o Planalto dos Campos Gerais e a baixada costeira do litoral sul de Santa Catarina. Ao longo da Coluna White, observa-se um empilhamento de derra- mes vulcânicos de cerca de 700 m de espessura, evidenci- ando que o “Vulcanismo Serra Geral”, ocorrido há 130 milhões de anos, correlato à abertura do oceano Atlântico, correspondeu ao mais extenso extravasamento de lavas na história geológica do planeta. Além de recobrir grande par- te da Bacia do Paraná, também é documentado no sul da África, pois, nesse período, esses continentes ainda esta- vam ligados (época terminal do antigo supercontinente Gondwana). As falésias litorâneas e os morros-testemunhos na cidade de Torres (RS) atestam tal fato geológico. DOMÍNIO DAS COXILHAS ÚMIDAS SUBTROPICAIS DA CAMPANHA GAÚCHA Nesse domínio, destacam-se quatro padrões morfológicos principais: Planalto Sul-Rio-Grandense; De- pressão do rio Ibicuí; Coxilha de Haedo; Planalto de Uruguaiana. Esses ambientes estão submetidos a um re- gime climático subtropical e úmido, todavia, são menos chuvosos que o Planalto das Araucárias. São ambientes bastante vulneráveis ao avanço das massas polares, em especial no inverno, quando essa região descampada en- contra-se assolada por ventos gélidos do quadrante sul, denominados “minuano”. As paisagens ocupam o sul do estado do Rio Grande do Sul, em uma região tradicional- mente denominada Campanha Gaúcha. São submetidas à moderada atuação do intemperismo químico, com for- mação de solos pouco profundos e húmicos, de boa ferti- lidade natural (predomínio de solos Litólicos eutróficos, Argissolos e Brunizém e ocorrência subordinada de Vertissolos) (EMBRAPA, 2001), sendo cobertas por uma formação herbácea similar às pradarias de clima tempera- do, caracterizada por campos limpos (Figura 3.31). Figura 3.30Figura 3.30Figura 3.30Figura 3.30Figura 3.30 ––––– Planalto dos Campos Gerais coberto por campos limpos e capões de araucária, apresentando forte dissecação fluvial em três níveis de patamares escalonados, controlados por derrames de rochas vulcânicas no alto vale do rio das Antas (município de São José dos Ausentes, RS).
  • 55. 53 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy A Campanha Gaúcha é delimitada, a norte, pela de- pressão dos rios Jacuí e Ibicuí. As áreas rebaixadas consistem em depressões periféricas que separam o Escudo Sul-Rio- Grandense do Planalto das Araucárias (Perfil 3.6). A leste, a Campanha Gaúcha é delimitada pela planície litorânea das lagoasdosPatoseMirim,dominadapordepósitosrecentes, deorigemmarinha,compostosporrestingasedunas;oude origem lagunar, compostos pelos banhados. A sul, o domí- nio se estende pelo território uruguaio e parte do território argentino,sendoregionalmentedenominado“Pampas”. Planalto Sul-Rio-Grandense O Planalto Sul-Rio-Grandense apresenta, em linhas gerais, conformação dômica de um núcleo arqueado (AB’SABER, 1998; ROSS, 1997), sendo constituído pelo embasamento ígneo-metamórfico do Escudo Sul-Rio- Grandense (em especial, granitos, gnaisses e rochas metavulcânicas) (CPRM, 2006). Esse planalto, situado en- tre a planície litorânea e as depressões dos rios Jacuí e Ibicuí, está dissecado em relevo de colinas e morros amplos, per- fazendo cotas que variam entre 200 e 500 m (Perfil 3.6). Depressão do Rio Ibicuí A Depressão do rio Ibicuí apresenta-se como um cor- redor norte-sul, no qual se encontra encaixado o vale do rio Santa Maria. Está situada entre o Planalto Sul-Rio- Grandense e o front de cuesta da Coxilha de Haedo. A depressão foi esculpida em rochas sedimentares da Bacia do Paraná, de composição fina (em geral, folhelhos, argilitos e siltitos de idade permotriássica) (CPRM, 2006). Consiste em um relevo de colinas baixas, fortemente dissecadas, devido à baixa permeabilidade das rochas e dos solos, cobertas por extensas planícies aluviais. A de- pressão se encontra embutida em cotas que variam entre 100 e 200 m, representando uma área típica da vegeta- ção estépica (campos limpos) da Campanha Gaúcha. Coxilha de Haedo A Coxilha de Haedo consiste em uma frente de cuesta sustentada por cornijas de derrames vulcânicos da Formação Serra Geral, com o front escarpado voltado para leste, em direção à Depressão do rio Ibicuí. Nas vertentes declivosas afloram os arenitos ortoquartzíticos das formações Guará e Botucatu (CPRM, 2006). Os re- bordos erosivos perfazem um desnivelamento de 70 a 150 m, atingindo cotas que variam entre 250 a 300 m. A Coxilha de Haedo representa, portanto, um relevo de transição entre a Depressão do rio Ibicuí e o Planalto de Uruguaiana. Planalto de Uruguaiana O Planalto de Uruguaiana está situado no sudoeste do Rio Grande do Sul, sendo totalmente constituído por andesitos, riodacitos e basaltos da Formação Serra Geral, de idade jurocretácica (CPRM, 2006). O planalto está al- çado a cotas que variam entre 70 e 300 m, com suave caimento de leste para oeste, em direção à calha do rio Uruguai. Seus tributários principais entalham vales que expõem os arenitos da Formação Botucatu, onde são registrados sérios problemas de arenização do solo (SUERTEGARAY et al., 1999). O planalto apresenta, próxi- mo à Coxilha de Haedo, relevo dissecado em colinas e morros. Em direção ao rio Uruguai, esse relevo é substitu- ído por monótonas superfícies aplainadas, suavemente entalhadas por uma rede de drenagem de baixa densida- de, onde se ressalta a Coxilha de Santana. DOMÍNIO DA PLANÍCIE INUNDÁVEL SEMI-ÚMIDA TROPICAL DO PANTANAL A Planície do Pantanal é uma bacia sedimentar ativa, de idade quaternária. Estende-se por toda a porção cen- tral do continente sul-americano, incluindo a Bacia Platina e região do Chaco. A Planície do Pantanal abrange vastas áreas dos es- tados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e adentra os territórios da Bolívia e do Paraguai. É caracterizada pelas planícies aluviais do rio Paraguai e tributários importan- tes, como os rios Cuiabá, Taquari e São Lourenço; gran- des planícies flúvio-lacustres, periodicamente inundadas que perfazem a maior parte do Pantanal; “cordilheiras” que consistem em pequenas elevações ou tesos, poucos metros acima do nível da planície flúvio-lacustre, mas a salvo das inundações periódicas (AB’SABER, 1988) (Fi- gura 3.32). São terrenos constituídos por solos hidromórficos (Planossolos, Gleissolos, Espodossolos e Vertissolos (EMBRAPA, 2001)), apresentando cotas que variam entre 100 e 200 m. Notabilizam-se pela ocorrência de extensas áreas deposicionais. O leque aluvial do Taquari é um exce- lente exemplo da forma como essa bacia sedimentar vem Figura 3.31 ––––– Relevo de colinas muito amplas e suaves (coxilhas), cobertas por campos limpos, com tradicional vocação econômica para a pecuária de corte, o que caracteriza a região da Campanha Gaúcha (RS) (município de Bagé, (RS). Fotografia: Vitório Orlandi Filho.
  • 57. 55 ORIGEM DAS PAISAGENS Marcelo Eduardo Dantas, Regina Célia Gimenez Armesto, Amílcar Adamy sendo entulhada de sedimentos. A leste, a Planície do Pan- tanal é bruscamente delimitada por uma escarpa de falha (serra de Maracaju), com desnivelamentos entre 300 e 400 m. A serra de Maracaju define o rebordo ocidental do Planalto Brasileiro, de onde partem as nascentes dos rios que drenam para o Pantanal. O desmatamento do cerrado nativo para a expansão da economia agroexportadora no planalto tem promovido impactos ambientais relevantes no Pantanal, devido ao aumento expressivo da descarga de sedimentos nos canais. Estes, quando atingem a Planí- cie do Pantanal, têm sua velocidade e capacidade de trans- porte reduzidas, produzindo o assoreamento do leito dos canais e o agravamento do nível das cheias sazonais. BIBLIOGRAFIA AB’SABER, A. N. Contribuição à geomorfologia da área dos cerrados. In: SIMPÓSIO SOBRE CERRADO, 1., 1963, São Paulo. Anais... São Paulo: EDUSP, 1963. p. 117- 124. . Domínios morfoclimáticos e províncias fitogeo- gráficas no Brasill. Orientação. São Paulo: USP-FFCHL, n. 3, p. 45-48, 1967. ______. Um conceito de geomorfologia a serviço das pes- quisas sobre o quaternário. Geomorfologia. São Paulo: USP-FFCHL, n. 18, 1969. 23 p. ______. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil. Geomorfologia. São Paulo: USP-FFCHL, n. 20, 1970. 26 p. ______. O domínio morfoclimático semi-árido das caa- tingas brasileiras. Geomorfologia. São Paulo: USP-FFCHL, n. 43, 1974. 39 p. AB’SABER, A. N. The paleoclimate and paleoecology of brazilian Amazonia. In: PRANCE, G. T. (Ed.). Biological diversification in the tropics. New York: Columbia University Press, 1982. p. 41-59. ______. O pantanal mato-grossense e a teoria dos refú- gios. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro: IBGE, n. 50, Tomo Especial 2, p. 9-57, 1988. ______. Megageomorfologia do território brasileiro. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (Eds.). Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. p. 71-106. ALMEIDA, F. F. M. Contribuição à geomorfologia da re- gião oriental de Santa Catarina. Boletim Paulista de Geo- grafia, São Paulo, n. 10, p. 3-32, 1952. ______. The system of continental rifts bordering the Santos basin, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 48 (suplemento). p. 15-26, 1976. ______.; CARNEIRO, C. D. R. Origem e evolução da serra do Mar. Revista Brasileira de Geociências, v. 28, n. 2, p. 135-150, 1998. AMADOR, E. S. Baía de Guanabara e ecossistemas peri- féricos: homem e natureza. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1997. 548p. ANDRADE, M. C. O Cariri cearense. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro: IBGE, v. 26, n. 4, p. 549-592, 1964. ASMUS, H. E.; FERRARI, A. L. Hipótese sobre a causa do tectonismo cenozóico na região sudeste do Brasil. In: As- pectos Estruturais da Margem Continental Leste e Sudes- te do Brasil. Rio de Janeiro: PETROBRAS - CENPES, 1978. p. 75-88. (Série Projeto REMAC, 4). BIGARELLA, J. J.; FERREIRA, A. M. M. Amazonian geology and the pleistocene and the cenozoic environments and paleoclimates. In: PRANCE, G. T.; LOVEJOY, T. E. (Eds.). Amazonia, Pergamon Press, p. 49-71, 1985. BONFIM, L. F. C.; CAVEDON, A. D.; RAMALHO, R. Proje- to Chapada Diamantina. Salvador: CPRM/IBAMA, 1994.104 p. COELHO NETTO, A. L. Catastrophic landscape evolution in a humid region (SE Brazil): inheritances from tectonic, climatic and land use induced changes. Geografia Fisica e Dinamica Quaternaria, Itália, v. 3, n. 3, p. 21-48, 1999. ______. Evolução de cabeceiras de drenagem no médio vale do rio Paraíba do Sul (SP/RJ): bases para um modelo de formação e crescimento da rede de canais sob controle estrutural. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 4, n. 2, p. 69-100, 2003. COSTA, M. L. Aspectos geológicos dos lateritos da Ama- zônia. Revista Brasileira de Geociências, v. 21, n. 2, p. 146-160, 1991. CPRM. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000. Brasília: SGM-MME/CPRM, 2006. CD-ROM [legenda ex- pandida]. DANTAS, M. E. Geomorfologia. In: SILVA, C. R.; MEDINA, A. I. M. (Coords.). Estudo geoambiental do estado do Rio de Janeiro. Brasília: CPRM, 2001, 63 p. CD-ROM. 5 ma- pas: color., escala 1:250.000. Figura 3.32 ––––– Baixada aluvial e lacustrina, prolongadamente inundável, constituída por sedimentos holocênicos de textura argilo- arenosa ou argilosa que preenchem a bacia quaternária do Pantanal. Rede desorganizada de canais divagantes, pontilhada por lagos, coberta por formações graminosas e florestais do complexo do Pantanal, com uso restrito a pastagens naturais extensivas. Vista da cidade de Corumbá, situada no sopé de uma elevação isolada. Fotografia: Antônio Theodorovicz.
  • 58. 56 GEODIVERSIDADE DO BRASIL EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conserva- ção de Solos. Mapa de solos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2001. 1 mapa: color., 107 x 100 cm, escala 1: 5.000.000. HORBE, A. M. C.; HORBE, M. A.; COSTA, M. L.; SUGUIO, K. A laterização na gênese das superfícies de aplanamento da região de Presidente Figueiredo – Vila Balbina, nordes- te do Amazonas. In: COSTA, M. L.; ANGÉLICA, R. (Orgs.). Contribuições à geologia da Amazônia. Belém: FINEP-SBG/ NO, v. 2, cap. 5, p. 145-176, 1997. LATRUBESSE, E. M.; FRANZINELLI, E. The Holocene alluvial plain of the middle Amazon river, Brazil. Geomorphology, v. 44, p. 241-257, maio 2002. MAACK, R. Breves notícias sobre a geologia dos estados do Paraná e Santa Catarina. Arquivos de Biologia e Tecnologia, Curitiba, v. 2, art. 7, p. 63-157, 1947. MAMEDE, L. O significado das coberturas terciárias nas chapadas da região centro-oeste. Revista Sociedade & Na- tureza, v. 3, n. 15, p. 26-30. 1996. PENTEADO,M.M.Tiposdeconcreçõesferruginosasnoscom- partimentosgeomorfológicosdoplanaltodeBrasília.Notícia Geomorfológica, Campinas, v. 16, n. 32, p. 39-53, 1976. PONÇANO, W. L.; CARNEIRO, C. D. R.; ALMEIDA, M. A.; PIRES NETO, A. G.; ALMEIDA, F. F. M. Mapa geomorfológico do estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1981, 2 vol. PRESS, F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. Tradução Rualdo Menegat. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 656 p. RÄSÄNEN, M.; SALO, J.; KALLIOLA, R. J. Fluvial perturbance in the Western Amazonian basin: regulation by long-term sub-Andeantectonics. Science,v.238,p.1398-1401,1987. ROSS, J. L. S. Os fundamentos da geografia da natureza. Geografia do Brasil, EDUSP, 1997, p. 1-65. SELBY, M. J. Earth’s changing surface. Oxford: Clarendon Press, 1985. 607 p. SIOLI, H. Valores de pH de águas amazônicas. Boletim do MuseuParaenseEmilioGoeldi.Geologia,v.1,p.1-35,1957. SUERTEGARAY, D. M. A.; BERTE, A. M. A.; BELLANCA, E. T; GUASSELLI, L. A.; BASSO, L. A.; VERDUM, R.; MEDEIROS, R. M. Atlas da Arenização no Sudoeste do Rio Grande do Sul. UFRGS, 1999. SUGUIO, K.; MARTIN, L.; BITTENCOURT, A. C. S. P.; DOMINGUEZ, J. M. L.; FLEXOR, J. M.; AZEVEDO, A. E. G.FlutuaçõesdonívelrelativodomarduranteoQuaternário superior ao longo do litoral brasileiro e suas implicações na sedimentação costeira. Revista Brasileira de Geociências, v. 15, p. 273-286, 1985. SUMMERFIELD, M. A. Global geomorphology: an introduction to the study of landforms. London: Longman; New York: Wiley, 1991. 537 p. MARCELO EDUARDO DANTAS Graduado em Geografia (1992) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com os títulos de licenciado em Geografia e Geógrafo. Mestre em Geomorfologia e Geoecologia (1995) pela UFRJ. Nesse período, integrou a equipe de pesquisadores do Laboratório de Geo-Hidroecologia (GEOHECO/UFRJ), tendo atuado na investigação de temas como: Controles Litoestruturais na Evolução do Relevo; Sedimentação Fluvial; Impacto das Atividades Humanas sobre as Paisagens Naturais no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul. Em 1997, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/ SGB), atuando como geomorfólogo até o presente. Desenvolveu atividades profissionais em projetos na área de Geomorfologia, Diagnósticos Geoambientais e Mapeamentos da Geodiversidade, em atuação integrada com a equipe de geólogos do Programa GATE/CPRM. Dentre os trabalhos mais relevantes, destacam-se: Mapa Geomorfológico e Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro; Mapa Geomorfológico do ZEE RIDE Brasília; Estudo Geomorfológico Aplicado à Recomposição Ambiental da Bacia Carbonífera de Criciúma; Análise da Morfodinâmica Fluvial Aplicada ao Estudo de Implantação das UHEs de Santo Antônio e Jirau (Rio Madeira-Rondônia). Atua, desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/ UNISUAM. Atualmente, é coordenador nacional de Geomorfologia do Projeto Geodiversidade do Brasil (CPRM/SGB). Atua, desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/UNISUAM. Membro efetivo da União da Geomorfologia Brasileira (UGB) desde 2007. REGINA CELIA GIMENEZ ARMESTO Geógrafa graduada (1974) pela Universidade do Estado da Guanabara, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Especialização em: Engenharia de Meio Ambiente (1991), pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); Avaliação, Planejamento e Gerenciamento Ambiental (1992), pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Ciências Ambientais (1996), pela Universidade Estácio de Sá. Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) no início de 1976, no Departamento de Geologia (DEGEO), onde permaneceu até 1985, destacando-se no desenvolvimento de atividades de Cartografia Geológica. Entre 1985 e 1990, assumiu a chefia da Divisão de Cartografia (DICART). No período de 1992-1996, foi responsável pela Cartografia Geológica do DEGEO. Desde 1996, é chefe da Divisão de Gestão Territorial, participando da concepção do Programa de Gestão Territorial da CPRM/SGB e exercendo atividades de coordenação/supervisão de mais de uma centena de projetos em todo o território nacional de Geologia Ambiental, visando a subsidiar a Gestão Territorial. AMÍLCAR ADAMY Geólogo formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Fotointerpretação Geológica pelo Centro Interamericano de Fotinterpretacion, Bogotá (Colômbia). Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, pela Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Experiência em Mapeamento Geológico; Prospecção Geoquímica; Metalogenia; Pesquisa Mineral para Ouro no Vale do Tapajós (Pará); Gestão Territorial em Municípios da Amazônia; Zoneamento Ecológico-Econômico na Região Fronteiriça Brasil-Bolívia; Seleção de Áreas para Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos e Cemitério; Participação no Projeto Geodiversidade. Chefia da Unidade Regional da CPRM em Porto Velho (1990-1992). Delegado do Ministério de Minas e Energia (MME) em Rondônia (1992-1996). Gerente Regional de Hidrologia e Gestão Territorial em Rondônia (1996-2008).
  • 59. 57 ÁGUA É VIDA Frederico Peixinho, Fernando Feitosa 4 ÁGUA É VIDA Frederico Cláudio Peixinho ([email protected]) Fernando A. C. Feitosa ([email protected] ) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO A Ciência Hidrológica ................................................................. 58 Ciclo Hidrológico ........................................................................ 58 Recursos Hídricos ........................................................................ 59 Hidrologia e Clima ..................................................................... 59 Recursos Hídricos Superficiais ..................................................... 60 Recursos Hídricos Subterrâneos.................................................. 60 Desafios da Água no Brasil ......................................................... 62 Bibliografia ................................................................................. 63
  • 60. 58 GEODIVERSIDADE DO BRASIL A CIÊNCIA HIDROLÓGICA A água é um recurso natural essencial à vida de todas as espécies existentes na face da Terra. Por se tratar de um componente importante na bioquímica dos seres vivos, exerce enorme influência sobre os valores socioculturais dos povos, integrando a cadeia produtiva de vários bens de consumo e intermediários. Com respeito ao homem, o corpo humano contém 70% de água, a qual exerce um papel fundamental em seu metabolismo. A utilização da água pelo homem remonta a muitos séculos e sua importância para a humanidade se encontra registrada nas culturas de nossos antepassados. Na mito- logia egípcia, Osíris era a personificação da fecundidade, a fonte total e criadora das águas. Os gregos considera- vam os rios e as fontes filhos do deus Oceano e os divinizavam, dedicando-lhes oferendas. Essa visão mitológica dos povos antigos começou a ser abalada com as primeiras concepções científicas e filo- sóficas da cultura ocidental, elaboradas pela Escola de Mileto. Dentre os fundadores, destaca-se o pensador Tales de Mileto, que afirmava ser a água a origem de todas as coisas. Mais adiante, o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), refletindo sobre o surgimento da água, especulou acerca das correlações entre a água proveniente da chuva e os lençóis subterrâneos, postulando que os rios se origina- ram, em parte, de água de chuva, bem como a umidade do ar do interior das cavernas nas montanhas, que, ao se condensar no solo, dava origem aos mananciais. Essa con- cepção filosófica se aproximou do conceito preconizado pela ciência hidrológica. A hidrologia, em seu conceito etimológico, é a ciên- cia que estuda a ocorrência, a distribuição, o movimento e as propriedades da água na atmosfera, na superfície e no subsolo terrestre. Observar a água fluindo nos rios, ou apreciá-la nos lagos e oceanos é atividade acessível a qualquer pessoa. Entretanto, não nos é possível observar a água armazenadanaatmosferae/ounosubsolonem os mecanismos que orientam sua entrada nes- ses locais de armazenamento e sua saída. Quando a água evapora, ela desaparece na atmosfera como vapor; quando se infiltra no subsolo, torna-se invisível aos nossos olhos. A complexidade dos processos que en- volvem o ciclo da água torna a hidrologia uma ciência de atuação interdisciplinar, envolven- do a participação de profissionais de várias áreas, como engenheiros, geólogos, agrôno- mos, matemáticos, estatísticos, geógrafos, biólogos, dentre outros. CICLO HIDROLÓGICO Na natureza, a água é a única substância a ser encontrada nos três estados da matéria (sólido, líquido e gasoso), estando distribuída em todos os ambientes do planeta Terra: atmosfera, oceanos e con- tinentes. Essa ocorrência, entretanto, não é estática. A água está em um processo dinâmico e contínuo de movimen- to. O conjunto formado por precipitação, escoamento, infiltração e evaporação forma um sistema fechado deno- minado “ciclo hidrológico” (Figura 4.1). Esse ciclo é governado, no solo e subsolo, pela ação da gravidade, bem como pelo tipo e densidade da cober- tura vegetal; na atmosfera e superfícies líquidas (rios, la- gos, mares e oceanos), por elementos e fatores climáti- cos, como, por exemplo, temperatura do ar, ventos, umi- dade relativa do ar e insolação (função da radiação solar), que são os responsáveis pelos processos de evaporação que transportam grandes volumes de água, na forma de vapor, para a atmosfera. Em determinadas condições de temperatura e umi- dade, o vapor de água da atmosfera se condensa em mi- núsculas gotas que formam as nuvens e se precipita, na forma de chuva ou neve, sobre os oceanos e continentes. Uma parte da precipitação escoa pela superfície da Terra, em direção ao mar, formando a rede de drenagem e as massas de água superficial, sujeitas diretamente aos processos de evaporação. A outra parte da água que se precipita sobre os conti- nentes se infiltra, através do solo, pelos espaços abertos (juntas e fraturas) ou pelos poros (espaços entre grãos) exis- tentes nas rochas. A água infiltrada pode ficar retida como umidade no solo ou chegar até a zona saturada (aqüíferos), incorporando-se ao fluxo subterrâneo. A água retida nos solospodeserabsorvidapelasraízesdasplantas,retornando à atmosfera através do processo de transpiração da vegeta- ção. A água incorporada ao fluxo subterrâneo pode ressur- gir na superfície, nas zonas de descarga dos aqüíferos, na forma de nascentes ou como fluxo de base de rios ou lagos ou, ainda, fluir diretamente para os oceanos. Figura 4.1 – Ilustração esquemática do ciclo hidrológico (TEIXEIRA et al., 2000).
  • 61. 59 ÁGUA É VIDA Frederico Peixinho, Fernando Feitosa RECURSOS HÍDRICOS A quantidade total de água disponível no mundo é de cerca de 1,37 bilhão de km3 . Se cobrirmos com esse volume o território dos Estados Unidos da América, seus esta- dos ficariam submersos por uma lâmina de água de aproximadamente 145 km de pro- fundidade. Esse volume é constante, embora o flu- xo de um reservatório para outro possa variar diariamente: ou ano a ano, ou até, secular- mente. Durante esses intervalos de tempo, geologicamente curtos, não há ganho ou perda de água para fora ou para o interior da Terra nem qualquer perda da água da atmosfera para o espaço exte- rior (Figura 4.2). Embora esse volume de água possa impressionar à primeira vista, na verdade, verifica-se que do total de água existente, apenas 2,8% constituem a água doce, principal fonte de utilização da humanidade. Se considerarmos o total de água no planeta expresso por 1 litro, a água doce existente seria apenas de 28 ml, o que seria relativamente pouco, embora sendo um valor que ultrapassa 38 milhões de km3 . Indo um pouco além, verifica-se que, desse total, cerca de 21,7 ml (quase 30 milhões de km3 ) estão indis- poníveis ao homem, retidos nas geleiras, na atmosfera e/ ou na forma de umidade do solo. Assim, utilizando a ana- logia proposta, de mil ml de água existentes no planeta, a humanidade dispõe apenas de 6,27 ml de água doce para a sua sobrevivência. Vale ressaltar, ainda, que desses 6,27 ml, a água visível ao homem, representada por rios, la- gos, lagoas, não ultrapassa 0,1 ml (algo em torno de 120 mil km3 ), que poderia ser subterrânea. Figura 4.2 – Total de água no planeta Terra. O crescimento populacional, o processo de mudan- ças climáticas e a diminuição das águas disponíveis decor- rente da degradação ambiental são fatores que têm con- tribuído para o déficit hídrico em escala mundial, obri- gando a que o uso da água entre na arena do debate das políticas públicas. O Brasil possui grande disponibilidade hídrica, distribuída de forma desigual em relação à densi- dade populacional (Tabela 4.1). HIDROLOGIA E CLIMA Em muitos aspectos, a hidrologia local (quantidade de água existente em uma região e a forma como ela flui de um reservatório para outro) é mais importante que a hidrologia global. O fator que mais exerce influência so- bre a hidrologia local é o clima, o qual inclui a precipita- ção e temperatura. Onde quer que se viva, o clima e a geologia da região influenciam fortemente a quantidade de água que se desloca de um reservatório a outro. Os especialistas em hidrologia estão interessados em saber Tabela 4.1 – Balanço hídrico das principais bacias hidrográficas do Brasil Bacia hidrográfica Área (km2 ) Média da precipitação Média de descarga (m3 /s) Evapo- transpiração (m3 /s) Descarga/ precipitação (%) Amazônica 6.112.000 491.191 202.000 291.491 41 Tocantins 757.000 42.387 11.300 31.087 27 Atlântico Norte 242.000 16.388 6.000 10.388 37 Atlântico Nordeste 787.000 27.981 3.130 24.851 11 São Francisco 634.000 19.829 3.040 16.789 15 Atlântico Leste-Norte 242.000 7.784 670 7.114 9 Atlântico Leste-Sul 303.000 11.791 3.710 8.081 31 Paraná 877.000 39.935 11.200 28.735 28 Paraguai 368.000 16.326 1.340 14.986 8 Uruguai 178.000 9.589 4.040 5.549 42 Atlântico Sul 224.000 10.515 4.570 5.949 43 Brasil, incluindo a Amazônia 10.724.000 696.020 251.000 445.000 36 Fonte: BRAGA et al. (1998).
  • 62. 60 GEODIVERSIDADE DO BRASIL como as mudanças nas precipitações e eva- porações afetam o abastecimento de água devido à alteração no fluxo das águas super- ficiais e subterrâneas. Se o nível do mar su- bir em decorrência de um aquecimento glo- bal, as águas subterrâneas nas terras baixas das regiões costeiras poderão se tornar sal- gadas, à medida que a água do mar for inva- dindo os aqüíferos que eram inicialmente de água doce. RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS As precipitações afetam fortemente o escoamento dos rios, observando-se inunda- ções rápidas depois de chuvas torrenciais. Em áreas úmidas, uma proporção maior da precipitação escoa superficialmente para os rios; os mananciais subterrâneos, em ge- ral,recebemumamaiorquantidadederecarga na época das chuvas e, no período de estia- gem, retribuem essa água aos rios, que per- manecem com escoamento durante todo o período seco. Nessa situação, os rios são de- nominados “perenes” (Figura 4.3a). Já em climas áridos ou semi-áridos, com baixos índices de precipitação pluviométrica, somente uma pequena fração da água da chuva acaba como escoamento superficial. Nessas regiões, boa parte da precipitação ou infiltra ou evapora; nos períodos de estiagem, há uma tendência de os rios secarem, pois não há contribuição dos mananciais subter- râneos (descarga de base). Nesses casos, os rios são de- nominados “intermitentes” (Figura 4.3b). Um grande rio pode carregar enorme quantidade de água de uma região úmida para uma região seca. A meta- de do escoamento superficial mundial provém de 70 gran- des rios. Entre estes, destaca-se o Amazonas, contribuin- do com praticamente um quarto do escoamento total. O Amazonas transporta cerca de 10 vezes mais águas que o Mississipi, maior rio da América do Norte. No Brasil, país de dimensão continental, com grande diversidade fisiográfica, hidrológica, ambiental, econômi- ca e social, foi instituída, em 1997, a Política Nacional de Recursos Hídricos – um marco institucional –, a qual in- corpora princípios, normas e padrões de gestão da água universalmente aceitos e praticados em muitos países. O novo modelo de administração das águas conside- ra a gestão descentralizada e participativa, envolvendo múltiplos usos e diferentes formas de compartilhamento das águas, representando uma verdadeira revolução não apenas na gestão hídrica, como ambiental. Dentre os princípios instituídos, merece destaque aquele que define a bacia hidrográfica como unidade Figura 4.3 – (a) rios perenes em zonas úmidas; (b) rios intermitentes em zonas secas (adaptado de TEIXEIRA et al., 2000). territorial de planejamento, permitindo, por meio dessa delimitação geográfica, realizar o cotejamento, de forma mais fácil, entre as disponibilidades e demandas, essenci- ais para o que se denomina balanço hídrico. Nessa dire- ção foi criada a Divisão Hidrográfica Nacional, que embasa a aplicação dos instrumentos de gestão da Política Nacio- nal de Recursos Hídricos (Figura 4.4). Os demais princípios tratam dos usos múltiplos das águas; do reconhecimento da água como bem finito e vulnerável; do valor econômico da água; da adoção do modelo de gestão da água de forma descentralizada e participativa. RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS Certamente, pelo fato de a utilização das águas sub- terrâneas ser, relativamente, mais barata e as obras não serem tão fotogênicas quanto as barragens e estações de tratamento construídas para utilização das águas de su- perfície, o manancial subterrâneo tem sido, freqüente- mente, omitido nos planos de gerenciamento de recur- sos hídricos. Não obstante, o manancial subterrâneo cons- (a) (b)
  • 63. 61 ÁGUA É VIDA Frederico Peixinho, Fernando Feitosa titui o maior volume de água doce líquida que ocorre na Terra. A distribuição da água em subsuperfície ocorre como ilustrado na figura 4.5. Há duas zonas distintas: não- saturada e saturada. Na primeira, os poros estão preenchi- dos por água e por ar, constituindo duas faixas distintas: (i) a faixa de água do solo, que se estende até a profundi- dade em que as raízes das plantas conseguem captar água; (ii) a faixa intermediária, que se estende desde o limite inferior da faixa de água do solo até o topo da zona saturada. É considerada água subterrânea apenas aquela que ocorre abaixo da superfície, na zona de saturação, onde todos os poros es- tão preenchidos por água. A formação geo- lógica que tem capacidade de armazenar e transmitir água é denominada “aqüífero”. Em relação à geologia, existem dois domínios principais de ocorrência das águas subterrâ- neas: rochas cristalinas e cársticas e rochas sedimentares. Nas rochas cristalinas e cársticas, onde não existe porosidade primária, a água se acu- mula nos espaços vazios gerados por quebra- mentos, descontinuidades e dissolução do corpo rochoso, formando aqüíferos que vari- am de baixa (cristalino) a alta (calcários) po- tencialidade, em função da limitação do ta- manho e descontinuidade dos reservatórios. Nesse domínio, a qualidade da água está inti- mamente associada ao clima, apresentando, em geral, água com alta salinidade nas regi- ões semi-áridas e, geralmente, água com teo- res elevados de carbonatos/bicarbonatos nos calcários (águas duras). No domínio das rochas sedimentares, onde as formações geológicas apresentam porosidade primária intergranular, a água pre- enche os poros em toda a extensão de ocor- rência da rocha, formando grandes aqüíferos regionais. Nesses aqüíferos, onde está arma- zenada a quase totalidade dos cerca de 10 mi- lhões de km3 de água subterrânea existentes no planeta, em geral, a água apresenta uma boa qualidade físico-química, com baixos teo- res de sólidos totais dissolvidos. A figura 4.6 ilustra claramente a dife- rença entre a forma de ocorrência da água nos domínios das rochas cristalinas – mos- trando a descontinuidade e a heterogeneida- de dos reservatórios com a existência de po- ços secos – e rochas sedimentares, apresen- tando, ao contrário, continuidade e homo- geneidade. No Brasil, existem três grandes bacias sedimentares, dentre outras de menor porte, que concentram a maior parte da ocorrência de água sub- terrânea: bacia sedimentar do Paraná, onde ocorre, dentre outros, o aqüífero Guarani (anteriormente, denominado aqüífero Botucatu); bacia sedimentar do Parnaíba, com os aqüíferos Serra Grande e Cabeças; bacia sedimentar do Amazonas, com o aqüífero Alter do Chão. No mapa da figura 4.7 é apresentada a divisão do país em províncias hidrogeológicas, regiões que apresen- tam semelhanças no comportamento hidrogeológico com Figura 4.4 – Divisão hidrográfica nacional (CONEJO et al., 2005). Figura 4.5 – Distribuição vertical da água em subsuperfície (TEIXEIRA et al., 2000).
  • 64. 62 GEODIVERSIDADE DO BRASIL base, principalmente, na geologia, mostrando as potenci- alidades de cada uma no que se refere ao armazenamento de água subterrânea. Figura 4.7 – Províncias hidrogeológicas do Brasil e seus potenciais em termos de ocorrência de água subterrânea (modificado de TEIXEIRA et al., 2000). Figura 4.6 – Ocorrência da água subterrânea em rochas cristalinas e em rochas sedimentares (adaptado de RIBEIRO e FEITOSA, 2000). Na tabela 4.2 são apresentadas as po- tencialidades e os intervalos médios das va- zões mais freqüentes dos poços produtores, para os principais aqüíferos brasileiros. DESAFIOS DA ÁGUA NO BRASIL A produção total de água doce no Brasil representa 53% do continente sul-americano e 12% do total mundial (REBOUÇAS, 1996). Todavia, 80% da produção hídrica brasileira se concentram em três grandes unidades hidrográficas: Amazonas, São Francisco e Paraná. Devem-se considerar, ainda, as grandes reservas de água subterrânea existentes no Brasil, fundamentais para o abastecimento e a irrigação em muitas regiões do país. No que diz respeito à qualidade da água, a insuficiência de redes de monitoramento no país dificulta a realização de um diagnóstico mais preciso da qualidade da água. Estudos recentes apontam que as regiões mais
  • 65. 63 ÁGUA É VIDA Frederico Peixinho, Fernando Feitosa críticas com relação ao Índice de Qualidade das Águas (ca- tegorias ruim e péssima) localizam-se nas proximidades das principais regiões metropolitanas e estão associadas, princi- palmente, ao lançamento de esgotos domésticos. A disponibilidade hídrica desigual nas diversas regi- ões do país, a contaminação das águas superficiais e sub- terrâneas, sobretudo em regiões densamente povoadas, a falta, ou mesmo a existência de deficientes instrumentos de gestão da água e o desperdício de água são os princi- pais fatores que têm contribuído para o déficit hídrico em várias regiões do Brasil. Diante desse cenário, para preservar e garantir às ge- rações atuais e futuras o acesso às reservas hídricas, nos diversos pontos de seu território, o Brasil deverá promover uma gestão da água eficaz. Nesse contexto, é indispensá- vel buscar-se uma equalização inter-regional e intertemporal, por meio de políticas públicas que privile- giem uma abordagem integrada do ciclo hidrológico e programem ações conseqüentes de geração de conheci- mento de demanda e oferta da água, que ajudarão a defi- nir marcos regulatórios, bem como a capacidade de su- porte (retirada) de cada bacia hidrográfica. BIBLIOGRAFIA BRAGA, B.; ROCHA, O.; TUNDISI, J. G. Dams and the environment: the Brazilian experience. Water Resources Development, v. 14, p. 127-140, 1998. Tabela 4.2 – Reserva de água subterrânea no Brasil e intervalos mais freqüentes das vazões dos poços (REBOUÇAS, 1996) Domínio aqüífero Área (km2 ) Sistema aqüífero principal Reservas (km3 ) Intervalo vazão poço (m3 /h) Substrato aflorante 600.000 Zonas fraturadas (P€) 80 <1-5 Substrato alterado 4.000.000 Manto rocha alterada e/ou fraturas (P€) 10.000 5-10 Bacia sedimentar Amazonas 1.300.000 Gr. Barreiras (TQb) Fm. Alter do Chão (K) 32.500 10-400 Bacia sedimentar São Luís-Barreirinhas 50.000 Fm. São Luís (TQ) Fm. Itapecuru (Ki) 250 10-150 Bacia sedimentar Maranhão 700.000 Fm. Itapecuru (Ki) Fm. Cordas-Grajaú (Jc) Fm. Motuca (PTRm) Fm. Poti-Piauí (Cpi) Fm. Cabeças (Dc) Fm. Serra Grande (Sdsg) 17.500 10-1000 Bacia sedimentar Potiguar-Recife 23.000 Gr. Barreiras (TQb) Fm. Calc. Jandaíra (Kj) Fm. Açu-Beberibe (Ka) 230 5-550 Bacia sedimentar Alagoas/Sergipe 10.000 Gr. Barreiras (TQb) Fm. Marituba (Km) 100 10-350 Bacia sedimentar Jatobá-Tucano- Recôncavo 56.000 Fm. Marizal (Kmz) Fm. São Sebastião (Kss) Fm. Tacaratu (SDt) 840 10-500 Bacia sedimentar Paraná (Brasil) 1.000.000 Gr. Bauru-Caiuá (Kb) Fm. Serra Geral (Jksg) Fm. Botucatu-Pirambóia-Rio do Rastro (Pr/TRp/Jb) Fm. Furnas-Aquidauana (D/PCa) 50.400 10-700 Depósitos diversos 773.000 Aluviões, dunas (Q) 411 2-40 Totais 8.512.000 ≈ 112.000
  • 66. 64 GEODIVERSIDADE DO BRASIL CONEJO, G. L. J; COSTA, P. M.; SILVA, C. A.; BURNETT, B. A. J.; ACSELRAD, V. M. Panorama da qualidade das águas superficiais do Brasil. Caderno Técnico, Brasília: Agência Nacional de Águas, n. 1, 2005. FEITOSA, F. A. C.; MANOEL FILHO, J. (Coord.). Hidrogeologia: conceitos e aplicações. Fortaleza: CPRM; LABHID-UFPE, 2000. 391 p. PRESS, F; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Tradução Rualdo Menegat. Porto Alegre: Artmed, 2006. 656 p. il. REBOUÇAS,A.C.Diagnósticodosetorhidrogeologia.SãoPau- lo:Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, 1996. 46 p. RIBEIRO, J. A; FEITOSA, F. A. C. Ocorrência de água subterrânea em rochas cristalinas: região de Irauçuba, CE. Rio de Janeiro: CPRM, 2000. Relatório (no prelo). TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Tex- tos, 2000. 557 p. TUNDIZI, G. J. Água no século XXI: enfrentando a escas- sez. São Carlos: Rima, 2003. 247 p. FREDERICO CLÁUDIO PEIXINHO Engenheiro Civil (1972) pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Hidrologia Aplicada (1973) pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). MBA de Qualidade Total (2002) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), MBA em Gestão Estratégica da Informação (2003) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Avaliação Ambiental (2004) pela Pontifícia Universidade Católica (PUC). Mestrando em Tecnologia da Informação (2008) pela UFRJ. Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 1974. Desde 1975 exerce a coordenação do Programa de Hidrologia da CPRM, desenvolvendo atividades relacionadas a levantamento, estudos e pesquisas na área de Recursos Hídricos Superficiais e Subterrâneos. Responsável técnico pela implementação, operação e integração do Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS) em estados brasileiros e países da América Latina. Linhas de atuação atuais: Hidrologia, Gestão Estratégica, Sistemas de Informação. FERNANDO A. C. FEITOSA Geólogo (1982) e mestre em Hidrogeologia (1990) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutorando em Hidrogeologia pela UFPE. Atuou na CONESP, ATEPE, ACQUAPLAN, EMATER-PE e FUNCEME. Foi chefe da Divisão de Hidrogeologia da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) no período de 2001 a 2007. Atualmente, é coordenador executivo do Departamento de Hidrologia (DEHID). Coordenador da Rede de Pesquisa de Estudos Hidrogeológicos do Semi-Árido Brasileiro – FINEP/CPRM-UFBA-UFC-UFCG-UFRN-UFPE (2005-2008). Linhas de atuação: Avaliação e Gestão de Aqüíferos; Estudos Hidrogeológicos; Construção e Avaliação de Poços.
  • 67. 65 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza 5 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Silva Martins1 ([email protected]) Kaiser Gonçalves de Souza2 ([email protected]) 1 UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2 CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Minerais do Fundo Marinho ....................................................... 66 Ocorrências Superficiais .............................................................. 66 Granulados siliciclásticos (areia e cascalho) .............................. 66 Granulados bioclásticos ........................................................... 69 Depósitos de pláceres .............................................................. 69 Fosforitas ................................................................................. 75 Nódulos polimetálicos .............................................................. 76 Crostas cobaltíferas ................................................................. 79 Sulfetos polimetálicos e outros depósitos hidrotermais .......... 79 Outras ocorrências .................................................................. 81 Glauconita ............................................................................ 81 Barita .................................................................................... 82 Lamas orgânicas ................................................................... 82 Vasas organogênicas............................................................. 82 Ocorrências de Subsuperfície ..................................................... 82 Evaporitos................................................................................ 82 Enxofre .................................................................................... 82 Carvão ..................................................................................... 83 Hidratos de gás ....................................................................... 83 Zona Costeira como um Recurso ................................................ 85 Considerações Finais ................................................................... 86 Bibliografia ................................................................................. 87
  • 68. 66 GEODIVERSIDADE DO BRASIL MINERAIS DO FUNDO MARINHO A distribuição mundial desigual de recursos minerais no continente, a sensibilidade política que tal fato causa e um atento crescimento da importância na proteção e con- servação dos ambientes aumentaram o significado futuro dos minerais marinhos, além do óleo e gás. O conheci- mento sobre sua distribuição, categoria, gênese e abun- dância, embora ainda imperfeito, cresce rapidamente, particularmente para aqueles minerais economicamente significantes em um futuro próximo. Atualmente, a mais importante mercadoria (exclu- indo óleo e gás) minerada em mar aberto, tanto em quantidade como em valor, é composta de agregados (areia e cascalho) para a indústria da construção, segui- da pelos pláceres submersos de estanho, os carbonatos bioclásticos para corretivo de solo e cimento, as acu- mulações fosfáticas para uso em fertilizantes. As lamas ricamente mineralizadas do mar Vermelho serão breve- mente exploradas. As grandes quantidades de nódulos de manganês (polimetálicos) também devem ser consi- deradas como contribuição valiosa para o suprimento mundial de níquel, cobre, cobalto e manganês. Acu- mulações de sulfetos mapeados no Pacífico leste repre- sentam novas ocorrências a serem pesquisadas com profundidade, embora requerendo o desenvolvimento de novas tecnologias, antes de serem minerados eco- nomicamente. A explotação de minerais marinhos depende, em es- sência, do custo competitivo de outros recursos que, por sua vez, estão vinculados ao desenvolvimento de uma tecnologia disponível de baixo custo, bem como de seu valor e quantidade disponível. Entre os muitos fatores que determinam a distribui- ção dos recursos minerais marinhos, a evolução dos oce- anos é de influência básica. Dessa maneira, a localização dos minerais foi determinada durante os diferentes estági- os de evolução oceânica. Essas etapas são: estágios essenciais da deriva das massas continentais, quando a expansão oceânica iniciou e o fundo do rifte central foi construído de crosta oceâni- ca como, por exemplo, no mar Vermelho; o estágio quan- do o rifte alargou-se e uma dorsal foi formada no oceano, onde mais crosta oceânica foi formada, expandindo a par- tir da dorsal, esfriando, como no oceano Atlântico; um terceiro estágio, quando a crosta oceânica colidiu com a crosta continental e submergiu abaixo dela, como, por exemplo, no leste do Pacífico. Sulfetos polimetálicos e sedimentos metalíferos po- dem ser depositados ao longo dos maiores limites de fratura e placas, na crista das dorsais, durante todos esses estágios de evolução oceânica e durante períodos de vulcanismo de arco de ilhas. Os depósitos são for- mados por atividade hidrotermal, particularmente em áreas tectonicamente ativas, onde o grau de expansão é alto. Nódulos de manganês são mais abundantes em áre- as com taxas inexpressivas de sedimentação e condições oxidantes, característica das grandes e profundas bacias oceânicas, como, por exemplo, o Pacífico equatorial nor- te-leste. Por sua vez, a distribuição dos pláceres e agregados é restrita à plataforma continental e está relacionada a fato- res como proximidade de área-fonte no continente e mu- danças recentes no nível do mar. Depósitos fosfáticos marinhos estão restritos às margens continentais e associ- ados a fenômenos de ressurgências. Depósitos minerais do piso marinho podem ser ca- racterizados como não-consolidados e, portanto, capa- zes de serem coletados diretamente por dragagem, ou consolidados, requerendo energia adicional para fragmen- tação do depósito antes da coleta. Cada um dos tipos pode ocorrer na superfície ou abaixo da interface sedi- mento/água. Depósitos não-consolidados incluem materiais de construção, como cascalho e areia; material bioclástico (carbonatos); pláceres de minerais pesados contendo titânio, estanho e ouro; lamas metalíferas, como as en- contradas no mar Vermelho; nódulos polimetálicos e va- sas silicosas e carbonáticas. Depósitos consolidados incluem seqüências estratifi- cadas, tais como carvão e ferro; crostas, como as encon- tradas nos montes submarinos do oceano Pacífico, for- madas por óxidos de manganês ricos em cobalto. SANTANA (1999) sintetizou o conhecimento sobre a ocorrência de recursos minerais da margem continental brasileira e regiões adjacentes fornecendo um mapa na escala 1:5.592.000. Trabalhos adicionais realizados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Ge- ológico do Brasil (CPRM/SGB) e por centros de pesquisa vinculados a universidades enriqueceram o trabalho inici- al com novas informações sobre areia, minerais pesados, carbonatos e fosfatos. OCORRÊNCIAS SUPERFICIAIS Granulados siliciclásticos (areia e cascalho) Praias, por seus aspectos estéticos e por muitas ou- tras razões, despertam o interesse público. Elas são for- madas por areia e cascalho, matéria-prima para obras e construções, e serviram durante muito tempo como fonte de material para tais aplicações. Felizmente, o crescimento acentuado do turismo, apesar de os problemas associados que aportaram à zona costeira, serviu para o surgimento de medidas visando a sua preservação. O aumento gradativo da importância da manutenção de um campo de dunas, como elemento absorvente da energia de onda durante as ressacas, for- neceu embasamento para medidas governamentais vi- sando a sua preservação e manejo, bem como de todo o
  • 69. 67 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza perfil praial. Contudo, variações do nível do mar, provo- cadas por ação antrópica ou como causa natural, vêm causando sérios danos à linha de costa, por meio da erosão. Essas razões são suficientes argumentos para o cres- cente interesse dos depósitos de areia e cascalho presen- tes na plataforma continental, os quais excedem em volu- me e potencial o valor de qualquer outro recurso não- vivo, exceto o óleo e gás. Sua utilização é dividida entre a indústria da construção e os programas de reconstrução praial, como os conduzidos pelo Minerals Management Service (MMS) na costa leste dos Estados Unidos da Amé- rica, por exemplo. Por serem commodities de baixo cus- to, é importante que o material seja minerado de local próximo ao mercado consumidor. Em certas ocorrências, contudo, como nas costas da Sibéria, norte do Canadá, Namíbia, norte e leste da Aus- trália, as suas explotações não perfazem as condições eco- nômicas requeridas. Da mesma forma, os depósitos de areia e cascalho situados além do limite das 200 milhas ou fora dos contornos fisiográficos da plataforma conti- nental não são tão atraentes. A produção de areia e cascalho provavelmente pros- seguirá em locais próximos a grandes cidades e centros turísticos para mitigar locais de severa erosão praial. Edisto Beach, Carolina do Sul, nos Estados Unidos, é um des- ses casos com registro do problema e plano de recupera- ção; já a praia do Hermenegildo, no Rio Grande do Sul, possui o problema, mas nenhum plano de beach nourishment. Para se ter uma idéia do crescimento da importância de areia e cascalho, calcula-se que em 1980 somente 1,5% de material usado eram de origem de mar aberto. Para alguns países, contudo, a produção offshore é de grande significado, como no Reino Unido, que obtém 25% desse material em mar aberto. Entretanto, a produção maior (cerca de 50% da produção mundial de agregados) é rea- lizada pelo Japão. Como a mineração é desenvolvida próximo à linha de costa, uma série de cuidados deve ser seguida com vistas à preservação ambiental. Isso ocorre no Reino Uni- do, onde a dragagem é regulada, sendo confinada a es- pecíficas áreas de concessões. O mesmo sucede nos Es- tados Unidos, onde a realização de tais trabalhos é coor- denada por agências como United States Geological Survey (USGS), Minerals Management Service (MMS) e Center for Environmental Research and Conservation (CERC). A maior parte das dragagens é realizada a profundi- dades menores de 45 m, estando previsto um aumento para 50-60 m em um futuro próximo. O material pode ser minerado por meio de dragas ou bombas hidráulicas, ou ambos os métodos, sempre com regras sensíveis ao ambi- ente marinho. Medidas governamentais restringem a mi- neração muito próxima à linha de costa de duas maneiras: pela distância ou pela profundidade da lâmina de água. Em Brunswick (Canadá), a distância é de 300 m, enquan- to no Japão a dragagem é proibida em um limite de 4/5 km da costa. No Reino Unido, as licenças de mineração de mar aberto não são concedidas para águas mais rasas que 18 m. Danos ao fundo marinho e ao ambiente pela extra- ção de areia e cascalho podem ser causados de muitas formas. O aumento da turbidez na água do mar pode reduzir o desenvolvimento de plantas em águas rasas, o que prejudica o habitat de certas espécies de peixes e crustáceos e reduz a captura comercial e as oportunida- des de pesca recreativa. O acúmulo expressivo de lama, que muitas vezes tem de ser removida quando deposita- da, pode asfixiar as vegetações e recifes. Deve ser consi- derado também que a remoção de areia e cascalho sob a espessura uniforme de grandes áreas irá destruir a fauna de fundo e locais de procriação, gerando áreas estéreis do piso marinho, que levarão muitos anos para serem recuperadas. Sugestões existem para diminuir danos ao ambiente, como, por exemplo, a realização de corte de trincheiras no piso marinho rodeadas por áreas não perturbadas, onde é criada uma variação de relevo que poderá ser benéfica à população de peixes. A extensa bibliografia específica sobre o tema (con- sultar, por exemplo, Earney, 1990) revela que os proble- mas decorrentes da mineração marinha têm sido intensa- mente estudados pelas nações mais desenvolvidas e algu- mas possíveis soluções estão atualmente bem documen- tadas. Ações governamentais apontam para a realização de estudos detalhados sobre o ambiente marinho e de seus processos naturais de sustentação, de forma que a legislação prevenirá danos irreversíveis ao ambiente ou a outras atividades que utilizam o meio marinho, particular- mente aquelas baseadas na utilização sustentável dos re- cursos vivos. Estudos sobre estoques arenosos presentes na plata- forma continental interna e de conseqüente realimenta- ção de praias erodidas são encontrados em trabalhos como o DE AMATO (1994) para a plataforma leste dos Estados Unidos. No sul do Brasil e Uruguai, estoques arenosos foram avaliados por MARTINS et al. (1999, 2005), MARTINS e Urien (2004) e MARTINS E TOLDO JR. (2006b). Na figura 5.1 são mostradas as ocorrências de areia e cascalho na plataforma leste dos Estados Unidos. Na figu- ra 5.2 são apresentadas as concessões de Reino Unido, Holanda, Bélgica e França para o mesmo tipo de explota- ção no mar do Norte, cujas licenças, fornecidas pelas res- pectivas agências nacionais pertinentes, para direito de dragagem, estão sujeitas a restrições relacionadas à pesca e à proteção costeira. Na figura 5.3 são representadas áre- as de dragagens de areia no canal inglês e, nas figuras 5.4 e 5.5, detalhes relativos à extração e estocagem de areia e cascalho. Na figura 5.6 estão representadas áreas com potencial de areia, presentes na plataforma continental do Rio Grande do Sul.
  • 70. 68 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 5.1 – Areia e cascalho representam, por seu volume, o potencial mineral econômico mais importante da plataforma continental dos Estados Unidos (COUPER, 1983). Figura 5.2 – O mar do Norte, uma das mais ricas áreas do mundo em areia e cascalho, foi dividido pelos países costeiros (Reino Unido, Holanda, Bélgica e França) em áreas de concessão para dragagem (COUPER, 1983). Figura 5.3 – Áreas de dragagem de areia no canal inglês (SUMMERHAYES, 1998). Figura 5.4 – Cascalho sendo minerado com utilização de draga (SUMMERHAYES, 1998). Figura 5.5 – Areia e cascalho de mar aberto estocado para distribuição (SUMMERHAYES, 1998).
  • 71. 69 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza Granulados bioclásticos Carbonato de cálcio é minerado como material recifal consolidado ou como acumulações bioclásticas não-con- solidadas recifais ou de conchas. A mineração de cama- das de conchas é mais comum, enquanto recifes coralígenos representam fontes de carbonato de cálcio, mas a utilização de corais não-vivos ou mortos aumenta a vulnerabilidade a dano mediante a ação de ondas e tem- pestades. No meio marinho, o esforço mais expressivo da pes- quisa encontra-se dirigido a oólitos, corais, algas coralígenas e conchas. Nas ilhas tropicais com franjas de recifes coralígenos, as areias não são de quartzo, mas de fragmentos de corais de carbonato de cálcio, componen- te básico do cimento. Carbonato de cálcio sob a forma de conchas é também comum nas plataformas continen- tais. A planta exploratória de areia aragonítica situada em Cat Cay, nas Bahamas, é uma das mais expressivas, com mais de 37.500 milhões de m3 , abastecendo segmentos do mercado norte-americano com carbonato de cálcio para corretivos de solos e cimento. Areias calcárias denominadas marl são também dragadas da plataforma continental francesa para aplica- Figura 5.6 – Potencial de areia quartzosa, areia quartzosa com bioclastos e areia e cascalho bioclástico da plataforma continental interna do Rio Grande do Sul (MARTINS et al., 1999). ção direta nos solos ácidos da Bretanha. Tais depósitos possuem composição similar às areias encontradas no nor- deste do Brasil. A produção é bastante expressiva – entre 500 e 700 t/ano. Estudo de COUTINHO (1992) na província carbonática da plataforma continental brasileira que se estende do rio Pará (0,5°S) até as vizinhanças de Cabo Frio (23,5°S), em uma provavelmente mais longa e contínua plataforma atapetada por sedimentos carbonáticos do mundo, reve- lou interessantes aspectos dessa sedimentação. Os sedi- mentos carbonáticos que ocupam as porções média e ex- terna da plataforma estão representados por areias e cas- calhos formados por algas coralígenas ramificadas e ma- ciças, concreções, artículos de Halameda, moluscos, briozoários e foraminíferos bentônicos. MONT’ALVERNE E COUTINHO (1992) calcularam uma reserva de 1,96 x l0 t, considerando a isóbata entre 20 e 30 m na plataforma continental de Pernambuco, admitindo uma espessura média de 1,5 m. Segundo SANTANA (1979, 1999), a margem conti- nental do nordeste e leste do Brasil até a altura de Cabo Frio possui sedimentos ricos em carbonato, contendo mais de 75% de CaCo3 . O autor considerou uma espessura média para esses depósitos de 5 m, representando uma reserva de 2 x 1011 t, correspondendo, na época, a mais de 50 vezes a reserva estimada do continente. O conhecimento relativo aos depósitos de calcário bioclástico ocorrente na plataforma continental interna do Rio Grande do Sul, vinculado a antigas linhas de praia de alta energia (MARTINS et al., 1972), foi sintetizado por CALLIARI et al. (1999), com especial ênfase nas áreas de Albardão e Carpinteiro, representando um potencial eco- nômico de 1 bilhão de toneladas (Figura 5.7). Em Santa Catarina, estudos realizados na zona costeira foram divul- gados por Caruso Jr. (1999). Depósitos de pláceres Depósitos de cassiterita, ilmenita, ouro e diamante, ocorrentes nas plataformas continentais, são formados do mesmo modo que as acumulações aluvionares fluviais. O mineral ou gema é erodido(a) das rochas nas cabeceiras dos rios e carregado(a) pelo curso fluvial se o fluxo é sufi- cientemente vigoroso até sua diminuição, quando as par- tículas mais pesadas assentam em seu leito, preferencial- mente em áreas de remanso. Inundações periódicas mo- vem essas acumulações rio abaixo, onde assentam nova- mente e são cobertas por outros sedimentos. Praias do mundo inteiro têm sido mineradas para muitos minerais, incluindo diamante (Namíbia), ouro (Alasca e Nova Escó- cia) e cromita (Oregon). As concentrações de minerais física e quimicamente resistentes são formadas a partir da erosão de corpos mineralizados liberados por meio do intemperismo e acu- mulados mecanicamente. Esses minerais podem perma- necer in situ ou serem transportados e concentrados em
  • 72. 70 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 5.7 – Localização das acumulações do Albardão, Parcel do Carpinteiro e Mostardas na plataforma continental interna do Rio Grande do Sul (CALLIARI et al., 1999). areias e cascalhos ocorrentes em rios e praias, incluindo ouro nativo, platina, cassiterita (estanho), rutilo e ilmenita (titânio), magnetita (ferro), zircão (zircônio), volframita (tungstênio), cromita (cromo), monazita (cério e tório) e pedras preciosas. Ainda que ocorram ao longo do tempo geológico (como ouro encontrado em rochas do Pré-Cambriano da África do Sul), a maioria se formou nos últimos 65 mi- lhões de anos. Depósitos importantes podem ser indica- dos como ouro no Alasca; areia titanífera na Flórida, Sri Lanka, Índia, Austrália e Brasil; estanho na Malásia e Indonésia; magnetita nas praias do Japão. Alguns dos pláceres encontrados nas plataformas continentais estão situados em camadas fluviais que fo- ram afogadas pela elevação do nível do mar a partir de - 130/-150 m durante os últimos 18 mil anos. Outros pláceres são formados por meio do retrabalhamento de alguns desses depósitos aluvionares por ondas e correntes na linha de praia durante os níveis de estabilização tem- porária da transgressão holocênica. Outras acumulações mais recentes representam o material erodido carregado para o mar por ação fluvial para depósitos praiais (usual- mente associados a deltas), ou pela erosão de areias cos- teiras que contenham concentrações de minerais pesados. Zonas rasas da plataforma continental servem para a explotação de diamante (Namíbia), cassiterita (Malásia, Indonésia e Tailândia) (Tabela 5.1). Outros minerais, como cromita (cromo), rutilo (titânio), ilmenita (ferro e titânio), magnetita (ferro), zircão (zirconita), monazita (terras-ra- ras) e sheelita (tungstênio), foram ou estão sendo dragados em vários locais do Sri Lanka e Austrália. De maneira geral, os depósitos de pláceres não se estendem muito distante da linha de costa. Os problemas ambientais associados à mineração de pláceres são simila- Tabela 5.1 – Relações entre profundidade e modo de ocorrência de minerais marinhos não-consolidados Profundidade Modo de ocorrência Mineral 0-30 m 30-200 m Praia Praia submersa Cursos submersos Sedimentos superficiais Ilmenita X X X X Rutilo X X X X Zircão X X X X Monazita X X X X Titânio X X X Estanho X X X Ouro X X X X Platina X X X X Diamante X X X X X Ferro X X X X X Areia X X X X X X Cascalho X X X X X X
  • 73. 71 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza res aos ligados à explotação de areia e casca- lho, exceto pela tendência seletiva e geografi- camente mais limitada em área (Figura 5.8). A possibilidade de mineração de pláceres de mar aberto será a mesma nas acumula- ções costeiras e dependente de fatores como custo da exploração, obtenção de permissão para a mineração, necessidade de satisfazer a regulamentos ambientais, tecnologia de beneficiamento e custos de transporte. En- quanto alguns pláceres contêm recursos como ilmenita e rutilo e são amplamente distribuí- dos, estanho aluvial é restrito a áreas como sudeste da Ásia, onde ocorrem a partir de gra- nitos estaníferos. Pláceres comerciais de ouro são menos freqüentes e os de diamante, com- parativamente raros. O sul da costa da Namíbia é a principal fontedosdiamantesmarinhos.Antesde1961, esses diamantes eram obtidos pela minera- ção de terraços ao norte do rio Orange. Dia- mantes de kimberlitos intemperizados foram transportados pelo rio Orange e seus tributá- rios do rio Vaal até a zona costeira, onde fo- ram coletados (Figuras 5.9, 5.10 e 5.11) e, posteriormente, soterrados por sedimentos calcários. Muitos diamantes foram também levados em direção norte por fortes correntes e eventualmente acumulados em areias e la- mas na plataforma continental. A mineração desses diamantes de mar aberto em águas de até 35 m de profundidade iniciou em 1961 e prosseguiu por uma década, quando as ativi- dades se tornaram não-econômicas para a maioria das empresas mineradoras, sendo as operações de mar aberto deslocadas para a plataforma interna. A produção em zonas in- ternas rasas continuou com operadoras inde- pendentes usando pequenos barcos ou bombeamento para a praia. A produção em 1996 foi de 90.000 quilates. Após 1971, gran- des companhias começaram a explorar em águas profundas e nos 12 anos seguintes constataram a existência de cascalhos comer- ciais ricos em diamantes na plataforma mé- dia em águas de até 200 m. Esses depósitos foram explotados utilizando-se novas técni- cas desenvolvidas em 1990. Nesse ano, a De Beers Marine produziu 29.195 quilates na plataforma continental média e a produção subiu para 470.000 qui- lates em 1996, quando representou um terço da produção de diamantes na Namíbia. Em 1997, a exploração de diamante da Namíbia e África do Sul estendeu-se à isóbata de 500 m. Os estudos revelaram que as camadas produtivas de mar aberto da Namíbia e Figura 5.8 – Ocorrência de pláceres de minerais pesados na zona costeira e plataforma continental adjacente. Figura 5.9 – Áreas licenciadas para exploração e mineração do sul da África apresentando batimetria e principais pontos operacionais (GARNETT, 1999b). África do Sul devem sua origem a uma complexa interação de sistemas de alta energia fluvial, marinha e eólica que operaram no oeste da costa pelo menos desde o Oligoceno.
  • 74. 72 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 5.10 – Feições típicas de acumulação de diamante na plataforma interna (GARNETT, 1999b). Figura 5.11 – Perfil litológico de feição da plataforma continental interna rica em diamantes (GARNETT, 1999b). tidades comerciais sejam ocorrentes além da zona superi- or do declive continental. Os depósitos de ouro do Alasca (Figura 5.12) devem sua origem a uma singular combinação de: (a) minerali- zação primária vizinha; (b) glaciação; (c) falhamento re- corrente da linha de costa; (d) mudanças no nível do mar; (e) uma linha de costa totalmente exposta a condições marinhas de elevada energia. A existência das concentra- ções pode ser resumida como sendo integrada por uma combinação de fatores: os depósitos de ouro primário foram erodidos por glaciação e redepositados como mo- rainas laterais e terminais. Os detritos glaciais e partículas de ouro foram submetidos a repetidos falhamentos ao lon- go de uma linha de costa climaticamente exposta e a vari- ações de nível do mar (GARNETT, 1999a). A mineração foi desenvolvida nas praias, estenden- do-se mais tarde em direção ao continente, mais especi- Figura 5.12 – As praias de Nome no Alasca são conhecidas por possuírem ouro desde o século XIX (COUPER, 1983). Explorações para amostragem de diamantes ocorre- ram nas margens continentais de Angola, Sierra Leoa, Indonésia,Austrália(golfosBonaparteeCarpentaria),Rússia (mar Branco e mar Azov) e Canadá (golfo Coronation). Os pláceres de diamante da costa da Namíbia e África do Sul foram transportados por cursos fluviais após sua erosão de kimber- litos situados a centenas de quilômetros no continente. Correntes litorâneas combinadas a fortes ventos e ação de ondas de elevada energia durante períodos de consideráveis mudanças no nível do mar concentraram os diamantes em paleolinhas da costa e outras feições geológicas litorâneas. Os cascalhos existentes formam uma fixa camada sobre um embasamento irregular, ocorrendo em setores da plataforma interna e média ao longo das costas da Namíbia e Áfri- ca do Sul. Pláceres contendo ouro são encontrados em zonas costeiras da África do Sul, Alasca, norte do Canadá, Sibéria e Filipinas. Tanto ouro como diamante são menos abundantes pro- gressivamente, à medida que a distância da fonte aumenta. Assim, é improvável que quan-
  • 75. 73 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza ficamente em praias antigas. Na zona costei- ra, a maior concentração de ouro é encon- trada onde finas camadas de cascalho relicto recobrem material de deriva glacial. Os de- pósitos de mar aberto foram amostrados por perfurações no gelo que cobrem o mar a maior parte do ano. As condições climáticas e a distância do Alasca adicionam fatores con- sideráveis no custo da mineração, mas, com o crescente desenvolvimento da tecnologia, o interesse comercial pode aumentar (COU- PER, 1983). Concentrações e ocorrências de minerais pesados estão presentes ao longo da zona costeira do Brasil, do Piauí ao Rio Grande do Sul, tanto sob a forma emersa, como submer- sa. Na parte emersa, são minerados na Paraí- ba, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro (il- menita, rutilo, monazita e zircão), sobressa- indo as concentrações de Cumuruxatiba (Bahia) e Itabapoana (Rio de Janeiro). A reserva de Cumuruxatiba envolve 171.000 t de ilmenita, 4.000 t de monazita e 365.000 t de zircão e rutilo (SANTANA, 1999). Os estudos realizados na zona costeira do Rio Grande do Sul foram iniciados por VILLWOCK et al. (1979), pros- seguiram com MUNARO (1994) e foram sintetizados por CARUSO Jr. et al. (1999) (Tabela 5.2). Boa parte das acumulações está relacionada à linha de costa moderna e representa usualmente depósitos alon- gados paralelos e subparalelos à praia, com 30 a 100 m de largura e 18 km de comprimento. Outros depósitos estão relacionados a campos de dunas holocênicas, reco- brindo terrenos pleistocênicos. Um dos exemplos de explotação econômica de pláceres é o de estanho do sudeste da Ásia, contendo cassiterita (SnO2 ) liberada a partir de rochas duras (usual- mente granitos) por processo intempérico durante tem- pos geológicos recentes (Figura 5.13). A cassiterita migrou com auxílio da gravidade e água corrente para formar um depósito aluvial. As operações de extração situam-se preferencialmente em zonas abrigadas rasas estuarinas ou da plataforma interna. O sudeste da Ásia é uma das regiões de maior produção de Figura 5.13 – A Indonésia é uma das principais regiões do mundo, onde pláceres de mar aberto são minerados. estanho, com os recursos ocorrendo por uma distância apreciável de 2.900 km, do norte de Burma, península da Tailândia, oeste da Malásia, até as ilhas Bangka, Belitung e Sengkep da Indonésia. Cerca de 7% da produção mundial de estanho provêm de mar aberto. Na Indonésia, depósitos primários de estanho ocor- rem em rochas graníticas do continente e os minerais pe- sados (incluindo cassiterita) foram transportados, deposi- tados e concentrados durante o Quaternário em vales flu- viais como trapas naturais que se estenderam em mar aber- to. A explotação atual está limitada a profundidades de 50 m, mas os depósitos encontrados em profundidades mai- ores podem ser minerados no futuro. O potencial desse recurso na Indonésia é estimado em 1,6 milhões de tone- ladas, dos quais 40% são de mar aberto. As atividades de mineração na zona costeira e em mar aberto, países envolvidos e status atual da explora- ção/explotação em termos de minerais industriais e do tipo plácer encontram-se resumidos no Quadro 5.1. Outros projetos de extração da cassiterita foram esta- belecidos na baía Saint Ives, em Cornwall, Inglaterra, e na península Seward, no Alasca. Tabela 5.2 – Reservas de minerais pesados da região de Bujurú (RS) (segundo MUNARO, 1994) Local Espessura (m) Volume Toneladas % Conteúdo Estreito 2,92 46.790.000 74.864.000 3,22 2.412.040 Bujurú 3,62 35.638.000 72.060.000 4,59 3.309.062 Bujurú norte 3,34 49.219.000 78.750.400 4,74 3.729.000 Total 3,29 131.647.000 225.675.200 4,19 9.450.240 Reserva 1,32 22.847.000 40.280.000 3,52 1.419.358
  • 76. 74 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Quadro 5.1 – Atividades de mineração na zona costeira e mar aberto, relativas a minerais industriais e do tipo plácer (HALE e McLAREN, 1984) Bem mineral País Estado atual Minerais industriais A. Textualmente dependentes: areia e cascalho (agregados) Canadá; Cuba; Dinamarca; França; Holanda; Japão; Nigéria; Suécia; EUA; Reino Unido Mineração e exploração em mar aberto B. Dependentes da composição: carbonato de cálcio (cimento, agricultura) Bahamas; Brasil; Cuba; Dinamarca; Fiji; França; Kenya; República da China; Reino Unido; EUA; Mauritânia Mineração atual em mar aberto Areia (sílica de alto grau) Finlândia; Canadá; Nova Zelândia Mineração praial Mineração de mar aberto Exploração/avaliação em mar aberto Pláceres minerais Cassiterita (estanho) Indonésia; Tailândia; URSS; Reino Unido; Nova Zelândia; Austrália Mineração em mar aberto Mineração escala piloto em mar aberto Exploração em mar aberto Cromita (cromo) EUA; Moçambique Exploração em praia e mar aberto Exploração em mar aberto Diamantes Namíbia Exploração em mar aberto Ouro Canadá; Nova Zelândia; Filipinas; EUA; URSS; Fiji; Índia Mineração em praia e mar aberto Areias ferríferas Brasil; Fiji; África do Sul; Japão; Austrália; Nova Zelândia; Flórida, EUA; Filipinas; Moçambique; S.W, Índia; Sri Lanka Mineração em praia, exploração em mar aberto Anteriormente exploração em mar aberto Anteriormente praia, exploração e mineração em mar aberto Exploração em mar aberto Monazita (terras-raras e tório) Austrália; Brasil; S.W, Índia; Sri Lanka Fosforita (fósforo) Austrália; México; Nova Zelândia; EUA Exploração em mar aberto Mineração em praia Mineração em praia Platina EUA Mineração em praia e mar aberto Mineração em praia Rutilo Austrália; Brasil; S.W, Índia; Sri Lanka; Canadá Mineração em praia Exploração em mar aberto Zircão Sri Lanka; Canadá; Austrália; Moçambique Mineração em praia Exploração em mar aberto Anteriormente mineração em praia Mineração em praia, exploração em mar aberto Exploração em mar aberto
  • 77. 75 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza Fosforitas Acumulações de fosforitas são conheci- das como ocorrentes especialmente nas plata- formas continentais e parte superior do decli- ve em muitas partes do mundo, mas a maior quantidade dos depósitos é de teor baixo e pouco espessos (BURNETT e RIGGS, 1990). Estudos detalhados de sísmica realizados na plataforma continental da Carolina do Norte e no platô Blake ao largo da Flórida revelaram a ocorrência de concentrações comerciais com espessuras de 10 m. Igualmente, foram de- senvolvidas plantas de mineração de nódulos de fosforita ao sul da Califórnia. Os depósitos de fosforita de Chatham Rise, no leste da Nova Zelândia, foram cuidadosamente examinados e dimensionados com 30-100 milhões de to- neladas de rocha fosfática delineada com um potencial adicional de glauconita rica em po- tássio, associada à fosforita. Estudos relativos aoimpactoambientaldemineraçãodefosforita a profundidades superiores a 700 m não fo- ram ainda estabelecidos. O termo “fosforita” é normalmente aplicado ao de- pósito sedimentar composto principalmente por minerais fosfáticos (Figura 5.14). Uma combinação de fatores, en- tre eles preço de mercado e custo da extração, tem inibi- do a extração de fosforita em muitos casos. Os depósitos de mar aberto oferecem uma alternativa interessante em regiões pobres em fosfato. Fosforitas compostas por cálcio-fluorapatita ocorrem em variados tamanhos desde areia até matacões e são descritos na bibliografia como ocorrentes nas margens continentais do México, Peru, Chile, Austrália, Estados Unidos e oeste da África, tendo algumas delas recebido atenção comercial. No Brasil, SANTANA (1979) indicou a ocorrência de rochas fosfatadas no guyot do Ceará, com teores de até 18,4% de P2 O5 . Mais tarde, KLEIN et al. (1992) descreve- ram preliminarmente a ocorrência de nódulos fosfáticos na margem continental do Rio Grande do Sul. Fosforitas marinhas foram descobertas como nódulos, por meio de dragagens realizadas no Agulhas Bank (África doSul)duranteamissãoChallenger(1872-76),sendoposte- riormente identificadas e descritas em outros locais. Ocor- remnormalmentenasmargenscontinentaisepartessuperi- ores dos declives continentais a profundidades menores de 500 m e normalmente situadas com pequenas exceções en- tre as latitudes 40°N e 40°S. Podem igualmente ocorrer em altostopográficos,comomontessubmarinos,guyots,eleva- ções, cristas e platôs, especialmente no Atlântico oeste. Nódulos de fosforita em Chatham Rise encontram-se amplamente distribuídos, com a ocorrência sendo acom- panhada por 480 km ao longo da crista dessa feição. A maior acumulação ocorre próximo ao meridiano 180° e a uma profundidade de 350 a 450 m. Os nódulos possuem tamanho de 2-4 cm de diâmetro, constituídos de calcários de foraminíferos fosfatizados, datados como de idade do Mioceno Inferior e Médio. Ocorrem associados a lamas are- nosas glauconíticas de coloração esverdeada que recobrem uma vasa branca de foraminíferos de idade oligocênica. Os nódulos possuem cor cinza-oliva, superfície lisa polida e um teor de 15 a 25% de P2 O5 (Figura 15B). Fosforitassãoigualmenteconhecidascomoocorrentes em larga escala no Agulhas Bank, tendo se tornado uma das áreas mais intensamente estudadas no mundo. Uma variedade bastante grande de fosforitas foi identificada, porém, a mais importante em termos de concentração e distribuição está representada por calcários orgânicos fosfatizados compostos principalmente por microfósseis, foraminíferos planctônicos e conglomerados fosfáticos que contêm fragmentos desses calcários em uma matriz de glauconita, microfósseis e areia quartzosa, todos cimen- tados por apatita. Os dois tipos de fosforitas podem ser correlacionados ao calcário de idade do Mioceno Inferior a Plioceno, que forma extensos afloramentos na platafor- ma média e externa ao nordeste da África do Sul. Uma terceira variedade, de composição mineralógica compará- vel, consiste de conglomerados fosfatizados caracteriza- dos por uma mistura variável de nódulos com microfósseis e fragmentos de ossos, coincidente com o afloramento alongado de sedimentos do Paleoceno da região interna do Agulhas Bank paralelo à costa ao sul do Cabo. Amos- tras de fosforitas do Agulhas Bank revelaram um valor en- tre 15% de P2 O5 (Figura 15C). Nódulos de fosforita foram identificados na Califórnia em 1937, durante uma dragagem realizada pelo Scripps Figura 5.14 ––––– Carbonato fosfático com percentual de P2 O5 ao redor de 15-18% dragado da plataforma continental do Marrocos (dimensão máxima 12 cm). É formado por um conglomerado de seixos de calcário fosfatizado imersos em uma matriz fosforítica, onde estão presentes grãos tamanho areia, verde-escuro a preto de glauconita (SUMMERHAYS, 1998).
  • 78. 76 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Institution of Oceanography. Atualmente, é conhecida sua ampla distribuição estendendo-se de Point Reyes, ao nor- te de São Francisco, até o golfo da Califórnia, em profun- didades variáveis de 60 a 180 m, distante poucos quilô- metros da costa até o limite da plataforma. Um número elevado de mais de 30 depósitos individuais foram identi- ficados ao sul da Califórnia, 10 dos quais foram seleciona- dos para estudos de detalhe. Os recursos foram estimados em 50 Mt de nódulos e 12,5 Mt de areias fosfáticas com Figura 5.15 ––––– Distribuição mundial das principais ocorrências de fosforita: (A) Califórnia; (B) Chattham Rise; (C) Agulhas Bank (COOPER, 1983). um teor de P2 O5 variável de menos de 1 a 31,4%. A ocor- rência de areia fosfática da baía de Santa Mônica é de especial interesse por sua ocorrência em águas relativa- mente rasas de 55 m (Figura 15A). Nódulos polimetálicos Após atingir um pico em 1970, o interesse na explo- ração e explotação dos minerais associados ao oceano pro-
  • 79. 77 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza Figura 5.16 – Consumo primário e indireto de níquel na China no período 1990-2000 (ANTRIM, 2005). Figura 5.17 – Zona de fratura Clarion-Clipperton e área de ocorrência dos nódulos, mostrando igualmente a distribuição de freqüência de níquel e cobre comparada à dos oceanos Índico e Pacífico (norte e sul) (COOPER, 1983). fundo declinou de forma acentuada. O interesse no apro- veitamento desses depósitos, governado pela capacidade tecnológica, diminui em função da ausência de perspecti- vas econômicas. Nos anos futuros, a economia será o fator principal e a tecnologia desempenhará o papel de elemento suporte. A demanda de níquel, por exemplo, em grande parte para produção de aço inoxidável, cresceu rapidamente na últi- ma década, face à crescente industrialização da China, Índia e outros países em desenvolvimento. Na Figura 5.16 é apresentada a crescente evolução da demanda por ní- quel na economia da China. Cobalto igualmente favoreceu essa crescente deman- da, face à sua utilização na obtenção de maior densida- de de energia em baterias. Por sua vez, o cobre também respondeu à crescente industrialização automobilística. Nódulos polimetálicos ocorrem normalmente a gran- des profundidades (ao redor de 4.000 m) nas bacias oce- ânicas, não sendo significantes as ocorrências em águas rasas. Segundo SANTANA (1999), são abundantes no Pa- cífico norte, tornando essa região economicamente mais atraente para futura explotação (Figura 5.17). Recentemen- te, o Instituto Federal Alemão para Geociências e Recursos Naturais submeteu à International Seabed Authority (ISA) aplicação para um contrato de exploração de uma área com nódulos polimetálicos entre o sudeste do Havaí e o sudoeste da Califórnia. A aplicação de tal natureza repre- senta a primeira, segundo as regras de contrato: a da ISA indicou que a concentração média de níquel, cobre, cobalto é de 2,5 a 3,0% (BLISSENBACH, 1979). Alguns fatores devem ser considerados pelas concen- trações menores encontradas no Atlântico quando com- paradas às do Pacífico. Com uma área três vezes menor, o Atlântico recebe um volume comparativamente mais alto de sedimentos terrígenos transportados através de corren-
  • 80. 78 GEODIVERSIDADE DO BRASIL tes de turbidez e outros fluxos gravitacionais para a região abissal, apresentando uma taxa de sedimentação intensa e contínua, gerando um ambiente pouco favorável à ocor- rência de reações diagênicas propícias ao desenvolvimen- to dos nódulos. A diferença mais importante entre os nódulos encon- trados no Atlântico em relação aos de outros oceanos é, principalmente, a alta taxa de Mn/Fe, provavelmente de- vido à contribuição terrígena mais intensa e ao alto con- teúdo de ferro presente nos sedimentos. No Brasil, SANTANA (1999) indica uma dragagem realizada no platô de Pernambuco a uma profundidade entre 1.750 e 2.200 m com recuperação de 150 kg de material, formado predominantemente por nódulos polimetálicos, de alta esfericidade, densa cobertura metá- lica e com diâmetro de 2 a 12 cm. Cerca de 90% dos nódulos recuperados possuíam um núcleo de rochas fosfáticas com lâminas concêntricas de 0,5-0,7 cm de es- pessura. A composição é variável, com 28% de P2 O5 no núcleo, e 20-30% de manganês, 30% de ferro, 0,6 a 1,5 de cobalto, 0,04 a 0,23 de cobre, 0,08 a 0,53 de chumbo e 0,12% de zinco metálico nas lâminas concêntricas. O autor, em seu mapa, apresenta outras ocorrências situa- das na Zona Costeira Econômica Exclusiva. Na zona de fratura Clarion-Clipperton (CCZ) (entre o HavaíeaBajaCalifórnia),depósitosdenódulospolimetálicos encontram-se situados a nordeste do oceano Pacífico tropi- cal. Duas fontes são atribuídas aos metais presentes nos de- pósitos: fontes hidrotermais de vulcões submarinos e fontes continentais dos rios do norte e centro do continente ameri- cano. Os nódulos apresentam quantidades significantes de Figura 5.18 – Concentrações de níquel e cobalto em nódulos do Pacífico norte (COOPER, 1983). manganês, níquel, cobre e cobalto (Figura 5.18). Por sua vez, as concentrações de níquel e cobalto nos nódulos do Pacífico norte são apresentadas na Figura 5.19. MORGAN (1999) sintetizou o atual conhecimento so- bre as potencialidades da região, estimando os recursos Figura 5.19 – Concentração de nódulos polimetálicos no Pacífico norte (HORN et al., 1972).
  • 81. 79 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza em milhões de toneladas para o manganês-7500, níquel- 340, cobre-2,65 e cobalto-78%. Segundo o autor, a área de ocorrência atinge 9 bilhões de km2 , contendo cerca de 34 bilhões de toneladas de nódulos de manganês. JAUHARI E PATTAN (1999) realizaram um detalhado estudo sobre a bacia central do oceano Índico (Figura 5.20). STACKELBERG (1999) efetuou o mesmo trabalho, com os nódulos de manganês da bacia do Peru. Crostas cobaltíferas Em realidade, trata-se de crostas de manganês enriquecidas por cobalto que costumam ocorrer como cobertura de substratos duros como basalto, em diversas regiões. Tipicamente encontrados em montes submarinos onde existe influxo modesto de sedimento, esses depósi- tos vêm sendo considerados como possível fonte de manganês e cobalto. Os melhores depósitos encontrados até agora em cadeias de montes submarinos a diferentes profundidades situam-se nas porções central e leste do oceano Pacífico e no oceano Índico. Estão normalmente associados a crostas polimetálicas, formadas por óxidos de manganês e ferro, que incorpo- ram outros metais em sua estrutura. São associados a superfícies expostas do fundo oceâ- nico e em declives de montes submarinos. Em algumas áreas, as crostas possuem níveis elevados de cobalto in- corporando a designação de crostas cobaltíferas. Crostas de ferro-manganês ricas em cobalto foram objeto de estu- do no oceano Pacífico por HEIN et al. (1999). Figura 5.20 – Ocorrência de nódulos de ferro-manganês na bacia do oceano Índico (JAUHARI e PATTAN, 1999). Figura 5.21 – Depósitos metalíferos de ferro, manganês e associados de sulfetos, óxidos, silicatos e barita (COOPER, 1983). Sulfetos polimetálicos e outros depósitos hidrotermais Os primeiros depósitos de sulfetos maciços (Figura 5.21) foram identificados no East Pacific Rise em 1978, em uma área de colinas vulcânicas apresentando fissuras e com incisiva atividade hidrotermal próxima ao eixo de expansão. Os depósitos são aproximadamente cilíndricos, apresentan-
  • 82. 80 GEODIVERSIDADE DO BRASIL do de 3 a 10 m de altura com 5 m de diâmetro e cores variadas: ocre, cinza, marrom e vermelha. MARCHIG(1999) ampliou o conhecimento relativo à atividade hidrotermal no East Pacific Rise e às mineralizações associadas. Amostras coletadas revelam a presença de sulfetos de ferro, zinco e cobre em acentuadas concentrações. Outras áreas mineralizadas têm sido descobertas, incluin- do várias regiões entre as ilhas de Galápagos, Equador e Juan de Fuca Ridge, ao largo do estado de Oregon (USA). As ocorrências necessitam de uma fase exploratória mais detalhada, antes da etapa de avaliação de sua impor- tância econômica. Dados recentemente divulgados (2006) indicam os valores comerciais dos metais contidos em de- pósitos de sulfetos, crostas polimetálicas e nódulos polimetálicos (Tabela 5.3) e nas mais variadas regiões do oceano profundo (Figura 5.22). A atividade hidrotermal no mar Vermelho (Figuras 5.23 e 5.24) acha-se ligada ao movimento divergente das placas Africana e Arábica e subseqüente formação de nova crosta oceânica. A formação dos depósitos hidrotermais é facilitada por duas razões: • desenvolvimento de nova crosta oceânica, focada em uma área relativamente pequena (depressão isolada); • ocorrência de salmouras salinas que favorece a pre- servação dos depósitos hidrotermais; como resultado, fer- ro, manganês, sulfato e fácies de sedimentos sulfetados são encontrados. Figura 5.22 – Valores dos metais contidos em depósitos de mar profundo, presentes em várias regiões. Esses depósitos são únicos em comparação a outras mineralizações metalíferas em limites de placas divergen- tes por suas altas concentrações. SHOLTEN et al. (1999) realizaram minuciosa investi- gação sobre as diferentes fácies sedimentares, caracteri- zando as denominadas fácies goetita, hematita, sulfeto e normal. O estudo fornece uma visão ampla do complexo conjunto de minerais ocorrentes na área. As lamas metalíferas do mar Vermelho foram desco- bertas em 1963. Ainda que investigações subseqüentes tenham mostrado que existem vários depósitos associa- dos a salmouras quentes, somente a depressão Atlantis II Tabela 5.3 – Valores dos metais comerciais contidos nos depósitos de sulfeto, crostas polimetálicas e nódulos polimetálicos (ANTRIM, 2005) (Agosto 2006, $/Ton) Sulfetos Polimetálicos Crostas Cobaltíferas Nódulos Polimetálicos S/Ton Arcos Intraoceânicos Arcos Intraoceânicos/ Continentais Chaminésricas emCobre Dorsal meso-Atlântico IlhasMarshall CrostaPacífico PacíficoSul OceanoÍndico ZonaClarion- Clipperton Níquel 6,771 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00 $38,70 $36,58 $36,35 $20,48 $86,67 Cobre 1,652 $84,25 $33,04 $522,02 $67,73 $1,75 $1,78 $1,77 $2,51 $16,85 Cobalto 15,198 $0,00 $0,00 $2,43 $0,00 $119,88 $96,84 $114,50 $50,85 $36,48 Chumbo 969 $11,63 $111,45 $0,00 $1,94 $1,74 $1,72 $0,72 $1,00 $0,44 Zinco 881 $133,04 $162,11 $0,35 $103,08 $0,76 $0,60 $0,59 $0,45 $1,23 Titânio 7,770 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00 $85,47 $59,83 $77,70 $69,93 $41,18 Prata 145,189 $28,31 $401,59 $0,00 $20,33 $0,00 $0,10 $0,00 $0,58 $0,00 Ouro 9,797,042 $28,41 $37,23 $0,00 $11,76 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00 $0,00 Valor Total dos Metais Comerciais $285,64 $745,42 $524,80 $204,83 $248,30 $197,45 $231,62 $145,80 $182,84
  • 83. 81 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza é de interesse comercial. Os depósitos estão todos locali- zados nas partes central e norte, formados por sedimen- tos de granulação fina, estratificados e multicoloridos com variação química considerável. Altas concentrações de 6% de zinco, 1% de cobre e 100 ppm de prata são encontra- das em sulfetos, óxidos e silicatos. A depressão Atlantis II cobre uma área de aproximadamente 60 km2 . A lama me- talífera está localizada a 2.000 m abaixo do nível do mar, variando em espessura de 2 a 25 m, sendo coberta por 200 m de densa salmoura, com temperaturas registradas de 62°C. Isso sugere que a atividade hidrotermal prosse- gue a depositar os metais. A depressão situa-se na ZEE do Sudão e Arábia Saudita. Uma comissão conjunta foi cria- da para administrar a exploração (COUPER, 1983). Outras ocorrências Glauconita Um silicato hidratado de potássio, ferro e alumínio que pode ser encontrado nas margens continentais. Se- gundo a maioria dos geoquímicos marinhos, trata-se de um produto autigênico produzido junto à interface sedi- mento-água. Alguns autores indicam ser a glauconita um produto de intemperismo marinho, o que não invalida sua condição de componente da fase denominada hal- mirólise ou diagênese inicial. Ocorre normalmente com sedimentos terrígenos e contém de 2 a 9% de KO2 , ser- vindo como fonte de potássio para fertilizan- tes. Tem sido descrita nas margens continen- tais dos Estados Unidos (Califórnia), África do Sul, Austrália, Portugal, Nova Zelândia, Filipi- nas, China, Japão e Escócia. Os grãos individuais de glauconita encon- trados em lamas marinhas raramente excedem a 1 mm de diâmetro, embora possam ser tam- bém encontrados, ocasionalmente, como aglo- merados em nódulos de vários centímetros de diâmetro cimentados por material fosfático. Os grãos típicos de glauconita são arredonda- dos, de coloração verde-escura; freqüentemen- te, apresentam forma e aparência de carapa- ças de foraminíferos. Sedimentos autígenos freqüentemente resultam de processos associados a alta pro- dutividade orgânica e elevados níveis de ma- téria orgânica nos sedimentos marinhos. Es- ses minerais, tais como fosforitas e glauconitas, são conhecidos por se formarem dentro das áreas de grande produtividade vinculadas à ressurgência. No Brasil, estudos sobre a ocorrência de glauconitas foram divulgados a partir da déca- da de 1970, sendo descritos tanto em amos- tras superficiais como em testemunhos. Figura 5.23 – Camadas multicoloridas representando diferentes minerais depositados a partir das salmouras ricas em metais do mar Vermelho: a) secção verde-cinza com 125 a 145 cm, formada por sedimentos biodetríticos (carapaças de foraminíferos formadas por calcita altamente magnesiana) e mistura finamente laminada desses sedimentos com sulfetos de ferro no topo e fundo; b) secção vermelho-marrom e amarela com 125 a 165 cm, integrada por uma mistura amarelo-laranja de goetita e limonita amorfa (SUMMERHAYES, 1998). Figura 5.24 – Lamas metalíferas do mar Vermelho. (a) (b)
  • 84. 82 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Barita Foi encontrada sob a forma de concreções nas cerca- nias de Colombo, no oceano Índico. As concentrações apresentam cerca de 75% de sulfato de bário. Outras ocor- rências foram descritas na Califórnia, a 304 m. De modo geral, ela se encontra bastante distribuída nos sedimentos marinhos, especialmente associada a sedimentos biogênicos, usualmente como grãos individuais. Sua ori- gem é bastante controversa, incluindo fonte hidrotermal e atividade biogênica. Lamas orgânicas Podem estar associadas a várias regiões costeiras. Foram erodidas das áreas continentais adjacentes, em pe- quenas bacias. Face às condições redutoras e à falta de acumulação nessas bacias, esses sedimentos são preser- vados. Alguns autores indicam que essas lamas podem ser usadas como fertilizantes. Os sedimentos da bacia Santa Bárbara, ao sul da Califórnia, contêm uma média de 4% de matéria orgânica. Freqüentemente, nessas condições redutoras, sulfetos metálicos podem ocorrer (pirita especialmente). Vasas organogênicas No piso oceânico profundo, ocorrem depósitos cons- tituídos por material de origem biogênica, denominados “vasas organogênicas”. Algumas vasas têm potencial eco- nômico, mas se encontram praticamente inexploradas, face à grande profundidade de ocorrência. Dois tipos predo- minam, com as respectivas áreas de ocorrência governa- das pelo controle de latitude: calcárias (formadas usual- mente do foraminífero globigerina) e silicosas (diatomáceas e radiolários). As vasas de globigerina apresentam um teor de até 99% de carbonato de cálcio, ocupando uma área de 128 milhões de km2 (36%) dos fundos dos oceanos, com es- pessura de até 400 m, estimando-se haver no fundo dos oceanos um volume da ordem de um trilhão de toneladas com 200 m de espessura. As vasas calcárias ocupam o piso marinho nos trópi- cos e subtrópicos, a batimétricas superiores à profundida- de de compensação do carbonato de cálcio. As vasas silicosas cobrem áreas profundas do piso marinho, abaixo da profundidade de compensação do car- bonato de cálcio. Embora possuam composição bastante elevada em termos de sílica, a profundidade de ocorrência representa o maior empecilho a sua explotação econômica. Areiascompostasdominantementeporgrãosdequart- zo representam fonte potencial de sílica para vidro e pos- sivelmente modelos de fundição. Várias gerações de retrabalhamento no material original são requeridas para produção de um material de alta qualidade e pureza. Embora significativos depósitos ocorram na Finlândia e Canadá, as acumulações de alta qualidade parecem limi- tadas a extensões regionais. OCORRÊNCIAS DE SUBSUPERFÍCIE Evaporitos As ocorrências de evaporitos na margem continental brasileira de idade aptiana são formadas por anidrita, gibsita, halita, potássio e sais de manganês. Os depósitos se estendem da bacia de Alagoas ao platô de São Paulo. Santana (1999) mostra o limite de mar aberto das bacias evaporíticas, baseado em perfis sísmicos de reflexão e re- fração, complementados por dados de perfuração. A mai- or largura das bacias salíferas ocorre na costa de Santos, estendendo-se por 650 km a partir do platô de São Paulo. O sal ocorre tanto estratificado como formando estru- turas dômicas ou do tipo almofada, com as primeiras ocor- rendo nas porções norte e sul da bacia evaporítica. Nas bacias de Sergipe e Alagoas, onde os depósitos ocorrem estratificados ou formando almofadas, sais de potássio e magnésio (carnalita e silvita) foram identificados. A ocor- rência apresentando espessura de 15 a 50 m acha-se locali- zada a 3.000 m de profundidade. No mesmo mapa, Santa- na (1999) apresenta as ocorrências de domos de sal, con- tendo halita de alta pureza, detectados no domo de Barra Nova (ES). Os domos identificados ao norte de Abrolhos e Mucuri (BA), juntamente com os de Barra Nova, podem ser economicamente interessantes, pois são relativamente ra- sos e não muito distantes da costa. Como os processos de extração são bem conhecidos e não dispendiosos, os sais podem ser economicamente significantes. Barra Nova apresenta sete domos localizados a 30-50 km da linha de costa e a uma profundidade de 30-55 m. Um deles se apresenta em uma situação de quase afloran- te e os outros se situam de 106 a 900 m. Mucuri mostra dois domos com o topo do sal quase aflorando e outro com o topo situado a 800 m. Todos eles localizados de 20 a 25 km da linha de costa e recobertos por uma lâmina de água de 20-25 m. Enxofre Todas as bacias que abrigam hidrocarbonetos tendem a ter depósitos de enxofre. Eles podem ocorrer estratificados ou presentes nas rochas capeadoras dos domos de sal. Dessa forma, é provável a existência de depósitos de en- xofre bastante expressivos na margem continental brasilei- ra, devido à presença de extensas bacias evaporíticas. Santana (1979) indica que, na época, dois projetos – “En- xofre na Plataforma Continental” e “Enxofre na Bacia Evaporítica do Espírito Santo: Partes Emersas” – foram preparados, mas, devido a dificuldades nas etapas de equi- pamentoparaperfuraçãoefinanciamento,elesforamaban- donados. Também a Petrobras, pouco tempo antes, anun-
  • 85. 83 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza A mineração de carvão da plataforma é desenvolvida há muitos anos. Normalmente, ela é realizada pela exten- são de galerias a partir da terra, sob a plataforma conti- nental, até atingir os estratos ricos no mineral. Segundo a literatura disponível, existe uma quantidade apreciável de carvão sob a plataforma continental em muitas partes do mundo, mas sua extensão ainda é desconhecida. Perfurações nas províncias de gás do mar do Norte confirmaram a presença de grandes quantidades de car- vão de boa qualidade nas camadas carboníferas do Permiano, a uma profundidade de 7.000 m abaixo do piso marinho. Tal situação é inacessível com a tecnologia atual de extração de carvão. As possibilidades residem no futu- ro,quandoocarvãopoderáserextraídoporumatecnologia mais avançada. Muitos desses depósitos de carvão podem ser explotados no futuro por meio da utilização de técnicas de gaseificação com plantas localizadas em ilhas artifici- ais. Na baía de Ariake (Japão), ilhas artificiais já foram construídas, mas destinadas a facilitar a extensão da mi- neração do carvão a partir do continente. Hidratos de gás A busca incessante de fontes alternativas de energia a partir dos oceanos estabeleceu, no decorrer dos anos, o desenvolvimento de muitos estudos e projetos com a fi- nalidade de fornecer um melhor conhecimento de seu potencial, bem como alguns princípios básicos fundamen- tais para o seu aproveitamento (MARTINS, 2003). Por mais de um século, cientistas de várias partes do mundo detêm conhecimento sobre hidratos de gás, ocorrentes naturalmente em certas áreas dos oceanos, vin- culados especialmente ao declive e à elevação continen- tal. A partir de 1964, vem crescendo o interesse científico com conotações econômicas sobre essas acumulações. DILLON (1997) sintetizou as principais situações de acu- mulação de hidratos de metano (Figura 5.25). Estudos realizados pelo USGS indicam que esses de- pósitos, em nível mundial, atingem o dobro dos hidrocar- bonetos fósseis. Nos Estados Unidos, as reservas até aqui ciou a descoberta de enxofre nas bacias de Sergipe a Espí- rito Santo, através de camadas estratificadas boas gerado- ras desse recurso. Baseadas em secções sísmicas, mapas gravimétricos e perfurações (ROCHA, 1975), foram selecionadas 21 estru- turas como capazes de abrigar enxofre em suas rochas ca- peadoras. Localizadas na desembocadura do rio Doce e, conseqüentemente, nas porções submersas da bacia do Espírito Santo, onde enxofre foi identificado, é possível que esse elemento esteja presente em suas rochas capeadoras. Enxofre pode ser formado através da redução do sul- fato de anidrita para gás sulfídrico por meio da ação de bactérias na presença de hidrocarbonetos e subseqüente oxidação do gás que libera enxofre na forma elementar. Antigos trabalhos da CPRM/SGB na área dos domos de Janaína, Yemanjá e Mucuná, embora promissores, não prosseguiram em função de empecilhos técnicos e de fi- nanciamento. Em Abrolhos norte, três domos estão situados de 60 a 70 km da costa, com o topo do sal localizado em 300 m, e uma profundidade de 20-30 m. Na desembocadura do rio Doce, os domos estão a uma distância de 30 a 50 km da costa, cobertos por uma lâmina de água de 30 a 70 m; são denominados: Yemanjá, Janaína, Yara, Inaê, Mucuná, rio Doce norte e rio Doce sul. Os cinco primeiros apresentam topo do sal a 270 m, 300 m, 750 m e 800 m, respectivamente. Rio Doce norte possui seu topo recoberto por uma coluna de água de 15 m, enquanto o do rio Doce sul não foi determinado. Carvão Inglaterra, Japão, Canadá e Austrália são países que apresentam importante ocorrência de carvão em suas pla- taformas continentais, geralmente formando extensões de camadas sedimentares do continente adjacente. Para se ter uma idéia da importância desses depósitos, pode-se indicar que 30% da produção de carvão do Japão e 10% da Ingla- terra provêm de camadas sedimentares submarinas. A re- gião da Nova Escócia, no Canadá, contribuiu com 80% do carvão extraído dos depósitos submarinos de Sidney. No Brasil, carvão é encontrado na formação Rio Bo- nito, Permiano Médio da bacia do Paraná. O Serviço Geo- lógico do Brasil (CPRM/SGB), juntamente com o Departa- mento Nacional da Produção Mineral (DNPM), desenvol- veu vários projetos na zona costeira entre Araranguá (San- ta Catarina) e Tramandaí (Rio Grande do Sul). Na área pró- xima à praia de Santa Terezinha, localizada entre Torres e Tramandaí (Rio Grande do Sul), a CPRM/SGB perfurou al- guns poços, identificando, a 700-800 m de profundida- de, camadas de carvão com espessura variável de 0,35 a 2,65 m. As extensões das camadas de carvão foram con- firmadas, embora com dados ainda insuficientes para con- siderar a ocorrência economicamente viável. Perfis sísmi- cos obtidos na plataforma continental serão necessários para uma avaliação mais consistente. Figura 5.25 – Situações de acumulação de hidratos de metano (DILLON, 1997).
  • 86. 84 GEODIVERSIDADE DO BRASIL estudadas estão localizadas especialmente no platô Blake e no golfo do México (Figura 5.26). Em oceano profundo, hidratos de metano foram identificados em testemunhos geológicos obtidos pelo Ocean Drilling Project (ODP), tendo surpreendido as equi- pes de pesquisadores a extensão e a espessura desses depósitos. Hidratos de metano são substâncias sólidas semelhan- tes ao gelo, compostas por água e gás natural. Costu- mam ocorrer naturalmente em áreas onde o metano e a água podem se combinar em condições apropriadas de temperatura e pressão. Os estudos sobre o aproveitamen- to dos hidratos de metano encontram-se alicerçados em cinco componentes maiores: caracterização do recurso, produção, mudanças climáticas globais, segurança e es- tabilidade do piso marinho. É esperado que os hidratos de metano ingressem no panorama econômico como um recurso em cenário a partir de 2010. Os hidratos de metano constituem o maior reservató- rio de carbono do ambiente global (Figura 5.27). Com suficientes fontes de metano e água, os hidratos são estáveis em profundidades de 150 a 2.000 m abaixo do permafrost; no fundo oceânico, a profundidades mai- ores que 300 a 400 m e 1.100 m abaixo do piso marinho. A maior parte dos depósitos oceânicos de hidratos do metano possui origem biogênica. Esses depósitos são encontrados nos declives continentais de margens passi- vas, zonas de subducção, em dobramentos e vales entre a linha de costa e as cordilheiras, acima das placas de subducção e em bacias do tipo back-arc. O processo básico de recuperação do gás natural en- volve quebra no equilíbrio de manutenção do hidrato e o bombeamento do gás para a superfície. Um dos métodos consiste no aumento da temperatura do hidrato por inje- ção termal; outro é efetuar a redução da pressão, o que resulta na dissociação do gás a partir da água, ou injetar solvente que altera as características de pressão-tempera- tura, favorecendo a dissociação do gás. Japão e Índia investem fortemente na pesquisa de hidratos de gás. Os resultados desse esforço são mostra- dos nas Figuras 5.28 e 5.29. O pesqueiro Ocean Selector recuperou, em missão realizada em novembro de 2000, cerca de 1 t de frag- mentos de hidratos de metano (Figura 5.30) com uma rede de arrasto, à profundidade de 800 m, nas cabeceiras do cânion Barcley, junto à ilha de Vancouver. Os estudos do Brasil são ainda em pequeno número, tendo TANAKA et al. (2003) apresentado resultados obti- dos no Cone do Amazonas. A compreensão relativa à presença de hidratos no piso marinho vem crescendo rapidamente, visando a promover um melhor conhecimento sobre o fluxo do gás em subsu- perfície, bem como de seus modelos de formação e disso- ciação. Além disso, a avaliação do possível impacto do gás contido nos hidratos, no clima global, só será atingida pela Figura 5.27 – Distribuição de carbono no ambiente (ANTRIM, 2005). Figura 5.26 – Hidratos de gás do cânion Mississipi (LORENSON et al., 2002). Figura 5.28 – Depósitos de hidrato na costa do Japão (ANTRIM, 2005).
  • 87. 85 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza pelo homem. Os fenômenos naturais como, por exemplo, terremotos, inundações, tempestades, podem resultar em apreciáveis mudanças na linha de costa. Algumas dessas mudanças podem ser globais em extensão, como a eleva- ção eustática do nível do mar, resultado do aquecimento global e que afetará enormemente a zona costeira, produ- zindo inundação marinha, salinização e destruição dos sistemas aqüíferos costeiros. As mudanças induzidas pelo homem, como constru- ção de portos, retirada de sedimentos do perfil praial, dragagens, podem conduzir a fenômenos de erosão cos- teira regional ou local. A construção de barragens pode afetar o aporte de sedimentos ou nutrientes conduzindo a drásticas mudanças tanto em recursos vivos como não- vivos da zona costeira. O interesse despertado pela zona costeira em orga- nismos como a UNESCO e a OEA, Comunidade Européia, entre outras, conduziu à realização de inúmeras conferên- cias, seminários, workshops e outras reuniões científicas sobre o tema, como a Conferência Internacional Coastal Change, realizada em Bordeaux, França, com a participa- ção de mais de 400 cientistas e administradores costeiros. Na oportunidade, ficou clara a importância das zonas cos- teiras, seriamente afetadas por ações naturais e antrópicas, como erosão, salinização de aqüíferos e contaminação. Uma das metas do evento foi amplamente atingida, faci- litando a comunicação efetiva entre cientistas, usuários e administradores da zona costeira, pela análise de diversas questões, tais como: • Quais são os vários mecanismos e processos res- ponsáveis pelas mudanças físicas ocorrentes na zona cos- teira? • Como a ciência pode ser utilizada no desenvolvi- mento sustentável dessa região? • Quais são as implicações socioeconômicas dessas mudanças? Nesse verdadeiro cenário de estudo e preservação da zona costeira, pelo que ela representa como um recurso em si, alguns aspectos fundamentais devem ser levados em consideração: compreensão de como ele é liberado na coluna de água e se o gás pode eventualmente atingir a atmosfera. Conhecidos durante algum tempo na indústria do pe- tróleo como estorvo nas tubulações de óleo e gás, onde sob certas condições promoviam efeito similar ao do coles- terol nas artérias humanas, os hidratos de gás passaram a constituir um atraente tema a partir da década de 1960, em função de suas conotações de caráter econômico-ambien- tal. A atual distribuição de depósitos de hidratos de meta- no, conhecidas e inferidas, é apresentada na Figura 5.31. ZONA COSTEIRA COMO UM RECURSO A adoção da zona costeira como um recurso não- vivo é decorrente de inúmeras discussões promovidas du- rante as reuniões do Grupo de Coordenação do programa Ocean Science in Relation to Non Living Resources (OSNLR) (COI/UNESCO). Em realidade, a zona costeira representa um de nos- sos recursos mais preciosos, pois abriga grande parte da população mundial. Trata-se de uma zona frágil que res- ponde de maneira adversa a mudanças em seu perfil de equilíbrio. Essas mudanças podem ser naturais ou induzidas Figura 5.29 – Depósitos de hidrato de metano na Índia (ANTRIM, 2005). Figura 5.30 – (a) Lascas de hidratos de metano no porão do barco pesqueiro (branco), peixes (vermelho) e rochas carbonáticas (preto); (b) lascas de hidratos de metano descarregadas de retorno ao mar (SPENCE e CHAPMAN, 2001). Figura 5.31 – Ocorrência global de depósitos de hidratos de metano (KVENVOLDEN, 2001).
  • 88. 86 GEODIVERSIDADE DO BRASIL • gerenciamento integrado dos ambientes costeiros, incluindo biodiversidade; • exploração sustentável dos recursos marinhos vivos; • explotação dos recursos não-vivos, a um custo efe- tivo e de uma forma ambientalmente aceitável; • avaliação e previsão de eventos episódicos cos- teiros geralmente catastróficos, com vistas a minimizar seus impactos na vida humana e na infra-estrutura exis- tente; • avaliação da capacidade da zona costeira em absor- ver as mudanças produzidas; • formação e fortalecimento da capacidade científica dos países menos desenvolvidos, de forma a permitir par- ticipação em programas costeiros internacionais de rele- vância para suas prioridades e aspirações nacionais; • comunicação mais efetiva dos resultados científicos aos usuários e administradores para uma melhor condu- ção de suas ações na zona costeira; • união mais efetiva entre ciências costeiras e a soci- edade para assegurar o seu desenvolvimento e conscienti- zação com relação à zona costeira. A importância da zona costeira como um recurso em si é enfatizada nos trabalhos desenvolvidos pelo USGS, que, inclusive, estabeleceu uma série de publicações es- peciais procurando indicar a importância das linhas de praiaseterrasbaixasadjacentes.Taisdocumentosenfatizam queodesconhecimentodessesprocessostraznormalmente trágicas colisões entre o homem e a natureza. A geologia costeira e marinha, quando aplicada a essas situações, pode contribuir para a compreensão e o equacionamento de muitos desses problemas. Em plano regional, a adoção da zona costeira como um recurso em si foi enfatizada quando da realização das 1ªs Jornadas Ibero-Americanas de Ciência e Tecnologia Marinha (Cartagena, 1995) e a criação de um grupo de trabalho denominado “A Zona Costeira como um Recur- so: Aspectos Científicos e Tecnológicos”. O grupo estabe- leceu sua pauta de trabalho versando sobre: a) estabilidade e vulnerabilidade dos ecossistemas costeiros e a explotação sustentável de seus recursos, in- cluindo os aspectos socioeconômicos; b)efeitos em longo prazo do contínuo enriquecimen- to das águas costeiras por nutrientes e matéria orgânica (eutroficação e floração de algas nocivas); c)efeitos na zona costeira de mudanças climáticas globais (incluindo processos de erosão) e sua adequada identificação. No Brasil, vários estudos foram desenvolvidos nos últimos anos, considerando a zona costeira como um re- curso em si. A contribuição do PGGM sobre erosão e pro- gradação do litoral brasileiro foi feita por MUEHE (2006) e representa uma contribuição de valor apreciável. No âmbito regional (Brasil, Uruguai e Argentina), o trabalho de MARTINS et al. (2002), abordando aspectos erosivos da linha de costa dos três países, constitui um estudo de igual valor. Pelas razões aqui discutidas, considera-se a zona cos- teira como recurso em si, merecendo, dessa forma, uma atenção compatível com sua importância na interface con- tinente/oceano (MARTINS e TOLDO Jr., 2006b). CONSIDERAÇÕES FINAIS De todos os recursos minerais discutidos no presente artigo, nosso país tem informações de sua ocorrência em sua ZEE e área oceânica adjacente. Os depósitos não-combustíveis, relacionados ao piso marinho, são formados por aqueles que podem ser explo- tados de locais relativamente rasos em zonas costeiras (me- nos de 200 m de profundidade), incluindo agregados como areia e cascalho, conchas e outros tipos de depósitos de carbonato de cálcio, fosforitas, pláceres de minerais pesa- dos ou gemas e depósitos de enxofre de subsuperfície. Os depósitos de mar profundo situam-se a profundidades ex- pressivas (3.500 a 5.500 m), requerendo uma tecnologia bastante distinta para os estudos exploratórios. Com relação ao Brasil, o volume de informação é ape- nasrazoável,destacando-seaheterogeneidadenaprofundi- dadeefidelidadedosdadosexistentes.Algunstrabalhospos- suem boa qualidade de informações e foram obtidos por meio de programas plurianuais sob a responsabilidade de uma rede, reunindo muitas instituições (OSNLR, REMAT, PGGM, por exemplo). No momento, encontram-se em de- senvolvimentooutrosprojetossimilares(REMPLAC,COMAR). Não devem ser esquecidas as questões político-estra- tégicas a serem definidas pelo Brasil para os recursos mi- nerais da área internacional dos oceanos (SOUZA et al., 2007), com a criação de uma rede regional de instituições Figura 5.32 – Elevação do nível do mar e erosão costeira: problemas do recurso zona costeira.
  • 89. 87 RECURSOS MINERAIS DO MAR Luiz Roberto Martins e Kaiser de Souza (Brasil, Argentina, Uruguai) para desenvolver atividades exploratórias na área da elevação do Rio Grande. BIBLIOGRAFIA AMATO, R. V. Sand and gravel maps of the Atlantic con- tinental shelf with explanatory text. US Department of the Interior. [USA], Minerals Management Service. Office of International Activities and Marine Minerals, 1994. (OCS Monograph MMS 93-0037). ANTRIM, C. L. What was old is new again: economic potential of deep ocean minerals: the second time around. Arlington, USA: Center for Leadership in Global Diplomacy, 2005. 8 p. BLISSENBACH,E.Prospectivesedimentarymineralpotentials in the South America Atlantic margin. In: SIMINÁRIO SO- BRE ECOLOGIA BENTONICA Y SEDIMENTACIÓN DE LA PLATAFORMA CONTINENTAL DEL ATLÂNTICO SUR, 1979, Uruguai. Memórias... Montevidéo: UNESCO: ROSTLAC. 1979. p. 383-403. BURNETT, W. C.; RIGGS, S. R. Phosphate deposits of the world. In: ______; ______. 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  • 90. 88 GEODIVERSIDADE DO BRASIL MARTINS, L. R. et al. Distribuição faciológica da margem continental do Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASI- LEIRO DE GEOLOGIA, 26., 1972, Belém. Anais... Belém, 1972. p. 115-132. ______. Sand deposits along Rio Grande do Sul (Brazil) inner continental shelf. In: MARTINS, L. R.; SANTANA, C. L. (Ed.). Non living resources of the southern brazilian coastal zone and continental margin. Porto Alegre: [s.n.], 1999. p. 26- 38. Special Publication. OAS/ IOC-UNESCO/MCT. MONT’ALVERNE, A. A.; COUTINHO, P. N. Províncias sedimentares da plataforma continental de Pernambuco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 32., 1992, Salvador. Anais... Salvador: [s.n.], 1992. p. 1524-1530. MORGAN, C. L. Resource estimates of the Clarion- Clippertom manganese nodule deposits. In: CRONAN, D. S. (Ed.). Handbook of marine mineral deposits. Boca Raton, USA: CRC Press, 1999. p. 145-170. MUEHE, D. (Org.). Erosão e progradação do litoral brasi- leiro. 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Pós-doutorado (1995) pelo Instituto de Geociências e Recursos Naturais em Hannover (Alemanha). Treinamento em Exploração de Recursos Minerais Marinhos patrocinado pela Comissão Preparatória da Autoridade Internacional do Leito Marinho e do Tribunal Internacional das Leis do Mar (Nações Unidas). Especialização em assuntos relativos à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Atuou como especialista em recursos do mar no Ministério da Ciência e Tecnologia em colaboração com a Comissão Interministerial de Recursos do Mar. Trabalhou como geólogo marinho na Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (Nações Unidas) (Jamaica), quando contribuiu para o desenvolvimento de atividades visando ao aproveitamento sustentado de recursos minerais marinhos localizados em áreas oceânicas além das jurisdições nacionais. Atualmente, é chefe da Divisão de Geologia Marinha da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde sua principal atuação tem sido a implementação do Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (REMPLAC). LUIZ ROBERTO SILVA MARTINS Doutor, livre-docência e pós-doutorado em Geologia Marinha. Fundador do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (CECO-UFRGS). Fundador e coordenador do Programa de Geologia e Geofísica Marinha (PGGM) (1969-1979). Fundador e coordenador do Curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (1971-1972). Coordenador técnico do CNPq no Projeto REMAC (1972-1978). Especialista em Ciências do Mar junto ao Escritório Regional da UNESCO para Ciência e Tecnologia (1982-1983). Coordenador Regional do Programa OSNLR/UNESCO (1984-2002). Perito em Ciências do Mar junto à Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar. Coordenador Científico da Rede COMAR (2003-2008). Membro Emérito da Society for Sedimentary Geology (USA). Publicou 250 títulos entre livros, capítulos de livro, artigos completos e resumos expandidos. Pesquisador sênior do CNPq. Professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). SANTANA, C. I. (Ed.). Non living resources of the southern brazilian coastal zone and continental margin. Porto Ale- gre: [s.n.], 1999. p. 15-25. Special Publication. OAS/IOC- UNESCO/MCT. SHOLTEN, J. S. et al. Hydrotermal mineralization in the Red sea. In: CRONAN, D. S. (Ed.). Handbook of marine mineral deposits. Boca Raton, USA: CRC Press, 1999. p. 369-396. SOUZA, K. G. de; ROCHA NETO, M. B. da; DINIZ, N.; BRITO, R. do S. C. de. Aspectos político-estratégicos dos recursos minerais da área internacional dos oceanos. Par- cerias Estratégicas, Brasília, n. 24, p. 95-114, ago. 2007. 274 p. Edição Especial – Estudos do Mar. SPENCE, G. D.; CHAPMAN, N. R. Fishing trawler nets massive “catch” of metane hydrates. EOS, v. 82, n. 50, p. 621-627, 2001. STACKELBERG, U. Von. Manganese nodules in the Peru basin. In: CRONAN, D. S. (Ed.). Handbook of marine mi- neral deposits. Boca Raton, USA: CRC Press, 1999. p. 197- 238. SUMMERHAYES, C. P. Ocean resources. In: SUMMERHAYES, C. P.; THORPE, S. A. (Ed.). Oceanography. London: Manson Publishing, 1998. p. 314-337. TANAKA, M. D.; SILVA, C. G.; CLEANNELL, M. B. Gas hydrates on the Amazonas submarine fan. In: ANNUAL MEETING [OF] FOZ OF AMAZONAS BASIN, BRAZIL AMERICAN ASSOCIATION OF PETROLEUM GEOLOGISTS, 2003, USA. Postersession...Salt Lake City, USA: [s.n.], 2003. VILLWOCK, J. A. et al. Concentraciones de minerales pesa- dosalolargodelacostadeRioGrandedoSul.In:SIMINARIO SOBRE ECOLOGIA BENTÔNICA Y SEDIMENTACION DE LA PLATAFORMA CONTINENTAL DEL ATLÂNTICO SUR, 1979, Montevideo. Memorias... Montevidéo, Uruguay: UNESCO/ ROSTLAC, 1979. p. 405-414.
  • 91. 89 REGIÕES COSTEIRAS Ricardo de Lima Brandão 6 REGIÕES COSTEIRAS Ricardo de Lima Brandão ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO As Regiões Costeiras ................................................................... 90 Variações do Nível Relativo do Mar no Litoral Brasileiro e Evolução das Planícies Costeiras ................................................. 90 O Problema da Erosão Costeira .................................................. 92 Mobilização Eólica de Sedimentos: Campos de Dunas Costeiras ..................................................................... 94 Preservação e Gerenciamento das Áreas Costeiras ..................... 96 Bibliografia ................................................................................. 97
  • 92. 90 GEODIVERSIDADE DO BRASIL AS REGIÕES COSTEIRAS Olitoralbrasileiropossuiumaextensãodeaproximada- mente 8.500 km, ao longo da qual ocorrem unidades fisiográficasvariadas(Figura6.1).Demodogeral,observa-se umasucessãodeplaníciescosteirasalternando-secomfalésias e costões rochosos. As planícies costeiras são constituídas por sedimentos quaternários, acumulados em ambientes continentais, transicionais (mistos) e marinhos. Exibem lar- guras mais expressivas no litoral norte, em grande parte sob influência da volumosa descarga sólida (principalmente de sedimentos lamosos) do rio Amazonas. Planícies mais largas tambémsãoobservadasjuntoàsdesembocadurasdeoutros rios principais, como Parnaíba e São Francisco, na costa nor- deste,eJequitinhonha,DoceeParaíbadoSul,nacostaleste. Falésias são formadas quando pacotes de sedimentos mais antigos, consolidados, são expostos à ação direta das ondas do mar. No litoral brasileiro são, dominantemente, esculpi- das nos sedimentos tércio-quaternários do Grupo Barreiras ou formações correlatas. Os sedimentos Barreiras ocorrem como uma faixa descontínua e de largura variável, desde o AmapáatéoRiodeJaneiro,sobaformadetabuleiroscostei- ros, que, por vezes, projetam-se até a linha de praia. Os costõesrochososocorremquandoaaçãodasondaséexercida sobre rochas cristalinas, tanto ígneas quanto metamórficas, commaiordestaqueparaolitoralsudeste,ondeasencostas da serra do Mar atingem diretamente a linha de costa em váriossetores. Regiões costeiras são resultantes da interconexão en- tre componentes da geosfera (continente), hidrosfera (oce- ano) e atmosfera. Constituem as áreas de mais intensa troca de energia e matéria do sistema Terra. Devido ao frágil equilíbrio existente entre os diferentes processos físi- cos atuantes e à complexidade e diversidade de ecossiste- mas presentes (como praias, manguezais, recifes de co- rais, entre outros), caracterizam-se como áreas de elevada vulnerabilidade à degradação de seus recursos naturais, frente a atividades humanas inadequadas. A geologia assume papel de destaque no planejamento e ordenamento territorial de re- giões costeiras. O conhecimento da evolução ao longo do tempo geológico, envolvendo os processos passados e atuais, que resultam nas feições costeiras hoje observadas e na di- nâmica que modifica constantemente a con- figuração morfológica dessas áreas, faz da in- formação geológica um instrumento funda- mental para a gestão sustentável da zona cos- teira. Os processos geológicos ativos nessas regiões,fundamentalmenterelacionadosàsva- riações do nível relativo do mar, aos padrões de circulação litorânea de sedimentos, que causam erosão ou progradação da linha de costa, e à mobilização eólica de grandes vo- lumes de areia, estão sendo modificados pelo homem, o que torna imprescindível um ade- quado controle sobre o uso e ocupação des- sas áreas, visando à manutenção de sua qua- lidade ambiental. VARIAÇÕES DO NÍVEL RELATIVO DO MAR NO LITORAL BRASILEIRO E EVOLUÇÃO DAS PLANÍCIES COSTEIRAS As flutuações do nível relativo do mar, sobretudo no decorrer do Quaternário, são um dos principais fatores controladores dos padrões de sedimentação e erosão, responsá- veispelaelaboraçãodasplaníciescosteirasbra- sileiras. O episódio mais antigo de nível mari- nho acima do atual, reconhecido e datado no litoral brasileiro, ocorreu por volta de 123.000 anos AP (Antes do Presente), com o mar se estabilizando em torno de 8 a 10 m Figura 6.1 ––––– Classificação da costa brasileira proposta por Silveira (1964) e modificada por Cruz et al. (1985). Fonte: VILLWOCK et al. (2005).
  • 93. 91 REGIÕES COSTEIRAS Ricardo de Lima Brandão acima do nível atual. Durante essa transgressão mari- nha, os cursos inferiores dos rios foram afogados e trans- formados em feições do tipo ilhas-barreira/lagunas. Após esse máximo transgressivo, teve início uma longa fase de regressão marinha, responsável pela progradação da linha de costa através da deposição de sucessivos cor- dões litorâneos, formando os terraços arenosos pleistocênicos, que ocorrem desde os estados da Paraíba até o Rio Grande do Sul, nas porções mais internas das planícies costeiras (Figura 6.2). Um dos mais bem pre- servados testemunhos desse ciclo transgressivo-regressi- vo é o sistema Laguna-Barreira III (VILLWOCK et al., 1986), amplamente distribuído na costa sul-rio-grandense e responsável pela individualização da lagoa dos Patos, maior sistema lagunar do Brasil. No litoral do estado do Rio de Janeiro, cordões arenosos pleistocênicos contro- laram a formação de importantes lagunas, como o com- plexo Araruama-Saquarema-Maricá, lagoa Rodrigo de Freitas e lagoa de Jacarepaguá. Em torno de 17.500 anos AP, segundo curva eustática apresentada para o litoral do Rio Grande do Sul (CORRÊA, 1990), o nível do mar se estabilizou entre 120 e 130 m abaixo do atual, expondo praticamente toda a plataforma continental. Verificou-se, em seguida, uma nova fase transgressiva, em períodos alternados de maior ou menor velocidade, com o nível marinho aproximando-se do atu- al entre 7.000 e 6.500 anos atrás. Os registros das variações nos últimos 7.000 anos são mais bem conhecidos no litoral leste-nordeste do Bra- sil, onde foram realizadas mais de 700 datações de radiocarbono, permitindo construir curvas de flutuações do nível do mar para diversos setores costeiros. Segundo Suguio et al. (1985), Martin et al. (1987) e Dominguez et al. (1981, 1990), após passar pelo nível do mar atual, em torno de 7.000 anos AP, nosso litoral esteve em submer- são até cerca de 5.150 anos AP, quando foi atingido um máximo transgressivo entre 4 e 5 m acima do nível atual. Durante essa fase, formaram-se novos sistemas de ilhas- barreira/lagunas, principalmente nas desembocaduras de grandes rios, como o Doce e o Paraíba do Sul. Desde então, o nível relativo do mar sofreu um abaixamento, irregular e descontínuo, até atingir a posição atual. Durante esse episódio, que modelou as formas finais das planícies costeiras, foram construídos os terraços ma- rinhos holocênicos (Figura 6.2), marcados por feixes de cordões arenosos, muitas vezes retrabalhados por proces- sos eólicos que deram origem aos campos de dunas atu- ais. Grandes corpos lagunares, como, por exemplo, a la- goa de Marapendi, na Barra da Tijuca (cidade do Rio de Janeiro), desenvolveram-se entre esses cordões holocêni- cos e as barreiras arenosas mais internas (cordões pleisto- cênicos). O estudo desses registros pretéritos reveste-se de es- pecial interesse, hoje em dia, quando se discutem os im- pactos de uma possível elevação do nível do mar causada pelo aumento da temperatura global da Terra. De acordo com o relatório do IPCC/ONU (BINDOFF et al., 2007), de 1961 a 2003 o nível do mar global aumentou a uma taxa média de 1,8 mm por ano, sendo que de 1993 a 2003 o aumento foi de 3,1 mm por ano. O fato de uma taxa mais rápida refletir uma variação da década, ou um aumento na tendência de longo prazo, ainda não pode ser determi- nado. Antes de se fazer qualquer previsão sobre as conse- qüências de uma eventual subida do nível do mar, para os próximos 50-100 anos, deve-se conhecer a evolução pas- sada a fim de se determinar a tendência da região conside- rada. Enquanto na costa do Brasil o nível do mar desceu cerca de 5 m durante os últimos 5.000 anos, no mesmo período a costa atlântica dos Estados Unidos, por exemplo, experimentou contínua elevação do nível do mar, caracteri- zando-se como uma costa em submersão (Figura 6.3). Figura 6.2 ––––– Terraços arenosos na planície costeira do litoral norte do estado da Bahia (modificado de Dominguez, 2006): Terraço A: terraços arenosos continentais (depósitos de leques aluviais), pleistocênicos, de idade anterior a 120.000 anos AP Terraço B: terraços arenosos marinhos, pleistocênicos, associados ao nível de mar alto de 120.000 anos AP e à regressão subseqüente. Terraço C: terraços arenosos marinhos, holocênicos, associados ao nível de mar alto de 5.100 anos AP e à regressão subseqüente. Figura 6.3 ––––– Curvas esquemáticas médias de variações dos níveis relativos do mar ao longo da costa central brasileira e ao longo das costas Atlântica e do golfo do México dos Estados Unidos, durante os últimos sete mil anos (SUGUIO et al., 1985).
  • 94. 92 GEODIVERSIDADE DO BRASIL O PROBLEMA DA EROSÃO COSTEIRA Segundo alguns autores, mais de 70% das linhas de costa do mundo têm sido afetadas pela erosão nas últi- mas décadas. Esse fenômeno, nos dias de hoje, tem sido discutido por numerosos pesquisadores e a maioria deles advoga que a subida acelerada do nível relativo do mar, atualmente em curso, seria a causa mais importante. Deve- se considerar, no entanto, que a maior parte da literatura sobre o tema é produzida em países do hemisfério Norte, onde, conforme já comentado, predominam zonas cos- teiras em submersão. A subida do nível do mar atual nes- sas regiões deve provocar efeitos adversos maiores que em zonas costeiras em emersão, podendo até ser a causa principal da erosão. Evidentemente, se as previsões de subida do nível do mar para as próximas décadas se con- firmarem, setores do litoral brasileiro submetidos a pro- cessos erosivos serão bem mais impactados, pois as taxas de erosão serão fortemente aceleradas (DOMINGUEZ, 1995). O balanço de sedimentos (contribuições x perdas sedimentares) parece ser o principal fator que condiciona a erosão ou a progradação ao longo da costa brasileira. Quando ocorre redução do volume de sedimentos que alimenta determinado setor costeiro, a linha de costa ten- de a recuar (erosão). Quando o suprimento sedimentar se mantém, permanece estabilizada. Se houver incremento do volume de areia no trecho considerado, a linha de cos- ta avança em direção ao mar (progradação). Inúmeros fatores, tanto naturais (intrinsecamente li- gados à dinâmica costeira) quanto relacionados às inter- venções humanas, atuam direta ou indiretamente no ba- lanço de sedimentos, determinando as tendências para o comportamento da linha de costa. Quando o resultado do balanço de sedimentos é negativo (déficit sedimentar), provocando a erosão, os principais são: • Retenção dos sedimentos transportados pelas cor- rentes de deriva litorânea (longshore currents), causada por obstáculos localizados a montante da área de inte- resse. Essas correntes longitudinais são criadas quando as ondas incidem obliquamente à linha de costa, geran- do um fluxo paralelo à faixa de praia (Figura 6.4). Na dinâmica costeira, constituem o principal agente de trans- porte e dispersão de sedimentos litorâneos. Os obstácu- los podem ser naturais (pontais rochosos ou arenosos e algumas desembocaduras fluviais, que, em condições de descarga favoráveis, funcionam como “espigões hidráu- licos” bloqueando o trânsito litorâneo de sedimentos) ou obras de engenharia costeira perpendiculares à linha de costa (molhes ou espigões). Esses obstáculos provo- cam acumulação de sedimentos a montante e erosão a jusante. • Retenção de sedimentos transportados pelos rios devido à construção de barragens, impedindo que che- guem à linha de costa e sejam redistribuídos pelas corren- tes de deriva litorânea. A mineração de areia nas planícies fluviais, quando executada de forma inadequada, também pode contribuir para a erosão costeira, por meio da dimi- nuição da carga de sedimentos que seria transportada e incorporada à linha de costa. • Remoção de sedimentos, em direção à platafor- ma continental adjacente, por correntes de retorno (rip currents) geradas pela atuação de correntes longitudi- nais de sentidos opostos que convergem no mesmo se- tor praial, formando células de circulação litorânea (Fi- gura 6.5). • Diminuição do aporte transversal de sedimentos are- nosos da plataforma continental para a linha de costa. • Remoção de sedimentos causada pelo avanço de frentes frias, com marés meteorológicas e ondas de tem- pestades associadas. Esses eventos são mais freqüentes na costa sul-sudeste do Brasil. Nos últimos anos, tem-se observado uma intensificação dos fenômenos climáticos extremos, como o caso da passagem do furacão Catarina, entre os dias 27 e 28 de março de 2004, considerado o primeiro furacão extratropical registrado no Atlântico Sul (Figura 6.6). • Remobilização eólica de areia das praias para a ge- ração de campos de dunas. Obras de engenharia costeira, como molhes/espigões, quebra-mares, muros de contenção (sea wall) etc., construídas com a finalidade de estabilizar a posição da linha de costa, têm se mostrado ineficientes, pois, apesar de protegerem patrimônios públicos e privados, não re- solvem as causas da erosão e geralmente resultam na Figura 6.4 ––––– Correntes de deriva litorânea (longshore currents) geradas por ondas que incidem obliquamente à praia (COASTAL PROCESSES AND SHORELINE EROSION). Figura 6.5 ––––– Células de circulação litorânea, com correntes de retorno que podem transportar sedimentos transversalmente à linha de costa em direção à plataforma continental (COASTAL PROCESSES AND SHORELINE EROSION).
  • 95. 93 REGIÕES COSTEIRAS Ricardo de Lima Brandão destruição da praia recreativa, além de propagar o pro- blema para setores adjacentes. Entretanto, em alguns casos, como em áreas já densamente ocupadas, essas intervenções tornam-se uma medida necessária e imedi- ata. Exemplos desse tipo de obra podem ser encontrados ao longo de toda a costa brasileira. No litoral de Fortale- za (CE), a construção de uma série de estruturas rígidas, na tentativa de deter o processo erosivo estabelecido a partir da retenção de sedimentos pelo molhe principal do porto do Mucuripe, além de degradar grande trecho da orla urbana, provocou a transferência da erosão, em “efeito dominó”, no sentido da deriva litorânea, atingin- do com mais intensidade as praias do setor oeste. O caso mais representativo é a praia de Iparana (município de Caucaia), caracterizada como uma área de recuo acele- rado da linha de costa, onde o mar já avançou cerca de 200 m nos últimos 30 anos (Figura 6.7). Outro exemplo semelhante ocorre no setor litorâneo a norte do Recife (PE), submetido aos efeitos da erosão costeira desencadeada principalmente pela construção e ampliação do antigo porto da capital pernambucana. Uma bateria de molhes (35) foi instalada nas praias do municí- pio de Olinda, alterando o padrão de circulação de sedi- mentos na área e transferindo a ação erosiva para jusante, até o trecho da Ilha de Itamaracá. A praia de Boa Viagem, na cidade do Recife, sofre acelerado processo erosivo de- vido principalmente à urbanização desordenada da faixa de pós-praia, que impede a troca de sedimentos entre o mar e os depósitos costeiros. A construção do porto de Suape, no município de Ipojuca, também contribuiu para intensificar o fenômeno. Intervenções emergenciais foram implementadas com o objetivo de proteger vias públicas e outros equipamentos urbanos (Figura 6.8). No litoral do estado do Rio de Janeiro, junto à de- sembocadura do rio Paraíba do Sul, a localidade de Atafona vem sendo severamente atingida pela erosão, cujas cau- Figura 6.6 ––––– Furacão Catarina, que atingiu o litoral sul entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em março de 2004 (disponível em: http://www.inpe.br). Figura 6.7 ––––– Obras de engenharia costeira (espigões e quebra-mares) construídas ao longo do litoral de Fortaleza (CE). Figura 6.8 ––––– Obra para contenção do avanço do mar na praia de Boa Viagem (Recife-PE).
  • 96. 94 GEODIVERSIDADE DO BRASIL sas (naturais e humanas) ainda não são totalmente conhe- cidas. Segundo COSTA (1994) citado por MUEHE et al. (2006), um dos fatores que intensificaram o fenômeno se relaciona à redução das descargas líquida e sólida do rio, em conseqüência da derivação das águas para o sistema Lajes-Guandu, na barragem de Santa Cecília, localizada a 382 km da foz. Essa intervenção refletiu-se na interação entre rio e oceano, modificando a direção e intensidade dos processos atuantes localmente (Figura 6.9). Problemaserosivostambémocorremnaplaníciecostei- radorioSãoFrancisco,sendosuascausasatribuídasàreten- ção de sedimentos fluviais pelas várias usinas hidrelétricas e reservatórios construídos no curso desse rio. Em 1998, o povoado de Cabeço, no município de Brejo Grande (SE), foi praticamente todo destruído pelo avanço do mar. Ao longo do litoral brasileiro, existem ambientes e feições fisiográficas que funcionam como barreiras natu- rais, protegendo a costa contra a ação erosiva das ondas do mar, a exemplo das áreas de manguezais, associadas a planícies fluviomarinhas, que ocorrem desde o Amapá até Santa Catarina. A degradação causada pela expansão urbana, instalações portuárias e industriais, atividades de carcinicultura, dentre outras, têm comprometido impor- tantes funções ambientais (físicas e biológicas) desses ecossistemas. Dunas frontais, recifes de coral e arenitos de praia (beach-rocks) são outras feições costeiras que ajudam a absorver parte da energia das ondas, diminuin- do a remoção de sedimentos da face de praia. O transporte eólico de sedimentos nas planícies cos- teiras contribui, em alguns setores específicos, para a manutenção do equilíbrio dinâmico da linha de costa, atra- vés do fluxo de areias provenientes de dunas móveis em direção à faixa de praia. Um amplo trabalho sobre o comportamento da linha de costa brasileira (MUEHE, 2006) apresenta, para cada estado litorâneo, uma síntese dos estudos de identifica- ção das áreas com características de erosão, estabilidade e progradação. O diagnóstico realizado mostra que a ero- são ocorre por toda a costa, prevalecendo sobre os tre- chos de acresção e que não há clareza sobre as causas, se naturais ou induzidas por intervenções humanas, na mai- or parte das ocorrências. Ainda segundo o autor, não exis- tem evidências conclusivas, até o momento, quanto ao comportamento do nível do mar atual. A baixa declividade de grande parte da plataforma continental interna favorece uma ampla resposta erosiva da linha de costa, no caso de uma elevação acelerada do nível do mar. Por outro lado, grande parte do relevo costeiro, como as falésias e os recifes, reduz esse impacto. Em termos gerais, pode-se considerar que a erosão costeira resulta essencialmente do conflito entre um processo natural, o re- cuo da linha de costa, e as atividades huma- nas. O problema para o homem (risco natu- ral) ocorre quando é construído algum tipo de referencial fixo (residências, estradas e outras obras permanentes) que se interpõe na trajetória de recuo da linha de costa (DO- MINGUEZ, 1995). O controle do problema passa, necessariamente, pelo gerenciamento e ordenamento territorial das áreas costeiras, devendo ser consideradas a manutenção de faixas de não-edificação junto à orla e a ne- cessidade de estudos adequados para a implantação de obras costeiras. MOBILIZAÇÃO EÓLICA DE SEDIMENTOS: CAMPOS DE DUNAS COSTEIRAS Ao longo do litoral brasileiro, os campos de dunas ocorrem, de maneira mais expressiva, nos seguintes tre- chos: costa norte-nordeste, principalmente entre a baía de São Marcos (Maranhão) e o cabo Calcanhar (Rio Gran- de do Norte), costa de Sergipe-Alagoas (planície costeira do rio São Francisco), costa do Rio de Janeiro (região de Cabo Frio) e costa meridional, entre a ilha de Santa Cata- rina e o extremo sul do Rio Grande do Sul. Atingem maior desenvolvimento no Parque Nacional dos Lençóis Mara- nhenses, reconhecido como o maior registro de sedimen- tação eólica quaternária da América do Sul. As dunas costeiras são formadas pela acumulação de sedimentos arenosos removidos da face de praia pela ação dos ventos. Para que se desenvolvam, são neces- sárias as seguintes condições essenciais: (i) existência de estoque abundante de sedimentos, com textura ade- quada; (ii) atuação de ventos soprando costa adentro e com velocidades suficientes para movimentar os grãos Figura 6.9 ––––– Aspecto da intensa erosão costeira na localidade de Atafona, município de São João da Barra (RJ) (MUEHE, 2007).
  • 97. 95 REGIÕES COSTEIRAS Ricardo de Lima Brandão de areia; (iii) existência de superfície adequada para a mobilização e deposição dos sedimentos; (iv) baixo teor de umidade, visto que areias mais úmidas necessitam de maior energia eólica para iniciar a movimentação dos grãos. Migração de dunas ocorre quando o deslocamento contínuo dos grãos de areia provoca a movimentação de todo o corpo da duna. É um processo natural que depen- de, além do regime de ventos, de sua estruturação interna (baixa coesão dos grãos) e da ausência de vegetação fixa- dora ou estabilizadora. Essas dunas são classificadas como móveis, livres ou transgressivas. Quando as condições dos depósitos são mais estáveis, pela maior coesão dos grãos e pela presença de um revestimento vegetal que detém ou atenua os efeitos da ação dos ventos, as dunas são classificadas como fixas ou estacionárias. A migração ocorre predominantemente durante as estações secas, diminuin- do bastante, ou mesmo cessando, nos períodos chuvo- sos. GONÇALVES (1998) estudou a movimentação eólica de sedimentos nos Lençóis Maranhenses, observando que a taxa de transporte ao longo do primeiro se- mestre do ano (maior pluviosidade) é signifi- cativamente menor que a do segundo semes- tre (menor pluviosidade). O regime de ventos é de baixa energia para os meses de fevereiro a julho e de alta energia para os meses de agosto a dezembro. O autor calculou uma taxa de migração das dunas de 10 a 15 m por ano, com um sentido de deslocamento entre 63o e 72o SW. Dependendo da configuração da linha de costa, as dunas móveis podem exercer impor- tante função no aporte de sedimentos para a faixa praial, através de áreas de bypass. No Ceará, essas áreas são, em grande parte, rela- cionadas a zonas de promontórios. Após mi- grarem sobre essas feições, as areias alimen- tam as correntes de deriva litorânea, ou dire- tamenteafaixadeestirâncio,contribuindopara manter o aporte regulador e o equilíbrio das praias. Observa-se que a ocupação desses se- tores, na maioria das vezes por casas de vera- neio, associada à utilização de técnicas para fixação das dunas e/ou para desviar a trajetória do fluxo eólico, têm alterado os padrões naturais de circulação dos sedimentos, potencializando a ação erosiva nos trechos situados a jusante. O transpasse de sedimentos eólicos para o fluxo li- torâneo se dá, também, através do avanço de dunas so- bre canais estuarinos. Dependendo das condições hidro- dinâmicas e do volume de sedimentos envolvidos, pode ocorrer o barramento da desembocadura, resultando na formação de lagoas costeiras, ou o transporte do materi- al arenoso pelo canal e sua posterior redistribuição pela deriva litorânea ao longo da linha de costa. Deve-se, por- tanto, nesses casos, preservar as dunas para que conti- nuem migrando e participando da dinâmica sedimentar costeira. Em algumas áreas, a migração de dunas ocasiona o assoreamento de ecossistemas aquáticos, como lago- as, banhados e mangues. Da mesma forma, áreas urbanizadas ou agricultadas, estabelecidas nas zonas de migração, podem ser lentamente soterradas pelas areias. A retirada da cobertura vegetal fixadora das du- nas, apesar de proibida pela legislação ambiental, é uma prática comum ao longo do litoral brasileiro, promo- vendo a transformação de dunas fixas em dunas mó- veis (Figura 6.10). Construções de estradas, loteamentos e outros equi- pamentos públicos e privados, assim como as atividades de mineração de areia e minerais pesados em dunas, re- sultam na desestabilização e até mesmo no desmonte desses depósitos, alterando significativamente a dinâmica eólica dessas áreas, além de degradar um patrimônio paisagístico com elevado potencial para atividades de tu- rismo e lazer (Figura 6.11). Figura 6.11 ––––– Degradação ambiental causada pela mineração de areia em área de dunas (Sabiaguaba, Fortaleza, CE). Figura 6.10 ––––– Migração de dunas, causando o assoreamento da lagoa do Portinho (Parnaíba, PI) (disponível em: Google Earth).
  • 98. 96 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Os campos de dunas (recentes e paleodunas) são aqüíferos superficiais livres, de elevado potencial, mere- cendo destaque na captação de água subterrânea de boa qualidade nas regiões litorâneas. Por outro lado, pelas mes- mas características que os tornam um excelente armazenador, ou seja, os elevados índices de porosidade e permeabilidade, representam ambientes altamente vul- neráveis à contaminação hídrica. Várias são as fontes po- tencialmente poluidoras, tais como: águas superficiais poluídas, lixões, fossas, cemitérios, postos de gasolina e poços construídos sem critérios técnicos. Além disso, a urbanização indiscriminada atinge as áreas de recarga, impermeabilizando os terrenos e comprometendo a potencialidade desses aqüíferos. Observa-se também, em algumas cidades litorâne- as, a ocorrência de processos de favelização em dunas, ocasionando o aparecimento de áreas de risco associa- das a movimentos de massa, principalmente em perío- dos de pluviosidade elevada. A constituição arenosa dos morros (favorecendo uma alta taxa de infiltração das águas pluviais e, conseqüentemente, um elevado nível de satu- ração do solo), a declividade acentuada, a distribuição e pressão das habitações nas encostas, o acúmulo de lixo e entulho nos taludes, o lançamento das águas servidas em superfície ou em fossas (contribuindo para aumentar a saturação do solo), a remoção da cobertura vegetal e a ação dos ventos que promovem a remobilização dos se- dimentos, são os principais fatores que induzem as mo- vimentações gravitacionais nessas áreas, quase sempre Figura 6.12 ––––– Ocupação por favela em duna (Morro de Santa Terezinha, Fortaleza, CE). com resultados desastrosos para seus habitantes (Figura 6.12). PRESERVAÇÃO E GERENCIAMENTO DAS ÁREAS COSTEIRAS A grande extensão do litoral brasileiro, a diversidade de formações físico-bióticas, os padrões de ocupação hu- mana e as atividades econômicas em geral, como expan- são urbana, atividades portuárias e industriais, exploração petrolífera, exploração turística em larga escala etc. cons- tituem os principais desafios para a gestão ambiental das áreas costeiras. Muitos conflitos gerados em conseqüên- cia dessas intervenções podem ser minimizados, ou mes- mo evitados, se os processos naturais forem mais bem conhecidos e avaliados no planejamento e ordenamento territorial dessas áreas. Como exposto anteriormente, vari- ações do nível relativo do mar, erosão ou recuo da linha de costa e migração de dunas são processos inter-relacio- nados que modelam a paisagem litorânea. Eles estão sen- do modificados pelo homem e/ou desconsiderados na di- nâmica de uso e ocupação desses espaços, o que tem causado o aparecimento de áreas de risco e a degradação do meio ambiente e da qualidade de vida das populações que lá residem, ou para lá fluem em busca de lazer e entretenimento. Em áreas já densamente ocupadas, como as regiões metropolitanas, pouco pode ser feito em termos de zo- neamento ou disciplinamento de uso do solo (medidas
  • 99. 97 REGIÕES COSTEIRAS Ricardo de Lima Brandão preventivas), a fim de enfrentar os problemas observa- dos, muitas vezes sendo possível apenas a implementa- ção de algumas medidas corretivas ou mitigadoras, como, por exemplo, a implantação de obras de proteção de propriedades contra a erosão costeira, a regeneração ar- tificial de praias (engordamentos/aterros) e técnicas para estabilização ou fixação de dunas móveis. Em áreas ain- da pouco ocupadas, as medidas preventivas podem e devem ser efetivamente implementadas. Uma delas é o estabelecimento de faixas de recuo para a ocupação da linha de costa, que devem ser adotadas com larguras que levem em consideração os registros históricos de marés meteorológicas, as tendências locais de retrogra- dação da linha de costa e possíveis cenários de elevação do nível do mar. As concessões de licenciamentos ambientais para pro- jetos e empreendimentos diversos devem ser criteriosa- mente embasadas no conhecimento técnico das inúmeras variáveis (geológicas, geomorfológicas, oceanográficas, climáticas e hidrológicas) responsáveis pela dinâmica na- tural das regiões costeiras. A legislação ambiental brasileira possui uma gama de leis e decretos que direta ou indiretamente protegem os ambientes costeiros. O grande desafio é criar os mecanis- mos necessários para que essa legislação seja efetivamen- te cumprida e, para isso, é fundamental a existência de uma estrutura fiscalizadora eficiente e integrada entre os diversos órgãos das esferas federal, estaduais e munici- pais. No que se refere a programas e projetos específicos para gestão integrada da zona costeira e marinha, o Brasil dispõe do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), criado pela Lei n. 7.661, de 16 de maio de1988, e regulamentado pelo Decreto n. 5.300, de 7 de dezem- bro de 2004, coordenado em nível nacional pelo Ministé- rio do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Ama- zônia Legal (MMA). Esse programa vem realizando inú- meras ações voltadas para o ordenamento de usos e ocu- pação, com o apoio de zoneamentos, diagnósticos, monitoramentoseprojetosintersetoriaisdegestãoemáreas costeiras. BIBLIOGRAFIA BINDOFF, N. L.; WILLEBRAND, J.; ARTALE, V.; CAZENAVE, A; GREGORY, J.; GULEV, S.; HANAWA, K.; LE QUÉRÉ, C.; LEVITUS, S.; NOJIRI, Y; SHUM, C.K.; TALLEY, L. D.; UNNIKRISHNAN, A. Observations: oceanic climate change and sea level. In: SOLOMON, S., D. QIN; M. MANNING; Z. CHEN; M. MARQUIS; K.B. AVERYT; M. TIGNOR; MILLER, H. L. (Eds.). Climate change 2007: the physical sciencebasis. Contribution of working group i to the fourth assessment report of the intergovernmental panel on climate change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA, 2007. BRANDÃO, R. L.; CAVALCANTE, I. N.; SOUZA, M. J. N. Diag- nósticogeoambientaleosprincipaisproblemasdeocupação domeiofísicodaregiãometropolitanadeFortaleza:informa- çõesbásicasparagestãoterritorial.RiodeJaneiro:CPRM/SGB/ DepartamentodeGestãoTerritorial.1995,105p. COASTAL PROCESSES AND SHORELINE EROSION. Dispo- nível em: <http://lighthouse.tamucc.edu/Waves/ CoastalErosion>. Acesso em: 13 fev. 2008. CORREA, I. C. S. Analyse morphostructurale et évolution paléogéographique de la plate-forme continentale Atlantique Sud Brésilienne (Rio Grande do Sul, Brésil). 1990, 314 f. Thèse (Doctorat) – Universidade de Bordeaux, Bordeaux, 1990. COSTA, G. Caracterização histórica, geomorfológica e hidráulica do estuário do rio Paraíba do Sul. 1994. 97 f. 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Procesos costeros y balance sedimen- tario a lo largo de Fortaleza (NE-Brasil): implicaciones para una gestión adecuada de la zona litoral. 1998. 269 f. Tesis (Doctorado) – Universidad de Barcelona, Barcelo- na, 1998.
  • 100. 98 GEODIVERSIDADE DO BRASIL MARTIN, L.; SUGUIO, K.; FLEXOR, J. M.; DOMINGUEZ, J. M. L; BITTENCOURT, A. C. S. P. Quaternary evolution of the central part of the Brazilian coast: the role of the relative sea-level variation and of shoeline drift. In:UNESCO Reports in Marine Sciense: Quaternary coastal geology of Western Africa and South America, v. 43, p. 97-145, 1987. MEIRELES, A. J. A.; SILVA, E. V.; THIERS, P. R. L. Os cam- pos de dunas móveis: fundamentos dinâmicos para um modelo integrado de planejamento e gestão da zona cos- teira. GEOUSP, v. 20, p. 101-119, 2006. MUEHE, D. Geomorfologia costeira. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da (Orgs.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 253-308. ______. (Org.). Erosão e progradação do litoral brasilei- ro. Brasília: MMA, 2006. ______. A erosão costeira no Brasil. In: SIMPÓSIO BRASILEI- RO DE DESASTRES NATURAIS E TECNOLÓGICOS, 2., 2007, Santos.Disponívelem:<http://www.acquacon.com.br/2si- braden/apresentacoes/1112dietermuehe.pdf>.Acessoem: 7 fev. 2008. ______; LIMA, C. F.; BARROS, F. M. L. Rio de Janeiro. In: MUEHE, D. (Org.). Erosão e progradação do litoral brasi- leiro. Brasília: MMA, 2006. p. 265-296. SILVEIRA, J. D. 1964. Morfologia do litoral. In: AZEVE- DO, A. (Ed.). Brasil: a terra e o homem. São Paulo: Nacio- nal, 1964. v. 1, p. 253-305. SOUZA, C. R. G.; SOUZA FILHO, P. W. M.; ESTEVES, L. S.; VITAL, H.; DILLENBURG, S. R.; PATCHINEELAM, S. M.; ADDAD, J. E. Praias arenosas e erosão costeira. In: SOUZA, C. R. G.; SUGUIO, K; OLIVEIRA, A. M. S.; OLI- VEIRA, P. E. (Eds.). Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005. p. 130-152. SUGUIO, K. Geologia do quaternário e mudanças ambientais (passado + presente = futuro?). São Paulo: Paulo’s, 1999. 366 p. ______; MARTIN, L.; BITTENCOURT, A. C. S. P.; DOMIN- GUEZ, J. M. L; FLEXOR, J. M.; AZEVEDO, A. E. G. Flutu- ações do nível relativo do mar durante o quaternário su- perior ao longo do litoral brasileiro e suas implicações na sedimentação costeira. Revista Brasileira de Geociências, v. 15, p. 273-286, 1985. VILLWOCK, J. A.; TOMAZELLI, L. J.; LOSS, E. L.; DEHNHARDT, E. A.; HORN, N. O; BACHI, F. A.; DEHNHARDT, B. A. Geology of the Rio Grande do Sul coastal province. In: RABASSA, J. (Ed.). Quaternary of South America and antarctic peninsula. Rotterdam: A.A. Balkema, v. 4, p. 79-97, 1986. ______; LESSA, G. C.; SUGUIO, K.; ANGULO, R. J.; DILLENBURG, S. R. 2005. Geologia e geomorfologia em regiões costeiras. In: SOUZA, C. R. G.; SUGUIO, K.; OLIVEIRA, A. M. S.; OLIVEIRA, P. E. (Eds.). Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005. p. 94-113. RICARDO DE LIMA BRANDÃO Graduado em Geologia (1978) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Trabalhou em projetos de Mapeamento Geológico na Região Amazônica nos períodos de 1978-1981 e 1986-1990, pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Entre esses dois períodos, exerceu função de supervisão e acompanhamento de projetos na área de Metalogenia e Geologia Econômica, no Escritório Rio de Janeiro da CPRM/ SGB (1981-1986). Desde 1990, está lotado na Residência de Fortaleza da CPRM/SGB, onde vem desenvolvendo trabalhos relativos aos temas Geologia Ambiental e Recursos Hídricos Subterrâneos, com ênfase em processos geológicos e problemas ambientais em regiões costeiras.
  • 101. 99 RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL Vitório Orlandi, Valter Marques 7 RIQUEZAS MINERAIS PANORAMA GERAL Vitório Orlandi Filho1 ([email protected]) Valter José Marques1 ([email protected]) PETRÓLEO E GÁS Magda M. R. Chambriard2 ([email protected]) Kátia da Silva Duarte2 ([email protected]) Glória M. dos S. Marins2 ([email protected]) Cintia Itokazu Coutinho2 ([email protected]) Luciene Ferreira Pedrosa2 ([email protected]) Marianna Vieira Marques Vargas2 ([email protected]) CARVÃO MINERAL Aramis J. Pereira Gomes1 ([email protected]) Vitório Orlandi Filho1 ([email protected]) URÂNIO Paulo Roberto Cruz3 ([email protected]) 1 CPRM – Serviço Geológico do Brasil 2 ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 3 CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear SUMÁRIO Panorama Geral ........................................................................ 100 Petróleo e Gás .......................................................................... 110 Carvão Mineral ......................................................................... 115 Urânio....................................................................................... 118 Bibliografia ............................................................................... 119
  • 102. 100 GEODIVERSIDADE DO BRASIL PANORAMA GERAL Por suas dimensões continentais e diversificada geologia, o Brasil se constitui em um país com enorme vocação mineral e um grande produtor de insumos básicos pro- venientes da mineração. Atualmente, figura no cenário internacional ao lado de países com tradicional vocação mineira, tais como Canadá, Austrália, África do Sul e Estados Unidos. A produção mineral brasileira tem sido crescente nas últimas décadas, devendo-se esse fato, pelo menos parcialmente, a sig- nificativos investimentos realizados por em- presas de mineração em prospecção mine- ral, aliado ao esforço realizado pelos gover- nos federal e estaduais na execução de ex- tensos programas de levantamentos geoló- gicos sistemáticos levados a efeito, princi- palmente, nas décadas de 1960 e 1970, e retomados nas décadas de 1980, 1990 e 2000, pela Companhia de Pesquisa de Re- cursos Minerais/Serviço Geológico do Bra- sil (CPRM/SGB), juntamente com o Depar- tamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) e universidades. Os programas mais recentes de levantamento geológico contam com o apoio de levantamentos geofísicos e geoquímicos, o que os tornam mais completos e efeti- vos no mapeamento e prospecção dos recursos mine- rais do território nacional. Desse esforço conjunto – governo e iniciativa priva- da – resultaram as descobertas de jazidas de minérios metálicos e não-metálicos, gemas, minerais energéticos. Muitas dessas jazidas estão em pleno processo de explotação, gerando riqueza para o país. Como conseqüência, a produção mineral do país tem crescido sistematicamente nos últimos anos, atingindo, em 2005, o total de R$85 bilhões, o que corresponde a algo em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), de- monstrando o crescimento alcançado pelo setor mineral brasileiro. Os bens minerais se constituem em um dos grandes patrimônios não-renováveis da geodiversidade, sendo um importante fator no desenvolvimento sustentável e na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. A indústria extrativa é uma das mais importantes fontes de emprego e desenvolvimento regional, já que as jazidas, na maioria das vezes, situam-se em regiões isoladas, carentes de in- vestimentos econômico-sociais. Assim, a ampla distribui- ção dos recursos minerais no território nacional ajuda a manter a mão-de-obra no interior do país, evitando sua emigração para os grandes centros urbanos, já altamente habitados e com sérios problemas socioambientais (Figu- ra 7.1). Figura 7.1 – Distribuição espacial dos recursos minerais. Fonte: CPRM/GEOBANK. A distribuição dos recursos minerais é função da vo- cação metalogenética dos elementos crustais que formam as províncias geológicas do Brasil, sendo responsável pela grande diversidade mineral desses recursos e por sua am- pla distribuição geográfica (Figuras 7.2 a 7.9). Dessa maneira, a atividade mineira se constitui em um importante fator de desenvolvimento em níveis nacio- nal, regional e local, contribuindo para o desenvolvimen- to socioeconômico do país. A crescente produção mine- ral do Brasil, motivada pelo aumento de preço e da de- manda de países emergentes como China e Índia, tem permitido um significativo crescimento do setor mineral, antevendo-se uma boa perspectiva para o setor no curto e médio prazo. A atual crise imobiliária e financeira nos Es- tados Unidos, com reflexos em outros setores da econo- mia e sobre a própria economia mundial, vem modifican- do gradativamente esse cenário. Entretanto, contrapondo-se a esse cenário otimista de demanda por insumos minerais, constata-se que, nos últimos anos, muitas áreas potencialmente favoráveis à existência de jazidas minerais foram ou estão sendo obje- to de implantação de unidades de conservação, inibindo de maneira preocupante a atual e futura atividade minei- ra, tão necessária ao desenvolvimento do país. Esse con- flito de uso e ocupação do solo é extremamente acentua- do na região Norte do Brasil, onde concentrações mine- rais importantes estão situadas em unidades de conserva-
  • 103. 101 RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL Vitório Orlandi, Valter Marques Figura 7.2 – Distribuição espacial: água mineral e potável (azul); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja). Fonte: CPRM/GEOBANK. Figura 7.3Figura 7.3Figura 7.3Figura 7.3Figura 7.3 – Distribuição espacial: gemas e pedras preciosas (verde); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja). Fonte: CPRM/GEOBANK.
  • 104. 102 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 7.4Figura 7.4Figura 7.4Figura 7.4Figura 7.4 – Distribuição espacial: insumos para a agricultura (vermelho); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja). Fonte: CPRM/GEOBANK. Figura 7.5Figura 7.5Figura 7.5Figura 7.5Figura 7.5 – Distribuição espacial: materiais energéticos (verde: turfa / rosa: carvão mineral / cinza-claro e escuro: áreas potenciais para petróleo e gás); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja).
  • 105. 103 RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL Vitório Orlandi, Valter Marques Figura 7.6Figura 7.6Figura 7.6Figura 7.6Figura 7.6 – Distribuição espacial: material de uso na construção civil (preto); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja). Fonte: CPRM/GEOBANK. Figura 7.7Figura 7.7Figura 7.7Figura 7.7Figura 7.7 – Distribuição espacial: minerais industriais não-metálicos (azul); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja). Fonte: CPRM/GEOBANK.
  • 106. 104 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 7.8Figura 7.8Figura 7.8Figura 7.8Figura 7.8 – Distribuição espacial: minerais metálicos (verde); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja). Fonte: CPRM/GEOBANK. Figura 7.9Figura 7.9Figura 7.9Figura 7.9Figura 7.9 – Distribuição espacial: rochas ornamentais (rosa); áreas protegidas e especiais (trama cor laranja). Fonte: CPRM/GEOBANK.
  • 107. 105 RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL Vitório Orlandi, Valter Marques ção e terras indígenas, em proporções cada vez maiores (Figura 7.10). Assim, em nome da preservação da biodiversidade – que julgamos necessária –, importantes riquezas minerais tornar-se-ão intocáveis em grandes áreas do nosso territó- rio. Portanto, torna-se imperiosa uma melhor reflexão, se considerarmos que, atualmente, utilizando-se modernas técnicas, é perfeitamente possível a exploração mineral, sem degradação ambiental sensível, ou até mesmo, sem nenhuma degradação em diversos casos. Muitas dessas unidades de conservação foram demarcadassemmesmoseremavaliadasaspotencialidades minerais da área. A realização de levantamentos geológi- cos, incluindo prospecção geofísica e geoquímica, pode- ria avaliar a existência ou não de depósitos minerais na área e estabelecer seu grau de importância estratégica para o país, evitando-se, dessa maneira, o estabelecimento de conflitos de interesses de uso e ocupação do solo, sem as devidas avaliações de custo/benefício. Por outro lado, é importante que se ressalte que os bens minerais, quando extraídos da natureza com tecno- logia adequada, transformam-se em riquezas sem degra- dar o meio físico. Normalmente, atribui-se à atividade mineral um papel poluidor de grandes dimensões, embo- Figura 7.10Figura 7.10Figura 7.10Figura 7.10Figura 7.10 – Áreas de relevante interesse mineral, áreas protegidas e áreas especiais. ra seja reconhecido que a degradação extrema (retirada da vegetação ou mudança da paisagem, por exemplo), quan- do inevitável, normalmente é pontual. Felizmente, nos últimos anos, com a crescente divulgação na mídia dos cuidados que as empresas de mineração estão tendo com o meio ambiente, essa imagem negativa da atividade mi- neira vem diminuindo. Atualmente, no Brasil, cerca de 80% das empresas de mineração de grande porte e 37% das de médio porte possuem a ISO 14.000, relativa à certificação ambiental de seus processos de extração de minérios. Todas as mineradoras de grande porte têm implantado o Sistema de Gestão Ambiental (SGA); as de médio porte, cerca de 75% (IN MINE, 2007). Além da grande potencialidade mineral do território continental do Brasil, recentemente, estudos geológicos realizados na plataforma marinha, também conhecida como Amazônia Azul, revelaram que, além das enormes reservas de petróleo ali existentes, a plataforma contém animadores indícios de depósitos de fosforitas, diamante, calcário e ouro, entre outros bens minerais já identifica- dos pelas pesquisas. Os recursos minerais dessa parte do território brasileiro transformam, dessa forma, essa região de uso econômico exclusivo em uma nova fronteira mine- ral para o país. A produção mineral brasileira, que con- templa, atualmente, mais de uma centena de substâncias, permite a auto-suficiência do país na maioria dos produtos minerais e gera sig- nificativos excedentes. O Brasil destaca-se como o maior exportador de minério de ferro e ligas de nióbio, situando-se entre os gran- des produtores de petróleo, caulim, tantalita, bauxita, grafita, amianto, cassiterita, magnesita, vermiculita, rochas ornamentais, talco, rocha fosfática e ouro. Como a maioria dos países, o Brasil ainda depende da impor- tação de alguns produtos minerais, necessári- os a seu desenvolvimento socioeconômico. Essa dependência externa ainda existe no que se refere à importação de petróleo bruto leve, carvão metalúrgico, fosfato, potássio e maté- rias-primas para a metalurgia de metais não- ferrosos (especialmente zinco). Segundo o “Anuário Mineral Brasileiro” (DNPM, 2006): “As exportações de bens primários em 2005 totalizaram US$ 13,1 bilhões (FOB), re- presentando expressivo crescimento de 11% em relação a 2004. O minério de ferro, mais expressivo, representou 55% do total da pau- ta, alcançando US$ 7,2 bilhões, com acrésci- mo de 55% no valor. A principal “commodity na pauta do ferro foi minério de ferro não aglomerado e seus concentrados (NCM 26011100), com vendas de US$ 4,43 bilhões
  • 108. 106 GEODIVERSIDADE DO BRASIL FOB, 45% superiores a 2004 (US$ 3,04 bilhões FOB). Vale destacar as exportações de cobre (US$ 303 milhões FOB) e alumínio (US$ 229 milhões FOB), apontando acrésci- mos da ordem de 77% e 21%, respectivamente. Dentre as 4 (quatro) categorias que compõem a pauta de expor- tações do Setor Mineral Brasileiro, a de produtos primári- os foi a que apresentou crescimento mais expressivo em 2005, registrando US$ 13,1 bilhões FOB, evoluindo 57% (US$ 8,3 bilhões FOB) em 2004”. A commodity minério de ferro não-aglomerados e seus concentrados (NCM 26011100) continua sendo o principal produto comercializado na pauta de exportações do setor mineral brasileiro, cujo fluxo prevalente de co- mércio em 2005 obedeceu à seguinte proporção: EUA (US$6,709 bilhões), China (US$3,132 bilhões), Japão (US$1,545 bilhão), Argentina (US$1,534 bilhão), Bahamas (US$1,482 bilhão), Alemanha (US$1,223 bilhão), Coréia do Sul (US$1,157 bilhão) e Holanda (US$873 milhões). Por outro ângulo, a balança comercial do setor mine- ral brasileiro registrou saldos deficitários, em 2005, com: Argélia (US$2,792 bilhões), Nigéria (US$2,234 bilhões), Arábia Saudita (US$1,104 bilhão), Bolívia (US$876 mi- lhões), Rússia (US$642 milhões), Iraque (US$522 milhões) e Chile (US$461 milhões). Nesse ano, o somatório dos déficits comerciais do Brasil atingiu US$11,22 bilhões. A propósito, a principal commodity comercializada na pauta de importações brasileiras em 2005 foi o petró- leo (NCM 27090010), originado da Nigéria (US$4,4 bi- lhão; 41% do total), Argélia (US$2,57 bilhões; 24%), Arábia Saudita (US$1,82 bilhões; 17%), Iraque (US$857 milhões; 8,0%) e Argentina (US$214 milhões; 2%). Os Estados Unidos (inclusive Porto Rico), principal parceiro comercial do Brasil em 2005, movimentaram um fluxo de transações comerciais de US$8,774 bilhões. As exportações do setor mineral brasileiro registra- ram US$31,6 bilhões (FOB) em 2005, com acréscimo de 34,4% em relação a 2004. A composição da pauta de exportações do setor, em 2005, teve como principal cate- goria os bens primários, representando 42%, seguida pe- los manufaturados, 31%, semimanufaturados, 25%, e compostos químicos, 2%. Em recente entrevista realizada durante o III Simpósio Brasileiro de Explotação Mineral, ocorrido em maio de 2008, na cidade de Ouro Preto (MG), o ministro de Minas e Energia destacou a importância do setor mineral no de- senvolvimento do país. Segundo o ministro, os dados do comércio internacional de 2007 mostram que a minera- ção – incluindo o petróleo e gás – e a primeira transfor- mação mineral – siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos e não-metálicos – responderam por 21% das exportações e 43% do saldo comercial brasileiro. A participação do setor mineral no PIB nacional, segundo a mesma fonte, ficou entre 4 a 5%. Na mesma ocasião, o ministrou infor- mou que em 2008 estão destinados R$565 milhões para a realização de levantamentos geológico-geofísicos, em todo o país, com ênfase para a Amazônia (CPRM, 2008). Por meio de análise ambiental estratégica, com base no encarte “Áreas de Relevante Interesse Mineral, Áreas Protegidas e Áreas Especiais”, contido no “Mapa Geodi- versidade do Brasil” (CPRM, 2006), buscou-se apresentar, de forma sintética, um conjunto de informações capazes de traduzir a dimensão ecológico-econômica e social das atividades mineiras, bem como o potencial geológico do país. Destarte, foram analisados os capitais econômico e humano envolvidos nas atividades setoriais, ao que se comparam os impactos ambientais, para, finalmente, su- mariar-se uma visão estratégica que inclui as relações cus- to/benefício e a essencialidade dos recursos minerais para o desenvolvimento e a segurança nacional (Quadro 7.1). Ressalta-se, por exemplo, que as atividades minerárias de uma série de insumos, sobretudo os materiais para a construção civil, são tanto mais abundantes quanto mais populosas forem as regiões do país. Destaca-se, também, a má distribuição de alguns recursos essenciais para o desenvolvimento econômico, como é o caso dos calcários para corretivos de solos, raros ou até mesmo inexistentes em algumas unidades da Federação, como é o caso do estado de Roraima, onde o preço dessa matéria-prima da agricultura exerce importante papel no desempenho do agronegócio. No que respeita aos impactos ambientais decorrentes da mineração, devem-se pinçar algumas constatações pro- venientes da experiência adquirida ao longo de décadas. A primeira é que a mineração organizada causa menos impactos nocivos e é muito mais facilmente controlada pelo poder público. Por outro lado, o extrativismo mineral realizado de maneira informal, sem planejamento e con- trole, constitui-se em fonte de grandes passivos ambientais. Seu controle é muito problemático, sobretudo porque envolve parcelas da população que, privadas dessa fonte de sustento, vêem-se marginalizadas e excluídas de qual- quer fonte de renda. Uma outra questão candente diz respeito à minera- ção em áreas urbanas, que, sendo realizada, de modo geral, sem adequado planejamento e inserção em planos- diretores municipais, vem gerando imensos conflitos quan- to ao uso da terra, além de múltiplos impactos ambientais. Tratando-se de uma atividade que, comumente, causa impactos nas áreas de preservação permanente, é imperi- oso que se promovam o aperfeiçoamento dos métodos de lavra e a reutilização dos espaços minerados. Com vistas ao desenvolvimento social e econômico, faz-se necessário reservar (ordenamento geomineiro) áreas com potencial mineral no entorno das regiões urbanas, objetivando o barateamento da habitação, pois o transpor- te desses materiais é determinante no preço final dos prin- cipais insumos para a construção civil (areia, brita e argila). A análise estratégica também aponta no sentido de que o país poderia melhor aproveitar seu potencial em pedras ornamentais e água mineral, propiciando expressi- vos recursos (divisas) decorrentes da exportação dessas
  • 109. 107 RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL Vitório Orlandi, Valter Marques Quadro 7.1 – Avaliação estratégica Substância Capital econômico (US$ bilhões) Capital humano Impactos ambientais Custo/benefício/essencialidade Insumos para a agricultura Calcários, dolomitos, margas, fosfatos, potássio, salitre e turfas Importações: 2,3 Exportações: 0,48 17.000 empregos nas minas e usinas Lavra normalmente a céu aberto, com impactos restritos às cavas. Desmatamento e patrimônio espeleológico são formas comuns de impacto. Embora o país tenha grandes reservas globais, elas estão mal distribuídas e, em alguns casos, como em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, as reservas são críticas. Abundantes no Centro-Oeste e no Nordeste, são raros na Amazônia, comprometendo os custos das atividades agrícolas e dos materiais de construção. Em algumas situações, como no SW de Goiás, Rondônia, Piauí e Maranhão, os depósitos de calcários dolomíticos, embora pequenos, ocupam localização estratégica com relação aos pólos de grãos. Carvão turfa Importações: 1,52 Exportações: 0,04 4.600 empregos nas minas e usinas Os principais impactos são a contaminação das águas subterrâneas e superficiais provenientes de depósitos de rejeitos. O carvão representa atividade tradicional no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde faz parte da paisagem social, além de constituir-se em fonte energética alternativa. A exploração de turfa é incipiente no país, embora exista um potencial geológico interessante na Amazônia. Atividades mineiras com tradição de alto impacto ambiental demandam investimentos em tecnologias para mineração, beneficiamento, transporte e queima. Gás e óleo leve Materiais energéticos Óleo Participações Governamentais: 5,91 58.170 empregados na extração de petróleo e serviços relacionados, e fabricação de produtos derivados do petróleo Importantes impactos sociais pelo aumento da riqueza. Riscos de acidentes, com grande impacto sobre as águas, fauna e flora associadas. Reservas em franco crescimento. Alto valor estratégico para o desenvolvimento econômico e a segurança nacional. No caso do gás, importante como fonte de energia favorável ao meio ambiente urbano. Importante para a indústria naval, a industria petrolífera alimenta uma grande cadeia de manufatura de componentes e serviços. Gemas e pedras preciosas Diamante, esmeralda, ametista, cristal de rocha, turmalina, topázio, água marinha, ágata, alexandrita, opala, crisoberilo, heliodoro Importações: 0,01 Exportações: 0,13 1.350 empregos nas minas e usinas Impacto restrito às cavas e drenagens adjacentes. Outras formas de impacto dependem do processo utilizado na lavra. Jazimentos raros, de altíssimo valor econômico agregado por unidade/volume e base de uma diversificada cadeia de produtos (jóias) e artesanatos. Base para APLs. A lavra, através de extrativismo, além de complementar a renda em regiões com economia deprimida, emprega mão- de-obra, que, de outra forma, viveria na marginalidade, ou depredando recursos da biodiversidade. É estratégico delimitar e preservar áreas potenciais para futuras explotações.
  • 110. 108 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Quadro 7.1 – Avaliação estratégica (continuação) Substância Capital econômico (US$ bilhões) Capital humano Impactos ambientais Custo/benefício/essencialidade Minerais metálicos Ouro, ferro, cobre, cromo, chumbo, zinco, níquel, manganês, estanho, titânio, nióbio, terras- raras, elementos do grupo da platina Importações: 3,38 Exportações: 16,95 38.500 empregos nas minas e usinas Impacto restrito às cavas e barragens de rejeitos. Outras formas de impacto dependem dos cuidados nos processos na lavra e beneficiamento e principalmente relacionados a rejeitos ricos em arsênio. Jazimentos raros, de alto valor econômico e base de cadeia produtiva baseada em metalurgia e produtos industriais – base do parque industrial brasileiro. No caso do ouro, quando lavrado através do extrativismo (garimpagem), emprega grandes quantidades de mão-de-obra, que, de outra forma, viveriam na marginalidade, ou depredando recursos da biodiversidade. Os grandes distritos mineiros atraem enormes contingentes que vêm a constituir periferias com baixa qualidade de vida, em contraste com a área do empreendimento; esse efeito indesejável requer uma reflexão sobre as políticas empresariais, públicas e a destinação dos impostos. Minerais industriais não-metálicos Vermiculita, quartzo hialino (cristal de rocha), potássio, salgema, feldspato, talco, caulim, barita, argila Importações: 3,44 Exportações: 2,65 7.000 empregos nas minas e usinas Impacto reduzido sobretudo às cavas ou barragens de rejeitos. Outras formas de impacto dependem dos cuidados nos processos utilizados na lavra e beneficiamento. Jazimentos irregularmente distribuídos pelo território nacional, servindo de base para diversificadas cadeias produtivas. A não produção, no país, traria severas conseqüências na balança de pagamentos e implicaria dependência de territórios e políticas estrangeiras. É estratégico delimitar e preservar áreas potenciais para futuras explotações. Água mineral e potável Água mineral, água potável de mesa Mercado nacional: Águas potáveis: 0,25 Águas minerais: 0,2 11.400 empregos nas minas e usinas Impactos reduzidos sobre todos os aspectos pela própria natureza do produto, que requer conservação ambiental. O mercado interno para águas minerais e potáveis é pequeno e as exportações são insignificantes. A produção está muito aquém das potencialidades geológicas do território nacional; dado o crescimento da demanda, pode-se prognosticar um expressivo crescimento da produção nacional nos próximos anos. Rochas ornamentais Granitos, mármores, sienitos, quartzitos, gabros, quartzo- monzonitos Importações: 0,017 Exportações: 0,59 10.000 empregos nas minas e usinas Impacto reduzido, restrito às cavas e seu entorno (poluição sonora e do ar). Nos casos em que a atividade se faz de maneira desordenada, o impacto sobre as paisagens pode ser grande. É um setor que vem crescendo a taxas elevadas nas últimas décadas, capaz de gerar empregos, requerendo recursos moderados em termos de tecnologia de lavra e beneficiamento, infra- estrutura e demanda de capital social. Esforços no sentido de aumentar o beneficiamento no país podem resultar em grande aumento do valor da produção exportada e na criação interna de milhares de empregos baseados em mão-de-obra facilmente qualificável.
  • 111. 109 RIQUEZAS MINERAIS – PANORAMA GERAL Vitório Orlandi, Valter Marques commodities, cada vez mais valorizadas pelos mercados nacionais e internacionais. Um outro aspecto relaciona-se à necessidade de pla- nejamento territorial integrado, por exemplo, com respei- to à infra-estrutura, evitando-se custos desnecessários para viabilizar depósitos minerais que, às vezes, são marginali- zados e se tornam antieconômicos, o que é sobremaneira grave, principalmente em regiões economicamente depri- midas, carentes de bases para arranjos produtivos. Com respeito aos recursos minerais existentes na Amazônia, além dos já conhecidos “mamutes geológi- cos” e a grande probabilidade para que se encontrem ou- tros, pode-se prognosticar o grau de importância dos insumos para agricultura, calcários dolomíticos e sal-gema, que, não somente são raros, como mal distribuídos, re- querendo-se um cuidadoso planejamento de forma a evi- tar o engessamento de áreas de relevante interesse para esses minerais, tornando indisponíveis matérias-primas cruciais para a sustentabilidade social e econômica e, por conseqüência, ecológica, de toda a região. Dentro dessa visão, os recursos minerais devem ser considerados como parte da infra-estrutura territorial, sali- entando-se, ainda mais, a sua rigidez locacional, diferen- temente de infra-estrutura logística como estradas, redes de energia, oleodutos, gasodutos etc., essenciais para o desenvolvimento econômico-social. Aliás, é justamente na Amazônia que despontam os principais conflitos de uso e ocupação, haja vista a cons- trução de uma dualidade extremada entre conservação e exploração dos recursos naturais, fruto da falta de visão de que o desenvolvimento humano e ambiental (natural) são indissociáveis. Um dos principais óbices à tomada de decisões, no momento, é a falta de conhecimento científico sobre o território, sobre a sua composição e funcionamento dos geossistemas, de sorte que se possam embasar decisões seguras, passíveis de serem consensuadas. Finalmente, com respeito à exploração de petróleo e gás, salienta-se a importância desses recursos para a eco- nomia e a segurança nacional, não somente para a gera- ção de energia, em diversas formas, como pelo papel que desempenham de impulsão de diversos setores industri- ais, com destaque para a petroquímica, naturalmente, para a indústria naval, além dos setores de apoio. Quadro 7.1 – Avaliação estratégica (continuação) Substância Capital econômico (US$ bilhões) Capital humano Impactos ambientais Custo/benefício/essencialidade Materiais de uso na construção civil Caulim, feldspato, flúor, grafita, muscovita, vermiculita, talco, barita, areia industrial, quartzo, cianita, silimanita, bentonita, asbesto, calcita, salgema, granada, andaluzita, diatomito Importações: 0,11 Exportações: 0,70 65.600 empregos nas minas e usinas Destruição das matas ciliares, turbidez, contaminação do lençol freático, degradação da paisagem, conflitos com outros usos, poluição sonora, emissão de particulados e acidentes rodoviários devido ao transporte pesado. Os materiais de construção são bens essenciais para o desenvolvimento econômico e social. Sua exploração econômica requer transporte a pequenas distâncias, de forma a baratear os custos das moradias e obras civis. Em muitos casos, as atividades se ressentem de estudos de alternativas e disciplinamento que devem estar incorporados aos planos- diretores municipais. É, portanto, essencial que se destinem áreas para mineração urbana e se planeje a reutilização do solo, no pós-lavra; entre outros cuidados, deve-se coibir o uso da madeira como combustível.
  • 112. 110 GEODIVERSIDADE DO BRASIL PETRÓLEO E GÁS No Brasil, a exploração das bacias sedimentares ini- ciou-se em terra. A primeira bacia sedimentar onde se des- cobriu uma acumulação comercial de petróleo foi a do Recôncavo, na Bahia, após a descoberta do campo de Lobato, em 1939, ainda na gestão do Conselho Nacional do Petróleo (CNP). A partir de 1953, esforços exploratórios foram reali- zadospelaPetrobrasemquasetodasasbaciassedimentares brasileiras. Em terra, nas décadas de 1930 a 1960, havia grande dificuldade de acesso, o que orientou a distribui- ção do esforço exploratório ao longo do litoral e nas mar- gens de rios como o Amazonas. As descobertas realizadas no decorrer dos anos, de maior produtividade nas bacias marítimas, direcionaram os investimentos exploratórios para a plataforma continen- tal, principalmente para a Bacia de Campos. A descoberta do campo de Garoupa, em 1974, favoreceu a opção pela exploração no mar, onde novas descobertas ocorriam à medida que se dominavam novas tecnologias: para a ex- ploração e produção em águas cada vez mais profundas, para a produção de óleos mais pesados e para a perfura- ção de poços mais profundos. Como resultado, atualmente a produção brasileira de petróleo e/ou gás natural é proveniente das bacias de San- tos, Campos, Espírito Santo, Recôncavo, Tucano Sul, Sergipe-Alagoas, Ceará, Potiguar e Solimões, totalizando cerca de 1,8 milhões de barris/dia de óleo e 48,4 milhões de m³/dia de gás, sendo que a Bacia de Campos é respon- sável pela maior parte da produção de óleo. No entanto, a Bacia de Santos vem aumentando sua contribuição na pro- dução brasileira de gás natural e óleo leve. Em 1997, foi criada a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), para gerir os recursos petrolíferos da União e estudar as bacias petrolíferas brasi- leiras, inclusive sendo responsável por contratar a coleta de dados e informações de geologia e geofísica, visando a diminuir o risco nas áreas de fronteiras exploratórias e atrair o interesse privado para a exploração e produção de petró- leo no Brasil. Dessa forma, ciente de que apenas o aumen- to do conhecimento aumentará a atratividade das nossas fronteiras exploratórias, o corpo técnico da ANP elaborou um plano plurianual voltado mais especificamente para o estudo das bacias de nova fronteira, com atividades plane- jadas até o ano de 2012. Os estudos previstos obedecem, em geral, à seguinte seqüência de atividades: levantamen- tos geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos, levanta- mentos sísmicos 2D regionais, integração de dados e per- furação de poços estratigráficos. As bacias sedimentares brasileiras, tanto em terra como em mar, apresentam relevante potencial para petró- leo e gás considerando-se que condições geológicas simi- lares no mundo proporcionam produção relevante. No en- tanto, a pesquisa e o conseqüente conhecimento dessas bacias se encontram em diferentes estágios, de forma que grandes extensões ainda permanecem pouco conhecidas quanto aos aspectos da geologia de petróleo (((((Figuras 7.11 e 7.12). As principais bacias sedimentares brasileiras, com po- tencial para a prospecção de hidrocarbonetos, recobrem uma área de aproximadamente 7,5 milhões de km2 ; entre- tanto, somente nove dessas bacias são produtoras atual- mente. Em termos de área, apenas cerca de 5% do total das bacias sedimentares brasileiras se encontram sob con- cessão para a pesquisa exploratória. Bacias maduras, tais como Recôncavo, Sergipe- Alagoas, Espírito Santo (terra) e Potiguar, com produção e sistemas petrolíferos bem determinados, não apresentam descobertas de grande porte há mais de 10 anos. No en- tanto, uma vez que ainda atraem investimentos privados, não se configuram como prioridade para estudos com re- cursos públicos (Figura 7.13). Bacias de elevado potencial, tais como Campos, San- tos, Espírito Santo (mar) e Sergipe (águas profundas), apre- sentam importantes descobertas de petróleo e gás que despertam interesse e atraem investimentos privados para a pesquisa exploratória. Nessas áreas têm sido explorados horizontes cada vez mais profundos, em função do contí- nuo aprimoramento tecnológico (Figura 7.14). As demais bacias são classificadas como “Novas Fron- teiras”, sendo que a maioria delas conta com investimen- tos previstos no Plano Plurianual de Geologia e Geofísica da ANP (Figuras 7.15 e 7.16). Dados sobre as diferentes bacias sedimentares brasi- leiras, bem como as atividades previstas em nível de in- vestimentos públicos e privados, foram agrupados no Quadro 7.2.
  • 113. 111 RIQUEZAS MINERAIS – PETRÓLEO E GÁS – Magda Chambriard, Kátia Duarte, Glória Marins, Cintia Coutinho, Luciene Pedrosa, Marianna Vargas Figura 7.12 – Poços com indícios ou descobertas de óleo e/ou gás. Figura 7.11 – Áreas de relevante interesse para petróleo (óleo e gás).
  • 114. 112 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 7.14 – Bacias de elevado potencial (setas amarelas). Figura 7.15 – Bacias de novas fronteiras (terra) (setas amarelas). Figura 7.16 – Bacias de novas fronteiras (mar) (setas amarelas). Figura 7.13 – Bacias maduras (setas amarelas).
  • 115. 113 RIQUEZAS MINERAIS – PETRÓLEO E GÁS – Magda Chambriard, Kátia Duarte, Glória Marins, Cintia Coutinho, Luciene Pedrosa, Marianna Vargas Quadro 7.2 – Bacias sedimentares brasileiras: petróleo e gás1 Bacia sedimentar Classificação Blocos em concessão Campos Atividade prevista Campos EP 33 59 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Santos NF, EP 81 15 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Espírito Santo NF, EP, M 44 48 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Recôncavo M 49 81 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Sergipe-Alagoas M 54 35 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Potiguar M 106 70 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Pelotas NF 6 0 Investimentos privados e públicos: conclusão de levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Jacuípe NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Mucuri e Cumuruxatiba NF 12 0 Investimentos privados e públicos: Investigação da sensibilidade ambiental – Abrolhos. Camamu-Almada NF 16 4 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Jequitinhonha NF 10 0 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Pernambuco-Paraíba NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos sísmicos 2D regionais. Pará-Maranhão NF 4 0 Investimentos privados e públicos: integração de dados. Foz do Amazonas NF 21 0 Investimentos privados e públicos: integração de dados. Barreirinhas NF 8 0 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço.
  • 116. 114 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Quadro 7.2 – Bacias sedimentares brasileiras: petróleo e gás1 Ceará NF 2 4 Investimentos privados inerentes às concessões e aos trabalhos das prestadoras de serviço. Marajó NF 0 0 Investimentos públicos: integração de dados. Acre e Madre de Dios NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Solimões NF 26 10 Investimentos privados e públicos: levantamentos geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Amazonas NF 0 2 Investimentos públicos: conclusão de levantamentos geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Tacutu NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. São Luiz e Bragança-Vizeu NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Parnaíba NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Irecê e Lençóis NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos e integração de dados. Tucano e Jatobá NF 0 6 Investimentos privados e públicos: levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Parecis NF 0 0 Investimentos públicos: conclusão de levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Paraná NF 0 1 Investimentos privados e públicos: levantamentos geofísicos aéreos, levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Rio do Peixe NF 0 0 Investimentos privados. Araripe NF 0 0 Investimentos públicos: levantamentos geoquímicos; levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. São Francisco NF 30 0 Investimentos privados e públicos: levantamentos sísmicos 2D regionais; integração de dados e perfuração de poço estratigráfico. Notas: (1) Dados de 2007. (2) NF = Nova Fronteira; EP = Elevado Potencial, M = Madura Obs.: (i) Uma mesma bacia pode ter setores com diferentes classificações; (ii) os campos com acumulações marginais não estão incluídos na tabela.
  • 117. 115 RIQUEZAS MINERAIS – CARVÃO MINERAL Aramis Gomes, Vitório Orlandi CARVÃO MINERAL O carvão mineral já era conhecido desde os primórdios da história das civilizações. Os antigos romanos registra- ram que os povos da Gália já utilizavam o carvão como combustível antes de 80 a.C. e os saxões, em terras britâ- nicas, utilizam-no juntamente com a turfa, no aquecimento e iluminação de suas habitações. Os chineses já minera- vam o carvão muitos séculos antes de Cristo. No final do século XVIII, a Revolução Industrial eclodiu na Europa e a energia proveniente do carvão permitiu a criação de inventos que impulsionaram a economia mun- dial. Graças a essa nova forma de energia, instalaram-se inúmeras ferrovias que alavancaram rapidamente o comér- cio entre os povos e permitiram o desenvolvimento eco- nômico das nações. No Brasil, a descoberta do carvão ocorreu em 1795 (CPRM, 2003), na localidade de Curral Alto, na Estância do Leão (município de Minas do Leão, RS), pelo soldado português Vicente Wenceslau Gomes. Já o carvão catarinense foi descoberto casualmente por tropeiros, na serra do 12 (atual serra do rio do Rastro), em 1822. O consumo de carvão no Brasil cresceu consideravel- mente durante a Primeira Guerra Mundial (1914), especi- almente devido à viação férrea. No pós-guerra, o carvão foi utilizado na primeira usina térmica a carvão – Usina do Gasômetro –, que fornecia, em 1928, eletricidade para as ruas e moradias de Porto Alegre. Já a partir de 1931, de- cretos presidenciais obrigavam o consumo de 10 a 20% do carvão nacional nas indústrias instaladas no país. Esse fato, juntamente com a Segunda Guerra Mundial (1938- 1945), proporcionou um incremento na produção nacio- nal. Com o término do conflito, o Brasil entrou na era da siderurgia com a criação da Companhia Siderúrgica Naci- onal (CSN) em Volta Redonda (RJ), que começou a utili- zar o carvão metalúrgico nacional na produção de aço. Em 1954, foi implantado o Plano Nacional do Car- vão, visando a incrementar o aproveitamento energético desse bem mineral. A partir daí, foram construídas diver- sas usinas termoelétricas que estão até hoje em funciona- mento, tais como Candiota, Charqueadas e Butiá e São Jerônimo, todas no estado do Rio Grande do Sul. Os chamados “choques” do petróleo ocorridos em 1973 e 1979 obrigaram o governo a voltar a implementar o uso de insumos energéticos nacionais, entre eles o carvão. Em 1980, foi criado o Programa de Mobilização Energética (PME), que mobilizou enormes recursos na pesquisa das jazidas de carvão, principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esse programa viabilizou a implantação de grandes minas mecanizadas e aumen- tou o consumo do carvão junto à indústria do setor de cimento. Em 1990, com a desregulamentação da comerciali- zação do carvão, terminou a obrigatoriedade do uso do carvão nacional pelo setor estatal e a liberação dos preços e da importação de carvão estrangeiro, o que obrigou as indústrias a introduzirem grandes modificações em seus parques produtivos, visando a atender ao mercado e a se adaptar às novas regras do governo. O carvão metalúrgi- co nacional foi substituído, por meio da importação, por carvão de melhor qualidade. O carvão energético nacio- nal continua abastecendo as usinas termoelétricas do país, que cada vez mais contribuem para a geração de energia elétrica, crescendo em participação, na matriz energética adotada pelo Brasil. As maiores jazidas de carvão mineral situam-se no sul do Brasil. Os maiores jazimentos localizam-se no esta- do do Rio Grande do Sul, seguido de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Nove dessas jazidas concentram o maior volu- me de carvão: Sul-Catarinense (SC); Santa Terezinha, Morungava-Chico-Lomã, Charqueadas, Leão, Iruí, Capané e Candiota (RS); Figueira-Sapopema (PR) (Figura 7.17). Em termos geológicos, o carvão encontra-se associa- do à Formação Rio Bonito, pertencente ao Grupo Guatá, que ocorre na porção inferior da seqüência sedimentar da Bacia Sedimentar do Paraná. Esses depósitos de carvão foram formados há milhões de anos, no período denomi- nado pelos geólogos de Permiano. Nesse período, desen- volveu-se na região da Bacia Sedimentar do Paraná uma extensa cobertura vegetal que, ao longo do tempo, foi perecendo e se acumulando no fundo das lagunas, pân- Figura 7.17 – Localização das principais jazidas de carvão mineral na bacia sedimentar do Paraná (RS-SC-PR). Fonte: CPRM (2003).
  • 118. 116 GEODIVERSIDADE DO BRASIL tanos e nas planícies de inundação. Toda a matéria orgâ- nica assim depositada fossilizou, formando extensos e es- pessos pacotes de turfa que, posteriormente, transforma- ram-se em carvão mineral. A Bacia Sedimentar do Paraná é uma extensa bacia (1,2 milhões de km2 ), formada no interior de uma placa geológica (intracratônica), o que propiciou a deposição lenta e contínua de camadas sedimentares, sem dobra- mentos importantes. Sua conformação atual se deve a falhamentos e erosão ao longo de milhões de anos. A lenta subsidência apresentada ao longo da evolução da bacia propiciou a deposição de carvão com alternância de outros materiais, como areia e lama, formando con- juntos sedimentares heterogêneos, tanto na vertical como na horizontal. O carvão assim formado é constituído por matéria orgânica vegetal e substâncias minerais (silte e argila). A matéria vegetal é decomposta e carbonificada sob ação de temperatura e pressão por milhares de anos, dando origem à matéria carbonosa. As reservas de car- vão somam 32 bilhões de toneladas (CPRM, 2003) (Ta- bela 7.1). Cerca de 90% das reservas do carvão nacional situa-se no estado do Rio Grande do Sul e é representado por car- vão vapor, isto é, carvão que, por suas características ener- géticas, é utilizado na produção de energia térmica. Dos 32 bilhões de toneladas de carvão mineral, 12 bilhões encon- tram-se na região de Candiota (RS), perfazendo 37% das reservas nacionais. Essas reservas possuem uma situação estratégica em relação ao Bloco Mercosul, sendo garantia de energia abundante e barata para toda a região. Os carvões brasileiros são diferenciados de acordo com sua história genética, com os eventos ocorridos durante a acumulação vegetal na turfeira e com sua evolução diage- nética. Assim, cada depósito apresenta determinadas ca- racterísticas do carvão que são bem específicas para aque- la região. Os carvões gondwânicos apresentam, geralmente, a inertinita como constituinte mais abundante do carvão mi- neral, totalizando cerca de 50%, seguida da vitrinita, que varia de 13 a 38%, e exinita, com variação de 2 a 13%. O Brasil produz cerca de 6,0 Mt de carvão energético (MME-SGM, 2007), que é empregado principalmente na geração de termoeletricidade. O carvão metalúrgico utili- zado nas siderúrgicas é totalmente importado, principal- mente de Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Cana- dá.Adistinçãoentrecarvãoenergéticoecarvãometalúrgico está ligada diretamente às características composicionais da rocha que compõe o pacote carbonoso, às característi- cas originais da flora (quantidade de carbono ––––– hidrogê- nio, matérias voláteis, maturação da matéria orgânica, qualidade dos macerais), da história geológica da bacia sedimentar (velocidade de sedimentação, circulação dos sedimentos e águas na bacia sedimentar), além da tempe- ratura e carbonificação (CPRM, 2003). Além do carvão mineral, o Brasil possui inúmeros depósitos de turfa, que, paulatinamente, estão sendo estudados e aproveitados como insumos para a agricultura ou na geração local de energia. A explotação de carvão mineral no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, nos séculos XIX e XX, deixou um grande passivo ambiental, principalmente nas regiões onde a la- vra se processou a céu aberto. Grandes áreas foram ocu- padas por rejeito do carvão, formando uma paisagem lu- nar, sem nenhum aproveitamento e totalmente degrada- da. As águas superficial e subterrânea tornaram-se ácidas, devido ao ferro contido na pirita, afetando enormemente o biossistema regional e danificando a flora e a fauna da região (Figura 7.18). Tabela 7.1 – Reservas de carvão mineral in situ na bacia sedimentar do Paraná Estado Jazida Recursos (106 t) % do Brasil Candiota 12.278 Santa Terezinha 4.283 Morungava/Chico Lomã 3.128 Charqueadas 2.993 Leão 2.439 Iruí 1.666 Capané 1.203 Outras 994 Rio Grande do Sul SOMA 28.804 89,25 Santa Catarina Sul-Catarinense 3.363 10,41 Paraná Diversas 104 0,32 São Paulo Diversas 8 0,02 TOTAL 32.279 100,00
  • 119. 117 RIQUEZAS MINERAIS – CARVÃO MINERAL Aramis Gomes, Vitório Orlandi Nas últimas décadas, entretanto, projetos de recupe- ração ambiental, levados a efeito por empresários, sindi- catos, governo e empresas estatais, têm revertido essa si- tuação, recuperando gradativamente as áreas degradadas, tanto no Rio Grande do Sul como em Santa Catarina. As Figura 7.18 – Mineração de carvão mineral a céu aberto: mina do Faxinal (RS). Fotografia: Luiz Fernando Pardi Zanini. atuais lavras são conduzidas utilizando-se técnicas ade- quadas que visam à não-poluição e não-degradação do meio físico. As áreas mineradas estão sendo recuperadas logo após a lavra, de maneira a minimizar o impacto da atividade sobre o meio ambiente.
  • 120. 118 GEODIVERSIDADE DO BRASIL URÂNIO Mineral nuclear é todo mineral que contém em sua composição um ou mais elementos nucleares (urânio e tório). Os principais minerais de urânio são: uraninita, pechblenda, torbenita, autunita, carnotita, betafita, coffinita, euxenita, pirocloro e samarskita; de tório são: monazita, torita, torianita e euxenita. A principal aplicação do urânio é na geração de ener- gia, como combustível nuclear. Já o tório, é pouco usado como elemento gerador de energia. O urânio ainda é uti- lizado na indústria bélica sob a forma de explosivos; na indústria fotográfica, sob a forma de nitratos; na indústria química, sob a forma de acetatos; na produção de vidros, sob a forma de sal. O tório é usado principalmente sob a forma de óxido, na fabricação de camisas para lampiões; na produção de ligas, principalmente com o magnésio; na indústria ele- trônica; na fabricação de lâmpadas elétricas e na produ- ção de vidros para lentes, na indústria óptica. O Brasil possui uma reserva de urânio que totaliza 309.370 t de U3 O8 contido. O Complexo Mínero-Industrial de Caetité, no centro-sul da Bahia, é atualmente a única área produtora de urânio do país. Por outro lado, o Com- plexo Mínero-Industrial de Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, até então a única área produtora do Brasil, está sendo descomissionado, tendo em vista o esgotamento do minério economicamente viável. Nesse complexo, teve início o desenvolvimento da tecnologia do ci- clo do combustível nuclear para geração de energia elétrica, tratando-se quimicamente o minério de urânio e transformando-o em yellowcake. Atendeu, basicamente, às deman- das de recargas do reator de Angra I e de pro- gramas de desenvolvimento tecnológico. Em Poços de Caldas, o urânio ocorre es- sencialmente como uraninita associada a ro- chas do complexo alcalino gerado entre o Cretáceo e Paleógeno, destacando-se as jazi- das do Cercado e do Agostinho. A primeira, com reserva de 21.800 t de U3 O8 contido, foi explorada até 1998 na mina Osamu Utsumi. Na segunda, as reservas estimadas foram de 50.000 t de U3 O8 contido. Três fases de mineralização foram distinguidas em Poços de Caldas: duas hidrotermais e uma de alteração supergênica. Em Caetité, o minério de urânio, repre- sentado essencialmente por uraninita, está distribuído em cerca de 33 jazidas que com- põem o Distrito Uranífero de Lagoa Real. O minério ocorre em uma série de corpos de albititos lenticulares associados a zonas de ci- salhamento que cortam metamorfitos arque- anos e granitos paleoproterozóicos. A mine- ralização foi possivelmente gerada no início do Neoprote- rozóico e sofreu remobilização no final do evento Brasili- ano. As reservas totais são da ordem de 100.000 t de U3 O8 contido, suficientes para a operação dos reatores nu- cleares das usinas de Angra I, II e III. As demais reservas uraníferas são representadas pelas áreas de Itataia, Figueira, Amorinópolis, Espinharas, Cam- pos Belos, Rio Preto, Quadrilátero Ferrífero e Rio Cristalino (Figura 7.19). Embora a jazida fósforo-uranífera de Itataia, no cen- tro do Ceará, seja a maior reserva de urânio do país, com 142,5 mil t de U3 O8 contido, sua viabilidade econômica é dependente da exploração do fosfato associado. As prin- cipais rochas regionais relacionadas ao depósito de Itataia são paragnaisses pré-cambrianos com grandes lentes car- bonáticas. O urânio ocorre em hidroxiapatita criptocrista- lina associada a massas de colofano e a vênulas e sto- ckwork de colofano em mármores, gnaisses e epissieni- tos. A idade da mineralização é considerada neoprotero- zóica a cambro-ordoviciana. As demais reservas de urânio são menores. Os depósi- tos de Figueira, no leste do Paraná, e Amorinópolis, no sul de Goiás, ocorrem em rochas sedimentares paleozóicas da Bacia do Paraná, respectivamente do Permiano e Devonia- no. Em Figueira, o urânio ocorre como uraninita em areni- tos ou associado com matéria orgânica em argilas carbono- sas e carvões. Em Amorinópolis, a rocha hospedeira da mineralização de urânio (autunita, sabugalita, uraninita e coffinita) é uma camada de arcóseo. Já o depósito de urâ- Figura 7.19 – Localização dos principais depósitos de urânio. Fonte: CNEN.
  • 121. 119 RIQUEZAS MINERAIS – URÂNIO Paulo Roberto Cruz nio de Espinharas, na Paraíba, ocorre em gnaisses e xistos pré-cambrianos associados a granitos intrusivos, que foram alterados por processos metassomáticos do final do ciclo Brasiliano, como albitização e hematitização, com lixivia- ção da sílica e enriquecimento em fosfato. Trata-se de um depósito do tipo epigenético, similar a outras várias ocor- rências espalhadas no Nordeste brasileiro. Por sua vez, a mineralização de urânio de Campos Belos (autunita, torbe- nita e renardita) e Rio Preto (uraninita), ambas na parte cen- tral de Goiás, estão hospedadas essencialmente em xistos grafíticos paleoproterozóicos. Metaconglomerados e quartzitos da Formação Moe- da, base do Paleoproterozóico, no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, apresentam ocorrências de urânio (uraninita, brannerita e coffinita) associadas a ouro e pirita. Na área do Rio Cristalino, sul do Pará, ocorrências uraníferas (uraninita, kasolita e meta-autunita), relacionadas a psamitos paleoproterozóicos, estão em processo de avali- ação. Por fim, podem ser referidas ocorrências uraníferas que acompanham mineralizações de cassiterita e outros minerais em Pitinga, no nordeste do Amazonas, e em mineralizações de cobre e ouro, em Carajás, no sudeste do Pará. Essas ocorrências de urânio têm um potencial estimado em 150.000 t de U3 O8 contido. BIBLIOGRAFIA CPRM. Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil. Brasília: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2003. ______. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000. Legenda expandida. Brasília: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2006. 68 p. CD-ROM. ______. Informativo do Serviço Geológico do Brasil, n. 20. Brasília: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2008. DNPM. Anuário Mineral Brasileiro. Brasília: Departamen- to Nacional da Produção Mineral, 2006. IN MINE. Meio ambiente: como a mineração atende seu compromisso com a sociedade. , São Paulo: Facto Edito- rial, ano II, n. 9, maio-jun. 2007. MME/SGM. Sinopse 2007. Brasília: MME/SGM, 2007. KÁTIA DA SILVA DUARTE Geóloga formada pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre e doutora em Geotecnia pelo Departamento de Tecnologia da Universidade de Brasília. Servidora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) desde 2002. VITÓRIO ORLANDI FILHO Geólogo (1967) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Sensoriamento Remoto e Fotointerpretação no Panamá e Estados Unidos. De 1970 a 2007, exerceu suas atividades junto à Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde desenvolveu projetos ligados a Mapeamento Geológico Regional, Prospecção Mineral e Gestão Territorial. Em 2006, participou da elaboração do Mapa Geodiversidade do Brasil (CPRM/SGB). VALTER JOSÉ MARQUES Graduação (1966) em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Petrologia (1979), pela Universidade de São Paulo (USP), e em Engenharia do Meio Ambiente (1991), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos primeiros 25 anos de carreira dedicou-se ao ensino universitário, na Universidade de Brasília (UnB), e ao mapeamento geológico na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/ SGB), entremeando um período em empresas privadas (Mineração Morro Agudo e Camargo Correa), onde atuou na prospecção mineral por todo o país. De 1979 até o presente, desenvolve suas atividades na CPRM/SGB, onde exerceu diversas funções e cargos, dentre os quais o de Chefe do Departamento de Geologia (DEGEO) e o de Superintendente de Recursos Minerais. Nos últimos quinze anos, vem se dedicando à gestão territorial, com destaque para o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), sobretudo nas faixas de fronteiras com os países vizinhos da Amazônia, atuando como coordenador técnico-científico dos projetos binacionais. MAGDA M. R. CHAMBRIARD Engenheira Civil formada pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Engenharia Química pela COPPE. Ingressou na PETROBRAS em 1989. Cedida à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de 2002.- 2008. Atualmente Diretora da ANP.
  • 122. 120 GEODIVERSIDADE DO BRASIL ARAMIS J. PEREIRA GOMES Geólogo (1973) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde 1973 trabalha na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Especialista em carvão mineral. A partir de 1975, participou de diversos projetos de pesquisa e desenvolvimento de jazidas desse bem mineral no Brasil e em Moçambique. Foi diretor- presidente da Companhia Riograndense de Mineração – CRM (1991-1994). Tem desenvolvido estudos relacionados ao incremento do emprego do carvão nacional na matriz energética brasileira. PAULO ROBERTO CRUZ Geólogo (1965) pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor do Instituto de Geociência da Universidade Federal do Pará (UFPA). Trabalhou na Divisão de Geologia e Mineralogia do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), onde realizou vários trabalhos na área de Geologia Econômica. Ainda no DNPM, organizou, implantou e chefiou o setor de Geologia Econômica da Divisão de Fomento. Em 1971, organizou, implantou e dirigiu o Departamento de Recursos Minerais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), atual Coordenação de Matérias-Primas e Minerais da Diretoria de Radioproteção e Segurança, onde coordena os trabalhos de geologia do setor nuclear. GLORIA MARIA DOS SANTOS MARINS Geóloga formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Geoquímica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ocupou o cargo de Especialista em Regulação de Petróleo e Derivados na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) até março de 2008. Atualmente, é Gerente de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da empresa OGX Petróleo e Gás Ltda. CINTIA ITOKAZU COUTINHO Engenheira Civil formada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Servidora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) desde 2004. LUCIENE FERREIRA PEDROSA Oceanógrafa formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Servidora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) desde 2006. MARIANNA VIEIRA MARQUES VARGAS Estudante de graduação em Geologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Estagiária da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
  • 123. 121 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira 8 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato 1 ([email protected]) Amaury Carvalho Filho 2 ([email protected]) Wenceslau Geraldes Teixeira 2 ([email protected]) 1 CPRM – Serviço Geológico do Brasil 2 EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária SUMÁRIO Argissolos ................................................................................. 122 Cambissolos .............................................................................. 122 Chernossolos ............................................................................ 123 Espodossolos ............................................................................ 123 Gleissolos .................................................................................. 123 Latossolos ................................................................................. 124 Luvissolos .................................................................................. 125 Neossolos.................................................................................. 125 Nitossolos ................................................................................. 126 Organossolos ............................................................................ 126 Planossolos ............................................................................... 127 Plintossolos ............................................................................... 127 Vertissolos ................................................................................. 128 Terras Pretas de Índios da Amazônia ........................................ 128 Bibliografia ............................................................................... 133
  • 124. 122 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Solo é a superfície inconsolidada, constituída de ca- madas que diferem pela natureza física, química, mineralógica e biológica, desenvolvida ao longo do tem- po sob a influência do clima, material originário, relevo e da própria atividade biológica. Uma das possibilidades de apresentação das infor- mações pedológicas é o mapa de solos. Este se constitui em uma estratificação de ambientes que permite a sepa- ração de áreas para diversos fins, além de fornecer subsí- dios para programas especiais de conservação de solos e preservação do meio ambiente. Grande parte dos problemas relacionados aos solos está ligada à complexidade e dificuldade de sua identifica- ção. Quando esta é obtida, é possível determinar suas li- mitações e potencialidades que refletem diretamente em seu manejo para um uso adequado. É necessário considerar que, ao longo do tempo, as pesquisas sobre os solos foram desenvolvidas com fins agronômicos, porém, isso tem mudado com a influên- cia de estudos correlatos, principalmente geotécnicos, para produção de informações de melhor qualidade, possibilitando um uso mais amplo das informações de solos. A nomenclatura aqui apresentada está de acordo com o sistema de classificação de solos atualmente em uso no Brasil (EMBRAPA, 2006). O enfoque apresentado objetiva, de ma- neira simples, tecer alguns comentários gerais sobre as limitações e potencialidades para uso agrícola e não-agrícola, tendo como base as características dos principais solos do Brasil. Os interessados em abordagens mais detalhadas e aprofundadas devem recorrer à extensa biblio- grafia existente. ARGISSOLOS Compreendem solos nos quais normal- mente o teor de argila no horizonte B (subsuperficial) é bem maior que no horizon- te A (superficial), caracterizando o horizonte B textural (Bt). Esse incremento de argila é percebido sem dificuldade quando se procede ao exame da textu- ra e, algumas vezes, pela diferenciação da cor e outras características. No caso de ocorrer mudança textural abrupta (gradiente textural muito acentuado em curto espaço vertical), torna-se ainda mais visível. O horizon- te Bt, que pode apresentar constituição e morfologia muito distintas e ocorrer em diversas profundidades, caracteriza um comportamento bastante variável des- ses solos. Em extensão, constitui a segunda classe de maior importância no país. Abrange uma ampla diver- sificação de solos, desde rasos (<50 cm) a muito pro- fundos (>2,00 m), abruptos (elevado gradiente textural), eutróficos (saturação por bases >50%) e distróficos (sa- turação por bases <50%), com cascalhos, com fragipã (horizonte adensado), com caráter solódico (presença de sódio), entre outros. Devido a essa gama de varia- ção, torna-se difícil proceder a uma abordagem genera- lizada para esses solos. Argissolos com horizonte Bt de baixa condutividade hidráulica situados em regiões de alta pluviosidade podem desenvolver “lençol freático suspenso”, facilitando o processo de deslizamento, de- vido ao excesso de água no plano de cisalhamento en- tre os horizontes A e Bt, que funciona como um lubri- ficante, facilitando a movimentação do material super- ficial (OLIVEIRA, 2005). Os mais suscetíveis aos proces- sos erosivos são aqueles de caráter abrupto e os que ocorrem em relevos movimentados. Conforme a coloração do horizonte Bt, dividem-se em Argissolos Vermelhos, Vermelho-Amarelos, Amarelos, Bruno-Acinzentados e Acinzentados; com freqüência, en- contram-se associados a Latossolos, por todo o território nacional (Figura 8.1). CAMBISSOLOS Compreendem solos pouco desenvolvidos e que apre- sentam grande variação em sua espessura, ocorrendo des- de rasos (<50 cm) a profundos (<2,00 m). Apresentam horizonte A, de qualquer tipo, sobreposto a horizonte B incipiente (Bi), de características variáveis. Muitas vezes são cascalhentos, pedregosos e rochosos. Os Cambissolos estão relacionados a áreas mais movimentadas, preferen- cialmente regiões serranas. Devido à variação de atribu- tos, torna-se difícil definir um padrão de comportamento para esses solos. Por apresentarem pequeno desenvolvi- mento e teores de silte em geral mais altos que em outros solos, com relação silte/argila elevada, são mais suscetí- veis aos processos erosivos. A presença de silte também Figura 8.1 ––––– Perfil de Argissolo em relevo forte ondulado, com vegetação de floresta e pastagem.
  • 125. 123 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira em superfície, em alguns desses solos, favorece a forma- ção de poeira bastante densa, o que deve ser considerado no caso de seu aproveitamento com atividades de lazer. Ocorrem em todo o país, porém, com pequena expressão na região amazônica (Figura 8.2). CHERNOSSOLOS Compreendem solos com horizonte superficial do tipo A chernozêmico (cor escura, boa fertilidade natural e teores elevadosdematériaorgânica)assentadossobrehorizonteB, em geral avermelhado, com argila de atividade alta (capaci- dade de troca catiônica (CTC) >27 cmolc por kg de argila). São solos de elevado potencial agríco- la, pois são ricos quimicamente, com horizonte superficialaeradoebemestruturado,alémdecon- teremgrandequantidadedematériaorgânica. Quando molhados, a elevada plasticidade e pegajosidade do horizonte superficial dificulta a trafegabilidade e o preparo para o plantio. Para alguns desses solos, onde o saprolito é relativa- mentebrando,nãoserecomendaousocomater- ros sanitários, lagoas de decantação e cemitérios. Ocorrem em várias regiões do Brasil, em geral relacionados a material de natureza calcária, em condições de clima mais seco. Estão tam- bém relacionados aos basaltos da região Sul. ESPODOSSOLOS Constituemsolosdominantementearenosos, com concentração de ferro, matéria orgânica ou de ambos em subsuperfície, o que caracteriza o horizonte B espódico, que pode ocorrer em diferentes profundidades. A condição arenosa determina elevada permeabilidade, ressecamento rápido, elevada taxa de decomposição da matéria orgânica e pequena capacidade de retenção de nu- trientes. Alguns desses solos podem apresentar o horizonte B espódico próximo da superfície, influindo diretamente em sua condição hídrica, proporcionando maior retenção de umidade. Naqueles em que esse horizonte se encontra a vários metros de profundidade, o comportamento físico pode ser comparado ao dos Neossolos Quartzarênicos. Alguns Espodossolos apresen- tam camada subsuperficial muito endurecida (orstein), o que dificulta o enraizamento, prin- cipalmente das plantas arbóreas, como tam- bém de escavações. Ocorrem expressivamente ao longo da costa brasileira , assim como na região amazônica (Figura 8.3). GLEISSOLOS São solos característicos de áreas sujeitas a alagamento, como margens de rios, ilhas, gran- des planícies, lagoas etc. e, conseqüentemente, com problemas de aeração e drenagem defici- ente. Com isso, devido à redução do ferro, apre- sentam cores acinzentadas ou esverdeadas. Os Gleissolos Tiomórficos apresentam séri- as limitações ao uso agrícola e não-agrícola, devido à pre- sença de enxofre. Em tais solos, quando drenados, ocorre, em um curto espaço de tempo, a formação do horizonte sulfúrico, o que representa risco de corrosão para tubula- ções enterradas. Da mesma forma, os Gleissolos com ex- cesso de sais e com caráter vértico (baixa permeabilidade, argilas expansivas) podem prejudicar essas tubulações. Ocorrem em todo o território brasileiro, com freqüên- cia associados às planícies de inundação dos rios. De maneira geral, pela presença de lençol freático próximo à superfície e posição topográfica em que ocorrem, não são adequados para uso como cemitérios, aterros sanitários, lagoas de decantação e áreas de lazer (Figura 8.4). Figura 8.2 ––––– Perfil de Cambissolo com horizonte B incipiente em relevo ondulado de topo sob vegetação de campo graminoso. Figura 8.3 ––––– Perfil de Espodossolo com horizonte de acúmulo de ferro e matéria orgânica em relevo plano do Grupo Barreiras, sob vegetação de restinga.
  • 126. 124 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 8.4 ––––– Perfil de Gleissolo Háplico em área de baixada sujeita a inundações periódicas sob pastagem. Fotografia: José Francisco Lumbreras. LATOSSOLOS Compreendem solos profundos e muito profundos (<3,00 m), com horizonte B latossólico (Bw). São solos em avançado estágio de intemperização, muito evoluí- dos, como resultado de enérgicas transformações no ma- terial constitutivo. O incremento de argila do horizonte A para o B é inexpressivo, com relação textural (B/A) insufi- ciente para caracterizar o horizonte B textural. Tendem a apresentar estrutura granular, ou quando em blocos, de fraco grau de desenvolvimento e elevadas porosidade e permeabilidade interna, com drenagem ex- cessiva ou muito rápida, garantindo maior resistência aos processos erosivos em relação às outras classes de solos. No entanto, alguns solos dessa classe, com estrutura gra- nular muito desenvolvida, podem ser altamente suscetí- veis à erosão em sulcos quando sujeitos a fluxo de água concentrado (RESENDE et al., 1992), devido à pequena coesão entre as unidades estruturais, que, nesse caso, com- portam-se fisicamente como areia fina ou silte (pseudo- silte). Situação semelhante é observada nos solos de tex- tura média mais leve. Representam uma das classes de maior expressão ge- ográfica no país, ocupando grandes extensões. Apesar de a baixa fertilidade natural, são muito utilizados com agri- cultura, em razão do relevo pouco movimentado em que em geral ocorrem e das boas condições físicas. Desenvol- vem-se em todos os tipos de relevo, com menor expres- são, é claro, nas áreas montanhosas, onde tendem a ocu- par áreas de conformação convexa. Em algumas áreas é verificada a ocorrência significativa de solos dessa classe com espessura do solum (horizontes A + B) inferior a 1,5 m, sendo denominados Latossolos câmbicos, apresentan- do, portanto, maior suscetibilidade à erosão que os Latossolos típicos. Conforme a coloração do horizonte B, são subdivididos em: • Latossolos Brunos: São profundos, com hori- zonte A escurecido, em geral espesso; o hori- zonte subsuperficial em tons brunados, sendo comum apresentarem avermelhamento em pro- fundidade. São solos argilosos ou muito argilo- sos, com alta capacidade de retração com a per- da de umidade, esta facilmente verificada pelo fendilhamento nos barrancos expostos ao sol. São comuns nos planaltos interioranos do sul do país, em altitudes superiores a >800 m e em clima subtropical. • Latossolos Amarelos: São profundos, de co- loração amarelada, bem drenados e de baixa fer- tilidade natural. Ocupam grandes áreas nas zonas de Tabuleiros Costeiros e baixo e médio Amazonas. • LatossolosVermelhos:Sãomuitohomogeneos, bem drenados, de coloração vermelho-escura; quando originados de rochas básicas, freqüentemente basaltos da Formação Serra Geral, no sudeste e sul do país, apresentam elevadas quantida- des de óxidos de ferro e atração pelo ímã quando se- cos. Apesar de quimicamente pobres, possuem eleva- do potencial agrícola devido ao relevo suavizado em que ocorrem. Os Latossolos Vermelhos são bastante expressivos na região Centro-Oeste, respondendo por grande parte de sua produção agrícola. • Latossolos Vermelho-Amarelos: São bem drenados; possuem cores vermelho-amareladas, de baixa fertilidade natural, ocorrendo em praticamente todo o território na- cional, com menores expressões no Rio Grande do Sul. São muito utilizados com agricultura quando a textura é argilosa e com pecuária, quando média. Apesar de a pequena capacidade de troca de cátions, a grande espessura e boa aeração qualificam esses solos como adequados para aterros sanitários, depósitos de efluentes, lagoas de decantação e cemitérios. A baixa ativi- dade da argila e a drenagem rápida elevam esses solos para a categoria de excelentes pisos de estradas (Figura 8.5). Figura 8.5 ––––– Perfil de Latossolo Vermelho textura argilosa em relevo suave ondulado com plantio de milho e pastagem.
  • 127. 125 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira LUVISSOLOS São solos pouco profundos ou profundos, de cores avermelhadas, com horizonte B textural ou B nítico abai- xo do horizonte A, sendo comum a presença de casca- lhos e pedregosidade. Apresentam argila de atividade alta (>27 cmolc por kg de argila), conjugada a alta sa- turação por bases (V>50%). Face a seu pequeno grau de intemperização, observa-se a presença de teores médios a altos de minerais facilmente decomponíveis. A presença desses elementos no solo pode ter implica- ções com maior solubilização das bases presentes nos minerais primários facilmente decomponíveis, possibi- litando a ascensão de sais para os horizontes superio- res, tornando esses solos suscetíveis à salinização. No caso de ocorrerem pedras e concreções, pode haver im- plicações na disponibilidade de água e de nutrientes para as plantas. Apequenaprofundidadeeoelevadogradientetextural, em geral distintivo de caráter abrupto, aliados à condição de relevo, contribuem para a fragilidade desses solos quan- to à erosão, amplificada na região do semi-árido, onde as chuvas são concentradas. É comum a presença de calhaus e matacões na superfície, o que dificulta o uso agrícola, mas, por outro lado, protege contra a erosão. Distribuem-se principalmente na região mais seca do país, semi-árido nordestino, sendo ocupados somente com a pecuária extensiva. Ocorrem também nas regiões Sul e na Amazônia, sendo ocupados com agricultura e pasta- gem plantada, respectivamente. NEOSSOLOS Compreendem solos pouco desenvolvidos, sem apre- sentar qualquer tipo de horizonte B. Reúnem solos rasos (rocha a menos de 50 cm de profundidade), Neossolos Litólicos; solos profundos e arenosos, Neossolos Quartzarênicos; com horizonte A sobre C e presença de minerais primários de fácil decomposição, Neossolo Regolítico; e solos de natureza aluvionar, os Neossolos Flúvicos. Os Neossolos Flúvicos são formados em terraços de deposição aluvionar recente, referidos ao Quaternário. Sua principal característica é a estratificação de camadas sem relação pedogenética entre si, o que pode ser evidenciado pela grande variação textural e de conteúdo de carbono em profundidade. Apresentam, portanto, grande variabi- lidade espacial. Possuem seqüência de horizontes A-C, eventualmente com evidências de gleização face à proxi- midade dos cursos de água, e ao lençol freático, em geral a pequena profundidade, sendo susceptíveis a eventuais inundações. São solos que apresentam grande variabilidade, po- dendo ser pobres ou ricos em nutrientes. Podem apre- sentar teores elevados de sais ou de sódio. Suas limita- ções aumentam à medida que se elevam as concentra- ções desses elementos, implicando corrosão de materi- ais enterrados. A redução dessa limitação depende da permeabilidade interna, que permita “lavar” os sais e o sódio (Figura 8.6). Os Neossolos Quartzarênicos compreendem solos are- nosos, essencialmente quartzosos, virtualmente destituídos de minerais primários pouco resistentes ao intemperismo; são fortemente a excessivamente drenados, muito permeá- veis, profundos ou muito profundos. Possuem baixa fertili- dade natural, com capacidade de troca de cátions e satura- çãoporbasesmuitoreduzidas.Atexturaarenosacondiciona também uma baixa capacidade de retenção de água e de eventuais elementos nutrientes aplicados, o que constitui forte limitação ao seu aproveitamento agrícola. Em razão de sua constituição arenosa, com grãos soltos, o que possi- bilita fácil desagregação, tendem a ser muito suscetíveis à erosão, mesmo quando ocorrem em relevo suave. São bas- tante expressivos no Brasil, principalmente no centro-oeste e ao longo da costa litorânea. Apesar de serem muito permeáveis e terem uma es- pessa zona de aeração, a baixa capacidade de adsorção facilita a lixiviação de materiais tóxicos e metais pesados, aumentando a possibilidade de contaminação do lençol freático (Figura 8.7). Figura 8.6 ––––– Perfil de Neossolo Flúvico em terraço de relevo plano com pastagem natural. Figura 8.7 ––––– Perfil de Neossolo Quartzarênico desenvolvido em relevo suave ondulado com pastagem.
  • 128. 126 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Os Neossolos Litólicos são solos rasos ou muito rasos, com horizonte A, exceto o chernozêmico, assen- tado diretamente sobre a rocha. A maior limitação des- ses solos é a pequena profundidade efetiva, que limita o desenvolvimento radicular das plantas e culturas, re- duzindo a capacidade de “sustentação” delas, tanto mais expressiva quanto mais próximo a rocha estiver da su- perfície. Essas características conferem a esses solos pouca capacidade de sustentabilidade da vegetação. A condição de desmatamento ou de pouca cobertura ve- getal, quando aliada às precipitações concentradas, fa- cilita a formação de erosões laminares e em sulcos nes- ses solos. Por se tratar de solos rasos, é comum a ocorrência de cascalhos e calhaus, caráter pedregoso e rochoso na su- perfície do terreno, funcionando ora como protetor, dimi- nuindo a taxa de evaporação da água no solo, ora como barreira ao deslocamento de máquinas. Os Neossolos Litólicos não são adequados para uso com cemitérios e aterros sanitários, sendo terras mais indicadas para preser- vação da flora e da fauna. São muito susceptíveis à erosão em virtude da espes- sura reduzida e do relevo onde se localizam. A textura leve em superfície e o contato direto com a rocha a pe- quena profundidade tornam esses solos bastante suscep- tíveis aos processos de escorregamento de massa, pois o rápido encharcamento do horizonte superficial e o exces- so de água no plano de cisalhamento funcionam como lubrificante, facilitando a movimentação do material suprajacente a esse plano (Figura 8.8). Os Neossolos Regolíticos são solos pouco desen- volvidos, medianamente profundos ou mais espessos (A + C >50 cm), de textura em geral arenosa, conten- do, na fração areia, apreciáveis teores de minerais facil- mente intemperizáveis. São predominantemente eutróficos, muito porosos e de baixa capacidade de re- tenção de água, podendo, ou não, apresentar fragipã (horizonte adensado) a diferentes profundidades, de- senvolvido ou em formação. A presença desse horizon- te adensado é benéfica na região do semi-árido, devido à manutenção da umidade próximo da superfície, exceto quando o solo apresentar elevadas concentrações de sódio. Os Neossolos Regolíticos são mais expressivos no semi-árido nordestino, além de ocorrerem também no Mato Grosso do Sul. Os Neossolos distribuem-se praticamente por todas as regiões do país, porém, por especificidade de ocorrên- cia de alguns deles, como é o caso dos Neossolos Flúvicos, ao longo de rios e riachos; já os Neossolos Litólicos, em encostas muito declivosas; em algumas áreas, seu mapeamento somente é possível em escalas maiores. NITOSSOLOS Os Nitossolos compreendem solos com horizonte B nítico de argila de atividade baixa. São solos profundos ou muito profundos, bem drenados, com baixo gradiente textural e com estruturas em blocos e cerosidade bem de- senvolvidas no horizonte B, por definição de textura argi- losa ou muito argilosa. Em geral, são originados de rochas básicas,basaltos,apresentandocoloraçãobemavermelhada (anteriormente denominados Terras Roxas Estruturadas). O baixo gradiente textural e o caráter argiloso se refletem em uma menor suscetibilidade à erosão que nos solos com horizonte B textural, como os Argissolos. Além disso, a excelente estruturação lhes confere boas condições de permeabilidade interna do perfil de solo. Por serem de grande espessura, bem drenados, com boa aeração, esses solos são adequados para aterros sani- tários, depósitos de efluentes, lagoas de decantação e ce- mitérios. São também indicados como excelentes pisos de estradas. Ocorrem em praticamente todo o país, sendo expressivos na bacia platina, desde Goiás até o Rio Grande do Sul. São encontrados tam- bém no estado do Tocantins, sul do Maranhão, Pará e Mato Grosso. ORGANOSSOLOS Os Organossolos são solos pouco evoluí- dos, constituídos por material orgânico (>80 g/ kg de carbono orgânico) proveniente de acu- mulação de restos vegetais em variados estádi- os de decomposição. Apresentam horizonte hístico espesso, rico em material orgânico cons- tituído de fibras que são facilmente identificáveis pela ori- gem vegetal, dentro dos primeiros 100 cm de profundida- de. Estão presentes nas várzeas planas, alagadiças, em am- bientes mal a muito drenados, com lençol freático à super- fície ou próximo a ela, correspondentes às áreas mais abaciadas e deprimidas em relação aos terrenos adjacentes. É muito comum apresentarem coloração escura, pre- ta, cinzenta ou marrom e teores muito elevados de carbo- no orgânico (mais de 50%). A capacidade de troca de cátions na camada orgânica é alta a muito alta, mas a soma de bases é muito baixa, significando que essa CTC (valor T) se deve à presença significante de íons H+ , refe- Figura 8.8 ––––– Perfil de Neossolo Litólico desenvolvido em relevo suave ondulado com vegetação de campo graminoso.
  • 129. 127 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira diente textural elevado. O horizonte superficial é muito suscetível à erosão laminar e o Bt pode desenvolver sulcos e ravinas pela ação combinada de antropismo e caracte- rísticas internas que favorecem os processos erosivos, mes- mo que o relevo seja plano. São solos expressivos no semi- árido nordestino, ocorrendo também no Pantanal mato- grossense e no Rio Grande do Sul (Figura 8.10). PLINTOSSOLOS Compreendem solos com presença significativa de plintita(materialricoemferroepobreemmatériaorgânica), ou com expressiva ocorrência de concreções de ferro (petroplintita) ou até mesmo cangas. Esses últimos são de- nominados Plintossolos Pétricos e, apesar de a presença das concreções, são mais bem drenados. Ocorrem em grandes extensõesnosplanaltosdaregiãoCentro-Oesteeemalguns platôsdaAmazônia.OsdemaisPlintossoloscaracterizam-se pelapresençade mosqueamentos,devidoàdrenagemdefi- ciente e à ocorrência de plintita no perfil do solo. Têm gran- de potencial de utilização para agricultura, desde que sejam tomadososdevidoscuidadoscomrelaçãoàdrenagem,pois a alteração da dinâmica hídrica nesses solos pode levar ao endurecimento irreversível da plintita (Figura 8.11). rente à acidez da matéria orgânica. São solos que apre- sentam elevados teores de água durante praticamente todo o ano, dificultando o manejo para exploração agrí- cola. É importante conhecer tanto os teores como o es- tágio de decomposição da matéria orgânica nesses so- los, pois, além de sua classificação, influenciam a den- sidade, tamanho dos poros e respectiva força de reten- ção da água, condutividade hidráulica e capacidade de suporte. Quanto menor o grau de decomposição da ma- téria orgânica, mais intensa será a capacidade de subsidência. Esses solos ocorrem em todo o território nacional, mas em locais específicos de acumulação de água e de restos vegetais, como ao longo das margens de rios, lagos etc., cuja representação em mapas requer, em geral, maior esca- la (Figura 8.9). PLANOSSOLOS Compreendem solos imperfeitamente a mal drena- dos, com horizonte superficial de textura mais leve que contrasta abruptamente com o horizonte Bt (B plânico), de textura argilosa, adensado e com baixa permeabilidade, muitas vezes responsá- vel pela manutenção de um lençol freático pró- ximo à superfície. Sua fertilidade natural é vari- ável, apresentando sérias limitações físicas. Alguns Planossolos podem apresentar te- ores elevados de sódio (Nátricos), sendo o seu horizonte B de permeabilidade interna bem reduzida e de consistência muito dura quan- do seco. Isso é intensificado se as argilas tive- rem atividade elevada, com maior contratilidade e expansibilidade. Nesse caso, a permeabilidade é baixíssima. Embora se situem em relevos planos e su- aves, a erodibilidade desses solos é moderada, em virtude de suas condições físicas e do gra- Figura 8.9 ––––– Organossolo desenvolvido em relevo plano com cana- de-acúcar. Figura 8.10 ––––– Planossolo desenvolvido em relevo plano e com pastagem natural. Figura 8.11 ––––– Perfil de Plintossolo desenvolvido em relevo plano e preparado para plantio da pastagem.
  • 130. 128 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Nos Plintossolos Pétricos, a presença de grandes quan- tidades de concreções em superfície dificulta bastante o preparo do terreno, desgasta os implementos agrícolas e diminui significativamente o volume de água e nutrientes para as plantas. Por outro lado, são excelentes como fonte de material para pavimentação de estradas. Ocorrem praticamente em todo o território nacional, com destaque para a Baixada Maranhense e Piauí, médio Amazonas, vale do Paraná, Pantanal mato-grossense e pla- nícies do Araguaia e Guaporé (Figura 8.12). VERTISSOLOS Compreendem solos profundos e pouco profundos, com argila de muito alta atividade, apresentando grande expansão e contração do material, sendo comum a ocor- rência de fendas e superfícies de fricção (slikensides). Apre- sentam cores escuras ou amareladas e, em menor expres- são, avermelhadas. São solos muito férteis e estão mais relacionados a condições de clima seco, sendo expressivos no semi-árido nordestino. Ocorrem também no Pantanal mato-grossense, Recôncavo baiano e Campanha gaúcha. Altos teores de argila de elevada atividade determi- nam consistência extremamente dura e muito dura quan- do secos e muito plástica e muito pegajosa quando mo- lhados. Devido à grande capacidade de contração, é co- mum o desenvolvimento de rachaduras no período seco, podendo danificar raízes e até estruturas enterradas, como dutos. Assim, não é recomendável sua utilização para construção civil nem como aterros sanitários (Figura 8.13). TERRAS PRETAS DE ÍNDIOS DA AMAZÔNIA Algumas áreas de terra firme na Amazônia Central são conhecidas localmente como Terras Pretas de Índios (TPI). Essas áreas – denominadas Amazonian Dark Earths em língua inglesa – são solos que apresentam horizontes superficiais escuros e férteis. As cores escuras desses solos são devidas à elevada concentração de algumas formas aromáticas de carbono (black carbon) de origem predomi- nantemente pirogênica, muito estáveis e de alto poder pigmentante. Adicionalmente, apresentam uma grande densidade de cargas negativas, que conferem a esses ho- rizontes uma elevada capacidade de troca de cátions (CTC). Essas áreas são também caracterizadas por elevadas con- centrações dos cátions: cálcio, magnésio, zinco e manganês. Os horizontes enriquecidos das TPI também apresentam, normalmente, artefatos cerâmicos arqueoló- gicos e elevada concentração de fósforo total e disponível para plantas (P), quando comparados com os solos adja- centes formados do mesmo material de origem. A datação por C14 dessas áreas tem indicado que o principal período de sua formação foi entre 700 e 2.500 anos (AP). Os solos que apresentam os horizontes típicos das TPI nãotêmumaclassificaçãoespecíficanosistema brasileirode classificaçãode solos,sendocaracterizadosnoslevantamen- tos como solos com horizonte A antrópico, de Argissolos (Acrisols) e Latossolos (Ferralsols) e, menos freqüentemente, da classe dos Plintossolos (Plinthosols) e Espodossolos (Spodosols).Nasáreasdevárzeas,sãoencontradoshorizon- tes antrópicos normalmente soterrados, principalmente na classe dos Gleissolos (Gleisols) (Figuras 8.14 e 8.15). Há, na literatura, resultados promissores sobre o uso de carvão vegetal como condicionador do solo, havendo recomendações no sentido de que esse tipo de material poderia ser utilizado para aumento da efici- ência de fertilizantes. A carbonização de resíduos vege- tais tem potencial para aumentar a sustentabilidade da capacidade produtiva do solo, reduzir as emissões de carbono para a atmosfera, dar uma utilização correta aos resíduos orgânicos poluidores e ainda auxiliar no desenvolvimento rural. Detalhe da superfície de fricção que ocorre nesses solos, devido aos movimentos de contração e expansão das partículas de solo, denominadas slickensides. Figura 8.13 ––––– Perfil de Vertissolo desenvolvido em relevo plano sob vegetação de campo. Figura 8.12 ––––– Perfil de Plintossolo Pétrico desenvolvido em relevo plano sob vegetação de cerrado e com coleta de cangas lateríticas.
  • 131. 129 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira No Quadro 8.1, é apresentada uma síntese das prin- cipais classes de solos, em nível de ordem e subordem Figura 8.14 – Perfil de solo mostrando o horizonte A antrópico (Terra Preta de Índio) (Município de Rio Preto da Eva, AM). Figura 8.15 – Trincheira em área de ocorrência de Terra Preta de Índio (município de Rio Preto da Eva, AM). (primeiro e segundo níveis categóricos), suas limitações e potencialidades.
  • 132. 130 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Quadro8.1–PrincipaissolosdoBrasilesuasprincipaislimitaçõesepotencialidades OrdemSubordemSigla Prof. relativa Drenagem interna LimitaçõesPotencialidades Bruno-AcinzentadoPB>2mBem AcinzentadoPAC>2mModeradamente AmareloPA>2mBem VermelhoPV>3mBem Argissolos Vermelho-AmareloPVA>3mBem Pequenodesenvolvimentoradicular quandodebaixafertilidade.Solos sujeitosacompactação,intensificados quandoatexturaforargilosanoA. Quandoabruptos,sãomaissuscetíveis aosprocessoserosivos. Quandoeutróficosoudeboafertilidade natural,sãodeelevadopotencialagrícolanos relevosmaissuavizados. HúmidoCH<2mBem Horizontesuperficialbem desenvolvido. FlúvioCY>3m Moderadamentea imperfeitamente Sujeitoàinundaçãoperiódica. Drenagemdeficiente. Cambissolos HáplicoCX<2mBem Pequenodesenvolvimentoradicular porbaixafertilidadeouporpresença depedregosidade.Amecanização agrícolaélimitadaseorelevofor movimentado.Solossujeitosa compactação,intensificadapela presençasignificativadesilte. Relevoplano.Solosprofundos.Bom desenvolvimentoradicularquandoa fertilidadeforboa. RêndzicoMD<1,5mModeradamente EbânicoME<2mModeradamente ArgilúvicoMT<2mBem Chernossolos HáplicoMX<2mBem Relevosmaismovimentados.Riscode erosãoelevado.Dificuldadede preparodosoloquandoseco.Solo sujeitoacompactação. Elevadafertilidadenatural.Quando profundos,sãodeboapotencialidade agrícola. HumilúvicoEK>2m Moderadamentea imperfeitamente FerrilúvicoES>2m Moderadamentea imperfeitamente Espodossolos FerrihumilúvicoESK>2m Moderadamentea imperfeitamente Pequenacapacidadederetençãode águaenutrientes.Baixafertilidade natural.Solodesprovidode micronutrientes.Dificuldadede manejodevidoasuaconstituição arenosa. Relevoplanominimizaoprocessoerosivo. TiomórficoGJ<2mMuitomalExtremamenteácidoquandodrenado. SálicoGZ<2mMuitomal MelânicoGM<2mMalGleissolos HáplicoGX<2mMal Riscodeinundaçãofreqüente. Necessidadededrenagemparauso. Limitaçãoparaculturasadaptadasao encharcamento.Facilidadede contaminaçãodolençol. Relevoplano.Pequenaouquasenula suscetibilidadeaosprocessoserosivos. Quandoeutróficos,sãodeboapotencialidade agrícolaparaculturasadaptadasao encharcamento.
  • 133. 131 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira Quadro8.1–PrincipaissolosdoBrasilesuasprincipaislimitaçõesepotencialidades(Cont.) OrdemSubordemSigla Prof. relativa Drenagem iterna LimitaçõesPotencialidades BrunoLB>3mBem AmareloLA>3mBem VermelhoLV>3mMuitoBem Latossolos Vermelho-AmareloLVA>3mMuitoBem Baixafertilidadenatural.Poucaágua disponívelnosolo,intensificada quandoatexturaéleve.Baixoteorde fósforo.Solossujeitosacompactação, principalmentequandoargilososou muitoargilosos.Noscoesospode haverlimitaçãoaodesenvolvimento radiculardevidoaoadensamento. Profundidadedosoloelevada.Solosde elevadapermeabilidadeeporosidade. Resistênciaaosprocessoserosivos.Grandes extensõescontínuasemrelevossuavizadas. Fácilmanejo. CrômicoTC<1,5m Bema Moderadamente Luvissolos HáplicoTX<2mBem Ocorrênciadepedregosidadeem superfíciepodelimitaramecanização. Erodibilidadeelevadapelamudança texturalabrupta.Limitaçãoquantoà águadisponívelnosoloemlocais maissecos.Riscodesalinizaçãosemal manejado. Apresentaaltasaturaçãoporbases,sendode boafertilidadenatural.Presençademinerais primáriosfacilmenteintemperizáveis(reserva nutricional). LitólicoRL<1mModeradamente Solosrasosepoucoprofundos.Relevo movimentado.Associaçãocom pedregosidadeerochosidade. Elevadoriscodeerosão. Emcasodeboafertilidadenatural,o enraizamentonãoéprejudicadosearocha nãofordura.Recomenda-separa preservaçãodafloraedafauna. FlúvicoRY>3m Moderadamentea imperfeitamente Sujeitoainundaçãoperiódica. Drenagemdeficiente. Relevoplano.Solosprofundos.Bom desenvolvimentoradicularquandoa fertilidadeforboa. RegolíticoRR<2mModeradamente Pequenacapacidadederetençãode umidade.Ocorrênciadehorizontes adensados. Profundidademediana. Riscodesalinização. Boafertilidadenatural.Relevosuavizado. Neossolos QuartzarênicoRQ>2mExcessivamente Pequenacapacidadederetençãode águaenutrientes.Baixafertilidade natural.Solodesprovidode micronutrientes.Dificuldadede manejodevidoasuaconstituição arenosa. Relevominimizaosriscosdosprocessos erosivos.
  • 134. 132 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Quadro8.1–PrincipaissolosdoBrasilesuasprincipaislimitaçõesepotencialidades(Cont.) OrdemSubordemSigla Prof. relativa Drenagem interna LimitaçõesPotencialidades BrunoNB>3mMuitoBem VermelhoNV>3mMuitoBem Nitossolos HáplicoNX>3mBem Fertilidadenaturalbaixa.Baixa quantidadedeáguadisponívelno solo.Quandoemrelevo movimentado,sãosuscetíveisaos processoserosivos.Solosmuitoprofundos.Teoresde micronutrienteselevados.Boapermeabilidade eporosidade.Grandesextensõescontínuas. TiomórficoOT>2mMuitomal Sedrenado,opHficaextremamente baixo. FólicoOO<1,5mMuitomalOrganossolos HáplicoOX>2mMuitomal Elevadolençolfreático.Riscode inundaçãopermanente.Necessidade dedrenagemparauso.Necessidade dealtasdosesdecalagemparaefeito. Relevoplano. Elevadacapacidadedetrocacatiônica. NátricoSN<2m Imperfeitamentea Mal Areaçãodosoloéneutraoualcalinano horizonteB. Planossolos HáplicoSX<2mMal Granderiscodeerosãodevidoao elevadogradientetextural. Impedimentoaoenraizamento.Solos sujeitosacompactação. Ocorrememrelevossuaveseplanos.Os eutróficostêmmenosproblemascom enraizamento. PétricoFF>2mModeradamente Impedimentoàmecanização. Restriçãoaoenraizamento. ArgilúvicoFT>2m Moderadamentea Imperfeitamente Plintossolos HáplicoFX>2mModeradamente Restriçãoàdrenagem.Restriçãoao enraizamento. Quandoeutróficos,sãodeboapotencialidade agrícola. HidromórficoVG<2mMal EbânicoVE<2m Imperfeitamentea MalVertissolos HáplicoVX<2m Imperfeitamentea Mal Solodemanejomuitodifícil.Muito duroquandosecoemuitoplásticoe pegajosoquandoúmido.Ocorrência defendilhamento.Permeabilidade muitobaixa. Elevadafertilidadenatural.Relevosuavizado. AfloramentosdeRochaAR
  • 135. 133 SOLOS TROPICAIS Edgar Shinzato, Amaury Carvalho Filho, Wenceslau Geraldes Teixeira BIBLIOGRAFIA BENNEMA, J. 1966. Report to the government of Brazil on classification of brazilian soils. Rome: FAO, 1966. 83 p. (FAO. EPTA Report, 2197). CAMARGO, M. N; KLAMT, E; KAUFFMAN, J. H. Sistema brasileiro de classificação de solos. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 12, n. 1, p. 11-33, jan./abr. 1987. CARVALHO FILHO, A. de; LUMBRERAS, J. F.; SANTOS, R. D. dos. Os solos do estado do Rio de Janeiro. In: CPRM. Serviço Geológico do Brasil. Rio de Janeiro: geologia, geomorfologia, geoquímica, geofísica, recursos minerais, economia mineral, hidrogeologia, estudos de chuvas in- tensas, solos, aptidão agrícola, uso e cobertura do solo, inventário de escorregamentos, diagnóstico geoambiental. Rio de Janeiro: CPRM: Embrapa Solos; [Niterói]: DRM-RJ, 2001. CD-ROM. Contém texto e mapa color., escala 1:500.000. Cap.6 (Capítulo de livro). DANTAS, M. E.; SHINZATO, E.; MEDINA, A. I. de M.; SIL- VA, C. R. da; PIMENTEL, J.; LUMBRERAS, J. F.; CALDERANO, S. B.; CARVALHO FILHO, A. de. Diagnóstico geoambiental do estado do Rio de Janeiro. In: CPRM. Serviço Geológico do Brasil. RiodeJaneiro:geologia,geomorfologia,geoquímica, geofísica,recursosminerais,economiamineral,hidrogeologia, estudos de chuvas intensas, solos, aptidão agrícola, uso e coberturadosolo,inventáriodeescorregamentos,diagnósti- co geoambiental. Rio de Janeiro: CPRM: Embrapa Solos; [Niterói]: DRM-RJ, 2001. CD-ROM. Contém texto e mapa color., escala 1:500.000. Cap. 11 (Capítulo de livro). EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos; Brasília: Sistema de Produção de Informa- ção, 2006. 306 p. ______. Serviço Nacional de Levantamento e Conserva- ção de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janei- ro: Embrapa Solos, 2000. Xxvi, 412p. il. ______. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: EMBRAPA- SPI; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999. 412 p. ______. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1997. 212 p. (EMBRAPA-CNPS. Documentos, 1). ______. Serviço Nacional de Levantamento e Conserva- ção de Solos. Definição e notação de horizontes e cama- das do solo..... Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1988a. 54 p. (EMBRAPA-SNLCS. Documentos, 3). EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conser- vação de Solos. Critérios para distinção de classes de so- los e de fases de unidades de mapeamento: normas em uso pelo SNLCS. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1988b. 67 p. (EMBRAPA-SNLCS. Documentos, 11). ______. Serviço Nacional de Levantamento e Conserva- ção de Solos. Mapa de solos do Brasil, escala 1:5.000.000. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1981. ESTADOS UNIDOS. Department of Agriculture. Soil Survey Division. Soil Conservation Service. Soil Survey Staff. Soil survey manual..... Rev. enlarg. ed. Washington, D.C., 1993. 437p. (USDA. Agriculture Handbook, 18). ______. Department of Agriculture. Soil Survey Division. Soil Conservation Service. Soil Survey Staff. Soil taxonomy::::: a basic system of soil classification for making and interpreting soil surveys. Washington, 1975. 754 p. (USDA. Agriculture Handbook, 436). FAO. Soil map of the world: 1:500.000 legend. Paris: UNESCO, 1974. v. 1. IBGE. Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. Manual técnico de pedologia. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2005. 300 p. il. (Manuais Técnicos em Geociências, ISSN 0103-9598; n. 4). KÄMPF, N.; KLAMT, E.; SCHNEIDER, P. Óxidos de ferro em latossolos do Brasil sudeste e sul. In: REUNIÃO DE CLASSIFICAÇÃO, CORRELAÇÃO DE SOLOS E INTERPRE- TAÇÃO DE APTIDÃO AGRÍCOLA, 3., 1988, Rio de Janei- ro, RJ. Anais... Rio de Janeiro: EMBRAPA-SNLCS, 1988. p.153-183. LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D. dos. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 3. ed. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; Rio de Janeiro: EMBRAPA- CNPS, 1996. 83 p. OLIVEIRA, J. B. Pedologia aplicada. 2. ed. Piracicaba: FEALQ, 2005. 574 p. RAMALHO FILHO, A.; PEREIRA, E. G.; BEEK, K. J. Sis- tema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3. ed. rev. Rio de Janeiro: SUPLAN/EMBRAPA-SNLCS, 1995. 65 p. RESENDE, M.; CURI, N.; REZENDE, S. B. de; CORRÊA, G. F. Pedologia: base para distinção de ambientes. 4. ed. Viçosa: NEPUT, 2002. 338 p. il. ______; CARVALHO FILHO, A.; LANI, J. L. Características do solo e da paisagem que influenciam a susceptibilida- de à erosão. Viçosa: NEPUT, 1992. REUNIÃO TÉCNICA DE LEVANTAMENTO DE SOLOS, 10., 1979, Rio de Janeiro. Súmula... Rio de Janeiro: EMBRAPA- SNLCS, 1979. 83 p. (Série Miscelânia, 1).
  • 136. 134 GEODIVERSIDADE DO BRASIL WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA Graduado, em 1989, em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Mestre em Agronomia (área de concentração: Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) em 1992. Doutor em Geoecologia (PhD) pela Universidade de Bayreuth (Alemanha) em 2001. Atualmente, é pesquisador do Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ocidental (Manaus/AM). Colabora como professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) no Curso de Pós-Graduação em Agronomia Tropical e no Curso de Agricultura do Trópico Úmido, convênio UFAM-INPA. Trabalha na área de Agronomia, com ênfase em Física, Manejo e Conservação do Solo e da Água, atuando principalmente nos seguintes temas: Indicadores da Qualidade Física de Áreas Degradadas, Métodos de Avaliação das Propriedades e Características Físico-Hídricas de Solos Tropicais, Modelagem de Fluxos de Água no Solo, Entendimento da Gênese das Terras Pretas de Índio e no Uso de Carvão Vegetal como Condicionador do Solo. AMAURY CARVALHO FILHO Pesquisador da EMBRAPA Solos desde 1990. Formado em Engenharia Agronômica (1985), com mestrado em Agronomia (área de concentração: Solos e Nutrição de Plantas), em 1989, pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Doutor em Ciência do Solo (2008) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Trabalha na área de Agronomia, com ênfase em Pedologia, Gênese e Classificação do Solo. Como principais trabalhos desenvolvidos, constam levantamentos de solos da microbacia de Morrinhos e Silvania (GO); Estado do Rio de Janeiro; Estação Experimental de Ponta Porã e Dourados; bacias dos rios Dourados e Brilhante (MS); Área de Proteção Ambiental – APA Sul (MG). É membro do núcleo de discussão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. EDGAR SHINZATO Natural de Campo Grande (MS). Formado em Engenharia Agronômica (1990) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Agronomia (área de concentração: Solos e Meio Ambiente) pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) em 1998. Iniciou sua carreira profissional em 1990, na iniciativa privada, desenvolvendo estudos de solos, principalmente para Engenharia de Irrigação no Nordeste do Brasil. Em 1994, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde vem desenvolvendo estudos de solos e geoprocessamento voltados para a área ambiental. Como Coordenador Executivo do Departamento de Gestão Territorial (DEGET), desenvolve projetos referentes à área de Agronomia em integração com a Geologia. É membro do núcleo de discussão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Entre os principais trabalhos desenvolvidos, constam levantamentos de solos de Morro do Chapéu; Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália (BA); APA de Lagoa Santa (MG), APA Sul (BH); Cuiabá e Várzea Grande (MT); SUFRAMA (AM). É instrutor da área de geoprocessamento da CPRM/SGB, especializado nos softwares ArcGis e Envi.
  • 137. 135 RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M. Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda 9 RISCOS GEOLÓGICOS Pedro A. dos S. Pfaltzgraff ([email protected]) Rogério V. Ferreira ([email protected]) Maria Adelaide Mansini Maia ([email protected]) Rafael Fernandes Bueno ([email protected]) Fernanda S. F. de Miranda ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Conceitos e Definições.............................................................. 136 Histórico da Pesquisa dos Riscos Geológicos ............................. 136 Caracterização dos Diversos Riscos Geológicos ......................... 137 Riscos endógenos .................................................................. 137 Terremotos.......................................................................... 137 Vulcões ............................................................................... 138 Tsunamis ............................................................................. 139 Riscos exógenos ..................................................................... 139 Deslizamentos ..................................................................... 139 Erosão................................................................................. 139 Erosão hídrica .................................................................. 139 Erosão costeira ................................................................ 140 Subsidências ....................................................................... 140 Solos colapsíveis.................................................................. 140 Solos expansíveis................................................................. 140 Ação dos ventos ................................................................. 140 Riscos Geológicos no Brasil ....................................................... 140 Bibliografia ............................................................................... 145
  • 138. 136 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Ao longo da história da espécie humana, o homem sempre esteve exposto aos perigos advindos dos fenômenos geológicos naturais. A posterior organização do homem em co- munidades alterou de forma significativa as condições naturais do meio ambiente, geran- do situações de risco que acarretam perdas sociais, econômicas e ambientais. A partir da década de 1960, estudiosos como Gilbert White iniciaram pesquisas so- bre os perigos naturais a que estavam sujeitas as populações do mundo. Uma evolução na- tural desses estudos levou ao uso do termo “riscos ambientais”, cujas classificações pro- postas por Augusto Filho (1999), usadas no Brasil, e por ISDR (2004), são apresentadas na Figura 9.1. CONCEITOS E DEFINIÇÕES Aidéiaderiscoestáassociadaàexposiçãode pessoasepropriedadesaperigos,perdaseprejuí- zosocasionadosporprocessosdeorigemnatural ouantrópica.Todavia,naliteraturacientíficaelaboradatanto em língua portuguesa como francesa ou inglesa, os termos “risco”, “perigo” e “desastre” são, cada vez mais, utilizados comosinônimos,independentementedepossuírem,original- mente,definiçõesdiferentes,conformeCastro(2005). Varnes (1984), em trabalho realizado para UNESCO, propôs uma série de conceitos sobre risco muito usada até hoje. Derivada de seu conceito, a caracterização de risco mais genérica e utilizada pela maioria dos autores é representada por: R = P x C Onde: R = risco P = probabilidade de ocorrência do processo = suscetibilidade C = conseqüência social e econômica potencial as- sociada = vulnerabilidade Os termos mais atuais e utilizados são: • Processo geológico: caracteriza-se por qualquer mu- dança nas condições ambientais (movimentação de du- nas, modelagem do relevo, alterações do nível do mar) induzida por fontes de energia naturais endógenas ou exó- genas. •Evento geológico: trata-se de fenômenos naturais cujos efeitos não ocasionaram perdas de vidas humanas ou eco- nômicas, como, por exemplo, terremotos de grande in- tensidade em áreas desertas. • Perigo geológico: caracteriza uma situação de poten- cial ameaça a pessoas e bens materiais e econômicos por um evento geológico, sem, entretanto, dimensionar tais perdas. • Risco geológico: caracteriza uma situação de potenci- al ameaça a pessoas e bens materiais e econômicos por um evento geológico, havendo a possibilidade de quantificação dessas perdas. • Acidente geológico: evento geológico de grande in- tensidade, ocasionando perdas econômicas e de vidas humanas, tal como ocorre nos terremotos de grande in- tensidade que atingem áreas densamente povoadas. Con- forme o número de vítimas e de perdas econômicas, em uma escala crescente, o acidente geológico será definido como acidente, desastre ou catástrofe (DIAS, 2002). HISTÓRICO DA PESQUISA DOS RISCOS GEOLÓGICOS Um marco na pesquisa e conhecimento dos riscos geológicos foi a instituição, pela Organização das Nações Unidas (ONU), da década de 1990 como Década Interna- cional de Redução de Desastres Naturais (DIRDN). A DIRDN foi instituída a partir da Resolução 44/236 da Assembléia Geral das Nações Unidas e teve início em 1º de janeiro de 1990. Como resultados dessa iniciativa, foram criados vários programas de cooperação internaci- onal, com a participação de 72 países, inclusive o Brasil. Em 2001, a International Federation of the Red Cross and Red Crescent Societies informou que 42% dos desas- tres naturais com perdas econômicas e de vidas se devem a inundações e deslizamentos. Em 2005, a International Strategy for Disaster Reducti- on (ISDR), criada pela ONU para dar continuidade aos pro- pósitos da DIRDN, publicou ampla pesquisa abrangendo os anos de 1900 a 2003, apresentando dados sobre os danos sociais e econômicos causados pelos desastres naturais. Na Figura 9.2 são apresentadas as três principais categorias de desastres naturais ocorridos durante o século XX e os três Figura 9.1 ––––– a) Principais tipos de riscos ambientais (adaptado de Augusto Filho, 1999). b) Principais tipos de riscos naturais (adaptado de ISDR, 2004).
  • 139. 137 RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M. Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda primeiros anos do século XXI, subdivididos em: desastres hidrometeorológicos (inundações, tempestades, furacões, tornados, tufões, secas, temperaturas extremas e avalan- ches de neve); desastres geológico-geofísicos (terremotos, tsunamis, deslizamentos, subsidências, erosão, colapsivi- dade e expansividade de solos e erupções vulcânicas); de- sastres biológicos (epidemias e pragas de insetos). Essa subdivisão é bastante semelhante à de Augusto Filho (1999), diferenciando-se, principalmente, pelo uso do termo“desastrenatural”emsubstituiçãoa“riscoambiental”. CARACTERIZAÇÃO DOS DIVERSOS RISCOS GEOLÓGICOS Na subdivisão dos riscos ambientais, os riscos geoló- gicos são classificados em endógenos e exógenos. Os pri- meiros estão relacionados à energia gerada e proveniente do interior do planeta, enquanto os exógenos são resulta- do de energias geradas (normalmente) na superfície do planeta. Riscos Endógenos Terremotos Os terremotos (ou sismos) são movimentos bruscos provocados pelo deslocamento das placas tectônicas – blocos rochosos de grandes di- mensões que formam a crosta terrestre. Como resultado, durante esses movimentos há a li- beração de uma imensa quantidade de ener- gia acumulada na crosta. Nos locais em que se dá o encontro de duas placas, formam-se zonas de fraqueza (falhas) que servirão como pontos de escape dessas tensões. Algumas dessas falhas podem atingir 50 a 70 km de profundidade e centenas de quilômetros de comprimento, onde são gerados os terremo- tos de maior intensidade. Os terremotos se distribuem ao longo do globo terrestre. Nor- malmente, estão associados a movimentos tectônicos; entretanto, aqueles de pequena in- tensidade podem estar associados a extração mineral, obras de engenharia, como grandes barragens, colapso do teto de cavernas de calcário e extração de pe- tróleo e água (Figura 9.3). Para definir a quantidade de energia liberada e o tamanho dos danos causados por terremotos, foram Figura 9.3 ––––– Distribuição dos terremotos no globo terrestre (disponível em: http://www.iag.usp.br/siae98/terremoto/terremotos.htm). Figura 9.2 ––––– Número de desastres naturais (de acordo com sua classe) registrados no período de 1900 a 2003 (ISDR, 2004).
  • 140. 138 GEODIVERSIDADE DO BRASIL criadas as escalas de magnitude, que se relacionam diretamente com a quantidade de energia liberada no foco do terremoto (com intervalos variando de 1 até 9), e a de intensidade, que descreve os danos observados na superfície do terreno atingido por um sismo. Dentre as diversas escalas de intensidade, a mais utilizada é a Mercalli Modificada, com intervalos variando de 1 a12. Figura 9.4 ––––– Distribuição dos vulcões pelo globo terrestre (TEIXEIRA et al., 2000). Figura 9.5 ––––– Vulcões Etna (22 jul. 2001) (disponível em: http:// br.geocities.com/vulcoes/Etna.htm) e Vesúvio (disponível em: http:// br.geocities.com/vulcoes/Vesuvio.htm), dois dos vulcões mais conhecidos. Vulcões Originam-se a partir de fissuras ou rompimentos da crosta terrestre, por onde extravasam material rochoso em estado de fusão ou fragmentos de rocha e gases. Locali- zam-se principalmente no encontro de placas tectônicas (Figuras 9.4 e 9.5).
  • 141. 139 RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M. Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda Tsunamis Terremotos no fundo dos oceanos, bem como erup- ções vulcânicas submarinas ou deslizamentos em taludes subaquáticospodemgerarondasdeproporçõesgigantescas quesedeslocamemgrandevelocidade.Aoalcançaracosta, essaimensaquantidadedeáguapodecausaradestruiçãode cidades, vilas e outras construções (Figuras 9.6 e 9.7). Riscos exógenos Deslizamentos São movimentos de massa (solos e rochas) que ocor- rem impulsionados pela força da gravidade, a partir de encostas de declividade elevada. Essa massa pode se des- locar com grande velocidade e transportar volumes de materiais de milhares de metros cúbicos por vários quilô- metros. Entre as várias causas dos deslizamentos, pode- mos citar: sismos naturais e induzidos; cortes inadequa- dos de taludes para obras de engenharia; mineração; uso urbano; desmatamento de encostas (amplificando a ação das águas); alterações rápidas do nível da água subterrâ- nea nas encostas. A mecânica dos deslizamentos é caracterizada pela ruptura das condições de equilíbrio de uma massa de solo, sedimentos ou rochas, em um talude natural, ou de ori- gem antrópica. Os responsáveis pela ruptura desse equilí- brio podem ter origem geológica (fraturamentos, presen- ça de minerais argilosos expansivos preenchendo as fratu- ras das rochas etc.), geomecânica (alterações do peso es- pecífico do solo devido à saturação, perda de coesão, al- terações do lençol freático), climática (pluviosidade); antrópica(compactaçãodoterrenoaumentandooseupeso específico, vibrações provocadas por explosões ou pelo tráfego de veículos pesados); ou devido a forças naturais, como os terremotos ou tsunamis. Erosão É definida como o processo de desagregação e re- moção de partículas do solo ou de fragmentos de rochas realizado por ação da água, vento, organismos (plantas e animais) e gelo (em regiões de clima frio e temperado e nas altas montanhas), associado à declividade do terreno (SALOMÃO e IWASA, 1995). A erosão pode ser normal ou acelerada. A erosão normal (geológica ou natural) ocorre sob condições naturais do ambiente, envolvendo menores quantidades de material removido do solo, não sendo perceptível em curto prazo. A erosão acelerada é decorrente de alterações pro- movidas pelo homem no ambiente (interferência antrópi- ca), a exemplo da retirada da cobertura vegetal, ou mu- danças climáticas, resultando na remoção de grande quan- tidade de material superficial (BIGARELLA, 2003). • Erosão hídrica É o processo de erosão mais comum nas regiões de clima intertropical, a exemplo do Brasil. Ela se inicia com o impacto das gotas de chuva no solo, desagregando as par- tículas do solo que são removidas e transportadas pelo es- coamento superficial, sendo depositadas nas partes mais baixas do terreno, nos leitos dos rios ou transportadas por estes até os lagos ou oceanos. O tipo de escoamento super- ficial divide a erosão hídrica em: laminar – provocada pelo escoamento difuso, que resulta em uma remoção progres- siva e uniforme das camadas do solo; linear – ocasionada pela concentração dos fluxos de água em pequenos sulcos que podem evoluir, pelo aprofundamento da incisão, para ravinas. Quando acontece uma ampliação no tamanho das ravinas, provocada, além das águas superficiais, também por fluxos de águas subsuperficiais (incluindo o lençol freático), ocorrem as voçorocas, processo erosivo que pode alcançar grandes proporções e é de difícil remediação. Figura 9.6 ––––– Chegada de um tsunami à costa do Sri Lanka (26 dez. 2004) (disponível em: http://ciencia.hsw.uol.com.br/tsunami.htm). Figura 9.7 ––––– Chegada de um tsunami à costa tailandesa (26 dez. 2004) (disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Tsunami).
  • 142. 140 GEODIVERSIDADE DO BRASIL • Erosão costeira É o processo que ocorre ao longo da linha de costa e se deve à ação das ondas, correntes marinhas e marés. Tanto acontece nas costas rochosas, assim como nas prai- as arenosas. Nas primeiras, a ação erosiva do mar forma as falésias; nas segundas, ocorre a redução da largura da praia, onde o sedimento removido pelas ondas é transpor- tado lateralmente pelas correntes de deriva litorânea. Nas praias arenosas, a erosão constitui um grave problema para as populações costeiras. Os danos causados vão desde a destruição das habitações e infra-estrutura, até a perda e desequilíbrio de habitats naturais (SOUZA et al., 2005). Os principais fatores responsáveis pela erosão costeira e conseqüente recuo da linha de costa são: elevação do nível do mar; diminuição do aporte de sedimentos forneci- dos à faixa de praia; degradação antropogênica do ambien- te natural, devido à ocupação desordenada das áreas cos- teiras; grandes obras de engenharia costeira, a exemplo da construção de portos, com seus muros, molhes e quebra- mares. Subsidências Abatimento de porções do terreno devido à ruptura do teto de cavidades subterrâneas, ocasionado pela dimi- nuição da resistência ao peso das camadas sobrejacentes. Trata-se de um evento comum em áreas de relevo cárstico, onde são típicas as dolinas – cavidades subterrâneas forma- das devido à dissolução de rochas carbonáticas pelas águas, em áreas de extração de petróleo, gás e água ou de minera- ção subterrânea (Figuras 9.8 e 9.9). Solos colapsíveis Os solos colapsíveis são aqueles que, quando ume- decidos e mesmo sem serem submetidos a cargas, sofrem uma redução de volume devido à destruição de sua estru- tura interna, resultante do aumento do teor de umidade no solo. Esse comportamento pode gerar sérios danos em construções. Solos expansíveis Estes, constituídos principalmente por argilas da fa- mília das esmectitas, aumentam de volume ao contato com a água e diminuem de volume quando perdem água. Podem danificar construções e taludes de solo, além de atuarem como agentes desagregadores em maciços ro- chosos quando preenchem fraturas de rocha. Ação dos ventos A ação geológica dos ventos pode ser muito intensa em algumas regiões do mundo. Em áreas principalmente de clima árido e semi-árido, constituídas por sedimentos arenosos, forma as dunas móveis, que se deslocam de acordo com a direção dos ventos, podendo, nesse movi- mento, soterrar cidades inteiras. Em áreas constituídas por sedimentos mais siltosos, como o loess, encontrado prin- cipalmente na Ásia, forma tempestades de poeira que abrangem grandes áreas e podem durar várias horas, pre- judicando diversas atividades econômicas. RISCOS GEOLÓGICOS NO BRASIL As catástrofes naturais que mais atingem o Brasil (ISDR, 2004) são, principalmente, as inundações e os deslizamentos. Entretanto, no que se refere apenas a ris- cos geológicos, o país também está sujeito a subsidências, erosão costeira e erosão hídrica, soterramentos por sedi- mentação eólica e presença de solos colapsíveis e expan- sivos. No que se refere aos desastres naturais que atingiram o Brasil, a ISDR (2004) contabilizou um total de 4.949 mortes entre 1948 e 2004, sendo que 58.357.034 pesso- as foram afetadas por esses desastres. Já o IPT (2005) contabilizou um total de 1.572 mortes por deslizamentos no período de 1988 a 2005. Os deslizamentos apresentam ampla distribuição pelo território brasileiro. A maioria das grandes metrópoles si- Figura 9.9 ––––– Subsidência do terreno na cidade de Teresina (PI). Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 – Dolinas. Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 –Figura 9.8 – Dolinas.
  • 143. 141 RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M. Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda tuadas nas regiões Sudeste e Nordeste, como Rio de Janeiro e Recife, além de São Paulo, Salvador e Belo Horizonte, têm sido afetadas por eles. Esse fato está relacionado, principalmente, à ocupação desordenada e sem critérios técnicos de encostas com alta suscetibilidade natu- ral aos deslizamentos (Figura 9.10). No Rio de Janeiro, os deslizamentos ocorrem principalmente nas áreas de morros da cidade do Rio de Janeiro e na região serrana do estado. As áreas afeta- das possuem, geralmente, espessas co- berturas de solos que recobrem rochas cristalinas (pertencentes aos domínios de geodiversidade D20 e D23, na capital, e D20 e D21, na região serrana, do “Mapa Geodiversidade do Brasil”, escala 1:2.500.000 (CPRM, 2006)), além de apresentarem blocos e lascas de rochas com equilíbrio instável, sujeitos a rola- mentos e tombamentos, distribuídos em vários pontos. Na região Nordeste, a cidade do Recife sofre com os deslizamentos há várias décadas, sendo estes concentrados, principalmen- te, nos morros da área norte da cidade e nos municípios vizinhos de Olinda, Camaragibe, Cabo de Santo Agosti- nho e Jaboatão dos Guararapes. Esses morros são forma- dos por sedimentos argilo-arenosos bastante friáveis (per- tencentes ao domínio de geodiversidade D6.1 (CPRM, 2006)) (Figuras 9.11 e 9.12). Assubsidênciasatingem,principalmente,as áreas com substrato constituído por rochas calcárias, onde os movi- mentos da água subterrânea dissolvem o carbonato de cálcio presente nos minerais formadores dessas rochas, criando espaços vazios no subsolo. O peso das camadas superiores pode fazer ruir o teto dessas cavidades e gerar Figura 9.11 ––––– Seqüência de deslizamentos em encostas da Formação Barreiras (D6.1). Córrego da Andorinha, Camaragibe (PE). Figura 9.12 ––––– Deslizamento translacional (notar os três patamares formados pelo deslizamento), que evoluiu para uma grande voçoroca (Quipapá, PE). Figura 9.10 ––––– Principais regiões onde ocorrem deslizamentos, com vítimas, no Brasil (elaborado por Jorge Pimentel). depressões (dolinas) e grandes afundamentos no terreno. Exemplos de tais feições são encontrados no Parque Esta- dual de Vila Velha (Ponta Grossa, Paraná), onde camadas de calcário subterrâneas, ao se dissolverem, formam aba- timentos do terreno, de forma circular, com mais de 50 m de profundidade e 100 m de diâmetro. Outro exemplo de subsidência situa-se em Cajamar (São Paulo), onde, em 1986, várias casas na área urbana do município foram destruídas ou danificadas por subsidências do terreno provocadas, de acordo com uma das hipóteses, pela extração excessiva da água subterrâ- nea que preenchia as grandes cavidades subterrâneas exis- tentes nos calcários do subsolo.
  • 144. 142 GEODIVERSIDADE DO BRASIL A sedimentação eólica é responsável por elevados prejuízos econômicos a prefeituras, moradores e empresas situadas em áreas de ocorrência de dunas móveis (pertencentes ao domínio de geodiversidade D4.2 (CPRM, 2006)). No Brasil, são encontradas dunas mó- veis em várias regiões, como em áreas dos es- tados do Maranhão e Rio de Janeiro. No litoral do Maranhão, na localidade de Tutóia, as dunas avançam cobrindo casas e vias públicas em curto espaço de tempo. Já no es- tado do Rio de Janeiro, a estrada que liga os municípios de Cabo Frio e Arraial do Cabo en- contra-se,constantemente,obstruídapelaareia proveniente das dunas, o que também afeta trechos da área urbana de Cabo Frio, obrigan- do a prefeitura do município a uma constante mobilização para o trabalho de desobstrução das vias públicas (Figura 9.13). Os solos colapsíveis e expansíveis são en- contrados, principalmente, em regiões com marcantes diferenças entre as estações secas e chuvosas, como em Petrolândia (Pernambuco), onde são registrados danos em várias casas, e em Campo Novo (Mato Grosso), onde ocorreram afunda- mentos dos pisos de galpões para estocagem de grãos de até um metro (NAIME et al., 1996) (Figura 9.14). A erosão costeira está presente em vários pontos ao longo da costa brasileira, sendo difícil definir em qual deles ela é mais intensa. Entretanto, como bons exemplos desse problema, deve ser citado o grande avanço do mar ao lon- go da costa do estado de Pernambuco, onde, em locais como na praia de Boa Viagem (Recife) e nas praias dos municípios vizinhos de Olinda e Jaboatão dos Guararapes, foi necessária a construção de estrutura de rocha para ten- tar conter o avanço do mar (Figuras 9.15 e 9.16). Também na foz do rio São Francisco, em Sergipe, e na foz do rio Paraíba do Sul, em Atafona, litoral do Rio de Janeiro, esse problema está instalado e se intensifica a cada ano, com o marpreenchendoáreasantesocupadasporsedimentosare- nosos (D1.4, CPRM op cit.) e até por sedimentos de man- gues (D1.6, CPRM op cit.). A erosão hídrica que afeta as áreas do continente ocasiona problemas muito graves para os estados e os municípios, tais como: perda de área agricultável (cerca de 500 mil toneladas de solo no Brasil), destruição de residências, construções públicas e históricas e vias públi- cas. Como exemplos, temos Quipapá, Olinda e bacia do rio Botafogo, em Pernambuco, e Bauru, em São Paulo. As fontes principais desse problema são, além da falta de cuidados de manejo com os solos agrícolas, os desmatamentos e a ocupação inadequada do solo (Figuras 9.17 e 9.19). Na região amazônica, ocorre outro tipo de erosão hídrica – a erosão fluvial –, con- dicionada pela dinâmica dos rios, que, in- cessantemente, buscam o equilíbrio, ora ero- dindo, ora depositando sedimento. Como resultado dessa dinâmica, ocorre o fenôme- no denominado “terras caídas”, que são des- lizamentos, geralmente nas margens dos grandes rios, causados pela erosão fluvial, que escava a base do talude marginal de- sestabilizando o terreno, levando-o ao so- lapamento. Embora esse fenômeno seja ine- rente à dinâmica fluvial, uma série de tra- balhos indica a interferência da atividade ne- otectônica na região como um dos condi- cionantes do processo (Figura 9.18). Figura 9.14 ––––– Danos provocados em casas no município de Petrolândia (PE) (AMORIM, 2004). Figura 9.13 ––––– Avanço das dunas sobre vias públicas (Cabo Frio, RJ) (disponível em: http://www.reservataua.com.br/dunas_costeiras.htm).
  • 145. 143 RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M. Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda Figura 9.18 ––––– Fenômeno “terras caídas”, causado pela erosão fluvial. Figura 9.15 ––––– Erosão marinha atuante na praia de Boa Viagem (PE) em 1995. Figura 9.16 ––––– Muro para contenção da erosão marinha construído na praia de Boa Viagem (PE), em 1995, no mesmo local apresentado na figura anterior. Figura 9.17 ––––– Voçoroca em expansão, localizada na cidade de Quipapá (PE), que evoluiu após deslizamento da encosta. Figura 9.19 ––––– Três tipos de erosão em área de cultivo de cana-de-açúcar (1: laminar; 2: sulcos; 3: voçoroca) (bacia do rio Botafogo, PE).
  • 146. 144 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 9.21 ––––– Registros de ocorrências de sismos no Brasil no período de 1720 a 2007 (figura elaborada por Jorge Pimentel). Figura 9.20 ––––– Fenômeno “terras caídas” (Parintins, 2006). Um grande número de municípios amazônicos possui suas sedes localizadas às margens dos rios, assentadas so- bre rochas sedimentares mesozóicas e cenozóicas alteradas por intensos processos intempéricos, geralmente suscetí- veis à erosão. Como resultado, são freqüentemente atingi- das pelo fenômeno “terras caídas”, acarretando perda de áreasagricultáveis,moradias,gadoevidashumanas.Aação antrópica atua de forma a acelerar esse processo, seja com desmatamentos, uso inadequado do solo ou ausência de infra-estrutura.Comoexemplos,podemsercitadososeven- tos ocorridos em 2006, no município de Parintins (Figura 9.20), e em 2007, em São Paulo de Olivença. Não há registros no Brasil de grandes desastres natu- rais relacionados a terremotos. Embora seja elevado o re- gistro recente de sismos no país (principalmente nas regi- ões Norte, Nordeste e Sudeste), os danos materiais são pequenos. O Brasil situa-se no centro da Placa Sul-Americana, com pequenos tremores causados por falhamentos exis- tentes, ou, então, por reflexos de tremores ocorridos em países vizinhos. A sismicidade brasileira é bem menos in- tensa que aquela registrada na região andina; entretanto, é bastante significativa. De maneira geral, é aceita a idéia de que o território brasileiro está a salvo de terremotos, porém, há relatos de abalos sísmicos no Brasil desde o início do século XVII. No Brasil, já foram registrados vários tremores com magnitude acima de 5,0 (tendo um sismo, no estado do Espírito Santo, em 1955, atingido intensidade 6.5). Os relatos de sismos em território brasileiro têm au- mentado significativamente ao longo do último século e início deste, principalmente, por conta da ocupação pela população de áreas mais remotas do interior do país e da instalação de vários sismógrafos por empresas de energia elétrica (próximo a grandes barragens) (Figura 9.21). Como exemplo recente, em 9 de dezembro de 2007 ocorreu, na cidade mineira de Itacarambi, um dos maio- res terremotos registrados no Brasil. O abalo teve uma intensidade de 4,9 graus na escala Richter, derrubando 76 casas e causando a morte de uma criança de cinco anos (a primeira morte decorrente de um sismo registrada no Brasil). Especialistas acreditam que o epicentro do tremor (causado por uma falha geológica, com aproximadamen- te 3 km de extensão), localizou-se a 5 km abaixo da super- fície (Figura 9.22). Não se registram no Brasil, até a presente data, de- sastres relacionados a vulcanismo e tsunamis.
  • 147. 145 RISCOS GEOLÓGICOS – Pedro A.dos S. Pfaltzgraff, Rogério V. Ferreira, Maria Adelaide M. Maia, Rafael Fernandes Bueno, Fernanda S. F. de Miranda BIBLIOGRAFIA AMORIM, S. F. Contribuição à cartografia geotécnica: sis- tema de informações geográficas dos solos expansivos e colapsíveis do estado de Pernambuco (SIGSEC-PE). 2004. 244 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004. AUGUSTO FILHO, O. Riscos geológicos urbanos. In: SIMPÓSIO DA GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 6., 1999, Manaus. Anais... Manaus: ABMS/ABGE, 1999. BIGARELLA, J. J. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais.Florianópolis:EDUFSC,2003.v.3,p.877-1436. CASTRO, C. M.; Oliveira, M. N.; RIOS, G. A. P. Riscos ambientais e geografia: conceituações, abordagens e esca- las. Anuário do Instituto de Geociências da UFRJ, v. 28, n. 2, p. 11-30, 2005. CASTRO, J. W. A..... DunascosteirasdomunicípiodeCaboFrio/ estado do Rio de Janeiro – Brasil. Disponível em: <http:// www.reservataua.com.br/dunas_costeiras.htm>. CERRI, L. E. S. Riscos geológicos associados a escorregamentos: uma proposta para prevenção de aci- dentes. 1993. 197 f. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado de São Paulo, São Paulo, 1993. CPRM. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000. Brasília: SGM-MME/CPRM, 2006. CD-ROM [legenda ex- pandida]. DIAS, F. P.; HERMANN, M. L. P. de. Suscetibilidade a deslizamentos: estudo de caso no bairro de Saco Grande, Florianópolis- SC. Caminhos de Geografia, v. 3, n. 6, p. 57- 73, 2002. IPT. Mortes por escorregamentos no Brasil (1988-2005): banco de dados. São Paulo: Ins- tituto de Pesquisas Tecnológicas, 2005. CD- ROM. ISDR. Disaster risk reduction 1994-2004. [Geneva]: United Nations, International Strategy for Disaster Reduction (ISDR), [2005]. 3 CD-ROM. NAIME, J. de M.; CONCIANI, W.; SOARES, M. M; CRUVINEL, P. E; CRESTANA, S. Estudo de solos colapsíveis por método não-invasivo. Rio de Janeiro: EMBRAPA, n. 11, p. 1-5, dez. 1996 (Pesquisa em Andamento). NOGUEIRA, F. R. Gerenciamento de riscos ambientais associados a escorregamentos: contribuição às políticas públicas municipais para áreas de ocupação subnormal. 2002. 260 f. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2002. SALOMÃO, F. X. T.; IWASA, O. Y. Erosão e a ocupação rural e urbana In: BITAR, O. Y. (Coord.) Curso de geologia aplica- da ao meio ambiente. São Paulo: Associação Brasileira de GeologiadeEngenharia/InstitutodePesquisasTecnológicas, 1995. Cap.3, p. 31-57. (Série Meio Ambiente). SOUZA, C. R. de G. et al. Praias arenosas e erosão costei- ra. In: SOUZA, C. R. de G. et al. (Eds.). Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005. p. 130-152. TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Tex- tos, 2000. 557 p. TOMINAGA, L. K.; FERREIRA, C. J.; VEDOVELLO, R.; TAVARES, R.; SANTORO, J.; SOUZA, C. R. de G. Cartas de perigo a escorregamentos e de risco a pessoas e bens do litoral norte de São Paulo: conceitos e técnicas. In: PEJON, O.; ZUQUETTE, L. (Eds.). SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CAR- TOGRAFIA GEOTÉCNICA E GEOAMBIENTAL, 5., 2004, São Carlos. Anais... São Carlos: ABGE, 2004. p. 205-216. CD-ROM. VARNES, D. J. Slope movement, types and process. In: SCHUSTER, R. L.; KRIZEK, R. J. (Eds.). In: Landslide, analysis and control. Transportation Research Board Special Report, Washington D.C., n. 176, p. 11-33, 1978. 180 p. ______.Landslidehazardzonation:areviewofprinciplesand practice. UNESCO, Natural Hazards, Paris, n. 3, 1984. 63 p. Figura 9.22 ––––– Destruição causada por terremoto em Itacarambi (MG) (disponível em: http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid93085,0.htm).
  • 148. 146 GEODIVERSIDADE DO BRASIL ROGÉRIO VALENÇA FERREIRA Bacharel em Geografia (1993) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialização (1994) em Cartografia Aplicada ao Geoprocessamento pela UFPE. Mestre (1999) em Geociências pela UFPE e doutor (2008) em Geociências pela UFPE. Atualmente, é Analista de Recursos Naturais da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB). Experiência na área de Geociências, com ênfase em Geografia Física, atuando nas áreas de Geomorfologia, Sedimentologia e Sensoriamento Remoto. PEDRO A. DOS S. PFALTZGRAFF Geólogo formado (1984) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestrado (1994) na área de Geologia de Engenharia e Geologia Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutorado (2007) em Geologia Ambiental pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Trabalhou, entre 1984 e 1988, em obras de barragens e projetos de sondagem geotécnica na empresa Enge Rio – Engenharia e Consultoria S.A. e como geólogo autônomo entre os anos de 1985-1994. Trabalha na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPPRM/SGB) desde 1994, onde atua em diversos projetos de Geologia Ambiental. MARIA ADELAIDE MANSINI MAIA Geóloga formada (1996) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com especialização em Geoprocessamento pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Atua desde 1997 na Superintendência Regional de Manaus da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), nos projetos de Gestão Territorial e Geoprocessamento, destacando-se os Zoneamentos Ecológico-Econômico (ZEEs) do Vale do Rio Madeira, do estado de Roraima, do Distrito Agropecuário da Zona Franca de Manaus. Atualmente, dedica-se à coordenação estadual do Mapa Geodiversidade do Amazonas. FERNANDA SOARES FLORÊNCIO DE MIRANDA Graduada em Geologia (2007) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atua na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) desde 2007, na área de Geologia Ambiental. Atualmente, faz parte da equipe de elaboração dos mapas de geodiversidade dos estados do Piauí e Rio Grande do Norte. RAFAEL FERNANDES BUENO Formado em Geologia (2003) pela Universidade de São Paulo (USP). De outubro de 2004 a janeiro de 2007, atuou como geólogo na Subprefeitura de Aricanduva/Formosa, (São Paulo), com identificação e caracterização de áreas de risco em encosta e margens de córregos. De fevereiro de 2007 a janeiro de 2008, atuou como geólogo na Superintendência Regional de Manaus, da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), na área de Gestão Territorial. Desde fevereiro de 2008 atua como geólogo exploracionista, na VALE, na região de Carajás (PA).
  • 149. 147 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina 10 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marcos Antonio Leite do Nascimento ([email protected]) Carlos Schobbenhaus ([email protected]) Antonio Ivo de Menezes Medina([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Conceitos.................................................................................. 148 Publicações sobre Geoturismo .................................................. 149 Relação entre Geoturismo e Ecoturismo ................................... 149 Prática de Geoturismo no Brasil................................................ 150 Patrimônio Geomorfológico ..................................................... 150 Patrimônio Paleontológico ....................................................... 152 Patrimônio Espeleológico ......................................................... 152 Patrimônio Mineiro................................................................... 153 Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) ...................................................................................... 155 Geoparques .............................................................................. 156 Projetos Geoturísticos no Brasil ................................................ 157 Bibliografia ............................................................................... 159
  • 150. 148 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Historiadores vêm registrando a mobilidade do ho- mem no planeta Terra, ao longo dos tempos, impulsiona- da por variadas motivações. Nos últimos 100 anos, inten- sificou-se o deslocamento através do planeta em função do turismo. Este é um fruto da sociedade industrial e das conquistas sociais, quando o período anual de descanso dos que a ele têm acesso vem sendo aproveitado, cada vez mais, em viagens turísticas. Uma determinada forma de turismo faz uso da pai- sagem, na concepção geográfica de espaço (ambiente ou meio), formada por elementos da biosfera e geosfera, zona de interseção da litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera, explorando-os com o propósito de lazer e re- creação. Na superfície terrestre, há uma grande variedade de atrativos naturais que oferecem, para a prática do turis- mo, recursos dos mais diferenciados, representados por elementos dos meios biótico (fauna e flora) ou abiótico (os diferentes tipos de rochas com suas formas e paisa- gens, a hidrografia e o clima). Para a prática desse tipo de turismo, ainda podem ser adicionados a esses recursos os patrimônios culturais registrados pelo homem primitivo nas rochas (as inscrições rupestres). O Brasil, em termos de rochas, minerais e fósseis de variados tipos e idades, diferentes paisagens (formas de relevo) e coberturas de solos relacionados, apresenta exem- plos dos mais didáticos e completos. Assim, há testemu- nhos com registros que recuam aos primórdios da história do planeta (rochas com mais de 3 bilhões de anos) e per- correm todo o tempo geológico até alcançar o presente, a exemplo das dunas atuais e outros depósitos de sedimen- tos. Muitos desses registros geológicos constituem, por um lado, sítios de interesse científico e, por outro, monu- mentos naturais ou paisagens de beleza cênica excepcio- nal. Esses monumentos ou paisagens, além de seu valor natural, podem também apresentar interesses históricos e culturais associados, recebendo visitas espontâneas ou guiadas por agências de turismo. Esse tipo de turismo, que lança mão do patrimônio geológico, é denominado “geoturismo”. Certamente, o Brasil possui um dos maiores potenci- ais do globo para a criação de parques geológicos ou geoparques por sua grande extensão territorial, aliada à sua rica geodiversidade, possuindo testemunhos de prati- camente toda a história geológica do planeta. Registros importantes dessa história, alguns de caráter único, repre- sentam parte do patrimônio natural da nação e também de toda a humanidade. Esses registros são identificados em áreas relativamente pontuais – os chamados sítios geológicos, geossítios, geotopos (ou geótopos), geomonumentos ou locais de interesse geológico – e em áreas relativamente extensas e bem delimitadas – os geoparques. Estes incluem grande número de sítios geo- lógicos (de tipologias diversas ou não) e são comumente associados a geoformas e paisagens originadas da evolu- ção geomorfológica da região. CONCEITOS O geoturismo pode ser definido como o turismo eco- lógico com informações e atrativos geológicos. Abrange a descrição de monumentos naturais, parques geológi- cos, afloramentos de rocha, cachoeiras, cavernas, sítios fossilíferos, paisagens, fontes termais, minas desativadas e outros pontos ou sítios de interesse geológico. Atividades turísticas ligadas ao patrimônio geológico já ocorrem há muito tempo, porém, o termo “geoturismo” passou a ser amplamente divulgado na Europa após ser definido pelo pesquisador inglês Thomas Hose, em 1995, em uma revista de interesse ambiental. De acordo com esse autor, o geoturismo é “a provi- são de serviços e facilidades interpretativos que permita aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento da geologia e geomorfologia de um sítio (incluindo sua con- tribuição para o desenvolvimento das ciências da Terra), além de mera apreciação estética”. Em 2000, o mesmo autor faz uma revisão no conceito de geoturismo, passan- do a utilizar o termo para designar “a provisão de facilida- des interpretativas e serviços para promover o valor e os benefícios sociais de lugares e materiais geológicos e geomorfológicos e assegurar sua conservação, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse re- creativo ou de lazer”. Recentemente, RUCHKYS (2007), com base nas defi- nições da EMBRATUR (1994) para segmentos de turismo específicos e em definições preexistentes, caracterizou o geoturismo como sendo “um segmento da atividade tu- rística que tem o patrimônio geológico como seu princi- pal atrativo e busca sua proteção por meio da conserva- ção de seus recursos e da sensibilização do turista, utili- zando, para isto, a interpretação deste patrimônio tornan- do-o acessível ao público leigo, além de promover a sua divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra”. Todavia, nem todas as definições de geoturismo estão diretamente relacionadas a temas geológicos. Por exemplo, em 2001, a National Geographic Society (NGS), em conjun- to com a Travel Industry Association (TIA), dos EUA, realizou o estudo denominado “The Geoturism Study”, sobre os há- bitos turísticos dos norte-americanos (STUEVE et al., 2002). O estudo define geoturismo como “o turismo que mantém ou reforça as principais características geográficas de um lu- gar – seu ambiente, cultura, estética, patrimônio e o bem- estardosseusresidentes”.Buckley(2003)tambémassumea definição de geoturismo da mesma forma que NGS e TIA, entretanto,relacionando-aaoecoturismo. Porém, percebe-se que esse segmento está mais dire- tamente relacionado aos aspectos geológicos dos desti- nos turísticos, como abordado por Dowling e Newsome (2006). Para esses autores, o prefixo “geo-” da palavra “geoturismo” está diretamente associado ao de “geolo- gia” e “geomorfologia” e aos demais recursos naturais da paisagem, tais como relevo, rochas, minerais, fósseis e solo com ênfase no conhecimento dos processos que de-
  • 151. 149 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina ram origem a tais materiais. Esses autores ainda conside- ram que o geoturismo pode ser tratado como parte do ecoturismo, portanto, devendo ser considerado como um subsegmento. Neste ano de 2008, foi realizada na Austrália a Glo- bal Geotourism Conference, tendo como objetivos: • Promover maior percepção da comunidade e pro- teção ao nosso patrimônio geológico. • Reunir geocientistas, profissionais de turismo, aca- dêmicos e gestores de áreas protegidas, objetivando for- talecer e promover a disciplina de geoturismo. • Discutir o papel do geoturismo como uma discipli- na acadêmica que fornece estrutura e treinamento para aplicação prática do geoturismo. • Discutir a essência do geoturismo, ou seja: atrati- vos e desenvolvimento do geossítio, o conceito de geoparque, gestão dos visitantes e interpretação e gestão do geossítio/paisagem. • Definir o cenário para a integração de atrativos geo- lógicos como uma componente essencial do turismo e ecoturismo baseado na natureza. Esses objetivos atestam que o geoturismo incorpora o conceito de turismo sustentável, ou seja, o seu objeto deve beneficiar a população local e os visitantes, mas, ao mesmo tempo, ser protegido para as gerações futuras. PUBLICAÇÕES SOBRE GEOTURISMO Até o momento, existe apenas uma publicação acer- ca desse tema no Brasil. Foi recentemente publicado o livro intitulado “Geodiversidade, Geoconservação e Geoturismo: Trinômio Importante para a Proteção do Patrimônio Geológico” de NASCIMENTO et al. (2008) (Fi- gura 10.1a), sob o patrocínio da Sociedade Brasileira de Geologia (SBGeo). Em outros países, esse tema é aborda- do em livros, periódicos e revistas, porém, pouco acessí- veis no Brasil. Há dois livros que tratam diretamente do termo “geoturismo”. O primeiro – “Geoturismo: Scoprire le Bellezze della Terra Viaggiando” – foi escrito por Matteo Garofano, na ocasião presidente da Associazione Geoturismo da Itália. O livro, atualmente em sua terceira edição, foi publicado em 2003. Trata dos principais locais geoturísticos da Itália, o que proporciona ao leitor uma viagem por aquele país, além de mostrar sua geologia e trazer sugestões de como organizar uma viagem geoturística. O segundo, lançado no início de 2006 – “Geotourism: Sustainability, Impacts and Management” – , foi editado por Ross Dowling e David Newsome (Figura 10.1b). O livro, além de trazer os conceitos básicos sobre geoturismo, permite ao leitor conhecer a prática desse segmento do turismo em diversos países, tais como Esta- dos Unidos da América, Inglaterra, Irlanda, Espanha, Chi- na, África do Sul, Austrália e Irã. O livro contempla ainda inúmeras informações sobre os diferentes geoparques encontrados no mundo (DOWLING e NEWSOME, 2006). Outras publicações, mais voltadas para a conserva- ção do patrimônio geológico (a geoconservação), algu- mas vezes dedicam capítulos ao tema “geoturismo”. Den- tre as principais, destacam-se: “Geology on your Doorstep: The Role of Urban Geology in Earth Heritage Conservation” (BENNETT et al., 1996); “Geological Heritage: Its Conservation and Management” (BARETTINO et al., 2000); “Patrimônio Geológico e Geoconservação: a Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica” (BRILHA, 2005). RELAÇÃO ENTRE GEOTURISMO E ECOTURISMO No Brasil, a definição mais utilizada para ecoturismo foi dada pelo Grupo de Trabalho Interministerial em Ecoturismo, que descreve esse segmento como “a ativi- dade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista atra- vés da interpretação do ambiente, promovendo o bem- estar das populações envolvidas” (EMBRATUR, 1994). Essa definição enfatiza o uso do recurso natural origi- nal ou pouco explorado como cenário para o desenvolvi- mento do ecoturismo, além de levantar princípios nos quais a atividade deve se desenvolver, tais como sustentabilidade dos recursos, participação da comunidade e consciência ecológica por meio de educação e interpretação ambiental. Dessa forma, o ecoturismo caracteriza-se por ser um segmento do turismo de natureza que usa o patrimônio natural de forma sustentável e que busca sua proteção por meio da sensibilização e da educação ambiental. No entanto, o termo “patrimônio natural” vai além dos as- pectos relacionados ao meio biótico (ou à biodiversidade). A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mun- dial, Cultural e Natural, adotada em 1972 pela Conferên- cia Geral da Organização das Nações Unidas para Educa- ção, a Ciência e a Cultura, constitui um dos instrumentos mais importantes na conceituação e criação de um patrimônio de valor universal. Em seu artigo 2º (UNESCO, 1972), considera como “patrimônio natural”: Figura 10.1 ––––– Capas dos livros conhecidos, até o momento, sobre geoturismo. a)a)a)a)a) “Geodiversidade, Geoconservação e Geoturismo” (NASCIMENTO et al., 2008); b)b)b)b)b) “Geotourism: Sustainability, Impacts and Management” (DOWLING e NEWSOME, 2006).
  • 152. 150 GEODIVERSIDADE DO BRASIL • os monumentos naturais constituídos por forma- ções físicas e biológicas ou por conjuntos de formações de valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; • as formações geológicas e fisiográficas, e as zonas estritamente delimitadas que constituam habitat de espé- cies animais e vegetais ameaçadas de valor universal ex- cepcional do ponto de vista estético ou científico; • os sítios naturais ou as áreas naturais estritamente delimitadas detentoras de valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural. Assim, o “patrimônio” natural não envolve somente as formações biológicas, mas também as geológicas; po- rém, no ecoturismo, as formações geológicas não são tratadas com mesmo grau de profundidade, embora os aspectos associados ao meio abiótico, especialmente o relevo, também sejam atrativos importantes para o ecoturismo. Os maiores apelos a esse segmento são, sem dúvida, os atrativos relacionados ao meio biótico (fauna e flora). Considerando a característica marcante de privilegiar os atrativos associados ao meio biótico, pesquisadores preocupados em valorizar e em conservar o patrimônio associado ao meio abiótico vêm promovendo a divulga- ção do geoturismo como um novo segmento do turismo de natureza. Portanto, entende-se que o ecoturismo seria o seg- mento do turismo que trata mais especificamente do meio biótico (biodiversidade) como atração turística, enquanto o geoturismo teria o meio abiótico (geodiversidade) como principal atrativo. Deve-se lembrar, no entanto, que am- bos os segmentos estão sempre se desenvolvendo, de for- ma a promover a proteção do patrimônio natural, históri- co e cultural da região visitada. PRÁTICA DE GEOTURISMO NO BRASIL No Brasil, uma das primeiras providências para se desenvolver o geoturismo é a identificação de aspectos geológicos que possam vir a se tornar atrativos turísticos. Sem dúvida, muitos exemplos de locais de interesse geoturístico já eram atrações, mesmo antes de os geocientistas os terem estudados. Alguns são verdadeiros cartões-postais do Brasil, que servem, inclusive, para iden- tificar o país na atração de turistas do exterior, com desta- que para Cataratas do Iguaçu, Pão de Açúcar e Lençóis Maranhenses. O Brasil, por sua geodiversidade, é detentor de inú- meras feições geológicas que possuem potencial para o geoturismo. Em decorrência, são diversos os exemplos de locais propícios à prática dessa atividade turística. A seguir, serão apresentados exemplos de alguns tipos em que o patrimônio geológico pode ser dividido em: geomorfológico, paleontológico, espeleológico e mi- neiro. PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO Em várias regiões brasileiras, o relevo se destaca, pro- porcionando paisagens de grande beleza cênica formadas por chapadas, serras, picos, morros e cachoeiras, cujos melhores exemplos são: Chapada Diamantina (BA), Chapada dos Veadeiros (GO), Chapada dos Guimarães (MT); serra da Capivara (PI); Sete Cidades (PI); Pão de Açú- car (RJ); Pedra da Gávea (RJ); Cataratas do Iguaçu (PR); picos vulcânicos do Cabugi (RN) e de Nova Iguaçu (RJ); serra da Mantiqueira (MG-RJ-SP); Aparados da Serra (RS e SC), dentre muitos outros (Figuras 10.2, 10.3, 10.4). Cabe destacar os Aparados da Serra, próximo ao li- toral, na divisa dos estados Rio Grande do Sul e Santa Catarina, cuja paisagem sobressai pela presença de um formidável conjunto de cânions escavados no planalto vulcânico da serra Geral e voltados para a planície litorâ- nea quase mil metros abaixo. Do ponto de vista geológi- co, essa região testemunha as conseqüências cataclísmicas da migração continental que separou a América do Sul da África, através da abertura do oceano Atlântico, pas- Figura 10.3 – Serra da Mantiqueira, na região de Taubaté (SP), formada por granitos e gnaisses (fotografia de Antonio Liccardo). Figura 10.2 ––––– Morro do Pai Inácio (à direita) e morro do Camelo (à esquerda), na chapada Diamantina (BA), testemunhos erosivos formados por arenitos e conglomerados (fotografia de Antonio Liccardo).
  • 153. 151 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina sando pelo desenvolvimento de um ambiente desértico sucedido pelo maior derrame vulcânico continental do planeta. Essa área, hoje, apresenta meio ambiente e infra- estrutura qualificados que a transformam em um pólo turístico de grande expressão no sul do Brasil (Figura 10.5). As diferentes formas da superfície da Terra ou geoformas constituem o relevo, que resulta da ação de forças ou agentes que agiram por milhões de anos. Os agentes internos ou endógenos são processos estruturais que atuam de dentro para fora da Terra, como tectonismo, vulcanismo e abalos sísmicos. Os agentes externos ou exógenos são processos esculturais que atuam externamen- te, modificando a paisagem, como intemperismo, ação das águas das chuvas, mares e rios e dos seres vivos, entre outros. Cumpre referir ainda a ação de agentes extrater- restres representados por estruturas de impacto de meteoritos ou astroblemas que atingiram a Terra no pas- sado geológico (CROSTA, 2002). A atuação dos processos erosivos, com predomínio de erosão diferencial, juntamente com a atuação dos pro- cessos de intemperismo, proporciona o desgaste da ro- cha, com a conseqüente formação do cenário atual. Os sedimentos erodidos durante a formação desse modelado do relevo são, em parte, transportados pelos rios para o mar, onde são retrabalhados pelas ondas e hoje constitu- em os depósitos arenosos que ocorrem ao longo do litoral brasileiro. No litoral, a paisagem se destaca pela presença de falésias, escarpas costeiras abruptas não-cobertas por vegetação, que se localizam na linha de contato entre a terra e o mar, sendo do tipo ativa ou inativa. Elas ocorrem em praticamente todo o litoral brasileiro, porém com maior destaque na região Nordeste, especialmente entre os esta- dos do Ceará e da Bahia. Em geral, são formadas por arenitos e conglomerados (rochas sedimentares) associa- das principalmente ao Grupo Barreiras. Como alguns exem- plos geoturísticos, têm-se as falésias de Pipa (RN) (Figura 10.6), Ponta Grossa (CE) e Porto Seguro (BA). Outro atrativo paisagístico do litoral são as dunas geradas por acumulação de areia depositada pela ação do vento dominante, podendo ser fixas ou móveis. Mui- tas dessas dunas são consideradas cartões-postais dos lugares onde ocorrem. É o caso das dunas do morro do Careca (RN) e dos Lençóis Maranhenses (MA) (Figura 10.7). A intenção de utilizar a paisagem (e seu relevo) como atração geoturística vem da necessidade de cobrir uma la- cuna do ponto de vista da informação. A idéia é permitir que o turista não só contemple aquelas paisagens, como também entenda algo sobre os processos geológicos res- ponsáveis por sua formação, o que acarretaria maior valori- zação do cenário. Figura 10.4 – Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro. Os olhos da “Cabeça do Imperador” são formados por erosão diferencial no contato entre o granito (acima) e o gnaisse (abaixo) (fotografia de Ivo Medina). Figura 10.5 ––––– Cânion Fortaleza, divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, esculpido nas escarpas do planalto dos Aparados da Serra, exibindo 13 derrames de lavas do vulcanismo serra Geral (fotografia de Renato Grimm). Figura 10.6 – Falésia da praia da Pipa (RN) (fotografia de Guilherme Pierri).
  • 154. 152 GEODIVERSIDADE DO BRASIL PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO Apaleontologiaéaciêncianaturalqueestudaavidado passado da Terra e o seu desenvolvimento ao longo do tem- po geológico, bem como os processos de integração da in- formaçãobiológicanoregistrogeológico,istoé,aformação dos fósseis. O fascínio em saber algo sobre o passado da vida na Terra faz com que os locais onde existem esses regis- tros do passado sejam hoje sítios paleontológicos bastante visitados. No Brasil, são inúmeros os sítios paleontológicos com enfoque turístico, destacando-se Chapada do Araripe (CE-PE), Vale dos Dinossauros (PB), Parque dos Dinossauros (MG), Floresta Petrificada do Rio Grande do Sul, Floresta Pe- trificada do Tocantins Setentrional, rica fauna pleistocênica da serra da Capivara (PI), dentre muitos outros. Os principais atrativosdeumsítiopaleontológicosãoosfósseis,quecom- preendem restos ou vestígios deixados nas rochas por ani- mais e/ou plantas no passado geológico. Um excelente exemplo de sítios paleontológicos com fins geoturísticos é o Geoparque Araripe, primeiro geoparque nacional com reconhecimento da UNESCO. Este foi definido principalmente pela relevância paleontológica. Provavelmente, a região é a mais rica em depósitos de vertebrados fósseis do Brasil e um dos mais importantes do mundo, chamando a atenção pelo excelente estado de preservação. É de lá a origem daqueles milhares de fósseis com peixes encontrados nas feiras e lojas por todo o Brasil – vale salientar que o comércio de fósseis é crime. No geoparque, ocorrem fósseis de dinossauros (mais raros), bem como de peixes, tartarugas, crocodilianos, pterossauros, foraminíferos, crustáceos, gastrópodes, ostracóides, bivalves e equinóides. A região oferece uma possibilidade única para se compreender parte importante do passado geológico e a vida na Terra. Em muitos sítios paleontológicos são encontradas também inscrições rupestres (pinturas e gravuras) repre- sentando aspectos do dia-a-dia, danças, ritos e cerimô- nias dos antigos habitantes da região, além de figuras de animais, alguns já extintos. Essas inscrições pré-históri- cas, com idades entre 6 e 12 mil anos, estão gravadas em paredões de rochas. Vale salientar que as inscrições rupestres fazem parte dos sítios arqueológicos; todavia, estes são considerados patrimônio cultural e protegidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio- nal (IPHAN) e, portanto, enquadram-se no turismo cul- tural. No entanto, é notória sua forte associação a fei- ções geológicas importantes (Figuras 10.8, 10.9). PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO Esse tipo de patrimônio se refere às cavernas que se desenvolvem, principalmente, em calcários e mármores, emboratambémemarenitos,quartzitosegranitos.Quando geradas por processos de dissolução pela ação da água, as cavernas se formam em calcários (rocha sedimentar) e mármores (rocha metamórfica), gerando o relevo cárstico. Esse tipo de relevo apresenta um conjunto de feições muito características que, além das próprias cavernas, configu- ram uma grande beleza cênica, como maciços rochosos expostos, paredões ou escarpas, vales, torres, depressões, dolinas, lagoas, além das próprias cavernas. Figura 10.7 – Dunas dos Lençóis Maranhenses (MA) (fotografia de Luiz Fernandes) Figura 10.8 – Fóssil de libélula (símbolo do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri) (fotografia de Patrícia Rose). Figura 10.9 – Fóssil de peixe cladocyclus (fotografia de Alexandre Sales).
  • 155. 153 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina Segundo AULER e ZOGBI (2005), o Brasil é um país favorável à descoberta de novas grutas. Existem apenas cer- ca de 4.000 registradas, mas o potencial brasileiro é, no mínimo, 10 vezes maior. As grutas encontram-se distribuí- das principalmente desde o sul de Minas Gerais até o cen- tro-oeste da Bahia, passando pelo leste de Goiás. Estas gru- tas estão associadas aos calcários do Grupo Bambuí. Um dos principais locais de ocorrência é a região de Lagoa San- ta (MG) (BERBERT-BORN, 2002), berço da espeleologia bra- sileira, com mais de 700 grutas registradas (Figura 10.10). Na Bahia, destaca-se a Gruta do Padre, com 16,3 km de extensão – terceira maior caverna descoberta no país. Em sua porção central, as principais cavernas de interesse ocorrem na região da Chapada Diamantina, com várias ca- vernas de grande extensão e beleza, como a Lapa Doce. Registra-se, ainda, a região de Campo Formoso, que apre- senta as duas maiores cavernas do país: Toca da Boa Vista (AULER e SMART, 2002) e Toca da Barriguda, com 105 km e 32 km de extensão, respectivamente. No sul do estado de São Paulo e no Paraná, é possível encontrar mais de 300 cavernas de grande beleza. No lado paulista, por exemplo, a maior concentração está no Par- que Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), com algu- mas das cavernas mais ornamentadas do país, como a Ca- verna Santana e a Caverna do Diabo (KARMANN e FERRARI, 2002) (Figura 10.11). Em boa parte do Brasil, apesar de existirem muitas cavernas, ainda não foram reveladas grutas de grande por- te.NoCeará,umadasmaisconhecidaséaGrutadeUbajara, um dos parques nacionais mais antigos do Brasil. No Rio Grande do Norte, a região entre Felipe Guerra e Apodi é onde se concentra a maior quantidade de cavernas, com destaqueparaaCasadePedradeMartins,consideradauma das maiores cavernas em mármore do Brasil. Muitas cavernas no Brasil já são consideradas de uso turístico.Essetipodegeoturismo,tambémdenominado“tu- rismo espeleológico” (ou espeleoturismo), é a prática pura- mente esportiva e recreativa de visitação às cavernas, mas que deve ser realizada com o auxílio de especialistas. Para AULER e ZOGBI (2005), a abertura de uma caverna para o turismo em massa provoca uma série de intervenções que podemviraalteraroumesmodanificarpermanentementea caverna. A instalação de luz artificial, por exemplo, pode levar à alteração da temperatura e da umidade da caverna. Uma das cavernas mais impactadas pela adaptação para o turismo é a Furna dos Morcegos (SE), próxima a Paulo Afon- so (BA). Nessa gruta, a escavação de um elevador na rocha e a construção de um enorme chafariz descaracterizou irreversivelmente o ambiente da caverna. PATRIMÔNIO MINEIRO A mineração apresenta também um potencial geoturístico particular no Brasil, atividade esta já bastante difundida em outros países. Como exemplos, são citadas as minas de ouro de Morro Velho (Nova Lima) e da Passa- gem (Mariana), em Minas Gerais; tungstênio, em Brejuí, (Currais Novos – RN); chumbo, no vale da Ribeira (SP); cobre, em Camaquã (Caçapava do Sul – RS); carvão (RS), dentre outras. Vale salientar que muitas cidades brasileiras foram construídas ao redor de minas e que a cultura mi- neira encontra-se associada a essa população. A mina da Passagem em Mariana (MG) é uma das maiores minas de ouro abertas à visitação no mundo. Foi a primeira mina de ouro mecanizada e industrial no Brasil. Atualmente, representa um bom exemplo de utilização de minas antigas para a prática do geoturismo. Como meio de acesso às galerias subterrâneas, os visitantes utilizam um trole (Figura 10.12). Durante a visitação, recebem in- formações a respeito da história da mina e dos métodos antigos de exploração do ouro. Há alguns anos, a mina também passou a ser utilizada para mergulho nas galerias e túneis inundados por águas do lençol freático. No local, há infra-estrutura de apoio com restaurante e banheiro, além de uma loja de artesanato e um museu com peças da época do ciclo do ouro (RUCHKYS, 2007). A mina do Camaquã (RS), a primeira lavra de cobre do Brasil (foi fundada em 1870), aponta para a perspecti- va de se tornar um dos pontos turísticos mais visitados na região de Caçapava do Sul (PAIM, 2002). Figura 10.10 ––––– Entrada da Gruta da Lapinha, caverna aberta à visitação turística na APA Carste de Lagoa Santa (MG) (fotografia de Dionísio Azevedo). Figura 10.11 ––––– Caverna do Diabo (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – PETAR – SP).
  • 156. 154 GEODIVERSIDADE DO BRASIL A mina Brejuí (Currais Novos – RN) é outro exemplo de sucesso no que se refere à adaptação de uma mina em atrativo turístico. Ela foi uma das maiores produtoras de scheelita da América do Sul, com sua exploração iniciada em 1943 e tendo seu apogeu durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1996, a mina teve suas atividades paralisa- das, retornando a elas no ano de 2005. No entanto, já a partir de 2000, as atividades voltadas ao turismo começa- ram a ser implantadas. Hoje, a mina Brejuí é considerada o maior parque temático do Rio Grande do Norte, sendo visi- tada diariamente por turistas e estudantes oriundos de to- das as regiões do Brasil e do exterior, catalogando-se mais de 26.000 turistas em visita à mina. Os turistas e estudan- tes podem desfrutar das riquezas históricas e culturais da mina, por meio da visitação aos túneis, dunas de rejeito, museu mineral e outras atrações (Figura 10.13). Outro aspecto é valorizar e preservar, também, rotei- ros de antigos circuitos mineiros como a Estrada Real, que liga Diamantina (MG) a Parati (RJ), passando por Ouro Preto (MG). Ao longo da Estrada Real, o passado e o pre- sente registram a história, a identidade e a cultura da re- gião. O conhecimento geocientífico desse roteiro valoriza o patrimônio geológico mineiro, tornando-o acessível às comunidades locais e aos visitantes. O mesmo caminho que, no século XVIII, transportou a riqueza de Minas Gerais para o resto do mundo, hoje pode promover e integrar as diversas oportunidades de negócios, comarevitalizaçãodaáreadeinfluênciadaantigarotacolo- nial e o aproveitamento de sua potencialidade nos vários segmentos: turístico, histórico, cultural, ecológico, gastronômico, rural, negócios, religioso e aventura. Ao longo de quase 1.400 km que cortam 162 muni- cípios em Minas Gerais, 7 em São Paulo e 8 no Rio de Janeiro, a Estrada Real pode servir de trajeto turístico a milhares de viajantes de todo o mundo, agregando im- portância e valor à indústria mineira de turismo. Hoje, o viajante encontra sérias dificuldades para apro- veitar a potencialidade da Estrada Real, especialmente pela ausência de informações integradas sobre seus atrativos (Figura 10.14). Figura 10.13 ––––– Bica e vagonete utilizados para descida e retirada do minério (mina Brejuí, Currais Novos – RN) (fotografia de Joaquim das Virgens). Figura 10.12 ––––– Acesso à mina por meio de trole (mina da Passagem, Mariana, MG) (fotografia de Dionísio Azevedo). Figura 10.14 – Estrada Real (MG e RJ). Disponível em: <http://www.estradareal.org.br/mapas/index.asp>.
  • 157. 155 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina COMISSÃO BRASILEIRA DE SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEOBIOLÓGICOS (SIGEP) Em março de 1997, foi instituída a Comissão Brasi- leira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), em consonância com o Working Group on Geological and Palaeobiological Sites do Patrimônio Mundial da UNESCO. Essa comissão hoje é representada pelas seguintes insti- tuições: Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associa- ção Brasileira de Estudos do Quaternário (ABEQUA), De- partamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Institu- to Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS), Companhia de Pesquisa de Recursos Mi- nerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), Socie- dade Brasileira de Espeleologia (SBE), Sociedade Brasilei- ra de Geologia (SBGeo), Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP). A criação dessa comissão partiu da premissa de que compete a cada nação identificar e delimitar os diferentes bens situados em seu território, de acordo com o artigo 3º da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972), adotada pelo Brasil em 1989. A missão da SIGEP insere-se no artigo 2º dessa convenção que trata dos monumentos naturais e das for- mações geológicas e fisiográficas com valor universal ex- cepcional, do ponto de vista da ciência, conservação ou beleza natural. Para tanto, a comissão realiza inventário ou cadastro baseada em avaliações técnico-científicas, envolvendo os membros da comissão e a comunidade geocientífica em geral, baseados no teor das propostas apresentadas. Uma vez a proposta aprovada, segue-se a descrição científica do sítio para cadastro (inventariação). Como referido no sítio da SIGEP, as propostas aprovadas são descritas pela comunidade geocientífica e, em seguida, amplamente divulgadas, prestando-se ao “fomento da pesquisa cientí- fica básica e aplicada, à difusão do conhecimento nas áre- as das ciências da Terra, ao fortalecimento da consciência conservacionista, ao estímulo a atividades educacionais, recreativas ou turísticas, sempre em prol da participação e do desenvolvimento socioeconômico das comunidades lo- cais”. Todos esses objetivos vêm acompanhados da ne- cessidade de estabelecer estratégias próprias de monitoramento e de manutenção da integridade dos pon- tos geológicos magnos do Brasil. A comissão objetiva, ainda, “fomentar ações de conservação, principalmente de sítios que estão em risco ou processo de depredação e, mesmo, extinção”. Alguns sítios geológicos descritos pela SIGEP representam os embriões de propostas de futuros geoparques. Os sítios são classificados por seu tipo mais significa- tivo, em diversas categorias, perfazendo, até o momento, um total de 88 sítios descritos, assim distribuídos: Até o momento, abrangendo o assunto, foram publi- cados dois volumes: em livro (SCHOBBENHAUS et al., 2002) e pela internet (WINGE et al., 2005); um terceiro se encontra em preparação. Do total de sítios descritos, 35% apresentam atrativos para o geoturismo, alguns já utiliza- dos com essa finalidade desde longa data. Seguem alguns exemplos desses sítios de valor geoturístico: • Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB: o mais marcante registro de pegadas de dinossauros do Brasil (LEONARDI e CARVALHO, 2002). • A Costa do Descobrimento, BA: a geologia vista das caravelas (DOMINGUEZ et al., 2002). • Pão de Açúcar RJ: cartão-postal geológico do Brasil (SILVA e ANDRADE RAMOS, 2002). • Vila Velha, PR: impressionante relevo ruiniforme (MELO et al., 2002). • Parque Nacional do Iguaçu, PR: cataratas de fama mundial (SALAMUNI et al., 2002). • Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, GO: sítio de grande beleza cênica do centro-oeste brasileiro (DARDENNE e CAMPOS, 2002). • Parque Nacional de Sete Cidades, PI: magnífico mo- numento natural (DELLA FÁVERA, 2002). • Arquipélago de Fernando de Noronha, PE: registro de monte vulcânico do Atlântico Sul (ALMEIDA, 2002). • Poço Encantado, Chapada Diamantina (Itaetê) (BA): caverna com lago subterrâneo de rara beleza e importân- cia científica (KARMANN, 2002). Astroblema (3), Espeleológico (10), Estratigráfico (1), Geomorfológico (13), Hidrogeológico (1), História da Ge- ologia e da Mineração (6), Ígneo (2), Marinho (5), Paleoambiental (11), Paleontológico (28) e Sedimentológico (8) (Figura 10.15). Figura 10.15 ––––– Mapa de localização dos sítios geológicos e paleontológicos publicados pela SIGEP. Disponível em: <http:// www.unb.br/ig/sigep/mapindex/mapindex.htm>.
  • 158. 156 GEODIVERSIDADE DO BRASIL • Domo de Araguainha, GO/MT: o maior astroblema da América do Sul (CROSTA, 2002). • Monte Roraima, RR: sentinela de Macunaíma (REIS, 2006). • Membro Romualdo da Formação Santana, Chapada do Araripe, CE: um dos mais importantes depósitos fossilíferos do cretáceo brasileiro (KELLNER, 2002). • Pico de Itabira, MG: marco estrutural, histórico e geográfico do Quadrilátero Ferrífero (ROSIÈRE et al., 2005). • Granito do Cabo de Santo Agostinho, PE: único granito conhecido de idade cretácea do Brasil (NASCIMEN- TO e SOUZA, 2005). • Sítio Peirópolis e Serra da Galga, Uberaba, MG: ter- ra dos dinossauros do Brasil (RIBEIRO e CARVALHO, 2007). • Bacia São José de Itaboraí, RJ: berço dos mamífe- ros no Brasil (BERGQVIST et al., 2008). • Gruta do Lago Azul, Bonito, MS: onde a luz do sol se torna azul (BOGGIANI et al., 2008). • Itaimbezinho e Fortaleza, RS/SC: magníficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra do pla- nalto vulcânico da Bacia do Paraná (WILDNER et al., 2006). • Carste e Cavernas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) (SP): sistemas de cavernas com paisa- gens subterrâneas únicas (KARMANN e FERRARI, 2002). • Morro do Pai Inácio, BA: marco morfológico da Chapada Diamantina (PEDREIRA e BOMFIM, 2002). GEOPARQUES Os geoparques ou geoparks, criados por iniciativa da UNESCO (2004), envolvem áreas geográficas com limites bem definidos, onde sítios do patrimônio geo- lógico constituem parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Es- sas áreas envolvem diversos geossítios ou locais de in- teresse do patrimônio geológico-paleontológico de es- pecial importância científica, raridade ou beleza, cuja importância é realçada não unicamente por razões geo- lógicas, mas também em virtude de conterem aspectos adicionais de valor arqueológico, ecológico, histórico ou cultural. Um geoparque, no conceito da UNESCO, é uma área que apresenta um significativo patrimônio geológico, for- te estrutura de gestão e estratégia de desenvolvimento econômico sustentável. Um geoparque cria oportunida- des de emprego para as pessoas que ali vivem, trazendo benefício econômico sustentável e real, normalmente atra- vés do desenvolvimento do turismo sustentável. No âm- bito de um geoparque, o patrimônio geológico e o co- nhecimento geológico são compartilhados com o público em geral e relacionados aos aspectos mais amplos do am- biente natural e cultural, muitas vezes estreitamente rela- cionados à geologia e à paisagem. Estas têm influenciado profundamente a sociedade, a civilização e a diversidade cultural de nosso planeta. Assim, a criação de um geoparque pretende estimular a sustentabilidade econô- mica das comunidades locais. As atividades econômicas baseadas na geodiversidade podem ser de diversos tipos, desde a produção de artesanato à criação de atividades comerciais de apoio ao visitante do geoparque, tais como alojamento, alimentação, animação cultural etc. Os geoparques possuem assim, de modo quase imediato, uma inegável ligação com o geoturismo. Nas palavras de Chris Woodley-Stewart, gerente do Geoparque North Pennines (AONB), Reino Unido, “geoparques não tratam apenas de rochas – eles também tratam de pessoas. É fundamental que elas se envolvam – nós queremos ver tantas pessoas quanto possível sair e desfrutar a geologia da área. Nosso objetivo é maximizar o geoturismo [...] em benefício da economia local e para ajudar as pessoas a compreender a evolução de sua paisa- gem local” (UNESCO, 2006). Em 2004, a UNESCO criou a Rede Global de Geoparques (Global Geoparks Network), cujos fundamen- tos estão expressos em Eder e Patzak (2004), que realçam o patrimônio geológico da Terra como ferramenta para a educação pública e o desenvolvimento sustentável. Des- tacam o valor de suas paisagens e das formações geológi- cas, testemunhas-chaves da história da vida e da evolução do planeta. A iniciativa da UNESCO de apoiar a criação de geoparques é uma resposta a um forte anseio expresso, nos anos recentes, por instituições geológicas, geocientistas e organizações não-governamentais. Acrescentou-se, as- sim, uma nova dimensão à Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972), pondo em evidência o potencial de interação entre desen- volvimento socioeconômico-cultural e conservação do meio ambiente natural. A Rede Global de Geoparques assistida pela UNESCO fornece uma plataforma de cooperação ativa entre especialistas e praticantes do patrimônio geológi- co. Sob a égide da UNESCO e com o intercâmbio entre os parceiros da rede mundial, importantes sítios geoló- gicos nacionais ganham reconhecimento internacional e proveito, com o intercâmbio de conhecimentos, expertise, competência e experiência pessoal com ou- tros geoparques. Desde o seu lançamento, em 2004, 57 geoparques nacionais de alta qualidade, selecionados de 18 paí- ses, são atualmente membros da Rede Global de Geoparques (Austrália, Áustria, Brasil, China, Croácia, República Checa, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Irã, Malásia, Noruega, Portugal, Romênia, Espanha, Reino Unido). Em 2006, foram divulgadas as diretrizes e os critérios para os geoparques nacionais que procuram a assistência da UNESCO para aderir à Rede Global de Geoparques, incluindo formulários de avaliação (UNESCO, 2006). A proteção e o desenvolvimento sustentável do patrimônio geológico e da geodiversidade, com a iniciati- va de geoparques, contribuem para os objetivos da Agen-
  • 159. 157 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina da 21, a Agenda da Ciência para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento para o século XXI, adotada pela Confe- rência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desen- volvimento (UNCED, Rio de Janeiro, 1992) e confirmada pela Cúpula de Johannesburg na cidade sul-africana entre 26 de agosto e 4 de setembro de 2002. Diversas áreas no Brasil com características de se tor- narem parques geológicos foram identificadas, mas ainda precisam ser devidamente avaliadas. Algumas dessas pro- postas se encontram em estudo pelo Projeto Geoparques da CPRM/SGB. Outras, com potencial de se transforma- rem em futuros geoparques, poderão ser identificadas. O estudo deverá, como primeiro passo, elaborar um docu- mento básico, com a colaboração de geocientistas de uni- versidades, governos estaduais e de outras entidades en- volvidas com o tema, contendo propostas de criação de geoparques nacionais. Em um passo seguinte, algumas dessas propostas serão avaliadas sob o enfoque das dire- trizes e critérios definidos pela UNESCO, objetivando sua candidatura à inserção na Rede Global de Geoparques (Fi- gura 10.16). O Geoparque Chapada do Araripe (CE) é o primeiro geoparque incorporado pela UNESCO à Rede Global de Geoparques, por iniciativa do governo do estado do Cea- rá, em parceria com a Universidade Regional do Cariri. Esse geoparque, que se estende por uma área superior a 5.000 km2 , possibilita ao visitante uma abrangente com- preensão da origem, evolução e estrutura atual da bacia sedimentar do Araripe. Além disso, nele são desenvolvi- dos projetos inovadores de caráter social, para os quais se busca o apoio e a participação de entidades públicas, pri- vadas, não-governamentais e do conjunto da sociedade. Propostas de novos aspirantes a geoparques, com seus trabalhos já mais avançados, estão sendo realiza- das, atualmente, para o Quadrilátero Ferrífero (MG), Alto Ribeira (SP-PR), Bodoquena-Pantanal (MS) e Cam- pos Gerais (PR). O primeiro é uma iniciativa do governo de Minas Gerais, com apoio da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Universidade Fe- deral de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e CPRM/SGB. A proposta de Alto Ribeira (SP-PR) é uma iniciativa da CPRM/SGB, abran- gendo parte da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. A proposta do Geoparque Serra da Bodoquena- Pantanal (MT e MS) é coordenada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com a participação da CPRM/SGB. Já a proposta do Geoparque Campos Gerais está em elaboração por Mi- nérios do Paraná S.A. (MINEROPAR). PROJETOS GEOTURÍSTICOS NO BRASIL O Brasil possui alguns projetos e desenvolve ações diretamente relacionadas ao geoturismo. Dentre elas, des- tacam-se: • Projeto Caminhos Geológicos: iniciativa pi- oneira do Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ). Iniciado em 2001, representa atualmente o programa mais desenvolvido. O objetivo principal do pro- jeto é divulgar o conhecimento geológico do referido estado, com base na conservação de seus monumentos naturais e por meio da im- plantação de painéis explicativos sobre a evolu- ção geológica do local. Até julho de 2008, já haviam sido implantados 67 painéis com infor- mações geológicas em 24 municípios do Rio de Janeiro (Figura 10.17). Seguindo o modelo adotado pelo Projeto CaminhosGeológicos(DRM-RJ)eadaptadoàrea- lidade local, três outros estados do Brasil estão promovendo o levantamento de seus monumen- tos geológicos com vistas à sua conservação e di- vulgação como atrativo geoturístico. Por meio de Minerais do Paraná S.A. (MINEROPAR), o estado do Paraná iniciou, em 2003, o Projeto Sítios Geológicos e Paleontológicos do Esta- do do Paraná, com a intenção de valorizar esses sítios, inte- grando-os aos roteiros do turismo ecológico, de lazer, de aventura e outros, com publicação de material de divulga- ção e orientação. Foram implantados, até o momento, 32 painéis ilustrativos em 12 municípios. No estado da Bahia, o Projeto Caminhos Geológicos da Bahia, também iniciado em 2003, vem contando a história das belezas naturais baianas do ponto de vista da geologia. A CPRM/SGB, em parceria com a PETROBRAS, já inaugurou 5 painéis em pontos de interesse geológico (Figura 10.18). Figura 10.16 ––––– Mapa com propostas de alguns geoparques nacionais (SCHOBBENHAUS, 2006).
  • 160. 158 GEODIVERSIDADE DO BRASIL No Rio Grande do Norte, em janeiro de 2006, por intermédio do Instituto de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), em parceria com a PETROBRAS e CPRM/SGB-Natal, foi criado o Projeto Mo- numentos Geológicos do Rio Grande do Norte, com a finalidade de contar a história geológica potiguar em pai- néis explicativos. Até agora, 16 pontos de interesse geoló- gicos, incluindo sítios geológicos do litoral e interior, fo- ram selecionados e descritos (Figura 10.19). Com a intenção de divulgar esses locais de interesse geológico, o referido projeto confeccionou também car- tões-postais,possibilitandoumconhecimentopréviodolocal que se pretende visitar geoturisticamente (Figura 10.20). O Programa Geoecoturismo, da CPRM/SGB, cuja fi- nalidade é promover a caracterização física de regiões de interesse geoturístico, tem como objetivo disseminar o conhecimento básico de geologia, informações geoambientais, geo-históricas e sobre o patrimônio mi- neiro entre as comunidades, profissionais e cidadãos em geral. No sítio da CPRM/SGB é possível obter informações detalhadas sobre os primeiros 17 diferentes produtos rela- cionados a esse programa. Há roteiros que abrangem a descrição de monumentos, feições e parques geológicos, afloramentos, cachoeiras, cavernas, sítios fossilíferos, patrimônio mineiro (minas desativadas), fontes termais, paisagens, trilhas/excursões e outras curiosidades geoturísticas. Dentre esses produtos, cabe destacar: • Mapa de Trilhas e Pontos Turísticos do Parque Naci- onal da Chapada Diamantina, Bahia (1995). • Mapa de Infra-Estrutura e dos Pontos Turísticos do Município de Morro do Chapéu, Bahia (1995). • Mapa Ecoturístico Geológico do Projeto Porto Se- guro-Santa Cruz de Cabrália, Bahia (2000). • Roteiro Geológico sobre a Coluna White, Santa Catarina (2003). • Excursões virtuais aos Aparados da Serra (RS) (2004) e Quadrilátero Ferrífero (MG) (2007). • Participação no livro “Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil” (SCHOBBENHAUS et al., 2002), com artigos científicos. Além do Programa Geoecoturismo, a CPRM/SGB con- ta ainda com o Projeto Mapa Geodiversidade do Brasil (escala 1:2.500.000). Esse projeto tem o objetivo de ofe- recer aos diversos segmentos da sociedade brasileira uma tradução do conhecimento geológico-científico, com vis- tas a sua aplicação ao uso adequado do território, incluin- do a prática do geoturismo. Pela primeira vez, foi apre- sentada à sociedade uma síntese dos grandes geossistemas formadores do território nacional, suas limitações e potencialidades, considerando-se a constituição litológica da supra- e infra-estrutura geológica. Foram abordadas, também, características geotécnicas, coberturas de solos, migração, acumulação e disponibilidade de recursos hídricos, vulnerabilidades e capacidades de suporte à im- plantação de diversas atividades antrópicas dependentes de fatores geológicos, como o geoturismo. Essa iniciativa insere-se em um projeto maior – o de dotar o Brasil de cartas temáticas territoriais do meio físico como ferramentas de planejamento, em todas as áreas do campo de atribuições institucionais. Em 2007, iniciou-se a produçãodosmapasdegeodiversidadedosestadosbrasilei- ros, em escalas 1:1.000.000 a 1:500.000. O mapa de geodiversidadepermiteassociarosgeossistemasaregiõesde Figura 10.18 ––––– Placa ilustrativa da Fonte do Tororó (Salvador, BA). Projeto Caminhos Geológicos da Bahia (CPRM/Salvador) (fotografia de Antonio J. Dourado Rocha). Figura 10.17 ––––– Painel afixado em área do Pão de Açúcar (RJ) que conta a história geológica desse monumento natural (fotografia de Kátia Mansur). Figura 10.19 ––––– Painel sobre a geodiversidade do Parque das Dunas (Natal, RN). Projeto Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte (fotografia de Marcos Nascimento).
  • 161. 159 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina interesse especial para estudos de geodiversidade, em parti- cular, áreas de interesse para geoturismo e geoconservação, incluindo patrimônios paleontológicos e geomineiros, mo- numentos naturais, cavernas e paisagens de beleza cênica. No XLII Congresso Brasileiro de Geologia, ocorrido em outubro de 2004, na cidade de Araxá (MG), ocorre- ram dois simpósios cujos trabalhos versavam sobre o trinômio geoturismo, geodiversidade e geoconservação: “Desenvolvimento Sustentável, Geologia e Turismo” (com 32 trabalhos apresentados) e “Monumentos Geológicos” (com 31 trabalhos). Destes 63 trabalhos, identificam-se, seguramente, 39 diretamente focados em aspectos do geoturismo. Esta foi a primeira edição de um congresso brasileiro de geologia a trazer à tona a temática do geoturismo e o único evento científico nacional, até en- tão, a abordar tal tema. Em dezembro de 2004, foi criado um grupo de dis- cussão na internet, baseado no Yahoo Grupos, atualmen- te com 177 participantes de várias partes do Brasil, com a finalidade de levantar informações e discutir as temáticas geoturismo, geodiversidade e geoconservação. No grupo também são disponibilizadas publicações (artigos, proje- tos) e links para sítios que tratam do assunto. Já em setembro de 2006, no XLIII Congresso Brasilei- ro de Geologia, na cidade de Aracaju (SE), deu-se conti- nuidade às discussões sobre a temática “geoturismo” du- ranteoSimpósioGeoconservaçãoeGeoturismo:UmaNova Perspectiva para o Patrimônio Natural. Nesse evento, fo- ram apresentados 41 trabalhos oferecendo uma panorâ- mica da situação atual das atividades relacionadas à geoconservação e ao geoturismo no Brasil. O evento con- tou ainda com palestra do geólogo português José Brilha (Universidade de Minho, Braga, Portugal), um dos princi- pais incentivadores do assunto na Europa, com o tema “Geoconservação: Precisa-se... Porque só há uma Terra”. Um dos principais resultados desse encontro foi a elabo- ração e aprovação, por unanimidade, pela Assembléia da Sociedade Brasileira de Geologia (SBGeo), da Geocarta de Aracaju, primeira declaração sobre o tema geoconservação e afins fora da Europa. No início de fevereiro de 2007, foi disponibilizado na internet o sítio <http://www.geoturismobrasil.com>, cuja proposta é oferecer informações e imagens que possam contribuir para o desenvolvimento do geoturismo no Bra- sil. O Geoturismobrasil foi criado pelo geólogo e fotógra- fo Antonio Liccardo e apresenta versões em português e inglês. Segundo o idealizador do sítio, a versão em inglês está proporcionando inúmeras visitas de estrangeiros, in- cluindo pesquisadores de geoturismo de outros países. É o primeiro sítio dedicado à divulgação desse segmento do turismo no Brasil. Nele, o visitante aprende o que é geoturismo, informando-se sobre os avanços dessa ativi- dade no Brasil, além de acesso a artigos sobre o assunto e a imagens deslumbrantes da geodiversidade brasileira. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, F. F. M. Arquipélago de Fernando de Noronha: registro de monte vulcânico do Atlântico sul. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Co- missão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, 554 p. il. p. 361-368. Disponível em: <http://www.unb.br/ig/sigep/sitio066/sitio066.pdf>. AULER, A. S.; SMART, P. L. Toca da Boa Vista (Campo Formoso), BA: a maior caverna do hemisfério sul. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Co- missão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, 554 p. il. p. 443-451. Disponível em: <http://www.unb.br/ig/sigep/sitio019/sitio019.pdf>. AULER, A.; ZOGBI, L. Espeleologia: noções básicas. São Paulo: Redespeleo Brasil, 2005. 104 p. BARETTINO, D.; WIMBLEDON, W. A. P.; GALLEGO, E. (Eds.). Geological heritage: its conservation and management. Instituto Tecnológico Geominero España, Madrid, Spain, 2000. 212 p. BENNETT, M. R.; DOYLE, P.; LARWOOD, J. G.; PROSSER, C. D. Geology on your doorstep: the role of urban geology in earth heritage conservation. Geological Society of London, 1996. 270 p. BERBERT-BORN, M. Carste de Lagoa Santa, MG: berço da paleontologia e da espeleologia do Brasil. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Co- missão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, 554 p. il. p. 415-430. Disponível em: <http://www.unb.br/ig/sigep/sitio015/sitio015.pdf>. BERGQVIST, L. P.; MANSUR, K.; RODRIGUES, M. A.; RODRIGUES-FRANCISCO, B. H.; PEREZ, R. A. R.; BELTRÃO, M. C. M. C. Bacia São José de Itaboraí, RJ: berço dos Figura 10.20 ––––– Exemplo de cartão-postal criado pelo Projeto Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte para divulgação da geodiversidade potiguar.
  • 162. 160 GEODIVERSIDADE DO BRASIL mamíferos no Brasil. In: WINGE, M.; SCHOBBENHAUS, C.; SOUZA, C. R. G.; FERNANDES, A. C. S.; QUEIROZ, E. T.; BERBERT-BORN, M.; CAMPOS, D. A. (Eds.). Sítios ge- ológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2008. Publicado na internet em 25 abr. 2008. Disponível em: <http://www.unb.br/ig/sigep/sitio123/ sitio123.pdf>. BOGGIANI, P. C.; SALLUN FILHO, W.; KARMANN, I.; GESICKI, A. L.; PHILADELPHI, N. M.; PHILADELPHI, M. Gruta do Lago Azul, Bonito, MS: onde a luz do sol se torna azul. In: WINGE, M.; SCHOBBENHAUS, C.; SOUZA, C. R. G.; FERNANDES, A. C. S.; QUEIROZ, E. T.; BERBERT-BORN, M.; CAMPOS, D.A. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Comis- são Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2008. Publicado na internet em 23 fev. 2008. 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  • 163. 161 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL Marco Antonio Leite do Nascimento, Carlos Schobbenhaus, Antonio Ivo de Menezes Medina POS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Comissão Brasileira de Sítios Ge- ológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, 554 p. il. p. 101-111. Disponível em: <http://www.unb.br/ig/sigep/ sitio026/sitio026.pdf>. MANSUR, K.; ERTHAL, F. O projeto caminhos geológicos e seusdesdobramentosnoestadodoRiodeJaneiro.SIMPÓSIO 26. Monumentos geológicos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 62., 2004. SBG: Araxá. Anais... CD-ROM. MEDINA, A. I. M. Projeto geoecoturismo do Brasil. In: OFI- CINA INTERNACIONAL DE ORDENAMENTO TERRITORIAL MINEIRO. Rio de Janeiro: CYTED-CPRM/SGB, 2005. MELO, M. S.; BOSETTI, E. P.; GODOY, L. C.; PILATTI, F. Vila Velha, PR: impressionante relevo ruiniforme. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. 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  • 164. 162 GEODIVERSIDADE DO BRASIL SILVA, L. C. da; ANDRADE RAMOS, A. J. L. de. Pão de Açúcar, RJ: cartão postal geológico do Brasil. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. (Eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM/CPRM – Co- missão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002, v. 1, 554 p. il. p. 263-268. Disponível em: <http://www.unb.br/ig/sigep/sitio067/sitio067.pdf>. STUEVE, A. M.; COOK, S. D.; DREW, D. The geotourism study:phaseIexecutivesummary.TravelIndustryAssociation of America, 2002. 22 p. UNESCO. Convenção para a proteção do patrimônio mun- dial, cultural e natural. 1972. Disponível em: <http:// unesdoc.unesco.org/images/0013/001333/ 133369por.pdf>. ______. International Network of Geoparks. 2004. Dispo- nível em: <http://www.unesco.org/science/earthsciences/ geoparks/geoparks.htm>. UNESCO. 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Destacam-se: Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo (DNPM, 1974 a 1979; CPRM, 2004); Mapa Geológico do Brasil (DNPM, 1981; CPRM, 2001); Mapa Geológico da América do Sul (CGMW/DNPM/CPRM/UNESCO, 2000/2001); livros “Geologia do Brasil” (DNPM, 1984), “Principais Depósitos Minerais do Brasil” (6 volumes, DNPM/CVRD/CPRM, 1985 a 1997), “Metalogênese do Brasil” (CPRM/EdUnB, 2001) e “Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil” (CPRM, 2003). Vice-presidente para a América do Sul da Commission for the Geological Map of the World (CGMW) e membro fundador e presidente da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP). Na CPRM/SGB, coordena os projetos SIG-América do Sul 1:1:1.000.000 e Geoparques do Brasil. Principais homenagens recebidas: Medalha Orville Derby (2002), da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG); Comenda da Ordem do Mérito Cartográfico (2003), da Sociedade Brasileira de Cartografia; Medalha Irajá Damiani Pinto (2007), no Jubileu de Ouro da Escola de Geologia da UFRGS. MARCOS ANTONIO LEITE DO NASCIMENTO Geólogo formado (1998) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre (2000) e doutor (2003) pela UFRN. Desenvolve pesquisas nas áreas de Petrologia Ígnea, Litogeoquímica e Geocronologia. Foi professor colaborador do Curso de Turismo da UFRN, na disciplina Recursos Naturais e o Turismo no RN; da Faculdade Natalense de Ensino e Cultura (FANEC), na disciplina Produto Ecoturístico; da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), nas disciplinas Geologia e Mineralogia e Geologia Aplicada à Engenharia. Atualmente, é geólogo da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), atuando como chefe do Projeto Mapeamento Geológico e Recursos Minerais da Folha Currais Novos (escala 1:100.000), coordenador do Projeto Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte e membro da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) pela CPRM/SGB. Experiência na área de Geociências, com ênfase em: Mapeamento Geológico, Petrologia Ígnea, Geocronologia, Geologia Aplicada e Geoturismo. ANTONIO IVO DE MENEZES MEDINA Geólogo formado (1967) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalhou em pesquisa de carvão mineral na Bacia do Parnaíba (MA e TO), em mapeamentos geológico-geotécnicos para hidrelétricas, em áreas de riscos geológicos para Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro. Coordenou e desenvolveu projetos ambientais na Engevix Engenharia S.A. Contratado em 1973 pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), executou e foi supervisor de projetos de Mapeamento Básico, Pesquisa de Carvão Mineral e Turfa em todo o território brasileiro. De 1996 a 2007, exerceu a função de coordenador executivo do Departamento de Gestão Territorial (DEGET), trabalhando na coordenação, análise e execução de projetos geoambientais e na coordenação do Projeto Geoecoturismo do Brasil. Pesquisador e autor do capítulo 3 – “Geologia Ambiental: Contribuição para o Desenvolvimento Sustentável” – do livro Tendências Tecnológicas Brasil 2015: Geociências e Tecnologia Mineral (CETEM/MCT, 2007).
  • 165. 163 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo 11 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Maria Angélica Barreto Ramos ([email protected]) Samuel Viana ([email protected]) Elias Bernard do Espírito Santo ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Conceitos e Causas ................................................................... 164 Poluição atmosférica.............................................................. 167 Efeito estufa .......................................................................... 168 Buraco na camada de ozônio ................................................ 168 Aquecimento global .............................................................. 169 Ações da ONU .......................................................................... 169 Fragilidades e inconsistências nos modelos do IPCC .............. 170 Cenários Futuros....................................................................... 170 Ações Propostas ....................................................................... 170 Geoindicadores ...................................................................... 171 Sugestões de medidas de adaptações no Brasil .................... 173 Bibliografia ............................................................................... 173
  • 166. 164 GEODIVERSIDADE DO BRASIL CONCEITOS E CAUSAS Mudanças climáticas constituem-se em flutuações do clima predominante de uma determinada região, que po- dem estender-se de algumas dezenas de anos (mais de 30- 35 anos, segundo (AYOADE, 2002) até dezenas de milha- res de anos (SUGUIO, 2008). A variação espacial e a flutu- ação temporal são características marcantes do tempo e do clima. A flutuação temporal do clima é uma característica que deve ser pesquisada e discutida com maiores detalhes, desde o passado longínquo (paleoclima), o passado recen- te e como o é no presente, permitindo a construção de modelos e a simulação de cenários climáticos futuros. Para um melhor entendimento do estudo das flutuações climáticas, é necessário o entendimento dos con- ceitos de variabilidade, de anomalia e de mudança climáti- ca. Define-se a variabilidade climática como uma variação das condições climáticas em torno da média climatológica. Já anomalia climática refere-se a uma flutuação extrema de um elemento em uma série climatológica, com desvios acentuados do padrão observado de variabilidade. Já mu- dança climática é um termo que designa uma tendência de alteração da média no tempo. Com os resultados dos estudos da paleoclimatolo- gia, verifica-se que, ao longo da história da Terra, o cli- ma apresentou variações em diferentes escalas de tempo e espaço. Tais escalas de tempo são correspondentes a períodos geológicos (na ordem de milhões de anos), períodos de registros históricos (na ordem de milhares de anos) e seculares ou instrumentais (períodos de 100 a 150 anos). AYOADE (2002) classifica as teorias sobre os meca- nismos que originam as mudanças climáticas em três ca- tegorias: terrestres, astronômicas e extraterrestres. As terrestres são: deriva continental; vulcanismo; ter- remotos; maremotos; mudanças na topografia da Terra; variações na composição atmosférica; mudanças na dis- tribuição das superfícies continentais e hídricas; variações na cobertura de neve e gelo. A essas causas naturais que envolveram fatores geológicos e geográficos, somam-se alguns exemplos, tais como: 1. A carência de grandes massas continentais antes de 2,5 G.a. ou bilhões de anos atrás, permitindo um transporte de calor mais eficiente e impedindo, assim, o crescimento de capas de gelo polar (ENDAL e SCHAT- TEN, 1982). 2. A semelhança da paleogeografia global do final do Pré-Cambriano, (cerca de 542 M.a. ou milhões de anos atrás) Permiano (cerca de 251 M.a.) e Pleistoceno (cerca de 11,7 AP Antes do Presente ou mil anos atrás), com grande massa continental nas regiões polares: • Tais massas de terra serviam como plataforma de gelo (por exemplo, Groenlândia, 60º N). Esse tipo de ambiente favorece o não-derretimento durante o verão; uma alta reflexão da radiação solar (taxa de albedo eleva- da) pela neve e gelo reduzindo ainda mais a temperatura; redução do nível do mar com exposição da plataforma continental. • O baixo calor específico da Terra em relação à água faz com que as massas de terra se resfriem mais rapida- mente que as massas de água nos pólos. • Bacias fechadas promovem acumulações de gelo marinho. 3. A geografia continental influenciando na circula- ção oceânica: • Paleoceno (cerca de 65,5 a 55,8 M.a.): no seu fi- nal, ocorreu a abertura dos mares da Noruega e Labrador favoreceu a passagem de correntes de água fria para o Atlântico norte (Figura 11.1). • Eoceno-Mioceno Inferior (cerca de 49 a 24 M.a.): Apesar das incertezas quanto a sua cronologia, houve uma circulação circumpolar antes da formação da pasagem do Drake, que separou Antártica da América do Sul, e permi- tiu um acúmulo de geleiras na Antártica; este evento oca- sionou um grande declínio do CO2 na atmosfera. • Plioceno (cerca de 5,3 a 2,6 M.a.): o fechamento do Panamá (Bolivar Trench) a cerca de 3 M.a. precedeu a um resfriamento global semelhante ao do Permiano, quan- do a Pangéia formada no equador forçou uma circulação oceânica N-S. O fechamento do mar da Indonésia prece- deu à desertificação africana (CAIN e MOLNAR, 2001). 4. Espalhamento do piso oceânico controlando o CO2 atmosférico (BERNER et al., 1983). WORSLEY et al. (1986) sugerem que um ciclo de mudança climática de 0,5 G.a. seria resultado de ciclos de tectonismo, espalhamento do piso oceânico e mudança atmosférica. Efeitos do CO2 at- mosférico e Ca, Mg e HCO3 no oceano: • Espalhamentodopisooceânico:subducçãoemmar- gem de placas resulta em metamorfismo de carbonatos. Vulcanismos injetam C subductado como CO2 na atmos- fera. • Feedback negativo: acúmulo de CO2 atmosférico aumenta a temperatura e acelera o intemperismo. Atualmente, visto que 71% da superfície do nosso planeta são compostos por oceanos, uma das principais componentes do sistema climático da Terra é representa- da pela interação entre a superfície desses mares e a baixa atmosfera adjacente a ela. Os processos de troca de ener- gia e umidade entre esses meios determinam o comporta- mento do clima; quaisquer alterações desses processos podem afetar o clima regional e global. Um típico exemplo se refere às variações anormais de temperaturas superficiais das águas oceânicas e seus efei- tos. Na última década, dois importantes fenômenos dessa natureza foram fortemente difundidos pela mídia, com origem específica no oceano Pacífico: O El Niño, quando se refere ao aquecimento anormal dessas águas, e o La Niña, de características opostas, referente ao esfriamento superficial das águas. Informações obtidas no sítio da CPTEC/INPE, com base no livro de Oliveira (1999), consideram que o evento de El Niño e La Niña tem uma tendência a se alternar a cada 3-7
  • 167. 165 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo Figura 11.1 ––––– Passagem das correntes no Atlântico norte e a corrente equatorial. anos. Porém, de um evento ao seguinte, o intervalo pode mudar de 1 a 10 anos, representando uma alteração do sistema oceano-atmosfera no oceano Pacífico tropical, com conseqüências no tempo e no clima em todo o planeta. No caso do aquecimento do oceano e com o enfraquecimento dos ventos, mudanças da circulação da atmosfera nos ní- veis baixos e altos determinam mudanças nos padrões de transporte de umidade; portanto, variações na distribuição das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. Em algumas regiões do globo também são observa- dos aumento ou queda de temperatura. Por outro lado, com o resfriamento superficial das águas, os ventos alíseos se tornam mais intensos e um maior volume de água fica “represado” no Pacífico Equatorial Oeste, ocasionando um desnível entre o Pacífico Ocidental e Oriental. Essas águas “represadas” e mais quentes geram maior evaporação e movimentos ascendentes, que, por sua vez, aumentam a concentração de nuvens de chuva, ao passo que no Pacífi- co Equatorial Oriental os processos de ressurgência se in- tensificam (Figuras 11.2 e 11.3). As causas extraterrestres seriam as variações na quan- tidade de radiação solar (output solar) e na absorção da radiação solar exterior à atmosfera terrestre. As principais causas astronômicas são: variações da excentricidade da órbita da Terra em torno do Sol, poden- do ser mais elíptica ou mais circular; obliqüidade, que é a alteração do ângulo entre o eixo da Terra e o plano da elíptica–segundoHenderson-SELLERS e ROBINSON (1999), esse ângulo varia de 22 a 24,5º, com um período de 40.000 anos; precessão da localização do periélio (ponto na órbita da Terra no qual o planeta passa mais próximo ao Sol), ou seja, devido à atração gravitacional de outros planetas, o ponto do periélio muda de posição causando a precessão dos equinócios. Alguns impactos de corpos celestes (meteoritos) re- gistrados ao longo da história terrestre podem ter sido responsáveis por alterações climáticas, que causaram epi- sódios de extinções em massa de diversas espécies, tanto animais quanto vegetais. Dentre esses episódios, o mais famoso, que supostamente teria ocasionado a extinção dos dinossauros, marcando o fim do Cretáceo a cerca de 65,5 M.a., tem como principal teoria um “bombardea- mento” de asteróides na superfície da Terra (HECHT, 1993). Há evidências de que as erupções vulcânicas afetam o comportamento do clima em curtos períodos de tempo e, possivelmente, influenciam as alterações de longa du- ração. Esse processo se dá pela liberação de gases vulcâ- nicos constituídos principalmente por cinzas e SO2 . Esse gás interage com o vapor de água da estratosfera, for- mando aerossóis que, ao interceptarem a luz solar, dimi- nuem a temperatura da superfície terrestre e da própria atmosfera. SELF et al. (1996) relataram que a erupção do monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991, formou uma nuvem com cerca de 22 milhões de toneladas de SO2 com sensível queda da temperatura global (ca. 0,5º C) nos anos se-
  • 168. 166 GEODIVERSIDADE DO BRASIL guintes. Um similar fenômeno ocorreu em abril de 1815 com a erupção do vulcão Tambora (Indonésia), a mais poderosa erupção registrada na história, responsável pelo resfriamento global da temperatura em 3º C. Em algumas partes da Europa e América do Norte, o ano de 1816 foi conhecido como “o ano sem verão” (KIOUS e TILLING, 1996). Invernos mais quentes e verões mais frios que a média, sobre áreas continentais do hemisfério Norte, têm sido registrados e modelados após diversas erupções vul- cânicas (GROISMAN, 1992; ROBOCK e LIU, 1994). A Terra, desde sua origem, há aproximadamente 4,6 bilhões de anos, sempre esteve em constantes mudanças de temperatura, alternando longos períodos de aqueci- mento e glaciação causados por fenômenos naturais. Em recente trabalho efetuado por BRANCO e MAR- QUES (2008) são apresentadas abaixo as principais mu- danças geológicas e climáticas ocorridas na Terra: Proterozóico (2500 a 542 M.a.): extinção das bacté- rias anaeróbicas e extensa glaciação há 1,5 bilhões de anos, intensa atividade orogenética. Paleozóico/Cambriano (542 a 488 M.a.): explosão evolutiva dos animais. Paleozóico/Permiano Superior (260 a 251 M.a.): extinção de 95% das espécies e formação do Pangea no seu final. Mesozóico/Triássico (251 a 199,6 M.a.): no sul do Brasil o clima foi árido, originando um vasto deserto; Mesozóico/Jurássico (199,6 a 145,5 M.a.): a Terra “rachou ao meio”, com intenso vulcanismo basáltico e separação dos continentes. Mesozóico/Cretáceo (145,5 a 65,5 M.a.): no seu fi- nal, houve a extinção em massa de grandes répteis (dinossauros), tendo duas hipóteses: mudanças climáti- cas e/ou colisão na Terra de um imenso meteorito. Cenozóico/ Neógeno/Mioceno (23 a 5 M.a.): climas mais áridos no interior dos continentes, favoráveis a ex- pansão de campos e cerrados; início da formação de ge- leiras na Antártica. Cenozóico/Neógeno/Plioceno (5 a 1,8 M.a.): grande diversificação dos campos e savanas, o clima passa de tropical para mais frio, com vastas áreas glaciais, provo- cando um esfriamento global; 75% das espécies sobrevi- vem até o presente. Cenozóico/Quaternário/Pleistoceno (1,8 M.a. a 11,7 AP): na época máxima de glaciação do Hemisfério Norte, quase 30% de toda a superfície dos continentes estavam cobertas por uma camada de gelo e ocorria gelo no mar em ambas regiões polares. Como conseqüência desta gran- de remoção de água livre no sistema global, houve uma queda acentuada do nível do mar e de pluviosidade; exis- tem evidências mostrando que existiram quatro períodos de muito frio no Hemisfério Norte no Pleistoceno, o pri- meiro deles há 600 k.a.; em todas estas épocas, as gelei- ras do Ártico expandiram-se para as regiões de latitudes Figura 11.2 ––––– Variações no clima decorrente do fenômeno El Niño. Figura 11.3 ––––– Variações no clima decorrente do fenômeno La Niña.
  • 169. 167 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo mais baixas da Eurásia e América do Norte e, nas épocas mais quentes, as geleiras retraíram para o Norte; no He- misfério Sul, a glaciação foi muito mais limitada e, na maioria das vezes, confinada às altitudes maiores, como por exemplo nos Andes; há 20 AP, o planeta vivia o ápice de uma era glacial; durante este período a plataforma con- tinental brasileira estava quase completamente exposta, dado a quantidade de gelo retida nas calotas polares o que fez o nível do mar recuar mais de 100 metros vertical- mente (ou 100 km em relação à linha de costa atual) for- mando uma extensa planície costeira; embora o domínio glacial não tenha atingido o Brasil, o clima desta época era consideravelmente mais seco. Cenozóico/Quaternário/Holoceno (11,7 AP): no Pri- meiro Ótimo Climático (8.000 AP), o clima transformou- se em quente e úmido, havendo subida do nível do mar de até 5 metros. O Segundo Ótimo Climático (200-1000 DC Depois de Cristo), originou um clima ameno no he- misfério norte. Dentre as mudanças climáticas mais re- centes tem-se a Pequena Idade do Gelo, quando a tempe- ratura média era inferior à atual, que se estendeu de 1540 até 1890. Neste intervalo de tempo o recrudescimento do frio ocorreu em três etapas: de 1540 a 1680, de 1740 a 1770 e entre 1800 a 1890. Os limites do fenômeno de resfriamento foram diferenciados de local para local, mas acredita-se que a temperatura média durante a Pequena Idade do Gelo tenha chegado a ser 2º C inferior a atual. A partir do final do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, o planeta passou a enfrentar uma nova realidade: a utilização intensiva de combustíveis fós- seis para gerar energia para indústrias e veículos, a des- truição das florestas pelo desmatamento e queimadas, a expansão das atividades agropecuárias de forma não sus- tentável, são apenas alguns itens que contribuem para a imensa quantidade de dióxido de carbono (CO2 ), metano (CH4 ) e outros gases lançados na atmosfera. Esses gases passaram a interferir nas condições naturais, constituin- do-se em agentes preponderantes para o aumento da tem- peratura do planeta. Dentre as possíveis causas de mudanças climáticas geradas pela ação do homem em conseqüência de altera- ções na concentração de componentes atmosféricos, po- dem ser citados: Poluição Atmosférica Resulta da emissão de gases poluentes ou de partícu- las sólidas na atmosfera. Destacam-se, por suas emissões, as unidades industriais e de produção de energia, como a geração de energia elétrica por meio de termoelétricas; refinarias; fábricas de pasta de papel; siderúrgicas; cimen- teiras; indústria química e de adubos (Figura 11.4). A utilização de combustíveis para a produção de energia é responsável pela maior parte das emissões de dióxido de monoenxofre (SO2 ), trióxido de monoenxofre (SO3 ) e CO2 , contribuindo, ainda, de forma significativa para as emissões de monóxido de carbono (CO). O uso de solventes em colas, tintas, produtos de proteção de superfícies, aerossóis, limpeza de metais e lavanderias é responsável pela emissão de quantidades apreciáveis de compostos orgânicos voláteis. Outras fontes poluidoras em certas condições podem se tornar relevantes, tais como: a queima de resíduos urbanos, industriais, agrí- colas e florestais, feita, muitas vezes, em situações in- controladas; a queima de resíduos de explosivos, resi- nas, tintas, plásticos e pneus; incêndios florestais; uso de fertilizantes e o excesso de concentração agropecuá- ria são os principais contribuintes para as emissões de metano, amoníaco (NH3 ), nitrito (NO2 ) e nitrato (NO3 ); por último, as fontes móveis, sobretudo os transportes rodoviários, devido à emissão de gases de escape, mas também como resultado da evaporação de combustí- veis. São os principais emissores de óxido de nitrigênio (NO), nitrogênio (N), CO e CO2 , além de serem respon- sáveis pela emissão de poluentes específicos, como o chumbo (Pb) (Figuras 11.5 e 11.6). Figura 11.5 ––––– Foco de incêndio em área florestal do Paraná (disponível em: <http://www.ambienteemfoco.com.br/>. Figura 11.4 ––––– Pólo petroquímico de Cubatão. (disponível em:<cienciaecultura.bvs.br/>).
  • 170. 168 GEODIVERSIDADE DO BRASIL de dióxido de carbono e outros gases-estufa produzidos pelo homem. A atmosfera, agora mais densa, retém gran- de parte da radiação infravermelha que deveria escapar e se irradiar pelo espaço. Como resultado, a temperatura da atmosfera terrestre – e também dos oceanos – está se tornando perigosamente mais alta, transformando a Terra em uma grande “estufa”. Dentre os gases causadores do efeito estufa, o CO2 em geral é considerado o principal culpado, pois respon- de por 80% do total de emissões de gases-estufa. Isso acontece quando são queimados combustíveis fósseis (pe- tróleo, gás natural e carvão), seja em casa, carros, fábri- cas, usinas elétricas, seja na queima de florestas ou na produção de cimento (GORE, 2006). Também podem ser citados metano (CH4 ) e óxido de nitrogênio (NO), que já existiam na atmosfera, mas tive- ram suas concentrações aumentadas de forma expressiva em decorrência da atividade humana. Atualmente, 60% do metano na atmosfera são produzidos pelo homem: aterros sanitários, fazenda de criação de animais, queima de combustíveis fósseis, tratamento de água e esgoto e outras atividades (GORE, 2006). O óxido nitroso (N2 O), pela atividade humana, teve um incremento de mais de 17% na atmosfera provindo de fertilizantes, de combustíveis fósseis, de queima de floresta e de resíduos de plantações. Também como causadores do efeito estufa podem ser citados: hexafluoreto de enxofre (SF6 ), PFCs (perfluor- carbonos), HFCs (hidrofluorcarbonetos), que são exclusi- vamente produzidos pela atividade humana. Os PFCs e os SF6 são liberados na atmosfera por atividades industriais, como a fundição de alumínio e a fabricação de semicon- dutores, assim como pela rede elétrica. Finalmente, o vapor de água, que é um gás-estufa natural que aumenta de volume com a elevação das tem- peraturas, ampliando o impacto de todos os outros gases- estufa artificiais (GORE, 2006). Buraco na Camada de Ozônio Com o desenvolvimento industrial, foram utilizados durante muito tempo os chamados clorofluorcabonetos (CFCs). Sua emissão provinha de sistemas de refrigerado- res e constituía gases-estufa muito potentes que, ao atin- gir a camada de ozônio, destruíam as moléculas de ozô- nio (O3 ) que a formam, causando, assim, a destruição dessa camada da atmosfera (Figura 11.8). A camada de ozônio, situada na estratosfera, constitui uma fina capa que envolve a Terra e a protege de vários tipos de radiação, sendo que a principal delas, a radiação ultravioleta, é a principal causadora de câncer de pele. A partir do Protocolo de Montreal, assinado por 180 países em 1997, com o compromisso de reduzir a emis- são de gases clorofluorcarbonetos (CFCs), começou a ha- ver uma diminuição do buraco na camada de ozônio (Fi- gura 11.9). Depois de alcançar o tamanho máximo de 29 Figura 11.6 ––––– Fluxo de veículos em um centro urbano (disponível em: <http://www.ambienteecologico.com>). Efeito estufa O fenômeno do efeito estufa ocorre devido à presença natural de gases, como o dióxido de carbono, o metano e o vapor de água em nossa atmosfera, que permite que parte da energia emitida pelo Sol seja aprisionada. De acordo com GORE (2006), quando a energia do Sol incidenaatmosferasobaformadeondasdeluzaquecendo a Terra, parte dessa energia é refletida e volta a irradiar-se pelo espaço, sob a forma de ondas infravermelhas. Em con- dições normais, uma parte dessa radiação é naturalmente retida pela atmosfera – e isso é bom, pois mantém a tem- peraturadaTerradentrodelimitesconfortáveis(Figura11.7). Assim, o efeito estufa é um fenômeno natural que mantém o planeta aproximadamente 30º C mais quente em comparação à Terra sem a presença da atmosfera (HEN- DERSON-SELLERS e ROBINSON, 1999). Ainda segundo GORE (2006), o problema enfrenta- do agora é que a fina camada atmosférica está se tornan- do mais espessa em conseqüência da enorme quantidade Figura 11.7 ––––– Mecanismos de atuação do efeito estufa (disponível em: <http://www.rudzerhost.com/ambiente/ estufa.htm>).
  • 171. 169 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo milhões de km2 em 2003, ele encolheu para 27 milhões de km2 no ano de 2006. Porém, o ritmo de sua recuperação é mais lento que o previsto inicialmente pelos cientistas. Segundo as novas medições, a camada de ozônio sobre as áreas mais habitadas do planeta só voltará aos níveis da década de 1970 por volta do ano 2049. E o buraco sobre o pólo Sul não vai fechar antes de 2065, ou seja, 15 anos mais tarde do que os cientistas esperavam. Aquecimento Global O aquecimento global é um fenômeno climático de larga extensão – um aumento da temperatura média su- perficial global que vem acontecendo nos últimos 150 anos. Entretanto, o significado desse aumento de tempe- ratura ainda é objeto de muitos estudos entre os cientis- tas. Causas naturais ou antropogênicas (provocadas pelo homem) têm sido propostas para explicar o fenômeno. De fato, têm sido detectadas subidas de nível do mar, atribuídas ao degelo como conseqüência do aumento de temperatura durante o século XX. Entretanto, no momento não há testemunhos para se atribuir esse aumento de tem- peratura a um ciclo natural do clima ou às atividades indus- triais. Talvez as causas antrópicas estejam até mesmo acele- rando um processo que já estaria em caminhamento. Dentre as causas antropogênicas, a interação da po- luição atmosférica, do efeito estufa e do aumento do bu- raco da camada de ozônio são consideradas as mais pro- váveis causadoras das alterações climáticas e, conseqüen- temente, pelo aquecimento global. No que se refere a essas causas, podemos, no entanto, atuar para minimizar os seus efeitos, o que tem sido alvo de conferências e acordos entre nações nas últimas décadas. AÇÕES DA ONU Em 1988, a Organização das Nações Uni- das (ONU), a partir da percepção de que a ação humana poderia estar exercendo uma forte in- fluência sobre o clima do planeta e que seria necessário acompanhar esse processo, criou o PainelIntergovernamentalsobreMudançasCli- máticas (IPCC), que é um órgão composto por delegações de 130 governos para prover avali- ações regulares sobre as mudanças climáticas. Desde então, o IPCC tem publicado di- versos documentos e pareceres técnicos. O primeiro Relatório de Avaliação sobre o Meio Ambiente (Assessment Report, ou, simples- mente, AR) foi publicado em 1990 e reuniu argumentos em favor da criação da Conven- ção do Quadro das Nações Unidas para Mu- danças do Clima (UNFCC), a instância em que os governos negociam políticas referentes às mudanças climáticas. O segundo relatório do IPCC foi publica- do em 1995 e acrescentou ainda mais elementos às dis- cussões que resultaram na adoção do Protocolo de Kyoto dois anos depois, graças ao trabalho da UNFCC. O tercei- ro relatório do IPCC foi publicado em 2001. Em 2007, o grupo publicou seu quarto relatório. Desde o primeiro relatório, o trabalho do IPCC, pro- duzido por três grupos de trabalho, é publicado em qua- tro etapas. O primeiro grupo é responsável pelo primeiro capítulo, que reúne evidências científicas de que a mudança climática se deve à ação do homem; o segundo grupo trata das conseqüências da mudança climática para o meio ambi- ente e para a saúde humana; o terceiro grupo estuda ma- neiras de se combater as mudanças climáticas e prover Figura 11.8 ––––– Esquema ilustrativo do buraco na camada de ozônio (disponível em: <http://www.canalkids.com.br/.../imagens/ buraco.gif>). Figura 11.9 – Seqüência de imagens que mostram a diminuição do tamanho do buraco na cama da de ozônio (disponível em: <blog.estadao.com.br/blog/media/>).
  • 172. 170 GEODIVERSIDADE DO BRASIL alternativas de adaptação das populações. Posteriormen- te, é gerado um capítulo que sintetiza as conclusões dos anteriores. No relatório IPCC (2007), pela primeira vez, os cien- tistas demonstraram confiança de que a mudança climáti- ca contemporânea se deve em grande parte à ação huma- na, sobretudo por meio da emissão de gases como dióxi- do de carbono, óxido nitroso e metano, que causam o efeito estufa. Essa ação seria a principal responsável pelo aquecimento global nos últimos 50 anos, cujos efeitos se estenderiam a outros aspectos do clima, como elevação da temperatura dos oceanos, variações extremas de tem- peratura e até padrões dos ventos. Para o IPCC, os países poderiam diminuir os efeitos maléficos do aquecimento global, estabilizando em um patamar razoável as emissões de carbono até 2030, o que custaria cerca de 3% do PIB mundial. Fragilidades e inconsistências nos modelos do IPCC Segundo BRANCO e MARQUES (2008),,,,, a Terra tem sofrido oscilações periódicas de temperatura e clima, que podem ser associadas à quantidade de radiação solar so- bre a sua superfície. Estas variações, em ciclos maiores de aproximadamente 1100, 80 e 11 anos, também são influ- enciadas por outros fatores, como a órbita elíptica da Ter- ra em torno do Sol, inclinação do eixo de rotação da Terra e oscilação desse eixo. GERHARD, L. C. (2007) apresenta dados que demonstram que a temperatura da Terra no hemisfério norte apresenta covariância forte com a irradi- ação e não com a variação do CO2 na atmosfera. Projeções dos modelos climáticos permitem a gera- ção de cenários de clima no futuro, mas ainda não distin- guem ou separam os efeitos da variabilidade natural do clima, da variabilidade induzida pelo homem. Efeitos como as explosões dos vulcões podem produzir um esfriamento da atmosfera que pode durar até dois anos, mas o aqueci- mento continua depois. Níveis de confiança nas previsões podem ser maiores se for considerado o impacto de incre- mento nas concentrações dos gases de efeito estufa nas mudanças dos componentes dos balanços de energia e hidrológicos globais, enquanto que pode haver pouca confiança em previsões de mudanças na freqüência e in- tensidade de eventos extremos de tempo e clima (El Niño, períodos secos, chuvas intensas, freqüência e intensidade de ciclones tropicais e furações, tornados, etc.). Estudos da Oscilação em Ciclos de 25-30 anos da temperatura do Pacífico (PDO) e do Atlântico Norte (NAO), conhecidas e monitoradas desde 1880, as quais apresen- tam uma forte correlação com flutuações glaciais e os sunspots (manchas escuras que aparecem no Sol), que correspondem a fortes campos magnéticos (primeiramente observadas por Galileo Galilei em 1610, e monitoradas diariamente desde 1749) http://icecap.us/images/uploads/ GSA.pdf , foram validados e anunciados pelo JPL-NASA, comprovam que as previsões catastróficas do aquecimen- to global feitas pelo IPCC são altamente inacuradas e im- precisas, evidenciando-se o oposto, com maior clareza para as projeções feitas até 2040, que estamos terminando um ciclo de aquecimento e iniciando décadas de resfriamento global, com base nos estudos do Prof. Don Easterbrook, em 2001, 2006, 2007, publicados na GSA. CENÁRIOS FUTUROS Com os dados disponibilizados nas pesquisas, os cien- tistas preparam modelos de previsão simulando cenários fu- turos que podem se apresentar mais ou menos favoráveis. Dentre tais cenários, o IPCC estima que até o fim deste século a temperatura da Terra deva subir entre 1,8º C e 4º C, o que aumentaria a intensidade de tufões e secas, ameaçando cerca de um terço das espécies do planeta, juntamente com uma maior vulnerabilidade das populações frente às doenças e escassez de comida. O grupo também calcula que o derretimento das ca- madas polares pode fazer com que os oceanos se elevem entre 18 cm e 58 cm até 2100, fazendo desaparecer pe- quenas ilhas e obrigando centenas de milhares de pessoas a engrossar o fluxo dos chamados “refugiados ambien- tais” – pessoas que são obrigadas a deixar o local onde vivem em conseqüência da piora do meio ambiente. A estimativa do IPCC é de que mais de um bilhão de pessoas poderiam ficar sem água potável por conta do der- retimentodogelonotopodecordilheirasimportantes,como Himalaia e Andes. Essas cordilheiras geladas servem como “depósitos naturais” que armazenam a água da chuva e a liberamgradualmente,garantindoumabastecimentocons- tante dos rios que sustentam populações ribeirinhas. Em seu segundo relatório, o IPCC alerta que partes da Amazônia podem virar savana e que há a possibilidade de 50% da maior floresta tropical do mundo se transfor- marem parcialmente em cerrado. Há riscos também para o Nordeste brasileiro, que poderia ver, no pior cenário, até 75% de suas fontes de água desaparecerem até 2050. Os manguezais também seriam afetados pela elevação do nível da água. MARENGO (2006) afirma que, apesar de a contribui- ção do Brasil para a concentração global de gases de efei- to estufa ser menor que a dos países industrializados, a contribuição devido a queimadas (fumaça e aerossóis) é bastante elevada. O Brasil é o quarto maior emissor do planeta, quando são levados em conta os gases lançados na atmosfera em conseqüência de queimadas que ocasio- nam desmatamento. AÇÕES PROPOSTAS Há várias maneiras de reduzir as emissões dos gases de efeito estufa, como diminuir o desmatamento, incenti- var o uso de energias renováveis não-convencionais, prá- tica da eficiência energética e reciclagem de materiais,
  • 173. 171 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo melhoria do transporte público, programas de educação ambiental etc. Outras ações passíveis de serem adotadas por um ci- dadão comum, por mais simples que sejam, quando visto de forma coletiva, também contribuem para a diminuição do aquecimento do planeta. Essas ações incluem: econo- mia de energia, redução do desperdício de água, substi- tuição de carros populares por transporte coletivo eficien- te ou veículos que utilizem combustíveis menos poluen- tes, como o biocombustível ou álcool, utilização de ener- gias limpas, recuperação e preservação de áreas verdes das grandes cidades. Como conseqüência de uma série de eventos envol- vendo diversos países, deu-se início, a partir de 1997, em Kyoto (Japão), à discussão e assinatura de um tratado in- ternacional que visasse à redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa (GEE). Esse tratado, conhe- cido como “Protocolo de Kyoto”, prevê o chamado Me- canismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) como um dos mecanismos de flexibilização para auxiliar no processo de redução desses gases na atmosfera. Com esse mecanismo, os países desenvolvidos têm até 2012 para reduzir suas emissões em 5,2%, na média, com relação aos níveis de 1990, para dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, e aos níveis de 1995 para hexafluo- reto de enxofre – SF6 e famílias de hidrofluorcarbonos – HFC e perfluorcarbonos – PFC. Além de cortar localmente suas emissões, os países desenvolvidos podem também comprar uma parcela de suas metas em créditos de carbono gerados em projetos em outros países. O Protocolo de Kyoto entrou em vigor a partir de 16 de fevereiro de 2005, com o objetivo de diminuição da temperatura global nos próximos anos. Entretanto, a Aus- trália e os Estados Unidos (EUA) não aceitaram o acordo, alegando que este prejudicaria seus respectivos desenvol- vimentos industriais, sendo os EUA o país que mais emite poluentes no mundo. Após a conclusão da quarta avaliação do IPCC em 2007, membros da UNFCC na 13ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-13), realizada em Bali na Indonésia, aprovaram o Mapa do Caminho. Esse documento define o conteúdo e o prazo das negociações que, em 2009, definirão o novo regime de proteção ao clima e ao com- bate do aquecimento global após 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto. Em nível nacional, foi criado o Grupo de Pesquisa em Mudança Climática (GPMC), que tem como objetivo o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao tema, inclu- indo estudos de monitoramento para caracterizar o clima dopresenteesuavariabilidadeemlongoprazo,assimcomo projeções de cenários futuros para modelamento do clima até o final do século, de acordo com variadas taxas de emis- sões de gases de efeito estufa. O GPMC é liderado pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Entre os membros, há pesquisadores que trabalham nas áreas de mudanças de clima, análises de vulnerabilida- de, estudos de impactos de diversas instituições, incluindo: universidades públicas federais, como a Universidade de São Paulo (USP); fundações, como a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS); instituições do governo federal, como Empresa Brasileira de Pesquisa Agro- pecuária (EMBRAPA), Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ), Agência Na- cional de Águas (ANA), Agência Nacional de Energia Elétri- ca (ANEEL), dentre outras; centros estaduais de meteorolo- gia e organizações não-governamentais, como World Wide Fund for Nature (WWF), Instituto do Homem e Meio Am- bientedaAmazônia(IMAZON)eGreenpeace.Ogrupotam- bém trabalha em conjunto com o Programa Nacional de Mudanças Climáticas do Brasil e com programas nacionais de alguns países da América do Sul. Geoindicadores Outra importante ferramenta que tem sido divulgada nos últimos anos pela comunidade científica se refere à utilização de geoindicadores. Com base nos trabalhos de BERGER & IAMS (1996) e BERGER (1997), a IUGS, atra- vés da (Comission on Geological Sciences for Environmental Planning (COGEOENVIRONMENT), promo- veu diversos encontros que culminaram na Iniciativa GEOIN http://www.lgt.lt/geoin/ , que estabeleceu 27 geoindicadores básicos que foram usados em diversos tra- balhos no Brasil e em diversos países, sobre diversos te- mas relacionados às mudanças climáticas, seus impactos e ações de adaptação, principalmente, e prevenção. Os Geoindicadores são medidas (magnitudes, fre- qüências, taxas e tendências) de processos geológicos e fenômenos que ocorrem na superfície terrestre ou próxi- mo a esta, sujeitos a mudanças significativas para o en- tendimento de mudança ambiental em períodos de, no máximo, 100 anos (podendo se estender para 100-200 anos). Seu conhecimento e monitoramento é um impor- tante subsídio para as medidas de adaptação e ao desen- volvimento sustentável. Tais indicadores são baseados em métodospadronizadoseprocedimentosdemonitoramento multidisciplinares, com base científica, a partir de dados de geologia, geoquímica, geomorfologia, geofísica, hidrologia e outras ciências da Terra, no intuito de se ava- liar as condições de ambientes terrestres e costeiros, tanto em nível local quanto global, para então entender as cau- sas e efeitos produzidos por esforços antrópicos ou natu- rais adicionados ao sistema. As colunas da direita do Quadro 11.1 são uma tenta- tiva de mostrar a importância relativa das forças naturais, em contraste com as tensões induzidas pelo homem, nas causas da mudança que um determinado geoindicador controla (BERGER, 1998). A aplicação desses parâmetros, que determinam alte- rações nas paisagens, tanto em áreas urbanas quanto ru-
  • 174. 172 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Quadro 11.1 – Lista dos geoindicadores e respectivas influências das tensões humanas e das forças naturais Geoindicadores Mudanças ambientais que refletem Forças naturais Tensões humanas Zonas áridas e semi-áridas Crostas e fissuras em superfície desértica Aridez 1 2 Formação e reativação de dunas Velocidade e direção dos ventos, umidade, aridez, disponibilidade de sedimentos 1 2 Magnitude, duração e freqüência de tempestade de areia Transporte de areia, aridez, uso do solo 1 2 Erosão eólica Clima, uso do solo, cobertura vegetal 1 2 Criosfera Atividade de solo congelado Clima, hidrologia, movimento de talude 1 2 Flutuações de geleiras Precipitação, insolação, fluxo de derretimento 1 3 Zonas costeiras e marinhas Química do coral e padrão de crescimento Temperatura da água de superfície e salinidade 1 1 Nível relativo do mar Subsidência e elevação costeira, clima, extração de fluidos, sedimentação e compactação 1 2 Linha da costa Erosão costeira, transporte e deposição de sedimentos, uso do solo, nível do mar, clima 1 1 Lagos Níveis e salinidade de lagos Clima, uso do solo, fluxo de água (vazão), circulação da água subterrânea 1 1 Rios e riachos Fluxo de corrente Clima, precipitação, bacia de drenagem, uso do solo 1 1 Morfologia de canal Carga de sedimento, velocidade de fluxo, clima, uso de solo, subsidência 1 1 Armazenamento e carga de fluxo de sedimento Transporte de sedimento, taxa de fluxo, bacia de drenagem, uso de solo 1 1 Áreas úmidas Extensão, estrutura e hidrologia de terras úmidas Uso do solo, clima, produtividade biológica, vazão de fluxo 1 1 Águas de superfície e subterrâneas Qualidade de água de superfície Clima, uso do solo, interações água-solo-rocha, velocidade de fluxo 1 1 Qualidade da água subterrânea Uso do solo, contaminação, alteração de rocha e solo, radioatividade, precipitação de ácidos 2 1 Química da água subterrânea na zona não saturada Alteração de solos e rochas, clima, uso do solo 1 1 Nível da água subterrânea Clima, impermeabilização e recarga 2 1 Atividade cárstica Química e fluxo da água subterrânea, clima, cobertura vegetal, processos fluviais 1 2 Solos Qualidade do solo Processos químicos, biológicos e físicos no solo, uso do solo 2 1 Erosão de solos e sedimentos Clima, tempestade de água, vento, uso do solo 1 1 Riscos naturais Deslizamento de encostas Estabilidade de taludes, movimentos lentos e rápidos de massa, uso do solo, precipitação 1 1 Sismicidade Natural e induzida pelo homem liberando tensões da Terra 1 2 Atividade vulcânica Movimento de magma próximo à superfície, liberação de gases magmáticos, fluxos de calor 1 3 Outros Seqüência e composição de sedimentos Clima, uso do solo, erosão e deposição 1 1 Regime de temperatura de subsuperfície Clima, fluxo de calor, uso do solo, cobertura vegetal 1 2 Deslocamento da superfície Sublevação e subsidência da Terra, falhamento, extração de fluidos 1 2 Nota: 1= Forte influência; 2 = Pode influenciar; 3 = Pouca influência Fonte: BERGER (1997, 1998).
  • 175. 173 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Maria Angélica Barreto Ramos, Samuel Viana, Elias Bernard do Espírito Santo rais, tem sido uma importante ferramenta entre gestores e pessoas que tomam decisões. Os geoindicadores podem ajudar a determinar impactos ambientais, monitorar ecos- sistemas de forma contínua, selecionar práticas de reflo- restamento e determinar condições de base prévias para todo o planejamento de exploração mineral, usos da ter- ra, construções de vias, canais, desvios de rios etc. No caso de um país de dimensões continentais como o Brasil, com grande diversidade de paisagens, clima, fau- na, flora, uso do solo etc., é de extrema necessidade, a partir de ações integradas entre órgãos governamentais, universidades e organizações e pesquisadores autônomos, o estabelecimento de uma rede nacional de geoindicado- res integrada às demais redes internacionais. Dos 27 geo- indicadores propostos por BERGER (1997), com exceção daqueles relacionados às atividades vulcânicas ou gelei- ras, praticamente todos podem ser incorporados à reali- dade brasileira. O conhecimento de nosso ambiente, a partir de mé- todos científicos, precederia às tomadas de decisões ne- cessárias, tanto para minimizar os impactos antrópicos causados no meio, quanto ao desaceleramento das mu- danças, ainda que ocorram a partir de causas naturais, ou até para a adaptação humana às novas condições ambien- tais, quando estas se tornam irreversíveis. Sugestões de Medidas de Adaptação no Brasil Apesar das criticas ao modelo do IPCC por não consi- derar os dados das ciências da Terra e estabelecer cenários em parte inconsistentes, a intervenção do homem no meio ambiente é notória e, assim, no Brasil, segundo BRANCO e MARQUES (2008),,,,, deve-se já ir pensando na adaptação com vistas a se adequar aos impactos causados pela mu- dança global do clima, por meio da formulação e imple- mentação de um conjunto de estratégias setoriais, que consequentemente darão maior capacidade de adaptação as populações, principalmente as que são mais carentes e habitam em regiões sujeitas a um maior impacto das intempéries. Essa adequação se baseia na identificação da vulnerabilidade dos biomas brasileiros ao aumento da con- centração de gases de efeito estufa, e dos impactos decor- rentes na sociedade brasileira, particularmente nas áreas de zonas costeiras, saúde, biodiversidade, agropecuária, florestas, recursos hídricos e energia. Primeiramente, é absolutamente necessário aprimo- rar a coleta de dados e dispor de modelos para elaboração dos cenários futuros do clima no território nacional, de tal forma a permitir melhores avaliações das vulnerabilidades e dos impactos das mudanças climáticas globais, e permi- tir assim a priorização de estratégias de adaptação. Neste sentido é importante ressaltar que os modelos do IPCC são construídos com base em pesquisas e traba- lhos localizados quase que totalmente (aproximadamente 95%) realizados no Hemisfério Norte, o que torna esses modelos enviesados do ponto de vista estatístico. No que diz respeito ao estudo dos paleoclimas, é importante a contribuição da Paleontologia, o estudo dos espeleotemas e outras formas existentes nas cavernas em ambiente cárstico, através de datações com isótopos de C14 , O18 , U absoluto. O monitoramento da mobilidade da linha de costa, para distinguir tendências de ciclos e, assim, melhor orientar asaçõesdegerenciamentocosteiroeordenamentosmunici- pais de ocupação urbana, é outro elemento importante. Como instrumento de gestão para a previsão de im- pactos e estabelecimento de estratégias de adaptação de estabelecimentos agrícolas às mudanças climáticas, res- salta-se a importância de integração de zoneamentos eco- lógicos e edafoclimáticos, que sinalizem para o uso sus- tentável dos recursos naturais e dos ecossistemas, sobre- tudo em áreas mais vulneráveis. No que diz respeito aos recursos hídricos, reco- menda-se aplicar instrumentos de gestão, notadamente a gestão integrada de bacias hidrográficas, a fim de facilitar a adaptação aos efeitos da mudança climática sobre os regimes hidrológicos. O aumento populacional no planeta não condiz com o aumento na demanda por recursos hídricos. Há necessidade de mudança de hábitos de consumo, ou seja, mudança de paradigmas. A gestão dos recursos hídricos e o planejamento do desenvolvimento urbano são estratégias para essa mu- dança. Examinar os impactos ambientais considerando a fre- qüência e intensidade de desastres naturais para as popula- çõespobresruraiseurbanasesobreainfra-estruturaurbana. E, o uso racional de fertilizantes nitrogenados em ati- vidades agrícolas e pecuárias. BIBLIOGRAFIA AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. BERGER, A. R. Assessing rapid environmental change using geoindicators. Environmental Geology, v. 32, n. 1, p. 36- 44, 1997. ______. Environmental change, geoindicators, and the autonomy of nature. GSA Today. Geological Society of America, v. 8, n. 1, p. 3-8, p. 1998. ______; IAMS, W. J. (Eds.). Geoindicators-assessing ra- pid environmental changes in earth systems. Rotterdam: Balkema, 1996. 466 p. BERNER, R. A.; LASAGA, A. C.; GARRELS, R. M. The car- bonate-silicate geochemical cycle and its effect on atmos- pheric carbon dioxide over the past 100 million years. Amer. J. Sci., n. 283, p. 641-683, 1983. BRANCO, P.C. ; MARQUES V.J. Contribuição dos Geocien- tistas ao Conhecimento as Mudanças Climáticas no Brasil - Proposta de Ações de Mitigação. Palestra e Painel no 44º Congresso Brasileiro de Geologia, Curitiba, 2008.
  • 176. 174 GEODIVERSIDADE DO BRASIL CAIN, M. A.; MOLNAR, P. Closing of the Indonesian sea- way as a precursor to east African aridification around 3-4 million years ago. Nature, n. 411, p. 157-162, 2001. ENDAL, A. S.; SCHATTEN, K. H. The faint young sun- climate paradox: continental influences. J. Geophys, 1982. GERHARD, L.C. Geologic Constraints on Global Climate Variability. 2007. http://www.warwickhughes.com/geol/ index.htm. GORE, A. Uma verdade inconveniente: o que devemos saber (e fazer) sobre o aquecimento global. São Paulo: Manole, 2006. GROISMAN, P. Possible regional climate consequences of the Pinatubo eruption: an empirical approach. Geophysi- cal Research Letters, v. 19, p. 1603-1606, 1992. HECHT, J. Asteroidal bombardment wiped out the dino- saurs. New Scientist, n. 138, p. 14, 1993. HENDERSON-SELLERS, A.; ROBINSON, P. J. Contempora- ry climatology. 2. ed. Inglaterra: Longman, 1999. IPCC. IPCC Special Report: aviation and the global at- mosphere. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. 373 p. ______. HOUGHTON, J. T.; DING, Y.; GRIGGS, D. J.; NO- GUER, M.; VAN DER LINDEN, P. J.; XIAOSU, D. (Eds.). 2001. Climate change 2001: the scientific basis. Contri- bution of Working Group I to the Third Assessment Re- port of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. 944 p. ______. Sumário para os formuladores de políticas. Con- tribuição do Grupo de Trabalho I para o Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudan- ça do Clima. 10ª sessão do Grupo de Trabalho I do IPCC, Paris, fev. de 2007. Disponível em: <http//:www.natbrasil. org.br>. Acesso em: mar. 2008. KIOUS, W. J.; TILLING, R. I. This dynamic earth: the story of plate tectonics. Reston, Va., U.S. Geological Survey General Interest Publication, 77, 1996. MARENGO, J. A. Mudanças climáticas globais e seus efei- tos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território bra- sileiro ao longo do século XXI. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006. 212 p. il. color.; 21 cm. (Série Biodiver- sidade, v. 26). OLIVEIRA, G. S. O el niño e você: o fenômeno climático. São José dos Campos: Transtec, 1999. 116 p. ROBOCK, A.; LIU, Y. The volcanic signal. In: Goddard Ins- titute for Space Studies three-dimensional model simulati- ons. Journal of Climate, v. 7, p. 44-55, 1994. SELF, S.; ZHAO, JING-XIA; HOLASEK, R. E.; TORRES, R. C.; KING, A. J. The atmospheric impact of the 1991 mount Pinatubo eruption. In: NEWHALL, C. G.; PUNONGBAYAN, R. S. (Eds.). Fire and mud: eruptions and lahars of mount Pinatubo, Philippines. Seattle: University of Washington Press, 1996. 1126 p. SUGUIO, K.Mudanças ambientais da Terra. São Paulo: Ins- tituto Geológico, 2008. 356 p. WORSLEY, T. R.; NANCE, R. D.; MOODY, J. B. Tectonic cycles andthe historyofthe earth’s biogeochemical andpaleooce- anographicrecord.Paleoceanography,v.1,p.233-263,1986. MARIA ANGÉLICA BARRETO RAMOS Geóloga formada (1989) pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre (1993) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ingressou na CPRM/BA em 1994, onde atuou em Mapeamento Geológico no Projeto Aracaju ao Milionésimo. A partir de 1999, na área de Gestão Territorial, participou dos projetos Acajutiba-Aporá-Rio Real e Porto Seguro-Santa Cruz Cabrália, onde também passou a atuar na área de Geoprocessamento, integrando a equipe de coordenação do Programa GIS do Brasil e do Banco de Dados GEOBANK. Atualmente, exerce a Coordenação Nacional de Geoprocessamento do Projeto Geodiversidade do Brasil no Departamento de Gestão Territorial (DEGET). SAMUEL MAGALHÃES VIANA Graduado em Geologia (1999) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre (UERJ/2003). Doutor em Ciências (UERJ/2008), com área de concentração em Análise de Bacias e Faixas Móveis. Iniciou suas atividades profissionais como geólogo de Engenharia em Projetos de Usinas Hidrelétricas. Entre 2005 e 2006, exerceu pela UNAP atividades de perfilagem em poços off shore para exploração de petróleo. Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 2007. Desde então, desenvolve suas atividades no Departamento de Gestão Territorial (DEGET), com atividades aplicadas a riscos geológicos envolvendo escorregamentos e inundações. ELIAS BERNARD DA SILVA DO ESPÍRITO SANTO Graduado em Geografia (2004), pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Especialização em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente (UEFS 2006). Professor de Fundamentos de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento pela Faculdade Maria Milza (2006 – 2007). A partir de 2005 passou a atuar na equipe da Divisão de Geoprocessamento da CPRM-DIGEOP.
  • 177. 175 ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE Suely Serfaty-Marques 12 ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE Suely Serfaty-Marques ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Escopo, Conceitos e Objetivos .................................................. 176 Campo de Aplicação ................................................................. 177 Abordagem Metodológica ....................................................... 177 Desafios e Contribuições .......................................................... 178 Enfoque Humanístico ............................................................... 178 A Ética na Ciência ..................................................................... 179 Lições de Ética .......................................................................... 179 Conclusão ................................................................................. 180 Bibliografia ............................................................................... 180
  • 178. 176 GEODIVERSIDADE DO BRASIL A geodiversidade e sua aplicação representam a fu- são do conhecimento das geociências, que, juntamente com o saber das demais áreas científicas, são indispensá- veis ao planejamento e ocupação do território nacional, em prol da sociedade brasileira. Não obstante, cabe refletir sobre a conduta ética de- sejável nos programas e projetos de desenvolvimento que projetem a plena realização dos mais nobres desejos de uma população jovem, que almeja um meio ambiente natural e social harmonioso, com espaço para a convivên- cia pacífica entre todos. Desse modo, urge que se adote um novo paradigma que apregoe o bem-estar coletivo como política máxima, sobrepondo-se a visões demagógicas, setoriais ou indivi- dualistas. Para que se obtenha tal avanço e consolidação, preci- sa-se estudar e diagnosticar a atuação das sociedades hu- manas sobre os territórios e a aplicação desses conheci- mentos no planejamento dos programas e projetos de desenvolvimento econômico e social. O resultado da evolução da consciência individual e coletiva sobre o papel homem-natureza é essencial em qualquer estudo; só assim serão soterrados os modelos cartesianos, com relação aos meios físico, biótico e social. A ecologia humana estuda o comportamento do ho- mem sob variáveis ambientais. É alicerçada por conceitos da biologia e compreende três abordagens: de sistemas, evolutiva e aplicada ou demográfica. Seu estudo da “rela- ção do homem com o ambiente” repercute em pondera- ções econômicas, sociais e psicológicas, transcendendo a singular visão da ciência ecológica. A adaptação do indivíduo ou do grupo significa para a espécie humana uma das maiores razões para o sucesso reprodutivo. Quanto ao ambiente, é comum incluir-se “am- biente social” como uma variável ambiental, o que signifi- ca ampliar-se o conceito de ambiente ao aplicá-lo às popu- lações humanas. Assim sendo, identificam-se várias “eco- logias humanas”, provenientes da junção de áreas dessemelhantes, muitas vezes conceitualmente indefinidas ou pouco claras. O planeta Terra remonta uma história geológica, cuja matéria mineral, mínero-orgânica, primordialmente não- viva, evoluiu para um sistema orgânico, comumente cha- mado de vida orgânica. Trata-se de uma película que en- volve um esqueleto essencialmente abiótico – a hipótese de Gaia, a Terra viva. O conjunto dos componentes da Terra interage se- gundo vinculações sistêmicas, disso sucedendo que essa é a forma mais correta de abordagem do temário, que diz respeito ao conhecimento das inter-relações. Embora sua idade seja superior a quatro e meio bi- lhões de anos, o homo sapiens, que provém de uma li- nhagem evolutiva, somente nela apareceu há cerca de seis milhões de anos. Apesar disso, essa espécie, nos últimos 100.000 anos, desenvolveu grande habilidade para sobre- viver às mais extremas mudanças climático-ambientais. Su- cessivas tecnologias permitiram-lhe habitar praticamente todos os recantos dos cinco continentes, em quase todas as altitudes e latitudes, o que representa um incomparável feito em termos biológicos. No que tange à agricultura e à pecuária, o homem produziu inúmeras e potentes ferramentas e tecnologias, que se vêm constituindo em importantes agentes ambientais sobre os ecossistemas. Por essa razão, muitos geólogos especializados em geologia do Cenozóico acei- tam o período de 10.000 a.P. (antes do presente) como o limite para o Quinário ou Tecnógeno (TER-STEPANIAN, 1988), em que o papel desempenhado pelo homem mo- derno, depois que começou a praticar a agricultura, re- presenta um evento geológico de magnitude global. Nesse ponto, cabe argumentar que, filosoficamente, a sociedade atribui à espécie humana um grande diferen- cial em relação aos demais animais, seja por sua inteligên- cia ou pela dotação de uma alma de origem divina. Con- tudo, não se podem desconhecer as relações de interdependência entre o homem e os fenômenos plane- tários e cosmosféricos. Os geólogos perceberam e enfatizaram o quanto o desenvolvimento das espécies ve- getais e animais co-evoluiu com os geossistemas, ao lon- go de bilhões de anos. Entrementes, o antropocentrismo obliterou a transfe- rência dessa “verdade” para as relações da espécie huma- na com o meio ambiente. Com exceções a culturas pouco tecnológicas ou científicas, os povos que se expandiram e dominaram continentes agiram como se estivessem no centro da criação, em que o meio ambiente existia para servir a seus propósitos, segundo desígnios superiores. Assim, o tratado das civilizações humanas é ponti- lhado de grandes desastres ecológicos e sociais, refletindo a progressiva degradação dos recursos ambientais, como decorrência da má ocupação do meio ambiente, desta- cando-se o declínio das grandes civilizações mediterrâ- neas e mesopotâmicas, que foram o berço da humanida- de. Por exemplo, no século XII, a Europa já sofria um desmatamento desenfreado. Somente a partir do século XIX, com o crescimento explosivo da população mundial, surgiu a consciência das limitações dos recursos ambientais e da singularidade do meio ambiente. ESCOPO, CONCEITOS E OBJETIVOS A “ecologia humana” foi criada por Juan José Tapia Fortunato (1993), com uma enorme massa de dados pró- prios e oriundos de diversas teorias, tais como: Psicologia Analítica de Jung, Programação NeuroLingüística (PNL), Aprendizagem Acelerativa, Análise Transacional, Física Quântica, Teoria Holotrópica da Mente e muitas outras, formando um verdadeiro arsenal de tecnologia aplicável ao desenvolvimento da ética individual, a partir de enfoques educacionais, organizacionais e psicoterápicos, usando todos os meios disponíveis de comunicação.
  • 179. 177 ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE Suely Serfaty-Marques É uma ciência transdisciplinar, com ascendência a todos os demais campos da ciência, no que tange ao pro- cesso evolutivo do homem em relação ao planeta Terra. Seu objeto de estudo é a relação do ser humano com o seu ambiente natural. Assim sendo, a ecologia humana é uma hipótese so- bre a convivência, a ética e a condição humana, cujo co- nhecimento e treinamento sistemático, em prol da boa relação humana, objetivam recuperar a harmonia com o meio ambiente e cultivar os deveres, o respeito e a ética individual e coletiva. Os ecossistemas humanos ou antrópicos conjugam tantooselementosnaturais(orgânicoseinorgânicos)quan- to os culturais (hábitos, valores e tecnologias). São res- ponsáveis pelo suporte à vida humana, cujo enfoque antropocêntrico se caracteriza pela busca ao atendimento das necessidades físicas e psicológico-mentais. Dessa forma, o ambiente afetado pela população humana poderá ser mais ou menos favorável à conserva- ção dos serviços ambientais benéficos à saúde, ao forneci- mento de matérias-primas essenciais ao bem-estar ou manutenção das civilizações, despontando nesse quesito a água, os solos e os recursos minerais. O homem exerce influência em outra variável essen- cial ao suporte da vida, que é o clima, uma questão con- siderada, até então, de fundamental interesse geológico (mudançaslentas,segundoperíodosoueras).Apartirdessa percepção, os primeiros exercícios concernentes às conta- bilidades ambientais demonstraram que o estilo de vida “industrial”, que hoje se propaga por quase todo o plane- ta, é ambientalmente insustentável, considerando-se os atuais níveis tecnológicos predominantes. CAMPO DE APLICAÇÃO Não há um consenso universal sobre qual deva ser o papel da ecologia humana, coexistindo várias linhas con- temporâneas. A interação de populações humanas com o meio ambiente é analisada sob o ponto de vista da ecolo- gia e de disciplinas afins, como a antropologia, geografia, sociologia e psicologia. Por outro lado, apesar da tentação de encarar-se a ecologia humana como um ramo da ecologia, implican- do a aplicação de métodos dessa ciência, isso não é corre- to, uma vez que ela inclui fatores econômicos, sociais e psicológicos, que incluem as variáveis que nos diferenci- am, em termos de comportamento, de outras espécies animais. É justamente essa sobreposição da capacidade de mu- dareadaptaromeioambienteàssuasnecessidades,emum sentido mais amplo que apenas a satisfação das necessida- des básicas, que faz com que a ecologia humana se revista de tantos desafios para a compreensão e o modelamento. A ecologia humana inclui o mapeamento da diversi- dade cultural em todos os seus aspectos, mas também é mais do que apenas um retrato, um instantâneo, na me- dida em que a cultura evolui conforme evolui mentalmente o individual e o coletivo; nesse sentido, ocorre uma difi- culdade intrínseca, que é a incapacidade de realizar expe- rimentos em larga escala ou que possam ser reproduzidos com o grau de confiabilidade das chamadas ciências exa- tas – e a economia é pródiga. Os resultados auferidos por meio de documentos his- tóricos não são suficientes para que se afirme a sua repro- dução, uma vez que os sistemas vivos têm a peculiar capa- cidade de aprender e ohomo sapiensem particular. É como se disséssemos que o presente não é a chave do passado, mas a decorrência, o resultado de concepções e ações to- madas anteriormente. Da mesma forma que o futuro não é uma simples projeção do passado, ou como diria GODET (1985, 1997): “o futuro é uma construção social” que é uma das pedras de suporte do raciocínio que conduz às técnicas de elaboração de cenários futuros. ABORDAGEM METODOLÓGICA Metodologicamente, devem-se recuperar algumas abordagens interessantes aos estudos do homem. Assim, MARGALEFF (1977) apresenta dois enfoques: a) o homem como mais uma espécie componente dos ecossistemas; b) o homem e a natureza, como sistemas individuais. O primeiro é mais científico e, o segundo, mais prático. Na realidade, o primeiro enfoque tem sido característico das ciências biológicas e o segundo, das sociais. No caso dos esforços de órgãos de planejamento para coordenar e ordenar a ocupação do território brasileiro, sobretudo na Amazônia, inicialmente se adotou o segun- do enfoque, na medida em que as zonas ecológico-eco- nômicas seriam definidas a partir da intersecção de ele- mentos do meio físico-biótico (sustentabilidade e vulnera- bilidade) e do meio social (potencialidade). Essa abordagem, ainda que útil, não consegue cap- turar todos os elementos necessários para um zoneamento que conduza ao desenvolvimento sustentável. Conseqüen- temente, os trabalhos conduzidos pela Companhia de Pes- quisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), sobretudo na Amazônia, valeram-se dos con- ceitos desenvolvidos por ODUM (1983, 1985). Eles pro- põem que a natureza, em sua estrutura e função, consista de animais, plantas e microorganismos adaptados ou em adaptação ao meio físico e ao clima, ou seja, um ecossistema e sociedades humanas, em que as partes vi- vas são interligadas por um fluxo de substâncias químicas e energia, enquanto na porção antrópica ocorrem trocas de informações e trocas econômicas (monetárias). Tal percepção conduziu à busca simultânea de se desenvolverem modelos capazes de tornar previsível o comportamento da biodiversidade e do meio físico e de técnicas que permitissem auscultar o futuro não como uma projeção do passado, mas como uma construção social, fruto da interação dos entes sociais ao longo da trajetória a ser descrita.
  • 180. 178 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Desse modo, adotaram-se técnicas de elaboração de cenários alternativos às práticas de zoneamento ecológi- co-econômico, fundamentais para uma sociedade em pro- cesso de modernização, mas com graves problemas soci- ais. Correspondem a modelos de desenvolvimento viáveis, em uma projeção para as próximas décadas, sendo forte- mente influenciados pela apropriação de recursos natu- rais, sobretudo de recursos minerais, petróleo e água, so- los (agroflorestais) e serviços ambientais. Assim sendo, é eminente o papel dos recursos da geodiversidade como elementos estratégicos para o de- senvolvimento econômico e social do país. Não se res- tringe, portanto, à descoberta e aproveitamento dos re- cursos da biodiversidade, mas a utilizá-los dentro de uma perspectiva cujo contexto seja ambientalmente sustentá- vel, economicamente viável e socialmente justo, ou seja, efetivamente humano, conforme as mais modernas con- cepções. O bom êxito depende do correto planejamento e da construção coletiva, elaborados a partir de uma visão do futuro desejado, com base nesses conceitos, definindo as oportunidades e prevenindo acidentes de percurso inter- nos e ameaças externas, que produzirão os caminhos crí- ticos ou eixos de desenvolvimento desejáveis que contem- plem um cenário futuro de bem-estar coletivo (felicidade social). Em verdade, poder-se-ia dizer que dentro de uma vi- são filosófica, os recursos da biodiversidade devem ser encarados como um capital natural, posto à disposição da humanidade para que esta dele se utilize em prol de seu desenvolvimento físico, mental e espiritual. DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES Aqueles que se debruçam sobre a geodiversidade fa- cilmente se apercebem que o território brasileiro realmen- te abarca uma grande variedade de ambientes e recursos minerais, combustíveis fósseis, solos, água, energia eólica, belezas cênicas e outros, sob forma de metais, petroquímicos, energia, transporte. Apesar disso, a socie- dade, como um todo, desconhece a real importância da atividade mineral e a falta que faz o discernimento geoló- gico em todas as suas atividades, predominando, assim, uma visão simplista de que ela destrói o meio ambiente. Por outro lado, com relação ao setor mineral, há a necessidadedeseinternalizaraocupaçãohumanaemáreas ínvias, desprovidas de logística, diferentemente da agri- cultura, por exemplo. A mineração é capaz de criar imen- sos pólos de riqueza (PIB) que funcionam como promoto- res de uns poucos milhares de empregos bem remunera- dos, cercados por um halo de pobreza, formado pelos excluídos dos processos produtivos no campo e na cida- de, emergentes de todo o país. Onde está, então, o problema, no que tange à mine- ração organizada, geradora de riqueza, que vem pagando os devidos impostos e contribuindo para o balanço de pagamentos? Naqueles que, não tendo mais o que per- der, vivem a expensas das sobras do megaempreendimen- to? Para onde foram destinados os impostos oriundos da mineração, às vezes por décadas? A resposta se resume na governabilidade ou qualidade da governança, o que significa que, embora sem riqueza, pode-se satisfazer às necessidades básicas de todos, desde que haja uma boa gestão, sem a qual jamais se poderão obter resultados satisfatórios. Todo esse infortúnio se justifica pela ausência de bons projetos de desenvolvimento, capazes de mobilizar a so- ciedade, melhorando a rentabilidade dos investimentos, com políticas públicas embasadas na ética, no potencial econômico e nas possibilidades intelectuais e culturais. Dessa forma, precis-se complementar uma visão ecológi- co-preservacionista aos aspectos psicológicos das popula- ções afetadas, em termos de perdas culturais, hábitos de sobrevivência humana, auto-estima e dignidade; variáveis ou indicadores que ainda não conseguem competir, no mesmo nível, com os fatores econômicos clássicos. O maior dos desafios consiste em se estabelecer mo- delos econômicos adequados às sociedades que irão im- pactar, como elemento primário para a racionalização dos processos desenvolvimentistas. A construção social de um futuro comum, de alta qualidade, deve ser, obrigatoria- mente, o objetivo maior a ser perseguido. Para alcançá-lo, torna-se necessário definir as habilidades e especificidades contidas no ramo do conhecimento das engenharias cons- trutivas, ambientais, sociais, bem como a ética coletiva na implementação de programas econômicos. Sempre se devem implementar estudos com base em uma nova en- genharia, que defina, nesta ordem, os processos sociais, econômicos e ambientalmente sustentáveis, e não mode- los aleatórios. ENFOQUE HUMANÍSTICO A análise sistêmica demonstra que existem profundas correlações entre o macro- e o microcosmo, assim como entre as segmentações convencionais do conhecimento que chamamos de “ciências”. A análise transacional, por exemplo, que tem como fundador Eric Berne, representa uma ferramenta impor- tante ao autoconhecimento e à expansão da consciência; proporciona às pessoas uma visão real do todo, imprimin- do-lhes o dever de aceitação e de boa convivência com o diferente, dentro da imensa diversidade do Universo, bus- cando, assim, a obtenção da eficiência na vida e nas orga- nizações. A trabalhabilidade é um conceito criado para descre- ver uma nova condição do trabalhador ou das instituições (e grupos de trabalho) diante do mercado de trabalho. Consiste em que, a cada indivíduo ou coletivamente, cabe assumir a responsabilidade de gerenciar o desenvolvimen- to e aperfeiçoamento de suas competências duráveis e atualizar, de forma constante, as competências transitóri-
  • 181. 179 ECOLOGIA HUMANA NA GEODIVERSIDADE Suely Serfaty-Marques as ou renováveis, competências essas que possuem um valor de mercado (econômico latu sensu) e poderão ser utilizadas tanto na relação empregatícia como em outras formas de atividade remunerada, ou seja: existe mercado para o que se produz? Pessoas e instituições que investem em suas compe- tências duráveis e, por isso, têm condições de constante- mente atualizar-se, possuem maior amplitude de opções, elevando assim sua probabilidade de sucesso. Em termos de análise transacional, há um modelo teó- rico da personalidade individual ou coletiva, segundo o qual o estado de ego desempenha a função de executivo da per- sonalidade. Os três estados de ego, descontaminados, atu- amcombasenosdadosdarealidadeinternaeexterna,fruto do diálogo entre o que permite às pessoas tomarem suas decisões de forma consciente, responsável e gratificante. Competências duráveis são capacidades, conhecimen- tos, aptidões e experiências que proporcionam às pessoas suficiente estabilidade e equilíbrio interno para lidar com a instabilidade e a imprevisibilidade externa. As competências duráveis manifestam-se por meio de comportamentos, visão de mundo, posicionamentos, decisões e trajetória de vida, que refletem a coerência pra- ticada entre as palavras e as ações, fruto de um processo de integração e equilíbrio entre os aspectos afetivos, comportamentais e cognitivos. São elementos construtivos das competências durá- veis: autoconhecimento; competência interpessoal; sensi- bilidade e intuição; conectividade; versatilidade/adaptabi- lidade; capacidade de negociação e de administrar confli- tos; abertura e disposição para aprender e reconstruir ex- periências. Oelemento-síntese,quecongregatodososdemais,éa capacidade de criar e manter redes de relacionamento (o outro intangível), engajar pessoas em objetivos comuns, es- tabelecer vínculos duradouros e autênticos com uma ampla gama de pessoas, parcerias, alianças e contatos diversifica- dos. A conectividade está intimamente ligada à competên- cia interpessoal, autenticidade, empatia, credibilidade, en- tusiasmo, amplitude de interesses e sensibilidade. E, por assim ser, a análise transacional é uma teoria que se vem difundindo globalmente, com seu jeito sim- ples e prático de ajudar o ser humano; dessa forma, está- se tornando efetiva no apoio à vida e às organizações. A ÉTICA NA CIÊNCIA A ética é a teoria ou ciência do comportamento mo- ral dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano (Aristóteles, 384-322 a.C.). Ainda segundo Aristóteles, toda a atividade humana, em qualquer campo, tende a um fim que é, por sua vez, um bem: o bem supremo ou sumo bem, que seria resultado do exercício perfeito da razão, função própria do homem. O estudo dos juízos referentes à conduta humana é vital na produção da realidade social. Relaciona-se ao de- sejo de realização plena da vida. Todas as atividades envolvem uma carga moral, inter- ligando a ética ao comportamento humano. Valores so- bre o bem e o mal, certo e errado, permitido e proibido definem diferentes protótipos. O Homem só realiza sua existência no encontro com seu semelhante, sendo que todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Algumas regras coordenam e harmonizam essa inter-relação de convivência e coexis- tência. Elas indicam os limites de submissão ou sobreposição de cada indivíduo e representam os códigos culturais, que protegem ao mesmo tempo em que obri- gam. A moral tem um poderoso caráter social. Ela é adqui- rida como herança e preservada pela comunidade. Apóia- se na cultura, história e natureza humana. LIÇÕES DE ÉTICA Sobre o estabelecimento da ética nas atividades rela- cionadas ao Homem, depreendem-se algumas conclusões fundamentais. Do ser humano, há de se fazer aflorar seu potencial de individualidade e autonomia. Para isso, precisa ser cul- tivado o limiar de sua auto-estima, que advém de uma conduta esmerada, por meio de uma disciplina individual e coletiva despertada pela consciência sobre o fundamen- to de cada coisa, do pontual para o todo e deste para o detalhe. Incidentes traumáticos, decorrentes da falta de humanismo, do ódio, da fome, da corrupção ou da guer- ra, ameaçam toda a espécie humana. Sem dúvida, afe- tam a inteligência, o rendimento e a motivação para a vida. Objetivamente,nasuperfíciedoplaneta,todasasações devem ter como prioridade a solução para a fome básica, ou seja, a preservação da sobrevivência. A seguir, deve-se levar em conta a supervivência (evolução humana). Aliado a isso, o espaço e o território são instrumentos fundamentais à teoria e técnicas da ecologia humana. Por meio deles, descobre-se o “entorno” essencial, onde se de- senvolve o processo de mudança do ser humano. Consiste no alcance, em profundidade, do que é viver ecologicamen- te consigo mesmo, com os outros e com o universo. O meio ambiente humano combina, assim, tanto os elementos naturais (orgânicos e inorgânicos) quanto os culturais, que dão suporte à vida humana nos diversos ambientes em que ela se desenvolve e pode ser observado nas mais diferentes escalas espaciais. É fundamental a conscientização de que há uma sé- rie de atitudes não descritas nos códigos de todas as pro- fissões, mas que são inerentes a qualquer atividade. Portanto, não se pode dissociar o sucesso contínuo do comportamento eticamente adequado.
  • 182. 180 GEODIVERSIDADE DO BRASIL CONCLUSÃO Do exposto, conclui-se que a compreensão do fenô- meno humano, quanto ao atendimento a suas necessida- des e potencialidades, é fundamental à implementação de programas e projetos que disponham sobre os recur- sos da natureza, inclusive os da geodiversidade. Tais programas e projetos precisam de interação e sobreposição analogamente a uma pirâmide, que vai do atendimento às necessidades básicas, na base, culminan- do, no topo, para as aspirações mais elevadas. Em síntese, é preciso que os cientistas, os técnicos e a população em geral adquiram a consciência de que não há um futuro pronto que os espere. Ao contrário, o futu- ro, com relação ao ambiente natural e social-econômico, será conseqüência das ações no percurso de cada indiví- duo ou sociedade. O homem, que é parte constituinte de um sistema ecológico, deve cingir-se segundo as relações evolutivas de seus subsistemas físico, mental e espiritual. Dopontodevistadaavaliaçãoeplanejamentodousoe desenvolvimento do território (geodiversidade), é preciso conheceradequadamenteoscomponentesfísicosebióticos, bemcomomapearosatoressociais,suapotência,motricidade, tendências e interações segundo o seu grau de incerteza, conjugados com os estados (hipóteses) críticos. De posse de um modelo estruturado, construído por meio de uma conduta eticamente adequada, transformar- se-ão as incertezas em significativas probabilidades, pro- porcionando, assim, o máximo de felicidade ao maior nú- mero de pessoas. BIBLIOGRAFIA BECK, D. E.; COWAN, C. C. Dinâmica da espiral: dominar valores, liderança e mudança. Lisboa: Instituto Piaget,1996. BELLEN, H. M. Indicadores de sustentabilidade: uma aná- lise comparativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007. BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sus- tentável: metodologia de planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. GODET, M. Prospective et planification stratégique. Pa- ris: CPE, 1985. ______. Manuel de prospective stratégique; v. 1: Une indiscipline intellectuelle. Paris: Dunod, 1997. HOGAN, D. J., VIEIRA, P. F. Dilemas socioambientais e de- senvolvimento sustentável. São Paulo: EDUNICAMP, 1995. KORMONDY, E. J.; BROWN, D. E. Ecologia humana. São Paulo: Atheneu, 2002. MARGALEFF, R. Ecologia. Madrid: Interamerican, 1977. MARQUES, V. J.; SERFATY-MARQUES, S. Uma visão geocientífica para o zoneamento ecológico-econômico. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 7., 2002, Belém. Anais... Belém: Sociedade Brasileira de Geologia, 2002. _______; ______. O zoneamento ecológico-econômico comoferramentadoplanejamentoedagestãoterritorial.In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 7., 2002, Belém. Anais... Belém: Sociedade Brasileira de Geologia, 2002. _______; ______. Construção de cenários alternativos para o planejamento estratégico dos recursos minerais e hídricos da Amazônia. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 9., 2006, Belém. Anais... Belém: Sociedade Brasileira de Geologia,2006. _______; ______. A gestão pelos sistemas. Belém: MME/ CPRM, 2004 (no prelo). _______; ______. Planejamento territorial e o desenvol- vimento sustentável. Brasília: MMA/SDRS, 2006. MUELLER, C. H. Os economistas e as relações entre o sis- temaeconômicoeomeioambiente.Brasília:Ed.UnB,2007. ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1983. ______. Fundamentos da ecologia. 4. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1985. TAPIA, J. J. O prazer de ser: a essência da ecologia huma- na. São Paulo: Gente, 1993. TER-STEPANIAN, G. Begining of the tecnogene. Bulletin I.A.E., n. 38, p. 133-142, 1988. TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE-SUPREN, 1982. 91p. ______; KIEWIETDEJONG, C. Ecogeography and rural management..... Longman: Essex, 1992. SUGUIO, K.; SUZUKI, U.S. A evolução geológica da Terra e a fragilidade da vida. São Paulo: Edgard Blücher, 2003. SUELY SERFATY-MARQUES Graduada (1975) em Geologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Especialização em Petrologia e Engenharia do Meio Ambiente. Atualmente, trabalha como geóloga da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde exerce a função de assistente da chefia da Divisão de Gestão Territorial da Amazônia. Durante todo o período universitário, trabalhou como estagiária no Projeto RADAM. Nos primeiros 15 anos de carreira, dedicou- se à análise petrográfica e a estudos de Petrologia e Mineralogia, tendo atuado nos estados do Pará e Goiás em diversos órgãos geocientíficos governamentais, tais como: SUDAM, IDESP (POLAMAZÔNIA), UFPA/FADESP, NUCLEBRAS, DNPM/ CPRM. A partir de 1991, voltou-se para os estudos ambientais. De 1992 a 1997, dedicou-se ao abastecimento hídrico e à gestão municipal. A partir de 1997, vem-se envolvendo com o Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia (Organização dos Estados Americanos – OEA), especialmente nas faixas de fronteiras com os países da Pan-Amazônia, onde atuou como assistente da coordenação brasileira nos projetos de cooperação com a Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. Recentemente, vem direcionando seus esforços à divulgação do papel e aplicação do conhecimento da Ecologia Humana, na gestão territorial voltada para o desenvolvimento sustentável.
  • 183. 181 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato 13 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva ([email protected]) Valter José Marques ([email protected]) Marcelo Eduardo Dantas ([email protected]) Edgar Shinzato ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Instrumento de Planejamento, Gestão e Ordenamento Territorial .................................................................................. 183 Ordenamento urbano ........................................................... 185 Ocupação e uso do território ................................................ 186 Descoberta de concentrações minerais .................................... 188 Recursos Minerais do Mar......................................................... 190 Grandes Obras de Engenharia.................................................. 191 Agricultura ............................................................................... 191 Disponibilidade de Água e Adequada Utilização...................... 192 Saúde ....................................................................................... 193 Evolução da Terra e da Vida ..................................................... 194 Meio Ambiente......................................................................... 196 Prevenção de Desastres Naturais .............................................. 196 Avaliação e Monitoramento das Mudanças Climáticas ............. 199 Geoconservação e Geoturismo ................................................. 199 Educação .................................................................................. 201 Políticas Públicas ....................................................................... 201 Bibliografia ............................................................................... 202
  • 184. 182 GEODIVERSIDADE DO BRASIL A geodiversidade se manifesta, no ambiente natural, por meio das paisagens e das características do meio físi- co dos locais em que vivemos. Uma intervenção inade- quada na geodiversidade pode gerar problemas críticos para a nossa qualidade de vida e, também, para o meio ambiente. Somos, assim, bastante dependentes das ca- racterísticas geológicas dos ambientes naturais – a geodi- versidade –, na medida em que dela extraímos as matéri- as-primas vitais para a nossa sobrevivência e desenvolvi- mento social. É mister, assim, conhecer e entender seus significados, já que, uma vez modificados, removidos ou destruídos, quase sempre os aspectos da geodiversi- dade sofrerão mudanças irreversíveis. Devido à íntima relação entre os componentes do meio físico (suporte) – geodiversidade – e os componentes bióticos (biodiversi- dade), deve-se encarar de maneira sistêmica as relações de estabilidade entre esses dois grandes componentes ambientais. Modernamente, veio a se ter a compreensão de que as relações mantidas entre o homem (meio social) e a natureza, em seus aspectos culturais e econômicos, de- vem estar inseridas em análises ambientais, configuran- do-se o que se convencionou denominar “ecologia pro- funda”. Para realizarmos intervenções no território, deve- mos adotar uma visão a mais abrangente possível, sistê- mica, integrando a geodiversidade (meio físico), a biodi- versidade (meio biótico), as questões sociais, culturais e econômicas (sociodiversidade). A comunidade geológica ingressa nesse rico debate a partir da década de 1980, na medida em que busca apro- ximar a geologia das demandas da sociedade, com a emer- gência da “geologia social” (BERBERT, 1995), via estudos vinculados à geologia ambiental. A par- tir de então, o conhecimento geológi- co passa a ser intensamente utilizado nas análises voltadas para estudos am- bientais, incorporando-se, ao domínio comum, conceitos fundamentais como os de exaustão dos recursos naturais e de ética e sustentabilidade ambiental (CORDANI, 2002; KELLER, 1996). No que tange à demarcação do campo de atuação da denominada ge- ologia ambiental, esta congrega todas as aplicações da ciência geológica, em um enfoque sistêmico (o sistema Ter- ra), aos estudos de gestão ambiental e planejamento territorial (CORDANI, 2000; DOROTHY, 1998). Nesse senti- do, a geologia se revelou uma ciência profícua e de múltiplas aplicações, prin- cipalmente no que concerne ao desen- volvimento de alguns campos especí- ficos do conhecimento geológico, como: prospecção mineral, mapeamen- to geológico, geofísica, geologia de pla- nejamento, geologia de engenharia, geotecnia, pedolo- gia, hidrologia; paleoclimatologia, paleontologia, espe- leologia, geoquímica prospectiva e ambiental, geologia urbana, riscos geológicos, geologia médica; geologia cos- teira e marinha, ordenamento territorial geomineiro, ge- oconservação, geoturismo, dentre outros (Figura 13.1). Dentre as múltiplas contribuições do profissional em geologia às esferas social, econômica, cultural e ambien- tal, destacam-se: análise de desastres naturais (deslizamen- tos, inundações, abalos sísmicos, colapso de terrenos etc.) em áreas de risco geológico; disponibilização e preserva- çãodeáguasubterrâneaoriundadeaqüíferossubterrâneos para abastecimento humano, industrial, irrigação, desse- dentação etc.; investigação de fatores que comprometem a saúde pública, decorrentes de excesso ou carência de determinados elementos químicos, ou a causas naturais (intemperismo ou contaminação natural a partir do subs- trato rochoso), ou a razões antrópicas (poluição doméstica ou industrial); aplicação dos estudos do meio físico, lato sensu, para subsidiar políticas de uso e ordenamento do território (BENNETT e DOYLE, 1997; CORRÊA e RAMOS, 1995; DANTAS et al., 2001; DINIZ et al., 2005; KELLER, 1996; SILVA, 2008; THEODOROVICZ et al., 1999). A partir da elaboração do conceito de geodiversida- de, as geociências desenvolveram um novo e eficaz ins- trumento de análise da paisagem de forma integral, ou ecótopo (Figura 13.2), utilizando o conhecimento do meio físico a serviço da conservação do meio ambiente, em prol do planejamento territorial em bases sustentáveis, permitindo, assim, avaliar os impactos decorrentes da implantação das distintas atividades econômicas sobre o espaço geográfico. Figura 13.1 ––––– Principais aplicações da geodiversidade.
  • 185. 183 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO, GESTÃO E ORDENAMENTO TERRITORIAL De acordo com a metodologia adotada pela Compa- nhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), ao se proceder a um estudo da geodiver- sidade,osdiversoscomponentesdomeioabióticoquecons- tituem a paisagem do meio físico são analisados de acordo com um conjunto de parâmetros geológicos, geotécnicos, geomorfológicos, pedológicos e hidrológicos. Nesse senti- do, o mapa geológico reveste-se de fundamental importân- cia, por ser a infra-estrutura dos demais, os quais estão in- trinsecamenterelacionadosedependentesdeste. Osresultados,mapasetextoscaracterizam-seporuma linguagem simples e objetiva das informações sobre o meio físico, objetivando subsidiar o planejamento e a gestão do território brasileiro em bases sustentáveis, principalmente quanto às obras de infra-estrutura, exploração do potencial mineral, práticas agrícolas, uso dos recursos hídricos e ris- cos de contaminação dos solos e águas subterrâneas frente a fontes poluidoras (THEODOROVICZ et al., 1999) e o apro- veitamento do potencial de geoturismo (geoparques, sítios geológicos, minas antigas, monumentos paleontológicos e espeleológicos), apontando as adequabilidades e limitações para o uso e ocupação dos territórios. Essa abordagem vem sendo adotada por diversos pesquisadores de várias partes do Brasil e de outros paí- ses, sob a denominação de geologia ambiental ou geo- ambiental, a partir dos enfoques clássicos desenvolvidos pelas disciplinas do meio físico, tendo por objetivo a gera- ção de informações voltadas para o planejamento e de- senvolvimento sustentado do território. Dessa forma, os estudos da geodiversidade têm-se re- velado um excelente instrumento de planejamento e orde- namento territorial, fornecendo subsídios técnicos para vá- rios setores como: mineração (recursos minerais); energia (petróleo, gás, carvão, turfa, hidrelétricas, nuclear, eólica, solar); agricultura (fertilidade do solo, fertilizantes, correti- vos de solos, disponibilidade hídrica); saúde pública (quali- dade das águas, solos, ar); urbanismo (indicação de limita- ção ou expansão); moradia (material de construção); defe- sa civil (escorregamentos, inundações, abalos sísmicos, abatimento de terrenos); transporte (obras viárias); turismo (áreas de belezas cênicas); meio ambiente (diagnóstico e recuperação de áreas degradadas) e planejamento, bem como para diversas instituições públicas, comitês de bacias hidrográficas, empresas privadas e também para progra- mas de governo, como zoneamento ecológico-econômi- co, ordenamento territorial, estudos da plataforma conti- nental e ambientes costeiros (Quadro 13.1). Figura 13.2 ––––– Ecótopos e níveis hierárquicos (adaptado de ZONNEVELD, 1989). Quadro 13.1 ––––– Quadro exemplificativo das interfaces do conhecimento geológico (geodiversidade) com setores produtivos, do conhecimento e planejamento Setor Contribuição Resultados MineraL Mapeamento geológico, geofísico, geoquímico, bancos de dados. Metalogênese. Mapeamento das variáveis ambientais Aumento das reservas minerais e da produtividade do setor. Adoção de modelos sustentáveis. Agricultura Hidrologia, hidrogeologia, hidrogeoquímica e geo- química ambiental, insumos agrícolas, erosão, moni- toramento de bacias Melhoria da produtividade, adoção de modelos sustentáveis. Política agrária Recursos minerais e hídricos para assentamentos; sustentabilidade ambiental, monitoramento. Melhoria da produtividade, adoção de modelos sustentáveis. Solução de problemas sociais. Urbanismo Hidrologia urbana, hidrogeologia, abastecimento hídrico, geotecnia. Melhoria da qualidade de vida, aumento da produti- vidade e adoção de modelos sustentáveis. Desenvolvimento nacional Hidrologia e hidrogeologia, recursos minerais, para apoiar os projetos de desenvolvimento, ao longo dos macroeixos de desenvolvimento. Modelamento e monitoramento de bacias. Adoção de modelos sustentáveis. Redução dos custos de implantação e manutenção das condições ambien- tais. Geopolítica e soberania nacional Avaliação integrada dos recursos naturais, para o desenvolvimento sustentado. Modelamento de baci- as, geoquímica ambiental, modelos sedimentométri- cos, balanço de massa. Adoção de modelos sustentáveis. Melhoria da ima- gem nacional, perante as demais nações. Geomedicina Geoquímica ambiental, modelamento de bacias. Na análise sistêmica, aplicada à previsão de áreas de risco de endemias. Melhoria da qualidade de vida e aumento da eficiên- cia dos recursos aplicados na área de saúde, sanita- rismo e urbanismo.
  • 186. 184 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Como exemplo da utilidade das in- formações da geodiversidade para fins de uso e ocupação, apresenta-se o caso recente da Vila Pan-Americana do Rio de Janeiro – que sofreu episódios de afundamento de suas vias internas – e o afundamento de uma das pistas da Ave- nida Ayrton Senna, principal via de aces- so à Barra da Tijuca (RJ), a 10 dias do início dos XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007 (Figura 13.3). O “Mapa Geoambi- ental do Estado do Rio de Janeiro” (DAN- TAS et al., 2001) contém informações de trabalhos de campo na escala 1:250.000, tendo sido disponibilizado, em 2000, na escala 1:500.000, para vários órgãos do estado, prefeituras e universidade. O mapa apontava para a unidade geoambiental 2b, onde se en- contram a Vila Pan-Americana e a Ave- nida Ayrton Senna, a ocorrência de so- los orgânicos de baixa capacidade de car- ga, constituídos por argilas moles, que condicionaram o processo de recalque diferencial que afetou o arruamento e estruturas de um dos prédios da Vila Pan-Americana (Figura 13.4). O mapa indicava a ina- dequação daqueles materiais para a ocupação e constru- Figura 13.3 ––––– Reportagem do jornal “O Globo”, às vésperas do início dos XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007. Figura 13.4 ––––– Detalhe do Mapa Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro, escala 1:500.000, onde foi mapeada a Unidade Geoambiental Planícies Flúvio-Lagunares 2b, na qual está inserida a Vila Pan-Americana, na Barra da Tijuca (DANTAS et al., 2001). ção, sem a devida adoção de métodos construtivos es- pecíficos das fundações, que atendessem às característi- cas dos riscos geológico-geotécnicos naquele local (Fi- gura 13.5).
  • 187. 185 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato Ordenamento Urbano Nesse estrato do planejamento e gestão, o conheci- mento geológico ilumina um amplo campo de aplica- ções, principalmente nas regiões metropolitanas, que se caracterizam por apresentarem expressivo adensamento populacional e uma considerável concentração de ren- da, além de graves distorções tipicamente urbanas, como o crescimento físico desmesurado e desordenado, co- nurbação, conflitos entre diversas atividades econômi- cas, retenção especulativa do solo urbano e produção de vazios sem infra-estrutura, uso e ocupação de solos ina- dequados, crescimento físico nas periferias urbanas, com formação de cidades-dormitório e segregação espacial da população de baixa renda, aumento da poluição e da agressão ao meio ambiente, com o comprometimento dos recursos naturais. Inúmeros são os casos documentados, na literatura geológica, de áreas que possuíam depósitos minerais pas- síveis de serem usados pela indústria da construção civil (areia, saibro, seixo, argila, brita) e que foram ocupados Figura 13.6 ––––– Disposição de lixo nas margens de lagoa em Rio Branco (AC). Fotografia: Amilcar Adamy. Figura 13.7 ––––– Implantação de cemitério em topo de duna fixa, parcialmente desmatada (município de Baixio, litoral norte da Bahia). Fotografia: L.C.B. Freitas. Figura 13.5 ––––– Recorte da legenda do Mapa Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro, que descreve a subunidade geoambiental 2b1, contendo muita matéria orgânica no solo. Em “Limitações”, observa-se que a área é inadequada para urbanização, obras viárias e disposição de resíduos sólidos (DANTAS et al., 2001). Unidades Geoambientais Descrição 2b Planícies Flúvio-lagunares (brejos) Planícies fluvio lagunares com sedimentos quaternários, argilo-arenosos ou argilosos ricos em matéria orgânica. Ambiente redutor, com Solos Gleis Pouco Húmicos salinos, Gleis Húmicos Tiomórficos e Solos Orgânicos Tiomórficos. Campos hidrófitos de várzea (2b1) e campos halófitos de várzea (2b2) ocupados por pastagens. A precipitação média anual varia de 700 a 1.300mm. Esta subunidade é expressiva nos baixos cursos dos rios São João, Una, Macaé e Macabu, nas áreas mais próximas à linha de costa das baixadas fluviomarinhas de Sepetiba e de Guanabara e nas baixadas fluviolagunares de Jacarepaguá, Maricá, Saquarema e entorno da Lagoa Feia. Terrenos inundáveis, com baixa capacidade de carga. Solos com altos teores de sais e enxofre (Solos Tiomórficos), com elevado risco de acidificação nas drenagens. Inaptos na agricultura e pastagem plantada. Lençol freático subaflorante. Inadequados na urbanização, obras viárias e disposição de resíduos sólidos. Aqüíferos livres, rasos, com potencial restrito e águas freqüentemente salinizadas. Teores altos de Pb, Al e Se nas águas de Araruama, Al e F na foz dos rios S. João e Una, Zn e F na água e sedimentos de corrente da Região de R. dos Bandeirantes. Pastagens naturais. Atividade pesqueira nas lagunas. Na Baixada Campista, ocorrem aqüíferos confinados e semiconfinados de potencialidade higrogeológica. Preservação e recuperação ambiental de lagunas, brejos e banhados. Cuidados para evitar contaminação e rebaixamento do lençol freático. Limitações Potencialidades Recomendações por vilas populares, obrigando a sociedade a se valer de jazidas cada vez mais distantes dos centros consumido- res, a custos crescentes, com prejuízos sociais expressi- vos. É importante racionalizar a utilização dos recursos naturais existentes na região, necessários para o incre- mento da produção mineral, principalmente, de materi- ais para a construção civil, abastecimento de água e in- sumos básicos para a atividade industrial, de forma a compatibilizar a aptidão do meio físico e a preservação ambiental com o desenvolvimento econômico e a me- lhoria da qualidade de vida da população. Por falta de planejamento, é comum a ocorrência de áreas adequa- das à agricultura (cinturão verde) e nascentes de rios ur- banizadas de forma inconseqüente. É também corriquei- ra, infelizmente, a ocorrência de aterros sanitários/lixões e cemitérios às margens de rios ou em solos que facili- tam a contaminação dos lençóis de águas subterrâneas, bem como ocupação humana em áreas de riscos geoló- gico-geotécnicos (deslizamento, afundamento, inunda- ção) (Figuras 13.6 e 13.7).
  • 188. 186 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Essas situações, comuns à grande maioria das regi- ões metropolitanas, tipificam um verdadeiro caos ambi- ental e são devidas à falta de um planejamento adequado, para o qual é de fundamental importância a disponibilida- de de informações básicas sobre as características do meio físico, contemplando aptidões e restrições ao uso e ocu- pação. Ocupação e Uso do Território O conhecimento da geodiversidade é um aspecto essencial para que se proceda à ocupação segura dos di- versos terrenos e paisagens. A desconsideração dessa afir- mativa tem sido responsável por inúmeros prejuízos am- bientais, econômicos e sociais por parte da sociedade bra- sileira, como estão a atestar inúmeras experiências históri- cas e recentes na ocupação do território brasileiro. Um dos exemplos didáticos é a alocação de colonos ou de empreendimentos agrícolas de forma inadequada, previsivelmente insustentável do ponto de vista da dispo- nibilidade hídrica, dos potenciais solos, ou da estabilidade dos terrenos, frente à retirada da vegetação (Figura 13.8). Outra situação que, de maneira análoga, influencia o tipo de manuseio e finalidade do território, diz respeito às características estruturais e morfológicas dos terrenos localizados na porção ocidental do estado do Acre, afe- tados por importante tectônica reflexa, oriunda da for- mação da Cadeia Andina (Figuras 13.9, 13.10, 13.11 e 13.12). A ocupação das áreas litorâneas é sensível aos fenô- menos geológicos naturais, como a tectônica moderna (recente), a qual é responsável pelo modelado costeiro em tempos históricos, bem como as atividades induzidas pelo homem por meio de obras civis e as modificações Figura 13.9 ––––– Imagem orbital TM-7 e fotografia de campo, ilustrando o efeito da neotectônica sobre terrenos quaternários, de topografia suave, tornando-os susceptíveis à erosão, sobretudo após a retirada da vegetação. Fotografia: V. J. Marques. Figura 13.10 ––––– Região periurbana de Brasiléia (AC), a oeste da imagem anterior, observando-se a transição para terrenos morfologicamente mais acidentados, frágeis do ponto de vista da capacidade de suporte à intervenção. Figura 13.8 ––––– Situação dos lotes frente às características do modelado do terreno (áreas planas, platôs, áreas íngremes e em solos inaptos) (região norte da cidade de Manaus, AM).
  • 189. 187 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato dos ecossistemas costeiros – a ocupação urbana e a re- moção ou manipulação de mangues. Dessas “interven- ções”, decorrem mudanças drásticas nas taxas de sedi- mentação e erosão costeiras, capazes de pôr em risco ou mesmo destruir o modelado atual, com gran- des prejuízos ecológicos e financeiros. Um exemplo dessa situação é observado na região do delta do rio Parnaíba (MA). As dunas se situam sobre blocos relativamente estáveis e com baixa declividade; as falésias, ao contrário, localizam-se em rampas com movimento positivo. As taxas de movimenta- ção são elevadas e a ocupação do litoral exi- ge o seu reconhecimento e monitoração (Fi- gura 13.13). Registra-se outro exemplo de erosão no litoral do Maranhão. Segundo moradores, a linha de costa sempre foi regressiva, com uma taxa de mais ou menos 3 m/ano; contudo, há 2 anos diminuiu bruscamente para a taxa atual. A causa mais provável seria que o re- fluxo da maré tornou-se muito mais forte, devido à diminuição das áreas de salgueiro, pela construção dos diques dos criatórios de camarão. Estima-se que a altura das marés aumentou 1,5 m no período (Figura 13.14). A ciclicidade dos fenômenos de eleva- ção e abaixamento de blocos no litoral nor- Figura 13.11 ––––– Imagem orbital TM-7 e fotografia de campo ilustrando as faixas de maior tectonismo moderno, sobre as unidades quaternárias (Formação Solimões) no estado do Acre (perfil na Rodovia Assis Brasil–Brasiléia, AC). Fotografia: Cláudio Sczlafcztein. Figura 13.12 ––––– Região de Assis Brasil (AC), junto à fronteira com o Peru, observando-se topografia acidentada, com drenagens bem encaixadas, devido à intensa atividade neotectônica registrada na região. destino, compondo uma “tectônica do tipo teclas de pia- no”, pode ainda ser comprovada pelos registros de afoga- mento e exumação de florestal de mangue (Figuras 13.15 e 13.16). Figura 13.13 ––––– Região do delta do rio Parnaíba (MA). Imagem Landsat TM. Observa-se o elevado grau de controle tectônico da localização dos campos de dunas e mangues.
  • 190. 188 GEODIVERSIDADE DO BRASIL DESCOBERTA DE CONCENTRAÇÕES MINERAIS Na busca de depósitos minerais (prospecção e pes- quisa mineral), aplicam-se os conhecimentos geológi- cos para se delimitar, em mapa, os vários tipos de ro- chas, suas características e potencialidades de conte- rem minerais de interesse econômico (Figura 13.17). Por exemplo, uma rocha granítica que não tenha sido submetida a grandes deformações em estágio rúptil e sendo constituída por minerais que não se alterem fa- cilmente, poderá ser indicada para uso ornamental (pi- sos, paredes, mesas, pias etc.), de acordo com sua re- sistência e beleza natural. Após essas indicações, são efetuadas sondagens para identificar extensão, profun- didade e largura dessa jazida, para verificar a economi- cidade do empreendimento. Concomitantemente à confecção do mapa geológi- co, é elaborado o mapa de potencial mineral, com o ca- dastramento das ocorrências e depósitos minerais, bem como das minas que já se encontram em exploração. Esse mapa apresenta dados factuais que facilitam a delimita- ção de alvos com alta potencialidade em conter depósitos minerais (Figura 13.18). Outras ferramentas, como as imagens de satélites, são utilizadas para inferir áreas mineralizadas por meio da geoquímica, analisando-se as águas e sedimentos dos rios, para verificar se apresentam valores anômalos para elementos metálicos como chumbo, zinco e cobre, por exemplo. Ao se verificarem valores anômalos e a locali- zação da origem desses elementos, efetuam-se análises de solos para delimitar com maior precisão o local onde ocorre o depósito mineral. Realiza-se, também, a geofí- sica para confirmar, indiretamente, a extensão do corpo em profundidade. Em seguida, dá-se início à fase de son- dagem, para delimitar o corpo de mi- nério em profundidade, em que são realizadas análises dos testemunhos de sondagem para verificação do teor de minério, para, a partir daí, proceder- se a estudos de viabilidade econômi- ca (Figura 13.19). A geofísica (métodos sísmicos) é muito utilizada na pesquisa de petró- leo e gás. Consiste na emissão de on- das de choque e medição de sua ve- locidade nos diversos meios rochosos em profundidade. Como cada tipo de rocha apresenta velocidades específi- cas, essa leitura permite que se ma- peiem estruturas como dobras, falhas, empilhamento das rochas e delimita- ção dos corpos rochosos, onde se en- contram os reservatórios de petróleo e gás. Figura 13.14 ––––– Erosão do litoral do Maranhão – delta do rio Parnaíba. Porção de costa apresentando processo erosivo violento (700 a 800 m em dois anos), destruindo uma rodovia. Coordenadas: W 41° 27’06"; S 2° 54’23,3". Fotografia: V. J. Marques. Figura 13.15 ––––– Ocorrência de uma extensa floresta de mangue afogada por areia. Fotografia: V. J. Marques. Figura 13.16 ––––– Observa-se, por algumas centenas de metros, a presença de restos de vegetação, salientando-se os abundantes troncos de árvores soterrados por areias praiais. Coordenadas: W 41° 41’44" ; S 2° 50’05". Fotografia: V. J. Marques.
  • 191. 189 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato Figura 13.17 ––––– Mapa geológico simplificado do estado do Rio de Janeiro (modificado de CPRM-DRM/RJ, 2000). Figura 13.18 ––––– Mapa do potencial mineral da região de Salanópole – CE (CPRM, 2005). O mapa mostra a ocorrência de vários corpos de pegmatitos contendo gemas, rodeando, principalmente, os corpos graníticos intrusivos.
  • 192. 190 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Os bens minerais são de alto interesse social: veícu- los, trens, aviões, energia, eletrodomésticos, habitações, insumos para agricultura, água e nutrientes minerais para dieta alimentar dos humanos e animais. Em suma, a soci- edade é totalmente dependente dos bens minerais para manter o seu bem-estar e a qualidade de vida (Figura 13.20). RECURSOS MINERAIS DO MAR Com vistas à futura exaustão de alguns bens mine- rais, parte das atenções mundiais está voltada para os re- cursos do mar. Atualmente, já ocorre expressiva minera- ção em mar aberto, tanto em quantidade como em valor. É composta de agregados (areia e cascalho) para a indús- tria da construção, seguida pelos pláceres submersos de estanho, carbonatos bioclásticos para corretivo de solo e cimento e acumulações fosfáticas para uso em fertilizan- tes. As lamas ricamente mineralizadas do mar Vermelho serão brevemente exploradas. As grandes quantidades de nódulos polimetálicos (Figura 13.21) também devem ser consideradas como contribuição valiosa para o suprimen- to mundial de níquel, cobre, cobalto e manganês. Acu- mulações de sulfetos mapeados no oceano Pacífico leste representam ocorrências a serem pesquisadas, embora o desenvolvimento de novas tecnologias venha a ser reque- rido, antes de serem minerados economicamente (MAR- TINS e SOUZA, 2008). A explotação de minerais marinhos depende, em es- sência, do custo competitivo de outros recursos que, por sua vez, estão vinculados ao desenvolvimento de uma tec- nologia de baixo custo, bem como de seu valor e quanti- dade acessíveis. Entre os muitos fatores que determinam a distribuição dos recursos minerais marinhos, a evolução Figura 13.19 ––––– Minério de lítio em veio pegmatítico de cor clara, encaixado em biotita-andaluzita-xistos escuros da mina Cachoeira (Companhia Brasileira de Lítio, Araçuaí, MG). Figura 13.20 ––––– Bens minerais utilizados em habitações (RODRIGUEZ, 1995).
  • 193. 191 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato dos oceanos é determinante (MARTINS e SOUZA, 2008). Dessa maneira, a localização dos minerais, decorrente dos diferentes estágios de evolução oceânica, foi identificada a partir do conhecimento da evolução da geodiversidade dos fundos oceânicos. O petróleo e gás, na plataforma continental brasilei- ra, têm se mostrado estratégicos para o Brasil; a pesqui- sa efetuada pelos geólogos com métodos indiretos – como geofísica de alta resolução, interpretações dos am- bientes de sedimentação e configuração geológico-es- trutural – e métodos diretos, como testemunhos de son- dagem, são fundamentais para as descobertas e avalia- ções de novos depósitos em águas profundas, a exemplo das camadas pré-sal, localizadas a mais de 7.500 m de profundidade. GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA Obras de engenharia, como usinas hidroelétricas, ro- dovias, ferrovias, pontes, túneis, minas subterrâneas, ga- sodutos, oleodutos, minerodutos, grandes edifícios e edi- ficações em geral, exercem cargas sobre os terrenos, tan- to durante as etapas construtivas, quanto durante a ope- ração a que são destinadas. Os terrenos (rochas e solos), por sua vez, respondem às solicitações impostas de acordo com suas característi- cas geológico-geotécnicas intrínsecas, podendo, em caso de projetos inadequados, não resistirem às cargas que passam a atuar sobre eles, entrando em colapso e origi- nando graves acidentes. A geologia de engenharia é o ramo das ciências geo- lógicas que tem como objetivo principal o conhecimento das características geológico-geotécnicas dos terrenos, adequando os projetos de obras de engenharia a essas características, dimensionando-os corretamente, dentro de uma margem de segurança, de tal forma que não haja riscos de acidentes, com a perda de vidas humanas e pre- juízos financeiros. Do mesmo modo, a geologia de engenharia é cha- mada a atuar no sentido de avaliar e, quando necessário, corrigir ocupações inadequadas, colaborando com inves- tigações específicas para o desenvolvimento de projetos corretivos das situações de risco criadas pelo uso incorre- to do solo (Figura 13.22). AGRICULTURA É indiscutível a importância do conhecimento do meio físico, dos recursos naturais, principalmente solos, para o desenvolvimento das atividades do homem no nosso pla- neta. Os solos representam a base de sustentação da agri- cultura e pecuária, além de comportarem toda a vegeta- ção natural, estando intimamente ligados à biodiversida- de. O conhecimento da geodiversidade, a qual inclui os solos, resulta no entendimento desse corpo de maneira integrada ao ambiente em que vivemos. Essa é a grande aplicação desse conhecimento que agrega aos solos ou- tras variáveis correlatas, inclusive aqueles fatores de sua própria formação, como geologia, relevo, clima, organis- mos e tempo. Considerando os aspectos da integração de dados e análises multitemáticas, o uso da geodiversidade no cam- po da agricultura torna-se bastante útil, pois ela, além de transformar a linguagem pedológica em linguagem mais acessível, atualiza conceitos da integração solos x geotec- nia x hidrologia, necessários ao planejamento e conserva- ção dos recursos naturais. À medida que nos aproximamos de escalas maiores de estudos, a integração temática torna-se também mais complexa. Da mesma forma, nos estudos da geodiversi- Figura 13.21 ––––– Áreas de interesse do Brasil, no oceano Atlântico sul, para pesquisa mineral (SOUZA, 2007). Figura 13.22 ––––– Obra de contenção de encosta em área em que já havia ocorrido escorregamento em 2004 (Bairro Areal, Angra dos Reis, RJ). Fotografia: C. R. Silva.
  • 194. 192 GEODIVERSIDADE DO BRASIL dade os solos passam a ter maior importância nessa integração. Podemos citar alguns usos mais importan- tes da geodiversidade sobre o ponto de vista da agricul- tura: • Desenvolvimento de projetos de pólos agrícolas, considerando os aspectos relacionados às próprias limita- ções e potencialidades dos solos da região, associados aos centros de produção de insumos agrícolas. • Desenvolvimento de projetos agrícolas, relacionan- do as informações de disponibilidade hídrica, tanto super- ficial quanto subsuperficial (hidrologia e hidrogeologia). • Desenvolvimento de projetos agrícolas sustentáveis, considerando as informações do meio físico (geologia, geomorfologia, recursos hídricos, clima etc.) e de infra- estrutura. • Aplicação dos conhecimentos para assentamentos rurais, recuperação de áreas degradadas, reflorestamento, dentre outros. DISPONIBILIDADE DE ÁGUA E ADEQUADA UTILIZAÇÃO As águas de superfície e subterrâneas são essenciais para a sobrevivência humana e demais seres vivos. O co- nhecimento dos processos hidrológicos, como o ciclo da água, o regime de chuva, o balanço hídrico, associados à quantidade e qualidade das águas, à localização, ao esco- amento e evaporação e às condições das áreas de recarga dosaqüíferos,énecessárioparaoadequadogerenciamento desse recurso natural. O ciclo hidrológico completo apresenta três fases dis- tintas: atmosférica, superficial e subterrânea. A fase atmosférica se inicia com a evaporação da água de lagos, mares e oceanos ou da evapotranspira- ção da vegetação. Essa água ascende à atmosfera em forma de vapor (estado gasoso); no momento em que atinge determinada altitude, o correspondente rebaixa- mento da temperatura torna a massa de ar instável, pois atinge o ponto de saturação (temperatura de ponto de orvalho). Nesse momento, o vapor d’água se conden- sa, formando nuvens (microgotículas de água ou mi- crocristais de gelo). A partir do momento em que a quantidade de umi- dade nas nuvens excede sua capacidade de sustenta- ção, ocorre o processo de precipitação (por meio de aglutinação de microgotículas ou coalescência a partir de partículas). A precipitação pode ocorrer em estado líquido (chuva) ou sólido (neve ou granizo); a precipi- tação terminal é o início da fase superficial do ciclo hidrológico. Quando a chuva atinge o solo, sofre processo de in- tercepção vegetal (intercepção dossel, fluxo de atravessa- mento, fluxo de tronco, intercepção da serrapilheira). Nesse momento, a água pode tomar três caminhos: infiltração; escoamento superficial; retorno à atmosfera por meio da evapotranspiração. Em solos expostos ou com baixa taxa de cobertura vegetal, predominam os processos de escoamento super- ficial, que alimentam os canais fluviais, drenando bacias de drenagem até atingir lagos, mares e oceanos. É nessa fase do ciclo hidrológico que a água – como recurso hí- drico – é mais consumida em sociedades agrárias ou ur- bano-industriais em seus usos múltiplos. A infiltração da água na matriz do solo inicia a fase subterrânea do ciclo hidrológico. Parte da água infiltra- da é absorvida pelas raízes e retorna à atmosfera via evapotranspiração. Outra parte recarrega o lençol freá- tico, que corresponde ao aqüífero livre ou nível satura- do do solo. A água no lençol freático tem dois caminhos: sua descarga nos canais de drenagem, retornando à fase su- perficial do ciclo hidrológico; ou a recarga de aqüíferos confinados profundos (podendo ser aqüíferos fissurais, em rochas cristalinas; aqüíferos porosos ou intergranulares, em rochas sedimentares; ou aqüíferos cársticos, em ro- chas carbonáticas). Na fase subterrânea do ciclo hidroló- gico, o movimento da água é extremamente lento, mas produz grandes reservas potenciais de água doce, ainda pouco utilizada pela atividade humana. Os estudos hidrológicos e hidrogeológicos propiciam os conhecimentos necessários, com base em ações que identifiquem as vazões, os sedimentos em suspensão, a dinâmica fluvial e o monitoramento da vazão e pro- fundidade dos rios (Figura 13.23), como também os mananciais subterrâneos, as atuais condições de explo- tação e a disponibilidade hídrica dos aqüíferos. Tais ações consistem em: programas de cadastramento de fontes de abastecimento por águas subterrâneas; pesquisas e estudos sobre a dinâmica de aqüíferos; avaliação das potencialidades de aqüíferos. A integração desses dados se dá por meio de sistema de informações geográficas (SIG), visando à elaboração de modelos que propiciem uma efetiva gestão dos recursos hídricos, no que tange a seus usos múltiplos, tais como: abastecimento huma- no; agricultura (irrigação); hidroeletricidade; navegação e transporte por cabotagem; pesca e aqüicultura; des- sedentação animal; uso industrial; lazer ou recreação; turismo; mineração. Na questão das águas subterrâneas é vital, ainda, o monitoramento com vistas a possíveis contaminações, principalmente das áreas de recarga dos aqüíferos. A men- cionar, ainda, a superexplotação das águas subterrâneas ou superficiais em áreas cársticas que pode levar ao co- lapso obras de infra-estrutura, casas, prédios, como tam- bém a perdas de solos e acidentes com animais domés- ticos. Por outro lado, em regiões costeiras, a explotação descontrolada dos recursos hídricos subterrâneos pode ocasionar a salinização dos aqüíferos por intrusão de água proveniente do mar, a exemplo do que ocorre atualmen- te em Recife. Assim como hoje – quando já vivenciamos proble- mas de acesso à água –, no futuro, a qualidade e disponi-
  • 195. 193 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato bilidade de água terão papel preponderante na qualidade de vida da sociedade; conseqüentemente, torna-se vital o gerenciamento adequado desse bem mineral. Para tanto, o conhecimento da geodiversidade que abriga e rodeia os mananciais superficiais e subterrâneos deverá ser bem aplicado. Os impactos socioambientais e econômicos devido à inexistência de gerenciamento dos recursos hídricos têm acarretado sérios problemas, em especial, nas metrópo- les. Há uma forte correlação entre a adoção e implemen- tação de políticas de saneamento ambiental e a redução da incidência de internações por doenças de veiculação hídrica ou infecto-contagiosas em uma determinada re- gião. O saneamento ambiental promove uma drástica re- dução dessas enfermidades, contribuindo para a diminui- ção dos índices de mortalidade infantil e aumento da qua- lidade de vida da população. Historicamente, no Brasil, a implementação do saneamento ambiental (construção de sistemas de distribuição de água tratada e de coleta e tra- tamento de esgoto) é priorizada nas áreas nobres, lócus da elite social e econômica. Bairros periféricos de baixa renda são, em geral, desprovidos de infra-estrutura de sa- neamento ambiental, o que agrava, indiretamente e de forma perversa, a imensa desigualdade social existente em nosso país. SAÚDE A geologia médica, campo do conhecimento de- senvolvido nos últimos anos pelos geólogos, pode ser definida como o estudo das relações entre os fatores geológicos naturais e a saúde, visando ao bem-estar dos seres humanos e outros organismos vivos. Outro entendimento mais conciso é de ser o estudo do im- pacto dos materiais e processos geológicos na saúde pública. De acordo com essa visão, a geologia médica inclui a identificação e caracterização das fontes natu- rais e antrópicas de materiais nocivos no ambiente, buscando prever o movimento e alteração dos agentes químicos, infecciosos e outros causadores de doenças ao longo do tempo e espaço, bem como compreender como as pessoas estão expostas a tais materiais e o que pode ser feito para minimizar ou evitar tal exposição (SILVA et al., 2006). A união proporcionada pela geologia médica entre geólogos e outros cientistas, como médicos, dentistas, veterinários e biólogos, em um esforço para resolver as questões de saúde, local e globalmente, objetiva fortale- cer e integrar as pesquisas que possam reduzir as ameaças ambientais à saúde e bem-estar dos seres humanos e à biodiversidade. As questões associadas à saúde geralmente se refe- rem a seres humanos e outras criaturas vivas, em tempos recentes, ao passo que o foco da geologia repousa sobre o substrato inanimado e o passado. Assim, embora pos- sam estar em áreas distintas do conhecimento ou requei- ram diferentes abordagens de investigação, as relações diretas entre essas duas disciplinas não podem ser ignora- das. Segundo SILVA et al., (op cit.), “a vida desenvolve-se numa matriz de materiais da terra – rochas, minerais, so- los, água, ar – cuja disponibilidade exerce um profundo controle sobre o que todas as criaturas vivas ingerem e como elas se desenvolvem biológica e culturalmente [...] somos o que comemos e bebemos”. O ar que respiramos, a água que bebemos e os nu- trientes que consumimos dependem do ambiente geoló- gico, o qual podemos controlar somente de forma parci- al. Como lutamos para nos adequar a um mundo que terá, em futuro próximo, cerca de 10 bilhões de pessoas, um melhor entendimento acerca dos processos pelos quais o ambiente natural (geossistema) influencia a nos- sa saúde permitirá decisões mais apropriadas. É consen- so geral que mudanças globais estão relacionadas aos poderosos impactos produzidos pelo homem em sua vi- zinhança, a partir do Holoceno (10.000 anos AP), sobre- tudo após o início da era industrial. Justamente, os efei- tos nocivos ou benéficos que, por vezes, os materiais e processos geológicos provocam sobre os seres huma- nos, constituem o tema central da geologia médica (Fi- gura 13.24). Sobre a fauna e a flora constata-se a influência dos materiais geológicos, inclusive sobre o desenvolvimento e concentração de indivíduos e biomas e seus fenótipos. Estudos recentes têm demonstrado a relação entre a pro- dutividade de animais domesticados e o conteúdo geo- químico de elementos químicos decorrentes de sua distri- buição natural. Há grande expectativa no sentido de que os geocien- tistas, juntamente com os profissionais da saúde, venham a contribuir, significativamente, para a melhoria da quali- dade da saúde pública das populações humanas e da bio- diversidade. Figura 13.23 ––––– Estação de medidas de descarga líquida e altura do nível da estação Carrapato (Brumal) no ribeirão Santa Bárbara (município de Santa Bárbara, MG) (CPRM/ANA).
  • 196. 194 GEODIVERSIDADE DO BRASIL EVOLUÇÃO DA TERRA E DA VIDA Por meio de estudos paleontológicos, é possível reconhecer os processos e eventos geológicos e biológicos naturais ocorridos nos últimos 400 milhões de anos e correla- cionar a evolução da crosta terrestre e a vida nos diversos continentes (Figura 13.25). Esses estudos são efetuados com o re- conhecimento de fósseis da flora e fauna antigas, para estabelecer o empilhamento estratigráfico e a idade relativa das rochas sedimentares. Paleoambientes deposicio- nais têm mostrado o aparecimento, a evo- lução e o desaparecimento de várias espé- cies biológicas, permitindo a identificação, com precisão, de mudanças climáticas pre- téritas, sua distribuição geográfica, suas causas e seus impactos sobre os ecossiste- mas. Desses estudos, é possível inferirem- se preciosas lições quanto à intensidade, extensão superficial, duração e ciclicidade das grandes modificações ditas geológicas ou naturais, ocorridas no passado, inclusive em tempos históricos ou sub-históricos. É possível, inclusive, afirmar que, nessa visada, o “passado pode ser a chave do futuro”, na me- dida em que as análises se baseiam em observações que abrangem um tempo maior que apenas os últimos 100- 200 anos, que é o campo da meteorologia, além de abran- gerem a interação de um número maior de sistemas e dimensões (terrestres, aquáticos, marinhos, globais e até mesmo cósmicos). Dessa forma, o que se costuma de- nominar geologia do Quaternário, sob essa ótica, passa a ter importância ressaltada. A paleontologia também contribui para a identifica- ção de ambientes propícios à ocorrência de materiais ener- géticos (petróleo, carvão, turfa), industriais (fertilizantes, barita) e para a construção civil (areia, argila). Observa-se, portanto, que a abrangência do conheci- mento geológico e, por certo, da geodiversidade, é muito mais amplo quando se refere ao passado, isto é, antes do presente, englobando todas as ciências naturais dos pro- Figura 13.24 ––––– Tabela Periódica (elementos essenciais e tóxicos) e os possíveis efeitos biológicos (modificado de Plant et al., 2001). Figura 13.25 ––––– Linha do tempo geológico da história da Terra. Abreviaturas: Ma (mega annu), milhões de anos; Ga (giga annu), bilhões de anos (PRESS et al., 2006).
  • 197. 195 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato Figura 13.26 ––––– Mapas dos paleoclimas da América do Sul. cessos geológicos atuais, em pedologia, geomorfologia, climatologia, biologia etc. A coluna estratigráfica compreende, além dos regis- tros biólogos de eventos extremos, como inovações e ex- tinções, os registros paleoambientais de mudanças climá- ticas. Processos e eventos geológicos e biológicos natu- rais são registrados desde 400 milhões de anos atrás até o tempo atual, permitindo correlacionar os processos evo- lutivos da crosta terrestre e da vida, nos diferentes interva- los de tempo. Essa é uma contribuição da paleontologia, para com- plementar os estudos de meio ambiente, para a compre- ensão dos processos geológicos e biológicos naturais do passado, nos atuais estudos para a preservação da vida existente no planeta, incluindo a vida humana. As mani- festações de vida são recursos naturais renováveis, impor- tantes para o presente e o futuro da humanidade. A compreensão plena da geodiversidade somente é possível incorporando-se a história evolutiva do planeta, sobretudo os acontecimentos ocorridos nos últimos mi- lhares de anos, cujas variabilidades e flutuações e respec- tivas conseqüências nos permitem ter referenciais isentos do quanto somos insignificantes perante os grandes even- tos geológicos, apesar de nossa pretendida capacidade de controlar a natureza. Como exemplo, observemos como o clima da Amé- rica do Sul mudou nos poucos últimos milhares de anos e sua implicação sobre os ecossistemas terrestres, salientan- do-se a enorme expansão da floresta ombrófila amazôni- ca a taxas elevadíssimas (Figura 13.26). EVOLUÇÃO CLIMÁTICA DA AMÉRICA DO SUL
  • 198. 196 GEODIVERSIDADE DO BRASIL MEIO AMBIENTE O levantamento de informações da geodiversidade propicia a avaliação da intervenção do homem na nature- za abiótica e suas conseqüências na biodiversidade. Os tipos de solos, rochas, relevo, águas fornecem subsídios para a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e de Relatórios de Impactos Ambientais (RIMA). Da mes- ma forma, a geoquímica – por meio de análises quantita- tivas de elementos químicos nos solos, sedimento de cor- rente, águas e ar – e a geofísica, por meio de métodos específicos, fornecem subsídios para avaliar a degradação ambiental de qualquer área ou região. Como exemplos, citam-se os aterros sanitários, lixões, cemitérios, dejetos industriais e domésticos, minas, agricultura (agrotóxicos, fertilizantes), águas superficiais e subterrâneas, postos de gasolina etc. (Figura 13.27). O conhecimento da geodiversidade contribui, subs- tancialmente, para a preservação e proteção ambiental ao apontar as fragilidades e limitações do meio físico frente ao uso e ocupação potencial, bem como das áreas já ocu- padas. Assim, por exemplo, paisagens naturais, em que a instalação de processos erosivos decorrentes de causas naturais (arqueamento tectônico) nos indica que cuida- dos muito especiais devem ser tomados no que concerne à ocupação desses terrenos (Figura 13.28). Em resumo, com o conhecimento do solo, subsolo, água e ar, torna-se possível elaborar diagnósticos a respei- to da qualidade ambiental, como também apontar o tipo de degradação, a localização e as medidas a serem adota- das para recuperar ou mitigar os problemas encontrados. PREVENÇÃO DE DESASTRES NATURAIS O homem, desde o seu aparecimento na Terra, há cerca de 6 milhões de anos, esteve sujeito a riscos advin- dos de fenômenos geológicos, como erupções vulcâni- cas, terremotos e maremotos, inundações, escorregamen- tos de encostas, erosão (Figura 13.29), corridas de lamas, desertificação (Figura 13.30), arenização e outros. Com o adensamento populacional das áreas rurais e urbanas, esse risco, além de aumentar estatisticamente, tendo em vista as alterações das condições naturais do meio ambiente, deu origem a perdas humanas, econômicas e ambientais, muitas vezes irreparáveis. Destarte, a previsão e a preven- ção de desastres naturais foram características marcantes das mais diversas civilizações. No Brasil, como em outros países, o crescimento populacional, sobretudo nas regiões urbanas, tem propi- ciado forte demanda de ações por parte dos governos, na medida em que se multiplicam as ocorrências de colap- sos, afundamentos, movimentos de massa e inundações, com grandes perdas de vidas e prejuízos econômicos. Essa pressão social exercida sobre o meio ambiente, represen- tada pela ocupação desordenada dos espaços territoriais inadequados à urbanização, tem resultado no agravamen- to do quadro social, sobretudo das grandes cidades. O conhecimento das características geológico-geo- técnicas dos terrenos, suas fragilidades e suscetibilidades frente aos processos dinâmicos, naturais ou induzidos, suas aptidões e capacidade de suportar as crescentes solicita- ções, tanto geradas pela expansão urbana, como pelo pro- cesso global de antropização dos espaços naturais, está relacionado ao ramo de geologia de engenharia e geotéc- nica e ao ordenamento territorial. Figura 13.27 ––––– Área parcialmente degradada por atividade garimpeira (município de São João da Chapada, MT). Figura 13.28 ––––– Processo erosivo provocado por arqueamento tectônico da crosta terrestre. Figura 13.29 ––––– Erosão desenvolvida a partir de desmatamento e falta de drenagens adequadas (município de Rio Branco, AC). Fotografia: Amilcar Adamy.
  • 199. 197 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato Assim, desenvolvem-se atividades específicas que en- volvem, dentre outras: caracterização geológico-geotécnica dos terrenos; mapeamento de áreas de risco geológico; ca- dastramentodeocorrênciasdemovimentosdemassa(Figu- ra13.31);cadastramentodeinvestigaçõesgeotécnicas,como sondagens e ensaios; concentração de esforços e subsídios, financeiros e humanos, para atendimento às necessidades de conhecimento das características do meio físico, com vis- tasàprevençãodedesastresnaturaiseinduzidos,comreba- timentonaspropostasdeordenamentoterritorial. Figura 13.31 ––––– Deslizamento em encostas, em janeiro de 2007 (Bairro Vilage, Nova Friburgo, RJ). Fotografia: Jorge Pimentel. Figura 13.30 ––––– Fenômeno de desertificação em Gilbués (sul do estado do Piauí), onde os processos de erosão laminar e linear acelerados promoveram perda dos horizontes superficiais do solo e acarretaram assoreamento e desorganização da rede de drenagem, em uma condição de irreversibilidade do retorno da vegetação natural (caatinga). Fotografia: M. E. Dantas. Levantamentos de medições sistemáticas da preci- pitação das chuvas e dos níveis e vazões dos rios, asso- ciados às análises climatológicas, possibilitam prever inundações com antecedência de horas/dias/meses, de- pendendo da região. Atualmente, há três sistemas em operação de previsão de alerta de enchentes e inunda- ções, os quais beneficiam 1,4 milhão de habitantes: Bacia do rio Doce (MG) (Figura 13.32), região do Pan- tanal mato-grossense (Figura 13.33) e Manaus (AM) (Figura 13.34). Figura 13.32 ––––– Sistema de alerta da bacia do rio Doce que beneficia cerca de um milhão de habitantes (no canto inferior direito, vista panorâmica da cidade de Governador Valadares, MG). (CPRM/DEHID).
  • 200. 198 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 13.33 ––––– Previsões de níveis de água com até quatro semanas de antecedência (região do Pantanal mato-grossense, municípios de Aquidauana, Barão de Melgaço, Bodoquena, Cáceres, Corumbá, Coxim, Ladário, Miranda, Poconé, Porto Murtinho, Rio Negro e Rio Verde de Mato Grosso, beneficiando 350.000 habitantes) (CPRM/DEHID). Figura 13.34 ––––– Previsão do nível d’água máximo com antecedência regressiva de 75, 45 e 15 dias, beneficiando 57.000 pessoas (Manaus, AM) (CPRM/DEHID).
  • 201. 199 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato Para os escorregamentos de encostas, que muitos danos e mortes têm causado às populações mais pobres, foram desenvolvidos os sistemas de alertas com previsão de horas e/ou dias, para as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória. São utilizados os dados de mapeamento geotécnico, o qual apresenta a localização das áreas de riscos a deslizamento, associados às informações de pre- cipitação das chuvas e análises climatológicas. AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Para os geocientistas que objetivam mapear as evi- dências das mudanças climáticas que vêm ocorrendo no planeta Terra, é necessária a utilização de geoindica- dores – medidas de magnitudes, freqüências, taxas e tendências de processos e fenômenos geológicos que ocorrem na superfície da Terra ou próximos a ela e que estejam submetidas a variações significativas em perío- dos de 100 anos ou menos (BERGER e IAMS, 1996). Tais indicadores são baseados em métodos padroniza- dos e procedimentos de monitoramento multidiscipli- nares, a partir de dados de geologia, geoquímica, geo- morfologia, geofísica, hidrologia e outras ciências da Terra. O objetivo é a avaliação das condições dos ambi- entes terrestres e costeiros, tanto em nível local quanto global, para se depreender as causas e efeitos produzi- dos por ações antrópicas e naturais, dentro do grande sistema planetário. Geoindicadores passíveis de monitoramento são: for- mação e reativação de dunas; erosão eólica; química e padrão de crescimento dos corais; nível relativo do mar e da linha de costa; níveis e salinidade de lagos; fluxo de corrente das águas; morfodinâmica fluvial (morfologia e padrão de canal; vazão líquida e aporte de sedimentos; assoreamento e erosão fluvial); extensão, desertificação (Figura 13.35), estrutura e hidrologia das terras úmidas; qualidade das águas superficiais e subterrâneas; quími- ca e nível das águas subterrâneas na zona não satura- da; atividade cárstica; qualidade e erosão de solos e sedimentos; deslizamento de encostas; sismicidade; se- qüência e composição de sedimentos, regime de tem- peratura de subsuperfície; aparecimento e/ou extinção de espécies. GEOCONSERVAÇÃO E GEOTURISMO Segundo TRAININI (2003), “no Brasil existe uma tra- dicional exploração de grandes feições naturais como Vila Velha, no Paraná, Cataratas do Iguaçu, a região de Boni- to, no Pantanal, as grutas calcárias, etc. Porém, mesmo aí, é falha a indicação do significado geológico destas feições, deixando-se de agregar um maior valor ao produ- to turístico. A simples indicação da história geológica das cenas agrega valor à paisagem, aumentando o seu poten- cial como produto gerador de turismo e renda”. Para SILVA (2004), “as minas abandonadas e/ou de- sativadas, denominadas de passivo ambiental e vistas como problemas, devem ser protegidas e consideradas como Patrimônio Mineiro, tornando-se excelentes atrativos tu- rísticos”. Atualmente, o geoturismo voltado para a geoconser- vação tem-se expandido em grande escala em várias par- tes do mundo, principalmente nos países europeus e na América do Norte. Da mesma forma, também no Brasil o geoturismo vem se desenvolvendo rapidamente. Os atrativos turísticos mais comuns são os monumen- tos geológicos (Pão de Açúcar e Pedra da Gávea, na cidade do Rio Janeiro; Pico Dedo de Deus, na serra dos Órgãos; Cabo Frio, no Rio de Janeiro; ou Vale dos Dinossauros, na Paraíba), geoparques, afloramentos, cachoeiras, cavernas, sítiosfossilíferos,alémdeinúmerasminasdesativadas/aban- donadas,fontestermais,paisagens,trilhasetc.(Figuras13.36 e 13.37). Essas atividades têm grande importância para a con- servação dos registros da evolução do planeta Terra e a divulgação das geociências, ao mesmo tempo em que propiciam a geração de empregos e renda para as popula- ções locais. Outras feições da geodiversidade, como os campos de dunas do Maranhão, conhecidos como Lençóis Mara- nhenses, já se tornaram, merecidamente, celebridades de nível internacional, em face de sua deslumbrante beleza exótica (Figura 13.38). As cavernas constituem-se em outro objeto geológi- co de grande interesse para o turismo, tanto no que con- cerne à visitação com vistas ao lazer, como no conheci- mento da nossa antropologia. Um dos pontos de grande interesse no território nacional é o Parque Nacional da Serra da Capivara, onde se pode visitar o Museu do Ho- mem Americano e centenas de cavernas ricas em pinturas rupestres (Figuras 13.39 e 13.40). Figura 13.35 ––––– Solo em processo de desertificação no nordeste brasileiro (CPRM/DEHID).
  • 202. 200 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 13.36 ––––– Exemplos de atrativos naturais, brasileiros, adequados ao geoecoturismo. Figura 13.37 ––––– Projeto Caminhos Geológicos, realizado pelo DRM-RJ e várias parcerias. O painel mostra uma síntese do conhecimento e da evolução geológica da região de Cabo Frio (RJ). Fotografia: Kátia Mansur. Figura 13.40 ––––– Pintura rupestre (Parque Nacional da Serra da Capivara, PI). Figura 13.39 ––––– Museu do Homem Americano (Parque Nacional da Serra da Capivara, PI). Figura 13.38 ––––– Campos de dunas barcanas, no litoral do estado do Maranhão. Fotografia: V. J. Marques.
  • 203. 201 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato POLÍTICAS PÚBLICAS O conhecimento da geodiversidade em toda sua amplitude – com destaque para as informações sobre o comportamento dos terrenos frente à apropriação do ter- ritório pela irrefreável pressão demográfica e mais diversas atividades econômicas, sobre suas limitações e potenciali- dades para serem aplicadas em vários setores e regiões de conflito ao uso, como urbanização, energia, saúde, habi- tação, agricultura, mineração, obras de engenharia, defe- sa civil, meio ambiente, terras das populações tradicio- EDUCAÇÃO O conhecimento da origem do planeta, a co-evolu- ção do meio físico e biótico, as forças geológicas externas que atuam sobre a superfície em que se localiza a camada biológica e as transformações internas promovidas pela dinâmica interna do planeta Terra precisam ser dissemina- das desde a educação fundamental da nossa população. Somente assim, os conceitos de preservação e aproveita- mento racional do meio natural – o desenvolvimento sus- tentável propriamente dito – poderão ser plenamente com- preendidos em suas dimensões geológicas espaçotempo- rais. Outra questão de relevante teor social é a conscienti- zação da população em relação à ocupação das áreas de riscos a escorregamentos de encostas e inundações. Nes- se sentido, diversas instituições atuantes na área das geo- ciências têm elaborado cartilhas educativas e distribuído para os moradores em áreas de riscos (Figuras 13.41 e 13.42). nais, regiões metropolitanas, turismo e educação – forne- ce subsídios básicos para o planejamento, gestão e orde- namento do território. Entretanto, tem-se verificado que a maioria dos ins- trumentos de planejamento efetuados no Brasil vem dei- xando a desejar quanto ao uso das informações da geodi- versidade brasileira. Esta tem sido uma preocupação mundial por parte da União Internacional de Ciências Geológicas (Internatio- nal Union of Geological Science (IUGS)), que, juntamente com a UNESCO-ONU, estabeleceu 2008 como o Ano In- ternacional do Planeta Terra (International Year Earth Pla- net). As atividades de comemorações iniciaram em janei- ro de 2007 e se estenderão até dezembro de 2009. Assim, com a adoção do lema “Ciências da Terra para a Sociedade”, têm-se como objetivos principais demons- trar o grande potencial das ciências da Terra na constru- ção de uma sociedade mais segura, sadia e sustentada e encorajar a sociedade a aplicar esse potencial, mais efici- entemente, em seu próprio benefício (Figura 13.43). Prevê-se, para as próximas décadas, que a busca por recursos naturais em ter- mos globais será cada vez maior, em vista do aumento da população mundial, com oconseqüenteincrementodademandapor alimentos, água, energia, minerais metáli- cos e construção de moradias, bem como da contínua urbanização e da degradação ambiental crescente nos países subdesen- volvidos. A degradação dos recursos ambientais que atinge o globo terrestre demonstra que a natureza não possui condições de sus- tentar esse crescimento econômico desen- freado, principalmente o implementado pelas potências ocidentais desde a Revolu- ção Industrial (com destaque para os Esta- dos Unidos da América) e recentemente seguido pelos denominados “países emer- gentes” (em especial, a China). A explora- ção indiscriminada pode provocar uma si- tuação de esgotamento ou deterioração irreversível desses recursos naturais, consi- derando-se que os processos de renovação natural não alcançam a mesma velocidade da produção de matérias-primas, alimentos e da própria degradação. O ordenamento territorial,precedidopeloZoneamen- to Ecológico-Econômico (ZEE), constitui-se em uma fer- ramenta técnico-gerencial de caráter tecnológico, polí- tico, jurídico e educativo, que possibilita à sociedade tomar as melhores decisões para preservar os processos e mecanismos de renovação dos recursos naturais, con- servando as condições ambientais sustentáveis para as gerações futuras. Portanto, ele deve ser planejado so- bre bases concretas e bem definidas, considerando, em Figura 13.42 ––––– Cartilha de alerta aos hábitos da população que podem causar danos relativos a escorregamento de encostas e inundações (PIMENTEL et al., 2007). Figura 13.41 ––––– Cartilha destinada a orientar a população para a adequada ocupação de morros (FIDEM, 2006).
  • 204. 202 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 13.43 ––––– Representação dos 10 temas considerados pelos geocientistas de relevante interesse para a sociedade (BERBERT, 2008). um viés histórico, as variáveis da geodiversidade, os fato- res sociais e econômicos, como também valores filosófi- cos, como holismo, ética e sustentabilidade ambiental. Vislumbra-se, assim, que a geodiversidade – princi- palmente com a atuação de profissionais como geólogos, agrônomos e geógrafos – é de fundamental importância, propiciando a pesquisa de métodos e enfoques que objetivam a otimização do gerenciamento dos usos dos recursos naturais, compatibilizando-os com suas limita- ções ecológicas e incorporando a variável ambiental ao processo de ordenamento territorial. Os referidos profissionais atuam em diversas linhas de pesquisa, tais como: monitoramento geoquímico da qualidade alimentar e disponibilidade de água potável; fornecimento de energia tradicional e alternativa; disponi- bilização de bens minerais e insumos agrícolas a custos menores; prevenção de desastres naturais; avaliação de mudanças climáticas; elaboração de instrumentos de pla- nejamento, gestão e ordenamento territorial. Dessa forma, entendemos que o conhecimento da geodiversidade é instrumento indispensável para a defini- ção e implantação de políticas públicas, para os governos federal, estaduais e municipais. BIBLIOGRAFIA BENNETT, M. R.; DOYLE, P. Environmental geology: geo- logy and the human environment. New York: John Wiley & Sons, 1997. 512 p. BERBERT, C. O. Geologia social: a nova visão dos serviços geológicos. Terra em Revista, Rio de Janeiro, ano I, n. 0, p. 9-10, ago. 1995. [Opinião].
  • 205. 203 APLICAÇÕES MÚLTIPLAS DO CONHECIMENTO DA GEODIVERSIDADE Cassio Roberto da Silva, Valter José Marques, Marcelo Eduardo Dantas, Edgar Shinzato BERBERT, C. O. Ano Internacional do Planeta Terra: Ciênci- as da Terra para a Sociedade. In: SEMINÁRIO INTERNACI- ONAL O PLANETA TERRA EM NOSSAS MÃOS. Câmara dos Deputados/Comissão de Meio Ambiente e Desenvol- vimento Sustentável. Brasília: Congresso Nacional, 2008. BERGER, A. R.; IAMS, W. J. (Eds.). Geoindicators: asses- sing rapid environmental changes in earth systems. Rot- terdam: A. A. Balkema, 1996. 466 p. CORDANI, U. The role of the Earth sciences in a sustaina- ble world. Episodes, v. 23, n. 3. p. 155-162, 2002. CORRÊA, P. R. S.; RAMOS, V. L. S. Diagnóstico geoambi- ental. Projeto Mapas Municipais – município de Morro do Chapéu (BA). Salvador: CPRM-SUREG/SA, 1995. p. 148- 155. Mapa. CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. 353 p. CPRM. Mapa geológico do estado do Rio de Janeiro, es- cala 1:400.000. Rio de Janeiro: CPRM-DRM/RJ, 2000. _____. Mapa preliminar da potencialidade mineral de Sa- lanópole – CE. Escala 1:100.000. Projeto Gemas e Mine- rais de Pegmatitos do Estado do Ceará. Brasília: CPRM/ Serviço Geológico do Brasil, 2005. ______.Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000. Brasília: SGM-MME/CPRM, 2006. CD-ROM [legenda ex- pandida]. DANTAS, M. E.; SHINZATO, E.; MEDINA, A. I. de M.; SILVA, C. R. da; PIMENTEL, J.; LUMBRERAS, J. F.; CAL- DERANO, S. B.; CARVALHO FILHO, A. de. Diagnóstico geoambiental do estado do Rio de Janeiro. In: CPRM. Rio de Janeiro: geologia, geomorfologia, geoquímica, geofí- sica, recursos minerais, economia mineral, hidrogeologia, estudos de chuvas intensas, solos, aptidão agrícola, uso e cobertura do solo, inventário de escorregamentos, diag- nóstico geoambiental. Rio de Janeiro: CPRM; Embrapa So- los; [Niterói]: DRM-RJ, 2001. CD-ROM. Contém texto e mapa color., escala 1:500.000. DINIZ, N. C.; DANTAS, A. C.; SCLIAR, C. Contribuições à política pública de mapeamento geoambiental no âmbito do levantamento geológico. In: OFICINA INTERNACIONAL DE ORDENAMENTO TERRITORIAL MINEIRO. Rio de Janei- ro: CPRM/CYTED, abr. 2005. DOROTHY, M. Environmental geology: an earth system science approach. New York: W.H. Freeman, 1998. 452 p. FIDEM. Guia de ocupação dos morros da região metropo- litana do Recife. Recife: FIDEM/SEPLANTES, 2006. KELLER, E. A. Environmental geology. 7. ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1996. 562 p. MARTINS, L. R. S.; SOUZA, K. G. Recursos minerais do mar. In: SILVA, C. R. (Ed.) Geodiversidade do Brasil: co- nhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro. Rio de Janeiro: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2008. PIMENTEL, J.; FERREIRA, C. E. O.; TRABY, R. D. J.; DINIZ, N. C. Comunidade mais segura: mudando hábitos e re- duzindo riscos de movimentos de massa e inundações. Rio de Janeiro: CPRM, 2007. 27 p. PLANT, J.A., ANNELLS, R.N., HASLAM, H.W., STEENFELT, A., VARET, J. Sustainability the earth’s surface environment: a european geoscience perspective. British Geological Survey research report, rr/00/05, 2001. PRESS, F; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Tradução Rualdo Menegat. Porto Alegre: Artmed, 2006. 656 p. il. RODRIGUEZ, S. K. Nossa Terra, nossa casa. São Paulo: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 1995. il. 24 p. SILVA, C. R. Programa geoecoturismo do Brasil. Rio de Janeiro: CPRM, 2004. [documento interno]. ______.Geodiversidade:instrumentoparaplanejamento,ges- tão e ordenamento territorial. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 44., 2008, Curitiba. Anais... Curitiba: SBG. ______; FIGUEIREDO, B. R.; CAPITANI, E. M.; Geologia médica no Brasil. In: SILVA, C. R.; FIGUEIREDO, B. R.; CAPITANI, E. M.; CUNHA, F. G. da. (Eds.). Geologia mé- dica no Brasil: efeito dos materiais e fatores geológicos na saúde humana e meio ambiente. Rio de Janeiro: CPRM/ Serviço Geológico do Brasil, 2006. 220 p. SOUZA, K. G. Conhecimento geológico da plataforma continental brasileira e áreas oceânicas adjacentes. SE- MINÁRIO NACIONAL DE GEOCIÊNCIAS. Rio de Janeiro: CPRM/CETEM, 2007. [palestra]. THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G.; CAN- TARINO, S. da C. Projeto Curitiba: atlas geoambiental da região metropolitana de Curitiba – subsídios para o plane- jamento territorial. 1:150.000. São Paulo: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 1999. 48 p. ZONNEVELD, I. S. The land unit: a fundamental concept in landscape ecology, and its applications. Landscape Ecology, v. 3, n. 1, p. 67-86, 1989.
  • 206. 204 GEODIVERSIDADE DO BRASIL EDGAR SHINZATO Natural de Campo Grande (MS). Formado em Engenharia Agronômica (1990) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Agronomia (área de concentração: Solos e Meio Ambiente) pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) em 1998. Iniciou sua carreira profissional em 1990, na iniciativa privada, desenvolvendo estudos de solos, principalmente para Engenharia de Irrigação no Nordeste do Brasil. Em 1994, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde vem desenvolvendo estudos de solos e geoprocessamento voltados para a área ambiental. Como Coordenador Executivo do Departamento de Gestão Territorial (DEGET), desenvolve projetos referentes à área de Agronomia em integração com a Geologia. É membro do núcleo de discussão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Entre os principais trabalhos desenvolvidos, constam levantamentos de solos de Morro do Chapéu; Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália (BA); APA de Lagoa Santa (MG), APA Sul (BH); Cuiabá e Várzea Grande (MT); SUFRAMA (AM). É instrutor da área de geoprocessamento da CPRM/SGB, especializado nos softwares ArcGis e Envi. MARCELO EDUARDO DANTAS Graduado em Geografia (1992) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com os títulos de licenciado em Geografia e Geógrafo. Mestre em Geomorfologia e Geoecologia (1995) pela UFRJ. Nesse período, integrou a equipe de pesquisadores do Laboratório de Geo-Hidroecologia (GEOHECO/UFRJ), tendo atuado na investigação de temas como: Controles Litoestruturais na Evolução do Relevo; Sedimentação Fluvial; Impacto das Atividades Humanas sobre as Paisagens Naturais no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul. Em 1997, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), atuando como geomorfólogo até o presente. Desenvolveu atividades profissionais em projetos na área de Geomorfologia, Diagnósticos Geoambientais e Mapeamentos da Geodiversidade, em atuação integrada com a equipe de geólogos do Programa GATE/CPRM. Dentre os trabalhos mais relevantes, destacam-se: Mapa Geomorfológico e Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro; Mapa Geomorfológico do ZEE RIDE Brasília; Estudo Geomorfológico Aplicado à Recomposição Ambiental da Bacia Carbonífera de Criciúma; Análise da Morfodinâmica Fluvial Aplicada ao Estudo de Implantação das UHEs de Santo Antônio e Jirau (Rio Madeira- Rondônia). Atua, desde 2002, como professor assistente do curso de Geografia/UNISUAM. Atualmente, é coordenador nacional de Geomorfologia do Projeto Geodiversidade do Brasil (CPRM/SGB). Membro efetivo da União da Geomorfologia Brasileira (UGB) desde 2007. CASSIO ROBERTO DA SILVA Graduado em Geologia (1977) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestrado em Hidrogeologia e Geologia Econômica (1995) pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, cursa o doutorado na área de Geologia Médica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 1978, atuando (por 13 anos) na Superintendência Regional de São Paulo (SUREG/SP) e na Residência de Porto Velho (5 anos). Há 12 anos no Escritório Rio de Janeiro, é responsável pelo Departamento de Gestão Territorial (DEGET). Tem experiência profissional na execução e no gerenciamento de projetos em Mapeamento Geológico, Prospecção Mineral e Geologia Ambiental, além de prestar consultoria internacional em Mapeamento Geológico e Geologia Ambiental. Ministra palestras em várias entidades e eventos nacionais e internacionais sobre Geologia Ambiental, Geodiversidade, Geologia Médica e Informações do Meio Físico para Gestão Territorial. Editor do livro “Geologia Médica no Brasil”, co-autor do livro “Prospecção Mineral de Depósitos Metálicos, Não-Metálicos, Óleo e Gás”. Autor de 44 trabalhos individuais e outros 20 como co-autor. Atuação no CREA, Associações de Empregados e Profissional de Geólogos. Coordenador da Divisão da América do Sul da International Medical Geology Association (IMGA). Distinção com os prêmios Qualidade CPRM (1993), CREA-RJ de Meio Ambiente (2001) e Patrono da Turma de Formandos de Geologia de 2003 da UFRRJ. VALTER JOSÉ MARQUES Graduação (1966) em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialização em Petrologia (1979), pela Universidade de São Paulo (USP), e em Engenharia do Meio Ambiente (1991), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos primeiros 25 anos de carreira dedicou-se ao ensino universitário, na Universidade de Brasília (UnB), e ao mapeamento geológico na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/ SGB), entremeando um período em empresas privadas (Mineração Morro Agudo e Camargo Correa), onde atuou na prospecção mineral por todo o país. De 1979 até o presente, desenvolve suas atividades na CPRM/SGB, onde exerceu diversas funções e cargos, dentre os quais o de Chefe do Departamento de Geologia (DEGEO) e o de Superintendente de Recursos Minerais. Nos últimos quinze anos, vem se dedicando à gestão territorial, com destaque para o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), sobretudo nas faixas de fronteiras com os países vizinhos da Amazônia, atuando como coordenador técnico-científico dos projetos binacionais.
  • 207. 205 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz 14 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz ([email protected]) Ângela Maria de Godoy Theodorovicz ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil SUMÁRIO Coberturas Sedimentares Fanerozóicas Inconsolidadas ou Muito pouco Consolidadas (1) ............................................................ 207 Coberturas Sedimentares Fanerozóicas pouco a Moderadamente Consolidadas (2) ....................................................................... 213 Coberturas Sedimentares ou Vulcanossedimentares Paleozóicas e Proterozóicas não-Dobradas (3) ............................................... 218 Rochas Vulcânicas Extrusivas e Intrusivas Cenozóicas e Mesozóicas (4) ....................................................................... 229 Coberturas Metassedimentares e Metavulcanossedimentares Proterozóicas, Diferentemente Tectonizadas, Dobradas e Metamorfizadas (5)................................................................... 236 Rochas Graníticas (6) ................................................................. 251 Rochas Gnaisse-Migmatíticas (7) ............................................... 258 Bibliografia ............................................................................... 263
  • 208. 206 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Em decorrência de sua grande extensão territorial e como reflexo de uma complexa e longa história geológica que, à luz da tectônica de placas (Figuras 14.1, 14.2 e 14.3), envolveu a superposição de vários eventos geotec- tônicos de fragmentação, separação, choques ou subduc- ção de placas tectônicas e, por conseqüência, de massas continentais, o território brasileiro se destaca por apresen- tar uma das mais complexas e variadas geologia do mun- do. Como tudo o que existe na superfície, de uma forma ou outra, é reflexo da geologia, há no Brasil terrenos com as mais variadas e contrastantes particularidades em ter- Figura 14.1 – Posição dos continentes nas diferentes eras geológicas da Terra, segundo a teoria da tectônica de placas. Figura 14.3 – É o processo descrito na figura anterior que faz com que, hoje, os continentes sul-americano e africano estejam, a partir da cadeia mesooceânica, separando-se um do outro. Figura 14.2 – Um processo de separação de continentes se inicia a partir da instalação de correntes de convecão, controlados pelo calor interno do globo, que empurram os blocos em sentidos opostos. mos de adequabilidades e limitações ao uso e ocupação. Ter conhecimento prévio de tais particularidades e levá-las em consideração nas decisões de planejamento e de ges- tão ambiental, tanto em nível regional como setorial, é de fundamental importância para se evitar graves problemas ambientais, muitos dos quais, se não irreversíveis, são de complexas e onerosas soluções. É no sentido de contribuir com esse conhecimento que a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Ser- viço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) vem executando diversos estudos em várias regiões do Brasil. Dentre eles, destacam-se os zoneamentos geoambientais executados pela Superintendência Regional de São Paulo (SUREG/ SP), com a finalidade de subsidiar o planejamento e a gestão ambiental de sua área de jurisdição – os estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Por meio desses zoneamentos, concluiu-se que, de uma ou outra forma, as adequabilidades e limitações que um local ou uma região apresentam frente ao uso e ocupação são reflexos diretos das variações da geologia. Também se chegou à conclusão de que a cada particularidade geo- lógica se relacionam diversas outras características im- portantes de serem consideradas nas decisões de plane- jamento que lhes são inerentes, passíveis de serem assu- midas como factuais e de serem estendidas a qualquer região onde houver recorrência dessa particularidade. Por exemplo, as diferentes regiões do Brasil que têm em co- mum o fato de serem sustentadas por uma rocha que apresenta o quartzo como mineral essencial em sua com- posição, também têm em comum o fato de serem sus- tentadas por rochas de baixa resistência ao cisalhamen- to, de alta resistência ao intemperismo químico e que se alteram para solos arenosos liberando poucos nutrien- tes. Em conseqüência, são terrenos com grande possibi- lidade de ocorrência de rochas duras, geralmente bas- tante fraturadas, percolativas e das quais se soltam blo- cos com facilidade em taludes de corte; de alta abrasivi- dade; problemáticas de serem perfuradas com sondas rotativas; os solos aí identificados, residuais, são bastan- te permeáveis, naturalmente erosivos, ácidos, de baixa
  • 209. 207 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz fertilidade natural; de baixa capacidade hídrica, de baixa capacidade de reter nutrientes e eliminar poluentes, as- sim por diante. Utilizando-se dessa lógica, diversas ou- tras deduções com objetivos diferentes podem ser leva- das a efeito. Tal lógica é válida tanto para as variações locais da geologia e no caso de um terreno ser sustentado por um Figura 14.4 – Área de definição do geossistema 1. A tectônica de placas é um grupo de conceitos que procura explicar as complexidades geológicas da Terra como sendo resultantes de movimentos de placas tectônicas que se afastam ou se aproximam uma das outras. Tais conceitos se originaram da hipótese da deriva continental, formulada por Alfred Wegener (1912), a qual postula que os atuais continentes, que hoje se encontram separados uns dos outros por mares e oceanos, há cerca de 200 milhões de anos estiveram unidos em uma única massa continental denominada Pangéia. De acordo com tal teoria, o Pangéia também se teria formado pela colagem de vários continentes muito antigos, que, nas diferentes eras geológicas, eram em número bem diferente dos atuais continentes, ocupavam outras posições da Terra e, ao longo de sua história evolutiva, passaram por vários episódios de fragmentação, separação e colagem tectônica. De acordo com a teoria da tectônica de placas, os continentes se fragmentam e se deslocam, afastando-se ou se aproximando uns dos outros, devido a um esforço gerado pelas correntes de convecção (Figura 14.2), um movimento que se forma perto da base da litosfera pelo deslocamento de materiais quentes provenientes das partes mais profundas da Terra. Ao alcançarem as partes mais superficiais, esses materiais entram em atrito com a litosfera rígida, perdem calor, deslocam-se lateralmente e descem, gerando um contínuo movimento circulatório. É o mesmo processo que se observa quando se esquenta a água – a água mais quente sobe e a mais fria desce. É esse processo que faz com que atualmente os continentes sul-americano e africano estejam, a partir da cadeia mesooceânica, separando- se a alguns centímetros por ano (Figura 14.3). A cada um desses eventos e nos diferentes momentos de sua evolução, lagos, mares e oceanos se formam ou se extinguem, transformando-se em montanhas e vice-versa; diversos tipos de rochas se formam e rochas preexistentes se metamorfizam em outras rochas bem diferentes do que eram originalmente. O território brasileiro, que hoje se encontra em relativa calmaria, já foi palco de vários episódios de intensa atividade tectônica; isso se reflete na existência de uma diversidade enorme de terrenos com as mais contrastantes adequabilidades e limitações ao uso e ocupação. único tipo de rocha, como para as variações regionais que diferenciam os grandes geossistemas (Figura 14.4), os quais, na maioria das vezes, são sustentados por uma com- plexaassociaçãoderochasdasmaisvariadasecontrastantes características físico-químico-texturais. Partindo-sedessapremissaeconsiderando-seumasérie de particularidades com expressão areal suficientemente grande para influenciar as características geo- ambientais de uma região, a geologia do Bra- sil foi diferenciada, ou agrupada, em sete gran- des geossistemas. Neste capítulo, são apresentadas as par- ticularidades geológicas distintivas de cada um dos geossistemas (domínios) e o que elas sig- nificam em termos de adequabilidades e limi- tações frente à execução de obras, à agricul- tura, aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras, aos potenciais turístico e mineral. COBERTURAS SEDIMENTARES FANEROZÓICAS INCONSOLIDADAS OU MUITO POUCO CONSOLIDADAS (1) Tais coberturas sustentam grande parte do território brasileiro (Figura 14.4). Corres- pondem aos terrenos geologicamente mais novos e, diferentemente dos outros geossis- temas a seguir descritos, nos quais as rochas e o relevo se encontram em processo de ero- são, são terrenos que se encontram em pro- cesso de construção, uma vez que corres- pondem a áreas baixas nas quais estão se
  • 210. 208 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.5 – Várzeas associadas ao rio Ribeira de Iguape (Vale do Ribeira, SP). depositando os detritos erodidos nos terre- nos altos circunvizinhos e que para elas são transportados por rios, enxurradas, ventos e, na faixa costeira, pela ação do mar. Encai- xam-se nessa situação as áreas planas que margeiam os rios, popularmente conhecidas como várzeas (Figura 14.5); as planícies que existem ao longo da região costeira; as gran- des áreas pantanosas, a exemplo do Pantanal mato-grossense, da Ilha do Bananal e as imen- sas áreas planas e alagadiças que existem na Amazônia, dentre outras. Adequabilidades e limitações Frente à execução de obras Nas decisões de planejamento que en- volvem a execução de obras, é importante que se considere que a geologia influencia de for- ma mais negativa que positiva nas caracterís- ticas geotécnicas desse geossistema, pelas se- guintes razões: • O substrato é formado por um empi- lhamento irregular de camadas horizontali- zadas das mais diversas espessuras de areia, silte, argila e cascalho. A espessura do paco- te sedimentar varia de poucos metros nas pe- quenas várzeas até muitas centenas de me- tros nas grandes áreas pantanosas e nas imen- sas áreas planas e alagadiças da região ama- zônica. Trata-se, portanto, de um empilha- mento de materiais de características granu- lométricas, mineralógicas, geomecânicas e hi- dráulicas bastante contrastantes e que mu- dam bruscamente de uma camada para ou- tra. Significa que as características geotécni- cas variam bastante na vertical e as mudan- ças abruptas de uma litologia para outra se constituem em descontinuidades geomecâ- nicas que facilitam os processos erosivos e as desestabilizações em paredes escavadas (Figura 14.6). • Os sedimentos se encontram pouco consolidados e trata-se de uma configuração morfológica favorável a que, em muitos locais, os sedimentos e os solos se encontrem saturados em água e sejam ricos em matéria orgânica – solos hidromórficos. Tais materiais apresentam muito bai- xa capacidade de suporte e são colapsíveis. Significa que se uma obra for edificada sobre eles – prática ambiental- mente incorreta –, estará sujeita a abatimentos e trinca- mentos freqüentes, como também aos efeitos negativos da umidade dos solos, que se mantém bastante alta na maior parte do ano (Figura 14.7). • Os cursos d’água, ao chegarem à área de definição desse geossistema, sofrem uma quebra brusca de energia e passam a depositar mais do que a escavar. Conseqüen- temente, encontram-se em franco e acelerado processo de assoreamento, o que exige cuidados especiais, para que neles não se aumente o aporte de sedimentos. • Trata-se de uma configuração geomorfológica favo- rável a que o lençol freático aflore em vários locais ou esteja situado a baixas profundidades na maior parte da área de definição do geossistema. Tal característica torna esses terrenos extremamente problemáticos para a execu- ção de obras subterrâneas que envolvem escavações, pois estão sujeitos a rápido alagamento, acarretando que as obras fiquem imersas ou situadas em solos excessivamen- te úmidos e corrosivos (Figura 14.8). Figura 14.6 – Erosão diferencial nos sedimentos da Bacia do Pantanal (MS). A porção inferior erosiva é uma camada de areia fina; a camada superior é uma areia grossa um tanto laterizada.
  • 211. 209 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.7 – Área de várzea sendo aterrada para ser urbanizada (região metropolitana de Curitiba). Figura 14.8 – Exemplo de execução de obras em local de baixa profundidade do lençol freático. Figura 14.9 – A construção de uma obra viária sobre a área de definição desse geossistema reduz ainda mais o precário escoamento superficial; os aterros podem funcionar como barreiras que propiciam a formação de enchentes de longa duração, não pelo extravasamento dos rios, mas pelo represamento das águas das chuvas. Tais obras devem ser dotadas de dutos que possibilitem o escoamento da água das chuvas sobre a área de definição do geossistema 1 (município de Pariquera-Açu, SP). • Obras viárias têm de ser executadas so- bre altos aterros, o que ambientalmente é in- correto (Figura 14.9), além de serem muito onerosas, pois se terá de buscar material de empréstimo para os aterros a longas distânci- as. Ademais, a construção de aterros interfere negativamente no escoamento superficial, que naturalmente é bastante deficiente. • Dentre os sedimentos, é comum a exis- tência de camadas de argilas moles, excessi- vamente plásticas e saturadas em água. Tais camadas,casosejamdescompressionadaspela execução de escavações, podem desencadear o fenômeno conhecido como “corrida de lama”, ou seja, esse material mole pode mi- grar para as escavações, gerando condições propícias a que ocorram colapsos nas imedia- ções das escavações. • É comum a existência, dentre os sedi- mentos, de camadas de argilas ou excessiva- mente plásticas e pegajosas, ou rijas e duras, ou então de cerosidade elevada. Também é comum a ocor- rência de cascalhos formados por uma mistura desorgani- zada de seixos, blocos e matacões de rochas duras, abrasivas e de características geotécnicas diferenciadas. Tais camadas dificultam a escavação e a perfuração com sondas rotativas, além de apresentarem características geotécnicas bastante heterogêneas. • É possível a existência de camadas à base de maté- ria orgânica que podem liberar gás metano, o qual é pre- judicial à saúde, altamente inflamável, de alta mobilidade e que pode entrar em combustão espontânea. Esse gás pode se infiltrar pela tubulação das obras, gerando situa- ções propícias a que ocorram incêndios e até violentas explosões (Figura 14.10). • Como a matéria orgânica libera ácidos bastante corrosivos, nas regiões de clima chuvoso essa liberação, aliada à baixa profundidade do lençol freático, faz com que materiais enterrados nesse geossistema se danifiquem rapidamente, o que exige cuidados especiais com a quali- dade dos materiais utilizados nas obras enterradas, princi- palmente se forem destinadas à circulação e ao armaze- namento de substâncias poluentes, como oleodutos, tan- ques de combustíveis etc. Se ocorrer um vazamento, o risco de os poluentes entrarem em contato direto com o lençol freático é grande (Figura 14.11). • São terrenos desprovidos de rochas duras para se- rem utilizadas como agregados. Tal característica encare- ce a execução de obras onde tais sedimentos sustentam extensas superfícies – a exemplo do Pantanal mato- grossense e das áreas alagadiças da região amazônica –, pois os agregados são transportados de longas distâncias.
  • 212. 210 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.10 – Exemplo de infiltração de gás em tubulação de obra construída sobre uma camada rica em matéria orgânica. Figura 14.11 – Vazamento de poluente em áreas onde o lençol freático é pouco profundo. • As características geomorfológicas são favoráveis a que se formem empoçamentos de água (Figura 14.12) e a que os rios formem enchentes freqüentes de longo tempo de duração e grande área de abrangência (Figura 14.13). Frente à agricultura Nesse caso, a influência da geologia é tanto positiva como negativa, pelas seguintes razões: • Há grandes parcelas com drenabilidade superficial e subsuperficial deficiente; ou sujeitas a empoçamentos de água de longo tempo de permanência; ou com lençol freático aflorante ou situado próximo à superfície; ou recobertas por solos saturados em água; ou sujeitas a en- chentes (Figura 14.14). • Tais áreas são inadequadas ao plantio de espécies de raízes profundas (estas podem apodrecer) e para cultu- ras que necessitam da aplicação de agrotóxicos – o risco de os agrotóxicos entrarem em contato direto com o len- çol freático, contaminando-o, é alto (Figura 14.15). Figura 14.12 – Planícies aluviais do rio Barigui (região metropolitana de Curitiba, PR). Figura 14.13 – Pantanal mato-grossense, em época de cheia do rio Paraguai (MS). • Em muitos locais, para melhorar a drenabilidade do solo, é necessário abrir profundas valas, o que não é ambientalmentecorreto.Talpráticainterferenegativamente na dinâmica das águas superficiais e subterrâneas. As áre- as úmidas e os banhados que existem em grande quanti- dade na área de definição do geossistema 1 são importan- tes para manter a regularidade da vazão dos cursos d’água, da umidade do ar e para recarregar as águas subterrâneas. Por isso, não devem ser secadas. • Trata-se de um ambiente favorável a que a umidade dos solos se mantenha alta na maior parte do ano, favore- cendo a proliferação de vários tipos de insetos, fungos e bactérias. Portanto, não é adequado a culturas suscetíveis a pragas, a exemplo de diversas hortaliças. • As características geomorfológicas são favoráveis à existência de manchas de solos salinos, de péssimas ca- racterísticas químicas para a agricultura, a exemplo de muitos locais do Pantanal mato-grossense. • As características do relevo e de drenagem são mais favoráveis à concentração do que à dispersão de poluentes terrestres e atmosféricos. Significa que são terrenos onde
  • 213. 211 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.14 – Área com lençol freático aflorante ou situado próximo à superfície. Figura 14.15 – Plantio de banana, cultura na qual se aplicam, freqüentemente, grandes quantidades dos mais diferentes e fortes agrotóxicos (região do Vale do Ribeira, SP). os poluentes agrícolas necessitam de um maior tempo para se dispersarem e se depurarem. • Em muitos locais, os solos podem conter excesso de matéria orgânica. Tais solos são excessivamente ácidos e, por isso, necessitam ser freqüentemente corrigidos com a aplicação de grandes quantidades de calcário dolomítico. Esse aspecto pode inviabilizar a prática agrícola nas regi- ões onde não há disponibilidade desse corretivo a uma distância que seja economicamente viável de ser transpor- tado. • As características geomorfológicas são favoráveis a que, nas regiões de clima temperado, a temperatura se eleve bastante no verão e diminua muito no inverno, possibilitando a formação de geadas, a exemplo do que acontece nas várzeas existentes nas áreas montanhosas da região Sul e em boa parte da região Sudeste (Figura 14.16). • Como particularidades positivas, salienta-se que, em meio às áreas pantanosas e alagadiças, há manchas de Figura 14.16 – Geada em uma planície aluvial da região metropolitana de Curitiba (PR). terras mais sobrelevadas (terraços) que o nível atual das enchentes. Tais parcelas podem ser bem aproveitadas para o plantio, uma vez que o potencial erosivo é praticamente nulo, podem ser facilmente mecanizadas com equipamen- tos motorizados e geralmente são recobertas por solos ricos em matéria orgânica. Esses solos, além de apresen- tarem boa fertilidade natural, são bastante porosos e apre- sentam alta capacidade de reter e fixar nutrientes, ou seja, respondem bem à adubação. As particularidades retrodestacadas permitem concluir que o aproveitamento agrícola desse geossistema deve ser muito bem planejado, devendo-se priorizar o plantio or- gânico. Frente aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras As características geológicas tornam a área de defini- ção desse geossistema um ambiente de grande importân- cia hídrica e muito vulnerável frente a qualquer fonte com potencial poluidor. • As características morfolitoestruturais são favoráveis a que águas das chuvas sejam retidas nesse geossistema por longo tempo. Como a maior parte de sua superfície é recoberta por solos bastante permeáveis e de alta capaci- dade de armazenar água, são terrenos importantes para a recarga das águas subterrâneas. • Por serem terrenos topograficamente rebaixados, as águas das chuvas que se infiltram nas áreas altas circunvizinhas neles se minam, recarregando os rios que, por sua vez, recarregam as águas subterrâneas. São, por- tanto, ao mesmo tempo, áreas de recarga e de descarga das águas subterrâneas (Figuras 14.17 e 14.18). • Dentre os sedimentos que os sustentam, há espes- sas e extensas camadas horizontalizadas de areia e casca- lho inconsolidados, materiais bastante porosos e permeá- veis e quase sempre situados próximos à superfície, como identificado especialmente nas áreas das várzeas e nas pla-
  • 214. 212 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.17 – Área de definição do geossistema 1 na região de Mangaratiba (RJ). Figura 14.18 – Exemplifica-se porque a área de definição do geossistema 1 é favorável tanto à recarga como à descarga das águas subterrâneas. nícies costeiras. Significa que são aqüíferos granulares horizontalizados, de alto potencial de explotação, boa expressividade areal, boa homogeneidade hidrodinâmica lateral e de fácil e barata explotação. Por todas as características retromencionadas, a área de definição desse geossistema, além de ser de grande importância para a recarga das águas subterrâneas e ma- nutenção da regularidade da vazão dos rios, constitui-se em uma importante fonte de água doce para muitas regi- ões. No entanto, no caso de se explotar água, devem-se considerar as seguintes particularidades negativas: • Em muitos locais, as águas circulam por entre ca- madas ricas em matéria orgânica. Nesse caso, é possível que a água apresente problemas de acidez elevada e mau cheiro. • Na área de definição do geossistema, junto à linha de costa, as águas subterrâneas podem ser salobras, em razão da interferência da água do mar. • São terrenos com características de relevo e de dre- nagem mais favoráveis à concentração do que à dispersão de poluentes, tanto terrestres como atmosféricos. Em caso de contaminação, exigem complexas e onerosas soluções (Figura 14.19). • O fluxo de água subterrânea se dá na horizontal, em todas as direções, através de camadas de areia e cas- calho, materiais de muito baixa capacidade de reter e de- purar poluentes. Assim sendo, uma fonte poluidora, mes- mo pontual, pode espalhar os poluentes por longas dis- tâncias e em todas as direções. Por isso, não se deve con- sumir água de poços rasos, tipo cacimba, se houver fon- tes contaminantes na região (Figura 14.20). • Os cursos d’água e as enxurradas provenientes das áreas altas circunvizinhas, ao chegarem a esse geossiste- ma, sofrem uma quebra brusca de energia e suas águas passam a ser lentas, pouco turbulentas, pouco oxigena- das e de baixa capacidade de se autodepurarem. Significa Figura 14.19 – Rios com águas lentas apresentam baixa capacidade para dispersar e depurar poluentes (Sete Barras, SP). Figura 14.20 – Um poço tipo cacimba, escavado em uma várzea do Vale do Ribeira (SP), em meio a uma plantação de banana, cultivada com aplicação dos mais variados agrotóxicos.
  • 215. 213 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.21 – Sistema hídrico das planícies amazônicas. Figura 14.22 – Paisagem formada pelo contraste das áreas planas do geossistema 1 e o relevo montanhoso sustentado por rochas muito antigas e deformadas (Vale do Ribeira, PR). Figura 14.23 – Pantanal mato-grossense (região da serra do Amolar, MS). que, se um poluente alcançar um curso de água desse geossistema, demorará muito tempo para se dispersar e se depurar. • No caso de implantação de dutos e tanques para o armazenamento de substâncias poluentes, é grande a pos- sibilidade de eles ficarem imersos ou enterrados em mate- riais ricos em matéria orgânica, que libera ácidos bastante corrosivos, danificando-os rapidamente. Tais particularidades indicam que, para qualquer ini- ciativa de implantação de uma fonte com potencial poluidor nesse geossistema, criteriosos cuidados técnicos devem ser observados. Frente ao potencial turístico A configuração morfoestrutural possibilitou que a esse geossistema se associassem alguns dos mais belos e im- portantes ecossistemas do Brasil, destacando-se dentre eles o Pantanal mato-grossense, a Ilha do Marajó, as amplas planícies amazônicas. Tais regiões apresentam um belo, denso e complexo sistema hídrico com vegetação típica, adaptada às águas e às secas; por isso, são habitat de uma infinidade de animais, aves e plantas terrestres e aquáti- cas. Também fazem parte dele todas as planícies costei- ras, onde existem belas praias, além de se constituírem em importantes ecossistemas de transição entre ambien- tes marinhos e terrestres e as várzeas dos rios (Figuras 14.21, 14.22 e 14.23). Frente ao potencial mineral Trata-se de uma ambiência geológica e geomorfoló- gica favorável à explotação de vários bens minerais. • A dinâmica dos cursos d’água é favorável à forma- ção de depósitos de minerais pesados do tipo pláceres, ou seja, depositados pela ação dos rios. Destacam-se, nesse caso, os depósitos de ouro, cassiterita e diamantes. • É um ambiente favorável à lavra de vários tipos de areia, argila, cascalho e turfa (Figura 14.24). • Associados às planícies costeiras mais afastadas da linha de costa, há depósitos de areia industrial, assim como, associadas às areias da linha de praia, há concentrações de minerais pesados radioativos (areias monazíticas), como as identificadas no litoral do Espírito Santo. COBERTURAS SEDIMENTARES FANEROZÓICAS POUCO A MODERADAMENTE CONSOLIDADAS (2) Tais coberturas recobrem boa parte do território brasileiro. Elas se originaram a partir de detritos que, em tempos geológicos não muito distantes – entre mais ou menos 55 e 2 milhões de anos –, depositaram-se em pequenas e grandes depressões que se formaram por conseqüência de grandes falhas geológicas, que tanto soergueramcomorebaixaramporçõesdacrostacontinental brasileira, em decorrência do mecanismo de separação do continente sul-americano do africano (Figura 14.25).
  • 216. 214 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.24 – Lavra de turfa, associada às várzeas do rio Paraíba do Sul (município de São José dos Campos, SP). À medida que tais depressões se formavam, transfor- mavam-se em lagos, nos quais se depositavam diversos tiposdeareias,cascalhos,argilasesiltes,transportadospelos rios e pelas enxurradas dos terrenos altos circunvizinhos. Com o passar do tempo, os lagos se atulharam e se extinguiram e os sedimentos neles depositados hoje apa- recem sustentando terrenos que, na literatura geológica, pertencem às bacias sedimentares de Curitiba, São Paulo, Taubaté, Resende, Solimões, Parecis, Urucuia, dentre ou- tras. Também se encaixam nesse contexto os sedimentos que ocorrem ao longo de uma estreita e longa faixa da margem continental, pertencentes ao Grupo Barreiras. Figura 14.25 – Área de definição do geossistema 2. Em decorrência dessa história geológica, as áreas destacadas na figura 14.25 têm em comum o fato de serem sustentadas por um empilhamento irregular de ca- madas ou lentes horizontalizadas das mais diferentes es- pessuras e compostas de diversos tipos de areias, argilas, siltes, cascalhos, geralmente pouco a moderadamente consolidados. Em razão de tais características, a área de definição desse geossistema apresenta diversas particu- laridades importantes de serem consideradas nas deci- sões de planejamento das várias formas de uso e ocupa- ção. Adequabilidades e limitações Frente à execução de obras Como implicações geotécnicas importantes decorren- tes da geologia, salienta-se que: • O substrato desse geossistema é forma- do por um empilhamento irregular de cama- das de litologias de características granulomé- tricas e composicionais diferentes. Conseqüen- temente, em caso de execução de obras que envolvam escavações profundas, é grande a possibilidade de se expor nas paredes escava- das materiais dos mais variados comportamen- tos geomecânicos e hidráulicos. Isso favorece as desestabilizações, os processos erosivos e o aparecimento de surgências de água em talu- des de corte (Figura 14.26). • Por serem bacias sedimentares forma- das por falhas geológicas, a espessura do pa- cote sedimentar pode variar de poucas cente- nas de metros – como se observa nas bacias de Curitiba, São Paulo, Taubaté e Rezende e na Formação Barreiras –, a milhares de metros nas grandes bacias – por exemplo, Solimões e Urucuia. • Nas bacias de Curitiba, São Paulo, Tau- baté e Rezende, a espessura do pacote sedi- mentar é bastante irregular, variando de local para local de poucos metros a mais de uma centena de metros. Em caso de escavações e perfurações profundas, é grande a possibilida- de de se encontrar rochas do embasamento das bacias e de características geotécnicas totalmente distintas das dos sedimentos desse geossistema. • Dentre os sedimentos, é bastante comum a existên- cia de camadas de argilas excessivamente plásticas, pega- josas e rijas, como também de camadas de siltitos de cerosidade elevada. Tais materiais apresentam problemas face à escavação e perfuração com sondas rotativas – os equipamentos se emplastam excessivamente e a alta cerosidade propicia que as sondas patinem. • É comum a existência de camadas de sedimentos à base de argilominerais expansivos. Tais sedimentos e os
  • 217. 215 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.26 – As desestabilizações e os processos erosivos observados nas falésias que existem principalmente ao longo do litoral nordestino, sustentadas por sedimentos da Formação Barreiras, são decorrentes do baixo grau de consolidação e da alternância de litologias de características geomecânicas e hidráulicas muito diferentes (Porto Seguro, BA). respectivos solos residuais, se expostos à variação de grau de umidade, tornam-se colapsíveis e sofrem o fenômeno do empastilhamento, ou seja, desagregam-se em peque- nas pastilhas. Por essa razão, obras neles enterradas po- dem sofrer deformações e trincamentos; além disso, se tais materiais forem expostos à oscilação dos estados úmido e seco, tornam-se tão erosivos quanto as areias inconsolidadas (Figuras 14.27, 14.28 e 14.29). • Dentre os sedimentos, também se registra a ocor- rência de camadas de areia e cascalho, materiais de carac- terísticas granulométricas e geomecânicas bastante hete- rogêneas. • Como se trata de um empilhamento horizontalizado de camadas de várias composições, a textura dos solos residuais pode variar de argilosa a arenosa, principalmen- te nas áreas onde o relevo é mais movimentado e os va- les, mais aprofundados. • Por serem as camadas horizontalizadas ou subori- zontalizadas, o relevo geralmente é formado por eleva- ções de topos amplos, suavizados e delimitados por ver- tentes um pouco mais íngremes. Entremeiam-se às eleva- ções áreas baixas, com relevo quase plano. Tal configura- ção propicia que nessas áreas baixas as águas das chuvas se concentrem, formando lençol freático permanente ou temporário bem próximo à superfície (Figura 14.30). Tam- bém é grande a possibilidade de que nesses locais existam camadas de argilas moles, saturadas em água, sujeitas ao fenômeno da “corrida de lama”, se forem descompressio- nadas por meio de escavações. Também é possível a exis- tência de solos transportados ricos em matéria orgânica (Figura 14.31). Tais solos apresentam baixa capacidade de suporte e são excessivamente ácidos, por isso, são bastan- te corrosivos; materiais neles enterrados se danificam ra- pidamente, o que recomenda cuidados especiais com a qualidade dos materiais empregados nas obras. Figura 14.27 – Particularidade geotécnica interessante associada aos sedimentos da Bacia de Curitiba: a base do talude, embora sustentada por sedimentos argilosos, por conter argilominerais expansivos, é bem mais erosiva que a parte superior, sustentada por sedimentos arenosos (região metropolitana de Curitiba, PR). Figura 14.28 – Processos erosivos decorrentes da exposição dos sedimentos argilosos da Formação Guabirutuba associada à Bacia de Curitiba contendo argilominerais expansivos (região metropolitana de Curitiba, PR). Figura 14.29 – Área sofrendo processo de erosão decorrente da existência de argilominerais expansivos, relacionados aos sedimentos da Formação Solimões (estado do Acre).
  • 218. 216 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.30 – Área de definição do geossistema 2 na região de Boa Vista (RR), onde o relevo é favorável a que se formem muitas lagoas e a que o lençol freático esteja situado próximo à superfície. Esta é uma particularidade também encontrada em muitos locais da área de definição da Bacia de Curitiba (PR). Figura 14.31 – Na área de definição do geossistema 2, na região metropolitana de Curitiba (PR), solos com alto teor de matéria orgânica são explorados e vendidos para jardinagem. Figura 14.32 – A parte superior desse anfiteatro suspenso é sustentada por laterita, também conhecida como canga, que é uma crosta ferruginosa dura e mais resistente à erosão que o material ao qual está sobreposta (serra do Curral, MG). Figura 14.33 – Conglomerado constituído por seixos e blocos de rochas à base de quartzo (Eldorado Paulista, SP). • São terrenos onde se encontram crostas lateríticas, especialmente nas regiões amazônica e Centro-Oeste, material à base de alumínio, ácido e corrosivo, além de que, em muitos locais, ele se encontra bastante endureci- do (Figura 14.32). • Dentre os sedimentos, é comum a existência de camadas de conglomerados formados por uma mistura caótica de seixos, blocos e até matacões de diversos tipos de rochas duras, na maioria das vezes, compostos de ro- chas à base de quartzo, portanto, muito duras e abrasivas. Trata-se de material de comportamento geomecânico bas- tante heterogêneo e difícil de ser escavado e perfurado com sondas rotativas (Figura 14.33). • Na área de definição do geossistema, não há rochas duras para serem usadas como agregados (brita). Isso en- carece bastante a execução de obras nos domínios da re- gião amazônica – os agregados têm de ser transportados de longas distâncias. • Nas regiões sustentadas por sedimentos do Grupo Urucuia e da Bacia do Parecis, predominam sedimentos à base de quartzo. Tais sedimentos costumam se encontrar densamente fraturados em várias direções e se alteram para solos arenosos extremamente erosivos e excessiva- mente permeáveis. • Como particularidade positiva, salienta-se que a configuração morfolitoestrutural desse geossistema é fa- vorável à predominância de relevos suavizados, de baixo potencial erosivo e de movimentos naturais de massa. Além disso, predominam materiais que podem ser esca- vados com certa facilidade, apenas com ferramentas e maquinários de corte. Frente à agricultura Em decorrência da geologia, a área de definição des- se geossistema apresenta tanto características negativas como positivas para o uso agrícola. Como particularida- des negativas, salienta-se que: • Em toda a sua área de definição, predominam litologias que se alteram liberando poucos nutrientes. Conseqüentemente, há predominância de solos de fertili- dade natural muito baixa. • Pelo fato de o substrato rochoso ser formado por um empilhamento irregular e horizontalizado de camadas are-
  • 219. 217 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz nosas, argilosas, siltosas e conglomeráticas, das mais varia- das espessuras, a textura e, por conseqüência, a qualidade agrícola dos solos residuais, é uma variável que depende bastante de qual desses sedimentos predomina e ocupa a porção superior do pacote sedimentar e do tipo de relevo. Assim sendo, há regiões nas quais predominam solos argi- losos; outras, solos arenosos; e aquelas em que a textura dos solos varia em poucos metros de arenosa a argilosa. • Nas regiões onde predominam solos arenosos, como no caso da área de definição do Grupo Urucuia, além da baixa fertilidade natural, os solos também são bastante erosivos, ácidos, excessivamente permeáveis, com baixa capacidade de armazenar água, de reter nutrientes e de assimilar matéria orgânica. Além disso, são terrenos com pouca disponibilidade hídrica superficial. Tais característi- cas indicam que essas áreas não são adequadas à agricul- tura de ciclo curto, ao plantio de plantas de raízes curtas, as quais necessitam de muita água e mecanização fre- qüente do solo. • Em regiões em que predominam sedimentos síltico- argilosos, como no caso da Bacia de Curitiba, destaca-se que tais sedimentos se alteram para solos argilosos ou argilossiltosos liberando muito alumínio. Portanto, além da baixa fertilidade natural, os solos são muito ácidos e se compactam e se impermeabilizam bastante se forem conti- nuamente mecanizados com equipamentos pesados ou pisoteados por gado – cargas elevadas contínuas sobre so- los argilosos propiciam a formação de uma camada subsuperficial altamente endurecida e quase que imperme- ável, fenômeno conhecido como “pé de grade”. Tal cama- da, nos períodos de chuva, funciona como uma superfície de deslize da camada superior, que, por ser mais fofa e porosa, encharca-se e é facilmente removida por erosão laminar (Figura 14.34). Por outro lado, solos argilosos apre- sentam boa capacidade de retenção e fixação de elemen- tos, são bastante porosos e armazenam bastante água. Sig- nifica que mantêm boa disponibilidade de água para as plantas por longo tempo dos períodos secos, assimilam bem a matéria orgânica e, quando adubados, fixam bem os nutrientes. Conseqüentemente, desde que o relevo seja adequado e os solos devidamente manejados e corrigidos, tais terrenos apresentam bom potencial agrícola. • Outro aspecto a ser considerado é que se trata de uma ambiência geomorfológica favorável à existência, especialmente nas regiões amazônica e Centro-Oeste, de manchas de solos lateríticos. Tais solos, além de serem de fertilidade natural muito baixa, são excessivamente áci- dos, respondem mal à adubação e, em muitos locais, apre- sentam problemas de dureza e pedregosidade elevadas. • Como particularidade positiva, destaca-se que, de- vido às camadas sedimentares serem horizontalizadas, predominam relevos suavizados, de baixo potencial erosivo, com boa parte da superfície favorável à utilização de maquinários motorizados. Esse tipo de relevo também é favorável à existência de parcelas baixas e recobertas por solos transportados, ricos em matéria orgânica, a exem- plo do que ocorre em grande parte da Bacia de Curitiba. Tais solos apresentam boa fertilidade natural, são bastante porosos e de alta reatividade química, ou seja, quando adubados, retêm e fixam bem os nutrientes. Frente aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras Destacam-se como particularidades importantes: • Trata-se de uma ambiência favorável à existência de camadas de areia e de conglomerados de bom potencial armazenador e circulador de água, de boa expressividade areal e boa homogeneidade hidrodinâmica lateral. São, portanto, aqüíferos granulares, nos quais, se um poço apresentar boa vazão, é grande a possibilidades de que outros, com a mesma profundidade, em outros locais, também a apresentem (Figura 14.35). • São áreas potenciais à existência de aqüíferos confi- nados, ou seja, as camadas arenosas e conglomeráticas podem estar intercaladas entre camadas pouco permeá- veis e, por isso, protegidas da contaminação. Portanto, nelas podem existir aqüíferos de excelente potabilidade. Por outro lado, nos aqüíferos confinados, a recarga é muito lenta, fato que deve ser considerado no caso de explotação de água: se a explotação não for bem planejada, os poços podem secar (Figura 14.36). • As características morfoestruturais são favoráveis à existência de manchas de solos ricos em matéria orgânica. Tais solos, por serem bastante permeáveis e porosos, têm grande importância hídrica para o geossistema, principal- mente nas regiões onde predominam sedimentos síltico- argilosos, como no caso das bacias de Curitiba e de São Paulo. Funcionam como uma esponja que absorve e arma- zena grande quantidade de água das chuvas, contribuindo para melhorar o potencial de recarga das águas subterrâne- as, como também para minimizar os problemas decorren- tes do escoamento superficial rápido dos terrenos síltico- argilosos. Por isso, é importante que tais solos sejam preser- vados e não impermeabilizados (Figura 14.37). Figura 14.34 – Focos erosivos decorrentes do pisoteamento contínuo do gado sobre solo argiloso.
  • 220. 218 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.35 – Exemplo de aqüífero granular. Figura 14.36 – Aqüífero confinado. Figura 14.37 – Boa parte da área de definição desse geossistema é recoberta por espesso manto de solo orgânico (região metropolitana de Curitiba, PR). bastante perméaveis e apresentarem baixa capacidade de retenção e depuração de poluentes. Assim sendo, nos lo- cais em que tais sedimentos afloram e sobre os respecti- vos solos residuais, cuidados especiais devem ser toma- dos com as fontes potencialmente poluidoras. • Outro aspecto negativo a ser considerado é que a configuração morfolitoestrutural desse geossistema é favo- rável a que os cursos de água apresentem águas lentas, pouco turbulentas e pouco oxigenadas; por isso, possuem baixa capacidade de depuração de poluentes. Portanto, se um poluente atingi-los, será necessário um longo período de tempo para a depuração e dispersão desse elemento. Frente ao potencial turístico Como atrativos turísticos importantes, os sedimentos do Grupo Barreiras sustentam as bonitas falésias ao longo do litoral nordestino. Também é do Grupo Barreiras que se extraem as areias finas e coloridas utilizadas em interes- sante e típico artesanato da região Nordeste. Na região de Urucuia, a configuração morfolitoestrural foi favorável a que os processos erosivos esculpissem áre- as de grande beleza cênica e que fossem drenadas por muitos rios com formações de cachoeiras, corredeiras e piscinas naturais. Já na região amazônica, na área de defi- nição da Formação Solimões, a geomorfologia propicia a existência de amplas planícies recortadas por um denso, belo e complexo sistema de rios com importantes ecossistemas associados. Frente ao potencial mineral Trata-se de uma ambiência geológica favorável à explotação de diversos tipos de areia, argila e cascalho. Destaca-se que a parte do geossistema compreendida pela Bacia Solimões é uma ambiência favorável à existência de depósitos de hidrocarbonetos, xisto betuminoso, arenito asfáltico, barita, gipsita, sal-gema e anidrita. COBERTURAS SEDIMENTARES OU VULCANOSSEDIMENTARES PALEOZÓICAS E PROTEROZÓICAS NÃO-DOBRADAS (3) Essas coberturas sustentam grande parte do território brasileiro e se originaram a partir de vários tipos de detri- tos, como areia, cascalho, argila, siltes, matéria orgânica e, mais restritamente, de lavas vulcânicas e precipitados químicos, que se depositaram em extensas e profundas bacias sedimentares originadas nas mais diferentes épo- cas da história geológica da Terra (Figura 14.38). Tais bacias se formaram por conseqüência de falhas geológicas que tanto soerguiam como rebaixavam gran- des extensões da crosta continental. A longa história evolutiva de tais bacias, que durou mais de 400 milhões de anos, possibilitou que nelas se depositassem materi- ais relacionados aos mais diferentes ambientes climáti- • Quanto à vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas por contaminantes superficiais, esta varia de baixa – nas regiões onde camadas argilossiltosas afloram – a muito alta – onde há camadas arenosas e conglome- ráticas aflorantes –, pelo fato de esses sedimentos serem
  • 221. 219 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.38 – Área de definição do geossistema 3. co-deposicionais, tais como continental, flu- vial, marinho, desértico e vulcânico. Com isso, elas foram preenchidas pelos mais dife- rentes tipos de materiais. Com o passar do tempo, tais materiais se consolidaram e se transformaram em rochas. As areias se trans- formaram em arenitos; as argilas, em argilitos e folhelhos; os siltes, em siltitos; os casca- lhos, em conglomerados; os precipitados quí- micos carbonáticos, em calcários. Em decorrência dessa história geológica, essas bacias são sustentadas por um empilha- mento horizontalizado de camadas de rochas das mais variadas composições. Em sua área de definição, dependendo de qual dos sedi- mentos predomina, ocupa a porção superior do pacote sedimentar e aflora, existem terre- nos com os mais contrastantes comportamen- tos em termos de adequabilidade e limitações ao uso e à ocupação. Adequabilidades e limitações Frente à execução de obras Em caso de execução de qualquer tipo de obra sobre a área de definição desse geos- sistema, é importante que se considerem as particularidades geotécnicas descritas a seguir. • Tratam-se de terrenos em que as carac- terísticas geotécnicas do substrato rochoso va- riam e contrastam bastante na vertical, man- tendo-se relativamente homogêneas na hori- zontal. Portanto, em caso de execução de es- cavações e perfurações profundas, especial- mente nas regiões destacadas na figura 14.39, é grande a possibilidade de se encontrarem intercalações irregulares de materiais dos mais diversos e contrastantes comportamentos ge- omecânicos e hidráulicos, que mudam brus- camente de um para o outro (Figura 14.40). Tais mudanças se constituem em descontinui- dades que facilitam as desestabilizações, os processos erosivos e o aparecimento de sur- gências de água em taludes de corte. • Dentre os componentes litológicos, es- pecialmente nas regiões destacadas nas figu- ras 14.39 e 14.47, é bastante comum a ocor- rência de sedimentos síltico-argilosos finamen- te laminados (Figura 14.41), como também de sedimentos portadores de argilominerais expansivos (Figuras 14.42, 14.43 e 14.44), materiais que se desagregam e se tornam bas- tante erosivos e instáveis se expostos à varia- ção dos estados úmido e seco. Assim, deve Figura 14.39 – Regiões onde predominam e afloram sedimentos síltico-argilosos e onde a composição litológica varia bastante na vertical.
  • 222. 220 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.40 – Bandamento horizontalizado planoparalelo conseqüente da alternância de sedimentos de diferentes composições (Formação Irati, SP). Figura 14.41 – Folhelho finamente laminado, que se desagrega e se desestabiliza com facilidade em taludes de corte (Formação Irati, SP). Figura 14.42 – Sedimentos da Formação Aquidauana (SP). Figura 14.43 – Erosão diferencial entre uma camada de arenito (topo) e uma de siltito à base de argilominerais expansivos (Formação Presidente Prudente, SP). Figura 14.44 – Desestabilização em um talude de corte sustentado por sedimentos da Formação Santo Anastácio (SP).
  • 223. 221 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz ser evitada sua exposição em taludes de corte e em obras terraplenadas. As porções de topo dos taludes apresentados nas fi- guras 14.42, 14.43 e 14.44 são sustentadas por arenitos. As porções inferiores são sustentadas por sedimentos síltico-argilosos. Observa-se que as porções inferiores, embora sejam à base de argila, encontram-se recortadas por sulcos de erosão (Figura 14.42). Era de se esperar o contrário. Isso acontece porque as camadas argilosas são portadoras de argilominerais expansivos. Tais minerais so- frem o fenômeno da alternância dos estados de expansão e contração quando expostos à variação dos estados úmi- do e seco. Isso faz com que se desagreguem em peque- nas pastilhas, que, além de erodirem com muita facilida- de, podem gerar sérios problemas de instabilidade em ta- ludes de corte, especialmente pelo descalçamento de ho- rizontes mais consistentes sobrepostos às camadas argilo- sas (Figura 14.43). Quando todo o talude é composto de sedimentos à base de argilominerais expansivos, a contí- nua desagregação superficial promove instabilidades por deformações na geometria do talude (Figura 14.44). • Também é bastante comum a ocorrência de cama- das de argilas excessivamente rijas, endurecidas e plásti- cas, bem como de camadas de siltitos com cerosidade elevada, materiais difíceis de serem escavados e perfura- dos, principalmente com sondas rotativas – causam emplastamento excessivo de ferramentas e maquinários, assim como a alta cerosidade pode prender ou fazer as sondas patinarem. • Sedimentos síltico-argilosos se alteram para solos argilosos, que, quando secos, entram facilmente em sus- pensão (Figura 14.45); quando molhados, tornam-se bas- tante aderentes e escorregadios. Significa que, em áreas por eles sustentadas, não se deve iniciar grandes obras que envolvem a execução de escavações e movimentação de terra durante os períodos de chuva prolongados – en- frentar-se-ão muitos problemas com o emplastamento ex- cessivo de maquinários e ferramentas e para trafegar pelas vias de acesso às obras, que se tornam bastante escorre- gadias e pegajosas. • Uma situação que causa danos ambientais, além de afetar seriamente a saúde, está relacionada a terrenos sus- tentados por sedimentos síltico-argilosos e diz respeito à poeira levantada pelo tráfego nas vias de acesso às planta- ções de cana-de-açúcar. Como essa cultura necessita de muitas vias de acesso e a coleta de cana-de-açúcar se dá nos períodos de seca, a intensa circulação dos caminhões provoca o levantamento de poeira, que permanece bas- tante tempo em suspensão. Esse fato, aliado à fumaça originada das queimadas da cana, torna o ar dessas regi- ões quase que irrespirável. • As áreas em destaque na figura 14.47 diferenciam- se pelo fato de se intercalarem, aos sedimentos síltico- argilosos, camadas das mais diversas espessuras de rochas calcárias (Figura 14.46). A mineralogia das rochas calcári- as é à base de carbonatos, minerais que se dissolvem com facilidade pela ação das águas. Portanto, tais camadas podem conter cavidades dos mais diferentes tamanhos. Conseqüentemente, onde elas são espessas e estão aflo- rantes, há potencial para ocorrências de colapso, ou seja, afundamentos bruscos. O aspecto geotécnico positivo das rochas calcárias é que elas apresentam boas característi- cas físico-químicas para serem usadas como agregados. Além disso, alteram-se para solos argilosos plásticos, de boa capacidade de suporte, de alta reatividade química, pouco permeáveis, pouco erosivos e de boa estabilidade em taludes de corte. Por isso, os solos residuais dessas áreas são bons para utilização como material de emprésti- mo, inclusive como barreiras de elementos químicos. • Em boa parte do geossistema afloram espessos e extensos pacotes de sedimentos quartzo-arenosos, repre- sentados por vários tipos de arenitos. Tais sedimentos são à base de quartzo, mineral muito duro e abrasivo e de alta resistência ao intemperismo físico-químico. Assim sendo, Figura 14.45 – Poeira levantada por tráfego em via de acesso construída sobre terrenos sustentados por sedimentos síltico- argilosos (Formação Aquidauana, SP). Figura 14.46 – Talude de corte com exposição de rochas calcárias na base e sedimentos síltico-argilosos no topo, dois materiais de características geomecânicas e hidráulicas bem distintas. A existência de rochas calcárias indica que em um determinado momento as bacias sedimentares passaram por um ambiente marinho.
  • 224. 222 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.47 – Áreas onde entre os sedimentos existem rochas calcárias. Figura 14.48 – Áreas onde predominam e afloram sedimentos quartzo- arenosos. em caso de se proceder a escavações, é grande a possibi- lidade de se encontrar nesses terrenos locais onde os arenitos podem ser de alta resistência ao cor- te e à penetração, principalmente por sondas rotativas – o quartzo promove um desgaste rápido nas brocas das sondas (Figura 14.48). • Litologias à base de quartzo apresen- tam baixa resistência ao cisalhamento, ou seja, quebram-se facilmente quando submetidas à tensão. Essa característica propicia que, em muitos locais, as rochas se encontrem densa- mente fendilhadas em várias direções, o que as torna bastante percolativas, podendo sol- tar blocos com facilidade em taludes de corte (Figura 14.49). • Sedimentosquartzo-arenosossealteram para solos arenosos excessivamente permeá- veis, friáveis e erosivos (Figuras 14.50, 14.51 e 14.52). • Boa parte das regiões onde tais sedi- mentos afloram é recoberta por espessos areiões inconsolidados, excessivamente friáveis e sujeitos ao fenômeno da liquefação, ou seja, podem se comportar como areia movediça, principalmente quando compostos por grãos de quartzo esféricos, como os solos deriva- dos de arenitos de deposição eólica (Figura 14.53). Em razão de tais características, em caso de execução de obras viárias, deve haver estrita obediência a critérios técnicos, no sen- tido de disciplinar e quebrar a energia da água das chuvas, bem como proteger contra a ero- são (Figura 14.54). • Em terrenos quartzo-arenosos pode haver pseudodolinas, ou seja, depressões que se formam na superfície porque a areia mi- grou ou está migrando para um curso d’água subterrâneo. Essas pseudodolinas são indicativas da existência, nesses locais, de uma cavidade (caverna) ou da passagem de um rio subterrâneo. Em virtude dessas características, não se deve construir sobre esses locais. As- sim como, antes de execução de qualquer obra que exerça tensão nas proximidades desses locais, é importante que se proceda a estudos geotécnicos detalhados e apoiados em inves- tigações geofísicas que possam identificar a existência de cavidades, uma vez que são su- jeitas a sofrerem colapso (afundamento brus- co) (Figuras 14.55 e 14.56). • Nos terrenos onde predominam sedi- mentos quartzo-arenosos também é bastante comum a ocorrência de camadas de conglo- merados constituídos por seixos, blocos e matacões de vários tipos de rochas, em geral duras e abrasivas. Trata-se de um material di- fícil de ser escavado e perfurado e de características geomecânicas e hidráulicas bastante heterogêneas.
  • 225. 223 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.49 – Arenitos eólicos densamente fraturados (Formação Botucatu, Águas da Prata, SP). Figuras 14.50 e 14.51 – Processos erosivos induzidos pela concentração das águas das chuvas em um talude de corte e em uma área de terraplenagem sobre terrenos arenosos da Formação Marília (SP). Nos terrenos arenosos, deve-se evitar a execução de obras que envolvem escavações e terraplenagem durante os períodos chuvosos. Obras desse tipo devem ser de imediato dotadas de disciplinamento das águas das chuvas e de proteção contra a erosão. Figura 14.52––––– Processos erosivos induzidos pela concentração das águas das chuvas por arruamentos quadriculados e feitos em concordância com o declive do terreno arenoso. Para evitar esse problema, o desenho dos loteamentos em áreas arenosas deve fugir dos modelos quadriculados, de modo a evitar a execução de cortes profundos e a concentração da energia das águas das chuvas, ou seja, devem ser concordantes e não perpendiculares às curvas de nível.
  • 226. 224 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.53 – Estradas não-pavimentadas sobre areiões são difíceis de serem trafegadas; a circulação dos carros aprofunda o leito, sujeitando-os a “atolarem” na areia inconsolidada (área de definição dos arenitos da Formação Botucatu, SP). Figura 14.55 – Pseudodolina associada a arenitos da Formação Furnas (região metropolitana de Curitiba, PR). Figura 14.56 – Gruta de Itambé, formada nos arenitos da Formação Botucatu (município de Altinópolis, SP). Figura 14.54 – Obra viária bem executada em uma área de solos arenosos, dotada de obras de disciplinamento das águas das chuvas e de bacias de contenção em suas margens (trecho de rodovia que liga a cidade de Brotas à cidade de Jaú, SP). • Como aspecto geotécnico positivo, salienta-se que as rochas arenosas são boas fontes de saibro. Frente à agricultura Dentre as particularidades da geologia que influenci- am o potencial agrícola desse geossistema, salientam-se as seguintes: • Pelo fato de as camadas serem horizontalizadas e não-deformadas, predominam terrenos de relevos suavi- zados, com a maior parte da superfície com declividades favoráveis ao uso de implementos agrícolas motorizados. • Como a variação litológica se dá na vertical, a tex- tura dos solos se mantém relativamente homogênea nas áreas de relevo mais suavizado e pode variar de argilosa a arenosa nas áreas onde o relevo é um pouco mais movi- mentado e vales de drenagem são mais aprofundados. • Em boa parte do geossistema, predominam e aflo- ram sedimentos síltico-argilosos (Figura 14.39). Como par- ticularidade importante desses terrenos, destaca-se que, in- dependentemente de outras variáveis que influenciam as características do solo, tais sedimentos são portadores de argilominerais expansivos e se alteram para solos com teor elevado de argila, liberando poucos nutrientes e muito alu-
  • 227. 225 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz mínio. Como implicações positivas de tais características, os solos residuais desses terrenos, por serem argilosos, são bastante porosos, pouco permeáveis e apresentam boa ca- pacidade de reter elementos. Conseqüentemente, armaze- nam bastante água; por isso, apresentam boa capacidade hídrica,mantendoboadisponibilidadedeáguaparaasplan- tas por longo tempo nos períodos mais secos; assimilam bem a matéria orgânica e, quando adubados, retêm e fi- xambemosnutrientes(respondembemàadubação).Como implicações negativas, destaca-se que solos com teores ele- vados de argila se impermeabilizam, compactam-se exces- sivamente e se tornam bastante erosivos se forem continu- amente mecanizados com equipamentos pesados ou piso- teadosporgado.Emtalsituação,forma-seuma camada subsuperficial altamente compactada e impermeabilizada, fenômeno conhecido como “pé-de-grade”. Por ocasião das chuvas, essa camada funciona como uma superfície de deslize da camada superior, que sofre erosão laminar. Além disso, solos residuais de sedi- mentos síltico-argilosos costumam conter ex- cesso de alumínio, ou seja, são bastante áci- dos e, quando são pouco evoluídos, pelo fato de conterem argilominerais expansivos, se não forem bem manejados, podem se tornar tão erosivos quanto os solos arenosos (Figura 14.57). • Em algumas regiões, intercalam-se a outrossedimentoscamadasderochascalcárias (Figura 14.47). Tais rochas também se alteram parasolosargilosos,portanto,dopontodevista textural, apresentam as mesmas implicações destacadas para os solos residuais de sedimen- tos síltico-argilosos. Uma particularidade im- portante e intrínseca às rochas calcárias é que elassealteramliberandováriosnutrientes,prin- cipalmente cálcio e magnésio, para solos bási- cos e de alta reatividade química. Assim sen- do, os solos residuais desses terrenos apresen- tam boa fertilidade natural, são naturalmente pouco erosivos e apresentam alta capacidade de reter nutrientes e de assimilar matéria orgâ- nica.Taiscaracterísticasindicamque,desdeque o relevo seja favorável e os solos devidamente manejados e corrigidos, as regiões destacadas na figura 14.47, do ponto de vista da influên- cia da geologia, apresentam ótimo potencial agrícola. • Dentre os constituintes litológicos (como acontece especialmente nas áreas des- tacadas na figura 14.48), existem espessos e extensos pacotes de sedimentos quartzo-are- nosos. Nesse caso, as implicações da geolo- gia no que se refere à qualidade agrícola dos solos residuais são mais negativas que positi- vas, pelas seguintes razões: Figura 14.57 – Cicatrizes de erosão geradas pela exposição à alternância dos estados úmido e seco de solos residuais pouco evoluídos de argilitos à base de argilominerais expansivos. – Tais sedimentos se alteram para solos excessiva- mente arenosos, friáveis, de baixa fertilidade natural e, na maior parte das vezes, excessivamente permeáveis, erosivos, ácidos e de muito baixa capacidade hídrica e de reter e fixar nutrientes. Significa que respondem mal à adubação e perdem água rapidamente. Além disso, são terrenos com pouca disponibilidade de água superficial, sujeitos à arenização e formações de grandes voçorocas (Figura 14.58). Conseqüentemente, são inadequados para a agricultura extensiva, principalmente para o cultivo de plantas de raízes curtas e para o uso agrícola de ciclo curto, em que os solos precisam ser freqüentemente me- canizados. Qualquer iniciativa de aproveitamento agrícola Figura 14.58 – Focos erosivos, relacionados aos arenitos da Formação Botucatu (região de Cajuru, SP), induzidos pela prática agrícola inadequada, são bastante comuns na área de definição dos sedimentos arenosos. A maior parte das erosões é causada pelo desmatamento e pela concentração das águas pluviais nas cabeceiras dos vales de drenagem, locais onde as matas têm um papel fundamental para diminuir o potencial erosivo dos solos arenosos. Por isso, deveriam ser preservadas, conforme determina o Código Florestal.
  • 228. 226 GEODIVERSIDADE DO BRASIL das áreas em destaque na figura 14.48 deve obedecer a rigorosos cuidados técnicos, especialmente no que se re- fere ao não-desmatamento das cabeceiras e das margens dos canais de drenagem. Frente aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras Como particularidade hidrológica importante e exten- siva a toda a área de definição do geossistema, salienta-se que são aqüíferos granulares (Figura 14.35). Como se tra- ta de um empilhamento de camadas sedimentares horizontalizadas de diferentes espessuras de sedimentos, com as mais variadas e contrastantes características hidrodinâmicas, o potencial hidrológico e o risco de con- taminação das águas subterrâneas são bastante variáveis, dependendo de qual das litologias predomina e aflora na região. • Nas regiões onde predominam sedimentos finos (Figura 14.39), estes são pouco permeáveis, geralmente pouco fraturados, alterando-se para solos argilosos tam- bém muito pouco permeáveis. Conseqüentemente, nas áreas por eles sustentadas, quando chove, pouca água se infiltra no subsolo – a maior parte escorre rapidamen- te para os canais de drenagem. Por isso, são ambientes desfavoráveis à recarga das águas subterrâneas, com baixo número de nascentes e de cursos d’água e com baixo potencial para a existência de bons aqüíferos subterrâ- neos. Também são terrenos nos quais os cursos d’água apresentam grandes e rápidas oscilações de vazão com as mudanças climáticas, ou seja, quando chove, a vazão sobe bastante e rapidamente; tão logo a chuva cessa, a vazão abaixa, também rapidamente. Tais características indicam que, nas áreas onde predominam sedimentos síltico-argilosos, a cobertura vegetal desempenha um papel hídrico importante para reter por mais tempo as águas das chuvas e assim melhorar o potencial de infil- tração. Como aspecto positivo, destaca-se que, em al- guns locais, entre as camadas síltico-argilosas, pode ha- ver camadas arenosas e conglomeráticas com boa per- meabilidade e bom potencial armazenador de água. No que se refere à vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas por fontes poluentes superfici- ais, o risco é baixo, pois tanto os sedimentos síltico-argilosos, como os calcários e os so- los deles derivados, além de serem pouco permeáveis, apresentam boa capacidade de reter, fixar e eliminar poluentes. • Nas regiões destacadas na figura 14.47, salienta-se como particularidade positiva a ocorrência de rochas calcárias, as quais po- dem conter cavidades subterrâneas preenchi- das com água, podendo haver aqüíferos cársticos. Nesse tipo de aqüífero, o potencial hidrogeológico é bastante irregular. A existên- cia de depósitos de água depende da espes- sura das camadas calcárias, das condições climáticas lo- cais e de os poços atingirem cavidades subterrâneas ou zonas fraturadas. Quanto à vulnerabilidade à contamina- ção das águas subterrâneas, varia de alta – onde as rochas calcárias afloram –, a baixa – onde os solos são espessos; solos calcários apresentam alta capacidade de reter e de- purar poluentes. • Nas áreas onde predominam e afloram espessos e extensos pacotes de sedimentos quartzo-arenosos (Figura 14.48), as águas subterrâneas tanto podem estar armaze- nadas e circulando através de falhas e fraturas que tais rochas costumam conter, como por meio de espaços va- zios existentes entre os grãos de quartzo. Nesses terrenos, é possível a ocorrência de aqüíferos que podem ser ao mesmo tempo granular e fissural (Figura 14.59). Essas áreas apresentam alto potencial para a existência de bons aqüíferos subterrâneos e, nesse caso, pelo fato de as ca- madas serem espessas e horizontalizadas, pode haver aqüíferos de boa expressividade vertical e lateral; isso sig- nifica que, se um poço apresentar boa vazão, outros, mesmo à distância, também podem apresentar o mesmo comportamento. • Dentre os arenitos, destacam-se como de maior potencial à existência de excelentes depósitos d’água aque- les depositados pela ação dos ventos em ambientes de deserto. Arenitos assim originados sustentam boa parte desse geossistema (Figura 14.60). Dentre eles, destacam- se os que compõem o Aqüífero Guarani (Figura 14.61), que, além das excelentes características hidrodinâmicas, fazem parte de uma morfolitoestrutura favorável a que se constituam nos maiores e melhores depósitos de água doce do mundo. • No que se refere ao potencial hidrológico superfici- al, este é baixo. Devido à permeabilidade elevada, terre- nos arenosos costumam conter poucos cursos d’água. A maior parte das águas que brota nas nascentes infiltra-se novamente no subsolo arenoso permeável. Além disso, muito cursos d’água são extintos pelo assoreamento, de- vido ao alto potencial erosivo dos solos. Por outro lado, o aspecto positivo da permeabilidade elevada é que são ter- renos onde as águas subterrâneas são recarregadas em abundância (Figura 14.62). Figura 14.59 ––––– Aqüífero granular e fissural.
  • 229. 227 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.60 ––––– Áreas onde afloram sedimentos arenosos de deposição eólica. O Aqüífero Guarani localiza-se na região centro-leste da América do Sul e ocupa uma área de 1,2 milhões de km², estendendo-se pelo Brasil (840.000 km²), Paraguai (58.500 km²), Uruguai (58.500 km²) e Argentina (255.000 km²). Em território brasileiro, abrange os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O aqüífero é formado por um espesso pacote de arenitos depositados em um ambiente desértico por processos fluviais e especialmente eólicos, durante os períodos Triássico e Jurássico, ou seja, entre 200 e 130 milhões de anos atrás. É um aqüífero especial porque apresenta excelentes características hidrodinâmicas. Mais de 90% de sua área total são recobertos por mais de 1.500 m de rochas basálticas, aqui reportadas como pertencentes ao geossistema 4. Esse pacote basáltico, por ser espesso e de baixa permeabilidade, age como uma camada protetora da contaminação do aqüífero e permite que as águas subterrâneas fiquem nele retidas. Por outro lado, essa capa de rochas ígneas impede que o aqüífero seja recarregado em sua maior área de definição. Dessa forma, tem importância especial para a recarga do aqüífero a região onde os arenitos afloram. Isso acontece principalmente no interior do estado de São Paulo, onde grande parte dos 10% do Aqüífero Guarani aflorante ocorre. Figura 14.61 ––––– Área de definição do Aqüífero Guarani (em azul no continente), o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo. • Quanto à vulnerabilidade à contamina- ção das águas subterrâneas, é muito alta, es- pecialmente nesse caso, uma vez que predo- minam arenitos pouco consolidados, altamen- te permeáveis, que se alteram para solos quart- zo-arenosos também bastante permeáveis e de muito baixa capacidade de reter e depurar poluentes. Além disso, pelas fraturas que cos- tumam conter em alta densidade, poluentes podem se infiltrar e chegar rapidamente às águas subterrâneas. São terrenos em que cui- dados especiais devem ser observados, no que se refere a todas as fontes potencialmente poluidoras (Figura 14.63). Frente ao potencial turístico As espessas camadas horizontalizadas se constituíram em uma morfoestrutura favorá- vel a que os processos erosivos esculpissem na área de definição desse geossistema algu- mas das mais belas paisagens brasileiras (Fi- guras 14.64, 14.65, 14.66, 14.67, 14.68 e 14.69), destacando-se locais com altos paredões rochosos; profundos cânions e
  • 230. 228 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.62 ––––– Um curso d’água totalmente assoreado, associado aos arenitos da Formação Marília (SP). Figura 14.63 ––––– Lixo depositado sobre arenitos da Formação Botucatu, área de exposição e de recarga do Aqüífero Guarani (cabeceiras do rio Cajuru, SP). Figura 14.64 ––––– As belas e curiosas formas erosivas da Chapada Diamantina, sustentadas por sedimentos da Formação Tombador (Lençóis, BA). Figura 14.65 ––––– Formas erosivas de Vila Velha (PR), sustentadas por arenitos da Formação Furnas. Figura 14.66 ––––– Formas erosivas de Sete Cidades (PI), um magnífico monumento natural, constituído de afloramentos rochosos devonianos da Bacia Sedimentar do Parnaíba. Figura 14.67 ––––– Formas erosivas do monte Roraima (RR), sustentadas, principalmente, por arenitos muito antigos (mais de dois bilhões de anos), correlacionados ao Supergrupo Roraima. Figura 14.68 ––––– Formas erosivas da Chapada dos Guimarães (MT), sustentadas, principalmente, por sedimentos devonianos da Formação Furnas.
  • 231. 229 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz grotões; belas formas erosivas; cursos d’água com vales profundos, encaixados, delimitados por paredões escar- pados e correndo sobre o substrato rochoso, formando magníficas corredeiras, cachoeiras e piscinas naturais. Além disso, trata-se de uma ambiência geológica onde se cons- tata a existência de camadas fossilíferas de grande impor- tância científica. Frente ao potencial mineral A área de definição desse geossistema é uma ambiência geológica favorável à prospecção de: • Fosfatos, xisto betuminoso, evaporitos, petróleo, gás e carvão. • Vários tipos de areia e argilas, inclusive caulim (Fi- gura 14.70). • Pedra de revestimento, inclusive com qualidades re- fratárias, associada às áreas quartzo-arenosas. Associadas às rochas síltico-argilosas, há ardósias e outros litótipos que se desplacam em finas lâminas planoparalelas que podem ser usadas como pedra de revestimento (Figura 14.71). • Diamantes associados às camadas de conglomera- dos, a exemplo do que ocorre na região da Chapada Diamantina (BA). • No caso das áreas destacadas na figura 14.47, calcários são explorados para diversos fins (Figura 14.72). ROCHAS VULCÂNICAS EXTRUSIVAS E INTRUSIVAS CENOZÓICAS E MESOZÓICAS (4) Em épocas geológicas passadas, o território brasileiro foi palco de intensa atividade vulcânica, que deu origem às rochas que sustentam o geossistema 4 (Figuras 14.73 e Figura 14.69 ––––– Corredeiras e cachoeiras da trillha Fumacinha (Chapada Diamantina, BA). Figura 14.71 ––––– No Paraná, arenitos essencialmente quartzosos e silicificados da Formação Furnas são explorados como rocha refratária e pedra de revestimento. Figura 14.70 ––––– Depósito de caulim, associado à Formação Alter do Chão (Manaus, AM). Figura 14.72 ––––– A porção escura dessa frente de lavra corresponde a uma camada de calcário dolomítico pertencente à Formação Irati, explorado para corretivo de solos. A parte superior mais clara representa sedimentos argilosos da Formação Corumbataí, explorados para fabricação de cerâmica (SP).
  • 232. 230 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.73 ––––– Área de definição do geossistema 4, onde o vulcanismo ocorreu sob a forma de derrames. Figura 14.74 ––––– Ilha Trindade, originada a partir de vulcanismo marinho cenozóico. 14.79). Esse vulcanismo ocorreu em dois momentos dis- tintos, mas ambos relacionados ao processo de separação dos continentes sul-americano e africano. O vulcanismo mais recente aconteceu na era cenozóica (Terciário), ou seja, a partir de 65 milhões de anos atrás. Nessa época, originaram-se as diversas ilhas oceânicas que existem ao longo da costa brasileira, a exem- plo de Fernando de Noronha, Trindade (Figura 14.74), Pe- nedo de São Pedro e São Paulo. O vulcanismo mais antigo se deu no final da era mesozóica, ou seja, há mais ou menos 150 e 65 milhões de anos, constituindo-se em uma das maiores manifesta- ções vulcânicas da história geológica da Terra. Esse vulca- nismo se iniciou quando os continentes sul-americano e africano – há cerca de 200 milhões de anos, eles estavam unidos em uma única massa continental, o Gondwana – começaram a se afastar um do outro. No início do processo de separação, grandes e pro- fundas fendas se abriram e, por elas, durante muitos mi- lhões de anos, um imenso volume de magma, principal- mente de composição básica, bastante fluido, infiltrou- se. Grande parte desse magma chegou à superfície atra- vés de sucessivos derrames que cobriram, com mais de 1.500 m de espessura de lava vulcânica, grandes exten- sões do território sul-americano, estendendo-se de forma contínuaporumalargafaixaqueabrangeterrenosdoMato Grosso ao Paraguai, Uruguai e Argentina (Figura 14.75). Parte do material magmático também se cristalizou em profundidade como pequenos veios (Figura 14.76), Figura 14.75 ––––– A grande espessura do “pacote” vulcânico é que possibilitou que se formasse a bela paisagem de Aparados da Serra (RS), sustentada por derrames basálticos. Figura 14.76 ––––– A porção escura é uma rocha originada do magma básico que se cristalizou em uma pequena fenda, por onde subiu a lava que deu origem aos derrames basálticos. como uma série de pequenas intrusões circulares, bem como se manifestou como típicos vulcões (Figuras 14.77, 14.78 e 14.79). No caso do magmatismo que se manifestou como vulcões, as rochas que sustentavam as paredes dos co- nes vulcânicos já erodiram e hoje só afloram as que se
  • 233. 231 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.79 ––––– Locais onde as manifestações magmáticas se deram como típicos vulcões, ou onde o magma se cristalizou em profundidade como intrusões plutônicas. Figura 14.77 ––––– Vestígios da grande cratera de vulcão de Poços de Caldas, que envolve terrenos dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Figura 14.78 ––––– O extinto vulcão de Tunas do Paraná, do qual ainda se preservam vestígios de pelo menos três chaminés vulcânicas. cristalizaram em altas profundidades nas raízes do cone vulcânico. Como em um vul- cão acontecem várias pulsações magmáticas de composições químicas diferentes e o magma se cristaliza em profundidade e em tempos diferentes, os terrenos vulcânicos se caracterizam por serem sustentados por uma variedade enorme de rochas das mais dife- rentes cores e características químicas, mi- nerais e texturais. Já o magmatismo extrusivo se deu sob a forma de uma sucessão de derrames de lavas de grande fluidez, principalmente de compo- sição básica e, em menor proporção, de com- posição ácida e intermediária. A fluidez possi- bilitou que o magma se esparramasse – co- brindo grandes extensões do território brasi- leiro – e se cristalizasse como se fosse uma sucessão de “camadas” horizontalizadas das mais diferentes texturas (Figura 14.80). Adequabilidades e limitações Frente à execução de obras Comoparticularidadesgeotécnicasimpor- tantes decorrentes da geologia e que são ex- Figura 14.80 ––––– Talude com exposição de dois derrames de composição e textura diferentes. A parte superior é sustentada por um dacito intensamente fraturado. A inferior é sustentada por um basalto vesiculado e pouco fraturado. Essa diferença é devida à composição diferente do magma e ao tempo com que levou para se esfriar e se cristalizar. O que esfriou mais rapidamente é mais fino e mais fraturado.
  • 234. 232 GEODIVERSIDADE DO BRASIL tensivas a toda a área de definição do geossistema 4, des- tacam-se: • Independentemente da forma como se cristalizou o magma e de sua composição, todas as rochas que susten- tam o geossistema se alteram de modo bastante hetero- gêneo e peculiar, deixando blocos e matacões em meio aos solos, característica que pode dificultar bastante a exe- cução de obras subterrâneas em muitos locais da área de definição desse geossistema (Figuras 14.81 e 14.82). As- sim, mesmo onde os solos são profundos e bem evoluí- dos, é grande a possibilidade de neles existirem mergulha- dos blocos e matacões arredondados de rochas de alta resistência ao corte e à penetração, os quais podem ocor- Figuras 14.81 e 14.82 ––––– A maior parte das rochas que sustentam esse geossistema se decompõe de forma esferoidal, ou seja, alteram-se gerando escamas concêntricas que se soltam como as cascas da cebola. Em razão disso, os blocos e matacões assumem formas arredondadas, característica que os torna popularmente conhecidos como “pedra-capote” (município de Castro, PR). rer tanto isolados e irregularmente distribuídos, como con- centrados em grande número (Figura 14.83). Isso signifi- ca que se deve evitar sua exposição em taludes de corte, como também atentar para que as fundações de uma obra não fiquem sobre eles parcialmente apoiadas. Em tal situ- ação, podem se movimentar e as obras se desestabilizarem; por isso, é importante que sondagens geotécnicas de ma- lha pouco espaçada sejam realizadas antes do início de uma obra. • Predominam rochas de composição básica, que, no início do processo de alteração, geram argilominerais ex- pansivos, ou seja, minerais que sofrem o fenômeno da alternância dos estados de expansão e contração se são submetidos à alternância dos estados úmido e seco. Por isso, não são rochas adequadas à utilização como agregados em obras sujeitas a grandes oscilações de temperatura e grau de umidade. Além disso, os solos residuais pedogeneticamente pouco evoluídos são colapsíveis e se tornam bastante erosivos se expostos à alternância dos estados úmido e seco (Figura 14.84). • Predominam rochas que se alteram para solos argilosos. O aspecto negativo é que os solos residuais se tornam bastante pegajosos e escorregadios, quando molhados; quando se- cos, entram facilmente em suspensão e assim permanecem por longo tempo. Isso indica que nãosedeveminiciargrandesedemoradasobras que envolvem escavações e movimentação de terra durante os períodos de chuvas prolonga- dos. Enfrentar-se-ão muitos problemas com o emplastamento excessivo dos equipamentos, como também para trafegar pelas vias de aces- so às obras. Por outro lado, os solos argilosos, quandopedogeneticamentebemevoluídos,não sãoexcessivamentepermeáveis,apresentamboa capacidade de compactação, são pouco erosivos e mantêm boa estabilidade em talu- des de corte. Portanto, nesse caso, é um bom material de empréstimo. • Rochas vulcânicas extrusivas, como no caso das que sustentam as áreas destacadas na figura 14.77, costumam ser portadoras de alta densidade de fendas abertas dispostas em várias direções e com os mais diferentes ân- gulos de mergulho (Figura 14.85). Conseqüen- temente, soltam blocos com facilidades em taludes de corte e são bastante percolativas, o que exige cuidados especiais com as obras que envolvem escavações e das quais possam va- zar substâncias poluentes. Além disso, as mudanças de um derrame para o outro se constituem em descontinuidades geomecâni- cas e hidráulicas que favorecem as desestabi- lizações em taludes de corte (Figura 14.80).
  • 235. 233 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.83 ––––– Blocos e matacões relacionados ao vulcão extinto de Tunas do Paraná. Figura 14.84 ––––– Erosão diferencial em solo derivado de basalto. A parte inferior mais erosiva é sustentada por um solo pouco evoluído e portador de argilominerais expansivos – a variação dos estados de expansão e contração dos argilominerais expansivos faz com que o solo se desagregue em pequenas pastilhas que erodem como se fossem areias inconsolidadas. A parte superior, pouco erosiva, é sustentada por solo bem evoluído. Nesse caso, mantém boa estabilidade em taludes de corte (região de Fernandópolis, SP). • Nas áreas destacadas na figura 14.73, também po- dem ser encontrados derrames basálticos portadores de alta densidade de vesículas das mais variadas dimensões (variando de milimétricas a métricas), que podem ou não estar preenchidas com outros minerais – principalmente quartzo e calcita – e interligadas. Nesse caso, são rochas de comportamentos geomecânicos e hidráulicos muito heterogêneos, podendo ser bastante permeáveis; se sub- metidas a cargas elevadas, principalmente quando se en- contram parcialmente alteradas, obras sobre elas apoia- das podem sofrer trincamento, bem como problemas de pequenos colapsos (Figura 14.86). Frente à agricultura Como particularidade geológica impor- tante que influencia o potencial agrícola des- se geossistema, destaca-se: • Predominam rochas que se alteram para minerais de argila liberando vários elementos químicos, principalmente cálcio, magnésio, ferro, sódio, potássio e muito alumínio e que, no início do processo de alteração, geram argilominerais expansivos. • Como implicações positivas, salienta- se que os solos residuais dessas rochas apre- sentam boa fertilidade natural; são bastante porosos, conseqüentemente, armazenam bas- tante água e mantêm boa disponibilidade hídrica para as plantas por longo tempo dos períodos secos; apresentam boa capacidade de reter, fixar elementos e de assimilar maté- ria orgânica – respondem bem à adubação. Figura 14.85 ––––– Rochas basálticas exibindo denso sistema de fendas abertas e verticalizadas. São fendas de alívio, ou seja, geradas durante resfriamento rápido do magma (região de Cascavel, PR). Figura 14.86 ––––– Basalto vesiculado.
  • 236. 234 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Cabe destacar que é das rochas basálticas que sustentam grande parte desse geossistema que se originou a famosa terra roxa, que ocorre em parte das regiões Sul e Sudeste do Brasil, considerada uma das melhores terras do mundo (Figura 14.87). • Como aspecto negativo, merece destaque o fato de que os solos residuais, por serem argilosos, compactam- se, impermeabilizam-se e se tornam bastante erosivos se forem continuamente mecanizados com equipamentos pesados ou pisoteados por gado. Cargas elevadas contí- nuas propiciam a formação de uma camada subsuperficial altamente endurecida e impermeável, fenômeno conheci- do como “pé-de-grade”. Por tal motivo, quando chove um pouco mais forte, essa camada endurecida funciona como uma superfície de deslize da camada superficial, que, por ser mais friável, mais porosa e permeável, encharca-se e é facilmente removida por erosão laminar. Cabe mencionar que os solos argilosos, quando pedogeneticamente pouco evoluídos, costumam ser por- tadores de argilominerais expansivos. Nesse caso, tornam- se bastante erosivos quando desprotegidos de cobertura vegetal e expostos à alternância dos estados úmido e seco. Assim, mesmo sendo argilosos e de baixa erodibilidade natural, os solos desse geossistema, se forem manusea- dos de forma inadequada, podem se tornar bastante erosivos (Figura 14.88). • Solos argilosos pouco evoluídos são pouco perme- áveis. Portanto, no caso de irrigá-los, deve-se optar pelo método do gotejamento. Por outros métodos, a maior parte da água não se infiltra, escorrendo para os canais de drenagem. Outro fator negativo é que os solos derivados de rochas básicas, quando pedogeneticamente bem evo- luídos, costumam ser bastante laterizados, ou seja, enri- quecidos em ferro e alumínio. Nesse caso, podem apre- sentar o problema da acidez elevada. Tais características permitem concluir que a influên- cia da geologia no potencial agrícola desse geossistema é mais positiva que negativa. Portanto, desde que o relevo Figura 14.87 ––––– Solo residual de basalto tipo terra roxa estruturada. Figura 14.88 ––––– Erosão laminar decorrente do uso contínuo de maquinários pesados no cultivo da cana-de-açúcar sobre solos residuais de basaltos da região de Ribeirão Preto (SP). Além de erodir um solo de excelente qualidade, essa prática está reduzindo o já baixo potencial de infiltração natural das águas das chuvas dos terrenos basálticos. seja adequado, são terrenos que podem ser intensivamen- te aproveitados para os mais variados tipos de práticas agrícolas. Frente aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras As manifestações vulcânicas que deram origem aos terrenos basálticos destacados na figura 14.77 foram de grande importância hídrica para o continente sul-ameri- cano, especialmente para o Brasil. Quando ocorreu o evento vulcânico, boa parte do território brasileiro era um grande deserto, no qual a ação dos ventos depositou um pacote de areia de excelentes características hidrodinâmicas de mais de 400 m de espessura. Os su- cessivos derrames vulcânicos cobriram esse deserto e se cristalizaram em rochas pouco permeáveis. Tal empilhamento de rochas pouco permeáveis, sobre um pacote de areia altamente porosa e permeável (Figura 14.89), possibilitou que se formasse uma morfolitoes- trutura de excelentes características hidrodinâmicas, co- nhecida como Aqüífero Guarani (Figura 14.62) – um dos maiores, melhores e mais importantes depósitos de água doce subterrânea do mundo. • As rochas magmáticas – tanto extrusivas como in- trusivas –, geralmente, são portadoras de alta densidade de fendas abertas dispostas em várias direções e com vá- rios ângulos de mergulho. Trata-se, portanto, de aqüíferos fraturados, ou fissurais, com bom potencial armazenador e circulador de água subterrânea. No entanto, o potencial de explotação de água é bastante irregular: depende de o poço cruzar zonas fraturadas, da densidade das fraturas e de elas estarem interligadas. Por isso, um poço pode apre- sentar boa vazão em um local e outro, imediatamente ao lado, ser seco.
  • 237. 235 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.89 ––––– A porção superior mais escura desse talude é sustentada por basaltos; a parte inferior avermelhada é de arenitos pertencentes ao Aqüífero Guarani. • No caso de vulcanismo sob a forma de derrames, o potencial também depende da porção do derrame que o poço atinge. O potencial é maior nas partes mais superfi- ciais, uma vez que é aí que se concentram as fraturas abertas – elas tendem a se fechar nas porções mais cen- trais dos derrames. Há de se destacar também que, nesse caso, pode haver derrames com permeabilidade e porosidade altas relacionadas à existência de vesículas va- zias (cavidades geradas pelo aprisionamento de gases) que, geralmente, ocorrem interligadas umas às outras, possibi- litando que as águas se armazenem e circulem. • Outra particularidade importante é o predomínio de rochas que se alteram para solos argilosos pouco permeá- veis. Conseqüentemente, são terrenos desfavoráveis a que as águas subterrâneas sejam recarregadas. Nesse sentido, destaca-se a importância que a vegetação assume para melhorar o potencial de infiltração. • A vulnerabilidade à contaminação das águas subter- râneas por fontes contaminantes superficiais varia de mui- to alta – onde as rochas afloram – a baixa – onde os solos são espessos. Pelas fraturas, poluentes podem se infiltrar e alcançar rapidamente as águas subterrâneas sem serem depurados. Portanto, onde as rochas afloram, cuidados especiais devem ser tomados com todas as fontes poten- cialmente poluidoras. Por outro lado, nesse geossistema predominam rochas que se alteram para solos argilosos pouco permeáveis e de alta capacidade de reter, fixar e eliminar poluentes. Frente ao potencial turístico Destaca-se que o modo como aconteceu o vulcanismo que originou os derrames basálticos possibilitou a forma- ção de uma morfoestrutura favorável a que os processos erosivos formassem alguns dos mais belos e importantes atrativos turísticos do Brasil (Figuras 14.90, 14.91 e 14.92). Na maior parte das áreas onde o magmatismo se deu sob a forma de vulcões, predominam relevos montanho- sos, muitos de grande beleza cênica e portadores de cur- sos d’água correndo sobre o substrato rochoso, forman- do belas cachoeiras, corredeiras e piscinas naturais (Figura 14.93). Figura 14.90 ––––– Cataratas do Iguaçu, localizadas na divisa do estado do Paraná com a Argentina. Figura 14.92 ––––– Cachoeira do Saltão (município de Itirapina, SP). Figura 14.91 ––––– Cânion Fortaleza (região de Aparados da Serra, RS). Figura 14.93 ––––– Ilha vulcânica de Fernando de Noronha (PE).
  • 238. 236 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Além disso, muitos dos terrenos vulcânicos se notabi- lizam por serem portadores de fontes hidrotermais, inclusi- ve com águas com qualidades medicinais, algumas delas importantes pólos turísticos, como no caso do município dePoçosdeCaldas(MG),famosoporsuaságuassulfurosas, que chegam à superfície com a temperatura de 45,5ºC. Frente ao potencial mineral O magmatismo que deu origem a esse geossistema foi de grande importância mineral. Às manifestações magmáticas sob a forma de vulcões e intrusões plutôni- cas associam-se diversos bens minerais, destacando-se: cobre, apatita, magnetita, bauxita, urânio, terras-raras, níquel, cromo, caulim, nióbio, titânio e rochas fosfáti- cas. Também são fontes de vários tipos de rochas de excelentes características físico-químicas para serem usa- das como agregados e rocha ornamental (Figura 14.94). Associadas aos derrames basálticos, ocorrem impor- tantes mineralizações de geodos de ametista e ágata, como as que existem no Rio Grande do Sul, onde há uma das maiores concentrações de gemas desse tipo do mundo (Fi- gura 14.95). Além disso, destaca-se a possibilidade de exis- tirem mineralizações de cobre, como também, em muitos locais, basaltos, riolitos e dacitos são explorados para brita. COBERTURAS METASSEDIMENTARES E METAVULCANOSSEDIMENTARES PROTEROZÓICAS, DIFERENTEMENTE TECTONIZADAS, DOBRADAS E METAMORFIZADAS (5) Tais coberturas recobrem boa parte do território bra- sileiro (Figura 14.96). Originaram-se a partir de vários ti- pos de areias, cascalhos, argilas, precipitados químicos e carbonáticos e, mais restritamente, de lavas vulcânicas que Figura 14.94 ––––– Lavra de rocha alcalina associada ao vulcão extinto de Tunas do Paraná. Figura 14.95 ––––– Os geodos com cristais de ametista extraídos no norte do Rio Grande do Sul podem atingir mais de 2 m de comprimento. Originaram-se a partir da migração da sílica para bolhas de gás aprisionadas no topo dos derrames durante o processo de resfriamento rápido da lava. Normalmente, os geodos são preenchidos por cristais de ametista, ágata, quartzo branco e/ou rosa, ônix, jásper, calcita, apofilita, zeolita, opala, gipsita e barita. se depositaram em mares e oceanos muito antigos, certa- mente com idades superiores a 570 milhões de anos. De- vido aos movimentos das placas tectônicas, esses mares e oceanos passaram tanto por uma tectônica distensiva, quando se formaram, como por uma tectônica compres- siva, quando se fecharam e se extinguiram. Em razão dessa compressão, os materiais que neles se depositaram como camadas horizontalizadas se dobra- ram (Figura 14.97), constituíram-se em montanhas (Figu- ras 14.98 e 14.99) e se extinguiram. Esse processo de dobramentofoiacompanhadoporumesquen- tamento diferenciado dos materiais. Com isso, sob pressão, eles se metamorfizaram e se trans- formaram em rochas bem diferentes do que eram originalmente. As areias se transforma- ram em metarenitos ou quartzitos; as argilas, rochas à base de micas, hoje representadas por vários tipos de filitos e xistos; os precipita- dos carbonáticos, em metacalcários; e assim por diante. Em decorrência dessa história geológi- ca, a área de definição do geossistema 5 é sustentada por uma variedade enorme de ro- chas com as mais diferentes características composicionais, deformacionais e texturais. Tais litologias tanto ocorrem como finas ca- madas ou lentes intercaladas irregularmente entre si, como podem aparecer isoladas sob a forma de espessas camadas. Isso faz com que a área de definição desse geossistema
  • 239. 237 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.96 ––––– Área de definição do geossistema 5. Figura 14.97 ––––– Exemplar de um filito complexamente dobrado, um dos litótipos bastante comum na área de definição do geossistema 5. São produtos do metamorfismo de antigas camadas de argila que se depositaram em um ambiente marinho. Figura 14.98 ––––– Início de um processo distensivo que dá origem a uma fossa tectônica, que pode evoluir para formar um mar ou um oceano. Nessa fase embrionária de um ambiente marinho, ocorrem intensas atividades tectônica e magmática. Com isso, juntamente com os sedimentos que vão se depositando no fundo da fossa tectônica, deposita-se muita lava vulcânica. Figura 14.99 ––––– Exemplo do que acontece com as camadas que se depositaram em um ambiente distensivo que mudou para compressivo. apresente particularidades importantes em termos de adequabilidades e limitações ao uso e ocupação. Adequabilidades e limitações Frente à execução de obras Nas decisões de planejamento que envolvem a exe- cução de obras, destacam-se como particularidades geotécnicas importantes: • Na maior parte da área de definição do geossistema 5, as características geotécnicas variam e contrastam bas- tante, tanto na lateral como na vertical, especialmente nas regiões destacadas na Figura 14.100, em razão de maior diversidade litológica e de as seqüências se encon- trarem complexamente dobradas. Por conseqüência, são terrenos onde as características geotécnicas – tanto do substrato rochoso, como dos solos e relevo – podem vari- ar e contrastar bastante de região para região e, por vezes, de local para local. Significa que, na maior parte do geos- sistema, ensaios geotécnicos pontuais têm pouca repre- sentatividade lateral e vertical. • Predominam litologias, principalmente nas áreas destacadas na figura 14.100, bastante tectonizadas, com- plexamente dobradas e portadoras de alta densidade de falhas, fraturas, diáclases e outras descontinuidades geomecânicas e hidráulicas que facilitam a percolação de fluidos e as desestabilizações em taludes de corte. Aspec- to importante de ser considerado na execução de obras subterrâneas (Figura 14.101).
  • 240. 238 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.100 ––––– Áreas onde o tectonismo foi mais intenso e a variação litológica é grande. corte – se os taludes ficarem em posição des- favorável à do mergulho dos estratos, estarão sujeitos a desestabilizações freqüentes. • Nasáreasdiferenciadasnafigura14.100, em razão do intenso dobramento, predomi- nam relevos acidentados, geralmente recorta- dos por alta densidade de canais de drenagem e com alta densidade de elevações com decli- vidades acentuadas. Por isso, predominam ter- renos naturalmente suscetíveis a processos ero- sivos e a importantes movimentos naturais de massa (escorregamentos). Em caso de execu- ção de extensas obras lineares, tornam-se ne- cessárias profundas escavações, de modo a mi- nimizar declives, bem como a movimentação de grande volume de terra para altos aterros. • Nas regiões em destaque na figura 14.102, as deformações não foram tão inten- sas; por isso, as rochas se encontram pouco dobradas e tectonizadas. Nesse caso, diferen- ciam-se da situação anterior pela predominân- cia de estratos rochosos horizontalizados ou suborizontalizados. Assim, as características geotécnicasehidráulicassemantêmumpouco mais homogêneas na horizontal, porém vari- am bastante na vertical. Além disso, as ro- chas contêm menos descontinuidades geome- cânicas e hidráulicas e o relevo costuma ser do tipo assimétrico, ou seja, formado por to- pos relativamente suavizados e bordas escar- padas (Figura 14.107) geralmente recobertas por espessos depósitos de tálus, ou seja, de- pósitos formados por uma mistura caótica de solos com blocos e matacões desprendidos das encostas, material naturalmente instável. • Dentre os constituintes litológicos, é bastante comum, especialmente nas áreas em destaque na figura 14.103, a existência de metassedimentos síltico-argilosos, cuja mine- ralogiaéàbasedemicasisorientadas,quepode ser sericita, biotita ou muscovita. São, portan- to, rochas que apresentam textura xistosa ou filítica e geralmente portadoras de alta densi- dade de superfícies planares pouco espaçadas, nas quais se concentram minerais micáceos formando planos de alta fissilidade. Tais planos facilitam os processos erosivos e fazem com que das rochas se soltem placas em taludes de corte, principalmente quando se encontram parcialmente alteradas e se os taludes são exe- cutados em posição concordante à do mergu- lho desses planos (Figuras 14.104 e 14.105). Nesses terre- nos, portanto, deve-se ter preocupação especial em não executar escavações muito profundas e não expor tais sedi- mentos em taludes de corte e obras terraplanadas, desprotegidos de obras de contenção. Figura 14.101 ––––– Característica comum do substrato rochoso na área desse geossistema é a existência de rochas complexamente dobradas e falhadas, a exemplo desse calcário associado ao Grupo Açungui (Vale do Ribeira, SP). • O mergulho dos estratos rochosos, especialmente nas áreas destacadas na figura 14.100, pode variar, de local para local, de horizontalizado a verticalizado, carac- terística que complica a execução de obras que envolvem escavações mais profundas e a confecção de taludes de
  • 241. 239 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.102 ––––– Áreas onde as rochas se encontram menos deformadas. Figura 14.103 ––––– Áreas onde predominam metassedimentos síltico-argilosos. xistos e filitos encontram-se bastante dobra- dos e aparecem sustentando relevos bastante acidentados, geralmente montanhosos, com alta densidade de canais de drenagem e de muito alto potencial de movimentos naturais de massa (Figuras 14.106 e 14.107). • Os solos de alteração de rochas xisto- sas, quando pedogeneticamente pouco evo- luídos, podem conter restos preservados de bandas micáceas; nesse caso, quase sempre também são portadores de argilominerais ex- pansivos. Tais solos são bastante erosivos e colapsíveis. Por isso, não se prestam à utili- zação como material de empréstimo (Figura 14.108). • Litologias à base de micas, indepen- dentemente de outras variáveis que influenci- am as características dos solos, alteram-se para solos argi- losos que se tornam bastante pegajosos e escorregadios quando molhados; quando secos, entram facilmente em • Metassedimentos síltico-argilosos são bastante plás- ticos, ou seja, mudam irreversivelmente de forma quando submetidos a tensões. Por isso, na maior parte das vezes, Figura 14.105 ––––– Esquema mostrando o que acontece quando se fez um corte em posição concordante ao mergulho dos planos de fissilidade das rochas. Figura 14.104 ––––– Desplacamento em talude de corte de filitos do Grupo Açungui (região metropolitana de Curitiba, PR).
  • 242. 240 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figuras 14.106 e 14.107 ––––– Relevo montanhoso e com muitos movimentos naturais de massa, sustentado por xistos e filitos do Grupo Açungui (Vale do Ribeira, PR). suspensão. Em razão disso, nas regiões onde tais sedimentos predominam, não é recomen- dável iniciar grandes obras que envolvem es- cavações e movimentação de terra durante os períodos de chuvas ou de secas prolongadas. Nos períodos de chuvas, enfrentar-se-ão pro- blemas com emplastamento excessivo das fer- ramentas e equipamentos, bem como para trafegar pelas vias de acesso às obras (que se tornam excessivamente escorregadias). Nos períodossecos,enfrentar-se-ãoproblemascom a poeira excessiva que se desprende das vias não-pavimentadas. • Em muitos locais, especialmente das áreas em destaque na figura 14.100, é bas- tante comum a existência de espessos paco- tes formados por intercalações de finas cama- das ou lentes de litologias das mais diferentes composições e características texturais (Figu- ra 14.109). As mudanças bruscas entre uma litologia e outra (Figura 14.110) se constitu- em em descontinuidades geomecânicas e hi- dráulicas que favorecem os movimentos de massa, as desestabilizações em taludes de corte e os processos erosivos. • Dentre os constituintes litológicos, es- pecialmente nas áreas em destaque na figura 14.111, existem camadas das mais diversas espessuras de metassedimentos à base de quartzo, representados por diversos tipos de metarenitos e quartzitos. Trata-se de litologi- as de baixa resistência ao cisalhamento, ou seja, quando submetidas a tensões, ao invés de se deformarem, quebram-se. Por isso, nes- ses terrenos é bastante comum ocorrerem rochas densamente fendilhadas em várias di- reções. Conseqüentemente, são bastante per- colativas e delas podem se soltar blocos com facilidade em taludes de corte (Figuras 14.112 e 14.113). • Rochas quartzo-arenosas alteram-se para solos arenosos de alta erosividade natu- Figura 14.108 ––––– Solo residual de filito com pedogênese diferenciada, preservando no horizonte C bandas micáceas parcialmente alteradas (Bateias, Campo Largo, PR). Figura 14.109 ––––– Seqüência formada por finas camadas de litologias de diferentes composições (Grupo Açungui, Itapirapuã Paulista, SP). Figura 14.110 ––––– Vista da Morraria do Urucum, um relevo assimétrico, sustentado por camadas pouco ou não deformadas e horizontalizadas de arenitos da Formação Urucum e formações ferromanganesíferas da Formação Santa Cruz (Corumbá, MS).
  • 243. 241 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.111 ––––– Áreas onde dentre os litótipos existem tipos à base de quartzo. Figura 14.112 ––––– Quartzitos densamente fendilhados, associados ao Grupo Açungui (Vale do Ribeira, PR). ral, excessivamente permeáveis e sujeitos ao fenômeno da liquefação, ou seja, em alguns locais podem se compor- tar como areias movediças. • O quartzo é um mineral bastante duro, abrasivo e de alta resistência ao intemperis- mo físico-químico. Por isso, em muitos lo- cais, as rochas quartzo-arenosas podem se encontrar bastante endurecidas e apresentar alta resistência ao corte e à penetração por sondas rotativas – as brocas se desgastam ra- pidamente. • Como implicações geotécnicas positi- vas, destaca-se que as rochas quartzosas metamorfizadas, como nesse caso, apresen- tam alta capacidade de suporte e resistência à compressão, bem como resistem bem ao intemperismo físico-químico. Os solos delas derivados, por serem à base de quartzo, são bons para serem usados como saibro, antipó, areia e material inerte. • Nas regiões destacadas na figura 14.114, dentre as litologias ocorrem cama- das das mais diferentes espessuras de rochas metacalcárias. Como particularidade geotéc- nica importante desses terrenos, destaca-se que a mineralogia das rochas calcárias é à base de carbonato, mineral que se dissolve com facilidade pela ação das águas (Figuras 14.115, 14.116 e 14.117). Além disso, ro- Figura 14.113 ––––– Quartzitos densamente fendilhados, associados à Formação Tombador (Chapada Diamantina, BA). Figura 14.114 ––––– Áreas com ocorrências de rochas metacalcárias.
  • 244. 242 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figuras 14.115, 14.116 e 14.117 ––––– As cavidades se formam nas rochas calcárias porque o carbonato de cálcio é um mineral que se dissolve com facilidade quando em contato com a água da chuva, que, ao passar pelo solo, acidifica-se, torna-se corrosiva, penetra pelas fendas que as rochas calcárias costumam conter e aos poucos vão dissolvendo o carbonato. Este, dissolvido, cai em um fluxo d’água subterrâneo; assim, as fendas vão se alargando, ramificando-se, até formarem desde pequenas até imensas cavernas, as quais podem estar ligadas à superfície através das dolinas e sumidouros de drenagem. chas calcárias, principalmente quando tectonizadas, alte- ram-se de forma bastante diferenciada para solos argilo- sos básicos. Isso tem implicações geotécnicas tanto posi- tivas como negativas. • Dentre as implicações geotécnicas negativas, sali- enta-se que se trata de terrenos portadores de um com- plexo e ramificado sistema de rios e cavidades subterrâne- as, cujas dimensões variam de alguns centímetros a quilô- metros. Tais cavidades são sujeitas a desmoronamentos que provocam afundamentos bruscos na superfície (co- lapso); nessas cavidades, podem se armazenar gases na- turais ou provenientes de fluidos contaminados com gra- xas, combustíveis etc., que chegam até elas pelo fluxo d’água superficial. • Muitas dessas cavidades podem estar interligadas à superfície através de dolinas (Figuras 14.118 e 14.119) e sumidouros de cursos d’água, que são também locais de ligação direta entre os fluxos d’água superficial e subterrâ- neo. Portanto, são locais de alto potencial de afundamen- tos bruscos (colapso) e de alta vulnerabilidade à contami- nação. Por isso, sobre esses locais ou em sua proximidade Figuras 14.118 e 14.119 ––––– Moradia construída junto a dolinas, prática não recomendada, uma vez que o risco de afundamento em um local como este é alto (município de Almirante Tamandaré, PR). não se deve construir – o risco de a obra afundar subita- mente é alto. • Nos terrenos calcários, a profundidade do substrato rochoso costuma ser bastante irregular. Mesmo onde os solos são bem evoluídos, em meio deles podem aparecer aleatoriamente distribuídos restos de rochas totalmente frescas e duras (Figuras 14.120 e 14.121). • Os solos residuais de calcários, por serem argilosos, tornam-se bastante aderentes e escorregadios quando molhados; quando secos, entram facilmente em suspen- são – formam muita poeira. Tais características dificultam a execução de obras que envolvem escavações e movi- mentação de terra durante os períodos chuvosos, devido ao emplastamento excessivo das ferramentas e equipamen- tos de corte. Dentre as implicações positivas, destacam-se: • As rochas calcárias apresentam boas características físico-químicas para serem usadas como agregados. • Os solos residuais dessas rochas são pouco agressi- vos, plásticos, pouco permeáveis, apresentam boa capa- cidade de compactação e são de alta reatividade química.
  • 245. 243 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.120 ––––– Afloramento de rocha calcária isolado em meio a solos bem evoluídos é uma característica que complica sobremaneira a execução de escavações e obras subterrâneas em terrenos calcários, como nesse caso, relacionado ao Grupo Açungui (região metropolitana de Curitiba, PR). Figura 14.121 ––––– Nessa frente de lavra de rocha metacalcária do Grupo Açungui, observam-se diversas fraturas verticalizadas e preenchidas por solos. É por elas que as águas das chuvas se infiltram e vão alterando de modo diferenciado as rochas calcárias. Conseqüentemente, são pouco erosivos, mantêm boa es- tabilidade em taludes de corte e são ótimos para serem usados como material de empréstimo, inclusive como barreiras de retenção de elementos químicos. As particularidades geotécnicas retromencionadas in- dicam que, em caso de execução de obras sobre a área de definição desse geossistema, é necessário proceder a estu- dos geotécnicos detalhados, apoiados em grande número de ensaios geotécnicos de malha pouco espaçada e de materiais coletados de várias profundidades. Nas áreas cal- cárias, é importante que os estudos geotécnicos sejam apoi- ados em estudos geofísicos que identifiquem e mapeiem cavidades, implicando, portanto, custos elevados, tanto na fase de planejamento como na de execução das obras. Frente à agricultura A heterogeneidade litológica faz com que nas áreas desse geossistema existam solos com as mais diferentes e contrastantescaracterísticasfísico-químicas(Figura14.122). Conseqüentemente, a qualidade agrícola dos solos varia bastante de região para região; na maior parte das vezes, de local para local, dependendo de qual das litologias é predominante e é aflorante. • Nas áreas em que predominam e afloram metasse- dimentos síltico-argilosos (Figura 14.103), como particu- laridades importantes salienta-se que, independentemen- te de outras variáveis que influenciam a qualidade agríco- la do solo, tais litologias se alteram para argilominerais, liberando poucos nutrientes e muito alumínio. O aspecto positivo é que os solos residuais são bastante argilosos, conseqüentemente, bastante porosos, apresentando boa capacidade hídrica – mantêm boa disponibilidade de água para as plantas por longo tempo dos períodos mais secos. Também apresentam boa capacidade de reter e fixar ele- mentos – fixam bem a matéria orgânica e, quando aduba- dos, retêm e fixam bem os nutrientes. Por outro lado, costumamsersolosdebaixafertilidadenatural;geralmente, apresentam elevados teores de alumínio tóxico e são bas- tante ácidos (Figura 14.123). Por isso, necessitam ser fre- qüentemente corrigidos com aplicação de altas cargas de calcário dolomítico. Além disso, solos argilosos compac- tam-se e se impermeabilizam excessivamente se forem continuamente mecanizados com equipamentos pesados ou se pisoteados por gado. Cargas elevadas contínuas pro- piciam a formação de uma camada subsuperficial alta- mente compactada e impermeabilizada, fenômeno conhe- cido como “pé-de-grade”. Essa camada funciona como uma superfície de deslize da camada mais superior, que, por ser mais fofa e permeável, quando chove, encharca- se e é facilmente removida por erosão laminar. Tais características permitem concluir que o potencial agrícola dos terrenos destacados na figura 14.103 é uma Figura 14.122 ––––– As cores diferentes observadas no solo dessa região são decorrentes da variação litológica. A porção avermelhada é um solo residual de metacalcário; a amarelada é um solo residual de filito. Ambos têm em comum a textura argilosa. A diferença é que o solo da camada de calcário é básico e de boa fertilidade natural, enquanto o derivado de filito é ácido e de baixa fertilidade natural. É uma situação que pode ocorrer com freqüência na área desse geossistema.
  • 246. 244 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.123 ––––– Solo residual de um metassedimento síltico- argiloso do Grupo Açungui (Vale do Ribeira, PR). A cor amarelada é um indicativo de que contém altos teores de alumínio. variável que depende mais das características do relevo e da evolução pedogenética dos solos. As áreas onde o relevo é adequado e os solos são bem desenvolvidos, desde que os solos sejam devidamente manejados e corrigidos, podem ser bem aproveitadas para qualquer tipo de agricultura. • Nas regiões em que predominam e afloram metas- sedimentos à base de quartzo (Figura 14.111), destacam- se como particularidades importantes que tais litologias apresentam alta resistência ao intemperismo e se alteram liberando poucos elementos químicos para solos quartzo- arenosos (Figura 14.124). Conseqüentemente, nessas áre- as, os solos residuais são bastante erosivos, costumam apresentar baixa fertilidade natural, são excessivamente permeáveis e de baixa capacidade de reter e fixar nutrien- tes. Portanto, são difíceis de serem corrigidos, quase não assimilam matéria orgânica, respondem mal à adubação e perdem água rapidamente (solos de baixa capacidade hí- drica). Além disso, são terrenos onde predominam rele- vos acidentados, com solos geralmente pouco desenvol- vidos e, na maior parte das vezes, apresentando proble- mas de rochosidade ou pedregosidade elevadas. • Tais características indicam que as áreas destacadas na Figura 14.111 são inadequadas para a agricultura ex- tensiva, especialmente para o cultivo de plantas de raízes curtas, para as que necessitam de muita água, de solos férteis e mecanização freqüente. • Nas regiões em que predominam e afloram rochas metacalcárias (Figura 14.114), como particularidades im- portantes desses terrenos, que influenciam o potencial agrícola, destacam-se as rochas metacalcárias, que se al- teram para solos argilosos básicos, de muito alta reatividade química, liberando vários elementos químicos, principal- mente cálcio e magnésio. Outra particularidade a ser des- tacada é o fato de que nos terrenos calcários podem existir dolinas (Figuras 14.126 e 14.127) e sumidouros de água. • Como implicações positivas de tais características, destaca-se que os solos residuais de calcários apresentam baixo potencial erosivo natural; são bastante porosos; ar- Figura 14.125 ––––– Solo residual de metacalcário com o horizonte superior rico em matéria orgânica (região de Itaiacoca, PR). mazenam bastante água, ou seja, apresentam alta capaci- dade hídrica e, por isso, mantêm boa disponibilidade de água por longo tempo dos períodos secos; são bastante férteis e apresentam alta capacidade de reter, fixar nutrien- tes e assimilar matéria orgânica (Figura 14.125). • Como implicações negativas, salienta-se que, por serem argilosos, solos residuais de calcários também se compactam e se impermeabilizam excessivamente se fo- rem submetidos a cargas elevadas contínuas. Portanto, nesse caso, apresentam os mesmos problemas destaca- dos para os solos derivados dos metassedimentos síltico- argilosos. Além disso, as dolinas e sumidouros de água são locais de ligação direta entre os fluxos de água super- ficial e subterrânea e por eles os poluentes agrícolas po- dem se infiltrar e alcançar rapidamente as águas subterrâ- neas sem sofrer depuração. Tais particularidades permitem concluir que, desde que observados os devidos cuidados para que os poluentes agrícolas não cheguem até as dolinas e aos cursos d’água e o relevo seja adequado, os terrenos metacalcários apre- sentam excelente potencial agrícola (Figura 14.128). Figura 14.124 ––––– Quartzito alterado para um solo excessivamente arenoso, de péssimas características agrícolas (Tunas do Paraná, PR).
  • 247. 245 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figuras 14.126 e 14.127 ––––– Hortaliças plantadas no entorno e sobre dolinas associadas aos terrenos metacalcários da região metropolitana de Curitiba (PR). Trata-se de uma prática bastante inadequada. Nas áreas agrícolas, dever-se-ia preservar uma larga faixa do entorno das dolinas e dos canais de drenagem como área de mata natural. Estas têm um papel importante para impedir que os poluentes cheguem até as dolinas e, por conseqüência, até as águas subterrâneas. O cultivo mais adequado para as áreas calcárias portadoras de dolinas é o orgânico. Figura 14.128 ––––– Terrenos metacalcários com relevo suavizado da região metropolitana de Curitiba são intensamente utilizados para a agricultura. Frente aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras Como particularidade importante e extensiva a toda a área de definição desse domínio, destaca-se que, devido ao intenso tectonismo e ao metamorfismo a que foram submetidas as litologias, as águas subterrâneas nesses ter- renos se encontram armazenadas e circulam mais pelas fendas abertas, relacionadas a falhas, fraturas e outras descontinuidades estruturais, do que por entre os poros das rochas. Trata-se, portanto, de aqüíferos fissurais (Figu- ra 14.129). Nesse tipo de aqüífero, o potencial de explo- tação de água é bastante irregular: depende da existência e da densidade das fendas, que, por sua vez, dependem das características composicionais e estrutu- rais das rochas. Como isso varia bastante, o potencial hídrico superficial e subterrâneo e as adequabilidades e limitações frente à im- plantação de fontes poluentes subterrâneas variam, de local para local, de muito alto a muito baixo, uma vez que se intercalam lito- logias das mais diferentes características hi- drodinâmicas. • Nas regiões onde predominam metas- sedimentos síltico-argilosos (Figura 14.103), como particularidades hidrológicas importan- tes, salienta-se que, nesses terrenos, predo- minam litologias pouco permeáveis, geralmen- te portadoras de poucas estruturas (falhas e fraturas) que podem se constituir em armadi- lhas de água. Portanto, são terrenos com bai- xo potencial armazenador e circulador de água. Além disso, tais metassedimentos se alteram para solos também pouco permeáveis e, por isso, predominam relevos geralmente bastante movimentados, recortados por alta densidade de canais de drenagem (Figura 14.130), com escoamento superficial rápido. São, portanto, ambientes desfavoráveis a que as águas subterrâneas sejam recarre- gadas – quando chove, a maior parte da água escorre rapidamente para os canais de drenagem e pouca água se infiltra no subsolo. Por isso, também contêm baixo núme- ro de nascentes e os poucos cursos d’água perenes que existem costumam apresentar grandes e bruscas oscila- ções de vazão com as mudanças climáticas – quando cho- ve, a vazão sobe muito e rapidamente; quando a chuva cessa, abaixa também muito e rapidamente. Nesse senti- do, são terrenos com baixo potencial para existência de bons depósitos de água subterrânea e com os quais se deve ter uma preocupação especial no sentido de preser-
  • 248. 246 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.129 ––––– Em um aqüífero fissural, o potencial de explotação de água é bastante irregular, dependendo de o poço cruzar zonas fraturadas. Por isso, um poço pode apresentar excelente vazão e outro, ao lado, ser seco. Figura 14.130 ––––– Tipo de relevo que predomina nas áreas sustentadas por metassedimentos síltico-argilosos (área de definição do Grupo Açungui, Vale do Ribeira, SP). var a cobertura vegetal. Tem um papel fundamental para reter por mais tempo as águas das chuvas, melhorando o potencial de infiltração no subsolo. Por outro lado, como aspecto positivo, salienta-se que a cobertura de solos argi- losos apresenta boa capacidade de reter e depurar poluen- tes. Portanto, o risco de contaminação das águas subter- râneas é baixo. • Nas regiões onde predominam metassedimentos à base de quartzo, representados por diversos tipos de metarenitos e quartzitos (Figura 14.116), como particula- ridade hidrológica importante destaca-se que são rochas portadoras de alta densidade de falhas e fraturas abertas dispostas em várias direções e com vários ângulos de mergulho. Isso tem implicações hidrológicas tanto positi- vas como negativas. Dentre as positivas, merece destaque o fato de que as falhas e fraturas podem estar interligadas e apresentam bom potencial armazenador e circuladordeáguasubterrânea(Figura14.131). Isso também os torna terrenos geralmente portadores de muitas nascentes e cursos d’água que mantêm boa vazão o ano todo (Figura 14.132). Além disso, nas rochas à base de quartzo, as águas subterrâneas costumam apresentar excelentes características de potabilidade. Como aspecto negativo, desta- ca-se que, pelas fendas abertas que as rochas quartzo-arenosas costumam conter em alta densidade, poluentes podem se infiltrar e al- cançarrapidamenteaságuassubterrâneassem sofrer depuração. Além disso, os solos delas derivados são à base de quartzo, mineral de muito baixa capacidade de reter e depurar poluentes. Por isso, são terrenos onde as águas subterrâneas são bastante vulneráveis à con- taminação. Portanto, cuidados especiais de- vem ser observados com relação a toda fonte potencialmente poluidora. • Nas regiões onde ocorrem rochas metacalcárias (Figura 14.114), destaca-se que, nas rochas calcárias, as águas subterrâneas se infiltram, armazenam-se e circulam pelas ca- vidades que nelas se formam pela dissolução dos carbonatos (Figuras 14.115, 14.116 e 14.117). São, portanto, aqüíferos cársticos. Outro aspecto a ser destacado é que se trata de rochas que se alteram para solos argilosos poucopermeáveisedealtacapacidadedereter elementos. • Como conseqüência negativa de tais ca- racterísticas, destaca-se que aqüíferos cársticos sofrem recarga e descarga rápidas, ou seja, as águas das chuvas se infiltram rapidamente em abundância, mas também podem escorrer ra- pidamente através de rios subterrâneos. • O potencial de explotação de água sub- terrânea é bastante irregular, dependendo bas- tante das condições climáticas locais e de o poço cruzar zonas fraturadas ou alcançar uma cavidade subterrânea quecontenhaáguaarmazenada.Conseqüentemente,pode ocorrer que um poço apresente excelente vazão em um local e outro, imediatamente ao lado, seja seco. • Como as águas podem estar armazenadas em ca- vernas, se a explotação não for bem planejada ocorrerá seu esvaziamento rápido, ocasionando sua descompressão, que provocará o desmoronamento de suas paredes e cau- sar colapsos na superfície. Além disso, se o bombeamento não for bem dimensionado, acarretará o rebaixamento ex- cesso do nível freático, com conseqüente secamento das águas superficiais. • As águas subterrâneas associadas aos terrenos metacalcários podem apresentar excesso de carbonato, fenômeno conhecido como “água dura”, que é prejudici-
  • 249. 247 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.131 ––––– Quartzito densamente fraturado em várias direções, o que o torna uma rocha de alta permeabilidade e porosidade secundárias (município de Castro, PR). Figura 14.132 ––––– Bela surgência de água, localizada no sopé de uma crista quartzítica associada às seqüências metavulcanosse- dimentares do Grupo Açungui (região metropolitana de Curitiba, PR). al à saúde. Em caso de explotação de água, deve-se considerar a possibilidade de o carbo- nato aderir às paredes das tubulações e entu- pi-las rapidamente. • Ao se perfurar terrenos metacalcários, deve-se considerar a possibilidade de as son- das atingirem bruscamente uma cavidade sub- terrânea. Isso pode fazer com que partes dos equipamentos se desprendam; nesse caso, é muito difícil repescá-las. • É principalmente por dolinas (Figura 14.133), sumidouros de drenagem e fraturas que as águas subterrâneas dos terrenos meta- calcários são recarregadas. Mas é também por eles que poluentes alcançam rapidamente as águas subterrâneas – inclusive um rio subter- râneo –, espalhando-os por longas distâncias e causando impactos regionalizados e de gran- des proporções (Figura 14.134). Por isso, sobre dolinas ou em suas proximidades, a vulnerabilidade à contamina- ção das águas subterrâneas é muito alta. Nesses locais, não se deve implantar fontes potencialmente poluidoras, assim como cuidados especiais devem ser observados para que poluentes não alcancem os cursos d’água (Figura 14.135). • Como particularidade positiva, destaca-se que as rochas metacalcárias se alteram para solos argilosos pou- co permeáveis e de alta reatividade química, de alta capa- cidade de reter e depurar poluentes. Conseqüentemente, onde os solos são profundos e distantes dos cursos d’água e das dolinas, o risco de as águas subterrâneas serem con- taminadas por fontes superficiais é baixo. Em razão de tais particularidades, qualquer iniciativa para explotação de água, bem como para locação de fon- tes contaminantes sobre terrenos metacalcários, deve ser precedida de criteriosos estudos hidrogeológicos regionais Figura 14.133 ––––– A depressão circular que se observa no terreno é uma pequena dolina associada aos terrenos metacalcários da região de Itaiacoca (PR). A dimensão das dolinas varia de poucos metros a dezenas de metros. Figura 14.134 ––––– Esquema de contaminação de águas subterrâneas, em caso de implantação de uma fonte poluidora sobre uma dolina ou em suas proximidades.
  • 250. 248 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.135 ––––– Depósito de lixo que inclui vários elementos metálicos sobre o substrato metacalcário da região metropolitana de Curitiba (PR). A possibilidade de que as águas subterrâneas estejam sendo contaminadas é grande. e de detalhe, os quais devem ser apoiados em levanta- mentos geofísicos que possam detectar a presença de ca- vidades subterrâneas. Frente ao potencial turístico A diversidade litológica e o intenso tectonismo a que foram submetidas as seqüências metassedimentares e metavulcanossedimentaresproterozóicaspossibilitaramque em diferentes regiões do geossistema 5 se formassem os mais variados atrativos turísticos naturais. • Na maior parte de definição desse geossistema, pre- dominam relevos montanhosos de grande beleza cênica (Figuras 14.136 e 14.137). • Nas regiões em que ocorrem rochas calcárias, há belas e exóticas paisagens cársticas (Figura 14.138), mui- tas das quais portadoras de grande número de magníficas Figura 14.136 ––––– O belo e diversificado relevo montanhoso sustentado pelas seqüências metavulcanossedimentares do Grupo Açungui (Vale do Ribeira, PR). Destaca-se, ao fundo, uma sucessão de altas cristas quartzíticas – um atrativo turístico pouco conhecido e aproveitado. Figura 14.137 ––––– Serra do Amolar, constituída por rochas quartzíticas, isolada em meio ao Pantanal mato-grossense (MS). O contraste do relevo montanhoso em meio à planície com as águas espelhadas é uma paisagem de rara beleza. Figura 14.138 ––––– Relevo montanhoso do Vale do Betari (SP), sustentado pelas seqüências que envolvem metacalcários do Grupo Açungui. cavernas (Figuras 14.139 e 14.140) e rios de águas crista- linas (Figura 14.141). • O tectonismo diferenciado e a existência de interca- lações de litologias com diferentes graus de resistência ao intemperismo físico-químico são características que favo- receram a existência, na área de definição desse geossistema, de muitos cursos d’água, formando belas corredeiras, cachoeiras e piscinas naturais (Figura 14.142). Frente ao potencial mineral A área de definição desse geossistema é uma ambiência geológica favorável à prospecção de vários bens minerais, destacando-se: chumbo, prata, cobre, ferro, ouro e manganês (Figuras 14.143 e 14.144), fosfato, barita, fluorita. As mais importantes jazidas de ferro, manganês e ouro do Brasil estão associadas a esses terrenos, destacan- do-se, dentre outras, as minas do Quadrilátero Ferrífero
  • 251. 249 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.139 ––––– Gruta Azul (Bonito, MS), formada em metacalcários do Grupo Corumbá. Figura 14.140 ––––– A bela entrada da caverna do Morro Preto. É a entrada de caverna mais ornamentada do mundo (Vale do Ribeira, SP). Figura 14.141 ––––– Rio da Prata. Terrenos metacalcários da região de Jardim (MS). Figura 14.142 ––––– Cachoeira situada na região do Perau (Vale do Ribeira, PR). (MG); de serra do Navio (AP); de serra Pelada, Tapajós e Carajás (PA); da região de Crixás (GO), nesses casos, asso- ciadas às seqüências metavulcanossedimentares do tipo greenstone belt – as quais se diferenciam por incluírem rochas vulcânicas oceânicas básico-ultrabásicas ricas em magnésio (Figura 14.145). Além dos minerais metálicos, esse geossistema tam- bém apresenta alto potencial para a prospecção de vári- os bens minerais não-metálicos. Em várias regiões, são explorados quartzitos (Figura 14.146). Metassedimentos à base de argilominerais são explorados para diversos fins. Rochas calcárias são exploradas com intensidade para fa- bricação de cimento e cal, como rocha ornamental (Fi- gura 14.147), corretivo de solo (Figura 14.148) e para uma infinidade de outros usos. O potencial mineral é um aspecto importante a ser considerado nas decisões de planejamento. Sua explotação deve ser um uso a prevalecer sobre os demais que não
  • 252. 250 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.143 ––––– Mina de ferro da Morraria do Urucum, MS. Figura 14.145 ––––– Regiões onde ocorrem seqüências metavulcanossedimentares do tipo greenstone belt. Figura 14.147 ––––– Lavra de mármore comercialmente conhecido como “Bege Bahia”, resultante da descalcificação dos calcários do Grupo Bambuí, com posterior redeposição. Figura 14.144 ––––– Formação ferromanganesífera da região de Urucum, MS. Figura 14.146 ––––– Lavra de quartzito utilizado como pedra de revestimento (serra do Pico do Gavião, município de São Thomé das Letras, MG).
  • 253. 251 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.148 ––––– Lavra de calcário dolomítico utilizado para fabricação de corretivo de solo. Região metropolitana de Curitiba (PR), área de definição do Grupo Açungui. Figura 14.149 ––––– Área de definição do geossistema 6. sejam de cunho preservacionista, uma vez que bens minerais não ocorrem onde se deseja, mas onde a natureza os formou. ROCHAS GRANÍTICAS (6) Tais rochas sustentam boa parte do ter- ritório brasileiro (Figura 14.149) e se deriva- ram de magmas das mais diferentes compo- sições, cristalizados nas mais diferentes eras geológicas e nos mais diversos ambientes tectônicos. Em razão disso, há no Brasil uma grande variedade de granitos, os quais, con- forme o momento e a ambiência tectônica em que se cristalizaram ou se deformaram, são conhecidos geologicamente como grani- tos pré-, sin-, tardi-, pós-tectônicos. Os granitos pré- e sintectônicos afloram principalmente nas áreas destacadas na Figura 14.150. Diferenciam-se por apresentarem mi- neralogiaintensamentedeformada,recristaliza- da e orientada segundo uma direção preferen- cial em toda a extensão dos maciços (Figura 14.152). As áreas destacadas na figura 14.151 são sustentadas por granitos tardi- e pós- tectônicos.Ostarditectônicossediferenciampela mineralogia, que varia de não-orientada nas porções centrais dos maciços, a bem orientada nas porções mais de borda. Os pós-tectônicos apresentamamineralogianão-deformadaenão- orientada, ou seja, isótropa, em toda a exten- são dos maciços (Figura 14.153). Adequabilidades e limitações Como particularidades importantes, em termos de adequabilidades e limitações ao uso e ocupação, destaca- se que, independentemente da ambiência tectônica em que se cristalizaram, todo os granitos têm em comum: Figura 14.150 ––––– Áreas onde predominam granitos pré- e sintectônicos. • Composição mineral à base de feldspatos, que po- dem ser sódicos e potássicos, em porcentagens que vari- am entre 50 e 70%; quartzo, entre 20 e 30%; em propor- ção menor, minerais ferromagnesianos, principalmente
  • 254. 252 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Figura 14.151 ––––– Área onde predominam granitos tardi- e pós-tectônicos. Figura 14.152 ––––– Exemplar de um granito pré- tectônico, com a mineralogia deformada, orientada, segundo uma direção preferencial e recortada por veio de uma fase pós-tectônica sem orientação mineral (porções mais claras). Figura 14.153 ––––– Exemplar de um granito pré- tectônico, sem orientação mineral. biotita e hornblenda; em proporção bem menor, outros minerais acessórios. • Dentre seus minerais, predominam feldspatos e quartzo, minerais de moderada a alta resistência ao intemperismo físico-químico. • Rochas graníticas se alteram de modo bastante di- ferenciado para solos de textura argilo-síltico-arenosa. • Geralmente, sustentam relevos acidentados. Frente à execução de obras Como particularidades geotécnicas importantes de- correntes das características retrodestacadas, salientam-se: • Os solos residuais de granitos apresentam alto po- tencial erosivo e se desestabilizam com facilidade em ta- ludes de corte, principalmente quando são pouco evoluí- dos. Nesse caso, não são adequados à utilização como material de empréstimo em obras desprovidas de medidas de impermeabilização e nas quais possam ficar sujeitos à concentração das águas das chuvas (Figuras 14.154 e 14.155). Processos erosivos decorrentes da exposição de solos residuais pouco evoluídos de granitos em talude de corte e utilizados na confecção de aterros são problemas bastante comuns em todas as estradas construídas em ter- renos graníticos. O material erodido nesses locais contri- bui para o assoreamento e extinção dos cursos d’água, além de exigirem gastos elevados para as constantes obras recuperativas, que aprofundam o leito das estradas e au- mentam a superfície exposta à erosão. Em caso de execu- ção de obras viárias sobre terrenos graníticos, devem ser evitados cortes profundos e ter preocupação especial com o controle das águas pluviais. É importante destacar que em material com alta suscetibilidade à erosão, como no caso dos solos graníticos pouco evoluídos, os processos erosivos, uma vez instalados, caso não sejam adotadas, rapidamente, medidas mitigadoras, tendem a adquirir cada vez maior expressão. • Por outro lado, os solos residuais pouco evoluídos, principalmente quando ainda preservam cristais de feldspato, são bons para serem usados como saibro. • Granitos, principalmente os não-deformados (pós- tectônicos), alteram-se de modo bastante diferenciado, quase sempre deixando blocos e matacões em meio aos solos, que tanto podem ocorrer isolados (Figura 14.156) ealeatoriamentedistribuídos,comoconcentradosemgran- de número (Figura 14.157). Em razão disso, a profundi- dade do substrato rochoso nos terrenos graníticos costu- ma ser bastante irregular, variando, em poucos metros, de rasa a bastante profunda. Isso pode dificultar e encare- cer a execução de escavações, perfurações e obras subter- râneas, uma vez que em muitos locais será necessária a utilização de explosivos para o desmonte de rochas duras. Além disso, se a fundação de uma obra se apoiar parcial- mente sobre blocos e matacões, estes podem se movi- mentar e desestabilizá-la (Figura 14.158).
  • 255. 253 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz • Nos terrenos graníticos predominam relevos acidentados e com as vertentes côn- cavas, locais naturalmente susceptíveis a im- portantes movimentos de massa, inclusive com rolamento de blocos e grandes matacões. Por isso, não se deve construir no sopé dessas en- costas – o risco de que, inesperadamente, ocorra movimento de massa em um local como este é alto (Figuras 14.159 e 14.160). • As rochas graníticas, especialmente tardi- e pós-tectônicas, costumam ser bastan- te fraturadas (Figuras 14.161 e 14.162), prin- cipalmente nas bordas dos maciços. Nesse caso, são bastante percolativas e delas se sol- tam blocos com facilidade em taludes de cor- te, o que recomenda cuidados especiais com as obras subterrâneas, especialmente as des- tinadasàimplantaçãodefontespotencialmen- te poluidoras. • A alta erosividade dos solos, aliada ao relevo geral- mente acidentado dos terrenos graníticos, favorece os processos erosivos e os movimentos naturais de massa, Figuras 14.154 e 14.155 ––––– Processos erosivos decorrentes da exposição de solos residuais pouco evoluídos de granitos em talude de corte e utilizados na confecção de aterros (região do Vale do Ribeira, SP). Figura 14.156 ––––– Matacões de rochas graníticas em meio ao solo, particularidade que complica bastante a urbanização desses terrenos (Piedade, SP). Figura 14.157 ––––– Devido à forma como se alteram os granitos, é grande a possibilidade de existirem na área de definição desse geossistema blocos e matacões mergulhados no solo (município de Piedade, SP). Figura 14.158 ––––– Exemplo de situação possível de ocorrer com freqüência em terrenos graníticos, especialmente no caso dos granitos pós-tectônicos. inclusive envolvendo rolamento de blocos e grandes ma- tacões. • Granitos pré- e sintectônicos costumam conter alta proporção de minerais micáceos e apresentam mineralo-
  • 256. 254 GEODIVERSIDADE DO BRASIL gia diferentemente deformada e estirada segundo uma direção preferencial, principalmente nas bordas dos maci- ços (Figura 14.163). Nesse caso, apresentam grande ani- sotropia geomecânica e hidráulica local; as bandas micá- ceas isorientadas formam superfícies planares que facili- tam a percolação de fluidos, os processos intempéricos, as desestabilizações em taludes de corte e os processos erosivos, principalmente no caso de os granitos se encon- trarem parcialmente alterados (Figura 14.164). • Como particularidades geotécnicas positivas, sali- enta-se que os granitos pós-tectônicos apresentam textura granular isótropa (Figura 14.165), com boa homogenei- dade geomecânica e hidráulica lateral e vertical; alto grau de coesão e alta capacidade de suporte. Tais particularidades, aliadas à baixa porosidade pri- mária das rochas graníticas, fazem com que, dentre os granitos, os tipos pós-tectônicos sejam os que apresen- tam maior resistência à compressão e ao intemperismo físico-químico. Por isso, são excelentes para obtenção de brita e como rochas de fundação. Figuras 14.159 e 14.160 ––––– Blocos e matacões podem rolar com facilidade, se expostos em taludes de corte e em encostas com declives um pouco mais acentuados. Por isso, não se deve construir no sopé dessas encostas, como verificado nos terrenos graníticos da região do Vale do Ribeira (PR). Figuras 14.161 e 14.162 ––––– Granitos da região do Vale do Ribeira (PR). O espaçamento entre as fraturas pode variar de poucos centímetros a centenas de metros. É por essas fendas que as águas das chuvas se infiltram, se armazenam e vão alterando progressivamente as rochas graníticas, possibilitando que blocos e matacões vão se isolando em meio aos solos. Frente à agricultura Nas decisões de planejamento, visando ao aproveita- mento agrícola desse geossistema, é importante conside- rar que: • Independentemente da origem tectônica, todas as rochas graníticas se alteram para solos com alto teor de argila. O aspecto positivo dessa característica é que os solos residuais de todos os maciços são bastante porosos e apresentam boa capacidade de reter elementos. Conse- qüentemente, quando adubados, retêm e fixam bem os nutrientes, assimilam bem matéria orgânica e apresentam boa capacidade hídrica, ou seja, armazenam bastante água e, por isso, mantêm boa disponibilidade de água para as plantas por longo tempo dos períodos secos. • A fertilidade natural dos solos graníticos é variável (Figuras 14.166 e 14.167). Como são rochas à base de feldspatos, que podem ser sódicos ou potássicos, os solos podem ser ricos nesses elementos, mas, pobres em outros. A fertilidade natural é bastante melhorada em razão da par-
  • 257. 255 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.163 – Exemplar de granito pré-tectônico com a mineralogia fortemente e diferentemente deformada e estirada segundo uma direção preferencial. Isso é indicativo de que o granito se cristalizou ou se recristalizou sob condições de elevadas temperaturas e pressões. Figura 14.164 – Voçoroca desenvolvida paralelamente à foliação mineral de granito parcialmente alterado da região metropolitana de Curitiba (PR). Se as águas das chuvas escorrem paralelamente à foliação mineral de um granito deformado, podem se formar erosões tão grandes quanto as que se formam nas áreas arenosas. Figura 14.165 – Exemplar de um granito pós-tectônico com textura isótropa, ou seja, sem orientação mineral e com boa homogeneidade textural lateral e vertical (Granito Galvão, ES). ticipação de minerais ferromagnesianos. No entanto, como estes são minerais secundários, no geral predominam solos com fertilidade que varia de baixa a moderada. • Independentemente da origem e das variações composicionais, todos os granitos se alteram liberando muito alumínio para os solos. Por ser um mineral de baixa mobilidade, os solos residuais de granito geralmente apre- sentam acidez elevada. Os solos bem evoluídos podem apresentar excesso de alumínio, o que os torna difíceis de serem corrigidos. • A erosividade natural dos solos graníticos é uma variável que depende bastante do grau de evolução pedo- genética. A erosividade é bastante alta (Figura 14.164) nos solos pouco evoluídos, especialmente se forem resi- duais de granitóides com a mineralogia orientada, varian- do de moderada a baixa nos bem evoluídos. Já a erosivi- dade induzida, depende da forma como são manejados, pois, independentemente do granito de origem e da evo- lução pedogenética, todos os solos derivados de granitos contêm alta proporção de argila em sua composição. Em razão disso, compactam-se e se impermeabilizam bastan- te se forem continuamente mecanizados com equipamen- tos pesados ou pisoteados por gado. Cargas elevadas con- tínuas sobre solos com alto teor de argila propiciam que se forme uma camada subsuperficial altamente compac- tada, endurecida e impermeabilizada, fenômeno conheci- do como “pé-de-grade”. Quando chove, essa camada fun- ciona como uma superfície de deslize da camada mais superficial, que, por ser mais porosa e permeável, enchar- ca-se e é facilmente removida por erosão laminar. Tais características permitem concluir que, no que se refere à erosividade e à qualidade química dos solos residu- ais de granitos, são variáveis que dependem bastante da composição dessas rochas e do grau de evolução pedoge- nética. Como são características não-restritivas, desde que os solos sejam devidamente corrigidos e manuseados e o relevo seja adequado, são terrenos que podem ser bem aproveitados para agricultura, especialmente para o cultivo de ciclo longo, como no caso das frutíferas (Figura 14.168). Figura 14.166 – Solo residual de um granito pós-tectônico do Vale do Ribeira (PR), sem minerais ferromagnesianos, o que o classifica como um solo de muito baixa fertilidade natural. Figura 14.167 – A porção inferior desse talude é um solo residual do Granito Três Córregos (Vale do Ribeira, PR), que contém razoável proporção de minerais ferromagnesianos, portanto, bem mais fértil que o solo apresentado na figura anterior.
  • 258. 256 GEODIVERSIDADE DO BRASIL Frente aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras Nas iniciativas para explotação de água subterrânea e/ou de qualquer forma de uso e ocupação com potencial poluidor sobre a área de definição desse geossistema, é importante considerar: • Asrochasgraníticasapresentambaixapermeabilidade e baixa porosidade primárias, mas podem apresentar alta permeabilidade e porosidade secundárias, relacionadas à existência de falhas e fraturas abertas (Figuras 14.161 e 14.162) que costumam conter em densidades diferencia- das. Significa que são aqüíferos fissurais (Figura 14.129). Nesses aqüíferos, o potencial de explotação de água sub- terrânea é bastante irregular: depende do clima, da exis- tência e da densidade de falhas e fraturas abertas, de elas estarem interligadas e de o poço cruzá-las. Por isso, mes- mo nas regiões chuvosas, um poço pode dar boa vazão e outro, imediatamente ao lado, ser seco. Dentre os grani- tos, os tardi- e os pós-tectônicos são os que apresentam maior potencial de conterem fraturas abertas, principal- mente nas bordas dos maciços (Figura 14.161). • Devido ao bom potencial armazenador de água subterrânea em falhas e fraturas, nas regiões onde chove bastante durante uma época do ano, os terrenos graníti- cos, principalmente aqueles de relevo acidentado, costu- mam conter muitas nascentes de água que mantêm boa vazão o ano todo. Por isso, são áreas com boa disponibi- lidade hídrica superficial e importantes para a manuten- ção da regularidade da vazão dos cursos d’água. • Quanto à vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas desse geossistema, varia de baixa a muito alta, dependendo da espessura dos solos. Solos residuais de granitos, por conterem alto teor de argila, são pouco permeáveis e apresentam boa capacidade de reter e depu- rar poluentes. Portanto, nos locais em que são profundos Figura 14.168 – Na região do Vale do Ribeira (PR), terrenos graníticos são intensamente aproveitados para o plantio de cítricos. Figura 14.169 – Exemplo de como os poluentes se infiltram em locais em que os solos graníticos são pouco espessos e as rochas afloram. e bem evoluídos, a vulnerabilidade é baixa. Onde são rasos ou pouco evoluídos e onde as rochas graníticas afloram, a vulnerabilidade é muito alta. Os poluentes podem se infiltrar pelas falhas e fraturas, como também chega- rem rapidamente até às águas subterrâneas sem serem depurados (Figura 14.169). Frente ao potencial turístico Pelo fato de as rochas graníticas serem compostas de minerais de moderada a alta resistência ao intemperismo físico-químico, os terrenos por elas sustentados geralmente se destacam por serem os relevos mais monta- nhosos de uma região, muitos dos quais de grande beleza paisagística (Figuras 14.170 e 14.171). Também são terrenos onde se en- contram muitos cursos d’água correndo so- bre o substrato rochoso ou entre blocos e matacões, for- mando belas corredeiras, cachoeiras e piscinas naturais (Figuras 14.172, 14.173 e 14.174). Além disso, o modo Figura 14.170 – Ao fundo, destaca-se o relevo montanhoso sustentado pelo Granito Graciosa (região metropolitana de Curitiba, PR).
  • 259. 257 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.171 – A erosão diferencial dos granitos possibilita que se formem curiosas e belas esculturas naturais, a exemplo do Pico do Dedo-de-Deus, na serra dos Órgãos (Guapimirim, Teresópolis, RJ). Figuras 14.172 e 14.173 – Um rio, ao passar por um terreno granítico, geralmente forma belas corredeiras, a exemplo desse trecho em que o rio Ribeira de Iguape passa pelo granito Três Córregos (Vale do Ribeira, PR). Figura 14.174 ––––– Granito Itaóca (Vale do Ribeira, SP). Figura 14.175 ––––– Pedra do Elefante (Granito Piedade, SP). como se alteram possibilita que se formem bonitas e curi- osas esculturas naturais (Figuras 14.171 e 14.175). Frente ao potencial mineral O magmatismo que deu origem aos diversos tipos de granitos foi de grande importância mineral para o Brasil, pois: • São fontes excepcionais de vários tipos de rocha ornamental (Figuras 14.176 e 14.177), brita e pedra de cantaria. • Os solos de alteração parcial dos granitos são bas- tante usados como saibro. • Na região amazônica, há muitas ocorrências de gra- nitos mineralizados em cassiterita (estanho), columbita- tantalita e topázio e metais raros (Zr, NB, Ta, Y, ETR). • Ao magmatismo que deu origem às rochas graníticas se associaram fluidos hidrotermais, muito dos quais mineralizados em vários bens metálicos, especialmente co- bre e ouro; muitos desses fluidos, por sua vez, deram origem a pegmatitos, importantes fon- tes de feldspatos, caulim e quartzo. Também há pegmatitos mineralizados em mica, berilo, minerais de lítio, tantalita, columbita, como em vários tipos de gemas.
  • 260. 258 GEODIVERSIDADE DO BRASIL ROCHAS GNAISSE-MIGMATÍTICAS (7) Tais rochas sustentam grande parte do território bra- sileiro (Figura 14.178). Diferenciam-se por serem produ- tos de rochas muito antigas que sofreram os efeitos da superposição de vários episódios tectônicos sob condi- ções de elevadas temperaturas e pressões. Por isso, ao longo de sua história evolutiva, fundiram-se, refundiram- se, foram penetradas por material magmático mais novo (Figuras 14.184, 14.185 e 14.186) e sofreram grande transporte tectônico em estado dúctil (estado subsólido). Por conseqüência, diferenciam-se por serem formadas Figuras 14.176 e 14.177 – Lavras de granitos utilizados como rocha ornamental e pedra de cantaria (região metropolitana de Curitiba, PR). Figura 14.178 ––––– Terrenos sustentados por rochas gnaisse-migmatíticas (geossistema 7). por uma mistura fundida de litologias das mais variadas idades, origens e características físico-químico-texturais (Figuras 14.179, 14.180 e 14.181). No Brasil, há rochas gnaisse-migmatíticas que são produtos da fusão total ou parcial de antigas rochas magmáticas, assim como há rochas que se derivaram da fusão de antigas seqüências sedimentares ou vulcanossedimentares. Por tal razão, a área de definição do geossistema 7 apresenta caracterís- ticas peculiares em termos de adequabilidades e limita- ções ao uso e ocupação. Adequabilidades e limitações Frente à execução de obras Como particularidades geotécnicas importantes de- correntes das características distintivas das rochas gnaisse- migmatíticas, extensivas a toda a área de defi- nição desse geossistema, destacam-se: • São rochas que apresentam grande ani- sotropia geomecânica e hidráulica lateral e vertical. A área de definição desse geossiste- ma se diferencia por serem terrenos em que as características geotécnicas, tanto do subs- trato rochoso, como dos solos e relevo, vari- am e contrastam bastante de região para re- gião e, na maior parte das vezes, de local para local (Figuras 14.179, 14.180 e 14.181). • Geralmente, encontram-se bastante tec- tonizadas e, por isso, costumam ser portado- ras de muitas descontinuidades geomecâni- cas e hidráulicas, relacionadas a planos de fa- lhas, fraturas, à diferenciação litológica ou de- formacional das bandas, ou, então, decorren- tes da existência de bandas com concentra- ções diferenciadas de minerais micáceos iso- rientados (biotita). Tais descontinuidades faci- litam a infiltração de água e fazem com que das rochas se soltem blocos com facilidade em taludes de corte (Figura 14.182).
  • 261. 259 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figuras 14.179, 14.180 e 14.181 ––––– Exemplares de rochas gnaisse-migmatíticas. As porções mais escuras são ricas em minerais planares isorientados, geralmente biotita, e são vestígios de antigas rochas que sofreram fusão. As porções mais claras são mais novas, quartzo- feldspáticas e se originaram a partir de fluidos graníticos que se formaram durante o processo de fusão. Essa diferença faz com que sejam materiais que se alteram de forma diferenciada, apresentando características geomecânicas bastante contrastantes um dos outros (região do Vale do Ribeira, SP). • São rochas que intemperizam de forma bastante diferenciada. Por isso, nos solos residuais dessas rochas e com pedogênese pouco desenvolvida, é possível en- contrar restos de rochas com os mais variados graus de alteração. Isso facilita as desestabilizações em taludes de corte e o aparecimento de grandes processos erosivos nos locais em que as águas das chuvas se concentram sobre esses solos (Figuras 14.183, 14.184, 14.185 e 14.186). • São rochas que podem conter bandas compostas de minerais que, no início do pro- cesso de alteração, transformam-se em argilominerais expansivos – minerais que so- frem o fenômeno da alternância dos estados de expansão e contração se expostos à oscila- ção dos estados úmido e seco. Esse fenôme- no torna os solos portadores de argilominerais expansivos bastante erosivos e problemáticos para obras subterrâneas – com a variação cli- mática, os solos expansivos trabalham, cau- sando danos às obras. • A profundidade do substrato rochoso dos terrenos gnaisse-migmatíticos costuma ser bastante irregular, variando em curtas distân- cias e, por vezes, de local para local, de rasa a bastante profunda. Mesmo onde os solos são profundos, é grande a possibilidade de neles existirem mergulhados e aleatoriamente dis- tribuídos blocos e matacões de rochas duras (Figura 14.185), o que pode complicar e en- Figura 14.182 ––––– Talude de corte da Rodovia Régis Bittencourt (SP), sustentado por rochas gnáissicas com duas proeminentes superfícies planares que facilitam o desprendimento de blocos. carecer bastante a execução de escavações e obras subter- râneas. • Rochas gnaisse-migmatíticas se alteram para solos com alto teor de argila e, por isso, pouco permeáveis, moderadamente plásticos e de boa capacidade de compactação. Por outro lado, tornam-se bastante aderen- tes e pegajosos quando molhados; quando secos, entram facilmente em suspensão – formam muita poeira.
  • 262. 260 GEODIVERSIDADE DO BRASIL tos à formação de enxurradas de alto potencial destruidor de obras. • Solos derivados de rochas gnaisse-migmatíticas, quando bem evoluídos, podem ser colapsíveis, ou seja, com a infiltração de fluidos sobre tensão sofrem rearranjo brusco de sua estrutura e perdem a capacidade de susten- tação, o que implica trincamentos e outros sérios proble- mas às obras. Figura 14.184 ––––– Se as águas das chuvas se concentrarem e escorrerem paralelamente aos planos de foliação das rochas gnaisse-migmatíticas alteradas, pode haver a formação de processos erosivos tão grandes quanto os que se formam nos solos arenosos, a exemplo desse caso, na região metropolitana de Curitiba (PR). • Por serem as rochas gnaisse-migmatíticas bastante tectonizadas e os solos residuais pouco permeáveis, na área de definição do geossistema predominam relevos bastante movimentados (Figuras 14.187 e 14.188), geral- mente recortados por alta densidade de canais de drena- gem. Conseqüentemente, são terrenos naturalmente sus- ceptíveis a movimentos de massa, de alto potencial de erosão hídrica, com escoamento superficial rápido, sujei- Figura 14.183 ––––– Focos erosivos induzidos pela exposição de rochas gnaisse-migmatíticas parcial e diferentemente alteradas para solos que ainda preservam a estruturação mineral ou são portadores de argilominerais expansivos (Rodovia Régis Bittencourt, região metropolitana de Curitiba, PR). Figura 14.186 ––––– Deslizamento em talude de corte nos terrenos gnaisse- migmatíticos, problema bastante freqüente na área de definição desse geossistema (município de Bocaiúva do Sul, PR). Figura 14.185 ––––– Solo residual de rochas migmatíticas, com evolução pedogenética diferenciada e contendo blocos e matacões de rochas duras, é comum na área de definição desse geossistema. Deve-se evitar sua exposição em taludes de corte, em caso de edificações, como também tomar cuidados para que as fundações das obras não se apóiem parcialmente sobre blocos e matacões, pois estes podem se movimentar e desestabilizar as construções.
  • 263. 261 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz Figura 14.187 ––––– Uma das formas de relevo que ocorre com freqüência na área de definição desse geossistema. Nesse caso, trata-se de uma vertente côncava, feição que amplia bastante os potenciais erosivos e de movimentos de massa, uma vez que esta é uma zona onde se concentra a energia das águas superficiais e subsuperficiais. Figura 14.188 ––––– Cicatrizes de erosão induzidas pelo desmatamento e pisoteamento do gado sobre solos residuais de rochas gnaisse-migmatíticas. É um problema bastante comum nas áreas de pastagens, principalmente onde tais rochas sustentam relevos acidentados. Focos erosivos como estes são fontes de alta carga de detritos que assoreiam e extinguem os cursos d’água. Além disso, em uma área tão declivosa como esta, o gado circula paralelamente às curvas de nível. Como as curvas são muito próximas uma das outras, a maior parte da superfície se transforma em caminhos altamente compactados e impermeabilizados. Nesses caminhos, as águas das chuvas não se infiltram e se concentram, formando enxurradas de alto potencial erosivo. Uma área como esta deveria ser isolada com cerca para que a mata se recupere. Em razão das características retromenci- onadas, antes de se construir na área de defi- nição desse geossistema, estudos geotécnicos detalhados, apoiados em amostragem de materiais coletados em malha pouco espaça- da e de várias profundidades, devem ser reali- zados. Ensaios geotécnicos pontuais têm pou- ca representatividade lateral e vertical. Em caso de arruamentos e parcelamento do solo para fins urbanos, deve-se evitar os modelos qua- driculados. Os modelos adequados são aqueles com os tra- çados dos arruamentos concordantes às curvas de nível. Eles evitam a execução de cortes profundos, a concentra- ção da energia das águas das chuvas e a eliminação das camadassuperficiaisdosolo,que,porseremmenoserosivas, funcionam como protetoras dos horizontes inferiores. Frente à agricultura Como particularidades que influenciam bastante o potencial agrícola desse geossistema, destacam-se que rochas gnaissicas migmatíticas: • Alteram-se para solos com elevado teor de argila. O aspecto positivo é que os solos residuais dessas rochas são poucopermeáveis,bastanteporosose,porisso,apresentam boa capacidade de reter elementos. Significa que, quando adubados, retêm e fixam bem os nutrientes, assimilam bem amatériaorgânica,apresentamboacapacidadedearmaze- nar água e, por isso, mantêm boa disponibilidade de água para as plantas por longo tempo dos períodos secos. Por outro lado, solos com altos teores de argila são altamente susceptíveis à compactação e à impermeabilização por car- gaselevadascontínuas(Figura14.189);quandosecammui- to, tornam-se bastante duros e, por serem pouco permeá- veis,apresentamrestriçõesaousodeirrigaçãoporaspersão. • Alteram-se para solos com erosividade que, depen- dendo da evolução pedogenética e da forma com que os solos são manejados, varia de baixa a alta. A erosividade Figura 14.189 ––––– Cicatrizes de erosão induzidas pelo uso contínuo de maquinários pesados sobre solos argilosos residuais de migmatitos (região metropolitana de Curitiba, PR). natural é baixa nos solos bem evoluídos e muito alta nos pouco evoluídos; independentemente da evolução pedogenética, tornam-se bastante erosivos se forem con- tinuamente mecanizados com maquinários pesados (Fi- gura 14.189) ou pisoteados por gado. Nessas situações, compactam-se, impermeabilizam-se e podem erodir tan- to quanto um solo arenoso. • Alteram-se de forma bastante diferenciada e, por isso, os solos residuais, principalmente os pouco evoluí- dos, podem apresentar muitas diferenciações locais de ca- racterísticas físico-químicas (Figura 14.190) e, conseqüen- temente, de qualidade agrícola.
  • 264. 262 GEODIVERSIDADE DO BRASIL • A mineralogia das rochas gnaisse-migmatíticas é rica em minerais que liberam alumínio durante o intem- perismo, razão pela qual os solos residuais, principalmen- te quando são pedogeneticamente bem evoluídos, podem conter excesso desse elemento tóxico às plantas. As características retromencionadas permitem con- cluir que a influência das rochas gnaisse-migmatíticas no potencial agrícola desse geossistema é mais positiva que negativa. Portanto, desde que o relevo seja adequado e os solos bem maneja- dos, são terrenos que podem ser bem apro- veitados para a agricultura. Frente aos recursos hídricos e à implantação de fontes poluidoras Nas iniciativas para explotação de água subterrânea e superficial e para locação de fontes com potencial poluidor sobre esse geossistema, deve-se considerar que: • Nas rochas gnaisse-migmatíticas, as águas das chuvas se infiltram e se armaze- nam em falhas, fraturas e outras descontinui- dades estruturais. São, portanto, aqüíferos fis- surais (Figura 14.129). Nesse tipo de aqüífe- ro, o potencial de explotação de águas subter- râneas é bastante irregular, dependendo das condições climáticas da região, da existência e da densidade das falhas e fraturas abertas e Figura 14.190 ––––– Solo residual de um migmatito paraderivado, ou seja, produto da fusão parcial de uma seqüência vulcanossedimentar. As diferentes colorações são resultantes das variações composicionais dos materiais que compõem esse tipo de migmatito. As características fisico-químicas são bem diferentes para cada um desses materiais, o que faz com que a qualidade agrícola dos solos varie bastante de local para local, de muito boa a muito ruim. As bandas de cor avermelhada são associadas a rochas ricas em minerais ferromagnesianos que liberam vários nutrientes; as esbranquiçadas, a rochas graníticas, pobres em nutrientes; as amareladas, a rochas calciossilicáticas, que liberam bastante cálcio. de elas estarem interligadas. Sendo assim, mesmo nas regiões chuvosas, um poço pode apresentar excelente vazão em um local e um outro, imediatamente ao lado, ser seco. É im- portante salientar que o material de alteração parcial das rochas gnaisse-migmatíticas pode se constituir em um bom aqüífero superficial, pois apresenta bom potencial armazenador e circulador de água. • São rochas de baixa permeabilidade pri- mária, que se alteram para solos com alto teor de argila, portanto, também pouco per- meáveis. Significa que a área de definição desse geossistema é um ambiente natural- mente pouco permeável. Em razão disso, pre- dominam terrenos bastante movimentados, geralmente recortados por alta densidade de canais de drenagem (Figura 14.191) e com o escoamento superficial rápido. Significa que, quando chove, pouca água se infiltra no subsolo. A maior parte escorre rapidamen- te para os canais de drenagem, formando en- xurradas de alto potencial erosivo. São, por- tanto, ambientes desfavoráveis a que as águas subterrâneas sejam recarregadas. Por isso, contêm poucas nascentes e a vazão dos cur- sos de água sofre grandes e bruscas oscila- ções com as mudanças climáticas – quando chove, sobe bastante e rapidamente; quando a chuva cessa, abaixa também bastante e muito rapidamente. Em razão disso, são terrenos com os quais se deve ter uma preocupação especial, para não impermeabilizá-los e não desmatá-los excessivamente – a cobertura vegetal tem um papel im- portantíssimo para aumentar o tempo de retenção das Figura 14.191 ––––– Em razão da baixa permeabilidade primária das rochas gnaisse- migmatíticas, dos solos residuais e intenso tectonismo a que foram submetidas, a maior parte dos terrenos por elas sustentados se caracteriza pelo relevo bastante movimentado, geralmente montanhoso, a exemplo dessa paisagem do Vale do Ribeira (SP). Mesmo as áreas de relevo suavizado, geralmente, são portadoras de alta densidade de canais de drenagem.
  • 265. 263 GEODIVERSIDADE: ADEQUABILIDADES E LIMITAÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO Antonio Theodorovicz e Ângela Maria de Godoy Theodorovicz águas das chuvas, para melhorar o potencial de infiltração e minimizar os problemas de- correntes do escoamento superficial rápido. • Quanto à vulnerabilidade à contami- nação das águas subterrâneas, varia de baixa a alta. Nas áreas onde os solos são profun- dos, o risco de as águas subterrâneas serem contaminadas por fontes superficiais é bai- xo, uma vez que as rochas gnaisse-migmatí- ticas se alteram para solos com alto teor de argila e, por isso, não são muito permeáveis, apresentando boa capacidade de reter e de- purar poluentes. Já onde os solos são rasos e onde as rochas afloram, o risco de contami- nação é alto. Pelas falhas e fraturas que tais rochas costumam conter em alta densidade, poluentes podem se infiltrar e alcançar rapi- damente as águas subterrâneas sem serem depurados. Frente ao potencial turístico Pelo fato de as rochas gnaisse-migmatí- ticas se alterarem de forma bastante diferen- ciada e em razão do intenso tectonismo a que foram submetidas, nesse geossistema ocorrem os mais variados tipos de paisagens, muitas das quais de grande beleza cênica, a exemplo de toda a faixa costeira brasileira, onde se en- contram espetaculares formas de relevo, bem como muitos rios correndo sobre o substrato rochoso formando belas corredeiras, cachoei- ras e piscinas naturais (Figuras 14.192 e 14.193). Frente aos recursos minerais No que se refere ao potencial metaloge- nético, os processos de fusão a que foram submetidas e os processos erosivos que atua- ram ao longo da história evolutiva das rochas gnaisse-migmatíticas atuaram mais no senti- do de dispersar do que concentrar elementos metálicos. Portanto, são terrenos de baixo potencial metalogenético. Quanto ao potencial para não-metálicos, dentre as rochas gnaisse-migmatíticas existem tipos com qualidades físico-químicas favorá- veis à exploração para agregados, pedra de cantaria e rocha ornamental. BIBLIOGRAFIA BIZZI, L. A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R. M. et al. Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil. Texto, mapas e SIG. Brasília: CPRM, 2003. 674 p. il. DVD anexo. Figura 14.193 ––––– Um rio encachoeirado, associado aos terrenos gnaisse- migmatíticos do Vale do Ribeira (SP). Figura 14.192 ––––– A maior parte da magnífica paisagem do Rio de Janeiro e do belo relevo montanhoso da faixa costeira do Brasil são sustentados por rochas gnaisse-migmatíticas. No Rio de Janeiro, morros como os do Pão de Açúcar e do Corcovado, dentre outros, são sustentados por gnaisses paraderivados, ou seja, resultantes da fusão de seqüências sedimentares ou vulcanossedimentares muito antigas, que sofreram fusão e se transformaram em magmas, que se cristalizaram e se transformaram em gnaisse. Por serem os gnaisses mais resistentes ao intemperismo do que as rochas circunvizinhas, estes se encontram mais preservados. A diferença de resistência ao intemperismo entre essas rochas possibilitou a formação desse belo cenário. CPRM. Mapa geodiversidade do Brasil. Escala 1:2.500.000. Legenda expandida. Brasília: CPRM/Serviço Geológico do Brasil, 2006. 68 p. CD-ROM. LACERDA FILHO, J. V. de; BRITO, R. S. C. de; SILVA, M. da G. da; OLIVEIRA, C. C. de MORETON, L. C.; MARTINS, E. G.; LOPES, R. da C.; LIMA, T. M.; LARIZZATTI, J. H. de;
  • 266. 264 GEODIVERSIDADE DO BRASIL VALENTE, C. R. Geologia e recursos minerais do estado do Mato Grosso do Sul. 1:1.000.000. Campo Grande: CPRM/SGB, 2006. SCHOBBENHAUS, C.; GONÇALVES, J. H.; SANTOS, J. O. S. et al. Carta geológica do Brasil ao milionésimo: siste- ma de informações geográficas (SIG) e 46 folhas na escala 1:1.000.000. Brasília: CPRM/SGB, 2004. 41 CD-ROMs. TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Tex- tos, 2000. 557 p. THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G.; CANTARINO, S. da C. Projeto Curitiba: informações bási- cas sobre o meio físico – subsídios para o planejamento territorial, folha Curitiba 1:100.000. Curitiba: CPRM/SGB, 1994. 109 p. Convênio CPRM/COMEC. THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G.; CANTARINO, S. da C. Projeto Curitiba: atlas geoambiental da região metropolitana de Curitiba – subsídios para o ANTONIO THEODOROVICZ Geólogo formado (1977) pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialização em Geologia Ambiental (CPRM/ 1990). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) – Superintendência Regional de Porto Velho (SUREG/PV) em 1978. Desde 1982 atua na Superintendência Regional de São Paulo (CPRM-SUREG/SP). Executou e chefiou vários projetos de mapeamento geológico, prospecção mineral e metalogenia em diversas escalas nas regiões Amazônica, Sul e Sudeste. Desde 1990 atua como supervisor/executor de vários estudos geoambientais, para os quais concebeu uma metodologia, também adaptada e aplicada na geração dos mapas Geodiversidade do Brasil e estaduais. Atualmente, também é coordenador regional do Projeto Geoparques da CPRM/ SGB, ministrando treinamentos de campo para caracterização do meio físico para fins de planejamento e gestão ambiental, para equipes da CPRM/SGB e de países da América do Sul. ANGELA MARIA DE GODOY THEODOROVICZ Geóloga formada (1977) pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialização em Geologia Ambiental (CPRM/ 1990). Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) – Superintendência Regional de São Paulo (SUREG/SP) em 1978. Atuou em diversos projetos de Mapeamento Geológico Básico, Pesquisa Mineral para Não-Metálicos, Metalogenia e Planejamento Minerário. De 1980 a 1981, trabalhou na Superintendência Regional de Porto Velho (CPRM-SUREG/PV), em projetos de Metalogenia e Prospecção de Carvão. Desde 1990 atua na área de Estudo do Meio Físico para o Planejamento do Uso e Ocupação do Solo, como executora e chefe de projetos na SUREG/SP. A partir de 2006 passou a integrar a equipe do Projeto Geodiversidade do Brasil. planejamento territorial. 1:150.000. São Paulo: CPRM/SGB, 1999. 48 p. THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G. Pro- jeto Mogi-Guaçu-Pardo: zoneamento geoambiental do médio Pardo – subsídios para o planejamento territorial e gestão ambiental. 1:100.000. São Paulo: CPRM/SGB, 1999. 69 p. Convênio CPRM/SEMA-SP. THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G; CANTARINO, S. da C. Atlas geoambiental das bacias hidrográficas dos rios Mogi-Guaçu e Pardo-SP: subsídios para o planejamento territorial e gestão ambiental. 1:350.000. São Paulo: CPRM/SGB, 2002. CD-ROM. Con- vênio CPRM/SEMA-SP. THEODOROVICZ, A.; THEODOROVICZ, A. M. de G. Atlas geoambiental: subsídios ao planejamento territorial e à gestão ambiental da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. 1:250.000. São Paulo: CPRM/SGB, 2005, 91 p. Convênio CPRM/UNICAMP/IAL/FAPESP.
  • 267. DE VOLTA PARA O FUTURO: UMA VIAGEM PELO TEMPO GEOLÓGICO Sergio Kleinfelder Rodriguez ([email protected]) CPRM – Serviço Geológico do Brasil ANEXO No CD-ROM em anexo, é recontada, em 74 painéis, a história da origem e evolução do planeta Terra, dos primórdios aos dias de hoje. É uma viagem com muitos inícios e fins: a origem da vida e as várias extinções que se sucederam; a formação dos continentes e sua fragmentação, formando novos continentes; os minerais e seus usos pelo homem. Temas antigos que hoje parecem novos – dinossauros, petróleo, terremotos, efeito estufa – são apresen- tados compondo a narrativa evolutiva de nosso planeta. O surgimento das espécies. Os mamíferos, sua biodiversidade evolutiva e o apa- recimento do homem quase no final dessa saga planetária. Apertem os cintos e boa viagem! SERGIO KLEINFELDER RODRIGUEZ Graduado em Geologia (1983) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Mestrado (1993) e doutorado (1998) em Geologia Sedimentar, com a tese “Geologia Urbana da Região Metropolitana de São Paulo - SP”, pela Universidade de São Paulo (USP). Em 1994, ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), na Superintendência Regional de São Paulo (SUREG/SP). Desde 1996, é Gerente de Relações Institucionais e Desenvolvimento em São Paulo. Autor das cartilhas “Nossa Terra, Nossa Casa” e “Água é Vida”, bem como do capítulo “São Paulo de Milhões e Milhões de Anos: Evolução Geológica de São Paulo”, do Atlas Ambiental do Município de São Paulo, dentre outras publicações.