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Apresentação
Capítulo 1
Influenza
Doença Meningocócica
Outras Meningites
Capítulo 2
Coqueluche
Difteria
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Sarampo
Rubéola
Síndrome da Rubéola Congênita
Varicela/Herpes Zóster
Tétano Acidental
Tétano Neonatal
Caxumba
Capítulo 3
Botulismo
Cólera
Doenças Diarreicas Agudas
Febre Tifoide
Equipe de Colaboradores – Volume 1
Volume 1
Capítulo 8
Doença de Chagas
Leishmaniose Tegumentar Americana
Leishmaniose Visceral
Malária
Capítulo 9
Esquistossomose Mansoni
Geo-Helmintíases
Tracoma
Filariose linfática
Capítulo 10
Hantaviroses
Leptospirose
Peste
Raiva
Capítulo 11
Acidentes por Animais Peçonhentos
Capítulo 12
Intoxicação Exógena
Vigilância em Saúde do Trabalhador
Violência Interpessoal/Autoprovocada
Capítulo 13
Investigação Epidemiológica de Casos,
Surtos e Epidemias
Equipe de Colaboradores – Volume 3
Volume 3
Capítulo 4
Infecção pelo HIV e Aids
Hepatites Virais
Sífilis Adquirida e em Gestantes
Sífilis Congênita
Capítulo 5
Hanseníase
Tuberculose
Capítulo 6
Febre Amarela
Febre do Nilo Ocidental
Febre Maculosa Brasileira
e Outras Riquetsioses
Capítulo 7
Dengue, Chikungunya e Zika
Equipe de Colaboradores – Volume 2
Volume 2
Sumário por volume:
GUIADEVIGILÂNCIAEMSAÚDE
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
www.saude.gov.br/bvs
GOVERNO
FEDERAL
GUIA DE VIGILÂNCIA
EM SAÚDE
Volume 1
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Volume1
1a
edição atualizada
Volume 1
MINISTÉRIO DA SAÚDE
1ª edição atualizada
Guia de vigilncia em saude
Volume 1
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços
1ª edição atualizada
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Ficha Catalográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços.
Guia de Vigilância em Saúde : volume 1 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da
Epidemiologia e Serviços. – 1. ed. atual. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017.
3 v. : il.
ISBN 978-85-334-2235-3
1. Vigilância em saúde – guia. 2. Vigilância epidemiológica. 3. Saúde pública. I. Título.
CDU 614.4 (036)
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2017/0181
Título para indexação
Guide to Health Surveillance: volume 1
2017 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não
Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total
desta obra,desde que citada a fonte.
AcoleçãoinstitucionaldoMinistériodaSaúdepodeseracessada,naíntegra,naBibliotecaVirtualemSaúdedoMinistério
da Saúde:<www.saude.gov.br/bvs>.
Tiragem: 1a
edição atualizada – 2017 – 730 exemplares
Elaboração, distribuição e informações
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Coordenação-Geral de Desenvolvimento da
Epidemiologia em Serviços
SRTV 702, Via W 5 Norte, Edifício PO 700, 7º andar
CEP: 70723-040 - Brasília/DF
Site: www.saude.gov.br/svs
E-mail: svs@saude.gov.br
Editor-Geral
Adeilson Loureiro Cavalcante – SVS/MS
Editores Científicos
Adele Schwartz Benzaken – SVS/MS
Daniela Buosi Rohlfs – SVS/MS
João Paulo Toledo – SVS/MS
Marta Roberta Santana Coelho – SVS/MS
Sônia Maria Feitosa Brito – SVS/MS
Editora Executiva
Elisete Duarte – SVS/MS
Editoras Assistentes
Izabel Lucena Gadioli – SVS/MS
Wanessa Tenório Gonçalves Holanda de Oliveira - SVS/MS
Assistentes Editoriais
Alessandra Viana Cardoso - SVS/MS
Carla Simone Girotto de Almeida Pina - SVS/MS
Lúcia Rolim Santana de Freitas - SVS/MS
Supervisão da Produção Editorial
Thaís de Souza Andrade Pansani – SVS/MS
Revisão de Língua Portuguesa
Maria Irene Lima Mariano – SVS/MS
Diagramação
Edite Damásio da Silva – CGDEP/SVS/MS
Thaisa Abreu Oliveira – CGDEP/SVS/MS
Projeto Gráfico
Fabiano Camilo – Nucom/SVS/MS
Sabrina Lopes – Nucom/SVS/MS
Capa
Fred Lobo – Nucom/SVS/MS
Normalização
Delano de Aquino Silva – Editora MS/CGDI
Os quadros, figuras e tabelas constantes na obra,
quando não indicados por fontes externas, são de
autoria dos próprios colaboradores.
Sumário
Volume 1
Apresentação | 7
Capítulo 1 | 9
Influenza | 11
Doença Meningocócica | 35
Outras Meningites | 47
Capítulo 2 | 73
Coqueluche | 75
Difteria | 91
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda | 107
Sarampo | 119
Rubéola | 135
Síndrome da Rubéola Congênita | 149
Varicela/Herpes-Zóster | 159
Tétano Acidental | 171
Tétano Neonatal | 181
Caxumba | 189
Capítulo 3 | 193
Botulismo | 195
Cólera | 205
Doenças Diarreicas Agudas | 219
Febre Tifoide | 235
Equipe de Colaboradores | 245
Guia de vigilncia em saude
Apresentação
Esta primeira edição impressa do Guia de Vigilância em Saúde (GVS), editada pela Secretaria de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), vem atualizar a sua versão eletrônica, publicada
em 2014. Esta publicação substituiu e ampliou o escopo do Guia de Vigilância Epidemiológica (GVE),
cuja primeira edição foi publicada em 1985. O GVE cumpriu, por décadas, o papel de orientar as ações de
vigilância, prevenção e controle de doenças de importância na saúde pública no país.
Diante dos novos desafios e de um novo contexto, em que diferentes estratégias e tecnologias são
incorporadas às ações de saúde pública e a vigilância em saúde passa a ser entendida como “um processo
contínuo e sistemático de coleta, consolidação, disseminação de dados sobre eventos relacionados à
saúde”, que visa ao planejamento e à “implementação de medidas de saúde pública para a proteção da
saúde da população, a prevenção e controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção
da saúde” (Portaria nº 1.378/2013), faz-se necessária a revisão e permanente atualização do GVS. Dessa
forma, esta edição atualiza as estratégias e recomendações relacionadas às ações de saúde pública para o
enfrentamento das doenças transmissíveis e se alinha aos dispositivos da Portaria nº 204, de 17 de fevereiro
de 2016, que define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde
Pública, e da Portaria nº1.984, de 12 de setembro de 2014, que define a lista nacional destas doenças e
agravos que devem ser monitorados por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas.
O GVS, dadas as características da área, é mais do que um instrumento de informação. Contempla
também as dimensões de “protocolos de conduta”, baseadas na aplicação do conhecimento científico no
contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) e de normas técnicas que orientam a atuação dos profissionais
para o controle de doenças de importância em saúde pública. A publicação do GVS visa disseminar os
procedimentos relativos aos fluxos, prazos, instrumentos, definições de casos suspeitos e confirmados,
funcionamento dos sistemas de informação em saúde, condutas, medidas de controle e demais diretrizes
técnicas para operacionalização do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde.
Com as tecnologias de comunicação e informação eletrônicas cada vez mais disseminadas, a atualização
passa a ter uma nova dinâmica, com a revisão de conteúdos sempre que haja novas evidências ou estratégias
disponíveis. Para tanto, a Portaria nº 45, de 25 de abril de 2016, instituiu o Grupo de Trabalho que terá a
atribuição de sua revisão periódica, “com a finalidade de incluir, excluir ou atualizar as diretrizes técnicas
referentes às definições, procedimentos, fluxos e instrumentos referentes aos agravos, doenças e eventos
de saúde pública”. Nesse sentido, recomenda-se aos leitores do GVS, especialmente àqueles que o utilizam
para balizar suas práticas profissionais em saúde pública, estarem atentos às versões eletrônicas, que podem
indicar eventual atualização de parte de seu conteúdo ou a inclusão de novos textos. Atualizações mais
abrangentes de conteúdo, sempre que houver, demandarão nova edição impressa.
Para a elaboração desta edição atualizada do GVS parte do conteúdo de alguns textos, presente
em edições anteriores, foi mantida, em um processo de construção coletiva e histórica. Assim, importa
agradecer a todos os profissionais, gestores e colaboradores que participaram da elaboração destas
publicações bem como aos editores, às equipes técnicas da SVS/MS, membros de seus comitês técnicos
assessores e demais colaboradores que participaram com empenho desta edição, identificados ao final de
cada volume.
A despeito da colaboração de centenas de profissionais neste processo, garante-se a autoria
institucional das recomendações contidas neste GVS à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério
da Saúde, como instituição coordenadora do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde.
Finalmente, espera-se que o uso cotidiano deste GVS dissemine as informações e recomendações
que possam contribuir para a institucionalização e aprimoramento das práticas da vigilância em saúde de
forma integrada à rede de serviços de saúde em todos os municípios do país e, em última instância, que
esta publicação contribua, em alguma medida, para a melhoria da saúde da população brasileira.
Os editores
Influenza
Doença Meningocócica
Outras Meningites
CAPÍTULO 1
Guia de vigilncia em saude
11
Influenza
CID 10: J11
Influenza sazonal
Características gerais
Descrição
Infecção viral aguda do sistema respiratório, de elevada transmissibilidade e distribuição global. Um
indivíduo pode contraí-la várias vezes ao longo da vida. Em geral, tem evolução autolimitada, podendo,
contudo, apresentar-se de forma grave.
Sinonímia
Gripe e influenza humana.
Agente etiológico
O vírus influenza, pertencente à família Ortomixiviridae, possui RNA de hélice única e se subdivide
em três tipos antigenicamente distintos: A, B e C.
O vírus tipo A é mais suscetível às variações antigênicas, e periodicamente sofre alterações em sua
estrutura genômica, o que contribui para a existência de diversos subtipos. São responsáveis pela ocor-
rência da maioria das epidemias de influenza e classificados de acordo com os tipos de proteínas que se
localizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). A proteína H está
associada à infecção das células do trato respiratório superior, onde o vírus se multiplica, enquanto a
proteína N facilita a saída das partículas virais do interior das células infectadas. O vírus influenza tipo A
infecta o homem, suínos, cavalos, mamíferos marinhos e aves; o tipo B infecta exclusivamente humanos;
e o tipo C, humanos e suínos.
O vírus tipo B sofre menos variações antigênicas e, por isso, está associado com epidemias
mais localizadas.
O vírus tipo C é antigenicamente estável, provoca doença subclínica e não ocasiona epidemias, mo-
tivo pelo qual merece menos destaque em saúde pública.
Reservatório
O homem, suínos, equinos, focas e aves são os principais reservatórios. As aves migratórias, princi-
palmente as aquáticas e as silvestres, desempenham importante papel na disseminação natural da doença
entre distintos pontos do globo terrestre.
Modo de transmissão
Em geral, a transmissão ocorre dentro da mesma espécie, exceto entre os suínos, cujas células pos-
suem receptores para os vírus humanos e aviários.
A transmissão direta (pessoa a pessoa) é mais comum e ocorre por meio de gotículas, expelidas pelo
indivíduo infectado com o vírus influenza, ao falar, espirrar e tossir. Eventualmente, pode ocorrer transmis-
são pelo ar, pela inalação de partículas residuais, que podem ser levadas a distâncias maiores que 1 metro.
Também há evidências de transmissão pelo modo indireto, por meio do contato com as secreções
de outros doentes. Nesse caso, as mãos são o principal veículo, ao propiciarem a introdução de partículas
Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
12
virais diretamente nas mucosas oral, nasal e ocular. A eficiência da transmissão por essas vias depende da
carga viral, contaminantes por fatores ambientais, como umidade e temperatura, e do tempo transcorrido
entre a contaminação e o contato com a superfície contaminada.
A infecciosidade está relacionada com a excreção viral pelo trato respiratório superior, porém a cor-
relação entre a excreção viral nasofaríngea e a transmissão é incerta e pode variar, particularmente em
função do nível de imunidade preexistente.
Período de incubação
Em geral, de 1 a 4 dias.
Período de transmissibilidade
Indivíduos adultos saudáveis infectados transmitem o vírus entre 24 e 48 horas antes do início de
sintomas, porém em quantidades mais baixas do que durante o período sintomático. Nesse período, o pico
da excreção viral ocorre principalmente entre as primeiras 24 até 72 horas do início da doença, e declina
até níveis não detectáveis por volta do 5º dia, após o início dos sintomas.
Pessoas com alto grau de imunodepressão podem excretar vírus por semanas ou meses.
As crianças, comparadas aos adultos, também excretam vírus mais precocemente, com maior carga
viral e por longos períodos.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral.
A imunidade aos vírus influenza é adquirida a partir da infecção natural ou por meio de vacinação,
sendo que esta garante imunidade apenas em relação aos vírus homólogos da sua composição. Assim, um
hospedeiro que tenha tido uma infecção com determinada cepa terá pouca ou nenhuma imunidade con-
tra uma nova infecção por uma cepa variante do mesmo vírus. Isso explica, em parte, a grande capacidade
deste vírus em causar frequentes epidemias e a necessidade de atualização constante da composição da
vacina com as cepas circulantes.
Manifestações clínicas
Classicamente, o quadro clínico da influenza sazonal tem início abrupto, com sintomas de síndrome
gripal (SG), como febre, tosse seca, dor de garganta, mialgia, cefaleia e prostração. Geralmente, tem reso-
lução espontânea em aproximadamente 7 dias, embora a tosse, o mal-estar e a fadiga possam permanecer
por algumas semanas e em alguns casos, principalmente em indivíduos com fatores e/ou condições de
risco, pode evoluir para síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Em crianças com menos de 2 anos
de idade, considera-se também como caso de SG: febre de início súbito (mesmo que referida) e sintomas
respiratórios (tosse, coriza e obstrução nasal), na ausência de outro diagnóstico específico.
Complicações
Alguns casos podem evoluir com complicações, especialmente em indivíduos com doença crônica,
idosos e crianças menores de 2 anos, o que acarreta elevados níveis de morbimortalidade.
As mais comuns são:
13
-
diovasculares (especialmente doença reumática com estenose mitral) ou em mulheres grávidas.
A principal complicação são as pneumonias, responsáveis por um grande número de internações
hospitalares no país.
Diagnóstico
Diagnóstico clínico
O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como SG. O diagnóstico depende da investigação
clínico-epidemiológica e do exame físico.
Diagnóstico laboratorial
A amostra clínica preferencial é a secreção da nasofaringe (SNF). Considerando a influenza sazonal,
o período para coleta é preferencialmente entre o 3º e o 7º dia após o início dos primeiros sintomas.
Nos casos de SRAG hospitalizado e óbito por SRAG a coleta deve ser realizada independente do dia
de início dos sintomas, incluindo os casos em unidade de terapia intensiva (UTI).
O diagnóstico laboratorial pela pesquisa de vírus da influenza é um dos componentes da vigilância
de influenza, a qual se baseia nas estratégias de vigilância sentinela de SG, SRAG em UTI e vigilância
universal da SRAG.
Nas unidades de saúde sentinelas de SG preconiza-se a coleta de cinco amostras de SNF e/ou orofa-
ringe, conforme a técnica de coleta, por semana epidemiológica (SE).
Para as unidades de saúde sentinelas de SRAG, devem ser coletadas amostras de todos os casos de
SRAG internados em UTI. Para a vigilância universal de SRAG, a coleta de amostras deve ocorrer em
todos os casos hospitalizados.
As amostras são processadas por biologia molecular, pela técnica de reação em cadeia da polimerase
de transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real. Nos laboratórios que ainda não realizam as técnicas mo-
leculares, as amostras devem ser processadas pelo método da imunofluorescência indireta (IFI). Na técni-
ca de IFI, utiliza-se um painel de soros que detecta, além das influenzas A e B, outros vírus respiratórios de
interesse (vírus sincicial respiratório, parainfluenza 1, 2 e 3 e adenovírus). De forma complementar e para
controle de qualidade, são utilizadas as técnicas de biologia molecular e isolamento viral.
Os exames iniciais são realizados nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) e os comple-
mentares, como a caracterização antigênica e genética dos vírus isolados, além da análise de resistências
aos antivirais, nos laboratórios de referência qualificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A
caracterização complementar para influenza, das amostras enviadas pelos laboratórios de referência, é
realizada no Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o qual é a referência para as Américas
como centro colaborador da OMS.
Orientações sobre coleta, transporte, acondicionamento e envio das amostras estão descritas no
Anexo A.
Diagnóstico diferencial
As características clínicas não são específicas e podem ser similares àquelas causadas por outros vírus
respiratórios, que também ocorrem sob a forma de surtos e, eventualmente, circulam ao mesmo tempo,
tais como rinovírus, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus, coronavírus, entre outros.
Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
14
Apesar de os sintomas sistêmicos serem mais intensos na influenza que nas demais infecções virais,
elas cursam com quadro clínico semelhante, daí a denominação de síndrome gripal, o que torna difícil o
diagnóstico diferencial apenas pelo exame clínico.
Desse modo, orienta-se seguir o algoritmo de diagnóstico laboratorial de vírus respiratórios (Figura 1).
Figura 1 – Algoritmo de diagnóstico laboratorial para influenza e outros vírus respiratórios
Protocolo de reação em cadeia da polimerase de
transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real para
vírus influenza
Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) - Recepção e preparação de
3 alíquotas da amostra original: 1 uso e 2 estoques para envio ao
laboratório de referência
De acordo com os critérios
Laboratório de referência
Recepção da amostra - Aspirado de nasofaringe ou swab oro/nasofaringe
Protocolo de RT-PCR em tempo
real para outros vírus respiratórios
Repetir o protocolo de
RT-PCR em tempo real
Inconclusivo
(+)
Influenza
(-)
influenza
(-)
Influenza
(+)
Influenza
Inconclusivo
Protocolo de RT-PCR
em tempo real
Caracterização
antigênica
Caracterização
genética
Resistência aos
antivirais
Envio para o Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
(+)
Outros vírus
(-)
Outros vírus
Imunofluorescência
indireta (IFI)
De acordo com os critérios
Oportunidade para o resultado laboratorial
Os resultados de tipificação do vírus influenza devem ser disponibilizados em tempo oportuno, com
o objetivo de monitorar o vírus e o aumento da circulação.
O prazo para envio oportuno do resultado de diagnóstico laboratorial da influenza é de 7 dias,
contabilizados entre o recebimento da amostra no Lacen e a liberação do resultado.
15
As amostras biológicas coletadas nas unidades de saúde devem ser encaminhadas aos Lacen o mais
breve possível pela equipe de vigilância epidemiológica local.
Para as análises complementares do vírus influenza, são pontuados alguns critérios de envio de
amostras do Lacen para seu laboratório de referência regional, conforme o período sazonal e também a
região geográfica. O detalhamento destas e outras informações laboratoriais estão descritas no Guia para
Rede Laboratorial de Vigilância de Influenza no Brasil.
Tratamento
Os antivirais fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) e zanamivir (Relenza®) são medicamentos de escolha
para o tratamento de influenza (Quadro 1).
Quadro 1 – Posologia e administração dos medicamentos utilizados para o tratamento de influenza
Droga Faixa etária Posologia
Oseltamivir
Adulto 75mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias
Criança maior de 1 ano de idade
30mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias
>15kg a 23kg 45mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias
>23kg a 40kg 60mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias
>40kg 75mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias
Criança menor de 1 ano de idade
0 a 8 meses 3mg/kg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias
9 a 11meses 3,5mg/kg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias
Zanamivir
Adulto 10mg: duas inalações de 5mg, 12 em 12 horas por 5 dias
10mg: duas inalações de 5mg, 12 em 12 horas por 5 dias
Fonte: GSK/Roche e CDC.
Para o tratamento no período neonatal (tratamento durante 5 dias), recomenda-se:
A indicação de zanamivir somente está autorizada em casos de intolerância gastrointestinal grave,
alergia e resistência ao oseltamivir. O zanamivir é contraindicado em menores de 5 anos para tratamento
ou quimioprofilaxia e para todo paciente com doença respiratória crônica pelo risco de broncoespasmo
severo. O zanamivir não pode ser administrado para paciente em ventilação mecânica porque essa medi-
cação pode obstruir os circuitos do ventilador.
O tratamento com o antiviral, de maneira precoce, pode reduzir a duração dos sintomas, principal-
mente em pacientes com imunossupressão.
O Ministério da Saúde (MS) disponibiliza estes medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS);
para isso, é recomendado o uso do receituário simples para a prescrição do medicamento.
Recomenda-se seguir o Protocolo para a classificação de atendimento e manejo clínico do paciente
suspeito de infecção por influenza.
Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
16
Devem ser tratados imediatamente com fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) os pacientes com:
de gravidade:
- saturação de SpO2
<95% em ar ambiente;
- sinais de desconforto respiratório ou aumento da frequência respiratória avaliada de acordo
com idade;
- piora nas condições clínicas de doença de base;
- hipotensão em relação à pressão arterial habitual do paciente.
- grávidas em qualquer idade gestacional, puérperas até duas semanas após o parto (incluindo as
que tiveram aborto ou perda fetal);
- adultos ≥60 anos; crianças <5 anos (sendo que o maior risco de hospitalização é em menores de
2 anos, especialmente nos menores de 6 meses, que apresentam maior taxa de mortalidade);
- população indígena aldeada; indivíduos menores de 19 anos de idade em uso prolongado de
ácido acetilsalicílico (risco de síndrome de Reye);
- indivíduos que apresentem: pneumopatias (incluindo asma); pacientes com tuberculose
de todas as formas (há evidências de maior complicação e possibilidade de reativação);
cardiovasculopatias (excluindo hipertensão arterial sistêmica); nefropatias; hepatopatias;
doenças hematológicas (incluindo anemia falciforme); distúrbios metabólicos (incluindo
diabetes mellitus); transtornos neurológicos e do desenvolvimento que podem comprome-
ter a função respiratória ou aumentar o risco de aspiração (disfunção cognitiva, lesão me-
2
em adultos).
Indivíduo de qualquer idade com quadro de insuficiência respiratória aguda durante o perí-
odo sazonal.
Informações adicionais para tratamento
Quando ocorrer suspeita de eventos adversos ao antiviral, a notificação deve ser feita à Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por meio do Sistema de Notificações em Vigilância Sani-
tária (Notivisa).
Os pacientes que desenvolvem efeitos colaterais gastrointestinais, tais como diarreia, náusea, vômito,
ou outros graves, podem ter a absorção oral do fosfato de oseltamivir reduzida, mas, nesses casos, não há
indicação para aumento da dose ou do tempo de utilização. Entretanto, relatos de séries de casos sugerem
possível benefício em casos graves ou em pessoas com imunossupressão, com dose dobrada e prolonga-
mento do tratamento acima de 5 dias.
Para pacientes que vomitam até uma hora após a ingestão do medicamento, deve ser administrada
uma dose adicional.
A dose deve ser ajustada no caso de insuficiência renal, com base no clearence de creatinina. As re-
comendações para o ajuste estão apresentadas no Quadro 2.
Orientar o afastamento temporário das atividades de rotina (trabalho, escola), de acordo com cada
caso, avaliando o período de transmissibilidade da doença.
17
Quadro 2 – Recomendações para ajuste de doses de oseltamivir na insuficiência renal
Comprometimento renal/ Clearance de creatinina Tratamento (5 dias) Profilaxia (10 dias)
Leve
Clearance>60-90mL/min
75mg, 12 em 12h 75mg, 1x/dia
Moderado
Clearance>30-60mL/min
30mg, 12 em 12h 30mg, 1x/dia
Severo
Clearance>10–30mL/min
30mg, 1x/dia 30mg em dias alternados
Pacientes em hemodiálisea
Clearance
30mg após cada sessão de
hemodiáliseb
30mg após cada sessão alternada de
hemodiálise
Pacientes em Diálise Peritoneal Contínua
Ambulatorial (DPCA)c
Clearance
Dose única de 30mg
administrada imediatamente
após troca da diálise.
30mg 1 vez por semana
imediatamente após troca da diálised
a
Em hemodiálise, a dose deve ser 30mg após cada sessão de hemodiálise. Hemodiálise: 1 hora após a sessão em dias alternados no total de 5 dias con-
secutivos (pacientes com diálise em regime de 3 vezes por semana) ou seja , total de 3 doses de 30mg de oseltamivir equivaleria ao tratamento total
habitualmente recomendado de 5 dias para pacientes não portadores de insuficiência renal crônica.
b
Apenas 3 doses após cada sessão de hemodiálise, considerando-se que num período de 5 dias, serão realizadas 3 sessões.
c
Em diálise peritoneal, a dose deve ser de 30mg uma vez por semana. Diálise peritoneal: recomendada apenas 1 dose 1 vez por semana, a qual equivale
ao tratamento completo. Para profilaxia, 1 dose 1 vez por semana, durante 2 semanas.
d
2 doses de 30mg cada, considerando-se os 10 dias, onde ocorrerão apenas 2 sessões de diálise.
Tratamento adjunto de antibiótico com antiviral
Recomenda-se que os médicos sigam as indicações dos protocolos/consensos divulgados pelas so-
ciedades de especialidades, como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP), a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC) e a
Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Quimioprofilaxia
Os antivirais apresentam de 70 a 90% de eficácia na prevenção da influenza e constituem ferramenta
adjuvante da vacinação. Entretanto, a quimioprofilaxia indiscriminada não é recomendável, pois pode
promover a resistência viral.
A quimioprofilaxia com antiviral geralmente não é recomendada se o período após a última exposi-
ção a uma pessoa com infecção pelo vírus for maior que 48 horas (considera-se exposta a pessoa que teve
contato com caso suspeito ou confirmado para influenza).
Para ampliar a efetividade da quimioprofilaxia, o antiviral deve ser administrado durante a potencial
exposição à pessoa com influenza e continuar por mais 7 dias após a última exposição conhecida.
Os esquemas terapêuticos para quimioprofilaxia da influenza em adultos e crianças são apresentados
no Quadro 3.
Indicações da quimioprofilaxia para influenza
-
nas, após exposição a caso suspeito ou confirmado de influenza.
a
dose de vacina
com intervalo de 1 mês para serem consideradas vacinadas. E aquelas com condições ou fatores
de risco, e que foram expostas a caso suspeito ou confirmadas no intervalo entre a 1a
e a 2a
dose ou
com menos de duas semanas após a 2a
dose.
Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
18
imunossupressores e pessoas com aids com imunodepressão avançada) ou outros fatores que pos-
sam interferir na resposta à vacinação contra a influenza, após contato com pessoa infectada.
-
pulado amostras clínicas de origem respiratória que contenham o vírus influenza sem uso adequa-
do de equipamento de proteção individual (EPI).
-
dos na realização de procedimentos invasivos geradores de aerossóis ou na manipulação de secre-
ções de caso suspeito ou confirmado de influenza, sem o uso adequado de EPI.
na instituição.
trabalhador, tais como: asilos, orfanatos, presídios, hospitais psiquiátricos.
suspeitos ou confirmados para influenza com vínculo epidemiológico.
- A quimioprofilaxia para todos os residentes ou internos é recomendada para controlar sur-
tos somente se a instituição ou hospital de longa permanência for destinado para pessoas com
condições e fatores de risco para complicações. Neste caso, indica-se, em surto suspeito ou
confirmado de influenza nesses ambientes, o uso de quimioprofilaxia antiviral para todos os
expostos residentes ou internados, independentemente da situação vacinal. Para trabalhadores
e profissionais de saúde, é recomendada, somente para os não vacinados ou vacinados há menos
de duas semanas, a quimioprofilaxia com antiviral na instituição por no mínimo duas semanas
e até pelo menos 7 dias após a identificação do último caso.
Quadro 3 – Esquemas terapêuticos para quimioprofilaxia de influenza
Droga Faixa etáriaa
Posologia
Oseltamivir
Adulto 75mg/dia, via oral, por 10 dias
Criança maior de 1 ano de idade
30mg/dia, via oral, por 10 dias
>15kg a 23kg 45mg/dia, via oral, por 10 dias
>23kg a 40kg 60mg/dia, via oral, por 10 dias
>40kg 75mg/dia, via oral, por 10 dias
Criança menor de 1 ano de idade
0 a 8 meses 3mg/kg, via oral, por 10 dias
9 a 11 meses 3,5mg/dia, via oral, por 10 dias
Zanamivir
Adulto 10mg: duas inalações de 5mg/dia, por 10 dias
Criança a partir de 5 anos 10mg: duas inalações de 5mg/dia, por 10 dias
Fonte: GSK/Roche e CDC.
a
Em crianças com menos de 3 meses de idade não é recomendada a quimioprofilaxia a menos que a situação seja julgada como crítica.
Características epidemiológicas
A influenza é uma doença sazonal, de ocorrência anual; em regiões de clima temperado, as epidemias
ocorrem quase que exclusivamente nos meses de inverno.
No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as regiões, sendo mais marcado naquelas com estações cli-
máticas bem definidas, ocorrendo com maior frequência nos meses mais frios, em locais de clima temperado.
19
No século XX, ocorreram três importantes pandemias de influenza, a gripe espanhola (1918-20), a
gripe asiática (1957-60) e a de Hong Kong (1968-72), que, juntas, resultaram em altas taxas de mortalida-
de, com quase 1 milhão de óbitos.
Uma característica importante das pandemias é a substituição da cepa atual por uma nova cepa
pandêmica. Nesse contexto, a influenza constitui uma das grandes preocupações das autoridades sa-
nitárias mundiais, devido ao seu impacto na morbimortalidade decorrente das variações antigênicas
cíclicas sazonais. Além disso, existe a possibilidade de haver pandemias, pela alta capacidade de mu-
tação antigênica do vírus influenza A, inclusive com troca genética com vírus não humanos, ocasio-
nando rápida disseminação e impacto entre os suscetíveis não imunes, com grande repercussão social
e econômica.
A importância da influenza como questão de saúde pública cresceu após o ano de 2009, quando se
registrou a primeira pandemia do século XXI, devido ao vírus influenza A (H1N1) pdm09, com mais de
190 países notificando milhares de casos e óbitos pela doença. Verifica-se maior gravidade em idosos,
crianças, pessoas com comprometimento imunológico, cardiopatias e pneumopatias, entre outros.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
à pandemia de influenza.
Vigilância sentinela da influenza
Rede sentinela em influenza e sua composição
Unidades sentinelas para registro de informação de casos de SG e SRAG são unidades ou serviços
de saúde já implantados e cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e Sis-
tema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), que atuam na identificação,
registro, investigação e diagnóstico de casos suspeitos e confirmados.
De acordo com a Portaria no
183, de 30 de janeiro de 2014, do Ministério da Saúde, a rede sentinela
em influenza é composta por unidades de saúde definidas pelos gestores e técnicos dos municípios, esta-
dos e Distrito Federal, sendo habilitadas por processo de pactuação no respectivo Colegiado de Gestão,
segundo o fluxo estabelecido pelas Secretarias Municipais de Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde.
Os sítios sentinelas para a vigilância da influenza estão distribuídos em unidades de saúde de todas
as Unidades Federadas (UFs) e têm como objetivo principal identificar os vírus da influenza circulantes
no Brasil, para:
para a OMS;
Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
20
visando à orientação terapêutica;
graves como de casos leves;
O registro de casos de SG e SRAG deverá ser feito pelas unidades sentinelas e inserido no SIVEP-
-Gripe, o qual é o instrumento oficial de registro das informações. Tal registro deve ser realizado de acor-
do com o fluxo estabelecido e organizado em cada UF.
Os casos identificados em unidades de vigilância sentinela devem ser notificados pelo profissional
de saúde, no SIVEP-Gripe, no qual estão disponíveis as fichas individuais e relacionadas ao agregado de
casos. O acesso ao sistema é restrito a técnicos.
Para a informação do agregado de SG da unidade sentinela, deve-se selecionar o número de
atendimentos por SG na respectiva semana epidemiológica por faixa etária e sexo, utilizando, como
critérios de inclusão, os atendimentos por: gripe, SG, influenza, resfriado, faringite, laringite, amigdalite,
traqueíte, infecção das vias aéreas superiores (IVAS), dor de garganta, rinorreia e laringotraqueíte.
Também poderão ser utilizados os seguintes CID 10: J00 Nasofaringite aguda (resfriado comum); J02.9
Faringite aguda não especificada; J03.9 Amigdalite aguda não especificada; J04.0 Laringite aguda; J04.1
Traqueíte aguda; J04.2 Laringotraqueíte aguda; J06 (todos) Infecção aguda das vias aéreas superiores e não
especificadas; J10 (todos) Influenza devido a vírus influenza identificado; e J11 (todos) Influenza devido a
vírus influenza não identificado. E para a informação dos agregados de atendimentos de SRAG, selecionar
as internações classificadas como pneumonia e influenza de acordo com os códigos CID 10: J09 a J18 da
unidade sentinela, também por semana epidemiológica.
Metas estabelecidas para as unidades sentinelas de influenza
SG
de SNF; alimentar o Sistema SIVEP-Gripe semanalmente e informar proporção de atendimentos
por SG, em relação ao total de atendimentos no serviço, semanalmente.
SRAG
amostra, envio ao Lacen e digitação no SIVEP-Gripe, semanalmente. Coletar, do total dos casos
registrados, 80% de amostra. Realizar em 90% das semanas epidemiológicas registro do número de
internações que ocorreram na instituição por CID 10: J09 a J18.
As metas estabelecidas para as unidades sentinelas de influenza são monitoradas conforme a Portaria no
183, de 30 de janeiro de 2014, do Ministério da Saúde. O não cumprimento implica na necessidade de elabora-
ção de justificativa, que será avaliada e auxiliará na tomada de decisão para a suspensão do repasse financeiro.
Vigilância universal de SRAG
AvigilânciauniversaldeSRAGfoiimplantadanoBrasilem2009,emdecorrênciadapandemiadeinfluenza
e, a partir deste fato, o Ministério da Saúde incluiu esta notificação na rotina dos serviços de vigilância em saúde.
Definição de caso
Vigilância sentinela
SG
início dos sintomas nos últimos 7 dias.
21
SRAG
apresente dispneia e que foi hospitalizado em UTI.
Vigilância universal de SRAG
saturação de O2
<95% ou desconforto respiratório. Deve ser registrado o óbito por SRAG indepen-
dentemente de internação.
que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta e pelo menos um dos seguintes sintomas:
cefaleia, mialgia ou artralgia;
que referida, e sintomas respiratórios.
SRAG confirmado para influenza ou outro vírus respiratório
laboratorial e que tenha sido contato próximo de um caso laboratorialmente confirmado ou per-
tença à mesma cadeia de transmissão para influenza.
Vigilância de surto de SG
-
tos, observando-se as datas de início dos sintomas.
parainfluenzavinculadosepidemiologicamente,emumadeterminadaunidade(enfermaria,UTI),obser-
vando-se as datas de início dos sintomas, e que tenham ocorrido no mínimo 72 horas após a admissão.
Critério de confirmação de agente etiológico em um surto de SG
Resultado laboratorial positivo em, pelo menos, uma das 3 amostras coletadas. Nessa situação, todos
os demais casos suspeitos relacionados ao surto, ou seja, integrantes da mesma cadeia de transmissão,
deverão ser confirmados por vínculo (critério clínico-epidemiológico).
Critério de descarte de agente etiológico em um surto de SG
Resultado laboratorial negativo nas amostras coletadas, conservadas e transportadas de modo ade-
quado ao laboratório. Nessa situação, todos os demais casos de SG relacionados ao surto (mesma cadeia
de transmissão) deverão ser descartados por vínculo (critério clínico-epidemiológico).
Notificação
O que deve ser notificado?
-
do específico.
de Agravos de Notificação (Sinan NET), assinalando, no campo Código do Agravo/Doença da
Ficha de Investigação de Surto, o CID J06. Nos casos de surtos, a vigilância epidemiológica local
deverá ser prontamente notificada/informada.
Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
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Os casos de surto de SG que evoluírem para forma grave, de acordo com a definição de caso de
SRAG, deverão ser notificados individualmente em sistema informatizado específico.
O que não deve ser notificado?
Casos isolados de SG, com ou sem fator de risco para complicações pela doença, inclusive aqueles
para os quais foi administrado o antiviral.
Quando casos isolados de SG forem atendidos em unidades sentinelas e triados para coleta de amos-
tras, devem ser registrados no SIVEP-Gripe.
Investigação
Caracterização clínico-epidemiológica inicial
Para caracterizar e descrever o evento, a autoridade de saúde local deverá registrar:
-
tre outros);
pessoas com fatores de risco para o desenvolvimento de complicações da doença. Atentar para:
- verificação da notificação do surto corresponde à definição padronizada;
- verificação da história vacinal (contra influenza) dos casos;
- descrição sobre se houve indicação e realização de quimioprofilaxia;
- destaque de outras informações relevantes, detectadas durante a investigação epidemiológica,
que não estão contempladas na ficha de investigação de influenza.
Para efeito operacional, diante da ocorrência de surtos de síndrome gripal serão considerados na
cadeia de transmissão apenas os casos identificados no momento da investigação, não sendo necessária
a inclusão dos demais casos identificados posteriormente, mesmo que tenham vínculo epidemiológico.
Medidas de prevenção e controle
Imunização
Vacina influenza trivalente (fragmentada, inativada)
É realizada anualmente para prevenção da doença.
Pode ser administrada antes da exposição ao vírus e é capaz de promover imunidade efetiva e segura
durante o período de circulação sazonal do vírus.
A composição e a concentração de antígenos hemaglutinina (HA) são atualizadas a cada ano, em
função dos dados epidemiológicos que apontam o tipo e cepa do vírus influenza que está circulando de
forma predominante nos hemisférios Norte e Sul.
A estratégia de vacinação no país é direcionada para grupos prioritários com predisposição para
complicações da doença e a vacina é administrada anualmente. Recomenda-se, para crianças de 6
meses a 8 anos, 11 meses e 29 dias, que estarão recebendo a vacina pela primeira vez, administrar
duas doses, conforme descrito no informe técnico anual da campanha. Nos anos subsequentes, ape-
nas uma dose.
23
Indicação
ausência compromete o funcionamento desses serviços.
A vacinação de pessoas com comorbidades ou condições clínicas especiais será realizada em todos
os postos de vacinação e nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Nestes casos,
mantém-se a necessidade de prescrição médica, que deverá ser apresentada no ato da vacinação. A indi-
cação da vacina influenza sazonal está destacada no Quadro 4.
Quadro 4 – Categorias de risco clínico com indicação da vacina influenza sazonal
Categoria de risco clínico Indicações
Doença respiratória crônica
Asma em uso de corticóide inalatório ou sistêmico (moderada ou grave)
DPOC
Bronquiectasia
Fibrose cística
Doenças intersticiais do pulmão
Displasia broncopulmonar
Hipertensão arterial pulmonar
Crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade
Doença cardíaca crônica
Doença cardíaca congênita
Hipertensão arterial sistêmica com comorbidade
Doença cardíaca isquêmica
Insuficiência cardíaca
Doença renal crônica
Doença renal nos estágios 3,4 e 5
Síndrome nefrótica
Paciente em diálise
Doença hepática crônica
Atresia biliar
Hepatites crônicas
Cirrose
Diabetes Diabetes mellitus tipo I e tipo II em uso de medicamentos
Doença neurológica crônica
Condições em que a função respiratória pode estar comprometida pela doença neurológica
Considerar as necessidades clínicas individuais dos pacientes incluindo AVC, indivíduos com
paralisia cerebral, esclerose múltipla e condições similares
Doenças hereditárias e degenerativas do sistema nervoso ou muscular
Deficiência neurológica grave
Imunossupressão
Imunodeficiência congênita ou adquirida
Imunossupressão por doenças ou medicamentos
Obesos Obesidade grau III
Transplantados
Órgãos sólidos
Medula óssea
Portadores de trissomias Síndrome de Down, Síndrome de Klinefelter, Sídrome de Wakany, dentre outras trissomias
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Precauções
receber a vacina da influenza mediante adoção de medidas de segurança. Recomenda-se observar
o indivíduo vacinado por pelo menos 30 minutos em ambiente com condições de atendimento de
reações anafiláticas.
Contraindicação
imediata (reação anafilática).
Via de administração
aplicações em locais diferentes.
Vigilância dos eventos adversos pós-vacinação
A vacina influenza é constituída por vírus inativados, o que significa que contém somente vírus mor-
excelente e bons níveis de tolerância. Processos agudos respiratórios (gripe e resfriado) após a administração
da vacina significam processos coincidentes e não estão relacionados com a vacina. Os eventos adversos
pós-vacinação (EAPV) podem ser relacionados à composição da vacina, aos indivíduos vacinados, à técnica
usada em sua administração, ou a coincidências com outros agravos. De acordo com sua localização, podem
ser locais ou sistêmicos e, de acordo com sua gravidade, podem ser leves, moderados ou graves.
Manifestações locais -
ma e enduração, ocorrem em 10 a 64% dos pacientes, sendo benignas e autolimitadas, geralmente
resolvidas em 48 horas. Em quase todos os casos, há uma recuperação espontânea e não se requer
atenção médica. Os abscessos, normalmente, encontram-se associados com infecção secundária
ou erros na técnica de aplicação.
Manifestações sistêmicas
febre, mal-estar e mialgia, que podem começar entre 6 e 12 horas após a vacinação e persistir por
1 a 2 dias. Essas manifestações são mais frequentes em pessoas que não tiveram contato anterior
Reações de hipersensibilidade -
sensibilidade a qualquer componente da vacina. Reações anafiláticas graves relacionadas a doses
anteriores também contraindicam doses subsequentes.
Manifestações neurológicas
podem anteceder a síndrome de Guillain-Barré (SGB), que se manifesta clinicamente como polir-
radiculoneurite inflamatória com lesão de desmielinização, parestesias e deficit motor ascendente
de intensidade variável. Geralmente, os sintomas aparecem entre 7 e 21 dias, no máximo até 42 dias
(6 semanas) após a exposição ao possível agente desencadeante. Até o momento, há poucas evidên-
cias se a vacina influenza pode aumentar o risco de recorrência da SGB em indivíduos com história
pregressa desta patologia. Recomenda-se precaução na vacinação dos indivíduos com história pre-
gressa da SGB, mesmo sabendo ser bastante rara. Os riscos e benefícios devem ser discutidos com
o médico.
25
Para o encerramento apropriado dos casos notificados de EAPV, o Programa Nacional de Imuniza-
ções (PNI) conta com uma rede de profissionais responsáveis pela notificação, investigação e avaliação
dos casos nas Unidades Federadas e com o Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacinas e
Outros Imunobiológicos (CIFAVI).
Precauções padrão
A implementação das precauções padrão constitui a principal medida de prevenção da transmissão
entre pacientes e profissionais de saúde e deve ser adotada no cuidado de todos os pacientes, independen-
temente dos fatores de risco ou doença de base. Compreendem:
e secreções);
de serviços de saúde da Anvisa.
Precauções para gotículas
Além das precauções padrão, devem ser implantadas as precauções para gotículas, que serão utiliza-
das para pacientes com suspeita ou confirmação de infecção por influenza. Recomenda-se:
com oseltamivir.
Situações com geração de aerossóis
No caso de procedimentos que gerem aerossóis com partículas <5µm, que podem ficar suspensas no
ar por longos períodos (intubação, sucção, nebulização), recomenda-se:
profissional de saúde, durante o procedimento de assistência ao paciente;
Limpeza e desinfecção de superfícies
resíduos de serviços de saúde da Anvisa.
Influenza
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26
Outras medidas que evitam a transmissão da
influenza e outras doenças respiratórias
Cuidados no manejo de crianças em creches
-
rem visivelmente sujos.
principalmente quando a criança estiver com suspeita de síndrome gripal.
quando há notificação de surto de SG na cidade; os cuidadores devem notificar os pais quando a
criança apresentar os sintomas citados acima.
casa, a fim de evitar a transmissão da doença.
observemumaumentodonúmerodecriançasdoentescomSGoucomabsenteísmopelamesmacausa.
Cuidados adicionais com gestantes, puérperas e crianças
para evitar infecções secundárias (pneumonia) e a transmissão da doença
Gestante − buscar o serviço de saúde caso apresente sintomas de síndrome gripal; na internação
para o trabalho de parto, priorizar o isolamento se a gestante estiver com sintomas de influenza.
Puérpera − após o nascimento do bebê, se a mãe estiver doente, deve ser orientada a usar máscara
e higienizar as mãos imediatamente após tocar nariz, boca e sempre que for amamentar ou prestar
cuidados ao recém-nascido.
Criança − em caso de recém-nascidos, priorizar o seu isolamento, junto com a mãe (não
utilizar berçários). Os profissionais e mães devem higienizar as mãos e os utensílios do bebê
(mamadeiras, termômetros).
Para mais informações, consultar o Protocolo de Tratamento de Influenza (2015).
Condutas frente a surtos e eventos
Ainfluenzapodesedisseminarrapidamenteentreaspopulações,especialmenteasquevivememambientes
restritos ou fechados, podendo causar morbidade considerável e interrupção das atividades diárias. Por isso, é
importante que, diante de situações de surto ou epidemia, sejam adotadas medidas específicas para interrupção.
27
Recomendações para instituições fechadas e hospitais de longa permanência
mínimo dois casos confirmados.
Protocolo de
Tratamento de Influenza (2015).
todos os residentes e internados com suspeita ou confirmação de influenza por 7 dias após o início
dos sintomas ou por até 24 horas após o desaparecimento da febre e dos sintomas respiratórios.
sintomas compatíveis).
Recomendações para escolas e creches
-
das, devendo somente receber quimioprofilaxia individual pessoas consideradas com condi-
ções e fator de risco para complicações por influenza, de acordo com protocolo de tratamen-
to de influenza.
temporário por 48 horas na suspeita clínica de influenza, podendo ser liberado o retorno à escola
se clinicamente estável, sem uso de antitérmico e sem febre há 24 horas. Ao retornar à escola, man-
ter os cuidados de etiqueta respiratória durante sintomas.
como medida de prevenção e controle de infecção.
Recomendações para população privada de liberdade
-
tar de população de risco de complicação para influenza. Deve ser feita a quimioprofilaxia somente
para pessoas expostas, consideradas com condição ou fator de risco para complicações.
dois casos confirmados.
Medidas adicionais
-
rem, deverão usar máscara cirúrgica.
atingidas pelo surto.
Influenza
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Influenza por novo subtipo viral
Características gerais
Descrição
A influenza constitui-se em uma das grandes preocupações das autoridades sanitárias mundiais, de-
vido ao seu impacto na morbimortalidade decorrente das variações antigênicas cíclicas sazonais, havendo
maior gravidade entre os idosos, as crianças, os imunodeprimidos, os cardiopatas e os pneumopatas, entre
outros. Além disso, existe a possibilidade de ocorrerem pandemias devido à alta capacidade de mutação
antigênica do vírus influenza A, inclusive com troca genética com vírus não humanos, ocasionando rápi-
da disseminação e impacto entre os suscetíveis não imunes, com grande repercussão social e econômica.
Características epidemiológicas
No século XX, ocorreram três importantes pandemias de influenza (a Gripe Espanhola, entre 1918-
20; a Gripe Asiática, entre 1957-60; e a de Hong Kong, entre 1968-72) que, somadas, resultaram em altas
taxas de mortalidade, com quase 1 milhão de óbitos. Uma característica importante das pandemias é que
cada nova cepa pandêmica substituía a anterior.
A importância da influenza como questão de saúde pública cresceu enormemente após o ano de 2009,
quando se registrou a primeira pandemia do século XXI, com mais de 190 países notificando milhares de casos
e óbitos pela doença, denominada influenza pandêmica A (H1N1) 2009. Este novo subtipo viral foi identifica-
do em abril de 2009, em junho do mesmo ano foi declarada a fase 6 e, em agosto de 2010, a fase pós-pandêmica.
Uma pandemia de influenza pode ocorrer quando um vírus não humano ganha a habilidade de
transmissão inter-humana (humano para humano) de forma eficiente e sustentada, e espalhando-se glo-
balmente. Os vírus da gripe que têm o potencial para causar uma pandemia são referidos como "vírus da
gripe com potencial pandêmico”.
Exemplos de vírus da gripe com potencial pandêmico incluem influenza aviária A (H5N1) e (H7N9),
da "gripe aviária". Estes são os vírus não humanos (circulam entre humanos e aves em algumas partes do
mundo). Infecções humanas com esses vírus têm ocorrido raramente, mas se qualquer um deles passar
por mutação poderá adquirir capacidade de infectar seres humanos e espalhar-se facilmente de pessoa
para pessoa, o que poderia resultar em uma pandemia.
A preparação para uma pandemia inclui a vigilância permanente de vírus da gripe humana e animal,
avaliações de risco dos vírus da gripe com potencial pandêmico, bem como o desenvolvimento e aper-
feiçoamento de ferramentas de preparação que podem ajudar os profissionais de saúde pública, no caso
de uma pandemia por influenza, pois a gripe é imprevisível, tal como são as pandemias futuras. Entre as
ferramentas e atividades da vigilância, a elaboração de um plano de preparação para uma possível pande-
mia é fundamental, tanto pelos gestores do nível nacional como pelos gestores das Unidades Federadas.
Notificação
Todo caso suspeito de influenza por novo subtipo de influenza deve ser notificado imediatamente à
Secretaria de Saúde do Município, Estado, Distrito Federal ou diretamente ao Ministério da Saúde por um
dos seguintes meios:
E-mail: notifica@saude.gov.br
Site: www.saude.gov.br/svs
29
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Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
32
Anexo A
Orientações para coleta, armazenamento, transporte e envio de amostras
para diagnóstico laboratorial de influenza
Coleta de amostras
Indicação
Diante de um caso de síndrome gripal ou síndrome respiratória aguda grave (apresentando ou não
fator de risco para complicações), poderão ser coletadas amostras clínicas de secreção de nasofaringe e/ou
orofaringe (conforme a técnica de coleta) para detecção de vírus respiratório.
-
to da definição de caso, oportunidade de coleta (até o 7º dia do início dos sintomas) e a meta de
coleta de 5 casos de SG por semana em cada unidade sentinela de SG.
SRAG hospitalizados, incluindo os casos em UTI em unidades de saúde sentinelas da influenza.
até o 7° dia de início dos sintomas. Sugere-se que a coleta seja feita em casos situados em distintos
pontos da mesma cadeia de transmissão. Em situações de surto, as coletas de amostras clínicas
devem ser realizadas na unidade de saúde mais próxima ou dentro do próprio ambiente, se houver
condições de minimizar a transmissão do agente infeccioso durante o procedimento.
Técnica para a coleta
Na coleta de amostras de trato respiratório para o diagnóstico laboratorial da influenza, deve-se
maximizar a colheita de células epiteliais infectadas pelo vírus. Aspirados nasofaríngeos (ANF) têm um
maior teor celular e são superiores aos swabs nasofaríngeos e orofaríngeos (SNF) no que concerne ao
isolamento do vírus influenza. Os swabs e as lavagens de garganta são de uso limitado no diagnóstico de
influenza, uma vez que a maior parte das células capturadas por meio desta técnica é do epitélio escamoso.
Os ANF, SNF e as lavagens são aceitos para a cultura, imunofluorescência, e detecção de antígeno viral.
a técnica de swab combinado de nasofaringe e orofaringe (Figura 1), exclusivamente com swab de Rayon.
swab de algodão, pois o mesmo interfere nas metodologias molecu-
lares utilizadas.
-
ção (4 a 8°C) e encaminhadas aos Laboratorios Centrais de Saúde Pública (Lacen), preferencial-
mente no mesmo dia da coleta.
Figura 1 Técnicas para a coleta de aspirado nasofaríngeo e swab combinado
Aspirado nasofaríngeo
Swab combinado
Swab nasal Swab oral
33
Acondicionamento, transporte e envio de amostras para diagnóstico
Todas as unidades coletoras (unidades de saúde) deverão encaminhar as amostras, devidamente em-
baladas e armazenadas, aos Lacen, acompanhadas da ficha epidemiológica devidamente preenchida.
As amostras deverão ser acondicionadas em tripla embalagem, de maneira a que se mantenha a tem-
peratura adequada (4 a 8°C), até a chegada ao Lacen.
O Lacen deverá acondicionar a amostra em caixas específicas (UNB3373) para transporte de subs-
tâncias infecciosas, preferencialmente em gelo seco. Na impossibilidade de obter gelo seco, a amostra
poderá ser congelada a -70°C e encaminhada em gelo reciclável.
Atualmente, a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública da Secretaria de Vigilância em
Saúde do Ministério da Saúde (CGLAB/SVS/MS) disponibiliza aos Lacen serviço de transporte das amos-
tras biológicas para os respectivos laboratórios de referência, duas vezes por mês, para realizar exames
complementares e de maior complexidade.
O envio e a comunicação com a informação do “número de conhecimento aéreo” devem ser imedia-
tos para o respectivo laboratório de referência. O transporte das amostras deve obedecer as Normas da
Associação Internacional de Transporte Aéreo (International Air Transport Association
Indicação para a coleta de amostras em situação de óbito
Recomenda-se a realização apenas nos locais com capacidade técnica para coletar amostras para um
possível diagnóstico post mortem dos casos de SRAG, sem diagnóstico etiológico prévio e em situações
especiais indicadas pela vigilância epidemiológica.
Os ácidos nucleicos virais podem ser detectados em diversos tecidos, principalmente de brônquios
e pulmões, os quais constituem espécimes de primeira escolha para o diagnóstico laboratorial de vírus
influenza pela técnica de reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real.
Devem ser coletados, no mínimo, oito fragmentos de cada tecido com dimensões aproximadas de 1 a 3cm.
Amostras de outros sítios das vias aéreas também podem ser submetidas a culturas e a ensaios mole-
culares. Desta forma, as amostras coletadas de órgãos diferentes devem ser acondicionadas em recipientes
separados e devidamente identificados.
Os pontos anatômicos para a coleta de amostras são:
-
bral, gânglios basais, ponte, medula e cerebelo) e do músculo esquelético de pacientes com suspeita
de miocardites, encefalites e rabdomiólise, respectivamente;
-
minhados para investigação da etiologia viral.
No entanto, considerando a principal infecção secundária à influenza, foram contempladas neste
item orientações para coleta de amostras para o diagnóstico bacteriano diferencial, bem como para o
diagnóstico histopatológico.
Acondicionamento das amostras
Para diagnóstico viral
localização anatômica devem ser acondicionadas individualmente, em recipientes estéreis, e
Influenza
Guia de Vigilância em Saúde
34
imersas em meio de transporte viral ou solução salina tamponada (PBS pH 7,2), suplementa-
das com antibióticos.
-
gelados e transportados em gelo seco.
Para diagnóstico diferencial bacteriano
-
zação anatômica devem ser acondicionadas individualmente, em recipientes estéreis, e imersas em
solução salina tamponada (PBS pH 7,2), sem antibióticos.
mantidos e transportados sob refrigeração (4°C) ao laboratório para diagnóstico.
Para diagnóstico histopatológico
os protocolos em vigência nos serviços locais de patologia.
processo de parafinização dos fragmentos.
Envio de amostras e documentação necessária
sistema (GAL) ou outro disponível, com o endereço para envio do resultado laboratorial.
35
Doença Meningocócica
CID 10: A39.0 – Meningite Meningocócica; A39.2 – Meningococcemia aguda
Características gerais
Descrição
A doença meningocócica é uma infecção bacteriana aguda. Quando se apresenta na forma de doença
invasiva, caracteriza-se por uma ou mais síndromes clínicas, sendo a meningite meningocócica a mais
frequente delas e a meningococcemia a forma mais grave.
Agente etiológico
A Neisseria meningitidis (meningococo) é um diplococo gram-negativo, aeróbio, imóvel, pertencente
à família Neisseriaceae. A composição antigênica da cápsula polissacarídica permite a classificação do me-
ningococo em 12 diferentes sorogrupos: A, B, C, E, H, I, K, L, W, X, Y e Z. Os sorogrupos A, B, C, Y, W e
X são os principais responsáveis pela ocorrência da doença invasiva e, portanto, de epidemias. Os menin-
gococos são também classificados em sorotipos e sorossubtipos, de acordo com a composição antigênica
das proteínas de membrana externa PorB e PorA, respectivamente.
A N. meningitidis demonstrou ter a capacidade de permutar o material genético que é responsável pela
produção da cápsula e, com isso, alterar o sorogrupo. Como a proteção conferida pelas vacinas é sorogrupo
específica, esse fenômeno pode ter consequências no uso e formulação das vacinas antimeningocócicas.
A caracterização genética de isolados de meningococo, que pode ser efetuada por diferentes métodos
moleculares, é usada para monitorar a epidemiologia da doença meningocócica, permitindo a identifica-
ção de um clone epidêmico, assim como a permuta capsular entre cepas.
Reservatório
O homem, sendo a nasofaringe o local de colonização do microrganismo. A colonização assintomá-
tica da nasofaringe pela N. meningitidis caracteriza o estado de portador que ocorre frequentemente, che-
gando a ser maior que 10% em determinadas faixas etárias nos períodos endêmicos, podendo o indivíduo
albergar o meningococo por período prolongado.
As taxas de incidência de portadores são maiores entre adolescentes e adultos jovens e em camadas
socioeconômicas menos privilegiadas.
Modo de transmissão
Contato direto pessoa a pessoa, por meio de secreções respiratórias de pessoas infectadas, assintomá-
ticas ou doentes. A transmissão por fômites não é importante.
Período de incubação
Em média, de 3 a 4 dias, podendo variar de 2 a 10 dias.
Após a colonização da nasofaringe, a probabilidade de desenvolver doença meningocócica invasiva
dependerá da virulência da cepa, das condições imunitárias do hospedeiro e da capacidade de eliminação
do agente da corrente sanguínea, pela ação de anticorpos séricos com atividade bactericida mediada pela
ativação do complemento. O baço também exerce um importante papel na eliminação da bactéria na
corrente sanguínea.
Doença Meningocócica
Guia de Vigilância em Saúde
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Período de transmissibilidade
Persiste até que o meningococo desapareça da nasofaringe. Em geral, a bactéria é eliminada da naso-
faringe após 24 horas de antibioticoterapia adequada.
Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral, entretanto, o grupo etário de maior risco são as crianças menores de 5 anos,
principalmente as menores de 1 ano.
A doença meningocócica invasiva ocorre primariamente em pessoas suscetíveis recentemente co-
lonizadas por uma cepa patogênica. Inúmeros fatores de risco têm sido associados, tais como: infecções
respiratórias virais recentes (especialmente influenza), aglomeração no domicílio, residir em quartéis,
dormir em acampamento militar ou em alojamentos de estudantes, tabagismo (passivo ou ativo), con-
dições socioeconômicas menos privilegiadas e contato íntimo com portadores. O risco de desenvolver
doença invasiva entre contatos domiciliares de um doente é cerca de 500 a 800 vezes maior que na popu-
lação geral.
Asplênia (anatômica ou funcional), deficiência de properdina, de C3 e de componentes terminais
do complemento (C5 a C9) também estão associadas a um maior risco de desenvolvimento de doença
meningocócica. As pessoas com tais condições clínicas, em função da incapacidade de provocar a morte
intracelular da bactéria, apresentam maior risco de episódios recorrentes de doença meningocócica e,
portanto, são consideradas grupos prioritários para profilaxia com vacinas.
Em portadores, a colonização assintomática da nasofaringe por meningococos tipáveis e não tipáveis
e por outras espécies de Neisseria N. lactamica
processo imunizante e resulta em produção de anticorpos protetores.
Manifestações clínicas
A infecção invasiva pela N. meningitidis pode apresentar um amplo espectro clínico, que varia desde
febre transitória e bacteremia oculta até formas fulminantes, com a morte do paciente em poucas horas
após o início dos sintomas.
A meningite e a meningococcemia são as formas clínicas mais frequentemente observadas, podendo
ocorrer isoladamente ou associadas. A denominação doença meningocócica torna-se apropriada nesse
contexto, sendo adotada internacionalmente.
O quadro de meningite pode se instalar em algumas horas, iniciado com intensa sintomatologia,
ou mais paulatinamente, em alguns dias, acompanhado de outras manifestações (Quadro 1), geralmente
indistinguíveis de outras meningites bacterianas. A meningite meningocócica é a forma mais frequente
de doença meningocócica invasiva e associa-se, em cerca de 60% dos casos, à presença de lesões cutâneas
petequiais bastante características.
Em lactentes com meningite, a pesquisa de sinais meníngeos é extremamente difícil e a rigidez de nuca
nem sempre está presente. Nestas circunstâncias, deve-se realizar o exame cuidadoso da fontanela bregmática:
-
tência e vômitos.
Em lactentes jovens, sobretudo no período neonatal, a suspeita de meningite torna-se notadamente
mais difícil, pois a sintomatologia e os dados de exame físico são os mais diversos possíveis:
que se alternam, respiração irregular e icterícia.
37
Quadro 1 – Sinais e sintomas de meningite bacteriana e meningococcemia
Sinais/sintomas
Meningite bacteriana
(meningite meningocócica
e meningite causada por
outras bactérias)
Doença meningocócica
(meningite meningocócica
com meningococcemia)
Meningococcemia
Sinais e sintomas não específicos comuns
Febrea
Vômitos/náuseas
Letargia
Irritabilidade
Recusa alimentar
Cefaleia
Dor muscular/articular
Dificuldade respiratória
Sinais e sintomas não específicos menos comuns
Calafrios/tremores
Dor abdominal/distensão NS
Dor/coriza no nariz, ouvido e/ou garganta NS
Sinais e sintomas mais específicos
Petéquiasb
Rigidez na nuca NS
Alteração no estado mentalc
Tempo de enchimento capilar >2 segundos NS
Alteração na cor da pele NS
Choque
Hipotensão NS
Dor na perna NS
Extremidades frias NS
Abaulamento da fontanelad NS
Fotofobia
Sinal de Kernig
Sinal de Brudzinski
Inconsciência
Estado clínico precário/tóxico
Paresia
Deficit neurológico focale
Convulsões
Sinais de choque
Tempo de enchimento capilar >2 segundos
Alteração na coloração da pele
Taquicardia e/ou hipotensão
Dificuldade respiratória
Dor na perna
Extremidades frias
Estado clínico precário/tóxico
Estado de alteração mental/diminuição da consciência
Baixo débito urinário
Fonte: Nice (2010).
Legenda:
Sinais e sintomas presentes Sinais e sintomas ausentes NS
Não se sabe se sinal/sintoma está
presente (sem evidências científicas
reportadas)
a
Nem sempre presente, especialmente em recém-nascidos.
b
Deve-se estar ciente de que uma erupção pode ser menos visível em tons de pele mais escuras – verificar solas dos pés e mãos.
c
Inclui delírio, confusão, sonolência e diminuição da consciência.
d
Relevante apenas em crianças menores de 2 anos.
e
Incluindo o envolvimento do nervo craniano e anormalidade da pupila.
Doença Meningocócica
Guia de Vigilância em Saúde
38
Em 15 a 20% dos pacientes com doença meningocócica, identificam-se formas de evolução muito
rápidas, geralmente fulminantes, devidas somente à septicemia meningocócica, sem meningite, e que se
manifestam por sinais clínicos de choque e coagulação intravascular disseminada (CIVD), caracterizando
a síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Trata-se de um quadro de instalação repentina, que se inicia
com febre, cefaleia, mialgia e vômitos, seguidos de palidez, sudorese, hipotonia muscular, taquicardia,
pulso fino e rápido, queda de pressão arterial, oligúria e má perfusão periférica.
Suspeita-se da síndrome Waterhouse-Friderichsen nos quadros de instalação precoce, em doente
com sinais clínicos de choque e extensas lesões purpúricas. A CIVD que se associa determina aumento da
palidez, prostração, hemorragias, taquicardia e taquipneia.
Um rash maculopapular, não petequial, difícil de distinguir de um exantema de origem viral e geralmente
de curta duração, pode estar presente no início do quadro em até 15% das crianças com meningococcemia.
No Quadro 1, são apresentados os principais sinais e sintomas observados nos casos de meningite
bacteriana (meningite meningocócica e meningite causada por outras bactérias) e doença meningocócica
(meningite meningocócica e/ou meningococcemia).
Complicações
As convulsões estão presentes em 20% das crianças com meningite meningocócica. Sua ocorrência,
assim como a presença de sinais neurológicos focais, é menos frequente que nas meningites por pneumo-
coco ou por Haemophilus influenzae sorotipo B.
Nos casos de meningococcemia, o coma pode sobrevir em algumas horas. Associa-se a elevadas
taxas de letalidade, geralmente acima de 40%, sendo a grande maioria dos óbitos nas primeiras 48 horas
do início dos sintomas.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos são:
Cultura -
falorraquidiano (LCR), sangue e raspado de lesões petequeais. É considerada padrão ouro para
diagnóstico da doença meningocócica, por ter alto grau de especificidade. Tem como objetivo o
isolamento da bactéria para identificação da espécie, e posteriormente o sorogrupo, sorotipo e
sorossubtipo do meningococo invasivo.
Exame quimiocitológico do LCR -
sagens de glicose e proteínas do LCR. Traduz a intensidade do processo infeccioso e orienta
a suspeita clínica, mas não deve ser utilizado para conclusão do diagnóstico final, pelo baixo
grau de especificidade.
Bacterioscopia direta -
mente estéreis e de raspagem de petéquias. A coloração do LCR pela técnica de Gram permite,
ainda que com baixo grau de especificidade, caracterizar morfológica e tintorialmente as bactérias
Aglutinação pelo látex
fluidos biológicos. Partículas de látex, sensibilizadas com antissoros específicos, permitem, por
técnica de aglutinação rápida (em lâmina ou placa), detectar o antígeno bacteriano nas amostras.
Pode ocorrer resultado falso-positivo, em indivíduos portadores do fator reumático ou em reações
cruzadas com outros agentes.
39
Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) N. meningitidis presente nas amos-
tras clínicas (LCR, soro e sangue total). Também permite a genogrupagem dos sorogrupos do
meningococo. A PCR em tempo real (qPCR) é uma modificação da técnica tradicional de PCR que
identifica o DNA alvo com maior sensibilidade e especificidade e em menor tempo de reação.
Mais informações sobre os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos laboratoriais,
informações sobre conservação e transporte de amostras, bem como detalhamento sobre os principais
exames realizados para diagnóstico das meningites, encontram-se no Anexo A do texto Outras Meningites.
Diagnóstico diferencial
Dependerá da forma de apresentação da doença.
Nas formas clínicas mais leves, bacteremia sem sepse, deve ser feito com doenças exantemáticas,
principalmente as virais e doenças do trato respiratório superior.
Para meningoccemia, os principais são sepse de outras etiologias, febres hemorrágicas (dengue, febre
amarela, hantavirose), febre maculosa, leptospirose forma íctero-hemorrágica (doença de Weill), malária
(Plasmodium falciparum) e endocardite bacteriana.
Nas meningites, o diagnóstico diferencial principal deve ser feito com outros agentes causadores, principal-
mente o Streptococcus pneumoniae e o H. influenzae, além das formas virais e outras causas de meningoencefalite.
Tratamento
A antibioticoterapia deve ser instituída o mais precocemente possível, de preferência, logo após a
punção lombar e a coleta de sangue para hemocultura. O uso de antibiótico deve ser associado a outros
tipos de tratamento de suporte, como reposição de líquidos e cuidadosa assistência.
O Quadro 2 apresenta a recomendação de antibioticoterapia para casos de doença meningocócica
em crianças e adultos.
Quadro 2 – Recomendação de antibioticoterapia para casos de doença meningocócica
Grupo etário Antibióticos Dose (endovenosa) Intervalo Duração
Crianças
Penicilina ou 200.000-400.000UI/kg/dia 4 em 4 horas
5 a 7 diasAmpicilina ou 200-300mg/kg/dia 6 em 6 horas
Ceftriaxone 100mg/kg/dia 12 em 12 horas
Adultos Ceftriaxone 2g 12 em 12 horas 7 dias
O uso de corticoide nas situações de choque é discutível, pois há controvérsias a respeito da influên-
cia favorável ao prognóstico.
Características epidemiológicas
No Brasil, a doença meningocócica é endêmica, com ocorrência de surtos esporádicos.
O meningococo é a principal causa de meningite bacteriana no país.
Os coeficientes de incidência têm sido reduzidos nos últimos anos, com registro de menos de um
caso para cada 100.000 habitantes, entre os anos de 2014 e 2016.
Acomete indivíduos de todas as faixas etárias, porém aproximadamente 30% dos casos notificados
ocorrem em crianças menores de 5 anos de idade. Os maiores coeficientes de incidência da doença são
observados em lactentes, no primeiro ano de vida.
Doença Meningocócica
Guia de Vigilância em Saúde
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Nos surtos e epidemias, observam-se mudanças nas faixas etárias afetadas, com aumento de casos
entre adolescentes e adultos jovens.
A letalidade da doença no Brasil situa-se em torno de 20% nos últimos anos. Na forma mais grave, a
meningococcemia, a letalidade chega a quase 50%.
Desde a década de 1990, os sorogrupos circulantes mais frequentes no Brasil foram o C e o B. Após
um período de predomínio do sorogrupo B, observa-se, a partir de 2005, um aumento no número e na
proporção de casos atribuídos ao sorogrupo C em diferentes regiões do país.
Em meados de 2010, devido ao aumento de circulação do sorogrupo C e à alta incidência da doença obser-
vada em crianças, a vacina meningocócica C (conjugada) foi introduzida no calendário de vacinação da criança.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
N. meningitidis circulantes.
N. meningitidis identificadas.
Definição de caso
Suspeito
Crianças acima de 1 ano de idade e adultos com febre, cefaleia, vômitos, rigidez da nuca e outros
Nos casos de meningococcemia, atentar para eritema/exantema, além de sinais e sintomas inespecí-
ficos (sugestivos de septicemia), como hipotensão, diarreia, dor abdominal, dor em membros inferiores,
mialgia, rebaixamento do sensório, entre outros.
Em crianças abaixo de 1 ano de idade, os sintomas clássicos acima referidos podem não ser tão evi-
dentes. É importante considerar, para a suspeita diagnóstica, sinais de irritabilidade, como choro persis-
tente, e verificar a existência de abaulamento de fontanela.
Confirmado
meio dos exames laboratoriais específicos: cultura, e/ou PCR, e/ou látex.
epidemiológico com caso confirmado laboratorialmente para N. meningitidis por um dos exames
laboratoriais específicos, mas que não tenha realizado nenhum deles.
com presença de diplococo gram-negativo.
-
gocócica com presença de petéquias (meningococcemia).
Descartado
Caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença.
41
Notificação
Doença de notificação compulsória, sendo os surtos e os aglomerados de casos ou óbitos de notifi-
cação imediata.
Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados às autoridades competentes, por profis-
sionais da área de assistência, vigilância e pelos de laboratórios públicos e privados, por intermédio de contato
telefônico, fax, e-mail ou outras formas de comunicação. A notificação deve ser registrada no Sistema de Infor-
mação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação de Meningite.
Investigação
Deve ser realizada para obtenção de informações quanto à caracterização clínica do caso (incluindo
a análise dos exames laboratoriais) e as possíveis fontes de transmissão da doença.
A Ficha de Investigação de Meningite é o instrumento utilizado para a investigação. Todos os seus
campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo se a informação for negativa. Outras informações
podem ser incluídas, conforme a necessidade.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos referentes à notificação (dados gerais, do caso e de residência).
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
As fontes de coleta de dados são entrevista com o profissional de saúde que atendeu o caso, dados do
prontuário, entrevista de familiares e pacientes, quando possível, e pessoas identificadas na investigação
como contato próximo do caso.
Para confirmar a suspeita diagnóstica
- Verificar se as informações se enquadram na definição de caso.
- Verificar os resultados de exames de sangue/soro e/ou LCR e/ou raspados de lesões petequiais
encaminhados ao laboratório.
- Verificar a evolução clínica do paciente.
Para identificação da área de transmissão
- Coletar informações na residência e nos locais usualmente frequentados pelos indivíduos aco-
metidos (creches, escolas, locais de trabalho, quartéis, igrejas e outros pontos de convívio social
em que pode haver contato próximo e prolongado com outras pessoas), considerando o período
anterior a 15 dias do adoecimento, para identificar possíveis fontes de infecção.
Para determinação da extensão da área de transmissão
Em relação à identificação do risco de propagação da transmissão:
- Identificar todos os contatos próximos e prolongados do caso.
- Investigar a existência de casos secundários e coprimários.
- Verificar histórico vacinal do paciente e contatos.
- Avaliar a cobertura vacinal do município.
Coleta e remessa de material para exames
- A coleta de espécimes clínicos (LCR, sangue, e/ou lesões petequiais) para o diagnóstico
laboratorial deve ser realizada logo após a suspeita clínica de doença meningocócica,
preferencialmente antes do início do tratamento com antibiótico.
Doença Meningocócica
Guia de Vigilância em Saúde
42
- A adoção imediata do tratamento adequado não impede a coleta de material para o diagnóstico
etiológico, mas recomenda-se que a coleta das amostras seja feita o mais próximo possível do
momento do início do tratamento.
- O material coletado em meio estéril deve ser processado inicialmente no laboratório local, para
orientação da conduta médica. Subsequentemente, esse material e/ou a cepa de N. meningitidis
já isolada deverá ser encaminhada para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) para
realização de diagnóstico mais específico.
- O LCR deve ser coletado exclusivamente por médico especializado seguindo as normas técnicas
e fluxos recomendados nos anexo A do texto Outras Meningites.
- Nem sempre é possível aguardar os resultados laboratoriais para instituição das medidas de
controle cabíveis, embora sejam imprescindíveis para confirmação do caso, direcionamento das
medidas de controle e orientação para o encerramento das investigações.
É obrigatória a coleta de material clínico do paciente para realização dos exames laboratoriais para
confirmação do diagnóstico etiológico e identificação do sorogrupo de N. menigitidis circulante.
Análise de dados
Esta é uma etapa fundamental da investigação epidemiológica e corresponde à interpretação dos
dados coletados em seu conjunto. Esta análise deverá ser orientada por algumas perguntas, tais como:
Isso significa que a investigação epidemiológica não se esgota no preenchimento da ficha de in-
vestigação de um caso. A análise rotineira dos dados registrados no banco do Sinan é considerada ati-
vidade fundamental para que se alcance o objetivo final da Vigilância Epidemiológica, que é o controle
das doenças.
Algumas atividades consideradas inerentes à vigilância da doença meningocócica são:
detectar surtos.
-
mortalidade: incidência, mortalidade e letalidade por faixa etária, sazonalidade, sorogrupo circu-
lante, entre outros.
oportunidade de investigação e encerramento dos casos, percentual de casos confirmados por cri-
tério laboratorial, percentual de casos com sorogrupo identificado, cobertura vacinal, entre outros.
Encerramento de caso
Deve ser realizado após a verificação de todas as informações necessárias para a conclusão do caso.
O encerramento de um caso de doença meningocócica pode ser realizado pelos seguintes critérios:
critério laboratorial específico (cultura, PCR ou látex) N. meningi-
tidis na cultura de amostras clínicas, ou com detecção do DNA da bactéria por PCR na amostra
clínica, ou com presença de antígenos bacterianos na amostra clínica detectados por látex.
critério laboratorial inespecífico (bacterioscopia) -
gativos na amostra clínica.
43
critério de vínculo epidemiológico -
tato próximo com caso confirmado por critério laboratorial específico em um período anterior, de
até 15 dias, ao aparecimento dos sintomas.
critério clínico -
gococcemia, sem exames laboratoriais positivos.
necropsia
ou meningococcemia.
Relatório final
Os dados da investigação em situações de surto ou aglomerado de casos ou óbitos deverão ser su-
marizados em um relatório com informações sobre a distribuição dos casos por tempo, lugar e pessoa.
Medidas de prevenção e controle
Objetivos
Quimioprofilaxia
A quimioprofilaxia, embora não assegure efeito protetor absoluto e prolongado, tem sido adotada
como uma medida eficaz na prevenção de casos secundários. Os casos secundários são raros, e geralmente
ocorrem nas primeiras 48 horas a partir do primeiro caso.
O risco de doença entre os contatos próximos é maior durante os primeiros dias após o início da
doença, o que requer que a quimioprofilaxia seja administrada o mais rápido possível.
Está indicada para os contatos próximos de casos suspeitos de doença meningocócica.
Contatos próximos são os moradores do mesmo domicílio, indivíduos que compartilham o mesmo
dormitório (em alojamentos, quartéis, entre outros), comunicantes de creches e escolas, e pessoas
diretamente expostas às secreções do paciente.
A quimioprofilaxia também está indicada para o paciente no momento da alta ou na internação no
mesmo esquema preconizado para os contatos próximos, exceto se o tratamento da doença foi realizado
com ceftriaxona.
Não há recomendação para os profissionais da área de saúde que atenderam o caso de doença menin-
gocócica, exceto para aqueles que realizaram procedimentos invasivos (intubação orotraqueal, passagem
de cateter nasogástrico) sem utilização de equipamento de proteção individual adequado (EPI).
O antibiótico de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada em dose
adequada e simultaneamente a todos os contatos próximos, preferencialmente até 48 horas da exposição
à fonte de infecção (doente), considerando o prazo de transmissibilidade e o período de incubação da
doença. Alternativamente, outros antibióticos podem ser utilizados para a quimioprofilaxia (Quadro 3).
A recomendação para uso preferencial e/ou restrito da rifampicina, além do tratamento da tuberculose no
país, visa evitar a seleção de cepas resistentes de meningococos.
Em relação às gestantes, esse medicamento tem sido utilizado para quimioprofilaxia, pois não há
evidências de que a rifampicina possa apresentar efeitos teratogênicos. A relação risco/benefício do uso
de antibióticos pela gestante deverá ser avaliada pelo médico assistente.
Doença Meningocócica
Guia de Vigilância em Saúde
44
Quadro 3 – Esquema quimioprofilático indicado para doença meningocócica
Droga Idade Dose Intervalo Duração
Rifampicina
<1 mês 5mg/kg/dose 12 em 12 horas
2 dias
10mg/kg/dose (máximo de 600mg) 12 em 12 horas
Ceftriaxona
<12 anos 125mg; intramuscular
Dose única
250mg; intramuscular
Ciprofloxacino >18 anos 500mg; uso oral Dose única
Todos os contatos próximos de um caso de doença meningocócica, independentemente do estado
vacinal, deverão receber a quimioprofilaxia. É importante observar o cartão de vacina. As crianças
e adolescentes que não são vacinados devem receber a quimioprofilaxia e atualizar o cartão vacinal
conforme preconizado pelo PNI/MS.
Imunização
A vacinação é considerada a forma mais eficaz na prevenção da doença, e as vacinas contra o menin-
gococo são sorogrupo ou sorossubtipo específicas.
São utilizadas na rotina para imunização e também para controle de surtos.
Vacina conjugada contra o meningococo do sorogrupo C
Está disponível no Calendário Básico de Vacinação da Criança do Programa Nacional de Imunização
(PNI/MS). A imunização primária consiste de duas doses, aos 3 e 5 meses de vida, e o reforço, preferen-
cialmente, aos 12 meses de idade, podendo ser administrado até os 4 anos de idade.
A vacina meningocócica C também está indicada para adolescentes de 12 a 13 anos.
Também é ofertada nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), sendo reco-
mendada nas seguintes situações:
-
tina fixadora de manose.
enzimático específico produz um bloqueio metabólico que pode originar uma doença, por
exemplo: doença de Tay-sachs, doença de Gaucher e doença de Fabry).
condições de imunodepressão contempladas no referido manual.
É contraindicada para pessoas com hipersensibilidade a qualquer componente deste imunobiológi-
co. Os eventos adversos são eritema, enduração e dor/sensibilidade no local da injeção, febre baixa e irri-
tabilidade, sonolência, alteração no sono, perda de apetite, diarreia, vômitos, cefaleia, vesículas, dermatite
(inflamação da pele), urticária e prurido. Há relatos raros de petéquias e púrpuras (manchas purpúreas
na pele e mucosas).
45
Manejo e controle de surto
Os surtos de doença meningocócica estão entre as situações mais desafiadoras para as autoridades
de saúde pública, devido ao potencial de grande morbidade e mortalidade, com muita repercussão social
e nos meios de comunicação.
As respostas sanitárias variam em cada surto e dependerão da identificação, ou não, de vínculo epi-
demiológico entre os casos, das faixas etárias acometidas, da distribuição geográfica e de outros riscos.
O objetivo do manejo dos surtos de doença meningocócica é interromper a cadeia de transmissão e
evitar a ocorrência de novos casos.
No Quadro 4, é apresentado um glossário com o significado de termos importantes para investigação
de surto de doença meningocócica.
Quadro 4 – Glossário de termos importantes na investigação de surtos de doença meningocócica
Termos Definição
Caso primário Paciente com doença meningocócica sem história de contato com caso suspeito ou confirmado
Caso coprimário Contato próximo que adoece nas primeiras 24 horas do início da manifestação clínica do caso primário
Caso secundário Contato próximo que adoece após 24 horas do início da manifestação clínica do caso primário
Portador Indivíduo colonizado, na nasofaringe, pela N. meningitidis, sem manifestação clínica da doença
Surto
Ocorrência de casos além do que é esperado para população ou determinado grupo de indivíduos,
em um período específico do tempo, que atendem aos critérios de surtos comunitários ou institucio-
nais estabelecidos
Surto comunitário
Ocorrência de 3 ou mais casos primários, do mesmo sorogrupo, confirmados por critério laboratorial
específico (Cultura e/ou PCR) em período inferior ou igual a 3 meses, em residentes da mesma área
casos/100.000 habitantes
Surto institucional
Ocorrência de 3 ou mais casos, do mesmo sorogrupo, confirmados por critério laboratorial específico
(Cultura e/ou PCR) em período inferior ou igual a 3 meses, entre pessoas que compartilham o mesmo
ambiente (trabalho, escola, ou outra instituição) mas que não tenham contato estabelecido uns com os
Taxa de ataque
primária
(casos/100.000 hab.)
x 100.000
Os casos secundários devem ser excluídos, e cada grupo de casos coprimários deve ser considerado como 1 caso
Recomendações para o bloqueio vacinal
A vacinação de bloqueio está indicada nas situações em que haja a caracterização de um surto de
doença meningocócica (Quadro 4), para o qual seja conhecido o sorogrupo responsável por meio de con-
firmação laboratorial específica (cultura e/ou PCR) e haja vacina eficaz disponível.
A vacinação somente será utilizada a partir de decisão conjunta das três esferas de gestão.
A estratégia de vacinação (campanha indiscriminada ou discriminada) será definida considerando a
análise epidemiológica, as características da população e a área geográfica de ocorrência dos casos.
Todos os procedimentos relacionados com o desencadeamento de campanha de vacinação deverão
estar de acordo com as normas técnicas preconizadas pelo Programa Nacional de Imunização do Minis-
tério da Saúde (PNI/MS).
Após a vacinação, são necessários de 7 a 10 dias para a obtenção de títulos protetores de anticorpos.
Casos ocorridos em pessoas vacinadas, no período de até 10 dias após a vacinação, não devem ser
considerados falhas da vacinação. Esses casos podem ocorrer, visto que o indivíduo pode ainda não ter
produzido imunidade ou estar em período de incubação da doença, que varia de 2 a 10 dias.
Doença Meningocócica
Guia de Vigilância em Saúde
46
Bibliografia
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(Ed.). Red Book: 2009 Report of the Committee on Infectious Diseases. 28th
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2006.
Epidemiológica. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2008.
epidemiológica. Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota informativa nº 384:
Informa as mudanças no Calendário Nacional de Vacinação para o ano de 2017. Brasília, 2016.
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47
Outras Meningites
Meningites bacterianas
CID 10: G00.0 – Meningite por Haemophilus influenzae
CID 10: G00.1 – Meningite pneumocócica
CID 10: G00.2 – G00.9 – Meningite por outras bactérias
Características gerais
Descrição
Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, cau-
sado por bactérias.
Agentes etiológicos
Pode ser causada por uma grande variedade de bactérias. A prevalência de cada bactéria está asso-
ciada a um dos seguintes fatores:
Os principais agentes bacterianos causadores de meningite estão listados a seguir.
Neisseria meningitidis (meningococo)
No Brasil é a principal causa de meningite bacteriana (tratada em capítulo sobre Doença Meningocócica).
Streptococcus pneumoniae (pneumococo)
Bactéria gram-positiva com característica morfológica esférica (cocos), disposta aos pares. É alfa-
-hemolítico e não agrupável. Possui mais de 90 sorotipos capsulares, imunologicamente distintos, que
causam doença pneumocócica invasiva (meningite, pneumonia bacterêmica, sepse e artrite) e não invasi-
va (sinusite, otite média aguda, conjuntivite, bronquite e pneumonia).
Haemophilus influenzae
Bactéria gram-negativa que pode ser classificada em seis sorotipos (A, B, C, D, E, F), a partir da dife-
rença antigênica da cápsula polissacarídica. O H. influenzae, desprovido de cápsula, se encontra nas vias
respiratórias de forma saprófita, podendo causar infecções assintomáticas ou doenças não invasivas, tais
como bronquite, sinusites e otites, tanto em crianças quanto em adultos.
Outras bactérias
Destacam-se: Mycobacterium tuberculosis; Streptococcus
Streptococcus agalactie; Listeria monocytogenes; Staphylococcus aureus; Pseudomonas aeruginosa; Klebsiella
pneumoniae; Enterobacter sp.; Salmonella sp.; Proteus sp.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
48
Reservatório
O principal é o homem.
Modo de transmissão
Em geral é de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe.
Período de incubação
Em geral, de 2 a 10 dias, em média 3 a 4 dias. Pode haver alguma variação em função do agente
etiológico responsável.
Período de transmissibilidade
É variável, dependendo do agente infeccioso e da instituição do diagnóstico e tratamento.
Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral. As crianças menores de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano, e pes-
soas maiores de 60 anos são mais suscetíveis à doença.
Em relação à meningite pneumocócica, idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos ou de
-
cia renal crônica, diabetes mellitus
No caso do pneumococo, H. influenzae sorotipo B e M. tuberculosis a imunidade é conferida por
meio de vacinação específica.
Manifestações clínicas
O quadro clínico, em geral, é grave e caracteriza-se por febre, cefaleia, náusea, vômito, rigidez de
nuca, prostração e confusão mental, sinais de irritação meníngea, acompanhadas de alterações do líquido
cefalorraquidiano (LCR).
No curso da doença podem surgir delírio e coma. Dependendo do grau de comprometimento encefálico
(meningoencefalite), o paciente poderá apresentar também convulsões, paralisias, tremores, transtornos pupi-
lares, hipoacusia, ptose palpebral e nistagmo. Casos fulminantes com sinais de choque também podem ocorrer.
A irritação meníngea associa-se aos seguintes sinais:
Sinal de Kernig
grau de flexão, relativamente ao tronco.
- Há duas formas de se pesquisar esse sinal:
sobre a coxa e desta sobre a bacia;
bacia; após pequena angulação, há flexão da perna sobre a coxa. Essa variante chama-se, tam-
bém, manobra de Laségue.
Sinal de Brudzinski
fletir a cabeça do paciente.
Crianças de até 9 meses poderão não apresentar os sinais clássicos de irritação meníngea. Neste grupo,
outros sinais e sintomas permitem a suspeita diagnóstica, tais como: febre, irritabilidade ou agitação, choro
persistente, grito meníngeo (criança grita ao ser manipulada, principalmente quando se flete as pernas para
trocar a fralda) e recusa alimentar, acompanhada ou não de vômitos, convulsões e abaulamento da fontanela.
49
As informações sobre as manifestações clínicas da Doença Meningocócica estão tratadas em texto
específico sobre o tema.
Complicações
As principais complicações são perda da audição, distúrbio de linguagem, retardo mental, anorma-
lidade motora e distúrbios visuais.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite bacteriana são:
O aspecto do líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos
ocorre o aumento de elementos figurados (células), causando turvação, cuja intensidade varia de acordo
com a quantidade e o tipo dessas células (Quadro 1).
No Anexo A estão apresentados os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos laborato-
riais, informações sobre conservação e transporte de amostras e detalhamento sobre os principais exames
realizados para diagnóstico das meningites bacterianas.
Quadro 1 – Alterações encontradas no líquido cefalorraquidiano (LCR) para meningites bacterianas
Características Meningite por outras bactérias Meningite tuberculosa Valores de referência
Aspecto Turvo Límpido ou ligeiramente turvo (opalescente) Límpido
Cor
Branca-leitosa ou ligeiramente
xantocrômica
Incolor ou xantocrômica
Incolor, cristalino
(“água de rocha”)
Cloretos Diminuídos Diminuídos 680 – 750mEq/L
Glicose Diminuída Diminuída 45 a 100mg/dL
Proteínas totais Aumentadas Aumentadas 15 a 50mg/dL
Globulinas Positiva (Gama-globulina) Positiva (Alfa e gama-globulinas) Negativa
Leucócitos 200 a milhares (neutrófilos) 25 a 500 (linfócitos) 0 a 5/mm3
Tratamento
O tratamento com antibiótico deve ser instituído assim que possível. A adoção imediata do trata-
mento antibiótico não impede a coleta de material para o diagnóstico etiológico, seja LCR, sangue ou
outros espécimes clínicos, mas recomenda-se que a coleta das amostras seja feita, preferencialmente, antes
de iniciar o tratamento ou o mais próximo possível desse momento.
O tratamento precoce e adequado dos casos reduz significativamente a letalidade da doença e é im-
portante para o prognóstico satisfatório.
O uso de antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento de suporte, como reposição de
líquidos e cuidadosa assistência.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
50
De maneira geral, o tratamento antibacteriano é feito de maneira empírica, pois o agente etiológico
é desconhecido; toma-se como base o conhecimento dos agentes bacterianos prevalentes na comunidade,
assim como seu perfil de suscetibilidade antimicrobiana, nas diversas faixas etárias.
A duração do tratamento antibiótico em pacientes com meningite bacteriana varia de acordo com o
agente isolado e deve ser individualizada de acordo com a resposta clínica.
Oesquemadetratamentorecomendadoparadoençameningocócicaestáapresentadonocapítuloespecifico.
Para lactentes com até 2 meses de idade
Nesta faixa etária utiliza-se, inicialmente, a associação da ampicilina com uma cefalosporina de terceira
geração (cefotaxima). A ceftriaxona deve ser evitada no período neonatal, por competir com a bilirrubina.
-
tamicina ou amicacina. Esta associação é empregada não só pelo espectro de cada antibiótico em si, mas
também devido ao sinergismo que apresenta contra algumas enterobactérias também responsáveis por
meningite nesta faixa etária. Alternativamente pode-se empregar, em vez da ampicilina, a penicilina.
Caso o diagnóstico etiológico seja estabelecido pela cultura do LCR, pode-se então usar um único
antibiótico, sendo que sua escolha dependerá do antibiograma.
O Quadro 2 apresenta a dose preconizada segundo antibacteriano para lactentes com menos de 2
meses de idade com meningite bacteriana.
Quadro 2 – Dose preconizada dos antibacterianos em lactentes com menos de 2 meses de idade
com meningite bacteriana
Antibiótico Idade Dose diária (endovenosa) Intervalo (horas)
Ampicilina
100mg/kg/dia 12 em 12
150mg/kg/dia 8 em 8
>7 dias (peso <2.000g) 150 a 200mg/kg/dia 8 em 8
>7 dias (peso >2.000g) 200 a 300mg/kg/dia 6 em 6
Penicilina cristalina
100.000UI/kg/dia 12 em 12
150.000UI/kg/dia 8 em 8
>7 dias (peso <2.000g) 150.000UI/kg/dia 8 em 8
>7 dias (peso >2.000g) 200.000UI/kg/dia 6 em 6
Cefotaxima
100 a 150mg/kg/dia 12 em 12
>7 dias 200mg/kg/dia 6 em 6
Amicacina
15mg/kg/dia 12 em 12
20mg/kg/dia 12 em 12
>7 dias 30mg/kg/dia 8 em 8
Gentamicina
5mg/kg/dia 12 em 12
7,5mg/kg/dia 12 em 12
>7 dias 7,5mg/kg/dia 8 em 8
Crianças com mais de 2 meses de idade
O tratamento empírico de meningites bacterianas em crianças com mais de 2 meses de idade deve
clássico utilizando a associação de ampicilina e cloranfenicol só se justifica se houver indisponibilidade
das drogas previamente citadas.
51
Nos casos de pacientes com história de anafilaxia aos antibióticos ß-lactâmicos, pode-se usar o
cloranfenicol no tratamento empírico inicial.
Assim que se obtiver o resultado da cultura, o esquema antibiótico deve ser reavaliado e direcionado
para o agente (Quadro 3).
Quadro 3 – Terapia antibiótica para crianças com mais de 2 meses de idade com meningite bacteriana
Agente etiológico Antibiótico Dose diária (endovenosa)
Intervalo
(horas)
Duração (dias)
Streptococcus pneumoniae
Sensível à penicilina
Penicilina G ou 200.000 a 400.000UI/kg/dia 4 em 4
10 a 14
Ampicilina 200 a 300mg/kg/dia 6 em 6
Resistência intermediária à penicilina
Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12
Cefotaxima 200mg/kg/dia 6 em 6
Resistente à penicilina e sensível à
cefalosporina de 3ª geração
Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12
Cefotaxima 200mg/kg/dia 6 em 6
Resistente à penicilina e à
cefalosporina de 3ª geração e sensível
à rifampicina
Vancomicina +
cefalosporina de 3ª
geração + rifampicina
60mg/kg/dia 6 em 6
100mg/kg/dia 12 em 12
20mg/kg/dia 12 em 12
Haemophilus influenzae
Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12
7 a 10
Cefotaxima 200 mg/kg/dia 6 em 6
Outros bacilos gram-negativos
(Escherichia coli, Klebsiella sp)
Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12
21
Cefotaxima 200mg/kg/dia 6 em 6
Pseudomonas aeruginosa Ceftazidima 150 a 200mg/kg/dia 8 em 8 21
Listeria monocytogenes
Ampicilina +
30mg/kg/dia 12 em 12
Amicacina
Adultos
A antibioticoterapia, segundo etiologia, deve ser ajustada de acordo com resultados do teste de sen-
sibilidade (Quadro 4).
Quadro 4 – Terapia antibiótica para adultos com meningite bacteriana, segundo etiologia
Agente etiológico Antibiótico
Dose diária
(endovenosa)
Intervalo (horas) Duração (dias)
Haemophilus influenzae
Ceftriaxone 4g 12 em 12
7
Streptococcus pneumoniae
10 a 14Enterobactérias
Pseudomonas Meropenem 6g 8 em 8
Resistência bacteriana
H. influenzae
Aproximadamente 30% dos isolados de H. influenzae sorotipo B (Hib) produzem beta-lactamases e,
portanto, são resistentes à ampicilina. Estas cepas produtoras de beta-lactamase permanecem sensíveis às
cefalosporinas de terceira geração.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
52
S. pneumoniae
Apesar de existirem diferenças geográficas marcantes na frequência de resistência do pneumococo às
penicilinas, as taxas vêm aumentando progressivamente. Estudos realizados em nosso meio demonstram
que a incidência de isolados em amostras de LCR não suscetíveis à penicilina atingiu valores acima de
30%. Estes mesmos estudos demonstram que, no nosso meio, a resistência do pneumococo às cefalospo-
rinas de terceira geração ainda é baixa.
Nos casos de meningite por pneumococos resistentes à penicilina e cefalosporinas, deve-se utilizar
a associação de vancomicina com uma cefalosporina de terceira geração (cefotaxima ou ceftriaxona).
Deverá ser adicionada a rifampicina ao esquema nas seguintes situações:
-
ma ou ceftriaxona (Quadro 3).
A vancomicina, em função de sua baixa penetração liquórica, não deve ser utilizada como agente
isolado no tratamento de meningite bacteriana.
Características epidemiológicas
No Brasil, as principais ocorrências de meningite bacteriana, de relevância para a saúde pública, são
as causadas por N. meningitidis (meningococo), S. pneumoniae (pneumococo) e Hib.
O pneumococo é a segunda maior causa de meningite bacteriana no Brasil. Também é responsável
por outras doenças invasivas, como pneumonia, bacteremia, sepse e doenças não invasivas, como otite
média, sinusite, entre outras. No Brasil, as crianças de até 2 anos de idade são as mais acometidas pela
meningite pneumocócica. A partir de 2010, a vacina conjugada 10-valente, que protege contra dez soro-
tipos do pneumococo, foi disponibilizada no calendário de vacinação da criança para crianças menores
de 1 ano de idade.
Em 1999, foi introduzida no país a vacina contra o Hib, responsável por várias doenças invasivas,
como meningites e pneumonias, sobretudo em crianças. O Hib era a segunda causa mais comum de me-
ningite bacteriana no Brasil, sendo responsável por uma incidência média anual em menores de 1 ano de
23,4 casos/100.000 hab. até 1999. Observou-se, após a introdução da vacina, redução de mais de 90% no
número de casos, incidência e número de óbitos por meningite por H. influenzae.
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Meningites virais
CID 10: A87 – Meningite Viral
Características gerais
Descrição
Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, cau-
sado por vírus.
Agentes etiológicos
Os principais são os vírus do gênero Enterovírus. Neste grupo estão incluídos os três tipos de polio-
vírus, 28 tipos antigênicos do vírus echo, 23 tipos do vírus C C
outros Enterovírus.
Entretanto, outros vírus também podem causar meningite viral (Quadro 5).
Quadro 5 – Principais agentes etiológicos da meningite viral
RNA DNA
Enterovírus
Arbovírus
Vírus da caxumba
Arenavírus (coriomeningite linfocitária)
HIV 1
Vírus do sarampo
Adenovírus
Vírus do grupo herpes
Varicela-zóster
Epstein-Barr
Citomegalovírus
Reservatório
O principal é o homem.
Modo de transmissão
Nas infecções por enterovírus predomina a via fecal-oral, podendo ocorrer também por via respiratória.
Período de incubação
Para os enterovírus, situa-se comumente entre 7 e 14 dias, podendo variar de 2 a 35 dias.
Período de transmissibilidade
No caso dos enterovírus, podem ser eliminados nas fezes por diversas semanas e pelas vias aéreas
superiores por períodos que variam de 10 a 15 dias.
Vulnerabilidade
As crianças constituem o grupo mais vulnerável às infecções causadas pelos enterovírus.
Manifestações clínicas
Quando se trata de enterovírus, as mais frequentes são: febre, mal-estar geral, náusea e dor abdo-
minal na fase inicial do quadro, seguidas, após cerca de 1 a 2 dias, de sinais de irritação meníngea, com
rigidez de nuca geralmente acompanhada de vômitos.
Outras Meningites
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54
É importante destacar que os sinais e sintomas inespecíficos que mais antecedem e/ou acompanham
o quadro da meningite asséptica por enterovírus são: manifestações gastrointestinais (vômitos, anorexia e
diarreia), respiratórias (tosse, faringite) e ainda mialgia e erupção cutânea.
Em geral o restabelecimento do paciente é completo, mas em alguns casos pode permanecer alguma
debilidade, como espasmos musculares, insônia e mudanças de personalidade. A duração do quadro é
geralmente inferior a uma semana.
Complicações
Em geral, nos casos de enterovírus não há complicações, a não ser que o indivíduo seja portador de
alguma imunodeficiência.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico etiológico dos casos suspeitos de meningite viral é de extrema importância para a
vigilância epidemiológica, quando se trata de situação de surto.
Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite viral depen-
dem do agente etiológico:
O aspecto do líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos
ocorre o aumento de elementos figurados (células), que em geral nas meningites virais, devido à baixa
celularidade, pouco alteram macroscopicamente o aspecto do líquor; porém, existem alterações bioquí-
micas e celulares, de acordo com o Quadro 6.
Nos Anexos A e B estão apresentados os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos
laboratoriais, informações sobre conservação e transporte de amostras e detalhamento sobre os principais
exames realizados para diagnóstico das meningites virais.
Quadro 6 – Alterações encontradas no líquido cefalorraquidiano (LCR) para meningites virais
Características Meningite viral Encefalite Valores de referência
Aspecto Límpido Límpido Límpido
Cor Incolor ou opalescente Incolor
Incolor, cristalino
(“água de rocha”)
Cloretos
Normal Normal
680 a 750mEq/L
Glicose 45 a 100mg/dL
Proteínas totais Levemente aumentadas Discretamente aumentadas 15 a 50mg/dL
Globulinas Negativa ou positiva Aumento discreto (Gama-globulina) Negativa
Leucócitos 5 a 500 linfócitos 1 a 100 linfócitos 0 a 5mm3
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com outras encefalites e meningoencefalites.
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Tratamento
O tratamento antiviral específico não tem sido amplamente utilizado. Em geral, utiliza-se o trata-
mento de suporte, com avaliação criteriosa e acompanhamento clínico.
Tratamentos específicos somente estão preconizados para a meningite herpética (HSV 1 e 2 e VZV)
com aciclovir endovenoso.
Na caxumba, a gamaglobulina específica hiperimune pode diminuir a incidência de orquite, porém
não melhora a síndrome neurológica.
Características epidemiológicas
As meningites virais têm distribuição universal. Podem ocorrer casos isolados e surtos principal-
mente relacionados aos enterovírus. A frequência de casos se eleva nos meses do outono e da primavera.
O aumento de casos pode estar relacionado a epidemias de varicela, sarampo, caxumba e também a
eventos adversos pós-vacinais.
Outras Meningites
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Meningite por outras etiologias
CID 10: G02 – Meningite em outras doenças infecciosas e parasitárias
classificadas em outra parte
Características gerais
Descrição
Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, cau-
sado por fungos e parasitas.
Agente etiológico
Destacam-se os fungos do gênero Cryptococcus, sendo as espécies mais importantes a C. neoformans
e a C. gattii. Entretanto, outros agentes, como protozoários e helmintos, também podem ocasionar me-
ningite (Quadro 7).
Quadro 7 – Outros agentes etiológicos que podem causar meningite
Fungos Protozoários Helmintos
Cryptococcus neoformans
Cryptococcus gattii
Candida albicans
Candida tropicalis
Histoplasma capsulatum
Paracoccidioides brasiliensis
Aspergillus fumigatus
Toxoplasma gondii
Trypanosoma cruzi
Plasmodium sp
Infecção larvária da Taenia solium
Cysticercus cellulosae (Cisticercose)
Angyostrongylus cantonensis
Devido à importância da etiologia fúngica, em especial da meningite criptocócica, este capítulo será
direcionado especificamente a este tema.
Reservatório
Microfocos relacionados a habitat de aves, madeira em decomposição em árvores, poeira domiciliar,
outros habitat, como de morcegos e outros animais; onde houver concentração estável de matéria orgânica,
pode representar fontes ambientais potenciais para a infecção. Além de pombos, outras aves também são
importantes reservatórios, sobretudo aquelas relacionadas à criação em cativeiro no ambiente doméstico,
como canários e periquitos.
Modo de transmissão
Geralmente ocorre devido à inalação das formas leveduriformes do ambiente.
Período de incubação
Desconhecido. Casuísticas brasileiras exibem média de surgimento de sinais e sintomas entre 3 se-
manas e 3 meses antes da admissão, mas individualmente pode variar de 2 dias a 18 meses ou mais.
Suscetibilidade e vulnerabilidade
A suscetibilidade é geral; o C. neoformans tem caráter predominantemente oportunista; o C. gatti
atinge prioritariamente crianças e jovens hígidos.
57
Manifestações clínicas
Apresenta-se mais frequentemente como meningite ou meningoencefalite aguda ou subaguda, en-
tretanto aparecem lesões focais únicas ou múltiplas no SNC, simulando neoplasias, associadas ou não ao
quadro meníngeo; isto tem sido associado ao C. gattii.
As manifestações variam de acordo com o estado imunológico do paciente.
No indivíduo com comprometimento imunológico (aids ou outras condições de imunossupressão),
a meningoencefalite é aguda, com ampla variedade de sinais, podendo inclusive não haver sinais de irri-
tação meníngea. Nos pacientes com aids que apresentam cefaleia, febre, demência progressiva e confusão
mental, a meningite criptocócica deve ser considerada.
No indivíduo imunocompetente, o quadro é exuberante, e os sintomas comumente descritos são:
cefaleia, febre, vômitos, alterações visuais, rigidez de nuca. Outros sinais neurológicos, como ataxia, alte-
ração do sensório e afasia, são comuns. Pode ocorrer evolução para torpor ou coma.
Complicações
Pode evoluir com significativo número de sequelas; as mais frequentes são diminuição da capacidade
mental (30%), redução da acuidade visual (8%), paralisia permanente de nervos cranianos (5%) e hidrocefalia.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
Os principais exames a serem realizados no LCR para o esclarecimento diagnóstico de casos suspei-
tos de meningite criptocócica são:
No Anexo A estão apresentados os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos laborato-
riais, informações sobre conservação e transporte de amostras e detalhamento sobre os principais exames
realizados para diagnóstico das meningites.
O aspecto do líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos,
ocorre o aumento de elementos figurados (células) e alterações bioquímicas, podendo ou não causar tur-
vação. Nos casos de meningite por fungos, as alterações mais frequentes são apresentadas no Quadro 8.
Quadro 8 – Alterações encontradas no líquido cefalorraquidiano (LCR) para meningites por fungos
Característica Meningites por fungos Valores de referência
Aspecto Límpido Límpído
Cor Incolor Incolor, cristalino "água de rocha"
Cloretos Normal 680 a 750mEq/L
Glicose Diminuída 45 a 100mg/dL
Proteínas totais Aumentadas 15 a 50mg/dL
Globulinas Aumento (gama-globulina) Negativa
Leucócitos Acima de 10céls/mm³ (linfócitos e monócitos) 0 a 5mm3
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
58
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com outras afecções neurológicas, como outras meningites, principalmente as virais,
abscessos, meningites bacterianas parcialmente tratadas ou neoplasias, e com as afecções comuns no pa-
ciente com aids, como toxoplasmose, tuberculose, histoplasmose, linfoma e a leucoencefalopatia multi-
focal progressiva.
Tratamento
O tratamento da meningite criptocócica deve considerar a presença ou não de imunossupressão e
nas drogas disponíveis.
O tratamento é dividido em três fases: indução, consolidação e manutenção. Dependendo do estado
imunológico do paciente e da disponibilidade do medicamento, vários esquemas podem ser adotados.
O término da fase de indução e início da fase de consolidação é recomendado somente quan-
do o paciente apresentar cultura para fungos negativa no LCR após a 2ª semana e/ou melhora dos
sinais clínicos.
Cabe ressaltar que os pacientes portadores de condições de imunossupressão deverão ser submetidos
à fase de manutenção do tratamento por 12 a 24 meses.
Os esquemas terapêuticos preconizados para o tratamento da criptococose de SNC estão apresenta-
dos no Quadro 9.
Quadro 9 – Esquemas terapêuticos para meningite criptocócica
Tratamento da meningite criptocócica e outras formas de criptococose de SNC
Estado imunológico Indução Consolidação Manutenção
Imunocompetente
Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa +
5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em
6h por 14 dias
Fluconazol: 400mg/dia via oral
por 6 a10 semanas
Quando necessária,
será realizada
de acordo com
indicação médica.
Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa +
5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em 6h por 6 a 10 semanas
Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa por 6 a 10 semanas
Formulações lipídicas de anfotericina B (lipossomal ou complexo lipídico): 3 a
6mg/kg/dia, endovenosa, por 6 a 10 semanas
Imunodeprimido
(HIV ou outra
imunossupressão)
Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa +
5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em
6h por 14 dias
Fluconazol: 400mg/dia via oral
por 10 semanas
Fluconazol: 200 a
400mg/dia via oral
por 12 a 24 meses
ou
Itraconazol:
200mg/dia via oral
por 12 a 24 meses
Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa +
5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em 6h por 6 a 10 semanas
Formulações lipídicas de anfotericina B (lipossomal ou complexo lipídico): 3 a 6
mg/kg/dia, endovenosa, por 6 a 10 semanas
Em caso de intolerância ou impossibilidade do uso de anfotericina B e suas
formulações lipídicas
Fluconazol: 800 a 1.600mg/dia via oral + 5-flucitozina 100mg/kg/dia 6 em 6h ou
Fluconazol: 1.600mg a 2.000mg/dia via oral por 6 a 10 semanas ou
Fluconazol: 400 a 800mg/dia via oral por 10 a 12 semanas
59
Características epidemiológicas
A micose abrange duas entidades distintas do ponto de vista clínico e epidemiológico:
predominantemente por Cryptococcus neoformans variedade neoformans;
-
picais e subtropicais, causada predominantemente por Cryptococcus neoformans variedade gattii.
Pode ter caráter epidêmico.
Mundialmente a criptococose por C. neoformans variedade neoformans atinge indivíduos
imunocomprometidos acompanhando o sexo e idade dos grupos de risco. No Brasil, ocorre como primeira
manifestação oportunista em cerca de 4,4% dos casos de aids e estima-se a prevalência da criptococose
associada a aids entre 8 e 12% em centros de referência da região Sudeste. Entretanto, nas regiões Norte e
Nordeste do Brasil predominam casos de criptococose em indivíduos sem evidência de imunodepressão,
tanto no sexo masculino quanto no feminino, causados pela variedade gattii, comportando-se esta micose
como endemia regional. A meningoencefalite criptocócica ocorre em pessoas residentes destas regiões,
incluindo jovens e crianças, com elevada morbidade e letalidade (37 a 49%), revelando padrões regionais
marcadamente distintos da criptococose por variedade neoformans, amplamente predominante nas
regiões Sudeste e Sul do país. A mortalidade por criptococose é estimada em 10% nos países desenvolvidos,
chegando a 43% nos países em desenvolvimento.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
60
Vigilância epidemiológica
Objetivos
uso destas.
H. influenzae
e S. pneumoniae circulantes no país.
Definição de caso
Suspeito
Crianças acima de 1 ano de idade e adultos com febre, cefaleia, vômitos, rigidez da nuca, sinais de
Em crianças abaixo de 1 ano de idade os sintomas clássicos acima referidos podem não ser tão evi-
dentes. É importante considerar, para a suspeita diagnóstica, sinais de irritabilidade, como choro persis-
tente, e verificar a existência de abaulamento de fontanela.
Confirmado
Meningites bacterianas
-
cos: cultura, e/ou PCR, e/ou látex.
-
ratorialmente para Haemophilus influenzae ou Mycobacterium tuberculosis por um dos exames
específicos, mas que não tenha realizado nenhum deles.
Meningites virais
-
cos: isolamento viral, e/ou PCR.
-
torialmente para vírus causador de meningite por um dos exames específicos, mas que não tenha
realizado nenhum deles.
61
Meningites por outras etiologias
-
cos: cultura, e/ou PCR, e/ou látex.
Descartado
Caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença.
Notificação
Doença de notificação compulsória, sendo os surtos e os aglomerados de casos ou óbitos de notifi-
cação imediata.
Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados às autoridades competentes, por pro-
fissionais da área de assistência, vigilância, e pelos de laboratórios públicos e privados, através de contato
telefônico, fax, e-mail ou outras formas de comunicação. A notificação deve ser registrada no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação de
Meningite ou da Ficha de Investigação de Surtos.
Investigação
Deve ser realizada para obtenção de informações quanto à caracterização clínica do caso (incluindo
a análise dos exames laboratoriais) e as possíveis fontes de transmissão da doença.
A ficha de investigação é o instrumento utilizado para a investigação. Todos os seus campos devem
ser criteriosamente preenchidos, mesmo se a informação for negativa. Outras informações podem ser
incluídas, conforme a necessidade.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos referentes à notificação (dados gerais, do caso e de residência).
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
As fontes de coleta de dados são entrevista com o profissional de saúde que atendeu o caso, dados do
prontuário, entrevistas com familiares e pacientes, quando possível, e pessoas identificadas na investiga-
ção como contato próximo do caso.
Para confirmar a suspeita diagnóstica
- Verificar se as informações se enquadram na definição de caso.
- Verificar os resultados de exames do espécime clínico encaminhados ao laboratório.
- Verificar a evolução clínica do paciente.
Para identificação da área de transmissão
- Coletar informações na residência e nos locais usualmente frequentados pelos indivíduos aco-
metidos (creches, escolas, locais de trabalho, quartéis, igrejas e outros pontos de convívio social
em que pode haver contato próximo e prolongado com outras pessoas), considerando o período
anterior a 15 dias do adoecimento, para identificar possíveis fontes de infecção.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
62
Para determinação da extensão da área de transmissão
- Em relação à identificação do risco de propagação da transmissão:
. identificar todos os contatos próximos do caso;
. investigar a existência de casos secundários e coprimários, ou possíveis casos relacionados;
. verificar histórico vacinal do paciente e contatos;
. avaliar a cobertura vacinal do município.
Coleta e remessa de material para exames
- A coleta de espécimes clínicos para o diagnóstico laboratorial deve ser realizada logo após a
suspeita clínica de meningite, preferencialmente antes do início do tratamento com antibiótico.
- A adoção imediata do tratamento adequado não impede a coleta de material para o diagnóstico
etiológico, mas recomenda-se que a coleta das amostras seja feita o mais próximo possível do
momento do início do tratamento.
- O material coletado em meio estéril deve ser processado inicialmente no laboratório local, para
orientação da conduta médica. Subsequentemente, esse material e/ou a cepa de bactéria já iso-
lada deverão ser encaminhados para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) para rea-
lização de diagnóstico mais específico.
- O LCR deve ser coletado exclusivamente pelo médico seguindo as normas técnicas e fluxos
recomendados nos Anexos A e B.
- Nem sempre é possível aguardar os resultados laboratoriais para instituição das medidas de
controle cabíveis, embora essas sejam imprescindíveis para confirmação do caso, direcionamen-
to das medidas de controle e orientação para o encerramento da investigação.
Encerramento de caso
Deve ser realizado após a verificação de todas as informações necessárias para a conclusão do caso. O
encerramento de um caso de meningite pode ser realizado pelos critérios diagnósticos a seguir especificados.
Meningite por H. influenzae e S. pneumoniae: cultura, PCR, látex, ou vínculo epidemiológico
(caso de H. influenzae).
Meningite por outras bactérias: cultura, PCR, látex, bacterioscopia, quimiocitológico do LCR,
clínico, ou vínculo epidemiológico (caso de meningite tuberculosa).
Meningite viral: isolamento viral, PCR, quimiocitológico do LCR, clínico, ou vínculo epidemiológico.
Meningite por outra etiologia: cultura, PCR, látex, microscopia do LCR, ou clínico.
Medidas de prevenção e controle
Objetivos
H. influenzae.
de 1 ano de idade por vacinas contra meningite tuberculosa, por H. influenzae e por S. pneumoniae.
Quimioprofilaxia
A quimioprofilaxia está indicada somente para os contatos próximos de casos suspeitos de meningite por
H. influenzae tipo b e doença meningocócica (ver no capítulo específico). Muito embora não assegure efeito
protetor absoluto e prolongado, tem sido adotada como uma medida eficaz na prevenção de casos secundários.
63
O risco de doença invasiva por H. influenzae tipo b entre os contatos próximos é maior durante os
primeiros dias após o início da doença, o que requer que a quimioprofilaxia seja administrada o mais rápido
possível. Os casos secundários são raros, e podem ocorrer dentro de 60 dias após contato com o paciente. A
taxa de ataque secundária é maior entre os contatos domiciliares menores de 4 anos de idade não imunizados.
Está indicada para os contatos próximos de casos suspeitos de meningite por H. influenzae tipo b,
nas situações a seguir elencadas.
um contato com criança menor que 4 anos não vacinada ou parcialmente vacinada, ou com crian-
ça imunocomprometida independentemente da situação vacinal.
-
reram em um intervalo de até 60 dias. Nesta situação a quimioprofilaxia deve ser prescrita para
todos as crianças, independentemente da idade ou status vacinal, e para os cuidadores.
-
ceira geração.
Contatos domiciliares são as pessoas que residem com o doente, ou aquelas que não residem na
mesma casa mas que passaram 4 horas ou mais com o doente durante pelo menos 5 dos 7 dias
anteriores ao início dos sintomas.
O antibiótico de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada em dose
adequada e simultaneamente a todos os contatos próximos, preferencialmente até 48 horas da exposição à
fonte de infecção (doente), considerando o prazo de transmissibilidade e o período de incubação da doen-
ça. A rifampicina é recomendada para a quimioprofilaxia porque atinge altas concentrações nas secreções
respiratórias e erradica o H. influenzae tipo b da nasofaringe de aproximadamente 95% dos portadores
(Quadro 10).
Em relação às gestantes, esse medicamento tem sido utilizado para quimioprofilaxia, pois não há
evidências de que a rifampicina possa apresentar efeitos teratogênicos. A relação risco/benefício do uso
de antibióticos pela gestante deverá ser avaliada pelo médico assistente.
Quadro 10 – Esquema de quimioprofilaxia por meio de rifampicina indicado para Haemophilus
influenzae
Agente etiológico Faixa etária Dose Intervalo (horas) Duração (dias)
H. influenzae
Adultos 600mg/dose 24 em 24 4
>1 mês até 10 anos
20mg/kg/dose
(dose máxima de 600mg)
24 em 24 4
<1 mês
10mg/kg/dose
(dose máxima de 600mg)
24 em 24 4
Imunização
A vacinação é considerada a forma mais eficaz na prevenção da meningite bacteriana, sendo as vaci-
nas específicas para determinados agentes etiológicos. São utilizadas na rotina para imunização de crian-
ças menores de 1 ano. Estão disponíveis no Calendário Nacional de Vacinação da Criança do Programa
Nacional de Imunizações (PNI/MS) (Quadro 11).
Também são ofertadas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) (Quadro 12).
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
64
Quadro 11 – Vacinas utilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações para a prevenção das
meningites bacterianas na rotina
Vacinas Prevenção/doença Indicação
Vacina adsorvida
difteria, tétano,
pertússis, hepatite
B (recombinante)
e Haemophilus
influenzae b
(conjugada) (Penta)
Meningite e outras infecções
causadas pelo H. influenzae
tipo b; além de difteria,
tétano, coqueluche e
hepatite B
Administrar 3 doses (aos 2, 4 e 6 meses de idade) com intervalo de 60
dias entre as doses, em no mínimo 30 dias. O primeiro reforço deve ser
administrado aos 15 meses e o segundo aos 4 anos de idade, ambos com a
vacina adsorvida difteria, tétano e pertússis (DTP). Em indivíduos com mais
de 4 anos de idade sem nenhum reforço, administrar apenas 1 reforço. A
idade máxima para administrar as vacinas com o componente pertússis de
células inteiras é 6 anos, 11 meses e 29 dias
Vacina BCG
Contra as formas graves de
tuberculose
(miliar e meníngea)
Administrar o mais precocemente possível. Em crianças prematuras ou com
baixo peso ao nascer, adiar a vacinação até elas atingirem 2kg. Na rotina dos
serviços, administrar até 4 anos, 11 meses e 29 dias
Crianças vacinadas na faixa etária preconizada que não apresentam cicatriz
vacinal após 6 meses, revacinar apenas uma vez
Em crianças filhas de mãe HIV positivas não vacinadas, a vacina deve ser
administrada naquelas assintomáticas e sem sinais de imunodeficiência,
sendo a revacinação contraindicada. A vacinação é contraindicada para
indivíduos portadores de HIV
Vacina
pneumocócica
10-valente
(conjugada)
(Pneumo 10)
Doenças invasivas e otite
média aguda causadas por
Streptococcus pneumoniae
dos sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F,
9V, 14, 18C, 19F e 23F
Administrar duas doses (aos 2 e 4 meses de idade), com intervalo de
60 dias entre as doses, e mínimo de 30 dias, em crianças menores de 1
ano de idade. O reforço deve ser feito entre 12 meses e 4 anos de idade,
preferencialmente aos 12 meses. Em crianças entre 12 e 23 meses de idade
sem comprovação vacinal, administrar dose única
Vacina
polissacarídica
contra o S.
pneumoniae 23
valente (Pneumo 23)
Infecções pneumocócicas
dos sorotipos 1, 2, 3, 4, 5,
6B, 7F, 8, 9N,9V, 10A, 11A,
12F,14,15B,17F,18C,19A,19F,
20,22F,23F, 33F
Uma dose é suficiente para conferir proteção contra os sorotipos dos
pneumococos contidos na vacina. Esta vacina é disponibilizada para toda a
população indígena acima de 2 anos de idade. Para a população a partir de
60 de idade, a revacinação é indicada uma única vez, devendo ser realizada
5 anos após a dose inicial
Quadro 12 – Situações em que as vacinas são recomendadas nos Centros de Referência para Imu-
nobiológicos Especiais (CRIE)
Vacinas Indicações
Vacina contra o
Haemophilus influenzae
tipo b (Hib)
É indicada nos casos de substituição da pentavalente por DTP acelular + Hib, transplantados de
medula óssea e órgãos sólidos e nos menores de 19 anos e não vacinados, nas seguintes situações:
HIV/aids;
humoral ou deficiência de complemento;
doenças relacionadas;
Vacina pneumocócica
10-valente (conjugada)
(Pneumo 10)
Esta vacina está disponível para as crianças de 2 meses a menores de 5 anos de idade
A partir desta idade é indicada a vacina pneumocócica 23 valente, conforme indicação
Vacina polissacarídica
contra o Streptococcus
pneumoniae 23 valente
(Pneumo 23)
HIV/aids;
asplenia anatômica ou funcional e doenças
relacionadas;
pneumopatias crônicas, exceto asma;
asma grave em usos de corticoide em dose
imunossupressora;
cardiopatias crônicas;
nefropatias crônicas/hemodiálise/síndrome
nefrótica;
transplantados de órgãos sólidos ou medula
óssea;
imunodeficiência devido a câncer ou
imunossupressão terapêutica;
diabetes mellitus;
fístula liquórica;
fibrose cística (mucoviscidose);
doenças neurológicas crônicas incapacitantes;
implante de cóclea;
trissomias;
imunodeficiências congênitas;
hepatopatias crônicas;
doenças de depósito;
crianças menores de 1 ano de idade, nascidas
com menos de 35 semanas de gestação e
submetidas a assistência ventilatória (CPAP ou
ventilação mecânica);
a dose é a mesma para adultos e crianças acima
de 2 anos
65
Informações adicionais podem ser encontradas no Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos
Adversos Pós-Vacinação (2014), no Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais
(2014) e na Portaria do Ministério da Saúde nº 1.533, de 18 de agosto de 2016.
Bibliografia
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Haemophilus influenzae Infections. In: PICKERING, L. K.
et al. (Ed.). Red Book -
tious Diseases.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi-
ológica. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 250 p.
-
ológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2014. 160 p.
-
miológica. Portaria nº 1533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o Calendário Nacional de Vacinação,
o Calendário Nacional de Vacinação dos Povos Indígenas e as Campanhas Nacionais de Vacinação, no
âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. Disponível em:
<http://www.brasilsus.com.br/index.php/legislacoes/gabinete-do-ministro/8827-portaria-n-1-533-de-
18-de-agosto-de-2016>. Acesso em: 23 mar. 2017.
BRIERE, E. C. et al. Prevention and Control of Haemophilus influenzae Type b Disease: Recommendations of
the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep., v. 63, RR-01, p. 1-14,
28 Feb. 2014.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
66
Anexo A
Procedimentos técnicos para coleta das amostras
O diagnóstico etiológico dos casos suspeitos de meningite é de extrema importância para a Vigilân-
cia Epidemiológica, tanto na situação endêmica da doença quanto em situações de surto.
Para todo caso suspeito de meningite bacteriana, utilizar o kit de coleta para o diagnóstico laborato-
rial, distribuído pelos Lacen para todos os laboratórios locais.
Este kit é composto de:
carneiro ou cavalo;
coleta de sangue (obtenção do soro) e os outros dois para a coleta de líquido céfalorraquidiano
(LCR) nos quais serão realizados os exames citoquímico, bacterioscopia e os de aglutinação do
látex e reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR);
corada e processada no laboratório do hospital e a outra é enviada para o Lacen).
Coleta do LCR
A punção do LCR é um procedimento invasivo e requer precauções semelhantes aos de um ato ci-
rúrgico. Quando solicitada, deve ser feita exclusivamente por médico especializado, em um centro com as
condições mínimas para este tipo de procedimento.
A punção é frequentemente realizada na região lombar, entre as vértebras L1 e S1, sendo mais indica-
dos os espaços L3-L4, L4-L5 ou L5-S1. Uma das contraindicações para a punção lombar é a existência de
infecção no local da punção (piodermite). No caso de haver hipertensão endocraniana grave, é aconselhá-
vel solicitar um especialista para a retirada mais cuidadosa do líquor, ou aguardar a melhora do quadro,
priorizando-se a análise de outros espécimes clínicos.
Após a coleta de 3mL de LCR, o médico, ainda na sala de coleta, deve proceder do seguinte modo:
-
terioscopia e citoquímico e o outro para o látex e qPCR.
Coleta do sangue
No sangue são realizados os exames de cultura (hemocultura), látex e qPCR. Os procedimentos para
a coleta do sangue são:
ser coletada para a área periférica;
ação oxidante. Caso o paciente seja alérgico ao iodo, efetuar duas vezes a aplicação do álcool a 70%;
em caso de adultos;
67
diluição final no meio seja de 10 a 15% (cultura pediátrica) ou 10 a 20% para adultos. Para meios
de cultura industrializados, seguir a recomendação do fabricante;
qual serão realizados os testes de aglutinação do látex e qPCR.
Fluxo interlaboratorial
Laboratório Local – LL
- o material semeado (LCR e sangue) para isolamento e identificação bacteriana;
- o soro e o LCR para realização de qPCR, quando implantado no Lacen; e
- as duas lâminas de bacterioscopia para CQ, sendo uma corada e a outra não.
Quando o LL realizar a cultura, deve enviar a cepa isolada para o Lacen.
Laboratório de Referência Estadual – Lacen
Neisseria meningitidis Haemophilus influenzae
Streptococcus pneumoniae
Controle da Qualidade (CQ) ou para conclusão diagnóstica.
Laboratório de Referência Nacional
ClinicalandLaboratoryStandardInstitute(CLSI).
casos especiais, como surtos.
Observação
Os resultados e laudos laboratoriais deverão ser informados à Coordenação Geral de Laboratórios de
Saúde Pública (CGLAB/MS) conforme o preconizado.
Todo material deverá ser enviado ao Lacen, devidamente identificado e acompanhado de cópia da
Ficha de Investigação do Sinan, que servirá de orientação quanto aos exames indicados.
O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importância para o êxito
dos procedimentos laboratoriais.
Para cultura, realizar a semeadura do LCR no local de coleta sempre que possível. Caso contrário,
enviá-lo em temperatura ambiente para ser semeado no laboratório.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
68
Conservação, transporte e biossegurança
Para cultura, transportar o material clínico em temperatura ambiente o mais imediatamente possível
ao laboratório. Nunca transportá-lo congelado ou sob refrigeração.
As amostras semeadas de LCR e sangue do mesmo modo devem ser encaminhadas ao laboratório
em temperatura ambiente o mais rapidamente possível.
Os exames citoquímico e bacterioscópico devem ser feitos em menor tempo possível para evitar a
deterioração celular e bacteriana, o que dificulta suas identificações.
O líquor e sangue/soro para os exames da aglutinação do látex e qPCR podem ser conservados em
temperatura ambiente por até uma hora. Caso não seja possível realizar os exames neste tempo, conservá-
-los em geladeira a 4ºC por até 24 horas e, acima deste tempo, congelá-los.
O frasco deve estar envolvido em papel alumínio ou papel de embalagem estéril.
Para evitar quebra ou perda do espécime durante o transporte, os frascos devem estar acondiciona-
dos em uma caixa devidamente protegida com espuma flon ou papel e com uma seta sinalizando o sentido
em que deve ser carregada.
Devem-se registrar nas caixas os nomes do remetente e do destinatário, e que se trata de ma-
terial biológico.
Detalhamento sobre os principais exames laboratoriais
realizados para diagnóstico das meningites
A seguir, descrevem-se os exames laboratoriais disponíveis, sua interpretação e as normas de coleta
dos espécimes clínicos. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada no ato da entrada do paciente na
unidade de saúde, no primeiro atendimento, preferencialmente antes da utilização da primeira dose do
antibiótico (Quadro 1).
Cultura
Tanto para o LCR quanto para o sangue, é um exame de alto grau de especificidade. Seu objetivo é
identificar a espécie da bactéria, podendo ser realizado com diversos tipos de fluidos corporais, sendo o
padrão ouro para diagnóstico das meningites. A identificação do sorogrupo ou sorotipos das cepas bacte-
rianas isoladas é de grande relevância para acompanhar as tendências das meningites e para a investigação
de surtos e/ou epidemias. As cepas devem ser encaminhadas ao Lacen e ao Instituto Adolfo Lutz de São
Paulo (IAL), para estudos moleculares complementares.
Aglutinação pelo látex
Partículas de látex, sensibilizadas com antissoros específicos, permitem, por técnica de aglutinação
rápida (em lâmina ou placa), detectar o antígeno bacteriano em líquor, soro e outros fluidos biológicos.
Pode ocorrer resultado falso-positivo, em indivíduos portadores do fator reumático ou em reações cru-
zadas com outros agentes. A sensibilidade do teste de látex é da ordem de 90% para H. influenzae, 94,4%
para S. pneumoniae e 80% para N. meningitidis. A especificidade da reação é de 97%.
Bacterioscopia
A coloração do LCR pela técnica de Gram permite, ainda que com baixo grau de especificidade,
caracterizar morfológica e tintorialmente as bactérias presentes. Pode ser realizada a partir do líquor e
outros fluidos corpóreos normalmente estéreis e raspagem de petéquias.
69
Quadro 1 – Coletaa
e conservação de material para diagnóstico de meningite bacteriana
Tipo de
diagnóstico
Tipo de
material
Quantidade
Nº de
amostras
Recipiente
Armazenamento/
conservação
Transporte
Cultura Sangue
10 a 20% do
volume total
do frasco
1
Frasco adequado para
hemocultura (caldo
BHI ou TSB acrescido
de SPS)
Colocar imediatamente em
estufa entre 35 e 37o
C, logo
após a semeadura, até o envio
ao laboratório
Fazer subculturas em ágar
chocolate após 8 horas
Nunca refrigerar
Manter o frasco em
temperatura ambiente
e encaminhar o mais
rápido possível para o
laboratório
Cultura Líquor 5 a 10 gotas 1
Frasco com meio de
cultura ágar chocolate
base Müller-Hinton ou
similar
Semear imediatamen-
te ou até 3hs após a
punção
Incubar a 35-37o
C em atmos-
fera de CO2 (chama de vela),
úmido após a semeadura, até
o envio ao laboratório
Nunca refrigerar
Manter o frasco em
temperatura ambiente
e encaminhar o mais
rápido possível para o
laboratório
Látex Soro 2mL 1
Frasco estéril
Sangue colhido sem
anticoagulante
Em temperatura ambiente, em
até 1 hora
Tempo superior a 1 hora,
conservar a 4o
C
Pode ser congelado, se o
exame não for realizado nas
primeiras 24 horas. Estocar o
restante para a necessidade de
realizar outros procedimentos
Após separar o soro,
enviar imediatamente
ao laboratório ou
conservar
Látex Líquor 1 a 2mL 1 Frasco estéril
Em temperatura ambiente, em
até 1 hora
Tempo superior a 1 hora,
conservar a 4o
C
Pode ser congelado, se o
exame não for realizado nas
primeiras 24 horas. Estocar o
restante para a necessidade de
realizar outros procedimentos
Enviar imediatamente
ao laboratório, conser-
vado em gelo
Bacterioscopia Líquor
1 gota a partir
do sedimento
do material do
quimiocitoló-
gico
2
2 lâminas de micro-
cospia virgens
Em temperatura ambiente
Em temperatura
ambiente, em embala-
gem apropriada
Quimiocitológico Líquor 2mL 1 Frasco estéril
Em temperatura ambiente, em
até 3 horas
Tempo superior a 3 horas,
conservar a 4o
C
Enviar imediatamente
ao laboratório
Reação em cadeia
da polimerase em
tempo real (qPCR)
Líquor e/
ou soro
500mL 1
Frasco estéril
As amostras devem
ser aliquotadas em tu-
bos novos, pequenos,
com tampa de rosca
com anel de vedação
(tipo “cryovials”)
As amostras devem ser estoca-
das a -20o
C até seu transporte
Deve ser feito rapi-
damente, preferen-
cialmente congelada
a -20o
C ou em gelo
seco, ou no mínimo
a +4o
C
a
A coleta do material clínico deve ser realizada preferencialmente no ato do primeiro atendimento.
Quimiocitológico
Compreende o estudo da celularidade, ou seja, permite a contagem e o diferencial das células e
as dosagens de glicose e proteínas do LCR. Traduz a intensidade do processo infeccioso e orienta a
suspeita clínica, mas não deve ser utilizado para conclusão do diagnóstico final, por seu baixo grau
de especificidade.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
70
Reação em cadeia da polimerase (PCR)
A detecção do DNA bacteriano pode ser obtida por amplificação da cadeia de DNA pela enzima
polimerase, que permite a identificação do agente utilizando oligonucleotídeos específicos. A qPCR é
uma modificação da técnica tradicional de PCR que identifica o DNA alvo com maior sensibilidade e es-
pecificidade e em menor tempo de reação. A qPCR já está validada no Brasil, sendo a técnica utilizada na
rotina diagnóstica das meningites bacterianas em alguns Lacen e no Laboratório de Referência Nacional.
Além dos métodos supracitados, há outros inespecíficos que são utilizados de forma complementar. São
eles: tomografia computadorizada, raios X, ultrassonografia, angiografia cerebral e ressonância magnética.
Os exames realizados pelos Lacen são: cultura, antibiograma, látex, bacterioscopia e qPCR.
Nenhum dos exames citados substitui a cultura de líquor e/ou sangue. A recuperação do agente etio-
lógico viável é de extrema importância para a sua caracterização e para o monitoramento da resistência
bacteriana aos diferentes agentes microbianos.
Na suspeita de meningite por agente bacteriano anaeróbico, a eliminação do ar residual deve ser
realizada após a coleta do material. Transportar na própria seringa da coleta, com agulha obstruída, em
tubo seco e estéril ou inoculada direto nos meios de cultura. Em temperatura ambiente, o tempo ótimo
para transporte de material ao laboratório é de 15 minutos para um volume menor que 1mL e 30 minutos
para um volume superior.
O exame de látex deve ser processado com muito cuidado, para que não ocorram reações inespecí-
ficas. Observar, portanto, as orientações do manual do kit, uma vez que a sensibilidade do teste varia de
acordo com o produtor.
71
Anexo B
Fluxo de encaminhamento de amostras (meningites virais)
O diagnóstico laboratorial específico das meningites virais, em situações de surtos e em alguns casos
isolados, é de extrema importância para a Vigilância Epidemiológica.
A seguir, estão descritas as normas de coleta dos espécimes, os exames laboratoriais disponíveis e as
suas interpretações. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada no ato da entrada do caso suspeito
na unidade de saúde, no primeiro atendimento.
Deve ser utilizado o kit completo de coleta, para casos suspeitos de meningite viral, distribuído pelos
Lacen em todo o território nacional, constituído de:
Exames laboratoriais
Isolamento viral em cultura celular
Pode ser realizado com diversos tipos de fluidos corporais, mais comumente líquor e fezes. São utili-
zados cultivos celulares sensíveis, para o isolamento da maioria dos vírus associados às meningites assép-
ticas: RD (rabdomiossarcoma embrionário humano), Hep-2 (carcinoma epidermoide de laringe) e Vero
(rim de macaco verde africano).
Reação de soroneutralização e de imunofluorescência
Técnicas imunológicas para identificação do vírus isolado. Serão utilizados conjuntos de antissoros
específicos para a identificação dos sorotipos.
Reação em cadeia da polimerase (PCR e PCR em tempo real)
Técnica baseada na amplificação de sequências nucleotídicas definidas presentes no DNA ou RNA
viral. Possui alto grau de especificidade quanto à identificação do agente etiológico, sendo utilizada para
detecção direta, ou identificação de diferentes grupos de vírus associados às meningites virais.
Pesquisa de anticorpos no soro do paciente
Serão utilizados testes de soroneutralização, em amostras pareadas de soro, para a pesquisa de anti-
corpos para enterovírus; para os demais vírus, serão utilizados ensaios imunoenzimáticos com a finalida-
de de se detectar anticorpos da classe IgG e IgM.
Observações
Estes exames são realizados a partir de contato com a vigilância epidemiológica das meningites e Lacen.
As amostras devem ser encaminhadas ao laboratório com as seguintes informações: nome do pa-
ciente; estado e cidade de notificação; cidade, estado e país de residência do paciente; tipo de amostra
(líquor e/ou fezes); data de início dos sintomas; data de coleta da amostra; data de envio da amostra para
o laboratório; história de vacinação recente; e história de viagem recente.
Outras Meningites
Guia de Vigilância em Saúde
72
As amostras devem ser individualmente acondicionadas em sacos plásticos e enviadas ao laborató-
rio, em condições adequadas de transporte (caixas isotérmicas com gelo reciclável e, preferencialmente,
em gelo seco para o transporte de líquor).
Quadro 1 – Coleta e conservação de material para diagnóstico de meningite viral
Tipo de
diagnóstico
Tipo de
material
Quantidade
Nº de
amostras
Período da
coleta
Recipiente
Armazenamento/
conservação
Transporte
Isolamento e
identificação
Líquor 1,5 a 2mL 1
No ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda da
doença)
1 frasco de
polipropileno
com tampa
rosqueada
Acondicionar
imediatamente
em banho de
gelo e conservar
a -70o
C ou a
-20o
C até 24
horas
Enviar
imediatamente
ao laboratório
em banho de
gelo ou em gelo
seco em caixas
isotérmicas
Isolamento e
identificação
Fezes
4 a 8g
(aproximadamente
1/3 do coletor)
1
No ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda da
doença)
1 coletor
universal
Conservar em
geladeira por até
72 horas
Sob
refrigeração,
em caixas
isotérmicas,
com gelo
reciclável
Detecção
direta
Líquor 1,5 a 2mL 1
No ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda da
doença)
1 frasco de
polipropileno
com tampa
rosqueada
Acondicionar
imediatamente
em banho de
gelo
Enviar
imediatamente
ao laboratório
em banho de
gelo ou em gelo
seco em caixas
isotérmicas
Pesquisa de
anticorpos
da classe IgG
Soro
5mL de sangue
em frasco sem
anticoagulante
para obter o soro
2 (só serão
processadas
as amostras
pareadas)
1a
amostra
no ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda da
doença)
2a
amostra –
15 a 20 dias
após a 1a
(fase
convalescente)
2 frascos de
polipropileno
com tampa
rosqueada
Após a retração
do coágulo,
separar o soro e
conservar a
-20o
C
Sob
refrigeração,
em caixas
isotérmicas,
com gelo
reciclável
Pesquisa de
anticorpos
da classe
IgM
Soro
5mL de sangue
em frasco sem
anticoagulante
para obter o soro
1
1 amostra
no ato do
atendimento
ao paciente
(fase aguda da
doença)
1 frasco de
polipropileno
com tampa
rosqueada
Após a retração
do coágulo,
separar o soro e
conservar a
-20o
C
Sob
refrigeração,
em caixas
isotérmicas,
com gelo
reciclável
Todo material deverá ser enviado ao laboratório, devidamente identificado e acompanhado de cópia
da Ficha de Investigação de Meningite, que servirá de orientação quanto aos exames indicados.
O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importância para o êxito
dos procedimentos laboratoriais.
O material deve chegar ao Lacen no prazo de 12 a 24 horas após a coleta.
O tempo de procedimento técnico para o isolamento de vírus e sua identificação é de 30 dias, con-
tados a partir da entrada da amostra no laboratório de referência para o diagnóstico de meningite viral.
73
Coqueluche
Difteria
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Sarampo
Rubéola
Síndrome da Rubéola Congênita
Varicela/Herpes-Zóster
Tétano Acidental
Tétano Neonatal
CAPÍTULO 2
Guia de vigilncia em saude
75
Coqueluche
CID 10: A37
Características gerais
Descrição
Doença infecciosa aguda, de alta transmissibilidade, de distribuição universal. Importante causa de
morbimortalidade infantil. Compromete especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios) e
se caracteriza por paroxismos de tosse seca. Em lactentes, pode resultar em um número elevado de com-
plicações e até em morte.
Sinonímia
Tosse comprida ou tosse convulsa.
Agente etiológico
Bordetella pertussis, bacilo gram-negativo, aeróbio, não esporulado, imóvel e pequeno, provido de
cápsula (formas patogênicas) e de fímbrias.
Reservatório
O homem é o único reservatório natural. Ainda não foi demonstrada a existência de portadores crôni-
cos, embora possam ocorrer casos oligossintomáticos, com pouca importância na disseminação da doença.
Modo de transmissão
Ocorre, principalmente, pelo contato direto entre a pessoa doente e a pessoa suscetível, por meio de
gotículas de secreção da orofaringe eliminadas durante a fala, a tosse e o espirro. Em alguns casos, pode
ocorrer a transmissão por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes, mas
isso é pouco frequente, pela dificuldade de o agente sobreviver fora do hospedeiro.
Período de incubação
Em média, de 5 a 10 dias, podendo variar de 4 a 21 dias, e raramente, até 42 dias.
Período de transmissibilidade
Para efeito de controle, considera-se que o período de transmissão se estende do 5º dia após a exposição
do doente até a 3ª semana do início das crises paroxísticas (acessos de tosse típicos da doença). Em lactentes
menores de 6 meses, pode prolongar-se por até 4 ou 6 semanas após o início da tosse. A maior transmissibi-
lidade cai de 95% na 1a
semana da doença (fase catarral) para 50% na 3a
semana, sendo praticamente nula na
5a
semana, embora, ocasionalmente, já tenham sido isoladas bactérias na 10ª semana de doença.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral. O indivíduo torna-se imune em duas situações, descritas a seguir.
15 meses de idade, e um segundo reforço aos 4 anos de idade com a tríplice bacteriana (DTP). A
imunidade não é permanente; após 5 a 10 anos, em média, da última dose da vacina, a proteção
pode ser pouca ou inexistente.
Coqueluche
Guia de Vigilância em Saúde
76
Manifestações clínicas
A coqueluche evolui em três fases sucessivas:
Fase catarral -
mas leves (febre pouco intensa, mal-estar geral, coriza e tosse seca), seguidos pela instalação gradual de
surtos de tosse, cada vez mais intensos e frequentes, evoluindo para crises de tosses paroxísticas.
Fase paroxística
de febre no decorrer do dia. Apresenta como manifestação típica os paroxismos de tosse seca caracte-
rizados por crise súbita, incontrolável, rápida e curta, com cerca de cinco a dez tossidas em uma única
expiração. Durante os acessos, o paciente não consegue inspirar, apresenta protrusão da língua, con-
gestão facial e, eventualmente, cianose, que pode ser seguida de apneia e vômitos. A seguir, ocorre uma
inspiração profunda através da glote estreitada, podendo originar o som denominado de “guincho”. O
número de episódios de tosse paroxística pode chegar a 30 em 24 horas, manifestando-se mais frequen-
temente à noite. A frequência e a intensidade dos episódios de tosse paroxística aumentam nas duas
primeiras semanas e, depois, diminuem paulatinamente. Essa fase dura de duas a 6 semanas.
Fase de convalescença
comum. Essa fase persiste por duas a 6 semanas e, em alguns casos, pode se prolongar por até 3
meses. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescença da co-
queluche, podem provocar o reaparecimento transitório dos paroxismos.
Em indivíduos não adequadamente vacinados ou vacinados há mais de 5 anos, a coqueluche, com
frequência, não se apresenta sob a forma clássica, podendo manifestar-se sob formas atípicas, com tosse
persistente, porém, sem paroxismos, guincho característico ou vômito pós-tosse.
Os lactentes jovens (principalmente os menores de 6 meses) constituem o grupo de indivíduos
particularmente propenso a apresentar formas graves, muitas vezes letais. Nessas crianças, a doença se
manifesta com paroxismos clássicos, algumas vezes associados a cianose, sudorese e vômitos. Também
podem estar presentes episódios de apneia, parada respiratória, convulsões e desidratação decorrente dos
episódios repetidos de vômitos. O cuidado adequado para esses bebês exige hospitalização, isolamento,
vigilância permanente e procedimentos especializados.
Complicações
Respiratórias -
culose latente, atelectasia, bronquiectasia, enfisema, pneumotórax, ruptura de diafragma.
Neurológicas
subdural, estrabismo e surdez.
Outras B. pertussis, epistaxe, edema de face, úlcera do frê-
nulo lingual, hérnias (umbilicais, inguinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação e/ou desnutrição.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
Diagnóstico específico
É realizado mediante o isolamento da B. pertussis pela cultura de material colhido de nasofaringe
(Anexo A), com técnica adequada ou pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo
real. A coleta do espécime clínico deve ser realizada antes da antibioticoterapia ou, no máximo, até 3 dias
77
após seu início. Por isso, é importante procurar a unidade de saúde ou entrar em contato com a Coorde-
nação da Vigilância Epidemiológica na Secretaria de Saúde do município ou estado.
Para realização da cultura e PCR em tempo real, os procedimentos de coleta e transporte da amostra
para o laboratório são os mesmos do isolamento. A cultura é considerada como o padrão ouro no diag-
nóstico da coqueluche. É altamente específica (100%), mas a sensibilidade varia entre 12 e 60%, depen-
dendo de fatores como: antibioticoterapia prévia, duração dos sintomas, idade e estado vacinal, coleta de
espécime, condições de transporte do material, tipo e qualidade do meio de isolamento e transporte, pre-
sença de outras bactérias na nasofaringe, tipo de swab, tempo decorrido desde a coleta, transporte e pro-
cessamento da amostra. Como a B. pertussis apresenta tropismo pelo epitélio respiratório ciliado, a cultura
deve ser feita a partir da secreção nasofaríngea. A coleta do material de pacientes suspeitos de coqueluche
deverá ser realizada preferencialmente no início dos sintomas característicos da doença (período catarral)
e antes do início do tratamento ou, no máximo, com até 3 dias de antibioticoterapia.
Não se dispõe, até o momento, de testes sorológicos adequados e padronizados. Os novos métodos
em investigação apresentam limitações na interpretação.
É importante salientar que o isolamento e detecção de antígenos, produtos bacterianos ou sequências
genômicas de B. pertussis são aplicáveis ao diagnóstico da fase aguda.
Exames complementares
Para auxiliar na confirmação ou descarte dos casos suspeitos, podem ser realizados os seguintes exames:
Leucograma -
nadas. No período catarral, pode ocorrer uma linfocitose relativa e absoluta, geralmente acima de
10 mil linfócitos/mm3
. Os leucócitos totais no final dessa fase atingem um valor, em geral, superior
a 20 mil leucócitos/mm3
. No período paroxístico, o número de leucócitos pode ser elevado para 30
mil ou 40 mil/mm3
, associado a uma linfocitose de 60 a 80%. A presença da leucocitose e linfoci-
tose confere forte suspeita clínica de coqueluche, mas sua ausência não exclui o diagnóstico da do-
ença, por isso é necessário levar em consideração o quadro clínico e os antecedentes vacinais. Em
lactentes e pacientes vacinados e/ou com quadro clínico atípico, pode não se observar linfocitose.
Raio X de tórax -
cial e/ou na presença de complicações. É característica a imagem de “coração borrado” ou “franjado”,
porque as bordas da imagem cardíaca não são nítidas, em decorrência dos infiltrados pulmonares.
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com as infecções respiratórias agudas, como traqueobronquites, bronquiolites, adeno-
viroses, laringites, entre outras.
Outros agentes também podem causar a síndrome coqueluchoide, dificultando o diagnóstico dife-
rencial, entre os quais a Bordetella parapertussis, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia trachomatis, Chla-
mydia pneumoniae e Adenovírus (1, 2, 3 e 5). A Bordetella bronchiseptica e a Bordetella avium são patóge-
nos de animais que raramente acometem o homem, exceto quando imunodeprimido.
Tratamento
O tratamento e a quimioprofilaxia da coqueluche, até 2005, se apoiavam preferencialmente no uso da
eritromicina, macrolídeo bastante conhecido. Esse antibiótico é bastante eficaz na erradicação, em cerca de 48
horas, da B. pertussis da nasofaringe das pessoas com a doença (sintomática ou assintomática). Administrado
precocemente, de preferência no período catarral, o medicamento pode reduzir a intensidade, a duração
Coqueluche
Guia de Vigilância em Saúde
78
da doença e o período de transmissibilidade. Apesar disso, há limitações no seu uso, pois a eritromicina é
administrada de 6 em 6 horas por 7 a 14 dias, dificultando a adesão ao tratamento. Além disso, pode apresentar
vários efeitos colaterais, incluindo sintomas gastrointestinais. Em crianças menores de 1 mês de idade, o uso da
eritromicina está associado ao desenvolvimento da síndrome de hipertrofia pilórica, doença grave que pode
levar à morte.
Demonstrou-se que a azitromicina e a claritromicina, macrolídeos mais recentes, têm a mesma eficácia
da eritromicina no tratamento e na quimioprofilaxia da coqueluche. A azitromicina deve ser administrada
uma vez ao dia durante 5 dias e a claritromicina, de 12 em 12 horas durante 7 dias. Os novos esquemas te-
rapêuticos facilitam a adesão dos pacientes ao tratamento e, especialmente, à quimioprofilaxia dos contatos
íntimos. A azitromicina pode ser usada no tratamento das crianças com menos de 1 mês de idade.
Embora não haja confirmação da associação entre o uso de azitromicina e o risco de desenvolver a
síndrome de hipertrofia pilórica, a criança deve ser acompanhada pelos profissionais de saúde.
Nos casos de contraindicação ao uso da azitromicina e da claritromicina, recomenda-se o sulfame-
toxazol + trimetropin. A eritromicina ainda poderá ser usada, porém é contraindicada para menores de 1
mês de idade e nas situações em que ocorra intolerância ou dificuldade de adesão.
Os antibióticos e suas respectivas posologias indicados para tratamento da coqueluche são os mes-
mos usados na sua quimioprofilaxia (Quadro 1).
Mulheres no último mês de gestação ou puérperas, que tiveram contato com caso suspeito ou confir-
mado e apresentarem tosse por 5 dias ou mais, independente da situação epidemiológica, devem realizar o
tratamento para coqueluche. Além de gestantes e puérperas, recém-nascidos também deverão ser tratados.
Para crianças menores de 1 ano, pode-se tornar necessária a indicação de oxigenoterapia, aspiração
de secreção oronasotraqueal, assistência ventilatória não invasiva ou, em casos mais graves, ventilação
mecânica, assim como drenagem de decúbito, hidratação e/ou nutrição parenteral.
Características epidemiológicas
Desde a década de 1990, verifica-se significativa redução na incidência dos casos de coqueluche no Brasil,
decorrente da ampliação das coberturas vacinais de tetravalente e tríplice bacteriana. No início daquela década,
a incidência era de 10,6/100.000 hab. e a cobertura vacinal de cerca de 70%. Quando as coberturas se elevaram
paravalorespróximosa95e100%,entre1998e2000,aincidênciafoireduzidapara0,9/100.000hab.Comama-
nutenção das altas coberturas vacinais, a incidência continuou a cair, passando de 0,72/100.000 hab., em 2004, e
para 0,32/100.000 hab., em 2010. Em meados de 2011, entretanto, observou-se um aumento súbito do número
de casos da doença, que ultrapassou o limite superior esperado do diagrama de controle, construído com dados
referentes ao período de 2006 a 2010. Em 2012, o número de casos, registrados por semana epidemiológica,
manteve-se em níveis superiores ao esperado, com aumento progressivo. Em 2014, registrou-se maior pico de
casos, com incidência de 4,2/100.000 hab. Vale ressaltar que, nos últimos anos, houve melhora do diagnóstico
laboratorial com a introdução de técnicas biomoleculares. Destaca-se que esse comportamento também ocor-
reu em outros países.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
-
do à adoção de medidas de controle pertinentes.
-
tório de referência nacional, para estudos moleculares e de resistência bacteriana a antimicrobianos.
79
Primeira escolha: Azitromicina
Idade Posologia
<6 meses
10mg/kg em uma dose ao dia durante 5 dias
É o preferido para esta faixa etária
10mg/kg (máximo de 500mg) em uma dose no 1º dia e 5mg/kg (máximo de 250mg) em uma dose
ao dia do 2º ao 5º dia
Adultos 500mg em uma dose no 1º dia e 250mg em uma dose ao dia do 2º ao 5º dia
Segunda escolha: Claritromicinaa
Idade Posologia
<1 mês Não recomendado
1 a 24 meses
7,5mg/kg de 12 em 12h durante 7 dias
>8 kg:
62,5mg de 12 em 12h durante 7dias
3 a 6 anos 125mg de 12 em 12h durante 7 dias
7 a 9 anos 187,5mg de 12 em 12h durante 7dias
250mg de 12 em 12h durante 7 dias
Adultos 500mg de 12 em 12h durante 7 dias
Eritromicina (em caso de indisponibilidade dos medicamentos anteriores)
Idade Posologia
<1 mês Não recomendado devido à associação com a síndrome de hipertrofia pilórica
1 a 24 meses 125mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias
2 a 8 anos 250mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias
>8 anos 250-500mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias
Adultos 500mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias
Sulfametoxazol-Trimetoprin (SMZ-TMP), no caso de intolerância a macrolídeob
Idade Posologia
<2 meses Contraindicado
SMZ 100mg e TMP 20mg de 12 em 12h durante 7 dias
SMZ 200mg e TMP 40mg de 12 em 12h durante 7 dias
6 a 12 anos SMZ 400mg e TMP 80mg de 12 em 12h durante 7dias
Adultos SMZ800mg e TMP 160mg de 12 em 12h durante 7dias
a
Apresentação de 125mg/5mL.
b
Droga alternativa se houver contraindicação de azitromicina, claritromicina ou eritromicina.
Vigilância em situação endêmica
Definição de caso em situação endêmica e em casos isolados
Caso suspeito
- Todo indivíduo, independentemente do estado vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há
10 dias ou mais associada a um ou mais dos seguintes sintomas:
Coqueluche
Guia de Vigilância em Saúde
80
uma única expiração;
. guincho inspiratório;
. vômitos pós-tosse;
. cianose;
. apneia;
. engasgo.
Indivíduo com idade igual ou superior a 6 meses
- Todo indivíduo que, independentemente do estado vacinal, apresente tosse de qualquer tipo há
14 dias ou mais associada a um ou mais dos seguintes sintomas:
uma única expiração;
. guincho inspiratório;
. vômitos pós-tosse.
Além disso, acrescenta-se à condição de caso suspeito todo indivíduo que apresente tosse, em qualquer
período, com história de contato próximo com caso confirmado de coqueluche pelo critério laboratorial.
Em crianças com menos de 2 meses de idade, a sintomatologia pode ser diferente, pois nessa condi-
ção o uso da vacina pode levar à ocorrência de casos atípicos. Nesse sentido, o tratamento deve ser estabe-
lecido pelo critério clínico, até que se obtenha o resultado do exame laboratorial, se disponível.
Em situações excepcionais, em que exista forte suspeita clínica de um caso de coqueluche pelo médi-
co assistente, deve-se proceder à coleta de swab de nasofaringe e ao tratamento adequado, mesmo quando
não se atenda a todos os critérios descritos na definição de caso.
Caso confirmado
Critério laboratorial
isolamento por cultura ou identificação por PCR de B. pertussis.
Critério clínico-epidemiológico
contato com caso confirmado de coqueluche pelo critério laboratorial, entre o início do período
catarral e até 3 semanas após o início do período paroxístico da doença.
Critério clínico
- Para indivíduos com idade inferior a 6 meses
vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há 10 dias ou mais associada a dois ou mais dos
seguintes sintomas:
(cinco a dez), em uma única expiração;
. guincho inspiratório;
. vômitos pós-tosse;
. cianose;
. apneia;
. engasgo.
- Para indivíduos com idade igual ou superior a 6 meses
do estado vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há 14 dias ou mais associada a dois ou
mais dos seguintes sintomas:
81
uma única expiração;
. guincho inspiratório;
. vômitos pós-tosse.
Salienta-se que, ao se confirmar ou descartar o caso de coqueluche pelo critério clínico, deve-se ana-
lisar, concomitantemente à sintomatologia, a idade, a situação vacinal, o período da tosse associado ao de
transmissibilidade (21 dias), o resultado de hemograma, e demais informações porventura disponíveis.
Essas variáveis não são excludentes entre si.
O hemograma é um exame complementar indicativo, mas não determinante na confirmação ou des-
carte dos casos suspeitos de coqueluche, pois a situação vacinal pode influenciar no seu resultado.
Descartado
Caso suspeito que não se enquadre em nenhuma das situações descritas para caso confirmado.
Notificação
A coqueluche é uma doença de notificação compulsória em todo o território nacional. A investigação
laboratorial é recomendada em todos os casos atendidos nos serviços de saúde, para fins de confirmação
e estabelecimento de medidas para o tratamento e redução de sua disseminação. A notificação deve ser
registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da
Ficha de Investigação da Coqueluche.
Investigação
Roteiro da investigação
Durante a investigação, priorizar os casos em que a antibioticoterapia ainda não foi instituída ou que
estão em uso de antimicrobiano há menos de 3 dias.
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação relativos aos dados gerais, notificação individual
e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
- Anotar os antecedentes epidemiológicos e clínicos.
- Observar, com atenção, se o caso notificado se enquadra na definição de caso suspeito de coqueluche.
- Acompanhar a evolução do caso e o resultado da cultura ou PCR de B. pertussis.
- Verificar se há indícios de outros casos suspeitos no local de residência, creche ou na escola.
Quando não se identificarem casos nesses locais, interrogar sobre deslocamentos e permanên-
cia em outras áreas. Esses procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente,
familiares ou responsáveis, além de lideranças da comunidade.
- Busca ativa de casos.
- Após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente a busca ativa de
outros casos, casa a casa, em creches, escolas, locais de trabalho e em unidades de saúde.
Coqueluche
Guia de Vigilância em Saúde
82
- Utilizar a definição de caso de comunicante com contato íntimo em situação endêmica.
- A investigação de comunicantes com contato íntimo deverá ser realizada em residência, creche,
escola e em outros locais que possibilitaram o contato íntimo com o caso.
- Coletar material de nasofaringe dos comunicantes, a fim de realizar cultura e/ou PCR de B.
pertussis, quando não houver oportunidade de coleta adequada do caso suspeito.
- Verificarasituaçãovacinaldoscomunicantes,considerandoesquemabásicode3doses(tetraoupenta-
valente)emmenoresde1anodeidadeeduasdosesdereforço registradasnacadernetadevacinaçãoe,
se necessário, atualizar o esquema vacinal dos menores de 7 anos com a pentavalente ou a vacina DTP.
- Preencher os campos referentes aos dados dos comunicantes na ficha de investigação da coqueluche.
- Manter a área sob vigilância até 42 dias após a identificação do último caso (período máximo de
incubação observado).
- Rotineiramente, deve-se coletar material de nasofaringe dos casos suspeitos atendidos nas
unidades de saúde, a fim de confirmar os casos e identificar a circulação da B. pertussis.
Análise de dados
Deve proporcionar conhecimentos atualizados sobre a distribuição dos casos de coqueluche, segun-
do o lugar e a faixa etária, a letalidade da doença, a efetividade dos programas de vacinação e a detecção
de possíveis falhas operacionais da atividade de controle da doença na área, entre outros. Na ocorrência
de surtos, é necessário sistematizar as informações em tabelas e gráficos, considerando critérios de confir-
mação do diagnóstico, proporção de casos em vacinados, padrões de distribuição da doença e cobertura
vacinal. Tal análise orientará as medidas de controle adequadas.
Encerramento de caso
Os casos notificados deverão ser classificados de acordo com os critérios mencionados na seção "De-
finição de casos em situação endêmica e casos isolados".
Relatório final
Quando a doença se manifestar apenas sob a forma endêmica, a cada final de ano, deve-se elaborar um
relatório contendo informações sobre o desempenho operacional da vigilância epidemiológica, tendência
temporal, distribuição espacial da doença, cobertura vacinal em menores de 1 ano e homogeneidade.
Vigilância da coqueluche em situação de surto ou epidemia
Em surtos e epidemias, a definição de caso é mais sensível, o que auxilia na identificação e notificação
de um número elevado de suspeitos, que necessitam ser acompanhados, com o propósito de se verificar o
desenvolvimento de um ou mais sintomas típicos da coqueluche.
Nessa situação, a administração da quimioprofilaxia deverá ser realizada de maneira mais ampla, já que
a definição de comunicante com contato íntimo é modificada, quando comparada com a situação endêmica.
Definição de surto
Surtodomiciliar -
ratorial e o segundo por um dos três critérios de caso confirmado (a definição de caso para surto deve
serusada,especialmenteparaadetecçãorápidadamagnitudedosurto).Oscasosdevemocorrerdentro
de um período máximo de 42 dias.
83
Surtos em instituições
outro por um dos três critérios, que ocorram no mesmo tempo (casos que ocorrerem dentro de
um intervalo máximo de 42 dias entre o início dos sintomas do caso índice) e no mesmo espaço
(no mesmo ambiente de convívio), com a evidência de que a transmissão tenha ocorrido em pelo
menos um dos casos no ambiente institucional. Esta definição de surto também deve ser utilizada
em escolas, creches, ambientes de cuidados de saúde, alojamentos e presídios, entre outros, para
levantamento rápido de possíveis casos suspeitos.
Surtos em comunidades -
firmado pelo critério laboratorial, for maior do que o número de casos esperado para local e tempo, com
base na análise de registros anteriores, realizada a partir de uma série histórica da incidência da doença
em uma determinada população circunscrita.
Definição de casos suspeitos em situação de surtos ou epidemias
Indivíduos com menos de 6 meses de idade -
pendentemente da situação vacinal, que apresente tosse há 10 dias ou mais.
Indivíduos com 6 meses de idade ou mais
vacinal, que apresente tosse há 14 dias ou mais.
Os casos de coqueluche, nessas situações, serão confirmados, conforme os critérios de confir-
mação descritos anteriormente (laboratorial ou clínico-epidemiológico ou clínico).
Essas definições têm finalidade epidemiológica e não para o desencadeamento de profilaxia e tratamento.
Definição de comunicantes com contato íntimo
e prolongado em situações de surtos e epidemias
ou confirmado (amigos próximos, colegas de escola, de esportes, indivíduos que moram no mes-
mo domicílio, namorados, profissionais de saúde, entre outros), dentro do intervalo entre 21 dias
antes do início dos sintomas do caso até 3 semanas após o início da fase paroxística.
Roteiro da investigação em situações de surtos e epidemias
Além dos passos orientados para situação endêmica, deve-se:
-
mento ou quimioprofilaxia, respectivamente;
seletiva utilizará pentavalente ou DTP, a depender da idade;
número grande de casos), identificando casos suspeitos com definição de surto, caso suspeito que
atenda a situação endêmica e casos confirmados, bem como os óbitos.
Coqueluche
Guia de Vigilância em Saúde
84
O material para diagnóstico laboratorial deve ser coletado da nasofaringe para realização de cultura
e/ou PCR dos pacientes sintomáticos. Na impossibilidade de coletar material de todos os casos, selecionar
uma amostra adequada de pacientes, considerando:
tempo da doença
até 4 semanas de evolução;
tempo de uso de antibiótico
instituída ou que estão em uso de antimicrobiano há menos de 3 dias;
distribuição dos casos
aldeias e salas de aula.
É de responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica, laboratórios centrais ou de
referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder à coleta de material para exame, de acordo com a orga-
nização de cada local. É fundamental que a coleta seja feita por pessoal devidamente treinado.
Em investigação de surtos deve-se escrever um relatório final, abordando:
-
missão da doença;
elevadas e homogêneas coberturas vacinais, e conservação e aplicação da vacina utilizada;
para a área, definição de conduta para identificação e investigação de outros surtos e capacitação
de pessoal para coleta e transporte de material.
Diagnóstico laboratorial em situação de surtos
Em situação de surto domiciliar, todos os casos sintomáticos devem ter amostra de nasofaringe co-
letada para a realização de cultura.
Em situação de surtos institucionais ou comunitários, deve-se coletar amostra de nasofaringe de
todos os casos que atendam a definição de suspeitos para situação endêmica, de preferência 48 horas
antes do início do tratamento ou quimioprofilaxia, para a realização de cultura. Recomenda-se que 10%
das amostras sejam enviadas para o laboratório de referência nacional, para realização de PCR e análise
genotípica dos espécimes isolados.
Tratamento e quimioprofilaxia em surtos e epidemias
Todo comunicante que teve contato íntimo com caso suspeito de coqueluche que atenderem a
definição de caso em surto ou epidemia, considera-se caso suspeito e deve receber tratamento.
Situações especiais em surto ou epidemia:
Gestantes
mais, devem receber tratamento (Quadro 1).
Puérpera
criança deverão ser tratadas.
85
Medidas de prevenção e controle em situação endêmica
Imunização
Haemophilus influenzae
mesmo quando os responsáveis refiram história da doença.
Na rotina dos serviços, a vacina pentavalente é indicada em 3 doses, para crianças menores de 1
ano de idade. As doses são aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de idade, com intervalo de 30 a 60 dias entre elas.
Recomenda-se que a terceira dose não seja aplicada antes dos 6 meses de idade. Esta vacina encontra-se
disponibilizada para as crianças até 6 anos, 11 meses e 29 dias.
Também se indicam duas doses de reforços com a vacina DTP, aos 15 meses e aos 4 anos de idade,
que podem ser aplicadas nas crianças com menos de 7 anos de idade (6 anos, 11 meses e 29 dias).
A vacina DTPa (acelular) é recomendada para crianças com risco aumentado de desenvolver ou que
tenham desenvolvido eventos graves adversos à vacina com células inteiras, e está disponibilizada nos
Centros de Referências para Imunobiológicos Especiais (CRIE).
Outra estratégia utilizada na prevenção da coqueluche é vacinar todas as gestantes com a vacina
gestação. A depender da situação vacinal encontrada, deve-se administrar uma dose da vacina dTpa para
iniciar e completar o esquema vacinal, ou como dose de reforço. Em gestantes que não foram vacinadas
durante a gestação, aplicar uma dose de dTpa no puerpério o mais precocemente possível.
É de fundamental importância a vacinação dos profissionais de saúde que atuam em maternidades e
em unidades de internação neonatal (UTI/UCI convencional e UCI Canguru), atendendo recém-nasci-
dos e crianças menores de 1 ano de idade.
Para profissionais de saúde, realizar vacinação conforme o histórico vacinal, segundo os critérios
discriminados abaixo:
Com esquema de vacinação básico completo dT
com dTpa.
Com esquema de vacinação básico para tétano incompleto
dose de dTpa e completar o esquema com uma ou duas doses de dT, de forma a totalizar 3 doses da
vacina contendo o componente tetânico.
Controle dos comunicantes e quimioprofilaxia
Comunicante
dias antes do início dos sintomas da coqueluche e até 3 semanas após o início da fase paroxística.
Contatos íntimos
frequentam habitualmente o local de moradia do caso. São também comunicantes aqueles que
passam a noite no mesmo quarto, como pessoas institucionalizadas e trabalhadores que dormem
no mesmo espaço físico. Outros tipos de exposições podem definir novos comunicantes, como
no caso de situações em que há proximidade entre as pessoas (±1 metro) na maior parte do
tempo e rotineiramente (escola, trabalho ou outras circunstâncias que atendam a este critério).
Algumas situações podem requerer julgamento específico para a indicação de quimioprofilaxia,
especialmente se há grupos vulneráveis envolvidos.
Coqueluche
Guia de Vigilância em Saúde
86
Vacinação seletiva
Em comunicantes, familiares e escolares, menores de até 6 anos, 11 meses e 29 dias, não vacinados,
com esquema vacinal incompleto ou com situação vacinal desconhecida, deve-se administrar uma dose
da vacina contra a coqueluche (DTP ou penta) e fazer a orientação de como proceder para completar o
esquema de vacinação.
Para os menores de 1 ano, indica-se a vacina pentavalente, e para as crianças com idade entre 1 e 6
anos completos, a vacina DTP.
Quimioprofilaxia
A quimioprofilaxia é indicada para comunicantes:
avaliados pelo médico;
-
mado menos de 4 doses da vacina DTP + Hib, DTP + Hib + Hepatite B ou DTP;
- tiveram contato com o caso índice no período de 21 dias que precederam o início dos sintomas
do caso até 3 semanas após o início da fase paroxística; ou
- tiverem contato com um comunicante vulnerável no mesmo domicílio.
Consideram-se comunicantes vulneráveis:
-
lente ou DTP;
-
nos de 3 doses de vacina pentavalente, tetravalente ou DTP);
Tossidores identificados no grupo dos comunicantes vulneráveis devem ser considerados casos sus-
peitos de coqueluche. Portanto, devem ser notificados e tratados, independentemente do resultado labora-
torial. Além disso, deve-se coletar material de nasofaringe para cultura ou PCR, preferencialmente, antes
do início da antibioticoterapia.
O tratamento e a quimioprofilaxia têm os mesmos esquemas terapêuticos (Quadro 1).
Portador de coqueluche é todo indivíduo que não apresentou sinais e sintomas sugestivos, mas que
obteve isolamento da B. pertussis pela cultura ou identificação pelo PCR em tempo real. A quimiopro-
filaxia é também indicada a esse portador, pois a presença do agente etiológico no organismo humano
favorece a disseminação da doença a outros indivíduos vulneráveis.
Situações especiais
Neonatos
receber quimioprofilaxia.
Gestantes
em situação de endemia ou na definição para indicação de quimioprofilaxia deve receber o trata-
mento ou quimioprofilaxia (Quadro 1).
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Bibliografia
CENTERS FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION. Pertussis (Whooping Cough)
Vaccination, 2013. Disponível em: <www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis/default.htm>. Acesso em:
18 fev. 2014.
PUBLIC HEALTH ENGLAND. Pertussis: guidance, data and analysis, 2013. Disponível em: <www.hpa.
VERONESI, R; FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
Coqueluche
Guia de Vigilância em Saúde
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Anexo A
Orientações para cultura de material usado no
diagnóstico laboratorial da coqueluche
Coleta de secreção nasofaríngea
swabs finos com haste flexível, estéreis e alginatados ou de Dracon®.
-
-los atingir a temperatura ambiente.
swab na narina até encontrar resistên-
cia na parede posterior da nasofaringe, realizando movimentos rotatórios. Coletar o material de
uma narina (Figura 1).
Figura 1 − Coleta de material da nasofaringe
swab na superfície inclinada do meio de transporte e, a seguir, introduzir
na base do meio de transporte (meio semissólido RL).
- Identificar o tubo com o nome e a idade, indicando se é caso suspeito ou comunicante, bem
como a data e o horário da coleta.
dadas à continuidade do exame sejam tomadas (preparo de meio de cultura e outras).
Atenção
swab deve permanecer dentro do respectivo tubo.
Transporte do material coletado
-
tura ambiente.
-
pia da ficha de investigação epidemiológica da coqueluche, conforme definição no âmbito estadual
com a Secretaria de Vigilância em Saúde/MS.
-
co) é do caso ou do comunicante.
-
bados em estufa a 35-37°C por um período máximo de 48 horas, sendo encaminhados em tempe-
ratura ambiente.
local for elevada, recomenda-se o transporte sob refrigeração.
89
Atenção
geladeira até o momento da coleta.
Estabelecer com o laboratório uma rotina referente ao envio de amostras (horário e local de entrega
de material), fluxo de resultados e avaliação periódica da qualidade das amostras enviadas, bem como
outras questões pertinentes.
Coqueluche
Guia de vigilncia em saude
91
Difteria
Difteria
CID 10: A36
Características gerais
Descrição
Doença toxi-infecciosa aguda, contagiosa, potencialmente letal, imunoprevenível, causada
por bacilo toxigênico, que frequentemente se aloja nas amígdalas, faringe, laringe, fossas nasais e,
ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. É caracterizada por apresentar placas pseudomem-
branosas típicas.
Sinonímia
Crupe.
Agente etiológico
Corynebacterium diphtheriae, bacilo gram-positivo, produtor da toxina diftérica, quando infectado
por um fago específico.
Reservatório
O principal é o próprio doente ou o portador, sendo esse último mais importante na disseminação do
bacilo, pela maior frequência na comunidade e por ser assintomático. A via respiratória superior e a pele
são locais habitualmente colonizados pela bactéria.
Modo de transmissão
Ocorre pelo contato direto de pessoa doente ou portadores com pessoa suscetível, por meio de go-
tículas de secreção respiratória, eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. Em casos raros, pode ocorrer a
contaminação por fômites. O leite cru pode servir de veículo de transmissão.
Período de incubação
Em geral, de 1 a 6 dias, podendo ser mais longo.
Período de transmissibilidade
Em média, até duas semanas após o início dos sintomas. A antibioticoterapia adequada elimina, na
maioria dos casos, o bacilo diftérico da orofaringe, 24 a 48 horas após sua introdução.
O portador pode eliminar o bacilo por 6 meses ou mais, motivo pelo qual se torna extremamente
importante na disseminação da difteria.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral. A imunidade pode ser naturalmente adquirida pela passagem de anti-
corpos maternos via transplacentária, que protegem o bebê nos primeiros meses de vida, ou através de
infecções inaparentes atípicas, que conferem imunidade em diferentes graus, dependendo da maior ou
menor exposição dos indivíduos. A imunidade também pode ser adquirida ativamente pela vacinação
com toxoide diftérico.
Guia de Vigilância em Saúde
92
A proteção conferida pelo soro antidiftérico (SAD) é temporária e de curta duração (em média, duas
semanas). A doença normalmente não confere imunidade permanente, devendo o doente continuar
seu esquema de vacinação após a alta hospitalar.
Manifestações clínicas
A presença de placas pseudomembranosas branco-acinzentadas, aderentes, que se instalam nas
amígdalas e invadem estruturas vizinhas, é a manifestação clínica típica. Essas placas podem se localizar
na faringe, na laringe e nas fossas nasais, e, com menos frequência, também são observadas na conjuntiva,
na pele, no conduto auditivo, na vulva, no pênis (pós-circuncisão) e no cordão umbilical.
A doença se manifesta clinicamente por comprometimento do estado geral do paciente, que pode
se apresentar prostrado e pálido. A dor de garganta é discreta, independentemente da localização ou
quantidade de placas existentes, e a febre normalmente não é muito elevada, variando de 37,5 a 38,5°C,
embora temperaturas mais altas não afastem o diagnóstico.
Nos casos mais graves, há intenso edema do pescoço, com grande aumento dos gânglios linfáticos
dessa área (pescoço taurino) e edema periganglionar nas cadeias cervicais e submandibulares. Depen-
dendo do tamanho e localização da placa pseudomembranosa, pode ocorrer asfixia mecânica aguda no
paciente, o que muitas vezes exige imediata traqueostomia para evitar a morte.
O quadro clínico produzido pelo bacilo não toxigênico também determina a formação de placas
características, embora não se observem sinais de toxemia ou a ocorrência de complicações. No entanto,
as infecções causadas pelos bacilos não toxigênicos têm importância epidemiológica por disseminarem o
C. diphtheriae.
Formas clínicas
− é a mais comum. Nas primeiras
horas da doença, observa-se discreto aumento de volume das amígdalas, além da hiperemia de
toda a faringe. Em seguida, ocorre a formação das pseudomembranas características, aderentes
e invasivas, constituídas por placas esbranquiçadas ou amarelo-acinzentadas, eventualmente de
cor cinzento-escura ou negra, que se tornam espessas e com bordas bem definidas. Essas placas
se estendem pelas amígdalas, recobrindo-as, e, frequentemente, invadem as estruturas vizinhas,
podendo ser observadas nos pilares anteriores, úvula, palato mole e retrofaringe, adquirindo
aspecto necrótico. O estado geral do paciente agrava-se, com a evolução da doença, em virtude da
progressão das pseudomembranas e da absorção cada vez maior de toxina.
) − denominação dada aos casos graves, intensamente tóxi-
cos, que, desde o início, apresentam importante comprometimento do estado geral. Observa-se a
presença de placas de aspecto necrótico, que ultrapassam os limites das amígdalas, comprometen-
do as estruturas vizinhas. Há um aumento importante do volume dos gânglios da cadeia cervical e
edema periganglionar, pouco doloroso à palpação, caracterizando o pescoço taurino.
− é mais frequente em lactentes, sendo, na maioria das vezes, concomitante
à angina diftérica. Desde o início observa-se secreção nasal serossanguinolenta, geralmente unila-
teral, podendo ser bilateral, que provoca lesões nas bordas do nariz e no lábio superior.
− na maioria dos casos, a doença se inicia na região da orofaringe,
progredindo até a laringe. É uma forma bastante comum no Brasil. Os sintomas iniciais, além
93
dos que são vistos na faringe diftérica, são: tosse, rouquidão, disfonia e dificuldade respiratória
progressiva, podendo evoluir para insuficiência respiratória aguda. Em casos raros, pode haver
comprometimento isolado da laringe, o que dificulta o diagnóstico.
− apresenta-se sob a forma de úlcera arredondada, com exsudato fibrinopurulento e
bordas bem demarcadas que, embora profunda, não alcança o tecido celular subcutâneo. Devi-
do à pouca absorção da toxina pela pele, a lesão ulcerada de difteria pode se tornar subaguda
ou crônica e raramente é acompanhada de repercussões cutâneas. No entanto, seu portador
constitui-se em reservatório e disseminador do bacilo diftérico, daí sua importância na cadeia
epidemiológica da doença.
− apesar de raro, o bacilo diftérico pode acometer a vagina (ulcerações e
corrimento purulento), o ouvido (processo inflamatório exsudativo do duto auditivo externo) e
conjuntiva ocular (a infecção pode ser inaparente ou manifestar-se sob a forma de conjuntivite
aguda, com eventual formação da membrana).
Complicações
Podem ocorrer desde o início da doença até, na maioria dos casos, a 6a
ou 8a
semana, quando os sin-
tomas iniciais já desapareceram. Podem estar relacionadas com a localização e a extensão da membrana;
a quantidade de toxina absorvida; o estado imunitário do paciente; a demora no diagnóstico e no início
do tratamento.
As principais complicações da difteria são:
− é responsável pelo maior número de óbitos a partir da 2a
semana da doença. De-
corre da ação direta da toxina no miocárdio ou, ainda, da intoxicação do sistema de condução
cardíaco. Os sinais e sintomas mais encontrados são alterações de frequência e ritmo, hipofonese
de bulhas, hepatomegalia dolorosa, aparecimento de sopro e sinais de insuficiência cardíaca
congestiva (ICC). As alterações eletrocardiográficas mais encontradas são alteração de repo-
larização, extrassistolias, taquicardia ou bradicardia, distúrbio de condução atrioventricular e
corrente de lesão.
− consiste de alterações transitórias, decorrentes da ação da exotoxina no sistema
nervoso periférico, ocasionando as neurites periféricas. As manifestações geralmente são tardias,
ocorrendo entre a 2a
e a 6a
semana de evolução, mas podem aparecer alguns meses depois. A
forma de apresentação mais comum e mais característica é a paralisia do véu do palatino, com
desvio unilateral da úvula, ocasionando voz anasalada, engasgos e regurgitação de alimentos pelo
nariz, podendo ocorrer broncoaspiração. Em alguns casos, observa-se paresia ou paralisia bilateral
e simétrica das extremidades, com hiporreflexia. Também pode ocorrer paralisia do diafragma,
geralmente tardia, causando insuficiência respiratória. A paralisia dos músculos oculares,
determinando diplopia e estrabismo, também pode ser observada.
− de acordo com a gravidade do caso, pode-se detectar a presença de albuminúria em
diferentes proporções. Na difteria grave, pode-se instalar uma nefropatia tóxica com importantes
alterações metabólicas e, mais raramente, insuficiência renal aguda. Geralmente, quando há mio-
cardite, pode ocorrer também insuficiência renal grave.
Emgeral,adifteriaéumadoençagravequenecessitadeassistênciamédico-hospitalarimediataeisolamento.
Difteria
Guia de Vigilância em Saúde
94
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
É realizado pelo isolamento e identificação do C. diphtheriae por meio de cultura de amostras bio-
lógicas, coletadas adequadamente, das lesões existentes (ulcerações, criptas das amígdalas), exsudatos de
orofaringe e de nasofaringe, que são as localizações mais comuns, ou de outras lesões cutâneas, conjun-
tivas, genitália externa, entre outras, mesmo sem as provas de toxigenicidade (Anexo A). Essa técnica é
considerada o padrão ouro para o diagnóstico da difteria.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial é feito entre a:
e o impetigo, ectima, eczema, úlceras;
e a rinite estreptocócica, rinite sifilítica, corpo estranho nasal;
e a amigdalite estreptocócica, angina monocítica, angina de
Plaut Vicent, agranulocitose;
e o crupe viral, laringite estridulosa, epiglotite aguda, inalação de corpo estranho.
Tratamento
Tratamento específico
A medida terapêutica eficaz na difteria é a administração do soro antidiftérico (SAD), que deve
ser feita em unidade hospitalar, e cuja finalidade é inativar a toxina circulante o mais rápido possível,
possibilitando a circulação de excesso de anticorpos em quantidade suficiente para neutralizar a toxina
produzida pelos bacilos.
O SAD não tem ação sobre a toxina já impregnada no tecido, por isso sua administração deve ser
feita o mais precocemente possível diante de suspeita clínica bem fundamentada.
O SAD tem origem heteróloga (soro heterólogo de cavalo), sendo um produto cada vez mais purifi-
cado, em razão do que se considera rara a possibilidade de este produto causar complicações graves, tais
como o choque anafilático e a doença do soro. Mesmo assim, a sua administração só deve ser feita em ser-
viços de saúde preparados para o tratamento de complicações, o que implica a existência de equipamentos
de emergência e a presença do médico. Quando o serviço não dispuser de condições para atendimento das
emergências, a pessoa deve ser encaminhada imediatamente a outro serviço, capaz de garantir a adminis-
tração do soro com segurança. Por isso, antes da indicação do soro, deve-se proceder à anamnese, com
interrogatório rigoroso dos antecedentes da pessoa. Algumas informações são fundamentais para orientar
a decisão sobre administrar o soro ou encaminhar para outros serviços, tais como:
profissional ou por lazer.
No caso da confirmação de qualquer uma dessas informações, o profissional deve adotar o procedi-
mento indicado para a prevenção da ocorrência de reações anafiláticas, conforme orientação do manual
de procedimentos para vacinação.
95
Prevenção de reações anafiláticas na administração de soros heterólogos
Para prevenção de reações anafiláticas, alguns cuidados específicos são adotados. Os procedimentos
básicos para realizá-los são elencados a seguir.
-
soro fisiológico, equipo de soro e material necessário para assistência ventilatória.
no paciente, garantindo adequado acesso venoso e a manutenção do gotejamento, mesmo depois
da administração do soro heterólogo.
no interior de um frasco de 250 ou 500mL de soro glicosado ou fisiológico previamente esvaziado.
em “y” com o soro fisiológico ou glicosado a 5% previamente instalado no antebraço do paciente.
Lembrar-se de que, quanto mais rapidamente o paciente receber o soro heterólogo, menores as
chances de sequelas causadas pela toxina circulante.
mantendo acesso venoso com soro fisiológico instalado, controlando o gotejamento, os sinais vi-
tais, e observando coloração e temperatura das extremidades (lábios, dedos), sinais de inquietação,
sudorese, dificuldade respiratória, queda de pressão arterial, pulso fraco, entre outros.
gotejamento do soro fisiológico ou glicosado a 5% e iniciar o tratamento com adrenalina, anti-
histamínicos e corticosteroides.
mesmo choque anafilático. Nessa situação, deve-se parar imediatamente a infusão do soro heterólogo e
tomar as providências clínicas cabíveis para cada situação, de acordo com a faixa etária do indivíduo.
A realização do teste de sensibilidade cutâneo foi excluída da rotina da administração de soros, pois o
valor preditivo deste teste é discutível e imprevisível para as manifestações de hipersensibilidade imediata,
precoce ou tardia, razão pela qual não se indica a sua realização.
Nos casos de reação à aplicação de soros de origem equina, se for necessário repetir imunização passiva,
devem ser utilizadas as imunoglobulinas humanas (IgG), quando possível. Na impossibilidade do uso de
IgG, administrar soro heterólogo com pré-medicação e acompanhar o paciente nos 10 dias seguintes.
Outras informações podem ser consultadas no Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos
Adversos Pós-Vacinação (2014)
no Manual de Procedimentos para Vacinação (2014), em Procedimentos preliminares à administração
dos soros heterólogos.
Administração do SAD
As doses do SAD não dependem do peso e da idade do paciente, e sim da gravidade e do tempo da
doença (Quadro 1). A administração do SAD deve ser feita por via intramuscular ou, preferencialmente,
por via endovenosa, sendo diluída em 100mL de soro fisiológico, em dose única.
Difteria
Guia de Vigilância em Saúde
96
Quadro 1 – Esquema de administração do soro antidiftérico (SAD)
Forma clínica Dosagem
Leve (nasal, cutânea, amigdaliana) 40.000UI, endovenoso
Laringoamigdaliana ou mista 60.000 a 80.000UI, endovenoso
Graves ou tardias (4 dias de doença) 80.000 a 120.000UI, endovenoso
Antibioticoterapia
O uso de antibiótico deve ser considerado como medida auxiliar da terapia específica, objetivando
interromper a produção de exotoxina, pela destruição dos bacilos diftéricos e sua disseminação.
Pode-se utilizar eritromicina ou penicilina G cristalina ou penicilina G procaína, com a mesma efi-
cácia, durante 14 dias, conforme orientação a seguir:
via endovenosa.
iguais de 12 em 12 horas, por via intramuscular.
Quando houver melhora do quadro, a penicilina G cristalina pode ser substituída pela penicilina
G procaína para se completarem os 14 dias de tempo total de tratamento. A clindamicina constitui boa
por via endovenosa, durante 14 dias.
Tratamento sintomático
O tratamento geral ou de suporte consiste em repouso no leito, manutenção do equilíbrio hidrele-
trolítico (gotejamento endovenoso de soro glicofisiológico, com acréscimo de glicose a 25 ou 50%, para
aumentar a oferta calórica), dieta leve, nebulização ou vaporização. Deve-se proceder, com frequência, à
aspiração das secreções.
Não havendo aceitação dos alimentos e dos líquidos por via oral, deve-se administrá-los por
sonda nasogástrica.
Tratamento das complicações diftéricas
A observação do paciente com difteria deve ser contínua, considerando-se a possibilidade da ocor-
rências das complicações citadas a seguir.
Insuficiência respiratória -
ção de traqueostomia. A paralisia da musculatura respiratória (diafragma e músculos intercostais)
exige, eventualmente, a instalação de aparelhos de respiração assistida. Nos casos leves e modera-
dos de laringite, quando houver comprometimento respiratório alto, pode-se administrar dexa-
iguais de 6 em 6 horas, como medida antiedematosa. Porém, caso o paciente continue com sinais
progressivos de obstrução alta ou se já se apresentar ao médico com quadro de insuficiência res-
piratória alta estabelecida, a traqueostomia deve ser feita sem demora, evitando-se que o paciente
apresente hipóxia severa.
Miocardite
pelo menos 3 semanas, na restrição de sódio e no emprego de cardiotônicos e diuréticos. Deve ser
realizado eletrocardiograma.
97
Polineurites
internado e em observação constante.
Insuficiência renal aguda
Prognóstico
Depende do estado imunitário do paciente, da precocidade do diagnóstico e da instituição do trata-
mento. Os fatores associados ao mau prognóstico são:
Características epidemiológicas
A difteria ocorre durante todos os períodos do ano e pode afetar todas as pessoas não imunizadas, de
qualquer idade, raça ou sexo. Observa-se um aumento de sua incidência nos meses frios e secos (outono e in-
verno), quando é mais comum a ocorrência de infecções respiratórias, principalmente devido à aglomeração
em ambientes fechados, que facilitam a transmissão do bacilo. Contudo, não se observa esse padrão sazonal
nas regiões sem grandes oscilações de temperatura. A doença ocorre com maior frequência em áreas com
precárias condições socioeconômicas, onde a aglomeração de pessoas é maior, e onde se registram baixas co-
berturas vacinais. Os casos são raros quando as coberturas vacinais atingem patamares homogêneos de 80%.
Nas últimas décadas, o número de casos notificados no Brasil vem decrescendo progressivamente.
Em 1990, foram confirmados 640 casos da doença, com coeficiente de incidência de 0,45/100 mil hab.
Essa magnitude foi sendo reduzida progressivamente, até atingir 58 casos em 1999 (0,04/100 mil hab.) e
zero caso em 2012. Destaca-se, entretanto, a ocorrência de um surto de difteria, em 2010, no Estado do
Maranhão. Desde 2007, ocorreram 4 óbitos pela doença, 3 dos quais no ano de 2010. A letalidade esperada
varia entre 5 e 10%, atingindo 20% em certas situações. A cobertura vacinal com a DTP vem-se elevando
neste período, passando de 66%, em 1990, para mais de 95%, em 2015.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
pertinentes, para se evitar a ocorrência de novos casos.
-
tório de referência nacional, para estudos moleculares e de resistência bacteriana a antimicrobianos.
Definição de caso
Suspeito
Toda pessoa que, independentemente da idade e do estado vacinal, apresenta quadro agudo de in-
fecção da orofaringe, com presença de placas aderentes ocupando as amígdalas, com ou sem invasão de
Difteria
Guia de Vigilância em Saúde
98
outras áreas da faringe (palato e úvula) ou outras localizações (ocular, nasal, vaginal, pele, por exemplo),
com comprometimento do estado geral e febre moderada.
Confirmado
Critério laboratorial
− todo caso suspeito com isolamento do C. diphtheriae e
provas de toxigenicidade positiva.
− todo caso suspeito com isolamento do C. diphtheriae,
mesmo sem provas de toxigenicidade positiva.
Critério clínico-epidemiológico
Todo caso suspeito de difteria:
com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante de um outro
caso confirmado laboratorial ou clinicamente; ou
com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante íntimo de
portador, indivíduo no qual se isolou o C. diphtheriae.
Critério clínico
Quando se observarem:
placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas;
placas suspeitas na traqueia ou laringe;
simultaneamente, placas em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde o início do quadro
e evolução, em geral, arrastada;
miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode aparecer desde o início dos sintomas suges-
tivos de difteria ou até semanas após.
Critério anatomopatológico (necropsia)
Quando a necropsia comprovar:
placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas;
placas na traqueia e/ou laringe.
Descartado
Caso suspeito não confirmado por nenhum dos critérios descritos anteriormente.
Notificação
A notificação deve ser registrada utilizando-se a Ficha de Investigação da Difteria do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Todo caso suspeito deve ser notificado imediatamente, para desencadeamento da investigação e ado-
ção das medidas de controle pertinentes.
Investigação
Deve ser realizada a investigação dos casos e dos comunicantes imediatamente após a notificação do
caso suspeito, devido ao curto período de incubação e à alta transmissibilidade da doença. O procedimen-
to visa à detecção precoce de outros casos. Nesse sentido, é importante desencadear busca ativa, ou seja, ir
99
à comunidade, escola, local de trabalho e perguntar se há casos de “amigdalite”. Além disso, deve-se veri-
ficar se, nos serviços de emergência e internação, apareceram casos com clínica compatível com difteria,
pois a instituição da terapêutica específica, o mais precocemente possível, diminui a letalidade da doença.
Roteiro da investigação
A Ficha de Investigação da Difteria contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investiga-
ção de rotina. Todos os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for
negativa. Outras observações podem ser incluídas, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da Ficha de Investigação da Difteria, relativos aos dados gerais, notifica-
ção individual e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Confirmação da suspeita diagnóstica
- anotar, na ficha de investigação, dados dos antecedentes epidemiológicos e dados clínicos;
- observar, com atenção, se o caso notificado enquadra-se na definição de caso de difteria, a fim
de evitar a notificação inadequada de casos;
- anotar dados do prontuário do paciente, entrevistar a equipe de assistência, o próprio paciente
(quando possível) e familiares;
- acompanhar a evolução do paciente e o resultado das culturas de C. diphtheriae.
Identificação da área de transmissão
- verificar se, no local de residência, de trabalho, na creche, na escola, entre outros, há indícios de
outros casos suspeitos;
- esses procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares ou respon-
sáveis e lideranças da comunidade.
Determinação da extensão da área de transmissão
- após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente a busca ativa de
outros casos, casa a casa, na creche, na escola, no local de trabalho e em unidades de saúde.
Comunicantes
Comunicantes são indivíduos que tiveram contato com o caso suspeito de difteria, sob o risco de
adoecimento, quer sejam moradores do mesmo domicílio ou não. Sua investigação deve ser feita, tam-
bém, em instituições, em comunidades e em outros locais que possibilitaram o contato com o caso. Todos
os comunicantes de um caso suspeito de difteria deverão ser submetidos a exame clínico e ficar sob vigi-
lância por um período mínimo de 7 dias.
Para comunicantes que trabalhem em profissões que envolvam manipulação de alimentos, ou con-
tato frequente com grande número de crianças, grupo de maior risco, ou com pessoas com comprometi-
mento imunológico, recomenda-se o afastamento de seus locais de trabalho até que se tenha o resultado
da cultura. Se positivo, o afastamento deverá ocorrer por 48 horas após a administração do antibiótico
(ver item Quimioprofilaxia). Recomenda-se a quimioprofilaxia aos comunicantes não vacinados, inade-
quadamente vacinados ou com estado vacinal desconhecido.
Se, por motivos operacionais, não for possível coletar material de todos os comunicantes,
recomenda-se priorizar os que tenham contato com crianças (professores, atendentes de creche, entre
Difteria
Guia de Vigilância em Saúde
100
outros); pessoas que apresentem diminuição da imunidade; manipuladores de alimentos; pessoas não
vacinadas, inadequadamente vacinadas ou com estado vacinal desconhecido. Os comunicantes com
resultado da cultura positiva deverão receber a quimioprofilaxia, conforme o parecer do médico que
os reexaminou.
Na investigação dos comunicantes é indispensável:
Ficha de Investigação da Difteria referentes aos comunicantes;
-
tura de C. diphtheriae;
vacinação e, se necessário, iniciar ou atualizar o esquema vacinal com a DTP (tríplice bacteriana),
DTP+Hib+Hepatite B (pentavalente) ou dT (dupla bacteriana), de acordo com as orientações do
Quadro 2.
Quadro 2 – Conduta para imunização de comunicantes, de acordo com a situação vacinal
História vacinal
Menores de 7 anos
7 anos ou mais
<1 ano ≥1 ano
Não vacinados
Iniciar o esquema
com pentavalente
Iniciar o esquema
com DTP
Iniciar o esquema com dT
Vacinação incompleta
Completar o esquema
com pentavalente
Completar o esquema
com DTP
Completar o esquema com a dT
Vacinação completa Não se aplica
Aplicar uma dose de dT como reforço, se a
última dose foi aplicada há mais de 5 anos
Coleta e remessa de material para exames
- Deve-se retirar material das lesões existentes (ulcerações, criptas das amígdalas), exsudatos de
orofaringe e de nasofaringe (localizações mais comuns), ou de outras lesões cutâneas, conjun-
tivas e genitália externa, entre outras, por meio de swab estéril, antes da administração de qual-
quer terapêutica antimicrobiana.
- Deve-se realizar cultura separada do material de nasofaringe ou da via oral e de lesão de pele.
- Na coleta do material da orofaringe, não remover a pseudomembrana, pois sua remoção acelera
a absorção da toxina e leva a sangramento.
- A coleta deve ser efetuada antes da administração de antibióticos, devendo ser sempre realizada.
- É de responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios cen-
trais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a essas coletas, de acordo com a
organização de cada local.
Não devem ser aguardados os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas de con-
trole e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para a confirmação de casos
e para nortear o encerramento das investigações.
Encerramento de caso
O caso de difteria deve ser encerrado oportunamente no Sinan em até 60 dias da notificação. A
classificação final do caso deverá seguir os critérios descritos no item Definição de caso.
101
Relatório final
Em situações de surtos, o relatório permite analisar a extensão e as medidas de controle adotadas e
caracterizar o perfil de ocorrência e os fatores que contribuíram para a circulação da bactéria na população.
A Figura 1 apresenta o roteiro da investigação epidemiológica da difteria.
Figura 1 – Roteiro de investigação epidemiológica da difteria
Coleta de secreção naso e
orofaríngea e de lesões de pele
Verificar situação dos
comunicantes e vacinar, se necessário
Realizar quimioprofilaxia dos
comunicantes
Investigação imediata
Investigação
dos comunicantes
Busca ativa de
outros casos na área
de residência,
escola,
creche, trabalho
Vacinação seletiva
com DTP ou
DTP+HiB, na área
de residência,
escola, creche
Preenchimento
da Ficha de
Investigação
Epidemiológica
Coleta de material
para cultura
Notificação imediata
Caso
Medidas de prevenção e controle
Imunização
A vacinação com o toxoide diftérico é a medida de controle mais importante da difteria. O emprego
sistemático dessa vacina, com altas coberturas vacinais ao longo do tempo, além de diminuir a incidência
de casos clínicos, determina importante redução do número de portadores, induzindo a chamada “imu-
nidade coletiva”.
Os indivíduos adequadamente imunizados neutralizarão a toxina produzida pelo bacilo diftérico,
responsável pelas manifestações clínicas da doença. A vacinação normalmente é feita de forma sistemá-
tica, com aplicação de rotina do imunobiológico pelos serviços de saúde, ou em forma de campanhas de
vacinação ou, ainda, de bloqueio, realizada diante da ocorrência de um caso suspeito da doença.
Considera-se adequadamente vacinado quem recebeu:
pentavalente (DTP+Hib+Hepatite B ) contra difteria, tétano, coqueluche, infecções graves causadas
Difteria
Guia de Vigilância em Saúde
102
pelo Haemophilus influenzae e Hepatite B, ou dupla infantil (dT), aos 2, 4 e 6 meses de idade, com
intervalo mínimo entre as doses de 30 dias (o ideal é o intervalo de 2 meses). O primeiro reforço
é aplicado aos 15 meses e o segundo reforço aos 4 anos de idade (podendo ser aplicado entre 4 e 6
anos); reforço com a dT (dupla adulto) a cada 10 anos.
as doses de 30 dias e reforço de 10 em 10 anos.
Proteção individual para evitar disseminação da bactéria
Os doentes com difteria devem ser mantidos em isolamento respiratório durante 14 dias após a intro-
dução da antibioticoterapia apropriada. Os fômites devem receber cuidados apropriados, segundo as normas
de biossegurança. O ideal é suspender as medidas relativas às precauções respiratórias somente quando duas
culturas de secreções obtidas de nasofaringe, em meios específicos, forem negativas para C. diphtheriae.
A realização de duas culturas de material coletado das lesões cutâneas, pelo menos 24 horas depois
de completada a antibioticoterapia, é obrigatória inclusive nos doentes com difteria cutânea.
Como a difteria nem sempre confere imunidade e a reincidência não é incomum, os doentes serão
considerados suscetíveis e, portanto, deverão ser vacinados logo após a alta.
Comunicantes
Vacinação
Deve-se verificar a situação vacinal de todos os comunicantes, considerando as doses registradas na
caderneta de vacinação e, se necessário, iniciar ou atualizar o esquema vacinal com a DTP, pentavalente
ou dT, de acordo com as orientações do Quadro 2.
Todos os comunicantes deverão ser mantidos em observação durante 7 dias, contados a partir do
momento da exposição.
O SAD não deve ser administrado com finalidade profilática.
Portadores
São portadores de difteria aqueles que alojam o C. diphtheriae na nasofaringe ou na pele (no caso da
difteria cutânea), sem apresentarem sintomatologia. Sua identificação ocorre com o exame positivo por
cultura, que caracteriza como estado de portador, com evolução ou não para difteria. Essa identificação é
extremamente importante para o controle da disseminação da doença, uma vez que portadores são mais
frequentes que casos e são responsáveis pela maior parte das transmissões na comunidade.
Quimioprofilaxia
Medicamento de escolha
- crianças
durante 7 dias, por via oral;
- adultos
Após serem completadas duas semanas de uso do antibiótico, deverá ser coletada uma nova amostra
de secreção da orofaringe e se realizar cultura adequada para C. diphtheriae. Se o resultado for positivo,
deverá ser feito tratamento adicional com eritromicina, durante 10 dias. Se não houver resposta, outros
103
antimicrobianos ativos contra o bacilo diftérico (clindamicina, rifampicina, quinolona, por exemplo) de-
É fundamental o desencadeamento de bloqueio vacinal na área de residência, local de trabalho,
escola ou creche de ocorrência do caso ou de identificação de portadores.
Bibliografia
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Banco de leite humano:
funcionamento, prevenção e controle de riscos. Brasília, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Procedimentos para Vacinação. Elaboração de Clelia Maria
Sarmento de Souza Aranda et al. 4. ed. Brasília: Ministério da Saúde; Fundação Nacional de Saúde, 2001.
Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. 4.
ed. Brasília, 2014.
Epidemiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2006.
Epidemiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2014.
PIMENTEL, A. M. et al. O uso da DL-Carnitina com proteção miocárdica na difteria. Jornal de
Pediatria, Rio de Janeiro, v. 65, n. 6, p. 205-209, 1989.
SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO (SINAN). Ficha de Notificação.
Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/novo/Documentos/SinanNet/fichas/Difteria.
pdf>. Acesso em: 29 set. 2014.
VERONESI, R; FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
Difteria
Guia de Vigilância em Saúde
104
Anexo A
Orientações para diagnóstico laboratorial da difteria
Coleta de secreção nasofaríngea
Material necessário
swabs descartáveis, estéreis (um para nariz e outro para garganta);
Condições para a coleta
ser amarelo claro, com consistência firme e sem áreas liquefeitas ou ressecadas.
as demais características dos meios encontram-se adequadas. Em caso contrário, os meios devem
ser inutilizados.
swabs utilizados não deverão apresentar sinais de violação da embalagem, umidade do algodão
ou qualquer outra anormalidade que possa indicar contaminação. Deve-se verificar sempre o pra-
zo de validade na embalagem.
Procedimento de coleta
contudo deverá sempre ser feita.
swab na narina do paciente até a nasofaringe e girá-lo. Com o mesmo swab, fazer o
mesmo procedimento na outra narina.
swab será utilizado para coletar ao redor da superfície da garganta, passando ao redor
da superfície da garganta, pelas amígdalas e úvula. Caso se verifique a presença de placa pseudo-
membranosa, o swab deve ser passado cautelosamente ao redor da mesma, tomando-se o cuidado
de não removê-la. A remoção da pseudomembrana leva ao aumento da absorção de toxina.
que aumenta consideravelmente a positividade do resultado.
105
Recomendações do cuidado com o meio de transporte do material coletado
Meio de transporte
- O meio de transporte utilizado é o PAI.
- O meio de PAI deve ser armazenado em geladeira, evitando-se colocá-lo na porta.
- O prazo de validade do meio é de 3 meses a partir da data de fabricação.
- Os tubos com o meio de PAI devem ser acondicionados em sacos plásticos fechados para se
evitar a entrada de umidade.
- O swab deve ser armazenado à temperatura ambiente, em local seco.
Procedimentos para transporte do espécime coletado
- Passar o swab em toda a extensão (superfície) do meio, girando-o e fazendo o movimento de
ziguezague, a partir da base até o ápice.
- Encaminhar o material coletado ao laboratório à temperatura ambiente, imediatamente após a
coleta. Na impossibilidade do encaminhamento imediato após a coleta, incubar à temperatura
de 37ºC por um período máximo de 24 horas. Encaminhar em seguida à temperatura ambiente.
- Prender os dois tubos com fita crepe e identificá-los com nome do doente e/ou comunicante,
idade, data e hora da coleta.
- Encaminhar os tubos com a ficha de encaminhamento de amostra ou com cópia da ficha de
investigação epidemiológica, conforme definição da coordenação estadual da vigilância.
Recomendações adicionais
- Por ser doença de transmissão respiratória, é necessário o uso de máscaras, com vistas a conferir
proteção ao profissional que realiza a coleta. A máscara deverá ser utilizada tanto para coleta de
caso(s) suspeito(s) quanto de comunicantes.
- Não deverá ser feita nenhuma improvisação do material. É imprescindível que o meio de trans-
porte e o swab estejam obedecendo rigorosamente as condições de uso no momento da coleta.
- Todo o material descartável utilizado na coleta deverá ser acondicionado em saco plástico, ve-
dado com fita crepe, identificado como contaminado e recolhido no lixo hospitalar.
Quadro 1 – Orientações quanto à conduta para o diagnóstico laboratorial de difteria, segundo o
tipo de material coletado
Tipo de
material
Época da coleta Indicação Coleta e transporte Tipo de exame
Exsudatos
de oro e
nasofaringe
Tão logo se suspeite
de difteria e,
preferencialmente, antes
da administração
de antibióticos
Confirmação
do diagnóstico
ou pesquisa de
portadores
Na coleta de material da nasofaringe,
introduzir o swab e girá-lo, retirando-o
O material deve ser semeado em meio de
PAI ou Loeffler de imediato
O transporte do material semeado
ao laboratório deve ser feito em
temperatura ambiente
Cultura para
isolamento e
identificação do
Corynebacterium
diphtheriae
Exsudatos de
lesões
de pele
Tão logo se suspeite
de difteria e,
preferencialmente, antes
da administração de
antibióticos
No momento em que
se estiver pesquisando
portadores
Confirmação
do diagnóstico
ou pesquisa de
portadores
O material deve ser semeado em meio de
PAI ou Loeffler de imediato
O transporte do material semeado
ao laboratório deve ser feito em
temperatura ambiente
Cultura para
isolamento e
identificação do
Corynebacterium
diphtheriae
Difteria
Guia de vigilncia em saude
107
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
CID-10: A80
Características gerais
Descrição
A poliomielite é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de para-
lisia flácida, de início súbito, que ocorre em cerca de 1% das infecções causadas pelo poliovírus. O deficit
motor instala-se subitamente e sua evolução, frequentemente, não ultrapassa 3 dias. Acomete em geral os
membros inferiores, de forma assimétrica, tendo como principais características a flacidez muscular, com
sensibilidade preservada, e a arreflexia no segmento atingido.
Sinonímia
Paralisia infantil.
Agente etiológico
Poliovírus, sorotipos 1, 2 e 3, pertencentes ao gênero Enterovirus, família Picornaviridae. Os polio-
sorotipo 3 mais raramente. A circulação do sorotipo 2 não tem sido registrada desde 1999.
Reservatório
O homem, especialmente crianças.
Modo de transmissão
Ocorre por contato direto pessoa a pessoa, pela via fecal-oral (mais frequentemente), por objetos,
alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou portadores, ou pela via oral-oral, através de go-
tículas de secreções da orofaringe (ao falar, tossir ou espirrar). A falta de saneamento, as más condições
habitacionais e a higiene pessoal precária constituem fatores que favorecem a transmissão do poliovírus.
Período de incubação
Geralmente de 7 a 12 dias, podendo variar de 2 a 30 dias.
Período de transmissibilidade
Não se conhece com precisão, mas pode iniciar-se antes do surgimento das manifestações clínicas. O
vírus é encontrado nas secreções da orofaringe após 36 a 72 horas a partir da instalação da infecção. Em
indivíduos infectados, a eliminação do vírus pela orofaringe persiste por um período de aproximadamen-
te uma semana, e nas fezes, por cerca de 3 a 6 semanas, enquanto nos indivíduos reinfectados a eliminação
do vírus ocorre em menor quantidade por períodos mais reduzidos.
Suscetibilidade e imunidade
Todas as pessoas não imunizadas, seja pela infecção natural, seja pela vacinação, são suscetíveis de
contrair a doença.
A infecção natural ou a vacinação conferem imunidade duradoura para o sorotipo correspondente ao
poliovírus responsável pelo estímulo antigênico. Embora não desenvolvendo a doença, as pessoas imunes
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Guia de Vigilância em Saúde
108
podem ser reinfectadas e eliminar o poliovírus, ainda que em menor quantidade e por um período menor
de tempo. Essa reinfecção é mais comum pelos poliovírus tipos 1 e 3.
O recém-nascido apresenta proteção nos primeiros meses de vida extrauterina, pois é provido de an-
ticorpos séricos maternos da classe IgG, transferidos da mãe sensibilizada para o feto por via placentária.
Manifestações clínicas
A infecção pelo poliovírus selvagem apresenta-se sob diferentes formas clínicas:
-
cíficos. Ocorre em 90 a 95% das infecções.
-
tações gastrointestinais, como vômito, dor abdominal e diarreia. Como na forma inaparente, só é
possível estabelecer diagnóstico por meio do isolamento do vírus. Ocorre em cerca de 5% dos casos.
-
de nuca. Ocorre em cerca de 1% das infecções.
características clínicas típicas, que permitem sugerir o diagnóstico de poliomielite, entre elas:
- instalação súbita da deficiência motora, acompanhada de febre;
- assimetria, acometendo, sobretudo, a musculatura dos membros, com mais frequência os
inferiores;
- flacidez muscular, com diminuição ou abolição de reflexos profundos na área paralisada;
- sensibilidade preservada;
- persistência de alguma paralisia residual (sequela), após 60 dias do início da doença.
Todas essas formas clínicas podem ser observadas, a depender do local de comprometimento do
sistema nervoso central e, em alguns casos, podem apresentar quadro de paralisia grave e levar à morte.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
Exames específicos
Isolamento do vírus
confirmação diagnóstica. A identificação do agente viral isolado pode ser realizada por meio de
testes de soroneutralização com o uso de soros imunes específicos; preconiza-se a técnica de rea-
ção em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR). Essa técnica amplifica sequências
nucleotídicas específicas presentes no RNA que compõe o genoma viral, permite reconhecer se o
vírus isolado pertence ao gênero Enterovirus, e identifica o sorotipo do poliovírus isolado e sua
origem, se vacinal ou selvagem.
Sequenciamento nucleotídico
codifica a principal proteína da superfície viral (VP1), onde a maior parte das análises moleculares
é realizada. A sequência nucleotídica obtida é comparada com a sequência do vírus vacinal Sabin
padrão do sorotipo correspondente e são avaliadas as mutações ocorridas nesta região. Todos os
poliovírus circulantes podem acumular mutações e adquirem diferentes classificações (Quadro 1).
109
Caso a sequência não tenha relação com a cepa vacinal, o vírus é classificado como poliovírus sel-
vagem. Os poliovírus derivados readquirem as características biológicas dos poliovírus selvagens,
tais como neurovirulência e capacidade de circulação por tempo prolongado na comunidade. Re-
alizam-se as mesmas ações de vigilância epidemiológica frente a esses vírus e aos vírus selvagens.
Os poliovírus, selvagem e vacinal, também podem ser isolados a partir de amostras de água de es-
goto. As mesmas técnicas já descritas podem ser utilizadas para a identificação do enterovírus detectado.
que codifica a principal proteína da superfície viral (VP1)
Sorotipo Classificação Percentual de mutações
1 e 3 Poliovírus relacionado à vacina (PVRV) <1
2 Poliovírus relacionado à vacina (PVRV) <0,6
1 e 3 Poliovírus derivado vacinal (PVDV)
2 Poliovírus derivado vacinal (PVDV)
Coleta de amostras de fezes dos casos
A amostra de fezes constitui o material mais adequado para o isolamento do poliovírus. Embora os
pacientes com poliomielite eliminem poliovírus durante semanas, os melhores resultados de isolamento
são alcançados com amostras fecais coletadas na fase aguda da doença, ou seja, até o 14º dia do início da
deficiência motora.
Todo caso conhecido deverá ter uma amostra de fezes, coletada no máximo até 60 dias após o início
da deficiência motora. Em crianças que apresentam obstipação intestinal, dificultando a coleta de amos-
tras de fezes, pode-se utilizar supositório de glicerina.
O swab retal somente é recomendado em casos de paralisia flácida aguda (PFA) que foram a óbito
antes da coleta adequada de fezes.
Coleta de amostras de fezes de contatos
Deverão ser coletadas nas seguintes situações:
-
ção da circulação do poliovírus selvagem;
não, são priorizados para coleta de amostras de fezes.
Não coletar amostras de contato que recebeu a vacina contra a poliomielite nos últimos 30 dias.
Exames inespecíficos
Eletromiografia
de doenças que afetam o neurônio motor inferior. Esse exame pode contribuir para descartar a
hipótese diagnóstica de poliomielite, quando seus achados são analisados conjuntamente com os
resultados do isolamento viral e evolução clínica.
Líquor
que evoluem com deficiência motora. Na poliomielite, observa-se um discreto aumento do número de
células, podendo haver um pequeno aumento de proteínas. Na síndrome de Guillain-Barré observa-se
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Guia de Vigilância em Saúde
110
umadissociaçãoproteinocitológica,comaumentoacentuadodeproteínassemelevaçãodacelularidade,
e nas meningites observa-se um aumento do número de células, com alterações bioquímicas.
Anatomopatologia
diagnóstica, pois não há alterações patognomônicas. Entretanto, dada a predileção do parasitismo
do poliovírus pelas células motoras do corno anterior da medula e de alguns núcleos motores dos
nervos cranianos, as alterações histológicas podem ser sugestivas e possibilitam fechar o diagnós-
tico diante de um quadro clínico suspeito. As alterações consistem em atividade inflamatória, peri-
vasculite linfocitária, nódulos ou atividade microglial difusa e figuras de neuronofagia (neurônios
sendo fagocitados por células da microglia). Essas alterações são comuns a quaisquer encefalomie-
lites virais, sendo que, em casos da poliomielite, predominam nitidamente no corno anterior da
medula e no tronco cerebral.
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com polineurite pós-infecciosa e outras infecções que causam PFA. As principais do-
enças a serem consideradas no diagnóstico diferencial são: síndrome de Guillain-Barré, mielite transversa
especialmente do grupo A tipo 7). Para o adequado esclarecimento diagnóstico, a investigação epidemio-
lógica e a análise dos exames complementares são essenciais.
Quadro 2 – Elementos para o diagnóstico diferencial entre poliomielite, síndrome de Guillain-
-Barré e mielite transversa
Especificação Poliomielite Síndrome de Guillain-Barré Mielite transversa
Instalação da paralisia 24 a 28 horas Desde horas até 10 dias Desde horas até 4 dias
Febre ao início
Alta
Sempre presente no início da
paralisia, desaparece no dia seguinte
Não é frequente Raramente presente
Paralisia
Aguda, assimétrica,
principalmente proximal
Geralmente aguda, simétrica
e distal
Aguda, simétrica em
membros inferiores
Reflexos osteotendinosos
profundos
Diminuídos ou ausentes Globalmente ausentes
Ausentes em
membros inferiores
Sinal de Babinsky Ausente Ausente Presente
Sensibilidade Grave mialgia Parestesia, hipoestesia
Anestesia de MMII com
nível sensitivo
Sinais de irritação meníngea Geralmente presentes Geralmente ausentes Ausentes
Comprometimento de
nervos cranianos
Somente nas formas bulbares Pode estar presente Ausente
Insuficiência respiratória Somente nas formas bulbares
Em casos graves, exacerbada por
pneumonia bacteriana
Em geral torácica, com
nível sensorial
Líquido cefalorraquidiano Inflamatório Dissociação proteino-citológica
Células normais ou
elevadas; aumento
moderado ou
acentuado de proteínas
Disfunção vesical Ausente Às vezes transitória Presente
Velocidade de
condução nervosa
Normal, ou pode-se detectar apenas
redução na amplitude do potencial
da unidade motora
Redução da velocidade de
condução motora e sensitiva
Dentro dos limites
da normalidade
Eletromiografia (EMG)
Presença ou não de fibrilações
Potencial da unidade motora
com longa duração e aumento
da amplitude
Presença ou não de fibrilações e
pontas positivas
Potencial da unidade motora
pode ser normal ou neurogênico
Dentro dos limites
da normalidade
111
Tratamento
Não há tratamento específico para a poliomielite.
Todos os casos devem ser hospitalizados, procedendo-se ao tratamento de suporte, de acordo com o
quadro clínico do paciente.
Características epidemiológicas
Até o início da década de 1980, a poliomielite apresentou alta incidência no Brasil, em muitos casos,
ocasionando sequelas permanentes. No Brasil, o último caso de poliomielite causada pelo poliovírus sel-
vagem ocorreu em 1989.
A eliminação da doença no país foi alcançada por meio da administração da vacina oral contra a pólio
(VOP) em campanhas de vacinação em massa e na vacinação de rotina das crianças, aliadas à vigilância epide-
miológica da PFA.
Em 1994, após 3 anos de ausência da circulação do poliovírus selvagem no Continente Americano,
a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde certificou essa região como livre
da transmissão autóctone do poliovírus selvagem.
Mesmo nesse cenário, é importante estar atento para o risco de importações de casos de países onde ainda
há circulação endêmica do poliovírus selvagem (Nigéria, Paquistão e Afeganistão), o que demanda ações per-
manentes e efetivas de vigilância da doença e níveis adequados de proteção imunológica da população.
Em países com baixas coberturas vacinais e/ou heterogêneas, têm ocorrido surtos de poliomielite
causados por poliovírus derivado da vacina (PVDV), nos quais a doença já estava sob controle.
Vigilância epidemiológica de PFA
Objetivos
PFA no país.
Definição de caso
Suspeito
idade, independentemente da hipótese diagnóstica de poliomielite.
de viagem a países com circulação de poliovírus nos últimos 30 dias que antecedem o início do
deficit motor, ou contato no mesmo período com pessoas que viajaram para países com circulação
de poliovírus selvagem e apresentaram suspeita diagnóstica de poliomielite.
Confirmado
Poliovírus selvagem
de fezes do caso, ou de um de seus contatos, independentemente de haver ou não sequela após 60
dias do início da deficiência motora.
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Guia de Vigilância em Saúde
112
Poliomielite associada à vacina (PAV)
amostra de fezes e presença de sequela compatível com poliomielite, 60 dias após o início da defi-
ciência motora. Há dois tipos:
- PFA, que se inicia entre 4 e 40 dias após o recebimento da vacina oral contra a pólio (VOP), e que
apresenta sequela neurológica compatível com poliomielite 60 dias após o início do deficit motor;
que tenha recebido VOP até 40 dias antes. A paralisia surge de 4 a 85 dias após a exposição ao
contato vacinado e o indivíduo apresenta sequela neurológica compatível com poliomielite 60
dias após o deficit motor.
- em qualquer das situações acima, o isolamento de poliovírus vacinal nas fezes e sequela neuro-
lógica compatível com poliomielite são condições imprescindíveis para que o caso seja conside-
rado como associado à vacina.
Poliovírus derivado vacinal deficit motor e isolamento de
PVDV (Quadro 1) para poliovírus tipo 1 e 3 e igual ou superior a 0,6% para poliovírus tipo 2.
Poliomielite compatível
apresentou sequela aos 60 dias ou evoluiu para óbito ou teve evolução clínica ignorada.
Descartado (não poliomielite)
Caso de PFA no qual não houve isolamento de poliovírus selvagem na amostra adequada de fezes, ou
seja, amostra coletada até 14 dias do início da deficiência motora em quantidade e temperatura satisfatórias.
Notificação
Todo caso de PFA deve ser notificado imediatamente pelo nível local à Secretaria Municipal de Saú-
de. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por
meio do preenchimento e envio da Ficha de Investigação de Paralisia Flácida Aguda/Poliomielite.
Além disso, todo caso suspeito de PAV e/ou PVDV deve ser notificado no Sistema de Informação
de Eventos Adversos Pós-Vacinação (SIEAPV), por intermédio da Ficha de Investigação/Notificação de
Evento Adverso Pós-vacinação.
Os casos de paralisia ocular isolada e paralisia facial periférica não devem ser notificados e investigados.
Investigação
Todo caso de PFA deve ser investigado, nas primeiras 48 horas após o conhecimento, com o objetivo
de coletar as informações necessárias para a correta classificação do caso (Figura 1). Esta medida visa
subsidiar o processo de tomada de decisão quanto ao desencadeamento em tempo hábil das medidas de
controle indicadas em cada situação.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Todos os campos devem ser rigorosamente preenchidos.
Dados clínicos e epidemiológicos
Registrar, na ficha de investigação, dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais da doença. Os dados
são coletados por meio das informações obtidas dos familiares, dos profissionais que prestaram assistência
ao paciente, além das contidas no prontuário de internação e das coletadas por ocasião da visita domiciliar.
113
Coleta e remessa de material para exames
até o 14º dia do início do deficit motor, para pesquisa de poliovírus, e enviar para o Laboratório Cen-
tral de Saúde Pública (Lacen), de acordo com o tópico de diagnóstico laboratorial e o Anexo A.
Identificação da área de transmissão -
dos da ficha de investigação (história vacinal, fonte de infecção, entre outras informações) e buscar
outros casos, quando necessário.
Análise de dados epidemiológicos -
ral) realize análises periódicas dos dados epidemiológicos coletados, de forma a avaliar a sua qualidade
e a sensibilidade do sistema quanto à notificação e à investigação dos casos de PFA, visando produzir
informações úteis ao processo de tomada de decisão sobre as ações de vigilância e controle da doença.
Encerramento de caso
O caso de PFA deve ser encerrado oportunamente no Sinan em até 60 dias da notificação, quando se rea-
liza a avaliação neurológica. É necessário que todos os achados da investigação epidemiológica sejam minucio-
samente avaliados. A classificação final do caso deverá seguir os critérios descritos no item Definição de caso.
a casos suspeitos
Caso suspeito de PFA
Notificação imediata e investi-
gação em 48 horas
Investigar ocorrência de
outros casos na área
Coletar uma amostra de
fezes até o 14o
dia do
deficit motor (DM)
Realizar avaliação aos
60 dias do DM
Completar a investigação
epidemiológica
Analisar cobertura vacinal
contra pólio na área
Reforçar, se necessário, as
atividades de vacinação
na área
Encerrar o caso, atualizar Sinan e retroalimentar fontes notificadoras
Medidas de prevenção e controle
A vacinação é a principal medida de prevenção da poliomielite.
O Brasil tem implementado estratégias que orientam as ações de prevenção e controle. Uma dessas
ações foi a substituição, em 2016, do uso da vacina oral poliomielite trivalente (VOPt) pela vacina oral
poliomielite bivalente (VOPb).
O esquema vacinal consiste na administração de 3 doses de vacina inativada poliomielite (VIP), aos 2, 4
e 6 meses de idade, com intervalo de 60 dias entre as doses. O intervalo mínimo entre as doses é de 30 dias.
Devem ainda ser administradas duas doses de reforço, a primeira aos 15 meses e a segunda aos 4 anos de idade.
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Guia de Vigilância em Saúde
114
Proteção individual para evitar circulação viral
Caso haja suspeita de infecção por poliovírus selvagem ou PVDV em pacientes internados, orien-
ta-se a tomada de precauções entéricas durante o período de transmissibilidade (6 semanas). Essas
precauções bloqueiam a transmissão de doenças infecciosas por meio do contato direto ou indireto
com as fezes contaminadas.
Proteção da população
A principal proteção ocorre pela manutenção de elevadas coberturas vacinais na rotina e das
campanhas de vacinação em massa, com as vacinas oral e injetável. Quando houver casos notificados de
PFA com hipótese diagnóstica de poliomielite, recomenda-se a vacinação com VOP indiscriminada para
menores de 5 anos na área de abrangência do caso.
Orientações de vacinação para o viajante
De acordo com a Nota Informativa Conjunta nº 78/2016 CGPNI/DEVIT/SVS/ MS, sobre a vaci-
nação contra poliomielite, mudanças no esquema vacinal e orientações aos serviços de saúde e usuários
(rotina, campanha e viajantes), os viajantes devem se orientar pelas recomendações a seguir explicitadas,
até a erradicação da doença.
Funções da educação em saúde
propósitos de manutenção da eliminação da poliomielite.
-
tais), tendo em vista o engajamento de seus representantes nos programas de manutenção da eli-
minação da poliomielite.
-
tárias, para atuarem junto às equipes de saúde na notificação, investigação e controle de casos de
paralisia flácida aguda, tendo em vista a manutenção da eliminação da poliomielite.
-
zações da comunidade.
controle adotadas.
feito a partir da avaliação de indicadores e metas mínimas, conforme listado a seguir.
Taxa de notificação de paralisia flácida aguda
para cada 100 mil hab. menores de 15 anos de idade.
Proporção de casos investigados em 48 horas
investigados dentro das 48 horas após a notificação.
Proporção de casos com coleta oportuna de fezes
amostra de fezes, para cultivo do vírus, coletada até o 14º dia do início da deficiência motora, em
quantidade e condições de temperatura para análise.
Proporção de notificação negativa/positiva semanal
devem informar a ocorrência ou não de casos de paralisia flácida aguda, semanalmente.
115
Quadro 3 – Indivíduos que planejam viagem ao exterior, a países com circulação do poliovírus selvagem
Vacinação do viajante contra a poliomielite
Grupo alvo Situação vacinal Condutas Observação
Criança menor de 2
meses de idade
Não vacinada
Até a 6ª semana de vida,
administrar uma dose de VIP
Não considerar como válida para
o esquema básico
A partir da 6ª semana de vida,
administrar uma dose de VIP
Considerar como válida para o
esquema básico.
Criança a partir de 2
meses e menor de 5
anos (até 4 anos 11
meses e 29 dias)
de idade
Não vacinada, vacinada ou
com esquema incompleto
Seguir o esquema preconizado
contra a poliomielite no
Calendário Nacional de
Vacinação, conforme situação
encontrada
Nos primeiros 6 meses de
idade, caso a criança esteja
com esquema vacinal atrasado,
recomenda-se a administração da
vacina VIP com intervalo mínimo
de 30 dias entre as doses
Se essa criança, ao viajar, não
tiver completado o esquema
vacinal no Brasil, deverá fazê-lo
no país de destino, dependendo
do período de estadia
Crianças a partir dos 5
anos de idade
Não vacinada ou com
esquema incompleto
Deve iniciar ou completar
esquema, logo que possível, ainda
no Brasil ou no país de destino
A partir dessa idade deve-se
administrar três doses de vacina
poliomielite sem necessidade
de reforço.
Com viagem de urgência - deve
receber uma dose da VOPb até o
momento da partida
Vacinada
(receberam 3 doses ou mais
de vacina poliomielite, sendo a
última dose administrada nos
últimos 12 meses)
Não administrar nenhuma dose
de VOPb
-
Vacinada
(receberam 3 doses ou mais
de vacina poliomielite, sendo
a última dose administrada há
mais de 12 meses)
Garantir antes da viagem uma
dose da VOPb, preferencialmente,
até quatro semanas antes da data
da viagem
Com viagem de urgência - deve
receber uma dose da VOPb até o
momento da partida
Adolescente e adulto
Não vacinado ou com
esquema incompleto
Deve iniciar ou completar
esquema, logo que possível, ainda
no Brasil ou no país de destino
Com viagem de urgência - deve
receber uma dose da VOPb até o
momento da partida
Vacinado
(receberam 3 doses ou mais
de vacina poliomielite, sendo a
última dose administrada nos
últimos 12 meses)
Não administrar nenhuma dose
de VOPb
-
Gestante e
imunossuprimido
(e/ou seus contatos)
Vacinado
(receberam três doses ou mais
de vacina poliomielite, sendo
a última dose administrada há
mais de 12 meses)
Garantir antes da viagem uma
dose da VOPb, preferencialmente,
até quatro semanas antes da data
da viagem.
Com viagem de urgência - deve
receber uma dose da VOPb até o
momento da partida
Não vacinado ou com
esquema incompleto
Deve iniciar ou completar
esquema, logo que possível, ainda
no Brasil ou no país de destino.
Com viagem de urgência - deve
receber uma dose da VIP até o
momento da partida
Vacinado
(receberam 3 doses ou mais
de vacina poliomielite, sendo a
última dose administrada nos
últimos 12 meses)
Não administrar nenhuma dose
de VIP
-
Vacinado
(receberam 3 doses ou mais
de vacina poliomielite, sendo
a última dose administrada há
mais de 12 meses)
Garantir antes da viagem uma
dose da VIP, preferencialmente,
até 4 semanas antes da data da
viagem.
Com viagem de urgência - deve
receber uma dose da VIP até o
momento da partida
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Guia de Vigilância em Saúde
116
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de vigilância epidemiológica
de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 252 p.
Nota Informativa Conjunta nº 78/2016 CGPNI/DEVIT/SVS/ MS sobre
a Vacinação contra poliomielite, mudanças no esquema vacinal e orientações aos serviços de saúde e
usuários (rotina, campanha e viajantes). Brasil 2016.
Nota Técnica Conjunta nº 07/2014
CGDT/CGPNI/DEVIT/SVS/MS sobre a Declaração de Emergência de Saúde Pública de Importân-
cia Internacional. Brasília, 2014.
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ças Transmissíveis. Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação. Brasília, 2014. 176 p.
CAMPOS, A. L. V. de; NASCIMENTO, D. R. do; MARANHÃO, E. A história da poliomielite no Brasil e
seu controle por imunização. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 10, p. 573-600,
2003. Suplemento 2.
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2005. Morbidity and Mortality Weekly Report, Atlanta, v. 54, n. 16, p. 408-412, 2005.
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MCKHANN, G. M. et al. Acute motor axonal neuropathy: a frequent cause of acute flaccid paralysis in
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World Health Organization, Geneva, v. 56, p. 21-27, 1978.
Biologicals,
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VERONESI, R; FOCACCIA, Roberto. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
117
Anexo A
Conservação e transporte de amostras de fezes
-
ídos para esse fim), e vedar bem. A quantidade de fezes recomendada deve ser equivalente a 8g
ou a dois terços da capacidade de um coletor universal/padrão. O coletor deve estar devidamente
identificado com o nome completo do paciente, data da coleta e local de procedência da amostra.
-
vados em freezer a -20°C até o momento do envio. Na impossibilidade da utilização de freezer, colocar
em geladeira comum (4 a 8°C) por até no máximo 3 dias, não devendo as amostras jamais serem
colocadas em congelador comum.
amostras devem estar acondicionados em saco plástico individual bem vedado, para que em caso
de descongelamento ou vazamento não haja risco de contaminação de outras amostras.
mínima de no máximo 8°C até as amostras chegarem aos Lacen e destes serem enviadas para os
laboratórios de referência, a fim de serem examinadas. A caixa térmica deve ser fechada por fora
com fita adesiva e acondicionada em outra caixa de papelão de acordo com as especificações do
Departamento de Aviação Civil (DAC), da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
(Infraero) ou da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
para evitar que seja molhada, deve ser enviada ao laboratório acompanhando as amostras de fezes.
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Guia de vigilncia em saude
119
Sarampo
CID 10:B05
Características gerais
Descrição
Doença viral, infecciosa aguda, potencialmente grave, transmissível, extremamente contagiosa e bas-
tante comum na infância. A viremia provoca uma vasculite generalizada, responsável pelo aparecimento
das diversas manifestações clínicas.
Agente etiológico
RNA vírus pertencente ao gênero Morbillivirus, família Paramyxoviridae.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Ocorre de forma direta, por meio de secreções nasofaríngeas expelidas ao tossir, espirrar, falar ou
respirar. Por isso, a elevada contagiosidade da doença. Também tem sido descrito o contágio por dispersão
de aerossóis com partículas virais no ar, em ambientes fechados, como escolas, creches e clínicas.
Período de incubação
Geralmente de 10 dias, podendo variar entre 7 e 18 dias, desde a data da exposição até o aparecimen-
to da febre, e cerca de 14 dias até o início do exantema.
Período de transmissibilidade
Inicia-se de 4 a 6 dias antes do exantema e dura até 4 dias após seu aparecimento. O período de maior
transmissibilidade ocorre entre os 2 dias antes e os 2 dias após o início do exantema. O vírus vacinal não
é transmissível.
Suscetibilidade e imunidade
De um modo geral, todas as pessoas são suscetíveis ao vírus do sarampo.
Lactentes, cujas mães já tiveram sarampo ou foram vacinadas, possuem imunidade passiva conferida por
anticorpos transmitidos pela via transplacentária. Essa imunidade é transitória e pode perdurar até o final do
1o
ano de vida, razão pela qual pode haver interferência na resposta à vacinação em menores de 12 meses de
vida. No Brasil, cerca de 85% das crianças perdem esses anticorpos maternos por volta dos 9 meses de idade.
Manifestações clínicas
Caracteriza-se por febre alta, acima de 38,5°C, exantema máculo-papular generalizado, tosse, coriza,
(Figura 1). De forma simplificada, as manifestações clínicas do sarampo são divididas em três períodos.
surge a febre, acompanhada de tosse produtiva, coriza, conjuntivite e fotofobia. Do 2º ao 4º dia
Sarampo
Guia de Vigilância em Saúde
120
desse período, surge o exantema, quando se acentuam os sintomas iniciais. O paciente apresenta
prostração e lesões características de sarampo (exantema cutâneo máculo-papular de coloração
vermelha, iniciando na região retroauricular).
-
metimento da resistência do hospedeiro à doença. São frequentes as complicações, principalmente
nas crianças até os 2 anos de idade, especialmente as desnutridas e os adultos jovens.
escurecido e, em alguns casos, surge descamação fina, lembrando farinha, daí o nome de furfurácea.
É durante o exantema que, geralmente, se instalam as complicações sistêmicas, embora a encefalite
possa aparecer após o 20º dia.
ERUPÇÃO
MANCHA DE KOPLIK
CONJUNTIVITE
CORIZA
TOSSE
Fonte: Krugman & Ward (1958).
TEMPERATURA
41,5
36,5
DIAS DE DOENÇA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Complicações
Febre por mais de 3 dias, após o aparecimento do exantema, é um sinal de alerta e pode indicar o
aparecimento de complicações, como infecções respiratórias, otites, doenças diarreicas e neurológicas. Na
ocorrência dessas complicações, a hospitalização pode ser necessária, principalmente em crianças desnu-
tridas e em imunocomprometidos.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
Realizado mediante detecção de anticorpos IgM no sangue, na fase aguda da doença, desde os
primeiros dias até 4 semanas após o aparecimento do exantema. Os anticorpos específicos da classe IgG
podem, eventualmente, aparecer na fase aguda da doença e costumam ser detectados muitos anos após
a infecção.
Para detecção de anticorpos, são utilizadas as seguintes técnicas:
ensaio imunoenzimático (ELISA), para dosagem de IgM e IgG − utilizado pela rede laboratorial de
saúde pública no Brasil;
neutralização em placas.
121
Todos os testes têm sensibilidade e especificidade entre 85 e 98%.
É imprescindível assegurar a coleta de amostras de sangue de casos suspeitos, sempre que possível no
primeiro atendimento ao paciente.
Amostras coletadas entre o 1º e o 28º dia do aparecimento do exantema são consideradas amostras
oportunas (S1). As coletadas após o 28º dia são consideradas tardias, mas, mesmo assim, devem ser en-
viadas ao laboratório.
O teste de IgM com resultado reagente ou inconclusivo, independentemente da suspeita, deve ser notifica-
doimediatamenteparaacontinuidadedainvestigaçãoecoletadasegundaamostradesangue(S2),queéobriga-
tória para a classificação final dos casos. Ela deverá ser realizada entre 20 e 25 dias após a data da primeira coleta.
Os casos suspeitos estão sujeitos a dúvidas diagnósticas, devido a:
-
lhante, com possibilidade de se apresentarem reações cruzadas relacionadas ao diagnóstico laboratorial;
Também é necessária a coleta de espécimes clínicos para a identificação viral, a fim de se conhecer
o genótipo do vírus, diferenciar um caso autóctone de um caso importado e diferenciar o vírus selvagem
do vacinal. O vírus do sarampo pode ser identificado na urina, nas secreções nasofaríngeas, no sangue, no
líquor ou em tecidos do corpo pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR).
As amostras dos espécimes clínicos devem ser coletadas até o 5º dia a partir do início do exantema
estender, aproveitando a oportunidade de coleta das amostras para identificação viral.
A conduta para classificar um caso suspeito de sarampo, a partir da interpretação do resultado dos
exames sorológicos, tem relação direta com o período quando a amostra foi coletada (oportuna ou tardia),
conforme apresenta a Figura 2.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial do sarampo deve ser realizado para as doenças exantemáticas febris agu-
das, entre as quais se destacam rubéola, exantema súbito (Roséola Infantum), dengue, enteroviroses, erite-
Tratamento
Não existe tratamento específico para a infecção por sarampo. O tratamento profilático com antibi-
ótico é contraindicado.
Recomenda-se a administração da vitamina A em todas as crianças acometidas pela doença, para
reduzir a ocorrência de casos graves e fatais, no mesmo dia do diagnóstico do sarampo, nas dosagens
indicadas a seguir.
diagnóstico, e outra dose no dia seguinte.
100.000UI, sendo uma dose em aerossol, no dia do diag-
nóstico, e outra dose no dia seguinte.
200.000UI, sendo uma dose em aerossol ou cápsula,
no dia do diagnóstico, e outra dose no dia seguinte.
Para os casos sem complicação, deve-se manter a hidratação e o suporte nutricional, e diminuir a
hipertermia. Muitas crianças necessitam de 4 a 8 semanas para recuperar o estado nutricional.
Sarampo
Guia de Vigilância em Saúde
122
Figura 2 – Roteiro para confirmação ou descarte do caso suspeito de sarampo
Coleta de sangue (S1) no primeiro contato com o paciente
+
investigação epidemiológica
IgM -
Caso suspeito
sem 2ª amostrab
Avaliar resultado: há
aumento de IgG?c
Avaliar resultado:
vírus selvagem
detectado?
IgM +
Reinvestigação epidemiológica
DESCARTARd
NÃO
Avaliar resultado de
sorologia
Coletar S2 com 20 a 25
dias após S1
Coletar material (urina ou
secreção nasofaríngea)
para identificação viral,
preferencialmente até o 5o
dia
do início do exantema
SIM SIM NÃOd
NÃOa
Avaliar: histórico
de viagem/
contato e
sintomasa
Coletar 2ª
sorologia (S2)
entre 20 e 25 dias
após a S1
Período de
coleta do
soro
<
5
dias do
início
do
exantem
a
5
a
28
diasdo
início
do
exantem
a
SIM
CONFIRMAR
a
Em casos suspeitos com história de viagem e/ou contato com caso confirmado, é imprescindível a coleta de uma segunda amostra de soro para descar-
tar um falso-negativo.
b
Casos soropositivos para IgM sem segunda amostra de soro devem ser cuidadosamente interpretados avaliados individualmente, considerando: tempo
da coleta da primeira amostra de soro em relação ao início do exantema; história vacinal; história de viagem a região endêmica e/ou contato com caso
c
onfirmado; aspectos clínicos apresentados; e situação epidemiológica. Mais um fator importante a ser considerado é a presença de outro diagnóstico
diferencial, também merecedor de cuidadosa análise e interpretação.
c
A avaliação do aumento do título de IgG nas amostras pareadas deve ser igualmente individualizada e cuidadosa, considerando: história prévia de
doenças imunológicas; intervalo de tempo da primeira coleta para a segunda; e história de vacinação.
d
O caso suspeito com PCR negativa não deve ser descartado, visto que pode ocorrer falha durante a coleta, o armazenamento e o transporte da amostra.
Características epidemiológicas
O sarampo é uma das principais causas de morbimortalidade entre crianças menores de 5 anos de
idade, sobretudo as desnutridas e as que vivem nos países em desenvolvimento.
É uma doença com distribuição universal, com variação sazonal. Nos climas temperados, observa-se
aumento da incidência no período compreendido entre o final do inverno e o início da primavera. Nos
climas tropicais, a transmissão parece aumentar depois da estação chuvosa.
O comportamento endêmico-epidêmico do sarampo varia de um local para outro, e depende basi-
camente da relação entre o grau de imunidade e a suscetibilidade da população, bem como da circulação
do vírus na área.
123
Nos locais onde as coberturas vacinais não são homogêneas, e estão abaixo de 95%, a doença tende a se
comportar de forma endêmica, com a ocorrência de epidemia a cada 2 a 3 anos, aproximadamente. Na zona
rural, a doença se apresenta com intervalos cíclicos mais longos.
O sarampo afeta ambos os sexos, igualmente. A incidência, a evolução clínica e a letalidade são
influenciadas pelas condições socioeconômicas, nutricionais, imunitárias e aquelas que favorecem a aglo-
meração em lugares públicos e em pequenas residências.
Nos países que conseguem manter altos níveis de cobertura vacinal, a incidência da doença é reduzida,
ocorrendo em períodos cíclicos que variam entre 5 e 7 anos. Quando indivíduos suscetíveis se acumulam
e chegam a um quantitativo suficiente para sustentar uma transmissão ampla, podem ocorrer surtos
explosivos, capazes de afetar todas as faixas etárias.
No Brasil, o sarampo é uma doença de notificação compulsória desde 1968. Até 1991, o país en-
frentou nove epidemias, sendo uma a cada 2 anos em média. O maior número de casos notificados foi
registrado em 1986 (129.942), representando uma taxa de incidência de 97,7/100.000 hab. Até o início da
década de 1990, a faixa etária mais atingida foi a de menores de 15 anos.
Até o final dos anos 70, essa virose era uma das principais causas de óbito dentre as doenças
infectocontagiosas, sobretudo em menores de 5 anos, em decorrência de complicações, especialmente a
pneumonia. Na década de 1980, houve um declínio gradativo no número de óbitos, com 15.638 registros.
Essa redução foi atribuída ao aumento da cobertura vacinal e à melhoria da assistência médica ofertada às
crianças com complicações pós-sarampo. Na década de 1990, ocorreram 822 óbitos, ou seja, cerca de 20
vezes menos que o valor registrado na década anterior.
Em 1992, o Brasil adotou a meta de eliminação do sarampo para o ano 2000, com a implantação
do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, cujo marco inicial foi a realização da primeira campanha
nacional de vacinação contra a doença. Em 1997, após 4 anos de relativo controle, observou-se o recru-
descimento do sarampo no país, inicialmente com surtos em São Paulo, e logo sua expansão para todas
as Unidades Federadas (UF), com 91.810 casos notificados e 53.664 confirmados, taxa de incidência de
32,6/100.000 hab. e 61 óbitos.
O Ministério da Saúde, visando fortalecer a vigilância epidemiológica do sarampo, criou, em 1999,
um Grupo Tarefa com a designação de um técnico de vigilância do sarampo para cada uma das 27 UFs, e
dois para o nível nacional em cada estado. Naquele ano, dos 10.007 casos suspeitos de sarampo notifica-
dos, 8,9% foram confirmados, e destes, 42% por laboratório. Dos 8.199 casos suspeitos de sarampo notifi-
cados no ano 2000, 0,4% foram confirmados, e destes, 83% por laboratório. Os últimos casos autóctones
ocorreram ainda no ano 2000, no estado do Mato Grosso do Sul.
Entre 2001 e 2005, foram confirmados 10 casos de sarampo no Brasil, 4 deles classificados como
casos importados (do Japão, Europa e Ásia). Já em 2006, foram confirmados 57 casos em dois surtos
isolados, no estado da Bahia, com genótipo D4, embora não fosse identificada a fonte primária da
infecção. Entre os anos de 2007 e 2009, foram notificados 4.517 casos suspeitos, sem registro de caso
confirmado. No período de 2010 a 2012, foram notificados 4.380 casos suspeitos, dos quais 2,6% foram
confirmados, todos relacionados a casos importados ou secundários a estes, identificando-se os seguin-
tes genótipos: G3; D4; D8; e B3. Estes genótipos circulavam nos continentes europeu e africano, e os
três últimos citados não haviam circulado anteriormente no Brasil.
De 2013 a 2015, foram notificados 9.523 casos suspeitos, e confirmados 1.310 casos em todo o país. No
período de março de 2013 a março de 2014, ocorreu um surto no estado de Pernambuco, com 226 casos
confirmados, e identificado o genótipo D8. No estado do Ceará, ocorreu um surto no período de dezembro
de 2013 a julho de 2015, registrando-se um total de 1.052 casos confirmados, sendo identificado o genótipo
D8. Em 2016, foram notificados 664 casos suspeitos de sarampo, não se confirmando nenhum caso.
Sarampo
Guia de Vigilância em Saúde
124
Em setembro de 2016, o Comitê Internacional de Especialistas (CIE), responsável pela avaliação da do-
cumentação e verificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome de Rubéola Congênita nas Amé-
ricas, declarou a eliminação da circulação do vírus do sarampo na Região das Américas. Atualmente o país
está em fase de sustentabilidade da eliminação da transmissão autóctone dos vírus do sarampo e da rubéola.
Com o aumento da sensibilidade e especificidade da vigilância do sarampo, é importante a manuten-
ção do sistema de vigilância epidemiológica da doença, com o objetivo de detectar oportunamente todo
caso de sarampo importado, bem como adotar todas as medidas de controle do caso.
A Figura 3 apresenta o sumário da evolução das estratégias de controle do sarampo no Brasil, no
período de 1967 a 2016, compreendendo um período de mais de 40 anos desde a introdução da vacina, e
de aproximadamente 20 anos de intensificação de ações de vacinação e de vigilância da doença no país.
Figura 3 - Estratégias de controle do sarampo, incidência dos casos e cobertura vacinal, Brasil,
1967 a 2016*
Fonte: UVRI/CGDT/DEVIT/SVS/MS.
120
100
80
60
40
20
0
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Introdução
da
vacina
Notificação
Com
pulsória
Program
a
Nacionalde
Im
unização
Intensificação
nasG
randesCidades
Cam
panhasEstaduais
Plano de Eliminação do Sarampo
1° Campanha Nacional
1° Campanha de Segmento
2° Campanha de
Segmento
3° Campanha
de Segmento
4° Campanha de
Segmento
Campanha Nacional
de Vacinação contra
Rubéola de 12 a
39 anos
5° Campanha
de Segmento
Intensificação
Vacinal PE
Intensificação
Vacinal CE
Certificação da
Eliminação do
vírus Sarampo
nas Américas
PES
Incidência Cobertura vacinal
*Atualizado em 20/03/2017.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Manter a eliminação do sarampo mediante uma vigilância epidemiológica sensível, ativa e oportu-
na, permitindo a identificação e a notificação imediata de todo e qualquer caso suspeito na popu-
lação, com medidas de controle pertinentes.
Definição de caso
Suspeito
Todo paciente que, independentemente da idade e da situação vacinal, apresentar febre e exantema
maculopapular acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tosse e/ou coriza e/
ou conjuntivite; ou
125
mesmo período, com alguém que viajou ao exterior.
Confirmado
Todo caso suspeito comprovado como um caso de sarampo a partir de, pelo menos, um dos critérios
a seguir.
Critério laboratorial
Caso suspeito cujo exame laboratorial teve como resultado “reagente” ou “soropositivo para
IgM” e a análise clínica epidemiológica indicativa de confirmação de sarampo. Todos os casos IgM-
-positivos ou reagentes para o sarampo devem ser analisados pela Secretaria Municipal de Saúde
(SMS), Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde (SVS/MS).
Vínculo epidemiológico
Caso suspeito, contato de um ou mais casos de sarampo confirmados por exame laboratorial, que
apresentou os primeiros sintomas da doença entre 7 e 18 dias da exposição ao contato.
Classificação dos casos confirmados de sarampo, de acordo com a fonte de infecção
-
gimento do exantema, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos ou virológicos. A con-
firmação deve ser laboratorial, e a coleta de espécimes clínicos para a identificação viral, realizada
no primeiro contato com o paciente.
transmissão originada de um caso importado, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos
e/ou virológicos.
da fonte de infecção após investigação epidemiológica minuciosa.
-
te relacionados, encontrando-se a fonte de infecção no território nacional. A confirmação deve
ser laboratorial, e a coleta de espécimes clínicos para a identificação viral, realizada no primeiro
contato com o paciente.
por laboratório ou por vínculo epidemiológico.
-
tada (o vírus deve circular no país por mais de 12 meses, em uma mesma cadeia de transmissão).
Descartado
Todo paciente considerado como caso suspeito e não comprovado como um caso de sarampo, de
acordo com os critérios elencados a seguir.
Critério laboratorial
Seguir os critérios de descarte laboratorial apresentados na Figura 2.
Sarampo
Guia de Vigilância em Saúde
126
Vínculo epidemiológico
Caso suspeito de sarampo que tem como fonte de infecção um ou mais casos descartados pelo
critério laboratorial; ou
caso suspeito em localidade onde ocorre surto ou epidemia de outras doenças exantemáticas fe-
bris, comprovadas por diagnóstico laboratorial. Nessa situação, os casos devem ser criteriosamente
analisados antes de serem descartados e a provável fonte de infecção identificada.
Odescarteclínicodeumcasodesaramporepresentaumafalhadosistemadevigilânciaepidemiológica.
Critérios para descarte de caso suspeito de sarampo associado temporalmente à vacina
versus data da última dose da vacina
como suspeito de sarampo em que não houve coleta de amostra de sangue ou o resultado do exame
laboratorial foi “reagente” ou “soropositivo para IgM”, ou em que a avaliação clínica e epidemioló-
gica indicou uma associação temporal entre a data do início do exantema e a data do recebimento
da última dose da vacina com o componente contra o sarampo, que se enquadra nas especificações:
- febre com temperatura que pode chegar a 39,5°C ou mais, com início entre o 5º e o 12º dia após
a vacinação, e duração média de 1 a 2 dias, podendo chegar até 5 dias;
- exantema com duração de 1 a 2 dias, geralmente benigno, que surge entre o 7º e o 14º dia após
a administração da vacina; e
- cefaleia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais observadas entre o 5º e
o 12º dia após a vacinação.
O critério para confirmação ou descarte de um caso suspeito de sarampo pode ser observado na
Figura 2.
Notificação
Considerando-se a alta infectividade e contagiosidade da doença, todo caso suspeito de sarampo
deve ser comunicado por telefone à SMS dentro das primeiras 24 horas após o atendimento do paciente
e também à SES, por telefone, fax ou e-mail, para acompanhamento junto ao município. Além disso, a
notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), utilizando-se
a Ficha de Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola.
Investigação
A investigação do caso suspeito de sarampo deve ser realizada pela equipe municipal. As infor-
mações obtidas na investigação epidemiológica devem responder às demandas básicas da análise epi-
demiológica, ou seja, quem foi afetado, quando ocorreram os casos e onde se localizam. A partir dessas
informações, são desencadeadas as condutas adequadas à situação.
Roteiro da investigação
O caso suspeito de sarampo deve ser investigado no prazo máximo de 48 horas após a notificação
conforme apresentado na Figura 4.
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens da Ficha de Investigação de Doenças Exantemáticas Febris
Sarampo/Rubéola relativos aos dados gerais, individuais e de residência.
127
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
-
nóstico do caso devem ser coletadas, especialmente sobre a situação clínica e epidemiológica do
caso suspeito. A investigação, de forma geral, é iniciada pela visita ao domicílio do caso suspeito
de sarampo, especialmente para completar as informações do quadro clínico apresentado, quan-
do se deve:
- confirmar a situação vacinal do caso suspeito, mediante verificação do cartão de vacinação; e
- estabelecer um prazo entre 7 e 21 dias para realizar nova visita domiciliar, desta vez para acom-
o surgimento de novos casos ou descartá-los.
a ocorrência de outros casos suspeitos, não notificados. Ela é realizada, principalmente, em torno
da área de residência e convivência do caso suspeito, ambiente de trabalho, escola, creche, igreja e
outros locais frequentados pelo paciente nos últimos 7 a 21 dias. Essa investigação deve ser minu-
ciosa, para:
- coletar dados que permitam analisar a situação epidemiológica, respondendo às perguntas bá-
sicas: quem foi afetado? Quando e como ocorreram os casos? Onde se localizam?
- realizar a coleta de uma amostra de sangue para o diagnóstico laboratorial, no caso de a amostra
não ter sido colhida no serviço de saúde responsável pela notificação;
- identificar a provável fonte de infecção;
- avaliar a cobertura vacinal da área;
- verificar possível ocorrência de surtos em outras áreas;
- tomar decisões quanto às medidas de controle da doença, ou seja, definir e orientar a equipe do
serviço de saúde sobre a estratégia de vacinação a ser adotada: qual a estratégia a ser implemen-
tada? Qual sua abrangência?
- orientar as pessoas da comunidade sobre a necessidade de comunicar ao serviço de saúde a
presença de pessoas com sinais e sintomas de sarampo.
suspeito de sarampo, durante a atividade de investigação do caso, realizar busca ativa em sua área
geográfica, a fim de detectar outros possíveis casos. As ações de busca ativa incluem:
- visitas às residências, creches, colégios, centros de saúde, hospitais, farmácias, quartéis,
entre outros;
- contatos com médicos, líderes comunitários e pessoas que exercem práticas alternativas de saú-
de (curandeiros, benzedeiras);
- visitas periódicas aos serviços de saúde que atendam doenças exantemáticas febris na área, par-
ticularmente se esses serviços não têm notificado casos suspeitos; e
- visitas a laboratórios da rede pública ou privada, com o objetivo de verificar se foram realizados
exames para a detecção de casos de sarampo, rubéola ou outro quadro semelhante, que não
tenham sido notificados.
saiba identificar um caso suspeito de sarampo, independentemente da idade e estado vacinal, e ve-
rifique, durante a consulta ou investigação, se o indivíduo viajou ou teve contato com outra pessoa
que viajou para o exterior nos últimos 30 dias ou se teve contato com outra pessoa portadora dos
mesmos sintomas.
Sarampo
Guia de Vigilância em Saúde
128
no ano 2000, um único caso confirmado de sarampo é considerado surto no Brasil, independente-
mente do local ou período de ocorrência.
espécimes clínicos para sorologia (Anexo A).
Encerramento de caso
O caso deve ser encerrado no prazo de até 30 dias a partir do registro tanto no Boletim de Notificação
Semanal (BNS) como no Sinan. Caso o encerramento não aconteça em até 60 dias, o sistema encerrará
automaticamente esses registros, significando o fato como falha da vigilância.
Notificação de caso
suspeito em até 24 horas
Investigação em até 48 horas
Coletar material para
sorologia e identificação viral
Realizar medidas de controleIdentificar novos casos suspeitos
Enviar ao laboratório Bloqueio vacinal após a
identificação do caso suspeito
(até 72 horas)
Identificar ocorrência de surtos
Laboratório informa o
resultado à SMS/SES/MS
Identificar área de transmissão
Avaliar a cobertura vacinal da área SMS e SES encerram o caso
Medidas de prevenção e controle
Proteção individual para evitar circulação viral
No plano individual, o isolamento domiciliar ou hospitalar dos casos diminui a intensidade
dos contágios. Deve-se evitar, principalmente, a frequência às escolas ou creches, agrupamentos
e qualquer contato com pessoas suscetíveis, até 4 dias após o início do período exantemático. O
impacto do isolamento dos doentes é relativo à medida de controle, porque o período prodrômico
da doença já apresenta elevada transmissibilidade do vírus e, geralmente, não é possível isolar os
doentes, a não ser no período exantemático. A vigilância dos contatos deve se realizar pelo período
de 21 dias.
Como o risco de transmissão intra-hospitalar é muito alto, deve-se promover a vacinação seletiva
de todos os pacientes e profissionais do setor de internação do caso suspeito de sarampo ou, a depender
da situação, de todos os profissionais do hospital. Pacientes internados devem se submeter a isolamento
respiratório de aerossol, até 4 dias após o início do exantema.
Proteção da população
A vacina é a única forma de prevenir a ocorrência do sarampo na população. O risco da doença para
indivíduos suscetíveis permanece, em função da circulação do vírus do sarampo em várias regiões do
mundo, e se acentua na medida da facilidade em viajar por esses lugares.
129
A principal medida de controle do sarampo é a vacinação dos suscetíveis: vacinação de rotina na
rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificação vacinal e campanhas de vacinação de seguimento.
Vacinação na rotina
Na rotina dos serviços de saúde, a vacinação contra o sarampo deve ser realizada conforme as indicações
doCalendárioNacionaldeVacinação(Portarianº1.533,de18deagostode2016,doMinistériodaSaúdeeNota
Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do Calendário Vacinal). Para in-
divíduos a partir dos 12 meses até 29 anos de idade, administrar duas doses de vacina com componente saram-
po (tríplice viral e/ou tetraviral), conforme situação vacinal encontrada e de acordo com a descrição a seguir.
-
pletar o esquema de vacinação contra o sarampo, caxumba e rubéola e administrar uma dose da
vacina varicela. Esta vacina pode ser administrada até os 4 anos de idade. Após esta faixa etária,
completar o esquema com a vacina tríplice viral.
Para pessoas de 30 a 49 anos de idade, recomenda-se uma dose da vacina tríplice viral, conforme
situação vacinal encontrada.
Considerar vacinados os indivíduos que atenderem as indicações acima descritas.
Cada serviço de saúde deve identificar as oportunidades perdidas de vacinação, organizando e rea-
lizando estratégias capazes de anular ou minimizar as situações identificadas, principalmente por meio:
Secretarias Estaduais e Municipais de Educação;
Bloqueio vacinal
A vacinação de bloqueio é uma atividade prevista pelo sistema de vigilância epidemiológica em con-
junto com a equipe de imunizações, sendo executada quando da ocorrência de um ou mais casos suspei-
tos da doença. Deve ser realizada no prazo máximo de até 72 horas após a notificação do caso, a fim de in-
terromper a cadeia de transmissão e, consequentemente, eliminar os suscetíveis no menor tempo possível.
O bloqueio vacinal é seletivo e a vacina tríplice viral ou tetraviral são administradas conforme a situ-
ação vacinal dos contatos do caso, como descrito a seguir:
viral. Esta dose não será válida para a rotina de vacinação, devendo-se agendar a dose 1 de tríplice
para os 12 meses de idade e a dose de tetraviral para os 15 meses de idade;
do Calendário Nacional de Vacinação (Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016, do Ministério
da Saúde e Nota Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do
Calendário Vacinal), descritas no item Vacinação de Rotina;
componente sarampo devem receber uma dose de vacina tríplice viral.
Extensa busca ativa de novos casos suspeitos e suscetíveis deve ser realizada para um controle mais
eficiente da doença.
Sarampo
Guia de Vigilância em Saúde
130
Intensificação vacinal
Caracteriza-se pela adoção de estratégias para incrementar a vacinação de rotina, como a busca ativa
de faltosos, identificação de bolsões de não vacinados e vacinação oportuna dos mesmos, especialmente
quando há casos confirmados da doença. Para esta ação, há o desenvolvimento de parcerias com órgãos
governamentais e não governamentais para implementação de ações que melhorem o acesso da popu-
lação aos imunobiológicos, e deve ser executada com a otimização dos insumos disponíveis. Nesta ação
também devem ser consideradas as indicações do Calendário Nacional de Vacinação.
A intensificação vacinal é seletiva para indivíduos a partir dos 6 meses de idade e deve abranger todos
os locais frequentados pelo caso confirmado: residência, escola, creche, cursinho, faculdade, alojamento,
local de trabalho e outros estabelecimentos coletivos; ou todo o município, quando indicado.
Campanhas de vacinação
A campanha de vacinação é uma ação pontual que tem um fim determinado e específico. É uma
estratégia que tem abrangência limitada no tempo e visa, sobretudo, à vacinação em massa de uma deter-
minada população, com uma ou mais vacinas.
A intensa mobilização da comunidade, principalmente por meio dos veículos de comunicação e da
ampliação do número de postos de vacinação, implica maior conhecimento da importância da vacinação
e facilita o acesso da população, resultando em maiores coberturas vacinais.
Durante a campanha deve ser aproveitada a oportunidade para administrar o maior número possível
de vacinas nos grupos alvo, iniciando ou completando o esquema de vacinação estabelecido, visto a gran-
de mobilização de recursos financeiros e de pessoas para a realização da mesma.
Campanha de seguimento contra o sarampo
A vacinação em campanhas de seguimento é uma atividade que se realiza periodicamente, em nível
nacional, com o objetivo de alcançar crianças não vacinadas ou com esquema incompleto, principalmente
aquelas em idade pré-escolar. Essa estratégia é recomendada sempre que há o acúmulo de crianças despro-
tegidas em determinada faixa etária, seja pela soma dos não vacinados, seja pela falha primária da vacina.
Nas campanhas de seguimento, a vacina é administrada de forma indiscriminada.
O intervalo entre uma campanha e outra depende da cobertura vacinal alcançada na rotina dos ser-
viços em um determinado período ou conforme a situação epidemiológica do sarampo.
Varredura
Também denominada de operação limpeza, a varredura é uma atividade na qual se verifica, casa a
casa, a situação vacinal de todos os indivíduos a partir dos 6 meses de idade até 49 anos, realizando a va-
cinação de forma seletiva, de acordo com a situação encontrada. É realizada quando ainda há ocorrência
de casos da doença, mesmo após a implementação de outras ações de vacinação.
Monitoramento rápido de coberturas (MRC)
O MRC é uma ação de supervisão cujo objetivo principal é identificar a situação vacinal de deter-
minado grupo alvo, num certo local e período de tempo, para subsidiar a programação das atividades
de vacinação. Pode ser aplicado para uma ou mais vacinas e utiliza a estratégia de visita casa a casa em
localidades escolhidas aleatoriamente. No momento da visita é feita a verificação do cartão de vacinação,
ou outro comprovante de vacinação, e, caso haja indivíduos não vacinados, interroga-se o motivo da “não
vacinação”, permitindo planejar futuras ações com base nos problemas identificados. Aproveita-se esta
oportunidade para vacinar os não vacinados.
131
Recomendações gerais para vacinação
É estabelecida a meta de 95% de cobertura vacinal, de forma homogênea, em todos os municípios
brasileiros, o que reduz a possibilidade da ocorrência do sarampo e permite a eliminação da transmissão
do vírus. A eliminação dos suscetíveis interrompe a cadeia de transmissão. Para avaliar e monitorar essa
cobertura no nível local, o monitoramento rápido de cobertura vacinal (MRC) deve ser realizado de for-
ma sistemática, com articulação entre as equipes de vigilância epidemiológica e imunizações, Programa
de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Estratégia Saúde da Família (ESF).
Eventos adversos
As vacinas tríplice viral e tetraviral são pouco reatogênicas. Os eventos adversos mais observados
são febre, dor e rubor no local da administração e exantema. As reações de hipersensibilidade são raras.
Para informações adicionais consultar o Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-
-vacinação (2014).
Estratégias complementares de prevenção
Estratégias de vacinação para a prevenção de casos ou surtos
Intensificação da vacinação extramuros
Compreende, de maneira geral, o desenvolvimento de atividades fora dos serviços de saúde (extra-
muros). O principal objetivo dessa estratégia, adotada quando os índices de vacinação contra o sarampo/
rubéola se encontram abaixo de 95%, é eliminar bolsões de suscetíveis (não vacinados) e assim garantir
todos os municípios com cobertura vacinal em um nível suficientemente seguro para a manutenção da
imunidade de grupo.
A intensificação vacinal consiste, sobretudo, na realização de vacinação casa a casa (incluindo
residências, escolas, creches, orfanatos, entre outros) de indivíduos com 12 meses até 49 anos de idade não
vacinados na rotina do serviço, nas campanhas de multivacinação e/ou de seguimento, especialmente dos
que vivem em áreas urbanas e rurais de difícil acesso. Deve-se avaliar a situação vacinal de cada indivíduo
nesta faixa etária e vacinar quando for o caso.
Campanhas de multivacinação
As campanhas de multivacinação são importantes oportunidades para aumentar as coberturas vacinais.
Por ocasião das campanhas de multivacinação, são vacinadas as crianças de 12 meses a menores de 5
anos de idade que não foram atendidas pelas atividades de rotina e campanhas de seguimento.
Para prevenir a disseminação do vírus do sarampo após um caso importado, todo esforço adicional
para vacinar essas pessoas deve ser realizado.
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133
Anexo A
Orientações para procedimentos laboratoriais
Procedimentos
Isolamento viral – urina
-
letando o jato médio; não sendo possível obter a 1ª urina do dia, colher em outra hora, quando a
urina estiver retida de 2 a 4 horas;
-
para evitar que o crescimento de bactérias diminua a possibilidade de isolamento do vírus. A urina
não deve ser congelada;
procedimentos:
- centrifugar a amostra de urina a 1.500rpm, a 4°C (se possível);
- ressuspender o sedimento em 2mL de meio de transporte de vírus ou em solução salina estéril
com adição de antibióticos.
-
ferência Nacional para o Sarampo, na Fiocruz/RJ, em gelo seco (o gelo seco é obtido a partir do
congelamento de substância gasosa especial); se não for possível, congelar a -70°C, estocá-los
a 4°C e enviá-los ao laboratório de referência nacional, em gelo reciclável, dentro de 3 dias (72
horas), no máximo.
Isolamento viral – secreção nasofaríngea
swab na cavidade nasal direita, outro na cavidade nasal esquerda e na nasofaringe;
swabs no mesmo tubo contendo meio DMEM (fornecido pelo laboratório). Caso não
tenha o meio específico, colocar o material com a solução salina e enviar ao laboratório de referên-
cia nacional. Não congelar;
bomba a vácuo (presente em ambiente hospitalar).
Sorologia – sangue
-
to do paciente até, no máximo, 28 dias após o início do aparecimento do exantema.
pode ser feita por centrifugação ou após a retração do coágulo em temperatura ambiente ou a
37°C. Quando se tratar de criança muito pequena e não for possível coletar o volume estabelecido,
colher 3mL.
-
geração, na temperatura de 4° a 8°C, por, no máximo, 48 horas.
Sarampo
Guia de Vigilância em Saúde
134
térmica ou caixa de transporte para amostra biológica, com gelo ou gelox. Caso o soro não possa
ser encaminhado ao laboratório no prazo de 2 dias (48 horas), conservá-lo no freezer, à temperatura
de -20°C, até o momento do transporte para o laboratório de referência. O prazo máximo para o soro
chegar ao Lacen é de 4 dias.
135
Rubéola
CID 10: B06
Características gerais
Descrição
Doença exantemática aguda, de etiologia viral, que apresenta alta contagiosidade e acomete prin-
cipalmente crianças. Sua importância epidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos
e malformações congênitas, como cardiopatias, catarata e surdez. Quando a infecção ocorre durante a
gestação, o recém-nascido poderá apresentar a síndrome da rubéola congênita (SRC).
Agente etiológico
Vírus RNA, do gênero Rubivírus e da família Togaviridae.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Ocorre por meio de contato com secreções nasofaríngeas de pessoas infectadas. O vírus é dissemina-
do por gotículas ou pelo contato direto com pessoas infectadas.
A transmissão indireta, que é pouco frequente, ocorre mediante contato com objetos contaminados
com secreções nasofaríngeas, sangue e urina.
Período de incubação
Em geral, varia de 14 a 21 dias, com média de 17 dias. A variação máxima observada é de 12 a 23 dias.
Período de transmissibilidade
Aproximadamente de 5 a 7 dias antes do início do exantema e até 7 dias após o exantema.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral.
A imunidade ativa é adquirida por meio da infecção natural ou por vacinação. Os filhos de mães
imunes podem apresentar imunidade passiva e transitória durante 6 a 9 meses de idade.
Manifestações clínicas
O quadro clínico é caracterizado por exantema máculo-papular e puntiforme difuso, com início na
face, couro cabeludo e pescoço, espalhando-se posteriormente para o tronco e membros.
Febre baixa e linfoadenopatia retroauricular, occipital e cervical posterior também são possíveis
de ocorrer. Geralmente, antecedem o exantema no período de 5 a 10 dias e podem perdurar por al-
gumas semanas.
Formas inaparentes são frequentes, principalmente em crianças. Adolescentes e adultos podem apre-
sentar um período prodrômico com febre baixa, cefaleia, dores generalizadas (artralgias e mialgias), con-
juntivite, coriza e tosse. A leucopenia é comum e raramente ocorrem manifestações hemorrágicas.
Rubéola
Guia de Vigilância em Saúde
136
Complicações
Apesar de raras, as complicações podem ocorrer com maior frequência em adultos, destacando-se:
artrite ou artralgia, encefalites (1 para 5 mil casos) e manifestações hemorrágicas (1 para 3 mil casos).
Diagnóstico
Diagnóstico clínico
Vide Manifestações clínicas.
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial é realizado mediante detecção de anticorpos IgM no sangue na fase aguda
da doença, desde os primeiros dias até 4 semanas após o aparecimento do exantema.
Os anticorpos específicos da classe IgG podem, eventualmente, aparecer na fase aguda da doença e
costumam ser detectados muitos anos após a infecção (Anexo A).
Não existem indicações para solicitar e realizar o exame de rotina para rubéola no pré-natal, em
gestantes. O exame só deve ser solicitado e realizado mediante suspeita de rubéola na gestante ou quando
a mesma for contato com uma pessoa com doença exantemática. Caso a gestante não tenha comprovação
da vacina contra rubéola (rubéola monovalente, dupla viral ou tríplice viral) na cardeneta de vacinação, se
necessário, a pesquisa de IgG para rubéola (gestante assintómatica e sem contato prévio com outra doença
exantemática) deverá ser solicitada. Caso o resultado seja negativo ou não reagente, indicar a vacinação
contra rubéola imediatamente após o parto (Figura 3).
Técnicas de diagnóstico laboratorial
Para detecção de anticorpos podem ser utilizadas as seguintes técnicas:
laboratorial de saúde pública de referência para rubéola;
Todos os testes têm sensibilidade e especificidade entre 85 e 98%.
As amostras de sangue dos casos suspeitos devem ser colhidas, sempre que possível, no primeiro
atendimento ao paciente.
Amostras coletadas entre o 1º e o 28º dias após o aparecimento do exantema são consideradas amos-
tras oportunas (S1). As coletadas após o 28º dia são consideradas tardias mas mesmo assim devem ser
enviadas ao laboratório.
A realização da segunda coleta (S2) é obrigatória e imprescindível para a classificação final dos casos,
e deve ser realizada de 20 a 25 dias após a data da primeira coleta.
Os resultados IgM reagente ou indeterminado, independentemente da suspeita, devem ser co-
municados imediatamente à vigilância epidemiológica estadual, para a realização da investigação e
da coleta da segunda amostra de sangue. A partir de 2009, devido à eliminação da transmissão do
vírus autóctone da rubéola no país, essa conduta passou a ser obrigatória. Nesses casos, todas as
amostras deverão ser enviadas ao laboratório de referência nacional para reteste. Em caso de IgM
positivo, é importante o envio dos soros da 1a
e 2a
amostras de sangue e do material clínico para
identificação viral.
137
Identificação viral
O vírus da rubéola pode ser identificado na urina, secreções nasofaríngeas, sangue, líquido
cefalorraquidiano ou em tecidos do corpo. A identificação viral tem por finalidades: determinar o padrão
genético circulante no país, diferenciar os casos importados de rubéola e o vírus selvagem do vírus vacinal.
Critérios para a coleta de espécimes clínicos para identificação
-
servando o período de coleta adequado.
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com sarampo, escarlatina, dengue, exantema súbito (herpes vírus 6), eritema infeccioso
considerar a situação epidemiológica do local: se houve surtos, casos isolados, áreas de baixa cobertura
vacinal, resultados sorológicos IgM+ para rubéola e sarampo. Discutir com os técnicos responsáveis das
secretarias municipais, estaduais (vigilância epidemiológica e laboratório) e com a Secretaria de Vigilância
em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) (exantematicas@saude.gov.br) a indicação e a interpretação
dos exames laboratoriais para a realização do diagnóstico diferencial das doenças exantemáticas febris.
Para a realização dos exames para o herpes vírus tipo 6 e parvovírus B19, é necessária a avaliação
epidemiológica de cada caso.
Tratamento
Não há tratamento específico para a rubéola. Apenas os sinais e sintomas são tratados.
Características epidemiológicas
A vigilância e o combate da rubéola foram impulsionados pela implementação do Plano de Erradica-
ção do Sarampo no país, desde 1999. Em 2002, foram registrados 1.480 casos no Brasil, o que corresponde
a um decréscimo de 95% quando comparado a 1997. Entre 2000 e 2012, foram confirmados 37.663 casos
de rubéola. Nesse período, foram detectadas mudanças significativas no comportamento da doença. Em
2005, houve um surto no estado do Rio Grande do Sul, com 44 casos confirmados e identificação do ge-
nótipo 1D, o mesmo que circulava na Europa. Em 2006 e 2007, verificaram-se incrementos no número de
casos confirmados e surtos nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e São Paulo, com genótipo
2B. Em 2008, com a intensificação da vigilância epidemiológica e a ampliação da vacinação de bloqueio, o
número de casos se reduziu em 273,6%, quando comparado com o ano de 2007.
Também em 2008 ocorreu no Brasil a maior Campanha de Vacinação contra Rubéola do mundo,
com 65,9 milhões de pessoas na faixa etária de 19 a 39 anos de idade vacinadas, nos estados do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Maranhão. Nos demais estados, a faixa etária
foi de 20 a 39 anos de idade. A campanha alcançou uma cobertura vacinal de 94%.
Diante dos esforços realizados para controlar essa doença, o Brasil cumpriu a meta de eliminação
da rubéola e da SRC, até o ano de 2010. Entre 2012 e 2016, foram notificados 18.640 casos suspeitos de
rubéola, e todos encerrados pelo critério laboratorial ou vínculo epidemiológico. Somente em 2014, foi
confirmado um caso importado de rubéola, de trabalhador de navio proveniente das Filipinas, identifica-
do o genótipo 2B e não identificado nenhum caso secundário.
Rubéola
Guia de Vigilância em Saúde
138
Em abril de 2015, a Organização Pan-Americana da Saúde declarou a Região das Américas livre da
rubéola e da síndrome da rubéola congênita.
AFigura1mostraasestratégiasdecontroleeaincidênciaanualderubéolanoBrasilnosanosde1992a2016.
Figura 1 - Estratégias de controle e incidência da rubéola, Brasil, 1993 a 2016*
Fonte: UVRI
Notificação
Compulsória
MIF_PR
Campanha de
Seguimento E
MIF_RN
MIF_12UF
MIF_11UF
Campanha de Seguimento**
Último caso de Rubéola PE
e SP 23 e 29/12/2008
Último caso
de SRC
CAMPANHA NACIONAL
DE VACINAÇÃO CONTRA
RUBÉOLA 2008
Certificação da Eliminação
da circulação do vírus da
Rubéola no Brasil
120
100
80
60
40
20
0
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Incidência Cobertura vacinal
a
MIF_XXUF - Vacinação em Mulheres em Idade Fértil e número de Unidade da Federação Implantada.
b
Vacina dupla viral e Vacina tríplice viral.
* Dados atualizados em 20/03/2017.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Definição de caso
Suspeito
Todo paciente que apresentar febre e exantema máculo-papular, acompanhado de linfoadenopatia
retroauricular, occipital e/ou cervical, independentemente de idade e situação vacinal.
Ou todo indivíduo com febre, acompanhada de exantema ou linfoadenopatia com as características
mencionadas acima e que tenha história de viagem ao exterior nos últimos 30 dias ou de contato, no mes-
mo período, com alguém que viajou ao exterior.
Confirmado
− quando a interpretação dos resultados dos exames sorológicos for reagente
para rubéola.
− quando o caso suspeito teve contato com um ou mais casos de rubéola,
confirmados por laboratório, e apresentou os primeiros sintomas da doença entre 12 e 23 dias após
o contato com o(s) caso(s).
− por se tratar de uma doença em eliminação no Brasil, o diagnóstico clínico é considera-
do uma falha da vigilância. Assim, todos os casos suspeitos de rubéola devem ter diagnóstico laboratorial.
139
Descartado
− seguir os critérios de descarte laboratorial apresentados na Figura 2.
− quando o caso tiver como fonte de infecção um ou mais casos descar-
tados pelo critério laboratorial ou quando, na localidade, estiverem ocorrendo outros casos, surtos
ou epidemia de outra doença exantemática febril, confirmada por diagnóstico laboratorial.
Figura 2 – Roteiro para confirmação ou descarte de caso suspeito de rubéola
Coleta de sangue (S1) no primeiro
contato com o paciente
+
investigação epidemiológica
IgM – IgM +
Reinvestigação
epidemiológica
Avaliar resultado
de sorologia
Coletar nova amostra
(5 a 28 dias do
exantema) e retestar
Avaliar: histórico de
viagem/contato e
sintomasa
NÃO
Período da
coleta do
soro
SIM
Caso suspeito
sem 2a
amostrab
Coletar amostra de
sangue para segunda
sorologia (S2) de 20 a
25 dias após a S1
Coletar material (urina ou
SNF) para identificação
viral preferencialmente
até o 5o
dia do início do
exantema
Avaliar resultados:
há aumento de IgG?c
Avaliar resultados:
vírus selvagem
detectado?b
SIM SIM NÃOd
Descartar
NÃOa
Confirmar
5
a 28
dias do
início
do
exantem
a
<
5
dias do
início
do
exantem
a
a
Para casos suspeitos com história de viagem e/ou contato com caso confirmado, é imprescindível a coleta de uma segunda amostra de soro, com intuito
de descartar um falso-negativo.
b
Casos com IgM positivo sem segunda amostra de soro devem ser cuidadosamente interpretados; cada caso deve ser avaliado individualmente,
considerando: o tempo da coleta da primeira amostra de soro em relação ao início do exantema; história vacinal; história de viagem a região endêmica e/
ou contato com caso confirmado; aspectos clínicos apresentados e situação epidemiológica. Outro fator importante que deve ser considerado é a presença
de outro diagnóstico diferencial, interpretando cuidadosamente conforme descrito acima.
c
A avaliação do aumento do titulo de IgG nas amostras pareadas deve ser individualizada e cuidadosa, considerando: história prévia de doenças
imunológicas, intervalo de tempo da primeira coleta para a segunda e história de vacinação. Esses fatores podem interferir no aumento do IgG.
d
O caso suspeito com PCR negativo não deve ser descartado, visto que pode ocorrer falha durante a coleta, o armazenamento e o transporte da amostra.
Rubéola
Guia de Vigilância em Saúde
140
− avaliação clínica e epidemiológica indica associação
temporal entre a data do início dos sintomas e a data do recebimento da última dose da vacina,
mesmo que não tenha sido realizada coleta de amostra. Os critérios para descarte, como associação
temporal à vacina, são os seguintes: febre com temperatura que pode chegar a 39,5°C ou mais, com
início entre o 5º e o 12º dia após a vacinação e duração de cerca de 1 a 2 dias, podendo chegar até
5 dias; exantema que dura de 1 a 2 dias, sendo geralmente benigno, e que surge entre o 7º e o 14º
dia após a administração da vacina; cefaleia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações
catarrais observadas entre o 5º e o 12º dia após a vacinação; linfadenopatias que se instalam entre
o 7º e o 21º dia após a data de vacinação.
Classificação dos casos confirmados de rubéola, de acordo com a fonte de infecção
Caso importado de rubéola
Infecção ocorrida fora do país durante os 12 a 23 dias prévios ao surgimento do exantema, de acordo
com a análise dos dados epidemiológicos ou virológicos. A coleta de espécimes clínicos para a identifica-
ção viral deve ser realizada no primeiro contato com o paciente.
Caso relacionado com importação
Infecção contraída localmente, que ocorre como parte de uma cadeia de transmissão originada por
um caso importado, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos e/ou virológicos.
Caso com origem de infecção desconhecida
Caso em que não seja possível estabelecer a origem da fonte de infecção após a investigação epide-
miológica minuciosa.
Caso índice
Primeiro caso ocorrido entre vários casos de natureza similar e epidemiologicamente relacionados,
sendo a fonte de infecção no território nacional. A coleta de espécimes clínicos para a identificação viral
deve ser realizada no primeiro contato com o paciente.
Caso secundário
Caso novo a partir do contato com o caso índice. A confirmação deve ser feita por laboratório ou por
vínculo epidemiológico.
Caso autóctone
Primeiro caso identificado após a confirmação da cadeia de transmissão sustentada (o vírus deve cir-
cular no país por mais de 12 meses em uma mesma cadeia de transmissão). A Figura 2 apresenta o roteiro
para confirmação ou descarte de caso suspeito de rubéola.
Notificação
Todos os casos suspeitos devem ser notificados imediatamente à Secretaria Municipal de Saúde,
seguindo o fluxo definido pelo nível estadual.
A notificação e a investigação da rubéola devem ser realizadas utilizando a Ficha de Investigação
de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola do Sistema de Informação de Agravos de Notifi-
cação (Sinan).
141
Investigação
Todo caso suspeito de rubéola deve ser investigado em até 48 horas. Além disso, a possibilidade de
detecção de novos casos deve ser considerada (Figura 3).
Roteiro da investigação
A Figura 3 apresenta o fluxograma do roteiro de investigação epidemiológica de caso suspeito
de rubéola.
Figura 3 – Fluxograma do roteiro de investigação epidemiológica de caso suspeito de rubéola
Notificar o caso suspeito
em até 24 horas
Investigar em até 48h
Coletar dados clínicos
Coletar material para
sorologia e identificação
viral
Realizar medidas de
controle
Identificar novos
casos suspeitos Enviar ao laboratório
Fazer bloqueio vacinal
em até 72h
Identificar
ocorrência de surtos Laboratório informa
o resultado à
secretaria municipal
de saúde/secretaria
estadual de saúde/
Ministério da Saúde
Identificar área
de transmissão
Avaliar a cobertura
vacinal da área
Secretarias municipais e
estaduais de saúde
encerram o caso
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica − a investigação, de forma geral, é iniciada por meio da
visita domiciliar feita para:
- completar as informações sobre o quadro clínico do caso suspeito;
- confirmar a situação vacinal do caso suspeito, mediante verificação do cartão de vacinação;
- estabelecer um prazo entre 7 e 23 dias para realizar a revisita, a fim de detectar a ocorrência de
complicações e/ou o surgimento de novos casos;
- acompanhar a evolução do caso;
- confirmar ou descartar o caso.
Rubéola
Guia de Vigilância em Saúde
142
Para identificar a área de transmissão
A finalidade é verificar a ocorrência de outros casos suspeitos que não foram notificados na comunidade.
É realizada, principalmente, em torno da área de residência e convivência do caso suspeito (vizinhança,
local de trabalho, colégios, creche, igrejas, entre outros) nos últimos 7 a 23 dias. Investigar minuciosamente:
os casos? Onde se localizam?
colhida no serviço de saúde que fez a notificação;
serviço de saúde sobre a estratégia de vacinação a ser adotada: qual a estratégia a ser implementa-
da? Qual a sua abrangência?
-
mento de casos de pessoas com sinais e sintomas de rubéola;
Para determinação da extensão da área de transmissão
A busca ativa dos casos é feita a partir da notificação de um caso suspeito de rubéola, mediante:
(curandeiros, benzedeiras e outros);
-
cularmente se esses serviços não vêm notificando casos suspeitos;
para a detecção de sarampo, rubéola, ou outro quadro semelhante, e que não tenham sido notificados.
Para identificar um surto de rubéola
Devido à eliminação da circulação do vírus da rubéola no país a partir de 2009, um caso confirmado
de rubéola é considerado um surto, independentemente da localidade ou período de sua ocorrência.
Coleta e envio de material para exames
Em todo caso suspeito de rubéola, deverão ser coletados espécimes clínicos para sorologia e identi-
ficação viral (Anexo A).
Análise de dados
Em cada nível do SUS (municipal, estadual e federal), devem ser realizadas análises periódicas dos
dados epidemiológicos coletados, da forma mais padronizada possível, abrangendo, conforme já referido,
a distribuição temporal, a localização espacial e a distribuição segundo os atributos pessoais.
Distribuiçãotemporal(quando?)−aanálisetemporalconsideraadistribuiçãodonúmerodecasos
notificados e confirmados (segundo critério laboratorial e vínculo epidemiológico), de acordo com
o intervalo de tempo, como, por exemplo, semana epidemiológica, mês ou ano. Também devem
ser calculados os coeficientes de incidência e mortalidade mensais e anuais, conforme a situação
143
epidemiológica vigente, para verificação da tendência da doença na população. A distribuição no
tempo é um dado essencial para o adequado acompanhamento do aumento ou da redução da
ocorrência de casos na população, e para o estabelecimento da variação sazonal da doença.
Localização espacial (onde?) − a análise da situação, segundo a localização dos casos, permite o
conhecimento da área geográfica de ocorrência, que pode ser melhor visualizada, assinalando-se
com cores diferentes em um mapa, destacando:
- local de residência dos casos (rua, bairro, distrito, município, estado, país);
- local onde o caso permaneceu por mais tempo (escola, creche, alojamento, canteiro de obra,
quartéis, entre outros);
- zona de residência ou permanência (urbana e rural);
- as áreas que concentram elevado número de suscetíveis.
Distribuição segundo atributos pessoais (quem?) − a análise da distribuição, segundo atributos
pessoais, permite conhecer o perfil da população que está sendo acometida, e se o comportamento
da doença apresenta fatores distintos que indicam mudanças em seu perfil, como, por exemplo, o
deslocamento da faixa etária. Para isso, é importante considerar:
- a distribuição dos casos confirmados, por faixa etária;
- a história vacinal dos casos confirmados, segundo número de doses recebidas;
- história de deslocamento;
- outros atributos, tais como ocupação e escolaridade.
Encerramento de caso
O caso deve ser encerrado, adequadamente, no prazo de até 30 dias tanto no Boletim de Notificação
Semanal (BNS) quanto no Sinan. Caso o encerramento não aconteça em até 60 dias, o sistema encerrará
automaticamente esses registros, o que significa uma falha da vigilância.
Relatório final
Em situações de surtos, o relatório permite analisar a extensão e as medidas de controle adotadas e
caracterizar o perfil de ocorrência e os fatores que contribuíram para a circulação do vírus na população.
Medidas de prevenção e controle
Objetivo
Evitar a reintrodução do vírus no Brasil e a transmissão da doença.
Estratégias
Proteção individual para evitar circulação viral
As crianças e adultos acometidos de rubéola devem ser afastados da escola, da creche, do local de
trabalho e também de outros locais, durante o período de transmissibilidade (5 a 7 dias antes do início do
exantema e pelo menos 7 dias depois).
Proteção da população
A vacina é a única forma de prevenir a ocorrência da rubéola na população. O risco da doença para
indivíduos suscetíveis permanece em função da circulação do vírus da rubéola em várias regiões do mun-
do e da facilidade em viajar para esses lugares.
Rubéola
Guia de Vigilância em Saúde
144
A principal medida de controle é feita por meio da vacinação dos suscetíveis, que inclui: vacinação de
rotina na rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificação e/ou campanhas de vacinação.
Vacinação de rotina
Na rotina dos serviços de saúde, a vacinação contra rubéola deve ser realizada conforme as indi-
cações do Calendário Nacional de Vacinação (Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016, do Ministério
da Saúde e Nota Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do Ca-
lendário Vacinal). Para indivíduos a partir dos 12 meses até 29 anos de idade, administrar duas doses de
vacina com componente rubéola (tríplice viral e/ou tetraviral), conforme situação vacinal encontrada e de
acordo com a descrição a seguir.
-
pletar o esquema de vacinação contra o sarampo, caxumba e rubéola e administrar uma dose da
vacina varicela. Esta vacina pode ser administrada até os 4 anos de idade. Após esta faixa etária,
completar o esquema com a vacina tríplice viral.
situação vacinal encontrada.
Considerar vacinados os indivíduos que atenderem as indicações acima descritas.
Cada serviço de saúde deve identificar as oportunidades perdidas de vacinação, organizando e rea-
lizando estratégias capazes de anular ou minimizar as situações identificadas, principalmente por meio:
Secretarias Estaduais e Municipais de Educação;
Bloqueio vacinal
A vacinação de bloqueio é uma atividade prevista pelo sistema de vigilância epidemiológica em conjun-
to com a equipe de imunizações, sendo executada quando da ocorrência de um ou mais casos suspeitos da
doença. Deve ser realizada no prazo máximo de até 72 horas após a notificação do caso, a fim de interromper
a cadeia de transmissão e, consequentemente, eliminar os suscetíveis no menor tempo possível.
O bloqueio vacinal é seletivo e a vacina tríplice viral ou tetraviral são administradas conforme a situ-
ação vacinal dos contatos do caso, como descrito a seguir:
viral. Esta dose não será válida para a rotina de vacinação, devendo-se agendar a dose 1 de tríplice
para os 12 meses de idade e a dose de tetraviral para os 15 meses de idade.
do Calendário Nacional de Vacinação (Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016, do Ministério
da Saúde e Nota Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do
Calendário Vacinal), descritas no item Vacinação de Rotina.
componente rubéola devem receber uma dose de vacina tríplice viral.
Extensa busca ativa de novos casos suspeitos e suscetíveis deve ser realizada para um controle mais
eficiente da doença.
145
As gestantes suscetíveis devem ser afastadas do contato com casos e comunicantes, durante o período
de transmissibilidade e incubação da doença.
Quando a gestante tem contato com um doente de rubéola, deve ser avaliada sorologicamente, o
mais precocemente possível, para posterior acompanhamento e orientação.
Intensificação vacinal
Caracteriza-se pela adoção de estratégias para incrementar a vacinação de rotina, como a busca ativa
de faltosos, identificação de bolsões de não vacinados e vacinação oportuna dos mesmos, especialmente
quando há casos confirmados da doença. Para esta ação, há o desenvolvimento de parcerias com órgãos
governamentais e não governamentais para implementação de ações que melhorem o acesso da popu-
lação aos imunobiológicos, e deve ser executada com a otimização dos insumos disponíveis. Nesta ação
também devem ser consideradas as indicações do Calendário Nacional de Vacinação.
A intensificação vacinal é seletiva para indivíduos a partir dos 6 meses de idade e deve abranger todos
os locais frequentados pelo caso confirmado: residência, escola, creche, cursinho, faculdade, alojamento,
local de trabalho e outros estabelecimentos coletivos; ou todo o município, quando indicado.
Campanhas de vacinação
A campanha de vacinação é uma ação pontual que tem um fim determinado e específico. É uma
estratégia que tem abrangência limitada no tempo e visa, sobretudo, à vacinação em massa de uma deter-
minada população, com uma ou mais vacinas.
A intensa mobilização da comunidade, principalmente por meio dos veículos de comunicação e
da ampliação do número de postos de vacinação, implica no maior conhecimento da importância da
vacinação e facilita o acesso da população, resultando em maiores coberturas vacinais.
Durante a campanha, deve ser aproveitada a oportunidade para administrar o maior número pos-
sível de vacinas nos grupos alvo, iniciando ou completando o esquema de vacinação estabelecido, visto a
grande mobilização de recursos financeiros e de pessoas para a realização da mesma.
Varredura
Também denominada de operação limpeza, a varredura é uma atividade na qual se verifica, casa a
casa, a situação vacinal de todos os indivíduos a partir dos 6 meses de idade até 49 anos, realizando a va-
cinação de forma seletiva, de acordo com a situação encontrada. É realizada quando ainda há ocorrência
de casos da doença, mesmo após a implementação de outras ações de vacinação.
Monitoramento rápido de coberturas (MRC)
O MRC é uma ação de supervisão cujo objetivo principal é identificar a situação vacinal de deter-
minado grupo alvo, num certo local e período de tempo, para subsidiar a programação das atividades
de vacinação. Pode ser aplicado para uma ou mais vacinas e utiliza a estratégia de visita casa a casa em
localidades escolhidas aleatoriamente. No momento da visita é feita a verificação do cartão de vacinação,
ou outro comprovante de vacinação, e, caso haja indivíduos não vacinados, interroga-se o motivo da “não
vacinação”, permitindo planejar futuras ações com base nos problemas identificados. Aproveita-se esta
oportunidade para vacinar os não vacinados.
Recomendações gerais para vacinação
É estabelecida a meta de 95% de cobertura vacinal, de forma homogênea, em todos os municípios
brasileiros, o que reduz a possibilidade da ocorrência da rubéola e permite a eliminação da transmissão
Rubéola
Guia de Vigilância em Saúde
146
do vírus. A eliminação dos suscetíveis interrompe a cadeia de transmissão. Para avaliar e monitorar essa
cobertura no nível local, o MRC deve ser realizado de forma sistemática, com articulação entre as equipes
de vigilância epidemiológica e imunizações, Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Es-
tratégia Saúde da Família (ESF).
Eventos adversos
As vacinas tríplice viral e tetraviral são pouco reatogênicas. Os eventos adversos mais observados
são febre, dor e rubor no local da administração e exantema. As reações de hipersensibilidade são raras.
Para informações adicionais consultar o Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-
-vacinação (2014).
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi-
ológica. Brasil Livre da Rubéola: Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola, Brasil,
2008: relatório final. Brasília, 2009.
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384, de 2016. Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <http://portalarquivos.
saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384-Calendario-Nacional-de-Vacina-
cao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017.
-
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2014. 252 p.
Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. 4. ed. Brasília, 2014.
-
ológica. Manual técnico-operacional: campanha nacional de vacinação para eliminação da rubéola no
Brasil, 2008. Brasília, 2008.
Portaria nº 104, 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o
disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em
saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, respon-
sabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília, 2011. Disponível em: <http://bvsms.
Transmissíveis. Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o calendário nacional de vacinação,
o calendário nacional de vacinação dos povos indígenas e as campanhas nacionais de vacinação, no âmbito
do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. Disponível em: <http://bvsms.
147
-
ológica. Relatório da verificação dos critérios de eliminação da transmissão dos vírus endêmicos do
sarampo e rubéola e da síndrome da rubéola congênita (SRC) no Brasil. Brasília, 2010.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. General Recommendations on
Immunization: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP).
Recommendations and Reports, Atlanta, v. 60, n. RR02, p. 1-60, 2011.
CUNHA, J.; KREBS, L. S.; BARROS, E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto Alegre:
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PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Mantenimiento de la eliminación del sarampión, la
rubéola y el syndrome de rubéola congenital en la Región de las Américas. Washington, May. 2013.
PLOTKIN, A. S.; ORENESTEIN, W. A.; OFFIT, P. A. (Ed.) Vaccines. 5th
ed. Philadelphia: Saunders, 2008.
SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à Virologia. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan, 2002.
SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde. Coordenadoria de Controle de Doenças. Centro de Vig-
ilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac. Vacinação: orientações técnicas. São Paulo, 2008.
TONELLI, E.; FREIRE, L. M. S. Doenças Infecciosas na Infância e Adolescência. [S.l.]: MEDSI, 2000. v. 1.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Vaccine Safety Basics: learning manual. Genebra, 2013.
Rubéola
Guia de Vigilância em Saúde
148
Anexo A
Orientações para procedimentos laboratoriais
Procedimentos
Isolamento viral – urina
-
letando o jato médio; não sendo possível obter a 1ª urina do dia, colher em outra hora, quando a
urina estiver retida de 2 a 4 horas.
-
viar ao Laboratório Central de Saúde Pública(Lacen),dentrode24a48horas,nomáximo,paraevitarque
ocrescimentodebactériasdiminuaapossibilidadedeisolamentodovírus.Aurinanãodevesercongelada.
procedimentos:
- centrifugar a amostra de urina a 1.500 rpm, a 4°C (se possível);
- ressuspender o sedimento em 2 mL de meio de transporte de vírus ou em solução salina estéril
com adição de antibióticos.
referência nacional, em gelo seco (o gelo seco é obtido a partir do congelamento de substância
gasosa especial); se não for possível, congelar a -70°C, estocá-los a 4°C e enviá-los ao laboratório
de referência nacional, em gelo reciclável, dentro de 3 dias (72 horas), no máximo.
Isolamento viral – secreção nasofaríngea
swab na cavidade nasal direita, outro na cavidade nasal esquerda e na nasofaringe.
swabs no mesmo tubo contendo meio DMEM (fornecido pelo laboratório). Caso não
tenha o meio específico, colocar o material com a solução salina e enviar ao laboratório de referên-
cia nacional. Não congelar.
bomba a vácuo (presente em ambiente hospitalar).
Sorologia – sangue
paciente até, no máximo, 28 dias após o início do aparecimento do exantema.
ser feita por centrifugação ou após a retração do coágulo em temperatura ambiente ou a 37°C. Quando
se tratar de criança muito pequena e não for possível coletar o volume estabelecido, colher 3mL.
-
geração, na temperatura de 4° a 8°C, por, no máximo, 48 horas.
-
mica ou caixa de transporte para amostra biológica, com gelo ou gelox. Caso o soro não possa ser
encaminhado ao laboratório no prazo de 2 dias (48 horas), conservá-lo no freezer, à temperatura
de -20°C, até o momento do transporte para o laboratório de referência. O prazo máximo para o
soro chegar ao Lacen é de quatro dias.
149
Síndrome da Rubéola Congênita
Síndrome da Rubéola Congênita
CID 10: P35.0
Características gerais
Descrição
Complicação da infecção pelo vírus da rubéola durante a gestação, principalmente no 1o
trimestre, po-
dendo comprometer o desenvolvimento do feto e causar abortamento, morte fetal ou anomalias congênitas.
Agente etiológico
Vírus RNA, pertencente ao gênero Rubivirus e família Togaviridae.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Transmissão pela via transplacentária, após a viremia materna.
Período de transmissibilidade
Recém-nascidos com síndrome da rubéola congênita (SRC) podem excretar o vírus da rubéola nas
secreções nasofaríngeas, sangue, urina e fezes por longos períodos. O vírus pode ser encontrado em 80%
das crianças no 1º mês de vida, 62% do 1º ao 4º mês, 33% do 5º ao 8º mês, 11% entre 9 e 12 meses, e 3%
no 2º ano de vida.
Suscetibilidade e imunidade
É suscetível a pessoa que não tenha tido contato com o vírus.
A infecção natural pelo vírus da rubéola ou pela imunização confere, em geral, imunidade permanente.
Manifestações clínicas
As principais manifestações clínicas no recém-nascido são: catarata, glaucoma, microftalmia, retino-
patia, cardiopatia congênita (persistência do canal arterial, estenose aórtica, estenose pulmonar), surdez,
microcefalia e retardo mental.
Outras manifestações clínicas podem ocorrer, mas são transitórias, como: hepatoesplenomegalia,
hepatite, icterícia, anemia hemolítica, púrpura trombocitopênica, adenopatia, meningoencefalite, mio-
cardite, osteopatia de ossos longos (rarefações lineares nas metáfises) e exantema crônico.
A prematuridade e o baixo peso ao nascer estão, também, associados à rubéola congênita.
As crianças com SRC frequentemente apresentam mais de um sinal ou sintoma, mas podem ter ape-
nas uma malformação, sendo a deficiência auditiva a mais comum.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
O feto infectado produz anticorpos específicos IgM e IgG para rubéola, antes mesmo do nascimento.
Guia de Vigilância em Saúde
150
A presença de anticorpos IgM específicos para rubéola, no sangue do recém-nascido, é evidência de
infecção congênita, uma vez que os anticorpos IgM maternos não ultrapassam a barreira placentária. Os
anticorpos IgM podem ser detectados em 100% das crianças com SRC até o 5º mês de vida, em 60% de 6 a 12
meses, e em 40% de 12 a 18 meses. Raramente são detectados após o 18º mês. Se a sorologia for IgM+, reco-
menda-se a coleta imediata de espécime clínico (swab nasofaríngeo), para identificação do genótipo do vírus.
Osanticorposmaternos,daclasseIgG,podemsertransferidospassivamenteaofetoatravésdaplacenta,sen-
do encontrados também nos recém-natos normais, nascidos de mães imunes à rubéola. Não é possível diferen-
ciar os anticorpos IgG maternos daqueles produzidos pelo próprio feto, quando infectados na vida intrauterina.
ComoaquantidadedeanticorposIgGmaternosdiminuicomotempo,desaparecendoporvoltado6ºmês,aper-
sistênciadosníveisdeanticorposIgGnosanguedorecém-nascidoéaltamentesugestivadeinfecçãointrauterina.
Os exames laboratoriais são imprescindíveis para o estabelecimento do diagnóstico definitivo (Anexo A).
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial da SRC inclui infecções congênitas por citomegalovírus, varicela zóster,
Toxoplasma
gondii, Treponema pallidum, Plasmodium sp. e Tripanosoma cruzi.
Tratamento
Não existe tratamento antiviral efetivo. Os cuidados devem ser direcionados às malformações con-
gênitas e deficiências observadas. Quanto mais precoces forem a detecção e a intervenção, seja clínica,
cirúrgica ou reabilitadora, melhor será o prognóstico da criança.
Características epidemiológicas
Com a vigilância epidemiológica ativa, a adoção de medidas de controle frente a surtos (vacinação de
bloqueio) e a implantação da estratégia de controle acelerado da SRC, bem como a realização de campa-
nhas de vacinação de Mulher em Idade Fértil (MIF) em todos os estados brasileiros em 2001 e 2002, houve
redução substancial do número de casos de rubéola e de SRC no país a partir de 2002.
Ressalta-se que a SRC era considerada um evento raro, mas, ainda assim, de grande transcendência,
devido ao elevado custo associado ao tratamento, intervenções clínicas e epidemiológicas e educação,
além das sequelas que essa doença pode causar no indivíduo, ao longo da vida. Acredita-se que muitos
casos não tenham sido diagnosticados ou notificados, resultando em vieses nas análises.
Em 2003, foi estabelecida a meta de eliminação da rubéola e da SRC nas Américas até 2010. Em 2008,
o Brasil realizou a Campanha Nacional de Vacinação para a Eliminação da Rubéola, na qual foram vacina-
dos 67,9 milhões de homens e mulheres de 12 a 49 anos de idade, com estratégias diferenciadas por faixas
etárias e estado. A cobertura alcançada nesta campanha foi de 97%, com homogeneidade de 47,8%. Com
essa ação, o país cumpriu o compromisso assumido para a eliminação da rubéola e síndrome da rubéola
congênita até o ano de 2010.
Em 2011, o Brasil realizou a quinta campanha nacional de seguimento com a vacina tríplice viral
para a população de 1 a 6 anos de idade, com a meta de vacinar 17.094.519 crianças; alcançou cobertura
vacinal de 98%, sendo que 86% dos municípios alcançaram cobertura igual ou maior que 95%.
Ressalta-se que, no período de 2010 a 2016, não houve caso confirmado de SRC no Brasil.
Em abril de 2015, a Organização Pan-Americana da Saúde declarou a Região das Américas livre da
rubéola e da síndrome da rubéola congênita.
151
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Definição de caso
Suspeito
-
nita pelo vírus da rubéola, independentemente da história materna.
Confirmado
Critério laboratorial
Caso suspeito que apresente malformações congênitas compatíveis com SRC e evidência labora-
torial da infecção congênita pelo vírus da rubéola: presença de anticorpos IgM específicos ou elevação
persistente dos títulos de anticorpos da classe IgG, detectados através de ensaio imunoenzimático ELISA
em amostras pareadas, com intervalo de 6 meses (Figura 1).
Critério clínico
Na ausência de resultados laboratoriais para a confirmação do diagnóstico e se o recém-nascido ou
criança de até 12 meses apresentar prematuridade e/ou baixo peso mais os seguintes sinais clínicos ou
complicações, de forma isolada ou associada: catarata/glaucoma congênito ou cardiopatia congênita ou
surdez. Por se tratar de uma doença eliminada no Brasil, o diagnóstico clínico é considerado uma falha da
vigilância. Assim, todos os casos suspeitos de SRC devem ter diagnóstico laboratorial.
Aborto ou perda fetal devido à infecção pelo vírus da rubéola
Caso de abortamento ou de natimorto resultante de gestação durante a qual se comprovou a ocorrên-
cia de rubéola materna, independentemente de confirmação de afecção no feto.
Infecção congênita
Caso suspeito que apresentar evidência laboratorial de infecção congênita pelo vírus da rubéola, sem
nenhuma manifestação clínica compatível com SRC.
Descartado
O caso será classificado como descartado quando cumprir uma das seguintes condições:
detectados por ensaio imunoenzimático, a partir do nascimento;
disponíveis e os dados clínicos forem insuficientes para confirmar o caso pela clínica;
Síndrome da Rubéola Congênita
Guia de Vigilância em Saúde
152
Figura 1 – Confirmação e descarte de casos suspeitos de síndrome da rubéola congênita (SRC)
pelo critério laboratorial
Recém-nascido cuja mãe foi caso suspeito ou confirmado de rubéola durante a gestação,
ou criança de até 12 meses que apresente sinais clinicos compativeis a
com infecção con-
gênita pelo virus da rubéola, independente da história materna
Colher amostra de sangue para sorologia,
logo após o nascimento ou suspeita de SRC
Vacinação de bloqueio
IgM+
Coletar espécimes
clínicos (swab)
Confirmar o caso
Descartar o caso
Notificar
IgM –
IgG –
IgM –
IgG +
Coletar 2a
amostra aos 6
mesesb
de idade
Se o IgG mantiver o
título anterior ou for
maior
Se houver queda
acentuada do título
de IgG, comparado ao
anterior
Confirmar o caso
Descartar o caso
a
Sinais clínicos compatíveis com SRC: catarata/glaucoma, cardiopatia congênita, surdez, retinopatia pigmentar, púrpura, hepatoesplenomegalia, icterícia,
microcefalia, retardo mental, meningoencefalite, radioluscência óssea.
b
Coletar uma segunda amostra de espécimes clínicos para identificação viral aos 6 meses de vida e aos 9 meses de vida, com o objetivo de avaliar a excreção
viral dessas crianças e de casos de rubéola ou de SRC associadas às mesmas.
Notificação
A notificação de todos os casos suspeitos deve ser feita, de imediato, para a Comissão de Infecção
Hospitalar e Serviço de Vigilância Epidemiológica da Unidade de Saúde.
Deverá ser notificado todo recém-nascido cuja mãe foi caso suspeito ou confirmado de rubéola du-
rante a gestação, ou toda criança até 12 meses de vida que apresente sinais clínicos compatíveis com
infecção congênita pelo vírus da rubéola, independentemente da história materna. A notificação deve ser
registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da
Ficha de Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola. Em situações de abortamento
ou perda fetal devido à infecção pelo vírus da rubéola, informar, na referida ficha, a ocorrência do aborto
ou natimortalidade, no campo das Observações Adicionais.
Investigação
Todo caso suspeito da SRC deve ser investigado, em até 48 horas após a notificação, com o objetivo de:
dados e a análise adequada da situação epidemiológica da doença.
153
Todos os campos da ficha de investigação devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a
informação for negativa.
Toda gestante, com resultado sorológico de IgM+ para rubéola, ou que teve contato com casos con-
firmados de rubéola, deve ser acompanhada pelo serviço de vigilância epidemiológica, com o objetivo de
verificar a ocorrência de abortos, natimortos, ou o nascimento de crianças com malformações congênitas
ou sem qualquer anomalia.
Durante a investigação epidemiológica dos casos de SRC, deve-se avaliar os locais por onde a mãe
esteve no período de 30 dias prévios à gravidez até o final do 1o
trimestre (dentro ou fora do país) e even-
tuais contatos com pessoas que estiveram no exterior.
Roteiro da investigação (Figura 2)
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da ficha de investigação, relativos aos dados gerais, notificação individual
e dados de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
- Preencher dados da história e manifestações clínicas.
- Consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar as informações clínicas
sobre o paciente.
- Sugere-se que se faça uma cópia da anamnese, se realize exame físico e se observe a evolução
do doente, para enriquecer as análises e também para que possam servir como instrumento de
aprendizagem dos profissionais do nível local.
Para identificação de novos casos de SRC
- Realizar busca ativa nos livros de registros de internação e alta de pacientes e no Sistema de
Informação Hospitalar (SIH-SUS) em maternidades, unidades neonatais, e também nos livros
de registros de serviços pediátricos especializados, como cardiologia, oftalmologia, neurologia,
otorrinolaringologia e fonoaudiologia. A busca ativa como instrumento da vigilância ativa deve
ser realizada semanalmente, para que todos os casos identificados sejam investigados imediata-
mente, e assim não se perder a oportunidade da investigação.
- Definir uma unidade sentinela por estado, priorizando as capitais e os municípios de referência
regional ou hospitais ou unidades que já atendem e/ou acompanham malformações congênitas.
Algumas unidades devem ser incluídas como unidades sentinelas: hospitais de doenças trans-
missíveis, clínicas pediátricas, oftalmológicas, hospitais de cirurgias cardíacas, que atendam
crianças menores de 1 ano de idade.
- Os hospitais e clínicas da rede privada devem ser incluídos entre as unidades sentinelas
do estado.
- Em locais de ocorrência de surto, além do acompanhamento das gestantes que tiveram diag-
nóstico de rubéola confirmado, deve-se realizar vigilância ativa prospectiva nas maternida-
des, unidades neonatais e pediátricas, por um período de pelo menos 9 meses após o término
do surto.
Síndrome da Rubéola Congênita
Guia de Vigilância em Saúde
154
Figura 2 – Roteiro de investigação e medidas de prevenção e controle da síndrome da rubéola congênita
Notificar caso suspeito em até 24h
Investigar em até 48h
Atenção médica/
dados clínicos
Identificar
ocorrência de surtos
Coleta de material
para sorologia
Enviar ao laboratório
Adotar medidas de
prevenção e controle
Resultado do exame
SIM
Identificar área
de transmissão
Determinar a extensão da
área de transmissão
Monitoramento da área
de transmissão
Negativo Positivo
Encerrar o caso
Educação em
saúde
Bloqueio
vacinal
Acompanhamento de
mulheres grávidas expostas
e recém-nascidos
Todo material coletado deverá ser enviado, devidamente identificado e acompanhado de cópia
da ficha de investigação, que servirá para orientar os técnicos do laboratório quanto aos exames
indicados, de acordo com o período que antecedeu a suspeita da infecção.
A informação sobre história vacinal da mãe é muito importante para subsidiar a análise adequada
dos resultados de testes sorológicos.
Não se deve aguardar os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas de controle e
atividades da investigação, embora eles sejam imprescindíveis para a confirmação de casos e norteiem o en-
cerramento das investigações. Se o teste de IgM for não reagente, a criança pode ser retirada do isolamento.
Análise de dados
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema, a caracterização
clínica da coorte, a identificação de oportunidades perdidas de vacinação, a adequação das medidas de controle
adotadas e, finalmente, a avaliação do impacto das estratégias de vacinação atuais na prevenção da SRC.
Encerramento de caso
Os casos devem ser encerrados, adequadamente, no prazo de até 30 dias tanto no Boletim de No-
tificação Semanal (BNS) quanto no Sinan. Caso o encerramento não aconteça em até 60 dias, o sistema
encerrará automaticamente esses registros, o que significa uma falha da vigilância.
155
Relatório final
Os dados da ficha de investigação deverão estar adequadamente preenchidos e digitados no Sinan,
no período de até 60 dias após a notificação do caso, para as análises epidemiológicas necessárias.
Medidas de prevenção e controle
Imunização
Proteção da população
Após o conhecimento de um surto de rubéola, é importante avaliar a distribuição etária dos casos
confirmados e a situação vacinal, além da cobertura vacinal na área. Se o surto estiver ocorrendo em um
grupo não vacinado, realizar vacinação, visando, principalmente, interromper a circulação viral, reduzin-
do o risco de exposição de gestantes suscetíveis ao vírus.
Devem ser organizadas divulgação nos meios de comunicação de massa, visitas domiciliares e pales-
tras nas comunidades para esclarecer a população sobre a doença, a gravidade da infecção intrauterina e
a importância da vacinação.
Recomendações para vacinação
A medida de controle, quando da detecção de um caso de SRC, é a vacinação de bloqueio, que deve
ocorrer no hospital de atendimento do caso, no domicílio e na creche, caso a criança venha a frequentar
este tipo de estabelecimento. Esta recomendação se faz pertinente em virtude de o vírus ser excretado
pelas secreções nasofaríngeas e urina até 1 ano de idade.
Deve-se administrar a vacina tríplice viral ou tetraviral, no grupo etário de 12 meses a 49 anos
de idade, na rotina, conforme as indicações do calendário de vacinação. Para indivíduos a partir
dos 12 meses até 29 anos de idade, administrar duas doses de vacina com componente rubéola
(tríplice viral e/ou tetraviral), conforme situação vacinal encontrada e de acordo com a descrição
a seguir.
-
pletar o esquema de vacinação contra o sarampo, caxumba e rubéola e administrar uma dose da
vacina varicela. Esta vacina pode ser administrada até os 4 anos de idade. Após esta faixa etária,
completar o esquema com a vacina tríplice viral.
Para pessoas de 30 a 49 anos de idade, recomenda-se uma dose da vacina tríplice viral, conforme
situação vacinal encontrada.
Considerar vacinados os indivíduos que atenderem as indicações acima descritas.
Nas ações de bloqueios, as vacinas tríplice e/ou tetraviral, são indicadas a partir de 6 meses de vida.
A dose da vacina tríplice viral administrada nas crianças menores de 1 ano de idade não será considerada
como dose válida na rotina de vacinação.
Proteção individual para evitar circulação viral
É necessário isolamento de contatos do recém-nascido, uma vez que o vírus pode estar pre-
sente em fluidos corporais. A infecção pode ser transmitida aos suscetíveis, sendo importante a
vacinação dos profissionais de saúde e dos contactantes. É importante evitar o contato de gestantes
com a criança.
Síndrome da Rubéola Congênita
Guia de Vigilância em Saúde
156
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi-
ológica. Brasil Livre da Rubéola: Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola, Brasil,
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portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/197-secretaria-
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384, de 2016. Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <http://portalarquivos.
saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384-Calendario-Nacional-de-Vacina-
cao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017.
Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 252 p.
Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. 4. ed. Brasília, 2014.
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nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de
doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e
estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília,
Acesso em: 20 out. 2013.
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no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional.
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WORLD HEALTH ORGANIZATION. Vaccine Safety Basics: learning manual. Genebra, 2013.
Síndrome da Rubéola Congênita
Guia de Vigilância em Saúde
158
Anexo A
Orientações para procedimentos laboratoriais
O Quadro 1 apresenta procedimentos para coleta e conservação de material para diagnóstico da
síndrome da rubéola congênita.
Quadro 1 – Orientações para procedimentos laboratoriais
Tipo de
diagnóstico
Tipo de
material
Quantidade
No
de
amostras
Período da
coleta
Recipiente
Armazenamento/
conservação
Transporte
Sorológico
Sangue
Obtenção da
amostra
Punção
venosa
Crianças:
2-5mL
Até 2
1a
ao nascer;
2a
no 6o
mês
de vida
Tubo plástico
ou vidro,
com tampa
de rosca ou
frasco com
vácuo
Geladeira local: 4o
a 8o
C até 48 horas
Lacena: 20o
C
Gelo
reciclável
em até 48
horas após
a coleta
Isolamento
viral
Secreções
nasofaringeas
Através de
swab.
Uma amostra
de cada
narina e
uma da
nasofaringe
3
Após o
resultado de
IgM positivo
No 6o
mês
de vida
No 9o
mês
de vida
Frasco estéril
de plástico
com meio
especifíco
Em geladeira até
48 horas (sem
congelar)
Lacena: freezer a
-70o
C
Urina – 1 – –
a
Lacen: Laboratório Central de Saúde Pública.
159
Varicela/Herpes-zóster
CID: B01 a B02
Características gerais
Descrição
Varicela
Infecção viral primária, aguda, altamente contagiosa, caracterizada por surgimento de exantema de
aspecto máculo-papular e distribuição centrípeta, que, após algumas horas, torna-se vesicular, evolui ra-
pidamente para pústulas e, posteriormente, forma crostas, em três a quatro dias. Podem ocorrer febre
moderada e sintomas sistêmicos.
A principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas, que se apresentam nas diver-
sas formas evolutivas, acompanhadas de prurido.
Em crianças, geralmente é benigna e autolimitada. Em adolescentes e adultos, em geral, o quadro
clínico é mais exuberante.
Herpes-zóster
Decorre da reativação do vírus da varicela, que permanece em latência. A reativação ocorre na idade
adulta ou em pessoas com comprometimento imunológico, portadores de doenças crônicas, neoplasias,
aids e outras.
O quadro clínico é pleomórfico, manifestando-se desde doença benigna até outras formas graves,
com êxito letal.
Após a fase de disseminação hematogênica, em que o vírus atinge a pele, ele progride centripetamen-
te pelos nervos periféricos até os gânglios nervosos, onde poderá permanecer, em latência, por toda a vida.
Causas diversas podem levar à reativação do vírus que, progredindo centrifugamente pelo nervo
periférico, atinge a pele e causa a característica erupção do herpes-zóster.
Excepcionalmente, há pacientes que desenvolvem herpes-zóster após contato com doentes de varicela
e, até mesmo, com outro doente de zóster, o que indica a possibilidade de uma reinfecção em paciente já
previamente imunizado. É também possível uma criança adquirir varicela por contato com doente de zóster.
Sinonímia
Varicela: catapora.
Agente etiológico
Vírus RNA. Vírus Varicella-zoster (VVZ), família Herpetoviridae.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Pessoa a pessoa, por meio de contato direto ou de secreções respiratórias (disseminação aérea de
partículas virais/aerossóis) e, raramente, através de contato com lesões de pele.
Indiretamente, é transmitida por meio de objetos contaminados com secreções de vesículas e mem-
branas mucosas de pacientes infectados.
Varicela/Herpes-zóster
Guia de Vigilância em Saúde
160
Período de incubação
Entre 14 e 16 dias, podendo variar de 10 a 21 dias após o contato. Pode ser mais curto em pacientes
imunodeprimidos e mais longo após imunização passiva.
Período de transmissibilidade
Varia de 1 a 2 dias antes do aparecimento do exantema e estende-se até que todas as lesões estejam
em fase de crosta.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade é universal.
A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente, possa ocorrer um segundo episódio
de varicela. Infecções subclínicas são raras.
A imunidade passiva transferida para o feto pela mãe que já teve varicela assegura, na maioria das
vezes, proteção até quatro a seis meses de vida extrauterina.
Manifestações clínicas
Varicela
Período prodrômico
de horas até 3 dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer, sendo o exantema
o primeiro sinal da doença. Em crianças imunocompetentes, a varicela geralmente é benigna,
com início repentino, apresentando febre moderada durante 2 a 3 dias, sintomas generalizados
inespecíficos e erupção cutânea pápulo-vesicular que se inicia na face, couro cabeludo ou tronco
(distribuição centrípeta).
Período exantemático
evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Tendem a surgir mais nas partes cobertas do
corpo, podendo aparecer no couro cabeludo, na parte superior das axilas e nas membranas muco-
sas da boca e das vias aéreas superiores.
O aparecimento das lesões em surtos e a rápida evolução conferem ao exantema o polimorfismo
regional característico da varicela: lesões em diversos estágios (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e
crostas), em uma mesma região do corpo.
Nos adultos imunocompetentes, a doença cursa de modo mais grave do que nas crianças, apesar de
ser bem menos frequente (cerca de 3% dos casos). A febre é mais elevada e prolongada, o estado geral é
mais comprometido, o exantema mais pronunciado e as complicações mais comuns podem levar a óbito,
principalmente devido à pneumonia primária.
A varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em crianças e adolescentes
que fazem uso do ácido acetilsalisílico (AAS) durante a fase aguda. Essa síndrome se caracteriza por um
quadro de vômitos após o pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva
do nível da consciência, com edema cerebral progressivo. A síndrome de Reye é resultado do comprome-
timento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral. Portanto, está contraindicado o uso de
AAS por pacientes com varicela.
Varicela e gravidez
A infecção materna no 1o
ou no 2o
trimestre da gestação pode resultar em embriopatia.
161
Nas primeiras 16 semanas de gestação, há risco maior de lesões graves ao feto, que podem resultar
em baixo peso ao nascer, malformações das extremidades, cicatrizes cutâneas, microftalmia, catarata e
retardo mental.
Gestantes não imunes, que tiverem contato com casos de varicela e herpes-zóster, devem receber a
imunoglobulina humana contra esse vírus, disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos
Especiais (CRIE).
A taxa de ataque para síndrome de varicela congênita, em recém-nascidos de mães com varicela no
1o
semestre de gravidez, é de 1,2%; quando a infecção ocorreu entre a 13ª e a 20ª semana de gestação, é de
2%. Recém-nascidos que adquirem varicela entre 5 e 10 dias de vida, cujas mães se infectaram entre 5 dias
antes do parto e 2 dias após, estão mais expostos à varicela grave, com a letalidade podendo atingir 30%. A
infecção intrauterina e a ocorrência de varicela antes dos 2 anos de idade estão relacionadas à ocorrência
de zóster em idades mais jovens.
Herpes-zóster
O quadro clínico do herpes-zóster é, quase sempre, típico. A maioria dos doentes refere, antecedendo
às lesões cutâneas, dores nevrálgicas, além de parestesias, ardor e prurido locais, acompanhados de febre,
cefaleia e mal-estar. A lesão elementar é uma vesícula sobre base eritematosa.
A erupção é unilateral, raramente ultrapassa a linha mediana e segue o trajeto de um nervo. Surge de
modo gradual e leva de 2 a 4 dias para se estabelecer. Quando não ocorre infecção secundária, as vesículas
se dissecam, formam-se crostas e o quadro evolui para a cura em duas a 4 semanas. As regiões mais com-
prometidas são a torácica (53% dos casos), cervical (20%), correspondente ao trajeto do nervo trigêmeo
(15%) e lombossacra (11%). Em pacientes imunossuprimidos, as lesões surgem em localizações atípicas
e, geralmente, disseminadas. O envolvimento do VII par craniano leva à combinação de paralisia facial
periférica e rash no pavilhão auditivo, denominada síndrome de Hawsay-Hurt, com prognóstico de recu-
peração pouco provável. O acometimento do nervo facial (paralisia de Bell) apresenta a característica de
distorção da face. Lesões na ponta e asa do nariz sugerem envolvimento do ramo oftálmico do trigêmeo,
com possível comprometimento ocular. Nos pacientes com herpes-zóster disseminado e/ou recidivante, é
aconselhável fazer sorologia para HIV, além de pesquisar neoplasias malignas.
Complicações
Sta-
phylococcus aureus, Streptococcus pyogenes ou outras que podem levar a quadros sistêmicos de
sepse, com artrite, pneumonia, endocardite, encefalite ou meningite e glomerulonefrite.
(expressa-se com um ou mais dos seguintes sintomas: malformação das extremidades dos mem-
bros, microoftalmia, catarata, atrofia óptica e do sistema nervoso central).
caracteriza pela refratariedade ao tratamento. É mais frequente em mulheres e após comprometi-
mento do trigêmeo.
Varicela/Herpes-zóster
Guia de Vigilância em Saúde
162
Diagnóstico
Diagnóstico clínico
Vide manifestações clínicas.
Diagnóstico laboratorial
Os exames laboratoriais não são utilizados para confirmação ou descarte dos casos de varicela, exceto
quando é necessário fazer o diagnóstico diferencial em casos graves.
Os testes sorológicos mais utilizados são ensaio imunoenzimático (EIE), aglutinação pelo lá-
tex (AL) e imunofluorescência indireta (IFI), embora a reação em cadeia da polimerase (PCR) seja
considerada o padrão ouro para o diagnóstico de infecção pelo VVZ (principalmente em caso de
varicela grave).
O vírus pode ser isolado das lesões vesiculares durante os primeiros 3 a 4 dias de erupção ou identifi-
cado pelas células gigantes multinucleadas, em lâminas preparadas, a partir de material obtido de raspado
da lesão, ou pela inoculação do líquido vesicular em culturas de tecido, porém a identificação das células
gigantes multinucleadas não é específica para o VVZ. A identificação do VVZ pode ser feita pelo teste
direto de anticorpo fluorescente ou por cultura em tecido, por meio de efeito citopático específico, porém
esse método é de alto custo e sua disponibilidade é limitada.
Diagnóstico diferencial
variceliforme de Kaposi; riquetsioses, entre outras.
Tratamento
Para pessoas sem risco de agravamento da varicela, o tratamento deve ser sintomático. Pode-se ad-
ministrar antitérmico, analgésico não salicilato e, para atenuar o prurido, anti-histamínico sistêmico.
Além disso, deve-se fazer a recomendação da higiene da pele com água e sabonete, com o adequado corte
das unhas. Havendo infecção secundária, recomenda-se o uso de antibióticos, em especial para combater
estreptococos do grupo A e estafilococos.
O tratamento específico da varicela é realizado por meio da administração do antiviral aciclovir, que
é indicado para pessoas com risco de agravamento. Quando administrado por via endovenosa, nas pri-
meiras 24 horas após o início dos sintomas, tem demonstrado redução de morbimortalidade em pacientes
com comprometimento imunológico.
O uso de aciclovir oral para o tratamento de pessoas sem condições de risco de agravamento não
está indicado até o momento, exceto para aquelas com idade inferior a 12 anos, portadoras de doença
dermatológica crônica, pessoas com pneumopatias crônicas ou aquelas que estejam recebendo tratamento
com ácido acetilsalicílico por longo tempo, pessoas que recebem medicamentos à base de corticoides por
aerossol ou via oral ou via endovenosa.
As indicações para o uso do aciclovir são:
Crianças sem comprometimento imunológico
máxima de 800mg/dia, durante 5 dias.
Crianças com comprometimento imunológico ou casos graves
14 dias.
163
Adultos sem comprometimento imunológico
maior efetividade ocorre quando iniciado nas primeiras 24 horas da doença, ficando a indicação a
critério médico.
Adultos com comprometimento imunológico
dia por no mínimo 7 dias.
Embora não haja evidência de teratogenicidade, não se recomenda o uso deste medicamento em
gestantes. Entretanto, em casos em que a gestante desenvolve complicações como pneumonite, deve-se
considerar o uso endovenoso.
Com relação à profilaxia, não há indicação do uso do aciclovir em pessoas sem risco de complicação
por varicela e vacinadas.
A terapia antiviral específica, iniciada em até 72 horas após o surgimento do rash, reduz a ocorrência
da NPH, que é a complicação mais frequente do herpes-zóster. O uso de corticosteroides, na fase aguda
da doença, não altera a incidência e a gravidade do NPH, porém reduz a neurite aguda, devendo ser ado-
tado em pacientes sem imunocomprometimento. Uma vez instalada a NPH, o arsenal terapêutico é muito
grande, porém não há uma droga eficaz para seu controle. São utilizados: creme de capsaicina, de 0,025%
a 0,075%; lidocaína gel, a 5%; amitriptilina, em doses de 25 a 75mg, via oral; carbamazepina, em doses de
100 a 400mg, via oral; benzodiazepínicos, rizotomia, termocoagulação e simpatectomia.
O tratamento sintomático pode ser feito em regime ambulatorial, enquanto que pessoas acometidas
por varicela grave ou herpes-zóster disseminado devem ser hospitalizadas imediatamente, em regime de
isolamento de contato e respiratório.
Características epidemiológicas
Varicela
Não há dados consistentes sobre a incidência de varicela no Brasil, uma vez que somente os casos
graves internados e óbitos são de notificação compulsória. Entretanto, a estimativa é de cerca de 3 milhões
de casos ao ano. No período de 2006 a 2016, o número de internações variou de 4.200 a 12.600 por ano no
SUS. As regiões com maior número de internações foram Sudeste e Nordeste.
A análise das internações por faixa etária demonstra que estas se concentram em crianças de 1 a 4
anos de idade, em crianças com menos de 1 ano e de 5 a 9 anos de idade, respectivamente. Embora o maior
número absoluto de hospitalizações seja observado entre crianças, grupo em que se espera o maior número
de casos da doença, proporcionalmente, os adultos apresentam maior risco de evoluir com complicações,
hospitalização e óbito. Com a introdução da vacina tetraviral no Calendário Nacional de Vacinação em 2012
para crianças de 15 meses de idade, houve uma redução considerável do número de internações no SUS.
A taxa de letalidade entre os casos hospitalizados variou de 1,0 a 4,3 no período de 2006 a 2016.
Herpes-zóster e HIV
A partir de 1981, o herpes-zóster passou a ser reconhecido como uma infecção frequente em pacien-
tes portadores de HIV. Posteriormente, observações epidemiológicas demonstraram ser uma manifesta-
ção inicial de infecção pelo HIV, cuja ocorrência é preditiva de soropositividade para HIV, em populações
de risco. A incidência de herpes-zóster é significativamente maior entre indivíduos HIV positivos do que
entre os soronegativos (15 vezes mais frequente nos primeiros). A incidência cumulativa de zóster por
12 anos após a infecção pelo HIV foi de 30%, taxa relativamente constante, podendo caracterizar mani-
festação precoce ou tardia da infecção pelo HIV. Complicações, como retinite, necrose aguda de retina e
encefalite progressiva fatal, têm sido relatadas com mais frequência em pacientes HIV positivos.
Varicela/Herpes-zóster
Guia de Vigilância em Saúde
164
Vigilância epidemiológica
Objetivos
para complicações e morte.
Definição de caso de varicela
Suspeito
Varicela
Paciente com quadro discreto de febre moderada, de início súbito, que dura de 2 a 3 dias, e sintomas
generalizados inespecíficos (mal-estar, adinamia, anorexia, cefaleia e outros) e erupção cutânea pápulo-
-vesicular, que se inicia na face, couro cabeludo ou tronco (distribuição centrípeta − cabeça e tronco).
Varicela grave
Caso que atenda a definição de caso suspeito de varicela e que necessite ser hospitalizado, ou tenha
evoluído para óbito.
Confirmado
Varicela
Paciente com quadro infeccioso agudo, de início súbito, que apresenta exantema maculopapulove-
sicular difuso, cujas vesículas evoluem para crostas, em 2 a 3 dias, sem outra causa aparente, com ou sem
confirmação laboratorial.
Varicela grave
Caso que atenda a definição de caso suspeito de varicela grave e que necessite ser hospitalizado ou
tenha evoluído para óbito.
Descartado
outra doença.
como outra doença.
Definição de surto
Surto de varicela
Considerar como surtos de varicela a ocorrência de número de casos acima do limite esperado, com
base nos anos anteriores, ou casos agregados em instituições, como creches, escolas e hospitais pediátricos.
165
Surto de varicela em ambiente hospitalar
Define-se surto em ambiente hospitalar a ocorrência de um único caso confirmado de varicela. E o
contato para varicela em ambiente hospitalar é caracterizado pela associação do indivíduo com uma pes-
soa infectada de forma íntima e prolongada, por período igual ou superior a uma hora, e/ou dividindo o
mesmo quarto hospitalar, tendo criado assim a possibilidade de contrair a infecção. Nesses casos a vacina
monovalente está indicada nos comunicantes suscetíveis imunocompetentes maiores de 9 meses de idade,
até 120 horas (5 dias) após o contato.
Surto de varicela em ambiente de creche
Define-se surto em creche a ocorrência de um único caso confirmado de varicela em crianças ou
profissional que mantém contato direto com a comunidade escolar.
Notificação
Somente os casos graves, surto ou óbito devem ser notificados e registrados no Sistema de Infor-
mação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio da Ficha de Notificação Individual ou da Ficha de
Investigação de Surto.
Investigação
Preconiza-se investigar os casos graves.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens da ficha específica.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
-
ções clínicas sobre o paciente. Essas informações servirão para definir se o quadro apresentado é
compatível com a varicela grave. Sugere-se que se faça uma cópia da anamnese, exame físico e da
evolução do doente, com vistas ao enriquecimento da análise.
de varicela ou herpes-zóster ou se já teve a doença em algum momento de sua vida.
caso, de seus familiares e/ou de amigos (considerar todos os deslocamentos que antecederam 10 dias do
início do exantema, inclusive os de curta duração), para identificar a ocorrência de outros casos.
Encerramento de caso
O caso será encerrado de acordo com as classificações descritas no item Definição de caso.
Medidas de prevenção e controle
Objetivos
Varicela/Herpes-zóster
Guia de Vigilância em Saúde
166
Vacinação
A vacina varicela está licenciada no Brasil na apresentação monovalente ou tetraviral (sarampo, ca-
xumba, rubéola e varicela).
conter, no mínimo, 1.350 unidades formadoras de placas (UFP) de VVZ atenuado. A vacina varicela pode
-
cela da vacina tetraviral apresenta as mesmas especificações da vacina monovalente.
Cada dose de ambas as vacinas é de 0,5mL, devendo ser aplicada por via subcutânea.
Indicações
Rotina
A vacina tetraviral é oferecida na rotina entre 15 meses e 4 anos de idade, preferencialmente aos 15
meses de idade, para as crianças que receberam a primeira dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxum-
ba e rubéola).
Para os povos indígenas, estão indicadas duas doses de vacina com componente varicela, sendo a
tetraviral aos 15 meses e uma dose da varicela monovalente aos 4 anos de idade (até 4 anos 11 meses e
29 dias).
Situações especiais
-
nistrar 1 (uma) ou duas doses de vacina varicela (atenuada), a depender do laboratório produtor.
-
liares) suscetíveis à doença que estejam em convívio familiar domiciliar ou hospitalar com pacien-
tes com comprometimento imunológico.
-
nação, onde haja caso de varicela.
-
cedimento, desde que não estejam com comprometimento imunológico.
24 meses ou mais, sendo contraindicadas quando houver doença, enxerto versus hospedeiro.
A e B com CD4> 200 células/mm3
(15%). Recomenda-se a vacinação de crianças expostas, mesmo
já excluída a infecção pelo HIV, para prevenir a transmissão da varicela em contato domiciliar com
pessoas com comprometimento imunológico.
-
pica graves e outras assemelhadas.
167
20mg/dia de prednisona ou equivalente). O uso de corticosteroides por via inalatória, tópica ou
intra-articular não contraindica a administração da vacina;
- se o corticoide tiver sido suspenso há pelo menos um mês, quando usado em doses superiores
às referidas acima.
Situações de surto
Hospitalar
- Em situação de surtos hospitalares, nos comunicantes suscetíveis imunocompetentes acima de
9 meses de idade, até 120 horas (cinco dias) após o contato.
- Administrar IGHAVZ, às crianças menores de 9 meses de idade, gestantes suscetíveis e
imunocomprometidos, até 96 horas após o contato com o caso índice.
- Nas situações de controle de surto em hospitais, mesmo utilizando a vacina, é importante
lembrar que existe a possibilidade de que um pequeno percentual de pessoas desenvolva
a doença.
Creche
- A vacina monovalente não é indicada para bloqueio de surto de varicela em creche.
- Identificar o número de crianças entre 15 meses e 2 anos de idade incompletos (1 ano, 11 meses
e 29 dias), que não tiveram varicela e que frequentaram a instituição nas últimas 4 semanas,
para atualização do esquema vacinal.
- Identificar o número de pessoas com comprometimento imunológico e as gestantes suscetíveis
que tiveram contato com os casos para administração da IGHAVZ no período de 96 horas.
- Monitorar o aparecimento de casos novos.
- Na admissão de novas crianças, verificar se o cartão de vacinação está atualizado com a admi-
nistração de tetraviral. Caso não esteja e se a criança tiver mais que 2 anos de idade, aguardar 21
dias para iniciar a frequência.
- Após 21 dias sem novos casos, considera-se o surto controlado.
- Os surtos de varicela devem ser registrados no boletim de notificação de surtos, do Sinan.
- As crianças com varicela deverão ficar no seu domicílio até que todas as lesões tenham evoluído
para crosta.
- As doses aplicadas devem ser anotadas na carteira de vacinação e constar no sistema de Infor-
mação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI).
Contraindicações da vacina
-
varicela-zóster (IGHAVZ).
de corticoterapia.
a vacinação).
3 meses entre a administração destes produtos e a vacina).
Varicela/Herpes-zóster
Guia de Vigilância em Saúde
168
Eventos adversos da vacina
Locais
vacinados nas primeiras horas após a aplicação. Erupção leve semelhante à varicela pode surgir no
local da aplicação de 8 a 19 dias após a vacinação em aproximadamente 3,5% dos vacinados.
Sistêmicos -
nação. Erupção variceliforme, com cinco lesões, em média, pode ocorrer 5 a 26 dias após a
vacinação. Encefalite, ataxia, eritema polimorfo e anafilaxia foram relatados raramente, assim
como plaquetopenia.
Alérgicos
Outros problemas associados à vacinação
Ver Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação (2014).
Imunoglobulina humana antivaricela-zóster (IGHAV)
A IGHAV é obtida de plasma humano contendo títulos altos de IgG contra o vírus da varicela. Con-
tém de 10 a 18% de globulina e timerosol como conservante. Geralmente as apresentações contêm 125UI
por frasco, com o volume variando de 1,25 a 2,5mL; observar as orientações do fabricante a cada nova
partida do produto.
Indicações
A utilização de IGHAVZ depende do atendimento de três condições: suscetibilidade, contato signifi-
cativo e condição especial de risco, como definidas abaixo.
- crianças ou adultos imunodeprimidos;
- crianças com menos de 1 ano de idade em contato hospitalar com VVZ;
- gestantes;
- recém-nascidos de mães nas quais o início da varicela ocorreu nos 5 últimos dias de gestação ou
até 48 horas depois do parto;
- recém-nascidos prematuros, com 28 ou mais semanas de gestação, cuja mãe nunca teve varicela;
- recém-nascidos prematuros, com menos de 28 semanas de gestação (ou com me-nos de 1.000g
ao nascer), independentemente de história materna de varicela.
- pessoas imunocompetentes e com comprometimento imunológico sem história bem definida
da doença e/ou de vacinação anterior;
- pessoas com imunodepressão celular grave, independentemente de história anterior de varicela.
em ambiente fechado;
com ele contato direto prolongado, de pelo menos uma hora.
A IGHVZA não tem qualquer indicação terapêutica. Seu uso tem finalidade exclusivamente profilática.
Esquema
169
Contraindicação
Anafilaxia à dose anterior.
Eventos adversos
Outras medidas
terem evoluído para crostas. Crianças imunodeprimidas ou que apresentam curso clínico prolon-
gado só deverão retornar às atividades após o término da erupção vesicular.
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Varicela/Herpes-zóster
Guia de vigilncia em saude
171
Tétano Acidental
Tétano Acidental
CID 10: A35
Características gerais
Descrição
Doença infecciosa aguda não contagiosa, prevenível por vacina, causada pela ação de exotoxinas
produzidas pelo Clostridium tetani (C. tetani), que provocam um estado de hiperexcitabilidade do sistema
nervoso central.
Agente etiológico
O C. tetani é um bacilo gram-positivo esporulado, anaeróbico, semelhante à cabeça de um alfinete, com
.
Reservatório
O C. tetani é normalmente encontrado na natureza, sob a forma de esporo, podendo ser identificado
em pele, fezes, terra, galhos, arbustos, águas putrefatas, poeira das ruas, trato intestinal dos animais (espe-
cialmente do cavalo e do homem, sem causar doença).
Modo de transmissão
A infecção ocorre pela introdução de esporos em solução de continuidade da pele e mucosas (ferimen-
tos superficiais ou profundos de qualquer natureza). Em condições favoráveis de anaerobiose, os esporos se
-
pasmina. A presença de tecidos desvitalizados, corpos estranhos, isquemia e infecção contribuem para dimi-
nuir o potencial de oxirredução e, assim, estabelecer as condições favoráveis ao desenvolvimento do bacilo.
Período de incubação
Período compreendido entre o ferimento (provável porta de entrada do bacilo) e o primeiro sinal ou
sintoma. É curto: em média, de 5 a 15 dias, podendo variar de 3 a 21 dias. Quanto menor for o tempo de
incubação, maior a gravidade e pior o prognóstico.
Período de progressão
Compreendido entre o aparecimento do primeiro sinal ou sintoma até o primeiro espasmo muscular
espontâneo. É variável, porém, quanto menor o período de progressão, pior o prognóstico.
Período de transmissibilidade
Não há transmissão direta de um indivíduo para outro.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade desta doença é universal, e a principal medida de prevenção contra o tétano é a va-
cinação dos suscetíveis na rotina das unidades básicas de saúde em todo o país. No Calendário Básico de
Vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), indicam-se a vacina pentavalente, para crianças
de 2 meses a menor de 1 ano de idade, e dois reforços com vacina DTP, aos 15 meses e 4 anos de idade. A
vacina dupla adulto (dT) está disponível para toda a população a partir dos 7 anos de idade; recomendam-
-se 3 doses e 1 reforço a cada 10 anos. Para as gestantes, deve-se aplicar uma dose de dTpa a cada gestação.
Guia de Vigilância em Saúde
172
A imunidade permanente é conferida pela vacina (devem-se observar as condições ideais inerentes
ao imunobiológicos e ao indivíduo). A doença não confere imunidade. Os filhos de mães imunes apre-
sentam imunidade passiva e transitória até 2 meses de vida. A imunidade conferida pelo soro antitetânico
(SAT) dura cerca de duas semanas, enquanto aquela conferida pela imunoglobulina humana antitetânica
(IGHAT) dura cerca de 3 semanas.
Manifestações clínicas
Hipertonias musculares mantidas, localizadas ou generalizadas, ausência de febre ou febre baixa,
hiperreflexia profunda e contraturas paroxísticas que se manifestam à estimulação do paciente (es-
tímulos táteis, sonoros, luminosos ou alta temperatura ambiente). Em geral, o paciente se mantém
consciente e lúcido.
Os sintomas iniciais costumam ser relacionados com a dificuldade de abrir a boca (trismo e riso
sardônico) e de deambular, devido à hipertonia muscular correspondente. Com a progressão da doença,
outros grupos musculares são acometidos. Pode haver dificuldade de deglutição (disfagia), rigidez de
nuca, rigidez paravertebral (pode causar opistótono), hipertonia da musculatura torácica, de músculos
abdominais e de membros inferiores. As contraturas paroxísticas ou espasmos acontecem sob a forma
de abalos tonicoclônicos, que variam em intensidade e intervalos, de acordo com a gravidade do quadro.
A hipertonia torácica, a contração da glote e as crises espásticas podem determinar insuficiência respi-
ratória, causa frequente de morte nos doentes de tétano. Nas formas mais graves, ocorre hiperatividade
do sistema autônomo simpático (disautonomia), com taquicardia, sudorese profusa, hipertensão arterial,
bexiga neurogênica e febre. Tais manifestações agravam o prognóstico da doença.
Complicações
No curso da doença, podem ocorrer diversas complicações, destacando-se pneumonia, infecção uri-
nária, sepse, asfixia por obstrução alta ou insuficiência respiratória baixa, fratura de vértebras e de costelas.
Diagnóstico
É essencialmente clínico e não depende de confirmação laboratorial (vide Manifestações clínicas).
Os exames laboratoriais auxiliam no tratamento do paciente e no controle das complicações. O
hemograma habitualmente é normal, exceto quando há infecção secundária associada. As transaminases
e a ureia podem se elevar nas formas graves. Nos casos de insuficiência respiratória, é importante realizar
gasometria e dosagem de eletrólitos. As radiografias de tórax e da coluna vertebral devem ser realizadas
para o diagnóstico de infecções pulmonares e fraturas de vértebras. As culturas de sangue, de secreções e
de urina são indicadas apenas nos casos de infecção secundária.
Diagnóstico diferencial
Em relação às formas generalizadas do tétano, incluem-se os seguintes diagnósticos diferenciais:
-
valos dos espasmos.
-
sentes, hipocalcemia e relaxamento muscular entre os paroxismos.
173
trismos, hipersensibilidade cutânea e alterações de comportamento.
-
cem os sintomas.
hipertonia muscular.
-
sado por abscesso dentário, periostite alvéolo-dentária, erupção viciosa do dente siso, fratura e/ou
osteomielite de mandíbula, abscesso amigdalino e/ou retrofaríngeo.
instala após uso de soro heterólogo. Ficam evidenciadas lesões maculopapulares cutâneas, hiper-
trofia ganglionar, comprometimento renal e outras artrites.
As condições seguintes, mesmo excepcionalmente, podem figurar no diagnóstico diferencial
do tétano:
Tratamento
A hospitalização deverá ser imediata, preferencialmente em unidade de terapia intensiva (UTI), onde
existe suporte técnico necessário ao seu manejo e suas complicações, com consequente redução das se-
quelas e da letalidade. No caso de indisponibilidade de leitos de UTI, ou mesmo de unidades semi-inten-
sivas, a internação deve ocorrer em unidade assistencial, em quarto individual, com mínimo de ruído, de
luminosidade, e temperatura estável e agradável. Por não se tratar de uma doença contagiosa, devem ser
adotadas apenas medidas de precaução padrão.
Os princípios básicos do tratamento do tétano são:
Sedação/relaxamento do paciente
O relaxamento muscular é o principal objetivo do tratamento do tétano, e visa permitir a ven-
tilação, reduzir o estímulo doloroso e evitar hipertonia e espasmos. Nos pacientes com tétano grave,
sugere-se o uso de bloqueadores neuromusculares nos pacientes refratários ao uso de outros relaxantes
musculares. Os opioides têm sido utilizados em associação com outras drogas para analgossedação no
tétano. As recomendações para administração de benzodiazepínicos e miorrelaxantes são apresentadas
no Quadro 1.
Tétano Acidental
Guia de Vigilância em Saúde
174
Quadro 1 – Recomendação para uso de sedativos/miorrelaxantes
Sedativos/ miorrelaxantes
Doses
Via de administração
Adultos Crianças
Diazepam 1 a 10mg/kg/dia 0,1 a 2mg/kg/dose Endovenosa
Midazolan (em substituição ao Diazepam) 0,07 a 0,1mg/kg/dia 0,15 a 0,2mg/kg/dia Intramuscular
Clorpromazina (indicada quando não houver
resposta satisfatória com o Diazepan)
25mg a 50mg/kg/dia
(até 1g/dia)
Crianças acima de 6
meses 0,55mg/kg/dia
Endovenosa
Neutralização da toxina tetânica
Soro antitetânico
O soro antitetânico (SAT) é preconizado para a prevenção e o tratamento do tétano. A sua indicação
depende do tipo e das condições do ferimento, bem como das informações relativas à vacinação antitetâ-
nica pregressa e ao uso anterior do próprio SAT. O SAT é uma solução que contém imunoglobulinas (IgG)
purificadas, obtidas a partir de plasma de equinos hiperimunizados com toxoide. É apresentado na forma
líquida, em ampolas de 2mL (5.000UI), 5mL (5.000UI) ou 10mL (10.000 ou 20.000UI). Sua meia-vida é
inferior a 14 dias em indivíduos normais, sendo o SAT um produto cada vez mais purificado, em razão
do que se considera rara a possibilidade de causar complicações graves, tais como o choque anafilático e a
doença do soro. Mesmo assim, a sua administração só deve ser feita em serviços de saúde preparados para
o tratamento de complicações, o que implica a existência de equipamentos de emergência e a presença
do médico. Quando o serviço não dispuser das condições mínimas para atendimentos de emergência, a
pessoa deverá ser encaminhada imediatamente a outro serviço capaz de garantir administração do soro
com segurança. Por isso, antes da indicação de qualquer soro heterólogo, deve-se proceder à anamnese,
com interrogatório rigoroso dos antecedentes da pessoa, em que algumas informações são fundamentais
para orientar a decisão sobre administrar o soro ou encaminhar para outros serviços, tais como:
-
sidade profissional (a exemplo de veterinários) ou por lazer.
No caso da confirmação de qualquer uma dessas informações, o profissional deve adotar o procedi-
mento indicado para a prevenção da ocorrência de reações anafiláticas, conforme orientação do manual
de procedimento para vacinação.
Prevenção de reações anafiláticas na administração de soros heterólogos
Para prevenção de reações anafiláticas, alguns cuidados específicos são adotados. Os procedimentos
básicos para realização dessas atividades são os seguintes:
-
ventivo da anafilaxia: adrenalina 1:1.000, anti-histamínico, corticoide, oxigênio, soro glicosado e
fisiológico, equipo de soro e material para assistência ventilatória.
no paciente, garantindo adequado acesso venoso e a manutenção do gotejamento, mesmo depois
da administração do soro heterólogo.
175
no interior de um frasco de 250 ou 500ml de soro glicosado ou fisiológico previamente esvaziado.
“y”, com o soro fisiológico ou glicosado a 5% previamente instalado no antebraço do paciente. É
importante salientar que, quanto mais rapidamente o paciente receber o soro antitetânico, mais
rápida será a neutralização da toxina circulante.
mantendo acesso venoso com soro fisiológico instalado, controlando o gotejamento, controlando
sinais vitais e observando coloração e temperatura das extremidades (lábios, dedos), sinais de in-
quietação, sudorese, dificuldade respiratória, queda de pressão arterial, pulso fraco, entre outros.
mesmo choque anafilático), interromper imediatamente o gotejamento do soro heterólogo, con-
tinuar o gotejamento do soro fisiológico ou glicosado a 5% e iniciar o tratamento com as drogas
indicadas (adrenalina, anti-histamínicos e corticosteroides), bem como tomar as providências clí-
nicas cabíveis para cada situação, de acordo com a faixa etária do indivíduo.
Nos casos de reação à aplicação de soros de origem equina, se for necessário repetir imunização pas-
siva, devem ser utilizadas as imunoglobulinas humanas, quando possível. Na impossibilidade do uso de
dessas imunoglobulinas, administrar soro heterólogo com pré-medicação e acompanhar o paciente nos
10 dias seguintes. Recomenda-se manter o paciente sob observação hospitalar após a aplicação dos soros
heterólogos, por pelo menos 24 horas.
A realização do teste de sensibilidade cutânea foi excluída da rotina da administração de soros, pois
o valor preditivo deste teste é discutível e imprevisível para as manifestações de hipersensibilidade ime-
diata, precoce ou tardia.
A administração de doses subsequentes de soros é contraindicada.
Imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT)
É constituída por imunoglobulinas da classe IgG que neutralizam a toxina produzida por Clostri-
dium tetani, sendo obtida do plasma de doadores selecionados (pessoas submetidas a imunização ativa
contra o tétano) com altos títulos no soro de anticorpos específicos (antitoxina). É apresentada sob a for-
ma líquida ou liofilizada, em frasco-ampola de 1ml ou 2ml, contendo 250UI. A IGHAT tem meia-vida de
21 a 28 dias, em indivíduos sem imunização prévia.
A IGHAT está indicada para:
soro heterólogo (antitetânico, antirrábico, antidiftérico, antiofídico, entre outros);
-
cinados. Os imunodeprimidos deverão receber sempre a IGHAT no lugar do SAT, devido à meia-
-vida maior dos anticorpos;
sido adequadamente vacinadas; e
-
tória vacinal da mãe.
As recomendações dos imunobiológicos (SAT e IGHAT) para a neutralização da toxina tetânica,
bem como para o seu uso profilático, são apresentadas no Quadro 2.
Tétano Acidental
Guia de Vigilância em Saúde
176
Quadro 2 – Recomendação para neutralização da toxina tetânica e uso profilático
Imunobiológico Dosagem
Via de
administração
Observações
Imunoglobulina humana
antitetânica (IGHAT)
Dose profilática
(250UI)
Dose terapêutica
(500UI)
Intramuscular
Aplicar em grupo muscular diferente
daquele no qual for aplicada a vacina que
contenha o toxoide tetânico
Soro antitetânico (SAT)a
Dose profilática
(5.000UI)
Dose terapêutica
(20.000UI)
Intramuscular ou
endovenosa
Se intramuscular, administrar em duas
massas musculares diferentes
Se endovenosa, diluir em soro glicosado a
5%, com gotejamento lento
a
A posologia deve ser individualizada e a critério médico.
Eliminação do C. tetani
A penicilina G cristalina ou o metronidazol são antibióticos de escolha na eliminação do C. tetani
(Quadro 3). Não há evidências suficientes que sustentem a superioridade de uma droga em relação à ou-
tra, embora alguns dados mostrem maior benefício com o uso de metronidazol.
Quadro 3 – Recomendação para uso do antibiótico para eliminação do C. tetani
Antibiótico
Dosagem Via de
administração
Esquema Duração
Adultos Crianças
Penicilina G Cristalinaa 2.000.000UI/
dose
50.000 a
100.000UI/kg/dia
Endovenosa 4 em 4 horas 7 a 10 dias
Metronidazola
500mg 7,5mg Endovenosa 8 em 8 horas 7 a 10 dias
a
A posologia deve ser individualizada e a critério médico.
Debridamento do foco
Limpar o ferimento suspeito com soro fisiológico ou água e sabão. Realizar o debridamento, retiran-
do todo o tecido desvitalizado e corpos estranhos. Após a remoção das condições suspeitas, fazer limpe-
za com água oxigenada ou solução antisséptica (álcool a 70%, clorexidina, permanganato de potássio a
1:5.000). Ferimentos puntiformes e profundos devem ser abertos em cruz e lavados generosamente.
Não há comprovação de eficácia do uso de penicilina benzatina nas infecções cutâneas para profila-
xia do tétano acidental.
Medidas gerais
Após internação do paciente, algumas medidas adicionais devem ser implementadas, conforme es-
pecificado a seguir.
com risco de trombose venosa profunda e em idosos.
177
Características epidemiológicas
No Brasil, observa-se um declínio do número de casos de tétano acidental. Na década de 1990, foram
registrados em média mais de 1.000 casos por ano, caindo em média para 460 casos por ano na década de
2000. A maior proporção ocorre na região Nordeste e atinge com maior frequência a faixa etária entre 40
e 59 anos, seguida pela faixa acima de 60 anos.
Na década de 2000, foram registrados em média 141 óbitos por ano, com uma letalidade média anual
de 31%, considerada elevada, quando comparada com a verificada nos países desenvolvidos (entre 10 e
17%). A maioria dos casos de tétano acidental ocorre nas categorias dos aposentados e pensionistas, bem
como entre os trabalhadores agropecuários, seguida pelos grupos de trabalhadores da construção civil
(pedreiros) e donas de casa.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
assegurar diagnóstico e tratamento precoce.
-
teção, a fim de se evitar a ocorrência de ferimentos ou lesões.
Definição de caso
Suspeito
Todo paciente acima de 28 dias de vida que apresenta um ou mais dos seguintes sinais e sintomas:
disfagia, trismo, riso sardônico, opistótono, contraturas musculares localizadas ou generalizadas, com
ou sem espasmos, independentemente da situação vacinal, da história de tétano e de detecção ou não de
solução de continuidade de pele ou mucosas.
Confirmado
Todo caso suspeito, descartado para outras etiologias e que apresenta um ou mais dos seguintes
sinais e sintomas: hipertonia dos masseteres (trismo), disfagia, contratura dos músculos da mímica facial
(riso sardônico, acentuação dos sulcos naturais da face, pregueamento frontal, diminuição da fenda pal-
pebral), rigidez abdominal (abdome em tábua), contratura da musculatura paravertebral (opistótono), da
cervical (rigidez de nuca), de membros (dificuldade para deambular), independentemente da situação va-
cinal, de história prévia de tétano e de detecção de solução de continuidade da pele ou mucosas. A lucidez
do paciente reforça o diagnóstico.
Descartado
Todo caso suspeito que, após investigação epidemiológica, não preencher os critérios de confirmação.
Tétano Acidental
Guia de Vigilância em Saúde
178
Notificação
A notificação de casos suspeitos de tétano acidental deverá ser feita por profissionais da saúde ou por
qualquer pessoa da comunidade à equipe de vigilância epidemiológica do município, que a encaminhará
às equipes de vigilância epidemiológica regional ou estadual que, por sua vez, enviará ao Ministério da
Saúde. Após a notificação, deverá proceder-se à investigação imediatamente.
A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por
meio do preenchimento da Ficha de Investigação do Tétano Acidental.
Investigação
A qualidade da investigação é fundamental para avaliar a situação das ações de prevenção do tétano
na área e se implementarem medidas que as reforcem. O instrumento de coleta de dados é a Ficha de
Investigação do Tétano Acidental, do Sinan, na qual todos os campos devem ser criteriosamente preenchi-
dos, mesmo quando a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluídos, conforme
as necessidades e peculiaridades de cada situação.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens relativos aos dados gerais, notificação individual e dados
de residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
médico assistente ou alguém da família ou acompanhante e realizar visita domiciliar e/ou no local
de trabalho, para completar as informações sobre a manifestação da doença e possíveis fatores de
risco no meio ambiente).
investigação epidemiológica no Sinan.
- Verificar a ocorrência de outros casos no município, levantar os fatores determinantes, identificar
a população de risco e traçar estratégias de implementação das ações de prevenção do tétano.
- Casos de tétano em consequência de aborto, às vezes, podem ser mascarados quanto ao diag-
nóstico final.
Encerramento de caso
O caso de tétano acidental deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias a partir da notificação.
A classificação final do caso deve seguir os critérios descritos no item Definição de caso. Atualizar, se ne-
cessário, o Sinan, o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informação Hospitalar
do SUS (SIH-SUS).
Medidas de prevenção e controle
Objetivo
Reduzir a ocorrência de casos de tétano acidental no país.
179
Estratégias
Vacinação
A principal medida de prevenção contra do tétano acidental é a vacinação dos suscetíveis na rotina das
unidades básicas de saúde em todo o país, sendo preconizada no Calendário Básico de Vacinação do Programa
Nacional de Imunizações (PNI) a vacina pentavalente. Esta vacina oferece proteção contra difteria, tétano, co-
queluche, Haemophilus influenza tipo B e hepatite B, e é indicada para imunização ativa de crianças a partir de 2
meses de idade, em esquema de 3 doses, com intervalo de 60 dias entre as doses, indicando-se um reforço de 12
a 15 meses com a vacina DTP; um segundo reforço é preconizado aos 4 anos de idade. A partir dessa idade, um
reforçoacada10anosapósaúltimadoseadministradacomavacinaduplaadulto(dT)contraadifteriaeotétano.
Particularidades
e tétano, administrar 3 doses da dupla adulto (dT) com intervalo de 60 dias entre as doses, em um
mínimo de 30 dias.
-
tar esquema de 3 doses com dT, considerando as doses anteriores, com intervalo de 60 dias entre
as doses, em um mínimo de 30 dias.
gestacional, combinada com uma dose de dTpa a partir da 20ª semana da gestação.
Para pacientes que tiveram tétano, após a alta hospitalar, referenciá-lo à unidade básica de saúde,
para se iniciar o esquema de vacinação ou completá-lo até a terceira dose.
Conduta frente a ferimentos suspeitos
O esquema de condutas profiláticas se encontra no Quadro 4.
Quadro 4 – Esquema de condutas profiláticas de acordo com o tipo de ferimento e situação vacinal
História de vacinação
prévia contra tétano
Ferimentos com risco mínimo de tétanoa
Ferimentos com alto risco de tétanob
Vacina SAT/IGHAT Outras condutas Vacina SAT/IGHAT Outras condutas
Incerta ou menos de 3 doses Simc
Não
Limpeza e
desinfecção,
lavar com soro
fisiológico e
substâncias
oxidantes ou
antissépticas e
desbridar o foco
de infecção
Simc Sim Desinfecção,
lavar com soro
fisiológico e
substâncias
oxidantes ou
antissépticas e
remover corpos
estranhos e tecidos
desvitalizados
Desbridamento
do ferimento e
lavagem com água
oxigenada
3 doses ou mais, sendo a última
dose há menos de 5 anos
Não Não Não Não
3 ou mais doses, sendo a última
dose há mais de 5 anos e menos
de 10 anos
Não Não
Sim
(1 reforço)
Nãod
3 ou mais doses, sendo a última
dose há 10 ou mais anos
Sim Não
Sim
(1 reforço)
Nãod
3 ou mais doses, sendo a última
dose há 10 ou mais anos em
situações especiais
Sim Não
Sim
(1 reforço)
Sime
a
Ferimentos superficiais, limpos, sem corpos estranhos ou tecidos desvitalizados.
b
Ferimentos profundos ou superficiais sujos; com corpos estranhos ou tecidos desvitalizados; queimaduras; feridas puntiformes ou por armas brancas e
de fogo; mordeduras; politraumatismos e fraturas expostas.
c
Vacinar e aprazar as próximas doses, para complementar o esquema básico. Essa vacinação visa proteger contra o risco de tétano por outros ferimen-
tos futuros. Se o profissional que presta o atendimento suspeita que os cuidados posteriores com o ferimento não serão adequados, deve considerar a
indicação de imunização passiva com SAT (soro antitetânico) ou IGHAT (imunoglobulina humana antitetânica). Quando indicado o uso de vacina e SAT ou
IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicados em locais diferentes.
d
Para paciente imunodeprimido, desnutrido grave ou idoso, além do reforço com a vacina, está também indicada IGHAT ou SAT.
e
Se o profissional que presta o atendimento suspeita que os cuidados posteriores com o ferimento não serão adequados, deve considerar a indicação de
imunização passiva com SAT ou IGHAT. Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicados em locais diferentes.
Tétano Acidental
Guia de Vigilância em Saúde
180
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181
Tétano Neonatal
CID 10: A33
Características gerais
Descrição
Doença infecciosa aguda, grave, não contagiosa, que acomete o recém-nascido nos primeiros 28 dias
de vida, tendo como manifestação clínica inicial a dificuldade de sucção, irritabilidade e choro constante.
Sinonímia
Tétano umbilical e “mal de sete dias”.
Agente etiológico
Clostridium tetani, bacilo gram-positivo, anaeróbico e esporulado, produtor de várias toxinas, sendo
a tetanospasmina responsável pelo quadro de contratura muscular.
Reservatório
O bacilo é encontrado no trato intestinal dos animais, especialmente do homem e do cavalo. Os
esporos são encontrados no solo contaminado por fezes, na pele, na poeira, em espinhos de arbustos e
pequenos galhos de árvores, em pregos enferrujados e em instrumentos de trabalho não esterilizados.
Modo de transmissão
Por contaminação, durante a manipulação do cordão umbilical ou por meio de procedimentos ina-
dequados realizados no coto umbilical, quando se utilizam substâncias, artefatos ou instrumentos conta-
minados com esporos.
Período de incubação
Aproximadamente 7 dias, podendo variar de 2 a 28 dias.
Período de transmissibilidade
Não é doença contagiosa, portanto, não existe transmissão de pessoa a pessoa.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade é universal, afetando recém-nascidos de ambos os sexos. A doença não confere
imunidade. A imunidade do recém-nascido é conferida pela vacinação adequada da mãe que recebeu 3
doses de vacina antitetânica. Se a gestante tomou a última dose há mais de 5 anos, deverá receber 1 dose
de reforço. Os filhos de mães vacinadas nos últimos 5 anos com 3 doses apresentam imunidade passiva e
transitória até 2 meses de vida. A imunidade passiva, através do soro antitetânico (SAT), dura em média
duas semanas, e pela Imunoglobulina Humana Antitetânica (IGHAT), cerca de 3 semanas.
A partir do último trimestre de 2014, todas as gestantes com esquemas incompletos de 3 doses de
dT adulto deverão receber uma dose de vacina antitetânica acelular (dTpa), e uma dose a cada gestação.
Devendo ter o esquema completo com duas doses de dT e uma dose de dTpa a partir da vigésima sema-
na (20ª) de gestação. As mulheres que perderam a oportunidade de serem vacinadas durante a gestação,
devem receber uma dose de dTpa no puerpério, o mais precoce possível.
Tétano Neonatal
Guia de Vigilância em Saúde
182
Manifestações clínicas
O recém-nascido apresenta choro constante, irritabilidade, dificuldade para mamar e abrir a boca,
decorrente da contratura dolorosa dos músculos da mandíbula (trismo), seguida de rigidez de nuca, tron-
co e abdome. Evolui com hipertonia generalizada, hiperextensão dos membros inferiores e hiperflexão
dos membros superiores, com as mãos fechadas, flexão dos punhos (atitude de boxeador), paroxismos de
contraturas, rigidez da musculatura dorsal (opistótono) e intercostal, causando dificuldade respiratória. A
contração da musculatura da mímica facial leva ao cerramento dos olhos, fronte pregueada e contratura
da musculatura dos lábios, como se o recém-nascido fosse pronunciar a letra U. As contraturas de muscu-
latura abdominal podem ser confundidas com cólica intestinal. Quando há presença de febre, ela é baixa,
exceto se houver infecção secundária.
Os espasmos são desencadeados ao menor estímulo (tátil, luminoso, sonoro, por temperaturas ele-
vadas) ou surgem espontaneamente. Com a piora do quadro clínico, o recém-nascido deixa de chorar,
respira com dificuldade e as crises de apneia passam a ser constantes, podendo levar ao óbito.
O coto umbilical pode-se apresentar normal ou com características de infecção, que dura cerca de 2
a 5 dias.
Complicações
Disfunção respiratória, infecções secundárias, disautonomia, taquicardia, crise de hipertensão
arterial, parada cardíaca, miocardite tóxica, embolia pulmonar, hemorragias, fraturas de vértebras,
entre outras.
Diagnóstico
O diagnóstico é essencialmente clínico e não existe exame laboratorial específico para diagnóstico
do tétano.
Os exames laboratoriais são realizados apenas para controle das complicações e respectivas orien-
tações do tratamento. O hemograma é normal, mas pode apresentar discreta leucocitose ou linfopenia.
As transaminases e a ureia sanguíneas podem elevar-se nas formas graves. A gasometria e a dosagem de
eletrólitos são importantes quando há insuficiência respiratória. A radiografia do tórax e da coluna verte-
bral torácica deve ser realizada para diagnosticar infecções pulmonares e possíveis fraturas de vértebras.
Culturas de secreções, urina e sangue são indicadas nos casos de infecção secundária.
Diagnóstico diferencial
Septicemia − na sepse do recém-nascido pode haver hipertonia muscular, o estado geral é grave e
cursa com hipertermia ou hipotermia, alterações do sensório e evidências do foco séptico (diarreia
e onfalite, por exemplo). O trismo não é frequente, nem ocorrem os paroxismos espásticos.
Encefalopatias − podem cursar com hipertonia e o quadro clínico geralmente é evidente logo após
o nascimento, havendo alterações do sensório e crises convulsivas. O trismo não é uma manifes-
tação frequente.
Distúrbios metabólicos − hipoglicemia, hipocalcemia e alcalose.
Outros diagnósticos diferenciais − epilepsia, lesão intracraniana por traumatismo do parto, peri-
tonites, onfalites e meningites.
183
Tratamento
O recém-nascido deve ser internado em unidade de terapia intensiva (UTI) ou em enfermaria apro-
priada, acompanhado por uma equipe médica e de enfermagem experiente e treinada na assistência dessa
enfermidade, o que pode reduzir as complicações e a letalidade. A unidade ou enfermaria deve dispor
de isolamento acústico, redução da luminosidade, de ruídos e da temperatura ambiente. A atenção da
enfermagem deve ser contínua, vigilante quanto às emergências respiratórias decorrentes dos espasmos,
realizando pronto atendimento com assistência ventilatória nos casos de dispneia ou apneia.
Os princípios básicos do tratamento do tétano neonatal visam curar o paciente, diminuindo a morbi-
dade e a letalidade causada pela doença. A adoção das medidas terapêuticas é de responsabilidade médica
e o tratamento consiste em:
-
tar a aspiração de secreções), hidratação, redução de qualquer tipo de estímulo externo, alimenta-
ção por sonda e analgésicos;
-
dro 3). Não há evidências suficientes que sustentem a superioridade de uma droga em relação à
outra, embora alguns dados mostrem maior benefício com o uso de metronidazol.
Outros sedativos e anticonvulsivantes (curare, hidrato de cloral a 10%, fenobarbital) poderão ser
utilizados a critério médico.
Quadro 1 – Recomendação para uso de sedativos/miorrelaxantes
Sedativos/miorrelaxantesa
Doses Via de administração
Diazepam 0,3 a 2mg/kg/dose Endovenosa
Midazolan (alternativa para o Diazepam) 0,15 a 0,20mg/kg/dia Endovenosa
a
A posologia deve ser individualizada e a critério médico.
Quadro 2 – Recomendação para neutralização da toxina tetânica e uso profilático
Imunobiológico Dosagem Via de administração Observações
Imunoglobulina
humana antitetânica
(IGHAT)
Dose profilática (250UI)
Dose terapêutica (500UI)
Somente intramuscular
Solicitar indicações dos Centros de Referência
para Imunobiologicos Especias da região ou
do estado
Soro antitetânico
(SAT)
Dose profilática (5.000UI)
Dose terapêutica
(20.000UI)
Intramuscular ou
endovenosa
Se intramuscular, administrar em duas massas
musculares diferentes
Se endovenoso, diluir em soro glicosado a 5%,
com gotejamento lento
Quadro 3 – Recomendação para uso de antibióticos (erradicação do C. tetani)
Antibióticoa
Dosagem Via de administração Frequência Duração
Penicilina G Cristalina
200.000UI/
kg/dia
Endovenosa 4 em 4 horas 7 a 10 dias
Metronidazol (alternativa à
Penicilina G Cristalina)
7,5mg Endovenosa 8 em 8 horas 7 a 10 dias
a
A posologia deve ser individualizada e a critério médico. Outros antimicrobianos poderão ser necessários em casos de infecção secundária (onfalites,
pneumonia, infecção urinária e sepse).
Tétano Neonatal
Guia de Vigilância em Saúde
184
Erradicação do C. tetani (cuidados com o coto umbilical)
Além da antibioticoterapia, o debridamento do foco infeccioso é importante. O tratamento cirúrgico
do foco deve ser precedido do uso da antitoxina tetânica e é de grande relevância a retirada de corpos
estranhos e tecidos desvitalizados. A ferida deve ser limpa com substâncias oxidantes (água oxigenada)
ou antissépticas (álcool a 70%, clorexidina), permanganato de potássio a 1/5.000 (1 comprimido diluído
em meio litro de água) e mantida aberta. A indicação de debridamento no coto umbilical deve ser
cuidadosamente avaliada pela equipe médica. Não é necessário proteção individual especial, uma vez que
não se trata de doença contagiosa.
Características epidemiológicas
Com a implementação de uma política de eliminação do tétano neonatal como problema de saúde
pública no mundo, sua incidência tem sido reduzida sensivelmente, principalmente nas Américas. A meta
estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de menos de um caso novo por 1.000 nascidos
vivos por distrito ou município, em cada país. A doença continua existindo como problema de saúde
pública apenas em países de menor desenvolvimento econômico e social, principalmente no Continente
Africano e no Sudeste Asiático.
No Brasil, entre 2007 e 2016, ocorreram 20 casos de tétano neonatal, com maior registro nas regiões
Norte e Nordeste. Nesse período, verificou-se uma tendência decrescente no comportamento da doença,
com redução de 75% no número de casos. A taxa de incidência no país está abaixo do preconizado pela OMS.
Fatores de risco para o tétano neonatal
sem instrumentos de trabalho adequados.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
185
Definição de caso
Suspeito
Todo recém-nascido que nasceu bem, sugou normalmente nas primeiras horas e, entre o 2º e o 28º dias
de vida, apresentou dificuldade em mamar, choro constante, independentemente do estado vacinal da mãe,
do local e das condições do parto. São também considerados suspeitos todos os óbitos, nessa mesma faixa
etária, de crianças que apresentem essas mesmas características, com diagnóstico indefinido ou ignorado.
Confirmado
Todo recém-nascido que nasceu bem, sugou normalmente nas primeiras horas e, entre o 2º e o 28º
dias de vida, apresentou dificuldade respiratória, recusou amamentação e apresentou dois ou mais dos
seguintes sinais e sintomas: trismo, contratura dos músculos da mímica facial, olhos cerrados, pele da
fronte pregueada, lábios contraídos, hiperflexão dos membros superiores junto ao tórax, hiperextensão
dos membros inferiores e crises de contraturas musculares, com inflamação ou não do coto umbilical.
Descartado
Todo caso suspeito que, após a investigação epidemiológica, não preencha os critérios de confirma-
ção de caso.
Notificação
A notificação dos casos suspeitos ou confirmados de tétano neonatal deverá ser feita por profissio-
nais de saúde ou por qualquer pessoa da comunidade à Vigilância Epidemiológica Municipal, que repas-
sará a informação aos órgãos regionais, estaduais e federal responsáveis pela vigilância epidemiológica
nessas esferas.
A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por
meio do preenchimento da Ficha de Investigação do Tétano Neonatal.
Investigação
A investigação deve ser feita imediatamente (nas primeiras 72 horas) após a notificação de um caso
suspeito ou confirmado. Não se deve restringir ao âmbito hospitalar: convém buscar informações comple-
mentares no domicílio, com familiares, preferencialmente com a mãe do recém-nascido.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens da Ficha de Investigação do Tétano Neonatal, referentes aos da-
dos gerais, notificação individual e dados de residência, lembrando que todos os campos são necessários
e importantes para caracterização e análise do caso.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Ficha de Investigação do Tétano Neonatal os dados da história e as manifes-
tações clínicas do caso. Em geral, deve-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente
para completar as informações clínicas sobre o paciente.
necessidade de iniciar o esquema vacinal, e sim dar continuidade ao iniciado, desde que haja com-
provação das doses anteriores.
Tétano Neonatal
Guia de Vigilância em Saúde
186
identificados durante a investigação epidemiológica.
baixas coberturas vacinais em MIF; ocorrência de partos domiciliares; parteiras tradicionais atu-
antes sem capacitação; baixas coberturas e a qualidade do pré-natal; dificuldades de acesso aos
serviços de saúde; qualidade do serviço prestado à população; desconhecimento das formas de
prevenir a doença, por parte da população; buscar informação sobre a resistência da população
alvo às medidas preventivas.
umbilical. Avaliar de modo geral o serviço prestado à comunidade.
neonatais da localidade.
Avaliar situação da organização dos serviços e do processo de trabalho
para a atenção materno-infantil; capacitação dos recursos humanos existentes; funcionamento das
salas de vacina e da rede de frio; oportunidades perdidas de vacinação; atividades extramuros;
nível de integração de trabalho intrassetorial.
Determinação da extensão de áreas de risco
- Busca ativa − deve ser realizada sistematicamente, principalmente nas áreas consideradas de
risco, silenciosas, onde há rumores, onde a notificação é inconsistente e irregular ou as que não
tenham notificado casos. Atividades de busca ativa devem incluir revisão de prontuários de
hospitais e clínicas, registros de igrejas, cemitérios e cartórios, conversas com pediatras, gineco-
logistas, obstetras, enfermeiros, parteiras e líderes comunitários.
Encerramento de caso
Após a coleta e análise de todas as informações necessárias ao esclarecimento do caso, definir o
diagnóstico final e atualizar, se necessário, os sistemas de informação (Sinan, Sistema de Informação so-
encerrado em até 60 dias.
Relatório final
Enviar relatório detalhado do caso, informando dados clínicos e epidemiológicos da criança e situa-
ção vacinal da mãe, bem como informações sobre o pré-natal.
Medidas de prevenção e controle
Objetivos
Reduzir a ocorrência de casos de tétano neonatal no país.
Pré-natal
A realização do pré-natal é extremamente importante para prevenir o tétano neonatal. É quando
se inicia o estabelecimento de um vínculo entre a usuária e a unidade de saúde, onde serão realizadas as
ações de vacinação (atualização ou início do esquema vacinal), promoção do parto asséptico, da ama-
mentação, do planejamento familiar e dos cuidados de higiene com o recém-nascido, em especial do coto
umbilical. Nesse sentido, é necessário melhorar a cobertura e a qualidade do pré-natal e da atenção ao
parto e puerpério.
187
Vacinação
A principal forma de prevenir o tétano neonatal é a vacinação de todas as MIF (Quadro 4).
Quadro 4 – Protocolo de imunização de mulheres em idade fértil (MIF)
História de vacinação prévia
contra tétano
MIF
Gestantesa
Não gestantes
Sem nenhuma dose registrada
Iniciar o esquema vacinal com dT o mais precocemente
possível com 2 doses, intervalo de 60 dias e, no mínimo, 30
dias e 1 dose de dTpa
Esquema vacinal com 3 doses,
intervalo de 60 dias e, no
mínimo, 30 dias
Esquema vacinal incompleto
(registrado)
Se 1 dose, completar com 1 dose de dT e 1 dose de dTpa.
Se 2 doses dT, completar o esquema com dTpa, intervalo
de 60 dias e, no mínimo, 30 dias
Completar o esquema vacinal
com dT, intervalo de 60 dias e, no
mínimo, 30 dias
3 doses ou mais registradas Aplicar 1 dose de dTpa a cada gestação Não é necessário vacinar
a
Recomenda-se que todas as gestantes tenham 3 doses de dT ou duas doses dT e uma de dTpa. Mas, se a gestante chegar tardiamente ao serviço de saú-
de e não tiver o esquema completo de vacinação para os componentes difteria, tétano e pertússis acelular, deverão ser asseguradas no mínimo 2 doses,
sendo, preferencialmente, a primeira dose com dTpa e, a segunda, com dT, devendo a 2ª dose ser administrada antes do parto. O esquema vacinal deverá
ser completado no puerpério ou em qualquer outra oportunidade.
Atendimento durante o parto e puerpério
O atendimento higiênico ao parto é medida fundamental na profilaxia do tétano neonatal. O mate-
rial utilizado, incluindo instrumentos cortantes, fios e outros, deve ser estéril para o cuidado do cordão
umbilical e do coto. Tal medida será alcançada com atendimento médico-hospitalar adequado, ensino de
boas práticas de higiene às parteiras e educação em saúde continuada.
Também para o sucesso das medidas, as mães e os responsáveis devem ser orientados em todas as
oportunidades sobre os cuidados com os recém-nascidos e o tratamento higiênico do coto umbilical com
álcool a 70%.
É importante enfatizar que a consulta do puerpério é de extrema importância para orientações e
detecção de práticas que predispõem à doença, bem como para a atualização do calendário vacinal, tanto
da mãe quanto da criança.
Bibliografia
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Red book: report of the Committee on Infectious Diseases.
29th
ed. Washington, 2012.
BAZIN, A. R. Estudo clínico e anatomopatológico do tétano neonatal no estado do Rio de Janeiro.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em saúde. Departamento de Vigilância
das Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota
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<http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384-
Calendario-Nacional-de-Vacinacao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017.
Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Portaria
Ministerial nº 1.533. Publicado no DOU em 19 agosto de 2016. Disponível em: <https://www.legisweb.
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GOMES, A. P. et al. Infecção por Clostridium tetani no recém-nascido: revisão sobre o tétano
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Tétano Neonatal
Guia de Vigilância em Saúde
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SCHRAMM, J. M. A.; SZWARCWALD, C. L. Um modelo estatístico para definição de áreas geográficas
prioritárias para o controle do tétano neonatal. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2,
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SHEUFLER, M. W.; PINTO, A. M. M. Tétano neonatal: aspectos sobre a epidemiologia no estado do
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problema. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 5, out. 2003.
Bulletin of the World Health Organization
189
Caxumba (Parotidite Epidêmica)
CID 10: B26
Características gerais
Descrição
Doença viral aguda, caracterizada por febre, dor e aumento de volume de uma ou mais glându-
las salivares, com predileção pelas parótidas e, às vezes, pelas sublinguais ou submandibulares. Ocorre
primariamente no escolar e no adolescente; tem evolução benigna, mas eventualmente pode ser grave,
chegando a determinar hospitalização do doente. Em homens adultos, pode ocorrer orquiepididimite em,
aproximadamente, 20 a 30% dos casos; mulheres acima de 15 anos podem apresentar mastite (aproxima-
damente, 15% dos casos), e em 5 % daquelas que adquirem a parotidite após a fase puberal pode ocorrer
ooforite. A pancreatite pode ocorrer em 20% dos casos. O sistema nervoso central (SNC), com frequência,
pode estar acometido sob a forma de meningite asséptica, quase sempre sem sequelas. Mais raramente,
pode ocorrer encefalite.
A caxumba é doença de distribuição universal, de alta morbidade e baixa letalidade, aparecendo sob
a forma endêmica ou em surtos.
Sinonímia
Papeira, caxumba.
Agente etiológico
Vírus da família Paramyxoviridae, gênero Paramyxovirus.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Via aérea, através da disseminação de gotículas, ou por contato direto com saliva de pessoas infec-
tadas. A transmissão indireta é menos frequente, mas pode ocorrer pelo contato com objetos e utensílios
contaminados com secreção do nariz e/ou da boca.
Período de incubação
De 12 a 25 dias, sendo, em média, 16 a 18 dias.
Período de transmissibilidade
Varia entre 6 e 7 dias antes das manifestações clínicas, até 9 dias após o surgimento dos sintomas. O
vírus pode ser encontrado na urina até 14 dias após o início da doença.
Suscetibilidade e imunidade
A imunidade é de caráter permanente, sendo adquirida após infecções inaparentes, aparentes, ou
após imunização ativa.
Caxumba (Parotidite Epidêmica)
Guia de Vigilância em Saúde
190
Manifestações clínicas
A principal e mais comum manifestação desta doença é o aumento das glândulas salivares, principal-
mente a parótida, acometendo também as glândulas sublinguais e submaxilares, acompanhada de febre.
Os sintomas iniciais são febre (37,7º a 39,4ºC), anorexia, astenia, cefaleia, mialgia, artralgia e desconforto
em mastigar. Aproximadamente 30% das infecções podem não apresentar hipertrofia aparente dessas
glândulas. Cerca de 20 a 30% dos casos em homens adultos acometidos podem apresentam orquiepididi-
mite. Mulheres acima de 15 anos podem apresentar mastite (aproximadamente, 15% dos casos), e em 5 %
daquelas que adquirem a parotidite após a fase puberal pode ocorrer ooforite. A pancreatite pode ocorrer
em 20% dos casos e constitui, às vezes, a única manifestação da enfermidade, ou se associa à parotidite,
aparecendo antes ou após aquela e manifestando-se por dor epigástrica, febre, náuseas e vômitos.
Em menores de 5 anos de idade, são comuns sintomas das vias respiratórias. Embora se trate de even-
to raro, pode haver perda neurossensorial da audição, de início súbito e unilateral. O vírus também tem
tropismo pelo SNC, observando-se, com certa frequência, meningite asséptica, de curso benigno, que, na
grande maioria das vezes, não deixa sequelas. Mais raramente, pode ocorrer encefalite.
Não há relatos de óbitos relacionados à parotidite. Sua ocorrência durante o 1° trimestre da gestação
pode ocasionar aborto espontâneo.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico da doença é eminentemente clínico-epidemiológico. Existem testes sorológicos
(ELISA e inibição da hemaglutinação), porém não são utilizados de rotina. A amilase sérica costuma estar
elevada nos casos de parotidite.
Diagnóstico diferencial
Inflamação de linfonodos, parotidite de etiologia piogênica, e cálculo de dutos parotidianos.
Tratamento
O tratamento é baseado na sintomatologia clínica, com adequação da hidratação e alimentação
do doente, já que esses pacientes aceitam mal alimentos ácidos, que podem determinar dor, náuseas
e vômitos.
Os analgésicos-antitérmicos, como o ácido acetilsalicílico ou paracetamol, que aliviam a dor e bai-
xam a febre, são utilizados. Hidratação parenteral está indicada na pancreatite e na meningite com impos-
sibilidade de ingestão de líquidos devido ao vômito.
aplicação de bolsas de gelo e analgesia, quando necessárias.
Características epidemiológicas
A parotidite infecciosa costuma se apresentar sob a forma de surtos, que acometem mais as crianças
nas populações não vacinadas. Estima-se que, na ausência de imunização, 85% das pessoas já terão tido a
doença quando chegarem à idade adulta, sendo que um terço dos infectados não apresentarão sintomas. A
doença é mais severa em adultos. As estações com maior ocorrência de casos são o inverno e a primavera.
191
Vigilância epidemiológica
Objetivos
rubéola e caxumba) e tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela).
Definição de caso
Suspeito
Paciente com febre e aumento de glândulas salivares, principalmente parótidas ou orquiepididimite
ou oforite inexplicável.
Confirmado
Eminentemente pela clínica, uma vez que não são utilizados exames sorológicos de rotina na
rede pública.
Critério clínico-epidemiológico
Caso suspeito, com história de contato com indivíduo doente por caxumba, nos 25 dias anteriores ao
surgimento dos primeiros sintomas.
Descartado
Caso suspeito, em que se confirma outra doença.
Definição de surto
Considerar como surtos de caxumba a ocorrência de número de casos acima do limite esperado, com base
nos anos anteriores, ou casos agregados em instituições, como creches, escolas, hospitais, presídios, entre outros.
Observação: casos que não atendem a definição de caso suspeito devem ser excluídos dos bancos,
planilhas e relatórios.
Notificação
Não é uma doença de notificação compulsória, ou seja, não consta na Portaria nº 204, de 17 de Fe-
vereiro de 2016. Porém, cada município ou estado tem autonomia para instituir uma portaria tornando-a
de notificação compulsória.
Observação: como a doença não faz parte da Portaria das Doenças de Notificação Compulsória, o Mi-
nistério da Saúde solicita que os estados enviem os relatórios dos surtos para o nível federal, ou sejam en-
viados os bancos de dados com casos e surtos dos estados onde a doença for de notificação compulsória.
Isolamento
Pessoas afetadas pela doença devem evitar comparecer à escola, ao trabalho ou a locais com aglome-
rações durante 9 dias após o início da doença.
Em ambientes hospitalares, deve-se adotar o isolamento respiratório dos doentes, bem como o uso
de equipamentos de proteção individual (EPI).
Caxumba (Parotidite Epidêmica)
Guia de Vigilância em Saúde
192
Assistência médica ao paciente
O atendimento é ambulatorial, e o tratamento é feito no domicílio. A hospitalização dos pacientes só
é indicada para os casos que apresentem complicações graves, como meningites e encefalites.
Medidas de controle
Vacinação
Rotina
Na rotina dos serviços públicos de saúde, a vacinação contra a caxumba é ofertada para a população
a partir de 12 meses, sendo que, para indivíduos até 29 anos de idade, o esquema recomendado é de duas
doses das vacinas tríplice viral e/ou tetraviral, conforme descrito a seguir.
-
trada até os 4 anos, 11 meses e 29 dias de idade. Após esta faixa etária, completar o esquema com a
vacina tríplice viral.
Indivíduos de 30 a 49 anos de idade não vacinados anteriormente devem receber uma dose da vacina
tríplice viral. Considerar vacinada a pessoa que comprovar uma dose de vacina tríplice viral.
Situações de surto
Na ocorrência de surto de caxumba, deve-se realizar intensificação da rotina de vacinação, com a
busca ativa de pessoas não vacinadas ou com esquema incompleto para caxumba e que sejam contatos
de casos suspeitos ou confirmados, nos locais onde estes casos estiverem concentrados (creches, escolas,
faculdades, empresas, presídios, hospitais, entre outros). Nesta situação, a vacinação deve ser realizada de
forma seletiva e em conformidade com as indicações do Calendário Nacional de Vacinação.
A vacinação deve ser implementada tão logo os casos sejam identificados, visando minimizar a ocor-
rência de novos casos.
Eventos adversos da vacina
As vacinas tríplice viral e tetraviral são seguras e pouco reatogênicas. Os eventos adversos mais ob-
servados são febre, dor e rubor no local da administração, e exantema. As reações de hipersensibilidade
são raras. Para mais informações, consultar o Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos
Pós-Vacinação, disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/dezembro/10/manual-
-eventos-adversos-pos-vacina--ao-dez14-web.pdf>.
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 1. ed.
Brasília, 2014. 812 p. Disponível em: <www.saude.gov.br/bvs>. Acesso em: 1 jun 2017.
-
ológica. Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o Calendário Nacional de Vacinação, o
Calendário Nacional de Vacinação dos Povos Indígenas e as Campanhas Nacionais de Vacinação, no âm-
bito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. Disponível em: <http://
GONZAGA, A. E.; ALOÉ, M. Caxumba. In: TONELLI, E.; FREIRE, L. M. S. Doenças Infecciosas na
infância e adolescência. 2. ed. Minas Gerais: Medsi, 2000. Cap. 61, p. 839-850.
193
Botulismo
Cólera
Doenças Diarreicas Agudas
Febre Tifoide
CAPÍTULO 3
Guia de Vigilância em Saúde
194
195
Botulismo
CID 10: A05.1
Características gerais
Descrição
Doença neuroparalítica grave, não contagiosa, resultante da ação de toxinas produzidas pela bactéria
Clostridium botulinum. Apresenta-se nas formas de botulismo alimentar, botulismo por ferimentos e bo-
tulismo intestinal e caracteriza-se por manifestações neurológicas e/ou gastrointestinais.
Agente etiológico
O C. botulinum é um bacilo gram-positivo, anaeróbio e esporulado. Em sua forma vegetativa, pode
produzir pré-toxina botulínica.
São conhecidas 8 tipos de toxinas botulínicas: A, B, C1, C2, D, E, F e G. Os que causam doença no
homem são: A, B, E e F, sendo os mais frequentes o A e o B.
As condições ideais para que a bactéria assuma a forma vegetativa, produtora de toxina, são: anaero-
biose, pH alcalino ou próximo do neutro (4,8 a 8,5), atividade de água de 0,95 a 0,97 e temperatura ótima
de 37°C. Os tipos A e B se desenvolvem em temperaturas próximas das encontradas no solo (acima de 25
até 40°C), enquanto o tipo E é capaz de proliferação a partir de 3°C (considerada psicrófila moderada).
Reservatório
Os esporos do C. botulinum são amplamente distribuídos na natureza, em solos e sedimentos de
lagos e mares. São identificados em produtos agrícolas, como legumes, vegetais e mel, e em intestinos de
mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos.
Modo de transmissão
Botulismo alimentar
Ocorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos previamente contaminados, que foram pro-
duzidos ou conservados de maneira inadequada.
Os alimentos mais comumente envolvidos são:
Botulismo por ferimentos
É uma das formas mais raras de botulismo. Ocasionado pela contaminação de ferimentos com C.
botulinum, que, em condições de anaerobiose, assume a forma vegetativa e produz toxina in vivo.
As principais portas de entrada para os esporos são úlceras crônicas com tecido necrótico, fissuras,
esmagamento de membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas, infecções dentárias ou,
ainda, aqueles produzidos por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais em
Botulismo
Guia de Vigilância em Saúde
196
usuários de drogas inalatórias. Embora raros, são descritos casos de botulismo acidental associado ao uso
terapêutico ou estético da toxina botulínica e à manipulação de material contaminado em laboratório
(transmissão pela via inalatória ou contato com a conjuntiva).
Botulismo intestinal
Resulta da ingestão de esporos presentes no alimento, seguida da fixação e multiplicação do agente
no ambiente intestinal, onde ocorre a produção e absorção de toxina. A ausência da microbiota de prote-
ção permite a germinação de esporos e a produção de toxina na luz intestinal.
Período de incubação
Botulismo alimentar
Pode variar de duas horas a 10 dias, com média de 12 a 36 horas. Quanto maior a concentração de
toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação.
Botulismo por ferimento
Pode variar de 4 a 21 dias, com média de 7 dias.
Botulismo intestinal
O período não é conhecido devido à impossibilidade de determinar o momento da ingestão de esporos.
Períodos de incubação curtos sugerem maior gravidade e maior risco de ocorrência do óbito.
Período de transmissibilidade
Não há transmissão interpessoal.
Suscetibilidade e vulnerabilidade
A suscetibilidade é geral.
Botulismo alimentar
Toda pessoa está vulnerável, devido à ampla distribuição do agente etiológico na natureza.
Botulismo por ferimentos
Pessoas que, por algum motivo, apresentam fissuras, esmagamento de membros, ferimentos em áreas
profundas mal vascularizadas, ou, ainda, ferimentos produzidos por agulhas em usuários de drogas inje-
táveis e lesões nasais ou sinusais em usuários de drogas inalatórias são mais vulneráveis.
Botulismo intestinal
Em decorrência da ausência de microbiota de proteção intestinal, as crianças com idade entre 3 e 26
semanas são mais vulneráveis, bem como adultos que passaram por cirurgias intestinais, que apresentam
acloridria gástrica, doença de Crohn e/ou uso de antibióticos por tempo prolongado, que também levam
à alteração da microbiota intestinal.
Manifestações clínicas
Botulismo alimentar
A doença se caracteriza por instalação súbita e progressiva.
Os sinais e sintomas iniciais podem ser gastrointestinais e/ou neurológicos.
197
As manifestações gastrointestinais mais comuns são náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, e
podem anteceder ou coincidir com os sinais e sintomas neurológicos.
Os primeiros sinais e sintomas neurológicos podem ser inespecíficos, tais como cefaleia, vertigem e
tontura. Os principais sinais e sintomas neurológicos são: visão turva, ptose palpebral, diplopia, disfagia,
disartria e boca seca, íleo paralítico, hipotensão sem taquicardia e retenção urinária, evoluindo para para-
lisia flácida motora descendente, associada a comprometimento autonômico disseminado. As manifesta-
ções começam no território dos nervos cranianos e evoluem no sentido descendente. Essa particularidade
distingue o botulismo da síndrome de Guillain-Barré, que é uma paralisia flácida aguda ascendente.
Com a evolução da doença, a fraqueza muscular pode se propagar de forma descendente para os
músculos do tronco e membros, o que pode ocasionar dispneia, insuficiência respiratória e tetraplegia
flácida. A fraqueza muscular nos membros é tipicamente simétrica, acometendo com maior intensidade
os membros superiores. Uma característica importante no quadro clínico do botulismo é a preservação
da consciência. Na maioria dos casos, também não há comprometimento da sensibilidade, o que auxilia
no diagnóstico diferencial com outras doenças neurológicas.
O botulismo pode apresentar progressão por uma a duas semanas e estabilizar-se por mais duas a 3
semanas, antes de iniciar a fase de recuperação, com duração variável, que depende da formação de no-
vas sinapses e restauração da função. Nas formas mais graves, o período de recuperação pode durar de 6
meses a 1 ano, embora os maiores progressos ocorram nos primeiros 3 meses após o início dos sintomas.
Botulismo por ferimentos
O quadro clínico é semelhante ao do botulismo alimentar; entretanto, os sinais e sintomas gastroin-
testinais não são esperados. Pode ocorrer febre decorrente de contaminação secundária do ferimento. O
botulismo por ferimento deve ser lembrado nas situações em que não se identifica uma fonte alimentar,
especialmente em casos isolados da doença. Ferimentos ou cicatrizes nem sempre são encontrados em
focos ocultos, como em mucosa nasal, seios da face e pequenos abscessos em locais de injeção, devem ser
investigados, especialmente em usuários de drogas.
Botulismo intestinal
Nas crianças, o aspecto clínico do botulismo intestinal varia de quadros com constipação leve à sín-
drome de morte súbita. A doença manifesta-se, inicialmente, por constipação e irritabilidade, seguidas
de sinais e sintomas neurológicos caracterizados por dificuldade de controle dos movimentos da cabeça,
sucção fraca, disfagia, choro fraco, hipoatividade e paralisias bilaterais descendentes, que podem progre-
dir para comprometimento respiratório. Casos leves, caracterizados apenas por dificuldade em deglutir e
fraqueza muscular discreta têm sido descritos. Em adultos, suspeita-se de botulismo intestinal na ausência
de fontes prováveis de toxina botulínica, como alimentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas.
Tem duração de duas a 6 semanas, com instalação progressiva dos sinais e sintomas por uma a duas
semanas, seguida de recuperação em 3 a 4 semanas.
Complicações
Desidratação e pneumonia por aspiração podem ocorrer precocemente, antes mesmo da suspeita
de botulismo ou do primeiro atendimento no serviço de saúde. A longa permanência sob assistência
ventilatória e os procedimentos invasivos são considerados importantes fatores de risco para as infecções
respiratórias, que podem ocorrer em qualquer momento da hospitalização.
Botulismo
Guia de Vigilância em Saúde
198
Diagnóstico
Diagnóstico clínico
Anamnese
Para a investigação das doenças neurológicas que se manifestam por fraqueza muscular descendente,
faz-se necessário realizar anamnese cuidadosa, buscando identificar fatores de risco específicos para botu-
lismo. Deve-se avaliar o início e a progressão dos principais sinais e sintomas neurológicos apresentados.
Na suspeita de botulismo alimentar, também devem ser investigados:
viagens, exposição a agentes tóxicos, medicamentos e uso de drogas endovenosas;
Exame físico geral
De forma geral, prevalecem os sinais e sintomas neurológicos, sendo estes os primeiros e mais im-
portantes achados ao se examinar o paciente.
Sinais de desidratação, distensão abdominal e dispneia podem estar presentes.
Não há febre, a menos que haja uma complicação infecciosa. No botulismo por ferimento, pode
ocorrer febre secundária à infecção da ferida por outras bactérias.
A frequência cardíaca é normal ou baixa, se não houver hipotensão (presente nas formas graves, com
disfunção autonômica).
Exame neurológico
Avaliar deficit de força muscular nos membros e comprometimento da
musculatura ocular, facial e bulbar.
Verificar
patelar, bicipital, tricipital, estilo-radial); sensibilidade; comprometimento do sistema nervoso au-
tônomo; acuidade visual e preservação da audição.
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial é baseado na análise de amostras clínicas e bromatológicas (casos de bo-
tulismo alimentar) para identificação da toxina ou isolamento da bactéria.
Mais informações podem ser encontradas no Manual Integrado de Vigilância Epidemiológica do
Botulismo (2006).
Diagnóstico eletrofisiológico
A eletroneuromiografia permite identificar se a lesão no sistema nervoso periférico localiza-se na
raiz, nos plexos, no nervo, no músculo ou na junção neuromuscular. Dessa forma, esse exame é de grande
valor no diagnóstico de botulismo ao demonstrar o comprometimento da junção neuromuscular, mais
especificamente da membrana pré-sináptica, causada pela toxina botulínica. Além disso, o exame auxilia
no diagnóstico diferencial com outras doenças com quadros clínicos semelhantes.
199
Diagnóstico diferencial
Existem muitas doenças neurológicas que podem se manifestar com fraqueza muscular súbita e para-
lisia flácida aguda. O Quadro 1 mostra os principais critérios utilizados para diferenciá-las do botulismo.
Além dessas, existem outras doenças menos comuns que também devem ser consideradas no diag-
nóstico diferencial: doença de Lyme, neuropatia diftérica, neuropatias tóxicas alimentares, neuropatia
-
encefalites, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, transtornos conversivos (histeria),
hipopotassemia, intoxicação por atropina, beladona, metanol, monóxido de carbono, fenotiazínicos e en-
venenamento por curare.
Por ser uma doença do sistema nervoso periférico, o botulismo não está associado a sinais de en-
volvimento do sistema nervoso central. A presença das manifestações abaixo relacionadas, em indivíduo
previamente normal, é argumento contra a possibilidade dessa doença:
piramidal nos membros acometidos por fraqueza;
deficit sensitivo.
Quadro 1 – Diagnóstico diferencial de botulismo
Condição Fraqueza muscular Sensibilidade Características do líquor
Botulismo
Presente, simétrica e descendente
Envolve a face
Alterações discretas
(parestesias)
Não há deficit
sensitivo
Normal ou com leve
hiperproteinorraquia
Síndrome de
Guillain-Barré
Ascendente e simétrica
O envolvimento da face é menos
comum que no botulismo
Hipoestesia em bota
e luva
Deficit de
sensibilidade profunda
Parestesias
Dissociação proteíno-citológica
Hiperproteinorraquia
Celularidade normal ou
discretamente elevada
3
)
Na 1a semana, pode ser normal
Síndrome de Muller-
Fisher (variante da
Síndrome de
Guillain-Barré)
Fraqueza simétrica da face
Diplegia facial, ptose palpebral,
dificuldade de mastigação e
de deglutição
Não há comprometimento de membros
Parestesias ou
diminuição da
sensibilidade da face e
da língua
Dissociação proteíno-citológica
Hiperproteinorraquia
Celularidade normal ou
discretamente elevada
3
)
Miastenia gravis
Flutuante envolvimento ocular (ptose
palpebral e diplopia) é frequente
Normal Normal
Tratamento
O êxito da terapêutica do botulismo está diretamente relacionado à precocidade com que é iniciada
e às condições do local onde será realizada.
O tratamento deve ser realizado em unidade hospitalar que disponha de unidade de terapia intensiva
(UTI). Observa-se significativa redução da letalidade quando o paciente é tratado nessas unidades.
Basicamente, o tratamento da doença se apoia em dois conjuntos de ações: tratamento de suporte e
tratamento específico.
Botulismo
Guia de Vigilância em Saúde
200
Tratamento de suporte
As medidas gerais de suporte e monitorização cardiorrespiratória são as condutas mais importantes
no tratamento do botulismo. A disfagia, regurgitação nasal, comprometimento dos movimentos da
língua, palato e, principalmente, da musculatura respiratória são sinais indicativos de gravidade e exigem
atenção redobrada e ação imediata para evitar broncoaspiração e insuficiência respiratória. Nesses
casos, a assistência ventilatória é essencial para evitar o óbito, podendo ser necessária por 4 (toxina tipo
B) a 8 semanas (toxina tipo A) ou mais, se houver complicações. O tratamento de suporte baseia-se
fundamentalmente nos seguintes procedimentos:
intubação traqueal num paciente com botulismo, não é necessário esperar que a PCO2
esteja
elevada ou que a saturação de O2
diminua, pois a espera de tais sinais pode representar maior
risco de instalação da insuficiência respiratória. Os critérios para indicação de intubação são
essencialmente clínicos. Para indicá-la, pode-se basear em cuidadosa avaliação da capacidade
do paciente em garantir a permeabilidade das vias aéreas superiores. As paralisias podem causar
asfixia e obstruções respiratórias altas (observar a mobilidade da língua e do palato, disfonia e
disfagia); capacidade vital (aferida por espirômetro): em geral, a intubação é indicada quando a
objetivo de eliminar a toxina do aparelho digestivo, exceto naqueles em que houver íleo paralítico;
ser mantidas até que a capacidade de deglutição seja recuperada.
Os antimicrobianos aminoglicosídeos e tetraciclinas podem piorar a evolução do botulismo, es-
pecialmente em crianças, devido à redução da entrada de cálcio no neurônio, potencializando o
bloqueio neuromuscular.
Tratamento específico
Visa eliminar a toxina circulante e sua fonte de produção, pelo uso do soro antibotulínico (SAB) e de
antibióticos. Antes de iniciar o tratamento específico, todas as amostras clínicas para exames diagnósticos
devem ser coletadas.
O SAB atua contra a toxina circulante, que ainda não se fixou no sistema nervoso. Por isso,
recomenda-se que o tratamento com SAB seja realizado o mais precocemente possível (até 7 dias
a partir dos sintomas neurológicos); caso contrário, poderá não mais ser eficaz. Apresenta-se em
forma de soro heterólogo, equino, geralmente em apresentação bivalente (contra os tipos A e B) ou
trivalente (tipos A, B e E).
A dose é uma ampola de antitoxina botulínica bi ou trivalente por via intravenosa, diluída em solu-
ção fisiológica a 0,9%, na proporção de 1:10, para infundir em aproximadamente 1 hora.
A solicitação do SAB para as unidades de tratamento deve ser realizada pelo médico que suspei-
tou do caso à vigilância epidemiológica municipal, que acionará a vigilância epidemiológica estadual,
que, por sua vez, acionará a Coordenação Estadual de Imunização. Sua liberação estará condicionada
ao envio, para o e-mail botulismo@saude.gov.br, da ficha de notificação do caso suspeito, devidamen-
te preenchida, junto a relatório sucinto do quadro clínico e à prescrição de SAB assinada e carimbada
pelo médico.
201
A tomada de decisão deve ser conjunta e criteriosa, de acordo com o enquadramento na definição de
caso e prazo estabelecido para administração do soro. Tal decisão deve ser registrada por e-mail enviado pela
CGDT (botulismo@saude.gov.br) à VE estadual e à Coordenação Geral do Programa Nacional de Imuni-
zações (CGPNI). A VE estadual, por sua vez, será responsável por encaminhar esse e-mail para liberação
do SAB à Coordenação Estadual de Imunização, que o enviará à Unidade de Saúde onde o paciente estiver.
A indicação da antitoxina deve ser criteriosa, pois não é isenta de riscos, uma vez que de 9 a 20% das pes-
soastratadaspodemapresentarreaçõesdehipersensibilidade.Noscasosdebotulismoporferimento,recomen-
crianças, em doses fracionadas de 4 em 4 horas, via intravenosa, por 7 a 10 dias. O metronidazol também pode
O debridamento cirúrgico deve ser realizado nos casos de botulismo por ferimento, preferencial-
mente após o uso do SAB, mesmo quando a ferida tem bom aspecto.
No botulismo intestinal, em menores de 1 ano de idade, acredita-se que a lise de bactérias na luz
intestinal, provocada pelo antibiótico, pode piorar a evolução da doença por aumento dos níveis de toxina
circulante. Em adultos, esse efeito não tem sido descrito, mas deve ser considerado quando a porta de
entrada para a doença for o trato digestivo. O SAB e a antibioticoterapia não estão indicados para crianças
menores de 1 ano de idade com botulismo intestinal. No botulismo alimentar, a indicação de antibióticos
ainda não está bem estabelecida.
Reposição do SAB
Após administração de SAB no paciente, a Coordenação Estadual de Imunização deverá solicitar à
CGPNI a reposição do insumo utilizado, nos pedidos de rotina mensal ou após a utilização, caso todo o
estoque estadual tenha sido utilizado.
Prognóstico
O tratamento de suporte adequado pode resultar em completa recuperação. A letalidade do botu-
lismo diminui de forma considerável quando a assistência médica aos pacientes é prestada em unidades
de terapia intensiva (UTI). Mortes precoces geralmente resultam de falha em reconhecer a gravidade da
doença e retardo em iniciar o tratamento. Quando ocorrem após a segunda semana, resultam em compli-
cações, geralmente associadas à ventilação prolongada.
Características epidemiológicas
A distribuição do botulismo é mundial, com casos esporádicos ou surtos familiares, em geral relacio-
nados à produção e à conservação de alimentos de maneira inadequada.
No Brasil, a notificação de surtos e casos isolados passou a ser feita de forma sistemática a partir de
1999 e até hoje, na maioria dos casos investigados, a toxina identificada foi a do tipo A e os alimentos mais
envolvidos foram conservas caseiras de carne suína (carne de lata), palmito (caseiro ou industrializado),
patê (caseiro ou industrializado), tortas salgadas e tofu caseiro.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
e letalidade da doença.
Botulismo
Guia de Vigilância em Saúde
202
Definição de caso
Suspeito
Caso suspeito de botulismo alimentar e botulismo por ferimentos
Indivíduo que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com preservação do nível
de consciência, caracterizada por um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: visão turva, diplopia, ptose
palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispneia.
A exposição a alimentos potencialmente suspeitos da presença da toxina botulínica nos últimos
10 dias ou história de ferimentos nos últimos 21 dias reforça a suspeita.
Caso suspeito de botulismo intestinal
-
sente um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: constipação, sucção fraca, disfagia, choro fraco,
dificuldade de controle dos movimentos da cabeça.
consciência, caracterizada por um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: visão turva, diplopia,
ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispneia, na ausência de fontes prováveis de toxina
botulínica, como: alimentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas.
A exposição a alimentos com risco para presença de esporo de C. botulinum (por exemplo, mel,
xaropes de milho) reforça a suspeita em menores de 1 ano.
Confirmado
Critério laboratorial
-
mente consumido.
C. botulinum, produ-
tor de toxinas, em amostras de fezes ou material obtido do ferimento.
Critério clínico-epidemiológico
Caso suspeito com vínculo epidemiológico com o caso confirmado e/ou história de consumo de ali-
mento com risco para a presença da toxina botulínica, 10 dias antes dos sinais e sintomas, e/ou eletroneu-
romiografia compatível com botulismo e/ou ferimento em condições de anaerobiose, nos últimos 21 dias.
Óbito
Indivíduo que foi a óbito com quadro clínico compatível com botulismo, com confirmação clínico-
-epidemiológica e/ou clínico-laboratorial.
203
Notificação
Devido à gravidade da doença e à possibilidade de ocorrência de outros casos resultantes da
ingestão da mesma fonte de alimentos contaminados, um caso é considerado surto e emergência
de saúde pública. Todo caso suspeito de botulismo exige notificação à vigilância epidemiológica lo-
cal imediatamente (até 24 horas) e, posteriormente, a notificação deve ser registrada no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan) por meio do preenchimento da Ficha de Investigação
do Botulismo.
Investigação
Todo caso suspeito de botulismo deve ser investigado imediatamente, visando impedir a ocorrência
de novos casos.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da Ficha de Investigação do Botulismo relativos a dados gerais, notifica-
ção individual e residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
- Anotar os dados da história e manifestações clínicas.
- Caracterizar clinicamente o caso.
- Verificar se já foi coletado e encaminhado material para exame diagnóstico (amostras clínicas e
bromatológicas).
- Determinar as prováveis fontes de infecção.
- Acompanhar a evolução clínica dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Para identificação e determinação da extensão da área de ocorrência de casos
- Realizar busca ativa de casos, sobretudo de sintomatologia leve, entre aqueles que consumiram
os mesmos alimentos que os casos suspeitos, nas unidades de saúde que atendem à população
circunvizinha à residência dos casos e nos hospitais com UTI.
- Quando a fonte da contaminação for um alimento de larga distribuição, seja de origem in-
dustrial ou artesanal, toda a área de distribuição do alimento suspeito deverá ser rastreada no
intuito de se buscar novos casos suspeitos e interromper o consumo do alimento envolvido.
Encerramento de caso
O caso de botulismo deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias, de acordo com os critérios
de definição de caso.
Medidas de prevenção e controle
Orientar as medidas de prevenção e controle, de acordo com o modo de transmissão e resultados da
investigação do caso. Nos casos de transmissão alimentar, deve-se eliminar a permanência da fonte através
da interrupção do consumo, distribuição e comercialização dos alimentos suspeitos.
Apesar de a toxina botulínica ser letal e apenas uma pequena quantidade causar doença, as toxinas
são termolábeis e podem ser destruídas se aquecidas a 80°C por, no mínimo, 10 minutos.
Botulismo
Guia de Vigilância em Saúde
204
Para a prevenção da produção de toxina botulínica pelo C. botulinum, é importante que haja:
-
gem, fermentação ou acidificação;
Imunização
A administração do toxoide botulínico polivalente é recomendada apenas a pessoas com atividade
associada à manipulação do microrganismo.
Ações de educação em saúde
Orientar a população sobre o preparo, conservação e consumo adequado dos alimentos associados
a risco de adoecimento.
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi-
ológica. Manual integrado de vigilância epidemiológica do botulismo. Brasília, 2006.
-
ológica. Nota Informativa conjunta no
19 de 2016 - CGDT/CGPNI/DEVIT/SVS/MS.
205
Cólera
CID 10: A00
Características gerais
Descrição
Doença infecciosa intestinal aguda, causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae O1 ou O139, com
manifestações clínicas variadas. Frequentemente, a infecção é assintomática ou oligossintomática, com
diarreia leve. Pode também se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa e profusa, com ou sem
vômitos, dor abdominal e cãibras. Quando não tratada prontamente, pode ocorrer desidratação intensa,
levando a graves complicações e ao óbito.
Sinonímia
Cólera morbo, cólera asiática.
Agente etiológico
A cólera é causada pelo Vibrio cholerae toxigênico dos sorogrupos O1 ou O139. Outros sorogrupos
(não O1 e não O139), toxigênicos ou não, assim como cepas não toxigênicas dos sorogrupos O1 e O139,
também podem causar diarreia, porém menos severa que a cólera e sem potencial epidêmico.
O V. cholerae O1 pode ser classificado em dois biotipos, Clássico e El Tor, os quais apresentam diferen-
tes propriedades fenotípicas e genotípicas, patogenicidade e padrões de infecção e sobrevivência nos hospe-
deiros humanos. As estirpes de El Tor são frequentemente associadas a infecções assintomáticas, menor taxa
de mortalidade, melhor sobrevida no ambiente e no hospedeiro humano e maior eficiência da transmissão
pessoa a pessoa, quando comparadas às estirpes clássicas, que causam manifestações clínicas mais graves.
Reservatório
O Vibrio cholerae tem como reservatórios o homem (portadores assintomáticos) e o ambiente aquáti-
co. O V. cholerae faz parte da microbiota marinha e fluvial e pode se apresentar de forma livre ou associado
a crustáceos, moluscos, peixes, algas, aves aquáticas, entre outros, incluindo superfícies abióticas. Algu-
mas dessas associações permitem que a bactéria persista no ambiente durante períodos interepidêmicos,
além de possibilitar a ocorrência de transmissão da cólera pelo consumo de peixes, mariscos e crustáceos
crus ou malcozidos.
Modo de transmissão
A transmissão da cólera ocorre por via fecal-oral e pode ser direta ou indireta:
Transmissão direta
Transmissão indireta
Período de incubação
Varia de algumas horas a 5 dias. Na maioria dos casos, esse período é de 2 a 3 dias.
Período de transmissibilidade
Perdura enquanto houver eliminação do agente etiológico nas fezes, o que ocorre, na maioria dos
casos, até poucos dias após a cura. Para fins de vigilância, o período aceito como padrão é de 20 dias.
Cólera
Guia de Vigilância em Saúde
206
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas mais frequentes da cólera são diarreia e vômitos, com diferentes graus de
intensidade. Também pode ocorrer dor abdominal e, nas formas severas, cãibras, desidratação e choque.
Febre não é uma manifestação comum. Nos casos graves, mais típicos, aproximadamente 20% dos in-
fectados, o início é súbito, com diarreia aquosa, abundante e incoercível, com inúmeras dejeções diárias.
Nesses casos, a diarreia e os vômitos determinam uma extraordinária perda de líquidos, que pode ser da
ordem de 1 a 2 litros por hora. Tal quadro leva rapidamente à desidratação intensa e deve ser tratado pre-
coce e adequadamente, para se evitar a ocorrência de complicações e óbito.
Complicações
As complicações da cólera são decorrentes da depleção hidrossalina, imposta pela diarreia e pelos
vômitos, e ocorrem mais frequentemente em indivíduos idosos, diabéticos, desnutridos, portadores do
vírus HIV e com patologia cardíaca prévia
A desidratação não corrigida levará à deterioração progressiva da circulação, da função renal e do
balanço hidroeletrolítico, causando dano a todos os sistemas do organismo. Como consequência, podem
ocorrer choque hipovolêmico, necrose tubular renal, atonia intestinal, hipocalemia (levando a arritmias
cardíacas) e hipoglicemia (com convulsões e coma em crianças). Em gestantes, o choque hipovolêmico
pode induzir a ocorrência de aborto e parto prematuro.
Diagnóstico
Diagnóstico laboratorial
É realizado a partir do cultivo de amostras de fezes ou vômitos. Quando o V. cholerae é isolado, a
cepa deve ser enviada ao laboratório de referência nacional para realização da caracterização bioquímica,
sorológica e molecular.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser realizado considerando-se todas as doenças diarreicas agudas,
por isso, outros enteropatógenos devem ser pesquisados. Dessa forma, recomenda-se que as amostras
clínicas sejam coletadas e encaminhadas ao laboratório de forma simultânea, para análise viral, bacte-
riana e parasitológica.
Tratamento
O tratamento eficiente da cólera se fundamenta na rápida reidratação dos pacientes, através da
administração de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, depen-
dendo da gravidade do caso. Aproximadamente 80% dos casos de cólera desenvolvem sintomas leves
ou moderados e devem ser tratados por meio da administração de líquidos e SRO (planos A e B). Os
pacientes que apresentem desidratação grave devem ser tratados através da administração de fluidos
endovenosos (plano C).
Para identificar o grau de desidratação do paciente e decidir o plano de tratamento adequado, os
sinais e sintomas devem ser observados de acordo com o quadro 1.
207
Quadro 1 – Avaliação do estado de hidratação do paciente e definição do plano de
tratamento adequado
OBSERVE
Estado geral Bem alerta Irritado, intranquilo Comatoso, hipotônico
Olhos Normais Fundos Muito fundos
Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes
Sede Bebe normalmente
Sedento, bebe rápido e
avidamente
Bebe com dificuldade ou é incapaz de beber*
EXPLORE
Sinal de prega Desaparece rapidamente Desaparece lentamente
Desaparece muito lentamente
(mais de 2 segundos)
Pulso Cheio Rápido, fraco Muito fraco ou ausente*
Enchimento capilar Normal (até 3 segundos)
Prejudicado
(de 3 a 5 segundos)
Muito prejudicado
(mais de 5 segundos)*
DECIDA
Grau de hidratação
SEM SINAIS DE
DESIDRATAÇÃO
Se apresentar dois
ou mais sinais:
DESIDRATAÇÃO
Se apresentar dois ou mais sinais, incluindo
pelo menos um dos destacados com asterísco
(*): DESIDRATAÇÃO GRAVE
TRATE
Plano de tratamento Use Plano A Use Plano B Use Plano C
Plano A (para prevenir a desidratação no domicílio)
Destina-se a pacientes com diarreia SEM sinais de desidratação.
O tratamento é domiciliar. Explicar ao paciente ou acompanhante o que fazer no domicílio.
- O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, soro caseiro, chá, suco e sopas) ou SRO
após cada evacuação diarreica (Quadro 2).
- Não se deve utilizar refrigerantes nem adoçar o chá ou suco.
- continuar o aleitamento materno;
- manter a alimentação habitual para as crianças e adultos.
levá-lo imediatamente ao serviço de saúde:
- piora da diarreia;
- vômitos repetidos;
- muita sede;
- recusa de alimentos;
- sangue nas fezes;
- diminuição da diurese.
- Até 6 meses de vida .
- Acima de 6 meses de vida .
Cólera
Guia de Vigilância em Saúde
208
Quadro 2– Quantidade de líquidos que deve ser administrada/ingerida após cada evacuação
diarreica, de acordo com a faixa etária
Idade Volume
Menor de 1 ano 50-100mL
De 1 a 10 anos 100-200mL
Maior de 10 anos Quantidade que o paciente aceitar
Plano B (para tratar a desidratação por via oral na unidade de saúde)
Destina-se a pacientes COM sinais de desidratação, mas com capacidade de ingerir líquidos, que
devem ser tratados com SRO na unidade de saúde, onde deverão permanecer até a reidratacão completa.
- a quantidade de solução ingerida depende da sede do paciente;
- aSROdeveseradministradacontinuamente,atéquedesapareçamossinaisesintomasdedesidratação;
administrados no período de 4 a 6 horas.
- Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilizar o Plano A.
- Se continuar desidratado após o período de 4 horas, repetir o Plano B por mais 2 horas e reava-
liar, ou indicar a sonda nasogástrica (gastróclise).
- Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o Plano C.
- reconhecer os sinais de desidratação;
- preparar e administrar a SRO;
- manter a alimentação habitual; e
- praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da
água, higienização dos alimentos).
Plano C (tratar a desidratação grave na unidade hospitalar)
Destina-se a pacientes com diarreia e desidratação grave.
Se o paciente apresentar sinais e sintomas de desidratação grave, com ou sem choque (palidez acen-
tuada, pulso radial filiforme ou ausente, hipotensão arterial, depressão do sensório), a sua reidratação
deve ser iniciada imediatamente por via endovenosa, em duas fases para todas as faixas etárias: fase rápida
e fase de manutenção e reposição (Quadro 3).
Avaliar o paciente continuamente. Se não houver melhora da desidratação, deve-se aumentar a
velocidade de infusão.
-
ção venosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação endovenosa.
quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um pa-
ciente para outro, dependendo do volume das evacuações.
de saúde até que estejam hidratados e conseguindo manter a hidratação por via oral.
209
Quadro 3 – Esquemas de reidratação para pacientes com desidratação grave, de acordo com a
faixa etária
Fase rápida – menor de 5 anos (fase de expansão)
Solução Volume Tempo de administração
Soro fisiológico 0,9%
Iniciar com 20mL/kg
Repetir essa quantidade até que a criança esteja hidratada,
reavaliando os sinais clínicos após cada fase de expansão
administrada 30 minutos
Para recém-nascidos e cardiopatas graves, começar com
10mL/kg
Fase rápida – maior de 5 anos (fase de expansão)
Solução Volume total Tempo de administração
1º Soro fisiológico 0,9% 30mL/kg 30 minutos
2º Ringer-lactato
ou
solução polieletrolítica
70mL/kg 2 horas e 30 minutos
Fase de manutenção e reposição para todas as faixas etárias
Solução Volume em 24 horas
Soro glicosado 5% + soro fisiológico
0,9% na proporção de 4:1
(manutenção)
+
Peso até 10kg 100mL/kg
Peso de 10 a 20kg
1.000mL + 50mL/kg de
peso que exceder 10kg
Peso acima de 20kg
1.500mL + 20mL/kg de
peso que exceder 20kg
Soro glicosado 5% + soro fisiológico
0,9% na proporção de 1:1 (reposição)
+
Iniciar com 50mL/kg/dia. Reavaliar esta quantidade de acordo com as perdas do paciente
KCl 10% 2mL para cada 100mL de solução da fase de manutenção
-
ção da duração da diarreia e dos episódios sucessivos. Para crianças com menos de 6 meses de idade,
recomenda-se a administração de 10mg de zinco por dia; para crianças com mais de 6 meses, a dose re-
comendadaéde20mgpordia.Emambososcasos,aadministraçãodevesermantidaporduassemanas.
Uso de antibióticos
A reidratação rápida e apropriada é a principal intervenção de manejo para tratamento de casos de cóle-
ra (por via oral nos casos leves e moderados e por via endovenosa nos casos graves). Em casos de cólera com
desidratação grave, podem ser administrados antibióticos apropriados, para diminuir a duração da diarreia,
reduzir o volume de fluidos de reidratação necessário e encurtar a duração da excreção de V. cholerae.
Quadro 4 – Antibióticos que podem ser utilizados em casos de cólera com desidratação grave
(em conjunto com a reidratação endovenosa)
Adultos Crianças Gestantes
Medicamentos de
1ª escolha
Outras opções
Medicamentos de 1ª
escolha
Outras opções
Medicamentos de
1ª escolha
Outras opções
Doxiciclina 300mg
(dose única)
Azitromicina
1,0g (dose única)
Eritromicina 12,5mg/kg
(6 em 6 horas por 3 dias)
Doxiciclina
2 a 4mg/kg
(dose única)
Eritromicina 500mg
(6 em 6 horas por
3 dias)
-
Ciprofloxacino
1,0g
(dose única)
Azitromicina 20mg/kg
(dose única)
Ciprofloxacino
20mg/kg
(dose única)
Azitromicina 1,0g
(dose única)
-
Cólera
Guia de Vigilância em Saúde
210
Características epidemiológicas
A deficiência do sistema de abastecimento de água tratada, a falta de saneamento básico, o destino
inadequado dos dejetos, a alta densidade populacional, as carências habitacionais e a higiene inadequada
favorecem a instalação e rápida disseminação do V. cholerae. A incidência é maior nos períodos mais secos
do ano, quando há diminuição do volume de água nos reservatórios e mananciais.
A 7a
pandemia de cólera, iniciada em 1961 nas Ilhas Célebes e causada pelo Vibrio cholerae El Tor,
chegou ao Brasil em 1991 pela fronteira do Amazonas com o Peru, expandindo-se de forma epidêmica
para as regiões Norte e Nordeste e fazendo incursões ocasionais nas demais regiões. A partir de 1995,
a doença tornou-se endêmica, com 95% dos casos concentrados na região Nordeste. Após o início da
epidemia no país, o ano de 1993 registrou o maior número de casos (mais de 60.000) e de óbitos (670). A
partir daí, o número de casos oscilou, com declínio gradativo até 2001, quando foram registrados 7 casos,
procedentes dos estados do Ceará, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Os últimos casos autóctones foram
registrados em 2004 (21 casos em Pernambuco) e em 2005 (5 casos em Pernambuco). Posteriormente, 3
casos importados foram identificados, sendo um caso procedente de Angola, em 2006, um caso proceden-
te da República Dominicana, em 2011, e um caso procedente de Moçambique, em 2016.
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Definições de caso
Caso suspeito
Em áreas sem evidência de circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico, são considerados
casos suspeitos:
casos de cólera, que apresente diarreia aquosa aguda até o 10º dia de sua chegada;
e que apresente diarreia aquosa aguda em até 10 dias após o contato, independentemente da faixa etária.
presença de desidratação rápida, acidose e colapso circulatório reforça a suspeita. Em locais onde a
sensibilidade e a capacidade operacional do Sistema de Vigilância Epidemiológica permitam, esse
limite deverá ser modificado para maiores de 5 anos.
Em áreas com evidência de circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico:
Caso confirmado
Critério laboratorial
Caso suspeito que apresente isolamento de V. cholerae O1 ou O139 toxigênico em amostra de fezes
ou vômito.
211
Além de permitir a confirmação de casos, a análise laboratorial é importante para avaliar e monito-
rar as características das cepas circulantes e a ocorrência de resistência a antibióticos.
O exame laboratorial só confirma ou descarta o caso se o laudo for emitido por Laboratórios de
Referência em Saúde Pública.
Há evidencias de que é possível ocorrer septicemia causada por Vibrio cholerae. Como são casos
raros, devem ser investigados e relatados ao Ministério da Saúde. Entretanto, somente devem ser notifi-
cados no Sinan se estiverem de acordo com a definição de caso suspeito de cólera. Ressalta-se ainda que
a identificação de Vibrio cholerae em hemocultura não configura critério laboratorial para confirmação
de cólera.
Critério clínico-epidemiológico
Em áreas sem evidência de circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico
- Qualquer indivíduo, com 5 ou mais anos de idade, proveniente de área com circulação de V.
cholerae O1 ou O139 toxigênico, que apresente diarreia aquosa aguda até o 10º dia de sua
chegada. Esse caso será considerado caso importado para a região onde foi atendido, desde
que outra etiologia tenha sido afastada laboratorialmente, e será considerado autóctone para a
região da qual procedeu.
Em áreas com circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico
- Qualquer indivíduo com no mínimo 5 anos de idade que apresente diarreia aquosa aguda,
desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra etiologia.
- Menores de 5 anos de idade que apresentem diarreia aquosa aguda e história de contato com
caso de cólera num prazo de 10 dias, desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial
de outra etiologia.
No caso de paciente adulto procedente de área de circulação de V. cholerae O1 ou O139 toxigênico,
um exame laboratorial com resultado negativo só descarta o caso se houver segurança de que a co-
leta e o transporte da amostra foram realizados de maneira adequada.
Portador assintomático
Indivíduo que, sem apresentar os sinais e sintomas da doença, atua como reservatório e elimina o
agente etiológico por determinado período de tempo, podendo ser responsável pela introdução de epide-
mia em área indene ou pela manutenção da circulação do V.cholerae O1 ou O139 toxigênico no ambiente.
-
tam de antibioticoterapia.
Descartado
Todo caso suspeito que não se enquadrar nas definições de casos confirmados.
Caso importado
É o caso em que a infecção ocorreu em área diferente daquela onde foi diagnosticado, tratado ou
teve sua evolução. Nessa situação, o local de procedência deve ser notificado, para apoiar a investigação.
Cólera
Guia de Vigilância em Saúde
212
Notificação
Todo caso suspeito ou confirmado de cólera deverá ser notificado de forma imediata pelo profissio-
nal de saúde ou responsável pelo serviço assistencial que prestar o primeiro atendimento ao paciente, em
até 24 horas, pelo meio mais rápido disponível. A autoridade de saúde que receber a notificação compul-
sória imediata deverá informá-la, em até 24 horas desse recebimento, às demais esferas de gestão do SUS.
A notificação, independentemente da forma como for realizada, também deverá ser registrada no
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e seguirá o fluxo de compartilhamento entre as
esferas de gestão do SUS estabelecido pela SVS/MS.
Investigação
A investigação (Figura 1) deve ser iniciada imediatamente após a notificação do caso suspeito ou
confirmado, utilizando-se a Ficha de Investigação da Cólera. Tal investigação tem como objetivo identi-
ficar a fonte de infecção e o modo de transmissão; confirmar o diagnóstico; identificar grupos expostos a
maior risco e fatores de risco; determinar as principais características epidemiológicas; e orientar quanto
às medidas de prevenção e controle.
A investigação de todos os casos suspeitos e confirmados está recomendada para todas as áreas si-
lenciosas. Nas outras áreas, em situações de surto, recomenda-se a investigação de todos os casos durante
o início do evento. A partir da progressão do processo epidêmico e do aumento do número de casos, a
investigação completa deve ser realizada à medida que os limites operacionais o permitam.
Em algumas áreas, o conjunto de condições socioeconômicas e culturais pode favorecer a instalação
e rápida disseminação do V. cholerae. A análise da distribuição dos casos, de acordo com as áreas de ocor-
rência, proporcionará o conhecimento do comportamento da cólera, em todos os níveis, e subsidiará o
planejamento e o direcionamento espacial das medidas de prevenção e controle.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos dos itens relativos aos dados gerais, notificação individual e residência.
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmação da suspeita diagnóstica
- Caracterização clínica do caso: evolução dos sinais e sintomas; características da diarreia e do
vômito; grau de desidratação. Deverá ser observado se já foi iniciada a reidratação oral.
- Se indicada a investigação laboratorial, coletar (antes da utilização de antibióticos) e encami-
nhar ao laboratório, amostra de fezes ou vômito, caso esse procedimento não tenha sido ainda
efetuado por profissionais da unidade de saúde (verificar qualidade da amostra coletada).
- Acompanhar a evolução do(s) caso(s) e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Para identificação da área de transmissão
- Reconstituir as atividades realizadas pelo caso, nos dez dias que precederam ao início da diar-
reia aquosa aguda, tais como:
. investigar a história de deslocamentos no município (urbano/rural), estado e país, bem como
o tempo de permanência;
. verificar se a área de procedência do caso tem ocorrência de cólera;
. examinar histórias de contato com caso compatível com cólera;
. investigar sobre o histórico alimentar
213
História do
deslocamento
Condições de
saneamento
no domicílio
Condições de
saneamento
no trabalho
História de
contato com
caso confirmado
Dentro da própria
área de ocorrência
rural ou urbana
Em trânsito
Urbana ou rural
Com casos
registrados
Verificar se é da
mesma área de
procedência de
casos anteriores
Verificar o
trajeto durante
os últimos
10 dias que
antecederam
os sintomas
De área urbana
do mesmo
município
para área rural
e vice-versa
De um
município/estado
Em trânsito – vide
origem do caso
Discutir informações
com equipe técnica
(saneamento,
vigilância ambiental,
educação em saúde,
laboratório)
Investigar a fonte
provável de
infecção caso ainda
não seja conhecida
Para identificação
da área de
transmissão
(visita domiciliar
e à comunidade)
Vigilância
ambiental
Saneamento
Educação
em saúde
Vigilância
sanitária
Para determinação
da extensão da
transmissão
Para determinação
da provável fonte
de infecção
Alimentos
Água
Efluentes
Identificação da fonte de contaminação
Coleta de água para exame bacteriológico
Identificação da fonte de contaminação
Coleta de água para exame bacteriológico
Identificação da fonte de contaminação
Coleta de material para exame bacteriológico
Adoção de
medidas
pertinentes
Vigilância de novos casos de
diarreia nos próximos 30 dias,
por meio da monitorização
das doenças diarreicas (MDDA)
Proceder como
novo caso suspeito
Educação
em saúde
Assintomático
Sintomático
Investigação
de contatos
Caso suspeito
Vibrio cholerae
Desencadeia
investigação
Adoção e/ou
fortalecimento
de medidas de
prevenção e controle
Figura 1 – Fluxograma de investigação de casos suspeitos de cólera
Cólera
Guia de Vigilância em Saúde
214
. buscar informações sobre a água para consumo humano (fontes de abastecimento, qualidade
e tratamento), sobre a situação da disposição dos dejetos e resíduos sólidos e sobre a realização
de monitoramento ambiental para identificação do V. cholerae.
Para determinação da extensão da área de transmissão
- Realizar levantamento dos casos de doença diarreica aguda, no local de ocorrência de casos sus-
peitos de cólera, visando verificar o aumento de incidência, principalmente em maiores de 5 anos.
- Realizar busca ativa nas áreas de provável procedência:
. áreas com casos confirmados
rua, ou toda a comunidade, dependendo do tamanho da área de ocorrência, da distribuição
dos casos e da capacidade operacional), nos serviços de saúde, farmácias, curandeiras, por
meio de entrevistas com lideranças comunitárias;
. áreas silenciosas
que a doença não esteja ocorrendo. A falta de conhecimento sobre a doença, a ocorrência de
oligossintomáticos e o difícil acesso da população aos serviços de saúde contribuem para a
existência de áreas silenciosas;
. áreas de risco -
te a ocorrência de surtos e desencadear as medidas de prevenção e controle adequadas.
Para determinação da fonte de infecção
- Identificar a procedência da água de consumo humano e cuidados com o tratamento.
- Identificar a procedência de alimentos ingeridos crus (frutas, legumes e verduras).
- Coletar amostras de alimentos de água para consumo humano e amostras ambientais, o mais
precocemente possível, considerando os resultados das investigações realizadas e as orientações
técnicas do laboratório.
- Investigar indivíduos que manipulam alimentos, principalmente quando houver surto com pro-
vável fonte alimentar comum (restaurantes ou refeitórios).
- Investigar prováveis portadores sadios.
Não aguardar os resultados das análises laboratoriais para desencadear outras atividades de
investigação e as medidas de controle.
Encerramento de caso
O caso de cólera deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias da notificação. A classificação
final do caso deve seguir os critérios descritos no item Definição de caso.
Informações complementares
Monitorização das doenças diarreicas agudas
É de fundamental importância que as equipes de vigilância epidemiológica locais implantem ou
implementem a Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA) em sua área de abrangência,
acompanhando seu comportamento no tempo e sua distribuição por faixa etária.
Área de circulação do V. cholerae
Aquela onde já foi isolado o V. cholerae O1 ou O139 toxigênico em, pelo menos, 5 amostras (clínicas
autóctones e/ou ambientais).
215
Área de risco para cólera
Local ou região onde o conjunto de condições socioeconômicas e ambientais favorece a instalação e
rápida disseminação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico.
É necessário delimitar o micro ou o macroambiente e os locais de suposta circulação do agente etiológico,
para se definir o caráter e a abrangência das ações preventivas e assistenciais de saúde pública. A delimitação
dessas áreas deve ser definida pelo nível local, não precisando, necessariamente, obedecer aos limites impostos
por fronteiras político-administrativas. A área de risco pode ser uma única residência, uma rua, um bairro etc.
Fatores ambientais, populacionais e de serviços, que devem ser considerados para definição e deli-
mitação de áreas de risco, são:
-
mente em áreas sujeitas a ciclos de cheias e secas);
per capita;
outros locais);
deficit na oferta de serviços de atenção à saúde;
A delimitação da área de risco é feita associando-se dados referentes ao isolamento do agente etioló-
gico aos fatores mencionados. A identificação e a delimitação dessas áreas são importantes para priorizar
o desenvolvimento das ações de controle e devem ser redefinidas à medida que novos fatores e novas áreas
de circulação sejam identificados.
Medidas de prevenção e controle
Uma das ações prioritárias é o investimento público para melhoria da infraestrutura dos serviços de
abastecimento de água para consumo humano, coleta e tratamento de esgotos e resíduos sólidos, no senti-
do de prover a população de condições adequadas de saneamento básico, contribuindo para a prevenção,
controle e redução dos riscos e casos da doença. Essas medidas deverão ser realizadas pela vigilância epi-
demiológica, sanitária e ambiental, assistência à saúde, saneamento, educação em saúde, órgãos de meio
ambiente e de recursos hídricos, para implementação de atividades de controle da doença. Dessa forma,
para prevenção e controle da cólera, orienta-se a realização das seguintes ações.
-
dos, tanto domésticos quanto das unidades de saúde.
de saúde. Realização de monitoramento ambiental do V. cholerae.
no comércio ambulante. Estabelecimento de processos de trabalho para se garantir a qualidade dos
processos de limpeza, desinfecção e sanitização, especialmente para serviços de saúde e para a área
de preparo de alimentos.
Cólera
Guia de Vigilância em Saúde
216
-
clorito de sódio 2,5% e, na falta da solução de hipoclorito de sódio 2,5%, orientar quanto à neces-
sidade de ferver a água durante 5 minutos, marcando os 5 minutos após o início da fervura.
São medidas não recomendadas e totalmente inócuas as tentativas de prevenção e controle da cólera
por meio da quimioprofilaxia de massa, e da restrição à circulação de pessoas e mercadorias. Diante da
ameaça da cólera, as pressões para que se adotem tais tipos de medidas são geradas pelo pânico entre a
população ou pela desinformação dos profissionais.
Tratamento da água no domicílio com solução de hipoclorito de sódio (2,5%)
O tratamento da água em domicílios deve obedecer aos seguintes passos.
O acondicionamento da água já tratada deve ser feito em recipientes higienizados que possam ser
hermeticamente fechados, preferencialmente de boca estreita, para evitar a contaminação posterior
pela introdução de utensílios utilizados para retirada da água (canecos, conchas e outros).
(descer o material em suspensão) até que fique limpa. Após a decantação, coletar a água da parte de
cima do vasilhame e colocar em uma vasilha limpa. Colocar duas gotas de solução de hipoclorito
de sódio a 2,5% para cada litro de água, para inativação de microrganismos que causam a doença.
Bibliografia
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tico laboratorial. Brasília, 1992. 32 p.
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cies em estabelecimento de saúde. Brasília, 1993.
Cólera, transmissão e prevenção em ali-
mentos e ambiente. Brasília, 1993. 43 p.
-
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Brasília, 1993. 35 p.
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de saneamento para prevenção e controle. Brasília, 1994. 51 p.
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Brasília, 2010.
-
ológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed., rev. Brasília, 2010.
-
ológica. Manual Integrado de Vigilância Epidemiológica da Cólera. Brasília, 2010.
-
ológica. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimen-
tos. Brasília, 2010.158 p.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Media centre – CHOLERA. Atualizado em outubro de 2016.
Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs107/en/>. Acesso em: 23 jan. 2017.
RIBEIRO JÚNIOR, H. C; MATTOS, A. P.; ALMEIDA, I. R. Diarreia aguda e desidratação. In: CAR-
VALHO, E.; SILVA, L. R.; FERREIRA, C. T. Gastroenterologia e Nutrição. Barueri, SP: Manole, 2012. p.
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SAFA, A.; NAIR, G. B.; KONG, R. Y. C. Evolution of new variants of Vibrio cholerae O1. Trends in Mi-
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Geneva, 2009.
The treatment of diarrhoea th
ed.
Geneva, 2005.
Cólera
Guia de Vigilância em Saúde
218
ANEXO A
Coleta de amostras de material clínico
Instrumento Método Transporte e viabilidade da amostra
Swab retal
Introduzir o swab na ampola retal,
comprimindo-o, em movimentos
rotatórios suaves, em toda a
extensão da ampola
Inocular no meio de transporte
Cary-Blair ou em 10-20mL de água
peptonada alcalina (pH entre 8,4 – 8,6)
Processar as amostras acondicionadas em meio de Cary-Blair,
de 24 a 72 horas após a coleta, se mantidas em temperatura
ambiente (no caso de temperatura ambiente acima de 30ºC,
colocar o meio de Cary-Blair em recipiente com água em
temperatura natural) ou em até 7 dias, se mantidas sob
refrigeração (entre 4 e 8ºC)
Swab fecal
Recolher parte das fezes com o
auxílio de um swab
Introduzir o swab no meio de
transporte Cary-Blair ou água
peptonada alcalina
Processar as amostras acondicionadas em tubos de água
peptonada alcalina até 12 horas após a coleta
O meio de transporte Cary-Blair conserva, por até 4 semanas,
numerosos tipos de bactérias, inclusive vibriões. No entanto, como
o swab, retal ou fecal, contém outros microrganismos da flora
normal, recomenda-se processá-lo de 24 a 72 horas após a coleta
(a 30ºC) ou em até 7 dias, se mantido sob refrigeração (4 a 8ºC)
As amostras coletadas por swab devem ser semeadas de imediato
se não forem acondicionadas no meio de transporte apropriado
Fezes
in natura
Recolher entre 3 e 5g de fezes,
diarreicas ou não, em recipiente de
boca larga, limpo e/ou esterilizado
(não utilizar substâncias químicas)
Evitar recolher amostras fecais
contidas nas roupas, superfície de
cama ou chão
A semeadura deve ser realizada imediatamente após a coleta
Papel de filtro
Utilizar tiras de papel de filtro, tipo
xarope ou mata-borrão (2,5cm de
largura por 6,5cm de comprimento)
Espalhar as fezes diarreicas ou
emulsionadas em água em 2/3 de
uma das superfícies do papel, com o
auxílio de um fragmento de madeira
ou outro material disponível
Acondicionar as tiras de papel
de filtro em invólucros plásticos,
perfeitamente vedados
Colher a amostra, tampar e observar a umidade (a amostra só é
válida enquanto o papel de filtro se mantiver úmido)
219
Doenças Diarreicas Agudas
CID 10: A00 a A09
Características gerais
Descrição
Caracterizam-se pela diminuição da consistência das fezes, aumento do número de evacuações, com fezes
aquosas; em alguns casos, há presença de muco e sangue (disenteria). São autolimitadas, com duração de até 14
dias. Podem ser classificadas em três tipos: diarreia sem desidratação; diarreia com desidratação; e diarreia com
desidratação grave. Quando tratadas incorretamente ou não tratadas, podem levar à desidratação grave e ao
distúrbio hidroeletrolítico, podendo ocorrer óbito, principalmente quando associadas à desnutrição.
Sinonímia
Gastroenterite aguda, gastroenterocolite aguda (GECA), dor de barriga, disenteria, desarranjo,
destempero, entre outras.
Agente etiológico
Os agentes etiológicos de origem infecciosa são as bactérias e suas toxinas, vírus, para- sitos e toxinas
naturais (Quadros 1, 2 e 3).
Reservatório
O reservatório é específico para cada agente etiológico, sendo os principais: humanos, primatas, ani-
mais domésticos, aves, bovinos, suínos, roedores e outros (Quadros 1, 2 e 3).
Quadro 1 – Principais bactérias envolvidas nas doenças diarreicas agudas, modos de transmissão,
reservatórios e grupos etários dos casos
Agente etiológico Grupo etário dos casos Modo de transmissão e principais fontes Reservatório
Bacillus cereus Todos Alimentos Ambiente e alimentos
Staphylococcus aureus Todos Alimentos Humanos e animais
Campylobacter spp Todos Fecal-oral, alimento, água, animais domésticos
Aves, bovinos
e ambiente
Escherichia coli
enterotoxigênica (ETEC)
Todos Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos
E. coli enteropatogênica Crianças Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos
E. coli enteroinvasiva Adultos Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos
E. coli êntero-hemorrágica Todos Fecal-oral, alimento, pessoa a pessoa Humanos
Salmonella não tifoide
Todos, principalmente
crianças
Fecal-oral, alimento, água
Aves, mamíferos
domésticos e silvestres,
bem como répteis
Shigella spp
Todos, principalmente
crianças
Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Primatas
Yersinia enterocolitica Todos
Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa,
animal doméstico
Suínos
Vibrio cholerae
Todos, principalmente
adultos
Fecal-oral, alimento, água Ambiente
Fonte: CDC (1990), com adaptações.
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de Vigilância em Saúde
220
Quadro 2 – Principais vírus envolvidos nas doenças diarreicas agudas, modos de transmissão,
reservatórios e grupos etários dos casos
Agente etiológico Grupo etário dos casos Modo de transmissão e principais fontes Reservatório
Astrovírus Crianças e idosos Fecal-oral, alimento, água Provavelmente humanos
Calicivírus Todos Fecal-oral, alimento, água, nosocomial Provavelmente humanos
Adenovírus entérico Crianças Fecal-oral, nosocomial Provavelmente humanos
Norwalk Todos
Fecal-oral, alimento, água,
pessoa a pessoa
Humanos
Rotavírus grupo A Crianças
Fecal-oral, nosocomial, alimento, água,
pessoa a pessoa
Humanos
Rotavírus grupo B Todos Fecal-oral, água, pessoa a pessoa Humanos
Rotavírus grupo C Todos Fecal-oral Humanos
Fonte: CDC (1990), com adaptações.
Quadro 3 – Principais parasitas envolvidos nas doenças diarreicas agudas, modos de transmissão,
reservatórios e grupos etários dos casos
Agente etiológico Grupo etário dos casos Modo de transmissão e principais fontes Reservatório
Balantidium coli Indefinido Fecal-oral, alimentos, água Primatas, roedores e suínos
Cryptosporidium Crianças e adultos com aids
Fecal-oral, alimentos, água, pessoa a
pessoa, animais domésticos
Humanos, bovinos, outros
animais domésticos
Entamoeba histolytica
Todos, principalmente
adultos
Fecal-oral, alimentos, água Humanos
Giardia lamblia
Todos, principalmente
crianças
Fecal-oral, alimentos, água
Humanos, animais selvagens
e domésticos
Cystoisospora belli Adultos com aids Fecal-oral Humanos
Fonte: CDC (1990), com adaptações.
Modo de transmissão
O modo de transmissão é específico para cada agente etiológico (Quadros 1, 2 e 3), e pode acontecer
transmissão direta ou indireta:
Transmissão direta
Transmissão indireta -
nados (por exemplo, utensílios de cozinha, acessórios de banheiros, equipamentos hospitalares).
A contaminação pode ocorrer em toda a cadeia de produção alimentar, desde as atividades primárias
até o consumo (plantio, transporte, manuseio, cozimento, acondicionamento). Os manipuladores
contaminam alimentos e utensílios.
Período de incubação
É específico para cada agente etiológico (Quadros 4, 5 e 6).
221
Quadro 4 – Manifestações clínicas, período de incubação e duração da doença das principais
bactérias envolvidas nas doenças diarreicas agudas
Agente etiológico
Manifestações clínicas Período de
incubação
Duração da
doençaDiarreia Febre Vômito
Bacillus cereus Geralmente pouco importante Rara Comum 1 a 6 horas 24 horas
Staphylococcus aureus Geralmente pouco importante Rara Comum 1 a 6 horas 24 horas
Campylobacter Pode ser disentérica Variável Variável 1 a 7 dias 1 a 4 dias
Escherichia coli
enterotoxigênica (ETEC)
Aquosa, pode ser profusa Variável Eventual
12 horas a
3 dias
3 a 5 dias
E. coli enteropatogênica Aquosa, pode ser profusa Variável Variável 2 a 7 dias 1 a 3 semanas
E. coli enteroinvasiva Pode ser disentérica Comum Eventual 2 a 3 dias 1 a 2 semanas
E. coli êntero-hemorrágica Inicia aquosa, com sangue a seguir Rara Comum 3 a 5 dias 1 a 12 dias
Salmonella não tifoide
Pastosa, aquosa, às vezes,
com sangue
Comum Eventual
8 horas a
2 dias
5 a 7 dias
Shigella Pode ser disentérica Comum Eventual 1 a 7 dias 4 a 7 dias
Yersinia enterocolitica
Mucosa, às vezes, com presença
de sangue
Comum Eventual 2 a 7 dias
1 dia a 3
semanas
Vibrio cholerae Pode ser profusa e aquosa
Geralmente
afebril
Comum 5 a 7 dias 3 a 5 dias
Fonte: CDC (1990), com adaptações.
Quadro 5 – Manifestações clínicas, período de incubação e duração da doença dos principais
vírus envolvidos nas doenças diarreicas agudas
Agente etiológico
Manifestações clínicas Período de
incubação
Duração da doença
Diarreia Febre Vômito
Astrovírus Aquosa Eventual Eventual 1 a 14 dias 1 a 14 dias
Calicivírus Aquosa Eventual Comum em crianças 1 a 3 dias 1 a 3 dias
Adenovírus entérico Aquosa Comum Comum 7 a 8 dias 8 a 12 dias
Norwalk Aquosa Rara Comum 18 horas a 2 dias 12 horas a 2 dias
Rotavírus grupo A Aquosa Comum Comum 1 a 3 dias 5 a 7 dias
Rotavírus grupo B Aquosa Rara Variável 2 a 3 dias 3 a 7 dias
Rotavírus grupo C Aquosa Ignorado Ignorado 1 a 2 dias 3 a 7 dias
Fonte: CDC (1990), com adaptações.
Quadro 6 – Manifestações clínicas, período de incubação e duração da doença dos principais
parasitas envolvidos nas doenças diarreicas agudas
Agente etiológico
Manifestações clínicas Período de
incubação
Duração da doença
Diarreia Febre Abdômen
Balantidium coli Eventual com muco ou sangue Rara Dor Ignorado Ignorado
Cryptosporidium Abundante e aquosa Eventual Cãibra eventual 1 a 2 semanas 4 dias a 3 semanas
Entamoeba
histolytica
Eventual com muco ou sangue Variável Cólica 2 a 4 semanas Semanas a meses
Giardia lamblia Incoercíveis fezes claras e gordurosas Rara
Cãibra/
Distensão
5 a 25 dias Semanas a anos
Cystoisospora belli Incoercível Ignorado Ignorado 2 a 15 dias 2 a 3 semanas
Fonte: CDC (1990), com adaptações.
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de Vigilância em Saúde
222
Período de transmissibilidade
É específico para cada agente etiológico.
Suscetibilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral. Certos grupos, como crianças (principalmente as menores de 1 ano que
sofreram desmame precoce e que são desnutridas), idosos, imunodeprimidos (portadores de HIV/aids,
de neoplasias ou indivíduos que receberam transplantes de órgãos) e pessoas com acloridria gástrica têm
suscetibilidade aumentada.
As DDA não conferem imunidade duradoura.
Manifestações clínicas
O quadro clínico é caracterizado pelo aumento do número de evacuações (3 episódios no período
de 24 horas), com alteração da consistência das fezes, geralmente amolecidas ou aquosas. Pode haver
presença de sangue ou muco e ser acompanhada de dor abdominal, febre, náusea e vômito. Em geral o
quadro clínico é autolimitado, com duração de 2 a 14 dias, que pode variar desde manifestações leves até
graves, com desidratação e disturbios hidroeletrolíticos, principalmente quando associadas à desnutrição.
As manifestações clínicas mais frequentes estão descritas nos Quadros 4, 5 e 6, de acordo com o
agente etiológico.
Complicações
Em geral, são decorrentes da desidratação e do desequilíbrio hidroeletrolítico. Quando não são tra-
tadas adequada e precocemente, pode ocorrer óbito por choque hipovolêmico e/ou hipopotassemia. Nos
casos crônicos ou com episódios repetidos, podem acarretar desnutrição crônica, com retardo do desen-
volvimento ponderoestatural em crianças.
Diagnóstico
Diagnóstico clínico
O primeiro passo para o diagnóstico é a realização da anamnese. Para isso, algumas informações são
fundamentais: idade do paciente, duração da doença diarreica atual, características das fezes (consistên-
cia e presença de sangue ou muco), frequência e volume das evacuações, associação da diarreia a vômitos,
dor abdominal, febre (duração), tenesmo (tentativa dolorosa de evacuar), cãibras.
É importante também excluir as causas não infecciosas de diarreia aguda: uso recente de medicações
(laxativos, antiácidos, antibióticos), ingestão de bebidas alcoólicas, excesso de bebidas lácteas.
A história epidemiológica e social, nesses casos, também ajuda na condução do diagnóstico: local
onde o paciente reside e suas condições sanitárias, história de viagem recente a lugares endêmicos ou não
endêmicos. Além disso, é importante saber se o paciente é portador de doença que possa estar relacionada
com o quadro ou interferir no manejo da diarreia (hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doenças
cardíacas, doenças hepáticas, doenças pulmonares crônicas, insuficiência renal, alergia ou intolerância
alimentar, ser portador de HIV/aids, ser intolerante a algum alimento). O passo seguinte é a realização
de exame físico cuidadoso, identificando-se os sinais e sintomas da desidratação (avaliação do estado de
hidratação do paciente, conforme Quadro 7).
223
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico das causas etiológicas da DDA é laboratorial, por meio de exames pa- rasitológicos,
cultura de bactérias e pesquisa de vírus em amostras de fezes. O diagnóstico laboratorial é importante
para que seja conhecido o padrão dos agentes etiológicos circulantes sendo imprescindível, na vigência de
surtos para orientar as medidas de prevenção e controle, nesse caso, recomenda-se a pesquisa laboratorial
para todos os possíveis agentes etiológicos.
Na ocorrência de surto de DDA, recomenda-se a coleta de amostras de fezes para pesquisa de
parasitas, vírus e bactérias.
As fezes devem ser coletadas antes da administração de antibióticos.
As orientações para coleta, transporte e conservação de amostras de fezes estão apresentadas no
Anexo A.
Tratamento
A avaliação do estado de hidratação do paciente deve orientar a escolha entre os três planos de trata-
mento a seguir preconizados (Quadro 7).
Plano A (para prevenir a desidratação no domicílio)
Destina-se a pacientes com diarreia SEM sinais de desidratação. O tratamento é domiciliar. Explicar
ao paciente ou acompanhante o que fazer no domicílio.
- O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, soro caseiro, chá, suco e sopas) ou solu-
ção de reidratação oral (SRO) após cada evacuação diarreica (Quadro 8).
- Não utilizar refrigerantes nem adoçar o chá ou suco.
- continuar o aleitamento materno;
- manter a alimentação habitual para as crianças e adultos.
levá-lo imediatamente ao serviço de saúde:
- piora da diarreia;
- vômitos repetidos;
- muita sede;
- recusa de alimentos;
- sangue nas fezes;
- diminuição da diurese.
- reconhecer os sinais de desidratação;
- preparar e administrar a SRO;
- praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da
água, higienização dos alimentos).
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de Vigilância em Saúde
224
Quadro 7 – Avaliação do estado de hidratação do paciente e definição do plano de
tratamento adequado
OBSERVE
Estado geral Bem alerta Irritado,Intranquilo Comatoso, hipotônico*
Olhos Normais Fundos Muito fundos
Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes
Sede
Bebe normalmente,
sem sede
Sedento, bebe rápido e
avidamente
Bebe mal ou não é capaz de beber
EXPLORE
Sinal da prega
Desaparece
rapidamente
Desaparece lentamente
Desaparece muito lentamente
(mais de 2 segundos)
Pulso Cheio Rápido, fraco Muito fraco ou ausente*
DECIDA
-
SEM SINAIS DE
DESIDRATAÇÃO
Se apresentar dois ou mais sinais:
COM DESIDRATAÇÃO
Se apresentar dois ou mais sinais incluindo
pelo menos um dos destacados com asterisco
(*): COM DESIDRATAÇÃO GRAVE
TRATE
- USE PLANO A USE PLANO B USE PLANO C
Quadro 8 – Quantidade de líquidos que deve ser administrada/ingerida após cada evacuação
diarreica, de acordo com a faixa etária
Idade Volume
Menores de 1 ano 50-100mL
De 1 a 10 anos 100-200mL
Maiores de 10 anos Quantidade que o paciente aceitar
Plano B (para tratar a desidratação por via oral na unidade de saúde)
Destina-se a pacientes com diarreia e COM sinais de desidratação, mas com capacidade de ingerir líquidos,
que devem ser tratados com SRO na unidade de saúde, onde deverão permanecer até a reidratação completa.
- a quantidade de solução ingerida dependerá da sede do paciente;
- a SRO deverá ser administrada continuamente, até que desapareçam os sinais e sintomas de
desidratação;
-
nistrados no período de 4 a 6 horas.
- Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilizar o Plano A.
- Se continuar desidratado após o período de 4 horas, repetir o Plano B por mais 2 horas e reava-
liar, ou indicar a sonda nasogástrica (gastróclise).
- Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o Plano C.
- reconhecer os sinais de desidratação;
- preparar e administrar a SRO;
- manter a alimentação habitual; e
- praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da
água, higienização dos alimentos).
225
Plano C (para tratar a desidratação grave na unidade hospitalar)
Se o paciente apresentar sinais e sintomas de desidratação grave, com ou sem choque (palidez acen-
tuada, pulso radial filiforme ou ausente, hipotensão arterial, depressão do sensório), a sua reidratação
deve ser iniciada imediatamente por via endovenosa, em duas fases para todas as faixas etárias: fase rápida
e fase de manutenção e reposição (Quadro 9).
Quadro 9 – Esquemas de reidratação para pacientes com desidratação grave, de acordo com a
faixa etária
Fase rápida – menores de 5 anos (fase de expansão)
Solução Volume Tempo de administração
Soro fisiológico 0,9%
Iniciar com 20mL/kg
Repetir essa quantidade até que a criança esteja
hidratada, reavaliando os sinais clínicos após cada fase
de expansão administrada 30 minutos
Para recém-nascidos e cardiopatas graves, começar com
10mL/kg
Fase rápida – maiores de 5 anos (fase de expansão)
Solução Volume total Tempo de administração
1º Soro fisiológico 0,9% 30mL/kg 30 minutos
2º Ringer-lactato
ou
solução polieletrolítica
70mL/kg 2 horas e 30 minutos
Fase de manutenção e reposição para todas as faixas etárias
Solução Volume em 24 horas
Soro glicosado 5% + soro
fisiológico 0,9% na proporção de
4:1 (manutenção)
+
Peso até 10kg 100mL/kg
Peso de 10 a 20kg
1.000mL + 50mL/kg de peso
que exceder 10kg
Peso acima de 20kg
1.500mL + 20mL/kg de peso
que exceder 20kg
Soro glicosado 5% + soro
fisiológico 0,9% na proporção de
1:1 (reposição)
+
Iniciar com 50mL/kg/dia. Reavaliar esta quantidade de acordo com as perdas do paciente
KCl 10% 2mL para cada 100mL de solução da fase de manutenção
Avaliar o paciente continuamente. Se não houver melhora da desidratação, deve-se aumentar a
velocidade de infusão.
-
ção endovenosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação endovenosa.
quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um pa-
ciente para outro, dependendo do volume das evacuações.
de saúde até que estejam hidratados e conseguindo manter a hidratação por via oral.
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de Vigilância em Saúde
226
Procedimentos a serem adotados em caso de disenteria
e/ou outras patologias associadas à diarreia
Paciente com sangue nas fezes
Em caso positivo e com comprometimento do estado geral, deve-se avaliar o estado de hidratação do
paciente, utilizando-se o Quadro 7, e reidratá-lo de acordo com os planos A, B ou C. Após a reidratação,
iniciar a antibioticoterapia.
Tratamento em crianças
com duração de 3 dias. Como tratamento alternativo, pode-se usar a ceftriaxona, em doses de 50 a 100mg/
O acompanhante deve ser orientado para administrar líquidos e manter a alimentação habitual da
criança caso o tratamento seja realizado no domicílio. O paciente deverá ser reavaliado após 2 dias. Caso
seja mantida a presença de sangue nas fezes após 48 horas do início do tratamento, encaminhar para in-
ternação hospitalar.
Crianças com quadro de desnutrição devem ter o primeiro atendimento em qualquer unidade
de saúde, devendo-se iniciar hidratação e antibioticoterapia de forma imediata, até a chegada
ao hospital.
Tratamento em adultos
O tratamento em adultos deve ser feito com 500mg de ciprofloxacino a cada 12 horas, por 3 dias.
Orientar o paciente ou acompanhante para administrar líquidos e manter a alimentação habitual
caso o tratamento seja realizado no domicílio. Após 2 dias o paciente deve ser reavaliado por um profis-
sional de saúde.
Se mantiver presença de sangue nas fezes após 48 horas do início do tratamento:
-
na, via intramuscular, uma vez ao dia, por 2 a 5 dias;
-
ção hospitalar.
Desnutrição grave
continue a hidratação até a chegada à unidade hospitalar.
Ministério da Saúde.
Temperatura do paciente
Se o paciente estiver com a temperatura de 39
C ou mais, investigar e tratar outras possíveis causas,
como pneumonia, otite, amigdalite, faringite, infecção urinária.
227
Observações quanto ao uso de medicamentos em pacientes com diarreia
Antibióticos -
prometimento do estado geral ou em casos de cólera grave. Em outras condições os antibióticos
são ineficazes e não devem ser prescritos.
Antiparasitários
- amebíase, quando o tratamento de disenteria por Shigella sp fracassar, ou em casos nos quais se
identifiquem nas fezes trofozoítos de Entamoeba histolytica englobando hemácias;
- giardíase, quando a diarreia durar 14 dias ou mais, se forem identificados cistos ou trofozoítos
nas fezes ou no aspirado intestinal.
Características epidemiológicas
A diarreia é a segunda causa de mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo. Quase 1
do que a aids, a malária e o sarampo juntos.
No Brasil, a doença diarreica aguda é reconhecida como importante causa de morbimortalidade,
mantendo relação direta com as precárias condições de vida e saúde dos indivíduos, em consequência da
falta de saneamento básico, de desastres naturais (estiagem, seca e inundação) e da desnutrição crônica,
entre outros fatores.
Vigilância epidemiológica das DDA
A Vigilância Epidemiológica das DDA, composta também pela Monitorização das doenças diarrei-
cas agudas (MDDA), regulamentada pela Portaria nº. 205 de 2016, é do tipo sentinela, a qual permite mo-
nitorar somente a ocorrência dos casos notificados em unidades de saúde eleitas sentinelas pela vigilância
epidemiológica das Secretarias Municipais de Saúde, com o intuito principal de acompanhar a tendência
e a detecção de alterações no padrão local das doenças diarreicas agudas de forma a identificar, em tempo
oportuno, surtos e epidemias.
A MDDA deve ser entendida como um processo de elaboração e análise de mensurações rotineiras
capazes de detectar alterações no ambiente ou na saúde da população e que se expressem por mudanças
-
dência, data do início dos sintomas e do atendimento e plano de tratamento dos casos que buscam aten-
dimento na unidade de saúde.
Objetivos
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de Vigilância em Saúde
228
Definição de caso
Caso
Pessoa que apresente aumento do número de evacuações (três ou mais episódios no período de 24 ho-
ras) com alteração da consistência das fezes, geralmente aquosas ou amolecidas, com duração de até 14 dias.
Caso novo
Quando, após a normalização da função intestinal por um período de 48 horas, o paciente apresentar
novo quadro de DDA.
Surto
A ocorrência de dois casos ou mais de diarreia, relacionados entre si, após a ingestão de alimento ou
água da mesma origem.
Para as doenças de transmissão hídrica e alimentar consideradas raras, como botulismo e cólera, a
ocorrência de apenas um caso é considerada surto.
Notificação
Casos de DDA
Embora a DDA não seja doença de notificação compulsória nacional, os casos isolados devem ser
notificados apenas quando atendidos em unidades sentinelas para DDA. A notificação dos casos deve ser
realizada nos formulários que devem ser enviados à Secretaria Municipal de Saúde para registrar o caso
Surto de DDA
A notificação de surto de DDA é compulsória e imediata. Deve ser feita no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan) com indicação de síndrome diarreica (CID A08). Os dados decorrentes da
investigação do surto também devem ser inseridos neste sistema.
Quando a causa suspeita da diarreia for por transmissão indireta por água e/ou alimentos contamina-
dos, deve-se utilizar a Ficha de Investigação de Surto-DTA (doenças transmitidas por alimentos) do Sinan.
Investigação
É importante que a investigação seja realizada em conjunto com a vigilância sanitária, vigilância
ambiental, laboratório de saúde pública e outras áreas conforme necessário, como, por exemplo, atenção
à saúde, saneamento, secretaria de agricultura e outros.
Nos surtos causados por água e alimentos, a investigação deve ser realizada conforme especificações
contidas no Manual Integrado Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos
(2010), realizando-se inquérito entre os participantes da refeição para definir o alimento de risco e inspe-
ção sanitária para identificar os fatores que contribuíram para a contaminação do alimento.
Roteiro da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos da Ficha de Investigação de Surto-DTA do Sinan, referentes à identifica-
ção da ocorrência.
229
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Caracterizar clinicamente o caso: evolução dos sinais e sintomas; características da diarreia e do
vômito; estado de hidratação. Deverá ser observado se já foi iniciada a reidratação oral, com líquidos
habitualmente disponíveis no domicílio do paciente ou utilização do SRO.
Caracterizar os atributos relativos aos grupos etários e sexo mais atingidos; grupos, segundo sexo
e idade, expostos a maior risco de adoecer; e outras características específicas dos indivíduos afetados
da população em geral. A descrição dos casos deve ser feita considerando as características individuais
(sexo, idade, etnia, estado imunitário, estado civil), atividades (trabalho, esporte, práticas religiosas,
costumes etc.), condições de vida (estrato social, condições ambientais e sanitárias, situação econômi-
ca), entre outras.
Paraconfirmarasuspeitadiagnóstica
de caso mais sensível, a fim de facilitar a identificação, a extensão do problema e os grupos populacio-
nais mais atingidos, processo que pode levar a hipóteses importantes. Somente quando as hipóteses
ficarem mais claras, o investigador passará a utilizar uma definição mais específica e restrita.
Para identificação da área de transmissão
locais de alimentação, participação em eventos.
- Reconstituir as atividades do paciente, nos 10 dias que precederam o início dos sintomas: histó-
ria de deslocamentos no município (urbano/rural), estado e país; e tempo de permanência.
- Realizar levantamento sobre condições de saneamento, como fontes de abastecimento de água
e o tratamento dispensado, situação do manuseio, acondicionamento e dispensação de resíduos
sólidos/lixo nos ambientes domiciliar, de trabalho, escolar e em qualquer outro em que haja a
suspeita da transmissão.
Para determinação da extensão da área de transmissão
-
lho, ou outra localidade.
- A análise espacial, da extensão da área de transmissão, permite identificar se o surto afeta unifor-
memente toda a área, ou se há locais que concentram maior número de casos e de maior risco. Por
exemplo, quando a distribuição apresenta uma concentração num determinado ponto, é sugestivo
serem a água, alimento ou outras fontes comuns os possíveis causadores da transmissão.
Coleta e remessa de material para exames
- É indicado que sejam coletadas amostras clínicas de pacientes, dos alimentos e da água, o mais
precocemente possível, considerando-se os resultados das investigações realizadas e as orienta-
ções técnicas do laboratório.
- Quando houver coleta de amostras de água em surtos de DDA, deve-se solicitar que o laboratório
faça o exame microbiológico (para identificar o agente etiológico) e não somente a análise da
potabilidade da água.
Encerramento de surto
Após a coleta e análise de todas as informações necessárias à investigação, o surto deve ser encerrado
nos sistemas de informação.
Vigilância epidemiológica de Rotavírus
A vigilância epidemiológica de rotavírus é sentinela, realizada em unidades de saúde específicas para
a doença com objetivos principais de: conhecer a magnitude das DDA causadas por rotavírus em menores
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de Vigilância em Saúde
230
de cinco anos; monitorar os genótipos de rotavírus circulantes entre essa população; monitorar e avaliar o
impacto da vacina oral contra rotavírus humano.
Ao suspeitar de rotavirose em crianças menores de cinco anos atendidas em unidades de saúde sen-
tinelas para esse agravo, deve-se coletar uma amostra de fezes in natura para diagnóstico laboratorial de
rotavírus e a ficha de notificação/investigação específica de rotavírus deve ser preenchida em duas vias. A
amostra deve ser enviada ao Lacen acompanhada de uma via da ficha e outra via deve seguir para a vigi-
lância epidemiológica da SMS. Todas as amostras positivas (100%) devem ser enviadas para o Laboratório
de Referência para análise de genótipos e 10% das amostras negativas devem ser enviadas para controle
de qualidade e possível identificação de outros vírus entéricos.
Posteriormente, a vigilância epidemiológica da SMS deve registrá-la no Sinan NET. Nesse sistema,
devem ser notificados somente os casos atendidos em unidades sentinelas definidas pelas secretarias mu-
nicipal e estadual de saúde, que atendam à definição de caso suspeito de rotavírus. Todos os casos devem
ser encerrados pelo critério laboratorial, com exame realizado no Lacen.
Em caso de surto de rotavírus, qualquer unidade de saúde do município pode notificar casos sus-
peitos que se enquadrem na definição de caso em situação de surto de rotavírus. A ficha de notificação/
investigação de surto deve ser preenchida e caso, a transmissão seja indireta por água ou alimento, a ficha
de notificação/investigação de surto de DTA deve ser preenchida. Para elucidação do surto, os primeiros
casos suspeitos devem ter amostras coletadas e analisadas pelo Lacen.
As unidades de saúde sentinela para rotavírus devem: ter leitos de internação e/ou observação de
pediatria; ser referência para assistência às doenças diarreicas agudas graves para os menores de cinco
anos; ter Núcleo Hospitalar de Epidemiologia (na ausência deste, ter CCIH implantada); ter capacidade
para coleta, armazenamento e transporte das amostras clínicas.
Vigilância sobre fatores ambientais
Fatores ambientais, populacionais e de serviços, que devem ser considerados para definição e deli-
mitação de áreas de risco, são:
-
mente em áreas sujeitas a ciclos de cheias e secas);
per capita;
A delimitação da área de risco é feita associando-se dados referentes ao isolamento do agente etioló-
gico aos fatores mencionados.
A identificação e a delimitação dessas áreas são importantes para priorizar o desenvolvimento das ações
de controle e devem ser redefinidas à medida que novos fatores e novas áreas de circulação sejam identificados.
231
Medidas de prevenção e controle
A vacinação é a principal medida de prevenção da diarreia por rotavírus.
Atualmente no Calendário de Nacional de Vacinação, o esquema vacinal consiste na administração
de 2 doses de vacina rotavírus humano, aos 2 e 4 meses de idade, sendo que a primeira dose pode ser
administrada a partir de 1 (um) mês e 15 dias até 3 (três) meses e 15 dias. A segunda dose pode ser admi-
nistrada a partir de 3 (três) meses e 15 dias até 7 (sete) meses e 29 dias. Manter intervalo mínimo de 30
dias entre as doses.
A educação em saúde, particularmente em áreas de elevada incidência de diarreia, é fundamental.
Devem-se orientar as medidas de higiene e de manipulação de água e alimentos.
Os locais de uso coletivo, tais como escolas, creches, hospitais, penitenciárias, que podem apresentar
riscos maximizados quando as condições sanitárias não são adequadas, devem ser alvo de orientações e
campanhas específicas.
Considerando a importância das causas alimentares nas diarreias das crianças, é fun-damental o
incentivo à prorrogação do tempo de aleitamento materno, por ser, comprova-damente, uma prática que
confere elevada proteção a esse grupo populacional.
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Capacitação em Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas:
manual do monitor. Brasília, 2010.
Calendário Nacional de Vacinação. Brasil, 2017. Disponível em: <http://
portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/197-secretaria-
svs/13600-calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 17 mar. 2017.
-
ológica. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimen-
tos. Brasília, 2010.158 p.
CENTERS OF DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Viral agents of gastroenteritis public health
Morbidity and Mortality Weekly Report Recommendations
and Reports – MMWR, Atlanta, GA, v. 39, n. RR-05, 27 Apr. 1990.
UNICEF; WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diarrhoea: why children are still dying and what
-
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de Vigilância em Saúde
232
Anexo A
Orientações para coleta, transporte
e conservação de amostras de fezes
Pesquisa de bactérias
O exame a ser realizado é a cultura de fezes (coprocultura). Para isso utiliza-se, principalmente, a
técnica de swab retal ou fecal em meio de transporte Cary-Blair. Na coleta de amostras de fezes por swab
retal, seguir o roteiro abaixo:
swab em solução fisiológica ou água destilada esterilizadas;
swab (2cm) no esfíncter retal do paciente, comprimindo-o,
em movimentos rotatórios suaves, por toda a extensão do esfíncter;
Quando a amostra for colocada em meio de transporte Cary-Blair, encaminhá-la, se possível, em até
48 horas. Acima desse tempo, manter sob refrigeração, por até 7 dias. No caso de amostras refrigeradas,
respeitar as especificidades de cada agente.
Na coleta de amostras de fezes por swab fecal, seguir o roteiro:
swab fecal se diferencia do swab retal porque a ponta do swab é introduzida diretamente no fras-
co coletor (sem formol) com fezes do paciente;
is, passado esse período, as
bactérias da flora intestinal podem destruir as bactérias patogênicas causadoras da diarreia;
swab deve ser acondicionado em meio Cary-Blair ou em água peptonada alcalina.
Quando colocado em meio de transporte Cary-Blair, encaminhá-lo, se possível, em até 48 horas.
Acima deste tempo, manter sob refrigeração, por até 7 dias. No caso de amostras refrigeradas, respeitar as
especificidades de cada agente.
Recomenda-se a coleta de duas a três amostras por paciente, desde que haja disponibilidade de mate-
rial para coleta e capacidade de processamento laboratorial de todas as amostras encaminhadas.
Pesquisa de vírus
in natura e coloque a amostra em um
frasco coletor de fezes sem formol, com tampa rosqueada. É importante que o frasco seja identifi-
cado com nome completo do paciente e seja acondicionado em saco plástico.
freezer.
- material sólido, coletar com espátula e colocar no frasco coletor;
- material líquido, acondicionar a fralda em saco plástico e encaminhar ao laboratório.
swab retal só é indicado em caso de óbitos.
Pesquisa de parasitos
coletor de 50mL) em frasco coletor de fezes, com tampa rosqueada.
233
alguns prejudicam a pesquisa dos parasitos em geral. Esses medicamentos são: antidiarreicos, an-
tibióticos, antiácidos, derivados de bismuto e de bário, vaselina e óleos minerais.
-
cia temporária dos organismos nas fezes, pois esses parasitos se alimentam de bactérias intestinais.
Portanto, o diagnóstico só será seguro de 2 a 3 semanas após a suspensão do antibiótico.
-
tras em dias consecutivos. Para pesquisa de larvas de Strongyloides stercoralis, trofozoítos de pro-
tozoários e Blastocystis hominis, há necessidade de obtenção de uma ou mais amostras frescas que
devem ser encaminhadas imediatamente ao laboratório clínico.
o tratamento.
O uso de laxantes só é indicado quando há necessidade de confirmar o diagnóstico de amebíase,
giardíase e estrongiloidíase, por meio de fezes liquefeitas. Nesse caso, o médico deve prescrever o uso de
laxantes e os mais recomendados são os salinos, tais como o fosfato de sódio e o sulfato de sódio tam-
ponado, pois causam menos danos na morfologia dos parasitos. Essa prática é indicada para clínicas e
hospitais, onde os espécimes fecais são enviados ao laboratório imediatamente após a coleta. Caso a coleta
seja feita em casa, enviar imediatamente todo o conteúdo de uma evacuação induzida ao laboratório, ou
preservar uma fração do material com o conservante. Nesse material são pesquisados ovos, larvas, cistos
e trofozoítos.
Doenças Diarreicas Agudas
Guia de vigilncia em saude
235
Febre Tifoide
Febre Tifoide
CID 10: A01.0
Características gerais
Descrição
Doença bacteriana aguda, de distribuição mundial, associada a baixos níveis socioeconômicos, prin-
cipalmente em áreas com precárias condições de saneamento, higiene pessoal e ambiental.
Sinonímia
Doença das mãos sujas.
Agente etiológico
Salmonella enterica, sorotipo Typhi (S. Typhi), bacilo gram-negativo da família Enterobacteriaceae.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
Duas formas de transmissão são possíveis:
Direta − pelo contato direto com as mãos do doente ou portador.
Indireta − relacionada à água e aos alimentos, que podem ser contaminados pelas fezes ou urina
do doente ou portador. A contaminação dos alimentos ocorre, geralmente, pela manipulação de
portadores ou pacientes oligossintomáticos (com manifestações clínicas discretas).
Os legumes irrigados com água contaminada, produtos do mar mal cozidos ou crus (moluscos e
crustáceos), leite e derivados não pasteurizados, produtos congelados e enlatados podem veicular S. Typhi.
O congelamento não destrói a bactéria, de modo que sorvetes, por exemplo, podem ser veículos
de transmissão.
A carga bacteriana infectante, experimentalmente estimada, é de 106
a 109
bactérias. Infecções
subclínicas podem ocorrer com a ingestão de um número bem menor de bactérias.
Fatores extrínsecos aos alimentos, com destaque para aqueles relacionados com o meio ambiente,
tais como temperatura e umidade existentes nos sítios de conservação, armazenamento, produção, co-
mercialização e seu consumo também interferem, de modo significativo, no crescimento e viabilidade
de S. Typhi.
Classificação de alguns alimentos segundo risco de contaminação por S. Typhi:
Alto risco
lavadas e água não potável.
Médio risco
Baixo risco
secos e carnes cozidas ou assadas.
Período de incubação
Normalmente, de uma a 3 semanas (em média, duas semanas), a depender da dose infectante.
Guia de Vigilância em Saúde
236
Período de transmissibilidade
A transmissibilidade ocorre enquanto os bacilos estiverem sendo eliminados nas fezes ou na urina,
o que, geralmente, acontece desde a 1a
semana da doença até o fim da convalescença. Cerca de 10% dos
pacientes continuam eliminando bacilos até 3 meses após o início da doença. Além disso, de 2 a 5% dos
pacientes transformam-se em portadores crônicos, após a cura. Estes são de extrema importância por
constituírem o único elo da cadeia de transmissão da doença. Tanto entre os doentes, quanto entre os
portadores, a eliminação da S. Typhi costuma ser intermitente.
Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade
A suscetibilidade é geral.
Indivíduos com acloridria gástrica, idosos e imunodeprimidos são mais vulneráveis.
A imunidade adquirida após a infecção ou a vacinação não é definitiva.
Manifestações clínicas
Os sinais e sintomas clássicos são febre alta, cefaleia, mal-estar geral, dor abdominal, anorexia, disso-
ciação pulso/temperatura, constipação ou diarreia, tosse seca, roséolas tíficas (manchas rosadas no tronco
Complicações
Enterorragia
a
semana de doença que ocorre em cerca de 3 a 10% dos casos. A quantidade de
perda sanguínea é variável e pode ser volumosa.
sensação de sede intensa (sinais de choque hipovolêmico). Detectar os sinais de choque hipovolê-
mico precocemente é essencial para o manuseio clínico desta complicação.
-
mento e a sua eliminação.
Perfuração intestinal
o
dia da doença, particularmente, nas formas
graves e tardiamente diagnosticadas.
acelera, podendo surgir vômitos.
e respiração curta.
sua ausência não afasta o diagnóstico.
237
Outras complicações digestivas
Colecistite, ulceração de cólon, estomatites, parotidites, pancreatite e abscessos esplênicos ou hepáticos.
Demais complicações
Outros órgãos também podem manifestar complicações das mais variadas:
Coração − miocardite tífica decorrente da toxemia, constituindo causa de óbito em virtude da
insuficiência cardíaca, inicialmente direita e, posteriormente, global.
Complicações vasculares − flebites que surgem nos casos de evolução mais prolongada.
Sistema nervoso − encefalites (formas bulbares, cerebelares e corticais), podendo ocorrer
alterações psíquicas, como meningite purulenta e neurite periférica.
Rins − lesões glomerulares. Raramente observa-se proteinúria e hematúria transitória.
Ossos e articulações − processos de periostites, osteítes, osteomielites, monoartrites e poliartrites.
Outras complicações menos frequentes − miosite, iridociclite e coriorretinite.
Diagnóstico
Diagnóstico clínico-epidemiológico
Caso clinicamente compatível, com associação epidemiológica a um caso confirmado por critério
laboratorial e/ou a uma região endêmica.
Diagnóstico laboratorial
É realizado através de: isolamento e identificação do agente etiológico, nas diferentes fases clínicas,
a partir do sangue (hemocultura), fezes (coprocultura), e em menor escala aspirado medular (mielocul-
tura) e urina (urocultura). O diagnóstico também pode ser realizado pela técnica da reação em cadeia da
polimerase (PCR).
Hemocultura − apresenta maior positividade nas duas semanas iniciais da doença (75%, apro-
ximadamente), devendo o sangue ser colhido, de preferência, antes que o paciente tenha tomado
antibiótico. Recomenda-se a coleta de duas a 3 amostras, não havendo necessidade de intervalos
maiores que 30 minutos entre elas.
Coprocultura − a pesquisa da S. Typhi nas fezes é indicada a partir da 2a até a 5ª semana
da doença, com intervalo de 3 dias cada uma, assim como no estágio de convalescença e
na pesquisa de porta- dores. No estado de convalescença, é indicada a coleta de amostras
do material com intervalos de 24 horas. No caso da suspeita de portadores assintomáticos,
particular- mente aqueles envolvidos na manipulação de alimentos, recomenda-se a coleta
de 7 amostras sequenciadas.
Mielocultura − trata-se do exame mais sensível (90% de sensibilidade). Além disso, apresenta a
vantagem de se mostrar positivo mesmo na vigência de antibioticotera- pia prévia. As desvan-
tagens são o desconforto para o doente, por ser um procedi- mento invasivo, e a necessidade de
pessoal médico com treinamento específico para o procedimento de punção medular, considerado
de alta complexidade
Urocultura − tem valor diagnóstico limitado; a positividade máxima ocorre na 3ª semana de doença.
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com todas as doenças entéricas de diversas etiologias, como, por exem- plo, Salmonella
enterica sorotipo Paratyphi A, B, C, Yersinia enterocolítica, entre outras.
Febre Tifoide
Guia de Vigilância em Saúde
238
Devidoaoquadroclínicoinespecífico,doençascomopneumonias;tuberculose(pulmonar,miliar,intestinal,
meningoencefalite e peritonite); meningoencefalites; septicemia por agentes piogênicos; colecistite aguda; perito-
nitebacteriana;formatoxêmicadeesquistossomosemansônica;mononucleoseinfecciosa;febrereumática;doen-
malária; toxoplasmose; tripanossomíase e endocardite bacteriana devem fazer parte do diagnóstico diferencial.
Tratamento
O tratamento é, geralmente, ambulatorial, reservando-se a hospitalização para os casos mais graves.
Específico
Cloranfenicol
Adultos
Crianças
A via de administração preferencial é a oral.
Quando os doentes tornam-se afebris, o que em geral ocorre a partir do 5º dia de tratamento, as doses
O tratamento é mantido por 15 dias após o último dia de febre, perfazendo um máximo de 21 dias.
Nos doentes com impossibilidade de administração por via oral deve ser utilizada a via parenteral.
Eventos adversos
anemia (dose dependente) ou, raramente, de anemia aplástica (reação idiossincrásica).
Não há evidências de que exista resistência da S. Typhi ao cloranfenicol no Brasil. Os insucessos te-
rapêuticos não devem ser atribuídos à resistência bacteriana, sem comprovação laboratorial e sem antes
se afastar outras causas.
Caso o doente mantenha-se febril após o 5º dia de tratamento, avaliar a possibilidade de troca pelos
antimicrobianos abaixo.
Ampicilina
Adultos − 1.000 a 1.500mg/dose, via oral, de 6 em 6 horas, até dose máxima de 6g/dia.
Crianças
A administração oral é preferível à parenteral. A duração do tratamento é de 14 dias.
Amoxicilina
Adultos − 3g/dia, via oral, de 8 em 8 horas.
Crianças
A duração do tratamento é de 14 dias. Com o uso deste antimicrobiano, poderá haver maior frequ-
ência de intolerância gastrointestinal.
Quinolonas
S. Typhi: o ciprofloxacino e
a ofloxacina.
239
bacteriana aos antimicrobianos tradicionalmente utilizados.
Ciprofloxacino
Adultos − 500mg/dose, via oral, de 12 em 12 horas, durante 10 dias. Caso não seja possível a via
oral, utilizar a via endovenosa, na dose de 200mg, de 12 em 12 horas.
Ofloxacina
Adultos − 400mg/dose, via oral, de 12 em 12 horas ou 200 a 400mg/dose, via oral, de 8 em 8 horas.
A duração do tratamento é de 10 a 14 dias.
Os pacientes devem receber adequado tratamento de suporte. Convém atentar para o aparecimento
de complicações graves, como hemorragia e perfuração intestinal, pois, para a última, a indicação
cirúrgica é imediata.
Tratamento específico para o estado de portador
Preconiza-se a utilização de ampicilina ou amoxicilina, nas mesmas doses e frequência para trata-
mento do paciente.
Após 7 dias do término do tratamento, iniciar a coleta de 3 coproculturas, com intervalos de 30
dias entre elas. Se o portador for manipulador de alimentos, realizar coprocultura uma vez por semana,
durante 3 semanas. Caso uma delas seja positiva, essa série pode ser suspensa e o indivíduo deve ser
novamente tratado, de preferência, com uma quinolona (ciprofloxacino 500mg), via oral, de 12 em 12
horas, durante 4 semanas, e orientado quanto ao risco que ele representa para os seus comunicantes e
para a comunidade. O tempo ideal de tratamento para portadores crônicos ainda não está bem defini-
do. Pacientes com litíase biliar ou anomalias biliares, que não respondem ao tratamento com antimi-
crobianos, devem ser colecistectomizados.
Na salmonelose septicêmica prolongada, as salmonelas têm nos helmintos um local favorável para
sua proliferação. De modo geral, o tratamento antiesquistossomótico, ao erradicar a helmintíase, faz ces-
sar a septicemia e promove a cura da salmonelose.
Características epidemiológicas
No Brasil, a febre tifoide ocorre sob a forma endêmica, com superposição de epidemias, especial-
mente nas regiões Norte e Nordeste, refletindo as condições de vida de suas populações. Tem-se verificado
um comportamento de declínio nos coeficientes de incidência e letalidade da doença.
Tem-se verificado uma tendência de declínio nos coeficientes de incidência e letalidade da doença.
A doença acomete com maior frequência a faixa etária entre 15 e 45 anos de idade em áreas endêmi-
cas. A taxa de ataque diminui com a idade.
Febre Tifoide
Guia de Vigilância em Saúde
240
Vigilância epidemiológica
Objetivos
Definição de caso
Suspeito
Critério clínico
Indivíduo com febre persistente, acompanhada ou não de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas:
-
Confirmado
Critério clínico-laboratorial
Indivíduo que apresente achados clínicos compatíveis com a doença, além de isolamento de S. Typhi
ou detecção pela técnica de PCR.
Critério clínico-epidemiológico
Indivíduo com quadro clinicamente compatível e com vínculo epidemiológico ao caso confirmado
por critério laboratorial.
Portador
Indivíduo que, após a infecção, continua eliminando bacilos.
Óbito
Será considerado óbito por febre tifoide aquele em que:
S. Typhi (incluindo
cultura da bile e da medula óssea, obtidas durante autópsia) ou detecção pela técnica de PCR;
por critério laboratorial.
Descartado
Caso que não se enquadra nas definições de caso confirmado.
Notificação
A febre tifoide é uma doença de notificação compulsória, conforme Portaria nº 204, de 17 de feverei-
ro de 2016. Todo caso suspeito deve ser notificado em até 7 dias e registrado no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), utilizando-se a Ficha de Investigação da Febre Tifoide.
241
Investigação
Consiste em um estudo de campo, realizado a partir de casos (comprovados ou suspeitos) e de portado-
res. Tem como objetivo avaliar a sua ocorrência do ponto de vista de suas implicações para a saúde coletiva e
deve conduzir sempre que possível à confirmação diagnóstica; determinação das características epidemioló-
gicas da doença; identificação das causas do fenômeno e orientação sobre as medidas de controle adequadas.
Principais etapas da investigação
Identificação do paciente
Preencher todos os campos relativos a dados gerais, notificação individual e residên- cia, que constam
na Ficha de Investigação da Febre Tifoide do Sinan, e acrescentar outras informações que achar pertinentes.
Verificar a existência de outros casos com vinculo epidemiológico, o que pode configurar um surto
de doença de transmissão hídrica ou alimentar (DTA). Neste caso, a investigação também precisa seguir
o fluxo de investigação de DTA, com sua ficha específica e notificação no Sinan (Nota Informativa nº 26,
de 26 de julho de 2016).
Coleta de dados clínicos e epidemiológicos
Para confirmar a suspeita diagnóstica
- Registrar os dados da história clínica, sinais e sintomas.
- Verificar se já foi coletado e encaminhado material para exame diagnóstico (fezes, sangue, urina)
e se houve uso prévio de antibiótico.
- Determinar as prováveis fontes de infecção.
- Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos.
Para identificação da área de transmissão
- Pesquisar a existência de casos semelhantes, na residência, no local de trabalho e de estudo ou
outros estabelecimentos e instituições coletivas, dentre outros.
- Proceder à busca ativa de casos na área.
- Identificar os comunicantes e, entre estes, pesquisar portadores mediante realização de coprocultura.
Coleta e remessa de material para exames
- Deve ser providenciada a coleta de amostras clínicas, de água e alimentos suspeitos, o mais pre-
cocemente possível. É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou
dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a essas coletas.
- As medidas de controle e outras atividades da investigação devem ser desencadeadas imediata-
mente à suspeição de casos de febre tifoide, mesmo antes dos resultados dos exames, muito embora
sejam imprescindíveis para confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações.
Encerramento de caso
O caso de febre tifoide deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias da notificação. A classifica-
ção final do caso deve seguir os critérios descritos no item Definição de caso.
Medidas de prevenção e controle
Medidas de saneamento
Por ser uma doença de veiculação hídrica, o controle da febre tifoide está intimamente relacionado ao
desenvolvimento adequado do sistema de saneamento básico, principalmente em relação ao fornecimento
Febre Tifoide
Guia de Vigilância em Saúde
242
de água potável, em quantidade suficiente, e à adequada manipulação dos alimentos. Na ausência de rede
pública de água e esgoto, a população deve ser orientada sobre como proceder em relação ao abastecimento
de água e ao destino de dejetos.
Sistema público de abastecimento de água
houver suspeita de contaminação.
Sistema individual de abastecimento de água (poços, cisternas, minas)
Imunização
Utilizam-se 2 tipos de vacina contra a febre tifoide (Quadro 1), mas esta não é a principal forma para
o controle. Portanto, não é recomendada em situações de surto e de calamidade.
As vacinas disponíveis não possuem alto poder imunogênico e a imunidade conferida é de curta
duração. São indicadas apenas para militares que compõem o contingente brasileiro das missões de paz
em regiões com elevado risco epidemiológico para a ocorrência de febre tifoide. O esquema vacinal é de 3
doses, sendo estas aplicadas, exclusivamente por via oral, nos dias 1, 3 e 5.
O Regulamento Sanitário Internacional da Organização Mundial da Saúde não recomenda a vaci-
nação contra a febre tifoide para viajantes internacionais que se deslocam para países onde estejam ocor-
rendo casos da doença.
adversos pós-vacinais mais comuns
Tipo de vacina Apresentação
Esquema básico
de vacinação
Reforço Eventos adversosa
Conservação
Vacina composta
de bactéria viva
atenuada
Frascos unidos,
contendo 3
cápsulas
Uma dose (3
cápsulas), via oral, a
partir dos 5 anos de
idade. Administrar,
sob supervisão, em
dias alternados: 1º,
3º e 5º dias
Uma dose a cada
5 anos
Desconforto
abdominal,
náuseas, vômitos,
febre, dor de
cabeça e erupções
cutâneas
Entre 2 e 8°C
O congelamento
provoca a perda de
potência
Vacina
polissacarídica
Frascos de uma,
20 ou 50 doses,
a depender
do laboratório
produtor
Uma dose (0,5mL),
subcutânea, a
partir dos 2 anos
de idade
Nas situações
de exposição
contínua, revacinar
a cada 2 anos
Febre, dor de
cabeça e eritema
no local da
aplicação
Fonte: CGPNI/DEVIT/SVS/MS
a
Reações locais e sistêmicas são relativamente comuns, manifestando-se nas primeiras 24 horas e regredindo, geralmente, nas primeiras 48 horas depois
da aplicação da vacina.
Ações de educação em saúde
Destacar os hábitos de higiene pessoal, principalmente a lavagem correta das mãos. Esse aspecto é
fundamental entre pessoas que manipulam alimentos e trabalham na atenção a pacientes e crianças.
Observar cuidados na preparação, manipulação, armazenamento e distribuição de alimentos, bem
como na pasteurização ou ebulição do leite e produtos lácteos.
243
Medidas referentes aos dejetos
Orientar a população quanto:
Medidas referentes aos alimentos
Alguns procedimentos devem ser adotados, de modo a evitar a transmissão da febre tifoide a partir
da ingestão de alimentos contaminados. Entre eles, destacam-se:
e estas devem estar dentro do prazo de validade;
-
minação e reduzam, ao máximo, a incidência de danos e deterioração;
fabricação (RDC n° 216, de 15 de setembro de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
S.
Typhi e nem apresentem doença diarreica;
apresentarem doença diarreica aguda;
S. Typhi no alimento
pronto para consumo;
higienizados, para evitar a contaminação do produto;
especiais (com refrigeração), para que sejam mantidas as suas características e seja evitada a proli-
feração de microrganismos;
evitem a possibilidade de sua contaminação.
Medidas gerais
Orientar sobre a importância da:
de saúde, asilos, presídios ), a cada 6 meses, ou com intervalo menor, se necessário;
se necessário;
pela população.
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual integrado de Febre Tifoide.
Brasília, 2008. 92 p.
Portaria nº 204, de 17 de fevereiro
de 2016. Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde
Febre Tifoide
Guia de Vigilância em Saúde
244
pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do an-
exo, e dá outras providências. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/
Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral de Doenças Transmissíveis. Nota Informativa nº 26, de 26
de julho de 2016. Informa sobre o fluxo e prazos de notificação de doenças e eventos de saúde pública
(ESP) relacionados à transmissão hídrica e alimentar entre as Secretarias Municipais e Estaduais de
Saúde e o Ministério da Saúde. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/
setembro/02/Nota-Informativa-atraso-PVC.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2017.
RDC n° 216, de 15 de setembro
de 2004, alterada pela RDC Nº 52, de 29/09/2014. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas
para Serviços de Alimentação. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil); ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE. Regulamento Sanitário Internacional. Brasília, 2005. 79 p.
Equipe de
Colaboradores
Volume 1
Guia de vigilncia em saude
247
Equipe de Colaboradores
Capítulo 1
Influenza
Daiana Araújo da Silva, Fabiano Marques Rosa, Francisco José de Paula Júnior, Felipe Cotrim de
Carvalho, Maria Adelaide Millington, Marilda Agudo Mendonça Teixeira de Siqueira, Rejane Valente
de Paiva, Thayssa Neiva da Fonseca, Walquiria Aparecida Ferreira de Almeida, Wyller Alencar de Mello.
Doença Meningocócica
Alexandre Lima Rodrigues da Cunha, Ana Paula Silva de Lemos, Camila de Oliveira Portela, Camile
de Moraes, Fabiano Marques Rosa, Flávia Carolina Borges Lobo, Gabriela Andrade Pereira, Indianara
Maria Grando, José Cássio de Moraes, Marco Aurélio Safadi, Maria Cecília Outeiro Gorla, Sérgio de
Outras Meningites
Ângela Pires Brandão, Camila de Oliveira Portela, Camile de Moraes, Fabiano Marques Rosa, Gabriela
Andrade Pereira, Indianara Maria Grando, Marco Aurélio Safadi, Maria Adelaide Millington, Rosemeire Cobo
Capítulo 2
Coqueluche
Daiana Rangel de Oliveira, Daniela Leite, Eitan Berezin, Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Fabiano
Marques Rosa, Flavia Carolina Borges Lobo, Gabriela Andrade Pereira, Helena Keico Sato, João Luis
Gallego Crivellaro, José Ricardo Pio Marins, Macedônia Pinto dos Santos, Maria Adelaide Millington,
Maria Ausenir Paiva Gonçalves, Maria Carolina Coelho Quixadá Pereira, Robson Bruniera de Oliveira,
Guedes dos Santos, Zirlei Maria de Matos.
Difteria
Ana Luiza de Mattos Guaraldi, Daiana Rangel de Oliveira, Ernesto Issac Montenegro Renoiner,
Fabiano Marques Rosa, Fan Hui We, Gabriela Andrade Pereira, Helena Keico Sato, Maria Adelaide
Millington, Maria Ausenir Paiva Gonçalves, Maria Carolina Coelho Quixadá Pereira, Sérgio de Andrade
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Ana Carolina Cunha Marreiros, Ana Cristina Braga, Dionéia Garcia de Medeiros Guedes, Eliane Veiga da
Costa, Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Flávia Carolina Borges Lôbo, Macedônia Pinto dos Santos, Maria
Ângela Azevedo, Maria Carolina Coelho Quixadá Pereira, Robson Bruniera, Sandra Maria Deotti Carvalho,
Sarampo
Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Flávia Caselli Pacheco, Giselle Angélica Moreira de
Siqueira, Guilherme Almeida Elídio, Indianara Maria Grando, Lucimeire Neris Sevilha da Silva Campos,
Equipe de Colaboradores
Guia de Vigilância em Saúde
248
de Fátima Pereira.
Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita
Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Flávia Caselli Pacheco, Giselle Angélica Moreira de
Siqueira, Guilherme Almeida Elídio, Indianara Maria Grando, Lucimeire Neris Sevilha da Silva Campos,
José Ricardo Pio Marins, Marli Rocha de Abreu Costa, Regina Célia Mendes dos Santos Silva, Sérgio de
Varicela/Herpes-Zóster
Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Flávia Caselli
Pacheco, Giselle Angélica Moreira de Siqueira, Guilherme Almeida Elidio, Indianara Maria Grando,
Lucimeire Neris Sevilha da Silva Campos, José Ricardo Pio Marins, Marli Rocha de Abreu Costa, Regina
Tétano Acidental e Tétano Neonatal
Carla Magda S. Domingues, Daiana Rangel de Oliveira, Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Fabiano
Marques Rosa, Maria Adelaide Millington, Maria Ausenir Paiva Gonçalves, Maria Carolina Coelho
Santos, Zirlei Maria Matos.
Caxumba
Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Giselle Angélica Moreira de Siqueira, Guilherme
Capítulo 3
Botulismo
Alexander Vargas, Aroldo Carneiro de Lima Filho, Dilma Scalla, Geórgia Rocha Falcão, Juliene
Cólera
Antônio da Silva Macedo, Aroldo Carneiro de Lima Filho, Everaldo Resende Silva, Irma Nelly
Gutierrez Rivera, Isaías da Silva Pereira, José Ricardo Pio Marins, Lúcia Helena Berto, Moacir Gerolomo,
Doenças Diarreicas Agudas
Alexander Vargas, Antônio da Silva Macedo, Aroldo Carneiro de Lima Filho, Daniela Fortunato
Rêgo, Débora Benchimol Ferreira, José Tarcísio Mendes Bezerra, Juliene Meira Borges, Lucimeire Neris
Sevilha da Silva Campos, Marcela Lemos Moulin, Regina Célia Mendes dos Santos Silva, Rejane Maria de
Febre Tifoide
Alexander Vargas, Francisco Luzio de Paula Ramos, Lucia Helena Berto, Rejane Maria de Souza
Apresentação
Capítulo 1
Influenza
Doença Meningocócica
Outras Meningites
Capítulo 2
Coqueluche
Difteria
Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
Sarampo
Rubéola
Síndrome da Rubéola Congênita
Varicela/Herpes Zóster
Tétano Acidental
Tétano Neonatal
Caxumba
Capítulo 3
Botulismo
Cólera
Doenças Diarreicas Agudas
Febre Tifoide
Equipe de Colaboradores – Volume 1
Volume 1
Capítulo 8
Doença de Chagas
Leishmaniose Tegumentar Americana
Leishmaniose Visceral
Malária
Capítulo 9
Esquistossomose Mansoni
Geo-Helmintíases
Tracoma
Filariose linfática
Capítulo 10
Hantaviroses
Leptospirose
Peste
Raiva
Capítulo 11
Acidentes por Animais Peçonhentos
Capítulo 12
Intoxicação Exógena
Vigilância em Saúde do Trabalhador
Violência Interpessoal/Autoprovocada
Capítulo 13
Investigação Epidemiológica de Casos,
Surtos e Epidemias
Equipe de Colaboradores – Volume 3
Volume 3
Capítulo 4
Infecção pelo HIV e Aids
Hepatites Virais
Sífilis Adquirida e em Gestantes
Sífilis Congênita
Capítulo 5
Hanseníase
Tuberculose
Capítulo 6
Febre Amarela
Febre do Nilo Ocidental
Febre Maculosa Brasileira
e Outras Riquetsioses
Capítulo 7
Dengue, Chikungunya e Zika
Equipe de Colaboradores – Volume 2
Volume 2
Sumário por volume:
GUIADEVIGILÂNCIAEMSAÚDE
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
www.saude.gov.br/bvs
GOVERNO
FEDERAL
GUIA DE VIGILÂNCIA
EM SAÚDE
Volume 1
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Volume1
1a
edição atualizada

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Guia de vigilncia em saude

  • 1. Apresentação Capítulo 1 Influenza Doença Meningocócica Outras Meningites Capítulo 2 Coqueluche Difteria Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda Sarampo Rubéola Síndrome da Rubéola Congênita Varicela/Herpes Zóster Tétano Acidental Tétano Neonatal Caxumba Capítulo 3 Botulismo Cólera Doenças Diarreicas Agudas Febre Tifoide Equipe de Colaboradores – Volume 1 Volume 1 Capítulo 8 Doença de Chagas Leishmaniose Tegumentar Americana Leishmaniose Visceral Malária Capítulo 9 Esquistossomose Mansoni Geo-Helmintíases Tracoma Filariose linfática Capítulo 10 Hantaviroses Leptospirose Peste Raiva Capítulo 11 Acidentes por Animais Peçonhentos Capítulo 12 Intoxicação Exógena Vigilância em Saúde do Trabalhador Violência Interpessoal/Autoprovocada Capítulo 13 Investigação Epidemiológica de Casos, Surtos e Epidemias Equipe de Colaboradores – Volume 3 Volume 3 Capítulo 4 Infecção pelo HIV e Aids Hepatites Virais Sífilis Adquirida e em Gestantes Sífilis Congênita Capítulo 5 Hanseníase Tuberculose Capítulo 6 Febre Amarela Febre do Nilo Ocidental Febre Maculosa Brasileira e Outras Riquetsioses Capítulo 7 Dengue, Chikungunya e Zika Equipe de Colaboradores – Volume 2 Volume 2 Sumário por volume: GUIADEVIGILÂNCIAEMSAÚDE Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde www.saude.gov.br/bvs GOVERNO FEDERAL GUIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE Volume 1 MINISTÉRIO DA SAÚDE Volume1 1a edição atualizada
  • 2. Volume 1 MINISTÉRIO DA SAÚDE 1ª edição atualizada
  • 4. Volume 1 MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços 1ª edição atualizada
  • 5. Impresso no Brasil / Printed in Brazil Ficha Catalográfica Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde : volume 1 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia e Serviços. – 1. ed. atual. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017. 3 v. : il. ISBN 978-85-334-2235-3 1. Vigilância em saúde – guia. 2. Vigilância epidemiológica. 3. Saúde pública. I. Título. CDU 614.4 (036) Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2017/0181 Título para indexação Guide to Health Surveillance: volume 1 2017 Ministério da Saúde. Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra,desde que citada a fonte. AcoleçãoinstitucionaldoMinistériodaSaúdepodeseracessada,naíntegra,naBibliotecaVirtualemSaúdedoMinistério da Saúde:<www.saude.gov.br/bvs>. Tiragem: 1a edição atualizada – 2017 – 730 exemplares Elaboração, distribuição e informações MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços SRTV 702, Via W 5 Norte, Edifício PO 700, 7º andar CEP: 70723-040 - Brasília/DF Site: www.saude.gov.br/svs E-mail: [email protected] Editor-Geral Adeilson Loureiro Cavalcante – SVS/MS Editores Científicos Adele Schwartz Benzaken – SVS/MS Daniela Buosi Rohlfs – SVS/MS João Paulo Toledo – SVS/MS Marta Roberta Santana Coelho – SVS/MS Sônia Maria Feitosa Brito – SVS/MS Editora Executiva Elisete Duarte – SVS/MS Editoras Assistentes Izabel Lucena Gadioli – SVS/MS Wanessa Tenório Gonçalves Holanda de Oliveira - SVS/MS Assistentes Editoriais Alessandra Viana Cardoso - SVS/MS Carla Simone Girotto de Almeida Pina - SVS/MS Lúcia Rolim Santana de Freitas - SVS/MS Supervisão da Produção Editorial Thaís de Souza Andrade Pansani – SVS/MS Revisão de Língua Portuguesa Maria Irene Lima Mariano – SVS/MS Diagramação Edite Damásio da Silva – CGDEP/SVS/MS Thaisa Abreu Oliveira – CGDEP/SVS/MS Projeto Gráfico Fabiano Camilo – Nucom/SVS/MS Sabrina Lopes – Nucom/SVS/MS Capa Fred Lobo – Nucom/SVS/MS Normalização Delano de Aquino Silva – Editora MS/CGDI Os quadros, figuras e tabelas constantes na obra, quando não indicados por fontes externas, são de autoria dos próprios colaboradores.
  • 6. Sumário Volume 1 Apresentação | 7 Capítulo 1 | 9 Influenza | 11 Doença Meningocócica | 35 Outras Meningites | 47 Capítulo 2 | 73 Coqueluche | 75 Difteria | 91 Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda | 107 Sarampo | 119 Rubéola | 135 Síndrome da Rubéola Congênita | 149 Varicela/Herpes-Zóster | 159 Tétano Acidental | 171 Tétano Neonatal | 181 Caxumba | 189 Capítulo 3 | 193 Botulismo | 195 Cólera | 205 Doenças Diarreicas Agudas | 219 Febre Tifoide | 235 Equipe de Colaboradores | 245
  • 8. Apresentação Esta primeira edição impressa do Guia de Vigilância em Saúde (GVS), editada pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), vem atualizar a sua versão eletrônica, publicada em 2014. Esta publicação substituiu e ampliou o escopo do Guia de Vigilância Epidemiológica (GVE), cuja primeira edição foi publicada em 1985. O GVE cumpriu, por décadas, o papel de orientar as ações de vigilância, prevenção e controle de doenças de importância na saúde pública no país. Diante dos novos desafios e de um novo contexto, em que diferentes estratégias e tecnologias são incorporadas às ações de saúde pública e a vigilância em saúde passa a ser entendida como “um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde”, que visa ao planejamento e à “implementação de medidas de saúde pública para a proteção da saúde da população, a prevenção e controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde” (Portaria nº 1.378/2013), faz-se necessária a revisão e permanente atualização do GVS. Dessa forma, esta edição atualiza as estratégias e recomendações relacionadas às ações de saúde pública para o enfrentamento das doenças transmissíveis e se alinha aos dispositivos da Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, que define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública, e da Portaria nº1.984, de 12 de setembro de 2014, que define a lista nacional destas doenças e agravos que devem ser monitorados por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas. O GVS, dadas as características da área, é mais do que um instrumento de informação. Contempla também as dimensões de “protocolos de conduta”, baseadas na aplicação do conhecimento científico no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) e de normas técnicas que orientam a atuação dos profissionais para o controle de doenças de importância em saúde pública. A publicação do GVS visa disseminar os procedimentos relativos aos fluxos, prazos, instrumentos, definições de casos suspeitos e confirmados, funcionamento dos sistemas de informação em saúde, condutas, medidas de controle e demais diretrizes técnicas para operacionalização do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Com as tecnologias de comunicação e informação eletrônicas cada vez mais disseminadas, a atualização passa a ter uma nova dinâmica, com a revisão de conteúdos sempre que haja novas evidências ou estratégias disponíveis. Para tanto, a Portaria nº 45, de 25 de abril de 2016, instituiu o Grupo de Trabalho que terá a atribuição de sua revisão periódica, “com a finalidade de incluir, excluir ou atualizar as diretrizes técnicas referentes às definições, procedimentos, fluxos e instrumentos referentes aos agravos, doenças e eventos de saúde pública”. Nesse sentido, recomenda-se aos leitores do GVS, especialmente àqueles que o utilizam para balizar suas práticas profissionais em saúde pública, estarem atentos às versões eletrônicas, que podem indicar eventual atualização de parte de seu conteúdo ou a inclusão de novos textos. Atualizações mais abrangentes de conteúdo, sempre que houver, demandarão nova edição impressa. Para a elaboração desta edição atualizada do GVS parte do conteúdo de alguns textos, presente em edições anteriores, foi mantida, em um processo de construção coletiva e histórica. Assim, importa agradecer a todos os profissionais, gestores e colaboradores que participaram da elaboração destas publicações bem como aos editores, às equipes técnicas da SVS/MS, membros de seus comitês técnicos assessores e demais colaboradores que participaram com empenho desta edição, identificados ao final de cada volume.
  • 9. A despeito da colaboração de centenas de profissionais neste processo, garante-se a autoria institucional das recomendações contidas neste GVS à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, como instituição coordenadora do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Finalmente, espera-se que o uso cotidiano deste GVS dissemine as informações e recomendações que possam contribuir para a institucionalização e aprimoramento das práticas da vigilância em saúde de forma integrada à rede de serviços de saúde em todos os municípios do país e, em última instância, que esta publicação contribua, em alguma medida, para a melhoria da saúde da população brasileira. Os editores
  • 12. 11 Influenza CID 10: J11 Influenza sazonal Características gerais Descrição Infecção viral aguda do sistema respiratório, de elevada transmissibilidade e distribuição global. Um indivíduo pode contraí-la várias vezes ao longo da vida. Em geral, tem evolução autolimitada, podendo, contudo, apresentar-se de forma grave. Sinonímia Gripe e influenza humana. Agente etiológico O vírus influenza, pertencente à família Ortomixiviridae, possui RNA de hélice única e se subdivide em três tipos antigenicamente distintos: A, B e C. O vírus tipo A é mais suscetível às variações antigênicas, e periodicamente sofre alterações em sua estrutura genômica, o que contribui para a existência de diversos subtipos. São responsáveis pela ocor- rência da maioria das epidemias de influenza e classificados de acordo com os tipos de proteínas que se localizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). A proteína H está associada à infecção das células do trato respiratório superior, onde o vírus se multiplica, enquanto a proteína N facilita a saída das partículas virais do interior das células infectadas. O vírus influenza tipo A infecta o homem, suínos, cavalos, mamíferos marinhos e aves; o tipo B infecta exclusivamente humanos; e o tipo C, humanos e suínos. O vírus tipo B sofre menos variações antigênicas e, por isso, está associado com epidemias mais localizadas. O vírus tipo C é antigenicamente estável, provoca doença subclínica e não ocasiona epidemias, mo- tivo pelo qual merece menos destaque em saúde pública. Reservatório O homem, suínos, equinos, focas e aves são os principais reservatórios. As aves migratórias, princi- palmente as aquáticas e as silvestres, desempenham importante papel na disseminação natural da doença entre distintos pontos do globo terrestre. Modo de transmissão Em geral, a transmissão ocorre dentro da mesma espécie, exceto entre os suínos, cujas células pos- suem receptores para os vírus humanos e aviários. A transmissão direta (pessoa a pessoa) é mais comum e ocorre por meio de gotículas, expelidas pelo indivíduo infectado com o vírus influenza, ao falar, espirrar e tossir. Eventualmente, pode ocorrer transmis- são pelo ar, pela inalação de partículas residuais, que podem ser levadas a distâncias maiores que 1 metro. Também há evidências de transmissão pelo modo indireto, por meio do contato com as secreções de outros doentes. Nesse caso, as mãos são o principal veículo, ao propiciarem a introdução de partículas Influenza
  • 13. Guia de Vigilância em Saúde 12 virais diretamente nas mucosas oral, nasal e ocular. A eficiência da transmissão por essas vias depende da carga viral, contaminantes por fatores ambientais, como umidade e temperatura, e do tempo transcorrido entre a contaminação e o contato com a superfície contaminada. A infecciosidade está relacionada com a excreção viral pelo trato respiratório superior, porém a cor- relação entre a excreção viral nasofaríngea e a transmissão é incerta e pode variar, particularmente em função do nível de imunidade preexistente. Período de incubação Em geral, de 1 a 4 dias. Período de transmissibilidade Indivíduos adultos saudáveis infectados transmitem o vírus entre 24 e 48 horas antes do início de sintomas, porém em quantidades mais baixas do que durante o período sintomático. Nesse período, o pico da excreção viral ocorre principalmente entre as primeiras 24 até 72 horas do início da doença, e declina até níveis não detectáveis por volta do 5º dia, após o início dos sintomas. Pessoas com alto grau de imunodepressão podem excretar vírus por semanas ou meses. As crianças, comparadas aos adultos, também excretam vírus mais precocemente, com maior carga viral e por longos períodos. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade é geral. A imunidade aos vírus influenza é adquirida a partir da infecção natural ou por meio de vacinação, sendo que esta garante imunidade apenas em relação aos vírus homólogos da sua composição. Assim, um hospedeiro que tenha tido uma infecção com determinada cepa terá pouca ou nenhuma imunidade con- tra uma nova infecção por uma cepa variante do mesmo vírus. Isso explica, em parte, a grande capacidade deste vírus em causar frequentes epidemias e a necessidade de atualização constante da composição da vacina com as cepas circulantes. Manifestações clínicas Classicamente, o quadro clínico da influenza sazonal tem início abrupto, com sintomas de síndrome gripal (SG), como febre, tosse seca, dor de garganta, mialgia, cefaleia e prostração. Geralmente, tem reso- lução espontânea em aproximadamente 7 dias, embora a tosse, o mal-estar e a fadiga possam permanecer por algumas semanas e em alguns casos, principalmente em indivíduos com fatores e/ou condições de risco, pode evoluir para síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Em crianças com menos de 2 anos de idade, considera-se também como caso de SG: febre de início súbito (mesmo que referida) e sintomas respiratórios (tosse, coriza e obstrução nasal), na ausência de outro diagnóstico específico. Complicações Alguns casos podem evoluir com complicações, especialmente em indivíduos com doença crônica, idosos e crianças menores de 2 anos, o que acarreta elevados níveis de morbimortalidade. As mais comuns são:
  • 14. 13 - diovasculares (especialmente doença reumática com estenose mitral) ou em mulheres grávidas. A principal complicação são as pneumonias, responsáveis por um grande número de internações hospitalares no país. Diagnóstico Diagnóstico clínico O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como SG. O diagnóstico depende da investigação clínico-epidemiológica e do exame físico. Diagnóstico laboratorial A amostra clínica preferencial é a secreção da nasofaringe (SNF). Considerando a influenza sazonal, o período para coleta é preferencialmente entre o 3º e o 7º dia após o início dos primeiros sintomas. Nos casos de SRAG hospitalizado e óbito por SRAG a coleta deve ser realizada independente do dia de início dos sintomas, incluindo os casos em unidade de terapia intensiva (UTI). O diagnóstico laboratorial pela pesquisa de vírus da influenza é um dos componentes da vigilância de influenza, a qual se baseia nas estratégias de vigilância sentinela de SG, SRAG em UTI e vigilância universal da SRAG. Nas unidades de saúde sentinelas de SG preconiza-se a coleta de cinco amostras de SNF e/ou orofa- ringe, conforme a técnica de coleta, por semana epidemiológica (SE). Para as unidades de saúde sentinelas de SRAG, devem ser coletadas amostras de todos os casos de SRAG internados em UTI. Para a vigilância universal de SRAG, a coleta de amostras deve ocorrer em todos os casos hospitalizados. As amostras são processadas por biologia molecular, pela técnica de reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real. Nos laboratórios que ainda não realizam as técnicas mo- leculares, as amostras devem ser processadas pelo método da imunofluorescência indireta (IFI). Na técni- ca de IFI, utiliza-se um painel de soros que detecta, além das influenzas A e B, outros vírus respiratórios de interesse (vírus sincicial respiratório, parainfluenza 1, 2 e 3 e adenovírus). De forma complementar e para controle de qualidade, são utilizadas as técnicas de biologia molecular e isolamento viral. Os exames iniciais são realizados nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) e os comple- mentares, como a caracterização antigênica e genética dos vírus isolados, além da análise de resistências aos antivirais, nos laboratórios de referência qualificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A caracterização complementar para influenza, das amostras enviadas pelos laboratórios de referência, é realizada no Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o qual é a referência para as Américas como centro colaborador da OMS. Orientações sobre coleta, transporte, acondicionamento e envio das amostras estão descritas no Anexo A. Diagnóstico diferencial As características clínicas não são específicas e podem ser similares àquelas causadas por outros vírus respiratórios, que também ocorrem sob a forma de surtos e, eventualmente, circulam ao mesmo tempo, tais como rinovírus, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, adenovírus, coronavírus, entre outros. Influenza
  • 15. Guia de Vigilância em Saúde 14 Apesar de os sintomas sistêmicos serem mais intensos na influenza que nas demais infecções virais, elas cursam com quadro clínico semelhante, daí a denominação de síndrome gripal, o que torna difícil o diagnóstico diferencial apenas pelo exame clínico. Desse modo, orienta-se seguir o algoritmo de diagnóstico laboratorial de vírus respiratórios (Figura 1). Figura 1 – Algoritmo de diagnóstico laboratorial para influenza e outros vírus respiratórios Protocolo de reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real para vírus influenza Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) - Recepção e preparação de 3 alíquotas da amostra original: 1 uso e 2 estoques para envio ao laboratório de referência De acordo com os critérios Laboratório de referência Recepção da amostra - Aspirado de nasofaringe ou swab oro/nasofaringe Protocolo de RT-PCR em tempo real para outros vírus respiratórios Repetir o protocolo de RT-PCR em tempo real Inconclusivo (+) Influenza (-) influenza (-) Influenza (+) Influenza Inconclusivo Protocolo de RT-PCR em tempo real Caracterização antigênica Caracterização genética Resistência aos antivirais Envio para o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (+) Outros vírus (-) Outros vírus Imunofluorescência indireta (IFI) De acordo com os critérios Oportunidade para o resultado laboratorial Os resultados de tipificação do vírus influenza devem ser disponibilizados em tempo oportuno, com o objetivo de monitorar o vírus e o aumento da circulação. O prazo para envio oportuno do resultado de diagnóstico laboratorial da influenza é de 7 dias, contabilizados entre o recebimento da amostra no Lacen e a liberação do resultado.
  • 16. 15 As amostras biológicas coletadas nas unidades de saúde devem ser encaminhadas aos Lacen o mais breve possível pela equipe de vigilância epidemiológica local. Para as análises complementares do vírus influenza, são pontuados alguns critérios de envio de amostras do Lacen para seu laboratório de referência regional, conforme o período sazonal e também a região geográfica. O detalhamento destas e outras informações laboratoriais estão descritas no Guia para Rede Laboratorial de Vigilância de Influenza no Brasil. Tratamento Os antivirais fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) e zanamivir (Relenza®) são medicamentos de escolha para o tratamento de influenza (Quadro 1). Quadro 1 – Posologia e administração dos medicamentos utilizados para o tratamento de influenza Droga Faixa etária Posologia Oseltamivir Adulto 75mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias Criança maior de 1 ano de idade 30mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias >15kg a 23kg 45mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias >23kg a 40kg 60mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias >40kg 75mg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias Criança menor de 1 ano de idade 0 a 8 meses 3mg/kg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias 9 a 11meses 3,5mg/kg, via oral, 12 em 12 horas por 5 dias Zanamivir Adulto 10mg: duas inalações de 5mg, 12 em 12 horas por 5 dias 10mg: duas inalações de 5mg, 12 em 12 horas por 5 dias Fonte: GSK/Roche e CDC. Para o tratamento no período neonatal (tratamento durante 5 dias), recomenda-se: A indicação de zanamivir somente está autorizada em casos de intolerância gastrointestinal grave, alergia e resistência ao oseltamivir. O zanamivir é contraindicado em menores de 5 anos para tratamento ou quimioprofilaxia e para todo paciente com doença respiratória crônica pelo risco de broncoespasmo severo. O zanamivir não pode ser administrado para paciente em ventilação mecânica porque essa medi- cação pode obstruir os circuitos do ventilador. O tratamento com o antiviral, de maneira precoce, pode reduzir a duração dos sintomas, principal- mente em pacientes com imunossupressão. O Ministério da Saúde (MS) disponibiliza estes medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS); para isso, é recomendado o uso do receituário simples para a prescrição do medicamento. Recomenda-se seguir o Protocolo para a classificação de atendimento e manejo clínico do paciente suspeito de infecção por influenza. Influenza
  • 17. Guia de Vigilância em Saúde 16 Devem ser tratados imediatamente com fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) os pacientes com: de gravidade: - saturação de SpO2 <95% em ar ambiente; - sinais de desconforto respiratório ou aumento da frequência respiratória avaliada de acordo com idade; - piora nas condições clínicas de doença de base; - hipotensão em relação à pressão arterial habitual do paciente. - grávidas em qualquer idade gestacional, puérperas até duas semanas após o parto (incluindo as que tiveram aborto ou perda fetal); - adultos ≥60 anos; crianças <5 anos (sendo que o maior risco de hospitalização é em menores de 2 anos, especialmente nos menores de 6 meses, que apresentam maior taxa de mortalidade); - população indígena aldeada; indivíduos menores de 19 anos de idade em uso prolongado de ácido acetilsalicílico (risco de síndrome de Reye); - indivíduos que apresentem: pneumopatias (incluindo asma); pacientes com tuberculose de todas as formas (há evidências de maior complicação e possibilidade de reativação); cardiovasculopatias (excluindo hipertensão arterial sistêmica); nefropatias; hepatopatias; doenças hematológicas (incluindo anemia falciforme); distúrbios metabólicos (incluindo diabetes mellitus); transtornos neurológicos e do desenvolvimento que podem comprome- ter a função respiratória ou aumentar o risco de aspiração (disfunção cognitiva, lesão me- 2 em adultos). Indivíduo de qualquer idade com quadro de insuficiência respiratória aguda durante o perí- odo sazonal. Informações adicionais para tratamento Quando ocorrer suspeita de eventos adversos ao antiviral, a notificação deve ser feita à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por meio do Sistema de Notificações em Vigilância Sani- tária (Notivisa). Os pacientes que desenvolvem efeitos colaterais gastrointestinais, tais como diarreia, náusea, vômito, ou outros graves, podem ter a absorção oral do fosfato de oseltamivir reduzida, mas, nesses casos, não há indicação para aumento da dose ou do tempo de utilização. Entretanto, relatos de séries de casos sugerem possível benefício em casos graves ou em pessoas com imunossupressão, com dose dobrada e prolonga- mento do tratamento acima de 5 dias. Para pacientes que vomitam até uma hora após a ingestão do medicamento, deve ser administrada uma dose adicional. A dose deve ser ajustada no caso de insuficiência renal, com base no clearence de creatinina. As re- comendações para o ajuste estão apresentadas no Quadro 2. Orientar o afastamento temporário das atividades de rotina (trabalho, escola), de acordo com cada caso, avaliando o período de transmissibilidade da doença.
  • 18. 17 Quadro 2 – Recomendações para ajuste de doses de oseltamivir na insuficiência renal Comprometimento renal/ Clearance de creatinina Tratamento (5 dias) Profilaxia (10 dias) Leve Clearance>60-90mL/min 75mg, 12 em 12h 75mg, 1x/dia Moderado Clearance>30-60mL/min 30mg, 12 em 12h 30mg, 1x/dia Severo Clearance>10–30mL/min 30mg, 1x/dia 30mg em dias alternados Pacientes em hemodiálisea Clearance 30mg após cada sessão de hemodiáliseb 30mg após cada sessão alternada de hemodiálise Pacientes em Diálise Peritoneal Contínua Ambulatorial (DPCA)c Clearance Dose única de 30mg administrada imediatamente após troca da diálise. 30mg 1 vez por semana imediatamente após troca da diálised a Em hemodiálise, a dose deve ser 30mg após cada sessão de hemodiálise. Hemodiálise: 1 hora após a sessão em dias alternados no total de 5 dias con- secutivos (pacientes com diálise em regime de 3 vezes por semana) ou seja , total de 3 doses de 30mg de oseltamivir equivaleria ao tratamento total habitualmente recomendado de 5 dias para pacientes não portadores de insuficiência renal crônica. b Apenas 3 doses após cada sessão de hemodiálise, considerando-se que num período de 5 dias, serão realizadas 3 sessões. c Em diálise peritoneal, a dose deve ser de 30mg uma vez por semana. Diálise peritoneal: recomendada apenas 1 dose 1 vez por semana, a qual equivale ao tratamento completo. Para profilaxia, 1 dose 1 vez por semana, durante 2 semanas. d 2 doses de 30mg cada, considerando-se os 10 dias, onde ocorrerão apenas 2 sessões de diálise. Tratamento adjunto de antibiótico com antiviral Recomenda-se que os médicos sigam as indicações dos protocolos/consensos divulgados pelas so- ciedades de especialidades, como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC) e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Quimioprofilaxia Os antivirais apresentam de 70 a 90% de eficácia na prevenção da influenza e constituem ferramenta adjuvante da vacinação. Entretanto, a quimioprofilaxia indiscriminada não é recomendável, pois pode promover a resistência viral. A quimioprofilaxia com antiviral geralmente não é recomendada se o período após a última exposi- ção a uma pessoa com infecção pelo vírus for maior que 48 horas (considera-se exposta a pessoa que teve contato com caso suspeito ou confirmado para influenza). Para ampliar a efetividade da quimioprofilaxia, o antiviral deve ser administrado durante a potencial exposição à pessoa com influenza e continuar por mais 7 dias após a última exposição conhecida. Os esquemas terapêuticos para quimioprofilaxia da influenza em adultos e crianças são apresentados no Quadro 3. Indicações da quimioprofilaxia para influenza - nas, após exposição a caso suspeito ou confirmado de influenza. a dose de vacina com intervalo de 1 mês para serem consideradas vacinadas. E aquelas com condições ou fatores de risco, e que foram expostas a caso suspeito ou confirmadas no intervalo entre a 1a e a 2a dose ou com menos de duas semanas após a 2a dose. Influenza
  • 19. Guia de Vigilância em Saúde 18 imunossupressores e pessoas com aids com imunodepressão avançada) ou outros fatores que pos- sam interferir na resposta à vacinação contra a influenza, após contato com pessoa infectada. - pulado amostras clínicas de origem respiratória que contenham o vírus influenza sem uso adequa- do de equipamento de proteção individual (EPI). - dos na realização de procedimentos invasivos geradores de aerossóis ou na manipulação de secre- ções de caso suspeito ou confirmado de influenza, sem o uso adequado de EPI. na instituição. trabalhador, tais como: asilos, orfanatos, presídios, hospitais psiquiátricos. suspeitos ou confirmados para influenza com vínculo epidemiológico. - A quimioprofilaxia para todos os residentes ou internos é recomendada para controlar sur- tos somente se a instituição ou hospital de longa permanência for destinado para pessoas com condições e fatores de risco para complicações. Neste caso, indica-se, em surto suspeito ou confirmado de influenza nesses ambientes, o uso de quimioprofilaxia antiviral para todos os expostos residentes ou internados, independentemente da situação vacinal. Para trabalhadores e profissionais de saúde, é recomendada, somente para os não vacinados ou vacinados há menos de duas semanas, a quimioprofilaxia com antiviral na instituição por no mínimo duas semanas e até pelo menos 7 dias após a identificação do último caso. Quadro 3 – Esquemas terapêuticos para quimioprofilaxia de influenza Droga Faixa etáriaa Posologia Oseltamivir Adulto 75mg/dia, via oral, por 10 dias Criança maior de 1 ano de idade 30mg/dia, via oral, por 10 dias >15kg a 23kg 45mg/dia, via oral, por 10 dias >23kg a 40kg 60mg/dia, via oral, por 10 dias >40kg 75mg/dia, via oral, por 10 dias Criança menor de 1 ano de idade 0 a 8 meses 3mg/kg, via oral, por 10 dias 9 a 11 meses 3,5mg/dia, via oral, por 10 dias Zanamivir Adulto 10mg: duas inalações de 5mg/dia, por 10 dias Criança a partir de 5 anos 10mg: duas inalações de 5mg/dia, por 10 dias Fonte: GSK/Roche e CDC. a Em crianças com menos de 3 meses de idade não é recomendada a quimioprofilaxia a menos que a situação seja julgada como crítica. Características epidemiológicas A influenza é uma doença sazonal, de ocorrência anual; em regiões de clima temperado, as epidemias ocorrem quase que exclusivamente nos meses de inverno. No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as regiões, sendo mais marcado naquelas com estações cli- máticas bem definidas, ocorrendo com maior frequência nos meses mais frios, em locais de clima temperado.
  • 20. 19 No século XX, ocorreram três importantes pandemias de influenza, a gripe espanhola (1918-20), a gripe asiática (1957-60) e a de Hong Kong (1968-72), que, juntas, resultaram em altas taxas de mortalida- de, com quase 1 milhão de óbitos. Uma característica importante das pandemias é a substituição da cepa atual por uma nova cepa pandêmica. Nesse contexto, a influenza constitui uma das grandes preocupações das autoridades sa- nitárias mundiais, devido ao seu impacto na morbimortalidade decorrente das variações antigênicas cíclicas sazonais. Além disso, existe a possibilidade de haver pandemias, pela alta capacidade de mu- tação antigênica do vírus influenza A, inclusive com troca genética com vírus não humanos, ocasio- nando rápida disseminação e impacto entre os suscetíveis não imunes, com grande repercussão social e econômica. A importância da influenza como questão de saúde pública cresceu após o ano de 2009, quando se registrou a primeira pandemia do século XXI, devido ao vírus influenza A (H1N1) pdm09, com mais de 190 países notificando milhares de casos e óbitos pela doença. Verifica-se maior gravidade em idosos, crianças, pessoas com comprometimento imunológico, cardiopatias e pneumopatias, entre outros. Vigilância epidemiológica Objetivos à pandemia de influenza. Vigilância sentinela da influenza Rede sentinela em influenza e sua composição Unidades sentinelas para registro de informação de casos de SG e SRAG são unidades ou serviços de saúde já implantados e cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e Sis- tema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), que atuam na identificação, registro, investigação e diagnóstico de casos suspeitos e confirmados. De acordo com a Portaria no 183, de 30 de janeiro de 2014, do Ministério da Saúde, a rede sentinela em influenza é composta por unidades de saúde definidas pelos gestores e técnicos dos municípios, esta- dos e Distrito Federal, sendo habilitadas por processo de pactuação no respectivo Colegiado de Gestão, segundo o fluxo estabelecido pelas Secretarias Municipais de Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde. Os sítios sentinelas para a vigilância da influenza estão distribuídos em unidades de saúde de todas as Unidades Federadas (UFs) e têm como objetivo principal identificar os vírus da influenza circulantes no Brasil, para: para a OMS; Influenza
  • 21. Guia de Vigilância em Saúde 20 visando à orientação terapêutica; graves como de casos leves; O registro de casos de SG e SRAG deverá ser feito pelas unidades sentinelas e inserido no SIVEP- -Gripe, o qual é o instrumento oficial de registro das informações. Tal registro deve ser realizado de acor- do com o fluxo estabelecido e organizado em cada UF. Os casos identificados em unidades de vigilância sentinela devem ser notificados pelo profissional de saúde, no SIVEP-Gripe, no qual estão disponíveis as fichas individuais e relacionadas ao agregado de casos. O acesso ao sistema é restrito a técnicos. Para a informação do agregado de SG da unidade sentinela, deve-se selecionar o número de atendimentos por SG na respectiva semana epidemiológica por faixa etária e sexo, utilizando, como critérios de inclusão, os atendimentos por: gripe, SG, influenza, resfriado, faringite, laringite, amigdalite, traqueíte, infecção das vias aéreas superiores (IVAS), dor de garganta, rinorreia e laringotraqueíte. Também poderão ser utilizados os seguintes CID 10: J00 Nasofaringite aguda (resfriado comum); J02.9 Faringite aguda não especificada; J03.9 Amigdalite aguda não especificada; J04.0 Laringite aguda; J04.1 Traqueíte aguda; J04.2 Laringotraqueíte aguda; J06 (todos) Infecção aguda das vias aéreas superiores e não especificadas; J10 (todos) Influenza devido a vírus influenza identificado; e J11 (todos) Influenza devido a vírus influenza não identificado. E para a informação dos agregados de atendimentos de SRAG, selecionar as internações classificadas como pneumonia e influenza de acordo com os códigos CID 10: J09 a J18 da unidade sentinela, também por semana epidemiológica. Metas estabelecidas para as unidades sentinelas de influenza SG de SNF; alimentar o Sistema SIVEP-Gripe semanalmente e informar proporção de atendimentos por SG, em relação ao total de atendimentos no serviço, semanalmente. SRAG amostra, envio ao Lacen e digitação no SIVEP-Gripe, semanalmente. Coletar, do total dos casos registrados, 80% de amostra. Realizar em 90% das semanas epidemiológicas registro do número de internações que ocorreram na instituição por CID 10: J09 a J18. As metas estabelecidas para as unidades sentinelas de influenza são monitoradas conforme a Portaria no 183, de 30 de janeiro de 2014, do Ministério da Saúde. O não cumprimento implica na necessidade de elabora- ção de justificativa, que será avaliada e auxiliará na tomada de decisão para a suspensão do repasse financeiro. Vigilância universal de SRAG AvigilânciauniversaldeSRAGfoiimplantadanoBrasilem2009,emdecorrênciadapandemiadeinfluenza e, a partir deste fato, o Ministério da Saúde incluiu esta notificação na rotina dos serviços de vigilância em saúde. Definição de caso Vigilância sentinela SG início dos sintomas nos últimos 7 dias.
  • 22. 21 SRAG apresente dispneia e que foi hospitalizado em UTI. Vigilância universal de SRAG saturação de O2 <95% ou desconforto respiratório. Deve ser registrado o óbito por SRAG indepen- dentemente de internação. que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta e pelo menos um dos seguintes sintomas: cefaleia, mialgia ou artralgia; que referida, e sintomas respiratórios. SRAG confirmado para influenza ou outro vírus respiratório laboratorial e que tenha sido contato próximo de um caso laboratorialmente confirmado ou per- tença à mesma cadeia de transmissão para influenza. Vigilância de surto de SG - tos, observando-se as datas de início dos sintomas. parainfluenzavinculadosepidemiologicamente,emumadeterminadaunidade(enfermaria,UTI),obser- vando-se as datas de início dos sintomas, e que tenham ocorrido no mínimo 72 horas após a admissão. Critério de confirmação de agente etiológico em um surto de SG Resultado laboratorial positivo em, pelo menos, uma das 3 amostras coletadas. Nessa situação, todos os demais casos suspeitos relacionados ao surto, ou seja, integrantes da mesma cadeia de transmissão, deverão ser confirmados por vínculo (critério clínico-epidemiológico). Critério de descarte de agente etiológico em um surto de SG Resultado laboratorial negativo nas amostras coletadas, conservadas e transportadas de modo ade- quado ao laboratório. Nessa situação, todos os demais casos de SG relacionados ao surto (mesma cadeia de transmissão) deverão ser descartados por vínculo (critério clínico-epidemiológico). Notificação O que deve ser notificado? - do específico. de Agravos de Notificação (Sinan NET), assinalando, no campo Código do Agravo/Doença da Ficha de Investigação de Surto, o CID J06. Nos casos de surtos, a vigilância epidemiológica local deverá ser prontamente notificada/informada. Influenza
  • 23. Guia de Vigilância em Saúde 22 Os casos de surto de SG que evoluírem para forma grave, de acordo com a definição de caso de SRAG, deverão ser notificados individualmente em sistema informatizado específico. O que não deve ser notificado? Casos isolados de SG, com ou sem fator de risco para complicações pela doença, inclusive aqueles para os quais foi administrado o antiviral. Quando casos isolados de SG forem atendidos em unidades sentinelas e triados para coleta de amos- tras, devem ser registrados no SIVEP-Gripe. Investigação Caracterização clínico-epidemiológica inicial Para caracterizar e descrever o evento, a autoridade de saúde local deverá registrar: - tre outros); pessoas com fatores de risco para o desenvolvimento de complicações da doença. Atentar para: - verificação da notificação do surto corresponde à definição padronizada; - verificação da história vacinal (contra influenza) dos casos; - descrição sobre se houve indicação e realização de quimioprofilaxia; - destaque de outras informações relevantes, detectadas durante a investigação epidemiológica, que não estão contempladas na ficha de investigação de influenza. Para efeito operacional, diante da ocorrência de surtos de síndrome gripal serão considerados na cadeia de transmissão apenas os casos identificados no momento da investigação, não sendo necessária a inclusão dos demais casos identificados posteriormente, mesmo que tenham vínculo epidemiológico. Medidas de prevenção e controle Imunização Vacina influenza trivalente (fragmentada, inativada) É realizada anualmente para prevenção da doença. Pode ser administrada antes da exposição ao vírus e é capaz de promover imunidade efetiva e segura durante o período de circulação sazonal do vírus. A composição e a concentração de antígenos hemaglutinina (HA) são atualizadas a cada ano, em função dos dados epidemiológicos que apontam o tipo e cepa do vírus influenza que está circulando de forma predominante nos hemisférios Norte e Sul. A estratégia de vacinação no país é direcionada para grupos prioritários com predisposição para complicações da doença e a vacina é administrada anualmente. Recomenda-se, para crianças de 6 meses a 8 anos, 11 meses e 29 dias, que estarão recebendo a vacina pela primeira vez, administrar duas doses, conforme descrito no informe técnico anual da campanha. Nos anos subsequentes, ape- nas uma dose.
  • 24. 23 Indicação ausência compromete o funcionamento desses serviços. A vacinação de pessoas com comorbidades ou condições clínicas especiais será realizada em todos os postos de vacinação e nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Nestes casos, mantém-se a necessidade de prescrição médica, que deverá ser apresentada no ato da vacinação. A indi- cação da vacina influenza sazonal está destacada no Quadro 4. Quadro 4 – Categorias de risco clínico com indicação da vacina influenza sazonal Categoria de risco clínico Indicações Doença respiratória crônica Asma em uso de corticóide inalatório ou sistêmico (moderada ou grave) DPOC Bronquiectasia Fibrose cística Doenças intersticiais do pulmão Displasia broncopulmonar Hipertensão arterial pulmonar Crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade Doença cardíaca crônica Doença cardíaca congênita Hipertensão arterial sistêmica com comorbidade Doença cardíaca isquêmica Insuficiência cardíaca Doença renal crônica Doença renal nos estágios 3,4 e 5 Síndrome nefrótica Paciente em diálise Doença hepática crônica Atresia biliar Hepatites crônicas Cirrose Diabetes Diabetes mellitus tipo I e tipo II em uso de medicamentos Doença neurológica crônica Condições em que a função respiratória pode estar comprometida pela doença neurológica Considerar as necessidades clínicas individuais dos pacientes incluindo AVC, indivíduos com paralisia cerebral, esclerose múltipla e condições similares Doenças hereditárias e degenerativas do sistema nervoso ou muscular Deficiência neurológica grave Imunossupressão Imunodeficiência congênita ou adquirida Imunossupressão por doenças ou medicamentos Obesos Obesidade grau III Transplantados Órgãos sólidos Medula óssea Portadores de trissomias Síndrome de Down, Síndrome de Klinefelter, Sídrome de Wakany, dentre outras trissomias Influenza
  • 25. Guia de Vigilância em Saúde 24 Precauções receber a vacina da influenza mediante adoção de medidas de segurança. Recomenda-se observar o indivíduo vacinado por pelo menos 30 minutos em ambiente com condições de atendimento de reações anafiláticas. Contraindicação imediata (reação anafilática). Via de administração aplicações em locais diferentes. Vigilância dos eventos adversos pós-vacinação A vacina influenza é constituída por vírus inativados, o que significa que contém somente vírus mor- excelente e bons níveis de tolerância. Processos agudos respiratórios (gripe e resfriado) após a administração da vacina significam processos coincidentes e não estão relacionados com a vacina. Os eventos adversos pós-vacinação (EAPV) podem ser relacionados à composição da vacina, aos indivíduos vacinados, à técnica usada em sua administração, ou a coincidências com outros agravos. De acordo com sua localização, podem ser locais ou sistêmicos e, de acordo com sua gravidade, podem ser leves, moderados ou graves. Manifestações locais - ma e enduração, ocorrem em 10 a 64% dos pacientes, sendo benignas e autolimitadas, geralmente resolvidas em 48 horas. Em quase todos os casos, há uma recuperação espontânea e não se requer atenção médica. Os abscessos, normalmente, encontram-se associados com infecção secundária ou erros na técnica de aplicação. Manifestações sistêmicas febre, mal-estar e mialgia, que podem começar entre 6 e 12 horas após a vacinação e persistir por 1 a 2 dias. Essas manifestações são mais frequentes em pessoas que não tiveram contato anterior Reações de hipersensibilidade - sensibilidade a qualquer componente da vacina. Reações anafiláticas graves relacionadas a doses anteriores também contraindicam doses subsequentes. Manifestações neurológicas podem anteceder a síndrome de Guillain-Barré (SGB), que se manifesta clinicamente como polir- radiculoneurite inflamatória com lesão de desmielinização, parestesias e deficit motor ascendente de intensidade variável. Geralmente, os sintomas aparecem entre 7 e 21 dias, no máximo até 42 dias (6 semanas) após a exposição ao possível agente desencadeante. Até o momento, há poucas evidên- cias se a vacina influenza pode aumentar o risco de recorrência da SGB em indivíduos com história pregressa desta patologia. Recomenda-se precaução na vacinação dos indivíduos com história pre- gressa da SGB, mesmo sabendo ser bastante rara. Os riscos e benefícios devem ser discutidos com o médico.
  • 26. 25 Para o encerramento apropriado dos casos notificados de EAPV, o Programa Nacional de Imuniza- ções (PNI) conta com uma rede de profissionais responsáveis pela notificação, investigação e avaliação dos casos nas Unidades Federadas e com o Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacinas e Outros Imunobiológicos (CIFAVI). Precauções padrão A implementação das precauções padrão constitui a principal medida de prevenção da transmissão entre pacientes e profissionais de saúde e deve ser adotada no cuidado de todos os pacientes, independen- temente dos fatores de risco ou doença de base. Compreendem: e secreções); de serviços de saúde da Anvisa. Precauções para gotículas Além das precauções padrão, devem ser implantadas as precauções para gotículas, que serão utiliza- das para pacientes com suspeita ou confirmação de infecção por influenza. Recomenda-se: com oseltamivir. Situações com geração de aerossóis No caso de procedimentos que gerem aerossóis com partículas <5µm, que podem ficar suspensas no ar por longos períodos (intubação, sucção, nebulização), recomenda-se: profissional de saúde, durante o procedimento de assistência ao paciente; Limpeza e desinfecção de superfícies resíduos de serviços de saúde da Anvisa. Influenza
  • 27. Guia de Vigilância em Saúde 26 Outras medidas que evitam a transmissão da influenza e outras doenças respiratórias Cuidados no manejo de crianças em creches - rem visivelmente sujos. principalmente quando a criança estiver com suspeita de síndrome gripal. quando há notificação de surto de SG na cidade; os cuidadores devem notificar os pais quando a criança apresentar os sintomas citados acima. casa, a fim de evitar a transmissão da doença. observemumaumentodonúmerodecriançasdoentescomSGoucomabsenteísmopelamesmacausa. Cuidados adicionais com gestantes, puérperas e crianças para evitar infecções secundárias (pneumonia) e a transmissão da doença Gestante − buscar o serviço de saúde caso apresente sintomas de síndrome gripal; na internação para o trabalho de parto, priorizar o isolamento se a gestante estiver com sintomas de influenza. Puérpera − após o nascimento do bebê, se a mãe estiver doente, deve ser orientada a usar máscara e higienizar as mãos imediatamente após tocar nariz, boca e sempre que for amamentar ou prestar cuidados ao recém-nascido. Criança − em caso de recém-nascidos, priorizar o seu isolamento, junto com a mãe (não utilizar berçários). Os profissionais e mães devem higienizar as mãos e os utensílios do bebê (mamadeiras, termômetros). Para mais informações, consultar o Protocolo de Tratamento de Influenza (2015). Condutas frente a surtos e eventos Ainfluenzapodesedisseminarrapidamenteentreaspopulações,especialmenteasquevivememambientes restritos ou fechados, podendo causar morbidade considerável e interrupção das atividades diárias. Por isso, é importante que, diante de situações de surto ou epidemia, sejam adotadas medidas específicas para interrupção.
  • 28. 27 Recomendações para instituições fechadas e hospitais de longa permanência mínimo dois casos confirmados. Protocolo de Tratamento de Influenza (2015). todos os residentes e internados com suspeita ou confirmação de influenza por 7 dias após o início dos sintomas ou por até 24 horas após o desaparecimento da febre e dos sintomas respiratórios. sintomas compatíveis). Recomendações para escolas e creches - das, devendo somente receber quimioprofilaxia individual pessoas consideradas com condi- ções e fator de risco para complicações por influenza, de acordo com protocolo de tratamen- to de influenza. temporário por 48 horas na suspeita clínica de influenza, podendo ser liberado o retorno à escola se clinicamente estável, sem uso de antitérmico e sem febre há 24 horas. Ao retornar à escola, man- ter os cuidados de etiqueta respiratória durante sintomas. como medida de prevenção e controle de infecção. Recomendações para população privada de liberdade - tar de população de risco de complicação para influenza. Deve ser feita a quimioprofilaxia somente para pessoas expostas, consideradas com condição ou fator de risco para complicações. dois casos confirmados. Medidas adicionais - rem, deverão usar máscara cirúrgica. atingidas pelo surto. Influenza
  • 29. Guia de Vigilância em Saúde 28 Influenza por novo subtipo viral Características gerais Descrição A influenza constitui-se em uma das grandes preocupações das autoridades sanitárias mundiais, de- vido ao seu impacto na morbimortalidade decorrente das variações antigênicas cíclicas sazonais, havendo maior gravidade entre os idosos, as crianças, os imunodeprimidos, os cardiopatas e os pneumopatas, entre outros. Além disso, existe a possibilidade de ocorrerem pandemias devido à alta capacidade de mutação antigênica do vírus influenza A, inclusive com troca genética com vírus não humanos, ocasionando rápi- da disseminação e impacto entre os suscetíveis não imunes, com grande repercussão social e econômica. Características epidemiológicas No século XX, ocorreram três importantes pandemias de influenza (a Gripe Espanhola, entre 1918- 20; a Gripe Asiática, entre 1957-60; e a de Hong Kong, entre 1968-72) que, somadas, resultaram em altas taxas de mortalidade, com quase 1 milhão de óbitos. Uma característica importante das pandemias é que cada nova cepa pandêmica substituía a anterior. A importância da influenza como questão de saúde pública cresceu enormemente após o ano de 2009, quando se registrou a primeira pandemia do século XXI, com mais de 190 países notificando milhares de casos e óbitos pela doença, denominada influenza pandêmica A (H1N1) 2009. Este novo subtipo viral foi identifica- do em abril de 2009, em junho do mesmo ano foi declarada a fase 6 e, em agosto de 2010, a fase pós-pandêmica. Uma pandemia de influenza pode ocorrer quando um vírus não humano ganha a habilidade de transmissão inter-humana (humano para humano) de forma eficiente e sustentada, e espalhando-se glo- balmente. Os vírus da gripe que têm o potencial para causar uma pandemia são referidos como "vírus da gripe com potencial pandêmico”. Exemplos de vírus da gripe com potencial pandêmico incluem influenza aviária A (H5N1) e (H7N9), da "gripe aviária". Estes são os vírus não humanos (circulam entre humanos e aves em algumas partes do mundo). Infecções humanas com esses vírus têm ocorrido raramente, mas se qualquer um deles passar por mutação poderá adquirir capacidade de infectar seres humanos e espalhar-se facilmente de pessoa para pessoa, o que poderia resultar em uma pandemia. A preparação para uma pandemia inclui a vigilância permanente de vírus da gripe humana e animal, avaliações de risco dos vírus da gripe com potencial pandêmico, bem como o desenvolvimento e aper- feiçoamento de ferramentas de preparação que podem ajudar os profissionais de saúde pública, no caso de uma pandemia por influenza, pois a gripe é imprevisível, tal como são as pandemias futuras. Entre as ferramentas e atividades da vigilância, a elaboração de um plano de preparação para uma possível pande- mia é fundamental, tanto pelos gestores do nível nacional como pelos gestores das Unidades Federadas. Notificação Todo caso suspeito de influenza por novo subtipo de influenza deve ser notificado imediatamente à Secretaria de Saúde do Município, Estado, Distrito Federal ou diretamente ao Ministério da Saúde por um dos seguintes meios: E-mail: [email protected] Site: www.saude.gov.br/svs
  • 30. 29 Bibliografia AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Bulário Eletrônico. Relenza frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=5076412013&pIdAnexo=1668610>. Acesso em: 29 set. 2014. Resolução nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1 0d6dd00474597439fb6df3fbc4c6735/RDC+N%C2%BA+306,+DE+7+DE+DEZEMBRO+DE+2004. pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 29 set. 2014. ALLSUP, S. et al. Is influenza vaccination cost effective for healthy people between ages 65 and 74 years?. Vaccine, Kidlinton, v. 23, n. 5, p. 639-645, 2004. AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Recommendations for Prevention and Control of Influenza in Children, 2012-2013, Sep. 10 2012. Disponível em: <http://pediatrics.aappublications.org/ content/early/2012/09/04/peds.2012-2308.full.pdf+html>. Acesso em: 29 set. 2014. ARMSTRONG, B.; MANGTANI, P. Effect of influenza vaccination on excess deaths occurring during periods of high circulation of influenza: cohort study in elderly people. BMJ, London, v. 18, n. 329, p. 7467-7660, 2004. BARROS. F. R. O desafio da influenza: epidemiologia e organização da vigilância no Brasil. Boletim Eletrônico Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, Brasília, v. 1, p. 1-7, 2004. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ano04 n01 desafioinfluenzabr.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Segurança em laboratórios biomédicos e de microbiologia. Brasília, Doenças Transmissíveis. Protocolo de tratamento da Influenza. Brasília, 2013. Epidemiológica. Programa Nacional De Imunizações. Estratégia Nacional de Vacinação contra o vírus Influenza Pandêmico (H1N1): 2009. Brasil, 2010. Informe técnico da Campanha Nacional contra influenza. Brasília, 2013. Disponível em: <http:// Acesso em: 4 fev. 2014. Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-vacinação. 2. ed. Brasília, 2008. Informe Técnico da Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza. Brasil 2017. Disponível em http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/marco/06/ Informe-Tecnico-da-Campanha-Nacional-de-Vacinacao-contra-Influenza-2016.pdf CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (US). Antiviral Agents for the Treatment and Chemoprophylaxis of Influenza Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). Recommendations and Reports, [S.l.], v. 60, n. 1, Jan. 21 2011. Disponível em: <www. cdc.gov/mmwr/pdf/rr/rr6001.pdf>. Acesso em: 29 set. 2014. Influenza
  • 31. Guia de Vigilância em Saúde 30 Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories (BMBL). 5th ed. Atlanta, GA, USA, pdf>. Acesso em: 29 set. 2014. Immunization Practices (ACIP). Morbidity and Mortality Weekly Report, Atlanta, v. 60, Aug. 18 2011. Acesso em: 29 set. 2014. Prevention Strategies for Seasonal Influenza in Healthcare Settings. Disponível em: <http:// www.cdc.gov/flu/professionals/infectioncontrol/healthcaresettings.htm>. Acesso em: 29 set. 2014. Morbidity and Mortality Weekly Report, Atlanta, v. 60, p. 1-4, 2011. Disponível em: <http://www.cdc.gov/mmwr/preview/ mmwrhtml/mm6004a10.htm>. Acesso em: 29 set. 2014. Recommendations for the Amount of Time Persons with Influenza-Like Illness Should be Away from Others. Disponível em: <http://www.cdc.gov/h1n1flu/guidance/exclusion.htm>. Acesso em: 29 set. 2014. FIORE, A. E. et al. Prevention and control of seasonal influenza with vaccines: recommendations of the advisory committee on immunization practices (ACIP) 2009. Morbidity and Mortality Weekly Report, Atlanta, v. 58, p. 1-52, 2009. FOLEO-NETO, E. et al. Influenza. Artigo de atualização. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 36, n. 2, abr. 2003. ISAAC-RENTON, J. L. Pandemic Plan for British Columbia Public Health Microbiology & Reference Laboratory and Networks. British Columbia (CA), Sep. 2012. ON ANTIMICROBIAL AGENTS AND CHEMOTHERAPY, 52., 2012, San Francisco. Session 108: Paper K-955, 2012. Disponível em: <http://www.abstractsonline.com/Plan/ViewAbstract. aspx?mID=2963&sKey=68d50e69-6958-49c3-988b-cd786c9a943a&cKey=ab4dea2b-670a-4bda- 9e87-9b5251162f9f&mKey=%7b6B114A1D-85A4-4054-A83B-04D8B9B8749F%7d>. Acesso em: 1 nov. 2012. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO Guidelines for Pharmacological Management of Pandemic Influenza A(H1N1) 2009 and other Influenza Viruses. Revised February 2010. Disponível pdf>. Acesso em: 4 fev. 2014. OSTERHOLM, M. T. et al. Efficacy and effectiveness of influenza vaccines: a systematic review and meta-analysis. The Lancet Infectious Diseases, London, v. 12, n. 1, p. 36-44, 2012. Disponível em: <http://journalistsresource.org/studies/government/federalstate/influenza-flu-vaccines-review-meta- analysis>. Acesso em: 4 fev. 2014. ROCHE. Tamiflu [bula]. Empresa Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. Disponível em: <http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/BM/BM[32345-1-0].PDF>. Acesso em: 4 fev. 2014.
  • 32. 31 TANAKA, T. et al. Safety of neuraminidase inhibitors against novel influenza A (H1N1) in pregnant and breastfeeding women. Canadian Medical Association Journal, Ottawa, n. 181, 1-2, 2009. WANG, C. S.; WANG, S. T. Reducing major cause-specific hospitalization rates and shortening stays after influenza vaccination. Clinical Infectious Diseases, Chicago, v. 1, n. 39, p. 1604-1610, 2004. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Manual for the laboratory diagnosis and virological surveillance of influenza, 2011. Disponível em: <http://whqlibdoc.who.int/ ZAMAN, K. et al. Effectiveness of Maternal Influenza Immunization in Mothers and Infants. New England Journal of Medicine, Waltham, v. 359, n. 1555-1564, 2008. Influenza
  • 33. Guia de Vigilância em Saúde 32 Anexo A Orientações para coleta, armazenamento, transporte e envio de amostras para diagnóstico laboratorial de influenza Coleta de amostras Indicação Diante de um caso de síndrome gripal ou síndrome respiratória aguda grave (apresentando ou não fator de risco para complicações), poderão ser coletadas amostras clínicas de secreção de nasofaringe e/ou orofaringe (conforme a técnica de coleta) para detecção de vírus respiratório. - to da definição de caso, oportunidade de coleta (até o 7º dia do início dos sintomas) e a meta de coleta de 5 casos de SG por semana em cada unidade sentinela de SG. SRAG hospitalizados, incluindo os casos em UTI em unidades de saúde sentinelas da influenza. até o 7° dia de início dos sintomas. Sugere-se que a coleta seja feita em casos situados em distintos pontos da mesma cadeia de transmissão. Em situações de surto, as coletas de amostras clínicas devem ser realizadas na unidade de saúde mais próxima ou dentro do próprio ambiente, se houver condições de minimizar a transmissão do agente infeccioso durante o procedimento. Técnica para a coleta Na coleta de amostras de trato respiratório para o diagnóstico laboratorial da influenza, deve-se maximizar a colheita de células epiteliais infectadas pelo vírus. Aspirados nasofaríngeos (ANF) têm um maior teor celular e são superiores aos swabs nasofaríngeos e orofaríngeos (SNF) no que concerne ao isolamento do vírus influenza. Os swabs e as lavagens de garganta são de uso limitado no diagnóstico de influenza, uma vez que a maior parte das células capturadas por meio desta técnica é do epitélio escamoso. Os ANF, SNF e as lavagens são aceitos para a cultura, imunofluorescência, e detecção de antígeno viral. a técnica de swab combinado de nasofaringe e orofaringe (Figura 1), exclusivamente com swab de Rayon. swab de algodão, pois o mesmo interfere nas metodologias molecu- lares utilizadas. - ção (4 a 8°C) e encaminhadas aos Laboratorios Centrais de Saúde Pública (Lacen), preferencial- mente no mesmo dia da coleta. Figura 1 Técnicas para a coleta de aspirado nasofaríngeo e swab combinado Aspirado nasofaríngeo Swab combinado Swab nasal Swab oral
  • 34. 33 Acondicionamento, transporte e envio de amostras para diagnóstico Todas as unidades coletoras (unidades de saúde) deverão encaminhar as amostras, devidamente em- baladas e armazenadas, aos Lacen, acompanhadas da ficha epidemiológica devidamente preenchida. As amostras deverão ser acondicionadas em tripla embalagem, de maneira a que se mantenha a tem- peratura adequada (4 a 8°C), até a chegada ao Lacen. O Lacen deverá acondicionar a amostra em caixas específicas (UNB3373) para transporte de subs- tâncias infecciosas, preferencialmente em gelo seco. Na impossibilidade de obter gelo seco, a amostra poderá ser congelada a -70°C e encaminhada em gelo reciclável. Atualmente, a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (CGLAB/SVS/MS) disponibiliza aos Lacen serviço de transporte das amos- tras biológicas para os respectivos laboratórios de referência, duas vezes por mês, para realizar exames complementares e de maior complexidade. O envio e a comunicação com a informação do “número de conhecimento aéreo” devem ser imedia- tos para o respectivo laboratório de referência. O transporte das amostras deve obedecer as Normas da Associação Internacional de Transporte Aéreo (International Air Transport Association Indicação para a coleta de amostras em situação de óbito Recomenda-se a realização apenas nos locais com capacidade técnica para coletar amostras para um possível diagnóstico post mortem dos casos de SRAG, sem diagnóstico etiológico prévio e em situações especiais indicadas pela vigilância epidemiológica. Os ácidos nucleicos virais podem ser detectados em diversos tecidos, principalmente de brônquios e pulmões, os quais constituem espécimes de primeira escolha para o diagnóstico laboratorial de vírus influenza pela técnica de reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real. Devem ser coletados, no mínimo, oito fragmentos de cada tecido com dimensões aproximadas de 1 a 3cm. Amostras de outros sítios das vias aéreas também podem ser submetidas a culturas e a ensaios mole- culares. Desta forma, as amostras coletadas de órgãos diferentes devem ser acondicionadas em recipientes separados e devidamente identificados. Os pontos anatômicos para a coleta de amostras são: - bral, gânglios basais, ponte, medula e cerebelo) e do músculo esquelético de pacientes com suspeita de miocardites, encefalites e rabdomiólise, respectivamente; - minhados para investigação da etiologia viral. No entanto, considerando a principal infecção secundária à influenza, foram contempladas neste item orientações para coleta de amostras para o diagnóstico bacteriano diferencial, bem como para o diagnóstico histopatológico. Acondicionamento das amostras Para diagnóstico viral localização anatômica devem ser acondicionadas individualmente, em recipientes estéreis, e Influenza
  • 35. Guia de Vigilância em Saúde 34 imersas em meio de transporte viral ou solução salina tamponada (PBS pH 7,2), suplementa- das com antibióticos. - gelados e transportados em gelo seco. Para diagnóstico diferencial bacteriano - zação anatômica devem ser acondicionadas individualmente, em recipientes estéreis, e imersas em solução salina tamponada (PBS pH 7,2), sem antibióticos. mantidos e transportados sob refrigeração (4°C) ao laboratório para diagnóstico. Para diagnóstico histopatológico os protocolos em vigência nos serviços locais de patologia. processo de parafinização dos fragmentos. Envio de amostras e documentação necessária sistema (GAL) ou outro disponível, com o endereço para envio do resultado laboratorial.
  • 36. 35 Doença Meningocócica CID 10: A39.0 – Meningite Meningocócica; A39.2 – Meningococcemia aguda Características gerais Descrição A doença meningocócica é uma infecção bacteriana aguda. Quando se apresenta na forma de doença invasiva, caracteriza-se por uma ou mais síndromes clínicas, sendo a meningite meningocócica a mais frequente delas e a meningococcemia a forma mais grave. Agente etiológico A Neisseria meningitidis (meningococo) é um diplococo gram-negativo, aeróbio, imóvel, pertencente à família Neisseriaceae. A composição antigênica da cápsula polissacarídica permite a classificação do me- ningococo em 12 diferentes sorogrupos: A, B, C, E, H, I, K, L, W, X, Y e Z. Os sorogrupos A, B, C, Y, W e X são os principais responsáveis pela ocorrência da doença invasiva e, portanto, de epidemias. Os menin- gococos são também classificados em sorotipos e sorossubtipos, de acordo com a composição antigênica das proteínas de membrana externa PorB e PorA, respectivamente. A N. meningitidis demonstrou ter a capacidade de permutar o material genético que é responsável pela produção da cápsula e, com isso, alterar o sorogrupo. Como a proteção conferida pelas vacinas é sorogrupo específica, esse fenômeno pode ter consequências no uso e formulação das vacinas antimeningocócicas. A caracterização genética de isolados de meningococo, que pode ser efetuada por diferentes métodos moleculares, é usada para monitorar a epidemiologia da doença meningocócica, permitindo a identifica- ção de um clone epidêmico, assim como a permuta capsular entre cepas. Reservatório O homem, sendo a nasofaringe o local de colonização do microrganismo. A colonização assintomá- tica da nasofaringe pela N. meningitidis caracteriza o estado de portador que ocorre frequentemente, che- gando a ser maior que 10% em determinadas faixas etárias nos períodos endêmicos, podendo o indivíduo albergar o meningococo por período prolongado. As taxas de incidência de portadores são maiores entre adolescentes e adultos jovens e em camadas socioeconômicas menos privilegiadas. Modo de transmissão Contato direto pessoa a pessoa, por meio de secreções respiratórias de pessoas infectadas, assintomá- ticas ou doentes. A transmissão por fômites não é importante. Período de incubação Em média, de 3 a 4 dias, podendo variar de 2 a 10 dias. Após a colonização da nasofaringe, a probabilidade de desenvolver doença meningocócica invasiva dependerá da virulência da cepa, das condições imunitárias do hospedeiro e da capacidade de eliminação do agente da corrente sanguínea, pela ação de anticorpos séricos com atividade bactericida mediada pela ativação do complemento. O baço também exerce um importante papel na eliminação da bactéria na corrente sanguínea. Doença Meningocócica
  • 37. Guia de Vigilância em Saúde 36 Período de transmissibilidade Persiste até que o meningococo desapareça da nasofaringe. Em geral, a bactéria é eliminada da naso- faringe após 24 horas de antibioticoterapia adequada. Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade A suscetibilidade é geral, entretanto, o grupo etário de maior risco são as crianças menores de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano. A doença meningocócica invasiva ocorre primariamente em pessoas suscetíveis recentemente co- lonizadas por uma cepa patogênica. Inúmeros fatores de risco têm sido associados, tais como: infecções respiratórias virais recentes (especialmente influenza), aglomeração no domicílio, residir em quartéis, dormir em acampamento militar ou em alojamentos de estudantes, tabagismo (passivo ou ativo), con- dições socioeconômicas menos privilegiadas e contato íntimo com portadores. O risco de desenvolver doença invasiva entre contatos domiciliares de um doente é cerca de 500 a 800 vezes maior que na popu- lação geral. Asplênia (anatômica ou funcional), deficiência de properdina, de C3 e de componentes terminais do complemento (C5 a C9) também estão associadas a um maior risco de desenvolvimento de doença meningocócica. As pessoas com tais condições clínicas, em função da incapacidade de provocar a morte intracelular da bactéria, apresentam maior risco de episódios recorrentes de doença meningocócica e, portanto, são consideradas grupos prioritários para profilaxia com vacinas. Em portadores, a colonização assintomática da nasofaringe por meningococos tipáveis e não tipáveis e por outras espécies de Neisseria N. lactamica processo imunizante e resulta em produção de anticorpos protetores. Manifestações clínicas A infecção invasiva pela N. meningitidis pode apresentar um amplo espectro clínico, que varia desde febre transitória e bacteremia oculta até formas fulminantes, com a morte do paciente em poucas horas após o início dos sintomas. A meningite e a meningococcemia são as formas clínicas mais frequentemente observadas, podendo ocorrer isoladamente ou associadas. A denominação doença meningocócica torna-se apropriada nesse contexto, sendo adotada internacionalmente. O quadro de meningite pode se instalar em algumas horas, iniciado com intensa sintomatologia, ou mais paulatinamente, em alguns dias, acompanhado de outras manifestações (Quadro 1), geralmente indistinguíveis de outras meningites bacterianas. A meningite meningocócica é a forma mais frequente de doença meningocócica invasiva e associa-se, em cerca de 60% dos casos, à presença de lesões cutâneas petequiais bastante características. Em lactentes com meningite, a pesquisa de sinais meníngeos é extremamente difícil e a rigidez de nuca nem sempre está presente. Nestas circunstâncias, deve-se realizar o exame cuidadoso da fontanela bregmática: - tência e vômitos. Em lactentes jovens, sobretudo no período neonatal, a suspeita de meningite torna-se notadamente mais difícil, pois a sintomatologia e os dados de exame físico são os mais diversos possíveis: que se alternam, respiração irregular e icterícia.
  • 38. 37 Quadro 1 – Sinais e sintomas de meningite bacteriana e meningococcemia Sinais/sintomas Meningite bacteriana (meningite meningocócica e meningite causada por outras bactérias) Doença meningocócica (meningite meningocócica com meningococcemia) Meningococcemia Sinais e sintomas não específicos comuns Febrea Vômitos/náuseas Letargia Irritabilidade Recusa alimentar Cefaleia Dor muscular/articular Dificuldade respiratória Sinais e sintomas não específicos menos comuns Calafrios/tremores Dor abdominal/distensão NS Dor/coriza no nariz, ouvido e/ou garganta NS Sinais e sintomas mais específicos Petéquiasb Rigidez na nuca NS Alteração no estado mentalc Tempo de enchimento capilar >2 segundos NS Alteração na cor da pele NS Choque Hipotensão NS Dor na perna NS Extremidades frias NS Abaulamento da fontanelad NS Fotofobia Sinal de Kernig Sinal de Brudzinski Inconsciência Estado clínico precário/tóxico Paresia Deficit neurológico focale Convulsões Sinais de choque Tempo de enchimento capilar >2 segundos Alteração na coloração da pele Taquicardia e/ou hipotensão Dificuldade respiratória Dor na perna Extremidades frias Estado clínico precário/tóxico Estado de alteração mental/diminuição da consciência Baixo débito urinário Fonte: Nice (2010). Legenda: Sinais e sintomas presentes Sinais e sintomas ausentes NS Não se sabe se sinal/sintoma está presente (sem evidências científicas reportadas) a Nem sempre presente, especialmente em recém-nascidos. b Deve-se estar ciente de que uma erupção pode ser menos visível em tons de pele mais escuras – verificar solas dos pés e mãos. c Inclui delírio, confusão, sonolência e diminuição da consciência. d Relevante apenas em crianças menores de 2 anos. e Incluindo o envolvimento do nervo craniano e anormalidade da pupila. Doença Meningocócica
  • 39. Guia de Vigilância em Saúde 38 Em 15 a 20% dos pacientes com doença meningocócica, identificam-se formas de evolução muito rápidas, geralmente fulminantes, devidas somente à septicemia meningocócica, sem meningite, e que se manifestam por sinais clínicos de choque e coagulação intravascular disseminada (CIVD), caracterizando a síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Trata-se de um quadro de instalação repentina, que se inicia com febre, cefaleia, mialgia e vômitos, seguidos de palidez, sudorese, hipotonia muscular, taquicardia, pulso fino e rápido, queda de pressão arterial, oligúria e má perfusão periférica. Suspeita-se da síndrome Waterhouse-Friderichsen nos quadros de instalação precoce, em doente com sinais clínicos de choque e extensas lesões purpúricas. A CIVD que se associa determina aumento da palidez, prostração, hemorragias, taquicardia e taquipneia. Um rash maculopapular, não petequial, difícil de distinguir de um exantema de origem viral e geralmente de curta duração, pode estar presente no início do quadro em até 15% das crianças com meningococcemia. No Quadro 1, são apresentados os principais sinais e sintomas observados nos casos de meningite bacteriana (meningite meningocócica e meningite causada por outras bactérias) e doença meningocócica (meningite meningocócica e/ou meningococcemia). Complicações As convulsões estão presentes em 20% das crianças com meningite meningocócica. Sua ocorrência, assim como a presença de sinais neurológicos focais, é menos frequente que nas meningites por pneumo- coco ou por Haemophilus influenzae sorotipo B. Nos casos de meningococcemia, o coma pode sobrevir em algumas horas. Associa-se a elevadas taxas de letalidade, geralmente acima de 40%, sendo a grande maioria dos óbitos nas primeiras 48 horas do início dos sintomas. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos são: Cultura - falorraquidiano (LCR), sangue e raspado de lesões petequeais. É considerada padrão ouro para diagnóstico da doença meningocócica, por ter alto grau de especificidade. Tem como objetivo o isolamento da bactéria para identificação da espécie, e posteriormente o sorogrupo, sorotipo e sorossubtipo do meningococo invasivo. Exame quimiocitológico do LCR - sagens de glicose e proteínas do LCR. Traduz a intensidade do processo infeccioso e orienta a suspeita clínica, mas não deve ser utilizado para conclusão do diagnóstico final, pelo baixo grau de especificidade. Bacterioscopia direta - mente estéreis e de raspagem de petéquias. A coloração do LCR pela técnica de Gram permite, ainda que com baixo grau de especificidade, caracterizar morfológica e tintorialmente as bactérias Aglutinação pelo látex fluidos biológicos. Partículas de látex, sensibilizadas com antissoros específicos, permitem, por técnica de aglutinação rápida (em lâmina ou placa), detectar o antígeno bacteriano nas amostras. Pode ocorrer resultado falso-positivo, em indivíduos portadores do fator reumático ou em reações cruzadas com outros agentes.
  • 40. 39 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) N. meningitidis presente nas amos- tras clínicas (LCR, soro e sangue total). Também permite a genogrupagem dos sorogrupos do meningococo. A PCR em tempo real (qPCR) é uma modificação da técnica tradicional de PCR que identifica o DNA alvo com maior sensibilidade e especificidade e em menor tempo de reação. Mais informações sobre os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos laboratoriais, informações sobre conservação e transporte de amostras, bem como detalhamento sobre os principais exames realizados para diagnóstico das meningites, encontram-se no Anexo A do texto Outras Meningites. Diagnóstico diferencial Dependerá da forma de apresentação da doença. Nas formas clínicas mais leves, bacteremia sem sepse, deve ser feito com doenças exantemáticas, principalmente as virais e doenças do trato respiratório superior. Para meningoccemia, os principais são sepse de outras etiologias, febres hemorrágicas (dengue, febre amarela, hantavirose), febre maculosa, leptospirose forma íctero-hemorrágica (doença de Weill), malária (Plasmodium falciparum) e endocardite bacteriana. Nas meningites, o diagnóstico diferencial principal deve ser feito com outros agentes causadores, principal- mente o Streptococcus pneumoniae e o H. influenzae, além das formas virais e outras causas de meningoencefalite. Tratamento A antibioticoterapia deve ser instituída o mais precocemente possível, de preferência, logo após a punção lombar e a coleta de sangue para hemocultura. O uso de antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento de suporte, como reposição de líquidos e cuidadosa assistência. O Quadro 2 apresenta a recomendação de antibioticoterapia para casos de doença meningocócica em crianças e adultos. Quadro 2 – Recomendação de antibioticoterapia para casos de doença meningocócica Grupo etário Antibióticos Dose (endovenosa) Intervalo Duração Crianças Penicilina ou 200.000-400.000UI/kg/dia 4 em 4 horas 5 a 7 diasAmpicilina ou 200-300mg/kg/dia 6 em 6 horas Ceftriaxone 100mg/kg/dia 12 em 12 horas Adultos Ceftriaxone 2g 12 em 12 horas 7 dias O uso de corticoide nas situações de choque é discutível, pois há controvérsias a respeito da influên- cia favorável ao prognóstico. Características epidemiológicas No Brasil, a doença meningocócica é endêmica, com ocorrência de surtos esporádicos. O meningococo é a principal causa de meningite bacteriana no país. Os coeficientes de incidência têm sido reduzidos nos últimos anos, com registro de menos de um caso para cada 100.000 habitantes, entre os anos de 2014 e 2016. Acomete indivíduos de todas as faixas etárias, porém aproximadamente 30% dos casos notificados ocorrem em crianças menores de 5 anos de idade. Os maiores coeficientes de incidência da doença são observados em lactentes, no primeiro ano de vida. Doença Meningocócica
  • 41. Guia de Vigilância em Saúde 40 Nos surtos e epidemias, observam-se mudanças nas faixas etárias afetadas, com aumento de casos entre adolescentes e adultos jovens. A letalidade da doença no Brasil situa-se em torno de 20% nos últimos anos. Na forma mais grave, a meningococcemia, a letalidade chega a quase 50%. Desde a década de 1990, os sorogrupos circulantes mais frequentes no Brasil foram o C e o B. Após um período de predomínio do sorogrupo B, observa-se, a partir de 2005, um aumento no número e na proporção de casos atribuídos ao sorogrupo C em diferentes regiões do país. Em meados de 2010, devido ao aumento de circulação do sorogrupo C e à alta incidência da doença obser- vada em crianças, a vacina meningocócica C (conjugada) foi introduzida no calendário de vacinação da criança. Vigilância epidemiológica Objetivos N. meningitidis circulantes. N. meningitidis identificadas. Definição de caso Suspeito Crianças acima de 1 ano de idade e adultos com febre, cefaleia, vômitos, rigidez da nuca e outros Nos casos de meningococcemia, atentar para eritema/exantema, além de sinais e sintomas inespecí- ficos (sugestivos de septicemia), como hipotensão, diarreia, dor abdominal, dor em membros inferiores, mialgia, rebaixamento do sensório, entre outros. Em crianças abaixo de 1 ano de idade, os sintomas clássicos acima referidos podem não ser tão evi- dentes. É importante considerar, para a suspeita diagnóstica, sinais de irritabilidade, como choro persis- tente, e verificar a existência de abaulamento de fontanela. Confirmado meio dos exames laboratoriais específicos: cultura, e/ou PCR, e/ou látex. epidemiológico com caso confirmado laboratorialmente para N. meningitidis por um dos exames laboratoriais específicos, mas que não tenha realizado nenhum deles. com presença de diplococo gram-negativo. - gocócica com presença de petéquias (meningococcemia). Descartado Caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença.
  • 42. 41 Notificação Doença de notificação compulsória, sendo os surtos e os aglomerados de casos ou óbitos de notifi- cação imediata. Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados às autoridades competentes, por profis- sionais da área de assistência, vigilância e pelos de laboratórios públicos e privados, por intermédio de contato telefônico, fax, e-mail ou outras formas de comunicação. A notificação deve ser registrada no Sistema de Infor- mação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação de Meningite. Investigação Deve ser realizada para obtenção de informações quanto à caracterização clínica do caso (incluindo a análise dos exames laboratoriais) e as possíveis fontes de transmissão da doença. A Ficha de Investigação de Meningite é o instrumento utilizado para a investigação. Todos os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo se a informação for negativa. Outras informações podem ser incluídas, conforme a necessidade. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos referentes à notificação (dados gerais, do caso e de residência). Coleta de dados clínicos e epidemiológicos As fontes de coleta de dados são entrevista com o profissional de saúde que atendeu o caso, dados do prontuário, entrevista de familiares e pacientes, quando possível, e pessoas identificadas na investigação como contato próximo do caso. Para confirmar a suspeita diagnóstica - Verificar se as informações se enquadram na definição de caso. - Verificar os resultados de exames de sangue/soro e/ou LCR e/ou raspados de lesões petequiais encaminhados ao laboratório. - Verificar a evolução clínica do paciente. Para identificação da área de transmissão - Coletar informações na residência e nos locais usualmente frequentados pelos indivíduos aco- metidos (creches, escolas, locais de trabalho, quartéis, igrejas e outros pontos de convívio social em que pode haver contato próximo e prolongado com outras pessoas), considerando o período anterior a 15 dias do adoecimento, para identificar possíveis fontes de infecção. Para determinação da extensão da área de transmissão Em relação à identificação do risco de propagação da transmissão: - Identificar todos os contatos próximos e prolongados do caso. - Investigar a existência de casos secundários e coprimários. - Verificar histórico vacinal do paciente e contatos. - Avaliar a cobertura vacinal do município. Coleta e remessa de material para exames - A coleta de espécimes clínicos (LCR, sangue, e/ou lesões petequiais) para o diagnóstico laboratorial deve ser realizada logo após a suspeita clínica de doença meningocócica, preferencialmente antes do início do tratamento com antibiótico. Doença Meningocócica
  • 43. Guia de Vigilância em Saúde 42 - A adoção imediata do tratamento adequado não impede a coleta de material para o diagnóstico etiológico, mas recomenda-se que a coleta das amostras seja feita o mais próximo possível do momento do início do tratamento. - O material coletado em meio estéril deve ser processado inicialmente no laboratório local, para orientação da conduta médica. Subsequentemente, esse material e/ou a cepa de N. meningitidis já isolada deverá ser encaminhada para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) para realização de diagnóstico mais específico. - O LCR deve ser coletado exclusivamente por médico especializado seguindo as normas técnicas e fluxos recomendados nos anexo A do texto Outras Meningites. - Nem sempre é possível aguardar os resultados laboratoriais para instituição das medidas de controle cabíveis, embora sejam imprescindíveis para confirmação do caso, direcionamento das medidas de controle e orientação para o encerramento das investigações. É obrigatória a coleta de material clínico do paciente para realização dos exames laboratoriais para confirmação do diagnóstico etiológico e identificação do sorogrupo de N. menigitidis circulante. Análise de dados Esta é uma etapa fundamental da investigação epidemiológica e corresponde à interpretação dos dados coletados em seu conjunto. Esta análise deverá ser orientada por algumas perguntas, tais como: Isso significa que a investigação epidemiológica não se esgota no preenchimento da ficha de in- vestigação de um caso. A análise rotineira dos dados registrados no banco do Sinan é considerada ati- vidade fundamental para que se alcance o objetivo final da Vigilância Epidemiológica, que é o controle das doenças. Algumas atividades consideradas inerentes à vigilância da doença meningocócica são: detectar surtos. - mortalidade: incidência, mortalidade e letalidade por faixa etária, sazonalidade, sorogrupo circu- lante, entre outros. oportunidade de investigação e encerramento dos casos, percentual de casos confirmados por cri- tério laboratorial, percentual de casos com sorogrupo identificado, cobertura vacinal, entre outros. Encerramento de caso Deve ser realizado após a verificação de todas as informações necessárias para a conclusão do caso. O encerramento de um caso de doença meningocócica pode ser realizado pelos seguintes critérios: critério laboratorial específico (cultura, PCR ou látex) N. meningi- tidis na cultura de amostras clínicas, ou com detecção do DNA da bactéria por PCR na amostra clínica, ou com presença de antígenos bacterianos na amostra clínica detectados por látex. critério laboratorial inespecífico (bacterioscopia) - gativos na amostra clínica.
  • 44. 43 critério de vínculo epidemiológico - tato próximo com caso confirmado por critério laboratorial específico em um período anterior, de até 15 dias, ao aparecimento dos sintomas. critério clínico - gococcemia, sem exames laboratoriais positivos. necropsia ou meningococcemia. Relatório final Os dados da investigação em situações de surto ou aglomerado de casos ou óbitos deverão ser su- marizados em um relatório com informações sobre a distribuição dos casos por tempo, lugar e pessoa. Medidas de prevenção e controle Objetivos Quimioprofilaxia A quimioprofilaxia, embora não assegure efeito protetor absoluto e prolongado, tem sido adotada como uma medida eficaz na prevenção de casos secundários. Os casos secundários são raros, e geralmente ocorrem nas primeiras 48 horas a partir do primeiro caso. O risco de doença entre os contatos próximos é maior durante os primeiros dias após o início da doença, o que requer que a quimioprofilaxia seja administrada o mais rápido possível. Está indicada para os contatos próximos de casos suspeitos de doença meningocócica. Contatos próximos são os moradores do mesmo domicílio, indivíduos que compartilham o mesmo dormitório (em alojamentos, quartéis, entre outros), comunicantes de creches e escolas, e pessoas diretamente expostas às secreções do paciente. A quimioprofilaxia também está indicada para o paciente no momento da alta ou na internação no mesmo esquema preconizado para os contatos próximos, exceto se o tratamento da doença foi realizado com ceftriaxona. Não há recomendação para os profissionais da área de saúde que atenderam o caso de doença menin- gocócica, exceto para aqueles que realizaram procedimentos invasivos (intubação orotraqueal, passagem de cateter nasogástrico) sem utilização de equipamento de proteção individual adequado (EPI). O antibiótico de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada em dose adequada e simultaneamente a todos os contatos próximos, preferencialmente até 48 horas da exposição à fonte de infecção (doente), considerando o prazo de transmissibilidade e o período de incubação da doença. Alternativamente, outros antibióticos podem ser utilizados para a quimioprofilaxia (Quadro 3). A recomendação para uso preferencial e/ou restrito da rifampicina, além do tratamento da tuberculose no país, visa evitar a seleção de cepas resistentes de meningococos. Em relação às gestantes, esse medicamento tem sido utilizado para quimioprofilaxia, pois não há evidências de que a rifampicina possa apresentar efeitos teratogênicos. A relação risco/benefício do uso de antibióticos pela gestante deverá ser avaliada pelo médico assistente. Doença Meningocócica
  • 45. Guia de Vigilância em Saúde 44 Quadro 3 – Esquema quimioprofilático indicado para doença meningocócica Droga Idade Dose Intervalo Duração Rifampicina <1 mês 5mg/kg/dose 12 em 12 horas 2 dias 10mg/kg/dose (máximo de 600mg) 12 em 12 horas Ceftriaxona <12 anos 125mg; intramuscular Dose única 250mg; intramuscular Ciprofloxacino >18 anos 500mg; uso oral Dose única Todos os contatos próximos de um caso de doença meningocócica, independentemente do estado vacinal, deverão receber a quimioprofilaxia. É importante observar o cartão de vacina. As crianças e adolescentes que não são vacinados devem receber a quimioprofilaxia e atualizar o cartão vacinal conforme preconizado pelo PNI/MS. Imunização A vacinação é considerada a forma mais eficaz na prevenção da doença, e as vacinas contra o menin- gococo são sorogrupo ou sorossubtipo específicas. São utilizadas na rotina para imunização e também para controle de surtos. Vacina conjugada contra o meningococo do sorogrupo C Está disponível no Calendário Básico de Vacinação da Criança do Programa Nacional de Imunização (PNI/MS). A imunização primária consiste de duas doses, aos 3 e 5 meses de vida, e o reforço, preferen- cialmente, aos 12 meses de idade, podendo ser administrado até os 4 anos de idade. A vacina meningocócica C também está indicada para adolescentes de 12 a 13 anos. Também é ofertada nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), sendo reco- mendada nas seguintes situações: - tina fixadora de manose. enzimático específico produz um bloqueio metabólico que pode originar uma doença, por exemplo: doença de Tay-sachs, doença de Gaucher e doença de Fabry). condições de imunodepressão contempladas no referido manual. É contraindicada para pessoas com hipersensibilidade a qualquer componente deste imunobiológi- co. Os eventos adversos são eritema, enduração e dor/sensibilidade no local da injeção, febre baixa e irri- tabilidade, sonolência, alteração no sono, perda de apetite, diarreia, vômitos, cefaleia, vesículas, dermatite (inflamação da pele), urticária e prurido. Há relatos raros de petéquias e púrpuras (manchas purpúreas na pele e mucosas).
  • 46. 45 Manejo e controle de surto Os surtos de doença meningocócica estão entre as situações mais desafiadoras para as autoridades de saúde pública, devido ao potencial de grande morbidade e mortalidade, com muita repercussão social e nos meios de comunicação. As respostas sanitárias variam em cada surto e dependerão da identificação, ou não, de vínculo epi- demiológico entre os casos, das faixas etárias acometidas, da distribuição geográfica e de outros riscos. O objetivo do manejo dos surtos de doença meningocócica é interromper a cadeia de transmissão e evitar a ocorrência de novos casos. No Quadro 4, é apresentado um glossário com o significado de termos importantes para investigação de surto de doença meningocócica. Quadro 4 – Glossário de termos importantes na investigação de surtos de doença meningocócica Termos Definição Caso primário Paciente com doença meningocócica sem história de contato com caso suspeito ou confirmado Caso coprimário Contato próximo que adoece nas primeiras 24 horas do início da manifestação clínica do caso primário Caso secundário Contato próximo que adoece após 24 horas do início da manifestação clínica do caso primário Portador Indivíduo colonizado, na nasofaringe, pela N. meningitidis, sem manifestação clínica da doença Surto Ocorrência de casos além do que é esperado para população ou determinado grupo de indivíduos, em um período específico do tempo, que atendem aos critérios de surtos comunitários ou institucio- nais estabelecidos Surto comunitário Ocorrência de 3 ou mais casos primários, do mesmo sorogrupo, confirmados por critério laboratorial específico (Cultura e/ou PCR) em período inferior ou igual a 3 meses, em residentes da mesma área casos/100.000 habitantes Surto institucional Ocorrência de 3 ou mais casos, do mesmo sorogrupo, confirmados por critério laboratorial específico (Cultura e/ou PCR) em período inferior ou igual a 3 meses, entre pessoas que compartilham o mesmo ambiente (trabalho, escola, ou outra instituição) mas que não tenham contato estabelecido uns com os Taxa de ataque primária (casos/100.000 hab.) x 100.000 Os casos secundários devem ser excluídos, e cada grupo de casos coprimários deve ser considerado como 1 caso Recomendações para o bloqueio vacinal A vacinação de bloqueio está indicada nas situações em que haja a caracterização de um surto de doença meningocócica (Quadro 4), para o qual seja conhecido o sorogrupo responsável por meio de con- firmação laboratorial específica (cultura e/ou PCR) e haja vacina eficaz disponível. A vacinação somente será utilizada a partir de decisão conjunta das três esferas de gestão. A estratégia de vacinação (campanha indiscriminada ou discriminada) será definida considerando a análise epidemiológica, as características da população e a área geográfica de ocorrência dos casos. Todos os procedimentos relacionados com o desencadeamento de campanha de vacinação deverão estar de acordo com as normas técnicas preconizadas pelo Programa Nacional de Imunização do Minis- tério da Saúde (PNI/MS). Após a vacinação, são necessários de 7 a 10 dias para a obtenção de títulos protetores de anticorpos. Casos ocorridos em pessoas vacinadas, no período de até 10 dias após a vacinação, não devem ser considerados falhas da vacinação. Esses casos podem ocorrer, visto que o indivíduo pode ainda não ter produzido imunidade ou estar em período de incubação da doença, que varia de 2 a 10 dias. Doença Meningocócica
  • 47. Guia de Vigilância em Saúde 46 Bibliografia AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Meningococcal infections. In: PICKERING, L. K. et al. (Ed.). Red Book: 2009 Report of the Committee on Infectious Diseases. 28th American Academy of Pediatrics, 2009. p. 455-463. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2006. Epidemiológica. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2008. epidemiológica. Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota informativa nº 384: Informa as mudanças no Calendário Nacional de Vacinação para o ano de 2017. Brasília, 2016. GOLDSCHNEIDER, I.; GOTSCHLICH, E. C.; ARTENSTEIN, M. S. Human immunity to the meningococcus. II. Development of natural immunity. Journal of Experimental Medicine, [S.l.], v. 129, p. 1327-1348, 1969. GRANOFF, D. M.; HARRISON, L. H.; BORROW, R. Meningococcal vaccines. In: PLOTKIN, S. A.; ORENSTEIN, W. A.; OFFIT, P. A. (Ed.). Vaccines. 5th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. p. 399-434. HARRISON, O. B. et al. Description and nomenclature of Neisseria meningitidis capsule locus. Emerging Infectious Diseases, Apr. 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.3201/eid1904.111799>. Acesso: 23 dez. 2013. NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CARE EXCELLENCE (NICE). Bacterial meningitis and meningococcal sepcticaemia, 2010. NICE clinical guideline 102. Disponível em: <http://www.nice. ROSENSTEIN, N. E. et al. Meningococcal disease. New England Journal of Medicine, Waltham, Mass., v. 344, n. 18, p. 1378-1388, 3 May 2001. Lancet, London, p. 353, p. 941-942, 1999.
  • 48. 47 Outras Meningites Meningites bacterianas CID 10: G00.0 – Meningite por Haemophilus influenzae CID 10: G00.1 – Meningite pneumocócica CID 10: G00.2 – G00.9 – Meningite por outras bactérias Características gerais Descrição Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, cau- sado por bactérias. Agentes etiológicos Pode ser causada por uma grande variedade de bactérias. A prevalência de cada bactéria está asso- ciada a um dos seguintes fatores: Os principais agentes bacterianos causadores de meningite estão listados a seguir. Neisseria meningitidis (meningococo) No Brasil é a principal causa de meningite bacteriana (tratada em capítulo sobre Doença Meningocócica). Streptococcus pneumoniae (pneumococo) Bactéria gram-positiva com característica morfológica esférica (cocos), disposta aos pares. É alfa- -hemolítico e não agrupável. Possui mais de 90 sorotipos capsulares, imunologicamente distintos, que causam doença pneumocócica invasiva (meningite, pneumonia bacterêmica, sepse e artrite) e não invasi- va (sinusite, otite média aguda, conjuntivite, bronquite e pneumonia). Haemophilus influenzae Bactéria gram-negativa que pode ser classificada em seis sorotipos (A, B, C, D, E, F), a partir da dife- rença antigênica da cápsula polissacarídica. O H. influenzae, desprovido de cápsula, se encontra nas vias respiratórias de forma saprófita, podendo causar infecções assintomáticas ou doenças não invasivas, tais como bronquite, sinusites e otites, tanto em crianças quanto em adultos. Outras bactérias Destacam-se: Mycobacterium tuberculosis; Streptococcus Streptococcus agalactie; Listeria monocytogenes; Staphylococcus aureus; Pseudomonas aeruginosa; Klebsiella pneumoniae; Enterobacter sp.; Salmonella sp.; Proteus sp. Outras Meningites
  • 49. Guia de Vigilância em Saúde 48 Reservatório O principal é o homem. Modo de transmissão Em geral é de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe. Período de incubação Em geral, de 2 a 10 dias, em média 3 a 4 dias. Pode haver alguma variação em função do agente etiológico responsável. Período de transmissibilidade É variável, dependendo do agente infeccioso e da instituição do diagnóstico e tratamento. Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade A suscetibilidade é geral. As crianças menores de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano, e pes- soas maiores de 60 anos são mais suscetíveis à doença. Em relação à meningite pneumocócica, idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos ou de - cia renal crônica, diabetes mellitus No caso do pneumococo, H. influenzae sorotipo B e M. tuberculosis a imunidade é conferida por meio de vacinação específica. Manifestações clínicas O quadro clínico, em geral, é grave e caracteriza-se por febre, cefaleia, náusea, vômito, rigidez de nuca, prostração e confusão mental, sinais de irritação meníngea, acompanhadas de alterações do líquido cefalorraquidiano (LCR). No curso da doença podem surgir delírio e coma. Dependendo do grau de comprometimento encefálico (meningoencefalite), o paciente poderá apresentar também convulsões, paralisias, tremores, transtornos pupi- lares, hipoacusia, ptose palpebral e nistagmo. Casos fulminantes com sinais de choque também podem ocorrer. A irritação meníngea associa-se aos seguintes sinais: Sinal de Kernig grau de flexão, relativamente ao tronco. - Há duas formas de se pesquisar esse sinal: sobre a coxa e desta sobre a bacia; bacia; após pequena angulação, há flexão da perna sobre a coxa. Essa variante chama-se, tam- bém, manobra de Laségue. Sinal de Brudzinski fletir a cabeça do paciente. Crianças de até 9 meses poderão não apresentar os sinais clássicos de irritação meníngea. Neste grupo, outros sinais e sintomas permitem a suspeita diagnóstica, tais como: febre, irritabilidade ou agitação, choro persistente, grito meníngeo (criança grita ao ser manipulada, principalmente quando se flete as pernas para trocar a fralda) e recusa alimentar, acompanhada ou não de vômitos, convulsões e abaulamento da fontanela.
  • 50. 49 As informações sobre as manifestações clínicas da Doença Meningocócica estão tratadas em texto específico sobre o tema. Complicações As principais complicações são perda da audição, distúrbio de linguagem, retardo mental, anorma- lidade motora e distúrbios visuais. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite bacteriana são: O aspecto do líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos ocorre o aumento de elementos figurados (células), causando turvação, cuja intensidade varia de acordo com a quantidade e o tipo dessas células (Quadro 1). No Anexo A estão apresentados os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos laborato- riais, informações sobre conservação e transporte de amostras e detalhamento sobre os principais exames realizados para diagnóstico das meningites bacterianas. Quadro 1 – Alterações encontradas no líquido cefalorraquidiano (LCR) para meningites bacterianas Características Meningite por outras bactérias Meningite tuberculosa Valores de referência Aspecto Turvo Límpido ou ligeiramente turvo (opalescente) Límpido Cor Branca-leitosa ou ligeiramente xantocrômica Incolor ou xantocrômica Incolor, cristalino (“água de rocha”) Cloretos Diminuídos Diminuídos 680 – 750mEq/L Glicose Diminuída Diminuída 45 a 100mg/dL Proteínas totais Aumentadas Aumentadas 15 a 50mg/dL Globulinas Positiva (Gama-globulina) Positiva (Alfa e gama-globulinas) Negativa Leucócitos 200 a milhares (neutrófilos) 25 a 500 (linfócitos) 0 a 5/mm3 Tratamento O tratamento com antibiótico deve ser instituído assim que possível. A adoção imediata do trata- mento antibiótico não impede a coleta de material para o diagnóstico etiológico, seja LCR, sangue ou outros espécimes clínicos, mas recomenda-se que a coleta das amostras seja feita, preferencialmente, antes de iniciar o tratamento ou o mais próximo possível desse momento. O tratamento precoce e adequado dos casos reduz significativamente a letalidade da doença e é im- portante para o prognóstico satisfatório. O uso de antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento de suporte, como reposição de líquidos e cuidadosa assistência. Outras Meningites
  • 51. Guia de Vigilância em Saúde 50 De maneira geral, o tratamento antibacteriano é feito de maneira empírica, pois o agente etiológico é desconhecido; toma-se como base o conhecimento dos agentes bacterianos prevalentes na comunidade, assim como seu perfil de suscetibilidade antimicrobiana, nas diversas faixas etárias. A duração do tratamento antibiótico em pacientes com meningite bacteriana varia de acordo com o agente isolado e deve ser individualizada de acordo com a resposta clínica. Oesquemadetratamentorecomendadoparadoençameningocócicaestáapresentadonocapítuloespecifico. Para lactentes com até 2 meses de idade Nesta faixa etária utiliza-se, inicialmente, a associação da ampicilina com uma cefalosporina de terceira geração (cefotaxima). A ceftriaxona deve ser evitada no período neonatal, por competir com a bilirrubina. - tamicina ou amicacina. Esta associação é empregada não só pelo espectro de cada antibiótico em si, mas também devido ao sinergismo que apresenta contra algumas enterobactérias também responsáveis por meningite nesta faixa etária. Alternativamente pode-se empregar, em vez da ampicilina, a penicilina. Caso o diagnóstico etiológico seja estabelecido pela cultura do LCR, pode-se então usar um único antibiótico, sendo que sua escolha dependerá do antibiograma. O Quadro 2 apresenta a dose preconizada segundo antibacteriano para lactentes com menos de 2 meses de idade com meningite bacteriana. Quadro 2 – Dose preconizada dos antibacterianos em lactentes com menos de 2 meses de idade com meningite bacteriana Antibiótico Idade Dose diária (endovenosa) Intervalo (horas) Ampicilina 100mg/kg/dia 12 em 12 150mg/kg/dia 8 em 8 >7 dias (peso <2.000g) 150 a 200mg/kg/dia 8 em 8 >7 dias (peso >2.000g) 200 a 300mg/kg/dia 6 em 6 Penicilina cristalina 100.000UI/kg/dia 12 em 12 150.000UI/kg/dia 8 em 8 >7 dias (peso <2.000g) 150.000UI/kg/dia 8 em 8 >7 dias (peso >2.000g) 200.000UI/kg/dia 6 em 6 Cefotaxima 100 a 150mg/kg/dia 12 em 12 >7 dias 200mg/kg/dia 6 em 6 Amicacina 15mg/kg/dia 12 em 12 20mg/kg/dia 12 em 12 >7 dias 30mg/kg/dia 8 em 8 Gentamicina 5mg/kg/dia 12 em 12 7,5mg/kg/dia 12 em 12 >7 dias 7,5mg/kg/dia 8 em 8 Crianças com mais de 2 meses de idade O tratamento empírico de meningites bacterianas em crianças com mais de 2 meses de idade deve clássico utilizando a associação de ampicilina e cloranfenicol só se justifica se houver indisponibilidade das drogas previamente citadas.
  • 52. 51 Nos casos de pacientes com história de anafilaxia aos antibióticos ß-lactâmicos, pode-se usar o cloranfenicol no tratamento empírico inicial. Assim que se obtiver o resultado da cultura, o esquema antibiótico deve ser reavaliado e direcionado para o agente (Quadro 3). Quadro 3 – Terapia antibiótica para crianças com mais de 2 meses de idade com meningite bacteriana Agente etiológico Antibiótico Dose diária (endovenosa) Intervalo (horas) Duração (dias) Streptococcus pneumoniae Sensível à penicilina Penicilina G ou 200.000 a 400.000UI/kg/dia 4 em 4 10 a 14 Ampicilina 200 a 300mg/kg/dia 6 em 6 Resistência intermediária à penicilina Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12 Cefotaxima 200mg/kg/dia 6 em 6 Resistente à penicilina e sensível à cefalosporina de 3ª geração Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12 Cefotaxima 200mg/kg/dia 6 em 6 Resistente à penicilina e à cefalosporina de 3ª geração e sensível à rifampicina Vancomicina + cefalosporina de 3ª geração + rifampicina 60mg/kg/dia 6 em 6 100mg/kg/dia 12 em 12 20mg/kg/dia 12 em 12 Haemophilus influenzae Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12 7 a 10 Cefotaxima 200 mg/kg/dia 6 em 6 Outros bacilos gram-negativos (Escherichia coli, Klebsiella sp) Ceftriaxona ou 100mg/kg/dia 12 em 12 21 Cefotaxima 200mg/kg/dia 6 em 6 Pseudomonas aeruginosa Ceftazidima 150 a 200mg/kg/dia 8 em 8 21 Listeria monocytogenes Ampicilina + 30mg/kg/dia 12 em 12 Amicacina Adultos A antibioticoterapia, segundo etiologia, deve ser ajustada de acordo com resultados do teste de sen- sibilidade (Quadro 4). Quadro 4 – Terapia antibiótica para adultos com meningite bacteriana, segundo etiologia Agente etiológico Antibiótico Dose diária (endovenosa) Intervalo (horas) Duração (dias) Haemophilus influenzae Ceftriaxone 4g 12 em 12 7 Streptococcus pneumoniae 10 a 14Enterobactérias Pseudomonas Meropenem 6g 8 em 8 Resistência bacteriana H. influenzae Aproximadamente 30% dos isolados de H. influenzae sorotipo B (Hib) produzem beta-lactamases e, portanto, são resistentes à ampicilina. Estas cepas produtoras de beta-lactamase permanecem sensíveis às cefalosporinas de terceira geração. Outras Meningites
  • 53. Guia de Vigilância em Saúde 52 S. pneumoniae Apesar de existirem diferenças geográficas marcantes na frequência de resistência do pneumococo às penicilinas, as taxas vêm aumentando progressivamente. Estudos realizados em nosso meio demonstram que a incidência de isolados em amostras de LCR não suscetíveis à penicilina atingiu valores acima de 30%. Estes mesmos estudos demonstram que, no nosso meio, a resistência do pneumococo às cefalospo- rinas de terceira geração ainda é baixa. Nos casos de meningite por pneumococos resistentes à penicilina e cefalosporinas, deve-se utilizar a associação de vancomicina com uma cefalosporina de terceira geração (cefotaxima ou ceftriaxona). Deverá ser adicionada a rifampicina ao esquema nas seguintes situações: - ma ou ceftriaxona (Quadro 3). A vancomicina, em função de sua baixa penetração liquórica, não deve ser utilizada como agente isolado no tratamento de meningite bacteriana. Características epidemiológicas No Brasil, as principais ocorrências de meningite bacteriana, de relevância para a saúde pública, são as causadas por N. meningitidis (meningococo), S. pneumoniae (pneumococo) e Hib. O pneumococo é a segunda maior causa de meningite bacteriana no Brasil. Também é responsável por outras doenças invasivas, como pneumonia, bacteremia, sepse e doenças não invasivas, como otite média, sinusite, entre outras. No Brasil, as crianças de até 2 anos de idade são as mais acometidas pela meningite pneumocócica. A partir de 2010, a vacina conjugada 10-valente, que protege contra dez soro- tipos do pneumococo, foi disponibilizada no calendário de vacinação da criança para crianças menores de 1 ano de idade. Em 1999, foi introduzida no país a vacina contra o Hib, responsável por várias doenças invasivas, como meningites e pneumonias, sobretudo em crianças. O Hib era a segunda causa mais comum de me- ningite bacteriana no Brasil, sendo responsável por uma incidência média anual em menores de 1 ano de 23,4 casos/100.000 hab. até 1999. Observou-se, após a introdução da vacina, redução de mais de 90% no número de casos, incidência e número de óbitos por meningite por H. influenzae.
  • 54. 53 Meningites virais CID 10: A87 – Meningite Viral Características gerais Descrição Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, cau- sado por vírus. Agentes etiológicos Os principais são os vírus do gênero Enterovírus. Neste grupo estão incluídos os três tipos de polio- vírus, 28 tipos antigênicos do vírus echo, 23 tipos do vírus C C outros Enterovírus. Entretanto, outros vírus também podem causar meningite viral (Quadro 5). Quadro 5 – Principais agentes etiológicos da meningite viral RNA DNA Enterovírus Arbovírus Vírus da caxumba Arenavírus (coriomeningite linfocitária) HIV 1 Vírus do sarampo Adenovírus Vírus do grupo herpes Varicela-zóster Epstein-Barr Citomegalovírus Reservatório O principal é o homem. Modo de transmissão Nas infecções por enterovírus predomina a via fecal-oral, podendo ocorrer também por via respiratória. Período de incubação Para os enterovírus, situa-se comumente entre 7 e 14 dias, podendo variar de 2 a 35 dias. Período de transmissibilidade No caso dos enterovírus, podem ser eliminados nas fezes por diversas semanas e pelas vias aéreas superiores por períodos que variam de 10 a 15 dias. Vulnerabilidade As crianças constituem o grupo mais vulnerável às infecções causadas pelos enterovírus. Manifestações clínicas Quando se trata de enterovírus, as mais frequentes são: febre, mal-estar geral, náusea e dor abdo- minal na fase inicial do quadro, seguidas, após cerca de 1 a 2 dias, de sinais de irritação meníngea, com rigidez de nuca geralmente acompanhada de vômitos. Outras Meningites
  • 55. Guia de Vigilância em Saúde 54 É importante destacar que os sinais e sintomas inespecíficos que mais antecedem e/ou acompanham o quadro da meningite asséptica por enterovírus são: manifestações gastrointestinais (vômitos, anorexia e diarreia), respiratórias (tosse, faringite) e ainda mialgia e erupção cutânea. Em geral o restabelecimento do paciente é completo, mas em alguns casos pode permanecer alguma debilidade, como espasmos musculares, insônia e mudanças de personalidade. A duração do quadro é geralmente inferior a uma semana. Complicações Em geral, nos casos de enterovírus não há complicações, a não ser que o indivíduo seja portador de alguma imunodeficiência. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial O diagnóstico etiológico dos casos suspeitos de meningite viral é de extrema importância para a vigilância epidemiológica, quando se trata de situação de surto. Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite viral depen- dem do agente etiológico: O aspecto do líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos ocorre o aumento de elementos figurados (células), que em geral nas meningites virais, devido à baixa celularidade, pouco alteram macroscopicamente o aspecto do líquor; porém, existem alterações bioquí- micas e celulares, de acordo com o Quadro 6. Nos Anexos A e B estão apresentados os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos laboratoriais, informações sobre conservação e transporte de amostras e detalhamento sobre os principais exames realizados para diagnóstico das meningites virais. Quadro 6 – Alterações encontradas no líquido cefalorraquidiano (LCR) para meningites virais Características Meningite viral Encefalite Valores de referência Aspecto Límpido Límpido Límpido Cor Incolor ou opalescente Incolor Incolor, cristalino (“água de rocha”) Cloretos Normal Normal 680 a 750mEq/L Glicose 45 a 100mg/dL Proteínas totais Levemente aumentadas Discretamente aumentadas 15 a 50mg/dL Globulinas Negativa ou positiva Aumento discreto (Gama-globulina) Negativa Leucócitos 5 a 500 linfócitos 1 a 100 linfócitos 0 a 5mm3 Diagnóstico diferencial Deve ser feito com outras encefalites e meningoencefalites.
  • 56. 55 Tratamento O tratamento antiviral específico não tem sido amplamente utilizado. Em geral, utiliza-se o trata- mento de suporte, com avaliação criteriosa e acompanhamento clínico. Tratamentos específicos somente estão preconizados para a meningite herpética (HSV 1 e 2 e VZV) com aciclovir endovenoso. Na caxumba, a gamaglobulina específica hiperimune pode diminuir a incidência de orquite, porém não melhora a síndrome neurológica. Características epidemiológicas As meningites virais têm distribuição universal. Podem ocorrer casos isolados e surtos principal- mente relacionados aos enterovírus. A frequência de casos se eleva nos meses do outono e da primavera. O aumento de casos pode estar relacionado a epidemias de varicela, sarampo, caxumba e também a eventos adversos pós-vacinais. Outras Meningites
  • 57. Guia de Vigilância em Saúde 56 Meningite por outras etiologias CID 10: G02 – Meningite em outras doenças infecciosas e parasitárias classificadas em outra parte Características gerais Descrição Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, cau- sado por fungos e parasitas. Agente etiológico Destacam-se os fungos do gênero Cryptococcus, sendo as espécies mais importantes a C. neoformans e a C. gattii. Entretanto, outros agentes, como protozoários e helmintos, também podem ocasionar me- ningite (Quadro 7). Quadro 7 – Outros agentes etiológicos que podem causar meningite Fungos Protozoários Helmintos Cryptococcus neoformans Cryptococcus gattii Candida albicans Candida tropicalis Histoplasma capsulatum Paracoccidioides brasiliensis Aspergillus fumigatus Toxoplasma gondii Trypanosoma cruzi Plasmodium sp Infecção larvária da Taenia solium Cysticercus cellulosae (Cisticercose) Angyostrongylus cantonensis Devido à importância da etiologia fúngica, em especial da meningite criptocócica, este capítulo será direcionado especificamente a este tema. Reservatório Microfocos relacionados a habitat de aves, madeira em decomposição em árvores, poeira domiciliar, outros habitat, como de morcegos e outros animais; onde houver concentração estável de matéria orgânica, pode representar fontes ambientais potenciais para a infecção. Além de pombos, outras aves também são importantes reservatórios, sobretudo aquelas relacionadas à criação em cativeiro no ambiente doméstico, como canários e periquitos. Modo de transmissão Geralmente ocorre devido à inalação das formas leveduriformes do ambiente. Período de incubação Desconhecido. Casuísticas brasileiras exibem média de surgimento de sinais e sintomas entre 3 se- manas e 3 meses antes da admissão, mas individualmente pode variar de 2 dias a 18 meses ou mais. Suscetibilidade e vulnerabilidade A suscetibilidade é geral; o C. neoformans tem caráter predominantemente oportunista; o C. gatti atinge prioritariamente crianças e jovens hígidos.
  • 58. 57 Manifestações clínicas Apresenta-se mais frequentemente como meningite ou meningoencefalite aguda ou subaguda, en- tretanto aparecem lesões focais únicas ou múltiplas no SNC, simulando neoplasias, associadas ou não ao quadro meníngeo; isto tem sido associado ao C. gattii. As manifestações variam de acordo com o estado imunológico do paciente. No indivíduo com comprometimento imunológico (aids ou outras condições de imunossupressão), a meningoencefalite é aguda, com ampla variedade de sinais, podendo inclusive não haver sinais de irri- tação meníngea. Nos pacientes com aids que apresentam cefaleia, febre, demência progressiva e confusão mental, a meningite criptocócica deve ser considerada. No indivíduo imunocompetente, o quadro é exuberante, e os sintomas comumente descritos são: cefaleia, febre, vômitos, alterações visuais, rigidez de nuca. Outros sinais neurológicos, como ataxia, alte- ração do sensório e afasia, são comuns. Pode ocorrer evolução para torpor ou coma. Complicações Pode evoluir com significativo número de sequelas; as mais frequentes são diminuição da capacidade mental (30%), redução da acuidade visual (8%), paralisia permanente de nervos cranianos (5%) e hidrocefalia. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial Os principais exames a serem realizados no LCR para o esclarecimento diagnóstico de casos suspei- tos de meningite criptocócica são: No Anexo A estão apresentados os procedimentos técnicos para coleta de amostras, fluxos laborato- riais, informações sobre conservação e transporte de amostras e detalhamento sobre os principais exames realizados para diagnóstico das meningites. O aspecto do líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos, ocorre o aumento de elementos figurados (células) e alterações bioquímicas, podendo ou não causar tur- vação. Nos casos de meningite por fungos, as alterações mais frequentes são apresentadas no Quadro 8. Quadro 8 – Alterações encontradas no líquido cefalorraquidiano (LCR) para meningites por fungos Característica Meningites por fungos Valores de referência Aspecto Límpido Límpído Cor Incolor Incolor, cristalino "água de rocha" Cloretos Normal 680 a 750mEq/L Glicose Diminuída 45 a 100mg/dL Proteínas totais Aumentadas 15 a 50mg/dL Globulinas Aumento (gama-globulina) Negativa Leucócitos Acima de 10céls/mm³ (linfócitos e monócitos) 0 a 5mm3 Outras Meningites
  • 59. Guia de Vigilância em Saúde 58 Diagnóstico diferencial Deve ser feito com outras afecções neurológicas, como outras meningites, principalmente as virais, abscessos, meningites bacterianas parcialmente tratadas ou neoplasias, e com as afecções comuns no pa- ciente com aids, como toxoplasmose, tuberculose, histoplasmose, linfoma e a leucoencefalopatia multi- focal progressiva. Tratamento O tratamento da meningite criptocócica deve considerar a presença ou não de imunossupressão e nas drogas disponíveis. O tratamento é dividido em três fases: indução, consolidação e manutenção. Dependendo do estado imunológico do paciente e da disponibilidade do medicamento, vários esquemas podem ser adotados. O término da fase de indução e início da fase de consolidação é recomendado somente quan- do o paciente apresentar cultura para fungos negativa no LCR após a 2ª semana e/ou melhora dos sinais clínicos. Cabe ressaltar que os pacientes portadores de condições de imunossupressão deverão ser submetidos à fase de manutenção do tratamento por 12 a 24 meses. Os esquemas terapêuticos preconizados para o tratamento da criptococose de SNC estão apresenta- dos no Quadro 9. Quadro 9 – Esquemas terapêuticos para meningite criptocócica Tratamento da meningite criptocócica e outras formas de criptococose de SNC Estado imunológico Indução Consolidação Manutenção Imunocompetente Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa + 5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em 6h por 14 dias Fluconazol: 400mg/dia via oral por 6 a10 semanas Quando necessária, será realizada de acordo com indicação médica. Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa + 5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em 6h por 6 a 10 semanas Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa por 6 a 10 semanas Formulações lipídicas de anfotericina B (lipossomal ou complexo lipídico): 3 a 6mg/kg/dia, endovenosa, por 6 a 10 semanas Imunodeprimido (HIV ou outra imunossupressão) Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa + 5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em 6h por 14 dias Fluconazol: 400mg/dia via oral por 10 semanas Fluconazol: 200 a 400mg/dia via oral por 12 a 24 meses ou Itraconazol: 200mg/dia via oral por 12 a 24 meses Anfotericina B: 1mg/kg/dia endovenosa + 5-Flucitosina: 100mg/kg/dia via oral, de 6 em 6h por 6 a 10 semanas Formulações lipídicas de anfotericina B (lipossomal ou complexo lipídico): 3 a 6 mg/kg/dia, endovenosa, por 6 a 10 semanas Em caso de intolerância ou impossibilidade do uso de anfotericina B e suas formulações lipídicas Fluconazol: 800 a 1.600mg/dia via oral + 5-flucitozina 100mg/kg/dia 6 em 6h ou Fluconazol: 1.600mg a 2.000mg/dia via oral por 6 a 10 semanas ou Fluconazol: 400 a 800mg/dia via oral por 10 a 12 semanas
  • 60. 59 Características epidemiológicas A micose abrange duas entidades distintas do ponto de vista clínico e epidemiológico: predominantemente por Cryptococcus neoformans variedade neoformans; - picais e subtropicais, causada predominantemente por Cryptococcus neoformans variedade gattii. Pode ter caráter epidêmico. Mundialmente a criptococose por C. neoformans variedade neoformans atinge indivíduos imunocomprometidos acompanhando o sexo e idade dos grupos de risco. No Brasil, ocorre como primeira manifestação oportunista em cerca de 4,4% dos casos de aids e estima-se a prevalência da criptococose associada a aids entre 8 e 12% em centros de referência da região Sudeste. Entretanto, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil predominam casos de criptococose em indivíduos sem evidência de imunodepressão, tanto no sexo masculino quanto no feminino, causados pela variedade gattii, comportando-se esta micose como endemia regional. A meningoencefalite criptocócica ocorre em pessoas residentes destas regiões, incluindo jovens e crianças, com elevada morbidade e letalidade (37 a 49%), revelando padrões regionais marcadamente distintos da criptococose por variedade neoformans, amplamente predominante nas regiões Sudeste e Sul do país. A mortalidade por criptococose é estimada em 10% nos países desenvolvidos, chegando a 43% nos países em desenvolvimento. Outras Meningites
  • 61. Guia de Vigilância em Saúde 60 Vigilância epidemiológica Objetivos uso destas. H. influenzae e S. pneumoniae circulantes no país. Definição de caso Suspeito Crianças acima de 1 ano de idade e adultos com febre, cefaleia, vômitos, rigidez da nuca, sinais de Em crianças abaixo de 1 ano de idade os sintomas clássicos acima referidos podem não ser tão evi- dentes. É importante considerar, para a suspeita diagnóstica, sinais de irritabilidade, como choro persis- tente, e verificar a existência de abaulamento de fontanela. Confirmado Meningites bacterianas - cos: cultura, e/ou PCR, e/ou látex. - ratorialmente para Haemophilus influenzae ou Mycobacterium tuberculosis por um dos exames específicos, mas que não tenha realizado nenhum deles. Meningites virais - cos: isolamento viral, e/ou PCR. - torialmente para vírus causador de meningite por um dos exames específicos, mas que não tenha realizado nenhum deles.
  • 62. 61 Meningites por outras etiologias - cos: cultura, e/ou PCR, e/ou látex. Descartado Caso suspeito com diagnóstico confirmado de outra doença. Notificação Doença de notificação compulsória, sendo os surtos e os aglomerados de casos ou óbitos de notifi- cação imediata. Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados às autoridades competentes, por pro- fissionais da área de assistência, vigilância, e pelos de laboratórios públicos e privados, através de contato telefônico, fax, e-mail ou outras formas de comunicação. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação de Meningite ou da Ficha de Investigação de Surtos. Investigação Deve ser realizada para obtenção de informações quanto à caracterização clínica do caso (incluindo a análise dos exames laboratoriais) e as possíveis fontes de transmissão da doença. A ficha de investigação é o instrumento utilizado para a investigação. Todos os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo se a informação for negativa. Outras informações podem ser incluídas, conforme a necessidade. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos referentes à notificação (dados gerais, do caso e de residência). Coleta de dados clínicos e epidemiológicos As fontes de coleta de dados são entrevista com o profissional de saúde que atendeu o caso, dados do prontuário, entrevistas com familiares e pacientes, quando possível, e pessoas identificadas na investiga- ção como contato próximo do caso. Para confirmar a suspeita diagnóstica - Verificar se as informações se enquadram na definição de caso. - Verificar os resultados de exames do espécime clínico encaminhados ao laboratório. - Verificar a evolução clínica do paciente. Para identificação da área de transmissão - Coletar informações na residência e nos locais usualmente frequentados pelos indivíduos aco- metidos (creches, escolas, locais de trabalho, quartéis, igrejas e outros pontos de convívio social em que pode haver contato próximo e prolongado com outras pessoas), considerando o período anterior a 15 dias do adoecimento, para identificar possíveis fontes de infecção. Outras Meningites
  • 63. Guia de Vigilância em Saúde 62 Para determinação da extensão da área de transmissão - Em relação à identificação do risco de propagação da transmissão: . identificar todos os contatos próximos do caso; . investigar a existência de casos secundários e coprimários, ou possíveis casos relacionados; . verificar histórico vacinal do paciente e contatos; . avaliar a cobertura vacinal do município. Coleta e remessa de material para exames - A coleta de espécimes clínicos para o diagnóstico laboratorial deve ser realizada logo após a suspeita clínica de meningite, preferencialmente antes do início do tratamento com antibiótico. - A adoção imediata do tratamento adequado não impede a coleta de material para o diagnóstico etiológico, mas recomenda-se que a coleta das amostras seja feita o mais próximo possível do momento do início do tratamento. - O material coletado em meio estéril deve ser processado inicialmente no laboratório local, para orientação da conduta médica. Subsequentemente, esse material e/ou a cepa de bactéria já iso- lada deverão ser encaminhados para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) para rea- lização de diagnóstico mais específico. - O LCR deve ser coletado exclusivamente pelo médico seguindo as normas técnicas e fluxos recomendados nos Anexos A e B. - Nem sempre é possível aguardar os resultados laboratoriais para instituição das medidas de controle cabíveis, embora essas sejam imprescindíveis para confirmação do caso, direcionamen- to das medidas de controle e orientação para o encerramento da investigação. Encerramento de caso Deve ser realizado após a verificação de todas as informações necessárias para a conclusão do caso. O encerramento de um caso de meningite pode ser realizado pelos critérios diagnósticos a seguir especificados. Meningite por H. influenzae e S. pneumoniae: cultura, PCR, látex, ou vínculo epidemiológico (caso de H. influenzae). Meningite por outras bactérias: cultura, PCR, látex, bacterioscopia, quimiocitológico do LCR, clínico, ou vínculo epidemiológico (caso de meningite tuberculosa). Meningite viral: isolamento viral, PCR, quimiocitológico do LCR, clínico, ou vínculo epidemiológico. Meningite por outra etiologia: cultura, PCR, látex, microscopia do LCR, ou clínico. Medidas de prevenção e controle Objetivos H. influenzae. de 1 ano de idade por vacinas contra meningite tuberculosa, por H. influenzae e por S. pneumoniae. Quimioprofilaxia A quimioprofilaxia está indicada somente para os contatos próximos de casos suspeitos de meningite por H. influenzae tipo b e doença meningocócica (ver no capítulo específico). Muito embora não assegure efeito protetor absoluto e prolongado, tem sido adotada como uma medida eficaz na prevenção de casos secundários.
  • 64. 63 O risco de doença invasiva por H. influenzae tipo b entre os contatos próximos é maior durante os primeiros dias após o início da doença, o que requer que a quimioprofilaxia seja administrada o mais rápido possível. Os casos secundários são raros, e podem ocorrer dentro de 60 dias após contato com o paciente. A taxa de ataque secundária é maior entre os contatos domiciliares menores de 4 anos de idade não imunizados. Está indicada para os contatos próximos de casos suspeitos de meningite por H. influenzae tipo b, nas situações a seguir elencadas. um contato com criança menor que 4 anos não vacinada ou parcialmente vacinada, ou com crian- ça imunocomprometida independentemente da situação vacinal. - reram em um intervalo de até 60 dias. Nesta situação a quimioprofilaxia deve ser prescrita para todos as crianças, independentemente da idade ou status vacinal, e para os cuidadores. - ceira geração. Contatos domiciliares são as pessoas que residem com o doente, ou aquelas que não residem na mesma casa mas que passaram 4 horas ou mais com o doente durante pelo menos 5 dos 7 dias anteriores ao início dos sintomas. O antibiótico de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada em dose adequada e simultaneamente a todos os contatos próximos, preferencialmente até 48 horas da exposição à fonte de infecção (doente), considerando o prazo de transmissibilidade e o período de incubação da doen- ça. A rifampicina é recomendada para a quimioprofilaxia porque atinge altas concentrações nas secreções respiratórias e erradica o H. influenzae tipo b da nasofaringe de aproximadamente 95% dos portadores (Quadro 10). Em relação às gestantes, esse medicamento tem sido utilizado para quimioprofilaxia, pois não há evidências de que a rifampicina possa apresentar efeitos teratogênicos. A relação risco/benefício do uso de antibióticos pela gestante deverá ser avaliada pelo médico assistente. Quadro 10 – Esquema de quimioprofilaxia por meio de rifampicina indicado para Haemophilus influenzae Agente etiológico Faixa etária Dose Intervalo (horas) Duração (dias) H. influenzae Adultos 600mg/dose 24 em 24 4 >1 mês até 10 anos 20mg/kg/dose (dose máxima de 600mg) 24 em 24 4 <1 mês 10mg/kg/dose (dose máxima de 600mg) 24 em 24 4 Imunização A vacinação é considerada a forma mais eficaz na prevenção da meningite bacteriana, sendo as vaci- nas específicas para determinados agentes etiológicos. São utilizadas na rotina para imunização de crian- ças menores de 1 ano. Estão disponíveis no Calendário Nacional de Vacinação da Criança do Programa Nacional de Imunizações (PNI/MS) (Quadro 11). Também são ofertadas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) (Quadro 12). Outras Meningites
  • 65. Guia de Vigilância em Saúde 64 Quadro 11 – Vacinas utilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações para a prevenção das meningites bacterianas na rotina Vacinas Prevenção/doença Indicação Vacina adsorvida difteria, tétano, pertússis, hepatite B (recombinante) e Haemophilus influenzae b (conjugada) (Penta) Meningite e outras infecções causadas pelo H. influenzae tipo b; além de difteria, tétano, coqueluche e hepatite B Administrar 3 doses (aos 2, 4 e 6 meses de idade) com intervalo de 60 dias entre as doses, em no mínimo 30 dias. O primeiro reforço deve ser administrado aos 15 meses e o segundo aos 4 anos de idade, ambos com a vacina adsorvida difteria, tétano e pertússis (DTP). Em indivíduos com mais de 4 anos de idade sem nenhum reforço, administrar apenas 1 reforço. A idade máxima para administrar as vacinas com o componente pertússis de células inteiras é 6 anos, 11 meses e 29 dias Vacina BCG Contra as formas graves de tuberculose (miliar e meníngea) Administrar o mais precocemente possível. Em crianças prematuras ou com baixo peso ao nascer, adiar a vacinação até elas atingirem 2kg. Na rotina dos serviços, administrar até 4 anos, 11 meses e 29 dias Crianças vacinadas na faixa etária preconizada que não apresentam cicatriz vacinal após 6 meses, revacinar apenas uma vez Em crianças filhas de mãe HIV positivas não vacinadas, a vacina deve ser administrada naquelas assintomáticas e sem sinais de imunodeficiência, sendo a revacinação contraindicada. A vacinação é contraindicada para indivíduos portadores de HIV Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada) (Pneumo 10) Doenças invasivas e otite média aguda causadas por Streptococcus pneumoniae dos sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F Administrar duas doses (aos 2 e 4 meses de idade), com intervalo de 60 dias entre as doses, e mínimo de 30 dias, em crianças menores de 1 ano de idade. O reforço deve ser feito entre 12 meses e 4 anos de idade, preferencialmente aos 12 meses. Em crianças entre 12 e 23 meses de idade sem comprovação vacinal, administrar dose única Vacina polissacarídica contra o S. pneumoniae 23 valente (Pneumo 23) Infecções pneumocócicas dos sorotipos 1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N,9V, 10A, 11A, 12F,14,15B,17F,18C,19A,19F, 20,22F,23F, 33F Uma dose é suficiente para conferir proteção contra os sorotipos dos pneumococos contidos na vacina. Esta vacina é disponibilizada para toda a população indígena acima de 2 anos de idade. Para a população a partir de 60 de idade, a revacinação é indicada uma única vez, devendo ser realizada 5 anos após a dose inicial Quadro 12 – Situações em que as vacinas são recomendadas nos Centros de Referência para Imu- nobiológicos Especiais (CRIE) Vacinas Indicações Vacina contra o Haemophilus influenzae tipo b (Hib) É indicada nos casos de substituição da pentavalente por DTP acelular + Hib, transplantados de medula óssea e órgãos sólidos e nos menores de 19 anos e não vacinados, nas seguintes situações: HIV/aids; humoral ou deficiência de complemento; doenças relacionadas; Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada) (Pneumo 10) Esta vacina está disponível para as crianças de 2 meses a menores de 5 anos de idade A partir desta idade é indicada a vacina pneumocócica 23 valente, conforme indicação Vacina polissacarídica contra o Streptococcus pneumoniae 23 valente (Pneumo 23) HIV/aids; asplenia anatômica ou funcional e doenças relacionadas; pneumopatias crônicas, exceto asma; asma grave em usos de corticoide em dose imunossupressora; cardiopatias crônicas; nefropatias crônicas/hemodiálise/síndrome nefrótica; transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea; imunodeficiência devido a câncer ou imunossupressão terapêutica; diabetes mellitus; fístula liquórica; fibrose cística (mucoviscidose); doenças neurológicas crônicas incapacitantes; implante de cóclea; trissomias; imunodeficiências congênitas; hepatopatias crônicas; doenças de depósito; crianças menores de 1 ano de idade, nascidas com menos de 35 semanas de gestação e submetidas a assistência ventilatória (CPAP ou ventilação mecânica); a dose é a mesma para adultos e crianças acima de 2 anos
  • 66. 65 Informações adicionais podem ser encontradas no Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação (2014), no Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (2014) e na Portaria do Ministério da Saúde nº 1.533, de 18 de agosto de 2016. Bibliografia AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Haemophilus influenzae Infections. In: PICKERING, L. K. et al. (Ed.). Red Book - tious Diseases. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi- ológica. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 250 p. - ológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2014. 160 p. - miológica. Portaria nº 1533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o Calendário Nacional de Vacinação, o Calendário Nacional de Vacinação dos Povos Indígenas e as Campanhas Nacionais de Vacinação, no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. Disponível em: <http://www.brasilsus.com.br/index.php/legislacoes/gabinete-do-ministro/8827-portaria-n-1-533-de- 18-de-agosto-de-2016>. Acesso em: 23 mar. 2017. BRIERE, E. C. et al. Prevention and Control of Haemophilus influenzae Type b Disease: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep., v. 63, RR-01, p. 1-14, 28 Feb. 2014. Outras Meningites
  • 67. Guia de Vigilância em Saúde 66 Anexo A Procedimentos técnicos para coleta das amostras O diagnóstico etiológico dos casos suspeitos de meningite é de extrema importância para a Vigilân- cia Epidemiológica, tanto na situação endêmica da doença quanto em situações de surto. Para todo caso suspeito de meningite bacteriana, utilizar o kit de coleta para o diagnóstico laborato- rial, distribuído pelos Lacen para todos os laboratórios locais. Este kit é composto de: carneiro ou cavalo; coleta de sangue (obtenção do soro) e os outros dois para a coleta de líquido céfalorraquidiano (LCR) nos quais serão realizados os exames citoquímico, bacterioscopia e os de aglutinação do látex e reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR); corada e processada no laboratório do hospital e a outra é enviada para o Lacen). Coleta do LCR A punção do LCR é um procedimento invasivo e requer precauções semelhantes aos de um ato ci- rúrgico. Quando solicitada, deve ser feita exclusivamente por médico especializado, em um centro com as condições mínimas para este tipo de procedimento. A punção é frequentemente realizada na região lombar, entre as vértebras L1 e S1, sendo mais indica- dos os espaços L3-L4, L4-L5 ou L5-S1. Uma das contraindicações para a punção lombar é a existência de infecção no local da punção (piodermite). No caso de haver hipertensão endocraniana grave, é aconselhá- vel solicitar um especialista para a retirada mais cuidadosa do líquor, ou aguardar a melhora do quadro, priorizando-se a análise de outros espécimes clínicos. Após a coleta de 3mL de LCR, o médico, ainda na sala de coleta, deve proceder do seguinte modo: - terioscopia e citoquímico e o outro para o látex e qPCR. Coleta do sangue No sangue são realizados os exames de cultura (hemocultura), látex e qPCR. Os procedimentos para a coleta do sangue são: ser coletada para a área periférica; ação oxidante. Caso o paciente seja alérgico ao iodo, efetuar duas vezes a aplicação do álcool a 70%; em caso de adultos;
  • 68. 67 diluição final no meio seja de 10 a 15% (cultura pediátrica) ou 10 a 20% para adultos. Para meios de cultura industrializados, seguir a recomendação do fabricante; qual serão realizados os testes de aglutinação do látex e qPCR. Fluxo interlaboratorial Laboratório Local – LL - o material semeado (LCR e sangue) para isolamento e identificação bacteriana; - o soro e o LCR para realização de qPCR, quando implantado no Lacen; e - as duas lâminas de bacterioscopia para CQ, sendo uma corada e a outra não. Quando o LL realizar a cultura, deve enviar a cepa isolada para o Lacen. Laboratório de Referência Estadual – Lacen Neisseria meningitidis Haemophilus influenzae Streptococcus pneumoniae Controle da Qualidade (CQ) ou para conclusão diagnóstica. Laboratório de Referência Nacional ClinicalandLaboratoryStandardInstitute(CLSI). casos especiais, como surtos. Observação Os resultados e laudos laboratoriais deverão ser informados à Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB/MS) conforme o preconizado. Todo material deverá ser enviado ao Lacen, devidamente identificado e acompanhado de cópia da Ficha de Investigação do Sinan, que servirá de orientação quanto aos exames indicados. O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importância para o êxito dos procedimentos laboratoriais. Para cultura, realizar a semeadura do LCR no local de coleta sempre que possível. Caso contrário, enviá-lo em temperatura ambiente para ser semeado no laboratório. Outras Meningites
  • 69. Guia de Vigilância em Saúde 68 Conservação, transporte e biossegurança Para cultura, transportar o material clínico em temperatura ambiente o mais imediatamente possível ao laboratório. Nunca transportá-lo congelado ou sob refrigeração. As amostras semeadas de LCR e sangue do mesmo modo devem ser encaminhadas ao laboratório em temperatura ambiente o mais rapidamente possível. Os exames citoquímico e bacterioscópico devem ser feitos em menor tempo possível para evitar a deterioração celular e bacteriana, o que dificulta suas identificações. O líquor e sangue/soro para os exames da aglutinação do látex e qPCR podem ser conservados em temperatura ambiente por até uma hora. Caso não seja possível realizar os exames neste tempo, conservá- -los em geladeira a 4ºC por até 24 horas e, acima deste tempo, congelá-los. O frasco deve estar envolvido em papel alumínio ou papel de embalagem estéril. Para evitar quebra ou perda do espécime durante o transporte, os frascos devem estar acondiciona- dos em uma caixa devidamente protegida com espuma flon ou papel e com uma seta sinalizando o sentido em que deve ser carregada. Devem-se registrar nas caixas os nomes do remetente e do destinatário, e que se trata de ma- terial biológico. Detalhamento sobre os principais exames laboratoriais realizados para diagnóstico das meningites A seguir, descrevem-se os exames laboratoriais disponíveis, sua interpretação e as normas de coleta dos espécimes clínicos. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada no ato da entrada do paciente na unidade de saúde, no primeiro atendimento, preferencialmente antes da utilização da primeira dose do antibiótico (Quadro 1). Cultura Tanto para o LCR quanto para o sangue, é um exame de alto grau de especificidade. Seu objetivo é identificar a espécie da bactéria, podendo ser realizado com diversos tipos de fluidos corporais, sendo o padrão ouro para diagnóstico das meningites. A identificação do sorogrupo ou sorotipos das cepas bacte- rianas isoladas é de grande relevância para acompanhar as tendências das meningites e para a investigação de surtos e/ou epidemias. As cepas devem ser encaminhadas ao Lacen e ao Instituto Adolfo Lutz de São Paulo (IAL), para estudos moleculares complementares. Aglutinação pelo látex Partículas de látex, sensibilizadas com antissoros específicos, permitem, por técnica de aglutinação rápida (em lâmina ou placa), detectar o antígeno bacteriano em líquor, soro e outros fluidos biológicos. Pode ocorrer resultado falso-positivo, em indivíduos portadores do fator reumático ou em reações cru- zadas com outros agentes. A sensibilidade do teste de látex é da ordem de 90% para H. influenzae, 94,4% para S. pneumoniae e 80% para N. meningitidis. A especificidade da reação é de 97%. Bacterioscopia A coloração do LCR pela técnica de Gram permite, ainda que com baixo grau de especificidade, caracterizar morfológica e tintorialmente as bactérias presentes. Pode ser realizada a partir do líquor e outros fluidos corpóreos normalmente estéreis e raspagem de petéquias.
  • 70. 69 Quadro 1 – Coletaa e conservação de material para diagnóstico de meningite bacteriana Tipo de diagnóstico Tipo de material Quantidade Nº de amostras Recipiente Armazenamento/ conservação Transporte Cultura Sangue 10 a 20% do volume total do frasco 1 Frasco adequado para hemocultura (caldo BHI ou TSB acrescido de SPS) Colocar imediatamente em estufa entre 35 e 37o C, logo após a semeadura, até o envio ao laboratório Fazer subculturas em ágar chocolate após 8 horas Nunca refrigerar Manter o frasco em temperatura ambiente e encaminhar o mais rápido possível para o laboratório Cultura Líquor 5 a 10 gotas 1 Frasco com meio de cultura ágar chocolate base Müller-Hinton ou similar Semear imediatamen- te ou até 3hs após a punção Incubar a 35-37o C em atmos- fera de CO2 (chama de vela), úmido após a semeadura, até o envio ao laboratório Nunca refrigerar Manter o frasco em temperatura ambiente e encaminhar o mais rápido possível para o laboratório Látex Soro 2mL 1 Frasco estéril Sangue colhido sem anticoagulante Em temperatura ambiente, em até 1 hora Tempo superior a 1 hora, conservar a 4o C Pode ser congelado, se o exame não for realizado nas primeiras 24 horas. Estocar o restante para a necessidade de realizar outros procedimentos Após separar o soro, enviar imediatamente ao laboratório ou conservar Látex Líquor 1 a 2mL 1 Frasco estéril Em temperatura ambiente, em até 1 hora Tempo superior a 1 hora, conservar a 4o C Pode ser congelado, se o exame não for realizado nas primeiras 24 horas. Estocar o restante para a necessidade de realizar outros procedimentos Enviar imediatamente ao laboratório, conser- vado em gelo Bacterioscopia Líquor 1 gota a partir do sedimento do material do quimiocitoló- gico 2 2 lâminas de micro- cospia virgens Em temperatura ambiente Em temperatura ambiente, em embala- gem apropriada Quimiocitológico Líquor 2mL 1 Frasco estéril Em temperatura ambiente, em até 3 horas Tempo superior a 3 horas, conservar a 4o C Enviar imediatamente ao laboratório Reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR) Líquor e/ ou soro 500mL 1 Frasco estéril As amostras devem ser aliquotadas em tu- bos novos, pequenos, com tampa de rosca com anel de vedação (tipo “cryovials”) As amostras devem ser estoca- das a -20o C até seu transporte Deve ser feito rapi- damente, preferen- cialmente congelada a -20o C ou em gelo seco, ou no mínimo a +4o C a A coleta do material clínico deve ser realizada preferencialmente no ato do primeiro atendimento. Quimiocitológico Compreende o estudo da celularidade, ou seja, permite a contagem e o diferencial das células e as dosagens de glicose e proteínas do LCR. Traduz a intensidade do processo infeccioso e orienta a suspeita clínica, mas não deve ser utilizado para conclusão do diagnóstico final, por seu baixo grau de especificidade. Outras Meningites
  • 71. Guia de Vigilância em Saúde 70 Reação em cadeia da polimerase (PCR) A detecção do DNA bacteriano pode ser obtida por amplificação da cadeia de DNA pela enzima polimerase, que permite a identificação do agente utilizando oligonucleotídeos específicos. A qPCR é uma modificação da técnica tradicional de PCR que identifica o DNA alvo com maior sensibilidade e es- pecificidade e em menor tempo de reação. A qPCR já está validada no Brasil, sendo a técnica utilizada na rotina diagnóstica das meningites bacterianas em alguns Lacen e no Laboratório de Referência Nacional. Além dos métodos supracitados, há outros inespecíficos que são utilizados de forma complementar. São eles: tomografia computadorizada, raios X, ultrassonografia, angiografia cerebral e ressonância magnética. Os exames realizados pelos Lacen são: cultura, antibiograma, látex, bacterioscopia e qPCR. Nenhum dos exames citados substitui a cultura de líquor e/ou sangue. A recuperação do agente etio- lógico viável é de extrema importância para a sua caracterização e para o monitoramento da resistência bacteriana aos diferentes agentes microbianos. Na suspeita de meningite por agente bacteriano anaeróbico, a eliminação do ar residual deve ser realizada após a coleta do material. Transportar na própria seringa da coleta, com agulha obstruída, em tubo seco e estéril ou inoculada direto nos meios de cultura. Em temperatura ambiente, o tempo ótimo para transporte de material ao laboratório é de 15 minutos para um volume menor que 1mL e 30 minutos para um volume superior. O exame de látex deve ser processado com muito cuidado, para que não ocorram reações inespecí- ficas. Observar, portanto, as orientações do manual do kit, uma vez que a sensibilidade do teste varia de acordo com o produtor.
  • 72. 71 Anexo B Fluxo de encaminhamento de amostras (meningites virais) O diagnóstico laboratorial específico das meningites virais, em situações de surtos e em alguns casos isolados, é de extrema importância para a Vigilância Epidemiológica. A seguir, estão descritas as normas de coleta dos espécimes, os exames laboratoriais disponíveis e as suas interpretações. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada no ato da entrada do caso suspeito na unidade de saúde, no primeiro atendimento. Deve ser utilizado o kit completo de coleta, para casos suspeitos de meningite viral, distribuído pelos Lacen em todo o território nacional, constituído de: Exames laboratoriais Isolamento viral em cultura celular Pode ser realizado com diversos tipos de fluidos corporais, mais comumente líquor e fezes. São utili- zados cultivos celulares sensíveis, para o isolamento da maioria dos vírus associados às meningites assép- ticas: RD (rabdomiossarcoma embrionário humano), Hep-2 (carcinoma epidermoide de laringe) e Vero (rim de macaco verde africano). Reação de soroneutralização e de imunofluorescência Técnicas imunológicas para identificação do vírus isolado. Serão utilizados conjuntos de antissoros específicos para a identificação dos sorotipos. Reação em cadeia da polimerase (PCR e PCR em tempo real) Técnica baseada na amplificação de sequências nucleotídicas definidas presentes no DNA ou RNA viral. Possui alto grau de especificidade quanto à identificação do agente etiológico, sendo utilizada para detecção direta, ou identificação de diferentes grupos de vírus associados às meningites virais. Pesquisa de anticorpos no soro do paciente Serão utilizados testes de soroneutralização, em amostras pareadas de soro, para a pesquisa de anti- corpos para enterovírus; para os demais vírus, serão utilizados ensaios imunoenzimáticos com a finalida- de de se detectar anticorpos da classe IgG e IgM. Observações Estes exames são realizados a partir de contato com a vigilância epidemiológica das meningites e Lacen. As amostras devem ser encaminhadas ao laboratório com as seguintes informações: nome do pa- ciente; estado e cidade de notificação; cidade, estado e país de residência do paciente; tipo de amostra (líquor e/ou fezes); data de início dos sintomas; data de coleta da amostra; data de envio da amostra para o laboratório; história de vacinação recente; e história de viagem recente. Outras Meningites
  • 73. Guia de Vigilância em Saúde 72 As amostras devem ser individualmente acondicionadas em sacos plásticos e enviadas ao laborató- rio, em condições adequadas de transporte (caixas isotérmicas com gelo reciclável e, preferencialmente, em gelo seco para o transporte de líquor). Quadro 1 – Coleta e conservação de material para diagnóstico de meningite viral Tipo de diagnóstico Tipo de material Quantidade Nº de amostras Período da coleta Recipiente Armazenamento/ conservação Transporte Isolamento e identificação Líquor 1,5 a 2mL 1 No ato do atendimento ao paciente (fase aguda da doença) 1 frasco de polipropileno com tampa rosqueada Acondicionar imediatamente em banho de gelo e conservar a -70o C ou a -20o C até 24 horas Enviar imediatamente ao laboratório em banho de gelo ou em gelo seco em caixas isotérmicas Isolamento e identificação Fezes 4 a 8g (aproximadamente 1/3 do coletor) 1 No ato do atendimento ao paciente (fase aguda da doença) 1 coletor universal Conservar em geladeira por até 72 horas Sob refrigeração, em caixas isotérmicas, com gelo reciclável Detecção direta Líquor 1,5 a 2mL 1 No ato do atendimento ao paciente (fase aguda da doença) 1 frasco de polipropileno com tampa rosqueada Acondicionar imediatamente em banho de gelo Enviar imediatamente ao laboratório em banho de gelo ou em gelo seco em caixas isotérmicas Pesquisa de anticorpos da classe IgG Soro 5mL de sangue em frasco sem anticoagulante para obter o soro 2 (só serão processadas as amostras pareadas) 1a amostra no ato do atendimento ao paciente (fase aguda da doença) 2a amostra – 15 a 20 dias após a 1a (fase convalescente) 2 frascos de polipropileno com tampa rosqueada Após a retração do coágulo, separar o soro e conservar a -20o C Sob refrigeração, em caixas isotérmicas, com gelo reciclável Pesquisa de anticorpos da classe IgM Soro 5mL de sangue em frasco sem anticoagulante para obter o soro 1 1 amostra no ato do atendimento ao paciente (fase aguda da doença) 1 frasco de polipropileno com tampa rosqueada Após a retração do coágulo, separar o soro e conservar a -20o C Sob refrigeração, em caixas isotérmicas, com gelo reciclável Todo material deverá ser enviado ao laboratório, devidamente identificado e acompanhado de cópia da Ficha de Investigação de Meningite, que servirá de orientação quanto aos exames indicados. O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importância para o êxito dos procedimentos laboratoriais. O material deve chegar ao Lacen no prazo de 12 a 24 horas após a coleta. O tempo de procedimento técnico para o isolamento de vírus e sua identificação é de 30 dias, con- tados a partir da entrada da amostra no laboratório de referência para o diagnóstico de meningite viral.
  • 74. 73 Coqueluche Difteria Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda Sarampo Rubéola Síndrome da Rubéola Congênita Varicela/Herpes-Zóster Tétano Acidental Tétano Neonatal CAPÍTULO 2
  • 76. 75 Coqueluche CID 10: A37 Características gerais Descrição Doença infecciosa aguda, de alta transmissibilidade, de distribuição universal. Importante causa de morbimortalidade infantil. Compromete especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios) e se caracteriza por paroxismos de tosse seca. Em lactentes, pode resultar em um número elevado de com- plicações e até em morte. Sinonímia Tosse comprida ou tosse convulsa. Agente etiológico Bordetella pertussis, bacilo gram-negativo, aeróbio, não esporulado, imóvel e pequeno, provido de cápsula (formas patogênicas) e de fímbrias. Reservatório O homem é o único reservatório natural. Ainda não foi demonstrada a existência de portadores crôni- cos, embora possam ocorrer casos oligossintomáticos, com pouca importância na disseminação da doença. Modo de transmissão Ocorre, principalmente, pelo contato direto entre a pessoa doente e a pessoa suscetível, por meio de gotículas de secreção da orofaringe eliminadas durante a fala, a tosse e o espirro. Em alguns casos, pode ocorrer a transmissão por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes, mas isso é pouco frequente, pela dificuldade de o agente sobreviver fora do hospedeiro. Período de incubação Em média, de 5 a 10 dias, podendo variar de 4 a 21 dias, e raramente, até 42 dias. Período de transmissibilidade Para efeito de controle, considera-se que o período de transmissão se estende do 5º dia após a exposição do doente até a 3ª semana do início das crises paroxísticas (acessos de tosse típicos da doença). Em lactentes menores de 6 meses, pode prolongar-se por até 4 ou 6 semanas após o início da tosse. A maior transmissibi- lidade cai de 95% na 1a semana da doença (fase catarral) para 50% na 3a semana, sendo praticamente nula na 5a semana, embora, ocasionalmente, já tenham sido isoladas bactérias na 10ª semana de doença. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade é geral. O indivíduo torna-se imune em duas situações, descritas a seguir. 15 meses de idade, e um segundo reforço aos 4 anos de idade com a tríplice bacteriana (DTP). A imunidade não é permanente; após 5 a 10 anos, em média, da última dose da vacina, a proteção pode ser pouca ou inexistente. Coqueluche
  • 77. Guia de Vigilância em Saúde 76 Manifestações clínicas A coqueluche evolui em três fases sucessivas: Fase catarral - mas leves (febre pouco intensa, mal-estar geral, coriza e tosse seca), seguidos pela instalação gradual de surtos de tosse, cada vez mais intensos e frequentes, evoluindo para crises de tosses paroxísticas. Fase paroxística de febre no decorrer do dia. Apresenta como manifestação típica os paroxismos de tosse seca caracte- rizados por crise súbita, incontrolável, rápida e curta, com cerca de cinco a dez tossidas em uma única expiração. Durante os acessos, o paciente não consegue inspirar, apresenta protrusão da língua, con- gestão facial e, eventualmente, cianose, que pode ser seguida de apneia e vômitos. A seguir, ocorre uma inspiração profunda através da glote estreitada, podendo originar o som denominado de “guincho”. O número de episódios de tosse paroxística pode chegar a 30 em 24 horas, manifestando-se mais frequen- temente à noite. A frequência e a intensidade dos episódios de tosse paroxística aumentam nas duas primeiras semanas e, depois, diminuem paulatinamente. Essa fase dura de duas a 6 semanas. Fase de convalescença comum. Essa fase persiste por duas a 6 semanas e, em alguns casos, pode se prolongar por até 3 meses. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescença da co- queluche, podem provocar o reaparecimento transitório dos paroxismos. Em indivíduos não adequadamente vacinados ou vacinados há mais de 5 anos, a coqueluche, com frequência, não se apresenta sob a forma clássica, podendo manifestar-se sob formas atípicas, com tosse persistente, porém, sem paroxismos, guincho característico ou vômito pós-tosse. Os lactentes jovens (principalmente os menores de 6 meses) constituem o grupo de indivíduos particularmente propenso a apresentar formas graves, muitas vezes letais. Nessas crianças, a doença se manifesta com paroxismos clássicos, algumas vezes associados a cianose, sudorese e vômitos. Também podem estar presentes episódios de apneia, parada respiratória, convulsões e desidratação decorrente dos episódios repetidos de vômitos. O cuidado adequado para esses bebês exige hospitalização, isolamento, vigilância permanente e procedimentos especializados. Complicações Respiratórias - culose latente, atelectasia, bronquiectasia, enfisema, pneumotórax, ruptura de diafragma. Neurológicas subdural, estrabismo e surdez. Outras B. pertussis, epistaxe, edema de face, úlcera do frê- nulo lingual, hérnias (umbilicais, inguinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação e/ou desnutrição. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial Diagnóstico específico É realizado mediante o isolamento da B. pertussis pela cultura de material colhido de nasofaringe (Anexo A), com técnica adequada ou pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real. A coleta do espécime clínico deve ser realizada antes da antibioticoterapia ou, no máximo, até 3 dias
  • 78. 77 após seu início. Por isso, é importante procurar a unidade de saúde ou entrar em contato com a Coorde- nação da Vigilância Epidemiológica na Secretaria de Saúde do município ou estado. Para realização da cultura e PCR em tempo real, os procedimentos de coleta e transporte da amostra para o laboratório são os mesmos do isolamento. A cultura é considerada como o padrão ouro no diag- nóstico da coqueluche. É altamente específica (100%), mas a sensibilidade varia entre 12 e 60%, depen- dendo de fatores como: antibioticoterapia prévia, duração dos sintomas, idade e estado vacinal, coleta de espécime, condições de transporte do material, tipo e qualidade do meio de isolamento e transporte, pre- sença de outras bactérias na nasofaringe, tipo de swab, tempo decorrido desde a coleta, transporte e pro- cessamento da amostra. Como a B. pertussis apresenta tropismo pelo epitélio respiratório ciliado, a cultura deve ser feita a partir da secreção nasofaríngea. A coleta do material de pacientes suspeitos de coqueluche deverá ser realizada preferencialmente no início dos sintomas característicos da doença (período catarral) e antes do início do tratamento ou, no máximo, com até 3 dias de antibioticoterapia. Não se dispõe, até o momento, de testes sorológicos adequados e padronizados. Os novos métodos em investigação apresentam limitações na interpretação. É importante salientar que o isolamento e detecção de antígenos, produtos bacterianos ou sequências genômicas de B. pertussis são aplicáveis ao diagnóstico da fase aguda. Exames complementares Para auxiliar na confirmação ou descarte dos casos suspeitos, podem ser realizados os seguintes exames: Leucograma - nadas. No período catarral, pode ocorrer uma linfocitose relativa e absoluta, geralmente acima de 10 mil linfócitos/mm3 . Os leucócitos totais no final dessa fase atingem um valor, em geral, superior a 20 mil leucócitos/mm3 . No período paroxístico, o número de leucócitos pode ser elevado para 30 mil ou 40 mil/mm3 , associado a uma linfocitose de 60 a 80%. A presença da leucocitose e linfoci- tose confere forte suspeita clínica de coqueluche, mas sua ausência não exclui o diagnóstico da do- ença, por isso é necessário levar em consideração o quadro clínico e os antecedentes vacinais. Em lactentes e pacientes vacinados e/ou com quadro clínico atípico, pode não se observar linfocitose. Raio X de tórax - cial e/ou na presença de complicações. É característica a imagem de “coração borrado” ou “franjado”, porque as bordas da imagem cardíaca não são nítidas, em decorrência dos infiltrados pulmonares. Diagnóstico diferencial Deve ser feito com as infecções respiratórias agudas, como traqueobronquites, bronquiolites, adeno- viroses, laringites, entre outras. Outros agentes também podem causar a síndrome coqueluchoide, dificultando o diagnóstico dife- rencial, entre os quais a Bordetella parapertussis, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia trachomatis, Chla- mydia pneumoniae e Adenovírus (1, 2, 3 e 5). A Bordetella bronchiseptica e a Bordetella avium são patóge- nos de animais que raramente acometem o homem, exceto quando imunodeprimido. Tratamento O tratamento e a quimioprofilaxia da coqueluche, até 2005, se apoiavam preferencialmente no uso da eritromicina, macrolídeo bastante conhecido. Esse antibiótico é bastante eficaz na erradicação, em cerca de 48 horas, da B. pertussis da nasofaringe das pessoas com a doença (sintomática ou assintomática). Administrado precocemente, de preferência no período catarral, o medicamento pode reduzir a intensidade, a duração Coqueluche
  • 79. Guia de Vigilância em Saúde 78 da doença e o período de transmissibilidade. Apesar disso, há limitações no seu uso, pois a eritromicina é administrada de 6 em 6 horas por 7 a 14 dias, dificultando a adesão ao tratamento. Além disso, pode apresentar vários efeitos colaterais, incluindo sintomas gastrointestinais. Em crianças menores de 1 mês de idade, o uso da eritromicina está associado ao desenvolvimento da síndrome de hipertrofia pilórica, doença grave que pode levar à morte. Demonstrou-se que a azitromicina e a claritromicina, macrolídeos mais recentes, têm a mesma eficácia da eritromicina no tratamento e na quimioprofilaxia da coqueluche. A azitromicina deve ser administrada uma vez ao dia durante 5 dias e a claritromicina, de 12 em 12 horas durante 7 dias. Os novos esquemas te- rapêuticos facilitam a adesão dos pacientes ao tratamento e, especialmente, à quimioprofilaxia dos contatos íntimos. A azitromicina pode ser usada no tratamento das crianças com menos de 1 mês de idade. Embora não haja confirmação da associação entre o uso de azitromicina e o risco de desenvolver a síndrome de hipertrofia pilórica, a criança deve ser acompanhada pelos profissionais de saúde. Nos casos de contraindicação ao uso da azitromicina e da claritromicina, recomenda-se o sulfame- toxazol + trimetropin. A eritromicina ainda poderá ser usada, porém é contraindicada para menores de 1 mês de idade e nas situações em que ocorra intolerância ou dificuldade de adesão. Os antibióticos e suas respectivas posologias indicados para tratamento da coqueluche são os mes- mos usados na sua quimioprofilaxia (Quadro 1). Mulheres no último mês de gestação ou puérperas, que tiveram contato com caso suspeito ou confir- mado e apresentarem tosse por 5 dias ou mais, independente da situação epidemiológica, devem realizar o tratamento para coqueluche. Além de gestantes e puérperas, recém-nascidos também deverão ser tratados. Para crianças menores de 1 ano, pode-se tornar necessária a indicação de oxigenoterapia, aspiração de secreção oronasotraqueal, assistência ventilatória não invasiva ou, em casos mais graves, ventilação mecânica, assim como drenagem de decúbito, hidratação e/ou nutrição parenteral. Características epidemiológicas Desde a década de 1990, verifica-se significativa redução na incidência dos casos de coqueluche no Brasil, decorrente da ampliação das coberturas vacinais de tetravalente e tríplice bacteriana. No início daquela década, a incidência era de 10,6/100.000 hab. e a cobertura vacinal de cerca de 70%. Quando as coberturas se elevaram paravalorespróximosa95e100%,entre1998e2000,aincidênciafoireduzidapara0,9/100.000hab.Comama- nutenção das altas coberturas vacinais, a incidência continuou a cair, passando de 0,72/100.000 hab., em 2004, e para 0,32/100.000 hab., em 2010. Em meados de 2011, entretanto, observou-se um aumento súbito do número de casos da doença, que ultrapassou o limite superior esperado do diagrama de controle, construído com dados referentes ao período de 2006 a 2010. Em 2012, o número de casos, registrados por semana epidemiológica, manteve-se em níveis superiores ao esperado, com aumento progressivo. Em 2014, registrou-se maior pico de casos, com incidência de 4,2/100.000 hab. Vale ressaltar que, nos últimos anos, houve melhora do diagnóstico laboratorial com a introdução de técnicas biomoleculares. Destaca-se que esse comportamento também ocor- reu em outros países. Vigilância epidemiológica Objetivos - do à adoção de medidas de controle pertinentes. - tório de referência nacional, para estudos moleculares e de resistência bacteriana a antimicrobianos.
  • 80. 79 Primeira escolha: Azitromicina Idade Posologia <6 meses 10mg/kg em uma dose ao dia durante 5 dias É o preferido para esta faixa etária 10mg/kg (máximo de 500mg) em uma dose no 1º dia e 5mg/kg (máximo de 250mg) em uma dose ao dia do 2º ao 5º dia Adultos 500mg em uma dose no 1º dia e 250mg em uma dose ao dia do 2º ao 5º dia Segunda escolha: Claritromicinaa Idade Posologia <1 mês Não recomendado 1 a 24 meses 7,5mg/kg de 12 em 12h durante 7 dias >8 kg: 62,5mg de 12 em 12h durante 7dias 3 a 6 anos 125mg de 12 em 12h durante 7 dias 7 a 9 anos 187,5mg de 12 em 12h durante 7dias 250mg de 12 em 12h durante 7 dias Adultos 500mg de 12 em 12h durante 7 dias Eritromicina (em caso de indisponibilidade dos medicamentos anteriores) Idade Posologia <1 mês Não recomendado devido à associação com a síndrome de hipertrofia pilórica 1 a 24 meses 125mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias 2 a 8 anos 250mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias >8 anos 250-500mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias Adultos 500mg de 6 em 6h durante 7 a 14 dias Sulfametoxazol-Trimetoprin (SMZ-TMP), no caso de intolerância a macrolídeob Idade Posologia <2 meses Contraindicado SMZ 100mg e TMP 20mg de 12 em 12h durante 7 dias SMZ 200mg e TMP 40mg de 12 em 12h durante 7 dias 6 a 12 anos SMZ 400mg e TMP 80mg de 12 em 12h durante 7dias Adultos SMZ800mg e TMP 160mg de 12 em 12h durante 7dias a Apresentação de 125mg/5mL. b Droga alternativa se houver contraindicação de azitromicina, claritromicina ou eritromicina. Vigilância em situação endêmica Definição de caso em situação endêmica e em casos isolados Caso suspeito - Todo indivíduo, independentemente do estado vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há 10 dias ou mais associada a um ou mais dos seguintes sintomas: Coqueluche
  • 81. Guia de Vigilância em Saúde 80 uma única expiração; . guincho inspiratório; . vômitos pós-tosse; . cianose; . apneia; . engasgo. Indivíduo com idade igual ou superior a 6 meses - Todo indivíduo que, independentemente do estado vacinal, apresente tosse de qualquer tipo há 14 dias ou mais associada a um ou mais dos seguintes sintomas: uma única expiração; . guincho inspiratório; . vômitos pós-tosse. Além disso, acrescenta-se à condição de caso suspeito todo indivíduo que apresente tosse, em qualquer período, com história de contato próximo com caso confirmado de coqueluche pelo critério laboratorial. Em crianças com menos de 2 meses de idade, a sintomatologia pode ser diferente, pois nessa condi- ção o uso da vacina pode levar à ocorrência de casos atípicos. Nesse sentido, o tratamento deve ser estabe- lecido pelo critério clínico, até que se obtenha o resultado do exame laboratorial, se disponível. Em situações excepcionais, em que exista forte suspeita clínica de um caso de coqueluche pelo médi- co assistente, deve-se proceder à coleta de swab de nasofaringe e ao tratamento adequado, mesmo quando não se atenda a todos os critérios descritos na definição de caso. Caso confirmado Critério laboratorial isolamento por cultura ou identificação por PCR de B. pertussis. Critério clínico-epidemiológico contato com caso confirmado de coqueluche pelo critério laboratorial, entre o início do período catarral e até 3 semanas após o início do período paroxístico da doença. Critério clínico - Para indivíduos com idade inferior a 6 meses vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há 10 dias ou mais associada a dois ou mais dos seguintes sintomas: (cinco a dez), em uma única expiração; . guincho inspiratório; . vômitos pós-tosse; . cianose; . apneia; . engasgo. - Para indivíduos com idade igual ou superior a 6 meses do estado vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há 14 dias ou mais associada a dois ou mais dos seguintes sintomas:
  • 82. 81 uma única expiração; . guincho inspiratório; . vômitos pós-tosse. Salienta-se que, ao se confirmar ou descartar o caso de coqueluche pelo critério clínico, deve-se ana- lisar, concomitantemente à sintomatologia, a idade, a situação vacinal, o período da tosse associado ao de transmissibilidade (21 dias), o resultado de hemograma, e demais informações porventura disponíveis. Essas variáveis não são excludentes entre si. O hemograma é um exame complementar indicativo, mas não determinante na confirmação ou des- carte dos casos suspeitos de coqueluche, pois a situação vacinal pode influenciar no seu resultado. Descartado Caso suspeito que não se enquadre em nenhuma das situações descritas para caso confirmado. Notificação A coqueluche é uma doença de notificação compulsória em todo o território nacional. A investigação laboratorial é recomendada em todos os casos atendidos nos serviços de saúde, para fins de confirmação e estabelecimento de medidas para o tratamento e redução de sua disseminação. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação da Coqueluche. Investigação Roteiro da investigação Durante a investigação, priorizar os casos em que a antibioticoterapia ainda não foi instituída ou que estão em uso de antimicrobiano há menos de 3 dias. Identificação do paciente Preencher todos os campos da ficha de investigação relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos - Anotar os antecedentes epidemiológicos e clínicos. - Observar, com atenção, se o caso notificado se enquadra na definição de caso suspeito de coqueluche. - Acompanhar a evolução do caso e o resultado da cultura ou PCR de B. pertussis. - Verificar se há indícios de outros casos suspeitos no local de residência, creche ou na escola. Quando não se identificarem casos nesses locais, interrogar sobre deslocamentos e permanên- cia em outras áreas. Esses procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares ou responsáveis, além de lideranças da comunidade. - Busca ativa de casos. - Após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente a busca ativa de outros casos, casa a casa, em creches, escolas, locais de trabalho e em unidades de saúde. Coqueluche
  • 83. Guia de Vigilância em Saúde 82 - Utilizar a definição de caso de comunicante com contato íntimo em situação endêmica. - A investigação de comunicantes com contato íntimo deverá ser realizada em residência, creche, escola e em outros locais que possibilitaram o contato íntimo com o caso. - Coletar material de nasofaringe dos comunicantes, a fim de realizar cultura e/ou PCR de B. pertussis, quando não houver oportunidade de coleta adequada do caso suspeito. - Verificarasituaçãovacinaldoscomunicantes,considerandoesquemabásicode3doses(tetraoupenta- valente)emmenoresde1anodeidadeeduasdosesdereforço registradasnacadernetadevacinaçãoe, se necessário, atualizar o esquema vacinal dos menores de 7 anos com a pentavalente ou a vacina DTP. - Preencher os campos referentes aos dados dos comunicantes na ficha de investigação da coqueluche. - Manter a área sob vigilância até 42 dias após a identificação do último caso (período máximo de incubação observado). - Rotineiramente, deve-se coletar material de nasofaringe dos casos suspeitos atendidos nas unidades de saúde, a fim de confirmar os casos e identificar a circulação da B. pertussis. Análise de dados Deve proporcionar conhecimentos atualizados sobre a distribuição dos casos de coqueluche, segun- do o lugar e a faixa etária, a letalidade da doença, a efetividade dos programas de vacinação e a detecção de possíveis falhas operacionais da atividade de controle da doença na área, entre outros. Na ocorrência de surtos, é necessário sistematizar as informações em tabelas e gráficos, considerando critérios de confir- mação do diagnóstico, proporção de casos em vacinados, padrões de distribuição da doença e cobertura vacinal. Tal análise orientará as medidas de controle adequadas. Encerramento de caso Os casos notificados deverão ser classificados de acordo com os critérios mencionados na seção "De- finição de casos em situação endêmica e casos isolados". Relatório final Quando a doença se manifestar apenas sob a forma endêmica, a cada final de ano, deve-se elaborar um relatório contendo informações sobre o desempenho operacional da vigilância epidemiológica, tendência temporal, distribuição espacial da doença, cobertura vacinal em menores de 1 ano e homogeneidade. Vigilância da coqueluche em situação de surto ou epidemia Em surtos e epidemias, a definição de caso é mais sensível, o que auxilia na identificação e notificação de um número elevado de suspeitos, que necessitam ser acompanhados, com o propósito de se verificar o desenvolvimento de um ou mais sintomas típicos da coqueluche. Nessa situação, a administração da quimioprofilaxia deverá ser realizada de maneira mais ampla, já que a definição de comunicante com contato íntimo é modificada, quando comparada com a situação endêmica. Definição de surto Surtodomiciliar - ratorial e o segundo por um dos três critérios de caso confirmado (a definição de caso para surto deve serusada,especialmenteparaadetecçãorápidadamagnitudedosurto).Oscasosdevemocorrerdentro de um período máximo de 42 dias.
  • 84. 83 Surtos em instituições outro por um dos três critérios, que ocorram no mesmo tempo (casos que ocorrerem dentro de um intervalo máximo de 42 dias entre o início dos sintomas do caso índice) e no mesmo espaço (no mesmo ambiente de convívio), com a evidência de que a transmissão tenha ocorrido em pelo menos um dos casos no ambiente institucional. Esta definição de surto também deve ser utilizada em escolas, creches, ambientes de cuidados de saúde, alojamentos e presídios, entre outros, para levantamento rápido de possíveis casos suspeitos. Surtos em comunidades - firmado pelo critério laboratorial, for maior do que o número de casos esperado para local e tempo, com base na análise de registros anteriores, realizada a partir de uma série histórica da incidência da doença em uma determinada população circunscrita. Definição de casos suspeitos em situação de surtos ou epidemias Indivíduos com menos de 6 meses de idade - pendentemente da situação vacinal, que apresente tosse há 10 dias ou mais. Indivíduos com 6 meses de idade ou mais vacinal, que apresente tosse há 14 dias ou mais. Os casos de coqueluche, nessas situações, serão confirmados, conforme os critérios de confir- mação descritos anteriormente (laboratorial ou clínico-epidemiológico ou clínico). Essas definições têm finalidade epidemiológica e não para o desencadeamento de profilaxia e tratamento. Definição de comunicantes com contato íntimo e prolongado em situações de surtos e epidemias ou confirmado (amigos próximos, colegas de escola, de esportes, indivíduos que moram no mes- mo domicílio, namorados, profissionais de saúde, entre outros), dentro do intervalo entre 21 dias antes do início dos sintomas do caso até 3 semanas após o início da fase paroxística. Roteiro da investigação em situações de surtos e epidemias Além dos passos orientados para situação endêmica, deve-se: - mento ou quimioprofilaxia, respectivamente; seletiva utilizará pentavalente ou DTP, a depender da idade; número grande de casos), identificando casos suspeitos com definição de surto, caso suspeito que atenda a situação endêmica e casos confirmados, bem como os óbitos. Coqueluche
  • 85. Guia de Vigilância em Saúde 84 O material para diagnóstico laboratorial deve ser coletado da nasofaringe para realização de cultura e/ou PCR dos pacientes sintomáticos. Na impossibilidade de coletar material de todos os casos, selecionar uma amostra adequada de pacientes, considerando: tempo da doença até 4 semanas de evolução; tempo de uso de antibiótico instituída ou que estão em uso de antimicrobiano há menos de 3 dias; distribuição dos casos aldeias e salas de aula. É de responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica, laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder à coleta de material para exame, de acordo com a orga- nização de cada local. É fundamental que a coleta seja feita por pessoal devidamente treinado. Em investigação de surtos deve-se escrever um relatório final, abordando: - missão da doença; elevadas e homogêneas coberturas vacinais, e conservação e aplicação da vacina utilizada; para a área, definição de conduta para identificação e investigação de outros surtos e capacitação de pessoal para coleta e transporte de material. Diagnóstico laboratorial em situação de surtos Em situação de surto domiciliar, todos os casos sintomáticos devem ter amostra de nasofaringe co- letada para a realização de cultura. Em situação de surtos institucionais ou comunitários, deve-se coletar amostra de nasofaringe de todos os casos que atendam a definição de suspeitos para situação endêmica, de preferência 48 horas antes do início do tratamento ou quimioprofilaxia, para a realização de cultura. Recomenda-se que 10% das amostras sejam enviadas para o laboratório de referência nacional, para realização de PCR e análise genotípica dos espécimes isolados. Tratamento e quimioprofilaxia em surtos e epidemias Todo comunicante que teve contato íntimo com caso suspeito de coqueluche que atenderem a definição de caso em surto ou epidemia, considera-se caso suspeito e deve receber tratamento. Situações especiais em surto ou epidemia: Gestantes mais, devem receber tratamento (Quadro 1). Puérpera criança deverão ser tratadas.
  • 86. 85 Medidas de prevenção e controle em situação endêmica Imunização Haemophilus influenzae mesmo quando os responsáveis refiram história da doença. Na rotina dos serviços, a vacina pentavalente é indicada em 3 doses, para crianças menores de 1 ano de idade. As doses são aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de idade, com intervalo de 30 a 60 dias entre elas. Recomenda-se que a terceira dose não seja aplicada antes dos 6 meses de idade. Esta vacina encontra-se disponibilizada para as crianças até 6 anos, 11 meses e 29 dias. Também se indicam duas doses de reforços com a vacina DTP, aos 15 meses e aos 4 anos de idade, que podem ser aplicadas nas crianças com menos de 7 anos de idade (6 anos, 11 meses e 29 dias). A vacina DTPa (acelular) é recomendada para crianças com risco aumentado de desenvolver ou que tenham desenvolvido eventos graves adversos à vacina com células inteiras, e está disponibilizada nos Centros de Referências para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Outra estratégia utilizada na prevenção da coqueluche é vacinar todas as gestantes com a vacina gestação. A depender da situação vacinal encontrada, deve-se administrar uma dose da vacina dTpa para iniciar e completar o esquema vacinal, ou como dose de reforço. Em gestantes que não foram vacinadas durante a gestação, aplicar uma dose de dTpa no puerpério o mais precocemente possível. É de fundamental importância a vacinação dos profissionais de saúde que atuam em maternidades e em unidades de internação neonatal (UTI/UCI convencional e UCI Canguru), atendendo recém-nasci- dos e crianças menores de 1 ano de idade. Para profissionais de saúde, realizar vacinação conforme o histórico vacinal, segundo os critérios discriminados abaixo: Com esquema de vacinação básico completo dT com dTpa. Com esquema de vacinação básico para tétano incompleto dose de dTpa e completar o esquema com uma ou duas doses de dT, de forma a totalizar 3 doses da vacina contendo o componente tetânico. Controle dos comunicantes e quimioprofilaxia Comunicante dias antes do início dos sintomas da coqueluche e até 3 semanas após o início da fase paroxística. Contatos íntimos frequentam habitualmente o local de moradia do caso. São também comunicantes aqueles que passam a noite no mesmo quarto, como pessoas institucionalizadas e trabalhadores que dormem no mesmo espaço físico. Outros tipos de exposições podem definir novos comunicantes, como no caso de situações em que há proximidade entre as pessoas (±1 metro) na maior parte do tempo e rotineiramente (escola, trabalho ou outras circunstâncias que atendam a este critério). Algumas situações podem requerer julgamento específico para a indicação de quimioprofilaxia, especialmente se há grupos vulneráveis envolvidos. Coqueluche
  • 87. Guia de Vigilância em Saúde 86 Vacinação seletiva Em comunicantes, familiares e escolares, menores de até 6 anos, 11 meses e 29 dias, não vacinados, com esquema vacinal incompleto ou com situação vacinal desconhecida, deve-se administrar uma dose da vacina contra a coqueluche (DTP ou penta) e fazer a orientação de como proceder para completar o esquema de vacinação. Para os menores de 1 ano, indica-se a vacina pentavalente, e para as crianças com idade entre 1 e 6 anos completos, a vacina DTP. Quimioprofilaxia A quimioprofilaxia é indicada para comunicantes: avaliados pelo médico; - mado menos de 4 doses da vacina DTP + Hib, DTP + Hib + Hepatite B ou DTP; - tiveram contato com o caso índice no período de 21 dias que precederam o início dos sintomas do caso até 3 semanas após o início da fase paroxística; ou - tiverem contato com um comunicante vulnerável no mesmo domicílio. Consideram-se comunicantes vulneráveis: - lente ou DTP; - nos de 3 doses de vacina pentavalente, tetravalente ou DTP); Tossidores identificados no grupo dos comunicantes vulneráveis devem ser considerados casos sus- peitos de coqueluche. Portanto, devem ser notificados e tratados, independentemente do resultado labora- torial. Além disso, deve-se coletar material de nasofaringe para cultura ou PCR, preferencialmente, antes do início da antibioticoterapia. O tratamento e a quimioprofilaxia têm os mesmos esquemas terapêuticos (Quadro 1). Portador de coqueluche é todo indivíduo que não apresentou sinais e sintomas sugestivos, mas que obteve isolamento da B. pertussis pela cultura ou identificação pelo PCR em tempo real. A quimiopro- filaxia é também indicada a esse portador, pois a presença do agente etiológico no organismo humano favorece a disseminação da doença a outros indivíduos vulneráveis. Situações especiais Neonatos receber quimioprofilaxia. Gestantes em situação de endemia ou na definição para indicação de quimioprofilaxia deve receber o trata- mento ou quimioprofilaxia (Quadro 1).
  • 88. 87 Bibliografia CENTERS FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION. Pertussis (Whooping Cough) Vaccination, 2013. Disponível em: <www.cdc.gov/vaccines/vpd-vac/pertussis/default.htm>. Acesso em: 18 fev. 2014. PUBLIC HEALTH ENGLAND. Pertussis: guidance, data and analysis, 2013. Disponível em: <www.hpa. VERONESI, R; FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. Coqueluche
  • 89. Guia de Vigilância em Saúde 88 Anexo A Orientações para cultura de material usado no diagnóstico laboratorial da coqueluche Coleta de secreção nasofaríngea swabs finos com haste flexível, estéreis e alginatados ou de Dracon®. - -los atingir a temperatura ambiente. swab na narina até encontrar resistên- cia na parede posterior da nasofaringe, realizando movimentos rotatórios. Coletar o material de uma narina (Figura 1). Figura 1 − Coleta de material da nasofaringe swab na superfície inclinada do meio de transporte e, a seguir, introduzir na base do meio de transporte (meio semissólido RL). - Identificar o tubo com o nome e a idade, indicando se é caso suspeito ou comunicante, bem como a data e o horário da coleta. dadas à continuidade do exame sejam tomadas (preparo de meio de cultura e outras). Atenção swab deve permanecer dentro do respectivo tubo. Transporte do material coletado - tura ambiente. - pia da ficha de investigação epidemiológica da coqueluche, conforme definição no âmbito estadual com a Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. - co) é do caso ou do comunicante. - bados em estufa a 35-37°C por um período máximo de 48 horas, sendo encaminhados em tempe- ratura ambiente. local for elevada, recomenda-se o transporte sob refrigeração.
  • 90. 89 Atenção geladeira até o momento da coleta. Estabelecer com o laboratório uma rotina referente ao envio de amostras (horário e local de entrega de material), fluxo de resultados e avaliação periódica da qualidade das amostras enviadas, bem como outras questões pertinentes. Coqueluche
  • 92. 91 Difteria Difteria CID 10: A36 Características gerais Descrição Doença toxi-infecciosa aguda, contagiosa, potencialmente letal, imunoprevenível, causada por bacilo toxigênico, que frequentemente se aloja nas amígdalas, faringe, laringe, fossas nasais e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. É caracterizada por apresentar placas pseudomem- branosas típicas. Sinonímia Crupe. Agente etiológico Corynebacterium diphtheriae, bacilo gram-positivo, produtor da toxina diftérica, quando infectado por um fago específico. Reservatório O principal é o próprio doente ou o portador, sendo esse último mais importante na disseminação do bacilo, pela maior frequência na comunidade e por ser assintomático. A via respiratória superior e a pele são locais habitualmente colonizados pela bactéria. Modo de transmissão Ocorre pelo contato direto de pessoa doente ou portadores com pessoa suscetível, por meio de go- tículas de secreção respiratória, eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. Em casos raros, pode ocorrer a contaminação por fômites. O leite cru pode servir de veículo de transmissão. Período de incubação Em geral, de 1 a 6 dias, podendo ser mais longo. Período de transmissibilidade Em média, até duas semanas após o início dos sintomas. A antibioticoterapia adequada elimina, na maioria dos casos, o bacilo diftérico da orofaringe, 24 a 48 horas após sua introdução. O portador pode eliminar o bacilo por 6 meses ou mais, motivo pelo qual se torna extremamente importante na disseminação da difteria. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade é geral. A imunidade pode ser naturalmente adquirida pela passagem de anti- corpos maternos via transplacentária, que protegem o bebê nos primeiros meses de vida, ou através de infecções inaparentes atípicas, que conferem imunidade em diferentes graus, dependendo da maior ou menor exposição dos indivíduos. A imunidade também pode ser adquirida ativamente pela vacinação com toxoide diftérico.
  • 93. Guia de Vigilância em Saúde 92 A proteção conferida pelo soro antidiftérico (SAD) é temporária e de curta duração (em média, duas semanas). A doença normalmente não confere imunidade permanente, devendo o doente continuar seu esquema de vacinação após a alta hospitalar. Manifestações clínicas A presença de placas pseudomembranosas branco-acinzentadas, aderentes, que se instalam nas amígdalas e invadem estruturas vizinhas, é a manifestação clínica típica. Essas placas podem se localizar na faringe, na laringe e nas fossas nasais, e, com menos frequência, também são observadas na conjuntiva, na pele, no conduto auditivo, na vulva, no pênis (pós-circuncisão) e no cordão umbilical. A doença se manifesta clinicamente por comprometimento do estado geral do paciente, que pode se apresentar prostrado e pálido. A dor de garganta é discreta, independentemente da localização ou quantidade de placas existentes, e a febre normalmente não é muito elevada, variando de 37,5 a 38,5°C, embora temperaturas mais altas não afastem o diagnóstico. Nos casos mais graves, há intenso edema do pescoço, com grande aumento dos gânglios linfáticos dessa área (pescoço taurino) e edema periganglionar nas cadeias cervicais e submandibulares. Depen- dendo do tamanho e localização da placa pseudomembranosa, pode ocorrer asfixia mecânica aguda no paciente, o que muitas vezes exige imediata traqueostomia para evitar a morte. O quadro clínico produzido pelo bacilo não toxigênico também determina a formação de placas características, embora não se observem sinais de toxemia ou a ocorrência de complicações. No entanto, as infecções causadas pelos bacilos não toxigênicos têm importância epidemiológica por disseminarem o C. diphtheriae. Formas clínicas − é a mais comum. Nas primeiras horas da doença, observa-se discreto aumento de volume das amígdalas, além da hiperemia de toda a faringe. Em seguida, ocorre a formação das pseudomembranas características, aderentes e invasivas, constituídas por placas esbranquiçadas ou amarelo-acinzentadas, eventualmente de cor cinzento-escura ou negra, que se tornam espessas e com bordas bem definidas. Essas placas se estendem pelas amígdalas, recobrindo-as, e, frequentemente, invadem as estruturas vizinhas, podendo ser observadas nos pilares anteriores, úvula, palato mole e retrofaringe, adquirindo aspecto necrótico. O estado geral do paciente agrava-se, com a evolução da doença, em virtude da progressão das pseudomembranas e da absorção cada vez maior de toxina. ) − denominação dada aos casos graves, intensamente tóxi- cos, que, desde o início, apresentam importante comprometimento do estado geral. Observa-se a presença de placas de aspecto necrótico, que ultrapassam os limites das amígdalas, comprometen- do as estruturas vizinhas. Há um aumento importante do volume dos gânglios da cadeia cervical e edema periganglionar, pouco doloroso à palpação, caracterizando o pescoço taurino. − é mais frequente em lactentes, sendo, na maioria das vezes, concomitante à angina diftérica. Desde o início observa-se secreção nasal serossanguinolenta, geralmente unila- teral, podendo ser bilateral, que provoca lesões nas bordas do nariz e no lábio superior. − na maioria dos casos, a doença se inicia na região da orofaringe, progredindo até a laringe. É uma forma bastante comum no Brasil. Os sintomas iniciais, além
  • 94. 93 dos que são vistos na faringe diftérica, são: tosse, rouquidão, disfonia e dificuldade respiratória progressiva, podendo evoluir para insuficiência respiratória aguda. Em casos raros, pode haver comprometimento isolado da laringe, o que dificulta o diagnóstico. − apresenta-se sob a forma de úlcera arredondada, com exsudato fibrinopurulento e bordas bem demarcadas que, embora profunda, não alcança o tecido celular subcutâneo. Devi- do à pouca absorção da toxina pela pele, a lesão ulcerada de difteria pode se tornar subaguda ou crônica e raramente é acompanhada de repercussões cutâneas. No entanto, seu portador constitui-se em reservatório e disseminador do bacilo diftérico, daí sua importância na cadeia epidemiológica da doença. − apesar de raro, o bacilo diftérico pode acometer a vagina (ulcerações e corrimento purulento), o ouvido (processo inflamatório exsudativo do duto auditivo externo) e conjuntiva ocular (a infecção pode ser inaparente ou manifestar-se sob a forma de conjuntivite aguda, com eventual formação da membrana). Complicações Podem ocorrer desde o início da doença até, na maioria dos casos, a 6a ou 8a semana, quando os sin- tomas iniciais já desapareceram. Podem estar relacionadas com a localização e a extensão da membrana; a quantidade de toxina absorvida; o estado imunitário do paciente; a demora no diagnóstico e no início do tratamento. As principais complicações da difteria são: − é responsável pelo maior número de óbitos a partir da 2a semana da doença. De- corre da ação direta da toxina no miocárdio ou, ainda, da intoxicação do sistema de condução cardíaco. Os sinais e sintomas mais encontrados são alterações de frequência e ritmo, hipofonese de bulhas, hepatomegalia dolorosa, aparecimento de sopro e sinais de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). As alterações eletrocardiográficas mais encontradas são alteração de repo- larização, extrassistolias, taquicardia ou bradicardia, distúrbio de condução atrioventricular e corrente de lesão. − consiste de alterações transitórias, decorrentes da ação da exotoxina no sistema nervoso periférico, ocasionando as neurites periféricas. As manifestações geralmente são tardias, ocorrendo entre a 2a e a 6a semana de evolução, mas podem aparecer alguns meses depois. A forma de apresentação mais comum e mais característica é a paralisia do véu do palatino, com desvio unilateral da úvula, ocasionando voz anasalada, engasgos e regurgitação de alimentos pelo nariz, podendo ocorrer broncoaspiração. Em alguns casos, observa-se paresia ou paralisia bilateral e simétrica das extremidades, com hiporreflexia. Também pode ocorrer paralisia do diafragma, geralmente tardia, causando insuficiência respiratória. A paralisia dos músculos oculares, determinando diplopia e estrabismo, também pode ser observada. − de acordo com a gravidade do caso, pode-se detectar a presença de albuminúria em diferentes proporções. Na difteria grave, pode-se instalar uma nefropatia tóxica com importantes alterações metabólicas e, mais raramente, insuficiência renal aguda. Geralmente, quando há mio- cardite, pode ocorrer também insuficiência renal grave. Emgeral,adifteriaéumadoençagravequenecessitadeassistênciamédico-hospitalarimediataeisolamento. Difteria
  • 95. Guia de Vigilância em Saúde 94 Diagnóstico Diagnóstico laboratorial É realizado pelo isolamento e identificação do C. diphtheriae por meio de cultura de amostras bio- lógicas, coletadas adequadamente, das lesões existentes (ulcerações, criptas das amígdalas), exsudatos de orofaringe e de nasofaringe, que são as localizações mais comuns, ou de outras lesões cutâneas, conjun- tivas, genitália externa, entre outras, mesmo sem as provas de toxigenicidade (Anexo A). Essa técnica é considerada o padrão ouro para o diagnóstico da difteria. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial é feito entre a: e o impetigo, ectima, eczema, úlceras; e a rinite estreptocócica, rinite sifilítica, corpo estranho nasal; e a amigdalite estreptocócica, angina monocítica, angina de Plaut Vicent, agranulocitose; e o crupe viral, laringite estridulosa, epiglotite aguda, inalação de corpo estranho. Tratamento Tratamento específico A medida terapêutica eficaz na difteria é a administração do soro antidiftérico (SAD), que deve ser feita em unidade hospitalar, e cuja finalidade é inativar a toxina circulante o mais rápido possível, possibilitando a circulação de excesso de anticorpos em quantidade suficiente para neutralizar a toxina produzida pelos bacilos. O SAD não tem ação sobre a toxina já impregnada no tecido, por isso sua administração deve ser feita o mais precocemente possível diante de suspeita clínica bem fundamentada. O SAD tem origem heteróloga (soro heterólogo de cavalo), sendo um produto cada vez mais purifi- cado, em razão do que se considera rara a possibilidade de este produto causar complicações graves, tais como o choque anafilático e a doença do soro. Mesmo assim, a sua administração só deve ser feita em ser- viços de saúde preparados para o tratamento de complicações, o que implica a existência de equipamentos de emergência e a presença do médico. Quando o serviço não dispuser de condições para atendimento das emergências, a pessoa deve ser encaminhada imediatamente a outro serviço, capaz de garantir a adminis- tração do soro com segurança. Por isso, antes da indicação do soro, deve-se proceder à anamnese, com interrogatório rigoroso dos antecedentes da pessoa. Algumas informações são fundamentais para orientar a decisão sobre administrar o soro ou encaminhar para outros serviços, tais como: profissional ou por lazer. No caso da confirmação de qualquer uma dessas informações, o profissional deve adotar o procedi- mento indicado para a prevenção da ocorrência de reações anafiláticas, conforme orientação do manual de procedimentos para vacinação.
  • 96. 95 Prevenção de reações anafiláticas na administração de soros heterólogos Para prevenção de reações anafiláticas, alguns cuidados específicos são adotados. Os procedimentos básicos para realizá-los são elencados a seguir. - soro fisiológico, equipo de soro e material necessário para assistência ventilatória. no paciente, garantindo adequado acesso venoso e a manutenção do gotejamento, mesmo depois da administração do soro heterólogo. no interior de um frasco de 250 ou 500mL de soro glicosado ou fisiológico previamente esvaziado. em “y” com o soro fisiológico ou glicosado a 5% previamente instalado no antebraço do paciente. Lembrar-se de que, quanto mais rapidamente o paciente receber o soro heterólogo, menores as chances de sequelas causadas pela toxina circulante. mantendo acesso venoso com soro fisiológico instalado, controlando o gotejamento, os sinais vi- tais, e observando coloração e temperatura das extremidades (lábios, dedos), sinais de inquietação, sudorese, dificuldade respiratória, queda de pressão arterial, pulso fraco, entre outros. gotejamento do soro fisiológico ou glicosado a 5% e iniciar o tratamento com adrenalina, anti- histamínicos e corticosteroides. mesmo choque anafilático. Nessa situação, deve-se parar imediatamente a infusão do soro heterólogo e tomar as providências clínicas cabíveis para cada situação, de acordo com a faixa etária do indivíduo. A realização do teste de sensibilidade cutâneo foi excluída da rotina da administração de soros, pois o valor preditivo deste teste é discutível e imprevisível para as manifestações de hipersensibilidade imediata, precoce ou tardia, razão pela qual não se indica a sua realização. Nos casos de reação à aplicação de soros de origem equina, se for necessário repetir imunização passiva, devem ser utilizadas as imunoglobulinas humanas (IgG), quando possível. Na impossibilidade do uso de IgG, administrar soro heterólogo com pré-medicação e acompanhar o paciente nos 10 dias seguintes. Outras informações podem ser consultadas no Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação (2014) no Manual de Procedimentos para Vacinação (2014), em Procedimentos preliminares à administração dos soros heterólogos. Administração do SAD As doses do SAD não dependem do peso e da idade do paciente, e sim da gravidade e do tempo da doença (Quadro 1). A administração do SAD deve ser feita por via intramuscular ou, preferencialmente, por via endovenosa, sendo diluída em 100mL de soro fisiológico, em dose única. Difteria
  • 97. Guia de Vigilância em Saúde 96 Quadro 1 – Esquema de administração do soro antidiftérico (SAD) Forma clínica Dosagem Leve (nasal, cutânea, amigdaliana) 40.000UI, endovenoso Laringoamigdaliana ou mista 60.000 a 80.000UI, endovenoso Graves ou tardias (4 dias de doença) 80.000 a 120.000UI, endovenoso Antibioticoterapia O uso de antibiótico deve ser considerado como medida auxiliar da terapia específica, objetivando interromper a produção de exotoxina, pela destruição dos bacilos diftéricos e sua disseminação. Pode-se utilizar eritromicina ou penicilina G cristalina ou penicilina G procaína, com a mesma efi- cácia, durante 14 dias, conforme orientação a seguir: via endovenosa. iguais de 12 em 12 horas, por via intramuscular. Quando houver melhora do quadro, a penicilina G cristalina pode ser substituída pela penicilina G procaína para se completarem os 14 dias de tempo total de tratamento. A clindamicina constitui boa por via endovenosa, durante 14 dias. Tratamento sintomático O tratamento geral ou de suporte consiste em repouso no leito, manutenção do equilíbrio hidrele- trolítico (gotejamento endovenoso de soro glicofisiológico, com acréscimo de glicose a 25 ou 50%, para aumentar a oferta calórica), dieta leve, nebulização ou vaporização. Deve-se proceder, com frequência, à aspiração das secreções. Não havendo aceitação dos alimentos e dos líquidos por via oral, deve-se administrá-los por sonda nasogástrica. Tratamento das complicações diftéricas A observação do paciente com difteria deve ser contínua, considerando-se a possibilidade da ocor- rências das complicações citadas a seguir. Insuficiência respiratória - ção de traqueostomia. A paralisia da musculatura respiratória (diafragma e músculos intercostais) exige, eventualmente, a instalação de aparelhos de respiração assistida. Nos casos leves e modera- dos de laringite, quando houver comprometimento respiratório alto, pode-se administrar dexa- iguais de 6 em 6 horas, como medida antiedematosa. Porém, caso o paciente continue com sinais progressivos de obstrução alta ou se já se apresentar ao médico com quadro de insuficiência res- piratória alta estabelecida, a traqueostomia deve ser feita sem demora, evitando-se que o paciente apresente hipóxia severa. Miocardite pelo menos 3 semanas, na restrição de sódio e no emprego de cardiotônicos e diuréticos. Deve ser realizado eletrocardiograma.
  • 98. 97 Polineurites internado e em observação constante. Insuficiência renal aguda Prognóstico Depende do estado imunitário do paciente, da precocidade do diagnóstico e da instituição do trata- mento. Os fatores associados ao mau prognóstico são: Características epidemiológicas A difteria ocorre durante todos os períodos do ano e pode afetar todas as pessoas não imunizadas, de qualquer idade, raça ou sexo. Observa-se um aumento de sua incidência nos meses frios e secos (outono e in- verno), quando é mais comum a ocorrência de infecções respiratórias, principalmente devido à aglomeração em ambientes fechados, que facilitam a transmissão do bacilo. Contudo, não se observa esse padrão sazonal nas regiões sem grandes oscilações de temperatura. A doença ocorre com maior frequência em áreas com precárias condições socioeconômicas, onde a aglomeração de pessoas é maior, e onde se registram baixas co- berturas vacinais. Os casos são raros quando as coberturas vacinais atingem patamares homogêneos de 80%. Nas últimas décadas, o número de casos notificados no Brasil vem decrescendo progressivamente. Em 1990, foram confirmados 640 casos da doença, com coeficiente de incidência de 0,45/100 mil hab. Essa magnitude foi sendo reduzida progressivamente, até atingir 58 casos em 1999 (0,04/100 mil hab.) e zero caso em 2012. Destaca-se, entretanto, a ocorrência de um surto de difteria, em 2010, no Estado do Maranhão. Desde 2007, ocorreram 4 óbitos pela doença, 3 dos quais no ano de 2010. A letalidade esperada varia entre 5 e 10%, atingindo 20% em certas situações. A cobertura vacinal com a DTP vem-se elevando neste período, passando de 66%, em 1990, para mais de 95%, em 2015. Vigilância epidemiológica Objetivos pertinentes, para se evitar a ocorrência de novos casos. - tório de referência nacional, para estudos moleculares e de resistência bacteriana a antimicrobianos. Definição de caso Suspeito Toda pessoa que, independentemente da idade e do estado vacinal, apresenta quadro agudo de in- fecção da orofaringe, com presença de placas aderentes ocupando as amígdalas, com ou sem invasão de Difteria
  • 99. Guia de Vigilância em Saúde 98 outras áreas da faringe (palato e úvula) ou outras localizações (ocular, nasal, vaginal, pele, por exemplo), com comprometimento do estado geral e febre moderada. Confirmado Critério laboratorial − todo caso suspeito com isolamento do C. diphtheriae e provas de toxigenicidade positiva. − todo caso suspeito com isolamento do C. diphtheriae, mesmo sem provas de toxigenicidade positiva. Critério clínico-epidemiológico Todo caso suspeito de difteria: com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante de um outro caso confirmado laboratorial ou clinicamente; ou com resultado de cultura negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante íntimo de portador, indivíduo no qual se isolou o C. diphtheriae. Critério clínico Quando se observarem: placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas; placas suspeitas na traqueia ou laringe; simultaneamente, placas em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde o início do quadro e evolução, em geral, arrastada; miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode aparecer desde o início dos sintomas suges- tivos de difteria ou até semanas após. Critério anatomopatológico (necropsia) Quando a necropsia comprovar: placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas; placas na traqueia e/ou laringe. Descartado Caso suspeito não confirmado por nenhum dos critérios descritos anteriormente. Notificação A notificação deve ser registrada utilizando-se a Ficha de Investigação da Difteria do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Todo caso suspeito deve ser notificado imediatamente, para desencadeamento da investigação e ado- ção das medidas de controle pertinentes. Investigação Deve ser realizada a investigação dos casos e dos comunicantes imediatamente após a notificação do caso suspeito, devido ao curto período de incubação e à alta transmissibilidade da doença. O procedimen- to visa à detecção precoce de outros casos. Nesse sentido, é importante desencadear busca ativa, ou seja, ir
  • 100. 99 à comunidade, escola, local de trabalho e perguntar se há casos de “amigdalite”. Além disso, deve-se veri- ficar se, nos serviços de emergência e internação, apareceram casos com clínica compatível com difteria, pois a instituição da terapêutica específica, o mais precocemente possível, diminui a letalidade da doença. Roteiro da investigação A Ficha de Investigação da Difteria contém os elementos essenciais a serem coletados em uma investiga- ção de rotina. Todos os seus campos devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for negativa. Outras observações podem ser incluídas, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação. Identificação do paciente Preencher todos os campos da Ficha de Investigação da Difteria, relativos aos dados gerais, notifica- ção individual e dados de residência. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Confirmação da suspeita diagnóstica - anotar, na ficha de investigação, dados dos antecedentes epidemiológicos e dados clínicos; - observar, com atenção, se o caso notificado enquadra-se na definição de caso de difteria, a fim de evitar a notificação inadequada de casos; - anotar dados do prontuário do paciente, entrevistar a equipe de assistência, o próprio paciente (quando possível) e familiares; - acompanhar a evolução do paciente e o resultado das culturas de C. diphtheriae. Identificação da área de transmissão - verificar se, no local de residência, de trabalho, na creche, na escola, entre outros, há indícios de outros casos suspeitos; - esses procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares ou respon- sáveis e lideranças da comunidade. Determinação da extensão da área de transmissão - após a identificação do possível local de transmissão, iniciar imediatamente a busca ativa de outros casos, casa a casa, na creche, na escola, no local de trabalho e em unidades de saúde. Comunicantes Comunicantes são indivíduos que tiveram contato com o caso suspeito de difteria, sob o risco de adoecimento, quer sejam moradores do mesmo domicílio ou não. Sua investigação deve ser feita, tam- bém, em instituições, em comunidades e em outros locais que possibilitaram o contato com o caso. Todos os comunicantes de um caso suspeito de difteria deverão ser submetidos a exame clínico e ficar sob vigi- lância por um período mínimo de 7 dias. Para comunicantes que trabalhem em profissões que envolvam manipulação de alimentos, ou con- tato frequente com grande número de crianças, grupo de maior risco, ou com pessoas com comprometi- mento imunológico, recomenda-se o afastamento de seus locais de trabalho até que se tenha o resultado da cultura. Se positivo, o afastamento deverá ocorrer por 48 horas após a administração do antibiótico (ver item Quimioprofilaxia). Recomenda-se a quimioprofilaxia aos comunicantes não vacinados, inade- quadamente vacinados ou com estado vacinal desconhecido. Se, por motivos operacionais, não for possível coletar material de todos os comunicantes, recomenda-se priorizar os que tenham contato com crianças (professores, atendentes de creche, entre Difteria
  • 101. Guia de Vigilância em Saúde 100 outros); pessoas que apresentem diminuição da imunidade; manipuladores de alimentos; pessoas não vacinadas, inadequadamente vacinadas ou com estado vacinal desconhecido. Os comunicantes com resultado da cultura positiva deverão receber a quimioprofilaxia, conforme o parecer do médico que os reexaminou. Na investigação dos comunicantes é indispensável: Ficha de Investigação da Difteria referentes aos comunicantes; - tura de C. diphtheriae; vacinação e, se necessário, iniciar ou atualizar o esquema vacinal com a DTP (tríplice bacteriana), DTP+Hib+Hepatite B (pentavalente) ou dT (dupla bacteriana), de acordo com as orientações do Quadro 2. Quadro 2 – Conduta para imunização de comunicantes, de acordo com a situação vacinal História vacinal Menores de 7 anos 7 anos ou mais <1 ano ≥1 ano Não vacinados Iniciar o esquema com pentavalente Iniciar o esquema com DTP Iniciar o esquema com dT Vacinação incompleta Completar o esquema com pentavalente Completar o esquema com DTP Completar o esquema com a dT Vacinação completa Não se aplica Aplicar uma dose de dT como reforço, se a última dose foi aplicada há mais de 5 anos Coleta e remessa de material para exames - Deve-se retirar material das lesões existentes (ulcerações, criptas das amígdalas), exsudatos de orofaringe e de nasofaringe (localizações mais comuns), ou de outras lesões cutâneas, conjun- tivas e genitália externa, entre outras, por meio de swab estéril, antes da administração de qual- quer terapêutica antimicrobiana. - Deve-se realizar cultura separada do material de nasofaringe ou da via oral e de lesão de pele. - Na coleta do material da orofaringe, não remover a pseudomembrana, pois sua remoção acelera a absorção da toxina e leva a sangramento. - A coleta deve ser efetuada antes da administração de antibióticos, devendo ser sempre realizada. - É de responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios cen- trais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a essas coletas, de acordo com a organização de cada local. Não devem ser aguardados os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas de con- trole e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para a confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações. Encerramento de caso O caso de difteria deve ser encerrado oportunamente no Sinan em até 60 dias da notificação. A classificação final do caso deverá seguir os critérios descritos no item Definição de caso.
  • 102. 101 Relatório final Em situações de surtos, o relatório permite analisar a extensão e as medidas de controle adotadas e caracterizar o perfil de ocorrência e os fatores que contribuíram para a circulação da bactéria na população. A Figura 1 apresenta o roteiro da investigação epidemiológica da difteria. Figura 1 – Roteiro de investigação epidemiológica da difteria Coleta de secreção naso e orofaríngea e de lesões de pele Verificar situação dos comunicantes e vacinar, se necessário Realizar quimioprofilaxia dos comunicantes Investigação imediata Investigação dos comunicantes Busca ativa de outros casos na área de residência, escola, creche, trabalho Vacinação seletiva com DTP ou DTP+HiB, na área de residência, escola, creche Preenchimento da Ficha de Investigação Epidemiológica Coleta de material para cultura Notificação imediata Caso Medidas de prevenção e controle Imunização A vacinação com o toxoide diftérico é a medida de controle mais importante da difteria. O emprego sistemático dessa vacina, com altas coberturas vacinais ao longo do tempo, além de diminuir a incidência de casos clínicos, determina importante redução do número de portadores, induzindo a chamada “imu- nidade coletiva”. Os indivíduos adequadamente imunizados neutralizarão a toxina produzida pelo bacilo diftérico, responsável pelas manifestações clínicas da doença. A vacinação normalmente é feita de forma sistemá- tica, com aplicação de rotina do imunobiológico pelos serviços de saúde, ou em forma de campanhas de vacinação ou, ainda, de bloqueio, realizada diante da ocorrência de um caso suspeito da doença. Considera-se adequadamente vacinado quem recebeu: pentavalente (DTP+Hib+Hepatite B ) contra difteria, tétano, coqueluche, infecções graves causadas Difteria
  • 103. Guia de Vigilância em Saúde 102 pelo Haemophilus influenzae e Hepatite B, ou dupla infantil (dT), aos 2, 4 e 6 meses de idade, com intervalo mínimo entre as doses de 30 dias (o ideal é o intervalo de 2 meses). O primeiro reforço é aplicado aos 15 meses e o segundo reforço aos 4 anos de idade (podendo ser aplicado entre 4 e 6 anos); reforço com a dT (dupla adulto) a cada 10 anos. as doses de 30 dias e reforço de 10 em 10 anos. Proteção individual para evitar disseminação da bactéria Os doentes com difteria devem ser mantidos em isolamento respiratório durante 14 dias após a intro- dução da antibioticoterapia apropriada. Os fômites devem receber cuidados apropriados, segundo as normas de biossegurança. O ideal é suspender as medidas relativas às precauções respiratórias somente quando duas culturas de secreções obtidas de nasofaringe, em meios específicos, forem negativas para C. diphtheriae. A realização de duas culturas de material coletado das lesões cutâneas, pelo menos 24 horas depois de completada a antibioticoterapia, é obrigatória inclusive nos doentes com difteria cutânea. Como a difteria nem sempre confere imunidade e a reincidência não é incomum, os doentes serão considerados suscetíveis e, portanto, deverão ser vacinados logo após a alta. Comunicantes Vacinação Deve-se verificar a situação vacinal de todos os comunicantes, considerando as doses registradas na caderneta de vacinação e, se necessário, iniciar ou atualizar o esquema vacinal com a DTP, pentavalente ou dT, de acordo com as orientações do Quadro 2. Todos os comunicantes deverão ser mantidos em observação durante 7 dias, contados a partir do momento da exposição. O SAD não deve ser administrado com finalidade profilática. Portadores São portadores de difteria aqueles que alojam o C. diphtheriae na nasofaringe ou na pele (no caso da difteria cutânea), sem apresentarem sintomatologia. Sua identificação ocorre com o exame positivo por cultura, que caracteriza como estado de portador, com evolução ou não para difteria. Essa identificação é extremamente importante para o controle da disseminação da doença, uma vez que portadores são mais frequentes que casos e são responsáveis pela maior parte das transmissões na comunidade. Quimioprofilaxia Medicamento de escolha - crianças durante 7 dias, por via oral; - adultos Após serem completadas duas semanas de uso do antibiótico, deverá ser coletada uma nova amostra de secreção da orofaringe e se realizar cultura adequada para C. diphtheriae. Se o resultado for positivo, deverá ser feito tratamento adicional com eritromicina, durante 10 dias. Se não houver resposta, outros
  • 104. 103 antimicrobianos ativos contra o bacilo diftérico (clindamicina, rifampicina, quinolona, por exemplo) de- É fundamental o desencadeamento de bloqueio vacinal na área de residência, local de trabalho, escola ou creche de ocorrência do caso ou de identificação de portadores. Bibliografia AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Banco de leite humano: funcionamento, prevenção e controle de riscos. Brasília, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Procedimentos para Vacinação. Elaboração de Clelia Maria Sarmento de Souza Aranda et al. 4. ed. Brasília: Ministério da Saúde; Fundação Nacional de Saúde, 2001. Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. 4. ed. Brasília, 2014. Epidemiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2006. Epidemiológica. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 2014. PIMENTEL, A. M. et al. O uso da DL-Carnitina com proteção miocárdica na difteria. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 65, n. 6, p. 205-209, 1989. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO (SINAN). Ficha de Notificação. Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/novo/Documentos/SinanNet/fichas/Difteria. pdf>. Acesso em: 29 set. 2014. VERONESI, R; FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. Difteria
  • 105. Guia de Vigilância em Saúde 104 Anexo A Orientações para diagnóstico laboratorial da difteria Coleta de secreção nasofaríngea Material necessário swabs descartáveis, estéreis (um para nariz e outro para garganta); Condições para a coleta ser amarelo claro, com consistência firme e sem áreas liquefeitas ou ressecadas. as demais características dos meios encontram-se adequadas. Em caso contrário, os meios devem ser inutilizados. swabs utilizados não deverão apresentar sinais de violação da embalagem, umidade do algodão ou qualquer outra anormalidade que possa indicar contaminação. Deve-se verificar sempre o pra- zo de validade na embalagem. Procedimento de coleta contudo deverá sempre ser feita. swab na narina do paciente até a nasofaringe e girá-lo. Com o mesmo swab, fazer o mesmo procedimento na outra narina. swab será utilizado para coletar ao redor da superfície da garganta, passando ao redor da superfície da garganta, pelas amígdalas e úvula. Caso se verifique a presença de placa pseudo- membranosa, o swab deve ser passado cautelosamente ao redor da mesma, tomando-se o cuidado de não removê-la. A remoção da pseudomembrana leva ao aumento da absorção de toxina. que aumenta consideravelmente a positividade do resultado.
  • 106. 105 Recomendações do cuidado com o meio de transporte do material coletado Meio de transporte - O meio de transporte utilizado é o PAI. - O meio de PAI deve ser armazenado em geladeira, evitando-se colocá-lo na porta. - O prazo de validade do meio é de 3 meses a partir da data de fabricação. - Os tubos com o meio de PAI devem ser acondicionados em sacos plásticos fechados para se evitar a entrada de umidade. - O swab deve ser armazenado à temperatura ambiente, em local seco. Procedimentos para transporte do espécime coletado - Passar o swab em toda a extensão (superfície) do meio, girando-o e fazendo o movimento de ziguezague, a partir da base até o ápice. - Encaminhar o material coletado ao laboratório à temperatura ambiente, imediatamente após a coleta. Na impossibilidade do encaminhamento imediato após a coleta, incubar à temperatura de 37ºC por um período máximo de 24 horas. Encaminhar em seguida à temperatura ambiente. - Prender os dois tubos com fita crepe e identificá-los com nome do doente e/ou comunicante, idade, data e hora da coleta. - Encaminhar os tubos com a ficha de encaminhamento de amostra ou com cópia da ficha de investigação epidemiológica, conforme definição da coordenação estadual da vigilância. Recomendações adicionais - Por ser doença de transmissão respiratória, é necessário o uso de máscaras, com vistas a conferir proteção ao profissional que realiza a coleta. A máscara deverá ser utilizada tanto para coleta de caso(s) suspeito(s) quanto de comunicantes. - Não deverá ser feita nenhuma improvisação do material. É imprescindível que o meio de trans- porte e o swab estejam obedecendo rigorosamente as condições de uso no momento da coleta. - Todo o material descartável utilizado na coleta deverá ser acondicionado em saco plástico, ve- dado com fita crepe, identificado como contaminado e recolhido no lixo hospitalar. Quadro 1 – Orientações quanto à conduta para o diagnóstico laboratorial de difteria, segundo o tipo de material coletado Tipo de material Época da coleta Indicação Coleta e transporte Tipo de exame Exsudatos de oro e nasofaringe Tão logo se suspeite de difteria e, preferencialmente, antes da administração de antibióticos Confirmação do diagnóstico ou pesquisa de portadores Na coleta de material da nasofaringe, introduzir o swab e girá-lo, retirando-o O material deve ser semeado em meio de PAI ou Loeffler de imediato O transporte do material semeado ao laboratório deve ser feito em temperatura ambiente Cultura para isolamento e identificação do Corynebacterium diphtheriae Exsudatos de lesões de pele Tão logo se suspeite de difteria e, preferencialmente, antes da administração de antibióticos No momento em que se estiver pesquisando portadores Confirmação do diagnóstico ou pesquisa de portadores O material deve ser semeado em meio de PAI ou Loeffler de imediato O transporte do material semeado ao laboratório deve ser feito em temperatura ambiente Cultura para isolamento e identificação do Corynebacterium diphtheriae Difteria
  • 108. 107 Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda CID-10: A80 Características gerais Descrição A poliomielite é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de para- lisia flácida, de início súbito, que ocorre em cerca de 1% das infecções causadas pelo poliovírus. O deficit motor instala-se subitamente e sua evolução, frequentemente, não ultrapassa 3 dias. Acomete em geral os membros inferiores, de forma assimétrica, tendo como principais características a flacidez muscular, com sensibilidade preservada, e a arreflexia no segmento atingido. Sinonímia Paralisia infantil. Agente etiológico Poliovírus, sorotipos 1, 2 e 3, pertencentes ao gênero Enterovirus, família Picornaviridae. Os polio- sorotipo 3 mais raramente. A circulação do sorotipo 2 não tem sido registrada desde 1999. Reservatório O homem, especialmente crianças. Modo de transmissão Ocorre por contato direto pessoa a pessoa, pela via fecal-oral (mais frequentemente), por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou portadores, ou pela via oral-oral, através de go- tículas de secreções da orofaringe (ao falar, tossir ou espirrar). A falta de saneamento, as más condições habitacionais e a higiene pessoal precária constituem fatores que favorecem a transmissão do poliovírus. Período de incubação Geralmente de 7 a 12 dias, podendo variar de 2 a 30 dias. Período de transmissibilidade Não se conhece com precisão, mas pode iniciar-se antes do surgimento das manifestações clínicas. O vírus é encontrado nas secreções da orofaringe após 36 a 72 horas a partir da instalação da infecção. Em indivíduos infectados, a eliminação do vírus pela orofaringe persiste por um período de aproximadamen- te uma semana, e nas fezes, por cerca de 3 a 6 semanas, enquanto nos indivíduos reinfectados a eliminação do vírus ocorre em menor quantidade por períodos mais reduzidos. Suscetibilidade e imunidade Todas as pessoas não imunizadas, seja pela infecção natural, seja pela vacinação, são suscetíveis de contrair a doença. A infecção natural ou a vacinação conferem imunidade duradoura para o sorotipo correspondente ao poliovírus responsável pelo estímulo antigênico. Embora não desenvolvendo a doença, as pessoas imunes Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
  • 109. Guia de Vigilância em Saúde 108 podem ser reinfectadas e eliminar o poliovírus, ainda que em menor quantidade e por um período menor de tempo. Essa reinfecção é mais comum pelos poliovírus tipos 1 e 3. O recém-nascido apresenta proteção nos primeiros meses de vida extrauterina, pois é provido de an- ticorpos séricos maternos da classe IgG, transferidos da mãe sensibilizada para o feto por via placentária. Manifestações clínicas A infecção pelo poliovírus selvagem apresenta-se sob diferentes formas clínicas: - cíficos. Ocorre em 90 a 95% das infecções. - tações gastrointestinais, como vômito, dor abdominal e diarreia. Como na forma inaparente, só é possível estabelecer diagnóstico por meio do isolamento do vírus. Ocorre em cerca de 5% dos casos. - de nuca. Ocorre em cerca de 1% das infecções. características clínicas típicas, que permitem sugerir o diagnóstico de poliomielite, entre elas: - instalação súbita da deficiência motora, acompanhada de febre; - assimetria, acometendo, sobretudo, a musculatura dos membros, com mais frequência os inferiores; - flacidez muscular, com diminuição ou abolição de reflexos profundos na área paralisada; - sensibilidade preservada; - persistência de alguma paralisia residual (sequela), após 60 dias do início da doença. Todas essas formas clínicas podem ser observadas, a depender do local de comprometimento do sistema nervoso central e, em alguns casos, podem apresentar quadro de paralisia grave e levar à morte. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial Exames específicos Isolamento do vírus confirmação diagnóstica. A identificação do agente viral isolado pode ser realizada por meio de testes de soroneutralização com o uso de soros imunes específicos; preconiza-se a técnica de rea- ção em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR). Essa técnica amplifica sequências nucleotídicas específicas presentes no RNA que compõe o genoma viral, permite reconhecer se o vírus isolado pertence ao gênero Enterovirus, e identifica o sorotipo do poliovírus isolado e sua origem, se vacinal ou selvagem. Sequenciamento nucleotídico codifica a principal proteína da superfície viral (VP1), onde a maior parte das análises moleculares é realizada. A sequência nucleotídica obtida é comparada com a sequência do vírus vacinal Sabin padrão do sorotipo correspondente e são avaliadas as mutações ocorridas nesta região. Todos os poliovírus circulantes podem acumular mutações e adquirem diferentes classificações (Quadro 1).
  • 110. 109 Caso a sequência não tenha relação com a cepa vacinal, o vírus é classificado como poliovírus sel- vagem. Os poliovírus derivados readquirem as características biológicas dos poliovírus selvagens, tais como neurovirulência e capacidade de circulação por tempo prolongado na comunidade. Re- alizam-se as mesmas ações de vigilância epidemiológica frente a esses vírus e aos vírus selvagens. Os poliovírus, selvagem e vacinal, também podem ser isolados a partir de amostras de água de es- goto. As mesmas técnicas já descritas podem ser utilizadas para a identificação do enterovírus detectado. que codifica a principal proteína da superfície viral (VP1) Sorotipo Classificação Percentual de mutações 1 e 3 Poliovírus relacionado à vacina (PVRV) <1 2 Poliovírus relacionado à vacina (PVRV) <0,6 1 e 3 Poliovírus derivado vacinal (PVDV) 2 Poliovírus derivado vacinal (PVDV) Coleta de amostras de fezes dos casos A amostra de fezes constitui o material mais adequado para o isolamento do poliovírus. Embora os pacientes com poliomielite eliminem poliovírus durante semanas, os melhores resultados de isolamento são alcançados com amostras fecais coletadas na fase aguda da doença, ou seja, até o 14º dia do início da deficiência motora. Todo caso conhecido deverá ter uma amostra de fezes, coletada no máximo até 60 dias após o início da deficiência motora. Em crianças que apresentam obstipação intestinal, dificultando a coleta de amos- tras de fezes, pode-se utilizar supositório de glicerina. O swab retal somente é recomendado em casos de paralisia flácida aguda (PFA) que foram a óbito antes da coleta adequada de fezes. Coleta de amostras de fezes de contatos Deverão ser coletadas nas seguintes situações: - ção da circulação do poliovírus selvagem; não, são priorizados para coleta de amostras de fezes. Não coletar amostras de contato que recebeu a vacina contra a poliomielite nos últimos 30 dias. Exames inespecíficos Eletromiografia de doenças que afetam o neurônio motor inferior. Esse exame pode contribuir para descartar a hipótese diagnóstica de poliomielite, quando seus achados são analisados conjuntamente com os resultados do isolamento viral e evolução clínica. Líquor que evoluem com deficiência motora. Na poliomielite, observa-se um discreto aumento do número de células, podendo haver um pequeno aumento de proteínas. Na síndrome de Guillain-Barré observa-se Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
  • 111. Guia de Vigilância em Saúde 110 umadissociaçãoproteinocitológica,comaumentoacentuadodeproteínassemelevaçãodacelularidade, e nas meningites observa-se um aumento do número de células, com alterações bioquímicas. Anatomopatologia diagnóstica, pois não há alterações patognomônicas. Entretanto, dada a predileção do parasitismo do poliovírus pelas células motoras do corno anterior da medula e de alguns núcleos motores dos nervos cranianos, as alterações histológicas podem ser sugestivas e possibilitam fechar o diagnós- tico diante de um quadro clínico suspeito. As alterações consistem em atividade inflamatória, peri- vasculite linfocitária, nódulos ou atividade microglial difusa e figuras de neuronofagia (neurônios sendo fagocitados por células da microglia). Essas alterações são comuns a quaisquer encefalomie- lites virais, sendo que, em casos da poliomielite, predominam nitidamente no corno anterior da medula e no tronco cerebral. Diagnóstico diferencial Deve ser feito com polineurite pós-infecciosa e outras infecções que causam PFA. As principais do- enças a serem consideradas no diagnóstico diferencial são: síndrome de Guillain-Barré, mielite transversa especialmente do grupo A tipo 7). Para o adequado esclarecimento diagnóstico, a investigação epidemio- lógica e a análise dos exames complementares são essenciais. Quadro 2 – Elementos para o diagnóstico diferencial entre poliomielite, síndrome de Guillain- -Barré e mielite transversa Especificação Poliomielite Síndrome de Guillain-Barré Mielite transversa Instalação da paralisia 24 a 28 horas Desde horas até 10 dias Desde horas até 4 dias Febre ao início Alta Sempre presente no início da paralisia, desaparece no dia seguinte Não é frequente Raramente presente Paralisia Aguda, assimétrica, principalmente proximal Geralmente aguda, simétrica e distal Aguda, simétrica em membros inferiores Reflexos osteotendinosos profundos Diminuídos ou ausentes Globalmente ausentes Ausentes em membros inferiores Sinal de Babinsky Ausente Ausente Presente Sensibilidade Grave mialgia Parestesia, hipoestesia Anestesia de MMII com nível sensitivo Sinais de irritação meníngea Geralmente presentes Geralmente ausentes Ausentes Comprometimento de nervos cranianos Somente nas formas bulbares Pode estar presente Ausente Insuficiência respiratória Somente nas formas bulbares Em casos graves, exacerbada por pneumonia bacteriana Em geral torácica, com nível sensorial Líquido cefalorraquidiano Inflamatório Dissociação proteino-citológica Células normais ou elevadas; aumento moderado ou acentuado de proteínas Disfunção vesical Ausente Às vezes transitória Presente Velocidade de condução nervosa Normal, ou pode-se detectar apenas redução na amplitude do potencial da unidade motora Redução da velocidade de condução motora e sensitiva Dentro dos limites da normalidade Eletromiografia (EMG) Presença ou não de fibrilações Potencial da unidade motora com longa duração e aumento da amplitude Presença ou não de fibrilações e pontas positivas Potencial da unidade motora pode ser normal ou neurogênico Dentro dos limites da normalidade
  • 112. 111 Tratamento Não há tratamento específico para a poliomielite. Todos os casos devem ser hospitalizados, procedendo-se ao tratamento de suporte, de acordo com o quadro clínico do paciente. Características epidemiológicas Até o início da década de 1980, a poliomielite apresentou alta incidência no Brasil, em muitos casos, ocasionando sequelas permanentes. No Brasil, o último caso de poliomielite causada pelo poliovírus sel- vagem ocorreu em 1989. A eliminação da doença no país foi alcançada por meio da administração da vacina oral contra a pólio (VOP) em campanhas de vacinação em massa e na vacinação de rotina das crianças, aliadas à vigilância epide- miológica da PFA. Em 1994, após 3 anos de ausência da circulação do poliovírus selvagem no Continente Americano, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde certificou essa região como livre da transmissão autóctone do poliovírus selvagem. Mesmo nesse cenário, é importante estar atento para o risco de importações de casos de países onde ainda há circulação endêmica do poliovírus selvagem (Nigéria, Paquistão e Afeganistão), o que demanda ações per- manentes e efetivas de vigilância da doença e níveis adequados de proteção imunológica da população. Em países com baixas coberturas vacinais e/ou heterogêneas, têm ocorrido surtos de poliomielite causados por poliovírus derivado da vacina (PVDV), nos quais a doença já estava sob controle. Vigilância epidemiológica de PFA Objetivos PFA no país. Definição de caso Suspeito idade, independentemente da hipótese diagnóstica de poliomielite. de viagem a países com circulação de poliovírus nos últimos 30 dias que antecedem o início do deficit motor, ou contato no mesmo período com pessoas que viajaram para países com circulação de poliovírus selvagem e apresentaram suspeita diagnóstica de poliomielite. Confirmado Poliovírus selvagem de fezes do caso, ou de um de seus contatos, independentemente de haver ou não sequela após 60 dias do início da deficiência motora. Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
  • 113. Guia de Vigilância em Saúde 112 Poliomielite associada à vacina (PAV) amostra de fezes e presença de sequela compatível com poliomielite, 60 dias após o início da defi- ciência motora. Há dois tipos: - PFA, que se inicia entre 4 e 40 dias após o recebimento da vacina oral contra a pólio (VOP), e que apresenta sequela neurológica compatível com poliomielite 60 dias após o início do deficit motor; que tenha recebido VOP até 40 dias antes. A paralisia surge de 4 a 85 dias após a exposição ao contato vacinado e o indivíduo apresenta sequela neurológica compatível com poliomielite 60 dias após o deficit motor. - em qualquer das situações acima, o isolamento de poliovírus vacinal nas fezes e sequela neuro- lógica compatível com poliomielite são condições imprescindíveis para que o caso seja conside- rado como associado à vacina. Poliovírus derivado vacinal deficit motor e isolamento de PVDV (Quadro 1) para poliovírus tipo 1 e 3 e igual ou superior a 0,6% para poliovírus tipo 2. Poliomielite compatível apresentou sequela aos 60 dias ou evoluiu para óbito ou teve evolução clínica ignorada. Descartado (não poliomielite) Caso de PFA no qual não houve isolamento de poliovírus selvagem na amostra adequada de fezes, ou seja, amostra coletada até 14 dias do início da deficiência motora em quantidade e temperatura satisfatórias. Notificação Todo caso de PFA deve ser notificado imediatamente pelo nível local à Secretaria Municipal de Saú- de. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento e envio da Ficha de Investigação de Paralisia Flácida Aguda/Poliomielite. Além disso, todo caso suspeito de PAV e/ou PVDV deve ser notificado no Sistema de Informação de Eventos Adversos Pós-Vacinação (SIEAPV), por intermédio da Ficha de Investigação/Notificação de Evento Adverso Pós-vacinação. Os casos de paralisia ocular isolada e paralisia facial periférica não devem ser notificados e investigados. Investigação Todo caso de PFA deve ser investigado, nas primeiras 48 horas após o conhecimento, com o objetivo de coletar as informações necessárias para a correta classificação do caso (Figura 1). Esta medida visa subsidiar o processo de tomada de decisão quanto ao desencadeamento em tempo hábil das medidas de controle indicadas em cada situação. Roteiro da investigação Identificação do paciente Todos os campos devem ser rigorosamente preenchidos. Dados clínicos e epidemiológicos Registrar, na ficha de investigação, dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais da doença. Os dados são coletados por meio das informações obtidas dos familiares, dos profissionais que prestaram assistência ao paciente, além das contidas no prontuário de internação e das coletadas por ocasião da visita domiciliar.
  • 114. 113 Coleta e remessa de material para exames até o 14º dia do início do deficit motor, para pesquisa de poliovírus, e enviar para o Laboratório Cen- tral de Saúde Pública (Lacen), de acordo com o tópico de diagnóstico laboratorial e o Anexo A. Identificação da área de transmissão - dos da ficha de investigação (história vacinal, fonte de infecção, entre outras informações) e buscar outros casos, quando necessário. Análise de dados epidemiológicos - ral) realize análises periódicas dos dados epidemiológicos coletados, de forma a avaliar a sua qualidade e a sensibilidade do sistema quanto à notificação e à investigação dos casos de PFA, visando produzir informações úteis ao processo de tomada de decisão sobre as ações de vigilância e controle da doença. Encerramento de caso O caso de PFA deve ser encerrado oportunamente no Sinan em até 60 dias da notificação, quando se rea- liza a avaliação neurológica. É necessário que todos os achados da investigação epidemiológica sejam minucio- samente avaliados. A classificação final do caso deverá seguir os critérios descritos no item Definição de caso. a casos suspeitos Caso suspeito de PFA Notificação imediata e investi- gação em 48 horas Investigar ocorrência de outros casos na área Coletar uma amostra de fezes até o 14o dia do deficit motor (DM) Realizar avaliação aos 60 dias do DM Completar a investigação epidemiológica Analisar cobertura vacinal contra pólio na área Reforçar, se necessário, as atividades de vacinação na área Encerrar o caso, atualizar Sinan e retroalimentar fontes notificadoras Medidas de prevenção e controle A vacinação é a principal medida de prevenção da poliomielite. O Brasil tem implementado estratégias que orientam as ações de prevenção e controle. Uma dessas ações foi a substituição, em 2016, do uso da vacina oral poliomielite trivalente (VOPt) pela vacina oral poliomielite bivalente (VOPb). O esquema vacinal consiste na administração de 3 doses de vacina inativada poliomielite (VIP), aos 2, 4 e 6 meses de idade, com intervalo de 60 dias entre as doses. O intervalo mínimo entre as doses é de 30 dias. Devem ainda ser administradas duas doses de reforço, a primeira aos 15 meses e a segunda aos 4 anos de idade. Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
  • 115. Guia de Vigilância em Saúde 114 Proteção individual para evitar circulação viral Caso haja suspeita de infecção por poliovírus selvagem ou PVDV em pacientes internados, orien- ta-se a tomada de precauções entéricas durante o período de transmissibilidade (6 semanas). Essas precauções bloqueiam a transmissão de doenças infecciosas por meio do contato direto ou indireto com as fezes contaminadas. Proteção da população A principal proteção ocorre pela manutenção de elevadas coberturas vacinais na rotina e das campanhas de vacinação em massa, com as vacinas oral e injetável. Quando houver casos notificados de PFA com hipótese diagnóstica de poliomielite, recomenda-se a vacinação com VOP indiscriminada para menores de 5 anos na área de abrangência do caso. Orientações de vacinação para o viajante De acordo com a Nota Informativa Conjunta nº 78/2016 CGPNI/DEVIT/SVS/ MS, sobre a vaci- nação contra poliomielite, mudanças no esquema vacinal e orientações aos serviços de saúde e usuários (rotina, campanha e viajantes), os viajantes devem se orientar pelas recomendações a seguir explicitadas, até a erradicação da doença. Funções da educação em saúde propósitos de manutenção da eliminação da poliomielite. - tais), tendo em vista o engajamento de seus representantes nos programas de manutenção da eli- minação da poliomielite. - tárias, para atuarem junto às equipes de saúde na notificação, investigação e controle de casos de paralisia flácida aguda, tendo em vista a manutenção da eliminação da poliomielite. - zações da comunidade. controle adotadas. feito a partir da avaliação de indicadores e metas mínimas, conforme listado a seguir. Taxa de notificação de paralisia flácida aguda para cada 100 mil hab. menores de 15 anos de idade. Proporção de casos investigados em 48 horas investigados dentro das 48 horas após a notificação. Proporção de casos com coleta oportuna de fezes amostra de fezes, para cultivo do vírus, coletada até o 14º dia do início da deficiência motora, em quantidade e condições de temperatura para análise. Proporção de notificação negativa/positiva semanal devem informar a ocorrência ou não de casos de paralisia flácida aguda, semanalmente.
  • 116. 115 Quadro 3 – Indivíduos que planejam viagem ao exterior, a países com circulação do poliovírus selvagem Vacinação do viajante contra a poliomielite Grupo alvo Situação vacinal Condutas Observação Criança menor de 2 meses de idade Não vacinada Até a 6ª semana de vida, administrar uma dose de VIP Não considerar como válida para o esquema básico A partir da 6ª semana de vida, administrar uma dose de VIP Considerar como válida para o esquema básico. Criança a partir de 2 meses e menor de 5 anos (até 4 anos 11 meses e 29 dias) de idade Não vacinada, vacinada ou com esquema incompleto Seguir o esquema preconizado contra a poliomielite no Calendário Nacional de Vacinação, conforme situação encontrada Nos primeiros 6 meses de idade, caso a criança esteja com esquema vacinal atrasado, recomenda-se a administração da vacina VIP com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses Se essa criança, ao viajar, não tiver completado o esquema vacinal no Brasil, deverá fazê-lo no país de destino, dependendo do período de estadia Crianças a partir dos 5 anos de idade Não vacinada ou com esquema incompleto Deve iniciar ou completar esquema, logo que possível, ainda no Brasil ou no país de destino A partir dessa idade deve-se administrar três doses de vacina poliomielite sem necessidade de reforço. Com viagem de urgência - deve receber uma dose da VOPb até o momento da partida Vacinada (receberam 3 doses ou mais de vacina poliomielite, sendo a última dose administrada nos últimos 12 meses) Não administrar nenhuma dose de VOPb - Vacinada (receberam 3 doses ou mais de vacina poliomielite, sendo a última dose administrada há mais de 12 meses) Garantir antes da viagem uma dose da VOPb, preferencialmente, até quatro semanas antes da data da viagem Com viagem de urgência - deve receber uma dose da VOPb até o momento da partida Adolescente e adulto Não vacinado ou com esquema incompleto Deve iniciar ou completar esquema, logo que possível, ainda no Brasil ou no país de destino Com viagem de urgência - deve receber uma dose da VOPb até o momento da partida Vacinado (receberam 3 doses ou mais de vacina poliomielite, sendo a última dose administrada nos últimos 12 meses) Não administrar nenhuma dose de VOPb - Gestante e imunossuprimido (e/ou seus contatos) Vacinado (receberam três doses ou mais de vacina poliomielite, sendo a última dose administrada há mais de 12 meses) Garantir antes da viagem uma dose da VOPb, preferencialmente, até quatro semanas antes da data da viagem. Com viagem de urgência - deve receber uma dose da VOPb até o momento da partida Não vacinado ou com esquema incompleto Deve iniciar ou completar esquema, logo que possível, ainda no Brasil ou no país de destino. Com viagem de urgência - deve receber uma dose da VIP até o momento da partida Vacinado (receberam 3 doses ou mais de vacina poliomielite, sendo a última dose administrada nos últimos 12 meses) Não administrar nenhuma dose de VIP - Vacinado (receberam 3 doses ou mais de vacina poliomielite, sendo a última dose administrada há mais de 12 meses) Garantir antes da viagem uma dose da VIP, preferencialmente, até 4 semanas antes da data da viagem. Com viagem de urgência - deve receber uma dose da VIP até o momento da partida Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
  • 117. Guia de Vigilância em Saúde 116 Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 252 p. Nota Informativa Conjunta nº 78/2016 CGPNI/DEVIT/SVS/ MS sobre a Vacinação contra poliomielite, mudanças no esquema vacinal e orientações aos serviços de saúde e usuários (rotina, campanha e viajantes). Brasil 2016. Nota Técnica Conjunta nº 07/2014 CGDT/CGPNI/DEVIT/SVS/MS sobre a Declaração de Emergência de Saúde Pública de Importân- cia Internacional. Brasília, 2014. - ças Transmissíveis. Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação. Brasília, 2014. 176 p. CAMPOS, A. L. V. de; NASCIMENTO, D. R. do; MARANHÃO, E. A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 10, p. 573-600, 2003. Suplemento 2. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Case of paralytic illmess associated with enterovirus 71 infection. JAMA, Chicago, v. 259, p. 1621-1622, 1988. - Morbidity and Mortality Weekly Report, Atlanta, v. 42, p. 337-339, 1993. 2005. Morbidity and Mortality Weekly Report, Atlanta, v. 54, n. 16, p. 408-412, 2005. Yale Journal of Biol- ogy and Medicine, New Haven, v. 36, p. 5-26, 1963. MCKHANN, G. M. et al. Acute motor axonal neuropathy: a frequent cause of acute flaccid paralysis in China. Annals of Neurology, [S.l.], v. 33, p. 333-342, 1993. Bulletin of the World Health Organization, Geneva, v. 56, p. 21-27, 1978. Biologicals, London, v. 21, p. 305-309, 1993. MENDELSOHN, C. L.; WIMMER, E.; RACANIELLO, V. R. Cellular Receptor for poliovirus: molecular cloning, nucleotide, sequence, and expression of a new member of immunoglobulin superfamily. Cell, Cambridge, v. 56, n. 5, p. 855-865, 1989. MINOR, P. D. et al. Genetic basis of attenuation of the Sabin oral polivirus vaccines. Biologicals, Lon- don, v. 22, p. 357-363, 1993. Lancet, London, v. 344, p. 665-670, 1994. SCHATZMAYR, H. G. et al. Erradicação da poliomielite no Brasil: a contribuição da Fundação Oswaldo Cruz. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 11-24, jan./abr. 2002. VERONESI, R; FOCACCIA, Roberto. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
  • 118. 117 Anexo A Conservação e transporte de amostras de fezes - ídos para esse fim), e vedar bem. A quantidade de fezes recomendada deve ser equivalente a 8g ou a dois terços da capacidade de um coletor universal/padrão. O coletor deve estar devidamente identificado com o nome completo do paciente, data da coleta e local de procedência da amostra. - vados em freezer a -20°C até o momento do envio. Na impossibilidade da utilização de freezer, colocar em geladeira comum (4 a 8°C) por até no máximo 3 dias, não devendo as amostras jamais serem colocadas em congelador comum. amostras devem estar acondicionados em saco plástico individual bem vedado, para que em caso de descongelamento ou vazamento não haja risco de contaminação de outras amostras. mínima de no máximo 8°C até as amostras chegarem aos Lacen e destes serem enviadas para os laboratórios de referência, a fim de serem examinadas. A caixa térmica deve ser fechada por fora com fita adesiva e acondicionada em outra caixa de papelão de acordo com as especificações do Departamento de Aviação Civil (DAC), da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) ou da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). para evitar que seja molhada, deve ser enviada ao laboratório acompanhando as amostras de fezes. Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda
  • 120. 119 Sarampo CID 10:B05 Características gerais Descrição Doença viral, infecciosa aguda, potencialmente grave, transmissível, extremamente contagiosa e bas- tante comum na infância. A viremia provoca uma vasculite generalizada, responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas. Agente etiológico RNA vírus pertencente ao gênero Morbillivirus, família Paramyxoviridae. Reservatório O homem. Modo de transmissão Ocorre de forma direta, por meio de secreções nasofaríngeas expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. Por isso, a elevada contagiosidade da doença. Também tem sido descrito o contágio por dispersão de aerossóis com partículas virais no ar, em ambientes fechados, como escolas, creches e clínicas. Período de incubação Geralmente de 10 dias, podendo variar entre 7 e 18 dias, desde a data da exposição até o aparecimen- to da febre, e cerca de 14 dias até o início do exantema. Período de transmissibilidade Inicia-se de 4 a 6 dias antes do exantema e dura até 4 dias após seu aparecimento. O período de maior transmissibilidade ocorre entre os 2 dias antes e os 2 dias após o início do exantema. O vírus vacinal não é transmissível. Suscetibilidade e imunidade De um modo geral, todas as pessoas são suscetíveis ao vírus do sarampo. Lactentes, cujas mães já tiveram sarampo ou foram vacinadas, possuem imunidade passiva conferida por anticorpos transmitidos pela via transplacentária. Essa imunidade é transitória e pode perdurar até o final do 1o ano de vida, razão pela qual pode haver interferência na resposta à vacinação em menores de 12 meses de vida. No Brasil, cerca de 85% das crianças perdem esses anticorpos maternos por volta dos 9 meses de idade. Manifestações clínicas Caracteriza-se por febre alta, acima de 38,5°C, exantema máculo-papular generalizado, tosse, coriza, (Figura 1). De forma simplificada, as manifestações clínicas do sarampo são divididas em três períodos. surge a febre, acompanhada de tosse produtiva, coriza, conjuntivite e fotofobia. Do 2º ao 4º dia Sarampo
  • 121. Guia de Vigilância em Saúde 120 desse período, surge o exantema, quando se acentuam os sintomas iniciais. O paciente apresenta prostração e lesões características de sarampo (exantema cutâneo máculo-papular de coloração vermelha, iniciando na região retroauricular). - metimento da resistência do hospedeiro à doença. São frequentes as complicações, principalmente nas crianças até os 2 anos de idade, especialmente as desnutridas e os adultos jovens. escurecido e, em alguns casos, surge descamação fina, lembrando farinha, daí o nome de furfurácea. É durante o exantema que, geralmente, se instalam as complicações sistêmicas, embora a encefalite possa aparecer após o 20º dia. ERUPÇÃO MANCHA DE KOPLIK CONJUNTIVITE CORIZA TOSSE Fonte: Krugman & Ward (1958). TEMPERATURA 41,5 36,5 DIAS DE DOENÇA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Complicações Febre por mais de 3 dias, após o aparecimento do exantema, é um sinal de alerta e pode indicar o aparecimento de complicações, como infecções respiratórias, otites, doenças diarreicas e neurológicas. Na ocorrência dessas complicações, a hospitalização pode ser necessária, principalmente em crianças desnu- tridas e em imunocomprometidos. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial Realizado mediante detecção de anticorpos IgM no sangue, na fase aguda da doença, desde os primeiros dias até 4 semanas após o aparecimento do exantema. Os anticorpos específicos da classe IgG podem, eventualmente, aparecer na fase aguda da doença e costumam ser detectados muitos anos após a infecção. Para detecção de anticorpos, são utilizadas as seguintes técnicas: ensaio imunoenzimático (ELISA), para dosagem de IgM e IgG − utilizado pela rede laboratorial de saúde pública no Brasil; neutralização em placas.
  • 122. 121 Todos os testes têm sensibilidade e especificidade entre 85 e 98%. É imprescindível assegurar a coleta de amostras de sangue de casos suspeitos, sempre que possível no primeiro atendimento ao paciente. Amostras coletadas entre o 1º e o 28º dia do aparecimento do exantema são consideradas amostras oportunas (S1). As coletadas após o 28º dia são consideradas tardias, mas, mesmo assim, devem ser en- viadas ao laboratório. O teste de IgM com resultado reagente ou inconclusivo, independentemente da suspeita, deve ser notifica- doimediatamenteparaacontinuidadedainvestigaçãoecoletadasegundaamostradesangue(S2),queéobriga- tória para a classificação final dos casos. Ela deverá ser realizada entre 20 e 25 dias após a data da primeira coleta. Os casos suspeitos estão sujeitos a dúvidas diagnósticas, devido a: - lhante, com possibilidade de se apresentarem reações cruzadas relacionadas ao diagnóstico laboratorial; Também é necessária a coleta de espécimes clínicos para a identificação viral, a fim de se conhecer o genótipo do vírus, diferenciar um caso autóctone de um caso importado e diferenciar o vírus selvagem do vacinal. O vírus do sarampo pode ser identificado na urina, nas secreções nasofaríngeas, no sangue, no líquor ou em tecidos do corpo pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR). As amostras dos espécimes clínicos devem ser coletadas até o 5º dia a partir do início do exantema estender, aproveitando a oportunidade de coleta das amostras para identificação viral. A conduta para classificar um caso suspeito de sarampo, a partir da interpretação do resultado dos exames sorológicos, tem relação direta com o período quando a amostra foi coletada (oportuna ou tardia), conforme apresenta a Figura 2. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial do sarampo deve ser realizado para as doenças exantemáticas febris agu- das, entre as quais se destacam rubéola, exantema súbito (Roséola Infantum), dengue, enteroviroses, erite- Tratamento Não existe tratamento específico para a infecção por sarampo. O tratamento profilático com antibi- ótico é contraindicado. Recomenda-se a administração da vitamina A em todas as crianças acometidas pela doença, para reduzir a ocorrência de casos graves e fatais, no mesmo dia do diagnóstico do sarampo, nas dosagens indicadas a seguir. diagnóstico, e outra dose no dia seguinte. 100.000UI, sendo uma dose em aerossol, no dia do diag- nóstico, e outra dose no dia seguinte. 200.000UI, sendo uma dose em aerossol ou cápsula, no dia do diagnóstico, e outra dose no dia seguinte. Para os casos sem complicação, deve-se manter a hidratação e o suporte nutricional, e diminuir a hipertermia. Muitas crianças necessitam de 4 a 8 semanas para recuperar o estado nutricional. Sarampo
  • 123. Guia de Vigilância em Saúde 122 Figura 2 – Roteiro para confirmação ou descarte do caso suspeito de sarampo Coleta de sangue (S1) no primeiro contato com o paciente + investigação epidemiológica IgM - Caso suspeito sem 2ª amostrab Avaliar resultado: há aumento de IgG?c Avaliar resultado: vírus selvagem detectado? IgM + Reinvestigação epidemiológica DESCARTARd NÃO Avaliar resultado de sorologia Coletar S2 com 20 a 25 dias após S1 Coletar material (urina ou secreção nasofaríngea) para identificação viral, preferencialmente até o 5o dia do início do exantema SIM SIM NÃOd NÃOa Avaliar: histórico de viagem/ contato e sintomasa Coletar 2ª sorologia (S2) entre 20 e 25 dias após a S1 Período de coleta do soro < 5 dias do início do exantem a 5 a 28 diasdo início do exantem a SIM CONFIRMAR a Em casos suspeitos com história de viagem e/ou contato com caso confirmado, é imprescindível a coleta de uma segunda amostra de soro para descar- tar um falso-negativo. b Casos soropositivos para IgM sem segunda amostra de soro devem ser cuidadosamente interpretados avaliados individualmente, considerando: tempo da coleta da primeira amostra de soro em relação ao início do exantema; história vacinal; história de viagem a região endêmica e/ou contato com caso c onfirmado; aspectos clínicos apresentados; e situação epidemiológica. Mais um fator importante a ser considerado é a presença de outro diagnóstico diferencial, também merecedor de cuidadosa análise e interpretação. c A avaliação do aumento do título de IgG nas amostras pareadas deve ser igualmente individualizada e cuidadosa, considerando: história prévia de doenças imunológicas; intervalo de tempo da primeira coleta para a segunda; e história de vacinação. d O caso suspeito com PCR negativa não deve ser descartado, visto que pode ocorrer falha durante a coleta, o armazenamento e o transporte da amostra. Características epidemiológicas O sarampo é uma das principais causas de morbimortalidade entre crianças menores de 5 anos de idade, sobretudo as desnutridas e as que vivem nos países em desenvolvimento. É uma doença com distribuição universal, com variação sazonal. Nos climas temperados, observa-se aumento da incidência no período compreendido entre o final do inverno e o início da primavera. Nos climas tropicais, a transmissão parece aumentar depois da estação chuvosa. O comportamento endêmico-epidêmico do sarampo varia de um local para outro, e depende basi- camente da relação entre o grau de imunidade e a suscetibilidade da população, bem como da circulação do vírus na área.
  • 124. 123 Nos locais onde as coberturas vacinais não são homogêneas, e estão abaixo de 95%, a doença tende a se comportar de forma endêmica, com a ocorrência de epidemia a cada 2 a 3 anos, aproximadamente. Na zona rural, a doença se apresenta com intervalos cíclicos mais longos. O sarampo afeta ambos os sexos, igualmente. A incidência, a evolução clínica e a letalidade são influenciadas pelas condições socioeconômicas, nutricionais, imunitárias e aquelas que favorecem a aglo- meração em lugares públicos e em pequenas residências. Nos países que conseguem manter altos níveis de cobertura vacinal, a incidência da doença é reduzida, ocorrendo em períodos cíclicos que variam entre 5 e 7 anos. Quando indivíduos suscetíveis se acumulam e chegam a um quantitativo suficiente para sustentar uma transmissão ampla, podem ocorrer surtos explosivos, capazes de afetar todas as faixas etárias. No Brasil, o sarampo é uma doença de notificação compulsória desde 1968. Até 1991, o país en- frentou nove epidemias, sendo uma a cada 2 anos em média. O maior número de casos notificados foi registrado em 1986 (129.942), representando uma taxa de incidência de 97,7/100.000 hab. Até o início da década de 1990, a faixa etária mais atingida foi a de menores de 15 anos. Até o final dos anos 70, essa virose era uma das principais causas de óbito dentre as doenças infectocontagiosas, sobretudo em menores de 5 anos, em decorrência de complicações, especialmente a pneumonia. Na década de 1980, houve um declínio gradativo no número de óbitos, com 15.638 registros. Essa redução foi atribuída ao aumento da cobertura vacinal e à melhoria da assistência médica ofertada às crianças com complicações pós-sarampo. Na década de 1990, ocorreram 822 óbitos, ou seja, cerca de 20 vezes menos que o valor registrado na década anterior. Em 1992, o Brasil adotou a meta de eliminação do sarampo para o ano 2000, com a implantação do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, cujo marco inicial foi a realização da primeira campanha nacional de vacinação contra a doença. Em 1997, após 4 anos de relativo controle, observou-se o recru- descimento do sarampo no país, inicialmente com surtos em São Paulo, e logo sua expansão para todas as Unidades Federadas (UF), com 91.810 casos notificados e 53.664 confirmados, taxa de incidência de 32,6/100.000 hab. e 61 óbitos. O Ministério da Saúde, visando fortalecer a vigilância epidemiológica do sarampo, criou, em 1999, um Grupo Tarefa com a designação de um técnico de vigilância do sarampo para cada uma das 27 UFs, e dois para o nível nacional em cada estado. Naquele ano, dos 10.007 casos suspeitos de sarampo notifica- dos, 8,9% foram confirmados, e destes, 42% por laboratório. Dos 8.199 casos suspeitos de sarampo notifi- cados no ano 2000, 0,4% foram confirmados, e destes, 83% por laboratório. Os últimos casos autóctones ocorreram ainda no ano 2000, no estado do Mato Grosso do Sul. Entre 2001 e 2005, foram confirmados 10 casos de sarampo no Brasil, 4 deles classificados como casos importados (do Japão, Europa e Ásia). Já em 2006, foram confirmados 57 casos em dois surtos isolados, no estado da Bahia, com genótipo D4, embora não fosse identificada a fonte primária da infecção. Entre os anos de 2007 e 2009, foram notificados 4.517 casos suspeitos, sem registro de caso confirmado. No período de 2010 a 2012, foram notificados 4.380 casos suspeitos, dos quais 2,6% foram confirmados, todos relacionados a casos importados ou secundários a estes, identificando-se os seguin- tes genótipos: G3; D4; D8; e B3. Estes genótipos circulavam nos continentes europeu e africano, e os três últimos citados não haviam circulado anteriormente no Brasil. De 2013 a 2015, foram notificados 9.523 casos suspeitos, e confirmados 1.310 casos em todo o país. No período de março de 2013 a março de 2014, ocorreu um surto no estado de Pernambuco, com 226 casos confirmados, e identificado o genótipo D8. No estado do Ceará, ocorreu um surto no período de dezembro de 2013 a julho de 2015, registrando-se um total de 1.052 casos confirmados, sendo identificado o genótipo D8. Em 2016, foram notificados 664 casos suspeitos de sarampo, não se confirmando nenhum caso. Sarampo
  • 125. Guia de Vigilância em Saúde 124 Em setembro de 2016, o Comitê Internacional de Especialistas (CIE), responsável pela avaliação da do- cumentação e verificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome de Rubéola Congênita nas Amé- ricas, declarou a eliminação da circulação do vírus do sarampo na Região das Américas. Atualmente o país está em fase de sustentabilidade da eliminação da transmissão autóctone dos vírus do sarampo e da rubéola. Com o aumento da sensibilidade e especificidade da vigilância do sarampo, é importante a manuten- ção do sistema de vigilância epidemiológica da doença, com o objetivo de detectar oportunamente todo caso de sarampo importado, bem como adotar todas as medidas de controle do caso. A Figura 3 apresenta o sumário da evolução das estratégias de controle do sarampo no Brasil, no período de 1967 a 2016, compreendendo um período de mais de 40 anos desde a introdução da vacina, e de aproximadamente 20 anos de intensificação de ações de vacinação e de vigilância da doença no país. Figura 3 - Estratégias de controle do sarampo, incidência dos casos e cobertura vacinal, Brasil, 1967 a 2016* Fonte: UVRI/CGDT/DEVIT/SVS/MS. 120 100 80 60 40 20 0 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Introdução da vacina Notificação Com pulsória Program a Nacionalde Im unização Intensificação nasG randesCidades Cam panhasEstaduais Plano de Eliminação do Sarampo 1° Campanha Nacional 1° Campanha de Segmento 2° Campanha de Segmento 3° Campanha de Segmento 4° Campanha de Segmento Campanha Nacional de Vacinação contra Rubéola de 12 a 39 anos 5° Campanha de Segmento Intensificação Vacinal PE Intensificação Vacinal CE Certificação da Eliminação do vírus Sarampo nas Américas PES Incidência Cobertura vacinal *Atualizado em 20/03/2017. Vigilância epidemiológica Objetivos Manter a eliminação do sarampo mediante uma vigilância epidemiológica sensível, ativa e oportu- na, permitindo a identificação e a notificação imediata de todo e qualquer caso suspeito na popu- lação, com medidas de controle pertinentes. Definição de caso Suspeito Todo paciente que, independentemente da idade e da situação vacinal, apresentar febre e exantema maculopapular acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tosse e/ou coriza e/ ou conjuntivite; ou
  • 126. 125 mesmo período, com alguém que viajou ao exterior. Confirmado Todo caso suspeito comprovado como um caso de sarampo a partir de, pelo menos, um dos critérios a seguir. Critério laboratorial Caso suspeito cujo exame laboratorial teve como resultado “reagente” ou “soropositivo para IgM” e a análise clínica epidemiológica indicativa de confirmação de sarampo. Todos os casos IgM- -positivos ou reagentes para o sarampo devem ser analisados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS). Vínculo epidemiológico Caso suspeito, contato de um ou mais casos de sarampo confirmados por exame laboratorial, que apresentou os primeiros sintomas da doença entre 7 e 18 dias da exposição ao contato. Classificação dos casos confirmados de sarampo, de acordo com a fonte de infecção - gimento do exantema, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos ou virológicos. A con- firmação deve ser laboratorial, e a coleta de espécimes clínicos para a identificação viral, realizada no primeiro contato com o paciente. transmissão originada de um caso importado, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos e/ou virológicos. da fonte de infecção após investigação epidemiológica minuciosa. - te relacionados, encontrando-se a fonte de infecção no território nacional. A confirmação deve ser laboratorial, e a coleta de espécimes clínicos para a identificação viral, realizada no primeiro contato com o paciente. por laboratório ou por vínculo epidemiológico. - tada (o vírus deve circular no país por mais de 12 meses, em uma mesma cadeia de transmissão). Descartado Todo paciente considerado como caso suspeito e não comprovado como um caso de sarampo, de acordo com os critérios elencados a seguir. Critério laboratorial Seguir os critérios de descarte laboratorial apresentados na Figura 2. Sarampo
  • 127. Guia de Vigilância em Saúde 126 Vínculo epidemiológico Caso suspeito de sarampo que tem como fonte de infecção um ou mais casos descartados pelo critério laboratorial; ou caso suspeito em localidade onde ocorre surto ou epidemia de outras doenças exantemáticas fe- bris, comprovadas por diagnóstico laboratorial. Nessa situação, os casos devem ser criteriosamente analisados antes de serem descartados e a provável fonte de infecção identificada. Odescarteclínicodeumcasodesaramporepresentaumafalhadosistemadevigilânciaepidemiológica. Critérios para descarte de caso suspeito de sarampo associado temporalmente à vacina versus data da última dose da vacina como suspeito de sarampo em que não houve coleta de amostra de sangue ou o resultado do exame laboratorial foi “reagente” ou “soropositivo para IgM”, ou em que a avaliação clínica e epidemioló- gica indicou uma associação temporal entre a data do início do exantema e a data do recebimento da última dose da vacina com o componente contra o sarampo, que se enquadra nas especificações: - febre com temperatura que pode chegar a 39,5°C ou mais, com início entre o 5º e o 12º dia após a vacinação, e duração média de 1 a 2 dias, podendo chegar até 5 dias; - exantema com duração de 1 a 2 dias, geralmente benigno, que surge entre o 7º e o 14º dia após a administração da vacina; e - cefaleia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais observadas entre o 5º e o 12º dia após a vacinação. O critério para confirmação ou descarte de um caso suspeito de sarampo pode ser observado na Figura 2. Notificação Considerando-se a alta infectividade e contagiosidade da doença, todo caso suspeito de sarampo deve ser comunicado por telefone à SMS dentro das primeiras 24 horas após o atendimento do paciente e também à SES, por telefone, fax ou e-mail, para acompanhamento junto ao município. Além disso, a notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), utilizando-se a Ficha de Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola. Investigação A investigação do caso suspeito de sarampo deve ser realizada pela equipe municipal. As infor- mações obtidas na investigação epidemiológica devem responder às demandas básicas da análise epi- demiológica, ou seja, quem foi afetado, quando ocorreram os casos e onde se localizam. A partir dessas informações, são desencadeadas as condutas adequadas à situação. Roteiro da investigação O caso suspeito de sarampo deve ser investigado no prazo máximo de 48 horas após a notificação conforme apresentado na Figura 4. Identificação do paciente Preencher todos os campos dos itens da Ficha de Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola relativos aos dados gerais, individuais e de residência.
  • 128. 127 Coleta de dados clínicos e epidemiológicos - nóstico do caso devem ser coletadas, especialmente sobre a situação clínica e epidemiológica do caso suspeito. A investigação, de forma geral, é iniciada pela visita ao domicílio do caso suspeito de sarampo, especialmente para completar as informações do quadro clínico apresentado, quan- do se deve: - confirmar a situação vacinal do caso suspeito, mediante verificação do cartão de vacinação; e - estabelecer um prazo entre 7 e 21 dias para realizar nova visita domiciliar, desta vez para acom- o surgimento de novos casos ou descartá-los. a ocorrência de outros casos suspeitos, não notificados. Ela é realizada, principalmente, em torno da área de residência e convivência do caso suspeito, ambiente de trabalho, escola, creche, igreja e outros locais frequentados pelo paciente nos últimos 7 a 21 dias. Essa investigação deve ser minu- ciosa, para: - coletar dados que permitam analisar a situação epidemiológica, respondendo às perguntas bá- sicas: quem foi afetado? Quando e como ocorreram os casos? Onde se localizam? - realizar a coleta de uma amostra de sangue para o diagnóstico laboratorial, no caso de a amostra não ter sido colhida no serviço de saúde responsável pela notificação; - identificar a provável fonte de infecção; - avaliar a cobertura vacinal da área; - verificar possível ocorrência de surtos em outras áreas; - tomar decisões quanto às medidas de controle da doença, ou seja, definir e orientar a equipe do serviço de saúde sobre a estratégia de vacinação a ser adotada: qual a estratégia a ser implemen- tada? Qual sua abrangência? - orientar as pessoas da comunidade sobre a necessidade de comunicar ao serviço de saúde a presença de pessoas com sinais e sintomas de sarampo. suspeito de sarampo, durante a atividade de investigação do caso, realizar busca ativa em sua área geográfica, a fim de detectar outros possíveis casos. As ações de busca ativa incluem: - visitas às residências, creches, colégios, centros de saúde, hospitais, farmácias, quartéis, entre outros; - contatos com médicos, líderes comunitários e pessoas que exercem práticas alternativas de saú- de (curandeiros, benzedeiras); - visitas periódicas aos serviços de saúde que atendam doenças exantemáticas febris na área, par- ticularmente se esses serviços não têm notificado casos suspeitos; e - visitas a laboratórios da rede pública ou privada, com o objetivo de verificar se foram realizados exames para a detecção de casos de sarampo, rubéola ou outro quadro semelhante, que não tenham sido notificados. saiba identificar um caso suspeito de sarampo, independentemente da idade e estado vacinal, e ve- rifique, durante a consulta ou investigação, se o indivíduo viajou ou teve contato com outra pessoa que viajou para o exterior nos últimos 30 dias ou se teve contato com outra pessoa portadora dos mesmos sintomas. Sarampo
  • 129. Guia de Vigilância em Saúde 128 no ano 2000, um único caso confirmado de sarampo é considerado surto no Brasil, independente- mente do local ou período de ocorrência. espécimes clínicos para sorologia (Anexo A). Encerramento de caso O caso deve ser encerrado no prazo de até 30 dias a partir do registro tanto no Boletim de Notificação Semanal (BNS) como no Sinan. Caso o encerramento não aconteça em até 60 dias, o sistema encerrará automaticamente esses registros, significando o fato como falha da vigilância. Notificação de caso suspeito em até 24 horas Investigação em até 48 horas Coletar material para sorologia e identificação viral Realizar medidas de controleIdentificar novos casos suspeitos Enviar ao laboratório Bloqueio vacinal após a identificação do caso suspeito (até 72 horas) Identificar ocorrência de surtos Laboratório informa o resultado à SMS/SES/MS Identificar área de transmissão Avaliar a cobertura vacinal da área SMS e SES encerram o caso Medidas de prevenção e controle Proteção individual para evitar circulação viral No plano individual, o isolamento domiciliar ou hospitalar dos casos diminui a intensidade dos contágios. Deve-se evitar, principalmente, a frequência às escolas ou creches, agrupamentos e qualquer contato com pessoas suscetíveis, até 4 dias após o início do período exantemático. O impacto do isolamento dos doentes é relativo à medida de controle, porque o período prodrômico da doença já apresenta elevada transmissibilidade do vírus e, geralmente, não é possível isolar os doentes, a não ser no período exantemático. A vigilância dos contatos deve se realizar pelo período de 21 dias. Como o risco de transmissão intra-hospitalar é muito alto, deve-se promover a vacinação seletiva de todos os pacientes e profissionais do setor de internação do caso suspeito de sarampo ou, a depender da situação, de todos os profissionais do hospital. Pacientes internados devem se submeter a isolamento respiratório de aerossol, até 4 dias após o início do exantema. Proteção da população A vacina é a única forma de prevenir a ocorrência do sarampo na população. O risco da doença para indivíduos suscetíveis permanece, em função da circulação do vírus do sarampo em várias regiões do mundo, e se acentua na medida da facilidade em viajar por esses lugares.
  • 130. 129 A principal medida de controle do sarampo é a vacinação dos suscetíveis: vacinação de rotina na rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificação vacinal e campanhas de vacinação de seguimento. Vacinação na rotina Na rotina dos serviços de saúde, a vacinação contra o sarampo deve ser realizada conforme as indicações doCalendárioNacionaldeVacinação(Portarianº1.533,de18deagostode2016,doMinistériodaSaúdeeNota Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do Calendário Vacinal). Para in- divíduos a partir dos 12 meses até 29 anos de idade, administrar duas doses de vacina com componente saram- po (tríplice viral e/ou tetraviral), conforme situação vacinal encontrada e de acordo com a descrição a seguir. - pletar o esquema de vacinação contra o sarampo, caxumba e rubéola e administrar uma dose da vacina varicela. Esta vacina pode ser administrada até os 4 anos de idade. Após esta faixa etária, completar o esquema com a vacina tríplice viral. Para pessoas de 30 a 49 anos de idade, recomenda-se uma dose da vacina tríplice viral, conforme situação vacinal encontrada. Considerar vacinados os indivíduos que atenderem as indicações acima descritas. Cada serviço de saúde deve identificar as oportunidades perdidas de vacinação, organizando e rea- lizando estratégias capazes de anular ou minimizar as situações identificadas, principalmente por meio: Secretarias Estaduais e Municipais de Educação; Bloqueio vacinal A vacinação de bloqueio é uma atividade prevista pelo sistema de vigilância epidemiológica em con- junto com a equipe de imunizações, sendo executada quando da ocorrência de um ou mais casos suspei- tos da doença. Deve ser realizada no prazo máximo de até 72 horas após a notificação do caso, a fim de in- terromper a cadeia de transmissão e, consequentemente, eliminar os suscetíveis no menor tempo possível. O bloqueio vacinal é seletivo e a vacina tríplice viral ou tetraviral são administradas conforme a situ- ação vacinal dos contatos do caso, como descrito a seguir: viral. Esta dose não será válida para a rotina de vacinação, devendo-se agendar a dose 1 de tríplice para os 12 meses de idade e a dose de tetraviral para os 15 meses de idade; do Calendário Nacional de Vacinação (Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016, do Ministério da Saúde e Nota Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do Calendário Vacinal), descritas no item Vacinação de Rotina; componente sarampo devem receber uma dose de vacina tríplice viral. Extensa busca ativa de novos casos suspeitos e suscetíveis deve ser realizada para um controle mais eficiente da doença. Sarampo
  • 131. Guia de Vigilância em Saúde 130 Intensificação vacinal Caracteriza-se pela adoção de estratégias para incrementar a vacinação de rotina, como a busca ativa de faltosos, identificação de bolsões de não vacinados e vacinação oportuna dos mesmos, especialmente quando há casos confirmados da doença. Para esta ação, há o desenvolvimento de parcerias com órgãos governamentais e não governamentais para implementação de ações que melhorem o acesso da popu- lação aos imunobiológicos, e deve ser executada com a otimização dos insumos disponíveis. Nesta ação também devem ser consideradas as indicações do Calendário Nacional de Vacinação. A intensificação vacinal é seletiva para indivíduos a partir dos 6 meses de idade e deve abranger todos os locais frequentados pelo caso confirmado: residência, escola, creche, cursinho, faculdade, alojamento, local de trabalho e outros estabelecimentos coletivos; ou todo o município, quando indicado. Campanhas de vacinação A campanha de vacinação é uma ação pontual que tem um fim determinado e específico. É uma estratégia que tem abrangência limitada no tempo e visa, sobretudo, à vacinação em massa de uma deter- minada população, com uma ou mais vacinas. A intensa mobilização da comunidade, principalmente por meio dos veículos de comunicação e da ampliação do número de postos de vacinação, implica maior conhecimento da importância da vacinação e facilita o acesso da população, resultando em maiores coberturas vacinais. Durante a campanha deve ser aproveitada a oportunidade para administrar o maior número possível de vacinas nos grupos alvo, iniciando ou completando o esquema de vacinação estabelecido, visto a gran- de mobilização de recursos financeiros e de pessoas para a realização da mesma. Campanha de seguimento contra o sarampo A vacinação em campanhas de seguimento é uma atividade que se realiza periodicamente, em nível nacional, com o objetivo de alcançar crianças não vacinadas ou com esquema incompleto, principalmente aquelas em idade pré-escolar. Essa estratégia é recomendada sempre que há o acúmulo de crianças despro- tegidas em determinada faixa etária, seja pela soma dos não vacinados, seja pela falha primária da vacina. Nas campanhas de seguimento, a vacina é administrada de forma indiscriminada. O intervalo entre uma campanha e outra depende da cobertura vacinal alcançada na rotina dos ser- viços em um determinado período ou conforme a situação epidemiológica do sarampo. Varredura Também denominada de operação limpeza, a varredura é uma atividade na qual se verifica, casa a casa, a situação vacinal de todos os indivíduos a partir dos 6 meses de idade até 49 anos, realizando a va- cinação de forma seletiva, de acordo com a situação encontrada. É realizada quando ainda há ocorrência de casos da doença, mesmo após a implementação de outras ações de vacinação. Monitoramento rápido de coberturas (MRC) O MRC é uma ação de supervisão cujo objetivo principal é identificar a situação vacinal de deter- minado grupo alvo, num certo local e período de tempo, para subsidiar a programação das atividades de vacinação. Pode ser aplicado para uma ou mais vacinas e utiliza a estratégia de visita casa a casa em localidades escolhidas aleatoriamente. No momento da visita é feita a verificação do cartão de vacinação, ou outro comprovante de vacinação, e, caso haja indivíduos não vacinados, interroga-se o motivo da “não vacinação”, permitindo planejar futuras ações com base nos problemas identificados. Aproveita-se esta oportunidade para vacinar os não vacinados.
  • 132. 131 Recomendações gerais para vacinação É estabelecida a meta de 95% de cobertura vacinal, de forma homogênea, em todos os municípios brasileiros, o que reduz a possibilidade da ocorrência do sarampo e permite a eliminação da transmissão do vírus. A eliminação dos suscetíveis interrompe a cadeia de transmissão. Para avaliar e monitorar essa cobertura no nível local, o monitoramento rápido de cobertura vacinal (MRC) deve ser realizado de for- ma sistemática, com articulação entre as equipes de vigilância epidemiológica e imunizações, Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Estratégia Saúde da Família (ESF). Eventos adversos As vacinas tríplice viral e tetraviral são pouco reatogênicas. Os eventos adversos mais observados são febre, dor e rubor no local da administração e exantema. As reações de hipersensibilidade são raras. Para informações adicionais consultar o Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós- -vacinação (2014). Estratégias complementares de prevenção Estratégias de vacinação para a prevenção de casos ou surtos Intensificação da vacinação extramuros Compreende, de maneira geral, o desenvolvimento de atividades fora dos serviços de saúde (extra- muros). O principal objetivo dessa estratégia, adotada quando os índices de vacinação contra o sarampo/ rubéola se encontram abaixo de 95%, é eliminar bolsões de suscetíveis (não vacinados) e assim garantir todos os municípios com cobertura vacinal em um nível suficientemente seguro para a manutenção da imunidade de grupo. A intensificação vacinal consiste, sobretudo, na realização de vacinação casa a casa (incluindo residências, escolas, creches, orfanatos, entre outros) de indivíduos com 12 meses até 49 anos de idade não vacinados na rotina do serviço, nas campanhas de multivacinação e/ou de seguimento, especialmente dos que vivem em áreas urbanas e rurais de difícil acesso. Deve-se avaliar a situação vacinal de cada indivíduo nesta faixa etária e vacinar quando for o caso. Campanhas de multivacinação As campanhas de multivacinação são importantes oportunidades para aumentar as coberturas vacinais. Por ocasião das campanhas de multivacinação, são vacinadas as crianças de 12 meses a menores de 5 anos de idade que não foram atendidas pelas atividades de rotina e campanhas de seguimento. Para prevenir a disseminação do vírus do sarampo após um caso importado, todo esforço adicional para vacinar essas pessoas deve ser realizado. Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Calendário Nacional de Vacinação. Brasil, 2017. Disponível em <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais- o-ministerio/197-secretaria-svs/13600-calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 17 mar. 2017 - ças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota Informativa nº 384, de 2016. Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <http://portalarquivos. Sarampo
  • 133. Guia de Vigilância em Saúde 132 saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384-Calendario-Nacional-de-Vacina- cao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017. Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 252 p. - ológica. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. 4. ed. Brasília, 2014. - miológica. Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília, Acesso em: 20 out. 2013. Transmissíveis. Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o calendário nacional de vacinação, o calendário nacional de vacinação dos povos indígenas e as campanhas nacionais de vacinação, no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. - ológica. Relatório da verificação dos critérios de eliminação da transmissão dos vírus endêmicos do sarampo e rubéola e da síndrome da rubéola congênita (SRC) no Brasil. Brasília, 2010. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. General Recommendations on Immunization: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). Recommendations and Reports, Atlanta, v. 60, n. RR02, p. 1-60, 2011. CUNHA, J.; KREBS, L. S.; BARROS, E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto Alegre: Artimed, 2009. PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Mantenimiento de la eliminación del sarampión, la rubéola y el syndrome de rubéola congenital en la Región de las Américas. Washington, May. 2013. PLOTKIN, A. S.; ORENESTEIN, W. A.; OFFIT, P. A. (Ed.) Vaccines. 5th ed. Philadelphia: Saunders, 2008. SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à Virologia. Rio de Janeiro: Guana- bara Koogan, 2002. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde. Coordenadoria de Controle de Doenças. Centro de Vig- ilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac. Vacinação: orientações técnicas. São Paulo, 2008. TONELLI, E.; FREIRE, L. M. S. Doenças Infecciosas na Infância e Adolescência. [S.l.]: MEDSI, 2000. v. 1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Vaccine Safety Basics: learning manual. Genebra, 2013.
  • 134. 133 Anexo A Orientações para procedimentos laboratoriais Procedimentos Isolamento viral – urina - letando o jato médio; não sendo possível obter a 1ª urina do dia, colher em outra hora, quando a urina estiver retida de 2 a 4 horas; - para evitar que o crescimento de bactérias diminua a possibilidade de isolamento do vírus. A urina não deve ser congelada; procedimentos: - centrifugar a amostra de urina a 1.500rpm, a 4°C (se possível); - ressuspender o sedimento em 2mL de meio de transporte de vírus ou em solução salina estéril com adição de antibióticos. - ferência Nacional para o Sarampo, na Fiocruz/RJ, em gelo seco (o gelo seco é obtido a partir do congelamento de substância gasosa especial); se não for possível, congelar a -70°C, estocá-los a 4°C e enviá-los ao laboratório de referência nacional, em gelo reciclável, dentro de 3 dias (72 horas), no máximo. Isolamento viral – secreção nasofaríngea swab na cavidade nasal direita, outro na cavidade nasal esquerda e na nasofaringe; swabs no mesmo tubo contendo meio DMEM (fornecido pelo laboratório). Caso não tenha o meio específico, colocar o material com a solução salina e enviar ao laboratório de referên- cia nacional. Não congelar; bomba a vácuo (presente em ambiente hospitalar). Sorologia – sangue - to do paciente até, no máximo, 28 dias após o início do aparecimento do exantema. pode ser feita por centrifugação ou após a retração do coágulo em temperatura ambiente ou a 37°C. Quando se tratar de criança muito pequena e não for possível coletar o volume estabelecido, colher 3mL. - geração, na temperatura de 4° a 8°C, por, no máximo, 48 horas. Sarampo
  • 135. Guia de Vigilância em Saúde 134 térmica ou caixa de transporte para amostra biológica, com gelo ou gelox. Caso o soro não possa ser encaminhado ao laboratório no prazo de 2 dias (48 horas), conservá-lo no freezer, à temperatura de -20°C, até o momento do transporte para o laboratório de referência. O prazo máximo para o soro chegar ao Lacen é de 4 dias.
  • 136. 135 Rubéola CID 10: B06 Características gerais Descrição Doença exantemática aguda, de etiologia viral, que apresenta alta contagiosidade e acomete prin- cipalmente crianças. Sua importância epidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos e malformações congênitas, como cardiopatias, catarata e surdez. Quando a infecção ocorre durante a gestação, o recém-nascido poderá apresentar a síndrome da rubéola congênita (SRC). Agente etiológico Vírus RNA, do gênero Rubivírus e da família Togaviridae. Reservatório O homem. Modo de transmissão Ocorre por meio de contato com secreções nasofaríngeas de pessoas infectadas. O vírus é dissemina- do por gotículas ou pelo contato direto com pessoas infectadas. A transmissão indireta, que é pouco frequente, ocorre mediante contato com objetos contaminados com secreções nasofaríngeas, sangue e urina. Período de incubação Em geral, varia de 14 a 21 dias, com média de 17 dias. A variação máxima observada é de 12 a 23 dias. Período de transmissibilidade Aproximadamente de 5 a 7 dias antes do início do exantema e até 7 dias após o exantema. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade é geral. A imunidade ativa é adquirida por meio da infecção natural ou por vacinação. Os filhos de mães imunes podem apresentar imunidade passiva e transitória durante 6 a 9 meses de idade. Manifestações clínicas O quadro clínico é caracterizado por exantema máculo-papular e puntiforme difuso, com início na face, couro cabeludo e pescoço, espalhando-se posteriormente para o tronco e membros. Febre baixa e linfoadenopatia retroauricular, occipital e cervical posterior também são possíveis de ocorrer. Geralmente, antecedem o exantema no período de 5 a 10 dias e podem perdurar por al- gumas semanas. Formas inaparentes são frequentes, principalmente em crianças. Adolescentes e adultos podem apre- sentar um período prodrômico com febre baixa, cefaleia, dores generalizadas (artralgias e mialgias), con- juntivite, coriza e tosse. A leucopenia é comum e raramente ocorrem manifestações hemorrágicas. Rubéola
  • 137. Guia de Vigilância em Saúde 136 Complicações Apesar de raras, as complicações podem ocorrer com maior frequência em adultos, destacando-se: artrite ou artralgia, encefalites (1 para 5 mil casos) e manifestações hemorrágicas (1 para 3 mil casos). Diagnóstico Diagnóstico clínico Vide Manifestações clínicas. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico laboratorial é realizado mediante detecção de anticorpos IgM no sangue na fase aguda da doença, desde os primeiros dias até 4 semanas após o aparecimento do exantema. Os anticorpos específicos da classe IgG podem, eventualmente, aparecer na fase aguda da doença e costumam ser detectados muitos anos após a infecção (Anexo A). Não existem indicações para solicitar e realizar o exame de rotina para rubéola no pré-natal, em gestantes. O exame só deve ser solicitado e realizado mediante suspeita de rubéola na gestante ou quando a mesma for contato com uma pessoa com doença exantemática. Caso a gestante não tenha comprovação da vacina contra rubéola (rubéola monovalente, dupla viral ou tríplice viral) na cardeneta de vacinação, se necessário, a pesquisa de IgG para rubéola (gestante assintómatica e sem contato prévio com outra doença exantemática) deverá ser solicitada. Caso o resultado seja negativo ou não reagente, indicar a vacinação contra rubéola imediatamente após o parto (Figura 3). Técnicas de diagnóstico laboratorial Para detecção de anticorpos podem ser utilizadas as seguintes técnicas: laboratorial de saúde pública de referência para rubéola; Todos os testes têm sensibilidade e especificidade entre 85 e 98%. As amostras de sangue dos casos suspeitos devem ser colhidas, sempre que possível, no primeiro atendimento ao paciente. Amostras coletadas entre o 1º e o 28º dias após o aparecimento do exantema são consideradas amos- tras oportunas (S1). As coletadas após o 28º dia são consideradas tardias mas mesmo assim devem ser enviadas ao laboratório. A realização da segunda coleta (S2) é obrigatória e imprescindível para a classificação final dos casos, e deve ser realizada de 20 a 25 dias após a data da primeira coleta. Os resultados IgM reagente ou indeterminado, independentemente da suspeita, devem ser co- municados imediatamente à vigilância epidemiológica estadual, para a realização da investigação e da coleta da segunda amostra de sangue. A partir de 2009, devido à eliminação da transmissão do vírus autóctone da rubéola no país, essa conduta passou a ser obrigatória. Nesses casos, todas as amostras deverão ser enviadas ao laboratório de referência nacional para reteste. Em caso de IgM positivo, é importante o envio dos soros da 1a e 2a amostras de sangue e do material clínico para identificação viral.
  • 138. 137 Identificação viral O vírus da rubéola pode ser identificado na urina, secreções nasofaríngeas, sangue, líquido cefalorraquidiano ou em tecidos do corpo. A identificação viral tem por finalidades: determinar o padrão genético circulante no país, diferenciar os casos importados de rubéola e o vírus selvagem do vírus vacinal. Critérios para a coleta de espécimes clínicos para identificação - servando o período de coleta adequado. Diagnóstico diferencial Deve ser feito com sarampo, escarlatina, dengue, exantema súbito (herpes vírus 6), eritema infeccioso considerar a situação epidemiológica do local: se houve surtos, casos isolados, áreas de baixa cobertura vacinal, resultados sorológicos IgM+ para rubéola e sarampo. Discutir com os técnicos responsáveis das secretarias municipais, estaduais (vigilância epidemiológica e laboratório) e com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) ([email protected]) a indicação e a interpretação dos exames laboratoriais para a realização do diagnóstico diferencial das doenças exantemáticas febris. Para a realização dos exames para o herpes vírus tipo 6 e parvovírus B19, é necessária a avaliação epidemiológica de cada caso. Tratamento Não há tratamento específico para a rubéola. Apenas os sinais e sintomas são tratados. Características epidemiológicas A vigilância e o combate da rubéola foram impulsionados pela implementação do Plano de Erradica- ção do Sarampo no país, desde 1999. Em 2002, foram registrados 1.480 casos no Brasil, o que corresponde a um decréscimo de 95% quando comparado a 1997. Entre 2000 e 2012, foram confirmados 37.663 casos de rubéola. Nesse período, foram detectadas mudanças significativas no comportamento da doença. Em 2005, houve um surto no estado do Rio Grande do Sul, com 44 casos confirmados e identificação do ge- nótipo 1D, o mesmo que circulava na Europa. Em 2006 e 2007, verificaram-se incrementos no número de casos confirmados e surtos nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e São Paulo, com genótipo 2B. Em 2008, com a intensificação da vigilância epidemiológica e a ampliação da vacinação de bloqueio, o número de casos se reduziu em 273,6%, quando comparado com o ano de 2007. Também em 2008 ocorreu no Brasil a maior Campanha de Vacinação contra Rubéola do mundo, com 65,9 milhões de pessoas na faixa etária de 19 a 39 anos de idade vacinadas, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Maranhão. Nos demais estados, a faixa etária foi de 20 a 39 anos de idade. A campanha alcançou uma cobertura vacinal de 94%. Diante dos esforços realizados para controlar essa doença, o Brasil cumpriu a meta de eliminação da rubéola e da SRC, até o ano de 2010. Entre 2012 e 2016, foram notificados 18.640 casos suspeitos de rubéola, e todos encerrados pelo critério laboratorial ou vínculo epidemiológico. Somente em 2014, foi confirmado um caso importado de rubéola, de trabalhador de navio proveniente das Filipinas, identifica- do o genótipo 2B e não identificado nenhum caso secundário. Rubéola
  • 139. Guia de Vigilância em Saúde 138 Em abril de 2015, a Organização Pan-Americana da Saúde declarou a Região das Américas livre da rubéola e da síndrome da rubéola congênita. AFigura1mostraasestratégiasdecontroleeaincidênciaanualderubéolanoBrasilnosanosde1992a2016. Figura 1 - Estratégias de controle e incidência da rubéola, Brasil, 1993 a 2016* Fonte: UVRI Notificação Compulsória MIF_PR Campanha de Seguimento E MIF_RN MIF_12UF MIF_11UF Campanha de Seguimento** Último caso de Rubéola PE e SP 23 e 29/12/2008 Último caso de SRC CAMPANHA NACIONAL DE VACINAÇÃO CONTRA RUBÉOLA 2008 Certificação da Eliminação da circulação do vírus da Rubéola no Brasil 120 100 80 60 40 20 0 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Incidência Cobertura vacinal a MIF_XXUF - Vacinação em Mulheres em Idade Fértil e número de Unidade da Federação Implantada. b Vacina dupla viral e Vacina tríplice viral. * Dados atualizados em 20/03/2017. Vigilância epidemiológica Objetivos Definição de caso Suspeito Todo paciente que apresentar febre e exantema máculo-papular, acompanhado de linfoadenopatia retroauricular, occipital e/ou cervical, independentemente de idade e situação vacinal. Ou todo indivíduo com febre, acompanhada de exantema ou linfoadenopatia com as características mencionadas acima e que tenha história de viagem ao exterior nos últimos 30 dias ou de contato, no mes- mo período, com alguém que viajou ao exterior. Confirmado − quando a interpretação dos resultados dos exames sorológicos for reagente para rubéola. − quando o caso suspeito teve contato com um ou mais casos de rubéola, confirmados por laboratório, e apresentou os primeiros sintomas da doença entre 12 e 23 dias após o contato com o(s) caso(s). − por se tratar de uma doença em eliminação no Brasil, o diagnóstico clínico é considera- do uma falha da vigilância. Assim, todos os casos suspeitos de rubéola devem ter diagnóstico laboratorial.
  • 140. 139 Descartado − seguir os critérios de descarte laboratorial apresentados na Figura 2. − quando o caso tiver como fonte de infecção um ou mais casos descar- tados pelo critério laboratorial ou quando, na localidade, estiverem ocorrendo outros casos, surtos ou epidemia de outra doença exantemática febril, confirmada por diagnóstico laboratorial. Figura 2 – Roteiro para confirmação ou descarte de caso suspeito de rubéola Coleta de sangue (S1) no primeiro contato com o paciente + investigação epidemiológica IgM – IgM + Reinvestigação epidemiológica Avaliar resultado de sorologia Coletar nova amostra (5 a 28 dias do exantema) e retestar Avaliar: histórico de viagem/contato e sintomasa NÃO Período da coleta do soro SIM Caso suspeito sem 2a amostrab Coletar amostra de sangue para segunda sorologia (S2) de 20 a 25 dias após a S1 Coletar material (urina ou SNF) para identificação viral preferencialmente até o 5o dia do início do exantema Avaliar resultados: há aumento de IgG?c Avaliar resultados: vírus selvagem detectado?b SIM SIM NÃOd Descartar NÃOa Confirmar 5 a 28 dias do início do exantem a < 5 dias do início do exantem a a Para casos suspeitos com história de viagem e/ou contato com caso confirmado, é imprescindível a coleta de uma segunda amostra de soro, com intuito de descartar um falso-negativo. b Casos com IgM positivo sem segunda amostra de soro devem ser cuidadosamente interpretados; cada caso deve ser avaliado individualmente, considerando: o tempo da coleta da primeira amostra de soro em relação ao início do exantema; história vacinal; história de viagem a região endêmica e/ ou contato com caso confirmado; aspectos clínicos apresentados e situação epidemiológica. Outro fator importante que deve ser considerado é a presença de outro diagnóstico diferencial, interpretando cuidadosamente conforme descrito acima. c A avaliação do aumento do titulo de IgG nas amostras pareadas deve ser individualizada e cuidadosa, considerando: história prévia de doenças imunológicas, intervalo de tempo da primeira coleta para a segunda e história de vacinação. Esses fatores podem interferir no aumento do IgG. d O caso suspeito com PCR negativo não deve ser descartado, visto que pode ocorrer falha durante a coleta, o armazenamento e o transporte da amostra. Rubéola
  • 141. Guia de Vigilância em Saúde 140 − avaliação clínica e epidemiológica indica associação temporal entre a data do início dos sintomas e a data do recebimento da última dose da vacina, mesmo que não tenha sido realizada coleta de amostra. Os critérios para descarte, como associação temporal à vacina, são os seguintes: febre com temperatura que pode chegar a 39,5°C ou mais, com início entre o 5º e o 12º dia após a vacinação e duração de cerca de 1 a 2 dias, podendo chegar até 5 dias; exantema que dura de 1 a 2 dias, sendo geralmente benigno, e que surge entre o 7º e o 14º dia após a administração da vacina; cefaleia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais observadas entre o 5º e o 12º dia após a vacinação; linfadenopatias que se instalam entre o 7º e o 21º dia após a data de vacinação. Classificação dos casos confirmados de rubéola, de acordo com a fonte de infecção Caso importado de rubéola Infecção ocorrida fora do país durante os 12 a 23 dias prévios ao surgimento do exantema, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos ou virológicos. A coleta de espécimes clínicos para a identifica- ção viral deve ser realizada no primeiro contato com o paciente. Caso relacionado com importação Infecção contraída localmente, que ocorre como parte de uma cadeia de transmissão originada por um caso importado, de acordo com a análise dos dados epidemiológicos e/ou virológicos. Caso com origem de infecção desconhecida Caso em que não seja possível estabelecer a origem da fonte de infecção após a investigação epide- miológica minuciosa. Caso índice Primeiro caso ocorrido entre vários casos de natureza similar e epidemiologicamente relacionados, sendo a fonte de infecção no território nacional. A coleta de espécimes clínicos para a identificação viral deve ser realizada no primeiro contato com o paciente. Caso secundário Caso novo a partir do contato com o caso índice. A confirmação deve ser feita por laboratório ou por vínculo epidemiológico. Caso autóctone Primeiro caso identificado após a confirmação da cadeia de transmissão sustentada (o vírus deve cir- cular no país por mais de 12 meses em uma mesma cadeia de transmissão). A Figura 2 apresenta o roteiro para confirmação ou descarte de caso suspeito de rubéola. Notificação Todos os casos suspeitos devem ser notificados imediatamente à Secretaria Municipal de Saúde, seguindo o fluxo definido pelo nível estadual. A notificação e a investigação da rubéola devem ser realizadas utilizando a Ficha de Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola do Sistema de Informação de Agravos de Notifi- cação (Sinan).
  • 142. 141 Investigação Todo caso suspeito de rubéola deve ser investigado em até 48 horas. Além disso, a possibilidade de detecção de novos casos deve ser considerada (Figura 3). Roteiro da investigação A Figura 3 apresenta o fluxograma do roteiro de investigação epidemiológica de caso suspeito de rubéola. Figura 3 – Fluxograma do roteiro de investigação epidemiológica de caso suspeito de rubéola Notificar o caso suspeito em até 24 horas Investigar em até 48h Coletar dados clínicos Coletar material para sorologia e identificação viral Realizar medidas de controle Identificar novos casos suspeitos Enviar ao laboratório Fazer bloqueio vacinal em até 72h Identificar ocorrência de surtos Laboratório informa o resultado à secretaria municipal de saúde/secretaria estadual de saúde/ Ministério da Saúde Identificar área de transmissão Avaliar a cobertura vacinal da área Secretarias municipais e estaduais de saúde encerram o caso Identificação do paciente Preencher todos os campos da ficha de investigação. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Para confirmar a suspeita diagnóstica − a investigação, de forma geral, é iniciada por meio da visita domiciliar feita para: - completar as informações sobre o quadro clínico do caso suspeito; - confirmar a situação vacinal do caso suspeito, mediante verificação do cartão de vacinação; - estabelecer um prazo entre 7 e 23 dias para realizar a revisita, a fim de detectar a ocorrência de complicações e/ou o surgimento de novos casos; - acompanhar a evolução do caso; - confirmar ou descartar o caso. Rubéola
  • 143. Guia de Vigilância em Saúde 142 Para identificar a área de transmissão A finalidade é verificar a ocorrência de outros casos suspeitos que não foram notificados na comunidade. É realizada, principalmente, em torno da área de residência e convivência do caso suspeito (vizinhança, local de trabalho, colégios, creche, igrejas, entre outros) nos últimos 7 a 23 dias. Investigar minuciosamente: os casos? Onde se localizam? colhida no serviço de saúde que fez a notificação; serviço de saúde sobre a estratégia de vacinação a ser adotada: qual a estratégia a ser implementa- da? Qual a sua abrangência? - mento de casos de pessoas com sinais e sintomas de rubéola; Para determinação da extensão da área de transmissão A busca ativa dos casos é feita a partir da notificação de um caso suspeito de rubéola, mediante: (curandeiros, benzedeiras e outros); - cularmente se esses serviços não vêm notificando casos suspeitos; para a detecção de sarampo, rubéola, ou outro quadro semelhante, e que não tenham sido notificados. Para identificar um surto de rubéola Devido à eliminação da circulação do vírus da rubéola no país a partir de 2009, um caso confirmado de rubéola é considerado um surto, independentemente da localidade ou período de sua ocorrência. Coleta e envio de material para exames Em todo caso suspeito de rubéola, deverão ser coletados espécimes clínicos para sorologia e identi- ficação viral (Anexo A). Análise de dados Em cada nível do SUS (municipal, estadual e federal), devem ser realizadas análises periódicas dos dados epidemiológicos coletados, da forma mais padronizada possível, abrangendo, conforme já referido, a distribuição temporal, a localização espacial e a distribuição segundo os atributos pessoais. Distribuiçãotemporal(quando?)−aanálisetemporalconsideraadistribuiçãodonúmerodecasos notificados e confirmados (segundo critério laboratorial e vínculo epidemiológico), de acordo com o intervalo de tempo, como, por exemplo, semana epidemiológica, mês ou ano. Também devem ser calculados os coeficientes de incidência e mortalidade mensais e anuais, conforme a situação
  • 144. 143 epidemiológica vigente, para verificação da tendência da doença na população. A distribuição no tempo é um dado essencial para o adequado acompanhamento do aumento ou da redução da ocorrência de casos na população, e para o estabelecimento da variação sazonal da doença. Localização espacial (onde?) − a análise da situação, segundo a localização dos casos, permite o conhecimento da área geográfica de ocorrência, que pode ser melhor visualizada, assinalando-se com cores diferentes em um mapa, destacando: - local de residência dos casos (rua, bairro, distrito, município, estado, país); - local onde o caso permaneceu por mais tempo (escola, creche, alojamento, canteiro de obra, quartéis, entre outros); - zona de residência ou permanência (urbana e rural); - as áreas que concentram elevado número de suscetíveis. Distribuição segundo atributos pessoais (quem?) − a análise da distribuição, segundo atributos pessoais, permite conhecer o perfil da população que está sendo acometida, e se o comportamento da doença apresenta fatores distintos que indicam mudanças em seu perfil, como, por exemplo, o deslocamento da faixa etária. Para isso, é importante considerar: - a distribuição dos casos confirmados, por faixa etária; - a história vacinal dos casos confirmados, segundo número de doses recebidas; - história de deslocamento; - outros atributos, tais como ocupação e escolaridade. Encerramento de caso O caso deve ser encerrado, adequadamente, no prazo de até 30 dias tanto no Boletim de Notificação Semanal (BNS) quanto no Sinan. Caso o encerramento não aconteça em até 60 dias, o sistema encerrará automaticamente esses registros, o que significa uma falha da vigilância. Relatório final Em situações de surtos, o relatório permite analisar a extensão e as medidas de controle adotadas e caracterizar o perfil de ocorrência e os fatores que contribuíram para a circulação do vírus na população. Medidas de prevenção e controle Objetivo Evitar a reintrodução do vírus no Brasil e a transmissão da doença. Estratégias Proteção individual para evitar circulação viral As crianças e adultos acometidos de rubéola devem ser afastados da escola, da creche, do local de trabalho e também de outros locais, durante o período de transmissibilidade (5 a 7 dias antes do início do exantema e pelo menos 7 dias depois). Proteção da população A vacina é a única forma de prevenir a ocorrência da rubéola na população. O risco da doença para indivíduos suscetíveis permanece em função da circulação do vírus da rubéola em várias regiões do mun- do e da facilidade em viajar para esses lugares. Rubéola
  • 145. Guia de Vigilância em Saúde 144 A principal medida de controle é feita por meio da vacinação dos suscetíveis, que inclui: vacinação de rotina na rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificação e/ou campanhas de vacinação. Vacinação de rotina Na rotina dos serviços de saúde, a vacinação contra rubéola deve ser realizada conforme as indi- cações do Calendário Nacional de Vacinação (Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016, do Ministério da Saúde e Nota Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do Ca- lendário Vacinal). Para indivíduos a partir dos 12 meses até 29 anos de idade, administrar duas doses de vacina com componente rubéola (tríplice viral e/ou tetraviral), conforme situação vacinal encontrada e de acordo com a descrição a seguir. - pletar o esquema de vacinação contra o sarampo, caxumba e rubéola e administrar uma dose da vacina varicela. Esta vacina pode ser administrada até os 4 anos de idade. Após esta faixa etária, completar o esquema com a vacina tríplice viral. situação vacinal encontrada. Considerar vacinados os indivíduos que atenderem as indicações acima descritas. Cada serviço de saúde deve identificar as oportunidades perdidas de vacinação, organizando e rea- lizando estratégias capazes de anular ou minimizar as situações identificadas, principalmente por meio: Secretarias Estaduais e Municipais de Educação; Bloqueio vacinal A vacinação de bloqueio é uma atividade prevista pelo sistema de vigilância epidemiológica em conjun- to com a equipe de imunizações, sendo executada quando da ocorrência de um ou mais casos suspeitos da doença. Deve ser realizada no prazo máximo de até 72 horas após a notificação do caso, a fim de interromper a cadeia de transmissão e, consequentemente, eliminar os suscetíveis no menor tempo possível. O bloqueio vacinal é seletivo e a vacina tríplice viral ou tetraviral são administradas conforme a situ- ação vacinal dos contatos do caso, como descrito a seguir: viral. Esta dose não será válida para a rotina de vacinação, devendo-se agendar a dose 1 de tríplice para os 12 meses de idade e a dose de tetraviral para os 15 meses de idade. do Calendário Nacional de Vacinação (Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016, do Ministério da Saúde e Nota Informativa n° 384, de 2016/CGPNI/DEVIT/SVS/MS, que trata das mudanças do Calendário Vacinal), descritas no item Vacinação de Rotina. componente rubéola devem receber uma dose de vacina tríplice viral. Extensa busca ativa de novos casos suspeitos e suscetíveis deve ser realizada para um controle mais eficiente da doença.
  • 146. 145 As gestantes suscetíveis devem ser afastadas do contato com casos e comunicantes, durante o período de transmissibilidade e incubação da doença. Quando a gestante tem contato com um doente de rubéola, deve ser avaliada sorologicamente, o mais precocemente possível, para posterior acompanhamento e orientação. Intensificação vacinal Caracteriza-se pela adoção de estratégias para incrementar a vacinação de rotina, como a busca ativa de faltosos, identificação de bolsões de não vacinados e vacinação oportuna dos mesmos, especialmente quando há casos confirmados da doença. Para esta ação, há o desenvolvimento de parcerias com órgãos governamentais e não governamentais para implementação de ações que melhorem o acesso da popu- lação aos imunobiológicos, e deve ser executada com a otimização dos insumos disponíveis. Nesta ação também devem ser consideradas as indicações do Calendário Nacional de Vacinação. A intensificação vacinal é seletiva para indivíduos a partir dos 6 meses de idade e deve abranger todos os locais frequentados pelo caso confirmado: residência, escola, creche, cursinho, faculdade, alojamento, local de trabalho e outros estabelecimentos coletivos; ou todo o município, quando indicado. Campanhas de vacinação A campanha de vacinação é uma ação pontual que tem um fim determinado e específico. É uma estratégia que tem abrangência limitada no tempo e visa, sobretudo, à vacinação em massa de uma deter- minada população, com uma ou mais vacinas. A intensa mobilização da comunidade, principalmente por meio dos veículos de comunicação e da ampliação do número de postos de vacinação, implica no maior conhecimento da importância da vacinação e facilita o acesso da população, resultando em maiores coberturas vacinais. Durante a campanha, deve ser aproveitada a oportunidade para administrar o maior número pos- sível de vacinas nos grupos alvo, iniciando ou completando o esquema de vacinação estabelecido, visto a grande mobilização de recursos financeiros e de pessoas para a realização da mesma. Varredura Também denominada de operação limpeza, a varredura é uma atividade na qual se verifica, casa a casa, a situação vacinal de todos os indivíduos a partir dos 6 meses de idade até 49 anos, realizando a va- cinação de forma seletiva, de acordo com a situação encontrada. É realizada quando ainda há ocorrência de casos da doença, mesmo após a implementação de outras ações de vacinação. Monitoramento rápido de coberturas (MRC) O MRC é uma ação de supervisão cujo objetivo principal é identificar a situação vacinal de deter- minado grupo alvo, num certo local e período de tempo, para subsidiar a programação das atividades de vacinação. Pode ser aplicado para uma ou mais vacinas e utiliza a estratégia de visita casa a casa em localidades escolhidas aleatoriamente. No momento da visita é feita a verificação do cartão de vacinação, ou outro comprovante de vacinação, e, caso haja indivíduos não vacinados, interroga-se o motivo da “não vacinação”, permitindo planejar futuras ações com base nos problemas identificados. Aproveita-se esta oportunidade para vacinar os não vacinados. Recomendações gerais para vacinação É estabelecida a meta de 95% de cobertura vacinal, de forma homogênea, em todos os municípios brasileiros, o que reduz a possibilidade da ocorrência da rubéola e permite a eliminação da transmissão Rubéola
  • 147. Guia de Vigilância em Saúde 146 do vírus. A eliminação dos suscetíveis interrompe a cadeia de transmissão. Para avaliar e monitorar essa cobertura no nível local, o MRC deve ser realizado de forma sistemática, com articulação entre as equipes de vigilância epidemiológica e imunizações, Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Es- tratégia Saúde da Família (ESF). Eventos adversos As vacinas tríplice viral e tetraviral são pouco reatogênicas. Os eventos adversos mais observados são febre, dor e rubor no local da administração e exantema. As reações de hipersensibilidade são raras. Para informações adicionais consultar o Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós- -vacinação (2014). Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi- ológica. Brasil Livre da Rubéola: Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola, Brasil, 2008: relatório final. Brasília, 2009. Calendário Nacional de Vacinação. Brasil, 2017. Disponível em: <http:// portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/197-secretaria- svs/13600-calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 17 mar. 2017. - ças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota Informativa nº 384, de 2016. Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <http://portalarquivos. saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384-Calendario-Nacional-de-Vacina- cao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017. - ças Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 252 p. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. 4. ed. Brasília, 2014. - ológica. Manual técnico-operacional: campanha nacional de vacinação para eliminação da rubéola no Brasil, 2008. Brasília, 2008. Portaria nº 104, 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, respon- sabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília, 2011. Disponível em: <http://bvsms. Transmissíveis. Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o calendário nacional de vacinação, o calendário nacional de vacinação dos povos indígenas e as campanhas nacionais de vacinação, no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. Disponível em: <http://bvsms.
  • 148. 147 - ológica. Relatório da verificação dos critérios de eliminação da transmissão dos vírus endêmicos do sarampo e rubéola e da síndrome da rubéola congênita (SRC) no Brasil. Brasília, 2010. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. General Recommendations on Immunization: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). Recommendations and Reports, Atlanta, v. 60, n. RR02, p. 1-60, 2011. CUNHA, J.; KREBS, L. S.; BARROS, E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto Alegre: Artimed, 2009. PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Mantenimiento de la eliminación del sarampión, la rubéola y el syndrome de rubéola congenital en la Región de las Américas. Washington, May. 2013. PLOTKIN, A. S.; ORENESTEIN, W. A.; OFFIT, P. A. (Ed.) Vaccines. 5th ed. Philadelphia: Saunders, 2008. SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à Virologia. Rio de Janeiro: Guana- bara Koogan, 2002. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde. Coordenadoria de Controle de Doenças. Centro de Vig- ilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac. Vacinação: orientações técnicas. São Paulo, 2008. TONELLI, E.; FREIRE, L. M. S. Doenças Infecciosas na Infância e Adolescência. [S.l.]: MEDSI, 2000. v. 1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Vaccine Safety Basics: learning manual. Genebra, 2013. Rubéola
  • 149. Guia de Vigilância em Saúde 148 Anexo A Orientações para procedimentos laboratoriais Procedimentos Isolamento viral – urina - letando o jato médio; não sendo possível obter a 1ª urina do dia, colher em outra hora, quando a urina estiver retida de 2 a 4 horas. - viar ao Laboratório Central de Saúde Pública(Lacen),dentrode24a48horas,nomáximo,paraevitarque ocrescimentodebactériasdiminuaapossibilidadedeisolamentodovírus.Aurinanãodevesercongelada. procedimentos: - centrifugar a amostra de urina a 1.500 rpm, a 4°C (se possível); - ressuspender o sedimento em 2 mL de meio de transporte de vírus ou em solução salina estéril com adição de antibióticos. referência nacional, em gelo seco (o gelo seco é obtido a partir do congelamento de substância gasosa especial); se não for possível, congelar a -70°C, estocá-los a 4°C e enviá-los ao laboratório de referência nacional, em gelo reciclável, dentro de 3 dias (72 horas), no máximo. Isolamento viral – secreção nasofaríngea swab na cavidade nasal direita, outro na cavidade nasal esquerda e na nasofaringe. swabs no mesmo tubo contendo meio DMEM (fornecido pelo laboratório). Caso não tenha o meio específico, colocar o material com a solução salina e enviar ao laboratório de referên- cia nacional. Não congelar. bomba a vácuo (presente em ambiente hospitalar). Sorologia – sangue paciente até, no máximo, 28 dias após o início do aparecimento do exantema. ser feita por centrifugação ou após a retração do coágulo em temperatura ambiente ou a 37°C. Quando se tratar de criança muito pequena e não for possível coletar o volume estabelecido, colher 3mL. - geração, na temperatura de 4° a 8°C, por, no máximo, 48 horas. - mica ou caixa de transporte para amostra biológica, com gelo ou gelox. Caso o soro não possa ser encaminhado ao laboratório no prazo de 2 dias (48 horas), conservá-lo no freezer, à temperatura de -20°C, até o momento do transporte para o laboratório de referência. O prazo máximo para o soro chegar ao Lacen é de quatro dias.
  • 150. 149 Síndrome da Rubéola Congênita Síndrome da Rubéola Congênita CID 10: P35.0 Características gerais Descrição Complicação da infecção pelo vírus da rubéola durante a gestação, principalmente no 1o trimestre, po- dendo comprometer o desenvolvimento do feto e causar abortamento, morte fetal ou anomalias congênitas. Agente etiológico Vírus RNA, pertencente ao gênero Rubivirus e família Togaviridae. Reservatório O homem. Modo de transmissão Transmissão pela via transplacentária, após a viremia materna. Período de transmissibilidade Recém-nascidos com síndrome da rubéola congênita (SRC) podem excretar o vírus da rubéola nas secreções nasofaríngeas, sangue, urina e fezes por longos períodos. O vírus pode ser encontrado em 80% das crianças no 1º mês de vida, 62% do 1º ao 4º mês, 33% do 5º ao 8º mês, 11% entre 9 e 12 meses, e 3% no 2º ano de vida. Suscetibilidade e imunidade É suscetível a pessoa que não tenha tido contato com o vírus. A infecção natural pelo vírus da rubéola ou pela imunização confere, em geral, imunidade permanente. Manifestações clínicas As principais manifestações clínicas no recém-nascido são: catarata, glaucoma, microftalmia, retino- patia, cardiopatia congênita (persistência do canal arterial, estenose aórtica, estenose pulmonar), surdez, microcefalia e retardo mental. Outras manifestações clínicas podem ocorrer, mas são transitórias, como: hepatoesplenomegalia, hepatite, icterícia, anemia hemolítica, púrpura trombocitopênica, adenopatia, meningoencefalite, mio- cardite, osteopatia de ossos longos (rarefações lineares nas metáfises) e exantema crônico. A prematuridade e o baixo peso ao nascer estão, também, associados à rubéola congênita. As crianças com SRC frequentemente apresentam mais de um sinal ou sintoma, mas podem ter ape- nas uma malformação, sendo a deficiência auditiva a mais comum. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial O feto infectado produz anticorpos específicos IgM e IgG para rubéola, antes mesmo do nascimento.
  • 151. Guia de Vigilância em Saúde 150 A presença de anticorpos IgM específicos para rubéola, no sangue do recém-nascido, é evidência de infecção congênita, uma vez que os anticorpos IgM maternos não ultrapassam a barreira placentária. Os anticorpos IgM podem ser detectados em 100% das crianças com SRC até o 5º mês de vida, em 60% de 6 a 12 meses, e em 40% de 12 a 18 meses. Raramente são detectados após o 18º mês. Se a sorologia for IgM+, reco- menda-se a coleta imediata de espécime clínico (swab nasofaríngeo), para identificação do genótipo do vírus. Osanticorposmaternos,daclasseIgG,podemsertransferidospassivamenteaofetoatravésdaplacenta,sen- do encontrados também nos recém-natos normais, nascidos de mães imunes à rubéola. Não é possível diferen- ciar os anticorpos IgG maternos daqueles produzidos pelo próprio feto, quando infectados na vida intrauterina. ComoaquantidadedeanticorposIgGmaternosdiminuicomotempo,desaparecendoporvoltado6ºmês,aper- sistênciadosníveisdeanticorposIgGnosanguedorecém-nascidoéaltamentesugestivadeinfecçãointrauterina. Os exames laboratoriais são imprescindíveis para o estabelecimento do diagnóstico definitivo (Anexo A). Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial da SRC inclui infecções congênitas por citomegalovírus, varicela zóster, Toxoplasma gondii, Treponema pallidum, Plasmodium sp. e Tripanosoma cruzi. Tratamento Não existe tratamento antiviral efetivo. Os cuidados devem ser direcionados às malformações con- gênitas e deficiências observadas. Quanto mais precoces forem a detecção e a intervenção, seja clínica, cirúrgica ou reabilitadora, melhor será o prognóstico da criança. Características epidemiológicas Com a vigilância epidemiológica ativa, a adoção de medidas de controle frente a surtos (vacinação de bloqueio) e a implantação da estratégia de controle acelerado da SRC, bem como a realização de campa- nhas de vacinação de Mulher em Idade Fértil (MIF) em todos os estados brasileiros em 2001 e 2002, houve redução substancial do número de casos de rubéola e de SRC no país a partir de 2002. Ressalta-se que a SRC era considerada um evento raro, mas, ainda assim, de grande transcendência, devido ao elevado custo associado ao tratamento, intervenções clínicas e epidemiológicas e educação, além das sequelas que essa doença pode causar no indivíduo, ao longo da vida. Acredita-se que muitos casos não tenham sido diagnosticados ou notificados, resultando em vieses nas análises. Em 2003, foi estabelecida a meta de eliminação da rubéola e da SRC nas Américas até 2010. Em 2008, o Brasil realizou a Campanha Nacional de Vacinação para a Eliminação da Rubéola, na qual foram vacina- dos 67,9 milhões de homens e mulheres de 12 a 49 anos de idade, com estratégias diferenciadas por faixas etárias e estado. A cobertura alcançada nesta campanha foi de 97%, com homogeneidade de 47,8%. Com essa ação, o país cumpriu o compromisso assumido para a eliminação da rubéola e síndrome da rubéola congênita até o ano de 2010. Em 2011, o Brasil realizou a quinta campanha nacional de seguimento com a vacina tríplice viral para a população de 1 a 6 anos de idade, com a meta de vacinar 17.094.519 crianças; alcançou cobertura vacinal de 98%, sendo que 86% dos municípios alcançaram cobertura igual ou maior que 95%. Ressalta-se que, no período de 2010 a 2016, não houve caso confirmado de SRC no Brasil. Em abril de 2015, a Organização Pan-Americana da Saúde declarou a Região das Américas livre da rubéola e da síndrome da rubéola congênita.
  • 152. 151 Vigilância epidemiológica Objetivos Definição de caso Suspeito - nita pelo vírus da rubéola, independentemente da história materna. Confirmado Critério laboratorial Caso suspeito que apresente malformações congênitas compatíveis com SRC e evidência labora- torial da infecção congênita pelo vírus da rubéola: presença de anticorpos IgM específicos ou elevação persistente dos títulos de anticorpos da classe IgG, detectados através de ensaio imunoenzimático ELISA em amostras pareadas, com intervalo de 6 meses (Figura 1). Critério clínico Na ausência de resultados laboratoriais para a confirmação do diagnóstico e se o recém-nascido ou criança de até 12 meses apresentar prematuridade e/ou baixo peso mais os seguintes sinais clínicos ou complicações, de forma isolada ou associada: catarata/glaucoma congênito ou cardiopatia congênita ou surdez. Por se tratar de uma doença eliminada no Brasil, o diagnóstico clínico é considerado uma falha da vigilância. Assim, todos os casos suspeitos de SRC devem ter diagnóstico laboratorial. Aborto ou perda fetal devido à infecção pelo vírus da rubéola Caso de abortamento ou de natimorto resultante de gestação durante a qual se comprovou a ocorrên- cia de rubéola materna, independentemente de confirmação de afecção no feto. Infecção congênita Caso suspeito que apresentar evidência laboratorial de infecção congênita pelo vírus da rubéola, sem nenhuma manifestação clínica compatível com SRC. Descartado O caso será classificado como descartado quando cumprir uma das seguintes condições: detectados por ensaio imunoenzimático, a partir do nascimento; disponíveis e os dados clínicos forem insuficientes para confirmar o caso pela clínica; Síndrome da Rubéola Congênita
  • 153. Guia de Vigilância em Saúde 152 Figura 1 – Confirmação e descarte de casos suspeitos de síndrome da rubéola congênita (SRC) pelo critério laboratorial Recém-nascido cuja mãe foi caso suspeito ou confirmado de rubéola durante a gestação, ou criança de até 12 meses que apresente sinais clinicos compativeis a com infecção con- gênita pelo virus da rubéola, independente da história materna Colher amostra de sangue para sorologia, logo após o nascimento ou suspeita de SRC Vacinação de bloqueio IgM+ Coletar espécimes clínicos (swab) Confirmar o caso Descartar o caso Notificar IgM – IgG – IgM – IgG + Coletar 2a amostra aos 6 mesesb de idade Se o IgG mantiver o título anterior ou for maior Se houver queda acentuada do título de IgG, comparado ao anterior Confirmar o caso Descartar o caso a Sinais clínicos compatíveis com SRC: catarata/glaucoma, cardiopatia congênita, surdez, retinopatia pigmentar, púrpura, hepatoesplenomegalia, icterícia, microcefalia, retardo mental, meningoencefalite, radioluscência óssea. b Coletar uma segunda amostra de espécimes clínicos para identificação viral aos 6 meses de vida e aos 9 meses de vida, com o objetivo de avaliar a excreção viral dessas crianças e de casos de rubéola ou de SRC associadas às mesmas. Notificação A notificação de todos os casos suspeitos deve ser feita, de imediato, para a Comissão de Infecção Hospitalar e Serviço de Vigilância Epidemiológica da Unidade de Saúde. Deverá ser notificado todo recém-nascido cuja mãe foi caso suspeito ou confirmado de rubéola du- rante a gestação, ou toda criança até 12 meses de vida que apresente sinais clínicos compatíveis com infecção congênita pelo vírus da rubéola, independentemente da história materna. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola. Em situações de abortamento ou perda fetal devido à infecção pelo vírus da rubéola, informar, na referida ficha, a ocorrência do aborto ou natimortalidade, no campo das Observações Adicionais. Investigação Todo caso suspeito da SRC deve ser investigado, em até 48 horas após a notificação, com o objetivo de: dados e a análise adequada da situação epidemiológica da doença.
  • 154. 153 Todos os campos da ficha de investigação devem ser criteriosamente preenchidos, mesmo quando a informação for negativa. Toda gestante, com resultado sorológico de IgM+ para rubéola, ou que teve contato com casos con- firmados de rubéola, deve ser acompanhada pelo serviço de vigilância epidemiológica, com o objetivo de verificar a ocorrência de abortos, natimortos, ou o nascimento de crianças com malformações congênitas ou sem qualquer anomalia. Durante a investigação epidemiológica dos casos de SRC, deve-se avaliar os locais por onde a mãe esteve no período de 30 dias prévios à gravidez até o final do 1o trimestre (dentro ou fora do país) e even- tuais contatos com pessoas que estiveram no exterior. Roteiro da investigação (Figura 2) Identificação do paciente Preencher todos os campos da ficha de investigação, relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Para confirmar a suspeita diagnóstica - Preencher dados da história e manifestações clínicas. - Consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar as informações clínicas sobre o paciente. - Sugere-se que se faça uma cópia da anamnese, se realize exame físico e se observe a evolução do doente, para enriquecer as análises e também para que possam servir como instrumento de aprendizagem dos profissionais do nível local. Para identificação de novos casos de SRC - Realizar busca ativa nos livros de registros de internação e alta de pacientes e no Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS) em maternidades, unidades neonatais, e também nos livros de registros de serviços pediátricos especializados, como cardiologia, oftalmologia, neurologia, otorrinolaringologia e fonoaudiologia. A busca ativa como instrumento da vigilância ativa deve ser realizada semanalmente, para que todos os casos identificados sejam investigados imediata- mente, e assim não se perder a oportunidade da investigação. - Definir uma unidade sentinela por estado, priorizando as capitais e os municípios de referência regional ou hospitais ou unidades que já atendem e/ou acompanham malformações congênitas. Algumas unidades devem ser incluídas como unidades sentinelas: hospitais de doenças trans- missíveis, clínicas pediátricas, oftalmológicas, hospitais de cirurgias cardíacas, que atendam crianças menores de 1 ano de idade. - Os hospitais e clínicas da rede privada devem ser incluídos entre as unidades sentinelas do estado. - Em locais de ocorrência de surto, além do acompanhamento das gestantes que tiveram diag- nóstico de rubéola confirmado, deve-se realizar vigilância ativa prospectiva nas maternida- des, unidades neonatais e pediátricas, por um período de pelo menos 9 meses após o término do surto. Síndrome da Rubéola Congênita
  • 155. Guia de Vigilância em Saúde 154 Figura 2 – Roteiro de investigação e medidas de prevenção e controle da síndrome da rubéola congênita Notificar caso suspeito em até 24h Investigar em até 48h Atenção médica/ dados clínicos Identificar ocorrência de surtos Coleta de material para sorologia Enviar ao laboratório Adotar medidas de prevenção e controle Resultado do exame SIM Identificar área de transmissão Determinar a extensão da área de transmissão Monitoramento da área de transmissão Negativo Positivo Encerrar o caso Educação em saúde Bloqueio vacinal Acompanhamento de mulheres grávidas expostas e recém-nascidos Todo material coletado deverá ser enviado, devidamente identificado e acompanhado de cópia da ficha de investigação, que servirá para orientar os técnicos do laboratório quanto aos exames indicados, de acordo com o período que antecedeu a suspeita da infecção. A informação sobre história vacinal da mãe é muito importante para subsidiar a análise adequada dos resultados de testes sorológicos. Não se deve aguardar os resultados dos exames para o desencadeamento das medidas de controle e atividades da investigação, embora eles sejam imprescindíveis para a confirmação de casos e norteiem o en- cerramento das investigações. Se o teste de IgM for não reagente, a criança pode ser retirada do isolamento. Análise de dados A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude do problema, a caracterização clínica da coorte, a identificação de oportunidades perdidas de vacinação, a adequação das medidas de controle adotadas e, finalmente, a avaliação do impacto das estratégias de vacinação atuais na prevenção da SRC. Encerramento de caso Os casos devem ser encerrados, adequadamente, no prazo de até 30 dias tanto no Boletim de No- tificação Semanal (BNS) quanto no Sinan. Caso o encerramento não aconteça em até 60 dias, o sistema encerrará automaticamente esses registros, o que significa uma falha da vigilância.
  • 156. 155 Relatório final Os dados da ficha de investigação deverão estar adequadamente preenchidos e digitados no Sinan, no período de até 60 dias após a notificação do caso, para as análises epidemiológicas necessárias. Medidas de prevenção e controle Imunização Proteção da população Após o conhecimento de um surto de rubéola, é importante avaliar a distribuição etária dos casos confirmados e a situação vacinal, além da cobertura vacinal na área. Se o surto estiver ocorrendo em um grupo não vacinado, realizar vacinação, visando, principalmente, interromper a circulação viral, reduzin- do o risco de exposição de gestantes suscetíveis ao vírus. Devem ser organizadas divulgação nos meios de comunicação de massa, visitas domiciliares e pales- tras nas comunidades para esclarecer a população sobre a doença, a gravidade da infecção intrauterina e a importância da vacinação. Recomendações para vacinação A medida de controle, quando da detecção de um caso de SRC, é a vacinação de bloqueio, que deve ocorrer no hospital de atendimento do caso, no domicílio e na creche, caso a criança venha a frequentar este tipo de estabelecimento. Esta recomendação se faz pertinente em virtude de o vírus ser excretado pelas secreções nasofaríngeas e urina até 1 ano de idade. Deve-se administrar a vacina tríplice viral ou tetraviral, no grupo etário de 12 meses a 49 anos de idade, na rotina, conforme as indicações do calendário de vacinação. Para indivíduos a partir dos 12 meses até 29 anos de idade, administrar duas doses de vacina com componente rubéola (tríplice viral e/ou tetraviral), conforme situação vacinal encontrada e de acordo com a descrição a seguir. - pletar o esquema de vacinação contra o sarampo, caxumba e rubéola e administrar uma dose da vacina varicela. Esta vacina pode ser administrada até os 4 anos de idade. Após esta faixa etária, completar o esquema com a vacina tríplice viral. Para pessoas de 30 a 49 anos de idade, recomenda-se uma dose da vacina tríplice viral, conforme situação vacinal encontrada. Considerar vacinados os indivíduos que atenderem as indicações acima descritas. Nas ações de bloqueios, as vacinas tríplice e/ou tetraviral, são indicadas a partir de 6 meses de vida. A dose da vacina tríplice viral administrada nas crianças menores de 1 ano de idade não será considerada como dose válida na rotina de vacinação. Proteção individual para evitar circulação viral É necessário isolamento de contatos do recém-nascido, uma vez que o vírus pode estar pre- sente em fluidos corporais. A infecção pode ser transmitida aos suscetíveis, sendo importante a vacinação dos profissionais de saúde e dos contactantes. É importante evitar o contato de gestantes com a criança. Síndrome da Rubéola Congênita
  • 157. Guia de Vigilância em Saúde 156 Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi- ológica. Brasil Livre da Rubéola: Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola, Brasil, 2008: relatório final. Brasília, 2009. Calendário Nacional de Vacinação. Brasil, 2017. Disponível em: <http:// portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/197-secretaria- svs/13600-calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 17 mar. 2017. - ças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota Informativa nº 384, de 2016. Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <http://portalarquivos. saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384-Calendario-Nacional-de-Vacina- cao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017. Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. Brasília, 2014. 252 p. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. 4. ed. Brasília, 2014. - ológica. Manual técnico-operacional: Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola no Brasil, 2008. Brasília, 2008. - miológica. Portaria nº 104, 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília, Acesso em: 20 out. 2013. - ças Transmissíveis. Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o calendário nacional de vaci- nação, o calendário nacional de vacinação dos povos indígenas e as campanhas nacionais de vacinação, no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. - ológica. Relatório da verificação dos critérios de eliminação da transmissão dos vírus endêmicos do sarampo e rubéola e da síndrome da rubéola congênita (SRC) no Brasil. Brasília, 2010. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. General Recommendations on Immunization: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). Recommendations and Reports, Atlanta, v. 60, n. RR02, p. 1-60, 2011. CUNHA, J.; KREBS, L. S.; BARROS, E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto Alegre: Artimed, 2009. PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Mantenimiento de la eliminación del sarampión, la rubéola y el syndrome de rubéola congenital en la Región de las Américas. Washington, May. 2013.
  • 158. 157 PLOTKIN, A. S.; ORENESTEIN, W. A.; OFFIT, P. A. (Ed.) Vaccines. 5th ed. Philadelphia: Saunders, 2008. SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à Virologia. Rio de Janeiro: Guana- bara Koogan, 2002. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde. Coordenadoria de Controle de Doenças. Centro de Vig- ilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac. Vacinação: orientações técnicas. São Paulo, 2008. TONELLI, E.; FREIRE, L. M. S.. Doenças Infecciosas na Infância e Adolescência. [S.l.]: MEDSI, 2000. v. 1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Vaccine Safety Basics: learning manual. Genebra, 2013. Síndrome da Rubéola Congênita
  • 159. Guia de Vigilância em Saúde 158 Anexo A Orientações para procedimentos laboratoriais O Quadro 1 apresenta procedimentos para coleta e conservação de material para diagnóstico da síndrome da rubéola congênita. Quadro 1 – Orientações para procedimentos laboratoriais Tipo de diagnóstico Tipo de material Quantidade No de amostras Período da coleta Recipiente Armazenamento/ conservação Transporte Sorológico Sangue Obtenção da amostra Punção venosa Crianças: 2-5mL Até 2 1a ao nascer; 2a no 6o mês de vida Tubo plástico ou vidro, com tampa de rosca ou frasco com vácuo Geladeira local: 4o a 8o C até 48 horas Lacena: 20o C Gelo reciclável em até 48 horas após a coleta Isolamento viral Secreções nasofaringeas Através de swab. Uma amostra de cada narina e uma da nasofaringe 3 Após o resultado de IgM positivo No 6o mês de vida No 9o mês de vida Frasco estéril de plástico com meio especifíco Em geladeira até 48 horas (sem congelar) Lacena: freezer a -70o C Urina – 1 – – a Lacen: Laboratório Central de Saúde Pública.
  • 160. 159 Varicela/Herpes-zóster CID: B01 a B02 Características gerais Descrição Varicela Infecção viral primária, aguda, altamente contagiosa, caracterizada por surgimento de exantema de aspecto máculo-papular e distribuição centrípeta, que, após algumas horas, torna-se vesicular, evolui ra- pidamente para pústulas e, posteriormente, forma crostas, em três a quatro dias. Podem ocorrer febre moderada e sintomas sistêmicos. A principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas, que se apresentam nas diver- sas formas evolutivas, acompanhadas de prurido. Em crianças, geralmente é benigna e autolimitada. Em adolescentes e adultos, em geral, o quadro clínico é mais exuberante. Herpes-zóster Decorre da reativação do vírus da varicela, que permanece em latência. A reativação ocorre na idade adulta ou em pessoas com comprometimento imunológico, portadores de doenças crônicas, neoplasias, aids e outras. O quadro clínico é pleomórfico, manifestando-se desde doença benigna até outras formas graves, com êxito letal. Após a fase de disseminação hematogênica, em que o vírus atinge a pele, ele progride centripetamen- te pelos nervos periféricos até os gânglios nervosos, onde poderá permanecer, em latência, por toda a vida. Causas diversas podem levar à reativação do vírus que, progredindo centrifugamente pelo nervo periférico, atinge a pele e causa a característica erupção do herpes-zóster. Excepcionalmente, há pacientes que desenvolvem herpes-zóster após contato com doentes de varicela e, até mesmo, com outro doente de zóster, o que indica a possibilidade de uma reinfecção em paciente já previamente imunizado. É também possível uma criança adquirir varicela por contato com doente de zóster. Sinonímia Varicela: catapora. Agente etiológico Vírus RNA. Vírus Varicella-zoster (VVZ), família Herpetoviridae. Reservatório O homem. Modo de transmissão Pessoa a pessoa, por meio de contato direto ou de secreções respiratórias (disseminação aérea de partículas virais/aerossóis) e, raramente, através de contato com lesões de pele. Indiretamente, é transmitida por meio de objetos contaminados com secreções de vesículas e mem- branas mucosas de pacientes infectados. Varicela/Herpes-zóster
  • 161. Guia de Vigilância em Saúde 160 Período de incubação Entre 14 e 16 dias, podendo variar de 10 a 21 dias após o contato. Pode ser mais curto em pacientes imunodeprimidos e mais longo após imunização passiva. Período de transmissibilidade Varia de 1 a 2 dias antes do aparecimento do exantema e estende-se até que todas as lesões estejam em fase de crosta. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente, possa ocorrer um segundo episódio de varicela. Infecções subclínicas são raras. A imunidade passiva transferida para o feto pela mãe que já teve varicela assegura, na maioria das vezes, proteção até quatro a seis meses de vida extrauterina. Manifestações clínicas Varicela Período prodrômico de horas até 3 dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer, sendo o exantema o primeiro sinal da doença. Em crianças imunocompetentes, a varicela geralmente é benigna, com início repentino, apresentando febre moderada durante 2 a 3 dias, sintomas generalizados inespecíficos e erupção cutânea pápulo-vesicular que se inicia na face, couro cabeludo ou tronco (distribuição centrípeta). Período exantemático evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Tendem a surgir mais nas partes cobertas do corpo, podendo aparecer no couro cabeludo, na parte superior das axilas e nas membranas muco- sas da boca e das vias aéreas superiores. O aparecimento das lesões em surtos e a rápida evolução conferem ao exantema o polimorfismo regional característico da varicela: lesões em diversos estágios (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas), em uma mesma região do corpo. Nos adultos imunocompetentes, a doença cursa de modo mais grave do que nas crianças, apesar de ser bem menos frequente (cerca de 3% dos casos). A febre é mais elevada e prolongada, o estado geral é mais comprometido, o exantema mais pronunciado e as complicações mais comuns podem levar a óbito, principalmente devido à pneumonia primária. A varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em crianças e adolescentes que fazem uso do ácido acetilsalisílico (AAS) durante a fase aguda. Essa síndrome se caracteriza por um quadro de vômitos após o pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva do nível da consciência, com edema cerebral progressivo. A síndrome de Reye é resultado do comprome- timento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral. Portanto, está contraindicado o uso de AAS por pacientes com varicela. Varicela e gravidez A infecção materna no 1o ou no 2o trimestre da gestação pode resultar em embriopatia.
  • 162. 161 Nas primeiras 16 semanas de gestação, há risco maior de lesões graves ao feto, que podem resultar em baixo peso ao nascer, malformações das extremidades, cicatrizes cutâneas, microftalmia, catarata e retardo mental. Gestantes não imunes, que tiverem contato com casos de varicela e herpes-zóster, devem receber a imunoglobulina humana contra esse vírus, disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). A taxa de ataque para síndrome de varicela congênita, em recém-nascidos de mães com varicela no 1o semestre de gravidez, é de 1,2%; quando a infecção ocorreu entre a 13ª e a 20ª semana de gestação, é de 2%. Recém-nascidos que adquirem varicela entre 5 e 10 dias de vida, cujas mães se infectaram entre 5 dias antes do parto e 2 dias após, estão mais expostos à varicela grave, com a letalidade podendo atingir 30%. A infecção intrauterina e a ocorrência de varicela antes dos 2 anos de idade estão relacionadas à ocorrência de zóster em idades mais jovens. Herpes-zóster O quadro clínico do herpes-zóster é, quase sempre, típico. A maioria dos doentes refere, antecedendo às lesões cutâneas, dores nevrálgicas, além de parestesias, ardor e prurido locais, acompanhados de febre, cefaleia e mal-estar. A lesão elementar é uma vesícula sobre base eritematosa. A erupção é unilateral, raramente ultrapassa a linha mediana e segue o trajeto de um nervo. Surge de modo gradual e leva de 2 a 4 dias para se estabelecer. Quando não ocorre infecção secundária, as vesículas se dissecam, formam-se crostas e o quadro evolui para a cura em duas a 4 semanas. As regiões mais com- prometidas são a torácica (53% dos casos), cervical (20%), correspondente ao trajeto do nervo trigêmeo (15%) e lombossacra (11%). Em pacientes imunossuprimidos, as lesões surgem em localizações atípicas e, geralmente, disseminadas. O envolvimento do VII par craniano leva à combinação de paralisia facial periférica e rash no pavilhão auditivo, denominada síndrome de Hawsay-Hurt, com prognóstico de recu- peração pouco provável. O acometimento do nervo facial (paralisia de Bell) apresenta a característica de distorção da face. Lesões na ponta e asa do nariz sugerem envolvimento do ramo oftálmico do trigêmeo, com possível comprometimento ocular. Nos pacientes com herpes-zóster disseminado e/ou recidivante, é aconselhável fazer sorologia para HIV, além de pesquisar neoplasias malignas. Complicações Sta- phylococcus aureus, Streptococcus pyogenes ou outras que podem levar a quadros sistêmicos de sepse, com artrite, pneumonia, endocardite, encefalite ou meningite e glomerulonefrite. (expressa-se com um ou mais dos seguintes sintomas: malformação das extremidades dos mem- bros, microoftalmia, catarata, atrofia óptica e do sistema nervoso central). caracteriza pela refratariedade ao tratamento. É mais frequente em mulheres e após comprometi- mento do trigêmeo. Varicela/Herpes-zóster
  • 163. Guia de Vigilância em Saúde 162 Diagnóstico Diagnóstico clínico Vide manifestações clínicas. Diagnóstico laboratorial Os exames laboratoriais não são utilizados para confirmação ou descarte dos casos de varicela, exceto quando é necessário fazer o diagnóstico diferencial em casos graves. Os testes sorológicos mais utilizados são ensaio imunoenzimático (EIE), aglutinação pelo lá- tex (AL) e imunofluorescência indireta (IFI), embora a reação em cadeia da polimerase (PCR) seja considerada o padrão ouro para o diagnóstico de infecção pelo VVZ (principalmente em caso de varicela grave). O vírus pode ser isolado das lesões vesiculares durante os primeiros 3 a 4 dias de erupção ou identifi- cado pelas células gigantes multinucleadas, em lâminas preparadas, a partir de material obtido de raspado da lesão, ou pela inoculação do líquido vesicular em culturas de tecido, porém a identificação das células gigantes multinucleadas não é específica para o VVZ. A identificação do VVZ pode ser feita pelo teste direto de anticorpo fluorescente ou por cultura em tecido, por meio de efeito citopático específico, porém esse método é de alto custo e sua disponibilidade é limitada. Diagnóstico diferencial variceliforme de Kaposi; riquetsioses, entre outras. Tratamento Para pessoas sem risco de agravamento da varicela, o tratamento deve ser sintomático. Pode-se ad- ministrar antitérmico, analgésico não salicilato e, para atenuar o prurido, anti-histamínico sistêmico. Além disso, deve-se fazer a recomendação da higiene da pele com água e sabonete, com o adequado corte das unhas. Havendo infecção secundária, recomenda-se o uso de antibióticos, em especial para combater estreptococos do grupo A e estafilococos. O tratamento específico da varicela é realizado por meio da administração do antiviral aciclovir, que é indicado para pessoas com risco de agravamento. Quando administrado por via endovenosa, nas pri- meiras 24 horas após o início dos sintomas, tem demonstrado redução de morbimortalidade em pacientes com comprometimento imunológico. O uso de aciclovir oral para o tratamento de pessoas sem condições de risco de agravamento não está indicado até o momento, exceto para aquelas com idade inferior a 12 anos, portadoras de doença dermatológica crônica, pessoas com pneumopatias crônicas ou aquelas que estejam recebendo tratamento com ácido acetilsalicílico por longo tempo, pessoas que recebem medicamentos à base de corticoides por aerossol ou via oral ou via endovenosa. As indicações para o uso do aciclovir são: Crianças sem comprometimento imunológico máxima de 800mg/dia, durante 5 dias. Crianças com comprometimento imunológico ou casos graves 14 dias.
  • 164. 163 Adultos sem comprometimento imunológico maior efetividade ocorre quando iniciado nas primeiras 24 horas da doença, ficando a indicação a critério médico. Adultos com comprometimento imunológico dia por no mínimo 7 dias. Embora não haja evidência de teratogenicidade, não se recomenda o uso deste medicamento em gestantes. Entretanto, em casos em que a gestante desenvolve complicações como pneumonite, deve-se considerar o uso endovenoso. Com relação à profilaxia, não há indicação do uso do aciclovir em pessoas sem risco de complicação por varicela e vacinadas. A terapia antiviral específica, iniciada em até 72 horas após o surgimento do rash, reduz a ocorrência da NPH, que é a complicação mais frequente do herpes-zóster. O uso de corticosteroides, na fase aguda da doença, não altera a incidência e a gravidade do NPH, porém reduz a neurite aguda, devendo ser ado- tado em pacientes sem imunocomprometimento. Uma vez instalada a NPH, o arsenal terapêutico é muito grande, porém não há uma droga eficaz para seu controle. São utilizados: creme de capsaicina, de 0,025% a 0,075%; lidocaína gel, a 5%; amitriptilina, em doses de 25 a 75mg, via oral; carbamazepina, em doses de 100 a 400mg, via oral; benzodiazepínicos, rizotomia, termocoagulação e simpatectomia. O tratamento sintomático pode ser feito em regime ambulatorial, enquanto que pessoas acometidas por varicela grave ou herpes-zóster disseminado devem ser hospitalizadas imediatamente, em regime de isolamento de contato e respiratório. Características epidemiológicas Varicela Não há dados consistentes sobre a incidência de varicela no Brasil, uma vez que somente os casos graves internados e óbitos são de notificação compulsória. Entretanto, a estimativa é de cerca de 3 milhões de casos ao ano. No período de 2006 a 2016, o número de internações variou de 4.200 a 12.600 por ano no SUS. As regiões com maior número de internações foram Sudeste e Nordeste. A análise das internações por faixa etária demonstra que estas se concentram em crianças de 1 a 4 anos de idade, em crianças com menos de 1 ano e de 5 a 9 anos de idade, respectivamente. Embora o maior número absoluto de hospitalizações seja observado entre crianças, grupo em que se espera o maior número de casos da doença, proporcionalmente, os adultos apresentam maior risco de evoluir com complicações, hospitalização e óbito. Com a introdução da vacina tetraviral no Calendário Nacional de Vacinação em 2012 para crianças de 15 meses de idade, houve uma redução considerável do número de internações no SUS. A taxa de letalidade entre os casos hospitalizados variou de 1,0 a 4,3 no período de 2006 a 2016. Herpes-zóster e HIV A partir de 1981, o herpes-zóster passou a ser reconhecido como uma infecção frequente em pacien- tes portadores de HIV. Posteriormente, observações epidemiológicas demonstraram ser uma manifesta- ção inicial de infecção pelo HIV, cuja ocorrência é preditiva de soropositividade para HIV, em populações de risco. A incidência de herpes-zóster é significativamente maior entre indivíduos HIV positivos do que entre os soronegativos (15 vezes mais frequente nos primeiros). A incidência cumulativa de zóster por 12 anos após a infecção pelo HIV foi de 30%, taxa relativamente constante, podendo caracterizar mani- festação precoce ou tardia da infecção pelo HIV. Complicações, como retinite, necrose aguda de retina e encefalite progressiva fatal, têm sido relatadas com mais frequência em pacientes HIV positivos. Varicela/Herpes-zóster
  • 165. Guia de Vigilância em Saúde 164 Vigilância epidemiológica Objetivos para complicações e morte. Definição de caso de varicela Suspeito Varicela Paciente com quadro discreto de febre moderada, de início súbito, que dura de 2 a 3 dias, e sintomas generalizados inespecíficos (mal-estar, adinamia, anorexia, cefaleia e outros) e erupção cutânea pápulo- -vesicular, que se inicia na face, couro cabeludo ou tronco (distribuição centrípeta − cabeça e tronco). Varicela grave Caso que atenda a definição de caso suspeito de varicela e que necessite ser hospitalizado, ou tenha evoluído para óbito. Confirmado Varicela Paciente com quadro infeccioso agudo, de início súbito, que apresenta exantema maculopapulove- sicular difuso, cujas vesículas evoluem para crostas, em 2 a 3 dias, sem outra causa aparente, com ou sem confirmação laboratorial. Varicela grave Caso que atenda a definição de caso suspeito de varicela grave e que necessite ser hospitalizado ou tenha evoluído para óbito. Descartado outra doença. como outra doença. Definição de surto Surto de varicela Considerar como surtos de varicela a ocorrência de número de casos acima do limite esperado, com base nos anos anteriores, ou casos agregados em instituições, como creches, escolas e hospitais pediátricos.
  • 166. 165 Surto de varicela em ambiente hospitalar Define-se surto em ambiente hospitalar a ocorrência de um único caso confirmado de varicela. E o contato para varicela em ambiente hospitalar é caracterizado pela associação do indivíduo com uma pes- soa infectada de forma íntima e prolongada, por período igual ou superior a uma hora, e/ou dividindo o mesmo quarto hospitalar, tendo criado assim a possibilidade de contrair a infecção. Nesses casos a vacina monovalente está indicada nos comunicantes suscetíveis imunocompetentes maiores de 9 meses de idade, até 120 horas (5 dias) após o contato. Surto de varicela em ambiente de creche Define-se surto em creche a ocorrência de um único caso confirmado de varicela em crianças ou profissional que mantém contato direto com a comunidade escolar. Notificação Somente os casos graves, surto ou óbito devem ser notificados e registrados no Sistema de Infor- mação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio da Ficha de Notificação Individual ou da Ficha de Investigação de Surto. Investigação Preconiza-se investigar os casos graves. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos dos itens da ficha específica. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos - ções clínicas sobre o paciente. Essas informações servirão para definir se o quadro apresentado é compatível com a varicela grave. Sugere-se que se faça uma cópia da anamnese, exame físico e da evolução do doente, com vistas ao enriquecimento da análise. de varicela ou herpes-zóster ou se já teve a doença em algum momento de sua vida. caso, de seus familiares e/ou de amigos (considerar todos os deslocamentos que antecederam 10 dias do início do exantema, inclusive os de curta duração), para identificar a ocorrência de outros casos. Encerramento de caso O caso será encerrado de acordo com as classificações descritas no item Definição de caso. Medidas de prevenção e controle Objetivos Varicela/Herpes-zóster
  • 167. Guia de Vigilância em Saúde 166 Vacinação A vacina varicela está licenciada no Brasil na apresentação monovalente ou tetraviral (sarampo, ca- xumba, rubéola e varicela). conter, no mínimo, 1.350 unidades formadoras de placas (UFP) de VVZ atenuado. A vacina varicela pode - cela da vacina tetraviral apresenta as mesmas especificações da vacina monovalente. Cada dose de ambas as vacinas é de 0,5mL, devendo ser aplicada por via subcutânea. Indicações Rotina A vacina tetraviral é oferecida na rotina entre 15 meses e 4 anos de idade, preferencialmente aos 15 meses de idade, para as crianças que receberam a primeira dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxum- ba e rubéola). Para os povos indígenas, estão indicadas duas doses de vacina com componente varicela, sendo a tetraviral aos 15 meses e uma dose da varicela monovalente aos 4 anos de idade (até 4 anos 11 meses e 29 dias). Situações especiais - nistrar 1 (uma) ou duas doses de vacina varicela (atenuada), a depender do laboratório produtor. - liares) suscetíveis à doença que estejam em convívio familiar domiciliar ou hospitalar com pacien- tes com comprometimento imunológico. - nação, onde haja caso de varicela. - cedimento, desde que não estejam com comprometimento imunológico. 24 meses ou mais, sendo contraindicadas quando houver doença, enxerto versus hospedeiro. A e B com CD4> 200 células/mm3 (15%). Recomenda-se a vacinação de crianças expostas, mesmo já excluída a infecção pelo HIV, para prevenir a transmissão da varicela em contato domiciliar com pessoas com comprometimento imunológico. - pica graves e outras assemelhadas.
  • 168. 167 20mg/dia de prednisona ou equivalente). O uso de corticosteroides por via inalatória, tópica ou intra-articular não contraindica a administração da vacina; - se o corticoide tiver sido suspenso há pelo menos um mês, quando usado em doses superiores às referidas acima. Situações de surto Hospitalar - Em situação de surtos hospitalares, nos comunicantes suscetíveis imunocompetentes acima de 9 meses de idade, até 120 horas (cinco dias) após o contato. - Administrar IGHAVZ, às crianças menores de 9 meses de idade, gestantes suscetíveis e imunocomprometidos, até 96 horas após o contato com o caso índice. - Nas situações de controle de surto em hospitais, mesmo utilizando a vacina, é importante lembrar que existe a possibilidade de que um pequeno percentual de pessoas desenvolva a doença. Creche - A vacina monovalente não é indicada para bloqueio de surto de varicela em creche. - Identificar o número de crianças entre 15 meses e 2 anos de idade incompletos (1 ano, 11 meses e 29 dias), que não tiveram varicela e que frequentaram a instituição nas últimas 4 semanas, para atualização do esquema vacinal. - Identificar o número de pessoas com comprometimento imunológico e as gestantes suscetíveis que tiveram contato com os casos para administração da IGHAVZ no período de 96 horas. - Monitorar o aparecimento de casos novos. - Na admissão de novas crianças, verificar se o cartão de vacinação está atualizado com a admi- nistração de tetraviral. Caso não esteja e se a criança tiver mais que 2 anos de idade, aguardar 21 dias para iniciar a frequência. - Após 21 dias sem novos casos, considera-se o surto controlado. - Os surtos de varicela devem ser registrados no boletim de notificação de surtos, do Sinan. - As crianças com varicela deverão ficar no seu domicílio até que todas as lesões tenham evoluído para crosta. - As doses aplicadas devem ser anotadas na carteira de vacinação e constar no sistema de Infor- mação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI). Contraindicações da vacina - varicela-zóster (IGHAVZ). de corticoterapia. a vacinação). 3 meses entre a administração destes produtos e a vacina). Varicela/Herpes-zóster
  • 169. Guia de Vigilância em Saúde 168 Eventos adversos da vacina Locais vacinados nas primeiras horas após a aplicação. Erupção leve semelhante à varicela pode surgir no local da aplicação de 8 a 19 dias após a vacinação em aproximadamente 3,5% dos vacinados. Sistêmicos - nação. Erupção variceliforme, com cinco lesões, em média, pode ocorrer 5 a 26 dias após a vacinação. Encefalite, ataxia, eritema polimorfo e anafilaxia foram relatados raramente, assim como plaquetopenia. Alérgicos Outros problemas associados à vacinação Ver Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação (2014). Imunoglobulina humana antivaricela-zóster (IGHAV) A IGHAV é obtida de plasma humano contendo títulos altos de IgG contra o vírus da varicela. Con- tém de 10 a 18% de globulina e timerosol como conservante. Geralmente as apresentações contêm 125UI por frasco, com o volume variando de 1,25 a 2,5mL; observar as orientações do fabricante a cada nova partida do produto. Indicações A utilização de IGHAVZ depende do atendimento de três condições: suscetibilidade, contato signifi- cativo e condição especial de risco, como definidas abaixo. - crianças ou adultos imunodeprimidos; - crianças com menos de 1 ano de idade em contato hospitalar com VVZ; - gestantes; - recém-nascidos de mães nas quais o início da varicela ocorreu nos 5 últimos dias de gestação ou até 48 horas depois do parto; - recém-nascidos prematuros, com 28 ou mais semanas de gestação, cuja mãe nunca teve varicela; - recém-nascidos prematuros, com menos de 28 semanas de gestação (ou com me-nos de 1.000g ao nascer), independentemente de história materna de varicela. - pessoas imunocompetentes e com comprometimento imunológico sem história bem definida da doença e/ou de vacinação anterior; - pessoas com imunodepressão celular grave, independentemente de história anterior de varicela. em ambiente fechado; com ele contato direto prolongado, de pelo menos uma hora. A IGHVZA não tem qualquer indicação terapêutica. Seu uso tem finalidade exclusivamente profilática. Esquema
  • 170. 169 Contraindicação Anafilaxia à dose anterior. Eventos adversos Outras medidas terem evoluído para crostas. Crianças imunodeprimidas ou que apresentam curso clínico prolon- gado só deverão retornar às atividades após o término da erupção vesicular. Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação. Brasil, 2017. Disponível em: <http:// portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/197-secretaria- svs/13600-calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 17 mar. 2017. - ças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. . Nota Informativa nº 384, de 2016. Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <http://portalarquivos. saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384-Calendario-Nacional-de-Vacina- cao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017. Ireland. Archives of Disease in Childhood, London, v. 92, p. 1062-1066, 2007. GUESS, H. A. et al. Population-Based Studies of Varicella Complications. Pediatrics, Springfield, v. 78, n. 4, p. 723-727, Oct. 1986. RIVEST, P. et al. Severe complications associated with varicela: Province of Quebec: April 1994 to March 1996. Canadian Journal of Infectious Diseases, [S.l.], v. 12, n. 1, p. 21-26, jan./fev. 2001. Varicela/Herpes-zóster
  • 172. 171 Tétano Acidental Tétano Acidental CID 10: A35 Características gerais Descrição Doença infecciosa aguda não contagiosa, prevenível por vacina, causada pela ação de exotoxinas produzidas pelo Clostridium tetani (C. tetani), que provocam um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central. Agente etiológico O C. tetani é um bacilo gram-positivo esporulado, anaeróbico, semelhante à cabeça de um alfinete, com . Reservatório O C. tetani é normalmente encontrado na natureza, sob a forma de esporo, podendo ser identificado em pele, fezes, terra, galhos, arbustos, águas putrefatas, poeira das ruas, trato intestinal dos animais (espe- cialmente do cavalo e do homem, sem causar doença). Modo de transmissão A infecção ocorre pela introdução de esporos em solução de continuidade da pele e mucosas (ferimen- tos superficiais ou profundos de qualquer natureza). Em condições favoráveis de anaerobiose, os esporos se - pasmina. A presença de tecidos desvitalizados, corpos estranhos, isquemia e infecção contribuem para dimi- nuir o potencial de oxirredução e, assim, estabelecer as condições favoráveis ao desenvolvimento do bacilo. Período de incubação Período compreendido entre o ferimento (provável porta de entrada do bacilo) e o primeiro sinal ou sintoma. É curto: em média, de 5 a 15 dias, podendo variar de 3 a 21 dias. Quanto menor for o tempo de incubação, maior a gravidade e pior o prognóstico. Período de progressão Compreendido entre o aparecimento do primeiro sinal ou sintoma até o primeiro espasmo muscular espontâneo. É variável, porém, quanto menor o período de progressão, pior o prognóstico. Período de transmissibilidade Não há transmissão direta de um indivíduo para outro. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade desta doença é universal, e a principal medida de prevenção contra o tétano é a va- cinação dos suscetíveis na rotina das unidades básicas de saúde em todo o país. No Calendário Básico de Vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), indicam-se a vacina pentavalente, para crianças de 2 meses a menor de 1 ano de idade, e dois reforços com vacina DTP, aos 15 meses e 4 anos de idade. A vacina dupla adulto (dT) está disponível para toda a população a partir dos 7 anos de idade; recomendam- -se 3 doses e 1 reforço a cada 10 anos. Para as gestantes, deve-se aplicar uma dose de dTpa a cada gestação.
  • 173. Guia de Vigilância em Saúde 172 A imunidade permanente é conferida pela vacina (devem-se observar as condições ideais inerentes ao imunobiológicos e ao indivíduo). A doença não confere imunidade. Os filhos de mães imunes apre- sentam imunidade passiva e transitória até 2 meses de vida. A imunidade conferida pelo soro antitetânico (SAT) dura cerca de duas semanas, enquanto aquela conferida pela imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT) dura cerca de 3 semanas. Manifestações clínicas Hipertonias musculares mantidas, localizadas ou generalizadas, ausência de febre ou febre baixa, hiperreflexia profunda e contraturas paroxísticas que se manifestam à estimulação do paciente (es- tímulos táteis, sonoros, luminosos ou alta temperatura ambiente). Em geral, o paciente se mantém consciente e lúcido. Os sintomas iniciais costumam ser relacionados com a dificuldade de abrir a boca (trismo e riso sardônico) e de deambular, devido à hipertonia muscular correspondente. Com a progressão da doença, outros grupos musculares são acometidos. Pode haver dificuldade de deglutição (disfagia), rigidez de nuca, rigidez paravertebral (pode causar opistótono), hipertonia da musculatura torácica, de músculos abdominais e de membros inferiores. As contraturas paroxísticas ou espasmos acontecem sob a forma de abalos tonicoclônicos, que variam em intensidade e intervalos, de acordo com a gravidade do quadro. A hipertonia torácica, a contração da glote e as crises espásticas podem determinar insuficiência respi- ratória, causa frequente de morte nos doentes de tétano. Nas formas mais graves, ocorre hiperatividade do sistema autônomo simpático (disautonomia), com taquicardia, sudorese profusa, hipertensão arterial, bexiga neurogênica e febre. Tais manifestações agravam o prognóstico da doença. Complicações No curso da doença, podem ocorrer diversas complicações, destacando-se pneumonia, infecção uri- nária, sepse, asfixia por obstrução alta ou insuficiência respiratória baixa, fratura de vértebras e de costelas. Diagnóstico É essencialmente clínico e não depende de confirmação laboratorial (vide Manifestações clínicas). Os exames laboratoriais auxiliam no tratamento do paciente e no controle das complicações. O hemograma habitualmente é normal, exceto quando há infecção secundária associada. As transaminases e a ureia podem se elevar nas formas graves. Nos casos de insuficiência respiratória, é importante realizar gasometria e dosagem de eletrólitos. As radiografias de tórax e da coluna vertebral devem ser realizadas para o diagnóstico de infecções pulmonares e fraturas de vértebras. As culturas de sangue, de secreções e de urina são indicadas apenas nos casos de infecção secundária. Diagnóstico diferencial Em relação às formas generalizadas do tétano, incluem-se os seguintes diagnósticos diferenciais: - valos dos espasmos. - sentes, hipocalcemia e relaxamento muscular entre os paroxismos.
  • 174. 173 trismos, hipersensibilidade cutânea e alterações de comportamento. - cem os sintomas. hipertonia muscular. - sado por abscesso dentário, periostite alvéolo-dentária, erupção viciosa do dente siso, fratura e/ou osteomielite de mandíbula, abscesso amigdalino e/ou retrofaríngeo. instala após uso de soro heterólogo. Ficam evidenciadas lesões maculopapulares cutâneas, hiper- trofia ganglionar, comprometimento renal e outras artrites. As condições seguintes, mesmo excepcionalmente, podem figurar no diagnóstico diferencial do tétano: Tratamento A hospitalização deverá ser imediata, preferencialmente em unidade de terapia intensiva (UTI), onde existe suporte técnico necessário ao seu manejo e suas complicações, com consequente redução das se- quelas e da letalidade. No caso de indisponibilidade de leitos de UTI, ou mesmo de unidades semi-inten- sivas, a internação deve ocorrer em unidade assistencial, em quarto individual, com mínimo de ruído, de luminosidade, e temperatura estável e agradável. Por não se tratar de uma doença contagiosa, devem ser adotadas apenas medidas de precaução padrão. Os princípios básicos do tratamento do tétano são: Sedação/relaxamento do paciente O relaxamento muscular é o principal objetivo do tratamento do tétano, e visa permitir a ven- tilação, reduzir o estímulo doloroso e evitar hipertonia e espasmos. Nos pacientes com tétano grave, sugere-se o uso de bloqueadores neuromusculares nos pacientes refratários ao uso de outros relaxantes musculares. Os opioides têm sido utilizados em associação com outras drogas para analgossedação no tétano. As recomendações para administração de benzodiazepínicos e miorrelaxantes são apresentadas no Quadro 1. Tétano Acidental
  • 175. Guia de Vigilância em Saúde 174 Quadro 1 – Recomendação para uso de sedativos/miorrelaxantes Sedativos/ miorrelaxantes Doses Via de administração Adultos Crianças Diazepam 1 a 10mg/kg/dia 0,1 a 2mg/kg/dose Endovenosa Midazolan (em substituição ao Diazepam) 0,07 a 0,1mg/kg/dia 0,15 a 0,2mg/kg/dia Intramuscular Clorpromazina (indicada quando não houver resposta satisfatória com o Diazepan) 25mg a 50mg/kg/dia (até 1g/dia) Crianças acima de 6 meses 0,55mg/kg/dia Endovenosa Neutralização da toxina tetânica Soro antitetânico O soro antitetânico (SAT) é preconizado para a prevenção e o tratamento do tétano. A sua indicação depende do tipo e das condições do ferimento, bem como das informações relativas à vacinação antitetâ- nica pregressa e ao uso anterior do próprio SAT. O SAT é uma solução que contém imunoglobulinas (IgG) purificadas, obtidas a partir de plasma de equinos hiperimunizados com toxoide. É apresentado na forma líquida, em ampolas de 2mL (5.000UI), 5mL (5.000UI) ou 10mL (10.000 ou 20.000UI). Sua meia-vida é inferior a 14 dias em indivíduos normais, sendo o SAT um produto cada vez mais purificado, em razão do que se considera rara a possibilidade de causar complicações graves, tais como o choque anafilático e a doença do soro. Mesmo assim, a sua administração só deve ser feita em serviços de saúde preparados para o tratamento de complicações, o que implica a existência de equipamentos de emergência e a presença do médico. Quando o serviço não dispuser das condições mínimas para atendimentos de emergência, a pessoa deverá ser encaminhada imediatamente a outro serviço capaz de garantir administração do soro com segurança. Por isso, antes da indicação de qualquer soro heterólogo, deve-se proceder à anamnese, com interrogatório rigoroso dos antecedentes da pessoa, em que algumas informações são fundamentais para orientar a decisão sobre administrar o soro ou encaminhar para outros serviços, tais como: - sidade profissional (a exemplo de veterinários) ou por lazer. No caso da confirmação de qualquer uma dessas informações, o profissional deve adotar o procedi- mento indicado para a prevenção da ocorrência de reações anafiláticas, conforme orientação do manual de procedimento para vacinação. Prevenção de reações anafiláticas na administração de soros heterólogos Para prevenção de reações anafiláticas, alguns cuidados específicos são adotados. Os procedimentos básicos para realização dessas atividades são os seguintes: - ventivo da anafilaxia: adrenalina 1:1.000, anti-histamínico, corticoide, oxigênio, soro glicosado e fisiológico, equipo de soro e material para assistência ventilatória. no paciente, garantindo adequado acesso venoso e a manutenção do gotejamento, mesmo depois da administração do soro heterólogo.
  • 176. 175 no interior de um frasco de 250 ou 500ml de soro glicosado ou fisiológico previamente esvaziado. “y”, com o soro fisiológico ou glicosado a 5% previamente instalado no antebraço do paciente. É importante salientar que, quanto mais rapidamente o paciente receber o soro antitetânico, mais rápida será a neutralização da toxina circulante. mantendo acesso venoso com soro fisiológico instalado, controlando o gotejamento, controlando sinais vitais e observando coloração e temperatura das extremidades (lábios, dedos), sinais de in- quietação, sudorese, dificuldade respiratória, queda de pressão arterial, pulso fraco, entre outros. mesmo choque anafilático), interromper imediatamente o gotejamento do soro heterólogo, con- tinuar o gotejamento do soro fisiológico ou glicosado a 5% e iniciar o tratamento com as drogas indicadas (adrenalina, anti-histamínicos e corticosteroides), bem como tomar as providências clí- nicas cabíveis para cada situação, de acordo com a faixa etária do indivíduo. Nos casos de reação à aplicação de soros de origem equina, se for necessário repetir imunização pas- siva, devem ser utilizadas as imunoglobulinas humanas, quando possível. Na impossibilidade do uso de dessas imunoglobulinas, administrar soro heterólogo com pré-medicação e acompanhar o paciente nos 10 dias seguintes. Recomenda-se manter o paciente sob observação hospitalar após a aplicação dos soros heterólogos, por pelo menos 24 horas. A realização do teste de sensibilidade cutânea foi excluída da rotina da administração de soros, pois o valor preditivo deste teste é discutível e imprevisível para as manifestações de hipersensibilidade ime- diata, precoce ou tardia. A administração de doses subsequentes de soros é contraindicada. Imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT) É constituída por imunoglobulinas da classe IgG que neutralizam a toxina produzida por Clostri- dium tetani, sendo obtida do plasma de doadores selecionados (pessoas submetidas a imunização ativa contra o tétano) com altos títulos no soro de anticorpos específicos (antitoxina). É apresentada sob a for- ma líquida ou liofilizada, em frasco-ampola de 1ml ou 2ml, contendo 250UI. A IGHAT tem meia-vida de 21 a 28 dias, em indivíduos sem imunização prévia. A IGHAT está indicada para: soro heterólogo (antitetânico, antirrábico, antidiftérico, antiofídico, entre outros); - cinados. Os imunodeprimidos deverão receber sempre a IGHAT no lugar do SAT, devido à meia- -vida maior dos anticorpos; sido adequadamente vacinadas; e - tória vacinal da mãe. As recomendações dos imunobiológicos (SAT e IGHAT) para a neutralização da toxina tetânica, bem como para o seu uso profilático, são apresentadas no Quadro 2. Tétano Acidental
  • 177. Guia de Vigilância em Saúde 176 Quadro 2 – Recomendação para neutralização da toxina tetânica e uso profilático Imunobiológico Dosagem Via de administração Observações Imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT) Dose profilática (250UI) Dose terapêutica (500UI) Intramuscular Aplicar em grupo muscular diferente daquele no qual for aplicada a vacina que contenha o toxoide tetânico Soro antitetânico (SAT)a Dose profilática (5.000UI) Dose terapêutica (20.000UI) Intramuscular ou endovenosa Se intramuscular, administrar em duas massas musculares diferentes Se endovenosa, diluir em soro glicosado a 5%, com gotejamento lento a A posologia deve ser individualizada e a critério médico. Eliminação do C. tetani A penicilina G cristalina ou o metronidazol são antibióticos de escolha na eliminação do C. tetani (Quadro 3). Não há evidências suficientes que sustentem a superioridade de uma droga em relação à ou- tra, embora alguns dados mostrem maior benefício com o uso de metronidazol. Quadro 3 – Recomendação para uso do antibiótico para eliminação do C. tetani Antibiótico Dosagem Via de administração Esquema Duração Adultos Crianças Penicilina G Cristalinaa 2.000.000UI/ dose 50.000 a 100.000UI/kg/dia Endovenosa 4 em 4 horas 7 a 10 dias Metronidazola 500mg 7,5mg Endovenosa 8 em 8 horas 7 a 10 dias a A posologia deve ser individualizada e a critério médico. Debridamento do foco Limpar o ferimento suspeito com soro fisiológico ou água e sabão. Realizar o debridamento, retiran- do todo o tecido desvitalizado e corpos estranhos. Após a remoção das condições suspeitas, fazer limpe- za com água oxigenada ou solução antisséptica (álcool a 70%, clorexidina, permanganato de potássio a 1:5.000). Ferimentos puntiformes e profundos devem ser abertos em cruz e lavados generosamente. Não há comprovação de eficácia do uso de penicilina benzatina nas infecções cutâneas para profila- xia do tétano acidental. Medidas gerais Após internação do paciente, algumas medidas adicionais devem ser implementadas, conforme es- pecificado a seguir. com risco de trombose venosa profunda e em idosos.
  • 178. 177 Características epidemiológicas No Brasil, observa-se um declínio do número de casos de tétano acidental. Na década de 1990, foram registrados em média mais de 1.000 casos por ano, caindo em média para 460 casos por ano na década de 2000. A maior proporção ocorre na região Nordeste e atinge com maior frequência a faixa etária entre 40 e 59 anos, seguida pela faixa acima de 60 anos. Na década de 2000, foram registrados em média 141 óbitos por ano, com uma letalidade média anual de 31%, considerada elevada, quando comparada com a verificada nos países desenvolvidos (entre 10 e 17%). A maioria dos casos de tétano acidental ocorre nas categorias dos aposentados e pensionistas, bem como entre os trabalhadores agropecuários, seguida pelos grupos de trabalhadores da construção civil (pedreiros) e donas de casa. Vigilância epidemiológica Objetivos assegurar diagnóstico e tratamento precoce. - teção, a fim de se evitar a ocorrência de ferimentos ou lesões. Definição de caso Suspeito Todo paciente acima de 28 dias de vida que apresenta um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: disfagia, trismo, riso sardônico, opistótono, contraturas musculares localizadas ou generalizadas, com ou sem espasmos, independentemente da situação vacinal, da história de tétano e de detecção ou não de solução de continuidade de pele ou mucosas. Confirmado Todo caso suspeito, descartado para outras etiologias e que apresenta um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: hipertonia dos masseteres (trismo), disfagia, contratura dos músculos da mímica facial (riso sardônico, acentuação dos sulcos naturais da face, pregueamento frontal, diminuição da fenda pal- pebral), rigidez abdominal (abdome em tábua), contratura da musculatura paravertebral (opistótono), da cervical (rigidez de nuca), de membros (dificuldade para deambular), independentemente da situação va- cinal, de história prévia de tétano e de detecção de solução de continuidade da pele ou mucosas. A lucidez do paciente reforça o diagnóstico. Descartado Todo caso suspeito que, após investigação epidemiológica, não preencher os critérios de confirmação. Tétano Acidental
  • 179. Guia de Vigilância em Saúde 178 Notificação A notificação de casos suspeitos de tétano acidental deverá ser feita por profissionais da saúde ou por qualquer pessoa da comunidade à equipe de vigilância epidemiológica do município, que a encaminhará às equipes de vigilância epidemiológica regional ou estadual que, por sua vez, enviará ao Ministério da Saúde. Após a notificação, deverá proceder-se à investigação imediatamente. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação do Tétano Acidental. Investigação A qualidade da investigação é fundamental para avaliar a situação das ações de prevenção do tétano na área e se implementarem medidas que as reforcem. O instrumento de coleta de dados é a Ficha de Investigação do Tétano Acidental, do Sinan, na qual todos os campos devem ser criteriosamente preenchi- dos, mesmo quando a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluídos, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos dos itens relativos aos dados gerais, notificação individual e dados de residência. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos médico assistente ou alguém da família ou acompanhante e realizar visita domiciliar e/ou no local de trabalho, para completar as informações sobre a manifestação da doença e possíveis fatores de risco no meio ambiente). investigação epidemiológica no Sinan. - Verificar a ocorrência de outros casos no município, levantar os fatores determinantes, identificar a população de risco e traçar estratégias de implementação das ações de prevenção do tétano. - Casos de tétano em consequência de aborto, às vezes, podem ser mascarados quanto ao diag- nóstico final. Encerramento de caso O caso de tétano acidental deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias a partir da notificação. A classificação final do caso deve seguir os critérios descritos no item Definição de caso. Atualizar, se ne- cessário, o Sinan, o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH-SUS). Medidas de prevenção e controle Objetivo Reduzir a ocorrência de casos de tétano acidental no país.
  • 180. 179 Estratégias Vacinação A principal medida de prevenção contra do tétano acidental é a vacinação dos suscetíveis na rotina das unidades básicas de saúde em todo o país, sendo preconizada no Calendário Básico de Vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) a vacina pentavalente. Esta vacina oferece proteção contra difteria, tétano, co- queluche, Haemophilus influenza tipo B e hepatite B, e é indicada para imunização ativa de crianças a partir de 2 meses de idade, em esquema de 3 doses, com intervalo de 60 dias entre as doses, indicando-se um reforço de 12 a 15 meses com a vacina DTP; um segundo reforço é preconizado aos 4 anos de idade. A partir dessa idade, um reforçoacada10anosapósaúltimadoseadministradacomavacinaduplaadulto(dT)contraadifteriaeotétano. Particularidades e tétano, administrar 3 doses da dupla adulto (dT) com intervalo de 60 dias entre as doses, em um mínimo de 30 dias. - tar esquema de 3 doses com dT, considerando as doses anteriores, com intervalo de 60 dias entre as doses, em um mínimo de 30 dias. gestacional, combinada com uma dose de dTpa a partir da 20ª semana da gestação. Para pacientes que tiveram tétano, após a alta hospitalar, referenciá-lo à unidade básica de saúde, para se iniciar o esquema de vacinação ou completá-lo até a terceira dose. Conduta frente a ferimentos suspeitos O esquema de condutas profiláticas se encontra no Quadro 4. Quadro 4 – Esquema de condutas profiláticas de acordo com o tipo de ferimento e situação vacinal História de vacinação prévia contra tétano Ferimentos com risco mínimo de tétanoa Ferimentos com alto risco de tétanob Vacina SAT/IGHAT Outras condutas Vacina SAT/IGHAT Outras condutas Incerta ou menos de 3 doses Simc Não Limpeza e desinfecção, lavar com soro fisiológico e substâncias oxidantes ou antissépticas e desbridar o foco de infecção Simc Sim Desinfecção, lavar com soro fisiológico e substâncias oxidantes ou antissépticas e remover corpos estranhos e tecidos desvitalizados Desbridamento do ferimento e lavagem com água oxigenada 3 doses ou mais, sendo a última dose há menos de 5 anos Não Não Não Não 3 ou mais doses, sendo a última dose há mais de 5 anos e menos de 10 anos Não Não Sim (1 reforço) Nãod 3 ou mais doses, sendo a última dose há 10 ou mais anos Sim Não Sim (1 reforço) Nãod 3 ou mais doses, sendo a última dose há 10 ou mais anos em situações especiais Sim Não Sim (1 reforço) Sime a Ferimentos superficiais, limpos, sem corpos estranhos ou tecidos desvitalizados. b Ferimentos profundos ou superficiais sujos; com corpos estranhos ou tecidos desvitalizados; queimaduras; feridas puntiformes ou por armas brancas e de fogo; mordeduras; politraumatismos e fraturas expostas. c Vacinar e aprazar as próximas doses, para complementar o esquema básico. Essa vacinação visa proteger contra o risco de tétano por outros ferimen- tos futuros. Se o profissional que presta o atendimento suspeita que os cuidados posteriores com o ferimento não serão adequados, deve considerar a indicação de imunização passiva com SAT (soro antitetânico) ou IGHAT (imunoglobulina humana antitetânica). Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicados em locais diferentes. d Para paciente imunodeprimido, desnutrido grave ou idoso, além do reforço com a vacina, está também indicada IGHAT ou SAT. e Se o profissional que presta o atendimento suspeita que os cuidados posteriores com o ferimento não serão adequados, deve considerar a indicação de imunização passiva com SAT ou IGHAT. Quando indicado o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplicados em locais diferentes. Tétano Acidental
  • 181. Guia de Vigilância em Saúde 180 Bibliografia AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Active and passive immunization. In: PICKERING, L. K. et al. (Ed.). Red book American Academy of Pediatrics, 2012. p. 1-110. BRAUNER, J. S. et al. Changes in severe accidental tetanus mortality in the ICU during two decades in Brazil. Intensive Care Medicine, Berlin, v. 28, p. 930-935, 2002. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Tetanus-United States, 1987 and 1988. Morbidity and Mortality Weekly Report, Atlanta, v. 39, n. 3, p. 37-41, 1990. LIMA, V. M. S. F. et al. Tétano acidental: análise do perfil clínico e epidemiológico de casos internados em hospital universitário. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 32, n. 2, p. 166-171, abr. 1998. LISBOA, T. et al. Diretrizes para o manejo do tétano acidental em pacientes adultos. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p. 394-409, 2011. LITVOC, J.; LEITE, R. M.; KATZ, G. Aspectos epidemiológicos do tétano no estado de São Paulo (Brasil), 1989. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, São Paulo, v. 33, n. 6, p. 477-484, dez. 1991. NEVES, F. F. et al. Perfil clínico-epidemiológico dos casos de tétano acidental ocorridos em Ribeirão Preto, estado de São Paulo, no período de 1990 a 2009. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, [S.l.], v. 44, n. 4, p. 481-485, ago. 2011. PATEL, J. C.; MEHTA, B. C. Tetanus: study of 8,697 cases. Indian Journal of Medical Sciences, v. 53, n. 9, p. 393-401, Sep. 1999. SIMONSEN, O. et al. Immunity against tetanus and effect of revaccination 25-30 years after primary vaccination. Lancet, London, v. 2, p. 1240-1242, 1984. TAVARES, W.; MARINHO, L. A. C. Rotinas de diagnóstico e tratamento das doenças infecciosas e parasitárias. 2. ed. ampl. e atual. São Paulo: Atheneu, 2010. TRIGUEIRO, G. Tétano. In: NEVES, J. (Ed.). Diagnóstico e tratamento das doenças infectuosas e parasitárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. p. 537-554. VERONESI, R. et al. Eficácia no tratamento do tétano com antitoxina tetânica introduzida por via líquor e no sangue. Revista Brasileira de Clínica e Terapêutica, São Paulo, v. 9, n. 5, p. 301-305, 1980. VERONESI, R. Tetanus: important new concepts. Amsterdam: Excerpta Medica, 1981. VERONESI, R; FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. Infectious diseases and medical microbiology. 2nd ed. Philadelphia: WB Saunders,1986. Chapter 187. p. 1168-1171. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Current recommendations for treatment of tetanus during humanitarian emergencies: WHO Technical Note. Geneva, 2010. Disponível em: <http://www. Public health risk assessment and interventions – Typhoon Haiyan, Philippines, 16 Dez.
  • 182. 181 Tétano Neonatal CID 10: A33 Características gerais Descrição Doença infecciosa aguda, grave, não contagiosa, que acomete o recém-nascido nos primeiros 28 dias de vida, tendo como manifestação clínica inicial a dificuldade de sucção, irritabilidade e choro constante. Sinonímia Tétano umbilical e “mal de sete dias”. Agente etiológico Clostridium tetani, bacilo gram-positivo, anaeróbico e esporulado, produtor de várias toxinas, sendo a tetanospasmina responsável pelo quadro de contratura muscular. Reservatório O bacilo é encontrado no trato intestinal dos animais, especialmente do homem e do cavalo. Os esporos são encontrados no solo contaminado por fezes, na pele, na poeira, em espinhos de arbustos e pequenos galhos de árvores, em pregos enferrujados e em instrumentos de trabalho não esterilizados. Modo de transmissão Por contaminação, durante a manipulação do cordão umbilical ou por meio de procedimentos ina- dequados realizados no coto umbilical, quando se utilizam substâncias, artefatos ou instrumentos conta- minados com esporos. Período de incubação Aproximadamente 7 dias, podendo variar de 2 a 28 dias. Período de transmissibilidade Não é doença contagiosa, portanto, não existe transmissão de pessoa a pessoa. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade é universal, afetando recém-nascidos de ambos os sexos. A doença não confere imunidade. A imunidade do recém-nascido é conferida pela vacinação adequada da mãe que recebeu 3 doses de vacina antitetânica. Se a gestante tomou a última dose há mais de 5 anos, deverá receber 1 dose de reforço. Os filhos de mães vacinadas nos últimos 5 anos com 3 doses apresentam imunidade passiva e transitória até 2 meses de vida. A imunidade passiva, através do soro antitetânico (SAT), dura em média duas semanas, e pela Imunoglobulina Humana Antitetânica (IGHAT), cerca de 3 semanas. A partir do último trimestre de 2014, todas as gestantes com esquemas incompletos de 3 doses de dT adulto deverão receber uma dose de vacina antitetânica acelular (dTpa), e uma dose a cada gestação. Devendo ter o esquema completo com duas doses de dT e uma dose de dTpa a partir da vigésima sema- na (20ª) de gestação. As mulheres que perderam a oportunidade de serem vacinadas durante a gestação, devem receber uma dose de dTpa no puerpério, o mais precoce possível. Tétano Neonatal
  • 183. Guia de Vigilância em Saúde 182 Manifestações clínicas O recém-nascido apresenta choro constante, irritabilidade, dificuldade para mamar e abrir a boca, decorrente da contratura dolorosa dos músculos da mandíbula (trismo), seguida de rigidez de nuca, tron- co e abdome. Evolui com hipertonia generalizada, hiperextensão dos membros inferiores e hiperflexão dos membros superiores, com as mãos fechadas, flexão dos punhos (atitude de boxeador), paroxismos de contraturas, rigidez da musculatura dorsal (opistótono) e intercostal, causando dificuldade respiratória. A contração da musculatura da mímica facial leva ao cerramento dos olhos, fronte pregueada e contratura da musculatura dos lábios, como se o recém-nascido fosse pronunciar a letra U. As contraturas de muscu- latura abdominal podem ser confundidas com cólica intestinal. Quando há presença de febre, ela é baixa, exceto se houver infecção secundária. Os espasmos são desencadeados ao menor estímulo (tátil, luminoso, sonoro, por temperaturas ele- vadas) ou surgem espontaneamente. Com a piora do quadro clínico, o recém-nascido deixa de chorar, respira com dificuldade e as crises de apneia passam a ser constantes, podendo levar ao óbito. O coto umbilical pode-se apresentar normal ou com características de infecção, que dura cerca de 2 a 5 dias. Complicações Disfunção respiratória, infecções secundárias, disautonomia, taquicardia, crise de hipertensão arterial, parada cardíaca, miocardite tóxica, embolia pulmonar, hemorragias, fraturas de vértebras, entre outras. Diagnóstico O diagnóstico é essencialmente clínico e não existe exame laboratorial específico para diagnóstico do tétano. Os exames laboratoriais são realizados apenas para controle das complicações e respectivas orien- tações do tratamento. O hemograma é normal, mas pode apresentar discreta leucocitose ou linfopenia. As transaminases e a ureia sanguíneas podem elevar-se nas formas graves. A gasometria e a dosagem de eletrólitos são importantes quando há insuficiência respiratória. A radiografia do tórax e da coluna verte- bral torácica deve ser realizada para diagnosticar infecções pulmonares e possíveis fraturas de vértebras. Culturas de secreções, urina e sangue são indicadas nos casos de infecção secundária. Diagnóstico diferencial Septicemia − na sepse do recém-nascido pode haver hipertonia muscular, o estado geral é grave e cursa com hipertermia ou hipotermia, alterações do sensório e evidências do foco séptico (diarreia e onfalite, por exemplo). O trismo não é frequente, nem ocorrem os paroxismos espásticos. Encefalopatias − podem cursar com hipertonia e o quadro clínico geralmente é evidente logo após o nascimento, havendo alterações do sensório e crises convulsivas. O trismo não é uma manifes- tação frequente. Distúrbios metabólicos − hipoglicemia, hipocalcemia e alcalose. Outros diagnósticos diferenciais − epilepsia, lesão intracraniana por traumatismo do parto, peri- tonites, onfalites e meningites.
  • 184. 183 Tratamento O recém-nascido deve ser internado em unidade de terapia intensiva (UTI) ou em enfermaria apro- priada, acompanhado por uma equipe médica e de enfermagem experiente e treinada na assistência dessa enfermidade, o que pode reduzir as complicações e a letalidade. A unidade ou enfermaria deve dispor de isolamento acústico, redução da luminosidade, de ruídos e da temperatura ambiente. A atenção da enfermagem deve ser contínua, vigilante quanto às emergências respiratórias decorrentes dos espasmos, realizando pronto atendimento com assistência ventilatória nos casos de dispneia ou apneia. Os princípios básicos do tratamento do tétano neonatal visam curar o paciente, diminuindo a morbi- dade e a letalidade causada pela doença. A adoção das medidas terapêuticas é de responsabilidade médica e o tratamento consiste em: - tar a aspiração de secreções), hidratação, redução de qualquer tipo de estímulo externo, alimenta- ção por sonda e analgésicos; - dro 3). Não há evidências suficientes que sustentem a superioridade de uma droga em relação à outra, embora alguns dados mostrem maior benefício com o uso de metronidazol. Outros sedativos e anticonvulsivantes (curare, hidrato de cloral a 10%, fenobarbital) poderão ser utilizados a critério médico. Quadro 1 – Recomendação para uso de sedativos/miorrelaxantes Sedativos/miorrelaxantesa Doses Via de administração Diazepam 0,3 a 2mg/kg/dose Endovenosa Midazolan (alternativa para o Diazepam) 0,15 a 0,20mg/kg/dia Endovenosa a A posologia deve ser individualizada e a critério médico. Quadro 2 – Recomendação para neutralização da toxina tetânica e uso profilático Imunobiológico Dosagem Via de administração Observações Imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT) Dose profilática (250UI) Dose terapêutica (500UI) Somente intramuscular Solicitar indicações dos Centros de Referência para Imunobiologicos Especias da região ou do estado Soro antitetânico (SAT) Dose profilática (5.000UI) Dose terapêutica (20.000UI) Intramuscular ou endovenosa Se intramuscular, administrar em duas massas musculares diferentes Se endovenoso, diluir em soro glicosado a 5%, com gotejamento lento Quadro 3 – Recomendação para uso de antibióticos (erradicação do C. tetani) Antibióticoa Dosagem Via de administração Frequência Duração Penicilina G Cristalina 200.000UI/ kg/dia Endovenosa 4 em 4 horas 7 a 10 dias Metronidazol (alternativa à Penicilina G Cristalina) 7,5mg Endovenosa 8 em 8 horas 7 a 10 dias a A posologia deve ser individualizada e a critério médico. Outros antimicrobianos poderão ser necessários em casos de infecção secundária (onfalites, pneumonia, infecção urinária e sepse). Tétano Neonatal
  • 185. Guia de Vigilância em Saúde 184 Erradicação do C. tetani (cuidados com o coto umbilical) Além da antibioticoterapia, o debridamento do foco infeccioso é importante. O tratamento cirúrgico do foco deve ser precedido do uso da antitoxina tetânica e é de grande relevância a retirada de corpos estranhos e tecidos desvitalizados. A ferida deve ser limpa com substâncias oxidantes (água oxigenada) ou antissépticas (álcool a 70%, clorexidina), permanganato de potássio a 1/5.000 (1 comprimido diluído em meio litro de água) e mantida aberta. A indicação de debridamento no coto umbilical deve ser cuidadosamente avaliada pela equipe médica. Não é necessário proteção individual especial, uma vez que não se trata de doença contagiosa. Características epidemiológicas Com a implementação de uma política de eliminação do tétano neonatal como problema de saúde pública no mundo, sua incidência tem sido reduzida sensivelmente, principalmente nas Américas. A meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de menos de um caso novo por 1.000 nascidos vivos por distrito ou município, em cada país. A doença continua existindo como problema de saúde pública apenas em países de menor desenvolvimento econômico e social, principalmente no Continente Africano e no Sudeste Asiático. No Brasil, entre 2007 e 2016, ocorreram 20 casos de tétano neonatal, com maior registro nas regiões Norte e Nordeste. Nesse período, verificou-se uma tendência decrescente no comportamento da doença, com redução de 75% no número de casos. A taxa de incidência no país está abaixo do preconizado pela OMS. Fatores de risco para o tétano neonatal sem instrumentos de trabalho adequados. Vigilância epidemiológica Objetivos
  • 186. 185 Definição de caso Suspeito Todo recém-nascido que nasceu bem, sugou normalmente nas primeiras horas e, entre o 2º e o 28º dias de vida, apresentou dificuldade em mamar, choro constante, independentemente do estado vacinal da mãe, do local e das condições do parto. São também considerados suspeitos todos os óbitos, nessa mesma faixa etária, de crianças que apresentem essas mesmas características, com diagnóstico indefinido ou ignorado. Confirmado Todo recém-nascido que nasceu bem, sugou normalmente nas primeiras horas e, entre o 2º e o 28º dias de vida, apresentou dificuldade respiratória, recusou amamentação e apresentou dois ou mais dos seguintes sinais e sintomas: trismo, contratura dos músculos da mímica facial, olhos cerrados, pele da fronte pregueada, lábios contraídos, hiperflexão dos membros superiores junto ao tórax, hiperextensão dos membros inferiores e crises de contraturas musculares, com inflamação ou não do coto umbilical. Descartado Todo caso suspeito que, após a investigação epidemiológica, não preencha os critérios de confirma- ção de caso. Notificação A notificação dos casos suspeitos ou confirmados de tétano neonatal deverá ser feita por profissio- nais de saúde ou por qualquer pessoa da comunidade à Vigilância Epidemiológica Municipal, que repas- sará a informação aos órgãos regionais, estaduais e federal responsáveis pela vigilância epidemiológica nessas esferas. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação do Tétano Neonatal. Investigação A investigação deve ser feita imediatamente (nas primeiras 72 horas) após a notificação de um caso suspeito ou confirmado. Não se deve restringir ao âmbito hospitalar: convém buscar informações comple- mentares no domicílio, com familiares, preferencialmente com a mãe do recém-nascido. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos dos itens da Ficha de Investigação do Tétano Neonatal, referentes aos da- dos gerais, notificação individual e dados de residência, lembrando que todos os campos são necessários e importantes para caracterização e análise do caso. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Ficha de Investigação do Tétano Neonatal os dados da história e as manifes- tações clínicas do caso. Em geral, deve-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar as informações clínicas sobre o paciente. necessidade de iniciar o esquema vacinal, e sim dar continuidade ao iniciado, desde que haja com- provação das doses anteriores. Tétano Neonatal
  • 187. Guia de Vigilância em Saúde 186 identificados durante a investigação epidemiológica. baixas coberturas vacinais em MIF; ocorrência de partos domiciliares; parteiras tradicionais atu- antes sem capacitação; baixas coberturas e a qualidade do pré-natal; dificuldades de acesso aos serviços de saúde; qualidade do serviço prestado à população; desconhecimento das formas de prevenir a doença, por parte da população; buscar informação sobre a resistência da população alvo às medidas preventivas. umbilical. Avaliar de modo geral o serviço prestado à comunidade. neonatais da localidade. Avaliar situação da organização dos serviços e do processo de trabalho para a atenção materno-infantil; capacitação dos recursos humanos existentes; funcionamento das salas de vacina e da rede de frio; oportunidades perdidas de vacinação; atividades extramuros; nível de integração de trabalho intrassetorial. Determinação da extensão de áreas de risco - Busca ativa − deve ser realizada sistematicamente, principalmente nas áreas consideradas de risco, silenciosas, onde há rumores, onde a notificação é inconsistente e irregular ou as que não tenham notificado casos. Atividades de busca ativa devem incluir revisão de prontuários de hospitais e clínicas, registros de igrejas, cemitérios e cartórios, conversas com pediatras, gineco- logistas, obstetras, enfermeiros, parteiras e líderes comunitários. Encerramento de caso Após a coleta e análise de todas as informações necessárias ao esclarecimento do caso, definir o diagnóstico final e atualizar, se necessário, os sistemas de informação (Sinan, Sistema de Informação so- encerrado em até 60 dias. Relatório final Enviar relatório detalhado do caso, informando dados clínicos e epidemiológicos da criança e situa- ção vacinal da mãe, bem como informações sobre o pré-natal. Medidas de prevenção e controle Objetivos Reduzir a ocorrência de casos de tétano neonatal no país. Pré-natal A realização do pré-natal é extremamente importante para prevenir o tétano neonatal. É quando se inicia o estabelecimento de um vínculo entre a usuária e a unidade de saúde, onde serão realizadas as ações de vacinação (atualização ou início do esquema vacinal), promoção do parto asséptico, da ama- mentação, do planejamento familiar e dos cuidados de higiene com o recém-nascido, em especial do coto umbilical. Nesse sentido, é necessário melhorar a cobertura e a qualidade do pré-natal e da atenção ao parto e puerpério.
  • 188. 187 Vacinação A principal forma de prevenir o tétano neonatal é a vacinação de todas as MIF (Quadro 4). Quadro 4 – Protocolo de imunização de mulheres em idade fértil (MIF) História de vacinação prévia contra tétano MIF Gestantesa Não gestantes Sem nenhuma dose registrada Iniciar o esquema vacinal com dT o mais precocemente possível com 2 doses, intervalo de 60 dias e, no mínimo, 30 dias e 1 dose de dTpa Esquema vacinal com 3 doses, intervalo de 60 dias e, no mínimo, 30 dias Esquema vacinal incompleto (registrado) Se 1 dose, completar com 1 dose de dT e 1 dose de dTpa. Se 2 doses dT, completar o esquema com dTpa, intervalo de 60 dias e, no mínimo, 30 dias Completar o esquema vacinal com dT, intervalo de 60 dias e, no mínimo, 30 dias 3 doses ou mais registradas Aplicar 1 dose de dTpa a cada gestação Não é necessário vacinar a Recomenda-se que todas as gestantes tenham 3 doses de dT ou duas doses dT e uma de dTpa. Mas, se a gestante chegar tardiamente ao serviço de saú- de e não tiver o esquema completo de vacinação para os componentes difteria, tétano e pertússis acelular, deverão ser asseguradas no mínimo 2 doses, sendo, preferencialmente, a primeira dose com dTpa e, a segunda, com dT, devendo a 2ª dose ser administrada antes do parto. O esquema vacinal deverá ser completado no puerpério ou em qualquer outra oportunidade. Atendimento durante o parto e puerpério O atendimento higiênico ao parto é medida fundamental na profilaxia do tétano neonatal. O mate- rial utilizado, incluindo instrumentos cortantes, fios e outros, deve ser estéril para o cuidado do cordão umbilical e do coto. Tal medida será alcançada com atendimento médico-hospitalar adequado, ensino de boas práticas de higiene às parteiras e educação em saúde continuada. Também para o sucesso das medidas, as mães e os responsáveis devem ser orientados em todas as oportunidades sobre os cuidados com os recém-nascidos e o tratamento higiênico do coto umbilical com álcool a 70%. É importante enfatizar que a consulta do puerpério é de extrema importância para orientações e detecção de práticas que predispõem à doença, bem como para a atualização do calendário vacinal, tanto da mãe quanto da criança. Bibliografia AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Red book: report of the Committee on Infectious Diseases. 29th ed. Washington, 2012. BAZIN, A. R. Estudo clínico e anatomopatológico do tétano neonatal no estado do Rio de Janeiro. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota Informativa nº 384, de 2016. Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/28/Nota-Informativa-384- Calendario-Nacional-de-Vacinacao-2017.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017. Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Portaria Ministerial nº 1.533. Publicado no DOU em 19 agosto de 2016. Disponível em: <https://www.legisweb. com.br/legislacao/?id=327646>. Acesso em: 22 fev. 2017. GOMES, A. P. et al. Infecção por Clostridium tetani no recém-nascido: revisão sobre o tétano neonatorum. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p. 484-491, 2011. Tétano Neonatal
  • 189. Guia de Vigilância em Saúde 188 Principles of tetanus. Bern: Hans Huber, 1967. Proceedings International conference on Tetanus. SCHRAMM, J. M. A.; SANCHES, O.; SZWARCWALD, C. L. Análise da mortalidade por tétano neonatal no Brasil (1979-1987). Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, jun. 1996. SCHRAMM, J. M. A.; SZWARCWALD, C. L. Um modelo estatístico para definição de áreas geográficas prioritárias para o controle do tétano neonatal. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, abr. 1998. SHEUFLER, M. W.; PINTO, A. M. M. Tétano neonatal: aspectos sobre a epidemiologia no estado do Rio de Janeiro. Arquivo Brasileiro de Medicina (Supl ABP), Rio de Janeiro, v. 65, p. 111-113, 1991. VIEIRA, L. J. O tétano neonatal no estado de Minas Gerais: contribuição para a compreensão do problema. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 5, out. 2003. Bulletin of the World Health Organization
  • 190. 189 Caxumba (Parotidite Epidêmica) CID 10: B26 Características gerais Descrição Doença viral aguda, caracterizada por febre, dor e aumento de volume de uma ou mais glându- las salivares, com predileção pelas parótidas e, às vezes, pelas sublinguais ou submandibulares. Ocorre primariamente no escolar e no adolescente; tem evolução benigna, mas eventualmente pode ser grave, chegando a determinar hospitalização do doente. Em homens adultos, pode ocorrer orquiepididimite em, aproximadamente, 20 a 30% dos casos; mulheres acima de 15 anos podem apresentar mastite (aproxima- damente, 15% dos casos), e em 5 % daquelas que adquirem a parotidite após a fase puberal pode ocorrer ooforite. A pancreatite pode ocorrer em 20% dos casos. O sistema nervoso central (SNC), com frequência, pode estar acometido sob a forma de meningite asséptica, quase sempre sem sequelas. Mais raramente, pode ocorrer encefalite. A caxumba é doença de distribuição universal, de alta morbidade e baixa letalidade, aparecendo sob a forma endêmica ou em surtos. Sinonímia Papeira, caxumba. Agente etiológico Vírus da família Paramyxoviridae, gênero Paramyxovirus. Reservatório O homem. Modo de transmissão Via aérea, através da disseminação de gotículas, ou por contato direto com saliva de pessoas infec- tadas. A transmissão indireta é menos frequente, mas pode ocorrer pelo contato com objetos e utensílios contaminados com secreção do nariz e/ou da boca. Período de incubação De 12 a 25 dias, sendo, em média, 16 a 18 dias. Período de transmissibilidade Varia entre 6 e 7 dias antes das manifestações clínicas, até 9 dias após o surgimento dos sintomas. O vírus pode ser encontrado na urina até 14 dias após o início da doença. Suscetibilidade e imunidade A imunidade é de caráter permanente, sendo adquirida após infecções inaparentes, aparentes, ou após imunização ativa. Caxumba (Parotidite Epidêmica)
  • 191. Guia de Vigilância em Saúde 190 Manifestações clínicas A principal e mais comum manifestação desta doença é o aumento das glândulas salivares, principal- mente a parótida, acometendo também as glândulas sublinguais e submaxilares, acompanhada de febre. Os sintomas iniciais são febre (37,7º a 39,4ºC), anorexia, astenia, cefaleia, mialgia, artralgia e desconforto em mastigar. Aproximadamente 30% das infecções podem não apresentar hipertrofia aparente dessas glândulas. Cerca de 20 a 30% dos casos em homens adultos acometidos podem apresentam orquiepididi- mite. Mulheres acima de 15 anos podem apresentar mastite (aproximadamente, 15% dos casos), e em 5 % daquelas que adquirem a parotidite após a fase puberal pode ocorrer ooforite. A pancreatite pode ocorrer em 20% dos casos e constitui, às vezes, a única manifestação da enfermidade, ou se associa à parotidite, aparecendo antes ou após aquela e manifestando-se por dor epigástrica, febre, náuseas e vômitos. Em menores de 5 anos de idade, são comuns sintomas das vias respiratórias. Embora se trate de even- to raro, pode haver perda neurossensorial da audição, de início súbito e unilateral. O vírus também tem tropismo pelo SNC, observando-se, com certa frequência, meningite asséptica, de curso benigno, que, na grande maioria das vezes, não deixa sequelas. Mais raramente, pode ocorrer encefalite. Não há relatos de óbitos relacionados à parotidite. Sua ocorrência durante o 1° trimestre da gestação pode ocasionar aborto espontâneo. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial O diagnóstico da doença é eminentemente clínico-epidemiológico. Existem testes sorológicos (ELISA e inibição da hemaglutinação), porém não são utilizados de rotina. A amilase sérica costuma estar elevada nos casos de parotidite. Diagnóstico diferencial Inflamação de linfonodos, parotidite de etiologia piogênica, e cálculo de dutos parotidianos. Tratamento O tratamento é baseado na sintomatologia clínica, com adequação da hidratação e alimentação do doente, já que esses pacientes aceitam mal alimentos ácidos, que podem determinar dor, náuseas e vômitos. Os analgésicos-antitérmicos, como o ácido acetilsalicílico ou paracetamol, que aliviam a dor e bai- xam a febre, são utilizados. Hidratação parenteral está indicada na pancreatite e na meningite com impos- sibilidade de ingestão de líquidos devido ao vômito. aplicação de bolsas de gelo e analgesia, quando necessárias. Características epidemiológicas A parotidite infecciosa costuma se apresentar sob a forma de surtos, que acometem mais as crianças nas populações não vacinadas. Estima-se que, na ausência de imunização, 85% das pessoas já terão tido a doença quando chegarem à idade adulta, sendo que um terço dos infectados não apresentarão sintomas. A doença é mais severa em adultos. As estações com maior ocorrência de casos são o inverno e a primavera.
  • 192. 191 Vigilância epidemiológica Objetivos rubéola e caxumba) e tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela). Definição de caso Suspeito Paciente com febre e aumento de glândulas salivares, principalmente parótidas ou orquiepididimite ou oforite inexplicável. Confirmado Eminentemente pela clínica, uma vez que não são utilizados exames sorológicos de rotina na rede pública. Critério clínico-epidemiológico Caso suspeito, com história de contato com indivíduo doente por caxumba, nos 25 dias anteriores ao surgimento dos primeiros sintomas. Descartado Caso suspeito, em que se confirma outra doença. Definição de surto Considerar como surtos de caxumba a ocorrência de número de casos acima do limite esperado, com base nos anos anteriores, ou casos agregados em instituições, como creches, escolas, hospitais, presídios, entre outros. Observação: casos que não atendem a definição de caso suspeito devem ser excluídos dos bancos, planilhas e relatórios. Notificação Não é uma doença de notificação compulsória, ou seja, não consta na Portaria nº 204, de 17 de Fe- vereiro de 2016. Porém, cada município ou estado tem autonomia para instituir uma portaria tornando-a de notificação compulsória. Observação: como a doença não faz parte da Portaria das Doenças de Notificação Compulsória, o Mi- nistério da Saúde solicita que os estados enviem os relatórios dos surtos para o nível federal, ou sejam en- viados os bancos de dados com casos e surtos dos estados onde a doença for de notificação compulsória. Isolamento Pessoas afetadas pela doença devem evitar comparecer à escola, ao trabalho ou a locais com aglome- rações durante 9 dias após o início da doença. Em ambientes hospitalares, deve-se adotar o isolamento respiratório dos doentes, bem como o uso de equipamentos de proteção individual (EPI). Caxumba (Parotidite Epidêmica)
  • 193. Guia de Vigilância em Saúde 192 Assistência médica ao paciente O atendimento é ambulatorial, e o tratamento é feito no domicílio. A hospitalização dos pacientes só é indicada para os casos que apresentem complicações graves, como meningites e encefalites. Medidas de controle Vacinação Rotina Na rotina dos serviços públicos de saúde, a vacinação contra a caxumba é ofertada para a população a partir de 12 meses, sendo que, para indivíduos até 29 anos de idade, o esquema recomendado é de duas doses das vacinas tríplice viral e/ou tetraviral, conforme descrito a seguir. - trada até os 4 anos, 11 meses e 29 dias de idade. Após esta faixa etária, completar o esquema com a vacina tríplice viral. Indivíduos de 30 a 49 anos de idade não vacinados anteriormente devem receber uma dose da vacina tríplice viral. Considerar vacinada a pessoa que comprovar uma dose de vacina tríplice viral. Situações de surto Na ocorrência de surto de caxumba, deve-se realizar intensificação da rotina de vacinação, com a busca ativa de pessoas não vacinadas ou com esquema incompleto para caxumba e que sejam contatos de casos suspeitos ou confirmados, nos locais onde estes casos estiverem concentrados (creches, escolas, faculdades, empresas, presídios, hospitais, entre outros). Nesta situação, a vacinação deve ser realizada de forma seletiva e em conformidade com as indicações do Calendário Nacional de Vacinação. A vacinação deve ser implementada tão logo os casos sejam identificados, visando minimizar a ocor- rência de novos casos. Eventos adversos da vacina As vacinas tríplice viral e tetraviral são seguras e pouco reatogênicas. Os eventos adversos mais ob- servados são febre, dor e rubor no local da administração, e exantema. As reações de hipersensibilidade são raras. Para mais informações, consultar o Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação, disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/dezembro/10/manual- -eventos-adversos-pos-vacina--ao-dez14-web.pdf>. Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 1. ed. Brasília, 2014. 812 p. Disponível em: <www.saude.gov.br/bvs>. Acesso em: 1 jun 2017. - ológica. Portaria nº 1.533, de 18 de agosto de 2016. Redefine o Calendário Nacional de Vacinação, o Calendário Nacional de Vacinação dos Povos Indígenas e as Campanhas Nacionais de Vacinação, no âm- bito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território nacional. Disponível em: <http:// GONZAGA, A. E.; ALOÉ, M. Caxumba. In: TONELLI, E.; FREIRE, L. M. S. Doenças Infecciosas na infância e adolescência. 2. ed. Minas Gerais: Medsi, 2000. Cap. 61, p. 839-850.
  • 195. Guia de Vigilância em Saúde 194
  • 196. 195 Botulismo CID 10: A05.1 Características gerais Descrição Doença neuroparalítica grave, não contagiosa, resultante da ação de toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum. Apresenta-se nas formas de botulismo alimentar, botulismo por ferimentos e bo- tulismo intestinal e caracteriza-se por manifestações neurológicas e/ou gastrointestinais. Agente etiológico O C. botulinum é um bacilo gram-positivo, anaeróbio e esporulado. Em sua forma vegetativa, pode produzir pré-toxina botulínica. São conhecidas 8 tipos de toxinas botulínicas: A, B, C1, C2, D, E, F e G. Os que causam doença no homem são: A, B, E e F, sendo os mais frequentes o A e o B. As condições ideais para que a bactéria assuma a forma vegetativa, produtora de toxina, são: anaero- biose, pH alcalino ou próximo do neutro (4,8 a 8,5), atividade de água de 0,95 a 0,97 e temperatura ótima de 37°C. Os tipos A e B se desenvolvem em temperaturas próximas das encontradas no solo (acima de 25 até 40°C), enquanto o tipo E é capaz de proliferação a partir de 3°C (considerada psicrófila moderada). Reservatório Os esporos do C. botulinum são amplamente distribuídos na natureza, em solos e sedimentos de lagos e mares. São identificados em produtos agrícolas, como legumes, vegetais e mel, e em intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos. Modo de transmissão Botulismo alimentar Ocorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos previamente contaminados, que foram pro- duzidos ou conservados de maneira inadequada. Os alimentos mais comumente envolvidos são: Botulismo por ferimentos É uma das formas mais raras de botulismo. Ocasionado pela contaminação de ferimentos com C. botulinum, que, em condições de anaerobiose, assume a forma vegetativa e produz toxina in vivo. As principais portas de entrada para os esporos são úlceras crônicas com tecido necrótico, fissuras, esmagamento de membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas, infecções dentárias ou, ainda, aqueles produzidos por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais em Botulismo
  • 197. Guia de Vigilância em Saúde 196 usuários de drogas inalatórias. Embora raros, são descritos casos de botulismo acidental associado ao uso terapêutico ou estético da toxina botulínica e à manipulação de material contaminado em laboratório (transmissão pela via inalatória ou contato com a conjuntiva). Botulismo intestinal Resulta da ingestão de esporos presentes no alimento, seguida da fixação e multiplicação do agente no ambiente intestinal, onde ocorre a produção e absorção de toxina. A ausência da microbiota de prote- ção permite a germinação de esporos e a produção de toxina na luz intestinal. Período de incubação Botulismo alimentar Pode variar de duas horas a 10 dias, com média de 12 a 36 horas. Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação. Botulismo por ferimento Pode variar de 4 a 21 dias, com média de 7 dias. Botulismo intestinal O período não é conhecido devido à impossibilidade de determinar o momento da ingestão de esporos. Períodos de incubação curtos sugerem maior gravidade e maior risco de ocorrência do óbito. Período de transmissibilidade Não há transmissão interpessoal. Suscetibilidade e vulnerabilidade A suscetibilidade é geral. Botulismo alimentar Toda pessoa está vulnerável, devido à ampla distribuição do agente etiológico na natureza. Botulismo por ferimentos Pessoas que, por algum motivo, apresentam fissuras, esmagamento de membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas, ou, ainda, ferimentos produzidos por agulhas em usuários de drogas inje- táveis e lesões nasais ou sinusais em usuários de drogas inalatórias são mais vulneráveis. Botulismo intestinal Em decorrência da ausência de microbiota de proteção intestinal, as crianças com idade entre 3 e 26 semanas são mais vulneráveis, bem como adultos que passaram por cirurgias intestinais, que apresentam acloridria gástrica, doença de Crohn e/ou uso de antibióticos por tempo prolongado, que também levam à alteração da microbiota intestinal. Manifestações clínicas Botulismo alimentar A doença se caracteriza por instalação súbita e progressiva. Os sinais e sintomas iniciais podem ser gastrointestinais e/ou neurológicos.
  • 198. 197 As manifestações gastrointestinais mais comuns são náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, e podem anteceder ou coincidir com os sinais e sintomas neurológicos. Os primeiros sinais e sintomas neurológicos podem ser inespecíficos, tais como cefaleia, vertigem e tontura. Os principais sinais e sintomas neurológicos são: visão turva, ptose palpebral, diplopia, disfagia, disartria e boca seca, íleo paralítico, hipotensão sem taquicardia e retenção urinária, evoluindo para para- lisia flácida motora descendente, associada a comprometimento autonômico disseminado. As manifesta- ções começam no território dos nervos cranianos e evoluem no sentido descendente. Essa particularidade distingue o botulismo da síndrome de Guillain-Barré, que é uma paralisia flácida aguda ascendente. Com a evolução da doença, a fraqueza muscular pode se propagar de forma descendente para os músculos do tronco e membros, o que pode ocasionar dispneia, insuficiência respiratória e tetraplegia flácida. A fraqueza muscular nos membros é tipicamente simétrica, acometendo com maior intensidade os membros superiores. Uma característica importante no quadro clínico do botulismo é a preservação da consciência. Na maioria dos casos, também não há comprometimento da sensibilidade, o que auxilia no diagnóstico diferencial com outras doenças neurológicas. O botulismo pode apresentar progressão por uma a duas semanas e estabilizar-se por mais duas a 3 semanas, antes de iniciar a fase de recuperação, com duração variável, que depende da formação de no- vas sinapses e restauração da função. Nas formas mais graves, o período de recuperação pode durar de 6 meses a 1 ano, embora os maiores progressos ocorram nos primeiros 3 meses após o início dos sintomas. Botulismo por ferimentos O quadro clínico é semelhante ao do botulismo alimentar; entretanto, os sinais e sintomas gastroin- testinais não são esperados. Pode ocorrer febre decorrente de contaminação secundária do ferimento. O botulismo por ferimento deve ser lembrado nas situações em que não se identifica uma fonte alimentar, especialmente em casos isolados da doença. Ferimentos ou cicatrizes nem sempre são encontrados em focos ocultos, como em mucosa nasal, seios da face e pequenos abscessos em locais de injeção, devem ser investigados, especialmente em usuários de drogas. Botulismo intestinal Nas crianças, o aspecto clínico do botulismo intestinal varia de quadros com constipação leve à sín- drome de morte súbita. A doença manifesta-se, inicialmente, por constipação e irritabilidade, seguidas de sinais e sintomas neurológicos caracterizados por dificuldade de controle dos movimentos da cabeça, sucção fraca, disfagia, choro fraco, hipoatividade e paralisias bilaterais descendentes, que podem progre- dir para comprometimento respiratório. Casos leves, caracterizados apenas por dificuldade em deglutir e fraqueza muscular discreta têm sido descritos. Em adultos, suspeita-se de botulismo intestinal na ausência de fontes prováveis de toxina botulínica, como alimentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas. Tem duração de duas a 6 semanas, com instalação progressiva dos sinais e sintomas por uma a duas semanas, seguida de recuperação em 3 a 4 semanas. Complicações Desidratação e pneumonia por aspiração podem ocorrer precocemente, antes mesmo da suspeita de botulismo ou do primeiro atendimento no serviço de saúde. A longa permanência sob assistência ventilatória e os procedimentos invasivos são considerados importantes fatores de risco para as infecções respiratórias, que podem ocorrer em qualquer momento da hospitalização. Botulismo
  • 199. Guia de Vigilância em Saúde 198 Diagnóstico Diagnóstico clínico Anamnese Para a investigação das doenças neurológicas que se manifestam por fraqueza muscular descendente, faz-se necessário realizar anamnese cuidadosa, buscando identificar fatores de risco específicos para botu- lismo. Deve-se avaliar o início e a progressão dos principais sinais e sintomas neurológicos apresentados. Na suspeita de botulismo alimentar, também devem ser investigados: viagens, exposição a agentes tóxicos, medicamentos e uso de drogas endovenosas; Exame físico geral De forma geral, prevalecem os sinais e sintomas neurológicos, sendo estes os primeiros e mais im- portantes achados ao se examinar o paciente. Sinais de desidratação, distensão abdominal e dispneia podem estar presentes. Não há febre, a menos que haja uma complicação infecciosa. No botulismo por ferimento, pode ocorrer febre secundária à infecção da ferida por outras bactérias. A frequência cardíaca é normal ou baixa, se não houver hipotensão (presente nas formas graves, com disfunção autonômica). Exame neurológico Avaliar deficit de força muscular nos membros e comprometimento da musculatura ocular, facial e bulbar. Verificar patelar, bicipital, tricipital, estilo-radial); sensibilidade; comprometimento do sistema nervoso au- tônomo; acuidade visual e preservação da audição. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico laboratorial é baseado na análise de amostras clínicas e bromatológicas (casos de bo- tulismo alimentar) para identificação da toxina ou isolamento da bactéria. Mais informações podem ser encontradas no Manual Integrado de Vigilância Epidemiológica do Botulismo (2006). Diagnóstico eletrofisiológico A eletroneuromiografia permite identificar se a lesão no sistema nervoso periférico localiza-se na raiz, nos plexos, no nervo, no músculo ou na junção neuromuscular. Dessa forma, esse exame é de grande valor no diagnóstico de botulismo ao demonstrar o comprometimento da junção neuromuscular, mais especificamente da membrana pré-sináptica, causada pela toxina botulínica. Além disso, o exame auxilia no diagnóstico diferencial com outras doenças com quadros clínicos semelhantes.
  • 200. 199 Diagnóstico diferencial Existem muitas doenças neurológicas que podem se manifestar com fraqueza muscular súbita e para- lisia flácida aguda. O Quadro 1 mostra os principais critérios utilizados para diferenciá-las do botulismo. Além dessas, existem outras doenças menos comuns que também devem ser consideradas no diag- nóstico diferencial: doença de Lyme, neuropatia diftérica, neuropatias tóxicas alimentares, neuropatia - encefalites, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, transtornos conversivos (histeria), hipopotassemia, intoxicação por atropina, beladona, metanol, monóxido de carbono, fenotiazínicos e en- venenamento por curare. Por ser uma doença do sistema nervoso periférico, o botulismo não está associado a sinais de en- volvimento do sistema nervoso central. A presença das manifestações abaixo relacionadas, em indivíduo previamente normal, é argumento contra a possibilidade dessa doença: piramidal nos membros acometidos por fraqueza; deficit sensitivo. Quadro 1 – Diagnóstico diferencial de botulismo Condição Fraqueza muscular Sensibilidade Características do líquor Botulismo Presente, simétrica e descendente Envolve a face Alterações discretas (parestesias) Não há deficit sensitivo Normal ou com leve hiperproteinorraquia Síndrome de Guillain-Barré Ascendente e simétrica O envolvimento da face é menos comum que no botulismo Hipoestesia em bota e luva Deficit de sensibilidade profunda Parestesias Dissociação proteíno-citológica Hiperproteinorraquia Celularidade normal ou discretamente elevada 3 ) Na 1a semana, pode ser normal Síndrome de Muller- Fisher (variante da Síndrome de Guillain-Barré) Fraqueza simétrica da face Diplegia facial, ptose palpebral, dificuldade de mastigação e de deglutição Não há comprometimento de membros Parestesias ou diminuição da sensibilidade da face e da língua Dissociação proteíno-citológica Hiperproteinorraquia Celularidade normal ou discretamente elevada 3 ) Miastenia gravis Flutuante envolvimento ocular (ptose palpebral e diplopia) é frequente Normal Normal Tratamento O êxito da terapêutica do botulismo está diretamente relacionado à precocidade com que é iniciada e às condições do local onde será realizada. O tratamento deve ser realizado em unidade hospitalar que disponha de unidade de terapia intensiva (UTI). Observa-se significativa redução da letalidade quando o paciente é tratado nessas unidades. Basicamente, o tratamento da doença se apoia em dois conjuntos de ações: tratamento de suporte e tratamento específico. Botulismo
  • 201. Guia de Vigilância em Saúde 200 Tratamento de suporte As medidas gerais de suporte e monitorização cardiorrespiratória são as condutas mais importantes no tratamento do botulismo. A disfagia, regurgitação nasal, comprometimento dos movimentos da língua, palato e, principalmente, da musculatura respiratória são sinais indicativos de gravidade e exigem atenção redobrada e ação imediata para evitar broncoaspiração e insuficiência respiratória. Nesses casos, a assistência ventilatória é essencial para evitar o óbito, podendo ser necessária por 4 (toxina tipo B) a 8 semanas (toxina tipo A) ou mais, se houver complicações. O tratamento de suporte baseia-se fundamentalmente nos seguintes procedimentos: intubação traqueal num paciente com botulismo, não é necessário esperar que a PCO2 esteja elevada ou que a saturação de O2 diminua, pois a espera de tais sinais pode representar maior risco de instalação da insuficiência respiratória. Os critérios para indicação de intubação são essencialmente clínicos. Para indicá-la, pode-se basear em cuidadosa avaliação da capacidade do paciente em garantir a permeabilidade das vias aéreas superiores. As paralisias podem causar asfixia e obstruções respiratórias altas (observar a mobilidade da língua e do palato, disfonia e disfagia); capacidade vital (aferida por espirômetro): em geral, a intubação é indicada quando a objetivo de eliminar a toxina do aparelho digestivo, exceto naqueles em que houver íleo paralítico; ser mantidas até que a capacidade de deglutição seja recuperada. Os antimicrobianos aminoglicosídeos e tetraciclinas podem piorar a evolução do botulismo, es- pecialmente em crianças, devido à redução da entrada de cálcio no neurônio, potencializando o bloqueio neuromuscular. Tratamento específico Visa eliminar a toxina circulante e sua fonte de produção, pelo uso do soro antibotulínico (SAB) e de antibióticos. Antes de iniciar o tratamento específico, todas as amostras clínicas para exames diagnósticos devem ser coletadas. O SAB atua contra a toxina circulante, que ainda não se fixou no sistema nervoso. Por isso, recomenda-se que o tratamento com SAB seja realizado o mais precocemente possível (até 7 dias a partir dos sintomas neurológicos); caso contrário, poderá não mais ser eficaz. Apresenta-se em forma de soro heterólogo, equino, geralmente em apresentação bivalente (contra os tipos A e B) ou trivalente (tipos A, B e E). A dose é uma ampola de antitoxina botulínica bi ou trivalente por via intravenosa, diluída em solu- ção fisiológica a 0,9%, na proporção de 1:10, para infundir em aproximadamente 1 hora. A solicitação do SAB para as unidades de tratamento deve ser realizada pelo médico que suspei- tou do caso à vigilância epidemiológica municipal, que acionará a vigilância epidemiológica estadual, que, por sua vez, acionará a Coordenação Estadual de Imunização. Sua liberação estará condicionada ao envio, para o e-mail [email protected], da ficha de notificação do caso suspeito, devidamen- te preenchida, junto a relatório sucinto do quadro clínico e à prescrição de SAB assinada e carimbada pelo médico.
  • 202. 201 A tomada de decisão deve ser conjunta e criteriosa, de acordo com o enquadramento na definição de caso e prazo estabelecido para administração do soro. Tal decisão deve ser registrada por e-mail enviado pela CGDT ([email protected]) à VE estadual e à Coordenação Geral do Programa Nacional de Imuni- zações (CGPNI). A VE estadual, por sua vez, será responsável por encaminhar esse e-mail para liberação do SAB à Coordenação Estadual de Imunização, que o enviará à Unidade de Saúde onde o paciente estiver. A indicação da antitoxina deve ser criteriosa, pois não é isenta de riscos, uma vez que de 9 a 20% das pes- soastratadaspodemapresentarreaçõesdehipersensibilidade.Noscasosdebotulismoporferimento,recomen- crianças, em doses fracionadas de 4 em 4 horas, via intravenosa, por 7 a 10 dias. O metronidazol também pode O debridamento cirúrgico deve ser realizado nos casos de botulismo por ferimento, preferencial- mente após o uso do SAB, mesmo quando a ferida tem bom aspecto. No botulismo intestinal, em menores de 1 ano de idade, acredita-se que a lise de bactérias na luz intestinal, provocada pelo antibiótico, pode piorar a evolução da doença por aumento dos níveis de toxina circulante. Em adultos, esse efeito não tem sido descrito, mas deve ser considerado quando a porta de entrada para a doença for o trato digestivo. O SAB e a antibioticoterapia não estão indicados para crianças menores de 1 ano de idade com botulismo intestinal. No botulismo alimentar, a indicação de antibióticos ainda não está bem estabelecida. Reposição do SAB Após administração de SAB no paciente, a Coordenação Estadual de Imunização deverá solicitar à CGPNI a reposição do insumo utilizado, nos pedidos de rotina mensal ou após a utilização, caso todo o estoque estadual tenha sido utilizado. Prognóstico O tratamento de suporte adequado pode resultar em completa recuperação. A letalidade do botu- lismo diminui de forma considerável quando a assistência médica aos pacientes é prestada em unidades de terapia intensiva (UTI). Mortes precoces geralmente resultam de falha em reconhecer a gravidade da doença e retardo em iniciar o tratamento. Quando ocorrem após a segunda semana, resultam em compli- cações, geralmente associadas à ventilação prolongada. Características epidemiológicas A distribuição do botulismo é mundial, com casos esporádicos ou surtos familiares, em geral relacio- nados à produção e à conservação de alimentos de maneira inadequada. No Brasil, a notificação de surtos e casos isolados passou a ser feita de forma sistemática a partir de 1999 e até hoje, na maioria dos casos investigados, a toxina identificada foi a do tipo A e os alimentos mais envolvidos foram conservas caseiras de carne suína (carne de lata), palmito (caseiro ou industrializado), patê (caseiro ou industrializado), tortas salgadas e tofu caseiro. Vigilância epidemiológica Objetivos e letalidade da doença. Botulismo
  • 203. Guia de Vigilância em Saúde 202 Definição de caso Suspeito Caso suspeito de botulismo alimentar e botulismo por ferimentos Indivíduo que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com preservação do nível de consciência, caracterizada por um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispneia. A exposição a alimentos potencialmente suspeitos da presença da toxina botulínica nos últimos 10 dias ou história de ferimentos nos últimos 21 dias reforça a suspeita. Caso suspeito de botulismo intestinal - sente um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: constipação, sucção fraca, disfagia, choro fraco, dificuldade de controle dos movimentos da cabeça. consciência, caracterizada por um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispneia, na ausência de fontes prováveis de toxina botulínica, como: alimentos contaminados, ferimentos ou uso de drogas. A exposição a alimentos com risco para presença de esporo de C. botulinum (por exemplo, mel, xaropes de milho) reforça a suspeita em menores de 1 ano. Confirmado Critério laboratorial - mente consumido. C. botulinum, produ- tor de toxinas, em amostras de fezes ou material obtido do ferimento. Critério clínico-epidemiológico Caso suspeito com vínculo epidemiológico com o caso confirmado e/ou história de consumo de ali- mento com risco para a presença da toxina botulínica, 10 dias antes dos sinais e sintomas, e/ou eletroneu- romiografia compatível com botulismo e/ou ferimento em condições de anaerobiose, nos últimos 21 dias. Óbito Indivíduo que foi a óbito com quadro clínico compatível com botulismo, com confirmação clínico- -epidemiológica e/ou clínico-laboratorial.
  • 204. 203 Notificação Devido à gravidade da doença e à possibilidade de ocorrência de outros casos resultantes da ingestão da mesma fonte de alimentos contaminados, um caso é considerado surto e emergência de saúde pública. Todo caso suspeito de botulismo exige notificação à vigilância epidemiológica lo- cal imediatamente (até 24 horas) e, posteriormente, a notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) por meio do preenchimento da Ficha de Investigação do Botulismo. Investigação Todo caso suspeito de botulismo deve ser investigado imediatamente, visando impedir a ocorrência de novos casos. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos da Ficha de Investigação do Botulismo relativos a dados gerais, notifica- ção individual e residência. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Para confirmar a suspeita diagnóstica - Anotar os dados da história e manifestações clínicas. - Caracterizar clinicamente o caso. - Verificar se já foi coletado e encaminhado material para exame diagnóstico (amostras clínicas e bromatológicas). - Determinar as prováveis fontes de infecção. - Acompanhar a evolução clínica dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos. Para identificação e determinação da extensão da área de ocorrência de casos - Realizar busca ativa de casos, sobretudo de sintomatologia leve, entre aqueles que consumiram os mesmos alimentos que os casos suspeitos, nas unidades de saúde que atendem à população circunvizinha à residência dos casos e nos hospitais com UTI. - Quando a fonte da contaminação for um alimento de larga distribuição, seja de origem in- dustrial ou artesanal, toda a área de distribuição do alimento suspeito deverá ser rastreada no intuito de se buscar novos casos suspeitos e interromper o consumo do alimento envolvido. Encerramento de caso O caso de botulismo deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias, de acordo com os critérios de definição de caso. Medidas de prevenção e controle Orientar as medidas de prevenção e controle, de acordo com o modo de transmissão e resultados da investigação do caso. Nos casos de transmissão alimentar, deve-se eliminar a permanência da fonte através da interrupção do consumo, distribuição e comercialização dos alimentos suspeitos. Apesar de a toxina botulínica ser letal e apenas uma pequena quantidade causar doença, as toxinas são termolábeis e podem ser destruídas se aquecidas a 80°C por, no mínimo, 10 minutos. Botulismo
  • 205. Guia de Vigilância em Saúde 204 Para a prevenção da produção de toxina botulínica pelo C. botulinum, é importante que haja: - gem, fermentação ou acidificação; Imunização A administração do toxoide botulínico polivalente é recomendada apenas a pessoas com atividade associada à manipulação do microrganismo. Ações de educação em saúde Orientar a população sobre o preparo, conservação e consumo adequado dos alimentos associados a risco de adoecimento. Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemi- ológica. Manual integrado de vigilância epidemiológica do botulismo. Brasília, 2006. - ológica. Nota Informativa conjunta no 19 de 2016 - CGDT/CGPNI/DEVIT/SVS/MS.
  • 206. 205 Cólera CID 10: A00 Características gerais Descrição Doença infecciosa intestinal aguda, causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae O1 ou O139, com manifestações clínicas variadas. Frequentemente, a infecção é assintomática ou oligossintomática, com diarreia leve. Pode também se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras. Quando não tratada prontamente, pode ocorrer desidratação intensa, levando a graves complicações e ao óbito. Sinonímia Cólera morbo, cólera asiática. Agente etiológico A cólera é causada pelo Vibrio cholerae toxigênico dos sorogrupos O1 ou O139. Outros sorogrupos (não O1 e não O139), toxigênicos ou não, assim como cepas não toxigênicas dos sorogrupos O1 e O139, também podem causar diarreia, porém menos severa que a cólera e sem potencial epidêmico. O V. cholerae O1 pode ser classificado em dois biotipos, Clássico e El Tor, os quais apresentam diferen- tes propriedades fenotípicas e genotípicas, patogenicidade e padrões de infecção e sobrevivência nos hospe- deiros humanos. As estirpes de El Tor são frequentemente associadas a infecções assintomáticas, menor taxa de mortalidade, melhor sobrevida no ambiente e no hospedeiro humano e maior eficiência da transmissão pessoa a pessoa, quando comparadas às estirpes clássicas, que causam manifestações clínicas mais graves. Reservatório O Vibrio cholerae tem como reservatórios o homem (portadores assintomáticos) e o ambiente aquáti- co. O V. cholerae faz parte da microbiota marinha e fluvial e pode se apresentar de forma livre ou associado a crustáceos, moluscos, peixes, algas, aves aquáticas, entre outros, incluindo superfícies abióticas. Algu- mas dessas associações permitem que a bactéria persista no ambiente durante períodos interepidêmicos, além de possibilitar a ocorrência de transmissão da cólera pelo consumo de peixes, mariscos e crustáceos crus ou malcozidos. Modo de transmissão A transmissão da cólera ocorre por via fecal-oral e pode ser direta ou indireta: Transmissão direta Transmissão indireta Período de incubação Varia de algumas horas a 5 dias. Na maioria dos casos, esse período é de 2 a 3 dias. Período de transmissibilidade Perdura enquanto houver eliminação do agente etiológico nas fezes, o que ocorre, na maioria dos casos, até poucos dias após a cura. Para fins de vigilância, o período aceito como padrão é de 20 dias. Cólera
  • 207. Guia de Vigilância em Saúde 206 Manifestações clínicas As manifestações clínicas mais frequentes da cólera são diarreia e vômitos, com diferentes graus de intensidade. Também pode ocorrer dor abdominal e, nas formas severas, cãibras, desidratação e choque. Febre não é uma manifestação comum. Nos casos graves, mais típicos, aproximadamente 20% dos in- fectados, o início é súbito, com diarreia aquosa, abundante e incoercível, com inúmeras dejeções diárias. Nesses casos, a diarreia e os vômitos determinam uma extraordinária perda de líquidos, que pode ser da ordem de 1 a 2 litros por hora. Tal quadro leva rapidamente à desidratação intensa e deve ser tratado pre- coce e adequadamente, para se evitar a ocorrência de complicações e óbito. Complicações As complicações da cólera são decorrentes da depleção hidrossalina, imposta pela diarreia e pelos vômitos, e ocorrem mais frequentemente em indivíduos idosos, diabéticos, desnutridos, portadores do vírus HIV e com patologia cardíaca prévia A desidratação não corrigida levará à deterioração progressiva da circulação, da função renal e do balanço hidroeletrolítico, causando dano a todos os sistemas do organismo. Como consequência, podem ocorrer choque hipovolêmico, necrose tubular renal, atonia intestinal, hipocalemia (levando a arritmias cardíacas) e hipoglicemia (com convulsões e coma em crianças). Em gestantes, o choque hipovolêmico pode induzir a ocorrência de aborto e parto prematuro. Diagnóstico Diagnóstico laboratorial É realizado a partir do cultivo de amostras de fezes ou vômitos. Quando o V. cholerae é isolado, a cepa deve ser enviada ao laboratório de referência nacional para realização da caracterização bioquímica, sorológica e molecular. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial deve ser realizado considerando-se todas as doenças diarreicas agudas, por isso, outros enteropatógenos devem ser pesquisados. Dessa forma, recomenda-se que as amostras clínicas sejam coletadas e encaminhadas ao laboratório de forma simultânea, para análise viral, bacte- riana e parasitológica. Tratamento O tratamento eficiente da cólera se fundamenta na rápida reidratação dos pacientes, através da administração de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, depen- dendo da gravidade do caso. Aproximadamente 80% dos casos de cólera desenvolvem sintomas leves ou moderados e devem ser tratados por meio da administração de líquidos e SRO (planos A e B). Os pacientes que apresentem desidratação grave devem ser tratados através da administração de fluidos endovenosos (plano C). Para identificar o grau de desidratação do paciente e decidir o plano de tratamento adequado, os sinais e sintomas devem ser observados de acordo com o quadro 1.
  • 208. 207 Quadro 1 – Avaliação do estado de hidratação do paciente e definição do plano de tratamento adequado OBSERVE Estado geral Bem alerta Irritado, intranquilo Comatoso, hipotônico Olhos Normais Fundos Muito fundos Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes Sede Bebe normalmente Sedento, bebe rápido e avidamente Bebe com dificuldade ou é incapaz de beber* EXPLORE Sinal de prega Desaparece rapidamente Desaparece lentamente Desaparece muito lentamente (mais de 2 segundos) Pulso Cheio Rápido, fraco Muito fraco ou ausente* Enchimento capilar Normal (até 3 segundos) Prejudicado (de 3 a 5 segundos) Muito prejudicado (mais de 5 segundos)* DECIDA Grau de hidratação SEM SINAIS DE DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais: DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais, incluindo pelo menos um dos destacados com asterísco (*): DESIDRATAÇÃO GRAVE TRATE Plano de tratamento Use Plano A Use Plano B Use Plano C Plano A (para prevenir a desidratação no domicílio) Destina-se a pacientes com diarreia SEM sinais de desidratação. O tratamento é domiciliar. Explicar ao paciente ou acompanhante o que fazer no domicílio. - O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, soro caseiro, chá, suco e sopas) ou SRO após cada evacuação diarreica (Quadro 2). - Não se deve utilizar refrigerantes nem adoçar o chá ou suco. - continuar o aleitamento materno; - manter a alimentação habitual para as crianças e adultos. levá-lo imediatamente ao serviço de saúde: - piora da diarreia; - vômitos repetidos; - muita sede; - recusa de alimentos; - sangue nas fezes; - diminuição da diurese. - Até 6 meses de vida . - Acima de 6 meses de vida . Cólera
  • 209. Guia de Vigilância em Saúde 208 Quadro 2– Quantidade de líquidos que deve ser administrada/ingerida após cada evacuação diarreica, de acordo com a faixa etária Idade Volume Menor de 1 ano 50-100mL De 1 a 10 anos 100-200mL Maior de 10 anos Quantidade que o paciente aceitar Plano B (para tratar a desidratação por via oral na unidade de saúde) Destina-se a pacientes COM sinais de desidratação, mas com capacidade de ingerir líquidos, que devem ser tratados com SRO na unidade de saúde, onde deverão permanecer até a reidratacão completa. - a quantidade de solução ingerida depende da sede do paciente; - aSROdeveseradministradacontinuamente,atéquedesapareçamossinaisesintomasdedesidratação; administrados no período de 4 a 6 horas. - Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilizar o Plano A. - Se continuar desidratado após o período de 4 horas, repetir o Plano B por mais 2 horas e reava- liar, ou indicar a sonda nasogástrica (gastróclise). - Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o Plano C. - reconhecer os sinais de desidratação; - preparar e administrar a SRO; - manter a alimentação habitual; e - praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água, higienização dos alimentos). Plano C (tratar a desidratação grave na unidade hospitalar) Destina-se a pacientes com diarreia e desidratação grave. Se o paciente apresentar sinais e sintomas de desidratação grave, com ou sem choque (palidez acen- tuada, pulso radial filiforme ou ausente, hipotensão arterial, depressão do sensório), a sua reidratação deve ser iniciada imediatamente por via endovenosa, em duas fases para todas as faixas etárias: fase rápida e fase de manutenção e reposição (Quadro 3). Avaliar o paciente continuamente. Se não houver melhora da desidratação, deve-se aumentar a velocidade de infusão. - ção venosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação endovenosa. quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um pa- ciente para outro, dependendo do volume das evacuações. de saúde até que estejam hidratados e conseguindo manter a hidratação por via oral.
  • 210. 209 Quadro 3 – Esquemas de reidratação para pacientes com desidratação grave, de acordo com a faixa etária Fase rápida – menor de 5 anos (fase de expansão) Solução Volume Tempo de administração Soro fisiológico 0,9% Iniciar com 20mL/kg Repetir essa quantidade até que a criança esteja hidratada, reavaliando os sinais clínicos após cada fase de expansão administrada 30 minutos Para recém-nascidos e cardiopatas graves, começar com 10mL/kg Fase rápida – maior de 5 anos (fase de expansão) Solução Volume total Tempo de administração 1º Soro fisiológico 0,9% 30mL/kg 30 minutos 2º Ringer-lactato ou solução polieletrolítica 70mL/kg 2 horas e 30 minutos Fase de manutenção e reposição para todas as faixas etárias Solução Volume em 24 horas Soro glicosado 5% + soro fisiológico 0,9% na proporção de 4:1 (manutenção) + Peso até 10kg 100mL/kg Peso de 10 a 20kg 1.000mL + 50mL/kg de peso que exceder 10kg Peso acima de 20kg 1.500mL + 20mL/kg de peso que exceder 20kg Soro glicosado 5% + soro fisiológico 0,9% na proporção de 1:1 (reposição) + Iniciar com 50mL/kg/dia. Reavaliar esta quantidade de acordo com as perdas do paciente KCl 10% 2mL para cada 100mL de solução da fase de manutenção - ção da duração da diarreia e dos episódios sucessivos. Para crianças com menos de 6 meses de idade, recomenda-se a administração de 10mg de zinco por dia; para crianças com mais de 6 meses, a dose re- comendadaéde20mgpordia.Emambososcasos,aadministraçãodevesermantidaporduassemanas. Uso de antibióticos A reidratação rápida e apropriada é a principal intervenção de manejo para tratamento de casos de cóle- ra (por via oral nos casos leves e moderados e por via endovenosa nos casos graves). Em casos de cólera com desidratação grave, podem ser administrados antibióticos apropriados, para diminuir a duração da diarreia, reduzir o volume de fluidos de reidratação necessário e encurtar a duração da excreção de V. cholerae. Quadro 4 – Antibióticos que podem ser utilizados em casos de cólera com desidratação grave (em conjunto com a reidratação endovenosa) Adultos Crianças Gestantes Medicamentos de 1ª escolha Outras opções Medicamentos de 1ª escolha Outras opções Medicamentos de 1ª escolha Outras opções Doxiciclina 300mg (dose única) Azitromicina 1,0g (dose única) Eritromicina 12,5mg/kg (6 em 6 horas por 3 dias) Doxiciclina 2 a 4mg/kg (dose única) Eritromicina 500mg (6 em 6 horas por 3 dias) - Ciprofloxacino 1,0g (dose única) Azitromicina 20mg/kg (dose única) Ciprofloxacino 20mg/kg (dose única) Azitromicina 1,0g (dose única) - Cólera
  • 211. Guia de Vigilância em Saúde 210 Características epidemiológicas A deficiência do sistema de abastecimento de água tratada, a falta de saneamento básico, o destino inadequado dos dejetos, a alta densidade populacional, as carências habitacionais e a higiene inadequada favorecem a instalação e rápida disseminação do V. cholerae. A incidência é maior nos períodos mais secos do ano, quando há diminuição do volume de água nos reservatórios e mananciais. A 7a pandemia de cólera, iniciada em 1961 nas Ilhas Célebes e causada pelo Vibrio cholerae El Tor, chegou ao Brasil em 1991 pela fronteira do Amazonas com o Peru, expandindo-se de forma epidêmica para as regiões Norte e Nordeste e fazendo incursões ocasionais nas demais regiões. A partir de 1995, a doença tornou-se endêmica, com 95% dos casos concentrados na região Nordeste. Após o início da epidemia no país, o ano de 1993 registrou o maior número de casos (mais de 60.000) e de óbitos (670). A partir daí, o número de casos oscilou, com declínio gradativo até 2001, quando foram registrados 7 casos, procedentes dos estados do Ceará, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Os últimos casos autóctones foram registrados em 2004 (21 casos em Pernambuco) e em 2005 (5 casos em Pernambuco). Posteriormente, 3 casos importados foram identificados, sendo um caso procedente de Angola, em 2006, um caso proceden- te da República Dominicana, em 2011, e um caso procedente de Moçambique, em 2016. Vigilância epidemiológica Objetivos Definições de caso Caso suspeito Em áreas sem evidência de circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico, são considerados casos suspeitos: casos de cólera, que apresente diarreia aquosa aguda até o 10º dia de sua chegada; e que apresente diarreia aquosa aguda em até 10 dias após o contato, independentemente da faixa etária. presença de desidratação rápida, acidose e colapso circulatório reforça a suspeita. Em locais onde a sensibilidade e a capacidade operacional do Sistema de Vigilância Epidemiológica permitam, esse limite deverá ser modificado para maiores de 5 anos. Em áreas com evidência de circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico: Caso confirmado Critério laboratorial Caso suspeito que apresente isolamento de V. cholerae O1 ou O139 toxigênico em amostra de fezes ou vômito.
  • 212. 211 Além de permitir a confirmação de casos, a análise laboratorial é importante para avaliar e monito- rar as características das cepas circulantes e a ocorrência de resistência a antibióticos. O exame laboratorial só confirma ou descarta o caso se o laudo for emitido por Laboratórios de Referência em Saúde Pública. Há evidencias de que é possível ocorrer septicemia causada por Vibrio cholerae. Como são casos raros, devem ser investigados e relatados ao Ministério da Saúde. Entretanto, somente devem ser notifi- cados no Sinan se estiverem de acordo com a definição de caso suspeito de cólera. Ressalta-se ainda que a identificação de Vibrio cholerae em hemocultura não configura critério laboratorial para confirmação de cólera. Critério clínico-epidemiológico Em áreas sem evidência de circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico - Qualquer indivíduo, com 5 ou mais anos de idade, proveniente de área com circulação de V. cholerae O1 ou O139 toxigênico, que apresente diarreia aquosa aguda até o 10º dia de sua chegada. Esse caso será considerado caso importado para a região onde foi atendido, desde que outra etiologia tenha sido afastada laboratorialmente, e será considerado autóctone para a região da qual procedeu. Em áreas com circulação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico - Qualquer indivíduo com no mínimo 5 anos de idade que apresente diarreia aquosa aguda, desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra etiologia. - Menores de 5 anos de idade que apresentem diarreia aquosa aguda e história de contato com caso de cólera num prazo de 10 dias, desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra etiologia. No caso de paciente adulto procedente de área de circulação de V. cholerae O1 ou O139 toxigênico, um exame laboratorial com resultado negativo só descarta o caso se houver segurança de que a co- leta e o transporte da amostra foram realizados de maneira adequada. Portador assintomático Indivíduo que, sem apresentar os sinais e sintomas da doença, atua como reservatório e elimina o agente etiológico por determinado período de tempo, podendo ser responsável pela introdução de epide- mia em área indene ou pela manutenção da circulação do V.cholerae O1 ou O139 toxigênico no ambiente. - tam de antibioticoterapia. Descartado Todo caso suspeito que não se enquadrar nas definições de casos confirmados. Caso importado É o caso em que a infecção ocorreu em área diferente daquela onde foi diagnosticado, tratado ou teve sua evolução. Nessa situação, o local de procedência deve ser notificado, para apoiar a investigação. Cólera
  • 213. Guia de Vigilância em Saúde 212 Notificação Todo caso suspeito ou confirmado de cólera deverá ser notificado de forma imediata pelo profissio- nal de saúde ou responsável pelo serviço assistencial que prestar o primeiro atendimento ao paciente, em até 24 horas, pelo meio mais rápido disponível. A autoridade de saúde que receber a notificação compul- sória imediata deverá informá-la, em até 24 horas desse recebimento, às demais esferas de gestão do SUS. A notificação, independentemente da forma como for realizada, também deverá ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e seguirá o fluxo de compartilhamento entre as esferas de gestão do SUS estabelecido pela SVS/MS. Investigação A investigação (Figura 1) deve ser iniciada imediatamente após a notificação do caso suspeito ou confirmado, utilizando-se a Ficha de Investigação da Cólera. Tal investigação tem como objetivo identi- ficar a fonte de infecção e o modo de transmissão; confirmar o diagnóstico; identificar grupos expostos a maior risco e fatores de risco; determinar as principais características epidemiológicas; e orientar quanto às medidas de prevenção e controle. A investigação de todos os casos suspeitos e confirmados está recomendada para todas as áreas si- lenciosas. Nas outras áreas, em situações de surto, recomenda-se a investigação de todos os casos durante o início do evento. A partir da progressão do processo epidêmico e do aumento do número de casos, a investigação completa deve ser realizada à medida que os limites operacionais o permitam. Em algumas áreas, o conjunto de condições socioeconômicas e culturais pode favorecer a instalação e rápida disseminação do V. cholerae. A análise da distribuição dos casos, de acordo com as áreas de ocor- rência, proporcionará o conhecimento do comportamento da cólera, em todos os níveis, e subsidiará o planejamento e o direcionamento espacial das medidas de prevenção e controle. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos dos itens relativos aos dados gerais, notificação individual e residência. Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Para confirmação da suspeita diagnóstica - Caracterização clínica do caso: evolução dos sinais e sintomas; características da diarreia e do vômito; grau de desidratação. Deverá ser observado se já foi iniciada a reidratação oral. - Se indicada a investigação laboratorial, coletar (antes da utilização de antibióticos) e encami- nhar ao laboratório, amostra de fezes ou vômito, caso esse procedimento não tenha sido ainda efetuado por profissionais da unidade de saúde (verificar qualidade da amostra coletada). - Acompanhar a evolução do(s) caso(s) e os resultados dos exames laboratoriais específicos. Para identificação da área de transmissão - Reconstituir as atividades realizadas pelo caso, nos dez dias que precederam ao início da diar- reia aquosa aguda, tais como: . investigar a história de deslocamentos no município (urbano/rural), estado e país, bem como o tempo de permanência; . verificar se a área de procedência do caso tem ocorrência de cólera; . examinar histórias de contato com caso compatível com cólera; . investigar sobre o histórico alimentar
  • 214. 213 História do deslocamento Condições de saneamento no domicílio Condições de saneamento no trabalho História de contato com caso confirmado Dentro da própria área de ocorrência rural ou urbana Em trânsito Urbana ou rural Com casos registrados Verificar se é da mesma área de procedência de casos anteriores Verificar o trajeto durante os últimos 10 dias que antecederam os sintomas De área urbana do mesmo município para área rural e vice-versa De um município/estado Em trânsito – vide origem do caso Discutir informações com equipe técnica (saneamento, vigilância ambiental, educação em saúde, laboratório) Investigar a fonte provável de infecção caso ainda não seja conhecida Para identificação da área de transmissão (visita domiciliar e à comunidade) Vigilância ambiental Saneamento Educação em saúde Vigilância sanitária Para determinação da extensão da transmissão Para determinação da provável fonte de infecção Alimentos Água Efluentes Identificação da fonte de contaminação Coleta de água para exame bacteriológico Identificação da fonte de contaminação Coleta de água para exame bacteriológico Identificação da fonte de contaminação Coleta de material para exame bacteriológico Adoção de medidas pertinentes Vigilância de novos casos de diarreia nos próximos 30 dias, por meio da monitorização das doenças diarreicas (MDDA) Proceder como novo caso suspeito Educação em saúde Assintomático Sintomático Investigação de contatos Caso suspeito Vibrio cholerae Desencadeia investigação Adoção e/ou fortalecimento de medidas de prevenção e controle Figura 1 – Fluxograma de investigação de casos suspeitos de cólera Cólera
  • 215. Guia de Vigilância em Saúde 214 . buscar informações sobre a água para consumo humano (fontes de abastecimento, qualidade e tratamento), sobre a situação da disposição dos dejetos e resíduos sólidos e sobre a realização de monitoramento ambiental para identificação do V. cholerae. Para determinação da extensão da área de transmissão - Realizar levantamento dos casos de doença diarreica aguda, no local de ocorrência de casos sus- peitos de cólera, visando verificar o aumento de incidência, principalmente em maiores de 5 anos. - Realizar busca ativa nas áreas de provável procedência: . áreas com casos confirmados rua, ou toda a comunidade, dependendo do tamanho da área de ocorrência, da distribuição dos casos e da capacidade operacional), nos serviços de saúde, farmácias, curandeiras, por meio de entrevistas com lideranças comunitárias; . áreas silenciosas que a doença não esteja ocorrendo. A falta de conhecimento sobre a doença, a ocorrência de oligossintomáticos e o difícil acesso da população aos serviços de saúde contribuem para a existência de áreas silenciosas; . áreas de risco - te a ocorrência de surtos e desencadear as medidas de prevenção e controle adequadas. Para determinação da fonte de infecção - Identificar a procedência da água de consumo humano e cuidados com o tratamento. - Identificar a procedência de alimentos ingeridos crus (frutas, legumes e verduras). - Coletar amostras de alimentos de água para consumo humano e amostras ambientais, o mais precocemente possível, considerando os resultados das investigações realizadas e as orientações técnicas do laboratório. - Investigar indivíduos que manipulam alimentos, principalmente quando houver surto com pro- vável fonte alimentar comum (restaurantes ou refeitórios). - Investigar prováveis portadores sadios. Não aguardar os resultados das análises laboratoriais para desencadear outras atividades de investigação e as medidas de controle. Encerramento de caso O caso de cólera deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias da notificação. A classificação final do caso deve seguir os critérios descritos no item Definição de caso. Informações complementares Monitorização das doenças diarreicas agudas É de fundamental importância que as equipes de vigilância epidemiológica locais implantem ou implementem a Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA) em sua área de abrangência, acompanhando seu comportamento no tempo e sua distribuição por faixa etária. Área de circulação do V. cholerae Aquela onde já foi isolado o V. cholerae O1 ou O139 toxigênico em, pelo menos, 5 amostras (clínicas autóctones e/ou ambientais).
  • 216. 215 Área de risco para cólera Local ou região onde o conjunto de condições socioeconômicas e ambientais favorece a instalação e rápida disseminação do V. cholerae O1 ou O139 toxigênico. É necessário delimitar o micro ou o macroambiente e os locais de suposta circulação do agente etiológico, para se definir o caráter e a abrangência das ações preventivas e assistenciais de saúde pública. A delimitação dessas áreas deve ser definida pelo nível local, não precisando, necessariamente, obedecer aos limites impostos por fronteiras político-administrativas. A área de risco pode ser uma única residência, uma rua, um bairro etc. Fatores ambientais, populacionais e de serviços, que devem ser considerados para definição e deli- mitação de áreas de risco, são: - mente em áreas sujeitas a ciclos de cheias e secas); per capita; outros locais); deficit na oferta de serviços de atenção à saúde; A delimitação da área de risco é feita associando-se dados referentes ao isolamento do agente etioló- gico aos fatores mencionados. A identificação e a delimitação dessas áreas são importantes para priorizar o desenvolvimento das ações de controle e devem ser redefinidas à medida que novos fatores e novas áreas de circulação sejam identificados. Medidas de prevenção e controle Uma das ações prioritárias é o investimento público para melhoria da infraestrutura dos serviços de abastecimento de água para consumo humano, coleta e tratamento de esgotos e resíduos sólidos, no senti- do de prover a população de condições adequadas de saneamento básico, contribuindo para a prevenção, controle e redução dos riscos e casos da doença. Essas medidas deverão ser realizadas pela vigilância epi- demiológica, sanitária e ambiental, assistência à saúde, saneamento, educação em saúde, órgãos de meio ambiente e de recursos hídricos, para implementação de atividades de controle da doença. Dessa forma, para prevenção e controle da cólera, orienta-se a realização das seguintes ações. - dos, tanto domésticos quanto das unidades de saúde. de saúde. Realização de monitoramento ambiental do V. cholerae. no comércio ambulante. Estabelecimento de processos de trabalho para se garantir a qualidade dos processos de limpeza, desinfecção e sanitização, especialmente para serviços de saúde e para a área de preparo de alimentos. Cólera
  • 217. Guia de Vigilância em Saúde 216 - clorito de sódio 2,5% e, na falta da solução de hipoclorito de sódio 2,5%, orientar quanto à neces- sidade de ferver a água durante 5 minutos, marcando os 5 minutos após o início da fervura. São medidas não recomendadas e totalmente inócuas as tentativas de prevenção e controle da cólera por meio da quimioprofilaxia de massa, e da restrição à circulação de pessoas e mercadorias. Diante da ameaça da cólera, as pressões para que se adotem tais tipos de medidas são geradas pelo pânico entre a população ou pela desinformação dos profissionais. Tratamento da água no domicílio com solução de hipoclorito de sódio (2,5%) O tratamento da água em domicílios deve obedecer aos seguintes passos. O acondicionamento da água já tratada deve ser feito em recipientes higienizados que possam ser hermeticamente fechados, preferencialmente de boca estreita, para evitar a contaminação posterior pela introdução de utensílios utilizados para retirada da água (canecos, conchas e outros). (descer o material em suspensão) até que fique limpa. Após a decantação, coletar a água da parte de cima do vasilhame e colocar em uma vasilha limpa. Colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, para inativação de microrganismos que causam a doença. Bibliografia ANDRADE, A. P. M. Gastroenterite aguda. In: SCHVARTSMAN, C. R.; GORETE, A.: FARHAT, S. C. L. Pediatria – Pronto Socorro. Barueri, SP: Manole, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência e controle das doenças diarreicas. Brasília, 1993. Cólera: manual de diagnós- tico laboratorial. Brasília, 1992. 32 p. Processamento de artigos e superfí- cies em estabelecimento de saúde. Brasília, 1993. Cólera, transmissão e prevenção em ali- mentos e ambiente. Brasília, 1993. 43 p. - ordenação de Doenças Entéricas. Manual de cólera: subsídios para a vigilância epidemiológica. 2. ed. Brasília, 1993. 35 p. Cólera, ações de saneamento para prevenção e controle. Brasília, 1994. 51 p.
  • 218. 217 - ológica. Capacitação em monitorização das doenças diarreicas agudas − MDDA: manual do monitor. Brasília, 2010. - ológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed., rev. Brasília, 2010. - ológica. Manual Integrado de Vigilância Epidemiológica da Cólera. Brasília, 2010. - ológica. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimen- tos. Brasília, 2010.158 p. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Media centre – CHOLERA. Atualizado em outubro de 2016. Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs107/en/>. Acesso em: 23 jan. 2017. RIBEIRO JÚNIOR, H. C; MATTOS, A. P.; ALMEIDA, I. R. Diarreia aguda e desidratação. In: CAR- VALHO, E.; SILVA, L. R.; FERREIRA, C. T. Gastroenterologia e Nutrição. Barueri, SP: Manole, 2012. p. 220-227. SAFA, A.; NAIR, G. B.; KONG, R. Y. C. Evolution of new variants of Vibrio cholerae O1. Trends in Mi- crobiology, v.18, n.1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diarrhoea: why children are still dying and what can be done. Geneva, 2009. The treatment of diarrhoea th ed. Geneva, 2005. Cólera
  • 219. Guia de Vigilância em Saúde 218 ANEXO A Coleta de amostras de material clínico Instrumento Método Transporte e viabilidade da amostra Swab retal Introduzir o swab na ampola retal, comprimindo-o, em movimentos rotatórios suaves, em toda a extensão da ampola Inocular no meio de transporte Cary-Blair ou em 10-20mL de água peptonada alcalina (pH entre 8,4 – 8,6) Processar as amostras acondicionadas em meio de Cary-Blair, de 24 a 72 horas após a coleta, se mantidas em temperatura ambiente (no caso de temperatura ambiente acima de 30ºC, colocar o meio de Cary-Blair em recipiente com água em temperatura natural) ou em até 7 dias, se mantidas sob refrigeração (entre 4 e 8ºC) Swab fecal Recolher parte das fezes com o auxílio de um swab Introduzir o swab no meio de transporte Cary-Blair ou água peptonada alcalina Processar as amostras acondicionadas em tubos de água peptonada alcalina até 12 horas após a coleta O meio de transporte Cary-Blair conserva, por até 4 semanas, numerosos tipos de bactérias, inclusive vibriões. No entanto, como o swab, retal ou fecal, contém outros microrganismos da flora normal, recomenda-se processá-lo de 24 a 72 horas após a coleta (a 30ºC) ou em até 7 dias, se mantido sob refrigeração (4 a 8ºC) As amostras coletadas por swab devem ser semeadas de imediato se não forem acondicionadas no meio de transporte apropriado Fezes in natura Recolher entre 3 e 5g de fezes, diarreicas ou não, em recipiente de boca larga, limpo e/ou esterilizado (não utilizar substâncias químicas) Evitar recolher amostras fecais contidas nas roupas, superfície de cama ou chão A semeadura deve ser realizada imediatamente após a coleta Papel de filtro Utilizar tiras de papel de filtro, tipo xarope ou mata-borrão (2,5cm de largura por 6,5cm de comprimento) Espalhar as fezes diarreicas ou emulsionadas em água em 2/3 de uma das superfícies do papel, com o auxílio de um fragmento de madeira ou outro material disponível Acondicionar as tiras de papel de filtro em invólucros plásticos, perfeitamente vedados Colher a amostra, tampar e observar a umidade (a amostra só é válida enquanto o papel de filtro se mantiver úmido)
  • 220. 219 Doenças Diarreicas Agudas CID 10: A00 a A09 Características gerais Descrição Caracterizam-se pela diminuição da consistência das fezes, aumento do número de evacuações, com fezes aquosas; em alguns casos, há presença de muco e sangue (disenteria). São autolimitadas, com duração de até 14 dias. Podem ser classificadas em três tipos: diarreia sem desidratação; diarreia com desidratação; e diarreia com desidratação grave. Quando tratadas incorretamente ou não tratadas, podem levar à desidratação grave e ao distúrbio hidroeletrolítico, podendo ocorrer óbito, principalmente quando associadas à desnutrição. Sinonímia Gastroenterite aguda, gastroenterocolite aguda (GECA), dor de barriga, disenteria, desarranjo, destempero, entre outras. Agente etiológico Os agentes etiológicos de origem infecciosa são as bactérias e suas toxinas, vírus, para- sitos e toxinas naturais (Quadros 1, 2 e 3). Reservatório O reservatório é específico para cada agente etiológico, sendo os principais: humanos, primatas, ani- mais domésticos, aves, bovinos, suínos, roedores e outros (Quadros 1, 2 e 3). Quadro 1 – Principais bactérias envolvidas nas doenças diarreicas agudas, modos de transmissão, reservatórios e grupos etários dos casos Agente etiológico Grupo etário dos casos Modo de transmissão e principais fontes Reservatório Bacillus cereus Todos Alimentos Ambiente e alimentos Staphylococcus aureus Todos Alimentos Humanos e animais Campylobacter spp Todos Fecal-oral, alimento, água, animais domésticos Aves, bovinos e ambiente Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC) Todos Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos E. coli enteropatogênica Crianças Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos E. coli enteroinvasiva Adultos Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos E. coli êntero-hemorrágica Todos Fecal-oral, alimento, pessoa a pessoa Humanos Salmonella não tifoide Todos, principalmente crianças Fecal-oral, alimento, água Aves, mamíferos domésticos e silvestres, bem como répteis Shigella spp Todos, principalmente crianças Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Primatas Yersinia enterocolitica Todos Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa, animal doméstico Suínos Vibrio cholerae Todos, principalmente adultos Fecal-oral, alimento, água Ambiente Fonte: CDC (1990), com adaptações. Doenças Diarreicas Agudas
  • 221. Guia de Vigilância em Saúde 220 Quadro 2 – Principais vírus envolvidos nas doenças diarreicas agudas, modos de transmissão, reservatórios e grupos etários dos casos Agente etiológico Grupo etário dos casos Modo de transmissão e principais fontes Reservatório Astrovírus Crianças e idosos Fecal-oral, alimento, água Provavelmente humanos Calicivírus Todos Fecal-oral, alimento, água, nosocomial Provavelmente humanos Adenovírus entérico Crianças Fecal-oral, nosocomial Provavelmente humanos Norwalk Todos Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos Rotavírus grupo A Crianças Fecal-oral, nosocomial, alimento, água, pessoa a pessoa Humanos Rotavírus grupo B Todos Fecal-oral, água, pessoa a pessoa Humanos Rotavírus grupo C Todos Fecal-oral Humanos Fonte: CDC (1990), com adaptações. Quadro 3 – Principais parasitas envolvidos nas doenças diarreicas agudas, modos de transmissão, reservatórios e grupos etários dos casos Agente etiológico Grupo etário dos casos Modo de transmissão e principais fontes Reservatório Balantidium coli Indefinido Fecal-oral, alimentos, água Primatas, roedores e suínos Cryptosporidium Crianças e adultos com aids Fecal-oral, alimentos, água, pessoa a pessoa, animais domésticos Humanos, bovinos, outros animais domésticos Entamoeba histolytica Todos, principalmente adultos Fecal-oral, alimentos, água Humanos Giardia lamblia Todos, principalmente crianças Fecal-oral, alimentos, água Humanos, animais selvagens e domésticos Cystoisospora belli Adultos com aids Fecal-oral Humanos Fonte: CDC (1990), com adaptações. Modo de transmissão O modo de transmissão é específico para cada agente etiológico (Quadros 1, 2 e 3), e pode acontecer transmissão direta ou indireta: Transmissão direta Transmissão indireta - nados (por exemplo, utensílios de cozinha, acessórios de banheiros, equipamentos hospitalares). A contaminação pode ocorrer em toda a cadeia de produção alimentar, desde as atividades primárias até o consumo (plantio, transporte, manuseio, cozimento, acondicionamento). Os manipuladores contaminam alimentos e utensílios. Período de incubação É específico para cada agente etiológico (Quadros 4, 5 e 6).
  • 222. 221 Quadro 4 – Manifestações clínicas, período de incubação e duração da doença das principais bactérias envolvidas nas doenças diarreicas agudas Agente etiológico Manifestações clínicas Período de incubação Duração da doençaDiarreia Febre Vômito Bacillus cereus Geralmente pouco importante Rara Comum 1 a 6 horas 24 horas Staphylococcus aureus Geralmente pouco importante Rara Comum 1 a 6 horas 24 horas Campylobacter Pode ser disentérica Variável Variável 1 a 7 dias 1 a 4 dias Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC) Aquosa, pode ser profusa Variável Eventual 12 horas a 3 dias 3 a 5 dias E. coli enteropatogênica Aquosa, pode ser profusa Variável Variável 2 a 7 dias 1 a 3 semanas E. coli enteroinvasiva Pode ser disentérica Comum Eventual 2 a 3 dias 1 a 2 semanas E. coli êntero-hemorrágica Inicia aquosa, com sangue a seguir Rara Comum 3 a 5 dias 1 a 12 dias Salmonella não tifoide Pastosa, aquosa, às vezes, com sangue Comum Eventual 8 horas a 2 dias 5 a 7 dias Shigella Pode ser disentérica Comum Eventual 1 a 7 dias 4 a 7 dias Yersinia enterocolitica Mucosa, às vezes, com presença de sangue Comum Eventual 2 a 7 dias 1 dia a 3 semanas Vibrio cholerae Pode ser profusa e aquosa Geralmente afebril Comum 5 a 7 dias 3 a 5 dias Fonte: CDC (1990), com adaptações. Quadro 5 – Manifestações clínicas, período de incubação e duração da doença dos principais vírus envolvidos nas doenças diarreicas agudas Agente etiológico Manifestações clínicas Período de incubação Duração da doença Diarreia Febre Vômito Astrovírus Aquosa Eventual Eventual 1 a 14 dias 1 a 14 dias Calicivírus Aquosa Eventual Comum em crianças 1 a 3 dias 1 a 3 dias Adenovírus entérico Aquosa Comum Comum 7 a 8 dias 8 a 12 dias Norwalk Aquosa Rara Comum 18 horas a 2 dias 12 horas a 2 dias Rotavírus grupo A Aquosa Comum Comum 1 a 3 dias 5 a 7 dias Rotavírus grupo B Aquosa Rara Variável 2 a 3 dias 3 a 7 dias Rotavírus grupo C Aquosa Ignorado Ignorado 1 a 2 dias 3 a 7 dias Fonte: CDC (1990), com adaptações. Quadro 6 – Manifestações clínicas, período de incubação e duração da doença dos principais parasitas envolvidos nas doenças diarreicas agudas Agente etiológico Manifestações clínicas Período de incubação Duração da doença Diarreia Febre Abdômen Balantidium coli Eventual com muco ou sangue Rara Dor Ignorado Ignorado Cryptosporidium Abundante e aquosa Eventual Cãibra eventual 1 a 2 semanas 4 dias a 3 semanas Entamoeba histolytica Eventual com muco ou sangue Variável Cólica 2 a 4 semanas Semanas a meses Giardia lamblia Incoercíveis fezes claras e gordurosas Rara Cãibra/ Distensão 5 a 25 dias Semanas a anos Cystoisospora belli Incoercível Ignorado Ignorado 2 a 15 dias 2 a 3 semanas Fonte: CDC (1990), com adaptações. Doenças Diarreicas Agudas
  • 223. Guia de Vigilância em Saúde 222 Período de transmissibilidade É específico para cada agente etiológico. Suscetibilidade e imunidade A suscetibilidade é geral. Certos grupos, como crianças (principalmente as menores de 1 ano que sofreram desmame precoce e que são desnutridas), idosos, imunodeprimidos (portadores de HIV/aids, de neoplasias ou indivíduos que receberam transplantes de órgãos) e pessoas com acloridria gástrica têm suscetibilidade aumentada. As DDA não conferem imunidade duradoura. Manifestações clínicas O quadro clínico é caracterizado pelo aumento do número de evacuações (3 episódios no período de 24 horas), com alteração da consistência das fezes, geralmente amolecidas ou aquosas. Pode haver presença de sangue ou muco e ser acompanhada de dor abdominal, febre, náusea e vômito. Em geral o quadro clínico é autolimitado, com duração de 2 a 14 dias, que pode variar desde manifestações leves até graves, com desidratação e disturbios hidroeletrolíticos, principalmente quando associadas à desnutrição. As manifestações clínicas mais frequentes estão descritas nos Quadros 4, 5 e 6, de acordo com o agente etiológico. Complicações Em geral, são decorrentes da desidratação e do desequilíbrio hidroeletrolítico. Quando não são tra- tadas adequada e precocemente, pode ocorrer óbito por choque hipovolêmico e/ou hipopotassemia. Nos casos crônicos ou com episódios repetidos, podem acarretar desnutrição crônica, com retardo do desen- volvimento ponderoestatural em crianças. Diagnóstico Diagnóstico clínico O primeiro passo para o diagnóstico é a realização da anamnese. Para isso, algumas informações são fundamentais: idade do paciente, duração da doença diarreica atual, características das fezes (consistên- cia e presença de sangue ou muco), frequência e volume das evacuações, associação da diarreia a vômitos, dor abdominal, febre (duração), tenesmo (tentativa dolorosa de evacuar), cãibras. É importante também excluir as causas não infecciosas de diarreia aguda: uso recente de medicações (laxativos, antiácidos, antibióticos), ingestão de bebidas alcoólicas, excesso de bebidas lácteas. A história epidemiológica e social, nesses casos, também ajuda na condução do diagnóstico: local onde o paciente reside e suas condições sanitárias, história de viagem recente a lugares endêmicos ou não endêmicos. Além disso, é importante saber se o paciente é portador de doença que possa estar relacionada com o quadro ou interferir no manejo da diarreia (hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doenças cardíacas, doenças hepáticas, doenças pulmonares crônicas, insuficiência renal, alergia ou intolerância alimentar, ser portador de HIV/aids, ser intolerante a algum alimento). O passo seguinte é a realização de exame físico cuidadoso, identificando-se os sinais e sintomas da desidratação (avaliação do estado de hidratação do paciente, conforme Quadro 7).
  • 224. 223 Diagnóstico laboratorial O diagnóstico das causas etiológicas da DDA é laboratorial, por meio de exames pa- rasitológicos, cultura de bactérias e pesquisa de vírus em amostras de fezes. O diagnóstico laboratorial é importante para que seja conhecido o padrão dos agentes etiológicos circulantes sendo imprescindível, na vigência de surtos para orientar as medidas de prevenção e controle, nesse caso, recomenda-se a pesquisa laboratorial para todos os possíveis agentes etiológicos. Na ocorrência de surto de DDA, recomenda-se a coleta de amostras de fezes para pesquisa de parasitas, vírus e bactérias. As fezes devem ser coletadas antes da administração de antibióticos. As orientações para coleta, transporte e conservação de amostras de fezes estão apresentadas no Anexo A. Tratamento A avaliação do estado de hidratação do paciente deve orientar a escolha entre os três planos de trata- mento a seguir preconizados (Quadro 7). Plano A (para prevenir a desidratação no domicílio) Destina-se a pacientes com diarreia SEM sinais de desidratação. O tratamento é domiciliar. Explicar ao paciente ou acompanhante o que fazer no domicílio. - O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, soro caseiro, chá, suco e sopas) ou solu- ção de reidratação oral (SRO) após cada evacuação diarreica (Quadro 8). - Não utilizar refrigerantes nem adoçar o chá ou suco. - continuar o aleitamento materno; - manter a alimentação habitual para as crianças e adultos. levá-lo imediatamente ao serviço de saúde: - piora da diarreia; - vômitos repetidos; - muita sede; - recusa de alimentos; - sangue nas fezes; - diminuição da diurese. - reconhecer os sinais de desidratação; - preparar e administrar a SRO; - praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água, higienização dos alimentos). Doenças Diarreicas Agudas
  • 225. Guia de Vigilância em Saúde 224 Quadro 7 – Avaliação do estado de hidratação do paciente e definição do plano de tratamento adequado OBSERVE Estado geral Bem alerta Irritado,Intranquilo Comatoso, hipotônico* Olhos Normais Fundos Muito fundos Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes Sede Bebe normalmente, sem sede Sedento, bebe rápido e avidamente Bebe mal ou não é capaz de beber EXPLORE Sinal da prega Desaparece rapidamente Desaparece lentamente Desaparece muito lentamente (mais de 2 segundos) Pulso Cheio Rápido, fraco Muito fraco ou ausente* DECIDA - SEM SINAIS DE DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais: COM DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais incluindo pelo menos um dos destacados com asterisco (*): COM DESIDRATAÇÃO GRAVE TRATE - USE PLANO A USE PLANO B USE PLANO C Quadro 8 – Quantidade de líquidos que deve ser administrada/ingerida após cada evacuação diarreica, de acordo com a faixa etária Idade Volume Menores de 1 ano 50-100mL De 1 a 10 anos 100-200mL Maiores de 10 anos Quantidade que o paciente aceitar Plano B (para tratar a desidratação por via oral na unidade de saúde) Destina-se a pacientes com diarreia e COM sinais de desidratação, mas com capacidade de ingerir líquidos, que devem ser tratados com SRO na unidade de saúde, onde deverão permanecer até a reidratação completa. - a quantidade de solução ingerida dependerá da sede do paciente; - a SRO deverá ser administrada continuamente, até que desapareçam os sinais e sintomas de desidratação; - nistrados no período de 4 a 6 horas. - Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilizar o Plano A. - Se continuar desidratado após o período de 4 horas, repetir o Plano B por mais 2 horas e reava- liar, ou indicar a sonda nasogástrica (gastróclise). - Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o Plano C. - reconhecer os sinais de desidratação; - preparar e administrar a SRO; - manter a alimentação habitual; e - praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água, higienização dos alimentos).
  • 226. 225 Plano C (para tratar a desidratação grave na unidade hospitalar) Se o paciente apresentar sinais e sintomas de desidratação grave, com ou sem choque (palidez acen- tuada, pulso radial filiforme ou ausente, hipotensão arterial, depressão do sensório), a sua reidratação deve ser iniciada imediatamente por via endovenosa, em duas fases para todas as faixas etárias: fase rápida e fase de manutenção e reposição (Quadro 9). Quadro 9 – Esquemas de reidratação para pacientes com desidratação grave, de acordo com a faixa etária Fase rápida – menores de 5 anos (fase de expansão) Solução Volume Tempo de administração Soro fisiológico 0,9% Iniciar com 20mL/kg Repetir essa quantidade até que a criança esteja hidratada, reavaliando os sinais clínicos após cada fase de expansão administrada 30 minutos Para recém-nascidos e cardiopatas graves, começar com 10mL/kg Fase rápida – maiores de 5 anos (fase de expansão) Solução Volume total Tempo de administração 1º Soro fisiológico 0,9% 30mL/kg 30 minutos 2º Ringer-lactato ou solução polieletrolítica 70mL/kg 2 horas e 30 minutos Fase de manutenção e reposição para todas as faixas etárias Solução Volume em 24 horas Soro glicosado 5% + soro fisiológico 0,9% na proporção de 4:1 (manutenção) + Peso até 10kg 100mL/kg Peso de 10 a 20kg 1.000mL + 50mL/kg de peso que exceder 10kg Peso acima de 20kg 1.500mL + 20mL/kg de peso que exceder 20kg Soro glicosado 5% + soro fisiológico 0,9% na proporção de 1:1 (reposição) + Iniciar com 50mL/kg/dia. Reavaliar esta quantidade de acordo com as perdas do paciente KCl 10% 2mL para cada 100mL de solução da fase de manutenção Avaliar o paciente continuamente. Se não houver melhora da desidratação, deve-se aumentar a velocidade de infusão. - ção endovenosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação endovenosa. quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um pa- ciente para outro, dependendo do volume das evacuações. de saúde até que estejam hidratados e conseguindo manter a hidratação por via oral. Doenças Diarreicas Agudas
  • 227. Guia de Vigilância em Saúde 226 Procedimentos a serem adotados em caso de disenteria e/ou outras patologias associadas à diarreia Paciente com sangue nas fezes Em caso positivo e com comprometimento do estado geral, deve-se avaliar o estado de hidratação do paciente, utilizando-se o Quadro 7, e reidratá-lo de acordo com os planos A, B ou C. Após a reidratação, iniciar a antibioticoterapia. Tratamento em crianças com duração de 3 dias. Como tratamento alternativo, pode-se usar a ceftriaxona, em doses de 50 a 100mg/ O acompanhante deve ser orientado para administrar líquidos e manter a alimentação habitual da criança caso o tratamento seja realizado no domicílio. O paciente deverá ser reavaliado após 2 dias. Caso seja mantida a presença de sangue nas fezes após 48 horas do início do tratamento, encaminhar para in- ternação hospitalar. Crianças com quadro de desnutrição devem ter o primeiro atendimento em qualquer unidade de saúde, devendo-se iniciar hidratação e antibioticoterapia de forma imediata, até a chegada ao hospital. Tratamento em adultos O tratamento em adultos deve ser feito com 500mg de ciprofloxacino a cada 12 horas, por 3 dias. Orientar o paciente ou acompanhante para administrar líquidos e manter a alimentação habitual caso o tratamento seja realizado no domicílio. Após 2 dias o paciente deve ser reavaliado por um profis- sional de saúde. Se mantiver presença de sangue nas fezes após 48 horas do início do tratamento: - na, via intramuscular, uma vez ao dia, por 2 a 5 dias; - ção hospitalar. Desnutrição grave continue a hidratação até a chegada à unidade hospitalar. Ministério da Saúde. Temperatura do paciente Se o paciente estiver com a temperatura de 39 C ou mais, investigar e tratar outras possíveis causas, como pneumonia, otite, amigdalite, faringite, infecção urinária.
  • 228. 227 Observações quanto ao uso de medicamentos em pacientes com diarreia Antibióticos - prometimento do estado geral ou em casos de cólera grave. Em outras condições os antibióticos são ineficazes e não devem ser prescritos. Antiparasitários - amebíase, quando o tratamento de disenteria por Shigella sp fracassar, ou em casos nos quais se identifiquem nas fezes trofozoítos de Entamoeba histolytica englobando hemácias; - giardíase, quando a diarreia durar 14 dias ou mais, se forem identificados cistos ou trofozoítos nas fezes ou no aspirado intestinal. Características epidemiológicas A diarreia é a segunda causa de mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo. Quase 1 do que a aids, a malária e o sarampo juntos. No Brasil, a doença diarreica aguda é reconhecida como importante causa de morbimortalidade, mantendo relação direta com as precárias condições de vida e saúde dos indivíduos, em consequência da falta de saneamento básico, de desastres naturais (estiagem, seca e inundação) e da desnutrição crônica, entre outros fatores. Vigilância epidemiológica das DDA A Vigilância Epidemiológica das DDA, composta também pela Monitorização das doenças diarrei- cas agudas (MDDA), regulamentada pela Portaria nº. 205 de 2016, é do tipo sentinela, a qual permite mo- nitorar somente a ocorrência dos casos notificados em unidades de saúde eleitas sentinelas pela vigilância epidemiológica das Secretarias Municipais de Saúde, com o intuito principal de acompanhar a tendência e a detecção de alterações no padrão local das doenças diarreicas agudas de forma a identificar, em tempo oportuno, surtos e epidemias. A MDDA deve ser entendida como um processo de elaboração e análise de mensurações rotineiras capazes de detectar alterações no ambiente ou na saúde da população e que se expressem por mudanças - dência, data do início dos sintomas e do atendimento e plano de tratamento dos casos que buscam aten- dimento na unidade de saúde. Objetivos Doenças Diarreicas Agudas
  • 229. Guia de Vigilância em Saúde 228 Definição de caso Caso Pessoa que apresente aumento do número de evacuações (três ou mais episódios no período de 24 ho- ras) com alteração da consistência das fezes, geralmente aquosas ou amolecidas, com duração de até 14 dias. Caso novo Quando, após a normalização da função intestinal por um período de 48 horas, o paciente apresentar novo quadro de DDA. Surto A ocorrência de dois casos ou mais de diarreia, relacionados entre si, após a ingestão de alimento ou água da mesma origem. Para as doenças de transmissão hídrica e alimentar consideradas raras, como botulismo e cólera, a ocorrência de apenas um caso é considerada surto. Notificação Casos de DDA Embora a DDA não seja doença de notificação compulsória nacional, os casos isolados devem ser notificados apenas quando atendidos em unidades sentinelas para DDA. A notificação dos casos deve ser realizada nos formulários que devem ser enviados à Secretaria Municipal de Saúde para registrar o caso Surto de DDA A notificação de surto de DDA é compulsória e imediata. Deve ser feita no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) com indicação de síndrome diarreica (CID A08). Os dados decorrentes da investigação do surto também devem ser inseridos neste sistema. Quando a causa suspeita da diarreia for por transmissão indireta por água e/ou alimentos contamina- dos, deve-se utilizar a Ficha de Investigação de Surto-DTA (doenças transmitidas por alimentos) do Sinan. Investigação É importante que a investigação seja realizada em conjunto com a vigilância sanitária, vigilância ambiental, laboratório de saúde pública e outras áreas conforme necessário, como, por exemplo, atenção à saúde, saneamento, secretaria de agricultura e outros. Nos surtos causados por água e alimentos, a investigação deve ser realizada conforme especificações contidas no Manual Integrado Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos (2010), realizando-se inquérito entre os participantes da refeição para definir o alimento de risco e inspe- ção sanitária para identificar os fatores que contribuíram para a contaminação do alimento. Roteiro da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos da Ficha de Investigação de Surto-DTA do Sinan, referentes à identifica- ção da ocorrência.
  • 230. 229 Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Caracterizar clinicamente o caso: evolução dos sinais e sintomas; características da diarreia e do vômito; estado de hidratação. Deverá ser observado se já foi iniciada a reidratação oral, com líquidos habitualmente disponíveis no domicílio do paciente ou utilização do SRO. Caracterizar os atributos relativos aos grupos etários e sexo mais atingidos; grupos, segundo sexo e idade, expostos a maior risco de adoecer; e outras características específicas dos indivíduos afetados da população em geral. A descrição dos casos deve ser feita considerando as características individuais (sexo, idade, etnia, estado imunitário, estado civil), atividades (trabalho, esporte, práticas religiosas, costumes etc.), condições de vida (estrato social, condições ambientais e sanitárias, situação econômi- ca), entre outras. Paraconfirmarasuspeitadiagnóstica de caso mais sensível, a fim de facilitar a identificação, a extensão do problema e os grupos populacio- nais mais atingidos, processo que pode levar a hipóteses importantes. Somente quando as hipóteses ficarem mais claras, o investigador passará a utilizar uma definição mais específica e restrita. Para identificação da área de transmissão locais de alimentação, participação em eventos. - Reconstituir as atividades do paciente, nos 10 dias que precederam o início dos sintomas: histó- ria de deslocamentos no município (urbano/rural), estado e país; e tempo de permanência. - Realizar levantamento sobre condições de saneamento, como fontes de abastecimento de água e o tratamento dispensado, situação do manuseio, acondicionamento e dispensação de resíduos sólidos/lixo nos ambientes domiciliar, de trabalho, escolar e em qualquer outro em que haja a suspeita da transmissão. Para determinação da extensão da área de transmissão - lho, ou outra localidade. - A análise espacial, da extensão da área de transmissão, permite identificar se o surto afeta unifor- memente toda a área, ou se há locais que concentram maior número de casos e de maior risco. Por exemplo, quando a distribuição apresenta uma concentração num determinado ponto, é sugestivo serem a água, alimento ou outras fontes comuns os possíveis causadores da transmissão. Coleta e remessa de material para exames - É indicado que sejam coletadas amostras clínicas de pacientes, dos alimentos e da água, o mais precocemente possível, considerando-se os resultados das investigações realizadas e as orienta- ções técnicas do laboratório. - Quando houver coleta de amostras de água em surtos de DDA, deve-se solicitar que o laboratório faça o exame microbiológico (para identificar o agente etiológico) e não somente a análise da potabilidade da água. Encerramento de surto Após a coleta e análise de todas as informações necessárias à investigação, o surto deve ser encerrado nos sistemas de informação. Vigilância epidemiológica de Rotavírus A vigilância epidemiológica de rotavírus é sentinela, realizada em unidades de saúde específicas para a doença com objetivos principais de: conhecer a magnitude das DDA causadas por rotavírus em menores Doenças Diarreicas Agudas
  • 231. Guia de Vigilância em Saúde 230 de cinco anos; monitorar os genótipos de rotavírus circulantes entre essa população; monitorar e avaliar o impacto da vacina oral contra rotavírus humano. Ao suspeitar de rotavirose em crianças menores de cinco anos atendidas em unidades de saúde sen- tinelas para esse agravo, deve-se coletar uma amostra de fezes in natura para diagnóstico laboratorial de rotavírus e a ficha de notificação/investigação específica de rotavírus deve ser preenchida em duas vias. A amostra deve ser enviada ao Lacen acompanhada de uma via da ficha e outra via deve seguir para a vigi- lância epidemiológica da SMS. Todas as amostras positivas (100%) devem ser enviadas para o Laboratório de Referência para análise de genótipos e 10% das amostras negativas devem ser enviadas para controle de qualidade e possível identificação de outros vírus entéricos. Posteriormente, a vigilância epidemiológica da SMS deve registrá-la no Sinan NET. Nesse sistema, devem ser notificados somente os casos atendidos em unidades sentinelas definidas pelas secretarias mu- nicipal e estadual de saúde, que atendam à definição de caso suspeito de rotavírus. Todos os casos devem ser encerrados pelo critério laboratorial, com exame realizado no Lacen. Em caso de surto de rotavírus, qualquer unidade de saúde do município pode notificar casos sus- peitos que se enquadrem na definição de caso em situação de surto de rotavírus. A ficha de notificação/ investigação de surto deve ser preenchida e caso, a transmissão seja indireta por água ou alimento, a ficha de notificação/investigação de surto de DTA deve ser preenchida. Para elucidação do surto, os primeiros casos suspeitos devem ter amostras coletadas e analisadas pelo Lacen. As unidades de saúde sentinela para rotavírus devem: ter leitos de internação e/ou observação de pediatria; ser referência para assistência às doenças diarreicas agudas graves para os menores de cinco anos; ter Núcleo Hospitalar de Epidemiologia (na ausência deste, ter CCIH implantada); ter capacidade para coleta, armazenamento e transporte das amostras clínicas. Vigilância sobre fatores ambientais Fatores ambientais, populacionais e de serviços, que devem ser considerados para definição e deli- mitação de áreas de risco, são: - mente em áreas sujeitas a ciclos de cheias e secas); per capita; A delimitação da área de risco é feita associando-se dados referentes ao isolamento do agente etioló- gico aos fatores mencionados. A identificação e a delimitação dessas áreas são importantes para priorizar o desenvolvimento das ações de controle e devem ser redefinidas à medida que novos fatores e novas áreas de circulação sejam identificados.
  • 232. 231 Medidas de prevenção e controle A vacinação é a principal medida de prevenção da diarreia por rotavírus. Atualmente no Calendário de Nacional de Vacinação, o esquema vacinal consiste na administração de 2 doses de vacina rotavírus humano, aos 2 e 4 meses de idade, sendo que a primeira dose pode ser administrada a partir de 1 (um) mês e 15 dias até 3 (três) meses e 15 dias. A segunda dose pode ser admi- nistrada a partir de 3 (três) meses e 15 dias até 7 (sete) meses e 29 dias. Manter intervalo mínimo de 30 dias entre as doses. A educação em saúde, particularmente em áreas de elevada incidência de diarreia, é fundamental. Devem-se orientar as medidas de higiene e de manipulação de água e alimentos. Os locais de uso coletivo, tais como escolas, creches, hospitais, penitenciárias, que podem apresentar riscos maximizados quando as condições sanitárias não são adequadas, devem ser alvo de orientações e campanhas específicas. Considerando a importância das causas alimentares nas diarreias das crianças, é fun-damental o incentivo à prorrogação do tempo de aleitamento materno, por ser, comprova-damente, uma prática que confere elevada proteção a esse grupo populacional. Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Capacitação em Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas: manual do monitor. Brasília, 2010. Calendário Nacional de Vacinação. Brasil, 2017. Disponível em: <http:// portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/197-secretaria- svs/13600-calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 17 mar. 2017. - ológica. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimen- tos. Brasília, 2010.158 p. CENTERS OF DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Viral agents of gastroenteritis public health Morbidity and Mortality Weekly Report Recommendations and Reports – MMWR, Atlanta, GA, v. 39, n. RR-05, 27 Apr. 1990. UNICEF; WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diarrhoea: why children are still dying and what - Doenças Diarreicas Agudas
  • 233. Guia de Vigilância em Saúde 232 Anexo A Orientações para coleta, transporte e conservação de amostras de fezes Pesquisa de bactérias O exame a ser realizado é a cultura de fezes (coprocultura). Para isso utiliza-se, principalmente, a técnica de swab retal ou fecal em meio de transporte Cary-Blair. Na coleta de amostras de fezes por swab retal, seguir o roteiro abaixo: swab em solução fisiológica ou água destilada esterilizadas; swab (2cm) no esfíncter retal do paciente, comprimindo-o, em movimentos rotatórios suaves, por toda a extensão do esfíncter; Quando a amostra for colocada em meio de transporte Cary-Blair, encaminhá-la, se possível, em até 48 horas. Acima desse tempo, manter sob refrigeração, por até 7 dias. No caso de amostras refrigeradas, respeitar as especificidades de cada agente. Na coleta de amostras de fezes por swab fecal, seguir o roteiro: swab fecal se diferencia do swab retal porque a ponta do swab é introduzida diretamente no fras- co coletor (sem formol) com fezes do paciente; is, passado esse período, as bactérias da flora intestinal podem destruir as bactérias patogênicas causadoras da diarreia; swab deve ser acondicionado em meio Cary-Blair ou em água peptonada alcalina. Quando colocado em meio de transporte Cary-Blair, encaminhá-lo, se possível, em até 48 horas. Acima deste tempo, manter sob refrigeração, por até 7 dias. No caso de amostras refrigeradas, respeitar as especificidades de cada agente. Recomenda-se a coleta de duas a três amostras por paciente, desde que haja disponibilidade de mate- rial para coleta e capacidade de processamento laboratorial de todas as amostras encaminhadas. Pesquisa de vírus in natura e coloque a amostra em um frasco coletor de fezes sem formol, com tampa rosqueada. É importante que o frasco seja identifi- cado com nome completo do paciente e seja acondicionado em saco plástico. freezer. - material sólido, coletar com espátula e colocar no frasco coletor; - material líquido, acondicionar a fralda em saco plástico e encaminhar ao laboratório. swab retal só é indicado em caso de óbitos. Pesquisa de parasitos coletor de 50mL) em frasco coletor de fezes, com tampa rosqueada.
  • 234. 233 alguns prejudicam a pesquisa dos parasitos em geral. Esses medicamentos são: antidiarreicos, an- tibióticos, antiácidos, derivados de bismuto e de bário, vaselina e óleos minerais. - cia temporária dos organismos nas fezes, pois esses parasitos se alimentam de bactérias intestinais. Portanto, o diagnóstico só será seguro de 2 a 3 semanas após a suspensão do antibiótico. - tras em dias consecutivos. Para pesquisa de larvas de Strongyloides stercoralis, trofozoítos de pro- tozoários e Blastocystis hominis, há necessidade de obtenção de uma ou mais amostras frescas que devem ser encaminhadas imediatamente ao laboratório clínico. o tratamento. O uso de laxantes só é indicado quando há necessidade de confirmar o diagnóstico de amebíase, giardíase e estrongiloidíase, por meio de fezes liquefeitas. Nesse caso, o médico deve prescrever o uso de laxantes e os mais recomendados são os salinos, tais como o fosfato de sódio e o sulfato de sódio tam- ponado, pois causam menos danos na morfologia dos parasitos. Essa prática é indicada para clínicas e hospitais, onde os espécimes fecais são enviados ao laboratório imediatamente após a coleta. Caso a coleta seja feita em casa, enviar imediatamente todo o conteúdo de uma evacuação induzida ao laboratório, ou preservar uma fração do material com o conservante. Nesse material são pesquisados ovos, larvas, cistos e trofozoítos. Doenças Diarreicas Agudas
  • 236. 235 Febre Tifoide Febre Tifoide CID 10: A01.0 Características gerais Descrição Doença bacteriana aguda, de distribuição mundial, associada a baixos níveis socioeconômicos, prin- cipalmente em áreas com precárias condições de saneamento, higiene pessoal e ambiental. Sinonímia Doença das mãos sujas. Agente etiológico Salmonella enterica, sorotipo Typhi (S. Typhi), bacilo gram-negativo da família Enterobacteriaceae. Reservatório O homem. Modo de transmissão Duas formas de transmissão são possíveis: Direta − pelo contato direto com as mãos do doente ou portador. Indireta − relacionada à água e aos alimentos, que podem ser contaminados pelas fezes ou urina do doente ou portador. A contaminação dos alimentos ocorre, geralmente, pela manipulação de portadores ou pacientes oligossintomáticos (com manifestações clínicas discretas). Os legumes irrigados com água contaminada, produtos do mar mal cozidos ou crus (moluscos e crustáceos), leite e derivados não pasteurizados, produtos congelados e enlatados podem veicular S. Typhi. O congelamento não destrói a bactéria, de modo que sorvetes, por exemplo, podem ser veículos de transmissão. A carga bacteriana infectante, experimentalmente estimada, é de 106 a 109 bactérias. Infecções subclínicas podem ocorrer com a ingestão de um número bem menor de bactérias. Fatores extrínsecos aos alimentos, com destaque para aqueles relacionados com o meio ambiente, tais como temperatura e umidade existentes nos sítios de conservação, armazenamento, produção, co- mercialização e seu consumo também interferem, de modo significativo, no crescimento e viabilidade de S. Typhi. Classificação de alguns alimentos segundo risco de contaminação por S. Typhi: Alto risco lavadas e água não potável. Médio risco Baixo risco secos e carnes cozidas ou assadas. Período de incubação Normalmente, de uma a 3 semanas (em média, duas semanas), a depender da dose infectante.
  • 237. Guia de Vigilância em Saúde 236 Período de transmissibilidade A transmissibilidade ocorre enquanto os bacilos estiverem sendo eliminados nas fezes ou na urina, o que, geralmente, acontece desde a 1a semana da doença até o fim da convalescença. Cerca de 10% dos pacientes continuam eliminando bacilos até 3 meses após o início da doença. Além disso, de 2 a 5% dos pacientes transformam-se em portadores crônicos, após a cura. Estes são de extrema importância por constituírem o único elo da cadeia de transmissão da doença. Tanto entre os doentes, quanto entre os portadores, a eliminação da S. Typhi costuma ser intermitente. Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade A suscetibilidade é geral. Indivíduos com acloridria gástrica, idosos e imunodeprimidos são mais vulneráveis. A imunidade adquirida após a infecção ou a vacinação não é definitiva. Manifestações clínicas Os sinais e sintomas clássicos são febre alta, cefaleia, mal-estar geral, dor abdominal, anorexia, disso- ciação pulso/temperatura, constipação ou diarreia, tosse seca, roséolas tíficas (manchas rosadas no tronco Complicações Enterorragia a semana de doença que ocorre em cerca de 3 a 10% dos casos. A quantidade de perda sanguínea é variável e pode ser volumosa. sensação de sede intensa (sinais de choque hipovolêmico). Detectar os sinais de choque hipovolê- mico precocemente é essencial para o manuseio clínico desta complicação. - mento e a sua eliminação. Perfuração intestinal o dia da doença, particularmente, nas formas graves e tardiamente diagnosticadas. acelera, podendo surgir vômitos. e respiração curta. sua ausência não afasta o diagnóstico.
  • 238. 237 Outras complicações digestivas Colecistite, ulceração de cólon, estomatites, parotidites, pancreatite e abscessos esplênicos ou hepáticos. Demais complicações Outros órgãos também podem manifestar complicações das mais variadas: Coração − miocardite tífica decorrente da toxemia, constituindo causa de óbito em virtude da insuficiência cardíaca, inicialmente direita e, posteriormente, global. Complicações vasculares − flebites que surgem nos casos de evolução mais prolongada. Sistema nervoso − encefalites (formas bulbares, cerebelares e corticais), podendo ocorrer alterações psíquicas, como meningite purulenta e neurite periférica. Rins − lesões glomerulares. Raramente observa-se proteinúria e hematúria transitória. Ossos e articulações − processos de periostites, osteítes, osteomielites, monoartrites e poliartrites. Outras complicações menos frequentes − miosite, iridociclite e coriorretinite. Diagnóstico Diagnóstico clínico-epidemiológico Caso clinicamente compatível, com associação epidemiológica a um caso confirmado por critério laboratorial e/ou a uma região endêmica. Diagnóstico laboratorial É realizado através de: isolamento e identificação do agente etiológico, nas diferentes fases clínicas, a partir do sangue (hemocultura), fezes (coprocultura), e em menor escala aspirado medular (mielocul- tura) e urina (urocultura). O diagnóstico também pode ser realizado pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). Hemocultura − apresenta maior positividade nas duas semanas iniciais da doença (75%, apro- ximadamente), devendo o sangue ser colhido, de preferência, antes que o paciente tenha tomado antibiótico. Recomenda-se a coleta de duas a 3 amostras, não havendo necessidade de intervalos maiores que 30 minutos entre elas. Coprocultura − a pesquisa da S. Typhi nas fezes é indicada a partir da 2a até a 5ª semana da doença, com intervalo de 3 dias cada uma, assim como no estágio de convalescença e na pesquisa de porta- dores. No estado de convalescença, é indicada a coleta de amostras do material com intervalos de 24 horas. No caso da suspeita de portadores assintomáticos, particular- mente aqueles envolvidos na manipulação de alimentos, recomenda-se a coleta de 7 amostras sequenciadas. Mielocultura − trata-se do exame mais sensível (90% de sensibilidade). Além disso, apresenta a vantagem de se mostrar positivo mesmo na vigência de antibioticotera- pia prévia. As desvan- tagens são o desconforto para o doente, por ser um procedi- mento invasivo, e a necessidade de pessoal médico com treinamento específico para o procedimento de punção medular, considerado de alta complexidade Urocultura − tem valor diagnóstico limitado; a positividade máxima ocorre na 3ª semana de doença. Diagnóstico diferencial Deve ser feito com todas as doenças entéricas de diversas etiologias, como, por exem- plo, Salmonella enterica sorotipo Paratyphi A, B, C, Yersinia enterocolítica, entre outras. Febre Tifoide
  • 239. Guia de Vigilância em Saúde 238 Devidoaoquadroclínicoinespecífico,doençascomopneumonias;tuberculose(pulmonar,miliar,intestinal, meningoencefalite e peritonite); meningoencefalites; septicemia por agentes piogênicos; colecistite aguda; perito- nitebacteriana;formatoxêmicadeesquistossomosemansônica;mononucleoseinfecciosa;febrereumática;doen- malária; toxoplasmose; tripanossomíase e endocardite bacteriana devem fazer parte do diagnóstico diferencial. Tratamento O tratamento é, geralmente, ambulatorial, reservando-se a hospitalização para os casos mais graves. Específico Cloranfenicol Adultos Crianças A via de administração preferencial é a oral. Quando os doentes tornam-se afebris, o que em geral ocorre a partir do 5º dia de tratamento, as doses O tratamento é mantido por 15 dias após o último dia de febre, perfazendo um máximo de 21 dias. Nos doentes com impossibilidade de administração por via oral deve ser utilizada a via parenteral. Eventos adversos anemia (dose dependente) ou, raramente, de anemia aplástica (reação idiossincrásica). Não há evidências de que exista resistência da S. Typhi ao cloranfenicol no Brasil. Os insucessos te- rapêuticos não devem ser atribuídos à resistência bacteriana, sem comprovação laboratorial e sem antes se afastar outras causas. Caso o doente mantenha-se febril após o 5º dia de tratamento, avaliar a possibilidade de troca pelos antimicrobianos abaixo. Ampicilina Adultos − 1.000 a 1.500mg/dose, via oral, de 6 em 6 horas, até dose máxima de 6g/dia. Crianças A administração oral é preferível à parenteral. A duração do tratamento é de 14 dias. Amoxicilina Adultos − 3g/dia, via oral, de 8 em 8 horas. Crianças A duração do tratamento é de 14 dias. Com o uso deste antimicrobiano, poderá haver maior frequ- ência de intolerância gastrointestinal. Quinolonas S. Typhi: o ciprofloxacino e a ofloxacina.
  • 240. 239 bacteriana aos antimicrobianos tradicionalmente utilizados. Ciprofloxacino Adultos − 500mg/dose, via oral, de 12 em 12 horas, durante 10 dias. Caso não seja possível a via oral, utilizar a via endovenosa, na dose de 200mg, de 12 em 12 horas. Ofloxacina Adultos − 400mg/dose, via oral, de 12 em 12 horas ou 200 a 400mg/dose, via oral, de 8 em 8 horas. A duração do tratamento é de 10 a 14 dias. Os pacientes devem receber adequado tratamento de suporte. Convém atentar para o aparecimento de complicações graves, como hemorragia e perfuração intestinal, pois, para a última, a indicação cirúrgica é imediata. Tratamento específico para o estado de portador Preconiza-se a utilização de ampicilina ou amoxicilina, nas mesmas doses e frequência para trata- mento do paciente. Após 7 dias do término do tratamento, iniciar a coleta de 3 coproculturas, com intervalos de 30 dias entre elas. Se o portador for manipulador de alimentos, realizar coprocultura uma vez por semana, durante 3 semanas. Caso uma delas seja positiva, essa série pode ser suspensa e o indivíduo deve ser novamente tratado, de preferência, com uma quinolona (ciprofloxacino 500mg), via oral, de 12 em 12 horas, durante 4 semanas, e orientado quanto ao risco que ele representa para os seus comunicantes e para a comunidade. O tempo ideal de tratamento para portadores crônicos ainda não está bem defini- do. Pacientes com litíase biliar ou anomalias biliares, que não respondem ao tratamento com antimi- crobianos, devem ser colecistectomizados. Na salmonelose septicêmica prolongada, as salmonelas têm nos helmintos um local favorável para sua proliferação. De modo geral, o tratamento antiesquistossomótico, ao erradicar a helmintíase, faz ces- sar a septicemia e promove a cura da salmonelose. Características epidemiológicas No Brasil, a febre tifoide ocorre sob a forma endêmica, com superposição de epidemias, especial- mente nas regiões Norte e Nordeste, refletindo as condições de vida de suas populações. Tem-se verificado um comportamento de declínio nos coeficientes de incidência e letalidade da doença. Tem-se verificado uma tendência de declínio nos coeficientes de incidência e letalidade da doença. A doença acomete com maior frequência a faixa etária entre 15 e 45 anos de idade em áreas endêmi- cas. A taxa de ataque diminui com a idade. Febre Tifoide
  • 241. Guia de Vigilância em Saúde 240 Vigilância epidemiológica Objetivos Definição de caso Suspeito Critério clínico Indivíduo com febre persistente, acompanhada ou não de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: - Confirmado Critério clínico-laboratorial Indivíduo que apresente achados clínicos compatíveis com a doença, além de isolamento de S. Typhi ou detecção pela técnica de PCR. Critério clínico-epidemiológico Indivíduo com quadro clinicamente compatível e com vínculo epidemiológico ao caso confirmado por critério laboratorial. Portador Indivíduo que, após a infecção, continua eliminando bacilos. Óbito Será considerado óbito por febre tifoide aquele em que: S. Typhi (incluindo cultura da bile e da medula óssea, obtidas durante autópsia) ou detecção pela técnica de PCR; por critério laboratorial. Descartado Caso que não se enquadra nas definições de caso confirmado. Notificação A febre tifoide é uma doença de notificação compulsória, conforme Portaria nº 204, de 17 de feverei- ro de 2016. Todo caso suspeito deve ser notificado em até 7 dias e registrado no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), utilizando-se a Ficha de Investigação da Febre Tifoide.
  • 242. 241 Investigação Consiste em um estudo de campo, realizado a partir de casos (comprovados ou suspeitos) e de portado- res. Tem como objetivo avaliar a sua ocorrência do ponto de vista de suas implicações para a saúde coletiva e deve conduzir sempre que possível à confirmação diagnóstica; determinação das características epidemioló- gicas da doença; identificação das causas do fenômeno e orientação sobre as medidas de controle adequadas. Principais etapas da investigação Identificação do paciente Preencher todos os campos relativos a dados gerais, notificação individual e residên- cia, que constam na Ficha de Investigação da Febre Tifoide do Sinan, e acrescentar outras informações que achar pertinentes. Verificar a existência de outros casos com vinculo epidemiológico, o que pode configurar um surto de doença de transmissão hídrica ou alimentar (DTA). Neste caso, a investigação também precisa seguir o fluxo de investigação de DTA, com sua ficha específica e notificação no Sinan (Nota Informativa nº 26, de 26 de julho de 2016). Coleta de dados clínicos e epidemiológicos Para confirmar a suspeita diagnóstica - Registrar os dados da história clínica, sinais e sintomas. - Verificar se já foi coletado e encaminhado material para exame diagnóstico (fezes, sangue, urina) e se houve uso prévio de antibiótico. - Determinar as prováveis fontes de infecção. - Acompanhar a evolução dos pacientes e os resultados dos exames laboratoriais específicos. Para identificação da área de transmissão - Pesquisar a existência de casos semelhantes, na residência, no local de trabalho e de estudo ou outros estabelecimentos e instituições coletivas, dentre outros. - Proceder à busca ativa de casos na área. - Identificar os comunicantes e, entre estes, pesquisar portadores mediante realização de coprocultura. Coleta e remessa de material para exames - Deve ser providenciada a coleta de amostras clínicas, de água e alimentos suspeitos, o mais pre- cocemente possível. É da responsabilidade dos profissionais da vigilância epidemiológica e/ou dos laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a essas coletas. - As medidas de controle e outras atividades da investigação devem ser desencadeadas imediata- mente à suspeição de casos de febre tifoide, mesmo antes dos resultados dos exames, muito embora sejam imprescindíveis para confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações. Encerramento de caso O caso de febre tifoide deve ser encerrado oportunamente em até 60 dias da notificação. A classifica- ção final do caso deve seguir os critérios descritos no item Definição de caso. Medidas de prevenção e controle Medidas de saneamento Por ser uma doença de veiculação hídrica, o controle da febre tifoide está intimamente relacionado ao desenvolvimento adequado do sistema de saneamento básico, principalmente em relação ao fornecimento Febre Tifoide
  • 243. Guia de Vigilância em Saúde 242 de água potável, em quantidade suficiente, e à adequada manipulação dos alimentos. Na ausência de rede pública de água e esgoto, a população deve ser orientada sobre como proceder em relação ao abastecimento de água e ao destino de dejetos. Sistema público de abastecimento de água houver suspeita de contaminação. Sistema individual de abastecimento de água (poços, cisternas, minas) Imunização Utilizam-se 2 tipos de vacina contra a febre tifoide (Quadro 1), mas esta não é a principal forma para o controle. Portanto, não é recomendada em situações de surto e de calamidade. As vacinas disponíveis não possuem alto poder imunogênico e a imunidade conferida é de curta duração. São indicadas apenas para militares que compõem o contingente brasileiro das missões de paz em regiões com elevado risco epidemiológico para a ocorrência de febre tifoide. O esquema vacinal é de 3 doses, sendo estas aplicadas, exclusivamente por via oral, nos dias 1, 3 e 5. O Regulamento Sanitário Internacional da Organização Mundial da Saúde não recomenda a vaci- nação contra a febre tifoide para viajantes internacionais que se deslocam para países onde estejam ocor- rendo casos da doença. adversos pós-vacinais mais comuns Tipo de vacina Apresentação Esquema básico de vacinação Reforço Eventos adversosa Conservação Vacina composta de bactéria viva atenuada Frascos unidos, contendo 3 cápsulas Uma dose (3 cápsulas), via oral, a partir dos 5 anos de idade. Administrar, sob supervisão, em dias alternados: 1º, 3º e 5º dias Uma dose a cada 5 anos Desconforto abdominal, náuseas, vômitos, febre, dor de cabeça e erupções cutâneas Entre 2 e 8°C O congelamento provoca a perda de potência Vacina polissacarídica Frascos de uma, 20 ou 50 doses, a depender do laboratório produtor Uma dose (0,5mL), subcutânea, a partir dos 2 anos de idade Nas situações de exposição contínua, revacinar a cada 2 anos Febre, dor de cabeça e eritema no local da aplicação Fonte: CGPNI/DEVIT/SVS/MS a Reações locais e sistêmicas são relativamente comuns, manifestando-se nas primeiras 24 horas e regredindo, geralmente, nas primeiras 48 horas depois da aplicação da vacina. Ações de educação em saúde Destacar os hábitos de higiene pessoal, principalmente a lavagem correta das mãos. Esse aspecto é fundamental entre pessoas que manipulam alimentos e trabalham na atenção a pacientes e crianças. Observar cuidados na preparação, manipulação, armazenamento e distribuição de alimentos, bem como na pasteurização ou ebulição do leite e produtos lácteos.
  • 244. 243 Medidas referentes aos dejetos Orientar a população quanto: Medidas referentes aos alimentos Alguns procedimentos devem ser adotados, de modo a evitar a transmissão da febre tifoide a partir da ingestão de alimentos contaminados. Entre eles, destacam-se: e estas devem estar dentro do prazo de validade; - minação e reduzam, ao máximo, a incidência de danos e deterioração; fabricação (RDC n° 216, de 15 de setembro de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária S. Typhi e nem apresentem doença diarreica; apresentarem doença diarreica aguda; S. Typhi no alimento pronto para consumo; higienizados, para evitar a contaminação do produto; especiais (com refrigeração), para que sejam mantidas as suas características e seja evitada a proli- feração de microrganismos; evitem a possibilidade de sua contaminação. Medidas gerais Orientar sobre a importância da: de saúde, asilos, presídios ), a cada 6 meses, ou com intervalo menor, se necessário; se necessário; pela população. Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual integrado de Febre Tifoide. Brasília, 2008. 92 p. Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016. Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde Febre Tifoide
  • 245. Guia de Vigilância em Saúde 244 pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do an- exo, e dá outras providências. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/ Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral de Doenças Transmissíveis. Nota Informativa nº 26, de 26 de julho de 2016. Informa sobre o fluxo e prazos de notificação de doenças e eventos de saúde pública (ESP) relacionados à transmissão hídrica e alimentar entre as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e o Ministério da Saúde. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/ setembro/02/Nota-Informativa-atraso-PVC.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2017. RDC n° 216, de 15 de setembro de 2004, alterada pela RDC Nº 52, de 29/09/2014. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/ AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil); ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Regulamento Sanitário Internacional. Brasília, 2005. 79 p.
  • 248. 247 Equipe de Colaboradores Capítulo 1 Influenza Daiana Araújo da Silva, Fabiano Marques Rosa, Francisco José de Paula Júnior, Felipe Cotrim de Carvalho, Maria Adelaide Millington, Marilda Agudo Mendonça Teixeira de Siqueira, Rejane Valente de Paiva, Thayssa Neiva da Fonseca, Walquiria Aparecida Ferreira de Almeida, Wyller Alencar de Mello. Doença Meningocócica Alexandre Lima Rodrigues da Cunha, Ana Paula Silva de Lemos, Camila de Oliveira Portela, Camile de Moraes, Fabiano Marques Rosa, Flávia Carolina Borges Lobo, Gabriela Andrade Pereira, Indianara Maria Grando, José Cássio de Moraes, Marco Aurélio Safadi, Maria Cecília Outeiro Gorla, Sérgio de Outras Meningites Ângela Pires Brandão, Camila de Oliveira Portela, Camile de Moraes, Fabiano Marques Rosa, Gabriela Andrade Pereira, Indianara Maria Grando, Marco Aurélio Safadi, Maria Adelaide Millington, Rosemeire Cobo Capítulo 2 Coqueluche Daiana Rangel de Oliveira, Daniela Leite, Eitan Berezin, Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Fabiano Marques Rosa, Flavia Carolina Borges Lobo, Gabriela Andrade Pereira, Helena Keico Sato, João Luis Gallego Crivellaro, José Ricardo Pio Marins, Macedônia Pinto dos Santos, Maria Adelaide Millington, Maria Ausenir Paiva Gonçalves, Maria Carolina Coelho Quixadá Pereira, Robson Bruniera de Oliveira, Guedes dos Santos, Zirlei Maria de Matos. Difteria Ana Luiza de Mattos Guaraldi, Daiana Rangel de Oliveira, Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Fabiano Marques Rosa, Fan Hui We, Gabriela Andrade Pereira, Helena Keico Sato, Maria Adelaide Millington, Maria Ausenir Paiva Gonçalves, Maria Carolina Coelho Quixadá Pereira, Sérgio de Andrade Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda Ana Carolina Cunha Marreiros, Ana Cristina Braga, Dionéia Garcia de Medeiros Guedes, Eliane Veiga da Costa, Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Flávia Carolina Borges Lôbo, Macedônia Pinto dos Santos, Maria Ângela Azevedo, Maria Carolina Coelho Quixadá Pereira, Robson Bruniera, Sandra Maria Deotti Carvalho, Sarampo Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Flávia Caselli Pacheco, Giselle Angélica Moreira de Siqueira, Guilherme Almeida Elídio, Indianara Maria Grando, Lucimeire Neris Sevilha da Silva Campos, Equipe de Colaboradores
  • 249. Guia de Vigilância em Saúde 248 de Fátima Pereira. Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Flávia Caselli Pacheco, Giselle Angélica Moreira de Siqueira, Guilherme Almeida Elídio, Indianara Maria Grando, Lucimeire Neris Sevilha da Silva Campos, José Ricardo Pio Marins, Marli Rocha de Abreu Costa, Regina Célia Mendes dos Santos Silva, Sérgio de Varicela/Herpes-Zóster Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Flávia Caselli Pacheco, Giselle Angélica Moreira de Siqueira, Guilherme Almeida Elidio, Indianara Maria Grando, Lucimeire Neris Sevilha da Silva Campos, José Ricardo Pio Marins, Marli Rocha de Abreu Costa, Regina Tétano Acidental e Tétano Neonatal Carla Magda S. Domingues, Daiana Rangel de Oliveira, Ernesto Issac Montenegro Renoiner, Fabiano Marques Rosa, Maria Adelaide Millington, Maria Ausenir Paiva Gonçalves, Maria Carolina Coelho Santos, Zirlei Maria Matos. Caxumba Fabiano Marques Rosa, Flávia Cardoso de Melo, Giselle Angélica Moreira de Siqueira, Guilherme Capítulo 3 Botulismo Alexander Vargas, Aroldo Carneiro de Lima Filho, Dilma Scalla, Geórgia Rocha Falcão, Juliene Cólera Antônio da Silva Macedo, Aroldo Carneiro de Lima Filho, Everaldo Resende Silva, Irma Nelly Gutierrez Rivera, Isaías da Silva Pereira, José Ricardo Pio Marins, Lúcia Helena Berto, Moacir Gerolomo, Doenças Diarreicas Agudas Alexander Vargas, Antônio da Silva Macedo, Aroldo Carneiro de Lima Filho, Daniela Fortunato Rêgo, Débora Benchimol Ferreira, José Tarcísio Mendes Bezerra, Juliene Meira Borges, Lucimeire Neris Sevilha da Silva Campos, Marcela Lemos Moulin, Regina Célia Mendes dos Santos Silva, Rejane Maria de Febre Tifoide Alexander Vargas, Francisco Luzio de Paula Ramos, Lucia Helena Berto, Rejane Maria de Souza
  • 250. Apresentação Capítulo 1 Influenza Doença Meningocócica Outras Meningites Capítulo 2 Coqueluche Difteria Poliomielite/Paralisia Flácida Aguda Sarampo Rubéola Síndrome da Rubéola Congênita Varicela/Herpes Zóster Tétano Acidental Tétano Neonatal Caxumba Capítulo 3 Botulismo Cólera Doenças Diarreicas Agudas Febre Tifoide Equipe de Colaboradores – Volume 1 Volume 1 Capítulo 8 Doença de Chagas Leishmaniose Tegumentar Americana Leishmaniose Visceral Malária Capítulo 9 Esquistossomose Mansoni Geo-Helmintíases Tracoma Filariose linfática Capítulo 10 Hantaviroses Leptospirose Peste Raiva Capítulo 11 Acidentes por Animais Peçonhentos Capítulo 12 Intoxicação Exógena Vigilância em Saúde do Trabalhador Violência Interpessoal/Autoprovocada Capítulo 13 Investigação Epidemiológica de Casos, Surtos e Epidemias Equipe de Colaboradores – Volume 3 Volume 3 Capítulo 4 Infecção pelo HIV e Aids Hepatites Virais Sífilis Adquirida e em Gestantes Sífilis Congênita Capítulo 5 Hanseníase Tuberculose Capítulo 6 Febre Amarela Febre do Nilo Ocidental Febre Maculosa Brasileira e Outras Riquetsioses Capítulo 7 Dengue, Chikungunya e Zika Equipe de Colaboradores – Volume 2 Volume 2 Sumário por volume: GUIADEVIGILÂNCIAEMSAÚDE Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde www.saude.gov.br/bvs GOVERNO FEDERAL GUIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE Volume 1 MINISTÉRIO DA SAÚDE Volume1 1a edição atualizada