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GUIA PRÁTICO
DE ALEITAMENTO MATERNO
– ATUALIZADO –
GUIA PRÁTICO
Departamento Científico de
Aleitamento Materno (2022-2024)
Nº 165, 26 de Agosto de 2024
Departamento Científico de Aleitamento Materno
Presidente: Rossiclei de Souza Pinheiro
Secretária: Lelia Cardamone Gouvea
Conselho Científico:	
Dolores Fernandez Fernandez, Eneida Fardin Perim Bastos, Izailza Matos Dantas Lopes,
Leandro Meirelles Nunes, Lucia Mendes de Oliveira Rolim, Racire Sampaio Silva,
Simone Silva Ramos, Vanessa Macedo Silveira Fuck
Colaboradores:	
Ana Luiza Veloso da Paz, Elsa Regina Justo Giugliani, Graciete Oliveira Vieira,
Luciano Borges Santiago, Maria Beatriz Reinert do Nascimento,
Roberto Mario Silveira Issler, Vilneide Maria Santos Braba D. Serva,
Yecchiel Moises Chencinski
Revisores:	
Dirceu Solé, Luciana Rodrigues Silva, Clóvis Francisco Constantino
Índice
Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM):
32 anos de história ...................................................................... 2
Os Reflexos da Amamentação na Vida Adulta .............................. 5
Como ser um “Pediatra Amigo da Amamentação?” ...................... 8
Cuidados no pós-parto influenciam o futuro sucesso
na amamentação ....................................................................... 11
Avaliação da perda de peso no período neonatal imediato ......... 14
Leite materno para prematuros: obstáculos
e suporte nas unidades neonatais .............................................. 18
Doação de leite humano: o que o pediatra precisa saber? .......... 21
Aleitamento materno e distúrbios gastrintestinais funcionais ....... 23
Aleitamento materno e alergia alimentares ................................. 27
Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos (NBCAL) ...... 29
Como apoiar a mulher que amamenta na volta ao trabalho ........ 32
Como e quando desmamar ....................................................... 36
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
2 Sociedade Brasileira de Pediatria
Semana Mundial de
Aleitamento Materno (SMAM):
32 anos de história
Yechiel Moises Chencinski
INTRODUÇÃO
O Aleitamento materno ideal deve ocorrer desde a sala
de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre-
-demanda até o 6º mês e complementado, a partir daí,
com alimentação saudável e equilibrada.
Essa e muitas outras informações a respeito da amamen-
tação e do leite materno são exaustivamente divulgadas
desde o século passado, por instituições de reconheci-
mento mundial (Organização Mundial da Saúde - OMS,
World Alliance for Breastfeeding Action - Aliança Mundial
de Ação pró-Amamentação - WABA, Fundo das Nações
Unidas para a Infância - UNICEF, Rede Internacional em
Defesa do Direito de Amamentar – IBFAN, Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP), entre outras) e por estudos
científicos publicados em jornais e revistas de relevância
científica nacional e internacional (JAMA, Pediatrics, Jor-
nal de Pediatria, Breastfeeding Medicine, entre outros).
Apesar de muitos esforços já realizados, ainda não
atingimos metade das crianças do mundo (incluindo o
Brasil) em aleitamento materno exclusivo até o 6º mês,
uma das condições básicas para proporcionar o melhor
início de vida para o bebê e saúde para sua mãe. Isso le-
vou a OMS1
a propor que até 2025 pelo menos 50% das
crianças até o 6º mês estejam em aleitamento materno
exclusivo através de quatro linhas de ação:
– Promulgar a licença-maternidade remunerada
até o 6º mês para todas as mães trabalhadoras e pro-
mover políticas que incentivem mulheres a amamentar
em ambiente de trabalhem público;
– Fortalecer os sistemas de saúde com instalações
hospitalares e ambulatoriais que estimulem o aleita-
mento materno exclusivo, com maior apoio e institu-
cionalização da Iniciativa Hospital Amigo da Criança
(IHAC);
– Apoiar as mães com estratégias baseadas na co-
munidade para favorecer o aconselhamento sobre
amamentação exclusiva para gestantes e lactan-
tes, individualmente ou em grupo com campanhas
adaptadas às realidades locais;
– Limitar o marketing de fórmulas infantis, com di-
vulgação e monitorização pelo Código Internacional
de Comercialização de Substitutos do leite Materno
(no Brasil, temos a NBCAL);
SEMANA MUNDIAL DE
ALEITAMENTO MATERNO
Entre 30 de julho e 1º de agosto de 1990, em Florença,
na Itália, coordenados pela OMS e UNICEF, quarenta
países (incluindo o Brasil) se reuniram em busca de me-
canismos e ações que pudessem ser desenvolvidos
para proteção, promoção e apoio ao aleitamento mater-
no e deliberaram a “Declaração de Innocenti”2
.
O texto reconhecia as ações do aleitamento materno,
mesmo que isoladamente, na contribuição para redu-
ção de morbimortalidade infantil, das doenças infeccio-
sas, favorecendo o crescimento e o desenvolvimento da
criança. Além disso, ressaltava sua contribuição na saú-
de da mulher com a redução de certos tipos de câncer e
anemia. Desde essa época, já se notavam os benefícios
para a economia familiar e do país com a adoção das
recomendações de aleitamento materno adequadas.
A “Declaração de Innocenti” estabelecia que até 1995,
os países se comprometeriam a:
• Estabelecer um comitê nacional de coordenação da
amamentação;
• Implementar os “10 passos para o sucesso da ama-
mentação” em todas as maternidades;
• Implementar o Código Internacional de Comercializa-
ção dos Substitutos do Leite Materno e todas as reso-
luções relevantes da Assembleia Mundial de Saúde;
• Adotar legislação que proteja a mulher que amamenta
no trabalho.
Desde a sua fundação, a SBP tem enfatizado a impor-
tância do aleitamento materno e as ações foram sempre
ampliadas neste sentido com a criação do Departamen-
to Científico de Aleitamento Materno (DCAM), campa-
nhas com o Ministério da Saúde, lutas conjuntas pelo
apoio e incentivo ao aleitamento nas políticas públicas, e
a partir de 2016 foi criado o Simpósio de Amamentação
durante o Congresso Brasileiro de Pediatria. Também foi
promovido o curso à distância sobre Amamentação e a
semana tornou-se o mês da amamentação chamando-
-se de agosto dourado da SBP.
Em 1991, foi fundada a WABA para acompanhar os com-
promissos assumidos pelos países na assinatura do do-
cumento em prol da Amamentação. Em 1992, a WABA
criou a Semana Mundial de Aleitamento Materno (1 a
7 de agosto) para promover a “Declaração de Innocenti”
3
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
e a amamentação. Essa ação abrange mais de 170 pa-
íses. O tema da primeira SMAM foi sobre os Hospitais
Amigos da Criança (Baby-Friendly Hospital Initiative)3
.
Para tanto, a cada ano são lançados materiais (logo,
poster, cartaz e formulários de ação) pela Organização,
traduzidos em 14 idiomas, mas com o tema adaptado
para cada país, adequando a intenção à sua realidade.
A lista de temas das Semanas Mundiais pode ser acom-
panhada, entre outros, nos sites da WABA, com ma-
terial em português desde 2006 e da Rede Brasileira
de Banco de Leite Humano – FIOCRUZ, com temas de
1992 a 2016 em inglês e português.
A primeira semana mundial oficialmente coordenada
pelo Ministério da Saúde (MS) no Brasil foi a de 19994
,
mesmo ano da escolha, pela Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP), da primeira “madrinha da SMAM”, Luiza
Brunet, como uma mulher de expressão no país, que
estivesse amamentando, “tradição” que foi seguida, na
maioria das semanas subsequentes5
.
Perguntas e Respostas
1. Qual a proposta para a Semana Mundial
de Aleitamento Materno?
Conforme recomendado pela OMS e UNICEF, em decla-
ração conjunta desde 19902
, esta se baseia na prote-
ção, promoção e apoio ao aleitamento materno, na sua
prática, e a WABA também estabelece sempre quatro
critérios e os adequa à campanha em sua estrutura: IN-
FORMAR, DIVULGAR, ENGAJAR e IMPLEMENTAR.
2. Qual foi o tema da Semana Mundial
de Aleitamento Materno de 2024?
Foi estabelecido pela WABA para 20246
o tema: APOIE
A AMAMENTAÇÃO EM TODAS AS SITUAÇÕES
(CLOSING THE GAP, Breastfeeding Support for All) for
a Healthier Planet). O foco é a sobrevivência, a saúde e
o bem-estar em todas as situações. Realçou a neces-
sidade de melhorar o apoio à amamentação reduzindo
as desigualdades que existem em nossa sociedade.
O tema está alinhado com a área temática 2 da cam-
panha WABA-SMAM-ODS 2030. A amamentação pode
ser um fator de igualdade na nossa sociedade e esforços
devem ser feitos para garantir que todos tenham apoio
e oportunidade para amamentar. É fundamental que nin-
guém fique para trás, principalmente as mães vulneráveis
que podem precisar de apoio adicional para a prática da
amamentação. Além destes pilares, a Sociedade Brasilei-
ra de Pediatria também adicionou um pilar sobre a Ama-
mentação em serviços de emergência com implantação
de salas de apoio nos serviços de urgência e emergência.
3. Como não amamentar pode prejudicar
a saúde do planeta?
• Lactentes que não são amamentados necessitam de
substitutos do leite materno (SLM);
• Para a produção de SLM (em sua maioria a partir do
leite de vaca), é necessário criar gado bovino e isso
requer uma grande área destinada apenas para essa
finalidade;
• Latas levam cerca de 200 anos para sua decomposi-
ção, assim como o plástico cerca de 400 anos. Dessa
forma, o descarte de latas de leite (em aterros) e ma-
madeiras (nos rios e oceanos) interfere diretamente na
saúde do planeta;
• Além disso, o desflorestamento causado pela necessi-
dade de se criar gado bovino, origem e matéria prima
das fórmulas infantis, traz prejuízos ao ecossistema e
à biodiversidade, influindo, diretamente, nas variações
climáticas (menos árvores, menores áreas de proteção
à fauna e flora do país, com aumento significativo da
evaporação do solo);
• A água utilizada tanto para a fabricação dos SLM
como para seu preparo em cada refeição traz um con-
sumo de bilhões de litros por ano, repercutindo nos
estoques e nas reservas destinadas a manutenção da
vida no nosso planeta.
4. Quais as propostas de ação para a SMAM-2024?
“Pediatra, apoie a amamentação em qualquer
situação”
Assim como o aleitamento materno é uma questão
multifatorial no organismo humano, as ações devem
abranger todos os segmentos envolvidos com o tema,
de forma coordenada, com foco em trabalho conjunto e
responsável:
• Analisar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sus-
tentável (ODS)7
que abordam pessoas (pobreza,
fome, equidade), planeta (sustentabilidade, recur-
sos naturais, mudanças climáticas) e paz (justiça,
sem medo ou violência) como planejamento para o
período de 2015 a 2030 que já foi tema da SMAM-
2016 (Aleitamento Materno: Presente Saudável, Futu-
ro Sustentável - Breastfeeding: A key to Sustainable
Development)8
;
• Apoio da sociedade, proveniente das comunidades,
sistemas de saúde, locais de trabalho, sensibilização
da média e jornalistas para difusão e esclarecimento
sobre o tema são ações importantes. Quando o acon-
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
4 Sociedade Brasileira de Pediatria
selhamento sobre aleitamento materno está disponi-
bilizado e acessível, a duração e a exclusividade da
amamentação podem ser aumentadas;
• Reforçar a importância do aconselhamento na ama-
mentação para todas as mães e pais de filhos pe-
quenos em serviços de saúde e na comunidade. Im-
plementar os Dez Passos Para uma Amamentação
Saudável9
em todos os serviços de saúde, inclusive
em hospitais privados;
• Apoio contínuo para os primeiros mil dias, abordando
o aleitamento materno desde o pré-natal até o perío-
do pós-natal (270 dias de gestação até os 2 anos de
idade da criança – 730 dias). Envolvimento de pais,
familiares, grupos de apoio de mães compartilhan-
do experiências cria uma rede de apoio fundamental
para o sucesso do aleitamento materno. Enfatiza-se
também a consulta pré-natal com o pediatra neste
processo como importante estímulo e incentivo para
mães e pais, além da consulta periódica e frequente
após o nascimento (Puericultura) para orientar todas
as questões sobre amamentação;
• Construção de conhecimento e habilidades em todos
os níveis com treinamento e orientação a quem for e
não for profissional da área de saúde e tiver contato
com a díade mãe-bebê. Métodos online, e-learning,
assim como práticas presenciais são desejáveis. A
orientação e informação podem e devem ser iniciadas
o quanto antes, envolvendo escolares, estudantes,
mídias sociais e influenciadores utilizando os recursos
mais atuais de comunicação;
• Não deixar gente para trás, mantendo foco nas famí-
lias que são mais vulneráveis. Dar ênfase à expressão
manual de leite materno, uso correto de bombas ex-
tratoras, quando possível, técnicas de copinho e re-
lactação. Estimular a doação de leite humano desde
o pré-natal para garantir suprimento para bebês que
precisarem em bancos de leite humano.
CONCLUSÃO
Há necessidade de reforço nas políticas públicas na área
da saúde e legislação que apoiem a mulher desde o seu
pré-natal, parto e, em caso da mulher trabalhadora, pro-
piciem oportunidades para amamentar ou condições
adequadas para retirar seu leite e armazenar no seu lo-
cal de trabalho para suprir as necessidades de seu bebê
em sua ausência.
Os resultados preliminares do ENANI10
(Estudo Nacional
de Alimentação e Nutrição Infantil) mostram um tímido
aumento nas taxas nos últimos 13 anos (aleitamento
materno exclusivo – AME, até o 4º - 15% - até 6º - 8%,
e até 24 meses – 4,5%), além de demonstrarem queda
significativa (cerca de 15%) nas taxas entre o 4º e 6º me-
ses de vida do bebê. Esse último dado parece sinalizar
para a dificuldade da manutenção da amamentação na
volta ao trabalho, o que reforça a importância da licença
maternidade de 6 meses.
A Semana Mundial de Aleitamento Materno é parte de
uma estratégia ampla, coordenada pelo Ministério de
Saúde e SBP4
, que tem o intuito de informar e acolher
as mães que queiram amamentar e promover um au-
mento significativo das taxas nacionais de aleitamento
materno. O conhecimento e a participação de todos,
especialmente pediatras, como difusores éticos das in-
formações, é desejável e fundamental para atingirmos
melhores metas de aleitamento materno, que resultarão
em maior saúde materno-infantil.
REFERÊNCIAS
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breastfeeding policy brief (WHO/NMH/NHD/14.7).
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Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/
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02. World Health Organization/United Nations Children’s
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promotion and support of breastfeeding. Meeting
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03. World Health Organization [homepage on the Inter-
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feeding: the special role of maternity services. Ge-
neva: WHO; 1989. Disponível em: http://apps.who.
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Acessado em 07/09/2020.
04. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro.
PORTARIA Nº 2.394, DE 7 DE OUTUBRO DE
2009. Institui a Semana Mundial da Amamentação
(SMAM) no Brasil e estabelece a parceria entre o
Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de
Pediatria nas comemorações da SMAM. Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2009/prt2394_07_10_2009.html. Acessado em
07/09/2020.
05. Giugliani ERJ, Vieira GO. Histórico do Departamento
Científico de Aleitamento Materno da SBP (1ª versão/
2018). Disponível em: https://www.sbp.com.br/
fileadmin/user_upload/histrico-DC-aleitamento-
materno__1_.pdf. Acessado em 070/9/2020.
5
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
06. World Breastfeeding Week 2024. Closing the
Gap. Breastfeeding support for all. Disponível em:
https://worldbreastfeedingweek.org/. Acessado em
11/07/2024.
07. Nações Unidas Brasil. Os 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável. Disponível em:
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08. World Breastfeeding Week. 1 - 7 August 2016.
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Disponível em: https://worldbreastfeedingweek.
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09. WHO. Ten steps to successful breastfeeding.
Disponível em: https://www.who.int/activities/
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07/09/2020.
10. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil
(ENANI). Disponível em: https://enani.nutricao.ufrj.br/.
Acessado em: 7/9/2020.
Os Reflexos da
Amamentação na Vida Adulta
Maria Beatriz Reinert do Nacimento
INTRODUÇÃO
Neste mundo globalizado, com tanto progresso tecnoló-
gico e acesso sem paralelo às informações, as crianças
ainda enfrentam ameaças para o seu bem-estar. São
elas o aumento da prevalência de obesidade, a persis-
tência da desnutrição e as mudanças climáticas, com
seu efeito na produção agrícola e consequência no su-
primento de alimentos, colocando em risco a nutrição e
o desenvolvimento sustentável do planeta1
.
Tanto a desnutrição como o sobrepeso comprometem
a saúde, e o seu surgimento cedo na infância é parti-
cularmente prejudicial. Uma variedade de mecanismos
fisiológicos propaga as consequências da má nutrição
ao longo da vida, podendo determinar a transmissão de
seus efeitos para as próximas gerações2
.
A amamentação, cujas vantagens são amplamente co-
nhecidas, tem papel central em mitigar esta dupla carga
de má-nutrição, pois além de corresponder a uma dieta
de alta qualidade, também diminui a morbidade e mor-
talidade infantil, melhora o desenvolvimento na infância,
e promove a saúde materna, com consequente impacto
positivo na economia2,3
.
Crianças saudáveis aprendem melhor, e tornam-se pes-
soas mais fortes, mais produtivas e mais capazes de
criar oportunidades, o que é importante não só para sua
saúde e seu sucesso como adulto, mas também para o
bem-estar da sociedade3
.
ALEITAMENTO MATERNO
É BASE DE BOAS CONDIÇÕES
DE SAÚDE E PRÁTICAS POSITIVAS
DE ALIMENTAÇÃO.
Por que é fundamental a preocupação dos pediatras
com o bem estar nutricional dos pequenos pacientes,
buscando diversidade de nutrientes e padrões alimen-
tares saudáveis, incluindo a promoção do aleitamento
materno, para reduzir o risco de doenças crônicas não
transmissíveis no adulto?
É o que mostraremos a seguir na forma de perguntas e
respostas:
Por que as doenças crônicas não
transmissíveis são uma prioridade
em saúde pública?
O desenvolvimento econômico trouxe mudanças mar-
cantes à demografia, à saúde e à capacidade de tra-
balho da população. A urbanização, com mudanças do
estilo de vida e da dieta determinaram uma verdadei-
ra epidemia de doenças crônicas não transmissíveis.
Doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, doen-
ças respiratórias, alterações comportamentais e da
saúde mental são responsáveis por mais de 60% das
mortes em todo o mundo4
.
Porque os primeiros mil dias oferecem
oportunidade para a prevenção de doenças
crônicas não transmissíveis?
O período transcorrido entre a gravidez, os seis meses
de amamentação exclusiva e a fase de alimentação
complementar até os dois anos de vida é tido como uma
etapa crítica para a promoção da saúde, crescimento e
desenvolvimento3
.
As atuais hipóteses sobre programação metabólica da
adiposidade e outras doenças relacionadas, dizem res-
peito a que tanto a nutrição intra-uterina quanto a rece-
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
6 Sociedade Brasileira de Pediatria
bida na fase pós-natal podem ter efeitos duradouros e
conseqüências na vida adulta, determinando melhor ou
pior qualidade de vida dos indivíduos, e tornando possí-
vel a modificação do risco de agravos não transmissíveis
por meio de experiências alimentares apropriadas3
.
Uma alimentação adequada, uma estimulação carinho-
sa e um cuidado afetuoso durante os primeiros mil dias,
podem moldar o futuro das crianças3
.
Como a exposição a fatores positivos ou
negativos no início da vida podem levar a
consequências no desenvolvimento e saúde?
Pesquisas na área de origens desenvolvimentistas da
saúde e da doença destacam a importância da expo-
sição a fatores positivos ou negativos no início da vida
levando a efeitos tardios, com desfechos mórbidos, dé-
cadas depois5
.
O processo de saúde e doença, depende da genética
(que dita a suscetibilidade do indivíduo a uma doença)
e do meio-ambiente (que determina qual dos indivíduos
suscetíveis poderá desenvolver ou não a doença). Para
o efeito de uma exposição precoce persistir ao longo do
tempo, esta exposição deveria deixar algum tipo de mar-
ca no organismo. Estudos têm focado em como se dá a
construção desta “Memória” entre exposição precoce e
consequências futuras5
.
Uma das hipóteses, para explicar como um evento ocor-
rido na etapa fetal ou nas fases iniciais da vida extraute-
rina traz implicações para o futuro, se refere as mudan-
ças epigenéticas. Epigenética é o estudo de como as
influências ambientais afetam a expressão dos nossos
genes, ou seja, como são feitas e desfeitas as alterações
químicas que determinam se um gene, em particular, é
ou não expresso ou ativado5,6
.
Deve ser lembrado que padrões de expressão são pas-
sados para a prole, e que fatores ambientais podem
mudar a maneira como os genes são expressos5,6
.
Uma mulher saudável no momento da concepção tem
maior probabilidade de ter uma gravidez bem-sucedida
e um filho também saudável. Além disso, a composição
corporal, a dieta e o estilo de vida durante a gravidez
têm efeitos duradouros sobre a saúde em longo pra-
zo da prole, influenciando o risco de doença na idade
adulta7
.
São importantes também os bons hábitos alimentares
na infância, especialmente a amamentação, que oferece
considerável oportunidade para a prevenção de doen-
ças crônicas do adulto8,9
.
Por que a microbiota intestinal está relacionada
a profundas consequências para a saúde?
A nossa microbiota é um componente fundamental do
que significa ser humano. Embora as bactérias sejam os
microrganismos mais abundantes e mais bem estuda-
dos no intestino, ele também hospeda uma infinidade de
arqueias, leveduras, parasitas e vírus10,11
.
As conexões entre microrganismos intestinais e o de-
senvolvimento cerebral estão sendo investigadas, am-
pliando nossa visão acerca do sistema digestório, que
não é simplesmente um canal de trânsito alimentar. Pelo
contrário, é uma complexa entidade funcional do sistema
imune, executa funções metabólicas e coordena uma in-
teressante comunicação entre a microbiota intestinal e o
cérebro, através de caminhos imunológicos, endócrinos
e nervosos, referido como eixo intestino-cérebro12
.
A disbiose, ou seja, um desajuste da colonização bacte-
riana, com o predomínio de bactérias nocivas sobre as
benéficas, pode afetar a suscetibilidade para doenças
crônicas até a vida adulta, com a ocorrência de obe-
sidade, diabetes, doença cardiovascular, asma, doença
inflamatória intestinal, alergia, psoríase e doenças neu-
ropsiquiátricas11
.
O microbioma infantil é mais vulnerável às influências am-
bientais no início da vida. Transferência microbiana ma-
terno-fetal, modo de nascimento, antibióticos e dieta po-
dem alterar a colonização e maturação da microbiota10
.
Quais os benefícios do aleitamento materno
em longo prazo para a saúde?
Pesquisas identificaram que períodos mais longos de
amamentação foram associados com menor risco de
sobrepeso e obesidade, diabetes tipo 2, leucemia infan-
til, de ocorrência de mal oclusões dentais. Também foi
observado possível efeito protetor contra diabetes tipo 1
e melhor performance em testes de inteligência13
.
Por que a amamentação traz essas vantagens?
Estudos realizados nos últimos anos demonstraram que
o leite humano não é só um alimento. Ele é um sistema
complexo, que além de conter uma combinação perfeita
de macro e micronutrientes, hormônios, fatores de cres-
cimento, anticorpos, entre outros, fornece continuamen-
te bactérias benéficas ao intestino infantil14,15
.
Os microrganismos, especialmente os lactobacilos e
bifidobactérias, emergiram como importantes compo-
nentes bioativos do leite humano, que contribuem para
a colonização intestinal, e propiciam a maturação das
7
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
funções digestivas e imunológicas do lactente. O leite
materno está repleto de bactérias - isso é bom para o
bebê! É a “programação” metabólica e imunológica de
mãe para filho14,15
.
Os benefícios da amamentação e do leite humano tam-
bém podem estar relacionados ao crescimento mais
lento de bebês amamentados. Sabe-se que crianças
que recebem leite materno apresentam uma cinética de
crescimento diferente de crianças que recebem fórmu-
la infantil. Um crescimento acelerado na infância pode
resultar em alterações hormonais que programam um
ponto de ajuste mais alto para o apetite, levando a maior
ingestão de alimentos ao longo da vida16,17
.
Os bebês alimentados com mamadeira podem ter me-
nos chances de regular a ingestão de leite ou o apetite
mais tarde na infância. E mesmo bebês que receberam
leite humano em mamadeira têm menos chance de ter
uma boa resposta de saciedade, pois em geral, os cui-
dadores tendem a encorajar o lactente a terminar todo
o conteúdo disponível no recipiente, mesmo quando ele
parece já estar saciado16,17
.
Como o pediatra pode ajudar?
− Favorecendo o contato pele a pele e a amamentação
imediatamente após o nascimento18
;
− Orientando o manejo clínico do aleitamento mater-
no18,19
;
− Monitorizando o peso do recém-nascido18,19
;
− Evitando, se possível, a utilização de fórmulas infantis
na maternidade19
;
− Avaliando precocemente o recém-nascido após a
alta18
;
− Recomendando que a amamentação seja exclusiva
até o sexto mês de vida, e que após essa idade, ali-
mentos complementares devam ser iniciados, e o AM
mantido até dois anos ou mais18
;
− Incentivando a família, bem como ajudando na resolu-
ção dos problemas comuns à prática do aleitamento
materno18
;
− Discutindo alternativas para oferta de leite materno or-
denhado ou suplementos, tais como o uso do copo ou
da técnica de relactação18
.
CONCLUSÃO
A orientação sobre hábitos de vida é determinante para
construção da qualidade de vida. Fornecer assistência
eficiente e de alta qualidade em Pediatria, também diz
respeito a ajudar uma mãe a entender as implicações
das escolhas alimentares que faz para seu filho.
Toda criança merece os benefícios da amamentação, e
o apoio de pediatras, seguros de suas habilidades e co-
nhecimentos em aleitamento materno, é vital para que
as mulheres iniciem e mantenham com sucesso a lacta-
ção, e possam superar os obstáculos à amamentação
exclusiva e estender sua duração.
REFERÊNCIAS
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Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate
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Como ser um “Pediatra Amigo
da Amamentação?”
Roberto Mario Silveira Issler
Pediatra. [De ped(o)- + -iatra.]. S.2.g. Médico/a especialista
em Pediatria.¹
Amigo/a. [Do lat. amicu] 1. Que é ligado a outrem por laços
de amizade: pessoa amiga; animal amigo. 2. Em que há amiza-
de; amical, amistoso: abraço amigo; “Clama uma voz amiga: -
‘Aí tem o Ceará’.” (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira,
p. 56). 3. Simpático, acolhedor: anfitrião amigo; casa amiga.
4. Que ampara ou defende; protetor: Precisava de uma alma
bastante amiga para o auxiliar naquele transe... 9. Aquele que
é amigo (4); defensor, protetor. (seguem outras definições).¹
Amamentação. S.f. Ato ou efeito de amamentar; alactamento.¹
INTRODUÇÃO
O Pediatra é o médico especializado em atender crian-
ças e adolescentes.
A atuação profissional “amiga” do pediatra no atendi-
mento de seu paciente e de sua família significa exercer
sua atividade de maneira amistosa, protetora e defenso-
ra da amamentação com entusiasmo e segurança, re-
forçando a importância do aleitamento materno como a
melhor alimentação para as crianças pequenas.
Os pediatras devem estar capacitados para divul-
gar, apoiar e promover a recomendação da Organi-
zação Mundial de Saúde2
, do Ministério da Saúde do
Brasil3
e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)4,5
quanto à duração do aleitamento materno (AM): alei-
tamento materno exclusivo nos primeiros seis meses
de vida da criança e, após a introdução da alimenta-
ção complementar saudável, mantido até os dois anos
ou mais.
A proteção, a promoção e o apoio ao AM é medida fun-
damental e de grande impacto na saúde materno-infantil
e pode influenciar positivamente outros das metas da
Organização Mundial de Saúde nos Objetivos de Desen-
volvimento Sustentável até o ano 20306
. Nesse cenário
o médico pediatra tem um papel de extrema relevância,
não só em relação ao AM, mas dentro do conceito dos
“Primeiros 1000 Dias” da criança, período que vai desde
a gestação até o final do segundo ano de vida7
.
O Pediatra tem o compromisso e a responsabilidade
profissional de estar amplamente capacitado a exercer
de maneira proativa, com conhecimento e entusiasmo,
essa função especial: ajudar as mães a oferecer o me-
lhor alimento para seus filhos nos primeiros meses e
anos de vida, da melhor maneira possível e da forma e
duração que assim o desejarem.
As recomendações desse guia prático têm como obje-
tivo colaborar para que todos os Pediatras percebam
a sua posição privilegiada e de fundamental importân-
cia nos cuidados das crianças, suas mães e suas famí-
lias e estejam qualificados para esclarecer as principais
dúvidas e resolver os problemas mais comuns durante
o período de amamentação. Com suas atitudes e seu
conhecimento, o Pediatra estará genuinamente atuando
como um “Pediatra Amigo da Amamentação”8
.
9
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
– Evitar práticas invasivas desnecessárias, como aspi-
ração nasogástrica, lavado gástrico, profilaxia ocular
com Credé enquanto o RN estiver em contato pele a
pele com a mãe na sala de parto;
– Favorecer a presença e participação do companheiro
ou acompanhante na sala de parto;
– Realizar procedimentos de rotina como antropometria,
aplicação de vitamina K, primeira dose de vacina da
Hepatite B após a primeira mamada sem interferir no
contato pele a pele.
Mãe e filho no alojamento conjunto,
quais medidas para estimular a amamentação
são importantes?
– Estimular pele a pele no alojamento conjunto (colo);
– Incentivar a mãe a oferecer a mama ao RN frequen-
temente sempre que solicitada, em geral de 8 a
12 vezes por dia;
– Esclarecer aos pais sobre a importância do AM como
o alimento que supre todas as necessidades do RN;
– Informar sobre o início da produção de colostro e es-
clarecer sobre as necessidades nutricionais do RN
nesses primeiros dias de vida;
– Reforçar a importância do alojamento conjunto con-
tínuo e da sucção não nutritiva para tranquilizar e
acalmar o RN;
– Observar uma mamada antes da alta da maternidade
e esclarecer dúvidas dos pais sobre as técnicas de
amamentação e como extrair o leite da mama se hou-
ver necessidade;
– Desencorajar o uso de chupeta;
– Orientar sobre a primeira consulta com 72 horas e no
máximo 7 (sete) dias da alta e disponibilizar acesso
com ajuda e apoio se necessário (por telefone, no
consultório, posto de saúde, grupo de mães, consul-
tor com certificação em aleitamento materno).
Como deve ser a revisão pós-parto?
– Receber a família para a primeira consulta após a alta
do RN. Pai/companheiro/a ou avós devem ser convi-
dados a participar caso assim o desejem e a mãe se
sinta confortável;
– Perguntar e escutar a mãe sobre os primeiros dias
em casa: como estão se adaptando, estrutura do am-
biente de casa, rede de apoio, sono, alimentação e
bem estar especialmente da mãe e da criança;
– Conferir (antes do exame físico, que faz parte da con-
sulta de revisão pós-parto) alguns sinais de bem estar
PEDIATRA AMIGO DA
AMAMENTAÇÃO NA PRÁTICA
Em sua prática profissional, o pediatra atua em diferen-
tes ambientes nos cuidados de crianças e suas famílias.
Tem assim a oportunidade de exercer ações favoráveis à
proteção, apoio e promoção do AM, em diferentes am-
bientes e situações na vida da criança.
Para tornar mais didática e prática a descrição dessas
ações, seguiremos uma “linha do tempo”, pontuando
ações específicas para cada período. Esse roteiro é ba-
seado em recomendações do Departamento Científico
de Aleitamento Materno da SBP – Consultório Amigo da
Amamentação5
, da Academia Americana de Pediatria8
,
da “Academy of Breastfeeding Medicine”9
e do Departa-
mento de Aleitamento Materno da “Asociación Española
de Pediatría”10
.
O que é importante valorizar
na consulta pediátrica pré-natal?
– Realizar uma consulta pediátrica de pré-natal no último
trimestre da gestação preferencialmente com o casal;
– Perguntar sobre as expectativas e conhecimento dos
pais sobre o nascimento de seu filho, com ênfase no AM;
– Esclarecer e informar sobre os benefícios, as vantagens
e a importância do AM para a saúde materno-infantil;
– Informar sobre as práticas e técnicas adequadas para
o início do AM com o objetivo de evitar problemas fu-
turos;
– Estabelecer junto com os pais um plano para que o
AM ocorra de maneira favorável de acordo com suas
expectativas e seu desejo.
No nascimento do bebê, quais os cuidados
imediatos ainda na sala de parto?
– Orientar, juntamente com a equipe de atendimento, a
colocação de eletrodos sobre o tórax da mãe (quando
necessários) em posição que não interfira com o con-
tato pele a pele;
– Avaliar o índice de Apgar e identificar o recém-nascido
(RN) posicionando o bebê sobre a mãe;
– Colocar o RN sobre sua mãe em contato pele a pele,
tanto em crianças nascidas de parto vaginal como de
cesariana, certificando-se das boas condições do RN
após o nascimento;
– Manter o RN em contato pele a pele sobre sua mãe
até que ocorra a primeira mamada, caso a mãe e o RN
assim desejarem e garantindo o bem estar de ambos;
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
10 Sociedade Brasileira de Pediatria
do RN: atividade, choro, cor, frequência e aspecto das
eliminações (urina e fezes), sono;
– Obter informações sobre as mamadas: frequência,
duração, onde ocorrem, posições de mamada, bem
estar ou desconforto físico, especialmente das mamas
(dor, fissura, ingurgitamento);
– Solicitar à mãe que dê de mamar na consulta, se ela
quiser e se sentir à vontade;
– Observar atentamente a posição do RN, a postura e
posição do corpo da mãe (importante observar toda
a postura corporal da mãe durante a mamada –
cabeça, tronco, membros, expressão facial, emissão
de sons ou toques entre a mãe e o RN);
– Observar a técnica da mamada: posição da criança,
“pega” (revisar a boca do RN no exame físico para
excluir anquiloglossia), força de sucção, deglutição,
sinais de saciedade;
– Colocar-se à disposição da mãe e da família para es-
clarecimento de possíveis dúvidas e resolução de difi-
culdades se houverem (telefone do banco de leite, disk
amamentação, whatsapp, e-mail ou mesmo uma nova
consulta em período mais próximo que a de rotina).
Quais aspectos devem ser valorizados no
seguimento de puericultura no primeiro semestre?
– Perguntar e escutar a mãe sobre seus sentimentos a
respeito da amamentação, se possível em todas as
consultas;
– Elogiar sempre! Independente do tipo de aleitamento
materno, sempre haverá alguma oportunidade ou situa-
ção que o Pediatra irá incentivar e elogiar a mãe pela sua
postura, sua atitude e seu emprenho em amamentar sua
criança! Isso traz segurança, reconhecimento e incenti-
vo, pois sabemos que amamentar requer muita disponi-
bilidade: física, mental, temporal, material e afetiva;
– Reforçar as orientações sobre a importância do AM
exclusivo (AME) até os seis meses e após a introdução
da alimentação complementar se possível até os dois
anos ou mais;
– Acompanhar o crescimento e desenvolvimento da
criança (mensalmente se possível);
– Registrar os dados antropométricos da criança a cada
consulta e colocá-los nas curvas de crescimento da
Caderneta de Saúde da Criança (perímetro cefálico,
peso e comprimento);
NOTA: Para as mães de crianças prematuras, também
reforçar a importância do AME para o crescimento e
desenvolvimento saudáveis dessas crianças, escla-
recendo sobre as curvas de crescimento adequadas
e corrigidas pela idade gestacional/idade cronológica;
– Esclarecer sobre alguns mitos que ainda envolvem o
AM: a oferta desnecessária de água, chás, sucos ou
outros líquidos;
– Desaconselhar o uso de chupeta;
– Desaconselhar o uso de outro tipo de leite, reforçando
o ganho de peso e crescimento adequando de uma
criança em AME até o sexto mês;
– Avaliar, conjuntamente com a mãe, a necessidade
de oferecer outro tipo de leite para a criança, caso
haja real indicação médica ou mesmo se for esco-
lha da mãe. Considerar essa escolha com isenção e
objetividade, tirando qualquer culpa ou responsabili-
dade da mãe se essa for sua decisão. Nesse caso,
oferecer de copo ou colher para não interferir na ama-
mentação;
– Obter informações sobre as mamadas: frequência,
duração, onde ocorrem, posições de mamada, bem
estar ou desconforto físico, especialmente das mamas
(dor, fissura, ingurgitamento);
– Conversar sobre a volta ao trabalho e o término da li-
cença maternidade (para aquelas mães que trabalham
fora do lar);
– Discutir alternativas para manter o AME, como expres-
são e estocagem do LM, coordenação dos horários
das mamadas com possíveis intervalos, folgas ou re-
torno da mãe a sua casa;
– Adequar sua prática profissional, tanto em atuação na
Saúde Pública como em clínica particular, à Iniciativa
Consultório Amigo da Amamentação5
;
– Conversar sobre a introdução da alimentação com-
plementar saudável a partir do sexto mês, de acordo
com as mais atuais recomendações do Ministério da
Saúde¹¹.
Após o segundo semestre e com introdução
alimentar, como estimular o aleitamento até
o final do segundo ano de vida?
– Elogiar sempre!
– Incentivar o AM, considerando a atividade da mãe,
introdução da alimentação complementar saudável a
partir do sexto mês e rede de apoio nos cuidados da
criança;
– Assegurar às mães e suas famílias que as crianças ama-
mentadas (com pelo menos quatro mamadas ao dia)
e que já consomem a dieta da família não precisam
receber complemento com outro alimento lácteo;
– Apoiar as mães em sua decisão de manter o AM
por dois anos ou mais, desmistificando opiniões leigas
(ou profissionais!) sobre essa prática;
11
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
– Conversar com a mãe sobre o desmame – interrup-
ção do AM – no momento que ela trouxer esse tema
para consulta. Tratar esse tema com tranquilidade, se-
gurança e clareza. Sempre apoiar a mãe em suas
decisões.
CONCLUSÃO
O pediatra, profissional médico que em algumas opor-
tunidades já atende seu futuro paciente mesmo antes
dele nascer e depois o acompanha por meses ou anos
durante sua infância e adolescência, tem o compromis-
so e a responsabilidade profissional de estar amplamen-
te capacitado a exercer essa função especial: ajudar as
mães a oferecer o melhor alimento para seus filhos nos
primeiros meses e anos de vida, da melhor maneira pos-
sível e da forma e duração que assim o desejarem.
Estaremos assim não apenas protegendo, promoven-
do e apoiando o AM, mas sendo realmente Pediatras
Amigos da Amamentação!
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Cuidados no pós-parto
influenciam o futuro sucesso
na amamentação
Rossiclei de Souza Pinheiro
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda co-
locar os bebês em contato pele a pele com suas mães
imediatamente após o parto, principalmente na primeira
hora, encorajá-las a reconhecerem quando seus bebês
demonstram vontade para mamar, oferecendo ajuda, se
necessário. Apoiar as mães para que o início do aleita-
mento materno se dê neste período essencial, em que
mãe e recém-nascido estão alertas está bem claro no
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
12 Sociedade Brasileira de Pediatria
Passo 4 da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC),
que é uma prática capaz de reduzir em 22% a mortali-
dade neonatal,1
sendo que quanto mais se prorroga o
início do aleitamento materno, maiores serão as chan-
ces de mortalidade infantil causada por infecções
comuns na primeira infância.
No Brasil a maioria dos partos ocorra em estabelecimen-
tos de saúde, o que torna a estratégia de grande impacto
nas taxas de amamentação. Dados de 2018 do Sistema
de Informações de Nascidos Vivos (SINASC) registraram
2.983.567 nascimentos realizados em hospitais no Bra-
sil.2
Estudos nacionais e internacionais mostram asso-
ciação positiva entre o nascimento em Hospitais Amigo
da Criança e o aumento das taxas na amamentação.3-5
A pesquisa nacional sobre o parto e nascimento no
Brasil constatou que bebês saudáveis nascidos em
Hospitais Amigo da Criança tiveram menos risco de
intervenções desnecessárias logo após o parto, como
aspiração das vias aéreas, uso de oxigênio inalató-
rio e uso de incubadora em unidade neonatal. Além
disso, nestes hospitais o contato pele a pele com a mãe
logo após o nascimento, a amamentação na primeira
hora de vida ainda na sala de parto e o alojamento con-
junto foram mais freqüentes.6
Os autores demonstraram
que os Hospitais Amigo da Criança são referência em
qualidade e humanização do atendimento durante todas
as etapas da gestação, parto e nascimento e período
neonatal precoce e isso reflete no aumento da prevalên-
cia do aleitamento materno exclusivo na maternidade e
nos primeiros seis meses de vida.
Em todo o mundo são relatados dificuldades ao nasci-
mento, pois cerca de um em cada 10 recém-nascidos
necessita de ajuda para iniciar a respiração efetiva; um
em cada 100 precisa de intubação traqueal; e 1-2 em
cada 1.000 requer intubação acompanhada de massa-
gem cardíaca e/ou medicações, desde que a ventilação
seja aplicada adequadamente. Quando o bebê nasce
asfixiado, o contato pele a pele pode não possível na
primeira hora de vida.7-9
Se, ao nascimento, o bebê é de termo (idade gestacional
37-41 semanas), está respirando ou chorando e com tô-
nus muscular em flexão, independentemente do aspecto
do líquido amniótico, se apresenta boa vitalidade, deve
continuar junto de sua mãe depois do clampeamento
oportuno do cordão umbilical. Na sala de parto, enquanto
o bebê está junto à mãe, devemos prover calor com uso
de campos aquecidos, manter as vias aéreas pérvias e
avaliar a sua vitalidade de maneira continuada.9,10
Nesse período, para manter a temperatura corporal
entre 36,5-37,5ºC (normotermia) devemos garantir a
temperatura ambiente na sala de parto entre 23-26ºC,
secar o corpo e o segmento cefálico com compressas
aquecidas e deixar o recém-nascido em contato pele-
-a-pele com a mãe, coberto com campos aquecidos
secos. Manter as vias aéreas pérvias, sem flexão ou hi-
perextensão do pescoço, verificando se não há exces-
so de secreções na boca e nariz. Avaliar, inicialmente, a
frequência cardíaca com o estetoscópio no precórdio, o
tônus muscular e a respiração/choro. Depois, de manei-
ra continuada, observar a atividade, o tônus muscular e
a respiração/choro do bebê.11
Se o bebê for prematuro, definido como os nascidos
vivos com idade gestacional inferior a 37 semanas, o
atendimento deve ser realizado conforme as normas do
Programa de Reanimação Neonatal da Academia Ame-
ricana de Pediatria e Sociedade Brasileira de Pediatria,
ressaltando que se for inferior a 34 semanas dever ser
enfatizado a manutenção da temperatura corpórea com
procedimentos específicos. Se o bebê for maior do que
34 semanas e apresentar boa vitalidade, pode ser rea-
lizado contato pele-a-pele durante a primeira de vida e
depois ser encaminhado para unidade de cuidados neo-
natais intermediários. O risco de mortalidade e morbida-
de, incluindo a lesão do sistema nervoso central, durante
a estabilização, reanimação e transporte do prematuro
ao nascimento é muito grande. A equipe deve estar trei-
nada e apta a realizar todos os procedimentos.12
A primeira hora de vida do bebê é tão importante para
seu futuro que é conhecida como hora dourada, onde o
contato pele a pele deve ser estimulado o mais preco-
ce possível, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Manter mãe e bebês juntos facilita a amamentação, di-
minui a mortalidade, diminui a chance de choro e traz
benefícios para toda a família.15
O contato pele a pele
faz parte de um conjunto de ações que possui este pa-
radigma de cuidado: olhar a mulher e o bebê como
protagonistas de um evento. Nesse sentido, este ato
é conseqüência do conjunto de práticas de cuidado que
valoriza o parto e o nascimento. O pediatra deve estar
capacitado para realizar todos os primeiros cuidados
próximo a mãe e manter este contato durante toda a
primeira hora de vida, o conhecido “Golden Hour”.
ESTRATÉGIAS PARA FAZER
O CONTATO PELE A PELE NA
PRIMEIRA HORA DE VIDA
Quais seriam então, as principais ações estratégicas,
que o pediatra deve conhecer para ajudar o contato pele
a pele na primeira hora de vida?
Vamos entender os principais pontos a serem valori-
zados:
13
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
Qual o tipo de parto? Como implementar o contato
pele a pele no parto cesariana, em centro cirúrgico
com ar condicionado, campos cirúrgicos, anestesia,
manipulação cirúrgica, durante uma hora?
Quando o parto é cesariana, sabemos que a sala é mais
fria, então podemos pedir para aquecer antes do nas-
cimento, desligando ar-condicionado. Alguns serviços
têm usado toucas para aquecer a principal área, o polo
cefálico. Geralmente o bebê fica aquecido quando co-
locado junto a sua mãe, desde que ela esteja em boas
condições. Assim, você vai ver que a temperatura do
bebê será melhor mantida do que se estivesse num ber-
ço aquecido; então não tem problema o ar condicionado
ligado se você mantiver o bebê junto com sua mãe, com
um campo aquecido e uma touca. O mais importante
é o bebê ficar com a mãe até o término da cirurgia; ao
terminar, mãe e bebê sairão juntos do centro cirúrgico.
Por que os bebês devem mamar imediatamente
após o nascimento? Eles mamam mesmo?
A amamentação na primeira hora pós-parto assegura
que o bebê entre em contato com o colostro, rico em fa-
tores protetores contra as principais doenças infecciosas.
Além disso, o contato pele a pele entre mãe e bebê ao
nascimento favorece o início precoce da amamentação e
aumenta a chance do aleitamento materno exclusivo ser
bem sucedido nos primeiros seis meses de vida. Geral-
mente, o bebê procura o peito, sente o cheiro e tenta su-
gar mesmo incoordenado, mas a sucção precoce – que
é feita na primeira hora – é tão importante para o bebê
que começa a estimular a descida do leite e como para
a saúde da mãe, pois através da produção do hormônio
ocitocina, contrai o útero da mãe e ajuda a eliminar a pla-
centa, diminuindo uma das principais causas de morte
materna que é a hemorragia uterina depois do parto.
Quais os principais pontos o profissional
de saúde precisa saber?
• O que é clampeamento oportuno?
No recém-nascido pré-termo tardio (34 semanas) e a
termo (37 semanas) que nascem bem, sem asfixia, o
clampeamento do cordão umbilical deve ser oportuno,
cerca de 1-3 minutos após o nascimento. Esse proce-
dimento aumenta os níveis de hemoglobina do recém-
-nascido e melhora as reservas de ferro nos primeiros
meses de vida, o que pode ter um efeito favorável nos
resultados do desenvolvimento.
• Existe contraindicação para o contato pele a pele?
Atualmente, as mães suspeitas ou confirmadas com
COVID-19 devem receber higienização corporal an-
tes do contato com o bebê para diminuir o risco de
infecção pós natal. Mas, os procedimentos devem ser
realizados o mais breve possível a fim de oportunizar
o contato na primeira hora de vida.
• Quando realizar procedimentos de rotina
após o parto?
Os profissionais de saúde devem postergar quaisquer
procedimentos que interrompam o primeiro contato
com a família. As medidas antropométricas, adminis-
tração de medicamentos profiláticos e vacinas podem
aguardar o bebê mamar e despertar. A identificação
com pulseira deve ser realizada no colo da mãe ou do
pai, para ser conferida pela família.
• Quando o bebê deve tomar banho?
O primeiro banho deve ocorrer após 24 horas de vida
para reduzir o risco de o recém-nascido apresentar
hipotermia (perda de calor). O vérnix (resíduo gordu-
roso que recobre o corpo) protege contra a perda de
calor. A maioria das vezes que o bebê faz hipotermia,
aumenta seus gastos de energia e pode apresentar
hipoglicemia.
• Qual a orientação aos pais sobre pele a pele
nos primeiros dias de vida?
Os pais devem ser orientados sobre a importância do
colo a fim de manter a temperatura corpórea e vin-
culo do bebê com a família, portanto nos primeiros
dias devem evitar manter o bebê somente deitado no
berço. Os paradigmas do contato pele a pele devem
ser descontruídos, pois é muito importante o bebê ser
aquecido pelo corpo da mãe / pai, a fim de diminuir o
choro e aumentar a oferta do seio materno e melho-
rando a prevalência de aleitamento materno exclusivo
até seis meses de vida.
CONCLUSÃO
O contato pele a pele na primeira hora de vida é im-
portante para a microbiota, pois o bebê quando nas-
ce não tem bactérias e as primeiras com que ele entra
em contato são as da vagina da sua mãe (no parto nor-
mal) e, depois, são as da pele da sua mãe, portanto
deve ser estimulado nas cesarianas. Hoje, cada vez
mais os estudos científicos têm provado que é muito
importante que o bebê tenha contato com as bacté-
rias da sua mãe, e não contato com as bactérias hos-
pitalares de um berço aquecido, de um profissional de
saúde e de salas afastadas das mães. Sabemos que
as bactérias colonizadas ao nascimento vão manter a
proteção por vários anos. Além disso, o contato pele
a pele promove segurança do bebê, ele respira me-
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
14 Sociedade Brasileira de Pediatria
lhor, deglute melhor e promove o vínculo entre mãe e
filho. Depois de uma hora, quando o bebê jê estiver
aquecido e desperto, os procedimentos de rotina hos-
pitalares podem ser realizados. O mais importante é
respeitar o primeiro contato pele a pele por uma hora
ou mais de uma hora. Após os cuidados de rotina, o
profissional de saúde deve trazê-lo novamente para o
colo da mãe.
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Avaliação da perda de peso
no período neonatal imediato
Ana Luiza Velloso da Paz Matos
Há mais a aprender e muito
a respeitar sobre o trabalho
manual da mãe natureza.
Ruth Lawrence
INTRODUÇÃO
O pediatra e demais profissionais que trabalham com a
amamentação, necessitam de conhecimentos que con-
15
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
tribuam para a compreensão de aspectos fisiológicos do
recém-nascido (RN) e sua mãe, evitando dessa forma
conduzir o que é fisiológico como anormalidade.
Sendo o leite materno, próprio da espécie humana,
quaisquer preparações oferecidas ao RN como substi-
tutas serão de qualidade inferior ao padrão ouro ofere-
cido pelo leite humano, podendo acarretar em prejuízos
e consequências. Portanto, isso deve ser a todo custo
evitado, a menos que exista uma justificativa médica1
ou
escolha materna de não usá-lo, mesmo esclarecida e
ciente de seus incomparáveis benefícios.
A introdução de uma fórmula infantil (FI) pode compro-
vadamente desencorajar o início e/ou diminuir a duração
do aleitamento materno, acarretando em prejuízos para
o bebê e mãe, em curto, médio e longo prazos1,2
.
As rotinas hospitalares para encorajar e apoiar o início e
a manutenção do aleitamento materno exclusivo (AME)
devem ser baseadas na Organização Mundial de Saú-
de (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF)1
.
As mamas femininas iniciam o desenvolvimento na vida
fetal, continuando na adolescência e gestação. São
“preparadas” para a lactação a partir da 16ª semana
da gestação. A lactação, portanto, é parte integral do
ciclo reprodutivo da mulher3
. No pós-parto, em decor-
rência de mudanças hormonais e a seguir em resposta
ao estímulo da sucção, inicia-se a “copiosa produção
de leite”, inicialmente em pequena quantidade, poden-
do ser interpretada como inadequada; mas é em geral
suficiente para atender as necessidades do RN a termo,
saudável.
Referir-se à produção de colostro como pouca, nada
mais é que um pleonasmo vicioso, pois a produção do
mesmo no primeiro dia de vida é pequena, podendo va-
riar de 2 a 20 mL por mamada, o que é perfeitamente
adequado ao estômago do RN a termo, cuja capaci-
dade gástrica neste momento é em torno de 20 mL4,5
.
A ingestão média de colostro por mamada para o RN
termo, sadio de 2 a 10mL (até 24h); 5 a 15 mL (24 a 48h);
30 a 60 mL (48 a 72h)4
.
Não há evidências suficientes sobre os intervalos ide-
ais de alimentação do RN. A recomendação atual é a
livre demanda, ou seja, guiada preferencialmente pe-
los sinais precoces de fome do bebê. Diante de uma
possível falha ou dificuldade com a amamentação,
o profissional deve buscar o que pode estar aconte-
cendo, e não “resolver” a questão introduzindo uma
FI, pois ainda que a mesma seja modificada, não será
igual e nem semelhante ao leite produzido na mama de
uma mulher.
ESTRATÉGIAS PARA CONDUZIR A
PERDA DE PESO NOS PRIMEIROS DIAS
Como entender a perda de peso
nos primeiros dias de vida?
Quase todos os RNs perdem peso durante os primeiros
dias após o nascimento, independente de receberem
leite materno (LM) direto do peito ou uma FI. Existem
razões que necessitam ser consideradas para a ocor-
rência dessa perda de peso nos primeiros dias após o
nascimento, devendo as mesmas serem criteriosamente
compreendidas para uma boa avaliação.
a) Ao nascimento ocorre redistribuição dos volumes
corporais de água, com redução do volume extrace-
lular e aumento do volume intracelular, deste modo
há perda da água corporal total que resultará em
significativa perda de peso. Considerando-se que a
composição hídrica nesta fase é em torno de 70%,
a perda de peso tem grande correlação com a perda
hídrica4,6
. O volume de alimentação relativamente bai-
xo durante as primeiras horas de vida coincide com a
diurese fisiológica do excesso de líquido extracelular
que acompanha a transição da vida pré-natal para a
pós-natal4,7
;
b) O estresse do nascimento libera grandes quantida-
des de hormônio antidiurético, o que colabora para o
balanço hídrico negativo6
;
c) O uso do tecido adiposo do RN, como fonte de ener-
gia, impacta na perda ponderal dos primeiros dias8
;
d) Reduzida capacidade gástrica: O LM inicialmente
proporciona o “liquido necessário” para repor as per-
das insensíveis do RN (2/3 são trans epidérmicas)4
.
O esvaziamento gástrico neste período tem carac-
teristicamente hipomotilidade pós-prandial o que
contribui para a adaptação a pequenos volumes
ingeridos de leite e regurgitações nas primeiras horas
após o nascimento9
;
e) Uso de ocitocina sintética: a administração de oci-
tocina durante o parto é habitualmente realizada em
muitos países pelos resultados benéficos para a mãe;
porém poucos estudos têm investigado os efeitos na
amamentação. Há evidências que a ocitocina exóge-
na pode passar através da placenta para a circulação
fetal10
. Estudo de coorte retrospectivo sugere influên-
cia negativa sobre a amamentação na primeira hora,
em mulheres que usaram ocitocina sintética, que em
associação com índice de massa corporal materno
aumentado contribuiu para prejuízo no AM aos 3 me-
ses11
. Os achados são relacionados à inibição dos
reflexos primitivos dos RN, com prejuízos imediatos
sobre a amamentação12,13
. Esta correlação não pare-
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
16 Sociedade Brasileira de Pediatria
ce ser dependente da dose14
. O adiamento para o es-
tabelecimento do AM pode impactar em maior perda
ponderal;
f) Alguns autores fazem correlação entre o volume de
líquidos intravenosos oferecidos à mãe no pré-parto
e o impacto na maior perda de peso do RN, sobre-
tudo quando a infusão é volumosa15,16
. Isso sugere
que a administração de fluidos intraparto pode causar
expansão do volume fetal e maior perda de fluidos
após o nascimento, embora outros mecanismos se-
jam possivelmente envolvidos17
;
g) A cesariana é um fator de risco conhecido para maior
perda de peso entre os RNs. Existe um mecanismo
conhecido que explica essa associação relacionado
a problemas com a amamentação, devido ao retardo
da lactogênese II (copiosa produção de leite) inician-
do-se no 2º ou 3º dias após o nascimento18,19
. Estudo
japonês recente considerou, além da cesariana, a ida-
de materna mais avançada e a primiparidade como
fatores de risco independentes para a perda excessi-
va de peso em RNs a termo amamentados20
;
h) O clampeamento oportuno do cordão está relaciona-
do a aumento de peso do RN, impactando na varia-
ção maior de perda de peso21
;
i) Considerações sobre: tipo de agasalho utilizado
pelo RN, temperatura ambiente22
, modo de aferição
(tipo de balança e tara) e horário da pesagem
diária, podem interferir na fidedignidade da perda
de peso.
Quais os sinais e sintomas que podem indicar
ingestão insuficiente de leite?
(*Adaptação: Clinical Protocol #3:Supplementary Feedings in the
Healthy Term Breastfed Neonate, Revised 2017)
a) Sinais e/ou sintomas clínicos ou laboratoriais de desi-
dratação (sódio elevado, sucção débil, letargia, etc.)
que não melhoram após cuidados adequados e ma-
nejo apropriado da amamentação;
b) Perda de peso entre 8% e 10%, no quinto dia ou
mais; perda de peso acima do percentil 75 para a
idade. Obs.: Perda de peso na faixa de 8% a 10%
pode estar dentro dos limites da normalidade se não
houver outros achados relevantes e o exame físico
estiver normal; neste ponto há indicação de avaliação
cuidadosa e possível necessidade de assistência na
amamentação;
c) Perda de peso entre 8% e 10% pode ser um indi-
cativo de baixa ingestão ou baixa produção de leite
materno, mas uma avaliação criteriosa é necessária
antes de indicação automática de suplementação;
d) Atraso na evacuação, menos que quatro evacuações
no quarto dia de vida ou fezes com mecônio no quin-
to dia de vida.
Importante: Padrões de eliminações (urina e fezes)
devem ser acompanhados e registrados até pelo
menos o início da apojadura. Deve-se ressaltar que
há grande variação entre os RNs, mas os padrões
podem ser úteis para determinar a adequação da
amamentação. RNs com mais evacuações durante
os primeiros cinco dias após o nascimento apresen-
tam menor perda de peso inicial, transição para fezes
amareladas mais precocemente e retorno mais rápido
ao peso de nascimento.
e) No atraso da apojadura, entre o terceiro e o quinto
dias pós-parto e ingestão insuficiente, considerar:
e.1) Insuficiência glandular primária ( de 5% das mu-
lheres = falha primária na lactação), evidenciada
por tamanho anormal da mama, pequeno cresci-
mento da mesma na gestação, ou mínima indica-
ção de ativação de secreção do leite.
e.2) Doença mamária ou cirurgia mamária prévia que
pode resultar em baixa produção de leite.
e.3) Interrupção temporária da amamentação devi-
do a alguns medicamentos (ex:quimioterapia) ou
separação temporária da mãe e do bebê sem
disponibilidade de ordenha.
A identificação dos fatores de risco para perda excessi-
va de peso será de ajuda para descobrir medidas pre-
ventivas. A extensão da perda de peso de um RN nos
primeiros dias de vida é usada como um indicador da
adequação da amamentação, mas a mesma não deverá
ser usada de forma isolada e única. Os limites fisiológi-
cos máximos de perda de peso para os RNs são contro-
versos. Assim, a perda de peso de 10% pode ser con-
siderada normal ou aceitável, desde que não existam os
sinais acima referidos. Os gráficos de crescimento são
falhos nas primeiras duas semanas, porque não levam
em consideração perda de peso fisiológica neonatal23
.
Perdas acima de 10%, não devem ser automaticamen-
te associadas à indicação de suplementos1
, porém ne-
cessitam ser cuidadosamente avaliadas, pois podem
estar associadas a complicações como: icterícia, hiper-
natremia, desidratação, podendo levar à insuficiência
renal, trombose, choque hipovolêmico e convulsões24,25
.
Qual o tempo para recuperação
do peso do nascimento?
Na avaliação e seguimento da perda de peso neonatal,
nos primeiros dias de vida, é importante lembrar que o
peso é um item que sempre deve ser considerado, mas
juntamente com o mesmo, deve-se atentar ao estado
17
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
geral, atividade, número de fraldas trocadas por dia, refe-
rência ao aspecto das eliminações, padrão de sono, as-
pecto das mamas e avaliação de uma mamada completa.
Não é incomum que os RNs estejam abaixo do peso ao
nascer com 10 a 14 dias após o nascimento, indepen-
dentemente do tipo de parto; os RNs de cesariana, por
habitualmente perderem mais peso nos primeiros dias,
podem não ter recuperado o peso do nascimento ao
longo do primeiro mês22
.
E se houver necessidade de suplementar?
Primeira opção: LM ordenhado, na impossibilidade, uti-
lizar leite procedente de banco de leite humano, caso
o mesmo não esteja disponível, utilizar uma FI, reava-
liando sempre a necessidade da manutenção de forma
total ou parcial. Preferencialmente o suplemento deve
ser oferecido por sonda de pequeno calibre (ex. uretral
nº 4) fixada à mama, cuja ponta deve coincidir com o
mamilo (translactação), copinho ou colher4
, evitando-se
o uso de mamadeiras e/ou chucas, que podem levar à
“confusão de bicos”26
.
CONCLUSÃO
Todos os esforços devem ser feitos para que não haja
substituição ou suplementação desnecessária do LM no
início da vida, para isso é imprescindível que o pedia-
tra tenha conhecimento e compreensão sobre os me-
canismos que envolvem a perda de peso fisiológica no
período neonatal imediato. É recomendável uma boa
anamnese e exame físico do RN, exame das mamas,
observação da atitude e desejo da mãe, registro das eli-
minações do RN, investigação da rede de suporte ime-
diata e acompanhamento de uma mamada (pega, posi-
cionamento, transferência de leite), antes de considerar
a necessidade de um suplemento; quando necessário,
o mesmo deverá ser feito com parcimônia, para atender
as necessidades, sem definir a prescrição como um “ca-
minho sem retorno”.
O leite materno humano é, portanto, não apenas um su-
plemento nutricional perfeitamente adaptado para os be-
bês, mas provavelmente o medicamento personalizado
mais específico que o bebê receberá, oferecido em um
momento em que a expressão gênica está sendo ajusta-
da para a vida. Esta é uma oportunidade a conformação
de saúde que não deve ser perdida27
. Desde o nasci-
mento, começando na primeira hora do nascimento, o
pediatra deve promover a oportunidade do AM, incenti-
var e apoiar a prática do mesmo de modo exclusivo até
o sexto mês e complementado até os dois anos ou mais.
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Leite materno para
prematuros: obstáculos
e suporte nas unidades
neonatais
Rossiclei de Souza Pinheiro
INTRODUÇÃO
O aleitamento materno é considerado padrão ouro e
o modo mais natural e seguro de alimentação para as
crianças, incluindo os prematuros, devido aos seus as-
pectos nutricionais e imunológicos. A recomendação
é que seja exclusivo até os 6 meses e após deve ser
complementado com outros alimentos, porém para os
prematuros deve ser considerado a idade gestacional
corrigida e as habilidades para deglutição. A amamenta-
ção deve ser estimulada até 2 anos ou mais1
.
O leite humano é composto por uma combinação de
proteínas, lipídios, carboidratos, minerais, vitaminas, en-
zimas e células vivas com benefícios nutricionais, imu-
nológicos, psicológicos e econômicos reconhecidos e
inquestionáveis2
. O colostro é um fluido produzido em
pequenas quantidades, mas rico em Imunoglobulina A
(IgA), fatores de crescimento, lactoferrina, citocinas anti-
e pró-inflamatórias. Especialmente para o recém-nasci-
do prematuro, a recomendação do aleitamento materno
tem sido defendida com base nas propriedades imu-
nológicas do leite humano, no seu papel na maturação
gastrintestinal, na formação do vínculo mãe-filho e no
melhor desempenho neurocomportamental apresentado
pelas crianças amamentadas3
. Durante a amamentação,
19
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
a coordenação da sucção/deglutição dos prematuros é
maior. É comprovado que os níveis da pressão parcial de
oxigênio transcutânea, a saturação de oxigênio e a tem-
peratura corporal são mais elevadas do que os obtidos
durante alimentação com mamadeira, confirmando que
a alimentação ao seio é mais fisiológica4
.
O objetivo nutricional deve ser proporcionar um cresci-
mento e composição corporal semelhantes ao intrauteri-
no sem fazer sobrecarga metabólica para evitar doenças
crônicas na fase adulta. Geralmente a perda de peso
dos prematuros é em torno de 15% e a recuperação
ponderal não é esperada antes de 21 dias. É provável
que as doenças da prematuridade decorram de um
desequilíbrio entre as defesas antioxidantes e a expo-
sição a radicais livres liberados após hipóxia ou injúria
por reperfusão, cujo excesso traria risco de enteroco-
lite necrosante, displasia broncopulmonar, hemorragia
intraventricular e retinopatia da prematuridade. Como o
prematuro parece não apresentar proteção bem desen-
volvida contra o estresse oxidativo, o uso de leite huma-
no seria vantajoso, já que este oferece melhor proteção
antioxidante que os leites artificiais5
.
ESTRATÉGIAS PARA
ALIMENTAÇÃO DO PREMATURO
Quais as formas mais adequadas
para manter o aleitamento materno
no prematuro?
O prematuro tem características inerentes à imaturidade
e na maioria das vezes não conseguirá receber o leite
materno diretamente do seio, portanto é importante ter
uma equipe treinada. Geralmente entre 32-34 semanas
de Idade Gestacional existem dificuldades na coordena-
ção da sucção, deglutição e respiração, isso pode levar
a episódios de apnéias, broncoaspiração e engasgos,
limitando a ingesta calórica e conseqüentemente
aumentando a ansiedade da família5
.
O que é Colostroterapia?
É uma estratégia sem função nutricional para aperfei-
çoar a oferta de colostro cru como terapia imune aos
prematuros de muito baixo peso que estejam interna-
dos em unidade de terapia intensiva neonatal, mesmo
que ainda não tenham iniciado a oferta de alimentação
enteral. A técnica consiste na administração gentil de
gotas de leite materno na cavidade oral do recém-nas-
cido e deve ser iniciado nas primeiras 96 horas de vida6
.
A administração de colostro por seringa em uma dose
cumulativa mais alta está associada ao aumento da ab-
sorção de IgA secretória e lactoferrina, e quanto mais
precoce, pode contribuir para um microbioma traqueal
mais diverso7
.
Qual a forma mais segura de alimentar
o prematuro antes de 32 semanas?
Normalmente estes neonatos estão internados em uni-
dade de terapia intensiva neonatal, unidade de cuidados
intermediários ou unidade de cuidados canguru, portan-
to serão alimentados por gavagem com auxilio de uma
sonda nasogástrica ou orogástrica para garantir um bom
suporte nutricional. Conforme vão conseguindo coorde-
nar a sucção/deglutição e respiração, com reflexo de
procura, pode haver transição para via oral, inicialmente
com a técnica finger feeding ou sonda-dedo. A transi-
ção da gavagem para amamentação ao seio materno
deve respeitar o desenvolvimento neurológico individual,
o que pode ser avaliado pela equipe interdisciplinar8
.
Como fazer a transição da sonda
para o peito?
Não devemos considerar apenas idade gestacional de
32-34 semanas, mas avaliar o início da alimentação oral
conforme a estabilidade clínica, habilidade motora oral,
maturidade neurológica e segurança materna. O peso
pode limitar a transição, mas não é fator determinante,
pois os bebês podem ser pequenos para idade gestacio-
nal e confundir com imaturidade. Recomenda-se iniciar
com sucção não nutritiva após a mãe esvaziar a mama
com expressão manual ou com bomba para que o bebê
seja levado ao seio durante a alimentação com sonda
nasogástrica. Esta técnica diminui o risco de engasgos e
estimula a produção do leite materno, otimizando o en-
volvimento da mãe nos cuidados com seu filho e auxilia
no desenvolvimento da sucção, deglutição e respiração
até que esteja apto para amamentação plena. O uso de
bicos artificiais e dedos de luva de látex não são indica-
dos e podem gerar confusão de bicos, gerando mais de
dificuldades na transição ao seio materno9
.
O que é translactação ou relactação?
A translactação é a oferta do leite materno extraído da
própria mãe, enquanto a relactação pode ser realizada
com leite pasteurizado em banco de leite humano e ex-
cepcionalmente fórmula infantil. As duas técnicas têm
o mesmo objetivo que é realizar a transição da alimen-
tação por gavagem para alimentação direta no peito.
São conhecidos como sonda-peito e permitem que o
bebê sugue a mama e receba o leite materno ao mes-
mo tempo em que recebe o leite por meio de uma son-
da (n°4) com uma das extremidades acoplada a uma
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
20 Sociedade Brasileira de Pediatria
seringa ou um recipiente. A sonda deve ser fixada na
aréola, longe do mamilo, permitindo que o volume seja
aumentado gradativamente, evitando engasgos ou ins-
tabilidade clínica. Este método auxilia no estímulo para
aumentar a produção do leite quando o bebê demorou
muitos dias para ir ao seio10
.
Podemos usar o “copinho” para suplementar?
O copinho durante muitos anos foi indicado pela Orga-
nização Mundial da Saúde como método de transição
para os bebês prematuros que estavam em gavagem
ou para suplementação da alimentação oral, pois não
influenciavam na sucção e diminuíam a confusão dos
bicos, mas atualmente o mais indicado é a sonda-peito.
Uso do copinho pode até ajudar, pois no copo o bebê
apresenta abertura da boca e língua anteriorizada para
sorver o leite. A oferta deve ser feita com o bebê em
posição sentada ou semissentada, com a cabeça e o
corpo alinhados e em estado de alerta11
. É uma alter-
nativa segura para oferta do leite materno na ausência
da mãe, como no retorno à escola e ao trabalho, ou
na impossibilidade do bebê sugar seio materno, mas
deve ser oferecido por pessoal treinado. Recomenda-se
uso de copo de vidro, pois é mais fácil a esterilização e
machuca menos a boca do bebê. O uso do copo
aumenta as chances do aleitamento materno exclusivo
até o sexto mês de vida12
.
CONCLUSÃO
A nutrição dos prematuros exige ações complexas com
intervenção de toda equipe interdisciplinar para o suces-
so do aleitamento materno. É necessário investimento
em capacitação com olhar sobre o contexto da prema-
turidade e foco na alimentação saudável para promo-
ver um crescimento adequado e a composição corporal
mais semelhante possível do intra-útero.
O nascimento do prematuro pode interferir em todas as
expectativas da família, inclusive na amamentação, pois
as fragilidades emocionais podem limitar a atuação da
equipe e influenciar no sucesso do aleitamento exclusivo.
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184 p.
21
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
Doação de leite humano:
o que o pediatra precisa saber?
Vilneide Maria Santos Braga D. Serva
INTRODUÇÃO
A doação de leite humano é prioritariamente direcionada
para pacientes especiais, prematuros, com baixo peso
e/ou doentes. Desta forma, o pediatra e todos os profis-
sionais que compõem a equipe de saúde precisam co-
nhecer e observar normas que implicam em cuidadosa
seleção, classificação e acompanhamento das doado-
ras, parte integrante da rotina diária dos bancos de leite
humano e postos de coleta de leite humano1,2
.
São consideradas doadoras as lactantes saudáveis que
apresentem secreção láctea superior às exigências de
seu próprio filho e que voluntariamente se dispõem a
doar o excelente por livre e espontânea vontade2
.
São ainda classificadas como doadoras, mulheres que
temporariamente, por razões de saúde de seus filhos,
estão impedidas de amamentar diretamente no peito,
cujos filhos estão internados em unidades neonatais
ou outras unidades hospitalares e que extraem leite hu-
mano para estimulação da produção láctea ou consumo
de seu próprio filho2
.
COMO FUNCIONA A
DOAÇÃO DE LEITE HUMANO?
Quais seriam os principais pontos que o pediatra e
demais profissionais de saúde devem conhecer para
ajudar uma lactante que deseja ser doadora de leite
humano?
É o que mostraremos a seguir na forma de perguntas e
respostas:
1. Como realizar a triagem de doadoras?
Para a triagem da doadora o pediatra ou outro médico
assistente precisa solicitar e avaliar o cartão pré-natal, a
caderneta da criança, observar a amamentação do filho
da doadora, assistir aos problemas encontrados, além
de realizar avaliação médica e preenchimento do for-
mulário de cadastramento da doadora que contenha1,2
:
• Nome completo
• Data do nascimento
• Endereço
• Local onde realizou o pré-natal
• Número de consultas
• Peso no início e final da gestação
• Resultados de exames realizados no pré-natal: hemo-
grama, VDRL, sorologia para HIV, Hepatite B e outros
exames conforme perfil epidemiológico local ou ne-
cessidade individual da doadora
• Intercorrências no pré-natal e tratamentos realizados
• Data e local do parto
• Intercorrências e tratamento durante internação na
maternidade
• Intercorrências atuais e medicamentos usados
Quais os passos a serem tomados
para a seleção das doadoras?
Para a seleção da doadora o pediatra e/ou médico
assistente deve confirmar que as seguintes condições
e/ou orientações sejam respeitadas1,2
:
• Estar amamentando ou ordenhando leite humano para
o próprio filho
• Ser saudável
• Apresentar exames pré ou pós-natal, caso não os
tenha realizado no pré-natal, compatíveis com a ama-
mentação
• Não fumar mais que 10 cigarros por dia
• Não usar medicamentos incompatíveis coma a ama-
mentação. Mesmo no caso de uso de medicamentos
compatíveis, o pediatra e/ou médico assistente deve
avalia-los rigorosamente, pois a doação, de um modo
geral, é destinada a recém-nascidos prematuros e/ou
doentes
• Não usar álcool ou drogas ilícitas
• Receber orientação sobre a anatomia e fisiologia da
mama, com linguagem simples, visando o entendi-
mento das técnicas de ordenha
• Avaliar técnicas de ordenha
• Orientar sobre pega e posicionamento
• Observar e avaliar da mamada
• Realizar checagem da condição de saúde da doadora
a cada doação, desqualificando a doação quando do
surgimento de patologias ou do uso de medicamentos
incompatíveis com a amamentação
• Realizar checagem das condições de ambiente de
coleta do leite humano
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
22 Sociedade Brasileira de Pediatria
Como orientar a coleta?
Manual ou com bomba extratora?
A extração manual ou com bomba de extração de lei-
te humano é uma recomendação frequente do pediatra
e de outros profissionais de saúde por várias razões,
como doação de leite e retorno ao trabalho3
, alimentar
um filho prematuro e/ou doente4
e manejo de problemas
de mama puerperal5
.
Algumas questões devem ser levadas em consideração
em relação à escolha do método de extração de leite
humano, manual ou com bomba de extração, como por
exemplo:
• Não é possível determinar qual método de extração
de leite humano, manual ou por bomba de extração
elétrica, é o mais eficiente quanto ao volume retira-
do6,7
, entretanto, a extração manual parece ser mais
confortável para a mulher8
e as taxas de aleitamento
materno maiores aos 2 meses pós-parto no grupo de
extração manual de leite humano7
.
• A extração de leite humano pode ser um estímulo para
aumentar a produção de leite humano9
.
• Massagear a mama antes da retirada do leite humano
pode interferir no volume extraído e na quantidade de
lipídeos, consequentemente na caloria do leite huma-
no retirado10
.
• A extração manual de leite humano também está as-
sociada ao maior conteúdo de lipídeos no leite hu-
mano retirado11
. O pediatra e outros profissionais de
saúde precisam se atualizar neste conhecimento,
que tem grande implicação na prática clínica diária,
sobretudo para o ganho ponderal do recém-nascido
prematuro.
• Contaminação bacteriana do leite humano extraído é
maior quando a retirada é realizada por bomba de ex-
tração no ambiente domiciliar comparado a extração
manual12
.
O que fazer para obter um leite
com a maior qualidade possível
tanto durante a extração como no
oferecimento do leite humano extraído
para o recém-nascido?
Algumas orientações devem ser fornecidas pelos pe-
diatras que são fundamentais para a excelência do leite
humano extraído como por exemplo:
• Recomendar o descarte dos primeiros jatos ou gotas
de leite humano durante a extração, facilitando a con-
servação por eliminar as bactérias que colonizam a
parte externa dos ductos mamilares1,2
.
• Recomendar recipientes de boca larga, tampa
rosqueável e de vidro para o armazenamento de leite
humano, pois esse material não libera substâncias e
não absorve odores2
.
• Observar a orientação de manter o volume de leite hu-
mano a cerca de 2 centímetros abaixo da capacidade
total do frasco de coleta, para evitar rompimento pela
expansão do líquido após o congelamento13
.
• Manter o leite humano extraído dentro da geladeira ou
freezer e não nas portas, pois a variação da tempera-
tura nas portas da geladeira ou freezer é maior1
.
• Orientar a refrigeração do leite humano cru por no má-
ximo 12 horas na prateleira de cima da geladeira, no
congelador ou freezer por 15 dias e após a pasteuri-
zação por até 6 meses1
. Embora alguns países orien-
tem duração diferente para o armazenamento14
, o leite
humano cru congelado por 15 dias foi o que mostrou
melhor estabilidade química, semelhante ao do leite
recém extraído15
.
• Recomendar o descongelamento em banho-maria a
40ºC1
, não devendo ocorrer em temperatura ambien-
te1
ou no microondas16
.
• Orientar que o leite humano pasteurizado descongela-
do não deva ser recongelado e pode ser mantido sob
refrigeração por 24 horas1
. A mesma orientação deve
ser dada em relação ao leite humano cru desconge-
lado, não deve ser recongelado, entretanto, o tempo
de manutenção na geladeira após descongelamento
é de 12 horas1
.
CONCLUSÃO
Diante das evidências apresentadas, o pediatra deve
se apropriar das orientações advindas dos documentos
oficiais brasileiros, assim como da literatura nacional
e internacional quanto à prática da doação de leite
humano e da recomendação de sua extração manual,
respeitando a decisão da mulher.
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Aleitamento materno
e distúrbios gastrintestinais
funcionais
Graciete Oliveira Vieira
INTRODUÇÃO
A prevalência do aleitamento materno é baixa em todo o
mundo. Para aumentar as taxas de aleitamento mater-
no é fundamental o empenho do pediatra na promoção,
proteção e apoio à amamentação, o que exige conheci-
mento suficiente, atitudes positivas e habilidades espe-
cíficas para poder orientar e apoiar às mães nas possí-
veis dificuldades e dúvidas quanto à amamentação.
No primeiro ano de vida, que se caracteriza pela velo-
cidade de crescimento e desenvolvimento dos órgãos
e sistemas, o lactente apresenta alta frequência de
sinais e sintomas gastrintestinais. Grande parcela
dessas queixas digestivas diz respeito aos distúrbios
funcionais do aparelho digestório, a exemplo de
cólicas e regurgitações. A condução clínica dessas
afecções será abordada no presente capítulo, com
foco nas crianças amamentadas. O fornecimento de
informações suficientes na consulta pediátrica pode
evitar a introdução desnecessária de fórmulas de leite de
vaca ou de outros alimentos na alimentação da criança,
com consequente interrupção do aleitamento materno
exclusivo e desmame precoce.
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
24 Sociedade Brasileira de Pediatria
Perguntas e respostas
O que é um distúrbio gastrintestinal funcional?
A definição de distúrbios funcionais do aparelho diges-
tivo se distancia dos princípios básicos da medicina
tradicional, pois compreende um grupo de doenças
que acomete crianças e adultos que não apresentam
alteração orgânica explicada por anormalidades anatô-
micas ou bioquímicas1-3
. Assim, a suspeição diagnóstica
dos distúrbios gastrintestinais funcionais na infância é
realizada com base em informações dos familiares so-
bre os sinais e sintomas apresentados pelo lactente2,3
.
Em meados da década de 1980, devido à carência de
padronização de diagnóstico dessas afecções gastrin-
testinais, um grupo de trabalho multinacional se reuniu,
pela primeira vez, em Roma, para uniformizar os crité-
rios de diagnóstico, com base em sintomas positivos
apresentados pelo paciente, conhecidos universalmente
como critérios de Roma. Em 1999 foi incluído no Roma
II um capítulo sobre as doenças funcionais gastrointesti-
nais em pediatria, com posteriores atualizações1
.
Como se caracteriza a cólica do lactente?
A cólica do lactente se caracteriza por períodos recor-
rentes e prolongados de choro inconsolável, agitação
ou irritabilidade, que ocorrem sem causa óbvia e não
podem ser prevenidos ou resolvidos na ausência de
falha de crescimento ou doença1,2
. Foram inicialmente
descritas, na década de 1950, como episódios de ápice
de choro, agitação ou irritabilidade que duram três ho-
ras ou mais por dia, por mais de três dias na semana e
por, pelo menos, três semanas (regra de 3). A definição
da cólica do lactente não teve grandes modificações ao
longo do tempo. O Roma IV incluiu a cólica entre os dis-
túrbios gastrintestinais funcionais que se manifestam em
neonatos e crianças de até quatro meses de idade, que
apresentam períodos recorrentes de início abrupto de ir-
ritabilidade, inquietação e choro, cujo surgimento é sem
causa aparente, com duração dos episódios maior que
três horas por dia, ocorrendo pelo menos três dias por
semana, no mínimo, por uma semana e nenhuma evi-
dência de atraso no desenvolvimento pôndero-estatural
ou doença orgânica1
.
A cólica constitui um importante problema de saúde nos
primeiros quatro meses de vida, pois, além do sofrimento
do lactente, traz muita ansiedade aos pais e pode contri-
buir para estressar a família3
. Nas últimas décadas, para
ajudar a explicar a etiologia da cólica foram sugeridas
várias suposições: imaturidade gastrintestinal, alteração
da motilidade intestinal, alergia alimentar, alterações na
microbiota intestinal, manifestação do desenvolvimento
emocional normal, dentre outras2
. Atualmente, a cólica
do lactente é vista como um distúrbio gastrintestinal
funcional, transitório, que faz parte do desenvolvimento
normal do tubo digestivo da criança1
.
A cólica do lactente pode ser uma
manifestação clínica de alergia alimentar?
Primeiro, é necessário caracterizar a alergia alimen-
tar4
. Está bem estabelecido que proteínas alimentares,
como ovo, soja, leite de vaca e trigo, são detectáveis no
leite materno por muitas horas ou dias, após a inges-
tão materna. A exposição do lactente a essas proteínas
é importante para o processo de desenvolvimento de
tolerância oral; mas pode, às vezes, desencadear em
crianças amamentadas sintomas alérgicos mediados
por IgE ou não IgE mediados5
.
Quando o mecanismo imunológico envolvido é media-
do por imunoglobulina E (IgE), as manifestações clínicas
ocorrem logo após a ingestão do alérgeno, geralmente
evidentes dentro de uma a duas horas, com manifes-
tações clínicas como: hipersensibilidade gastrintesti-
nal imediata, urticária, podendo chegar até ao choque
anafilático. Essas reações são facilmente identificadas
devido ao curto espaço de tempo entre a exposição
e os sintomas. Além disso, a detecção dos anticorpos
IgE específicos contra alérgenos alimentares auxilia no
diagnóstico4
.
Diferentemente, nos casos de alergia alimentar não me-
didas por IgE, as manifestações clínicas ocorrem várias
horas e até dias após a exposição. As principais ma-
nifestações clínicas são: diarreia com ou sem sangue
ou até constipação, cólicas, regurgitações recorrentes,
sono agitado, irritabilidade, recusa alimentar, manifes-
tações cutâneas como dermatite herpetiforme, sinais
de doença atópica e prejuízo para o ganho ponderal.
O diagnóstico é eminentemente clínico, com regressão
dos sintomas durante a dieta de exclusão e seu reapa-
recimento após reintrodução do alérgeno suspeito na
alimentação (teste de desencadeamento), em que, no
caso das crianças amamentadas, a provocação pode
ser efetuada na alimentação materna. Exames para de-
tecção dos anticorpos IgE específicos contra alérgenos
alimentares não contribuem para o diagnóstico da aler-
gia alimentar não IgE mediada4-6
.
Na prática pediátrica, com frequência, a alergia às
proteínas do leite de vaca é considerada no diagnós-
tico diferencial das cólicas3,4
. Cabe ao pediatra avaliar
se a cólica é uma manifestação clínica isolada e tran-
sitória, apresentada por um lactente saudável ou se é
uma manifestação clínica da alergia alimentar, doença
orgânica na qual o lactente exibe outros sintomas
além da cólica.
25
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
Está indicada a dieta materna isenta de
leite de vaca e derivados nos casos de cólicas
do lactente?
Na definição da conduta, uma vez conceituadas as cóli-
cas do lactente e alergia às proteínas do leite de vaca não
IgE mediada, o primeiro aspecto a ser considerado é se
a cólica faz parte da fisiologia e desenvolvimento normal
do intestino de um lactente saudável ou se constitui uma
manifestação clínica de doença3,7,8
. O conhecimento do
quadro clínico e da evolução das duas afecções, além
de história minuciosa e exame clínico detalhado, com
inclusão da avaliação ponderal, podem ajudar o pediatra
na tomada de decisão.
No caso de definição do quadro clínico como cólica do
lactente é importante esclarecer aos pais sobre a benig-
nidade e transitoriedade dessa manifestação, ressaltar
que não são necessários exames complementares, que
o lactente não está doente e não corre nenhum risco1-3
.
Se a cólica não é uma manifestação de doença, não está
indicada a restrição do leite de vaca na dieta materna
ou mudanças na alimentação da criança amamentada,
como introdução de fórmulas lácteas modificadas, de
hidrolisados de proteína ou de aminoácidos7,8
. É impor-
tante também saber dos pais que fontes eles costumam
consultar para definir as condutas com o filho – e, se for
pertinente, recomendar fontes mais seguras de consul-
ta, a exemplo da Sociedade Brasileira de Pediatria.
No caso de decisão em que se indica dieta materna
isenta de leite de vaca é imprescindível, após duas se-
manas, realizar o teste de desencadeamento, com re-
torno do leite de vaca na alimentação materna7,8
. Só se
enquadram no diagnóstico de alergia alimentar aque-
les lactentes que regridem o sintoma da cólica duran-
te a dieta materna de exclusão e agudizam o sintoma
com a liberação do leite de vaca na dieta7,8
. A ausência
deste procedimento mantém muitas mães em dieta
restritiva, por mais tempo do que o necessário, cujos
lactentes não têm alergia alimentar e casualmente apre-
sentaram redução das cólicas com a dieta restritiva7,8
.
Por fim, só se indica realizar dieta materna isenta de leite
de vaca nos casos em que as cólicas do lactente se
caracterizam como uma manifestação clínica da alergia
alimentar4,7,8
.
Há evidências científicas que embasam
a conduta de não indicar dieta materna
nos casos de cólicas do lactente?
Alguns sintomas presentes na alergia às proteínas do
leite de vaca são frequentes em lactentes saudáveis, a
exemplo das cólicas e regurgitações – somadas ao inter-
valo de tempo entre a exposição e o aparecimento das
manifestações clínicas e ausência de testes específicos
para o diagnóstico da alergia alimentar não mediada
por IgE –, que dificultam a sua compreensão e deter-
minam variações no diagnóstico e no seu manejo, com
prejuízo para o aleitamento materno. Esta situação
levou a Academia Europeia de Alergia e Imunologia
Clínica, em 2019, a compor uma força tarefa com o
objetivo de estabelecer o diagnóstico e o manejo das
alergias alimentares não mediadas por IgE em crianças
amamentadas, com base em evidências científicas8
.
Neste estudo foi medido o grau de concordância entre
os diversos especialistas. No que diz respeito às cólicas
do lactente, como uma manifestação da alergia alimen-
tar, ocorreu plena concordância entre os pesquisadores
de que a eliminação do leite de vaca da dieta materna
só é justificada quando as cólicas estiverem associadas
a outras comorbidades atópicas e sintomas gastrin-
testinais que caracterizem o diagnóstico da alergia às
proteínas do leite de vaca (100%). Ademais, a elimina-
ção de alérgenos da dieta materna com melhora dos
sintomas deve sempre ser seguida de reintrodução para
confirmar a alergia alimentar (100%), ou seja, é impres-
cindível realizar o teste de desencadeamento para con-
firmar o diagnóstico de cólica como uma manifestação
clínica da alergia alimentar, conduta que habitualmente
não é observada na prática8
.
Por fim, em sua expressiva maioria (90,9%), os pesqui-
sadores concordaram não haver evidências cientificas
para a recomendação de eliminação do leite de vaca
da dieta materna quando o bebê saudável apresentar
a cólica como única manifestação clínica8
.
As regurgitações do lactente
são uma manifestação normal?
A regurgitação infantil é um sintoma altamente prevalen-
te no primeiro ano de vida. Caracteriza-se por um pro-
cesso involuntário, com retorno passivo dos alimentos
deglutidos ou de secreções para a boca, sem conse-
quências clínicas, e geralmente se manifesta em torno
de três semanas de vida. Essas regurgitações aumen-
tam em número e volume entre dois e quatro meses e,
depois, diminuem progressivamente com o aumento da
idade. Crianças amamentadas apresentam episódios de
regurgitação similares às que usam fórmulas. A ingestão
do alimento é suficiente e o lactente, geralmente, não
apresenta desaceleração de ganho ponderal ou déficit
de crescimento9,10,11
.
As regurgitações, que são um refluxo fisiológico, ocor-
rem devido à imaturidade funcional do tubo digestivo no
primeiro ano de vida, cujos critérios definidos no Roma
IV, no capítulo de desordens gastrintestinais na infância,
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
26 Sociedade Brasileira de Pediatria
incluem duas ou mais regurgitações por dia, por três
semanas ou mais na ausência de sinais de alerta, que
são: ânsia de vômitos, hematêmese, aspiração, apneia,
desenvolvimento pôndero-estatural inadequado, dificul-
dades de deglutição ou para se alimentar ou postura
inadequada de hiperextensão dorsal e rotação lateral da
cabeça, que configura a síndrome de Sandifer1
.
Apesar de ser uma manifestação normal, com evolução
benigna e autolimitada e não ser necessário realizar exa-
mes complementares ou ser tratada com medicamen-
tos, gera angústia e apreensão nos pais; e, se não for
bem conduzida pelo pediatra, poderá resultar em modi-
ficações na alimentação da criança, com introdução de
alimentos sólidos ou fórmulas lácteas antirregurgitação,
com consequente interrupção do aleitamento materno
exclusivo e prejuízos para a saúde da criança3,12
.
Quando se deve pensar em doença
do refluxo gastroesofágico?
As regurgitações são preocupantes quando o lactente
apresenta outras manifestações clínicas, como vômitos
recorrentes, dificuldade durante as mamadas, recusa
alimentar, alteração do sono, déficit de ganho ponderal,
choro, irritabilidade e alteração de postura9-11
. Ademais,
podem apresentar manifestações extragastrintestinais,
com sintomas pulmonares e otorrinolaringológicos. Nes-
ses casos, são consideradas patológicas e recebem
a denominação de doença do refluxo gastroesofágico
(DRGE). O diagnóstico é inicialmente clínico, com base
na história e no quadro clínico do paciente. Mas, se não
se fizer o tratamento, poderá gerar complicações10,11
.
Qual a condução clínica no
lactente com regurgitações?
É importante na consulta, independentemente do tipo
de refluxo, explicar aos pais as diferenças entre o fisio-
lógico e o patológico, tranquilizá-los e alertá-los sobre
os sinais de risco, além de acompanhar a curva de peso
do lactente. Nas crianças com sintomas leves e nenhum
sinal de alerta, não é necessária a terapêutica medica-
mentosa9-11
. Orientar o esvaziamento parcial das mamas
antes das mamadas, faz com que a pega fique melhor e
o bebê degluta menor quantidade de leite, reduzindo os
episódios de regurgitação.
A terapia não farmacológica está indicada em todos os
casos: não utilizar roupas apertadas, realizar a troca das
fraldas antes da amamentação, observar a pega que
não deve permitir a deglutição de ar durante as mama-
das (aerofagia), colocar o bebê para arrotar na posição
vertical após as mamadas, evitar exposição ao tabaco
e outras substâncias que determinam o relaxamen-
to do esfíncter esofágico inferior e piora do refluxo10,11
.
O aleitamento materno deve ser continuado sempre,
tanto no refluxo fisiológico quanto no patológico12
.
Mãe de lactente com regurgitações precisa
fazer dieta isenta de leite de vaca?
Regurgitações devido ao refluxo fisiológico, em tor-
no de 90% a 95% dos casos, são superadas pelos
lactentes até o primeiro ano de vida. Nesses casos não
está indicada dieta materna isenta de leite de vaca.
O aleitamento materno deve ser mantido em livre
demanda. A mãe deve observar a mamada e corri-
gir a técnica de amamentar se o lactente prolongar o
tempo de sucção não nutritiva, apresentando deglu-
tição de ar. Entretanto, na prática pediátrica, com
frequência, a alergia às proteínas do leite de vaca e a
DRGE configuram-se como diagnóstico diferencial
dos distúrbios gastrintestinais funcionais, devido à si-
milaridade de sintomas entre a alergia às proteínas do
leite de vaca e o refluxo patológico, pois, em ambos,
o lactente apresenta: choro, irritabilidade, parada de
ganho ponderal e recusa alimentar3,10,11
.
A força tarefa da Academia Europeia de Alergia e
Imunologia Clínica, instituída com o objetivo de padro-
nizar o diagnóstico e o manejo das alergias alimenta-
res não mediadas por IgE em crianças amamentadas,
também buscou o grau de concordância entre os
pesquisadores quanto à exclusão do leite de vaca da
dieta de nutrizes, cujos filhos apresentavam regurgita-
ções8
. A grande maioria concordou que não há dados
disponíveis sobre a DRGE como uma única manifes-
tação de alergia alimentar em crianças amamentadas
exclusivamente (91,1%) e que o diagnóstico deve ser
considerado se o tratamento convencional para
DRGE não produzir melhora dos sintomas (81,8%).
Houve plena concordância que o leite de vaca é o prin-
cipal alimento alergênico associado à alergia alimentar,
mas outros alimentos podem provocar sintomas (100%)
e que o diagnóstico de DRGE induzida por alergia ali-
mentar só é permitido após dieta materna de eliminação
do leite de vaca, seguida de teste de desencadeamento
positivo (100%)8
.
A hipótese de alergia às proteínas do leite de vaca é
reforçada quando o lactente apresenta outras caracte-
rísticas clínicas além das regurgitações e história posi-
tiva de alergia alimentar na família. Se ocorrer dificulda-
de em se distinguir clinicamente essas duas doenças,
devido à semelhança dos sintomas, justifica-se a exclu-
são das proteínas do leite de vaca da dieta materna,
como teste terapêutico, antes do tratamento medica-
mentoso para as crianças amamentadas. Para as não
27
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
amamentadas, indicar o uso de fórmulas de hidro-
lisados de proteína ou de aminoácidos. Os exames
complementares só estão indicados nos casos que
não evoluam com melhora clínica9-11
.
CONCLUSÃO
As cólicas e regurgitações são manifestações de
distúrbios gastrintestinais funcionais, fazem parte do
desenvolvimento normal da criança, mas frequentemen-
te geram incertezas e questionamentos dos pais quanto
às suas conduções. A alergia às proteínas do leite de
vaca e DRGE também causam esses sintomas e repre-
sentam importante diagnóstico diferencial. O pediatra,
diante de um lactente no primeiro semestre de vida,
época em que as cólicas e regurgitações se caracte-
rizam como manifestação normal do desenvolvimento,
necessita realizar avaliação clínica cuidadosa, a fim de
identificar as causas e instituir a conduta adequada.
Em qualquer uma das situações é fundamental ressaltar
a manutenção do aleitamento materno exclusivo.
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13(S1):S11-S13.
Aleitamento Materno e
Alergias Alimentares
Vanessa Macedo Silveira Fuck
INTRODUÇÃO
A literatura científica apresenta evidências inquestioná-
veis do aleitamento materno para a prevenção de doen-
ças infecciosas e redução da incidência de internações
hospitalares, bem como o papel protetor para o desen-
volvimento de doenças crônicas na vida adulta, com re-
dução das taxas de sobrepeso, obesidade e diabetes.1
Muitos estudos têm demonstrado a influência do aleita-
mento materno na prevenção de alergias, ocasionando
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
28 Sociedade Brasileira de Pediatria
uma melhor qualidade de vida. Portanto, é de funda-
mental importância o apoio e promoção ao aleitamento
materno desde o pré-natal, na maternidade e na pueri-
cultura, para garantir os efeitos de longo prazo na saúde
da criança.1
Perguntas e respostas
Qual a relação entre aleitamento materno
e alergias alimentares?
O aleitamento materno tem efeito protetor para redução
dos índices de asma, rinite alérgica e dermatite, pois
a amamentação proporciona uma exposição contínua
de antígenos ao sistema imunológico do bebê durante
os primeiros meses de vida, período no qual o sistema
imunitário está em constante desenvolvimento.2-7
A literatura científica tem demonstrado que quanto
maior o tempo de amamentação, maior a proteção
imunológica para o bebe.2-5,7
Portanto, o leite materno apresenta função inquestioná-
vel na formação do sistema imune da criança, por meio
de componentes bioativos que atuam na imunidade
humoral e celular; além de importante papel modulação
da microbiota intestinal do lactente.
Entre os componentes encontrados no leite materno,
tem papel de destaque a IgA, predominantemente na
forma secretora – IgA secretora (sIgA), que tem fun-
ção primordial na homeostase intestinal e controle do
microbioma intestinal.4,8
Grandes concentrações de sIgA são encontradas no
primeiro mês de vida, particularmente no colostro, o
que reforça o papel do colostro como profilático para
o desenvolvimento de alergias alimentares.4
Devido a composição complexa e variável do leite hu-
mano, os componentes biologicamente ativos podem
atuar na prevenção de alergias alimentares, diretamen-
te ou indiretamente pela modulação do microbioma
intestinal.
Como o leite materno ajuda a formar
a microbiota intestinal do bebê?
O leite materno tem um papel essencial na formação
e modulação da microbiota intestinal do recém-nasci-
do, o que é importante para a prevenção de alergias
alimentares ao longo da vida. Os bebês amamenta-
dos possuem um perfil microbiano com predomínio de
Bifidobacterium, que tem papel fundamental no desen-
volvimento da tolerância imune.9
A presença de oligos-
sacarídeos no leite humano funciona como prebioticos
e estimua o crescimento de bactérias específicas e
benéficas.
A dieta inicial do recém-nascido
pode aumentar o risco de alergias?
Estudos têm demonstrado que a exposição precoce ao
leite de vaca, por meio do uso de fórmulas infantis, pode
aumentar o risco de o bebê apresentar sintomas de
alergia alimentar.
O pediatra e todos os profissionais de saúde que atuam
diretamente com o binômio mãe-bebe devem estimu-
lar e ajudar no manejo e dificuldades de amamentação
desde o pré-natal e sala de parto, com avaliação cuida-
dosa da mamada e possíveis ajustes para evitar o uso
de fórmula infantil sem indicação médica nos primeiros
dias de vida do bebe.
Dietas restritivas durante a gestação ou
amamentação são recomendadas para prevenir
alergias alimentares?
Durante o período de gestação e amamentação é reco-
mendada uma dieta materna sem restrições de grupos
alimentares específicos se o lactente em aleitamento
materno exclusivo não apresentar sintomas de alergia
alimentar. Não existem evidências científicas que confir-
mem que a restrição da dieta materna pode prevenir o
aparecimento de alergias.
Sabe-se que dietas muito restritivas podem causar mais
danos do que benefícios, tendo em vista que os alérge-
nos alimentares não existem isoladamente, por isso a
restrição de grupos alimentares pode reduzir a ingestão
de nutrientes vitais, influenciando negativamente a saú-
de da lactante e de seu filho.10
A recomendação é que a lactante siga uma dieta saudá-
vel e equilibrada durante a gestação e a amamentação,
o que pode proporcionar uma amamentação mais pro-
longada e melhor qualidade de vida para a mãe e para
o bebe, se esse não apresentar diagnóstico de alergia
alimentar.
O que fazer se o bebê em
aleitamento materno exclusivo
apresentar sintomas de alergia alimentar?
Se o bebê apresentar sintomas de alergia alimentar, a
dieta materna pode ser ajustada de maneira individuali-
zada com restrição de alérgenos específicos e o aleita-
mento materno deve continuar. Na maioria dos casos,
não é necessário uso de fórmula infantil modificada para
29
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
tratamento de alergias alimentares se o bebe seguir em
aleitamento materno exclusivo, com bom ganho ponde-
ral e remissão dos sintomas de alergia alimentar após
orientações específicas em relação à dieta materna.
Muitas vezes o diagnóstico de alergia alimentar pode ser
um desafio, com presença de sinais inespecíficos, que
podem ser confundidos com distúrbios funcionais do
lactente. Uma anamnese detalhada, que garanta uma
escuta atenta e acolhedora pode nortear o diagnóstico,
com exclusão de sinais de alarme para doenças graves
e de intervenção imediata.
Portanto, é fundamental o diagnóstico correto de alergia
alimentar, que nos casos de alergias não-IgE mediadas,
o diagnóstico é eminentemente clínico. Reforçando a
importância do Teste de Provocação Oral diagnóstico
para se evitar dietas restritivas maternas desnecessá-
rias, que podem levar ao desmame precoce.
CONCLUSÃO
O aleitamento materno tem papel importante na preven-
ção de alergias no bebe, tendo em vista a complexidade
da composição variável do leite materno e o impacto
que todas as individualidades podem ter no desenvolvi-
mento da microbiota intestinal do bebe.
Portanto a amamentação exclusiva deve ser encorajada,
evitando-se prescrições desnecessárias de fórmulas in-
fantis precocemente e dietas maternas muito restritivas
sem diagnóstico preciso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Norma Brasileira de
Comercialização de
Alimentos (NBCAL)
Rossiclei de Souza Pinheiro
O que é a NBCAL – Norma Brasileira de
Comercialização de Alimentos para
Lactentes e Crianças de Primeira Infância,
Bicos, Chupetas e Mamadeiras?
É um conjunto de documentos (Portaria nº 2051/01,
RDC nº 221/02, RDC nº 222/02, Lei nº 11.265/06 e
Decreto nº 9.579/18).
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
30 Sociedade Brasileira de Pediatria
Quais os objetivos da NBCAL?
Regulamentar a promoção comercial e orientar o uso
apropriado dos alimentos para lactentes e crianças de
primeira infância, bem como do uso de mamadeiras,
bicos e chupetas; proteger e incentivar o aleitamento
materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e a
continuidade do aleitamento materno até os dois anos
de idade, após a introdução de novos alimentos na dieta
dos lactentes.
Por que divulgar a NBCAL
como promoção da Amamentação?
Porque a amamentação influencia na manutenção da
saúde materna e infantil, prevenindo não somente do-
enças transmissíveis como também o câncer de mama
e diabetes, sobrepeso e obesidade. Além disso, evidên-
cias apontam o efeito da amamentação na inteligência e,
portanto, no capital humano podendo ajudar a diminuir
a desigualdade social, como a distância entre ricos e
pobres.
Como a NBCAL promove
a amamentação?
Com um ambiente favorável para a amamentação, pois
a presença de determinantes e intervenções que afe-
tem positivamente as decisões sobre o início e duração
da amamentação, evitando a prescrição de fórmulas
infantis. Assim, ainda que quase todas as mulheres se-
jam biologicamente capazes de amamentar, as políticas
públicas disponíveis, o contexto cultural e de mercado,
as atitudes dos profissionais de saúde e das famílias
moldam a prática de amamentar.
Como a NBCAL protege
a amamentação?
Como foi descrito os seus principais objetivos são:
regulamentar a promoção comercial e orientar o uso
apropriado dos alimentos para lactentes e crianças de
primeira infância, bem como do uso de mamadeiras,
bicos e chupetas; proteger e incentivar o aleitamento
materno até os dois anos de idade ou mais e exclusivo
nos primeiros seis meses, mantendo a amamentação
mesmo após a introdução de novos alimentos na dieta
dos lactentes.
Qual a importância de
conhecer a NBCAL?
Para atingir os objetivos devemos conhecer as legis-
lações vigentes por uma série de artigos que têm por
finalidade definir regras para as práticas de comercia-
lização, distribuição e uso dos produtos que estão na
abrangência da NBCAL fabricados no país ou impor-
tados. Além disso, a competitividade de hoje faz com
que as empresas precisem elevar cada vez mais seu
padrão de qualidade, a fim de manter uma boa imagem
no mercado e, consequentemente, estimular a prescri-
ção e influenciar no desmame.
Como conhecer os produtos
incluídos na NBCAL?
O Decreto nº 9.579/18 (art. 3º) apresenta as catego-
rias de produtos - veja a seguir quais são elas e alguns
exemplos de produtos.
1. Fórmulas infantis para lactentes (de 0 A 6 MESES)
e fórmulas infantis de seguimento para lactentes
(6 MESES A 12 MESES).
2. Fórmulas infantis de seguimento para crianças na
primeira infância (de 1 a 3 anos de idade).
3. Fórmulas infantis para necessidades dietoterápicas
específicas.
4. Fórmulas de nutrientes apresentadas ou indicadas
para recém-nascidos de alto risco.
5. Alimentos de transição e alimentos à base de
cereais, indicados para lactentes ou crianças na
primeira infância.
6. Alimentos ou bebidas à base de leite ou não, quando
comercializados ou apresentados como apropria-
dos para a alimentação de lactentes e crianças na
primeira infância.
7. Leites fluidos ou em pó, leites modificados e similares
de origem vegetal.
8. Mamadeiras, bicos, chupetas e protetores de ma-
milos.
Quem deve fiscalizar a fabricação
e rotulagem destes produtos?
No Brasil, qualquer novo produto lançado pela INDÚS-
TRIA que tem relação ou interferência com a saúde da
população deve ser aprovado pela ANVISA. E – em
se tratando de alimento – sua composição deve ser
estudada e aprovada pelo Codex Alimentarius.
A ANVISA tem também a prerrogativa de aprovar ou
não os RÓTULOS ou EMBALAGENS desses produ-
tos. Quando se tratar de produto de origem animal a
responsabilidade de aprovação é do MAPA – Ministério
da Agricultura.
31
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
Conforme a NBCAL, o que é proibido na
rotulagem da fórmula infantil para lactente e
fórmula infantil de seguimento para lactente?
1. Utilizar fotos, desenhos ou representações gráficas
que não sejam necessárias para ilustrar métodos de
preparação ou de uso do produto, exceto o uso de
marca ou de logomarca, desde que não utilize ima-
gem de lactente, de criança pequena ou de outras
figuras ou ilustrações humanizadas;
2. Utilizar denominações ou frases com o intuito de
sugerir forte semelhança do produto com o leite
materno, como por exemplo, “leite humanizado”,
“leite maternizado”, “substituto do leite materno”;
3. Utilizar frases ou expressões que induzam dúvida
quanto à capacidade das mães de amamentarem os
seus filhos;
4. Utilizar expressões ou denominações que identifi-
quem o produto como mais adequado à alimentação
infantil, como por exemplo, “baby”, “kids”, “ideal para
o bebê”, “primeiro crescimento”;
5. Utilizar informações que possam induzir o uso dos
produtos em decorrência de falso conceito de vanta-
gem ou de segurança;
6. Utilizar frases ou expressões que indiquem as con-
dições de saúde para as quais o produto seja
adequado;
7. Promover os produtos do fabricante ou de outros
estabelecimentos.
Quem pode receber amostras
de fórmulas infantis?
A amostra de fórmula infantil para lactentes somente
será ofertada com a solicitação prévia de médico pedia-
tra ou de nutricionista e será acompanhada de protocolo
de entrega da empresa, com cópia para o profissional da
saúde solicitante. No rótulo deve estar escrito: “Amostra
grátis para avaliação profissional. Proibida a distribuição
a mães, gestantes e familiares”.
Quem pode doar fórmulas infantis?
São proibidas as doações ou vendas a preços reduzi-
dos dos produtos abrangidos pela NBCAL às materni-
dades e instituições que prestem assistência à crianças.
Esta proibição não se aplica às emergências, individual
e coletiva, a critério da autoridade fiscalizadora com-
petente. Nestas situações a empresa responsável pela
doação deverá garantir que as provisões sejam con-
tínuas no período em que o lactente delas necessitar.
Nestes casos será permitida a impressão do nome e do
logotipo do doador ficando proibida qualquer publicida-
de dos produtos.
São permitidas mediante a apresentação de protocolo
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da institui-
ção a que o profissional estiver vinculado, observados
os regulamentos editados pelos órgãos competentes.
Quem pode receber patrocínios
dos fabricantes de fórmulas infantis?
Os “patrocínios” representam evidente relação confli-
tuosa entre aqueles que têm interesse em defender o
aleitamento materno e aqueles que querem lucrar com
produtos artificiais tendo interesse em vende-los, con-
figurando CONFLITO DE INTERESSES. Fabricantes,
importadores, distribuidores dos produtos abrangidos
por essas legislações somente poderão conceder pa-
trocínios às entidades científicas de ensino e pesquisa
ou associativas de pediatras e Nutricionistas que sejam
reconhecidas nacionalmente.
Quais produtos são proibidos
a promoção comercial (propaganda)?
Fórmulas infantis para lactentes (de 0 A 6 MESES) e fór-
mulas infantis de seguimento para lactentes (6 MESES
A 12 MESES)
Fórmulas de nutrientes apresentadas ou indicadas para
recém-nascidos de alto risco.
Mamadeiras, bicos, chupetas e protetores de mamilo.
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06 de agosto de 2002, Seção 1. Disponível em:
https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/
fiscalizacao-e-monitoramento/propaganda/
legislacao/legislacao Acesso em maio de 2024.
Como apoiar a mulher
que amamenta na volta
ao trabalho
Luciano Borges Santiago
INTRODUÇÃO
Apesar das inúmeras vantagens do aleitamento materno
(AM) sobre qualquer outro leite e de estudos mostrando
claramente que a manutenção do mesmo em colabo-
radoras trás inegáveis benefícios para a saúde financei-
ra das empresas, a volta ao trabalho, continua sendo
um momento muito delicado para a manutenção desta
prática alimentar1-3.
Dentre as muitas dificuldades que ficam evidencia-
das nessa volta ao trabalho, destacam-se: a ansiedade
materna, o medo da separação mãe/bebê, o tempo de
trabalho presencial e o cronograma que será utilizado
nessa vota, o desconhecimento de como se fazer a extra-
ção e conservação do leite materno, a ausência de salas
de apoio ao AM e de outras políticas favoráveis à manu-
tenção do AM em vários serviços, a falta de conhecimento
e habilidade em realizar a técnica do copinho por parte
de cuidados dos bebês, além de poucas pessoas com
habilidade para informar sobre as leis trabalhistas que
protegem o AM4-7
.
Trata-se, sem dúvida, de um momento decisivo para a
manutenção ou do AM, mas é importante dizer que es-
tamos sim diante de uma grande dificuldade, mas não
de uma impossibilidade, pois temos inúmeros casos
de sucesso de manutenção da amamentação, mesmo
em trabalhos que exigem muito da mãe. Isso costuma
ser alcançado, principalmente quando o pediatra assis-
tente tem habilidade em utilizar estratégias preventivas,
capazes de evitar o desmame8,9
.
ESTRATÉGIAS PARA
EVITAR O DESMAME
Quais seriam então, as principais ações estraté-
gicas, que o pediatra deve conhecer para ajudar
uma lactante a não perder o AM, mesmo voltando a
trabalhar?
É o que mostraremos a seguir na forma de perguntas e
respostas:
Qual o melhor momento pra se programar
a volta ao trabalho?
Desde a primeira consulta o pediatra deve se infor-
mar qual o trabalho da mãe, número de horas traba-
lhadas por dia, horários de descanso e almoço, quem
provavelmente ficará como cuidador(a) do bebê. Essas
informações farão toda diferença nas orientações que
serão posteriormente oferecidas a mãe, para um melhor
preparo da mesma na volta ao trabalho.
O que a lactante precisa aprender
em relação ao manuseio do leite humano10-12
que será oferecido ao seu bebê?
Toda lactante deve ter a cartilha da mulher trabalhado-
ra que amamenta do Ministério da Saúde10
(com fácil
acesso e download grátis em qualquer site de busca),
onde poderão ser encontradas muitas orientações de
uma forma simples e em linguagem bem acessível para
que as mães consigam entender como realizar o manu-
seio do seu leite com segurança para o bebê. Entre os
conhecimentos necessários temos:
• Como escolher e preparar o frasco que será utilizado
para guardar o leite extraído (frasco de vidro, boca
larga e tampa de plástico);
33
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
• Como realizar a extração do leite, seja manualmente
ou por meio de ordenhadeira;
• Como estocar o leite extraído (em geladeira por
12 horas e em congelador ou freezer por até 15 dias);
• Como conservar e transportar o leite do trabalho para
a casa (transporte do leite congelado em caixa isotér-
mica e com gelo reciclável – 2 gelos recicláveis por
vidro com leite humano).
O que o cuidador(a) precisa saber?
• Como degelar o leite congelado (em Banho Maria
com o fogo desligado);
• Como oferecer o leite ao bebê (em copinho, xícara ou
colher);
• O cuidador(a) deverá estar treinado para utilizar co-
pinho ou xícara para não haver qualquer risco para o
bebê (procure um profissional de saúde, geralmente
em bancos de leite humano).
Quais as leis trabalhistas que podem ajudar
na volta ao trabalho10
?
• Estabilidade de emprego, desde a concepção até
que a criança complete 5 meses de idade (CLT, artigo
391, seção V);
• Licença Paternidade (CLT, capítulo II, artigo 7ª, XIX):
– De cinco dias para pais regime CLT;
– Ampliada para 20 dias (5 dias normais + 15 dias
solicitados no RH da empresa = total de 20 dias):
para ter direito ao período ampliado, a empresa em
que o pai trabalha precisa estar vinculada ao Pro-
grama Empresa Cidadã (Lei 11.770). Se a empresa
não fizer parte do programa, o pai tem direito a
cinco dias apenas.;
– O servidor público federal também pode pedir am-
pliação de 15 dias (chegando, portanto a um total
de 20 dias).
• Licença Maternidade de 120 dias (CLT, no artigo
Art. 392) A empregada gestante tem direito à licen-
ça-maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem
prejuízo do emprego e do salário. (Redação dada
pela Lei nº 10.421, 15.4.2002) (Vide Lei nº 13.985,
de 2020)
– § 1º A empregada deve, mediante atestado mé-
dico, notificar o seu empregador da data do iní-
cio do afastamento do emprego, que poderá
ocorrer entre o 28º (vigésimo oitavo) dia antes
do parto e ocorrência deste. (Redação dada pela
Lei nº 10.421, 15.4.2002);
– § 2º Os períodos de repouso, antes e depois do
parto, poderão ser aumentados de 2 (duas) se-
manas cada um, mediante atestado médico.
(Redação dada pela Lei nº 10.421, 15.4.2002);
• Após os 120 dias a mulher ainda pode contar com
2 intervalos de 30 minutos no seu horário de trabalho
(até 6 meses pós-parto);
– Art. 396, Seção V - Para amamentar o próprio filho,
até que este complete 6 (seis) meses de idade, a
mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a
2 (dois) descansos especiais, de meia hora cada um.
– Parágrafo único - Quando o exigir a saúde do filho,
o período de 6 (seis) meses poderá ser dilatado, a
critério da autoridade competente.
• Garantia de local/creche para deixar seu filho (empre-
sas com mais de 30 mulheres com mais de 16 anos),
CLT, Artigo 389, Direito à creche seção IV / Portaria
nº 3.296, de 03/09/86, artigo 1º – Creche ou reem-
bolso-creche:
– § 1º Os estabelecimentos em que trabalharem pelo
menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezes-
seis) anos de idade terão local apropriado onde seja
permitido às empregadas guardar sob vigilância e
assistência os seus filhos no período da amamenta-
ção. (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 1967)
– § 2º A exigência do § 1º poderá ser suprida por
meio de creches distritais mantidas, diretamente
ou mediante convênios, com outras entidades pú-
blicas ou privadas, pelas próprias empresas, em
regime comunitário, ou a cargo do SESI, do SESC,
da LBA ou de entidades sindicais. (Incluído pelo
Decreto-lei nº 229, de 1967).
• Licença Maternidade de 6 meses (Lei nº 11.770/08
regulamentada pelo Decreto nº 7.052/2009 – Estabe-
lece dois meses opcionais a mais de licença-materni-
dade);
– Lei conhecida como Empresa Cidadã, que foi
conquistada para as mães brasileiras graças a
um grande esforço e mediação da SBP junto ao
parlamento nacional;
– Lei obrigatória para servidores federais. Lei Facul-
tativa para servidores estaduais, municipais e para
o setor privado;
– No setor privado: extensão de 2 meses, a em-
presa (grande e médio porte) assume o valor
pago desses 2 meses e desconta no Imposto de
Renda do ano seguinte. Não estão incluídas em-
presas de “pequeno porte” - empresas que de-
claram impostos sobre o lucro presumido ou que
estão integradas ao Simples Nacional não têm
direito a participar;
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
34 Sociedade Brasileira de Pediatria
– O RH da empresa precisa fazer o requerimento
no site da Receita Federal, no 1º mês de vida do
bebê.
• Lei nº 6.202/1975 – Direito da mãe estudante;
– Art. 1º A partir do oitavo mês de gestação e duran-
te três meses a estudante em estado de gravidez
ficará assistida pelo regime de exercícios domicilia-
res, instituído pelo Decreto-lei número 1.044, 21 de
outubro de 1969;
• Lei de Execuções Penais, artigo 82 (2º) e 89, e artigo
9 do Estatuto da Criança e do Adolescente – Direito
das mães privadas de liberdade;
– Permite às mulheres privadas de liberdade a per-
manência com seus bebês para amamentá-los
até o 4º mês.
• Lei nº 10.421/2002 – Direito da mãe adotiva (120 dias
para adoção de criança de qualquer idade, inclusive
adolescentes).
– DECISÃO JUDICIAL: INSS publicada sentença da
ACP nº 5019632-23.2011.404.7200, sobre licen-
ça e salário-maternidade para mães adotantes
(01/06/2012);
– Os benefícios de salário-maternidade em manuten-
ção ou concedidos com fundamento no art. 71-A
da Lei nº 8.213/91 (casos de adoção ou obtenção
de guarda judicial para fins de adoção), passarão a
ser devidos pelo prazo de 120 (cento e vinte dias),
independentemente da idade do adotado, desde
que cumpridos os demais requisitos legais para a
percepção do benefício.
CONCLUSÃO
Diante dos conhecimentos apresentados, as chances
de uma lactante conseguir voltar ao seu trabalho e man-
ter o AM aumentam consideravelmente.
O pediatra consciente tem o dever de realizar essas
orientações práticas e específicas, que muito contri-
buirão para aumentar o percentual de mães trabalha-
doras que conseguem manter a amamentação, mesmo
voltando a seus trabalhos.
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Como e quando desmamar
Elsa Regina Justo Giugliani
INTRODUÇÃO
A recomendação internacional de duração da amamen-
tação é de 2 anos ou mais1
. Essa recomendação fun-
damenta-se nas evidências científicas de que os efeitos
positivos da amamentação para a saúde da criança e
da mulher que amamenta são proporcionais ao tempo
da amamentação2
; e, também, leva em consideração
a hipótese de que a duração da amamentação para a
espécie humana seria, em média, de 2 a 3 anos, idade
em que costuma ocorrer, de forma natural, o desmame3
.
Apesar da recomendação, muitas crianças não são
amamentadas ou o são por um período muito curto.
A amamentação continuada é mais comum nos países
de baixa e média renda. Nos países mais pobres, a ama-
mentação continuada por 12 e 24 meses é maior que
90% e 60%, respectivamente; enquanto que na maioria
dos países ricos, nem 20% das crianças são amamen-
tadas até 1 ano de idade2
.
No Brasil, houve considerável avanço na prevalência
de amamentação continuada por 12-14 meses desde
a década de 1980, passando de 22,7% em 1986 para
37,5 em 1996, 47,2% em 20064
e 53,1% em 20195
.
ESTRATÉGIAS PARA APOIAR
AS MULHERES A MANTEREM
A AMAMENTAÇÃO CONTINUADA
E ENFRENTAR O PROCESSO
DO DESMAME
Não basta ter conhecimentos em aleitamento materno
para apoiar as mulheres a manterem a amamentação
continuada. É preciso ter atitudes favoráveis a essa
prática e possuir habilidades, dentre as quais uma
comunicação efetiva.
Que atitudes e habilidades do profissional
favorecem a amamentação continuada?
A seguir, são apresentadas algumas sugestões6
:
• Ter um olhar ampliado da amamentação, advogan-
do que amamentar é muito mais que alimentar
a criança.
• Praticar o aconselhamento. Nesse contexto, aconse-
lhamento não significa dar conselhos, mas usar re-
cursos que empoderam as mães e suas famílias para
que elas tomem as suas próprias decisões. Alguns
desses recursos são: praticar comunicação não ver-
bal positiva, como sorrir, balançar afirmativamente a
cabeça, tocar na mulher e/ou bebê, quando apropria-
do; remover barreiras físicas como mesas, papéis,
computadores; usar linguagem simples, acessível;
ouvir, dando espaço para a mulher/família falar, tirar
dúvidas, mostrar seus sentimentos; demonstrar em-
patia; evitar palavras que soam como julgamentos; re-
conhecer e elogiar, como, por exemplo, o esforço da
mãe para amamentar; oferecer poucas informações
em cada visita, as mais relevantes para o momen-
to; fazer sugestões, em vez de dar ordens; conversar
com as mães/famílias sobre as condições de saúde
da criança, explicando os procedimentos e condutas;
e, muito importante, aceitar e respeitar os sentimen-
tos e as opiniões das mães/famílias, sem, no entanto,
precisar concordar ou discordar.
• Envolver, sempre que possível, os pais, avós e outras
pessoas significativas nas consultas. É uma forma de
preparar essas pessoas para exercer influência positi-
va para uma amamentação bem-sucedida.
• Estimular a discussão entre os membros da família
no sentido de dividir as tarefas de casa e os cuida-
dos com os outros filhos, para que a lactante possa
atender às demandas do recém-nascido e da ama-
mentação com mais tranquilidade.
• Dar informações úteis e atualizadas para que as
mulheres e suas famílias possam tomar decisões
informadas, pesando os prós e os contras de suas
opções, como por exemplo, na decisão de oferecer
ou não chupeta aos filhos7
e do tempo que preten-
dem amamentar.
• Conhecer, divulgar e respeitar os instrumentos de
proteção legal da amamentação, tais como licença-
-maternidade, pausas para amamentar durante a
jornada de trabalho e a Lei nº 11.265/20068
, que re-
gulamenta a comercialização de alimentos para lac-
tentes e crianças de primeira infância e produtos de
puericultura correlatos (ex. chupetas e mamadeiras).
• Antes de prescrever fórmula infantil ou outros leites,
ter certeza de que ela é necessária.
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
36 Sociedade Brasileira de Pediatria
• Incentivar a amamentação exclusiva nos primeiros
6 meses de vida da criança, desencorajando as
mães/famílias a introduzirem a alimentação comple-
mentar antes dos 6 meses.
Até quando a amamentação pode se estender?
Não há um limite máximo na recomendação interna-
cional de duração da amamentação. Em princípio, não
cabe ao pediatra ou outro profissional recomendar o
desmame, a não ser que este seja por desejo da mulher
ou necessidade.
Atualmente, muitas mulheres estão optando pelo des-
mame natural, definido como um processo em que a
criança gradualmente se autodesmama e que costu-
ma ocorrer, em média, entre 2 e 4 anos de idade. Esse
processo é liderado pela mãe, que tem a responsabilida-
de de identificar os sinais de que a criança está ficando
madura para o desmame, sugerir passos e impor limites
compatíveis com a “maturidade” da criança.
Quais os sinais indicativos de que a criança
está “madura” para o desmame?
Mais importante que a idade da criança, são os sinais in-
dicativos de que a criança está ficando apta para enfren-
tar o desafio do desmame. Alguns desses sinais são5
:
• ter menor interesse nas mamadas;
• aceitar alimentos diversos;
• mostrar segurança na relação com a mãe;
• ter outras formas de consolo, além do peito;
• aceitar limites quanto à amamentação em determina-
das circunstâncias e locais;
• eventualmente dormir sem mamar;
• não se mostrar muito ansiosa quando encorajada a
não mamar;
• por vezes preferir outras atividades com a mãe em
vez de mamar.
Como apoiar uma mulher que precisa ou
deseja desmamar mesmo que a criança
não esteja “madura” para o desmame?
O desmame é um processo que deve ser “persona-
lizado”, pois depende de muitas variáveis: motivo do
desmame, grau de “maturidade” da criança para o des-
mame, relação mãe-filho, personalidade da mãe e da
criança, entre outras.
O desmame abrupto deve ser desestimulado em qual-
quer situação, pois pode trazer repercussões negativas
para a criança, como sentimento de rejeição, gerando
insegurança e rebeldia; e para a mãe, ingurgitamento
mamário, estase do leite e mastite, além de tristeza ou
depressão, culpa e luto pela perda da amamentação.
Recomenda-se, sempre que possível, o desmame gra-
dual, retirando uma mamada do dia a cada 1 ou 2 se-
manas. A seguir são apresentados alguns pontos muito
importantes para que o desmame “provocado” transcor-
ra da forma mais tranquila possível, tanto para a mãe
quanto para a criança5
:
• Mãe deve estar segura de que quer (ou precisa)
desmamar.
• Planejamento com flexibilidade, pois o curso do
processo é imprevisível; algumas vezes é preciso
retroceder.
• Compreensão da mãe de que o processo pode ser
lento e demanda energia, tanto maior quanto menos
madura a criança.
• Muita paciência com a criança.
• Empatia, do profissional em relação à mãe e da mãe
em relação à criança.
• Suporte e atenção adicionais à criança. A mãe deve
evitar afastar-se nesse período.
• Não iniciar o processo no curso de outras mudanças
significativas para a criança, como controle dos es-
fíncteres, separações, lutos, mudança de residência,
entre outras.
• Participação ativa do pai (quando presente) no
processo.
• Dependendo do nível de desenvolvimento da criança,
o desmame pode ser planejado e negociado com ela.
Pode-se propor uma data e, inclusive, planejar uma
comemoração para essa data.
Algumas das técnicas abaixo podem auxiliar no proces-
so do desmame:
• não oferecer o seio, sem no entanto recusá-lo;
• encurtar ou adiar as mamadas;
• restringir as mamadas a certos horários e locais;
• distrair a criança nos horários em que ela costuma-
va mamar, entretendo-a com algo prazeroso para
ela.
• evitar atitudes que remetam a criança à amamenta-
ção, como a mãe sentar em uma poltrona onde ela
costuma amamentar.
37
GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO
Sociedade Brasileira de Pediatria
CONCLUSÃO
Assim como na amamentação, é preciso ter um olhar
ampliado sobre o desmame: trata-se de um processo
e não um evento, envolvendo intimamente duas pes-
soas e com repercussão na saúde física e psíquica de
ambas.
Cabe a cada dupla mãe/filho a decisão de manter a
amamentação até que o desmame ocorra natural-
mente ou interrompê-la em determinado momento.
E aos profissionais de saúde, sobretudo aos pediatras,
cabe promoverem, protegerem e apoiarem as mães/
bebês/famílias a praticarem a amamentação continua-
da até o desmame natural, se assim for o desejo deles;
ou apoiarem, após a decisão da mãe em uma ses-
são de aconselhamento, o processo de desmame
“provocado”, para que ele ocorra da forma mais tran-
quila possível. Este é um desafio que deve ser enfrenta-
do com conhecimento, atitudes positivas e habilidades
do profissional, como a de saber ouvir as mães, as
crianças e as famílias com empatia, sem julgamentos
e respeito a suas opiniões e decisões, sempre atento
às suas necessidades.
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COORDENAÇÃO DE RESIDÊNCIA E ESTÁGIOS EM PEDIATRIA
COORDENAÇÃO:
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP)
MEMBROS:
Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE)
Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS)
Victor Horácio da Costa Junior (PR)
Silvio da Rocha Carvalho (RJ)
Tânia Denise Resener (RS)
Delia Maria de Moura Lima Herrmann (AL)
Helita Regina F. Cardoso de Azevedo (BA)
Jefferson Pedro Piva (RS)
Sérgio Luís Amantéa (RS)
Susana Maciel Wuillaume (RJ)
Aurimery Gomes Chermont (PA)
Silvia Regina Marques (SP)
Claudio Barssanti (SP)
Marynea Silva do Vale (MA)
Liana de Paula Medeiros de A. Cavalcante (PE)
COORDENAÇÃO DAS LIGAS DOS ESTUDANTES
COORDENADOR:
Lelia Cardamone Gouveia (SP)
MEMBROS:
Cassio da Cunha Ibiapina (MG)
Luiz Anderson Lopes (SP)
Anna Tereza Miranda Soares de Moura (RJ)
Adelma Alves de Figueiredo (RR)
André Luis Santos Carmo (PR)
Marynea Silva do Vale (MA)
Fernanda Wagner Fredo dos Santos (PR)
MUSEU DA PEDIATRIA (MEMORIAL DA PEDIATRIA BRASILEIRA)
COORDENAÇÃO:
Edson Ferreira Liberal (RJ)
MEMBROS:
Mario Santoro Junior (SP)
José Hugo de Lins Pessoa (SP)
Sidnei Ferreira (RJ)
Jeferson Pedro Piva (RS)
DIRETORIA DE PATRIMÔNIO
COORDENAÇÃO:
Claudio Barsanti (SP)
Edson Ferreira Liberal (RJ)
Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ)
Paulo Tadeu Falanghe (SP)
REDE DE PEDIATRIA
AC - SOCIEDADE ACREANA DE PEDIATRA
Ana Isabel Coelho Montero
AL - SOCIEDADE ALAGOANA DE PEDIATRIA
Marcos Reis Gonçalves
AM - SOCIEDADE AMAZONENSE DE PEDIATRIA
Adriana Távora de Albuquerque Taveira
AP - SOCIEDADE AMAPAENSE DE PEDIATRIA
Camila dos Santos Salomão
BA - SOCIEDADE BAIANA DE PEDIATRIA
Ana Luiza Velloso da Paz Matos
CE - SOCIEDADE CEARENSE DE PEDIATRIA
João Cândido de Souza Borges
DF - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO DISTRITO FEDERAL
Luciana de Freitas Velloso Monte
ES - SOCIEDADE ESPIRITOSSANTENSE DE PEDIATRIA
Carolina Strauss Estevez Gadelha
GO - SOCIEDADE GOIANA DE PEDIATRIA
Valéria Granieri de Oliveira Araújo
MA - SOCIEDADE DE PUERICULTURA E PEDIATRIA
DO MARANHÃO
Marynéa Silva do Vale
MG - SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA
Márcia Gomes Penido Machado
MS - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO MATO GROSSO DO SUL
Carmen Lúcia de Almeida Santos
MT - SOCIEDADE MATOGROSSENSE DE PEDIATRIA
Paula Helena de Almeida Gattass Bumlai
PA - SOCIEDADE PARAENSE DE PEDIATRIA
Vilma Francisca Hutim Gondim de Souza
PB - SOCIEDADE PARAIBANA DE PEDIATRIA
Maria do Socorro Ferreira Martins
PE - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE PERNAMBUCO
Alexsandra Ferreira da Costa Coelho
PI - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO PIAUÍ
Ramon Nunes Santos
PR - SOCIEDADE PARANAENSE DE PEDIATRIA
Victor Horácio de Souza Costa Junior
RJ - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Cláudio Hoineff
RN - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
Manoel Reginaldo Rocha de Holanda
RO - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE RONDÔNIA
Cristiane Figueiredo Reis Maiorquin
RR - SOCIEDADE RORAIMENSE DE PEDIATRIA
Erica Patricia Cavalcante Barbalho
RS - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO RIO GRANDE DO SUL
Jose Paulo Vasconcellos Ferreira
SC - SOCIEDADE CATARINENSE DE PEDIATRIA
Nilza Maria Medeiros Perin
SE - SOCIEDADE SERGIPANA DE PEDIATRIA
Ana Jovina Barreto Bispo
SP - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO
Renata Dejtiar Waksman
TO - SOCIEDADE TOCANTINENSE DE PEDIATRIA
Ana Mackartney de Souza Marinho
DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS
• Aleitamento Materno
• Alergia
• Bioética
• Cardiologia
• Dermatologia
• Emergência
• Endocrinologia
• Gastroenterologia
• Genética Clínica
• Hematologia e Hemoterapia
• Hepatologia
• Imunizações
• Imunologia Clínica
• Infectologia
• Medicina da Dor e Cuidados Paliativos
• Medicina do Adolescente
• Medicina Intensiva Pediátrica
• Nefrologia
• Neonatologia
• Neurologia
• Nutrologia
• Oncologia
• Otorrinolaringologia
• Pediatria Ambulatorial
• Ped. Desenvolvimento e Comportamento
• Pneumologia
• Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas
na Infância e Adolescência
• Reumatologia
• Saúde Escolar
• Sono
• Suporte Nutricional
• Toxicologia e Saúde Ambiental
GRUPOS DE TRABALHO
• Atividade física
• Cirurgia pediátrica
• Criança, adolescente e natureza
• Doença inflamatória intestinal
• Doenças raras
• Drogas e violência na adolescência
• Educação é Saúde
• Imunobiológicos em pediatria
• Metodologia científica
• Oftalmologia pediátrica
• Ortopedia pediátrica
• Pediatria e humanidades
• Pediatria Internacional dos Países de Língua Portuguesa
• Povos Originários do Brasil
• Políticas públicas para neonatologia
• Radiologia e Diagnóstico por Imagem
• Saúde digital
• Saúde mental
• Saúde oral
PRESIDENTE:
Clóvis Francisco Constantino (SP)
1º VICE-PRESIDENTE:
Edson Ferreira Liberal (RJ)
2º VICE-PRESIDENTE:
Anamaria Cavalcante e Silva (CE)
SECRETÁRIO GERAL:
Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ)
1º SECRETÁRIO:
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP)
2º SECRETÁRIO:
Rodrigo Aboudib Ferreira Pinto (ES)
3º SECRETÁRIO:
Claudio Hoineff (RJ)
DIRETOR FINANCEIRO:
Sidnei Ferreira (RJ)
1º DIRETOR FINANCEIRO:
Maria Angelica Barcellos Svaiter (RJ)
2º DIRETOR FINANCEIRO:
Donizetti Dimer Giambernardino Filho (PR)
DIRETORIA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL
Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE)
COORDENADORES REGIONAIS
NORTE: Adelma Alves de Figueiredo (RR)
NORDESTE: Marynea Silva do Vale (MA)
SUDESTE: Marisa Lages Ribeiro (MG)
SUL: Cristina Targa Ferreira (RS)
CENTRO-OESTE: Renata Belem Pessoa de Melo Seixas (DF)
COMISSÃO DE SINDICÂNCIA
TITULARES:
Jose Hugo Lins Pessoa (SP)
Marisa Lages Ribeiro (MG)
Marynea Silva do Vale (MA)
Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS)
Vilma Francisca Hutim Gondim de Souza (PA)
SUPLENTES:
Analiria Moraes Pimentel (PE)
Dolores Fernanadez Fernandez (BA)
Rosana Alves (ES)
Silvio da Rocha Carvalho (RJ)
Sulim Abramovici (SP)
CONSELHO FISCAL
TITULARES:
Cléa Rodrigues Leone (SP)
Licia Maria Moreira (BA)
Carlindo de Souza Machado e Silva Filho (RJ)
SUPLENTES:
Jocileide Sales Campos (CE)
Ana Márcia Guimarães Alves (GO)
Gilberto Pascolat (PR)
ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA PARA POLÍTICAS PÚBLICAS:
COORDENAÇÃO:
Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ)
MEMBROS:
Donizetti Dimer Giamberardino Filho (PR)
Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo (MT)
Evelyn Eisenstein (RJ)
Rossiclei de Souza Pinheiro (AM)
Helenilce de Paula Fiod Costa (SP)
DIRETORIA E COORDENAÇÕES
DIRETORIA DE QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Edson Ferreira Liberal (RJ)
José Hugo de Lins Pessoa (SP)
Maria Angelica Barcellos Svaiter (RJ)
Maria Marluce dos Santos Vilela (SP)
COORDENAÇÃO DE ÁREA DE ATUAÇÃO
Sidnei Ferreira (RJ)
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP)
Mauro Batista de Morais (SP)
Kerstin Tanigushi Abagge (PR)
COORDENAÇÃO DO CEXTEP (COMISSÃO EXECUTIVA DO
TÍTULO DE ESPECIALISTA EM PEDIATRIA)
COORDENAÇÃO:
Hélcio Villaça Simões (RJ)
COORDENAÇÃO ADJUNTA:
Ricardo do Rego Barros (RJ)
MEMBROS:
Clovis Francisco Constantino (SP) - Licenciado
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP)
Carla Príncipe Pires C. Vianna Braga (RJ)
Cristina Ortiz Sobrinho Valete (RJ)
Grant Wall Barbosa de Carvalho Filho (RJ)
Sidnei Ferreira (RJ)
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COMISSÃO EXECUTIVA DO EXAME PARA OBTENÇÃO DO
TÍTULO DE ESPECIALISTA EM PEDIATRIA AVALIAÇÃO SERIADA
COORDENAÇÃO:
Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE)
Luciana Cordeiro Souza (PE)
MEMBROS:
João Carlos Batista Santana (RS)
Victor Horácio de Souza Costa Junior (PR)
Ricardo Mendes Pereira (SP)
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DIRETORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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REPRESENTANTE NA AMÉRICA LATINA
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INTERCÂMBIO COM OS PAÍSES DA LÍNGUA PORTUGUESA
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DIRETORIA DE DEFESA DA PEDIATRIA
DIRETOR:
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MEMBROS:
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DIRETORIA CIENTÍFICA
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PROGRAMAS NACIONAIS DE ATUALIZAÇÃO
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TRATADO DE PEDIATRIA
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EM NUTROLOGIA PEDIÁTRICA (CANP)
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PEDIATRIA PARA FAMÍLIAS
COORDENAÇÃO GERAL:
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Guia Prático de Aleitamento - atualizado / SBP

  • 1. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO – GUIA PRÁTICO Departamento Científico de Aleitamento Materno (2022-2024) Nº 165, 26 de Agosto de 2024 Departamento Científico de Aleitamento Materno Presidente: Rossiclei de Souza Pinheiro Secretária: Lelia Cardamone Gouvea Conselho Científico: Dolores Fernandez Fernandez, Eneida Fardin Perim Bastos, Izailza Matos Dantas Lopes, Leandro Meirelles Nunes, Lucia Mendes de Oliveira Rolim, Racire Sampaio Silva, Simone Silva Ramos, Vanessa Macedo Silveira Fuck Colaboradores: Ana Luiza Veloso da Paz, Elsa Regina Justo Giugliani, Graciete Oliveira Vieira, Luciano Borges Santiago, Maria Beatriz Reinert do Nascimento, Roberto Mario Silveira Issler, Vilneide Maria Santos Braba D. Serva, Yecchiel Moises Chencinski Revisores: Dirceu Solé, Luciana Rodrigues Silva, Clóvis Francisco Constantino Índice Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM): 32 anos de história ...................................................................... 2 Os Reflexos da Amamentação na Vida Adulta .............................. 5 Como ser um “Pediatra Amigo da Amamentação?” ...................... 8 Cuidados no pós-parto influenciam o futuro sucesso na amamentação ....................................................................... 11 Avaliação da perda de peso no período neonatal imediato ......... 14 Leite materno para prematuros: obstáculos e suporte nas unidades neonatais .............................................. 18 Doação de leite humano: o que o pediatra precisa saber? .......... 21 Aleitamento materno e distúrbios gastrintestinais funcionais ....... 23 Aleitamento materno e alergia alimentares ................................. 27 Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos (NBCAL) ...... 29 Como apoiar a mulher que amamenta na volta ao trabalho ........ 32 Como e quando desmamar ....................................................... 36
  • 2. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 2 Sociedade Brasileira de Pediatria Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM): 32 anos de história Yechiel Moises Chencinski INTRODUÇÃO O Aleitamento materno ideal deve ocorrer desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre- -demanda até o 6º mês e complementado, a partir daí, com alimentação saudável e equilibrada. Essa e muitas outras informações a respeito da amamen- tação e do leite materno são exaustivamente divulgadas desde o século passado, por instituições de reconheci- mento mundial (Organização Mundial da Saúde - OMS, World Alliance for Breastfeeding Action - Aliança Mundial de Ação pró-Amamentação - WABA, Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar – IBFAN, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entre outras) e por estudos científicos publicados em jornais e revistas de relevância científica nacional e internacional (JAMA, Pediatrics, Jor- nal de Pediatria, Breastfeeding Medicine, entre outros). Apesar de muitos esforços já realizados, ainda não atingimos metade das crianças do mundo (incluindo o Brasil) em aleitamento materno exclusivo até o 6º mês, uma das condições básicas para proporcionar o melhor início de vida para o bebê e saúde para sua mãe. Isso le- vou a OMS1 a propor que até 2025 pelo menos 50% das crianças até o 6º mês estejam em aleitamento materno exclusivo através de quatro linhas de ação: – Promulgar a licença-maternidade remunerada até o 6º mês para todas as mães trabalhadoras e pro- mover políticas que incentivem mulheres a amamentar em ambiente de trabalhem público; – Fortalecer os sistemas de saúde com instalações hospitalares e ambulatoriais que estimulem o aleita- mento materno exclusivo, com maior apoio e institu- cionalização da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC); – Apoiar as mães com estratégias baseadas na co- munidade para favorecer o aconselhamento sobre amamentação exclusiva para gestantes e lactan- tes, individualmente ou em grupo com campanhas adaptadas às realidades locais; – Limitar o marketing de fórmulas infantis, com di- vulgação e monitorização pelo Código Internacional de Comercialização de Substitutos do leite Materno (no Brasil, temos a NBCAL); SEMANA MUNDIAL DE ALEITAMENTO MATERNO Entre 30 de julho e 1º de agosto de 1990, em Florença, na Itália, coordenados pela OMS e UNICEF, quarenta países (incluindo o Brasil) se reuniram em busca de me- canismos e ações que pudessem ser desenvolvidos para proteção, promoção e apoio ao aleitamento mater- no e deliberaram a “Declaração de Innocenti”2 . O texto reconhecia as ações do aleitamento materno, mesmo que isoladamente, na contribuição para redu- ção de morbimortalidade infantil, das doenças infeccio- sas, favorecendo o crescimento e o desenvolvimento da criança. Além disso, ressaltava sua contribuição na saú- de da mulher com a redução de certos tipos de câncer e anemia. Desde essa época, já se notavam os benefícios para a economia familiar e do país com a adoção das recomendações de aleitamento materno adequadas. A “Declaração de Innocenti” estabelecia que até 1995, os países se comprometeriam a: • Estabelecer um comitê nacional de coordenação da amamentação; • Implementar os “10 passos para o sucesso da ama- mentação” em todas as maternidades; • Implementar o Código Internacional de Comercializa- ção dos Substitutos do Leite Materno e todas as reso- luções relevantes da Assembleia Mundial de Saúde; • Adotar legislação que proteja a mulher que amamenta no trabalho. Desde a sua fundação, a SBP tem enfatizado a impor- tância do aleitamento materno e as ações foram sempre ampliadas neste sentido com a criação do Departamen- to Científico de Aleitamento Materno (DCAM), campa- nhas com o Ministério da Saúde, lutas conjuntas pelo apoio e incentivo ao aleitamento nas políticas públicas, e a partir de 2016 foi criado o Simpósio de Amamentação durante o Congresso Brasileiro de Pediatria. Também foi promovido o curso à distância sobre Amamentação e a semana tornou-se o mês da amamentação chamando- -se de agosto dourado da SBP. Em 1991, foi fundada a WABA para acompanhar os com- promissos assumidos pelos países na assinatura do do- cumento em prol da Amamentação. Em 1992, a WABA criou a Semana Mundial de Aleitamento Materno (1 a 7 de agosto) para promover a “Declaração de Innocenti”
  • 3. 3 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria e a amamentação. Essa ação abrange mais de 170 pa- íses. O tema da primeira SMAM foi sobre os Hospitais Amigos da Criança (Baby-Friendly Hospital Initiative)3 . Para tanto, a cada ano são lançados materiais (logo, poster, cartaz e formulários de ação) pela Organização, traduzidos em 14 idiomas, mas com o tema adaptado para cada país, adequando a intenção à sua realidade. A lista de temas das Semanas Mundiais pode ser acom- panhada, entre outros, nos sites da WABA, com ma- terial em português desde 2006 e da Rede Brasileira de Banco de Leite Humano – FIOCRUZ, com temas de 1992 a 2016 em inglês e português. A primeira semana mundial oficialmente coordenada pelo Ministério da Saúde (MS) no Brasil foi a de 19994 , mesmo ano da escolha, pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), da primeira “madrinha da SMAM”, Luiza Brunet, como uma mulher de expressão no país, que estivesse amamentando, “tradição” que foi seguida, na maioria das semanas subsequentes5 . Perguntas e Respostas 1. Qual a proposta para a Semana Mundial de Aleitamento Materno? Conforme recomendado pela OMS e UNICEF, em decla- ração conjunta desde 19902 , esta se baseia na prote- ção, promoção e apoio ao aleitamento materno, na sua prática, e a WABA também estabelece sempre quatro critérios e os adequa à campanha em sua estrutura: IN- FORMAR, DIVULGAR, ENGAJAR e IMPLEMENTAR. 2. Qual foi o tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2024? Foi estabelecido pela WABA para 20246 o tema: APOIE A AMAMENTAÇÃO EM TODAS AS SITUAÇÕES (CLOSING THE GAP, Breastfeeding Support for All) for a Healthier Planet). O foco é a sobrevivência, a saúde e o bem-estar em todas as situações. Realçou a neces- sidade de melhorar o apoio à amamentação reduzindo as desigualdades que existem em nossa sociedade. O tema está alinhado com a área temática 2 da cam- panha WABA-SMAM-ODS 2030. A amamentação pode ser um fator de igualdade na nossa sociedade e esforços devem ser feitos para garantir que todos tenham apoio e oportunidade para amamentar. É fundamental que nin- guém fique para trás, principalmente as mães vulneráveis que podem precisar de apoio adicional para a prática da amamentação. Além destes pilares, a Sociedade Brasilei- ra de Pediatria também adicionou um pilar sobre a Ama- mentação em serviços de emergência com implantação de salas de apoio nos serviços de urgência e emergência. 3. Como não amamentar pode prejudicar a saúde do planeta? • Lactentes que não são amamentados necessitam de substitutos do leite materno (SLM); • Para a produção de SLM (em sua maioria a partir do leite de vaca), é necessário criar gado bovino e isso requer uma grande área destinada apenas para essa finalidade; • Latas levam cerca de 200 anos para sua decomposi- ção, assim como o plástico cerca de 400 anos. Dessa forma, o descarte de latas de leite (em aterros) e ma- madeiras (nos rios e oceanos) interfere diretamente na saúde do planeta; • Além disso, o desflorestamento causado pela necessi- dade de se criar gado bovino, origem e matéria prima das fórmulas infantis, traz prejuízos ao ecossistema e à biodiversidade, influindo, diretamente, nas variações climáticas (menos árvores, menores áreas de proteção à fauna e flora do país, com aumento significativo da evaporação do solo); • A água utilizada tanto para a fabricação dos SLM como para seu preparo em cada refeição traz um con- sumo de bilhões de litros por ano, repercutindo nos estoques e nas reservas destinadas a manutenção da vida no nosso planeta. 4. Quais as propostas de ação para a SMAM-2024? “Pediatra, apoie a amamentação em qualquer situação” Assim como o aleitamento materno é uma questão multifatorial no organismo humano, as ações devem abranger todos os segmentos envolvidos com o tema, de forma coordenada, com foco em trabalho conjunto e responsável: • Analisar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sus- tentável (ODS)7 que abordam pessoas (pobreza, fome, equidade), planeta (sustentabilidade, recur- sos naturais, mudanças climáticas) e paz (justiça, sem medo ou violência) como planejamento para o período de 2015 a 2030 que já foi tema da SMAM- 2016 (Aleitamento Materno: Presente Saudável, Futu- ro Sustentável - Breastfeeding: A key to Sustainable Development)8 ; • Apoio da sociedade, proveniente das comunidades, sistemas de saúde, locais de trabalho, sensibilização da média e jornalistas para difusão e esclarecimento sobre o tema são ações importantes. Quando o acon-
  • 4. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 4 Sociedade Brasileira de Pediatria selhamento sobre aleitamento materno está disponi- bilizado e acessível, a duração e a exclusividade da amamentação podem ser aumentadas; • Reforçar a importância do aconselhamento na ama- mentação para todas as mães e pais de filhos pe- quenos em serviços de saúde e na comunidade. Im- plementar os Dez Passos Para uma Amamentação Saudável9 em todos os serviços de saúde, inclusive em hospitais privados; • Apoio contínuo para os primeiros mil dias, abordando o aleitamento materno desde o pré-natal até o perío- do pós-natal (270 dias de gestação até os 2 anos de idade da criança – 730 dias). Envolvimento de pais, familiares, grupos de apoio de mães compartilhan- do experiências cria uma rede de apoio fundamental para o sucesso do aleitamento materno. Enfatiza-se também a consulta pré-natal com o pediatra neste processo como importante estímulo e incentivo para mães e pais, além da consulta periódica e frequente após o nascimento (Puericultura) para orientar todas as questões sobre amamentação; • Construção de conhecimento e habilidades em todos os níveis com treinamento e orientação a quem for e não for profissional da área de saúde e tiver contato com a díade mãe-bebê. Métodos online, e-learning, assim como práticas presenciais são desejáveis. A orientação e informação podem e devem ser iniciadas o quanto antes, envolvendo escolares, estudantes, mídias sociais e influenciadores utilizando os recursos mais atuais de comunicação; • Não deixar gente para trás, mantendo foco nas famí- lias que são mais vulneráveis. Dar ênfase à expressão manual de leite materno, uso correto de bombas ex- tratoras, quando possível, técnicas de copinho e re- lactação. Estimular a doação de leite humano desde o pré-natal para garantir suprimento para bebês que precisarem em bancos de leite humano. CONCLUSÃO Há necessidade de reforço nas políticas públicas na área da saúde e legislação que apoiem a mulher desde o seu pré-natal, parto e, em caso da mulher trabalhadora, pro- piciem oportunidades para amamentar ou condições adequadas para retirar seu leite e armazenar no seu lo- cal de trabalho para suprir as necessidades de seu bebê em sua ausência. Os resultados preliminares do ENANI10 (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil) mostram um tímido aumento nas taxas nos últimos 13 anos (aleitamento materno exclusivo – AME, até o 4º - 15% - até 6º - 8%, e até 24 meses – 4,5%), além de demonstrarem queda significativa (cerca de 15%) nas taxas entre o 4º e 6º me- ses de vida do bebê. Esse último dado parece sinalizar para a dificuldade da manutenção da amamentação na volta ao trabalho, o que reforça a importância da licença maternidade de 6 meses. A Semana Mundial de Aleitamento Materno é parte de uma estratégia ampla, coordenada pelo Ministério de Saúde e SBP4 , que tem o intuito de informar e acolher as mães que queiram amamentar e promover um au- mento significativo das taxas nacionais de aleitamento materno. O conhecimento e a participação de todos, especialmente pediatras, como difusores éticos das in- formações, é desejável e fundamental para atingirmos melhores metas de aleitamento materno, que resultarão em maior saúde materno-infantil. REFERÊNCIAS 01. WHO/UNICEF. Global nutrition targets 2025: breastfeeding policy brief (WHO/NMH/NHD/14.7). Geneva: World Health Organization; 2014. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/ handle/10665/149022/WHO_NMH_NHD_14.7_ eng.pdf?ua=1. Acessado em 07/09/2020. 02. World Health Organization/United Nations Children’s Fund. Innocenti Declaration on the protection, promotion and support of breastfeeding. Meeting “Breast-feeding in the 1990s: A global initiative”. Florence (Italy): WHO/Unicef;1990 03. World Health Organization [homepage on the Inter- net]. Protecting, promoting and supporting breast- feeding: the special role of maternity services. Ge- neva: WHO; 1989. Disponível em: http://apps.who. int/iris/bitstream/10665/39679/1/9241561300.pdf. Acessado em 07/09/2020. 04. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. PORTARIA Nº 2.394, DE 7 DE OUTUBRO DE 2009. Institui a Semana Mundial da Amamentação (SMAM) no Brasil e estabelece a parceria entre o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria nas comemorações da SMAM. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2009/prt2394_07_10_2009.html. Acessado em 07/09/2020. 05. Giugliani ERJ, Vieira GO. Histórico do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP (1ª versão/ 2018). Disponível em: https://www.sbp.com.br/ fileadmin/user_upload/histrico-DC-aleitamento- materno__1_.pdf. Acessado em 070/9/2020.
  • 5. 5 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria 06. World Breastfeeding Week 2024. Closing the Gap. Breastfeeding support for all. Disponível em: https://worldbreastfeedingweek.org/. Acessado em 11/07/2024. 07. Nações Unidas Brasil. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030. Acessado em 07/09/2020. 08. World Breastfeeding Week. 1 - 7 August 2016. Breastfeeding: A key to Sustainable Development. Disponível em: https://worldbreastfeedingweek. org/2016/index.shtml. Acessado em 07/09/2020. 09. WHO. Ten steps to successful breastfeeding. Disponível em: https://www.who.int/activities/ promoting-baby-friendly-hospitals/ten-steps- to-successful-breastfeeding. Acessado em 07/09/2020. 10. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI). Disponível em: https://enani.nutricao.ufrj.br/. Acessado em: 7/9/2020. Os Reflexos da Amamentação na Vida Adulta Maria Beatriz Reinert do Nacimento INTRODUÇÃO Neste mundo globalizado, com tanto progresso tecnoló- gico e acesso sem paralelo às informações, as crianças ainda enfrentam ameaças para o seu bem-estar. São elas o aumento da prevalência de obesidade, a persis- tência da desnutrição e as mudanças climáticas, com seu efeito na produção agrícola e consequência no su- primento de alimentos, colocando em risco a nutrição e o desenvolvimento sustentável do planeta1 . Tanto a desnutrição como o sobrepeso comprometem a saúde, e o seu surgimento cedo na infância é parti- cularmente prejudicial. Uma variedade de mecanismos fisiológicos propaga as consequências da má nutrição ao longo da vida, podendo determinar a transmissão de seus efeitos para as próximas gerações2 . A amamentação, cujas vantagens são amplamente co- nhecidas, tem papel central em mitigar esta dupla carga de má-nutrição, pois além de corresponder a uma dieta de alta qualidade, também diminui a morbidade e mor- talidade infantil, melhora o desenvolvimento na infância, e promove a saúde materna, com consequente impacto positivo na economia2,3 . Crianças saudáveis aprendem melhor, e tornam-se pes- soas mais fortes, mais produtivas e mais capazes de criar oportunidades, o que é importante não só para sua saúde e seu sucesso como adulto, mas também para o bem-estar da sociedade3 . ALEITAMENTO MATERNO É BASE DE BOAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E PRÁTICAS POSITIVAS DE ALIMENTAÇÃO. Por que é fundamental a preocupação dos pediatras com o bem estar nutricional dos pequenos pacientes, buscando diversidade de nutrientes e padrões alimen- tares saudáveis, incluindo a promoção do aleitamento materno, para reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis no adulto? É o que mostraremos a seguir na forma de perguntas e respostas: Por que as doenças crônicas não transmissíveis são uma prioridade em saúde pública? O desenvolvimento econômico trouxe mudanças mar- cantes à demografia, à saúde e à capacidade de tra- balho da população. A urbanização, com mudanças do estilo de vida e da dieta determinaram uma verdadei- ra epidemia de doenças crônicas não transmissíveis. Doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, doen- ças respiratórias, alterações comportamentais e da saúde mental são responsáveis por mais de 60% das mortes em todo o mundo4 . Porque os primeiros mil dias oferecem oportunidade para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis? O período transcorrido entre a gravidez, os seis meses de amamentação exclusiva e a fase de alimentação complementar até os dois anos de vida é tido como uma etapa crítica para a promoção da saúde, crescimento e desenvolvimento3 . As atuais hipóteses sobre programação metabólica da adiposidade e outras doenças relacionadas, dizem res- peito a que tanto a nutrição intra-uterina quanto a rece-
  • 6. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 6 Sociedade Brasileira de Pediatria bida na fase pós-natal podem ter efeitos duradouros e conseqüências na vida adulta, determinando melhor ou pior qualidade de vida dos indivíduos, e tornando possí- vel a modificação do risco de agravos não transmissíveis por meio de experiências alimentares apropriadas3 . Uma alimentação adequada, uma estimulação carinho- sa e um cuidado afetuoso durante os primeiros mil dias, podem moldar o futuro das crianças3 . Como a exposição a fatores positivos ou negativos no início da vida podem levar a consequências no desenvolvimento e saúde? Pesquisas na área de origens desenvolvimentistas da saúde e da doença destacam a importância da expo- sição a fatores positivos ou negativos no início da vida levando a efeitos tardios, com desfechos mórbidos, dé- cadas depois5 . O processo de saúde e doença, depende da genética (que dita a suscetibilidade do indivíduo a uma doença) e do meio-ambiente (que determina qual dos indivíduos suscetíveis poderá desenvolver ou não a doença). Para o efeito de uma exposição precoce persistir ao longo do tempo, esta exposição deveria deixar algum tipo de mar- ca no organismo. Estudos têm focado em como se dá a construção desta “Memória” entre exposição precoce e consequências futuras5 . Uma das hipóteses, para explicar como um evento ocor- rido na etapa fetal ou nas fases iniciais da vida extraute- rina traz implicações para o futuro, se refere as mudan- ças epigenéticas. Epigenética é o estudo de como as influências ambientais afetam a expressão dos nossos genes, ou seja, como são feitas e desfeitas as alterações químicas que determinam se um gene, em particular, é ou não expresso ou ativado5,6 . Deve ser lembrado que padrões de expressão são pas- sados para a prole, e que fatores ambientais podem mudar a maneira como os genes são expressos5,6 . Uma mulher saudável no momento da concepção tem maior probabilidade de ter uma gravidez bem-sucedida e um filho também saudável. Além disso, a composição corporal, a dieta e o estilo de vida durante a gravidez têm efeitos duradouros sobre a saúde em longo pra- zo da prole, influenciando o risco de doença na idade adulta7 . São importantes também os bons hábitos alimentares na infância, especialmente a amamentação, que oferece considerável oportunidade para a prevenção de doen- ças crônicas do adulto8,9 . Por que a microbiota intestinal está relacionada a profundas consequências para a saúde? A nossa microbiota é um componente fundamental do que significa ser humano. Embora as bactérias sejam os microrganismos mais abundantes e mais bem estuda- dos no intestino, ele também hospeda uma infinidade de arqueias, leveduras, parasitas e vírus10,11 . As conexões entre microrganismos intestinais e o de- senvolvimento cerebral estão sendo investigadas, am- pliando nossa visão acerca do sistema digestório, que não é simplesmente um canal de trânsito alimentar. Pelo contrário, é uma complexa entidade funcional do sistema imune, executa funções metabólicas e coordena uma in- teressante comunicação entre a microbiota intestinal e o cérebro, através de caminhos imunológicos, endócrinos e nervosos, referido como eixo intestino-cérebro12 . A disbiose, ou seja, um desajuste da colonização bacte- riana, com o predomínio de bactérias nocivas sobre as benéficas, pode afetar a suscetibilidade para doenças crônicas até a vida adulta, com a ocorrência de obe- sidade, diabetes, doença cardiovascular, asma, doença inflamatória intestinal, alergia, psoríase e doenças neu- ropsiquiátricas11 . O microbioma infantil é mais vulnerável às influências am- bientais no início da vida. Transferência microbiana ma- terno-fetal, modo de nascimento, antibióticos e dieta po- dem alterar a colonização e maturação da microbiota10 . Quais os benefícios do aleitamento materno em longo prazo para a saúde? Pesquisas identificaram que períodos mais longos de amamentação foram associados com menor risco de sobrepeso e obesidade, diabetes tipo 2, leucemia infan- til, de ocorrência de mal oclusões dentais. Também foi observado possível efeito protetor contra diabetes tipo 1 e melhor performance em testes de inteligência13 . Por que a amamentação traz essas vantagens? Estudos realizados nos últimos anos demonstraram que o leite humano não é só um alimento. Ele é um sistema complexo, que além de conter uma combinação perfeita de macro e micronutrientes, hormônios, fatores de cres- cimento, anticorpos, entre outros, fornece continuamen- te bactérias benéficas ao intestino infantil14,15 . Os microrganismos, especialmente os lactobacilos e bifidobactérias, emergiram como importantes compo- nentes bioativos do leite humano, que contribuem para a colonização intestinal, e propiciam a maturação das
  • 7. 7 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria funções digestivas e imunológicas do lactente. O leite materno está repleto de bactérias - isso é bom para o bebê! É a “programação” metabólica e imunológica de mãe para filho14,15 . Os benefícios da amamentação e do leite humano tam- bém podem estar relacionados ao crescimento mais lento de bebês amamentados. Sabe-se que crianças que recebem leite materno apresentam uma cinética de crescimento diferente de crianças que recebem fórmu- la infantil. Um crescimento acelerado na infância pode resultar em alterações hormonais que programam um ponto de ajuste mais alto para o apetite, levando a maior ingestão de alimentos ao longo da vida16,17 . Os bebês alimentados com mamadeira podem ter me- nos chances de regular a ingestão de leite ou o apetite mais tarde na infância. E mesmo bebês que receberam leite humano em mamadeira têm menos chance de ter uma boa resposta de saciedade, pois em geral, os cui- dadores tendem a encorajar o lactente a terminar todo o conteúdo disponível no recipiente, mesmo quando ele parece já estar saciado16,17 . Como o pediatra pode ajudar? − Favorecendo o contato pele a pele e a amamentação imediatamente após o nascimento18 ; − Orientando o manejo clínico do aleitamento mater- no18,19 ; − Monitorizando o peso do recém-nascido18,19 ; − Evitando, se possível, a utilização de fórmulas infantis na maternidade19 ; − Avaliando precocemente o recém-nascido após a alta18 ; − Recomendando que a amamentação seja exclusiva até o sexto mês de vida, e que após essa idade, ali- mentos complementares devam ser iniciados, e o AM mantido até dois anos ou mais18 ; − Incentivando a família, bem como ajudando na resolu- ção dos problemas comuns à prática do aleitamento materno18 ; − Discutindo alternativas para oferta de leite materno or- denhado ou suplementos, tais como o uso do copo ou da técnica de relactação18 . CONCLUSÃO A orientação sobre hábitos de vida é determinante para construção da qualidade de vida. Fornecer assistência eficiente e de alta qualidade em Pediatria, também diz respeito a ajudar uma mãe a entender as implicações das escolhas alimentares que faz para seu filho. Toda criança merece os benefícios da amamentação, e o apoio de pediatras, seguros de suas habilidades e co- nhecimentos em aleitamento materno, é vital para que as mulheres iniciem e mantenham com sucesso a lacta- ção, e possam superar os obstáculos à amamentação exclusiva e estender sua duração. REFERÊNCIAS 01. Swinburn BA, Kraak VI, Allender S, et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet Commission report. Lancet. 2019;393(10173):791-846. 02. Wells JC, Sawaya AL, Wibaek R, et al. The double burden of malnutrition: aetiological pathways and consequences for health. Lancet. 2020;395(10217):75-88. 03. Hoffman D, Arts M, Bégin F. The “First 1,000 Days+” as Key Contributor to the Double Burden of Malnutrition. Ann Nutr Metab. 2019;75(2):99-102. 04. Sawyer SM, McNeil R, Francis KL, et al. The age of paediatrics. Lancet Child Adolesc Health. 2019;3(11):822-830. 05. FlemingTP,WatkinsAJ,VelazquezMA,etal.Originsof lifetime health around the time of conception: causes and consequences. Lancet. 2018;391(10132):1842- 1852. 06. Lester BM, Conradt E, LaGasse LL, Tronick EZ, Padbury JF, Marsit CJ. Epigenetic Programming by Maternal Behavior in the Human Infant. Pediatrics. 2018;142(4):e20171890. 07. Stephenson J, Heslehurst N, Hall J, et al. Before the beginning: nutrition and lifestyle in the preconception period and its importance for future health. Lancet. 2018;391(10132):1830-1841. 08. Azad MB. Infant Feeding and the Developmental Origins of Chronic Disease in the CHILD Cohort: Role of Human Milk Bioactives and Gut Microbiota. Breastfeed Med. 2019;14(S1):S22-S24. 09. Verduci E, Banderali G, Barberi S, et al. Epigenetic effects of human breast milk. Nutrients. 2014;6(4):1711-1724. 10. Avelar Rodriguez D, Peña Vélez R, Toro Monjaraz EM, et al. The gut microbiota: a clinically impactful factor in patient health and disease. SN Compr Cli. Med. 2018;1:188–199.
  • 8. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 8 Sociedade Brasileira de Pediatria 11. Jagodzinski A, Zielinska E, Laczmanski L, et al. The early years of life. Are they influenced by our microbiome? Ginekol Pol. 2019;90(4):228-232. 12. Cryan JF, O’Riordan KJ, Sandhu K, et al. The gut microbiome in neurological disorders. Lancet Neurol. 2020;19(2):179-194. 13. Victora CG, Bahl R, Barros AJ, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387(10017):475-490. 14. Boix-Amorós A, Collado MC, Van’t Land B, et al. Reviewing the evidence on breast milk composition and immunological outcomes. Nutr Rev. 2019; nuz019. 15. Ruiz L, García-Carral C, Rodriguez JM. Unfolding the Human Milk Microbiome Landscape in the Omics Era. Front Microbiol. 2019;10:1378. 16. Singhal A. The Impact of Human Milk Feeding on Long-Term Risk of Obesity and Cardiovascular Disease. Breastfeed Med. 2019;14(S1):S9-S10. 17. Azad MB, Vehling L, Chan D, et al. Infant Feeding and Weight Gain: Separating Breast Milk From Breastfeeding and Formula From Food. Pediatrics. 2018;142(4):e20181092. 18. Bunik M. The Pediatrician’s Role in Encouraging Exclusive Breastfeeding. Pediatr Rev. 2017;38(8): 353-368. 19. Sociedade Brasileira de Pediatria. Uso e abuso de fórmula infantil na maternidade em recém- nascidos sadios a termo. Documento Científico. Departamento Científico de Aleitamento Materno. SBP 2017;5. Disponível em https://www.sbp.com. br/publicacoes/publicacao/pid/uso-e-abuso-de- formula-infantil/ Como ser um “Pediatra Amigo da Amamentação?” Roberto Mario Silveira Issler Pediatra. [De ped(o)- + -iatra.]. S.2.g. Médico/a especialista em Pediatria.¹ Amigo/a. [Do lat. amicu] 1. Que é ligado a outrem por laços de amizade: pessoa amiga; animal amigo. 2. Em que há amiza- de; amical, amistoso: abraço amigo; “Clama uma voz amiga: - ‘Aí tem o Ceará’.” (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, p. 56). 3. Simpático, acolhedor: anfitrião amigo; casa amiga. 4. Que ampara ou defende; protetor: Precisava de uma alma bastante amiga para o auxiliar naquele transe... 9. Aquele que é amigo (4); defensor, protetor. (seguem outras definições).¹ Amamentação. S.f. Ato ou efeito de amamentar; alactamento.¹ INTRODUÇÃO O Pediatra é o médico especializado em atender crian- ças e adolescentes. A atuação profissional “amiga” do pediatra no atendi- mento de seu paciente e de sua família significa exercer sua atividade de maneira amistosa, protetora e defenso- ra da amamentação com entusiasmo e segurança, re- forçando a importância do aleitamento materno como a melhor alimentação para as crianças pequenas. Os pediatras devem estar capacitados para divul- gar, apoiar e promover a recomendação da Organi- zação Mundial de Saúde2 , do Ministério da Saúde do Brasil3 e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)4,5 quanto à duração do aleitamento materno (AM): alei- tamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida da criança e, após a introdução da alimenta- ção complementar saudável, mantido até os dois anos ou mais. A proteção, a promoção e o apoio ao AM é medida fun- damental e de grande impacto na saúde materno-infantil e pode influenciar positivamente outros das metas da Organização Mundial de Saúde nos Objetivos de Desen- volvimento Sustentável até o ano 20306 . Nesse cenário o médico pediatra tem um papel de extrema relevância, não só em relação ao AM, mas dentro do conceito dos “Primeiros 1000 Dias” da criança, período que vai desde a gestação até o final do segundo ano de vida7 . O Pediatra tem o compromisso e a responsabilidade profissional de estar amplamente capacitado a exercer de maneira proativa, com conhecimento e entusiasmo, essa função especial: ajudar as mães a oferecer o me- lhor alimento para seus filhos nos primeiros meses e anos de vida, da melhor maneira possível e da forma e duração que assim o desejarem. As recomendações desse guia prático têm como obje- tivo colaborar para que todos os Pediatras percebam a sua posição privilegiada e de fundamental importân- cia nos cuidados das crianças, suas mães e suas famí- lias e estejam qualificados para esclarecer as principais dúvidas e resolver os problemas mais comuns durante o período de amamentação. Com suas atitudes e seu conhecimento, o Pediatra estará genuinamente atuando como um “Pediatra Amigo da Amamentação”8 .
  • 9. 9 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria – Evitar práticas invasivas desnecessárias, como aspi- ração nasogástrica, lavado gástrico, profilaxia ocular com Credé enquanto o RN estiver em contato pele a pele com a mãe na sala de parto; – Favorecer a presença e participação do companheiro ou acompanhante na sala de parto; – Realizar procedimentos de rotina como antropometria, aplicação de vitamina K, primeira dose de vacina da Hepatite B após a primeira mamada sem interferir no contato pele a pele. Mãe e filho no alojamento conjunto, quais medidas para estimular a amamentação são importantes? – Estimular pele a pele no alojamento conjunto (colo); – Incentivar a mãe a oferecer a mama ao RN frequen- temente sempre que solicitada, em geral de 8 a 12 vezes por dia; – Esclarecer aos pais sobre a importância do AM como o alimento que supre todas as necessidades do RN; – Informar sobre o início da produção de colostro e es- clarecer sobre as necessidades nutricionais do RN nesses primeiros dias de vida; – Reforçar a importância do alojamento conjunto con- tínuo e da sucção não nutritiva para tranquilizar e acalmar o RN; – Observar uma mamada antes da alta da maternidade e esclarecer dúvidas dos pais sobre as técnicas de amamentação e como extrair o leite da mama se hou- ver necessidade; – Desencorajar o uso de chupeta; – Orientar sobre a primeira consulta com 72 horas e no máximo 7 (sete) dias da alta e disponibilizar acesso com ajuda e apoio se necessário (por telefone, no consultório, posto de saúde, grupo de mães, consul- tor com certificação em aleitamento materno). Como deve ser a revisão pós-parto? – Receber a família para a primeira consulta após a alta do RN. Pai/companheiro/a ou avós devem ser convi- dados a participar caso assim o desejem e a mãe se sinta confortável; – Perguntar e escutar a mãe sobre os primeiros dias em casa: como estão se adaptando, estrutura do am- biente de casa, rede de apoio, sono, alimentação e bem estar especialmente da mãe e da criança; – Conferir (antes do exame físico, que faz parte da con- sulta de revisão pós-parto) alguns sinais de bem estar PEDIATRA AMIGO DA AMAMENTAÇÃO NA PRÁTICA Em sua prática profissional, o pediatra atua em diferen- tes ambientes nos cuidados de crianças e suas famílias. Tem assim a oportunidade de exercer ações favoráveis à proteção, apoio e promoção do AM, em diferentes am- bientes e situações na vida da criança. Para tornar mais didática e prática a descrição dessas ações, seguiremos uma “linha do tempo”, pontuando ações específicas para cada período. Esse roteiro é ba- seado em recomendações do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP – Consultório Amigo da Amamentação5 , da Academia Americana de Pediatria8 , da “Academy of Breastfeeding Medicine”9 e do Departa- mento de Aleitamento Materno da “Asociación Española de Pediatría”10 . O que é importante valorizar na consulta pediátrica pré-natal? – Realizar uma consulta pediátrica de pré-natal no último trimestre da gestação preferencialmente com o casal; – Perguntar sobre as expectativas e conhecimento dos pais sobre o nascimento de seu filho, com ênfase no AM; – Esclarecer e informar sobre os benefícios, as vantagens e a importância do AM para a saúde materno-infantil; – Informar sobre as práticas e técnicas adequadas para o início do AM com o objetivo de evitar problemas fu- turos; – Estabelecer junto com os pais um plano para que o AM ocorra de maneira favorável de acordo com suas expectativas e seu desejo. No nascimento do bebê, quais os cuidados imediatos ainda na sala de parto? – Orientar, juntamente com a equipe de atendimento, a colocação de eletrodos sobre o tórax da mãe (quando necessários) em posição que não interfira com o con- tato pele a pele; – Avaliar o índice de Apgar e identificar o recém-nascido (RN) posicionando o bebê sobre a mãe; – Colocar o RN sobre sua mãe em contato pele a pele, tanto em crianças nascidas de parto vaginal como de cesariana, certificando-se das boas condições do RN após o nascimento; – Manter o RN em contato pele a pele sobre sua mãe até que ocorra a primeira mamada, caso a mãe e o RN assim desejarem e garantindo o bem estar de ambos;
  • 10. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 10 Sociedade Brasileira de Pediatria do RN: atividade, choro, cor, frequência e aspecto das eliminações (urina e fezes), sono; – Obter informações sobre as mamadas: frequência, duração, onde ocorrem, posições de mamada, bem estar ou desconforto físico, especialmente das mamas (dor, fissura, ingurgitamento); – Solicitar à mãe que dê de mamar na consulta, se ela quiser e se sentir à vontade; – Observar atentamente a posição do RN, a postura e posição do corpo da mãe (importante observar toda a postura corporal da mãe durante a mamada – cabeça, tronco, membros, expressão facial, emissão de sons ou toques entre a mãe e o RN); – Observar a técnica da mamada: posição da criança, “pega” (revisar a boca do RN no exame físico para excluir anquiloglossia), força de sucção, deglutição, sinais de saciedade; – Colocar-se à disposição da mãe e da família para es- clarecimento de possíveis dúvidas e resolução de difi- culdades se houverem (telefone do banco de leite, disk amamentação, whatsapp, e-mail ou mesmo uma nova consulta em período mais próximo que a de rotina). Quais aspectos devem ser valorizados no seguimento de puericultura no primeiro semestre? – Perguntar e escutar a mãe sobre seus sentimentos a respeito da amamentação, se possível em todas as consultas; – Elogiar sempre! Independente do tipo de aleitamento materno, sempre haverá alguma oportunidade ou situa- ção que o Pediatra irá incentivar e elogiar a mãe pela sua postura, sua atitude e seu emprenho em amamentar sua criança! Isso traz segurança, reconhecimento e incenti- vo, pois sabemos que amamentar requer muita disponi- bilidade: física, mental, temporal, material e afetiva; – Reforçar as orientações sobre a importância do AM exclusivo (AME) até os seis meses e após a introdução da alimentação complementar se possível até os dois anos ou mais; – Acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança (mensalmente se possível); – Registrar os dados antropométricos da criança a cada consulta e colocá-los nas curvas de crescimento da Caderneta de Saúde da Criança (perímetro cefálico, peso e comprimento); NOTA: Para as mães de crianças prematuras, também reforçar a importância do AME para o crescimento e desenvolvimento saudáveis dessas crianças, escla- recendo sobre as curvas de crescimento adequadas e corrigidas pela idade gestacional/idade cronológica; – Esclarecer sobre alguns mitos que ainda envolvem o AM: a oferta desnecessária de água, chás, sucos ou outros líquidos; – Desaconselhar o uso de chupeta; – Desaconselhar o uso de outro tipo de leite, reforçando o ganho de peso e crescimento adequando de uma criança em AME até o sexto mês; – Avaliar, conjuntamente com a mãe, a necessidade de oferecer outro tipo de leite para a criança, caso haja real indicação médica ou mesmo se for esco- lha da mãe. Considerar essa escolha com isenção e objetividade, tirando qualquer culpa ou responsabili- dade da mãe se essa for sua decisão. Nesse caso, oferecer de copo ou colher para não interferir na ama- mentação; – Obter informações sobre as mamadas: frequência, duração, onde ocorrem, posições de mamada, bem estar ou desconforto físico, especialmente das mamas (dor, fissura, ingurgitamento); – Conversar sobre a volta ao trabalho e o término da li- cença maternidade (para aquelas mães que trabalham fora do lar); – Discutir alternativas para manter o AME, como expres- são e estocagem do LM, coordenação dos horários das mamadas com possíveis intervalos, folgas ou re- torno da mãe a sua casa; – Adequar sua prática profissional, tanto em atuação na Saúde Pública como em clínica particular, à Iniciativa Consultório Amigo da Amamentação5 ; – Conversar sobre a introdução da alimentação com- plementar saudável a partir do sexto mês, de acordo com as mais atuais recomendações do Ministério da Saúde¹¹. Após o segundo semestre e com introdução alimentar, como estimular o aleitamento até o final do segundo ano de vida? – Elogiar sempre! – Incentivar o AM, considerando a atividade da mãe, introdução da alimentação complementar saudável a partir do sexto mês e rede de apoio nos cuidados da criança; – Assegurar às mães e suas famílias que as crianças ama- mentadas (com pelo menos quatro mamadas ao dia) e que já consomem a dieta da família não precisam receber complemento com outro alimento lácteo; – Apoiar as mães em sua decisão de manter o AM por dois anos ou mais, desmistificando opiniões leigas (ou profissionais!) sobre essa prática;
  • 11. 11 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria – Conversar com a mãe sobre o desmame – interrup- ção do AM – no momento que ela trouxer esse tema para consulta. Tratar esse tema com tranquilidade, se- gurança e clareza. Sempre apoiar a mãe em suas decisões. CONCLUSÃO O pediatra, profissional médico que em algumas opor- tunidades já atende seu futuro paciente mesmo antes dele nascer e depois o acompanha por meses ou anos durante sua infância e adolescência, tem o compromis- so e a responsabilidade profissional de estar amplamen- te capacitado a exercer essa função especial: ajudar as mães a oferecer o melhor alimento para seus filhos nos primeiros meses e anos de vida, da melhor maneira pos- sível e da forma e duração que assim o desejarem. Estaremos assim não apenas protegendo, promoven- do e apoiando o AM, mas sendo realmente Pediatras Amigos da Amamentação! REFERÊNCIAS 01. Ferreira ABH (org). Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª. ed. (11ª. impressão). Nova Fronteira; Rio de Janeiro. 1975. 02. World Health Organization. Exclusive breastfeeding for six months best for babies everywhere. Disponível em: https://www.who.int/mediacentre/ news/statements/2011/breastfeeding_20110115/ en/. Acessado em 15 de agosto de 2020. 03. Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/ publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf. Acessado em 20 de agosto de 2020. 04. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Aleitamento Materno. Amamentação: a base da vida. Disponível em: https://www.sbp. com.br/fileadmin/user_upload/_21162c-DC_-_ Amamentacao_-_A_base_da_vida.pdf. Acessado em 20 de agosto de 2020. 05. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Aleitamento Materno. Consultório Amigo da Amamentação. Disponível em: https:// www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_21250e- DC_-_Consult_Amigo_da_Amamentacao1.pdf. Acessado em 20 de agosto de 2020. 06. Victora CG, Bahl R, Barros AJD, et al. Breastfeeding in the 21st: epidemiology, mechanisms and lifelong effect. Lancet. 2016;387:475-90. 07. Cunha AJ, Leite AJ, de Almeida IS. The pediatrician’s role in the first thousand days of the child: pursuit of healthy nutrition and development. J Pediatr (Rio J). 2015;91:544-51. 08. Meek JY. The breastfeeding-friendly pediatric office practice. Disponível em: https://pediatrics. aappublications.org/content/pediatrics/139/5/ e20170647.full.pdf. Acessado em 20 de agosto de 2020. 09. Meek JY, The Academy of Breastfeeding Medicine. Educational objectives and skills for the physician with respect to breastfeeding, revised 2018. Disponível em: https://www.bfmed.org/assets/ bfm.2018.29113.jym.pdf. Acessado em 20 de agosto de 2020. 10. Aguilar MTH, Maldonado JA. La lactancia materna. Cómo promover y apoyar La lactancia materna en La práctica pediátrica. Recomendaciones del Comité de Lactancia de la AEP. An Pediatra (Barc). 2005;63:340-56. 11. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde; Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/ publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf. Acessado em 29 de agosto de 2019. Cuidados no pós-parto influenciam o futuro sucesso na amamentação Rossiclei de Souza Pinheiro INTRODUÇÃO A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda co- locar os bebês em contato pele a pele com suas mães imediatamente após o parto, principalmente na primeira hora, encorajá-las a reconhecerem quando seus bebês demonstram vontade para mamar, oferecendo ajuda, se necessário. Apoiar as mães para que o início do aleita- mento materno se dê neste período essencial, em que mãe e recém-nascido estão alertas está bem claro no
  • 12. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 12 Sociedade Brasileira de Pediatria Passo 4 da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), que é uma prática capaz de reduzir em 22% a mortali- dade neonatal,1 sendo que quanto mais se prorroga o início do aleitamento materno, maiores serão as chan- ces de mortalidade infantil causada por infecções comuns na primeira infância. No Brasil a maioria dos partos ocorra em estabelecimen- tos de saúde, o que torna a estratégia de grande impacto nas taxas de amamentação. Dados de 2018 do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC) registraram 2.983.567 nascimentos realizados em hospitais no Bra- sil.2 Estudos nacionais e internacionais mostram asso- ciação positiva entre o nascimento em Hospitais Amigo da Criança e o aumento das taxas na amamentação.3-5 A pesquisa nacional sobre o parto e nascimento no Brasil constatou que bebês saudáveis nascidos em Hospitais Amigo da Criança tiveram menos risco de intervenções desnecessárias logo após o parto, como aspiração das vias aéreas, uso de oxigênio inalató- rio e uso de incubadora em unidade neonatal. Além disso, nestes hospitais o contato pele a pele com a mãe logo após o nascimento, a amamentação na primeira hora de vida ainda na sala de parto e o alojamento con- junto foram mais freqüentes.6 Os autores demonstraram que os Hospitais Amigo da Criança são referência em qualidade e humanização do atendimento durante todas as etapas da gestação, parto e nascimento e período neonatal precoce e isso reflete no aumento da prevalên- cia do aleitamento materno exclusivo na maternidade e nos primeiros seis meses de vida. Em todo o mundo são relatados dificuldades ao nasci- mento, pois cerca de um em cada 10 recém-nascidos necessita de ajuda para iniciar a respiração efetiva; um em cada 100 precisa de intubação traqueal; e 1-2 em cada 1.000 requer intubação acompanhada de massa- gem cardíaca e/ou medicações, desde que a ventilação seja aplicada adequadamente. Quando o bebê nasce asfixiado, o contato pele a pele pode não possível na primeira hora de vida.7-9 Se, ao nascimento, o bebê é de termo (idade gestacional 37-41 semanas), está respirando ou chorando e com tô- nus muscular em flexão, independentemente do aspecto do líquido amniótico, se apresenta boa vitalidade, deve continuar junto de sua mãe depois do clampeamento oportuno do cordão umbilical. Na sala de parto, enquanto o bebê está junto à mãe, devemos prover calor com uso de campos aquecidos, manter as vias aéreas pérvias e avaliar a sua vitalidade de maneira continuada.9,10 Nesse período, para manter a temperatura corporal entre 36,5-37,5ºC (normotermia) devemos garantir a temperatura ambiente na sala de parto entre 23-26ºC, secar o corpo e o segmento cefálico com compressas aquecidas e deixar o recém-nascido em contato pele- -a-pele com a mãe, coberto com campos aquecidos secos. Manter as vias aéreas pérvias, sem flexão ou hi- perextensão do pescoço, verificando se não há exces- so de secreções na boca e nariz. Avaliar, inicialmente, a frequência cardíaca com o estetoscópio no precórdio, o tônus muscular e a respiração/choro. Depois, de manei- ra continuada, observar a atividade, o tônus muscular e a respiração/choro do bebê.11 Se o bebê for prematuro, definido como os nascidos vivos com idade gestacional inferior a 37 semanas, o atendimento deve ser realizado conforme as normas do Programa de Reanimação Neonatal da Academia Ame- ricana de Pediatria e Sociedade Brasileira de Pediatria, ressaltando que se for inferior a 34 semanas dever ser enfatizado a manutenção da temperatura corpórea com procedimentos específicos. Se o bebê for maior do que 34 semanas e apresentar boa vitalidade, pode ser rea- lizado contato pele-a-pele durante a primeira de vida e depois ser encaminhado para unidade de cuidados neo- natais intermediários. O risco de mortalidade e morbida- de, incluindo a lesão do sistema nervoso central, durante a estabilização, reanimação e transporte do prematuro ao nascimento é muito grande. A equipe deve estar trei- nada e apta a realizar todos os procedimentos.12 A primeira hora de vida do bebê é tão importante para seu futuro que é conhecida como hora dourada, onde o contato pele a pele deve ser estimulado o mais preco- ce possível, segundo a Organização Mundial de Saúde. Manter mãe e bebês juntos facilita a amamentação, di- minui a mortalidade, diminui a chance de choro e traz benefícios para toda a família.15 O contato pele a pele faz parte de um conjunto de ações que possui este pa- radigma de cuidado: olhar a mulher e o bebê como protagonistas de um evento. Nesse sentido, este ato é conseqüência do conjunto de práticas de cuidado que valoriza o parto e o nascimento. O pediatra deve estar capacitado para realizar todos os primeiros cuidados próximo a mãe e manter este contato durante toda a primeira hora de vida, o conhecido “Golden Hour”. ESTRATÉGIAS PARA FAZER O CONTATO PELE A PELE NA PRIMEIRA HORA DE VIDA Quais seriam então, as principais ações estratégicas, que o pediatra deve conhecer para ajudar o contato pele a pele na primeira hora de vida? Vamos entender os principais pontos a serem valori- zados:
  • 13. 13 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria Qual o tipo de parto? Como implementar o contato pele a pele no parto cesariana, em centro cirúrgico com ar condicionado, campos cirúrgicos, anestesia, manipulação cirúrgica, durante uma hora? Quando o parto é cesariana, sabemos que a sala é mais fria, então podemos pedir para aquecer antes do nas- cimento, desligando ar-condicionado. Alguns serviços têm usado toucas para aquecer a principal área, o polo cefálico. Geralmente o bebê fica aquecido quando co- locado junto a sua mãe, desde que ela esteja em boas condições. Assim, você vai ver que a temperatura do bebê será melhor mantida do que se estivesse num ber- ço aquecido; então não tem problema o ar condicionado ligado se você mantiver o bebê junto com sua mãe, com um campo aquecido e uma touca. O mais importante é o bebê ficar com a mãe até o término da cirurgia; ao terminar, mãe e bebê sairão juntos do centro cirúrgico. Por que os bebês devem mamar imediatamente após o nascimento? Eles mamam mesmo? A amamentação na primeira hora pós-parto assegura que o bebê entre em contato com o colostro, rico em fa- tores protetores contra as principais doenças infecciosas. Além disso, o contato pele a pele entre mãe e bebê ao nascimento favorece o início precoce da amamentação e aumenta a chance do aleitamento materno exclusivo ser bem sucedido nos primeiros seis meses de vida. Geral- mente, o bebê procura o peito, sente o cheiro e tenta su- gar mesmo incoordenado, mas a sucção precoce – que é feita na primeira hora – é tão importante para o bebê que começa a estimular a descida do leite e como para a saúde da mãe, pois através da produção do hormônio ocitocina, contrai o útero da mãe e ajuda a eliminar a pla- centa, diminuindo uma das principais causas de morte materna que é a hemorragia uterina depois do parto. Quais os principais pontos o profissional de saúde precisa saber? • O que é clampeamento oportuno? No recém-nascido pré-termo tardio (34 semanas) e a termo (37 semanas) que nascem bem, sem asfixia, o clampeamento do cordão umbilical deve ser oportuno, cerca de 1-3 minutos após o nascimento. Esse proce- dimento aumenta os níveis de hemoglobina do recém- -nascido e melhora as reservas de ferro nos primeiros meses de vida, o que pode ter um efeito favorável nos resultados do desenvolvimento. • Existe contraindicação para o contato pele a pele? Atualmente, as mães suspeitas ou confirmadas com COVID-19 devem receber higienização corporal an- tes do contato com o bebê para diminuir o risco de infecção pós natal. Mas, os procedimentos devem ser realizados o mais breve possível a fim de oportunizar o contato na primeira hora de vida. • Quando realizar procedimentos de rotina após o parto? Os profissionais de saúde devem postergar quaisquer procedimentos que interrompam o primeiro contato com a família. As medidas antropométricas, adminis- tração de medicamentos profiláticos e vacinas podem aguardar o bebê mamar e despertar. A identificação com pulseira deve ser realizada no colo da mãe ou do pai, para ser conferida pela família. • Quando o bebê deve tomar banho? O primeiro banho deve ocorrer após 24 horas de vida para reduzir o risco de o recém-nascido apresentar hipotermia (perda de calor). O vérnix (resíduo gordu- roso que recobre o corpo) protege contra a perda de calor. A maioria das vezes que o bebê faz hipotermia, aumenta seus gastos de energia e pode apresentar hipoglicemia. • Qual a orientação aos pais sobre pele a pele nos primeiros dias de vida? Os pais devem ser orientados sobre a importância do colo a fim de manter a temperatura corpórea e vin- culo do bebê com a família, portanto nos primeiros dias devem evitar manter o bebê somente deitado no berço. Os paradigmas do contato pele a pele devem ser descontruídos, pois é muito importante o bebê ser aquecido pelo corpo da mãe / pai, a fim de diminuir o choro e aumentar a oferta do seio materno e melho- rando a prevalência de aleitamento materno exclusivo até seis meses de vida. CONCLUSÃO O contato pele a pele na primeira hora de vida é im- portante para a microbiota, pois o bebê quando nas- ce não tem bactérias e as primeiras com que ele entra em contato são as da vagina da sua mãe (no parto nor- mal) e, depois, são as da pele da sua mãe, portanto deve ser estimulado nas cesarianas. Hoje, cada vez mais os estudos científicos têm provado que é muito importante que o bebê tenha contato com as bacté- rias da sua mãe, e não contato com as bactérias hos- pitalares de um berço aquecido, de um profissional de saúde e de salas afastadas das mães. Sabemos que as bactérias colonizadas ao nascimento vão manter a proteção por vários anos. Além disso, o contato pele a pele promove segurança do bebê, ele respira me-
  • 14. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 14 Sociedade Brasileira de Pediatria lhor, deglute melhor e promove o vínculo entre mãe e filho. Depois de uma hora, quando o bebê jê estiver aquecido e desperto, os procedimentos de rotina hos- pitalares podem ser realizados. O mais importante é respeitar o primeiro contato pele a pele por uma hora ou mais de uma hora. Após os cuidados de rotina, o profissional de saúde deve trazê-lo novamente para o colo da mãe. REFERÊNCIAS 01. World Health Organization [homepage on the Internet]. Protecting, promoting and supporting breast-feeding: the special role of maternity services. Geneva: WHO; 1989 [cited July 19, 2020]. Disponível em: http://apps.who.int/iris/ bitstream/10665/39679/1/9241561300.pdf Acessado em 19 de julho de 2020. 02. DATASUS – Disponível em: http://tabnet.datasus. gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def Acessado em 19 de julho de 2020. 03. Rollins NC, Bhandari N, Hajeebhoy N, et al. Why invest, and what it will take to improve breastfeeding practices? Lancet. 2016;387:491-504. 04. Sinha B, Chowdhury R, Sankar MJ, et al. Interventions to improve breastfeeding outcomes: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015;104:114-34. 05. Venâncio SI, Saldiva SR, Escuder MM, et al. The Baby-Friendly Hospital Initiative shows positive effects on breastfeeding indicators in Brazil. J Epidemiol Com Health. 2012;66:914-8. 06. Escola Nacional de Saúde Pública - Fiocruz. Nascer no Brasil. Inquérito nacional sobre parto e nascimento.Sumárioexecutivotemáticodapesquisa. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2014. Disponível em: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/ site/arquivos/anexos/nascerweb.pdf. Acessado em 19 de julho de 2020. 07. Niermeyer S. From the Neonatal Resuscitation Program to Helping Babies Breathe: Global impact of educational programs in neonatal resuscitation. Semin Fetal Neonatal Med. 2015;20(5):300-8. 08. Ersdal HL, Mduma E, Svensen E, et al. Early initiation of basic resuscitation interventions including face mask ventilation may reduce birth asphyxia related mortality in low-income countries: a prospective descriptive observational study. Resuscitation. 2012;83(7):869-73. 09. World Health Organization. Thermal protection of the newborn: a practical guide [Book on the Internet]. Geneve:WHO; 1997 [cited 2020 Jul 19]. Dispo- nível em: http://www.who.int/reproductivehealth/ publications/maternal_perinatal_health/MSM_97_2/ en/ Acessado em 19 de julho de 2020. 10. World Health Organization. Born too soon: the global action report on preterm birth [Book on the Internet]. Geneve: WHO; 2012 [Cited 2020 Jul 20]. Disponível em: http://www.who.int/pmnch/ media/news/2012/201204_borntoosoon-report.pdf Acessado em 19 de julho de 2020. 11. Reanimação do recém-nascido ≥34 semanas em sala de parto – Diretrizes 2016 SBP. Disponível em: http://wwws.sbp.com.br//reanimacao/wpcontent/ uploads/2016/01/diretrizessbpreanimacaornmaior- 34semanas26jan2016.pdf Acessado em 19 de julho de 2020. 12. Reanimação do Prematuro 34 semanas na sala de parto - Diretrizes 2016 SBP. [acessado em 19 de julho de 2020]. Disponível em: https://www.sbp. com.br/fileadmin/user_upload/DiretrizesSBPReani- macaoPrematuroMenor34semanas26jan2016.pdf Acessado em 19 de julho de 2020. 13. World Health Organization [homepage on the In- ternet]. E-Library of Evidence for Nutrition Actions (eLENA): Early initiation of breastfeeding. Disponível em: http://www.who.int/elena/titles/early_breast- feeding/en/ Acessado em 19 de julho de 2020. Avaliação da perda de peso no período neonatal imediato Ana Luiza Velloso da Paz Matos Há mais a aprender e muito a respeitar sobre o trabalho manual da mãe natureza. Ruth Lawrence INTRODUÇÃO O pediatra e demais profissionais que trabalham com a amamentação, necessitam de conhecimentos que con-
  • 15. 15 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria tribuam para a compreensão de aspectos fisiológicos do recém-nascido (RN) e sua mãe, evitando dessa forma conduzir o que é fisiológico como anormalidade. Sendo o leite materno, próprio da espécie humana, quaisquer preparações oferecidas ao RN como substi- tutas serão de qualidade inferior ao padrão ouro ofere- cido pelo leite humano, podendo acarretar em prejuízos e consequências. Portanto, isso deve ser a todo custo evitado, a menos que exista uma justificativa médica1 ou escolha materna de não usá-lo, mesmo esclarecida e ciente de seus incomparáveis benefícios. A introdução de uma fórmula infantil (FI) pode compro- vadamente desencorajar o início e/ou diminuir a duração do aleitamento materno, acarretando em prejuízos para o bebê e mãe, em curto, médio e longo prazos1,2 . As rotinas hospitalares para encorajar e apoiar o início e a manutenção do aleitamento materno exclusivo (AME) devem ser baseadas na Organização Mundial de Saú- de (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)1 . As mamas femininas iniciam o desenvolvimento na vida fetal, continuando na adolescência e gestação. São “preparadas” para a lactação a partir da 16ª semana da gestação. A lactação, portanto, é parte integral do ciclo reprodutivo da mulher3 . No pós-parto, em decor- rência de mudanças hormonais e a seguir em resposta ao estímulo da sucção, inicia-se a “copiosa produção de leite”, inicialmente em pequena quantidade, poden- do ser interpretada como inadequada; mas é em geral suficiente para atender as necessidades do RN a termo, saudável. Referir-se à produção de colostro como pouca, nada mais é que um pleonasmo vicioso, pois a produção do mesmo no primeiro dia de vida é pequena, podendo va- riar de 2 a 20 mL por mamada, o que é perfeitamente adequado ao estômago do RN a termo, cuja capaci- dade gástrica neste momento é em torno de 20 mL4,5 . A ingestão média de colostro por mamada para o RN termo, sadio de 2 a 10mL (até 24h); 5 a 15 mL (24 a 48h); 30 a 60 mL (48 a 72h)4 . Não há evidências suficientes sobre os intervalos ide- ais de alimentação do RN. A recomendação atual é a livre demanda, ou seja, guiada preferencialmente pe- los sinais precoces de fome do bebê. Diante de uma possível falha ou dificuldade com a amamentação, o profissional deve buscar o que pode estar aconte- cendo, e não “resolver” a questão introduzindo uma FI, pois ainda que a mesma seja modificada, não será igual e nem semelhante ao leite produzido na mama de uma mulher. ESTRATÉGIAS PARA CONDUZIR A PERDA DE PESO NOS PRIMEIROS DIAS Como entender a perda de peso nos primeiros dias de vida? Quase todos os RNs perdem peso durante os primeiros dias após o nascimento, independente de receberem leite materno (LM) direto do peito ou uma FI. Existem razões que necessitam ser consideradas para a ocor- rência dessa perda de peso nos primeiros dias após o nascimento, devendo as mesmas serem criteriosamente compreendidas para uma boa avaliação. a) Ao nascimento ocorre redistribuição dos volumes corporais de água, com redução do volume extrace- lular e aumento do volume intracelular, deste modo há perda da água corporal total que resultará em significativa perda de peso. Considerando-se que a composição hídrica nesta fase é em torno de 70%, a perda de peso tem grande correlação com a perda hídrica4,6 . O volume de alimentação relativamente bai- xo durante as primeiras horas de vida coincide com a diurese fisiológica do excesso de líquido extracelular que acompanha a transição da vida pré-natal para a pós-natal4,7 ; b) O estresse do nascimento libera grandes quantida- des de hormônio antidiurético, o que colabora para o balanço hídrico negativo6 ; c) O uso do tecido adiposo do RN, como fonte de ener- gia, impacta na perda ponderal dos primeiros dias8 ; d) Reduzida capacidade gástrica: O LM inicialmente proporciona o “liquido necessário” para repor as per- das insensíveis do RN (2/3 são trans epidérmicas)4 . O esvaziamento gástrico neste período tem carac- teristicamente hipomotilidade pós-prandial o que contribui para a adaptação a pequenos volumes ingeridos de leite e regurgitações nas primeiras horas após o nascimento9 ; e) Uso de ocitocina sintética: a administração de oci- tocina durante o parto é habitualmente realizada em muitos países pelos resultados benéficos para a mãe; porém poucos estudos têm investigado os efeitos na amamentação. Há evidências que a ocitocina exóge- na pode passar através da placenta para a circulação fetal10 . Estudo de coorte retrospectivo sugere influên- cia negativa sobre a amamentação na primeira hora, em mulheres que usaram ocitocina sintética, que em associação com índice de massa corporal materno aumentado contribuiu para prejuízo no AM aos 3 me- ses11 . Os achados são relacionados à inibição dos reflexos primitivos dos RN, com prejuízos imediatos sobre a amamentação12,13 . Esta correlação não pare-
  • 16. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 16 Sociedade Brasileira de Pediatria ce ser dependente da dose14 . O adiamento para o es- tabelecimento do AM pode impactar em maior perda ponderal; f) Alguns autores fazem correlação entre o volume de líquidos intravenosos oferecidos à mãe no pré-parto e o impacto na maior perda de peso do RN, sobre- tudo quando a infusão é volumosa15,16 . Isso sugere que a administração de fluidos intraparto pode causar expansão do volume fetal e maior perda de fluidos após o nascimento, embora outros mecanismos se- jam possivelmente envolvidos17 ; g) A cesariana é um fator de risco conhecido para maior perda de peso entre os RNs. Existe um mecanismo conhecido que explica essa associação relacionado a problemas com a amamentação, devido ao retardo da lactogênese II (copiosa produção de leite) inician- do-se no 2º ou 3º dias após o nascimento18,19 . Estudo japonês recente considerou, além da cesariana, a ida- de materna mais avançada e a primiparidade como fatores de risco independentes para a perda excessi- va de peso em RNs a termo amamentados20 ; h) O clampeamento oportuno do cordão está relaciona- do a aumento de peso do RN, impactando na varia- ção maior de perda de peso21 ; i) Considerações sobre: tipo de agasalho utilizado pelo RN, temperatura ambiente22 , modo de aferição (tipo de balança e tara) e horário da pesagem diária, podem interferir na fidedignidade da perda de peso. Quais os sinais e sintomas que podem indicar ingestão insuficiente de leite? (*Adaptação: Clinical Protocol #3:Supplementary Feedings in the Healthy Term Breastfed Neonate, Revised 2017) a) Sinais e/ou sintomas clínicos ou laboratoriais de desi- dratação (sódio elevado, sucção débil, letargia, etc.) que não melhoram após cuidados adequados e ma- nejo apropriado da amamentação; b) Perda de peso entre 8% e 10%, no quinto dia ou mais; perda de peso acima do percentil 75 para a idade. Obs.: Perda de peso na faixa de 8% a 10% pode estar dentro dos limites da normalidade se não houver outros achados relevantes e o exame físico estiver normal; neste ponto há indicação de avaliação cuidadosa e possível necessidade de assistência na amamentação; c) Perda de peso entre 8% e 10% pode ser um indi- cativo de baixa ingestão ou baixa produção de leite materno, mas uma avaliação criteriosa é necessária antes de indicação automática de suplementação; d) Atraso na evacuação, menos que quatro evacuações no quarto dia de vida ou fezes com mecônio no quin- to dia de vida. Importante: Padrões de eliminações (urina e fezes) devem ser acompanhados e registrados até pelo menos o início da apojadura. Deve-se ressaltar que há grande variação entre os RNs, mas os padrões podem ser úteis para determinar a adequação da amamentação. RNs com mais evacuações durante os primeiros cinco dias após o nascimento apresen- tam menor perda de peso inicial, transição para fezes amareladas mais precocemente e retorno mais rápido ao peso de nascimento. e) No atraso da apojadura, entre o terceiro e o quinto dias pós-parto e ingestão insuficiente, considerar: e.1) Insuficiência glandular primária ( de 5% das mu- lheres = falha primária na lactação), evidenciada por tamanho anormal da mama, pequeno cresci- mento da mesma na gestação, ou mínima indica- ção de ativação de secreção do leite. e.2) Doença mamária ou cirurgia mamária prévia que pode resultar em baixa produção de leite. e.3) Interrupção temporária da amamentação devi- do a alguns medicamentos (ex:quimioterapia) ou separação temporária da mãe e do bebê sem disponibilidade de ordenha. A identificação dos fatores de risco para perda excessi- va de peso será de ajuda para descobrir medidas pre- ventivas. A extensão da perda de peso de um RN nos primeiros dias de vida é usada como um indicador da adequação da amamentação, mas a mesma não deverá ser usada de forma isolada e única. Os limites fisiológi- cos máximos de perda de peso para os RNs são contro- versos. Assim, a perda de peso de 10% pode ser con- siderada normal ou aceitável, desde que não existam os sinais acima referidos. Os gráficos de crescimento são falhos nas primeiras duas semanas, porque não levam em consideração perda de peso fisiológica neonatal23 . Perdas acima de 10%, não devem ser automaticamen- te associadas à indicação de suplementos1 , porém ne- cessitam ser cuidadosamente avaliadas, pois podem estar associadas a complicações como: icterícia, hiper- natremia, desidratação, podendo levar à insuficiência renal, trombose, choque hipovolêmico e convulsões24,25 . Qual o tempo para recuperação do peso do nascimento? Na avaliação e seguimento da perda de peso neonatal, nos primeiros dias de vida, é importante lembrar que o peso é um item que sempre deve ser considerado, mas juntamente com o mesmo, deve-se atentar ao estado
  • 17. 17 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria geral, atividade, número de fraldas trocadas por dia, refe- rência ao aspecto das eliminações, padrão de sono, as- pecto das mamas e avaliação de uma mamada completa. Não é incomum que os RNs estejam abaixo do peso ao nascer com 10 a 14 dias após o nascimento, indepen- dentemente do tipo de parto; os RNs de cesariana, por habitualmente perderem mais peso nos primeiros dias, podem não ter recuperado o peso do nascimento ao longo do primeiro mês22 . E se houver necessidade de suplementar? Primeira opção: LM ordenhado, na impossibilidade, uti- lizar leite procedente de banco de leite humano, caso o mesmo não esteja disponível, utilizar uma FI, reava- liando sempre a necessidade da manutenção de forma total ou parcial. Preferencialmente o suplemento deve ser oferecido por sonda de pequeno calibre (ex. uretral nº 4) fixada à mama, cuja ponta deve coincidir com o mamilo (translactação), copinho ou colher4 , evitando-se o uso de mamadeiras e/ou chucas, que podem levar à “confusão de bicos”26 . CONCLUSÃO Todos os esforços devem ser feitos para que não haja substituição ou suplementação desnecessária do LM no início da vida, para isso é imprescindível que o pedia- tra tenha conhecimento e compreensão sobre os me- canismos que envolvem a perda de peso fisiológica no período neonatal imediato. É recomendável uma boa anamnese e exame físico do RN, exame das mamas, observação da atitude e desejo da mãe, registro das eli- minações do RN, investigação da rede de suporte ime- diata e acompanhamento de uma mamada (pega, posi- cionamento, transferência de leite), antes de considerar a necessidade de um suplemento; quando necessário, o mesmo deverá ser feito com parcimônia, para atender as necessidades, sem definir a prescrição como um “ca- minho sem retorno”. O leite materno humano é, portanto, não apenas um su- plemento nutricional perfeitamente adaptado para os be- bês, mas provavelmente o medicamento personalizado mais específico que o bebê receberá, oferecido em um momento em que a expressão gênica está sendo ajusta- da para a vida. Esta é uma oportunidade a conformação de saúde que não deve ser perdida27 . Desde o nasci- mento, começando na primeira hora do nascimento, o pediatra deve promover a oportunidade do AM, incenti- var e apoiar a prática do mesmo de modo exclusivo até o sexto mês e complementado até os dois anos ou mais. REFERÊNCIAS 01. American Academy of Pediatrics - Breastfeeding and the Use of Human Milk. Disponível em: www.pediatrics.org/cgi/doi/10.1542/peds.2011- 3552 doi:10.1542/peds.2011-3552 02. World Health Organization baby-friendly hospital initiative guideline and 2018 implementation guidance. JAMA Pediatr. 2019;173(1):93–4 03. Breastfeeding, a guide for medical profession. Ruth Robert Lawrence 7ª edition (2011). C 3. Physiology of Lactation (62-97). 04. Academy Breastfeeding Medicine. Clinical Protocol #3: Supplementary Feedings in the Healthy Term Breastfed Neonate, Revised 2017 https://www. bfmed.org/ 05. Santoro W Jr, Martinez FE, Ricco RG, et al. Colostro ingerido durante o primeiro dia de vida por recém- nascidos saudáveis alimentados exclusivamente com leite materno. J Pediatr . 2010;156(1):29-32. 06. Brace AR. Fluid and electrolyte metabolism. In: Polin AR, Fox W, Abman S, editors. Fetal and neonatal physiology. 3rd ed. Philadelphia: Saunders; 2004. p. 1341–50. 07. Zangen S, Di Lorenzo C, Zangen T, et al. Rapid maturation of gastric relaxation in newborn infants. Pediatr Res. 2001;50(5):629-632. 08. Noel-Weiss J, Courant G, Woodend AK. Physiological weight loss in the breastfed neonate: a systematic review. Open Med. 2008;2(4):99–110. 09. Bergman NJ. Neonatal stomach volume and physiology suggest feeding at 1-h intervals. Acta Paediatr. 2013;102(8):773-777. 10. Erickson EN, Emeis CL. Breastfeeding Outcomes After Oxytocin Use During Child birth: An Integrative Review. J Midwifery Wom Health. 2017;62:397–417. 11. Gomes M, Trocado V, Carlos-Alves M, et al. Intrapartum synthetic oxytocin and breastfeeding: a retrospective cohort study. J Obst Gynaecol. 2018; DOI: 10.1080/01443615.2017.1405924 12. Bella AF, White-Traut R, Rankin K. Fetal exposure to synthetic oxytocin and the relationship with prefeeding cues within one hour post birth. Early Hum Develop. 2013;89:137–143. 13. Odent MR. Synthetic oxytocin and breastfeeding: reasons for testing an hypothesis. Med Hypotheses. 2013;81(5):889-891.
  • 18. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 18 Sociedade Brasileira de Pediatria 14. Miguel A. M. Gabriel MAM, Fernandez IO, Martınez AMM, et al. Intrapartum Synthetic Oxytocin Reduce the Expression of Primitive Reflexes Associated with Breastfeeding. Breastfeed Med. 2015;10(4): DOI: 10.1089/bfm.2014.0156. 15. Gehan EG, Naglaa FMK. The Impact of Intravenous Protocols During Labor on Maternal Newborn Outcomes SOJ Nur Health Care. 2017;3(1):1-9. 16. Watson J, Hodnett E, Armson BA, et al. A Randomized Controlled Trial of the Effect of Intrapartum Intravenous Fluid Management on Breastfed Newborn Weight Loss. J Obst Gynec Neon Nurs. 2012;41:24-32. 17. Chantry CJ, Rivers LAN, Peerson JM, et al. Excess Weight Loss in First-Born Breastfed Newborns Relates to Maternal Intrapartum Fluid Balance. Pediatrics. 2011;127:e171. 18. Mezzacappa MA, Ferreira BG. Excessive weight loss in exclusively breastfed full term newborns in a baby- friendly hospital. Rev Paul Pediatr. 2016;34(3):281–6. 19. Flaherman VJ, Schaefer EW, Kuzniewicz MW, et al. Early weight loss nomograms for exclusively breastfed newborns. Pediatrics. 2015;135(1):e16–23. 20. Miyoshi et al. Determinants of excessive weight loss in breastfed full-term newborn sat a babyfriendly hospital: a retrospective cohort study. Int Breastf J. 2020;15:19 21. McDonald SJ, Middleton P, Dowswell T, et al. Effect of timing of umbilical cord clamping of term infants on maternal and neonatal outcomes. Cochrane Database Syst Rev. 2013;7:CD004074. 22. Schaefer EW, Miller JR, Kuzniewicz MW, et al. Weight Change Nomograms for the First Month After Birth. Pediatrics. 2019;38(6): DOI: 10.1542/ peds.2016-2625 23. Wright CM, Parkinson KN. Post natal weight loss in term infants: what is normal and do growth charts allow for it?. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2004;89(3):F254-F257. 24. Chang RJ, Chou HC, Chang YH, et al. Weight loss percentage prediction of subsequent neonatal hyperbilirubinemia in exclusively breastfed neonates. Pediatr Neonatol. 2012;53(1):41–4. 25. Pelleboer RA, Bontemps ST, Verkerk PH, et al. A nation wide study on hospital admissions due to dehydration in exclusively breastfed infants in the Netherlands: its incidence, clinical characteristics, treatment and outcome. Acta Paediatr. 2009;98(5):807–11. 26. UNICEF-OMS INICIATIVA HOSPITAL AMIGO DA CRIANÇA: revista, atualizada e ampliada para o cuidado integrado. Módulo 3 – Promovendo e Incentivando a Amamentação em um Hospital Amigo da Criança: Curso de 20 h para Equipes de Maternidade Série A. Normas e Manuais Técnicos. Ed. MS Brasília-DF 2009 http://www.redeblh.fiocruz. br/media/modulo3_ihac_alta.pdf 27. Victora CG, Bahl R, Aluísio J D Barros, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect for The Lancet Breastfeeding Series Group* www.thelancet.com 2016;387 Jan 30. Leite materno para prematuros: obstáculos e suporte nas unidades neonatais Rossiclei de Souza Pinheiro INTRODUÇÃO O aleitamento materno é considerado padrão ouro e o modo mais natural e seguro de alimentação para as crianças, incluindo os prematuros, devido aos seus as- pectos nutricionais e imunológicos. A recomendação é que seja exclusivo até os 6 meses e após deve ser complementado com outros alimentos, porém para os prematuros deve ser considerado a idade gestacional corrigida e as habilidades para deglutição. A amamenta- ção deve ser estimulada até 2 anos ou mais1 . O leite humano é composto por uma combinação de proteínas, lipídios, carboidratos, minerais, vitaminas, en- zimas e células vivas com benefícios nutricionais, imu- nológicos, psicológicos e econômicos reconhecidos e inquestionáveis2 . O colostro é um fluido produzido em pequenas quantidades, mas rico em Imunoglobulina A (IgA), fatores de crescimento, lactoferrina, citocinas anti- e pró-inflamatórias. Especialmente para o recém-nasci- do prematuro, a recomendação do aleitamento materno tem sido defendida com base nas propriedades imu- nológicas do leite humano, no seu papel na maturação gastrintestinal, na formação do vínculo mãe-filho e no melhor desempenho neurocomportamental apresentado pelas crianças amamentadas3 . Durante a amamentação,
  • 19. 19 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria a coordenação da sucção/deglutição dos prematuros é maior. É comprovado que os níveis da pressão parcial de oxigênio transcutânea, a saturação de oxigênio e a tem- peratura corporal são mais elevadas do que os obtidos durante alimentação com mamadeira, confirmando que a alimentação ao seio é mais fisiológica4 . O objetivo nutricional deve ser proporcionar um cresci- mento e composição corporal semelhantes ao intrauteri- no sem fazer sobrecarga metabólica para evitar doenças crônicas na fase adulta. Geralmente a perda de peso dos prematuros é em torno de 15% e a recuperação ponderal não é esperada antes de 21 dias. É provável que as doenças da prematuridade decorram de um desequilíbrio entre as defesas antioxidantes e a expo- sição a radicais livres liberados após hipóxia ou injúria por reperfusão, cujo excesso traria risco de enteroco- lite necrosante, displasia broncopulmonar, hemorragia intraventricular e retinopatia da prematuridade. Como o prematuro parece não apresentar proteção bem desen- volvida contra o estresse oxidativo, o uso de leite huma- no seria vantajoso, já que este oferece melhor proteção antioxidante que os leites artificiais5 . ESTRATÉGIAS PARA ALIMENTAÇÃO DO PREMATURO Quais as formas mais adequadas para manter o aleitamento materno no prematuro? O prematuro tem características inerentes à imaturidade e na maioria das vezes não conseguirá receber o leite materno diretamente do seio, portanto é importante ter uma equipe treinada. Geralmente entre 32-34 semanas de Idade Gestacional existem dificuldades na coordena- ção da sucção, deglutição e respiração, isso pode levar a episódios de apnéias, broncoaspiração e engasgos, limitando a ingesta calórica e conseqüentemente aumentando a ansiedade da família5 . O que é Colostroterapia? É uma estratégia sem função nutricional para aperfei- çoar a oferta de colostro cru como terapia imune aos prematuros de muito baixo peso que estejam interna- dos em unidade de terapia intensiva neonatal, mesmo que ainda não tenham iniciado a oferta de alimentação enteral. A técnica consiste na administração gentil de gotas de leite materno na cavidade oral do recém-nas- cido e deve ser iniciado nas primeiras 96 horas de vida6 . A administração de colostro por seringa em uma dose cumulativa mais alta está associada ao aumento da ab- sorção de IgA secretória e lactoferrina, e quanto mais precoce, pode contribuir para um microbioma traqueal mais diverso7 . Qual a forma mais segura de alimentar o prematuro antes de 32 semanas? Normalmente estes neonatos estão internados em uni- dade de terapia intensiva neonatal, unidade de cuidados intermediários ou unidade de cuidados canguru, portan- to serão alimentados por gavagem com auxilio de uma sonda nasogástrica ou orogástrica para garantir um bom suporte nutricional. Conforme vão conseguindo coorde- nar a sucção/deglutição e respiração, com reflexo de procura, pode haver transição para via oral, inicialmente com a técnica finger feeding ou sonda-dedo. A transi- ção da gavagem para amamentação ao seio materno deve respeitar o desenvolvimento neurológico individual, o que pode ser avaliado pela equipe interdisciplinar8 . Como fazer a transição da sonda para o peito? Não devemos considerar apenas idade gestacional de 32-34 semanas, mas avaliar o início da alimentação oral conforme a estabilidade clínica, habilidade motora oral, maturidade neurológica e segurança materna. O peso pode limitar a transição, mas não é fator determinante, pois os bebês podem ser pequenos para idade gestacio- nal e confundir com imaturidade. Recomenda-se iniciar com sucção não nutritiva após a mãe esvaziar a mama com expressão manual ou com bomba para que o bebê seja levado ao seio durante a alimentação com sonda nasogástrica. Esta técnica diminui o risco de engasgos e estimula a produção do leite materno, otimizando o en- volvimento da mãe nos cuidados com seu filho e auxilia no desenvolvimento da sucção, deglutição e respiração até que esteja apto para amamentação plena. O uso de bicos artificiais e dedos de luva de látex não são indica- dos e podem gerar confusão de bicos, gerando mais de dificuldades na transição ao seio materno9 . O que é translactação ou relactação? A translactação é a oferta do leite materno extraído da própria mãe, enquanto a relactação pode ser realizada com leite pasteurizado em banco de leite humano e ex- cepcionalmente fórmula infantil. As duas técnicas têm o mesmo objetivo que é realizar a transição da alimen- tação por gavagem para alimentação direta no peito. São conhecidos como sonda-peito e permitem que o bebê sugue a mama e receba o leite materno ao mes- mo tempo em que recebe o leite por meio de uma son- da (n°4) com uma das extremidades acoplada a uma
  • 20. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 20 Sociedade Brasileira de Pediatria seringa ou um recipiente. A sonda deve ser fixada na aréola, longe do mamilo, permitindo que o volume seja aumentado gradativamente, evitando engasgos ou ins- tabilidade clínica. Este método auxilia no estímulo para aumentar a produção do leite quando o bebê demorou muitos dias para ir ao seio10 . Podemos usar o “copinho” para suplementar? O copinho durante muitos anos foi indicado pela Orga- nização Mundial da Saúde como método de transição para os bebês prematuros que estavam em gavagem ou para suplementação da alimentação oral, pois não influenciavam na sucção e diminuíam a confusão dos bicos, mas atualmente o mais indicado é a sonda-peito. Uso do copinho pode até ajudar, pois no copo o bebê apresenta abertura da boca e língua anteriorizada para sorver o leite. A oferta deve ser feita com o bebê em posição sentada ou semissentada, com a cabeça e o corpo alinhados e em estado de alerta11 . É uma alter- nativa segura para oferta do leite materno na ausência da mãe, como no retorno à escola e ao trabalho, ou na impossibilidade do bebê sugar seio materno, mas deve ser oferecido por pessoal treinado. Recomenda-se uso de copo de vidro, pois é mais fácil a esterilização e machuca menos a boca do bebê. O uso do copo aumenta as chances do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida12 . CONCLUSÃO A nutrição dos prematuros exige ações complexas com intervenção de toda equipe interdisciplinar para o suces- so do aleitamento materno. É necessário investimento em capacitação com olhar sobre o contexto da prema- turidade e foco na alimentação saudável para promo- ver um crescimento adequado e a composição corporal mais semelhante possível do intra-útero. O nascimento do prematuro pode interferir em todas as expectativas da família, inclusive na amamentação, pois as fragilidades emocionais podem limitar a atuação da equipe e influenciar no sucesso do aleitamento exclusivo. REFERÊNCIAS 01. Lawn JE, Gravett MG, Nunes TM, et al. The GAPPS Review Group Global report on preterm birth and stillbirth (1 of 7): definitions, description of the burden and opportunities to improve data. BMC Pregn Childbirth. 2010;10(Suppl 1):1-22. 02. Kunz C, Rodriguez-Palmero M, Koletzko B, Jensen R. Nutritional and biochemical properties of human milk, part I: general aspects, proteins and carbohydrates. Clin Perinatol. 1999;26:307-33. 03. Gibertoni D, Corvaglia L, Vandini S, et al. Positive effect of human milk feeding during NICU hospitalization on 24 month neurodevelopment of very low birth weight infants: An Italian cohort study. PLoS ONE. 2015;10:e0116552 04. Yamamoto RCC, Keske-Soares M, Weinmann ARM. Características da sucção nutritiva na liberação da via oral em recém-nascidos pré-termos de diferentes idades gestacionais. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009; 14(1):98-105. 05. Ministério da Saúde (BR). Atenção à saúde do recém-nascido: guia para profissionais de saúde. Cuidados com o recém-nascido pré-termo. 2ª Ed. Brasilia: Ministério da Saúde;2014. 06. Lopes JB, Oliveira LD, Soldatelli B. Colostroterapia: uma revisão da literatura. Demetra. 2018;13(2): 463-76. 07. Maffei D, Brewer M, Codipilly C, et al. Early oral colostrum administration in preterm infants. J Perinatol. 2020. 40:284–287. 08. Fujinaga CI, Duca AP, Petroni RACL, et al. Indicações e uso da técnica “sonda-dedo”. Rev CEFAC. 2012;14(4):721-724. 09. Guastalla R, Willumsen DK. Características espe- cíficas da anatomofisiologia do sistema estomato- gnático na prematuridade. In: Carvalho MR, Gomes CF. Amamentação: bases científicas. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 10. Aquino RR, Osório MM. Relactation, translactation and breast-orogastric tube as transition methods in feeding preterm babies. J Hum Lact. 2009; 25(4): 420-6. 11. Flint A, New K, Davies MW. Cup feeding versus other forms of supplemental enteral feeding for newborn infants unable to fully breastfeed. Cochrane Database Syst Rev. 2016;8:CD005092. 12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica – 2ª ed. – Brasília, Ministério da Saúde, 2015. 184 p.
  • 21. 21 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria Doação de leite humano: o que o pediatra precisa saber? Vilneide Maria Santos Braga D. Serva INTRODUÇÃO A doação de leite humano é prioritariamente direcionada para pacientes especiais, prematuros, com baixo peso e/ou doentes. Desta forma, o pediatra e todos os profis- sionais que compõem a equipe de saúde precisam co- nhecer e observar normas que implicam em cuidadosa seleção, classificação e acompanhamento das doado- ras, parte integrante da rotina diária dos bancos de leite humano e postos de coleta de leite humano1,2 . São consideradas doadoras as lactantes saudáveis que apresentem secreção láctea superior às exigências de seu próprio filho e que voluntariamente se dispõem a doar o excelente por livre e espontânea vontade2 . São ainda classificadas como doadoras, mulheres que temporariamente, por razões de saúde de seus filhos, estão impedidas de amamentar diretamente no peito, cujos filhos estão internados em unidades neonatais ou outras unidades hospitalares e que extraem leite hu- mano para estimulação da produção láctea ou consumo de seu próprio filho2 . COMO FUNCIONA A DOAÇÃO DE LEITE HUMANO? Quais seriam os principais pontos que o pediatra e demais profissionais de saúde devem conhecer para ajudar uma lactante que deseja ser doadora de leite humano? É o que mostraremos a seguir na forma de perguntas e respostas: 1. Como realizar a triagem de doadoras? Para a triagem da doadora o pediatra ou outro médico assistente precisa solicitar e avaliar o cartão pré-natal, a caderneta da criança, observar a amamentação do filho da doadora, assistir aos problemas encontrados, além de realizar avaliação médica e preenchimento do for- mulário de cadastramento da doadora que contenha1,2 : • Nome completo • Data do nascimento • Endereço • Local onde realizou o pré-natal • Número de consultas • Peso no início e final da gestação • Resultados de exames realizados no pré-natal: hemo- grama, VDRL, sorologia para HIV, Hepatite B e outros exames conforme perfil epidemiológico local ou ne- cessidade individual da doadora • Intercorrências no pré-natal e tratamentos realizados • Data e local do parto • Intercorrências e tratamento durante internação na maternidade • Intercorrências atuais e medicamentos usados Quais os passos a serem tomados para a seleção das doadoras? Para a seleção da doadora o pediatra e/ou médico assistente deve confirmar que as seguintes condições e/ou orientações sejam respeitadas1,2 : • Estar amamentando ou ordenhando leite humano para o próprio filho • Ser saudável • Apresentar exames pré ou pós-natal, caso não os tenha realizado no pré-natal, compatíveis com a ama- mentação • Não fumar mais que 10 cigarros por dia • Não usar medicamentos incompatíveis coma a ama- mentação. Mesmo no caso de uso de medicamentos compatíveis, o pediatra e/ou médico assistente deve avalia-los rigorosamente, pois a doação, de um modo geral, é destinada a recém-nascidos prematuros e/ou doentes • Não usar álcool ou drogas ilícitas • Receber orientação sobre a anatomia e fisiologia da mama, com linguagem simples, visando o entendi- mento das técnicas de ordenha • Avaliar técnicas de ordenha • Orientar sobre pega e posicionamento • Observar e avaliar da mamada • Realizar checagem da condição de saúde da doadora a cada doação, desqualificando a doação quando do surgimento de patologias ou do uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação • Realizar checagem das condições de ambiente de coleta do leite humano
  • 22. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 22 Sociedade Brasileira de Pediatria Como orientar a coleta? Manual ou com bomba extratora? A extração manual ou com bomba de extração de lei- te humano é uma recomendação frequente do pediatra e de outros profissionais de saúde por várias razões, como doação de leite e retorno ao trabalho3 , alimentar um filho prematuro e/ou doente4 e manejo de problemas de mama puerperal5 . Algumas questões devem ser levadas em consideração em relação à escolha do método de extração de leite humano, manual ou com bomba de extração, como por exemplo: • Não é possível determinar qual método de extração de leite humano, manual ou por bomba de extração elétrica, é o mais eficiente quanto ao volume retira- do6,7 , entretanto, a extração manual parece ser mais confortável para a mulher8 e as taxas de aleitamento materno maiores aos 2 meses pós-parto no grupo de extração manual de leite humano7 . • A extração de leite humano pode ser um estímulo para aumentar a produção de leite humano9 . • Massagear a mama antes da retirada do leite humano pode interferir no volume extraído e na quantidade de lipídeos, consequentemente na caloria do leite huma- no retirado10 . • A extração manual de leite humano também está as- sociada ao maior conteúdo de lipídeos no leite hu- mano retirado11 . O pediatra e outros profissionais de saúde precisam se atualizar neste conhecimento, que tem grande implicação na prática clínica diária, sobretudo para o ganho ponderal do recém-nascido prematuro. • Contaminação bacteriana do leite humano extraído é maior quando a retirada é realizada por bomba de ex- tração no ambiente domiciliar comparado a extração manual12 . O que fazer para obter um leite com a maior qualidade possível tanto durante a extração como no oferecimento do leite humano extraído para o recém-nascido? Algumas orientações devem ser fornecidas pelos pe- diatras que são fundamentais para a excelência do leite humano extraído como por exemplo: • Recomendar o descarte dos primeiros jatos ou gotas de leite humano durante a extração, facilitando a con- servação por eliminar as bactérias que colonizam a parte externa dos ductos mamilares1,2 . • Recomendar recipientes de boca larga, tampa rosqueável e de vidro para o armazenamento de leite humano, pois esse material não libera substâncias e não absorve odores2 . • Observar a orientação de manter o volume de leite hu- mano a cerca de 2 centímetros abaixo da capacidade total do frasco de coleta, para evitar rompimento pela expansão do líquido após o congelamento13 . • Manter o leite humano extraído dentro da geladeira ou freezer e não nas portas, pois a variação da tempera- tura nas portas da geladeira ou freezer é maior1 . • Orientar a refrigeração do leite humano cru por no má- ximo 12 horas na prateleira de cima da geladeira, no congelador ou freezer por 15 dias e após a pasteuri- zação por até 6 meses1 . Embora alguns países orien- tem duração diferente para o armazenamento14 , o leite humano cru congelado por 15 dias foi o que mostrou melhor estabilidade química, semelhante ao do leite recém extraído15 . • Recomendar o descongelamento em banho-maria a 40ºC1 , não devendo ocorrer em temperatura ambien- te1 ou no microondas16 . • Orientar que o leite humano pasteurizado descongela- do não deva ser recongelado e pode ser mantido sob refrigeração por 24 horas1 . A mesma orientação deve ser dada em relação ao leite humano cru desconge- lado, não deve ser recongelado, entretanto, o tempo de manutenção na geladeira após descongelamento é de 12 horas1 . CONCLUSÃO Diante das evidências apresentadas, o pediatra deve se apropriar das orientações advindas dos documentos oficiais brasileiros, assim como da literatura nacional e internacional quanto à prática da doação de leite humano e da recomendação de sua extração manual, respeitando a decisão da mulher. REFERÊNCIAS 01. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Banco de leite humano: funcionamento, prevenção e controle de riscos/Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Brasília: ANVISA, 2008.160 p. 02. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 171, de 4 de setembro de 2006. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o Funcionamento de Bancos de Leite Humano. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 set. 2006.
  • 23. 23 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria 03. Labiner-Wolfe J, Fein SB, Shealy KR, et al. Prevalence of breast milk expression and associated factors. Pediatrics. 2008;122(Supplement 2):S63-S68. 04. Parker LA, Sullivan S, Krueger C, et al. Effect of early breast milk expression on milk volume and timing of lactogenesis stage II among mothers of very low birth weight infants: a pilot study. J Perinatol. 2012;32(3):205-209. 05. Philipp BL. ABM clinical protocol# 7: model breastfeeding policy (revision 2010): The Academy of Breastfeeding Medicine Protocol Committee. Breastfeed Med. 2010;5(4):173-178. 06. Brown JVE, Embleton ND, Harding JE, et al. Multi- nutrient fortification of human milk for preterm infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;5: CD000343. 07. Flaherman VJ, Gay B, Scott C, et al. Randomised trial comparing hand expression with breast pumping for mothers of term newborns feeding poorly. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2012;97(1):F18-F23. 08. Ohyama M, Watabe H, Hayasaka Y. Manual expression and electric breast pumping in the first 48 h after delivery. Pediatr Int. 2010;52(1): 39-43. 09. Labbok MH, Albertson B. Acute prolactin and oxytocin responses and milk yield to infant suckling and artificial methods of expression in lactating women. Pediatrics. 1992;89(3):437-40. 10. Foda MI, Kawashima T, Nakamura S, et al. Composition of milk obtained from unmassaged versus massaged breasts of lactating mothers. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2004;38(5):484-487. 11. Silva CBM. Análise da interferência das diferentes técnicas de expressão do seio materno nas concentrações dos macronutrientes do colostro humano [Tese – Mestrado Profissional]. Niterói (RJ): universidade Federal Fluminense. 2019, 73p. 12. Boo NY, Nordiah AJ, Alfizah H, et al. Contamination of breast milk obtained by manual expression and breast pumps in mothers of very low birthweight infants. J Hosp Infect. 2001;49(4): 274-281. 13. Gianini NOM. Uso do Leite Humano Cru Exclusivo em Ambiente Neonatal. Centro de Referência Nacional para Bancos de Leite Humano – Instituto Fernandes Figueira / Fundação Oswaldo Cruz / Ministério da Saúde. 2018. 19p. 14. Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health. Rapid Response Service: Summary with Critical Appraisal. Storage, Handling, and Administration of Expressed Human Breast Milk: A Review of Guidelines. CADTH. Ottawa. 2016:22. 15. Covas MC, Alda E, Baeza A, et al. Almacenamiento de leche humana: su influencia em la composición química y desarrollo bacteriano en três momentos de la lactancia. Arch Argent Pediatr. 2000;98: 92-98. 16. Leite, JAS. Impacto do processo térmico assistido por micro-ondas sobre a funcionalidade do leite humano [Tese – Doutorado]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo. 2018, 126p. Aleitamento materno e distúrbios gastrintestinais funcionais Graciete Oliveira Vieira INTRODUÇÃO A prevalência do aleitamento materno é baixa em todo o mundo. Para aumentar as taxas de aleitamento mater- no é fundamental o empenho do pediatra na promoção, proteção e apoio à amamentação, o que exige conheci- mento suficiente, atitudes positivas e habilidades espe- cíficas para poder orientar e apoiar às mães nas possí- veis dificuldades e dúvidas quanto à amamentação. No primeiro ano de vida, que se caracteriza pela velo- cidade de crescimento e desenvolvimento dos órgãos e sistemas, o lactente apresenta alta frequência de sinais e sintomas gastrintestinais. Grande parcela dessas queixas digestivas diz respeito aos distúrbios funcionais do aparelho digestório, a exemplo de cólicas e regurgitações. A condução clínica dessas afecções será abordada no presente capítulo, com foco nas crianças amamentadas. O fornecimento de informações suficientes na consulta pediátrica pode evitar a introdução desnecessária de fórmulas de leite de vaca ou de outros alimentos na alimentação da criança, com consequente interrupção do aleitamento materno exclusivo e desmame precoce.
  • 24. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 24 Sociedade Brasileira de Pediatria Perguntas e respostas O que é um distúrbio gastrintestinal funcional? A definição de distúrbios funcionais do aparelho diges- tivo se distancia dos princípios básicos da medicina tradicional, pois compreende um grupo de doenças que acomete crianças e adultos que não apresentam alteração orgânica explicada por anormalidades anatô- micas ou bioquímicas1-3 . Assim, a suspeição diagnóstica dos distúrbios gastrintestinais funcionais na infância é realizada com base em informações dos familiares so- bre os sinais e sintomas apresentados pelo lactente2,3 . Em meados da década de 1980, devido à carência de padronização de diagnóstico dessas afecções gastrin- testinais, um grupo de trabalho multinacional se reuniu, pela primeira vez, em Roma, para uniformizar os crité- rios de diagnóstico, com base em sintomas positivos apresentados pelo paciente, conhecidos universalmente como critérios de Roma. Em 1999 foi incluído no Roma II um capítulo sobre as doenças funcionais gastrointesti- nais em pediatria, com posteriores atualizações1 . Como se caracteriza a cólica do lactente? A cólica do lactente se caracteriza por períodos recor- rentes e prolongados de choro inconsolável, agitação ou irritabilidade, que ocorrem sem causa óbvia e não podem ser prevenidos ou resolvidos na ausência de falha de crescimento ou doença1,2 . Foram inicialmente descritas, na década de 1950, como episódios de ápice de choro, agitação ou irritabilidade que duram três ho- ras ou mais por dia, por mais de três dias na semana e por, pelo menos, três semanas (regra de 3). A definição da cólica do lactente não teve grandes modificações ao longo do tempo. O Roma IV incluiu a cólica entre os dis- túrbios gastrintestinais funcionais que se manifestam em neonatos e crianças de até quatro meses de idade, que apresentam períodos recorrentes de início abrupto de ir- ritabilidade, inquietação e choro, cujo surgimento é sem causa aparente, com duração dos episódios maior que três horas por dia, ocorrendo pelo menos três dias por semana, no mínimo, por uma semana e nenhuma evi- dência de atraso no desenvolvimento pôndero-estatural ou doença orgânica1 . A cólica constitui um importante problema de saúde nos primeiros quatro meses de vida, pois, além do sofrimento do lactente, traz muita ansiedade aos pais e pode contri- buir para estressar a família3 . Nas últimas décadas, para ajudar a explicar a etiologia da cólica foram sugeridas várias suposições: imaturidade gastrintestinal, alteração da motilidade intestinal, alergia alimentar, alterações na microbiota intestinal, manifestação do desenvolvimento emocional normal, dentre outras2 . Atualmente, a cólica do lactente é vista como um distúrbio gastrintestinal funcional, transitório, que faz parte do desenvolvimento normal do tubo digestivo da criança1 . A cólica do lactente pode ser uma manifestação clínica de alergia alimentar? Primeiro, é necessário caracterizar a alergia alimen- tar4 . Está bem estabelecido que proteínas alimentares, como ovo, soja, leite de vaca e trigo, são detectáveis no leite materno por muitas horas ou dias, após a inges- tão materna. A exposição do lactente a essas proteínas é importante para o processo de desenvolvimento de tolerância oral; mas pode, às vezes, desencadear em crianças amamentadas sintomas alérgicos mediados por IgE ou não IgE mediados5 . Quando o mecanismo imunológico envolvido é media- do por imunoglobulina E (IgE), as manifestações clínicas ocorrem logo após a ingestão do alérgeno, geralmente evidentes dentro de uma a duas horas, com manifes- tações clínicas como: hipersensibilidade gastrintesti- nal imediata, urticária, podendo chegar até ao choque anafilático. Essas reações são facilmente identificadas devido ao curto espaço de tempo entre a exposição e os sintomas. Além disso, a detecção dos anticorpos IgE específicos contra alérgenos alimentares auxilia no diagnóstico4 . Diferentemente, nos casos de alergia alimentar não me- didas por IgE, as manifestações clínicas ocorrem várias horas e até dias após a exposição. As principais ma- nifestações clínicas são: diarreia com ou sem sangue ou até constipação, cólicas, regurgitações recorrentes, sono agitado, irritabilidade, recusa alimentar, manifes- tações cutâneas como dermatite herpetiforme, sinais de doença atópica e prejuízo para o ganho ponderal. O diagnóstico é eminentemente clínico, com regressão dos sintomas durante a dieta de exclusão e seu reapa- recimento após reintrodução do alérgeno suspeito na alimentação (teste de desencadeamento), em que, no caso das crianças amamentadas, a provocação pode ser efetuada na alimentação materna. Exames para de- tecção dos anticorpos IgE específicos contra alérgenos alimentares não contribuem para o diagnóstico da aler- gia alimentar não IgE mediada4-6 . Na prática pediátrica, com frequência, a alergia às proteínas do leite de vaca é considerada no diagnós- tico diferencial das cólicas3,4 . Cabe ao pediatra avaliar se a cólica é uma manifestação clínica isolada e tran- sitória, apresentada por um lactente saudável ou se é uma manifestação clínica da alergia alimentar, doença orgânica na qual o lactente exibe outros sintomas além da cólica.
  • 25. 25 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria Está indicada a dieta materna isenta de leite de vaca e derivados nos casos de cólicas do lactente? Na definição da conduta, uma vez conceituadas as cóli- cas do lactente e alergia às proteínas do leite de vaca não IgE mediada, o primeiro aspecto a ser considerado é se a cólica faz parte da fisiologia e desenvolvimento normal do intestino de um lactente saudável ou se constitui uma manifestação clínica de doença3,7,8 . O conhecimento do quadro clínico e da evolução das duas afecções, além de história minuciosa e exame clínico detalhado, com inclusão da avaliação ponderal, podem ajudar o pediatra na tomada de decisão. No caso de definição do quadro clínico como cólica do lactente é importante esclarecer aos pais sobre a benig- nidade e transitoriedade dessa manifestação, ressaltar que não são necessários exames complementares, que o lactente não está doente e não corre nenhum risco1-3 . Se a cólica não é uma manifestação de doença, não está indicada a restrição do leite de vaca na dieta materna ou mudanças na alimentação da criança amamentada, como introdução de fórmulas lácteas modificadas, de hidrolisados de proteína ou de aminoácidos7,8 . É impor- tante também saber dos pais que fontes eles costumam consultar para definir as condutas com o filho – e, se for pertinente, recomendar fontes mais seguras de consul- ta, a exemplo da Sociedade Brasileira de Pediatria. No caso de decisão em que se indica dieta materna isenta de leite de vaca é imprescindível, após duas se- manas, realizar o teste de desencadeamento, com re- torno do leite de vaca na alimentação materna7,8 . Só se enquadram no diagnóstico de alergia alimentar aque- les lactentes que regridem o sintoma da cólica duran- te a dieta materna de exclusão e agudizam o sintoma com a liberação do leite de vaca na dieta7,8 . A ausência deste procedimento mantém muitas mães em dieta restritiva, por mais tempo do que o necessário, cujos lactentes não têm alergia alimentar e casualmente apre- sentaram redução das cólicas com a dieta restritiva7,8 . Por fim, só se indica realizar dieta materna isenta de leite de vaca nos casos em que as cólicas do lactente se caracterizam como uma manifestação clínica da alergia alimentar4,7,8 . Há evidências científicas que embasam a conduta de não indicar dieta materna nos casos de cólicas do lactente? Alguns sintomas presentes na alergia às proteínas do leite de vaca são frequentes em lactentes saudáveis, a exemplo das cólicas e regurgitações – somadas ao inter- valo de tempo entre a exposição e o aparecimento das manifestações clínicas e ausência de testes específicos para o diagnóstico da alergia alimentar não mediada por IgE –, que dificultam a sua compreensão e deter- minam variações no diagnóstico e no seu manejo, com prejuízo para o aleitamento materno. Esta situação levou a Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica, em 2019, a compor uma força tarefa com o objetivo de estabelecer o diagnóstico e o manejo das alergias alimentares não mediadas por IgE em crianças amamentadas, com base em evidências científicas8 . Neste estudo foi medido o grau de concordância entre os diversos especialistas. No que diz respeito às cólicas do lactente, como uma manifestação da alergia alimen- tar, ocorreu plena concordância entre os pesquisadores de que a eliminação do leite de vaca da dieta materna só é justificada quando as cólicas estiverem associadas a outras comorbidades atópicas e sintomas gastrin- testinais que caracterizem o diagnóstico da alergia às proteínas do leite de vaca (100%). Ademais, a elimina- ção de alérgenos da dieta materna com melhora dos sintomas deve sempre ser seguida de reintrodução para confirmar a alergia alimentar (100%), ou seja, é impres- cindível realizar o teste de desencadeamento para con- firmar o diagnóstico de cólica como uma manifestação clínica da alergia alimentar, conduta que habitualmente não é observada na prática8 . Por fim, em sua expressiva maioria (90,9%), os pesqui- sadores concordaram não haver evidências cientificas para a recomendação de eliminação do leite de vaca da dieta materna quando o bebê saudável apresentar a cólica como única manifestação clínica8 . As regurgitações do lactente são uma manifestação normal? A regurgitação infantil é um sintoma altamente prevalen- te no primeiro ano de vida. Caracteriza-se por um pro- cesso involuntário, com retorno passivo dos alimentos deglutidos ou de secreções para a boca, sem conse- quências clínicas, e geralmente se manifesta em torno de três semanas de vida. Essas regurgitações aumen- tam em número e volume entre dois e quatro meses e, depois, diminuem progressivamente com o aumento da idade. Crianças amamentadas apresentam episódios de regurgitação similares às que usam fórmulas. A ingestão do alimento é suficiente e o lactente, geralmente, não apresenta desaceleração de ganho ponderal ou déficit de crescimento9,10,11 . As regurgitações, que são um refluxo fisiológico, ocor- rem devido à imaturidade funcional do tubo digestivo no primeiro ano de vida, cujos critérios definidos no Roma IV, no capítulo de desordens gastrintestinais na infância,
  • 26. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 26 Sociedade Brasileira de Pediatria incluem duas ou mais regurgitações por dia, por três semanas ou mais na ausência de sinais de alerta, que são: ânsia de vômitos, hematêmese, aspiração, apneia, desenvolvimento pôndero-estatural inadequado, dificul- dades de deglutição ou para se alimentar ou postura inadequada de hiperextensão dorsal e rotação lateral da cabeça, que configura a síndrome de Sandifer1 . Apesar de ser uma manifestação normal, com evolução benigna e autolimitada e não ser necessário realizar exa- mes complementares ou ser tratada com medicamen- tos, gera angústia e apreensão nos pais; e, se não for bem conduzida pelo pediatra, poderá resultar em modi- ficações na alimentação da criança, com introdução de alimentos sólidos ou fórmulas lácteas antirregurgitação, com consequente interrupção do aleitamento materno exclusivo e prejuízos para a saúde da criança3,12 . Quando se deve pensar em doença do refluxo gastroesofágico? As regurgitações são preocupantes quando o lactente apresenta outras manifestações clínicas, como vômitos recorrentes, dificuldade durante as mamadas, recusa alimentar, alteração do sono, déficit de ganho ponderal, choro, irritabilidade e alteração de postura9-11 . Ademais, podem apresentar manifestações extragastrintestinais, com sintomas pulmonares e otorrinolaringológicos. Nes- ses casos, são consideradas patológicas e recebem a denominação de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). O diagnóstico é inicialmente clínico, com base na história e no quadro clínico do paciente. Mas, se não se fizer o tratamento, poderá gerar complicações10,11 . Qual a condução clínica no lactente com regurgitações? É importante na consulta, independentemente do tipo de refluxo, explicar aos pais as diferenças entre o fisio- lógico e o patológico, tranquilizá-los e alertá-los sobre os sinais de risco, além de acompanhar a curva de peso do lactente. Nas crianças com sintomas leves e nenhum sinal de alerta, não é necessária a terapêutica medica- mentosa9-11 . Orientar o esvaziamento parcial das mamas antes das mamadas, faz com que a pega fique melhor e o bebê degluta menor quantidade de leite, reduzindo os episódios de regurgitação. A terapia não farmacológica está indicada em todos os casos: não utilizar roupas apertadas, realizar a troca das fraldas antes da amamentação, observar a pega que não deve permitir a deglutição de ar durante as mama- das (aerofagia), colocar o bebê para arrotar na posição vertical após as mamadas, evitar exposição ao tabaco e outras substâncias que determinam o relaxamen- to do esfíncter esofágico inferior e piora do refluxo10,11 . O aleitamento materno deve ser continuado sempre, tanto no refluxo fisiológico quanto no patológico12 . Mãe de lactente com regurgitações precisa fazer dieta isenta de leite de vaca? Regurgitações devido ao refluxo fisiológico, em tor- no de 90% a 95% dos casos, são superadas pelos lactentes até o primeiro ano de vida. Nesses casos não está indicada dieta materna isenta de leite de vaca. O aleitamento materno deve ser mantido em livre demanda. A mãe deve observar a mamada e corri- gir a técnica de amamentar se o lactente prolongar o tempo de sucção não nutritiva, apresentando deglu- tição de ar. Entretanto, na prática pediátrica, com frequência, a alergia às proteínas do leite de vaca e a DRGE configuram-se como diagnóstico diferencial dos distúrbios gastrintestinais funcionais, devido à si- milaridade de sintomas entre a alergia às proteínas do leite de vaca e o refluxo patológico, pois, em ambos, o lactente apresenta: choro, irritabilidade, parada de ganho ponderal e recusa alimentar3,10,11 . A força tarefa da Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica, instituída com o objetivo de padro- nizar o diagnóstico e o manejo das alergias alimenta- res não mediadas por IgE em crianças amamentadas, também buscou o grau de concordância entre os pesquisadores quanto à exclusão do leite de vaca da dieta de nutrizes, cujos filhos apresentavam regurgita- ções8 . A grande maioria concordou que não há dados disponíveis sobre a DRGE como uma única manifes- tação de alergia alimentar em crianças amamentadas exclusivamente (91,1%) e que o diagnóstico deve ser considerado se o tratamento convencional para DRGE não produzir melhora dos sintomas (81,8%). Houve plena concordância que o leite de vaca é o prin- cipal alimento alergênico associado à alergia alimentar, mas outros alimentos podem provocar sintomas (100%) e que o diagnóstico de DRGE induzida por alergia ali- mentar só é permitido após dieta materna de eliminação do leite de vaca, seguida de teste de desencadeamento positivo (100%)8 . A hipótese de alergia às proteínas do leite de vaca é reforçada quando o lactente apresenta outras caracte- rísticas clínicas além das regurgitações e história posi- tiva de alergia alimentar na família. Se ocorrer dificulda- de em se distinguir clinicamente essas duas doenças, devido à semelhança dos sintomas, justifica-se a exclu- são das proteínas do leite de vaca da dieta materna, como teste terapêutico, antes do tratamento medica- mentoso para as crianças amamentadas. Para as não
  • 27. 27 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria amamentadas, indicar o uso de fórmulas de hidro- lisados de proteína ou de aminoácidos. Os exames complementares só estão indicados nos casos que não evoluam com melhora clínica9-11 . CONCLUSÃO As cólicas e regurgitações são manifestações de distúrbios gastrintestinais funcionais, fazem parte do desenvolvimento normal da criança, mas frequentemen- te geram incertezas e questionamentos dos pais quanto às suas conduções. A alergia às proteínas do leite de vaca e DRGE também causam esses sintomas e repre- sentam importante diagnóstico diferencial. O pediatra, diante de um lactente no primeiro semestre de vida, época em que as cólicas e regurgitações se caracte- rizam como manifestação normal do desenvolvimento, necessita realizar avaliação clínica cuidadosa, a fim de identificar as causas e instituir a conduta adequada. Em qualquer uma das situações é fundamental ressaltar a manutenção do aleitamento materno exclusivo. REFERÊNCIAS 01. Benninga MA, Faure C, Hyman PE, et al. Childhood Functional Gastrointestinal Disorders: Neonate/ Toddler. Gastroenterology. 2016;150(6):1443–55. 02. Duarte MA. Distúrbios gastrointestinais funcionais. In Silva LR et al. Tratado de pediatria. 4ª ed, Barueri, Manole, 2017, p.751-55. 03. Morais MB. Signs and symptoms associated with digestive tract development. J Pediatr (Rio J). 2016;92(Suppl 1):S46-S56. 04. Solé D, Silva LR, Cocco RR, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 2 - Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arq Asma Alergia Imunol. 2018;2(1): 39-82. 05. Fiocchi A, Dahda l, Dupont C, et al. Cow’s milk allergy: towards an update of DRACMA guidelines. WAO Journal. 2016;9(1):35. 06. Koletzko S, Niggemann B, Arato A, et al. Diagnostic approach and management of cow’s-milk protein allergy in infants and children: ESPGHAN GI Committee Practical Guidelines. JGPN. 2012;55(2):221-9. 07. Nowak-Wegrzyn A, Katz Y, Mehr SS, et al. Non-IgE- mediated gastroiintestinal food allergy. J Allergy Clin Immunol. 2015;135(5):1114-24. 08. Meyer R, Chebar Lozinsky A, Fleischer DM, et al. Diagnosis and management of non-IgE gastrointestinal allergies in breastfed infants – an EAACI Position Paper. Allergy. 2020;75(1):14-32. 09. Rosen R, Vandenplas Y, Singendonk M, et al. Pediatric Gastroesophageal Reflux Clinical Practice Guidelines: Joint Recommendations of the North American Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition and the European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition. JPGN. 2018;66(3):516–554. 10. Ferreira CT, Carvalho E, Silva LR. Doença do refluxo gastroesofágico. In Silva LR et al. Tratado de pediatria. 4ª ed, Barueri, Manole, 2017, p. 709-15. 11. Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento cientí- fico. Departamento Científico de Gastroenterologia. Regurgitação do lactente (Refluxo gastroesofágico fisiológico) e Doença do refluxo gastroesofágico em pediatria. SBP, 2017. Disponível em: https://www. sbp.com.br/fileadmin/user_upload/20031c-Doc- Cient_-_Regurg_lactente_RGEF_e_RGE.pdf 12. Jarvinen KM. Variations in Human Milk Composition: Impact on Immune Development and Allergic Disease Susceptibility: Breastfeed Med. 2018; 13(S1):S11-S13. Aleitamento Materno e Alergias Alimentares Vanessa Macedo Silveira Fuck INTRODUÇÃO A literatura científica apresenta evidências inquestioná- veis do aleitamento materno para a prevenção de doen- ças infecciosas e redução da incidência de internações hospitalares, bem como o papel protetor para o desen- volvimento de doenças crônicas na vida adulta, com re- dução das taxas de sobrepeso, obesidade e diabetes.1 Muitos estudos têm demonstrado a influência do aleita- mento materno na prevenção de alergias, ocasionando
  • 28. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 28 Sociedade Brasileira de Pediatria uma melhor qualidade de vida. Portanto, é de funda- mental importância o apoio e promoção ao aleitamento materno desde o pré-natal, na maternidade e na pueri- cultura, para garantir os efeitos de longo prazo na saúde da criança.1 Perguntas e respostas Qual a relação entre aleitamento materno e alergias alimentares? O aleitamento materno tem efeito protetor para redução dos índices de asma, rinite alérgica e dermatite, pois a amamentação proporciona uma exposição contínua de antígenos ao sistema imunológico do bebê durante os primeiros meses de vida, período no qual o sistema imunitário está em constante desenvolvimento.2-7 A literatura científica tem demonstrado que quanto maior o tempo de amamentação, maior a proteção imunológica para o bebe.2-5,7 Portanto, o leite materno apresenta função inquestioná- vel na formação do sistema imune da criança, por meio de componentes bioativos que atuam na imunidade humoral e celular; além de importante papel modulação da microbiota intestinal do lactente. Entre os componentes encontrados no leite materno, tem papel de destaque a IgA, predominantemente na forma secretora – IgA secretora (sIgA), que tem fun- ção primordial na homeostase intestinal e controle do microbioma intestinal.4,8 Grandes concentrações de sIgA são encontradas no primeiro mês de vida, particularmente no colostro, o que reforça o papel do colostro como profilático para o desenvolvimento de alergias alimentares.4 Devido a composição complexa e variável do leite hu- mano, os componentes biologicamente ativos podem atuar na prevenção de alergias alimentares, diretamen- te ou indiretamente pela modulação do microbioma intestinal. Como o leite materno ajuda a formar a microbiota intestinal do bebê? O leite materno tem um papel essencial na formação e modulação da microbiota intestinal do recém-nasci- do, o que é importante para a prevenção de alergias alimentares ao longo da vida. Os bebês amamenta- dos possuem um perfil microbiano com predomínio de Bifidobacterium, que tem papel fundamental no desen- volvimento da tolerância imune.9 A presença de oligos- sacarídeos no leite humano funciona como prebioticos e estimua o crescimento de bactérias específicas e benéficas. A dieta inicial do recém-nascido pode aumentar o risco de alergias? Estudos têm demonstrado que a exposição precoce ao leite de vaca, por meio do uso de fórmulas infantis, pode aumentar o risco de o bebê apresentar sintomas de alergia alimentar. O pediatra e todos os profissionais de saúde que atuam diretamente com o binômio mãe-bebe devem estimu- lar e ajudar no manejo e dificuldades de amamentação desde o pré-natal e sala de parto, com avaliação cuida- dosa da mamada e possíveis ajustes para evitar o uso de fórmula infantil sem indicação médica nos primeiros dias de vida do bebe. Dietas restritivas durante a gestação ou amamentação são recomendadas para prevenir alergias alimentares? Durante o período de gestação e amamentação é reco- mendada uma dieta materna sem restrições de grupos alimentares específicos se o lactente em aleitamento materno exclusivo não apresentar sintomas de alergia alimentar. Não existem evidências científicas que confir- mem que a restrição da dieta materna pode prevenir o aparecimento de alergias. Sabe-se que dietas muito restritivas podem causar mais danos do que benefícios, tendo em vista que os alérge- nos alimentares não existem isoladamente, por isso a restrição de grupos alimentares pode reduzir a ingestão de nutrientes vitais, influenciando negativamente a saú- de da lactante e de seu filho.10 A recomendação é que a lactante siga uma dieta saudá- vel e equilibrada durante a gestação e a amamentação, o que pode proporcionar uma amamentação mais pro- longada e melhor qualidade de vida para a mãe e para o bebe, se esse não apresentar diagnóstico de alergia alimentar. O que fazer se o bebê em aleitamento materno exclusivo apresentar sintomas de alergia alimentar? Se o bebê apresentar sintomas de alergia alimentar, a dieta materna pode ser ajustada de maneira individuali- zada com restrição de alérgenos específicos e o aleita- mento materno deve continuar. Na maioria dos casos, não é necessário uso de fórmula infantil modificada para
  • 29. 29 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria tratamento de alergias alimentares se o bebe seguir em aleitamento materno exclusivo, com bom ganho ponde- ral e remissão dos sintomas de alergia alimentar após orientações específicas em relação à dieta materna. Muitas vezes o diagnóstico de alergia alimentar pode ser um desafio, com presença de sinais inespecíficos, que podem ser confundidos com distúrbios funcionais do lactente. Uma anamnese detalhada, que garanta uma escuta atenta e acolhedora pode nortear o diagnóstico, com exclusão de sinais de alarme para doenças graves e de intervenção imediata. Portanto, é fundamental o diagnóstico correto de alergia alimentar, que nos casos de alergias não-IgE mediadas, o diagnóstico é eminentemente clínico. Reforçando a importância do Teste de Provocação Oral diagnóstico para se evitar dietas restritivas maternas desnecessá- rias, que podem levar ao desmame precoce. CONCLUSÃO O aleitamento materno tem papel importante na preven- ção de alergias no bebe, tendo em vista a complexidade da composição variável do leite materno e o impacto que todas as individualidades podem ter no desenvolvi- mento da microbiota intestinal do bebe. Portanto a amamentação exclusiva deve ser encorajada, evitando-se prescrições desnecessárias de fórmulas in- fantis precocemente e dietas maternas muito restritivas sem diagnóstico preciso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 01. Victora CG, Bahl R, Barros AJ, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387:475–490. 02. Chiu CY, Liao SL, Su KW, et al. Exclusive or partial breastfeeding for 6 months is associated with reduced milk sensitization and risk of eczema in early childhood: The PATCH Birth Cohort Study. Medicine. 2016;95: e3391. 03. Güngör D, Nadaud P, LaPergola CC, et al. Infant milk-feeding practices and food allergies, allergic rhinitis, atopic dermatitis, and asthma throughout the life span: A systematic review. Am J Clin Nutr. 2019;109:772S–799S. 04. JärvinenKM,MartinH,OyoshiMK.Immunomodulatory effects of breast milk on food allergy. Ann Allergy Asthma Immunol. 2019;123:133–143. 05. Klopp A, Vehling L, Becker AB, et al. Modes of Infant Feeding and the Risk of Childhood Asthma: A Prospective Birth Cohort Study. J Pediatr. 2017;190:192–199.e2. 06. Chiu CY, Huang YL, Tsai MH, et al. Sensitization to food and inhalant allergens in relation to atopic diseases in early childhood: a birth cohort study. PLoS ONE 2014; 9:e102809. 07. Greer FR, Sicherer SH, Burks AW, et al. The Effects of Early Nutritional Interventions on the Development of Atopic Disease in Infants and Children: The Role of Maternal Dietary Restriction, Breastfeeding, Hydrolyzed Formulas, and Timing of Introduction of Allergenic Complementary Foods. Pediatrics. 2019;143(4):e20190281. 08. Urashima M, Mezawa H, Okuyama M, et al. Primary Prevention of Cow’s Milk Sensitization and Food Allergy by Avoiding Supplementation With Cow’s Milk Formula at Birth: A Randomized Clinical Trial. JAMA Pediatr. 2019;173(12): 1137-1145. 09. 10Minniti F, Comberiati P, Munblit D, et al. Breast- milk characteristics protecting against allergy. Endocr Metab Immune Disord Drug Targets 2014; 14:9–15. 10. Halken S, Muraro A, de Silva D, et al. EAACI guideline: Preventing the development of food allergy in infants and young children (2020 update). Pediatr Allergy Immunol. 2021;32:843–858. Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos (NBCAL) Rossiclei de Souza Pinheiro O que é a NBCAL – Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras? É um conjunto de documentos (Portaria nº 2051/01, RDC nº 221/02, RDC nº 222/02, Lei nº 11.265/06 e Decreto nº 9.579/18).
  • 30. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 30 Sociedade Brasileira de Pediatria Quais os objetivos da NBCAL? Regulamentar a promoção comercial e orientar o uso apropriado dos alimentos para lactentes e crianças de primeira infância, bem como do uso de mamadeiras, bicos e chupetas; proteger e incentivar o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e a continuidade do aleitamento materno até os dois anos de idade, após a introdução de novos alimentos na dieta dos lactentes. Por que divulgar a NBCAL como promoção da Amamentação? Porque a amamentação influencia na manutenção da saúde materna e infantil, prevenindo não somente do- enças transmissíveis como também o câncer de mama e diabetes, sobrepeso e obesidade. Além disso, evidên- cias apontam o efeito da amamentação na inteligência e, portanto, no capital humano podendo ajudar a diminuir a desigualdade social, como a distância entre ricos e pobres. Como a NBCAL promove a amamentação? Com um ambiente favorável para a amamentação, pois a presença de determinantes e intervenções que afe- tem positivamente as decisões sobre o início e duração da amamentação, evitando a prescrição de fórmulas infantis. Assim, ainda que quase todas as mulheres se- jam biologicamente capazes de amamentar, as políticas públicas disponíveis, o contexto cultural e de mercado, as atitudes dos profissionais de saúde e das famílias moldam a prática de amamentar. Como a NBCAL protege a amamentação? Como foi descrito os seus principais objetivos são: regulamentar a promoção comercial e orientar o uso apropriado dos alimentos para lactentes e crianças de primeira infância, bem como do uso de mamadeiras, bicos e chupetas; proteger e incentivar o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais e exclusivo nos primeiros seis meses, mantendo a amamentação mesmo após a introdução de novos alimentos na dieta dos lactentes. Qual a importância de conhecer a NBCAL? Para atingir os objetivos devemos conhecer as legis- lações vigentes por uma série de artigos que têm por finalidade definir regras para as práticas de comercia- lização, distribuição e uso dos produtos que estão na abrangência da NBCAL fabricados no país ou impor- tados. Além disso, a competitividade de hoje faz com que as empresas precisem elevar cada vez mais seu padrão de qualidade, a fim de manter uma boa imagem no mercado e, consequentemente, estimular a prescri- ção e influenciar no desmame. Como conhecer os produtos incluídos na NBCAL? O Decreto nº 9.579/18 (art. 3º) apresenta as catego- rias de produtos - veja a seguir quais são elas e alguns exemplos de produtos. 1. Fórmulas infantis para lactentes (de 0 A 6 MESES) e fórmulas infantis de seguimento para lactentes (6 MESES A 12 MESES). 2. Fórmulas infantis de seguimento para crianças na primeira infância (de 1 a 3 anos de idade). 3. Fórmulas infantis para necessidades dietoterápicas específicas. 4. Fórmulas de nutrientes apresentadas ou indicadas para recém-nascidos de alto risco. 5. Alimentos de transição e alimentos à base de cereais, indicados para lactentes ou crianças na primeira infância. 6. Alimentos ou bebidas à base de leite ou não, quando comercializados ou apresentados como apropria- dos para a alimentação de lactentes e crianças na primeira infância. 7. Leites fluidos ou em pó, leites modificados e similares de origem vegetal. 8. Mamadeiras, bicos, chupetas e protetores de ma- milos. Quem deve fiscalizar a fabricação e rotulagem destes produtos? No Brasil, qualquer novo produto lançado pela INDÚS- TRIA que tem relação ou interferência com a saúde da população deve ser aprovado pela ANVISA. E – em se tratando de alimento – sua composição deve ser estudada e aprovada pelo Codex Alimentarius. A ANVISA tem também a prerrogativa de aprovar ou não os RÓTULOS ou EMBALAGENS desses produ- tos. Quando se tratar de produto de origem animal a responsabilidade de aprovação é do MAPA – Ministério da Agricultura.
  • 31. 31 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria Conforme a NBCAL, o que é proibido na rotulagem da fórmula infantil para lactente e fórmula infantil de seguimento para lactente? 1. Utilizar fotos, desenhos ou representações gráficas que não sejam necessárias para ilustrar métodos de preparação ou de uso do produto, exceto o uso de marca ou de logomarca, desde que não utilize ima- gem de lactente, de criança pequena ou de outras figuras ou ilustrações humanizadas; 2. Utilizar denominações ou frases com o intuito de sugerir forte semelhança do produto com o leite materno, como por exemplo, “leite humanizado”, “leite maternizado”, “substituto do leite materno”; 3. Utilizar frases ou expressões que induzam dúvida quanto à capacidade das mães de amamentarem os seus filhos; 4. Utilizar expressões ou denominações que identifi- quem o produto como mais adequado à alimentação infantil, como por exemplo, “baby”, “kids”, “ideal para o bebê”, “primeiro crescimento”; 5. Utilizar informações que possam induzir o uso dos produtos em decorrência de falso conceito de vanta- gem ou de segurança; 6. Utilizar frases ou expressões que indiquem as con- dições de saúde para as quais o produto seja adequado; 7. Promover os produtos do fabricante ou de outros estabelecimentos. Quem pode receber amostras de fórmulas infantis? A amostra de fórmula infantil para lactentes somente será ofertada com a solicitação prévia de médico pedia- tra ou de nutricionista e será acompanhada de protocolo de entrega da empresa, com cópia para o profissional da saúde solicitante. No rótulo deve estar escrito: “Amostra grátis para avaliação profissional. Proibida a distribuição a mães, gestantes e familiares”. Quem pode doar fórmulas infantis? São proibidas as doações ou vendas a preços reduzi- dos dos produtos abrangidos pela NBCAL às materni- dades e instituições que prestem assistência à crianças. Esta proibição não se aplica às emergências, individual e coletiva, a critério da autoridade fiscalizadora com- petente. Nestas situações a empresa responsável pela doação deverá garantir que as provisões sejam con- tínuas no período em que o lactente delas necessitar. Nestes casos será permitida a impressão do nome e do logotipo do doador ficando proibida qualquer publicida- de dos produtos. São permitidas mediante a apresentação de protocolo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da institui- ção a que o profissional estiver vinculado, observados os regulamentos editados pelos órgãos competentes. Quem pode receber patrocínios dos fabricantes de fórmulas infantis? Os “patrocínios” representam evidente relação confli- tuosa entre aqueles que têm interesse em defender o aleitamento materno e aqueles que querem lucrar com produtos artificiais tendo interesse em vende-los, con- figurando CONFLITO DE INTERESSES. Fabricantes, importadores, distribuidores dos produtos abrangidos por essas legislações somente poderão conceder pa- trocínios às entidades científicas de ensino e pesquisa ou associativas de pediatras e Nutricionistas que sejam reconhecidas nacionalmente. Quais produtos são proibidos a promoção comercial (propaganda)? Fórmulas infantis para lactentes (de 0 A 6 MESES) e fór- mulas infantis de seguimento para lactentes (6 MESES A 12 MESES) Fórmulas de nutrientes apresentadas ou indicadas para recém-nascidos de alto risco. Mamadeiras, bicos, chupetas e protetores de mamilo. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 01. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n.º 2.051, de 8 de novembro de 2000. Novos critérios da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para lactentes e crianças de primeira infância, bicos, chupetas e mamadeiras. Diário Oficial da União, Brasília, 09 nov. 2001, Seção 1. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2001/prt2051_08_11_2001.html Acesso em maio de 2024. 02. BRASIL. Lei 11.474, de 15 de maio de 2007. Altera Lei nº. 11.265, de 3 de janeiro de 2006 que regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e produtos de puericultura correlatos nos Art. 3°, § 1° do Art. 10, § 1° do Art. 11 e os incisos 1, 2 e 3 do § 1° do Art. 13. Diário Oficial da União, Brasília,
  • 32. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 32 Sociedade Brasileira de Pediatria 16 de maio de 2007, Seção 1, p. 1. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI numero=11474ano=2007ato=458UzZU90MRp WTae1 Acesso maio de 2024. 03. BRASIL. Lei nº. 11.265, de 3 de janeiro de 2006. Regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e produtos de puericultura correlatos. Diário Oficial de União, Brasília, 04 de janeiro de 2006, Seção 1, p.1. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/ atos/?tipo=LEInumero=11265ano=2006ato=53 1ETVE5kMRpWT239 Acesso em maio de 2024. 04. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância de Sanitária. Resolução – RDC n° 221, de 5 de agosto de 2002. Regulamento técnico sobre chupetas, bicos, mamadeiras e protetores de mamilo. Diário Oficial da União, Brasília, 06 de agosto de 2002, Seção 1. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/ fiscalizacao-e-monitoramento/propaganda/ legislacao/legislacao Acesso em maio de 2024. Como apoiar a mulher que amamenta na volta ao trabalho Luciano Borges Santiago INTRODUÇÃO Apesar das inúmeras vantagens do aleitamento materno (AM) sobre qualquer outro leite e de estudos mostrando claramente que a manutenção do mesmo em colabo- radoras trás inegáveis benefícios para a saúde financei- ra das empresas, a volta ao trabalho, continua sendo um momento muito delicado para a manutenção desta prática alimentar1-3. Dentre as muitas dificuldades que ficam evidencia- das nessa volta ao trabalho, destacam-se: a ansiedade materna, o medo da separação mãe/bebê, o tempo de trabalho presencial e o cronograma que será utilizado nessa vota, o desconhecimento de como se fazer a extra- ção e conservação do leite materno, a ausência de salas de apoio ao AM e de outras políticas favoráveis à manu- tenção do AM em vários serviços, a falta de conhecimento e habilidade em realizar a técnica do copinho por parte de cuidados dos bebês, além de poucas pessoas com habilidade para informar sobre as leis trabalhistas que protegem o AM4-7 . Trata-se, sem dúvida, de um momento decisivo para a manutenção ou do AM, mas é importante dizer que es- tamos sim diante de uma grande dificuldade, mas não de uma impossibilidade, pois temos inúmeros casos de sucesso de manutenção da amamentação, mesmo em trabalhos que exigem muito da mãe. Isso costuma ser alcançado, principalmente quando o pediatra assis- tente tem habilidade em utilizar estratégias preventivas, capazes de evitar o desmame8,9 . ESTRATÉGIAS PARA EVITAR O DESMAME Quais seriam então, as principais ações estraté- gicas, que o pediatra deve conhecer para ajudar uma lactante a não perder o AM, mesmo voltando a trabalhar? É o que mostraremos a seguir na forma de perguntas e respostas: Qual o melhor momento pra se programar a volta ao trabalho? Desde a primeira consulta o pediatra deve se infor- mar qual o trabalho da mãe, número de horas traba- lhadas por dia, horários de descanso e almoço, quem provavelmente ficará como cuidador(a) do bebê. Essas informações farão toda diferença nas orientações que serão posteriormente oferecidas a mãe, para um melhor preparo da mesma na volta ao trabalho. O que a lactante precisa aprender em relação ao manuseio do leite humano10-12 que será oferecido ao seu bebê? Toda lactante deve ter a cartilha da mulher trabalhado- ra que amamenta do Ministério da Saúde10 (com fácil acesso e download grátis em qualquer site de busca), onde poderão ser encontradas muitas orientações de uma forma simples e em linguagem bem acessível para que as mães consigam entender como realizar o manu- seio do seu leite com segurança para o bebê. Entre os conhecimentos necessários temos: • Como escolher e preparar o frasco que será utilizado para guardar o leite extraído (frasco de vidro, boca larga e tampa de plástico);
  • 33. 33 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria • Como realizar a extração do leite, seja manualmente ou por meio de ordenhadeira; • Como estocar o leite extraído (em geladeira por 12 horas e em congelador ou freezer por até 15 dias); • Como conservar e transportar o leite do trabalho para a casa (transporte do leite congelado em caixa isotér- mica e com gelo reciclável – 2 gelos recicláveis por vidro com leite humano). O que o cuidador(a) precisa saber? • Como degelar o leite congelado (em Banho Maria com o fogo desligado); • Como oferecer o leite ao bebê (em copinho, xícara ou colher); • O cuidador(a) deverá estar treinado para utilizar co- pinho ou xícara para não haver qualquer risco para o bebê (procure um profissional de saúde, geralmente em bancos de leite humano). Quais as leis trabalhistas que podem ajudar na volta ao trabalho10 ? • Estabilidade de emprego, desde a concepção até que a criança complete 5 meses de idade (CLT, artigo 391, seção V); • Licença Paternidade (CLT, capítulo II, artigo 7ª, XIX): – De cinco dias para pais regime CLT; – Ampliada para 20 dias (5 dias normais + 15 dias solicitados no RH da empresa = total de 20 dias): para ter direito ao período ampliado, a empresa em que o pai trabalha precisa estar vinculada ao Pro- grama Empresa Cidadã (Lei 11.770). Se a empresa não fizer parte do programa, o pai tem direito a cinco dias apenas.; – O servidor público federal também pode pedir am- pliação de 15 dias (chegando, portanto a um total de 20 dias). • Licença Maternidade de 120 dias (CLT, no artigo Art. 392) A empregada gestante tem direito à licen- ça-maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário. (Redação dada pela Lei nº 10.421, 15.4.2002) (Vide Lei nº 13.985, de 2020) – § 1º A empregada deve, mediante atestado mé- dico, notificar o seu empregador da data do iní- cio do afastamento do emprego, que poderá ocorrer entre o 28º (vigésimo oitavo) dia antes do parto e ocorrência deste. (Redação dada pela Lei nº 10.421, 15.4.2002); – § 2º Os períodos de repouso, antes e depois do parto, poderão ser aumentados de 2 (duas) se- manas cada um, mediante atestado médico. (Redação dada pela Lei nº 10.421, 15.4.2002); • Após os 120 dias a mulher ainda pode contar com 2 intervalos de 30 minutos no seu horário de trabalho (até 6 meses pós-parto); – Art. 396, Seção V - Para amamentar o próprio filho, até que este complete 6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos especiais, de meia hora cada um. – Parágrafo único - Quando o exigir a saúde do filho, o período de 6 (seis) meses poderá ser dilatado, a critério da autoridade competente. • Garantia de local/creche para deixar seu filho (empre- sas com mais de 30 mulheres com mais de 16 anos), CLT, Artigo 389, Direito à creche seção IV / Portaria nº 3.296, de 03/09/86, artigo 1º – Creche ou reem- bolso-creche: – § 1º Os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezes- seis) anos de idade terão local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período da amamenta- ção. (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 1967) – § 2º A exigência do § 1º poderá ser suprida por meio de creches distritais mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades pú- blicas ou privadas, pelas próprias empresas, em regime comunitário, ou a cargo do SESI, do SESC, da LBA ou de entidades sindicais. (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 1967). • Licença Maternidade de 6 meses (Lei nº 11.770/08 regulamentada pelo Decreto nº 7.052/2009 – Estabe- lece dois meses opcionais a mais de licença-materni- dade); – Lei conhecida como Empresa Cidadã, que foi conquistada para as mães brasileiras graças a um grande esforço e mediação da SBP junto ao parlamento nacional; – Lei obrigatória para servidores federais. Lei Facul- tativa para servidores estaduais, municipais e para o setor privado; – No setor privado: extensão de 2 meses, a em- presa (grande e médio porte) assume o valor pago desses 2 meses e desconta no Imposto de Renda do ano seguinte. Não estão incluídas em- presas de “pequeno porte” - empresas que de- claram impostos sobre o lucro presumido ou que estão integradas ao Simples Nacional não têm direito a participar;
  • 34. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 34 Sociedade Brasileira de Pediatria – O RH da empresa precisa fazer o requerimento no site da Receita Federal, no 1º mês de vida do bebê. • Lei nº 6.202/1975 – Direito da mãe estudante; – Art. 1º A partir do oitavo mês de gestação e duran- te três meses a estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domicilia- res, instituído pelo Decreto-lei número 1.044, 21 de outubro de 1969; • Lei de Execuções Penais, artigo 82 (2º) e 89, e artigo 9 do Estatuto da Criança e do Adolescente – Direito das mães privadas de liberdade; – Permite às mulheres privadas de liberdade a per- manência com seus bebês para amamentá-los até o 4º mês. • Lei nº 10.421/2002 – Direito da mãe adotiva (120 dias para adoção de criança de qualquer idade, inclusive adolescentes). – DECISÃO JUDICIAL: INSS publicada sentença da ACP nº 5019632-23.2011.404.7200, sobre licen- ça e salário-maternidade para mães adotantes (01/06/2012); – Os benefícios de salário-maternidade em manuten- ção ou concedidos com fundamento no art. 71-A da Lei nº 8.213/91 (casos de adoção ou obtenção de guarda judicial para fins de adoção), passarão a ser devidos pelo prazo de 120 (cento e vinte dias), independentemente da idade do adotado, desde que cumpridos os demais requisitos legais para a percepção do benefício. CONCLUSÃO Diante dos conhecimentos apresentados, as chances de uma lactante conseguir voltar ao seu trabalho e man- ter o AM aumentam consideravelmente. O pediatra consciente tem o dever de realizar essas orientações práticas e específicas, que muito contri- buirão para aumentar o percentual de mães trabalha- doras que conseguem manter a amamentação, mesmo voltando a seus trabalhos. REFERÊNCIAS 01. American Academy of Pediatrics Section on Breastfeeding. Breastfeeding and the Use of Human Milk. Pediatrics. 2012;129(3):e827-41. 02. Victora CG, Horta BL, Loret de Mola C, et al. Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from Brazil. Lancet Glob Health. 2015;3(4):e199-205. 03. Rollins NC, Bhandari N, Hajeebhoy N, et al. Why invest, and what it will take to improve breastfeeding practices? Lancet. 2016;387(10017): 491-504. 04. Xiang N, Zadoroznyj M, Tomaszewski W, et al. Timing of Return to Work and Breastfeeding in Australia Pediatrics. 2016;137(6):e20153883. 05. Thomas-Jackson SC, Bentley GE, Keyton K, et al. In-hospital Breastfeeding and Intention to Return to Work Influence Mothers’ Breastfeeding Intentions. J Hum Lact. 2016;32(4):NP76-NP83. 06. Zilanawala A. Maternal Nonstandard Work Schedules and Breastfeeding Behaviors. Matern Child Health J. 2017;21(6):1308-1317. 07. Froh EB, Spatz DL. Navigating Return to Work and Breastfeeding in a Hospital with a Comprehensive Employee Lactation Program. J Hum Lact. 2016;32(4):689-694. 08. Nassar MF, Abdel-Kader AM, Al-Refaee FA, et al. Breastfeeding practice in Kuwait: determinants of success and reasons for failure East Mediterr Health J. 2014;20(7):409-15. 09. Keister D, Roberts KT, Werner SL. Strategies for breastfeeding success. Am Fam Physician. 2008;78(2):225-32. 10. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Cartilha para a mulher trabalhadora que amamenta / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ cartilha_mulher_trabalhadora_amamenta.pdf. Acesso em 17/07/2020. 11. Ministério da Saúde. Condutas para a realização de doação de leite materno aos bancos de leite humano e postos de coleta de leite humano no contexto da infecção coronavírus (SARS-CoV-2). Nota Técnica Nº 5/2020 COCAM/CGCIVI/DA- PES/SAPS/MS [cited 2020 Mar 31]. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/ documentos/notatecnicaaleitamento30mar 2020COVID-19.pdf Acesso em 17/07/2020.
  • 35. 35 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria 12. Amamentação. Muito mais do que alimentar a criança. Vídeo de Aleitamento Materno. Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=i31VEa-- XpE Acesso em 17/07/2020. Como e quando desmamar Elsa Regina Justo Giugliani INTRODUÇÃO A recomendação internacional de duração da amamen- tação é de 2 anos ou mais1 . Essa recomendação fun- damenta-se nas evidências científicas de que os efeitos positivos da amamentação para a saúde da criança e da mulher que amamenta são proporcionais ao tempo da amamentação2 ; e, também, leva em consideração a hipótese de que a duração da amamentação para a espécie humana seria, em média, de 2 a 3 anos, idade em que costuma ocorrer, de forma natural, o desmame3 . Apesar da recomendação, muitas crianças não são amamentadas ou o são por um período muito curto. A amamentação continuada é mais comum nos países de baixa e média renda. Nos países mais pobres, a ama- mentação continuada por 12 e 24 meses é maior que 90% e 60%, respectivamente; enquanto que na maioria dos países ricos, nem 20% das crianças são amamen- tadas até 1 ano de idade2 . No Brasil, houve considerável avanço na prevalência de amamentação continuada por 12-14 meses desde a década de 1980, passando de 22,7% em 1986 para 37,5 em 1996, 47,2% em 20064 e 53,1% em 20195 . ESTRATÉGIAS PARA APOIAR AS MULHERES A MANTEREM A AMAMENTAÇÃO CONTINUADA E ENFRENTAR O PROCESSO DO DESMAME Não basta ter conhecimentos em aleitamento materno para apoiar as mulheres a manterem a amamentação continuada. É preciso ter atitudes favoráveis a essa prática e possuir habilidades, dentre as quais uma comunicação efetiva. Que atitudes e habilidades do profissional favorecem a amamentação continuada? A seguir, são apresentadas algumas sugestões6 : • Ter um olhar ampliado da amamentação, advogan- do que amamentar é muito mais que alimentar a criança. • Praticar o aconselhamento. Nesse contexto, aconse- lhamento não significa dar conselhos, mas usar re- cursos que empoderam as mães e suas famílias para que elas tomem as suas próprias decisões. Alguns desses recursos são: praticar comunicação não ver- bal positiva, como sorrir, balançar afirmativamente a cabeça, tocar na mulher e/ou bebê, quando apropria- do; remover barreiras físicas como mesas, papéis, computadores; usar linguagem simples, acessível; ouvir, dando espaço para a mulher/família falar, tirar dúvidas, mostrar seus sentimentos; demonstrar em- patia; evitar palavras que soam como julgamentos; re- conhecer e elogiar, como, por exemplo, o esforço da mãe para amamentar; oferecer poucas informações em cada visita, as mais relevantes para o momen- to; fazer sugestões, em vez de dar ordens; conversar com as mães/famílias sobre as condições de saúde da criança, explicando os procedimentos e condutas; e, muito importante, aceitar e respeitar os sentimen- tos e as opiniões das mães/famílias, sem, no entanto, precisar concordar ou discordar. • Envolver, sempre que possível, os pais, avós e outras pessoas significativas nas consultas. É uma forma de preparar essas pessoas para exercer influência positi- va para uma amamentação bem-sucedida. • Estimular a discussão entre os membros da família no sentido de dividir as tarefas de casa e os cuida- dos com os outros filhos, para que a lactante possa atender às demandas do recém-nascido e da ama- mentação com mais tranquilidade. • Dar informações úteis e atualizadas para que as mulheres e suas famílias possam tomar decisões informadas, pesando os prós e os contras de suas opções, como por exemplo, na decisão de oferecer ou não chupeta aos filhos7 e do tempo que preten- dem amamentar. • Conhecer, divulgar e respeitar os instrumentos de proteção legal da amamentação, tais como licença- -maternidade, pausas para amamentar durante a jornada de trabalho e a Lei nº 11.265/20068 , que re- gulamenta a comercialização de alimentos para lac- tentes e crianças de primeira infância e produtos de puericultura correlatos (ex. chupetas e mamadeiras). • Antes de prescrever fórmula infantil ou outros leites, ter certeza de que ela é necessária.
  • 36. GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO 36 Sociedade Brasileira de Pediatria • Incentivar a amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida da criança, desencorajando as mães/famílias a introduzirem a alimentação comple- mentar antes dos 6 meses. Até quando a amamentação pode se estender? Não há um limite máximo na recomendação interna- cional de duração da amamentação. Em princípio, não cabe ao pediatra ou outro profissional recomendar o desmame, a não ser que este seja por desejo da mulher ou necessidade. Atualmente, muitas mulheres estão optando pelo des- mame natural, definido como um processo em que a criança gradualmente se autodesmama e que costu- ma ocorrer, em média, entre 2 e 4 anos de idade. Esse processo é liderado pela mãe, que tem a responsabilida- de de identificar os sinais de que a criança está ficando madura para o desmame, sugerir passos e impor limites compatíveis com a “maturidade” da criança. Quais os sinais indicativos de que a criança está “madura” para o desmame? Mais importante que a idade da criança, são os sinais in- dicativos de que a criança está ficando apta para enfren- tar o desafio do desmame. Alguns desses sinais são5 : • ter menor interesse nas mamadas; • aceitar alimentos diversos; • mostrar segurança na relação com a mãe; • ter outras formas de consolo, além do peito; • aceitar limites quanto à amamentação em determina- das circunstâncias e locais; • eventualmente dormir sem mamar; • não se mostrar muito ansiosa quando encorajada a não mamar; • por vezes preferir outras atividades com a mãe em vez de mamar. Como apoiar uma mulher que precisa ou deseja desmamar mesmo que a criança não esteja “madura” para o desmame? O desmame é um processo que deve ser “persona- lizado”, pois depende de muitas variáveis: motivo do desmame, grau de “maturidade” da criança para o des- mame, relação mãe-filho, personalidade da mãe e da criança, entre outras. O desmame abrupto deve ser desestimulado em qual- quer situação, pois pode trazer repercussões negativas para a criança, como sentimento de rejeição, gerando insegurança e rebeldia; e para a mãe, ingurgitamento mamário, estase do leite e mastite, além de tristeza ou depressão, culpa e luto pela perda da amamentação. Recomenda-se, sempre que possível, o desmame gra- dual, retirando uma mamada do dia a cada 1 ou 2 se- manas. A seguir são apresentados alguns pontos muito importantes para que o desmame “provocado” transcor- ra da forma mais tranquila possível, tanto para a mãe quanto para a criança5 : • Mãe deve estar segura de que quer (ou precisa) desmamar. • Planejamento com flexibilidade, pois o curso do processo é imprevisível; algumas vezes é preciso retroceder. • Compreensão da mãe de que o processo pode ser lento e demanda energia, tanto maior quanto menos madura a criança. • Muita paciência com a criança. • Empatia, do profissional em relação à mãe e da mãe em relação à criança. • Suporte e atenção adicionais à criança. A mãe deve evitar afastar-se nesse período. • Não iniciar o processo no curso de outras mudanças significativas para a criança, como controle dos es- fíncteres, separações, lutos, mudança de residência, entre outras. • Participação ativa do pai (quando presente) no processo. • Dependendo do nível de desenvolvimento da criança, o desmame pode ser planejado e negociado com ela. Pode-se propor uma data e, inclusive, planejar uma comemoração para essa data. Algumas das técnicas abaixo podem auxiliar no proces- so do desmame: • não oferecer o seio, sem no entanto recusá-lo; • encurtar ou adiar as mamadas; • restringir as mamadas a certos horários e locais; • distrair a criança nos horários em que ela costuma- va mamar, entretendo-a com algo prazeroso para ela. • evitar atitudes que remetam a criança à amamenta- ção, como a mãe sentar em uma poltrona onde ela costuma amamentar.
  • 37. 37 GUIA PRÁTICO DE ALEITAMENTO MATERNO – ATUALIZADO Sociedade Brasileira de Pediatria CONCLUSÃO Assim como na amamentação, é preciso ter um olhar ampliado sobre o desmame: trata-se de um processo e não um evento, envolvendo intimamente duas pes- soas e com repercussão na saúde física e psíquica de ambas. Cabe a cada dupla mãe/filho a decisão de manter a amamentação até que o desmame ocorra natural- mente ou interrompê-la em determinado momento. E aos profissionais de saúde, sobretudo aos pediatras, cabe promoverem, protegerem e apoiarem as mães/ bebês/famílias a praticarem a amamentação continua- da até o desmame natural, se assim for o desejo deles; ou apoiarem, após a decisão da mãe em uma ses- são de aconselhamento, o processo de desmame “provocado”, para que ele ocorra da forma mais tran- quila possível. Este é um desafio que deve ser enfrenta- do com conhecimento, atitudes positivas e habilidades do profissional, como a de saber ouvir as mães, as crianças e as famílias com empatia, sem julgamentos e respeito a suas opiniões e decisões, sempre atento às suas necessidades. REFERÊNCIAS 01. World Health Organization. Infant and young child feeding. Geneva: World Health Organization; 2009. 02. Victora CG, Bahl R, Barros AJD, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387(10033):2089-90. 03. Kennedy GE. From the ape’s dilemma to the weanling’s dilemma: early weaning and its evolutionary context. J. Hum Evol. 2005;48:123–45. 04. Boccolini CS, Boccolini PMM, Monteiro FR, et al. Tendência de indicadores do aleitamento materno no Brasil em três décadas. Rev Saude Publ. 2017;51:108. 05. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) – dados apresentados pelo Ministério da Saúde. 4 de agosto de 2020. 06. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2016. 07. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Aleitamento Materno. Guia Prático de Atualização - Uso de chupeta em crianças amamentadas: prós e contras; 2017. 08. Decreto no 8.552, de 3 de novembro de 2015, que regulamenta a Lei nº 11.265, de 3 de janeiro de 2006. Disponível em: http://www.saude.campi- nas.sp.gov.br/lista_legislacoes/legis_2015/U_DC- 8552_031115.pdf Acesso em 20 de agosto de 2020.
  • 38. Diretoria Plena Triênio 2022/2024 www.sbp.com.br Natasha Slhessarenko Fraife Barreto (MT) Ana Alice Ibiapina Amaral Parente (RJ) Cassio da Cunha Ibiapina (MG) Luiz Anderson Lopes (SP) Silvia Regina Marques (SP) DIRETORIA DE PUBLICAÇÕES Fábio Ancona Lopez (SP) EDITORES DA REVISTA SBP CIÊNCIA Joel Alves Lamounier (MG) Marco Aurelio Palazzi Safadi (SP) Mariana Tschoepke Aires (RJ) EDITORES DO JORNAL DE PEDIATRIA (JPED) COORDENAÇÃO: Renato Soibelmann Procianoy (RS) MEMBROS: Crésio de Aragão Dantas Alves (BA) Paulo Augusto Moreira Camargos (MG) João Guilherme Bezerra Alves (PE) Marco Aurelio Palazzi Safadi (SP) Magda Lahorgue Nunes (RS) Giselia Alves Pontes da Silva (PE) Dirceu Solé (SP) Antonio Jose Ledo Alves da Cunha (RJ) EDITORES REVISTA RESIDÊNCIA PEDIÁTRICA EDITORES CIENTÍFICOS: Clémax Couto Sant’Anna (RJ) Marilene Augusta Rocha Crispino Santos (RJ) EDITORA ADJUNTA: Márcia Garcia Alves Galvão (RJ) CONSELHO EDITORIAL EXECUTIVO: Sidnei Ferreira (RJ) Isabel Rey Madeira (RJ) Mariana Tschoepke Aires (RJ) Maria De Fatima Bazhuni Pombo Sant’Anna (RJ) Silvio da Rocha Carvalho (RJ) Rafaela Baroni Aurílio (RJ) Leonardo Rodrigues Campos (RJ) Álvaro Jorge Madeiro Leite (CE) Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE) Marcia C. 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Cavalcante (PE) COORDENAÇÃO DAS LIGAS DOS ESTUDANTES COORDENADOR: Lelia Cardamone Gouveia (SP) MEMBROS: Cassio da Cunha Ibiapina (MG) Luiz Anderson Lopes (SP) Anna Tereza Miranda Soares de Moura (RJ) Adelma Alves de Figueiredo (RR) André Luis Santos Carmo (PR) Marynea Silva do Vale (MA) Fernanda Wagner Fredo dos Santos (PR) MUSEU DA PEDIATRIA (MEMORIAL DA PEDIATRIA BRASILEIRA) COORDENAÇÃO: Edson Ferreira Liberal (RJ) MEMBROS: Mario Santoro Junior (SP) José Hugo de Lins Pessoa (SP) Sidnei Ferreira (RJ) Jeferson Pedro Piva (RS) DIRETORIA DE PATRIMÔNIO COORDENAÇÃO: Claudio Barsanti (SP) Edson Ferreira Liberal (RJ) Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) Paulo Tadeu Falanghe (SP) REDE DE PEDIATRIA AC - SOCIEDADE ACREANA DE PEDIATRA Ana Isabel Coelho Montero AL - SOCIEDADE ALAGOANA DE PEDIATRIA Marcos Reis Gonçalves AM - SOCIEDADE AMAZONENSE DE PEDIATRIA Adriana Távora de Albuquerque Taveira AP - SOCIEDADE AMAPAENSE DE PEDIATRIA Camila dos Santos Salomão BA - SOCIEDADE BAIANA DE PEDIATRIA Ana Luiza Velloso da Paz Matos CE - SOCIEDADE CEARENSE DE PEDIATRIA João Cândido de Souza Borges DF - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO DISTRITO FEDERAL Luciana de Freitas Velloso Monte ES - SOCIEDADE ESPIRITOSSANTENSE DE PEDIATRIA Carolina Strauss Estevez Gadelha GO - SOCIEDADE GOIANA DE PEDIATRIA Valéria Granieri de Oliveira Araújo MA - SOCIEDADE DE PUERICULTURA E PEDIATRIA DO MARANHÃO Marynéa Silva do Vale MG - SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA Márcia Gomes Penido Machado MS - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO MATO GROSSO DO SUL Carmen Lúcia de Almeida Santos MT - SOCIEDADE MATOGROSSENSE DE PEDIATRIA Paula Helena de Almeida Gattass Bumlai PA - SOCIEDADE PARAENSE DE PEDIATRIA Vilma Francisca Hutim Gondim de Souza PB - SOCIEDADE PARAIBANA DE PEDIATRIA Maria do Socorro Ferreira Martins PE - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE PERNAMBUCO Alexsandra Ferreira da Costa Coelho PI - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO PIAUÍ Ramon Nunes Santos PR - SOCIEDADE PARANAENSE DE PEDIATRIA Victor Horácio de Souza Costa Junior RJ - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Cláudio Hoineff RN - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO RIO GRANDE DO NORTE Manoel Reginaldo Rocha de Holanda RO - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE RONDÔNIA Cristiane Figueiredo Reis Maiorquin RR - SOCIEDADE RORAIMENSE DE PEDIATRIA Erica Patricia Cavalcante Barbalho RS - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO RIO GRANDE DO SUL Jose Paulo Vasconcellos Ferreira SC - SOCIEDADE CATARINENSE DE PEDIATRIA Nilza Maria Medeiros Perin SE - SOCIEDADE SERGIPANA DE PEDIATRIA Ana Jovina Barreto Bispo SP - SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO Renata Dejtiar Waksman TO - SOCIEDADE TOCANTINENSE DE PEDIATRIA Ana Mackartney de Souza Marinho DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS • Aleitamento Materno • Alergia • Bioética • Cardiologia • Dermatologia • Emergência • Endocrinologia • Gastroenterologia • Genética Clínica • Hematologia e Hemoterapia • Hepatologia • Imunizações • Imunologia Clínica • Infectologia • Medicina da Dor e Cuidados Paliativos • Medicina do Adolescente • Medicina Intensiva Pediátrica • Nefrologia • Neonatologia • Neurologia • Nutrologia • Oncologia • Otorrinolaringologia • Pediatria Ambulatorial • Ped. Desenvolvimento e Comportamento • Pneumologia • Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência • Reumatologia • Saúde Escolar • Sono • Suporte Nutricional • Toxicologia e Saúde Ambiental GRUPOS DE TRABALHO • Atividade física • Cirurgia pediátrica • Criança, adolescente e natureza • Doença inflamatória intestinal • Doenças raras • Drogas e violência na adolescência • Educação é Saúde • Imunobiológicos em pediatria • Metodologia científica • Oftalmologia pediátrica • Ortopedia pediátrica • Pediatria e humanidades • Pediatria Internacional dos Países de Língua Portuguesa • Povos Originários do Brasil • Políticas públicas para neonatologia • Radiologia e Diagnóstico por Imagem • Saúde digital • Saúde mental • Saúde oral PRESIDENTE: Clóvis Francisco Constantino (SP) 1º VICE-PRESIDENTE: Edson Ferreira Liberal (RJ) 2º VICE-PRESIDENTE: Anamaria Cavalcante e Silva (CE) SECRETÁRIO GERAL: Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) 1º SECRETÁRIO: Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) 2º SECRETÁRIO: Rodrigo Aboudib Ferreira Pinto (ES) 3º SECRETÁRIO: Claudio Hoineff (RJ) DIRETOR FINANCEIRO: Sidnei Ferreira (RJ) 1º DIRETOR FINANCEIRO: Maria Angelica Barcellos Svaiter (RJ) 2º DIRETOR FINANCEIRO: Donizetti Dimer Giambernardino Filho (PR) DIRETORIA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE) COORDENADORES REGIONAIS NORTE: Adelma Alves de Figueiredo (RR) NORDESTE: Marynea Silva do Vale (MA) SUDESTE: Marisa Lages Ribeiro (MG) SUL: Cristina Targa Ferreira (RS) CENTRO-OESTE: Renata Belem Pessoa de Melo Seixas (DF) COMISSÃO DE SINDICÂNCIA TITULARES: Jose Hugo Lins Pessoa (SP) Marisa Lages Ribeiro (MG) Marynea Silva do Vale (MA) Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS) Vilma Francisca Hutim Gondim de Souza (PA) SUPLENTES: Analiria Moraes Pimentel (PE) Dolores Fernanadez Fernandez (BA) Rosana Alves (ES) Silvio da Rocha Carvalho (RJ) Sulim Abramovici (SP) CONSELHO FISCAL TITULARES: Cléa Rodrigues Leone (SP) Licia Maria Moreira (BA) Carlindo de Souza Machado e Silva Filho (RJ) SUPLENTES: Jocileide Sales Campos (CE) Ana Márcia Guimarães Alves (GO) Gilberto Pascolat (PR) ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA PARA POLÍTICAS PÚBLICAS: COORDENAÇÃO: Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) MEMBROS: Donizetti Dimer Giamberardino Filho (PR) Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo (MT) Evelyn Eisenstein (RJ) Rossiclei de Souza Pinheiro (AM) Helenilce de Paula Fiod Costa (SP) DIRETORIA E COORDENAÇÕES DIRETORIA DE QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL Edson Ferreira Liberal (RJ) José Hugo de Lins Pessoa (SP) Maria Angelica Barcellos Svaiter (RJ) Maria Marluce dos Santos Vilela (SP) COORDENAÇÃO DE ÁREA DE ATUAÇÃO Sidnei Ferreira (RJ) Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) Mauro Batista de Morais (SP) Kerstin Tanigushi Abagge (PR) COORDENAÇÃO DO CEXTEP (COMISSÃO EXECUTIVA DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM PEDIATRIA) COORDENAÇÃO: Hélcio Villaça Simões (RJ) COORDENAÇÃO ADJUNTA: Ricardo do Rego Barros (RJ) MEMBROS: Clovis Francisco Constantino (SP) - Licenciado Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) Carla Príncipe Pires C. Vianna Braga (RJ) Cristina Ortiz Sobrinho Valete (RJ) Grant Wall Barbosa de Carvalho Filho (RJ) Sidnei Ferreira (RJ) Silvio Rocha Carvalho (RJ) COMISSÃO EXECUTIVA DO EXAME PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM PEDIATRIA AVALIAÇÃO SERIADA COORDENAÇÃO: Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE) Luciana Cordeiro Souza (PE) MEMBROS: João Carlos Batista Santana (RS) Victor Horácio de Souza Costa Junior (PR) Ricardo Mendes Pereira (SP) Mara Morelo Rocha Felix (RJ) Vera Hermina Kalika Koch (SP) DIRETORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Nelson Augusto Rosário Filho (PR) Sergio Augusto Cabral (RJ) REPRESENTANTE NA AMÉRICA LATINA Ricardo do Rego Barros (RJ) INTERCÂMBIO COM OS PAÍSES DA LÍNGUA PORTUGUESA Marcela Damasio Ribeiro de Castro (MG) DIRETORIA DE DEFESA DA PEDIATRIA DIRETOR: Fábio Augusto de Castro Guerra (MG) DIRETORIA ADJUNTA: Sidnei Ferreira (RJ) Edson Ferreira Liberal (RJ) MEMBROS: Gilberto Pascolat (PR) Paulo Tadeu Falanghe (SP) Cláudio Orestes Britto Filho (PB) Ricardo Maria Nobre Othon Sidou (CE) Anenisia Coelho de Andrade (PI) Isabel Rey Madeira (RJ) Donizetti Dimer Giamberardino Filho (PR) Carlindo de Souza Machado e Silva Filho (RJ) Corina Maria Nina Viana Batista (AM) Maria Nazareth Ramos Silva (RJ) DIRETORIA CIENTÍFICA DIRETOR: Dirceu Solé (SP) DIRETORIA CIENTÍFICA - ADJUNTA Luciana Rodrigues Silva (BA) DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS E GRUPOS DE TRABALHO: Dirceu Solé (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA) MÍDIAS EDUCACIONAIS Luciana Rodrigues Silva (BA) Edson Ferreira Liberal (RJ) Rosana Alves (ES) Ana Alice Ibiapina Amaral Parente (ES) PROGRAMAS NACIONAIS DE ATUALIZAÇÃO PEDIATRIA - PRONAP Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira (SP) Tulio Konstantyner (SP) Claudia Bezerra Almeida (SP) NEONATOLOGIA - PRORN Renato Soibelmann Procianoy (RS) Clea Rodrigues Leone (SP) TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA - PROTIPED Werther Bronow de Carvalho (SP) TERAPÊUTICA PEDIÁTRICA - PROPED Claudio Leone (SP) Sérgio Augusto Cabral (RJ) EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA - PROEMPED Hany Simon Júnior (SP) Gilberto Pascolat (PR) DOCUMENTOS CIENTÍFICOS Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho (PE) Dirceu Solé (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA) PUBLICAÇÕES TRATADO DE PEDIATRIA Fábio Ancona Lopes (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA) Dirceu Solé (SP) Clovis Artur Almeida da Silva (SP) Clóvis Francisco Constantino (SP) Edson Ferreira Liberal (RJ) Anamaria Cavalcante e Silva (CE) OUTROS LIVROS Fábio Ancona Lopes (SP) Dirceu Solé (SP) Clóvis Francisco Constantino (SP) DIRETORIA DE CURSOS, EVENTOS E PROMOÇÕES DIRETORA: Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck (SP) MEMBROS: Ricardo Queiroz Gurgel (SE) Paulo César Guimarães (RJ) Cléa Rodrigues Leone (SP) Paulo Tadeu de Mattos Prereira Poggiali (MG) COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE REANIMAÇÃO NEONATAL Maria Fernanda Branco de Almeida (SP) Ruth Guinsburg (SP) COORDENAÇÃO PALS – REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA Alexandre Rodrigues Ferreira (MG) Kátia Laureano dos Santos (PB) COORDENAÇÃO BLS – SUPORTE BÁSICO DE VIDA Valéria Maria Bezerra Silva (PE) COORDENAÇÃO DO CURSO DE APRIMORAMENTO EM NUTROLOGIA PEDIÁTRICA (CANP) Virgínia Resende Silva Weffort (MG) PEDIATRIA PARA FAMÍLIAS COORDENAÇÃO GERAL: Edson Ferreira Liberal (RJ) COORDENAÇÃO OPERACIONAL: Nilza Maria Medeiros Perin (SC) Renata Dejtiar Waksman (SP) MEMBROS: Adelma Alves de Figueiredo (RR) Marcia de Freitas (SP) Nelson Grisard (SC) Normeide Pedreira dos Santos Franca (BA) PORTAL SBP Clovis Francisco Constantino (SP) Edson Ferreira Liberal (RJ) Anamaria Cavalcante e Silva (CE) Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) Rodrigo Aboudib Ferreira Pinto (ES) Claudio Hoineff (RJ) Sidnei Ferreira (RJ) Maria Angelica Barcellos Svaiter (RJ) Donizetti Dimer Giambernardino (PR) PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO CONTINUADA À DISTÂNCIA Luciana Rodrigues Silva (BA) Edson Ferreira Liberal (RJ)