FOLHA DIRIGIDA

CADERNO DE

Educação

24 a 30 de setembro de 2013

www.folhadirigida.com.br

“

Na aldeia global de
hoje, as pessoas
vêm medicalizando
as criança e
estamos tirando
delas uma
dimensão de seu
desenvolvimento, o
psicomotor, que só
acontece na livre
expressão. Os
professores
chegam em sala
com um
planejamento
montado, com
desenhos prontos
ROSA PRISTA

”

Hora de aproveitar melhor
o potencial das crianças
LEONARDO MOURA
leonardo.moura@folhadirigida.com.br

É

muito comum ouvir dos adultos que a melhor fase de suas vidas foi a infância. Toda a inocência e despreocupação que uma criança possui faz falta na
vida adulta, imersa nas responsabilidades e compromissos do cotidiano. É
paradoxal observarmos que, apesar disso, um número relevante de pais está
inserindo, cada vez mais cedo, os filhos em seus mundos, sem respeitar e preservar o que a criança deve experienciar enquanto ainda é jovem.
Esse é o quadro observado pela neuropsicóloga, psicopedagoga e doutora em Psicologia pela American World University (AWU) Rosa Prista. Em entrevista à FOLHA
DIRIGIDA, a diretora do Centro de Estudos da Criança (CEC) alerta para essa questão tão importante e que tem sido esquecida pelos pais e, até mesmo, por alguns profissionais da área da Educação. Rosa explica ainda o que é a psicomotricidade, o quanto
ela é importante é na vida do ser humano, especialmente na infância, e como pode
auxiliar na minimização dos problemas da sociedade contemporânea.
FOLHA DIRIGIDA - A EDUCAÇÃO INFANTIL CRESCEU NOS ÚLTIMOS ANOS. O
NÚMERO DE CRIANÇAS NA ESCOLA, POR
EXEMPLO, AUMENTOU MUITO. PORÉM,
MUITOS PAIS ACREDITAM QUE A ESCOLA
É BOA QUANDO A CRIANÇA APRENDE A
LER CEDO. QUAL É O PAPEL DA EDUCAÇÃO INFANTIL?

Rosa Prista - O papel é de desenvolvimento pleno da criança, nas
dimensões relacionais, afetivas e,
fundamentalmente, psicomotoras.
O que percebo é que a educação
infantil tem, hoje, apressado o desenvolvimento de algumas funções. Nesses tempos globais, as
pessoas estão preocupadas que seus
filhos tenham cargos importantes,
empregos maravilhosos, esquecendo a formação da própria subjetividade da criança. Essa formação
não se faz com leitura e escrita rápida. O processo precisa ser natural, que pode, sim, ser rápido, mas
pelo prazer da criança em descobrir o mundo, e não para formalização em cadernos e exercícios.
RECENTEMENTE, A SENHORA REALIZOU
O CURSO “EDUCAÇÃO PSICOMOTORA UM DIREITO INFANTIL”. O QUE É EDUCAÇÃO PSICOMOTORA? POR QUE ELA É UM
DIREITO INFANTIL?

Tenho percebido um empobrecimento nas crianças que atendo em
minha instituição. Enquanto recebia antigamente jovens de 10 a 14
anos, hoje recebo de dois, três anos.
A escola diz que essas crianças têm
problemas, que não conseguem
ficar na sala, não sabem se sentar...
Mas, de fato, crianças nessa idade
não têm de ficar sentadas o tempo
todo. Enquanto estão sendo educadas, elas precisam se mexer. Esse
modelo de educação está causando enfraquecimento nas funções
psiconeurológicas: atenção, memória, percepção. Na aldeia global de
hoje, as pessoas vêm medicalizando as criança e estamos tirando delas
uma dimensão de seu desenvolvimento, o psicomotor, que só acontece na livre expressão. Os professores chegam em sala com um la-

nejamento montado, com desenhos
prontos. Eu sempre discuti, por
exemplo, a respeito da caligrafia. O
caderno deve ser utilizado quando
você quer modelar a sua letra, e será
eficaz, sim, porque é um desejo seu.
Obrigar uma criança de quatro, cinco
anos a fazer caligrafia, no entanto,
vai gerar nela um desgosto pela
escrita, pelo que o professor oferece. Para ela, aquilo não faz sentido. É possível treinar a coordenação motora brincando no jardim,
limpando a sala, jogando bola,
tocando as árvores, sentindo a delicadeza de uma flor. A educação
psicomotora propõe, então, alertar a população a respeito daquilo que estamos tirando das crianças. Elas estão acelerando um desenvolvimento cerebral sem aprender o tempo lento, o parar, o curtir o colega. Quando colocamos
crianças para fazer trabalhos mais
estruturados mentalmente, como
navegar em um tablet, começamos
a ver o empobrecimento. Temos
que utilizar a tecnologia sim, mas
sem jogar fora o alimento do cérebro, que é a atividade livre, espontânea e gostosa.
QUAIS AS FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA? QUEM TRABALHA A PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA? ESSA É UMA
TAREFA APENAS DO PROFESSOR DE
EDUCAÇÃO FÍSICA?

A psicomotricidade é uma área
encruzilhada, ela pertence ao educador, ao fonoaudiólogo, ao psicólogo, ao fisioterapeuta e, também, ao professor de Educação
Física. Trata-se de uma área inter-

“

disciplinar às graduações. Todos os
que trabalham com o ser humano
podem lidar com a psicomotricidade, desde que estejam devidamente habilitadas mediante um
curso de formação, que é diferente do curso de pós-graduação. O
curso proporciona ao profissional
viver, em seu próprio corpo, aquilo que vai aplicar em suas crianças. Quando o currículo escolar é
montado, a atividade psicomotora é automaticamente inserida em
todos os momentos da sala de aula.
Não existe um momento à parte.
Não queremos criar mais pedaços,
e sim incorporar, apropriar o conhecimento da psicomotricidade
como parte integrante. A ideia é
sentar com os alunos, fazer um
planejamento, escrever no quadro,
tomar decisões juntos, tentando
criar espaços de atenção dirigida.
Existem etapas que estão sendo
puladas e isso vai trazer grande
prejuízo ao desenvolvimento neurológico da criança.
QUE CONSEQUÊNCIAS A FALTA DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR TRAZ?

Uma criança empobrecida no conhecimento dela, e não só em relação a seu esquema corporal, mas
também de sua imagem corporal.
As escolas trabalham muito a cabeça, ombro, joelho e pé; mas precisamos ver o que está fora, e a
psicomotricidade trabalha com a
construção da imagem que você
tem de si mesmo, a imagem corporal. É essa imagem que nos dá
recursos internos para sobrevivermos e suportarmos as frustrações
do dia a dia. Temos hoje crianças
hiperativas. Eu mesma sou hiperativa, e meus pais, para me ajudar, realizaram comigo atividades
psicomotoras espontâneas, em
parques, campos... Eles não tinham informação, mas tinham
bom senso. Eu defendo essa campanha exatamente por isso: a ausência dessas atividades leva a
criança a não formatar percepção,
memória, atenção, e aí se formam
os transtornos de déficit de atenção, o TOC, o comportamento impulsivo... Essas crianças nunca
aprenderam a “agir” e a se “concentrar”; a “correr” e a “sentar”. A
educação psicomotora propõe
isso: todo ser humano tem que
viver dois movimentos, sob pena

de formar uma patologia.
AS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL
TRABALHAM ESSE ASPECTO? OS PROFESSORES DESTA ETAPA ESTÃO PREPARADOS, TÊM CONHECIMENTOS SOBRE AS
PRÁTICAS PSICOMOTORAS?

Têm. Na rede pública de ensino,
eu diria que temos um grupo muito
preocupado com essas questões. O
problema é que não temos aprofundado no que é educação psicomotora. Muitos acham que ela se
baseia apenas na coordenação
motora das mãos, na coordenação
dinâmica geral, no equilíbrio, e não
é isso. Estou falando de um sujeito que aprende a buscar as coisas,
a suportar aquilo que a vida vai oferecer, e, para isso, a escola não está
preparada. Estou preocupada, com
a educação psicomotora, em entender que cada pessoa é uma pessoa, que cada um tem sua subjetividade. Não há espaço, no mundo pós-moderno, para enquadrarmos crianças em espaços fechados,
sem ar, sem imagens, quando elas
veem isso o tempo inteiro na televisão, na internet. Precisamos
enriquecer a educação. A maior
parte das crianças têm seus corpos
controlados, e queremos, então,
propor a auto-organização do sujeito. O problema é que os próprios educadores não desfrutam disso. Eu, como professora universitária, observo que meus alunos esperam que eu diga a eles o que
devem fazer. A formação do educador é muito mais profunda quando colocamos ele próprio nesse
campo. Ele tem que viver a psicomotricidade primeiro, para que desenvolva suas próprias possibilidades para seus alunos.
O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
OCORRE APENAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL OU TAMBÉM EM OUTRAS ETAPAS?

A educação psicomotora é contínua, ela não acaba. O grande problema, que estamos tratando, é
que as crianças estão nascendo
plenas de suas condições. Mas,
quando elas vão para a educação
infantil, caso lidem com uma instituição e profissionais despreparados, elas serão aprisionadas, e aí
está a gênese das grandes patologias futuras. Depois vão para a alfabetização: ali acabou a brincadeira, é coisa séria. Esse é o discurso

As crianças estão nascendo plenas de suas condições.
Mas, quando elas vão para a educação infantil, caso lidem
com uma instituição e profissionais despreparados, elas
serão aprisionadas, e aí está a gênese das grandes patologias
futuras. Depois vão para a alfabetização: ali acabou a
brincadeira, é coisa séria. Esse é o discurso da escola, e isso
me preocupa muito. Brincar é algo que vai até o adulto”

da escola, e isso me preocupa muito.
Brincar é algo que vai até o adulto. Eu brinco com meus alunos
universitários para que eles resgatem o que o adulto perdeu.
QUE ATIVIDADES PODEM SER DESENVOLVIDAS PELO PROFESSOR EM SALA PARA
TRABALHAR ESSE ASPECTO?

Eu sempre digo ao professor que,
primeiro, ele tem de fazer um planejamento com o aluno. Crianças
são riquíssimas em nos dizer para
onde devemos ir. Em suma, precisamos estimular que as crianças
tenham prazer em chegar à escola
e dizer algo. O que vemos nas escolas é exatamente o contrário: não
se pode falar em sala de aula. Não
podemos aceitar que, no ano de
2013, achar que calar a boca é a solução. Pelo contrário, precisamos
que a criança fale, para conhecermos o mundo que ela vive e trazê-lo para a sala de aula, e assim,
junto com nosso conhecimento
científico, conseguiremos trabalhar
aquilo que, a priori, é o currículo.
A partir daí, não precisaremos mais
dar ordens às crianças. Elas estarão
inseridas no projeto e terão consciência de que, até o final do dia,
terão de terminar tal atividade. As
crianças sabem se organizar se tivermos condições de suportar a liberdade delas. A atividade do dia
a dia precisa ter a fala da criança, o
planejamento, fazendo pequenos
projetos. Podemos trazer elementos como a dança, a música, a escultura, trabalhar com argila, massa, terra; tudo relacionado a um
tema, acordado entre todos. Mas
o que vemos é só papel, giz e quadro. Criança que não se sente parte do processo vai fazer bagunça,
vai criar estratégias de fugir da sala
de aula. Nenhum ser humano gosta
de obedecer, e sim participar.
A SENHORA GOSTARIA DE MANDAR UMA
MENSAGEM PARA OS PAIS E PARA OS
PROFESSORES A PARTIR DOS ASPECTOS
QUE ABORDOU NESTA ENTREVISTA?

Queria que os pais ousassem
conversar com seus filhos, descobrir suas necessidades, o que
eles pensam. Acho que pai, professor, precisa aprender mais com
as crianças, e ficar mais atento à
sutileza, à delicadeza dos detalhes que elas mostram do mundo, e que nós, adultos, por sermos muito racionais, perdemos.
Precisamos partilhar do mundo
das crianças. Como terapeuta,
digo que poucos pais conhecem
o mundo subjetivo dos filhos.
Para o professor, minha mensagem é de que, mesmo com todas as dificuldade inerentes ao
exercício da profissão no Brasil,
ele crie, tenha coragem, e que,
junto com os alunos, perceba
qual caminho deve tomar.

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Enquanto estão sendo educadas, elas precisam se mexer. Esse modelo de educação está causando enfraquecimento nas funções psiconeurológicas: atenção, memória, percepção. Na aldeia global de hoje, as pessoas vêm medicalizando as criança e estamos tirando delas uma dimensão de seu desenvolvimento, o psicomotor, que só acontece na livre expressão. Os professores chegam em sala com um la- nejamento montado, com desenhos prontos. Eu sempre discuti, por exemplo, a respeito da caligrafia. O caderno deve ser utilizado quando você quer modelar a sua letra, e será eficaz, sim, porque é um desejo seu. Obrigar uma criança de quatro, cinco anos a fazer caligrafia, no entanto, vai gerar nela um desgosto pela escrita, pelo que o professor oferece. Para ela, aquilo não faz sentido. É possível treinar a coordenação motora brincando no jardim, limpando a sala, jogando bola, tocando as árvores, sentindo a delicadeza de uma flor. 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Uma criança empobrecida no conhecimento dela, e não só em relação a seu esquema corporal, mas também de sua imagem corporal. As escolas trabalham muito a cabeça, ombro, joelho e pé; mas precisamos ver o que está fora, e a psicomotricidade trabalha com a construção da imagem que você tem de si mesmo, a imagem corporal. É essa imagem que nos dá recursos internos para sobrevivermos e suportarmos as frustrações do dia a dia. Temos hoje crianças hiperativas. Eu mesma sou hiperativa, e meus pais, para me ajudar, realizaram comigo atividades psicomotoras espontâneas, em parques, campos... Eles não tinham informação, mas tinham bom senso. Eu defendo essa campanha exatamente por isso: a ausência dessas atividades leva a criança a não formatar percepção, memória, atenção, e aí se formam os transtornos de déficit de atenção, o TOC, o comportamento impulsivo... Essas crianças nunca aprenderam a “agir” e a se “concentrar”; a “correr” e a “sentar”. 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Não há espaço, no mundo pós-moderno, para enquadrarmos crianças em espaços fechados, sem ar, sem imagens, quando elas veem isso o tempo inteiro na televisão, na internet. Precisamos enriquecer a educação. A maior parte das crianças têm seus corpos controlados, e queremos, então, propor a auto-organização do sujeito. O problema é que os próprios educadores não desfrutam disso. Eu, como professora universitária, observo que meus alunos esperam que eu diga a eles o que devem fazer. A formação do educador é muito mais profunda quando colocamos ele próprio nesse campo. Ele tem que viver a psicomotricidade primeiro, para que desenvolva suas próprias possibilidades para seus alunos. O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR OCORRE APENAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL OU TAMBÉM EM OUTRAS ETAPAS? A educação psicomotora é contínua, ela não acaba. O grande problema, que estamos tratando, é que as crianças estão nascendo plenas de suas condições. Mas, quando elas vão para a educação infantil, caso lidem com uma instituição e profissionais despreparados, elas serão aprisionadas, e aí está a gênese das grandes patologias futuras. Depois vão para a alfabetização: ali acabou a brincadeira, é coisa séria. Esse é o discurso As crianças estão nascendo plenas de suas condições. Mas, quando elas vão para a educação infantil, caso lidem com uma instituição e profissionais despreparados, elas serão aprisionadas, e aí está a gênese das grandes patologias futuras. Depois vão para a alfabetização: ali acabou a brincadeira, é coisa séria. Esse é o discurso da escola, e isso me preocupa muito. Brincar é algo que vai até o adulto” da escola, e isso me preocupa muito. Brincar é algo que vai até o adulto. Eu brinco com meus alunos universitários para que eles resgatem o que o adulto perdeu. QUE ATIVIDADES PODEM SER DESENVOLVIDAS PELO PROFESSOR EM SALA PARA TRABALHAR ESSE ASPECTO? Eu sempre digo ao professor que, primeiro, ele tem de fazer um planejamento com o aluno. Crianças são riquíssimas em nos dizer para onde devemos ir. Em suma, precisamos estimular que as crianças tenham prazer em chegar à escola e dizer algo. O que vemos nas escolas é exatamente o contrário: não se pode falar em sala de aula. Não podemos aceitar que, no ano de 2013, achar que calar a boca é a solução. Pelo contrário, precisamos que a criança fale, para conhecermos o mundo que ela vive e trazê-lo para a sala de aula, e assim, junto com nosso conhecimento científico, conseguiremos trabalhar aquilo que, a priori, é o currículo. A partir daí, não precisaremos mais dar ordens às crianças. Elas estarão inseridas no projeto e terão consciência de que, até o final do dia, terão de terminar tal atividade. As crianças sabem se organizar se tivermos condições de suportar a liberdade delas. A atividade do dia a dia precisa ter a fala da criança, o planejamento, fazendo pequenos projetos. Podemos trazer elementos como a dança, a música, a escultura, trabalhar com argila, massa, terra; tudo relacionado a um tema, acordado entre todos. Mas o que vemos é só papel, giz e quadro. Criança que não se sente parte do processo vai fazer bagunça, vai criar estratégias de fugir da sala de aula. Nenhum ser humano gosta de obedecer, e sim participar. A SENHORA GOSTARIA DE MANDAR UMA MENSAGEM PARA OS PAIS E PARA OS PROFESSORES A PARTIR DOS ASPECTOS QUE ABORDOU NESTA ENTREVISTA? Queria que os pais ousassem conversar com seus filhos, descobrir suas necessidades, o que eles pensam. Acho que pai, professor, precisa aprender mais com as crianças, e ficar mais atento à sutileza, à delicadeza dos detalhes que elas mostram do mundo, e que nós, adultos, por sermos muito racionais, perdemos. Precisamos partilhar do mundo das crianças. Como terapeuta, digo que poucos pais conhecem o mundo subjetivo dos filhos. Para o professor, minha mensagem é de que, mesmo com todas as dificuldade inerentes ao exercício da profissão no Brasil, ele crie, tenha coragem, e que, junto com os alunos, perceba qual caminho deve tomar.