6. Na Idade Média com a presença de doenças
infecto-contagiosas e sem cura,
a morte era um
acontecimento
cotidiano,
tornando perda
advinda da
morte,
constante e,
portanto,
quase banal.
7. Na segunda metade do século XIX,
a morte
passa a não
acontecer
mais
em casa,
ao alcance
dos olhos
da família,
mas no
hospital.
8. A agonia da morte passa a
incomodar as pessoas,
resultando em um enorme
distanciamento entre
vivos e mortos....
9. As manifestações aparentes do
luto
são condenadas e
desaparecem...
Uma dor demasiado visível não
inspira pena, mas incômodo. Dentro
do círculo familiar ainda se hesita em
desabafar,
com medo de impressionar as
crianças.
10. Só se tem direito de chorar quando
ninguém vê nem escuta: o luto
solitário e
envergonhado é o único recurso.
Falar sobre a morte causa dor ao
enlutado.
Evita-se falar na morte.
11. Cada um lida com a morte de acordo
com:
●sua história de vida -
vínculos
●seu contexto de
vida
●suas histórias de
morte
13. “O homem é um ser condenado
a buscar sentido,
a captar que há algo que lhe
transcende – isto é, a dimensão
espiritual.”
(Dulcinéa da Mata Ribeiro Monteiro - analista
jungiana)
14. Busca de
sentido
Morte como
processo de
falência da
materialidade
humana
Morte como
sentido da
existência
humana
Por quê? Para quê?
Ciênci
a
F
é
15. Sentido para a
morte?
Sentido para o
sofrimento?
Os pacientes temem o processo de
morrer:
dependência, impotência,
dor e sofrimento, a falta de sentido.
Sentido para a
dor?
Sentido para a
vida?
17. Dor &
Sofrimento
Curar, quando possível. Aliviar e consolar,
sempre.
“À medida em que a dor e a morte são
absorvidas pelas instituições de saúde, as
capacidades de enfrentar a dor, de inseri-la no
ser e de vivê-las são retiradas da pessoa... Ao ser
tratada por drogas, a dor é despojada de sua
dimensão existencial subjetiva. Claro que essa
mentalidade retira do sofrimento seu significado
íntimo e pessoal e transforma a dor em problema
técnico” (Pe. Leo Pessini).
19. Componentes do Processo Dor &
Sofrimento
Psicológico - Perda do controle diante
do inevitável dos fatos, da doença e da
morte.
Perda dos sonhos e esperanças.
Social - A perda do papel social.
Isolamento.
Espiritual - Não encontrar sentido para
viver
ou para morrer. Não encontrar uma
comunidade
que partilhe do sentido.
Físico - A dor atinge o corpo e pode
ser tratada com analgésicos.
20. “A dor exige medicamento e analgésico;
o sofrimento clama por sentido”
(Pe. Leo Pessini).
O sofrimento sem sentido destrói o
humano.
O sofrimento atinge o todo da pessoa:
é um sentimento de angústia,
vulnerabilidade,
perda de controle e ameaça à integridade do
eu.
22. Reações do paciente e da
família
diante da morte anunciada
Negação e isolamento -
“Não, eu não, não pode ser verdade”.
Raiva - “Não, não é verdade.
Isso não pode acontecer comigo.
Por que comigo?”
Barganha - “Se eu for calmo e
paciente...
conseguirei o que preciso”.
23. Depressão
Depressão reativa - Sentimento de grande
perda.
“De que adianta lutar?”
Depressão
preparatória - Pouca necessidade de
palavras
“Não aguento mais lutar”.
Aceitação – “O momento do repouso
derradeiro
antes da longa viagem”.
24. Casos extremos / Pacientes
terminais:
até quando?
ÉTICA
“A Igreja católica aceita a morte encefálica
como verdadeiro critério de morte” (Leo
Pessini).
Morte como
processo
Ampliar a vida ou adiar a
morte?
Morte por
parada cardíaca
Morte
encefálica
25. Código Brasileiro de Ética Médica – 2010
reconhece o direito do paciente:
à verdade (art.34),
de decidir sobre seu tratamento
e sua vida (art.31 e 32),
de não ser abandonado (art.36),
de não ter seu tratamento complicado
(art.35),
ao alívio à dor (art.35)
e a não ser morto (art.41).
26. Sociedade Calano Balear de
cuidados paliativos (Espanha)
Necessidades/Direitos da pessoa
humana em situação terminal
1.Ser tratado como pessoa humana
até o fim da vida.
2) Receber um tratamento
personalizado.
3) Participar das decisões que dizem
respeito
a seus cuidados.
27. 4) Usar de meios necessários para combater
a dor.
5) Receber resposta adequada e honesta
para suas perguntas, fornecendo toda a
informação que ele possa assumir e
integrar.
6) Manter sua hierarquia de valores
e não ser discriminado pelo fato
de que suas decisões possam ser
distintas dos profissionais que o atendem.
28. 7) Manter e expressar a sua
fé.
8) Ser tratado por profissionais
competentes,
capacitados para a comunicação, e que
possam ajudá-lo a enfrentar a própria
morte.
9) Receber o consolo da família e amigos
que desejam que o acompanhem ao longo
do processo de sua enfermidade
e no momento da morte.
29. 10) Morrer em paz e com
dignidade.
11) A família deve ser informada
corretamente
das circunstâncias do falecimento
e ser ajudada administrativa,
psicológica e espiritualmente para enfrentar
com serenidade a etapa logo após a morte.
30. Eutanás
ia
“Por eutanásia, entendemos
uma ação ou omissão que,
por sua natureza ou nas intenções,
provoca a morte a fim de eliminar toda a
dor.
A eutanásia situa-se, portanto,
ao nível das intenções e
ao nível dos métodos empregados”.
(Declaração
Congregação para a Doutrina da Fé, 1980)
31. É vedado ao médico:
Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a
pedido deste ou de seu representante legal.
Parágrafo único. Nos casos de doença incurável
e terminal, deve o médico oferecer todos os
cuidados paliativos disponíveis sem
empreender ações diagnósticas ou
terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando
sempre em consideração a vontade expressa
do paciente ou, na sua impossibilidade,
a de seu representante legal.
Capítulo V - RELAÇÃO COM PACIENTES E
FAMILIARES
Código Brasileiro de Ética Médica –
2010
32. Questões relativas aos doentes graves e
moribundos
Congregação para a Doutrina da Fé (1981).
Não se trata de eutanásia:
1.Cuidados terminais (paliativos)
2.Decisão de renunciar a intervenções
extraordinárias
3) Intervenções para aliviar o sofrimento,
mesmo com risco de abreviar a vida.
33. Distanás
ia
Prolongamento exagerado da
agonia, sofrimento e morte de um
paciente,
por uma obstinação terapêutica
(os efeitos do tratamento são mais
nocivos do que a própria doença em
si).
Não se prolonga a vida,
mas o processo de
morrer.
34. Ortotanás
ia
Morte no tempo certo,
sem abreviar a vida,
sem prolongar o processo da
morte.
Viver e morrer com
dignidade.
35. “... quando a morte se anuncia iminente e
inevitável, pode-se em consciência
‘renunciar’ a tratamentos que dariam
somente um prolongamento precário e
penoso da vida, sem contudo interromper
cuidados normais devidos ao doente em
casos semelhantes...
A renúncia a meios extraordinários ou
desproporcionados não equivale ao
suicídio ou à eutanásia; exprime, antes, a
aceitação da condição humana diante
da morte”.
(Evangelium Vitae – João Paulo II 1995)
37. Luto patológico - Vivo em função do morto.
Morro para deixar o morto vivo em mim.
Se vivo sem o outro, o outro pode morrer.
Se não vivo sem o outro, estou morto,
mesmo que o outro esteja vivo.
Lut
o
Sentimento de pesar ou dor pela morte de
alguém.
Luto normal - Morro um pouco,
para que o outro morra em mim.
38. No luto patológico (melancolia),
o enlutado até pode ter consciência de
quem ele perdeu, mas não lhe vem à
consciência que há aí outra perda
subjacente.
Ele não sabe o que ele perdeu junto com a
perda desse alguém. Perde-se o próprio
ego/ eu.
Dificuldades na auto-estima.
No luto normal,
o enlutado tem consciência de quem ele
perdeu.
39. Tristeza - O sentimento mais comum,
muitas vezes manifestando-se através
do choro.
Sentimentos comuns no processo
de luto
Choque - Ocorre mais
frequentemente em mortes
inesperadas, mas também pode
existir em casos cuja morte era
previsível.
40. Torpor - Ausência de sentimentos.
Mais comum no início do processo de
sofrimento, logo após tomar conhecimento
da morte.
Pode ser uma reação saudável bloquear
inicialmente as sensações como uma
espécie de defesa contra o que de outra
forma
seria uma dor esmagadora e insuportável.
41. Raiva - Devida à
* sensação de frustração por não haver
nada
que se pudesse fazer para prevenir a
morte;
* experiência regressiva em que a pessoa
enfrenta a ansiedade por se sentir
indefesa,
incapaz de existir sem o outro.
Formas ineficazes de lidar com a raiva são:
direcioná-la erradamente para outras
pessoas, culpabilizando-as pela morte do
ente querido ou virá-la contra si, podendo,
no extremo, desenvolver comportamentos
suicidas.
42. “Não fui suficientemente bom...”
“Devia tê-lo levado logo para o
hospital.”
Na maior parte das vezes, a culpa é
irracional e irá desaparecer através do
teste com a realidade.
Culpa e autocensura
43. Surge do temor ser incapaz de
tomar conta de si próprio sozinho
e de uma sensação aumentada
da consciência da mortalidade do
próprio.
Quanto mais intensa e persistente, mais
sugere uma reação de sofrimento
patológica
(da insegurança ao pânico).
Ansiedad
e
44. Solidão / Desamparo
– “Como vou viver sem ela? Eu
lavo,
ela passa; ela varre, eu tiro o pó”.
“A casa está vazia”.
Fadiga - Apatia ou indiferença.
Angustiante para as pessoas ativas.
Anseio - Desejar fortemente a
volta
da pessoa perdida.
45. Emancipação
A libertação pode ser um sentimento
positivo após a perda.
Alívio
É comum principalmente se a pessoa
querida sofria de doença prolongada ou
dolorosa.
46. vazio no estômago
aperto no peito
nó na garganta / boca seca
hipersensibilidade ao barulho
sensação de despersonalização
(nada parecer real, incluindo o próprio)
falta de fôlego, sensação de falta de ar
fraqueza muscular
falta de energia
Sensações físicas
normalmente relatadas após a
perda:
47. * Descrença - não acreditar no fato
* Confusão - dificuldade de ordenar os
pensamentos, de concentração
e esquecimento
* Preocupação - obsessão com
pensamentos
acerca do falecido
* Sensação de presença
* Alucinações / experiências ilusórias
Pensamentos habituais após a perda
48. Quais as 4 tarefas essenciais do processo
de luto?
1.Apercebermo-nos da realidade de que
a pessoa morreu e que não irá voltar.
2) Passar pela dor causada pela perda,
de modo a fazer o trabalho do sofrimento.
3) Ajustar-se a um ambiente em que o
falecido
está ausente.
4) Transferir emocionalmente o
falecido
e prosseguir com a vida.
49. O processo de luto termina quando o
enlutado deixar de ter necessidade de
reativar a representação do falecido com
uma intensidade exagerada no quotidiano.
O luto não é um processo que progride de
forma linear, podendo reaparecer
para ser novamente trabalhado.
Toda busca de evitar ou suprimir a
realidade e a dor da perda irá muito
provavelmente prolongar o processo de
luto,
encaminhando-se para a depressão.