O que pensam os docentes sobre o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação nas práticas de Ensino?

O QUE PENSAM OS DOCENTES SOBRE O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO NAS PRÁTICAS DE ENSINO? Luciana Mendonça - UFRJ / NUTES ABED -201 0 Um estudo de caso com profissionais participantes do curso “ A Internet da Educação: Recursos e Aplicações”

OBJETIVO Apresentar as principais percepções de trinta docentes participantes do curso “ A Internet na Educação: Recursos e Aplicações ” em relação ao uso das TICs nas práticas educativas. ABED -2010

CONTEXTO DO ESTUDO O estudo foi realizado com 30 docentes do curso “ A Internet na Educação: Recursos e Aplicações ”, desenvolvido e mediado pelos integrantes do Laboratório de Tecnologias Cognitivas (LTC) do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de um grande município do estado do Rio de Janeiro (SME). http://ltc.nutes.ufrj.br/avte/sme/

A INTERNET NA EDUCAÇÃO: RECURSOS E APLICAÇÕES O curso é produto de pesquisas acadêmicas e foi adaptado das versões anteriores “ A Internet no Ensino Superior: Recursos e Aplicações ” desenvolvido como processo de formação dos profissionais envolvidos com a educação em ciências e saúde.

A INTERNET NA EDUCAÇÃO: RECURSOS E APLICAÇÕES Aj uste do curso aos interesses e necessidades dos docentes participantes, realizado pela equipe pedagógica e tecnológica do curso composto por três momentos: 1º – análise do perfil para o levantamento das possíveis alterações no ambiente; 2º – seleção de novos materiais para o curso e contextualização dos textos para reflexão; 3º – inserção do novo material, testagem de todos os recursos do AVTE e cadastro dos participantes. As atividades a serem desenvolvidas em cada módulo continuaram com o mesmo objetivo e estratégias.

QUESTÕES NORTEADORAS Implementação de programas e políticas públicas que objetivam a adoção e a integração destas ferramentas no contexto educacional brasileiro; Preocupação excessiva com a aquisição de equipamentos e a proliferação de programas com intencionalidades pedagógicas e pouca atenção à formação do professor para o seu uso nas práticas educativas (ALMEIDA, 2008; VALENTE, 2007); Apenas a disponibilidade e acesso às ferramentas no cotidiano escolar não garantem o uso das mesmas, bem como a melhoria da qualidade do ensino. ALMEIDA, M. E. B. Tecnologias na Educação: dos caminhos trilhados aos atuais desafios. Bolema: Rio Claro, Ano 21, nº 29, p. 99-129, 2008. VALENTE, J. A. Diferentes usos do computador na educação. Disponível em: <http://upf.tche.br/%7Ecarolina/pos/valente

QUESTÕES NORTEADORAS Para ultrapassarmos a fase de disseminação e acesso às TICs, deve-se investir na formação inicial e continuada dos profissionais que estão envolvidos com o seu uso, propiciando momentos e atividades reflexivas, considerando os conceitos e atribuições que os mesmos designam às TICs nas atividades de ensino (ERTMER, 2005); Compreender como o docente percebe as ferramentas tecnológicas é importante para a construção de um modelo de ensino que tenha como foco as especificidades de cada comunidade, e em especial, que contribua para mudanças significativas no processo ensino-aprendizagem (LABRUNIE, 2008; GIANOLLA, 2006). ERTMER, P. A. Teacher Pedagogical Beliefs: The Final Frontier in Our Quest for Technology Integration? ETR&D, vol. 53, no.4, p. 25-39, 2005. LABRUNIE, M. G. L. TICs na Escola: Uma tipologia sobre as práticas. Rio de Janeiro: UERJ, 2007. Disponível : www.lab-eduimagem.pro.br/frames/seminarios/pdf/e7marlab.pdf Acesso em 22 dez. 2008. GIANOLLA, R. Informática na Educação: Representações sociais do cotidiano . 3ª. Ed. São Paulo: Cortez, ISSBN 85-249-1212-X, 2006.

A Análise de Conteúdo das falas transcritas: O referencial teórico metodológico adotado pelo estudo A análise de conteúdo foi organizada em três etapas: Pré Análise; Exploração do Material; O tratamento dos dados obtidos e interpretação BARDIN, L. Análise de Conteúdo . Lisboa: Edições 70, 4ª. Edição, 2009. MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento : pesquisa qualitativa em saúde. 11ª. Ed. São Paulo: HUCITEC, 2008.

Etapas Procedimentos Justificativa Estratégias Autor 1º. Pré Análise Transcrição do Áudio Para ter acesso ao discurso falado, todos os áudios dos três encontros presenciais foram transcritos literalmente. *Transcrever literalmente os áudios, pontuando as pausas e posicionamentos destacados pelos participantes. Bardin (2009); Minayo (2008). Codificação Para manter o anonimato dos docentes, diferenciar o discurso destes dos pesquisadores e iniciar a sinalização das temáticas recorrentes. *Ocultar os nomes dos participantes; *Codificar os participantes; *Sinalizar as múltiplas temáticas recorrentes. Bardin (2009); Leitura Flutuante Leituras sucessivas das transcrições em busca de recorrências nas falas. *Leitura horizontal (Inúmeras leituras dos textos); *Leitura transversal (Leitura Crítica do texto, destacando as ideias principais do discurso dos participantes). Bardin (2009); Minayo (2008). 2º. Exploração do Material Formação das Expressões Chaves Fragmentos selecionados do discurso que melhor descrevem e representam seu conteúdo. *Sinalizar em cada diálogo os assuntos abordados para a composição das idéias centrais; *Destacar as expressões chaves representativas do conteúdo do discurso docente. Bardin (2009); Organização das expressões chaves em ideias centrais (temas) Organizar as expressões em temáticas amplas, ideias centrais, emergidas do discurso docente em fórmulas sintéticas que descrevem as percepções. *Organizar as expressões de acordo com o conteúdo apresentado pelo discurso; *Reler criticamente a organização das expressões; *Evidenciar as ideias centrais contidas nas expressões e organizá-las em eixos de análise (de acordo com a intenção do discurso). Bardin (2009); Minayo (2008). 3º. O tratamento dos dados obtidos e interpretação Análise de conteúdo do discurso docente Analisar criticamente as falas dos participantes, buscando identificar as percepções acerca o uso das TICs nas práticas de ensino. A partir dos eixos de análise, os temas emergidos da fala docente, aprofundar a compreensão das percepções docentes. Bardin (2009); Minayo (2008).

O que pensam os Docentes em relação ao uso das TICs nas práticas de ensino?

Categorias de análise Definição Subcategorias Significados atribuídos às TICs nas práticas de ensino dos docentes. Percepções acerca o uso educacional das TICs, bem como relato de atividades pedagógicas consideradas bem sucedidas e as dificuldades encontradas. TICs como facilitadoras na comunicação e interação com as pessoas; Apropriação de uma nova cultura midiática; Aquisição de novos conhecimentos; Dificuldades que podem impossibilitar o uso do laboratório de informática educativa entre outras TICs; Caráter lúdico e visual no uso das TICs; Ferramentas pedagógicas que podem melhorar o desempenho acadêmico do docente e do aluno; O uso das TICs nem sempre facilita o trabalho docente. Fatores institucionais em relação ao uso das TICs. Questões administrativas que impossibilitam o uso das TICs no cotidiano educacional. Dissonância entre o discurso dos gestores e dos docentes em relação ao uso das TICs; Fatores Administrativos que dificultam o uso das ferramentas tecnológicas. Necessidades em relação à formação continuada docente a distância para o uso das TICs. Falas embasadas nas experiências vivenciadas em EaD mediada pelas TICs, salientados as principais características que o processo formativo deve possuir. Organização e implementação da proposta formativa; Acesso às ferramentas tecnológicas no espaço escolar; Presença de suporte técnico, administrativo e pedagógico. Percepções em relação ao uso dos recursos tecnológicos pelos alunos Descrições acerca a diversidade demográfica dos alunos da rede e necessidades para a melhoria do desempenho acadêmico. Alunos que não são usuários; Alunos que são usuários. Perfil e necessidades dos participantes da pesquisa em relação ao uso das TICs. Descrições sobre o papel docente dos participantes como educadores da rede municipal e relatos sobres como usam as TICs diferenciadamente. Saberes em relação às práticas de uso das TICs pelos docentes da rede. Relatos de experiências no uso das TICs como os demais professores da rede.

O que pensam os Docentes em relação ao uso das TICs nas práticas de ensino? Infelizmente a gente tem uma propaganda de escola com laboratório de informática... Na essência a gente tem em 10 escolas um com laboratório, se estiver cuidado. Esta é a realidade. Então quer dizer, isso não está acontecendo e está sendo propagado. Tem laboratórios lindos e maravilhosos fechados com chave. [P3, fala retirada do primeiro encontro presencial]. A gente precisa de ajuda precisa de formação continuada e suporte pedagógico para o uso destas novas tecnologias. Precisa de alguém dentro do laboratório para auxiliar o professor que tem medo(...) [P9, fala retirada do primeiro encontro presencial (A)]. Mas a dificuldade a gente percebe, pelo que a gente conversa, às vezes coisas elementares: salvar arquivo... Eu dei aula para um grupo de professores que antes diziam que tinham que aprender a desligar o computador. Para você ver o estágio... então a gente tem gente B e C .. Tem estes obstáculos [P12, fala retirada do segundo encontro presencial (A)].

O que pensam os Docentes em relação ao uso das TICs nas práticas de ensino? (...) assim, propor atividades coletivas, em pares, em grupos... Mas para você construir mesmo essa cultura [de uso das TICs] e para não se sentir tão sozinho. [P3, fala retirada do segundo encontro presencial (B)]. Aí você traz tudo que for mais atrativo ... e nada! Ele não quer saber de nada, nada interessa a ele. Peço: clica ali... E ele nem sabe pegar no mouse. Eu falo: levanta o mouse e ele até levanta, mas da cadeira. Tem aluno que não sabe nem o básico e nem quer saber [P11, fala retirada do segundo encontro presencial (A)].

O que pensam os Docentes em relação ao uso das TICs nas práticas de ensino? (...) coisa que foi ressaltada e precisamos refletir é nesta cultura de EaD. Você entra no ambiente todo o dia, nem que você não participe, mas que você acompanhe (...) [P21, fala retirada do segundo encontro presencial (A)]. Aí quando me vejo estou enrolada em monte de coisas, com várias janelas abertas e perdida no que tenho que fazer. Ainda tem as informações que não servem para nada... [P9, fala retirada do primeiro encontro presencial]. A gente pode ser comunicar com qualquer pessoa de qualquer lugar a qualquer hora, isso é uma grande mudança [P23, fala retirada do segundo encontro presencial (A)].

O que pensam os Docentes em relação ao uso das TICs nas práticas de ensino? Tem professor que pensa: tá tudo na internet! E eu digo tá mesmo, mas você tem que aprender a selecionar. Se não seu aluno chega aqui com a informação completamente errada e como ele vai aprender a selecionar a certa? [P24, fala retirada do segundo encontro presencial (A)].

Para os participantes do estudo, uso das TICs no contexto educativo deve basear-se em princípios educacionais que privilegiam a reconstrução do conhecimento, a autoria, a produção em colaboração com os pares e a aprendizagem significativa; A variedade de recursos e informações presentes na Internet, que pode levar o usuário à confusão, à sensação de que está perdido nos emaranhados dos links e de que nunca dará conta de tantas informações e inovações; A aquisição de novos hábitos para o uso das TICs; Não é algo fácil, pois o conceito de virtualidade e modernidade alteraram a concepção do sujeito acerca do espaço e tempo. O que pensam os Docentes em relação ao uso das TICs nas práticas de ensino?

A Internet garante acessibilidade aos indivíduos e conteúdos variados; A facilidade na comunicação pode ocorrer assíncronamente ou sincronamente, possibilitando ao professor a interação de acordo com o seu tempo e ritmo, propiciando a aproximação entre os membros do grupo, estabelecendo novos vínculos e conhecimentos acerca do outro e dos conteúdos presentes no currículo escolar; Para os participantes, a Internet e demais ferramentas constituem-se como fonte de pesquisa, embasando-se na perspectiva de consumo e refletindo as políticas e projetos públicos voltados para o uso das TICs, que têm como objetivo a recepção de informações. O que pensam os Docentes em relação ao uso das TICs nas práticas de ensino?

Considerações Finais O uso de um ambiente virtual de aprendizagem além de proporcionar a aquisição de novos conhecimentos e cultura midiática, também, auxilia na construção da identidade desta rede de ensino, propiciando a interação de todos os profissionais; Desvencilhar das metodologias e práticas tradicionais de ensino e estudo requer uma mudança de atitude, ou seja, uma proposta de reforma curricular em todo âmbito educacional; O discurso dos participantes evidenciou uma “preocupação em disseminar e utilizar pedagogicamente as TICs nas atividades de ensino e no currículo escolar”, ou seja, uma busca pela transformação das práticas educativas; A ausência de suporte técnico e pedagógico dificulta a adoção destas tecnologias nas práticas de ensino, pois a sensação de ineficiência e solidão pode provocar no sujeito a recusa no uso e a perpetuação das práticas tradicionais, dificultando a mudança de postura.

Considerações Finais O uso das TICs nas práticas de ensino em alguns espaços educacionais tornou-se um grande evento; As percepções dos docentes participantes deste estudo indicam que a preocupação dos profissionais não está nas máquinas, mas nas pessoas, indicando novas propostas para o aprofundamento desta pesquisa, bem como o despontar de novas temáticas essenciais para a manutenção das ações educacionais que visam o uso das TICs nas práticas de ensino; Como esta experiência foi realizada no final do ano de 2007, nos anos seguintes inúmeras ações voltadas para o uso educacional das TICs foram adotadas no município em questão, tais como: distribuição de laptops a todos os professores locados em salas de aulas, implantação de rede sem fios em diversos bairros do município e distribuição de computadores portáteis a estudantes de algumas escolas, como projeto piloto a ser ampliado por toda a rede.

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