EDITORES
Valério De Patta Pillar
Omara Lange
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
Capa
Alecrim-do-campo
(Vernonanthura nudilflora),
São Vicente do Sul, RS
#
# Valério Pillar
Falsa folha de rosto
APA do Rio Ibirapuitã,
Santana do Livramento, RS
#
# Felipe Richter
REALIZAÇÃO APOIO
Rede
Campos
Sulinos
REDE CAMPOS SULINOS – UFRGS
PORTO ALEGRE, 2015
EDITORES
Valério De Patta Pillar
Omara Lange
Realização
Rede Campos Sulinos
Editores
Omara Lange
Valério De Patta Pillar
Planejamento e revisão
Bethânia Oliveira Azambuja
Carolina Blanco
Eduardo Vélez-Martin
Eliege Fante
Gerhard Ernest Overbeck
Grasiela Casas
Ilsi Iob Boldrini
Letícia Dadalt
Luciana Regina Podgaiski
Fernando Luiz Ferreira de Quadros
Omara Lange
Raíssa de Deus Genro
Rafael Trevisan
Rafael Machado
Rosemeri Segecin Moro
Sandra Cristina Müller
Samanta Iop
Valério De Patta Pillar
Editora executiva e de fotografia
Omara Lange
Design
Roka Estúdio
[Raquel Castedo, Laura Haffner e Ana Paula Hentges]
ILUSTRAÇÕES
Santiago
IMPRESSÃO
Gráfica da UFRGS
As imagens e os textos deste livro são responsabilidade dos respectivos autores.
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons
Atribuição-Não-Comercial-Sem-Derivações 4.0 Internacional.
Ficha catalográfica elaborada por Rosalia Pomar Camargo CRB 856/10
C198 Os Campos do Sul/Editores: Valério De Patta Pillar e Omara Lange. –
Porto Alegre : Rede Campos Sulinos – UFRGS, 2015.
192 p. : il.
ISBN 978-85-66106-50-3
1. Campos Sulinos 2. Biodiversidade
CDU 574(816) C198
Capítulo 6
Biodiversidade de ARTRópodOs
Milton de Souza Mendonça Jr., Bruna Winck,
Ronei Baldissera, William Dröse, Camila Fagundes Dias,
Murilo Zanini David, Tiago Shizen Pacheco Toma
& Luciana Regina Podgaiski
61
Capítulo 11
Serviços Ecossistêmicos
Valério De Patta Pillar,
Bianca Ott Andrade & Leticia Dadalt
115
Capítulo 10
Biodiversidade de MAmÍFEROS
André Luís Luza, Gislene Lopes Gonçalves,
Alan Bolzan & Sandra Maria Hartz
101
Capítulo 7
Biodiversidade de ANFÍBIOS
Samanta Iop, Bruna Raquel Assmann,
Tiago Gomes dos Santos & Sonia Zanini Cechin
71
Capítulo 8
Biodiversidade de Répteis
Laura Verrastro & Márcio Borges-Martins
81
Capítulo 9
Biodiversidade de aves
Carla Suertegaray Fontana & Glayson Ariel Bencke
91
Capítulo 1
Campo da palavra,
da literatura, da música crioula
Demétrio Xavier
13
Capítulo 5
bioDIVERSIDADE DE PLANTAS
Ilsi Iob Boldrini,
Gerhard Ernst Overbeck & Rafael Trevisan
51
Capítulo 4
biodiversidade DOS CAMPOS
Gerhard Ernst Overbeck,
Luciana Regina Podgaiski & Sandra Cristina Müller
43
19
Capítulo 2
valor histórico e
econômico da pecuária
Cláudio Marques Ribeiro & Fernando Luiz Ferreira de Quadros
O CAMINHO DAS MISSÕES
Luiz Carlos Tau Golin
31
Capítulo 3
FISIONOMIA DOS CAMPOS
Gerhard Ernst Overbeck, Ilsi Iob Boldrini,
Marta Regina Barrotto do Carmo, Élen Nunes Garcia, Rosemeri Segecin
Moro, Cassiano Eduardo Pinto, Rafael Trevisan & Ana Zannin
PARTE 1
A IMPORTÂNCIA DOS CAMPOS
SUMÁRIO
REFERências
175
Capítulo 15
recuperaçÃO DOS campos
Mariana de Souza Vieira & Gerhard Ernst Overbeck
149
Capítulo 14
cuidar e fazer diferente
Fernando Luiz Ferreira de Quadros,
Émerson Mendes Soares, Leandro Bittencourt
de Oliveira & Cláudio Marques Ribeiro
141
Capítulo 16
Cidadania e uso
sustentável dos Campos
Eduardo Vélez-Martin, Eliege Fante,
Graziela Dotta, Thaiane Weinert da Silva,
Carla Suertegaray Fontana & Valério De Patta Pillar
155
Capítulo 12
conversão e fragmentação
Eduardo Vélez-Martin, Carlos Hugo Rocha,
Carolina Blanco, Bethânia Oliveira Azambuja,
Heinrich Hasenack & Valério De Patta Pillar
123
Capítulo 17
Políticas públicas
para os Campos
Eduardo Vélez-Martin, Luiza Chomenko,
Marcelo Madeira & Valério De Patta Pillar
167
Capítulo 13
espécies exóticas invasoras
Anaclara Guido & Demetrio Luis Guadagnin
133
PARTE 2
O FUTURO DOS CAMPOS
9
Paisagens campestres caracterizavam originalmente vastos
territórios no Sul do Brasil, no Uruguai e na Argentina, e estão na
raiz cultural de boa parte dos habitantes dessa região. Entretanto,
os campos já desapareceram em muitas áreas e os remanescentes
correm grande risco de serem transformados em novas lavouras,
pastagens cultivadas e plantações de árvores.
Nos três estados do Sul do Brasil os campos cobriam cerca
de 218 mil km2
, mas atualmente estão reduzidos a menos de 40%
de remanescentes distribuídos no bioma Pampa, no Rio Grande
do Sul, e em mosaicos com as florestas da Mata Atlântica que
se estendem pelas partes altas do Planalto Sul-Brasileiro do Rio
Grande do Sul ao Paraná.
Este livro mostra que a perda desse patrimônio tem sido
negligenciada mas que há caminhos alternativos e eficientes para
sua conservação e uso sustentável.
A vegetação campestre, com alta biodiversidade, há sécu-
los tem sido utilizada como pastagem para a produção pecuária
na região Sul do Brasil. O uso pastoril dos campos preserva a ve-
getação nativa e é essencial para manter paisagens com muitas
espécies nativas de plantas e animais. Nos campos encontramos
capins flechilhas, capim-caninha, barba-de-bode, santa-fé, gra-
ma forquilha, macegas, chircas, gravatás, carquejas, marcelas,
vassouras, pega-pega, e outras ervas, arbustos e árvores de mui-
tos tipos. Também estão presentes borboletas, mariposas, formi-
gas, aranhas, cascudos, ácaros, tatus, zorrilhos, emas, quero-que-
ros, perdizes, perdigões, corujas, gaviões, chimangos, capivaras,
graxains e muitos outros animais, incluindo bovinos, equinos e
ovinos domesticados, e a diversidade extraordinária e pouco co-
nhecida de bactérias e fungos. Todos esses organismos formam
uma complexa teia de relações que garantem a integridade das
paisagens campestres e dos serviços ambientais.
Além da forragem para o gado, esses campos provêm ser-
viços ambientais essenciais para o benefício de toda a socieda-
de. Alguns exemplos: as nascentes dos principais rios dessa
região são ou já foram áreas campestres; os solos campestres
contêm grandes estoques de carbono com alto valor para a mi-
tigação de mudanças climáticas; e, as paisagens campestres
atraem, emocionam, e inspiram as populações humanas, cada
vez mais urbanas.
A atividade pastoril de produção pecuária nos campos
nativos já foi a base da economia do Sul do Brasil, mas nas
últimas décadas tem perdido terreno para outras atividades,
aparentemente mais lucrativas no curto prazo. Neste livro são
apresentados resultados que comprovam que é possível, com a
conservação da biodiversidade típica dos campos, melhorar a
produtividade da atividade pastoril. Ou seja, há excelentes pers-
pectivas para combinar desenvolvimento econômico e social
com a proteção dos campos.
APRESENTAÇÃO
10
O mundo inteiro exige sustentabilidade das atividades
humanas. Os campos do Sul do Brasil constituem oportunida-
de ímpar para tal desafio na escala de milhões de hectares que
ainda não foram suprimidos e de outros tantos degradados que
possam ser talvez recuperados. Entretanto, é necessário obede-
cer limites e evitar a descaracterização de paisagens campestres
inteiras, que no passado recente eram campos e hoje estão alte-
radas e fragmentadas. Apesar do conhecimento existente e de
várias experiências práticas mostrarem que é possível produzir
melhor e ao mesmo tempo conservar os campos, falta o reconhe-
cimento desse potencial nas decisões públicas e privadas.
Essas questões são tratadas e ilustradas neste livro, que
está organizado em capítulos com diferentes autorias. A pri-
meira parte mostra aspectos históricos e culturais vinculados
às paisagens campestres, a imensa biodiversidade encontrada
em vários grupos de plantas e animais, e os serviços ambientais
providos pelos campos. A segunda parte aborda a problemática
da conversão dos campos em outros usos da terra e indica ações
necessárias para sua conservação, restauração e uso sustentá-
vel, sugerindo políticas públicas e ações individuais para vencer
os desafios de aliar proteção da biodiversidade e produção.
Os Campos do Sul é uma publicação da Rede Campos Suli-
nos, realizada com o apoio da UFRGS, e com recursos financeiros da
FAPERGS e do CNPq, através dos projetos “Biodiversidade dos cam-
pos e dos ecótonos campo-floresta no Sul do Brasil: bases ecológicas
parasuaconservaçãoeusosustentável”e“RededePesquisaemBio-
diversidade dos Campos Sulinos”. O primeiro foi cofinanciado pelo
CNPq, FAPERGS e CAPES, através do Edital no 47/2010 – Sistema
Nacional de Pesquisa em Biodiversidade – SISBIOTA. O segundo é
financiado pelo CNPq através do Edital nº 35/2012 – PPBio/Geoma.
Ambos projetos contaram com a participação de pesquisadores e
pesquisadoras de diferentes universidades e instituições de pesqui-
sa, vinculados à Rede Campos Sulinos.
Este livro resulta da contribuição de mais de 80 autores e
autoras de capítulos, de imagens fotográficas e de ilustrações,
cujos currículos estão listados ao final do livro. Contamos
também com a colaboração de Eduardo Vélez, Gerhard Overbeck,
Luciana Podgaiski, Samanta Iop, Bethânia Azambuja, Sandra
Müller, Letícia Dadalt, Raíssa Genro, Eliege Fante, Carolina
Blanco, Ilsi Boldrini, Rafael Trevisan, Rosemeri Moro e Fernando
de Quadros, que em diferentes momentos participaram na
organização e revisão do livro.
Agradecemos a todos pelas contribuições, e de maneira es-
pecial a Eduardo Vélez.
Valério De Patta Pillar &Omara Lange
11
Quiriquiri
(Falco sparverius)
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
PARTE 1
A IMPORTÂNCIA DOS CAMPOS
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
15
Capítulo 1
Campo da palavra,
da literatura, da música crioula
Demétrio Xavier
Yo me he criao a puro campo
Rancho, rebaño y maizal
Con noches de historias viejas
Y mañanas de cristal.
Quanta nostalgia, quanta distinção, quantas imagens
gratas e constitutivas de uma forma única de ser, subjetiva e
coletiva, as que se apascentam nesse puro campo de Atahualpa
Yupanqui; no campo que o fez e faz ser o que é, porque o criou.
Ao mesmo tempo, quão infinitas, inúmeras, as referências
que aí estão em silêncio, tácitas, como aquelas “palavras de dedo
nos lábios”, de Augusto Meyer (“querência, pagos, rincão...”).
Campo... A etimologia indica, primeiro, sua relação com
os próprios limites: o campo do latim (e antes, parece, do indo-
europeu) é espaço cercado, ou circunscrito pelo meio natural
- acepção ainda viva, quer quando se arrenda um campo, quer
quando se fala de uma área de atuação ou conhecimento.
Depois, o plaino; o espaço aberto, sem acidentes principais.
No andejar longo da palavra, campo também passa a
ser a oposição à cidade; oposição mais antagônica ou mais
complementar, de acordo com os pensares, sentires e pertenceres
de cada um, de cada época, de cada grupo.
Mas - e se queremos ouvir vozes antigas, recitando a dia-
cronia da nossa palavra – convoquemos os originários: o que pen-
sava um guarani ao pronunciar “nhu”; o que sentia um falante do
quíchua inca ao dizer “pampa”, “chakra”?
No universo simbólico do gaúcho, com seu linguajar tão car-
regado de quichuismos, aliás, aqui talvez seja oportuno observar
que chakra parece-se mais com o significado antigo de campus, tran-
çado com uma ideia de circunscrição, limite. Pampa, ao contrário (e
é uma reflexão a parte, longa, por certo, a vigência e ressignificação
que essa palavra tem vivido) prende-se ao conceito de planície.
Poucas palavras carregam na boca tanto sabor identitário,
atávico.Nonossosuldepaísedecontinente,talvezdeformamuito
particular. Perguntar-se sobre esses significados é imperativo,
quando se fala em preservar o campo, proteger o campo, dar o
campo a conhecer.
Infinitas referências se podem fazer a significantes corre-
latos e a seus significados: campeiro, campanha, campear, inun-
dam a literatura e o falar tradicional. Em outra frente – e enquanto
História afora, digladiam-se Caim lavrador e Abel pastor -, temos
camponês, campônio, campesino...
Numa saborosa e perdoável licença, Yupanqui diz ter ou-
vido de um gaúcho algo que, na verdade, está em Lucio Victorio
Gaúcho de
Santa Maria, RS
#
# Ronai Rocha
16
Mansilla: “o pampa é o céu ao contrário”. Confirmando Bioy Casa-
res e Borges, Atahualpa referia-se ao campo (seus dois conterrâ-
neos dizem que só letrados usam a palavra “pampa” para esse fim
e ninguém ignora que o autor de Los Hermanos era leitor ávido e
escritor de texto fino).
Em Mansilla, ao contrário, a bela frase se referia a salitrais e
seu reflexo (e afinal, não lá estão, no Chile, as Pampas Salitreras?).
Yupanqui, nesse empréstimo, talvez buscasse expressão
que desse conta do infinito da projeção ao horizonte (e quem sabe,
do fundo dos campos incultos do inconsciente, não estivesse
dizendo que o campo é um inferno?).
Essa metafísica do campo já deu assunto de dar água pela
aba da carona. Como em Osíris Rodríguez Castillo:
Yo soy pión recorredor,
y me gusta mi trabajo,
cuido el campo como mío,
porque, si vamos pa´l caso:
pa´ nacer o caerse muerto,
no es ajeno ningún campo.
Como não ser assim, em uma paisagem sempre associada ao
infinito, desde as primeiras comparações de europeus com o mar?
Há mistério e divindade para muito além da descrição física
desse campo e mesmo da questão de propriedade e atividades
que engendra. Há vida e morte, finitude, caminho e sina; tempo,
destino e povo consubstanciado com a paisagem (“o homem é
terra que anda”, diziam os incas), brotando entre o pasto. Como
quando aquele mesmo Yupanqui, ao fim da vida, anuncia:
Vengo a buscar mi caballo
para adornarme con él
Mañana saldré a los campos,
quien sabe si volveré.
Garrão de potro,
Santa Maria, RS
#
# Ronai Rocha
17
Laçador,
Santa Maria, RS
#
# Ronai Rocha
18
19
Cavalhada,
Pedro Osório, RS
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
21
Capítulo 2
valor histórico e
econômico da pecuária
Cláudio Marques Ribeiro & Fernando Luiz Ferreira de Quadros
A região que veio a constituir o Rio Grande do Sul não des-
pertou interesse econômico de espanhóis e portugueses até por
volta de 1640. Até então, apenas os jesuítas espanhóis haviam se
estabelecido para a cristianização de grupos indígenas, introdu-
zindo o gado bovino e equino que acabou se espalhando natural-
mente pela vasta região de campos a leste do rio Uruguai e mais
tarde passou a ser explorado para o comércio do couro.
Esse território era habitado pelos índios da grande famí-
lia Tupi-Guarani, localizando-se os tapes, carijós, arachanes e
guaianás ao norte e nordeste e os guenoas, minuanos e charruas
a oeste e ao sul. Os minuanos e os charruas foram aqueles que,
através de seus hábitos e de seus objetos de uso, deram a maior
contribuição para a formação do tipo humano e social posterior-
mente identificado como gaúcho (1).
A Estância jesuítica
Os jesuítas espanhóis fugiram do Paraguai para o território
a leste do rio Uruguai com um número significativo de índios
cristianizados e com gado bovino, onde fundaram as reduções
do Tapé em 1626 (2). Estabeleceram em território rio-grandense as
primeiras estâncias1
, que eram compostas por um grupo de índios,
acompanhados por um padre. O gado não recebia nenhum cuidado
especial, estas estâncias eram “vastos criatórios naturais, indivisos”
que permitiam que as aldeias jesuíticas retirassem o seu sustento.
Nas estâncias jesuíticas não havia propriamente moradas fixas e
grupos humanos estáveis, exceto pequenos arranchamentos (3).
Por volta de 1640, as primeiras reduções jesuíticas foram ata-
cadas por bandeirantes paulistas à caça de índios para escravizar,
e por isso padres e índios se retiraram para a margem direita do rio
Uruguai, mas deixando os animais que criavam. Assim, o gado se
espalhou e se tornou selvagem, resultando em milhares de bovinos
e equinos dispersos pelo território rio-grandense e uruguaio (4, 5,6).
Estes animais vieram a constituir uma imensa reserva de gado que
serviu de base econômica para a apropriação da terra gaúcha (7).
Com o retorno dos jesuítas à região a leste do rio Uruguai em
1682, dá-se início à construção dos Sete Povos das Missões. Os
jesuítas espanhóis estabeleceram as estâncias de gado no oeste e
sul do atual Rio Grande do Sul. Mais tarde também introduziram o
gado nos campos de altitude a nordeste. Estas estâncias já tinham
como objetivo a criação do gado bovino para a extração do couro
para a comercialização. A carne era utilizada para consumo e sub-
sistência, o excedente do abate era deixado para apodrecer (5, 7).
Umbu,
Bagé, RS
#
# Ronai Rocha
22
A Estância da sesmaria
A ocupação portuguesa dessa região aconteceu de forma
tardia em relação ao restante do Brasil, pois, pelo Tratado de
Tordesilhas, o território português tinha como limite sul a cidade
de Laguna, sendo que todo o Pampa brasileiro pertencia à
Espanha. A descoberta das minas na zona das Gerais concentrava
densas massas populacionais proporcionando o surgimento do
mercado interno no Brasil, pela demanda de cavalos e muares
para o transporte, como pelo consumo de charque (7,8). Surge a
figura do tropeiro que daria grande contribuição na formação
do gaúcho. O tropeiro teve extrema importância na execução da
preia do gado e das mulas e na sua condução até Sorocaba, onde
eram comercializadas para Minas Gerais (3).
Em 1732 a Coroa portuguesa começou a distribuir ses-
marias nessa região. O sesmeiro tinha atribuição de defesa da
fronteira, instável, com os territórios espanhóis. A sesmaria
é uma medida agrária antiga utilizada para as superfícies de
campos de criação sendo equivalente a 13.068 ha ou 150 qua-
dras de sesmaria (9). Desta forma, foram criadas as grandes
Mapa das reduções
jesuíticas no
Rio Grande do Sul
(1540-1680)
Fonte: Cláudio Ribeiro
estâncias que viriam constituir um importante componente da
sociedade rio-grandense.
Essas estâncias se estabeleceram em áreas onde predo-
minavam campos naturais propícios à atividade pastoril para a
criação do gado, e sempre tendo como objetivo a defesa do terri-
tório (4, 5, 6, 7, 8). Isso foi determinante na formação cultural do
habitante reforçando valores como o individualismo, a descon-
fiança (onde o sentido de defesa é permanente), a relação com
o cavalo e com a atividade pastoril, sem o cultivo da terra (2, 8).
A criação de gado em um ecossistema favorável e numa situa-
ção politicamente instável acabou contribuindo para a formação
deste tipo social do sul (10).
O Pampa brasileiro só foi ocupado pelos portugueses
quando, por volta de 1752, se iniciou a demarcação dos limites
estabelecidos pelo Tratado de Madrid, na região da Campanha.
Entretanto, não foram limites definitivos, o povoamento dessa
região nos setenta anos subsequentes progrediu e regrediu em
função dos acertos entre as duas Coroas (11).
As estâncias das sesmarias foram a base da sociedade rio-
grandense e da exploração pecuária. Uma estância que possuía
uma sesmaria tinha cerca de 10.000 cabeças de gado, um capataz e
10 peões. A estância se mantinha pela venda do gado no mercado,
não exigindo grandes investimentos, o custo maior era a mão-de-
obra. Embora a natureza fosse favorável para a criação de gado
bovino solto nos campos (o uso de cercas só aconteceu a partir de
1870), era necessário cuidar, marcar, castrar (12). A qualidade das
pastagens determinava diferenças de produção entre uma região e
outra. Um rebanho de 1.000 reses produzia cerca de 250 crias por
ano (1), e a produção variava entre 6 e 10% do total do rebanho (9).
As estâncias iniciaram, com seu sistema de exploração
pastoril, a definir a posse das áreas conflituosas do Rio Grande,
a posse dos gados e a estabelecer as relações capitalistas com o
assalariamento de capatazes e peões. A estância passou a ser a
viga mestra da sociedade com os grandes estancieiros agrupando
parentes, amigos, protegidos, mestiços, índios, e negros escravos,
formavam um reduto forte (8). Ela não significava apenas
exploração da atividade econômica e da unidade de produção,
mas o núcleo de defesa e manifestação de riqueza e poder (1).
23
A economia do charque
A indústria do charque cresceu no Rio Grande do Sul
a partir de 1780, propiciando o avanço da pecuária bovina,
com a recuperação dos rebanhos e com o vínculo comercial
estabelecido com as charqueadas em Pelotas. Entretanto, os
inúmeros conflitos2
durante todo o século XIX fizeram com que
esta região se transformasse em um acampamento de guerra
sem precedentes.
Em 1822 foi extinto o sistema de doação das sesmarias.
As áreas que estavam ocupadas eram inquestionáveis e aqueles
que quisessem terras, daí em diante, só poderiam fazê-lo atra-
vés da ocupação de terras improdutivas. Iniciam-se, portanto,
conflitos entre os estancieiros com os antigos tropeiros, com al-
guns soldados desmobilizados e com mestiços indígenas que se
transformaram em posseiros.
As cercas divisórias com emprego do aramado foram uti-
lizadas no Rio Grande do Sul a partir do fim do século XIX, o que
provocou duas consequências com importante impacto econô-
mico e social (5). A primeira foi que a pecuária ganhou impulso
especial, após 1870, e com a paulatina introdução de cercas divi-
sórias houve a melhoria do manejo e a simplificação das tarefas
campeiras. A segunda consequência da simplificação das lides
da pecuária foi a menor necessidade de mão-de-obra, abrindo-se
possibilidades de mudanças técnicas no processo produtivo (11).
A estância passa a se transformar gradativamente em
fazenda ou em estância capitalista. Porém, cabe ressaltar a
enormeimportânciaqueestaherançacultural,econômicaesocial
teve, e tem, na conduta dos estancieiros e nos seus sucessores
bem como nos peões e agregados.
A modernização capitalista
A fixação do estancieiro na cidade aconteceu gradualmente
sendo o seu tempo vivido na área rural cada vez menor, afastando-
se também das lides campeiras. Foi uma mudança em que a
estância tornava-se, gradativamente, fazenda (13).
As estâncias continuaram a se especializar aprimorando
as raças e comercializando o gado em pé. A instalação dos fri-
goríficos multinacionais ocorreu por volta de 1917, quando
compraram as charqueadas e as transformaram para a atividade
frigorífica. Seu impacto nos aspectos produtivos aconteceu atra-
vés da introdução de reprodutores de raças europeias e do maior
cuidado com a saúde dos animais, inclusive com o surgimento
dos primeiros banheiros carrapaticidas (12).
A I Guerra Mundial gerou grande demanda pelos produtos
da pecuária rio-grandense, ativando as exportações e melhorando
os preços. O maior valor do gado constituiu-se em um estímulo
para que houvesse um período de melhorias e investimentos,
impulsionando novos métodos de criação e incrementando as
mudanças produtivas da estância (7).
O Rio Grande do Sul no período pós-Guerra, além de
ser destaque na criação bovina, tinha as maiores populações
bovina e ovina do país com cerca de 8 milhões de bovinos (25%
do rebanho total) e 4 milhões de ovinos (58% do rebanho total).
Os ovinos possibilitaram também que o Estado fosse o maior
produtor de lã do país (97% do total), a maior parte oriunda da
região da Campanha (4).
A partir dos anos 1960 podemos distinguir pecuária tradi-
cional (a maioria dos produtores) e pecuária empresarial (um
grupo pequeno de produtores que se modernizou). A diferença
está na racionalidade da gestão e nos tempos dos ciclos produti-
vos. A pecuária tradicional, com médias na idade de abate de 4,5
anos, é definida como de ciclo longo, enquanto a pecuária em-
presarial tem ciclos que variam entre 16 e 24 meses (ciclo curto).
Nas últimas décadas a produção primária rio-grandense
teve um rápido crescimento devido basicamente às lavouras
e principalmente ao cultivo da soja. Isto acentuou mais as
diferenças regionais no Estado com uma modificação das
formas produtivas e nas atividades, especialmente na região
do Planalto Médio, onde a agricultura se estabeleceu e cresceu
em área e produtividade. O processo de modernização da
agricultura proporcionou um aumento da renda agrícola, a
partir do crédito subsidiado, mas também provocando fortes
impactos ambientais e sociais (14).
24
Os diferentes tipos de pecuaristas
Atualmente a maior parte dos bovinocultores de corte do
Rio Grande do Sul tem o perfil de pecuarista tradicional, não ha-
vendo muitos avanços nas tecnologias de produção e nas relações
comerciais. A pecuária é praticada mais por motivos de tradição
(26%), satisfação (25%) e por segurança (14%) do que pela busca do
lucro (apenas 8%) (15). Grande parte da bovinocultura de corte não
se modernizou, mantendo formas produtivas e de comercialização
semelhantes ao passado. Apenas 15% dos produtores praticam a
atividade de forma empresarial. Os demais (utilizando mão-de-obra
contratada ou familiar) desenvolvem formas produtivas tradicionais.
Estas formas produtivas são dirigidas por processos decisórios que
levam em consideração outros valores, expectativas e ambições,
como a segurança, estabilidade, tradição e satisfação pessoal e não,
necessariamente, a busca de rentabilidade econômica.
A estância, a bovinocultura de corte e o ambiente acabaram
forjando um tipo diferenciado de agricultor familiar: os pecua-
ristas familiares, pecuaristas de gado de corte, com áreas de até
300ha que utilizam, predominantemente, mão-de-obra da família.
Apesar da transformação das estâncias das sesmarias em estâncias
menores, onde a produção em larga escala não é mais possível, a
bovinocultura de corte permaneceu como a atividade principal. Di-
minuiu, e em alguns casos não há mais a utilização de mão-de-obra
assalariada, mas não se modificou a atividade principal. Apesar da
bovinocultura de corte ser considerada uma atividade que exige
áreas maiores ou a intensificação da atividade, os pecuaristas fami-
liares permaneceram criando extensivamente em pequenas áreas.
A história do Pampa brasileiro teve, e permanece tendo, uma
relação umbilical com o ambiente e com a natureza, em especial
com os campos nativos. A evolução da vegetação campestre esteve
historicamente ligada à sua utilização por herbívoros. A partir da
colonização europeia, esse processo foi moldado novamente pela
introdução dos bovinos, equinos e ovinos, a partir do seu manejo
pelas sociedades humanas que aqui se constituíram. Essa voca-
ção econômica de produção pecuária sobre a vegetação campestre
é um legado da natureza e da história dos homens nessa região e
precisa de instrumentos sócio-econômico-políticos para ser preser-
vada como um patrimônio da natureza para a humanidade.
NOTAS
1. Estância é o lugar onde se fica, onde se estabelece por algum
tempo, morada. Trata-se de um termo castelhano que significa
“terras com criação de gado vacum e cavalar” (3).
2. O ciclo de Guerras no século XIX demonstra a constante
instabilidade e as necessidades de esforços de guerra que os
estancieiros e seus comandados tinham que despender, além das
grandes perdas daí decorrentes que impediam o crescimento e a
melhoria dos processos produtivos na pecuária bovina.
1811–1814: forças portuguesas invadem a Banda Oriental
1816: Artigas organiza a resistência contra os portugueses
1820–1821: Artigas é derrotado, recomeça a resistência no Uruguai
1828: Independência do Uruguai
1835–1845: Revolução Farroupilha
1848–1851: Guerra Grande quando o Brasil apoia os caudilhos e
intervém no Uruguai
1851–1852: Guerra com a Argentina derrotando Rosas
1864–1870: Guerra do Paraguai
1893–1895: Revolução Federalista
25
Fazenda Seival,
Caçapava do Sul, RS
#
# Ronai Rocha
26
No período colonial, a Estrada das Missões era uma via geral, com
traçado sul-norte, que cortava os domínios da Banda Oriental
do rio Uruguai, território dominado pela Província Jesuítica do
Paraguai, onde existiam sete de suas trinta cidades, adstritas por
povoados, estâncias, capelas, ervais e propriedades coletivas dos
indígenas no atual Rio Grande do Sul. A ela se conectavam todos
os demais caminhos.
Seus fluxos estabeleciam conexões com o Rio da Prata, Rio
Pardo, as Vacarias dos Pinheirais (ou Pinhais) e, por diversas ra-
mificações, com os Povos da margem leste do rio Uruguai. Em
seu dorso principal percorria os planos genericamente mais ele-
vados dos territórios, entre nascentes. Nos pontos de travessias
de rios e arroios, denominados de passos, preferencialmente
onde as águas nivelavam e tinham pouca correnteza, os mis-
sioneiros mantinham balsas, canoas ou utilizavam pelotas (em-
barcações de couro vacum). No fundamental, pela Estrada das
Missões transitavam tropas de animais (vacas, bois, touros, ca-
valhadas, ovelhas, mulas e burros), muares de carga e carretas
destinados ao transporte de charque, erva-mate, couros, sebo,
madeiras etc. Dela também ramificavam caminhos para os rios
navegáveis, onde mantinham embarcações de baixo calado,
propulsionadas à vela e remo.
No atual Rio Grande do Sul, a Estrada das Missões tinha o seu
ponto inicial predominante noAceguá.A ele se conectava um sis-
tema de vias com origem na costa do Rio da Prata, na região do
Delta delTigre, foz do Santa Luzia, então chamada deCanelones.
Deste local bifurcavam quatro estradas. Uma seguia para a
Colônia do Sacramento e Arraial de Veras. A segunda se dirigia
para Montevidéu, Maldonado e Castillos, na margem sul da lagu-
naNegra,cartografadatambémcomolagunadosDefuntos.Fazia
parte do Caminho do Litoral, integrado às capitanias do Brasil
meridional. A terceira avançava às nascentes do Santa Luzia, no
departamento de Lavalleja, prosseguia pelo entãoCerro dos Reys
(CuchillaGrande) e, depois, também, aCastillos.A quarta rumava
para o norte, deixando à direita a Cuchilla Grande, de topografia
elevada, até às cabeceiras do Rio Negro, no Aceguá.
Nesta rede, Castillos era outro local privilegiado, de conexão com
os demais locais. De suas coordenadas, mais uma estrada corta-
va para o oeste, para logo bifurcar em dois prolongamentos: um,
contornando a laguna Negra, deixando-a a direita e atingindo o
forte de San Miguel, na margem do arroio homônimo (manan-
cial demarcador da fronteira Brasil – Uruguai), com sua foz na la-
goa Mirim, onde existia um porto, cujas embarcações poderiam
singrar nos seus afluentes navegáveis, penetrar no canal São
Gonçalo, chegar a lagoa dos Patos, com conexões ao Guaíba,
Jacuí e seus rios, além de sair ao Atlântico, pela barra do Rio
Grande. DoSan Miguel, por terra o caminho também ligava-se ao
Chuí e o Caminho do Litoral. O outro prolongamento, cortando
os departamentos de Rocha, Lavalleja e Flórida, conectava-se em
Durazno a estrada Delta delTigre/Canelones/Aceguá.
DoSan Miguel, a cavalo, também se podia contornar pelo sul da la-
goaMirim,baldearoCebollatieiraopassodoChileno,norioNegro.
Então, ligava-se com Canelones, Aceguá, além de rumar para as
passagens do rio Uruguai paraCorrientes e Santa Fé (Argentina).
Ao Aceguá também chegava o caminho que iniciava na vila de
Rio Grande, atravessava o canal São Gonçalo, acompanhava a
margem meridional do rio Piratini e seguia até aquele ponto, nas
nascentes do Rio Negro.
Dessa forma, no Aceguá, na fronteira Brasil-Uruguai, a Estrada
das Missões (também denominada Estrada dos Índios) consti-
tuía-se no acesso principal aos Sete Povos, ao mesmo tempo
que figurava como a artéria principal de uma malha com diversas
ligações. Seu percurso pela topografia mais elevada, entre nas-
centes ou rios e arroios com passos organizados e com suportes
aos viajantes, possibilitavam vencer a jornada. Por ela e suas ra-
mificações, em distâncias mais ou menos regular de 60 quilôme-
tros, existiam as sedes das estâncias, algumas com características
de povoados, com lavouras e pastoreio organizados, rancherios
e postos de controle nas invernadas. Essas unidades eram pon-
tuadas por capelas adornadas de estátuas de madeiras talhadas
pelos próprios missioneiros.
O CAMINHO das Missões
LUIZ CARLOS Tau Golin
Caminho das Missões
Fonte: Miguel de Blasco,
Acervo do Ministério
da Educação, Cultura
e Esporte, Espanha
27
Já na fronteira, a mais importante era a sede da grande estância de
SantaTecla (atual município de Bagé), com povoado (rancherio), ca-
pela, produção de cerâmica e uma milícia formada para proteger os
limites missioneiros e combater, em especial, os gaudérios/gaúchos
que iam roubar-lhes gados, mulheres e crianças.
De Santa Tecla, a estrada prosseguia até a Boca do Monte (atual
SantaMaria),onderamificavaumcaminhoparaoleste,aoPassodo
Jacuí e Rio Pardo, conectando as estâncias, ervais e capelas da ba-
cia doJacuí e cabeceiras doCamaquã. Do mesmo local, outro cami-
nho prosseguia para o oeste, pela margem sul do Ibicuí atéCacequi,
onde atravessava para a costa norte, em direção à grande estância
deSantiago, seguia às nascentes do Bororé e ao Povo deSão Borja.
Da conexão destes dois ramais na Boca do Monte, a Estrada das
Missões prosseguia para o norte pelo perau de subida até o posto de
São Martinho, passando da topografia da Pampa/Campanha para o
Planalto.A seguir atravessava a estância deTupanciretã, continuan-
dopelasnascentesdoToropi,JaguariePiratinim,chegandoàcidade
deSão MiguelArcanjo. Deste Povo ramificava aos outros seis.
Das cabeceiras do Piratinim, saia uma via pela direita da Estrada
das Missões, rumando para o nordeste, entre os afluentes dos
rios Uruguai e Jacuí, até Vacaria e os Campos de Cima da Serra.
Por esta razão, ficou conhecida como Caminho do Meio. Em seu
traçado, nas nascentes do Jacuí, bifurcava outro itinerário para
oeste, rumo a Santo Ângelo, pelos nascedouros ou afluentes do
norte do rio Ijuí.
Antes do sistema missioneiro transformar a Estrada em prin-
cipal artéria nos séculos XVII e XVIII, ela já era usada como ca-
minho ancestralmente pelos indígenas. A sua ramificação à
Vacaria era negociada com os Kaingang, etnia Jê que domina-
va o Planalto, além dos Xokleng. Sobre o dorso da Estrada das
Missões, em 1755-1756, naGuerraGuaranítica (1753-1756), com
alguns reparos, os exércitos coligados de Portugal e Espanha
conseguiram trafegar o seu poderoso trem de guerra, com ca-
nhões e dezenas de carretas.
Historicamente, sobre quase toda a malha dos caminhos indíge-
nas estão as rodovias contemporâneas.
28
29
Serra do Caverá, RS
#
# Ronai Rocha
30
31
Andropogon lateralis
#
# Sérgio Bordignon
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
33
Capítulo 3
FISIONOMIA dos Campos
Gerhard Ernst Overbeck, Ilsi Iob Boldrini, Marta Regina Barrotto do Carmo,
Élen Nunes Garcia, Rosemeri Segecin Moro,
Cassiano Eduardo Pinto, Rafael Trevisan & Ana Zannin
Ecossistemas campestres no Brasil
O Brasil é conhecido, no mundo inteiro, por suas extensas
áreas de florestas tropicais (Floresta Amazônica, Mata Atlântica)
e pela alta biodiversidade destes ecossistemas, porém temos
muito mais do que florestas. A cobertura vegetal natural do
país também é constituída por formações vegetais abertas, que
incluem: o Cerrado com diversas fisionomias de savana, desde
o campo limpo até o Cerradão no bioma Cerrado; os Campos de
Altitude, no bioma Mata Atlântica; os campos e savanas úmidos
do Pantanal; e os Campos Sulinos, ecossistemas campestres da
região Sul do Brasil. Estas diferentes vegetações campestres são
caracterizadas por alta riqueza de plantas e animais e belezas
cênicas únicas.
Apesar do crescimento das atividades de pesquisa sobre
os Campos Sulinos e do melhor entendimento de sua composi-
ção e ecologia, os campos ainda são pouco considerados quan-
to à importância da sua biodiversidade e à sua conservação. É
importante ressaltar que a vegetação campestre nativa difere
profundamente de pastagens cultivadas, que geralmente são
formadas por espécies exóticas e que resultam da eliminação
da vegetação original. Neste livro, e em especial neste capítulo,
trataremos da vegetação campestre constituída por espécies na-
tivas, ou seja, dos campos naturais.
Campos Sulinos
O termo Campos Sulinos é utilizado para denominar as
regiões campestres nos três estados da região Sul do Brasil, Rio
Grande do Sul (RS), Santa Catariana (SC) e Paraná (PR).
Apesar de ocupar menos de 7% da superfície terrestre do
Brasil, essa região é bastante heterogênea, tanto em suas condições
climáticas e de solo, quanto em relação às suas fisionomias vege-
tais, e a contribuição da vegetação campestre em termos de área.
A diversidade dos campos é evidenciada quando conside-
ramos que os Campos Sulinos fazem parte de dois biomas dife-
rentes: Campos da metade sul e oeste do RS, com a paisagem do-
minada pela vegetação campestre e inseridos no bioma Pampa;
vegetação campestre do Planalto Sul-Brasileiro, na porção norte
do RS e nos estados de Santa Catarina (SC) e Paraná (PR), que faz
parte do bioma Mata Atlântica.
Santo Antônio
das Missões, RS
#
# Bianca Andrade
34
Espécies adaptadas às
condições extremas
em afloramento
rochoso nos campos
#
# Valério Pillar
Os campos do bioma Pampa estendem-se ao sul e a oeste
pela República Oriental do Uruguai e províncias argentinas de
Corrientes,EntreRios,SantaFé,Córdoba,BuenosAireseLaPampa.
A região inteira, desde Bahia Blanca na Argentina até Porto Alegre,
é denominada Pastizales del Rio de La Plata, com 760.000km2
de extensão. O bioma Pampa brasileiro é a porção mais ao norte
desta grande região campestre. No bioma Pampa também ocorrem
formações florestais, mas elas não dominam a paisagem.
A vegetação campestre na metade norte do Rio Grande
do Sul, em Santa Catarina e no Paraná está situada na parte
sul do bioma Mata Atlântica e compõe mosaicos com a Floresta
com Araucária, em altitudes entre 700 e 1.300 metros (até mais
de 1.800 metros nos locais mais altos). Ao norte da região dos
Campos Sulinos, no estado de Paraná, os campos encontram-se
com a vegetação de savana do bioma Cerrado.
O limite entre os biomas Pampa e Mata Atlântica,
aproximadamente ao longo do paralelo 30° de latitude Sul, é
demarcadopelasdiferençasclimáticasepelaorigemecomposição
diversificada das floras. Muitas espécies de plantas mais tropicais
têm aí o seu limite sul, enquanto que outras espécies mais
temperadas o seu limite norte de distribuição. Existe uma clara
distinção florística entre os campos do bioma Pampa, no sul do
RS, e os campos do bioma Mata Atlântica. Mas um grande número
de plantas, incluindo algumas das mais abundantes, ocorre em
ambos os biomas, o que justifica o emprego do termo Campos
Sulinos para a região como um todo.
O termo Estepe é utilizado pelo IBGE para a vegetação campes-
tre do Sul do Brasil, com exceção de uma pequena região no oes-
te do Rio Grande do Sul, o Parque do Espinilho e arredores que
é denominada de Savana Estépica. No entanto, o termo não é
apropriado, visto que sua utilização não corresponde ao seu uso
internacional. O termo Estepe, na literatura ecológica, é empre-
gado para campos sob clima temperado semiárido, onde a baixa
precipitação durante a estação quente impede o crescimento de
vegetação florestal – o que não é o caso noSul do Brasil. Por outro
lado, o termo Savana também não descreve os Campos Sulinos
de forma correta, pois é comumente utilizado para a vegetação
Campos Sulinos: campos, savana ou estepe?
Vegetação campestre no
Sul do Brasil: os Campos
Sulinos incluem áreas
no bioma Pampa e no
bioma Mata Atlântica
(classificação de biomas
segundo IBGE).
PR: Paraná
SC: Santa Catarina
RS: Rio Grande do Sul
Fonte: Laboratório de
Geoprocessamento/UFRGS.
em que coexistem estratos lenhoso e herbáceo distintos, sob
clima tropical e com precipitação fortemente sazonal (como no
caso do Cerrado), o que também não é o caso na região Sul. Na
expressão Savana Estépica foram combinados dois termos utili-
zados para tipos de vegetação muito distintas, o que gera mais
confusão ainda. Assim, sugerimos que para a região aqui tratada
seja utilizado o termo Campos Sulinos, que também correspon-
de à terminologia utilizada para a grande região dos Pastizales del
Rio de La Plata, onde os nossos Campos Sulinos são incluídos nos
Campos del Norte, já que constituem a parte mais ao norte desta
grande região de vegetação campestre.
35
36
Fatores que determinam a
fisionomia dos Campos Sulinos
A aparência geral dos campos, sua fisionomia, é determi-
nada pela estrutura da vegetação, mais especificamente pelo grau
de cobertura e pela altura do estrato herbáceo e pela presença ou
ausência de espécies lenhosas na matriz herbácea. Na maioria
dos ecossistemas campestres do mundo, são principalmente as
gramíneas que definem a estrutura do estrato herbáceo, mesmo
quando ocorre uma alta riqueza de espécies de outros grupos. Há
fisionomias muito distintas de campo, o que nos leva a perguntar
quais são, afinal de contas, os fatores que determinam as diferen-
ças entre as fisionomias campestres.
Podemos distinguir três grupos principais de fatores: fatores
climáticos; fatores de solo e relevo; fatores relacionados ao manejo.
A influência do clima, solo e relevo
O clima na região dos Campos Sulinos é subtropical úmido,
ou seja, tem verões quentes, mas não apresenta uma estação seca
pronunciada. Os verões são mais frios no Planalto, no norte do
RS, em SC e no PR, com a temperatura média anual em torno de 16
a 22°. No bioma Pampa, a amplitude térmica anual é maior, e os
valores de precipitação diminuem em direção ao sul e interior do
continente, com valores em torno de 1.300mm, e curtos períodos
de seca no verão. A precipitação é maior na região da borda leste
do Planalto, com 1.500 a 2.000mm anuais, com chuvas bem
distribuídas ao longo do ano.
As diferenças climáticas na região dos Campos Sulinos
como um todo são bem claras e influenciam a composição das es-
pécies nos campos. Chama-nos atenção o aumento das gramíneas
com rota fotossintética C3, em direção ao sul, na medida que o
clima torna-se mais temperado. No sentido leste a oeste, há redu-
ção da precipitação média e aumento dos períodos mais secos no
verão, que causam a maior participação das espécies adaptadas
às condições de seca. No entanto, os fatores climáticos não agem
isolados e sim em conjunto com os fatores de solo; os últimos
podem influenciar claramente a vegetação campestre na escala
regional, e às vezes mascaram os efeitos da variação climática.
Os solos mais rasos condicionam a menor capacidade de
armazenamento de água e proporcionam condições hídricas ex-
tremas para as plantas, principalmente no verão. O tipo de subs-
trato também é importante. Os solos arenosos, por exemplo, são
caracterizados pela baixa retenção de água, o que também pode
criar condições de estresse para as plantas. Em condições de seca,
o crescimento das plantas pode ser mais lento, e muitas espécies
apresentam adaptações para evitar a perda de água, como folhas
reduzidas ou presença de pilosidade. Por outro lado, quando a
drenagem é impedida, as plantas enfrentam o estresse oposto, o
excesso de água. Nestas situações, os campos geralmente são do-
minados por espécies das famílias ciperáceas ou xiridáceas, ou por
gramíneas adaptadas a essas condições, como a grama-boiadeira
(Luziola peruviana), que é aparentada ao arroz.
Em quase todas as fisionomias campestres podemos encon-
trar tanto áreas com muito alta quanto áreas com baixíssima dispo-
nibilidade de água, em função do relevo, da profundidade do solo ou
da constituição do solo. Os afloramentos rochosos e as turfeiras são
tipos de ambiente extremo presentes nas paisagens campestres. Nos
afloramentos rochosos, encontramos espécies de cactos, bromélias e
orquídeas. Nas turfeiras, ocorrem briófitas, especialmente os esfag-
nos, e ciperáceas. Também ocorrem espécies de plantas carnívoras,
que são plantas indicadoras da baixa disponibilidade de nutrientes.
Histórico e efeitos do manejo
O clima, solo e relevo influenciam a distribuição das es-
pécies numa escala regional, mas o manejo é fundamental para
definir as diferentes fisionomias campestres locais. A vegetação
campestre, nas zonas tropicais e subtropicais, evolui sob a in-
fluência do fogo e do pastejo e pisoteio dos herbívoros. Devido à
coevolução com estes fatores, as plantas campestres podem ser
consideradas adaptadas a estes distúrbios e desenvolveram es-
truturas que permitem que elas resistam ao fogo ou ao pastejo, ou
que consigam regenerar as suas populações rapidamente.
37
Como exemplo de estruturas de escape à predação, temos as
folhascortantesesilicosasdegramíneascespitosascomoamacega-
estaladeira (Saccharum angustifolium), os meristemas protegidos
no nível do solo no capim-caninha (Andropogon lateralis), o
desenvolvimento de rizomas (caule subterrâneo) no capim-
forquilha (Paspalum notatum) e os estolões em várias espécies
de Axonopus. Especialmente as gramíneas rasteiras (rizomatosas
ou estoloníferas) conseguem recuperar a sua biomassa foliar
rapidamente após ser removida pelo animal e podem se manter
mesmo sob condições de uma alta intensidade de pastejo.
O fogo é outro fator de distúrbio que influencia na diversi-
dade desta formação vegetacional, especialmente no norte do Rio
Grande do Sul, onde é tradicionalmente utilizado como prática
de manejo. Gemas protegidas no nível do solo ou na base das tou-
ceiras no caso das gramíneas, ou ainda presença de estruturas
subterrâneas, como os rizomas, os xilopódios, comuns nas legu-
minosas, e os bulbos das iridáceas e amarilidáceas permitem a
rápida regeneração da vegetação após uma queimada. Em muitas
espécies, o próprio fogo também estimula o florescimento e a pro-
dução de sementes das plantas.
Desta forma, processos ecológicos como pastejo e fogo
podem ser considerados indispensáveis para a manutenção dos
campos e da sua biodiversidade, e o próprio manejo dos campos
possui um papel importante em determinar a fisionomia vegetal.
Quandoapressãodepastejoémaisintensa,avegetaçãoécomposta
apenas pelo estrato rasteiro e baixo, e dominada pelas gramíneas
rizomatosas ou estoloníferas. À medida que a pressão de pastejo
diminui, a vegetação fica mais heterogênea e há o desenvolvimento
de dois estratos, um rasteiro dominado por espécies rizomatosas,
como o capim-forquilha (Paspalum notatum) e um mais alto, com
gramíneas entouceiradas (cespitosas) e arbustos.
Na ausência do pastejo, as gramíneas cespitosas, como o
capim-caninha (Andropogon lateralis), dominam e, praticamente,
não há ocorrência do estrato rasteiro. As gramíneas entouceiradas
são fortes competidoras e tendem a acumular muita biomassa,
o que causa a redução da diversidade de espécies menores. Desta
forma, deixar o campo sem pastejo não pode ser considerado como a
melhor estratégia para a conservação da biodiversidade campestre.
O manejo também é importante para evitar a dominância
de plantas arbustivas, como a chirca (Acanthostyles buniifolius) e o
mio-mio(Bacchariscoridifolia),ambasespéciestípicasnoscampos
do bioma Pampa, e da vassourinha (Baccharis dracunculifolia),
que é comum nos campos do Planalto. Quando a intensidade do
pastejo é baixa, estas espécies podem ter uma cobertura alta e o
campo é chamado de campo sujo, em contraste ao campo limpo,
sem presença expressiva de arbustos. Na situação de abandono,
Campo da Campanha
sobre solos rasos.
Estrutura e composição
do campo são
influenciados pelo
manejo. Na esquerda,
exclusão de pastejo,
na direita pastejo
contínuo
#
# Valério Pillar
Campo abandonado
na região dos Campos
de Cima da Serra, RS.
A espécie arbustiva
Baccharis uncinella
apresenta alta
cobertura nestas
condições
#
# Gerhard Overbeck
38
as espécies arbustivas aumentam sua cobertura e a entrada de
espécies arbóreas pode propiciar que com o tempo se desenvolva
um tipo de vegetação mais fechada.
Na região dos Campos de Cima da Serra, no norte do RS e
em SC, o uso de queimadas para a limpeza dos campos no final
do inverno é uma prática tradicional. As queimadas selecionam
gramíneas cespitosas, que são mais tolerantes ao fogo, como o
capim-caninha, o capim rabo-de-burro, o cabelinho de porco
ou outras espécies dos gêneros Andropogon, Schizachyrium e
Aristida (todas espécies com rota fotossintética do tipo C4). Em
consequência disto, há concentração da produção de forragem na
estação quente do ano, em uma das regiões mais frias do Brasil,
e há redução da proporção das gramíneas hibernais, com rota
fotossintética C3, que não são adaptadas às queimadas.
Campos do Bioma Pampa
Os campos do bioma Pampa apresentam várias fisiono-
mias, com diferentes composições florísticas, principalmente in-
fluenciadas por características geomorfológicas, além das climá-
ticas e relacionadas ao manejo e uso do solo.
Campos da Campanha
Os campos da região da Campanha podem estar sobre
dois tipos de solos: rasos e profundos. Os solos rasos, que ocor-
rem na fronteira oeste do RS, são formados a partir de rochas
eruptivas e a vegetação campestre é submetida frequentemente
a déficit hídrico no verão. Nesta região ocorrem muitas gramíne-
as endêmicas e, devido às condições do solo, a vegetação nativa
foi pouco transformada para outros usos. Os solos profundos
ocorrem na parte sudeste da Campanha. Devido à melhor con-
dição destes solos para o cultivo houve mais alterações na vege-
tação campestre original, que foi, na sua maior parte, transfor-
mada em áreas de lavoura. Nesta região, em consequência das
temperaturas mais baixas no inverno, há elevada presença de
gramíneas hibernais, como as flechilhas dos gêneros Nassella,
Jarava e Piptochaetium.
Campo da Campanha,
Aceguá, RS
#
# Valério Pillar
Campo da Campanha
em solo raso,
Quaraí, RS
#
# Valério Pillar
39
Campos sobre areais
No centro-oeste do RS, encontramos solos arenosos, sujeitos
a fortes processos de erosão e arenização que, junto com as condi-
ções climáticas, criam circunstâncias extremas para a sobrevivên-
cia das plantas. Em decorrência disto, esses campos têm cobertura
vegetal baixa e muitas plantas com características associadas à so-
brevivência em condições de estresse hídrico. As gramíneas com
rizomas são dominantes e há alta riqueza de espécies da família
das compostas. O sobrepastejo constitui um problema sério nesta
região e pode contribuir para o início de processos erosivos graves.
Campos no Escudo Granítico (Serra do Sudeste)
O Escudo Granítico, no sudeste do RS, tem solos rasos e
pedregosos. O relevo é em parte muito acidentado e os campos
estão distribuídos em mosaicos com a vegetação arbórea e ar-
bustiva. A intensidade do manejo é um fator principal para
determinar a distribuição da vegetação arbórea/arbustiva e
campestre, bem como a contribuição de espécies lenhosas. Os
morros de Porto Alegre, conhecidos por sua alta diversidade
vegetal, constituem a parte mais ao norte do Escudo Granítico.
Campos da Depressão Central
Nesta região, que se estende ao longo do vale do Rio Jacuí,
no centro do RS, encontramos diferentes tipos de solos e uma
vegetaçãocampestrecaracterizadapelapresençadedoisestratos,o
mais baixo é dominado por gramíneas rizomatosas, como o capim-
forquilha, e o mais alto por touceiras de gramíneas cespitosas,
como o capim-rabo-de-burro (Schizachyrium microstachyum) e por
espécies de compostas. Grande parte das áreas de campo desta
região já foram transformadas em lavouras.
Campos do Litoral
Na planície costeira, os solos são arenosos e pouco estru-
turados. Os campos podem ser bem drenados com dominância
de gramíneas prostradas e estrutura relativamente aberta, ou mal
drenados, com alta riqueza de espécies e dominância de ciperáce-
as. Nesta região, a vegetação campestre original já foi fortemente
reduzida pela sua conversão para outros usos.
Campos da Serra do
Sudeste, Caçapava do
Sul, RS
#
# Valério Pillar
Campos do Litoral,
Palmares do Sul, RS
#
# Valério Pillar
40
Campos do Bioma Mata Atlântica
Os campos do bioma Mata Atlântica estão distribuídos
desde o norte do Rio Grande do Sul até o Paraná, são denominados
Campos de Altitude e conhecidos no RS como os Campos de
Cima da Serra. Os campos de altitude ocorrem entremeados
com florestas, principalmente a Mata com Araucária. São
constituídos, predominantemente, por gramíneas entouceiradas,
onde o capim-caninha (Andropogon lateralis) muitas vezes é a
espécie dominante. Outras espécies típicas são o capim-mimoso
(Schizachyrium tenerum), o capim-cabeludo (Axonopus siccus)
e as carquejas (Baccharis crispa, Baccharis articulata), além de
muitas outras flores atrativas do gênero das compostas, como o
cravo-de-campo-catarinense (Trichocline catharinensis). No final
do inverno, estes campos ficam amarelados devido à quantidade
de palha seca que se acumula após o frio intenso – razão para o
uso tradicional de queimadas em parte da região.
Os remanescentes atuais de campos do bioma Mata
Atlânticaseencontramsobresolosrasos,ondeavegetaçãooriginal
ainda não foi substituída por lavouras ou áreas de silvicultura.
Os campos do Planalto Médio do RS, quase que completamente
transformados em lavouras, eram caracterizados pela presença
marcante das barbas-de-bode (gramíneas do gênero Aristida).
No PR restam pouquíssimos fragmentos de campo nativo, pois as
condições do solo propiciam seu uso intensivo para lavouras e
silvicultura. Nos últimos anos, a silvicultura (principalmente com
Pinus spp.), tem ocupado grandes áreas na região, inclusive onde
o solo é mais raso.
Na região dos campos de altitude, a vegetação campestre
responde às condições hidrológicas do relevo sub-superficial.
De forma geral, os níveis de precipitação são altos durante o ano
todo, especialmente mais ao sul, na região dos Aparados da Serra,
onde podemos encontrar plantas indicadoras de altos níveis de
umidade, como as ciperáceas.
Nas áreas onde a drenagem do terreno é reduzida e,
consequentemente, há saturação hídrica e baixa oxigenação,
encontramos os campos úmidos (ou higrófilos). As características
de solo nestes locais são altamente seletivas, e a decomposição de
Silvicultura com Pinus
sp. ocupando áreas
de entorno do Parque
Nacional da Serra
Geral, Campos de
Cima da Serra
#
# Valério Pillar
Campos de Cima
da Serra, Cambará
do Sul, RS
#
# Valério Pillar
41
Mosaicos de campo e
floresta com Araucária
na região do Bom
Jardim da Serra, RS
#
# Cassiano Pinto
matéria orgânica é extremamente lenta, devido ao pH ácido e às
baixas temperaturas, desta maneira formam-se solos com alto teor
de matéria orgânica. Também podemos encontrar, em pequenas
depressões de relevo, turfeiras inseridas na matriz campestre.
Oscampossecossãoencontradosnasáreasbemdrenadas,
ocupando posições de interflúvios e encostas menos dissecadas.
Nestes campos, predominam as gramíneas estivais (dos gêneros
Andropogon, Axonopus, Aristida e Paspalum).
Os afloramentos rochosos, blocos e lajes parcialmente
expostos, fornecem um microambiente diferenciado na paisa-
gem campestre, exposto à escassez hídrica e alta insolação. Os
líquens constituem a vegetação pioneira, presente em quase
toda a superfície irregular destas rochas. Nas fissuras das rochas
outras espécies conseguem se estabelecer, principalmente mus-
gos e gramíneas, bem como cactáceas e bromélias e, às vezes, as
espécies lenhosas.
Nos campos de maiores altitudes, em SC e no PR, onde
a influência de neblina é quase constante, o capim-caninha é
substituído ou ocorre em conjunto com Andropogon macrothrix,
que se estende por amplas áreas, frequentemente também está
associado ao Axonopus ramboi, outra espécie cespitosa. Nestas
áreas, o estrato inferior é ocupado por Paspalum pumilum, espécie
típica de locais mais úmidos, e que apresenta rizomas curtos,
formando touceiras achatadas contra o solo. Nestes campos, onde
as temperaturas são mais baixas e as altitudes alcançam 1800 a
1900m, com períodos de geadas e eventualmente neve, ocorrem
muitas espécies de gramíneas hibernais, como as dos gêneros
Bromus, Chascolytrum, Melica, Poa e Nassella.
42
43
Butiazal
Quaraí, RS
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
45
Capítulo 4
biodiversidade dos Campos
Gerhard Ernst Overbeck, Luciana Regina Podgaiski & Sandra Cristina Müller
O que é biodiversidade?
O Brasil é conhecido como o país com a maior biodiversi-
dade do mundo, abrigando cerca de 20% das espécies do nosso
planeta, as quais ocorrem nos seis biomas presentes no país: Ama-
zônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa, bem
como nos ambientes costeiros associados a alguns destes biomas.
O Brasil é um país megadiverso, mas afinal de contas o que se en-
tende por Biodiversidade? Será que a biodiversidade dos Campos
Sulinos é comparável à biodiversidade de uma floresta tropical?
Nos capítulos que seguem, apresentamos alguns dados so-
bre a biodiversidade dos ecossistemas campestres da região dos
Campos Sulinos, considerando diferentes grupos de organismos
(de plantas a animais). Mas antes, vamos definir um pouco melhor
o que é biodiversidade e por que ela é tão importante para nós.
O termo biodiversidade denomina a diversidade de todos os
seres vivos (do grego bios = vida, e do latim diversitas = diversi-
dade). Biodiversidade inclui a diversidade das espécies (animais,
plantas, fungos, etc.), dos ecossistemas, e a diversidade genética
das diferentes espécies. Não sabemos exatamente quantas espé-
cies existem em nosso planeta: estima-se que são em torno de 10
milhões. Destas, somente 1,5 a 1,75 milhão de espécies já estão for-
malmente descritas pelos cientistas.
As florestas tropicais do Brasil e do mundo são conhecidas
por sua alta biodiversidade. Na Amazônia, por exemplo, devem
ocorrer em torno de 16.000 espécies de árvores, além de inúmeras
outras espécies de plantas, animais e micro-organismos. E nos
Campos do Sul do Brasil? Há biodiversidade comparável?
Naturalmente, uma floresta é bem diferente de um campo,
mas em termos de biodiversidade, as medidas também são uma
questão de escala. Nos Campos Sulinos, há regiões com mais de
50 espécies de plantas em um único metro quadrado, e mais de
120 espécies de plantas em 100 metros quadrados. Para se ter
uma ideia, mais de 700 espécies de plantas campestres foram
registradas, até hoje, na pequena região dos morros graníticos
de Porto Alegre. Pensando somente nas áreas de vegetação cam-
pestre no estado do Rio Grande do Sul, temos registro de ocor-
rência de mais de 2.600 espécies de plantas (em menos de 5%
da área da Amazônia) (ver Capítulo 5). Aqui começamos a per-
ceber que a simples quantificação de ser maior ou menor do que
a biodiversidade de uma floresta tropical torna-se sem sentido.
São ecossistemas e regiões muito distintos, com características
próprias. Portanto, para fins de biodiversidade o que importa é
que cada região e bioma tem uma biodiversidade característica e
insubstituível. É importante que saibamos que a biodiversidade
dos Campos Sulinos existe somente na região dos Campos Suli-
Campo com
butiá (Butia sp.),
Quaraí, RS
#
# Omara Lange
46
Convenção sobre
Diversidade Biológica
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)* é um dos mais importantes ins-
trumentos internacionais relacionados ao meio ambiente. A CDB, um tratado da
Organização das Nações Unidas, foi estabelecida durante a notória Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992, no Rio
de Janeiro.A CDB continua sendo, até hoje, o principal fórum mundial para questões
relacionadas ao tema, e mais de 160 países, entre eles o Brasil, já assinaram o acordo.
AConvenção está estruturada sobre três bases principais – a conservação da diversi-
dadebiológica,ousosustentáveldabiodiversidadeeapartiçãojustaeequitativados
benefíciosprovenientesdautilizaçãodosrecursosgenéticos.Noentanto,implemen-
taraCDBsignificatomardecisõesemproldeseusobjetivosnãosóemnívelnacional,
mas também nos níveis estaduais e locais.ACDB constitui um arcabouço legal para a
conservação, mas todos nós temos de contribuir para alcançar as suas metas!
nos, e se queremos conservá-la, é aqui, nos Campos Sulinos que
nós temos de fazer isso.
No parágrafo acima apresentamos alguns números relaciona-
dos às plantas, mas como vimos a biodiversidade vai muito além das
plantas. Nos Campos Sulinos também é assim: um grande número
de outras espécies vive nesses ecossistemas, desde insetos como
formigas e borboletas, até aves e mamíferos, que utilizam recursos
alimentares e de habitat que os ambientes campestres oferecem.
Uma elevada diversidade de plantas, considerando diferentes
espécies e estruturas vegetais no espaço horizontal e vertical, em
geral resulta em maior diversidade de animais, pois há uma maior
gamadehabitatsealimento.Outroscomponentesdabiodiversidade,
comoporexemplo,osorganismosquevivemnosoloouintimamente
associados às plantas (como fungos micorrizas), são praticamente
desconhecidos. Isso nos remete ao fato de que grande parte da
biodiversidade está escondida ou, pelo menos, não visível sob um
olhar desatento ou sem o uso de um microscópio.
*Veja em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_dpg/_arquivos/cdbport.pdf
Biodiversidade local, regional
ou global – o que considerar?
Outra questão importante associada à biodiversidade, é
que ela pode ser medida ou avaliada em diferentes escalas. Em
geral, dados globais impressionam e nos dão uma ideia da mul-
tiplicidade de formas e organismos presentes no mundo, mas
nas escalas locais e regionais percebemos relações diretas entre
o ambiente (condições e recursos disponíveis) e a biodiversida-
de, e desta com os bens e serviços ecológicos. Todas as escalas
de estudo são válidas, mas os efeitos das diferentes ações hu-
manas sobre a biodiversidade dependem da escala considera-
da. Vejamos um exemplo no contexto dos Campos Sulinos: a
biodiversidade local é aquela visualizada em pequena escala
– consideremos aqui desde poucos metros quadrados até um
hectare – enquanto a regional é aquela que inclui também a va-
riabilidade entre locais. A heterogeneidade de ambientes numa
dada região aumenta a diversidade entre locais, ou seja, se tiver-
mos uma gama de ambientes campestres – baixada, encosta e
topo de coxilha, por exemplo – teremos uma variabilidade (bio-
diversidade) maior entre locais. Como citamos anteriormente, a
área dos Campos Sulinos do estado do RS tem um conjunto de
2.600 espécies de plantas campestres que, potencialmente,
podem colonizar diferentes locais. O número de espécies que
coexistem localmente é limitado, e a diferença entre locais é
essencial para a manutenção da biodiversidade como um todo.
Portanto, qualquer ação local ou regional de manejo / conserva-
ção ou conversão / transformação da terra traz consequências
para a biodiversidade.
Todos somos responsáveis pela biodiversidade, e preservar
a biodiversidade dos Campos Sulinos significa fazer isso nas
diferentes regiões que constituem este complexo de ecossistemas.
Qual é o valor da biodiversidade?
A manutenção da biodiversidade é de altíssima importân-
cia para nós, pois ela é o alicerce dos sistemas ecológicos, e tam-
47
Representação da
diversidade existente
nos campos
#
# Diogenes Machado
[Foto central]
SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS
AVES
ANFÍBIOS
RÉPTEIS
MAMÍFEROS
Artrópodos
PLANTAS
48
Valor de uso indireto – Outras espécies são utilizadas de
forma indireta. Por exemplo, a abundância de flores na vegetação
nativa proporciona uma alta abundância de insetos, os quais, por
sua vez, também polinizam plantas cultivadas em lavouras ou po-
mares adjacentes, resultando em uma melhor e maior produção
de frutos e/ou sementes.
Valor potencial – O potencial de uso de muitas espécies
muitas vezes não é nem conhecido ainda, mas elas podem, futu-
ramente, passar a ter um uso direto, como por exemplo o caso de
plantas que possuem princípios ativos a partir dos quais podem
ser desenvolvidos medicamentos.
Um problema intrínseco à valoração da biodiversidade é
que, com exceção do valor de uso direto, traduzir o valor da bio-
diversidade em valor monetário é muito difícil, senão impossível.
Como consequência, os múltiplos valores dos ecossistemas rara-
mente são considerados em discussões sobre conservação, manejo
e uso. Desta maneira, quando áreas originalmente campestres são
transformadas em outros usos, há perda de ecossistemas campes-
tres e dos bens e serviços deles decorrentes. Essas perdas, muitas
vezes, ocorrem de forma silenciosa e despercebida, pelo menos no
curto prazo. Iniciativas de considerar o valor ecológico de forma
mais explícita em discussões sobre manejo dos campos ainda são
muito recentes e pouco implementadas, mas, mesmo assim, pro-
missoras para mudar essa situação, veja os Capítulos 14–17.
A diversidade das fisionomias campestres na região dos
CamposSulinoseadiversidadedosorganismosnelasencontrados
serão apresentadas nos capítulos a seguir.
bém a base da vida para todos nós, inclusive, para muitas das
nossas atividades econômicas. Mesmo num mundo altamente
tecnológico, precisamos dos recursos básicos que são providos
pela natureza, pelos ecossistemas: oxigênio (resultado da fotos-
síntese), água limpa (resultado do ciclo hidrológico, o qual é tam-
bém afetado pela vegetação), e alimento (produção depende de
condições adequadas de solo, água e nutrientes que são manti-
das via processos ecossistêmicos mediados pela biodiversidade).
Desta forma, a biodiversidade é essencial para diversos bens e
serviços ecológicos para a humanidade (veja também o Capítulo
11). Sabemos, hoje, que inúmeras funções e processos ecológicos
são estreitamente associados à biodiversidade, ou seja, os sis-
temas ecológicos funcionam de acordo com sua biodiversidade.
Sob o ponto de vista humano, o valor da biodiversidade pode ser
classificado em diferentes categorias:
Valor intrínseco – Todas as espécies são importantes
intrinsecamente, em razão da sua própria existência, por uma
questão de ética.
Valor funcional – Cada espécie possui um papel funcional
particular no ecossistema e é o conjunto de todas as espécies que
garante o funcionamento dos ecossistemas. Plantas fotossinteti-
zantes participam do ciclo de gás carbônico, predadores regulam
a densidade das presas, fungos micorrizas participam da cicla-
gem de nutrientes, e etc.
Valor de uso direto – Muitas espécies são utilizadas dire-
tamente pelo homem, como alimento para nós ou nossos animais
domésticos, ou como matéria-prima para produção de bens.
49
Beija-flor-de-fronte-violeta
(Thalurania glaucopis) em
ananás (Ananas sp.)
#
# Ronai Rocha
50
51
Cerro do Jarau,
Quaraí, RS
#
# Omara Lange
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
53
Capítulo 5
bioDIVERSIDADE DE PLANTAS
Ilsi Iob Boldrini, Gerhard Overbeck & Rafael Trevisan
Diversidade de plantas
Os campos são pobres em espécies quando comparados
às florestas?
Os gramados de nossos jardins ou as pastagens cultivadas
talvez o sejam, mas os campos nativos do Sul do Brasil certamente
não o são. Olhando de longe, a vegetação campestre pode parecer
homogênea, mas ao observarmos mais atentamente, logo percebe-
mos a grande diversidade de espécies e de tipos de plantas.
Nos Campos Sulinos existem mais de 3.000 plantas superio-
res, sem considerar musgos, samambaias ou liquens. Somente no
Rio Grande do Sul, onde está a maior proporção de campos na Re-
gião Sul, são conhecidas mais de 2.600 espécies, pertencentes a 89
famílias, algumas delas com diferentes variedades ou subespécies.
Destas, 2.150 espécies ocorrem nos Campos do bioma Pampa e
1.620 nos Campos do bioma Mata Atlântica.
A estrutura da vegetação campestre geralmente é formada
por gramíneas, que podem ter hábito rasteiro (espécies prostradas)
ou mais ereto (espécies cespitosas, formam touceiras). No meio
das gramíneas podemos encontrar muitas outras espécies, desde
ervas pequenas até arbustos. A grande maioria destas plantas é
de vida longa, ou seja, são espécies perenes. Mesmo assim, existe
uma pronunciada dinâmica temporal nos campos: no início da
primaveraflorescemdiversasplantasgeofíticas(combulboououtras
estruturasdereservanosolo),comoabibi-do-brejo(Herbertialahue)
e Calydorea crocoides, ambas da família das Iridáceas.
A primavera é o período de desenvolvimento das gramíneas
hibernais, com metabolismo fotossintético C3, e indicativas da lo-
calização geográfica dos Campos Sulinos. Quando a temperatura
aumenta, as gramíneas C4 começam a emitir suas inflorescências
e, junto com elas, um grande número de outras espécies também
florescem. Essa alternância na época de florescimento das plantas
campestres garante que de um mês para outro, o aspecto da vege-
tação mude completamente.
Principais famílias Botânicas
nos Campos Sulinos
A dominância das gramíneas caracteriza os campos, elas
formam um contínuo e determinam a fitofisionomia da paisagem
campestre. Em meio às gramíneas destacam-se espécies de
várias famílias botânicas: Compostas, Leguminosas, Ciperáceas,
Verbenáceas, Lamiáceas, Iridáceas, Apiáceas, entre outras mais.
Flor (Turnera sidoides)
com visitante
(Astylus quadrilineatus)
#
# Omara Lange
Para estudar e analisar a composição florística de uma área de
campo, geralmente realizamos o levantamento da vegetação
em parcelas distribuídas na área, de forma representativa. Todas
as espécies presentes nestas parcelas são identificadas a campo
e aquelas desconhecidas são coletadas e identificadas em labo-
ratório, através de chaves analíticas de bibliografia específica.
Diferente do censo da vegetação arbórea, é impossível definir
indivíduos para a maioria das plantas campestres, já que muitas
espécies crescem em um sistema modular, com hábito estoloní-
fero, entouceirado ou rizomatoso. Desta forma, a cobertura de
cada espécie é estimada na parcela, geralmente utilizando uma
escala com intervalos definidos (por exemplo, 10%). Com base
nos dados levantados em um número grande de parcelas, é pos-
sível calcular a frequência relativa e a cobertura relativa de cada
espécie encontrada no levantamento. A combinação destes dois
valores resulta no Índice deValor de Importância, o qual é utiliza-
do para indicar as espécies mais importantes de uma dada área
de campo. A partir destes dados também são realizadas análises
mais complexas que buscam correlacionar padrões da vegetação
com variáveis ambientais como por exemplo, de solo, buscando
explicar a variação na vegetação.
Nos projetos de pesquisa sobre os campos, as espécies coleta-
das em estado reprodutivo são prensadas, secas e depois incor-
poradas ao Herbário, constituindo uma exsicata, com todas as
informações pertinentes: identificação da espécie, local e data
da coleta, nome e número do coletor, nome do identificador e
observações gerais da espécie. Coleções como o Herbário ICN
da UFRGS, são de alta importância para a pesquisa em biodiver-
sidade, já que fornecem informações importantes sobre a flora
da região e o material necessário para trabalhos científicos sobre
diferentes grupos de plantas, incluindo a taxonomia, morfologia
e distribuição geográfica de plantas, bem como para a confecção
de chaves de identificação.Atualmente, muito material deposita-
do em herbários já está disponível em forma digital, assim permi-
tindo o acesso por pesquisadores em outras regiões do mundo.
Métodos de pesquisa sobre a diversidade de plantas
Levantamento
da vegetação
Glandularia platensis
Disynaphia multicrenulata
Chaptalia sinuata
Desmodium incanum
Aspilia montevidensis
Adesmia psoraleoides
54
55
Aspilia montevidensis Cereus hildmannianus
Eleocharis nudipes Kelissa brasiliensis
Adesmia latifolia
Pavonia glechomifolia
Paspalum lepton
Glandularia platensis
Campuloclinium
macrocephalum
Frailea sp.
Bulbostylis communis
Herbertia lahue Desmodium incanum Pavonia subrotunda
Sorghastrum pellitum
Glandularia marrubioides
Gyptis pinnatifida Parodia langsdorfii
Cyperus virens
Sisyrinchium micranthum
Galactia neesii
Krapovickasia macrodon
Paspalum notatum
Glandularia peruviana
Senecio selloi Parodia sp. Rhynchospora
holoschoenoides
Calydorea crocoides
Lathyrus crassipes Waltheria communis
Nassella neesiana
Glandularia subincana
asteraceaE cactaceaE Cyperaceae iridaceae Fabaceae malvaceaE poaceaE verbenaceaE
Famílias botânicas mais representativas dos Campos Sulinos
#
# Ilsi Iob Boldrini, Omara Lange e Sérgio Bordignon
56
Gramíneas (Poaceae)
São mais de 9.000 espécies de gramíneas no mundo e
1.485 no Brasil. No Rio Grande do Sul, são 473 espécies nativas,
destas 423 ocorrem nos campos. Algumas espécies da família
são fundamentais para a alimentação humana no mundo intei-
ro, como o trigo, o milho, o arroz, a cevada e o centeio. Suas flo-
res são pouco vistosas, mas produzem uma grande quantidade
de sementes. As gramíneas são dominantes nos campos e mui-
tas apresentam alto valor forrageiro. A multiplicação vegetativa
acentuada (o que permite o rebrotamento após fogo ou consu-
mo por animais pastejadores) e a polinização realizada pelo
vento são características muito vantajosas dos representantes
desta família e foram importantes para o desenvolvimento de
ecossistemas campestres no mundo.
As gramíneas apresentam dois grandes grupos de plantas,
as de porte ereto e as prostradas.
O capim-caninha (Andropogon lateralis) é a principal
espécie dentre as eretas, tem ampla distribuição geográfica na
região dos Campos Sulinos, preferencialmente em solos úmidos.
Este capim, quando pastejado, tem os pontos de crescimento
rente ao solo e assim consegue se proteger e se manter e, quando
excluída do pastejo, a espécie pode formar touceiras altas. Como
é uma gramínea de metabolismo fotossintético C4, apresenta
folhagem resistente; ao seu redor, são encontradas plantas mais
frágeis, como a cola-de-lagarto (Mnesitea selloana) ou aquelas
que completam seu ciclo reprodutivo no início da primavera,
como espécies de Chascolytrum. Entre as plantas altas que formam
grandes touceiras, destaca-se a macega-estaladeira (Saccharum
angustifolium) com folhas cortantes.
Em regiões onde as temperaturas de inverno são mais
amenas e os verões quentes, podem dominar as barbas-de-bode,
espécies de Aristida, que formam touceiras com folhas filiformes
e aristas longas. Estas plantas têm alto conteúdo de fibras, por
isso são pouco pastejadas pelos animais, tornando-se cada vez
mais dominantes. Abaixo das touceiras, as plantas prostradas,
como o capim-forquilha (Paspalum notatum) e a grama-tapete
(Axonopus affinis) cobrem o solo e passam também a dominar.
COMPOSTAS (Asteraceae)
A família das compostas tem mais de 23.000 espécies distri-
buídas no mundo, destas 2.065 ocorrem no Brasil. No Rio Grande
do Sul há 569 espécies, 480 são campestres. A maioria das com-
postas são ervas e arbustos, raramente arbóreas. Apresentam inflo-
rescências vistosas e ornamentais, como as margaridas, as dálias e
os crisântemos, plantas cultivadas no mundo inteiro. Destacamos
também o girassol e a alface, ambos do Hemisfério Norte, por sua
importância econômica. O picão e o carrapicho são exemplos de in-
vasoras de culturas agrícolas que ocorrem no Sul do Brasil. Existem
várias espécies com uso medicinal, como a marcela (nativa dos
Campos Sulinos), a camomila e a arnica.
A estratégia de polinização por insetos e a dispersão de
suas sementes pelo vento ou por animais podem explicar o êxito
alcançado pelos representantes desta família que ocorrem sob todos
os climas do mundo, muitas vezes com um alto número de espécies.
Apesar das compostas (Asteraceae) constituírem a família
de maior riqueza específica no RS (480), elas ocorrem entremeadas
às gramíneas. Dependendo do ambiente, podem formar densas
populações, como no caso de diversas espécies arbustivas ou
subarbustivas, como a carqueja (Baccharis crispa), a chirca
(Acanthostyles buniifolius) e o mio-mio (Baccharis coridifolia). Estas
espéciessãoplantasmaisraramenteconsumidaspelosanimaise,no
seu entorno, as gramíneas muito palatáveis, como as flechilhas e os
cabelos-de-porco (Nassella spp. e Piptochaetium spp.) se protegem
da herbivoria, conseguindo florescer e frutificar, mantendo e/ou
aumentando suas populações.
Além dos representantes arbustivos, a família das compostas
contém muitas plantas ornamentais que dão diferentes tons aos
campos de flores rosadas (Vernonanthura nudilflora), amareladas
(espécies de Senecio) e esbranquiçadas (Baccharis spp.), e que pode-
riam ser utilizadas com este fim no paisagismo. As flores amarelas do
cravo-do-campo (Trichocline catharinensis) se destacam em meio aos
campos de altitude, enquanto a margarida-do-campo (Aspilia monte-
vidensis) é comum nos campos em geral. Entre as espécies muito co-
muns dessa família destacamos Chevreulia sp. e de Chaptalia sp., com
rosetas foliares que ficam rentes ao solo, cobrindo a superfície.
57
Leguminosas (Fabaceae)
São 19.500 espécies de leguminosas no mundo e 2.802 no
Brasil. No Rio Grande do Sul são 324 espécies, e destas 234 são
campestres. Geralmente têm flores vistosas e folhas compostas.
São ervas, arbustos e árvores. Nesta família há muitas espécies de
valor alimentício, como o feijão, a lentilha, a ervilha e o amendoim.
Outras têm elevado valor forrageiro, como o trevo-branco, o
cornichão e as ervilhacas; estas espécies cultivadas são muito
utilizadas na região. Embora não aproveitadas comercialmente,
nos Campos Sulinos também há espécies com alto valor forrageiro
e flores muito vistosas, ou seja, com valor ornamental.
As leguminosas são conhecidas por serem capazes de
captar nitrogênio do ar e incorporá-lo ao solo, através da
simbiose entre as suas raízes e bactérias (Rhizobium spp.),
aumentando o teor de matéria orgânica do solo. Muitas espécies
estão adaptadas ao pastejo e ao uso do fogo, o que fica evidente
pela presença de estruturas subterrâneas, conhecidas como
xilopódios. Nos Campos Sulinos há mais de 240 leguminosas, que
mesmo ocorrendo isoladas não passam despercebidas com seu
colorido salpicando o esverdeado das gramíneas.
Há muitas leguminosas nos campos de altitude, sendo
a mais comum Macroptilium prostratum, de folhas compostas
trifolioladas, flores amarelas, com longos caules que se dispõem
sobreouentreasdemaisplantas.Espéciesdefloresmulticoloridas
ocorrem em meio ao verde do campo: amarelas como as babosas
(Adesmia spp.), flores vináceas como Galactia neesii, e flores
azuis e vermelhas como nos tremoços (Lupinus spp.).
Nos campos do centro do RS, o pega-pega (Desmodium
incanum) é a espécie mais comum, bem conhecido por suas
folhas compostas trifolioladas, e pelas sementes que grudam na
pele de animais ou nas botas e calças de quem anda no campo. À
medida que avançamos para o sul, aumenta a riqueza das espécies
hibernais pertencentes aos gêneros Adesmia e Lathyrus. Além disso,
frequentemente encontramos muitas espécies de Mimosa, algumas
chamadas, pela presença de acúleos pontiagudos, de raspa-canela,
e as quais apresentam porte diverso, desde plantas rasteiras até
arbustivas, com inflorescências amarelas, brancas e rosadas.
Cyperaceae
Das5.000espéciesexistentesnomundo,673estãonoBrasil.
No Rio Grande do Sul há 189 espécies, destas 145 campestres. As
ciperáceas são plantas herbáceas, com inflorescências pouco
vistosas. Produzem grande número de sementes e muitas ainda
apresentam multiplicação vegetativa, por isso são tão comuns e
às vezes ocupam grandes extensões de campo, especialmente em
ambientes úmidos.
As ciperáceas parecem muito semelhantes entre si, mas a
riqueza específica é alta. Predominantemente, elas são adaptadas
aos ambientes úmidos, por isso é uma família muito importante nas
baixadas litorâneas, nas margens de rios e nas turfeiras dos campos
de altitude. Espécies do gênero Eleocharis se destacam e dominam,
por apresentarem estruturas vegetativas muito desenvolvidas,
formando tapetes contínuos, como por exemplo Eleocharis
bonariensis. Porém, alguns gêneros são exclusivos de locais secos,
comoBulbostylisealgumasespéciesdeRhynchospora.Caberessaltar
que muitas ciperáceas são indicadoras de áreas alteradas, como
Cyperus hermaphroditus, Cyperus rotundus e Cyperus luzulae.
Verbenaceae
São1.200espéciesdeverbenáceasnomundo,noBrasilhá288
e no Rio Grande do Sul são 72 espécies, destas 67 campestres. Nesta
família há ervas, arbustos e árvores, às vezes providos de espinhos.
Ocorrem em ambientes diversos: beiras de estrada, dunas, campos
secos, arenosos, pedregosos e úmidos, banhados e turfeiras.
Algumas espécies são cultivadas como ornamentais, como
o pingo-de-ouro e a camará. A erva-cidreira, de uso medicinal,
também é desta família. As verbenáceas do gênero Glandularia se
destacam na vegetação pelo colorido, são plantas extremamente
ornamentais, pois apresentam flores de coloração de diferentes
tons, variando de lilás, róseas, vermelhas até brancas.
Algumas espécies desta família são comuns em áreas
alteradas como margens de rodovias. Entre elas destacam-se
Verbena rigida, Verbena bonariensis e Verbena montevidensis.
58
Cactaceae
São citadas 1.500 espécies no mundo, no Brasil 260 e no
Rio Grande do Sul 72 espécies, destas 57 campestres. São ervas
geralmente suculentas, globosas ou com caules segmentados em
cladódiosachatadosoucolunares,raramentearbustosouárvores.
Em geral tem as folhas transformadas em espinhos. São plantas
características de ambientes secos, pedregosos, embora algumas
espécies possam ser encontradas em florestas. Várias cactáceas
são cultivadas como ornamentais, e a coleta destas espécies é um
fator de ameaça para as cactáceas nativas da região.
Muitas espécies se desenvolvem, entre as fendas das ro-
chas nos campos rupestres, e são exclusivas destes ambientes.
Nestes locais ocorrem muitas cactáceas de formas arredondadas,
como Parodia ottonis com flores amarelas, ou como a Frailea spp.,
com flores amarelas, rosadas e avermelhadas. A grande maioria
das cactáceas desta região são plantas pequenas, porém, algu-
mas grandes também ocorrem, como a tuna, de hábito colunar
(Cereus hildmannianus).
A maior diversidade desta família está no Pampa, particular-
mente nos campos com afloramentos rochosos na Serra do Sudeste.
Iridaceae
Esta família apresenta 1.870 espécies no mundo e 190
representantes no Brasil. No Rio Grande do Sul há 70 espécies,
destas 57 campestres.
São ervas que frequentemente têm estruturas subterrâneas
do tipo bulbo. Suas flores são efêmeras, de diversas cores, muito
ornamentais, por isso muitas são cultivadas, como íris e moréia
(ambas exóticas no Sul do Brasil). Os representantes nativos da
família, em meio aos campos, destacam-se pelas flores pequenas,
em geral agrupadas, de diferentes cores: bege, amarelo, rosa e
azul e que pertencem ao gênero Sisyrinchium, um membro da fa-
mília Iridaceae rico em espécies no Sul do Brasil. Flores isoladas
e maiores são comuns nos demais gêneros, como por exemplo, a
bibi (Herbertia lahue), de flores violáceas, com tubérculos sub-
terrâneos e de ampla distribuição no RS. Nos campos de altitude
chama a atenção Calydorea crocoides, de flores violáceas, a qual
no início da primavera aparece como um elemento preponderan-
te nos campos, colorindo à paisagem.
Malvaceae
São 4.200 espécies no mundo e no Brasil 765. No Rio Grande
do Sul são 98 espécies, destas 83 são campestres. Geralmente são
ervas, subarbustos, arbustos, lianas e raramente árvores.
A esta família pertence o gênero Gossypium L. (algodão),
nativo na América tropical e importante produtor de fibras. Entre
as espécies ornamentais destacam-se a lanterna-japonesa, o mal-
vavisco ou hibisco-colibri, e o mimo-de-vênus, de origem asiática.
Muitas espécies nativas do gênero Sida, conhecidas como
guanxuma, são comuns em ambientes ruderais, como lavouras
e beiras de estrada. Pavonia, com 26 espécies de flores vistosas,
é o maior gênero de Malvaceae que habita os campos do RS.
Muitas das espécies desta família ocorrem nos campos em solos
rasos, com afloramento de rochas, como por exemplo, Pavonia
glechomoides e Krapovickasia macrodon.
Apiaceae
São citadas cerca de 3.000 espécies no mundo, das quais
84 ocorrem no Brasil. São citadas 60 espécies do gênero Eryngium
para o Brasil, das quais 32 ocorrem no RS e todas são campestres.
A cenoura, o aipo, a salsa, o coentro, todas importantes na culi-
nária no mundo inteiro, fazem parte desta família.
O destaque a esta família está sendo dada especialmente
pela presença de Eryngium horridum, conhecido popularmente
como gravatá ou caraguatá, espécie indicadora de locais secos
mal manejados. Forma grandes rosetas junto ao solo com
folhas espinescentes. Nos banhados e turfeiras destacam-se
plantas grandes rosuladas, de coloração verde-azulada, de
Eryngium pandanifolium.
59
Sisyrinchium micranthum
#
# Sergio Bordignon
60
61
Areal,
Quaraí, RS
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
63
Capítulo 6
Biodiversidade de ARTRópodOs
Milton de Souza Mendonça Jr., Bruna Winck, Ronei Baldissera, William Dröse,
Camila Fagundes Dias, Murilo Zanini David, Tiago Shizen Pacheco Toma & Luciana Regina Podgaiski
O QUE são artrópodos?
Artrópodos são organismos cujos pés ou pernas (do grego
podos) são articulados, ou têm juntas (do grego árthrón). Apesar
dos tetrápodes serem vertebrados que possuem pernas articu-
ladas também, em estrutura somos bem diferentes dos artrópo-
dos, pois eles têm esqueleto externo de uma substância rígida
chamada quitina, um polímero derivado de glicose. Os grandes
grupos evolutivos de artrópodos ainda vivos incluem os crus-
táceos (caranguejos, camarões, cracas, tatuzinhos-de-jardim),
aracnídeos (aranhas, ácaros, escorpiões), miriápodes (cento-
peias, piolhos-de-cobra) e os insetos (besouros, borboletas,
moscas, vespas, percevejos, gafanhotos, pulgas, baratas, entre
outros). Esses grupos variam muito entre si e dentro de si na
estrutura do corpo, por exemplo na quantidade de apêndices,
como patas e antenas (Figura 6.1).
Há três fatos surpreendentes sobre os artrópodos. Primei-
ro, eles estão em quase todos os ambientes possíveis no planeta,
das fossas marinhas abissais aos fundos de cavernas, e à alta
atmosfera, levados por correntes de ar. Segundo, eles incluem
a vasta maioria das espécies dos animais presentes no mundo:
dos mais de um milhão de espécies de animais já conhecidas da
Ciência, os artrópodos tem mais de 80%, e algumas estimativas
atuais prevêem que podem existir até 20 milhões de espécies
somente de insetos! Terceiro, há grande abundância de artrópo-
dos em quase todos os ambientes, mesmo que em alguns casos
essas quantidades não sejam observadas facilmente (pelo hábi-
to pouco visível, ou por viverem no solo), ou que essa abundân-
cia varie ao longo do tempo.
Esses fatos revelam, por fim, o papel dos artrópodos nos
ambientes: estando em todos os lugares e sendo muito variados e
abundantes, eles são essenciais para o funcionamento dos ecos-
sistemas. As pequenas e variadas ações de cada um destes pe-
quenos organismos, quando juntas, fazem uma grande diferença
na forma como energia e matéria são carregadas no ambiente e
entram nos ciclos ambientais. Isso já seria uma grande coisa, mas
várias dessas ações podem ter uma utilidade direta para os seres
humanos, o que chamamos de serviços ambientais.
Os serviços ambientais são processos que ocorrem natural-
mente, resultam do funcionamento dos ecossistemas e beneficiam
os seres humanos e suas sociedades. Desta forma, são gratuitos. Só
o que se requer é que se mantenham os ecossistemas estruturados e
funcionais. Visto de outra forma, se os ecossistemas não estivessem
lá, e por consequência os artrópodos e demais organismos que os
Vespa nativa
(Campsomeris sp.)
sobre margarida-
do-campo (Senecio
heterotrichius)
#
# Suiane Oleques
64
compõem, teríamos de pagar ou realizar trabalho para que esse pro-
cesso acontecesse (para saber mais veja o Capítulo 11).
Serviços ambientais
Os artrópodos são muito importantes em processos como
polinização,dispersãodesementes,estruturaçãodosolo,controle
da abundância de plantas e outros organismos, além dos serviços
culturais, como sua contribuição para a beleza dos ecossistemas.
A polinização resulta de uma interação ecológica mutuamente
positiva (mutualismo) entre alguns insetos como borboletas e
mariposas, certos besouros, certas moscas e mosquitos, entre
outros, e plantas com flores. Este processo garante a produção
de frutos e sementes em geral, e tem valor econômico para
muitas culturas, por exemplo, cucurbitáceas (pepino, melancia,
abóbora), tomates e árvores frutíferas. A dispersão de sementes
pode ser realizada por formigas, por exemplo, ou por besouros
rola-bosta. As formigas levam as sementes de propósito para
outros lugares, e podem deixá-las cair ou enterrá-las. Os besouros
rola-bosta simplesmente pegam o esterco de gado (ou de outros
grandes mamíferos), o rolam em bolas em que colocam seus ovos,
e as enterram. Diversas sementes podem estar neste esterco e ter
uma melhor chance de germinar se carregadas e enterradas.
Diversidade e ambientes
Artrópodos ocupam variados ambientes e microambientes.
Aqueles encontrados na vegetação dos campos e florestas, por
exemplo, podem ser herbívoros, predadores desses herbívoros,
polinizadores, ou simplesmente estarem passando por ali.
Podemos encontrar sobre as plantas besouros, borboletas, fede-
fedes, formigas, aranhas, gafanhotos, entre outros. Dentre os
herbívoros, há os que comem as folhas, os ramos, as flores, os
frutos e até as raízes. Eles podem devorar os tecidos da planta,
como nós fazemos, sugar a seiva da planta ou entrar nas plantas
para devorá-las por dentro. Outras interações mais complexas
ainda podem aparecer, por exemplo: certos pulgões de plantas
(herbívoros sugadores de seiva) são protegidos por formigas
contra o ataque de seus predadores (como vespas e joaninhas),
em troca de uma secreção açucarada que os pulgões produzem
para as formigas – é outro tipo de mutualismo.
As formigas são organismos sociais abundantes e desem-
penham importantes papeis nos habitats, como na estruturação
do solo, através da construção de formigueiros subterrâneos. Os
diminutos colêmbolos são artrópodos que possuem alta resistên-
cia a baixas temperaturas e se alimentam principalmente de fun-
gos e detritos de plantas, o que os torna importantes atores no
processo de ciclagem de matéria e energia nos solos. Já as aranhas
de solo variam em tamanho, desde pequenas aranhas tecelãs da
família Linyphiidae com milímetros de comprimento, até as gran-
des caranguejeiras. Estes animais são predadores generalistas de
topo na cadeia alimentar dos artrópodos de solo e, portanto, po-
dem atuar no controle de populações de outros artrópodos.
Artrópodos Nos Campos Sulinos
Artrópodos de vida livre
Estudos realizados nos Campos Sulinos encontraram
17 ordens (grupos taxonômicos) de artrópodos na vegetação
herbácea, as mais abundantes foram: Hemiptera (percevejos
e similares, 39%); Hymenoptera (formigas, vespas e similares,
21%); Diptera (moscas, mosquitos e similares, 13%); Coleoptera
(besouros, 8%); Araneae (aranhas, 6%) e Orthoptera (gafanhotos e
grilos, 5%). Outras 11 ordens foram menos abundantes, e somadas
alcançam apenas 8% dos indivíduos. Nos campos de altitude foi
encontrado o maior números de indivíduos (abundância total). Nas
fisionomias de campo misto (com andropogôneas e compostas),
campo litorâneo e campo com espinilho houve a maior riqueza
de grupos. O grupo das aranhas foi mais abundante nas áreas
mais fragmentadas (áreas menos conservadas). Parece que
campos nativos mais fragmentados favorecem as aranhas, seja
porque facilitam o crescimento de suas populações, ou porque a
65
colonização é maior nestas áreas. Este é um resultado interessante
que merece ser melhor estudado.
Insetos herbívoros galhadores
Como mencionamos, dentre os artrópodos herbívoros há
aqueles que devoram as plantas em seu interior – são chamados
endofíticos (do grego, endos = dentro, phyton = planta). Mais do
que viver dentro das plantas, alguns artrópodos desenvolveram
evolutivamente a capacidade de alterar o tecido das plantas
hospedeiras, e fazer com que as células vegetais cresçam e/ou
proliferem em torno deles. O resultado é uma estrutura chamada
galha (do inglês gall = amargor, dado o tanino presente em
algumas galhas sobre carvalho) que abriga e alimenta o
artrópode, que é chamado galhador. O interessante é que cada
espécie de inseto é capaz de induzir galhas em apenas uma
espécie de planta (são específicos), e estas galhas têm formato,
tamanho e cores bem característicos. Assim, observando um
certo tipo de galha sobre uma planta específica, mesmo sem
saber quem é a espécie de inseto, podemos saber que existe ali
Exemplos de
artrópodos de
diferentes grupos
ocorrentes na
vegetação campestre
e de ecótono dos
Campos Sulinos
#
# Milton Mendonça
#
# João Bittencourt
Fig. 6.1
Percevejo
Reduviidae
Mosca
Tachinidae
Aranha
Lycosidae
Formiga predadora
Pseudomyrmex sp.
Aranha
Salticidae
Piolho-de-cobra
Polydesmida
Gorgulho
Curculionidae
Borboleta
Agraulis vanillae
uma determinada espécie de artrópode, diferente das demais
que produzem outras galhas.
As galhas encontradas nos Campos Sulinos podem estar
nas folhas, nos ramos ou nas gemas e apresentam combinações
de características como formatos (esféricas, fusiformes, cônicas),
cores (verdes, pardas, amarelas, avermelhadas) e presença ou
não de pelos ou escamas. Algumas têm uma única câmara interna
com um único artrópode, outras múltiplas câmaras, cada uma
com um indivíduo de artrópode. Uma galha curiosa encontrada é
a assobiadeira (ou assoviadeira), o nome popular é dado à planta,
mas na verdade a responsável pelo assovio é a galha, esférica e
com um orifício redondo de saída do inseto, que é uma pequena
mariposa. Com o vento minuano do Pampa nos ramos da planta,
o ar passa pelas galhas e gera um som agudo da mesma forma do
que quando sopramos no gargalo de uma garrafa.
OspequenosgalhadoresencontradosdentrodasgalhasnoRio
Grande do Sul são na maioria dípteros (insetos como mosquitos, mas
que não sugam sangue) de uma família chamada Cecidomyiidae, o
grupo mais diverso de galhadores nas Américas, pulgões-de-plantas
Hemiptera
39%
Hymenoptera
21%
Diptera
13%
Outras ordens
Orthoptera
AraneaE
Coleoptera
5%
6%
8%
8%
Galhas sobre plantas
nos Campos Sulinos
#
# Milton Mendonça
#
# Tiago Shizen
Fig. 6.2
Os campos e florestas são formações vegetais que de-
pendem de clima, solo, distúrbios ambientais e das pró-
prias interações entre os organismos para se estabelecer
e se manter, ou seja, qualquer destes fatores pode influir
na presença e no destino das vegetações. No Rio Grande
do Sul, as florestas iniciaram uma expansão por sobre os
campos, mais antigos, milhares de anos atrás. Esta di-
nâmica de movimento das matas se deve então a vários
fatores, principalmente o clima úmido a favor das matas,
mas com o fogo (um distúrbio ambiental) e os animais
pastejadores a favor do campo. Os humanos entraram
nessa equação já há algum tempo, com os proto-índios,
alterando tanto a frequência quanto a intensidade do
fogo, e a quantidade de pastejadores. Com isso criaram-
se grandes áreas de contato entre os campos nativos an-
cestrais e as novas fisionomias vegetais de floresta.
Ecótonos (do grego, eco: casa, ambiente; tonos: tensão)
são áreas de transição ambiental em que comunidades
biológicas de diferentes ecossistemas podem coexistir, e
desta forma, são importantes sítios de pesquisa sobre pa-
drões de biodiversidade. Nesses lugares há uma sobrepo-
sição de características ambientais das duas formações. A
tensão do nome fica por conta de que os fatores ambien-
tais podem estar favorecendo um ou outro ecossistema, e
assim poderemos tentar prever se um deles está ganhan-
do do outro e se poderia com isso se expandir. No Sul do
Brasil, os Campos Sulinos formam mosaicos com flores-
tas ombrófilas mistas (floresta com Araucária) e florestas
estacionais, áreas onde o contato campo-floresta é uma
linha curva e complexa. De um lado, há a presença de al-
gumas plantas típicas dos campos, como as gramas e, de
outro lado, encontram-se espécies arbóreas que ocorrem
nas matas. Para saber mais veja os Capítulos 3 e 5.
Ecótono
Galhas lenticulares em
folha de figueira (Ficus sp.)
Galha fusiforme em
folha de chá-de-bugre
(Casearia sylvestris)
Galha lenticular
Cecidomiidae – Sebastiania
commersoniana
Galha esférica em ramo
de assoviadeira (Schinus
polygamus), ainda com
o galhador no interior,
antes de poder assoviar
Múltiplas galhas fusiformes
em ramo de Schinus
polygamus (assoviadeira),
com a exúvia (pele das pupas)
de onde saiu o inseto adulto,
um mosquito Cecidomyiidae
Galha esférica em folha de
pitangueira (Eugenia uniflora)
causada por mosquito
(Eugeniamyia dispar)
Esférica
Lenticular
Fusiforme
66
67
(ordem Hemiptera), besouros (ordem Coleoptera), mariposas (ordem
Lepidoptera) e pequenos insetos de asas franjadas chamados tripes
(ordem Thysanoptera).
Artrópodos de solo em ecótonos
Aranhas de solo
O ecótono campo-floresta é um ambiente de transição
também para as aranhas de solo, com condições parecidas às
encontradas dentro das matas, mesmo para os campos que
não estão junto à borda da floresta. A mudança das condições
ambientais pela proximidade da floresta ao campo faz com que as
espécies típicas de interior de floresta possam também explorar
esses ambientes mais abertos, estendendo, assim, sua distribuição.
Formigas
Em estudos sobre os artrópodos existentes nos Campos
Sulinos foram encontrados 17 gêneros (a categoria acima de
espécie) de formigas – a identificação das espécies de formigas
é custosa e precisa ser feita por especialistas em museus com
coleções completas para poder comparar as formigas entre si. Até
o momento, foram coletados 16 gêneros de formigas nas áreas
florestais, sendo dois (Ochetomyrmex e Odontomachus) exclusivos
deste ambiente, enquanto que as áreas predominantemente
campestres apresentaram 15 gêneros, sendo apenas Ectatomma
exclusivo. Esses grupos exclusivos indicam que esses ambientes
têm características distintas que selecionam as formigas que
podem habitá-los, como para as aranhas acima.
Colêmbolos
Os colêmbolos não são insetos, mas organismos classifica-
dos como hexápodas (têm seis pés). São amplamente distribuí-
dos, muito abundantes no solo, serapilheira, troncos de árvores e
folhas, em ambientes aquáticos e cavernas. São organismos mui-
to pequenos, quase invisíveis aos nossos olhos, e quase sempre
passam despercebidos. Podem ser divididos em quatro grupos ta-
xonômicos (ou seja, de organismos parecidos e aparentados evo-
lutivamente): Entomobryomorpha, Poduromorpha, Symphypleo-
na e Neelipleona; os Entomobryomorpha e os Symphypleona são
geralmente dominantes nos ambientes.
Os colêmbolos ainda são organismos pouco estudados
globalmente, e se estima que o número conhecido até agora
seja de apenas 22% do que se imagina encontrar na natureza em
todo o mundo. Além disso, no Brasil esses organismos são ainda
menos conhecidos, principalmente na região Sul. No último
levantamentodecolêmbolosdoBrasil,nenhumaespéciedaregião
Sul foi contabilizada, pois é muito incipiente o levantamento das
espécies que ocorrem nestes ambientes.
Os colêmbolos apresentam diferentes estratégias de vida,
havendo aqueles que vivem dentro do solo (euedáficos), os que
vivem sobre o solo, na serapilheira e em árvores (epiedáficos), e os
que apresentam um comportamento intermediário (hemiedáficos).
Os que vivem dentro do solo são muito sensíveis à luz, à falta de
águaeàaltatemperatura.Geralmentesãomuitopequenos,nãotêm
cor, são cegos e não se movimentam muito. Os que vivem acima do
solo são organismos mais resistentes à luz, à falta de água e à alta
temperatura pois apresentam coloração escura, pelos e escamas
e se movimentam mais por serem maiores e ter uma estrutura, a
fúrcula, que favorece que se desloquem por meio de pulos.
Os colêmbolos podem desempenhar vários serviços ambien-
tais, porém o principal deles está relacionado com a ciclagem de nu-
trientes no solo e serapilheira. Por consumirem micro-organismos,
resíduos orgânicos, pólen, fezes de vertebrados e de invertebrados,
e até mesmo animais mortos em decomposição, eles são muito im-
portantes para a decomposição e mineralização de compostos
orgânicos (ou seja, quando estes retornam ao estado não-orgânico).
Estas são etapas fundamentais para uma ciclagem de nutrientes
eficiente, pois somente assim os nutrientes essenciais para plantas e
demais organismos produtores são (re)disponibilizados.
Os colêmbolos contribuem para a ciclagem de nutrientes de
duas formas, pela capacidade de regular o tamanho da população
de micro-organismos do solo e pela fragmentação de resíduos
orgânicos. Quando os colêmbolos consomem micro-organismos,
eles controlam sua população e, por sua vez, controlam o
O estudo da fauna de artrópodos envolve várias etapas. O pri-
meiro passo é a preparação do projeto de pesquisa com os ob-
jetivos, a seguir vem a delimitação do desenho amostral (onde
e quando as amostras de artrópodos serão tomadas, e quantas
serão). Depois, os animais são coletados, e a técnica utilizada
depende do grupo e do ambiente a ser amostrado. Os artrópo-
dos capturados são triados em laboratório e separados em gran-
des grupos, em geral sob lupa, por pesquisadores treinados para
reconhecê-los. Depois são preparados para serem guardados,
podem ser secos e alfinetados (besouros, formigas), ou manti-
dos em álcool (vespas, aranhas), ou ainda montados em lâmi-
nas histológicas (apenas pequenos artrópodos), dependendo do
tipo de organismo, mas sempre com etiquetas detalhadas com
origem e data de coleta. A partir daí, procede-se a identificação
das espécies por especialistas, que como diz o nome são conhe-
cedores de grupos restritos de artrópodos. Assim, quem identi-
fica (dá nomes a espécies de) formigas, não identifica aranhas
nem besouros, e assim por diante. Algumas vezes, artrópodos
herbívoros são coletados dentro das plantas que eles devoram
(ditas hospedeiras), daí a triagem envolve identificar as plantas
também. Depois disto, temos uma lista de espécies com núme-
ro de indivíduos por amostra, e podemos calcular abundância,
riqueza e composição das espécies, para compararmos ambien-
tes e situações entre si com testes estatísticos – é a fase final de
análise quantitativa.
Os estudos dos artrópodos envolvem uma série de técnicas, e
rendem inúmeros indivíduos ao final. Em alguns casos o objeti-
vo é a comparação de diferentes fisionomias de campo e seu es-
tado de conservação, em outros é comparar os ecótonos entre
Metodologias para o estudo dos artrópodos
regiões distintas. Em outros ainda, pode-se querer comparar o
gradiente de ambientes entre a floresta e os campos, observan-
do os limites do ecótono.
Para a coleta dos artrópodos de vida livre da vegetação pode ser
utilizada uma técnica massal, a rede de varredura, uma rede de
tecido resistente e aro de metal grosso, que é passada com força
na vegetação campestre à medida que se caminha. Isto desloca os
artrópodos para dentro da rede e, de tempos em tempos, é preciso
parar para capturar os artrópodos de dentro da rede.Também para
o estudo de artrópodos na vegetação, pode ser utilizada uma téc-
nica especial de procura ativa nas plantas, que amostra insetos her-
bívoros endofíticos, isto é, aqueles que vivem dentro das plantas.
Para a fauna de solo, outra técnica de coleta massal existente é a
conhecida como armadilha de queda (pitfall trap) ou armadilha de
solo, na qual copos cheios de uma mistura de álcool, água e for-
mol são enterrados. Os animais que perambulam pelo solo caem
nessas armadilhas, e acabam capturados no fundo do pote. Após
um tempo fixo, os copos são retirados e levados a laboratório para
triagem.Como os artrópodos que ali caem são um grupo extrema-
mente diverso e abundante, os pesquisadores podem focar seus
esforços em identificar grupos específicos, como aranhas e colêm-
bolos, avaliando sua abundância e distribuição nos ecótonos.
Para o estudo das formigas de solo pode ser utilizada uma técni-
ca especial, com iscas para atraí-las. Nos locais de amostragem
são dispostas as estações de coleta com isca que, por exemplo,
podem ser de mel, representando recurso de carboidrato, ou de
atum, representando recurso proteico.
Métodos de amostragem
e armazenamento
de artrópodes:
A: Rede de varredura
B: Armadilha de queda
C: Armadilha com
isca (mel)
D: Gaveteiro entomológico
#
# LucianaPodgaiski
#
# WilliamDröse
A B C D
68
69
quanto estes micro-organismos vão agir sobre a decomposição e
mineralização dos compostos orgânicos, acelerando ou freando
a decomposição. O outro papel dos colêmbolos é que, por se
alimentaremtambémderesíduosorgânicoscomofolhas,quebram
detritos maiores em menores, ou seja, fragmentam, cortam os
resíduos durante sua alimentação. O efeito desta fragmentação
é que os resíduos serão mais facilmente consumidos por outros
artrópodos e micro-organismos, acelerando a decomposição.
CONCLUSÃO
As pesquisas atuais apenas começaram a revelar a
diversidade de artrópodos dos Campos Sulinos e toda a variedade
de respostas destes artrópodos às situações dos ambientes,
como o encontro entre matas e campos, a alteração pelo homem,
e assim por diante. Ainda é cedo para afirmar, mas é muito
provável que existam muitas espécies ainda desconhecidas da
Ciência. Não há nem sequer registros adequados de colêmbolos
no RS, boa parte dos insetos galhadores costuma se revelar como
espécie nova, e talvez apenas para formigas e aranhas haja menos
novidades, pois esses grupos são mais conhecidos. Além disso,
os demais grupos de organismos também precisam ser olhados
mais detalhadamente por especialistas. Certamente novos
estudos podem levar a muitas conclusões interessantes, como a
importância da flora e do microclima na abundância e riqueza
dos artrópodos nos Campos Sulinos.
Lagartas
#
# Ronai Rocha
70
71
Banhado de Santa Fé,
Dilermando de Aguiar, RS
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
73
Capítulo 7
Biodiversidade de ANFÍBIOS
Samanta Iop, Bruna Raquel Assmann, Tiago Gomes dos Santos & Sonia Zanini Cechin
Os anfíbios
A palavra anfíbio significa, em grego, vida dupla se refe-
rindo ao ciclo de vida da maioria destes animais, que tem duas fa-
ses: uma aquática na forma de larvas e outra terrestre na forma de
adulto. Não têm escamas, pelos ou penas, a pele é extremamente
permeável, o que os torna dependentes de água, pelo menos na
fase larval. Na pele dos anfíbios também estão presentes muitas
glândulas de muco e de veneno. São animais com grande varie-
dade de formas corporais, tamanho, cor e modo de vida, e estão
reunidos em três Ordens (grupos taxonômicos) (Tabela 7.1).
As salamandras apresentam quatro membros e cauda lon-
ga, e no Brasil só ocorrem na Amazônia. As cecílias têm o corpo
alongado e desprovido de patas, vivem em ambientes úmidos onde
constroem galerias subterrâneas, por isso são pouco conhecidas
pela maioria das pessoas. Muitas vezes elas são confundidas com
cobras-cegas, que são répteis, e apresentam escamas na pele.
Sem dúvida, os anfíbios mais conhecidos são os sapos, rãs e
pererecas. O coaxar (cantos) desses animais é ouvido à noite, prin-
cipalmente nos dias quentes e chuvosos de primavera e verão. Os
sapos possuem quatro membros curtos, pele rugosa, grandes glân-
dulas de veneno, têm hábitos terrestres e se locomovem através de
Perereca-do-banhado
(Hypsiboas pulchellus)
#
# Samanta Iop
Representação
esquemática dos
anfíbios.
A: Sapo;
B: Salamandra;
C: Cecília.
Fonte: Andressa Iop
A B C
Fig. 7.1
74
pequenos saltos. As rãs aquáticas ou semi-aquáticas apresentam
pele lisa e quatro membros bem desenvolvidos para saltos longos.
Aspererecastêmapeleúmidaelisa,patasfinaselongas,eapresen-
tam dilatações nas pontas dos dedos, que são discos utilizados para
escalar plantas, rochas e paredes. Na prática definir o que é sapo, rã
ou perereca não é tão fácil, pois para algumas espécies é difícil dis-
tinguir essas características, assim denominaremos sapos todos os
anfíbios da ordem dos Anuros, sejam sapos, rãs ou pererecas.
A maioria das pessoas desconhece a importância dos anfí-
bios (Figura 7.1). Os sapos, segundo o conhecimento popular, são
conhecidos por serem feios e gosmentos e por figurarem em ritu-
ais de bruxaria. Assim, muitas pessoas acreditam que pesquisar
esses animais é “uma coisa sem fundamento”, como se diz aqui
no Sul. Os anfíbios, assim como todos os seres vivos, são funda-
mentais para o equilíbrio ecológico dos ecossistemas e prestam
importantes serviços ambientais, isto é, promovem benefícios à
humanidade. Seja como parte importante na teia alimentar, como
bioindicadores de qualidade do ambiente ou por fornecerem ma-
téria-prima para a indústria farmacêutica.
Nos Campos Sulinos estão presentes cerca de 9% dos anfí-
bios brasileiros. Esta elevada riqueza está relacionada à diversi-
dade de paisagens dos Campos Sulinos; que diferem em altitude,
declividade, solo, cobertura vegetal e uso do solo. Além disso, os
campos estão em contato com a Mata Atlântica, um dos centros
de alta diversificação de anfíbios e que concentra a maior diversi-
dade de modos reprodutivos entre os sapos (4, 5).
Tabela 7.1: Quadro esquemático das ordens dos anfíbios
e seus dados de riqueza.
anfíbios nos Campos Sulinos
A maioria das espécies dos Campos Sulinos é endêmica
de ecossistemas campestres (37%), sendo que destas, 14% são
exclusivas dos campos da Mata Atlântica, 11% exclusivas dos
campos do Pampa e os 12% restantes ocorrem em campos de
ambos os biomas. Pelo menos 36% dos anfíbios têm distribui-
ção geográfica ampla, ou seja, ocorrem em diferentes biomas.
As espécies típicas da Mata Atlântica, mas que ocasionalmente
utilizam áreas campestres para reprodução, representam 21%
da riqueza. Com menor representatividade há espécies que só
ocorrem na combinação dos biomas Campos e Mata Atlântica
(4%) e também espécies Chaco-Pampeana (2%) (Figura 7.2.).
Ameaça aos anfíbios
Os anfíbios são muito sensíveis a alterações do ambiente,
principalmente quanto à temperatura e umidade, qualidade da
água, estrutura da vegetação nos corpos d’água e fragmentação
da paisagem. Como exemplos dessa sensibilidade, algumas
espécies de anfíbios estão ameaçadas devido às alterações
climáticas globais, como é o caso do sapo-guarda (Elachistocleis
bicolor), da rã-piadora (Leptodactylus latinasus), do sapo-
cururu (Rhinella schneideri), e da perereca-de-peito-manchado
(Scinax nasicus). As temperaturas máximas que os girinos
dessas espécies podem tolerar nos corpos d’água já estão muito
próximas às temperaturas registradas atualmente. Além disso,
somente nos Campos Sulinos há cinco espécies de sapinhos-
de-barriga-vermelha (gênero Melanophryniscus) em risco
de perder sua área de distribuição potencial até o ano 2080,
caso se confirmem as tendências de aquecimento do planeta
estimadas para as próximas décadas (6,7,8).
Os Campos Sulinos, com períodos frios e secos, têm ca-
racterísticas ambientais pouco favoráveis à dispersão dos anu-
ros, quando comparado aos ambientes florestais, onde as con-
dições ambientais são mais estáveis, por exemplo, umidade,
temperatura, luminosidade (9). Aos efeitos climáticos somam-
ORDEM /DISTRIBUIÇÃO MUNDO1
BRASIL2 CAMPOS
SULINOS3
Anura: Sapos, rãs e pererecas 6.444 913 81
Caudata: Salamandras 688 5 0
Gymnophiona: Cecílias 200 32 3
Total de espécies 7.332 950 84
75
se às dificuldades relacionadas às perdas de habitats devido às
altas taxas de fragmentação e conversão do campo nativo em
monoculturas de soja, pinus, acácia, arroz, azevém e a invasão
do capim-annoni. Como era de se esperar, tamanha conversão
dos campos se traduz em impactos negativos sobre a riqueza e
abundância dos anfíbios dos Campos Sulinos.
Outra ameaça é a introdução de espécies exóticas, como
a rã-touro (Lithobates catesbeianus), originária dos Estados
Unidos, que compete com as espécies nativas por recursos,
principalmente no nicho acústico, além de predar espécies
nativas (10). Atualmente, nove espécies de anfíbios dos Cam-
pos Sulinos estão enquadradas nas listas de espécies amea-
çadas em âmbito global, nacional ou estadual (RS, SC, e PR)
(Tabela 7.2).
Espécies de anfíbios
dos Campos Sulinos
e sua distribuição
geográfica nos
diferentes biomas
#
# Samanta Iop
#
# Tiago Santos
#
# Vinicius Caldart
Espécie Nome popular Ameaça
Ceratophrys ornata Sapo-untanha RS: CR
Leptodactylus labyrinthicus Rã-pimenta RS: CR
Scinax rizibilis Perereca-risadinha RS: CR
Limnomedusa macroglossa Rã-das-pedras PR: CR
Melanophryniscus dorsalis
Sapinho-de-barriga-
vermelha
RS: EN
SC: EN
Melanophryniscus
montevidensis
Sapinho-de-barriga-
vermelha
RS: EN
Phyllomedusa distincta Perereca-da-folhagem RS: EN
Phyllomedusa tetraploidea Perereca-macaca RS: EN
Melanophryniscus
cambaraensis
Sapinho-de-barriga-
vermelha
RS: VU
Fig. 7.2
Sapinho-de-barriga-vermelha
Melanophryniscus atroluteus
Perereca-uruguaia
Scinax uruguayus
Rã-piadora
Leptodactylus latinasus
Rã-chorona
Physalaemus riograndensis
Rã-das-pedras
Limnomedusa macroglossa
Perereca-do-bambuzal
Aplastodiscus perviridis
Sapo-da-folhagem
Phyllomedusa tetraploide
Perereca-das-tormentas
Scinax aromothyella
37%
36% Ampla distribuição
nos biomas
Endêmicos nos
Campos Sulinos
Prefere bioma
Mata Atlântica
Biomas MA + Pampa
Campestres Chaco Pampianas
21%
4%
2%
Rã-crioulo
Leptodactylus latrans
Perereca-rajada
Dendropsophus minutus
Rã-cachorro
Physalaemus cuvieri
Perereca-do-banhado
Hypsiboas pulchellus
Tabela 7.2: Espécies de anfíbios dos Campos Sulinos ameaçadas
de extinção no estado do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina
(SC) e Paraná (PR). Categorias de ameaça: vulnerável (VU); em
perigo (EN); criticamente em perigo (CR).
76
Adaptações, teia alimentar,
serviços ambientais, Bioindicação
Teia alimentar
Amaioriadosanfíbiostemdietageneralista,istoquerdizer
que se alimentam de diferentes grupos de animais, principalmente
invertebrados, e os insetos são os favoritos. Mas há espécies que se
alimentam de vertebrados (pequenos roedores, serpentes e outros
anfíbios), como é o caso do sapo-untanha (Cerotophrys ornata) e
da rã-manteiga (Leptodactylus latrans). Também há espécies com
dieta especialista, como o sapo-guarda (Elachistocleis bicolor),
que consome formigas e cupins. Os anfíbios são predados em
todos os seus diferentes etapas de vida: ovos, larvas e adulto. Eles
são alimento para muitos grupos de animais, como peixes, répteis,
aves, outros anfíbios, invertebrados e até para plantas carnívoras
(Figura 7.3).
Estratégias de defesas dos
sapos contra predadores
As espécies de anfíbios que habitam áreas abertas podem
sofrer maior taxa de predação, quando comparadas as de áreas
florestadas (11). A maioria dos anfíbios tem coloração dorsal
e comportamentos defensivos para confundir predadores que
caçam utilizando a visão. A presença de várias estratégias de
defesa é benéfica para o indivíduo, pois aumenta as chances de
sobrevivência, principalmente em ambientes abertos, onde os
locais de abrigos são menos complexos do que em um ambiente
florestal (12, 13).
A rã-listrada (Leptodactylus gracilis, Figura 7.4A) apresenta
coloração dorsal marrom com linha vertebral muito distinta e
outraslinhasdorsaislongitudinaisclaras,brancasouamareladas,
que podem apresentar pontuações verdes escuras. A coloração
disruptiva desfaz a imagem do corpo do animal quando este se
coloca em movimento, dessa forma conferindo maiores chances
dele sobreviver ao ataque de predadores.
Os sapinhos-de-barriga-vermelha (gênero Melanophry-
niscus) apresentam como mecanismo primário de defesa o dor-
so com coloração que se camufla com o substrato (solo, rochas).
Como estratégia secundária, apresentam o ventre com manchas
vermelhas, fenômeno conhecido como aposematismo, cuja exi-
bição de cores vibrantes no corpo (associado ao comportamen-
to de arcar o corpo e expor a coloração vermelha, Figura 7.4B),
geralmente está associada às substâncias tóxicas presentes na
pele desses animais.
A rã-chorona (Physalaemus biligonigerus, Figura 7.4C) tem
padrão de coloração dorsal muito variável (polimórfico), que vai do
marrom claro, bege, amarelado até o marmorado, com desenhos
dorsais diversos. Esta variação pode beneficiá-la, pois alguns
padrões de coloração podem não ser reconhecidos pelo predador,
dessa forma esses indivíduos terão mais chances de sobreviver ao
ataque dos predadores. Além disso, esta rã quando ameaçada pode
levantar o corpo e mostrar suas glândulas inguinais circulares, que
parecem olhos (comportamento defensivo deimático).
A perereca-do-banhado (Hypsiboas pulchellus, Figura
7.4D) apresenta polimorfismo na coloração, os indivíduos variam
Fig. 7.3
Esquema da teia
alimentar envolvendo
os anuros.
Fonte: Andressa Iop
77
deverdesaamareladoseessaestratégiaéutilizadaparaconfundir
predadores visualmente orientados. Outra estratégia utilizada é
a liberação de um odor característico quando manuseadas e/ou
perturbadas, esse odor pode ter função antipredatória.
A perereca-macaca (Phyllomedusa iheringii) apresenta
coloração verde que ajuda a se camuflar entre as folhagens, além
disso, utiliza a presença de substâncias químicas na pele e a
estratégia de se fingir de morta para se defender de predadores.
Modos reprodutivos
Os ovos dos anfíbios não possuem casca e por isso podem
secar e morrer facilmente se não houver umidade suficiente.
Para resolver esse problema, a maioria dos anfíbios dos Campos
Sulinos (aproximadamente 67%) coloca seus ovos diretamente
na água, por exemplo, em poças, como a rã-boiadora (Pseudis
minuta, Figura 7.5A). Algumas espécies do gênero Physalaemus
e Leptodactylus (12% das espécies que ocorrem nos Campos
Sulinos) apresentam como adaptação para evitar a dessecação
de ovos e larvas, a deposição de ovos e o período inicial de
desenvolvimento dos embriões dentro de ninhos de espuma
(Figura 7.5B-C). A espuma fornece aos ovos e larvas proteção
contra a dessecação, predação e variação térmica. Já outras
espécies colocam seus ovos em ninhos de folha na vegetação,
juntamente com cápsulas de gelatina, para proteção contra
dessecação, predadores e radiação solar, como a perereca-
macaca (Phyllomedusa iheringii, Figura 7.5D).
Ovos pigmentados
Espécies que se reproduzem em áreas abertas, como
os campos, colocam os ovos diretamente na água e têm ovos
pigmentados – ou seja, possuem o polo superior dos ovos com
coloração escura (Figura 7.5A). Essa coloração tem a função de
proteção contra radiação solar, já que os ovos não possuem casca
protetora. Já espécies que colocam seus ovos em tocas e dentro de
ninhos de espuma geralmente apresentam ovos totalmente claros,
pois não estão diretamente expostos à radiação (Figura 7.5B-C).
Outra forma de defesa contra a predação de ovos é a presença de
substâncias químicas, como os alcalóides - substâncias químicas
Exemplos de
estratégias defensivas
em espécies de anuros
dos Campos Sulinos
#
# Samanta Iop
A: A coloração da rã-
listrada confunde os
predadores
B: A coloração do
sapinho-de-barriga-
vermelha auxilia
na camuflagem e o
comportamento de
arcar o corpo e
expor a coloração
vermelha afugenta
os predadores
C e D: A rã-chorona
e a perereca-do-
banhado apresentam
padrão de coloração
dorsal variável, o
que a beneficia, pois
alguns padrões podem
não ser reconhecidos
pelos predadores
Exemplos de modos
reprodutivos e
pigmentação dos
ovos das espécies
de anuros dos
Campos Sulinos
Ovos pigmentados
A: Depositados
diretamente na água
Ovos não
pigmentados
B: Depositados
em ninhos de
espuma em câmaras
subterrâneas;
C: Depositados
na água em ninhos
de espuma
D: Ovos depositados
em folhas de árvores
(arborícolas)
Fig. 7.4
Fig. 7.5
A
C
B
A
C
B
D
D
78
encontradas principalmente em plantas, mas podem ocorrer
também em fungos, bactérias e até mesmo em animais - que
funcionam como mecanismo antipredatório, pois são tóxicos e
apresentam gosto repugnante.
O sapo tem veneno?
Napeledosanfíbiossãoencontradosdoistiposdeglândulas,
asmucosaseasserosas.Asglândulasmucosasauxiliamnaproteção
contra a dessecação e na respiração cutânea. As glândulas serosas
produzem toxinas que auxiliam na defesa contra predadores e
micro-organismos patogênicos. Estas substâncias podem ter sabor
e cheiro desagradável ou altamente venenosos.
O veneno dos anfíbios é utilizado como defesa passiva,
pois eles são incapazes de inocular o veneno. Uma espécie de
sapo (Rhaebo guttatus) que ocorre na Amazônia é uma exceção,
pois é capaz de jorrar jatos de veneno para o agressor, porém
seu veneno não é letal, serve para perturbar, causar edemas aos
predadores (14). Assim, o veneno dos sapos só é perigoso para
humanos quando entram em contato com mucosas ou com
feridas expostas.
Muitasdessassubstânciasjáforamestudadasetêmpotencial
farmacológico para o desenvolvimento de medicamentos. Alguns
sapos do gênero Melanophryniscus, Phyllomedusa, Leptodactylus,
Physalaemus e Rhinella, que ocorrem nos Campos Sulinos,
apresentam polipeptídeos com potencial farmacológico.
Anfíbios bioindicadores
Como os anfíbios têm forte sensibilidade às alterações
ambientais, são bioindicadores da qualidade do ambiente, isto
é, dependendo das espécies que ocorrem em determinado am-
biente, é possível saber se ele está conservado ou não. Isso por-
que a combinação de características fisiológicas, morfológicas
e ecológicas (por exemplo, pele permeável, baixa capacidade
de dispersão e ciclo de vida bifásico) os torna dependentes de
água, pelo menos durante a fase larval.
A rã-das-pedras (Limnomedusa macroglossa) é uma
especialista encontrada principalmente em riachos de áreas
pedregosas. O sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus
montevidensis) possui distribuição restrita ao litoral, vive em
ambientesarenososesalinosesereproduzdepoisdemuitachuvaem
corpos d’água temporários. A perereca (Hypsiboas joaquini) ocorre
no planalto, nos campos associados à Floresta com Araucária e se
reproduz em riachos de águas correntes e frias. O sapo-da-enchente
(Odontophrynus americanus) e a rã-cachorro (Physalaemus cuvieri)
são espécies generalistas no uso de ambientes e abundantes em
áreas perturbadas e modificadas pelo homem.
Conclusão
Frente ao quadro de declínio global de anfíbios e mudanças
climáticas, e o aumento da perda de áreas campestres nativas, torna-
se urgente que mais esforços sejam alocados para produzir informa-
ções que possam nortear o desenvolvimento de políticas públicas e
programas de conservação dos anfíbios dos Campos Sulinos.
As pesquisas e os programas precisam priorizar questões
como o efeito da perda e fragmentação dos campos, dos agrotóxi-
cos e, de diferentes práticas de manejo dos campos nativos (por
exemplo, queimadas, intensidades de pastoreio) sobre os anfí-
bios. Além disso, devem ser identificadas e criadas áreas prio-
ritárias para conservação, visando minimizar a situação crítica
dos ecossistemas campestres, até então negligenciados. Adicio-
nalmente, os currículos escolares também precisam incluir a im-
portância da conservação dos campos, e não exclusivamente das
florestas. Esse compromisso pedagógico é essencial como prática
de Educação Ambiental, pois os campos representam uma porção
significativa da paisagem e da cultura sulina, bem como abrigam
áreas úmidas (banhados e poças naturais) responsáveis por di-
versos serviços ambientais e essenciais para a sobrevivência dos
anfíbios e diversos outros organismos.
79
Perereca-macaca
(Phyllomedusa iheringii)
#
# Tiago dos Santos
80
81
Caçapava do Sul, RS
#
# Valério Pillar
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
83
Os répteis formam parte do grupo dos vertebrados terrestres
incluindo animais muito distintos entre si, como lagartos, serpen-
tes, cobras-de-duas-cabeças, tartarugas e jacarés. Na realidade os
chamados répteis não são um grupo com uma origem comum, mas
foram agrupados sob o mesmo nome principalmente pela caracte-
rística de apresentarem o corpo áspero, coberto de escamas.
Ocorrem em praticamente todas as regiões do planeta,
desde os desertos, florestas, campos, banhados, lagoas, rios,
até os oceanos, estando quase ausentes apenas nas áreas mais
frias do planeta. São animais ectotérmicos, utilizando fontes
externas de calor para esquentar seus corpos e desempenhar
suas funções fisiológicas. Seus corpos são, geralmente, cobertos
por escamas, placas ou escudos córneos. A maioria dos répteis é
A B C D E
Fig. 8.1
ovípara, depositando seus ovos sempre no ambiente terrestre;
entretanto,muitasespéciesdesenvolvemseusfilhotesnointerior
do corpo da fêmea e estes eclodem totalmente desenvolvidos
(espécies vivíparas) (1).
A alimentação é muito variada, sendo que cada grupo de-
senvolveu estruturas morfológicas e comportamentos específi-
cos para captura de seus alimentos. Os répteis são predadores
importantes que garantem o controle de populações de vários
animais, como insetos, aranhas, baratas, ratos, anfíbios e ser-
pentes. Com isso, desempenham um papel fundamental nos
ecossistemas para a manutenção da sua biodiversidade.
O grupo das serpentes é, dentre os répteis, o que apresenta
maior número de especializações, pois desenvolveram glândulas
Capítulo 8
Biodiversidade de Répteis
Laura Verrastro & Márcio Borges-Martins
Lagartixa-das-dunas
(Liolaemus
arambarensis)
#
# Marcio Martins
Ordens de répteis
(veja Tabela 8.1)
84
DENTIÇÃO DAS SERPENTES
A periculosidade das serpentes é variável, dependendo de três fatores fundamentais:
a composição química da peçonha, o tipo de desenvolvimento da glândula secretora da peçonha
e o tipo de dentição. Classificamos as serpentes em quatro tipos dentários:
Áglifas
Serpentes não peçonhentas, com dentes
maciços, sem presas injetoras, apesar de
muitas possuírem glândula peçonhenta, mas
esta peçonha é bastante fraca para o homem.
Este tipo de dentição é característica de
algumas serpentes do grupo dos colubrídeos.
Ex: cobra-nariguda (Xenodon dorbignyi).
ProteróglifaS
Serpentes peçonhentas, pertencentes à Família Elapidae
(corais-verdadeiras). Sua dentição é bastante reduzida e há
duas presas sulcadas dianteiras, fixas. O sulco das presas
é profundo e quase forma um canal (nas najas forma um
canal). A glândula peçonhenta não é muito grande; mas a
peçonha é altamente tóxica e mata quase todos os animais,
inclusive o homem. Ex: coral-verdadeira (Micrurus altirostris).
Opistóglifas
Serpentes ditas não peçonhentas, com dentes
maciços, mas há uma presa ou um par de presas
sulcadas, dispostas internamente na mandíbula
superior, na região posterior da boca. Injetam
uma peçonha fraca, de efeito apenas tópico,
que causa edema e dor.Já foram constatados
acidentes com problemas de envenenamento.
Ex: cobra-cipó verde (Philodryas olfersii).
Solenóglifas
Serpentes peçonhentas da FamíliaViperidae, que também matam
ao homem e à maioria dos animais. Possuem duas presas longas
e curvas, perfuradas por um canal por onde escorre a peçonha.
As presas ficam deitadas no céu da boca, mas os maxilares
são móveis e reduzidos a peças giratórias.Quando a serpente
abre a boca, as presas descem e ficam protraídas para diante.As
glândulas de peçonha são enormes e se situam atrás da cabeça,
dando feição triangular à mesma. Ex: cruzeiro (Bothrops alternatus).
85
localizadas nos lados da cabeça, e secreções tóxicas utilizadas na
defesa e na alimentação. A toxidade e os efeitos variam de acor-
do com a espécie da serpente. Muitas espécies produzem veneno,
mas não são capazes de inoculá-lo eficientemente. A eficiência
da inoculação está relacionada com o tipo de dentição da serpen-
te, que pode variar de dentes totalmentes maciços, sem orifícios
para a saída do veneno, a dentes especiais ocos, que funcionam
da mesma maneira que agulhas de injeção.
Os répteis talvez sejam os animais que mais causem medo
e aversão em grande parte das pessoas. Muitas espécies de rép-
teis são desprezadas e exterminadas indiscriminadamente, não
somente pelo fato de não se encaixarem no padrão estético defini-
do pelo homem, como também pela crença de que são venenosas
ou que causam problemas para as pessoas. Esses fatores, aliados
à destruição de seus habitats, têm levado ao declínio de popula-
ções de inúmeras espécies.
Os répteis dos Campos Sulinos
Os répteis do Rio Grande do Sul (RS) representam 18% das
espécies do Brasil (2). Dentre estas ressalta-se a ocorrência de
algumas espécies endêmicas dos Campos Sulinos ou fortemente
associadas aos ambientes campestres (ao menos nos limites
do RS), como a tartaruga tigre-d’água (Trachemys dorbigni), as
cobras-de-duas-cabeças (Amphisbaena darwini e A. munoai);
os lagartos, lagartinho (Stenocercus azureus), lagartixa-listrada
(Cercosaura ocellata petersi), lagartixa-verde (Teius oculatus),
lagartinho-pintado (Contomastix vacariensis) e lagartinho-do-
pampa (Homonota uruguayensis); e as serpentes narigudinha
(Xenodon dorbignyi), falsa-cobra-espada (Calamodontophis
paucidens), jararaquinha-d’água-comum (Lygophis anomalus),
corredeira-do-banhado (Psomophis obtusus) e cobra-espada-
comum (Tomodon dorsatus). Além dessas, podem ser incluídas
as espécies de lagartos arenícolas lagartixa-da-praia (Liolaemus
occipitalis) e lagartixa-das-dunas (Liolaemus arambarensis),
associadas às formações de restingas costeiras, e alguns táxons
de serpentes como cabeça-preta (Phalotris lemniscatus) (2). Tais
espécies distribuem-se basicamente pelas áreas de formações
abertas da metade sul do RS, no bioma Pampa.
Tabela 8.1: Ordens de Répteis e sua riqueza em número
de espécies no mundo, no Brasil e nos Campos Sulinos.
ORDEM  /  DISTRIBUIÇÃO
MUNDO3
(2014)
BRASIL4
(2014)
CAMPOS
SULINOS5
(2008)
Squamata
Cobras-cegas
[Figura 8.1A]
188 72 11
Lagartos
[Figura 8.1B]
5.987 260 31*
Serpentes
[Figura 8.1C]
3.496 386 104
Rhynchocephalia 1 0 0
Crocodilia [Figura 8.1D] 25 6 1
Testudines [Figura 8.1E] 341 36 12
Total de espécies 10.038 760 158
*apenas uma espécie exótica
Peculiaridades
Umas das principais características dos ecossistemas dos
Campos Sulinos é a predominância de habitats abertos que implica
em um intenso aporte de luminosidade solar, resultando em eleva-
das temperaturas (6). Estas características restringem a ocorrência de
muitosgruposdeanimais,masfavorecemaexistênciadeorganismos
como os répteis que se adaptam às altas temperaturas do substrato.
As formações de dunas e restingas, como parte dos Campos
Sulinos, são formações que se estendem no litoral, de norte a sul,
em uma faixa de 10-100km de largura por 600km de extensão
(7). Um dos répteis mais característicos desses ambientes é o
gênero Liolaemus. Este gênero está representado no Brasil por
três espécies, duas das quais ocorrem no Rio Grande do Sul:
Liolaemus occipitalis e Liolaemus arambarensis (7).
86
A lagartixa-das-dunas (Liolaemus arambarensis) é o único
réptil endêmico do Rio Grande do Sul (8). Tem cerca de 56
milímetros de tamanho (sem cauda) e apresenta uma coloração
críptica com o ambiente, confundindo-se com o substrato onde
vive. Alimenta-se basicamente de insetos, aranhas e material
vegetal (9) (Figura 8.2C). Seu habitat típico são as moitas de
vegetação herbácea que espalham-se pelas formações de dunas.
Nesses locais este lagarto encontra conforto térmico, alimento
e refúgio de predadores. Sua estratégia de proteção dos raios
solares, excesso de calor e dos predadores é enterrar-se em baixo
da areia junto às raízes da vegetação de gramíneas (Figura 8.2).
Liolaemus occipitalis é um pequeno lagarto com tamanho
médio de 60,2 milímetros (8) (Figura 8.3B). Se reproduz entre
os meses de setembro a março. Esta espécie é principalmente
insetívora, consumindo também flores e frutos de gramíneas.
Permanece ativa durante o dia (8). Tem um padrão de cor críptica,
o que o torna imperceptível no ambiente, sua estratégia principal
de defesa contra predadores é cavar superficialmente a areia
escondendo-se, ou fugir para refúgios ou tocas. O comportamento
termorregulador mais comumente observado nesta espécie é se
mover entre os locais expostos à luz solar para locais sombreados
em meio a vegetação densa (10).
A
A jararaca-pintada se abriga nos
grandes capões das restingas e sai
à tardinha para se alimentar de
répteis e ratinhos.
A
Cobra-de-duas-cabeças é um
réptil sem membros que vive
enterrado em túneis na areia (ou
no solo).Come formigas e cupins.
A
O lagarto-espinhoso gosta também de fendas
nas pedras, mas no caso dele seu abrigo são
as frestas profundas. Se alimenta de insetos e
aranhas e sai a tomar sol durante o dia.
B
A lagartixa-da-praia é o
vertebrado mais abundante dos
ambientes de dunas costeiras.
B
A cobra-cega-sulina é uma
mini-serpente que gosta de ficar
embaixo das pedras comendo
larvas de cupins e formigas.Seus
dentes são muito pequenos e não
tem nenhum risco para o homem.
C
A serpente narigudinha ou jararaquinha-das-
dunas tem um rosto proeminente que lhe ajuda a
se enterrar na areia. Come a lagartixa-das-dunas
entre outros pequenos vertebrados.
C
O lagartinho-do-pampa é
endêmico das formações
de morros areníticos da
Campanha.Tem a mesma cor
que as pedras onde se adere.
C
A lagartixa-das-dunas e seu
ambiente, nas restingas da
Laguna dos Patos.
B
O lagarto-de-papo amarelo
gosta dos capões das
restingas. É o maior lagarto
das Américas.Tem uma
alimentação muito variada:
frutos, lesmas, ovos de aves.
Fig. 8.2 Fig. 8.3
Fig. 8.4
Outro ecossistema típico dos Campos Sulinos são os
campos rochosos da região da Campanha. Nestes ambientes
encontramos répteis adaptados à incidência direta do sol, fortes
ventos e invernos rigorosos. Dois lagartos característicos são o
lagartinho-do-pampa, Homonota uruguayensis (Figura 8.4C) e o
lagarto-espinhoso, Tropidurus catalanesis (Figura 8.4A).
Ambiente de restingas
da Laguna dos
Patos e seus répteis
característicos
A: Bothrops pubescens
B: Salvator merianae
C: Liolaemus
arambarensis
#
# Márcio Martins
[Fig. 8.2A]
#
# Arthur Schramm
[Fig. 8.2B]
#
# LauraVerrastro
[Fig. 8.2C]
87
A
Bothrops cotiara (jararaca)
é uma das sete serpentes
peçonhentas que existem nos
Campos Sulinos. Se alimenta
principalmente de ratos e
outros pequenos mamíferos.
A
O jacaré-de-papo-amarelo
é o único crocodiliano que
temos nos Campos Sulinos.
É habitante comum dos
ambientes alagados. Sua
alimentação é variada, mas
sempre carnívora (tartarugas, peixes, caracóis).
C
A serpente parelheira-do-mato
tem hábito arborícola, com corpo
esbelto.Como outras serpentes
parecidas, a alimentação
é baseada em pequenos
mamíferos, anfíbios e lagartos.
C
O cobra-da-água ocorre
nos banhados e lagoas.
Sua reprodução é vivípara,
dando à luz filhotes em
forma de mini-adultos. Sua
alimentação é baseada em
peixes e pode servir de alimento a aves.
B
O lagartinho-pintado dos
campos pedregosos dos
Campos deCima daSerra.Vive
escondido embaixo de pedras
soltas onde constrói tocas.
B
A tartaruga tigre-da-água tem cor
amarelo e verde, e seu casco na
vida adulta é escuro. No Brasil,
ocorre exclusivamente no RS.
Alimenta-se de caracóis, peixes,
larvas de anfíbios e plantas aquáticas.
Fig. 8.5
Fig. 8.6
O lagartinho-do-pampa tem hábito diurno e noturno,
apresenta atividade ao longo de todo o ano. Encontra refúgio e
alimento embaixo das pedras dos afloramentos, come artrópodos,
tendo uma dieta carnívora (11). O lagartinho-do-pampa é uma
espécie com populações muito abundantes nos locais onde
ocorre. Porém, suas populações são muito isoladas entre si, pois
a espécie tem alta especificidade de habitat e limitada dispersão,
aliada à ocorrência restrita do seu habitat (12).
No Planalto das Araucárias um dos répteis mais exclusivos
dos ambientes campestres é o lagartinho-pintado (Contomastix
vacariensis) (Figura 8.5B). Seu habitat é exclusivamente associado
aos afloramentos rochosos, localizados em regiões de campos de
altitudes elevadas (13). Possui uma dieta basicamente carnívora,
procurando embaixo de pedras os vários tipos de artrópodos que
consome (14). É um lagarto que apresenta temperatura corpórea
muito próxima da temperatura do micro-habitat onde se encontra.
É fácil diferenciar machos e fêmeas: as fêmeas são maiores que
os machos, e estes apresentam cores na região lateral do corpo,
além de ventre e papos manchados de preto (15). As populações
da espécie são pouco numerosas, e quase não se deslocam entre
os afloramentos rochosos (16).
Junto com este lagarto típico dos campos de altitude ocorrem
outros répteis associados também à floresta com Araucária.
Entre essas espécies encontram-se as serpentes, como a jararaca
(Bothrops cotiara) (Figura 8.5A) e a parelheira-do-mato (Philodryas
arnaldoi) (Figura 8.5C) (2; 17). Destas espécies pouco se conhece de
sua biologia, mas as três restringem-se a essa região.
Nos ambientes aquáticos de água doce encontramos dois
representantes bem característicos da fauna de répteis dos Campos
Sulinos: o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) (Figura
8.6A), a tartaruga tigre-da-água (Trachemys dorbigni) (Figura 8.6B)
e a serpente cobra-d’água (Helicops infrataeniatus) (Figura 8.6C).
As principais ameaças às espécies de répteis que vivem
nos Campos Sulinos estão vinculadas à descaracterização e
perda dos habitats pelas monoculturas de soja, arroz e trigo,
bem como por extensas plantações de eucaliptos e pinus. Na
região do litoral, a principal pressão de destruição dos habitats
está vinculada aos loteamentos das restingas para urbanização.
Ambiente de restingas
da região costeira
e seus répteis
característicos
A: Amphisbaena
darwinii
B: Liolaemus occipitalis
C: Xenodon dorbignyi
#
# Márcio Martins
[Fig. 8.3A,C]
#
# LauraVerrastro
[Fig. 8.3B]
Ambiente de campos
pedregosos na
Campanha e seus
répteis característicos
A: Tropidurus
catalanesis
B: Epictia munoai
C: Homonota
uruguayensis
#
# LauraVerrastro
Ambiente de altitude
e seus répteis
característicos
A: Bothrops coitiara
B: Contomastix
vacariensis
C: Philodryas arnaldoi
#
# Márcio Martins
[Fig. 8.5A,C]
#
# LauraVerrastro
[Fig. 8.5B]
Ambiente alagado
e seus répteis
característicos
A: Caiman latirostris
B: Trachemys dorbigni
C: Helicops
infrataeniatus
#
# Márcio Martins
88
Também, a implantação de grandes parques eólicos destrói o
relevo e remove a vegetação original das dunas. Estas atividades
econômicasmodificamacomposiçãooriginaldavegetaçãoe/ou
sombreiam as áreas de campos abertos. Não são poupados nem os
afloramentos rochosos, que ficam cobertos de árvores. Os répteis
dependem da paisagem original de seus habitats para conseguir
alimento o qual está fortemente associado à vegetação nativa.
Além disso, o sombreamento de grandes extensões de campos
prejudica a capacidade dos répteis de obter calor, e altera os locais
de refúgio de predadores na vegetação e as rochas. A modificação
dos ambientes naturais fragmenta os habitats onde os répteis
vivem e isola as populações, trazendo como consequência, em
longo e médio prazos, a diminuição e eventualmente a extinção
de populações. Este fato já foi verificado para várias espécies de
lagartos,lagartinho-do-pampa(Figura8.4C),lagartinho-espinhoso
(Figura8.4A),lagartixa-da-praia(Figura8.3B).Atransformaçãodos
ecossistemas altera profundamente o habitat natural das espécies
nativas e as coloca sob ameaça de extinção.
Tabela 8.2: Algumas espécies de répteis ameaçadas de extinção habitantes dos Campos Sulinos no Rio Grande do Sul (RS),
Santa Catarina (SC) e Paraná (PR). Categorias de ameaça: vulnerável (VU); em perigo (EN).
Nome científico Família Nome popular Ameaça
Liolaemus arambarensis Liolaemidae Lagartixa-de-dunas RS: EN
Liolaemus occipitalis Liolaemidae Lagartixa-da-praia RS, SC: VU
Contomastix vacariensis Teiidae Lagartinho-pintado
RS, SC: EN
PR: VU
Phrynops williamsi Chelidae Cágado-de-ferradura-sulino SC: VU
Homonota uruguayensis Phyllodactylidae Lagartinho-do-pampa RS: VU
Lagartinho-pintado
Contomastix vacariensis
Lagartixa-de-dunas
Liolaemus arambarensis
Lagartixa-da-praia
Liolaemus occipitalis
Lagartinho-do-pampa
Homonota uruguayensis
Cágado-de-ferradura-sulino
Phrynops williamsi
89
Cobra-nariguda
(Xenodon dorbignyi)
#
# Ronai Rocha
90
91
Tesourinha
(Tyrannus savana)
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
93
Ao contemplarmos uma paisagem campestre com atenção,
quase sempre podemos notar alguma ave. Elas podem estar
caminhando, como o quero-quero, voando sobre a pastagem,
como o chimango, ou vocalizando, como a perdiz.
As aves estão presentes na rotina e na cultura do homem do
campoedacidade.Chamamaatençãopeloseuvalorevariedade.A
complexa evolução desse grupo de vertebrados pode ser observada
na diversidade de cores e formas, no desenvolvimento do canto, na
arquitetura dos ninhos, nos cuidados com a prole e nas relações
de parceria. As aves realizam diversos serviços ambientais, como a
dispersão de sementes e a polinização, o controle de populações, e
contribuemnaregulaçãodacadeiaalimentar,alémdeconstituírem
importantes elementos cênicos da paisagem campestre, dada a sua
beleza e riqueza de cantos.
Apesar da importância do grupo, as aves já foram objeto
de caça e suas penas serviram de adorno. Algumas aves são
consideradas daninhas às lavouras ou criações, enquanto outras
são mantidas em cativeiro, como animais de estimação – prática
proibida por lei para animais silvestres.
A diversidade das aves ainda é pouco reconhecida
pela maioria das pessoas, principalmente quando se trata de
espécies pequenas e pouco visíveis, como as que vivem em
liberdade nos campos.
Mas, afinal de contas, o que são aves campestres? Hámuitas
formas de defini-las, mas, fundamentalmente, são aquelas que
realizam todo ou parte de seu ciclo de vida nos campos, ou seja, são
as aves que habitam (vivem e/ou se reproduzem) nos campos e em
ambientes associados a estes, como os banhados. Pelo menos 109
espécies de aves são usuárias de ambientes campestres na região
dos Campos Sulinos e do Pampa argentino e uruguaio, algumas
com ocorrência restrita a esses ecossistemas.
Que aves ocorrem nos
Campos Sulinos?
A diversidade de aves campestres pode variar de uma
região para outra, ou até mesmo entre os diferentes tipos de
campos. Essa diversidade está associada à variação de clima,
altitude, vegetação, solo e recursos naturais disponíveis. A
diversidade de aves campestres dos Campos Sulinos abrange
mais de 95 espécies, sem contar as vagantes (veja Tabela 9.1).
Capítulo 9
Biodiversidade de aves
Carla Suertegaray Fontana & Glayson Ariel Bencke
Coruja-buraqueira
(Athene cunicularia)
#
# Christian Andretti
94
Todas as espécies de aves dos Campos Sulinos dependem to-
tal ou parcialmente dos campos e de seus ecossistemas associados
(banhados e turfeiras). Elas representam cerca de 15% da avifauna
do Rio Grande do Sul. A maioria dessas espécies ocorre tanto nos
campos do bioma Pampa como nos do bioma Mata Atlântica. Algu-
mas aves campestres dependem totalmente dos campos, em geral
as mais especializadas; outras parcialmente, mas não sobrevivem se
os campos desaparecerem. Há outras espécies que, apesar de serem
campestres, toleram e podem sobreviver em outros ambientes, como
as áreas modificadas pela agricultura.
Algumas espécies de aves da Argentina e do Uruguai
distribuem-se somente até o Pampa no Rio Grande do Sul, enquanto
algumas outras, de regiões mais ao norte do Brasil, não alcançam
o Pampa, mas ocorrem nos campos do bioma Mata Atlântica. A
maioriadasespéciesdeavescampestresocupatantoobiomaPampa
quanto o bioma Mata Atlântica. O veste-amarela (Xanthopsar flavus)
e a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus) ocorrem em ambas
as regiões, mas são mais abundantes nos campos do bioma Mata
Atlântica. Já a outra noivinha (Xolmis irupero), ou viuvinha, como
é conhecida na Campanha Gaúcha, é mais comum nos campos do
bioma Pampa, e não está ameaçada, como a primeira. A principal
diferença entre essas noivinhas é que a primeira tem a cauda toda
preta, enquanto a outra tem só a ponta da cauda dessa cor.
As espécies de ocorrência restrita a uma região são chama-
das de endêmicas. Um exemplo de ave endêmica é o pedreiro
(Cinclodes pabsti), que ocorre exclusivamente nos Campos de
Cima da Serra. O pedreiro-dos-andes (Cinclodes fuscus) é menos
especializado quanto ao tipo de habitat que seu parente endê-
mico e vive nos campos do bioma Pampa, habitando áreas mais
úmidas. Dessa mesma família (Furnariidae) fazem parte os co-
nhecidos joão-de-barro, cochicho e tio-tio, que constroem ninhos
fechados de barro e gravetos, respectivamente.
Aves de campos altos
Cerca de 24% das aves campestres dependem de campos
mais altos para sobreviver, ou seja, com arbustos e gramíneas for-
Caboclinho-de-barriga-preta
Sporophila melanogaster
Caboclinho
Sporophila pileata
Batuiruçu
Pluvialis dominica
Garça-vaqueira
Bubulcus ibis
Caminheiro-de-barriga-acanelada
Anthus hellmayri
Chimango
Milvago chimango
Pica-pau-do-campo
Colaptes campestris
Gavião-de-rabo-branco
Geranoaetus albicaudatus
Veste-amarela
Xanthopsar flavus
P
12
P + MA
78
MA
5
Número de espécies
de aves dos Campos
Sulinos e biomas
Pampa (P) e Mata
Atlântica (MA)
#
# Christian Andretti
95
mando touceiras. A maioria das espécies campestres ameaçadas
do Rio Grande do Sul prefere campos altos, sendo, portanto, pou-
co tolerantes ao pastejo intenso. Entre as espécies que só sobrevi-
vem em campos altos e ricos em vegetação estão os caboclinhos,
com destaque para o caboclinho-de-barriga-preta (Sporophila
melanogaster), que é endêmico do Brasil e se reproduz somente
nos campos de altitude do sul do país. Esse pequeno pássaro mi-
gratório passa o verão no sul e o inverno no centro-leste do Brasil.
Como outros tipos de coleirinhos, especializou-se em comer se-
mentes de gramíneas e faz seus ninhos em arbustos. Outras espé-
cies aparentadas e também migratórias são o caboclinho-de-pa-
po-branco (Sporophila palustris), que além dos campos também
usa banhados para nidificar e se alimentar, e a patativa-tropeira
(Sporophila beltoni), que nidifica nos Campos de Cima da Serra do
Rio Grande do Sul até o Paraná. Seu nome popular remete à rota mi-
gratória da espécie, que é em grande parte coincidente com o cami-
nho das tropas que ligavam o Rio Grande do Sul ao sul de São Paulo.
Aves de campos baixos
Há aves que ocupam campos mais baixos e até mesmo
áreas de lavouras. Entre elas estão os caminheiros, que nidificam
no chão e fazem voos verticais para exibição durante a temporada
reprodutiva. A não ser pelos voos e vocalizações, essas espécies
são pouco notadas pelas pessoas, pois sua coloração confunde-se
com a cobertura da vegetação dos campos (camuflagem).
A ema (Rhea americana), conhecida na Campanha Gaúcha
como nhandu ou, impropriamente, avestruz, é a maior das
aves campestres e pode ser vista em diferentes tipos de campos
naturais e também em plantações. Os machos formam haréns
com várias fêmeas e, na temporada de reprodução, são eles que
chocam os ovos e cuidam dos filhotes. Essa ave é muito procurada
pelos ovos e penas, que são usadas em adornos, o que constitui
prática ilegal. As emas alimentam-se de uma ampla variedade de
invertebrados e de pequenos vertebrados. Ainda não conhecemos
quais são os efeitos causados sobre as populações de emas pela
contaminação dos alimentos que elas obtêm nas lavouras.
CA
24%
CB
16%
CA + CB
60%
Diversidade de aves
em Campos Altos (CA)
e Campos Baixos (CB)
dos Campos Sulinos
#
# Christian Andretti
#
# Christian Beier
Veste-amarela
Xanthopsar flavus
Ema
Rhea americana
Tico-tico-do-campo
Ammodramus humeralis
Canário-do-brejo
Emberizoides ypiranganus
Caboclinho-de-barriga-preta
Sporophila melanogaster
Corruíra-do-campo
Cistothorus platensis
Cochicho
Anumbius annumbi
Caminheiro-de-barriga-acanelada
Anthus hellmayri
Coruja-buraqueira
Athene cunicularia
96
Muitas aves ocupam os ambientes de banhado que
caracterizam as várzeas e drenagens nas regiões campestres.
Algumas são específicas de banhados de palha, outras de gravatás
(ou caraguatás). A noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus)
prefere os gravatazais. Apesar de apresentar ampla distribuição
em áreas campestres dos biomas Pampa e Mata Atlântica, essa
espécie depende dos banhados de gravatás para nidificar, e dos
campos circundantes para se alimentar.
Aves migratórias
As aves migratórias totalizam cerca de um terço das aves
campestres. Algumas são migratórias de longa distância e passam
o inverno boreal no sul da América do Sul, como o maçarico-acane-
lado (Calidris subruficollis), migrante que nidifica na Rússia, Alas-
ca e Canadá e que chega ao Sul do Brasil a partir de setembro. Essa
ave está reconhecidamente associada à atividade pastoril no Rio
Grande do Sul, preferindo os campos costeiros mais baixos. Está
ameaçada de extinção. Felizmente, existe um plano de ação para a
sua conservação e algumas iniciativas de monitoramento em curso.
A maioria das espécies migratórias de longa distância
são provenientes do Hemisfério Norte. As migrantes de média
distância efetuam migrações dentro do Brasil ou no âmbito do
Cone Sul da América do Sul; muitas vêm da Argentina e passam
o inverno austral aqui, outras vêm do norte para o Sul do Brasil,
para passar o verão e nidificar.
Aves campestres ameaçadas
Cerca de um quarto das aves campestres está sujeita a
algum grau de ameaça de extinção em pelo menos uma parte dos
Campos Sulinos. Duas estão extintas em território brasileiro: o
galito (Alectrurus tricolor) e o peito-vermelho-grande (Sturnella
defilippii). A maior parte das espécies campestres ameaçadas de
extinção depende de campos altos e conservados e, por isso, a
destruiçãoeadegradaçãodoscamposéamaiorameaçaparaasua
EN
2
VU
9
NT
8
Algumas aves dos
Campos Sulinos
categorizadas sob
algum grau de ameaça
em nível global
NT: Quase ameaçado
VU: Vulnerável
EN: Em perigo
#
# Christian Andretti
#
# Eduardo Chiarani
águia-cinzenta
Urubitinga coronata
Caboclinho-do-papo-branco
Sporophila palustris
Maçarico-acanelado
Calidris subruficollis
Ema
Rhea americana
Pedreiro
Cinclodes pabsti
Veste-amarela
Xanthopsar flavus
Noivinha-do-rabo-preto
Xolmis dominicanus
Caboclinho-de-barriga-preta
Sporophila melanogaster
97
sobrevivência. A captura de espécies na natureza, para abastecer
o comércio ilegal de animais silvestres, também ameaça algumas
espécies, especialmente aquelas tradicionalmente mantidas em
cativeiro, como as patativas e os coleirinhos.
Ocorrência nos
biomas Pampa (P)
e Mata Atlântica (MA).
Em vermelho estão
destacadas as
espécies presentes
em listas e quais as
categorias de ameaça
no Brasil.
Categorias de ameaça:
NT: quase ameaçado
VU: vulnerável
EN: em perigo
CR: criticamente
em perigo
RE: regionalmente
extinta
Tabela 9.1: Lista das espécies de aves dos Campos Sulinos,
sua ocorrência nos biomas Pampa e Mata Atlântica e níveis
de ameaça de extinção nos estados do RS, SC e PR.
Espécie Nome popular Bioma Listas
Rheidae
Rhea americana Ema P e MA PR: CR
Tinamidae
Rhynchotus rufescens Perdiz P e MA
Nothura maculosa Codorna-amarela P e MA
Anatidae
Chloephaga picta* Ganso-de-magalhães P
Ardeidae
Bubulcus íbis Garça-vaqueira P e MA
Threskiornithidae
Theristicus caudatus Curicaca P e MA
Accipitridae
Elanus leucurus Gavião-peneira P e MA
Circus cinereus Gavião-cinza P RS: VU
Circus buffoni Gavião-do-banhado P e MA
Heterospizias meridionalis Gavião-caboclo P e MA
Urubitinga coronata Águia-cinzenta P e MA
PR: VU
SC: CR
RS: VU
Geranoaetu albicaudatus
Gavião-de-rabo-
branco
P e MA
Geranoaetu melanoleucus Águia-chilena P e MA
Buteo swainsoni
Gavião-papa-
gafanhoto
P e MA
Charadriidae
Vanellus chilensis Quero-quero P e MA
Espécie Nome popular Bioma Listas
Pluvialis dominica Batuiruçu P
Charadrius modestus
Batuíra-de-beito-
tijolo
P
Oreopholus ruficollis
Batuira-de-peito-
ferrugíneo
P e MA
Scolopacidae
Bartramia longicauda Maçarico-do-campo P e MA
Calidris subruficollis Maçarico-acanelado P e MA RS: NT
Thinocoridae
Thinocorus rumicivorus* Agachadeira-mirim P e MA
Strigidae
Athene cunicularia Coruja-burraqueira P e MA
Asio flammeus Mocho-dos-banhados MA
SC: VU
RS: NT
Caprimulgidae
Chordeiles nacunda Corucão P e MA
Hydropsalis longirostris Bacurau-da-telha P e MA
Hydropsalis anomalus
Curiango-do-
banhado
P e MA
PR: VU
SC: EN
RS: EN
Trochilidae
Polytmus guainumbi
Beija-flor-de-bico-
curvo
P
Picidae
Colaptes campestris Pica-pau-do-campo P e MA
Cariamidae
Cariama cristata Seriema P e MA PR: NT
Falconidae
Caracara plancus Carcará P e MA
Milvago chimango Chimango P e MA
Falco sparverius Quiriquiri P e MA
Falco femoralis Falcão-de-coleira P e MA
Dendrocolaptidae
Lepidocolaptes
angustirostris
Arapaçu P
98
Pedreiro
Cinclodes pabsti
Tesoura-do-brejo
Gubernetes yetapa
Noivinha-de-rabo-preto
Xolmis dominicanus
Veste-amarela
Xanthopsar flavus
Corruíra-do-campo
Cistothorus platensis
Espécie Nome popular Bioma Listas
Furnariidae
Geositta cunicularia Curriqueiro P e MA
Furnarius rufus João-de-barro P e MA
Cinclodes pabsti Pedreiro P e MA
SC: VU
RS: VU
Cinclodes fuscus Pedreiro-dos-andes P e MA
Phacellodomus striaticollis Tio-tio P e MA PR: VU
Anumbius annumbi Cochicho P e MA
Asthenes hudsoni João-platino P RS: VU
Cranioleuca sulphurifera
Arredio-de-papo-
manchado
P e MA
Spartonoica maluroides Boininha P
Tyrannidae
Polystictus pectoralis Papa-mosca-canela P e MA
SC: CR
RS: EN
Pseudocolopteryx
flaviventris
Amarelinho-do-junco P e MA
Culicivora caudacuta
Papa-moscas-
do-campo
P e MA
SC: CR
RS: VU
Lessonia rufa Colegial P e MA
Knipolegus lophotes
Maria-preta-de-
penacho
P e MA
Hymenops perspicillatus Viuvinha-de-óculos P e MA PR:NT
Xolmis cinereus Primavera P e MA
Xolmis irupero Noivinha P e MA
Xolmis dominicanus
Noivinha-de-
rabo-preto
P e MA
SC: EN
RS: VU
Neoxolmis rufiventris Gaúcho-chocolate P
Gubernetes yetapa Tesoura-do-brejo P e MA RS: NT
Alectrurus risora Tesoura-do-campo RS: RE
Alectrurus tricolor Galito MA PR: EN
Machetornis rixosa Suiriri-cavaleiro P e MA
Tyrannus savana Tesourinha P e MA
Hirundinidae
Alopochelidon fucata Andorinha-morena P e MA
Progne tapera Andorinha-do-campo P e MA
Espécie Nome popular Bioma Listas
Tachycineta leucorrhoa
Andorinha-de-sobre-
branco
P e MA
Tachyneta leucopyga Andorinha-chilena P e MA
Hirundo rustica Andorinha-de-bando P e MA
Petrochelidon pyrrhonota
Andorinha-de-dorso-
acanelado
P e MA
Troglodytidae
Cistothorus platensis Corruíra-do-campo P e MA
SC: CR
RS: NT
Mimidae
Mimus saturninus Sabiá-do-campo P e MA
Motacillidae
Anthus lutescens Caminheiro-zumbidor P e MA
Anthus furcatus
Caminheiro-de-
unha-curta
P
Anthus correndera Caminheiro-de-espora P
Anthus nattereri Caminheiro-grande P e MA
SC: EN
RS: VU
Anthus hellmayri
Caminheiro-de-
barriga-acanelada
P e MA
Thraupidae
Donacospiza albifrons Tico-tico-do-banhado P e MA
Poospiza nigrorufa Quem-te-vestiu P e MA
Sicalis citrina Canário-rasteiro MA
Sicalis luteola Tipio P e MA
Emberizoides herbicola Canário-do-campo P e MA
Emberizoides ypiranganus Canário-do-brejo P e MA
Embernagra platensis Sabiá-do-banhado P e MA
Volatinia jacarina Tiziu P e MA
Sporophila beltoni Patativa-tropeira MA
SC: CR
RS: EN
Sporophila collaris Coleiro-do-brejo P
Sporophila pileata Caboclinho P e MA
PR: NT
RS: VU
Sporophila hypoxantha
Caboclinho-de-
barriga-vermelha
P e MA
PR: NT
SC: VU
RS: VU
99
Pica-pau-do-campo
(Colaptes campestris)
#
# Ronai Rocha
Espécie Nome popular Bioma Listas
Sporophila ruficollis
Caboclinho-de-
papo-escuro
P e MA RS: VU
Sporophila palustris
Caboclinho-de-
papo-branco
P e MA RS: VU
Sporophila hypochroma**
Caboclinho-de-sobre-
ferrugem
Sporophila cinnamomea
Caboclinho-de-
chapéu-cinzento
P e MA
SC: CR
RS: NT
Sporophila melanogaster
Caboclinho-de-
barriga-preta
MA
SC: VU
RS: EN
Emberizidae
Ammodramus humeralis Tico-tico-do-campo P e MA
Icteridae
Agelasticus thilius Sargento P e MA PR: NT
Xanthopsar flavus Veste-amarela P e MA
SC: CR
RS: VU
Pseudoleistes guirahuro Chopim-do-brejo P e MA
Pseudoleistes virescens Dragão P e MA
Molothrus rufoaxillaris Vira-bosta-picumã P e MA
Molothrus bonariensis Vira-bosta P e MA
Sturnella superciliaris Polícia-inglesa-do-sul P e MA
Sturnella defilippii
Peito-vermelho-
grande
RS: RE
Dolichonyx oryzivorus* Triste-pia P
(*) Espécie vagante/eventual
(**) Espécie de ocorrência provável
100
101
Hypericum caprifoliatum,
Santa Maria, RS
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
103
Capítulo 10
Biodiversidade de MAmÍFEROS
André Luís Luza, Gislene Lopes Gonçalves, Alan Bolzan & Sandra Maria Hartz
Se tiver pelo é mamífero! Caso observe um animal na na-
tureza, a presença de pelos é essencial para diferenciar os mamí-
feros dos demais grupos animais. Diferentemente das penas das
aves que evoluíram de escamas reptilianas, o pelo é uma novida-
de evolutiva tendo como principal função o isolamento térmico,
permitindo que os mamíferos usufruam das vantagens da endo-
termia. Além dos pelos, estes vertebrados possuem glândulas
mamárias que servem para a nutrição dos filhotes no início do
desenvolvimento. Outra característica evolutiva notável é o desen-
volvimento fetal, que ocorre totalmente ou parcialmente dentro
de uma membrana chamada placenta (mamíferos placentários e
marsupiais, respectivamente), embora ainda existam mamíferos
que realizam a postura de ovos, como os ornitorrincos e équid-
nas da Austrália e Nova Guiné. Estes e outros atributos, como o
sistema nervoso altamente avançado e a elevada diversidade de
morfologias e de estruturas dentárias, permitem que os mamífe-
ros apresentem uma ampla gama de hábitos comportamentais e
de exploração de recursos alimentares, e prosperem em diversos
ambientes tropicais e temperados.
Os ecossistemas campestres facilitam a visualização de
animais e estimulam a curiosidade pela diversidade da vida
silvestre. Não raro, durante caminhadas em áreas campestres,
nos deparamos com tocas de tatus (Dasypus spp.) e graxains-
do-campo (Lycolapex gymnocercus), ou observamos pequenos
montes de areia junto a buracos, indicando a presença de
tuqueiras que são galerias subterrâneas de habitantes dos campos
em solo arenoso, os tuco-tucos (Ctenomys spp.). Em algumas
localidades no Sul do Brasil (ex. Estação Ecológica do Taim) ainda
podemos ver um grande número de indivíduos do maior roedor
existente no mundo, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris),
e também ratões-do-banhado (Myocastor coypus). No entanto,
em poucos lugares na América do Sul vêm-se tantas espécies de
mamíferos como nas áreas úmidas do Pantanal. Lá vemos cervos-
do-pantanal (Blastocerus dichotomus), antas (Tapirus terrestris),
capivaras, tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla),
lontras (Lontra longicaudis), ariranhas (Pteronura brasiliensis)
e, com sorte, onças-pintadas (Panthera onca), todos animais que
outrora ocuparam ou ainda ocupam, em baixas densidades, os
ecossistemas campestres e florestais dos Campos Sulinos.
Os mamíferos que ocorrem no Brasil, em sua grande
maioria, apresentam pequeno porte e dificilmente são observados
(1). Geralmente estes mamíferos se encontram camuflados na
vegetação, sendo ativos no início da noite até o amanhecer,
evitando a proximidade de habitações humanas (2, 3). Além
Graxaim-do-campo
(Lycolapex gymnocercus)
#
# Diogenes Machado
104
disso, grande parte dos mamíferos são arborícolas e voadores (1),
necessitando de complexos métodos de captura a fim de detectar
a presença das espécies e estudar sua biologia (3). A fauna de
mamíferos sul-americanos é muito diversa e pouco se assemelha,
em termos ecológicos, com a fauna de mamíferos ocupando outros
ecossistemas campestres ao redor do mundo, principalmente
tratando-se de aspectos relacionados a dieta e comportamento.
Neste capítulo apresentamos uma síntese sobre aspectos
ecológicos relacionados aos mamíferos dos Campos Sulinos do
RS, SC e PR, além de adentrar no grau de ameaça de extinção de
acordo com listas estaduais e mundiais de mamíferos ameaçados
e, brevemente, nos processos históricos e evolutivos que molda-
ram a fauna sul-americana. Destacamos aspectos ecológicos rela-
cionados a locomoção e dieta e com o bioma e ambiente preferen-
cialmente ocupado pelos mamíferos (campo, floresta ou ambos).
Mamíferos da América do Sul
Há no mundo em torno de 5.416 espécies de mamíferos,
distribuídasem1.229gênerose29ordens,sendoquemetadedestas
ordens está representada na região neotropical (América Central e
do Sul). A fauna da América do Sul foi moldada por três principais
eventoshistóricos:1)oisolamentogeográficodeaproximadamente
80 milhões de anos devido à separação da Gondwana; 2) a
formação do Istmo do Panamá há aproximadamente 3 milhões
de anos, quando espécies de mamíferos norte-americanos
(roedores sigmodontíneos, cervídeos, equídeos, camelídeos,
carnívoros) migraram para o sul e mamíferos sul-americanos
para o norte (gambás, tatus, capivaras, porcos-espinho); e 3) o
evento de extinção em massa de muitas espécies de mamíferos
de grande porte durante a transição Pleistoceno-Holoceno há
aproximadamente 10.000 anos. Estima-se que havia 17 ordens
de mamíferos na América do Sul antes da extinção em massa;
após a extinção, restaram 12 ordens. Percebe-se que estes eventos
modificaram profundamente a fauna do continente americano
que, apesar dessa extinção em massa, tem uma diversidade
faunística impressionante. Estudos recentes indicam a ocorrência
de 701 espécies no Brasil. Nas ordens Rodentia, Chiroptera,
Primates (234, 174 e 118 espécies, respectivamente) encontramos
o maior número de espécies de mamíferos endêmicos (1,2).
Mamíferos dos Campos Sulinos
A biodiversidade regional dos Campos Sulinos é moldada
por uma gradual transição faunística entre espécies com origens
tropical e temperada, que substituem-se no espaço (4). A fauna
e a flora de regiões tropicais têm nos Campos Sulinos seu limite
meridional de distribuição devido à redução de ambientes
florestais, ao passo que espécies típicas de regiões temperadas
têm aí o seu limite setentrional de distribuição geográfica, pela
diminuição da frequência de ambientes abertos (4). A paisagem
da região reflete este mosaico fitofisionômico: em algumas
regiões ocorrem extensas áreas dominadas por campos sob
relevo pouco acentuado; onde o relevo se acentua (serras,
encostas) e há acúmulo de umidade (matas ciliares) formam-
se zonas de transição onde ambientes florestais e campestres
se misturam na paisagem (5). A combinação de ambientes
campestres e florestais e de faunas de regiões tropicais e
temperadas torna expressiva a diversidade de mamíferos
ocupando os Campos Sulinos.
Um total de 181 espécies pertencendo a nove das 12 or-
dens de mamíferos neotropicais ocorre nos três estados do Sul
do Brasil. Destas, 16 ocorrem exclusivamente no bioma Pampa
e 72 são exclusivas do bioma da Mata Atlântica (Figura 10.1). A
maior diferença de riqueza entre estes biomas está concentrada
na diversidade de morcegos, roedores e marsupiais. No entanto,
mais da metade do total de espécies de mamíferos ocorre em am-
bos os biomas (93 spp.). Mamíferos que ocorrem nos dois biomas
tendem a ser majoritariamente florestais (37 spp.), mas também
um grande número de espécies utilizam tanto o campo quanto
a floresta (36 spp.). A maioria dos mamíferos exclusivos da Mata
Atlântica ocupam majoritariamente florestas. O número de espé-
cies de mamíferos do bioma Pampa que ocupa apenas habitats
campestres ou tanto campestres quanto florestais é similar.
105
Os níveis de endemismo são relativamente baixos para
mamíferos (6). Três espécies de tuco-tucos (Ctenomys lami, C.
ibicuiensis e C. torquatus), roedores fossoriais que habitam dunas e
campos arenosos, são endêmicos do Pampa. Uma espécie de roedor
semiaquático (Scapteromys meridionalis) recentemente descrita é
endêmicadaregiãodeFlorestacomAraucárias(7).Apresençadafauna
de regiões tropicais e temperadas torna a diversidade de mamíferos
dos Campos Sulinos expressiva, embora conexões relictuais/atuais
que ligam diferentes componentes faunísticos provavelmente fazem
com que processos ecológicos gerando endemismos (por exemplo,
isolamento geográfico) sejam pouco proeminentes.
Habitat preferencial
Amaioriadosmamíferosdessaregiãohabitaessencialmente
florestas (89 spp.), embora um grande número de espécies utilize
tanto o campo quanto a floresta (63 spp.); somente 29 espécies
ocupam exclusivamente ambientes campestres. Mamíferos
campestres são principalmente terrestres e fossoriais (cavam
tocas), com dieta herbívora e insetívora/onívora. Cervídeos como
o cervo-do-Pantanal (Blastocerus dichotomus) e o veado-campeiro
(Ozotoceros bezoarticus) são herbívoros terrestres de grande porte
que ocupam exclusivamente ambientes campestres do Pampa e
da Mata Atlântica. Entretanto, outros cervídeos (gênero Mazama)
tendem a ocupar majoritariamente ambiente florestal e suas
bordas (2). Os mamíferos que habitam unicamente ambientes
florestais são majoritariamente voadores (35 spp.) e arborícolas (21
spp.), e o número de espécies de mamíferos escansoriais (exploram
tanto o chão quanto arbustos e árvores) e terrestres ocupando
florestas é similar (12 e 15 spp., respectivamente). Quanto à dieta,
estes mamíferos são predominantemente insetívoros/onívoros
e insetívoros, embora ocorra um grande número de frugívoros
florestais que incluem em sua dieta outros itens alimentares (ervas,
raízes, folhas, e insetos). Notavelmente, mamíferos estritamente
herbívoros não habitam exclusivamente florestas. Mamíferos
ocupando ambos ambientes são majoritariamente voadores e
terrestres com dieta insetívora, insetívora/onívora e carnívora.
Fig. 10.1
Número total de
espécies de mamíferos
ocorrentes no Pampa
(P), na Mata Atlântica
(MA) e em ocorrência
em ambos biomas
(P + MA)
Cuíca
Gracilinanus microtarsus
Rato d’água
Scapteromys meridionalis
Anta
Tapirus terrestris
Porco-do-mato
Pecari tajacu
Tuco-tuco
Ctenomys ibicuiensis
Tuco-tuco
Tuco-tuco Ctenomys lami
Rato-do-chão
Akodon reigi
Graxaim-do-mato
Cerdocyon thous
Tatu-galinha
Dasypus novemcinctus
Rato-da-taquara
Kannabateomys amblyonyx
Tatu-peludo
Euphractus sexcinctus
Graxaim-do-campo
Lycolapex gymnocercus
Veado-catingueiro
Mazama gouazoubira
Capivara
Hydrochoerus hydrochaeris
P + MA
93
P
16
MA
72
106
Nas formações arbustivas e campestres do Pampa ocorrem
marsupiais insetívoros/onívoros como a guaiquica (Cryptonanus
spp.) e a cuíca-marrom (Monodelphis dimidiata) bem como ratos
-do-chão frugívoro-granívoros (ex. Calomys laucha) e o rato-do-
arroz granívoro-onívoro (Oligoryzomys flavescens) (8). Além
destes, os ratos-do-chão insetívoros/onívoros (Akodon azarae,
A. serrensis, Deltamys kempi) e o rato-do-brejo (Oxymycterus
nasutus) ocorrem com maior frequência em campos do Pampa
e da Mata Atlântica com vegetação alta, onde a pressão de
pastejo é leve ou ausente (8,9,10). Os escansoriais rato-do-arroz
(Oligoryzomys nigripes - frugívoro/granívoro) e o gambá (Didelphis
albiventris – frugívoro/onívoro) suportam ambientes florestais e
campestres intensivamente manejados, devido a habilidades
para refugiar-se ou para fugir de predadores em ambientes com
pouca cobertura vegetacional (8,9,10). O rato-coelho (Reithrodon
typicus) e os tuco-tucos (Ctenomys spp.) são herbívoros de
pequeno porte habitando as formações campestres do Pampa
e da Mata Atlântica (11). O graxaim-do-campo (Lycalopex
gymnocercus) e o zorrilho (Conepatus chinga) são carnívoros
frequentemente visualizados em ambientes campestres.
Outro grupo notável de mamíferos que habitam os ambientes
campestres são os xenartras (tatus e tamanduás). A América do
Sul é o berço de origem destes mamíferos, que até a extinção em
massa consistiam de uma grande diversidade de herbívoros de
grande porte. Atualmente, estes animais são insetívoros de vida
semi-fossorial, como o tatu-mulita (Dasypus hybridus) ou são de
hábito terrestre que se alimentam exclusivamente de formigas
(tamanduá-bandeira – Myrmecophaga tridactyla). O tatu-galinha
(Dasypus novemcinctus), o tatuí (Dasypus septemcinctus), o tatu-
de-rabo-mole (Cabassous tatouay) e o escansorial tamanduá-
mirim (Tamandua tetradactyla) ocupam ambientes florestais,
enquanto que o tatu-mulita, o tatu-peludo (Euphractus sexcintus)
e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) preferem as
áreascampestres(2,11).Espéciescomhábitosoportunistasedietas
amplas e flexíveis incluem o graxaim-do-mato (Cerdocyon thous),
o gambá, o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), o morcego-
das-casas (Tadarida brasiliensis) e o morcego-da-cauda-grossa
(Molossus molossus), que suportam a proximidade ou mesmo
habitam ambientes urbanos. Alguns outros têm grandes áreas
de vida, como o puma (Puma concolor), e/ou apresentam hábitos
alimentares extremamente especializados, como o rato-da-
taquara (Kannabateomys amblyonyx) ou o morcego hematófago
(Diaemus youngi), o que os torna discretos, frágeis aos distúrbios
em seu ambiente ou mesmo mais propensos à extinção.
Carnívoros como o gato-palheiro (Leopardus colocolo)
e o gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi) e o frugívoro/
onívoro gambá-da-orelha-branca (Didelphis albiventris) ocorrem
principalmente em manchas florestais e matas ciliares no bioma
Pampa. No dossel de matas ripárias e de manchas florestais do
bioma Pampa frequentemente observa-se o bugio-preto (Alouatta
caraya), enquanto que em remanescentes de Mata Atlântica o
bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans) é mais comum. Ainda
no Planalto das Araucárias, quem ocupa o solo ou sub-bosque
das manchas florestais dispersadas no campo são o rato-do-mato
(Akodon paranaensis), o rato-do-arroz (Oligoryzomys nigripes) e o
gambá-da-orelha-branca(10),alémdograxaimdomato(Cerdocyon
thous) e do puma (Puma concolor), que transitam entre ambientes
campestres e florestais. No Pampa ocorrem ainda diversos
mamíferos semi-aquáticos, dos quais os roedores Lundomys molitor
e Holochilus vulpinus são exclusivos. Estes mamíferos possuem
adaptações ao ambiente aquático, como membranas interdigitais
e alta capacidade de natação, além de explorarem com eficácia
recursos como peixes e invertebrados aquáticos (12). Padrão similar
aos mamíferos semi-aquáticos ocorre para os mamíferos fossoriais
(que cavam tocas) e semi-fossoriais, cuja menor diversidade ocorre
dentre os mamíferos exclusivos da Mata Atlântica.
Espécies ameaçadas
Considerando a fauna sob risco de extinção, cada estado
contém em torno de 30 espécies ameaçadas (Figura 10.2; Tabela
10.1), segundo listas de espécies ameaçadas de extinção do Rio
Grande do Sul (13), Santa Catarina (14) e Paraná (15,16). Alguns
critérios utilizados para categorização das espécies podem ser
visualizados na página 106. Atualmente, 58 espécies encontram-
107
Fig. 10.2
Mamíferos ameaçados
de extinção no Rio
Grande do Sul, Santa
Catarina e Paraná,
e respectivo número
de espécies em cada
categoria de ameaça
Cutia
Dasyproctae azarae
Quati
Nasua nasua
Tamanduá-mirim
Tamandua tetradactyla
Bugio-ruivo
Alouatta guariba clamitans
Lontra
Lontra longicaudis
Puma
Puma concolor
Veado-campeiro
Ozotoceros bezoarticus
Queixada
Tayassu pecari
Onça-pintada
Panthera onca
Veado-catingueiro
Mazama gouazoubira
Cachorro-vinagre
Speothos venaticus
Tamanduá-bandeira
Myrmecophaga tridactyla
Preguiça
Bradypus variegatus
Ariranha
Pteronura brasiliensis
Cervo-do-pantanal
Blastocerus dichotomus
Regionalmente Extinta | RS (1) SC (2) PR (1)
Criticamente em Perigo | RS (7) SC (10) PR (10)
Bugio-preto
Alouatta caraya
Tuco-tuco branco
Ctenomys flamarioni
Tuco-tuco
Ctenomys minutus
Porco-do-mato
Pecari tajacu
Jaguatirica
Leopardus pardalis
Anta
Tapirus terrestris
Em Perigo | RS (10) SC (5) PR (4)
Vulnerável | RS (14) SC (14) PR (15)
Categorias de ameaça de extinção
da União Internacional para
a Conservação da Natureza
As categorias de ameaça da IUCN são definidas através de critérios como a exis-
tência de dados sobre tendências populacionais das espécies, aspectos de histó-
rias de vida e ameaças.A ausência de informações concretas sobre as tendências
populacionais de uma dada espécie determina que ela seja categorizada como
Dados Insuficientes (DD), indicando que a coleta de mais informações é necessá-
ria.Aexistênciadedadosadequadoséumcritérioessencialparaqueumaespécie
sejaavaliadaeenquadradanascategoriasderiscodeextinção.Estasespéciessão
então classificadas em não-ameaçadas (Preocupação menor [LC] ou próximas da
ameaça [NT]) ou ameaçadas de extinção (Vulnerável [VU], em perigo [EN], criti-
camente em perigo [CR] ou extintas [extinta na natureza - EW e extintas – RE]).
Alguns dos critérios utilizados para a categorização incluem:
Vulnerável – Declínio de mais de 30% em 10 anos ou em três gerações, quan-
do as causas do declínio podem não cessar, não serem entendidas ou não se-
rem reversíveis; estimativas de extensão e área de ocorrência de 20.000km2
e 2.000km2
, respectivamente; populações com tamanho estimado de menos
de 1.000 indivíduos maduros; e probabilidade de extinção na natureza de pelo
menos 10% em 100 anos.
Em perigo – Declínio de mais de 50% em 10 anos ou em três gerações, quando
as causas do declínio podem não cessar, não serem entendidas ou não serem re-
versíveis; estimativas de extensão e área de ocorrência de 5.000km2
e 500km2
,
respectivamente;populaçõescomtamanhoestimadodemenosde250indivídu-
os maduros; e probabilidade de extinção na natureza de pelo menos 20% em 20
anos ou cinco gerações.
Criticamente em perigo – Declínio populacional de mais de 80% em 10 anos ou
em três gerações, quando as causas do declínio podem não cessar, não serem en-
tendidas ou não serem reversíveis; estimativas de extensão e área de ocorrência
muito pequenas (100km2
e 10km2
, respectivamente); populações com tamanho
estimado de menos de 50 indivíduos maduros; e probabilidade de extinção na na-
tureza de pelo menos 50% em 10 anos ou em três gerações.
Extinta – Mesmo com grande esforço de coleta de dados não há registro da
espécie durante muitos anos, tendo-se absoluta certeza de que nenhum indi-
víduo da espécie sobrevive em determinada extensão geográfica.
se ameaçadas nos três Estados do Sul do Brasil, sendo que 14 estão
ameaçadas em todos os Estados; e nove espécies encontram-se
ameaçadas em pelo menos dois Estados (Tabela 10.1). O cervo-do-
Pantanal(Blastocerusdichotomus),umdosmaisnotáveisherbívoros
dos Campos Sulinos, encontra-se regionalmente extinto em SC (14).
Os cervídeos campestres cervo-do-pantanal e o veado-campeiro
(Ozotoceros bezoarticus) bem como o queixada (Tayassu pecari) e
o cateto (Pecari tajacu) encontram-se ameaçados nos três Estados.
Grave também é a situação dos carnívoros: das 16 espécies que
ocupamcamposouambientesflorestaisecampestres,10encontram-
se ameaçadas. Destes, gato-palheiro e o gato-do-mato-grande, que
ocupam unicamente o Pampa, estão respectivamente em perigo
e vulnerável à extinção. Carnívoros predadores de maior porte,
como a onça-pintada (Panthera onca), o lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o puma e a ariranha
encontram-se severamente ameaçados por toda a extensão dos
Campos Sulinos. O cachorro-vinagre (Speothos venaticus), que
ocupa tanto ambientes florestais quanto campestres, encontra-se
ameaçado na porção norte dos Campos Sulinos (SC e PR). O bugio-
ruivo e o bugio-preto (Alouatta guariba clamitans e A. caraya,
respectivamente), que ocupam as florestas em mosaicos campo-
floresta, encontram-se ameaçados de extinção nos três Estados. O
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o tapiti (Sylvilagus
brasiliensis) encontram-se ameaçados de extinção no RS e PR.
ConclusÃO
Apesar dos avanços na aquisição de informações sobre a
distribuição de mamíferos neotropicais, o nível de conhecimento
sobre a ecologia de mamíferos de ecossistemas campestres é
ainda pequeno, visto que estes animais são de difícil visualização
e captura para serem estudados.
A expressiva biodiversidade de mamíferos dos Campos
Sulinos é reflexo da diversidade de mamíferos exclusivos do
Pampa e dos mamíferos que ocupam o Pampa e a Mata Atlântica;
e da diversidade de mamíferos que ocupam unicamente ambientes
campestres bem como dos mamíferos ocupando tanto ambientes
108
109
florestais quanto campestres. Assim, ações para a conservação de
mamíferos dos Campos Sulinos bem como processos ecológicos
relacionados devem visar à manutenção de campos bem como de
mosaicos de ecossistemas florestais e campestres nos dois biomas.
A ocorrência de elevado número de mamíferos ameaçados
de extinção no Sul do Brasil é um alerta para a formulação de
políticas que proíbam ou regulamentem de maneira eficaz a con-
versão de ambientes campestres e florestais para usos antrópicos.
Iniciativas devem prezar o adequado ordenamento do uso do solo
para fins produtivos, habitacionais e para a criação de espaços le-
galmente protegidos (Unidades de Conservação de Proteção In-
tegral e Sustentável). Além disto, estratégias que diminuam a forte
pressão de caça exercida sobre mamíferos gravemente ameaçados
de extinção são cruciais para a sobrevivência em longo prazo das
populações, principalmente se tratando da caça de cervídeos e ro-
edores (apreciados para alimentação) e de carnívoros predadores.
Programas de Educação Ambiental devem ser desenvolvi-
dos junto a população rural, visando principalmente identificar e
resolver conflitosentre aprodução agropecuáriaeaconservaçãoda
vida silvestre. Estratégias planejadas e articuladas entre governos
e universidades, visando o manejo conservacionista de mamíferos
ameaçados na região Sul do Brasil, são urgentemente necessárias.
Tabela 10.1: Espécies de mamíferos dos Campos Sulinos com ocorrência nos biomas Pampa e Mata Atlântica. São listados os animais
exclusivos de ambiente campestre ou de campo e floresta. Em vermelho, estão destacadas as espécies com algum grau de ameaça de
extinção de acordo com a IUCN e listas estaduais.
Ordem/Espécie Nome comum
BIOMA DE
OCORRÊNCIA2 Ambiente
Ameaça de extinção
HÁBITO¹
DIETA¹
IUCN2
RS3
SC4
PR5
Artiodactyla
Blastocerus dichotomus Cervo-do-pantanal P/MA CA VU CR RE CR TER HB
Ozotoceros bezoarticus Veado-branco, veado-campeiro P/MA CA CR VU CR TER HB
Pecari tajacu
Caititu, cateto,
porco-do-mato, tateti
MA FL/CA VU EN VU VU TER FR/HB
Tayassu pecari Queixada MA FL/CA CR CR CR TER FR/HB
Carnivora
Cerdocyon thous
Cachorro-do-mato,
graxaim-do-mato
P/MA FL/CA TER IN/ON
Chrysocyon brachyurus Lobo-guará P/MA CA CR CR EN TER CA/ON
Conepatus chinga Jaritataca, zorrilho, zorrino P/MA CA TER IN/ON
Galictis cuja Furão P/MA FL/CA TER CA
Galictis vittata Furão-grande, furdo, aracambé MA FL/CA TER CA
Leopardus colocolo
Gato-dos-pampas,
gato-palheiro
P FL/CA EN ESC CA
Leopardus geoffroyi Gato-do-mato-grande P FL/CA VU TER CA
Leopardus pardalis Jaguatirica MA FL/CA VU EN VU TER CA
Lontra longicaudis Lontra P/MA FL/CA VU SAQ PSI
Bioma de ocorrência:
P: Pampa
MA: Mata Atlântica
Ambiente:
CA: Campo
FL: Floresta
Ameaça de extinção:
VU: Vulnerável
EN: Em perigo
CR: Criticamente
em perigo
RE: Regionalmente
extinto
Hábito:
aqu: Aquático
arb: Arborícola
esc: Escansorial
fos: Fossorial
saq: Semi-aquático
sfo: Semi fossorial
ter: Terrestre
voa: Voador
Dieta:
Hb: Herbívoro
Fr: Frugívoro
Ca: Carnívoro
On: Onívoro
Psi: Piscívoro
Fo: Folívoro
Myr: Mirmecófago
110
Ordem/Espécie Nome comum
BIOMA DE
OCORRÊNCIA2 Ambiente
Ameaça de extinção
HÁBITO¹
DIETA¹
IUCN2
RS3
SC4
PR5
Lycalopex gymnocercus
Graxaim-do-campo,
raposa-do-campo, zorro
P/MA CA TER CA/ON
Lycalopex vetulus Raposa-do-campo MA FL/CA TER IN/ON
Panthera onca
Onça, onça-pintada, onça-preta
(melânica), pintada
MA FL/CA CR CR CR TER CA
Pteronura brasiliensis Ariranha P/MA FL/CA EN RE RE CR SAQ PSI
Puma concolor
Leão-baio, onça-parda, puma,
suçuarana
P/MA FL/CA EN VU VU TER CA
Puma yagouaroundi Gato-mourisco, jaguarundi P/MA FL/CA VU TER CA
Speothos venaticus Cachorro-vinagre MA FL/CA CR CR TER CA
Chiroptera
Artibeus obscurus Morcego MA FL/CA VOA FR
Chiroderma doriae Morcego MA FL/CA VU VOA FR
Chrotopterus auritus Morcego-bombachudo P/MA FL/CA VU VOA CA
Diaemus youngi Morcego MA FL/CA CR VOA HE
Eptesicus diminutus Morcego P/MA FL/CA VOA IN
Eptesicus furinalis Morcego P/MA FL/CA VOA IN
Eumops auripendulus
Morcego-de-orelhas-largas
escuro
P/MA FL/CA VOA IN
Eumops perotis Morcego-de-orelhas-largas P FL/CA VOA IN
Glossophaga soricina Morcego P/MA FL/CA VOA ON
Histiotus montanus Morcego P/MA FL/CA VOA IN
Histiotus velatus Morcego P/MA FL/CA VOA IN
Lasiurus ega Morcego palha P/MA FL/CA VOA IN
Molossops temminckii Morcego face de cão anão P/MA FL/CA VU VOA IN
Molossus molossus Morcego-da-cauda-grossa P/MA FL/CA VOA IN
Molossus rufus Morcego P/MA FL/CA VOA IN
Myotis albescens
Morcego borboleta de ventre
branco
P/MA FL/CA VOA IN
Myotis dinellii Morcego MA FL/CA VOA IN
Myotis levis
Morcego borboleta
amarronzado
P/MA FL/CA VOA IN
Myotis nigricans Morcego borboleta pequeno P/MA FL/CA VOADOR IN
Myotis simus Morcego MA FL/CA VU VOA IN
Peropteryx macrotis Morcego MA FL/CA VOA IN
Lontra
Lontra longicaudis
Graxaim-do-campo
Lycolapex gymnocercus
Cervo-do-pantanal
Blastoceros dichotomus
Lobo-guará
Chrysocyon brachyurus
Caititu
Pecari tajacu
111
Ordem/Espécie Nome comum
BIOMA DE
OCORRÊNCIA2 Ambiente
Ameaça de extinção
HÁBITO¹
DIETA¹
IUCN2
RS3
SC4
PR5
Sturnira lilium Morcego P/MA FL/CA VOA FR
Tadarida brasiliensis Morcego-das-casas P/MA FL/CA VOA IN
Didelphimorphia
Cryptonanus chacoensis Catita P CA ARB IN/ON
Cryptonanus guahybae Catita, guaiquica P FL/CA ARB IN/ON
Didelphis albiventris
Gambá, gambá-de-orelha-
branca
P/MA FL/CA ESC FR/ON
Didelphis aurita
Gambá, gambá-de-orelha-
preta, raposa, saruê, seriguê
P/MA FL/CA ESC FR/ON
Gracilinanus microtarsus
Catita, cuíca, cuíca-graciosa,
guaiaquica
MA FL/CA ARB IN/ON
Lutreolina crassicaudata Cuica-de-cauda-grossa P/MA CA VU TER PSI
Monodelphis dimidiata Catita, cuica-anã P/MA CA TER IN/ON
Monodelphis iheringi Catita, guaiquica-listrada P/MA CA TER IN/ON
Lagomorpha
Sylvilagus brasiliensis Tapiti MA FL/CA EN VU TER HB
Perisodactyla
Tapirus terrestris Anta MA FL/CA VU CR EN EN TER HB/FR
Rodentia
Akodon azarae Rato-do-chão P/MA CA TER IN/ON
Akodon montensis Rato-do-chão P/MA FL/CA TER IN/ON
Akodon reigi Rato-do-chão P FL/CA TER IN/ON
Akodon serrensis Rato-do-chão MA FL/CA TER IN/ON
Calomys laucha Rato-do-chão P CA TER FR/GR
Calomys tener Rato-do-chão MA FL/CA TER FR/GR
Cavia aperea Preá P/MA CA TER HB
Cavia fulgida Preá MA CA TER HB
Cavia intermedia Preá MA CA CR CR TER HB
Cavia magna Preá P/MA CA VU TER HB
Coendou spinosus Ouriço, ouriço-cacheiro P/MA FL/CA ARB FR/FO
Ctenomys flamarioni
Tuco-tuco-branco, tuco-tuco-
das-dunas
P/MA CA EN EN FOS HB
Ctenomys ibicuiensis Tuco-tuco P CA FOS HB
Ctenomys lami Tuco-tuco P CA VU EN FOS HB
Ctenomys minutus Tuco-tuco P/MA CA EN FOS HB
Anta
Tapirus terrestris
Zorrilho
Conepatus chinga
Catita
Gracilinanus microtarsus
Ariranha
Pteronura brasiliensis
Puma
Puma concolor
112
Ordem/Espécie Nome comum
BIOMA DE
OCORRÊNCIA2 Ambiente
Ameaça de extinção
HÁBITO¹
DIETA¹
IUCN2
RS3
SC4
PR5
Ctenomys torquatus Tuco-tuco-de-colar P CA FOS HB
Deltamys kempi Rato-do-mato P/MA CA FOS IN/ON
Euryzygomatomys
spinosus
Guirá P/MA FL/CA TER HB
Holochilus brasiliensis Rato d'água P/MA FL/CA SAQ FR/HB
Holochilus vulpinus Rato d'água P FL/CA SAQ FR/HB
Hydrochoerus
hydrochaeris
Capivara P/MA FL/CA SAQ HB
Lundomys molitor Rato d'água P FL/CA SAQ FR/ON
Myocastor coypus Ratão-do-banhado P/MA CA SAQ FR/ON
Necromys lasiurus Rato-do-mato P/MA CA TER FR/ON
Oecomys catherinae Rato-da-árvore MA FL/CA ARB FR/SE
Oligoryzomys flavescens Rato-do-mato P/MA CA ESC FR/GR
Oligoryzomys nigripes Rato-do-mato P/MA FL/CA ESC FR/GR
Oxymycterus nasutus Rato-narizudo, rato-do-brejo P/MA FL/CA SFO IN/ON
Oxymycterus quaestor Rato-narizudo, rato-do-brejo MA FL/CA FOS IN/ON
Reithrodon typicus Rato coelho P CA TER HB
Scapteromys aquaticus Rato d'água P CA SAQ IN/ON
Scapteromys tumidus Rato d'água P/MA CA SAQ IN/ON
Sooretamys angouya Rato-do-mato P/MA FL/CA ESC FR/GR
Xenarthra
Cabassous tatouay Tatu-de-rabo-mole P/MA FL/CA SFO IN/ON
Dasypus hybridus Tatu-mulita P/MA CA SFO IN/ON
Dasypus novemcinctus
Tatu-galinha, tatu-mulita, tatu-
nove-bandas, tatu-verdadeiro
P/MA FL/CA SFO IN/ON
Tatu-mirim P/MA FL/CA SFO IN/ON
Euphractus sexcinctus
Tatu-papa-defunto,
tatu-peba, tatu-peludo
P/MA CA SFO MYR
Myrmecophaga tridactyla
Tamanduá-açu,
tamanduá-bandeira
P/MA FL/CA VU CR CR TER MYR
Espécies ocorrentes em cada estado foram extraídas de Gonçalves et al. (11) - RS, Cherem et al. (18) – SC e Miranda et al. (19), Reis et al. (20) e Instituto Ambiental do Paraná (IAP (21)).
1) Hábito locomotor e a dieta seguindo Paglia et al. (1); 2) Bioma de ocorrência de acordo com polígonos de distribuição e grau de ameaça mundial segundo IUCN (22);
Grau de ameaça segundo listas de espécies ameaçadas de extinção dos estados: 3) do Rio Grande do Sul (13); 4) de Santa Catarina (14); 5) do Paraná (15,16).
Tuco-tuco
Ctenomys minutus
Tuco-tuco
Ctenomys lami
Bugio-ruivo
Alouattaguaribaclamitans
Bugio-preto
Alouatta caraya
Tatu-peludo
Euphractus sexcinctus
#
# André Luza, Alan Bolzan, Igor Coelho, FernandaTeixeira, Fernando Quintela, Gabriel Hofmann,
Hugo Mozerle, Luiz Oliveira, Leonardo Crestani, Paula Roratto,Tatiane Noviski,Thales Freitas,Vinicius Bastazini.
113
Veado-catingueiro
(Mazama gouazoubira)
#
# Christian Andretti
114
115
Fazenda São Crispim,
Lavras do Sul, RS
#
# Valério Pillar
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
117
Capítulo 11
Serviços Ecossistêmicos
Valério De Patta Pillar, Bianca Ott Andrade & Leticia Dadalt
tas precisam de água e nutrientes do solo, de luz, e de dióxido de
carbono do ar para crescerem e produzirem biomassa em folhas,
raízes, caules, flores, frutos e sementes. Essa biomassa, viva ou
morta, por sua vez serve de alimento para outros organismos, que
são consumidos por outros, e assim sucessivamente até que tenha
se dissipado na forma de calor através da respiração, eventualmen-
te queimada pelo fogo, ou permanecido como matéria orgânica no
solo. Em cada uma das etapas dessa cadeia alimentar atuam dife-
rentes tipos de organismos. Por exemplo, animais herbívoros pasta-
dorescomoogadocolhemaforragemeautilizamparasemanterem
vivos e crescerem, excretando urina e fezes que servem de alimento
para muitos animais decompositores, incluindo invertebrados e mi-
cro-organismos de solo. Fungos e bactérias contribuem para que os
nutrientes presentes na matéria orgânica sejam disponibilizados às
plantas. Formigas cortadeiras cortam e carregam folhas de deter-
minadas plantas para alimentar fungos decompositores que cul-
tivam no formigueiro. Plantas campestres criam habitat favorável
para insetos que polinizam plantas cultivadas, ou para aves que
consomem insetos praga nas lavouras vizinhas. Assim como estes,
há inúmeros outros exemplos de interações que afetam direta ou
indiretamente a provisão de serviços ecossistêmicos.
Nos capítulos anteriores pudemos conhecer melhor a bio-
diversidade dos Campos Sulinos representada pela enorme rique-
za de espécies vegetais e animais. Essa biodiversidade compõe
uma complexa rede de interações envolvendo os organismos en-
tre si e diversos fatores como o solo, o relevo, o clima, e o manejo
pastoril. Os organismos, incluindo o homem, afetam condições
do ambiente, e estas afetam os organismos, determinando assim
importantes processos ecológicos. Os serviços ecossistêmicos são
os benefícios que as populações humanas obtêm com a manuten-
ção desses processos (1).
A conservação dos campos nativos propicia inúmeros ser-
viços ecossistêmicos. São exemplos a regulação hídrica e o forneci-
mento de água limpa, a produção de forragem para a atividade pe-
cuária, a manutenção de polinizadores e de predadores de pragas de
culturas agrícolas, o potencial para a recreação ao ar livre, a estoca-
gem de carbono no solo que ajuda a mitigar as mudanças climáticas
globais, dentre tantos outros. Neste capítulo buscamos responder
por que a biodiversidade encontrada nos campos é essencial para
garantir a provisão regular de serviços ecossistêmicos como esses.
Processos ecológicos se manifestam em fluxos de matéria e
energia nos ecossistemas e são mediados pelos organismos. Plan-
Campos de
Cima da Serra
#
# Valério Pillar
118
Essa complexa teia de interações que culmina com a incor-
poração de matéria orgânica no solo, mantém importantes proprie-
dades do solo, como é o caso da porosidade, da disponibilização de
nutrientes para crescimento das plantas, e da agregação das partí-
culas através das raízes das diferentes plantas e dos túneis que mi-
nhocas e outros organismos vão construindo. A porosidade do solo,
junto com a cobertura vegetal campestre, que é diversa e permanen-
te, favorece a infiltração de água, reduz o escorrimento superficial
e a erosão, e assim melhora a recarga dos aquíferos e a qualidade e
regularidade da provisão de água para os rios. Além disso, determi-
nados tipos de solos na região dos Campos Sulinos retêm grandes
quantidades de água, funcionando como uma esponja, alimentan-
do os rios de forma gradativa.
Há também serviços ecossistêmicos com benefícios ime-
diatos e diretos. É o caso do uso da vegetação natural como fon-
te de forragem na atividade pastoril de produção pecuária, com
grande importância econômica na região Sul do Brasil, em especial
no Rio Grande do Sul (RS). O grande número de espécies presen-
tes nos Campos Sulinos oferece uma dieta bastante diversa para os
animais pastadores, que influi na qualidade da carne que consu-
mimos quando comparada a animais confinados (ver Capítulo 16).
Também, as regiões em que predominam os campos oferecem exce-
lentes oportunidades para a exploração do seu potencial turístico,
pela sua beleza cênica, pela possibilidade de vivenciar o ambiente
campeiro e de observar aves, dentre outros atrativos.
Além das plantas forrageiras, encontramos nos campos
naturais espécies que podem ser usadas: para cobertura de
casas, como o capim santa-fé (Panicum prionitis); plantas com
propriedades medicinais, como a carqueja (Baccharis trimera),
a marcela (Achyrocline satureioides) e a douradinha (Waltheria
douradinha); fonte de energia, como o espinilho (Vachellia caven);
para moirões, como a assobiadeira (Schinus polygamus) e aroeira-
brava (Lithraea brasiliensis); plantas ornamentais, como o cravo
vermelho do campo (Trichocline macrocephala) e cactos (Parodia
ottonis); entre outras.
A conversão de campos nativos em lavouras, em silvicultu-
ra ou em pastagens cultivadas envolve a supressão da cobertura
vegetal nativa pelo uso de herbicidas e/ou pelo cultivo do solo, e
portanto elimina os serviços ecossistêmicos diretos e desestabili-
za ou colapsa essa complexa rede de interações. Algumas espécies
se mantêm pois são generalistas e adaptáveis às novas condições,
mas outras, com exigências ambientais mais restritas, se extin-
guem localmente. Como vimos, ecossistemas campestres nativos
contêm muitas espécies, as quais são importantes para diferentes
processos ecológicos.
Os efeitos dessas extinções sobre os processos ecológicos
e serviços ecossistêmicos decorrentes vai depender da permanên-
cia de outras espécies funcionalmente semelhantes, ou seja, seme-
lhantes na forma como contribuem para os processos ecológicos.
Por exemplo, se houver várias espécies de besouros rola-bosta, e se
faltar uma delas, as outras continuarão enterrando bolas de esterco.
Se houver muitas espécies de plantas de boa qualidade forrageira, a
perda de uma espécie não afetará a qualidade forrageira do campo
nativo. É justamente essa redundância nas suas funções que tem
sido identificada pelos ecólogos como responsável pela relativa
estabilidade dos ecossistemas naturais, pois em ecossistemas com
alta biodiversidade a perda de poucas espécies pode não ser sufi-
ciente para causar o colapso de processos ecológicos (2,3). Entretan-
to, a perda continuada de espécies reduz a redundância funcional
e assim torna os ecossistemas mais vulneráveis a eventos extremos,
como uma seca prolongada no verão, pois a perda adicional de pou-
cas espécies devido ao evento extremo pode significar o colapso de
processos ecológicos importantes.
Portanto, constitui um benefício às populações humanas
a regularidade com que serviços ecossistêmicos são providos. Por
exemplo, é importante garantir a provisão de água e de forragem em
anos de seca, e isso terá um custo bem menor se puder ser obtido a
partir da conservação e do manejo adequado dos campos nativos.
Um campo que foi degradado pelo cultivo será mais vulnerável a
uma seca do que um campo nativo rico em espécies.
O manejo sustentável dos campos nativos deve adotar boas
práticas que mantenham os processos ecológicos essenciais para
os serviços ecossistêmicos. Campos manejados com carga animal
incompatível com sua capacidade de produção de forragem têm a
estrutura do solo comprometida (alta compactação do solo), que
causa perda de espécies de plantas e da biota do solo que não se
119
adaptam a esse tipo de manejo. A água disponível no solo é também
influenciada pela estrutura do solo.
Na ausência de práticas de manejo conservacionistas que
favoreçam a manutenção da matéria orgânica no solo, há libera-
ção de carbono para a atmosfera. Nas áreas campestres, o princi-
pal reservatório de carbono é o solo, enquanto que nas florestas o
reservatório de carbono concentra-se nas partes aéreas da vegeta-
ção. Assim, a conservação dos campos contribui para a mitigação
das mudanças climáticas ao possibilitar, através de um manejo
adequado, a redução das emissões de gases de efeito estufa.
A valorização e o incentivo a atividades que mantenham
serviços ecossistêmicos nem sempre é uma prioridade para
o governo ou sociedade. É difícil atribuir um preço ou valor
a alguns serviços ecossistêmicos, bem como ao fato destes
serem motivos de conflitos entre interesses individuais e o
bem comum. Por exemplo, a provisão de água é afetada pelas
atividades desenvolvidas em propriedades privadas na bacia
hidrográfica, enquanto o consumidor se concentra em centros
urbanos. A importância dos serviços ecossistêmicos é geralmente
reconhecida quando enfrentamos uma crise de abastecimento de
água, a contaminação da água para consumo, ou ainda a redução
da produtividade agrícola pela falta de polinizadores. São
necessárias iniciativas de pagamento por serviços ecossistêmicos
aos proprietários que mantêm conservadas áreas de campo e sua
biodiversidade (ver Capítulos 16 e 17).
Há um importante papel da pesquisa científica para compre-
ender mais claramente a relação entre conservação da biodiversida-
deeserviçosecossistêmicos,masénotávelqueoatualconhecimento
sobre o tema ainda seja pouco considerado nas políticas públicas e
na gestão ambiental rural pelos tomadores de decisão. Infelizmente,
a possibilidade de conservar os campos e ao mesmo tempo melho-
rar significativamente a sua produtividade pecuária (ver Capítulo 14)
ainda não é reconhecida por muitos proprietários rurais e técnicos.
Predomina a visão de que aumentos compensadores de produtivida-
de somente poderiam ser obtidos às custas da conversão dos campos
e sua substituição por lavouras e pastagens cultivadas. Algumas ini-
ciativas incipientes de conservação e valorização dos campos e dos
seus serviços ecossistêmicos têm surgido nos setores público, priva-
do e não-governamental (ver Capítulos 16 e 17). Os campos têm mui-
to a oferecer e sua conservação nos trará muitos benefícios.
Fluxo de matéria,
energia e provisão
de serviços
ecossistêmicos
#
# Bianca Andrade
#
# FábioTorchelsen
#
# Valério Pillar
PLANTA
SOLO RAÍZ
Maior produção
primária
Melhor manutenção
da biomassa do solo e
absorção de nutrientes
Decompositores
Mais alimento e
habitat para a
biota do solo
Provisão de Serviços
Ecossistêmicos
Consumidores
Produtores
+ Fonte de forragem
+ Ciclagem de nutrientes
+ Recarga de aquíferos
+ Purificação da água
+ Regulação do clima
+ Controle da erosão
+ Cobertura do solo
+ Recreação e turismo
FLUXO DE MATÉRIA E ENERGI
A
120
121
Departamento
de Salto, Uruguai
#
# Valério Pillar
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
PARTE 2
o futuro dos campos
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
125
Capítulo 12
conversão e fragmentação
Eduardo Vélez-Martin, Carlos Hugo Rocha, Carolina Blanco,
Bethânia Oliveira Azambuja, Heinrich Hasenack & Valério De Patta Pillar
Os campos nativos que restam estão praticamente restritos
aoslocaisondeosoloéraso,pedregosooumuitoúmido,ouainda,
onde o relevo é muito ondulado, o que dificulta a implantação de
lavouras. Entretanto, novas tecnologias de produção agronômica
e a biotecnologia vêm permitindo transpor estes obstáculos.
No passado, quando os primeiros humanos colonizaram
a região do Sul do Brasil (~12.000 anos antes do presente), os
campos constituíam a vegetação predominante. Mesmo após o
avanço das florestas sobre os campos, fenômeno que ocorre desde
os últimos 5.000 anos, estima-se que, na época da colonização
pelos europeus, os campos nativos ocupavam cerca de 217.819km2
,
o que correspondia a 9% do PR, 16% de SC e 66% do RS.
Estimativas feitas para a primeira década do século XXI
indicam que restavam cerca de 95.519km2
, ou seja, 43% do que
havia originalmente. Atualmente, os campos nativos foram
completamente eliminados em muitas regiões e, nos locais onde
restam importantes remanescentes campestres, perdem-se alguns
milharesdehectaresacadaano.Oprincipalfatorquetemcausado
essa dramática perda de área de campo nativo é a conversão para
áreas de agricultura (principalmente lavouras de soja, milho e
arroz) ou de silvicultura (eucaliptos, pinus e acácia). Os campos
existentes são suprimidos, seja com o uso de máquinas para
lavrar a terra, seja com o uso de herbicidas aplicados para matar
a vegetação campestre, para que as lavouras sejam implantadas.
Caprichos do Ibicuí,
Rosário do Sul, RS
#
# Ronai Rocha
Distribuição original
dos Campos Sulinos
no período da chegada
dos portugeses.
Adaptação do Mapa
da Vegetação do Brasil
(IBGE)
#
# Rosemeri Moro (PR)
#
# Ana Zannin (SC)
#
# EduardoVélez (RS)
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
126
Distribuição dos campos
nativos remanescentes no
Sul do Brasil em relação
às áreas estimadas de
distribuição original.
Os dados do RS referem-se
a 2002 e foram adaptados.
Os dados de SC e PR
são uma aproximação
para 2008, com base nos
dados de áreas naturais
remanescentes
(segundo IBGE)
Fonte: Laboratório de
Geoprocessamento/UFRGS.
Empobrecimento biológico dos campos
A consequência ambiental direta da conversão dos campos
é a perda da biodiversidade. A redução da área de campos re-
manescentes causa seu empobrecimento biológico.
Dentre milhares de espécies de plantas e animais que ocor-
rem nos campos, várias têm aptidão para sobreviver sob condi-
ções ambientais muito específicas. Por conta disso, os campos
apresentam conjuntos de espécies distintas em cada região,
adaptadas às condições locais do clima, do solo e da topografia.
Isso faz com que a composição de espécies dos campos de Ponta
Grossa, no Paraná, seja distinta dos campos de Lages, em Santa
Catarina, e dos campos do Pampa, no Rio Grande do Sul. Quando
a supressão dos campos avança, perdem-se progressivamente es-
tes conjuntos de espécies adaptadas localmente.
Toda vez que diminui a área dos campos, reduz-se a área de
habitat disponível para as espécies presentes. Por consequência,
diminui o tamanho das suas populações. E, quando restam pou-
cos indivíduos de cada espécie, aumenta o risco de extinções lo-
cais, seja por conta de combinações genéticas deletérias, quando
indivíduos aparentados combinam seu material genético, ou por
catástrofes ambientais locais, que provocam a mortalidade dos
poucos indivíduos que restam.
Alguns mamíferos de maior porte, como os felinos e os ve-
ados, dependem de grandes áreas para sobreviver. Quando numa
região restam poucos hectares de campo, estas espécies deixam
de ocorrer pois não encontram mais as condições mínimas de
abrigo, alimentação e reprodução.
A eliminação de espécies predadoras do topo da cadeia ali-
mentar, como os carnívoros e as aves de rapina, por exemplo, pode
gerar desequilíbrios em cascata na rede de interações entre as es-
pécies. Sem os predadores, algumas espécies tendem a aumentar a
população de forma oportunista, competindo ou predando outras
espécies mais sensíveis e com tamanhos populacionais pequenos.
Além disso, em cada região existem espécies com distribui-
ção muito restrita, que evoluíram somente nesses locais ao longo
dos milhares de anos de evolução biológica. São as denominadas
espécies endêmicas. Nos Campos Sulinos, já foram catalogadas
Alteração da paisagem
campestre em função
da supressão dos
campos nativos
para implantação
de lavouras
#
# Valério Pillar
127
mais de 500 espécies de plantas endêmicas que correm o risco de
serem extintas para sempre por conta da supressão dos campos.
A fragmentação dos campos
Os problemas ecológicos associados à supressão dos
campos podem ser ainda mais graves quando a redução em área é
acompanhada de fragmentação dos remanescentes na paisagem.
Imagine duas situações: numa delas um campo que originalmente
tinha 1.000ha é reduzido para uma área contínua de 400ha. Na
outra, ocorre a mesma redução em área, mas com uma diferença,
ao invés de uma única área contínua, restam 10 manchas de 40ha
isoladas, rodeadas por lavouras ou plantios de eucalipto.
Quando há um grande número de manchas menores de
campo, maior é a superfície de contato entre as espécies campes-
tres e os ambientes do entorno. É o denominado efeito de borda.
Geralmente, na linha de contato entre o campo e uma lavoura, por
exemplo, as condições microclimáticas são distintas com tendência
de temperaturas mais elevadas e menor umidade no ar e no solo,
o que pode ser prejudicial. As bordas também são locais mais sus-
cetíveis aos efeitos negativos de perturbações das áreas do entorno
como ingresso de agrotóxicos, fertilizantes e de espécies invasoras.
Outro aspecto negativo é a possibilidade de espécies campestres da
fauna deslocarem-se para esses ambientes do entorno, gastando
tempo e energia em locais inadequados para a sua sobrevivência,
podendo também ficar mais expostas à ação de predadores.
O isolamento geográfico entre as manchas de campo é
outra consequência da fragmentação. Para algumas espécies essa
distância pode se tornar intransponível e os indivíduos acabam
ficando isolados. A redução da dispersão dos indivíduos entre as
manchas de campo limita as possibilidades de troca genética e da
espécie encontrar condições de habitat mais adequadas, e com
isso, muitas populações declinam ou se extinguem.
Por fim, muitas espécies necessitam de uma área mínima
para sobreviver. Quando todas as manchas de campo que restam
são muito pequenas, a qualidade do habitat diminui, de um modo
geral, e muitas espécies não conseguem persistir.
Fisionomia dos campos
com barba-de-bode,
Júlio de Castilhos, RS
#
# Bethânia Azambuja
Esquema ilustrando
a diferença de perda
de habitat sem
fragmentação (caso 1)
e com fragmentação
(caso 2)
1 mancha única
de 400 ha
Caso 1
Supressão do
campo nativo
Caso 2
Supressão do campo
nativo + Fragmentação
10 manchas de 40 ha
1.000 ha
128
A supressão dos campos
do Planalto Médio no RS
O Planalto Médio é a região do Rio Grande do Sul onde há mais tempo se iniciou
a conversão de campos naturais para agricultura. Práticas agronômicas como a
calagem e a adubação possibilitaram o uso dos latossolos, de baixa fertilidade
natural, porém propícios à mecanização. Os campos dessa região se notabilizam
pela dominância da gramínea Aristida jubata, popularmente conhecida como
barba-de-bode, formando densas touceiras no estrato superior, enquanto a gra-
mínea rizomatosa Paspalum notatum predomina rente ao solo. Avaliações fei-
tas com base em imagens de satélite na porção sudoeste dessa região, indicam
uma perda expressiva de campos, que ocupavam 70% em 1981 e apenas 24% em
2009. Portanto, é um fenômeno relativamente recente e de grande amplitude.Os
efeitos disso sobre a biodiversidade já são percebidos. Estudo feito em 25 rema-
nescentes de campo nessa região, mostrou que o número de espécies de plantas
campestres, assim como o de borboletas e mariposas, diminui com a redução da
área de campos existentes em um raio de 2km ao redor dos locais amostrados.
Supressão dos campos: um problema
econômico, social e cultural
As consequências negativas da supressão dos campos vão
além dos problemas ambientais. Os Campos Sulinos têm sido
historicamente utilizados para a atividade pastoril. A prática da
pecuária se beneficia diretamente da vegetação nativa que ocor-
re naturalmente na região. São milhares de espécies que crescem
e produzem forragem para o gado, dependendo apenas do sol,
da água da chuva e da fertilidade natural do solo para o seu de-
senvolvimento. Esta condição tem uma grande vantagem com-
petitiva do ponto de vista econômico, já que é possível produzir
proteína animal (alimento de alta qualidade), sem a necessidade
de intensificar os sistemas de produção. Assim, o pecuarista não
tem os custos de compra de sementes, adubação, aplicação de
agrotóxicos, maquinário. Além disso, evitam-se todos os proble-
mas ambientais associados com as atividades que dependem do
uso intensivo de insumos. Ou seja, no balanço global dos custos
e benefícios a produção pecuária em campo nativo é a atividade
econômica mais vocacionada para a região. Eliminar os campos
nativos, de forma ampla, para produzir grãos e madeira torna-se
um contrassenso já que se desperdiça esse patrimônio fitogené-
tico proporcionado, sem custos, pela natureza em troca de ativi-
dades intensivas e dependentes de pacotes tecnológicos, ao sabor
das oscilações de preços do mercado internacional e muito mais
vulneráveis aos riscos climáticos.
Uma visão moderna de desenvolvimento econômico regio-
nal sustentável não pode ignorar o ativo econômico representado
pelos campos nativos. Dado o seu potencial para a pecuária sus-
tentável, não parece lógico que no Brasil se desmate floresta na
Amazônia para lá ampliar as áreas de pecuária, baseada em pas-
tagens plantadas, e se eliminem milhares de hectares de campos
nativos no Sul do Brasil para produzir grãos para exportação ou
plantar árvores exóticas.
A pecuária sobre campo nativo tem gerado emprego e
renda em propriedades rurais de pequeno, médio e grande porte.
Ainda que, em muitos casos, a renda auferida fique aquém do po-
tencial produtivo que poderia ser atingido com técnicas de manejo
Campo dessecado
com herbicida,
Lavras do Sul, RS
#
# Valério Pillar
129
O Parque Estadual de Vila Velha
(PEVV) e as transformações
da paisagem no PR
Criado em 1953, o PEVV (3.122 ha) fica a 20km de Ponta
Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná. Abriga
formações areníticas ruiniformes, relictas de glaciações do
Permo-Carbonífero, que o tornaram globalmente conheci-
do.Até a década de 1970, face às dificuldades para utilização
agrícola devido à baixa fertilidade dos solos, a maior parte
dos campos na região se mantinha conservada. Entretanto,
na década seguinte essa limitação foi superada com a disse-
minação do plantio direto na palha. O PEVV logo transfor-
mou-se em ilha de vegetação nativa cercada por agricultura
esilvicultura.Napaisagemdoentornorestarammuitasman-
chas pequenas de campo, isoladas em meio a atividades an-
trópicas de intensidade diferenciada, exatamente nos locais
com menor aptidão agrícola: declividade elevada, áreas úmi-
das ou permanentemente encharcadas, vales encaixados,
fendas e fraturas geológicas, solos rasos e arenosos, aflora-
mentos de rocha, áreas de beira de rio ou pouco acessíveis,
além de capões de mata, historicamente mantidos como
abrigosparaogadodesdeostemposdaocupaçãodoterritó-
rio.Quando há uso intensivo de agrotóxicos os próprios agri-
cultores já relataram haver maior mortalidade do lobo guará.
Em casos extremos de transformação pouco há para fazer a
não ser garantir o manejo correto dos campos e promover a
conectividade entre eles com ações de recuperação.
mais adequadas, o fato é que a necessidade de cuidados diários
que a atividade pastoril demanda tem sido um fator de fixação do
homem no campo. Milhares de famílias dependem desta atividade.
Quando grandes plantações de silvicultura ou grandes extensões
de lavouras são implantadas em áreas onde tradicionalmente se
pratica a pecuária há também um prejuízo social a ser considerado.
Uma cultura com identidade própria surgiu justamente
a partir da relação do homem com as atividades pastoris pra-
ticadas nos Campos Sulinos ao longo de quase quatro séculos.
Pecuaristas na lida
com gado criado
em campo nativo
#
# Ronai Rocha
Esta relação antropológica com a pecuária e os campos nati-
vos marcou e influenciou a história, os costumes, as lendas,
a música, o imaginário e a identidade dos habitantes de gran-
de parte da região Sul do Brasil. A cultura gaúcha emana da
relação homem-natureza e transcende as fronteiras políticas,
espraiando-se por toda a região de ocorrência dos campos nes-
sa parte da América do Sul. A eliminação dos campos nativos
representa a desconexão com a base natural que fundamenta
todo este patrimônio imaterial.
130
Vale a pena eliminar
os campos nativos?
Diversos fatores contribuem para a acelerada perda de
campos nos últimos anos. O mais influente de todos é o preço
internacional dos produtos agrícolas, especialmente da soja.
Por conta dos rendimentos monetários obtidos em anos de clima
favorável, muitos proprietários rurais vêm trocando a pecuária
pela agricultura. Este cenário associado a fatores como a falta de
políticas e incentivos para a prática das atividades pastoris que
conservem a biodiversidade, a fragilidade da cadeia produtiva
da carne e o processo de sucessão familiar, em que parte dos
herdeiros são urbanos, perdendo o vínculo com o campo,
concorrem para que se observe a descaracterização massiva das
paisagens campestres.
A pergunta que deve ser feita é: vale a pena seguir nesse
caminho, tanto para os próprios produtores rurais como para o
conjunto da sociedade brasileira? A diversificação produtiva
do meio rural é um fator saudável e desejado. Entretanto, o
que se observa é uma aposta única na agricultura, em regiões
vocacionadas para a pecuária, e de forma concentrada na soja.
Isso tem gerado a homogeneização da paisagem rural com todos
os efeitos negativos já comentados. É momento de refletir e
questionar esta tendência. Afinal, qual a lógica de produzir soja
que será usada em boa parte para alimentar gado confinado
na China e na União Europeia, a um custo ambiental e social
elevado, quando podemos exportar diretamente carne de alta
qualidade e com ganhos ambientais?
Também é importante refletir se realmente as lavouras
têm maior rentabilidade econômica do que a atividade pecuária
sobre campo nativo. A grande dependência de insumos e as
oscilações de produtividade em função do clima fazem com
que os ganhos com lavouras no médio prazo provavelmente se
equilibrem ou não sejam compensadores para os produtores
rurais na comparação entre agricultura e pecuária (Tabela 12.1).
A atividade pastoril realizada em campo nativo usando manejo
mais adequado pode gerar rentabilidade bastante competitiva
em relação às atividades que envolvem sua conversão. No
Capítulo 14 são mostradas opções de manejo pastoril ainda
potencialmente mais produtivas envolvendo pastejo rotativo.
Por conta de tudo isso, uma economia sustentável, verde e
de baixo carbono pode ser estabelecida se a pecuária sustentável
for a atividade prioritária nas regiões de campo nativo do Sul do
Brasil, sendo a agricultura e a silvicultura consideradas como
atividades complementares e de diversificação produtiva.
Charge sobre o efeito
da perda dos campos
sobre a cultura
regional
Fonte: Santiago
Mais problemas
para os campos
Além da supressão e fragmentação dos campos existem duas
outras situações problemáticas para a biodiversidade campes-
tre: a invasão por espécies exóticas e a degradação dos campos.
Invasão por espécies exóticas – com o aumento da extensão
de rodovias, da capacidade de circulação e da intensificação
das atividades no meio rural, maiores são as chances de que
plantas exóticas invasoras colonizem áreas de campo nativo.
Geralmente essas espécies têm maior sucesso nas partes do
campo que foram lavradas ou foram manejadas de forma incor-
reta (por exemplo, excesso de carga animal). Essas espécies são
frequentemente melhores competidoras do que as nativas por
conta da ausência de inimigos naturais. Um exemplo é a gra-
mínea africana popularmente conhecida como capim-annoni
(Eragrostis plana). Quando ela se instala, aumenta a população
a cada ano e, com o tempo, termina eliminando as demais es-
pécies por ser melhor competidora na captação de luz e absor-
ção de nutrientes.Se a invasão não for detectada logo no início,
depois que ela se espalha a sua eliminação é muito difícil. No
Rio Grande do Sul, milhares de hectares na região do bioma
Pampa já foram invadidos por capim-annoni, diminuindo o po-
tencial econômico dos campos para a pecuária. Mais informa-
ções sobre espécies invasoras são apresentadas noCapítulo 13.
Degradação dos Campos – quando se coloca um número ex-
cessivo de cabeças de gado por muito tempo em uma área de
campo, a tendência é de que ocorra o sobrepastejo.Os animais
consomem quase toda a vegetação campestre disponível (pas-
to) e pisoteiam excessivamente o solo, que fica compactado,
prejudicando a infiltração de água e a colonização por espécies
herbáceas. O campo rapado fica com aspecto de carpete e
observam-se manchas de solo exposto. Este tipo de situação
degradaocampo,poiseliminamuitasespéciesdafloraedafau-
na, e resulta em prejuízos econômicos para o produtor rural, já
queogadopassaaperderpesoporfaltadecomida.Infelizmente,
este tipo de problema é muito comum e pode ser resolvido me-
diante adoção de boas práticas de manejo do campo.
Tabela 12.1: Rentabilidade econômica de diferentes opções de uso da terra em
campos nativos localizados sobre solos agricultáveis no bioma Pampa. As três
primeiras opções são compatíveis com a conservação da vegetação nativa, enquanto
as três últimas envolvem sua supressão.
Opções de uso
da terra
Produ-
tividade
(kg/ha)
Preço
(R$/kg)
Renda
bruta
(R$/ha)
Custo
operacional
estimado
(R$/ha)
Renda
líquida
(R$/ha)
Pecuária de corte
em campo nativo
com manejo
pastoril melhorado
210 4,65 977 165 812
Pecuária de corte
tradicional
100 4,65 465 159 306
Arrendamento
para pecuária
19 190
Lavoura de soja 2.200 0,97 2127 1.831 296
Arrendamento
para soja
0,97 406
Lavoura de milho 4.800 0,38 1840 1.893 -53
Fontes: Dados da CONAB (http://www.conab.gov.br) de produtividade e custo de produção de lavouras safra
de verão 2014-15, nessa região (São Luiz Gonzaga para a soja, e Santo Ângelo para o milho, ambos com plantio
direto usando variedades modificadas geneticamente). Cotações de mercado em janeiro de 2015 para soja,
milho e carne (preço médio de boi e vaca para abate). Produtividade da pecuária estimada a partir de resulta-
dos experimentais do grupo de pesquisa. Manejo pastoril melhorado envolvendo apenas ajuste da carga animal
à disponibilidade de pasto, em pastejo contínuo, e diferimento de potreiros para formar reserva de pasto para
períodos críticos. Custos de produção da pecuária estimados a partir de dados obtidos com produtores rurais
na região do Pampa, que incluem sanidade animal (R$60 por ano por cabeça), mão de obra (R$80 por ano
por cabeça animal), a uma lotação média de 1 cabeça de 400kg de peso vivo por ha, e um custo estimado de
R$24 por ha por ano para depreciação da infraestrutura (cercas, mangueiras) com manejo pastoril melhorado,
e de R$19 com manejo tradicional. Preços de arrendamento praticados na região do bioma Pampa em áreas de
campos sobre solos agricultáveis. Não foram considerados juros sobre capital próprio.
131
132
133
Coxilha Negra, Santana
do Livramento, RS
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
135
A biodiversidade nativa dos Campos Sulinos está ameaça-
da por diversos fatores, entre os quais destaca-se a introdução de
espécies exóticas invasoras. Chamamos de exóticas aquelas espé-
cies que são encontradas em uma região diferente daquela onde
ocorrem naturalmente. Muitas espécies exóticas foram introdu-
zidas intencionalmente para fins comerciais, de lazer ou como
ornamentais ou mascotes. Algumas espécies foram introduzidas
inadvertidamente através do transporte de cargas, passageiros ou
junto com produtos agrícolas ou animais. As espécies invasoras
são aquelas que, uma vez introduzidas, são capazes de se repro-
duzir e ocupar os ambientes naturais, geralmente afetando nega-
tivamente as nativas ou o funcionamento do ecossistema.
A invasão de espécies exóticas nos ambientes naturais é
uma das principais ameaças à perda de biodiversidade no mundo.
Algumas espécies exóticas, além de invadir espontaneamente áre-
as naturais, podem ameaçar a biodiversidade também por transfor-
mar a paisagem de forma radical. Um exemplo é o cultivo extensivo
de Pinus spp., que transforma em florestas ecossistemas campes-
tres, alterando o solo, o regime hidrológico e a fauna e flora asso-
Capítulo 13
espécies exóticas invasoras
Anaclara Guido & Demetrio Luis Guadagnin
ciadas e exercendo uma pressão permanente sobre os ecossistemas
ao seu redor pela constante disseminação de sementes.
É muito difícil prever quais espécies exóticas podem se
tornar invasoras. O sucesso de uma invasão resulta da inte-
ração de múltiplos fatores, tais como a coincidência entre as
condições ambientais da região original da espécie e da região
onde foi introduzida (ajuste climático), a ausência de inimi-
gos naturais na área invadida e a riqueza biológica nativa (es-
cape dos inimigos), o número de tentativas e/ou de indivíduos
que foram introduzidos (pressão de propágulos) e o estado
de conservação do ecossistema (associação com ambientes hu-
manos). O melhor indicador de que uma espécie pode se tor-
nar invasora é já ter sido capaz de invadir com sucesso outras
regiões do planeta. No caso particular dos Campos Sulinos, a
invasão pode ser facilitada pelo manejo inadequado das áreas
campestres, por exemplo o sobrepastoreio e/ou pelas mudan-
ças de uso do solo, especialmente quando áreas são abando-
nadas após o uso intensivo, e pela introdução recorrente de
espécies reconhecidamente invasoras.
Tojo (Ulex europaeus)
#
# FábioTorchelsen
136
OsCamposSulinossãovulneráveisàintroduçãointencional
de espécies exóticas também por que sua biodiversidade nativa
é pouco conhecida e valorizada. Para muitos, apenas espécies
exóticas são capazes de proporcionar recursos ou beleza.
Plantas invasoras
Capim-annoni (Eragrostis plana)
Éumagramíneacespitosa,perene,decicloestivaledeorigem
africana. Foi introduzida acidentalmente no RS, na década de 1950,
numa mistura de sementes comerciais, passou a ser cultivada como
planta forrageira de baixa qualidade, e atualmente é considerada a
planta invasora mais importante dos campos. Forma touceiras
densas com a base achatada e floresce no verão, produzindo elevada
quantidade de sementes longevas. Os ambientes mais suscetíveis
à invasão são as áreas que sofreram distúrbios pelo cultivo,
excesso de pastejo pela carga animal inadequada, e solos com alto
grau de compactação. A planta produz sementes no verão e sua
dispersão é promovida pelo trânsito de veículos e pela ingestão das
inflorescênciaspelogado.Asementeépreservadanotratodigestório
e pode germinar nas fezes. Uma vez estabelecida, esta planta é
altamente competitiva e poderá modificar a estrutura e a diversidade
da comunidade vegetal nativa. Esse processo é influenciado pelo
manejo, pois o gado prefere consumir as plantas nativas com maior
valor nutritivo, em detrimento do capim-annoni.
Grama-bermuda (Cynodon dactylon)
É uma gramínea rasteira, perene, de ciclo estival e de origem
africana e europeia. Foi introduzida intencionalmente na América
do Sul pelos ingleses, no começo do século XX, para evitar erosão
em ferrovias. É uma planta estolonífera e rizomatosa com alta taxa
de reprodução vegetativa. Pode ser identificada pela inflorescência
digitada, formada por 2-7 espigas, geralmente de cor violácea. Os
ambientes mais suscetíveis a sua invasão são áreas com alto grau
de perturbação antrópica, principalmente áreas urbanas.
Senécio (Senecio madagascariensis)
É um subarbusto anual ou bianual com até 60cm de
altura, ramoso desde a base, originário da África do Sul e
Madagascar. Foi introduzida acidentalmente na década de
1950 pelo transporte de materiais naturais. Pode ser identificado
pelas suas folhas alternas, geralmente dentadas na margem, e
pela sua inflorescência amarela vistosa do tipo da margarida. É
considerada tóxica para o gado, por apresentar alta concentração
de alcaloides nas flores. Os ambientes mais suscetíveis a invasão
são as áreas com alto grau de perturbação antrópica.
Tojo (Ulex europaeus)
É um arbusto perene, de 1 a 3m de altura, suas folhas são
reduzidas a espinhos, originário da Europa. Foi introduzido in-
tencionalmente como planta ornamental na década de 1990, prin-
cipalmente para ser utilizada como cerca viva. Floresce desde o
fim do inverno até o fim da primavera, e às vezes floresce nova-
Fig. 13.1
Plantas invasoras
nos Campos Sulinos
#
# Anaclara Guido
A
Capim-annoni
Eragrostis plana
B
Grama-bermuda
Cynodon dactylon
C
Senecio
Senecio madagascariensis
D
Tojo
Ulex europaeus
137
mente no outono. Suas flores são amarelas vistosas e produzem
legumes pilosos de até 2cm de comprimento. Os ambientes mais
suscetíveis a sua invasão são áreas com alto grau de perturbação
antrópica, principalmente as beiras de estradas.
Animais invasores
Javali (Sus scrofa)
É uma espécie onívora, generalista e oportunista, originária
da Europa e Ásia. Foi introduzida intencionalmente em diferentes
regiões do planeta como recurso alimentar ou para a caça de lazer.
O javali selvagem foi domesticado em diversas regiões, resultando
nas diferentes raças modernas de porcos. São bastante versáteis,
capazes de adaptar seus hábitos e comportamento às condições
locais de uma ampla gama de ambientes, incluindo florestas,
campos, regiões montanhosas, planícies úmidas e semidesertos.
A introdução disseminada e contínua, associada ao escape das
criações e expansão das populações já estabelecidas, determinaram
que a espécie seja encontrada em todos os continentes com exceção
da Antártida. É provavelmente a espécie de mamífero com a mais
ampla distribuição geográfica, sendo considerada como uma
das 100 invasoras mais problemáticas do planeta. Nas áreas
invadidas, promovem a erosão do solo, facilitam a invasão por
plantas exóticas, predam vegetais e animais, interferem na oferta
de alimentos para espécies nativas, afetam cultivos e criações, e são
Fig. 13.2
reservatório de um grande número de doenças compartilhadas com
outras espécies, incluindo a espécie humana.
Lebre europeia (Lepus europaeus)
É uma espécie exótica invasora na América do Sul, intro-
duzida na Argentina em 1897. No Brasil, segue em expansão geo-
gráfica, já ocupa o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São
Paulo e Minas Gerais. No RS a lebre europeia já é encontrada em
todas as regiões, e pode ser a espécie de mamífero de médio por-
te mais comum em algumas áreas agrícolas. Em diversos países é
considerada como praga agrícola, ameaça à biodiversidade, ou re-
curso para caça. Dada esta situação, e considerando ainda que está
estabelecida no Estado há pelo menos 50 anos, provavelmente não
é factível extirpar a espécie. Por outro lado, o manejo adequado e
contínuo, dirigido a ambientes e regiões mais vulneráveis pode ser
capaz de manter sua abundância em níveis abaixo dos considera-
dos de grande impacto para a agricultura e para a biodiversidade.
Cervo Chital (Axis axis)
É uma espécie originária do Leste da Eurásia e foi introduzi-
da em diversos continentes. Ocorre em vida livre nos países limítro-
fes com o RS (Argentina e Uruguai), além do Chile e Peru. A invasão
dos Campos Sulinos gaúchos é recente, incluindo a expansão de
populações estabelecidas no Uruguai e Argentina, e a introdução
intencional e clandestina. Os impactos negativos associados ao
estabelecimento desta espécie incluem danos aos cultivos de hor-
tigranjeiros, retardo do crescimento de árvores pela ingestão de
Animais invasores
nos Campos Sulinos
#
# Igor Coelho
[Fig. 13.2A]
#
# Diogenes Machado
[Fig. 13.2B]
#
# Thilanka Perera
[Fig. 13.2C]
#
# Tiago Santos
[Fig. 13.2D]
A
Javali
Sus scrofa
B
Lebre europeia
Lepus europaeus
C
Cervo Chital
Axis axis
D
Rã-Touro
Lithobates catesbeianus
138
brotações, comprometimento da regeneração de florestas pela in-
gestão de brotos e frutos e ameaça à sobrevivência de cervídeos na-
tivos por competição. Quando ocorre em altas densidades popula-
cionais, pode se tornar uma praga para a agricultura e silvicultura.
Rã-touro (Lithobates catesbeianus)
É uma espécie originária do Leste da América do Norte
que foi introduzida no Brasil na década de 1930, quando 300
casais foram transportados para o Rio de Janeiro, com o objetivo
de instalar uma criação para comercialização de sua carne para
consumo humano. Caracteriza-se pelo grande tamanho, os
adultos variam de 8 a 20cm de comprimento total. Em ambientes
invadidos, o consumo de inúmeros grupos de animais (ex.
caranguejos, besouros, mamíferos, peixes) tem sido registrado
na dieta da espécie, o que a caracteriza como generalista. Na
fase larval, a rã-touro pode competir por alimento com girinos
de espécies nativas e ocasionar a diminuição do crescimento,
aumento do tempo de desenvolvimento e diminuição da massa na
metamorfose em girinos de outras espécies. A rã-touro apresenta
um período prolongado de reprodução, alta fecundidade, rápida
maturação sexual e melhor desempenho metabólico em climas
tropicais e subtropicais. Devido a essas características biológicas,
é considerada uma espécie com alto potencial de invasão.
Quais são as principais
consequências da invasão?
O avanço de uma espécie exótica invasora sobre ambientes
naturais pode provocar mudanças na biodiversidade nativa e no
funcionamento dos ecossistemas. As espécies invasoras podem
ameaçarasnativasporcompetiçãooupredação,ouporalteraremas
condiçõesambientais.Podemalterarofuncionamentodeprocessos
como a recarga dos aquíferos, a evapotranspiração, a produção de
biomassa,aprobabilidadedeincêndios,aestruturafísicaequímica
do solo, a química da água, a erosão, a movimentação de dunas,
a deposição de sedimentos, entre muitos outros efeitos possíveis.
Em alguns casos, estas alterações são consideradas benéficas do
ponto de vista humano, por que tornam o ambiente agradável ou
por que permitem ganhos econômicos. Porém, em geral, se ignora
a ameaça que estas introduções de espécies podem representar
para as nativas e o potencial das espécies nativas de proporcionar
os mesmos benefícios. Além disso, frequentemente, em pouco
tempo, os benefícios inicialmente percebidos se transformam em
problemas dificilmente reversíveis.
Nos Campos Sulinos um dos efeitos mais importantes da in-
trodução de pastagens exóticas é a redução da riqueza de espécies
nativas na área invadida, que pode diminuir a riqueza e abundância
de plantas palatáveis e nutritivas do sistema, e consequentemente
afetar a produtividade vegetal e animal. Consequentemente, algu-
mas espécies exóticas podem alterar fortemente a estrutura da vege-
tação, causando perdas de habitat para outras espécies.
Como prevenir e controlar os danos
causados pelas espécies invasoras?
A prevenção e o controle das invasões têm como principal
objetivo evitar ou reduzir os danos que podem causar. Uma vez
que uma espécie invasora se estabeleceu com sucesso em uma
nova área, é muito difícil controlar sua expansão. Desta forma, a
prevenção, a detecção e a erradicação precoce das invasoras, são
as melhores estratégias para prevenir os danos. Neste sentido, é
muito importante alertar a população sobre a importância e as po-
tencialidades das espécies nativas e sobre os riscos da introdução
de espécies invasoras nos ecossistemas. As ações preventivas
mais importantes incluem regulamentar as introduções intencio-
nais, evitando que espécies reconhecidamente invasoras tenham
sua importação permitida, fiscalizar e monitorar as principais por-
tas de entrada acidental de espécies, como portos, aeroportos e
fronteiras, e manter os ambientes naturais conservados ou ade-
quadamente manejados, diminuindo assim sua suscetibilidade. O
controle pode incluir ações diretas, de redução da natalidade ou
aumento da mortalidade das populações invasoras, ou indiretas,
modificando o manejo dos ambientes para favorecer as espécies
nativas e inibir as invasoras.
139
Cervo Chital
(Axis axis)
#
# Thilanka Perera
140
141
Chasque, Dilermando
de Aguiar, RS
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
143
Capítulo 14
cuidar e fazer diferente
Fernando Luiz Ferreira de Quadros, Émerson Mendes Soares,
Leandro Bittencourt de Oliveira & Cláudio Marques Ribeiro
Além de ser fonte de renda e de trabalho, a pecuária re-
alizada nos campos nativos representa uma forma importante de
preservar culturas regionais. Entretanto, essa atividade econô-
mica tem perdido espaço pela conversão de campos nativos em
lavouras, silvicultura e pastagens cultivadas. Um dos fatores dessa
conversão tem sido a baixa produtividade da pecuária em campos
nativos, tornando-a menos competitiva em relação a outros usos da
terra. Neste capítulo mostramos que é possível, através de um ma-
nejo pastoril mais adequado, aumentar a produtividade dos cam-
pos nativos e assim tornar a atividade mais competitiva e ao mesmo
tempo propiciar a conservação da biodiversidade dos campos.
Destacam-se entre os atores produtivos, os pecuaristas
familiares,sejamprodutoresdebovinosdecorte,leiteouovinos.A
pecuária familiar em campo nativo, diretamente dependente dos
recursos naturais, tem ficado à margem dos avanços tecnológicos
e esquecida pelos setores voltados à extensão rural (1).
Esse baixo uso de tecnologias, bem como a não integração
com cultivos agrícolas altamente consumidores de insumos ex-
ternos, caracterizam os sistemas baseados em campo nativo (2). A
ineficiência desses sistemas pecuários é fruto da combinação da
idade elevada das novilhas ao primeiro acasalamento (acima de
três anos) e baixa taxa de natalidade. Além disto, a pressão pela
manutenção de estoques bovinos elevados nos campos nativos,
como reserva financeira de pecuaristas com baixo nível de capi-
talização, tem contribuído para um processo crescente de degra-
dação dos campos.
No Rio Grande do Sul, o percentual de novilhas entre dois
e três anos de idade é de 7,7% do rebanho total, correspondendo
a 958 mil novilhas. Além dessas, as novilhas entre um e dois
anos representam aproximadamente 1,6 milhão de cabeças (13%
do rebanho) (3). Considerando a lotação média de 445kg de peso
vivo por ha no Rio Grande do Sul (2) e considerando novilhas
entre dois e três anos com cerca de 290kg, são utilizados em
torno de 600 milha (5% da superfície pastoril do Estado) para
manter esta categoria nas propriedades, sem alcançar o objetivo
de produzir terneiros. Mas, afinal, porque essa categoria não
é acasalada aos dois anos de idade? O principal fator desta
ineficiência é o baixo nível alimentar entre o desmame e os dois
anos de idade das novilhas, resultando em atraso de um ano no
seu acasalamento.
Cerro do Jarau, RS
#
# Valério Pillar
144
A biodiversidade dos campos nativos do Rio Grande do
Sul é amplamente reconhecida e raramente encontrada em ou-
tros ecossistemas pastoris do planeta. Ao mesmo tempo em que
valoriza e enriquece esse ambiente, essa diversidade estabelece
uma complexa relação dos organismos vegetais (gramíneas, prin-
cipalmente) com a maneira de realizar o manejo pastoril. Assim,
talvez a grande dificuldade para a preservação e produção neste
ambiente altamente heterogêneo seja, justamente, a falta de co-
nhecimento sobre as espécies vegetais que o compõem. Por exem-
plo, dentro de uma mesma propriedade, podem existir grandes
diferenças na composição florística entre áreas, indicando que
seu manejo não necessariamente deveria ser o mesmo. Assim, é
justamente essa diversidade e heterogeneidade que se reflete no
potencial bastante variável de produção de pasto (3.000 a 10.000
kg anuais de matéria seca por hectare). Esse fato, por exemplo,
inviabiliza a proposta de utilização de uma taxa de lotação (kg de
peso vivo) fixa ao longo do ano (4) e dificulta o uso do ajuste da
oferta preconizado por outros autores (5).
Nesse sentido, compreendendo a heterogeneidade dos cam-
pos nativos, as plantas poderiam ser agrupadas em tipos funcio-
nais de acordo com as características de suas folhas (atributos
foliares) (6). A utilização desse agrupamento, principalmente das
gramíneas, pode auxiliar no manejo em cada área (potreiro), tor-
nando-o menos complexo para o produtor. A escolha das gramíne-
Espécies
representativas dos
tipos funcionais
#
# Fernando Quadros
[Fig. 14.1A,C]
#
# Sérgio Bordignon
[Fig. 14.1B]
#
# Ilsi Boldrini
[Fig. 14.1D]
Tipo A
Grama tapete
Axonopus affinis
Tipo B
Grama de forquilha
Paspalum notatum
Tipo C
Capim caninha
Andropogon lateralis
Tipo D
Barba-de-bode
Aristida jubata
Fig. 14.1
as para esse agrupamento deve-se ao fato destas serem dominan-
tes nos campos nativos. Além disso, as gramíneas são as espécies
predominantemente pastejadas pelos bovinos/ovinos, constituin-
do sua principal fonte de alimentação. Assim, alguns autores (6)
propuseram agrupar espécies que possuem atributos foliares se-
melhantes em um mesmo tipo funcional (espécies com caracterís-
ticas das suas folhas semelhantes).
Para fins de manejo foram identificados (6) os seguintes
tipos funcionais: Tipos A (ex.: Axonopus affinis; grama tapete) e B
(ex.: Paspalum notatum; grama de forquilha) os quais são capazes
de aproveitar água, nutrientes do solo e a luz mais rapidamente do
que os tipos C (ex.: Andropogon lateralis; capim caninha) e D (ex.:
Aristida laevis; barba-de-bode-alta), que são mais lentos nesse
processo(Figura14.1).Osdoisprimeirosgrupos(AeB)caracterizam-
se por gramíneas prostradas (baixas), cujas folhas têm um período
menor de crescimento, menores teores de matéria seca e maior
área foliar específica1
(10), ou seja, esse grupo de espécies cresce
mais rapidamente e suas folhas morrem mais rapidamente. Em
consequência dessas características, as gramíneas dos tipos A e
B reciclam mais rapidamente a biomassa, os nutrientes presentes
no solo e têm maior valor nutricional para os herbívoros (por isso
chamado de grupo de captura de recursos). Dessa maneira, campos
com predominância dessas espécies podem ser manejados com
intervalos entre pastoreios mais curtos e/ou lotações mais altas.
145
Enquanto isso, os tipos funcionais C e D caracterizam-se
por gramíneas que formam touceiras, cujas folhas crescem por
mais tempo, maior teor de matéria seca e menor área foliar espe-
cífica (7). Ou seja, esse grupo de espécies cresce mais lentamente,
porém como as folhas duram mais, essas espécies podem acumu-
lar uma maior reserva de pasto (por isso chamado de grupo de
conservação de recursos). Entretanto, esse pasto acumulado pos-
sui um menor valor nutricional e, consequentemente, não é se-
lecionado pelos animais. Assim, para sua persistência na pasta-
gem, esse grupo exige intervalos entre pastejos mais longos para
que possa, assim, expressar seu potencial de acúmulo de pasto
(pois possuem uma lenta reciclagem de tecidos e nutrientes). A
importância desse grupo está relacionada à sua função ecoló-
gica de proteger as espécies de baixo porte que se estabelecem
junto às suas touceiras, garantindo assim a manutenção de uma
maior diversidade; e também serve como reserva de pasto para
utilização em períodos de escassez e/ou períodos estratégicos.
A utilização dessas características anteriormente citadas
foram propostas como referências para o manejo do campo na-
tivo em pastoreio rotativo2
(8). O ritmo de crescimento foliar das
gramíneas é regulado pela temperatura do ambiente, ou seja,
considerando o acúmulo diário de temperatura (ºC) podemos es-
timar quanto uma folha cresce (9). Desta forma, se conhecemos as
espécies predominantes em um determinado potreiro, podemos
usar o acúmulo de temperatura como critério para estabelecer o
intervalo entre pastejos no campo nativo. Esse manejo pode per-
mitir a máxima taxa de formação de folhas das espécies nativas,
respeitando o seu ritmo de crescimento, possibilitando sua utili-
zação racional e, além disso, propiciar aos animais quantidade e
qualidade de alimento adequados.
Nesse sentido, foi avaliada a produção animal em um
campo nativo típico da Depressão Central do Rio Grande do Sul,
manejado com dois critérios de intervalos térmicos de descanso
entre pastejos. Os dois tratamentos foram avaliados em Santa
Maria durante quatro anos pelo Laboratório de Ecologia de Pas-
tagens Naturais (LEPAN) da UFSM (8). Em um desses foi adotado
um intervalo entre uso dos potreiros equivalente ao acúmulo de
375graus-dia3
(para privilegiar gramíneas dos tipos A e B, com
crescimento mais rápido); no outro foi utilizado um intervalo
entre pastejos de 750graus-dia (para privilegiar gramíneas dos
tipos C e D, com crescimento mais lento). Para o tratamento de
375graus-dia, cada área de campo (3,5 ha) foi subdividida em sete
parcelas para a rotação dos animais; no tratamento 750graus-dia
cada área de campo (4 ha) foi subdividida em oito parcelas de
0,5ha cada. É importante ressaltar que a rotação dos animais en-
tre as parcelas é realizada de acordo com a temperatura acumula-
da e considerando o quanto estão crescendo as plantas predomi-
nantes naquela área, e não de acordo a um período fixo em dias.
Esse experimento foi utilizado para avaliar o desempenho
de novilhas no campo nativo manejado como acima descrito. Esse
manejo visou avaliar a possibilidade de aumentar a eficiência de
colheita de forragem em campo nativo com uma considerável taxa
de lotação usando uma categoria de animais jovens que é sensível
à qualidade do pasto. Concomitantemente, possibilita manter um
considerável estoque de bovinos em pequenas áreas de campo na-
tivo. Obviamente, apenas a manutenção dos animais não seria váli-
da sem que fossem proporcionadas condições de desenvolvimento
corporal e reprodutivo para entrada dos animais na vida reproduti-
va aos dois anos de idade (Tabela 14.1).
Tabela 14.1: Desempenho de novilhas de corte em campo nativo
manejado sob pastoreio rotativo, utilizando diferentes intervalos
de descanso entre os pastejos, na primavera/verão (outubro à
abril) (Santa Maria, RS).
Intervalos
(graus-dia)
Anos
Ganho médio diário
(g/animal/dia)
Carga
animal
(UA/ha)3
Ganho
por área
(kg de PV/ha)4
375
2010/11¹ 280 4,4 565
2011/12² 410 1,9 244
2013/14¹ 270 2,6 410
750
2010/11¹ 180 4,4 283
2011/12² 310 2,0 206
2013/14¹ 290 2,6 371
Médias 300 3,0 346
1) Anos com chuvas normais; 2) Anos com chuvas abaixo da média;
3) UA: unidade animal com 450 kg de peso vivo (PV); 4) Avaliações por 150 a 180 dias.
146
Os dois intervalos entre pastejos supracitados (375 e
750graus-dia) foram avaliados tanto no período frio (entre maio
e setembro) como no restante do ano. No período de primavera-
verão e parte do outono (outubro a abril), os animais manejados
apresentaram, na média dos dois intervalos entre pastejos, um
ganho médio diário por animal de 300 g/dia e, além disso, a pos-
sibilidade de manutenção de taxas de lotação médias de três uni-
dades animais (UA)/ha (1.350kg peso vivo (PV)/ha) e uma produ-
ção total por área de 346kg de PV/ha.
No período mais frio do ano (entre os meses de abril e iní-
cio de setembro), com menor crescimento do pasto, os potrei-
ros foram manejados seguindo o mesmo critério. Entretanto, as
novilhas receberam, além do pasto nativo, diferentes tipos de
suplemento, na proporção de 0,5% do peso vivo (estima-se que
represente a quarta parte do seu consumo potencial de alimen-
to). Através desse manejo foi possível manter o ritmo de cres-
cimento individual dos animais (300g/dia), evitando que os
animais deixassem de ganhar peso (ou até mesmo perdessem)
durante o inverno. Entretanto, pelo menor crescimento do pasto
(temperaturas mais baixas) a taxa de lotação mantida foi de 1,7
UA/ha; 765kgPV/ha, e a produção total por área foi de 116kg de
PV/ha (Tabela 14.2).
Mesmo que o crescimento animal individual tenha sido
discreto (ao redor de 300g/dia), as alternativas de manejo propos-
tas possibilitaram que o crescimento dos animais fosse contínuo
(sem oscilações negativas no decorrer do ano). Essa manutenção
de ganhos possibilita, concomitantemente, que as novilhas al-
cancem o desenvolvimento corporal e a maturidade reprodutiva
necessária para o seu acasalamento aos dois anos de idade. Além
disso, as altas taxas de lotação possibilitaram um ganho de peso
por área 2,5 vezes superiores aos resultados registrados no Rio
Grande do Sul nas melhores combinações de oferta de forragem
em pastagem natural sob pastejo contínuo (5; 9; 10).
Somando os resultados do período de crescimento (prima-
vera/verão) com os resultados da estação fria (outono/inverno) a
produção animal anual foi de 462kg de peso vivo/ha. Esse valor re-
presenta mais de seis vezes os valores médios obtidos pela pecuária
tradicional realizada no Rio Grande do Sul (70kg peso vivo ha/ano)
(2). Todavia, convém lembrar que o aumento de produção vegetal
e animal foi possível pela aplicação do conhecimento sobre o cres-
cimento das plantas ao manejo pastoril e, consequentemente, com
baixo investimento de capital financeiro.
As novilhas foram avaliadas quanto ao seu desenvolvimento
reprodutivo e, posteriormente, acasaladas. Nas duas estações re-
produtivas, a taxa de prenhez média foi de 85% (11; 12). Esses resul-
tados demonstram a viabilidade dessas alternativas de manejo de
novilhas de corte para acasalamento aos dois anos de idade.
Apresentamos aqui conceitos e propostas da utilização do
pastoreio rotativo em campos nativos. Entretanto, o fator determi-
nante para que obtenhamos sucesso ao utilizar esta alternativa, é
que quando os animais entrem nas parcelas, encontrem considerá-
velquantidadedepasto.Amassadeforragem,emmatériaseca(MS),
e altura do pasto médias quando os animais entraram nas parcelas,
na primavera/verão, foi de 3.582kg MS/ha e 15cm, respectivamente.
Para o período hibernal, a massa de forragem média foi de 4.458kg
MS/ha com uma altura média de 17cm. Dessa maneira, havia uma
considerável quantidade de pasto e com boa qualidade, quando as
novilhas entravam nos potreiros (isso foi possível porque foi respei-
tado o ritmo de crescimento das plantas através dos intervalos de
descanso) (Figura 14.2; Figura 14.3).
Intervalos
(graus-dia)
Anos
Ganho
médio diário
(g/animal/dia)
Carga
animal
(UA/ha)
Ganho
por área
(kg de PV/ha)
375
2011¹ 250 2,0 58
2012² 390 1,7 184
750
2011¹ 290 1,5 48
2012² 440 1,7 174
Médias 300 1,7 116
1) Grão de milho, 1,2kg/animal/dia; 2) Farelo de trigo + glicerol, 1,3kg/animal/dia.
Tabela 14.2: Desempenho de novilhas de corte suplementadas
em campo nativo manejado sob pastoreio rotativo, utilizando
diferentes intervalos de descanso entre os pastejos, no outono-
inverno (maio à setembro) (Santa Maria, RS).
147
Essa alternativa de manejo pastoril tem sido empregada com
sucesso em propriedades na região do Alto Camaquã (EMBRAPA/
CPPSul), e tem sido facilmente apropriada pelos pecuaristas fami-
liares nos seus sistemas de produção. Mais recentemente, a EMATER
Regional Centro tem contribuído para difusão dessa tecnologia, que
pode num futuro próximo, proporcionar uma nova perspectiva para
a produção pecuária baseada em campo nativo.
Se essa alternativa fosse aplicada nos sistemas de produção
do RS, cerca de 1,6 milhão de novilhas com até dois anos poderiam
ser criadas em cerca de 194 milha de campos nativos preservados,
que corresponde a pouco mais de 4% da área remanescente de cam-
pos nativos do Estado. Dessa maneira, os cerca de 600mil ha neces-
sários para manter as novilhas entre dois e três anos seriam utiliza-
dos com outras categorias animais, como vacas de cria e novilhos,
capazes de oferecer retorno econômico direto para os produtores,
com reflexos positivos no mercado de bovinos de corte do Estado.
Para a preservação dos campos nativos é essencial reco-
nhecê-los como ecossistemas de ampla diversidade e serviços
ambientais prestados à população. O conhecimento das carac-
terísticas das plantas e, consequentemente, do seu crescimento,
aliado às necessidades dos animais de criação permite um mane-
jo pastoril que propicie o convívio harmonioso de uma ativida-
de econômica rentável com a conservação de um patrimônio
ecológico e cultural para as futuras gerações.
Disponibilidade
de pasto na entrada
(direita da foto) e
saída dos animais
(esquerda da foto)
#
# Fernando Quadros
Detalhe da
disponibilidade
de pasto na entrada
(direita da foto) e
saída dos animais
(esquerda da foto)
#
# Fernando Quadros
Fig. 14.2
Fig. 14.3
NOTAS
1. Área foliar específica é medida pela razão (cm2
/g) entre área
foliar e massa seca de uma amostra de folhas coletadas.
2. Sistema de manejo pastoril em que a área é dividida em um
certo número de parcelas cercadas (potreiros); cada parcela é
pastejada por poucos dias, após os animais passam para outra
parcela, permanecendo a primeira em recuperação, sem animais
até o próximo período de pastejo, e assim sucessivamente.
3. A soma térmica, em graus-dia, é obtida somando-se a
temperatura média de cada dia em ºC. No verão, uma soma
térmica de 375 graus-dia poderá ser atingida em cerca de 18 dias.
148
149
Lupinus paranensis
#
# Sérgio Bordignon
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
151
Considerando as altas taxas de perda dos ecossistemas na-
turais, a recuperação de áreas degradadas é de grande importância
para a conservação da biodiversidade, assim como para a manuten-
ção dos diversos serviços provenientes dos ecossistemas nativos.
Na região dos Campos Sulinos, grandes áreas abertas,
originalmente cobertas por ecossistemas campestres naturais,
encontram-se hoje degradadas, seja por sobrepastejo, abandono
do manejo pastoril, entrada de espécies invasoras, ou conversão
para silvicultura ou lavoura e posterior abandono. No caso do
sobrepastejoouabandonoporpoucosanos,semhistóricodeoutros
usos, o retorno de um manejo adequado é geralmente suficiente
para a recuperação da biodiversidade campestre, e retorno da
produtividade pastoril. Nos casos de degradações mais graves, é
necessária a adoção de medidas ativas de restauração ecológica.
Em áreas de campo convertidas para agricultura ou silvicul-
tura, a capacidade de reestabelecimento da vegetação nativa origi-
nal torna-se limitada pela disponibilidade de sementes e, sobretu-
do, de estruturas subterrâneas (como bulbos ou rizomas) no solo,
que tendem a desaparecer com o uso agrícola ou para silvicultura.
Em campo nativo se observa que o rebrotamento a partir de estru-
turas subterrâneas pode ser mais importante do que a regeneração
Capítulo 15
RECUPERAçÃO DOS campos
Mariana de Souza Vieira & Gerhard Ernst Overbeck
a partir do banco de sementes, que em geral contém poucas se-
mentes das espécies típicas. Outro fator limitante, quando grandes
áreas de campo são convertidas, é o distanciamento de áreas rema-
nescentes com vegetação nativa, causando um baixo potencial de
entrada de sementes via chuva de sementes.
O uso agrícola intensivo do solo ocasiona mudanças no pH
do solo e nas suas propriedades físicas originais, ocasionando
compactação, erosão e alterações no regime hídrico local, o que
também pode dificultar a recolonização de áreas degradadas.
A recuperação da vegetação natural que foi suprimida está
prevista em lei para áreas de Reserva Legal (Lei 12.651 de 2012).
Também,arecuperaçãodeáreasdegradadassituadasemUnidades
de Conservação é essencial para a conservação da biodiversidade
nativa. E quando a recuperação extrapola os limites de Unidades
de Conservação ou Reservas Legais, os proprietários rurais podem
ter interesse em recuperar o campo nativo para o uso pastoril. Desta
forma, a recuperação de áreas campestres degradadas deve tornar-
se uma linha de trabalho importante no Sul do Brasil.
No entanto, a restauração ecológica no Brasil tem focado
quase exclusivamente a recuperação da vegetação florestal.
Faltam experiências na recuperação de ecossistemas campestres.
Cordeiros,
Caçapava do Sul, RS
#
# Ronai Rocha
152
A técnica mais utilizada na recuperação de vegetação arbórea, o
plantio de mudas, é inadequada para a restauração de campos,
onde temos que recuperar um estrato herbáceo rico em espécies.
O principal limitante atualmente é a falta de sementes de espécies
campestresnativasnomercado.Mesmocomointuitoderecuperar
o campo nativo, é impossível comprar sementes das espécies-
alvo. Assim, em muitas das tentativas de recuperação de áreas
originalmente campestres após uso como lavoura, os produtores
utilizam sementes de espécies exóticas, as quais, em alguns
casos, podem ser interessantes no ponto de vista forrageiro, mas
não são adequadas para a recuperação da biodiversidade nativa.
Algumas das plantas comercializadas atualmente são inclusive
consideradas espécies invasoras, ou seja, trazem efeitos negativos
para a biodiversidade original (por exemplo, as braquiárias).
Entre as técnicas de recuperação de campo amplamente
utilizadas e com resultados positivos em outras partes do mundo
estão: a transposição de feno de áreas conservadas de campo, que
consiste no corte da biomassa vegetal em período de produção de
sementes; o transplante de leivas do solo, que podem ser retiradas
de áreas onde haverá algum tipo de obra (por exemplo, a abertura
de estradas) para as áreas degradadas; e a remoção dos primeiros
centímetros de solo nos casos em que há um banco de sementes com
alta densidade de espécies invasoras, que podem competir com a
flora nativa e assim prejudicar a sua recuperação. A aplicabilidade
destas técnicas de recuperação ainda precisa ser testada para a
região dos Campos Sulinos. O manejo pastoril é importante e deve
ser visto como um aliado no processo de restauração, visto que o
gado pode transportar sementes no trato digestório e nos pelos, além
de controlar a estrutura da vegetação através do pastejo.
A restauração ecológica já é vista como uma atividade
que traz benefícios que vão além da recuperação da biodiversi-
dade. Ela contribui para a manutenção de processos e serviços
ecossistêmicos (veja o Capítulo 11), que são fundamentais para a
sociedade como um todo. Assim, o desenvolvimento de técnicas
para a restauração de campos degradados é prioritário para a pes-
quisa ecológica na região dos Campos Sulinos. Além disso, há ne-
cessidade de diretrizes legais mais específicas para a restauração
da vegetação campestre nativa (veja os Capítulos 16 e 17). Até o
momento, ainda não sabemos até que ponto a efetiva restauração
dos ecossistemas campestres para o seu estado original é possí-
vel, após degradação severa, o que reforça que a conservação das
áreas campestres é a melhor opção para garantir a manutenção
da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos nas diferentes fi-
sionomias dos Campos Sulinos.
Áreas originalmente
campestres na região
dos Aparados da Serra
que foram degradadas
pelo plantio de Pinus.
Sem restauração
ativa, a vegetação que
se estabelece no local
não é a vegetação
característica
da região
#
# Gerhard Overbeck
153
Campos de
Cima da Serra, RS
#
# Valério Pillar
154
155
Campos de
Cima da Serra
#
# Bianca Andrade
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
157
Além das políticas públicas, as ações de caráter individual
podem fazer a maior diferença e ajudar na conservação dos
campos. Desde as pessoas comuns, que apenas consomem carne,
até os proprietários rurais, há um conjunto de iniciativas que,
somadas, podem provocar grandes transformações positivas.
Consumo saudável e consciente
Na hora de comprar carne no supermercado ou no açougue,
você costuma verificar de onde ela veio? Talvez você nunca tenha
dado importância para isso, mas o assunto merece reflexão. Nos
supermercados,écadavezmaiscomumcompraracarneembalada.
Basta olhar na etiqueta as informações de procedência. Você
decide se irá comprar carne de frigoríficos do Mato Grosso,
Goiás ou Rondônia, ou de Alegrete, Bagé ou Santa Maria, no
Rio Grande do Sul. A diferença no preço não é tão grande assim,
mas as consequências do que ocorreu na natureza para produzir
os dois tipos de carne podem ser dramaticamente distintas. A
procedência geográfica por si só não informa como a carne foi
Capítulo 16
Cidadania e uso
sustentável dos Campos
Eduardo Vélez-Martin, Eliege Fante, Graziela Dotta,
Thaiane Weinert da Silva, Carla Suertegaray Fontana & Valério De Patta Pillar
produzida, mas pode ser indicativa, enquanto não for implantado
um sistema de rastreabilidade do rebanho e da cadeia produtiva.
A carne produzida no norte e no Centro-Oeste do Brasil costuma
ser o resultado de áreas desmatadas de Floresta Amazônica ou de
supressão do Cerrado, nas quais se plantam gramíneas exóticas
para alimentar o gado, com custo ambiental muito alto. Já a carne
produzida nos campos nativos do Sul do Brasil não destrói a
natureza e ainda por cima ajuda a conservá-la.
Além dos benefícios ambientais, o consumo de carne dos
Campos Sulinos também faz bem à saúde humana. A carne é
uma importante fonte de proteína, de ácidos graxos insaturados
de cadeia longa e de vitamina B12, zinco e ferro. Quando a dieta
dos animais é baseada em múltiplas espécies herbáceas nativas,
a carne além de mais saborosa, torna-se mais nutritiva e saudável.
Isto ocorre porque as gramíneas contêm alta proporção de ácido
linolênico, um ácido graxo insaturado do tipo ômega 3. Quando os
animais ingerem o pasto, aumenta a proporção de ácidos graxos
ômega 3 na gordura intramuscular. Estudos têm demonstrado que
os ômega 3 têm função protetora contra doenças cardíacas, câncer
e diabete tipo 2, sendo importante aumentar a sua concentração
Para que lado,
compadre?
#
# Ronai Rocha
158
Participantes do
VI Encuentro de
Ganaderos de
Pastizales del Cono
Sur, realizado em
2012, Cayastá, Santa
Fé, Argentina.
na dieta humana e, ao mesmo tempo, reduzir a concentração de
ácidos ômega-6. Além da carne, o leite de animais alimentados a
pasto tem maior concentração de ácido linoléico conjugado (CLA),
o qual previne a obesidade e tem efeito anticancerígeno (1,2).
Apostar na pecuária em campo
nativo como principal atividade
A conservação dos campos em larga escala só é possível
com a decisão individual e voluntária de cada proprietário rural,
seja ele pequeno, médio ou grande, em seguir com a atividade
pastoril. Quando muitos resolvem trocar a pecuária pela agricul-
tura, a paisagem vai se transformando radicalmente e a biodi-
versidade campestre sucumbe. Entretanto, muitos proprietários
rurais pensam no longo prazo e percebem que a pecuária, por ser
a atividade mais vocacionada para a região dos Campos Sulinos,
garante maior estabilidade frente aos extremos climáticos e às os-
cilações nos preços dos grãos e dos insumos que tendem a ocorrer
ao longo dos anos. Os investimentos em agricultura e silvicultura,
quando ocorrem, são feitos em pequena escala, como estratégia
de diversificação da produção econômica no estabelecimento ru-
ral. Conforme apresentado no Capítulo 12, as lavouras de soja e
milho não são atualmente mais rentáveis do que a atividade pas-
toril realizada em campo nativo usando manejo adequado.
Desde 2007, centenas de pecuaristas de campos nativos da
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e que compartilham dessa
visão, reúnem-se anualmente, articulados em torno da iniciativa
Alianza del Pastizal (http://www.alianzadelpastizal.org) para
intercâmbio de práticas e experiências, juntamente com técnicos,
pesquisadores e autoridades públicas. Nessa mesma linha, o
Sindicato Rural de Lavras do Sul também promove, desde 2009, o
Seminário “O Pampa e o Gado” com temática pertinente à produção
sustentável e conservacionista. Participar desses eventos ajuda a
fortalecer o conceito e a prática da pecuária sustentável.
Manejo conservacionista
Além de favorecer a produção animal, o manejo conser-
vacionista do campo traz benefícios para a biodiversidade, pro-
porcionando diferentes ambientes para a ocorrência das espécies
silvestres nativas.
Heterogeneidade na paisagem
Quando o manejador do campo ajusta a carga animal à
disponibilidade de pasto e difere potreiros para formar reserva
de forragem para períodos críticos, ou ainda melhor, quando
utiliza pastejo rotativo, que permite maior flexibilidade nessas
práticas, a propriedade que até então tinha o predomínio de uma
159
fisionomia única e homogênea, se transforma em um mosaico de
campos com diferentes alturas.
A existência de um gradiente de estratificação, com man-
chas de campo alto e denso - inclusive com presença de vegeta-
ção arbustiva em um extremo, até locais com vegetação bastante
baixa – com presença de plantas com arquitetura rasteira ou em
forma de roseta, beneficia um grande número de animais, espe-
cialmente as aves que, por conta da sua morfologia e comporta-
mento, dependem de condições ambientais distintas.
Várias ações auxiliam nessa empreitada (3). Aumentar o
número de potreiros, utilizar cercas elétricas móveis, fazer roça-
das em manchas menores e alternadas, manter cercadas e isola-
das do pastejo pequenas áreas mais sensíveis (trechos de mar-
gens de sangas e açudes, barrancos, zonas pedregosas), ajustar a
localização de pontos de atração dos animais (aguadas, saleiros,
sombras) para aumentar ou diminuir a intensidade de pastejo em
algumas zonas de cada potreiro, promover a rotação do pastejo
intenso e concentrado em áreas menores, dentre outras.
Heterogeneidade de plantas e de habitats
Quanto maior o número de espécies de plantas no campo,
maiores as possiblidades de interações biológicas, o que beneficia
toda a biodiversidade. A presença de plantas com diferentes
formas e fisiologias otimiza a capacidade de recuperação dos
campos quando expostos a situações extremas (secas, queimadas,
inundações, dessecamentos por herbicidas, etc.).
Para promover essa diversidade é importante olhar para a
pastagem natural e reconhecer as principais espécies presentes. Por
quais ambientes elas demonstram preferência, os mais úmidos ou os
mais secos? Locais com solos rasos ou profundos? E assim por diante.
Também é fundamental observar que o gado seleciona ati-
vamente o seu alimento e isso condiciona radicalmente a compo-
sição de plantas no campo. Dependendo do manejo pastoril, com
o tempo as plantas de melhor qualidade forrageira podem ceder
espaço para o predomínio de espécies pouco palatáveis. Por isso,
uma das ações mais efetivas para manter a diversidade de espé-
cies e a qualidade forrageira do pasto é, através do ajuste da car-
ga animal e do manejo rotativo, estimular o gado a utilizar todo
o leque de espécies presentes, incluindo aquelas que aparente-
mente não são de sua preferência alimentar. Sabe-se que o gado
criado em campos heterogêneos e com muitas espécies de plantas
aprende a aproveitar melhor essa diversidade de alimento, o que
não acontece se esses animais forem criados quando jovens em
pastagens plantadas, homogêneas, sem ter acesso a esse aprendi-
zado social, que acontece sobretudo com suas mães (4).
Além de conhecer as plantas do campo e controlar a herbi-
voria seletiva do gado, a receita para um bom manejo do campo se
completa com a prática do diferimento (a exclusão do gado por de-
terminados períodos). A manutenção de potreiros sem pastejo nos
períodos críticos para o desenvolvimento da vegetação e produção
de sementes, permite não apenas assegurar a oferta de forragem,
mas beneficiar determinados grupos de plantas.
Nos Campos Sulinos, a maioria das gramíneas têm o pico de
crescimentoereproduçãonofinaldaprimaveraenoverão,enquanto
que um grupo menor, denominado de espécies hibernais, crescem
bem no inverno-início da primavera, justamente quando a oferta
de forragem é mais baixa. Estas espécies são grandes aliadas do
produtor rural no período mais crítico da produção animal, em que
o gado chega a perder peso. Para assegurar a sua presença em boa
proporção deve-se evitar o pastejo e as queimadas no período em
que florescem e produzem sementes.
outras ações de manejo da
vegetação campestre:
Introduzir sementes de espécies nativas
No Brasil, com raras exceções, não existem sementes de es-
pécies nativas disponíveis no mercado. Uma alternativa é coletar
no campo as sementes das espécies de interesse. Isso pode ser feito
manualmente, ou de forma mecanizada, roçando as partes aére-
as do campo na época em que essas espécies produzem sementes,
lançando o material coletado diretamente nas áreas que se preten-
de incrementar a diversidade. O material roçado pode ser arma-
zenado em fardos para distribuição em outros períodos do ano. O
160
se não forem controladas, podem tomar conta do campo. O
importante é fazer o controle quando as populações ainda são
pequenas. O produtor rural pode fazer roçadas ou confinar tem-
porariamente o gado, com o uso de cerca elétrica, nas áreas
com maior densidade de arbustos. Em alguns casos, as espécies
podem ser tóxicas e a eliminação seletiva é uma alternativa a
considerar. O pastejo por ovinos ou caprinos também pode ser
utilizado complementarmente, já que estes animais também se
alimentam de espécies arbustivas.
Controlar plantas exóticas invasoras
Estas espécies representam um grande risco para os campos
nativos. Por serem oportunistas, tendem a ocupar rapidamente as
áreas com solo exposto, decorrentes de campos submetidos ao so-
brepastoreio, ou de abandono de áreas de agricultura. Submeter
animais oriundos de áreas contaminadas a períodos de quarentena
evita a propagação de sementes pelo esterco (6). É fundamental que
sua presença seja monitorada constantemente e o controle seja feito
logo no início da colonização. Quando a área ocupada aumenta, o
controle torna-se cada vez mais difícil e oneroso. Muitas das técni-
cas utilizadas para controle das plantas arbustivas podem ser utili-
zadas, sempre levando em conta que também devem ser emprega-
das ações que favoreçam a recolonização pelas espécies nativas.
Atividades econômicas
alternativas para os campos
Os estabelecimentos rurais dedicados à pecuária susten-
tável têm maiores possibilidades de explorar atividades eco-
nômicas complementares. Atividades como o turismo rural,
o turismo ecológico e a observação de aves podem ser consor-
ciadas em locais com campos e paisagens diversificadas. Além
disso, a apicultura, a produção de plantas medicinais e de plan-
tas ornamentais, a produção comercial de sementes nativas e
o desenvolvimento de cosméticos, fitoterápicos e fármacos são
outras possibilidades que precisam ser incentivadas e melhor
exploradas nos Campos Sulinos.
Campo com vegetação
heterogênea onde
coexistem plantas
com distintas
arquiteturas
#
# EduardoVélez
gado também pode ser utilizado para esta função; para isso deve
ser colocado para pastejar nas áreas fonte, onde estão as plantas
com sementes maduras, e depois direcionado para as áreas de in-
teresse, onde irá defecar, dispersando as sementes ingeridas (5).
Manter touceiras altas,
arbustos e plantas espinhentas
Além da diversidade de fisionomias entre os potreiros,
a heterogeneidade dentro do potreiro, com plantas mais altas e
mais baixas, isoladas ou agrupadas em pequenas manchas com
touceiras, arbustos e plantas espinhentas, como os gravatás,
garante maior variedade de habitats para a fauna, incluindo
locais de refúgio e reprodução. Manter pequenas ilhas deste tipo
de vegetação funciona como um reservatório genético. Ao serem
evitadas pelos herbívoros, facilitam a presença de outras plantas
que conseguem produzir maior número de sementes.
Controlar o excesso de
plantas lenhosas arbustivas
O manejo inadequado ou determinadas condições am-
bientais podem levar ao aumento de espécies arbustivas que,
Queimada em
vegetação campestre
#
# Valério Pillar
Em algumas regiões, como nos campos de altitude do RS, SC e
PR, o fogo tem sido amplamente utilizado como uma técnica
para eliminar o excesso de biomassa seca das gramíneas, no fim
do inverno, e com isso estimular o rebrote de folhas verdes, na
primavera. Em outras regiões, é utilizado de forma mais comedi-
da e direcionada para o controle de espécies arbustivas.
Dependendo da forma com que é praticada a queimada no campo,
ela pode ser muito prejudicial ou até mesmo benéfica. O seu uso é
muitocontroversoevirouumaespéciedetabu.Alegislaçãoambien-
tal regula esta prática que só pode ser empregada de forma limitada
e mediante uma autorização emitida pelo órgão ambiental.
Pesam contra as queimadas o aumento nas emissões deCO2
, a dete-
rioraçãodecaracterísticasdosoloeareduçãodopotencialprodutivo
da vegetação campestre (7), ao impedir a sementação das espécies
hibernais e promover a abundância de espécies pirófilas, de menor
valorforrageiro.Asqueimadasintensastambémprejudicamafauna.
Estudos com aves nosCampos deCima daSerra, no RS, indicam que
as queimadas, entre agosto e setembro, têm um impacto negativo
sobreareprodução deaves campestres edebordadebanhado(8,9).
A polêmica sobre o uso do fogo nos campos
Por outro lado, queimadas controladas podem ser benéficas
para a biodiversidade (10,11). Em algumas situações ocorre um
acúmulo excessivo de massa vegetal seca, de baixa qualidade
forrageira. Essa camada homogênea, de pasto seco, impede que
a luz chegue ao nível do solo, eliminando as plantas dos estra-
tos inferiores. Em períodos de seca, a presença dessa biomassa
aumenta o risco de incêndios catastróficos e descontrolados. A
queimada permite eliminar rapidamente essa biomassa indese-
jada, fazendo com que muitas espécies rebrotem ou germinem
a partir do banco de sementes, recompondo a diversidade de
espécies de plantas do campo.
Portanto, a queimada não é um problema, mas o contexto e a
forma como é praticada. Quando utilizada como prática rotinei-
ra para facilitar o rebrote da vegetação, acaba sendo contrapro-
dutiva. Os índices de produção animal alcançados por esse tipo
de manejo são baixos e pouco competitivos. Afinal de contas, a
biomassa que é queimada poderia muito bem ter sido utilizada
para alimentar o gado, caso o ajuste de carga animal fosse utili-
zado para impedir o desperdício de forragem.
161
162
Diferimento na propriedade
de Fernando Adauto,
Lavras do Sul, RS
#
# Valério Pillar
163
O avanço da fronteira agrícola, além de transformar as práticas
campeiras como a lida com os animais e as atividades produtivas,
interferiu na paisagem, nos hábitos e nas rotinas das famílias ru-
rais com tradição na atividade pastoril de produção pecuária. Elas
perceberam o desaparecimento de espécies vegetais assim como
de tatus, de emas e outros animais nativos dos campos. Mas,
apoiadas pela pesquisa, as famílias que resistiram ao modelo eco-
nômico vigente ampliaram o seu rol de argumentos em favor da
pecuária através do conhecimento sobre a biodiversidade e for-
mas possíveis de manejos sustentáveis. Apresentamos a seguir,
dois pecuaristas e as suas experiências bem sucedidas tanto na
pequena quanto na grande propriedade.
“A conservação significa muito, fazia horas que não víamos um
campo com tanto pasto e os bichos comendo de boca cheia;
cada vez o campo nativo tem mais força,” disse Irene Pereira
Franco. Ela é a irmã de Decio Pereira Franco, mais conhecido
como Decinho; juntos administram 170 hectares na localidade de
Guaritas em Caçapava do Sul (RS). A criação de ovelhas há quase
50 anos e a qualificação para o registro de reprodutores da raça
Ideal há mais de 30 anos, os credencia a defender a ovinocultura
como a principal atividade em campo nativo.
Na maior área contínua de vegetação natural no bioma Pampa
(RS), a pecuária conservacionista é o modelo sustentável.
Sustentável porque o manejo do pastejo faz a diferença na pro-
dutividade em campo nativo desde a composição de espécies,
potencial da forragem e os serviços ambientais.
“Aqui na região da Campanha a visão tem que ser no longo pra-
zo.” Os irmãos admitem que a lida no campo com as ovelhas dá
tanto trabalho quanto com o gado, mas dizem que os lucros obti-
dos podem ser até mais interessantes ao pecuarista. “Em um hec-
tare onde pasta uma vaca, pastam cinco ovelhas; a vaca leva três
anos para produzir, o cordeiro nasce em cinco meses de gestação
e com seis ou sete meses de idade se vende para o corte. Não tem
nada que dê mais dinheiro em propriedade pequena do que ove-
Experiências inovadoras de uso
sustentável dos Campos Sulinos
lha,” afirmou.Os números justificam: em 2013, Decinho vendeu o
quilo de lã a R$10,50 em média, e o quilo vivo do cordeiro entre
R$4,50 e R$5,00.
“A vida é mais tranquila na Campanha porque trabalhamos para
a gente, fazemos o que gostamos e sabemos que estamos fazen-
do certo”, disse Irene, considerando a importância da pesquisa.
Eles participam do projeto Alto Camaquã, que entre outras ações
busca a melhoria do manejo dos campos, iniciado em 2005 pela
Embrapa e que integra pecuaristas familiares de sete municípios
naquela região. “Passamos a ter sempre um potreiro vazio, deixa-
mos o campo descansar até mais de trinta dias, e o que mais nos
incomodava, a verminose, diminuiu bastante,” disse Decinho.
Os irmãos Decio e
Irene Pereira Franco
em sua propriedade.
Caçapava do Sul, RS
#
# Eliége Fante
O conceito de conservação é constante nesta família. As ter-
ras herdadas eram da bisavó, contam que cresceram ali nas
Guaritas e a crença na ovinocultura propicia a permanência
no campo. “Tivemos anos difíceis, mas acreditamos e conti-
nuamos porque os anos bons se sucedem aos ruins, e assim a
pecuária vai se valorizando quando aliada ao campo nativo,”
referiu-se às modas econômicas como a atual sojicultura ou a
monocultura de eucaliptos.
Ainda segundo Decinho, “não mexer no campo” faz toda a dife-
rença. A principal mudança para ele foi a desistência do uso do
fogo pelos pecuaristas há cerca de 20 anos, graças à fiscalização.
“Achavam que limpava, mas piorava porque vinha mais sujeira.
O fogo queima a semente, enfraquece o solo,” explicou. A outra
mudança que deveria ocorrer é mais complexa: solução para o
abigeato. Decinho contou que mantinha 300 ovelhas, mas tem
cerca de 200 porque os furtos são frequentes.
Aliado à ovinocultura, o turismo cultural se destaca como ativi-
dade econômica naquela paisagem que, seguidamente, é cená-
rio artístico para filme ou seriado de tevê. As excursões de turis-
tas e de estudantes com os professores-pesquisadores precisam
reservar datas na agenda dos irmãos. Irene e Decinho acompa-
nham os visitantes no passeio sobre os campos e os cerros das
Guaritas, onde já foram identificadas pelo menos 40 variedades
de cactos e outras espécies de plantas endêmicas, como é o
caso da petúnia vermelha.
Competitividade para a grande propriedade
Enquanto o bioma amazônico é desmatado para desenvolver a
bovinocultura, nos Campos Sulinos a produção pecuária depende
da vegetação nativa. Por isso, dizemos que a pecuária em campo
nativo propicia a conservação e garante a sustentabilidade eco-
nômica da propriedade.
“A pecuária em campo nativo é competitiva e é rentável,” defen-
de Fernando Adauto Loureiro de Souza, que produz em média
200kg por hectare/ano de ganho de peso vivo de bovinos. “Mais
da metade da minha produção pecuária por hectare é lucro líqui-
do.Gasto pouco, apenas o essencial e, quando vendo um novilho,
mais da metade do valor dele é lucro.”
Adauto explica que a biodiversidade é o diferencial do campo
nativo. Ele contou que é a quantidade de espécies forrageiras
hibernais que valoriza o campo porque vai garantir a pastagem
no inverno. “Levamos décadas para ter campos bem manejados
sem adubar. O que destrói o campo tanto quanto o fogo é o so-
brepastoreio, porque o gado não deixa sementar,” disse. Adauto
mantém um rebanho de 1.300 bovinos, 50 equinos e 300 ovinos,
com lotação que pode chegar a 1,2 animal por hectare.
A falta de conhecimento técnico, apontou, também prejudica a ati-
vidade econômica da pecuária. Neste sentido, acredita, a pesquisa
tem grande contribuição a oferecer. “Eu gostei quando minha pro-
priedade foi escolhida pelos pesquisadores porque através dos ex-
perimentos passamos a enxergar coisas que dificilmente veríamos,”
disse sobre a FazendaSãoCrispim localizada em Lavras doSul (RS).
A principal dificuldade dos pecuaristas é vencer a falta de pasto
em certas épocas do ano, explicou, porque dela também decorre
outros dois problemas: a verminose e o carrapato. “Há quem faça
o desmame antecipado para a vaca conceber de novo. Eu nunca
fiz isso, acredito que temos que assegurar a oferta forrageira, e o
meu resultado é mais de 90% de repetição de cria.”
Além da garantia de alimento de qualidade, Adauto tem o ma-
nejo baseado em pastoreio contínuo com diferimentos – alguns
potreiros ficam sem gado temporariamente. “O diferimento que
fazemos, e quase ninguém faz, é aquele que permite formar um
banco de sementes no solo com a vantagem de não precisar mais
semear naquela área. O manejo correto nos permitiu ter áreas de
campo melhorado com a introdução de espécies de inverno, como
azevém, que estão com mais de 30 anos sem serem semeadas.” E,
para favorecer a “competitividade, segurança e eficiência ao cam-
po nativo” frente às outras culturas, como a soja, mantém 18% da
área ou 185 hectares com campo melhorado dessa maneira.
Até mesmo esta área com azevém pode ganhar descanso even-
tualmente para propiciar que sementes vinguem e se forme uma
reserva alimentar no caso de uma seca. “A seca faz parte do clima e
qualifica os campos. Em campo diferido podemos passar cem dias
sem chuva. O conceito de conservação permeia o manejo e isso é
ser campeiro, ter essa sabedoria que só se alcança com o tempo ou
com os mais antigos que conhecem a natureza do lugar.”
164
165
Caçapava do Sul, RS
#
# Eliege Fante
166
167
Final de lida
#
# Ronai Rocha
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
169
A Constituição Federal do Brasil estabelece, no Artigo 225, que
a defesa e a proteção do meio ambiente são deveres do poder público
edacoletividade.Espera-se,portanto,queaconservação e o uso sus-
tentável da biodiversidade brasileira, incluindo-se aí os campos nati-
vos,resultedeumconjuntodeiniciativaspromovidaspelosgovernos
federal, estaduais e municipais, denominadas políticas públicas.
Criação de Unidades de Conservação
AcriaçãodeUnidadesdeConservaçãoéumadasformasmais
tradicionais e efetivas de proteger a biodiversidade. Áreas conside-
radas críticas para a reprodução das espécies ou que apresentam
maior quantidade de espécies ou ecossistemas ameaçados são deli-
mitadas e passam para o domínio público, como no caso de Parques,
Reservas Biológicas e Estações Ecológicas. Existem também outras
categorias que permitem que as áreas sejam mantidas sob proprie-
dade privada, mas com limitações no uso, de modo que somente as
atividades econômicas compatíveis com a conservação da natureza
sejam admitidas. É o caso dos Refúgios de Vida Silvestre (REVIS),
Capítulo 17
Políticas públicas para os Campos
Eduardo Vélez-Martin, Luiza Chomenko, Marcelo Madeira & Valério De Patta Pillar
dos Monumentos Naturais, das Áreas de Proteção Ambiental (APAs)
e das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
No Sul do Brasil as Unidades de Conservação existentes fo-
ram estabelecidas principalmente para conservar as florestas e os
banhados. Entretanto, algumas dessas unidades abrigam exten-
sas áreas de campos. Exemplos disso são os parques nacionais
Aparados da Serra e Serra Geral (8mil ha de campos), situados no
nordeste do RS, e o Parque Nacional de São Joaquim (com mais de
8mil ha de campos), em SC.
De modo geral, os campos têm sido desconsiderados como
objetivo principal de criação de novas Unidades de Conservação.
Claro que existem algumas exceções, como no caso da APA do
Ibirapuitã (224 milha de campos), no RS, e do Parque Nacional
dos Campos Gerais (4,5 milha de campos) e do Refúgio de Vida
Silvestre Campos de Palmas (mais de 3 milha de campos), no PR.
A biodiversidade dos Campos Sulinos permanece pouco re-
presentada nas atuais Unidades de Conservação federais e esta-
duais. Para preencher estas lacunas de conservação e contemplar
a diversidade de formações campestres típicas do Sul do Brasil,
novas unidades são imprescindíveis.
Levantamento
de campo
#
# FábioTorchelsen
170
Incentivos ao uso sustentável
A pecuária extensiva praticada há cerca de quatro séculos
nos Campos Sulinos baseia-se no aproveitamento direto da vegeta-
ção nativa. Quando não há excesso de carga animal (sobrepastejo),
a flora e a fauna se mantêm em relativa harmonia com os rebanhos,
pois assim o pastejo mantém a vegetação campestre. Quando boas
práticas de manejo são implementadas, esta atividade econômica
torna-se um exemplo de uso sustentável da natureza que deveria ser
valorizado e estimulado.
Políticas específicas de apoio à pecuária sustentável e de
fortalecimento da cadeia produtiva da carne de corte procedente
de campo nativo deveriam ser estabelecidas, assegurando ao
mesmo tempo benefícios econômicos, sociais e ambientais.
Assistência técnica, crédito facilitado, incentivos tributá-
rios, diferenciação de produtos no varejo, abertura de novos mer-
cados, pagamento por serviços ambientais, correção de distorções
na relação produtor-frigoríficos-comércio varejista, dentre outras
iniciativas, deveriam ser articuladas e figurar na pauta dos ór-
gãos públicos que buscam promover o desenvolvimento e a
sustentabilidade. Na ausência destas políticas, preços altos no
mercado internacional de grãos e de celulose têm levado muitos
produtores rurais a substituir a pecuária pelos cultivos, causando
o desaparecimento dos campos nativos em muitas regiões.
Na busca de reconhecimento e diferenciação da produção
de carne produzida em campo nativo, proprietários rurais do Rio
Grande do Sul, organizados na APROPAMPA (Associação dos Pro-
dutores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional),
obtiveram em 2006 o reconhecimento oficial do INPI (Instituto
Nacional de Propriedade Industrial) da Indicação de Procedência,
uma modalidade de Indicação Geográfica prevista na Lei de Pro-
priedade Industrial (no
9.279/1996). Por conta disso, eles têm o di-
reito exclusivo de rotular a carne vendida com a designação Pampa
Gaúcho da Campanha Meridional e assim obter uma diferenciação
qualificada junto ao consumidor. Iniciativas como esta poderiam
ser implementadas em outras regiões produtoras dos Campos Suli-
nos, já que as condições locais do solo, do clima e da vegetação se
expressam no sabor e na qualidade nutricional da carne.
Vegetação campestre
no REVIS Campos
de Palmas, RS
#
# Sérgio Campestrini
Aspecto da vegetação
campestre em campo
com boas práticas.
Aceguá, RS
#
# Valério Pillar
Vegetação campestre
no Parque Nacional
da Serra Geral
#
# Valério Pillar
Há mais de 12 mil anos, quando os humanos não haviam chegado ao sul da
América do Sul, grandes herbívoros pastadores habitavam os Campos Sulinos.
Evidências fósseis testemunham a presença de cavalos ancestrais, camelídeos,
toxodontes, liptoternos, gliptodontes, pampatérios, preguiças gigantes, dentre
outros. Estes animais coevoluíram com a vegetação campestre e cumpriam um
papel ecológico fundamental. O pastejo, o pisoteio e a decomposição biológica
do pasto, representavam distúrbios e processos naturais essenciais. Eles garan-
tiam a remoção de parte da biomassa vegetal, impedindo que poucas espécies
de gramíneas, competitivamente superiores, dominassem a comunidade. Com
menor quantidade de matéria vegetal seca acumulada, diminuía o risco de in-
cêndios catastróficos, aumentava a heterogeneidade espacial da vegetação e a
diversidade de espécies vegetais era maximizada.
Mudanças no clima e a predação pelos humanos, levou este grupo de animais (me-
gafauna pleistocênica) à extinção, há cerca de 10 mil anos (1). Somente com a intro-
dução de cavalos, vacas e ovelhas, desde a colonização europeia, a vegetação dos
CamposSulinospassouacontarnovamentecomdistúrbios,emmaiorescala,deher-
bívoros pastadores. Análise do DNA em fósseis de cavalos encontrados na América
doSulindicaqueocavalodomésticopertenceàmesmaespéciequeaquiseextinguiu
(2).Portanto,ocavalonãoéumaespécieestranhaaosecossistemascampestres.
Toda vez que uma nova unidade de conservação de domínio público é criada,
uma das primeiras medidas adotadas é a remoção desses animais. Sem o pas-
tejo, a vegetação fica muito homogênea, diminui a diversidade de espécies de
plantas e muitas espécies animais não conseguem sobreviver nessas condições.
Algumas aves como as perdizes, o maçarico-do-campo e os caminheiros depen-
dem de áreas com a vegetação baixa para se deslocar, buscar alimento e nidificar.
Para evitar situações adversas como essa, os planos de manejo de Unidades de
Conservação destinadas à conservação da biodiversidade campestre deveriam
prescrever medidas que reintroduzissem a função ecológica dos grandes herbí-
voros, com a manutenção do pastejo por cavalos, vacas ou ovelhas nas áreas de
campo, complementada por pequenas queimadas controladas, de acordo com
critérios técnicos adequados ao contexto local.
Por conta disso, as categorias de Unidades de Conservação mais indicadas para
a conservação dos Campos Sulinos são os Refúgios de Vida Silvestre (categoria
de proteção integral) e as Áreas de Proteção Ambiental (categoria de uso sus-
tentável), que possibilitam a permanência das propriedades rurais dedicadas à
pecuária e, portanto, da herbivoria sobre a vegetação campestre.
O manejo dos campos em
Unidades de Conservação
Outra inciativa recente de grande potencial é o denomina-
do ICP – Índice de Conservação de Campos Nativos do Cone Sul.
Este índice é uma nota dada para cada propriedade rural em fun-
ção da contribuição dos campos nativos para a conservação, em
cada região avaliada. De iniciativa da Alianza del Pastizal, uma
coalizão de organizações e pessoas, do setor público e privado,
que mantém interesse na conservação dos campos naturais da Ar-
gentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, foi estabelecida uma fórmu-
la de cálculo padronizado, com base em múltiplos critérios, que
permite avaliações imparciais por técnicos treinados para essa
função. A ideia é que este tipo de pontuação dada para as proprie-
dades rurais possa ser utilizada na concessão de incentivos aos
proprietários. Recentemente, o ICP foi oficialmente reconhecido
no Rio Grande do Sul para a mensuração do estado de conserva-
ção dos campos nativos (Decreto nº 51.882/2014).
Este tipo de certificação das propriedades abre novos ca-
minhos para a comercialização da carne produzida em campo
nativo. Em 2014, o Sindicato Rural de Lavras do Sul promoveu o
primeiro remate com animais exclusivamente procedentes de pro-
priedades avaliadas e certificadas com o ICP. Esta iniciativa pio-
neira teve grande êxito e todos os animais foram comercializados,
com valores acima dos praticados em remates convencionais. No
mesmo ano, pecuaristas da Cooperativa COPRODEX, na Argenti-
na, realizaram o primeiro embarque para a Europa de carne pro-
duzida de forma sustentável, com o selo da Alianza del Pastizal.
Várias inciativas, ainda que em pequena escala, vêm
sendo implementadas nos últimos anos buscando promover
a pecuária em campo nativo. Dentre elas, merece destaque o
projeto RS Biodiversidade, do Governo do Estado do Rio Grande
do Sul, que com o lema conservar para produzir apoia várias
ações, dentre as quais a assistência técnica e apoio financeiro,
através da EMATER, para estímulo e aumento da produtividade
da pecuária em campo nativo, e a experiência das Unidades
Experimentais Participativas (UEPAs) implementadas pela
EMBRAPA Pecuária Sul, na região do Alto Camaquã, na Serra do
Sudeste do Rio Grande do Sul, que busca valorizar o manejo da
pastagem natural e promover práticas ecológicas em sistemas
de pecuária familiar.
171
172
Controle e Monitoramento
A aplicação da legislação ambiental brasileira também
pode contribuir para a conservação dos campos. A lei de proteção
da vegetação nativa (no
12.651/2012) tem como finalidade proteger
as florestas e os demais tipos de vegetação nativa, o que inclui os
campos. Dois dos principais mecanismos de proteção da lei são as
Áreas de Preservação Permanente (APPs) e a Reserva Legal (RL).
Tratam-se de espaços geográficos dentro da propriedade rural onde
deve ser mantida a vegetação nativa original. As APPs são áreas de
proteção, nelas apenas atividades eventuais e de baixo impacto são
permitidas, sendo que correspondem, de um modo geral, a faixas
de terra nas margens de rios, arroios e sangas, a locais com declivi-
dade acima de 45o
, ao entorno de nascentes e aos topos de morros
e montanhas. Já a Reserva Legal deve ocupar 20% da propriedade
rural em toda a região dos Campos Sulinos, sendo que pode ser
utilizada de forma sustentável desde que a vegetação nativa seja
mantida. A pecuária sustentável é uma das atividades compatíveis
com as reservas legais, sempre que estejam delimitadas sobre re-
manescentes campestres. As APPs e a RL devem ser registradas pe-
los proprietários rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Além das APPs e da Reserva Legal, o Artigo 26 da mesma
Lei prevê que qualquer supressão de campo nativo para uso alter-
nativo do solo (lavoura, silvicultura, pastagem cultivada, etc.) de-
pende de uma autorização prévia pelo órgão ambiental estadual.
Em regiões onde a situação dos campos nativos é considerada crí-
tica cabe à autoridade ambiental negar ou autorizar parcialmente
o pedido de supressão. O descumprimento deste tipo de autori-
zação pode resultar em sanções administrativas e criminais, que
incluem a aplicação de multas.
A Lei da Mata Atlântica (nº 11.428/2006) é ainda mais
rígida a esse respeito. Ela define que os campos do bioma Mata
Atlântica, denominados de Campos de Altitude, não podem ser
suprimidos, exceto em situações muito particulares, quando
estiverem nos estágios iniciais de regeneração (sucessão pós-
cultivo). A caracterização da composição botânica de espécies
desses estágios está descrita na Resolução CONAMA 423/2010. A
maior parte dos campos que hoje são utilizados para a pecuária,
o que é permitido por essa lei, encontram-se justamente nesses
estágios, o que, na prática, veda sua supressão para uso com
lavouras e silvicultura, na maior parte dos casos.
A falta de estrutura dos órgãos ambientais para a fiscaliza-
ção, a prioridade dada à proteção das florestas e as dificuldades
de treinamento técnico para reconhecimento das diferentes fisio-
nomias de vegetação campestre são fatores que ainda dificultam
a plena aplicação dessas leis.
Além disso, para que esses sistemas de controle da vegeta-
ção nativa funcionem é fundamental que os proprietários façam
o Cadastro Ambiental Rural da sua propriedade, informando a
localização geográfica dos remanescentes de vegetação nativa,
da RL, das APPs, além das áreas já convertidas em lavouras ou
silvicultura. Também é essencial o monitoramento periódico por
satélite para identificar os locais onde a supressão dos campos
é praticada de forma ilegal, a exemplo do que vem sendo imple-
mentado com êxito para proteção da Floresta Amazônica.
Pesquisa Científica
A conservação e o uso sustentável dos campos depende de
conhecimento científico. Para isso são necessárias pesquisas ca-
Equipe da Alianza
del Pastizal em
treinamento para
aplicação do ICP
em propriedades
rurais do RS
#
# Aníbal Parera
173
pazes de identificar as espécies de plantas e animais, entender
sua distribuição, suas funções e interações ecológicas e como po-
dem ser manejadas.
Recentemente pesquisadores de mais de vinte instituições
de pesquisa do Sul do Brasil organizaram a Rede Campos Su-
linos. Com isso diversos especialistas em flora, fauna e serviços
ecossistêmicos, de universidades, públicas e privadas, e de ins-
titutos de pesquisa têm atuado de forma integrada nos campos
remanescentes dos três Estados do Sul do Brasil.
O apoio financeiro do CNPq (Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico) e também da FAPERGS (Fun-
dação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul) tem
sido decisivo para a realização de muitas pesquisas de campo e
experimentos científicos nos últimos anos, impulsionando de for-
ma importante o conhecimento sobre os Campos Sulinos.
Amostragem da
vegetação campestre
#
# Valério Pillar
Os principais projetos da Rede Campos Sulinos contemplam
estudos dos campos financiados por editais de programas fe-
derais de pesquisa:
SISBIOTA –Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade.
O projeto tem por objetivo identificar a situação atual dos
Campos Sulinos, através de mapeamentos e levantamentos
quantitativos de plantas, artrópodos, anfíbios, aves e mamí-
feros em parcelas de 2x2km distribuídos em 62 localidades
no RS, SC e PR.
PELD – Pesquisas Ecológicas de Longa Duração. Contempla
uma rede de experimentos no RS avaliando os efeitos de dife-
rentes opções de manejo pastoril sobre a vegetação e a fauna
campestre. Esses experimentos são realizados nas estações
experimentais da UFRGS e da UFSM e em oito propriedades
particulares. Em um desses experimentos são comparados
três tratamentos: exclusão do gado, pastejo contínuo tradi-
cional, e manejo conservativo simulando pastejo rotativo.
PPBIO - Programa de Pesquisa em Biodiversidade. Trata-se de um
desdobramentodoprojetoSISBIOTA.Envolvelevantamentosbioló-
gicos padronizados em 13 localidades de 5x5km, tipicamente cam-
pestres, do RS,SC e PR.
Sítio PELD Lavras
do Sul, RS, manejo
contínuo convencional
(à esquerda), manejo
conservativo (à direita)
#
# Gerhard Overbeck
Pesquisas da Rede Campos Sulinos
174
175
Campos de barba-de-
bode, Quaraí, RS
#
# Omara Lange
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
177
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 2
VALOR HISTÓRICO E
ECONÔMICO DA PECUÁRIA
1 Santos, C.M. 1984. Economia e sociedade do Rio Grande do Sul: século
XVIII. São Paulo: Ed. Nacional. 216 p.
2 Barbosa, F.D. 1983. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST 248 p.
3 Cesar, G. Origens da economia gaúcha (o boi e o poder). Porto Alegre:
IEL, CORAG, 2005.
4 Fonseca, P.C.D. 1983. RS: Economia e conflitos na República Velha.
Porto Alegre: Mercado Aberto. Documenta 18. 144 p.
5 Torronteguy, T.O.V. 1984. As origens da pobreza no Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Mercado Aberto IEL. 192 p.
6 Veríssimo da Fonseca, P.A. 1982. A formação do gaúcho. Passo Fundo:
Diário da Manhã. 222 p.
7 Pesavento, S.J. 1994. História do Rio Grande do Sul. 7. ed. Porto Alegre:
Mercado Aberto. Série Revisão 1. 142 p.
8 Ferreira Filho, A. 1958. História Geral do Rio Grande do Sul: 1503-1957.
Porto Alegre: Globo. 184 p.
9 Laytano, D. 1983. Origem da propriedade privada do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Martins Livreiro. 310 p.
10 Reverbel, C. 1986. O gaúcho. Aspectos de sua formação no Rio Grande
e no Rio da Prata. Porto Alegre: L e PM. 109 p.
11 Franco, S. da C. 1952. A Campanha. In: Rio Grande do Sul: Terra e Povo.
Porto Alegre: Livraria do Globo. p. 65-74.
12 Fontoura, L.F.M. 2000. Macanudo Taurino: uma espécie em extinção?
Um estudo sobre o processo de modernização na pecuária da Campanha
gaúcha. Tese de Doutorado em Geografia Humana. São Paulo.
Universidade de São Paulo. 273 p.
13 Xavier, P.A Estância. 1952. In: Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto
Alegre: Livraria do Globo. p. 75-87.
14 Jansen, S.L. 2006. Evolução da estrutura produtiva do Rio Grande do
Sul: uma análise do período de 1940 a 1995/96. Encontro de Economia
Gaúcha. (3. 2006, Porto Alegre, RS) Anais Porto Alegre: FEE PUCRS. 22 p.
Disponível em: <http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/eeg>.
15 SEBRAE-RS, SENAR-RS, FARSUL 2005. Diagnóstico Integrado dos
Sistemas de Produção de Bovinos de Corte no Estado do Rio Grande do
Sul: Relatório de pesquisa. Porto Alegre: UFRGS - IEPE.
CAPITULO 7
BIODIVERSIDADE DE ANFÍBIOS
1 Segalla, M.V.; Caramaschi, U.; Cruz, C.A.G.; Garcia, P.C.A.; Grant,
T.; Haddad, C.F.B. e Langone, J. 2012. Brazilian amphibians – List of
species. Disponível em <http://www.sbherpetologia.org.br. Sociedade
Brasileira de Herpetologia>.
2 Frost, D.R. 2014. Amphibian species of the world: an online reference.
Version 6.0. American Museum of Natural History, New York, USA.
Disponível em: <http://research.amnh.org/vz/herpetology/amphibia/>.
3 Santos, T.G.; Iop, S. e Alves, S.S. 2014. Anfíbios dos Campos Sulinos:
diversidade, lacunas de conhecimento, desafios para conservação e
perspectivas. Herpetologia Brasileira 3(2) p. 51-59.
4 Hasenack, H.; Weber, E.; Boldrini, I.I. e Trevisan, R. 2010. Mapa de
sistemas ecológicos da ecorregião das savanas uruguaias em escala
1:500.000 ou superior e relatório técnico descrevendo insumos
utilizados e metodologia de elaboração do mapa de sistemas
ecológicos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Centro de
Ecologia. Disponível em: <http://www.ecologia.ufrgs.br/labgeo/index.
178
php?option=com_content&view=article&id=137:savanasuruguaias&cati
d=14:download-non-visible Disponível em 29/04/2015>.
5 Haddad, C.F.B.; Toledo L.F. e Prado, C.P.A. 2008. Anfíbios da Mata
Atlântica: guia de anfíbios anuros da Mata Atlântica = Guide for the
Atlantic Forest Anurans. São Paulo : Editora Neotropica Ltda.
6 Garcia, P.C.A. e Vinciprova, G. 2003. Anfíbios. In: Fontana, C.S. ;
Bencke, G.A. e Reis, R. E. (eds.). Livro Vermelho da Fauna Ameaçada
no Rio Grande do Sul, Porto Alegre : EDIPUCRS p. 147-164.
7 Zank, C.; Becker, F.G.; Abadie, M.; Baldo, D.; Maneyro, R. e Borges-
Martins, M. 2014. Climate Change and the Distribution of Neotropical
Red-Bellied Toads (Melanophryniscus, Anura, Amphibia): How to
Prioritize Species and Populations? PLoS ONE 9(4) p. 94625.
8 Duarte, H.; Tejedo, M.; Katzenberger, M.; Marangoni, F.; Baldo, D.;
Beltrán, J.F.; Martí, D. A.; Richter-Boix, A. e Gonzalez-Voyer, A. 2012.
Can amphibians take the heat? Vulnerability to climate warming in
subtropical and temperate larval amphibian communities. Global
Change Biology 18 p. 412-421.
9 Rothermel, B.B.; Semlitsch, R.D. 2002. An Experimental Investigation of
Landscape Resistance of Forest versus Old-Field Habitats to Emigrating
Juvenile Amphibians. Conservervation Biology 16 p. 1324-1332.
10 Both, C., Grant, T. 2012. Biological invasions and the acoustic niche: the
effect of bullfrog calls on the acoustic signals of white-banded tree frogs.
Biology Letters 8 p. 1.
11 CONSEMA, Conselho Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina. 2011.
Resolução CONSEMA Nº002, de 06 de dezembro de 2011. Florianópolis:
Secretaria do Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável.
12 Decreto n° 51.797 de 8 de setembro de 2014. Declaração das espécies da
fauna silvestre ameaçadas de extinção no Estado do Rio Grande do Sul.
13 Martins, M.; Sazima, I. e Egler, S. G. 1993. Predators of the nest building
gladiator frog, Hyla faber, in southeastern Brazil. Amphibia-Reptilia 14
p. 307-309.
14 Toledo, L.F. e Haddad, C.F.B. 2009. Color and some morphologicas traits
as defensive mechanisms in anurans. International Journal of Zoology,
910892. p. 1-12.
15 Toledo, L.F.; Sazima, I. e Haddad, C.F.B. 2011. Behavioural defences
of anurans: an overview. Ethology Ecology e Evolution 23(1) p. 1-25.
16 Jared, C.; Mailho-Fontana, P.L.; Antoniazzi, M.M.; Toledo, L.F.; Verdade,
V.K.; Sciani, J.M.; Barbaro, K.C.; Pimenta, M.T. e Rodrigues, M.T. 2014.
Passive and active defense in toads: The parotoid macroglands in Rhinella
marina and Rhaebo guttatus. Journal of Experimental Zoology Part A:
Ecological Genetics and Physiology 321 p. 65-77.
CAPÍTULO 8
BIODIVERSIDADE DE RÉPTEIS
1 Pough, F.H.; Janis, C.M. e Heiser, J.B. 2008. A vida dos vertebrados.
Ana Maria de Souza (coord. edição brasileira) 4 ed. São Paulo:
Atheneu Editora. 683p.
2 Bencke, G.A.; Jardim, M.M.A.; Borges-Martins, M.; Zank, C. 2008.
Composição e padrões de distribuição da fauna de tetrápodes recentes
do Rio Grande do Sul, Brasil. In: Ribeiro, A.M.; Bauermann, S.G. e
Scherer, C.S. (org.). Quaternário do Rio Grande do Sul: integrando
conhecimentos. 1 ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de
Paleontologia. p. 123-142.
3 The Reptile Database. 2014. Disponível em: <http://www.reptile-
database.oriog/db-info/SpeciesStat.html>.
4 Sociedade Brasileira de Herpetologia, 2014. Disponível em: <http://
www.sbherpetologia.org.br/index.php/repteis>.
5 Bérnils, R.S.; Mouraleite, J. C. e Morato, S.A.A. Répteis. In: Mikich, S.B.
e Bérnils, R.S. (org.). Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do
Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 2004. p. 497-535.
6 Pillar, V.De P.; Müller, S.C., Castilhos; Z.M.de S. e Jacques, A.V. 2009.
Campos Sulinos: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade.
(eds.) Brasília: MMA, 403 p.
7 Verrastro, L. 2001. Descrição, estratégias reprodutiva e alimentar de
uma nova espécie do gênero Liolaemus no Estado do Rio Grande do
Sul, Brasil. (Iguania:Tropiduridae). Doutorado em Ecologia e Recursos
Naturais. São Carlos : UFSCAR.
8 Verrastro, L. 1992. Biologia e Ecologia de Liolaemus occiptalis (Sauria-
Iguanidae). Mestrado em Ecologia. Porto Alegre: UFRGS.
9 Verrastro, L.; Silva, C.M. da e Colombo, P. 2009. A herpetofauna dos
ecossitemas de dunas do litoral norte do Rio Grande do Sul. In: Norma
Luiza Würding e Suzana Maria F. de Freitas. (orgs.). Ecossitemas e
biodiversidade do Litoral Norte do RS. Ecossitemas e biodiversidade do
Litoral Norte do RS. 1ed.Porto Alegre: Nova Prova p. 1-287.
10 Bujes, C. S.2000. Ecologia termal de Liolaemus occipitalis (Sauria,
Tropiduridae) no RS, Brasil. Dissertação Biociências –Zoologia na PUCRS.
11 Caruccio, R. 2008. Área de vida e uso do microhabitat de
Cnemidophorus vacariensis (Feltrin e Lema, 2000) (Sauria: Teiidae) em
uma população dos Campos de Cima da Serra, RS, Brasil. Dissertação
-Biologia Animal – UFRGS.
12 Schossler, M. 2005. Dieta e estratégia alimentar de Cnemidophorus
vacariensis (Sauria:Teiidae), em uma população dos Campos de Cima da
Serra, Vacaria, RS. Dissertação -Biologia Animal – UFRGS.
179
13 Rezende , F.P. 2007. Ciclo e Estratégia Reprodutivos de Cnemidophorus
vacariensis Feltrim e Lema, 2000 (Sauria, Teiidae) em uma população
dos campos do planalto das Araucárias do Rio Grande do Sul. 2007.
Dissertação - Biologia Animal UFRGS.
14 Verrastro, L. e Schossler, M. 2008. Répteis. In: Georgina Bond Buckup.
(org.). Biodiversidade dos Campos de Cima da Serra. Biodiversidade dos
Campos de Cima da Serra. 1ed. Porto Alegre: Libretos. p. 112-117.
15 Lema, Thales de. 2002. Répteis recentes do Rio Grande do Sul. In:
Lema, T. de (org.). Os répteis do Rio Grande do Sul: atuais e fósseis -
Biogeografia - Ofidismo. Porto Alegre: EDIPUCRS. p. 35-91.
CAPÍTULO 10
BIODIVERSIDADE DE MAMÍFEROS
1 Paglia, A.P., Fonseca, G.A.B.D., Rylands, A.B., Herrmann, G., Aguiar,
L.M.S., Chiarello, A.G. et al. 2012. Lista Anotada dos Mamíferos do Brasil.
Occasional Papers in Conservation Biology – Conservation International.
2 Reis, N.R., Peracchi, A.L., Pedro, W.A. e Lima, I.P. 2011. Mamíferos
do Brasil. Londrina, PR. 441 p.
3 Becker, M. e Dalponte, J.C. 2013. Rastros de mamíferos silvestres brasileiros:
um guia de campo. 3º edição. Rio de Janeiro: Technical Books Editora. 166 p.
4 Queirolo, D. 2009. Diversidade e padrões de distribuição de mamíferos
dos Pampas do Uruguai e Brasil. Tese de doutorado em Ecologia.
Instituto de Biociências. USP, São Paulo. 321 p.
5 Boldrini, I.I. 2009. A flora dos Campos do Rio Grande do Sul. In: Campos
Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade (eds) Pillar, V.
P., Müller, S. C., Castilhos, Z. M. e Jacques, A.V.). MMA Brasília DF. p. 63-77.
6 Bencke, G.A. 2009. Diversidade e conservação da fauna dos Campos
do Sul do Brasil. In: Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da
biodiversidade Pillar, V. P., Müller, S. C., Castilhos, Z. M. e Jacques, A.V.).
MMA Brasília DF. p. 101-121.
7 Quintela, F.M., Lopes Goncalves, G., Althoff, S.L., Sbalqueiro, I.J.,
Barbosa Oliveira, L.F. e Ochotorena De Freitas, T.R. 2014. Uma nova
espécie de rato aquático do gênero Scapteromys Waterhouse, 1837
(Rodentia: Sigmodontinae) endêmica da Floresta com Araucária do Sul
do Brasil. Zootaxa, 3811, 207-225.
8 Sponchiado, J., Melo, G.L. e Caceres, N.C. 2012. Seleção de habitat por
pequenos mamíferos no bioma Pampa. Journal of Natural History 46 p.
1321-1335.
9 Pedo, E., de Freitas, T.R.O. e Hartz, S.M. 2010. A influência do fogo e do
pastejo pelo gado sobre a assembléia de pequenos mamíferos não-voadores
em ecótonos campo-floresta, Sul do Brasil. Zoologia 27 p. 533-540.
10 Luza, A.L. 2013. Estrutura taxonômica, filogenética e funcional de
metacomunidades de pequenos mamíferos não-voadores de ecótonos
campo-floresta no Sul do Brasil. Dissertação de mestrado em Ecologia.
Instituto de Biociências. UFRGS. Porto Alegre. 124 p.
11 Gonçalves, G.L., Quintela, F.M. e Freitas, T.R.O. 2014. Mamíferos do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre: Pacartes. 212 p.
12 Christoff, A.U., Lima, J.D. e Jung, D.M.H. 2009. Mamíferos não-
voadores da Floresta com Araucária e áreas adjacentes no Rio
Grande do Sul: ênfase em roedores e suas adaptações ao habitat. In:
Floresta com Araucária: Ecologia, Conservação e Desenvolvimento
Sustentável (eds) Fonseca, C.R.; Souza, A.F.; Leal-Zanchet, A.M.;
Dutra, T.; Backes, A. e Ganade, G.). Ribeirão Preto : Holos Editora SP.
p. 171-184.
13 FZB, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul 2012. LIVE:
Avaliação do estado de conservação de espécies da fauna do Rio
Grande do Sul. Disponível em: <http://www.liv.fzb.rs.gov.br/livcpl/?id_
modulo=1&id_uf=23>.
14 CONSEMA, Conselho Estadual do Meio Ambiente de Santa Catariana 2011.
Resolução CONSEMA Nº 002, de 06 de dezembro de 2011. Secretaria de
Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável/Santa Catarina.
15 IAP, Instituto Ambiental do Paraná 2007. Fauna do Paraná em extinção.
Curitiba/PR. 272 p. Disponível em: <http://www.meioambiente.pr.gov.br/
arquivos/File/cobf/livro_fauna_extincao.pdf>.
16 IAP, Instituto Ambiental do Paraná 2009. Planos de Conservação para
Espécies de Mamíferos Ameaçados. Projeto Paraná Biodiversidade. 161
p. Disponível em: <http://www.redeprofauna.pr.gov.br/arquivos/File/
Mamiferos.pdf>.
17 IUCN, União Internacional para a Conservação da Natureza 2001.
Categorias da lista vermelha da IUCN - Versão 3.1/IUCN Red List
Categories - Version 3.1. Preparado pela IUCN Species Survival
Commission. IUCN, Gland, Suiça e Cambridge, Reino Unido. Disponível
em: <http://www.iucnredlist.org/documents/2001RedListCats_Crit_
Portugu%C3%AAs.pdf>.
18 Cherem, J.J., Simões-Lopes, P.C., Althoff, S. e Graipel, M.E. 2004. Lista
dos mamíferos do estado de Santa Catarina, Sul do Brasil. Mastozoología
Neotropical, 11 p.151-184.
19 Miranda, J.M.D., Rios, R.F.M. e Passos, F.C. 2008. Contribuição ao
conhecimento dos mamíferos dos Campos de Palmas, Paraná, Brasil.
Biotemas 21 p. 97-103.
20 Reis, N.R., Peracchi, A.L., Rocha, V.J., Silveira, G., Lima, I.P. e Oliveira,
J.A. (2008). Mamíferos da região centro-leste do Paraná, Telêmaco
Borba. Em: Ecologia de Mamíferos (eds.). (Reis, N.R. ; Peracchi, A.L.
e Santos, G.A.S.D Londrina: Technical Books editora. p. 159-167.
180
21 IAP, Instituto Ambiental do Paraná (2012) Plano de Manejo do Parque
Estadual da Ilha do Mel/PR: Lista de Mamíferos para o Parque Estadual
da Ilha do Mel e Entorno, Paranaguá, Litoral do Paraná. Disponível em:
<http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/Plano_de_Manejo/PE_Ilha_do_
Mel/Anexo_3_08.pdf>.
22 IUCN, União Internacional para a Conservação da Natureza (2014). Lista
de espécies ameaçadas da IUCN. The IUCN List of Threatened Species.
Disponível em: <http://www.iucnredlist.org/>.
CAPITULO 11
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
1 Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well-
being: Synthesis. Washington: Island Press. Disponível em: <http://
www.millenniumassessment.org/en/Synthesis.html>.
2 Joner, F. e Pillar, V.D. 2012. Redundância funcional: o excesso
indispensável. Ciencia Hoje 50: 74-76.
3 Pillar, V.D., Blanco, C.C., Müller, S.C., Sosinski, E.E., Joner, F. e Duarte,
L.D.S. 2013. Functional redundancy and stability in plant communities.
Journal of Vegetation Science 24 p. 963-974.
CAPÍTULO 14
CUIDAR E FAZER DIFERENTE
1 Ribeiro, C.M. 2009. Estudo do modo de vida dos pecuaristas familiares
da região da Campanha do Rio Grande do Sul. Tese Doutorado. Porto
Alegre : UFRGS. 303p.
2 SEBRAE – SENAR - FARSUL. 2005. Diagnóstico de sistemas de produção
de bovinocultura de corte do estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
IEPE, 2005. 265p.
3 SEAPA. Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio.
Rio Grande do Sul. 2013. Disponível em: <http://www.agricultura.
rs.gov.br>.
4 Lobato, J.F.P. Uma retrospectiva da pecuária de corte em campos nativos
e campos melhorados no bioma Pampa. In: Pillar, V.P.; Müller, S.C.;
Castilhos, Z.M.S. e Jacques, A.V.A. (eds.). Campos Sulinos, conservação
e uso sustentável da biodiversidade. 1. Ed. Brasília/DF: Ministério do
Meio-Ambiente,2009. p. 274-281.
5 Nabinger, C. et al. 2009. Produção animal com base no campo nativo:
aplicações de resultados de pesquisa. In: Pillar, V.P.; Müller, S.C.;
Castilhos, Z.M.S. e Jacques, A.V.A. (eds.). Campos Sulinos, conservação e
uso sustentável da biodiversidade. 1. ed. Brasília/DF: Ministério do Meio-
Ambiente p. 175-198.
6 Quadros, F.L.F. et al. 2009. A abordagem funcional da ecologia
campestre como instrumento de pesquisa e apropriação do
conhecimento pelos produtores rurais. In: Pillar, V.P.; Müller, S.C.;
Castilhos, Z.M.S. e Jacques, A.V.A. (eds.). Campos Sulinos, conservação
e uso sustentável da biodiversidade. 1. Ed. Brasília/DF: Ministério do
Meio-Ambiente. p. 206-213.
7 Santos, A.B.; Quadros, F.L.F.; Soares, L.S.U.; Rocha, M.G.; Machado, J.M.;
Martini, A.P.M. Características morfogênicas de gramíneas nativas do Sul
do Brasil sob níveis de nitrogênio. Ciência Rural, v. 43, p. 503-508, 2013.
8 Quadros, F.L.F.; Garagorry, F. C; Carvalho, T.H.N.; Rocha, M.G.;
Trindade, J.P.P. 2001. Utilizando a racionalidade de atributos
morfogênicos para o pastoreio rotativo: experiência de manejo
agroecológico em pastagens naturais do bioma Pampa. Revista
Brasileira de Agroecologia, v. 6, p. 1-12.
9 Soares, A.B.; Carvalho, P.C.F.; Nabinger, C.; Semmelmann, C.; Trindade,
J.K.; Guerra, E.; Freiats, T.S.; Pinto, C.E.; Fontoura Júnior, J.A. e Frizzo, A.
2005. Produção animal e de forragem em pastagem nativa submetida a
distintas ofertas de forragem. Ciência Rural, v.35, n.5, p.1148-1154.
10 Neves, F.P.; Carvalho, P.C.F.; Nabinger, C.; J., A.V.A.; Carassai, I.J.e
Tentardini, F. 2009. Estratégias de manejo da oferta de forragem para
recria de novilhas em pastagem natural. Revista Brasileira de Zootecnia,
v.38(8) p.1532-1542.
11 Soares, É.M. et al. 2013. Taxas de prenhez em novilhas de corte recriadas
em pastagem natural sob pastoreio rotativo. In: Revista de La Facultad
de Agronomía UNLPam, v.22. Serie supl. 2. Congreso de Pastizales,
SantaRosa – Argentina.
12 Nunes, J.T.S. et al. 2013.Desenvolvimento do trato reprodutivo de novilhas
de corte púberes e não púberes recriadas em pastagem natural e
suplementadas durante o período hibernal. In: XXIII Congresso Brasileiro
de Zootecnia – ZOOTEC 2013. Foz do Iguaçu. Resumos Foz do Iguaçu
CAPÍTULO 16
CIDADANIA E USO
SUSTENTÁVEL DOS CAMPOS
1 Medeiros, S.R. 2008. Valor nutricional da carne bovina e suas implicações
para a saúde humana. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte. 30 p.
2 Scollan, N.D.; Dannenberger, D.; Nuernberg, K.; Richardson, I.;
MacKintosh, S.; Hocquette, J.; Moloney, A.P. 2014. Enhancing the
nutritional and health value of beef lipids and their relationship with
meat quality. Meat Science 97: 384–394.
3 Marino, G. 2008. Buenas prácticas ganaderas para conservar la vida
silvestre de las pampas: una guía para optimizar la producción y
181
conservar la biodiversidad de los pastizales de la Bahía Samborombón.
Buenos Aires: Aves Argentinas/AOP. 104p.
4 Provenza, F.D. e Balph, D.F. 1987. Diet learning by domestic ruminants:
Theory, evidence and practical implications. Applied Animal Behaviour
Science 18: 211-232.
5 Parera, A. e Carriquiry, E. 2014. Manual de Práticas Rurais Associadas ao
Índice de Conservação de Campos Nativos do Cone Sul da América do
Sul. Montevideo: Aves Uruguay. 204p.
6 Lisboa, C.A.V., Medeiros, R.B., Azevedo, E.B., Patino, H.O., Carlotto, S.B.
E Garcia, R.P.A. 2009. Poder germinativo de capim-annoni-2 (Eragrostis
plana Ness) recuperadas em fezes de bovinos. Revista Brasileira de
Zootecnia 38: 405-410.
7 Jacques, A.V.A. 2003. A queima das pastagens naturais - efeitos sobre o
solo e a vegetação. Ciência Rural 33: 177-181.
8 Fontana, C.S. 1994. História Natural de Heteroxolmis dominicana
(Vieillot, 1823) (Aves:Tyrannidae) com ênfase na relação ecológica com
Xanthopsar flavus (Gmelin 1788) (Aves, Icteridae) no nordeste do Rio
Grande do Sul. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PUCRS. 122 p.
9 Azpiroz, A.B.; Isacch, J.P.; Dias, R.A.; Di Giacomo, S.A.; Fontana, C.S.
e Palarea, C. M. 2012. Ecology and conservation of grassland birds in
southeastern South America: A review. Journal of Field Ornithology 83
p. 217–246.
10 Fidelis, A e Pivello, V.R. 2011. Deve-se usar o fogo como instrumento de
manejo no Cerrado e Campos Sulinos? Biodiversidade Brasileira 1 p. 12-26.
11 Fidelis, A.; Blanco, C.C., Müller, S.C. Pillar, V.P.; Pfadenhauer, J. 2012.
Short-Term changes caused by fire and mowing in Brazilian Campos
Grasslands with different long-terms fire histories. Journal of Vegetation
Science 23 p. 552-562.
CAPÍTULO 17
POLÍTICAS PÚBLICAS
PARA OS CAMPOS
1 Lima-Ribeiro, M.S. e Diniz-Filho, J.A.F. 2013. Modelos Ecológicos e a
Extinção da Megafauna: Clima e Homem na América do Sul. Editora
Cubo, São Carlos.
2 Orlando, L.; Male, D.; Alberdi, M., Prado, J.; Prieto, A.; Cooper, A.
e Hänni, C. 2008. Ancient DNA Clarifies the Evolutionary History of
American Late Pleistocene Equids. Journal of Molecular Evolution 66
p. 533-538.
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
CURRÍCULOS
EDITORES
Omara Lange
omara@ufrgs.br
Bióloga, com especialização em Ecologia, em Projetos Sociais
e Culturais e Mestra em Zootecnia (Plantas Forrageiras) pela
UFRGS. Com formação em Fotografia, Design e Acessibilidade,
trabalha associada aos laboratórios de Ecologia Quantitativa e
Ecologia Vegetal no Centro de Ecologia da UFRGS, apoiando a
diversos grupos de pesquisa. Seu foco de atuação é a promoção
e organização de eventos e produção de materiais educacionais
para difusão científica e cultural.
Valério De Patta Pillar
vpillar@ufrgs.br
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Zootecnia (Plantas
Forrageiras) pela UFRGS e Doutor em Plant Sciences pela
University of Western Ontario, Canadá. Professor titular do
Departamento de Ecologia da UFRGS e pesquisador do CNPq.
Atua em pesquisa em Ecologia Quantitativa e biodiversidade,
com ênfase nos Campos do Sul do Brasil, efeitos de fogo e
manejo pastoril, padrões funcionais, e métodos de análise
multivariada. Presidente da Associação Brasileira de Ciência
Ecológica e Conservação (ABECO) e editor-chefe do Journal of
Vegetation Science.
COLABORADORES
Alan Bolzan
alanbolzan@hotmail.com
Biólogo pela UFRGS. Desenvolveu seu trabalho de conclusão de
curso em Ecologia de mamíferos no Pantanal. Tem experiência
com mamíferos de médio e grande porte, atua como consultor
ambiental em inventários e monitoramentos de fauna.
Ana Zannin
ana.zannin@ufsc.br
Bióloga pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
Mestre em Botânica pela UFRGS, Doutora em Ciências pela
USP. Professora associada da UFSC. Temas de pesquisa:
Monocotiledôneas, Poaceae, Florística de formações campestres
nativas de Santa Catarina.
Anaclara Guido
anaclara.guido@ufrgs.br
Bióloga pela Universidad de la República, Uruguai. Mestra em
Biodiversidade e Conservação do Medio Natural, Universidad
de Santiago de Compostela, Doutoranda em Ecologia na UFRGS.
Temas de interesse: Ecologia de comunidades campestres,
Ecologia de plantas exóticas.
André Luís Luza
luza.andre@gmail.com
Biólogo, Mestre e Doutorando em Ecologia pela UFRGS.
Área de atuação: Ecologia Funcional e Filogenética de
comunidades, Processos ecológicos moldando padrões de
diversidade, Distribuição e Evolução de Mamíferos
em Ecossistemas Campestres e Florestais.
Andressa Iop
dressaiop@gmail.com
Graduada em Moda pelo Centro Universitário de Jaraguá do Sul,
SC, e Pós-graduada em Moda: Gestão e Marketing pelo SENAC.
Atua como Estilista e Ilustradora Freelance.
Bethânia Oliveira Azambuja
beazambuja@gmail.com
Bióloga pela UFSM, Mestra e Doutora em Ecologia pela UFRGS.
Com experiência em Ecologia de comunidades e interações animal-
planta, pesquisa principalmente os efeitos da fragmentação e
manejo de ecossistemas sobre a diversidade de espécies. Bolsista
DTI-B no projeto PPBio – Rede Campos Sulinos.
Bianca Ott Andrade
andradebo@gmail.com
Bióloga, Mestra em Engenharia Florestal pela UFPR, Doutora
em Ciências com ênfase em Botânica pela UFRGS. Bolsista
Pós Doc no PPG Botânica da UFRGS. Realiza pesquisa em
Ecologia de comunidades, com interesse especial em vegetação
campestre, relação solo-vegetação e questões de conservação e
recuperação ambiental.
Bruna Raquel Winck
bru.winck@gmail.com
Engenheira Agronômica pela UNEMAT, Mestra em Ciência do Solo
pela UFPR, Doutoranda no PPG em Ciência do Solo da UFRGS.
Camila Fagundes Dias
cfdias@ymail.com
Bióloga pela Universidade Luterana do Brasil, Mestranda no PPG
em Ecologia da UFRGS. Área de interesse: Efeitos de distúrbios
sobre as comunidades de artrópodos em áreas campestres.
Carla Suertegaray Fontana
carla@pucrs.br
Bióloga, Doutora em Zoologia. Professora do PPG em Zoologia e
curadora da Coleção de Aves e Mamíferos do Museu de Ciências
e Tecnologia na PUCRS. Estuda a Auto Ecologia das Aves com
interesse em Conservação de Espécies.
Carlos Hugo Rocha
Engenheiro Agrônomo, Pós-graduado no Warner College of
Natural Resources, Mestre em Agronomia na UFRGS. Professor
na Engenharia Agrícola na UEPG. Área de interesse: Ecologia da
Paisagem, Conservação da Natureza, Agroecologia, Agricultura
familiar, Desenvolvimento rural sustentável, Planejamento
ambiental, Manejo adaptativo e colaborativo dos recursos naturais.
Carolina Blanco
carolynablanco@gmail.com
Bióloga, Mestra e Doutora em Ecologia pela UFRGS. Atua em
modelagem de padrões e processos vegetacionais em ecossistemas
campestres e florestais associados a distúrbios como fogo e
pastejo, diversidade de espécies e diversidade funcional.
Cassiano Eduardo Pinto
cassiano@epagri.sc.gov.br
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Zootecnia pela UFRGS,
pesquisador da Estação Experimental de Lages (EPAGRI).
Trabalha com produção animal em pastagens, fisionomia e
manejo de pastagens naturais. Busca tornar a pecuária de
corte em pastagens naturais uma atividade sustentável no
Planalto Catarinense.
Christian Beier
beier.ornito@gmail.com
Biológico pela UNIJUÍ, Mestrando do PPG em Zoologia da PUCRS.
Atua na área de Ornitologia com ênfase em Aves Campestres.
Cláudio Marques Ribeiro
claudioribeiro@unipampa.edu.br
Engenheiro Agrônomo pela Universidade da Região da Campanha
de Bagé, Mestre em Administração e Desenvolvimento Rural pela
Universidade Federal de Lavras, MG, Doutor em Desenvolvimento
Rural pela UFRGS. Professor da UNIPAMPA Campus Dom Pedrito.
Christian Borges Andretti
andretti.tche@gmail.com
Biólogo pela UCPEL, Mestre em Ecologia pelo INPA,
Doutorando no PPG em Zoologia da PUCRS. Possui experiência
em Avifauna Neotropical, concentrando seus trabalhos em
Efeitos do uso da terra sobre a diversidade de aves e taxonomia
e biogeografia de aves neotropicais.
Diogenes Borges Machado
diornito@gmail.com
Biólogo pelo Centro Universitário La Salle. Mestre em Ecologia
pela UFRGS. Consultor ambiental, especialista em Ornitologia.
Demétrio Xavier
demetrio@tj.rs.gov.br
Músico, formado em Ciências Sociais pela UFRGS. Há trinta anos
pesquisa e interpreta o cancioneiro crioulo platino, em especial
a obra do argentino Atahualpa Yupanqui. Atua no Rio Grande do
Sul, Uruguai e Argentina. Desde 2011, conduz na FM Cultura o
programa Cantos do Sul da Terra, focado na Música, Literatura,
História e Antropologia do sul do continente.
Demetrio Luis Guadagni
dlguadagnin@gmail.com
Biólogo, Professor e Pesquisador vinculado ao Departamento de
Ecologia da UFRGS, onde desenvolve pesquisas em conservação
de aves aquáticas e áreas úmidas e manejo de recursos naturais
renováveis, espécies invasoras e áreas protegidas.
Eduardo Vélez-Martin
velezedu@portoweb.com.br
Biólogo, Mestre e Doutor em Ecologia pela UFRGS. Possui
experiência em gestão ambiental e políticas públicas na área de
meio ambiente. Atua em projetos de pesquisa na área de Ecologia
de comunidades vegetais e em iniciativas de conservação da
biodiversidade nos biomas Pampa e Mata Atlântica.
Élen Nunes Garcia
elen.nunesgarcia@hotmail.com
Engenheira Agrônoma, Mestra em Zootecnia (Plantas
Forrageiras), Doutora em Botânica pela UFRGS. Professora
Adjunta no Departamento de Botânica da UFPEL, atua na área
de Ecologia de comunidades vegetais campestres.
Eliege Maria Fante
eliege_f@yahoo.com.br
Jornalista e Mestra em Comunicação e Informação pelo PPGCOM
da UFRGS. Integra o Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental
(CNPq/UFRGS). Assessora de comunicação da Rede Campos
Sulinos, interessada em Jornalismo e Ecologia.
Émerson Mendes Soares
emersoares@gmail.com
Médico Veterinário, Mestre em Zootecnia e Doutorando
em Zootecnia pela UFSM. Área de Interesse principal:
Recria de Novilhas de Corte em Pastagens Naturais
e Cultivadas e uso de Sistemas Alimentares para recria
de Novilhas.
Fábio Piccin Torchelsen
fpiccin@gmail.com
Biólogo pela UCPEL, Mestre em Biologia (Manejo e Conservação
da Vida Silvestre) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS). Doutorando no PPG em Botânica da UFRGS.
Felipe Secco Richter
felipesrichter@yahoo.com.br
Biólogo pela PUCRS. Área de atuação e interesse:
Ecologia vegetal de floresta e campestre, processos
ecológicos de espécies vegetais campestres invasoras,
Ecologia de comunidades.
Fernanda Zimmermann Teixeira
fernandazteixeira@gmail.com
Bióloga, Mestra em Ecologia, Doutoranda em Ecologia
pela UFRGS, interessada em Ecologia aplicada, conservação
e impacto de rodovias.
Fernando Luiz Ferreira de Quadros
flfquadros@gmail.com
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Zootecnia, estágio Pós Doc
INRA, França. Professor da UFSM e colaborador em projetos da
EMBRAPA, FEPAGRO e UFRGS, pesquisa em Ecologia e manejo de
pastagem natural. Atuando nos temas: produção animal e dinâmica
de pastagens naturais, relações solo, planta, animal.
Fernando Marques Quintela
fmquintela@yahoo.com.br
Biólogo e Mestre em Biologia de Ambientes Aquáticos
Continentais pela Fundação Universidade de Rio Grande
(FURG), Doutor em Biologia Animal pela UFRGS. Bolsista
de Pós Doc no PPG em Biologia de Ambientes Aquáticos
Continentais na FURG. Desenvolve pesquisa em sistemática
e Ecologia de mamíferos e répteis.
Gabriel Selbach Hofmann
hofmann.gabriel@gmail.com
Geógrafo pela UFRGS, Mestre e Doutor em Ecologia pela
UFRGS. Bolsista de Pós Doc e Professor colaborador do PPG
em Avaliação de Impactos Ambientais, Centro Universitário La
Salle. Desenvolve Pesquisas relacionadas a Bioclimatologia e
Ecologia de Paisagem.
Gerhard Ernest Overbeck
gerhard.overbeck@ufrgs.br
Engenheiro Ambiental e Doutor em Ecologia. Professor no
Departamento de Botânica da UFRGS. Nas suas pesquisas, busca
entender a dinâmica e diversidade da vegetação dos Campos
Sulinos, a fim de contribuir para a base científica da conservação
e restauração dos campos.
Gislene Lopes Gonçalves
gislene.ufrgs@gmail.com
Bióloga, Mestra em Zoologia e Doutora em Genética e Biologia
Molecular pela UFRGS. Pesquisadora colaboradora do PPG
em Genética e Biologia Molecular da UFRGS. Bolsista Pós Doc
interessada em Biodiversidade ao nível Filogenético, e padrões
e processos evolutivos envolvidos na diferenciação de espécies e
populações animais.
Glayson Ariel Bencke
gabencke@fzb.rs.gov.br
Biólogo, Mestre em Zoologia. Pesquisador do Museu de
Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do
Sul (MCN–FZB/RS). Especialista em Ornitologia. Colaborador
da iniciativa internacional Alianza del Pastizal para a
Conservação e Uso Sustentável dos Campos Naturais em
propriedades privadas do bioma Pampa.
Grasiela Casas
casas.gr@gmail.com
Bióloga pela Univille, Mestra e Doutoranda em Ecologia pela UFRGS.
Têm experiência na área de Ecologia, com ênfase em comunidades
de aves e redes de interação planta-ave em mosaicos floresta-campo.
Graziela Dotta
grazidotta@gmail.com
Bióloga e Mestra em Ecologia de Agroecossistemas pela
USP, Doutora em Zoologia pela Universidade de Cambridge.
Atualmente Bolsista Pós Doc no Laboratório de Ornitologia do
Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS. Têm experiência
em Ecologia e Zoologia com ênfase em conservação da
Biodiversidade aliada à produção agrícola, trabalha com
diversos grupos de organismos com destaque para as aves.
Heinrich Hasenack
hhasenack@ufrgs.br
Geógrafo, Mestre em Ecologia pela UFRGS. Professor do
Departamento de Ecologia e Geógrafo no Centro de Ecologia
(IB-UFRGS). Tem interesse nas áreas de Biogeografia,
Climatologia e Sistema de Informação Geográfica. Atualmente
desenvolve pesquisas com Mapeamento de Vegetação e Uso da
Terra e Desenvolvimento de WebGIS.
Igor Pfeifer Coelho
djakare@gmail.com
Biólogo e Mestre em Ecologia pela UFRGS, Doutorando em
Ecologia UFRGS. Área de interesse: Ecologia Aplicada.
Ilsi Iob Boldrini
ilsi.boldrini@ufrgs.br
Graduada em História Natural, Mestra em Taxonomia e Doutora
em Zootecnia pela UFRGS. Professora Titular do Departamento
de Botânica da UFRGS. Atua na graduação e pós-graduação,
onde orienta estudantes de Iniciação Científica, Mestrado e
Doutorado, ênfase em Taxonomia Vegetal de Angiospermas e
Fitossociologia de Vegetação Campestre.
LAURA HAFFNER
laurahaffners@gmail.com
Graduada em Design Visual pela UFRGS. Cursou um ano da
graduação (2012–2013) pelo programa Ciência sem Fronteiras
na University of the Arts London. Atualmente é designer gráfica
do Roka Estúdio, onde desenvolve projetos de design editorial e
de identidade visual.
Laura Verrastro
lauraver@ufrgs.br
Bióloga pela Universidad de La República Oriental Del Uruguay,
Mestra em Ecologia pela UFRGS, Doutora em Ecologia e Recursos
Naturais pela UFSC. Professora na Zoologia da UFRGS, atua na
graduação e pós-graduação, em nível de Mestrado e Doutorado.
Com linha de pesquisa em Herpetologia com ênfase em História
Natural, Biologia e Ecologia, principalmente de lagartos.
Coordenadora do Curso de Especialização em Inventariamento e
Monitoramento de Fauna.
Leandro Bittencourt de Oliveira
falconeoliveira@hotmail.com
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciências do Solo, Doutor em
Zootecnia, Pesquisa em Química, fertilidade e adubação de solos
sob pastagens naturais. Pesquisa em crescimento e adaptação
de espécies nativas de plantas, produção animal e dinâmica de
pastagens e relações solo, planta e animal.
Leonardo João Crestani
leonardojcrestani@ibest.com.br
Biólogo pela Universidade de Passo Fundo (UPF) atua em
Consultoria e Licenciamento Ambiental, com ênfase em
Mastozoologia e Ornitologia.
Letícia Dadalt
ldadalt@gmail.com
Bióloga, Mestra em Ecologia pela UFRGS, Doutoranda em
Ecologia na UFRGS. Atua principalmente nas áreas de Ecologia
Vegetal, Biogeografia e Macroecologia.
Luciana Regina Podgaiski
podgaiski@gmail.com
Bióloga pela UNISINOS. Mestra e Doutora em Ecologia pela
UFRGS. Bolsista Pós Doc. Desenvolve pesquisas sobre os
efeitos do uso da terra em invertebrados terrestres e processos
ecossistêmicos nos Campos Sulinos.
Luiz Carlos Tau Golin
golin@upf.br
Jornalista e historiador, Doutor em História pela PUCRS, com Pós
Doc pela Universidade de Lisboa. Professor-pesquisador da UPF
(Graduação e Pós-Graduação em História). Desenvolve pesquisas
sobre a formação da América meridional, com diversas
publicações sobre os conflitos geopolíticos e as Missões.
Luiza Chomenko
luiza-chomenko@fzb.rs.gov.br
Bióloga e Mestra em Ecologia pela UFRGS, com Especialização
e Doutorado em Biogeografia na Universitat der Saarland na
Alemanha. Pesquisadora do MCN–FZB/RS, atua em Ecologia
associada a projetos em nível Regional, Nacional e Internacional,
nos temas: Avaliação e gestão ambiental, análise de impactos
ambientais, planejamento ambiental, divulgação e EA,
Biodiversidade e desenvolvimento sustentável e Biossegurança.
Marcelo Machado Madeira
marcelo.madeira@ibama.gov.br
Ecólogo pela UNESP/Rio Claro, Mestre em Ecologia pela UFRGS.
Analista ambiental do IBAMA no Rio Grande do Sul com atuação
no tema das Políticas Públicas voltadas à conservação e uso
sustentável dos campos nativos, em especial do bioma Pampa.
Márcio Borges Martins
borges-martins@ufrgs.br
Biólogo pela UFRGS e Doutor em Zoologia pela PUCRS. Professor
de Zoologia nos cursos de Graduação em Ciências Biológicas
e Pós-graduado em Biologia Animal da UFRGS. Desenvolve
atividades de pesquisa e extensão com ênfase na Conservação
e Descrição da diversidade de anfíbios e répteis do Sul do Brasil.
Mariana de Souza Vieira
marianasvbio@gmail.com
Bióloga pela PUCRS, Mestra e Doutoranda em Botânica pela UFRGS.
Interessada em: restauração, conservação, vegetação campestre.
Marta Regina Barrotto do Carmo
mrcarmo.botanica@hotmail.com
Bióloga pela UEL, Mestre e Doutora em Biologia Vegetal pela
UNESP-Rio Claro. Professora Adjunta do Departamento de
Biologia Geral da UEPG. Tem experiência na área de Botânica,
com ênfase em Ecologia Vegetal, atuando principalmente em:
Florística, Fitossociologia, Regeneração e Conservação.
Milton de Souza Mendonça Junior
milton.mendonca@ufrgs.br
Biólogo e Mestre em Biologia Animal pela UFRGS, Doutor
em Ciências pelo Imperial College de Londres, Reino Unido.
Professor associado no Departamento de Ecologia da UFRGS.
Murilo Zanini David
zanini.murilo@gmail.com
Graduando em Ciências Biológicas pela UFRGS. Bolsista do
Laboratório de Ecologia de Interações na Ecologia da UFRGS.
Paula Angélica Roratto
p.angelica21@gmail.com
Bióloga e Mestra em Biodiversidade Animal pela UFSM, Doutora
em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS. Professora
temporária de Genética na FURB. Interessada em Biologia
Molecular, Filogeografia e Genética de Populações.
Rafael Engelman Machado
machado.rem@gmail.com
Biólogo pela PUCRS, Mestre e Doutor pela Ecologia da UFRGS,
bolsista Pós Doc Atua nas áreas de: Ecologia aplicada com
ênfase em Ecologia de espécies invasoras e restauração de
ambientes degradados.
Rafael Trevisan
rftrevisan@yahoo.com.br
Graduado em Ciências Biológicas pela UFSM, Mestre e Doutor
em Botânica pela UFRGS. Professor Adjunto da UFSC, atuando
principalmente em taxonomia de Cyperaceae e Biodiversidade
da Vegetação dos Campos do Brasil Subtropical.
Raíssa de Deus Genro
raissad@terra.com.br
Jornalista pela PUCRS e radialista com atuação em jornalismo
ambiental com interesse por temas socioambientais, políticos
e culturais.
RAQUEL CASTEDO
raquel@rokaestudio.com.br
Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda.
Mestra e doutoranda em Comunicação e Informação pela
UFRGS. Atua como professora de Design e Produção Gráfica
na PUCRS. Diretora de Design do Roka Estúdio, empresa
especializada em publicações e identidades visuais, com
diversos prêmios nacionais.
Ronai Pires da Rocha
ronai@ufsm.br
Licenciado em Filosofia, Doutor em Filosofia pela UFRGS. Professor
Adjunto no Departamento de Filosofia da Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM) nas áreas de Filosofia da Linguagem e
Epistemologia. Dedica-se também à fotografia de natureza.
Ronei Baldissera
roneibaldissera@yahoo.com.br
Biólogo pela UNISINOS, Mestre e Doutor em Ecologia pela UFRGS.
Professor titular na Universidade Comunitária da Região de Chapecó
(UNOCHAPECÓ). Atua no estudo de padrões e processos que
estruturam as comunidades biológicas em nível local e regional.
Rosemeri Segecin Moro
moro.uepg@gmail.com
Pós Doc em Conservação da Natureza pela UFPR. Professora-
pesquisadora senior do PPG em Geografia da UEPG. Atua na área
de Ecologia de Paisagem, com foco na dinâmica da vegetação
entre mosaicos de campo e floresta na Floresta com Araucária.
Samanta Iop
samantaiop@yahoo.com.br
Bióloga pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó,
Mestra e Doutora em Biodiversidade Animal pela UFSM.
Integrante do Laboratório de Herpetologia da UFSM.
Sandra Cristina Müller
sandra.muller@ufrgs.br
Bióloga, Mestra em Botânica e Doutora em Ecologia pela
UFRGS. Professora do Departamento de Ecologia da UFRGS.
Trabalha com Ecologia de Florestas e Campos, com enfoque
em composição, diversidade e funcionalidade das espécies
e suas relações com o ambiente e distúrbios. Também
desenvolve pesquisas com Restauração Ecológica de
áreas degradadas.
Sandra Maria Hartz
sandra.hartz@ufrgs.br
Bióloga, Mestra pela UFRGS, Doutora em Ecologia pela UFSC.
Professora e coordenadora do PPG em Ecologia da UFRGS, atua
em projetos de Ecologia de comunidades nos biomas Pampa e
Mata Atlântica, tanto em ecossistemas terrestres quanto aquáticos.
Santiago (Neltair REBBES Abreu)
rebbes@terra.com.br
Profissional do cartum, ilustracão e história em quadrinhos.
Começou na Folha da Tarde de Porto Alegre, onde vive. Atuou
no Pasquim, Coojornal, Correio do Povo, Jornal do Comércio de
Porto Alegre, O Estado de S. Paulo, revista Bundas, O Pasquim
21, Le Monde Diplomatique Brasil. Tem mais de 15 livros de
humor gráfico publicados, sendo premiado no Brasil e exterior.
Sérgio Augusto de Loreto Bordignon
salb@unilasalle.edu.br
Biólogo pela UFSM, Mestre em Botânica e Doutor em Ciências
Farmacêuticas pela UFRGS. Professor no UNILASALLE, na
Graduação em Biologia e no Pós-Graduação de Avaliação de
Impactos Ambientais. Pesquisa a Flora do RS, com ênfase nas
Lamiaceae e Hypericaceae. Colaborador em pesquisas com
Fitoquímicos, Florísticos, Interações ecológicas e Palinologia
do Quaternário.
Sonia Zanini Cechin
soniacechin@gmail.com
Bióloga pela UFSM, Doutora em Zoologia pela PUCRS. Professora
da UFSM e do PPG em Biodiversidade Animal da UFSM. Atua nos
temas: Biologia, Comunidades, Serpentes, Lagartos, Anuros e
Girinos. Diretora do Centro de Ciências Naturais e Exatas da UFSM.
Suiane Santos Oleques
suiane.bio@gmail.com
Bióloga pela UFPampa, Mestranda pelo PPG de Botânica
da UFRGS. Atualmente desenvolve pesquisa sobre Redes
de Interação planta-polinizador em comunidade campestre,
também atua em pesquisas sobre interações inseto-planta
e biologia reprodutiva de plantas.
Tatiane Noviski Fornel
tnoviski@gmail.com
Bióloga, Mestra em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS.
Professora na Escola Estadual de Ensino Médio Rondônia e na
Escola Básica da URI-Erechim.
Tiago Gomes dos Santos
frogomes@gmail.com
Biólogo pela UFSM, Mestre em Biologia Animal, Doutor e Pós Doc
em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professor da UniPampa de
São Gabriel, onde coordena o curso de Ciências Biológicas e é
professor no PPG em Biodiversidade Animal da UFSM.
Tiago Shizen Pacheco Toma
tiagoshizen@gmail.com
Biólogo pela UFV e Mestre em Ecologia pela UFRGS, Doutorando
na Ecologia da UFRGS. Tem interesse em estudos sobre interações
inseto-planta e sua aplicabilidade na avaliação e monitoramento
de ecossistemas em processo de restauração ecológica.
Thaiane Weinert da Silva
thaianews@gmail.com
Bióloga pela UCS, Mestra em Zoologia pela PUCRS, Doutoranda
do PPG em Zoologia da PUCRS. Área de interesse voltada à
Conservação de aves campestres e influência do uso e manejo do
solo sobre as mesmas.
Thilanka Perera
thilankaperera@live.com
Fotógrafo e cinegrafista especializado em Natureza e Vida
Selvagem do Sri Lanka. Colaborador em diversos projetos
Conservacionistas Mundiais.
Vinicius Bastazini
bastazini.vinicius@gmail.com
Biólogo pela UCPel, Mestre e Doutorando em Ecologia pela
Ecologia da UFRGS. Tem experiência em Ecologia, Biogeografia,
Biologia da Conservação e Redes Complexas, e interesse principal
na compreensão de como processos Ecológicos e Evolutivos
determinam os padrões de diversidade e interações biológicas.
Vinícius Matheus Caldart
viniciuscaldart@yahoo.com.br
Biólogo pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó,
Mestre e Doutor em Biodiversidade Animal pela UFSM.
Atualmente integra o Laboratório de Herpetologia da UFSM.
William Dröse
william_drose@hotmail.com
Biólogo pela UFPEL, Mestre em Biologia Animal pela UFRGS,
Doutorando em Biologia Animal pela UFRGS. Desenvolve
pesquisas na área de Ecologia de Comunidades de Formigas.
Pega-pega
(Desmodium incanum)
#
# Sérgio Bordignon
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
Urutau mãe-da-lua
(Nyctibius griseus)
#
# Ronai Rocha
Este livro foi composto com as famílias tipográficas
Meta Seriff e Corbel por Roka Estúdio, e conta com
vinhetas do ilustrador Santiago. Foi impresso em
papel couché 150g/m2
pela Gráfica da UFRGS,
em maio de 2015, Porto Alegre, RS.
OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.
REALIZAÇÃO APOIO
Rede
Campos
Sulinos

Mais conteúdo relacionado

PDF
Campos sulinos
PDF
Campos Sulinos
PPTX
Domínios Brasileiros - Campos Sulinos - Pampas Gaúchos
ODP
Bioma pampa
PDF
pampa RS historia.pdf
PDF
Trabalho de Ecologia - Bioma Pampa
PPT
Panpas ou pradarias
PPT
Lavras alianza . 28.10.2011
Campos sulinos
Campos Sulinos
Domínios Brasileiros - Campos Sulinos - Pampas Gaúchos
Bioma pampa
pampa RS historia.pdf
Trabalho de Ecologia - Bioma Pampa
Panpas ou pradarias
Lavras alianza . 28.10.2011

Semelhante a OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF. (20)

PPT
V encuentro sema luiza chomenko
PPTX
Apresentação 3 (1)
PPT
Apresentação Campos Sulinos
PPT
Bioma Campos Sulinos
DOC
Bioma Campos Sulinos
DOC
Campos Sulinos
PDF
biodiversidade dos campos do planalto das araucárias mma
PPTX
Campos Sulinos
PDF
Dia 4 - Simposio 3 - Desafios técnicos para o uso de SAFs na recuperação de á...
PDF
Ecossistema: Pampas
PDF
Carta dia 22 de maio - dia da biodiversidade e ameaças ao rs
PPT
Solos e a agricultura no brasil
PDF
Livro Ecologia de Campo 2010
PDF
Livro de Ecologia de Campo 2010
DOCX
Monografia
PDF
Cartilha agrobiodiversidade sementes crioulas
PDF
Cartilha agrobiodiversidade
PDF
TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO BIOMA PAMPA
PPT
Os domínios morfoclimáticos
V encuentro sema luiza chomenko
Apresentação 3 (1)
Apresentação Campos Sulinos
Bioma Campos Sulinos
Bioma Campos Sulinos
Campos Sulinos
biodiversidade dos campos do planalto das araucárias mma
Campos Sulinos
Dia 4 - Simposio 3 - Desafios técnicos para o uso de SAFs na recuperação de á...
Ecossistema: Pampas
Carta dia 22 de maio - dia da biodiversidade e ameaças ao rs
Solos e a agricultura no brasil
Livro Ecologia de Campo 2010
Livro de Ecologia de Campo 2010
Monografia
Cartilha agrobiodiversidade sementes crioulas
Cartilha agrobiodiversidade
TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO BIOMA PAMPA
Os domínios morfoclimáticos
Anúncio

Último (17)

PPTX
Teoria-da-Sustentabilidade-Moda-Obrigacao-ou-Necessidade.pptx
PDF
AULA 1208 MARTINHO_20250830_111213_0000.pdf
PDF
mitose meiose-1-29.pdf tudo sobre biologia
PPTX
830956255-NR12-Treinamento.pptx..........
PDF
E-book-Gestão-de-Recursos-Hídricos-e-Sustentabilidade-1-1.pdf
PPTX
Palestra - CAR e Rastreabilidade animal.pptx
PPTX
Apresentacao_Pre_Sal_Desafios_Ambientais 30 maio 2025.pptx
PDF
Energia e desenvolvimento.pdf - xxxxxxxx
PDF
DOC-20240528-WA0000._20250829_094149_0000.pdf
PPTX
TRABALijipjj9i9ioiokokpj79t57e4w44e45e54ed54e5e54e4
PDF
ISLID DE CASTANHAIS DO BRASIL DISCILPLINA DE GEOGRAFIA
PDF
DIAGNOSTICO social economico e ambiental
PPTX
Treinamento Produtos Agrotoxicos NRFACIL[1].pptx
PDF
O-Ciclo-da-Agua-Uma-Jornada-Continua-na-Natureza.pdf
PPTX
apresnetação iniciawedwedwedwfedwedwwddw
PDF
DOC-20240528-WA0000._20250829_094149_0000.pdf
PPT
AULA-SOJA-2.ppt djAIJiasjAIDJoaidjOAIDJo
Teoria-da-Sustentabilidade-Moda-Obrigacao-ou-Necessidade.pptx
AULA 1208 MARTINHO_20250830_111213_0000.pdf
mitose meiose-1-29.pdf tudo sobre biologia
830956255-NR12-Treinamento.pptx..........
E-book-Gestão-de-Recursos-Hídricos-e-Sustentabilidade-1-1.pdf
Palestra - CAR e Rastreabilidade animal.pptx
Apresentacao_Pre_Sal_Desafios_Ambientais 30 maio 2025.pptx
Energia e desenvolvimento.pdf - xxxxxxxx
DOC-20240528-WA0000._20250829_094149_0000.pdf
TRABALijipjj9i9ioiokokpj79t57e4w44e45e54ed54e5e54e4
ISLID DE CASTANHAIS DO BRASIL DISCILPLINA DE GEOGRAFIA
DIAGNOSTICO social economico e ambiental
Treinamento Produtos Agrotoxicos NRFACIL[1].pptx
O-Ciclo-da-Agua-Uma-Jornada-Continua-na-Natureza.pdf
apresnetação iniciawedwedwedwfedwedwwddw
DOC-20240528-WA0000._20250829_094149_0000.pdf
AULA-SOJA-2.ppt djAIJiasjAIDJoaidjOAIDJo
Anúncio

OS CAMPOS DO SUL - LIVRO DIGITAL EM PDF.

  • 1. EDITORES Valério De Patta Pillar Omara Lange
  • 4. Capa Alecrim-do-campo (Vernonanthura nudilflora), São Vicente do Sul, RS # # Valério Pillar Falsa folha de rosto APA do Rio Ibirapuitã, Santana do Livramento, RS # # Felipe Richter REALIZAÇÃO APOIO Rede Campos Sulinos
  • 5. REDE CAMPOS SULINOS – UFRGS PORTO ALEGRE, 2015 EDITORES Valério De Patta Pillar Omara Lange
  • 6. Realização Rede Campos Sulinos Editores Omara Lange Valério De Patta Pillar Planejamento e revisão Bethânia Oliveira Azambuja Carolina Blanco Eduardo Vélez-Martin Eliege Fante Gerhard Ernest Overbeck Grasiela Casas Ilsi Iob Boldrini Letícia Dadalt Luciana Regina Podgaiski Fernando Luiz Ferreira de Quadros Omara Lange Raíssa de Deus Genro Rafael Trevisan Rafael Machado Rosemeri Segecin Moro Sandra Cristina Müller Samanta Iop Valério De Patta Pillar Editora executiva e de fotografia Omara Lange Design Roka Estúdio [Raquel Castedo, Laura Haffner e Ana Paula Hentges] ILUSTRAÇÕES Santiago IMPRESSÃO Gráfica da UFRGS As imagens e os textos deste livro são responsabilidade dos respectivos autores. Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Não-Comercial-Sem-Derivações 4.0 Internacional. Ficha catalográfica elaborada por Rosalia Pomar Camargo CRB 856/10 C198 Os Campos do Sul/Editores: Valério De Patta Pillar e Omara Lange. – Porto Alegre : Rede Campos Sulinos – UFRGS, 2015. 192 p. : il. ISBN 978-85-66106-50-3 1. Campos Sulinos 2. Biodiversidade CDU 574(816) C198
  • 7. Capítulo 6 Biodiversidade de ARTRópodOs Milton de Souza Mendonça Jr., Bruna Winck, Ronei Baldissera, William Dröse, Camila Fagundes Dias, Murilo Zanini David, Tiago Shizen Pacheco Toma & Luciana Regina Podgaiski 61 Capítulo 11 Serviços Ecossistêmicos Valério De Patta Pillar, Bianca Ott Andrade & Leticia Dadalt 115 Capítulo 10 Biodiversidade de MAmÍFEROS André Luís Luza, Gislene Lopes Gonçalves, Alan Bolzan & Sandra Maria Hartz 101 Capítulo 7 Biodiversidade de ANFÍBIOS Samanta Iop, Bruna Raquel Assmann, Tiago Gomes dos Santos & Sonia Zanini Cechin 71 Capítulo 8 Biodiversidade de Répteis Laura Verrastro & Márcio Borges-Martins 81 Capítulo 9 Biodiversidade de aves Carla Suertegaray Fontana & Glayson Ariel Bencke 91 Capítulo 1 Campo da palavra, da literatura, da música crioula Demétrio Xavier 13 Capítulo 5 bioDIVERSIDADE DE PLANTAS Ilsi Iob Boldrini, Gerhard Ernst Overbeck & Rafael Trevisan 51 Capítulo 4 biodiversidade DOS CAMPOS Gerhard Ernst Overbeck, Luciana Regina Podgaiski & Sandra Cristina Müller 43 19 Capítulo 2 valor histórico e econômico da pecuária Cláudio Marques Ribeiro & Fernando Luiz Ferreira de Quadros O CAMINHO DAS MISSÕES Luiz Carlos Tau Golin 31 Capítulo 3 FISIONOMIA DOS CAMPOS Gerhard Ernst Overbeck, Ilsi Iob Boldrini, Marta Regina Barrotto do Carmo, Élen Nunes Garcia, Rosemeri Segecin Moro, Cassiano Eduardo Pinto, Rafael Trevisan & Ana Zannin PARTE 1 A IMPORTÂNCIA DOS CAMPOS SUMÁRIO
  • 8. REFERências 175 Capítulo 15 recuperaçÃO DOS campos Mariana de Souza Vieira & Gerhard Ernst Overbeck 149 Capítulo 14 cuidar e fazer diferente Fernando Luiz Ferreira de Quadros, Émerson Mendes Soares, Leandro Bittencourt de Oliveira & Cláudio Marques Ribeiro 141 Capítulo 16 Cidadania e uso sustentável dos Campos Eduardo Vélez-Martin, Eliege Fante, Graziela Dotta, Thaiane Weinert da Silva, Carla Suertegaray Fontana & Valério De Patta Pillar 155 Capítulo 12 conversão e fragmentação Eduardo Vélez-Martin, Carlos Hugo Rocha, Carolina Blanco, Bethânia Oliveira Azambuja, Heinrich Hasenack & Valério De Patta Pillar 123 Capítulo 17 Políticas públicas para os Campos Eduardo Vélez-Martin, Luiza Chomenko, Marcelo Madeira & Valério De Patta Pillar 167 Capítulo 13 espécies exóticas invasoras Anaclara Guido & Demetrio Luis Guadagnin 133 PARTE 2 O FUTURO DOS CAMPOS
  • 9. 9 Paisagens campestres caracterizavam originalmente vastos territórios no Sul do Brasil, no Uruguai e na Argentina, e estão na raiz cultural de boa parte dos habitantes dessa região. Entretanto, os campos já desapareceram em muitas áreas e os remanescentes correm grande risco de serem transformados em novas lavouras, pastagens cultivadas e plantações de árvores. Nos três estados do Sul do Brasil os campos cobriam cerca de 218 mil km2 , mas atualmente estão reduzidos a menos de 40% de remanescentes distribuídos no bioma Pampa, no Rio Grande do Sul, e em mosaicos com as florestas da Mata Atlântica que se estendem pelas partes altas do Planalto Sul-Brasileiro do Rio Grande do Sul ao Paraná. Este livro mostra que a perda desse patrimônio tem sido negligenciada mas que há caminhos alternativos e eficientes para sua conservação e uso sustentável. A vegetação campestre, com alta biodiversidade, há sécu- los tem sido utilizada como pastagem para a produção pecuária na região Sul do Brasil. O uso pastoril dos campos preserva a ve- getação nativa e é essencial para manter paisagens com muitas espécies nativas de plantas e animais. Nos campos encontramos capins flechilhas, capim-caninha, barba-de-bode, santa-fé, gra- ma forquilha, macegas, chircas, gravatás, carquejas, marcelas, vassouras, pega-pega, e outras ervas, arbustos e árvores de mui- tos tipos. Também estão presentes borboletas, mariposas, formi- gas, aranhas, cascudos, ácaros, tatus, zorrilhos, emas, quero-que- ros, perdizes, perdigões, corujas, gaviões, chimangos, capivaras, graxains e muitos outros animais, incluindo bovinos, equinos e ovinos domesticados, e a diversidade extraordinária e pouco co- nhecida de bactérias e fungos. Todos esses organismos formam uma complexa teia de relações que garantem a integridade das paisagens campestres e dos serviços ambientais. Além da forragem para o gado, esses campos provêm ser- viços ambientais essenciais para o benefício de toda a socieda- de. Alguns exemplos: as nascentes dos principais rios dessa região são ou já foram áreas campestres; os solos campestres contêm grandes estoques de carbono com alto valor para a mi- tigação de mudanças climáticas; e, as paisagens campestres atraem, emocionam, e inspiram as populações humanas, cada vez mais urbanas. A atividade pastoril de produção pecuária nos campos nativos já foi a base da economia do Sul do Brasil, mas nas últimas décadas tem perdido terreno para outras atividades, aparentemente mais lucrativas no curto prazo. Neste livro são apresentados resultados que comprovam que é possível, com a conservação da biodiversidade típica dos campos, melhorar a produtividade da atividade pastoril. Ou seja, há excelentes pers- pectivas para combinar desenvolvimento econômico e social com a proteção dos campos. APRESENTAÇÃO
  • 10. 10 O mundo inteiro exige sustentabilidade das atividades humanas. Os campos do Sul do Brasil constituem oportunida- de ímpar para tal desafio na escala de milhões de hectares que ainda não foram suprimidos e de outros tantos degradados que possam ser talvez recuperados. Entretanto, é necessário obede- cer limites e evitar a descaracterização de paisagens campestres inteiras, que no passado recente eram campos e hoje estão alte- radas e fragmentadas. Apesar do conhecimento existente e de várias experiências práticas mostrarem que é possível produzir melhor e ao mesmo tempo conservar os campos, falta o reconhe- cimento desse potencial nas decisões públicas e privadas. Essas questões são tratadas e ilustradas neste livro, que está organizado em capítulos com diferentes autorias. A pri- meira parte mostra aspectos históricos e culturais vinculados às paisagens campestres, a imensa biodiversidade encontrada em vários grupos de plantas e animais, e os serviços ambientais providos pelos campos. A segunda parte aborda a problemática da conversão dos campos em outros usos da terra e indica ações necessárias para sua conservação, restauração e uso sustentá- vel, sugerindo políticas públicas e ações individuais para vencer os desafios de aliar proteção da biodiversidade e produção. Os Campos do Sul é uma publicação da Rede Campos Suli- nos, realizada com o apoio da UFRGS, e com recursos financeiros da FAPERGS e do CNPq, através dos projetos “Biodiversidade dos cam- pos e dos ecótonos campo-floresta no Sul do Brasil: bases ecológicas parasuaconservaçãoeusosustentável”e“RededePesquisaemBio- diversidade dos Campos Sulinos”. O primeiro foi cofinanciado pelo CNPq, FAPERGS e CAPES, através do Edital no 47/2010 – Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade – SISBIOTA. O segundo é financiado pelo CNPq através do Edital nº 35/2012 – PPBio/Geoma. Ambos projetos contaram com a participação de pesquisadores e pesquisadoras de diferentes universidades e instituições de pesqui- sa, vinculados à Rede Campos Sulinos. Este livro resulta da contribuição de mais de 80 autores e autoras de capítulos, de imagens fotográficas e de ilustrações, cujos currículos estão listados ao final do livro. Contamos também com a colaboração de Eduardo Vélez, Gerhard Overbeck, Luciana Podgaiski, Samanta Iop, Bethânia Azambuja, Sandra Müller, Letícia Dadalt, Raíssa Genro, Eliege Fante, Carolina Blanco, Ilsi Boldrini, Rafael Trevisan, Rosemeri Moro e Fernando de Quadros, que em diferentes momentos participaram na organização e revisão do livro. Agradecemos a todos pelas contribuições, e de maneira es- pecial a Eduardo Vélez. Valério De Patta Pillar &Omara Lange
  • 15. 15 Capítulo 1 Campo da palavra, da literatura, da música crioula Demétrio Xavier Yo me he criao a puro campo Rancho, rebaño y maizal Con noches de historias viejas Y mañanas de cristal. Quanta nostalgia, quanta distinção, quantas imagens gratas e constitutivas de uma forma única de ser, subjetiva e coletiva, as que se apascentam nesse puro campo de Atahualpa Yupanqui; no campo que o fez e faz ser o que é, porque o criou. Ao mesmo tempo, quão infinitas, inúmeras, as referências que aí estão em silêncio, tácitas, como aquelas “palavras de dedo nos lábios”, de Augusto Meyer (“querência, pagos, rincão...”). Campo... A etimologia indica, primeiro, sua relação com os próprios limites: o campo do latim (e antes, parece, do indo- europeu) é espaço cercado, ou circunscrito pelo meio natural - acepção ainda viva, quer quando se arrenda um campo, quer quando se fala de uma área de atuação ou conhecimento. Depois, o plaino; o espaço aberto, sem acidentes principais. No andejar longo da palavra, campo também passa a ser a oposição à cidade; oposição mais antagônica ou mais complementar, de acordo com os pensares, sentires e pertenceres de cada um, de cada época, de cada grupo. Mas - e se queremos ouvir vozes antigas, recitando a dia- cronia da nossa palavra – convoquemos os originários: o que pen- sava um guarani ao pronunciar “nhu”; o que sentia um falante do quíchua inca ao dizer “pampa”, “chakra”? No universo simbólico do gaúcho, com seu linguajar tão car- regado de quichuismos, aliás, aqui talvez seja oportuno observar que chakra parece-se mais com o significado antigo de campus, tran- çado com uma ideia de circunscrição, limite. Pampa, ao contrário (e é uma reflexão a parte, longa, por certo, a vigência e ressignificação que essa palavra tem vivido) prende-se ao conceito de planície. Poucas palavras carregam na boca tanto sabor identitário, atávico.Nonossosuldepaísedecontinente,talvezdeformamuito particular. Perguntar-se sobre esses significados é imperativo, quando se fala em preservar o campo, proteger o campo, dar o campo a conhecer. Infinitas referências se podem fazer a significantes corre- latos e a seus significados: campeiro, campanha, campear, inun- dam a literatura e o falar tradicional. Em outra frente – e enquanto História afora, digladiam-se Caim lavrador e Abel pastor -, temos camponês, campônio, campesino... Numa saborosa e perdoável licença, Yupanqui diz ter ou- vido de um gaúcho algo que, na verdade, está em Lucio Victorio Gaúcho de Santa Maria, RS # # Ronai Rocha
  • 16. 16 Mansilla: “o pampa é o céu ao contrário”. Confirmando Bioy Casa- res e Borges, Atahualpa referia-se ao campo (seus dois conterrâ- neos dizem que só letrados usam a palavra “pampa” para esse fim e ninguém ignora que o autor de Los Hermanos era leitor ávido e escritor de texto fino). Em Mansilla, ao contrário, a bela frase se referia a salitrais e seu reflexo (e afinal, não lá estão, no Chile, as Pampas Salitreras?). Yupanqui, nesse empréstimo, talvez buscasse expressão que desse conta do infinito da projeção ao horizonte (e quem sabe, do fundo dos campos incultos do inconsciente, não estivesse dizendo que o campo é um inferno?). Essa metafísica do campo já deu assunto de dar água pela aba da carona. Como em Osíris Rodríguez Castillo: Yo soy pión recorredor, y me gusta mi trabajo, cuido el campo como mío, porque, si vamos pa´l caso: pa´ nacer o caerse muerto, no es ajeno ningún campo. Como não ser assim, em uma paisagem sempre associada ao infinito, desde as primeiras comparações de europeus com o mar? Há mistério e divindade para muito além da descrição física desse campo e mesmo da questão de propriedade e atividades que engendra. Há vida e morte, finitude, caminho e sina; tempo, destino e povo consubstanciado com a paisagem (“o homem é terra que anda”, diziam os incas), brotando entre o pasto. Como quando aquele mesmo Yupanqui, ao fim da vida, anuncia: Vengo a buscar mi caballo para adornarme con él Mañana saldré a los campos, quien sabe si volveré. Garrão de potro, Santa Maria, RS # # Ronai Rocha
  • 18. 18
  • 21. 21 Capítulo 2 valor histórico e econômico da pecuária Cláudio Marques Ribeiro & Fernando Luiz Ferreira de Quadros A região que veio a constituir o Rio Grande do Sul não des- pertou interesse econômico de espanhóis e portugueses até por volta de 1640. Até então, apenas os jesuítas espanhóis haviam se estabelecido para a cristianização de grupos indígenas, introdu- zindo o gado bovino e equino que acabou se espalhando natural- mente pela vasta região de campos a leste do rio Uruguai e mais tarde passou a ser explorado para o comércio do couro. Esse território era habitado pelos índios da grande famí- lia Tupi-Guarani, localizando-se os tapes, carijós, arachanes e guaianás ao norte e nordeste e os guenoas, minuanos e charruas a oeste e ao sul. Os minuanos e os charruas foram aqueles que, através de seus hábitos e de seus objetos de uso, deram a maior contribuição para a formação do tipo humano e social posterior- mente identificado como gaúcho (1). A Estância jesuítica Os jesuítas espanhóis fugiram do Paraguai para o território a leste do rio Uruguai com um número significativo de índios cristianizados e com gado bovino, onde fundaram as reduções do Tapé em 1626 (2). Estabeleceram em território rio-grandense as primeiras estâncias1 , que eram compostas por um grupo de índios, acompanhados por um padre. O gado não recebia nenhum cuidado especial, estas estâncias eram “vastos criatórios naturais, indivisos” que permitiam que as aldeias jesuíticas retirassem o seu sustento. Nas estâncias jesuíticas não havia propriamente moradas fixas e grupos humanos estáveis, exceto pequenos arranchamentos (3). Por volta de 1640, as primeiras reduções jesuíticas foram ata- cadas por bandeirantes paulistas à caça de índios para escravizar, e por isso padres e índios se retiraram para a margem direita do rio Uruguai, mas deixando os animais que criavam. Assim, o gado se espalhou e se tornou selvagem, resultando em milhares de bovinos e equinos dispersos pelo território rio-grandense e uruguaio (4, 5,6). Estes animais vieram a constituir uma imensa reserva de gado que serviu de base econômica para a apropriação da terra gaúcha (7). Com o retorno dos jesuítas à região a leste do rio Uruguai em 1682, dá-se início à construção dos Sete Povos das Missões. Os jesuítas espanhóis estabeleceram as estâncias de gado no oeste e sul do atual Rio Grande do Sul. Mais tarde também introduziram o gado nos campos de altitude a nordeste. Estas estâncias já tinham como objetivo a criação do gado bovino para a extração do couro para a comercialização. A carne era utilizada para consumo e sub- sistência, o excedente do abate era deixado para apodrecer (5, 7). Umbu, Bagé, RS # # Ronai Rocha
  • 22. 22 A Estância da sesmaria A ocupação portuguesa dessa região aconteceu de forma tardia em relação ao restante do Brasil, pois, pelo Tratado de Tordesilhas, o território português tinha como limite sul a cidade de Laguna, sendo que todo o Pampa brasileiro pertencia à Espanha. A descoberta das minas na zona das Gerais concentrava densas massas populacionais proporcionando o surgimento do mercado interno no Brasil, pela demanda de cavalos e muares para o transporte, como pelo consumo de charque (7,8). Surge a figura do tropeiro que daria grande contribuição na formação do gaúcho. O tropeiro teve extrema importância na execução da preia do gado e das mulas e na sua condução até Sorocaba, onde eram comercializadas para Minas Gerais (3). Em 1732 a Coroa portuguesa começou a distribuir ses- marias nessa região. O sesmeiro tinha atribuição de defesa da fronteira, instável, com os territórios espanhóis. A sesmaria é uma medida agrária antiga utilizada para as superfícies de campos de criação sendo equivalente a 13.068 ha ou 150 qua- dras de sesmaria (9). Desta forma, foram criadas as grandes Mapa das reduções jesuíticas no Rio Grande do Sul (1540-1680) Fonte: Cláudio Ribeiro estâncias que viriam constituir um importante componente da sociedade rio-grandense. Essas estâncias se estabeleceram em áreas onde predo- minavam campos naturais propícios à atividade pastoril para a criação do gado, e sempre tendo como objetivo a defesa do terri- tório (4, 5, 6, 7, 8). Isso foi determinante na formação cultural do habitante reforçando valores como o individualismo, a descon- fiança (onde o sentido de defesa é permanente), a relação com o cavalo e com a atividade pastoril, sem o cultivo da terra (2, 8). A criação de gado em um ecossistema favorável e numa situa- ção politicamente instável acabou contribuindo para a formação deste tipo social do sul (10). O Pampa brasileiro só foi ocupado pelos portugueses quando, por volta de 1752, se iniciou a demarcação dos limites estabelecidos pelo Tratado de Madrid, na região da Campanha. Entretanto, não foram limites definitivos, o povoamento dessa região nos setenta anos subsequentes progrediu e regrediu em função dos acertos entre as duas Coroas (11). As estâncias das sesmarias foram a base da sociedade rio- grandense e da exploração pecuária. Uma estância que possuía uma sesmaria tinha cerca de 10.000 cabeças de gado, um capataz e 10 peões. A estância se mantinha pela venda do gado no mercado, não exigindo grandes investimentos, o custo maior era a mão-de- obra. Embora a natureza fosse favorável para a criação de gado bovino solto nos campos (o uso de cercas só aconteceu a partir de 1870), era necessário cuidar, marcar, castrar (12). A qualidade das pastagens determinava diferenças de produção entre uma região e outra. Um rebanho de 1.000 reses produzia cerca de 250 crias por ano (1), e a produção variava entre 6 e 10% do total do rebanho (9). As estâncias iniciaram, com seu sistema de exploração pastoril, a definir a posse das áreas conflituosas do Rio Grande, a posse dos gados e a estabelecer as relações capitalistas com o assalariamento de capatazes e peões. A estância passou a ser a viga mestra da sociedade com os grandes estancieiros agrupando parentes, amigos, protegidos, mestiços, índios, e negros escravos, formavam um reduto forte (8). Ela não significava apenas exploração da atividade econômica e da unidade de produção, mas o núcleo de defesa e manifestação de riqueza e poder (1).
  • 23. 23 A economia do charque A indústria do charque cresceu no Rio Grande do Sul a partir de 1780, propiciando o avanço da pecuária bovina, com a recuperação dos rebanhos e com o vínculo comercial estabelecido com as charqueadas em Pelotas. Entretanto, os inúmeros conflitos2 durante todo o século XIX fizeram com que esta região se transformasse em um acampamento de guerra sem precedentes. Em 1822 foi extinto o sistema de doação das sesmarias. As áreas que estavam ocupadas eram inquestionáveis e aqueles que quisessem terras, daí em diante, só poderiam fazê-lo atra- vés da ocupação de terras improdutivas. Iniciam-se, portanto, conflitos entre os estancieiros com os antigos tropeiros, com al- guns soldados desmobilizados e com mestiços indígenas que se transformaram em posseiros. As cercas divisórias com emprego do aramado foram uti- lizadas no Rio Grande do Sul a partir do fim do século XIX, o que provocou duas consequências com importante impacto econô- mico e social (5). A primeira foi que a pecuária ganhou impulso especial, após 1870, e com a paulatina introdução de cercas divi- sórias houve a melhoria do manejo e a simplificação das tarefas campeiras. A segunda consequência da simplificação das lides da pecuária foi a menor necessidade de mão-de-obra, abrindo-se possibilidades de mudanças técnicas no processo produtivo (11). A estância passa a se transformar gradativamente em fazenda ou em estância capitalista. Porém, cabe ressaltar a enormeimportânciaqueestaherançacultural,econômicaesocial teve, e tem, na conduta dos estancieiros e nos seus sucessores bem como nos peões e agregados. A modernização capitalista A fixação do estancieiro na cidade aconteceu gradualmente sendo o seu tempo vivido na área rural cada vez menor, afastando- se também das lides campeiras. Foi uma mudança em que a estância tornava-se, gradativamente, fazenda (13). As estâncias continuaram a se especializar aprimorando as raças e comercializando o gado em pé. A instalação dos fri- goríficos multinacionais ocorreu por volta de 1917, quando compraram as charqueadas e as transformaram para a atividade frigorífica. Seu impacto nos aspectos produtivos aconteceu atra- vés da introdução de reprodutores de raças europeias e do maior cuidado com a saúde dos animais, inclusive com o surgimento dos primeiros banheiros carrapaticidas (12). A I Guerra Mundial gerou grande demanda pelos produtos da pecuária rio-grandense, ativando as exportações e melhorando os preços. O maior valor do gado constituiu-se em um estímulo para que houvesse um período de melhorias e investimentos, impulsionando novos métodos de criação e incrementando as mudanças produtivas da estância (7). O Rio Grande do Sul no período pós-Guerra, além de ser destaque na criação bovina, tinha as maiores populações bovina e ovina do país com cerca de 8 milhões de bovinos (25% do rebanho total) e 4 milhões de ovinos (58% do rebanho total). Os ovinos possibilitaram também que o Estado fosse o maior produtor de lã do país (97% do total), a maior parte oriunda da região da Campanha (4). A partir dos anos 1960 podemos distinguir pecuária tradi- cional (a maioria dos produtores) e pecuária empresarial (um grupo pequeno de produtores que se modernizou). A diferença está na racionalidade da gestão e nos tempos dos ciclos produti- vos. A pecuária tradicional, com médias na idade de abate de 4,5 anos, é definida como de ciclo longo, enquanto a pecuária em- presarial tem ciclos que variam entre 16 e 24 meses (ciclo curto). Nas últimas décadas a produção primária rio-grandense teve um rápido crescimento devido basicamente às lavouras e principalmente ao cultivo da soja. Isto acentuou mais as diferenças regionais no Estado com uma modificação das formas produtivas e nas atividades, especialmente na região do Planalto Médio, onde a agricultura se estabeleceu e cresceu em área e produtividade. O processo de modernização da agricultura proporcionou um aumento da renda agrícola, a partir do crédito subsidiado, mas também provocando fortes impactos ambientais e sociais (14).
  • 24. 24 Os diferentes tipos de pecuaristas Atualmente a maior parte dos bovinocultores de corte do Rio Grande do Sul tem o perfil de pecuarista tradicional, não ha- vendo muitos avanços nas tecnologias de produção e nas relações comerciais. A pecuária é praticada mais por motivos de tradição (26%), satisfação (25%) e por segurança (14%) do que pela busca do lucro (apenas 8%) (15). Grande parte da bovinocultura de corte não se modernizou, mantendo formas produtivas e de comercialização semelhantes ao passado. Apenas 15% dos produtores praticam a atividade de forma empresarial. Os demais (utilizando mão-de-obra contratada ou familiar) desenvolvem formas produtivas tradicionais. Estas formas produtivas são dirigidas por processos decisórios que levam em consideração outros valores, expectativas e ambições, como a segurança, estabilidade, tradição e satisfação pessoal e não, necessariamente, a busca de rentabilidade econômica. A estância, a bovinocultura de corte e o ambiente acabaram forjando um tipo diferenciado de agricultor familiar: os pecua- ristas familiares, pecuaristas de gado de corte, com áreas de até 300ha que utilizam, predominantemente, mão-de-obra da família. Apesar da transformação das estâncias das sesmarias em estâncias menores, onde a produção em larga escala não é mais possível, a bovinocultura de corte permaneceu como a atividade principal. Di- minuiu, e em alguns casos não há mais a utilização de mão-de-obra assalariada, mas não se modificou a atividade principal. Apesar da bovinocultura de corte ser considerada uma atividade que exige áreas maiores ou a intensificação da atividade, os pecuaristas fami- liares permaneceram criando extensivamente em pequenas áreas. A história do Pampa brasileiro teve, e permanece tendo, uma relação umbilical com o ambiente e com a natureza, em especial com os campos nativos. A evolução da vegetação campestre esteve historicamente ligada à sua utilização por herbívoros. A partir da colonização europeia, esse processo foi moldado novamente pela introdução dos bovinos, equinos e ovinos, a partir do seu manejo pelas sociedades humanas que aqui se constituíram. Essa voca- ção econômica de produção pecuária sobre a vegetação campestre é um legado da natureza e da história dos homens nessa região e precisa de instrumentos sócio-econômico-políticos para ser preser- vada como um patrimônio da natureza para a humanidade. NOTAS 1. Estância é o lugar onde se fica, onde se estabelece por algum tempo, morada. Trata-se de um termo castelhano que significa “terras com criação de gado vacum e cavalar” (3). 2. O ciclo de Guerras no século XIX demonstra a constante instabilidade e as necessidades de esforços de guerra que os estancieiros e seus comandados tinham que despender, além das grandes perdas daí decorrentes que impediam o crescimento e a melhoria dos processos produtivos na pecuária bovina. 1811–1814: forças portuguesas invadem a Banda Oriental 1816: Artigas organiza a resistência contra os portugueses 1820–1821: Artigas é derrotado, recomeça a resistência no Uruguai 1828: Independência do Uruguai 1835–1845: Revolução Farroupilha 1848–1851: Guerra Grande quando o Brasil apoia os caudilhos e intervém no Uruguai 1851–1852: Guerra com a Argentina derrotando Rosas 1864–1870: Guerra do Paraguai 1893–1895: Revolução Federalista
  • 25. 25 Fazenda Seival, Caçapava do Sul, RS # # Ronai Rocha
  • 26. 26
  • 27. No período colonial, a Estrada das Missões era uma via geral, com traçado sul-norte, que cortava os domínios da Banda Oriental do rio Uruguai, território dominado pela Província Jesuítica do Paraguai, onde existiam sete de suas trinta cidades, adstritas por povoados, estâncias, capelas, ervais e propriedades coletivas dos indígenas no atual Rio Grande do Sul. A ela se conectavam todos os demais caminhos. Seus fluxos estabeleciam conexões com o Rio da Prata, Rio Pardo, as Vacarias dos Pinheirais (ou Pinhais) e, por diversas ra- mificações, com os Povos da margem leste do rio Uruguai. Em seu dorso principal percorria os planos genericamente mais ele- vados dos territórios, entre nascentes. Nos pontos de travessias de rios e arroios, denominados de passos, preferencialmente onde as águas nivelavam e tinham pouca correnteza, os mis- sioneiros mantinham balsas, canoas ou utilizavam pelotas (em- barcações de couro vacum). No fundamental, pela Estrada das Missões transitavam tropas de animais (vacas, bois, touros, ca- valhadas, ovelhas, mulas e burros), muares de carga e carretas destinados ao transporte de charque, erva-mate, couros, sebo, madeiras etc. Dela também ramificavam caminhos para os rios navegáveis, onde mantinham embarcações de baixo calado, propulsionadas à vela e remo. No atual Rio Grande do Sul, a Estrada das Missões tinha o seu ponto inicial predominante noAceguá.A ele se conectava um sis- tema de vias com origem na costa do Rio da Prata, na região do Delta delTigre, foz do Santa Luzia, então chamada deCanelones. Deste local bifurcavam quatro estradas. Uma seguia para a Colônia do Sacramento e Arraial de Veras. A segunda se dirigia para Montevidéu, Maldonado e Castillos, na margem sul da lagu- naNegra,cartografadatambémcomolagunadosDefuntos.Fazia parte do Caminho do Litoral, integrado às capitanias do Brasil meridional. A terceira avançava às nascentes do Santa Luzia, no departamento de Lavalleja, prosseguia pelo entãoCerro dos Reys (CuchillaGrande) e, depois, também, aCastillos.A quarta rumava para o norte, deixando à direita a Cuchilla Grande, de topografia elevada, até às cabeceiras do Rio Negro, no Aceguá. Nesta rede, Castillos era outro local privilegiado, de conexão com os demais locais. De suas coordenadas, mais uma estrada corta- va para o oeste, para logo bifurcar em dois prolongamentos: um, contornando a laguna Negra, deixando-a a direita e atingindo o forte de San Miguel, na margem do arroio homônimo (manan- cial demarcador da fronteira Brasil – Uruguai), com sua foz na la- goa Mirim, onde existia um porto, cujas embarcações poderiam singrar nos seus afluentes navegáveis, penetrar no canal São Gonçalo, chegar a lagoa dos Patos, com conexões ao Guaíba, Jacuí e seus rios, além de sair ao Atlântico, pela barra do Rio Grande. DoSan Miguel, por terra o caminho também ligava-se ao Chuí e o Caminho do Litoral. O outro prolongamento, cortando os departamentos de Rocha, Lavalleja e Flórida, conectava-se em Durazno a estrada Delta delTigre/Canelones/Aceguá. DoSan Miguel, a cavalo, também se podia contornar pelo sul da la- goaMirim,baldearoCebollatieiraopassodoChileno,norioNegro. Então, ligava-se com Canelones, Aceguá, além de rumar para as passagens do rio Uruguai paraCorrientes e Santa Fé (Argentina). Ao Aceguá também chegava o caminho que iniciava na vila de Rio Grande, atravessava o canal São Gonçalo, acompanhava a margem meridional do rio Piratini e seguia até aquele ponto, nas nascentes do Rio Negro. Dessa forma, no Aceguá, na fronteira Brasil-Uruguai, a Estrada das Missões (também denominada Estrada dos Índios) consti- tuía-se no acesso principal aos Sete Povos, ao mesmo tempo que figurava como a artéria principal de uma malha com diversas ligações. Seu percurso pela topografia mais elevada, entre nas- centes ou rios e arroios com passos organizados e com suportes aos viajantes, possibilitavam vencer a jornada. Por ela e suas ra- mificações, em distâncias mais ou menos regular de 60 quilôme- tros, existiam as sedes das estâncias, algumas com características de povoados, com lavouras e pastoreio organizados, rancherios e postos de controle nas invernadas. Essas unidades eram pon- tuadas por capelas adornadas de estátuas de madeiras talhadas pelos próprios missioneiros. O CAMINHO das Missões LUIZ CARLOS Tau Golin Caminho das Missões Fonte: Miguel de Blasco, Acervo do Ministério da Educação, Cultura e Esporte, Espanha 27
  • 28. Já na fronteira, a mais importante era a sede da grande estância de SantaTecla (atual município de Bagé), com povoado (rancherio), ca- pela, produção de cerâmica e uma milícia formada para proteger os limites missioneiros e combater, em especial, os gaudérios/gaúchos que iam roubar-lhes gados, mulheres e crianças. De Santa Tecla, a estrada prosseguia até a Boca do Monte (atual SantaMaria),onderamificavaumcaminhoparaoleste,aoPassodo Jacuí e Rio Pardo, conectando as estâncias, ervais e capelas da ba- cia doJacuí e cabeceiras doCamaquã. Do mesmo local, outro cami- nho prosseguia para o oeste, pela margem sul do Ibicuí atéCacequi, onde atravessava para a costa norte, em direção à grande estância deSantiago, seguia às nascentes do Bororé e ao Povo deSão Borja. Da conexão destes dois ramais na Boca do Monte, a Estrada das Missões prosseguia para o norte pelo perau de subida até o posto de São Martinho, passando da topografia da Pampa/Campanha para o Planalto.A seguir atravessava a estância deTupanciretã, continuan- dopelasnascentesdoToropi,JaguariePiratinim,chegandoàcidade deSão MiguelArcanjo. Deste Povo ramificava aos outros seis. Das cabeceiras do Piratinim, saia uma via pela direita da Estrada das Missões, rumando para o nordeste, entre os afluentes dos rios Uruguai e Jacuí, até Vacaria e os Campos de Cima da Serra. Por esta razão, ficou conhecida como Caminho do Meio. Em seu traçado, nas nascentes do Jacuí, bifurcava outro itinerário para oeste, rumo a Santo Ângelo, pelos nascedouros ou afluentes do norte do rio Ijuí. Antes do sistema missioneiro transformar a Estrada em prin- cipal artéria nos séculos XVII e XVIII, ela já era usada como ca- minho ancestralmente pelos indígenas. A sua ramificação à Vacaria era negociada com os Kaingang, etnia Jê que domina- va o Planalto, além dos Xokleng. Sobre o dorso da Estrada das Missões, em 1755-1756, naGuerraGuaranítica (1753-1756), com alguns reparos, os exércitos coligados de Portugal e Espanha conseguiram trafegar o seu poderoso trem de guerra, com ca- nhões e dezenas de carretas. Historicamente, sobre quase toda a malha dos caminhos indíge- nas estão as rodovias contemporâneas. 28
  • 29. 29 Serra do Caverá, RS # # Ronai Rocha
  • 30. 30
  • 33. 33 Capítulo 3 FISIONOMIA dos Campos Gerhard Ernst Overbeck, Ilsi Iob Boldrini, Marta Regina Barrotto do Carmo, Élen Nunes Garcia, Rosemeri Segecin Moro, Cassiano Eduardo Pinto, Rafael Trevisan & Ana Zannin Ecossistemas campestres no Brasil O Brasil é conhecido, no mundo inteiro, por suas extensas áreas de florestas tropicais (Floresta Amazônica, Mata Atlântica) e pela alta biodiversidade destes ecossistemas, porém temos muito mais do que florestas. A cobertura vegetal natural do país também é constituída por formações vegetais abertas, que incluem: o Cerrado com diversas fisionomias de savana, desde o campo limpo até o Cerradão no bioma Cerrado; os Campos de Altitude, no bioma Mata Atlântica; os campos e savanas úmidos do Pantanal; e os Campos Sulinos, ecossistemas campestres da região Sul do Brasil. Estas diferentes vegetações campestres são caracterizadas por alta riqueza de plantas e animais e belezas cênicas únicas. Apesar do crescimento das atividades de pesquisa sobre os Campos Sulinos e do melhor entendimento de sua composi- ção e ecologia, os campos ainda são pouco considerados quan- to à importância da sua biodiversidade e à sua conservação. É importante ressaltar que a vegetação campestre nativa difere profundamente de pastagens cultivadas, que geralmente são formadas por espécies exóticas e que resultam da eliminação da vegetação original. Neste livro, e em especial neste capítulo, trataremos da vegetação campestre constituída por espécies na- tivas, ou seja, dos campos naturais. Campos Sulinos O termo Campos Sulinos é utilizado para denominar as regiões campestres nos três estados da região Sul do Brasil, Rio Grande do Sul (RS), Santa Catariana (SC) e Paraná (PR). Apesar de ocupar menos de 7% da superfície terrestre do Brasil, essa região é bastante heterogênea, tanto em suas condições climáticas e de solo, quanto em relação às suas fisionomias vege- tais, e a contribuição da vegetação campestre em termos de área. A diversidade dos campos é evidenciada quando conside- ramos que os Campos Sulinos fazem parte de dois biomas dife- rentes: Campos da metade sul e oeste do RS, com a paisagem do- minada pela vegetação campestre e inseridos no bioma Pampa; vegetação campestre do Planalto Sul-Brasileiro, na porção norte do RS e nos estados de Santa Catarina (SC) e Paraná (PR), que faz parte do bioma Mata Atlântica. Santo Antônio das Missões, RS # # Bianca Andrade
  • 34. 34 Espécies adaptadas às condições extremas em afloramento rochoso nos campos # # Valério Pillar Os campos do bioma Pampa estendem-se ao sul e a oeste pela República Oriental do Uruguai e províncias argentinas de Corrientes,EntreRios,SantaFé,Córdoba,BuenosAireseLaPampa. A região inteira, desde Bahia Blanca na Argentina até Porto Alegre, é denominada Pastizales del Rio de La Plata, com 760.000km2 de extensão. O bioma Pampa brasileiro é a porção mais ao norte desta grande região campestre. No bioma Pampa também ocorrem formações florestais, mas elas não dominam a paisagem. A vegetação campestre na metade norte do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná está situada na parte sul do bioma Mata Atlântica e compõe mosaicos com a Floresta com Araucária, em altitudes entre 700 e 1.300 metros (até mais de 1.800 metros nos locais mais altos). Ao norte da região dos Campos Sulinos, no estado de Paraná, os campos encontram-se com a vegetação de savana do bioma Cerrado. O limite entre os biomas Pampa e Mata Atlântica, aproximadamente ao longo do paralelo 30° de latitude Sul, é demarcadopelasdiferençasclimáticasepelaorigemecomposição diversificada das floras. Muitas espécies de plantas mais tropicais têm aí o seu limite sul, enquanto que outras espécies mais temperadas o seu limite norte de distribuição. Existe uma clara distinção florística entre os campos do bioma Pampa, no sul do RS, e os campos do bioma Mata Atlântica. Mas um grande número de plantas, incluindo algumas das mais abundantes, ocorre em ambos os biomas, o que justifica o emprego do termo Campos Sulinos para a região como um todo.
  • 35. O termo Estepe é utilizado pelo IBGE para a vegetação campes- tre do Sul do Brasil, com exceção de uma pequena região no oes- te do Rio Grande do Sul, o Parque do Espinilho e arredores que é denominada de Savana Estépica. No entanto, o termo não é apropriado, visto que sua utilização não corresponde ao seu uso internacional. O termo Estepe, na literatura ecológica, é empre- gado para campos sob clima temperado semiárido, onde a baixa precipitação durante a estação quente impede o crescimento de vegetação florestal – o que não é o caso noSul do Brasil. Por outro lado, o termo Savana também não descreve os Campos Sulinos de forma correta, pois é comumente utilizado para a vegetação Campos Sulinos: campos, savana ou estepe? Vegetação campestre no Sul do Brasil: os Campos Sulinos incluem áreas no bioma Pampa e no bioma Mata Atlântica (classificação de biomas segundo IBGE). PR: Paraná SC: Santa Catarina RS: Rio Grande do Sul Fonte: Laboratório de Geoprocessamento/UFRGS. em que coexistem estratos lenhoso e herbáceo distintos, sob clima tropical e com precipitação fortemente sazonal (como no caso do Cerrado), o que também não é o caso na região Sul. Na expressão Savana Estépica foram combinados dois termos utili- zados para tipos de vegetação muito distintas, o que gera mais confusão ainda. Assim, sugerimos que para a região aqui tratada seja utilizado o termo Campos Sulinos, que também correspon- de à terminologia utilizada para a grande região dos Pastizales del Rio de La Plata, onde os nossos Campos Sulinos são incluídos nos Campos del Norte, já que constituem a parte mais ao norte desta grande região de vegetação campestre. 35
  • 36. 36 Fatores que determinam a fisionomia dos Campos Sulinos A aparência geral dos campos, sua fisionomia, é determi- nada pela estrutura da vegetação, mais especificamente pelo grau de cobertura e pela altura do estrato herbáceo e pela presença ou ausência de espécies lenhosas na matriz herbácea. Na maioria dos ecossistemas campestres do mundo, são principalmente as gramíneas que definem a estrutura do estrato herbáceo, mesmo quando ocorre uma alta riqueza de espécies de outros grupos. Há fisionomias muito distintas de campo, o que nos leva a perguntar quais são, afinal de contas, os fatores que determinam as diferen- ças entre as fisionomias campestres. Podemos distinguir três grupos principais de fatores: fatores climáticos; fatores de solo e relevo; fatores relacionados ao manejo. A influência do clima, solo e relevo O clima na região dos Campos Sulinos é subtropical úmido, ou seja, tem verões quentes, mas não apresenta uma estação seca pronunciada. Os verões são mais frios no Planalto, no norte do RS, em SC e no PR, com a temperatura média anual em torno de 16 a 22°. No bioma Pampa, a amplitude térmica anual é maior, e os valores de precipitação diminuem em direção ao sul e interior do continente, com valores em torno de 1.300mm, e curtos períodos de seca no verão. A precipitação é maior na região da borda leste do Planalto, com 1.500 a 2.000mm anuais, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano. As diferenças climáticas na região dos Campos Sulinos como um todo são bem claras e influenciam a composição das es- pécies nos campos. Chama-nos atenção o aumento das gramíneas com rota fotossintética C3, em direção ao sul, na medida que o clima torna-se mais temperado. No sentido leste a oeste, há redu- ção da precipitação média e aumento dos períodos mais secos no verão, que causam a maior participação das espécies adaptadas às condições de seca. No entanto, os fatores climáticos não agem isolados e sim em conjunto com os fatores de solo; os últimos podem influenciar claramente a vegetação campestre na escala regional, e às vezes mascaram os efeitos da variação climática. Os solos mais rasos condicionam a menor capacidade de armazenamento de água e proporcionam condições hídricas ex- tremas para as plantas, principalmente no verão. O tipo de subs- trato também é importante. Os solos arenosos, por exemplo, são caracterizados pela baixa retenção de água, o que também pode criar condições de estresse para as plantas. Em condições de seca, o crescimento das plantas pode ser mais lento, e muitas espécies apresentam adaptações para evitar a perda de água, como folhas reduzidas ou presença de pilosidade. Por outro lado, quando a drenagem é impedida, as plantas enfrentam o estresse oposto, o excesso de água. Nestas situações, os campos geralmente são do- minados por espécies das famílias ciperáceas ou xiridáceas, ou por gramíneas adaptadas a essas condições, como a grama-boiadeira (Luziola peruviana), que é aparentada ao arroz. Em quase todas as fisionomias campestres podemos encon- trar tanto áreas com muito alta quanto áreas com baixíssima dispo- nibilidade de água, em função do relevo, da profundidade do solo ou da constituição do solo. Os afloramentos rochosos e as turfeiras são tipos de ambiente extremo presentes nas paisagens campestres. Nos afloramentos rochosos, encontramos espécies de cactos, bromélias e orquídeas. Nas turfeiras, ocorrem briófitas, especialmente os esfag- nos, e ciperáceas. Também ocorrem espécies de plantas carnívoras, que são plantas indicadoras da baixa disponibilidade de nutrientes. Histórico e efeitos do manejo O clima, solo e relevo influenciam a distribuição das es- pécies numa escala regional, mas o manejo é fundamental para definir as diferentes fisionomias campestres locais. A vegetação campestre, nas zonas tropicais e subtropicais, evolui sob a in- fluência do fogo e do pastejo e pisoteio dos herbívoros. Devido à coevolução com estes fatores, as plantas campestres podem ser consideradas adaptadas a estes distúrbios e desenvolveram es- truturas que permitem que elas resistam ao fogo ou ao pastejo, ou que consigam regenerar as suas populações rapidamente.
  • 37. 37 Como exemplo de estruturas de escape à predação, temos as folhascortantesesilicosasdegramíneascespitosascomoamacega- estaladeira (Saccharum angustifolium), os meristemas protegidos no nível do solo no capim-caninha (Andropogon lateralis), o desenvolvimento de rizomas (caule subterrâneo) no capim- forquilha (Paspalum notatum) e os estolões em várias espécies de Axonopus. Especialmente as gramíneas rasteiras (rizomatosas ou estoloníferas) conseguem recuperar a sua biomassa foliar rapidamente após ser removida pelo animal e podem se manter mesmo sob condições de uma alta intensidade de pastejo. O fogo é outro fator de distúrbio que influencia na diversi- dade desta formação vegetacional, especialmente no norte do Rio Grande do Sul, onde é tradicionalmente utilizado como prática de manejo. Gemas protegidas no nível do solo ou na base das tou- ceiras no caso das gramíneas, ou ainda presença de estruturas subterrâneas, como os rizomas, os xilopódios, comuns nas legu- minosas, e os bulbos das iridáceas e amarilidáceas permitem a rápida regeneração da vegetação após uma queimada. Em muitas espécies, o próprio fogo também estimula o florescimento e a pro- dução de sementes das plantas. Desta forma, processos ecológicos como pastejo e fogo podem ser considerados indispensáveis para a manutenção dos campos e da sua biodiversidade, e o próprio manejo dos campos possui um papel importante em determinar a fisionomia vegetal. Quandoapressãodepastejoémaisintensa,avegetaçãoécomposta apenas pelo estrato rasteiro e baixo, e dominada pelas gramíneas rizomatosas ou estoloníferas. À medida que a pressão de pastejo diminui, a vegetação fica mais heterogênea e há o desenvolvimento de dois estratos, um rasteiro dominado por espécies rizomatosas, como o capim-forquilha (Paspalum notatum) e um mais alto, com gramíneas entouceiradas (cespitosas) e arbustos. Na ausência do pastejo, as gramíneas cespitosas, como o capim-caninha (Andropogon lateralis), dominam e, praticamente, não há ocorrência do estrato rasteiro. As gramíneas entouceiradas são fortes competidoras e tendem a acumular muita biomassa, o que causa a redução da diversidade de espécies menores. Desta forma, deixar o campo sem pastejo não pode ser considerado como a melhor estratégia para a conservação da biodiversidade campestre. O manejo também é importante para evitar a dominância de plantas arbustivas, como a chirca (Acanthostyles buniifolius) e o mio-mio(Bacchariscoridifolia),ambasespéciestípicasnoscampos do bioma Pampa, e da vassourinha (Baccharis dracunculifolia), que é comum nos campos do Planalto. Quando a intensidade do pastejo é baixa, estas espécies podem ter uma cobertura alta e o campo é chamado de campo sujo, em contraste ao campo limpo, sem presença expressiva de arbustos. Na situação de abandono, Campo da Campanha sobre solos rasos. Estrutura e composição do campo são influenciados pelo manejo. Na esquerda, exclusão de pastejo, na direita pastejo contínuo # # Valério Pillar Campo abandonado na região dos Campos de Cima da Serra, RS. A espécie arbustiva Baccharis uncinella apresenta alta cobertura nestas condições # # Gerhard Overbeck
  • 38. 38 as espécies arbustivas aumentam sua cobertura e a entrada de espécies arbóreas pode propiciar que com o tempo se desenvolva um tipo de vegetação mais fechada. Na região dos Campos de Cima da Serra, no norte do RS e em SC, o uso de queimadas para a limpeza dos campos no final do inverno é uma prática tradicional. As queimadas selecionam gramíneas cespitosas, que são mais tolerantes ao fogo, como o capim-caninha, o capim rabo-de-burro, o cabelinho de porco ou outras espécies dos gêneros Andropogon, Schizachyrium e Aristida (todas espécies com rota fotossintética do tipo C4). Em consequência disto, há concentração da produção de forragem na estação quente do ano, em uma das regiões mais frias do Brasil, e há redução da proporção das gramíneas hibernais, com rota fotossintética C3, que não são adaptadas às queimadas. Campos do Bioma Pampa Os campos do bioma Pampa apresentam várias fisiono- mias, com diferentes composições florísticas, principalmente in- fluenciadas por características geomorfológicas, além das climá- ticas e relacionadas ao manejo e uso do solo. Campos da Campanha Os campos da região da Campanha podem estar sobre dois tipos de solos: rasos e profundos. Os solos rasos, que ocor- rem na fronteira oeste do RS, são formados a partir de rochas eruptivas e a vegetação campestre é submetida frequentemente a déficit hídrico no verão. Nesta região ocorrem muitas gramíne- as endêmicas e, devido às condições do solo, a vegetação nativa foi pouco transformada para outros usos. Os solos profundos ocorrem na parte sudeste da Campanha. Devido à melhor con- dição destes solos para o cultivo houve mais alterações na vege- tação campestre original, que foi, na sua maior parte, transfor- mada em áreas de lavoura. Nesta região, em consequência das temperaturas mais baixas no inverno, há elevada presença de gramíneas hibernais, como as flechilhas dos gêneros Nassella, Jarava e Piptochaetium. Campo da Campanha, Aceguá, RS # # Valério Pillar Campo da Campanha em solo raso, Quaraí, RS # # Valério Pillar
  • 39. 39 Campos sobre areais No centro-oeste do RS, encontramos solos arenosos, sujeitos a fortes processos de erosão e arenização que, junto com as condi- ções climáticas, criam circunstâncias extremas para a sobrevivên- cia das plantas. Em decorrência disto, esses campos têm cobertura vegetal baixa e muitas plantas com características associadas à so- brevivência em condições de estresse hídrico. As gramíneas com rizomas são dominantes e há alta riqueza de espécies da família das compostas. O sobrepastejo constitui um problema sério nesta região e pode contribuir para o início de processos erosivos graves. Campos no Escudo Granítico (Serra do Sudeste) O Escudo Granítico, no sudeste do RS, tem solos rasos e pedregosos. O relevo é em parte muito acidentado e os campos estão distribuídos em mosaicos com a vegetação arbórea e ar- bustiva. A intensidade do manejo é um fator principal para determinar a distribuição da vegetação arbórea/arbustiva e campestre, bem como a contribuição de espécies lenhosas. Os morros de Porto Alegre, conhecidos por sua alta diversidade vegetal, constituem a parte mais ao norte do Escudo Granítico. Campos da Depressão Central Nesta região, que se estende ao longo do vale do Rio Jacuí, no centro do RS, encontramos diferentes tipos de solos e uma vegetaçãocampestrecaracterizadapelapresençadedoisestratos,o mais baixo é dominado por gramíneas rizomatosas, como o capim- forquilha, e o mais alto por touceiras de gramíneas cespitosas, como o capim-rabo-de-burro (Schizachyrium microstachyum) e por espécies de compostas. Grande parte das áreas de campo desta região já foram transformadas em lavouras. Campos do Litoral Na planície costeira, os solos são arenosos e pouco estru- turados. Os campos podem ser bem drenados com dominância de gramíneas prostradas e estrutura relativamente aberta, ou mal drenados, com alta riqueza de espécies e dominância de ciperáce- as. Nesta região, a vegetação campestre original já foi fortemente reduzida pela sua conversão para outros usos. Campos da Serra do Sudeste, Caçapava do Sul, RS # # Valério Pillar Campos do Litoral, Palmares do Sul, RS # # Valério Pillar
  • 40. 40 Campos do Bioma Mata Atlântica Os campos do bioma Mata Atlântica estão distribuídos desde o norte do Rio Grande do Sul até o Paraná, são denominados Campos de Altitude e conhecidos no RS como os Campos de Cima da Serra. Os campos de altitude ocorrem entremeados com florestas, principalmente a Mata com Araucária. São constituídos, predominantemente, por gramíneas entouceiradas, onde o capim-caninha (Andropogon lateralis) muitas vezes é a espécie dominante. Outras espécies típicas são o capim-mimoso (Schizachyrium tenerum), o capim-cabeludo (Axonopus siccus) e as carquejas (Baccharis crispa, Baccharis articulata), além de muitas outras flores atrativas do gênero das compostas, como o cravo-de-campo-catarinense (Trichocline catharinensis). No final do inverno, estes campos ficam amarelados devido à quantidade de palha seca que se acumula após o frio intenso – razão para o uso tradicional de queimadas em parte da região. Os remanescentes atuais de campos do bioma Mata Atlânticaseencontramsobresolosrasos,ondeavegetaçãooriginal ainda não foi substituída por lavouras ou áreas de silvicultura. Os campos do Planalto Médio do RS, quase que completamente transformados em lavouras, eram caracterizados pela presença marcante das barbas-de-bode (gramíneas do gênero Aristida). No PR restam pouquíssimos fragmentos de campo nativo, pois as condições do solo propiciam seu uso intensivo para lavouras e silvicultura. Nos últimos anos, a silvicultura (principalmente com Pinus spp.), tem ocupado grandes áreas na região, inclusive onde o solo é mais raso. Na região dos campos de altitude, a vegetação campestre responde às condições hidrológicas do relevo sub-superficial. De forma geral, os níveis de precipitação são altos durante o ano todo, especialmente mais ao sul, na região dos Aparados da Serra, onde podemos encontrar plantas indicadoras de altos níveis de umidade, como as ciperáceas. Nas áreas onde a drenagem do terreno é reduzida e, consequentemente, há saturação hídrica e baixa oxigenação, encontramos os campos úmidos (ou higrófilos). As características de solo nestes locais são altamente seletivas, e a decomposição de Silvicultura com Pinus sp. ocupando áreas de entorno do Parque Nacional da Serra Geral, Campos de Cima da Serra # # Valério Pillar Campos de Cima da Serra, Cambará do Sul, RS # # Valério Pillar
  • 41. 41 Mosaicos de campo e floresta com Araucária na região do Bom Jardim da Serra, RS # # Cassiano Pinto matéria orgânica é extremamente lenta, devido ao pH ácido e às baixas temperaturas, desta maneira formam-se solos com alto teor de matéria orgânica. Também podemos encontrar, em pequenas depressões de relevo, turfeiras inseridas na matriz campestre. Oscampossecossãoencontradosnasáreasbemdrenadas, ocupando posições de interflúvios e encostas menos dissecadas. Nestes campos, predominam as gramíneas estivais (dos gêneros Andropogon, Axonopus, Aristida e Paspalum). Os afloramentos rochosos, blocos e lajes parcialmente expostos, fornecem um microambiente diferenciado na paisa- gem campestre, exposto à escassez hídrica e alta insolação. Os líquens constituem a vegetação pioneira, presente em quase toda a superfície irregular destas rochas. Nas fissuras das rochas outras espécies conseguem se estabelecer, principalmente mus- gos e gramíneas, bem como cactáceas e bromélias e, às vezes, as espécies lenhosas. Nos campos de maiores altitudes, em SC e no PR, onde a influência de neblina é quase constante, o capim-caninha é substituído ou ocorre em conjunto com Andropogon macrothrix, que se estende por amplas áreas, frequentemente também está associado ao Axonopus ramboi, outra espécie cespitosa. Nestas áreas, o estrato inferior é ocupado por Paspalum pumilum, espécie típica de locais mais úmidos, e que apresenta rizomas curtos, formando touceiras achatadas contra o solo. Nestes campos, onde as temperaturas são mais baixas e as altitudes alcançam 1800 a 1900m, com períodos de geadas e eventualmente neve, ocorrem muitas espécies de gramíneas hibernais, como as dos gêneros Bromus, Chascolytrum, Melica, Poa e Nassella.
  • 42. 42
  • 45. 45 Capítulo 4 biodiversidade dos Campos Gerhard Ernst Overbeck, Luciana Regina Podgaiski & Sandra Cristina Müller O que é biodiversidade? O Brasil é conhecido como o país com a maior biodiversi- dade do mundo, abrigando cerca de 20% das espécies do nosso planeta, as quais ocorrem nos seis biomas presentes no país: Ama- zônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa, bem como nos ambientes costeiros associados a alguns destes biomas. O Brasil é um país megadiverso, mas afinal de contas o que se en- tende por Biodiversidade? Será que a biodiversidade dos Campos Sulinos é comparável à biodiversidade de uma floresta tropical? Nos capítulos que seguem, apresentamos alguns dados so- bre a biodiversidade dos ecossistemas campestres da região dos Campos Sulinos, considerando diferentes grupos de organismos (de plantas a animais). Mas antes, vamos definir um pouco melhor o que é biodiversidade e por que ela é tão importante para nós. O termo biodiversidade denomina a diversidade de todos os seres vivos (do grego bios = vida, e do latim diversitas = diversi- dade). Biodiversidade inclui a diversidade das espécies (animais, plantas, fungos, etc.), dos ecossistemas, e a diversidade genética das diferentes espécies. Não sabemos exatamente quantas espé- cies existem em nosso planeta: estima-se que são em torno de 10 milhões. Destas, somente 1,5 a 1,75 milhão de espécies já estão for- malmente descritas pelos cientistas. As florestas tropicais do Brasil e do mundo são conhecidas por sua alta biodiversidade. Na Amazônia, por exemplo, devem ocorrer em torno de 16.000 espécies de árvores, além de inúmeras outras espécies de plantas, animais e micro-organismos. E nos Campos do Sul do Brasil? Há biodiversidade comparável? Naturalmente, uma floresta é bem diferente de um campo, mas em termos de biodiversidade, as medidas também são uma questão de escala. Nos Campos Sulinos, há regiões com mais de 50 espécies de plantas em um único metro quadrado, e mais de 120 espécies de plantas em 100 metros quadrados. Para se ter uma ideia, mais de 700 espécies de plantas campestres foram registradas, até hoje, na pequena região dos morros graníticos de Porto Alegre. Pensando somente nas áreas de vegetação cam- pestre no estado do Rio Grande do Sul, temos registro de ocor- rência de mais de 2.600 espécies de plantas (em menos de 5% da área da Amazônia) (ver Capítulo 5). Aqui começamos a per- ceber que a simples quantificação de ser maior ou menor do que a biodiversidade de uma floresta tropical torna-se sem sentido. São ecossistemas e regiões muito distintos, com características próprias. Portanto, para fins de biodiversidade o que importa é que cada região e bioma tem uma biodiversidade característica e insubstituível. É importante que saibamos que a biodiversidade dos Campos Sulinos existe somente na região dos Campos Suli- Campo com butiá (Butia sp.), Quaraí, RS # # Omara Lange
  • 46. 46 Convenção sobre Diversidade Biológica A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)* é um dos mais importantes ins- trumentos internacionais relacionados ao meio ambiente. A CDB, um tratado da Organização das Nações Unidas, foi estabelecida durante a notória Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992, no Rio de Janeiro.A CDB continua sendo, até hoje, o principal fórum mundial para questões relacionadas ao tema, e mais de 160 países, entre eles o Brasil, já assinaram o acordo. AConvenção está estruturada sobre três bases principais – a conservação da diversi- dadebiológica,ousosustentáveldabiodiversidadeeapartiçãojustaeequitativados benefíciosprovenientesdautilizaçãodosrecursosgenéticos.Noentanto,implemen- taraCDBsignificatomardecisõesemproldeseusobjetivosnãosóemnívelnacional, mas também nos níveis estaduais e locais.ACDB constitui um arcabouço legal para a conservação, mas todos nós temos de contribuir para alcançar as suas metas! nos, e se queremos conservá-la, é aqui, nos Campos Sulinos que nós temos de fazer isso. No parágrafo acima apresentamos alguns números relaciona- dos às plantas, mas como vimos a biodiversidade vai muito além das plantas. Nos Campos Sulinos também é assim: um grande número de outras espécies vive nesses ecossistemas, desde insetos como formigas e borboletas, até aves e mamíferos, que utilizam recursos alimentares e de habitat que os ambientes campestres oferecem. Uma elevada diversidade de plantas, considerando diferentes espécies e estruturas vegetais no espaço horizontal e vertical, em geral resulta em maior diversidade de animais, pois há uma maior gamadehabitatsealimento.Outroscomponentesdabiodiversidade, comoporexemplo,osorganismosquevivemnosoloouintimamente associados às plantas (como fungos micorrizas), são praticamente desconhecidos. Isso nos remete ao fato de que grande parte da biodiversidade está escondida ou, pelo menos, não visível sob um olhar desatento ou sem o uso de um microscópio. *Veja em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_dpg/_arquivos/cdbport.pdf Biodiversidade local, regional ou global – o que considerar? Outra questão importante associada à biodiversidade, é que ela pode ser medida ou avaliada em diferentes escalas. Em geral, dados globais impressionam e nos dão uma ideia da mul- tiplicidade de formas e organismos presentes no mundo, mas nas escalas locais e regionais percebemos relações diretas entre o ambiente (condições e recursos disponíveis) e a biodiversida- de, e desta com os bens e serviços ecológicos. Todas as escalas de estudo são válidas, mas os efeitos das diferentes ações hu- manas sobre a biodiversidade dependem da escala considera- da. Vejamos um exemplo no contexto dos Campos Sulinos: a biodiversidade local é aquela visualizada em pequena escala – consideremos aqui desde poucos metros quadrados até um hectare – enquanto a regional é aquela que inclui também a va- riabilidade entre locais. A heterogeneidade de ambientes numa dada região aumenta a diversidade entre locais, ou seja, se tiver- mos uma gama de ambientes campestres – baixada, encosta e topo de coxilha, por exemplo – teremos uma variabilidade (bio- diversidade) maior entre locais. Como citamos anteriormente, a área dos Campos Sulinos do estado do RS tem um conjunto de 2.600 espécies de plantas campestres que, potencialmente, podem colonizar diferentes locais. O número de espécies que coexistem localmente é limitado, e a diferença entre locais é essencial para a manutenção da biodiversidade como um todo. Portanto, qualquer ação local ou regional de manejo / conserva- ção ou conversão / transformação da terra traz consequências para a biodiversidade. Todos somos responsáveis pela biodiversidade, e preservar a biodiversidade dos Campos Sulinos significa fazer isso nas diferentes regiões que constituem este complexo de ecossistemas. Qual é o valor da biodiversidade? A manutenção da biodiversidade é de altíssima importân- cia para nós, pois ela é o alicerce dos sistemas ecológicos, e tam-
  • 47. 47 Representação da diversidade existente nos campos # # Diogenes Machado [Foto central] SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS AVES ANFÍBIOS RÉPTEIS MAMÍFEROS Artrópodos PLANTAS
  • 48. 48 Valor de uso indireto – Outras espécies são utilizadas de forma indireta. Por exemplo, a abundância de flores na vegetação nativa proporciona uma alta abundância de insetos, os quais, por sua vez, também polinizam plantas cultivadas em lavouras ou po- mares adjacentes, resultando em uma melhor e maior produção de frutos e/ou sementes. Valor potencial – O potencial de uso de muitas espécies muitas vezes não é nem conhecido ainda, mas elas podem, futu- ramente, passar a ter um uso direto, como por exemplo o caso de plantas que possuem princípios ativos a partir dos quais podem ser desenvolvidos medicamentos. Um problema intrínseco à valoração da biodiversidade é que, com exceção do valor de uso direto, traduzir o valor da bio- diversidade em valor monetário é muito difícil, senão impossível. Como consequência, os múltiplos valores dos ecossistemas rara- mente são considerados em discussões sobre conservação, manejo e uso. Desta maneira, quando áreas originalmente campestres são transformadas em outros usos, há perda de ecossistemas campes- tres e dos bens e serviços deles decorrentes. Essas perdas, muitas vezes, ocorrem de forma silenciosa e despercebida, pelo menos no curto prazo. Iniciativas de considerar o valor ecológico de forma mais explícita em discussões sobre manejo dos campos ainda são muito recentes e pouco implementadas, mas, mesmo assim, pro- missoras para mudar essa situação, veja os Capítulos 14–17. A diversidade das fisionomias campestres na região dos CamposSulinoseadiversidadedosorganismosnelasencontrados serão apresentadas nos capítulos a seguir. bém a base da vida para todos nós, inclusive, para muitas das nossas atividades econômicas. Mesmo num mundo altamente tecnológico, precisamos dos recursos básicos que são providos pela natureza, pelos ecossistemas: oxigênio (resultado da fotos- síntese), água limpa (resultado do ciclo hidrológico, o qual é tam- bém afetado pela vegetação), e alimento (produção depende de condições adequadas de solo, água e nutrientes que são manti- das via processos ecossistêmicos mediados pela biodiversidade). Desta forma, a biodiversidade é essencial para diversos bens e serviços ecológicos para a humanidade (veja também o Capítulo 11). Sabemos, hoje, que inúmeras funções e processos ecológicos são estreitamente associados à biodiversidade, ou seja, os sis- temas ecológicos funcionam de acordo com sua biodiversidade. Sob o ponto de vista humano, o valor da biodiversidade pode ser classificado em diferentes categorias: Valor intrínseco – Todas as espécies são importantes intrinsecamente, em razão da sua própria existência, por uma questão de ética. Valor funcional – Cada espécie possui um papel funcional particular no ecossistema e é o conjunto de todas as espécies que garante o funcionamento dos ecossistemas. Plantas fotossinteti- zantes participam do ciclo de gás carbônico, predadores regulam a densidade das presas, fungos micorrizas participam da cicla- gem de nutrientes, e etc. Valor de uso direto – Muitas espécies são utilizadas dire- tamente pelo homem, como alimento para nós ou nossos animais domésticos, ou como matéria-prima para produção de bens.
  • 50. 50
  • 51. 51 Cerro do Jarau, Quaraí, RS # # Omara Lange
  • 53. 53 Capítulo 5 bioDIVERSIDADE DE PLANTAS Ilsi Iob Boldrini, Gerhard Overbeck & Rafael Trevisan Diversidade de plantas Os campos são pobres em espécies quando comparados às florestas? Os gramados de nossos jardins ou as pastagens cultivadas talvez o sejam, mas os campos nativos do Sul do Brasil certamente não o são. Olhando de longe, a vegetação campestre pode parecer homogênea, mas ao observarmos mais atentamente, logo percebe- mos a grande diversidade de espécies e de tipos de plantas. Nos Campos Sulinos existem mais de 3.000 plantas superio- res, sem considerar musgos, samambaias ou liquens. Somente no Rio Grande do Sul, onde está a maior proporção de campos na Re- gião Sul, são conhecidas mais de 2.600 espécies, pertencentes a 89 famílias, algumas delas com diferentes variedades ou subespécies. Destas, 2.150 espécies ocorrem nos Campos do bioma Pampa e 1.620 nos Campos do bioma Mata Atlântica. A estrutura da vegetação campestre geralmente é formada por gramíneas, que podem ter hábito rasteiro (espécies prostradas) ou mais ereto (espécies cespitosas, formam touceiras). No meio das gramíneas podemos encontrar muitas outras espécies, desde ervas pequenas até arbustos. A grande maioria destas plantas é de vida longa, ou seja, são espécies perenes. Mesmo assim, existe uma pronunciada dinâmica temporal nos campos: no início da primaveraflorescemdiversasplantasgeofíticas(combulboououtras estruturasdereservanosolo),comoabibi-do-brejo(Herbertialahue) e Calydorea crocoides, ambas da família das Iridáceas. A primavera é o período de desenvolvimento das gramíneas hibernais, com metabolismo fotossintético C3, e indicativas da lo- calização geográfica dos Campos Sulinos. Quando a temperatura aumenta, as gramíneas C4 começam a emitir suas inflorescências e, junto com elas, um grande número de outras espécies também florescem. Essa alternância na época de florescimento das plantas campestres garante que de um mês para outro, o aspecto da vege- tação mude completamente. Principais famílias Botânicas nos Campos Sulinos A dominância das gramíneas caracteriza os campos, elas formam um contínuo e determinam a fitofisionomia da paisagem campestre. Em meio às gramíneas destacam-se espécies de várias famílias botânicas: Compostas, Leguminosas, Ciperáceas, Verbenáceas, Lamiáceas, Iridáceas, Apiáceas, entre outras mais. Flor (Turnera sidoides) com visitante (Astylus quadrilineatus) # # Omara Lange
  • 54. Para estudar e analisar a composição florística de uma área de campo, geralmente realizamos o levantamento da vegetação em parcelas distribuídas na área, de forma representativa. Todas as espécies presentes nestas parcelas são identificadas a campo e aquelas desconhecidas são coletadas e identificadas em labo- ratório, através de chaves analíticas de bibliografia específica. Diferente do censo da vegetação arbórea, é impossível definir indivíduos para a maioria das plantas campestres, já que muitas espécies crescem em um sistema modular, com hábito estoloní- fero, entouceirado ou rizomatoso. Desta forma, a cobertura de cada espécie é estimada na parcela, geralmente utilizando uma escala com intervalos definidos (por exemplo, 10%). Com base nos dados levantados em um número grande de parcelas, é pos- sível calcular a frequência relativa e a cobertura relativa de cada espécie encontrada no levantamento. A combinação destes dois valores resulta no Índice deValor de Importância, o qual é utiliza- do para indicar as espécies mais importantes de uma dada área de campo. A partir destes dados também são realizadas análises mais complexas que buscam correlacionar padrões da vegetação com variáveis ambientais como por exemplo, de solo, buscando explicar a variação na vegetação. Nos projetos de pesquisa sobre os campos, as espécies coleta- das em estado reprodutivo são prensadas, secas e depois incor- poradas ao Herbário, constituindo uma exsicata, com todas as informações pertinentes: identificação da espécie, local e data da coleta, nome e número do coletor, nome do identificador e observações gerais da espécie. Coleções como o Herbário ICN da UFRGS, são de alta importância para a pesquisa em biodiver- sidade, já que fornecem informações importantes sobre a flora da região e o material necessário para trabalhos científicos sobre diferentes grupos de plantas, incluindo a taxonomia, morfologia e distribuição geográfica de plantas, bem como para a confecção de chaves de identificação.Atualmente, muito material deposita- do em herbários já está disponível em forma digital, assim permi- tindo o acesso por pesquisadores em outras regiões do mundo. Métodos de pesquisa sobre a diversidade de plantas Levantamento da vegetação Glandularia platensis Disynaphia multicrenulata Chaptalia sinuata Desmodium incanum Aspilia montevidensis Adesmia psoraleoides 54
  • 55. 55 Aspilia montevidensis Cereus hildmannianus Eleocharis nudipes Kelissa brasiliensis Adesmia latifolia Pavonia glechomifolia Paspalum lepton Glandularia platensis Campuloclinium macrocephalum Frailea sp. Bulbostylis communis Herbertia lahue Desmodium incanum Pavonia subrotunda Sorghastrum pellitum Glandularia marrubioides Gyptis pinnatifida Parodia langsdorfii Cyperus virens Sisyrinchium micranthum Galactia neesii Krapovickasia macrodon Paspalum notatum Glandularia peruviana Senecio selloi Parodia sp. Rhynchospora holoschoenoides Calydorea crocoides Lathyrus crassipes Waltheria communis Nassella neesiana Glandularia subincana asteraceaE cactaceaE Cyperaceae iridaceae Fabaceae malvaceaE poaceaE verbenaceaE Famílias botânicas mais representativas dos Campos Sulinos # # Ilsi Iob Boldrini, Omara Lange e Sérgio Bordignon
  • 56. 56 Gramíneas (Poaceae) São mais de 9.000 espécies de gramíneas no mundo e 1.485 no Brasil. No Rio Grande do Sul, são 473 espécies nativas, destas 423 ocorrem nos campos. Algumas espécies da família são fundamentais para a alimentação humana no mundo intei- ro, como o trigo, o milho, o arroz, a cevada e o centeio. Suas flo- res são pouco vistosas, mas produzem uma grande quantidade de sementes. As gramíneas são dominantes nos campos e mui- tas apresentam alto valor forrageiro. A multiplicação vegetativa acentuada (o que permite o rebrotamento após fogo ou consu- mo por animais pastejadores) e a polinização realizada pelo vento são características muito vantajosas dos representantes desta família e foram importantes para o desenvolvimento de ecossistemas campestres no mundo. As gramíneas apresentam dois grandes grupos de plantas, as de porte ereto e as prostradas. O capim-caninha (Andropogon lateralis) é a principal espécie dentre as eretas, tem ampla distribuição geográfica na região dos Campos Sulinos, preferencialmente em solos úmidos. Este capim, quando pastejado, tem os pontos de crescimento rente ao solo e assim consegue se proteger e se manter e, quando excluída do pastejo, a espécie pode formar touceiras altas. Como é uma gramínea de metabolismo fotossintético C4, apresenta folhagem resistente; ao seu redor, são encontradas plantas mais frágeis, como a cola-de-lagarto (Mnesitea selloana) ou aquelas que completam seu ciclo reprodutivo no início da primavera, como espécies de Chascolytrum. Entre as plantas altas que formam grandes touceiras, destaca-se a macega-estaladeira (Saccharum angustifolium) com folhas cortantes. Em regiões onde as temperaturas de inverno são mais amenas e os verões quentes, podem dominar as barbas-de-bode, espécies de Aristida, que formam touceiras com folhas filiformes e aristas longas. Estas plantas têm alto conteúdo de fibras, por isso são pouco pastejadas pelos animais, tornando-se cada vez mais dominantes. Abaixo das touceiras, as plantas prostradas, como o capim-forquilha (Paspalum notatum) e a grama-tapete (Axonopus affinis) cobrem o solo e passam também a dominar. COMPOSTAS (Asteraceae) A família das compostas tem mais de 23.000 espécies distri- buídas no mundo, destas 2.065 ocorrem no Brasil. No Rio Grande do Sul há 569 espécies, 480 são campestres. A maioria das com- postas são ervas e arbustos, raramente arbóreas. Apresentam inflo- rescências vistosas e ornamentais, como as margaridas, as dálias e os crisântemos, plantas cultivadas no mundo inteiro. Destacamos também o girassol e a alface, ambos do Hemisfério Norte, por sua importância econômica. O picão e o carrapicho são exemplos de in- vasoras de culturas agrícolas que ocorrem no Sul do Brasil. Existem várias espécies com uso medicinal, como a marcela (nativa dos Campos Sulinos), a camomila e a arnica. A estratégia de polinização por insetos e a dispersão de suas sementes pelo vento ou por animais podem explicar o êxito alcançado pelos representantes desta família que ocorrem sob todos os climas do mundo, muitas vezes com um alto número de espécies. Apesar das compostas (Asteraceae) constituírem a família de maior riqueza específica no RS (480), elas ocorrem entremeadas às gramíneas. Dependendo do ambiente, podem formar densas populações, como no caso de diversas espécies arbustivas ou subarbustivas, como a carqueja (Baccharis crispa), a chirca (Acanthostyles buniifolius) e o mio-mio (Baccharis coridifolia). Estas espéciessãoplantasmaisraramenteconsumidaspelosanimaise,no seu entorno, as gramíneas muito palatáveis, como as flechilhas e os cabelos-de-porco (Nassella spp. e Piptochaetium spp.) se protegem da herbivoria, conseguindo florescer e frutificar, mantendo e/ou aumentando suas populações. Além dos representantes arbustivos, a família das compostas contém muitas plantas ornamentais que dão diferentes tons aos campos de flores rosadas (Vernonanthura nudilflora), amareladas (espécies de Senecio) e esbranquiçadas (Baccharis spp.), e que pode- riam ser utilizadas com este fim no paisagismo. As flores amarelas do cravo-do-campo (Trichocline catharinensis) se destacam em meio aos campos de altitude, enquanto a margarida-do-campo (Aspilia monte- vidensis) é comum nos campos em geral. Entre as espécies muito co- muns dessa família destacamos Chevreulia sp. e de Chaptalia sp., com rosetas foliares que ficam rentes ao solo, cobrindo a superfície.
  • 57. 57 Leguminosas (Fabaceae) São 19.500 espécies de leguminosas no mundo e 2.802 no Brasil. No Rio Grande do Sul são 324 espécies, e destas 234 são campestres. Geralmente têm flores vistosas e folhas compostas. São ervas, arbustos e árvores. Nesta família há muitas espécies de valor alimentício, como o feijão, a lentilha, a ervilha e o amendoim. Outras têm elevado valor forrageiro, como o trevo-branco, o cornichão e as ervilhacas; estas espécies cultivadas são muito utilizadas na região. Embora não aproveitadas comercialmente, nos Campos Sulinos também há espécies com alto valor forrageiro e flores muito vistosas, ou seja, com valor ornamental. As leguminosas são conhecidas por serem capazes de captar nitrogênio do ar e incorporá-lo ao solo, através da simbiose entre as suas raízes e bactérias (Rhizobium spp.), aumentando o teor de matéria orgânica do solo. Muitas espécies estão adaptadas ao pastejo e ao uso do fogo, o que fica evidente pela presença de estruturas subterrâneas, conhecidas como xilopódios. Nos Campos Sulinos há mais de 240 leguminosas, que mesmo ocorrendo isoladas não passam despercebidas com seu colorido salpicando o esverdeado das gramíneas. Há muitas leguminosas nos campos de altitude, sendo a mais comum Macroptilium prostratum, de folhas compostas trifolioladas, flores amarelas, com longos caules que se dispõem sobreouentreasdemaisplantas.Espéciesdefloresmulticoloridas ocorrem em meio ao verde do campo: amarelas como as babosas (Adesmia spp.), flores vináceas como Galactia neesii, e flores azuis e vermelhas como nos tremoços (Lupinus spp.). Nos campos do centro do RS, o pega-pega (Desmodium incanum) é a espécie mais comum, bem conhecido por suas folhas compostas trifolioladas, e pelas sementes que grudam na pele de animais ou nas botas e calças de quem anda no campo. À medida que avançamos para o sul, aumenta a riqueza das espécies hibernais pertencentes aos gêneros Adesmia e Lathyrus. Além disso, frequentemente encontramos muitas espécies de Mimosa, algumas chamadas, pela presença de acúleos pontiagudos, de raspa-canela, e as quais apresentam porte diverso, desde plantas rasteiras até arbustivas, com inflorescências amarelas, brancas e rosadas. Cyperaceae Das5.000espéciesexistentesnomundo,673estãonoBrasil. No Rio Grande do Sul há 189 espécies, destas 145 campestres. As ciperáceas são plantas herbáceas, com inflorescências pouco vistosas. Produzem grande número de sementes e muitas ainda apresentam multiplicação vegetativa, por isso são tão comuns e às vezes ocupam grandes extensões de campo, especialmente em ambientes úmidos. As ciperáceas parecem muito semelhantes entre si, mas a riqueza específica é alta. Predominantemente, elas são adaptadas aos ambientes úmidos, por isso é uma família muito importante nas baixadas litorâneas, nas margens de rios e nas turfeiras dos campos de altitude. Espécies do gênero Eleocharis se destacam e dominam, por apresentarem estruturas vegetativas muito desenvolvidas, formando tapetes contínuos, como por exemplo Eleocharis bonariensis. Porém, alguns gêneros são exclusivos de locais secos, comoBulbostylisealgumasespéciesdeRhynchospora.Caberessaltar que muitas ciperáceas são indicadoras de áreas alteradas, como Cyperus hermaphroditus, Cyperus rotundus e Cyperus luzulae. Verbenaceae São1.200espéciesdeverbenáceasnomundo,noBrasilhá288 e no Rio Grande do Sul são 72 espécies, destas 67 campestres. Nesta família há ervas, arbustos e árvores, às vezes providos de espinhos. Ocorrem em ambientes diversos: beiras de estrada, dunas, campos secos, arenosos, pedregosos e úmidos, banhados e turfeiras. Algumas espécies são cultivadas como ornamentais, como o pingo-de-ouro e a camará. A erva-cidreira, de uso medicinal, também é desta família. As verbenáceas do gênero Glandularia se destacam na vegetação pelo colorido, são plantas extremamente ornamentais, pois apresentam flores de coloração de diferentes tons, variando de lilás, róseas, vermelhas até brancas. Algumas espécies desta família são comuns em áreas alteradas como margens de rodovias. Entre elas destacam-se Verbena rigida, Verbena bonariensis e Verbena montevidensis.
  • 58. 58 Cactaceae São citadas 1.500 espécies no mundo, no Brasil 260 e no Rio Grande do Sul 72 espécies, destas 57 campestres. São ervas geralmente suculentas, globosas ou com caules segmentados em cladódiosachatadosoucolunares,raramentearbustosouárvores. Em geral tem as folhas transformadas em espinhos. São plantas características de ambientes secos, pedregosos, embora algumas espécies possam ser encontradas em florestas. Várias cactáceas são cultivadas como ornamentais, e a coleta destas espécies é um fator de ameaça para as cactáceas nativas da região. Muitas espécies se desenvolvem, entre as fendas das ro- chas nos campos rupestres, e são exclusivas destes ambientes. Nestes locais ocorrem muitas cactáceas de formas arredondadas, como Parodia ottonis com flores amarelas, ou como a Frailea spp., com flores amarelas, rosadas e avermelhadas. A grande maioria das cactáceas desta região são plantas pequenas, porém, algu- mas grandes também ocorrem, como a tuna, de hábito colunar (Cereus hildmannianus). A maior diversidade desta família está no Pampa, particular- mente nos campos com afloramentos rochosos na Serra do Sudeste. Iridaceae Esta família apresenta 1.870 espécies no mundo e 190 representantes no Brasil. No Rio Grande do Sul há 70 espécies, destas 57 campestres. São ervas que frequentemente têm estruturas subterrâneas do tipo bulbo. Suas flores são efêmeras, de diversas cores, muito ornamentais, por isso muitas são cultivadas, como íris e moréia (ambas exóticas no Sul do Brasil). Os representantes nativos da família, em meio aos campos, destacam-se pelas flores pequenas, em geral agrupadas, de diferentes cores: bege, amarelo, rosa e azul e que pertencem ao gênero Sisyrinchium, um membro da fa- mília Iridaceae rico em espécies no Sul do Brasil. Flores isoladas e maiores são comuns nos demais gêneros, como por exemplo, a bibi (Herbertia lahue), de flores violáceas, com tubérculos sub- terrâneos e de ampla distribuição no RS. Nos campos de altitude chama a atenção Calydorea crocoides, de flores violáceas, a qual no início da primavera aparece como um elemento preponderan- te nos campos, colorindo à paisagem. Malvaceae São 4.200 espécies no mundo e no Brasil 765. No Rio Grande do Sul são 98 espécies, destas 83 são campestres. Geralmente são ervas, subarbustos, arbustos, lianas e raramente árvores. A esta família pertence o gênero Gossypium L. (algodão), nativo na América tropical e importante produtor de fibras. Entre as espécies ornamentais destacam-se a lanterna-japonesa, o mal- vavisco ou hibisco-colibri, e o mimo-de-vênus, de origem asiática. Muitas espécies nativas do gênero Sida, conhecidas como guanxuma, são comuns em ambientes ruderais, como lavouras e beiras de estrada. Pavonia, com 26 espécies de flores vistosas, é o maior gênero de Malvaceae que habita os campos do RS. Muitas das espécies desta família ocorrem nos campos em solos rasos, com afloramento de rochas, como por exemplo, Pavonia glechomoides e Krapovickasia macrodon. Apiaceae São citadas cerca de 3.000 espécies no mundo, das quais 84 ocorrem no Brasil. São citadas 60 espécies do gênero Eryngium para o Brasil, das quais 32 ocorrem no RS e todas são campestres. A cenoura, o aipo, a salsa, o coentro, todas importantes na culi- nária no mundo inteiro, fazem parte desta família. O destaque a esta família está sendo dada especialmente pela presença de Eryngium horridum, conhecido popularmente como gravatá ou caraguatá, espécie indicadora de locais secos mal manejados. Forma grandes rosetas junto ao solo com folhas espinescentes. Nos banhados e turfeiras destacam-se plantas grandes rosuladas, de coloração verde-azulada, de Eryngium pandanifolium.
  • 60. 60
  • 63. 63 Capítulo 6 Biodiversidade de ARTRópodOs Milton de Souza Mendonça Jr., Bruna Winck, Ronei Baldissera, William Dröse, Camila Fagundes Dias, Murilo Zanini David, Tiago Shizen Pacheco Toma & Luciana Regina Podgaiski O QUE são artrópodos? Artrópodos são organismos cujos pés ou pernas (do grego podos) são articulados, ou têm juntas (do grego árthrón). Apesar dos tetrápodes serem vertebrados que possuem pernas articu- ladas também, em estrutura somos bem diferentes dos artrópo- dos, pois eles têm esqueleto externo de uma substância rígida chamada quitina, um polímero derivado de glicose. Os grandes grupos evolutivos de artrópodos ainda vivos incluem os crus- táceos (caranguejos, camarões, cracas, tatuzinhos-de-jardim), aracnídeos (aranhas, ácaros, escorpiões), miriápodes (cento- peias, piolhos-de-cobra) e os insetos (besouros, borboletas, moscas, vespas, percevejos, gafanhotos, pulgas, baratas, entre outros). Esses grupos variam muito entre si e dentro de si na estrutura do corpo, por exemplo na quantidade de apêndices, como patas e antenas (Figura 6.1). Há três fatos surpreendentes sobre os artrópodos. Primei- ro, eles estão em quase todos os ambientes possíveis no planeta, das fossas marinhas abissais aos fundos de cavernas, e à alta atmosfera, levados por correntes de ar. Segundo, eles incluem a vasta maioria das espécies dos animais presentes no mundo: dos mais de um milhão de espécies de animais já conhecidas da Ciência, os artrópodos tem mais de 80%, e algumas estimativas atuais prevêem que podem existir até 20 milhões de espécies somente de insetos! Terceiro, há grande abundância de artrópo- dos em quase todos os ambientes, mesmo que em alguns casos essas quantidades não sejam observadas facilmente (pelo hábi- to pouco visível, ou por viverem no solo), ou que essa abundân- cia varie ao longo do tempo. Esses fatos revelam, por fim, o papel dos artrópodos nos ambientes: estando em todos os lugares e sendo muito variados e abundantes, eles são essenciais para o funcionamento dos ecos- sistemas. As pequenas e variadas ações de cada um destes pe- quenos organismos, quando juntas, fazem uma grande diferença na forma como energia e matéria são carregadas no ambiente e entram nos ciclos ambientais. Isso já seria uma grande coisa, mas várias dessas ações podem ter uma utilidade direta para os seres humanos, o que chamamos de serviços ambientais. Os serviços ambientais são processos que ocorrem natural- mente, resultam do funcionamento dos ecossistemas e beneficiam os seres humanos e suas sociedades. Desta forma, são gratuitos. Só o que se requer é que se mantenham os ecossistemas estruturados e funcionais. Visto de outra forma, se os ecossistemas não estivessem lá, e por consequência os artrópodos e demais organismos que os Vespa nativa (Campsomeris sp.) sobre margarida- do-campo (Senecio heterotrichius) # # Suiane Oleques
  • 64. 64 compõem, teríamos de pagar ou realizar trabalho para que esse pro- cesso acontecesse (para saber mais veja o Capítulo 11). Serviços ambientais Os artrópodos são muito importantes em processos como polinização,dispersãodesementes,estruturaçãodosolo,controle da abundância de plantas e outros organismos, além dos serviços culturais, como sua contribuição para a beleza dos ecossistemas. A polinização resulta de uma interação ecológica mutuamente positiva (mutualismo) entre alguns insetos como borboletas e mariposas, certos besouros, certas moscas e mosquitos, entre outros, e plantas com flores. Este processo garante a produção de frutos e sementes em geral, e tem valor econômico para muitas culturas, por exemplo, cucurbitáceas (pepino, melancia, abóbora), tomates e árvores frutíferas. A dispersão de sementes pode ser realizada por formigas, por exemplo, ou por besouros rola-bosta. As formigas levam as sementes de propósito para outros lugares, e podem deixá-las cair ou enterrá-las. Os besouros rola-bosta simplesmente pegam o esterco de gado (ou de outros grandes mamíferos), o rolam em bolas em que colocam seus ovos, e as enterram. Diversas sementes podem estar neste esterco e ter uma melhor chance de germinar se carregadas e enterradas. Diversidade e ambientes Artrópodos ocupam variados ambientes e microambientes. Aqueles encontrados na vegetação dos campos e florestas, por exemplo, podem ser herbívoros, predadores desses herbívoros, polinizadores, ou simplesmente estarem passando por ali. Podemos encontrar sobre as plantas besouros, borboletas, fede- fedes, formigas, aranhas, gafanhotos, entre outros. Dentre os herbívoros, há os que comem as folhas, os ramos, as flores, os frutos e até as raízes. Eles podem devorar os tecidos da planta, como nós fazemos, sugar a seiva da planta ou entrar nas plantas para devorá-las por dentro. Outras interações mais complexas ainda podem aparecer, por exemplo: certos pulgões de plantas (herbívoros sugadores de seiva) são protegidos por formigas contra o ataque de seus predadores (como vespas e joaninhas), em troca de uma secreção açucarada que os pulgões produzem para as formigas – é outro tipo de mutualismo. As formigas são organismos sociais abundantes e desem- penham importantes papeis nos habitats, como na estruturação do solo, através da construção de formigueiros subterrâneos. Os diminutos colêmbolos são artrópodos que possuem alta resistên- cia a baixas temperaturas e se alimentam principalmente de fun- gos e detritos de plantas, o que os torna importantes atores no processo de ciclagem de matéria e energia nos solos. Já as aranhas de solo variam em tamanho, desde pequenas aranhas tecelãs da família Linyphiidae com milímetros de comprimento, até as gran- des caranguejeiras. Estes animais são predadores generalistas de topo na cadeia alimentar dos artrópodos de solo e, portanto, po- dem atuar no controle de populações de outros artrópodos. Artrópodos Nos Campos Sulinos Artrópodos de vida livre Estudos realizados nos Campos Sulinos encontraram 17 ordens (grupos taxonômicos) de artrópodos na vegetação herbácea, as mais abundantes foram: Hemiptera (percevejos e similares, 39%); Hymenoptera (formigas, vespas e similares, 21%); Diptera (moscas, mosquitos e similares, 13%); Coleoptera (besouros, 8%); Araneae (aranhas, 6%) e Orthoptera (gafanhotos e grilos, 5%). Outras 11 ordens foram menos abundantes, e somadas alcançam apenas 8% dos indivíduos. Nos campos de altitude foi encontrado o maior números de indivíduos (abundância total). Nas fisionomias de campo misto (com andropogôneas e compostas), campo litorâneo e campo com espinilho houve a maior riqueza de grupos. O grupo das aranhas foi mais abundante nas áreas mais fragmentadas (áreas menos conservadas). Parece que campos nativos mais fragmentados favorecem as aranhas, seja porque facilitam o crescimento de suas populações, ou porque a
  • 65. 65 colonização é maior nestas áreas. Este é um resultado interessante que merece ser melhor estudado. Insetos herbívoros galhadores Como mencionamos, dentre os artrópodos herbívoros há aqueles que devoram as plantas em seu interior – são chamados endofíticos (do grego, endos = dentro, phyton = planta). Mais do que viver dentro das plantas, alguns artrópodos desenvolveram evolutivamente a capacidade de alterar o tecido das plantas hospedeiras, e fazer com que as células vegetais cresçam e/ou proliferem em torno deles. O resultado é uma estrutura chamada galha (do inglês gall = amargor, dado o tanino presente em algumas galhas sobre carvalho) que abriga e alimenta o artrópode, que é chamado galhador. O interessante é que cada espécie de inseto é capaz de induzir galhas em apenas uma espécie de planta (são específicos), e estas galhas têm formato, tamanho e cores bem característicos. Assim, observando um certo tipo de galha sobre uma planta específica, mesmo sem saber quem é a espécie de inseto, podemos saber que existe ali Exemplos de artrópodos de diferentes grupos ocorrentes na vegetação campestre e de ecótono dos Campos Sulinos # # Milton Mendonça # # João Bittencourt Fig. 6.1 Percevejo Reduviidae Mosca Tachinidae Aranha Lycosidae Formiga predadora Pseudomyrmex sp. Aranha Salticidae Piolho-de-cobra Polydesmida Gorgulho Curculionidae Borboleta Agraulis vanillae uma determinada espécie de artrópode, diferente das demais que produzem outras galhas. As galhas encontradas nos Campos Sulinos podem estar nas folhas, nos ramos ou nas gemas e apresentam combinações de características como formatos (esféricas, fusiformes, cônicas), cores (verdes, pardas, amarelas, avermelhadas) e presença ou não de pelos ou escamas. Algumas têm uma única câmara interna com um único artrópode, outras múltiplas câmaras, cada uma com um indivíduo de artrópode. Uma galha curiosa encontrada é a assobiadeira (ou assoviadeira), o nome popular é dado à planta, mas na verdade a responsável pelo assovio é a galha, esférica e com um orifício redondo de saída do inseto, que é uma pequena mariposa. Com o vento minuano do Pampa nos ramos da planta, o ar passa pelas galhas e gera um som agudo da mesma forma do que quando sopramos no gargalo de uma garrafa. OspequenosgalhadoresencontradosdentrodasgalhasnoRio Grande do Sul são na maioria dípteros (insetos como mosquitos, mas que não sugam sangue) de uma família chamada Cecidomyiidae, o grupo mais diverso de galhadores nas Américas, pulgões-de-plantas Hemiptera 39% Hymenoptera 21% Diptera 13% Outras ordens Orthoptera AraneaE Coleoptera 5% 6% 8% 8%
  • 66. Galhas sobre plantas nos Campos Sulinos # # Milton Mendonça # # Tiago Shizen Fig. 6.2 Os campos e florestas são formações vegetais que de- pendem de clima, solo, distúrbios ambientais e das pró- prias interações entre os organismos para se estabelecer e se manter, ou seja, qualquer destes fatores pode influir na presença e no destino das vegetações. No Rio Grande do Sul, as florestas iniciaram uma expansão por sobre os campos, mais antigos, milhares de anos atrás. Esta di- nâmica de movimento das matas se deve então a vários fatores, principalmente o clima úmido a favor das matas, mas com o fogo (um distúrbio ambiental) e os animais pastejadores a favor do campo. Os humanos entraram nessa equação já há algum tempo, com os proto-índios, alterando tanto a frequência quanto a intensidade do fogo, e a quantidade de pastejadores. Com isso criaram- se grandes áreas de contato entre os campos nativos an- cestrais e as novas fisionomias vegetais de floresta. Ecótonos (do grego, eco: casa, ambiente; tonos: tensão) são áreas de transição ambiental em que comunidades biológicas de diferentes ecossistemas podem coexistir, e desta forma, são importantes sítios de pesquisa sobre pa- drões de biodiversidade. Nesses lugares há uma sobrepo- sição de características ambientais das duas formações. A tensão do nome fica por conta de que os fatores ambien- tais podem estar favorecendo um ou outro ecossistema, e assim poderemos tentar prever se um deles está ganhan- do do outro e se poderia com isso se expandir. No Sul do Brasil, os Campos Sulinos formam mosaicos com flores- tas ombrófilas mistas (floresta com Araucária) e florestas estacionais, áreas onde o contato campo-floresta é uma linha curva e complexa. De um lado, há a presença de al- gumas plantas típicas dos campos, como as gramas e, de outro lado, encontram-se espécies arbóreas que ocorrem nas matas. Para saber mais veja os Capítulos 3 e 5. Ecótono Galhas lenticulares em folha de figueira (Ficus sp.) Galha fusiforme em folha de chá-de-bugre (Casearia sylvestris) Galha lenticular Cecidomiidae – Sebastiania commersoniana Galha esférica em ramo de assoviadeira (Schinus polygamus), ainda com o galhador no interior, antes de poder assoviar Múltiplas galhas fusiformes em ramo de Schinus polygamus (assoviadeira), com a exúvia (pele das pupas) de onde saiu o inseto adulto, um mosquito Cecidomyiidae Galha esférica em folha de pitangueira (Eugenia uniflora) causada por mosquito (Eugeniamyia dispar) Esférica Lenticular Fusiforme 66
  • 67. 67 (ordem Hemiptera), besouros (ordem Coleoptera), mariposas (ordem Lepidoptera) e pequenos insetos de asas franjadas chamados tripes (ordem Thysanoptera). Artrópodos de solo em ecótonos Aranhas de solo O ecótono campo-floresta é um ambiente de transição também para as aranhas de solo, com condições parecidas às encontradas dentro das matas, mesmo para os campos que não estão junto à borda da floresta. A mudança das condições ambientais pela proximidade da floresta ao campo faz com que as espécies típicas de interior de floresta possam também explorar esses ambientes mais abertos, estendendo, assim, sua distribuição. Formigas Em estudos sobre os artrópodos existentes nos Campos Sulinos foram encontrados 17 gêneros (a categoria acima de espécie) de formigas – a identificação das espécies de formigas é custosa e precisa ser feita por especialistas em museus com coleções completas para poder comparar as formigas entre si. Até o momento, foram coletados 16 gêneros de formigas nas áreas florestais, sendo dois (Ochetomyrmex e Odontomachus) exclusivos deste ambiente, enquanto que as áreas predominantemente campestres apresentaram 15 gêneros, sendo apenas Ectatomma exclusivo. Esses grupos exclusivos indicam que esses ambientes têm características distintas que selecionam as formigas que podem habitá-los, como para as aranhas acima. Colêmbolos Os colêmbolos não são insetos, mas organismos classifica- dos como hexápodas (têm seis pés). São amplamente distribuí- dos, muito abundantes no solo, serapilheira, troncos de árvores e folhas, em ambientes aquáticos e cavernas. São organismos mui- to pequenos, quase invisíveis aos nossos olhos, e quase sempre passam despercebidos. Podem ser divididos em quatro grupos ta- xonômicos (ou seja, de organismos parecidos e aparentados evo- lutivamente): Entomobryomorpha, Poduromorpha, Symphypleo- na e Neelipleona; os Entomobryomorpha e os Symphypleona são geralmente dominantes nos ambientes. Os colêmbolos ainda são organismos pouco estudados globalmente, e se estima que o número conhecido até agora seja de apenas 22% do que se imagina encontrar na natureza em todo o mundo. Além disso, no Brasil esses organismos são ainda menos conhecidos, principalmente na região Sul. No último levantamentodecolêmbolosdoBrasil,nenhumaespéciedaregião Sul foi contabilizada, pois é muito incipiente o levantamento das espécies que ocorrem nestes ambientes. Os colêmbolos apresentam diferentes estratégias de vida, havendo aqueles que vivem dentro do solo (euedáficos), os que vivem sobre o solo, na serapilheira e em árvores (epiedáficos), e os que apresentam um comportamento intermediário (hemiedáficos). Os que vivem dentro do solo são muito sensíveis à luz, à falta de águaeàaltatemperatura.Geralmentesãomuitopequenos,nãotêm cor, são cegos e não se movimentam muito. Os que vivem acima do solo são organismos mais resistentes à luz, à falta de água e à alta temperatura pois apresentam coloração escura, pelos e escamas e se movimentam mais por serem maiores e ter uma estrutura, a fúrcula, que favorece que se desloquem por meio de pulos. Os colêmbolos podem desempenhar vários serviços ambien- tais, porém o principal deles está relacionado com a ciclagem de nu- trientes no solo e serapilheira. Por consumirem micro-organismos, resíduos orgânicos, pólen, fezes de vertebrados e de invertebrados, e até mesmo animais mortos em decomposição, eles são muito im- portantes para a decomposição e mineralização de compostos orgânicos (ou seja, quando estes retornam ao estado não-orgânico). Estas são etapas fundamentais para uma ciclagem de nutrientes eficiente, pois somente assim os nutrientes essenciais para plantas e demais organismos produtores são (re)disponibilizados. Os colêmbolos contribuem para a ciclagem de nutrientes de duas formas, pela capacidade de regular o tamanho da população de micro-organismos do solo e pela fragmentação de resíduos orgânicos. Quando os colêmbolos consomem micro-organismos, eles controlam sua população e, por sua vez, controlam o
  • 68. O estudo da fauna de artrópodos envolve várias etapas. O pri- meiro passo é a preparação do projeto de pesquisa com os ob- jetivos, a seguir vem a delimitação do desenho amostral (onde e quando as amostras de artrópodos serão tomadas, e quantas serão). Depois, os animais são coletados, e a técnica utilizada depende do grupo e do ambiente a ser amostrado. Os artrópo- dos capturados são triados em laboratório e separados em gran- des grupos, em geral sob lupa, por pesquisadores treinados para reconhecê-los. Depois são preparados para serem guardados, podem ser secos e alfinetados (besouros, formigas), ou manti- dos em álcool (vespas, aranhas), ou ainda montados em lâmi- nas histológicas (apenas pequenos artrópodos), dependendo do tipo de organismo, mas sempre com etiquetas detalhadas com origem e data de coleta. A partir daí, procede-se a identificação das espécies por especialistas, que como diz o nome são conhe- cedores de grupos restritos de artrópodos. Assim, quem identi- fica (dá nomes a espécies de) formigas, não identifica aranhas nem besouros, e assim por diante. Algumas vezes, artrópodos herbívoros são coletados dentro das plantas que eles devoram (ditas hospedeiras), daí a triagem envolve identificar as plantas também. Depois disto, temos uma lista de espécies com núme- ro de indivíduos por amostra, e podemos calcular abundância, riqueza e composição das espécies, para compararmos ambien- tes e situações entre si com testes estatísticos – é a fase final de análise quantitativa. Os estudos dos artrópodos envolvem uma série de técnicas, e rendem inúmeros indivíduos ao final. Em alguns casos o objeti- vo é a comparação de diferentes fisionomias de campo e seu es- tado de conservação, em outros é comparar os ecótonos entre Metodologias para o estudo dos artrópodos regiões distintas. Em outros ainda, pode-se querer comparar o gradiente de ambientes entre a floresta e os campos, observan- do os limites do ecótono. Para a coleta dos artrópodos de vida livre da vegetação pode ser utilizada uma técnica massal, a rede de varredura, uma rede de tecido resistente e aro de metal grosso, que é passada com força na vegetação campestre à medida que se caminha. Isto desloca os artrópodos para dentro da rede e, de tempos em tempos, é preciso parar para capturar os artrópodos de dentro da rede.Também para o estudo de artrópodos na vegetação, pode ser utilizada uma téc- nica especial de procura ativa nas plantas, que amostra insetos her- bívoros endofíticos, isto é, aqueles que vivem dentro das plantas. Para a fauna de solo, outra técnica de coleta massal existente é a conhecida como armadilha de queda (pitfall trap) ou armadilha de solo, na qual copos cheios de uma mistura de álcool, água e for- mol são enterrados. Os animais que perambulam pelo solo caem nessas armadilhas, e acabam capturados no fundo do pote. Após um tempo fixo, os copos são retirados e levados a laboratório para triagem.Como os artrópodos que ali caem são um grupo extrema- mente diverso e abundante, os pesquisadores podem focar seus esforços em identificar grupos específicos, como aranhas e colêm- bolos, avaliando sua abundância e distribuição nos ecótonos. Para o estudo das formigas de solo pode ser utilizada uma técni- ca especial, com iscas para atraí-las. Nos locais de amostragem são dispostas as estações de coleta com isca que, por exemplo, podem ser de mel, representando recurso de carboidrato, ou de atum, representando recurso proteico. Métodos de amostragem e armazenamento de artrópodes: A: Rede de varredura B: Armadilha de queda C: Armadilha com isca (mel) D: Gaveteiro entomológico # # LucianaPodgaiski # # WilliamDröse A B C D 68
  • 69. 69 quanto estes micro-organismos vão agir sobre a decomposição e mineralização dos compostos orgânicos, acelerando ou freando a decomposição. O outro papel dos colêmbolos é que, por se alimentaremtambémderesíduosorgânicoscomofolhas,quebram detritos maiores em menores, ou seja, fragmentam, cortam os resíduos durante sua alimentação. O efeito desta fragmentação é que os resíduos serão mais facilmente consumidos por outros artrópodos e micro-organismos, acelerando a decomposição. CONCLUSÃO As pesquisas atuais apenas começaram a revelar a diversidade de artrópodos dos Campos Sulinos e toda a variedade de respostas destes artrópodos às situações dos ambientes, como o encontro entre matas e campos, a alteração pelo homem, e assim por diante. Ainda é cedo para afirmar, mas é muito provável que existam muitas espécies ainda desconhecidas da Ciência. Não há nem sequer registros adequados de colêmbolos no RS, boa parte dos insetos galhadores costuma se revelar como espécie nova, e talvez apenas para formigas e aranhas haja menos novidades, pois esses grupos são mais conhecidos. Além disso, os demais grupos de organismos também precisam ser olhados mais detalhadamente por especialistas. Certamente novos estudos podem levar a muitas conclusões interessantes, como a importância da flora e do microclima na abundância e riqueza dos artrópodos nos Campos Sulinos. Lagartas # # Ronai Rocha
  • 70. 70
  • 71. 71 Banhado de Santa Fé, Dilermando de Aguiar, RS # # Ronai Rocha
  • 73. 73 Capítulo 7 Biodiversidade de ANFÍBIOS Samanta Iop, Bruna Raquel Assmann, Tiago Gomes dos Santos & Sonia Zanini Cechin Os anfíbios A palavra anfíbio significa, em grego, vida dupla se refe- rindo ao ciclo de vida da maioria destes animais, que tem duas fa- ses: uma aquática na forma de larvas e outra terrestre na forma de adulto. Não têm escamas, pelos ou penas, a pele é extremamente permeável, o que os torna dependentes de água, pelo menos na fase larval. Na pele dos anfíbios também estão presentes muitas glândulas de muco e de veneno. São animais com grande varie- dade de formas corporais, tamanho, cor e modo de vida, e estão reunidos em três Ordens (grupos taxonômicos) (Tabela 7.1). As salamandras apresentam quatro membros e cauda lon- ga, e no Brasil só ocorrem na Amazônia. As cecílias têm o corpo alongado e desprovido de patas, vivem em ambientes úmidos onde constroem galerias subterrâneas, por isso são pouco conhecidas pela maioria das pessoas. Muitas vezes elas são confundidas com cobras-cegas, que são répteis, e apresentam escamas na pele. Sem dúvida, os anfíbios mais conhecidos são os sapos, rãs e pererecas. O coaxar (cantos) desses animais é ouvido à noite, prin- cipalmente nos dias quentes e chuvosos de primavera e verão. Os sapos possuem quatro membros curtos, pele rugosa, grandes glân- dulas de veneno, têm hábitos terrestres e se locomovem através de Perereca-do-banhado (Hypsiboas pulchellus) # # Samanta Iop Representação esquemática dos anfíbios. A: Sapo; B: Salamandra; C: Cecília. Fonte: Andressa Iop A B C Fig. 7.1
  • 74. 74 pequenos saltos. As rãs aquáticas ou semi-aquáticas apresentam pele lisa e quatro membros bem desenvolvidos para saltos longos. Aspererecastêmapeleúmidaelisa,patasfinaselongas,eapresen- tam dilatações nas pontas dos dedos, que são discos utilizados para escalar plantas, rochas e paredes. Na prática definir o que é sapo, rã ou perereca não é tão fácil, pois para algumas espécies é difícil dis- tinguir essas características, assim denominaremos sapos todos os anfíbios da ordem dos Anuros, sejam sapos, rãs ou pererecas. A maioria das pessoas desconhece a importância dos anfí- bios (Figura 7.1). Os sapos, segundo o conhecimento popular, são conhecidos por serem feios e gosmentos e por figurarem em ritu- ais de bruxaria. Assim, muitas pessoas acreditam que pesquisar esses animais é “uma coisa sem fundamento”, como se diz aqui no Sul. Os anfíbios, assim como todos os seres vivos, são funda- mentais para o equilíbrio ecológico dos ecossistemas e prestam importantes serviços ambientais, isto é, promovem benefícios à humanidade. Seja como parte importante na teia alimentar, como bioindicadores de qualidade do ambiente ou por fornecerem ma- téria-prima para a indústria farmacêutica. Nos Campos Sulinos estão presentes cerca de 9% dos anfí- bios brasileiros. Esta elevada riqueza está relacionada à diversi- dade de paisagens dos Campos Sulinos; que diferem em altitude, declividade, solo, cobertura vegetal e uso do solo. Além disso, os campos estão em contato com a Mata Atlântica, um dos centros de alta diversificação de anfíbios e que concentra a maior diversi- dade de modos reprodutivos entre os sapos (4, 5). Tabela 7.1: Quadro esquemático das ordens dos anfíbios e seus dados de riqueza. anfíbios nos Campos Sulinos A maioria das espécies dos Campos Sulinos é endêmica de ecossistemas campestres (37%), sendo que destas, 14% são exclusivas dos campos da Mata Atlântica, 11% exclusivas dos campos do Pampa e os 12% restantes ocorrem em campos de ambos os biomas. Pelo menos 36% dos anfíbios têm distribui- ção geográfica ampla, ou seja, ocorrem em diferentes biomas. As espécies típicas da Mata Atlântica, mas que ocasionalmente utilizam áreas campestres para reprodução, representam 21% da riqueza. Com menor representatividade há espécies que só ocorrem na combinação dos biomas Campos e Mata Atlântica (4%) e também espécies Chaco-Pampeana (2%) (Figura 7.2.). Ameaça aos anfíbios Os anfíbios são muito sensíveis a alterações do ambiente, principalmente quanto à temperatura e umidade, qualidade da água, estrutura da vegetação nos corpos d’água e fragmentação da paisagem. Como exemplos dessa sensibilidade, algumas espécies de anfíbios estão ameaçadas devido às alterações climáticas globais, como é o caso do sapo-guarda (Elachistocleis bicolor), da rã-piadora (Leptodactylus latinasus), do sapo- cururu (Rhinella schneideri), e da perereca-de-peito-manchado (Scinax nasicus). As temperaturas máximas que os girinos dessas espécies podem tolerar nos corpos d’água já estão muito próximas às temperaturas registradas atualmente. Além disso, somente nos Campos Sulinos há cinco espécies de sapinhos- de-barriga-vermelha (gênero Melanophryniscus) em risco de perder sua área de distribuição potencial até o ano 2080, caso se confirmem as tendências de aquecimento do planeta estimadas para as próximas décadas (6,7,8). Os Campos Sulinos, com períodos frios e secos, têm ca- racterísticas ambientais pouco favoráveis à dispersão dos anu- ros, quando comparado aos ambientes florestais, onde as con- dições ambientais são mais estáveis, por exemplo, umidade, temperatura, luminosidade (9). Aos efeitos climáticos somam- ORDEM /DISTRIBUIÇÃO MUNDO1 BRASIL2 CAMPOS SULINOS3 Anura: Sapos, rãs e pererecas 6.444 913 81 Caudata: Salamandras 688 5 0 Gymnophiona: Cecílias 200 32 3 Total de espécies 7.332 950 84
  • 75. 75 se às dificuldades relacionadas às perdas de habitats devido às altas taxas de fragmentação e conversão do campo nativo em monoculturas de soja, pinus, acácia, arroz, azevém e a invasão do capim-annoni. Como era de se esperar, tamanha conversão dos campos se traduz em impactos negativos sobre a riqueza e abundância dos anfíbios dos Campos Sulinos. Outra ameaça é a introdução de espécies exóticas, como a rã-touro (Lithobates catesbeianus), originária dos Estados Unidos, que compete com as espécies nativas por recursos, principalmente no nicho acústico, além de predar espécies nativas (10). Atualmente, nove espécies de anfíbios dos Cam- pos Sulinos estão enquadradas nas listas de espécies amea- çadas em âmbito global, nacional ou estadual (RS, SC, e PR) (Tabela 7.2). Espécies de anfíbios dos Campos Sulinos e sua distribuição geográfica nos diferentes biomas # # Samanta Iop # # Tiago Santos # # Vinicius Caldart Espécie Nome popular Ameaça Ceratophrys ornata Sapo-untanha RS: CR Leptodactylus labyrinthicus Rã-pimenta RS: CR Scinax rizibilis Perereca-risadinha RS: CR Limnomedusa macroglossa Rã-das-pedras PR: CR Melanophryniscus dorsalis Sapinho-de-barriga- vermelha RS: EN SC: EN Melanophryniscus montevidensis Sapinho-de-barriga- vermelha RS: EN Phyllomedusa distincta Perereca-da-folhagem RS: EN Phyllomedusa tetraploidea Perereca-macaca RS: EN Melanophryniscus cambaraensis Sapinho-de-barriga- vermelha RS: VU Fig. 7.2 Sapinho-de-barriga-vermelha Melanophryniscus atroluteus Perereca-uruguaia Scinax uruguayus Rã-piadora Leptodactylus latinasus Rã-chorona Physalaemus riograndensis Rã-das-pedras Limnomedusa macroglossa Perereca-do-bambuzal Aplastodiscus perviridis Sapo-da-folhagem Phyllomedusa tetraploide Perereca-das-tormentas Scinax aromothyella 37% 36% Ampla distribuição nos biomas Endêmicos nos Campos Sulinos Prefere bioma Mata Atlântica Biomas MA + Pampa Campestres Chaco Pampianas 21% 4% 2% Rã-crioulo Leptodactylus latrans Perereca-rajada Dendropsophus minutus Rã-cachorro Physalaemus cuvieri Perereca-do-banhado Hypsiboas pulchellus Tabela 7.2: Espécies de anfíbios dos Campos Sulinos ameaçadas de extinção no estado do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Paraná (PR). Categorias de ameaça: vulnerável (VU); em perigo (EN); criticamente em perigo (CR).
  • 76. 76 Adaptações, teia alimentar, serviços ambientais, Bioindicação Teia alimentar Amaioriadosanfíbiostemdietageneralista,istoquerdizer que se alimentam de diferentes grupos de animais, principalmente invertebrados, e os insetos são os favoritos. Mas há espécies que se alimentam de vertebrados (pequenos roedores, serpentes e outros anfíbios), como é o caso do sapo-untanha (Cerotophrys ornata) e da rã-manteiga (Leptodactylus latrans). Também há espécies com dieta especialista, como o sapo-guarda (Elachistocleis bicolor), que consome formigas e cupins. Os anfíbios são predados em todos os seus diferentes etapas de vida: ovos, larvas e adulto. Eles são alimento para muitos grupos de animais, como peixes, répteis, aves, outros anfíbios, invertebrados e até para plantas carnívoras (Figura 7.3). Estratégias de defesas dos sapos contra predadores As espécies de anfíbios que habitam áreas abertas podem sofrer maior taxa de predação, quando comparadas as de áreas florestadas (11). A maioria dos anfíbios tem coloração dorsal e comportamentos defensivos para confundir predadores que caçam utilizando a visão. A presença de várias estratégias de defesa é benéfica para o indivíduo, pois aumenta as chances de sobrevivência, principalmente em ambientes abertos, onde os locais de abrigos são menos complexos do que em um ambiente florestal (12, 13). A rã-listrada (Leptodactylus gracilis, Figura 7.4A) apresenta coloração dorsal marrom com linha vertebral muito distinta e outraslinhasdorsaislongitudinaisclaras,brancasouamareladas, que podem apresentar pontuações verdes escuras. A coloração disruptiva desfaz a imagem do corpo do animal quando este se coloca em movimento, dessa forma conferindo maiores chances dele sobreviver ao ataque de predadores. Os sapinhos-de-barriga-vermelha (gênero Melanophry- niscus) apresentam como mecanismo primário de defesa o dor- so com coloração que se camufla com o substrato (solo, rochas). Como estratégia secundária, apresentam o ventre com manchas vermelhas, fenômeno conhecido como aposematismo, cuja exi- bição de cores vibrantes no corpo (associado ao comportamen- to de arcar o corpo e expor a coloração vermelha, Figura 7.4B), geralmente está associada às substâncias tóxicas presentes na pele desses animais. A rã-chorona (Physalaemus biligonigerus, Figura 7.4C) tem padrão de coloração dorsal muito variável (polimórfico), que vai do marrom claro, bege, amarelado até o marmorado, com desenhos dorsais diversos. Esta variação pode beneficiá-la, pois alguns padrões de coloração podem não ser reconhecidos pelo predador, dessa forma esses indivíduos terão mais chances de sobreviver ao ataque dos predadores. Além disso, esta rã quando ameaçada pode levantar o corpo e mostrar suas glândulas inguinais circulares, que parecem olhos (comportamento defensivo deimático). A perereca-do-banhado (Hypsiboas pulchellus, Figura 7.4D) apresenta polimorfismo na coloração, os indivíduos variam Fig. 7.3 Esquema da teia alimentar envolvendo os anuros. Fonte: Andressa Iop
  • 77. 77 deverdesaamareladoseessaestratégiaéutilizadaparaconfundir predadores visualmente orientados. Outra estratégia utilizada é a liberação de um odor característico quando manuseadas e/ou perturbadas, esse odor pode ter função antipredatória. A perereca-macaca (Phyllomedusa iheringii) apresenta coloração verde que ajuda a se camuflar entre as folhagens, além disso, utiliza a presença de substâncias químicas na pele e a estratégia de se fingir de morta para se defender de predadores. Modos reprodutivos Os ovos dos anfíbios não possuem casca e por isso podem secar e morrer facilmente se não houver umidade suficiente. Para resolver esse problema, a maioria dos anfíbios dos Campos Sulinos (aproximadamente 67%) coloca seus ovos diretamente na água, por exemplo, em poças, como a rã-boiadora (Pseudis minuta, Figura 7.5A). Algumas espécies do gênero Physalaemus e Leptodactylus (12% das espécies que ocorrem nos Campos Sulinos) apresentam como adaptação para evitar a dessecação de ovos e larvas, a deposição de ovos e o período inicial de desenvolvimento dos embriões dentro de ninhos de espuma (Figura 7.5B-C). A espuma fornece aos ovos e larvas proteção contra a dessecação, predação e variação térmica. Já outras espécies colocam seus ovos em ninhos de folha na vegetação, juntamente com cápsulas de gelatina, para proteção contra dessecação, predadores e radiação solar, como a perereca- macaca (Phyllomedusa iheringii, Figura 7.5D). Ovos pigmentados Espécies que se reproduzem em áreas abertas, como os campos, colocam os ovos diretamente na água e têm ovos pigmentados – ou seja, possuem o polo superior dos ovos com coloração escura (Figura 7.5A). Essa coloração tem a função de proteção contra radiação solar, já que os ovos não possuem casca protetora. Já espécies que colocam seus ovos em tocas e dentro de ninhos de espuma geralmente apresentam ovos totalmente claros, pois não estão diretamente expostos à radiação (Figura 7.5B-C). Outra forma de defesa contra a predação de ovos é a presença de substâncias químicas, como os alcalóides - substâncias químicas Exemplos de estratégias defensivas em espécies de anuros dos Campos Sulinos # # Samanta Iop A: A coloração da rã- listrada confunde os predadores B: A coloração do sapinho-de-barriga- vermelha auxilia na camuflagem e o comportamento de arcar o corpo e expor a coloração vermelha afugenta os predadores C e D: A rã-chorona e a perereca-do- banhado apresentam padrão de coloração dorsal variável, o que a beneficia, pois alguns padrões podem não ser reconhecidos pelos predadores Exemplos de modos reprodutivos e pigmentação dos ovos das espécies de anuros dos Campos Sulinos Ovos pigmentados A: Depositados diretamente na água Ovos não pigmentados B: Depositados em ninhos de espuma em câmaras subterrâneas; C: Depositados na água em ninhos de espuma D: Ovos depositados em folhas de árvores (arborícolas) Fig. 7.4 Fig. 7.5 A C B A C B D D
  • 78. 78 encontradas principalmente em plantas, mas podem ocorrer também em fungos, bactérias e até mesmo em animais - que funcionam como mecanismo antipredatório, pois são tóxicos e apresentam gosto repugnante. O sapo tem veneno? Napeledosanfíbiossãoencontradosdoistiposdeglândulas, asmucosaseasserosas.Asglândulasmucosasauxiliamnaproteção contra a dessecação e na respiração cutânea. As glândulas serosas produzem toxinas que auxiliam na defesa contra predadores e micro-organismos patogênicos. Estas substâncias podem ter sabor e cheiro desagradável ou altamente venenosos. O veneno dos anfíbios é utilizado como defesa passiva, pois eles são incapazes de inocular o veneno. Uma espécie de sapo (Rhaebo guttatus) que ocorre na Amazônia é uma exceção, pois é capaz de jorrar jatos de veneno para o agressor, porém seu veneno não é letal, serve para perturbar, causar edemas aos predadores (14). Assim, o veneno dos sapos só é perigoso para humanos quando entram em contato com mucosas ou com feridas expostas. Muitasdessassubstânciasjáforamestudadasetêmpotencial farmacológico para o desenvolvimento de medicamentos. Alguns sapos do gênero Melanophryniscus, Phyllomedusa, Leptodactylus, Physalaemus e Rhinella, que ocorrem nos Campos Sulinos, apresentam polipeptídeos com potencial farmacológico. Anfíbios bioindicadores Como os anfíbios têm forte sensibilidade às alterações ambientais, são bioindicadores da qualidade do ambiente, isto é, dependendo das espécies que ocorrem em determinado am- biente, é possível saber se ele está conservado ou não. Isso por- que a combinação de características fisiológicas, morfológicas e ecológicas (por exemplo, pele permeável, baixa capacidade de dispersão e ciclo de vida bifásico) os torna dependentes de água, pelo menos durante a fase larval. A rã-das-pedras (Limnomedusa macroglossa) é uma especialista encontrada principalmente em riachos de áreas pedregosas. O sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus montevidensis) possui distribuição restrita ao litoral, vive em ambientesarenososesalinosesereproduzdepoisdemuitachuvaem corpos d’água temporários. A perereca (Hypsiboas joaquini) ocorre no planalto, nos campos associados à Floresta com Araucária e se reproduz em riachos de águas correntes e frias. O sapo-da-enchente (Odontophrynus americanus) e a rã-cachorro (Physalaemus cuvieri) são espécies generalistas no uso de ambientes e abundantes em áreas perturbadas e modificadas pelo homem. Conclusão Frente ao quadro de declínio global de anfíbios e mudanças climáticas, e o aumento da perda de áreas campestres nativas, torna- se urgente que mais esforços sejam alocados para produzir informa- ções que possam nortear o desenvolvimento de políticas públicas e programas de conservação dos anfíbios dos Campos Sulinos. As pesquisas e os programas precisam priorizar questões como o efeito da perda e fragmentação dos campos, dos agrotóxi- cos e, de diferentes práticas de manejo dos campos nativos (por exemplo, queimadas, intensidades de pastoreio) sobre os anfí- bios. Além disso, devem ser identificadas e criadas áreas prio- ritárias para conservação, visando minimizar a situação crítica dos ecossistemas campestres, até então negligenciados. Adicio- nalmente, os currículos escolares também precisam incluir a im- portância da conservação dos campos, e não exclusivamente das florestas. Esse compromisso pedagógico é essencial como prática de Educação Ambiental, pois os campos representam uma porção significativa da paisagem e da cultura sulina, bem como abrigam áreas úmidas (banhados e poças naturais) responsáveis por di- versos serviços ambientais e essenciais para a sobrevivência dos anfíbios e diversos outros organismos.
  • 80. 80
  • 81. 81 Caçapava do Sul, RS # # Valério Pillar
  • 83. 83 Os répteis formam parte do grupo dos vertebrados terrestres incluindo animais muito distintos entre si, como lagartos, serpen- tes, cobras-de-duas-cabeças, tartarugas e jacarés. Na realidade os chamados répteis não são um grupo com uma origem comum, mas foram agrupados sob o mesmo nome principalmente pela caracte- rística de apresentarem o corpo áspero, coberto de escamas. Ocorrem em praticamente todas as regiões do planeta, desde os desertos, florestas, campos, banhados, lagoas, rios, até os oceanos, estando quase ausentes apenas nas áreas mais frias do planeta. São animais ectotérmicos, utilizando fontes externas de calor para esquentar seus corpos e desempenhar suas funções fisiológicas. Seus corpos são, geralmente, cobertos por escamas, placas ou escudos córneos. A maioria dos répteis é A B C D E Fig. 8.1 ovípara, depositando seus ovos sempre no ambiente terrestre; entretanto,muitasespéciesdesenvolvemseusfilhotesnointerior do corpo da fêmea e estes eclodem totalmente desenvolvidos (espécies vivíparas) (1). A alimentação é muito variada, sendo que cada grupo de- senvolveu estruturas morfológicas e comportamentos específi- cos para captura de seus alimentos. Os répteis são predadores importantes que garantem o controle de populações de vários animais, como insetos, aranhas, baratas, ratos, anfíbios e ser- pentes. Com isso, desempenham um papel fundamental nos ecossistemas para a manutenção da sua biodiversidade. O grupo das serpentes é, dentre os répteis, o que apresenta maior número de especializações, pois desenvolveram glândulas Capítulo 8 Biodiversidade de Répteis Laura Verrastro & Márcio Borges-Martins Lagartixa-das-dunas (Liolaemus arambarensis) # # Marcio Martins Ordens de répteis (veja Tabela 8.1)
  • 84. 84 DENTIÇÃO DAS SERPENTES A periculosidade das serpentes é variável, dependendo de três fatores fundamentais: a composição química da peçonha, o tipo de desenvolvimento da glândula secretora da peçonha e o tipo de dentição. Classificamos as serpentes em quatro tipos dentários: Áglifas Serpentes não peçonhentas, com dentes maciços, sem presas injetoras, apesar de muitas possuírem glândula peçonhenta, mas esta peçonha é bastante fraca para o homem. Este tipo de dentição é característica de algumas serpentes do grupo dos colubrídeos. Ex: cobra-nariguda (Xenodon dorbignyi). ProteróglifaS Serpentes peçonhentas, pertencentes à Família Elapidae (corais-verdadeiras). Sua dentição é bastante reduzida e há duas presas sulcadas dianteiras, fixas. O sulco das presas é profundo e quase forma um canal (nas najas forma um canal). A glândula peçonhenta não é muito grande; mas a peçonha é altamente tóxica e mata quase todos os animais, inclusive o homem. Ex: coral-verdadeira (Micrurus altirostris). Opistóglifas Serpentes ditas não peçonhentas, com dentes maciços, mas há uma presa ou um par de presas sulcadas, dispostas internamente na mandíbula superior, na região posterior da boca. Injetam uma peçonha fraca, de efeito apenas tópico, que causa edema e dor.Já foram constatados acidentes com problemas de envenenamento. Ex: cobra-cipó verde (Philodryas olfersii). Solenóglifas Serpentes peçonhentas da FamíliaViperidae, que também matam ao homem e à maioria dos animais. Possuem duas presas longas e curvas, perfuradas por um canal por onde escorre a peçonha. As presas ficam deitadas no céu da boca, mas os maxilares são móveis e reduzidos a peças giratórias.Quando a serpente abre a boca, as presas descem e ficam protraídas para diante.As glândulas de peçonha são enormes e se situam atrás da cabeça, dando feição triangular à mesma. Ex: cruzeiro (Bothrops alternatus).
  • 85. 85 localizadas nos lados da cabeça, e secreções tóxicas utilizadas na defesa e na alimentação. A toxidade e os efeitos variam de acor- do com a espécie da serpente. Muitas espécies produzem veneno, mas não são capazes de inoculá-lo eficientemente. A eficiência da inoculação está relacionada com o tipo de dentição da serpen- te, que pode variar de dentes totalmentes maciços, sem orifícios para a saída do veneno, a dentes especiais ocos, que funcionam da mesma maneira que agulhas de injeção. Os répteis talvez sejam os animais que mais causem medo e aversão em grande parte das pessoas. Muitas espécies de rép- teis são desprezadas e exterminadas indiscriminadamente, não somente pelo fato de não se encaixarem no padrão estético defini- do pelo homem, como também pela crença de que são venenosas ou que causam problemas para as pessoas. Esses fatores, aliados à destruição de seus habitats, têm levado ao declínio de popula- ções de inúmeras espécies. Os répteis dos Campos Sulinos Os répteis do Rio Grande do Sul (RS) representam 18% das espécies do Brasil (2). Dentre estas ressalta-se a ocorrência de algumas espécies endêmicas dos Campos Sulinos ou fortemente associadas aos ambientes campestres (ao menos nos limites do RS), como a tartaruga tigre-d’água (Trachemys dorbigni), as cobras-de-duas-cabeças (Amphisbaena darwini e A. munoai); os lagartos, lagartinho (Stenocercus azureus), lagartixa-listrada (Cercosaura ocellata petersi), lagartixa-verde (Teius oculatus), lagartinho-pintado (Contomastix vacariensis) e lagartinho-do- pampa (Homonota uruguayensis); e as serpentes narigudinha (Xenodon dorbignyi), falsa-cobra-espada (Calamodontophis paucidens), jararaquinha-d’água-comum (Lygophis anomalus), corredeira-do-banhado (Psomophis obtusus) e cobra-espada- comum (Tomodon dorsatus). Além dessas, podem ser incluídas as espécies de lagartos arenícolas lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis) e lagartixa-das-dunas (Liolaemus arambarensis), associadas às formações de restingas costeiras, e alguns táxons de serpentes como cabeça-preta (Phalotris lemniscatus) (2). Tais espécies distribuem-se basicamente pelas áreas de formações abertas da metade sul do RS, no bioma Pampa. Tabela 8.1: Ordens de Répteis e sua riqueza em número de espécies no mundo, no Brasil e nos Campos Sulinos. ORDEM  /  DISTRIBUIÇÃO MUNDO3 (2014) BRASIL4 (2014) CAMPOS SULINOS5 (2008) Squamata Cobras-cegas [Figura 8.1A] 188 72 11 Lagartos [Figura 8.1B] 5.987 260 31* Serpentes [Figura 8.1C] 3.496 386 104 Rhynchocephalia 1 0 0 Crocodilia [Figura 8.1D] 25 6 1 Testudines [Figura 8.1E] 341 36 12 Total de espécies 10.038 760 158 *apenas uma espécie exótica Peculiaridades Umas das principais características dos ecossistemas dos Campos Sulinos é a predominância de habitats abertos que implica em um intenso aporte de luminosidade solar, resultando em eleva- das temperaturas (6). Estas características restringem a ocorrência de muitosgruposdeanimais,masfavorecemaexistênciadeorganismos como os répteis que se adaptam às altas temperaturas do substrato. As formações de dunas e restingas, como parte dos Campos Sulinos, são formações que se estendem no litoral, de norte a sul, em uma faixa de 10-100km de largura por 600km de extensão (7). Um dos répteis mais característicos desses ambientes é o gênero Liolaemus. Este gênero está representado no Brasil por três espécies, duas das quais ocorrem no Rio Grande do Sul: Liolaemus occipitalis e Liolaemus arambarensis (7).
  • 86. 86 A lagartixa-das-dunas (Liolaemus arambarensis) é o único réptil endêmico do Rio Grande do Sul (8). Tem cerca de 56 milímetros de tamanho (sem cauda) e apresenta uma coloração críptica com o ambiente, confundindo-se com o substrato onde vive. Alimenta-se basicamente de insetos, aranhas e material vegetal (9) (Figura 8.2C). Seu habitat típico são as moitas de vegetação herbácea que espalham-se pelas formações de dunas. Nesses locais este lagarto encontra conforto térmico, alimento e refúgio de predadores. Sua estratégia de proteção dos raios solares, excesso de calor e dos predadores é enterrar-se em baixo da areia junto às raízes da vegetação de gramíneas (Figura 8.2). Liolaemus occipitalis é um pequeno lagarto com tamanho médio de 60,2 milímetros (8) (Figura 8.3B). Se reproduz entre os meses de setembro a março. Esta espécie é principalmente insetívora, consumindo também flores e frutos de gramíneas. Permanece ativa durante o dia (8). Tem um padrão de cor críptica, o que o torna imperceptível no ambiente, sua estratégia principal de defesa contra predadores é cavar superficialmente a areia escondendo-se, ou fugir para refúgios ou tocas. O comportamento termorregulador mais comumente observado nesta espécie é se mover entre os locais expostos à luz solar para locais sombreados em meio a vegetação densa (10). A A jararaca-pintada se abriga nos grandes capões das restingas e sai à tardinha para se alimentar de répteis e ratinhos. A Cobra-de-duas-cabeças é um réptil sem membros que vive enterrado em túneis na areia (ou no solo).Come formigas e cupins. A O lagarto-espinhoso gosta também de fendas nas pedras, mas no caso dele seu abrigo são as frestas profundas. Se alimenta de insetos e aranhas e sai a tomar sol durante o dia. B A lagartixa-da-praia é o vertebrado mais abundante dos ambientes de dunas costeiras. B A cobra-cega-sulina é uma mini-serpente que gosta de ficar embaixo das pedras comendo larvas de cupins e formigas.Seus dentes são muito pequenos e não tem nenhum risco para o homem. C A serpente narigudinha ou jararaquinha-das- dunas tem um rosto proeminente que lhe ajuda a se enterrar na areia. Come a lagartixa-das-dunas entre outros pequenos vertebrados. C O lagartinho-do-pampa é endêmico das formações de morros areníticos da Campanha.Tem a mesma cor que as pedras onde se adere. C A lagartixa-das-dunas e seu ambiente, nas restingas da Laguna dos Patos. B O lagarto-de-papo amarelo gosta dos capões das restingas. É o maior lagarto das Américas.Tem uma alimentação muito variada: frutos, lesmas, ovos de aves. Fig. 8.2 Fig. 8.3 Fig. 8.4 Outro ecossistema típico dos Campos Sulinos são os campos rochosos da região da Campanha. Nestes ambientes encontramos répteis adaptados à incidência direta do sol, fortes ventos e invernos rigorosos. Dois lagartos característicos são o lagartinho-do-pampa, Homonota uruguayensis (Figura 8.4C) e o lagarto-espinhoso, Tropidurus catalanesis (Figura 8.4A). Ambiente de restingas da Laguna dos Patos e seus répteis característicos A: Bothrops pubescens B: Salvator merianae C: Liolaemus arambarensis # # Márcio Martins [Fig. 8.2A] # # Arthur Schramm [Fig. 8.2B] # # LauraVerrastro [Fig. 8.2C]
  • 87. 87 A Bothrops cotiara (jararaca) é uma das sete serpentes peçonhentas que existem nos Campos Sulinos. Se alimenta principalmente de ratos e outros pequenos mamíferos. A O jacaré-de-papo-amarelo é o único crocodiliano que temos nos Campos Sulinos. É habitante comum dos ambientes alagados. Sua alimentação é variada, mas sempre carnívora (tartarugas, peixes, caracóis). C A serpente parelheira-do-mato tem hábito arborícola, com corpo esbelto.Como outras serpentes parecidas, a alimentação é baseada em pequenos mamíferos, anfíbios e lagartos. C O cobra-da-água ocorre nos banhados e lagoas. Sua reprodução é vivípara, dando à luz filhotes em forma de mini-adultos. Sua alimentação é baseada em peixes e pode servir de alimento a aves. B O lagartinho-pintado dos campos pedregosos dos Campos deCima daSerra.Vive escondido embaixo de pedras soltas onde constrói tocas. B A tartaruga tigre-da-água tem cor amarelo e verde, e seu casco na vida adulta é escuro. No Brasil, ocorre exclusivamente no RS. Alimenta-se de caracóis, peixes, larvas de anfíbios e plantas aquáticas. Fig. 8.5 Fig. 8.6 O lagartinho-do-pampa tem hábito diurno e noturno, apresenta atividade ao longo de todo o ano. Encontra refúgio e alimento embaixo das pedras dos afloramentos, come artrópodos, tendo uma dieta carnívora (11). O lagartinho-do-pampa é uma espécie com populações muito abundantes nos locais onde ocorre. Porém, suas populações são muito isoladas entre si, pois a espécie tem alta especificidade de habitat e limitada dispersão, aliada à ocorrência restrita do seu habitat (12). No Planalto das Araucárias um dos répteis mais exclusivos dos ambientes campestres é o lagartinho-pintado (Contomastix vacariensis) (Figura 8.5B). Seu habitat é exclusivamente associado aos afloramentos rochosos, localizados em regiões de campos de altitudes elevadas (13). Possui uma dieta basicamente carnívora, procurando embaixo de pedras os vários tipos de artrópodos que consome (14). É um lagarto que apresenta temperatura corpórea muito próxima da temperatura do micro-habitat onde se encontra. É fácil diferenciar machos e fêmeas: as fêmeas são maiores que os machos, e estes apresentam cores na região lateral do corpo, além de ventre e papos manchados de preto (15). As populações da espécie são pouco numerosas, e quase não se deslocam entre os afloramentos rochosos (16). Junto com este lagarto típico dos campos de altitude ocorrem outros répteis associados também à floresta com Araucária. Entre essas espécies encontram-se as serpentes, como a jararaca (Bothrops cotiara) (Figura 8.5A) e a parelheira-do-mato (Philodryas arnaldoi) (Figura 8.5C) (2; 17). Destas espécies pouco se conhece de sua biologia, mas as três restringem-se a essa região. Nos ambientes aquáticos de água doce encontramos dois representantes bem característicos da fauna de répteis dos Campos Sulinos: o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) (Figura 8.6A), a tartaruga tigre-da-água (Trachemys dorbigni) (Figura 8.6B) e a serpente cobra-d’água (Helicops infrataeniatus) (Figura 8.6C). As principais ameaças às espécies de répteis que vivem nos Campos Sulinos estão vinculadas à descaracterização e perda dos habitats pelas monoculturas de soja, arroz e trigo, bem como por extensas plantações de eucaliptos e pinus. Na região do litoral, a principal pressão de destruição dos habitats está vinculada aos loteamentos das restingas para urbanização. Ambiente de restingas da região costeira e seus répteis característicos A: Amphisbaena darwinii B: Liolaemus occipitalis C: Xenodon dorbignyi # # Márcio Martins [Fig. 8.3A,C] # # LauraVerrastro [Fig. 8.3B] Ambiente de campos pedregosos na Campanha e seus répteis característicos A: Tropidurus catalanesis B: Epictia munoai C: Homonota uruguayensis # # LauraVerrastro Ambiente de altitude e seus répteis característicos A: Bothrops coitiara B: Contomastix vacariensis C: Philodryas arnaldoi # # Márcio Martins [Fig. 8.5A,C] # # LauraVerrastro [Fig. 8.5B] Ambiente alagado e seus répteis característicos A: Caiman latirostris B: Trachemys dorbigni C: Helicops infrataeniatus # # Márcio Martins
  • 88. 88 Também, a implantação de grandes parques eólicos destrói o relevo e remove a vegetação original das dunas. Estas atividades econômicasmodificamacomposiçãooriginaldavegetaçãoe/ou sombreiam as áreas de campos abertos. Não são poupados nem os afloramentos rochosos, que ficam cobertos de árvores. Os répteis dependem da paisagem original de seus habitats para conseguir alimento o qual está fortemente associado à vegetação nativa. Além disso, o sombreamento de grandes extensões de campos prejudica a capacidade dos répteis de obter calor, e altera os locais de refúgio de predadores na vegetação e as rochas. A modificação dos ambientes naturais fragmenta os habitats onde os répteis vivem e isola as populações, trazendo como consequência, em longo e médio prazos, a diminuição e eventualmente a extinção de populações. Este fato já foi verificado para várias espécies de lagartos,lagartinho-do-pampa(Figura8.4C),lagartinho-espinhoso (Figura8.4A),lagartixa-da-praia(Figura8.3B).Atransformaçãodos ecossistemas altera profundamente o habitat natural das espécies nativas e as coloca sob ameaça de extinção. Tabela 8.2: Algumas espécies de répteis ameaçadas de extinção habitantes dos Campos Sulinos no Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Paraná (PR). Categorias de ameaça: vulnerável (VU); em perigo (EN). Nome científico Família Nome popular Ameaça Liolaemus arambarensis Liolaemidae Lagartixa-de-dunas RS: EN Liolaemus occipitalis Liolaemidae Lagartixa-da-praia RS, SC: VU Contomastix vacariensis Teiidae Lagartinho-pintado RS, SC: EN PR: VU Phrynops williamsi Chelidae Cágado-de-ferradura-sulino SC: VU Homonota uruguayensis Phyllodactylidae Lagartinho-do-pampa RS: VU Lagartinho-pintado Contomastix vacariensis Lagartixa-de-dunas Liolaemus arambarensis Lagartixa-da-praia Liolaemus occipitalis Lagartinho-do-pampa Homonota uruguayensis Cágado-de-ferradura-sulino Phrynops williamsi
  • 90. 90
  • 93. 93 Ao contemplarmos uma paisagem campestre com atenção, quase sempre podemos notar alguma ave. Elas podem estar caminhando, como o quero-quero, voando sobre a pastagem, como o chimango, ou vocalizando, como a perdiz. As aves estão presentes na rotina e na cultura do homem do campoedacidade.Chamamaatençãopeloseuvalorevariedade.A complexa evolução desse grupo de vertebrados pode ser observada na diversidade de cores e formas, no desenvolvimento do canto, na arquitetura dos ninhos, nos cuidados com a prole e nas relações de parceria. As aves realizam diversos serviços ambientais, como a dispersão de sementes e a polinização, o controle de populações, e contribuemnaregulaçãodacadeiaalimentar,alémdeconstituírem importantes elementos cênicos da paisagem campestre, dada a sua beleza e riqueza de cantos. Apesar da importância do grupo, as aves já foram objeto de caça e suas penas serviram de adorno. Algumas aves são consideradas daninhas às lavouras ou criações, enquanto outras são mantidas em cativeiro, como animais de estimação – prática proibida por lei para animais silvestres. A diversidade das aves ainda é pouco reconhecida pela maioria das pessoas, principalmente quando se trata de espécies pequenas e pouco visíveis, como as que vivem em liberdade nos campos. Mas, afinal de contas, o que são aves campestres? Hámuitas formas de defini-las, mas, fundamentalmente, são aquelas que realizam todo ou parte de seu ciclo de vida nos campos, ou seja, são as aves que habitam (vivem e/ou se reproduzem) nos campos e em ambientes associados a estes, como os banhados. Pelo menos 109 espécies de aves são usuárias de ambientes campestres na região dos Campos Sulinos e do Pampa argentino e uruguaio, algumas com ocorrência restrita a esses ecossistemas. Que aves ocorrem nos Campos Sulinos? A diversidade de aves campestres pode variar de uma região para outra, ou até mesmo entre os diferentes tipos de campos. Essa diversidade está associada à variação de clima, altitude, vegetação, solo e recursos naturais disponíveis. A diversidade de aves campestres dos Campos Sulinos abrange mais de 95 espécies, sem contar as vagantes (veja Tabela 9.1). Capítulo 9 Biodiversidade de aves Carla Suertegaray Fontana & Glayson Ariel Bencke Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) # # Christian Andretti
  • 94. 94 Todas as espécies de aves dos Campos Sulinos dependem to- tal ou parcialmente dos campos e de seus ecossistemas associados (banhados e turfeiras). Elas representam cerca de 15% da avifauna do Rio Grande do Sul. A maioria dessas espécies ocorre tanto nos campos do bioma Pampa como nos do bioma Mata Atlântica. Algu- mas aves campestres dependem totalmente dos campos, em geral as mais especializadas; outras parcialmente, mas não sobrevivem se os campos desaparecerem. Há outras espécies que, apesar de serem campestres, toleram e podem sobreviver em outros ambientes, como as áreas modificadas pela agricultura. Algumas espécies de aves da Argentina e do Uruguai distribuem-se somente até o Pampa no Rio Grande do Sul, enquanto algumas outras, de regiões mais ao norte do Brasil, não alcançam o Pampa, mas ocorrem nos campos do bioma Mata Atlântica. A maioriadasespéciesdeavescampestresocupatantoobiomaPampa quanto o bioma Mata Atlântica. O veste-amarela (Xanthopsar flavus) e a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus) ocorrem em ambas as regiões, mas são mais abundantes nos campos do bioma Mata Atlântica. Já a outra noivinha (Xolmis irupero), ou viuvinha, como é conhecida na Campanha Gaúcha, é mais comum nos campos do bioma Pampa, e não está ameaçada, como a primeira. A principal diferença entre essas noivinhas é que a primeira tem a cauda toda preta, enquanto a outra tem só a ponta da cauda dessa cor. As espécies de ocorrência restrita a uma região são chama- das de endêmicas. Um exemplo de ave endêmica é o pedreiro (Cinclodes pabsti), que ocorre exclusivamente nos Campos de Cima da Serra. O pedreiro-dos-andes (Cinclodes fuscus) é menos especializado quanto ao tipo de habitat que seu parente endê- mico e vive nos campos do bioma Pampa, habitando áreas mais úmidas. Dessa mesma família (Furnariidae) fazem parte os co- nhecidos joão-de-barro, cochicho e tio-tio, que constroem ninhos fechados de barro e gravetos, respectivamente. Aves de campos altos Cerca de 24% das aves campestres dependem de campos mais altos para sobreviver, ou seja, com arbustos e gramíneas for- Caboclinho-de-barriga-preta Sporophila melanogaster Caboclinho Sporophila pileata Batuiruçu Pluvialis dominica Garça-vaqueira Bubulcus ibis Caminheiro-de-barriga-acanelada Anthus hellmayri Chimango Milvago chimango Pica-pau-do-campo Colaptes campestris Gavião-de-rabo-branco Geranoaetus albicaudatus Veste-amarela Xanthopsar flavus P 12 P + MA 78 MA 5 Número de espécies de aves dos Campos Sulinos e biomas Pampa (P) e Mata Atlântica (MA) # # Christian Andretti
  • 95. 95 mando touceiras. A maioria das espécies campestres ameaçadas do Rio Grande do Sul prefere campos altos, sendo, portanto, pou- co tolerantes ao pastejo intenso. Entre as espécies que só sobrevi- vem em campos altos e ricos em vegetação estão os caboclinhos, com destaque para o caboclinho-de-barriga-preta (Sporophila melanogaster), que é endêmico do Brasil e se reproduz somente nos campos de altitude do sul do país. Esse pequeno pássaro mi- gratório passa o verão no sul e o inverno no centro-leste do Brasil. Como outros tipos de coleirinhos, especializou-se em comer se- mentes de gramíneas e faz seus ninhos em arbustos. Outras espé- cies aparentadas e também migratórias são o caboclinho-de-pa- po-branco (Sporophila palustris), que além dos campos também usa banhados para nidificar e se alimentar, e a patativa-tropeira (Sporophila beltoni), que nidifica nos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul até o Paraná. Seu nome popular remete à rota mi- gratória da espécie, que é em grande parte coincidente com o cami- nho das tropas que ligavam o Rio Grande do Sul ao sul de São Paulo. Aves de campos baixos Há aves que ocupam campos mais baixos e até mesmo áreas de lavouras. Entre elas estão os caminheiros, que nidificam no chão e fazem voos verticais para exibição durante a temporada reprodutiva. A não ser pelos voos e vocalizações, essas espécies são pouco notadas pelas pessoas, pois sua coloração confunde-se com a cobertura da vegetação dos campos (camuflagem). A ema (Rhea americana), conhecida na Campanha Gaúcha como nhandu ou, impropriamente, avestruz, é a maior das aves campestres e pode ser vista em diferentes tipos de campos naturais e também em plantações. Os machos formam haréns com várias fêmeas e, na temporada de reprodução, são eles que chocam os ovos e cuidam dos filhotes. Essa ave é muito procurada pelos ovos e penas, que são usadas em adornos, o que constitui prática ilegal. As emas alimentam-se de uma ampla variedade de invertebrados e de pequenos vertebrados. Ainda não conhecemos quais são os efeitos causados sobre as populações de emas pela contaminação dos alimentos que elas obtêm nas lavouras. CA 24% CB 16% CA + CB 60% Diversidade de aves em Campos Altos (CA) e Campos Baixos (CB) dos Campos Sulinos # # Christian Andretti # # Christian Beier Veste-amarela Xanthopsar flavus Ema Rhea americana Tico-tico-do-campo Ammodramus humeralis Canário-do-brejo Emberizoides ypiranganus Caboclinho-de-barriga-preta Sporophila melanogaster Corruíra-do-campo Cistothorus platensis Cochicho Anumbius annumbi Caminheiro-de-barriga-acanelada Anthus hellmayri Coruja-buraqueira Athene cunicularia
  • 96. 96 Muitas aves ocupam os ambientes de banhado que caracterizam as várzeas e drenagens nas regiões campestres. Algumas são específicas de banhados de palha, outras de gravatás (ou caraguatás). A noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus) prefere os gravatazais. Apesar de apresentar ampla distribuição em áreas campestres dos biomas Pampa e Mata Atlântica, essa espécie depende dos banhados de gravatás para nidificar, e dos campos circundantes para se alimentar. Aves migratórias As aves migratórias totalizam cerca de um terço das aves campestres. Algumas são migratórias de longa distância e passam o inverno boreal no sul da América do Sul, como o maçarico-acane- lado (Calidris subruficollis), migrante que nidifica na Rússia, Alas- ca e Canadá e que chega ao Sul do Brasil a partir de setembro. Essa ave está reconhecidamente associada à atividade pastoril no Rio Grande do Sul, preferindo os campos costeiros mais baixos. Está ameaçada de extinção. Felizmente, existe um plano de ação para a sua conservação e algumas iniciativas de monitoramento em curso. A maioria das espécies migratórias de longa distância são provenientes do Hemisfério Norte. As migrantes de média distância efetuam migrações dentro do Brasil ou no âmbito do Cone Sul da América do Sul; muitas vêm da Argentina e passam o inverno austral aqui, outras vêm do norte para o Sul do Brasil, para passar o verão e nidificar. Aves campestres ameaçadas Cerca de um quarto das aves campestres está sujeita a algum grau de ameaça de extinção em pelo menos uma parte dos Campos Sulinos. Duas estão extintas em território brasileiro: o galito (Alectrurus tricolor) e o peito-vermelho-grande (Sturnella defilippii). A maior parte das espécies campestres ameaçadas de extinção depende de campos altos e conservados e, por isso, a destruiçãoeadegradaçãodoscamposéamaiorameaçaparaasua EN 2 VU 9 NT 8 Algumas aves dos Campos Sulinos categorizadas sob algum grau de ameaça em nível global NT: Quase ameaçado VU: Vulnerável EN: Em perigo # # Christian Andretti # # Eduardo Chiarani águia-cinzenta Urubitinga coronata Caboclinho-do-papo-branco Sporophila palustris Maçarico-acanelado Calidris subruficollis Ema Rhea americana Pedreiro Cinclodes pabsti Veste-amarela Xanthopsar flavus Noivinha-do-rabo-preto Xolmis dominicanus Caboclinho-de-barriga-preta Sporophila melanogaster
  • 97. 97 sobrevivência. A captura de espécies na natureza, para abastecer o comércio ilegal de animais silvestres, também ameaça algumas espécies, especialmente aquelas tradicionalmente mantidas em cativeiro, como as patativas e os coleirinhos. Ocorrência nos biomas Pampa (P) e Mata Atlântica (MA). Em vermelho estão destacadas as espécies presentes em listas e quais as categorias de ameaça no Brasil. Categorias de ameaça: NT: quase ameaçado VU: vulnerável EN: em perigo CR: criticamente em perigo RE: regionalmente extinta Tabela 9.1: Lista das espécies de aves dos Campos Sulinos, sua ocorrência nos biomas Pampa e Mata Atlântica e níveis de ameaça de extinção nos estados do RS, SC e PR. Espécie Nome popular Bioma Listas Rheidae Rhea americana Ema P e MA PR: CR Tinamidae Rhynchotus rufescens Perdiz P e MA Nothura maculosa Codorna-amarela P e MA Anatidae Chloephaga picta* Ganso-de-magalhães P Ardeidae Bubulcus íbis Garça-vaqueira P e MA Threskiornithidae Theristicus caudatus Curicaca P e MA Accipitridae Elanus leucurus Gavião-peneira P e MA Circus cinereus Gavião-cinza P RS: VU Circus buffoni Gavião-do-banhado P e MA Heterospizias meridionalis Gavião-caboclo P e MA Urubitinga coronata Águia-cinzenta P e MA PR: VU SC: CR RS: VU Geranoaetu albicaudatus Gavião-de-rabo- branco P e MA Geranoaetu melanoleucus Águia-chilena P e MA Buteo swainsoni Gavião-papa- gafanhoto P e MA Charadriidae Vanellus chilensis Quero-quero P e MA Espécie Nome popular Bioma Listas Pluvialis dominica Batuiruçu P Charadrius modestus Batuíra-de-beito- tijolo P Oreopholus ruficollis Batuira-de-peito- ferrugíneo P e MA Scolopacidae Bartramia longicauda Maçarico-do-campo P e MA Calidris subruficollis Maçarico-acanelado P e MA RS: NT Thinocoridae Thinocorus rumicivorus* Agachadeira-mirim P e MA Strigidae Athene cunicularia Coruja-burraqueira P e MA Asio flammeus Mocho-dos-banhados MA SC: VU RS: NT Caprimulgidae Chordeiles nacunda Corucão P e MA Hydropsalis longirostris Bacurau-da-telha P e MA Hydropsalis anomalus Curiango-do- banhado P e MA PR: VU SC: EN RS: EN Trochilidae Polytmus guainumbi Beija-flor-de-bico- curvo P Picidae Colaptes campestris Pica-pau-do-campo P e MA Cariamidae Cariama cristata Seriema P e MA PR: NT Falconidae Caracara plancus Carcará P e MA Milvago chimango Chimango P e MA Falco sparverius Quiriquiri P e MA Falco femoralis Falcão-de-coleira P e MA Dendrocolaptidae Lepidocolaptes angustirostris Arapaçu P
  • 98. 98 Pedreiro Cinclodes pabsti Tesoura-do-brejo Gubernetes yetapa Noivinha-de-rabo-preto Xolmis dominicanus Veste-amarela Xanthopsar flavus Corruíra-do-campo Cistothorus platensis Espécie Nome popular Bioma Listas Furnariidae Geositta cunicularia Curriqueiro P e MA Furnarius rufus João-de-barro P e MA Cinclodes pabsti Pedreiro P e MA SC: VU RS: VU Cinclodes fuscus Pedreiro-dos-andes P e MA Phacellodomus striaticollis Tio-tio P e MA PR: VU Anumbius annumbi Cochicho P e MA Asthenes hudsoni João-platino P RS: VU Cranioleuca sulphurifera Arredio-de-papo- manchado P e MA Spartonoica maluroides Boininha P Tyrannidae Polystictus pectoralis Papa-mosca-canela P e MA SC: CR RS: EN Pseudocolopteryx flaviventris Amarelinho-do-junco P e MA Culicivora caudacuta Papa-moscas- do-campo P e MA SC: CR RS: VU Lessonia rufa Colegial P e MA Knipolegus lophotes Maria-preta-de- penacho P e MA Hymenops perspicillatus Viuvinha-de-óculos P e MA PR:NT Xolmis cinereus Primavera P e MA Xolmis irupero Noivinha P e MA Xolmis dominicanus Noivinha-de- rabo-preto P e MA SC: EN RS: VU Neoxolmis rufiventris Gaúcho-chocolate P Gubernetes yetapa Tesoura-do-brejo P e MA RS: NT Alectrurus risora Tesoura-do-campo RS: RE Alectrurus tricolor Galito MA PR: EN Machetornis rixosa Suiriri-cavaleiro P e MA Tyrannus savana Tesourinha P e MA Hirundinidae Alopochelidon fucata Andorinha-morena P e MA Progne tapera Andorinha-do-campo P e MA Espécie Nome popular Bioma Listas Tachycineta leucorrhoa Andorinha-de-sobre- branco P e MA Tachyneta leucopyga Andorinha-chilena P e MA Hirundo rustica Andorinha-de-bando P e MA Petrochelidon pyrrhonota Andorinha-de-dorso- acanelado P e MA Troglodytidae Cistothorus platensis Corruíra-do-campo P e MA SC: CR RS: NT Mimidae Mimus saturninus Sabiá-do-campo P e MA Motacillidae Anthus lutescens Caminheiro-zumbidor P e MA Anthus furcatus Caminheiro-de- unha-curta P Anthus correndera Caminheiro-de-espora P Anthus nattereri Caminheiro-grande P e MA SC: EN RS: VU Anthus hellmayri Caminheiro-de- barriga-acanelada P e MA Thraupidae Donacospiza albifrons Tico-tico-do-banhado P e MA Poospiza nigrorufa Quem-te-vestiu P e MA Sicalis citrina Canário-rasteiro MA Sicalis luteola Tipio P e MA Emberizoides herbicola Canário-do-campo P e MA Emberizoides ypiranganus Canário-do-brejo P e MA Embernagra platensis Sabiá-do-banhado P e MA Volatinia jacarina Tiziu P e MA Sporophila beltoni Patativa-tropeira MA SC: CR RS: EN Sporophila collaris Coleiro-do-brejo P Sporophila pileata Caboclinho P e MA PR: NT RS: VU Sporophila hypoxantha Caboclinho-de- barriga-vermelha P e MA PR: NT SC: VU RS: VU
  • 99. 99 Pica-pau-do-campo (Colaptes campestris) # # Ronai Rocha Espécie Nome popular Bioma Listas Sporophila ruficollis Caboclinho-de- papo-escuro P e MA RS: VU Sporophila palustris Caboclinho-de- papo-branco P e MA RS: VU Sporophila hypochroma** Caboclinho-de-sobre- ferrugem Sporophila cinnamomea Caboclinho-de- chapéu-cinzento P e MA SC: CR RS: NT Sporophila melanogaster Caboclinho-de- barriga-preta MA SC: VU RS: EN Emberizidae Ammodramus humeralis Tico-tico-do-campo P e MA Icteridae Agelasticus thilius Sargento P e MA PR: NT Xanthopsar flavus Veste-amarela P e MA SC: CR RS: VU Pseudoleistes guirahuro Chopim-do-brejo P e MA Pseudoleistes virescens Dragão P e MA Molothrus rufoaxillaris Vira-bosta-picumã P e MA Molothrus bonariensis Vira-bosta P e MA Sturnella superciliaris Polícia-inglesa-do-sul P e MA Sturnella defilippii Peito-vermelho- grande RS: RE Dolichonyx oryzivorus* Triste-pia P (*) Espécie vagante/eventual (**) Espécie de ocorrência provável
  • 100. 100
  • 103. 103 Capítulo 10 Biodiversidade de MAmÍFEROS André Luís Luza, Gislene Lopes Gonçalves, Alan Bolzan & Sandra Maria Hartz Se tiver pelo é mamífero! Caso observe um animal na na- tureza, a presença de pelos é essencial para diferenciar os mamí- feros dos demais grupos animais. Diferentemente das penas das aves que evoluíram de escamas reptilianas, o pelo é uma novida- de evolutiva tendo como principal função o isolamento térmico, permitindo que os mamíferos usufruam das vantagens da endo- termia. Além dos pelos, estes vertebrados possuem glândulas mamárias que servem para a nutrição dos filhotes no início do desenvolvimento. Outra característica evolutiva notável é o desen- volvimento fetal, que ocorre totalmente ou parcialmente dentro de uma membrana chamada placenta (mamíferos placentários e marsupiais, respectivamente), embora ainda existam mamíferos que realizam a postura de ovos, como os ornitorrincos e équid- nas da Austrália e Nova Guiné. Estes e outros atributos, como o sistema nervoso altamente avançado e a elevada diversidade de morfologias e de estruturas dentárias, permitem que os mamífe- ros apresentem uma ampla gama de hábitos comportamentais e de exploração de recursos alimentares, e prosperem em diversos ambientes tropicais e temperados. Os ecossistemas campestres facilitam a visualização de animais e estimulam a curiosidade pela diversidade da vida silvestre. Não raro, durante caminhadas em áreas campestres, nos deparamos com tocas de tatus (Dasypus spp.) e graxains- do-campo (Lycolapex gymnocercus), ou observamos pequenos montes de areia junto a buracos, indicando a presença de tuqueiras que são galerias subterrâneas de habitantes dos campos em solo arenoso, os tuco-tucos (Ctenomys spp.). Em algumas localidades no Sul do Brasil (ex. Estação Ecológica do Taim) ainda podemos ver um grande número de indivíduos do maior roedor existente no mundo, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), e também ratões-do-banhado (Myocastor coypus). No entanto, em poucos lugares na América do Sul vêm-se tantas espécies de mamíferos como nas áreas úmidas do Pantanal. Lá vemos cervos- do-pantanal (Blastocerus dichotomus), antas (Tapirus terrestris), capivaras, tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), lontras (Lontra longicaudis), ariranhas (Pteronura brasiliensis) e, com sorte, onças-pintadas (Panthera onca), todos animais que outrora ocuparam ou ainda ocupam, em baixas densidades, os ecossistemas campestres e florestais dos Campos Sulinos. Os mamíferos que ocorrem no Brasil, em sua grande maioria, apresentam pequeno porte e dificilmente são observados (1). Geralmente estes mamíferos se encontram camuflados na vegetação, sendo ativos no início da noite até o amanhecer, evitando a proximidade de habitações humanas (2, 3). Além Graxaim-do-campo (Lycolapex gymnocercus) # # Diogenes Machado
  • 104. 104 disso, grande parte dos mamíferos são arborícolas e voadores (1), necessitando de complexos métodos de captura a fim de detectar a presença das espécies e estudar sua biologia (3). A fauna de mamíferos sul-americanos é muito diversa e pouco se assemelha, em termos ecológicos, com a fauna de mamíferos ocupando outros ecossistemas campestres ao redor do mundo, principalmente tratando-se de aspectos relacionados a dieta e comportamento. Neste capítulo apresentamos uma síntese sobre aspectos ecológicos relacionados aos mamíferos dos Campos Sulinos do RS, SC e PR, além de adentrar no grau de ameaça de extinção de acordo com listas estaduais e mundiais de mamíferos ameaçados e, brevemente, nos processos históricos e evolutivos que molda- ram a fauna sul-americana. Destacamos aspectos ecológicos rela- cionados a locomoção e dieta e com o bioma e ambiente preferen- cialmente ocupado pelos mamíferos (campo, floresta ou ambos). Mamíferos da América do Sul Há no mundo em torno de 5.416 espécies de mamíferos, distribuídasem1.229gênerose29ordens,sendoquemetadedestas ordens está representada na região neotropical (América Central e do Sul). A fauna da América do Sul foi moldada por três principais eventoshistóricos:1)oisolamentogeográficodeaproximadamente 80 milhões de anos devido à separação da Gondwana; 2) a formação do Istmo do Panamá há aproximadamente 3 milhões de anos, quando espécies de mamíferos norte-americanos (roedores sigmodontíneos, cervídeos, equídeos, camelídeos, carnívoros) migraram para o sul e mamíferos sul-americanos para o norte (gambás, tatus, capivaras, porcos-espinho); e 3) o evento de extinção em massa de muitas espécies de mamíferos de grande porte durante a transição Pleistoceno-Holoceno há aproximadamente 10.000 anos. Estima-se que havia 17 ordens de mamíferos na América do Sul antes da extinção em massa; após a extinção, restaram 12 ordens. Percebe-se que estes eventos modificaram profundamente a fauna do continente americano que, apesar dessa extinção em massa, tem uma diversidade faunística impressionante. Estudos recentes indicam a ocorrência de 701 espécies no Brasil. Nas ordens Rodentia, Chiroptera, Primates (234, 174 e 118 espécies, respectivamente) encontramos o maior número de espécies de mamíferos endêmicos (1,2). Mamíferos dos Campos Sulinos A biodiversidade regional dos Campos Sulinos é moldada por uma gradual transição faunística entre espécies com origens tropical e temperada, que substituem-se no espaço (4). A fauna e a flora de regiões tropicais têm nos Campos Sulinos seu limite meridional de distribuição devido à redução de ambientes florestais, ao passo que espécies típicas de regiões temperadas têm aí o seu limite setentrional de distribuição geográfica, pela diminuição da frequência de ambientes abertos (4). A paisagem da região reflete este mosaico fitofisionômico: em algumas regiões ocorrem extensas áreas dominadas por campos sob relevo pouco acentuado; onde o relevo se acentua (serras, encostas) e há acúmulo de umidade (matas ciliares) formam- se zonas de transição onde ambientes florestais e campestres se misturam na paisagem (5). A combinação de ambientes campestres e florestais e de faunas de regiões tropicais e temperadas torna expressiva a diversidade de mamíferos ocupando os Campos Sulinos. Um total de 181 espécies pertencendo a nove das 12 or- dens de mamíferos neotropicais ocorre nos três estados do Sul do Brasil. Destas, 16 ocorrem exclusivamente no bioma Pampa e 72 são exclusivas do bioma da Mata Atlântica (Figura 10.1). A maior diferença de riqueza entre estes biomas está concentrada na diversidade de morcegos, roedores e marsupiais. No entanto, mais da metade do total de espécies de mamíferos ocorre em am- bos os biomas (93 spp.). Mamíferos que ocorrem nos dois biomas tendem a ser majoritariamente florestais (37 spp.), mas também um grande número de espécies utilizam tanto o campo quanto a floresta (36 spp.). A maioria dos mamíferos exclusivos da Mata Atlântica ocupam majoritariamente florestas. O número de espé- cies de mamíferos do bioma Pampa que ocupa apenas habitats campestres ou tanto campestres quanto florestais é similar.
  • 105. 105 Os níveis de endemismo são relativamente baixos para mamíferos (6). Três espécies de tuco-tucos (Ctenomys lami, C. ibicuiensis e C. torquatus), roedores fossoriais que habitam dunas e campos arenosos, são endêmicos do Pampa. Uma espécie de roedor semiaquático (Scapteromys meridionalis) recentemente descrita é endêmicadaregiãodeFlorestacomAraucárias(7).Apresençadafauna de regiões tropicais e temperadas torna a diversidade de mamíferos dos Campos Sulinos expressiva, embora conexões relictuais/atuais que ligam diferentes componentes faunísticos provavelmente fazem com que processos ecológicos gerando endemismos (por exemplo, isolamento geográfico) sejam pouco proeminentes. Habitat preferencial Amaioriadosmamíferosdessaregiãohabitaessencialmente florestas (89 spp.), embora um grande número de espécies utilize tanto o campo quanto a floresta (63 spp.); somente 29 espécies ocupam exclusivamente ambientes campestres. Mamíferos campestres são principalmente terrestres e fossoriais (cavam tocas), com dieta herbívora e insetívora/onívora. Cervídeos como o cervo-do-Pantanal (Blastocerus dichotomus) e o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) são herbívoros terrestres de grande porte que ocupam exclusivamente ambientes campestres do Pampa e da Mata Atlântica. Entretanto, outros cervídeos (gênero Mazama) tendem a ocupar majoritariamente ambiente florestal e suas bordas (2). Os mamíferos que habitam unicamente ambientes florestais são majoritariamente voadores (35 spp.) e arborícolas (21 spp.), e o número de espécies de mamíferos escansoriais (exploram tanto o chão quanto arbustos e árvores) e terrestres ocupando florestas é similar (12 e 15 spp., respectivamente). Quanto à dieta, estes mamíferos são predominantemente insetívoros/onívoros e insetívoros, embora ocorra um grande número de frugívoros florestais que incluem em sua dieta outros itens alimentares (ervas, raízes, folhas, e insetos). Notavelmente, mamíferos estritamente herbívoros não habitam exclusivamente florestas. Mamíferos ocupando ambos ambientes são majoritariamente voadores e terrestres com dieta insetívora, insetívora/onívora e carnívora. Fig. 10.1 Número total de espécies de mamíferos ocorrentes no Pampa (P), na Mata Atlântica (MA) e em ocorrência em ambos biomas (P + MA) Cuíca Gracilinanus microtarsus Rato d’água Scapteromys meridionalis Anta Tapirus terrestris Porco-do-mato Pecari tajacu Tuco-tuco Ctenomys ibicuiensis Tuco-tuco Tuco-tuco Ctenomys lami Rato-do-chão Akodon reigi Graxaim-do-mato Cerdocyon thous Tatu-galinha Dasypus novemcinctus Rato-da-taquara Kannabateomys amblyonyx Tatu-peludo Euphractus sexcinctus Graxaim-do-campo Lycolapex gymnocercus Veado-catingueiro Mazama gouazoubira Capivara Hydrochoerus hydrochaeris P + MA 93 P 16 MA 72
  • 106. 106 Nas formações arbustivas e campestres do Pampa ocorrem marsupiais insetívoros/onívoros como a guaiquica (Cryptonanus spp.) e a cuíca-marrom (Monodelphis dimidiata) bem como ratos -do-chão frugívoro-granívoros (ex. Calomys laucha) e o rato-do- arroz granívoro-onívoro (Oligoryzomys flavescens) (8). Além destes, os ratos-do-chão insetívoros/onívoros (Akodon azarae, A. serrensis, Deltamys kempi) e o rato-do-brejo (Oxymycterus nasutus) ocorrem com maior frequência em campos do Pampa e da Mata Atlântica com vegetação alta, onde a pressão de pastejo é leve ou ausente (8,9,10). Os escansoriais rato-do-arroz (Oligoryzomys nigripes - frugívoro/granívoro) e o gambá (Didelphis albiventris – frugívoro/onívoro) suportam ambientes florestais e campestres intensivamente manejados, devido a habilidades para refugiar-se ou para fugir de predadores em ambientes com pouca cobertura vegetacional (8,9,10). O rato-coelho (Reithrodon typicus) e os tuco-tucos (Ctenomys spp.) são herbívoros de pequeno porte habitando as formações campestres do Pampa e da Mata Atlântica (11). O graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus) e o zorrilho (Conepatus chinga) são carnívoros frequentemente visualizados em ambientes campestres. Outro grupo notável de mamíferos que habitam os ambientes campestres são os xenartras (tatus e tamanduás). A América do Sul é o berço de origem destes mamíferos, que até a extinção em massa consistiam de uma grande diversidade de herbívoros de grande porte. Atualmente, estes animais são insetívoros de vida semi-fossorial, como o tatu-mulita (Dasypus hybridus) ou são de hábito terrestre que se alimentam exclusivamente de formigas (tamanduá-bandeira – Myrmecophaga tridactyla). O tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), o tatuí (Dasypus septemcinctus), o tatu- de-rabo-mole (Cabassous tatouay) e o escansorial tamanduá- mirim (Tamandua tetradactyla) ocupam ambientes florestais, enquanto que o tatu-mulita, o tatu-peludo (Euphractus sexcintus) e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) preferem as áreascampestres(2,11).Espéciescomhábitosoportunistasedietas amplas e flexíveis incluem o graxaim-do-mato (Cerdocyon thous), o gambá, o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), o morcego- das-casas (Tadarida brasiliensis) e o morcego-da-cauda-grossa (Molossus molossus), que suportam a proximidade ou mesmo habitam ambientes urbanos. Alguns outros têm grandes áreas de vida, como o puma (Puma concolor), e/ou apresentam hábitos alimentares extremamente especializados, como o rato-da- taquara (Kannabateomys amblyonyx) ou o morcego hematófago (Diaemus youngi), o que os torna discretos, frágeis aos distúrbios em seu ambiente ou mesmo mais propensos à extinção. Carnívoros como o gato-palheiro (Leopardus colocolo) e o gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi) e o frugívoro/ onívoro gambá-da-orelha-branca (Didelphis albiventris) ocorrem principalmente em manchas florestais e matas ciliares no bioma Pampa. No dossel de matas ripárias e de manchas florestais do bioma Pampa frequentemente observa-se o bugio-preto (Alouatta caraya), enquanto que em remanescentes de Mata Atlântica o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans) é mais comum. Ainda no Planalto das Araucárias, quem ocupa o solo ou sub-bosque das manchas florestais dispersadas no campo são o rato-do-mato (Akodon paranaensis), o rato-do-arroz (Oligoryzomys nigripes) e o gambá-da-orelha-branca(10),alémdograxaimdomato(Cerdocyon thous) e do puma (Puma concolor), que transitam entre ambientes campestres e florestais. No Pampa ocorrem ainda diversos mamíferos semi-aquáticos, dos quais os roedores Lundomys molitor e Holochilus vulpinus são exclusivos. Estes mamíferos possuem adaptações ao ambiente aquático, como membranas interdigitais e alta capacidade de natação, além de explorarem com eficácia recursos como peixes e invertebrados aquáticos (12). Padrão similar aos mamíferos semi-aquáticos ocorre para os mamíferos fossoriais (que cavam tocas) e semi-fossoriais, cuja menor diversidade ocorre dentre os mamíferos exclusivos da Mata Atlântica. Espécies ameaçadas Considerando a fauna sob risco de extinção, cada estado contém em torno de 30 espécies ameaçadas (Figura 10.2; Tabela 10.1), segundo listas de espécies ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (13), Santa Catarina (14) e Paraná (15,16). Alguns critérios utilizados para categorização das espécies podem ser visualizados na página 106. Atualmente, 58 espécies encontram-
  • 107. 107 Fig. 10.2 Mamíferos ameaçados de extinção no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e respectivo número de espécies em cada categoria de ameaça Cutia Dasyproctae azarae Quati Nasua nasua Tamanduá-mirim Tamandua tetradactyla Bugio-ruivo Alouatta guariba clamitans Lontra Lontra longicaudis Puma Puma concolor Veado-campeiro Ozotoceros bezoarticus Queixada Tayassu pecari Onça-pintada Panthera onca Veado-catingueiro Mazama gouazoubira Cachorro-vinagre Speothos venaticus Tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Preguiça Bradypus variegatus Ariranha Pteronura brasiliensis Cervo-do-pantanal Blastocerus dichotomus Regionalmente Extinta | RS (1) SC (2) PR (1) Criticamente em Perigo | RS (7) SC (10) PR (10) Bugio-preto Alouatta caraya Tuco-tuco branco Ctenomys flamarioni Tuco-tuco Ctenomys minutus Porco-do-mato Pecari tajacu Jaguatirica Leopardus pardalis Anta Tapirus terrestris Em Perigo | RS (10) SC (5) PR (4) Vulnerável | RS (14) SC (14) PR (15)
  • 108. Categorias de ameaça de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza As categorias de ameaça da IUCN são definidas através de critérios como a exis- tência de dados sobre tendências populacionais das espécies, aspectos de histó- rias de vida e ameaças.A ausência de informações concretas sobre as tendências populacionais de uma dada espécie determina que ela seja categorizada como Dados Insuficientes (DD), indicando que a coleta de mais informações é necessá- ria.Aexistênciadedadosadequadoséumcritérioessencialparaqueumaespécie sejaavaliadaeenquadradanascategoriasderiscodeextinção.Estasespéciessão então classificadas em não-ameaçadas (Preocupação menor [LC] ou próximas da ameaça [NT]) ou ameaçadas de extinção (Vulnerável [VU], em perigo [EN], criti- camente em perigo [CR] ou extintas [extinta na natureza - EW e extintas – RE]). Alguns dos critérios utilizados para a categorização incluem: Vulnerável – Declínio de mais de 30% em 10 anos ou em três gerações, quan- do as causas do declínio podem não cessar, não serem entendidas ou não se- rem reversíveis; estimativas de extensão e área de ocorrência de 20.000km2 e 2.000km2 , respectivamente; populações com tamanho estimado de menos de 1.000 indivíduos maduros; e probabilidade de extinção na natureza de pelo menos 10% em 100 anos. Em perigo – Declínio de mais de 50% em 10 anos ou em três gerações, quando as causas do declínio podem não cessar, não serem entendidas ou não serem re- versíveis; estimativas de extensão e área de ocorrência de 5.000km2 e 500km2 , respectivamente;populaçõescomtamanhoestimadodemenosde250indivídu- os maduros; e probabilidade de extinção na natureza de pelo menos 20% em 20 anos ou cinco gerações. Criticamente em perigo – Declínio populacional de mais de 80% em 10 anos ou em três gerações, quando as causas do declínio podem não cessar, não serem en- tendidas ou não serem reversíveis; estimativas de extensão e área de ocorrência muito pequenas (100km2 e 10km2 , respectivamente); populações com tamanho estimado de menos de 50 indivíduos maduros; e probabilidade de extinção na na- tureza de pelo menos 50% em 10 anos ou em três gerações. Extinta – Mesmo com grande esforço de coleta de dados não há registro da espécie durante muitos anos, tendo-se absoluta certeza de que nenhum indi- víduo da espécie sobrevive em determinada extensão geográfica. se ameaçadas nos três Estados do Sul do Brasil, sendo que 14 estão ameaçadas em todos os Estados; e nove espécies encontram-se ameaçadas em pelo menos dois Estados (Tabela 10.1). O cervo-do- Pantanal(Blastocerusdichotomus),umdosmaisnotáveisherbívoros dos Campos Sulinos, encontra-se regionalmente extinto em SC (14). Os cervídeos campestres cervo-do-pantanal e o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) bem como o queixada (Tayassu pecari) e o cateto (Pecari tajacu) encontram-se ameaçados nos três Estados. Grave também é a situação dos carnívoros: das 16 espécies que ocupamcamposouambientesflorestaisecampestres,10encontram- se ameaçadas. Destes, gato-palheiro e o gato-do-mato-grande, que ocupam unicamente o Pampa, estão respectivamente em perigo e vulnerável à extinção. Carnívoros predadores de maior porte, como a onça-pintada (Panthera onca), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o puma e a ariranha encontram-se severamente ameaçados por toda a extensão dos Campos Sulinos. O cachorro-vinagre (Speothos venaticus), que ocupa tanto ambientes florestais quanto campestres, encontra-se ameaçado na porção norte dos Campos Sulinos (SC e PR). O bugio- ruivo e o bugio-preto (Alouatta guariba clamitans e A. caraya, respectivamente), que ocupam as florestas em mosaicos campo- floresta, encontram-se ameaçados de extinção nos três Estados. O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o tapiti (Sylvilagus brasiliensis) encontram-se ameaçados de extinção no RS e PR. ConclusÃO Apesar dos avanços na aquisição de informações sobre a distribuição de mamíferos neotropicais, o nível de conhecimento sobre a ecologia de mamíferos de ecossistemas campestres é ainda pequeno, visto que estes animais são de difícil visualização e captura para serem estudados. A expressiva biodiversidade de mamíferos dos Campos Sulinos é reflexo da diversidade de mamíferos exclusivos do Pampa e dos mamíferos que ocupam o Pampa e a Mata Atlântica; e da diversidade de mamíferos que ocupam unicamente ambientes campestres bem como dos mamíferos ocupando tanto ambientes 108
  • 109. 109 florestais quanto campestres. Assim, ações para a conservação de mamíferos dos Campos Sulinos bem como processos ecológicos relacionados devem visar à manutenção de campos bem como de mosaicos de ecossistemas florestais e campestres nos dois biomas. A ocorrência de elevado número de mamíferos ameaçados de extinção no Sul do Brasil é um alerta para a formulação de políticas que proíbam ou regulamentem de maneira eficaz a con- versão de ambientes campestres e florestais para usos antrópicos. Iniciativas devem prezar o adequado ordenamento do uso do solo para fins produtivos, habitacionais e para a criação de espaços le- galmente protegidos (Unidades de Conservação de Proteção In- tegral e Sustentável). Além disto, estratégias que diminuam a forte pressão de caça exercida sobre mamíferos gravemente ameaçados de extinção são cruciais para a sobrevivência em longo prazo das populações, principalmente se tratando da caça de cervídeos e ro- edores (apreciados para alimentação) e de carnívoros predadores. Programas de Educação Ambiental devem ser desenvolvi- dos junto a população rural, visando principalmente identificar e resolver conflitosentre aprodução agropecuáriaeaconservaçãoda vida silvestre. Estratégias planejadas e articuladas entre governos e universidades, visando o manejo conservacionista de mamíferos ameaçados na região Sul do Brasil, são urgentemente necessárias. Tabela 10.1: Espécies de mamíferos dos Campos Sulinos com ocorrência nos biomas Pampa e Mata Atlântica. São listados os animais exclusivos de ambiente campestre ou de campo e floresta. Em vermelho, estão destacadas as espécies com algum grau de ameaça de extinção de acordo com a IUCN e listas estaduais. Ordem/Espécie Nome comum BIOMA DE OCORRÊNCIA2 Ambiente Ameaça de extinção HÁBITO¹ DIETA¹ IUCN2 RS3 SC4 PR5 Artiodactyla Blastocerus dichotomus Cervo-do-pantanal P/MA CA VU CR RE CR TER HB Ozotoceros bezoarticus Veado-branco, veado-campeiro P/MA CA CR VU CR TER HB Pecari tajacu Caititu, cateto, porco-do-mato, tateti MA FL/CA VU EN VU VU TER FR/HB Tayassu pecari Queixada MA FL/CA CR CR CR TER FR/HB Carnivora Cerdocyon thous Cachorro-do-mato, graxaim-do-mato P/MA FL/CA TER IN/ON Chrysocyon brachyurus Lobo-guará P/MA CA CR CR EN TER CA/ON Conepatus chinga Jaritataca, zorrilho, zorrino P/MA CA TER IN/ON Galictis cuja Furão P/MA FL/CA TER CA Galictis vittata Furão-grande, furdo, aracambé MA FL/CA TER CA Leopardus colocolo Gato-dos-pampas, gato-palheiro P FL/CA EN ESC CA Leopardus geoffroyi Gato-do-mato-grande P FL/CA VU TER CA Leopardus pardalis Jaguatirica MA FL/CA VU EN VU TER CA Lontra longicaudis Lontra P/MA FL/CA VU SAQ PSI Bioma de ocorrência: P: Pampa MA: Mata Atlântica Ambiente: CA: Campo FL: Floresta Ameaça de extinção: VU: Vulnerável EN: Em perigo CR: Criticamente em perigo RE: Regionalmente extinto Hábito: aqu: Aquático arb: Arborícola esc: Escansorial fos: Fossorial saq: Semi-aquático sfo: Semi fossorial ter: Terrestre voa: Voador Dieta: Hb: Herbívoro Fr: Frugívoro Ca: Carnívoro On: Onívoro Psi: Piscívoro Fo: Folívoro Myr: Mirmecófago
  • 110. 110 Ordem/Espécie Nome comum BIOMA DE OCORRÊNCIA2 Ambiente Ameaça de extinção HÁBITO¹ DIETA¹ IUCN2 RS3 SC4 PR5 Lycalopex gymnocercus Graxaim-do-campo, raposa-do-campo, zorro P/MA CA TER CA/ON Lycalopex vetulus Raposa-do-campo MA FL/CA TER IN/ON Panthera onca Onça, onça-pintada, onça-preta (melânica), pintada MA FL/CA CR CR CR TER CA Pteronura brasiliensis Ariranha P/MA FL/CA EN RE RE CR SAQ PSI Puma concolor Leão-baio, onça-parda, puma, suçuarana P/MA FL/CA EN VU VU TER CA Puma yagouaroundi Gato-mourisco, jaguarundi P/MA FL/CA VU TER CA Speothos venaticus Cachorro-vinagre MA FL/CA CR CR TER CA Chiroptera Artibeus obscurus Morcego MA FL/CA VOA FR Chiroderma doriae Morcego MA FL/CA VU VOA FR Chrotopterus auritus Morcego-bombachudo P/MA FL/CA VU VOA CA Diaemus youngi Morcego MA FL/CA CR VOA HE Eptesicus diminutus Morcego P/MA FL/CA VOA IN Eptesicus furinalis Morcego P/MA FL/CA VOA IN Eumops auripendulus Morcego-de-orelhas-largas escuro P/MA FL/CA VOA IN Eumops perotis Morcego-de-orelhas-largas P FL/CA VOA IN Glossophaga soricina Morcego P/MA FL/CA VOA ON Histiotus montanus Morcego P/MA FL/CA VOA IN Histiotus velatus Morcego P/MA FL/CA VOA IN Lasiurus ega Morcego palha P/MA FL/CA VOA IN Molossops temminckii Morcego face de cão anão P/MA FL/CA VU VOA IN Molossus molossus Morcego-da-cauda-grossa P/MA FL/CA VOA IN Molossus rufus Morcego P/MA FL/CA VOA IN Myotis albescens Morcego borboleta de ventre branco P/MA FL/CA VOA IN Myotis dinellii Morcego MA FL/CA VOA IN Myotis levis Morcego borboleta amarronzado P/MA FL/CA VOA IN Myotis nigricans Morcego borboleta pequeno P/MA FL/CA VOADOR IN Myotis simus Morcego MA FL/CA VU VOA IN Peropteryx macrotis Morcego MA FL/CA VOA IN Lontra Lontra longicaudis Graxaim-do-campo Lycolapex gymnocercus Cervo-do-pantanal Blastoceros dichotomus Lobo-guará Chrysocyon brachyurus Caititu Pecari tajacu
  • 111. 111 Ordem/Espécie Nome comum BIOMA DE OCORRÊNCIA2 Ambiente Ameaça de extinção HÁBITO¹ DIETA¹ IUCN2 RS3 SC4 PR5 Sturnira lilium Morcego P/MA FL/CA VOA FR Tadarida brasiliensis Morcego-das-casas P/MA FL/CA VOA IN Didelphimorphia Cryptonanus chacoensis Catita P CA ARB IN/ON Cryptonanus guahybae Catita, guaiquica P FL/CA ARB IN/ON Didelphis albiventris Gambá, gambá-de-orelha- branca P/MA FL/CA ESC FR/ON Didelphis aurita Gambá, gambá-de-orelha- preta, raposa, saruê, seriguê P/MA FL/CA ESC FR/ON Gracilinanus microtarsus Catita, cuíca, cuíca-graciosa, guaiaquica MA FL/CA ARB IN/ON Lutreolina crassicaudata Cuica-de-cauda-grossa P/MA CA VU TER PSI Monodelphis dimidiata Catita, cuica-anã P/MA CA TER IN/ON Monodelphis iheringi Catita, guaiquica-listrada P/MA CA TER IN/ON Lagomorpha Sylvilagus brasiliensis Tapiti MA FL/CA EN VU TER HB Perisodactyla Tapirus terrestris Anta MA FL/CA VU CR EN EN TER HB/FR Rodentia Akodon azarae Rato-do-chão P/MA CA TER IN/ON Akodon montensis Rato-do-chão P/MA FL/CA TER IN/ON Akodon reigi Rato-do-chão P FL/CA TER IN/ON Akodon serrensis Rato-do-chão MA FL/CA TER IN/ON Calomys laucha Rato-do-chão P CA TER FR/GR Calomys tener Rato-do-chão MA FL/CA TER FR/GR Cavia aperea Preá P/MA CA TER HB Cavia fulgida Preá MA CA TER HB Cavia intermedia Preá MA CA CR CR TER HB Cavia magna Preá P/MA CA VU TER HB Coendou spinosus Ouriço, ouriço-cacheiro P/MA FL/CA ARB FR/FO Ctenomys flamarioni Tuco-tuco-branco, tuco-tuco- das-dunas P/MA CA EN EN FOS HB Ctenomys ibicuiensis Tuco-tuco P CA FOS HB Ctenomys lami Tuco-tuco P CA VU EN FOS HB Ctenomys minutus Tuco-tuco P/MA CA EN FOS HB Anta Tapirus terrestris Zorrilho Conepatus chinga Catita Gracilinanus microtarsus Ariranha Pteronura brasiliensis Puma Puma concolor
  • 112. 112 Ordem/Espécie Nome comum BIOMA DE OCORRÊNCIA2 Ambiente Ameaça de extinção HÁBITO¹ DIETA¹ IUCN2 RS3 SC4 PR5 Ctenomys torquatus Tuco-tuco-de-colar P CA FOS HB Deltamys kempi Rato-do-mato P/MA CA FOS IN/ON Euryzygomatomys spinosus Guirá P/MA FL/CA TER HB Holochilus brasiliensis Rato d'água P/MA FL/CA SAQ FR/HB Holochilus vulpinus Rato d'água P FL/CA SAQ FR/HB Hydrochoerus hydrochaeris Capivara P/MA FL/CA SAQ HB Lundomys molitor Rato d'água P FL/CA SAQ FR/ON Myocastor coypus Ratão-do-banhado P/MA CA SAQ FR/ON Necromys lasiurus Rato-do-mato P/MA CA TER FR/ON Oecomys catherinae Rato-da-árvore MA FL/CA ARB FR/SE Oligoryzomys flavescens Rato-do-mato P/MA CA ESC FR/GR Oligoryzomys nigripes Rato-do-mato P/MA FL/CA ESC FR/GR Oxymycterus nasutus Rato-narizudo, rato-do-brejo P/MA FL/CA SFO IN/ON Oxymycterus quaestor Rato-narizudo, rato-do-brejo MA FL/CA FOS IN/ON Reithrodon typicus Rato coelho P CA TER HB Scapteromys aquaticus Rato d'água P CA SAQ IN/ON Scapteromys tumidus Rato d'água P/MA CA SAQ IN/ON Sooretamys angouya Rato-do-mato P/MA FL/CA ESC FR/GR Xenarthra Cabassous tatouay Tatu-de-rabo-mole P/MA FL/CA SFO IN/ON Dasypus hybridus Tatu-mulita P/MA CA SFO IN/ON Dasypus novemcinctus Tatu-galinha, tatu-mulita, tatu- nove-bandas, tatu-verdadeiro P/MA FL/CA SFO IN/ON Tatu-mirim P/MA FL/CA SFO IN/ON Euphractus sexcinctus Tatu-papa-defunto, tatu-peba, tatu-peludo P/MA CA SFO MYR Myrmecophaga tridactyla Tamanduá-açu, tamanduá-bandeira P/MA FL/CA VU CR CR TER MYR Espécies ocorrentes em cada estado foram extraídas de Gonçalves et al. (11) - RS, Cherem et al. (18) – SC e Miranda et al. (19), Reis et al. (20) e Instituto Ambiental do Paraná (IAP (21)). 1) Hábito locomotor e a dieta seguindo Paglia et al. (1); 2) Bioma de ocorrência de acordo com polígonos de distribuição e grau de ameaça mundial segundo IUCN (22); Grau de ameaça segundo listas de espécies ameaçadas de extinção dos estados: 3) do Rio Grande do Sul (13); 4) de Santa Catarina (14); 5) do Paraná (15,16). Tuco-tuco Ctenomys minutus Tuco-tuco Ctenomys lami Bugio-ruivo Alouattaguaribaclamitans Bugio-preto Alouatta caraya Tatu-peludo Euphractus sexcinctus # # André Luza, Alan Bolzan, Igor Coelho, FernandaTeixeira, Fernando Quintela, Gabriel Hofmann, Hugo Mozerle, Luiz Oliveira, Leonardo Crestani, Paula Roratto,Tatiane Noviski,Thales Freitas,Vinicius Bastazini.
  • 114. 114
  • 115. 115 Fazenda São Crispim, Lavras do Sul, RS # # Valério Pillar
  • 117. 117 Capítulo 11 Serviços Ecossistêmicos Valério De Patta Pillar, Bianca Ott Andrade & Leticia Dadalt tas precisam de água e nutrientes do solo, de luz, e de dióxido de carbono do ar para crescerem e produzirem biomassa em folhas, raízes, caules, flores, frutos e sementes. Essa biomassa, viva ou morta, por sua vez serve de alimento para outros organismos, que são consumidos por outros, e assim sucessivamente até que tenha se dissipado na forma de calor através da respiração, eventualmen- te queimada pelo fogo, ou permanecido como matéria orgânica no solo. Em cada uma das etapas dessa cadeia alimentar atuam dife- rentes tipos de organismos. Por exemplo, animais herbívoros pasta- dorescomoogadocolhemaforragemeautilizamparasemanterem vivos e crescerem, excretando urina e fezes que servem de alimento para muitos animais decompositores, incluindo invertebrados e mi- cro-organismos de solo. Fungos e bactérias contribuem para que os nutrientes presentes na matéria orgânica sejam disponibilizados às plantas. Formigas cortadeiras cortam e carregam folhas de deter- minadas plantas para alimentar fungos decompositores que cul- tivam no formigueiro. Plantas campestres criam habitat favorável para insetos que polinizam plantas cultivadas, ou para aves que consomem insetos praga nas lavouras vizinhas. Assim como estes, há inúmeros outros exemplos de interações que afetam direta ou indiretamente a provisão de serviços ecossistêmicos. Nos capítulos anteriores pudemos conhecer melhor a bio- diversidade dos Campos Sulinos representada pela enorme rique- za de espécies vegetais e animais. Essa biodiversidade compõe uma complexa rede de interações envolvendo os organismos en- tre si e diversos fatores como o solo, o relevo, o clima, e o manejo pastoril. Os organismos, incluindo o homem, afetam condições do ambiente, e estas afetam os organismos, determinando assim importantes processos ecológicos. Os serviços ecossistêmicos são os benefícios que as populações humanas obtêm com a manuten- ção desses processos (1). A conservação dos campos nativos propicia inúmeros ser- viços ecossistêmicos. São exemplos a regulação hídrica e o forneci- mento de água limpa, a produção de forragem para a atividade pe- cuária, a manutenção de polinizadores e de predadores de pragas de culturas agrícolas, o potencial para a recreação ao ar livre, a estoca- gem de carbono no solo que ajuda a mitigar as mudanças climáticas globais, dentre tantos outros. Neste capítulo buscamos responder por que a biodiversidade encontrada nos campos é essencial para garantir a provisão regular de serviços ecossistêmicos como esses. Processos ecológicos se manifestam em fluxos de matéria e energia nos ecossistemas e são mediados pelos organismos. Plan- Campos de Cima da Serra # # Valério Pillar
  • 118. 118 Essa complexa teia de interações que culmina com a incor- poração de matéria orgânica no solo, mantém importantes proprie- dades do solo, como é o caso da porosidade, da disponibilização de nutrientes para crescimento das plantas, e da agregação das partí- culas através das raízes das diferentes plantas e dos túneis que mi- nhocas e outros organismos vão construindo. A porosidade do solo, junto com a cobertura vegetal campestre, que é diversa e permanen- te, favorece a infiltração de água, reduz o escorrimento superficial e a erosão, e assim melhora a recarga dos aquíferos e a qualidade e regularidade da provisão de água para os rios. Além disso, determi- nados tipos de solos na região dos Campos Sulinos retêm grandes quantidades de água, funcionando como uma esponja, alimentan- do os rios de forma gradativa. Há também serviços ecossistêmicos com benefícios ime- diatos e diretos. É o caso do uso da vegetação natural como fon- te de forragem na atividade pastoril de produção pecuária, com grande importância econômica na região Sul do Brasil, em especial no Rio Grande do Sul (RS). O grande número de espécies presen- tes nos Campos Sulinos oferece uma dieta bastante diversa para os animais pastadores, que influi na qualidade da carne que consu- mimos quando comparada a animais confinados (ver Capítulo 16). Também, as regiões em que predominam os campos oferecem exce- lentes oportunidades para a exploração do seu potencial turístico, pela sua beleza cênica, pela possibilidade de vivenciar o ambiente campeiro e de observar aves, dentre outros atrativos. Além das plantas forrageiras, encontramos nos campos naturais espécies que podem ser usadas: para cobertura de casas, como o capim santa-fé (Panicum prionitis); plantas com propriedades medicinais, como a carqueja (Baccharis trimera), a marcela (Achyrocline satureioides) e a douradinha (Waltheria douradinha); fonte de energia, como o espinilho (Vachellia caven); para moirões, como a assobiadeira (Schinus polygamus) e aroeira- brava (Lithraea brasiliensis); plantas ornamentais, como o cravo vermelho do campo (Trichocline macrocephala) e cactos (Parodia ottonis); entre outras. A conversão de campos nativos em lavouras, em silvicultu- ra ou em pastagens cultivadas envolve a supressão da cobertura vegetal nativa pelo uso de herbicidas e/ou pelo cultivo do solo, e portanto elimina os serviços ecossistêmicos diretos e desestabili- za ou colapsa essa complexa rede de interações. Algumas espécies se mantêm pois são generalistas e adaptáveis às novas condições, mas outras, com exigências ambientais mais restritas, se extin- guem localmente. Como vimos, ecossistemas campestres nativos contêm muitas espécies, as quais são importantes para diferentes processos ecológicos. Os efeitos dessas extinções sobre os processos ecológicos e serviços ecossistêmicos decorrentes vai depender da permanên- cia de outras espécies funcionalmente semelhantes, ou seja, seme- lhantes na forma como contribuem para os processos ecológicos. Por exemplo, se houver várias espécies de besouros rola-bosta, e se faltar uma delas, as outras continuarão enterrando bolas de esterco. Se houver muitas espécies de plantas de boa qualidade forrageira, a perda de uma espécie não afetará a qualidade forrageira do campo nativo. É justamente essa redundância nas suas funções que tem sido identificada pelos ecólogos como responsável pela relativa estabilidade dos ecossistemas naturais, pois em ecossistemas com alta biodiversidade a perda de poucas espécies pode não ser sufi- ciente para causar o colapso de processos ecológicos (2,3). Entretan- to, a perda continuada de espécies reduz a redundância funcional e assim torna os ecossistemas mais vulneráveis a eventos extremos, como uma seca prolongada no verão, pois a perda adicional de pou- cas espécies devido ao evento extremo pode significar o colapso de processos ecológicos importantes. Portanto, constitui um benefício às populações humanas a regularidade com que serviços ecossistêmicos são providos. Por exemplo, é importante garantir a provisão de água e de forragem em anos de seca, e isso terá um custo bem menor se puder ser obtido a partir da conservação e do manejo adequado dos campos nativos. Um campo que foi degradado pelo cultivo será mais vulnerável a uma seca do que um campo nativo rico em espécies. O manejo sustentável dos campos nativos deve adotar boas práticas que mantenham os processos ecológicos essenciais para os serviços ecossistêmicos. Campos manejados com carga animal incompatível com sua capacidade de produção de forragem têm a estrutura do solo comprometida (alta compactação do solo), que causa perda de espécies de plantas e da biota do solo que não se
  • 119. 119 adaptam a esse tipo de manejo. A água disponível no solo é também influenciada pela estrutura do solo. Na ausência de práticas de manejo conservacionistas que favoreçam a manutenção da matéria orgânica no solo, há libera- ção de carbono para a atmosfera. Nas áreas campestres, o princi- pal reservatório de carbono é o solo, enquanto que nas florestas o reservatório de carbono concentra-se nas partes aéreas da vegeta- ção. Assim, a conservação dos campos contribui para a mitigação das mudanças climáticas ao possibilitar, através de um manejo adequado, a redução das emissões de gases de efeito estufa. A valorização e o incentivo a atividades que mantenham serviços ecossistêmicos nem sempre é uma prioridade para o governo ou sociedade. É difícil atribuir um preço ou valor a alguns serviços ecossistêmicos, bem como ao fato destes serem motivos de conflitos entre interesses individuais e o bem comum. Por exemplo, a provisão de água é afetada pelas atividades desenvolvidas em propriedades privadas na bacia hidrográfica, enquanto o consumidor se concentra em centros urbanos. A importância dos serviços ecossistêmicos é geralmente reconhecida quando enfrentamos uma crise de abastecimento de água, a contaminação da água para consumo, ou ainda a redução da produtividade agrícola pela falta de polinizadores. São necessárias iniciativas de pagamento por serviços ecossistêmicos aos proprietários que mantêm conservadas áreas de campo e sua biodiversidade (ver Capítulos 16 e 17). Há um importante papel da pesquisa científica para compre- ender mais claramente a relação entre conservação da biodiversida- deeserviçosecossistêmicos,masénotávelqueoatualconhecimento sobre o tema ainda seja pouco considerado nas políticas públicas e na gestão ambiental rural pelos tomadores de decisão. Infelizmente, a possibilidade de conservar os campos e ao mesmo tempo melho- rar significativamente a sua produtividade pecuária (ver Capítulo 14) ainda não é reconhecida por muitos proprietários rurais e técnicos. Predomina a visão de que aumentos compensadores de produtivida- de somente poderiam ser obtidos às custas da conversão dos campos e sua substituição por lavouras e pastagens cultivadas. Algumas ini- ciativas incipientes de conservação e valorização dos campos e dos seus serviços ecossistêmicos têm surgido nos setores público, priva- do e não-governamental (ver Capítulos 16 e 17). Os campos têm mui- to a oferecer e sua conservação nos trará muitos benefícios. Fluxo de matéria, energia e provisão de serviços ecossistêmicos # # Bianca Andrade # # FábioTorchelsen # # Valério Pillar PLANTA SOLO RAÍZ Maior produção primária Melhor manutenção da biomassa do solo e absorção de nutrientes Decompositores Mais alimento e habitat para a biota do solo Provisão de Serviços Ecossistêmicos Consumidores Produtores + Fonte de forragem + Ciclagem de nutrientes + Recarga de aquíferos + Purificação da água + Regulação do clima + Controle da erosão + Cobertura do solo + Recreação e turismo FLUXO DE MATÉRIA E ENERGI A
  • 120. 120
  • 123. PARTE 2 o futuro dos campos
  • 125. 125 Capítulo 12 conversão e fragmentação Eduardo Vélez-Martin, Carlos Hugo Rocha, Carolina Blanco, Bethânia Oliveira Azambuja, Heinrich Hasenack & Valério De Patta Pillar Os campos nativos que restam estão praticamente restritos aoslocaisondeosoloéraso,pedregosooumuitoúmido,ouainda, onde o relevo é muito ondulado, o que dificulta a implantação de lavouras. Entretanto, novas tecnologias de produção agronômica e a biotecnologia vêm permitindo transpor estes obstáculos. No passado, quando os primeiros humanos colonizaram a região do Sul do Brasil (~12.000 anos antes do presente), os campos constituíam a vegetação predominante. Mesmo após o avanço das florestas sobre os campos, fenômeno que ocorre desde os últimos 5.000 anos, estima-se que, na época da colonização pelos europeus, os campos nativos ocupavam cerca de 217.819km2 , o que correspondia a 9% do PR, 16% de SC e 66% do RS. Estimativas feitas para a primeira década do século XXI indicam que restavam cerca de 95.519km2 , ou seja, 43% do que havia originalmente. Atualmente, os campos nativos foram completamente eliminados em muitas regiões e, nos locais onde restam importantes remanescentes campestres, perdem-se alguns milharesdehectaresacadaano.Oprincipalfatorquetemcausado essa dramática perda de área de campo nativo é a conversão para áreas de agricultura (principalmente lavouras de soja, milho e arroz) ou de silvicultura (eucaliptos, pinus e acácia). Os campos existentes são suprimidos, seja com o uso de máquinas para lavrar a terra, seja com o uso de herbicidas aplicados para matar a vegetação campestre, para que as lavouras sejam implantadas. Caprichos do Ibicuí, Rosário do Sul, RS # # Ronai Rocha Distribuição original dos Campos Sulinos no período da chegada dos portugeses. Adaptação do Mapa da Vegetação do Brasil (IBGE) # # Rosemeri Moro (PR) # # Ana Zannin (SC) # # EduardoVélez (RS) Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul
  • 126. 126 Distribuição dos campos nativos remanescentes no Sul do Brasil em relação às áreas estimadas de distribuição original. Os dados do RS referem-se a 2002 e foram adaptados. Os dados de SC e PR são uma aproximação para 2008, com base nos dados de áreas naturais remanescentes (segundo IBGE) Fonte: Laboratório de Geoprocessamento/UFRGS. Empobrecimento biológico dos campos A consequência ambiental direta da conversão dos campos é a perda da biodiversidade. A redução da área de campos re- manescentes causa seu empobrecimento biológico. Dentre milhares de espécies de plantas e animais que ocor- rem nos campos, várias têm aptidão para sobreviver sob condi- ções ambientais muito específicas. Por conta disso, os campos apresentam conjuntos de espécies distintas em cada região, adaptadas às condições locais do clima, do solo e da topografia. Isso faz com que a composição de espécies dos campos de Ponta Grossa, no Paraná, seja distinta dos campos de Lages, em Santa Catarina, e dos campos do Pampa, no Rio Grande do Sul. Quando a supressão dos campos avança, perdem-se progressivamente es- tes conjuntos de espécies adaptadas localmente. Toda vez que diminui a área dos campos, reduz-se a área de habitat disponível para as espécies presentes. Por consequência, diminui o tamanho das suas populações. E, quando restam pou- cos indivíduos de cada espécie, aumenta o risco de extinções lo- cais, seja por conta de combinações genéticas deletérias, quando indivíduos aparentados combinam seu material genético, ou por catástrofes ambientais locais, que provocam a mortalidade dos poucos indivíduos que restam. Alguns mamíferos de maior porte, como os felinos e os ve- ados, dependem de grandes áreas para sobreviver. Quando numa região restam poucos hectares de campo, estas espécies deixam de ocorrer pois não encontram mais as condições mínimas de abrigo, alimentação e reprodução. A eliminação de espécies predadoras do topo da cadeia ali- mentar, como os carnívoros e as aves de rapina, por exemplo, pode gerar desequilíbrios em cascata na rede de interações entre as es- pécies. Sem os predadores, algumas espécies tendem a aumentar a população de forma oportunista, competindo ou predando outras espécies mais sensíveis e com tamanhos populacionais pequenos. Além disso, em cada região existem espécies com distribui- ção muito restrita, que evoluíram somente nesses locais ao longo dos milhares de anos de evolução biológica. São as denominadas espécies endêmicas. Nos Campos Sulinos, já foram catalogadas Alteração da paisagem campestre em função da supressão dos campos nativos para implantação de lavouras # # Valério Pillar
  • 127. 127 mais de 500 espécies de plantas endêmicas que correm o risco de serem extintas para sempre por conta da supressão dos campos. A fragmentação dos campos Os problemas ecológicos associados à supressão dos campos podem ser ainda mais graves quando a redução em área é acompanhada de fragmentação dos remanescentes na paisagem. Imagine duas situações: numa delas um campo que originalmente tinha 1.000ha é reduzido para uma área contínua de 400ha. Na outra, ocorre a mesma redução em área, mas com uma diferença, ao invés de uma única área contínua, restam 10 manchas de 40ha isoladas, rodeadas por lavouras ou plantios de eucalipto. Quando há um grande número de manchas menores de campo, maior é a superfície de contato entre as espécies campes- tres e os ambientes do entorno. É o denominado efeito de borda. Geralmente, na linha de contato entre o campo e uma lavoura, por exemplo, as condições microclimáticas são distintas com tendência de temperaturas mais elevadas e menor umidade no ar e no solo, o que pode ser prejudicial. As bordas também são locais mais sus- cetíveis aos efeitos negativos de perturbações das áreas do entorno como ingresso de agrotóxicos, fertilizantes e de espécies invasoras. Outro aspecto negativo é a possibilidade de espécies campestres da fauna deslocarem-se para esses ambientes do entorno, gastando tempo e energia em locais inadequados para a sua sobrevivência, podendo também ficar mais expostas à ação de predadores. O isolamento geográfico entre as manchas de campo é outra consequência da fragmentação. Para algumas espécies essa distância pode se tornar intransponível e os indivíduos acabam ficando isolados. A redução da dispersão dos indivíduos entre as manchas de campo limita as possibilidades de troca genética e da espécie encontrar condições de habitat mais adequadas, e com isso, muitas populações declinam ou se extinguem. Por fim, muitas espécies necessitam de uma área mínima para sobreviver. Quando todas as manchas de campo que restam são muito pequenas, a qualidade do habitat diminui, de um modo geral, e muitas espécies não conseguem persistir. Fisionomia dos campos com barba-de-bode, Júlio de Castilhos, RS # # Bethânia Azambuja Esquema ilustrando a diferença de perda de habitat sem fragmentação (caso 1) e com fragmentação (caso 2) 1 mancha única de 400 ha Caso 1 Supressão do campo nativo Caso 2 Supressão do campo nativo + Fragmentação 10 manchas de 40 ha 1.000 ha
  • 128. 128 A supressão dos campos do Planalto Médio no RS O Planalto Médio é a região do Rio Grande do Sul onde há mais tempo se iniciou a conversão de campos naturais para agricultura. Práticas agronômicas como a calagem e a adubação possibilitaram o uso dos latossolos, de baixa fertilidade natural, porém propícios à mecanização. Os campos dessa região se notabilizam pela dominância da gramínea Aristida jubata, popularmente conhecida como barba-de-bode, formando densas touceiras no estrato superior, enquanto a gra- mínea rizomatosa Paspalum notatum predomina rente ao solo. Avaliações fei- tas com base em imagens de satélite na porção sudoeste dessa região, indicam uma perda expressiva de campos, que ocupavam 70% em 1981 e apenas 24% em 2009. Portanto, é um fenômeno relativamente recente e de grande amplitude.Os efeitos disso sobre a biodiversidade já são percebidos. Estudo feito em 25 rema- nescentes de campo nessa região, mostrou que o número de espécies de plantas campestres, assim como o de borboletas e mariposas, diminui com a redução da área de campos existentes em um raio de 2km ao redor dos locais amostrados. Supressão dos campos: um problema econômico, social e cultural As consequências negativas da supressão dos campos vão além dos problemas ambientais. Os Campos Sulinos têm sido historicamente utilizados para a atividade pastoril. A prática da pecuária se beneficia diretamente da vegetação nativa que ocor- re naturalmente na região. São milhares de espécies que crescem e produzem forragem para o gado, dependendo apenas do sol, da água da chuva e da fertilidade natural do solo para o seu de- senvolvimento. Esta condição tem uma grande vantagem com- petitiva do ponto de vista econômico, já que é possível produzir proteína animal (alimento de alta qualidade), sem a necessidade de intensificar os sistemas de produção. Assim, o pecuarista não tem os custos de compra de sementes, adubação, aplicação de agrotóxicos, maquinário. Além disso, evitam-se todos os proble- mas ambientais associados com as atividades que dependem do uso intensivo de insumos. Ou seja, no balanço global dos custos e benefícios a produção pecuária em campo nativo é a atividade econômica mais vocacionada para a região. Eliminar os campos nativos, de forma ampla, para produzir grãos e madeira torna-se um contrassenso já que se desperdiça esse patrimônio fitogené- tico proporcionado, sem custos, pela natureza em troca de ativi- dades intensivas e dependentes de pacotes tecnológicos, ao sabor das oscilações de preços do mercado internacional e muito mais vulneráveis aos riscos climáticos. Uma visão moderna de desenvolvimento econômico regio- nal sustentável não pode ignorar o ativo econômico representado pelos campos nativos. Dado o seu potencial para a pecuária sus- tentável, não parece lógico que no Brasil se desmate floresta na Amazônia para lá ampliar as áreas de pecuária, baseada em pas- tagens plantadas, e se eliminem milhares de hectares de campos nativos no Sul do Brasil para produzir grãos para exportação ou plantar árvores exóticas. A pecuária sobre campo nativo tem gerado emprego e renda em propriedades rurais de pequeno, médio e grande porte. Ainda que, em muitos casos, a renda auferida fique aquém do po- tencial produtivo que poderia ser atingido com técnicas de manejo Campo dessecado com herbicida, Lavras do Sul, RS # # Valério Pillar
  • 129. 129 O Parque Estadual de Vila Velha (PEVV) e as transformações da paisagem no PR Criado em 1953, o PEVV (3.122 ha) fica a 20km de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná. Abriga formações areníticas ruiniformes, relictas de glaciações do Permo-Carbonífero, que o tornaram globalmente conheci- do.Até a década de 1970, face às dificuldades para utilização agrícola devido à baixa fertilidade dos solos, a maior parte dos campos na região se mantinha conservada. Entretanto, na década seguinte essa limitação foi superada com a disse- minação do plantio direto na palha. O PEVV logo transfor- mou-se em ilha de vegetação nativa cercada por agricultura esilvicultura.Napaisagemdoentornorestarammuitasman- chas pequenas de campo, isoladas em meio a atividades an- trópicas de intensidade diferenciada, exatamente nos locais com menor aptidão agrícola: declividade elevada, áreas úmi- das ou permanentemente encharcadas, vales encaixados, fendas e fraturas geológicas, solos rasos e arenosos, aflora- mentos de rocha, áreas de beira de rio ou pouco acessíveis, além de capões de mata, historicamente mantidos como abrigosparaogadodesdeostemposdaocupaçãodoterritó- rio.Quando há uso intensivo de agrotóxicos os próprios agri- cultores já relataram haver maior mortalidade do lobo guará. Em casos extremos de transformação pouco há para fazer a não ser garantir o manejo correto dos campos e promover a conectividade entre eles com ações de recuperação. mais adequadas, o fato é que a necessidade de cuidados diários que a atividade pastoril demanda tem sido um fator de fixação do homem no campo. Milhares de famílias dependem desta atividade. Quando grandes plantações de silvicultura ou grandes extensões de lavouras são implantadas em áreas onde tradicionalmente se pratica a pecuária há também um prejuízo social a ser considerado. Uma cultura com identidade própria surgiu justamente a partir da relação do homem com as atividades pastoris pra- ticadas nos Campos Sulinos ao longo de quase quatro séculos. Pecuaristas na lida com gado criado em campo nativo # # Ronai Rocha Esta relação antropológica com a pecuária e os campos nati- vos marcou e influenciou a história, os costumes, as lendas, a música, o imaginário e a identidade dos habitantes de gran- de parte da região Sul do Brasil. A cultura gaúcha emana da relação homem-natureza e transcende as fronteiras políticas, espraiando-se por toda a região de ocorrência dos campos nes- sa parte da América do Sul. A eliminação dos campos nativos representa a desconexão com a base natural que fundamenta todo este patrimônio imaterial.
  • 130. 130 Vale a pena eliminar os campos nativos? Diversos fatores contribuem para a acelerada perda de campos nos últimos anos. O mais influente de todos é o preço internacional dos produtos agrícolas, especialmente da soja. Por conta dos rendimentos monetários obtidos em anos de clima favorável, muitos proprietários rurais vêm trocando a pecuária pela agricultura. Este cenário associado a fatores como a falta de políticas e incentivos para a prática das atividades pastoris que conservem a biodiversidade, a fragilidade da cadeia produtiva da carne e o processo de sucessão familiar, em que parte dos herdeiros são urbanos, perdendo o vínculo com o campo, concorrem para que se observe a descaracterização massiva das paisagens campestres. A pergunta que deve ser feita é: vale a pena seguir nesse caminho, tanto para os próprios produtores rurais como para o conjunto da sociedade brasileira? A diversificação produtiva do meio rural é um fator saudável e desejado. Entretanto, o que se observa é uma aposta única na agricultura, em regiões vocacionadas para a pecuária, e de forma concentrada na soja. Isso tem gerado a homogeneização da paisagem rural com todos os efeitos negativos já comentados. É momento de refletir e questionar esta tendência. Afinal, qual a lógica de produzir soja que será usada em boa parte para alimentar gado confinado na China e na União Europeia, a um custo ambiental e social elevado, quando podemos exportar diretamente carne de alta qualidade e com ganhos ambientais? Também é importante refletir se realmente as lavouras têm maior rentabilidade econômica do que a atividade pecuária sobre campo nativo. A grande dependência de insumos e as oscilações de produtividade em função do clima fazem com que os ganhos com lavouras no médio prazo provavelmente se equilibrem ou não sejam compensadores para os produtores rurais na comparação entre agricultura e pecuária (Tabela 12.1). A atividade pastoril realizada em campo nativo usando manejo mais adequado pode gerar rentabilidade bastante competitiva em relação às atividades que envolvem sua conversão. No Capítulo 14 são mostradas opções de manejo pastoril ainda potencialmente mais produtivas envolvendo pastejo rotativo. Por conta de tudo isso, uma economia sustentável, verde e de baixo carbono pode ser estabelecida se a pecuária sustentável for a atividade prioritária nas regiões de campo nativo do Sul do Brasil, sendo a agricultura e a silvicultura consideradas como atividades complementares e de diversificação produtiva. Charge sobre o efeito da perda dos campos sobre a cultura regional Fonte: Santiago
  • 131. Mais problemas para os campos Além da supressão e fragmentação dos campos existem duas outras situações problemáticas para a biodiversidade campes- tre: a invasão por espécies exóticas e a degradação dos campos. Invasão por espécies exóticas – com o aumento da extensão de rodovias, da capacidade de circulação e da intensificação das atividades no meio rural, maiores são as chances de que plantas exóticas invasoras colonizem áreas de campo nativo. Geralmente essas espécies têm maior sucesso nas partes do campo que foram lavradas ou foram manejadas de forma incor- reta (por exemplo, excesso de carga animal). Essas espécies são frequentemente melhores competidoras do que as nativas por conta da ausência de inimigos naturais. Um exemplo é a gra- mínea africana popularmente conhecida como capim-annoni (Eragrostis plana). Quando ela se instala, aumenta a população a cada ano e, com o tempo, termina eliminando as demais es- pécies por ser melhor competidora na captação de luz e absor- ção de nutrientes.Se a invasão não for detectada logo no início, depois que ela se espalha a sua eliminação é muito difícil. No Rio Grande do Sul, milhares de hectares na região do bioma Pampa já foram invadidos por capim-annoni, diminuindo o po- tencial econômico dos campos para a pecuária. Mais informa- ções sobre espécies invasoras são apresentadas noCapítulo 13. Degradação dos Campos – quando se coloca um número ex- cessivo de cabeças de gado por muito tempo em uma área de campo, a tendência é de que ocorra o sobrepastejo.Os animais consomem quase toda a vegetação campestre disponível (pas- to) e pisoteiam excessivamente o solo, que fica compactado, prejudicando a infiltração de água e a colonização por espécies herbáceas. O campo rapado fica com aspecto de carpete e observam-se manchas de solo exposto. Este tipo de situação degradaocampo,poiseliminamuitasespéciesdafloraedafau- na, e resulta em prejuízos econômicos para o produtor rural, já queogadopassaaperderpesoporfaltadecomida.Infelizmente, este tipo de problema é muito comum e pode ser resolvido me- diante adoção de boas práticas de manejo do campo. Tabela 12.1: Rentabilidade econômica de diferentes opções de uso da terra em campos nativos localizados sobre solos agricultáveis no bioma Pampa. As três primeiras opções são compatíveis com a conservação da vegetação nativa, enquanto as três últimas envolvem sua supressão. Opções de uso da terra Produ- tividade (kg/ha) Preço (R$/kg) Renda bruta (R$/ha) Custo operacional estimado (R$/ha) Renda líquida (R$/ha) Pecuária de corte em campo nativo com manejo pastoril melhorado 210 4,65 977 165 812 Pecuária de corte tradicional 100 4,65 465 159 306 Arrendamento para pecuária 19 190 Lavoura de soja 2.200 0,97 2127 1.831 296 Arrendamento para soja 0,97 406 Lavoura de milho 4.800 0,38 1840 1.893 -53 Fontes: Dados da CONAB (http://www.conab.gov.br) de produtividade e custo de produção de lavouras safra de verão 2014-15, nessa região (São Luiz Gonzaga para a soja, e Santo Ângelo para o milho, ambos com plantio direto usando variedades modificadas geneticamente). Cotações de mercado em janeiro de 2015 para soja, milho e carne (preço médio de boi e vaca para abate). Produtividade da pecuária estimada a partir de resulta- dos experimentais do grupo de pesquisa. Manejo pastoril melhorado envolvendo apenas ajuste da carga animal à disponibilidade de pasto, em pastejo contínuo, e diferimento de potreiros para formar reserva de pasto para períodos críticos. Custos de produção da pecuária estimados a partir de dados obtidos com produtores rurais na região do Pampa, que incluem sanidade animal (R$60 por ano por cabeça), mão de obra (R$80 por ano por cabeça animal), a uma lotação média de 1 cabeça de 400kg de peso vivo por ha, e um custo estimado de R$24 por ha por ano para depreciação da infraestrutura (cercas, mangueiras) com manejo pastoril melhorado, e de R$19 com manejo tradicional. Preços de arrendamento praticados na região do bioma Pampa em áreas de campos sobre solos agricultáveis. Não foram considerados juros sobre capital próprio. 131
  • 132. 132
  • 133. 133 Coxilha Negra, Santana do Livramento, RS # # Ronai Rocha
  • 135. 135 A biodiversidade nativa dos Campos Sulinos está ameaça- da por diversos fatores, entre os quais destaca-se a introdução de espécies exóticas invasoras. Chamamos de exóticas aquelas espé- cies que são encontradas em uma região diferente daquela onde ocorrem naturalmente. Muitas espécies exóticas foram introdu- zidas intencionalmente para fins comerciais, de lazer ou como ornamentais ou mascotes. Algumas espécies foram introduzidas inadvertidamente através do transporte de cargas, passageiros ou junto com produtos agrícolas ou animais. As espécies invasoras são aquelas que, uma vez introduzidas, são capazes de se repro- duzir e ocupar os ambientes naturais, geralmente afetando nega- tivamente as nativas ou o funcionamento do ecossistema. A invasão de espécies exóticas nos ambientes naturais é uma das principais ameaças à perda de biodiversidade no mundo. Algumas espécies exóticas, além de invadir espontaneamente áre- as naturais, podem ameaçar a biodiversidade também por transfor- mar a paisagem de forma radical. Um exemplo é o cultivo extensivo de Pinus spp., que transforma em florestas ecossistemas campes- tres, alterando o solo, o regime hidrológico e a fauna e flora asso- Capítulo 13 espécies exóticas invasoras Anaclara Guido & Demetrio Luis Guadagnin ciadas e exercendo uma pressão permanente sobre os ecossistemas ao seu redor pela constante disseminação de sementes. É muito difícil prever quais espécies exóticas podem se tornar invasoras. O sucesso de uma invasão resulta da inte- ração de múltiplos fatores, tais como a coincidência entre as condições ambientais da região original da espécie e da região onde foi introduzida (ajuste climático), a ausência de inimi- gos naturais na área invadida e a riqueza biológica nativa (es- cape dos inimigos), o número de tentativas e/ou de indivíduos que foram introduzidos (pressão de propágulos) e o estado de conservação do ecossistema (associação com ambientes hu- manos). O melhor indicador de que uma espécie pode se tor- nar invasora é já ter sido capaz de invadir com sucesso outras regiões do planeta. No caso particular dos Campos Sulinos, a invasão pode ser facilitada pelo manejo inadequado das áreas campestres, por exemplo o sobrepastoreio e/ou pelas mudan- ças de uso do solo, especialmente quando áreas são abando- nadas após o uso intensivo, e pela introdução recorrente de espécies reconhecidamente invasoras. Tojo (Ulex europaeus) # # FábioTorchelsen
  • 136. 136 OsCamposSulinossãovulneráveisàintroduçãointencional de espécies exóticas também por que sua biodiversidade nativa é pouco conhecida e valorizada. Para muitos, apenas espécies exóticas são capazes de proporcionar recursos ou beleza. Plantas invasoras Capim-annoni (Eragrostis plana) Éumagramíneacespitosa,perene,decicloestivaledeorigem africana. Foi introduzida acidentalmente no RS, na década de 1950, numa mistura de sementes comerciais, passou a ser cultivada como planta forrageira de baixa qualidade, e atualmente é considerada a planta invasora mais importante dos campos. Forma touceiras densas com a base achatada e floresce no verão, produzindo elevada quantidade de sementes longevas. Os ambientes mais suscetíveis à invasão são as áreas que sofreram distúrbios pelo cultivo, excesso de pastejo pela carga animal inadequada, e solos com alto grau de compactação. A planta produz sementes no verão e sua dispersão é promovida pelo trânsito de veículos e pela ingestão das inflorescênciaspelogado.Asementeépreservadanotratodigestório e pode germinar nas fezes. Uma vez estabelecida, esta planta é altamente competitiva e poderá modificar a estrutura e a diversidade da comunidade vegetal nativa. Esse processo é influenciado pelo manejo, pois o gado prefere consumir as plantas nativas com maior valor nutritivo, em detrimento do capim-annoni. Grama-bermuda (Cynodon dactylon) É uma gramínea rasteira, perene, de ciclo estival e de origem africana e europeia. Foi introduzida intencionalmente na América do Sul pelos ingleses, no começo do século XX, para evitar erosão em ferrovias. É uma planta estolonífera e rizomatosa com alta taxa de reprodução vegetativa. Pode ser identificada pela inflorescência digitada, formada por 2-7 espigas, geralmente de cor violácea. Os ambientes mais suscetíveis a sua invasão são áreas com alto grau de perturbação antrópica, principalmente áreas urbanas. Senécio (Senecio madagascariensis) É um subarbusto anual ou bianual com até 60cm de altura, ramoso desde a base, originário da África do Sul e Madagascar. Foi introduzida acidentalmente na década de 1950 pelo transporte de materiais naturais. Pode ser identificado pelas suas folhas alternas, geralmente dentadas na margem, e pela sua inflorescência amarela vistosa do tipo da margarida. É considerada tóxica para o gado, por apresentar alta concentração de alcaloides nas flores. Os ambientes mais suscetíveis a invasão são as áreas com alto grau de perturbação antrópica. Tojo (Ulex europaeus) É um arbusto perene, de 1 a 3m de altura, suas folhas são reduzidas a espinhos, originário da Europa. Foi introduzido in- tencionalmente como planta ornamental na década de 1990, prin- cipalmente para ser utilizada como cerca viva. Floresce desde o fim do inverno até o fim da primavera, e às vezes floresce nova- Fig. 13.1 Plantas invasoras nos Campos Sulinos # # Anaclara Guido A Capim-annoni Eragrostis plana B Grama-bermuda Cynodon dactylon C Senecio Senecio madagascariensis D Tojo Ulex europaeus
  • 137. 137 mente no outono. Suas flores são amarelas vistosas e produzem legumes pilosos de até 2cm de comprimento. Os ambientes mais suscetíveis a sua invasão são áreas com alto grau de perturbação antrópica, principalmente as beiras de estradas. Animais invasores Javali (Sus scrofa) É uma espécie onívora, generalista e oportunista, originária da Europa e Ásia. Foi introduzida intencionalmente em diferentes regiões do planeta como recurso alimentar ou para a caça de lazer. O javali selvagem foi domesticado em diversas regiões, resultando nas diferentes raças modernas de porcos. São bastante versáteis, capazes de adaptar seus hábitos e comportamento às condições locais de uma ampla gama de ambientes, incluindo florestas, campos, regiões montanhosas, planícies úmidas e semidesertos. A introdução disseminada e contínua, associada ao escape das criações e expansão das populações já estabelecidas, determinaram que a espécie seja encontrada em todos os continentes com exceção da Antártida. É provavelmente a espécie de mamífero com a mais ampla distribuição geográfica, sendo considerada como uma das 100 invasoras mais problemáticas do planeta. Nas áreas invadidas, promovem a erosão do solo, facilitam a invasão por plantas exóticas, predam vegetais e animais, interferem na oferta de alimentos para espécies nativas, afetam cultivos e criações, e são Fig. 13.2 reservatório de um grande número de doenças compartilhadas com outras espécies, incluindo a espécie humana. Lebre europeia (Lepus europaeus) É uma espécie exótica invasora na América do Sul, intro- duzida na Argentina em 1897. No Brasil, segue em expansão geo- gráfica, já ocupa o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. No RS a lebre europeia já é encontrada em todas as regiões, e pode ser a espécie de mamífero de médio por- te mais comum em algumas áreas agrícolas. Em diversos países é considerada como praga agrícola, ameaça à biodiversidade, ou re- curso para caça. Dada esta situação, e considerando ainda que está estabelecida no Estado há pelo menos 50 anos, provavelmente não é factível extirpar a espécie. Por outro lado, o manejo adequado e contínuo, dirigido a ambientes e regiões mais vulneráveis pode ser capaz de manter sua abundância em níveis abaixo dos considera- dos de grande impacto para a agricultura e para a biodiversidade. Cervo Chital (Axis axis) É uma espécie originária do Leste da Eurásia e foi introduzi- da em diversos continentes. Ocorre em vida livre nos países limítro- fes com o RS (Argentina e Uruguai), além do Chile e Peru. A invasão dos Campos Sulinos gaúchos é recente, incluindo a expansão de populações estabelecidas no Uruguai e Argentina, e a introdução intencional e clandestina. Os impactos negativos associados ao estabelecimento desta espécie incluem danos aos cultivos de hor- tigranjeiros, retardo do crescimento de árvores pela ingestão de Animais invasores nos Campos Sulinos # # Igor Coelho [Fig. 13.2A] # # Diogenes Machado [Fig. 13.2B] # # Thilanka Perera [Fig. 13.2C] # # Tiago Santos [Fig. 13.2D] A Javali Sus scrofa B Lebre europeia Lepus europaeus C Cervo Chital Axis axis D Rã-Touro Lithobates catesbeianus
  • 138. 138 brotações, comprometimento da regeneração de florestas pela in- gestão de brotos e frutos e ameaça à sobrevivência de cervídeos na- tivos por competição. Quando ocorre em altas densidades popula- cionais, pode se tornar uma praga para a agricultura e silvicultura. Rã-touro (Lithobates catesbeianus) É uma espécie originária do Leste da América do Norte que foi introduzida no Brasil na década de 1930, quando 300 casais foram transportados para o Rio de Janeiro, com o objetivo de instalar uma criação para comercialização de sua carne para consumo humano. Caracteriza-se pelo grande tamanho, os adultos variam de 8 a 20cm de comprimento total. Em ambientes invadidos, o consumo de inúmeros grupos de animais (ex. caranguejos, besouros, mamíferos, peixes) tem sido registrado na dieta da espécie, o que a caracteriza como generalista. Na fase larval, a rã-touro pode competir por alimento com girinos de espécies nativas e ocasionar a diminuição do crescimento, aumento do tempo de desenvolvimento e diminuição da massa na metamorfose em girinos de outras espécies. A rã-touro apresenta um período prolongado de reprodução, alta fecundidade, rápida maturação sexual e melhor desempenho metabólico em climas tropicais e subtropicais. Devido a essas características biológicas, é considerada uma espécie com alto potencial de invasão. Quais são as principais consequências da invasão? O avanço de uma espécie exótica invasora sobre ambientes naturais pode provocar mudanças na biodiversidade nativa e no funcionamento dos ecossistemas. As espécies invasoras podem ameaçarasnativasporcompetiçãooupredação,ouporalteraremas condiçõesambientais.Podemalterarofuncionamentodeprocessos como a recarga dos aquíferos, a evapotranspiração, a produção de biomassa,aprobabilidadedeincêndios,aestruturafísicaequímica do solo, a química da água, a erosão, a movimentação de dunas, a deposição de sedimentos, entre muitos outros efeitos possíveis. Em alguns casos, estas alterações são consideradas benéficas do ponto de vista humano, por que tornam o ambiente agradável ou por que permitem ganhos econômicos. Porém, em geral, se ignora a ameaça que estas introduções de espécies podem representar para as nativas e o potencial das espécies nativas de proporcionar os mesmos benefícios. Além disso, frequentemente, em pouco tempo, os benefícios inicialmente percebidos se transformam em problemas dificilmente reversíveis. Nos Campos Sulinos um dos efeitos mais importantes da in- trodução de pastagens exóticas é a redução da riqueza de espécies nativas na área invadida, que pode diminuir a riqueza e abundância de plantas palatáveis e nutritivas do sistema, e consequentemente afetar a produtividade vegetal e animal. Consequentemente, algu- mas espécies exóticas podem alterar fortemente a estrutura da vege- tação, causando perdas de habitat para outras espécies. Como prevenir e controlar os danos causados pelas espécies invasoras? A prevenção e o controle das invasões têm como principal objetivo evitar ou reduzir os danos que podem causar. Uma vez que uma espécie invasora se estabeleceu com sucesso em uma nova área, é muito difícil controlar sua expansão. Desta forma, a prevenção, a detecção e a erradicação precoce das invasoras, são as melhores estratégias para prevenir os danos. Neste sentido, é muito importante alertar a população sobre a importância e as po- tencialidades das espécies nativas e sobre os riscos da introdução de espécies invasoras nos ecossistemas. As ações preventivas mais importantes incluem regulamentar as introduções intencio- nais, evitando que espécies reconhecidamente invasoras tenham sua importação permitida, fiscalizar e monitorar as principais por- tas de entrada acidental de espécies, como portos, aeroportos e fronteiras, e manter os ambientes naturais conservados ou ade- quadamente manejados, diminuindo assim sua suscetibilidade. O controle pode incluir ações diretas, de redução da natalidade ou aumento da mortalidade das populações invasoras, ou indiretas, modificando o manejo dos ambientes para favorecer as espécies nativas e inibir as invasoras.
  • 140. 140
  • 141. 141 Chasque, Dilermando de Aguiar, RS # # Ronai Rocha
  • 143. 143 Capítulo 14 cuidar e fazer diferente Fernando Luiz Ferreira de Quadros, Émerson Mendes Soares, Leandro Bittencourt de Oliveira & Cláudio Marques Ribeiro Além de ser fonte de renda e de trabalho, a pecuária re- alizada nos campos nativos representa uma forma importante de preservar culturas regionais. Entretanto, essa atividade econô- mica tem perdido espaço pela conversão de campos nativos em lavouras, silvicultura e pastagens cultivadas. Um dos fatores dessa conversão tem sido a baixa produtividade da pecuária em campos nativos, tornando-a menos competitiva em relação a outros usos da terra. Neste capítulo mostramos que é possível, através de um ma- nejo pastoril mais adequado, aumentar a produtividade dos cam- pos nativos e assim tornar a atividade mais competitiva e ao mesmo tempo propiciar a conservação da biodiversidade dos campos. Destacam-se entre os atores produtivos, os pecuaristas familiares,sejamprodutoresdebovinosdecorte,leiteouovinos.A pecuária familiar em campo nativo, diretamente dependente dos recursos naturais, tem ficado à margem dos avanços tecnológicos e esquecida pelos setores voltados à extensão rural (1). Esse baixo uso de tecnologias, bem como a não integração com cultivos agrícolas altamente consumidores de insumos ex- ternos, caracterizam os sistemas baseados em campo nativo (2). A ineficiência desses sistemas pecuários é fruto da combinação da idade elevada das novilhas ao primeiro acasalamento (acima de três anos) e baixa taxa de natalidade. Além disto, a pressão pela manutenção de estoques bovinos elevados nos campos nativos, como reserva financeira de pecuaristas com baixo nível de capi- talização, tem contribuído para um processo crescente de degra- dação dos campos. No Rio Grande do Sul, o percentual de novilhas entre dois e três anos de idade é de 7,7% do rebanho total, correspondendo a 958 mil novilhas. Além dessas, as novilhas entre um e dois anos representam aproximadamente 1,6 milhão de cabeças (13% do rebanho) (3). Considerando a lotação média de 445kg de peso vivo por ha no Rio Grande do Sul (2) e considerando novilhas entre dois e três anos com cerca de 290kg, são utilizados em torno de 600 milha (5% da superfície pastoril do Estado) para manter esta categoria nas propriedades, sem alcançar o objetivo de produzir terneiros. Mas, afinal, porque essa categoria não é acasalada aos dois anos de idade? O principal fator desta ineficiência é o baixo nível alimentar entre o desmame e os dois anos de idade das novilhas, resultando em atraso de um ano no seu acasalamento. Cerro do Jarau, RS # # Valério Pillar
  • 144. 144 A biodiversidade dos campos nativos do Rio Grande do Sul é amplamente reconhecida e raramente encontrada em ou- tros ecossistemas pastoris do planeta. Ao mesmo tempo em que valoriza e enriquece esse ambiente, essa diversidade estabelece uma complexa relação dos organismos vegetais (gramíneas, prin- cipalmente) com a maneira de realizar o manejo pastoril. Assim, talvez a grande dificuldade para a preservação e produção neste ambiente altamente heterogêneo seja, justamente, a falta de co- nhecimento sobre as espécies vegetais que o compõem. Por exem- plo, dentro de uma mesma propriedade, podem existir grandes diferenças na composição florística entre áreas, indicando que seu manejo não necessariamente deveria ser o mesmo. Assim, é justamente essa diversidade e heterogeneidade que se reflete no potencial bastante variável de produção de pasto (3.000 a 10.000 kg anuais de matéria seca por hectare). Esse fato, por exemplo, inviabiliza a proposta de utilização de uma taxa de lotação (kg de peso vivo) fixa ao longo do ano (4) e dificulta o uso do ajuste da oferta preconizado por outros autores (5). Nesse sentido, compreendendo a heterogeneidade dos cam- pos nativos, as plantas poderiam ser agrupadas em tipos funcio- nais de acordo com as características de suas folhas (atributos foliares) (6). A utilização desse agrupamento, principalmente das gramíneas, pode auxiliar no manejo em cada área (potreiro), tor- nando-o menos complexo para o produtor. A escolha das gramíne- Espécies representativas dos tipos funcionais # # Fernando Quadros [Fig. 14.1A,C] # # Sérgio Bordignon [Fig. 14.1B] # # Ilsi Boldrini [Fig. 14.1D] Tipo A Grama tapete Axonopus affinis Tipo B Grama de forquilha Paspalum notatum Tipo C Capim caninha Andropogon lateralis Tipo D Barba-de-bode Aristida jubata Fig. 14.1 as para esse agrupamento deve-se ao fato destas serem dominan- tes nos campos nativos. Além disso, as gramíneas são as espécies predominantemente pastejadas pelos bovinos/ovinos, constituin- do sua principal fonte de alimentação. Assim, alguns autores (6) propuseram agrupar espécies que possuem atributos foliares se- melhantes em um mesmo tipo funcional (espécies com caracterís- ticas das suas folhas semelhantes). Para fins de manejo foram identificados (6) os seguintes tipos funcionais: Tipos A (ex.: Axonopus affinis; grama tapete) e B (ex.: Paspalum notatum; grama de forquilha) os quais são capazes de aproveitar água, nutrientes do solo e a luz mais rapidamente do que os tipos C (ex.: Andropogon lateralis; capim caninha) e D (ex.: Aristida laevis; barba-de-bode-alta), que são mais lentos nesse processo(Figura14.1).Osdoisprimeirosgrupos(AeB)caracterizam- se por gramíneas prostradas (baixas), cujas folhas têm um período menor de crescimento, menores teores de matéria seca e maior área foliar específica1 (10), ou seja, esse grupo de espécies cresce mais rapidamente e suas folhas morrem mais rapidamente. Em consequência dessas características, as gramíneas dos tipos A e B reciclam mais rapidamente a biomassa, os nutrientes presentes no solo e têm maior valor nutricional para os herbívoros (por isso chamado de grupo de captura de recursos). Dessa maneira, campos com predominância dessas espécies podem ser manejados com intervalos entre pastoreios mais curtos e/ou lotações mais altas.
  • 145. 145 Enquanto isso, os tipos funcionais C e D caracterizam-se por gramíneas que formam touceiras, cujas folhas crescem por mais tempo, maior teor de matéria seca e menor área foliar espe- cífica (7). Ou seja, esse grupo de espécies cresce mais lentamente, porém como as folhas duram mais, essas espécies podem acumu- lar uma maior reserva de pasto (por isso chamado de grupo de conservação de recursos). Entretanto, esse pasto acumulado pos- sui um menor valor nutricional e, consequentemente, não é se- lecionado pelos animais. Assim, para sua persistência na pasta- gem, esse grupo exige intervalos entre pastejos mais longos para que possa, assim, expressar seu potencial de acúmulo de pasto (pois possuem uma lenta reciclagem de tecidos e nutrientes). A importância desse grupo está relacionada à sua função ecoló- gica de proteger as espécies de baixo porte que se estabelecem junto às suas touceiras, garantindo assim a manutenção de uma maior diversidade; e também serve como reserva de pasto para utilização em períodos de escassez e/ou períodos estratégicos. A utilização dessas características anteriormente citadas foram propostas como referências para o manejo do campo na- tivo em pastoreio rotativo2 (8). O ritmo de crescimento foliar das gramíneas é regulado pela temperatura do ambiente, ou seja, considerando o acúmulo diário de temperatura (ºC) podemos es- timar quanto uma folha cresce (9). Desta forma, se conhecemos as espécies predominantes em um determinado potreiro, podemos usar o acúmulo de temperatura como critério para estabelecer o intervalo entre pastejos no campo nativo. Esse manejo pode per- mitir a máxima taxa de formação de folhas das espécies nativas, respeitando o seu ritmo de crescimento, possibilitando sua utili- zação racional e, além disso, propiciar aos animais quantidade e qualidade de alimento adequados. Nesse sentido, foi avaliada a produção animal em um campo nativo típico da Depressão Central do Rio Grande do Sul, manejado com dois critérios de intervalos térmicos de descanso entre pastejos. Os dois tratamentos foram avaliados em Santa Maria durante quatro anos pelo Laboratório de Ecologia de Pas- tagens Naturais (LEPAN) da UFSM (8). Em um desses foi adotado um intervalo entre uso dos potreiros equivalente ao acúmulo de 375graus-dia3 (para privilegiar gramíneas dos tipos A e B, com crescimento mais rápido); no outro foi utilizado um intervalo entre pastejos de 750graus-dia (para privilegiar gramíneas dos tipos C e D, com crescimento mais lento). Para o tratamento de 375graus-dia, cada área de campo (3,5 ha) foi subdividida em sete parcelas para a rotação dos animais; no tratamento 750graus-dia cada área de campo (4 ha) foi subdividida em oito parcelas de 0,5ha cada. É importante ressaltar que a rotação dos animais en- tre as parcelas é realizada de acordo com a temperatura acumula- da e considerando o quanto estão crescendo as plantas predomi- nantes naquela área, e não de acordo a um período fixo em dias. Esse experimento foi utilizado para avaliar o desempenho de novilhas no campo nativo manejado como acima descrito. Esse manejo visou avaliar a possibilidade de aumentar a eficiência de colheita de forragem em campo nativo com uma considerável taxa de lotação usando uma categoria de animais jovens que é sensível à qualidade do pasto. Concomitantemente, possibilita manter um considerável estoque de bovinos em pequenas áreas de campo na- tivo. Obviamente, apenas a manutenção dos animais não seria váli- da sem que fossem proporcionadas condições de desenvolvimento corporal e reprodutivo para entrada dos animais na vida reproduti- va aos dois anos de idade (Tabela 14.1). Tabela 14.1: Desempenho de novilhas de corte em campo nativo manejado sob pastoreio rotativo, utilizando diferentes intervalos de descanso entre os pastejos, na primavera/verão (outubro à abril) (Santa Maria, RS). Intervalos (graus-dia) Anos Ganho médio diário (g/animal/dia) Carga animal (UA/ha)3 Ganho por área (kg de PV/ha)4 375 2010/11¹ 280 4,4 565 2011/12² 410 1,9 244 2013/14¹ 270 2,6 410 750 2010/11¹ 180 4,4 283 2011/12² 310 2,0 206 2013/14¹ 290 2,6 371 Médias 300 3,0 346 1) Anos com chuvas normais; 2) Anos com chuvas abaixo da média; 3) UA: unidade animal com 450 kg de peso vivo (PV); 4) Avaliações por 150 a 180 dias.
  • 146. 146 Os dois intervalos entre pastejos supracitados (375 e 750graus-dia) foram avaliados tanto no período frio (entre maio e setembro) como no restante do ano. No período de primavera- verão e parte do outono (outubro a abril), os animais manejados apresentaram, na média dos dois intervalos entre pastejos, um ganho médio diário por animal de 300 g/dia e, além disso, a pos- sibilidade de manutenção de taxas de lotação médias de três uni- dades animais (UA)/ha (1.350kg peso vivo (PV)/ha) e uma produ- ção total por área de 346kg de PV/ha. No período mais frio do ano (entre os meses de abril e iní- cio de setembro), com menor crescimento do pasto, os potrei- ros foram manejados seguindo o mesmo critério. Entretanto, as novilhas receberam, além do pasto nativo, diferentes tipos de suplemento, na proporção de 0,5% do peso vivo (estima-se que represente a quarta parte do seu consumo potencial de alimen- to). Através desse manejo foi possível manter o ritmo de cres- cimento individual dos animais (300g/dia), evitando que os animais deixassem de ganhar peso (ou até mesmo perdessem) durante o inverno. Entretanto, pelo menor crescimento do pasto (temperaturas mais baixas) a taxa de lotação mantida foi de 1,7 UA/ha; 765kgPV/ha, e a produção total por área foi de 116kg de PV/ha (Tabela 14.2). Mesmo que o crescimento animal individual tenha sido discreto (ao redor de 300g/dia), as alternativas de manejo propos- tas possibilitaram que o crescimento dos animais fosse contínuo (sem oscilações negativas no decorrer do ano). Essa manutenção de ganhos possibilita, concomitantemente, que as novilhas al- cancem o desenvolvimento corporal e a maturidade reprodutiva necessária para o seu acasalamento aos dois anos de idade. Além disso, as altas taxas de lotação possibilitaram um ganho de peso por área 2,5 vezes superiores aos resultados registrados no Rio Grande do Sul nas melhores combinações de oferta de forragem em pastagem natural sob pastejo contínuo (5; 9; 10). Somando os resultados do período de crescimento (prima- vera/verão) com os resultados da estação fria (outono/inverno) a produção animal anual foi de 462kg de peso vivo/ha. Esse valor re- presenta mais de seis vezes os valores médios obtidos pela pecuária tradicional realizada no Rio Grande do Sul (70kg peso vivo ha/ano) (2). Todavia, convém lembrar que o aumento de produção vegetal e animal foi possível pela aplicação do conhecimento sobre o cres- cimento das plantas ao manejo pastoril e, consequentemente, com baixo investimento de capital financeiro. As novilhas foram avaliadas quanto ao seu desenvolvimento reprodutivo e, posteriormente, acasaladas. Nas duas estações re- produtivas, a taxa de prenhez média foi de 85% (11; 12). Esses resul- tados demonstram a viabilidade dessas alternativas de manejo de novilhas de corte para acasalamento aos dois anos de idade. Apresentamos aqui conceitos e propostas da utilização do pastoreio rotativo em campos nativos. Entretanto, o fator determi- nante para que obtenhamos sucesso ao utilizar esta alternativa, é que quando os animais entrem nas parcelas, encontrem considerá- velquantidadedepasto.Amassadeforragem,emmatériaseca(MS), e altura do pasto médias quando os animais entraram nas parcelas, na primavera/verão, foi de 3.582kg MS/ha e 15cm, respectivamente. Para o período hibernal, a massa de forragem média foi de 4.458kg MS/ha com uma altura média de 17cm. Dessa maneira, havia uma considerável quantidade de pasto e com boa qualidade, quando as novilhas entravam nos potreiros (isso foi possível porque foi respei- tado o ritmo de crescimento das plantas através dos intervalos de descanso) (Figura 14.2; Figura 14.3). Intervalos (graus-dia) Anos Ganho médio diário (g/animal/dia) Carga animal (UA/ha) Ganho por área (kg de PV/ha) 375 2011¹ 250 2,0 58 2012² 390 1,7 184 750 2011¹ 290 1,5 48 2012² 440 1,7 174 Médias 300 1,7 116 1) Grão de milho, 1,2kg/animal/dia; 2) Farelo de trigo + glicerol, 1,3kg/animal/dia. Tabela 14.2: Desempenho de novilhas de corte suplementadas em campo nativo manejado sob pastoreio rotativo, utilizando diferentes intervalos de descanso entre os pastejos, no outono- inverno (maio à setembro) (Santa Maria, RS).
  • 147. 147 Essa alternativa de manejo pastoril tem sido empregada com sucesso em propriedades na região do Alto Camaquã (EMBRAPA/ CPPSul), e tem sido facilmente apropriada pelos pecuaristas fami- liares nos seus sistemas de produção. Mais recentemente, a EMATER Regional Centro tem contribuído para difusão dessa tecnologia, que pode num futuro próximo, proporcionar uma nova perspectiva para a produção pecuária baseada em campo nativo. Se essa alternativa fosse aplicada nos sistemas de produção do RS, cerca de 1,6 milhão de novilhas com até dois anos poderiam ser criadas em cerca de 194 milha de campos nativos preservados, que corresponde a pouco mais de 4% da área remanescente de cam- pos nativos do Estado. Dessa maneira, os cerca de 600mil ha neces- sários para manter as novilhas entre dois e três anos seriam utiliza- dos com outras categorias animais, como vacas de cria e novilhos, capazes de oferecer retorno econômico direto para os produtores, com reflexos positivos no mercado de bovinos de corte do Estado. Para a preservação dos campos nativos é essencial reco- nhecê-los como ecossistemas de ampla diversidade e serviços ambientais prestados à população. O conhecimento das carac- terísticas das plantas e, consequentemente, do seu crescimento, aliado às necessidades dos animais de criação permite um mane- jo pastoril que propicie o convívio harmonioso de uma ativida- de econômica rentável com a conservação de um patrimônio ecológico e cultural para as futuras gerações. Disponibilidade de pasto na entrada (direita da foto) e saída dos animais (esquerda da foto) # # Fernando Quadros Detalhe da disponibilidade de pasto na entrada (direita da foto) e saída dos animais (esquerda da foto) # # Fernando Quadros Fig. 14.2 Fig. 14.3 NOTAS 1. Área foliar específica é medida pela razão (cm2 /g) entre área foliar e massa seca de uma amostra de folhas coletadas. 2. Sistema de manejo pastoril em que a área é dividida em um certo número de parcelas cercadas (potreiros); cada parcela é pastejada por poucos dias, após os animais passam para outra parcela, permanecendo a primeira em recuperação, sem animais até o próximo período de pastejo, e assim sucessivamente. 3. A soma térmica, em graus-dia, é obtida somando-se a temperatura média de cada dia em ºC. No verão, uma soma térmica de 375 graus-dia poderá ser atingida em cerca de 18 dias.
  • 148. 148
  • 151. 151 Considerando as altas taxas de perda dos ecossistemas na- turais, a recuperação de áreas degradadas é de grande importância para a conservação da biodiversidade, assim como para a manuten- ção dos diversos serviços provenientes dos ecossistemas nativos. Na região dos Campos Sulinos, grandes áreas abertas, originalmente cobertas por ecossistemas campestres naturais, encontram-se hoje degradadas, seja por sobrepastejo, abandono do manejo pastoril, entrada de espécies invasoras, ou conversão para silvicultura ou lavoura e posterior abandono. No caso do sobrepastejoouabandonoporpoucosanos,semhistóricodeoutros usos, o retorno de um manejo adequado é geralmente suficiente para a recuperação da biodiversidade campestre, e retorno da produtividade pastoril. Nos casos de degradações mais graves, é necessária a adoção de medidas ativas de restauração ecológica. Em áreas de campo convertidas para agricultura ou silvicul- tura, a capacidade de reestabelecimento da vegetação nativa origi- nal torna-se limitada pela disponibilidade de sementes e, sobretu- do, de estruturas subterrâneas (como bulbos ou rizomas) no solo, que tendem a desaparecer com o uso agrícola ou para silvicultura. Em campo nativo se observa que o rebrotamento a partir de estru- turas subterrâneas pode ser mais importante do que a regeneração Capítulo 15 RECUPERAçÃO DOS campos Mariana de Souza Vieira & Gerhard Ernst Overbeck a partir do banco de sementes, que em geral contém poucas se- mentes das espécies típicas. Outro fator limitante, quando grandes áreas de campo são convertidas, é o distanciamento de áreas rema- nescentes com vegetação nativa, causando um baixo potencial de entrada de sementes via chuva de sementes. O uso agrícola intensivo do solo ocasiona mudanças no pH do solo e nas suas propriedades físicas originais, ocasionando compactação, erosão e alterações no regime hídrico local, o que também pode dificultar a recolonização de áreas degradadas. A recuperação da vegetação natural que foi suprimida está prevista em lei para áreas de Reserva Legal (Lei 12.651 de 2012). Também,arecuperaçãodeáreasdegradadassituadasemUnidades de Conservação é essencial para a conservação da biodiversidade nativa. E quando a recuperação extrapola os limites de Unidades de Conservação ou Reservas Legais, os proprietários rurais podem ter interesse em recuperar o campo nativo para o uso pastoril. Desta forma, a recuperação de áreas campestres degradadas deve tornar- se uma linha de trabalho importante no Sul do Brasil. No entanto, a restauração ecológica no Brasil tem focado quase exclusivamente a recuperação da vegetação florestal. Faltam experiências na recuperação de ecossistemas campestres. Cordeiros, Caçapava do Sul, RS # # Ronai Rocha
  • 152. 152 A técnica mais utilizada na recuperação de vegetação arbórea, o plantio de mudas, é inadequada para a restauração de campos, onde temos que recuperar um estrato herbáceo rico em espécies. O principal limitante atualmente é a falta de sementes de espécies campestresnativasnomercado.Mesmocomointuitoderecuperar o campo nativo, é impossível comprar sementes das espécies- alvo. Assim, em muitas das tentativas de recuperação de áreas originalmente campestres após uso como lavoura, os produtores utilizam sementes de espécies exóticas, as quais, em alguns casos, podem ser interessantes no ponto de vista forrageiro, mas não são adequadas para a recuperação da biodiversidade nativa. Algumas das plantas comercializadas atualmente são inclusive consideradas espécies invasoras, ou seja, trazem efeitos negativos para a biodiversidade original (por exemplo, as braquiárias). Entre as técnicas de recuperação de campo amplamente utilizadas e com resultados positivos em outras partes do mundo estão: a transposição de feno de áreas conservadas de campo, que consiste no corte da biomassa vegetal em período de produção de sementes; o transplante de leivas do solo, que podem ser retiradas de áreas onde haverá algum tipo de obra (por exemplo, a abertura de estradas) para as áreas degradadas; e a remoção dos primeiros centímetros de solo nos casos em que há um banco de sementes com alta densidade de espécies invasoras, que podem competir com a flora nativa e assim prejudicar a sua recuperação. A aplicabilidade destas técnicas de recuperação ainda precisa ser testada para a região dos Campos Sulinos. O manejo pastoril é importante e deve ser visto como um aliado no processo de restauração, visto que o gado pode transportar sementes no trato digestório e nos pelos, além de controlar a estrutura da vegetação através do pastejo. A restauração ecológica já é vista como uma atividade que traz benefícios que vão além da recuperação da biodiversi- dade. Ela contribui para a manutenção de processos e serviços ecossistêmicos (veja o Capítulo 11), que são fundamentais para a sociedade como um todo. Assim, o desenvolvimento de técnicas para a restauração de campos degradados é prioritário para a pes- quisa ecológica na região dos Campos Sulinos. Além disso, há ne- cessidade de diretrizes legais mais específicas para a restauração da vegetação campestre nativa (veja os Capítulos 16 e 17). Até o momento, ainda não sabemos até que ponto a efetiva restauração dos ecossistemas campestres para o seu estado original é possí- vel, após degradação severa, o que reforça que a conservação das áreas campestres é a melhor opção para garantir a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos nas diferentes fi- sionomias dos Campos Sulinos. Áreas originalmente campestres na região dos Aparados da Serra que foram degradadas pelo plantio de Pinus. Sem restauração ativa, a vegetação que se estabelece no local não é a vegetação característica da região # # Gerhard Overbeck
  • 153. 153 Campos de Cima da Serra, RS # # Valério Pillar
  • 154. 154
  • 155. 155 Campos de Cima da Serra # # Bianca Andrade
  • 157. 157 Além das políticas públicas, as ações de caráter individual podem fazer a maior diferença e ajudar na conservação dos campos. Desde as pessoas comuns, que apenas consomem carne, até os proprietários rurais, há um conjunto de iniciativas que, somadas, podem provocar grandes transformações positivas. Consumo saudável e consciente Na hora de comprar carne no supermercado ou no açougue, você costuma verificar de onde ela veio? Talvez você nunca tenha dado importância para isso, mas o assunto merece reflexão. Nos supermercados,écadavezmaiscomumcompraracarneembalada. Basta olhar na etiqueta as informações de procedência. Você decide se irá comprar carne de frigoríficos do Mato Grosso, Goiás ou Rondônia, ou de Alegrete, Bagé ou Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A diferença no preço não é tão grande assim, mas as consequências do que ocorreu na natureza para produzir os dois tipos de carne podem ser dramaticamente distintas. A procedência geográfica por si só não informa como a carne foi Capítulo 16 Cidadania e uso sustentável dos Campos Eduardo Vélez-Martin, Eliege Fante, Graziela Dotta, Thaiane Weinert da Silva, Carla Suertegaray Fontana & Valério De Patta Pillar produzida, mas pode ser indicativa, enquanto não for implantado um sistema de rastreabilidade do rebanho e da cadeia produtiva. A carne produzida no norte e no Centro-Oeste do Brasil costuma ser o resultado de áreas desmatadas de Floresta Amazônica ou de supressão do Cerrado, nas quais se plantam gramíneas exóticas para alimentar o gado, com custo ambiental muito alto. Já a carne produzida nos campos nativos do Sul do Brasil não destrói a natureza e ainda por cima ajuda a conservá-la. Além dos benefícios ambientais, o consumo de carne dos Campos Sulinos também faz bem à saúde humana. A carne é uma importante fonte de proteína, de ácidos graxos insaturados de cadeia longa e de vitamina B12, zinco e ferro. Quando a dieta dos animais é baseada em múltiplas espécies herbáceas nativas, a carne além de mais saborosa, torna-se mais nutritiva e saudável. Isto ocorre porque as gramíneas contêm alta proporção de ácido linolênico, um ácido graxo insaturado do tipo ômega 3. Quando os animais ingerem o pasto, aumenta a proporção de ácidos graxos ômega 3 na gordura intramuscular. Estudos têm demonstrado que os ômega 3 têm função protetora contra doenças cardíacas, câncer e diabete tipo 2, sendo importante aumentar a sua concentração Para que lado, compadre? # # Ronai Rocha
  • 158. 158 Participantes do VI Encuentro de Ganaderos de Pastizales del Cono Sur, realizado em 2012, Cayastá, Santa Fé, Argentina. na dieta humana e, ao mesmo tempo, reduzir a concentração de ácidos ômega-6. Além da carne, o leite de animais alimentados a pasto tem maior concentração de ácido linoléico conjugado (CLA), o qual previne a obesidade e tem efeito anticancerígeno (1,2). Apostar na pecuária em campo nativo como principal atividade A conservação dos campos em larga escala só é possível com a decisão individual e voluntária de cada proprietário rural, seja ele pequeno, médio ou grande, em seguir com a atividade pastoril. Quando muitos resolvem trocar a pecuária pela agricul- tura, a paisagem vai se transformando radicalmente e a biodi- versidade campestre sucumbe. Entretanto, muitos proprietários rurais pensam no longo prazo e percebem que a pecuária, por ser a atividade mais vocacionada para a região dos Campos Sulinos, garante maior estabilidade frente aos extremos climáticos e às os- cilações nos preços dos grãos e dos insumos que tendem a ocorrer ao longo dos anos. Os investimentos em agricultura e silvicultura, quando ocorrem, são feitos em pequena escala, como estratégia de diversificação da produção econômica no estabelecimento ru- ral. Conforme apresentado no Capítulo 12, as lavouras de soja e milho não são atualmente mais rentáveis do que a atividade pas- toril realizada em campo nativo usando manejo adequado. Desde 2007, centenas de pecuaristas de campos nativos da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e que compartilham dessa visão, reúnem-se anualmente, articulados em torno da iniciativa Alianza del Pastizal (http://www.alianzadelpastizal.org) para intercâmbio de práticas e experiências, juntamente com técnicos, pesquisadores e autoridades públicas. Nessa mesma linha, o Sindicato Rural de Lavras do Sul também promove, desde 2009, o Seminário “O Pampa e o Gado” com temática pertinente à produção sustentável e conservacionista. Participar desses eventos ajuda a fortalecer o conceito e a prática da pecuária sustentável. Manejo conservacionista Além de favorecer a produção animal, o manejo conser- vacionista do campo traz benefícios para a biodiversidade, pro- porcionando diferentes ambientes para a ocorrência das espécies silvestres nativas. Heterogeneidade na paisagem Quando o manejador do campo ajusta a carga animal à disponibilidade de pasto e difere potreiros para formar reserva de forragem para períodos críticos, ou ainda melhor, quando utiliza pastejo rotativo, que permite maior flexibilidade nessas práticas, a propriedade que até então tinha o predomínio de uma
  • 159. 159 fisionomia única e homogênea, se transforma em um mosaico de campos com diferentes alturas. A existência de um gradiente de estratificação, com man- chas de campo alto e denso - inclusive com presença de vegeta- ção arbustiva em um extremo, até locais com vegetação bastante baixa – com presença de plantas com arquitetura rasteira ou em forma de roseta, beneficia um grande número de animais, espe- cialmente as aves que, por conta da sua morfologia e comporta- mento, dependem de condições ambientais distintas. Várias ações auxiliam nessa empreitada (3). Aumentar o número de potreiros, utilizar cercas elétricas móveis, fazer roça- das em manchas menores e alternadas, manter cercadas e isola- das do pastejo pequenas áreas mais sensíveis (trechos de mar- gens de sangas e açudes, barrancos, zonas pedregosas), ajustar a localização de pontos de atração dos animais (aguadas, saleiros, sombras) para aumentar ou diminuir a intensidade de pastejo em algumas zonas de cada potreiro, promover a rotação do pastejo intenso e concentrado em áreas menores, dentre outras. Heterogeneidade de plantas e de habitats Quanto maior o número de espécies de plantas no campo, maiores as possiblidades de interações biológicas, o que beneficia toda a biodiversidade. A presença de plantas com diferentes formas e fisiologias otimiza a capacidade de recuperação dos campos quando expostos a situações extremas (secas, queimadas, inundações, dessecamentos por herbicidas, etc.). Para promover essa diversidade é importante olhar para a pastagem natural e reconhecer as principais espécies presentes. Por quais ambientes elas demonstram preferência, os mais úmidos ou os mais secos? Locais com solos rasos ou profundos? E assim por diante. Também é fundamental observar que o gado seleciona ati- vamente o seu alimento e isso condiciona radicalmente a compo- sição de plantas no campo. Dependendo do manejo pastoril, com o tempo as plantas de melhor qualidade forrageira podem ceder espaço para o predomínio de espécies pouco palatáveis. Por isso, uma das ações mais efetivas para manter a diversidade de espé- cies e a qualidade forrageira do pasto é, através do ajuste da car- ga animal e do manejo rotativo, estimular o gado a utilizar todo o leque de espécies presentes, incluindo aquelas que aparente- mente não são de sua preferência alimentar. Sabe-se que o gado criado em campos heterogêneos e com muitas espécies de plantas aprende a aproveitar melhor essa diversidade de alimento, o que não acontece se esses animais forem criados quando jovens em pastagens plantadas, homogêneas, sem ter acesso a esse aprendi- zado social, que acontece sobretudo com suas mães (4). Além de conhecer as plantas do campo e controlar a herbi- voria seletiva do gado, a receita para um bom manejo do campo se completa com a prática do diferimento (a exclusão do gado por de- terminados períodos). A manutenção de potreiros sem pastejo nos períodos críticos para o desenvolvimento da vegetação e produção de sementes, permite não apenas assegurar a oferta de forragem, mas beneficiar determinados grupos de plantas. Nos Campos Sulinos, a maioria das gramíneas têm o pico de crescimentoereproduçãonofinaldaprimaveraenoverão,enquanto que um grupo menor, denominado de espécies hibernais, crescem bem no inverno-início da primavera, justamente quando a oferta de forragem é mais baixa. Estas espécies são grandes aliadas do produtor rural no período mais crítico da produção animal, em que o gado chega a perder peso. Para assegurar a sua presença em boa proporção deve-se evitar o pastejo e as queimadas no período em que florescem e produzem sementes. outras ações de manejo da vegetação campestre: Introduzir sementes de espécies nativas No Brasil, com raras exceções, não existem sementes de es- pécies nativas disponíveis no mercado. Uma alternativa é coletar no campo as sementes das espécies de interesse. Isso pode ser feito manualmente, ou de forma mecanizada, roçando as partes aére- as do campo na época em que essas espécies produzem sementes, lançando o material coletado diretamente nas áreas que se preten- de incrementar a diversidade. O material roçado pode ser arma- zenado em fardos para distribuição em outros períodos do ano. O
  • 160. 160 se não forem controladas, podem tomar conta do campo. O importante é fazer o controle quando as populações ainda são pequenas. O produtor rural pode fazer roçadas ou confinar tem- porariamente o gado, com o uso de cerca elétrica, nas áreas com maior densidade de arbustos. Em alguns casos, as espécies podem ser tóxicas e a eliminação seletiva é uma alternativa a considerar. O pastejo por ovinos ou caprinos também pode ser utilizado complementarmente, já que estes animais também se alimentam de espécies arbustivas. Controlar plantas exóticas invasoras Estas espécies representam um grande risco para os campos nativos. Por serem oportunistas, tendem a ocupar rapidamente as áreas com solo exposto, decorrentes de campos submetidos ao so- brepastoreio, ou de abandono de áreas de agricultura. Submeter animais oriundos de áreas contaminadas a períodos de quarentena evita a propagação de sementes pelo esterco (6). É fundamental que sua presença seja monitorada constantemente e o controle seja feito logo no início da colonização. Quando a área ocupada aumenta, o controle torna-se cada vez mais difícil e oneroso. Muitas das técni- cas utilizadas para controle das plantas arbustivas podem ser utili- zadas, sempre levando em conta que também devem ser emprega- das ações que favoreçam a recolonização pelas espécies nativas. Atividades econômicas alternativas para os campos Os estabelecimentos rurais dedicados à pecuária susten- tável têm maiores possibilidades de explorar atividades eco- nômicas complementares. Atividades como o turismo rural, o turismo ecológico e a observação de aves podem ser consor- ciadas em locais com campos e paisagens diversificadas. Além disso, a apicultura, a produção de plantas medicinais e de plan- tas ornamentais, a produção comercial de sementes nativas e o desenvolvimento de cosméticos, fitoterápicos e fármacos são outras possibilidades que precisam ser incentivadas e melhor exploradas nos Campos Sulinos. Campo com vegetação heterogênea onde coexistem plantas com distintas arquiteturas # # EduardoVélez gado também pode ser utilizado para esta função; para isso deve ser colocado para pastejar nas áreas fonte, onde estão as plantas com sementes maduras, e depois direcionado para as áreas de in- teresse, onde irá defecar, dispersando as sementes ingeridas (5). Manter touceiras altas, arbustos e plantas espinhentas Além da diversidade de fisionomias entre os potreiros, a heterogeneidade dentro do potreiro, com plantas mais altas e mais baixas, isoladas ou agrupadas em pequenas manchas com touceiras, arbustos e plantas espinhentas, como os gravatás, garante maior variedade de habitats para a fauna, incluindo locais de refúgio e reprodução. Manter pequenas ilhas deste tipo de vegetação funciona como um reservatório genético. Ao serem evitadas pelos herbívoros, facilitam a presença de outras plantas que conseguem produzir maior número de sementes. Controlar o excesso de plantas lenhosas arbustivas O manejo inadequado ou determinadas condições am- bientais podem levar ao aumento de espécies arbustivas que,
  • 161. Queimada em vegetação campestre # # Valério Pillar Em algumas regiões, como nos campos de altitude do RS, SC e PR, o fogo tem sido amplamente utilizado como uma técnica para eliminar o excesso de biomassa seca das gramíneas, no fim do inverno, e com isso estimular o rebrote de folhas verdes, na primavera. Em outras regiões, é utilizado de forma mais comedi- da e direcionada para o controle de espécies arbustivas. Dependendo da forma com que é praticada a queimada no campo, ela pode ser muito prejudicial ou até mesmo benéfica. O seu uso é muitocontroversoevirouumaespéciedetabu.Alegislaçãoambien- tal regula esta prática que só pode ser empregada de forma limitada e mediante uma autorização emitida pelo órgão ambiental. Pesam contra as queimadas o aumento nas emissões deCO2 , a dete- rioraçãodecaracterísticasdosoloeareduçãodopotencialprodutivo da vegetação campestre (7), ao impedir a sementação das espécies hibernais e promover a abundância de espécies pirófilas, de menor valorforrageiro.Asqueimadasintensastambémprejudicamafauna. Estudos com aves nosCampos deCima daSerra, no RS, indicam que as queimadas, entre agosto e setembro, têm um impacto negativo sobreareprodução deaves campestres edebordadebanhado(8,9). A polêmica sobre o uso do fogo nos campos Por outro lado, queimadas controladas podem ser benéficas para a biodiversidade (10,11). Em algumas situações ocorre um acúmulo excessivo de massa vegetal seca, de baixa qualidade forrageira. Essa camada homogênea, de pasto seco, impede que a luz chegue ao nível do solo, eliminando as plantas dos estra- tos inferiores. Em períodos de seca, a presença dessa biomassa aumenta o risco de incêndios catastróficos e descontrolados. A queimada permite eliminar rapidamente essa biomassa indese- jada, fazendo com que muitas espécies rebrotem ou germinem a partir do banco de sementes, recompondo a diversidade de espécies de plantas do campo. Portanto, a queimada não é um problema, mas o contexto e a forma como é praticada. Quando utilizada como prática rotinei- ra para facilitar o rebrote da vegetação, acaba sendo contrapro- dutiva. Os índices de produção animal alcançados por esse tipo de manejo são baixos e pouco competitivos. Afinal de contas, a biomassa que é queimada poderia muito bem ter sido utilizada para alimentar o gado, caso o ajuste de carga animal fosse utili- zado para impedir o desperdício de forragem. 161
  • 162. 162 Diferimento na propriedade de Fernando Adauto, Lavras do Sul, RS # # Valério Pillar
  • 163. 163 O avanço da fronteira agrícola, além de transformar as práticas campeiras como a lida com os animais e as atividades produtivas, interferiu na paisagem, nos hábitos e nas rotinas das famílias ru- rais com tradição na atividade pastoril de produção pecuária. Elas perceberam o desaparecimento de espécies vegetais assim como de tatus, de emas e outros animais nativos dos campos. Mas, apoiadas pela pesquisa, as famílias que resistiram ao modelo eco- nômico vigente ampliaram o seu rol de argumentos em favor da pecuária através do conhecimento sobre a biodiversidade e for- mas possíveis de manejos sustentáveis. Apresentamos a seguir, dois pecuaristas e as suas experiências bem sucedidas tanto na pequena quanto na grande propriedade. “A conservação significa muito, fazia horas que não víamos um campo com tanto pasto e os bichos comendo de boca cheia; cada vez o campo nativo tem mais força,” disse Irene Pereira Franco. Ela é a irmã de Decio Pereira Franco, mais conhecido como Decinho; juntos administram 170 hectares na localidade de Guaritas em Caçapava do Sul (RS). A criação de ovelhas há quase 50 anos e a qualificação para o registro de reprodutores da raça Ideal há mais de 30 anos, os credencia a defender a ovinocultura como a principal atividade em campo nativo. Na maior área contínua de vegetação natural no bioma Pampa (RS), a pecuária conservacionista é o modelo sustentável. Sustentável porque o manejo do pastejo faz a diferença na pro- dutividade em campo nativo desde a composição de espécies, potencial da forragem e os serviços ambientais. “Aqui na região da Campanha a visão tem que ser no longo pra- zo.” Os irmãos admitem que a lida no campo com as ovelhas dá tanto trabalho quanto com o gado, mas dizem que os lucros obti- dos podem ser até mais interessantes ao pecuarista. “Em um hec- tare onde pasta uma vaca, pastam cinco ovelhas; a vaca leva três anos para produzir, o cordeiro nasce em cinco meses de gestação e com seis ou sete meses de idade se vende para o corte. Não tem nada que dê mais dinheiro em propriedade pequena do que ove- Experiências inovadoras de uso sustentável dos Campos Sulinos lha,” afirmou.Os números justificam: em 2013, Decinho vendeu o quilo de lã a R$10,50 em média, e o quilo vivo do cordeiro entre R$4,50 e R$5,00. “A vida é mais tranquila na Campanha porque trabalhamos para a gente, fazemos o que gostamos e sabemos que estamos fazen- do certo”, disse Irene, considerando a importância da pesquisa. Eles participam do projeto Alto Camaquã, que entre outras ações busca a melhoria do manejo dos campos, iniciado em 2005 pela Embrapa e que integra pecuaristas familiares de sete municípios naquela região. “Passamos a ter sempre um potreiro vazio, deixa- mos o campo descansar até mais de trinta dias, e o que mais nos incomodava, a verminose, diminuiu bastante,” disse Decinho. Os irmãos Decio e Irene Pereira Franco em sua propriedade. Caçapava do Sul, RS # # Eliége Fante
  • 164. O conceito de conservação é constante nesta família. As ter- ras herdadas eram da bisavó, contam que cresceram ali nas Guaritas e a crença na ovinocultura propicia a permanência no campo. “Tivemos anos difíceis, mas acreditamos e conti- nuamos porque os anos bons se sucedem aos ruins, e assim a pecuária vai se valorizando quando aliada ao campo nativo,” referiu-se às modas econômicas como a atual sojicultura ou a monocultura de eucaliptos. Ainda segundo Decinho, “não mexer no campo” faz toda a dife- rença. A principal mudança para ele foi a desistência do uso do fogo pelos pecuaristas há cerca de 20 anos, graças à fiscalização. “Achavam que limpava, mas piorava porque vinha mais sujeira. O fogo queima a semente, enfraquece o solo,” explicou. A outra mudança que deveria ocorrer é mais complexa: solução para o abigeato. Decinho contou que mantinha 300 ovelhas, mas tem cerca de 200 porque os furtos são frequentes. Aliado à ovinocultura, o turismo cultural se destaca como ativi- dade econômica naquela paisagem que, seguidamente, é cená- rio artístico para filme ou seriado de tevê. As excursões de turis- tas e de estudantes com os professores-pesquisadores precisam reservar datas na agenda dos irmãos. Irene e Decinho acompa- nham os visitantes no passeio sobre os campos e os cerros das Guaritas, onde já foram identificadas pelo menos 40 variedades de cactos e outras espécies de plantas endêmicas, como é o caso da petúnia vermelha. Competitividade para a grande propriedade Enquanto o bioma amazônico é desmatado para desenvolver a bovinocultura, nos Campos Sulinos a produção pecuária depende da vegetação nativa. Por isso, dizemos que a pecuária em campo nativo propicia a conservação e garante a sustentabilidade eco- nômica da propriedade. “A pecuária em campo nativo é competitiva e é rentável,” defen- de Fernando Adauto Loureiro de Souza, que produz em média 200kg por hectare/ano de ganho de peso vivo de bovinos. “Mais da metade da minha produção pecuária por hectare é lucro líqui- do.Gasto pouco, apenas o essencial e, quando vendo um novilho, mais da metade do valor dele é lucro.” Adauto explica que a biodiversidade é o diferencial do campo nativo. Ele contou que é a quantidade de espécies forrageiras hibernais que valoriza o campo porque vai garantir a pastagem no inverno. “Levamos décadas para ter campos bem manejados sem adubar. O que destrói o campo tanto quanto o fogo é o so- brepastoreio, porque o gado não deixa sementar,” disse. Adauto mantém um rebanho de 1.300 bovinos, 50 equinos e 300 ovinos, com lotação que pode chegar a 1,2 animal por hectare. A falta de conhecimento técnico, apontou, também prejudica a ati- vidade econômica da pecuária. Neste sentido, acredita, a pesquisa tem grande contribuição a oferecer. “Eu gostei quando minha pro- priedade foi escolhida pelos pesquisadores porque através dos ex- perimentos passamos a enxergar coisas que dificilmente veríamos,” disse sobre a FazendaSãoCrispim localizada em Lavras doSul (RS). A principal dificuldade dos pecuaristas é vencer a falta de pasto em certas épocas do ano, explicou, porque dela também decorre outros dois problemas: a verminose e o carrapato. “Há quem faça o desmame antecipado para a vaca conceber de novo. Eu nunca fiz isso, acredito que temos que assegurar a oferta forrageira, e o meu resultado é mais de 90% de repetição de cria.” Além da garantia de alimento de qualidade, Adauto tem o ma- nejo baseado em pastoreio contínuo com diferimentos – alguns potreiros ficam sem gado temporariamente. “O diferimento que fazemos, e quase ninguém faz, é aquele que permite formar um banco de sementes no solo com a vantagem de não precisar mais semear naquela área. O manejo correto nos permitiu ter áreas de campo melhorado com a introdução de espécies de inverno, como azevém, que estão com mais de 30 anos sem serem semeadas.” E, para favorecer a “competitividade, segurança e eficiência ao cam- po nativo” frente às outras culturas, como a soja, mantém 18% da área ou 185 hectares com campo melhorado dessa maneira. Até mesmo esta área com azevém pode ganhar descanso even- tualmente para propiciar que sementes vinguem e se forme uma reserva alimentar no caso de uma seca. “A seca faz parte do clima e qualifica os campos. Em campo diferido podemos passar cem dias sem chuva. O conceito de conservação permeia o manejo e isso é ser campeiro, ter essa sabedoria que só se alcança com o tempo ou com os mais antigos que conhecem a natureza do lugar.” 164
  • 165. 165 Caçapava do Sul, RS # # Eliege Fante
  • 166. 166
  • 167. 167 Final de lida # # Ronai Rocha
  • 169. 169 A Constituição Federal do Brasil estabelece, no Artigo 225, que a defesa e a proteção do meio ambiente são deveres do poder público edacoletividade.Espera-se,portanto,queaconservação e o uso sus- tentável da biodiversidade brasileira, incluindo-se aí os campos nati- vos,resultedeumconjuntodeiniciativaspromovidaspelosgovernos federal, estaduais e municipais, denominadas políticas públicas. Criação de Unidades de Conservação AcriaçãodeUnidadesdeConservaçãoéumadasformasmais tradicionais e efetivas de proteger a biodiversidade. Áreas conside- radas críticas para a reprodução das espécies ou que apresentam maior quantidade de espécies ou ecossistemas ameaçados são deli- mitadas e passam para o domínio público, como no caso de Parques, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas. Existem também outras categorias que permitem que as áreas sejam mantidas sob proprie- dade privada, mas com limitações no uso, de modo que somente as atividades econômicas compatíveis com a conservação da natureza sejam admitidas. É o caso dos Refúgios de Vida Silvestre (REVIS), Capítulo 17 Políticas públicas para os Campos Eduardo Vélez-Martin, Luiza Chomenko, Marcelo Madeira & Valério De Patta Pillar dos Monumentos Naturais, das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). No Sul do Brasil as Unidades de Conservação existentes fo- ram estabelecidas principalmente para conservar as florestas e os banhados. Entretanto, algumas dessas unidades abrigam exten- sas áreas de campos. Exemplos disso são os parques nacionais Aparados da Serra e Serra Geral (8mil ha de campos), situados no nordeste do RS, e o Parque Nacional de São Joaquim (com mais de 8mil ha de campos), em SC. De modo geral, os campos têm sido desconsiderados como objetivo principal de criação de novas Unidades de Conservação. Claro que existem algumas exceções, como no caso da APA do Ibirapuitã (224 milha de campos), no RS, e do Parque Nacional dos Campos Gerais (4,5 milha de campos) e do Refúgio de Vida Silvestre Campos de Palmas (mais de 3 milha de campos), no PR. A biodiversidade dos Campos Sulinos permanece pouco re- presentada nas atuais Unidades de Conservação federais e esta- duais. Para preencher estas lacunas de conservação e contemplar a diversidade de formações campestres típicas do Sul do Brasil, novas unidades são imprescindíveis. Levantamento de campo # # FábioTorchelsen
  • 170. 170 Incentivos ao uso sustentável A pecuária extensiva praticada há cerca de quatro séculos nos Campos Sulinos baseia-se no aproveitamento direto da vegeta- ção nativa. Quando não há excesso de carga animal (sobrepastejo), a flora e a fauna se mantêm em relativa harmonia com os rebanhos, pois assim o pastejo mantém a vegetação campestre. Quando boas práticas de manejo são implementadas, esta atividade econômica torna-se um exemplo de uso sustentável da natureza que deveria ser valorizado e estimulado. Políticas específicas de apoio à pecuária sustentável e de fortalecimento da cadeia produtiva da carne de corte procedente de campo nativo deveriam ser estabelecidas, assegurando ao mesmo tempo benefícios econômicos, sociais e ambientais. Assistência técnica, crédito facilitado, incentivos tributá- rios, diferenciação de produtos no varejo, abertura de novos mer- cados, pagamento por serviços ambientais, correção de distorções na relação produtor-frigoríficos-comércio varejista, dentre outras iniciativas, deveriam ser articuladas e figurar na pauta dos ór- gãos públicos que buscam promover o desenvolvimento e a sustentabilidade. Na ausência destas políticas, preços altos no mercado internacional de grãos e de celulose têm levado muitos produtores rurais a substituir a pecuária pelos cultivos, causando o desaparecimento dos campos nativos em muitas regiões. Na busca de reconhecimento e diferenciação da produção de carne produzida em campo nativo, proprietários rurais do Rio Grande do Sul, organizados na APROPAMPA (Associação dos Pro- dutores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional), obtiveram em 2006 o reconhecimento oficial do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) da Indicação de Procedência, uma modalidade de Indicação Geográfica prevista na Lei de Pro- priedade Industrial (no 9.279/1996). Por conta disso, eles têm o di- reito exclusivo de rotular a carne vendida com a designação Pampa Gaúcho da Campanha Meridional e assim obter uma diferenciação qualificada junto ao consumidor. Iniciativas como esta poderiam ser implementadas em outras regiões produtoras dos Campos Suli- nos, já que as condições locais do solo, do clima e da vegetação se expressam no sabor e na qualidade nutricional da carne. Vegetação campestre no REVIS Campos de Palmas, RS # # Sérgio Campestrini Aspecto da vegetação campestre em campo com boas práticas. Aceguá, RS # # Valério Pillar Vegetação campestre no Parque Nacional da Serra Geral # # Valério Pillar
  • 171. Há mais de 12 mil anos, quando os humanos não haviam chegado ao sul da América do Sul, grandes herbívoros pastadores habitavam os Campos Sulinos. Evidências fósseis testemunham a presença de cavalos ancestrais, camelídeos, toxodontes, liptoternos, gliptodontes, pampatérios, preguiças gigantes, dentre outros. Estes animais coevoluíram com a vegetação campestre e cumpriam um papel ecológico fundamental. O pastejo, o pisoteio e a decomposição biológica do pasto, representavam distúrbios e processos naturais essenciais. Eles garan- tiam a remoção de parte da biomassa vegetal, impedindo que poucas espécies de gramíneas, competitivamente superiores, dominassem a comunidade. Com menor quantidade de matéria vegetal seca acumulada, diminuía o risco de in- cêndios catastróficos, aumentava a heterogeneidade espacial da vegetação e a diversidade de espécies vegetais era maximizada. Mudanças no clima e a predação pelos humanos, levou este grupo de animais (me- gafauna pleistocênica) à extinção, há cerca de 10 mil anos (1). Somente com a intro- dução de cavalos, vacas e ovelhas, desde a colonização europeia, a vegetação dos CamposSulinospassouacontarnovamentecomdistúrbios,emmaiorescala,deher- bívoros pastadores. Análise do DNA em fósseis de cavalos encontrados na América doSulindicaqueocavalodomésticopertenceàmesmaespéciequeaquiseextinguiu (2).Portanto,ocavalonãoéumaespécieestranhaaosecossistemascampestres. Toda vez que uma nova unidade de conservação de domínio público é criada, uma das primeiras medidas adotadas é a remoção desses animais. Sem o pas- tejo, a vegetação fica muito homogênea, diminui a diversidade de espécies de plantas e muitas espécies animais não conseguem sobreviver nessas condições. Algumas aves como as perdizes, o maçarico-do-campo e os caminheiros depen- dem de áreas com a vegetação baixa para se deslocar, buscar alimento e nidificar. Para evitar situações adversas como essa, os planos de manejo de Unidades de Conservação destinadas à conservação da biodiversidade campestre deveriam prescrever medidas que reintroduzissem a função ecológica dos grandes herbí- voros, com a manutenção do pastejo por cavalos, vacas ou ovelhas nas áreas de campo, complementada por pequenas queimadas controladas, de acordo com critérios técnicos adequados ao contexto local. Por conta disso, as categorias de Unidades de Conservação mais indicadas para a conservação dos Campos Sulinos são os Refúgios de Vida Silvestre (categoria de proteção integral) e as Áreas de Proteção Ambiental (categoria de uso sus- tentável), que possibilitam a permanência das propriedades rurais dedicadas à pecuária e, portanto, da herbivoria sobre a vegetação campestre. O manejo dos campos em Unidades de Conservação Outra inciativa recente de grande potencial é o denomina- do ICP – Índice de Conservação de Campos Nativos do Cone Sul. Este índice é uma nota dada para cada propriedade rural em fun- ção da contribuição dos campos nativos para a conservação, em cada região avaliada. De iniciativa da Alianza del Pastizal, uma coalizão de organizações e pessoas, do setor público e privado, que mantém interesse na conservação dos campos naturais da Ar- gentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, foi estabelecida uma fórmu- la de cálculo padronizado, com base em múltiplos critérios, que permite avaliações imparciais por técnicos treinados para essa função. A ideia é que este tipo de pontuação dada para as proprie- dades rurais possa ser utilizada na concessão de incentivos aos proprietários. Recentemente, o ICP foi oficialmente reconhecido no Rio Grande do Sul para a mensuração do estado de conserva- ção dos campos nativos (Decreto nº 51.882/2014). Este tipo de certificação das propriedades abre novos ca- minhos para a comercialização da carne produzida em campo nativo. Em 2014, o Sindicato Rural de Lavras do Sul promoveu o primeiro remate com animais exclusivamente procedentes de pro- priedades avaliadas e certificadas com o ICP. Esta iniciativa pio- neira teve grande êxito e todos os animais foram comercializados, com valores acima dos praticados em remates convencionais. No mesmo ano, pecuaristas da Cooperativa COPRODEX, na Argenti- na, realizaram o primeiro embarque para a Europa de carne pro- duzida de forma sustentável, com o selo da Alianza del Pastizal. Várias inciativas, ainda que em pequena escala, vêm sendo implementadas nos últimos anos buscando promover a pecuária em campo nativo. Dentre elas, merece destaque o projeto RS Biodiversidade, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que com o lema conservar para produzir apoia várias ações, dentre as quais a assistência técnica e apoio financeiro, através da EMATER, para estímulo e aumento da produtividade da pecuária em campo nativo, e a experiência das Unidades Experimentais Participativas (UEPAs) implementadas pela EMBRAPA Pecuária Sul, na região do Alto Camaquã, na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul, que busca valorizar o manejo da pastagem natural e promover práticas ecológicas em sistemas de pecuária familiar. 171
  • 172. 172 Controle e Monitoramento A aplicação da legislação ambiental brasileira também pode contribuir para a conservação dos campos. A lei de proteção da vegetação nativa (no 12.651/2012) tem como finalidade proteger as florestas e os demais tipos de vegetação nativa, o que inclui os campos. Dois dos principais mecanismos de proteção da lei são as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e a Reserva Legal (RL). Tratam-se de espaços geográficos dentro da propriedade rural onde deve ser mantida a vegetação nativa original. As APPs são áreas de proteção, nelas apenas atividades eventuais e de baixo impacto são permitidas, sendo que correspondem, de um modo geral, a faixas de terra nas margens de rios, arroios e sangas, a locais com declivi- dade acima de 45o , ao entorno de nascentes e aos topos de morros e montanhas. Já a Reserva Legal deve ocupar 20% da propriedade rural em toda a região dos Campos Sulinos, sendo que pode ser utilizada de forma sustentável desde que a vegetação nativa seja mantida. A pecuária sustentável é uma das atividades compatíveis com as reservas legais, sempre que estejam delimitadas sobre re- manescentes campestres. As APPs e a RL devem ser registradas pe- los proprietários rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Além das APPs e da Reserva Legal, o Artigo 26 da mesma Lei prevê que qualquer supressão de campo nativo para uso alter- nativo do solo (lavoura, silvicultura, pastagem cultivada, etc.) de- pende de uma autorização prévia pelo órgão ambiental estadual. Em regiões onde a situação dos campos nativos é considerada crí- tica cabe à autoridade ambiental negar ou autorizar parcialmente o pedido de supressão. O descumprimento deste tipo de autori- zação pode resultar em sanções administrativas e criminais, que incluem a aplicação de multas. A Lei da Mata Atlântica (nº 11.428/2006) é ainda mais rígida a esse respeito. Ela define que os campos do bioma Mata Atlântica, denominados de Campos de Altitude, não podem ser suprimidos, exceto em situações muito particulares, quando estiverem nos estágios iniciais de regeneração (sucessão pós- cultivo). A caracterização da composição botânica de espécies desses estágios está descrita na Resolução CONAMA 423/2010. A maior parte dos campos que hoje são utilizados para a pecuária, o que é permitido por essa lei, encontram-se justamente nesses estágios, o que, na prática, veda sua supressão para uso com lavouras e silvicultura, na maior parte dos casos. A falta de estrutura dos órgãos ambientais para a fiscaliza- ção, a prioridade dada à proteção das florestas e as dificuldades de treinamento técnico para reconhecimento das diferentes fisio- nomias de vegetação campestre são fatores que ainda dificultam a plena aplicação dessas leis. Além disso, para que esses sistemas de controle da vegeta- ção nativa funcionem é fundamental que os proprietários façam o Cadastro Ambiental Rural da sua propriedade, informando a localização geográfica dos remanescentes de vegetação nativa, da RL, das APPs, além das áreas já convertidas em lavouras ou silvicultura. Também é essencial o monitoramento periódico por satélite para identificar os locais onde a supressão dos campos é praticada de forma ilegal, a exemplo do que vem sendo imple- mentado com êxito para proteção da Floresta Amazônica. Pesquisa Científica A conservação e o uso sustentável dos campos depende de conhecimento científico. Para isso são necessárias pesquisas ca- Equipe da Alianza del Pastizal em treinamento para aplicação do ICP em propriedades rurais do RS # # Aníbal Parera
  • 173. 173 pazes de identificar as espécies de plantas e animais, entender sua distribuição, suas funções e interações ecológicas e como po- dem ser manejadas. Recentemente pesquisadores de mais de vinte instituições de pesquisa do Sul do Brasil organizaram a Rede Campos Su- linos. Com isso diversos especialistas em flora, fauna e serviços ecossistêmicos, de universidades, públicas e privadas, e de ins- titutos de pesquisa têm atuado de forma integrada nos campos remanescentes dos três Estados do Sul do Brasil. O apoio financeiro do CNPq (Conselho Nacional de Desen- volvimento Científico e Tecnológico) e também da FAPERGS (Fun- dação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul) tem sido decisivo para a realização de muitas pesquisas de campo e experimentos científicos nos últimos anos, impulsionando de for- ma importante o conhecimento sobre os Campos Sulinos. Amostragem da vegetação campestre # # Valério Pillar Os principais projetos da Rede Campos Sulinos contemplam estudos dos campos financiados por editais de programas fe- derais de pesquisa: SISBIOTA –Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade. O projeto tem por objetivo identificar a situação atual dos Campos Sulinos, através de mapeamentos e levantamentos quantitativos de plantas, artrópodos, anfíbios, aves e mamí- feros em parcelas de 2x2km distribuídos em 62 localidades no RS, SC e PR. PELD – Pesquisas Ecológicas de Longa Duração. Contempla uma rede de experimentos no RS avaliando os efeitos de dife- rentes opções de manejo pastoril sobre a vegetação e a fauna campestre. Esses experimentos são realizados nas estações experimentais da UFRGS e da UFSM e em oito propriedades particulares. Em um desses experimentos são comparados três tratamentos: exclusão do gado, pastejo contínuo tradi- cional, e manejo conservativo simulando pastejo rotativo. PPBIO - Programa de Pesquisa em Biodiversidade. Trata-se de um desdobramentodoprojetoSISBIOTA.Envolvelevantamentosbioló- gicos padronizados em 13 localidades de 5x5km, tipicamente cam- pestres, do RS,SC e PR. Sítio PELD Lavras do Sul, RS, manejo contínuo convencional (à esquerda), manejo conservativo (à direita) # # Gerhard Overbeck Pesquisas da Rede Campos Sulinos
  • 174. 174
  • 175. 175 Campos de barba-de- bode, Quaraí, RS # # Omara Lange
  • 177. 177 REFERÊNCIAS CAPÍTULO 2 VALOR HISTÓRICO E ECONÔMICO DA PECUÁRIA 1 Santos, C.M. 1984. Economia e sociedade do Rio Grande do Sul: século XVIII. São Paulo: Ed. Nacional. 216 p. 2 Barbosa, F.D. 1983. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST 248 p. 3 Cesar, G. Origens da economia gaúcha (o boi e o poder). Porto Alegre: IEL, CORAG, 2005. 4 Fonseca, P.C.D. 1983. RS: Economia e conflitos na República Velha. Porto Alegre: Mercado Aberto. Documenta 18. 144 p. 5 Torronteguy, T.O.V. 1984. As origens da pobreza no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto IEL. 192 p. 6 Veríssimo da Fonseca, P.A. 1982. A formação do gaúcho. Passo Fundo: Diário da Manhã. 222 p. 7 Pesavento, S.J. 1994. História do Rio Grande do Sul. 7. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto. Série Revisão 1. 142 p. 8 Ferreira Filho, A. 1958. História Geral do Rio Grande do Sul: 1503-1957. Porto Alegre: Globo. 184 p. 9 Laytano, D. 1983. Origem da propriedade privada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro. 310 p. 10 Reverbel, C. 1986. O gaúcho. Aspectos de sua formação no Rio Grande e no Rio da Prata. Porto Alegre: L e PM. 109 p. 11 Franco, S. da C. 1952. A Campanha. In: Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Livraria do Globo. p. 65-74. 12 Fontoura, L.F.M. 2000. Macanudo Taurino: uma espécie em extinção? Um estudo sobre o processo de modernização na pecuária da Campanha gaúcha. Tese de Doutorado em Geografia Humana. São Paulo. Universidade de São Paulo. 273 p. 13 Xavier, P.A Estância. 1952. In: Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Livraria do Globo. p. 75-87. 14 Jansen, S.L. 2006. Evolução da estrutura produtiva do Rio Grande do Sul: uma análise do período de 1940 a 1995/96. Encontro de Economia Gaúcha. (3. 2006, Porto Alegre, RS) Anais Porto Alegre: FEE PUCRS. 22 p. Disponível em: <http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/eeg>. 15 SEBRAE-RS, SENAR-RS, FARSUL 2005. Diagnóstico Integrado dos Sistemas de Produção de Bovinos de Corte no Estado do Rio Grande do Sul: Relatório de pesquisa. Porto Alegre: UFRGS - IEPE. CAPITULO 7 BIODIVERSIDADE DE ANFÍBIOS 1 Segalla, M.V.; Caramaschi, U.; Cruz, C.A.G.; Garcia, P.C.A.; Grant, T.; Haddad, C.F.B. e Langone, J. 2012. Brazilian amphibians – List of species. Disponível em <http://www.sbherpetologia.org.br. Sociedade Brasileira de Herpetologia>. 2 Frost, D.R. 2014. Amphibian species of the world: an online reference. Version 6.0. American Museum of Natural History, New York, USA. Disponível em: <http://research.amnh.org/vz/herpetology/amphibia/>. 3 Santos, T.G.; Iop, S. e Alves, S.S. 2014. Anfíbios dos Campos Sulinos: diversidade, lacunas de conhecimento, desafios para conservação e perspectivas. Herpetologia Brasileira 3(2) p. 51-59. 4 Hasenack, H.; Weber, E.; Boldrini, I.I. e Trevisan, R. 2010. Mapa de sistemas ecológicos da ecorregião das savanas uruguaias em escala 1:500.000 ou superior e relatório técnico descrevendo insumos utilizados e metodologia de elaboração do mapa de sistemas ecológicos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Centro de Ecologia. Disponível em: <http://www.ecologia.ufrgs.br/labgeo/index.
  • 178. 178 php?option=com_content&view=article&id=137:savanasuruguaias&cati d=14:download-non-visible Disponível em 29/04/2015>. 5 Haddad, C.F.B.; Toledo L.F. e Prado, C.P.A. 2008. Anfíbios da Mata Atlântica: guia de anfíbios anuros da Mata Atlântica = Guide for the Atlantic Forest Anurans. São Paulo : Editora Neotropica Ltda. 6 Garcia, P.C.A. e Vinciprova, G. 2003. Anfíbios. In: Fontana, C.S. ; Bencke, G.A. e Reis, R. E. (eds.). Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Rio Grande do Sul, Porto Alegre : EDIPUCRS p. 147-164. 7 Zank, C.; Becker, F.G.; Abadie, M.; Baldo, D.; Maneyro, R. e Borges- Martins, M. 2014. Climate Change and the Distribution of Neotropical Red-Bellied Toads (Melanophryniscus, Anura, Amphibia): How to Prioritize Species and Populations? PLoS ONE 9(4) p. 94625. 8 Duarte, H.; Tejedo, M.; Katzenberger, M.; Marangoni, F.; Baldo, D.; Beltrán, J.F.; Martí, D. A.; Richter-Boix, A. e Gonzalez-Voyer, A. 2012. Can amphibians take the heat? Vulnerability to climate warming in subtropical and temperate larval amphibian communities. Global Change Biology 18 p. 412-421. 9 Rothermel, B.B.; Semlitsch, R.D. 2002. An Experimental Investigation of Landscape Resistance of Forest versus Old-Field Habitats to Emigrating Juvenile Amphibians. Conservervation Biology 16 p. 1324-1332. 10 Both, C., Grant, T. 2012. Biological invasions and the acoustic niche: the effect of bullfrog calls on the acoustic signals of white-banded tree frogs. Biology Letters 8 p. 1. 11 CONSEMA, Conselho Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina. 2011. Resolução CONSEMA Nº002, de 06 de dezembro de 2011. Florianópolis: Secretaria do Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável. 12 Decreto n° 51.797 de 8 de setembro de 2014. Declaração das espécies da fauna silvestre ameaçadas de extinção no Estado do Rio Grande do Sul. 13 Martins, M.; Sazima, I. e Egler, S. G. 1993. Predators of the nest building gladiator frog, Hyla faber, in southeastern Brazil. Amphibia-Reptilia 14 p. 307-309. 14 Toledo, L.F. e Haddad, C.F.B. 2009. Color and some morphologicas traits as defensive mechanisms in anurans. International Journal of Zoology, 910892. p. 1-12. 15 Toledo, L.F.; Sazima, I. e Haddad, C.F.B. 2011. Behavioural defences of anurans: an overview. Ethology Ecology e Evolution 23(1) p. 1-25. 16 Jared, C.; Mailho-Fontana, P.L.; Antoniazzi, M.M.; Toledo, L.F.; Verdade, V.K.; Sciani, J.M.; Barbaro, K.C.; Pimenta, M.T. e Rodrigues, M.T. 2014. Passive and active defense in toads: The parotoid macroglands in Rhinella marina and Rhaebo guttatus. Journal of Experimental Zoology Part A: Ecological Genetics and Physiology 321 p. 65-77. CAPÍTULO 8 BIODIVERSIDADE DE RÉPTEIS 1 Pough, F.H.; Janis, C.M. e Heiser, J.B. 2008. A vida dos vertebrados. Ana Maria de Souza (coord. edição brasileira) 4 ed. São Paulo: Atheneu Editora. 683p. 2 Bencke, G.A.; Jardim, M.M.A.; Borges-Martins, M.; Zank, C. 2008. Composição e padrões de distribuição da fauna de tetrápodes recentes do Rio Grande do Sul, Brasil. In: Ribeiro, A.M.; Bauermann, S.G. e Scherer, C.S. (org.). Quaternário do Rio Grande do Sul: integrando conhecimentos. 1 ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Paleontologia. p. 123-142. 3 The Reptile Database. 2014. Disponível em: <http://www.reptile- database.oriog/db-info/SpeciesStat.html>. 4 Sociedade Brasileira de Herpetologia, 2014. Disponível em: <http:// www.sbherpetologia.org.br/index.php/repteis>. 5 Bérnils, R.S.; Mouraleite, J. C. e Morato, S.A.A. Répteis. In: Mikich, S.B. e Bérnils, R.S. (org.). Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 2004. p. 497-535. 6 Pillar, V.De P.; Müller, S.C., Castilhos; Z.M.de S. e Jacques, A.V. 2009. Campos Sulinos: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade. (eds.) Brasília: MMA, 403 p. 7 Verrastro, L. 2001. Descrição, estratégias reprodutiva e alimentar de uma nova espécie do gênero Liolaemus no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. (Iguania:Tropiduridae). Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais. São Carlos : UFSCAR. 8 Verrastro, L. 1992. Biologia e Ecologia de Liolaemus occiptalis (Sauria- Iguanidae). Mestrado em Ecologia. Porto Alegre: UFRGS. 9 Verrastro, L.; Silva, C.M. da e Colombo, P. 2009. A herpetofauna dos ecossitemas de dunas do litoral norte do Rio Grande do Sul. In: Norma Luiza Würding e Suzana Maria F. de Freitas. (orgs.). Ecossitemas e biodiversidade do Litoral Norte do RS. Ecossitemas e biodiversidade do Litoral Norte do RS. 1ed.Porto Alegre: Nova Prova p. 1-287. 10 Bujes, C. S.2000. Ecologia termal de Liolaemus occipitalis (Sauria, Tropiduridae) no RS, Brasil. Dissertação Biociências –Zoologia na PUCRS. 11 Caruccio, R. 2008. Área de vida e uso do microhabitat de Cnemidophorus vacariensis (Feltrin e Lema, 2000) (Sauria: Teiidae) em uma população dos Campos de Cima da Serra, RS, Brasil. Dissertação -Biologia Animal – UFRGS. 12 Schossler, M. 2005. Dieta e estratégia alimentar de Cnemidophorus vacariensis (Sauria:Teiidae), em uma população dos Campos de Cima da Serra, Vacaria, RS. Dissertação -Biologia Animal – UFRGS.
  • 179. 179 13 Rezende , F.P. 2007. Ciclo e Estratégia Reprodutivos de Cnemidophorus vacariensis Feltrim e Lema, 2000 (Sauria, Teiidae) em uma população dos campos do planalto das Araucárias do Rio Grande do Sul. 2007. Dissertação - Biologia Animal UFRGS. 14 Verrastro, L. e Schossler, M. 2008. Répteis. In: Georgina Bond Buckup. (org.). Biodiversidade dos Campos de Cima da Serra. Biodiversidade dos Campos de Cima da Serra. 1ed. Porto Alegre: Libretos. p. 112-117. 15 Lema, Thales de. 2002. Répteis recentes do Rio Grande do Sul. In: Lema, T. de (org.). Os répteis do Rio Grande do Sul: atuais e fósseis - Biogeografia - Ofidismo. Porto Alegre: EDIPUCRS. p. 35-91. CAPÍTULO 10 BIODIVERSIDADE DE MAMÍFEROS 1 Paglia, A.P., Fonseca, G.A.B.D., Rylands, A.B., Herrmann, G., Aguiar, L.M.S., Chiarello, A.G. et al. 2012. Lista Anotada dos Mamíferos do Brasil. Occasional Papers in Conservation Biology – Conservation International. 2 Reis, N.R., Peracchi, A.L., Pedro, W.A. e Lima, I.P. 2011. Mamíferos do Brasil. Londrina, PR. 441 p. 3 Becker, M. e Dalponte, J.C. 2013. Rastros de mamíferos silvestres brasileiros: um guia de campo. 3º edição. Rio de Janeiro: Technical Books Editora. 166 p. 4 Queirolo, D. 2009. Diversidade e padrões de distribuição de mamíferos dos Pampas do Uruguai e Brasil. Tese de doutorado em Ecologia. Instituto de Biociências. USP, São Paulo. 321 p. 5 Boldrini, I.I. 2009. A flora dos Campos do Rio Grande do Sul. In: Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade (eds) Pillar, V. P., Müller, S. C., Castilhos, Z. M. e Jacques, A.V.). MMA Brasília DF. p. 63-77. 6 Bencke, G.A. 2009. Diversidade e conservação da fauna dos Campos do Sul do Brasil. In: Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade Pillar, V. P., Müller, S. C., Castilhos, Z. M. e Jacques, A.V.). MMA Brasília DF. p. 101-121. 7 Quintela, F.M., Lopes Goncalves, G., Althoff, S.L., Sbalqueiro, I.J., Barbosa Oliveira, L.F. e Ochotorena De Freitas, T.R. 2014. Uma nova espécie de rato aquático do gênero Scapteromys Waterhouse, 1837 (Rodentia: Sigmodontinae) endêmica da Floresta com Araucária do Sul do Brasil. Zootaxa, 3811, 207-225. 8 Sponchiado, J., Melo, G.L. e Caceres, N.C. 2012. Seleção de habitat por pequenos mamíferos no bioma Pampa. Journal of Natural History 46 p. 1321-1335. 9 Pedo, E., de Freitas, T.R.O. e Hartz, S.M. 2010. A influência do fogo e do pastejo pelo gado sobre a assembléia de pequenos mamíferos não-voadores em ecótonos campo-floresta, Sul do Brasil. Zoologia 27 p. 533-540. 10 Luza, A.L. 2013. Estrutura taxonômica, filogenética e funcional de metacomunidades de pequenos mamíferos não-voadores de ecótonos campo-floresta no Sul do Brasil. Dissertação de mestrado em Ecologia. Instituto de Biociências. UFRGS. Porto Alegre. 124 p. 11 Gonçalves, G.L., Quintela, F.M. e Freitas, T.R.O. 2014. Mamíferos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Pacartes. 212 p. 12 Christoff, A.U., Lima, J.D. e Jung, D.M.H. 2009. Mamíferos não- voadores da Floresta com Araucária e áreas adjacentes no Rio Grande do Sul: ênfase em roedores e suas adaptações ao habitat. In: Floresta com Araucária: Ecologia, Conservação e Desenvolvimento Sustentável (eds) Fonseca, C.R.; Souza, A.F.; Leal-Zanchet, A.M.; Dutra, T.; Backes, A. e Ganade, G.). Ribeirão Preto : Holos Editora SP. p. 171-184. 13 FZB, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul 2012. LIVE: Avaliação do estado de conservação de espécies da fauna do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www.liv.fzb.rs.gov.br/livcpl/?id_ modulo=1&id_uf=23>. 14 CONSEMA, Conselho Estadual do Meio Ambiente de Santa Catariana 2011. Resolução CONSEMA Nº 002, de 06 de dezembro de 2011. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável/Santa Catarina. 15 IAP, Instituto Ambiental do Paraná 2007. Fauna do Paraná em extinção. Curitiba/PR. 272 p. Disponível em: <http://www.meioambiente.pr.gov.br/ arquivos/File/cobf/livro_fauna_extincao.pdf>. 16 IAP, Instituto Ambiental do Paraná 2009. Planos de Conservação para Espécies de Mamíferos Ameaçados. Projeto Paraná Biodiversidade. 161 p. Disponível em: <http://www.redeprofauna.pr.gov.br/arquivos/File/ Mamiferos.pdf>. 17 IUCN, União Internacional para a Conservação da Natureza 2001. Categorias da lista vermelha da IUCN - Versão 3.1/IUCN Red List Categories - Version 3.1. Preparado pela IUCN Species Survival Commission. IUCN, Gland, Suiça e Cambridge, Reino Unido. Disponível em: <http://www.iucnredlist.org/documents/2001RedListCats_Crit_ Portugu%C3%AAs.pdf>. 18 Cherem, J.J., Simões-Lopes, P.C., Althoff, S. e Graipel, M.E. 2004. Lista dos mamíferos do estado de Santa Catarina, Sul do Brasil. Mastozoología Neotropical, 11 p.151-184. 19 Miranda, J.M.D., Rios, R.F.M. e Passos, F.C. 2008. Contribuição ao conhecimento dos mamíferos dos Campos de Palmas, Paraná, Brasil. Biotemas 21 p. 97-103. 20 Reis, N.R., Peracchi, A.L., Rocha, V.J., Silveira, G., Lima, I.P. e Oliveira, J.A. (2008). Mamíferos da região centro-leste do Paraná, Telêmaco Borba. Em: Ecologia de Mamíferos (eds.). (Reis, N.R. ; Peracchi, A.L. e Santos, G.A.S.D Londrina: Technical Books editora. p. 159-167.
  • 180. 180 21 IAP, Instituto Ambiental do Paraná (2012) Plano de Manejo do Parque Estadual da Ilha do Mel/PR: Lista de Mamíferos para o Parque Estadual da Ilha do Mel e Entorno, Paranaguá, Litoral do Paraná. Disponível em: <http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/Plano_de_Manejo/PE_Ilha_do_ Mel/Anexo_3_08.pdf>. 22 IUCN, União Internacional para a Conservação da Natureza (2014). Lista de espécies ameaçadas da IUCN. The IUCN List of Threatened Species. Disponível em: <http://www.iucnredlist.org/>. CAPITULO 11 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS 1 Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well- being: Synthesis. Washington: Island Press. Disponível em: <http:// www.millenniumassessment.org/en/Synthesis.html>. 2 Joner, F. e Pillar, V.D. 2012. Redundância funcional: o excesso indispensável. Ciencia Hoje 50: 74-76. 3 Pillar, V.D., Blanco, C.C., Müller, S.C., Sosinski, E.E., Joner, F. e Duarte, L.D.S. 2013. Functional redundancy and stability in plant communities. Journal of Vegetation Science 24 p. 963-974. CAPÍTULO 14 CUIDAR E FAZER DIFERENTE 1 Ribeiro, C.M. 2009. Estudo do modo de vida dos pecuaristas familiares da região da Campanha do Rio Grande do Sul. Tese Doutorado. Porto Alegre : UFRGS. 303p. 2 SEBRAE – SENAR - FARSUL. 2005. Diagnóstico de sistemas de produção de bovinocultura de corte do estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: IEPE, 2005. 265p. 3 SEAPA. Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio. Rio Grande do Sul. 2013. Disponível em: <http://www.agricultura. rs.gov.br>. 4 Lobato, J.F.P. Uma retrospectiva da pecuária de corte em campos nativos e campos melhorados no bioma Pampa. In: Pillar, V.P.; Müller, S.C.; Castilhos, Z.M.S. e Jacques, A.V.A. (eds.). Campos Sulinos, conservação e uso sustentável da biodiversidade. 1. Ed. Brasília/DF: Ministério do Meio-Ambiente,2009. p. 274-281. 5 Nabinger, C. et al. 2009. Produção animal com base no campo nativo: aplicações de resultados de pesquisa. In: Pillar, V.P.; Müller, S.C.; Castilhos, Z.M.S. e Jacques, A.V.A. (eds.). Campos Sulinos, conservação e uso sustentável da biodiversidade. 1. ed. Brasília/DF: Ministério do Meio- Ambiente p. 175-198. 6 Quadros, F.L.F. et al. 2009. A abordagem funcional da ecologia campestre como instrumento de pesquisa e apropriação do conhecimento pelos produtores rurais. In: Pillar, V.P.; Müller, S.C.; Castilhos, Z.M.S. e Jacques, A.V.A. (eds.). Campos Sulinos, conservação e uso sustentável da biodiversidade. 1. Ed. Brasília/DF: Ministério do Meio-Ambiente. p. 206-213. 7 Santos, A.B.; Quadros, F.L.F.; Soares, L.S.U.; Rocha, M.G.; Machado, J.M.; Martini, A.P.M. Características morfogênicas de gramíneas nativas do Sul do Brasil sob níveis de nitrogênio. Ciência Rural, v. 43, p. 503-508, 2013. 8 Quadros, F.L.F.; Garagorry, F. C; Carvalho, T.H.N.; Rocha, M.G.; Trindade, J.P.P. 2001. Utilizando a racionalidade de atributos morfogênicos para o pastoreio rotativo: experiência de manejo agroecológico em pastagens naturais do bioma Pampa. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 6, p. 1-12. 9 Soares, A.B.; Carvalho, P.C.F.; Nabinger, C.; Semmelmann, C.; Trindade, J.K.; Guerra, E.; Freiats, T.S.; Pinto, C.E.; Fontoura Júnior, J.A. e Frizzo, A. 2005. Produção animal e de forragem em pastagem nativa submetida a distintas ofertas de forragem. Ciência Rural, v.35, n.5, p.1148-1154. 10 Neves, F.P.; Carvalho, P.C.F.; Nabinger, C.; J., A.V.A.; Carassai, I.J.e Tentardini, F. 2009. Estratégias de manejo da oferta de forragem para recria de novilhas em pastagem natural. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38(8) p.1532-1542. 11 Soares, É.M. et al. 2013. Taxas de prenhez em novilhas de corte recriadas em pastagem natural sob pastoreio rotativo. In: Revista de La Facultad de Agronomía UNLPam, v.22. Serie supl. 2. Congreso de Pastizales, SantaRosa – Argentina. 12 Nunes, J.T.S. et al. 2013.Desenvolvimento do trato reprodutivo de novilhas de corte púberes e não púberes recriadas em pastagem natural e suplementadas durante o período hibernal. In: XXIII Congresso Brasileiro de Zootecnia – ZOOTEC 2013. Foz do Iguaçu. Resumos Foz do Iguaçu CAPÍTULO 16 CIDADANIA E USO SUSTENTÁVEL DOS CAMPOS 1 Medeiros, S.R. 2008. Valor nutricional da carne bovina e suas implicações para a saúde humana. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte. 30 p. 2 Scollan, N.D.; Dannenberger, D.; Nuernberg, K.; Richardson, I.; MacKintosh, S.; Hocquette, J.; Moloney, A.P. 2014. Enhancing the nutritional and health value of beef lipids and their relationship with meat quality. Meat Science 97: 384–394. 3 Marino, G. 2008. Buenas prácticas ganaderas para conservar la vida silvestre de las pampas: una guía para optimizar la producción y
  • 181. 181 conservar la biodiversidad de los pastizales de la Bahía Samborombón. Buenos Aires: Aves Argentinas/AOP. 104p. 4 Provenza, F.D. e Balph, D.F. 1987. Diet learning by domestic ruminants: Theory, evidence and practical implications. Applied Animal Behaviour Science 18: 211-232. 5 Parera, A. e Carriquiry, E. 2014. Manual de Práticas Rurais Associadas ao Índice de Conservação de Campos Nativos do Cone Sul da América do Sul. Montevideo: Aves Uruguay. 204p. 6 Lisboa, C.A.V., Medeiros, R.B., Azevedo, E.B., Patino, H.O., Carlotto, S.B. E Garcia, R.P.A. 2009. Poder germinativo de capim-annoni-2 (Eragrostis plana Ness) recuperadas em fezes de bovinos. Revista Brasileira de Zootecnia 38: 405-410. 7 Jacques, A.V.A. 2003. A queima das pastagens naturais - efeitos sobre o solo e a vegetação. Ciência Rural 33: 177-181. 8 Fontana, C.S. 1994. História Natural de Heteroxolmis dominicana (Vieillot, 1823) (Aves:Tyrannidae) com ênfase na relação ecológica com Xanthopsar flavus (Gmelin 1788) (Aves, Icteridae) no nordeste do Rio Grande do Sul. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PUCRS. 122 p. 9 Azpiroz, A.B.; Isacch, J.P.; Dias, R.A.; Di Giacomo, S.A.; Fontana, C.S. e Palarea, C. M. 2012. Ecology and conservation of grassland birds in southeastern South America: A review. Journal of Field Ornithology 83 p. 217–246. 10 Fidelis, A e Pivello, V.R. 2011. Deve-se usar o fogo como instrumento de manejo no Cerrado e Campos Sulinos? Biodiversidade Brasileira 1 p. 12-26. 11 Fidelis, A.; Blanco, C.C., Müller, S.C. Pillar, V.P.; Pfadenhauer, J. 2012. Short-Term changes caused by fire and mowing in Brazilian Campos Grasslands with different long-terms fire histories. Journal of Vegetation Science 23 p. 552-562. CAPÍTULO 17 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA OS CAMPOS 1 Lima-Ribeiro, M.S. e Diniz-Filho, J.A.F. 2013. Modelos Ecológicos e a Extinção da Megafauna: Clima e Homem na América do Sul. Editora Cubo, São Carlos. 2 Orlando, L.; Male, D.; Alberdi, M., Prado, J.; Prieto, A.; Cooper, A. e Hänni, C. 2008. Ancient DNA Clarifies the Evolutionary History of American Late Pleistocene Equids. Journal of Molecular Evolution 66 p. 533-538.
  • 183. CURRÍCULOS EDITORES Omara Lange [email protected] Bióloga, com especialização em Ecologia, em Projetos Sociais e Culturais e Mestra em Zootecnia (Plantas Forrageiras) pela UFRGS. Com formação em Fotografia, Design e Acessibilidade, trabalha associada aos laboratórios de Ecologia Quantitativa e Ecologia Vegetal no Centro de Ecologia da UFRGS, apoiando a diversos grupos de pesquisa. Seu foco de atuação é a promoção e organização de eventos e produção de materiais educacionais para difusão científica e cultural. Valério De Patta Pillar [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Zootecnia (Plantas Forrageiras) pela UFRGS e Doutor em Plant Sciences pela University of Western Ontario, Canadá. Professor titular do Departamento de Ecologia da UFRGS e pesquisador do CNPq. Atua em pesquisa em Ecologia Quantitativa e biodiversidade, com ênfase nos Campos do Sul do Brasil, efeitos de fogo e manejo pastoril, padrões funcionais, e métodos de análise multivariada. Presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (ABECO) e editor-chefe do Journal of Vegetation Science.
  • 184. COLABORADORES Alan Bolzan [email protected] Biólogo pela UFRGS. Desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso em Ecologia de mamíferos no Pantanal. Tem experiência com mamíferos de médio e grande porte, atua como consultor ambiental em inventários e monitoramentos de fauna. Ana Zannin [email protected] Bióloga pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestre em Botânica pela UFRGS, Doutora em Ciências pela USP. Professora associada da UFSC. Temas de pesquisa: Monocotiledôneas, Poaceae, Florística de formações campestres nativas de Santa Catarina. Anaclara Guido [email protected] Bióloga pela Universidad de la República, Uruguai. Mestra em Biodiversidade e Conservação do Medio Natural, Universidad de Santiago de Compostela, Doutoranda em Ecologia na UFRGS. Temas de interesse: Ecologia de comunidades campestres, Ecologia de plantas exóticas. André Luís Luza [email protected] Biólogo, Mestre e Doutorando em Ecologia pela UFRGS. Área de atuação: Ecologia Funcional e Filogenética de comunidades, Processos ecológicos moldando padrões de diversidade, Distribuição e Evolução de Mamíferos em Ecossistemas Campestres e Florestais. Andressa Iop [email protected] Graduada em Moda pelo Centro Universitário de Jaraguá do Sul, SC, e Pós-graduada em Moda: Gestão e Marketing pelo SENAC. Atua como Estilista e Ilustradora Freelance. Bethânia Oliveira Azambuja [email protected] Bióloga pela UFSM, Mestra e Doutora em Ecologia pela UFRGS. Com experiência em Ecologia de comunidades e interações animal- planta, pesquisa principalmente os efeitos da fragmentação e manejo de ecossistemas sobre a diversidade de espécies. Bolsista DTI-B no projeto PPBio – Rede Campos Sulinos. Bianca Ott Andrade [email protected] Bióloga, Mestra em Engenharia Florestal pela UFPR, Doutora em Ciências com ênfase em Botânica pela UFRGS. Bolsista Pós Doc no PPG Botânica da UFRGS. Realiza pesquisa em Ecologia de comunidades, com interesse especial em vegetação campestre, relação solo-vegetação e questões de conservação e recuperação ambiental. Bruna Raquel Winck [email protected] Engenheira Agronômica pela UNEMAT, Mestra em Ciência do Solo pela UFPR, Doutoranda no PPG em Ciência do Solo da UFRGS. Camila Fagundes Dias [email protected] Bióloga pela Universidade Luterana do Brasil, Mestranda no PPG em Ecologia da UFRGS. Área de interesse: Efeitos de distúrbios sobre as comunidades de artrópodos em áreas campestres. Carla Suertegaray Fontana [email protected] Bióloga, Doutora em Zoologia. Professora do PPG em Zoologia e curadora da Coleção de Aves e Mamíferos do Museu de Ciências e Tecnologia na PUCRS. Estuda a Auto Ecologia das Aves com interesse em Conservação de Espécies. Carlos Hugo Rocha Engenheiro Agrônomo, Pós-graduado no Warner College of Natural Resources, Mestre em Agronomia na UFRGS. Professor na Engenharia Agrícola na UEPG. Área de interesse: Ecologia da
  • 185. Paisagem, Conservação da Natureza, Agroecologia, Agricultura familiar, Desenvolvimento rural sustentável, Planejamento ambiental, Manejo adaptativo e colaborativo dos recursos naturais. Carolina Blanco [email protected] Bióloga, Mestra e Doutora em Ecologia pela UFRGS. Atua em modelagem de padrões e processos vegetacionais em ecossistemas campestres e florestais associados a distúrbios como fogo e pastejo, diversidade de espécies e diversidade funcional. Cassiano Eduardo Pinto [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Zootecnia pela UFRGS, pesquisador da Estação Experimental de Lages (EPAGRI). Trabalha com produção animal em pastagens, fisionomia e manejo de pastagens naturais. Busca tornar a pecuária de corte em pastagens naturais uma atividade sustentável no Planalto Catarinense. Christian Beier [email protected] Biológico pela UNIJUÍ, Mestrando do PPG em Zoologia da PUCRS. Atua na área de Ornitologia com ênfase em Aves Campestres. Cláudio Marques Ribeiro [email protected] Engenheiro Agrônomo pela Universidade da Região da Campanha de Bagé, Mestre em Administração e Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal de Lavras, MG, Doutor em Desenvolvimento Rural pela UFRGS. Professor da UNIPAMPA Campus Dom Pedrito. Christian Borges Andretti [email protected] Biólogo pela UCPEL, Mestre em Ecologia pelo INPA, Doutorando no PPG em Zoologia da PUCRS. Possui experiência em Avifauna Neotropical, concentrando seus trabalhos em Efeitos do uso da terra sobre a diversidade de aves e taxonomia e biogeografia de aves neotropicais. Diogenes Borges Machado [email protected] Biólogo pelo Centro Universitário La Salle. Mestre em Ecologia pela UFRGS. Consultor ambiental, especialista em Ornitologia. Demétrio Xavier [email protected] Músico, formado em Ciências Sociais pela UFRGS. Há trinta anos pesquisa e interpreta o cancioneiro crioulo platino, em especial a obra do argentino Atahualpa Yupanqui. Atua no Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina. Desde 2011, conduz na FM Cultura o programa Cantos do Sul da Terra, focado na Música, Literatura, História e Antropologia do sul do continente. Demetrio Luis Guadagni [email protected] Biólogo, Professor e Pesquisador vinculado ao Departamento de Ecologia da UFRGS, onde desenvolve pesquisas em conservação de aves aquáticas e áreas úmidas e manejo de recursos naturais renováveis, espécies invasoras e áreas protegidas. Eduardo Vélez-Martin [email protected] Biólogo, Mestre e Doutor em Ecologia pela UFRGS. Possui experiência em gestão ambiental e políticas públicas na área de meio ambiente. Atua em projetos de pesquisa na área de Ecologia de comunidades vegetais e em iniciativas de conservação da biodiversidade nos biomas Pampa e Mata Atlântica. Élen Nunes Garcia [email protected] Engenheira Agrônoma, Mestra em Zootecnia (Plantas Forrageiras), Doutora em Botânica pela UFRGS. Professora Adjunta no Departamento de Botânica da UFPEL, atua na área de Ecologia de comunidades vegetais campestres. Eliege Maria Fante [email protected] Jornalista e Mestra em Comunicação e Informação pelo PPGCOM
  • 186. da UFRGS. Integra o Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). Assessora de comunicação da Rede Campos Sulinos, interessada em Jornalismo e Ecologia. Émerson Mendes Soares [email protected] Médico Veterinário, Mestre em Zootecnia e Doutorando em Zootecnia pela UFSM. Área de Interesse principal: Recria de Novilhas de Corte em Pastagens Naturais e Cultivadas e uso de Sistemas Alimentares para recria de Novilhas. Fábio Piccin Torchelsen [email protected] Biólogo pela UCPEL, Mestre em Biologia (Manejo e Conservação da Vida Silvestre) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Doutorando no PPG em Botânica da UFRGS. Felipe Secco Richter [email protected] Biólogo pela PUCRS. Área de atuação e interesse: Ecologia vegetal de floresta e campestre, processos ecológicos de espécies vegetais campestres invasoras, Ecologia de comunidades. Fernanda Zimmermann Teixeira [email protected] Bióloga, Mestra em Ecologia, Doutoranda em Ecologia pela UFRGS, interessada em Ecologia aplicada, conservação e impacto de rodovias. Fernando Luiz Ferreira de Quadros [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor em Zootecnia, estágio Pós Doc INRA, França. Professor da UFSM e colaborador em projetos da EMBRAPA, FEPAGRO e UFRGS, pesquisa em Ecologia e manejo de pastagem natural. Atuando nos temas: produção animal e dinâmica de pastagens naturais, relações solo, planta, animal. Fernando Marques Quintela [email protected] Biólogo e Mestre em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais pela Fundação Universidade de Rio Grande (FURG), Doutor em Biologia Animal pela UFRGS. Bolsista de Pós Doc no PPG em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais na FURG. Desenvolve pesquisa em sistemática e Ecologia de mamíferos e répteis. Gabriel Selbach Hofmann [email protected] Geógrafo pela UFRGS, Mestre e Doutor em Ecologia pela UFRGS. Bolsista de Pós Doc e Professor colaborador do PPG em Avaliação de Impactos Ambientais, Centro Universitário La Salle. Desenvolve Pesquisas relacionadas a Bioclimatologia e Ecologia de Paisagem. Gerhard Ernest Overbeck [email protected] Engenheiro Ambiental e Doutor em Ecologia. Professor no Departamento de Botânica da UFRGS. Nas suas pesquisas, busca entender a dinâmica e diversidade da vegetação dos Campos Sulinos, a fim de contribuir para a base científica da conservação e restauração dos campos. Gislene Lopes Gonçalves [email protected] Bióloga, Mestra em Zoologia e Doutora em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS. Pesquisadora colaboradora do PPG em Genética e Biologia Molecular da UFRGS. Bolsista Pós Doc interessada em Biodiversidade ao nível Filogenético, e padrões e processos evolutivos envolvidos na diferenciação de espécies e populações animais. Glayson Ariel Bencke [email protected] Biólogo, Mestre em Zoologia. Pesquisador do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (MCN–FZB/RS). Especialista em Ornitologia. Colaborador da iniciativa internacional Alianza del Pastizal para a
  • 187. Conservação e Uso Sustentável dos Campos Naturais em propriedades privadas do bioma Pampa. Grasiela Casas [email protected] Bióloga pela Univille, Mestra e Doutoranda em Ecologia pela UFRGS. Têm experiência na área de Ecologia, com ênfase em comunidades de aves e redes de interação planta-ave em mosaicos floresta-campo. Graziela Dotta [email protected] Bióloga e Mestra em Ecologia de Agroecossistemas pela USP, Doutora em Zoologia pela Universidade de Cambridge. Atualmente Bolsista Pós Doc no Laboratório de Ornitologia do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS. Têm experiência em Ecologia e Zoologia com ênfase em conservação da Biodiversidade aliada à produção agrícola, trabalha com diversos grupos de organismos com destaque para as aves. Heinrich Hasenack [email protected] Geógrafo, Mestre em Ecologia pela UFRGS. Professor do Departamento de Ecologia e Geógrafo no Centro de Ecologia (IB-UFRGS). Tem interesse nas áreas de Biogeografia, Climatologia e Sistema de Informação Geográfica. Atualmente desenvolve pesquisas com Mapeamento de Vegetação e Uso da Terra e Desenvolvimento de WebGIS. Igor Pfeifer Coelho [email protected] Biólogo e Mestre em Ecologia pela UFRGS, Doutorando em Ecologia UFRGS. Área de interesse: Ecologia Aplicada. Ilsi Iob Boldrini [email protected] Graduada em História Natural, Mestra em Taxonomia e Doutora em Zootecnia pela UFRGS. Professora Titular do Departamento de Botânica da UFRGS. Atua na graduação e pós-graduação, onde orienta estudantes de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, ênfase em Taxonomia Vegetal de Angiospermas e Fitossociologia de Vegetação Campestre. LAURA HAFFNER [email protected] Graduada em Design Visual pela UFRGS. Cursou um ano da graduação (2012–2013) pelo programa Ciência sem Fronteiras na University of the Arts London. Atualmente é designer gráfica do Roka Estúdio, onde desenvolve projetos de design editorial e de identidade visual. Laura Verrastro [email protected] Bióloga pela Universidad de La República Oriental Del Uruguay, Mestra em Ecologia pela UFRGS, Doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSC. Professora na Zoologia da UFRGS, atua na graduação e pós-graduação, em nível de Mestrado e Doutorado. Com linha de pesquisa em Herpetologia com ênfase em História Natural, Biologia e Ecologia, principalmente de lagartos. Coordenadora do Curso de Especialização em Inventariamento e Monitoramento de Fauna. Leandro Bittencourt de Oliveira [email protected] Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciências do Solo, Doutor em Zootecnia, Pesquisa em Química, fertilidade e adubação de solos sob pastagens naturais. Pesquisa em crescimento e adaptação de espécies nativas de plantas, produção animal e dinâmica de pastagens e relações solo, planta e animal. Leonardo João Crestani [email protected] Biólogo pela Universidade de Passo Fundo (UPF) atua em Consultoria e Licenciamento Ambiental, com ênfase em Mastozoologia e Ornitologia. Letícia Dadalt [email protected] Bióloga, Mestra em Ecologia pela UFRGS, Doutoranda em
  • 188. Ecologia na UFRGS. Atua principalmente nas áreas de Ecologia Vegetal, Biogeografia e Macroecologia. Luciana Regina Podgaiski [email protected] Bióloga pela UNISINOS. Mestra e Doutora em Ecologia pela UFRGS. Bolsista Pós Doc. Desenvolve pesquisas sobre os efeitos do uso da terra em invertebrados terrestres e processos ecossistêmicos nos Campos Sulinos. Luiz Carlos Tau Golin [email protected] Jornalista e historiador, Doutor em História pela PUCRS, com Pós Doc pela Universidade de Lisboa. Professor-pesquisador da UPF (Graduação e Pós-Graduação em História). Desenvolve pesquisas sobre a formação da América meridional, com diversas publicações sobre os conflitos geopolíticos e as Missões. Luiza Chomenko [email protected] Bióloga e Mestra em Ecologia pela UFRGS, com Especialização e Doutorado em Biogeografia na Universitat der Saarland na Alemanha. Pesquisadora do MCN–FZB/RS, atua em Ecologia associada a projetos em nível Regional, Nacional e Internacional, nos temas: Avaliação e gestão ambiental, análise de impactos ambientais, planejamento ambiental, divulgação e EA, Biodiversidade e desenvolvimento sustentável e Biossegurança. Marcelo Machado Madeira [email protected] Ecólogo pela UNESP/Rio Claro, Mestre em Ecologia pela UFRGS. Analista ambiental do IBAMA no Rio Grande do Sul com atuação no tema das Políticas Públicas voltadas à conservação e uso sustentável dos campos nativos, em especial do bioma Pampa. Márcio Borges Martins [email protected] Biólogo pela UFRGS e Doutor em Zoologia pela PUCRS. Professor de Zoologia nos cursos de Graduação em Ciências Biológicas e Pós-graduado em Biologia Animal da UFRGS. Desenvolve atividades de pesquisa e extensão com ênfase na Conservação e Descrição da diversidade de anfíbios e répteis do Sul do Brasil. Mariana de Souza Vieira [email protected] Bióloga pela PUCRS, Mestra e Doutoranda em Botânica pela UFRGS. Interessada em: restauração, conservação, vegetação campestre. Marta Regina Barrotto do Carmo [email protected] Bióloga pela UEL, Mestre e Doutora em Biologia Vegetal pela UNESP-Rio Claro. Professora Adjunta do Departamento de Biologia Geral da UEPG. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em Ecologia Vegetal, atuando principalmente em: Florística, Fitossociologia, Regeneração e Conservação. Milton de Souza Mendonça Junior [email protected] Biólogo e Mestre em Biologia Animal pela UFRGS, Doutor em Ciências pelo Imperial College de Londres, Reino Unido. Professor associado no Departamento de Ecologia da UFRGS. Murilo Zanini David [email protected] Graduando em Ciências Biológicas pela UFRGS. Bolsista do Laboratório de Ecologia de Interações na Ecologia da UFRGS. Paula Angélica Roratto [email protected] Bióloga e Mestra em Biodiversidade Animal pela UFSM, Doutora em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS. Professora temporária de Genética na FURB. Interessada em Biologia Molecular, Filogeografia e Genética de Populações. Rafael Engelman Machado [email protected] Biólogo pela PUCRS, Mestre e Doutor pela Ecologia da UFRGS,
  • 189. bolsista Pós Doc Atua nas áreas de: Ecologia aplicada com ênfase em Ecologia de espécies invasoras e restauração de ambientes degradados. Rafael Trevisan [email protected] Graduado em Ciências Biológicas pela UFSM, Mestre e Doutor em Botânica pela UFRGS. Professor Adjunto da UFSC, atuando principalmente em taxonomia de Cyperaceae e Biodiversidade da Vegetação dos Campos do Brasil Subtropical. Raíssa de Deus Genro [email protected] Jornalista pela PUCRS e radialista com atuação em jornalismo ambiental com interesse por temas socioambientais, políticos e culturais. RAQUEL CASTEDO [email protected] Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Mestra e doutoranda em Comunicação e Informação pela UFRGS. Atua como professora de Design e Produção Gráfica na PUCRS. Diretora de Design do Roka Estúdio, empresa especializada em publicações e identidades visuais, com diversos prêmios nacionais. Ronai Pires da Rocha [email protected] Licenciado em Filosofia, Doutor em Filosofia pela UFRGS. Professor Adjunto no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) nas áreas de Filosofia da Linguagem e Epistemologia. Dedica-se também à fotografia de natureza. Ronei Baldissera [email protected] Biólogo pela UNISINOS, Mestre e Doutor em Ecologia pela UFRGS. Professor titular na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Atua no estudo de padrões e processos que estruturam as comunidades biológicas em nível local e regional. Rosemeri Segecin Moro [email protected] Pós Doc em Conservação da Natureza pela UFPR. Professora- pesquisadora senior do PPG em Geografia da UEPG. Atua na área de Ecologia de Paisagem, com foco na dinâmica da vegetação entre mosaicos de campo e floresta na Floresta com Araucária. Samanta Iop [email protected] Bióloga pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Mestra e Doutora em Biodiversidade Animal pela UFSM. Integrante do Laboratório de Herpetologia da UFSM. Sandra Cristina Müller [email protected] Bióloga, Mestra em Botânica e Doutora em Ecologia pela UFRGS. Professora do Departamento de Ecologia da UFRGS. Trabalha com Ecologia de Florestas e Campos, com enfoque em composição, diversidade e funcionalidade das espécies e suas relações com o ambiente e distúrbios. Também desenvolve pesquisas com Restauração Ecológica de áreas degradadas. Sandra Maria Hartz [email protected] Bióloga, Mestra pela UFRGS, Doutora em Ecologia pela UFSC. Professora e coordenadora do PPG em Ecologia da UFRGS, atua em projetos de Ecologia de comunidades nos biomas Pampa e Mata Atlântica, tanto em ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Santiago (Neltair REBBES Abreu) [email protected] Profissional do cartum, ilustracão e história em quadrinhos. Começou na Folha da Tarde de Porto Alegre, onde vive. Atuou no Pasquim, Coojornal, Correio do Povo, Jornal do Comércio de Porto Alegre, O Estado de S. Paulo, revista Bundas, O Pasquim 21, Le Monde Diplomatique Brasil. Tem mais de 15 livros de humor gráfico publicados, sendo premiado no Brasil e exterior.
  • 190. Sérgio Augusto de Loreto Bordignon [email protected] Biólogo pela UFSM, Mestre em Botânica e Doutor em Ciências Farmacêuticas pela UFRGS. Professor no UNILASALLE, na Graduação em Biologia e no Pós-Graduação de Avaliação de Impactos Ambientais. Pesquisa a Flora do RS, com ênfase nas Lamiaceae e Hypericaceae. Colaborador em pesquisas com Fitoquímicos, Florísticos, Interações ecológicas e Palinologia do Quaternário. Sonia Zanini Cechin [email protected] Bióloga pela UFSM, Doutora em Zoologia pela PUCRS. Professora da UFSM e do PPG em Biodiversidade Animal da UFSM. Atua nos temas: Biologia, Comunidades, Serpentes, Lagartos, Anuros e Girinos. Diretora do Centro de Ciências Naturais e Exatas da UFSM. Suiane Santos Oleques [email protected] Bióloga pela UFPampa, Mestranda pelo PPG de Botânica da UFRGS. Atualmente desenvolve pesquisa sobre Redes de Interação planta-polinizador em comunidade campestre, também atua em pesquisas sobre interações inseto-planta e biologia reprodutiva de plantas. Tatiane Noviski Fornel [email protected] Bióloga, Mestra em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS. Professora na Escola Estadual de Ensino Médio Rondônia e na Escola Básica da URI-Erechim. Tiago Gomes dos Santos [email protected] Biólogo pela UFSM, Mestre em Biologia Animal, Doutor e Pós Doc em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professor da UniPampa de São Gabriel, onde coordena o curso de Ciências Biológicas e é professor no PPG em Biodiversidade Animal da UFSM. Tiago Shizen Pacheco Toma [email protected] Biólogo pela UFV e Mestre em Ecologia pela UFRGS, Doutorando na Ecologia da UFRGS. Tem interesse em estudos sobre interações inseto-planta e sua aplicabilidade na avaliação e monitoramento de ecossistemas em processo de restauração ecológica. Thaiane Weinert da Silva [email protected] Bióloga pela UCS, Mestra em Zoologia pela PUCRS, Doutoranda do PPG em Zoologia da PUCRS. Área de interesse voltada à Conservação de aves campestres e influência do uso e manejo do solo sobre as mesmas. Thilanka Perera [email protected] Fotógrafo e cinegrafista especializado em Natureza e Vida Selvagem do Sri Lanka. Colaborador em diversos projetos Conservacionistas Mundiais. Vinicius Bastazini [email protected] Biólogo pela UCPel, Mestre e Doutorando em Ecologia pela Ecologia da UFRGS. Tem experiência em Ecologia, Biogeografia, Biologia da Conservação e Redes Complexas, e interesse principal na compreensão de como processos Ecológicos e Evolutivos determinam os padrões de diversidade e interações biológicas. Vinícius Matheus Caldart [email protected] Biólogo pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Mestre e Doutor em Biodiversidade Animal pela UFSM. Atualmente integra o Laboratório de Herpetologia da UFSM. William Dröse [email protected] Biólogo pela UFPEL, Mestre em Biologia Animal pela UFRGS, Doutorando em Biologia Animal pela UFRGS. Desenvolve pesquisas na área de Ecologia de Comunidades de Formigas.
  • 194. Este livro foi composto com as famílias tipográficas Meta Seriff e Corbel por Roka Estúdio, e conta com vinhetas do ilustrador Santiago. Foi impresso em papel couché 150g/m2 pela Gráfica da UFRGS, em maio de 2015, Porto Alegre, RS.