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«O sentimento
dum ocidental»
Claude Monet, Gare Saint-Lazare (1877).
E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem…
«O sentimento dum ocidental» —
primavera de 1880.
I. Ave-Marias
II. Noite fechada
III. Ao gás
IV. Horas mortas
Momentos em
que está dividido
o poema /
a descrição da
«Triste cidade!»
Seis da tarde
Noite profunda
Escuridão
Iluminação a gás
I . Ave-Marias
• Espaço
• Altura do dia
«Nas nossas ruas» (Lisboa)
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absurdo de sofrer»
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que o eu lírico regista
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de sofrer»
As «nossas ruas» O «mundo»
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• O gás — enjoa e perturba
• Os edifícios e a turba — são
de cor monótona e londrina
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«[…] os que
se vão. Felizes!»
I . Ave-Marias
«E evoco, então, as crónicas navais […]»
«Luta Camões no Sul, salvando um livro, a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!»
I. Ave-Marias
Impossibilidade
de repetir
a epopeia
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Desencanto
e regresso
ao presente
Sensações
— visuais, auditivas e olfativas —
captadas em deambulação:
• Tinir de louças
• Hotéis que flamejam
• O rio que reluz, viscoso
• Os dentistas que arengam
• As varinas hercúleas
• O cheiro do peixe pobre
Descrição das varinas
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«E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.»
«Vêm sacudindo as ancas opulentas!
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Comparação
Anteposição da qualidade
à designação do objeto
Comiseração
do sujeito poético:
«E algumas, à cabeça,
embalam nas canastras /
Os filhos que depois
naufragam nas tormentas.»
I. Ave-Marias
Metáfora Adjetivação
Edward Munch,
Trabalhadores
a caminho de casa
(1913).
II. Noite fechada
«iluminam-se
os andares»
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descrição da prisão (sentido literal)
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«Toca-se às grades,
nas cadeias»
Passagem para um
sentido metafórico:
a realidade aprisiona o eu lírico
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«Muram-me as construções»
O eu lírico continua
a evocação — aventura-se
pela História e emociona-se:
«Chora-me o coração que
se enche e que se abisma.»
• As igrejas lembram um «inquisidor severo»
• Os quartéis lembram conventos
• Nova referência a Camões
Vítor Bastos, Monumento a Camões
(Praça Luís de Camões, Lisboa, 1867).
«Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutroraascende, num pilar!»
«épico doutrora»:
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Símbolo da epopeia só possível
como memória — irrepetível
(No poema «Contrariedades»,
Cesário fala numa «epopeia morta»)
O eu lírico descreve
a realidade através de uma
«luneta de uma lente só»
Visão pessoal
+
descrição crítica
É na realidade que encontra assunto:
«Eu acho sempre assunto a quadros revoltados»
Descrição da
«Triste cidade!»
• Soldados sombrios e espectrais
• Oposição entre o palácio e o casebre
• Contraste entre as elegantes que se curvam
nas montras e as que vivem do trabalho
II. Noite fechada
III. Ao gás
«A noite pesa, esmaga»
Acentua-se a ideia de
aprisionamento/clausura:
«Cercam-me as lojas, tépidas»
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A cidade está iluminada pela luz
artificial dos candeeiros a gás
Edvard Munch, Noite estrelada (1893).
A cidade é descrita
como espaço impuro
• Espaço da doença
— o hospital como metonímia —
e da prostituição
• Espaço em que o espírito
consumista começa a imperar
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Impureza da cidade
≠
Honestidade do trabalho
(representada no «cheiro
salutar e honesto do pão»)
III. Ao gás
«E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem»
• Reencontra o velho professor de latim:
«Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de latim!»
III. Ao gás
Síntese da intenção
do eu lírico
(conceção poética):
fazer uma poesia
de análise e crítica
à sociedade
Simboliza, no seio
de uma sociedade onde
o luxo se amontoa,
o desprezo pela cultura
e pelo saber
• Retrata espaços associados ao consumismo
e à burguesia:
«Casas de confeções e modas»;
«luxo […] / que ao longo dos balcões
de mogno se amontoa»
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Noite profunda
Luz baça das estrelas:
«Vêm lágrimas de luz
dos astros com olheiras»
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• Registo de sensações
visuais e auditivas:
 «lágrimas de luz»
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• Desejo de evasão:
«Enleva-me a quimera azul
de transmigrar»
• Alusão a um ambiente pastoril:
«As notas pastoris de uma longínqua flauta»
• Desejo de perfeição e imortalidade:
«Se eu não morresse nunca […]»
• Nova evocação do passado português
(«frotas dos avós»), aliada ao desejo
de restaurar a grandeza no «porvir»
explorando «todos os continentes»
IV. Horas mortas
Realidade — Presente — As «nossas ruas» Sonho — O porvir — A vastidão
• O aprisionamento
|
• A estagnação
• A vastidão por explorar
|
• O dinamismo e a procura
Dicotomia (repetição) espacial e temporal:
A cidade é
o espaço da
«dor humana»
IV. Horas mortas
«triste cidade»
• sem liberdade:
onde vivem os «emparedados»,
«sem árvores», no «vale das muralhas»
• violenta e decadente:
onde «os cães [doentes] parecem lobos»
Ideias que
prevalecem
na conclusão
do poema
Recursos expressivos e linguagem
Metáfora
«Que grande cobra»
«cardume negro»
Hipálage
«Um cheio salutar e honesto a pão»
«E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos»
Adjetivação «hercúleas, galhofeiras»
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Comparação «Como morcegos»
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Utilização de verbos e advérbios que traduzem os efeitos opressivos do ambiente:
• «A noite pesa, esmaga» (verbos);
• «Cercam-me as lojas» (verbo);
• «Amareladamente, os cães» (advérbio).
Dimensão impressionista:
• Centralidade das sensações visuais, auditivas e olfativas
(«a maresia»: «tinir de louças»; «reluz, viscoso, o rio»; «cheiro […] a pão»).

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  • 1. «O sentimento dum ocidental» Claude Monet, Gare Saint-Lazare (1877).
  • 2. E eu que medito um livro que exacerbe, Quisera que o real e a análise mo dessem… «O sentimento dum ocidental» — primavera de 1880.
  • 3. I. Ave-Marias II. Noite fechada III. Ao gás IV. Horas mortas Momentos em que está dividido o poema / a descrição da «Triste cidade!» Seis da tarde Noite profunda Escuridão Iluminação a gás
  • 4. I . Ave-Marias • Espaço • Altura do dia «Nas nossas ruas» (Lisboa) «ao anoitecer» Sentimentos  Melancolia Soturnidade Náusea Seis da tarde Provocam o «desejo absurdo de sofrer»
  • 6. Desejo associado ao espaço e às sensações que o eu lírico regista «desejo absurdo de sofrer» As «nossas ruas» O «mundo» Presente angustiante e melancólico Passado grandioso e heroico • O gás — enjoa e perturba • Os edifícios e a turba — são de cor monótona e londrina • As edificações — são como gaiolas Dicotomia espacial e temporal: Recordação de um passado glorioso Felicidade dos que partem: «[…] os que se vão. Felizes!» I . Ave-Marias
  • 7. «E evoco, então, as crónicas navais […]» «Luta Camões no Sul, salvando um livro, a nado! Singram soberbas naus que eu não verei jamais!» I. Ave-Marias Impossibilidade de repetir a epopeia  Desencanto e regresso ao presente Sensações — visuais, auditivas e olfativas — captadas em deambulação: • Tinir de louças • Hotéis que flamejam • O rio que reluz, viscoso • Os dentistas que arengam • As varinas hercúleas • O cheiro do peixe pobre
  • 8. Descrição das varinas  «E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas.» «Vêm sacudindo as ancas opulentas! Seus troncos varonis recordam-me pilastras;» Comparação Anteposição da qualidade à designação do objeto Comiseração do sujeito poético: «E algumas, à cabeça, embalam nas canastras / Os filhos que depois naufragam nas tormentas.» I. Ave-Marias Metáfora Adjetivação
  • 10. II. Noite fechada «iluminam-se os andares»  A escuridão adensa-se Estrofes 1 e 2: descrição da prisão (sentido literal)  «Toca-se às grades, nas cadeias» Passagem para um sentido metafórico: a realidade aprisiona o eu lírico  «Muram-me as construções» O eu lírico continua a evocação — aventura-se pela História e emociona-se: «Chora-me o coração que se enche e que se abisma.» • As igrejas lembram um «inquisidor severo» • Os quartéis lembram conventos • Nova referência a Camões
  • 11. Vítor Bastos, Monumento a Camões (Praça Luís de Camões, Lisboa, 1867). «Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras, Um épico doutroraascende, num pilar!» «épico doutrora»: Camões como símbolo  Símbolo da epopeia só possível como memória — irrepetível (No poema «Contrariedades», Cesário fala numa «epopeia morta»)
  • 12. O eu lírico descreve a realidade através de uma «luneta de uma lente só» Visão pessoal + descrição crítica É na realidade que encontra assunto: «Eu acho sempre assunto a quadros revoltados» Descrição da «Triste cidade!» • Soldados sombrios e espectrais • Oposição entre o palácio e o casebre • Contraste entre as elegantes que se curvam nas montras e as que vivem do trabalho II. Noite fechada
  • 13. III. Ao gás «A noite pesa, esmaga» Acentua-se a ideia de aprisionamento/clausura: «Cercam-me as lojas, tépidas»  A cidade está iluminada pela luz artificial dos candeeiros a gás Edvard Munch, Noite estrelada (1893).
  • 14. A cidade é descrita como espaço impuro • Espaço da doença — o hospital como metonímia — e da prostituição • Espaço em que o espírito consumista começa a imperar Toulouse-Lautrec, Prostitutas (1895). Impureza da cidade ≠ Honestidade do trabalho (representada no «cheiro salutar e honesto do pão») III. Ao gás
  • 15. «E eu que medito um livro que exacerbe, Quisera que o real e a análise mo dessem» • Reencontra o velho professor de latim: «Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso, Meu velho professor nas aulas de latim!» III. Ao gás Síntese da intenção do eu lírico (conceção poética): fazer uma poesia de análise e crítica à sociedade Simboliza, no seio de uma sociedade onde o luxo se amontoa, o desprezo pela cultura e pelo saber • Retrata espaços associados ao consumismo e à burguesia: «Casas de confeções e modas»; «luxo […] / que ao longo dos balcões de mogno se amontoa»  «Mas tudo cansa!»
  • 16. Noite profunda Luz baça das estrelas: «Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras» (metáfora e personificação) • Registo de sensações visuais e auditivas:  «lágrimas de luz»  «Um parafuso cai nas lajes» • Desejo de evasão: «Enleva-me a quimera azul de transmigrar» • Alusão a um ambiente pastoril: «As notas pastoris de uma longínqua flauta» • Desejo de perfeição e imortalidade: «Se eu não morresse nunca […]» • Nova evocação do passado português («frotas dos avós»), aliada ao desejo de restaurar a grandeza no «porvir» explorando «todos os continentes» IV. Horas mortas
  • 17. Realidade — Presente — As «nossas ruas» Sonho — O porvir — A vastidão • O aprisionamento | • A estagnação • A vastidão por explorar | • O dinamismo e a procura Dicotomia (repetição) espacial e temporal: A cidade é o espaço da «dor humana» IV. Horas mortas «triste cidade» • sem liberdade: onde vivem os «emparedados», «sem árvores», no «vale das muralhas» • violenta e decadente: onde «os cães [doentes] parecem lobos» Ideias que prevalecem na conclusão do poema
  • 18. Recursos expressivos e linguagem Metáfora «Que grande cobra» «cardume negro» Hipálage «Um cheio salutar e honesto a pão» «E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos» Adjetivação «hercúleas, galhofeiras» Sinestesia «Reluz, viscoso, o rio» Comparação «Como morcegos»
  • 19. Recursos expressivos e linguagem Utilização de verbos e advérbios que traduzem os efeitos opressivos do ambiente: • «A noite pesa, esmaga» (verbos); • «Cercam-me as lojas» (verbo); • «Amareladamente, os cães» (advérbio). Dimensão impressionista: • Centralidade das sensações visuais, auditivas e olfativas («a maresia»: «tinir de louças»; «reluz, viscoso, o rio»; «cheiro […] a pão»).