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A estrutura
psicótica
Profa. Ma. Débora Damacena de Andrade
O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
● Freud realiza uma Leitura psicanalítica da autobiografia escrita pelo
Presidente Schreber.
● A análise deste livro revela o desenrolar da formação de um engenhoso
sistema delirante que caracteriza a estrutura psicótica.
● A história clínica de Schreber é marcada por três crises que culminaram
em sua internação em três hospitais psiquiátricos.
● Núcleo de seu delírio: era a certeza de que seu próprio corpo estava
sendo manipulado e transformado em um corpo feminino.
● Seu desenvolvimento primário possui grande conotação persecutória,
referida ao risco iminente de sofrer abuso sexual; mas gradativamente,
passou a adquirir um caráter místico, a serviço de altos desígnios,
tornando-se um delírio religioso de grandeza.
● Sistema delirante: acredita que é
o redentor da humanidade, cuja
missão deveria ser redimir o
mundo e reconduzi-lo ao suposto
estado perdido de beatitude.
● A concepção freudiana do delírio
psicótico desloca a importância
do aspecto patológico, passando
a ressaltar seu caráter de
tentativa espontânea de
restabelecimento
● Ao seu médico, atribuiu,
inicialmente, o papel de
perseguidor, de “assassino de
alma”, porém, mais tarde, esse
papel foi atribuído a Deus.
● A nova configuração do delírio
não expressa o agravamento
do conflito, trata-se muito mais
de uma solução apaziguadora.
O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
Narcisismo:
● Diante de uma frustração na relação do sujeito com o
mundo externo, ocorre o desligamento da libido de seus
objetos. A megalomania psicótica representa a elaboração
da libido que retorna ao eu, da mesma forma que, na
neurose, a libido liberada é transferida para os objetos
fantasísticos.
● A paranoia consistiria em uma frustração no campo do ideal
do eu - o complexo paterno.
O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
Narcisismo:
● Ideal do eu: agente crítico que observa o eu ideal, constituído
como herdeiro do narcisismo dos pais que amam “sua
majestade o bebê” como um dia foram amados. Como
suporte identificatório agenciado pela função paterna, é um
poderoso fator na instauração do recalque das pulsões na
constituição subjetiva.
● Na psicose, a função desempenhada pelo ideal do eu e,
portanto, pelo pai, não é simbolicamente internalizada pelo
sujeito psicótico como o é na neurose, fato decisivo para a
distinção entre as duas estruturas.
O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
Narcisismo:
● O ideal do eu aparece regressivamente como outro hostil,
que o vigia e persegue. Os delírios e as alucinações
psicóticas nas parafrenias e na paranoia são definidos mais
uma vez como “uma tentativa de recuperação, destinada a
conduzir a libido de volta aos objetos”
Mecanismo de defesa: o delírio (fantasia vivida como realidade)
se constrói devido a um não compromisso com a realidade. O
problema da psicose é um problema de identidade, pois é
anterior a distinção entre Eu e Outro e, por isso, a angústia do
psicótico se constitui como o despedaçamento.
O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
● Diferença: a neurose resulta dos
conflitos entre o eu e o isso,
enquanto a psicose diz respeito às
dificuldades na relação entre o eu
e o mundo externo.
● Em ambos os casos há uma perda
na relação do eu sujeito com a
realidade; porém os mecanismos
e as consequências desse
afastamento da realidade são
diferentes
● Tanto a neurose quanto a psicose
traduzem o fracasso do eu em
conciliar as exigências pulsionais e
as da civilização, relativas às
frustrações que marcam a vida
infantil.
● A partir da 2ª Tópica, teamos a
noção de que Eu se esforça para
atender as vontades do isso e do
supereu.
A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE
A perda da realidade na neurose
Na neurose, o eu, através do recalque, suprime a pulsão oriunda do isso.
Assim, o neurótico se distancia de um fragmento da realidade e a
particularidade patológica de cada neurose encontra-se nos processos
que fornecem uma compensação substitutiva à parte danificada do isso.
Esta é a definição do retorno do recalcado mediante o fracasso do
recalque, a partir da qual depreendemos o mecanismo dos sintomas
neuróticos e das demais formações do inconsciente.
A perda da realidade na psicose
Na contrapartida do neurótico, que restringe apenas uma parcela da
realidade, na psicose ocorre a rejeição radical desta que caracteriza sua
estruturação patológica. Por conta da fuga do eu na relação com o
mundo externo, há a predominância do isso ou, em outras palavras, do
inconsciente, em suas manifestações. Nas psicoses, a rejeição radical
trata-se da realidade da castração anunciada pela figura paterna que se
impõe para o sujeito e o leva a erigir respostas defensivas em suas
diversas modalidades.
FORACLUSÃO DO
NOME-DO-PAI: A
CONTRIBUIÇÃO
LACANIANA
Nome-do-pai: nomeia o lugar vazio marcado na simbolização primordial
introduzida pela alternância entre a presença e a ausência materna. Assim,
o sujeito se interroga sobre o desejo da mãe e encontra o Nome-do-Pai.
Possibilita ao sujeito lidar com a realidade da castração. Efetua uma barra
entre a mãe e a criança, como um ponto de basta que instaura a lei
simbólica. Trata-se de um jogo onde quem perde ganha – a instância
interditora representada pelo pai institui o desejo, intimando o sujeito a
abandonar a posição de objeto fálico que preenche a falta materna. O
sujeito pode assumir uma posição sexuada no interior da dialética entre ter e
não ter o falo e, com isso, avançar rumo a novas escolhas de objeto.
Quem perde, ganha
Foraclusão do nome-do-pai
● Juridicamente, equivale a dizer que um processo, não tendo
ocorrido nos prazos estabelecidos pela lei, perde seu lugar no
registro simbólico, assim como a possibilidade de recurso;
● De fato, transpondo semelhante lógica para o tema da psicose,
pode-se considerar que, neste caso, a possibilidade da simbolização
da castração prescreveu.
● Ausência da inscrição do nome-do-pai: A psicose designa a
decorrência da falta do significante, que simboliza a falta estrutural
da linguagem
Quando uma exigência
simbólica requisita o significante
do Nome-do-Pai, foracluído na
psicose, há o desencadeamento
do surto sob a forma de delírios,
vozes e alucinações.
Reportando-se à paranoia de Schreber,
Lacan ressalta que o evento decisivo para
a precipitação dessa psicose foi sua
nomeação para o importante cargo de
juiz-presidente do Tribunal de Apelação.
Neste momento, Schreber se defronta com
a convocação de assumir um lugar ao qual
é conferida grande autoridade simbólica
A visão de Lacan sobre o caso Schreber
SLIDES - A estrutura psicoÌ_tica e a estrutura perversa.pptx.pdf
A estrutura
perversa
Profa. Ma. Débora Damacena de Andrade
Introdução
Ao se analisar a trajetória da perversão
enquanto definição detém-se
inicialmente à Medicina, que trazia uma
visão patológica que a caracterizava
como um “desvio”. Freud (1905), em “Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade",
remete à criança enquanto ser sexual e à
sua característica perverso-polimorfa,
que pode permanecer no adulto,
trazendo também as neuroses como o
“negativo” da perversão.
A partir de 1919, Freud começou a
relacionar perversão e o complexo de
Édipo, o que trouxe contribuições
para os estudos lacanianos da
perversão enquanto estrutura
psíquica. E em 1927, Freud inaugura
“O Fetichismo”, que culmina na
recusa (Verleugnung) da castração e
nas divisões do ego.
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Perversão
como estrutura
clínica
01
A partir de 1919, Freud começou a relacionar perversão e Édipo nos seus
textos. Nestes, ele procura responder a questão da perversão a partir da
articulação entre o complexo de Édipo e o complexo de castração, o que
proporciona um avanço considerável na solidificação dos seus estudos.
No entanto, é Lacan quem inaugura uma psicanálise na qual a perversão
se coloca como um paradigma estrutural, mesmo que essa noção não
admita uma só interpretação, trazendo o conceito de estrutura como um
“conjunto de elementos que se constituem na relação, que são
exclusivamente interdependentes e que se regem por determinadas leis
que fazem parte de uma constituição interna”
Freud fez duas formulações acerca da conceituação
de “perversões”, que se tornaram clássicas:
1
A primeira é a de que a neurose é o negativo da
perversão, ou seja, aquilo que uma pessoa
neurótica reprime e pode gratificar somente
simbolicamente através de sintomas, o paciente
com perversão a expressa diretamente em sua
conduta sexual. Essa conceituação não é mais
aceita pela psicanálise moderna pois, acreditam
os autores, a perversão tem uma estrutura
própria.
Em uma segunda afirmativa, Freud diz que a
perversão sexual resulta de uma decomposição
da totalidade da pulsão sexual em seus
primitivos componentes parciais, quer por
fixações na detenção da evolução da
sexualidade, quer por regressão da pulsão a
etapas prévias à organização genital da
sexualidade.
2
Mecanismo - DESMENTIDO
A estrutura da personalidade perversa é complexa e envolve a angústia
da castração, processos defensivos para contorná-la, fixação e
regressão, e a mobilização de mecanismos de defesa como a
denegação da realidade. A relação com a lei do pai e a mãe fálica
também desempenham papéis importantes nessa estrutura.
Traços estruturais
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  • 1. A estrutura psicótica Profa. Ma. Débora Damacena de Andrade
  • 2. O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO ● Freud realiza uma Leitura psicanalítica da autobiografia escrita pelo Presidente Schreber. ● A análise deste livro revela o desenrolar da formação de um engenhoso sistema delirante que caracteriza a estrutura psicótica. ● A história clínica de Schreber é marcada por três crises que culminaram em sua internação em três hospitais psiquiátricos. ● Núcleo de seu delírio: era a certeza de que seu próprio corpo estava sendo manipulado e transformado em um corpo feminino. ● Seu desenvolvimento primário possui grande conotação persecutória, referida ao risco iminente de sofrer abuso sexual; mas gradativamente, passou a adquirir um caráter místico, a serviço de altos desígnios, tornando-se um delírio religioso de grandeza.
  • 3. ● Sistema delirante: acredita que é o redentor da humanidade, cuja missão deveria ser redimir o mundo e reconduzi-lo ao suposto estado perdido de beatitude. ● A concepção freudiana do delírio psicótico desloca a importância do aspecto patológico, passando a ressaltar seu caráter de tentativa espontânea de restabelecimento ● Ao seu médico, atribuiu, inicialmente, o papel de perseguidor, de “assassino de alma”, porém, mais tarde, esse papel foi atribuído a Deus. ● A nova configuração do delírio não expressa o agravamento do conflito, trata-se muito mais de uma solução apaziguadora. O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
  • 4. Narcisismo: ● Diante de uma frustração na relação do sujeito com o mundo externo, ocorre o desligamento da libido de seus objetos. A megalomania psicótica representa a elaboração da libido que retorna ao eu, da mesma forma que, na neurose, a libido liberada é transferida para os objetos fantasísticos. ● A paranoia consistiria em uma frustração no campo do ideal do eu - o complexo paterno. O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
  • 5. Narcisismo: ● Ideal do eu: agente crítico que observa o eu ideal, constituído como herdeiro do narcisismo dos pais que amam “sua majestade o bebê” como um dia foram amados. Como suporte identificatório agenciado pela função paterna, é um poderoso fator na instauração do recalque das pulsões na constituição subjetiva. ● Na psicose, a função desempenhada pelo ideal do eu e, portanto, pelo pai, não é simbolicamente internalizada pelo sujeito psicótico como o é na neurose, fato decisivo para a distinção entre as duas estruturas. O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
  • 6. Narcisismo: ● O ideal do eu aparece regressivamente como outro hostil, que o vigia e persegue. Os delírios e as alucinações psicóticas nas parafrenias e na paranoia são definidos mais uma vez como “uma tentativa de recuperação, destinada a conduzir a libido de volta aos objetos” Mecanismo de defesa: o delírio (fantasia vivida como realidade) se constrói devido a um não compromisso com a realidade. O problema da psicose é um problema de identidade, pois é anterior a distinção entre Eu e Outro e, por isso, a angústia do psicótico se constitui como o despedaçamento. O CASO SCHREBER E A TEORIA DA LIBIDO
  • 7. ● Diferença: a neurose resulta dos conflitos entre o eu e o isso, enquanto a psicose diz respeito às dificuldades na relação entre o eu e o mundo externo. ● Em ambos os casos há uma perda na relação do eu sujeito com a realidade; porém os mecanismos e as consequências desse afastamento da realidade são diferentes ● Tanto a neurose quanto a psicose traduzem o fracasso do eu em conciliar as exigências pulsionais e as da civilização, relativas às frustrações que marcam a vida infantil. ● A partir da 2ª Tópica, teamos a noção de que Eu se esforça para atender as vontades do isso e do supereu. A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE
  • 8. A perda da realidade na neurose Na neurose, o eu, através do recalque, suprime a pulsão oriunda do isso. Assim, o neurótico se distancia de um fragmento da realidade e a particularidade patológica de cada neurose encontra-se nos processos que fornecem uma compensação substitutiva à parte danificada do isso. Esta é a definição do retorno do recalcado mediante o fracasso do recalque, a partir da qual depreendemos o mecanismo dos sintomas neuróticos e das demais formações do inconsciente.
  • 9. A perda da realidade na psicose Na contrapartida do neurótico, que restringe apenas uma parcela da realidade, na psicose ocorre a rejeição radical desta que caracteriza sua estruturação patológica. Por conta da fuga do eu na relação com o mundo externo, há a predominância do isso ou, em outras palavras, do inconsciente, em suas manifestações. Nas psicoses, a rejeição radical trata-se da realidade da castração anunciada pela figura paterna que se impõe para o sujeito e o leva a erigir respostas defensivas em suas diversas modalidades.
  • 11. Nome-do-pai: nomeia o lugar vazio marcado na simbolização primordial introduzida pela alternância entre a presença e a ausência materna. Assim, o sujeito se interroga sobre o desejo da mãe e encontra o Nome-do-Pai. Possibilita ao sujeito lidar com a realidade da castração. Efetua uma barra entre a mãe e a criança, como um ponto de basta que instaura a lei simbólica. Trata-se de um jogo onde quem perde ganha – a instância interditora representada pelo pai institui o desejo, intimando o sujeito a abandonar a posição de objeto fálico que preenche a falta materna. O sujeito pode assumir uma posição sexuada no interior da dialética entre ter e não ter o falo e, com isso, avançar rumo a novas escolhas de objeto. Quem perde, ganha
  • 12. Foraclusão do nome-do-pai ● Juridicamente, equivale a dizer que um processo, não tendo ocorrido nos prazos estabelecidos pela lei, perde seu lugar no registro simbólico, assim como a possibilidade de recurso; ● De fato, transpondo semelhante lógica para o tema da psicose, pode-se considerar que, neste caso, a possibilidade da simbolização da castração prescreveu. ● Ausência da inscrição do nome-do-pai: A psicose designa a decorrência da falta do significante, que simboliza a falta estrutural da linguagem
  • 13. Quando uma exigência simbólica requisita o significante do Nome-do-Pai, foracluído na psicose, há o desencadeamento do surto sob a forma de delírios, vozes e alucinações. Reportando-se à paranoia de Schreber, Lacan ressalta que o evento decisivo para a precipitação dessa psicose foi sua nomeação para o importante cargo de juiz-presidente do Tribunal de Apelação. Neste momento, Schreber se defronta com a convocação de assumir um lugar ao qual é conferida grande autoridade simbólica A visão de Lacan sobre o caso Schreber
  • 15. A estrutura perversa Profa. Ma. Débora Damacena de Andrade
  • 16. Introdução Ao se analisar a trajetória da perversão enquanto definição detém-se inicialmente à Medicina, que trazia uma visão patológica que a caracterizava como um “desvio”. Freud (1905), em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", remete à criança enquanto ser sexual e à sua característica perverso-polimorfa, que pode permanecer no adulto, trazendo também as neuroses como o “negativo” da perversão. A partir de 1919, Freud começou a relacionar perversão e o complexo de Édipo, o que trouxe contribuições para os estudos lacanianos da perversão enquanto estrutura psíquica. E em 1927, Freud inaugura “O Fetichismo”, que culmina na recusa (Verleugnung) da castração e nas divisões do ego.
  • 19. A partir de 1919, Freud começou a relacionar perversão e Édipo nos seus textos. Nestes, ele procura responder a questão da perversão a partir da articulação entre o complexo de Édipo e o complexo de castração, o que proporciona um avanço considerável na solidificação dos seus estudos. No entanto, é Lacan quem inaugura uma psicanálise na qual a perversão se coloca como um paradigma estrutural, mesmo que essa noção não admita uma só interpretação, trazendo o conceito de estrutura como um “conjunto de elementos que se constituem na relação, que são exclusivamente interdependentes e que se regem por determinadas leis que fazem parte de uma constituição interna”
  • 20. Freud fez duas formulações acerca da conceituação de “perversões”, que se tornaram clássicas: 1 A primeira é a de que a neurose é o negativo da perversão, ou seja, aquilo que uma pessoa neurótica reprime e pode gratificar somente simbolicamente através de sintomas, o paciente com perversão a expressa diretamente em sua conduta sexual. Essa conceituação não é mais aceita pela psicanálise moderna pois, acreditam os autores, a perversão tem uma estrutura própria. Em uma segunda afirmativa, Freud diz que a perversão sexual resulta de uma decomposição da totalidade da pulsão sexual em seus primitivos componentes parciais, quer por fixações na detenção da evolução da sexualidade, quer por regressão da pulsão a etapas prévias à organização genital da sexualidade. 2
  • 22. A estrutura da personalidade perversa é complexa e envolve a angústia da castração, processos defensivos para contorná-la, fixação e regressão, e a mobilização de mecanismos de defesa como a denegação da realidade. A relação com a lei do pai e a mãe fálica também desempenham papéis importantes nessa estrutura. Traços estruturais