2. • Unidade de Ensino: 1
• Competência da Unidade: Compreender a complexidade
do conceito de cultura e as diferentes perspectivas
teóricas.
• Resumo: Conhecer as diferentes perspectivas teóricas
sobre o conceito de cultura, considerando a análise sobre a
noção de Natureza e Civilização, assim como estudar as
contribuições de P. Bourdieu, Raymond Willians e Edward
Thompson.
• Palavras-chave: Cultura; Civilização; Natureza.
• Título da Teleaula: Aspectos teóricos: ideias e conceitos
de cultura.
• Teleaula nº: 1
3. Contextualização
• Definição de Cultura:
• Conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral, direito,
costumes, hábitos, relações e práticas adquiridos pelos indivíduos em
uma sociedade;
• Conjunto de sistemas simbólicos (linguagem, arte, regras matrimoniais,
religiões, troca) que caracterizam um contexto social;
• Permite entender como os seres humanos,
apesar de possuírem a mesma estrutura
biológica, são tão diversos;
4. Contextualização
• Analisar a complexidade do conceito de cultura a partir de diferentes
perspectivas teóricas;
• Conhecer os debates sobre a cultura em contraponto à natureza;
• Analisar a relação entre cultura e de civilização;
• Compreender a relação entre cultura e
desigualdades sociais, assim como, sua relação com
as classes sociais;
6. Primeiras Reflexões
O tema da cultura não ocupou um lugar
privilegiado entre os primeiros estudos das
ciências sociais, em particular entre os clássicos
da Sociologia;
A disseminação das ciências sociais por diversos
países e regiões foi acompanhada de um
interesse regional;
7. A tradição das Ciências Sociais, nos seus diversos ramos
disciplinares, confinava a esfera da cultura a certos gêneros
específicos: na Literatura, à discussão estética; na
Antropologia, à compreensão das sociedades indígenas,
folclore e cultura popular; na História, à reflexão sobre as
civilizações. [...] Pode-se ainda dizer que a análise dos
fenômenos culturais desfrutava de um prestígio “menor” no
campo intelectual. Com a institucionalização das Ciências
Sociais, objetos como partidos políticos, Estado,
modernização, industrialização e urbanização eram vistos
como “mais importantes” do que os estudos referentes à
cultura popular, às religiões, à cultura de massa. (ORTIZ,
2002, p. 27-28).
8. Primeiras Reflexões
Temas como Estado, governo, movimentos
sociais, entre outros correlatos acabaram se
tornando hegemônicos nas ciências sociais,
ficando a cultura como tema subalterno;
Com o processo de globalização, temos um
deslocamento do debate sobre identidade
nacional para identidades particulares, como,
por exemplo, identidade de gênero ou
identidade étnica;
10. • Associação da cultura à conhecimentos ou
comportamentos específicos;
• Envolvimento das pessoas com atividades e
expressões artísticas;
• Agregada à contextos como: empresarial,
automotivo, relação paz-guerra;
• Há muitos usos e sentidos da ideia de cultura, o
que causa uma dificuldade para a definição
exata do que seja a cultura.
11. Antropologia Evolucionista
O evolucionismo social ou darwinismo social vai
considerar que as sociedades evoluem assim
como as espécies;
Desta forma, vão considerar não civilizadas as
sociedades que não vivem em um modelo
industrial como o nosso;
O evolucionismo, que surge com a ciência
antropológica, conduz à concepção
etnocêntrica do mundo,
Disponível em:
https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/evolucao-
humana.html Acesso em: 21 jun. 2023
12. Antropologia Evolucionista
A sociedade europeia se considerava
“civilizada” e “complexa” por ter conseguido a
industrialização, a ciência, a tecnologia etc;
Por isso, consideravam as demais culturas – as
das colônias – “primitivas” e “atrasadas”, por
não possuírem tecnologia como eles;
Esta visão usava o conceito de "civilização" para
classificar, julgar e, posteriormente, justificar o
domínio de outros povos;
Disponível em:
https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/evolucao-
humana.html Acesso em: 21 jun. 2023
13. Edward Tylor (1832 – 1917)
Um dos pioneiros do pensamento
antropológico, esteve ligado a uma escola de
pensamento denominada Evolucionismo;
Entendia que a cultura é fruto de um processo
evolutivo;
Assim, todas as culturas teriam uma origem
comum, passando de um estado selvagem para
a civilização;
Disponível
em:
https://web.prm.ox.ac.uk/sma/index.php/articles/article-index/335-
edward-burnett-tylor-1832-1917.html
Acesso
em:
21
jun.
2023
15. Claude Lévi-Strauss (1908 - 2009)
• O autor é um Universalista – busca o que há de
comum em todas as sociedades humanas;
• Para o autor não há culturas melhores ou piores,
superiores ou inferiores;
• O ser humano é, ao mesmo tempo, um ser
biológico e um indivíduo social;
• Diversidade: se fôssemos determinados
integralmente pela natureza ou pela biologia, o
que explicaria as diferenças entre as pessoas e
entre as sociedades?
Disponível em:
https://www.aliancafrancesa.com.br/novidades/top-3-
curiosidades-sobre-claude-levi-strauss/ Acesso em: 21 jun. 2023
18. Norbert Elias (1897-1990)
O comportamento do homem ocidental foi
sendo moldado, ao longo de séculos, por um
processo civilizador;
Civilização da sociedade ocidental: detentora
de determinadas características, como o nível
de tecnologia, as “suas maneiras”, o
desenvolvimento de sua cultura científica ou
sua visão de mundo.
19. Norbert Elias (1897-1990)
Entendimento de “civilização” como um
processo que está sempre em curso, num
movimento incessante;
O conceito de civilização tende a minimizar as
diferenças nacionais entre povos, destacando
aquilo que deveria ser (segundo os que adotam
essa perspectiva) o que é comum a todos os
seres humanos;
21. A Escola Estadual Luiz Gonzaga, situada na zona rural, estudam jovens e crianças
indígenas; tal contexto permite a convivência de crianças e jovens com
trajetórias muito distintas, já que além de suas histórias individuais eles
carregam consigo as características culturais de suas sociedades. Ao mesmo
tempo em que essa diversidade permitia o mútuo aprendizado e muitas
descobertas por parte dos sujeitos presentes na escola, também gerava
conflitos complexos.
Você identificou que os(as) estudantes indígenas estavam
sendo discriminados(as) e, como intervenção propôs
uma atividade: deveriam indicar o que tinha de
interessante em seus bairros e comunidades, assim como
identificar aquilo que eles consideravam como os
principais aspectos culturais de seu cotidiano.
22. Resolvendo a SP
• Os estudantes que moravam perto da
escola, em um bairro periférico, ficaram na
dúvida em relação ao que poderiam
apresentar nessa atividade;
• Não é simples definir cultura;
• Em diversos contextos é entendida como
sinônimo de determinados tipos de arte;
23. Resolvendo a SP
• Tudo aquilo que é produzido pelas pessoas
vivendo em sociedade é cultura;
• Não há uma hierarquia entre culturas, como
acreditavam os evolucionistas;
•
24. Há uma tendência, no senso comum,
em acreditar que existe cultura de
boa qualidade e cultura de qualidade
menor; assim, classificamos a música
e as artes de maneira geral.
Como você entende essa ideia hoje?
Existem culturas melhores que
outras?
26. Pierre Bourdieu (1930 - 2002)
• Buscou compreender o sistema de ensino
escolar em diálogo com aspectos culturais;
• No início do século XX presumia-se que os
indivíduos competiriam dentro de um mesmo
sistema, e aqueles que se destacassem
avançariam em suas carreiras escolares e
acabariam, de forma justa, ocupando posições
superiores na hierarquia social;
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Bourdieu
Acesso
em:
17
mio.
2021.
29. A origem social passa a ocupar um papel central na análise, sendo
fundamental, para Bourdieu, levar em consideração a classe, a etnia, o
sexo, o local de moradia, entre outras questões;
Bourdieu pensa a classe social para além de uma questão meramente
econômica, mas também simbólica e cultural que se reproduz na prática
social dos sujeitos
Escola = neutra ?
Os indivíduos, ao chegarem na escola, já trazem consigo uma “bagagem”
cultural e social;
Por valorizar certos saberes em detrimento de
outros, a escola acaba sendo também uma
reprodutora das desigualdades sociais.
31. Conceitos Fundamentais
• Campo: tem-se para Bourdieu, como um espaço relativamente
autônomo que age sobre os sujeitos sem que eles tenham,
necessariamente, consciência disso;
• Se refere ao contexto social em que o indivíduo está inserido, que varia
em termos histórico e social;
• Habitus: estruturas sociais da subjetividade,
formadas a partir das condições do nascimento
(habitus primário) e ao longo da vida adulta
(habitus secundário) dos sujeitos;
32. Conceitos Fundamentais
• Seria, portanto, os valores e relações introjetadas pelos indivíduos,
geralmente, de maneira inconsciente;
• Assim, de maneira coletivizada e individualizada, o habitus compõe
uma dimensão corporal, uma social, uma ideológica e a simbólica;
• Campo e Habitus para o pesquisador francês,
eram peças-chave de uma investigação acerca da
vida cultural e do gosto na sociedade capitalista
de seu tempo;
33. Conceitos Fundamentais
• Capital: conceito que se
insere em uma relação
indissociável com o campo
e habitus;
• O sucesso escolar das crianças de diferentes classes
e frações de classe estão diretamente associadas à
distribuição desigual do capital cultural entre elas.
Capital Cultural: Vinculado aos
Saberes e gostos dos indivíduos
Capital
cultural
certificado
Capital
cultural
incorporado
Capital
cultural
objetivado
35. Edward Thompson (1924 - 1993)
• Influência do pensamento marxista – conceito de modo de
produção e superestrutura;
• Thompson não acha possível explicar um modo de produção
tomando uma única esfera da vida como determinante e deixar
em segundo plano os aspectos relacionados às normas sociais,
aos valores e à cultura, ou seja, à superestrutura;
• Evita a ideia de determinação da “base” sobre
superestrutura;
36. Edward Thompson (1924 - 1993)
• Buscou demonstrar que a classe operária não é fruto somente
do modo de produção, mas que ela atua em sua formação
também;
• A classe é pensada em contextos reais, portanto, apoiada em
relações;
• A classe deve ser vista como uma formação
social e cultural que surge a partir de processos
históricos;
37. Raymond Willians (1921 - 1988)
• A noção de superestrutura rejeita a compreensão de que ela
seria determinada pela “base” porque não pode ser pensada
como uma pura abstração econômica, como algo fixo, mas
como atividades reais, permeadas por contradições e, assim
sendo, como um processo dinâmico;
• O autor enfatiza os aspectos relacionados a
processos de arte, ao pensamento social e
político, às leis e instituições, à atividade
política e ideológica;
38. Raymond Willians (1921 - 1988)
• Hegemonia: conjunto de significados e valores que são vividos
diariamente e estão presentes em nossas práticas, naquilo que
pensamos e que orientam nossas ações;
• Ao vermos e sentirmos que outros sujeitos pensam e agem
como nós, os significados e os valores se confirmam;
• As nossas práticas cotidianas tendem a
reafirmar as ideias dominantes em nossa
sociedade.
40. Certo dia enquanto tomava café, a professora Jéssica notou que os
professores reclamavam muito de algumas atividades dos alunos, como o
som alto e o estilo escolhido, o funk. Comentário como: “Esse tipo de
música não tem nenhum conteúdo, só fala coisas vulgares” ou “Quando
não é baixaria, é letra de bandido” foram feitos por alguns professores.
Outro professor comentou que “Deveria ter algum projeto cultural da
prefeitura aqui no bairro para trazer cultura para esses jovens, para ver se
eles aprendem que esse tipo de música é ruim”.
Jéssica ficou incomodada com tudo que ouviu e
começou a se questionar algumas coisas:
41. • Como explicar a dificuldade dos professores com
a música funk e as práticas dos alunos?
• Por que os professores não compreendem os
significados daquela música e dos interesses dos
estudantes por ela?
• A partir de tais questionamentos, Jéssica teceu
algumas reflexões com os alunos a respeito das
questões levantadas a fim de levar as discussões
também para os outros professores;
42. • Hegemonia Cultural: a cultura dominante em uma sociedade é marcada
por experiências e práticas que são incentivadas e valorizadas no
cotidiano;
• Em toda sociedade há significados e práticas alternativas ou de oposição
à cultura dominante;
• Para além da música em si, a cultura dominante pressiona e reprime um
determinado grupo social, então, aqui também temos um processo de
repressão a uma cultura de classe social.
• A classe é pensada em contextos reais
relacionados às experiências vividas, elas não
existem de forma autônoma e independente.
43. • As formações culturais surgem a partir de processos históricos, e a
vivência desse processo histórico pode ser diferente a partir de alguns
elementos sociais, tais como idade, classe, gênero, etc;
• O conflito existente entre estudantes e professores, pode ser pensado a
partir desses elementos, pois incorporaram tradições e valores diversos.
44. O processo de escolarização
de fato tornou-se
democrático a ponto de
oportunizar mudanças sociais
na vida dos indivíduos?
45. Recapitulando
• Cultura: Conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral,
direito, costumes, hábitos, relações e práticas adquiridos pelos
indivíduos em uma sociedade;
• Temas como Estado, governo, movimentos sociais, entre outros
correlatos acabaram se tornando hegemônicos nas ciências sociais,
ficando a cultura como tema subalterno;
46. Recapitulando
• Edward Tylor - Entendia que a cultura é fruto de
um processo evolutivo;
• Claude Lévi-Strauss – natureza / cultura.
• Norbert Elias e o processo civilizador.
• Pierre Bourdieu – cultura e educação
• Edward Thompson – rompe com o determinismo
econômico;
• Raymond Willians - As nossas práticas cotidianas
tendem a reafirmar as ideias dominantes em
nossa sociedade.