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Especialização em Aleitamento Materno – Passo 1
Trabalhos de Conclusão de Curso
Coordenação: Profa. Ludmila Tavares Costa Ercolin
Prof. Marcus Renato de Carvalho
Piracicaba, São Paulo
2021
Sumário
Título Trabalho Aluna Página
A IMPORTÂNCIA DA HORA DE OURO E O
PAPEL DA DOULA
Aline Orsi Fogaça de Almeida 1
O IMPACTO DA AMAMENTAÇÃO E DE
OUTRAS FORMAS DE ALEITAMENTO
NA MASTIGAÇÃO E NA SAÚDE DA
CRIANÇA
Aline Pedroni Pereira 4
“MAIS COR, POR FAVOR!”
ATENDIMENTOS DE LACTAÇÃO SOB A
PERSPECTIVA LGBTQIA+
Ana Carolina Lorga Salis 8
EFEITOS DA LUZ ARTIFICIAL NOTURNA
SOBRE A SECREÇÃO DE MELATONINA
MATERNA E CONSEQUÊNCIAS NA
GESTAÇÃO E LACTÂNCIA
Cecília Mercado 14
O ENSINO SOBRE ALEITAMENTO
MATERNO DURANTE A GRADUÇÃO EM
MEDICINA
Cecília Freire de Carvalho Pinton 20
INFLUÊNCIA DAS AVÓS NO
ALEITAMENTO MATERNO
Cristiane Moretti Gouveia 25
A VISÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
DENTRO DA UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA NEONATAL FRENTE AS
DIFICULDADES EM PROMOVER O
ALEITAMENTO MATERNO
Deisiane Pessoa da Silva Santos 28
A VISITA DOMICILIAR E O
ALEITAMENTO MATERNO NA
ADOLESCÊNCIA
Flávia Corrêa Porto de Abreu D’
Agostini
31
DIABETES GESTACIONAL: ORDENHA DE
COLOSTRO ANTENATAL COMO FORMA
DE PROMOVER E PROTEGER O
ALEITAMENTO
Flavia Gheller Schaidhauer 34
QUAL A RELAÇÃO DO ALEITAMENTO
MATERNO E A CÁRIE DENTÁRIA? -
REVISÃO DE LITERATURA
Isabella Claro Grizzo 37
ESCOLARIDADE MATERNA E SUA
INFLUÊNCIA NAS TAXAS DE
ALEITAMENTO
Júlia Dias Silvestri Vaz Pinto 41
ALEITAMENTO MATERNO NA
ADOLESCÊNCIA: APOIO À PRÁTICA DE
AMAMENTAÇÃO E PREVENÇÃO AO
DESMAME PRECOCE
Lívia Elisei de Faria 44
MAMANALGESIA VACINAS:
ALEITAMENTO MATERNO COMO ALÍVIO
DA DOR
Márcia Simone de Araújo
Machado Siebert
47
MÉTODO CANGURU E CONTATO PELE A
PELE NO PROCESSO DE LUTO MATERNO
Mariana Cavenage Filó 50
CRECHE AMIGA DA AMAMENTAÇÃO:
PROMOTORA DO ALEITAMENTO
MATERNO EXCLUSIVO E CONTINUADO
Mariana de Campos Chaves 53
LEITE MATERNO CAUSA CÁRIE? Micaela Cardoso 56
A CÁRIE DENTÁRIA E O ALEITAMENTO
MATERNO: UMA REFLEXÃO CRÍTICA
Nádia Masson 59
DOS DESAFIOS DA INFERTILIDADE AOS
DESAFIOS NO ALEITAMENTO MATERNO
Paula Honorio Marconi Buzatto 62
RESPIRAR: A RELAÇÃO ENTRE A
DURAÇÃO DA AMAMENTAÇÃO E O
PADRÃO RESPIRATÓRIO
Rita de Cássia Olmos Pedroni 65
IMPACTOS DA AMAMENTAÇÃO NOS
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Sissiane Escobar de Souza 67
A IMPORTÂNCIA DA REDE PRIMÁRIA
COMO APOIO NA PRÁTICA DA
AMAMENTAÇÃO
Tatiana do Prado Lima Bonini 70
ANQUILOGLOSSIA E O IMPACTO NA
AMAMENTAÇÃO
Thais Varanda Stocco 73
AMAMENTAÇÃO E A PRÁTICA DO
ACONSELHAMENTO EM TEMPOS DE
PANDEMIA: UM PROJETO DE
AVALIAÇÃO
Virginia Volpato Santichio 77
HORA DE OURO: PROTOCOLOS QUE
PROPICIEM OS BENEFÍCIOS DESTE
MOMENTO NA VIDA DA MÃE E BEBÊ
Vivian Ivon Rosio Montaño Farell
Borsato
80
DESENHO PARA TURMA DE
ALEITAMENTO MATERNO DE
PIRACICABA
Laura Lino 83
HOMENAGEM PARA A TURMA DE
ALEITAMENTO MATERNO DE
PIRACICABA
Profa. Ana Paula Vioto 84
1
A IMPORTÂNCIA DA HORA DE OURO E O
PAPEL DA DOULA
Aline Orsi Fogaça de Almeida1
Resumo
Os primeiros 60 minutos de vida do bebê são muito importante para ele, favorecendo o
vínculo com sua mãe e evitando complicações neonatais. Então, os profissionais que
assistem essa dupla, durante o pré-natal e parto, precisam ser facilitadores e
incentivadores do contato pele a pele e a amamentação na primeira hora, considerando
todos os benefícios imediatos e a longo prazo que essa oportunidade traz para a saúde
do bebê e sua mãe. A doula precisa estar ao dessa mulher e desse bebê apoiando-os para
que a Hora de Ouro aconteça de maneira respeitosa e com a menor intervenção
profissional possível.
Palavras-chaves: Contato pele a pele. Amamentação. Hora de Ouro. Doula
1. INTRODUÇÃO
A hora de ouro, primeiros 60 minutos de vida do bebê, é marcada pela relevância para
o seu crescimento e desenvolvimento proporcionando benefícios imediatos e a longo
prazo em sua saúde (SHARMA et al., 2017; KARIMI et al., 2019).
O Contato Pele a Pele (CPP) e a Amamentação na Primeira Hora (APH) são
práticas simples que desempenham papel importante durante esse período de adaptação
neonatal, fortalecendo o vínculo entre mãe e bebê e evitando complicações neonatais
precoces, como a hipotermia e hipoglicemia neonatais (BRASIL, 2013; NECZYPOR &
HOLLEY, 2017). O contato pele a pele é uma estratégia que, impacta no sucesso da
amamentação, trazendo benefícios que repercutem em todo ciclo da vida da criança
(GUALA et al., 2017).
A literatura revela as repercussões negativas que a privação desse contato materno
provoca nos recém-nascidos. Entre esses o aumento dos níveis de estresse, evidenciado
por choro intenso e prolongado, que poderão comprometer o funcionamento pulmonar, a
pressão intracraniana e o fechamento do forame oval (NECZYPOR & HOLLEY, 2017).
2. O PARTO, A DOULA E A HORA DE OURO
Pós graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1 – Piracicaba/SP. E-mail:
aline.orsi80@gmail.com
2
O inquérito nacional Nascer Brasil (2014), mostrou números elevados de
separação precoce entre o binômio mãe-bebê quando o tipo de parto foi a cesárea (LEAL
& RANGE, 2014). Fato também observado por outras pesquisas, que revelaram que
mulheres submetidas a cesariana, tem quase três vezes mais risco de não realizar o CPP
com APH. Assim como os RNs nascidos por parto vaginal apresentaram maior prontidão
para dar início a amamentação comparados àqueles nascidos por cesariana, visto que
ficaram mais tempo em contato precoce com a mãe (ALLEN et al., 2019; SACO et al.,
2019).
Mesmo com as estatísticas do alto índice de nascimentos por via cirúrgica, devese
questionar a falta de protocolos que apoiem o CPP nesses casos. Qualquer criança instável
deve ser imediatamente avaliada e estabilizada, contudo, mães e bebês estáveis merecem
experimentar as mesmas práticas humanizadoras que os que passam por parto normal
(PHILLIPS, 2013). Com monitoramento adequado à criança e à mãe, o CPP pode manter-
se ininterrupto.
Uma ampla variedade de profissionais médicos, como enfermeiros obstetras,
doulas, médicos da família, anestesistas e obstetras/ginecologistas podem estar
envolvidos no processo de parto da mulher. É necessária uma comunicação próxima entre
esses profissionais para criar um ambiente de segurança e cuidado centrado na paciente
(HUTCHISON et al., 2021).
Estudos clínicos de significância estatística provam que a participação da doula
facilita o trabalho de parto, incluindo o aumento do parto normal espontâneo, menor
duração do trabalho de parto e redução do parto cesáreo e parto vaginal instrumental e do
uso de qualquer analgesia, além de redução dos sentimentos negativos relacionados a
experiência do parto (KOZHIMANNIL et al., 2016; HODNETT et al., 2017). Incentivar
o contato pele a pele na primeira hora e a amamentação o mais breve possível, respeitando
as condições biológicas e socias do bebê e da mãe, também são atividades que a doula
pode ter durante a assistência ao parto.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a importância da Hora de Ouro e seu impacto na vida do bebê e sua
mãe, todos os profissionais (médicos, enfermeiros, doulas) que assistem esse momento
precisam favorecer e incentivar o encontro dessa díade. Esse apoio será fundamental para
facilitar o encontro prazeroso entre mãe e bebê. As doulas podem iniciar a conversa com
a mulher sobre os benefícios da Hora de Ouro desde o pré-natal e na Hora de Ouro serem
apoio técnico e emocional a fim de apoiar e proteger essa hora.
4. REFERÊNCIAS
ALLEN J, PARRATT JA, ROLFE MI, HASTIE CR, SAXTON A, FAHY KM.
Immediate, uninterrupted skin-to-skin contact and breastfeeding after birth: a
crosssectional electronic survey. Midwifery [Internet]. 2019
BRASIL, Ministério da Saúde. Além da sobrevivência: Práticas integradas de atenção ao
parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. [Internet] Brasília, DF(BR);
3
2013 » https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-
content/uploads/2019/06/alem_sobrevivencia_praticas_integradas_atencao.pdf
GUALA A, BOSCARDINI L, VISENTIN R, ANGELLOTTI P, GRUGNI L,
BARBAGLIA M, et al. Skin-to-skin contact in cesarean birth and duration of
breastfeeding: a cohort study. Sci World J [Internet]. 2017
HODNETT ED et al. “Continuous support for women during childbirth.” Cochrane
Database of Systematic Reviews, jul 7(7), 2017.
HUTCHISON J, MAHDY H, HUTCHISON J. Stages of labor. Treasure Island (FL):
StatPearls Publishing, Jan, 2021.
KARIMI FZ, SADEGHI R, MALEKI-SAGHOONI N, KHADIVZADEH T. The effect
of mother-infant skin to skin contact on success and duration of first breastfeeding: A
systematic review and meta-analysis. Taiwan J Obstet Gynecol [Internet]. 2019
KOZHIMANNIL KB, HARDEMAN RR. “Modeling the Cost-Effectiveness of Doula
Care Associated with Reductions in Preterm Birth and Cesarean Delivery.” Birth,
Volume 43, Issue 1, 2016.
LEAL MC, RANGE SGN. Born in Brazil. Thematic executive research summary.
National Survey on Childbirth and Birth. [Internet] Rio de Janeiro, RJ(BR): Fundação
Oswaldo Cruz; 2014 »
http://www.ensp.fiocruz.br/portalensp/informe/site/arquivos/anexos/nascerweb.pdf
NECZYPOR JL, HOLLEY SL. Providing evidence-Based care during the Golden hour.
Nurs Womens Health [Internet]. 2017
PHILLIPS R. The sacred hour: Uninterrupted Skin-to-Skin Contact Immediately After
Birth. Newborn Infant Nurs Rev [Internet]. 2013
SHARMA D, SHARMA P, SHASTRI S. Golden 60 minutes of newborn’s life: Part 2:
Term neonate. J Matern Fetal Neonatal Med [Internet]. 2017
4
O IMPACTO DA AMAMENTAÇÃO E DE OUTRAS
FORMAS DE ALEITAMENTO NA MASTIGAÇÃO
E NA SAÚDE DA CRIANÇA
Aline Pedroni Pereira1
Resumo
A amamentação desempenha importante papel no desenvolvimento orofacial do bebê,
favorecendo e preparando o organismo para a mastigação. Em contrapartida, diferentes
formas de aleitar podem comprometer o funcionamento do sistema estomatognático,
prejudicando assim a qualidade da função mastigatória e as preferencias alimentares da
criança. Essas consequências podem trazer prejuízos a longo prazo e favorecer doenças
sistêmicas.
Palavras chaves: Amamentação. Função mastigatória. Desenvolvimento orofacial.
INTRODUÇÃO
Muitos benefícios relacionados à saúde infantil foram atribuídos a amamentação,
que desempenha importante papel no desenvolvimento das estruturas faciais do bebê e
pode ser considerada um fator de proteção contra o estabelecimento de maloclusões, além
de contribuir para o funcionamento fisiológico do sistema estomatognático e ser
responsável pela respiração, deglutição, sucção, mastigação e articulação da fala
(CARVALHO et al, 2021). Os músculos envolvidos na amamentação, especialmente o
masseter, são os mesmos músculos que posteriormente (a partir dos 6 meses) irão realizar
a mastigação (GOMES et al, 2006). Portanto, a mastigação continua esse processo de
estimulação orofacial e quando realizada corretamente, desempenha um papel juntamente
com os aspectos genéticos e ambientais, para a estabilidade da oclusão dentária,
funcionalidade e equilíbrio do sistema estomatognático (PIRES et al, 2012).
Apesar dos benefícios da amamentação para o preparo dos músculos mastigatórios,
outras formas de sucção, como aquelas envolvidas na mamadeira e no uso de chupeta,
produzem diferentes estímulos, que podem comprometer e alterar o desenvolvimento
motor e a posição e força das estruturas estomatognáticas, com impacto prejudicial nas
funções orais, incluindo a mastigação (CARRASCOZA et al, 2006).
A mastigação é um processo aprendido. Portanto, a hipótese é que, uma musculatura
alterada por outras formas de sucção, ou mesmo não trabalhada anteriormente pela
amamentação, pode desencadear uma situação facilitadora para um ato mastigatório
ineficiente e com menor estímulo mioneural e levar a uma escolha alimentar inadequada,
favorecendo fatores de risco para outras doenças sistêmicas.
DESENVOLVIMENTO
1 Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1, pólo Piracicaba. Email:
alinepedroni@hotmail.com
5
Um dos inúmeros benefícios que a amamentação traz para o longo prazo, é o
desenvolvimento motor oral, através da movimentação intensa dos lábios, língua,
mandíbula, maxila e bochecha. Os movimentos mandibulares envolvidos na extração do
leite materno, fornecem estímulos para o crescimento da articulação temporomandibular,
favorecendo o crescimento e desenvolvimento harmonioso da face (SANCHES, 2004).
Por outro lado, o uso de bicos artificiais, que podem ocorrer simultânea ou separadamente
a amamentação, têm um efeito negativo na função motora oral das crianças, por alterarem
o padrão da musculatura perioral e não estimularem a articulação temporomandibular e,
consequentemente o crescimento da mandibula. Vários estudos relacionaram a influência
negativa desses dispositivos na função mastigatória (CARRASCOZA et al, 2006).
Estudo coorte realizado em 2012, encontrou que, os efeitos da amamentação e uso de
mamadeira ou chupeta na função mastigatória eram independentes, ou seja, mesmo que
as crianças usassem mamadeiras e/ou chupetas, a amamentação ainda tem um impacto
positivo sobre a mastigação. Isso significa que a função mastigatória de crianças que
foram alimentadas com bicos artificiais, seria ainda mais fortemente afetada sem os
movimentos musculares estimulantes da mastigação proporcionados pela sucção no peito
(PIRES et al, 2012).
De acordo com as atuais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS)
e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os trabalhadores da saúde
devem proteger, promover e apoiar o aleitamento materno exclusivo até 6 meses e sua
continuação até os 2 anos de idade ou mais. Entretanto, o aleitamento materno exclusivo
não é uma opção viável para todos por diversos motivos. Recém-nascidos que precisam
de suplementação por razões médicas precisam ser alimentados com um método
alternativo. O aleitamento por copo é visto, na maioria das situações, como um método
superior a outros métodos de alimentação de lactentes (NYQVIST e UWE, 2006). Gomes
e colaboradores (2006) fizeram uma análise detalhada de dados eletromiográficos dos
músculos masseter, temporal e bucinador em bebes alimentados por copo e mamadeira.
Maiores semelhanças entre bebês alimentados ao peito e por copo foram encontradas,
reforçando a hipótese da "confusão de bicos" em bebês após exposição à alimentação por
mamadeira.
Pires e colaboradores (2012) detectaram uma associação significativa entre
manutenção da amamentação por 12 meses ou mais e função mastigatória superior. Em
contrapartida, o uso de chupeta e mamadeira foram associados a uma redução nos escores
da função mastigatória. O estudo concluiu que a amamentação tem um impacto positivo
na mastigação, uma vez que a duração da amamentação foi positivamente associada à
qualidade da função mastigatória, garantindo estímulos funcionais para um adequada
crescimento e desenvolvimento facial.
A frequência da substituição do aleitamento materno, oferecido em mamadeiras e,
geralmente, associada à chupeta, promove o desmame e pode postergar a introdução de
diferentes texturas e consistências à criança, especificidades alimentares importantes no
desenvolvimento sensório motor oral (ARAÚJO et al., 2007).
A mastigação é o primeiro estágio do processo digestivo, que também envolve
estímulos sensoriais relacionados ao sabor e ao prazer de comer. Pessoas com uma função
mastigatória ineficiente deglutem grandes partículas de alimento ou alteram sua dieta.
Podendo resultar no decréscimo da absorção de nutrientes e ingestão não balanceada de
alimentos, pelo consumo preferencial de alimentos mais macios e fáceis de serem
mastigados, como os industrializados, em detrimento dos ricos em fibras e nutrientes, que
necessitam uma maior eficiência mastigatória (FRIEDLANDER et al., 2007). A
capacidade tampão de um alimento bem mastigado também é significativamente maior
do que de um alimento parcialmente ou não mastigado. Um alimento sólido permanece
6
mais tempo no estômago do que um de consistência mais líquida. Essa dieta prejudicada
pode então aumentar o risco de distúrbios gastrointestinais e de doenças relacionadas a
carências nutricionais (BUDTZ-JORGENSEN et al., 2000). Estudos também
encontraram que alterações no comportamento mastigatório e maior dificuldade para
realizar a função estão associados a indivíduos com sobrepeso e obesidade
(PEDRONIPEREIRA, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica claro que o aleitamento materno tem uma função importante no
desenvolvimento motor oral da criança, favorecendo uma boa função mastigatória, e
consequentemente melhores escolhas alimentares no futuro, contribuindo para a
diminuição de diversas doenças sistêmicas. E, o uso de bicos artificiais tem efeito
contrário e foi associado a um menor desempenho da função mastigatória.
REFERÊNCIAS
BUDTZ-JORGENSEN et al. Sucessful aging – the case for prosthetic therapy. J Public
Health Dent. 2000.
CARRASCOZA K. C. et al., Consequences of bottle-feeding to the oral facial
development of initially breastfed children. J Pediatr (Rio J). 2006.
CARVALHO, Wendel Chaves et al. As repercussões da amamentação e do uso de
bicos artificiais na função estomatognática e na saúde sistêmica do bebê nos
primeiros mil dias de vida: Uma revisão bibliográfica. Research, Society and
Development 10.10. 2021.
DE ARAUJO C. M. et a. Aleitamento materno e uso de chupeta: repercussões na
alimentação e no desenvolvimento do sistema sensório motor oral. Revista Paulista
de Pediatria 25.1. 2007.
FRIEDLANDER A. H. et al. Metabolic syndrome: pathogenesis, medical care and
dental implications. JADA. 2007
GOMES, CS et al. Surface electromyography of facial muscles during natural and
artificial feeding of infants. J Pediatr (Rio J). 2006.
NYQVIST, K. H. and UWE E. Surface electromyography of facial muscles during
natural and artificial feeding of infants: identification of differences between breast,
cup-and bottle-feeding. 2006.
PEDRONI-PEREIRA A. et al, Chewing in adolescents with overweight and obesity:
An exploratory study with behavioral approach. Appetite 107. 2016.
PIRES, S. C. et al. Influence of the duration of breastfeeding on quality of muscle
function during mastication in preschoolers: a cohort study. BMC Public Health.
2012.
7
SANCHES M. T. Clinical management of oral disorders in breastfeeding. J Pediatr
(Rio J). 2004.
8
“MAIS COR, POR FAVOR!” ATENDIMENTOS DE
LACTAÇÃO SOB A PERSPECTIVA LGBTQIA+
Ana Carolina Lorga Salis1
Resumo
A população LGBTQIA+ encontra-se desamparada quanto ao atendimento de seus
direitos, incluindo o acesso aos espaços de saúde. A partir da iminente necessidade de
formação de profissionais de saúde preparados para atender essa população, esse
trabalho apresenta uma alusão a um modelo de cuidado inclusivo e integral de
atendimento, de maneira que deixemos as portas abertas às novas configurações
familiares, para que se sintam aceitas, acolhidas e respeitadas ao adentrarem nos
espaços de saúde e atendidas e apoiadas ao término dos atendimentos. A escassez de
estudos sobre a temática LGBTQIA+ na área de saúde e a carência da literatura
brasileira a respeito acarretam um consequente impacto negativo na assistência a essa
população que demanda particularidades médicas, culturais e sociais.
Palavras-chave: LGBT, Inclusivo, Amamentação, Integral, Saúde.
1 INTRODUÇÃO
A população LGBTQIA+ tem seus direitos humanos básicos agredidos, e muitas
vezes se encontra em situação de vulnerabilidade. Diante dessa realidade, esse trabalho
tem o intuito de fornecer referências àqueles que cuidam ou virão a cuidar, de familias
LGBTQIA+, que muitas vezes deixam de buscar atendimento ou de revelar suas
identidades de gênero e/ou orientações sexuais aos cuidadores de saúde, por serem vítimas
da cis-heteronormatividade desses ambientes.
O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo (TRANS MURDER MONITORING,
2021), mesmo reconhecendo o absolutismo desse dado, o fato é que milhões de vidas são tiradas
pelo simples motivo de não adequação de gênero e/ou identidade sexual. Aqui ocorre uma morte
LGBT a cada 23 horas (GGB, 2020), uma pessoa LGBT é agredida a cada hora (GGB, 2020) e
a expectativa de vida das travestis e transexuais é de 35 anos (ANTRA, 2018), mostrando a
vulnerabilidade dessas pessoas e tornando ainda mais importante nosso papel no acolhimento e
apoio a sua luta dentro de nossos consultórios e hospitais.
Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1, polo Piracicaba. E-mail:
calorgasalis@gmail.com
9
2 FAMÍLIAS LGBTQIA+ E AMAMENTAÇÃO
Para que possamos oferecer um atendimento digno e respeitoso, inicialmente
devemos nos familiarizar com terminologias referentes a identidades de gênero (cis ou
transgênero), expressões de gênero (feminino, masculino, não binário, andrógino), sexos
biológicos (feminino, masculino, intersexo e nulo), orientações sexuais (homossexual,
bissexual, heterossexual, pansexual, assexual), além de temáticas específicas e
terminologias próprias, tais como “chestfeeding” (dar o peito ou amamentar no tórax),
nome social , papel parental e escolha de pronomes (ele/dele, ela/dela) e compreender que
possuem necessidades médicas específicas (p.ex: saúde reprodutiva, tratamentos
hormonais) (SAULO, 2021).
Famílias LGBT, assim como outras, precisam de acesso a suportes tradicionais de
lactação, com escuta empática, consideração, respeito, liberdade de expressão,
atendimento atualizado e competência. As principais demandas que encontramos como
consultores de lactação dos indivíduos LGBTQIA+ são atendimento pré-natal
(informação, preparo e entrosamento), co-lactação (duas mães, homem trans com mulher
trans, mulher cis com mulher trans, homem cis com homem trans...), indução da lactação
(homens ou mulheres trans, mães adotivas, barriga solidária...) e cessação da lactação para
aqueles que não desejam amamentar.
Estamos falhando diariamente no cuidado dessas pessoas. Um profissional
despreparado pode esmaecer ainda mais quem já se encontra em condição de
vulnerabilidade. Discriminação afeta a qualidade da atenção, piora a acurácia diagnóstica,
fidelidade do paciente e adesão terapêutica. Precisamos trabalhar contínua e arduamente
pela equidade e normalização de preceitos e particularidades LGBTQIA+.
“A minha maior conquista se transformou na minha doença. E ironicamente,
quem foram os principais responsáveis pelo meu adoecimento? Pessoas que
curam. Pessoas que deveriam curar” (Relato de uma bicha carbonizada,
AMORIM G, rede social. Livro: Saúde LGBTQIA+, 2021, p.103).
A saúde de uma população é afetada pela qualidade do apoio que recebe. Pressões
surdas e mudas, iniquidades e desigualdades em saúde podem levar a desafios
intransponíveis e resultados devastadores.
Se nossa preocupação principal, como consultores de lactação, é o futuro das
crianças, faz-se necessário que saibamos que elas escorregam muito bem nesse arco-íris
e que, de nós esperam apenas aceitação, apoio e acolhimento.
“Crianças criadas por pais LGBT são bem ajustadas e saudáveis, nessas famílias
as crianças prosperam.” (TASKER, 2015).
Isto posto, e considerando que essa população vem crescendo em número e
representatividade, nós profissionais da saúde podemos criar condições e desenvolver
habilidades em nossas condutas de maneira que os convidemos a entrar, apuremos nossos
olhares sobre suas particularidades e evitemos equívocos em suas abordagens, mitigando
sofrimentos e equalizando atendimentos. (ver APÊNDICE).
10
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A falta de informação gera discriminação, atendimentos desatualizados, incompletos
e muitas vezes situações de violências. Vivências de hostilidade e desrespeito afastam essas
pessoas dos serviços de saúde, o que pode ser ainda mais grave quando somado a outros
fatores de vulnerabilidade, com destaque para grupos populacionais de negros, deficientes,
pobres, imigrantes, prostitutas, entre outros.
Posto isso, sigamos aprendendo e ensinando para que cada dia mais estejamos
preparados para respeitar sem julgar e responder a demanda de saúde de TODAS AS
PESSOAS. VAMOS COLORIR NOSSOS ATENDIMENTOS, POLÍTICAS
PÚBLICAS, REDES SOCIAIS, CAMPANHAS E BIBLIOTECAS. “MAIS COR, POR
FAVOR!”
4 REFERÊNCIAS
ANTRA, Associação Nacional de Travestis e Transexuais, disponível em
www.antrabrasil.org.
ASSOCIATION OF ONTARIO MIDWIVES, Tip Sheet – Providing Care to “Trans
Men and All Masculine Spectrum” Clients, 2016, disponível em
www.genderminorities.com.
CIASCA, Saulo, et al. Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidado transdisciplinar.
Editores: Saulo Vito Ciasca, Andrea Hercowitz, Ademir Lopes Junior. Santana de Paraíba
(SP). Manole, 2021.
FERRI, Rita, et al. Lactation Care for Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer,
Questioning, Plus Patients. Breastfeed Med. 5(15): 284-293. Maio de 2020.
GGB – Levantamento Grupo Gay da Bahia, 2020. Disponível em www.ggb.org.br.
GRANT Jaime, et al. Injustice at Every Turn: A Report of the National Transgender
Discrimination Survey. Washington: National Center for Transgender Equality and
National Gay and Lesbian Task Force, 2011. Disponível
em https://transequality.org/sites/default/files/docs/resource/NTDS_Report.pd
“MAIS COR, POR FAVOR” – nome de programa do canal GNT, desde janeiro de 2016.
REISMAN Tamar, Goldstein Zil. Case report: Induced lactation in a transgender woman.
Transgender Health, Nova Iorque, 3: 24–26. Janeiro de 2018
TASKER, Fiona. Lesbian Mothers, Gay Fathers, and Their Children: a Review. Journal of
Developmental & Behavioral Pediatrics, Londres, 26:224–240. Junho de 2005.
TRANS MURDER MONITORING, novembro de 2021.
Disponível em www.transrespect.org.
11
5 APÊNDICE
SUGESTÃO DE MODELO DE ATENDIMENTO INCLUSIVO PARA FAMÍLIAS LGBTQIA+
1) Conhecer terminologias próprias dessa população e ter consciência da fluidez desses
termos, mantendo-nos sempre atualizado a respeito.
2) Conhecer as particularidades médicas e sociais dessa população (por exemplo:
homens gestantes e lactantes e suas implicações).
3) Usar o pronome (ele/dele, ela/dela), nome (registro/social, caso escolham o social não
precisamos questioná-los sobre seus nomes de registro) ou papel parental (“Como
gostaria que seu bebê te chamasse?”) escolhidos pela pessoa ao se referir a ela. Não
pressupor o gênero da pessoa pela aparência, somente a própria pessoa pode lhe dar
essa informação (“Olá! Como estão? Me chamo Ana e podem se referir a mim com
o pronome feminino. E com vocês? Que pronome devo usar?”). Alguns homens trans
podem parecer mulheres, enquanto algumas pessoas que podem parecer muito
masculinas, se identificam como “mulher”. Erros podem ocorrer, mas devemos nos
desculpar, após corrigi-los.
4) Colocar o pronome que gostaria que fosse usado para você ao se apresentar, no início
dos atendimentos ou escritos após o seu nome no WhatsApp, Instagram, formulários
(exemplo: Ana C. Lorga Salis - ela/dela). Essa pode ser uma maneira virtual de apoio
e de se mostrar aberto a esse tipo de atendimento.
5) Treinar toda equipe para um atendimento inclusivo e respeitoso (atendentes do
estacionamento, secretárias, assistentes, enfermeiros, médicos). O membro da equipe
que tem o primeiro contato com clientes potenciais deve estar ciente de que algumas
pessoas procuram nossos atendimentos para ajudar na lactação, não se identificam
como “mulheres” e que podem preferir ser tratados por nomes diferentes dos nomes
que aparecem em seus cartões de saúde.
6) Durante atendimento a essa população evite usar termos do tipo “mulheres”, “mães”,
“materna”, “Senhora” e pratique falar sobre “pessoas grávidas”, “cuidadores”,
“lactante”, “leite humano”, “gestante”.
7) Quando se referir ao público em geral, usar frases do tipo: - “Boa noite a todas as
pessoas aqui presentes!”, “A pessoa (indivíduo) que amamenta…”, “Todas as pessoas
que gestam...”, “Dar o peito…”, “O leite humano…”. E talvez pensarmos em incluir
os homens que amamentam, em nossas campanhas mundiais de amamentação,
mudando termos do tipo “Semana Mundial de Aleitamento Materno” para ‘Semana
Mundial do Aleitamento Humano”, uma vez que fica perceptível o desconfortáveis
desses PAIS com o termo “MATERNO”, devido à sua falta de inclusão e à disforia
de gênero que essa palavra pode gerar nesses indivíduos.
8) Ter formulários e prontuários com linguagem inclusiva (trocar “mãe” e “pai” por
“responsáveis”, usar “pessoa que amamenta”, ao invés de “mãe”) e pulseiras de
identificação adequadas ao gênero e papel parental informado pelas pessoas que irão
vesti-las.
12
9) Certificar-se de que todas as perguntas são necessárias para um atendimento
adequado. Explicar por que tais perguntas são relevantes. Pessoas trans são
frequentemente sujeitas a perguntas desnecessárias de curiosos.
10) Não pressupor que a pessoa deseja amamentar. É sempre preferível perguntar, usando
perguntas abertas (“Como estão pensando em alimentar o bebê?”, “O que sabem
sobre indução da lactação?”), sobretudo homens trans que não passaram por cirurgia
de remoção da glândula mamária, uma vez que a decisão de não amamentar pode ser
baseada em razões fisiológicas ou de saúde mental. Nesses casos, oferecer
informações sobre cessação de produção de leite.
11) Confidencialidade pode ser fundamental para essa população. Perguntar sobre como
gostariam que essas questões fossem tratadas. Alguns/algumas pacientes podem
querer um tratamento diferente quando em ambientes não privados.
12) Ornamentar o espaço de saúde com pelo menos um item capaz de mostrar que somos
seus apoiadores e capazes de atendê-los (exemplo: almofada arco-íris, adesivos
coloridos, placa/quadro com dizeres inclusivos). Essa é uma forma sutil e impactante
de reconhecêlos. Uma simples caneca arco-íris pode tornar o ambiente mais
receptivo.
13) Colocar placas inclusivas nas portas dos banheiros dos estabelecimentos de saúde
(“unissex”, “todos os gêneros”) ou deixá-las sem placa de referência ao sexo
(“banheiro”). O acesso ao banheiro costuma ser muito estressante para quem não se
encaixa perfeitamente nas normas de gênero masculino ou feminino.
14) Evitar suposições relacionadas aos parceiros/as do/a paciente. Homens e mulheres
trans, assim como todas as pessoas, podem ter qualquer orientação sexual (por
exemplo: mulher trans homossexual que se relaciona com outra mulher cis ou trans).
15) Estar ciente de que homens trans podem se sentir desconfortáveis no exame físico da
mama. Usar a palavra “tórax”, ao invés de “mama”, e pedir licença antes de tocá-los
pode minimizar seu incômodo.
16) Tratar de todos os assuntos necessários com naturalidade e respeito, nunca de maneira
pejorativa.
17) Entender que amamentação cruzada acontece somente quando o bebê é amamentado
por uma pessoa que não ocupa o papel parental naquela família.
18) Dar igual atenção, direitos e importância à mãe não gestante (no caso de duas mães).
Essas mães costumam se sentir invisíveis e muitas vezes são tratadas como pai.
19) Tal como acontece com todas as pessoas, realizar o rastreio de sintomas de ansiedade
e depressão. A saúde mental pode ser um tema de maior destaque para essa
população.
20) Estar ciente sobre sentimentos negativos ou desconfortos, nossos ou de funcionários
das instituições de saúde, relacionado à essas pessoas. Somente após reconhecer
nossos preconceitos, será possível desconstruí-los. Existe uma ansiedade social
13
baseada na suposição de que as pessoas LGBT são pais inadequados. Informar-nos a
respeito pode ajudar nessa reconstrução.
21) Oferecer uma lista de grupos de apoio para essa população, assim como de
profissionais “LGBT apoiadores”.
14
EFEITOS DA LUZ ARTIFICIAL NOTURNA
SOBRE A SECREÇÃO DE MELATONINA MATERNA E
CONSEQUÊNCIAS NA GESTAÇÃO E LACTÂNCIA
Cecilia Mercado1
Resumo
Neste trabalho é ressaltada importância da melatonina materna como modulador do ritmo
circadiano do bebê, mas também como um hormônio essencial para a manutenção fetal e
homeostase placentária e uterina. Atuando sobre os genes relógio que tem papeis
importantes na fisiologia reprodutiva e orgânica materna e do bebê. A exposição exagerada
a contaminação luminosa é um fator que pode alterar fortemente todos estes processos
dependentes da melatonina.
Palavras chave: Melatonina (ML), crononutrição, Luz artificial noturna (LAN),
cronodisrupção, gestação e lactância, dispositivos eletrônicos auto luminosos (DEA)
1. INTRODUÇÃO
Atualmente a LAN e uso de DEAs está completamente naturalizado. A pandemia de
covid19 trouxe mudanças comportamentais como adoção do teletrabalho, aulas on-line,
incrementando a exposição as telas de DEAs. O objetivo do trabalho é informar sobre
alternativas para evitar disrupcões no marca-passo circadiano em gestante-feto e lactante, e
promover o melhor desenvolvimento e evitar alterações comportamentais e metabólicas
futuras.
Para tal, é importante a compreensão sobre a Melatonina que é um hormônio
sintetizado e secretado a noite na glândula pineal estimulada pela região do cérebro chamado
núcleo supraquiasmático no hipotálamo (APÊNDICE 1).
1 Pós graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1 pólo Piracicaba; email:
doccecim1512@gmail.com
15
É regulador central do relógio circadiano (RC), sensível a sinais claro/escuro
percebidos na retina pelos fotorreceptores de melanopsina nas células retinais ganglionares,
reagindo a luz com longitudes de onda curta correspondente a faixas dentre 420-600nm com
pico de absorção nos 446-447nm (BRENNAN, & LYONS, 2007).
2. REGULAÇÃO DO RC E O EFEITO SO O LEITE MATERNO (LM)
A secreção de ML endógena é rítmica tendo o pico de secreção entre as 2/3hs (QIN
et.
al., 2019). A secreção da ML no LM apresenta ritmo diário similar, sincronizando com os
ritmos do bebé. No final da gravidez a gestante exibe uma mudança incremental de ML
noturna endógena, preparando o feto para o nascimento. Embrião e feto dependem da ML
transplacentária para o correto desenvolvimento (ASTIZ & OSTER, 2021). O LM é
considerado um “crononutriente”. O nível de ML materna alcança seu pico no colostro
decrescendo no leite de transição e no leite maduro progressivamente) (APÊNDICE 2) (QIN
et. al., 2019). A ML sérica de RN adquire ritmicidade com 2-3 meses (BRENNAN, &
LYONS, 2007; McCARTHY et. al., 2019).
3. CRONODISRUPÇÃO E CONSEQUÊNCIAS
A LAN é uma das principais causantes do desacople entre o RC endógeno com o ciclo
externo claro-escuro. DAEs emitem radiação luminosa em cumprimentos de onda próximas
do pico de sensibilidade para a ML (luz azul, 470nm) sendo causal da cronodisrupção
(WOOD et. al., 2013; CHO et. al., 2015; DOMINONI et. al., 2016). ML é marca-passos
central que regula e sincroniza os relógios periféricos de outros órgãos (BEDROSIAN &
NELSON, 2017). O desbalanço da rede hormonal pode causar transtornos que afetam funções
neurológicas e comportamentais, endocrinológicas e metabólicas, cardiovasculares (tanto em
gestastes quanto em fetos e RN) e reprodutivas e imunológicas (APÊNDICE 1)
(SCHEIERMANN et. al., 2013; CIPOLLA-NETO et. al., 2014; McCARTHY et. al., 2019;
HAHN-HOLBROOK et. al., 2019; GUNATA et.al., 2020; GOMBERT & CODOÑER-
FRANCH, 2021).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na revisão são feitas as seguintes recomendações: 1-Extração diferenciada
16
(diurna/noturna) e rotulagem do LM ordenhado para a doação aos Bancos de Leite Humanos
(BLH); 2- Leite e formulações industriais que contenham dosagem de ML e rotulagem
adequadas reguladas pela ANVISA para melhorar uso terapêutico ou nutricional; 3-Uso de
filtros protetores para telas para mães expostas a luz noturna. Criar uma rotina de sono que
respeite horários de claro/escuro; 4- UTIs neonatais devem considerar o uso de infraestrutura
com iluminação ambiental amiga da MLe favorecer partos no horário noturno, no escuro ou
com luz tênue ou levemente vermelha (McCARTHY et al., 2019; HAZELHOFF et al., 2021);
5- promover consumo de alimentos que sejam ricos em triptofano e ML.
5. REFERÊNCIAS
1. Astiz, Mariana, & Henrik Oster. 2021. “Feto-Maternal Crosstalk in the Development
of the Circadian Clock System”. Frontiers in Neuroscience 14 (janeiro): 631687.
2. Bedrosian, T A, & R J Nelson. 2017. “Timing of Light Exposure Affects Mood and
Brain Circuits”. Translational Psychiatry 7 (1): e1017–e1017.
3. Brennan, R, J E Jan, & C J Lyons. 2007. “Light, Dark, and Melatonin: Emerging
Evidence for the Importance of Melatonin in Ocular Physiology”. Eye 21 (7): 901–
8.
4. Cho, YongMin, Seung-Hun Ryu, Byeo Ri Lee, Kyung Hee Kim, Eunil Lee, & Jaewook
Choi. 2015. “Effects of Artificial Light at Night on Human Health: A Literature
Review of Observational and Experimental Studies Applied to Exposure
Assessment”. Chronobiology International 32 (9): 1294–1310.
5. Cipolla-Neto, J., F. G. Amaral, S. C. Afeche, D. X. Tan, & R. J. Reiter. 2014.
“Melatonin, Energy Metabolism, and Obesity: A Review”. Journal of Pineal
Research 56 (4):
6. Dominoni, Davide M., Jeremy C. Borniger, & Randy J. Nelson. 2016. “Light at Night,
Clocks and Health: From Humans to Wild Organisms”. Biology Letters 12 (2):
20160015.
7. Gombert, Marie, & Pilar Codoñer-Franch. 2021. “Melatonin in Early Nutrition:
LongTerm Effects on Cardiovascular System”. International Journal of Molecular
Sciences 22 (13): 6809.
8. Gunata, M., H. Parlakpinar, & H.A. Acet. 2020. “Melatonin: A Review of Its Potential
Functions and Effects on Neurological Diseases”. Revue Neurologique 176 (3): 148–
65.
9. Hahn-Holbrook, Jennifer, Darby Saxbe, Christine Bixby, Caroline Steele, & Laura
Glynn.
17
2019. “Human Milk as ‘Chrononutrition’: Implications for Child Health and
Development”. Pediatric Research 85 (7): 936–42.
10. Hazelhoff, Esther M., Jeroen Dudink, Johanna H. Meijer, & Laura Kervezee. 2021.
“Beginning to See the Light: Lessons Learned From the Development of the
Circadian System for Optimizing Light Conditions in the Neonatal Intensive Care
Unit”. Frontiers in Neuroscience 15 (março): 634034.
11. McCarthy, Ronald, Emily S. Jungheim, Justin C. Fay, Keenan Bates, Erik D. Herzog, &
Sarah K. England. 2019. “Riding the Rhythm of Melatonin Through Pregnancy to
Deliver on Time”. Frontiers in Endocrinology 10 (setembro): 616.
12. Qin, Yishi, Weiyang Shi, Jialu Zhuang, Yu Liu, Lili Tang, Jun Bu, Jianhua Sun, e Fei
Bei.
2019. “Variations in Melatonin Levels in Preterm and Term Human Breast Milk
during the First Month after Delivery”. Scientific Reports 9 (1): 17984.
13. Scheiermann, Christoph, Yuya Kunisaki, & Paul S. Frenette. 2013. “Circadian Control
of the Immune System”. Nature Reviews Immunology 13 (3): 190–98.
14. Wood, Brittany, Mark S. Rea, Barbara Plitnick, & Mariana G. Figueiro. 2013. “Light
Level and Duration of Exposure Determine the Impact of Self-Luminous Tablets
on Melatonin Suppression”. Applied Ergonomics 44 (2): 237–40.
18
APÊNDICES:
APÊNDICE 1
19
Figura.1 Efeito da cronodisrupção mediada por LAN sobre a fisiologia no Gestante e na
Lactação APÊNDICE 2
Figura 2. A) Concentrações de ML no relógio Circadiano. Concentrações de ML noturna na
Gestação B) Concentração Noturna de ML no leite materno para primeiro mês de vida de
bebês pre-termo e termo.
20
O ENSINO SOBRE ALEITAMENTO MATERNO
DURANTE A GRADUÇÃO EM MEDICINA
Cecília Freire de Carvalho Pinton1
Resumo
Este estudo discute sobre a necessidade de se abordar de maneira mais aprofundada e
estruturada o tema Aleitamento Materno durante o curso de graduação em medicina. Destaca
a importância do atendimento qualificado do profissional médico para a proteção, promoção
e apoio ao aleitamento materno e sua manutenção. Este artigo resulta de uma pesquisa
realizada pela autora a partir dos estudos abordados na Pós-graduação em Aleitamento
Materno pelo Instituto Passo 1.
Palavras-chave: Aleitamento materno. Amamentação. Educação médica.
1 INTRODUÇÃO
O Aleitamento Materno (AM) exclusivo até os 6 meses de vida e complementado até os
dois anos ou mais traz inúmeros benefícios para saúde do bebê e para saúde da mulher que
amamenta. É a estratégia isolada que mais previne mortes infantis, um importante indicador de
saúde pública. Além disso, está associado a benefícios a longo prazo como diminuição do risco
de sobrepeso e obesidade, diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica e suas complicações
(VICTORA et al., 2016). Dada a sua relevância para promoção e prevenção em saúde, esse
tema ainda é pouco abordado durante a graduação do curso de medicina.
2 O TEMA ALEITAMENTO MATERNO NO ENSINO MÉDICO
Os currículos dos cursos médicos no Brasil são relativamente padronizados, seguindo
as diretrizes curriculares nacionais, porém a educação em aleitamento materno varia muito entre
as faculdades pela falta de um currículo mínimo exigido durante a graduação (FRAZÃO et al.,
2019). Esse mesmo problema é observado em outros países como EUA e Reino Unido (BIGGS
et al., 2020; GARY et al., 2017).
A decisão individual das mulheres em amamentar ou não seus bebês, bem como
prolongar o AM além dos primeiros meses de vida, sofre forte influência da opinião e do apoio
do profissional médico. Por isso, independentemente da especialidade do médico, ele deve ter
uma compreensão básica da importância da amamentação e promovê-la como um importante
1
Pós – Graduanda em Especialização em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail:
ceciliafcpinton@gmail.com
21
cuidado de prevenção em saúde. Informações erradas e práticas inadequadas em relação ao AM
estão associada a piores taxas de aleitamento.
A formação médica atual é insuficiente em termos de conhecimento teórico e
habilidades práticas em amamentação. Os alunos, ao final do curso, entendem a importância do
aleitamento materno, porém não se sentem preparados para enfrentar os desafios da
amamentação e dar suporte as famílias durante esse processo, principalmente quando ocorrem
dificuldades. Muito do que se aprende sobre amamentação depende da experiência dos médicos
assistentes e da experiência prática individual com os pacientes atendidos ao invés de um
currículo formal de educação em AM.
Frazão e colaboradores (2019) realizaram uma pesquisa com os alunos do curso de medicina
de uma Universidade de Alagoas, realizada através de um questionário que abrangia diversas
áreas de conhecimento sobre AM, para avaliar a progressão do conhecimento médico durante
a graduação sobre o tema e observou que o índice de acerto progrediu de forma irregular e se
questiona se os acertos ocorreram de forma aleatória, se as informações estão organizadas com
um objetivo claro de aprendizado e se os alunos estão sendo motivamos a refletir sobre o que
estão aprendendo. E conclui que esse despreparo do conhecimento esteja sendo levado para
vida profissional.
De acordo com a pesquisa realizada por Meek e colaboradores (2020) realizada com
profissionais médicos e não médicos com interesse em melhorar o treinamento e educação
médica em AM foram identificados barreias e oportunidades para a inclusão de conteúdo sobre
amamentação na educação médica (APÊNDICE 1).
O ensino sobre AM deve aliar conhecimento teórico e prático, incluindo o manejo dos
principais problemas em amamentação e deve ocorrer em vários campos de estágios como
maternidade, atenção básica, ambulatórios de amamentação, banco de leite, etc.
A OMS, UNICEF e Academia de Medicina da Amamentação recomendam que os
estudantes de medicina e profissionais médicos devem conhecer as evidências científicas da
amamentação como padrão ouro da alimentação infantil, conhecer a fisiologia da
amamentação, os aspectos nutricionais do leite materno, a mecânica da amamentação,
compreender o manejo clínico de mães e recém nascidos normais e as influências psicossociais
que impactam o início e manutenção da amamentação e devem evitar a criação de barreiras
para o estabelecimento do AM (GARY et al., 2017). Os Apêndices 2 e 3, tabelas adaptadas de
Gary e colaboradores (2017), resumem as recomendações dessas instituições a respeito dos
conhecimentos e habilidades sobre AM que os estudantes de medicina devem ter.
Uma importante estratégia para estimular o interesse dos alunos em estudarem mais
sobre esse tema seria a inclusão de mais questões sobre aleitamento materno nas provas de
títulos e de acesso a residência médica.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para melhora do conhecimento teórico e das habilidades práticas do médico em
formação, sugere-se criar um currículo básico em AM, abordando o tema durante toda a
graduação, com aumento progressivo da complexidade, que ofereça ao médico ferramentas para
que ele se sinta seguro e preparado no manejo clínico da amamentação, favorecendo o aumento,
das taxas de aleitamento materno na população em que irá trabalhar.
4 REFERÊNCIAS
22
BIGGS, KV, Fidler KJ, Shenker NS, Brown H. Are the doctors od the future ready to
support breasrfeeding? A cross-sectional study in the UK. International Breastfeeding
Jounal, v.15, n.1, p.46-53, mai 2020.
FRAZÃO, SIRMANI MELO; VASCONCELOS, MARIA VIVIANE LISBOA DE;
PEDROSA, CELIA MARIA. Conhecimento dos Discentes sobre Aleitamento Materno em
um Curso Médico. Revista Brasileira de Educação Médica. 43(2):58-66; 2019.
GARY AJ, BIRGMINGHAM EE, JONES LB. Improving breastfeeding medicine in
undergraduate medical education: A student survey and extensive curriculum review
with suggestions for improvement. Education for Health, v. 30, n2, p. 163-168, 2017
MEEK JY et al. Landscape Analysis of Breastfeeding- Related Physician Education in the
United States. Breastfeeding medicine: the oficial jornal of the Academy of Breastfeeding
Medicine, v.15, n.6, p. 401-411, jun 2020
VICTORA CG, BAHL R, BARROS AJ, FRANÇA GV, HORTON S, KRASEVEC J, et al.
Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet, v.
387, n. 10017, p. 475-490, jan. 2016.
5. APÊNDICES
APÊNDICE 1: Barreiras e oportunidades identificadas pelo informante-chave para inclusão de
conteúdo sobre amamentação na educação médica
Barreiras Oportunidades
1- Relutância em priorizar a amamentação como
parte da educação médica e prática
2- Falta de confiança dos médicos em suas
habilidades e conhecimentos para fornecer
aconselhamento sobre
amamentação
3- Falta de conscientização e apoio do paciente e
da população para a amamentação
4- Seleção de médicos com interesse em
amamentação para Educação Médica Continuada
5 – Falta de uma mensagem unificada de todas as
especialidades médicas de que a amamentação é a
principal e melhor nutrição para o bebê
6- Influência das empresas de fórmulas no
ambiente de educação médica (por exemplo
congressos nacionais) transmite uma mensagem
confusa para os
estudantes e ao público
7- Falta de preceptores de apoio a lactação
disponíveis, principalmente em clinicas e hospitais
menores
Traduzido e adaptado de Meek e colaboradores (2020)
1- Desenvolvimento de uma instituição específica que
defenda a amamentação
2 – Treinamento sobre aspectos práticos da
amamentação e manejo da lactação
3 – Estabelecimento de padrões curriculares
sobre amamentação e manejo da lactação para as
escolas médicas
4- Integração da amamentação à nutrição durante
o ensino médico básico
5- Inclusão da amamentação e manejo da
lactação nos exames certificação do conselho
6 – Treinamento em amamentação e manejo da lactação
para toda a equipe de atendimento
23
APÊNDICE 2: Competências baseadas no Conhecimentos em cuidados de amamentação para
graduandos em medicina.
24
APÊNDICE 3: Competências baseadas nas Habilidades em cuidados de amamentação para
graduandos em medicina.
25
INFLUÊNCIA DAS AVÓS NO ALEITAMENTO MATERNO
Cristiane Moretti Gouveia1
RESUMO
Os benefícios do aleitamento materno são amplamente discutidos na comunidade acadêmica e
órgãos governamentais de saúde. Apesar disso, a prevalência de desmame precoce continua
alta. Diversos fatores interferem na decisão de uma mulher amamentar ou não. Dentre esses
fatores, as avós representam um modelo a ser seguido devido seus conhecimentos, experiências
e saberes. Portanto, é necessário estudar a influência delas no desfecho da amamentação. O
ambiente familiar é o primeiro local de aprendizagem relacionados à saúde e tradicionalmente,
as mulheres são responsáveis pela higiene, alimentação e cuidados dos familiares. A nutrizes
percebem que as avós influenciam positivamente ou negatividade a sua decisão de amamentar e
reconhecem que a opinião das avós constitui elemento significativo para reforçar a sua decisão
em manter a amamentação. As avós são consideradas elemento fundamental para a manutenção
ou abandono do aleitamento materno. Mitos, crenças e proibições são passados de geração em
geração e estão relacionados pelo contexto social, cultural e histórico da nutriz.
Palavras chave: Avós; Aleitamento Materno; Desmame Precoce; Interferência Familiar.
1. INTRODUÇÃO
Os benefícios do aleitamento materno são amplamente discutidos como sendo o melhor e único
alimento nos primeiros seis meses de vida e alimento complementar até os dois anos ou mais
(BRASIL,2015). Apesar de todas as vantagens conhecidas e da recomendação do Ministério da
Saúde, o desmame precoce é uma realidade frequente em nossa sociedade (MARTINS E
MONTRONE, 2017).
Giugliane (apud MARTINS E MONTRONE, 2017) considera que há uma diversidade de
fatores que podem influenciar a decisão da mulher em relação à amamentação, como a falta de
conhecimento dos benefícios e prejuízos do aleitamento materno e técnicas de amamentação,
falta de apoio familiar e profissionais de saúde e propaganda de indústrias de leite. Portanto, a
amamentação não é totalmente instintiva e nem automática no ser humano, muitas vezes deve ser
aprendida para ser prolongada com êxito. Nesse sentido, as mulheres, ao se depararem pela
primeira vez com o aleitamento materno, requerem que lhes sejam apresentados modelos ou guias
práticos de como devem conduzir-se nesse processo, que na maioria das vezes tem como primeira
referência o meio familiar, as amizades e vizinhança nos quais estão inseridas (ANGELO et al,
2015).
Sendo o êxito da amamentação multifatorial, destaca-se o suporte familiar. No contexto familiar,
as avós são referências significativas no repasse de informações que interferem na decisão da
mulher amamentar ou não. São elas ainda que detêm conhecimentos que foram validados por
suas experiências de vida, sendo socialmente aceitos, respeitados e valorizados (ANGELO et al.,
2020). Sendo as avós peça chave em todo o processo de nascimento e
Enfermeira, especializanda em Aleitamento Materno pela Passo1, pólo Piracicaba-SP.
26
alimentação e próximas das mulheres no período do puerpério é justificável estudar a influência que
as avós exercem para o sucesso ou não da amamentação.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica cuja base de dados utilizada foi a Biblioteca Virtual
de Saúde (BVS) acessada no dia 09 de agosto de 2021. As palavras chaves utilizadas foram avós
e aleitamento materno, causas de desmame precoce, interferência familiar no desmame precoce
e dificuldades no aleitamento. Foram encontrados 66 artigos. Destes artigos encontrados, foram
escolhidos aqueles escritos em língua portuguesa e oriundos de autores brasileiros, para que,
melhor descrevessem a realidade brasileira. Além disso, foram incluídos artigos publicados entre
os anos de 2015 a 2021, totalizando 09 (nove) referências bibliográficas.
3. AS AVÓS E A AMAMENTAÇÃO
O ambiente familiar é o primeiro local de aprendizagem relacionados à saúde e tradicionalmente,
as mulheres são responsáveis pela higiene, alimentação e cuidados dos familiares. Seus
integrantes compartilham experiências, condutas e ensinamentos, o que indica ser este local o
espaço onde as mulheres buscam apoio para o desenvolvimento das atividades maternas e para a
amamentação (QUEIROZ et al., 2016). O apoio à lactante é baseado na história pessoal de mães,
sogras, tias, irmãs que podem ser de sucesso ou insucesso com o processo de amamentação
levando ou não ao desmame precoce (MARTINS E MONTRONE, 2017; CARVALHO et al.,
2018).
Segundo pesquisa sobre a influência das avós no aleitamento materno exclusivo em um hospital
do interior paulista, realizada por Ferreira e colaboradores (2018), as avós, principalmente
maternas, ocupam uma posição importante na família que aguarda a chegada do bebê devido ao
contato diário, que elas referiam ter com suas filhas e netos. Além disso, as avós (materna ou
paterna) tiveram maior possibilidade de ajuda no cotidiano da casa e nos cuidados com os netos.
Os conhecimentos, atitudes e práticas das avós direcionam a amamentação de suas filhas e noras
oferecendo o apoio necessário para o sucesso do aleitamento materno e/ou promovendo a
contenção visualizada pelo início do desmame precoce (ANGELO et. al., 2020).
A nutrizes percebem que as avós influenciam positivamente ou negatividade a sua decisão de
amamentar e reconhecem que a opinião das avós constitui elemento significativo para reforçar a
sua decisão em manter a amamentação (SIQUEIRA et al., 2017). A avó que amamentou,
frequentemente representa um modelo a ser seguido, influenciando positivamente ou
negativamente a adesão ao aleitamento, uma vez que, as nutrizes viveram a experiência de serem
amamentadas (ANGELO et al., 2015).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As avós são consideradas elemento fundamental para a manutenção ou abandono do aleitamento
materno. Mitos, crenças e proibições são passados de geração em geração e estão relacionados
pelo contexto social, cultural e histórico da nutriz. Experiências positivas ou negativas durante a
amamentação, muitas vezes, reproduzem os ensinamentos aprendidos com suas mães, que por
sua vez, aprenderam com vivências maternas anteriores.
É importante incluir familiares e principalmente as avós, no contexto de cuidados à gestante e
lactante. Profissionais de saúde devem considerar incluir as avós em programas de aleitamento
materno, para que possam expor suas crenças e sentimentos relativos à amamentação. Assim, as
27
avós estarão mais preparadas para exercer uma influência positiva para a amamentação de suas
filhas e noras.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA
ANGELO, B.H.B. et al. Práticas de apoio das avós à amamentação: revisão integrativa. Revista
Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 15, n. 2, p. 161-170, 2015.
ANGELO, B. H.B. et al. Conhecimentos, atitudes e práticas das avós relacionados ao aleitamento
materno: uma metassíntese. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Recife, v.28, e.3214,
2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério
da Saúde, 2015.
BRITO, R.S. et al. Aleitamento materno: conhecimento de avós adscritas à estratégia saúde da
família. Rev. Enferm UFSM, Santa Maria, v.5, n.2, p. 305-315, 2015.
CARVALHO, E.S. et al. Dificuldades do aleitamento materno exclusivo diante da interferência
familiar. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, 2018.
DIAS, L.M.O. et al. Influência familiar e a importância das políticas públicas de aleitamento
materno. Revista Saúde em Foco, Teresina, Edição nº 11, 2019.
FERREIRA, T.D. et al. Influência das avós no aleitamento materno exclusivo: estudo descritivo
transversal. Revista Einstein, São Paulo, v. 16, n.4, 2018.
MARTINS, R.M.C.; MONTRONE, A.V.G. O aprendizado entre mulheres da família sobre
amamentação e os cuidados com o bebê: contribuições para atuação de profissionais de saúde.
Rev. APS, São Carlos, v.20, n.1, p. 21-29, 2017.
QUEIROZ, P.H.B.; ZANOLLI, M.L.; MENDES, R.T. A interferência relativa das avós no
aleitamento materno de suas filhas adolescentes. Rev Bras Promoç Saúde, Fortaleza, v.29, n.2,
p. 253-258, 2016.
SIQUEIRA, F.P.C.; CASTILHO, A.R.; KUABARA, C.T.M. Percepção da mulher quanto à
influência das avós no processo de amamentação. Rev Enferm UFPE on line, Recife, v.11,
supl.6, p. 2565-75, 2017.
28
A VISÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
DENTRO DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL FRENTE AS DIFICULDADES EM
PROMOVER O ALEITAMENTO MATERNO
Deisiane Pessoa da Silva Santos1
Resumo
Um grande problema de saúde pública no Brasil é o desmame precoce em bebês
internados em Unidades de Terapia Intensiva. São muitas as causas que interferem no
aleitamento materno, como situação socioeconômica, cultura, idade, cultura e entre
outros fatores. Sabemos que existem políticas de promoção a saúde e proteção ao
aleitamento materno. Nesta revisão o objetivo é deixar claro a importância de capacitar
profissionais de saúde a atender esse binômio, essa família, prestando um atendimento
de qualidade e interdisciplinar.
Palavras-chave: Aleitamento Materno. Desmame. Profissionais de saúde. Capacitação de
Profissionais de saúde.
1 INTRODUÇÃO
O aleitamento materno é o alimento mais importante para a criança nos primeiros
meses de vida, pois é capaz de suprir e saciar todas as necessidades nutricionais, sistema
imunológico e neuropsicomotor e todo seu desenvolvimento emocional e cognitivo. Os
benefícios são inúmeros tanto para a criança tanto para a mãe que amamenta, aumento o
vínculo entre a díade e contribui para saúde física e psíquica da mãe (MARQUES et al.,
2016).
Em 1981 o programa nacional de incentivo ao aleitamento materno foi
oficializado, seu objetivo é combater a desnutrição infantil, através de ações que incluam
apoio a amamentação na comunidade, campanhas de mídias, marketing sobre os leites
artificiais, treinamento aos profissionais de saúde, aconselhamento e leis que protegem a
amamentação (ALENCAR, 2008 apud MARQUES et al., 2016).
1
Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Piracicaba/SP. E-mail:
deisiane.silva@unimedpiracicaba.com.br
29
O cenário da amamentação nas Unidades de Terapia Intensivas Neonatais (UTIN)
mostra como os profissionais que assistem os bebês e seus pais precisam de mais
capacitação e acolhimento relacionados à prática do aleitamento:
[...] Todavia, nos casos em que as crianças nascem prematuras, certas
particularidades e dificuldades acabam por gerar um desmame precoce do
aleitamento materno, especialmente atribuído ao retardo da sucção direta da
criança do seio materno; pela hospitalização da criança por um período mais
longo; estresse materno e familiar; além de existirem lacunas no incentivo ao
aleitamento materno nesse contexto (ABREU et al.,2015).
2 DIFICULDADES DE PROFISSIONAIS DA SAÚDE EM PROMOVER E
INCENTIVAR O ALEITAMENTO MATERNO DENTRO DAS UTINs
O processo que esse bebê recebe o leite materno da mama ou ordenhado é
influenciado por valores sociais, ideologias e interesses, tanto econômicos e tanto pelas
experiências anteriores das mulheres, suas inseguranças e dificuldades encontradas nesse
contexto hospitalar (MARQUES et al., 2016).
O bebê internado em uma UTIN, muitas das vezes está restrito em receber o colo
materno, devido sondas, soroterapias, cateter de oxigênio e outros materiais que impedem
essa mãe de segurar seu filho, no entanto, é importante que equipe de enfermagem
promova a aproximação entre essa díade promovendo, assim que possível for, contato
pele a pele e o incentivo ao Método Canguru (COUTINHO e KAISER, 2015).
O apoio da equipe de enfermagem, em trazer esclarecimentos que poderão fazer a
total diferença no sentindo de bem-estar dessa díade mãe-filho, entendendo essas
angustias, medos, insegurança sobre a amamentação, estabelecendo uma relação de
confiança com a mãe, fornecendo orientações básicas para a vida do neonato e avaliar o
cuidado prestado. Lidando muitas das vezes com os entraves, barreiras, considerando a
própria experiência do enfermeiro em cuidar, resultando em atendimento e cuidado com
qualidade (COUTINHO e KAISER, 2015).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os artigos levantados, as características socioeconômicas e
culturais que acompanham o aleitamento em uma unidade de terapia intensiva neonatal
são um dos fatores que levam ao desmame precoce desses bebês, aumentando os índices
de morbimortalidade. Além disso, a falta de capacitação profissional é questão a ser
melhorada para que a equipe de saúde possa ser rede de apoio técnico e emocional para
essas famílias.
REFERÊNCIAS
COUTINHO, Sandra Eugênio e KAISER, Elaine Dagmar. Visão da enfermagem sobre
o aleitamento materno em uma unidade de internação neonatal: relato de experiência.
Boletim Científico de Pediatria. V 4, N 1, jul/2015.
30
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Materno de Recém-Nascidos Prematuros. Id on Line-Revista Multidisciplinar e de
Psicologia. V 14 N. 53, p. 926-934, dez/2020.
MARQUES, Gabriela Cardoso Moreira et al. Aleitamento Materno: Vivido de mães que
tiveram bebês internados em unidade de terapia intensiva neonatal. Revista de
Enfermagem- UFPE On Line. Recife, V 10, p. 495-500, fev/2016.
31
A VISITA DOMICILIAR E O ALEITAMENTO
MATERNO NA ADOLESCÊNCIA
Flávia Corrêa Porto de Abreu D’ Agostini1
Resumo
As mães adolescentes têm menor probabilidade de começar a amamentar quando comparado
a uma mãe em fase adulta, e metade das mães adolescentes amamentam até o 6º mês de vida.
A visita domiciliar propicia o aprimoramento das competências parentais e no
desenvolvimento infantil das famílias com mães e pais adolescentes. Este estudo mostra a
importância da visita domiciliar pelo enfermeiro no acompanhamento do aleitamento materno
na adolescência. Conclui-se que a maternidade na fase da adolescência conclama de apoio dos
profissionais de saúde no enfrentamento dos obstáculos e demandas da maternidade e do
aleitamento materno e a visita domiciliar realizada pelo enfermeiro permite prestar uma
melhor assistência à adolescente para se obter o sucesso do aleitamento materno.
Palavras-chaves: Aleitamento materno; Visita domiciliar; Enfermagem; Adolescente
1 INTRODUÇÃO
A adolescência é o período entre 12 à 18 anos de acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), sendo uma fase de grande adaptações, transformações e mudanças no
âmbito físico, psíquico e social. (BRASIL, 1990).
Considerando que a recomendação do aleitamento materno (AM) exclusivo até o sexto mês de
vida da criança e até 2 anos de idade de forma complementada (BRASIL, 2015) e, que a
compreensão da gravidez e da amamentação na adolescência permite um olhar ampliado dos
profissionais de saúde, devido à grande parcela dos casos ocorrer em populações de maior
vulnerabilidade social e econômica (CRUZ; CARVALHO; IRFFI, 2016).
Considerando que a visita domiciliar (VD) deve ser adotada pelos profissionais de saúde
como uma ferramenta de cuidado a indivíduos e famílias em seu contexto, além de permitir a
construção do vínculo entre o indivíduo/ família e o profissional visitador (ROCHA et al.,
2017).
1
Pós-graduanda em Aleitamento pelo Instituto Passo1 polo Piracicaba/SP, flaviacpa90@gmail.com
32
Este estudo tem por objetivo é identificar a importância da visita domiciliar pelo enfermeiro
no acompanhamento do aleitamento materno na adolescência.
2 DESENVOLVIMENTO
As adolescentes reconhecem a amamentação como uma experiência que fortalece o vínculo
afetivo entre mãe e bebê, mas a dificuldade neste processo traz sentimentos ambíguos a mãe
adolescente (TAVEIRA; ARAÚJO, 2019). Entretanto, as mães adolescentes têm menor
probabilidade de começar a amamentar quando comparado a uma mãe em fase adulta, e metade
das mães adolescentes amamentam até o 6º mês de vida (CONDE; et.al, 2017).
Durante o pré-natal muitas gestantes adolescentes não recebem o incentivo e a orientação
sobre o aleitamento materno dos serviços de saúde, e muitas delas acabam recendo algum tipo
de intervenção somente após o parto (TESSARI; SOARES; SOARES; ABREU, 2019). E as
mães adolescentes apresentam dificuldades na amamentação na falta de conhecimento,
dificuldade na pega e em conciliar a amamentação e as atividades escolares (TESSARI;
SOARES; SOARES; ABREU, 2019).
As mães adolescentes são mais propensas a serem socialmente isoladas (RASKIN et al.,
2017), por isso é fundamental elas receberem as visitas dos enfermeiros em virtude de terem
alguém para conversar, fazer perguntas, para ouvi-las, apoiá-las emocionalmente (ZAPART;
KNIGHT; KEMP, 2016).
A visita domiciliar propicia o aprimoramento das competências parentais e no
desenvolvimento infantil das famílias com mães e pais adolescentes (ROCHA et al., 2017).
Além disso, promovem impactos positivos na abordagem do aleitamento materno em mães
adolescentes. O tema da amamentação deve ser abordado durante a gestação e após nascimento
pelos enfermeiros durante a VD, pois ter esse profissional em domicílio é muito significante e
auxilia no acompanhamento e promoção do cuidado (ZAPART; KNIGHT; KEMP, 2016).
Caso a mãe adolescente apresente qualquer dificuldade durante a amamentação poderá ser
identificado pelo enfermeiro durante a visita domiciliar, seja pelo apoio e/ou encaminhamento
a outros serviços de saúde e da comunidade para uma atenção adicional (STETLER et al.,
2018).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maternidade na fase da adolescência conclama de apoio dos profissionais de saúde no
enfrentamento dos obstáculos e demandas da maternidade e do AM. Portanto, a VD promove
uma compreensão ampliada do significado da maternidade e da amamentação para a mãe
adolescente, e permite ao enfermeiro a prestar uma melhor assistência à adolescente para se
obter o sucesso do aleitamento materno.
33
4 REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Estratégia Nacional para
Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema
Único de Saúde: manual de implementação / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 152 p.
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exclusivo entre mães adolescentes. Acta Paulista de Enfermagem [online]. 2017, v. 30, n. 4
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ROCHA, K. B. et al. Home visit in the health field: a systematic literature review. Psicologia,
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STETLER, K. et al. Lessons learned: implementation of pilot universal postpartum nurse
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TESSARI, W; SOARES, L. G.; SOARES, L. G; ABREU, I. S. Percepção de mães e pais
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<http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/1865>. Acesso em: 17 set.
2021. doi:https://doi.org/10.21675/2357-707X.2019.v10.n2.1865.
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34
DIABETES GESTACIONAL: ORDENHA DE
COLOSTRO ANTENATAL COMO FORMA DE
PROMOVER E PROTEGER O ALEITAMENTO.
Flavia Gheller Schaidhauer1
Resumo
Diabetes Gestacional é um problema de saúde pública mundial, chegando a afetar 90% das
gestantes em ambulatórios de gestação de alto risco. O atraso da lactogênese II associada a essa
morbidade está bem estabelecida, bem como o uso de substitutos de leite materno em caso de
hipoglicemia neonatal. A ordenha antenatal tem se mostrado uma estratégia promissora para
evitar uso de substitutos de leite humano, e melhorar as taxar de início de aleitamento e redução
de desmame precoce.
Palavras-chave: diabetes gestacional, hipoglicemia neonatal, aleitamento.
1 INTRODUÇÃO
O Diabetes gestacional é um problema de saúde pública mundial, afetando 1-35% das
mulheres grávidas (Silva et al, 2021). Um dos principais fatores é resistência periférica a
insulina, mesmo com altos níveis de produção de insulina no final terceiro trimestre de gestação
(Zhu e Zhang, 2016).
A ordenha antenatal de colostro, armazenamento e congelamento, e sua disponibilidade após
nascimento é uma opção que tem sido estudada para evitar uso precoce de substitutos do leite
humano (Foster et al, 2014).
1 Pós graduanda em Aleitamento Materno Instituo Passo 1 Piracicaba flavia.schaidaheur@gmail.com
35
2 BARREIRAS AO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
Recém-nascidos filhos de mães com diabetes gestacional tem risco aumentado de
intercorrências ao nascer que levam a introdução precoce de substitutos do leite humano (Foster
et al, 2014).
Mulheres com diabetes gestacional tem atitudes e crenças menos favoráveis em relação ao
aleitamento, e menor apoio dos médicos e companheiros (Doughty, 2018).
Devido maior internação na unidade de cuidados intensivos e diminuição da autoeficacia
materna em amamentar, ocorre a perda da amamentação ou desmame próximo aos 3 meses de
idade nessa população (Morrison et al, 2014).
3 ORDENHA DE COLOSTRO ANTENATAL
Estudos mostram que a ordenha de colostro antenatal não diminui a incidência de
hipoglicemia neonatal ou internações em unidades de cuidados intensivos, mas esse
procedimento deixa as mães mais otimistas e empoderadas para usar seu leite e manter o
aleitamento (Doughty et al, 2018).
Gestantes com DMG que são bem-informadas dos riscos referentes a sua condição, tem
melhores desfechos em relação ao aleitamento, bem como são mais propensas a trabalhar o
aleitamento antes mesmo do nascimento, algumas aderindo ao protocolo de ordenha antenatal
de colostro (Park et al, 2021)
Devido a falta de estudos, a revisão sistemática realizada pela Cochrane em 2014, não
conseguiu avaliar a segurança e a eficácia da ordenha de colostro antenatal (East et al, 2014)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diabetes gestacional vem aumentando anualmente no mundo todo, e é uma das
principais causas de desfechos ruins relacionados ao concepto (OMS, 2013).
36
Protocolo de ordenha de colostro antenatal tem sido priorizado para esse grupo em vários
países, como Estados Unidos e Austrália, como forma de proteger e promover aleitamento
materno nessa população, que tem incidência alta de desmame precoce (menos de 3 meses) ou
mesmo ausência completa de aleitamento (Foster et al, 2014).
Não há estudos suficientes que avaliam a segurança e a eficácia da ordenha colostro antenatal,
porém há estudos mostrando que mulheres que fazem protocolo de ordenha acabam tendo maior
autoconfiança e auto-eficácia em iniciar e manter aleitamento de seus filhos, melhorando os
índices de aleitamento nessa população (Nguyen et al, 2019).
4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
Silva, José Roberto da et al. Gestational Diabetes Mellitus: the importance of the production in
knowledge. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil [online]. 2016, v. 16, n. 2 [Accessed
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Breastfeeding Outcomes: A Systematic Review. Asia Pac J Public Health. 2019
Apr;31(3):183198.
37
QUAL A RELAÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO E A
CÁRIE DENTÁRIA? - REVISÃO DE LITERATURA
Isabella Claro Grizzo1
Resumo
O presente estudo refere-se a uma revisão de literatura relacionando a cárie dentária com o
aleitamento materno. Com o passar dos anos a ciência desenvolveu diversos conceitos sobre a
etiologia da cárie, diante do cenário atual, sabe-se que se trata de uma doença multifatorial,
ou seja, diversos fatores associados para que ocorra o aparecimento da lesão cariosa e não
simplesmente a presença do açúcar/carboidrato na cavidade oral, e sim, necessário um
desequilíbrio dos fatores associados a doença cárie para o aparecimento da lesão. Sendo
assim, esse estudo irá apresentar através de artigos recentes, a relação da lesão cariosa com
o leite materno e se ele é capaz ou não de provocar o aparecimento das lesões, baseando-se no
conceito da doença x lesão e composição do leite materno.
Palavras-chave: Cárie dentária. Suscetibilidade a cárie dentária. Aleitamento materno.
Amamentação.
1. INTRODUÇÃO
A cárie dentária é mundialmente conhecida e estudada por apresentar uma elevada
prevalência mundial (11-53%) e ser considerada um problema de saúde pública, uma vez que o
desenvolvimento das lesões desequilibra a saúde oral do indivíduo, pode causar inflações dores
e simultaneamente afetar a qualidade de vida dos pacientes com lesões cariosas ativa. (THAM
et al., 2015; AVILA et al., 2015; SHEIHAM et al., 2006; RAMOS-JORGE et al., 2014) Nesse
contexto, estudar a etiologia da cárie dentária tornou-se extremamente viável, pois sabendo-se
como ela se desenvolve, é possível agir impedindo sua progressão e assim controlando a
prevalência mundial de cárie.
Por muitos anos acreditou-se que a cárie dentária era uma doença transmissível, causada apenas
pelo consumo do açúcar, no entanto, atualmente seu conceito dado por Pits et al é pautado na
definição de doença dinâmica, multifatorial e mediada pelo biofilme. Ou seja, para a lesão
cariosa se desenvolver clinicamente precisamos ter vários fatores associados, esses fatores são:
presença do biofilme dentário, ausência do flúor, presença das bactérias acidogênicas e
acidúricas e a presença do açúcar. O risco de cárie dentária está relacionado ao teor de
carboidratos do leite materno associada a duração do contato do leite e a dentição irrompida (ou
seja, frequência da alimentação e práticas de alimentação que resultam em agrupamento de leite
materno ou fórmula em torno das superfícies dos dentes, como a alimentação de bebês para
dormir) (THAM et al., 2015).
O processo do desenvolvimento da lesão se caracteriza pela queda do pH da cavidade oral,
nessa queda o esmalte dentário entra no processo de desmineralização, quando se tem a remoção
do biofilme e presença do Flúor, ele participará de trocas iônicas entre a superfície dentária e a
cavidade, formando a fluroapatita que contribuirá para o processo de remineralização, esse
processo ocorre constantemente na cavidade oral. No entanto, quando ocorre um desequilíbrio
1
Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail:
isabella.grizzo@usp.br
38
nesse processo, ocorrendo mais desmineralização do que a remineralização as lesões cariosas
aparecem. (MAGALHÃES A.C. et al, 2021)
Considerando que o leite materno contém lactose em sua composição e durante a
metabolização torna-se açúcar e o açúcar contribui para queda do pH do meio e o processo de
desmineralização é desencadeado há uma grande discussão sobre ele ser promotor de cárie
dentária na primeira infância e assim, tornou-se oportuno realizar uma revisão sobre o potencial
cariogênico do leite materno. Então, foi realizada uma busca no PUBMED de artigos com os
termos “dental caries” AND “breastfeeding”. Encontrou-se 477 artigos. Colocou-se um filtro
para artigos a partir de 2015 resultando em 145 estudos, desses 145, foi utilizado um segundo
filtro para inclusão de apenas estudos clínicos randomizados ou revisões sistemáticas e o
número de estudos obtidos foi de 7. Com esses 7 artigos, foi realizada a leitura de títulos e
resumos para uma exclusão preliminar e assim um estudo foi excluído pois seu tema fugia do
abordado no presente estudo. Os 6 estudos resultantes foram lidos completamente e na leitura,
dois foram excluídos por fugirem do foco do estudo, sendo incluídos nessa revisão 4 estudos.
2. LEITE MATERNO E CÁRIE
Assim como a cárie dentária na primeira infância tem impacto na saúde geral das
crianças o aleitamento materno também se apresenta relevante nesse aspecto, no entanto são
apontados os impactos benéficos dessa prática, como redução da mortalidade infantil, redução
do desenvolvimento de doenças sistêmicas, redução da desnutrição infantil, entre outros
inúmeros benefícios que já são comprovados pela ciência (AVILA et al., 2015; BIRUNG et al
2015), frente a eficácia do leite materno, é de suma importância o conhecimento da relação do
aleitamento e cárie, para não estimular um desmame precoce com o objetivo de manter o
bebê/criança livre de lesões cariosas.
Dos quatro estudos incluídos para essa revisão todos referem-se a uma relação fraca ou nula
entre o aleitamento com a cárie dentária, deixando claro que a relação apontada em alguns
estudos pode estar relacionada a falta de metodologia, viés do estudo ou outro tipo de alimento
introduzido na vida da criança juntamente com o aleitamento.
Tham e colaboradores (2015) sugeriu que o aleitamento materno além 1 ano de idade aumentou
o risco de cárie na primeira infância, mas advertiu que, pode haver confusão com efeitos dos
hábitos alimentares e da higiene oral quando não são adequadamente controlados. Já Moynihan
e colaboradores (2019) indicou que as melhores evidências disponíveis revelam que o
aleitamento até dois anos não aumenta o risco a cárie na primeira infância, quando comparado
com o aleitamento até um ano de idade. Mas fatores protetores como, escovação diária,
exposição dos dentes ao flúor, controle da dieta, devem ser introduzidos na vida das crianças a
partir do momento que o aleitamento materno passar a não ser exclusivo.
Um estudo conduzido por Neves e colaboradores (2016) avaliou o potencial de cariogenicidade
do leite materno, ou seja, avaliou a queda do pH provocada pelo leite materno na cavidade oral
e obteve como resultado que o leite materno não diminuiu o pH do biofilme dental nem em
crianças livres de cárie, nem em crianças que já apresentavam cárie da primeira infância.
Estudos experimentais prévios a Neves já haviam apontado que o leite materno não pode
apresentar um potencial cariogênico, desde que seja a única fonte de carboidratos (ARAÚJO et
al., 1997; ERICKSON & MAZHARI, 1999).
Sendo assim, nota-se que os estudos que associaram uma relação do aleitamento após os seis
meses de idade como risco de carie, podem ter um viés em relação aos outros hábitos
introduzidos na criança juntamente com o aleitamento. A Organização Mundial da Saúde
preconiza o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, diante disso, após esse período e
muitas vezes, antes disso, o bebê recebe outras fontes alimentares, como fórmulas infantil, no
intuito de complementar o aleitamento e a própria introdução alimentar, e assim, outras fontes
39
de carboidratos que são capazes de promover a queda de pH na cavidade oral suficiente para o
desenvolvimento de lesões cariosas são expostas a superifice dentária do bebê/ criança e
por atuarem no mesmo momento que o aleitamento acontece, uma confusão pode acontecer.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a leitura de diversos trabalhos e avaliando a etologia da cárie dentária pôde-se
concluir que o leite materno, isoladamente na alimentação do bebê, não tem potencial para o
desenvolvimento das lesões cariosas, mas quando associado com outras fontes de alimento pode
ser confundido como um fator de risco para cárie precoce da primeira infância.
4. REFERÊNCIAS
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41
ESCOLARIDADE MATERNA E SUA
INFLUÊNCIA NAS TAXAS DE ALEITAMENTO
Júlia Dias Silvestri Vaz Pinto1
Resumo
Uma vez que o leite materno traz diversas vantagens para bebês, suas mães e para a sociedade
como um todo, é de grande importância entender quais são os fatores que colaboram ou
atrapalham na manutenção na prática do aleitamento materno. Esse trabalho tem como
objetivo elencar os principais fatores relacionados ao desmame precoce, e se a taxa de
escolaridade materna é relevante dentre eles.
Palavras-chave: Aleitamento Materno (Breast Feeding, Lactancia Materna). Escolaridade
(Educational Status, Escolaridad). Desmame (Weaning, Destete).
1 INTRODUÇÃO
O leite materno é comprovadamente o melhor alimento existente para alimentar um bebê
no início da vida, não necessitando de nenhum outro complemento nos primeiros 6 meses, e
sendo importante de maneira complementada dali pra frente (LIMA, 2018). Com base nisso, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda aleitamento materno (AM) de maneira
exclusiva até o sexto mês do bebê, e de maneira complementada até os 2 anos ou mais. Além
da enorme superioridade nutricional e imunológica conferida pelo leite materno quando em
comparação aos leites artificiais existentes no mercado, ser amamentado está relacionado com
quedas de taxas de mortalidade infantil, risco de obesidade e diabetes ao longo de toda a vida
daquele bebê, além de potencial aumento da inteligência (VICTORA, 2016).
Sendo assim, é relevante que sejam identificadas as causas mais comuns de desmame
nos primeiros meses de vida, uma vez que isso causa impacto na saúde da sociedade como um
todo. No presente estudo foram reunidos artigos científicos a fim de identificar quanto o nível
de escolaridade materna foi relevante para a manutenção do aleitamento de seus bebês.
2 A INFLUÊNCIA DA ESCOLARIDADE MATERNA NAS
TAXAS DE ALEITAMENTO
Para entender os motivos do desmame precoce, é de grande valor que antes entendamos
quais são as gestantes que demonstram maior intenção materna em amamentar (IMA), para
depois tentar interpretar quais foram os fatores dificultadores durante esse processo. Se
analisarmos a revisão sistemática de Oliveira Vieira e colaboradores (2016), as características
1
Pós-Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: juliavaz.jv@gmail.com
42
associadas à maior IMA foram: primeira gestação, maior escolaridade e idade materna,
experiência prévia com a amamentação, ausência do hábito de fumar e residir com o
companheiro. Sendo assim, já pode-se perceber que desde a gestação, a escolaridade é um
grande fator influenciador nas ideias das mães e famílias sobre o ato de amamentar.
Quando passamos para a esfera da prática, ou seja, se esse bebê realmente foi ou não
amamentado e até quando, a baixa escolaridade materna continua se mostrando como uma forte
variável de desmame, sendo difícil identificar se essa relação se dá de maneira direta ou indireta.
Pereira-Santos et. al. (2017) agrupou em sua metanálise 22 estudos brasileiros e concluiu que
“idade inferior a vinte anos, baixa escolaridade, primiparidade, trabalho materno no puerpério
e a baixa renda familiar estão associados com a interrupção do AM exclusivo até os seis meses
de idade”. Já a revisão integrativa de Pinheiro (2021) demonstra os motivos citados pelos
autores como sendo de maior importância para a descontinuidade do AM até 6 meses “a mãe
trabalhar fora de casa, baixo nível de escolaridade das mães, leite fraco, traumas mamilares, uso
de bicos artificiais e deficiência na consulta de pré-natal”.
Infelizmente, tal influência não é um problema atual e muito menos simples de ser
manejado, uma vez que a escolaridade materna também está associada a fatores
socioeconômicos e culturais. Bem como demonstra o estudo de Escobar et. al. (2002), usando
amostra de 599 crianças em São Paulo, 1998, “maior escolaridade da mãe e presença de rede
de esgoto mostraram relação com maior tempo de aleitamento”. Se mudarmos o nosso foco
para o Norte do país, as informações continuam extremamente semelhantes, sendo que os
fatores que mais influenciaram foram faixa etária e escolaridade materna, mãe com trabalho
fora do lar, estado civil materno, incentivo do companheiro quanto ao AM e o escore da escala
de autoeficácia (MARGOTTI, 2016).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todos os artigos encontrados mostram que quanto maior a escolaridade materna,
maiores são as chances de aleitamento de seus bebês. Isso nos leva a pensar que o entendimento
sobre a importância e valor do AM são conhecimentos que ainda estão restritos a camadas de
maior escolaridade. Além disso, vale a pena extrapolar a análise em questão para a associação
de que mulheres com maiores taxas de escolaridade, em sua grande maioria, também estão em
níveis socioeconômicos mais altos. Esse fator muitas vezes facilita alguns pilares necessários
para a manutenção do AM, como licença maternidade remunerada, rede de apoio presente,
babás e creches, entre outros.
Nós da área da saúde temos a responsabilidade e missão de lutar por maiores taxas de
aleitamento. Tendo em vista que não conseguimos mudar consideravelmente a existência de
diferentes níveis socioeconômicos e de escolaridade na nossa sociedade, podemos concluir que
pode ser vantajoso trabalhar em difundir a informação sobre a importância do AM nos níveis
mais básicos de ensino, como por exemplo no ensino fundamental e médio. Uma vez que
amamentar é parte da natureza humana, faz sentido que crianças e adolescentes escutem e
aprendam sobre como sua espécie nasce e se desenvolve, e não que isso seja explicado apenas
para aquelas mulheres que já estão gestantes e prestes a passar pelo momento de lactação.
Quanto mais se conhece as vantagens que envolvem aleitar ao seio uma criança, maiores as
chances de seus benefícios superem os medos das mães, e interferências de bicos e leites
43
artificiais do mercado que muitas vezes têm marketing que nos levam a crer que são melhores
que o aleitamento natural.
Após essa análise, quanto mais pessoas conseguirmos atingir acerca do tema, e o quanto
antes, maiores serão as possibilidades desta mãe que deseja amamentar não se sentir sozinha
nessa luta, uma vez que seu parceiro ou parceira, familiares e amigos também a apoiam e criam
um ambiente propício para o AM ser mantido.
4 REFERÊNCIAS
ESCOBAR, A. M. U. et. al. Aleitamento materno e condições socioeconômico-culturais:
fatores que levam ao desmame precoce. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil , 2002.
LIMA, A. P. C.; NASCIMENTO, D. S.; MARTINS, M. M. F. A prática do aleitamento
materno e os fatores que levam ao desmame precoce: uma revisão integrativa. Journal of
Health & Biological Sciences, 2018.
MARGOTTI, E; MARGOTTI, W. Fatores relacionados ao Aleitamento Materno Exclusivo
em bebês nascidos em hospital amigo da criança em uma capital do Norte brasileiro. Saúde
em Debate, 2017.
PEREIRA-SANTOS, M. et. al. Prevalência e fatores associados à interrupção precoce do
aleitamento materno exclusivo: metanálise de estudos epidemiológicos brasileiros. Revista
Brasileira de Saúde Materno Infantil , 2017.
PINHEIRO, B. M.; NASCIMENTO, R. C.; VETORAZO, J. V. P. Fatores que influenciam o
desmame precoce do aleitamento materno: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica
Acervo Enfermagem, 2021.
VIEIRA, T. O.; MARTINS, C. C.; SANTANA, G. S.; VIEIRA, G. O.; SILVA, L. R.
Intenção materna de amamentar: revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, 2016.
VICTORA, C. G. et. al. Amamentação no século 21: epidemiologia, mecanismos, e efeitos ao
longo da vida. The Lancet: Série sobre amamentação, 2016.
44
ALEITAMENTO MATERNO NA ADOLESCÊNCIA:
APOIO À PRÁTICA DE AMAMENTAÇÃO E
PREVENÇÃO AO DESMAME PRECOCE
Lívia Elisei de Faria¹
Resumo
A gestação na adolescência pode influenciar negativamente na prática da amamentação,
levando ao desmame precoce. Contudo, com apoio adequado dos profissionais da saúde
e familiares desde o pré-natal, o aleitamento materno pode-se manter por mais tempo e
aumentar a confiança da mãe adolescente nos cuidados com seu filho.
Palavras-chave: Aleitamento materno. Adolescente. Desmame precoce.
1. INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2017) define como adolescência o período
da vida que compreende a faixa etária de 10 a 19 anos (cerca de 20 a 30% da população
mundial, no Brasil alcançando até 23% da população). É o período de transição entre
puberdade e idade adulta, onde ocorre grandes e profundas transformações psíquicas,
físicas e sociais.
A gravidez nesta fase pode implicar em reajustes interpessoais e intrapsíquicos,
determinando insegurança, medo e ansiedade diante desta nova condição, podendo gerar
sobrecarga física e emocional, comprometendo a maturação psicossexual e forçando a
adolescente desenvolver precocemente capacidades para prestar cuidado ao seu filho.
Segundo dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS, 2019), 14,7% dos
nascidos vivos no Brasil eram de mães adolescentes e, no estado de São Paulo a taxa foi
de 14,5% de nascidos vivos.
A amamentação na adolescência pode ser um desafio, pois a nova mãe se depara com
um complexo processo adaptativo, que embora seja natural, amamentar não é apenas
instintivo, necessitando de aprendizado e tempo para ser aprimorado, além de suporte
emocional adequado em seu meio social, que nem sempre é alcançado (CARVALHO &
GOMES, 2019). Por outra ótica, a experiência da amamentação pode ser um momento
importante de crescimento pessoal e formação de vínculo mãe-bebê.
1 Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1 pólo Piracicaba/SP. E-mail:
li_elisei@yahoo.com.br
45
2. ADOLESCÊNCIA E AMAMANTAÇÃO
A prática do aleitamento materno entre as adolescentes tende a não ter boa adesão
ou predispor o desmame precoce e, a decisão pessoal da mãe em amamentar deve ser
apoiada com informação atualizada e compreendida sobre os benefícios da amamentação
a curto e longo prazo para a saúde do binômio (QUEIROZ et al, 2016).
Desde o pré-natal a adolescente deve receber atenção integral e ampliada dos
profissionais de saúde e familiares (incluindo avós, parceiro (a) e outros membros) a fim
de incentivar, promover e apoiar o aleitamento materno. Deve-se criar um vínculo de
confiança e comunicação, com escuta atenta aos anseios e dúvidas desta jovem mãe,
orientando quanto à prática da amamentação e auxiliando-a a superar suas dificuldades,
na medida que vai alternando sua condição de filha adolescente para mãe adolescente
(SEHNEM et al, 2016).
O profissional da saúde desde a primeira consulta de pré-natal, no nascimento, no pós-
parto imediato e puericultura deve promover o aleitamento materno, dar suporte
psicológico, explicar a fisiologia da amamentação, benefícios, cuidados com as mamas e
estimular a autoconfiança da nova mãe. Concomitantemente, o incentivo e apoio familiar,
principalmente dos parceiros e avós, são fundamentais para iniciar e manter o aleitamento
materno por mais tempo, visto que os familiares estão presentes no cotidiano desta mãe
adolescente e são eles que irão compartilhar suas experiências anteriores, tornando
referência na prática à amamentação (CHICAROLLI et al, 2019).
A amamentação bem sucedida desperta na adolescente sentimento profundo de ligação
com o filho e de realização como mulher e mãe, mas esta também vivencia momentos
cansativos, por vezes refletidos em sofrimento (SEHNEM et al, 2016). Algumas situações
são percebidas pela mãe como obstáculo à amamentação, dentre elas: traumas mamilares
(fissuras), problemas na sucção, dificuldades na pega, choro e irritabilidade do bebê,
crenças de produção insuficiente ou leite fraco, falta de suporte profissional e necessidade
de retorno ao trabalho e estudos, favorecendo o desmame precoce. A menor duração do
aleitamento materno também está relacionada à alimentação precoce com mamadeira e
uso de chupeta (PONCE DE LEON et al, 2009).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A adolescência é um período de intensa transformação e vários enfrentamentos e a mãe
adolescente precisa de apoio de seu companheiro (a), de sua família, amigos e dos
profissionais da saúde. É de suma importância que a jovem mãe esteja ciente dos
benefícios do aleitamento materno para sua saúde e do bebê numa tentativa de evitar o
desmame precoce, já que a prevalência do aleitamento materno exclusivo entre as
adolescentes é baixa e tende a diminuir nos primeiros seis meses devida do bebê.
Durante a gestação e nas consultas de pré-natal devem ser realizadas práticas educativas
sobre amamentação com grupos de gestantes para trocas de experiências; com olhar
atento à mãe adolescente, promovendo, protegendo e apoiando a amamentação, com
estratégias de aconselhamento que oportunizem à estas mães expressarem seus
sentimentos, dúvidas, medos e, a partir disso encorajá-las a amamentar. Os profissionais
de saúde devem agir como facilitadores deste processo, juntamente com os familiares,
46
sobretudo avós e companheiro(a), para promover autonomia e empoderamento das mães
para que possam fazer a melhor escolha do modo de alimentação do seu filho.
REFERÊNCIAS
Carvalho, M.R. & Gomes, C. Amamentação Bases Científicas. 4° ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2019.
Queiroz, P.H.B., Zanolli, M.L., Mendes, R.T. A interferência relativa das avós no aleitamento
materno de suas filhas adolescentes, 2016.
Sehnem, G.D., Tamara, L.B., Lipinski, J.M., Tier, C.G. Vivência da amamentação por
mães adolescentes: experiências positivas, ambivalências e dificuldades. Revista de
Enfermagem UFSM, 2016.
Chicarolli, Amanda, Garcia, A.P.S., Carniel, Francieli. Aleitamento materno: desmame precoce
entre mães adolescentes, 2019.
Ponce de Leon, C.G.R.M., Funguetto, S.S., Rodrigues, J.C.T, de Souza, R.G. Vivência da
amamentação por mães adolescentes, 2009.
Oliveira, A.C., Dias, Í.K.R., Figueredo, F.E., Oliveira, J.D, Cruz, R.S.B.L.C., Sampaio,
K.J.A.J. Aleitamento materno exclusivo: causas da interrupção na percepção de mães
adolescentes. Revista de Enfermagem UFPE, 2016.
Maranhão, T.A., Gomes, K.R.O., Nunes, L.B., de Moura, L.N.B. Fatores associados ao
aleitamento materno exclusivo entre mães adolescentes. Cad Saúde Coletiva, 2015.
World Health Organization. WHO. Recommendations on Adolescent Health. Geneva,
Switzerland: World Health Organization, 2017
A adolescência e o aleitamento materno. Documento científico da Sociedade Brasileira de
Pediatria, 2020.
Prevenção da gravidez na adolescência. Guia prático de atualização da Sociedade Brasileira de
Pediatria, 2019.
47
MAMANALGESIA VACINAS:
ALEITAMENTO MATERNO COMO ALÍVIO DA DOR
Márcia Simone de Araújo Machado Siebert 1
Resumo
A administração de vacinas pode provocar dor, desconforto e angústia no recém-nascido,
causando ansiedade na mãe e em seus familiares. O método não farmacológico para alívio da
dor denominado Mamanalgesia tem se mostrado eficaz para acalmar o bebê no momento da
aplicação da vacina BCG e pode ser amplamente implementado tanto na Atenção Primária à
Saúde (APS) quanto nas maternidades e serviços de saúde materno-infantil que atendem aos
recém-nascidos e suas famílias.
Palavras-chave: Aleitamento Materno. Dor. Mamanalgesia. Vacinas.
1 INTRODUÇÃO
Os municípios da federação têm a instrução normativa em que expande para as
maternidades, que atendem pelo Sistema Único de Saúde, a administração do imunobiológico
BCG. Deste modo, a vacina vem sendo aplicada nas maternidades com o objetivo de ampliar a
cobertura vacinal e prevenir as formas graves de tuberculose.
A técnica de Mamanalgesia, que consiste no bebê ser amamentado durante a realização
de procedimentos que causam desconforto, proporciona benefícios significativos no que diz
respeito à humanização da assistência ao recém-nascido (RN). No momento da vacina,
considerado um procedimento doloroso, centrar a mãe no RN, mantendo contato físico entre o
binômio, traz alento para o bebê. Segundo Galvão e colaboradores (2015) devese centrar a mãe
na atenção do bebê, para que a preocupação do profissional que aplica a injeção subcutânea seja
na ação terapêutica e a responsabilidade da mãe será de acalmar e tranquilizar o RN.
2 MAMANALGESIA E APLICAÇÃO DA VACINA BCG
A dor é caracterizada como um evento que pode ser de origem sensorial ou emocional
sendo classificada como o 5 º sinal vital e todos os usuários têm direito de ter a sua dor avaliada
e tratada (CALASANS et al., 2016). No RN não é diferente. Estudos apontam que, a partir da
7º semana de gestação, a dor já é desenvolvida e, na 22º semana de vida intrauterina, o feto já é
capaz de sentir a dor. (CALASANS et. al., 2016).
1
Pós–Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail:
msimonella@gmail.com
48
Medidas não farmacológicas para o alívio da dor em crianças estão sendo utilizadas em
procedimentos que necessitam do uso de agulha para facilitar a continuidade do tratamento em
razão da redução do estresse e da angústia nesses pacientes (LANDER et al., 2006).
É notório a dificuldade de eliminação total da dor em RN durante procedimentos
invasivos, mas podemos diminuir sua intensidade e quantidade. A implementação da
Mamanalgesia, técnica não farmacológica no alívio da dor, durante a vacinação da BCG, tem
como propósito prestar cuidado humanizado às práticas assistenciais oferecidas ao RN, mulher
e família, nas maternidades. Baseado nessas circunstâncias, podemos utilizar a Mamanalgesia
para aliviar a dor durante a vacinação em RN pois ela promove diversas vantagens ao bebê e à
mãe, alimenta a criança e fortalece vínculo entre o binômio, devido ao conforto, proximidade e
aconchego do colo, diminuindo suas emoções em momentos de dor e desconforto. (MOURA et
al., 2021)
O leite materno é uma intervenção natural, fácil e eficaz na diminuição da dor durante a
vacinação, podendo ser facilmente adotada por profissionais de saúde e pais (SHAH et al.,
2006). O leite contém agentes que têm propriedades analgésicas ou que pode ser convertido
endogenamente em substâncias analgésicas, além de conter maior concentração de triptofano,
precursor da melatonina, que serve para aumentar a concentração de beta endorfinas, que é um
dos mecanismos para os efeitos nociceptivos do leite (SPARKS, 2001; AGARWAL, 2011).
A Mamanalgesia não envolve somente a técnica, mas também todas as orientações que
precisam ser fornecidas à mãe e à família do bebê. O profissional precisa utilizar uma linguagem
de fácil compreensão para que a mãe possa colaborar e participar ativamente deste cuidado,
assim, a Mamanalgesia poderá ser utilizada durante as próximas vacinas da criança e também
em outros procedimentos médicos que porventura ocasione dor.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Manter a atenção qualificada e humanizada que favoreça o cuidado ao recém-nascido e
à sua família é uma das premissas da assistência em saúde materno-infantil e o investimento no
aleitamento materno como estratégia para o conforto e o alívio da dor é um cuidado inovador
no formato da técnica da Mamanalgesia. Assim, a Mamanalgesia é considerada um ato de
humanização, possibilitando o estabelecimento de vínculos de afeto entre equipes de saúde, RN
e a família.
As equipes de saúde que assistem o binômio mãe-bebê necessitam de capacitações e
sensibilizações a respeito da Mamanalgesia para que se tornem agentes multiplicadores dessa
informação, pois ela é um cuidado que necessita de maior divulgação e utilização pelos diversos
serviços de saúde que oferecem cuidados aos recém-nascidos, às crianças e suas famílias.
4 REFERÊNCIAS
AGARWAL R. Breastfeeding or breast milk for procedural pain in neonates. The World
Health Organization Reproductive Health Library, Geneva: World Health, 2011.
49
BRASIL. Ministério da Saúde. Nota técnica nº 39/2021-COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS e
CGPNI/DEIDT/SVS acerca da amamentação como medida não farmacológica para redução da
dor durante a administração de vacinas injetáveis em crianças. Brasília – DF: Ministério da
Saúde, 2021. Disponível em:
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wpcontent/uploads/2021/10/Nota-Tecnica-39_2021-
COCAM-e-CGPNI-Amamentacao-e-alivioda-dor-1.pdf. Acesso em: 17 out. 2021.
CALASANS M. T., MAIA J. M. A., SILVA J. F. A amamentação como método não
farmacológico para o alívio da dor. Revista Enfermagem Contemporânea. v. 5, n. 2, 2016.
GALVÃO P. G. et al. Intervenções não farmacológicas de redução da dor em uso na vacinação
de lactentes. International Journal of Developmental and Educational Psychology.
[Internet].v.1, n.1, p. 89-97, 2015.
LANDER J. A., WELTMAN B. J., SO S. S. EMLA and amethocaine for reduction of children’s
pain associated with needle insertion. The Cochrane Database of Systematic Reviews. 1(3),
897–925. 10.1002/14651858.CD004236.pub2. 2006.
MOURA Z. S. C. et al. Amamentação como protocolo de alívio da dor no momento da
vacinação em recém-nascidos. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 3, p.
e40710313550, 2021.
SHAH P. S., ALIWALAS L. L., SHAH V. S. Breastfeeding or breast milk for procedural pain
in neonates. Retrieved from Cochrane Database of Systematic Reviews, 3, Art. Nº:
CD004950. DOI: 10.1002/14651858.CD004950.pub2. 2006.
SPARKS L. Taking the “ouch” out of injections for children. Using distraction to decrease
pain. MCN: The American Journal of Maternal/Child Nursing. 26(2), 72-78. 10. 2001.
50
MÉTODO CANGURU E CONTATO PELE A PELE NO
PROCESSO DE LUTO MATERNO
Mariana Cavenage Filó1
Resumo
O nascimento de um bebê pode estar cercado de situações inesperadas e a família diante deste
fato, pode ter dificuldade em estabelecer vinculo. A Metodologia Canguru e o contato pele a
pele vieram para ajudar na promoção do vínculo e no empoderamento desta família e no
processo de luto.
Palavras-chave: Método Canguru. Contato pele a pele. Luto do bebê ideal
1 INTRODUÇÃO
Quando um casal planeja ter filhos, junto começam os planos em torno desta criança e
todo um imaginário é construído. Mesmo que a gravidez não seja planejada, dúvidas e
incertezas aparecem perante ao novo. Só que muitas vezes, o bebê que imaginamos, acaba não
existindo, seja por um nascimento prematuro ou até pelo nascimento de um bebê com alguma
particularidade especial (MOREIRA et. al., 2003).
Neste momento, todos os planos que foram construídos no imaginário desta família são
desmoronados e começa o processo de luto do “filho ideal”. Surgem ali, as incertezas de um
futuro, de não saber se o “filho real” irá sobreviver ou como será seu desenvolvimento, se a
rotina da família irá mudar ou se terá uma vida normal. Todos esses questionamentos, são
comuns às famílias de bebês que nascem com alguma particularidade e cabe a nós, profissionais
da saúde que estamos responsáveis pelo cuidado desta família, ampara-los emocionalmente,
esclarecendo todas as suas dúvidas frente ao novo, ressignificando essa chegada e preparando-
os para possíveis percalços que enfrentarão (PRUDÊNCIO et. al., 2021).
2 QUANDO O BEBÊ IDEAL NÃO ACONTECE
Diante de uma notícia inesperada, todos nós começamos a negar que aquilo realmente
está acontecendo, principalmente se não é algo visível aos nossos olhos. Isto acontece à muitas
famílias que tem um bebê com alguma malformação ou que possuem alguma desordem genética
sem nenhum fenótipo associado.
1
Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail:
mariana.cavenage@hotmail.com
51
A família, após a notícia inicial e por não ter nada “palpável” aos seus olhos, entra em
processo de negação e começa, muitas vezes, a duvidar do diagnóstico feito, principalmente se
após este diagnóstico, vem a notícia de que a vida deste bebê pode se findar a qualquer
momento. Segundo Moreira e colaboradores (2003), os pais, por muitas vezes, tornam o
profissional portador da notícia inicial, o “culpado” por tudo aquilo estar acontecendo, tentando
transferir para eles, o sentimento de incapacidade perante daquela situação.
Neste momento, a equipe multidisciplinar tem um papel fundamental no acolhimento a
esta família, tentando elucidar todas as suas dúvidas e por muitas vezes fazendo reuniões com
à família estendida para que todos possam se conscientizar do prognóstico e para dar apoio a
esta família diante desta nova situação (PRUDÊNCIO et. al., 2021).
Os pais, por muitas vezes, não querem fazer vínculo com este bebê por medo do que
poderá vir a acontecer e muitas vezes, os pais se afastam das unidades ou tem medo de tocá-los
por imaginarem que vão atrapalhar no desenvolvimento da criança. Assim, devemos nos valer
do Método Canguru para promover o vínculo com esta família (SANTOS et. al., 2013).
O Método Canguru, que foi criado em 1978 na Colômbia e implementado no Brasil em
1999, tem sido utilizado na maioria das unidades de terapia intensiva e locais que atendem bebês
de risco, como método de inserção desta família nos cuidados deste bebê e no processo de
vinculo. O Método Canguru se baseia em quatro pilares: acolhimento ao bebê e a sua família,
respeito às individualidades de cada família, promoção do contato pele a pele o mais cedo
possível e envolvimento da mãe nos cuidados do bebê (MOREIRA et. al, 2003).
Segundo o Manual de Atenção Humanizada ao recém-nascido (2017), dentro do
Método Canguru, temos a Posição Canguru que consiste em colocar os bebês abaixo de 2500g
apenas de fralda em contato pele a pele com os familiares, desde que apresentem estabilidade
clinica durante o manuseio. A posição Canguru apesar de originalmente ter sido criada para
bebês de baixo peso ou prematuros, também pode ser utilizada para bebês nascidos a termo e
com peso superior. Durante a Posição Canguru, os bebês e os pais experimentam sensações
únicas, ambos se encontram mais relaxados e até a expressão facial do bebê muda, sendo ali a
maior troca de energia e contato entre ele e sua família. Através desde processo de troca,
conseguimos empoderar muitas famílias e estabelecer ali o vínculo que muitas vezes foi perdido
após uma má notícia.
Apesar de todos os esforços e cuidados, durante o processo de internação, alguns bebês
não evoluem de forma satisfatória e o óbito pode ocorrer. O contato pele a pele é de extrema
importância nestes casos, facilitando o processo de luto desta família. Ali, com o bebê nos
braços, todos se sentem lutando pela vida do seu filho até os últimos minutos e sentem que eles
também fizeram algo pelo bebê além do que a tecnologia pode oferecer. E é ali no abraço, no
cheiro e no toque que muitos bebês morrem, no lugar onde tudo se iniciou, no amor de seus
pais.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, vemos que a Metodologia Canguru e o contato pele a pele, vieram como
facilitador para as equipes que trabalham com bebês de risco. Pois através dela, conseguimos
empoderar a família ou criar vínculos perdidos durante os processos de más notícias. Vale
ressaltar que nem todos os lugares que trabalham com bebês de risco se utilizam desta prática
no seu dia a dia. Cabe a nós profissionais da saúde difundirmos cada vez mais esses preceitos
para que possamos dar à todas as famílias a oportunidade de cuidar do seu bebê, mesmo que a
vida deste bebê seja breve.
52
4 REFERÊNCIAS
BRASIL.Ministério da Saúde. Atenção humanizada ao recém-nascido: Método Canguru –
3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017.
MOREIRA, Mel et. al. Quando a vida começa diferente: o bebê e sua família na UTI
neonatal. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. Criança, Mulher e Saúde collection.
PRUDÊNCIO, P. S.; TÔRRES, N. M.; FRANGIOTI, P. Como o profissional de saúde pode
acolher a mãe e a família diante da morte de seu bebê. E-book, 2021. Disponível em:
Prudêncio - Cursos e Consultorias (profadrapatriciaprudencio.com)
SANTOS, LM, et al. Percepção materna sobre o contato pele a pele com o prematuro
através da Posição Caguru. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, vol. 5, núm.
1, janeiro-março, 2013.
53
CRECHE AMIGA DA AMAMENTAÇÃO:
PROMOTORA DO ALEITAMENTO MATERNO
EXCLUSIVO E CONTINUADO
Mariana de Campos Chaves1
Resumo
O presente estudo visa discutir sobre a influência do retorno ao trabalho e as opções das
mulheres sobre o cuidado do bebê durante o período laboral no desfecho do aleitamento
materno. A creche e instituições educacionais, por uma das opções das mães, exercem
influência significativa sobre o aleitamento materno das crianças que ingressam nesses
espaços. Estimular a adesão à iniciativa Creche Amiga da Amamentação possibilita a
promoção de manutenção do aleitamento materno exclusivo e continuado. O presente artigo
resulta de uma pesquisa qualitativa realizada a partir dos estudos abordados na Pósgraduação
em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1.
Palavras-chave: Aleitamento materno. Creche amiga da amamentação. Manejo ampliado.
1 INTRODUÇÃO
Preconiza-se que o aleitamento materno se inicie logo na primeira hora de vida, sendo
exclusivo até o sexto mês de vida e continuado até dois anos ou mais. Porém, segundo os
resultados preliminares do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), o
Brasil ainda está aquém das recomendações. A prevalência de aleitamento materno exclusivo
entre crianças menores de 4 (quatro) meses foi de 60%, e de 45,7% em crianças menores de 6
(seis) meses. Enquanto as prevalências de aleitamento materno continuado aos 12 (doze) meses
e de crianças com menos de 24 (vinte e quatro) meses são de 53,1% e 60,9%, respectivamente
(UFRJ, 2020).
O sucesso no aleitamento materno depende de diversos fatores e a necessidade da mulher
de retornar ao trabalho após a licença maternidade surge como um fator de atenção associado
ao desmame precoce no Brasil (FREIRE, et al. 2021). Atualmente, por lei, a licença maternidade
em nosso país é de 120 dias, podendo ser prorrogada por mais 60 dias em alguns casos
(BRASIL, 2015). Diante da necessidade de retorno ao trabalho e da impossibilidade de estar
integralmente com o bebê, comumente as creches e demais instituições educacionais são a
opção viável para o cuidado do bebê (FREIRE, et al. 2021).
1
Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Piracicaba/SP. E-mail:
nutrimariana.chaves@gmail.com
54
2 CRECHE AMIGA DA AMAMENTAÇÃO COMO PROMOTORA DO
ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E CONTINUADO
Nesse contexto, a creche exerce significativa influência sobre o desfecho do aleitamento
materno, como promotora ou fator de risco para o aleitamento materno exclusivo e continuado,
pois é o ambiente em que a criança permanecerá maior período do dia (BRASIL, 2018). A
iniciativa “Creche Amiga da Amamentação” tem papel fundamental para que as creches e
instituições educacionais façam parte da rede de apoio da díade mãe-filho. O livreto para
gestores “A Creche como Promotora da Amamentação e da Alimentação Adequada e Saudável”
(2018) discorre sobre as condutas a serem adotadas pelas instituições de maneira que a entrada
da criança na creche não interrompa o aleitamento materno, pelo contrário, que estimule e
permita a manutenção do aleitamento materno, investindo em sua estrutura e equipe
(BRASIL,2018). Complementarmente, é necessário destacar que a “Cartilha para a Mulher
Trabalhadora que Amamenta” (BRASIL, 2015) apresenta as diretrizes e orientações para que o
retorno ao trabalho não seja fator impeditivo da manutenção do aleitamento materno.
Dentre as condutas básicas da creche amiga da amamentação, primeiramente é
necessário permitir que a criança receba leite materno enquanto permanecer na instituição, seja
extraído em casa/instituição, seja pela amamentação realizada na creche (BRASIL, 2018).
Também é fundamental incentivar a continuidade da amamentação, antes da chegada e após a
saída da creche. Para que a mulher possa amamentar ou extrair o leite na creche, é importante
a disponibilização de um espaço adequado e confortável, porém, caso não haja disponibilidade
inicial para tal espaço, isso não deve ser fator impeditivo para incentivar o aleitamento materno
(BRASIL, 2018). O livreto (BRASIL, 2018) ainda indica outros procedimentos, como
orientação para extração, armazenamento e manipulação do leite materno, sugestões para
elaboração de sala para amamentação e extração de leite materno, avaliação institucional para
setores de educação, saúde e outros visando a promoção do aleitamento materno de forma
ampliada.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfim, a influência da creche e instituições educacionais no aleitamento é inevitável,
portanto, cabe aos profissionais atuantes nesse ambiente o papel de transformá-la em um espaço
de acolhimento, promoção e proteção do aleitamento materno. A adesão à iniciativa Creche
Amiga da Amamentação é uma ramificação do manejo ampliado que precisa ser discutida e
incentivada na rede pública e privada objetivando atingir as recomendações para aleitamento
materno.
4 REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Cartilha para a mulher trabalhadora que amamenta /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 28 p.: il.
55
Brasil. Ministério da Saúde. A creche como promotora da amamentação e da alimentação
adequada e saudável: livreto para os gestores [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 36 p.: il.
UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição
Infantil – ENANI-2019: Resultados preliminares – Indicadores de aleitamento materno
no Brasil. UFRJ: Rio de Janeiro, 2020. 9 p.
FREIRE, Ediane Alves de Lima, et al. Fatores associados ao desmame precoce no contexto
brasileiro: uma revisão da literatura. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 4, n.
1, p.1343-1355, 2021.
56
LEITE MATERO CAUSA CÁRIE?
Micaela Cardoso1
Resumo
O leite materno, ao mesmo tempo que é considerado o alimento mais completo do mundo,
também é apontado como o causador da cárie dentária no mundo todo. Alguns
pesquisadores relatam que há um risco aumentado de desenvolver a cárie na primeira
infância por crianças que são amamentadas após 1 ano de idade, mas falta o controle de
alguns vieses como higiene dentária e dieta. Apesar de todo esse questionamento, o
importante é que os estudos mais atuais estão mudando essa visão dos cirurgiõesdentistas
com uma cartilha publicada por ninguém menos que a Organização Mundial de Saúde.
Nesse documento, foi reunido os principais estudos que mostram que leite materno não
causa cárie e que não há associação entre amamentação após 1 ano e cárie. É necessário
que seja introduzido a disciplina de Amamentação dentro da grade de graduação em
Odontologia, pois esses profissionais atendem toda a família, assim, as mesmas se
beneficiariam com informações e orientações a fim de proteger o aleitamento materno.
Palavras chaves: Amamentação. Cárie na primeira infância. Lactose.
INTRODUÇÃO
O aleitamento materno deve ser incentivado por todos os profissionais da saúde,
exclusivo até os 6 meses e, após esse período, complementado por até 2 anos ou mais.
Crianças que continuam sendo amamentadas após 1 ano continuam recebendo inúmeros
benefícios desse processo: psicológico, nutricional e desenvolvimento (OMS, 2020).
Alguns questionamentos sobre essa prática ocorrem entre a classe dos
cirurgiõesdentistas e fica nítido a falta de informação e estudo sobre todo o envolvimento
que a amamentação tem, não só na Odontologia, mas como na saúde pública. Discussões
sobre o leite materno causar prática ainda ocorrem, sem de fato conhecerem o mecanismo
bioquímico e microbiológico desse processo (FELDENS et al., 2018).
DESENVOLVIMENTO
Por alguns anos, têm-se questionado que o consumo em livre demanda do leite
materno seria o causador da doença cárie em bebês e pré-escolares. Por conta disso,
dentistas, principalmente odontopediatras, incentivavam que a mãe realizasse o desmame
noturno do bebê justificando a prevenção da cárie na primeira infância. Orientações como:
desmame após 1 ano ou interromper amamentação prolongada, infelizmente, ainda é
realizada por esses profissionais, devido a um estudo prospectivo realizado que teve essa
conclusão, e assim propagando nos principais livros de odontopediatria (FELDENS et al.,
2018).
Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1, pólo Piracicaba. Email:
micaelazcardoso@hotmail.com
57
Contudo, outros pesquisadores se questionavam do contrário: como o alimento mais
completo do mundo poderia o vilão da cárie? Com isso, outro estudo publicado alguns
anos depois, com controle de alguns vieses como dieta e higiene dentária não identificou
uma correlação entre leite materno e cárie, tão pouco amamentação noturna, mas sim,
hábitos de consumo de açúcares livres estavam relacionados com a cárie na primeira
infância (DEVENISH et al, 2020). Isso pode ser explicado bioquimicamente pelo efeito
que o leite humano tem na formação do biofilme dentário. O mesmo não consegue fazer
com que haja uma queda de pH do meio bucal para menor que 5,5 (valor crítico) tão
pouco serve de substrato para síntese de polissacarídeos extracelulares (polissacarídeos
insolúveis) – produto que torna o biofilme cariogênico (NEVES et al, 2016).
Para acabar com todos os questionamentos, a Organização Mundial de Saúde,
reunindo pesquisadores em cariologia do mundo, descreveu uma cartilha para esclarecer
a todos os profissionais de saúde, principalmente aos dentistas, que as evidências mostram
que bebês amamentados no primeiro ano de vida apresentam níveis mais baixos de cárie
dentária do que aqueles que fazem uso de fórmula infantil (OMS, 2020). A cartilha
também conta sobre uma revisão sistemática descrita por Moynihan et al (2019), mais
recente revisão publicada mostrando a inclusão de dados mais recentes elucidando que
bebês amamentados até dois anos de idade não apresentam maior risco de desenvolver
cárie na primeira infância do que aqueles amamentados até um ano de idade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica claro que o incentivo à amamentação deve ser feito pelos dentistas respeitando
o tempo que o binômio mãe-bebê decidir. Contudo, orientar um desmame por risco de
cárie dentária pode por em risco todo o processo de aleitamento conquistado. Uma vez
que se sabe o verdadeiro fator responsável pelo desenvolvimento da cárie dentária, é
nosso dever proteger, promover e apoiar o aleitamento materno orientando sobre a
ingestão de açúcares e realizando controles preventivos periódicos do paciente.
Fica claro que amamentação deveria virar disciplina de formação na graduação de
Odontologia para que os profissionais tenham uma visão sobre essa prática de uma melhor
forma a fim beneficiar as famílias no atendimento odontológico.
REFERÊNCIAS
DEVENISH, Gemma et al. Early. Childhood feeding practices and dental caries
among Australian preschoolers. Am J Clin. 2020; 00:1-8.
FELDENS, Carlos Alberto et al. Feeding frequency in infancy and dental caries in
childhood: a prospective cohort study. Int Dent J. 2018 April; 68(2): 113-121.
MOYNIHAN, Paula et al. Systematic review of evidence pertaining to factors that
modify risk of early childhood caries. JDR Clin Trans Res. 2019;4(3):202–16.
NEVES, A. M. Neves et al. Breastfeeding, Dental Biofilm Acidogenicity, and Early
Childhood Caries. Caries Res 2016;50:319-324.
58
World Health Organization; Ending childhood dental caries: WHO implementation
manual, 2019 Geneva.
59
A CÁRIE DENTÁRIA E O ALEITAMENTO
MATERNO: UMA REFLEXÃO CRÍTICA
Nádia Masson1
Resumo
A despeito dos benefícios individuais, coletivos e sociais do aleitamento materno, nas últimas
décadas, controvérsias na literatura sobre a associação do leite materno à cárie precoce na
infância geraram discursos de favorecimento ao desmame por profissionais de saúde,
principalmente após o primeiro ano de vida. Entretanto, as evidências científicas atuais
apontam a não cariogenicidade do leite materno e corroboram com a orientação de
manutenção do aleitamento até no mínimo dois anos de vida da criança.
Palavras-chave: Cárie Dentária. Aleitamento Materno. Criança.
1 INTRODUÇÃO
A cárie dentária é uma doença crônica não transmissível advinda da interação de
carboidratos fermentáveis da dieta com depósitos microbianos sobre a superfície dentária,
levando a uma queda de pH do seu fluido e consequente desmineralização da superfície
dentária. Em especial, a cárie na primeira infância tem como diferencial a rápida progressão e
destruição dentária, comprometendo a qualidade de vida da criança (WHO, 2019).
O leite materno é considerado padrão ouro para a alimentação dos bebês sendo seus
benefícios observados ao longo de toda vida, entretanto em sua composição observa-se uma
relativa alta concentração de lactose. Desta forma, surgiu a preocupação se a fermentação da
lactose presente no leite materno poderia gerar quedas de pH e, subsequentemente, lesões de
cárie (Tham, 2015).
2 A CÁRIE E O LEITE MATERNO: COMO EVOLUIU A LITERATURA?
Em revisão sistemática sobre o assunto, Tham e colaboradores (2015) sugeriram um
aumento do risco de cárie para crianças em aleitamento materno acima dos 12 meses de vida.
Este resultado serviu como base para orientações de desmame como forma de evitar e controlar
a doença cárie. Entretanto, é de suma importância notar que na análise dos dados do artigo
científico não houve controle adequado do consumo de açúcares, um fator confundidor chave
quando avaliamos cárie dentária.
1
Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: nadiam@unicamp.br
60
Com preocupação em trazer evidências robustas, em 2019, Moynihan e colaboradores
avaliaram os dados disponíveis até o momento e publicaram nova revisão sistemática da
literatura a qual demonstrou não existir aumento no risco de cárie até os dois anos de idade para
crianças amamentadas, corroborando com os achados laboratoriais da não cariogenicidade do
leite materno para esmalte dentário (Ricomini Filho, 2021).
Com base nas evidências disponíveis, a Organização Mundial da Saúde publicou o
Manual de Implementação de Ações Para o Combate à Cárie na Primeira Infância o qual traz
como diretriz a manutenção do aleitamento materno até os dois anos de idade, pontuando que
leite materno está associado a menor risco de cárie e ainda a melhor saúde geral.
Vale ressaltar que, no Brasil, observa-se uma ascendência na prevalência do aleitamento
materno da década de 80 para os dias atuais (UFRJ, 2020), ao passo que observamos tendência
contrária para a prevalência de cárie (BRASIL, 2012).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração as evidências científicas mais atuais da não cariogenicidade
e dos benefícios incomparáveis do aleitamento materno, é inaceitável que no ano de 2021 um
profissional de saúde oriente desmame como estratégia de controle de cárie. É necessário que
os profissionais baseiem suas orientações em evidências científicas atuais e ainda revejam suas
práticas de forma a abandonar conceitos enraizados em uma cultura de desmame, calcada em
sociedades capitalistas que enaltecem a indústria e menosprezam mulheres e crianças.
4 REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em
Saúde. SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais / Ministério
da Saúde, 2012.
MOYNIHAN, P. et al. Systematic Review of Evidence Pertaining to Factors That Modify Risk
of Early Childhood Caries. Jdr Clinical & Translational Research, [S.L.], v. 4, n. 3, p. 202-
216, 2019.
THAM, R. et al. Breastfeeding and the risk of dental caries: a systematic review and
metaanalysis. Acta Paediatrica, [S.L.], v. 104, p. 62-84, 2015.
RICOMINI FILHO, AP. et al. Cariogenic Potential of Human and Bovine Milk on Enamel
Demineralization. Caries Research, v. 4, n. 55, p 260-267, 2021.
UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição
Infantil – ENANI-2019: Resultados preliminares – Indicadores de aleitamento materno no
Brasil. UFRJ: Rio de Janeiro, 2020.
61
WHO. World Health Organization. Ending childhood dental caries: WHO implementation
manual.Geneva; World Health Organization, 2019. em Inglês, Árabe, Russo.
62
DOS DESAFIOS DA INFERTILIDADE AOS DESAFIOS
NO ALEITAMENTO MATERNO
Paula Honorio Marconi Buzatto1
Resumo
O estudo apresenta uma revisão da literatura a respeito da interferência dos tratamentos de
reprodução assistida no aleitamento materno. O presente artigo resulta de uma pesquisa
qualitativa realizada a partir dos estudos abordados na Pós-graduação em Aleitamento
Materno pelo Instituto Passo 1.
Palavras-chave: Infertilidade. Reprodução Assistida. Aleitamento materno. Amamentação.
1 INTRODUÇÃO
A infertilidade é designada pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), pela não
concepção no período de um ano ou mais de relações sexuais sem uso de métodos
contraceptivos. Muitos casais recorrem à especialistas em reprodução humana para investigar
o motivo do insucesso da concepção após o período de um ano.
Atualmente há diversas técnicas que se destacam na reprodução assistida como: A
inseminação intrauterina (IIU); Fertilização In Vitro (FIV); Injeção Intracitoplasmática de
espermatozóides (ICIS) e a Transferência de Embrião Congelado (TEC). Cada técnica é
indicada pelo fertileuta mediante ao fator masculino e/ou feminino causador da infertilidade.
Obstrução tubária provocada por diferentes condições, fator idade (mulheres com mais de 35
anos), infertilidade causada por fatores masculinos ou sem causa aparente, azoospermia
(ausência de espermatozoides no sêmen), oligozoospermia (baixa quantidade de
espermatozoides), astenozoospermia (baixa motilidade de espermatozoides), teratozoospermia
(alteração na forma dos espermatozoides), anticorpos antiespermatozoides, são algumas das
indicações para tratamentos de reprodução assistida (SOUZA & ALVES, 2016).
A descoberta da infertilidade pode desencadear sentimentos de falha pessoal e até
mesmo traição do próprio corpo pela incapacidade em conceber uma criança (JESSUP, 2005
apud RIBEIRO, 2021, p.12). Quando descoberta a infertilidade e o tratamento de reprodução
assistida se torna uma opção, a mulher pode experienciar sentimentos de frustração, ansiedade,
desvalia e medo (CEZNE 2009 apud RIBEIRO, 2012, p.12).
Neste estudo, busca-se compreender os desafios do cuidado com o recém-nascido
concebido em reprodução assistida, em especial o aleitamento materno, pelas vertentes
psicoemocionais e patofisiológicas.
1
Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail:
paulahmarconi@yahoo.com.br
63
2 A INFERTILIDADE E O ALEITAMENTO MATERNO
O vivenciar do longo percurso entre a infertilidade, o tratamento e o sucesso da
concepção, muitas vezes não permite que a mulher esteja com suas energias psicológicas
carregadas para vivenciar a maternidade. Klock (2004) descreve essa passagem de infértil a mãe
como abrupta, a saída de uma depressão crônica que antecede um momento que se espera que
seja vivenciado como radiante. A dificuldade em engravidar acarreta na supervalorização do
filho ainda na gestação e também na insegurança quanto a capacidade em ser mãe e o
entendimento sobre o bebê (BRAGA & AMAZONAS, 2006).
A gravidez por meio de reprodução assistida apresenta um risco maior para nascimento
de bebês pequenos para a idade gestacional, baixo peso ao nascer, nascimentos prematuros,
múltiplos e cesáreas. Esses fatores de risco, pode aumentar a probabilidade de demora no início
da amamentação e menor duração da amamentação (PURTSCHERT et. al., 2021). Fatores de
infertilidade ligados à idade superior à 35 anos, história clínica de menstruação irregular,
desequilíbrio ou deficiência hormonais subliminares, medicamentos de fertilidade necessários
para alcançar a gravidez, gravidez por fertilização in vitro, história clínica de Síndrome do
Ovário Policístico (SOP) podem corroborar para o insucesso patofisiológico da lactação
(MANNEL et. al., 2010).
Um estudo realizado por Purtschert (2021), na Suiça, teve por objetivo investigar se o modo
de concepção afeta o comportamento da amamentação. Participaram do estudo 1.619 mulheres
separadas em grupo de fertilização in vitro e grupo controle. Os resultados mostraram que o
tratamento não foi associado a interrupção precoce da amamentação. Fatores como menor idade
gestacional, baixo peso ao nascimento e cesárea foram relacionados com menor frequência de
amamentação. Castelli e colaboradores (2014), conclui que a taxa de início da amamentação
dos bebês concebidos por fertilização in vitro foi semelhante à da população francesa em geral
e foi considerado como influência negativa significativa no início da amamentação: duração da
infertilidade maior que 2 anos, parto cesáreo e história de alimentação com fórmula quando as
próprias mulheres eram recém-nascidas. Outros estudos não apresentaram informações de como
os tratamentos reprodutivos específicos podiam influenciar a capacidade de amamentar.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo podemos concluir que são necessários novos estudos para concluir se há
interferência dos tratamentos reprodutivos a respeito da amamentação. E, considerando os
aspectos psicoemocionais envolvidos da descoberta da infertilidade à amamentação e aos
fatores fisiológicos de risco, fica explícita a necessidade do profissional que acolhe esta família
durante o processo de amamentação conheça detalhadamente sua história e esteja envolvido no
processo desde a gestação.
4 REFERÊNCIAS
BRAGA, M.G.R., AMAZONAS, M.C.L.A. Reprodução Assistida e subjetivação infantil.
Psychê, São Paulo, 10, 129-148, 2006.
64
CASTELLI, C. et al. Maternal factors influencing the decision to breastfeed newborns
conceived with IVF. Breastfeed Med, Internet, 10(1):26-30, Jan-Feb 2015. Disponível:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25375234/. Acesso em: 25 set 2021.
KLOCK, S.C. Psychological adjustment to twins after infertility. Best Pract Res Clin Obstet
Gynaecol. Internet, 18(4):645-56, Aug 2004. Disponível:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15279823/. Acesso em: 25 set 2021.
MANNEL, R. et al. Manual prático para consultores de lactação. 2ª ed. - Loures: Lusociência,
D.L., 2010.
PURTSCHERT, L.A. et al. Breastfeeding following in vitro fertilisation in
Switzerland-Does mode of conception affect breastfeeding behaviour?. Acta Paediatr.
Internet. 110(4):1171-1180, Apr 2021. Disponível:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32865282/. Acesso em: 25 set 2021.
RIBEIRO, FS. A experiência da maternidade na gravidez múltipla concebida com auxílio
de técnicas de reprodução assistida. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de
Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, p. 166. 2012.
SOUZA, K.K.P.C., ALVES, O.F. As principais técnicas de reprodução humana assistida.
Saúde Ciênc Ação. Internet. 2(1):26-37, 2016. Disponível: https://bit.ly/2BggFbz. Acesso em:
28 set 2021.
World Health Organization (WHO). International Classification of Diseases. 11th Revision
(ICD-11). Geneva: WHO 2018. [Acesso 25 set 2021]. Disponível: https://icd.who.int/en.
Acesso em: 25 set 2021.
65
RESPIRAR:
EXISTE UMA RELAÇÃO ENTRE DURAÇÃO DE
AMAMENTAÇÃO E PADRÃO RESPIRATÓRIO?
Rita de Cassia Olmos Pedroni1
Resumo
Respiração nasal e uma função vital para os seres humanos e, e o pilar da nossa saúde física
e emocional. O objetivo desse estudo foi fazer uma revisão bibliográfica do papel da
amamentação no desenvolvimento do padrão respiratório. Os resultados demonstram que a
prevalência de respiradores bucais e menor em crianças que amamentaram. Respiração bucal
pode levar a ventilação inadequada e, aumento de infecções respiratórias, alterações de
oxigenação e termorregulação. Concluiu-se assim a importância da amamentação na
prevenção de doenças e alterações associadas a respiração bucal e, suas consequências para
a saúde do bebê não só durante a amamentação como também para o resto da vida.
Palavras-chave: Amamentação, Respiração, Circuitos neurais fisiológicos.
1. INTRODUÇÃO
No nascimento, o neo nato deve fazer a transição da deglutição num meio liquido,
coordenando mecanismos de deglutição-respiração num novo ambiente. O padrão central de
comportamentos aero digestivos incluem mecanismos de controle voluntario e reflexo e, as
experiencias sensoriomotoras são crucias para o desenvolvimento e maturação neurológica
dessas funções (BARLOW,2009).
Catlin (1862) documentou tribos nativas americanas e observou que as mães treinavam as
crianças a respirar pelo nariz nos primeiros meses de vida, fechando com cuidado os lábios do
bebe após amamenta-los (CATLIN, 1862) apoud NESTOR, 2021). Durante o primeiro ano de
vida, período crítico para a obtenção da proficiência funcional, a respiração deve ser do tipo
nasal, pois uma vez estabilizados todos os circuitos neurais fisiológicos da respiração, fica
difícil perdê-los.
O objetivo desse estudo foi fazer uma revisão bibliográfica sobre o papel da amamentação
no estabelecimento do padrão respiratório. Para tal, buscou-se nas bases de dados Pubmed e
Cochrane, estudos publicados nos últimos 10 anos, que pudesse responder à questão: Existe
uma relação entre duração de amamentação e padrão respiratório?
2. A RELAÇÃO ENTRE AMAMENTAÇÃO E RESPIRAÇÃO
A amamentação evita modificações anatômicas orofaciais que predispõe a respiração bucal
e tem efeito a longo prazo (VINHA & MELLO-FILHO, 2017). Barlow (2009) num estudo que
acompanhou bebês de 48 horas a 12 meses, relata que existe ligações funcionais entre
deglutição e sucção e entre deglutição e respiração, que se manifestam de formas diferente ao
66
longo do primeiro ano de vida, podendo ser modificadas por experiencias sensoriais e/ou
doenças. E, para 75% dos bebês o padrão característico da idade adulta e atingida entre 9 e 12
meses (BARLOW, 2009).
Duas revisões sistemáticas de literatura conduzidas por Savian e colaboradores (2021) e
Park e colaboradores (2018) concluíram que existe uma prevalência menor de respiradores
bucais em crianças que amamentaram. Um estudo observacional com 252 crianças concluiu
que a prevalência de respirador bucal diminuía conforme aumentava a duração da amamentação
exclusiva (LOPES et. al., 2014).
Clinical Overview da revista chilena de pediatria relatou diminuição de 72% do risco de
hospitalização por infecção respiratória baixa durante o primeiro ano de vida em crianças
amamentadas pelos menos 4 meses. Introdução alimentar com leite ou outros durante os
primeiros 4 meses aumenta o risco de asma e resistência respiratória em 3 ou mais vezes após
o primeiro ano e aumenta desordem do sono. (BRAHM, 2017)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parece haver consenso na literatura da associação da amamentação e padrão da respiração
nasal que protege as crianças de deformidades orofaciais e doenças respiratórias durante o
período de amamentação e por toda a vida. E, a proteção nutricional e imunológica fornecida
pelo leite materno na redução de risco de infecções respiratórias, que pode resultar em
respiração bucal ocorre mesmo em um período menor de amamentação (4 meses). Entretanto
parece que é necessário um tempo maior, de aproximadamente 1 ano, para que o padrão gerador
central (composto de redes adaptativas de interneurônios) se estabilizem.
4. REFERENCIAS
BARLOW S. M. Central pattern generation involved in oral and respiratory control for feeding
I n the term infant. Curr Opin Otolaryngol Head Neack Surg.2009 June; 17 (3): 187-193.
BRAHM P, VALDES V. Benefits of breastfeeding and risks associated with not breastfeeding.
Rev Chil Pediatr.2017;88 (1):15-2
LOPES T.S.P. et al. Association between breastfeeding and breathing pattern in children: a
sectional study. J Pediatric (Rio J). 2014;90:396-402.
SAVIAN C.M.et al. Do breastfed children have a lower chance of developing mouth breathing?
A Systematic review and meta-analysis. Clinical Oral Investigations volume 25,pages 1641-
1654(2021)
PARK E.H. et al. Association between breastfed and childhood breathing patterns: A systematic
review and meta-analysis. BREASTFEEDING MEDICINE Volume 13, Number 4,2018.
VINHA P.P., MELLO-FILHO F.V..Evidence of a preventive effect of breastfeeding on
obstructive sleep apnea in children and adults. Journal of Human Lactation 1-6,2017.
67
IMPACTOS DA AMAMENTAÇÃO NOS OBJETIVOS
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Sissiane Escobar de Souza 1
Resumo
O presente estudo demonstra o potencial da amamentação como ferramenta para avanços
dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das
Nações Unidas (ONU). Através da amamentação, o bebê, sua mãe e toda sociedade são
beneficiados. A magnitude dos impactos da melhora nos índices de amamentação atinge níveis
globais e contribui com todos os 17 ODS.
Palavras-chave: Amamentação, Aleitamento Materno, ONU, Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável.
1 INTRODUÇÃO
Os benefícios da amamentação são reconhecidos para a criança, mãe e comunidade tanto
em países de baixa e média quanto nos de alta renda. Em 2015, a ONU apresentou uma nova
agenda para os próximos 15 anos que contempla os 17 ODS. Embora não esteja explicitamente
citada dentro dos ODS, evidências apontam que avanços obtidos a partir de melhorias nos
índices de amamentação têm potencial de benefícios globais.
2 A AMAMENTAÇÃO E OS ODS
Os ODS consistem em uma mobilização mundial a fim de acabar com a pobreza,
proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas vivam em ambientes de paz e
prosperidade. Ao seu encontro, a amamentação aparece como ferramenta por impactar de forma
imediata e permanente o bebê e a sociedade. Segundo Victoria (2016), no contexto da agenda
de desenvolvimento pós-2015, a amamentação é essencial para a construção de um mundo
melhor para as gerações futuras em todos países, sejam ricos ou pobres.
Quase metade da população mundial vive com menos de 2,50 dólares por dia e, segundo
a UNICEF (2021), milhares de crianças morrem diariamente devido à pobreza. 805 milhões de
pessoas não têm comida suficiente para manter uma vida digna e a fome é o maior fator de risco
à saúde no mundo sendo a má nutrição responsável por 45% das mortes de crianças menores de
5 anos. Meninas têm 2 vezes menos chance de ingressar na educação formal e 51 milhões de
crianças em idade de cursar o ensino fundamental não frequentam a escola. E, entre os que
frequentam, muitos não conseguem ter condições de aprendizagem.
1 Pós graduanda em Aleitamento Materno Instituto Passo1, Piracicaba-SP. E-mail: sissiescobar@yahoo.com.br
68
A amamentação pode auxiliar na melhoria de indicadores da fome, saúde e qualidade
alimentar. As mulheres, em quase sua totalidade, são capazes de amamentar e bebês
amamentados têm acesso a uma nutrição adequada, segura e melhor do que aqueles que ingerem
qualquer outro tipo de alimento. Estima-se que 823.000 mortes de crianças com até 5 anos e
20.000 mortes maternas seriam evitadas anualmente se a amamentação fosse ampliada a níveis
quase universais. Victora (2016) escreve que aproximadamente metade de todos os episódios
de diarreia e 1/3 das infecções respiratórias poderiam ser evitadas pela amamentação. A
amamentação pode evitar 72% das internações por diarreia e 50% daquelas por infecções
respiratórias. Pode também prevenir metade das mortes causadas por infecções em crianças de
6 a 23 meses. A oferta de substitutos do leite materno pode trazer riscos para a saúde do bebê
além de representar um custo significativo, pois os gastos com leites artificiais podem atingir
15 a 35% do salário mínimo.
Amamentar fortalece o vínculo entre mãe e filho e pode representar um grande
diferencial na vida escolar e produtiva do indivíduo, uma vez que promove aumento cognitivo.
Assim, gera aumento na renda de trabalho e capital humano, fundamentais para o
desenvolvimento e crescimento econômico, fomento à inovação, relações decentes de trabalho
e fortificação da indústria. A estimativa de perdas econômicas causadas pelo déficit cognitivo
gerado pela não amamentação de todas as crianças ao menos até os seis meses de idade é da
ordem de 302 bilhões de dólares ao ano no mundo - o que corresponde a 0,49% do produto
nacional bruto mundial.
Outros pontos abordados nos ODS são a busca pela igualdade de gênero e diminuição das
desigualdades entre países e dentro deles. Apoiar a mãe que trabalha e amamenta é uma das
medidas necessárias. Pesquisas mostram que políticas de licença maternidade remunerada
podem impactar na redução da mortalidade infantil, proporcionam benefícios à saúde mental,
emocional e física à mãe que, então, retornará ao trabalho em melhores condições. A proteção
social de mães e pais com igualdade de gênero também é importante pois quando os homens
têm acesso à licença paternidade há um aumento da chance de que suas crianças sejam
amamentadas por mais tempo.
[...] a amamentação é um dos poucos comportamentos de saúde positivos que é mais
prevalente nos países pobres do que nos ricos… Mulheres pobres amamentam por
mais tempo que as mais ricas nos países de renda baixa e média, enquanto que nos
países ricos este padrão é invertido. Estes resultados sugerem que os padrões de
amamentação estão contribuindo para redução das disparidades em saúde entre
crianças ricas e pobres em países de renda baixa e média que seriam ainda maiores na
ausência da amamentação. (VICTORA, 2016 , p. 17).
As questões ambientais possuem relevância reconhecida dentro dos ODS e também
são beneficiadas pela amamentação. Estima-se que, até 2025, cerca de 1.8 bilhão de pessoas
estarão vivendo em territórios com escassez total de água. Dos oceanos, 40% já são afetados
pela poluição. E quase 90% das mortes de crianças por doenças diarreicas estão relacionadas à
água contaminada, falta de saneamento ou higiene inadequada. Por outro lado, são necessários
mais de 4000 litros de água no processo para a produção de 1kg de pó substituto do leite
materno. Nos Estados Unidos, 550 milhões de latas, 86.000 toneladas de metal e 364.000
toneladas de papel são usadas anualmente para embalar substitutos do leite materno e grande
parte tem como destino aterros sanitários. Muitos recursos são necessários e poluentes são
liberados neste processo, podendo afetar direta e indiretamente o clima e o meio ambiente
69
terrestre e marítimo. O leite materno é um recurso natural, acessível e renovável que dispensa
e evita o consumo de energia, utilização de produtos químicos além de não deixar resíduos.
Ao promover o aumento da renda através do trabalho, redução de resíduos, promoção da
saúde e bem-estar, diminuição de faltas ao trabalho e escola, a amamentação também pode
contribuir para cidades e comunidades mais sustentáveis. Ao favorecer um bom início à vida
com maiores condições de igualdade entre todos, a amamentação também pode promover a paz,
justiça e eficiência nas instituições.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O leite materno, além de padrão ouro na alimentação dos bebês, pode ser uma chave
para auxiliar nos ODS resultando em um planeta mais justo, sustentável e melhor para todos.
4 REFERÊNCIAS
VICTORA, Cesar Gomes. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and
lifelong effect. Lancet, 387, p. 475-490, janeiro, 2016.
ROLLINNS, Nigel C. Why invest, and what it will take to improve breastfeeding practices?
Lancet, 387, p. 491-504, janeiro, 2016.
LINNECAR, Alison. Formula for disaster: weighing the impact of formula feeding vs
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Nov.2021.
https://data.unicef.org/wp-content/uploads/2020/09/Levels-and-trends-in-child-
mortalityIGME-English_2020.pdf. Acesso em: 02 Nov. 2021.
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tem-acesso-agua-potavel-dizem-unicef-oms. Acesso em 06 Nov. 2021.
70
A IMPORTÂNCIA DA REDE PRIMÁRIA COMO
APOIO NA PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO
Tatiana do Prado Lima Bonini1
Resumo
O estudo apresenta a importância da rede primária como apoio na prática da amamentação e
a manutenção desta prática na amamentação. Destaca-se na rede primária o apoio familiar,
sendo fator importante na proteção, promoção e manutenção da amamentação, ressaltando a
importância de valorizar os contextos nos quais as mulheres estejam inseridas. A participação
da família e suas ações como rede de apoio primária na amamentação mostrou-se como uma
ferramenta importante no cuidado, podendo traçar novas perspectivas na assistência obstétrica
e neonatal. É necessário que o profissional de saúde integre esses conhecimentos e saberes da
rede de apoio primária das mulheres em sua prática, apoiando-as e ajudando-as a vivenciar
todo o processo da amamentação, tornando possível uma assistência integral, integrada e
integradora. O presente artigo resulta de uma pesquisa qualitativa realizada a partir dos
estudos abordados na Pós-graduação em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1.
Palavras-chave: Aleitamento materno (Breast feeding). Apoio social (Social support).
Relações familiares (Ramily relations).
1 INTRODUÇÃO
Os vários benefícios do aleitamento materno (AM) para o binômio mãe-bebê são
reconhecidos cientificamente por ser um alimento completo, conferindo imunidade, proteção
contra a obesidade e diabetes e grande relevância no declínio da morbimortalidade infantil por
infecções respiratórias e gastrointestinais (ALVES, et al, 2020).
Para que a puérpera consiga de fato amamentar é necessário enfatizar a importância da
rede de apoio neste processo, levando em consideração fatores condicionantes deste processo
como os aspectos biológicos e sociais. (SOUZA, NESPOLI e ZEITOUNE, 2016).
Destaca-se que esta rede, em sua natureza, pode ser dividida em: redes primárias, onde
os vínculos estabelecidos são definidos pelas relações familiares, de amizade ou de vizinhança
e redes secundárias, onde são identificadas as relações das mães com as instituições de saúde,
educação, social, entre outras. (ALVES, et al, 2020).
1
Enfermeira pela Universidade Federal de São Carlos. Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto
Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: tati.bonini36@gmail.com
71
2 A FAMÍLIA COMO REDE PRIMÁRIA DE APOIO NA PRÁTICA DA
AMAMENTAÇÃO.
Desde o seu nascimento, os indivíduos tecem ligações, sendo que as primeiras
estabelecidas ocorrem entre os membros da família. Sendo assim, a família é percebida como
uma teia de relações que representa o agente socializador primário, orientando o cuidado, dando
apoio, ensinando a viver, amar, sentir, a se cuidar e cuidar do outro. (PRATES, SCHMALFUSS
e LIPINSKI, 2015).
De fato, os membros da família ocupam o primeiro lugar de referência para as mulheres
que vivenciam o processo de amamentação. Ao longo dessa fase, devido à proximidade com a
rede social primária, ela tem a possibilidade de compartilhar conhecimentos, experiências,
hábitos e condutas. (ALVES, et al, 2020).
Em consequência disso, tem-se verificado a importância de criar redes de apoio social
às mulheres, principalmente, no que se refere à proteção, promoção e manutenção da
amamentação. Ressalta-se que esta prática ainda é ligada a crenças, valores e mitos, os quais,
muitas vezes, não são valorizados pelos profissionais de saúde e que, embora negligenciados,
representam fatores responsáveis pela interrupção precoce da amamentação. (PRATES,
SCHMALFUSS e LIPINSKI, 2015).
Alves e colaboradores (2020) mostraram que lactantes apresentam um forte vínculo com
sua rede social primária: mãe, companheiro, amigos e vizinhos. Apesar de reforçar a inclusão
do familiar neste processo, na maioria dos casos, identificou-se a ausência da figura paterna no
pré-natal e no cuidado ao recém-nascido presença esta que, na maioria dos casos é pouco
incentivada e muito menos considerada como elemento relevante na rede de apoio primária. Ao
se confirmar a importância da presença paterna neste processo, os profissionais de saúde têm
importante papel de incentivar a inserção dos pais nas consultas e atividades educativas no pré-
natal e puerpério, cuidados com o recém-nascido e no processo da amamentação.
Para Angelo e colaboradores (2020), as avós são consideradas como as principais
referências no repasse de informações e vivências que interferem na manutenção da
amamentação. No puerpério, as avós, muitas vezes, passam mais tempo junto às suas filhas e
noras, fornecendo apoio emocional e financeiro, auxiliando nos cuidados com o binômino mãe
e bebê e nas atividades domésticas, além de cuidarem das crianças mais velhas.
Considerando os vários papéis que as mulheres acumulam na sociedade moderna, e a
possibilidade de existir alguns obstáculos no entendimento do que é ser mãe e o que é o
importante papel desempenhado na amamentação (ALVES et. al., 2020), o papel das avós pode
ser ainda mais fundamental.
Desse modo, ressalta-se a importância de valorizar os contextos nos quais as mulheres
estejam inseridas, pois estas terão, durante todo o processo de amamentação, a influência da
rede primária de apoio, os quais possuem inúmeros saberes acerca da lactação e dos cuidados
com o recém-nascido, saberes estes que serão confrontados, constantemente, com os
conhecimentos científicos adquiridos nos serviços de saúde, podendo acarretar dúvidas e
ansiedades nas mulheres. (PRATES, SCHMALFUSS e LIPINSKI, 2015).
72
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação à rede de apoio primária, as mulheres acumulam papéis na sociedade
moderna, existindo alguns obstáculos no entendimento do que é ser mãe e no importante papel
desempenhado na amamentação.
Em suma a participação da família e suas ações como rede de apoio primária na
amamentação mostrou-se como uma ferramenta importante no cuidado, podendo traçar novas
perspectivas na assistência obstétrica e neonatal, sendo necessário que o profissional de saúde
integre esses conhecimentos e saberes da rede de apoio primária das mulheres em sua prática,
apoiando-as e ajudando-as a vivenciar, de maneira plena, o processo da amamentação, tornando
possível uma assistência integral, integrada e integradora.
4 REFERÊNCIAS
ANGELO, B.H.B. et al. Conhecimentos, atitudes e práticas das avós relacionados ao
aleitamento materno: uma metassíntese. Revista Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto,
SP, v28, e3214, 2020.
ALVES, Y.R. et al. A amamentação sob a égide de redes de apoio: uma estratégia facilitadora.
Escola Ana Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro, v24, n1, e20190017, 2020.
PRATES, L.A.; SCHMALFUSS, J.M.; LIPINSKI, J.M. Rede de apoio social de puérperas na
prática da amamentação. Escola Ana Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro, v19, n2,
p.310-315, Abr-Jun 2015.
SOUZA, M.H.N.; NESPOLI, A.; ZEITOUNE, R.C.G. Influência da rede social no processo de
amamentação: um estudo fenomenológico. Escola Ana Nery Revista de Enfermagem.
Rio de Janeiro, v20, n4, e20160107, Out-Dez 2016.
73
ANQUILOGLOSSIA E O IMPACTO NA
AMAMENTAÇÃO
Thais Varanda Stocco1
Resumo
A anquiloglossia é uma anomalia congênita observada em recém-nascidos caracterizada por um
frênulo lingual alterado e que pode causar restrição da movimentação da língua em diferentes
graus. O leite materno é o alimento mais adequado e completo para todo recém-nascido. As
associações entre anquiloglossia e problemas na amamentação e consequente prejuízo ao
desenvolvimento do neonato, tem sido amplamente discutida na literatura. Esse estudo relata a
associação entre a anquiloglossia e os danos para a amamentação tendo como resultado um
desmame prematuro.
Palavras chaves: Anquiloglossia. Amamentação. Recém-nascido.
INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aleitamento materno deve ser
exclusivo nos primeiros 6 meses de vida do recém-nascido, podendo prolongar-se por até 2 anos
ou mais. O leite materno previne a obesidade infantil (CARLING et. al., 2015), doenças
alérgicas (STRASSBURGER et. al., 2010), além de auxiliar no desenvolvimento intelectual e
cognitivo (FONSECA et. al., 2013; HUANG et. al., 2014). O aleitamento materno está
intrinsicamente ligado à sucção e deglutição, que devem funcionar de forma coordenada com a
respiração (BRITO et. al., 2008). A movimentação da língua exerce um papel fundamental
nesse processo de sucção nutritiva do neonato, e qualquer restrição à livre movimentação da
língua pode comprometer as funções de ganho de peso e desenvolvimento do recém-nascido,
resultando muitas vezes em um desmame precoce (ALMEIDA et. al., 2018).
DESENVOLVIMENTO
A anquiloglossia ou também conhecida como língua presa, é uma anomalia de
desenvolvimento lingual caracterizada pela inserção baixa do frênulo lingual ou a inserção
aumentada do músculo genioglosso (MCCLELLAN et. al., 2015).
O diagnóstico de anquiloglossia deve ser feito precocemente com o intuito de diminuir
os danos à saúde do lactente, otimizando o ganho de peso e garantindo a mãe um conforto maior
durante a amamentação. (BRITO et. al., 2008)
1
Pós graduanda em Aleitamento Materno e Cuidado Materno Infantil, certificado pelo UNIASSELVI. Instituto Passo 1, Polo
Piracicaba/SP. E-mail: thaisvaranda@yahoo.com.br
74
Em 2014 foi aprovada uma lei que obriga o diagnóstico precoce de alterações que
acometem o frênulo lingual dos neonatos em todos os hospitais e maternidades vigentes em
território nacional (SILVA et. al., 2016). Há um protocolo preconizado para avaliação do
frênulo lingual em bebês, que objetiva o diagnóstico das alterações características da
anquiloglossia, indicando ou não, a realização de um procedimento para liberação desse frênulo
chamada de frenotomia ou frenectomia lingual. Infelizmente, nem todas as maternidades do
Brasil realizam ou possuem profissionais capacitados para detectarem essa alteração. Embora
ainda faltem estudos na literatura que comprovem essa associação, a anquiloglossia pode
interferir no aleitamento materno levando a um desmame precoce do neonato (LIMA et. al.,
2017; ALMEIDA et. al., 2018).
Além do teste para detectar a anquiloglossia, a avaliação completa da díade mãe-bebê
na amamentação também é essencial para descobrir a anquiloglossia e seu papel nas
dificuldades de amamentação. Intervir de forma adequada pode prevenir resultados negativos
associados à amamentação. A relação da anquiloglossia e seu efeito na amamentação tem sido
um tópico amplamente discutido na literatura (MANIPON et. al., 2016). Cerca de 12 a 50% dos
bebês que possuem língua presa são relatados como tendo dificuldades de alimentação por suas
mães (EMOND et. al., 2013; SETHI et. al., 2013; EDMUNDS et. al., 2013). A anquiloglossia
pode gerar desconfortos para a mãe, tornando a amamentação difícil e dolorosa, podendo haver
fissuras mamilares e sangramento durante o movimento de extração de leite realizado pelo bebê
(MANIPON et. al., 2016). Além disso, apesar da intenção inicial de amamentar, esse
aleitamento ineficaz e doloroso pode, eventualmente, levar essas mães a recorrerem à formulas
ou alimentar seus bebês através da mamadeira. Com a restrição da movimentação da língua e
consequente dificuldade dos bebês em se fazer a transferência do leite, a produção do mesmo
pode diminuir (MEEK, YU, 2011). É muito importante investigar mais a fundo os relatos das
mães com dificuldades na amamentação a fim de tentar aliviar a dor e fornecer suporte
emocional (EDMUNDS et. al., 2013). Vários artigos descrevem baixo ganho de peso devido à
má ingestão e diminuição da transferência do leite em bebês que possuem anquiloglossia
(EMOND et. al., 2013; SETHI et. al., 2013; EDMUNDS et. al., 2013). Os mesmos estudos
também relatam refluxo excessivo e cólicas, aumentando a introdução da mamadeira em bebês
com língua presa e consequente desmame precoce. O abandono da amamentação a favor da
alimentação na mamadeira para evitar a perda de peso tem sérias implicações na saúde da
criança A identificação e intervenção das questões que envolvem a amamentação, como a
anquiloglossia, por exemplo, deve acontecer antes mesmo da decisão de abandonar a
amamentação. Isto é crucial para preservar a experiência de amamentar, dadas as muitas
vantagens e benefícios para a saúde do bebê (MANIPON et. al., 2016). Uma das alternativas
para liberar a movimentação da língua quando diagnosticada a anquiloglossia é a
frenotomia/frenectomia, um procedimento cirúrgico que consiste em cortar ou remover o
frênulo. Recentemente, vários estudos randomizados mostraram através de relatos das mães
cujos bebês passaram por frenotomia, uma melhora imediata na dor dos mamilos durante a
amamentação, aumento de peso do bebê e duração da amamentação (BURYK et. al., 2011;
BERRY et. al., 2012; HONG et. al., 2010, SETHI et. al., 2013, EDMUNDS et. al., 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O leite materno é o alimento mais adequado para todo recém-nascido. Para correta
extração do mesmo, a função de sucção do bebê deve estar em equilíbrio. Todavia, ainda não
existe uma relação bem estabelecida entre anquiloglossia e aleitamento materno, porém um
frênulo lingual alterado pode se apresentar como fator de risco para o sucesso na amamentação
(FUJINAGA et. al., 2017; CAMPANHA et. al., 2019). Sabemos que a anquiloglossia não
interfere somente na amamentação do neonato, mas haverá prejuízos a longo prazo relacionados
75
a mastigação dos alimentos, deglutição, fala, desenvolvimento e crescimento corretos da face.
O estabelecimento de uma equipe transdisciplinar se faz muito importante para crianças que
possuem um frênulo lingual alterado, podendo melhorar muito a amamentação e
consequentemente o desenvolvimento e crescimento crânio facial e geral corretos do bebê
(WAKHANRITTEE et. al., 2016).
REFERÊNCIAS
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77
AMAMENTAÇÃO E A PRÁTICA DO
ACONSELHAMENTO EM TEMPOS DE PANDEMIA:
UM PROJETO DE AVALIAÇÃO
Virginia Volpato Santichio1
Resumo
O objetivo aqui foi avaliar e descrever as dificuldades que as profissionais em aleitamento
materno se deparam no decorrer dos atendimentos, ao aconselhar a família, tanto presencial
quanto de modo on-line, em tempos de pandemia da COVID-19. Com a escassez de literatura
sobre o tema, a proposta deste trabalho foi elaborar um projeto de avaliação, por meio de
questionário digital, de como os profissionais veem o impacto da pandemia na prática de seus
atendimentos clínicos em lactação, considerando aspectos técnicos de manejo e habilidades de
comunicação.
Palavras-chave: Aleitamento materno, Aconselhamento, Pandemia COVID 19
1 INTRODUÇÃO
Amamentar é muito mais do que nutrição. O aleitamento impacta positivamente o estado
nutricional do bebê, oferece proteção imunológica, propicia desenvolvimento físico e cognitivo
do bebê, favorece ganhos na saúde a longo prazo do bebê e de sua mãe, além de ser um processo
de estabelecimento de vínculo entre mãe e filho favorecendo a saúde psíquica da díade
(MINISTÉRIO da SAÚDE, 2016).
Pesquisas revelam que, no Brasil, o índice de aleitamento materno exclusivo de crianças
até 6 meses de vida é de 45.7%, prevalência ainda abaixo do ideal (UNASSUS, 2021). Com
isso podemos destacar a importância do consultor em lactação na promoção, proteção e apoio
na amamentação influenciando positivamente nesses índices.
Na atualidade percebe-se um aumento de interesse pela amamentação, mas nem sempre
as famílias e os profissionais percebem o quão pouco sabem sobre o tema e a pouca habilidade
que possuem para lidar com algo tão complexo. Para ajudar o processo da amamentação, não
basta conhecer a fisiologia da produção do leite e as melhores técnicas de manejo de
intercorrências, é preciso saber que a amamentação é um ato psicossomático complexo. Os
profissionais precisam saber e aplicar um conjunto de habilidades de comunicação para ser rede
de apoio eficiente para as famílias nesse momento de suas vidas. As técnicas de aconselhamento
e a empatia são habilidades fundamentais para a condução dos atendimentos em lactação
(CARVALHO & GOMES, 2017).
Lima e colaboradores (2020) relatam que diante da pandemia do Covid 19, os
consultores em lactação precisaram se reinventar: além de reduzirem seus atendimentos
1
Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1 Piracicaba/SP. E-mail: vninavolp@gmail.com
78
presenciais, passaram a utilizar novos e diferentes equipamentos de proteção individual, e
sentiram ser difícil durante os atendimentos a ausência dos toques afetivos, como abraços a
família atendida e acarinhar os bebês, limitando-se os gestos de despedidas e os cuidados
essenciais.
2 ACONSELHAMENTO EM TEMPOS DE PANDEMIA: UM PROJETO DE
AVALIAÇÃO.
Diante da escassa literatura e publicações encontradas, faz-se necessário avaliar como
os profissionais em lactação tem prestado seus atendimentos as famílias em tempos de
pandemia, investigando o impacto das condições de proteção de saúde impostas nas práticas de
aconselhamento e habilidades de comunicação.
A proposta é se aplicar um questionário digital, através da plataforma Google Forms
(APÊNDICE). O link do questionário será encaminhado aos profissionais pelos grupos de
consultores em lactação do WhatsApp. Os dados passarão por análise descritiva posteriormente.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como base o cenário atual e tendo em vista a necessidade de entender como os
profissionais consultores em lactação tem lidado com os atendimentos durante a pandemia do
Covid-19, considera-se importante avaliar qual foi o impacto que este cenário trouxe para as
práticas de aconselhamento em amamentação.
4 REFERÊNCIAS
CARVALHO, M. R.; GOMES, C. F. Amamentação Bases Científicas. 4.ed. Rio de Janeiro:
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WORLDOMETER. Real time world statistics, 2021. Disponível em :
<https://www.worldometers.info/coronavirus/>. Acesso em: 18/10/2021.
79
5 APÊNDICE
As perguntas abaixo têm por objetivo investigar como os profissionais veem o impacto da pandemia
na prática de seus atendimentos clínicos em lactação, considerando aspectos técnicos de manejo e
habilidades de comunicação. Agradecemos sua disponibilidade em contribuir com nossa pesquisa.
1. Quais foram as primeiras impressões e dificuldades sentidas ao oferecer atendimentos em
lactação pelo formato remoto?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2. Quais foram as tecnologias pensadas e utilizadas em seus atendimentos durante a pandemia?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3. Quais foram os desafios para repensar e elaborar os planejamentos do atendimento online?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4. Enquanto on-line, qual tem sido sua sensação em respeito a interação entre você, as nutrizes,
os bebês, as famílias e a dinâmica no atendimento?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5. Quanto às expectativas de resultados, tanto suas quanto das famílias que você atendeu, tem
havido um retorno positivo?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6. A respeito das habilidades de comunicações exigíveis, no que concerne às técnicas de
aconselhamento permitidas, para uma conversa mediadora, à sua opinião, é necessária uma
postura empática, ou dispensa qualquer manifestação de sensibilização e afetividade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7. Como você age perante a possibilidade de se repensar atitudes a fim de minimizar os
impactos da pandemia, enquanto em função do aconselhamento?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8. O que você diria a uma nutriz que estivesse à beira de um stress, ou colapso, devido aos
fatores pandêmicos de nossa realidade atual?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
80
HORA DE OURO:
PROTOCOLOS QUE PROPICIEM OS BENEFÍCIOS DESTE
MOMENTO NA VIDA DA MÃE E BEBÊ
Vivian Ivon Rosio Montaño Farell Borsato1
Resumo
A Hora de Ouro possui impactos significativos na interação entre o bebê e sua mãe, bem como
no desenvolvimento fisiológico e emocional de ambos. Os protocolos estabelecidos devem ser
observados com cuidado e atenção, a fim de propiciar que esse momento entre mãe e bebê seja
preservado, assegurando que os 9 estágios instintivos do bebê ocorram sempre que possível.
Para que haja sucesso na Hora de Ouro, a educação continuada dos profissionais envolvidos
no processo do parto e a conscientização dos pais, pode contribuir de maneira significante
para que esse momento ocorra de modo humanizado, respeitando mãe e filho.
Palavras-chave: Aleitamento materno. Hora de ouro. Pele a Pele. Protocolo.
1 INTRODUÇÃO
A primeira hora de vida do bebê é tão importante para seu futuro que é conhecida como
Hora de Ouro. Durante esse período, o contato pele a pele deve ser estimulado o mais cedo
possível. O contato pele a pele é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (WHO,
2017), com duração de ao menos uma hora após o nascimento, essa prática deve ser enfatizada
e incentivada pelos profissionais de saúde, a fim de que as mães reconheçam em seus bebês o
momento em que eles estão prontos para serem amamentados ou ajudá-los no processo quando
for preciso.
Na primeira hora após o nascimento, tanto a mãe quanto o recém-nascido, apresentam
um estado de consciência que favorece a interação entre eles, favorecendo o apego e protegendo
dos efeitos da separação. Os pesquisadores Essa e Ismail (2015) pontuam que as vantagens da
hora de ouro para a mãe incluem diversos benefícios como a facilitação da expulsão precoce da
placenta, redução do sangramento, aumento da autoeficácia da amamentação e redução dos
níveis de estresse materno. Considerando os benefícios para o bebê, os estudos mostram redução
do risco de hipoglicemia, regulação da temperatura corporal, efeito protetor ocasionado pela
colonização intestinal de bactérias saprófitas encontradas no leite materno e pelos fatores
imunológicos bioativos adequados para o recém-nascido (LONNERDAL, 2017).
O Ministério da Saúde (2012), estabelece que mãe e bebê devem permanecer juntos após
o parto, ressalvo de circunstâncias cujo recém-nascido e mãe não correm nenhum risco. Então,
1
Pós graduanda em Aleitamento Materno Instituto Passo 1 Ribeirão Preto/SP, email: dravivianfb@hotmail.com
81
o planejamento e implementação da Hora de Ouro precisam de uma atmosfera de tranquilidade
com menor intervenção possível dos profissionais que acompanham esse momento,
postergando procedimentos de rotina ou evitando procedimentos desnecessários (BRASIL,
2012, 2015). Nesse momento pode-se auxiliar a mãe a obter uma posição confortável para estar
com o bebê que estará junto das mamas ou entre elas e os sinais vitais da dupla são monitorados
(WHO, 2017).
2. PROTOCOLOS E OS 9 ESTÁGIOS INSTINTIVOS DO BEBÊ
Estar em contato pele a pele com a mãe após o nascimento induz o processo interno do
recém-nascido para passar pelos 9 estágios instintivos de comportamento: choro, relaxamento,
despertar, atividade, descanso, engatinhar, familiarização, sucção e sono (WIDSTROM et al.,
2017):
- Estágio 1: Choro do nascimento
Os pulmões do bebê se enchem de oxigênio pela primeira vez e ele solta um grito. Tudo é
brilhante, barulhento e novo. Sendo colocado diretamente no peito da mãe (com cobertores por
cima deles), seu choro vai diminuir.
- Estágio 2: Relaxamento
Depois de chorar, o bebê entra na fase de relaxamento. Sua boca permanece quieta, os olhos
podem se fechar e as mãos ficam macias e abertas. Ele vai respirar suavemente e descansar após
o esforço que fez durante o parto.
- Estágio 3: Despertar
Normalmente, cerca de 5 minutos após o nascimento, o bebê move a cabeça e os ombros,
abrindo os olhos e a boca. Ele pode fazer pequenos ruídos e abrir um pouco as mãos.
- Etapa 4: Atividade
Os movimentos aumentam e se tornam mais perceptíveis. A busca pelo leite materno começa.
Ele pode olhar para a mãe ou para o seio e pode usar o sinal da mão para mostrar que está com
fome. Ele está se preparando para travar e sugar. Seus instintos entram em ação.
- Etapa 5: Descanso
A quietude silenciosa ocorrerá durante a Hora de Ouro, pois o bebê está trabalhando duro e
muitas vezes precisa descansar. Ele se moverá em seu próprio ritmo.
- Etapa 6: Crawl da mama
O bebê nasce com um “reflexo de engatinhar” que lhe permite chegar ao peito da mãe. Ele
tentará se alinhar com o mamilo, e permitir que faça isso sozinho aumenta as chances de uma
pega bem-sucedida. - Etapa 7: Familiarização
O bebê vai aprender a mamar, familiarizando-se com ela. Ele pode tocar, esfregar, lamber e
“falar” com o seio para chamar a atenção da mãe. Isso aumenta os níveis de oxitocina na mãe e
no bebê, criando um forte apego e sinalizando para que o leite comece a ser produzido.
- Estágio 8: Sucção/Amamentação
Entre 45-60 minutos após o nascimento, o bebê pega-se no peito e começa a mamar.
- Etapa 9: Sono
Tanto o bebê quanto a mãe tendem a dormir. O sono pode durar algumas horas e é muito
necessário. O parto é cansativo e o corpo precisa de descanso para se recuperar.
Os bebês nascem prontos para interagir com suas mães - um bebê recém-nascido que
não foi exposto à medicação excessiva ficará muito alerta e olhará atentamente para o rosto da
82
mãe, reconhecendo seu cheiro, o som de sua voz e o toque de sua pele. Ficar com a mãe é a
chave para a sobrevivência do bebê e a separação é fatal. Os bebês nascem com o instinto
primordial de um mamífero de permanecer no habitat seguro da mãe, onde há calor, segurança
e nutrição (WIDSTROM et al., 2017).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da revisão de literatura, evidenciou-se que para além de protocolos rígidos, a
experiência, a prática e a educação continuada da equipe multidisciplinar de saúde que participa
do processo de nascimento, propicia uma maior probabilidade de sucesso da Hora de Ouro e
dos 9 estágios instintivos do recém-nascido. Nessa hora, o profissional de saúde deve buscar
propiciar o contato íntimo, pele a pele, entre mãe e bebê, postergando eventuais procedimentos
de rotina, ou evitando realizar procedimentos desnecessários.
4. REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido: Guia para os
Profissionais de Saúde. Brasília, 2012.
BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde da Criança: Aleitamento Materno e Alimentação
Complementar. Brasília, 2015.
ESSA, Rasha Mohamed; ISMAIL, Nemat Ismail Abdel Aziz. Efeito do contato pele a pele
materno / recém-nascido precoce após o nascimento sobre a duração do terceiro estágio do
trabalho de parto e o início da amamentação. Journal of Nursing Education and Practice,
5(4), p. 98-107. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.5430/jnep.v5n4p98. Acesso em: 04 nov
2021.
LONNERDAL, B. Bioactive Proteins in Human Milk-Potential Benefits for Preterm Infants.
Clinics in perinatology, 44(1), 179–191. 2017. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.clp.2016.11.013. Acesso em 03 nov 2021.
WHO, World Health Organization. Protecting. Promoting and Supporting Breastfeeding in
Facilities Providing Maternity and Newborn Services. 2017. Disponível em:
http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259386/9789241550086-eng.pdf?sequence=1.
Acesso em: 05 nov 2021.
WIDSTROM, Ann-Marie et al. Skin-to-skin contact the first hour after birth, underlying
implications and clinical practice. Acta paediatrica (Oslo, Norway: 1992), 108(7), 1192–1204.
2019. Disponível em: https://doi.org/10.1111/apa.14754. Acesso em: 05 nov 2021.
83
Laura Lino
84
HOMENAGEM À TURMA DE ALEITAMENTO MATERNO - PIRACICABA
Profa Ana Paula Vioto.
Poder ler o trabalho de cada uma de vocês foi como fazer uma viagem de aprendizado
pelo mundo do aleitamento. Uma viagem cheia de cor - e eu explico porquê, de desafios e
perspectivas.
Já se inicia dourada, quando a Aline e Vivian demonstram a importância da Hora de
Ouro para o bebê, para a mãe e para amamentação.
Aí vem a Flávia e pinta de azul para trazer uma perspectiva para que se a Hora não
puder ser tão dourada por conta de um DMG, ainda existe a possibilidade de proteger e
promover o aleitamento com a ordenha de colostro antenatal.
Não satisfeita, Ana Carolina pede mais cor, por favor! Quando apresenta uma alusão a
um modelo de cuidado inclusivo e integral à população LGBTQIA+.
Mas vamos com calma, se as cores vierem de dispositivos eletrônicos auto luminosos, a
Cecília nos alerta para a cronodisrupção.
Repitam comigo, Isabela, Micaela e Nádia: Leite materno não causa cárie. Realmente
é inaceitável que no ano de 2021 um profissional de saúde oriente desmame como estratégia de
controle de cárie.
Ao dar a volta pelo mundo, Sissiane demonstra de maneira espetacular o potencial da
amamentação como ferramenta para alcançar os ODS propostos pela ONU.
Nessa volta, Mariana deu uma paradinha na Colômbia para nos lembrar da Metodologia
Canguru no processo do luto materno. Porém, às vezes, podemos encontrar dificuldades em
promover o aleitamento dentro de UTIs neonatais, né Deisiane.
Mas a dificuldades não param por aí se pensarmos no desafio que encontramos quando Flávia
e Lívia nos trazem as questões do aleitamento na adolescência.
No entanto, muitas essas dificuldades podem ser superadas com apoio da rede primária como
demonstrado por Tatiana.
Soube nessa viagem que os avós influenciam positiva ou negativamente a decisão de
amamentar, e Cristiane chama a atenção para a importância de incluí-las em programas de
aleitamento. Mas não são só os avós que influenciam a amamentação. Soube também pela Júlia,
que a importância e o valor do AM são conhecimentos que ainda estão restritos a camadas de
maior escolaridade.
Aline foi além dos benefícios para a mastigação ao demonstrar o impacto da
amamentação em melhores escolhas alimentares no futuro, contribuindo para a diminuição de
diversas doenças sistêmicas.
E o poder da amamentação não para: o poder como método não farmacológico para
aliviar a dor durante a administração de vacinas foi brilhantemente descrito por Márcia.
E por falar em dor, a língua presa pode ser uma das causas da dor ao amamentar, e Thaís
explica claramente o impacto da anquiloglossia na amamentação, resultando muitas vezes num
desmame precoce.
O retorno ao trabalho e a entrada da criança na creche também não poderiam ser causa
de desmame precoce se, além da ampliação da licença maternidade, tivéssemos Creches
Amigas da Amamentação, não é mesmo, Mariana?!
Além disso, precisaríamos de um atendimento qualificado do profissional médico para
a proteção, promoção e apoio ao AM e sua manutenção. Para isso, Cecília sugere aprimorar o
currículo em AM da Graduação em Medicina.
Teve também quem não esqueceu de que antes de ter alguma dificuldade para
amamentar, a pessoa pode ter tido dificuldade para engravidar. Assim, Paula deixa explícita a
85
necessidade do profissional que acolhe esta família durante o processo de amamentação,
conheça detalhadamente sua história e esteja envolvido no processo desde a gestação.
E por fim, mas jamais menos importante, chegamos ao final da viagem, selando todo o
conhecimento com a importância do Aconselhamento. E Virgínia propõe avaliar se a Pandemia
dificultou essa prática fundamental nos atendimentos.
Agradeço aos agentes de viagem: Profa. Ludmila e Prof. Marcus Renato que traçaram
esse roteiro incrível e me deram a oportunidade de me envolver e estudar cada vez mais sobre
o aleitamento. E agradeço às alunas que, como guias de pontos turísticos, permitiram fazer esse
passeio pelo fascinante mundo do aleitamento.
Parabéns às Especialista em Aleitamento Materno!
Com carinho, Profa. Ana Paula Vioto
28.11.2021

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TCCs da Especialização em Aleitamento / turma de Piracicaba / Passo 1

  • 1. Especialização em Aleitamento Materno – Passo 1 Trabalhos de Conclusão de Curso Coordenação: Profa. Ludmila Tavares Costa Ercolin Prof. Marcus Renato de Carvalho Piracicaba, São Paulo 2021
  • 2. Sumário Título Trabalho Aluna Página A IMPORTÂNCIA DA HORA DE OURO E O PAPEL DA DOULA Aline Orsi Fogaça de Almeida 1 O IMPACTO DA AMAMENTAÇÃO E DE OUTRAS FORMAS DE ALEITAMENTO NA MASTIGAÇÃO E NA SAÚDE DA CRIANÇA Aline Pedroni Pereira 4 “MAIS COR, POR FAVOR!” ATENDIMENTOS DE LACTAÇÃO SOB A PERSPECTIVA LGBTQIA+ Ana Carolina Lorga Salis 8 EFEITOS DA LUZ ARTIFICIAL NOTURNA SOBRE A SECREÇÃO DE MELATONINA MATERNA E CONSEQUÊNCIAS NA GESTAÇÃO E LACTÂNCIA Cecília Mercado 14 O ENSINO SOBRE ALEITAMENTO MATERNO DURANTE A GRADUÇÃO EM MEDICINA Cecília Freire de Carvalho Pinton 20 INFLUÊNCIA DAS AVÓS NO ALEITAMENTO MATERNO Cristiane Moretti Gouveia 25 A VISÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM DENTRO DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL FRENTE AS DIFICULDADES EM PROMOVER O ALEITAMENTO MATERNO Deisiane Pessoa da Silva Santos 28 A VISITA DOMICILIAR E O ALEITAMENTO MATERNO NA ADOLESCÊNCIA Flávia Corrêa Porto de Abreu D’ Agostini 31 DIABETES GESTACIONAL: ORDENHA DE COLOSTRO ANTENATAL COMO FORMA DE PROMOVER E PROTEGER O ALEITAMENTO Flavia Gheller Schaidhauer 34 QUAL A RELAÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO E A CÁRIE DENTÁRIA? - REVISÃO DE LITERATURA Isabella Claro Grizzo 37 ESCOLARIDADE MATERNA E SUA INFLUÊNCIA NAS TAXAS DE ALEITAMENTO Júlia Dias Silvestri Vaz Pinto 41 ALEITAMENTO MATERNO NA ADOLESCÊNCIA: APOIO À PRÁTICA DE AMAMENTAÇÃO E PREVENÇÃO AO DESMAME PRECOCE Lívia Elisei de Faria 44 MAMANALGESIA VACINAS: ALEITAMENTO MATERNO COMO ALÍVIO DA DOR Márcia Simone de Araújo Machado Siebert 47 MÉTODO CANGURU E CONTATO PELE A PELE NO PROCESSO DE LUTO MATERNO Mariana Cavenage Filó 50
  • 3. CRECHE AMIGA DA AMAMENTAÇÃO: PROMOTORA DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E CONTINUADO Mariana de Campos Chaves 53 LEITE MATERNO CAUSA CÁRIE? Micaela Cardoso 56 A CÁRIE DENTÁRIA E O ALEITAMENTO MATERNO: UMA REFLEXÃO CRÍTICA Nádia Masson 59 DOS DESAFIOS DA INFERTILIDADE AOS DESAFIOS NO ALEITAMENTO MATERNO Paula Honorio Marconi Buzatto 62 RESPIRAR: A RELAÇÃO ENTRE A DURAÇÃO DA AMAMENTAÇÃO E O PADRÃO RESPIRATÓRIO Rita de Cássia Olmos Pedroni 65 IMPACTOS DA AMAMENTAÇÃO NOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sissiane Escobar de Souza 67 A IMPORTÂNCIA DA REDE PRIMÁRIA COMO APOIO NA PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO Tatiana do Prado Lima Bonini 70 ANQUILOGLOSSIA E O IMPACTO NA AMAMENTAÇÃO Thais Varanda Stocco 73 AMAMENTAÇÃO E A PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO EM TEMPOS DE PANDEMIA: UM PROJETO DE AVALIAÇÃO Virginia Volpato Santichio 77 HORA DE OURO: PROTOCOLOS QUE PROPICIEM OS BENEFÍCIOS DESTE MOMENTO NA VIDA DA MÃE E BEBÊ Vivian Ivon Rosio Montaño Farell Borsato 80 DESENHO PARA TURMA DE ALEITAMENTO MATERNO DE PIRACICABA Laura Lino 83 HOMENAGEM PARA A TURMA DE ALEITAMENTO MATERNO DE PIRACICABA Profa. Ana Paula Vioto 84
  • 4. 1 A IMPORTÂNCIA DA HORA DE OURO E O PAPEL DA DOULA Aline Orsi Fogaça de Almeida1 Resumo Os primeiros 60 minutos de vida do bebê são muito importante para ele, favorecendo o vínculo com sua mãe e evitando complicações neonatais. Então, os profissionais que assistem essa dupla, durante o pré-natal e parto, precisam ser facilitadores e incentivadores do contato pele a pele e a amamentação na primeira hora, considerando todos os benefícios imediatos e a longo prazo que essa oportunidade traz para a saúde do bebê e sua mãe. A doula precisa estar ao dessa mulher e desse bebê apoiando-os para que a Hora de Ouro aconteça de maneira respeitosa e com a menor intervenção profissional possível. Palavras-chaves: Contato pele a pele. Amamentação. Hora de Ouro. Doula 1. INTRODUÇÃO A hora de ouro, primeiros 60 minutos de vida do bebê, é marcada pela relevância para o seu crescimento e desenvolvimento proporcionando benefícios imediatos e a longo prazo em sua saúde (SHARMA et al., 2017; KARIMI et al., 2019). O Contato Pele a Pele (CPP) e a Amamentação na Primeira Hora (APH) são práticas simples que desempenham papel importante durante esse período de adaptação neonatal, fortalecendo o vínculo entre mãe e bebê e evitando complicações neonatais precoces, como a hipotermia e hipoglicemia neonatais (BRASIL, 2013; NECZYPOR & HOLLEY, 2017). O contato pele a pele é uma estratégia que, impacta no sucesso da amamentação, trazendo benefícios que repercutem em todo ciclo da vida da criança (GUALA et al., 2017). A literatura revela as repercussões negativas que a privação desse contato materno provoca nos recém-nascidos. Entre esses o aumento dos níveis de estresse, evidenciado por choro intenso e prolongado, que poderão comprometer o funcionamento pulmonar, a pressão intracraniana e o fechamento do forame oval (NECZYPOR & HOLLEY, 2017). 2. O PARTO, A DOULA E A HORA DE OURO Pós graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1 – Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 5. 2 O inquérito nacional Nascer Brasil (2014), mostrou números elevados de separação precoce entre o binômio mãe-bebê quando o tipo de parto foi a cesárea (LEAL & RANGE, 2014). Fato também observado por outras pesquisas, que revelaram que mulheres submetidas a cesariana, tem quase três vezes mais risco de não realizar o CPP com APH. Assim como os RNs nascidos por parto vaginal apresentaram maior prontidão para dar início a amamentação comparados àqueles nascidos por cesariana, visto que ficaram mais tempo em contato precoce com a mãe (ALLEN et al., 2019; SACO et al., 2019). Mesmo com as estatísticas do alto índice de nascimentos por via cirúrgica, devese questionar a falta de protocolos que apoiem o CPP nesses casos. Qualquer criança instável deve ser imediatamente avaliada e estabilizada, contudo, mães e bebês estáveis merecem experimentar as mesmas práticas humanizadoras que os que passam por parto normal (PHILLIPS, 2013). Com monitoramento adequado à criança e à mãe, o CPP pode manter- se ininterrupto. Uma ampla variedade de profissionais médicos, como enfermeiros obstetras, doulas, médicos da família, anestesistas e obstetras/ginecologistas podem estar envolvidos no processo de parto da mulher. É necessária uma comunicação próxima entre esses profissionais para criar um ambiente de segurança e cuidado centrado na paciente (HUTCHISON et al., 2021). Estudos clínicos de significância estatística provam que a participação da doula facilita o trabalho de parto, incluindo o aumento do parto normal espontâneo, menor duração do trabalho de parto e redução do parto cesáreo e parto vaginal instrumental e do uso de qualquer analgesia, além de redução dos sentimentos negativos relacionados a experiência do parto (KOZHIMANNIL et al., 2016; HODNETT et al., 2017). Incentivar o contato pele a pele na primeira hora e a amamentação o mais breve possível, respeitando as condições biológicas e socias do bebê e da mãe, também são atividades que a doula pode ter durante a assistência ao parto. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a importância da Hora de Ouro e seu impacto na vida do bebê e sua mãe, todos os profissionais (médicos, enfermeiros, doulas) que assistem esse momento precisam favorecer e incentivar o encontro dessa díade. Esse apoio será fundamental para facilitar o encontro prazeroso entre mãe e bebê. As doulas podem iniciar a conversa com a mulher sobre os benefícios da Hora de Ouro desde o pré-natal e na Hora de Ouro serem apoio técnico e emocional a fim de apoiar e proteger essa hora. 4. REFERÊNCIAS ALLEN J, PARRATT JA, ROLFE MI, HASTIE CR, SAXTON A, FAHY KM. Immediate, uninterrupted skin-to-skin contact and breastfeeding after birth: a crosssectional electronic survey. Midwifery [Internet]. 2019 BRASIL, Ministério da Saúde. Além da sobrevivência: Práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. [Internet] Brasília, DF(BR);
  • 6. 3 2013 » https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp- content/uploads/2019/06/alem_sobrevivencia_praticas_integradas_atencao.pdf GUALA A, BOSCARDINI L, VISENTIN R, ANGELLOTTI P, GRUGNI L, BARBAGLIA M, et al. Skin-to-skin contact in cesarean birth and duration of breastfeeding: a cohort study. Sci World J [Internet]. 2017 HODNETT ED et al. “Continuous support for women during childbirth.” Cochrane Database of Systematic Reviews, jul 7(7), 2017. HUTCHISON J, MAHDY H, HUTCHISON J. Stages of labor. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, Jan, 2021. KARIMI FZ, SADEGHI R, MALEKI-SAGHOONI N, KHADIVZADEH T. The effect of mother-infant skin to skin contact on success and duration of first breastfeeding: A systematic review and meta-analysis. Taiwan J Obstet Gynecol [Internet]. 2019 KOZHIMANNIL KB, HARDEMAN RR. “Modeling the Cost-Effectiveness of Doula Care Associated with Reductions in Preterm Birth and Cesarean Delivery.” Birth, Volume 43, Issue 1, 2016. LEAL MC, RANGE SGN. Born in Brazil. Thematic executive research summary. National Survey on Childbirth and Birth. [Internet] Rio de Janeiro, RJ(BR): Fundação Oswaldo Cruz; 2014 » http://www.ensp.fiocruz.br/portalensp/informe/site/arquivos/anexos/nascerweb.pdf NECZYPOR JL, HOLLEY SL. Providing evidence-Based care during the Golden hour. Nurs Womens Health [Internet]. 2017 PHILLIPS R. The sacred hour: Uninterrupted Skin-to-Skin Contact Immediately After Birth. Newborn Infant Nurs Rev [Internet]. 2013 SHARMA D, SHARMA P, SHASTRI S. Golden 60 minutes of newborn’s life: Part 2: Term neonate. J Matern Fetal Neonatal Med [Internet]. 2017
  • 7. 4 O IMPACTO DA AMAMENTAÇÃO E DE OUTRAS FORMAS DE ALEITAMENTO NA MASTIGAÇÃO E NA SAÚDE DA CRIANÇA Aline Pedroni Pereira1 Resumo A amamentação desempenha importante papel no desenvolvimento orofacial do bebê, favorecendo e preparando o organismo para a mastigação. Em contrapartida, diferentes formas de aleitar podem comprometer o funcionamento do sistema estomatognático, prejudicando assim a qualidade da função mastigatória e as preferencias alimentares da criança. Essas consequências podem trazer prejuízos a longo prazo e favorecer doenças sistêmicas. Palavras chaves: Amamentação. Função mastigatória. Desenvolvimento orofacial. INTRODUÇÃO Muitos benefícios relacionados à saúde infantil foram atribuídos a amamentação, que desempenha importante papel no desenvolvimento das estruturas faciais do bebê e pode ser considerada um fator de proteção contra o estabelecimento de maloclusões, além de contribuir para o funcionamento fisiológico do sistema estomatognático e ser responsável pela respiração, deglutição, sucção, mastigação e articulação da fala (CARVALHO et al, 2021). Os músculos envolvidos na amamentação, especialmente o masseter, são os mesmos músculos que posteriormente (a partir dos 6 meses) irão realizar a mastigação (GOMES et al, 2006). Portanto, a mastigação continua esse processo de estimulação orofacial e quando realizada corretamente, desempenha um papel juntamente com os aspectos genéticos e ambientais, para a estabilidade da oclusão dentária, funcionalidade e equilíbrio do sistema estomatognático (PIRES et al, 2012). Apesar dos benefícios da amamentação para o preparo dos músculos mastigatórios, outras formas de sucção, como aquelas envolvidas na mamadeira e no uso de chupeta, produzem diferentes estímulos, que podem comprometer e alterar o desenvolvimento motor e a posição e força das estruturas estomatognáticas, com impacto prejudicial nas funções orais, incluindo a mastigação (CARRASCOZA et al, 2006). A mastigação é um processo aprendido. Portanto, a hipótese é que, uma musculatura alterada por outras formas de sucção, ou mesmo não trabalhada anteriormente pela amamentação, pode desencadear uma situação facilitadora para um ato mastigatório ineficiente e com menor estímulo mioneural e levar a uma escolha alimentar inadequada, favorecendo fatores de risco para outras doenças sistêmicas. DESENVOLVIMENTO 1 Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1, pólo Piracicaba. Email: [email protected]
  • 8. 5 Um dos inúmeros benefícios que a amamentação traz para o longo prazo, é o desenvolvimento motor oral, através da movimentação intensa dos lábios, língua, mandíbula, maxila e bochecha. Os movimentos mandibulares envolvidos na extração do leite materno, fornecem estímulos para o crescimento da articulação temporomandibular, favorecendo o crescimento e desenvolvimento harmonioso da face (SANCHES, 2004). Por outro lado, o uso de bicos artificiais, que podem ocorrer simultânea ou separadamente a amamentação, têm um efeito negativo na função motora oral das crianças, por alterarem o padrão da musculatura perioral e não estimularem a articulação temporomandibular e, consequentemente o crescimento da mandibula. Vários estudos relacionaram a influência negativa desses dispositivos na função mastigatória (CARRASCOZA et al, 2006). Estudo coorte realizado em 2012, encontrou que, os efeitos da amamentação e uso de mamadeira ou chupeta na função mastigatória eram independentes, ou seja, mesmo que as crianças usassem mamadeiras e/ou chupetas, a amamentação ainda tem um impacto positivo sobre a mastigação. Isso significa que a função mastigatória de crianças que foram alimentadas com bicos artificiais, seria ainda mais fortemente afetada sem os movimentos musculares estimulantes da mastigação proporcionados pela sucção no peito (PIRES et al, 2012). De acordo com as atuais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os trabalhadores da saúde devem proteger, promover e apoiar o aleitamento materno exclusivo até 6 meses e sua continuação até os 2 anos de idade ou mais. Entretanto, o aleitamento materno exclusivo não é uma opção viável para todos por diversos motivos. Recém-nascidos que precisam de suplementação por razões médicas precisam ser alimentados com um método alternativo. O aleitamento por copo é visto, na maioria das situações, como um método superior a outros métodos de alimentação de lactentes (NYQVIST e UWE, 2006). Gomes e colaboradores (2006) fizeram uma análise detalhada de dados eletromiográficos dos músculos masseter, temporal e bucinador em bebes alimentados por copo e mamadeira. Maiores semelhanças entre bebês alimentados ao peito e por copo foram encontradas, reforçando a hipótese da "confusão de bicos" em bebês após exposição à alimentação por mamadeira. Pires e colaboradores (2012) detectaram uma associação significativa entre manutenção da amamentação por 12 meses ou mais e função mastigatória superior. Em contrapartida, o uso de chupeta e mamadeira foram associados a uma redução nos escores da função mastigatória. O estudo concluiu que a amamentação tem um impacto positivo na mastigação, uma vez que a duração da amamentação foi positivamente associada à qualidade da função mastigatória, garantindo estímulos funcionais para um adequada crescimento e desenvolvimento facial. A frequência da substituição do aleitamento materno, oferecido em mamadeiras e, geralmente, associada à chupeta, promove o desmame e pode postergar a introdução de diferentes texturas e consistências à criança, especificidades alimentares importantes no desenvolvimento sensório motor oral (ARAÚJO et al., 2007). A mastigação é o primeiro estágio do processo digestivo, que também envolve estímulos sensoriais relacionados ao sabor e ao prazer de comer. Pessoas com uma função mastigatória ineficiente deglutem grandes partículas de alimento ou alteram sua dieta. Podendo resultar no decréscimo da absorção de nutrientes e ingestão não balanceada de alimentos, pelo consumo preferencial de alimentos mais macios e fáceis de serem mastigados, como os industrializados, em detrimento dos ricos em fibras e nutrientes, que necessitam uma maior eficiência mastigatória (FRIEDLANDER et al., 2007). A capacidade tampão de um alimento bem mastigado também é significativamente maior do que de um alimento parcialmente ou não mastigado. Um alimento sólido permanece
  • 9. 6 mais tempo no estômago do que um de consistência mais líquida. Essa dieta prejudicada pode então aumentar o risco de distúrbios gastrointestinais e de doenças relacionadas a carências nutricionais (BUDTZ-JORGENSEN et al., 2000). Estudos também encontraram que alterações no comportamento mastigatório e maior dificuldade para realizar a função estão associados a indivíduos com sobrepeso e obesidade (PEDRONIPEREIRA, 2016). CONSIDERAÇÕES FINAIS Fica claro que o aleitamento materno tem uma função importante no desenvolvimento motor oral da criança, favorecendo uma boa função mastigatória, e consequentemente melhores escolhas alimentares no futuro, contribuindo para a diminuição de diversas doenças sistêmicas. E, o uso de bicos artificiais tem efeito contrário e foi associado a um menor desempenho da função mastigatória. REFERÊNCIAS BUDTZ-JORGENSEN et al. Sucessful aging – the case for prosthetic therapy. J Public Health Dent. 2000. CARRASCOZA K. C. et al., Consequences of bottle-feeding to the oral facial development of initially breastfed children. J Pediatr (Rio J). 2006. CARVALHO, Wendel Chaves et al. As repercussões da amamentação e do uso de bicos artificiais na função estomatognática e na saúde sistêmica do bebê nos primeiros mil dias de vida: Uma revisão bibliográfica. Research, Society and Development 10.10. 2021. DE ARAUJO C. M. et a. Aleitamento materno e uso de chupeta: repercussões na alimentação e no desenvolvimento do sistema sensório motor oral. Revista Paulista de Pediatria 25.1. 2007. FRIEDLANDER A. H. et al. Metabolic syndrome: pathogenesis, medical care and dental implications. JADA. 2007 GOMES, CS et al. Surface electromyography of facial muscles during natural and artificial feeding of infants. J Pediatr (Rio J). 2006. NYQVIST, K. H. and UWE E. Surface electromyography of facial muscles during natural and artificial feeding of infants: identification of differences between breast, cup-and bottle-feeding. 2006. PEDRONI-PEREIRA A. et al, Chewing in adolescents with overweight and obesity: An exploratory study with behavioral approach. Appetite 107. 2016. PIRES, S. C. et al. Influence of the duration of breastfeeding on quality of muscle function during mastication in preschoolers: a cohort study. BMC Public Health. 2012.
  • 10. 7 SANCHES M. T. Clinical management of oral disorders in breastfeeding. J Pediatr (Rio J). 2004.
  • 11. 8 “MAIS COR, POR FAVOR!” ATENDIMENTOS DE LACTAÇÃO SOB A PERSPECTIVA LGBTQIA+ Ana Carolina Lorga Salis1 Resumo A população LGBTQIA+ encontra-se desamparada quanto ao atendimento de seus direitos, incluindo o acesso aos espaços de saúde. A partir da iminente necessidade de formação de profissionais de saúde preparados para atender essa população, esse trabalho apresenta uma alusão a um modelo de cuidado inclusivo e integral de atendimento, de maneira que deixemos as portas abertas às novas configurações familiares, para que se sintam aceitas, acolhidas e respeitadas ao adentrarem nos espaços de saúde e atendidas e apoiadas ao término dos atendimentos. A escassez de estudos sobre a temática LGBTQIA+ na área de saúde e a carência da literatura brasileira a respeito acarretam um consequente impacto negativo na assistência a essa população que demanda particularidades médicas, culturais e sociais. Palavras-chave: LGBT, Inclusivo, Amamentação, Integral, Saúde. 1 INTRODUÇÃO A população LGBTQIA+ tem seus direitos humanos básicos agredidos, e muitas vezes se encontra em situação de vulnerabilidade. Diante dessa realidade, esse trabalho tem o intuito de fornecer referências àqueles que cuidam ou virão a cuidar, de familias LGBTQIA+, que muitas vezes deixam de buscar atendimento ou de revelar suas identidades de gênero e/ou orientações sexuais aos cuidadores de saúde, por serem vítimas da cis-heteronormatividade desses ambientes. O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo (TRANS MURDER MONITORING, 2021), mesmo reconhecendo o absolutismo desse dado, o fato é que milhões de vidas são tiradas pelo simples motivo de não adequação de gênero e/ou identidade sexual. Aqui ocorre uma morte LGBT a cada 23 horas (GGB, 2020), uma pessoa LGBT é agredida a cada hora (GGB, 2020) e a expectativa de vida das travestis e transexuais é de 35 anos (ANTRA, 2018), mostrando a vulnerabilidade dessas pessoas e tornando ainda mais importante nosso papel no acolhimento e apoio a sua luta dentro de nossos consultórios e hospitais. Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1, polo Piracicaba. E-mail: [email protected]
  • 12. 9 2 FAMÍLIAS LGBTQIA+ E AMAMENTAÇÃO Para que possamos oferecer um atendimento digno e respeitoso, inicialmente devemos nos familiarizar com terminologias referentes a identidades de gênero (cis ou transgênero), expressões de gênero (feminino, masculino, não binário, andrógino), sexos biológicos (feminino, masculino, intersexo e nulo), orientações sexuais (homossexual, bissexual, heterossexual, pansexual, assexual), além de temáticas específicas e terminologias próprias, tais como “chestfeeding” (dar o peito ou amamentar no tórax), nome social , papel parental e escolha de pronomes (ele/dele, ela/dela) e compreender que possuem necessidades médicas específicas (p.ex: saúde reprodutiva, tratamentos hormonais) (SAULO, 2021). Famílias LGBT, assim como outras, precisam de acesso a suportes tradicionais de lactação, com escuta empática, consideração, respeito, liberdade de expressão, atendimento atualizado e competência. As principais demandas que encontramos como consultores de lactação dos indivíduos LGBTQIA+ são atendimento pré-natal (informação, preparo e entrosamento), co-lactação (duas mães, homem trans com mulher trans, mulher cis com mulher trans, homem cis com homem trans...), indução da lactação (homens ou mulheres trans, mães adotivas, barriga solidária...) e cessação da lactação para aqueles que não desejam amamentar. Estamos falhando diariamente no cuidado dessas pessoas. Um profissional despreparado pode esmaecer ainda mais quem já se encontra em condição de vulnerabilidade. Discriminação afeta a qualidade da atenção, piora a acurácia diagnóstica, fidelidade do paciente e adesão terapêutica. Precisamos trabalhar contínua e arduamente pela equidade e normalização de preceitos e particularidades LGBTQIA+. “A minha maior conquista se transformou na minha doença. E ironicamente, quem foram os principais responsáveis pelo meu adoecimento? Pessoas que curam. Pessoas que deveriam curar” (Relato de uma bicha carbonizada, AMORIM G, rede social. Livro: Saúde LGBTQIA+, 2021, p.103). A saúde de uma população é afetada pela qualidade do apoio que recebe. Pressões surdas e mudas, iniquidades e desigualdades em saúde podem levar a desafios intransponíveis e resultados devastadores. Se nossa preocupação principal, como consultores de lactação, é o futuro das crianças, faz-se necessário que saibamos que elas escorregam muito bem nesse arco-íris e que, de nós esperam apenas aceitação, apoio e acolhimento. “Crianças criadas por pais LGBT são bem ajustadas e saudáveis, nessas famílias as crianças prosperam.” (TASKER, 2015). Isto posto, e considerando que essa população vem crescendo em número e representatividade, nós profissionais da saúde podemos criar condições e desenvolver habilidades em nossas condutas de maneira que os convidemos a entrar, apuremos nossos olhares sobre suas particularidades e evitemos equívocos em suas abordagens, mitigando sofrimentos e equalizando atendimentos. (ver APÊNDICE).
  • 13. 10 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A falta de informação gera discriminação, atendimentos desatualizados, incompletos e muitas vezes situações de violências. Vivências de hostilidade e desrespeito afastam essas pessoas dos serviços de saúde, o que pode ser ainda mais grave quando somado a outros fatores de vulnerabilidade, com destaque para grupos populacionais de negros, deficientes, pobres, imigrantes, prostitutas, entre outros. Posto isso, sigamos aprendendo e ensinando para que cada dia mais estejamos preparados para respeitar sem julgar e responder a demanda de saúde de TODAS AS PESSOAS. VAMOS COLORIR NOSSOS ATENDIMENTOS, POLÍTICAS PÚBLICAS, REDES SOCIAIS, CAMPANHAS E BIBLIOTECAS. “MAIS COR, POR FAVOR!” 4 REFERÊNCIAS ANTRA, Associação Nacional de Travestis e Transexuais, disponível em www.antrabrasil.org. ASSOCIATION OF ONTARIO MIDWIVES, Tip Sheet – Providing Care to “Trans Men and All Masculine Spectrum” Clients, 2016, disponível em www.genderminorities.com. CIASCA, Saulo, et al. Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidado transdisciplinar. Editores: Saulo Vito Ciasca, Andrea Hercowitz, Ademir Lopes Junior. Santana de Paraíba (SP). Manole, 2021. FERRI, Rita, et al. Lactation Care for Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, Questioning, Plus Patients. Breastfeed Med. 5(15): 284-293. Maio de 2020. GGB – Levantamento Grupo Gay da Bahia, 2020. Disponível em www.ggb.org.br. GRANT Jaime, et al. Injustice at Every Turn: A Report of the National Transgender Discrimination Survey. Washington: National Center for Transgender Equality and National Gay and Lesbian Task Force, 2011. Disponível em https://transequality.org/sites/default/files/docs/resource/NTDS_Report.pd “MAIS COR, POR FAVOR” – nome de programa do canal GNT, desde janeiro de 2016. REISMAN Tamar, Goldstein Zil. Case report: Induced lactation in a transgender woman. Transgender Health, Nova Iorque, 3: 24–26. Janeiro de 2018 TASKER, Fiona. Lesbian Mothers, Gay Fathers, and Their Children: a Review. Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, Londres, 26:224–240. Junho de 2005. TRANS MURDER MONITORING, novembro de 2021. Disponível em www.transrespect.org.
  • 14. 11 5 APÊNDICE SUGESTÃO DE MODELO DE ATENDIMENTO INCLUSIVO PARA FAMÍLIAS LGBTQIA+ 1) Conhecer terminologias próprias dessa população e ter consciência da fluidez desses termos, mantendo-nos sempre atualizado a respeito. 2) Conhecer as particularidades médicas e sociais dessa população (por exemplo: homens gestantes e lactantes e suas implicações). 3) Usar o pronome (ele/dele, ela/dela), nome (registro/social, caso escolham o social não precisamos questioná-los sobre seus nomes de registro) ou papel parental (“Como gostaria que seu bebê te chamasse?”) escolhidos pela pessoa ao se referir a ela. Não pressupor o gênero da pessoa pela aparência, somente a própria pessoa pode lhe dar essa informação (“Olá! Como estão? Me chamo Ana e podem se referir a mim com o pronome feminino. E com vocês? Que pronome devo usar?”). Alguns homens trans podem parecer mulheres, enquanto algumas pessoas que podem parecer muito masculinas, se identificam como “mulher”. Erros podem ocorrer, mas devemos nos desculpar, após corrigi-los. 4) Colocar o pronome que gostaria que fosse usado para você ao se apresentar, no início dos atendimentos ou escritos após o seu nome no WhatsApp, Instagram, formulários (exemplo: Ana C. Lorga Salis - ela/dela). Essa pode ser uma maneira virtual de apoio e de se mostrar aberto a esse tipo de atendimento. 5) Treinar toda equipe para um atendimento inclusivo e respeitoso (atendentes do estacionamento, secretárias, assistentes, enfermeiros, médicos). O membro da equipe que tem o primeiro contato com clientes potenciais deve estar ciente de que algumas pessoas procuram nossos atendimentos para ajudar na lactação, não se identificam como “mulheres” e que podem preferir ser tratados por nomes diferentes dos nomes que aparecem em seus cartões de saúde. 6) Durante atendimento a essa população evite usar termos do tipo “mulheres”, “mães”, “materna”, “Senhora” e pratique falar sobre “pessoas grávidas”, “cuidadores”, “lactante”, “leite humano”, “gestante”. 7) Quando se referir ao público em geral, usar frases do tipo: - “Boa noite a todas as pessoas aqui presentes!”, “A pessoa (indivíduo) que amamenta…”, “Todas as pessoas que gestam...”, “Dar o peito…”, “O leite humano…”. E talvez pensarmos em incluir os homens que amamentam, em nossas campanhas mundiais de amamentação, mudando termos do tipo “Semana Mundial de Aleitamento Materno” para ‘Semana Mundial do Aleitamento Humano”, uma vez que fica perceptível o desconfortáveis desses PAIS com o termo “MATERNO”, devido à sua falta de inclusão e à disforia de gênero que essa palavra pode gerar nesses indivíduos. 8) Ter formulários e prontuários com linguagem inclusiva (trocar “mãe” e “pai” por “responsáveis”, usar “pessoa que amamenta”, ao invés de “mãe”) e pulseiras de identificação adequadas ao gênero e papel parental informado pelas pessoas que irão vesti-las.
  • 15. 12 9) Certificar-se de que todas as perguntas são necessárias para um atendimento adequado. Explicar por que tais perguntas são relevantes. Pessoas trans são frequentemente sujeitas a perguntas desnecessárias de curiosos. 10) Não pressupor que a pessoa deseja amamentar. É sempre preferível perguntar, usando perguntas abertas (“Como estão pensando em alimentar o bebê?”, “O que sabem sobre indução da lactação?”), sobretudo homens trans que não passaram por cirurgia de remoção da glândula mamária, uma vez que a decisão de não amamentar pode ser baseada em razões fisiológicas ou de saúde mental. Nesses casos, oferecer informações sobre cessação de produção de leite. 11) Confidencialidade pode ser fundamental para essa população. Perguntar sobre como gostariam que essas questões fossem tratadas. Alguns/algumas pacientes podem querer um tratamento diferente quando em ambientes não privados. 12) Ornamentar o espaço de saúde com pelo menos um item capaz de mostrar que somos seus apoiadores e capazes de atendê-los (exemplo: almofada arco-íris, adesivos coloridos, placa/quadro com dizeres inclusivos). Essa é uma forma sutil e impactante de reconhecêlos. Uma simples caneca arco-íris pode tornar o ambiente mais receptivo. 13) Colocar placas inclusivas nas portas dos banheiros dos estabelecimentos de saúde (“unissex”, “todos os gêneros”) ou deixá-las sem placa de referência ao sexo (“banheiro”). O acesso ao banheiro costuma ser muito estressante para quem não se encaixa perfeitamente nas normas de gênero masculino ou feminino. 14) Evitar suposições relacionadas aos parceiros/as do/a paciente. Homens e mulheres trans, assim como todas as pessoas, podem ter qualquer orientação sexual (por exemplo: mulher trans homossexual que se relaciona com outra mulher cis ou trans). 15) Estar ciente de que homens trans podem se sentir desconfortáveis no exame físico da mama. Usar a palavra “tórax”, ao invés de “mama”, e pedir licença antes de tocá-los pode minimizar seu incômodo. 16) Tratar de todos os assuntos necessários com naturalidade e respeito, nunca de maneira pejorativa. 17) Entender que amamentação cruzada acontece somente quando o bebê é amamentado por uma pessoa que não ocupa o papel parental naquela família. 18) Dar igual atenção, direitos e importância à mãe não gestante (no caso de duas mães). Essas mães costumam se sentir invisíveis e muitas vezes são tratadas como pai. 19) Tal como acontece com todas as pessoas, realizar o rastreio de sintomas de ansiedade e depressão. A saúde mental pode ser um tema de maior destaque para essa população. 20) Estar ciente sobre sentimentos negativos ou desconfortos, nossos ou de funcionários das instituições de saúde, relacionado à essas pessoas. Somente após reconhecer nossos preconceitos, será possível desconstruí-los. Existe uma ansiedade social
  • 16. 13 baseada na suposição de que as pessoas LGBT são pais inadequados. Informar-nos a respeito pode ajudar nessa reconstrução. 21) Oferecer uma lista de grupos de apoio para essa população, assim como de profissionais “LGBT apoiadores”.
  • 17. 14 EFEITOS DA LUZ ARTIFICIAL NOTURNA SOBRE A SECREÇÃO DE MELATONINA MATERNA E CONSEQUÊNCIAS NA GESTAÇÃO E LACTÂNCIA Cecilia Mercado1 Resumo Neste trabalho é ressaltada importância da melatonina materna como modulador do ritmo circadiano do bebê, mas também como um hormônio essencial para a manutenção fetal e homeostase placentária e uterina. Atuando sobre os genes relógio que tem papeis importantes na fisiologia reprodutiva e orgânica materna e do bebê. A exposição exagerada a contaminação luminosa é um fator que pode alterar fortemente todos estes processos dependentes da melatonina. Palavras chave: Melatonina (ML), crononutrição, Luz artificial noturna (LAN), cronodisrupção, gestação e lactância, dispositivos eletrônicos auto luminosos (DEA) 1. INTRODUÇÃO Atualmente a LAN e uso de DEAs está completamente naturalizado. A pandemia de covid19 trouxe mudanças comportamentais como adoção do teletrabalho, aulas on-line, incrementando a exposição as telas de DEAs. O objetivo do trabalho é informar sobre alternativas para evitar disrupcões no marca-passo circadiano em gestante-feto e lactante, e promover o melhor desenvolvimento e evitar alterações comportamentais e metabólicas futuras. Para tal, é importante a compreensão sobre a Melatonina que é um hormônio sintetizado e secretado a noite na glândula pineal estimulada pela região do cérebro chamado núcleo supraquiasmático no hipotálamo (APÊNDICE 1). 1 Pós graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1 pólo Piracicaba; email: [email protected]
  • 18. 15 É regulador central do relógio circadiano (RC), sensível a sinais claro/escuro percebidos na retina pelos fotorreceptores de melanopsina nas células retinais ganglionares, reagindo a luz com longitudes de onda curta correspondente a faixas dentre 420-600nm com pico de absorção nos 446-447nm (BRENNAN, & LYONS, 2007). 2. REGULAÇÃO DO RC E O EFEITO SO O LEITE MATERNO (LM) A secreção de ML endógena é rítmica tendo o pico de secreção entre as 2/3hs (QIN et. al., 2019). A secreção da ML no LM apresenta ritmo diário similar, sincronizando com os ritmos do bebé. No final da gravidez a gestante exibe uma mudança incremental de ML noturna endógena, preparando o feto para o nascimento. Embrião e feto dependem da ML transplacentária para o correto desenvolvimento (ASTIZ & OSTER, 2021). O LM é considerado um “crononutriente”. O nível de ML materna alcança seu pico no colostro decrescendo no leite de transição e no leite maduro progressivamente) (APÊNDICE 2) (QIN et. al., 2019). A ML sérica de RN adquire ritmicidade com 2-3 meses (BRENNAN, & LYONS, 2007; McCARTHY et. al., 2019). 3. CRONODISRUPÇÃO E CONSEQUÊNCIAS A LAN é uma das principais causantes do desacople entre o RC endógeno com o ciclo externo claro-escuro. DAEs emitem radiação luminosa em cumprimentos de onda próximas do pico de sensibilidade para a ML (luz azul, 470nm) sendo causal da cronodisrupção (WOOD et. al., 2013; CHO et. al., 2015; DOMINONI et. al., 2016). ML é marca-passos central que regula e sincroniza os relógios periféricos de outros órgãos (BEDROSIAN & NELSON, 2017). O desbalanço da rede hormonal pode causar transtornos que afetam funções neurológicas e comportamentais, endocrinológicas e metabólicas, cardiovasculares (tanto em gestastes quanto em fetos e RN) e reprodutivas e imunológicas (APÊNDICE 1) (SCHEIERMANN et. al., 2013; CIPOLLA-NETO et. al., 2014; McCARTHY et. al., 2019; HAHN-HOLBROOK et. al., 2019; GUNATA et.al., 2020; GOMBERT & CODOÑER- FRANCH, 2021). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na revisão são feitas as seguintes recomendações: 1-Extração diferenciada
  • 19. 16 (diurna/noturna) e rotulagem do LM ordenhado para a doação aos Bancos de Leite Humanos (BLH); 2- Leite e formulações industriais que contenham dosagem de ML e rotulagem adequadas reguladas pela ANVISA para melhorar uso terapêutico ou nutricional; 3-Uso de filtros protetores para telas para mães expostas a luz noturna. Criar uma rotina de sono que respeite horários de claro/escuro; 4- UTIs neonatais devem considerar o uso de infraestrutura com iluminação ambiental amiga da MLe favorecer partos no horário noturno, no escuro ou com luz tênue ou levemente vermelha (McCARTHY et al., 2019; HAZELHOFF et al., 2021); 5- promover consumo de alimentos que sejam ricos em triptofano e ML. 5. REFERÊNCIAS 1. Astiz, Mariana, & Henrik Oster. 2021. “Feto-Maternal Crosstalk in the Development of the Circadian Clock System”. Frontiers in Neuroscience 14 (janeiro): 631687. 2. Bedrosian, T A, & R J Nelson. 2017. “Timing of Light Exposure Affects Mood and Brain Circuits”. Translational Psychiatry 7 (1): e1017–e1017. 3. Brennan, R, J E Jan, & C J Lyons. 2007. “Light, Dark, and Melatonin: Emerging Evidence for the Importance of Melatonin in Ocular Physiology”. Eye 21 (7): 901– 8. 4. Cho, YongMin, Seung-Hun Ryu, Byeo Ri Lee, Kyung Hee Kim, Eunil Lee, & Jaewook Choi. 2015. “Effects of Artificial Light at Night on Human Health: A Literature Review of Observational and Experimental Studies Applied to Exposure Assessment”. Chronobiology International 32 (9): 1294–1310. 5. Cipolla-Neto, J., F. G. Amaral, S. C. Afeche, D. X. Tan, & R. J. Reiter. 2014. “Melatonin, Energy Metabolism, and Obesity: A Review”. Journal of Pineal Research 56 (4): 6. Dominoni, Davide M., Jeremy C. Borniger, & Randy J. Nelson. 2016. “Light at Night, Clocks and Health: From Humans to Wild Organisms”. Biology Letters 12 (2): 20160015. 7. Gombert, Marie, & Pilar Codoñer-Franch. 2021. “Melatonin in Early Nutrition: LongTerm Effects on Cardiovascular System”. International Journal of Molecular Sciences 22 (13): 6809. 8. Gunata, M., H. Parlakpinar, & H.A. Acet. 2020. “Melatonin: A Review of Its Potential Functions and Effects on Neurological Diseases”. Revue Neurologique 176 (3): 148– 65. 9. Hahn-Holbrook, Jennifer, Darby Saxbe, Christine Bixby, Caroline Steele, & Laura Glynn.
  • 20. 17 2019. “Human Milk as ‘Chrononutrition’: Implications for Child Health and Development”. Pediatric Research 85 (7): 936–42. 10. Hazelhoff, Esther M., Jeroen Dudink, Johanna H. Meijer, & Laura Kervezee. 2021. “Beginning to See the Light: Lessons Learned From the Development of the Circadian System for Optimizing Light Conditions in the Neonatal Intensive Care Unit”. Frontiers in Neuroscience 15 (março): 634034. 11. McCarthy, Ronald, Emily S. Jungheim, Justin C. Fay, Keenan Bates, Erik D. Herzog, & Sarah K. England. 2019. “Riding the Rhythm of Melatonin Through Pregnancy to Deliver on Time”. Frontiers in Endocrinology 10 (setembro): 616. 12. Qin, Yishi, Weiyang Shi, Jialu Zhuang, Yu Liu, Lili Tang, Jun Bu, Jianhua Sun, e Fei Bei. 2019. “Variations in Melatonin Levels in Preterm and Term Human Breast Milk during the First Month after Delivery”. Scientific Reports 9 (1): 17984. 13. Scheiermann, Christoph, Yuya Kunisaki, & Paul S. Frenette. 2013. “Circadian Control of the Immune System”. Nature Reviews Immunology 13 (3): 190–98. 14. Wood, Brittany, Mark S. Rea, Barbara Plitnick, & Mariana G. Figueiro. 2013. “Light Level and Duration of Exposure Determine the Impact of Self-Luminous Tablets on Melatonin Suppression”. Applied Ergonomics 44 (2): 237–40.
  • 22. 19 Figura.1 Efeito da cronodisrupção mediada por LAN sobre a fisiologia no Gestante e na Lactação APÊNDICE 2 Figura 2. A) Concentrações de ML no relógio Circadiano. Concentrações de ML noturna na Gestação B) Concentração Noturna de ML no leite materno para primeiro mês de vida de bebês pre-termo e termo.
  • 23. 20 O ENSINO SOBRE ALEITAMENTO MATERNO DURANTE A GRADUÇÃO EM MEDICINA Cecília Freire de Carvalho Pinton1 Resumo Este estudo discute sobre a necessidade de se abordar de maneira mais aprofundada e estruturada o tema Aleitamento Materno durante o curso de graduação em medicina. Destaca a importância do atendimento qualificado do profissional médico para a proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno e sua manutenção. Este artigo resulta de uma pesquisa realizada pela autora a partir dos estudos abordados na Pós-graduação em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Palavras-chave: Aleitamento materno. Amamentação. Educação médica. 1 INTRODUÇÃO O Aleitamento Materno (AM) exclusivo até os 6 meses de vida e complementado até os dois anos ou mais traz inúmeros benefícios para saúde do bebê e para saúde da mulher que amamenta. É a estratégia isolada que mais previne mortes infantis, um importante indicador de saúde pública. Além disso, está associado a benefícios a longo prazo como diminuição do risco de sobrepeso e obesidade, diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica e suas complicações (VICTORA et al., 2016). Dada a sua relevância para promoção e prevenção em saúde, esse tema ainda é pouco abordado durante a graduação do curso de medicina. 2 O TEMA ALEITAMENTO MATERNO NO ENSINO MÉDICO Os currículos dos cursos médicos no Brasil são relativamente padronizados, seguindo as diretrizes curriculares nacionais, porém a educação em aleitamento materno varia muito entre as faculdades pela falta de um currículo mínimo exigido durante a graduação (FRAZÃO et al., 2019). Esse mesmo problema é observado em outros países como EUA e Reino Unido (BIGGS et al., 2020; GARY et al., 2017). A decisão individual das mulheres em amamentar ou não seus bebês, bem como prolongar o AM além dos primeiros meses de vida, sofre forte influência da opinião e do apoio do profissional médico. Por isso, independentemente da especialidade do médico, ele deve ter uma compreensão básica da importância da amamentação e promovê-la como um importante 1 Pós – Graduanda em Especialização em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 24. 21 cuidado de prevenção em saúde. Informações erradas e práticas inadequadas em relação ao AM estão associada a piores taxas de aleitamento. A formação médica atual é insuficiente em termos de conhecimento teórico e habilidades práticas em amamentação. Os alunos, ao final do curso, entendem a importância do aleitamento materno, porém não se sentem preparados para enfrentar os desafios da amamentação e dar suporte as famílias durante esse processo, principalmente quando ocorrem dificuldades. Muito do que se aprende sobre amamentação depende da experiência dos médicos assistentes e da experiência prática individual com os pacientes atendidos ao invés de um currículo formal de educação em AM. Frazão e colaboradores (2019) realizaram uma pesquisa com os alunos do curso de medicina de uma Universidade de Alagoas, realizada através de um questionário que abrangia diversas áreas de conhecimento sobre AM, para avaliar a progressão do conhecimento médico durante a graduação sobre o tema e observou que o índice de acerto progrediu de forma irregular e se questiona se os acertos ocorreram de forma aleatória, se as informações estão organizadas com um objetivo claro de aprendizado e se os alunos estão sendo motivamos a refletir sobre o que estão aprendendo. E conclui que esse despreparo do conhecimento esteja sendo levado para vida profissional. De acordo com a pesquisa realizada por Meek e colaboradores (2020) realizada com profissionais médicos e não médicos com interesse em melhorar o treinamento e educação médica em AM foram identificados barreias e oportunidades para a inclusão de conteúdo sobre amamentação na educação médica (APÊNDICE 1). O ensino sobre AM deve aliar conhecimento teórico e prático, incluindo o manejo dos principais problemas em amamentação e deve ocorrer em vários campos de estágios como maternidade, atenção básica, ambulatórios de amamentação, banco de leite, etc. A OMS, UNICEF e Academia de Medicina da Amamentação recomendam que os estudantes de medicina e profissionais médicos devem conhecer as evidências científicas da amamentação como padrão ouro da alimentação infantil, conhecer a fisiologia da amamentação, os aspectos nutricionais do leite materno, a mecânica da amamentação, compreender o manejo clínico de mães e recém nascidos normais e as influências psicossociais que impactam o início e manutenção da amamentação e devem evitar a criação de barreiras para o estabelecimento do AM (GARY et al., 2017). Os Apêndices 2 e 3, tabelas adaptadas de Gary e colaboradores (2017), resumem as recomendações dessas instituições a respeito dos conhecimentos e habilidades sobre AM que os estudantes de medicina devem ter. Uma importante estratégia para estimular o interesse dos alunos em estudarem mais sobre esse tema seria a inclusão de mais questões sobre aleitamento materno nas provas de títulos e de acesso a residência médica. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para melhora do conhecimento teórico e das habilidades práticas do médico em formação, sugere-se criar um currículo básico em AM, abordando o tema durante toda a graduação, com aumento progressivo da complexidade, que ofereça ao médico ferramentas para que ele se sinta seguro e preparado no manejo clínico da amamentação, favorecendo o aumento, das taxas de aleitamento materno na população em que irá trabalhar. 4 REFERÊNCIAS
  • 25. 22 BIGGS, KV, Fidler KJ, Shenker NS, Brown H. Are the doctors od the future ready to support breasrfeeding? A cross-sectional study in the UK. International Breastfeeding Jounal, v.15, n.1, p.46-53, mai 2020. FRAZÃO, SIRMANI MELO; VASCONCELOS, MARIA VIVIANE LISBOA DE; PEDROSA, CELIA MARIA. Conhecimento dos Discentes sobre Aleitamento Materno em um Curso Médico. Revista Brasileira de Educação Médica. 43(2):58-66; 2019. GARY AJ, BIRGMINGHAM EE, JONES LB. Improving breastfeeding medicine in undergraduate medical education: A student survey and extensive curriculum review with suggestions for improvement. Education for Health, v. 30, n2, p. 163-168, 2017 MEEK JY et al. Landscape Analysis of Breastfeeding- Related Physician Education in the United States. Breastfeeding medicine: the oficial jornal of the Academy of Breastfeeding Medicine, v.15, n.6, p. 401-411, jun 2020 VICTORA CG, BAHL R, BARROS AJ, FRANÇA GV, HORTON S, KRASEVEC J, et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet, v. 387, n. 10017, p. 475-490, jan. 2016. 5. APÊNDICES APÊNDICE 1: Barreiras e oportunidades identificadas pelo informante-chave para inclusão de conteúdo sobre amamentação na educação médica Barreiras Oportunidades 1- Relutância em priorizar a amamentação como parte da educação médica e prática 2- Falta de confiança dos médicos em suas habilidades e conhecimentos para fornecer aconselhamento sobre amamentação 3- Falta de conscientização e apoio do paciente e da população para a amamentação 4- Seleção de médicos com interesse em amamentação para Educação Médica Continuada 5 – Falta de uma mensagem unificada de todas as especialidades médicas de que a amamentação é a principal e melhor nutrição para o bebê 6- Influência das empresas de fórmulas no ambiente de educação médica (por exemplo congressos nacionais) transmite uma mensagem confusa para os estudantes e ao público 7- Falta de preceptores de apoio a lactação disponíveis, principalmente em clinicas e hospitais menores Traduzido e adaptado de Meek e colaboradores (2020) 1- Desenvolvimento de uma instituição específica que defenda a amamentação 2 – Treinamento sobre aspectos práticos da amamentação e manejo da lactação 3 – Estabelecimento de padrões curriculares sobre amamentação e manejo da lactação para as escolas médicas 4- Integração da amamentação à nutrição durante o ensino médico básico 5- Inclusão da amamentação e manejo da lactação nos exames certificação do conselho 6 – Treinamento em amamentação e manejo da lactação para toda a equipe de atendimento
  • 26. 23 APÊNDICE 2: Competências baseadas no Conhecimentos em cuidados de amamentação para graduandos em medicina.
  • 27. 24 APÊNDICE 3: Competências baseadas nas Habilidades em cuidados de amamentação para graduandos em medicina.
  • 28. 25 INFLUÊNCIA DAS AVÓS NO ALEITAMENTO MATERNO Cristiane Moretti Gouveia1 RESUMO Os benefícios do aleitamento materno são amplamente discutidos na comunidade acadêmica e órgãos governamentais de saúde. Apesar disso, a prevalência de desmame precoce continua alta. Diversos fatores interferem na decisão de uma mulher amamentar ou não. Dentre esses fatores, as avós representam um modelo a ser seguido devido seus conhecimentos, experiências e saberes. Portanto, é necessário estudar a influência delas no desfecho da amamentação. O ambiente familiar é o primeiro local de aprendizagem relacionados à saúde e tradicionalmente, as mulheres são responsáveis pela higiene, alimentação e cuidados dos familiares. A nutrizes percebem que as avós influenciam positivamente ou negatividade a sua decisão de amamentar e reconhecem que a opinião das avós constitui elemento significativo para reforçar a sua decisão em manter a amamentação. As avós são consideradas elemento fundamental para a manutenção ou abandono do aleitamento materno. Mitos, crenças e proibições são passados de geração em geração e estão relacionados pelo contexto social, cultural e histórico da nutriz. Palavras chave: Avós; Aleitamento Materno; Desmame Precoce; Interferência Familiar. 1. INTRODUÇÃO Os benefícios do aleitamento materno são amplamente discutidos como sendo o melhor e único alimento nos primeiros seis meses de vida e alimento complementar até os dois anos ou mais (BRASIL,2015). Apesar de todas as vantagens conhecidas e da recomendação do Ministério da Saúde, o desmame precoce é uma realidade frequente em nossa sociedade (MARTINS E MONTRONE, 2017). Giugliane (apud MARTINS E MONTRONE, 2017) considera que há uma diversidade de fatores que podem influenciar a decisão da mulher em relação à amamentação, como a falta de conhecimento dos benefícios e prejuízos do aleitamento materno e técnicas de amamentação, falta de apoio familiar e profissionais de saúde e propaganda de indústrias de leite. Portanto, a amamentação não é totalmente instintiva e nem automática no ser humano, muitas vezes deve ser aprendida para ser prolongada com êxito. Nesse sentido, as mulheres, ao se depararem pela primeira vez com o aleitamento materno, requerem que lhes sejam apresentados modelos ou guias práticos de como devem conduzir-se nesse processo, que na maioria das vezes tem como primeira referência o meio familiar, as amizades e vizinhança nos quais estão inseridas (ANGELO et al, 2015). Sendo o êxito da amamentação multifatorial, destaca-se o suporte familiar. No contexto familiar, as avós são referências significativas no repasse de informações que interferem na decisão da mulher amamentar ou não. São elas ainda que detêm conhecimentos que foram validados por suas experiências de vida, sendo socialmente aceitos, respeitados e valorizados (ANGELO et al., 2020). Sendo as avós peça chave em todo o processo de nascimento e Enfermeira, especializanda em Aleitamento Materno pela Passo1, pólo Piracicaba-SP.
  • 29. 26 alimentação e próximas das mulheres no período do puerpério é justificável estudar a influência que as avós exercem para o sucesso ou não da amamentação. 2. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão bibliográfica cuja base de dados utilizada foi a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) acessada no dia 09 de agosto de 2021. As palavras chaves utilizadas foram avós e aleitamento materno, causas de desmame precoce, interferência familiar no desmame precoce e dificuldades no aleitamento. Foram encontrados 66 artigos. Destes artigos encontrados, foram escolhidos aqueles escritos em língua portuguesa e oriundos de autores brasileiros, para que, melhor descrevessem a realidade brasileira. Além disso, foram incluídos artigos publicados entre os anos de 2015 a 2021, totalizando 09 (nove) referências bibliográficas. 3. AS AVÓS E A AMAMENTAÇÃO O ambiente familiar é o primeiro local de aprendizagem relacionados à saúde e tradicionalmente, as mulheres são responsáveis pela higiene, alimentação e cuidados dos familiares. Seus integrantes compartilham experiências, condutas e ensinamentos, o que indica ser este local o espaço onde as mulheres buscam apoio para o desenvolvimento das atividades maternas e para a amamentação (QUEIROZ et al., 2016). O apoio à lactante é baseado na história pessoal de mães, sogras, tias, irmãs que podem ser de sucesso ou insucesso com o processo de amamentação levando ou não ao desmame precoce (MARTINS E MONTRONE, 2017; CARVALHO et al., 2018). Segundo pesquisa sobre a influência das avós no aleitamento materno exclusivo em um hospital do interior paulista, realizada por Ferreira e colaboradores (2018), as avós, principalmente maternas, ocupam uma posição importante na família que aguarda a chegada do bebê devido ao contato diário, que elas referiam ter com suas filhas e netos. Além disso, as avós (materna ou paterna) tiveram maior possibilidade de ajuda no cotidiano da casa e nos cuidados com os netos. Os conhecimentos, atitudes e práticas das avós direcionam a amamentação de suas filhas e noras oferecendo o apoio necessário para o sucesso do aleitamento materno e/ou promovendo a contenção visualizada pelo início do desmame precoce (ANGELO et. al., 2020). A nutrizes percebem que as avós influenciam positivamente ou negatividade a sua decisão de amamentar e reconhecem que a opinião das avós constitui elemento significativo para reforçar a sua decisão em manter a amamentação (SIQUEIRA et al., 2017). A avó que amamentou, frequentemente representa um modelo a ser seguido, influenciando positivamente ou negativamente a adesão ao aleitamento, uma vez que, as nutrizes viveram a experiência de serem amamentadas (ANGELO et al., 2015). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As avós são consideradas elemento fundamental para a manutenção ou abandono do aleitamento materno. Mitos, crenças e proibições são passados de geração em geração e estão relacionados pelo contexto social, cultural e histórico da nutriz. Experiências positivas ou negativas durante a amamentação, muitas vezes, reproduzem os ensinamentos aprendidos com suas mães, que por sua vez, aprenderam com vivências maternas anteriores. É importante incluir familiares e principalmente as avós, no contexto de cuidados à gestante e lactante. Profissionais de saúde devem considerar incluir as avós em programas de aleitamento materno, para que possam expor suas crenças e sentimentos relativos à amamentação. Assim, as
  • 30. 27 avós estarão mais preparadas para exercer uma influência positiva para a amamentação de suas filhas e noras. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA ANGELO, B.H.B. et al. Práticas de apoio das avós à amamentação: revisão integrativa. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 15, n. 2, p. 161-170, 2015. ANGELO, B. H.B. et al. Conhecimentos, atitudes e práticas das avós relacionados ao aleitamento materno: uma metassíntese. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Recife, v.28, e.3214, 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. BRITO, R.S. et al. Aleitamento materno: conhecimento de avós adscritas à estratégia saúde da família. Rev. Enferm UFSM, Santa Maria, v.5, n.2, p. 305-315, 2015. CARVALHO, E.S. et al. Dificuldades do aleitamento materno exclusivo diante da interferência familiar. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, 2018. DIAS, L.M.O. et al. Influência familiar e a importância das políticas públicas de aleitamento materno. Revista Saúde em Foco, Teresina, Edição nº 11, 2019. FERREIRA, T.D. et al. Influência das avós no aleitamento materno exclusivo: estudo descritivo transversal. Revista Einstein, São Paulo, v. 16, n.4, 2018. MARTINS, R.M.C.; MONTRONE, A.V.G. O aprendizado entre mulheres da família sobre amamentação e os cuidados com o bebê: contribuições para atuação de profissionais de saúde. Rev. APS, São Carlos, v.20, n.1, p. 21-29, 2017. QUEIROZ, P.H.B.; ZANOLLI, M.L.; MENDES, R.T. A interferência relativa das avós no aleitamento materno de suas filhas adolescentes. Rev Bras Promoç Saúde, Fortaleza, v.29, n.2, p. 253-258, 2016. SIQUEIRA, F.P.C.; CASTILHO, A.R.; KUABARA, C.T.M. Percepção da mulher quanto à influência das avós no processo de amamentação. Rev Enferm UFPE on line, Recife, v.11, supl.6, p. 2565-75, 2017.
  • 31. 28 A VISÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM DENTRO DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL FRENTE AS DIFICULDADES EM PROMOVER O ALEITAMENTO MATERNO Deisiane Pessoa da Silva Santos1 Resumo Um grande problema de saúde pública no Brasil é o desmame precoce em bebês internados em Unidades de Terapia Intensiva. São muitas as causas que interferem no aleitamento materno, como situação socioeconômica, cultura, idade, cultura e entre outros fatores. Sabemos que existem políticas de promoção a saúde e proteção ao aleitamento materno. Nesta revisão o objetivo é deixar claro a importância de capacitar profissionais de saúde a atender esse binômio, essa família, prestando um atendimento de qualidade e interdisciplinar. Palavras-chave: Aleitamento Materno. Desmame. Profissionais de saúde. Capacitação de Profissionais de saúde. 1 INTRODUÇÃO O aleitamento materno é o alimento mais importante para a criança nos primeiros meses de vida, pois é capaz de suprir e saciar todas as necessidades nutricionais, sistema imunológico e neuropsicomotor e todo seu desenvolvimento emocional e cognitivo. Os benefícios são inúmeros tanto para a criança tanto para a mãe que amamenta, aumento o vínculo entre a díade e contribui para saúde física e psíquica da mãe (MARQUES et al., 2016). Em 1981 o programa nacional de incentivo ao aleitamento materno foi oficializado, seu objetivo é combater a desnutrição infantil, através de ações que incluam apoio a amamentação na comunidade, campanhas de mídias, marketing sobre os leites artificiais, treinamento aos profissionais de saúde, aconselhamento e leis que protegem a amamentação (ALENCAR, 2008 apud MARQUES et al., 2016). 1 Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 32. 29 O cenário da amamentação nas Unidades de Terapia Intensivas Neonatais (UTIN) mostra como os profissionais que assistem os bebês e seus pais precisam de mais capacitação e acolhimento relacionados à prática do aleitamento: [...] Todavia, nos casos em que as crianças nascem prematuras, certas particularidades e dificuldades acabam por gerar um desmame precoce do aleitamento materno, especialmente atribuído ao retardo da sucção direta da criança do seio materno; pela hospitalização da criança por um período mais longo; estresse materno e familiar; além de existirem lacunas no incentivo ao aleitamento materno nesse contexto (ABREU et al.,2015). 2 DIFICULDADES DE PROFISSIONAIS DA SAÚDE EM PROMOVER E INCENTIVAR O ALEITAMENTO MATERNO DENTRO DAS UTINs O processo que esse bebê recebe o leite materno da mama ou ordenhado é influenciado por valores sociais, ideologias e interesses, tanto econômicos e tanto pelas experiências anteriores das mulheres, suas inseguranças e dificuldades encontradas nesse contexto hospitalar (MARQUES et al., 2016). O bebê internado em uma UTIN, muitas das vezes está restrito em receber o colo materno, devido sondas, soroterapias, cateter de oxigênio e outros materiais que impedem essa mãe de segurar seu filho, no entanto, é importante que equipe de enfermagem promova a aproximação entre essa díade promovendo, assim que possível for, contato pele a pele e o incentivo ao Método Canguru (COUTINHO e KAISER, 2015). O apoio da equipe de enfermagem, em trazer esclarecimentos que poderão fazer a total diferença no sentindo de bem-estar dessa díade mãe-filho, entendendo essas angustias, medos, insegurança sobre a amamentação, estabelecendo uma relação de confiança com a mãe, fornecendo orientações básicas para a vida do neonato e avaliar o cuidado prestado. Lidando muitas das vezes com os entraves, barreiras, considerando a própria experiência do enfermeiro em cuidar, resultando em atendimento e cuidado com qualidade (COUTINHO e KAISER, 2015). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os artigos levantados, as características socioeconômicas e culturais que acompanham o aleitamento em uma unidade de terapia intensiva neonatal são um dos fatores que levam ao desmame precoce desses bebês, aumentando os índices de morbimortalidade. Além disso, a falta de capacitação profissional é questão a ser melhorada para que a equipe de saúde possa ser rede de apoio técnico e emocional para essas famílias. REFERÊNCIAS COUTINHO, Sandra Eugênio e KAISER, Elaine Dagmar. Visão da enfermagem sobre o aleitamento materno em uma unidade de internação neonatal: relato de experiência. Boletim Científico de Pediatria. V 4, N 1, jul/2015.
  • 33. 30 FERNANDES, Bruno César et al. Cuidados de Enfermagem no Incentivo ao Aleitamento Materno de Recém-Nascidos Prematuros. Id on Line-Revista Multidisciplinar e de Psicologia. V 14 N. 53, p. 926-934, dez/2020. MARQUES, Gabriela Cardoso Moreira et al. Aleitamento Materno: Vivido de mães que tiveram bebês internados em unidade de terapia intensiva neonatal. Revista de Enfermagem- UFPE On Line. Recife, V 10, p. 495-500, fev/2016.
  • 34. 31 A VISITA DOMICILIAR E O ALEITAMENTO MATERNO NA ADOLESCÊNCIA Flávia Corrêa Porto de Abreu D’ Agostini1 Resumo As mães adolescentes têm menor probabilidade de começar a amamentar quando comparado a uma mãe em fase adulta, e metade das mães adolescentes amamentam até o 6º mês de vida. A visita domiciliar propicia o aprimoramento das competências parentais e no desenvolvimento infantil das famílias com mães e pais adolescentes. Este estudo mostra a importância da visita domiciliar pelo enfermeiro no acompanhamento do aleitamento materno na adolescência. Conclui-se que a maternidade na fase da adolescência conclama de apoio dos profissionais de saúde no enfrentamento dos obstáculos e demandas da maternidade e do aleitamento materno e a visita domiciliar realizada pelo enfermeiro permite prestar uma melhor assistência à adolescente para se obter o sucesso do aleitamento materno. Palavras-chaves: Aleitamento materno; Visita domiciliar; Enfermagem; Adolescente 1 INTRODUÇÃO A adolescência é o período entre 12 à 18 anos de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sendo uma fase de grande adaptações, transformações e mudanças no âmbito físico, psíquico e social. (BRASIL, 1990). Considerando que a recomendação do aleitamento materno (AM) exclusivo até o sexto mês de vida da criança e até 2 anos de idade de forma complementada (BRASIL, 2015) e, que a compreensão da gravidez e da amamentação na adolescência permite um olhar ampliado dos profissionais de saúde, devido à grande parcela dos casos ocorrer em populações de maior vulnerabilidade social e econômica (CRUZ; CARVALHO; IRFFI, 2016). Considerando que a visita domiciliar (VD) deve ser adotada pelos profissionais de saúde como uma ferramenta de cuidado a indivíduos e famílias em seu contexto, além de permitir a construção do vínculo entre o indivíduo/ família e o profissional visitador (ROCHA et al., 2017). 1 Pós-graduanda em Aleitamento pelo Instituto Passo1 polo Piracicaba/SP, [email protected]
  • 35. 32 Este estudo tem por objetivo é identificar a importância da visita domiciliar pelo enfermeiro no acompanhamento do aleitamento materno na adolescência. 2 DESENVOLVIMENTO As adolescentes reconhecem a amamentação como uma experiência que fortalece o vínculo afetivo entre mãe e bebê, mas a dificuldade neste processo traz sentimentos ambíguos a mãe adolescente (TAVEIRA; ARAÚJO, 2019). Entretanto, as mães adolescentes têm menor probabilidade de começar a amamentar quando comparado a uma mãe em fase adulta, e metade das mães adolescentes amamentam até o 6º mês de vida (CONDE; et.al, 2017). Durante o pré-natal muitas gestantes adolescentes não recebem o incentivo e a orientação sobre o aleitamento materno dos serviços de saúde, e muitas delas acabam recendo algum tipo de intervenção somente após o parto (TESSARI; SOARES; SOARES; ABREU, 2019). E as mães adolescentes apresentam dificuldades na amamentação na falta de conhecimento, dificuldade na pega e em conciliar a amamentação e as atividades escolares (TESSARI; SOARES; SOARES; ABREU, 2019). As mães adolescentes são mais propensas a serem socialmente isoladas (RASKIN et al., 2017), por isso é fundamental elas receberem as visitas dos enfermeiros em virtude de terem alguém para conversar, fazer perguntas, para ouvi-las, apoiá-las emocionalmente (ZAPART; KNIGHT; KEMP, 2016). A visita domiciliar propicia o aprimoramento das competências parentais e no desenvolvimento infantil das famílias com mães e pais adolescentes (ROCHA et al., 2017). Além disso, promovem impactos positivos na abordagem do aleitamento materno em mães adolescentes. O tema da amamentação deve ser abordado durante a gestação e após nascimento pelos enfermeiros durante a VD, pois ter esse profissional em domicílio é muito significante e auxilia no acompanhamento e promoção do cuidado (ZAPART; KNIGHT; KEMP, 2016). Caso a mãe adolescente apresente qualquer dificuldade durante a amamentação poderá ser identificado pelo enfermeiro durante a visita domiciliar, seja pelo apoio e/ou encaminhamento a outros serviços de saúde e da comunidade para uma atenção adicional (STETLER et al., 2018). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A maternidade na fase da adolescência conclama de apoio dos profissionais de saúde no enfrentamento dos obstáculos e demandas da maternidade e do AM. Portanto, a VD promove uma compreensão ampliada do significado da maternidade e da amamentação para a mãe adolescente, e permite ao enfermeiro a prestar uma melhor assistência à adolescente para se obter o sucesso do aleitamento materno.
  • 36. 33 4 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema Único de Saúde: manual de implementação / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 152 p. BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da criança e do adolescente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 julho 1990, 1990. CONDE, R. G.; GUIMARÃES, C. M. S.; GOMES-SPONHOLZ, F. A.; ORIÁ, M. O. B.; MONTEIRO, J. C. S. Autoeficácia na amamentação e duração do aleitamento materno exclusivo entre mães adolescentes. Acta Paulista de Enfermagem [online]. 2017, v. 30, n. 4 [Acessado 17 Setembro 2021] , pp. 383-389. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/19820194201700057>. ISSN 1982-0194. https://doi.org/10.1590/1982-0194201700057. CRUZ, M. S.; CARVALHO, F. J. V.; IRFFI, G. Perfil socieconômico, demográfico, cultural, regional e comportamental da gravidez na adolescência no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas, n. 46, p. 243–266, 2016. ROCHA, K. B. et al. Home visit in the health field: a systematic literature review. Psicologia, Saúde e Doença, v. 18, n. 1, p. 170–185, 2017. STETLER, K. et al. Lessons learned: implementation of pilot universal postpartum nurse home visiting program, Massachusetts 2013–2016. Maternal and Child Health Journal, v. 22, n. 1, p. 11–16, 2018. TESSARI, W; SOARES, L. G.; SOARES, L. G; ABREU, I. S. Percepção de mães e pais adolescentes sobre o aleitamento materno. Enfermagem em Foco, [S.l.], v. 10, n. 2, ago. 2019. ISSN 2357-707X. Disponível em: <http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/1865>. Acesso em: 17 set. 2021. doi:https://doi.org/10.21675/2357-707X.2019.v10.n2.1865. ZAPART, S.; KNIGHT, J.; KEMP, L. ‘It was easier because i had help’: mothers’ reflections on the long-term impact of sustained nurse home visiting. Maternal and Child Health Journal, v. 20, n. 1, p. 196–204, 2016.
  • 37. 34 DIABETES GESTACIONAL: ORDENHA DE COLOSTRO ANTENATAL COMO FORMA DE PROMOVER E PROTEGER O ALEITAMENTO. Flavia Gheller Schaidhauer1 Resumo Diabetes Gestacional é um problema de saúde pública mundial, chegando a afetar 90% das gestantes em ambulatórios de gestação de alto risco. O atraso da lactogênese II associada a essa morbidade está bem estabelecida, bem como o uso de substitutos de leite materno em caso de hipoglicemia neonatal. A ordenha antenatal tem se mostrado uma estratégia promissora para evitar uso de substitutos de leite humano, e melhorar as taxar de início de aleitamento e redução de desmame precoce. Palavras-chave: diabetes gestacional, hipoglicemia neonatal, aleitamento. 1 INTRODUÇÃO O Diabetes gestacional é um problema de saúde pública mundial, afetando 1-35% das mulheres grávidas (Silva et al, 2021). Um dos principais fatores é resistência periférica a insulina, mesmo com altos níveis de produção de insulina no final terceiro trimestre de gestação (Zhu e Zhang, 2016). A ordenha antenatal de colostro, armazenamento e congelamento, e sua disponibilidade após nascimento é uma opção que tem sido estudada para evitar uso precoce de substitutos do leite humano (Foster et al, 2014). 1 Pós graduanda em Aleitamento Materno Instituo Passo 1 Piracicaba [email protected]
  • 38. 35 2 BARREIRAS AO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO Recém-nascidos filhos de mães com diabetes gestacional tem risco aumentado de intercorrências ao nascer que levam a introdução precoce de substitutos do leite humano (Foster et al, 2014). Mulheres com diabetes gestacional tem atitudes e crenças menos favoráveis em relação ao aleitamento, e menor apoio dos médicos e companheiros (Doughty, 2018). Devido maior internação na unidade de cuidados intensivos e diminuição da autoeficacia materna em amamentar, ocorre a perda da amamentação ou desmame próximo aos 3 meses de idade nessa população (Morrison et al, 2014). 3 ORDENHA DE COLOSTRO ANTENATAL Estudos mostram que a ordenha de colostro antenatal não diminui a incidência de hipoglicemia neonatal ou internações em unidades de cuidados intensivos, mas esse procedimento deixa as mães mais otimistas e empoderadas para usar seu leite e manter o aleitamento (Doughty et al, 2018). Gestantes com DMG que são bem-informadas dos riscos referentes a sua condição, tem melhores desfechos em relação ao aleitamento, bem como são mais propensas a trabalhar o aleitamento antes mesmo do nascimento, algumas aderindo ao protocolo de ordenha antenatal de colostro (Park et al, 2021) Devido a falta de estudos, a revisão sistemática realizada pela Cochrane em 2014, não conseguiu avaliar a segurança e a eficácia da ordenha de colostro antenatal (East et al, 2014) 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diabetes gestacional vem aumentando anualmente no mundo todo, e é uma das principais causas de desfechos ruins relacionados ao concepto (OMS, 2013).
  • 39. 36 Protocolo de ordenha de colostro antenatal tem sido priorizado para esse grupo em vários países, como Estados Unidos e Austrália, como forma de proteger e promover aleitamento materno nessa população, que tem incidência alta de desmame precoce (menos de 3 meses) ou mesmo ausência completa de aleitamento (Foster et al, 2014). Não há estudos suficientes que avaliam a segurança e a eficácia da ordenha colostro antenatal, porém há estudos mostrando que mulheres que fazem protocolo de ordenha acabam tendo maior autoconfiança e auto-eficácia em iniciar e manter aleitamento de seus filhos, melhorando os índices de aleitamento nessa população (Nguyen et al, 2019). 4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS Silva, José Roberto da et al. Gestational Diabetes Mellitus: the importance of the production in knowledge. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil [online]. 2016, v. 16, n. 2 [Accessed 11 August 2021] , pp. 85-87 Zhu, Y., & Zhang, C. (2016). Prevalence of Gestational Diabetes and Risk of Progression to Type 2 Diabetes: a Global Perspective. Current diabetes reports, 16(1),7. Forster, D. A., Jacobs, S., Amir, L. H., Davis, P., Walker, S. P., McEgan, K., Opie, G., Donath, S. M., Moorhead, A. M., Ford, R., McNamara, C., Aylward, A., & Gold, L. (2014). Safety and efficacy of antenatal milk expressing for women with diabetes in pregnancy: protocol for a randomised controlled trial. BMJ open, 4(10), e006571 Morrison MK, Collins CE, Lowe JM, Giglia RC. Factors associated with early cessation of breastfeeding in women with gestational diabetes. Women Birth. 2015 Jun;28(2):143-7 Doughty KN, Ronnenberg AG, Reeves KW, Qian J, Sibeko L. Barriers to Exclusive Breastfeeding Among Women With Gestational Diabetes Mellitus in the United States. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2018 May;47(3):301-315. Park S, Jang IS, Min D. Factors associated with the need for breastfeeding information among women with gestational diabetes mellitus: A cross-sectional study. Asian Nurs Res (Korean Soc Nurs Sci). 2021 May 26:S1976-1317(21)00040-2. East CE, Dolan WJ, Forster DA. Antenatal breast milk expression by women with diabetes for improving infant outcomes. Cochrane Database Syst Rev. 2014 Jul 30;(7):CD010408. Nguyen PTH, Pham NM, Chu KT, Van Duong D, Van Do D. Gestational Diabetes and Breastfeeding Outcomes: A Systematic Review. Asia Pac J Public Health. 2019 Apr;31(3):183198.
  • 40. 37 QUAL A RELAÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO E A CÁRIE DENTÁRIA? - REVISÃO DE LITERATURA Isabella Claro Grizzo1 Resumo O presente estudo refere-se a uma revisão de literatura relacionando a cárie dentária com o aleitamento materno. Com o passar dos anos a ciência desenvolveu diversos conceitos sobre a etiologia da cárie, diante do cenário atual, sabe-se que se trata de uma doença multifatorial, ou seja, diversos fatores associados para que ocorra o aparecimento da lesão cariosa e não simplesmente a presença do açúcar/carboidrato na cavidade oral, e sim, necessário um desequilíbrio dos fatores associados a doença cárie para o aparecimento da lesão. Sendo assim, esse estudo irá apresentar através de artigos recentes, a relação da lesão cariosa com o leite materno e se ele é capaz ou não de provocar o aparecimento das lesões, baseando-se no conceito da doença x lesão e composição do leite materno. Palavras-chave: Cárie dentária. Suscetibilidade a cárie dentária. Aleitamento materno. Amamentação. 1. INTRODUÇÃO A cárie dentária é mundialmente conhecida e estudada por apresentar uma elevada prevalência mundial (11-53%) e ser considerada um problema de saúde pública, uma vez que o desenvolvimento das lesões desequilibra a saúde oral do indivíduo, pode causar inflações dores e simultaneamente afetar a qualidade de vida dos pacientes com lesões cariosas ativa. (THAM et al., 2015; AVILA et al., 2015; SHEIHAM et al., 2006; RAMOS-JORGE et al., 2014) Nesse contexto, estudar a etiologia da cárie dentária tornou-se extremamente viável, pois sabendo-se como ela se desenvolve, é possível agir impedindo sua progressão e assim controlando a prevalência mundial de cárie. Por muitos anos acreditou-se que a cárie dentária era uma doença transmissível, causada apenas pelo consumo do açúcar, no entanto, atualmente seu conceito dado por Pits et al é pautado na definição de doença dinâmica, multifatorial e mediada pelo biofilme. Ou seja, para a lesão cariosa se desenvolver clinicamente precisamos ter vários fatores associados, esses fatores são: presença do biofilme dentário, ausência do flúor, presença das bactérias acidogênicas e acidúricas e a presença do açúcar. O risco de cárie dentária está relacionado ao teor de carboidratos do leite materno associada a duração do contato do leite e a dentição irrompida (ou seja, frequência da alimentação e práticas de alimentação que resultam em agrupamento de leite materno ou fórmula em torno das superfícies dos dentes, como a alimentação de bebês para dormir) (THAM et al., 2015). O processo do desenvolvimento da lesão se caracteriza pela queda do pH da cavidade oral, nessa queda o esmalte dentário entra no processo de desmineralização, quando se tem a remoção do biofilme e presença do Flúor, ele participará de trocas iônicas entre a superfície dentária e a cavidade, formando a fluroapatita que contribuirá para o processo de remineralização, esse processo ocorre constantemente na cavidade oral. No entanto, quando ocorre um desequilíbrio 1 Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 41. 38 nesse processo, ocorrendo mais desmineralização do que a remineralização as lesões cariosas aparecem. (MAGALHÃES A.C. et al, 2021) Considerando que o leite materno contém lactose em sua composição e durante a metabolização torna-se açúcar e o açúcar contribui para queda do pH do meio e o processo de desmineralização é desencadeado há uma grande discussão sobre ele ser promotor de cárie dentária na primeira infância e assim, tornou-se oportuno realizar uma revisão sobre o potencial cariogênico do leite materno. Então, foi realizada uma busca no PUBMED de artigos com os termos “dental caries” AND “breastfeeding”. Encontrou-se 477 artigos. Colocou-se um filtro para artigos a partir de 2015 resultando em 145 estudos, desses 145, foi utilizado um segundo filtro para inclusão de apenas estudos clínicos randomizados ou revisões sistemáticas e o número de estudos obtidos foi de 7. Com esses 7 artigos, foi realizada a leitura de títulos e resumos para uma exclusão preliminar e assim um estudo foi excluído pois seu tema fugia do abordado no presente estudo. Os 6 estudos resultantes foram lidos completamente e na leitura, dois foram excluídos por fugirem do foco do estudo, sendo incluídos nessa revisão 4 estudos. 2. LEITE MATERNO E CÁRIE Assim como a cárie dentária na primeira infância tem impacto na saúde geral das crianças o aleitamento materno também se apresenta relevante nesse aspecto, no entanto são apontados os impactos benéficos dessa prática, como redução da mortalidade infantil, redução do desenvolvimento de doenças sistêmicas, redução da desnutrição infantil, entre outros inúmeros benefícios que já são comprovados pela ciência (AVILA et al., 2015; BIRUNG et al 2015), frente a eficácia do leite materno, é de suma importância o conhecimento da relação do aleitamento e cárie, para não estimular um desmame precoce com o objetivo de manter o bebê/criança livre de lesões cariosas. Dos quatro estudos incluídos para essa revisão todos referem-se a uma relação fraca ou nula entre o aleitamento com a cárie dentária, deixando claro que a relação apontada em alguns estudos pode estar relacionada a falta de metodologia, viés do estudo ou outro tipo de alimento introduzido na vida da criança juntamente com o aleitamento. Tham e colaboradores (2015) sugeriu que o aleitamento materno além 1 ano de idade aumentou o risco de cárie na primeira infância, mas advertiu que, pode haver confusão com efeitos dos hábitos alimentares e da higiene oral quando não são adequadamente controlados. Já Moynihan e colaboradores (2019) indicou que as melhores evidências disponíveis revelam que o aleitamento até dois anos não aumenta o risco a cárie na primeira infância, quando comparado com o aleitamento até um ano de idade. Mas fatores protetores como, escovação diária, exposição dos dentes ao flúor, controle da dieta, devem ser introduzidos na vida das crianças a partir do momento que o aleitamento materno passar a não ser exclusivo. Um estudo conduzido por Neves e colaboradores (2016) avaliou o potencial de cariogenicidade do leite materno, ou seja, avaliou a queda do pH provocada pelo leite materno na cavidade oral e obteve como resultado que o leite materno não diminuiu o pH do biofilme dental nem em crianças livres de cárie, nem em crianças que já apresentavam cárie da primeira infância. Estudos experimentais prévios a Neves já haviam apontado que o leite materno não pode apresentar um potencial cariogênico, desde que seja a única fonte de carboidratos (ARAÚJO et al., 1997; ERICKSON & MAZHARI, 1999). Sendo assim, nota-se que os estudos que associaram uma relação do aleitamento após os seis meses de idade como risco de carie, podem ter um viés em relação aos outros hábitos introduzidos na criança juntamente com o aleitamento. A Organização Mundial da Saúde preconiza o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, diante disso, após esse período e muitas vezes, antes disso, o bebê recebe outras fontes alimentares, como fórmulas infantil, no intuito de complementar o aleitamento e a própria introdução alimentar, e assim, outras fontes
  • 42. 39 de carboidratos que são capazes de promover a queda de pH na cavidade oral suficiente para o desenvolvimento de lesões cariosas são expostas a superifice dentária do bebê/ criança e por atuarem no mesmo momento que o aleitamento acontece, uma confusão pode acontecer. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a leitura de diversos trabalhos e avaliando a etologia da cárie dentária pôde-se concluir que o leite materno, isoladamente na alimentação do bebê, não tem potencial para o desenvolvimento das lesões cariosas, mas quando associado com outras fontes de alimento pode ser confundido como um fator de risco para cárie precoce da primeira infância. 4. REFERÊNCIAS Moynihan P, Tanner LM, Holmes RD, Hillier-Brown F, Mashayekhi A, Kelly SAM, Craig D. Systematic Review of Evidence Pertaining to Factors That Modify Risk of Early Childhood Caries. JDR Clin Trans Res. 2019 Jul;4(3):202-216. doi: 10.1177/2380084418824262. Epub 2019 Feb 14. PMID: 30931717. Riggs E, Kilpatrick N, Slack-Smith L, Chadwick B, Yelland J, Muthu MS, Gomersall JC. Interventions with pregnant women, new mothers and other primary caregivers for preventing early childhood caries. Cochrane Database Syst Rev. 2019 Nov 20;2019(11):CD012155. doi: 10.1002/14651858.CD012155.pub2. PMID: 31745970; PMCID: PMC6864402. Avila WM, Pordeus IA, Paiva SM, Martins CC. Breast and Bottle Feeding as Risk Factors for Dental Caries: A Systematic Review and Meta-Analysis. PLoS One. 2015 Nov 18;10(11):e0142922. doi: 10.1371/journal.pone.0142922. PMID: 26579710; PMCID: PMC4651315. Tham R, Bowatte G, Dharmage SC, Tan DJ, Lau MX, Dai X, Allen KJ, Lodge CJ. Breastfeeding and the risk of dental caries: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015 Dec;104(467):62-84. doi: 10.1111/apa.13118. PMID: 26206663. Sheiham A. Dental caries affects body weight, growth and quality of life in pre-school children. Br Dent J. 2006;201:625–626. 10.1038/sj.bdj.4814259 [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] Ramos-Jorge J, Pordeus IA, Ramos-Jorge ML, Marques LS, Paiva SM. Impact of untreated dental caries on quality of life of preschool children:different stages and activity. Community Dent Oral Epidemiol. 2014;42:311–322. 10.1111/cdoe.12086 [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] Health Ministry, Health Care Office, Surveillance Registry on Health. SB Brazil Project:oral health status of the population 2010-main results. [In Portuguese]. Available at: http://dab.saude.gov.br/CNSB/sbbrasil/arquivos/projeto_sb2010_relatorio_final.pdf. Neves PA, Ribeiro CC, Tenuta LM, Leitão TJ, Monteiro-Neto V, Nunes AM, Cury JA. Breastfeeding, Dental Biofilm Acidogenicity, and Early Childhood Caries. Caries Res.
  • 43. 40 2016;50(3):319-24. doi: 10.1159/000445910. Epub 2016 May 26. PMID: 27226212. Araújo FB, Cury JA, Araujo DR, Velasco LFL: Study in situ cariogenicity of human milk: clinical aspects. Rev ABO Nac 1997;4:42–44 Erickson PR, Mazhari E: Investigation of the role of human breast milk in caries development. Pediatr Dent 1999;21:86–90. Magalhães, Ana Carolina.; Rios, Daniela.; Wang, Linda.; Buzalaf, Marília AF. Cariologia da Base à Clínica. 1 ed. São Paulo: Barueri, 205 p, 2021.
  • 44. 41 ESCOLARIDADE MATERNA E SUA INFLUÊNCIA NAS TAXAS DE ALEITAMENTO Júlia Dias Silvestri Vaz Pinto1 Resumo Uma vez que o leite materno traz diversas vantagens para bebês, suas mães e para a sociedade como um todo, é de grande importância entender quais são os fatores que colaboram ou atrapalham na manutenção na prática do aleitamento materno. Esse trabalho tem como objetivo elencar os principais fatores relacionados ao desmame precoce, e se a taxa de escolaridade materna é relevante dentre eles. Palavras-chave: Aleitamento Materno (Breast Feeding, Lactancia Materna). Escolaridade (Educational Status, Escolaridad). Desmame (Weaning, Destete). 1 INTRODUÇÃO O leite materno é comprovadamente o melhor alimento existente para alimentar um bebê no início da vida, não necessitando de nenhum outro complemento nos primeiros 6 meses, e sendo importante de maneira complementada dali pra frente (LIMA, 2018). Com base nisso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda aleitamento materno (AM) de maneira exclusiva até o sexto mês do bebê, e de maneira complementada até os 2 anos ou mais. Além da enorme superioridade nutricional e imunológica conferida pelo leite materno quando em comparação aos leites artificiais existentes no mercado, ser amamentado está relacionado com quedas de taxas de mortalidade infantil, risco de obesidade e diabetes ao longo de toda a vida daquele bebê, além de potencial aumento da inteligência (VICTORA, 2016). Sendo assim, é relevante que sejam identificadas as causas mais comuns de desmame nos primeiros meses de vida, uma vez que isso causa impacto na saúde da sociedade como um todo. No presente estudo foram reunidos artigos científicos a fim de identificar quanto o nível de escolaridade materna foi relevante para a manutenção do aleitamento de seus bebês. 2 A INFLUÊNCIA DA ESCOLARIDADE MATERNA NAS TAXAS DE ALEITAMENTO Para entender os motivos do desmame precoce, é de grande valor que antes entendamos quais são as gestantes que demonstram maior intenção materna em amamentar (IMA), para depois tentar interpretar quais foram os fatores dificultadores durante esse processo. Se analisarmos a revisão sistemática de Oliveira Vieira e colaboradores (2016), as características 1 Pós-Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 45. 42 associadas à maior IMA foram: primeira gestação, maior escolaridade e idade materna, experiência prévia com a amamentação, ausência do hábito de fumar e residir com o companheiro. Sendo assim, já pode-se perceber que desde a gestação, a escolaridade é um grande fator influenciador nas ideias das mães e famílias sobre o ato de amamentar. Quando passamos para a esfera da prática, ou seja, se esse bebê realmente foi ou não amamentado e até quando, a baixa escolaridade materna continua se mostrando como uma forte variável de desmame, sendo difícil identificar se essa relação se dá de maneira direta ou indireta. Pereira-Santos et. al. (2017) agrupou em sua metanálise 22 estudos brasileiros e concluiu que “idade inferior a vinte anos, baixa escolaridade, primiparidade, trabalho materno no puerpério e a baixa renda familiar estão associados com a interrupção do AM exclusivo até os seis meses de idade”. Já a revisão integrativa de Pinheiro (2021) demonstra os motivos citados pelos autores como sendo de maior importância para a descontinuidade do AM até 6 meses “a mãe trabalhar fora de casa, baixo nível de escolaridade das mães, leite fraco, traumas mamilares, uso de bicos artificiais e deficiência na consulta de pré-natal”. Infelizmente, tal influência não é um problema atual e muito menos simples de ser manejado, uma vez que a escolaridade materna também está associada a fatores socioeconômicos e culturais. Bem como demonstra o estudo de Escobar et. al. (2002), usando amostra de 599 crianças em São Paulo, 1998, “maior escolaridade da mãe e presença de rede de esgoto mostraram relação com maior tempo de aleitamento”. Se mudarmos o nosso foco para o Norte do país, as informações continuam extremamente semelhantes, sendo que os fatores que mais influenciaram foram faixa etária e escolaridade materna, mãe com trabalho fora do lar, estado civil materno, incentivo do companheiro quanto ao AM e o escore da escala de autoeficácia (MARGOTTI, 2016). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Todos os artigos encontrados mostram que quanto maior a escolaridade materna, maiores são as chances de aleitamento de seus bebês. Isso nos leva a pensar que o entendimento sobre a importância e valor do AM são conhecimentos que ainda estão restritos a camadas de maior escolaridade. Além disso, vale a pena extrapolar a análise em questão para a associação de que mulheres com maiores taxas de escolaridade, em sua grande maioria, também estão em níveis socioeconômicos mais altos. Esse fator muitas vezes facilita alguns pilares necessários para a manutenção do AM, como licença maternidade remunerada, rede de apoio presente, babás e creches, entre outros. Nós da área da saúde temos a responsabilidade e missão de lutar por maiores taxas de aleitamento. Tendo em vista que não conseguimos mudar consideravelmente a existência de diferentes níveis socioeconômicos e de escolaridade na nossa sociedade, podemos concluir que pode ser vantajoso trabalhar em difundir a informação sobre a importância do AM nos níveis mais básicos de ensino, como por exemplo no ensino fundamental e médio. Uma vez que amamentar é parte da natureza humana, faz sentido que crianças e adolescentes escutem e aprendam sobre como sua espécie nasce e se desenvolve, e não que isso seja explicado apenas para aquelas mulheres que já estão gestantes e prestes a passar pelo momento de lactação. Quanto mais se conhece as vantagens que envolvem aleitar ao seio uma criança, maiores as chances de seus benefícios superem os medos das mães, e interferências de bicos e leites
  • 46. 43 artificiais do mercado que muitas vezes têm marketing que nos levam a crer que são melhores que o aleitamento natural. Após essa análise, quanto mais pessoas conseguirmos atingir acerca do tema, e o quanto antes, maiores serão as possibilidades desta mãe que deseja amamentar não se sentir sozinha nessa luta, uma vez que seu parceiro ou parceira, familiares e amigos também a apoiam e criam um ambiente propício para o AM ser mantido. 4 REFERÊNCIAS ESCOBAR, A. M. U. et. al. Aleitamento materno e condições socioeconômico-culturais: fatores que levam ao desmame precoce. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil , 2002. LIMA, A. P. C.; NASCIMENTO, D. S.; MARTINS, M. M. F. A prática do aleitamento materno e os fatores que levam ao desmame precoce: uma revisão integrativa. Journal of Health & Biological Sciences, 2018. MARGOTTI, E; MARGOTTI, W. Fatores relacionados ao Aleitamento Materno Exclusivo em bebês nascidos em hospital amigo da criança em uma capital do Norte brasileiro. Saúde em Debate, 2017. PEREIRA-SANTOS, M. et. al. Prevalência e fatores associados à interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo: metanálise de estudos epidemiológicos brasileiros. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil , 2017. PINHEIRO, B. M.; NASCIMENTO, R. C.; VETORAZO, J. V. P. Fatores que influenciam o desmame precoce do aleitamento materno: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica Acervo Enfermagem, 2021. VIEIRA, T. O.; MARTINS, C. C.; SANTANA, G. S.; VIEIRA, G. O.; SILVA, L. R. Intenção materna de amamentar: revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, 2016. VICTORA, C. G. et. al. Amamentação no século 21: epidemiologia, mecanismos, e efeitos ao longo da vida. The Lancet: Série sobre amamentação, 2016.
  • 47. 44 ALEITAMENTO MATERNO NA ADOLESCÊNCIA: APOIO À PRÁTICA DE AMAMENTAÇÃO E PREVENÇÃO AO DESMAME PRECOCE Lívia Elisei de Faria¹ Resumo A gestação na adolescência pode influenciar negativamente na prática da amamentação, levando ao desmame precoce. Contudo, com apoio adequado dos profissionais da saúde e familiares desde o pré-natal, o aleitamento materno pode-se manter por mais tempo e aumentar a confiança da mãe adolescente nos cuidados com seu filho. Palavras-chave: Aleitamento materno. Adolescente. Desmame precoce. 1. INTRODUÇÃO A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2017) define como adolescência o período da vida que compreende a faixa etária de 10 a 19 anos (cerca de 20 a 30% da população mundial, no Brasil alcançando até 23% da população). É o período de transição entre puberdade e idade adulta, onde ocorre grandes e profundas transformações psíquicas, físicas e sociais. A gravidez nesta fase pode implicar em reajustes interpessoais e intrapsíquicos, determinando insegurança, medo e ansiedade diante desta nova condição, podendo gerar sobrecarga física e emocional, comprometendo a maturação psicossexual e forçando a adolescente desenvolver precocemente capacidades para prestar cuidado ao seu filho. Segundo dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS, 2019), 14,7% dos nascidos vivos no Brasil eram de mães adolescentes e, no estado de São Paulo a taxa foi de 14,5% de nascidos vivos. A amamentação na adolescência pode ser um desafio, pois a nova mãe se depara com um complexo processo adaptativo, que embora seja natural, amamentar não é apenas instintivo, necessitando de aprendizado e tempo para ser aprimorado, além de suporte emocional adequado em seu meio social, que nem sempre é alcançado (CARVALHO & GOMES, 2019). Por outra ótica, a experiência da amamentação pode ser um momento importante de crescimento pessoal e formação de vínculo mãe-bebê. 1 Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1 pólo Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 48. 45 2. ADOLESCÊNCIA E AMAMANTAÇÃO A prática do aleitamento materno entre as adolescentes tende a não ter boa adesão ou predispor o desmame precoce e, a decisão pessoal da mãe em amamentar deve ser apoiada com informação atualizada e compreendida sobre os benefícios da amamentação a curto e longo prazo para a saúde do binômio (QUEIROZ et al, 2016). Desde o pré-natal a adolescente deve receber atenção integral e ampliada dos profissionais de saúde e familiares (incluindo avós, parceiro (a) e outros membros) a fim de incentivar, promover e apoiar o aleitamento materno. Deve-se criar um vínculo de confiança e comunicação, com escuta atenta aos anseios e dúvidas desta jovem mãe, orientando quanto à prática da amamentação e auxiliando-a a superar suas dificuldades, na medida que vai alternando sua condição de filha adolescente para mãe adolescente (SEHNEM et al, 2016). O profissional da saúde desde a primeira consulta de pré-natal, no nascimento, no pós- parto imediato e puericultura deve promover o aleitamento materno, dar suporte psicológico, explicar a fisiologia da amamentação, benefícios, cuidados com as mamas e estimular a autoconfiança da nova mãe. Concomitantemente, o incentivo e apoio familiar, principalmente dos parceiros e avós, são fundamentais para iniciar e manter o aleitamento materno por mais tempo, visto que os familiares estão presentes no cotidiano desta mãe adolescente e são eles que irão compartilhar suas experiências anteriores, tornando referência na prática à amamentação (CHICAROLLI et al, 2019). A amamentação bem sucedida desperta na adolescente sentimento profundo de ligação com o filho e de realização como mulher e mãe, mas esta também vivencia momentos cansativos, por vezes refletidos em sofrimento (SEHNEM et al, 2016). Algumas situações são percebidas pela mãe como obstáculo à amamentação, dentre elas: traumas mamilares (fissuras), problemas na sucção, dificuldades na pega, choro e irritabilidade do bebê, crenças de produção insuficiente ou leite fraco, falta de suporte profissional e necessidade de retorno ao trabalho e estudos, favorecendo o desmame precoce. A menor duração do aleitamento materno também está relacionada à alimentação precoce com mamadeira e uso de chupeta (PONCE DE LEON et al, 2009). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A adolescência é um período de intensa transformação e vários enfrentamentos e a mãe adolescente precisa de apoio de seu companheiro (a), de sua família, amigos e dos profissionais da saúde. É de suma importância que a jovem mãe esteja ciente dos benefícios do aleitamento materno para sua saúde e do bebê numa tentativa de evitar o desmame precoce, já que a prevalência do aleitamento materno exclusivo entre as adolescentes é baixa e tende a diminuir nos primeiros seis meses devida do bebê. Durante a gestação e nas consultas de pré-natal devem ser realizadas práticas educativas sobre amamentação com grupos de gestantes para trocas de experiências; com olhar atento à mãe adolescente, promovendo, protegendo e apoiando a amamentação, com estratégias de aconselhamento que oportunizem à estas mães expressarem seus sentimentos, dúvidas, medos e, a partir disso encorajá-las a amamentar. Os profissionais de saúde devem agir como facilitadores deste processo, juntamente com os familiares,
  • 49. 46 sobretudo avós e companheiro(a), para promover autonomia e empoderamento das mães para que possam fazer a melhor escolha do modo de alimentação do seu filho. REFERÊNCIAS Carvalho, M.R. & Gomes, C. Amamentação Bases Científicas. 4° ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Queiroz, P.H.B., Zanolli, M.L., Mendes, R.T. A interferência relativa das avós no aleitamento materno de suas filhas adolescentes, 2016. Sehnem, G.D., Tamara, L.B., Lipinski, J.M., Tier, C.G. Vivência da amamentação por mães adolescentes: experiências positivas, ambivalências e dificuldades. Revista de Enfermagem UFSM, 2016. Chicarolli, Amanda, Garcia, A.P.S., Carniel, Francieli. Aleitamento materno: desmame precoce entre mães adolescentes, 2019. Ponce de Leon, C.G.R.M., Funguetto, S.S., Rodrigues, J.C.T, de Souza, R.G. Vivência da amamentação por mães adolescentes, 2009. Oliveira, A.C., Dias, Í.K.R., Figueredo, F.E., Oliveira, J.D, Cruz, R.S.B.L.C., Sampaio, K.J.A.J. Aleitamento materno exclusivo: causas da interrupção na percepção de mães adolescentes. Revista de Enfermagem UFPE, 2016. Maranhão, T.A., Gomes, K.R.O., Nunes, L.B., de Moura, L.N.B. Fatores associados ao aleitamento materno exclusivo entre mães adolescentes. Cad Saúde Coletiva, 2015. World Health Organization. WHO. Recommendations on Adolescent Health. Geneva, Switzerland: World Health Organization, 2017 A adolescência e o aleitamento materno. Documento científico da Sociedade Brasileira de Pediatria, 2020. Prevenção da gravidez na adolescência. Guia prático de atualização da Sociedade Brasileira de Pediatria, 2019.
  • 50. 47 MAMANALGESIA VACINAS: ALEITAMENTO MATERNO COMO ALÍVIO DA DOR Márcia Simone de Araújo Machado Siebert 1 Resumo A administração de vacinas pode provocar dor, desconforto e angústia no recém-nascido, causando ansiedade na mãe e em seus familiares. O método não farmacológico para alívio da dor denominado Mamanalgesia tem se mostrado eficaz para acalmar o bebê no momento da aplicação da vacina BCG e pode ser amplamente implementado tanto na Atenção Primária à Saúde (APS) quanto nas maternidades e serviços de saúde materno-infantil que atendem aos recém-nascidos e suas famílias. Palavras-chave: Aleitamento Materno. Dor. Mamanalgesia. Vacinas. 1 INTRODUÇÃO Os municípios da federação têm a instrução normativa em que expande para as maternidades, que atendem pelo Sistema Único de Saúde, a administração do imunobiológico BCG. Deste modo, a vacina vem sendo aplicada nas maternidades com o objetivo de ampliar a cobertura vacinal e prevenir as formas graves de tuberculose. A técnica de Mamanalgesia, que consiste no bebê ser amamentado durante a realização de procedimentos que causam desconforto, proporciona benefícios significativos no que diz respeito à humanização da assistência ao recém-nascido (RN). No momento da vacina, considerado um procedimento doloroso, centrar a mãe no RN, mantendo contato físico entre o binômio, traz alento para o bebê. Segundo Galvão e colaboradores (2015) devese centrar a mãe na atenção do bebê, para que a preocupação do profissional que aplica a injeção subcutânea seja na ação terapêutica e a responsabilidade da mãe será de acalmar e tranquilizar o RN. 2 MAMANALGESIA E APLICAÇÃO DA VACINA BCG A dor é caracterizada como um evento que pode ser de origem sensorial ou emocional sendo classificada como o 5 º sinal vital e todos os usuários têm direito de ter a sua dor avaliada e tratada (CALASANS et al., 2016). No RN não é diferente. Estudos apontam que, a partir da 7º semana de gestação, a dor já é desenvolvida e, na 22º semana de vida intrauterina, o feto já é capaz de sentir a dor. (CALASANS et. al., 2016). 1 Pós–Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 51. 48 Medidas não farmacológicas para o alívio da dor em crianças estão sendo utilizadas em procedimentos que necessitam do uso de agulha para facilitar a continuidade do tratamento em razão da redução do estresse e da angústia nesses pacientes (LANDER et al., 2006). É notório a dificuldade de eliminação total da dor em RN durante procedimentos invasivos, mas podemos diminuir sua intensidade e quantidade. A implementação da Mamanalgesia, técnica não farmacológica no alívio da dor, durante a vacinação da BCG, tem como propósito prestar cuidado humanizado às práticas assistenciais oferecidas ao RN, mulher e família, nas maternidades. Baseado nessas circunstâncias, podemos utilizar a Mamanalgesia para aliviar a dor durante a vacinação em RN pois ela promove diversas vantagens ao bebê e à mãe, alimenta a criança e fortalece vínculo entre o binômio, devido ao conforto, proximidade e aconchego do colo, diminuindo suas emoções em momentos de dor e desconforto. (MOURA et al., 2021) O leite materno é uma intervenção natural, fácil e eficaz na diminuição da dor durante a vacinação, podendo ser facilmente adotada por profissionais de saúde e pais (SHAH et al., 2006). O leite contém agentes que têm propriedades analgésicas ou que pode ser convertido endogenamente em substâncias analgésicas, além de conter maior concentração de triptofano, precursor da melatonina, que serve para aumentar a concentração de beta endorfinas, que é um dos mecanismos para os efeitos nociceptivos do leite (SPARKS, 2001; AGARWAL, 2011). A Mamanalgesia não envolve somente a técnica, mas também todas as orientações que precisam ser fornecidas à mãe e à família do bebê. O profissional precisa utilizar uma linguagem de fácil compreensão para que a mãe possa colaborar e participar ativamente deste cuidado, assim, a Mamanalgesia poderá ser utilizada durante as próximas vacinas da criança e também em outros procedimentos médicos que porventura ocasione dor. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Manter a atenção qualificada e humanizada que favoreça o cuidado ao recém-nascido e à sua família é uma das premissas da assistência em saúde materno-infantil e o investimento no aleitamento materno como estratégia para o conforto e o alívio da dor é um cuidado inovador no formato da técnica da Mamanalgesia. Assim, a Mamanalgesia é considerada um ato de humanização, possibilitando o estabelecimento de vínculos de afeto entre equipes de saúde, RN e a família. As equipes de saúde que assistem o binômio mãe-bebê necessitam de capacitações e sensibilizações a respeito da Mamanalgesia para que se tornem agentes multiplicadores dessa informação, pois ela é um cuidado que necessita de maior divulgação e utilização pelos diversos serviços de saúde que oferecem cuidados aos recém-nascidos, às crianças e suas famílias. 4 REFERÊNCIAS AGARWAL R. Breastfeeding or breast milk for procedural pain in neonates. The World Health Organization Reproductive Health Library, Geneva: World Health, 2011.
  • 52. 49 BRASIL. Ministério da Saúde. Nota técnica nº 39/2021-COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS e CGPNI/DEIDT/SVS acerca da amamentação como medida não farmacológica para redução da dor durante a administração de vacinas injetáveis em crianças. Brasília – DF: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wpcontent/uploads/2021/10/Nota-Tecnica-39_2021- COCAM-e-CGPNI-Amamentacao-e-alivioda-dor-1.pdf. Acesso em: 17 out. 2021. CALASANS M. T., MAIA J. M. A., SILVA J. F. A amamentação como método não farmacológico para o alívio da dor. Revista Enfermagem Contemporânea. v. 5, n. 2, 2016. GALVÃO P. G. et al. Intervenções não farmacológicas de redução da dor em uso na vacinação de lactentes. International Journal of Developmental and Educational Psychology. [Internet].v.1, n.1, p. 89-97, 2015. LANDER J. A., WELTMAN B. J., SO S. S. EMLA and amethocaine for reduction of children’s pain associated with needle insertion. The Cochrane Database of Systematic Reviews. 1(3), 897–925. 10.1002/14651858.CD004236.pub2. 2006. MOURA Z. S. C. et al. Amamentação como protocolo de alívio da dor no momento da vacinação em recém-nascidos. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 3, p. e40710313550, 2021. SHAH P. S., ALIWALAS L. L., SHAH V. S. Breastfeeding or breast milk for procedural pain in neonates. Retrieved from Cochrane Database of Systematic Reviews, 3, Art. Nº: CD004950. DOI: 10.1002/14651858.CD004950.pub2. 2006. SPARKS L. Taking the “ouch” out of injections for children. Using distraction to decrease pain. MCN: The American Journal of Maternal/Child Nursing. 26(2), 72-78. 10. 2001.
  • 53. 50 MÉTODO CANGURU E CONTATO PELE A PELE NO PROCESSO DE LUTO MATERNO Mariana Cavenage Filó1 Resumo O nascimento de um bebê pode estar cercado de situações inesperadas e a família diante deste fato, pode ter dificuldade em estabelecer vinculo. A Metodologia Canguru e o contato pele a pele vieram para ajudar na promoção do vínculo e no empoderamento desta família e no processo de luto. Palavras-chave: Método Canguru. Contato pele a pele. Luto do bebê ideal 1 INTRODUÇÃO Quando um casal planeja ter filhos, junto começam os planos em torno desta criança e todo um imaginário é construído. Mesmo que a gravidez não seja planejada, dúvidas e incertezas aparecem perante ao novo. Só que muitas vezes, o bebê que imaginamos, acaba não existindo, seja por um nascimento prematuro ou até pelo nascimento de um bebê com alguma particularidade especial (MOREIRA et. al., 2003). Neste momento, todos os planos que foram construídos no imaginário desta família são desmoronados e começa o processo de luto do “filho ideal”. Surgem ali, as incertezas de um futuro, de não saber se o “filho real” irá sobreviver ou como será seu desenvolvimento, se a rotina da família irá mudar ou se terá uma vida normal. Todos esses questionamentos, são comuns às famílias de bebês que nascem com alguma particularidade e cabe a nós, profissionais da saúde que estamos responsáveis pelo cuidado desta família, ampara-los emocionalmente, esclarecendo todas as suas dúvidas frente ao novo, ressignificando essa chegada e preparando- os para possíveis percalços que enfrentarão (PRUDÊNCIO et. al., 2021). 2 QUANDO O BEBÊ IDEAL NÃO ACONTECE Diante de uma notícia inesperada, todos nós começamos a negar que aquilo realmente está acontecendo, principalmente se não é algo visível aos nossos olhos. Isto acontece à muitas famílias que tem um bebê com alguma malformação ou que possuem alguma desordem genética sem nenhum fenótipo associado. 1 Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 54. 51 A família, após a notícia inicial e por não ter nada “palpável” aos seus olhos, entra em processo de negação e começa, muitas vezes, a duvidar do diagnóstico feito, principalmente se após este diagnóstico, vem a notícia de que a vida deste bebê pode se findar a qualquer momento. Segundo Moreira e colaboradores (2003), os pais, por muitas vezes, tornam o profissional portador da notícia inicial, o “culpado” por tudo aquilo estar acontecendo, tentando transferir para eles, o sentimento de incapacidade perante daquela situação. Neste momento, a equipe multidisciplinar tem um papel fundamental no acolhimento a esta família, tentando elucidar todas as suas dúvidas e por muitas vezes fazendo reuniões com à família estendida para que todos possam se conscientizar do prognóstico e para dar apoio a esta família diante desta nova situação (PRUDÊNCIO et. al., 2021). Os pais, por muitas vezes, não querem fazer vínculo com este bebê por medo do que poderá vir a acontecer e muitas vezes, os pais se afastam das unidades ou tem medo de tocá-los por imaginarem que vão atrapalhar no desenvolvimento da criança. Assim, devemos nos valer do Método Canguru para promover o vínculo com esta família (SANTOS et. al., 2013). O Método Canguru, que foi criado em 1978 na Colômbia e implementado no Brasil em 1999, tem sido utilizado na maioria das unidades de terapia intensiva e locais que atendem bebês de risco, como método de inserção desta família nos cuidados deste bebê e no processo de vinculo. O Método Canguru se baseia em quatro pilares: acolhimento ao bebê e a sua família, respeito às individualidades de cada família, promoção do contato pele a pele o mais cedo possível e envolvimento da mãe nos cuidados do bebê (MOREIRA et. al, 2003). Segundo o Manual de Atenção Humanizada ao recém-nascido (2017), dentro do Método Canguru, temos a Posição Canguru que consiste em colocar os bebês abaixo de 2500g apenas de fralda em contato pele a pele com os familiares, desde que apresentem estabilidade clinica durante o manuseio. A posição Canguru apesar de originalmente ter sido criada para bebês de baixo peso ou prematuros, também pode ser utilizada para bebês nascidos a termo e com peso superior. Durante a Posição Canguru, os bebês e os pais experimentam sensações únicas, ambos se encontram mais relaxados e até a expressão facial do bebê muda, sendo ali a maior troca de energia e contato entre ele e sua família. Através desde processo de troca, conseguimos empoderar muitas famílias e estabelecer ali o vínculo que muitas vezes foi perdido após uma má notícia. Apesar de todos os esforços e cuidados, durante o processo de internação, alguns bebês não evoluem de forma satisfatória e o óbito pode ocorrer. O contato pele a pele é de extrema importância nestes casos, facilitando o processo de luto desta família. Ali, com o bebê nos braços, todos se sentem lutando pela vida do seu filho até os últimos minutos e sentem que eles também fizeram algo pelo bebê além do que a tecnologia pode oferecer. E é ali no abraço, no cheiro e no toque que muitos bebês morrem, no lugar onde tudo se iniciou, no amor de seus pais. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim, vemos que a Metodologia Canguru e o contato pele a pele, vieram como facilitador para as equipes que trabalham com bebês de risco. Pois através dela, conseguimos empoderar a família ou criar vínculos perdidos durante os processos de más notícias. Vale ressaltar que nem todos os lugares que trabalham com bebês de risco se utilizam desta prática no seu dia a dia. Cabe a nós profissionais da saúde difundirmos cada vez mais esses preceitos para que possamos dar à todas as famílias a oportunidade de cuidar do seu bebê, mesmo que a vida deste bebê seja breve.
  • 55. 52 4 REFERÊNCIAS BRASIL.Ministério da Saúde. Atenção humanizada ao recém-nascido: Método Canguru – 3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017. MOREIRA, Mel et. al. Quando a vida começa diferente: o bebê e sua família na UTI neonatal. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. Criança, Mulher e Saúde collection. PRUDÊNCIO, P. S.; TÔRRES, N. M.; FRANGIOTI, P. Como o profissional de saúde pode acolher a mãe e a família diante da morte de seu bebê. E-book, 2021. Disponível em: Prudêncio - Cursos e Consultorias (profadrapatriciaprudencio.com) SANTOS, LM, et al. Percepção materna sobre o contato pele a pele com o prematuro através da Posição Caguru. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, vol. 5, núm. 1, janeiro-março, 2013.
  • 56. 53 CRECHE AMIGA DA AMAMENTAÇÃO: PROMOTORA DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E CONTINUADO Mariana de Campos Chaves1 Resumo O presente estudo visa discutir sobre a influência do retorno ao trabalho e as opções das mulheres sobre o cuidado do bebê durante o período laboral no desfecho do aleitamento materno. A creche e instituições educacionais, por uma das opções das mães, exercem influência significativa sobre o aleitamento materno das crianças que ingressam nesses espaços. Estimular a adesão à iniciativa Creche Amiga da Amamentação possibilita a promoção de manutenção do aleitamento materno exclusivo e continuado. O presente artigo resulta de uma pesquisa qualitativa realizada a partir dos estudos abordados na Pósgraduação em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Palavras-chave: Aleitamento materno. Creche amiga da amamentação. Manejo ampliado. 1 INTRODUÇÃO Preconiza-se que o aleitamento materno se inicie logo na primeira hora de vida, sendo exclusivo até o sexto mês de vida e continuado até dois anos ou mais. Porém, segundo os resultados preliminares do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), o Brasil ainda está aquém das recomendações. A prevalência de aleitamento materno exclusivo entre crianças menores de 4 (quatro) meses foi de 60%, e de 45,7% em crianças menores de 6 (seis) meses. Enquanto as prevalências de aleitamento materno continuado aos 12 (doze) meses e de crianças com menos de 24 (vinte e quatro) meses são de 53,1% e 60,9%, respectivamente (UFRJ, 2020). O sucesso no aleitamento materno depende de diversos fatores e a necessidade da mulher de retornar ao trabalho após a licença maternidade surge como um fator de atenção associado ao desmame precoce no Brasil (FREIRE, et al. 2021). Atualmente, por lei, a licença maternidade em nosso país é de 120 dias, podendo ser prorrogada por mais 60 dias em alguns casos (BRASIL, 2015). Diante da necessidade de retorno ao trabalho e da impossibilidade de estar integralmente com o bebê, comumente as creches e demais instituições educacionais são a opção viável para o cuidado do bebê (FREIRE, et al. 2021). 1 Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 57. 54 2 CRECHE AMIGA DA AMAMENTAÇÃO COMO PROMOTORA DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E CONTINUADO Nesse contexto, a creche exerce significativa influência sobre o desfecho do aleitamento materno, como promotora ou fator de risco para o aleitamento materno exclusivo e continuado, pois é o ambiente em que a criança permanecerá maior período do dia (BRASIL, 2018). A iniciativa “Creche Amiga da Amamentação” tem papel fundamental para que as creches e instituições educacionais façam parte da rede de apoio da díade mãe-filho. O livreto para gestores “A Creche como Promotora da Amamentação e da Alimentação Adequada e Saudável” (2018) discorre sobre as condutas a serem adotadas pelas instituições de maneira que a entrada da criança na creche não interrompa o aleitamento materno, pelo contrário, que estimule e permita a manutenção do aleitamento materno, investindo em sua estrutura e equipe (BRASIL,2018). Complementarmente, é necessário destacar que a “Cartilha para a Mulher Trabalhadora que Amamenta” (BRASIL, 2015) apresenta as diretrizes e orientações para que o retorno ao trabalho não seja fator impeditivo da manutenção do aleitamento materno. Dentre as condutas básicas da creche amiga da amamentação, primeiramente é necessário permitir que a criança receba leite materno enquanto permanecer na instituição, seja extraído em casa/instituição, seja pela amamentação realizada na creche (BRASIL, 2018). Também é fundamental incentivar a continuidade da amamentação, antes da chegada e após a saída da creche. Para que a mulher possa amamentar ou extrair o leite na creche, é importante a disponibilização de um espaço adequado e confortável, porém, caso não haja disponibilidade inicial para tal espaço, isso não deve ser fator impeditivo para incentivar o aleitamento materno (BRASIL, 2018). O livreto (BRASIL, 2018) ainda indica outros procedimentos, como orientação para extração, armazenamento e manipulação do leite materno, sugestões para elaboração de sala para amamentação e extração de leite materno, avaliação institucional para setores de educação, saúde e outros visando a promoção do aleitamento materno de forma ampliada. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Enfim, a influência da creche e instituições educacionais no aleitamento é inevitável, portanto, cabe aos profissionais atuantes nesse ambiente o papel de transformá-la em um espaço de acolhimento, promoção e proteção do aleitamento materno. A adesão à iniciativa Creche Amiga da Amamentação é uma ramificação do manejo ampliado que precisa ser discutida e incentivada na rede pública e privada objetivando atingir as recomendações para aleitamento materno. 4 REFERÊNCIAS Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Cartilha para a mulher trabalhadora que amamenta / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 28 p.: il.
  • 58. 55 Brasil. Ministério da Saúde. A creche como promotora da amamentação e da alimentação adequada e saudável: livreto para os gestores [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 36 p.: il. UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil – ENANI-2019: Resultados preliminares – Indicadores de aleitamento materno no Brasil. UFRJ: Rio de Janeiro, 2020. 9 p. FREIRE, Ediane Alves de Lima, et al. Fatores associados ao desmame precoce no contexto brasileiro: uma revisão da literatura. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 4, n. 1, p.1343-1355, 2021.
  • 59. 56 LEITE MATERO CAUSA CÁRIE? Micaela Cardoso1 Resumo O leite materno, ao mesmo tempo que é considerado o alimento mais completo do mundo, também é apontado como o causador da cárie dentária no mundo todo. Alguns pesquisadores relatam que há um risco aumentado de desenvolver a cárie na primeira infância por crianças que são amamentadas após 1 ano de idade, mas falta o controle de alguns vieses como higiene dentária e dieta. Apesar de todo esse questionamento, o importante é que os estudos mais atuais estão mudando essa visão dos cirurgiõesdentistas com uma cartilha publicada por ninguém menos que a Organização Mundial de Saúde. Nesse documento, foi reunido os principais estudos que mostram que leite materno não causa cárie e que não há associação entre amamentação após 1 ano e cárie. É necessário que seja introduzido a disciplina de Amamentação dentro da grade de graduação em Odontologia, pois esses profissionais atendem toda a família, assim, as mesmas se beneficiariam com informações e orientações a fim de proteger o aleitamento materno. Palavras chaves: Amamentação. Cárie na primeira infância. Lactose. INTRODUÇÃO O aleitamento materno deve ser incentivado por todos os profissionais da saúde, exclusivo até os 6 meses e, após esse período, complementado por até 2 anos ou mais. Crianças que continuam sendo amamentadas após 1 ano continuam recebendo inúmeros benefícios desse processo: psicológico, nutricional e desenvolvimento (OMS, 2020). Alguns questionamentos sobre essa prática ocorrem entre a classe dos cirurgiõesdentistas e fica nítido a falta de informação e estudo sobre todo o envolvimento que a amamentação tem, não só na Odontologia, mas como na saúde pública. Discussões sobre o leite materno causar prática ainda ocorrem, sem de fato conhecerem o mecanismo bioquímico e microbiológico desse processo (FELDENS et al., 2018). DESENVOLVIMENTO Por alguns anos, têm-se questionado que o consumo em livre demanda do leite materno seria o causador da doença cárie em bebês e pré-escolares. Por conta disso, dentistas, principalmente odontopediatras, incentivavam que a mãe realizasse o desmame noturno do bebê justificando a prevenção da cárie na primeira infância. Orientações como: desmame após 1 ano ou interromper amamentação prolongada, infelizmente, ainda é realizada por esses profissionais, devido a um estudo prospectivo realizado que teve essa conclusão, e assim propagando nos principais livros de odontopediatria (FELDENS et al., 2018). Pós-graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1, pólo Piracicaba. Email: [email protected]
  • 60. 57 Contudo, outros pesquisadores se questionavam do contrário: como o alimento mais completo do mundo poderia o vilão da cárie? Com isso, outro estudo publicado alguns anos depois, com controle de alguns vieses como dieta e higiene dentária não identificou uma correlação entre leite materno e cárie, tão pouco amamentação noturna, mas sim, hábitos de consumo de açúcares livres estavam relacionados com a cárie na primeira infância (DEVENISH et al, 2020). Isso pode ser explicado bioquimicamente pelo efeito que o leite humano tem na formação do biofilme dentário. O mesmo não consegue fazer com que haja uma queda de pH do meio bucal para menor que 5,5 (valor crítico) tão pouco serve de substrato para síntese de polissacarídeos extracelulares (polissacarídeos insolúveis) – produto que torna o biofilme cariogênico (NEVES et al, 2016). Para acabar com todos os questionamentos, a Organização Mundial de Saúde, reunindo pesquisadores em cariologia do mundo, descreveu uma cartilha para esclarecer a todos os profissionais de saúde, principalmente aos dentistas, que as evidências mostram que bebês amamentados no primeiro ano de vida apresentam níveis mais baixos de cárie dentária do que aqueles que fazem uso de fórmula infantil (OMS, 2020). A cartilha também conta sobre uma revisão sistemática descrita por Moynihan et al (2019), mais recente revisão publicada mostrando a inclusão de dados mais recentes elucidando que bebês amamentados até dois anos de idade não apresentam maior risco de desenvolver cárie na primeira infância do que aqueles amamentados até um ano de idade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Fica claro que o incentivo à amamentação deve ser feito pelos dentistas respeitando o tempo que o binômio mãe-bebê decidir. Contudo, orientar um desmame por risco de cárie dentária pode por em risco todo o processo de aleitamento conquistado. Uma vez que se sabe o verdadeiro fator responsável pelo desenvolvimento da cárie dentária, é nosso dever proteger, promover e apoiar o aleitamento materno orientando sobre a ingestão de açúcares e realizando controles preventivos periódicos do paciente. Fica claro que amamentação deveria virar disciplina de formação na graduação de Odontologia para que os profissionais tenham uma visão sobre essa prática de uma melhor forma a fim beneficiar as famílias no atendimento odontológico. REFERÊNCIAS DEVENISH, Gemma et al. Early. Childhood feeding practices and dental caries among Australian preschoolers. Am J Clin. 2020; 00:1-8. FELDENS, Carlos Alberto et al. Feeding frequency in infancy and dental caries in childhood: a prospective cohort study. Int Dent J. 2018 April; 68(2): 113-121. MOYNIHAN, Paula et al. Systematic review of evidence pertaining to factors that modify risk of early childhood caries. JDR Clin Trans Res. 2019;4(3):202–16. NEVES, A. M. Neves et al. Breastfeeding, Dental Biofilm Acidogenicity, and Early Childhood Caries. Caries Res 2016;50:319-324.
  • 61. 58 World Health Organization; Ending childhood dental caries: WHO implementation manual, 2019 Geneva.
  • 62. 59 A CÁRIE DENTÁRIA E O ALEITAMENTO MATERNO: UMA REFLEXÃO CRÍTICA Nádia Masson1 Resumo A despeito dos benefícios individuais, coletivos e sociais do aleitamento materno, nas últimas décadas, controvérsias na literatura sobre a associação do leite materno à cárie precoce na infância geraram discursos de favorecimento ao desmame por profissionais de saúde, principalmente após o primeiro ano de vida. Entretanto, as evidências científicas atuais apontam a não cariogenicidade do leite materno e corroboram com a orientação de manutenção do aleitamento até no mínimo dois anos de vida da criança. Palavras-chave: Cárie Dentária. Aleitamento Materno. Criança. 1 INTRODUÇÃO A cárie dentária é uma doença crônica não transmissível advinda da interação de carboidratos fermentáveis da dieta com depósitos microbianos sobre a superfície dentária, levando a uma queda de pH do seu fluido e consequente desmineralização da superfície dentária. Em especial, a cárie na primeira infância tem como diferencial a rápida progressão e destruição dentária, comprometendo a qualidade de vida da criança (WHO, 2019). O leite materno é considerado padrão ouro para a alimentação dos bebês sendo seus benefícios observados ao longo de toda vida, entretanto em sua composição observa-se uma relativa alta concentração de lactose. Desta forma, surgiu a preocupação se a fermentação da lactose presente no leite materno poderia gerar quedas de pH e, subsequentemente, lesões de cárie (Tham, 2015). 2 A CÁRIE E O LEITE MATERNO: COMO EVOLUIU A LITERATURA? Em revisão sistemática sobre o assunto, Tham e colaboradores (2015) sugeriram um aumento do risco de cárie para crianças em aleitamento materno acima dos 12 meses de vida. Este resultado serviu como base para orientações de desmame como forma de evitar e controlar a doença cárie. Entretanto, é de suma importância notar que na análise dos dados do artigo científico não houve controle adequado do consumo de açúcares, um fator confundidor chave quando avaliamos cárie dentária. 1 Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 63. 60 Com preocupação em trazer evidências robustas, em 2019, Moynihan e colaboradores avaliaram os dados disponíveis até o momento e publicaram nova revisão sistemática da literatura a qual demonstrou não existir aumento no risco de cárie até os dois anos de idade para crianças amamentadas, corroborando com os achados laboratoriais da não cariogenicidade do leite materno para esmalte dentário (Ricomini Filho, 2021). Com base nas evidências disponíveis, a Organização Mundial da Saúde publicou o Manual de Implementação de Ações Para o Combate à Cárie na Primeira Infância o qual traz como diretriz a manutenção do aleitamento materno até os dois anos de idade, pontuando que leite materno está associado a menor risco de cárie e ainda a melhor saúde geral. Vale ressaltar que, no Brasil, observa-se uma ascendência na prevalência do aleitamento materno da década de 80 para os dias atuais (UFRJ, 2020), ao passo que observamos tendência contrária para a prevalência de cárie (BRASIL, 2012). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando em consideração as evidências científicas mais atuais da não cariogenicidade e dos benefícios incomparáveis do aleitamento materno, é inaceitável que no ano de 2021 um profissional de saúde oriente desmame como estratégia de controle de cárie. É necessário que os profissionais baseiem suas orientações em evidências científicas atuais e ainda revejam suas práticas de forma a abandonar conceitos enraizados em uma cultura de desmame, calcada em sociedades capitalistas que enaltecem a indústria e menosprezam mulheres e crianças. 4 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais / Ministério da Saúde, 2012. MOYNIHAN, P. et al. Systematic Review of Evidence Pertaining to Factors That Modify Risk of Early Childhood Caries. Jdr Clinical & Translational Research, [S.L.], v. 4, n. 3, p. 202- 216, 2019. THAM, R. et al. Breastfeeding and the risk of dental caries: a systematic review and metaanalysis. Acta Paediatrica, [S.L.], v. 104, p. 62-84, 2015. RICOMINI FILHO, AP. et al. Cariogenic Potential of Human and Bovine Milk on Enamel Demineralization. Caries Research, v. 4, n. 55, p 260-267, 2021. UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil – ENANI-2019: Resultados preliminares – Indicadores de aleitamento materno no Brasil. UFRJ: Rio de Janeiro, 2020.
  • 64. 61 WHO. World Health Organization. Ending childhood dental caries: WHO implementation manual.Geneva; World Health Organization, 2019. em Inglês, Árabe, Russo.
  • 65. 62 DOS DESAFIOS DA INFERTILIDADE AOS DESAFIOS NO ALEITAMENTO MATERNO Paula Honorio Marconi Buzatto1 Resumo O estudo apresenta uma revisão da literatura a respeito da interferência dos tratamentos de reprodução assistida no aleitamento materno. O presente artigo resulta de uma pesquisa qualitativa realizada a partir dos estudos abordados na Pós-graduação em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Palavras-chave: Infertilidade. Reprodução Assistida. Aleitamento materno. Amamentação. 1 INTRODUÇÃO A infertilidade é designada pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), pela não concepção no período de um ano ou mais de relações sexuais sem uso de métodos contraceptivos. Muitos casais recorrem à especialistas em reprodução humana para investigar o motivo do insucesso da concepção após o período de um ano. Atualmente há diversas técnicas que se destacam na reprodução assistida como: A inseminação intrauterina (IIU); Fertilização In Vitro (FIV); Injeção Intracitoplasmática de espermatozóides (ICIS) e a Transferência de Embrião Congelado (TEC). Cada técnica é indicada pelo fertileuta mediante ao fator masculino e/ou feminino causador da infertilidade. Obstrução tubária provocada por diferentes condições, fator idade (mulheres com mais de 35 anos), infertilidade causada por fatores masculinos ou sem causa aparente, azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen), oligozoospermia (baixa quantidade de espermatozoides), astenozoospermia (baixa motilidade de espermatozoides), teratozoospermia (alteração na forma dos espermatozoides), anticorpos antiespermatozoides, são algumas das indicações para tratamentos de reprodução assistida (SOUZA & ALVES, 2016). A descoberta da infertilidade pode desencadear sentimentos de falha pessoal e até mesmo traição do próprio corpo pela incapacidade em conceber uma criança (JESSUP, 2005 apud RIBEIRO, 2021, p.12). Quando descoberta a infertilidade e o tratamento de reprodução assistida se torna uma opção, a mulher pode experienciar sentimentos de frustração, ansiedade, desvalia e medo (CEZNE 2009 apud RIBEIRO, 2012, p.12). Neste estudo, busca-se compreender os desafios do cuidado com o recém-nascido concebido em reprodução assistida, em especial o aleitamento materno, pelas vertentes psicoemocionais e patofisiológicas. 1 Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 66. 63 2 A INFERTILIDADE E O ALEITAMENTO MATERNO O vivenciar do longo percurso entre a infertilidade, o tratamento e o sucesso da concepção, muitas vezes não permite que a mulher esteja com suas energias psicológicas carregadas para vivenciar a maternidade. Klock (2004) descreve essa passagem de infértil a mãe como abrupta, a saída de uma depressão crônica que antecede um momento que se espera que seja vivenciado como radiante. A dificuldade em engravidar acarreta na supervalorização do filho ainda na gestação e também na insegurança quanto a capacidade em ser mãe e o entendimento sobre o bebê (BRAGA & AMAZONAS, 2006). A gravidez por meio de reprodução assistida apresenta um risco maior para nascimento de bebês pequenos para a idade gestacional, baixo peso ao nascer, nascimentos prematuros, múltiplos e cesáreas. Esses fatores de risco, pode aumentar a probabilidade de demora no início da amamentação e menor duração da amamentação (PURTSCHERT et. al., 2021). Fatores de infertilidade ligados à idade superior à 35 anos, história clínica de menstruação irregular, desequilíbrio ou deficiência hormonais subliminares, medicamentos de fertilidade necessários para alcançar a gravidez, gravidez por fertilização in vitro, história clínica de Síndrome do Ovário Policístico (SOP) podem corroborar para o insucesso patofisiológico da lactação (MANNEL et. al., 2010). Um estudo realizado por Purtschert (2021), na Suiça, teve por objetivo investigar se o modo de concepção afeta o comportamento da amamentação. Participaram do estudo 1.619 mulheres separadas em grupo de fertilização in vitro e grupo controle. Os resultados mostraram que o tratamento não foi associado a interrupção precoce da amamentação. Fatores como menor idade gestacional, baixo peso ao nascimento e cesárea foram relacionados com menor frequência de amamentação. Castelli e colaboradores (2014), conclui que a taxa de início da amamentação dos bebês concebidos por fertilização in vitro foi semelhante à da população francesa em geral e foi considerado como influência negativa significativa no início da amamentação: duração da infertilidade maior que 2 anos, parto cesáreo e história de alimentação com fórmula quando as próprias mulheres eram recém-nascidas. Outros estudos não apresentaram informações de como os tratamentos reprodutivos específicos podiam influenciar a capacidade de amamentar. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Contudo podemos concluir que são necessários novos estudos para concluir se há interferência dos tratamentos reprodutivos a respeito da amamentação. E, considerando os aspectos psicoemocionais envolvidos da descoberta da infertilidade à amamentação e aos fatores fisiológicos de risco, fica explícita a necessidade do profissional que acolhe esta família durante o processo de amamentação conheça detalhadamente sua história e esteja envolvido no processo desde a gestação. 4 REFERÊNCIAS BRAGA, M.G.R., AMAZONAS, M.C.L.A. Reprodução Assistida e subjetivação infantil. Psychê, São Paulo, 10, 129-148, 2006.
  • 67. 64 CASTELLI, C. et al. Maternal factors influencing the decision to breastfeed newborns conceived with IVF. Breastfeed Med, Internet, 10(1):26-30, Jan-Feb 2015. Disponível: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25375234/. Acesso em: 25 set 2021. KLOCK, S.C. Psychological adjustment to twins after infertility. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. Internet, 18(4):645-56, Aug 2004. Disponível: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15279823/. Acesso em: 25 set 2021. MANNEL, R. et al. Manual prático para consultores de lactação. 2ª ed. - Loures: Lusociência, D.L., 2010. PURTSCHERT, L.A. et al. Breastfeeding following in vitro fertilisation in Switzerland-Does mode of conception affect breastfeeding behaviour?. Acta Paediatr. Internet. 110(4):1171-1180, Apr 2021. Disponível: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32865282/. Acesso em: 25 set 2021. RIBEIRO, FS. A experiência da maternidade na gravidez múltipla concebida com auxílio de técnicas de reprodução assistida. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, p. 166. 2012. SOUZA, K.K.P.C., ALVES, O.F. As principais técnicas de reprodução humana assistida. Saúde Ciênc Ação. Internet. 2(1):26-37, 2016. Disponível: https://bit.ly/2BggFbz. Acesso em: 28 set 2021. World Health Organization (WHO). International Classification of Diseases. 11th Revision (ICD-11). Geneva: WHO 2018. [Acesso 25 set 2021]. Disponível: https://icd.who.int/en. Acesso em: 25 set 2021.
  • 68. 65 RESPIRAR: EXISTE UMA RELAÇÃO ENTRE DURAÇÃO DE AMAMENTAÇÃO E PADRÃO RESPIRATÓRIO? Rita de Cassia Olmos Pedroni1 Resumo Respiração nasal e uma função vital para os seres humanos e, e o pilar da nossa saúde física e emocional. O objetivo desse estudo foi fazer uma revisão bibliográfica do papel da amamentação no desenvolvimento do padrão respiratório. Os resultados demonstram que a prevalência de respiradores bucais e menor em crianças que amamentaram. Respiração bucal pode levar a ventilação inadequada e, aumento de infecções respiratórias, alterações de oxigenação e termorregulação. Concluiu-se assim a importância da amamentação na prevenção de doenças e alterações associadas a respiração bucal e, suas consequências para a saúde do bebê não só durante a amamentação como também para o resto da vida. Palavras-chave: Amamentação, Respiração, Circuitos neurais fisiológicos. 1. INTRODUÇÃO No nascimento, o neo nato deve fazer a transição da deglutição num meio liquido, coordenando mecanismos de deglutição-respiração num novo ambiente. O padrão central de comportamentos aero digestivos incluem mecanismos de controle voluntario e reflexo e, as experiencias sensoriomotoras são crucias para o desenvolvimento e maturação neurológica dessas funções (BARLOW,2009). Catlin (1862) documentou tribos nativas americanas e observou que as mães treinavam as crianças a respirar pelo nariz nos primeiros meses de vida, fechando com cuidado os lábios do bebe após amamenta-los (CATLIN, 1862) apoud NESTOR, 2021). Durante o primeiro ano de vida, período crítico para a obtenção da proficiência funcional, a respiração deve ser do tipo nasal, pois uma vez estabilizados todos os circuitos neurais fisiológicos da respiração, fica difícil perdê-los. O objetivo desse estudo foi fazer uma revisão bibliográfica sobre o papel da amamentação no estabelecimento do padrão respiratório. Para tal, buscou-se nas bases de dados Pubmed e Cochrane, estudos publicados nos últimos 10 anos, que pudesse responder à questão: Existe uma relação entre duração de amamentação e padrão respiratório? 2. A RELAÇÃO ENTRE AMAMENTAÇÃO E RESPIRAÇÃO A amamentação evita modificações anatômicas orofaciais que predispõe a respiração bucal e tem efeito a longo prazo (VINHA & MELLO-FILHO, 2017). Barlow (2009) num estudo que acompanhou bebês de 48 horas a 12 meses, relata que existe ligações funcionais entre deglutição e sucção e entre deglutição e respiração, que se manifestam de formas diferente ao
  • 69. 66 longo do primeiro ano de vida, podendo ser modificadas por experiencias sensoriais e/ou doenças. E, para 75% dos bebês o padrão característico da idade adulta e atingida entre 9 e 12 meses (BARLOW, 2009). Duas revisões sistemáticas de literatura conduzidas por Savian e colaboradores (2021) e Park e colaboradores (2018) concluíram que existe uma prevalência menor de respiradores bucais em crianças que amamentaram. Um estudo observacional com 252 crianças concluiu que a prevalência de respirador bucal diminuía conforme aumentava a duração da amamentação exclusiva (LOPES et. al., 2014). Clinical Overview da revista chilena de pediatria relatou diminuição de 72% do risco de hospitalização por infecção respiratória baixa durante o primeiro ano de vida em crianças amamentadas pelos menos 4 meses. Introdução alimentar com leite ou outros durante os primeiros 4 meses aumenta o risco de asma e resistência respiratória em 3 ou mais vezes após o primeiro ano e aumenta desordem do sono. (BRAHM, 2017) 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Parece haver consenso na literatura da associação da amamentação e padrão da respiração nasal que protege as crianças de deformidades orofaciais e doenças respiratórias durante o período de amamentação e por toda a vida. E, a proteção nutricional e imunológica fornecida pelo leite materno na redução de risco de infecções respiratórias, que pode resultar em respiração bucal ocorre mesmo em um período menor de amamentação (4 meses). Entretanto parece que é necessário um tempo maior, de aproximadamente 1 ano, para que o padrão gerador central (composto de redes adaptativas de interneurônios) se estabilizem. 4. REFERENCIAS BARLOW S. M. Central pattern generation involved in oral and respiratory control for feeding I n the term infant. Curr Opin Otolaryngol Head Neack Surg.2009 June; 17 (3): 187-193. BRAHM P, VALDES V. Benefits of breastfeeding and risks associated with not breastfeeding. Rev Chil Pediatr.2017;88 (1):15-2 LOPES T.S.P. et al. Association between breastfeeding and breathing pattern in children: a sectional study. J Pediatric (Rio J). 2014;90:396-402. SAVIAN C.M.et al. Do breastfed children have a lower chance of developing mouth breathing? A Systematic review and meta-analysis. Clinical Oral Investigations volume 25,pages 1641- 1654(2021) PARK E.H. et al. Association between breastfed and childhood breathing patterns: A systematic review and meta-analysis. BREASTFEEDING MEDICINE Volume 13, Number 4,2018. VINHA P.P., MELLO-FILHO F.V..Evidence of a preventive effect of breastfeeding on obstructive sleep apnea in children and adults. Journal of Human Lactation 1-6,2017.
  • 70. 67 IMPACTOS DA AMAMENTAÇÃO NOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sissiane Escobar de Souza 1 Resumo O presente estudo demonstra o potencial da amamentação como ferramenta para avanços dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Através da amamentação, o bebê, sua mãe e toda sociedade são beneficiados. A magnitude dos impactos da melhora nos índices de amamentação atinge níveis globais e contribui com todos os 17 ODS. Palavras-chave: Amamentação, Aleitamento Materno, ONU, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 1 INTRODUÇÃO Os benefícios da amamentação são reconhecidos para a criança, mãe e comunidade tanto em países de baixa e média quanto nos de alta renda. Em 2015, a ONU apresentou uma nova agenda para os próximos 15 anos que contempla os 17 ODS. Embora não esteja explicitamente citada dentro dos ODS, evidências apontam que avanços obtidos a partir de melhorias nos índices de amamentação têm potencial de benefícios globais. 2 A AMAMENTAÇÃO E OS ODS Os ODS consistem em uma mobilização mundial a fim de acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas vivam em ambientes de paz e prosperidade. Ao seu encontro, a amamentação aparece como ferramenta por impactar de forma imediata e permanente o bebê e a sociedade. Segundo Victoria (2016), no contexto da agenda de desenvolvimento pós-2015, a amamentação é essencial para a construção de um mundo melhor para as gerações futuras em todos países, sejam ricos ou pobres. Quase metade da população mundial vive com menos de 2,50 dólares por dia e, segundo a UNICEF (2021), milhares de crianças morrem diariamente devido à pobreza. 805 milhões de pessoas não têm comida suficiente para manter uma vida digna e a fome é o maior fator de risco à saúde no mundo sendo a má nutrição responsável por 45% das mortes de crianças menores de 5 anos. Meninas têm 2 vezes menos chance de ingressar na educação formal e 51 milhões de crianças em idade de cursar o ensino fundamental não frequentam a escola. E, entre os que frequentam, muitos não conseguem ter condições de aprendizagem. 1 Pós graduanda em Aleitamento Materno Instituto Passo1, Piracicaba-SP. E-mail: [email protected]
  • 71. 68 A amamentação pode auxiliar na melhoria de indicadores da fome, saúde e qualidade alimentar. As mulheres, em quase sua totalidade, são capazes de amamentar e bebês amamentados têm acesso a uma nutrição adequada, segura e melhor do que aqueles que ingerem qualquer outro tipo de alimento. Estima-se que 823.000 mortes de crianças com até 5 anos e 20.000 mortes maternas seriam evitadas anualmente se a amamentação fosse ampliada a níveis quase universais. Victora (2016) escreve que aproximadamente metade de todos os episódios de diarreia e 1/3 das infecções respiratórias poderiam ser evitadas pela amamentação. A amamentação pode evitar 72% das internações por diarreia e 50% daquelas por infecções respiratórias. Pode também prevenir metade das mortes causadas por infecções em crianças de 6 a 23 meses. A oferta de substitutos do leite materno pode trazer riscos para a saúde do bebê além de representar um custo significativo, pois os gastos com leites artificiais podem atingir 15 a 35% do salário mínimo. Amamentar fortalece o vínculo entre mãe e filho e pode representar um grande diferencial na vida escolar e produtiva do indivíduo, uma vez que promove aumento cognitivo. Assim, gera aumento na renda de trabalho e capital humano, fundamentais para o desenvolvimento e crescimento econômico, fomento à inovação, relações decentes de trabalho e fortificação da indústria. A estimativa de perdas econômicas causadas pelo déficit cognitivo gerado pela não amamentação de todas as crianças ao menos até os seis meses de idade é da ordem de 302 bilhões de dólares ao ano no mundo - o que corresponde a 0,49% do produto nacional bruto mundial. Outros pontos abordados nos ODS são a busca pela igualdade de gênero e diminuição das desigualdades entre países e dentro deles. Apoiar a mãe que trabalha e amamenta é uma das medidas necessárias. Pesquisas mostram que políticas de licença maternidade remunerada podem impactar na redução da mortalidade infantil, proporcionam benefícios à saúde mental, emocional e física à mãe que, então, retornará ao trabalho em melhores condições. A proteção social de mães e pais com igualdade de gênero também é importante pois quando os homens têm acesso à licença paternidade há um aumento da chance de que suas crianças sejam amamentadas por mais tempo. [...] a amamentação é um dos poucos comportamentos de saúde positivos que é mais prevalente nos países pobres do que nos ricos… Mulheres pobres amamentam por mais tempo que as mais ricas nos países de renda baixa e média, enquanto que nos países ricos este padrão é invertido. Estes resultados sugerem que os padrões de amamentação estão contribuindo para redução das disparidades em saúde entre crianças ricas e pobres em países de renda baixa e média que seriam ainda maiores na ausência da amamentação. (VICTORA, 2016 , p. 17). As questões ambientais possuem relevância reconhecida dentro dos ODS e também são beneficiadas pela amamentação. Estima-se que, até 2025, cerca de 1.8 bilhão de pessoas estarão vivendo em territórios com escassez total de água. Dos oceanos, 40% já são afetados pela poluição. E quase 90% das mortes de crianças por doenças diarreicas estão relacionadas à água contaminada, falta de saneamento ou higiene inadequada. Por outro lado, são necessários mais de 4000 litros de água no processo para a produção de 1kg de pó substituto do leite materno. Nos Estados Unidos, 550 milhões de latas, 86.000 toneladas de metal e 364.000 toneladas de papel são usadas anualmente para embalar substitutos do leite materno e grande parte tem como destino aterros sanitários. Muitos recursos são necessários e poluentes são liberados neste processo, podendo afetar direta e indiretamente o clima e o meio ambiente
  • 72. 69 terrestre e marítimo. O leite materno é um recurso natural, acessível e renovável que dispensa e evita o consumo de energia, utilização de produtos químicos além de não deixar resíduos. Ao promover o aumento da renda através do trabalho, redução de resíduos, promoção da saúde e bem-estar, diminuição de faltas ao trabalho e escola, a amamentação também pode contribuir para cidades e comunidades mais sustentáveis. Ao favorecer um bom início à vida com maiores condições de igualdade entre todos, a amamentação também pode promover a paz, justiça e eficiência nas instituições. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O leite materno, além de padrão ouro na alimentação dos bebês, pode ser uma chave para auxiliar nos ODS resultando em um planeta mais justo, sustentável e melhor para todos. 4 REFERÊNCIAS VICTORA, Cesar Gomes. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet, 387, p. 475-490, janeiro, 2016. ROLLINNS, Nigel C. Why invest, and what it will take to improve breastfeeding practices? Lancet, 387, p. 491-504, janeiro, 2016. LINNECAR, Alison. Formula for disaster: weighing the impact of formula feeding vs breastfeeding on environment. https://www.gifa.org/wpcontent/uploads/2015/01/FormulaForDisaster.pdf. Acesso em 06 Nov.2021. https://data.unicef.org/wp-content/uploads/2020/09/Levels-and-trends-in-child- mortalityIGME-English_2020.pdf. Acesso em: 02 Nov. 2021. https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/1-em-cada-3-pessoas-no-mundonao- tem-acesso-agua-potavel-dizem-unicef-oms. Acesso em 06 Nov. 2021.
  • 73. 70 A IMPORTÂNCIA DA REDE PRIMÁRIA COMO APOIO NA PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO Tatiana do Prado Lima Bonini1 Resumo O estudo apresenta a importância da rede primária como apoio na prática da amamentação e a manutenção desta prática na amamentação. Destaca-se na rede primária o apoio familiar, sendo fator importante na proteção, promoção e manutenção da amamentação, ressaltando a importância de valorizar os contextos nos quais as mulheres estejam inseridas. A participação da família e suas ações como rede de apoio primária na amamentação mostrou-se como uma ferramenta importante no cuidado, podendo traçar novas perspectivas na assistência obstétrica e neonatal. É necessário que o profissional de saúde integre esses conhecimentos e saberes da rede de apoio primária das mulheres em sua prática, apoiando-as e ajudando-as a vivenciar todo o processo da amamentação, tornando possível uma assistência integral, integrada e integradora. O presente artigo resulta de uma pesquisa qualitativa realizada a partir dos estudos abordados na Pós-graduação em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo 1. Palavras-chave: Aleitamento materno (Breast feeding). Apoio social (Social support). Relações familiares (Ramily relations). 1 INTRODUÇÃO Os vários benefícios do aleitamento materno (AM) para o binômio mãe-bebê são reconhecidos cientificamente por ser um alimento completo, conferindo imunidade, proteção contra a obesidade e diabetes e grande relevância no declínio da morbimortalidade infantil por infecções respiratórias e gastrointestinais (ALVES, et al, 2020). Para que a puérpera consiga de fato amamentar é necessário enfatizar a importância da rede de apoio neste processo, levando em consideração fatores condicionantes deste processo como os aspectos biológicos e sociais. (SOUZA, NESPOLI e ZEITOUNE, 2016). Destaca-se que esta rede, em sua natureza, pode ser dividida em: redes primárias, onde os vínculos estabelecidos são definidos pelas relações familiares, de amizade ou de vizinhança e redes secundárias, onde são identificadas as relações das mães com as instituições de saúde, educação, social, entre outras. (ALVES, et al, 2020). 1 Enfermeira pela Universidade Federal de São Carlos. Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1. Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 74. 71 2 A FAMÍLIA COMO REDE PRIMÁRIA DE APOIO NA PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO. Desde o seu nascimento, os indivíduos tecem ligações, sendo que as primeiras estabelecidas ocorrem entre os membros da família. Sendo assim, a família é percebida como uma teia de relações que representa o agente socializador primário, orientando o cuidado, dando apoio, ensinando a viver, amar, sentir, a se cuidar e cuidar do outro. (PRATES, SCHMALFUSS e LIPINSKI, 2015). De fato, os membros da família ocupam o primeiro lugar de referência para as mulheres que vivenciam o processo de amamentação. Ao longo dessa fase, devido à proximidade com a rede social primária, ela tem a possibilidade de compartilhar conhecimentos, experiências, hábitos e condutas. (ALVES, et al, 2020). Em consequência disso, tem-se verificado a importância de criar redes de apoio social às mulheres, principalmente, no que se refere à proteção, promoção e manutenção da amamentação. Ressalta-se que esta prática ainda é ligada a crenças, valores e mitos, os quais, muitas vezes, não são valorizados pelos profissionais de saúde e que, embora negligenciados, representam fatores responsáveis pela interrupção precoce da amamentação. (PRATES, SCHMALFUSS e LIPINSKI, 2015). Alves e colaboradores (2020) mostraram que lactantes apresentam um forte vínculo com sua rede social primária: mãe, companheiro, amigos e vizinhos. Apesar de reforçar a inclusão do familiar neste processo, na maioria dos casos, identificou-se a ausência da figura paterna no pré-natal e no cuidado ao recém-nascido presença esta que, na maioria dos casos é pouco incentivada e muito menos considerada como elemento relevante na rede de apoio primária. Ao se confirmar a importância da presença paterna neste processo, os profissionais de saúde têm importante papel de incentivar a inserção dos pais nas consultas e atividades educativas no pré- natal e puerpério, cuidados com o recém-nascido e no processo da amamentação. Para Angelo e colaboradores (2020), as avós são consideradas como as principais referências no repasse de informações e vivências que interferem na manutenção da amamentação. No puerpério, as avós, muitas vezes, passam mais tempo junto às suas filhas e noras, fornecendo apoio emocional e financeiro, auxiliando nos cuidados com o binômino mãe e bebê e nas atividades domésticas, além de cuidarem das crianças mais velhas. Considerando os vários papéis que as mulheres acumulam na sociedade moderna, e a possibilidade de existir alguns obstáculos no entendimento do que é ser mãe e o que é o importante papel desempenhado na amamentação (ALVES et. al., 2020), o papel das avós pode ser ainda mais fundamental. Desse modo, ressalta-se a importância de valorizar os contextos nos quais as mulheres estejam inseridas, pois estas terão, durante todo o processo de amamentação, a influência da rede primária de apoio, os quais possuem inúmeros saberes acerca da lactação e dos cuidados com o recém-nascido, saberes estes que serão confrontados, constantemente, com os conhecimentos científicos adquiridos nos serviços de saúde, podendo acarretar dúvidas e ansiedades nas mulheres. (PRATES, SCHMALFUSS e LIPINSKI, 2015).
  • 75. 72 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em relação à rede de apoio primária, as mulheres acumulam papéis na sociedade moderna, existindo alguns obstáculos no entendimento do que é ser mãe e no importante papel desempenhado na amamentação. Em suma a participação da família e suas ações como rede de apoio primária na amamentação mostrou-se como uma ferramenta importante no cuidado, podendo traçar novas perspectivas na assistência obstétrica e neonatal, sendo necessário que o profissional de saúde integre esses conhecimentos e saberes da rede de apoio primária das mulheres em sua prática, apoiando-as e ajudando-as a vivenciar, de maneira plena, o processo da amamentação, tornando possível uma assistência integral, integrada e integradora. 4 REFERÊNCIAS ANGELO, B.H.B. et al. Conhecimentos, atitudes e práticas das avós relacionados ao aleitamento materno: uma metassíntese. Revista Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto, SP, v28, e3214, 2020. ALVES, Y.R. et al. A amamentação sob a égide de redes de apoio: uma estratégia facilitadora. Escola Ana Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro, v24, n1, e20190017, 2020. PRATES, L.A.; SCHMALFUSS, J.M.; LIPINSKI, J.M. Rede de apoio social de puérperas na prática da amamentação. Escola Ana Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro, v19, n2, p.310-315, Abr-Jun 2015. SOUZA, M.H.N.; NESPOLI, A.; ZEITOUNE, R.C.G. Influência da rede social no processo de amamentação: um estudo fenomenológico. Escola Ana Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro, v20, n4, e20160107, Out-Dez 2016.
  • 76. 73 ANQUILOGLOSSIA E O IMPACTO NA AMAMENTAÇÃO Thais Varanda Stocco1 Resumo A anquiloglossia é uma anomalia congênita observada em recém-nascidos caracterizada por um frênulo lingual alterado e que pode causar restrição da movimentação da língua em diferentes graus. O leite materno é o alimento mais adequado e completo para todo recém-nascido. As associações entre anquiloglossia e problemas na amamentação e consequente prejuízo ao desenvolvimento do neonato, tem sido amplamente discutida na literatura. Esse estudo relata a associação entre a anquiloglossia e os danos para a amamentação tendo como resultado um desmame prematuro. Palavras chaves: Anquiloglossia. Amamentação. Recém-nascido. INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aleitamento materno deve ser exclusivo nos primeiros 6 meses de vida do recém-nascido, podendo prolongar-se por até 2 anos ou mais. O leite materno previne a obesidade infantil (CARLING et. al., 2015), doenças alérgicas (STRASSBURGER et. al., 2010), além de auxiliar no desenvolvimento intelectual e cognitivo (FONSECA et. al., 2013; HUANG et. al., 2014). O aleitamento materno está intrinsicamente ligado à sucção e deglutição, que devem funcionar de forma coordenada com a respiração (BRITO et. al., 2008). A movimentação da língua exerce um papel fundamental nesse processo de sucção nutritiva do neonato, e qualquer restrição à livre movimentação da língua pode comprometer as funções de ganho de peso e desenvolvimento do recém-nascido, resultando muitas vezes em um desmame precoce (ALMEIDA et. al., 2018). DESENVOLVIMENTO A anquiloglossia ou também conhecida como língua presa, é uma anomalia de desenvolvimento lingual caracterizada pela inserção baixa do frênulo lingual ou a inserção aumentada do músculo genioglosso (MCCLELLAN et. al., 2015). O diagnóstico de anquiloglossia deve ser feito precocemente com o intuito de diminuir os danos à saúde do lactente, otimizando o ganho de peso e garantindo a mãe um conforto maior durante a amamentação. (BRITO et. al., 2008) 1 Pós graduanda em Aleitamento Materno e Cuidado Materno Infantil, certificado pelo UNIASSELVI. Instituto Passo 1, Polo Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 77. 74 Em 2014 foi aprovada uma lei que obriga o diagnóstico precoce de alterações que acometem o frênulo lingual dos neonatos em todos os hospitais e maternidades vigentes em território nacional (SILVA et. al., 2016). Há um protocolo preconizado para avaliação do frênulo lingual em bebês, que objetiva o diagnóstico das alterações características da anquiloglossia, indicando ou não, a realização de um procedimento para liberação desse frênulo chamada de frenotomia ou frenectomia lingual. Infelizmente, nem todas as maternidades do Brasil realizam ou possuem profissionais capacitados para detectarem essa alteração. Embora ainda faltem estudos na literatura que comprovem essa associação, a anquiloglossia pode interferir no aleitamento materno levando a um desmame precoce do neonato (LIMA et. al., 2017; ALMEIDA et. al., 2018). Além do teste para detectar a anquiloglossia, a avaliação completa da díade mãe-bebê na amamentação também é essencial para descobrir a anquiloglossia e seu papel nas dificuldades de amamentação. Intervir de forma adequada pode prevenir resultados negativos associados à amamentação. A relação da anquiloglossia e seu efeito na amamentação tem sido um tópico amplamente discutido na literatura (MANIPON et. al., 2016). Cerca de 12 a 50% dos bebês que possuem língua presa são relatados como tendo dificuldades de alimentação por suas mães (EMOND et. al., 2013; SETHI et. al., 2013; EDMUNDS et. al., 2013). A anquiloglossia pode gerar desconfortos para a mãe, tornando a amamentação difícil e dolorosa, podendo haver fissuras mamilares e sangramento durante o movimento de extração de leite realizado pelo bebê (MANIPON et. al., 2016). Além disso, apesar da intenção inicial de amamentar, esse aleitamento ineficaz e doloroso pode, eventualmente, levar essas mães a recorrerem à formulas ou alimentar seus bebês através da mamadeira. Com a restrição da movimentação da língua e consequente dificuldade dos bebês em se fazer a transferência do leite, a produção do mesmo pode diminuir (MEEK, YU, 2011). É muito importante investigar mais a fundo os relatos das mães com dificuldades na amamentação a fim de tentar aliviar a dor e fornecer suporte emocional (EDMUNDS et. al., 2013). Vários artigos descrevem baixo ganho de peso devido à má ingestão e diminuição da transferência do leite em bebês que possuem anquiloglossia (EMOND et. al., 2013; SETHI et. al., 2013; EDMUNDS et. al., 2013). Os mesmos estudos também relatam refluxo excessivo e cólicas, aumentando a introdução da mamadeira em bebês com língua presa e consequente desmame precoce. O abandono da amamentação a favor da alimentação na mamadeira para evitar a perda de peso tem sérias implicações na saúde da criança A identificação e intervenção das questões que envolvem a amamentação, como a anquiloglossia, por exemplo, deve acontecer antes mesmo da decisão de abandonar a amamentação. Isto é crucial para preservar a experiência de amamentar, dadas as muitas vantagens e benefícios para a saúde do bebê (MANIPON et. al., 2016). Uma das alternativas para liberar a movimentação da língua quando diagnosticada a anquiloglossia é a frenotomia/frenectomia, um procedimento cirúrgico que consiste em cortar ou remover o frênulo. Recentemente, vários estudos randomizados mostraram através de relatos das mães cujos bebês passaram por frenotomia, uma melhora imediata na dor dos mamilos durante a amamentação, aumento de peso do bebê e duração da amamentação (BURYK et. al., 2011; BERRY et. al., 2012; HONG et. al., 2010, SETHI et. al., 2013, EDMUNDS et. al., 2013). CONSIDERAÇÕES FINAIS O leite materno é o alimento mais adequado para todo recém-nascido. Para correta extração do mesmo, a função de sucção do bebê deve estar em equilíbrio. Todavia, ainda não existe uma relação bem estabelecida entre anquiloglossia e aleitamento materno, porém um frênulo lingual alterado pode se apresentar como fator de risco para o sucesso na amamentação (FUJINAGA et. al., 2017; CAMPANHA et. al., 2019). Sabemos que a anquiloglossia não interfere somente na amamentação do neonato, mas haverá prejuízos a longo prazo relacionados
  • 78. 75 a mastigação dos alimentos, deglutição, fala, desenvolvimento e crescimento corretos da face. O estabelecimento de uma equipe transdisciplinar se faz muito importante para crianças que possuem um frênulo lingual alterado, podendo melhorar muito a amamentação e consequentemente o desenvolvimento e crescimento crânio facial e geral corretos do bebê (WAKHANRITTEE et. al., 2016). REFERÊNCIAS Almeida KR, Leal TP, Kubo H, Castro TES, Ortolani CLF. Lingual frenotomy in a newborn, from diagnosis to surgery: a case report. Rev Cefac. 2018; 20(2):258-62. Berry J, Griffiths M, Westcott C. A double-blind, randomized, controlled trial of tongue-tie division and its immediate effect on breastfeeding. Breastfeed Med. 2012; 7 (3): 189-193. Brito SF, Marchesan IQ, Bosco CM, Carrilho ACA, Rehder MI. Frênulo lingual: classificação e conduta segundo ótica fonoaudiológica, odontológica e otorrinolaringológica. Rev Cefac. 2008;10(3):343-51. Buryk M, Bloom D, Shope T. Efficacy of neonatal release of ankyloglossia: a randomized trial. Pediatrics. 2012; 128 (2): 280-288 Campanha SMA, Martinelli RLC, Palhares DB. Association between ankyloglossia and breastfeeding. Codas. 2019; 31(1) Carling SJ, Demment MM, Kjolhede CL, Olson CM. Breastfeeding Duration and Weight Gain Trajectory in Infancy. Pediatrics. 2015;135(1):111-9. Edmunds J, Fulbrook P, Miles S. Understanding the experiences of mothers who are breastfeeding an infant with tongue-tie: a phenomenological study. J Hum Lact. 2013; 29 (2): 190-195 Emond A, Ingram J, Johnson D, et al. Randomised controlled trial of early frenotomy in breastfed infants with mild–moderate tongue-tie. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2014; 99: F189-F195. Fonseca ALM, Albernaz EP, Kaufmann CC, Neves IH, Figueiredo VLM. Impact of breastfeeding on the intelligence quotient of eight-year-old children. J Pediatr (Rio J). 2013;89(4):346-53. Fujinaga CI, Chaves JC, Karkow IK, Klossowski DG, Silva FR, Rodrigues AH. Frênulo lingual e aleitamento materno: estudo descritivo. Audiol Commun Res. 2017; 22:1762. Hong P, Lago D, Seargent J, Pellman L, Magit A, Pransky S. Defining ankyloglossia: a case series of anterior and posterior tongue ties. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2010; 74 (9): 10031006. Huang J, Peters KE, Vaughn MG, Witko C. Breastfeeding and trajectories of children’s cognitive development. Dev Sci. 2014;17(3):452-61.
  • 79. 76 Lima CB, Maranhão VF, Botelho KVG, Santos Junior VE. Avaliação da anquiloglossia em neonatos por meio do teste da linguinha: um estudo de prevalência. RFO UPF. 2017; 22(3):29497. Maciel IL, Silva Sobrinho AR, Medrado, JGB. Influência da anquiloglossia neonatal no aleitamento materno: revisão de literatura. Arch Health Invest (2021)10(6):992-995 Manipon C. Ankyloglossia and the Breastfeeding Infant. Clinical Issues in Neonatal Care 2016; 16 (2):108-113. McClellan HL, Kent JC, Hepworth AR, Hartmann PE, Geddes DT. Persistent Nipple Pain in Breastfeeding Mothers Associated with Abnormal Infant Tongue Movement. Int J Environ Res Public Health. 2015;12(9):10833- 845. Meek JY, Yu W, Pediatrics AA. American Academy of Pediatrics New Mother’s Guide to Breastfeeding. New York, NY: Bantam; 2011. Sethi N, Smith D, Kortequee S, Ward V, Clark S. Benefits of frenulotomy in infants with ankyloglossia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013; 77 (5): 762-765. Silva PI, Vilela JER, Rank RCLC, Rank MS. Frenectomia lingual em bebê: relato de caso. Rev Bahiana Odonto. 2016;7(3):220-27. Strassburger SZ, Vitolo MR, Bortolini GA, Pitrez PM, Jones MH, Stein RT. Erro alimentar nos primeiros meses de vida e sua associação com asma e atopia em pré-escolares. J Pediatr (Rio J). 2010; 86(5):391-9. Wakhanrittee J, Khorana J, Kiatipunsodsai S. The outcomes of a frenulotomy on breastfeeding infants followed up for 3 months at Thammasat University Hospital. Pediatr Surg Int. 2016;32(10):945-52.
  • 80. 77 AMAMENTAÇÃO E A PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO EM TEMPOS DE PANDEMIA: UM PROJETO DE AVALIAÇÃO Virginia Volpato Santichio1 Resumo O objetivo aqui foi avaliar e descrever as dificuldades que as profissionais em aleitamento materno se deparam no decorrer dos atendimentos, ao aconselhar a família, tanto presencial quanto de modo on-line, em tempos de pandemia da COVID-19. Com a escassez de literatura sobre o tema, a proposta deste trabalho foi elaborar um projeto de avaliação, por meio de questionário digital, de como os profissionais veem o impacto da pandemia na prática de seus atendimentos clínicos em lactação, considerando aspectos técnicos de manejo e habilidades de comunicação. Palavras-chave: Aleitamento materno, Aconselhamento, Pandemia COVID 19 1 INTRODUÇÃO Amamentar é muito mais do que nutrição. O aleitamento impacta positivamente o estado nutricional do bebê, oferece proteção imunológica, propicia desenvolvimento físico e cognitivo do bebê, favorece ganhos na saúde a longo prazo do bebê e de sua mãe, além de ser um processo de estabelecimento de vínculo entre mãe e filho favorecendo a saúde psíquica da díade (MINISTÉRIO da SAÚDE, 2016). Pesquisas revelam que, no Brasil, o índice de aleitamento materno exclusivo de crianças até 6 meses de vida é de 45.7%, prevalência ainda abaixo do ideal (UNASSUS, 2021). Com isso podemos destacar a importância do consultor em lactação na promoção, proteção e apoio na amamentação influenciando positivamente nesses índices. Na atualidade percebe-se um aumento de interesse pela amamentação, mas nem sempre as famílias e os profissionais percebem o quão pouco sabem sobre o tema e a pouca habilidade que possuem para lidar com algo tão complexo. Para ajudar o processo da amamentação, não basta conhecer a fisiologia da produção do leite e as melhores técnicas de manejo de intercorrências, é preciso saber que a amamentação é um ato psicossomático complexo. Os profissionais precisam saber e aplicar um conjunto de habilidades de comunicação para ser rede de apoio eficiente para as famílias nesse momento de suas vidas. As técnicas de aconselhamento e a empatia são habilidades fundamentais para a condução dos atendimentos em lactação (CARVALHO & GOMES, 2017). Lima e colaboradores (2020) relatam que diante da pandemia do Covid 19, os consultores em lactação precisaram se reinventar: além de reduzirem seus atendimentos 1 Pós – Graduanda em Aleitamento Materno pelo Instituto Passo1 Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]
  • 81. 78 presenciais, passaram a utilizar novos e diferentes equipamentos de proteção individual, e sentiram ser difícil durante os atendimentos a ausência dos toques afetivos, como abraços a família atendida e acarinhar os bebês, limitando-se os gestos de despedidas e os cuidados essenciais. 2 ACONSELHAMENTO EM TEMPOS DE PANDEMIA: UM PROJETO DE AVALIAÇÃO. Diante da escassa literatura e publicações encontradas, faz-se necessário avaliar como os profissionais em lactação tem prestado seus atendimentos as famílias em tempos de pandemia, investigando o impacto das condições de proteção de saúde impostas nas práticas de aconselhamento e habilidades de comunicação. A proposta é se aplicar um questionário digital, através da plataforma Google Forms (APÊNDICE). O link do questionário será encaminhado aos profissionais pelos grupos de consultores em lactação do WhatsApp. Os dados passarão por análise descritiva posteriormente. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo como base o cenário atual e tendo em vista a necessidade de entender como os profissionais consultores em lactação tem lidado com os atendimentos durante a pandemia do Covid-19, considera-se importante avaliar qual foi o impacto que este cenário trouxe para as práticas de aconselhamento em amamentação. 4 REFERÊNCIAS CARVALHO, M. R.; GOMES, C. F. Amamentação Bases Científicas. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. 277 - 280p. LIMA, at. al 2020. Consultoria em Amamentação Durante a Pandemia COVID – 19: Relato de Experiência. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN- 20200350>. Acesso em: 07/09/2021. SAÚDE, Ministério 2016; Saúde da Criança, Aleitamento Materno e Saúde Complementar. 2ª edição. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/aleitamento_materno_alimentacao_complement ar_2edicao.pdf >. Acesso em: 07/09/2021. UNASUS,2020; Pesquisa inédita revela que índices de amamentação cresceram no Brasil. Disponível em: <https://www.unasus.gov.br/noticia/pesquisa-inedita-revela- queindices-de-amamentacao-cresceram-no-brasil>. Acesso em 08/09/2021. WORLDOMETER. Real time world statistics, 2021. Disponível em : <https://www.worldometers.info/coronavirus/>. Acesso em: 18/10/2021.
  • 82. 79 5 APÊNDICE As perguntas abaixo têm por objetivo investigar como os profissionais veem o impacto da pandemia na prática de seus atendimentos clínicos em lactação, considerando aspectos técnicos de manejo e habilidades de comunicação. Agradecemos sua disponibilidade em contribuir com nossa pesquisa. 1. Quais foram as primeiras impressões e dificuldades sentidas ao oferecer atendimentos em lactação pelo formato remoto? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 2. Quais foram as tecnologias pensadas e utilizadas em seus atendimentos durante a pandemia? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3. Quais foram os desafios para repensar e elaborar os planejamentos do atendimento online? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 4. Enquanto on-line, qual tem sido sua sensação em respeito a interação entre você, as nutrizes, os bebês, as famílias e a dinâmica no atendimento? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 5. Quanto às expectativas de resultados, tanto suas quanto das famílias que você atendeu, tem havido um retorno positivo? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 6. A respeito das habilidades de comunicações exigíveis, no que concerne às técnicas de aconselhamento permitidas, para uma conversa mediadora, à sua opinião, é necessária uma postura empática, ou dispensa qualquer manifestação de sensibilização e afetividade? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 7. Como você age perante a possibilidade de se repensar atitudes a fim de minimizar os impactos da pandemia, enquanto em função do aconselhamento? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 8. O que você diria a uma nutriz que estivesse à beira de um stress, ou colapso, devido aos fatores pandêmicos de nossa realidade atual? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________
  • 83. 80 HORA DE OURO: PROTOCOLOS QUE PROPICIEM OS BENEFÍCIOS DESTE MOMENTO NA VIDA DA MÃE E BEBÊ Vivian Ivon Rosio Montaño Farell Borsato1 Resumo A Hora de Ouro possui impactos significativos na interação entre o bebê e sua mãe, bem como no desenvolvimento fisiológico e emocional de ambos. Os protocolos estabelecidos devem ser observados com cuidado e atenção, a fim de propiciar que esse momento entre mãe e bebê seja preservado, assegurando que os 9 estágios instintivos do bebê ocorram sempre que possível. Para que haja sucesso na Hora de Ouro, a educação continuada dos profissionais envolvidos no processo do parto e a conscientização dos pais, pode contribuir de maneira significante para que esse momento ocorra de modo humanizado, respeitando mãe e filho. Palavras-chave: Aleitamento materno. Hora de ouro. Pele a Pele. Protocolo. 1 INTRODUÇÃO A primeira hora de vida do bebê é tão importante para seu futuro que é conhecida como Hora de Ouro. Durante esse período, o contato pele a pele deve ser estimulado o mais cedo possível. O contato pele a pele é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2017), com duração de ao menos uma hora após o nascimento, essa prática deve ser enfatizada e incentivada pelos profissionais de saúde, a fim de que as mães reconheçam em seus bebês o momento em que eles estão prontos para serem amamentados ou ajudá-los no processo quando for preciso. Na primeira hora após o nascimento, tanto a mãe quanto o recém-nascido, apresentam um estado de consciência que favorece a interação entre eles, favorecendo o apego e protegendo dos efeitos da separação. Os pesquisadores Essa e Ismail (2015) pontuam que as vantagens da hora de ouro para a mãe incluem diversos benefícios como a facilitação da expulsão precoce da placenta, redução do sangramento, aumento da autoeficácia da amamentação e redução dos níveis de estresse materno. Considerando os benefícios para o bebê, os estudos mostram redução do risco de hipoglicemia, regulação da temperatura corporal, efeito protetor ocasionado pela colonização intestinal de bactérias saprófitas encontradas no leite materno e pelos fatores imunológicos bioativos adequados para o recém-nascido (LONNERDAL, 2017). O Ministério da Saúde (2012), estabelece que mãe e bebê devem permanecer juntos após o parto, ressalvo de circunstâncias cujo recém-nascido e mãe não correm nenhum risco. Então, 1 Pós graduanda em Aleitamento Materno Instituto Passo 1 Ribeirão Preto/SP, email: [email protected]
  • 84. 81 o planejamento e implementação da Hora de Ouro precisam de uma atmosfera de tranquilidade com menor intervenção possível dos profissionais que acompanham esse momento, postergando procedimentos de rotina ou evitando procedimentos desnecessários (BRASIL, 2012, 2015). Nesse momento pode-se auxiliar a mãe a obter uma posição confortável para estar com o bebê que estará junto das mamas ou entre elas e os sinais vitais da dupla são monitorados (WHO, 2017). 2. PROTOCOLOS E OS 9 ESTÁGIOS INSTINTIVOS DO BEBÊ Estar em contato pele a pele com a mãe após o nascimento induz o processo interno do recém-nascido para passar pelos 9 estágios instintivos de comportamento: choro, relaxamento, despertar, atividade, descanso, engatinhar, familiarização, sucção e sono (WIDSTROM et al., 2017): - Estágio 1: Choro do nascimento Os pulmões do bebê se enchem de oxigênio pela primeira vez e ele solta um grito. Tudo é brilhante, barulhento e novo. Sendo colocado diretamente no peito da mãe (com cobertores por cima deles), seu choro vai diminuir. - Estágio 2: Relaxamento Depois de chorar, o bebê entra na fase de relaxamento. Sua boca permanece quieta, os olhos podem se fechar e as mãos ficam macias e abertas. Ele vai respirar suavemente e descansar após o esforço que fez durante o parto. - Estágio 3: Despertar Normalmente, cerca de 5 minutos após o nascimento, o bebê move a cabeça e os ombros, abrindo os olhos e a boca. Ele pode fazer pequenos ruídos e abrir um pouco as mãos. - Etapa 4: Atividade Os movimentos aumentam e se tornam mais perceptíveis. A busca pelo leite materno começa. Ele pode olhar para a mãe ou para o seio e pode usar o sinal da mão para mostrar que está com fome. Ele está se preparando para travar e sugar. Seus instintos entram em ação. - Etapa 5: Descanso A quietude silenciosa ocorrerá durante a Hora de Ouro, pois o bebê está trabalhando duro e muitas vezes precisa descansar. Ele se moverá em seu próprio ritmo. - Etapa 6: Crawl da mama O bebê nasce com um “reflexo de engatinhar” que lhe permite chegar ao peito da mãe. Ele tentará se alinhar com o mamilo, e permitir que faça isso sozinho aumenta as chances de uma pega bem-sucedida. - Etapa 7: Familiarização O bebê vai aprender a mamar, familiarizando-se com ela. Ele pode tocar, esfregar, lamber e “falar” com o seio para chamar a atenção da mãe. Isso aumenta os níveis de oxitocina na mãe e no bebê, criando um forte apego e sinalizando para que o leite comece a ser produzido. - Estágio 8: Sucção/Amamentação Entre 45-60 minutos após o nascimento, o bebê pega-se no peito e começa a mamar. - Etapa 9: Sono Tanto o bebê quanto a mãe tendem a dormir. O sono pode durar algumas horas e é muito necessário. O parto é cansativo e o corpo precisa de descanso para se recuperar. Os bebês nascem prontos para interagir com suas mães - um bebê recém-nascido que não foi exposto à medicação excessiva ficará muito alerta e olhará atentamente para o rosto da
  • 85. 82 mãe, reconhecendo seu cheiro, o som de sua voz e o toque de sua pele. Ficar com a mãe é a chave para a sobrevivência do bebê e a separação é fatal. Os bebês nascem com o instinto primordial de um mamífero de permanecer no habitat seguro da mãe, onde há calor, segurança e nutrição (WIDSTROM et al., 2017). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da revisão de literatura, evidenciou-se que para além de protocolos rígidos, a experiência, a prática e a educação continuada da equipe multidisciplinar de saúde que participa do processo de nascimento, propicia uma maior probabilidade de sucesso da Hora de Ouro e dos 9 estágios instintivos do recém-nascido. Nessa hora, o profissional de saúde deve buscar propiciar o contato íntimo, pele a pele, entre mãe e bebê, postergando eventuais procedimentos de rotina, ou evitando realizar procedimentos desnecessários. 4. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido: Guia para os Profissionais de Saúde. Brasília, 2012. BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde da Criança: Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Brasília, 2015. ESSA, Rasha Mohamed; ISMAIL, Nemat Ismail Abdel Aziz. Efeito do contato pele a pele materno / recém-nascido precoce após o nascimento sobre a duração do terceiro estágio do trabalho de parto e o início da amamentação. Journal of Nursing Education and Practice, 5(4), p. 98-107. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.5430/jnep.v5n4p98. Acesso em: 04 nov 2021. LONNERDAL, B. Bioactive Proteins in Human Milk-Potential Benefits for Preterm Infants. Clinics in perinatology, 44(1), 179–191. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.clp.2016.11.013. Acesso em 03 nov 2021. WHO, World Health Organization. Protecting. Promoting and Supporting Breastfeeding in Facilities Providing Maternity and Newborn Services. 2017. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259386/9789241550086-eng.pdf?sequence=1. Acesso em: 05 nov 2021. WIDSTROM, Ann-Marie et al. Skin-to-skin contact the first hour after birth, underlying implications and clinical practice. Acta paediatrica (Oslo, Norway: 1992), 108(7), 1192–1204. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1111/apa.14754. Acesso em: 05 nov 2021.
  • 87. 84 HOMENAGEM À TURMA DE ALEITAMENTO MATERNO - PIRACICABA Profa Ana Paula Vioto. Poder ler o trabalho de cada uma de vocês foi como fazer uma viagem de aprendizado pelo mundo do aleitamento. Uma viagem cheia de cor - e eu explico porquê, de desafios e perspectivas. Já se inicia dourada, quando a Aline e Vivian demonstram a importância da Hora de Ouro para o bebê, para a mãe e para amamentação. Aí vem a Flávia e pinta de azul para trazer uma perspectiva para que se a Hora não puder ser tão dourada por conta de um DMG, ainda existe a possibilidade de proteger e promover o aleitamento com a ordenha de colostro antenatal. Não satisfeita, Ana Carolina pede mais cor, por favor! Quando apresenta uma alusão a um modelo de cuidado inclusivo e integral à população LGBTQIA+. Mas vamos com calma, se as cores vierem de dispositivos eletrônicos auto luminosos, a Cecília nos alerta para a cronodisrupção. Repitam comigo, Isabela, Micaela e Nádia: Leite materno não causa cárie. Realmente é inaceitável que no ano de 2021 um profissional de saúde oriente desmame como estratégia de controle de cárie. Ao dar a volta pelo mundo, Sissiane demonstra de maneira espetacular o potencial da amamentação como ferramenta para alcançar os ODS propostos pela ONU. Nessa volta, Mariana deu uma paradinha na Colômbia para nos lembrar da Metodologia Canguru no processo do luto materno. Porém, às vezes, podemos encontrar dificuldades em promover o aleitamento dentro de UTIs neonatais, né Deisiane. Mas a dificuldades não param por aí se pensarmos no desafio que encontramos quando Flávia e Lívia nos trazem as questões do aleitamento na adolescência. No entanto, muitas essas dificuldades podem ser superadas com apoio da rede primária como demonstrado por Tatiana. Soube nessa viagem que os avós influenciam positiva ou negativamente a decisão de amamentar, e Cristiane chama a atenção para a importância de incluí-las em programas de aleitamento. Mas não são só os avós que influenciam a amamentação. Soube também pela Júlia, que a importância e o valor do AM são conhecimentos que ainda estão restritos a camadas de maior escolaridade. Aline foi além dos benefícios para a mastigação ao demonstrar o impacto da amamentação em melhores escolhas alimentares no futuro, contribuindo para a diminuição de diversas doenças sistêmicas. E o poder da amamentação não para: o poder como método não farmacológico para aliviar a dor durante a administração de vacinas foi brilhantemente descrito por Márcia. E por falar em dor, a língua presa pode ser uma das causas da dor ao amamentar, e Thaís explica claramente o impacto da anquiloglossia na amamentação, resultando muitas vezes num desmame precoce. O retorno ao trabalho e a entrada da criança na creche também não poderiam ser causa de desmame precoce se, além da ampliação da licença maternidade, tivéssemos Creches Amigas da Amamentação, não é mesmo, Mariana?! Além disso, precisaríamos de um atendimento qualificado do profissional médico para a proteção, promoção e apoio ao AM e sua manutenção. Para isso, Cecília sugere aprimorar o currículo em AM da Graduação em Medicina. Teve também quem não esqueceu de que antes de ter alguma dificuldade para amamentar, a pessoa pode ter tido dificuldade para engravidar. Assim, Paula deixa explícita a
  • 88. 85 necessidade do profissional que acolhe esta família durante o processo de amamentação, conheça detalhadamente sua história e esteja envolvido no processo desde a gestação. E por fim, mas jamais menos importante, chegamos ao final da viagem, selando todo o conhecimento com a importância do Aconselhamento. E Virgínia propõe avaliar se a Pandemia dificultou essa prática fundamental nos atendimentos. Agradeço aos agentes de viagem: Profa. Ludmila e Prof. Marcus Renato que traçaram esse roteiro incrível e me deram a oportunidade de me envolver e estudar cada vez mais sobre o aleitamento. E agradeço às alunas que, como guias de pontos turísticos, permitiram fazer esse passeio pelo fascinante mundo do aleitamento. Parabéns às Especialista em Aleitamento Materno! Com carinho, Profa. Ana Paula Vioto 28.11.2021