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Memorial Do Convento

in BRAGA, Zaida, Auxília Ramos, Elvira Pardinhas, Abordagens. Português 12.º ano, Porto, Porto Editora, 2008, pp. 342-352..

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Bspaco Fisico ~ esta cate goria da narrativa inte ‘os componentes fisicos que servem de cenirio 10 desenrolar da aegio © movimen- tagio das personagens iv Aimed (adapts) Espaco social — consti aves de atmos ras sociais e pela actua- Glo das personagens. Spo ¢ figurankes, Suge St&O de leitura - ‘Sintese global do romance Memorial do Convento Memorial do Convento de José Saramago é um texto fundador de um novo conceito de romance histérico em Portugal, em que a Histéria ¢ contada ndo na éptica oficial, mas sim na visao dos espoliados, sendo, por isso, também possivel ser classificado como romance de intervencao social Titulo O titulo do romance remete para duas dimensées: = dimensao temporal - 0 vocabulo “memorial” significa escrito em que se rela~ ‘tam factos memordveis, 0 que implica necessariamente um movimento de recuo no tempo; = dimensao espacial ~ referéncia a um espago concreto, um convento, Espaco Esta categoria da narrativa pode ser objecto das seguintes abordagens: 11, Espaco fisico representado por dois macroespagos: ® Lisboa - espago fisico fulcral onde se destacam outros microespagos como 0 Palacio Real, 0 Rossio (palco dos autos-de-fé, espectéculos que desconstroem a autoridade da lgreja pelo cardcter ltidico e herético de que se revestem); as ruas da capital (espaco onde o povo oprimido e ignorante sofre e, paradoxal- mente, vibra com a desgraca dos seus iguais e onde vive as principais celebra- Ges do calendério religioso}; a Quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastiao da Pedreira, nos arredores de Lisboa (espaco escolhido pelo padre Bartolomeu para a construcao da passarola, espaco que escapa ao poder opressor da lgreja e a rigida hierarquia social da época); = Mafra - espaco fisico de construgao do convento particularizado pela Vela - local escolhido para a construgéo do convento ~ e a “Ilha da Madeira” ~ local onde se alojam os 40 000 operarios que edificaram o convento. 2. Espaco social caracterizado por diferentes atmosferas sociais e por vivéncias pro- tagonizadas por diversas personagens: a vida no paco revela 0 cédigo protocolar das relagdes do casal real e de todos que 0 rodeiam, em especial o clero; = as procissées (a procisso de Peniténcia, pela Quaresma, a procissdo dos con- denados da Inquisigao, a ceriménia de inauguragao da construgéo do Con- vento de Mafra) ilustram a esfera de influéncia do clero na vida social; ® as vivencias do povo miseravel e explorado (Joao Elvas, Blimunda, Baltasar sua familia e a massa anénima dos operdrios do convento) recriam uma atmosfera que reflecte as desigualdades do reino; "a intervencao do fantastico conseguida pela presenca de superstig6es e de visionarios, 08 que véem mais longe do que os outros, os que conhecem uma verdade oculta 8 generalidade dos homens: Sebastiana de Jesus, uma mulher de sensibilidade agugada; Blimunda, “uma muther que velo a0 mundo com o misterioso poder de ver 0 que hd por tras da pele das pessoas”; o padre Barto- lomeu, porque “inventou uma maquina capaz de subir ao céu e voar sem outro combustivel que nao seja a vontade humana’; Baltasar Sete-Séis, 0 comple: mento de Blimunda Sete-Luas, “porque estd escrito que onde haja um sol teré de haver uma lua, e que sé a presenga conjunta e harmoniosa de um e do outro tornaré habitével, pelo amor, a terra”; Domenico Scarlatti, com a arte musical do seu cravo, modela o seu estado animico e 0 dos outros, nomeada: mente cura Blimunda de uma estranha doenca. Tempo Esta categoria narrativa assume diferentes aspectos, a saber: 1, Tempo histérico - os acontecimentos desenrolam-se no século XVIII, que é definido por eventos historicos: = o casamento de D. Jodo V com D. Maria Ana Josefa - 1708; = o inicio da construgéo do Convento de Mafra - 1717, = 0 ultimo auto-de-fé onde é sentenciado Anténio José da Silva - 1739. 2, Tempo diegético ou da historia - as referéncias temporais sdo escassas e muitas delas sao deduzidas: = a narrativa inicia-se por volta de 1711 ~ “D. Jodo, quinto do nome na tabela real, ird esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefs, que chegou hé mais de dois anos da Austria para dar infantes @ coroa portuguesa e até hoje ainda nao emprenhou” (pis. 11D. Joao V, “um homem que ainda nao fez vinte e dois anos” (nig. 12; “S. Francisco andava pelo mundo, precisamente hé quinhentos anos, em mil duzentos e onze” (pig. 21»; “Em mil setecentos e quarenta terei cinquenta e um anos, e acrescentou lugubremente, Se ainda for vivo" (pix. 292) = a construgéo do convento é datada de “dezassete de novembro deste ano da graca de mil setecentos e dezassete” (piss. 155130); = a sagragao da basilica de Mafra, determinada pelo rei a um domingo “segundo o Ritual, e entéo el-rei mandou apurar quando cairia o dia do seu aniversario, vinte e dois de outubro, a um domingo, tendo os secretérios respondido, apés cuida- dosa verificacao do calendério, que tal coincidéncia se daria dai a dois anos, em mil setecentos e trinta” (pig. 291); = 0 auto-de-fé onde Baltasar 6 queimado conjuntamente com Anténio José da Silva, em 1739 (pig 359. 3. Tempo do discurso - 0 discurso ou a voz de um narrador omnisciente segue o fluir cronolégico da acgao, registando-se, no entanto, alguns desvios ou anacronias: = decorrentes do tratamento do tempo ~ a analepse que refere a vontade dos francis- canos de terem um convento em Mafra (nis. 114) @ varias prolepses (a morte do sobrinho de Baltasar e do Infante D. Pedro (nix. 17); a morte da mae de Baltasar, Marta Maria (pig. 139; 0 grande ntimero de bastardos do rei D. Joao V (pis. 93); = decorrentes do estatuto de um narrador que nao quer ocultar a sua personalidade de homem do século XX - presenga de comentarios, de juizos criticos, de registos de lingua (“que se lixam, com perdéo da anacrénica vor” ~ pix, 259) e de ocorrén- cias desse tempo (“os capeles de varas levantadas e molhos de cravos nas pon- tas delas, ai o destino das flores, um dia as meterdo nos canos das espingardas” = pig, 156 ~ also a0 25 de Abril de 1974; “Nao faltava mais nada que conhecer Baltasar estes acontecimentos futuros, e outros mais cabais, como jé terem ido dois homens 4 Iva, que todos os vimos 14” ~ pig. 218); Estes desvios decorrentes de o narrador se assumir como um homem do século XX esbatem a barreira entre dois tempos diferentes: 0 presente reflecte-se @ revive-se no pas- sado, interpenetrando-se. Estrutura da accao Nota: Aconselha-se os alunos a numerarem, no romance, as sequéncias, fazendo-as corresponder a cada parte para facilitar 0 manuseamento da obra. Em Memorial do Convento a Histéria é “recriada”, pela interac¢do de personagens reais e ficticias. Assim, podemos afirmar que existem trés grandes linhas teméticas que estruturam a acgo do romance: ‘= a construcao do Convento de Mafra, consequéncia de uma promessa feita pelo rei D. Joao V aos frades franciscanos, sem cuja intercessao “divina’” o rei ndo poderia ter herdeiros; este acontecimento estruturante 6 pretexto para o escritor denunciar 0s comportamentos e decisées dos poderosos, que provocam o sacrificio e ‘Tempo mstorico — con. junto de referencias a ersonagens reais que conferem a cor epocal ‘Towo pecéncn, da histo ria ou da ago — tempo matemitico propria- cronol6gica ie eventos susceptiveis de serem datados com maior ou ‘menor rigor TeMpo do DiscuRso — 0 tempo do discurso pode ser entendido como consequencia da. repre sentacio narrativa do tempo da diegese ou da historia, (.. 0 tempo. do discurso € uma ins tincia selectiva, pelo reconhecimento tacito ou explicito de que € impossivel respeitar, a0 nivel do discuso, tot lidade temporal da. his tora a morte de muitos cidadaos obrigados a participar num projecto que Ihes alheio, mas de que sao autores materiais ~ desejo de poder; = 0 amor entre Baltasar e Blimunda, o par escolhido por Saramago para represen- tar 0 povo anénimo; a sua vida e 0 seu trabalho didrio constituem também a his- téria quotidiana de um pais; o seu esforco, aliado aos poderes extraordinarios de Blimunda, permitirao a0 padre Bartolomeu de Gusmao a concretizacao do seu sonho ~ a capacidade de sobrevivéncia; "a construgao da passarola, simbolo do desejo ancestral do homem de voar, con- verte-se na confirmacao de que 0 esforgo e a vontade humanos tudo conseguem (so as vontades dos homens aprisionadas por Blimunda que constituem a energia que faré subir a passarola) - vaidade cientifica personificada no padre Bartolomeu. As trés linhas de acedo (edificagéo do convento, amores de Baltasar e Blimunda e construcao da passarola) seguem linear e paralelamente ao longo do romance, orga- nizando as seguintes sequéncias narrativas, coincidentes com a estrutura externa: = Sequéncia | - a acgao principal inicia-se com D. Joao V a visitar 0 quarto da esposa para conseguir um herdeiro legitimo - ritual do conhecimento de toda a corte - “a persisténcia do rei, que, (..) duas vezes por semana cumpre vigorosa- mente o seu dever real e conjugal” (pis. 11); 0 rei assume, perante o inquisidor e © franciscano frei Anténio de S. José, que construiré um convento se Deus lhe der um herdeiro. = Sequéncia Il - D. Maria Ana fica gravida, mais um “milagre” dos franciscanos ~ “disse frei Antdnio de S. José que convento havendo, haveré sucesséo. A pro: mesa esté feita, a rainha parira” (nig. 2. = Sequéncia Ill - apesar do contraste entre a magnificéncia da corte e a miséria do ovo, “a quaresma, como 0 sol, quando nasce, é para todos” (pis, 27); as celebra- ‘gGes do inicio da Quaresma, nas ruas de Lisboa, a coexisténcia do religioso e do profano ~ “por isso a mulher, entre duas igrejas, foi a encontrar-se com um homem” (pg. 50. = Sequéncia IV - Baltasar Sete-Sdis regressa a Lisboa, por ter sido “mandado embora do exército por jd néo ter serventia nele, depois de Ihe cortarem a mao esquerda pelo né do pulso, estracalhada por uma bala” (pax. 35); percorre a cidade, faz amizade com Jodo Elvas, “outro antigo soldado” e juntos constatam a violéncia da cidade - “Isto é terra de muito crime, morre-se mais que na guerra” (pig. 55). Sequéncia V - auto-de-fé, onde é sentenciada Sebastiana Maria de Jesus, e 0 encontro de Baltasar com Blimunda e o padre Bartolomeu, que abengoa a unio dos dois, em casa de Blimunda - “Entdo declaro-vos casados” (pis. 56). = Sequéncia VI - Baltasar volta a encontrar-se com o padre Bartolomeu, que Ihe pede ‘ajuda na construcao da passarola ~ “Com essa mao e esse gancho podes fazer tudo quanto quiseres, |...) @ eu te digo que maneta é Deus, e fez 0 universo” (pig. 6). = Sequéncia VII - nasce a filha de D. Joao V, Maria Barbara - “D. Jodo V vai ter de contentar-se com uma menina. Nem sempre se pode ter tudo” (pig. 73); reitera-se a promessa da construcao do convento - “e D. Jodo V é rei de palavra. Havere- ‘mos convento” (pie, 76) Sequéncia Vill - por insisténcia de Baltasar - “Primeiro me terés de dizer que segredos séo estes” (pix. 75) ~ Blimunda revela-Ihe 0 seu segredo e os seus pode- res sobrenaturais ~ "Eu posso olhar por dentro das pessoas. (..) Nao vejo se néo estiver em jejum (...) O meu dom nao é heresia, nem é feiticaria, os meus olhos so naturais” (pix. 79); nasce o segundo filho de D. Joao V, o infante D. Pedro ~ “Entretanto, nasceu o infante D. Pedro” (pix. ss); escolhe-se 0 alto da Vela como local para a construgao do convento - “El-rei foi a Mafra escolher o sitio onde hé- -de ser levantado o convento. Ficaré neste alto a que chamam da Vela” (pis.

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